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Macedo -Segurança, Saúde, Higiene e Medicina Do Trabalho

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Higiene e Segurança

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Page 1: Macedo -Segurança, Saúde, Higiene e Medicina Do Trabalho

Segurança, Saúde, Higiene e Medicina do Trabalho

Autor

Rui Bocchino Macedo

1.ª edição

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© 2008 – IESDE Brasil S.A. É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por escrito dos autores e do detentor dos direitos autorais.

Todos os direitos reservados.IESDE Brasil S.A.

Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1.482 • Batel 80730-200 • Curitiba • PR

www.iesde.com.br

M141 Macedo, Rui Bocchino. / Segurança, Saúde, Higiene e Medic-ina do Trabalho. / Rui Bocchino Macedo. — Curitiba :

IESDE Brasil S.A. , 2008.128 p.

ISBN: 978-85-7638-843-2

1. Segurança do Trabalho. 2. Higiene do Trabalho. 3. Medicina do Trabalho. 4. Regulamentos de Segurança. I. Título.

CDD 363.11

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Sumário

Introdução à Segurança, Saúde, Higiene e Medicina do Trabalho | 7Saúde do trabalhador | 7Anamnese ocupacional | 8Problemas crônicos de origem ocupacional | 10

Medicina do Trabalho e Toxicologia | 17Toxicologia | 18

Toxicologia ocupacional | 27Princípios gerais de Toxicologia | 27

Metais pesados | 35Chumbo | 36Mercúrio | 38Níquel | 40Cromo | 40Arsênio | 40

Legislação de Segurança, Saúde, Higiene e Medicina do Trabalho | 47Serviço Especializado em Engenharia de Segurança e em Medicina do Trabalho (SESMT) | 47Organização dos Serviços de Medicina do Trabalho | 48

Normas regulamentadoras | 61

Riscos ambientais | 77Riscos ambientais | 77Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (CIPA) | 79

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Acidentes de trabalho e riscos físicos | 87Riscos físicos | 88Radiações | 92Epidemiologia – fatores de risco de natureza ocupacional conhecidos | 93

Doenças ocupacionais | 99Conceito | 100Epidemiologia | 101LER/DORT | 102

Previdência Social | 109A diferença entre INSS E SUS | 110Seguro social | 111Regime geral da Previdência Social | 111

Gabarito | 121

Referências | 123

Anotações | 125

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Ao longo da história do mundo, o homem sempre enfrentou os mais

diversos tipos de risco. O trabalho é, talvez, a maior fonte desses riscos,

até porque o homem passa a maior parte de sua vida dentro de seu am-

biente laboral, afastando-se de sua família. Desde o caçador mais primi-

tivo, passando pelo artesão da Idade Média, com “escala” nos primeiros

trabalhadores fabris da Revolução Industrial, até chegar no trabalhador

moderno, o homem constantemente passou por diversos riscos de aci-

dentes, de aquisição de doenças e, mesmo, de perder seu maior bem:

a própria vida. Concomitante a esse processo, o homem foi, também,

aprendendo a se cuidar de uma maneira mais adequada, prevenindo-

se, ainda que de maneira empírica, contra os males que pudessem afe-

tar seu bem-estar. Não é exagero, portanto, afi rmar que os Serviços de

Saúde e Segurança do Trabalho tiveram origem nos primórdios da hu-

manidade, junto com os processos de trabalho mais remotos, e foram se

adaptando às novas descobertas e aquisições de conhecimentos na bus-

ca eterna de se atingir uma excelência na arte da prevenção e promoção

da saúde, especifi camente no ambiente laboral.

A presente obra busca introduzir o leitor nesta viagem apaixonante pelo

mundo da Medicina do Trabalho, através de seus capítulos.

Inicialmente, o leitor é apresentado ao tema, além de ser apresenta-

do aos mais relevantes assuntos: saúde do trabalhador e o Serviço

Especializado em Engenharia de Segurança e Medicina do Trabalho.

Após, apresentam-se as principais leis que regem o mundo da Segurança

e Medicina do Trabalho: as normas regulamentadoras, apresentadas

uma a uma. Abordaremos os Riscos Ambientais e a Toxicologia. Este

tema é abordado com mais profundidade nos dois capítulos seguintes,

para, logo após, fazer a introdução do leitor no assunto que envolve as

doenças do trabalho, LER/DORT, que mereceram um capítulo a parte,

tamanha a sua incidência no mundo laboral moderno.

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Noções fundamentais sobre o funcionamento da Previdência Social tam-

bém são apresentadas, fi cando por conta dos Acidentes de Trabalhos,

seus riscos e prevenções o encerramento desta obra.

Espera-se que a presente obra estimule o leitor a criar uma mentalida-

de prevencionista no que tange aos assuntos relacionados à Saúde e

Segurança do Trabalho. A partir do momento em que esta idéia se so-

bressair em relação às medidas paliativas e curativas, os ambientes labo-

rais, certamente, serão mais prazerosos e menos propensos a aquisição

de doenças laborais.

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Introdução à Segurança, Saúde, Higiene e Medicina

do TrabalhoRui Bocchino Macedo*

Saúde do trabalhadorO trabalho das sociedades atuais é realizado dentro de padrões determinados historicamente. A

metalurgia, por exemplo, descende do trabalho em metais da Idade Média, onde o artesão medieval realizava todas as etapas do trabalho com o metal, desde a fundição até o acabamento final, por vezes também atuando em sua revenda. O metalúrgico atual, por sua vez, representa apenas uma pequena parcela em toda a cadeia de transformação do metal, pois seu trabalho limita-se a estar à frente de má-quinas, realizando passos da produção, sendo o ritmo de trabalho elevado com estímulos salariais para o aumento da produtividade e com controle constante sobre a produção.

Ao artesão medieval, que concentrava todo o processo de produção a sua pessoa, cabia a função de imaginar, criar como seria a peça a ser produzida antes de lidar com o metal. Havia a liberdade para introduzir mudanças durante a produção, que era baixa, devido ao fato de as técnicas serem extrema-mente rudimentares naquela época. Quanto ao trabalhador moderno, a execução de tarefa monótona, repetitiva e desprovida de conteúdo mais intelectualizado, associado à alta produtividade e compe-titividade da empresa no mercado, pode levar o trabalhador a permanente sofrimento psíquico, com repercussões na esfera intelecto-emocional e somático, conhecido como estresse.

* Especialista em Medicina do Trabalho pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). Médico pela Universidade Luterana do Brasil (Ulbra). Responsável Técnico pelo Serviço de Engenharia e Saúde Ocupacional (SESAO) da UFPR. Professor.

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No Brasil, há queixas de trabalhadores e sindicatos de um certo descaso nas condições dos am-bientes de trabalho, especialmente no que diz respeito à exposição do trabalhador a produtos químicos, ruídos e trepidações; jornadas de trabalho muito extensas com a realização de horas extras; submissão do trabalhador frente ao autoritarismo na organização do trabalho sem a participação dos trabalhado-res nas decisões; demissão imotivada, decorrentes da inviabilização de reivindicações por melhorias; baixos salários; problemas sociais relacionados a condições inadequadas de transporte urbano, mora-dia, alimentação, lazer, acesso a serviços de saúde e medicamentos.

A abordagem quanto à saúde do trabalhador é feita através, inicialmente, de uma anamnese clí-nica/ocupacional, de um exame clínico e de uma investigação laboratorial. Esse contato é fundamental para se poder conhecer o trabalhador, bem como seu ambiente de trabalho como um todo, para conse-guir relacionar ou não os sintomas dos quais se queixa com o seu respectivo trabalho.

Anamnese ocupacionalA maioria das doenças relacionadas ao trabalho e ao meio ambiente manifestam-se como queixas

comuns, sem sinais e sintomas específicos. Assim, a história de exposição a um agente ou situação no traba-lho capaz de produzir doença é fundamental para o diagnóstico correto e a adoção dos procedimentos dele decorrentes, como o tratamento, a prevenção e os possíveis encaminhamentos previdenciários.

O profissional de atenção primária à saúde tem um importante papel na detecção, tratamento e prevenção das doenças decorrentes das exposições tóxicas e/ou situações particulares de trabalho, que podem ser reconhecidas ou suspeitadas a partir da história do paciente.

Na anamnese ocupacional são levantadas questões com a descrição dos trabalhos atual e pas-sados. Também são levantados os riscos a que o trabalhador está ou esteve exposto, como o contato com poeiras, fumaças, metais, líquidos ou outras substâncias químicas, ou ainda fatores como calor ou ruídos excessivos. Ainda na anamnese ocupacional, devem ser levados em consideração a jornada de trabalho, o turno (diurno, noturno ou rodízio), além da opinião pessoal do trabalhador, que é questio-nado sobre as suas condições de trabalho.

Deve conter, na anamnese, a descrição da atividade específica realizada, do ritmo e dos turnos de trabalho e da matéria-prima ou substância que possa interferir no risco. Essas informações são im-portantes para que seja feita a diferenciação entre as categorias. Por exemplo, o metalúrgico, que pode estar lotado num setor administrativo ou na linha de produção, o que pode diferenciar a exposição a riscos. Trabalhadores de mesma função em empresas distintas também podem apresentar diferentes formas de organização e ritmos de trabalho.

Fatores como o turno de trabalho podem interferir no diagnóstico e no tratamento de qualquer doença, sendo, por conseguinte, extremamente importante a anamnese ocupacional. Isso fica eviden-ciado na realização de exames ou na determinação de horários fixos para o uso de medicações em funcionários de turnos alternados, além da investigação de riscos percebidos pelo próprio trabalhador.

A grande maioria das pessoas que procuram os serviços de saúde são atendidas por profissionais não-especialistas em questões de saúde ocupacional ou ambiental. Com o crescimento do setor infor-

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mal de trabalho, um número cada vez maior de trabalhadores estará descoberto das ações de serviços especializado das empresas e de planos de saúde complementares, tendo como única alternativa a rede pública de serviços de saúde. É interessante destacar que o momento da entrevista e a escuta do paciente falando sobre seu trabalho pode representar uma oportunidade de estreitamento da relação médico–paciente e constituir um processo pedagógico de identificação, no trabalho, de fatores adoe-cedores que necessitam ser evitados ou corrigidos.

Podemos dividir a anamnese ocupacional quanto à investigação: do perfil ocupacional, da expo-sição ocupacional e contaminação ambiental.

Perfil ocupacionalNele devem estar contidas as atividades atuais e passadas. Ele descreve o ritmo de trabalho, rit-

mo das atividades, conteúdo das tarefas, matérias-primas utilizadas, posto de trabalho, riscos ambien-tais, medidas de proteção, efeitos verificados com a exposição. Investiga também fatores que podem aumentar, predispor ou modificar os riscos ocupacionais, como idade, sexo, hábitos de fumar ou se alimentar no trabalho, avalia se os sintomas são exacerbados ou atenuados pela exposição aos riscos ocupacionais, avalia a modificação dos riscos aos finais de semana, férias, final do turno de trabalho ou ainda em que dia da semana os sintomas são mais intensos.

Exposição ocupacionalExposição de característica específica, relata fatores que podem modificar os efeitos das exposi-

ções aos riscos ocupacionais, como alergias, patologias no trabalho atual ou passado, além de sua pre-disposição a adquirir determinadas doenças. Também deve citar fatores que podem alterar as respostas aos riscos ocupacionais quando eles existem, tais como história de doença respiratória ou cardíaca, patologia renal, insuficiência hepática, alterações neurológicas, estado de nutrição, erro metabólico, hipovitaminose. Além disso, busca problemas de saúde similar em colegas de trabalho.

A adoção rotineira da coleta da história ocupacional e a existência de uma rede de referência para as ações no cuidado primário desempenham um importante papel na detecção, prevenção e tratamen-to de doenças relacionadas ao trabalho.

Contaminação ambientalInvestiga a ocorrência de exposição não-profissional a substâncias potencialmente patogênicas,

como a casa do trabalhador próxima a alguma indústria ou a contaminação com substâncias tóxicas ou pesticidas nos momentos de lazer, ou mesmo resíduos tóxicos trazidos do ambiente de trabalho para casa por outros membros da família.

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Investigação laboratorialCom esse procedimento busca-se, além das confirmações diagnósticas, observar medidas de ex-

posição que estão ocorrendo no período subclínico, obter um diagnóstico precoce e avaliar as medidas de controle de riscos, na fonte e no meio ambiente, que forem instituídas. Pode ser usada como medida de exposição, como indicador biológico de exposição, além de ser parte fundamental de um programa de vigilância epidemiológica.

Realiza-se, normalmente, no sangue ou na urina. Outros testes podem ser realizados em labora-tórios especializados em Toxicologia, utilizando unhas, cabelos, tecidos e outros fluídos corporais. Os parâmetros clínicos obtidos devem ser admitidos como padrão para acompanhamento da evolução no quadro de exposição a determinado agente, mas não como um valor absolutamente seguro.

Serve, também, como parâmetro para a busca de um ambiente de trabalho seguro e sem riscos ou, ao menos, com todos os riscos controlados. O valor determinado como limite de tolerância pode ser reduzido até drasticamente, de acordo com novos estudos e acompanhamentos de trabalhadores por longos períodos ou descobertas de novos feitos.

Muitas das doenças relacionadas ao trabalho ou a uma exposição ambiental manifestam-se como um problema médico comum e não apresentam sintomatologia específica. Assim, a história de uma exposição prévia significativa a um agente ou condição de trabalho adoecedora é que vai permitir que se suspeite da relação da doença com o trabalho ou com uma exposição ambiental. Se esses aspectos não forem adequadamente explorados pelo médico que atende o paciente, o diagnóstico etiológico fica prejudicado, o tratamento pode vir a ser inadequado e ficam perdidas as chances de uma atuação preventiva sobre o paciente e o conjunto dos demais expostos à mesma situação.

Problemas crônicos de origem ocupacional

Dermatoses ocupacionaisO problema das dermatoses ocupacionais é amplo e muito complexo, sendo uma das maiores

causas de falta ao trabalho em todo o mundo. Mesmo para o médico do Trabalho mais experiente é, muitas vezes, difícil de se lidar com esses pacientes, em especial no que se refere a sua relação com a indústria onde trabalha, pois é freqüente a necessidade de orientação segura, no sentido de maior proteção no ambiente profissional, ou até a mudança de ramo de atividade, o que nem sempre é fácil convencer o paciente ou a empresa. A saúde dos trabalhadores e a convivência saudável entre estes e seu ambiente de trabalho é de vital importância para o bem-estar da empresa, pois o trabalhador, em suas plenas condições de trabalho e saudável, mantém sua produção elevada. Portanto, são necessários que alguns cuidados sejam tomados quanto à saúde dos trabalhadores, quando os mesmos trabalham direta ou indiretamente com produtos quimicamente perigosos, principalmente os derivados do óleo mineral, petróleo, detergentes, solventes, plásticos, resinas, borracha natural, tintas, vernizes, corantes, petróleo e seus derivados, ácidos. Essas substâncias podem provocar, freqüentemente, dermatites ou dermatoses nos indivíduos, quando os mesmos ficam em contato com esses tipos de produto sem as mínimas condições de higiene exigida.

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As causas das dermatoses ocupacionais podem ser:

mecânicas, devido a um trauma ou fricção;::::

físicas, decorrentes da exposição ao frio, ao calor e à radiações ionizantes;::::

químicas, pelo contato com compostos orgânicos e inorgânicos; e::::

biológicas, devido ao contato com plantas, animais e microorganismos.::::

No organismo, as dermatoses podem surgir através de dois mecanismos diferentes: o otoérgico e o alérgico. O mecanismo otoérgico (não-imunológico) corresponde a 75% das dermatoses causadas por irritantes primários, como os ácidos fortes, álcalis, solventes e sais de metal. A dermatite de contato por irritante primário, causada pelo contato direto com o composto químico, leva ao aparecimento de irritação local, sem irradiação, e desaparece quando cessa a exposição, voltando a aparecer a cada novo contato, e vai depender do tempo de exposição e da concentração da substância envolvida. A grande maioria dos trabalhadores expostos ao mesmo agente agressivo apresenta dermatite.

O mecanismo alérgico, por sua vez, ocorre quando uma pessoa já está sensibilizada (hipersensi-bilidade) e envolve o sistema imune, em geral do tipo de hipersensibilidade tardia a uma substância e pode apresentar reação alérgica de 48 a 72 horas após a exposição, sendo que a dermatite de contato normalmente não se apresenta na primeira exposição a um novo composto, e a reação inicial aparece, em média, cinco dias após o primeiro contato. O diagnóstico dessa doença é realizado através da histó-ria ocupacional das manifestações cutâneas diversas e do patch-test, que é um exame que consiste no contato direto de diversas substâncias potencialmente alérgenas com a pele para chegar ao diagnósti-co definitivo.

As principais substâncias químicas causadoras de dermatites de contato são os bicarbonatos de cromo, potássio e amônio; os plásticos, como resinas epóxi e catalisadores; aceleradores e anti-oxidantes de borracha; agentes germicidas usados em sabões e compostos halogenados; aminas aromá-ticas e seus derivados, como tinturas e anestésicos locais; o mercúrio e seus compostos inorgânicos; o níquel e seus compostos; cobalto e seus compostos; e algumas ervas venenosas.

Para se realizar o diagnóstico preciso de dermatose ocupacional é necessário, além de uma ana-mnese completa, um exame físico minucioso. Na entrevista, devem ser pesquisados fatos cronológicos e de evolução, enfatizando aspectos como melhora ou não com tratamentos, por exemplo. A história prévia de alergias a drogas, alimentos e inalantes é fundamental, assim como antecedentes atópicos pessoais e familiares, como asma, rinite e eczema atópico. No ambiente de trabalho, é importante ob-servar as condições de trabalho e as medidas de higiene do local, além de pesquisar lesões cutâneas semelhantes em colegas, e observar se a reexposição do trabalhador ao alergeno causará agravamento do quadro. Em casos de dermatoses ocupacionais, as lesões podem ser bilaterais e normalmente situa-das em regiões expostas ou em contato direto com substâncias químicas.

O exame físico deve conter uma análise geral da pele. Também devem ser avaliados os fatores predisponentes indiretos, como a característica da pele. Por fim, devem ser observadas a quantidade de pêlos e a higiene pessoal dos trabalhadores. O tratamento profilático dessa patologia consiste na proteção dos trabalhadores aos agentes alérgenos. Já no tratamento específico, após a identificação e eliminação desses agentes, podem ser usadas medicações tópicas ou sistêmicas, dependendo do tipo da lesão, da distribuição, do grau e do fato de ser aguda ou crônica.

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Surdez ocupacionalA exposição a ruídos de duração prolongada ou de grande intensidade pode acarretar danos à

audição e, conseqüentemente, levar à surdez profissional. Essa doença é comum em caldeireiros, ferrei-ros, prenseiros, maquinistas, tecelões, entre outros.

O grau da lesão produzida pelo ruído está relacionado com diversos fatores. Um dos principais fatores é a intensidade. Ruídos superiores a 80dB poderão levar a trauma auditivo. O tipo de ruído tam-bém é importante. O ruído intermitente, ou de impacto, parece produzir danos maiores. O período de exposição também deve ser levado em consideração, assim como a duração do trabalho, uma vez que o efeito é cumulativo. Também são fatores importantes a susceptibilidade individual, a idade, as patolo-gias auditivas prévias e outras patologias, como hipertensão arterial, diabetes e hipertireoidismo.

Trauma acústico e surdez por exposição ao ruído são os tipos de transtornos auditivos que podem acometer o profissional. O trauma acústico é uma lesão produzida no ouvido médio ou interno por impac-to sonoro ou ruído intenso. O diagnóstico é feito através da história ocupacional, na qual se busca estímulo e associação com o início da sintomatologia (surdez, vertigens, zumbidos, dor); do exame físico, a partir do qual se busca evidência de congestão vascular ou até ruptura timpânica com lesão na cadeia ossicular; e da audiometria, em que há ou não falha na discriminação vocal, além de queda em 4KHz.

A surdez por exposição ao ruído decorre de uma exposição crônica, em que traumatismos suces-sivos levam a um deslocamento assimétrico da membrana basilar. Os sintomas são causados devido à cronicidade da evolução do quadro, como zumbido noturno ou em locais silenciosos. A audiometria aponta, inicialmente, queda em 4KHz. Com a evolução do quadro, ocorre aprofundamento da queda e propagação para 3, 6 e 8KHz, com cada vez mais dificuldade de discriminação vocal.

Além da perda auditiva característica, o ruído pode ser o fator causador de outras doenças. Essas patologias podem afetar o trabalhador psicologicamente, causando depressão, estresse, entre outras doenças, chegando a gerar danos inclusive no sistema cardiovascular, podendo ser fator causador de hipertensão arterial e taquicardia.

Dores na colunaUma das maiores queixas no mundo moderno é a de dor na coluna. Dentro de um ambiente laboral,

essa patologia acomete vários trabalhadores, devido a diversos fatores, os quais serão abordados a seguir.

Para melhor entender o mecanismo da dor na coluna, é necessário conhecer a estrutura anatômi-ca da coluna vertebral humana. Ela é dividida em 33 vértebras, sendo 7 formadoras da coluna cervical, 12 da coluna torácica, 5 da coluna lombar, 5 vértebras fundidas formadoras da região sacral e 4 vérte-bras da região coccígea. Seu limite superior é o osso occipital, sendo o osso ilíaco o limite inferior.

A coluna vertebral possui uma região denominada canal vertebral, que segue as diferentes cur-vas da coluna vertebral. Grande e triangular nas regiões cervical e lombar, onde a coluna possui maior mobilidade, o canal vertebral é pequeno e redondo na região onde não há muita mobilidade, a região torácica. Esse canal possui algumas características gerais, cada qual com sua função, sendo que cada re-gião da coluna possui suas próprias características, assim como cada vértebra se difere uma da outra.

Além das vértebras, outras estruturas podem ser responsáveis pelas dores na coluna. Os discos intervertebrais, músculos e ligamentos são algumas dessas estruturas. Também se destacam outras do-

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enças presentes em outras estruturas que podem resultar em dores na coluna, tais como aneurisma de aorta, úlcera duodenal, inflamação na próstata, doença inflamatória pélvica, entre outras.

Algumas são as doenças e situações diretamente relacionadas com as dores na coluna. Dentre elas, destacam-se a osteoporose, hérnias discais, tumores, postura viciosa, obesidade, fibromialgia, ar-trose, artrite reumatóide – com inflamação nas articulações e outros tecidos, gravidez e encurtamento dos músculos das pernas. Além disso, existem fatores de risco que influenciam no aparecimento do quadro álgico na coluna vertebral. Dentre eles, podem-se citar a obesidade, a tensão emocional, os esforços excessivos, a idade, o sexo e a atividade profissional.

Algumas doenças da coluna vertebral podem estar relacionadas ao trabalho. As dores musculares são um exemplo, especialmente as dores em coluna lombar, denominadas lombalgias. Também pro-blemas posturais, que podem gerar desvios no eixo, ou aumento na curvatura preexistente da coluna vertebral. Esses desvios são denominados cifose, lordose e escoliose. Osteofitose e hérnias discais também são causas comuns de dores na coluna.

A lombalgia é uma doença cuja incidência mundial é de aproximadamente 5% de novos casos ao ano, sendo que em alguma fase da vida, estima-se que 80% dos indivíduos terão dor lombar. Ela pode ser diagnosticada em três fases. A fase subaguda é quando ela se iniciou há menos de um mês. A fase aguda ocorre quando o início do quadro ocorreu entre um e seis meses. A fase crônica é quando a dor já vem há mais de seis meses. Suas causas são as mais diversas. Podem ser decorrentes de problemas mecânicos – posturais, devido a posturas viciosas, obesidade, gravidez, esforços repetitivos, ergonomia inadequada; degenerativos, como estenose do canal vertebral, artrose articular; psicológicas, como dor miofascial; tumorais, por metástase óssea; mistas, como fibromialgia, entre outras.

A cifose caracteriza-se por ser um aumento anormal da concavidade posterior da coluna verte-bral. As causas mais importantes dessa deformidade são a má postura e o condicionamento físico ina-dequado. Outras doenças também podem causar essa deformidade, como a espondilite anquilosante e a osteoporose senil.

A lordose é um aumento anormal da curva lombar, levando a uma acentuação da lordose lombar anatômica. A essa situação, dá-se o nome de hiperlordose. A dor ocorre especialmente em atividades que envolvam a extensão da coluna lombar, tal como permanecer em postura ortostática por muito tempo, o que tende a acentuar o quadro. A flexão do tronco usualmente atenua a dor, o que faz com que, normalmente, a pessoa prefira permanecer em posição sentada ou deitada.

A escoliose é a curvatura lateral da coluna vertebral. Sua progressão depende muito da idade em que ela se inicia, bem como da magnitude do ângulo da curvatura durante o período de crescimento na adolescência. Para a melhora do quadro, são essenciais o tratamento fisioterápico, com uso de alon-gamentos e melhora na respiração.

A osteofitose, popularmente conhecida como bico de papagaio, é decorrente da protusão pro-gressiva do anel fibroso do disco intervertebral, dando origem à formação de osteófitos, cujos efeitos são agravados pela desidratação gradual do disco intervertebral. Ela causa a aproximação das vértebras e pode comprimir a raiz nervosa, gerando fortes dores.

As hérnias de disco são resultados de diversos pequenos traumas da coluna, que vão, gradativa-mente, lesando as estruturas do disco intervertebral. Também podem ser decorrentes de um trauma severo sobre a coluna. Elas surgem quando o núcleo do disco intervertebral migra do seu local, no cen-tro do disco, para a sua periferia, em direção ao canal medular ou nos espaços por onde saem as raízes nervosas, levando à compressão das raízes nervosas.

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14 | Segurança, Saúde, Higiene e Medicina do Trabalho

Texto complementar

A Importância da Medicina e Segurança do Trabalho Preventiva

IntroduçãoAs mudanças no mundo do trabalho advindas das inovações tecnológicas e organizacionais

têm incrementado significativamente a produção nas empresas, eliminando assim tarefas penosas ou pesadas. Essa relação estabelecida entre o homem e a tecnologia ocasionou novos riscos para a saúde dos trabalhadores, tanto nos aspectos físico, mental ou social.

Tal processo passou a exigir dos trabalhadores uma maior qualificação e uma crescente inter-venção desses nos processos produtivos, o que conseqüentemente tornou-os mais suscetíveis a acidentes de trabalho. Tanto as empresas, quanto o Estado não tomaram postura diante de tal fato. Somente em meados dos anos 1980 surge o campo da saúde do trabalhador no Brasil objetivando mudar o complexo quadro da saúde.

Apesar de tantas transformações serem tão evidentes, ainda fica difícil de serem captadas e apreendidas pelos profissionais. Atualmente, ainda deparamos com empresas desinformadas, de-sinteressadas ou até mesmo com dificuldades de solucionar assuntos correlatos a acidentes de trabalho. Diante desse fato, este artigo busca contribuir abordando a importância da Medicina e Segurança do Trabalho Preventiva.

DesenvolvimentoA relação entre o trabalho e a saúde/ doença surgiu na Antigüidade, mas tornou-se um foco de

atenção a partir da Revolução Industrial. Afinal, no trabalho escravo ou no regime servil, inexistia a preocupação em preservar a saúde dos que eram submetidos ao trabalho. Os trabalhadores eram equiparados a animais e ferramentas.

Com a Revolução Industrial, o trabalhador passou a vender sua força de trabalho tornando-se presa da máquina e da produção rápida para acumulação de capital. As jornadas eram excessivas, em ambien-tes extremamente desfavoráveis à saúde, aos quais se submetiam também mulheres e crianças. Esses ambientes inadequados propiciavam a acelerada proliferação de doenças infecto-contagiosas, ao mes-mo tempo em que a periculosidade das máquinas era responsável por mutilações e mortes.

Através dos tempos, o Estado passou a intervir no espaço do trabalho baseando-se no estudo da causalidade das doenças. Assim, toma figura o médico do Trabalho que vai refletir na propensão a isolar riscos específicos e, dessa forma, atuar sobre suas conseqüências, medicando em função de sintomas e sinais ou, quando muito, associando-os a uma doença legalmente reconhecida. A partir daí houve uma crescente difusão da matéria de Segurança e Medicina do Trabalho.

No Brasil, a legislação trabalhista compõe-se de normas regulamentadoras, normas regula-mentadoras rurais e outras leis complementares, como portarias, decretos e convenções interna-cionais da Organização Internacional do Trabalho.

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15|Introdução à Segurança, Saúde, Higiene e Medicina do Trabalho

Devido ao fato de ter surgido e se mantido a sombra da legislação, muitos de nós não demos a devida importância a Segurança do Trabalho. Limitamos a mera leitura da legislação sem preo-cuparmos com a interpretação e a cultura prevencionista. Ainda existe uma gama de instituições empresariais que só implantam os programas exigidos por lei para terem os documentos e papéis em seus arquivos com o objetivo de apresentar aos fiscais do Trabalho, em caso de fiscalização.

Felizmente um maior número de pessoas já compreende que as doenças profissionais são aquelas decorrentes da exposição dos trabalhadores aos riscos ambientais, ergonômicos ou de acidentes.

O setor de segurança e saúde tornou-se multidisciplinar e busca incessantemente prevenir os riscos ocupacionais. Essa é a forma mais eficiente de promover e preservar a saúde e a integridade física dos trabalhadores. Nesse aspecto se destaca os profissionais da área, composto por técnico de Segurança do Trabalho, engenheiro de Segurança do Trabalho, médico do Trabalho e enfermeiro do Trabalho. Estes, por sua vez, atuam na eliminação ou neutralização dos riscos, prevenindo uma doença ou impedindo o seu agravamento. Para tanto, é necessária a antecipação dos riscos que envolvem a análise de projetos de novas instalações, métodos ou processos de trabalho, ou de mo-dificação dos já existentes, visando identificar os riscos potenciais e introduzir medidas de proteção para sua redução ou eliminação. Outra etapa do processo de prevenção é a de reconhecimento dos riscos. Nesse caso, o risco já está presente e será preciso intervir no ambiente de trabalho. Reconhe-cer os riscos é uma tarefa que exige observação cuidadosa das condições ambientais, caracteriza-ção das atividades, entrevistas e pesquisas. A adoção das medidas de controle, também se torna necessária para a etapa da prevenção. Nesse caso o engenheiro de Segurança deverá especificar e propor equipamentos, alterações no arranjo físico, obras e serviços nas instalações, procedimentos adequados, enfim, uma série de recomendações técnicas pertinentes a projetos e serviços de en-genharia.

Além dessas etapas, por parte do empregador, é de fundamental importância o treinamento dos empregados para a correta utilização dos equipamentos de proteção individual ou coletiva. A empresa deve treinar o trabalhador com recursos próprios, ou por meio dos fabricantes de EPIs que já fazem esse trabalho gratuitamente, através de palestras ou mini-cursos. Portanto, a inspeção no local de trabalho é procedimento essencial de antecipação intempéries em relação à segurança e Medicina do Trabalho.

Eliminando-se as condições inseguras e os atos inseguros é possível reduzir os acidentes e as doenças ocupacionais. Esse é o papel da Medicina e Segurança do Trabalho Preventiva.

ConclusãoQualquer empresa que queira realmente melhorar a qualidade de vida dos seus colaboradores

deve estar disposta a ouvir sua equipe, dar possibilidade do indivíduo expor suas súplicas, fortale-cendo desta forma uma relação de trabalho confiável e saudável. Após abrir este importante canal de comunicação, a empresa deverá fazer um levantamento criterioso dos problemas que acome-tem a equipe como um todo, visualizando sua real existência e verificando suas incidências. Uma vez realizado este reconhecimento da saúde geral dos trabalhadores, devem-se levantar os proble-mas mais comuns e fazer um estudo individualizado para descobrir de que forma estão ou não rela-cionados às rotinas de trabalho de cada um, sendo importante nesta fase o auxílio de profissionais preparados para esta compreensão.

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Uma vez realizado todo este levantamento e análise, deve-se agir tentando eliminar os fatores de risco e caso isso não tenha sido possível, deve-se proteger os colaboradores dos riscos, muitas vezes adotando uso de EPIs mais adequados, orientações de forma de trabalho e fomentando este indivíduo de recursos de proteção direcionada, e por último, após todas estas ações deve-se investir num mecanismo de defesa e preparo para a função, adaptando todo o posto e o indivíduo.

Portanto, a maneira mais eficaz de impedir o acidente é conhecer e controlar os riscos. Isso se faz com uma política de segurança e saúde dos trabalhadores que tenha por base a ação de profissio-nais especializados, antecipando, reconhecendo, avaliando e controlando todo o risco existente.

(RAINATO, Thalita Alvarenga. Disponível em: <http://revista.fundacaoaprender.org.br/index.php?id=997.)

Atividades1. Um funcionário chega com queixa de dor intensa em região lombar. Não há ambulatório médico

na empresa, sendo você o único responsável pela Segurança do Trabalho na ocasião. Qual é a sua conduta?

a) Daria um antiinflamatório com miorelaxante e analgésico ao funcionário.

b) Trocaria imediatamente o seu posto de trabalho, evitando agravamento da lesão.

c) Faria bolsa de água quente na região afetada e encaminharia o funcionário ao serviço médico mais próximo ou conveniado.

d) Manteria o paciente no trabalho e o orientaria a buscar um médico após o serviço.

e) Orientaria os colegas de trabalho a dobrarem a jornada para compensar a falta do trabalhador com problemas.

2. Analisando a importância da anamnese e considerando os efeitos da exposição a riscos ocupacio-nais, assinale a alternativa correta.

a) Fatores que alteram as respostas aos riscos ocupacionais podem ser ignorados.

b) A busca de problemas similares em colegas de trabalho é irrelevante.

c) A predisposição de adquirir determinadas doenças deve ser considerada.

d) O hábito de se alimentar no trabalho não interfere no risco.

e) n.d.a.

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Medicina do Trabalho e Toxicologia

Embora as discussões mais importantes sobre o assunto tenham se iniciado há poucas décadas, a Medicina do Trabalho é uma área que já é estudada há séculos. Apesar de já existirem obras e estudos ainda mais antigos, Bernardino Ramazzini, um médico italiano nascido no ano de 1633, na cidade de Modena, é considerado o pai da Medicina do Trabalho. Isso ocorre devido à obra publicada no ano de 1700 intitulada De Morbis Artificum Diatriba (As Doenças dos Trabalhadores). Nesse estudo, Ramazzini destacou 54 profissões consideradas mais importantes na ocasião. Dessa maneira, conseguiu relacionar algumas doenças adquiridas pelo trabalhador com seu respectivo posto de trabalho. Foi na Revolução Industrial Inglesa, ocorrida no século XVIII, entretanto, que a Medicina do Trabalho começou a ser vista de maneira mais importante e assim foi crescendo até chegar na representatividade atual. Na ocasião, ocorreram transformações radicais na forma de produzir e de viver das pessoas, bem como de adoecer e de morrer. Com as mudanças e as exigências dos processos produtivos e movimentos sociais, surgiram novos enfoques em instrumentos de trabalho em uma perspectiva interdisciplinar, com a delimitação do campo da Saúde do Trabalhador.

Define-se Medicina do Trabalho como a especialidade que lida com as relações entre a saúde dos homens e mulheres trabalhadores e seu trabalho, visando não somente à prevenção das doenças e dos acidentes de trabalho, mas também à promoção da saúde e da qualidade de vida através de ações capazes de acelerar a saúde individual e propiciar uma saudável inter-relação das pessoas e dessas com seu trabalho. O médico do Trabalho possui um campo de atuação muito amplo, extrapolando o âmbito tradicional da prática médica. Não basta ao médico do Trabalho ter conhecimento apenas na sua área, ele também necessita de uma noção ampla de outras áreas, como Clínica Médica e Saúde Pública, por exemplo, para que possa realizar programas de prevenção, ou mesmo para chegar a diagnósticos mais precisos. Também o médico do Trabalho deve trabalhar com uma equipe multidisciplinar. Para isso, deve contar com o crucial auxílio de engenheiros de Segurança do Trabalho, técnicos em Segurança do Trabalho, fonoaudiologistas, fisioterapeutas e outros profissionais capacitados para a promoção da saúde no ambiente laboral. Vários são os campos de atuação para o médico do Trabalho. Dentre os principais, destacam-se as empresas, Perícia Médica da Previdência Social e Judicial, Assessoria Sindical, Consultoria Privada e Toxicologia.

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Toxicologia“Todas as coisas são um veneno e nada existe sem veneno, apenas a dosagem é razão para que

uma coisa não seja um veneno”. Essa frase é de autoria do médico alemão Theophrastus Bombast von Hohenhein, nascido em 1493, em Eisiedeln, e que também é conhecido como Paracelsius. Ele estudou Medicina na Universidade da Basiléia e iniciou sua prática médica nas Minas de Tirol, onde começou a relacionar as doenças apresentadas pelos mineiros, à exposição excessiva aos minerais. Partindo desse conceito de Paracelsius, que é tido como verdade até os dias atuais, percebe-se que todas as substâncias podem ser consideradas tóxicas. O conceito de tóxico, entretanto, é algo que já vem desde os homens mais primitivos. A palavra toxikon tem origem grega e significa veneno das flechas, que eram usadas nas caças na Antigüidade. As pontas das flechas eram preparadas com material bacterialmente contamina-do com pedaços de cadáveres ou venenos vegetais com o intuito de acelerar a morte dos animais.

Com o passar dos anos, novos estudos foram feitos e foi criada a Toxicologia, que é a ciência que estuda as intoxicações, os venenos que as provocam e o tratamento adequado. Também define os limi-tes de segurança dos agentes químicos.

HistóricoA Toxicologia, historicamente, pode ser dividida em três fases:

Fase do descobrimento:::: – teve início com o homem primitivo em seu contato com a natureza como meio de sobrevivência. Do seu contato com as plantas e animais, começou a identificar substâncias que eram ou não benéficas a sua vida.

Fase primitiva:::: – estuda os venenos como meio de suicídio e homicídio. Nessa fase, os vene-nos eram também utilizados como forma punitiva.

Fase moderna:::: – surgiram os métodos de estudos para a identificação de venenos, o que dimi-nuiu as ações criminosas. Nessa fase, foi considerável o aumento das intoxicações acidentais.

Vários nomes importantes na Medicina realizaram diversos tipos de estudos relacionados à Toxi-cologia. Hipócrates (460-375 a.C.), médico grego e considerado o pai da Medicina descreveu o quadro clínico de intoxicação por chumbo em mineiros. Na Idade Média, o médico e filósofo persa Avicena (980-1037) descreveu a cólica plúmbica, ou seja, a dor abdominal presente em pessoas expostas ao chumbo. Na Roma Antiga, Plínio, o Velho (23-79 d.C.), considerado um dos mais importantes naturalis-tas da Antigüidade, escreveu a obra Naturalis Historia, um vasto compêndio das ciências antigas distri-buído em 37 capítulos dedicado a Tito Flávio, futuro imperador romano. Nela, Plínio descreve o aspecto de alguns escravos que observou nas minas de chumbo e de mercúrio. O médico saxão Georgius Agri-cola (1495-1595), também conhecido como o pai da Mineralogia, escreveu a obra De Re Metallica, em que descreve com minúcia de detalhes as operações minerais e metalúrgicas de sua época, detalhando as principais doenças dos mineiros e fundidores. Anos mais tarde, Percival Pott (1713-1788) descreve, no ano de 1775, o câncer ocupacional entre os limpadores de chaminé na Inglaterra, identificando a fuligem, através da substância 3,4-Benzopireno e a falta de higiene como causa do câncer escrotal. Os principais afetados eram as crianças que, por sua baixa estatura, tinham a responsabilidade de entrar

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nas chaminés e limpá-las. Graças a esse estudo, foi criada a Lei dos Limpadores de Chaminé, no ano de 1788. Também na Alemanha a industrialização era avançada, mas o número de casos de câncer escrotal era significativamente menor, devido a um melhor ajuste da roupa ao corpo do trabalhador em relação aos colegas ingleses, sendo elas consideradas uma espécie de primórdio de equipamento de proteção individual (EPI). Pouco tempo depois, o médico francês Tanquerel des Panches (1809-1862) publicou a primeira descrição moderna da intoxicação por chumbo, no ano de 1839. Em seu estudo, Tanquerel analisou 1 217 casos, fazendo a descrição completa de toda a síndrome, destacando a dor abdominal como principal sintoma. Seu estudo foi tão completo que desde então muito pouco foi acrescentado nas descrições clínicas de intoxicação por chumbo.

ConceitosPara melhor compreensão da Toxicologia, é necessário saber que ela se divide em:

Clínica:::: – estuda a ação do agente tóxico (sintomas, diagnóstico e orientação).

Química:::: – estuda as propriedades do agente tóxico e suas ações dentro do organismo.

Ocupacional:::: – estuda as enfermidades industriais e a insalubridade do ambiente de trabalho.

Analítica:::: – estuda a análise de produtos tóxicos visando determinar sua toxicidade.

Profilática:::: – estuda a poluição da água, terra, ar e alimentos. Procura manter e aumentar a segurança para a vida.

Forense:::: – estuda a ação de propriedades dos agentes tóxicos para estabelecer a causa de morte ou envenenamento em intoxicações, auxiliando a Justiça.

Para melhor delineamento do estudo, o presente capítulo será focado principalmente na Toxico-logia Ocupacional, que é o ramo da Toxicologia voltado para o estudo da interação entre o homem e as substâncias químicas presentes em seu ambiente de trabalho.

Outro conceito fundamental é o de intoxicação. Qualifica-se como intoxicação toda e qualquer manifestação clínica ou laboratorial de efeitos adversos. É um estado patológico, causado pela intera-ção de um agente químico com o organismo. Esse agente químico é também conhecido como agente tóxico ou xenobiótico. É uma substância química que provoca o desequilíbrio do organismo e que gera desde simples distúrbios de saúde até o óbito. Tudo vai depender de alguns fatores e, especialmente, de sua toxicidade, que é a propriedade potencial das substâncias químicas de instalar, em maior ou menor grau, um estado patológico após sua introdução ou interação com o organismo.

Vários são os fatores que podem afetar no grau de toxicidade de um agente. Algumas caracterís-ticas da pessoa afetada, como a idade, a massa corpórea, estados nutricionais ou doenças prévias são fundamentais para que o agente tenha maior ou menor toxicidades. Também a concentração do agen-te tóxico, bem como seu estado de dispersão, de acordo com a forma e o tamanho da partícula, exercem influência no grau de toxicidade. Outros fatores também são importantes para que a substância seja mais ou menos tóxicas, como a afinidade da substância com um determinado tecido ou órgão do corpo humano, ou ainda a sensibilidade desse tecido ou órgão, por exemplo.

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Intoxicação no Brasil em 2005A análise dos dados obtidos em 2005 revela novo recorde no número de intoxicações com cerca

de quase 90 mil casos registrados. Os animais peçonhentos tiveram o maior número de registros. Foram mais de 23 mil casos de acidentes com animais venenosos, sendo 1/3 deles causado por escorpiões. Pernambuco foi o estado que mais registrou acidentes com escorpiões, com cerca de 2 200 casos em 2005. As serpentes e as aranhas também são animais que causaram alto número de acidentes tóxicos e o alto índice está possivelmente relacionado à ocupação desordenada do homem em encostas sem saneamento básico e com solos empobrecidos.

O número de mortes por intoxicação também cresceu. O aumento foi de 18% em relação ao ano anterior e o principal agente causador de óbito foram os agrotóxicos. O uso indiscriminado de agrotó-xicos, que se dividem em quatro categorias: de uso agrícola, uso doméstico, uso veterinário e raticidas, aparecem como um outro grande problema brasileiro, a falta de conhecimento e a má manipulação desse produto nas lavouras causaram 159 mortes, dentre as quais os homens são as maiores vítimas dos agrotóxicos, respondendo a 70% dos óbitos.

Entre as crianças menores de cinco anos, os medicamentos ocuparam o primeiro lugar na lista de agentes tóxicos mais perigosos, cerca de 6 500 acidentes naquele ano. As plantas também representa-ram alto índice de intoxicação nessa faixa etária, com mais de 40% das vítimas.

Os medicamentos apresentaram alto índice de intoxicação entre as mulheres, com 64% do total de casos. Também são esses produtos os maiores responsáveis por tentativas de suicídios, com 58% dos casos, seguidos por agentes agrícolas, com 14% do total.

Em relação às drogas de abuso, lícitas e ilícitas, os adultos jovens com idade entre 20 e 29 anos foram o maior número de casos registrados, especialmente na região Sudeste, com 1 790 casos. A região Centro-Oeste, entretanto, foi a que apresentou maior letalidade, com 8,75% do total. O sexo masculino apresentou um número de casos 2,6 vezes maior que as mulheres.

A região Sul foi a que teve maior número de registro de casos. Em cada três casos registrados no Brasil, um deles era proveniente dessa região.

Causas de intoxicação no trabalhoO ambiente de trabalho pode apresentar vários fatores de risco ao trabalhador. A emissão de

gases através de vazamentos de alguns equipamentos é uma das principais causas de intoxicação no trabalho.

O próprio trabalhador por vezes pode cometer alguns erros que são capazes de causar intoxica-ção. A ausência ou o uso inadequado dos equipamentos de proteção individual (EPIs) é um exemplo. Também é comum observar em um ambiente aberto trabalhadores aplicando produtos tóxicos contra o vento, o que também pode gerar intoxicações. Alguns problemas na higiene, tais como o uso da mes-ma roupa em dias consecutivos, a ausência de banho diário, a alimentação sem higiene das mãos são causadores de acidentes tóxicos. Trabalhadores que tomam banho com água quente antes do trabalho dilatam os poros cutâneos devido ao calor, o que pode facilitar a penetração de toxinas. Pelo mesmo motivo, a aplicação de produtos nas horas de maior temperatura também pode representar um risco.Os trabalhadores que ficam sozinhos em seus postos correm o risco de não receber ajuda imediata em caso de intoxicação.

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Alguns outros fatores, como o armazenamento inadequado dos produtos tóxicos, podem causar acidentes que levam à intoxicação. Outro fator importante é a resistência física do trabalhador. Quanto mais baixa a resistência, maior o risco de contaminação por parte desse trabalhador.

Há também casos de intoxicação de familiares de trabalhadores. Isso ocorre quando principal-mente o posto de trabalho localiza-se na própria residência, ou então quando a roupa utilizada ao lon-go da jornada de trabalho é lavada em casa de maneira inadequada.

Classificação das intoxicaçõesAs intoxicações são classificadas de três formas. Para tanto, observa-se sua origem, seus efeitos e

seus níveis operacionais.

Quanto à origem, as intoxicações podem ser classificadas como acidentais (medicamentos, ali-mentos, ambiente ou profissão), intencionais (homicídios, suicídios ou doping), genéticas (transmitidas geneticamente), congênitas (adquiridas pelo feto) e sociais (dependência química).

Quanto aos efeitos, as intoxicações podem ser crônicas (ação lenta e progressiva com exposição contínua) ou agudas (introdução rápida do agente tóxico no organismo em dose única).

Em relação aos níveis operacionais, as intoxicações são classificadas como de altas doses (expo-sição curta; intoxicações agudas e acidentais), doses médias (exposição por período de tempo maior; intoxicação profissional) e pequenas doses (exposição longa, com efeito teratogênico; intoxicação ambiental).

Agentes ambientaisAs doenças ocupacionais podem ser causadas por alguns agentes presentes no posto de traba-

lho. São eles os agentes físicos, ergonômicos, biológicos e químicos.

Os agentes físicos são observados nas formas de ruídos, vibração, frio, calor, umidade, pressão, radiação, entre outros. Os agentes ergonômicos caracterizam-se como fatores fisiológicos ou psicológi-cos inerentes à execução da atividade profissional. Os agentes biológicos são os microorganismos e os germes, tais como vírus, fungos e bactérias.

Os agentes químicos, por sua vez, podem estar presentes no ambiente nos estados sólido, líquido e gasoso. No estado sólido podem estar sob a forma de poeiras de origem animal (pêlos e couro), vege-tal (fibras de algodão, bagaço de cana), mineral (sílica, amianto, carvão) e sintética (fibras de plástico). No estado líquido estão as soluções ácidas, alcalinas e solventes orgânicos. No estado gasoso, encon-tram-se as substâncias que se misturam com o ar respirável.

Contaminantes atmosféricosOs contaminantes atmosféricos são representados pelos gases, vapores e aerossóis. Os gases,

nas Condições Normais de Temperatura e Pressão (CNTP) encontram-se no estado gasoso, enquanto os vapores são sólidos ou líquidos e os aerossóis são partículas sólidas ou líquidas, suspensas ou dispersas no ar, com tamanho reduzido.

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Os gases podem ser classificados como de ação irritante ou asfixiantes. Quando são irritantes, po-dem ter ação intensa (sulfúricos, aldeídos, flúor, amoníacos, acroleína), moderada (cloro e derivados) ou leve (arsínia, ozônio, brometo e cloreto de metila). Essas substâncias podem levar à inflamação tecidual e são percebidos pelo homem em concentrações baixas. A distinção entre irritante e corrosiva depende da natureza da substância, concentração, viscosidade, osmolaridade, potencial de oxidação e redução, complexo de afinidade a pontes bivalentes, da ação do irritante alcalino, intoxicação protoplástica, irri-tante ácido, denaturante, irritante hidrocarboneto. Podemos citar como efeitos clínicos com a inalação: cefaléia, secura/insensibilidade nasal, hemorragia, edema de glote, esôfago ou pulmão.Também atra-vés das vias respiratórias podem ocorrer respiração ofegante, sibilância, tosse e perda de função das vias aéreas. Os gases asfixiantes podem apenas substituir o oxigênio atmosférico, como o nitrogênio ou ainda podem também interagir com o organismo causando alterações nos mecanismos de transporte sanguíneo do oxigênio ou na respiração celular. Como exemplo temos o monóxido de carbono.

Os aerossóis são classificados em poeiras, fumo, fumaça e névoa. Tal classificação é realizada de acordo com o tamanho das partículas.

Poeiras:::: : partículas sólidas que podem se apresentar em suspensão no ar, geradas de materiais inorgânicos, como rochas, minérios, metais, carvão e madeira, sendo produzidas por desinte-gração, trituração, pulverização ou impacto. Elas não se difundem no ar e se depositam sob a influência da gravidade. São partículas com diâmetro variando entre 1 e 100 mícrons.

Fumos:::: : partículas produzidas normalmente pela condensação de vapores após a volatilização de metais fundidos, tais como o derretimento de ferro e chumbo, por exemplo. Seu diâmetro é inferior a 10 mícron.

Fumaças:::::: combustão completa da matéria orgânica, com partículas inferiores a 1 mícron de diâmetro.

Névoas:::: : partículas líquidas de diâmetro entre 0,01 e 100 mícrons, resultantes da condensação de vapores sobre certos núcleos ou da dispersão mecânica de líquidos.

ToxicocinéticaOs agentes tóxicos seguem etapas determinadas ao entrar no organismo. Essas etapas são:

Absorção:::: – é a passagem do agente tóxico do local de exposição para a corrente sanguínea. Ocorre pelas vias de penetração cutânea, digestiva, respiratória, além de outras menos co-muns, como ocular, genital e dental, por exemplo.

Distribuição:::: – após a absorção, o agente tóxico se difunde pelos tecidos através do sangue, líquido intersticial e líquidos celulares. No corpo, existem os considerados órgãos de proteção, ou seja, enquanto armazenado, o agente tóxico dificilmente causa danos ao organismo. Os principais órgãos de proteção são as proteínas plasmáticas, o fígado e os rins.

Metabolismo:::: – são os processos pelos quais o agente tóxico e seus metabólitos se modificam no organismo por reações enzimáticas e não-enzimáticas. Algumas dessas transformações po-dem reduzir ou mesmo impedir seus efeitos, diminuindo a atividade e facilitando a excreção. O principal sítio de desintoxicação é o fígado, através de enzimas chamadas biotransformadoras.

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Excreção:::: – são os processos pelos quais os agentes tóxicos são eliminados do organismo. A principal via de eliminação é a urinária, mas também pode haver excreção por via pulmonar, digestivas ou outras secundárias.

Texto complementar

Atestado médicoConsiderações ético jurídicas

(COSTA, 2008. Adaptado.)

O atestado pode ser classificado como uma instituição, criado que foi, para uma finalidade certa e definida, qual seja a de demonstrar a verdade de determinado ato, ou de determinada situ-ação, estado ou ocorrência. De acordo com Plácido e Silva, dicionarista especializado, “o atestado indica o documento em que se faz atestação, isto é, em que se afirma a veracidade de certo fato ou a existência de certa obrigação. É assim o seu instrumento.“

A utilidade e a segurança do atestado estão intrinsecamente vinculadas à certeza de sua vera-cidade. Assim é que uma declaração duvidosa tem, no campo das relações sociais, o mesmo valor de uma declaração falsa, exatamente por não imprimir um conteúdo de certeza ao seu próprio objeto. Confirmada por atestado médico a veracidade de determinado fato ou a existência de certa obrigação, poderá o beneficiário da declaração pleitear os direitos advindos daquilo que foi declara-do. Expedido no exercício de profissão regular, merecedora de que seus profissionais nele deposite confiança, o atestado médico é verdadeiro por presunção e sua recusa propicia o oferecimento de reclamações tendentes à garantia dos direitos representados pela declaração.

Em busca de preservar a confiabilidade do atestado médico, apontamos aqui cinco condições para sua expedição?

ser sempre exarado por médico habilitado na forma da lei;1.

ser subscrito por quem, de fato, examinou o beneficiário da declaração;2.

ser elaborado em linguagem simples, clara e de conteúdo verídico;3.

omitir a revelação explícita do diagnóstico, salvo quando ocorrente dever legal, justa causa 4. ou pedido expresso do paciente;

expressar a prudência do médico ao estabelecer as conseqüências do exame e, portanto, 5. ao prognosticar.

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Em sendo o atestado parte integrante do ato médico que se inicia com o exame do paciente, não justifica cobrança de valor adicional por sua expedição, sob pena de cominações éticas e penais.

Infelizmente, encontram-se muitos e muitos atestados falsos, tal ocorrência tanto pode proce-der da pusilanimidade do próprio atestante, como da conduta viciada do beneficiário que comete a fraude. Qualquer que seja a situação, atestante e beneficiário estarão sempre envolvidos em res-ponsabilidade conjunta e solidária, capaz de produzir efeitos diversos e funestos tanto no campo ético-profissional, como no campo jurídico-social.

Aspectos ético-penaisO Código Internacional de Ética Médica visa a preservar um dos pontos mais importantes da

relação do médico com o paciente, qual seja o de garantir que a conduta médica relate, sempre, a veracidade dos fatos constatados no exame, qualquer que seja o procedimento executado ou a executar. A mesma linha de disposições pode ser flagrada em nosso Código de Ética Médica.

Tratando conjuntamente do atestado e boletim médicos, o Código pátrio proíbe ao profissio-nal fornecer atestado que não corresponda à prática de ato que o justifique, ou relatando situação diferente da realmente constatada.

Como normatização interna que é, o Código Brasileiro se permite detalhamento incompatível com a natureza internacional daquele outro diploma.

Assim, proíbe a utilização do atestado como instrumento de captação de clientela: confere ao paciente direito subjetivo ao atestado que define como parte integrante do ato médico, não impor-tando seu fornecimento em majoração de honorários.

E ainda do nosso Código a proibição de que o médico sirva-se de formulários de instituições publicas para atestar, mesmo a verdade, quando verificada em instituição particular. O óbito, em princípio, somente poderá ser atestado após verificação pessoal e por quem tenha prestado assis-tência ao paciente, salvo nas hipóteses de verificação em plantão, como médico substituto ou por via de necrópsias ou exame médico-legal. Por outro lado, se o médico vinha prestando assistência ao paciente, atestar-lhe o óbito converte-se em obrigação, salvo na suspeita de morte violenta.

Quando o boletim médico contiver afirmação técnica à semelhança do atestado, deverá com-portar-se segundo as linhas gerais que regulam a produção deste, vedando-se a informação falsa ou tendenciosa.

Do ponto de vista da legislação, o Código Penal, tomando como bem jurídico a preservar a ve-racidade do atestado médico, pune com detenção de um mês a um ano a quem concede atestado falso, agregando à pena certa multa, se o crime e cometido com fim de lucro.

As disposições do Código de Ética acerca do atestado de óbito e do fornecimento deste sem base em ato profissional pessoalmente desenvolvido são igualmente encontradas no Decreto-Lei 20.931, de 1932.

Verificando-se a legislação estrangeira, observa-se que o tratamento e semelhante ao dado pela norma nacional. E o que resulta da análise da legislação francesa, portuguesa, italiana e outras. A diferença entre aqueles países e o nosso vai ocorrer, não nos textos legais, mas na maneira como aquelas normas são aplicadas e na efetividade da punição que ali se observa.

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Algumas medidas simples têm sido propostas a essa prática mal-sã, como relata Irany Novaes ao escrever:

a experiência de juízes registra casos de ação contra médico que, em um semestre, vendeu mais de quinhentos ates-tados para abono de falta em uma só entidade. Há situações muito ilustrativas que comprovam ser possível coibir o médico em sua faina de conceder atestados falsos. Os mesários escolhidos pela Justiça Eleitoral não encontram um só médico que dê atestado para justificar seu não comparecimento a convocação, graças a idéia brilhante que um juiz teve de despachar o pedido nos seguintes termos: Justificada a ausência, convoque-se o atestante para as próximas eleições.

Sem dúvida, a liberalidade na outorga desse valioso instrumento é nociva aos médicos e à própria medicina, por abalar a credibilidade de ambos perante a sociedade, a qual, ademais, perde um instrumento útil que pela prática fraudulenta já não atende à sua finalidade original.

Segredo médicoPor segredo entende-se tudo aquilo que é conhecido e não revelado. O segredo é, portanto, o

guardado resultado de um certo processo de conhecimento que se desenvolveu. Não há que falar em segredo quando ausente o conhecimento. Visto que a informação segredada advém de pesqui-sa, delimita-se dois campos dentro dos quais se pode considerar o sigilo: sigilo quanto aos passos do processo de conhecimento e sigilo quanto ao resultado da pesquisa.

No primeiro caso, tratamos, segundo a terminologia definida por alguns autores, de segredo profissional. Na outra hipótese, temos o sigilo médico ou sigilo diagnóstico

Para o professor Hilton Rocha, a divisão existem é indispensável:

Com a evolução, com as evoluções sociais e comunitárias, o rigorismo do sigilo foi-se atenuando, ampliando-se as exceções iniciais. Não se consegue mais manter estritamente inviolados os diagnósticos. Tenho para mim que poderíamos considerar dois aspectos distintos, a que eu rotulo para diferenciar como sigilo médico e segredo profissional. Se sigilo médico envolve diagnósticos, que hoje muitas vezes somos compelidos a divulgar, já o segredo profissional, como relacionado com confidências, inclusive sobre intimidadas dos lares visitados, estes são segredos de que somos confidentes, e não podemos jamais revelar, sob pena de nos tor-narmos perjuros.

Atividades1. A Medicina do Trabalho:

a) visa somente atender aos interesses da empresa, buscando somente maior lucratividade.

b) possui um campo de trabalho pequeno, restrito a empresas de grande porte.

c) busca a prevenção de doenças e acidentes de trabalho, além da promoção da saúde e quali-dade de vida do trabalhador.

d) não necessita ter conhecimentos de outras áreas da Medicina, como a Clínica Médica, por exemplo.

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2. Assinale a alternativa correta.

a) A intoxicação é um estado patológico causado pela interação de um agente químico e o organismo.

b) O agente tóxico não é capaz de levar ao óbito.

c) O grau de toxicidade não tem relação com o biotipo da pessoa.

d) O estado de disperção do agente tóxico não influi na sua toxicidade.

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Toxicologia ocupacionalO corpo humano possui sistemas naturais de defesa que o ajudam a se proteger contra muitos

riscos ambientais e ocupacionais. Esses sistemas de defesa ajudam também o organismo a curar-se quando sofre um dano e/ou fica doente. Os riscos ocupacionais podem ser representados pelas bacté-rias, vírus, substâncias químicas (material particulado, líquidos, gases, vapores), ruído, temperatura, pro-cedimentos de trabalho (fatores anti-ergonômicos). O principal objetivo deste capítulo é identificar os princípios gerais da Toxicologia Ocupacional e a sua importância no cotidiano do médico do Trabalho, com exemplos práticos.

Princípios gerais de ToxicologiaPodemos destacar a relação dose–resposta do agente toxicológico, os fatores que influenciam

na toxicidade, a toxicocinética, a toxicologia dos metais (Pb, Hg, Cd, As), a toxicidade dos solventes, dos gases e dos vapores irritantes e asfixiantes, além dos agrotóxicos.

Principais vias de introduçãoA pele constitui-se numa importante camada protetora do organismo, mas não protege sempre

contra os riscos presentes no ambiente de trabalho, porque as substâncias químicas podem ser absorvi-das diretamente pelo organismo através da pele saudável. Uma vez absorvidas, as substâncias químicas, através da circulação, são transportadas para os órgãos-alvo, produzindo efeitos nocivos.

Vários materiais ou situações no ambiente de trabalho podem causar moléstias ou lesões. O tra-balho mecânico onde se realizam fricção, pressão e outras formas de força, como os trabalhadores que utilizam rebitadeiras, retiram lascas, verrumas e martelos, podem produzir calos, bolhas, lesões dos nervos, cortes etc. Existem centenas de novas substâncias químicas que ingressam nos ambientes de trabalho a cada ano e algumas delas podem ocasionar irritação da pele e reações alérgicas da derme. Algumas substâncias, tais como ácidos e álcalis fortes, provocarão lesões na pele quase instantanea-mente, enquanto outras, como ácidos, álcalis diluídos e solventes em geral, provocarão efeitos na pele apenas se houver contato desta com a substância química com certa freqüência.

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Quais substâncias podem danificar a pele?Podem causar danos a pele todas as formas de petróleo, entre elas diesel, lubrificantes, combus-

tíveis, solventes, diluentes e desengraxantes, como parafina e tricloroetileno, além dos produtos deri-vados do petróleo e produtos do alcatrão da hulha, como os fenóis e os cresóis. Algumas substâncias podem tornar a pele enrijecida, após a formação de bolhas ou produzir escamas. Tais lesões são deno-minadas dermatites.

Dermatites: sintomatologiaHabitualmente, os sintomas somente aparecem quando a substância química entra em contato

com a pele e desaparecem quando o trabalhador deixa de estar em contato com a substância.

Algumas substâncias químicas podem causar dermatites de contato, tais como o formaldeído, compostos de níquel, resinas epóxi, catalisadores utilizados na fabricação de produtos plásticos, agen-tes germicidas que levam sabão, produtos de limpeza, em particular o hexaclorofeno, bitionol, silicilani-lidas halogenadas e os cromatos.

Sistema respiratórioO sistema respiratório possui um mecanismo muito eficaz para filtrar os poluentes normais que

ocorrem no ar. Os sistemas de filtração do nariz (pêlos) e do trato respiratório superior (mucosas e cílios vibráteis) impedem que grandes partículas penetrem no organismo e atinjam os pulmões, produzindo efeitos adversos à saúde.

Em geral, o sistema respiratório filtra as partículas de pó de diâmetro grande, entre as quais as fibras, sendo muito difícil eliminar as partículas de diâmetros pequenos, que podem atingir partes mais profundas dos pulmões e ocasionar graves problemas respiratórios locais. Quando os pulmões estão expostos a con-centrações elevadas de pós, vapores, fumos de cigarro, poluentes da atmosfera, os mecanismos de filtração podem ficar sobrecarregados e sofrer um dano. Uma vez instalado esse dano, é provável que se desenvolvam nos pulmões diferentes bactérias, vírus, entre outros germes, provocando doenças como a pneumonia.

Tarefas em locais com pó em demasia, como minas de bauxita e carvão, engenhos de açúcar, amianto, indústria química, indústria farmacêutica, acarretam em maior possibilidade de contrair doen-ças respiratórias em comparação a outros trabalhadores em outras atividades.

Gases e vapores também podem penetrar no organismo através do sistema respiratório. Efeitos locais no trato respiratório superior e nos pulmões serão absorvidos passando para a corrente sangüí-nea, podendo provocar efeitos adversos nos órgãos-alvo.

Aspectos toxicológicos dos solventes orgânicosOs solventes orgânicos são de grande interesse para a Toxicologia Ocupacional, sendo largamen-

te utilizados na dissolução, extração, desengraxamento, para tintas corantes, pinturas, coberturas, na

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diluição, como dispersante e na limpeza a seco. Mas seu uso também pode estar relacionado a combus-tíveis, alimentos, drogas de uso abusivo, bebidas, explosivos e poluentes.

Sua absorção pode ocorrer de maneira rápida pela via inalatória ou cutânea e menos comumente através de sua ingestão. Sua distribuição ocorre de acordo com o teor de lipídios e o mecanismo de vascularização. Os tecidos adiposos e outros, ricos em lipídios, são depósitos para armazenamento. Seu metabolismo geralmente é hepático. Sua excreção se dá pela urina, fezes e pelo ar expirado.

Características comuns na toxicidade dos solventesPodem ser observados efeitos dérmicos locais devido à extração dos lipídios da derme, efeito

depressor do Sistema Nervoso Central, efeitos neurotóxicos, efeitos hepatotóxicos, ou seja, tóxicos para o fígado, efeitos nefrotóxicos, ou seja, tóxico para os rins e provável risco de câncer.

Como efeitos hepatotóxicos podemos citar a hepatite química, com o aumento das transami-nases indicando dano hepatocelular esteatose, que ocasionalmente progride para necrose hepática; possível cirrose (na recuperação); metabolismo reduzido de outros xenobióticos.

Os efeitos tóxicos sobre os rins podem variar desde uma necrose tubular aguda, devido à ex-posição aguda severa a hidrocarbonetos halogenados, glicóis, tolueno e destilados do petróleo, até mesmo a uma glomerulonefrite crônica, devido a uma exposição contínua,ccom a qual a gasolina está bastante relacionada.

Como características dos efeitos tóxicos ao sistema nervoso central (SNC) de forma aguda pode ter sua atividade como um anestésico geral ou, por uma inibição seletiva, acarretando narcose, euforia, agitação (desinibição), incoordenação motora, ataxia, disartria. De forma crônica, torna-se mais comple-xa a atribuição, mas pode estar relacionada com a “Síndrome dos Pintores” que, por sua vez, pode estar ligada à ocorrência de um conjunto de fatores como depressão, desempenho psicomotor retardado, alteração da personalidade, bem como déficit de memória recente.

Capazes também de apresentar alta toxicidade periférica, os solventes podem causar neuro-patia axonal distal, especificamente. Dentre eles estão o n-hexano, metil-n-butil cetona, dissulfeto de carbono (conhecidos), estireno, tetracloroetileno (suspeitos), levando a parestesias sensoriais preco-ces, tais como dormências, perda da capacidade de receber estímulos dos músculos e tendões, pos-teriormente. Esses efeitos apresentam-se inicialmente nas baixas extremidades, como a ocorrência de reflexos no tendão calcâneo e a vibração. Como efeito motor, observa-se a fraqueza motora e a atrofia de nervos.

Toxicologia geral dos solventes halogenados alifáticosEsses solventes têm como algumas de suas principais características o potencial de causar severa

hepatotoxicidade, nefrotoxicidade, arritmias cardíacas e alto potencial carcinogênico, ou seja, podem desenvolver câncer.

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Toxicologia específica dos solventes halogenados alifáticosA gasolina pode estar relacionada aos casos de glomerulonefrite1. Quando aspirada, pode levar

à pneumonite, e sua alta toxicidade pode estar relacionada, também, aos altos teores de chumbo em sua composição.

Para a investigação da intoxicação por nitratos alifáticos, por se tratar de um composto de extre-ma hepatotoxicidade, como o trinitrotolueno (TNT), a metahemoglobina é um exame a ser solicitado, sendo a hipotensão um dos sintomas observados.

É muito importante lembrar que o organismo dispõe de vários mecanismos que podem emitir sinais de alarme quando ocorrem riscos, tais como odor, tosse e irritação no nariz. Esses sinais de adver-tência apenas indicarão um provável risco. Muitas substâncias químicas, no entanto, não apresentam odor e, assim, não as podemos identificar. Outras substâncias químicas só apresentam odor quando se apresentam em concentrações muito acima dos níveis de segurança e já podem estar provocando danos à saúde.

Alternativamente, outras não apresentam odor após determinado tempo próximo a elas, pois o nariz se habitua com essa sensação, ocorrendo, portanto, uma adaptação. Dessa forma, nem sempre o olfato é um sinal de alarme confiável.

ÁlcooisOs álcoois estão divididos em etanol, metanol e glicol. O etanol pode apresentar numerosos efei-

tos adversos. É capaz de provocar intoxicação aguda, como nos casos de embriaguez e no abuso crô-nico do álcool, podendo causar dependência. Fetos também podem sofrer as conseqüências do álcool durante a gestação e, quando nascem, frequentemente sofrem da Síndrome Alcoólica Fetal, causada pela abstinência, conhecida nos adultos como Delirium tremens.

O metanol, também conhecido como álcool metílico ou álcool da madeira, líquido, inflamá-vel, é obtido através da destilação de madeiras ou pela reação do gás de síntese, vindos de origens fósseis como o gás natural, passando por um catalisador metálico a altas temperaturas e pressões. É utilizado como solvente na indústria de plásticos, na extração de produtos animal e vegetal, também na indústria farma-cêutica, no preparo de hormônios e vitaminas. Pode ser usado também como combustível e no preparo do biodiesel. Apresenta metabolismo muito lento nos primatas. Quando inalado provoca leve irritação às mu-cosas e membranas. Os sintomas da exposição incluem dor de cabeça, náusea, vômito, e coma, podendo levar à morte. Devido a sua alta toxicidade no nervo óptico, quando afeta a retina pode causar cegueira.

O etileno glicol (etanodiol) é bastante nefrotóxico. Pode levar à deficiência de cálcio, levando o doente a se submeter à hemodiálise, além de poder apresentar alta toxicidade no sistema reprodutivo.

Toxicologia específica dos solventes aromáticosBTEX (benzeno, tolueno, etilbenzeno, xileno) – contaminantes comuns do solo e água. O tolueno

apresenta potente toxicidade no SNC e desordem cognitiva crônica. O xileno é irritante às membranas e mucosas, especialmente a ocular.

1 Inflamação dos glomérulos, que são estruturas renais microscópicas, responsáveis pela filtragem do sangue.

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O benzeno foi descoberto em 1825, por Michael Faraday, no gás da iluminação usado em Lon-dres, na ocasião. Aproximadamente 50% do benzeno inalado é absorvido, e sua baixa solubilidade em água provoca expansão dos tecidos adiposos. Com intoxicação aguda, os efeitos são essencialmente devido à ação no sistema nervoso central. Em concentração moderada, os sintomas são desmaios, ou um estado de confusão, excitação e palidez, seguido de fraqueza, dor de cabeça e sensação de morte iminente. Em concentrações altas os sintomas são de excitação e euforia, seguido de cansaço, fadiga e sonolência. Se a vítima não for atendida nessa fase, problemas respiratórios ocorrem associados a con-trações musculares, convulsões e morte. O maior efeito atribuído à exposição crônica são os efeitos ao sistema nervoso central, que podem levar a vítima à leucemia.

A exposição ocupacional do benzeno se dá em refinarias de petróleo, em petroquímicas, em co-querias, nos distribuidores de combustíveis, nas indústrias de couro, em laboratórios químicos e bioló-gicos. A exposição extra-ocupacional ocorre no ato de inalar a fumaça do cigarro e da poluição do trá-fego veicular. Na metabolização, o benzeno é distribuído para várias partes do corpo, tais como medula óssea, sangue, tecido adiposo e fígado. É também transportado do sangue para os pulmões. Cerca de 12% do benzeno absorvido é eliminado inalterado pelos pulmões, e cerca de 1% pela urina. A meia-vida do benzeno é estimada em 9 horas, mas esses valores podem alcançar também 24 horas, porque o benzeno tende a se depositar no tecido adiposo, de onde é lentamente liberado.

Na intoxicação aguda, os sintomas mais evidentes são mais evidentes no SNC, enquanto na into-xicação crônica o efeito mais relevante está a cargo do sistema hematopoiético, caracterizado por uma menor produção de eritrócitos, leucócitos e plaquetas pela medula, características da anemia aplásica, além da indução de leucemia mielóide aguda. O benzeno é um líquido inflamável, incolor, que pode ser de odor agradável, carcinógeno não-genotóxico.

O tolueno é um hidrocarboneto aromático volátil e incolor, com amplo uso industrial, na-turalmente presente no petróleo. É um dos solventes produzidos em maior quantidade. Cerca de 92% do tolueno obtido é utilizado na produção de gasolina. O restante, purificado como tolue-no comercial, é empregado na elaboração de produtos químicos. Muitas tintas, colas, polidores, diluentes, desengordurantes e removedores contêm essa substância como seu principal constituinte. É um solvente que atua sobre o SNC em exposições agudas e crônicas. Apresenta ação irritante sobre pele e mucosas e seus efeitos agudos são semelhantes aos decorrentes da intoxicação etanólica: efeitos estimu-lantes, seguidos de depressão do SNC. Em exposições crônicas, pode provocar hepatotoxicidade, nefrotoxi-cidade e perda auditiva. Estudos sobre a exposição crônica ao tolueno a baixas concentrações demonstram mudanças neurocomportamentais e exposições a altas concentrações podem ocasionar não apenas defi-ciência de atenção e concentração, mas também déficit motor.

O controle e a prevenção da exposição a esse solvente é realizado através de medidas de controle ambiental, com uso de roupas impermeáveis, luvas, óculos de segurança e máscaras com filtro químico. Adicionalmente, tendo em vista seus efeitos tóxicos, todos os trabalhadores com risco de exposição ao tolueno devem realizar monitorização biológica por meio de exames toxicológicos para avaliar seu grau de exposição a esse solvente. A norma regulamentadora (NR) 7, da Secretaria de Segurança e Medicina do Trabalho do Ministério do Trabalho, indica o ácido hipúrico (AH) urinário como indicador de exposi-ção ocupacional ao tolueno. O AH é o metabólito do tolueno encontrado em maior concentração na uri-na e seus níveis estão diretamente relacionados aos níveis de tolueno no ambiente, sendo considerado adequado como biomarcador de exposição a esse solvente. De acordo com a NR 7, o valor de referência (VR) para o AH é 1,5 grama de AH por grama de creatinina, e seu Indice Biológico Máximo Permitido (IBMP) é 2,5 gramas de AH por grama de creatinina.

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A exposição ocupacional se dá em usinas petroquímicas e refinarias de petróleo, enquanto a ex-posição extra-ocupacional ocorre com o uso de produtos de limpeza e colas. O tolueno é absorvido através dos pulmões e mais lentamente pela pele. No organismo, é encontrado primeiramente no san-gue, e em seguida deposita-se no tecido adiposo. Cerca de 20% da dose absorvida é eliminada pelo trato respiratório, e 80% é biotransformado, sendo os principais metabólitos dessa reação o ácido hi-púrico, o o-cresol e o ácido benzóico. A chamada “cola de sapateiro” é um produto tóxico que contém o solvente tolueno. Além disso, esse solvente tem emprego industrial na preparação de vários compostos. Entre eles o TNT (trinitrotolueno), explosivo muito usado em demolições. O tolueno é uma substância orgânica líquida e incolor derivada do benzeno. É extremamente cancerígeno e alucinógeno.

Nos Estados Unidos e Europa existem leis limitando seu uso nas colas em 4%. No Brasil, ele é usado na proporção de 25%. A cola de sapateiro, manuseada por operários, por tapeceiros, além dos próprios sapateiros, provoca sérios problemas de saúde: sintomas como tonturas, enjôo e até doenças como o câncer. Os menores abandonados que cheiram a cola tóxica (clientes clandestinos do produto), geralmente ficam drogados, com mudanças de comportamento, em processos de alucinação, não raras vezes realizando ações criminosas, sempre violentas.

O xileno é um hidrocarboneto aromático que pode ser utilizado de maneira ocupacional como solvente; freqüentemente em combinação com o tolueno, na fabricação de resinas sintéticas e como intermediário na preparação de ácidos empregados industrialmente em matéria plástica, lacas e vernizes; na industria farmacêutica, através das preparações de vitaminas; e em laboratórios de ana-tomia patológica. A exposição extra-ocupacional pode ocorrer através do fumo do cigarro, do gás de descarga da gasolina verde e de alguns diluentes.

Sua exposição aguda provoca irritação nos olhos e pele com o aparecimento de dermatites e, de forma crônica, através da exposição prolongada aos vapores, pode provocar conjuntivite, irritação da pele e cavidade nasal, e no SNC pode gerar inicialmente excitação, depois depressão. As principais vias de absorção são o trato respiratório e a pele. No organismo as reações são semelhantes ao metabolismo do tolueno.

A exposição ao n-hexano ocorre de maneira ocupacional nas indústrias de calçados como sol-ventes de colas, e em laboratórios como agentes de extração na determinação do índice de refração dos minerais. A exposição extra-ocupacional pode ocorrer no uso de colas, para a montagem e prática de aeromodelismo. A absorção ocorre pelo sistema respiratório e pela pele, podendo se acumular no tecido adiposo. Sua principal via de excreção são os pulmões, através do ar exalado, mas também pode ser eliminado pela urina.

A exposição elevada ao hexano produz um efeito narcótico. A exposição às concentrações pode causar neuropatias periféricas e um efeito neurotóxico aumentado por uma exposição simultânea a metil etil cetona (MEK). Para compostos como o n-hexano, é provável que tal efeito se deva ao seu pro-duto de biotransformação, a 2,5-hexanodiona. Sabe-se que esse metabólito interage com componen-tes dos axônios, podendo causar degeneração nervosa central e periférica.

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Atividades1. Os riscos ocupacionais podem ser representados por:

I. substâncias químicas.

II. ruídos elevados.

III. temperaturas altas ou baixas demais.

IV. depressão.

V. problemas socioeconômicos.

Pode-se afirmar que:

a) apenas I e IV estão corretas.

b) apenas I e II estão corretas.

c) apenas I e III estão corretas.

d) apenas I, II e IV estão corretas.

e) apenas I, II e III estão corretas.

2. São fatores que influenciam na toxicidade:

a) idade do trabalhador exposto.

b) massa corpórea do trabalhador exposto.

c) temperatura do ambiente.

d) quantidade utilizada do agente tóxico.

e) todas as alternativas estão corretas.

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Metais pesadosOs metais pesados são os agentes tóxicos mais antigos e conhecidos do homem. Já no ano de

2000 a.C., grandes quantidades de chumbo eram obtidas de minérios, como subproduto da fusão da prata. As minas de prata eram compostas de galena (minério de chumbo), um metal dúctil, maleável, prateado e resistente à corrosão. Possivelmente esse tenha sido o início do uso desse metal pelo ho-mem. Com o tempo, vários estudos foram realizados sobre o assunto, com destaque para Hipócrates, o pai da Medicina, que descreveu o quadro clínico de intoxicação por chumbo em mineiros; Plínio, o Velho, que descreveu o aspecto observado em alguns escravos em minas de chumbo e mercúrio; e Ellenborg, que expôs os riscos de exposição do trabalhador de ourivesaria ao vapor dos metais.

Metais pesados são os elementos químicos de alto número atômico, normalmente acima de 22. Também possuem uma característica extremamente peculiar, que é a de serem precipitados por sul-fetos. Mas a melhor e mais difundida definição de metais pesados é aquela que afirma que os metais pesados são aqueles que apresentam efeitos adversos à saúde humana. Ao contrário de outros agentes tóxicos, eles não são sintetizados nem destruídos pelo homem. A partir do contato com o organismo humano, sua contaminação é progressiva, ou seja, ocorre com o acúmulo dos metais no organismo. A sua presença pode ser associada à localização geográfica. Locais onde a água ou o solo esteja contami-nado por metais pesados possuem fortes possibilidades de intoxicação. Para que isso seja evitado, é ne-cessário que se limite o uso de produtos agrícolas, além da proibição do uso de locais contaminados.

Os metais pesados, a partir do momento em que haja contato com o organismo, podem repre-sentar diferentes riscos à saúde. Esses riscos podem ser imediatos, como também podem ter efeitos nocivos a médio ou longo prazo, uma vez que a sua contaminação é progressiva e cumulativa. Outra característica importante é o fato de serem capazes de afetar diferentes órgãos e tecidos do organismo. Isso decorre da alteração de processos bioquímicos, organelas e membranas celulares dos respectivos órgãos afetados, graças à afinidade dessas regiões com o agente tóxico em questão. As populações mais afetadas são aquelas em que a imunidade e a resistência física sejam mais baixas. Idosos e crianças, por exemplo, são mais susceptíveis a serem intoxicados que os adultos jovens saudáveis, por exemplo.

A principal fonte de contaminação por metais pesados é via oral. Isso decorre do fato de os ali-mentos serem os agentes tóxicos, devido à contaminação da água e do solo. Pode afetar plantações ou mesmo animais que utilizam a água, ou do próprio solo para subsistência e esse metal pesado presente nesses alimentos são repassados ao homem. Dessa forma, percebe-se que todas as formas de vida são afetadas pela presença de metais pesados no meio ambiente, dependendo da dose de concentração do agente tóxico. Outro fator importante é que, também graças à intoxicação pela via digestiva, os metais

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pesados possuem elevado índice de absorção gastrintestinal. Vale ressaltar, no entanto, que vários desses metais são necessários e fundamentais para o crescimento de todos os tipos de seres vivos, desde colônias de bactérias até mesmo o ser humano. Logicamente, esses metais pesados devem estar presentes em uma determinada dose, acima da qual começam a aparecer sinais e sintomas de intoxicação.

Recentemente, vários casos de intoxicação por metais pesados foram registrados. As principais ocorrências foram com idosos e crianças. O acúmulo desses metais em rios e solos, entretanto, fez com que o número de lotes e populações fosse afetado, gerando um número também preocupante. Tendo em vista o efeito gradativo e cumulativo da presença dos metais pesados no organismo, há pouca in-formação precisa sobre riscos e conseqüências da contaminação por esses metais para a saúde humana numa perspectiva em longo prazo.

Os metais pesados podem ser classificados em:

Elementos essenciais:::: – cálcio, ferro, zinco, cobre, níquel e magnésio.

Microcontaminantes ambientais:::: – arsênico, chumbo, cádmio, mercúrio, tungstênio, alumí-nio, titânio, estanho.

Mistos:::: – cromo, zinco, ferro, cobalto, manganês e níquel.

ChumboO chumbo foi um dos primeiros metais que o homem aprendeu a usar. Há evidências de que já

era utilizado na Ásia Menor em meados do ano 2000 a.C. Assim, como o chumbo já é utilizado há tanto tempo, a história da intoxicação por chumbo é vasta e bem relatada. Hipócrates foi o primeiro a relacio-nar o chumbo como causa de doença ocupacional, ao estudar alguns mineiros. Na Idade Média, pouco se falou sobre a intoxicação por esse metal. O assunto retornou à literatura médica com Paracelsus, no século XVI, com a descrição da “doença dos mineiros”. Dentre as várias descrições e estudos, destaca-se a obra de Tanquerel, que em 1839 realizou a primeira descrição moderna da intoxicação por chumbo, ao analisar mais de 1 200 casos. Esse estudo foi tão detalhado que, até hoje, muito pouco foi acrescentado no que tange aos sinais e sintomas clínicos.

A intoxicação por chumbo tem o nome de plumbismo ou saturnismo. Ela ocorre devido, espe-cialmente, à exposição prolongada, muito comum em áreas industriais e pode ser causada devido a compostos inorgânicos utilizados em inúmeras indústrias e atividades. Dentre as quais, pode-se citar a indústria extrativa, petrolíferas, baterias, tintas e corantes, cerâmica, cabos, tubulações e munições. A intoxicação pode também ocorrer se o chumbo for incorporado ao cristal na fabricação de copos, jarras e outros utensílios, no intuito de fornecer brilho e durabilidade, sendo incorporado aos alimentos e be-bidas durante o processo de industrialização, ou mesmo no preparo doméstico.

O chumbo pode penetrar no organismo através de diversas maneiras. As mais comuns são pelas vias respiratória, cutânea ou digestiva. A partir do momento em que está dentro do corpo, o chumbo pode se distribuir por todo organismo, sendo excretado pelos rins, biles, suor e até mesmo pelo leite materno. Seu acúmulo é lento e progressivo, sendo que cerca de 90% do depósito total de chumbo no organismo acumula-se nos ossos, havendo concorrência direta com o cálcio. O restante desse metal deposita-se no sangue e em partes moles, especialmente nos rins e no cérebro. O chumbo tem a pro-

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priedade de atravessar facilmente a placenta, o que faz com que a concentração sanguínea da mãe seja similar à do feto.

O quadro clínico da intoxicação por chumbo varia de acordo com diversos fatores, como o tempo e nível de exposição ambientais, uso de equipamento de proteção individual e coletiva, além de fatores individuais. As principais manifestações ocorrem no trato gastrintestinal, sistema hematopoiético, siste-ma nervoso (central e periférico) e rins.

A intoxicação crônica é a mais comum, tendo o quadro progressivo e insidioso. No início, nor-malmente aparecem sintomas gerais e inespecíficos, tais como fraqueza, dores musculares, dores em membros inferiores, insônia, fadiga, irritabilidade, perda progressiva de memória, dores abdominais e cefaléia. Na grande maioria das vezes, observa-se que o paciente tem uma história ocupacional de ex-posição prolongada ao metal e poucas e inadequadas medidas de segurança.

Os principais sintomas ocorrem no trato gastrointestinal, com a presença da cólica intestinal in-tensa como principal sintoma. Pode haver diarréia ou constipação, sendo esta mais comum que aquela, como também a presença de úlceras, gastrite e perda de apetite. No sistema ósteo-muscular, a gota é muito comum, devido a um aumento no nível de ácido úrico sanguíneo. Pode também haver dores nas articulações. No sistema cardiovascular, é comum o trabalhador começar a apresentar hipertensão ar-terial. Em relação ao sistema nervoso, o trabalhador com intoxicação por chumbo pode apresentar um quadro denominado encefalopatia satúrnica, cujos sinais e sintomas variam desde alterações psicoló-gicas e de conduta leves até alterações neurológicas graves. Pode também apresentar quadros depres-sivos, déficit de concentração, de inteligência e de habilidades visuais e motoras. Pode haver um com-prometimento de nervos motores, e o sintoma mais freqüente é a debilidade dos músculos extensores, sendo essa a causa de alteração na força das mãos. Isso pode evoluir para um quadro denominado paralisia satúrnica, no qual a pessoa perde o movimento das mãos.

Para realizar o diagnóstico da intoxicação por chumbo, é fundamental que seja feita uma anam-nese ocupacional muito detalhada, ou seja, que seja pesquisado minuciosamente os sinais e sintomas e que haja descrição completa do ambiente de trabalho para saber se a fonte geradora da doença foi o ambiente laboral. Também o exame clínico minucioso e alguns exames complementares são primor-diais para realizar o diagnóstico de maneira adequada.

Na anamnese ocupacional, primeiramente, deve-se buscar um relato completo e detalhado do trabalhador sobre sua atividade. Cabe também ao médico examinador a avaliação das condições de tra-balho, ou seja, observar se há o risco da contaminação pelo metal em questão. Após a análise dos sinais e sintomas, também é útil buscar sinais e sintomas semelhantes nos colegas de trabalho. No exame clí-nico, o achado mais peculiar do saturnismo é a linha de Burton. Esse sinal corresponde a uma coloração negra na gengiva, que são os depósitos dos sais de chumbo.

Os exames laboratoriais complementares para o diagnóstico de saturnismo podem ser gerais ou específicos. Nos exames gerais, além do aumento dos níveis de ácido úrico, conforme anteriormente mencionado, pode ocorrer uma redução nos níveis de hemoglobina e eritrócitos, o que gera anemia. Entre os exames específicos, o chumbo sérico é o mais importante entre eles. Espera-se que o valor de chumbo encontrados no sangue de um adulto seja inferior a 30mg/dL, e em crianças abaixo de 25mg/dL. O contrário fala a favor de intoxicação plúmbica, principalmente se os níveis estiverem acima de 60mg/dL, quando provavelmente a pessoa afetada apresentará sinais de toxicidade. Também são úteis a dosagem do chumbo urinário, cujo valor de referência é inferior a 65mg/dL, com limite de 150mg/dL, do Ácido Delta Aminolevulínico, cujos valores de referência e de limite são 4,5mg/dL e 15mg/dL,

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respectivamente; e da Zincoprotoporfirina, cujos valores de referência e limite são, respectivamente, 75mg/dL e 200mg/dL. Também uma radiografia óssea pode ser útil, apresentando “linhas de chumbo” nas metáfises ósseas das crianças e densidade aumentada nos ossos cúbito e perônio (ossos menores), indicando exposição de meses de duração.

Algumas doenças podem ter sinais e sintomas similares àqueles apresentados na intoxicação por chumbo. Entre elas podemos destacar o abdômen agudo, ou seja, a dor intensa e súbita abdominal, com evolução de menos de 24 horas. O quadro de abdômen agudo apresenta dor abdominal que pode ser similar à dor sentida nos quadros de saturnismo. Entre os diagnósticos diferenciais, também pode-mos citar a Porfíria Intermitente Aguda e transtornos neuromusculares.

O tratamento do saturnismo deve ser realizado de acordo com o estágio da doença. O afastamen-to do posto de trabalho deve ser imediato, e é uma das medidas mais importantes do tratamento em qualquer fase da doença. A terapia medicamentosa, quando utilizada, deve ser constantemente moni-torada. Para a obtenção da cura, devem ser usadas terapias com quelantes de chumbo ou antioxidantes ou a associação de ambos. O retorno ao posto de trabalho só deve ocorrer se o trabalhador estiver totalmente curado e se houver controle da fonte geradora da intoxicação.

Ainda mais importante que o tratamento são as medidas de prevenção, no intuito de evitar o surgimento de novos casos. O primeiro e mais importante passo seria a realização de um controle am-biental intenso e efetivo no posto de trabalho, uma vez que este foi o principal responsável pelo apa-recimento da doença. A educação continuada do trabalhador também é fundamental. As medidas de higiene básicas, como não se alimentar no local de trabalho, lavar as mãos, tomar banho ao sair do posto para casa e trocar de roupas, devem ser sempre estimuladas e devidamente cobradas. Também é de suma importância a realização dos exames médicos de rotina. O exame periódico assume papel primordial, uma vez que nele o médico pode detectar a presença dos sinais e sintomas que possam sugerir a intoxicação por chumbo. Também é importante que as empresas que tenham o risco de con-taminação pelo metal utilizem-se dos exames periódicos para realizar o controle do chumbo sérico dos trabalhadores. Muitas vezes, consegue-se detectar a doença em sua fase subclínica, ou seja, antes de surgirem os primeiros sinais e sintomas, apenas com a alteração laboratorial.

O prognóstico para os casos de intoxicação por chumbo também depende do estágio da doen-ça. Quadros de intoxicação leve possuem bom prognóstico, com melhora significativa dos sintomas e posterior retorno ao trabalho após normalizar os marcadores biológicos. Quando houver dano renal, chegando a um quadro de insuficiência renal crônica, com possível encefalopatia satúrnica, dificilmen-te o trabalhador vai conseguir obter a cura, podendo chegar ao óbito. Por fim, os casos de neuropatia periférica intensa podem ser irreversíveis, podendo conduzir à paralisia permanente.

MercúrioA utilização em larga escala do mercúrio para fins industriais e o emprego de compostos mer-

curiais durante décadas na agricultura resultaram num substancial aumento na contaminação am-biental, especialmente da água e dos alimentos. A intoxicação por mercúrio também recebe o nome de hidrarginismo. Historicamente, na Inglaterra do início do século XIX, os fabricantes de chapéu de feltro utilizavam uma substância chamada nitrato de mercúrio no processo de feltração. A exposição

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contínua começou a fazer com que esses chapeleiros começassem a ter espasmos, convulsões, tre-mores e distúrbios psiquiátricos. Esse episódio ficou conhecido como “loucura dos chapeleiros”, e foi imortalizado por Lewis Carroll, em 1845, em sua obra Alice no País das Maravilhas, com o personagem “Chapeleiro Maluco”.

O mercúrio possui algumas particularidades em relação aos demais metais pesados. Ele é o único metal líquido à temperatura ambiente. Todos os seres vivos estão expostos a esse metal devido à po-luição ambiental, especialmente em lixões, esgotos domésticos e urbanos e rios próximos a empresas que têm no mercúrio uma de suas matérias-primas. Os maiores riscos de exposição profissional se dão com os vapores de mercúrio e seus compostos inorgânicos. O metal encontra-se presente em diver-sos equipamentos, como aparelhos de aferição em laboratórios e hospitais (termômetros, barômetros), amálgama, garimpo e fabricação de lâmpadas, por exemplo. Embora ainda se encontre o mercúrio em uma quantidade significativa no meio ambiente, percebe-se uma preocupação cada dia maior com esse metal, que aos poucos vem sendo substituído por outras substâncias similares e menos tóxicas.

O metilmercúrio, que corresponde ao mercúrio inorgânico biotransformado por bactérias, é o principal responsável pelas intoxicações ambientais. Ele é responsável pela contaminação de peixes e outros alimentos e possui grande afinidade com o sistema nervoso central.

As vias de penetração do mercúrio no corpo humano em intoxicações profissionais são as mais diversas. A mais comum é a via respiratória. O trabalhador inala o metal em forma de vapores e pó, sendo a absorção pulmonar responsável por cerca de 80% do mercúrio inalado. Ele também tem a propriedade de cruzar a placenta, o que faz com que o feto possua o mesmo nível sérico de mercúrio se comparado com a mãe.

A intoxicação por mercúrio pode ocorrer tanto na forma aguda como também de maneira crônica. As exposições ocupacionais podem ser caracterizadas como agudas e crônicas, enquanto as exposições ambientais são, normalmente, crônicas. Na intoxicação aguda, a pessoa pode apresentar problemas respiratórios, tais como bronquiolite e mesmo pneumonia, além de edema pulmonar agudo, que pode ser associado a sintomas do sistema nervoso central, como tremores e excitabilidade. Pode ocorrer leve dor abdominal, vômitos, diarréia com sangue. Também há o risco de colapso circulatório, com falência renal, além de dificuldades na marcha, paralisia, redução do campo visual, com déficit visual e auditivo. Nas intoxicações crônicas, pode ocorrer a chamada “tríade mercurial”, que consiste em gengivo estoma-tite, tremores e eretismo, ou seja, insônia, perda de apetite, timidez, perda de memória e instabilidade ocupacional. O sistema nervoso central é o mais afetado, havendo alterações psíquicas como as mais precoces. Também pode haver perda de peso, cefaléia, irritabilidade, depressão, rubor facial, sudorese intensa e tremores persistentes, com comprometimento na fala e na escrita.

O diagnóstico também se dá a partir de uma anamnese completa, clínica e ocupacional, exame físico detalhado e eventuais exames complementares. Na anamnese, além dos sintomas detalhados, deve-se investigar o processo de trabalho, o modo como vem sendo executado, o tipo de exposição, bem como os meios de controle no processo produtivo ou exposição ambiental. No exame clínico, pro-cura-se alterações no sistema nervoso, psíquico, além de análise da escrita e investigação minuciosa da cavidade oral. O exame complementar mais importante é o mercúrio sérico, com parâmetros referen-ciais de no máximo 5mg/dL. Também o mercúrio na urina e mesmo a dosagem de mercúrio no cabelo podem auxiliar o diagnóstico. Um hemograma e provas de função hepática e renal são exames mais inespecíficos, mas que se mostram alterados em caso de intoxicação por mercúrio. Temos o etilismo, a esclerose múltipla e as neuroses como diagnósticos diferenciais.

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O afastamento do local de exposição é a medida mais importante. Também, nesse caso, devem ser prescritos quelantes. Nos casos mais graves, apenas com a respiração artificial associada o tratamen-to pode obter sucesso.

Como medidas de prevenção, o ambiente deve ser observado para haver segurança na exposi-ção, além de haver necessidade de reavaliação dos equipamentos de proteção individuais e coletivas. Também é importante o rastreamento de outros funcionários com a mesma patologia para detectar problemas no ambiente de trabalho.

O prognóstico da intoxicação por mercúrio, em casos iniciais é favorável. O simples afastamento do trabalhador de seu posto gera regressão dos sintomas e sinais. Em casos crônicos, o quadro clínico tende a estacionar, mesmo com o afastamento, observando-se melhora lenta e gradual.

NíquelO níquel é um dos produtos mais sensibilizantes conhecidos. Ele é um metal utilizado na fabrica-

ção de aços, fitas magnéticas, catalisador de óleos e gorduras, produtos dentários, cunhagem de moe-das, galvanização, além de ser um catalisador também na indústria de petróleo, de plásticos e de borra-cha. Os principais órgãos afetados na intoxicação por níquel são os olhos, a pele e os pulmões, através da conjuntivite, dermatite e asma brônquica.

CromoO cromo e seus respectivos compostos são largamente usados na metalurgia, nas indústrias pro-

cessadoras de cromita, aços inoxidáveis, indústrias galvânicas, curtumes, indústrias têxteis e em diversos pigmentos. Também pode ser encontrado na construção civil, como impureza do cimento. São encontra-dos como cromo II (bivalente), cromo III (trivalente) e cromo VI (hexavalente), sendo este o mais tóxico.

O quadro clínico da intoxicação por cromo é diversificado. Em caso de ingestão aguda, pode ocorrer um colapso circulatório, podendo chegar ao choque. Também pode afetar a pele, com der-matites agudas, com manifestações como descoloração amarelada. Há a possibilidade de ulceração e perfuração do septo nasal. Outras manifestações clínicas possíveis são ulcerações e hemorragia do trato gastrintestinal, hepatites e anemia.

ArsênioO arsênio é considerado um problema de saúde pública em países em desenvolvimento. Esse

metal é um contaminante de fontes de água, por exemplo. Utilizado na metalurgia, na indústria de vi-dros, na indústria elétrica e, antigamente, também era usado como veneno para insetos. Sua toxicidade relaciona-se com a inibição de enzimas sulfidrílicas e desacoplamento da cadeia respiratória. As princi-

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41|Metais pesados

pais patologias são a hiperqueratose, indicando intoxicação crônica, bem como neoplasias de pele, de fígado, de rins, de bexiga e de cólon. Ao exame clínico, podem ser observadas as linhas de Aldrich-Mees, presentes nas unhas das mãos após cerca de cinco semanas de ingestão aguda.

Texto complementar

Higiene e toxicologia ocupacionalMetais pesados

(COLACIOPPO, 2001)

[...]

Caracterização da exposição

A exposição ocupacional a metais pesados pode ser observada em diversos locais e atividades. Citamos a seguir os principais metais pesados em relação ao número de expostos e alguns exem-plos de atividades que envolvem exposição ocupacional.

Arsênico: fabricação de ligas metálicas, pigmentos e reagentes.::::

Cádmio: solda prata e tratamento de superfícies. ::::

Chumbo: fabricação e reforma de baterias de chumbo/ácido. Têmpera e trefilação de ::::metais. Fundição de ligas de bronze e similares.

Cobre: galvanoplastia, solda MIG e oxi-acetileno.::::

Cromo: galvanoplastia, solda em aço inoxidável, fabricação de tintas e pintura.::::

Ferro: fundição de ferro, soldas em geral, em ferro ou aço.::::

Manganês: solda MIG, fundição de ferro.::::

Mercúrio: fabricação de lâmpadas, garimpo, odontologia.::::

Níquel: Galvanoplastia, solda em aço inoxidável. ::::

Zinco: galvanoplastia, solda oxi-acetileno.::::

Outros metais ainda podem ser identificados, porém com menor importância toxicológica, ou de pouca utilização no Brasil, como o cobalto e o molibdênio, e a relação anterior não tem a preten-são de ser completa nem de citar todos os locais ou atividades que podem originar uma exposição ocupacional a metais pesados mas nos dá uma idéia da diversidade desses locais ou atividades.

Uma vez identificada a presença de um metal em um local de trabalho ou atividade deve-se conhecer sua toxicidade, que é a capacidade de provocar um efeito deletério, quando introduzido no organismo humano e por este absorvido e verificar a possibilidade de exposição ocupacional, ou

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42 | Segurança, Saúde, Higiene e Medicina do Trabalho

seja o risco ou periculosidade que é a capacidade ou probabilidade do metal sair de onde se encon-tra e penetrar no organismo humano e lá atingir os sítios de ação e provocar um efeito nocivo.

Tão ou mais importante como saber qual a composição química dos metais envolvidos é ::::saber qual a forma de utilização. Nesta fase deve-se ter conhecimento prévio do local ou atividade ou realizar uma visita prévia onde serão levantados dados fundamentais para o estabelecimento de uma estratégia de amostragem [...]

Avaliação da exposiçãoCom estes e outros dados pode-se estabelecer uma estratégia de amostragem, pela qual se es-

tabelece o número de amostras e funcionários a serem avaliados, dias e períodos a serem medidos, equipamentos a serem utilizados na coleta de amostras, análises químicas e estatísticas a serem efetuadas.

Basicamente, a população deve ser dividida em grupos homogêneos em relação ao risco e em cada grupo é feita uma amostragem adequada segundo critérios estatísticos, geralmente segundo o Manual de Estratégias de Amostragem do NIOSH. [...]

Para cada trabalhador amostrado dentro de um grupo homogêneo é calculada ou estimada a média ponderada pelo tempo (individual). A seguir é calculada uma média geométrica que é atri-buída ao grupo como um todo.

Dessa forma, verifica-se que avaliação ambiental não é uma atividade simples de medição de concentração, muito mais que medir a concentração de um agente químico no ar, deve-se estimar a exposição ocupacional a este agente. Considerando este âmbito bem maior, na prática da Higiene Ocupacional diversas questões são freqüentemente formuladas e que deveriam ser respondidas adequadamente, sob pena de se comprometer todo o processo de avaliação.

Exemplos:

Onde avaliar?::::

Quantas amostras coletar?::::

Quantos funcionários avaliar?::::

Por quanto tempo coletar uma amostra?::::

Quando avaliar novamente?::::

A avaliação ambiental deve ser simultânea com a avaliação biológica?::::

Para responder essas e outras questões similares, deve-se planejar o processo de avaliação e executá-lo adequadamente. Para tal, diversas etapas devem ser seguidas de forma sistemática:

Definição do objetivo da avaliação.::::

Conhecimento dos locais de trabalho e atividades a avaliar.::::

Identificação das substâncias presentes e reconhecimento do risco de exposição. ::::

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43|Metais pesados

Definição da estratégia de amostragem.::::

Coleta de amostras.::::

Análise do material coletado.::::

Cálculos dos resultados e estimativa da exposição ocupacional.::::

Comparação com limites de exposição ocupacional.::::

Comparação com os dados da avaliação e monitorização biológica.::::

Objetivos de uma avaliaçãoUma avaliação ambiental poderá ter diversos enfoques, tais como:

Descobrir o que está causando determinados sinais ou sintomas nos funcionários.::::

Atender uma reclamação trabalhista, ou notificação de um agente de fiscalização.::::

Caracterizar a insalubridade do ponto de vista legal.::::

Identificar as substâncias eventualmente presentes. ::::

Verificar a eficiência de uma medida de controle instalada.::::

Realizar avaliação prevista no PPRA e dentro de um programa de monitorização ambien-::::tal e biológica.

[...]

Idealmente deve-se ter um programa de monitorização ambiental e biológica com uma série histórica de dados que permita a qualquer tempo estabelecer, ou não, o nexo causal entre a exposição ocupacional e eventual quadro clínico ou reclamação trabalhista. Dentro de um programa de Higiene e Toxicologia Ocupacional as avaliações são realizadas de forma sistemática e repetitiva de modo a acompanhar a exposição ocupacional e introduzir medidas de controle sempre que necessário. Numa situação ideal, sempre que necessário, a qualquer momento, qualquer membro da equipe de Saúde do Trabalhador ou o próprio trabalhador pode ter acesso às informações e resultados das avaliações ambientais e biológicas que foi submetido, inclusive de acordo com a portaria 3.214, NR-1. [...]

Identificação do agente e reconhecimento do riscoTão importante como porque avaliar é saber o que avaliar. Entre as milhares de substâncias

químicas potencialmente presentes em um local de trabalho, devemos ter certeza do que procura-mos. É comum o laboratório de Higiene Ocupacional receber amostras com a solicitação de análise genéricas, como de fumos metálicos, sem especificar quais metais estão presentes, ou ainda, feliz-mente com menos freqüência, solicitar análise de “agente químico”, que não diz nada, apenas que o solicitante não sabe o que existe no local que pretende avaliar. [...]

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Limites de Exposição Ocupacional Apenas como complemento, lembramos aqui alguns conceitos de Limites de Exposição Ocu-

pacional, que são fundamentais para a interpretação de resultados.

TLV – Threshold Limit Values

São os limites preconizados pela ACGIH – American Conference of Governmental Industrial Hygienists, são revistos anualmente, baseados na melhor literatura técnica disponível e editados por um grupo de especialistas, não exclusivamente norte-americanos e independe de leis ou do governo dos USA. É a melhor fonte atual para Limites de Exposição Ocupacional do ponto de vista técnico e referem-se a concentrações de agentes químicos dispersos na atmosfera e representam condições sob as quais, supõe-se que quase todos os trabalhadores podem estar expostos dia após dia sem efeito adverso à saúde.

TLV-TWA

A maioria das substâncias listadas possuem um TLV-TWA, Time Weighed Average, Média Ponderada pelo Tempo, são aplicáveis a substâncias de efeito de médio e longo prazo e para exposição de 8 horas diárias e 40 horas semanais. A maioria dos metais está neste grupo.

TLV-Ceiling, Teto

São concentrações que não podem ser ultrapassadas em momento algum da jornada de trabalho, devendo ser introduzidas medidas de controle imediatas que evitem esta exposição.

TLV-STEL, Short Term Exposure Limit

Referem-se a concentrações que os trabalhadores podem estar expostos continuamente por um curto período, sem sofrer: 1– Irritação; 2 – Lesão tissular crônica ou irreversível; 3 – Narcose que comprometa a segurança. Não substitui o TLV-TWA sendo seu complemento. Não deve ser ultrapassado e pode ser atingido por 15 minutos 4 vezes ao dia, com intervalos de 60 minutos.

Atividades1. Você foi fazer um reconhecimento de área em uma região de extração de ouro. Conversando com

um trabalhador, você percebe que ele está tremendo. Existem algumas lesões em seu lábio e ele se queixa de aftas recorrentes. Também diz não dormir bem, e vem perdendo peso devido à falta de apetite. Nesse momento, o trabalhador começa a chorar. Você descobre que esse trabalhador exerce a mesma função há mais de 10 anos. Qual é a possível causa desse quadro e qual é a me-lhor conduta nesse caso?

a) Trata-se de um portador de HIV, que deve buscar auxílio médico urgente para evitar a progres-são dos sintomas da infecção propriamente dita (aids).

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45|Metais pesados

b) É um quadro de depressão, e o funcionário deve iniciar com o uso de medicações antidepres-sivas.

c) Intoxicação por mercúrio, sendo o afastamento do posto a primeira medida a ser tomada.

d) Intoxicação por chumbo, sendo necessário o internamento do trabalhador para tratamento com medicações especiais até a sua recuperação definitiva.

e) Intoxicação por cromo, sendo necessário apenas tratar os sintomas.

2. Assinale a alternativa incorreta.

a) Os metais pesados são elementos químicos de alto número atômico.

b) Os metais pesados são sintetizados pelo corpo humano.

c) Os metais pesados apresentam efeitos adversos à saúde humana.

d) Os metais pesados não podem ser facilmente eliminados pelo organismo.

e) Os metais pesados podem afetar diversos órgãos e tecidos do organismo.

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46 | Segurança, Saúde, Higiene e Medicina do Trabalho

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Legislação de Segurança, Saúde, Higiene

e Medicina do Trabalho

Serviço Especializado em Engenharia de Segurança e em Medicina do Trabalho (SESMT)

A preocupação com a segurança e a saúde do trabalhador é tema que vem sendo discutido há muito tempo.

Em 460-375 a.C., Hipócrates, em suas observações sobre o saturnismo em seu clássico Ar, Água e Lugares, e Plínio (23-79 d.C.), ao tratar dos aspectos relacionados aos trabalhadores mineiros nas minas de chumbo e de mercúrio, já faziam sérias referências ao tema.

Data do ano de 1959 a Recomendação 112 da Organização Internacional do Trabalho (OIT) a qual constitui-se no primeiro documento internacional que descreve, de modo concreto, os princípios e as condições de atividade da medicina social. Esse documento versou, principalmente, sobre a organiza-ção e os objetivos dos serviços médicos das empresas.

No Brasil, por meio da Lei 3.724, de 15 de janeiro de 1919, foram instituídas as primeiras diretrizes da legislação sobre acidentes do trabalho. Tal lei foi substituída pela Lei 24.637, de 10 de julho de 1934, a qual estabeleceu as sociedades de seguro e cooperativas de sindicatos.

Com o Decreto-Lei 7.036, de 10 de novembro de 1944, ficou estabelecido o infortúnio do traba-lho, cujo seguro era realizado nas Carteiras de Acidentes do Trabalho, as quais vinculavam-se a diversos institutos de Previdência Social, dentre eles o Instituto de Aposentadorias e Pensões dos industriários-(IAPI) e o Instituto de Aposentadorias e Pensões dos Comerciários (IAPC).

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Somente em 1968 tais institutos de previdência foram unificados, nascendo, por meio da Lei 5.316, de 14 de novembro de 1967, o Instituto Nacional de Previdência Social (INPS), vinculado ao Mi-nistério do Trabalho.

Em 1977, foi alterado o texto da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), determinando ser da competência do Ministério do Trabalho as questões sobre Segurança e Medicina do Trabalho.

Como conseqüência, nasciam as Normas Regulamentadoras (NRs) até hoje existentes, as quais traçam as diretrizes para a organização e manutenção dos SESMT obrigatório em todas as empresas.

Especificamente para os SESMT foi criada a NR 4 (redação dada pela Portaria 33, de 27 de outubro de 1983).

Organização dos Serviços de Medicina do TrabalhoOs Serviços de Medicina do Trabalho muitas vezes envolvem ações urgentes da empresa, casos

em que há necessidade de uma rápida tomada de decisão para eficácia de procedimentos.

Principalmente por esse motivo é recomendado que no organograma da empresa esse serviço esteja ligado diretamente ao setor capaz de executar as medidas recomendadas sem que haja necessi-dade de passar por outros setores para avaliação.

É preciso um livre e fácil trânsito do Serviço de Medicina do Trabalho dentro da empresa para que as medidas sejam avaliadas e implantadas dentro de um prazo razoável, que possibilite a solução dos problemas detectados.

Observe-se que o Serviço de Medicina do Trabalho é parte integrante do SESMT.

Na maioria das empresas, verifica-se o posicionamento do SESMT com vinculação ao Departa-mento de Recursos Humanos. Se assim for, resta a esse departamento dar agilidade aos encaminha-mentos a quem possui poder de decisão dentro da empresa.

Certo é que cabe ao médico do Trabalho chefiar o Serviço de Medicina do Trabalho, e ao enge-nheiro de Segurança dirigir o Serviço de Engenharia de Segurança do Trabalho.

Funcionamento do Serviço de Medicina do Trabalho na empresaCabe ao Serviço de Medicina do Trabalho aplicar os diversos instrumentos e mecanismos de que

tem conhecimento e que estão ao seu alcance, com o objetivo de proteger a saúde dos trabalhadores, quer solucionando problemas existentes, quer na prevenção de futuros.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) define saúde como um perfeito estado de bem-estar físi-co, psíquico e social. Ainda que a saúde seja objetivo de todos, pode o trabalhador em seu ambiente de trabalho estar sujeito a condições que a prejudiquem. Como o trabalho também é essencial à sociedade e à própria pessoa, tem-se a perda da saúde como um fator que diminui a capacidade laborativa e, ao longo do tempo, pode levar à redução da qualidade de vida.

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Assim sendo, é primordial que a atividade desenvolvida pelo Serviço de Medicina do Trabalho te-nha também o seu trabalho baseado nos Códigos de Ética Médica e de Conduta do Médico do Trabalho.

Observa-se, ainda, que muitos dos serviços de Medicina Ocupacional restringem-se à atuação relacionada a atendimento a acidentes de trabalho e, eventualmente, consultas médicas admissionais, periódicas e demissionais.

O Serviço de Medicina do Trabalho deve ir além de tais serviços, com funções de prevenção, pro-tegendo a saúde do trabalhador e, por conseqüência, a manutenção da força produtiva de trabalho.

É claro que muitos dos serviços devem respeitar a região em que as empresas estão situadas, mui-tas delas em locais de difícil acesso, onde sequer existem médicos ou materiais e serviços de saúde.

É possível citar algumas das muitas atribuições que podem ser delegadas ao Serviço de Medicina do Trabalho:

exames médicos admissionais;::::

exames médicos demissionais;::::

exames médicos periódicos;::::

exames médicos especiais;::::

produção de educação sanitária;::::

informação, divulgação e educação;::::

programas de nutrição;::::

programas de vacinação;::::

estatísticas epidemiológicas;::::

controle de absenteísmo por entidade nosológica;::::

controle estatístico dos acidentes de trabalho;::::

participação nas reuniões da CIPA;::::

organização de cursos de socorros básicos de emergência para os trabalhadores;::::

cursos técnicos de reciclagem para o pessoal paramédico, quando houver;::::

exames e controles biométricos;::::

programas de controles especiais relacionados à conservação auditiva, estresse, alcoolismo, ::::doenças sexualmente transmissíveis, aids, pré-natal, drogas, dentre outras;

visitas e inspeções periódicas;::::

auditorias e assessorias;::::

programas de reabilitação, adaptação e serviços compatíveis.::::

Considerando a gama dos serviços realizados no ambiente da empresa, é necessário uma total integração do médico do Trabalho com todos os setores da empresa, o que se estabelece por meio de contatos e visitas regulares, elaborando anotações específicas para acompanhamento.

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Dependendo do tamanho da empresa e do número de empregados é essencial ao Serviço de Medicina do Trabalho traçar prioridades de atendimento, com critério predeterminado de acordo com o tipo de empresa, região e outros fatores que possam ser importantes a considerar.

Em empresas pequenas, ao contrário do que possa aparecer, o Serviço de Medicina do Trabalho possui diversas dificuldades, mormente pelo número reduzido de trabalhadores em contraposição à gama de atividades variadas a serem desenvolvidas por cada um.

Instalações necessárias para o Serviço de Medicina do TrabalhoÉ de fundamental importância a escolha do local onde serão desenvolvidas as atividades do Ser-

viço. O local deve ser de fácil acesso, livre da ação freqüente de agentes físicos, químicos e biológicos, que não possuam degraus ou escadas e, de preferência, próximo às vias públicas para facilitar a movi-mentação rápida e livre de ambulâncias.

Também, em relação às instalações elétricas e hidráulicas, as quais devem ser adequadas e de preferência com gerador autônomo de energia elétrica, deve existir sistema de comunicação interna e externa, sem falar da importância de um sistema de ventilação adequado.

Especificamente, na sala de atendimento, independentemente do tamanho, deve existir no mí-nimo sala de espera, recepção, arquivo, consultório, posto de enfermagem, sanitários, farmácia, sala de repouso, espaço para pequenas cirurgias.

OrganizaçãoPara regular o início das atividades a serem desenvolvidas pelo Serviço de Medicina do Traba-

lho, é preciso elaborar normas de procedimentos destinadas ao pessoal médico, paramédico e ad-ministrativo, visando uniformizar procedimentos. Tais normas devem ser escritas e ficar à disposição para consulta.

É preciso criar um banco de dados, de preferência na forma informatizada, de fácil acesso, para inclusão de dados e controle para manutenção de dados estatísticos pelo pessoal do setor. Nesse banco de dados devem constar o número de consultas diárias, afastamentos, acidentes de trabalho, medica-mentos administrados, dentre outros.

Vários são os formulários a serem preenchidos, os quais irão compor o banco de dados mencio-nado e formarão o arquivo do serviço. Nesse arquivo deverão ser mantidos os prontuários médicos, devidamente envelopados e constituídos pelos exames admissional, periódico, de seguimento médico e demissional, se for o caso, formulário de exame biométrico, dentre outros.

Segundo a Portaria 3.214, de junho de 1978, do Ministério do Trabalho, pela NR 4 há previsão de efetivo médico e paramédico para compor o Serviço de Medicina em tela.

Recomenda-se que sejam elaborado, com freqüência regular, cálculo de custos das atividades realizadas pelo Serviço de Medicina do Trabalho.

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51|Legislação de Segurança, Saúde, Higiene e Medicina do Trabalho

Serviços de emergência no Serviço de Medicina do TrabalhoIndependentemente do tamanho da empresa ou do serviço médico instalado, é indispensável

a existência de um serviço de emergência, com o objetivo de dar pronto atendimento às ocorrências graves, muitas vezes envolvendo risco de vida.

Para tanto, é imprescindível a existência de equipamentos e instrumental adequados, dentre os quais, um carrinho de emergência contendo:

cardioscópio; ::::

desfibrilador; ::::

eletrocardiógrafo; e ::::

medicamentos.::::

Seria importante para o serviço de emergência a existência de uma ambulância dotada minima-nente de:

um sistema de radiocomunicação; ::::

macas; ::::

colar cervical; ::::

ambu e cânula de Guedel; ::::

talas de madeira;::::

sistema de aspiração e oxigenação;::::

bandagens, torniquetes; e ::::

colete de imobilização.::::

Em havendo remoção, é necessário o preenchimento do respectivo relatório e guia para autoriza-ção de remoção, expedida pelo médico socorrista.

Importante trazer à colação a NR 4 que versa sobre os SESMT do Trabalho, aprovada pela Portaria 33, de 27 de outubro de 1983, alterada pela Portaria/MTE 17, de 1.º de agosto de 2007:

4.1. As empresas privadas e públicas, os órgãos públicos da Administração direta e indireta e dos poderes Legislativo e Judiciário, que possuam empregados regidos pela Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), manterão, obrigatoriamen-te, Serviços Especializados em Engenharia de Segurança e em Medicina do Trabalho, com a finalidade de promover a saúde e proteger a integridade do trabalhador no local de trabalho. (104.001-4/I2)

4.2. O dimensionamento dos Serviços Especializados em Engenharia de Segurança e em Medicina do Trabalho vincula-se à gradação do risco da atividade principal e ao número total de empregados do estabelecimento, constantes dos Quadros I e II anexos, observadas as exceções previstas nesta NR. (104.002-2/I1)

4.2.1. Para fins de dimensionamento, os canteiros de obras e as frentes de trabalho com menos de 1 (um) mil empre-gados e situados no mesmo estado, território ou Distrito Federal não serão considerados como estabelecimentos, mas como integrantes da empresa de engenharia principal responsável, a quem caberá organizar os Serviços Especializa-dos em Engenharia de Segurança e em Medicina do Trabalho. (104.003-0/I2)

4.2.1.1. Neste caso, os engenheiros de Segurança do Trabalho, os médicos do Trabalho e os enfermeiros do Trabalho poderão ficar centralizados.

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52 | Segurança, Saúde, Higiene e Medicina do Trabalho

4.2.1.2. Para os técnicos de Segurança do Trabalho e auxiliares de Enfermagem do Trabalho, o dimensionamento será feito por canteiro de obra ou frente de trabalho, conforme o Quadro II, anexo. (104.004-9/I1)

4.2.2. As empresas que possuam mais de 50 (cinqüenta) por cento de seus empregados em estabelecimentos ou se-tores com atividade cuja gradação de risco seja de grau superior ao da atividade principal deverão dimensionar os Serviços Especializados em Engenharia de Segurança e em Medicina do Trabalho, em função do maior grau de risco, obedecido o disposto no Quadro II desta NR. (104.005-7/I1)

4.2.3. A empresa poderá constituir Serviço Especializado em Engenharia de Segurança e em Medicina do Trabalho cen-tralizado para atender a um conjunto de estabelecimentos pertencentes a ela, desde que a distância a ser percorrida entre aquele em que se situa o serviço e cada um dos demais não ultrapasse a 5 (cinco) mil metros, dimensionando-o em função do total de empregados e do risco, de acordo com o Quadro II, anexo, e o subitem 4.2.2.

4.2.4. Havendo, na empresa, estabelecimento(s) que se enquadre(m) no Quadro II, desta NR, e outro(s) que não se enquadre(m), a assistência a este(s) será feita pelos serviços especializados daquele(s), dimensionados conforme os subitens 4.2.5.1 e 4.2.5.2 e desde que localizados no mesmo estado, território ou Distrito Federal. (104.006-5/I2)

4.2.5. Havendo, na mesma empresa, apenas estabelecimentos que, isoladamente, não se enquadrem no Quadro II, anexo, o cumprimento desta NR será feito através de Serviços Especializados em Engenharia de Segurança e em Me-dicina do Trabalho centralizados em cada estado, território ou Distrito Federal, desde que o total de empregados dos estabelecimentos no estado, território ou Distrito Federal alcance os limites previstos no Quadro II, anexo, aplicado o disposto no subitem 4.2.2. (104.007-3/I1)

4.2.5.1. Para as empresas enquadradas no grau de risco 1 o dimensionamento dos serviços referidos no subitem 4.2.5 obedecerá ao Quadro II, anexo, considerando-se como número de empregados o somatório dos empregados existen-tes no estabelecimento que possua o maior número e a média aritmética do número de empregados dos demais esta-belecimentos, devendo todos os profissionais integrantes dos Serviços Especializados em Engenharia de Segurança e em Medicina do Trabalho, assim constituídos, cumprirem tempo integral. (104.008-1/I1)

4.2.5.2. Para as empresas enquadradas nos graus de risco 2, 3 e 4, o dimensionamento dos serviços referidos no subitem 4.2.5 obedecerá o Quadro II, anexo, considerando-se como número de empregados o somatório dos empregados de todos os estabelecimentos. (104.009-0/I1)

4.3. As empresas enquadradas no grau de risco 1 obrigadas a constituir Serviços Especializados em Engenharia de Se-gurança e em Medicina do Trabalho e que possuam outros serviços de medicina e engenharia poderão integrar estes serviços com os Serviços Especializados em Engenharia de Segurança e em Medicina do Trabalho constituindo um serviço único de engenharia e medicina.

4.3.1. As empresas que optarem pelo serviço único de engenharia e medicina ficam obrigadas a elaborar e submeter à aprovação da Secretaria de Segurança e Medicina do Trabalho, até o dia 30 de março, um programa bienal de seguran-ça e medicina do trabalho a ser desenvolvido.

4.3.1.1. As empresas novas que se instalarem após o dia 30 de março de cada exercício poderão constituir o serviço úni-co de que trata o subitem 4.3.1 e elaborar o programa respectivo a ser submetido à Secretaria de Segurança e Medicina do Trabalho, no prazo de 90 (noventa) dias a contar de sua instalação.

4.3.1.2. As empresas novas, integrantes de grupos empresariais que já possuam serviço único, poderão ser assistidas pelo referido serviço, após comunicação à DRT.

4.3.2. À Secretaria de Segurança e Medicina do Trabalho fica reservado o direito de controlar a execução do programa e aferir a sua eficácia.

4.3.3. O serviço único de engenharia e medicina deverá possuir os profissionais especializados previstos no Quadro II, anexo, sendo permitido aos demais engenheiros e médicos exercerem Engenharia de Segurança e Medicina do Traba-lho, desde que habilitados e registrados conforme estabelece a NR 27. (104.010-3/I1)

4.3.4. O dimensionamento do serviço único de engenharia e medicina deverá obedecer ao disposto no Quadro II desta NR, no tocante aos profissionais especializados. (104.011-1/I1)

4.4. Os Serviços Especializados em Engenharia de Segurança e em Medicina do Trabalho deverão ser integrados por médico do Trabalho, engenheiro de Segurança do Trabalho, enfermeiro do Trabalho, técnico de Segurança do Trabalho

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e auxiliar de Enfermagem do Trabalho, obedecendo o Quadro II, anexo.(*) Subitem 4.4 com redação dada p/ Port. 11 (104.012-0/I1)

4.4.1. Para fins desta NR, as empresas obrigadas a constituir Serviços Especializados em Engenharia de Segurança e em Medicina do Trabalho deverão exigir dos profissionais que os integram comprovação de que satisfazem os seguintes requisitos:

a) engenheiro de Segurança do Trabalho – engenheiro ou arquiteto portador de certificado de conclusão de curso de especialização em Engenharia de Segurança do Trabalho, em nível de pós-graduação;

b) médico do Trabalho – médico portador de certificado de conclusão de curso de especialização em Medicina do Tra-balho, em nível de pós-graduação, ou portador de certificado de residência médica em área de concentração em saúde do trabalhador ou denominação equivalente, reconhecida pela Comissão Nacional de Residência Médica, do Ministé-rio da Educação, ambos ministrados por universidade ou faculdade que mantenha curso de graduação em Medicina;

c) enfermeiro do Trabalho – enfermeiro portador de certificado de conclusão de curso de especialização em Enfer-magem do Trabalho, em nível de pós-graduação, ministrado por universidade ou faculdade que mantenha curso de graduação em Enfermagem;

d) auxiliar de Enfermagem do Trabalho – auxiliar de Enfermagem ou técnico de Enfermagem portador de certificado de conclusão de curso de qualificação de auxiliar de Enfermagem do Trabalho, ministrado por instituição especializada reconhecida e autorizada pelo Ministério da Educação;

e) técnico de Segurança do Trabalho: técnico portador de comprovação de registro profissional expedido pelo Minis-tério do Trabalho.

4.4.1.1. Em relação às Categorias mencionadas nas alíneas “a” e “c”, observar-se-à o disposto na Lei 7.410, de 27 de no-vembro de 1985.

4.4.2. Os profissionais integrantes dos Serviços Especializados em Engenharia de Segurança e em Medicina do Trabalho deverão ser empregados da empresa, salvo os casos previstos nos itens 4.14 e 4.15. (104.013-8/I1)

4.5. A empresa que contratar outra(s) para prestar serviços em estabelecimentos enquadrados no Quadro II, anexo, deverá estender a assistência de seus Serviços Especializados em Engenharia de Segurança e em Medicina do Trabalho aos empregados da(s) contratada(s), sempre que o número de empregados desta(s), exercendo atividade naqueles estabelecimentos, não alcançar os limites previstos no Quadro II, devendo, ainda, a contratada cumprir o disposto no subitem 4.2.5. (104.014-6/I1)

4.5.1. Quando a empresa contratante e as outras por ela contratadas não se enquadrarem no Quadro II, anexo, mas que pelo número total de empregados de ambos, no estabelecimento, atingirem os limites dispostos no referido quadro, deverá ser constituído um serviço especializado em Engenharia de Segurança e em Medicina do Trabalho comum, nos moldes do item 4.14. (104.015-4 / I2)

4.5.2. Quando a empresa contratada não se enquadrar no Quadro II, anexo, mesmo considerando-se o total de empre-gados nos estabelecimentos, a contratante deve estender aos empregados da contratada a assistência de seus Serviços Especializados em Engenharia de Segurança e em Medicina do Trabalho, sejam estes centralizados ou por estabeleci-mento. (104.016-2/I1)

4.5.3. A empresa que contratar outras para prestar serviços em seu estabelecimento pode constituir SESMT comum para assistência aos empregados das contratadas, sob gestão própria, desde que previsto em Convenção ou Acordo Coletivo de Trabalho.

4.5.3.1. O dimensionamento do SESMT organizado na forma prevista no subitem 4.5.3 deve considerar o somatório dos trabalhadores assistidos e a atividade econômica do estabelecimento da contratante.

4.5.3.2. No caso previsto no item 4.5.3, o número de empregados da empresa contratada no estabelecimento da con-tratante, assistidos pelo SESMT comum, não integra a base de cálculo para dimensionamento do SESMT da empresa contratada.

4.5.3.3. O SESMT organizado conforme o subitem 4.5.3 deve ter seu funcionamento avaliado semestralmente, por Co-missão composta de representantes da empresa contratante, do sindicato de trabalhadores e da Delegacia Regional do Trabalho, ou na forma e periodicidade previstas na Convenção ou Acordo Coletivo de Trabalho.

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4.6. Os Serviços Especializados em Engenharia de Segurança e em Medicina do Trabalho das empresas que operem em regime sazonal deverão ser dimensionados, tomando-se por base a média aritmética do número de trabalhadores do ano civil anterior e obedecidos os Quadros I e II anexos. (104.017-0 / I1)

4.7. Os Serviços Especializados em Engenharia de Segurança e em Medicina do Trabalho deverão ser chefiados por profissional qualificado, segundo os requisitos especificados no subitem 4.4.1 desta NR. (104.018-9/I1)

4.8. O técnico de Segurança do Trabalho e o auxiliar de Enfermagem do Trabalho deverão dedicar 8 (oito) horas por dia para as atividades dos Serviços Especializados em Engenharia de Segurança e em Medicina do Trabalho, de acordo com o estabelecido no Quadro II, anexo. (104.019-7/I1)

4.9. O engenheiro de Segurança do Trabalho, o médico do Trabalho e o enfermeiro do Trabalho deverão dedicar, no mínimo, 3 (três) horas (tempo parcial) ou 6 (seis) horas (tempo integral) por dia para as atividades dos Serviços Especia-lizados em Engenharia de Segurança e em Medicina do Trabalho, de acordo com o estabelecido no Quadro II, anexo, respeitada a legislação pertinente em vigor. (104.020-0/I1)

4.10. Ao profissional especializado em Segurança e em Medicina do Trabalho é vedado o exercício de outras atividades na empresa, durante o horário de sua atuação nos Serviços Especializados em Engenharia de Segurança e em Medicina do Trabalho. (104.021-9/I2)

4.11. Ficará por conta exclusiva do empregador todo o ônus decorrente da instalação e manutenção dos Serviços Espe-cializados em Engenharia de Segurança e em Medicina do Trabalho. (104.022-7/I2)

4.12. Compete aos profissionais integrantes dos Serviços Especializados em Engenharia de Segurança e em Medicina do Trabalho:

a) aplicar os conhecimentos de Engenharia de Segurança e de Medicina do Trabalho ao ambiente de trabalho e a todos os seus componentes, inclusive máquinas e equipamentos, de modo a reduzir até eliminar os riscos ali existentes à saúde do trabalhador;

b) determinar, quando esgotados todos os meios conhecidos para a eliminação do risco e este persistir, mesmo reduzi-do, a utilização, pelo trabalhador, de Equipamentos de Proteção Individual (EPI), de acordo com o que determina a NR 6, desde que a concentração, a intensidade ou característica do agente assim o exija;

c) colaborar, quando solicitado, nos projetos e na implantação de novas instalações físicas e tecnológicas da empresa, exercendo a competência disposta na alínea “a”;

d) responsabilizar-se tecnicamente, pela orientação quanto ao cumprimento do disposto nas NR aplicáveis às ativida-des executadas pela empresa e/ou seus estabelecimentos;

e) manter permanente relacionamento com a CIPA, valendo-se ao máximo de suas observações, além de apoiá-la, treiná-la e atendê-la, conforme dispõe a NR 5;

f ) promover a realização de atividades de conscientização, educação e orientação dos trabalhadores para a prevenção de acidentes do trabalho e doenças ocupacionais, tanto através de campanhas quanto de programas de duração per-manente;

g) esclarecer e conscientizar os empregadores sobre acidentes do trabalho e doenças ocupacionais, estimulando-os em favor da prevenção;

h) analisar e registrar em documento(s) específico(s) todos os acidentes ocorridos na empresa ou estabelecimento, com ou sem vítima, e todos os casos de doença ocupacional, descrevendo a história e as características do acidente e/ou da doença ocupacional, os fatores ambientais, as características do agente e as condições do(s) indivíduo(s) portador(es) de doença ocupacional ou acidentado(s);

i) registrar mensalmente os dados atualizados de acidentes do trabalho, doenças ocupacionais e agentes de insalu-bridade, preenchendo, no mínimo, os quesitos descritos nos modelos de mapas constantes nos Quadros III, IV, V e VI, devendo a empresa encaminhar um mapa contendo avaliação anual dos mesmos dados à Secretaria de Segurança e Medicina do Trabalho até o dia 31 de janeiro, através do órgão regional do MTb;

j) manter os registros de que tratam as alíneas “h” e “i” na sede dos Serviços Especializados em Engenharia de Segurança e em Medicina do Trabalho ou facilmente alcançáveis a partir da mesma, sendo de livre escolha da empresa o método

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de arquivamento e recuperação, desde que sejam asseguradas condições de acesso aos registros e entendimento de seu conteúdo, devendo ser guardados somente os mapas anuais dos dados correspondentes às alíneas “h” e “i” por um período não-inferior a 5 (cinco) anos;

l) as atividades dos profissionais integrantes dos Serviços Especializados em Engenharia de Segurança e em Medicina do Trabalho são essencialmente prevencionistas, embora não seja vedado o atendimento de emergência, quando se tornar necessário. Entretanto, a elaboração de planos de controle de efeitos de catástrofes, de disponibilidade de meios que visem ao combate a incêndios e ao salvamento e de imediata atenção à vítima deste ou de qualquer outro tipo de acidente estão incluídos em suas atividades.

4.13. Os Serviços Especializados em Engenharia de Segurança e em Medicina do Trabalho deverão manter entrosa-mento permanente com a CIPA, dela valendo-se como agente multiplicador, e deverão estudar suas observações e solicitações, propondo soluções corretivas e preventivas, conforme o disposto no subitem 5.14.1 da NR 5.

4.14. As empresas cujos estabelecimentos não se enquadrem no Quadro II, anexo a esta NR, poderão dar assistência na área de Segurança e Medicina do Trabalho a seus empregados através de Serviços Especializados em Engenharia de Segurança e em Medicina do Trabalho comuns, organizados pelo sindicato ou associação da categoria econômica correspondente ou pelas próprias empresas interessadas.

4.14.1. A manutenção desses Serviços Especializados em Engenharia de Segurança e em Medicina do Trabalho deverá ser feita pelas empresas usuárias, que participarão das despesas em proporção ao número de empregados de cada uma.

4.14.2. Os Serviços Especializados em Engenharia de Segurança e em Medicina do Trabalho previstos no item 4.14 deverão ser dimensionados em função do somatório dos empregados das empresas participantes, obedecendo ao disposto nos Quadros I e II e no subitem 4.2.1.2, desta NR.

4.14.3. As empresas de mesma atividade econômica, localizadas em um mesmo município, ou em municípios limítro-fes, cujos estabelecimentos se enquadrem no Quadro II, podem constituir SESMT comum, organizado pelo sindicato patronal correspondente ou pelas próprias empresas interessadas, desde que previsto em Convenção ou Acordo Co-letivo de Trabalho.

4.14.3.1. O SESMT comum pode ser estendido a empresas cujos estabelecimentos não se enquadrem no Quadro II, desde que atendidos os demais requisitos do subitem 4.14.3.

4.14.3.2. O dimensionamento do SESMT organizado na forma do subitem 4.14.3 deve considerar o somatório dos tra-balhadores assistidos.

4.14.3.3. No caso previsto no item 4.14.3, o número de empregados assistidos pelo SESMT comum não integra a base de cálculo para dimensionamento do SESMT das empresas.

4.14.3.4. O SESMT organizado conforme o subitem 4.14.3 deve ter seu funcionamento avaliado semestralmente, por Comissão composta de representantes das empresas, do sindicato de trabalhadores e da Delegacia Regional do Traba-lho, ou na forma e periodicidade previstas na Convenção ou Acordo Coletivo de Trabalho.

4.14.4. As empresas que desenvolvem suas atividades em um mesmo pólo industrial ou comercial podem constituir SESMT comum, organizado pelas próprias empresas interessadas, desde que previsto nas Convenções ou Acordos Coletivos de Trabalho das categorias envolvidas.

4.14.4.1. O dimensionamento do SESMT comum organizado na forma do subitem 4.14.4 deve considerar o somatório dos trabalhadores assistidos e a atividade econômica que empregue o maior número entre os trabalhadores assistidos.

4.14.4.2. No caso previsto no item 4.14.4, o número de empregados assistidos pelo SESMT comum não integra a base de cálculo para dimensionamento do SESMT das empresas.

4.14.4.3. O SESMT organizado conforme o subitem 4.14.4 deve ter seu funcionamento avaliado semestralmente por Comissão composta de representantes das empresas, dos sindicatos de trabalhadores e da Delegacia Regional do Tra-balho, ou na forma e periodicidade previstas nas Convenções ou Acordos Coletivos de Trabalho.

4.15. As empresas referidas no item 4.14 poderão optar pelos Serviços Especializados em Engenharia de Segurança e em Medicina do Trabalho de instituição oficial ou instituição privada de utilidade pública, cabendo às empresas o custeio das despesas, na forma prevista no subitem 4.14.1.

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4.16. As empresas cujos Serviços Especializados em Engenharia de Segurança e em Medicina do Trabalho não possuam médico do trabalho e/ou engenheiro de segurança do trabalho, de acordo com o Quadro II desta NR, poderão se utili-zar dos serviços destes profissionais existentes nos Serviços Especializados em Engenharia de Segurança e em Medici-na do Trabalho mencionados no item 4.14 e subitem 4.14.1 ou no item 4.15, para atendimento do disposto nas NR.

4.16.1. O ônus decorrente dessa utilização caberá à empresa solicitante.

4.17. Os serviços Especializados em Engenharia de Segurança e em Medicina do Trabalho de que trata esta NR deverão ser registrados no órgão regional do MTb. (104.023-5/I1)

4.17.1. O registro referido no item 4.17 deverá ser requerido ao órgão regional do MTb e o requerimento deverá conter os seguintes dados:

a) nome dos profissionais integrantes dos Serviços Especializados em Engenharia de Segurança e em Medicina do Trabalho;

b) número de registro dos profissionais na Secretaria de Segurança e Medicina do Trabalho do MTb;

c) número de empregados da requerente e grau de risco das atividades, por estabelecimento;

d) especificação dos turnos de trabalho, por estabelecimento;

e) horário de trabalho dos profissionais dos Serviços Especializados em Engenharia de Segurança e em Medicina do Trabalho.

4.18. Os Serviços Especializados em Engenharia de Segurança e em Medicina do Trabalho, já constituídos, deverão ser redimensionados nos termos desta NR e a empresa terá 90 (noventa) dias de prazo, a partir da publicação desta Norma, para efetuar o redimensionamento e o registro referido no item 4.17. (104.024-3/I1)

4.19. A empresa é responsável pelo cumprimento da NR, devendo assegurar, como um dos meios para concretizar tal responsabilidade, o exercício profissional dos componentes dos Serviços Especializados em Engenharia de Segurança e em Medicina do Trabalho. O impedimento do referido exercício profissional, mesmo que parcial e o desvirtuamento ou desvio de funções constituem, em conjunto ou separadamente, infrações classificadas no grau I4, se devidamente comprovadas, para os fins de aplicação das penalidades previstas na NR 28. (104.025-1/I4)

4.20. Quando se tratar de empreiteiras ou empresas prestadoras de serviços, considera-se estabelecimento, para fins de aplicação desta NR, o local em que os seus empregados estiverem exercendo suas atividades.

Texto complementar

Terceirizações(MACOHIN, 2008)

A terceirização trata-se de um processo já há muito tempo presente em nosso país, que consiste na execução, por terceiro, de atividades não integrantes dos objetivos sociais da empresa contratante. A expressão ganhou força e notoriedade nos últimos anos, fazendo parte das discus-sões que impliquem na remodelagem de gestão das empresas.

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Para evitar problemas de ordem jurídico-trabalhista, o administrador deve se cercar de todos os cuidados para não cometer erros. A empresa poderá terceirizar apenas suas “atividades-meio”, mas, para o prestador de serviços, a atividade contratada deve ser sua atividade-fim. [...]

Etapas do processo de terceirização Diversos processos de terceirização falham devido à falta de planejamento e entendimento so-

bre as obrigações e relações contratuais. Para isso, é importante a identificação das diversas etapas que deverão ser seguidas, como apresentado a seguir.

Planejamento A etapa de planejamento deve ser considerada tão importante quanto a atividade que será

objeto da terceirização. A fase inicial é a identificação correta das áreas que deseja terceirizar para o bom andamento de todo plano de trabalho.

Nas organizações existem diversas áreas que podem ser terceirizadas, cabendo aos administra-dores identificar o foco do negócio e optar ou não por essa forma de gestão.

Formação do perfil do terceiro Após a identificação das atividades que serão terceirizadas, passa-se para a formação do perfil

do terceiro, em relação ao que se deseja. O objetivo é identificar no mercado qual a empresa que realiza tal serviço. Ainda não é o momento de fazer a escolha do fornecedor. Nesse momento esta-mos na fase de planejamento, para identificar com exatidão aquilo que necessitamos.

Cronograma do processo de terceirização A elaboração de um cronograma de atuação é de fundamental importância, para identificar as

diversas etapas do processo, complementando todas as variáveis esperadas, a fim de evitar desa-gradáveis surpresas. Devem ser identificadas todas as etapas previstas.

Preparação do público interno O público interno deve ser trabalhado para interagir de forma produtiva. Dessa forma, se o pú-

blico interno estiver desinformado ou com informações erradas a respeito do processo, isso poderá dar errado.

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A realização de um trabalho de preparação e conscientização do público interno, portanto, pas-sa a ser relevante para que não existam informações desencontradas. É nesse momento que o canal de comunicações da empresa deve-se abrir, transmitindo a todos os funcionários aquilo que se pre-tende e quais as perspectivas de aproveitamento daqueles que terão suas atividades terceirizadas.

A falta de comunicação pode levar à visão errada do processo, deflagrando grandes conflitos internos.

Critérios decisórios para terceirização A primeira etapa é identificar todos os dados de uma gestão própria e de uma terceirizada, sem

ainda, entrar na discussão de escolha do fornecedor. A comparação de custos é muito relevante.

Assim o mercado deve ser pesquisado sobre o preço a ser pago e quanto isso representa hoje para a empresa, a partir daí os custos indiretos devem ser levados em comparação, pois existem custos administrativos indiretos para todas as atividades da empresa.

Finalmente deve calcular todos os custos relativos à terceirização, à administração do contrato, ao tempo despendido na gestão e à inspeção.

Decisão de terceirizar O fator econômico não deve ser o único quesito a ser analisado e comparado, vários outros

quesitos deverão ser pesados na decisão, como agilidade, cultura organizacional, qualidade e even-tuais dissabores de uma eventual descentralização.

Uma terceirização mal feita é altamente problemática, pois traz prejuízos enormes de ordem financeira e para a imagem da organização.

Administração de atividades terceirizadas O acompanhamento dos serviços terceirizados deve ser rigoroso por parte da empresa contra-

tante dos serviços.

Todas as tratativas que se referem aos serviços prestados devem ser entre os gestores das em-presas, não sendo recomendável, por questões jurídicas trabalhistas, que funcionários da empresa tomadora dos serviços passem ordens diretas aos empregados da contratada.

Existem certos pressupostos jurídicos que devem ser respeitados:

o tomador de serviços não pode exercer a superioridade hierárquica sobre o funcioná-::::rio terceirizado, todas as recomendações, ordens deverão ser transmitidas através de seus gestores.

a empresa contratada precisa ter total liberdade relativa ao trato com seus empregados.::::

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deve haver uma sólida relação de equilíbrio entre as partes contratantes.::::

Os tribunais brasileiros não viam com bons olhos as práticas de terceirização, pois algumas empresas se utilizavam de práticas abusivas nas contratações, burlando a legislação.

Alguns sindicatos de trabalhadores também não vêem com bons olhos a prática da terceiriza-ção, pois acabam perdendo filiados e reduzindo a dimensão da categoria.

É fundamental a aplicação dos conceitos apresentados no item III do Enunciado 331 do TST, não permitindo a pessoalidade e a subordinação direta, ou seja, não são as pessoas que estão sendo con-tratadas, mas o serviço completo, que deverá ser supervisionado e orientado pela empresa contrata-da. Da mesma forma não é permitido transmitir ordem diretamente aos funcionários terceirizados.

Cabe à empresa tomadora dos serviços ficar atenta às ocorrências contrárias ao objeto da con-tratação, devendo comunicar imediatamente à empresa prestadora de serviços para que as irregu-laridades sejam corrigidas, sob pena de responder como pólo passivo na justiça trabalhista.

Uma fiscalização periódica é recomendável ao contratante, tanto nos aspectos técnicos da prestação de serviços como documental. Devendo observar alguns quesitos, principalmente o re-gistro de trabalho e as verbas trabalhistas e ainda um acompanhamento dos recolhimentos devidos ao INSS, FGTS, PIS, COFINS, IRPJ.

Eventualmente, algumas modificações poderão acontecer na prestação de serviços, mas isto deve constar de termos aditivos ao contrato original.

Os cuidados com a terceirização de funcionários(ROMANO, 2008)

O excesso de encargos trabalhistas exigidos pela CLT, em vez de proteger o trabalhador, acaba por fomentar o desemprego, que em abril de 2004 alcançou o índice recorde de 13,1%. Estima-se que o registro em carteira encareça em 60% a criação de um posto de trabalho. Para fugir dos en-cargos e continuar crescendo, muitas empresas optaram por terceirizar parte da força de trabalho. A medida é viável, mas exige cuidados para não se descumprir a lei.

De acordo com o enunciado 331 do Tribunal Superior do Trabalho, só é permitida a terceiri-zação de funcionários para atividades-meio, não para atividades-fim da empresa. Em uma metalúr-gica, por exemplo, é possível terceirizar serviços de limpeza e portaria; o trabalho de metalurgia, jamais. Esse enunciado, adotado pelo TST em 2002, uniformizou as decisões do tribunal nas ações de prestação de serviços, como os de vigilância e limpeza.

Recentemente, um banco foi questionado, pelo Ministério Público do Trabalho no Rio de Ja-neiro, por entregar a terceiros o processamento de documentos movimentados nos caixas-auto-máticos – o que é considerado atividade-fim do banco. A visão do MPT é de que isso caracteriza relação de emprego (conforme previsto no artigo 3.º da CLT); portanto, o funcionário não poderia ser tratado e remunerado como terceirizado.

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Não acaba aí. Também são condições para a terceirização não haver pessoalidade nem relações de subordinação e hierarquia entre a empresa tomadora de serviço e o funcionário terceirizado. Por isso, é bom evitar dar ordens diretas a esse trabalhador e sempre pedir, à empresa terceirizada, a constante mudança do profissional que fará o serviço, evitando que se caracterize o vínculo empre-gatício. Isso será levado em conta pelo juiz em casos de disputas judiciais. Em empresas com muitos funcionários terceirizados, um representante deles deve fazer parte da Cipa (Comissão Interna de Prevenção a Acidentes) da tomadora de serviços.

Outra exigência é de que a empresa terceirizada seja notificada (e assine documento que comprove a notificação) sobre riscos de acidentes de trabalho na empresa tomadora de serviço. Essa, por sua vez, deve fiscalizar o pagamento de salários e direitos trabalhistas dos funcionários terceirizados, uma vez que pode ser acionada em caso de litígios trabalhistas, solidariamente ou subsidiariamente. Havendo falhas da empresa no pagamento de FGTS e INSS dos empregados, por exemplo, a tomadora de serviço pode acabar dividindo a responsabilidade judicial do erro.

Funcionários que se sentirem lesados pela terceirização indevida de sua força de trabalho po-dem recorrer à Delegacia Regional do Trabalho, orientar-se sobre o assunto e fazer denúncias for-mais contra empregadora e tomadora de serviços. Em casos mais graves (de maus-cuidados com higiene, medicina e segurança, por exemplo, por parte das empresas envolvidas), a melhor solução é procurar o Ministério Público do Trabalho. Se o funcionário efetuar uma denúncia por escrito, será aberto um inquérito e a tomadora de serviço será chamada para averiguação.

Atividades1. É importante que dentro de uma empresa se tenha um local para serviço de emergência conten-

do alguns itens, exceto:

a) cardioscópio.

b) eletrocardiógrafo.

c) sistema de aspiração e oxigenação.

d) centro cirúrgico.

2. A norma regulamentadora que determina o funcionamento do SESMT é a:

a) NR 17.

b) NR 7.

c) NR 4.

d) NR 32.

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Normas regulamentadoras

As normas regulamentadoras (NRs) foram criadas e estabelecidas pela Portaria 3.214, em 8 de junho de 1978. Essas NRs, somadas à aplicação das normas técnicas correspondentes, surgiram para orientar as principais ações preventivas, bem como de fiscalização para serem executadas nos Serviços de Saúde e Segurança do Trabalho nas mais variadas áreas de trabalho. Sem elas, torna-se inviável a prá-tica e o exercício da Higiene e Segurança do Trabalho não só nas empresas, mas também no meio rural.

As NRs, hoje, são compostas por 33 normas regulamentadoras e 5 normas regulamentadoras rurais (NRRs). A seguir, elencam-se todas essas normas, para posterior análise individual:

NR 1:::: – Disposições gerais.

NR 2 :::: – Inspeção prévia.

NR 3:::: – Embargo ou interdição.

NR 4:::: – Serviço Especializado em Engenharia de Segurança e em Medicina do Trabalho (SES-MT).

NR 5:::: – Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (CIPA).

NR 6:::: – Equipamento de proteção individual (EPI).

NR 7:::: – Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional (PCMSO).

NR 8:::: – Edificações.

NR 9:::: – Programa de Prevenção de Riscos Ambientais (PPRA).

NR 10:::: – Instalações e serviços em eletricidade.

NR 11:::: – Transporte, movimentação, armazenagem e manuseio de materiais.

NR 12:::: – Máquinas e equipamentos.

NR 13:::: – Caldeiras e vasos de pressão.

NR 14:::: – Fornos.

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NR 15:::: – Atividades e operações insalubres.

NR 16:::: – Atividades e operações perigosas.

NR 17:::: – Ergonomia.

NR 18:::: – Condições e meio ambiente de trabalho na indústria da construção.

NR 19:::: – Explosivos.

NR 20:::: – Líquidos combustíveis e inflamáveis.

NR 21:::: – Trabalho a céu aberto.

NR 22:::: – Segurança e saúde ocupacional na mineração.

NR 23:::: – Proteção contra incêndios.

NR 24:::: – Condições sanitárias e de conforto nos locais de trabalho.

NR 25:::: – Resíduos industriais.

NR 26:::: – Sinalização de segurança.

NR 27:::: – Registro profissional do técnico de Segurança do Trabalho no Ministério do Trabalho.

NR 28:::: – Fiscalização e penalidades.

NR 29:::: – Segurança e saúde no trabalho portuário.

NR 30:::: – Segurança e saúde no trabalho aquaviário.

NR 31 :::: – Segurança e saúde no trabalho na agricultura, pecuária, silvicultura, exploração flo-restal e aquicultura.

NR 32 :::: – Segurança e saúde no trabalho em estabelecimentos de assistência à saúde.

NR 33:::: – Segurança e saúde nos espaços confinados.

NRR 1:::: – Disposições gerais.

NRR 2:::: – Serviço Especializado em Prevenção de Acidentes do Trabalho Rural (SEPATR).

NRR 3:::: – Comissão Interna de Prevenção de Acidentes do Trabalho Rural (CIPATR).

NRR 4:::: – Equipamento de proteção individual (EPI).

NRR 5:::: – Produtos químicos.

Descrição das Normas Regulamentadoras (NRs)

NR 1 – Disposições geraisA NR 1 tem por finalidade estabelecer o campo de aplicação de todas as normas regulamenta-

doras de Segurança e Medicina do Trabalho urbano, assim como os direitos e obrigações do governo, dos empregadores e dos trabalhadores no que tange a esse tema específico. É ela a responsável por

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determinar o cumprimento obrigatório das normas regulamentadoras, por todas as empresas, sejam elas públicas ou privadas, sempre que possuírem empregados no regime celetista.

NR 2 – Inspeção préviaA NR 2 é a responsável por estabelecer as situações nas quais as empresas deverão solicitar ao Mi-

nistério do Trabalho a realização de inspeção prévia em seus respectivos estabelecimentos, assim como a maneira de sua realização. Este emitirá um Certificado de Aprovação de Instalações (CAI), de acordo com um modelo previamente estabelecido. O artigo 160 da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) é a fundamentação legal, ordinária e específica, que dá embasamento jurídico à existência dessa NR.

NR 3 – Embargo ou interdiçãoA NR 3 estabelece as situações em que as empresas se sujeitam a sofrer paralisação de seus ser-

viços, máquinas ou equipamentos, bem como os procedimentos a serem observados pela fiscalização das Delegacias Regionais do Trabalho na adoção de medidas punitivas em relação à Segurança e Saúde do Trabalho. Essas punições ocorrerão mediante apresentação de um laudo técnico e consistem, além de interdição ou embargo, a orientação sobre as providências a serem adotadas para prevenção de aci-dentes do trabalho ou doenças profissionais. O artigo 161 da CLT é o responsável por fornecer o suporte legal à existência dessa NR.

NR 4 – Serviços Especializados em Engenharia de Segurança e em Medicina do Trabalho (SESMT)

É a NR que estabelece a obrigatoriedade das empresas com funcionários no regime celetista, seja ela pública ou privada, em organizarem e manterem em pleno funcionamento os SESMT, com o objetivo de promover a saúde e proteger a integridade do trabalhador em seu ambiente de trabalho. A implantação do SESMT depende, basicamente, de dois fatores: da gradação do risco da empresa, de acordo com os dados da Classificação Nacional de Atividades Econômicas (CNAE), e do número de trabalhadores da empresa. Dependendo desses elementos, o SESMT pode ser formado por técnico de Segurança do Trabalho, engenheiro de Segurança do Trabalho, auxiliar de Enfermagem do Trabalho, enfermeiro do Trabalho e médico do Trabalho. O artigo 162 da CLT é quem fornece seu embasamento jurídico.

NR 5 – Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (CIPA)Estabelece que as empresas com funcionários celetistas devem manter, por estabelecimento, uma

comissão formada exclusivamente por funcionários com a finalidade de prevenir acidentes e doenças decorrentes do trabalho, através de apresentação de sugestões, além de recomendações ao empregador para melhoria do ambiente de trabalho, eliminando possíveis causas para essas moléstias, tornando o

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trabalho compatível com a promoção de saúde e preservação da vida do empregado. O embasamento legal dessa NR são os artigos 163, 164 e 165 da CLT.

NR 6 – Equipamentos de proteção individual (EPI)Responsável pelo estabelecimento e definição dos tipos de EPI que as empresas devem for-

necer aos seus trabalhadores, quando assim for necessário, de acordo com as condições de tra-balho, ou seja, quando as medidas de proteção coletiva forem insuficiente ou estiverem sendo implantadas, ou ainda nos casos de emergência. Isso ocorre com o objetivo de preservar a saúde e a integridade física dos empregados. Os artigos 166 e 167 da CLT dão o suporte legal para a apli-cação dessa NR.

NR 7 – Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional (PCMSO)Com o objetivo de promoção e preservação da saúde da coletividade dos trabalhadores, essa

NR tem por finalidade obrigar as instituições a realizarem os exames pertinentes à saúde laboral, como os exames admissional, periódico, de mudança de função, de retorno ao trabalho e demissional, bem como obriga também o trabalhador a passar por esses exames. O embasamento jurídico dessa NR são os artigos 168 e 169 da CLT.

NR 8 – EdificaçõesÉ a NR responsável pela segurança e conforto dos trabalhadores de edificações, através da dispo-

sição dos requisitos técnicos mínimos, de acordo com os artigos 170 a 174 da CLT.

NR 9 – Programa de Prevenção de Riscos Ambientais (PPRA)Também com o intuito de preservar a integridade da saúde física dos trabalhadores, essa NR

busca mapear os riscos ambientais existentes no ambiente de trabalho, através de sua antecipação, reconhecimento, avaliação e controle, levando em consideração o meio ambiente e os recursos na-turais. Dentre os principais riscos, destacam-se os riscos biológicos, físicos, químicos, de acidente de trabalho e ergonômico. Ela obriga a inclusão dos empregados no PPRA, conforme os artigos 175 a 178 da CLT.

NR 10 – Instalações e serviços em eletricidadeResponsável pela segurança dos funcionários que trabalham em instalações elétricas. Esses traba-

lhadores estão nas mais diversas etapas, tais como elaboração de projetos, execução, operação, manu-tenção, reforma e ampliação, bem como a segurança de usuários e de terceiros, em quaisquer das fases de geração, transmissão, distribuição e consumo de energia elétrica, obedecendo às normas técnicas vigentes ou, na falta delas, as normas técnicas internacionais, segundo os artigos 179 a 181 da CLT.

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65|Normas regulamentadoras

NR 11 – Transporte, movimentação, armazenagem e manuseio de materiaisCom o objetivo de prevenir infortúnios laborais, são estabelecidos os requisitos de segurança a

serem observados nos locais de trabalho, no que se referem ao transporte, à movimentação, à armaze-nagem e ao manuseio de materiais, tanto de forma mecânica quanto manual, segundo os artigos 182 e 183 da CLT.

NR 12 – Máquinas e equipamentosVisando à prevenção de acidentes de trabalho, são estabelecidas medidas de segurança e higiene

do trabalho a serem adotadas pelas empresas em relação à instalação, operação e manutenção de má-quinas e equipamentos, segundo os artigos 184 e 186 da CLT.

NR 13 – Caldeiras e vasos de pressãoDe modo a se prevenir acidentes de trabalho, são estabelecidos os requisitos técnico-legais rela-

tivos à instalação, à operação e à manutenção de caldeiras e vasos de pressão, segundo os artigos 187 e 188 da CLT.

NR 14 – FornosÉ responsável por determinar as recomendações pertinentes à construção, à operação e à manu-

tenção de fornos industriais nos ambientes de trabalho, com base no artigo 187 da CLT.

NR 15 – Atividades e operações insalubresDescreve quadro de insalubridade, determinando limites de tolerância para agentes insalubres.

Define as situações que caracterizam insalubridade, a partir da vivência do trabalhador em seu respec-tivo ambiente laboral, além do meio de proteger esse mesmo trabalhador de tais exposições nocivas a sua saúde. Os artigos da CLT de 189 a 192 são os responsáveis pelo embasamento legal dessa NR.

NR 16 – Atividades e operações perigosasDefine periculosidade. É a NR responsável por regulamentar atividades e operações consideradas

perigosas e estipula as recomendações de prevenção correspondentes, de acordo com os artigos 193 a 197 da CLT.

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66 | Segurança, Saúde, Higiene e Medicina do Trabalho

NR 17 – ErgonomiaBusca proporcionar conforto, segurança e desempenho eficientes por parte dos trabalhadores,

através do estabelecimento de parâmetros que permitam a adaptação das condições de trabalho às condições psicológicas dos empregados. Os artigos 198 e 199 da CLT fornecem a base legal para a apli-cação dessa NR.

NR 18 – Condições e meio ambiente de trabalho na indústria da construçãoObjetiva a implementação de medidas de controle e sistema preventivos de segurança nas cons-

truções e no meio ambiente de trabalho da construção civil, estabelecendo diretrizes de ordem admi-nistrativa, de planejamento organizacional. O artigo 200, I, da CLT é a base jurídica dessa norma.

NR 19 – Explosivos Com o intuito de proteger a saúde e a integridade física dos trabalhadores em seus respectivos

ambientes de trabalho, essa NR estabelece as disposições sobre o depósito, manuseio e transporte de explosivo, de acordo com o artigo 200, II, da CLT.

NR 20 – Líquidos combustíveis e inflamáveisTambém visando à proteção da saúde e à manutenção da integridade física dos trabalhadores

em seus respectivos ambientes de trabalho, essa NR estabelece as disposições sobre o depósito, o ma-nuseio e o transporte de líquidos combustíveis e inflamáveis, também de acordo com o artigo 200, II, da CLT.

NR 21 – Trabalho a céu abertoDetermina os tipos de medidas para realizar a prevenção de acidentes nas atividades desenvol-

vidas a céu aberto, como minas ao ar livre e pedreiras. A base jurídica para essa NR é o artigo 200, IV, da CLT.

NR 22 – Segurança e saúde ocupacional na mineraçãoDetermina que as empresas que lidem com trabalhos subterrâneos proporcionem a seus fun-

cionários condições adequadas de segurança e saúde no seu ambiente de trabalho. A fundamentação legal para a existência dessa NR são os artigos 293 a 301 e o inciso III do artigo 200, todos da CLT.

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67|Normas regulamentadoras

NR 23 – Proteção contra incêndiosObjetivando a prevenção da saúde e da integridade física dos trabalhadores, essa NR estabelece

medidas de proteção contra incêndio, que devem estar dispostas nos locais de trabalho. O dispositivo legal para a aplicação dessa norma é o inciso IV do artigo 200 da CLT.

NR 24 – Condições sanitárias e de conforto nos locais de trabalhoObserva os itens de conforto e higiene dentro de um ambiente de trabalho. Os itens mais abor-

dados são banheiros, vestiários, refeitórios, cozinhas, alojamentos e água potável, com a finalidade de proteger a saúde do trabalhador. Baseada no inciso VII do artigo 200 da CLT.

NR 25 – Resíduos industriaisProtege a saúde e integridade física do trabalhador estabelecendo algumas medidas preventivas

a serem impostas pelos empregadores no destino final a ser dado aos resíduos industriais resultantes dos ambientes de trabalho. Fundamentada também no inciso VII do artigo 200 da CLT.

NR 26 – Sinalização de segurançaPadroniza as cores a serem adotadas como sinalização de segurança nos ambientes de trabalho.

Embasada no artigo 200, VIII, da CLT.

NR 27 – Registro profissional do técnico de Segurança do Trabalho no Ministério do Trabalho

Fornece dados sobre os requisitos necessários para que um profissional da área possa exercer as fun-ções e atividades de técnico de Segurança do Trabalho, especialmente no que tange ao seu registro profis-sional junto ao Ministério do Trabalho. Essa norma é embasada juridicamente pelo artigo 3.° da Lei 7.410, de 27 de novembro de 1985, regulamentada pelo artigo 7.° do Decreto 92.530, de 9 de abril de 1986.

NR 28 – Fiscalização e penalidadesRegulamenta os procedimentos adotados pela fiscalização trabalhista, no que tange à concessão

de prazos às empresas para a correção de irregularidades técnicas e também no que diz respeito ao procedimento de autuação por infração às NR.

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NR 29 – Segurança e saúde no trabalho portuárioAplicadas aos trabalhadores portuários em operações tanto a bordo como em terra, ou ainda aos

demais funcionários que trabalhem em portos organizados ou instalações portuárias de uso privativo e retroportuárias, situadas dentro ou fora de porto organizado. Busca estabelecer proteção contra aci-dentes e doenças profissionais, facilitar os primeiros socorros a acidentados, além de alcançar as me-lhores condições possíveis de segurança e saúde a esses trabalhadores. Embasada na Medida Provisória 1.575-6, de 27 de novembro de 1997, no artigo 200 da CLT e no Decreto 99.534, de 19 de setembro de 1990, que promulga a Convenção 152 da Organização Internacional do Trabalho (OIT).

NR 30 – Segurança e saúde no trabalho aquaviárioAplicadas aos trabalhadores de qualquer embarcação comercial, passageira ou cargueira, na nave-

gação marítima de longo curso, na cabotagem, na navegação interior, no reboque em alto-mar, em plata-formas marítimas e fluviais, quando em deslocamento, e em embarcações de apoio marítimo e portuário. Além da observância da NR, as empresas também devem seguir todas as outras disposições legais com relação ao tema, bem como outras provindas de acordos, convenções e contratos coletivos de trabalho.

NR 31 – Segurança e saúde no trabalho na agricultura, pecuária, silvicultura, exploração florestal e aquicultura

Torna viável o planejamento e o desenvolvimento das atividades da agricultura, pecuária, silvi-cultura, exploração florestal e aquicultura, com segurança e saúde no ambiente do trabalho, através do estabelecimento das normas a serem observadas na organização desse ambiente. Base jurídica assegu-rada pelo artigo 13 da Lei 5.889, de 8 de janeiro de 1973.

NR 32 – Segurança e saúde no trabalho em estabelecimentos de saúdeFornece diretrizes para a adoção de medidas de proteção à segurança e à saúde dos trabalhado-

res dos serviços de saúde, onde se incluem hospitais, laboratórios, clínicas, consultórios, entre outros. Também devem seguir essa NR os profissionais que exerçam atividades ligadas à promoção e assistên-cia à saúde em geral.

NR 33 – Segurança e saúde nos espaços confinadosDita os requisitos mínimos para reconhecimento, avaliação monitoramento e controle dos riscos

existentes em espaços confinados. Busca garantir a saúde e a segurança dos trabalhadores que intera-gem direta ou indiretamente nesses locais.

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69|Normas regulamentadoras

Normas regulamentadoras rurais (NRR)As normas regulamentadoras rurais (NRR) servem para regulamentar o trabalho no campo, com

o intuito de garantir a saúde e a segurança do trabalhador rural. Essas normas são juridicamente emba-sadas principalmente pelo artigo 13 da Lei 5.889/1973.

NRR 1 – Disposições geraisFornece aos empregados e empregadores seus deveres no que concerne à prevenção de aciden-

tes de trabalho e doenças ocupacionais relacionadas à área rural.

NRR 2 – Serviço Especializado em Prevenção de Acidente do Trabalho Rural (SEPATR)

Obriga as empresas rurais a organizarem e manterem em funcionamento Serviços Especializados em Segurança e Medicina do Trabalho, de acordo com o número de trabalhadores.

NRR 3 – Comissão Interna de Prevenção de Acidentes do Trabalhador Rural (CIPATR)

Organização e manutenção, por parte do empregador rural, de uma Comissão Interna de Preven-ção de Acidentes.

NRR 4 – Equipamento de proteção individual (EPI)Estabelece ao empregador o fornecimento obrigatório dos EPIs pertinentes ao risco e em perfeito

estado de conservação ao empregado, com o objetivo de protegê-lo de acidentes de trabalho.

NRR 5 – Produtos químicosOrienta sobre o manuseio adequado de produtos químicos por parte dos trabalhadores rurais,

para garantir sua segurança.

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70 | Segurança, Saúde, Higiene e Medicina do Trabalho

Texto complementar

O Modelo Brasileiro de Segurança e Saúde no TrabalhoNo Brasil, os aspectos relacionados com Segurança e Medicina do Trabalho foram disciplinados

pelo Decreto Lei 3.700 (de 09/10/1941) e pelo Decreto 10.569 (de 05/10/1942), porém a legislação efetiva sobre a matéria veio através do capítulo V do título II da Consolidação das Leis de Trabalho (CLT), aprovada pelo Decreto-Lei 5.452, de 1.º de maio de 1943. A Lei 6.514 (22/12/1977) deu nova redação a todo o capítulo V do Título II da CLT, relativo à Segurança e Medicina do Trabalho e a Portaria 3.214 (08/06/1978) aprovou as normas regulamentadoras – NRs (relativas à Segurança e Medicina do Trabalho) do referido capítulo da CLT. Atualmente existem 32 Normas (NR-1 a NR-32) que são de observância obrigatória pelas empresas privadas e públicas e pelos órgãos públicos da Administração direta e indireta, bem como pelos órgãos dos Poderes Legislativo e Judiciário, que possuam empregados regidos pela CLT. Além disso, as disposições contidas nessas normas aplicam-se também aos trabalhadores avulsos, às entidades ou empresas que lhes tomem o serviço e aos sindicatos representativos das respectivas categorias profissionais.

De acordo com a NR1, subitem 1.3, a Secretaria de Segurança e Saúde no Trabalho (SSST) é o órgão de âmbito nacional competente para coordenar, orientar, controlar e supervisionar as ativi-dades relacionadas com a Segurança e Medicina do Trabalho, e ainda fiscalizar o cumprimento dos preceitos legais e regulamentares sobre segurança e medicina do trabalho, através das Delegacias Regionais do Trabalho (DRT), e impor as penalidades cabíveis por descumprimento destes preceitos legais, em todo o território nacional. Cabe ao empregador: cumprir e fazer cumprir as disposições legais e regulamentares sobre Segurança e Medicina do Trabalho, prevenir atos inseguros no de-sempenho do trabalho e adotar medidas para eliminar ou neutralizar a insalubridade e as condições inseguras de trabalho. Cabe ao empregado: usar o EPI fornecido pelo empregador e colaborar com a empresa na aplicação das NRs.

Entre as citadas normas regulamentadoras, a NR18 é a que trata especificamente da Indús-tria da Construção Civil. Essa norma regulamenta o processo construtivo, do ponto de vista da segurança e saúde no trabalho, apresentando detalhes referentes às condições seguras na etapa de execução da obra. Entre os itens que compõem a NR18, destaca-se a obrigatoriedade de ela-boração e implementação do PCMAT (Programa de Condições e Meio Ambiente de Trabalho na Indústria da Construção). Esse programa deve ser elaborado antes do início da obra e implemen-tado durante a execução da mesma, com cronograma de implantação das medidas preventivas e programa educativo, e contempla também as exigências contidas na NR9 – Programa de Preven-ção de Riscos Ambientais (PPRA). Embora a NR18 seja considerada um bom guia para a prática da segurança e saúde no trabalho em canteiros de obras, pode-se afirmar que suas exigências estão baseadas em detalhes quantitativos da legislação e da técnica construtiva e não acompanham a rapidez das mudanças ou inovações tecnológicas que são introduzidas no processo construti-vo e as especificidades da industria da construção com produtos únicos que implicam em medi-das interventivas diferenciadas, a cada projeto. O que vem acontecendo na maioria das empresas

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construtoras é a repetição do PCMAT como procedimento padrão que afinal não é devidamente implementado, sendo utilizado para atendimento das exigências legais e fiscalização, enfim a boa idéia transformou-se em mera burocracia.

Através dessa reflexão fica perceptível que as abordagens sobre segurança e saúde no traba-lho, no Brasil, traduziram-se fundamentalmente em:

intervenções coletivas sobre os componentes materiais do trabalho, isto é, nos locais e ::::equipamentos de trabalho.

intervenções sobre o trabalhador, através da vigilância médica.::::

intervenções ao nível de equipamentos de proteção individual do trabalhador.::::

predominância, nas empresas, da cultura de obediência a legislação e de ações pontuais.::::

O Modelo Europeu de Segurança e Saúde no TrabalhoNa Europa, durante o período da sociedade industrial, já se reconhecia a influência das condi-

ções de trabalho na saúde dos trabalhadores e, por via de conseqüência, na produtividade das em-presas. Nesse contexto, se desenvolveram várias abordagens no sentido de buscar soluções para a problemática da Segurança e Saúde no Trabalho (SST). Inicialmente essas abordagens tinham como eixo central, os trabalhos de maior periculosidade e insalubridade, já em um segundo momento, no pós-guerra, o foco migrou para os riscos profissionais inerentes aos fatores de produção, enfatizan-do-se a influência dos agentes físicos, químicos e biológicos na Segurança e Saúde do Trabalhador. Tais abordagens fundamentavam-se em uma filosofia protecionista em relação ao trabalhador e numa visão fragmentada do sistema de produção, onde a atuação se dava de forma corretiva bus-cando reduzir os efeitos dos riscos de acidentes do trabalho ou de doença profissional.

No atual contexto da globalização, a rapidez da absorção de novas tecnologias nos processos produtivos veio comprometer a eficácia das medidas de SST até então utilizadas, devido a dificul-dade de acompanhar e conhecer todas as propriedades das novas matérias-primas, componentes, equipamentos e processos de trabalho que substituem, de forma acelerada, os anteriormente in-corporados no cenário de transformação industrial. Então, diante desse ambiente de variabilidade dos fatores de produção, qual deveria ser a estratégia para enfrentamento da problemática de SST? Indubitavelmente, a resposta a essa questão não se encontraria na inovação e/ou adoção de técnicas de controle de riscos profissionais, mas sim, no domínio da gestão. Dessa forma, a SST na Europa evoluiu para o desenvolvimento da gestão da prevenção numa abordagem global e inte-gradora da empresa.

No que diz respeito à indústria da construção, uma nova abordagem foi introduzida na União Européia em 1992 para a melhoria da SST nesse setor através da publicação da Diretriz Canteiros (DC) (92/57/CEE) que teve por base a Convenção da OIT 167, de 1988, que trata especificamente da Segurança e Saúde na Construção. Segundo Dias (2005), a nova abordagem da DC pode ser resumi-da nos seguintes pontos:

Todos os intervenientes envolvidos no processo de construção têm tarefas (responsabilida-a) des) especificas em relação a SST, inclusive os projetistas e o dono da obra;

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72 | Segurança, Saúde, Higiene e Medicina do Trabalho

Criação da coordenação de segurança e saúde que deve atuar na fase de concepção e ela-b) boração dos projetos e na fase de execução da obra. Surgiram assim dois novos atores no processo de construção: o coordenador de projeto e o coordenador de obra;

Criação de três novos documentos de prevenção de riscos profissionais: comunicação pré-c) via, o plano de segurança e saúde e o plano de intervenções posteriores.

Esse artigo não tem a pretensão de apresentar de forma detalhada essa nova abordagem aqui denominada “Modelo Europeu”, uma vez que esse não é o objetivo da pesquisa. Cabe aqui apenas destacar alguns pontos considerados importantes para fundamentar a análise e discussão do atual “Modelo Brasileiro”.

Nesse sentido, em relação ao primeiro ponto acima citado, é preciso destacar a importân-cia dessa medida para esse setor, considerando a quantidade e diversidade de intervenientes que são envolvidos durante todo o ciclo de vida de um empreendimento. Tal diversidade impli-ca na complexidade de gestão tendo em vista a necessidade de coordenar as múltiplas relações entre eles. Os intervenientes vão desde o dono da obra (o proprietário), passando por autores de projetos, empreiteiros, subempreiteiros, fiscais, trabalhadores etc. até o cliente final. Dessa forma, vale sublinhar a inclusão das responsabilidades do dono da obra na temática da SST, uma vez que lhe cabe a tomada de decisão referente à política de segurança da obra. Também é bastante pertinente a participação dos autores de projeto que devem considerar os princípios de prevenção já na fase de concepção do empreendimento, evitando assim inúmeros proble-mas de segurança e saúde que poderiam surgir nas fases posteriores. Outro destaque para a relação dos empreiteiros com a SST que devem atender ao que está estabelecido na legislação específica e no contrato com o dono da obra, se estendendo essas obrigações para toda a cadeia de subcontratações (fornecedores de equipamentos, subempreiteiros etc.) largamente utilizada nesse ramo de atividade. Conforme Dias (2005), os empreiteiros têm a obrigação de coordenar todos os seus subcontratados, devendo ainda fazê-los implementar os princípios gerais de prevenção, na fase de execução da obra. Para tanto, os empregadores devem prover os meios necessários para as atividades de informação e formação dos recursos humanos na área de gestão e prevenção dos riscos profissionais, além de criar um sistema de gestão da se-gurança e saúde no trabalho.

Quanto ao item (b), que trata da criação da coordenação de segurança, o IDICT (1999, p.75) define o coordenador de projeto como “uma pessoa singular ou coletiva nomeada pelo dono da obra para desenvolver, durante a fase do projeto, as tarefas de coordenação de segurança inerentes a esta fase e habilitada para tal fim”. Segundo Souto (2003), a presença de um coordenador de pro-jeto, principalmente no caso de grandes obras onde existem vários projetistas, é fundamental para obter-se a perfeita integração de todos os projetos e assegurar que se cumpra a legislação de segu-rança. O coordenador de obra é definido como “pessoa singular ou coletiva nomeada pelo dono da obra para executar, durante a realização da obra, as tarefas de coordenação inerentes a esta fase e habilitada para tal fim” (IDICT, 1999, p. 75). De acordo com Souto (2003), tal coordenação se justifica, principalmente, quando há vários empreiteiros envolvidos, uma vez que cada empreiteiro terá os seus técnicos de segurança e, portanto, terá que haver uma figura hierarquicamente superior que represente o dono da obra e coordene o trabalho de todos.

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Em síntese, a criação dessa coordenação de segurança tem um duplo papel: por um lado, res-ponde pela coordenação da segurança e saúde de um determinado empreendimento, por outro, garante a integração entre as fases de projeto e execução daquele empreendimento. Desse modo, segundo Souto (2003), favorece a difusão da visão sistêmica e da interdisciplinaridade que poderão contribuir para as atividades de geração e transferência do conhecimento e, portanto, para o au-mento da competitividade da empresa.

Como acima referido no item (c), a DC exige os seguintes documentos: Comunicação Prévia (CP) que tem o propósito de comunicar a abertura de um novo canteiro; Plano de Segurança e Saú-de (PSS) que, segundo Dias (2005, p. 63) é “o principal documento de prevenção de riscos profissio-nais para a fase de execução, tendo por objetivo identificar e avaliar os riscos de SST e respectivas medidas preventivas a serem tomadas durante essa fase no canteiro”; Plano de Intervenções Pos-teriores (PIP) que contempla as intervenções pós-obra, ou seja, durante a fase de uso/manutenção do empreendimento.

Por fim, percebe-se que a DC visualiza a SST como uma função inerente à gestão global do em-preendimento, o que se traduz na inclusão de todas as fases do ciclo do empreendimento (projeto, execução e pós-obra) e no envolvimento de todos os intervenientes que participam desse ciclo em quaisquer das suas fases. Dessa forma, a nova abordagem da SST em vigor nos países da União Eu-ropéia, materializada através da DC, veio colocar essa temática como parte integrante da gestão do negócio da indústria da construção.

Resultados da pesquisaEste item apresenta os resultados da pesquisa nas três empresas construtoras, de pequeno,

médio e grande porte, selecionadas para o estudo multicaso e a análise do comportamento dos auditores fiscais do Ministério do Trabalho em relação à metodologia e filosofia de fiscalização do cumprimento das normas de segurança nessas empresas.

A empresa de grande porte é de estrutura familiar e conta com um contingente de 1 200 a 1 500 funcionários. Atua no Estado de Pernambuco, com predominância na cidade de Recife, e tem como produto principal a construção de edifícios residenciais verticais.

A política da empresa é a de não poupar esforços para a melhoria do ambiente de trabalho, en-tendendo que as mudanças só serão possíveis graças ao trabalho de valorização do cliente interno. Dessa forma, a empresa investe em segurança e nas condições de trabalho e vida dos funcionários, através de medidas tais como: contratação de nutricionista e cozinheiro treinado para preparar re-feições balanceadas (café e almoço) e cardápio adaptado aos costumes regionais (cuscuz, cozido, rapadura, suco de frutas etc.); palestras educativas e treinamentos sobre SST; sinalização do canteiro e contratação de técnicos de segurança do trabalho que atuam no canteiro subordinados ao enge-nheiro gestor.

Nessa empresa, a política de gestão de recursos humanos é extensiva aos trabalhadores sub-contratados, no que se refere a treinamento, segurança, alimentação e condições de trabalho dig-nas. A terceirização é vista pelo nível estratégico como uma problemática, decorrente do fato de

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que a maioria das terceirizadas caracteriza-se por ser pequenas empresas, mal estruturadas, não investem em capacitação de pessoal e não primam pela qualidade do serviço. Segundo o enge-nheiro/sócio do nível estratégico entrevistado: “muitas vezes, as empresas terceirizadas deixam a mão-de-obra à mercê do engenheiro da obra e só aparecem no dia de medições... então, a empresa contratante investe na qualificação e segurança do pessoal da empresa contratada para evitar futu-ros problemas”.

A empresa de médio porte no momento da pesquisa tinha cinco obras em andamento, na cidade de João Pessoa/Paraíba e empregava 110 pessoas. O topo da empresa é composto por duas diretorias: a técnica e a administrativa. O entrevistado foi o engenheiro/diretor técnico responsável pela área de produção. Segundo o entrevistado, a missão, os objetivos e metas da empresa se enquadram na seguinte afirmação: “nós queremos ser uma empresa respeitada no mercado a partir da qualidade. Nosso grande objetivo tem sido qualidade do produto. Nós descobrimos que temos um patrão e este é o cliente, pois sem ele a gente não existe, sem ele a gente não consegue vender os apartamentos”.

Quanto aos itens relacionados com segurança e saúde no trabalho, a opinião de um dos sócios dessa é: “o grande causador dos acidentes de trabalho é a cultura do operário. A dificuldade do ope-rário de entender a necessidade do EPI”. As maiores dificuldades que ele sente para implantação das medidas de segurança estão relacionadas com esta “cultura de rejeição do operário” e com a falta de assessoria competente a quem possa “terceirizar esse serviço e ficar tranqüilo”. Segundo o entre-vistado dessa empresa, as questões de Segurança e Saúde no Trabalho estão incluídas em suas es-tratégias de desenvolvimento, “até porque a gente precisa orçar a obra e o nosso orçamento é bem abrangente, inclui até as despesas com água, luz e telefone e naturalmente tem de ter as despesas com bandejas de proteção, guarda corpo e equipamentos de proteção Individual. O planejamento prevê as normas de segurança, porém eu não tenho um projeto”. Em relação à política de Segu-rança e Saúde no Trabalho, a mesma estava documentada, como também um extenso documento designado como o Sistema de Gestão da Segurança e Saúde no Trabalho. Porém, o entrevistado admitiu que ainda não estava implementado devido às dificuldades por ele mencionadas.

A empresa de pequeno porte também atuante em João Pessoa/Paraíba possuía 85 funcioná-rios e três obras em andamento, no momento da pesquisa. É uma empresa típica familiar, pois ini-ciou suas atividades mais ou menos nos anos 1970 sob a responsabilidade do pai dos atuais sócios. Em relação à missão, objetivos e metas, o entrevistado considerou que o princípio no qual se baseia o funcionamento da empresa é de sobrevivência do grupo (sócios). Para o entrevistado uma empre-sa bem-sucedida é “aquela que dá lucro e está atenta às variações do mercado, da competitividade do setor procurando por sua vez a competência técnica”.

O relacionamento interpessoal nessa empresa acontece na “base do respeito mútuo sem abrir mão da autoridade e hierarquia, principalmente nos canteiros de obras”. Em relação às informações sobre a Segurança e Saúde no Trabalho, o responsável por essa empresa considera que as causas da ocorrência de Acidentes de Trabalho em canteiros de obras “[...] são muitas, mas a maior delas é essa questão de poder aquisitivo como um todo, essa pobreza do Brasil, esta renda per capita baixa que nós vivemos”, portanto, na sua opinião a maior dificuldade para implantação das medidas de segurança nos canteiros é a financeira. Quando interrogado sobre se a Empresa inclui questões de Segurança e Saúde no Trabalho em suas estratégias de desenvolvimento, afirmou que sim com-plementando: “[...] hoje a gente já coloca a segurança como item básico para qualquer início de canteiro de obra, porém a maior resistência que encontro, vem dos engenheiros residentes. Não

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querem aceitar mudanças e perder tempo conversando com o funcionário [...]”. O treinamento dos operários para as atividades é realizado, segundo o entrevistado, “[...] na medida do possível [...]”. Em relação ao Programa de Condições e Meio Ambiente de Trabalho na Indústria da Construção (PCMAT), essa empresa elabora um programa para cada obra conforme exigência da NR 18, porém a implementação deste programa nos canteiros de obras já não acontece a contento, conforme o entrevistado, uma vez que “uma empresa como a minha, de porte pequeno, não tem condições de ter um engenheiro só para praticar segurança do trabalho”. Então, segundo as informações obtidas na entrevista, a gestão da segurança e saúde no trabalho na empresa em estudo acontece de forma a não receber reclamações da Delegacia Regional do Trabalho (DRT), ou seja, tentando cumprir os principais itens da NR.18.

A função da DRT é fiscalizar as empresas, orientar e informar ao público sobre as questões trabalhistas. A fiscalização abrange duas áreas: a área trabalhista e a de segurança e saúde do traba-lhador. A área trabalhista fiscaliza a parte relacionada com carteira do trabalho, fundo de garantia, horário de trabalho e trabalho do menor. A área de segurança e saúde do trabalhador fiscaliza as empresas e também atende ao público com relação ao cumprimento da legislação pertinente a esta área. A fiscalização nas empresas baseia-se no capítulo V da CLT, que é a Lei que versa de uma maneira geral sobre as obrigações das empresas em relação à segurança e saúde do trabalhador. A metodologia da fiscalização é então preparada seguindo as Normas Regulamentadoras que signifi-cam o detalhamento desta Lei. Os canteiros de obras são fiscalizados com certa freqüência embora o número de fiscais ainda seja reduzido. Segundo um agente da fiscalização, é muito difícil que uma obra seja realizada e chegue até o final sem receber uma visita de um auditor fiscal da DRT. Confor-me este agente, muitas empresas construtoras, ligadas ao subsetor de edificações em João Pessoa, ainda investem pouco em Segurança e Saúde no Trabalho e a maioria ainda espera a visita de fiscais da DRT para cumprir os itens que compõem a NR 18.

Análise e aspectos conclusivosAtravés da análise do discurso dos representantes das empresas pesquisadas e da DRT, per-

cebe-se que:

A empresa de grande porte adota política de valorização dos recursos humanos e atende ::::às exigências da NR 18, com destaque para: PCMAT, treinamento de pessoal e área de vi-vência dos canteiros de obras em boas condições de higiene e conforto.

As empresas de médio e pequeno porte não dão o devido valor às questões relacionadas ::::com SST, limitando-se ao fornecimento de Equipamentos de Proteção Individual e aplica-ção de algumas medidas de proteção coletiva.

A auditoria fiscal da DRT adota como forma de atuação a verificação do cumprimento da ::::legislação (Normas Regulamentadoras do cap. V da CLT). No entanto, a maioria das empre-sas construtoras ainda espera a visita de fiscais da DRT para cumprir os itens que compõem a NR 18.

Conclui-se que o Modelo Brasileiro de Segurança e Saúde no Trabalho é essencialmente le-galista, funciona como um mecanismo indutor de uma política de segurança e saúde no trabalho

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restrita, uma vez que não coloca a função segurança como parte integrante do negócio da empresa e não contempla todo o ciclo do empreendimento, limitando-se a fase de execução.

Para reverter este quadro é preciso que se adote o enfoque sistêmico e se aceite a Seguran-ça e Saúde no Trabalho como uma atividade como qualquer outra na empresa, devendo por essa razão ser parte integrante da gestão global da mesma, traduzindo-se numa intervenção integrada e envolvendo todos os trabalhadores, todos os setores e todas as dimensões da empresa. Enfim, é preciso investir no conhecimento das pessoas da empresa principalmente dos gestores [...]

Atividades1. Sobre a NR 32 é incorreto afirmar que:

a) regulamenta as atividades e operações insalubres.

b) não regulamenta as atividades e operações perigosas.

c) estabelece os requisitos mínimos e as diretrizes básicas para implementar as medidas de pro-teção à segurança e à saúde dos trabalhadores dos serviços de saúde.

d) versa sobre caldeiras e vasos de pressão.

e) determina os principais equipamentos de proteção individual (EPIs).

2. De acordo com a NR 32, sobre o PCMSO de um serviço de saúde, é incorreto afirmar:

a) Localização de áreas de risco, conforme descrito no PPRA.

b) Relação nominal dos trabalhadores, suas funções e local de trabalho e os riscos a que estão expostos.

c) Reconhecimento e avaliação dos riscos biológicos.

d) Programas de vacinação não é necessário

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Riscos ambientaisA principal função daqueles que trabalham na área de Saúde e Segurança do Trabalho é a de

promover um meio ambiente laboral salutar, com o menor número de riscos possíveis à saúde do tra-balhador. Sabe-se, entretanto, que existem riscos diversos aos quais o trabalhador pode estar exposto em seu posto de trabalho. Cabe aos profissionais da área de Saúde e Segurança do Trabalho identificar e dimensionar esses riscos. O objetivo deste capítulo é demonstrar a importância da elaboração dos Mapas de Risco, bem como da constituição das Comissões Internas de Prevenção de Acidente (CIPA), abordando sobre sua fundamental participação na promoção da saúde do trabalhador.

Riscos ambientaisNa sociedade moderna, o homem passa grande parte de sua vida em seu ambiente de trabalho.

Para se ter uma noção mais exata desse tempo, uma jornada laboral de 44 horas semanais corresponde a aproximadamente 2 200 horas em um ano. Para a aposentadoria, este trabalhador necessita ter pas-sado em seu ambiente de trabalho cerca de 77 000 horas, ao longo de 35 anos. Tais números refletem a importância do meio ambiente de trabalho para o homem. Certamente, o bem estar e a satisfação com o seu respectivo serviço é um dos fatores mais importantes e que está diretamente ligado com a qualidade de vida do trabalhador. Por essa razão, é fundamental que esse ambiente laboral seja cons-tantemente monitorado e avaliado, para aferir e dimensionar os riscos que esse local possa apresentar à saúde desse trabalhador.

Ao longo da história, a exposição do trabalhador aos mais diversos riscos presentes no seu res-pectivo ambiente de trabalho gerou inúmeros acidentes e doenças causados por esses riscos. Desde intoxicações por produtos químicos, até perdas auditivas, traumas e doenças musculares, apenas para mencionar alguns exemplos, foram causadas pela monitorização inadequada ou mesmo ausente des-tes riscos. Vários são os exemplos dessa preocupação do homem com o seu trabalho e com a maneira de prevenir as doenças dele adquiridas, assim como são muitos os exemplos de acidentes.

As civilizações antigas acreditavam que o contato direto era o principal responsável pela trans-missão de doenças. Os egípcios acreditavam na transmissão das doenças pelo toque. Já para os he-breus, as patologias eram contraídas pelo contato com vestimentas e outros objetos ligados à pessoa doente. Hipócrates, considerado o pai da Medicina, afirmava que o principal responsável pela transmis-

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são de doenças era o ar, devido a sua má qualidade pela presença de vapores nocivos. Apesar das mais diversas explicações para as causas da doença, pouco se fazia para a sua prevenção. Casos isolados de tentativas de prevenção foram registrados na história. Durante a Grande Peste, que assolou a Europa no século XVII, por exemplo, alguns médicos usavam seus próprios equipamentos de proteção individual, que consistia em uma túnica que envolvia a maior parte da superfície corporal, além de chapéu, luvas e máscaras com bico longo e afunilado, onde eram colocadas substâncias aromáticas para atenuar o odor. Entretanto, há também lamentáveis exemplos históricos de acidentes relacionados diretamente com a falta de proteção do ser humano com a substância, sendo inúmeros deles fatais. Marie Curie, física polonesa, ganhadora dos Prêmio Nobel de Física em 1903, pelas suas descobertas no campo da radioatividade, e de Química, em 1911, pela descoberta dos elementos químicos Rádio e Polônio, é um exemplo disso. Nascida em Varsóvia, no ano de 1867, Madame Curie, como era conhecida, faleceu em 1934, na cidade francesa de Salanches, de leucemia, doença provavelmente adquirida devido à exposi-ção inconsciente à radiação dos materiais perigosos e radioativos com os quais lidava.

Graças a esses e outros inúmeros aprendizados históricos, percebeu-se a importância da elabo-ração de programas direcionados à prevenção dos mais diversos riscos presentes nos ambientes. Esses riscos foram denominados riscos ambientais, e são considerados como tais os riscos químicos, físicos, biológicos, de acidentes e ergonômicos. Aos programas de prevenção, cabem estabelecer algumas re-gras básicas de segurança nos ambientes laborais. Sabe-se, também, que a segurança nas atividades profissionais é a mesma que a segurança em qualquer outra atividade humana. Através de alguns pro-cedimentos padrões, pode-se chegar a esse ideal de segurança.

Para que níveis satisfatórios de eficiência, qualidade e produtividade sejam alcançados, é neces-sária a adoção de políticas voltadas à implementação de ambientes de trabalho confiáveis e seguros. Esses procedimentos nada mais são que ações de qualidade. Portanto, o ambiente laboral deve ser pro-jetado, dimensionado ou adequado devidamente de modo a oferecer condições confortáveis e seguras de trabalho, as áreas de trabalho devem ser definidas com a finalidade de separar as de maior risco (por exemplo, a manipulação de produtos químicos e biológicos) daquelas que apresentam menor probabi-lidade de acidentes (por exemplo, as de áreas administrativas).

As áreas do ambiente laboral devem ser adequadamente sinalizadas de forma a facilitar a orienta-ção dos usuários, advertir quanto aos riscos existentes e restringir o acesso de pessoas não-autorizadas. O uso de equipamento de proteção individual e coletiva é fundamental para a execução das atividades laborais, a fim de assegurar a saúde do profissional e minimizar a possibilidade de acidentes.

A segurança deve ser planejada, dimensionada e realizada por uma equipe multiprofissional, de modo a atender vários requisitos relacionados com:

o cumprimento das normas de segurança vigentes (leis);::::

a disponibilidade e o uso adequado de equipamentos de proteção;::::

a organização e a realização de programas de treinamento;::::

manutenção preventiva de equipamentos e instrumentos;::::

a disponibilidade de extintores e outros dispositivos de combate a incêndios;::::

treinamento de combate a incêndio e em situações de emergência;::::

Mapa de Risco obrigatório e sinalização adequada das áreas de riscos e das rotas de fuga;::::

a disponibilidade de sistema de geração elétrica de emergência;::::

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planejamento e execução do programa de prevenção de riscos ambientais PPRA;::::

planos de contenção, quando ocorrem situações de emergência (derramamentos, vazamen-::::tos, contaminações, explosões etc.);

planos de emergência para enfrentar situações críticas, como falta de energia elétrica, de água, ::::incêndio e inundações,

sistema de registro dos testes de segurança e desempenho dos equipamentos de urgência.::::

É importante entender a distinção entre perigo e risco. Em relação ao perigo, refere-se ao agente nocivo biológico, químico ou físico que podem causar diferentes efeitos, por exemplo, a presença de objetos estranhos em embalagens de produtos alimentícios e até mesmo a presença de microorganis-mos em pesticidas. O risco diz respeito à probabilidade de ocorrer um acidente com o pesticida conta-minado com o microorganismo, por exemplo, em dada circunstância .

Pode-se classificar, portanto, a análise do risco como um método científico que visa à obtenção de informações sobre um determinado perigo, o que permite a avaliação do risco presente e a busca de soluções para eliminar ou controlar o perigo apontado. Compreende as etapas de avaliação do risco, gerenciamento do risco e informação do risco.

Através da avaliação do risco, quantificam-se e qualificam-se os efeitos adversos (perigo). O ge-renciamento do risco se refere à busca de políticas e medidas de regulamentação e controle (detecção, rastreamento e monitoramento do risco). Já a comunicação é parte responsável por informar a socieda-de e a comunicar os segmentos envolvidos, como governo e institutos científicos.

Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (CIPA)Com o crescente conhecimento dos trabalhadores em relação aos riscos aos quais eram expostos

em seus respectivos ambientes laborais, observou-se a importância da criação de políticas prevencio-nistas. Concluiu-se que ninguém melhor que o próprio trabalhador poderia conhecer o ambiente de trabalho e, assim, apontar, quantificar e sugerir melhorias de modo a aperfeiçoar as condições de se-gurança deste local. Dessa maneira, em 1921, a Organização Internacional do Trabalho (OIT), que havia sido fundada dois anos antes, promoveu alguns estudos na área de Segurança e Higiene do Trabalho. Nessa ocasião, foram realizadas algumas recomendações de medidas preventivas de doenças e aciden-tes do trabalho que passariam a ser adotadas pelos países de acordo com o interesse de cada um em promover a melhoria nas condições de trabalho de seu povo.

No Brasil, foi criado em 10 de novembro de 1944, o Decreto-Lei 7.036, que ficou conhecido como a “Nova Lei da Prevenção de Acidentes”. Ele trazia em seu artigo original, 82, o marco inicial para a forma-ção das CIPAs. Estas, seriam implantadas em locais com mais de cem funcionários e seriam compostas por representantes dos próprios empregados. O principal objetivo dessas comissões seria a promoção da prevenção de acidentes, através de diversas medidas, tais como a realização de palestras instrutivas, orientação e fiscalização de medidas de proteção ao trabalho e educação contínua dos demais empre-gados em relação à pratica de prevenção dos acidentes.

Apesar da criação das CIPAs ter acontecido em 1944, sua obrigatoriedade nas empresas regidas pela Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) ocorreu apenas no ano seguinte, através da Portaria 229

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do antigo Departamento Nacional do Trabalho (DNT). Com o advento das normas regulamentadoras (NR) através da Portaria 3.214, de junho de 1978, o assunto Segurança e Saúde no Trabalho foi abordado de uma maneira diferenciada. Dentre as NRs, a NR 5 é aquela que trata sobre a CIPA e suas atribuições, tendo sua mais recente redação entrado em vigor em 24 de maio de 1999.

Mapa de RiscosFoi criado em 17 de agosto de 1992, a partir da Portaria 5, obrigando todas as empresas a repre-

sentar graficamente os riscos existentes nos diversos ambientes de trabalho, o que faz parte da NR 9. Conforme determinado pela NR 5, cabe à CIPA a promoção de políticas e medidas preventivas de modo a evitar acidentes profissionais.

O Mapa de Riscos é um dos métodos mais simples para a avaliação qualitativa dos riscos existen-tes nos locais de trabalho. É a representação gráfica dos riscos por meio de círculos de diferentes cores e tamanhos permitindo fácil visualização e criação. Elaborado pelos próprios trabalhadores, é, portanto, um instrumento participativo e é adequado conforme suas sensibilidades. Serve como instrumento preliminar de levantamento de riscos, de informação para os demais empregados e visitantes e de pla-nejamento para as ações preventivas que serão adotadas pela CIPA.

O objetivo do Mapa de Riscos é reunir as informações básicas necessárias para estabelecer o diag-nóstico da situação da segurança e saúde no trabalho na empresa, e possibilitar, durante a sua elabora-ção, a troca e a divulgação de informações entre os trabalhadores, bem como estimular sua participação nas atividades de prevenção. Os principais benefícios da obtenção do Mapa de Riscos são:

identificação prévia dos riscos existentes nos locais de trabalho aos quais os trabalhadores ::::poderão estar expostos;

conscientização quanto ao uso adequado das medidas e dos equipamentos de proteção co-::::letiva e individual;

redução de gastos com acidentes e doenças, medicação, indenização, substituição de traba-::::lhadores e danos patrimoniais;

facilitação da gestão de saúde e segurança no trabalho com aumento da segurança interna e ::::externa; e

melhoria do clima organizacional, maior produtividade, competitividade e lucratividade.::::

Para a elaboração do Mapa de Riscos são utilizadas cores para identificar o tipo de risco, conforme a tabela de classificação dos riscos ambientais. A gravidade é representada pelo tamanho dos círculos a seguir:

Círculo pequeno:::: – risco pequeno por sua essência ou por ser risco médio já protegido;

Círculo médio:::: – risco que gera relativo incômodo, mas que pode ser controlado;

Círculo grande:::: – risco que pode matar, mutilar, gerar doenças e que não dispõe de mecanis-mo para redução, neutralização ou controle.

Quanto à simbologia das cores:

Círculo pequeno marrom – risco biológico leve.::::

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Círculo médio marrom:::: – risco biológico médio.

Círculo grande marrom – risco biológico elevado.::::

Círculo pequeno vermelho – risco químico leve.::::

Círculo médio vermelho – risco químico médio.::::

Círculo grande vermelho – risco químico elevado.::::

Círculo pequeno amarelo – risco ergonômico leve.::::

Círculo médio amarelo – risco ergonômico médio.::::

Círculo grande amarelo – risco ergonômico elevado.::::

Círculo pequeno azul – risco mecânico leve.::::

Círculo médio azul – risco mecânico médio.::::

Círculo grande azul – risco mecânico elevado.::::

Círculo pequeno verde – risco físico leve.::::

Círculo médio verde – risco físico médio.::::

Círculo grande verde – risco físico elevado.::::

Para a elaboração do Mapa de Riscos deve-se conhecer o processo de trabalho do local avaliado no que diz respeito:

aos trabalhadores – número, sexo, idade, queixas de doença, jornada, treinamento recebido;::::

aos equipamentos, instrumentos e materiais de trabalho;::::

às atividades exercidas; e::::

ao ambiente.::::

É muito importante identificar os agentes de risco existentes no local avaliado, conforme a tabela de classificação dos riscos ambientais, bem como identificar as medidas preventivas existentes e sua eficácia referente a:

proteção coletiva;::::

organização do trabalho;::::

proteção individual; ::::

higiene e conforto – banheiro, lavatórios, vestiários, armários, bebedouros, refeitórios, área ::::de lazer.

Identificar os indicadores de saúde também é de extrema importância, dentre eles podemos citar:

queixas mais freqüentes e comuns entre os trabalhadores expostos aos mesmos riscos;::::

acidentes de trabalho ocorridos;::::

doenças profissionais diagnosticadas; e::::

causas mais freqüentes de ausência ao trabalho.::::

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Quanto a elaboração do Mapa de Riscos, sobre uma planta ou desenho do local de trabalho, é importante identificar através do círculo:

o grupo a que pertence o risco, conforme as cores classificadas;::::

o número de trabalhadores expostos ao risco, o qual deve ser anotado dentro do círculo;::::

a especificação do agente químico (por exemplo, amônia, ácido clorídrico), ou ergonômico ::::(repetitividade, ritmo excessivo) que deve ser anotado também dentro do círculo;

a intensidade do risco, de acordo com a percepção dos trabalhadores, que deve ser represen-::::tada por tamanhos proporcionalmente diferentes dos círculos.

Dentre os riscos físicos podemos citar:

presença de ruídos, podendo provocar cansaço, irritação, dores de cabeça, diminuição da au-::::dição, problemas no aparelho digestivo, taquicardia, perigo de infarto.

presença de vibrações, podendo provocar cansaço, irritação, dores nos membros, dores na ::::coluna, doença do movimento, artrite, problemas digestivos, lesões ósseas, lesões dos teci-dos moles.

presença de calor excessivo, podendo provocar taquicardia, aumento da pulsação, ::::cansaço,intermação, prostração térmica, choque térmico, fadiga térmica, perturbação das funções digestivas, hipertensão etc.

presença de radiação não-ionizante, podendo provocar queimaduras, lesões nos olhos, na ::::pele e em outros órgãos.

presença de radiação ionizante, podendo causar alterações celulares, câncer, fadiga, proble-::::mas visuais, acidente do trabalho.

presença de umidade em excesso, podendo causar problemas respiratórios, quedas, doenças ::::de pele , doenças circulatórias.

Dentre os riscos químicos, podemos citar:

Poeiras:::::

minerais – silicose, asbestose;::::

vegetais – bissinose, bagaçose;::::

alcalinas – enfizema pulmonar;::::

outras – potencializam a agressividade;::::

Fumos metálicos – ocorre intoxicação especifica de acordo com o metal, febre dos fumos me-::::tálicos, doença pulmonar obstrutiva;

Névoas, neblinas, gases e vapores: ::::

irritantes – irritação das vias aéreas superiores. Ex.: ácido clorídrico;::::

asfixiantes – dores de cabeça, náuseas, sonolência, convulsões, coma e morte. Ex.: hidrogê-::::nio, oxigênio, hélio, acetileno, metano, dióxido de carbono, monóxido de carbono;

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anestésicos – ação depressiva sobre o sistema nervoso, danos aos diversos órgãos, ao sis-::::tema formador do sangue. Ex.: butano, propano, aldeídos, cetonas, cloreto de carbono, tri-cloroetileno, benzeno, tolueno, álcoois, xileno.

Substâncias, compostos ou produtos químicos em geral.::::

Dentre os riscos biológicos estão:

Vírus – podem causar hepatite, poliomielite, herpes, varíola, febre amarela, raiva (hidrofo-::::bia), aids, rubéola, dengue, meningite.

Bactérias/bacilos – podem causar hanseníase, tuberculose, tétano, febre tifóide, pneumo-::::nia, difteria, cólera, leptospirose, disenterias.

Protozoários – malária, mal de chagas, toxoplasmose, disenterias.::::

Fungos – alergias e micoses.::::

Os riscos ergonômicos podem ser:

Esforço físico intenso, levantamento e transporte manual de peso, exigência de postura ::::inadequada, controle rígido de produtividade, imposição de ritmos excessivos, jornada prolongada de trabalho, monotonia e repetitividade, outras situações causadoras de es-tresse físico e psíquico.

De um modo geral, deve haver uma análise mais detalhada, caso a caso. Tais riscos ergonômicos podem causar:

cansaço, dores musculares, fraquezas, hipertensão arterial, úlceras, doenças nervosas, agra-::::vamento do diabetes, alterações do sono, da libido, da vida social com reflexos na saúde e no comportamento, acidentes, problemas na coluna vertebral, taquicardia, cardiopatia (angina, infarto), agravamento da asma, tensão, ansiedade, comportamentos estereotipa-dos, medo.

Dentre os fatores que podem causar riscos de acidente pode-se citar:

o arranjo físico inadequado, podendo provocar acidentes, desgastes físicos;::::

a existência de máquinas e equipamentos sem proteção, podendo levar à ocorrência de aci-::::dentes graves;

o uso de ferramentas inadequadas ou defeituosas em sua grande maioria provocam acidentes ::::com repercussão nos membros superiores;

trabalhar em locais com iluminação inadequada implica em risco de acidentes;::::

a eletricidade, quando mal empregada, pode provocar acidentes graves;::::

a probabilidade de incêndio ou explosão, podendo provocar acidentes graves;::::

o armazenamento inadequado, podendo provocar acidentes graves;::::

a existência e a manipulação de animais peçonhentos, podendo provocar acidentes graves.::::

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Texto complementar

Qualidade de vida agora é leiQuem não reduzir acidentes de trabalho pagará mais tributos

A partir de 2009, as empresas que investirem em ações que permitam a redução dos seus ín-dices de afastamento por doenças e acidentes de trabalho poderão ter a alíquota de cálculo do Seguro de Acidente de Trabalho (SAT) reduzida em até 50%. Entretanto, as que não o fizerem cor-rerão o risco de ter que pagar o dobro do valor atual, que incide sob total da folha de pagamento da empresa.

Isso acontecerá devido a mudanças nas regras da segurança do trabalho, feitas pelo Ministério da Previdência. Até então, as empresas pagavam como SAT, 1%, 2% ou 3% do valor de suas folhas de pagamento. O enquadramento era feito de acordo com a área em que a empresa atua. Agora, o que definirá essa alíquota será o Fator Acidentário de Prevenção, um índice que leva em conta a freqüência dos acidentes e seu custo para o INSS. “Os índices continuam os mesmos, o que muda é a possibilidade de uma empresa que paga 3% ao mês possa ter essa alíquota reduzida para 1,5% ou elevada a até 6%, dependendo da quantidade de afastamentos por acidentes ou doenças de traba-lho registradas pelo INSS”, explica Myrian Quirino, consultora Especialista na área Previdenciária e Trabalhista do Centro de Orientação Fiscal (Cenofisco).

Para Myrian, a decisão visa a fomentar os investimentos por parte das empresas no que diz respeito à segurança no trabalho e, conseqüentemente, reduzir os gastos da previdência.

Segundo Mario Bonciani, auditor fiscal do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), com a mu-dança houve uma revisão também na tabela de doenças motivadas pela atividade do trabalhador. Doenças como diabetes, tuberculose e hipertensão passaram a integrar a tabela. “Cerca de 10% das doenças consideradas comuns foram incluídas. A depressão, por exemplo, foi incluída como doen-ça de trabalho comum ao setor financeiro”, explica.

Para Bonciani, que também é vice-presidente da Associação Brasileira de Medicina do Traba-lho (ABMT) e colaborador da Associação Brasileira da Prevenção de Acidentes (ABPA), os efeitos da nova metodologia começarão a ser sentidos em setembro do ano que vem (2008), quando o Fator Acidentário irá alterar o SAT pela primeira vez.

De acordo com ele, após o anúncio do reenquadramento das empresas, feito no fim de no-vembro, foi estipulado um prazo de 30 dias, que termina no fim deste mês, para os empresários questionarem a nova alíquota que foi atribuída pelo Ministério da Previdência. Ele conta que até agora o volume de ações de impugnação está muito abaixo do esperado, o que denota a falta de informação e de interesse das empresas pelo assunto.

Myrian, do Cenofisco, espera que as novas regras criem uma cultura de investimento por parte das empresas na criação de melhores condições para trabalhadores cujas funções envolvam o risco. Ela acredita que a possível vantagem financeira – já que uma empresa poderá pagar metade do que paga hoje, caso implemente ações – servirá como impulso para isso.

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Bonciani acrescenta que a própria concorrência dentro do setor servirá, também, de incenti-vo. “Uma empresa que não investir na melhoria de suas condições de trabalho e tiver sua alíquota dobrada, verá seu concorrente sendo premiado por suas ações com a redução drástica na sua con-tribuição para o SAT. Isso se reflete na imagem da empresa perante o mercado e elas não ficarão aquém a isso”.

(Editorial Portal e-Learning Brasil. Qualidade de vida agora é lei.

Disponível em: <www.administradores.com.br/noticias/qualidade_de_vida_agora_e_lei/13498>.)

Atividades1. Assinale a alternativa correta.

a) Não há risco de queimaduras na presença de radiação ionizante.

b) O calor excessivo não é considerado um risco físico.

c) O ambiente úmido não pode ser fator gerador de problemas respiratórios.

d) A presença de vibrações pode provocar, dentre outros sintomas, dores articulares, dores mús-culares e irritabilidade.

2. Não são considerados agentes ambientais:

a) agentes físicos.

b) agentes químicos.

c) agentes imunológicos.

d) agentes biológicos.

e) agentes ergonômicos.

Ampliando conhecimentosPara um aprofundamento do estudo abordado sugiro os seguintes sites:

<www.anvisa.gov.br>

<www.abepro.org.br/biblioteca/ENEGEP1999_A0258.PDF>

<www.laborprev.com.br/site/servicos/mapa_riscos.htm>

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Acidentes de trabalho e riscos físicos

A definição de acidente de trabalho é muito ampla, e suas conseqüências podem gerar grande impacto na saúde pública. De acordo com o artigo 19 da Lei 8.213, publicada em 24 de julho de 1991, “acidente de trabalho é o que ocorre pelo exercício do trabalho a serviço da empresa, ou pelo exercí-cio do trabalho do segurado especial, provocando lesão corporal ou perturbação funcional, de caráter temporário ou permanente”. Essa lesão pode provocar a morte, perda ou redução da capacidade para o trabalho, podendo ser caracterizada apenas pela redução da função de determinado órgão ou segmen-to do organismo, como os membros, por exemplo.

Há outras situações que também podem ser consideradas acidentes de trabalho. Por exemplo, o acidente de trajeto, ou seja, aquele que ocorre no percurso que o trabalhador realiza entre sua residên-cia e seu local de trabalho. A doença profissional produzida ou desencadeada no exercício ou devido a determinadas condições de determinado trabalho também é considerada acidente de trabalho. Tam-bém aqueles acidentes sofridos durante e no local do expediente, decorrentes de agressões, sabota-gens ou atos de terrorismo praticados por terceiros ou colegas de trabalho são considerados acidente de trabalho. Quando o acidente ocorre fora do horário e do ambiente físico da empresa, também pode ser considerado acidente de trabalho nas situações em que o trabalhador estiver executando ordem ou serviços ou sob a autoridade da empresa. Em viagens, mesmo que devido a estudos, o acidente é considerado acidente de trabalho se essa viagem for sob custódia financeira da empresa.

Existem, por conseguinte, três tipos de acidentes: o acidente típico, que é aquele decorrente da característica da atividade profissional que o indivíduo exerce; o acidente de trajeto, que ocorre no tra-jeto entre a residência do trabalhador e o local de trabalho e vice-versa; e as doenças profissionais ou do trabalho, que são produzidas ou desencadeadas pelo exercício de determinada função, característica de um emprego específico. Dados governamentais relatam que os acidentes típicos correspondem a aproximadamente 84% da totalidade dos acidentes de trabalho, ficando os acidentes de trajeto e as doenças do trabalho perfazendo os 16% restantes. Apesar de o número ainda ser considerado elevado, nota-se uma tendência à queda nessas estatísticas, especialmente se forem comparados os dados atu-ais com aqueles relacionados entre os anos de 1972 e 2002. Os setores de transformação e de serviços são os principais responsáveis pelo alto número de casos de acidentes de trabalho.

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88 | Segurança, Saúde, Higiene e Medicina do Trabalho

A caracterização do acidente de trabalho se dá através de uma análise pericial, que deve estabe-lecer uma relação direta entre o acidente e a lesão provocada. O médico perito, nesses casos, examinará o paciente e poderá decidir se este trabalhador pode ou não voltar às atividades normais, atribuídas a sua função. Em casos de afastamento, o perito definirá, a partir de sua avaliação clínica, se o funcionário permanecerá em afastamento temporário ou definitivo do emprego.

Em relação à empresa contratante, esta é obrigada a fazer uma Comunicação de Acidente de Trabalho (CAT) até o primeiro dia útil após o acontecimento comprovado. Essa norma é valida indepen-dentemente da ocorrência ou não do afastamento do trabalhador acidentado. Em caso de morte, a CAT deve ser imediata, sendo que o não-cumprimento dessa regulamentação acarretará em punição, com pagamento de multa pelo empregador. A CAT é um documento fundamental na investigação e na epi-demiologia dos acidentes de trabalho. A partir do momento de sua emissão, ela deve ser encaminhada aos órgãos competentes.

O trabalhador acidentado, a partir do momento em que é afastado do seu posto de trabalho, tem direito a um benefício denominado auxílio-acidente. Tal benefício é concedido pelo Ministério da Previdência Social e é fornecido ao trabalhador com seqüelas que reduzam sua capacidade funcional. Apenas o trabalhador empregado, o trabalhador avulso e o segurado especial têm direito a esse tipo de benefício. Ele não pode ser fornecido aos empregados domésticos, aos contribuintes individuais ou autônomos e aos contribuintes facultativos. Outra peculiaridade desse benefício é que ele é concedido aos trabalhadores que estavam recebendo o auxílio-doença que é pago aos trabalhadores impossibili-tados de exercer sua função por um período superior a 15 dias. Os primeiros 15 dias de afastamento são remunerados pela empresa e, a partir daí, o Ministério da Previdência é o responsável pelo pagamento desse benefício. Se o trabalhador puder exercer suas funções, ainda que doente, o auxílio não é conce-dido. A concessão do auxílio-acidente não faz com que o trabalhador tenha uma carência, ou seja, um período mínimo de contribuição, e deverá ser interrompido imediatamente após o trabalhador recupe-rar suas capacidades laborais e retornar ao trabalho, ou ainda se houver a solicitação de aposentadoria por invalidez que, por não ser cumulativa, deve entrar no lugar do auxílio-acidente. O pagamento do auxílio-acidente, conforme anteriormente exposto, é iniciado tão logo o auxílio-doença deixe de ser fornecido. Seu valor é equivalente a 50% do salário utilizado no cálculo do auxílio-doença, corrigido até o mês anterior ao do início do pagamento do auxílio-acidente.

Os acidentes, em sua grande maioria, são previsíveis, sendo por isso evitáveis. Algumas medidas simples, uma vez adotadas, são suficientes para reduzir consideravelmente o número de acidentes de trabalho em uma empresa. O fornecimento de equipamentos de proteção individual (EPI), uma obri-gação da empresa, com seu uso adequado por parte dos trabalhadores, é um exemplo típico de como medidas simples podem ser práticas e reduzem as estatísticas relacionadas aos acidentes de trabalho.

A seguir, serão abordadas algumas causas de acidentes de trabalho, especialmente no que tange aos riscos físicos, bem como algumas doenças decorrentes do trabalho e suas respectivas prevenções.

Riscos físicosSão considerados riscos físicos as diversas formas de energia. São elas: ruídos, temperaturas extre-

mas, vibrações, pressões anormais e radiações.

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89|Acidentes de trabalho e riscos físicos

RuídosDefine-se som como uma variação sonora capaz de sensibilizar os ouvidos. O ruído, por sua vez, é

uma sensação sonora desagradável, pode ser mensurado, não-desejado ou inútil.

Os efeitos indesejados causados pelo ruído podem ser:

Psicológicos:::: – nervosismo, neuroses, prejudica a concentração, causa irritabilidade e preju-dica o sono.

Deficiências de comunicação:::: – altera o estado emocional dos interlocutores, prejudica a qualidade de trabalho.

Fisiológicos:::: – perda de audição, dor de cabeça, vômitos, diminuição do controle muscular.

Ruídos suportáveis:

rádios e televisores em alto volume;::::

várias pessoas falando ao mesmo tempo;::::

ruídos provenientes das ruas.::::

Ruídos que causam perturbações nervosas:

buzinas estridentes;::::

alto-falantes;::::

descargas livres de automóveis; e::::

máquinas e motores de indústrias em funcionamento permanente.::::

PrevençãoO incentivo e a conscientização da utilização dos protetores auriculares. Estabelecer um progra-

ma de manutenção periódica do maquinário, pois peças gastas, soltas, falta de lubrificação e de ajustes, e disfunções mecânicas implicam na geração desnecessária de ruído, bem como realizar a instalação de barreiras, que são colocadas entre as fontes de ruído e os trabalhadores, podendo ser formadas por painéis fixos ou móveis, constituídos com materiais isolantes, podem minimizar o ruído. Limites de tole-rância para ruído contínuo ou intermitente conforme a NR 15:

Para um nível de ruído de 80dB, é permitida uma exposição máxima diária de 8 horas.::::

Para um nível de ruído de 90dB, é permitida uma exposição máxima diária de 4 horas.::::

Para um nível de ruído de 100dB, é permitida uma exposição máxima diária de 1 hora.::::

Para um nível de ruído de 110dB, é permitida uma exposição máxima diária de 15 minutos.::::

Para um nível de ruído de115dB, é permitida uma exposição máxima diária de 8 minutos.::::

Protetores auriculares

São considerados EPI, que tem a finalidade de atenuar ruídos e proteger o aparelho auditivo da exposição a ruídos prejudiciais. Seu uso é obrigatório em toda a área fabril.

Encontram-se disponíveis aos usuários nos modelos plugue automoldáveis e tipo concha.

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90 | Segurança, Saúde, Higiene e Medicina do Trabalho

Temperaturas extremasAs temperaturas excessivas podem causar alguns danos à saúde do trabalhador. Ela se divide em

calor frio e calor quente.

As altas temperaturas, ou calor quente, são responsáveis por desidratação, erupção da pele, fadi-ga física, distúrbios psiconeuróticos, problemas cardiocirculatórios, insolação, entre outros.

As baixas temperaturas, também conhecidas como calor frio, por sua vez, podem provocar feri-das, rachaduras na pele, enregelamento (o indivíduo fica congelado), agravamento de doenças reumá-ticas preexistentes, predisposição para doenças da via respiratória, entre outras.

O controle das ações nocivas das temperaturas extremas se dá através de algumas medidas de prevenção. A proteção coletiva é fundamental. É necessário uma ventilação local exaustora adequada, com a função de retirar o calor e os gases dos ambientes, além do isolamento das fontes de calor ou frio. Em relação aos EPI, são alguns exemplos nos casos de temperatura excessivas: avental, bota, capuz, luvas, protetores solares, entre outros.

VibraçõesA vibração é um movimento oscilatório de um corpo, devido a forças desequilibradas de com-

po-nentes rotativos e movimentos alternados de uma máquina ou equipamento. Como todo corpo com movimento oscilatório, um corpo que vibra, descreve um movimento periódico, que envolve um deslocamento num certo tempo. Daí resulta a velocidade, bem como a aceleração do movimento em questão.

Outro fator importante é a freqüência desse movimento, isto é, o número de ciclos (movimentos completos) realizado num período de tempo. No caso de ciclos por segundo, utiliza-se a unidade Hertz (Hz). Ao contrário de muitos agentes ambientais, a vibração somente será problema quando houver efetivo contato físico entre um indivíduo e a fonte, o que auxilia no reconhecimento da exposição.

Vibrações localizadas: efeitos ao organismoOs antecedentes legais e técnicos da exposição a vibrações são contemplados na Legislação Bra-

sileira no Anexo 12/83:

As atividades e operações que exponham os trabalhadores, sem a proteção adequada às vibrações localizadas ou de corpo inteiro, serão caracterizadas como insalubres através de perícia realizada no local de trabalho.

Vibrações no corpo inteiroTodo o corpo pode ser interpretado como um sistema mecânico (massa e mola, por exemplo),

lembrando-se que, na prática, existe também o amortecimento. Assim, todo corpo possui uma freqüên-cia natural de oscilação, podendo ser quantificada com um pequeno estímulo no sistema. No entanto, esse corpo poderá estar sujeito a forças externas, vibrações de outras fontes que podem entrar em con-tato com o mesmo. As fontes de vibração podem ser provenientes de:

Furadeiras elétricas manuais:::: – indústrias metalúrgicas e mecânicas e instaladores.

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91|Acidentes de trabalho e riscos físicos

Motosserras:::: – indústria extrativa de madeireira.

Furadeiras pneumáticas:::: – reparo de vias públicas, demolições, construção de túneis e estra-das, extração de mármore.

Efeitos ao organismoOs motoristas de ônibus estão mais predispostos ou propensos ao desenvolvimento de síndro-

mes dolorosas de origem vertebral, deformações da espinha, estiramento e maus-jeitos, apendicites, problemas estomacais e hemorróidas. Todavia, posturas forçadas, manuseio de cargas e maus hábitos alimentares não podem ser descartados como desordens.

Sistema gastrintestinalOutros estudos em laboratórios mostraram grande relação causal com desordens gastrintestinais

e a vibração nas cadeiras. Foi usada uma cadeira vibratória como simulador de testes, com motoristas, que revelou que a vibração causa desconforto e pode interferir na destreza de comando manual e na atividade visual.

Atividade muscular/posturaNa faixa de 1 a 30Hz, observa-se dificuldades para manter a postura, bem como o aumento de balanço

postural. Há, também, uma tendência à lentidão de reflexos na faixa de freqüência entre 10 a 200Hz.

Efeito no sistema cardiovascularEm freqüência inferior a 20Hz, ocorre um aumento da freqüência cardíaca durante a exposição à

vibração.

Efeitos cardiopulmonaresAparentemente, existem alterações nas condições de ventilação pulmonar e taxa respiratória

com vibrações de 4,9 mls2 (134 dB), na faixa de 1 a 10Hz.

Efeitos metabólicos e endocrinológicosForam observadas alterações na bioquímica urinária e sangüínea, como uma reação genérica.

Um estudo polonês sobre trabalhadores agrícolas e florestais descreveu os efeitos do que se cha-mou vibration sickness:

o primeiro estágio evidenciou distensões, náuseas, perda de peso, redução visual, cólicas no ::::cólon etc.;

num segundo estágio, as dores se intensificam, mais concentradas no sistema muscular. Exa-::::mes em trabalhadores revelaram atrofia muscular e lesões na pele.

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92 | Segurança, Saúde, Higiene e Medicina do Trabalho

PrevençãoMelhoria do equipamento, reduzindo a intensidade das vibrações, instituir períodos de repouso

e rotatividade, evitando exposições contínuas, e, após identificar as lesões iniciais, deve-se proceder o rodízio no posto de trabalho.

Pressões anormaisExistem dois tipos de pressões anormais causadas pela variação da pressão atmosférica.

Hipobárica:::: : quando o homem está sujeito a pressões menores que a pressão atmosférica. Essas situações ocorrem a elevadas altitudes (sintomas: coceira na pele, dores musculares, vô-mitos, hemorragias pelo ouvido e ruptura do tímpano).

Hiperbárica:::: : quando o homem fica sujeito a pressões maiores que a atmosférica. Por exem-plo, mergulho e uso de ar comprimido.

RadiaçõesSão responsáveis pelo aparecimento de diversas lesões. Podem ser classificadas em radiações

ionizantes e não-ionizantes.

As radiações ionizantes podem afetar o organismo ou se manifestar nos descendentes das pes-soas expostas. Os operadores de raios-X e radioterapia estão freqüentemente expostos a esse tipo de radiação. As radiações não-ionizantes são as radiações infravermelhas, provenientes de operação em fornos, ou de solda oxiacetilênica, além das radiações ultravioletas, como a gerada por operações em solda elétrica, ou ainda raios laser, microondas, entre outras.

Os principais efeitos das radiações no organismo são os distúrbios visuais, como conjuntivites e cataratas, além de queimaduras e lesões cutâneas. A prevenção é, também, fundamental no con-trole da ação das radiações para o trabalhador. Coletivamente, pode-se isolar a fonte de irradiação através de biombo protetor para operações em solda, por exemplo, ou o próprio enclausuramento dessa fonte, como pisos e paredes revestidas de chumbo em salas de raios-X, por exemplo. Os EPIs também são fundamentais e devem ser fornecidos de maneira adequada ao risco. O soldador, por exemplo, deve usar avental, luva, perneira e mangote de raspa, enquanto os operadores de forno devem usar óculos. As empresas podem tomar algumas medidas administrativas que podem ser úteis na prevenção desses males, como o fornecimento de dosímetro de bolso para os técnicos de raio-X. Por fim, os exames médicos periódicos são fundamentais na detecção da doença e na pre-venção de novos casos.

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Epidemiologia – fatores de risco de natureza ocupacional conhecidos

As dermatites de contato são as dermatoses ocupacionais mais freqüentes. Estima-se que, juntas, as dermatites alérgicas de contato e as dermatites de contato por irritantes respondam por cerca de 90% dos casos de dermatoses ocupacionais. As dermatites de contato por irritantes são mais freqüentes que as dermatites alérgicas.

Estudos epidemiológicos realizados em países distintos mostram taxas de incidência entre dois a seis casos em cada dez mil trabalhadores/ano, o que significa que as dermatites de contato irritativas são, provavelmente, as doenças profissionais mais freqüentes.

Entre os agentes causais destacam-se ácidos e álcalis fortes que, dependendo da concentração e do tempo de exposição, também produzem queimaduras químicas por sabões e detergentes.

As doenças e seus agentesDermatite de contato por irritantes devida a solventes:::: : cetonas, ciclohexano, compostos de cloro, ésteres.

Dermatite de contato por irritantes devida a outros produtos químicos:::: : bromo, cromo, cimento, flúor, fósforo.

Quadro clínico e diagnósticoO quadro clínico varia de acordo com o irritante, podendo aparecer sob a forma de dermatites

indistinguíveis das dermatites de contato alérgicas agudas, até ulcerações vermelhas profundas, nas queimaduras químicas. A dermatite irritativa cumulativa é mais freqüente que a aguda ou acidental. Agressões repetidas, por irritantes de baixo grau, ocorrem ao longo do tempo. Nesses casos, a secura da pele e o aparecimento de fissuras são, freqüentemente, os primeiros sinais, que evoluem para eritema, descamação, pápulas, vesículas e espessamento gradual da pele.

As dermatites de contato irritativas podem ser facilmente diagnosticadas pelas histórias clínica e ocupacional e, com freqüência, ocorrem como acidentes. Os testes epicutâneos ou patch test não estão indicados para o diagnóstico de dermatites irritativas. Eventualmente, as mesmas substâncias irritativas, mas em concentrações muito mais baixas, poderão ser testadas para fins de esclarecimento etiológico das dermatites de contato alérgicas. O diagnóstico diferencial deve ser feito com os quadros de dermatites de contato alérgicas, psoríase, herpes simples e herpes zoster, reações idiopáticas vesi-culares pela presença do Trichophyton nos pés (micides), eczema numular e reações cutâneas a drogas, entre outras doenças.

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Tratamento e outras condutasO tratamento é feito com cuidados higiênicos locais para prevenir a infecção secundária e o uso

sintomático de anti-histamínicos. Cremes de corticóides também podem ser usados.

PrevençãoÉ muito importante a existência e o acesso fácil à água corrente, quente e fria, em abundância,

com chuveiros, torneiras, toalhas e agentes de limpeza apropriados. Chuveiros de emergência de-vem estar disponíveis em ambientes onde são utilizadas substâncias químicas corrosivas. Podem ser necessários banhos por mais de uma vez por turno e troca do vestuário em caso de respingos, caso ocorra contato direto com essas substâncias deve-se utilizar sabões ou sabonetes neutros ou os mais leves possíveis.

Também deve ser disponibilizado limpadores/toalhas de mão para limpeza sem água para óleos, graxas e sujeiras aderentes. Não utilizar solventes, como querosene, gasolina ou thinner, para limpeza da pele.

Recomenda-se o uso de creme hidratante nas mãos, se necessário, lavá-las com freqüência, bem como deve-se dar preferência ao uso de roupas protetoras para bloquear o contato da substância com a pele. Os uniformes e aventais devem estar limpos, lavados e trocados diariamente. A roupa deve ser escolhida de acordo com o local da pele que necessita de proteção e com o tipo de substância química envolvida, incluindo luvas de diferentes comprimentos, sapatos e botas, aventais e macacões, todos de materiais diversos, como plástico, borracha natural ou sintética, fibra de vidro, metal ou combinação de materiais. Capacetes, bonés, gorros, óculos de segurança e proteção respiratória também podem ser necessários.

O vestuário contaminado deve ser lavado na própria empresa, com os cuidados apropriados. Em caso de contratação de empresa especializada para essa lavagem, devem ser tomadas as medidas de proteção adequadas ao tipo de substância também para esses trabalhadores. A eliminação ou redução da exposição aos fatores de risco de natureza ocupacional a concentrações próximas de zero ou dentro dos limites considerados seguros, podem ser conseguidas por meio de medidas de controle ambiental, que veremos a seguir.

Enclausuramento de processos e isolamento de setores de trabalhoUso de sistemas hermeticamente fechados, na indústria, ou provimento de máquinas e ::::equipamentos de anteparos para evitar que respingos de óleos de corte atinjam a pele dos trabalhadores.

Adoção de normas de higiene e segurança rigorosas com sistemas de ventilação exaustora ::::adequados e eficientes, bem como monitoramento ambiental sistemático e mudanças na or-ganização do trabalho que permitam diminuir o número de trabalhadores expostos e o tempo de exposição. É muito importante o fornecimento, pelo empregador, de EPIs adequados, em bom estado de conservação, nos casos indicados, de modo complementar às medidas de pro-teção coletivas.

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O exame médico periódico objetiva a identificação de sinais e sintomas para a detecção pre-::::coce da doença. Consta de avaliação clínica, que inclui exame dermatológico cuidadoso e exa-mes complementares de acordo com a exposição ocupacional e orientação do trabalhador e o uso adequado de uma solução simples e eficaz: o creme protetor da pele, para impedir que as dermatoses ocupacionais continuem afligindo os trabalhadores de todas essas áreas de trabalho, além dos profissionais de saúde e segurança do trabalho.

Texto complementar

A história dos cremesNo Brasil, os cremes protetores já eram utilizados por empresas multinacionais desde a década

de 1960. Mas só na década de 1980 é que começaram a surgir os primeiros artigos em revistas espe-cializadas em Medicina e Segurança do Trabalho afirmando que os cremes protetores poderiam ser um meio de proteção da pele para os trabalhadores impossibilitados de utilizar luvas de PVC, Nitrile, Neoprene etc., devido ao risco associado ao seu uso, às dermatites causadas pelo uso dessas luvas ou pela impossibilidade do tato necessária para seu tipo de trabalho.

A maioria das empresas brasileiras só passou a implantar o creme protetor depois que ele foi incluído no inciso II do item 6.3 da NR 6 entre os EPIs destinados à proteção dos membros superio-res, por meio da Portaria 3, de 20/02/1992.

Com o uso difundido do creme protetor, principalmente nas regiões Sul e Sudeste, uso que não se limitava à proteção dos membros superiores, mas de todas as partes do corpo que entram em contato com o agente químico, como rosto, tórax, pernas, pés, o Ministério do Trabalho criou nova Portaria, de 26, de 29/12/1994, que incluiu, no item 6.3 da NR 6, um novo inciso, o IX, cujo título é Proteção da Pele.

Nos dois textos, das duas Portarias, são apresentadas importantes justificativas para classificar os cremes como EPIs. São elas: o uso regular dos cremes protetores em outros países, a recomenda-ção de literatura internacional, a constatação de sua eficácia, o benefício dos trabalhadores pelo uso geral nas empresas, e apresentação de resultados satisfatórios nos estudos e demonstrações práti-cas realizadas com cremes protetores de fabricação nacional (Ver Portarias 3 e 26, de 20/02/1992 e 29/12/1994, respectivamente). Na Portaria 26, de 29/12/1994, os cremes protetores foram classifica-dos em 3 grupos, e passou a ser exigido seu registro no Ministério da Saúde.

A partir da determinação dos cremes protetores como sendo de uso obrigatório, de aperfei-çoamento tecnológico dos fabricantes para produção de cremes de uso cada vez mais específico e cada vez mais benéficos à pele e ao conforto dos trabalhadores, constata-se que são raríssimos os casos de dermatoses ocupacionais nas grandes e médias empresas.

A implantação definitiva do EPI creme protetor da pele pode ser constatada pela Portaria do MTbE que altera a NR 6, a de número 25, de 15 de outubro de 2001. Em seu Anexo I, item F. 2, os

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cremes protetores são mantidos como EPIs segundo a Portaria 26, de 29/12/1994, continuando, portanto, a ser cremes protetores da pele do trabalhador.

A segurança que os cremes protetores representam para a saúde dos trabalhadores é muito grande. Os cremes protetores água-resistentes, com ação microbicida, vêm resolver um problema comum enfrentado por profissionais de segurança, que é o aparecimento de dermatites de contato irritantes ou alérgicas pelo uso de luvas e botas de látex ou PVC. Agentes biológicos (fungos e bac-térias) e químicos (aceleradores, antioxidantes, corantes) na formulação e no interior das luvas são os causadores dessas dermatites de contato. Até mesmo a proteína do látex é uma substância aler-gena. As luvas de couro também podem provocar dermatites. A grande maioria dessas dermatites pode ser evitada com o uso do creme protetor sob as luvas.

O esclarecimento e conscientização dos usuários, associados à aprovação de cremes cada vez mais específicos à condição dos diversos tipos de atividades laborais, são as armas dos profissionais de Medicina e Segurança do Trabalho para obtenção dos excelentes resultados alcançados nesta longa batalha contra as dermatoses ocupacionais.

(MIGUEL, Mirian. Disponível em: <www.viaseg.com.br/artigos/dermatites_ocupacionais.htm>.)

Atividades1. Sobre os acidentes de trabalho, é correto afirmar:

a) são casos imprevisíveis.

b) não podem ser evitados.

c) evitáveis, especialmente quando os métodos de proteção individual e coletiva forem utiliza-dos da maneira adequada.

d) não geram um grande impacto social de saúde pública.

e) dificilmente o acidente de trabalho leva ao afastamento do trabalhador.

2. Assinale a alternativa correta.

a) Creme protetor da pele não é considerado um EPI.

b) Creme protetor sempre se constitui um EPI.

c) O uso do creme protetor não se dá exclusivamente para as mãos, podendo ser usado nas de-mais regiões corporais.

d) O creme protetor não deve ser aplicado abaixo das luvas de proteção.

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Ampliando conhecimentosProteção – Revista mensal de Saúde e Segurança do trabalho, n. 180, dez. 2006. Disponível em:

<www.protecao.com.br>.

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Doenças ocupacionaisApesar das relações trabalho, saúde e doença dos trabalhadores serem reconhecidas desde os

primórdios da história humana registrada, estando expressa em obras de artistas plásticos, historiado-res, filósofos e escritores, é relativamente recente uma produção mais sistemática sobre o tema. Coube ao médico italiano Bernardino Ramazzini, nascido no século XVII, ser o primeiro a explorar esse tema, através da sua obra De Morbis Artificum Diatriba (As Doenças dos Trabalhadores). Nela, o autor relaciona 54 profissões e descreve alguns dos principais problemas de saúde apresentados pelos trabalhadores, chamando a atenção para a necessidade dos médicos conhecerem a ocupação, atual e pregressa, de seus pacientes, para fazer o diagnóstico correto e adotar os procedimentos adequados. Dentre as ob-servações importantes, Ramazzini separou os trabalhadores em grupos descritos como “[...] operários que passam o dia de pé, sentados, inclinados, encurvados, correndo, andando a cavalo ou fatigando seu corpo por qualquer outra forma.” Dessa maneira, chegou a conclusão que os trabalhadores que per-maneciam sentados levavam uma vida sedentária, sendo, por isso, denominados “artesãos de cadeira”. Eram eles os sapateiros, os alfaiates e os notários, sofriam doenças especiais, decorrentes de posições viciosas e da falta de exercícios, por exemplo.

Em função da importância do seu trabalho, Bernardino Ramazzini recebeu da posteridade o título de pai da Medicina do Trabalho, isso tudo muito antes do surgimento dos métodos Taylor-Fordianos adotados posteriormente à Revolução Industrial.

Dentre as principais doenças relacionadas ao trabalho, percebe-se a importância das lesões por esforços repetitivos (LER) e dos distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho (DORT). Essas do-enças estão, na grande maioria das vezes, associadas aos esforços físicos repetitivos ou com manutenção prolongada de alguns segmentos corpóreos em posturas inadequadas e, tendo em vista o alto número de trabalhadores acometidos, são as doenças ocupacionais que requerem maior atenção por parte de médi-cos, agências governamentais de saúde, sindicatos de categorias profissionais e do público em geral.

Apesar do insuficiente número de dados e informações para a determinação da prevalência des-tas doenças no Brasil, é comum que através da análise de relatos isolados algumas empresas, especial-mente as informatizadas, como também aquelas em que haja algumas posições de trabalho conside-radas desconfortáveis, como nos bancos e nas linhas de montagem, realizam suas próprias estatísticas, constituindo, dessa maneira, seus respectivos bancos de dados.

Sabe-se que a população mais susceptível às LER/DORT são os trabalhadores jovens, do sexo fe-minino que executam tarefas que exijam movimentação contínua dos braço e/ ou das mãos, ou ainda

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que se coloquem em posturas inadequadas por um período de tempo prolongado. A principal manifes-tação clínica da doença é a dor, podendo também ocorrer edema, rubor, e o aumento da temperatura no local da lesão. Podem acometer os tendões, as bainhas sinoviais e os músculos.

A LER/DORT normalmente é encarada de diferentes maneiras de acordo com o ponto de vista do observador, da seguinte maneira:

Sociologia e Psicologia:::: – manifestação somática das angústias do nosso tempo. Uma espécie de histeria coletiva desencadeada pela organização do trabalho moderno em pessoas com perfil emocional susceptível.

Médicos (Ortopedistas):::: – processo inflamatório que acomete os tendões, que se atritam uns com os outros e todos contra proeminências ósseas ou estruturas ligamentares muito resis-tentes durante os movimentos repetitivos empregados em uma série de tarefas executadas nas indústrias. Alguns médicos e profissionais de saúde parecem acreditar que os pacientes estejam simulando a doença para obter ganhos secundários.

Empresários:::: – algo a ser negado por todos os meios possíveis.

Sindicatos:::: – algo a ser explorado, com o objetivo de forçar mudanças para a melhoria da qua-lidade de vida dos trabalhadores.

Pacientes:::: – fonte de dor e sofrimento de angústia e de medo sobre o presente e sobre o futuro de sua capacidade de receber o seu salário bem como de manter-se em seu próprio emprego.

Outra preocupação do paciente, então já acometido com a doença, é em relação ao seu prognós-tico, que pode em muitas ocasiões ser sombrio, como no seguinte relato:

Desde que comecei a trabalhar na digitação, em 1982, passei a sentir um incômodo no braço, principalmente no pulso. Depois veio a dor... as outras colegas reclamavam da mesma coisa... com o tempo a gente vai ficando isolada... não consegue fazer mais nada de interessante... agora... até namorar fica difícil... fiquei traumatizada quando o médico do INPS me mandou para a fisioterapia. Lá, todos os doentes faziam o mesmo tratamento, independente da doença. Tanto fazia ser acidente, derrame cerebral, tenossinovite... foi horrível... a gente piorava porque fazia exercícios com as mãos, apertando uma bolinha de borracha... e aquela água suja da hidromassagem... não gosto nem de me lembrar...eu me sinto aleijada. Não agüento olhar para as minhas mãos e ver os meus dedos tortos e a palma da mão afundada, mesmo depois de 2 cirurgias, incontáveis sessões de fisioterapia e infiltrações com corticóides. Depois de tentar voltar ao trabalho por 3 vezes e o Centro de Reabilitação Profissional não ter conseguido me arrumar uma ocupação que não agravasse o meu quadro, fui aposentada, em 1989. Aposentada aos 29 anos... por invalidez... (BARREIRA, 1989)

ConceitoExistem vários conceitos para LER/DORT. Para Barreira (1989):

As lesões por esforços repetitivos são definidas como um conjunto de disfunções músculo-esqueléticas que acometem os membros superiores e região cervical e estão relacionadas ao trabalho, principalmente em áreas como indústrias de eletroeletrônicos, de alimentos, químicas, testeis, serviços de telefonia e de entrada de dados em terminais de compu-tação, entre outras.

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Ao longo do mundo, a doença recebe diferente denominação. Na Austrália o nome é similar ao Brasil (RSI – Repetitive Stain Injury). Nos EUA, recebe o nome de CTD (Cumulative Trauma Disorders), en-quanto no Japão destacam-se a localização dos sintomas e a sua relação com o trabalho (por exemplo OCD – Ocupational Cervicobrachial Disorders).

EpidemiologiaConforme visto anteriormente, há poucos dados disponíveis no Brasil relativos à prevalência de

LER/DORT. Um dos maiores estudos já realizados no país ocorreu em 2001, sob a responsabilidade do Centro de Referência de Saúde do Trabalhador no município de São Paulo (Cerest-SP). Na ocasião, foram estudados 620 trabalhadores inseridos no Programa de Saúde do Trabalhador da zona norte de São Paulo naquele período. Os números obtidos refletem uma realidade não só brasileira, mas que também conferem com a literatura mundial sobre o assunto.

Dos 620 trabalhadores estudados, 540 (87%) correspondem a mulheres, enquanto apenas 80 (13%) eram homens. Destes, a maioria encontrava-se na faixa etária entre 26-35 anos (45%), seguidos por trabalhadores entre 36-45 anos (23,5%), 18-25 anos (18,4%), mais que 46 anos (10%) e menos que 18 anos (0,6%). Apenas 2,5% dos trabalhadores não responderam a esse item.

Em relação ao ramo de atividade, a maioria dos trabalhadores estudados eram bancários (35,5%). Logo após vinham os metalúrgicos (33,7%), funcionários de serviços públicos e privados em geral (13,7%), funcionários do comércio (3,1%), trabalhadores do ramo de confecção e vestuário (2,1%), gráfi-cas (1,5%), comunicações (1%), entre outros (9,4%).

Sobre a função exercida, a grande maioria dos trabalhadores estudados eram montadores (30,2%), seguidos pelos digitadores (18,2%). Logo após apareciam os caixas (13,1%), escriturários (8,4%), costu-reiras, compensadores e operadores de máquinas (1,5%), seguidos dos auxiliares de escritórios (1,1%), entre outros (25,5%).

A região do corpo mais afetada foi os punhos (20%). Logo após apareceram antebraços (15,1%), mãos (12,3%), região cervical (11,8%), membros superiores (11,3%), ombros (8,9%), cotovelos (7,7%), quirodáctilos (4,9%), entre outros (8%).

No que tange ao tempo da queixa percebeu-se que a maioria dos pacientes iniciou o quadro en-tre 1 e 12 meses da primeira procura ao ambulatório médico especializado (38,1%). As demais buscas de auxílio clínico ocorreram entre 13 e 24 meses (22,1%), 25 e 36 meses (11,9%), 37 e 48 meses (8,7%), menos de 1 mês (5,8%), 49 e 60 meses (4,2%), mais que 85 meses (3,8%), 61 e 72 meses (3,1%) e 73 e 84 meses (2,3%).

O último dado colhido foi em relação ao tempo de afastamento dos trabalhadores. Da população de 620 casos estudados, 218 (35,1%) receberam algum tipo de afastamento. Destes, a maioria permane-ceu afastada entre 1 e 6 meses (14,2%). Em seguida, vieram aqueles que permaneceram afastados por menos de 1 mês (7,1%), entre 7 e 12 meses (5,8%), 13 a 18 meses (3,5%), 19 a 24 meses (1,8%), 25 a 36 meses (1,6%), 37 a 48 meses (1,1%).

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102 | Segurança, Saúde, Higiene e Medicina do Trabalho

LER/DORTConforme visto acima, LER/DORT são assuntos muito amplos, que envolvem diversos fatores. As

populações observadas e constatadas com o diagnóstico da doença possuem características específi-cas, cada qual com sua peculiaridade, e que podem ser elencadas como causas para o aparecimento da doença. São elas:

uso repetitivo de um grupo muscular;::::

uso de força por um grupo muscular específico;::::

postura inadequada (posto de trabalho anti-ergonômico);::::

necessidade de manter o mesmo gesto profissional durante toda jornada de trabalho;::::

postura viciosa de membros superiores;::::

tarefas que exijam elevação de membros superiores acima da linha dos ombros associada ::::à força;

falta de pausa durante a jornada de trabalho;::::

insatisfação;::::

sobrecarga (horas extras, volume, ritmo);::::

tensão (cobrança de produtividade, falta de controle ou autonomia).::::

ClassificaçãoAs LER/DORT são classificadas em tendinites inflamatórias, síndrome nervosas periféricas

compressivas, bursites e outras. A diferença entre elas encontra-se na realização de anamnese clí-nica e ocupacional e exame físico. Eventualmente, pode-se solicitar alguns exames complementa-res para a confirmação do diagnóstico a fim de realizar o tratamento mais adequado. As principais LER/DORT são:

Tendinites inflamatórias:::: – tenossinovite ocupacional, dedo em gatilho, síndrome de De Quervain, tendinite da cabeça longa do bíceps, epicondilite Lateral e medial e tendinite do supraespinhoso.

Síndromes nervosas periféricas compressivas:::: – síndrome do desfiladeiro torácico, síndro-me do supinador, síndrome do planador redondo, síndrome do túnel cubital, síndrome do túnel do carpo e síndrome do canal de Guyon.

Bursites:::: – ombro, cotovelos, joelhos, articulações coxo-femorais.

Outras:::: – síndrome tensional do pescoço, síndrome miofascial, cisto sinovial, radiculopatia cervical e fibromialgia.

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103|Doenças ocupacionais

Tendinites inflamatóriasAs tendinites inflamatórias são aquelas causadas pela inflamação aguda ou crônica dos tendões

ou das bainhas. A principal característica nesse quadro é a dor. Também pode haver edema localizado, rubor na região afetada e aumento da temperatura local.

Tenossinovite ocupacionalO trabalhador com essa doença inicia com quadro de dor. Logo após, podem aparecer outros

sintomas, tais como redução de força, sensação de peso com ou sem parestesia ou alteração de sensi-bilidade. Ao exame físico pode-se observar o calor local, rubor, além do espessamento dos tendões ao longo do músculo.

Tenossinovite dos flexores dos dedos (“dedos em gatilho”)Essa doença é resultado da constrição da bainha tendinosa, que impede o deslizamento normal

do tendão em sua bainha. Nesse caso, o paciente tem dificuldade em estender normalmente os dedos devido a um bloqueio mecânico. A extensão forçada gera sensação de salto, como um obstáculo venci-do. Observa-se no exame clínico um nódulo palpável na primeira polia dos flexores.

Tenossinovite estenosante (síndrome de De Quervain)Consiste na constrição dolorosa da bainha comum dos tendões abdutor longo e extensor curto

do polegar. Observa-se que o paciente sente dor na região que pode irradiar para o lado radial do an-tebraço até o ombro pela passagem difícil e dolorosa desses tendões no processo estilóide do rádio. No exame clínico, observa-se uma tumefação sobre esse processo estilóide do rádio. Também é realiza-do o teste de Filkenstein, segurando a mão do paciente, com o antebraço em posição neutra, e fletindo-se o primeiro dedo sobre a palma da mão. Logo após, é realizado o desvio ulnar do punho. O teste é positivo quando houver reprodução da dor sobre o processo estilóide do radio.

Epicondilites laterais (cotovelo do tenista) ou mediais (cotovelo do golfista)São associadas a posturas viciosas do membro superior afetado, compressão mecânica do coto-

velo, esforço excessivo na extensão, flexão ou pronosupinação do antebraço. Há um comprometimento do grupo muscular extensor-supinador ou flexor-planador. O paciente sente dor ao apanhar objetos, estender ou fletir o punho com limitação funcional progressiva ao exame físico são observados edema e dor à palpação de epicôndilos, com dor contra a resistência e redução da força de pressão.

Tendinite da cabeça longa do bíceps e supraespinhoso (síndrome do impacto)Ocorre devido à postura viciosa do membro superior afetado por tarefas que exijam elevação

do braço acima do nível dos ombros por longo período de tempo. Sensação de dor na face anterior do

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104 | Segurança, Saúde, Higiene e Medicina do Trabalho

ombro, que pode se irradiar para o braço e é agravada ao esforço. O diagnóstico dessa doença é reali-zado através do sinal de Yergason, no qual o paciente sente dor sobre o tendão bicipital e à supinação do antebraço contra a resistência.

Síndromes nervosas periféricas compressivasOcorrem devido especialmente ao próprio processo inflamatório tendíneo, que gera compres-

são. Nesses casos, além da anamnese do exame físico, a eletromiografia pode ser utilizada.

Síndrome do desfiladeiro torácicoConsiste na compressão anormal do plexo braquial, artéria e veia subclávia na altura da clavícula,

primeira artéria torácica e musculatura adjacente. Acometem trabalhadores que permaneçam longos períodos com os braços elevados acima do nível dos ombros, empregando força. Os principais sinto-mas são parestesia, perda de força e pontos dolorosos, com presença de pontos de gatilho na cintura escapular que, ao serem comprimidos, geram dor irradiada da coluna para todo o membro superior. O diagnóstico é realizado através do teste de Adson, quando o paciente, sentado, realiza inspiração pro-funda e contém a expiração. Logo após, estende o pescoço e gira o rosto em direção ao lado em que está sendo examinado, enquanto o examinador palpa as pulsações da artéria radial. O teste é positivo quando o pulso diminui ou desaparece, ou quando há reprodução dos sintomas anteriormente referi-dos pelo paciente.

Síndrome do supinadorÉ a compressão do nervo mediano na altura do cotovelo pelo músculo supinador.

Síndrome do túnel cubitalConsiste na compressão do nervo ulnar no cotovelo por movimentos repetitivos ou de apoio dos

cotovelos. Ocorre especialmente à noite ou quando o cotovelo é mantido em flexão e pronação. Pode haver redução da força e alteração de sensibilidade do quarto e quinto quirodáctilos.

Síndrome do túnel do carpoÉ a compressão do nervo mediano na altura do túnel do carpo. O paciente poderá sentir pa-

restesia noturna, desconforto, com possível irradiação para todo o membro superior, déficit de força, dor e dificuldade na realização dos movimentos finos. Nesse caso, o diagnóstico é realizado através da percussão do nervo mediano junto à face lateral flexora do punho, o que reproduz os sintomas (sinal de Tinel), e da flexão a 90° dos punhos, encostando-se a face dorsal das duas mãos uma na outra, o que também reproduz os sintomas (sinal de Phalen).

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105|Doenças ocupacionais

Síndrome de Guyon Consiste na compressão do nervo ulnar no punho, o que gera alterações na sensibilidade no

quarto e quinto quirodáctilo, com redução de força e pinça.

BursitesÉ a condição em que a bursa fica inflamada e irritada, causando dor e edema local. Pode ocorrer

nos ombros, cotovelos, joelhos e articulações coxo-femoral.

Bursite no ombroA mais comum afeta a bursa subacromial. Ocorre por enrijecimento tendíneo através do excesso

de utilização do supra-espinhoso, ou ainda pelo depósito de cálcio no tendão, interferindo na mobili-zação do ombro.

Bursite no cotoveloAtinge principalmente a bursa olecraniana. Ocorre, principalmente, devido a trauma ou apoio

prolongado.

Bursite no joelhoÉ a inflamação na bursa que envolve a patela. O principal sintoma é a dor em região anterior da

patela, podendo haver edema. Ocasionada pelo trauma direto ou hábito de se ajoelhar.

Bursite no quadrilAtinge especialmente a região do trocânter maior do fêmur. Dor intensa relacionada ao atrito

repetitivo do músculo tensor da fáscia lata deslizando sobre o trocânter.

Outras patologias

Síndrome miofascial e tensional do pescoçoGerada pelo excesso de atividades físicas, trabalho que cause fadiga, postura viciosa, posto de

trabalho antiergonômico. Os principais sintomas são dor e contratura muscular. Observam-se pontos gatilhos na musculatura envolvida.

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106 | Segurança, Saúde, Higiene e Medicina do Trabalho

FibromialgiaÉ o comprometimento doloroso, crônico e difuso do sistema ósteo-muscular. Os pacientes apresen-

tam fadiga, insônia, rigidez, dores difusas, ansiedade e depressão. Os exames geralmente são normais.

TratamentoO objetivo do tratamento é a busca da melhora do quadro clínico com o retorno do paciente às

suas atividades habituais. Esse retorno deve, obrigatoriamente, vir acompanhado de alterações ergo-nômicas nos postos de trabalho ou de readaptação em outra atividade que não apresente os mesmos fatores biomecânicos envolvidos no desencadeamento e agravo da lesão.

É fundamental que o paciente coopere e tenha consciência de suas restrições, não só no trabalho, mas também nas suas atividades diárias de vida. É um tratamento a longo prazo, sendo necessário o estadiamento da LER para a sua defi nição.

O repouso é a primeira e mais importante medida. Deve haver restrição ao movimento em todas as atividades que envolvam sobrecarga muscular dos membros atingidos. Logo após, inicia-se terapia com antiinfl amatórios não-hormonais e, em alguns casos, antiinfl amatórios hormonais. Vitamina B6 e miorrelaxantes também são utilizados.

Algumas outras medidas podem ser usadas, tais como calor local (relaxamento muscular), gelo (analgésico e antiinfl amatório) e exercícios de alongamento e fortalecimento das áreas da musculatura afetada. A fi sioterapia proporciona importantes melhoras quando associadas aos demais tratamentos. Considera-se a cirurgia em poucos casos, especialmente naqueles em que os tratamentos conservado-res não apresentarem resultados satisfatórios.

Texto complementarDicas de ergonomia

A fi gura ao lado apresenta uma série de recomen-dações fundamentais a este tipo de atividade. Confi ra na listagem abaixo, a importância de cada uma delas.

1. De olho no conforto visual! Para garantir o con-forto visual, mantenha seu monitor entre 45 e 70cm de distância e regule sua altura no máximo, até sua linha de visão (Veja a fi gura). Isto pode ser feito através de um suporte de monitor, ou pela utilização de mesas dinâ-micas. Sempre que possível procure “descansar” a vista, olhando para objetos (quadros, plantas, aquários etc.) e paisagens a mais de 6 metros.

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107|Doenças ocupacionais

2. Punho neutro é fundamental! Assim como a altura do monitor, a do teclado também deve poder ser regulável. Ajuste-a até que fique no nível da altura dos seus cotovelos. Durante a digitação é importante que o punho fique neutro (reto) como na figura anterior. Mantenha o teclado sempre na posição mais baixa e digite com os braços suspensos ou use um apoio de punho.

3. Pés bem apoiados! É importante que as pessoas possam trabalhar com os pés no chão. As cadeiras devem, portanto, possuir regulagens compatíveis com as da população em ques-tão. Para o Brasil, o ideal seriam cadeiras com regulagem de altura a partir de 36cm. Quando a cadeira não permite que a pessoa apoie os pés no chão, a solução é adotar um apoio para os pés, que serve para relaxar a musculatura e para melhorar a circulação sanguínea nos mem-bros inferiores.

4. Dê um descanso para as costas! - Com excessão de algumas atividades, as cadeiras devem possuir espaldar (encosto) de tamanho médio. Uma maior superfície de apoio, garante uma melhor distribuição do peso corporal, e um melhor relaxamento da musculatura. É recomendável ainda, que as cadeiras não tenham braços (o apoio deve estar nas mesas, para garantir um apoio correto) e o revestimento deve ser macio e com forração em tecido rugoso.

Dicas geraisA – Iluminação – Para evitar reflexos, as superfícies de trabalho, paredes e pisos, devem ser fos-

cas e o monitor deve possuir uma tela anti-reflexiva. Evite posicionar o computador perto de janelas e use luminárias com proteção adequada.

B – Cores – Equilibre as luminâncias usando cores suaves em tons mate. Os coeficientes de reflexão das superfícies do ambiente, devem estar em torno de: 80% para o teto; 15 a 20% para o piso; 60% para a parede (parte alta); 40% para as divisórias, para a parede (parte baixa) e para o mobiliário.

C – Temperatura – Como regra geral, temperaturas confortáveis, para ambientes informati-zados, são entre 20 e 22 graus centígrados, no inverno e entre 25 e 26 graus centígrados no verão (com níveis de umidade entre 40 a 60%).

D – Acústica – É recomendável para ambientes de trabalho em que exista solicitação intelec-tual e atenção constantes, índices de pressão sonora inferiores à 65 dB(A). Por esse motivo reco-menda-se o adequado tratamento do teto e paredes, através de materiais acústicos e a adoção de divisórias especiais.

E – Humanização do ambiente – Sempre que possível humanize o ambiente (plantas, qua-dros e quando possível, som ambiente). Estimule a convivência social entre os funcionários. Muitas empresas que estão adotando políticas neste sentido vêm obtendo um aumento significativo de produtividade. Lembre-se que o processo de socialização é muito importante para a saúde psíquica de quem irá trabalhar nele.

(Dicas de Ergonomia. Disponível em: <http://www.ergonomia.com.br/htm/dicas.htm#visao.>

Acesso em: 8 abr. 2008.)

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Ampliando conhecimentosALMEIDA, I. M. Dificuldades no diagnóstico de doenças ocupacionais e do trabalho. Jornal

Brasileiro de Medicina, v. 74, n. 1/2, p. 35-48, 1998.

Atividades1. Você é funcionário de uma grande empresa metalúrgica. Um operário o procura com queixa de

dor no ombro esquerdo e relaciona com o trabalho repetitivo que exerce na empresa. O que você, em Segurança do Trabalho, deve saber?

a) O tempo que esse funcionário está na empresa não é relevante.

b) Conhecer as atividades exercidas por esse trabalhador é fundamental para a elucidação do quadro.

c) As atividades exercidas fora da empresa não são importantes, mesmo que possam influenciar no quadro.

d) A jornada de trabalho desse funcionário não interfere no diagnóstico.

2. Qual dos trabalhadores abaixo, de acordo com os conhecimentos teóricos e as estatísticas exis-tentes, é mais propenso a ser portador de um distúrbio osteomuscular relacionado ao trabalho?

a) Frentista de posto de gasolina, homem, 57 anos.

b) Empresária, mulher, 45 anos.

c) Professor aposentado, homem, 71 anos.

d) Bancária, mulher, 32 anos.

e) Jornalista, mulher, 38 anos.

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Previdência SocialA Previdência Social é um seguro que garante ao trabalhador ou à sua família uma renda

quando ocorrer perda, temporária ou permanente, da capacidade de trabalho em decorrência dos riscos sociais.

A Lei Elói Chaves, criada em janeiro de 1923, através do Decreto 4.682, foi considerada a pri-meira lei brasileira de Previdência Social. Tudo começou com a Caixa de Aposentadorias e Pensões destinada aos empregados de empresas ferroviárias, criada pelo Congresso Nacional, que os benefi-ciava com assistência médica, remédios subsidiados, auxílio-funerário e pensões também para seus dependentes. Em 1926, os benefícios foram estendidos também para os trabalhadores das empresas portuárias e marítimas.

Com a Era Vargas, em 1930, houve a reestruturação da Previdência Social, sendo incorporadas pra-ticamente todas as categorias de trabalhadores urbanos. Ocorreu a criação de grandes Institutos Na-cionais de Previdência e o financiamento dos benefícios começou a ser repartido entre os funcionários, empregadores e o Governo Federal em observação à Seguridade Social, que foi um conceito inspirado na legislação previdenciária americana, com uma nova concepção de Seguro Social Total que procurava abranger toda a população na luta contra a miséria, auxiliando na garantia de condições sociais dignas.

A Lei Orgânica, de 1960, originou toda a doutrina previdenciária atual. A Previdência Social foi elevada à condição de instituto, passando a abranger quase todos os trabalhadores urbanos brasilei-ros.Também unificou a legislação previdenciária relativa a todos os seis Institutos de Aposentadorias e Pensões (IAPs) Marítimos, Bancários, Estiva e Transporte de Cargas, Industriários e Servidores do Estado. Inicia-se, portanto, o princípio da universalidade, incluso na Constituição Cidadã de 1988.

Criado em 1967, o Instituto Nacional da Previdência Social (INPS), através da fusão de cinco dos seis IAPs (exceto o IAPSDE – dos Servidores do Estado, extinto nos anos 1980), era responsável por toda a assistência médica dos trabalhadores formais. O trabalhador contribuía com 8% de seu salário, mais 8% da folha de pagamento da empresa, independentemente da função ou cargo exercido dentro da empresa (ramo de atividade ou categoria profissional). Cobria os trabalhadores autônomos ou empre-gadores (individualmente) que contribuíssem em dobro para o INPS (16% de sua renda básica).

O Ministério da Previdência e Assistência Social, criado em 1974, passou a ter todas as atribuições referentes à Previdência Social.

Ao INPS, cabia a concessão de benefícios, a readaptação do profissional às atividades de trabalho e o amparo aos idosos.

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110 | Segurança, Saúde, Higiene e Medicina do Trabalho

Ao Instituto de Administração da Previdência e Assistência Social (Iapas), cabia a responsabilida-de de administrar e recolher recursos.

Ao Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social (Inamps), cabia administrar o sistema de saúde previdenciária.

Em 1976, houve a consolidação do processo de criação do Sistema Nacional de Previdência e Assistência Social (SiNPAS), bem como a criação do Fundo de Previdência e Assistência Social como instrumento financeiro.

O SiNPAS era composto por:

Instituto de Administração da Previdência e Assistência Social (Iapas).::::

Instituto Nacional de Previdência Social (INPS).::::

Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social (Inamps).::::

Legião Brasileira de Assistência (LBA).::::

Fundação Nacional para o Bem-Estar do Menor (Funabem).::::

Empresa de Processamento de Dados da Previdência Social (Dataprev).::::

Central de Medicamentos (Ceme).::::

Com a Constituição de 1988, houve a unificação formal de algumas dessas estruturas, sendo cria-do o Sistema Único de Saúde (SUS) pela Lei 8.080/90, tendo sido realizada a incorporação de hospitais universitários do Ministério da Educação, das redes públicas e privadas conveniadas de saúde nos esta-dos e municípios, formando um sistema que, teoricamente, tem abrangência nacional.

O artigo 201 da Lei 8.080 da Constituição Federal de 1988 ainda determina que a Previdência Social será organizada sob regime geral, de caráter contributivo e de filiação obrigatória, observados critérios que preservem o equilíbrio financeiro e atenderá nos termos da lei:

à cobertura dos eventos de doença, invalidez, morte ou idade avançada;::::

à proteção à maternidade, especialmente à gestante;::::

à proteção ao trabalhador em situação de desemprego involuntário;::::

ao salário-família e auxílio-reclusão para os dependentes dos segurados de baixa renda.::::

à pensão por morte do segurado, homem ou mulher, ao cônjuge ou companheiro e dependentes.::::

A diferença entre INSS E SuSINSS:::: : Vinculado ao Ministério da Previdência Social, é responsável pela concessão de benefí-cios aos seus contribuintes em casos de doença, invalidez, morte e idade avançada, além de dar proteção à maternidade.

Dispõe de serviços de perícia médica e reabilitação de trabalhadores que estão vinculados à Previdência Social.

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111|Previdência Social

Deve haver contribuição para que o servidor tenha acesso aos benefícios.

SUS:::: : Vinculado ao Ministério da Saúde, é responsável pela assistência à saúde de todo cidadão contribuinte ou não do INSS.

Dispõe de atendimento médico, internações, diversos tratamentos, convênios com muitos hospitais ou qualquer outro serviço na área de saúde pública.

Garantia de assistência à saúde a todo cidadão, sem a necessidade de contribuição.

Seguro socialÉ o Sistema de Proteção Social que assegura o sustento do trabalhador e de sua família, quando

ele não puder trabalhar por causa de doença, acidente, gravidez, prisão, velhice ou morte.

Regime geral da Previdência SocialO salário benefício é o valor básico utilizado para definir a renda mensal dos benefícios, exceto o

salário-família, salário-maternidade e os benefícios dos segurados especiais.

Corresponde à média dos 80 maiores salários de contribuição do segurado contados a partir de julho de 1994.

Para a aposentadoria por tempo de contribuição e por idade, deve-se multiplicar a média pelo fator previdenciário.

Conceitos básicosBenefícios previdenciários:::: : são os benefícios concedidos em razão de incapacidade prove-niente de causa comum.

Benefícios acidentários:::: : são os benefícios concedidos nos casos de incapacidade decorrente de acidentes do trabalho (inclui doença ocupacional).

Carência:::: : é o tempo de contribuição exigido para se garantir o recebimento da aposentadoria ou de outros benefícios a que tem direito o assegurado.

Acidente de trabalho:::: : ocorre pelo exercício do trabalho a serviço da empresa ou pelo exer-cício do trabalho dos segurados especiais, provocando lesão corporal ou perturbação fun-cional que cause a morte, perda ou redução, permanente ou temporária, da capacidade para o trabalho.

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112 | Segurança, Saúde, Higiene e Medicina do Trabalho

Benefícios oferecidos pelo regime geral da Previdência SocialAuxílio-doença.::::

Auxílio-acidente.::::

Aposentadoria por Invalidez.::::

Auxílio-reclusão.::::

Pensão por morte.::::

Salário-maternidade.::::

Salário-família.::::

Aposentadoria por idade.::::

Aposentadoria por tempo de contribuição.::::

Aposentadoria especial.::::

Auxílio-doençaÉ o benefício concedido ao segurado que ficar incapacitado temporariamente ao trabalho, por

motivo de doença ou decorrente de acidente de qualquer causa ou natureza. Todos os segurados têm o direito de receber auxílio-doença, a partir do 16.° dia de incapacidade. O contribuinte individual, do-méstico, avulso, especial e facultativo, a partir da data em que resultou a incapacidade.

Serviços de amparo oferecidosServiço Social.::::

Perícia médica.::::

Reabilitação.::::

A carência mínima é de 12 contribuições mensais (para alguns casos previstos em Lei, a carência não é necessária). O valor do benefício corresponde a 91% do salário de benefício. Do 1.° ao 15.° dia de auxílio-doença quem paga é a empresa, exceto autônomos; mais de 15 dias quem paga é o INSS. Nes-se caso é obrigatório exame pericial, tratamento e reabilitação e, segundo o artigo 62 da Lei 8.213/91, fica estabelecido que o segurado em gozo do auxílio-doença, insusceptível de recuperação para a sua atividade habitual, deverá submeter-se a processo de reabilitação profissional para o exercício de outra atividade. Não cessará o benefício até que o mesmo seja dado como habilitado para o desempenho de nova atividade que lhe garanta a subsistência ou quando, considerado não-recuperável, for aposentado por invalidez.

Há casos especiais em que não há a necessidade da carência mínima de 12 contribuições. São eles:

tuberculose ativa;::::

hanseníase (lepra);::::

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113|Previdência Social

alienação mental (loucura);::::

neoplasia maligna (câncer);::::

cegueira;::::

paralisia irreversível e incapacitante;::::

cardiopatia grave (doença grave do coração);::::

doença de Parkinson (doença caracterizada por tremores e rigidez facial);::::

espondiloartrose anquilosante (artrose aguda nas vértebras);::::

nefropatia grave (insuficiência ou mal funcionamento dos rins);::::

estado avançado da doença de Paget (inflamação deformante nos ossos);::::

síndrome da deficiência imunológica adquirida (aids);::::

contaminação por radiação, com base em conclusão da medicina especializada;::::

hepatopatia grave.::::

Auxílio-acidenteÉ o benefício cedido como indenização ao segurado empregado, trabalhador avulso, segurado

especial e ao médico residente que sofram lesões ou apresentem seqüelas de acidentes de qualquer natureza (auxílio-acidente previdenciário) ou acidente de trabalho (auxílio-acidente acidentário). Pode ser acumulado com outros benefícios pagos pela Previdência, exceto aposentadoria.

Quando for concedida a aposentadoria, o valor do auxílio-acidente será computado como salário de contribuição. Nesse caso não é exigido o cumprimento do período de carência e seu valor correspon-de a 50% do salário de benefício.

Aposentadoria por invalidezÉ o benefício pecuniário concedido ao segurado que, estando ou não em auxílio-doença, seja

considerado incapaz definitivamente para o trabalho e insusceptível de reabilitação. Todos os segura-dos têm o direito de receber o benefício da aposentadoria por invalidez, sendo a carência mínima de 12 contribuições mensais para a Previdência Social. No caso de incapacidade provocada por acidentes de qualquer natureza não é exigida a carência. O valor do benefício é de 100% do salário de benefício, com acréscimo de 25% caso necessite de assistência permanente de outra pessoa.

É obrigatório o exame médico pericial e não deve ocorrer o diagnóstico de doença preexistente. O beneficiado deve se afastar de todas as atividades laborais e no caso de requerer reversão dessa con-dição, uma revisão pode ser solicitada.

As situações em que há a necessidade do acréscimo de 25% são:

cegueira total;::::

perda de nove dos dez dedos da mão ou mais;::::

paralisia dos dois membros superiores ou inferiores;::::

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114 | Segurança, Saúde, Higiene e Medicina do Trabalho

perda de membro inferior acima do pé quando for impossível o uso de prótese;::::

perda de uma mão ou dois pés, mesmo quando for possível o uso de próteses.::::

perda de um membro superior e um inferior com prótese impossível;::::

alteração mental com grave perturbação organizacional e social;::::

doença que exija permanência contínua em leito;::::

incapacidade permanente para atividades da vida diária.::::

Auxílio-reclusãoÉ o benefício pago aos dependentes durante todo o período de detenção ou reclusão do segu-

rado. O dependente poderá receber o benefício, desde que o segurado recluso ou detido não receba remuneração da empresa, auxílio-doença ou aposentadoria, e desde que seu último salário de con-tribuição seja de até um salário mínimo. Não é exigido o cumprimento do período de carência para a concessão do auxílio-reclusão, basta comprovar que o preso é segurado da Previdência Social.

O valor é correspondente a 100% da aposentadoria por invalidez a que o segurado teria direito na data da reclusão. Caso haja mais de um dependente com direito ao auxílio, o valor é dividido em partes iguais entre eles.

Pensão por morteÉ o benefício pago aos dependentes quando o segurado falecer. Pode ser por motivo de acidente

de trabalho ou morte natural. Não é exigido o cumprimento do tempo de carência, basta que se com-prove a qualidade de segurado. A pensão tem o mesmo valor da aposentadoria do segurado falecido. Se o segurado ainda não estiver aposentado, calcula-se uma aposentadoria por invalidez com início na data do óbito. Caso haja mais de um dependente com direito à pensão, o valor é repartido em partes iguais entre eles.

Auxílio-maternidadeTodas as seguradas da Previdência Social têm direito ao salário-maternidade. Trata-se de um be-

nefício concedido à segurada gestante por 120 dias, e é o único benefício da Previdência Social que não está sujeito ao teto máximo. Para a segurada que adotar ou obtiver guarda judicial para fins de adoção de criança é devido o salário-maternidade de:

120 dias, se a criança tiver até um ano de idade;::::

60 dias se a criança tiver de 1 a 4 anos de idade;::::

30 dias se a criança tiver de 4 a 8 anos de idade.::::

Para as trabalhadoras empregadas e avulsas, o salário-maternidade corresponde à última remu-neração (sem teto). Para as domésticas, o salário-maternidade corresponde ao último salário de contri-buição (com teto). Para as demais categorias, o salário-maternidade corresponde à média dos últimos dez salários de contribuição (com teto), apurados nos últimos 15 meses.

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115|Previdência Social

Para as seguradas empregadas avulsas não é exigida carência, enquanto que para as contribuin-tes individuais, a carência é de dez meses. Para a segurada especial (trabalhadora rural), é necessário ser comprovado dez meses de efetivo exercício da atividade.

Salário-famíliaÉ o benefício pago aos aposentados e trabalhadores de baixa renda para ajudar na manutenção

dos filhos. Tem direito ao benefício o segurado empregado e o trabalhador avulso que tenham um filho ou equiparado de até 14 anos, ou inválido de qualquer idade, desde que a remuneração mensal seja inferior ou igual a um salário mínimo.

Aposentados por invalidez ou por idade, e os demais aposentados com 65 anos (homem), ou 60 (mulher), serão beneficiados nas mesmas condições do segurado em atividade. É necessária a apresen-tação anual do atestado de vacinação para as crianças de até sete anos e de freqüência escolar semes-tral para as maiores de sete anos.

Aposentadoria por idadeBenefício concedido ao trabalhador que alcança idade considerada avançada. Trabalhadores

urbanos com 65 anos (homens), e 60 (mulheres), têm direito ao benefício, sendo que, trabalhadores rurais aos 60 (homens), e aos 55 (mulheres), desde que não sejam empresários rurais, têm direito ao benefício.

O valor do benefício é de 70% do valor do salário de benefício. O valor do benefício deve ser cal-culado com e sem o fator previdenciário, concedendo-se o que for mais vantajoso para o segurado. A carência é a de ter contribuído por pelo menos 15 anos para a Previdência Social.

Aposentadoria por tempo de contribuiçãoBenefício devido ao segurado que completar período mínimo de contribuição ao Sistema Previ-

denciário. Têm direito de receber o benefício todos os segurados que completarem o período mínimo de contribuições. Para os homens o período é de 35 anos e para as mulheres 30 anos. Para os professo-res da Educação Infantil e Fundamental, é esse período menos cinco anos.

O valor da aposentadoria corresponde a 100% do salário de benefício, multiplicado pelo valor previdenciário. Quanto maiores o tempo de contribuição e a idade, maior o valor da aposentadoria.

O segurado filiado até 16/12/1998, pode optar pela aposentadoria proporcional, desde que con-te até 30 ou 25 anos de contribuição e 53 ou 48 anos de idade, conforme seja homem ou mulher. De-verá ainda completar mais 40% do tempo que, em 16/12/1998, faltava para atingir 30 ou 25 anos de contribuição.

Aposentadoria especialÉ concedida aos segurados empregados, exceto domésticos, e aos trabalhadores avulsos que te-

nham trabalhado em condições especiais que prejudiquem a saúde ou a integridade física, durante 15,

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116 | Segurança, Saúde, Higiene e Medicina do Trabalho

20 ou 25 anos, de acordo com o nível de exposição aos agentes nocivos. É necessário ter contribuído por pelo menos 15 anos para a Previdência Social. O valor da aposentadoria corresponde a 100% do salário de benefício.

Acidentes nas atividades ou exposição a longo prazo como a extração, fabricação, transporte, manipulação, manutenção e operação que envolva agentes tais como carvão mineral, chumbo, cromo, cloro, ruído (acima de 90db), sílica, níquel, mercúrio, iodo, fósforo, petróleo, xisto betuminoso, asbestos (amianto), dissulfeto de carbono, temperaturas anormais (NR 15), pressão atmosférica anormal, micro-organismos e parasitas infecciosos vivos e suas toxinas e radiações ionizantes estão entre as causas mais freqüentes apontadas como motivo das aposentadorias especiais.

Acidentes de trabalhoConsideram-se acidentes de trabalho as seguintes entidades mórbidas:

Doença profissional:::: : distúrbio ósteo-muscular relacionado ao trabalho em digitadores; farin-gite no professor.

Doença do trabalho:::: : desde que o agente físico, químico ou biológico estejam presentes no ambiente de trabalho (pneumoconiose, silicose, câncer).

Não são consideradas doenças do trabalho:

doença degenerativa;::::

inerente a grupo etário;::::

doença que não produza incapacidade laborativa;::::

doença endêmica adquirida por habitante em região que ela se desenvolva.::::

Equiparam-se a acidentes de trabalho:

acidente ligado ao trabalho que tenha contribuído diretamente para a morte do segura-::::do, redução ou perda da sua capacidade para o trabalho, mesmo que não tenha sido sua única causa;

ato de agressão, sabotagem ou terrorismo, praticado por terceiro ou colega de trabalho;::::

ofensa física intencional, mesmo de terceiro, por motivo de disputa relacionado ao trabalho;::::

ato de imprudência, negligência, ou imperícia de terceiro ou de companheiro de trabalho;::::

ato de pessoa privada do uso da razão;::::

desabamento, inundação, incêndio e outros casos fortuitos decorrentes de força maior;::::

doença proveniente de contaminação acidental do empregado no exercício de sua atividade.::::

Acidentes sofrido pelo segurado, ainda que fora do local e horário de trabalho quando:

na execução de ordem ou na realização de serviço sob a autoridade da empresa;::::

na prestação espontânea de qualquer serviço à empresa para lhe evitar prejuízo ou lhe pro-::::porcionar proveito;

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em viagem a serviço da empresa, inclusive para estudo, quando financiada pela empresa den-::::tro de seus planos para melhor capacitação de mão-de-obra, independentemente do meio de locomoção utilizado, inclusive veículo de propriedade do segurado;

no percurso da residência para o local de trabalho, ou deste para aquela, qualquer que seja o ::::meio de locomoção, inclusive veículo de propriedade do segurado.

Função da perícia médicaEm sentido amplo, é todo e qualquer ato de diagnóstico ou exame feito por médico, com a fina-

lidade de contribuir com as autoridades administrativas, policiais ou judiciárias na formação de juízos a que estão obrigados. É o ato médico ou conjunto de procedimentos atribuídos aos médicos pela legislação. Realizado por profissional da medicina, legalmente habilitado, com a função de informar e esclarecer a alguma autoridade sobre fato próprio de sua especificidade funcional, no interesse da justiça, e a conclusão do laudo. É a perícia que vai determinar e contribuir diretamente na concessão ou não do benefício.

Texto complementar

Qualidade de vida no trabalho – estresse(TEIGA, 2007)

Toda a principal teoria moderna sobre o estresse tem presente uma visão holística do homem, prevendo, assim, que há a necessidade de estarmos atentos a muitos fatores para combatê-lo. O ma-nejo adequado do processo requer mais do que mudança de hábitos: requer uma mudança de estilo de vida, um estilo de vida que respeite as necessidades biológicas, sociais, afetivas e psicológicas.

Os fatores são independentes, mas complementares, como por exemplo, as quatro rodas de um carro. Você já parou para pensar qual a roda mais importante de seu carro?

DietaQuando falamos de dieta, além da alimentação em si, que obviamente está diretamente re-

lacionada ao processo (pois quando estamos sob estresse nosso organismo fica carente de algu-mas vitaminas, metais e outros nutrientes que são utilizados no funcionamento do sistema nervoso e mobilização muscular e cardiovascular), estamos preocupados com a qualidade e a quantidade de nossa ingestão alimentar. Como você se alimenta? Que tipo alimento você está ingerindo? Quem lhe faz companhia? Qual a freqüência e o tempo de cada refeição? E a quantidade? Que tipo de assunto é tratado durante as refeições?

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Se continuar, creio que muitos de nós vamos acabar nos deprimindo ou simplesmente fechan-do o manual, pois nossa vida moderna (moderna?) cada vez deixa menos espaço para uma ali-mentação equilibrada, harmônica e saudável. Assim, toda a análise sobre estresse e toda ação para administrá-lo inicia na mesa.

Exercícios físicosVeja, não estou fazendo apologia às academias – apesar de saber o quanto elas são importan-

tes –, estou pensando em pequenas ações diárias, regulares e harmônicas como nossa disponibili-dade e condição física. Toda atividade física é de extrema importância no controle do estresse. Os exercícios devem tornar-se um hábito para preservar a saúde, especialmente a do principal músculo de nosso corpo – o coração.

É vital que sejam desenvolvidas atividades aeróbicas como caminhada, bicicleta, academia, dança etc., mas sempre sob orientação médica e profissional de alguém devidamente licenciado e capacitado. Está mais do que comprovado que esse tipo de atividade estimula a produção de en-dorfinas e que auxilia na redução do excesso de cortisol e adrenalina.

Além dos benefícios biofisiológicos, as atividades físicas regulares e bem orientadas também nos beneficiam em termos afetivos e psíquicos, melhorando nosso humor, nossa capacidade de raciocínio, liberando energias bloqueadas ou mal dirigidas etc. Até nosso sistema imunológico é beneficiado.

RelaxamentoComo está muito mais do que comprovado, toda emoção tem repercussão fisiológica e vice-

versa. Assim, todo estado emocional negativo é acompanhado de tensão muscular e toda a tensão muscular acaba por gerar um estado negativo em termos de emocionalidade.

As atividades de relaxamento têm por finalidade obter uma resposta fisiológica que se opõe à reação de estresse. Elas levam a uma redução do ritmo respiratório, do consumo de oxigênio, da pressão arterial e do fluxo sangüíneo visceral, favorecendo os músculos periféricos. Esta redução abrange, igualmente, a tensão muscular e esfincteriana.

O relaxamento leva à diminuição do estado ansioso. Assim, se a tensão muscular estiver ausen-te, é provável que a pessoa sinta-se emocionalmente melhor, ficando apta a interagir adequada-mente nas situações em que estiver envolvida. Exercícios de relaxamento e de respiração aumentam o funcionamento do sistema parassimpático e diminuem sobremaneira nossa couraça muscular.

Existem várias técnicas diferentes de relaxamento, algumas verbais, algumas táteis, outras que envolvem movimento. Elas podem ter orientação fisiológica ou psicológica e são bastante variáveis em termos de tempo. Assim, cada pessoa deve buscar aquela técnica que melhor se adapte a tal pessoa, ao seu tempo, ao seu espaço etc.

Não podemos esquecer, no entanto, que, em alguns casos, o manejo do estresse requer tam-bém uma abordagem profissional psicológica e/ou médica. O autoconhecimento é o pressuposto

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básico para o desenvolvimento da auto-estima, que, por sua vez, é a mola mestra que nos impulsio-nará na busca de uma eficiente administração do estilo de vida e melhor aproveitamento do tempo de que dispomos, priorizando nossa qualidade de vida.

Diversões ou passatempo ativoÉ de suma importância estruturar o tempo livre, planejar as horas de diversão como algo que

nos gere prazer para alcançar o eustresse e dissipar o distresse acumulado. Aqui, diferenciamos diversão de passatempo. Em nossa visão, a diversão é uma atividade de caráter mais passivo, ao passo que consideramos o passatempo como algo ativo. Uma pessoa pode se divertir assistindo a uma partida de futebol na televisão: o passatempo seria jogar uma “pelada” com os amigos. Assim, apesar de ambos serem importantes, o passatempo tende a ser mais rico e gratificante, pois a cons-trução de algo, além de ajudar a estruturar o tempo, fortalece nossa auto-imagem.

Trabalho interessanteTodos nós, ou pelo menos quase todos, necessitamos trabalhar. Assim, ter um trabalho interes-

sante ajuda muito a criar motivação para a vida. É por meio dele que satisfazemos nossa necessidade de admiração e de reconhecimento. Tanto o excesso quanto a carência desse fator pode nos levar a problemas de adaptação.

Lembre-se que todo o trabalho pode ser interessante, e isso está mais em nós mesmos do que no trabalho em si. O desafio fica justamente no sentido que damos ao que fazemos.

Grupos de apoioDiz um velho ditado que nenhum homem é uma ilha. Conta-se que foi feita uma experiência

no Japão com pessoas assistindo a um filme de muito suspense. Os espectadores tiveram seus sinais vitais monitorados durante o filme, e verificou-se que aquelas pessoas que estavam sozinhas no cinema tinham maiores alterações biofisiológicas. Estudos com animais mostraram a mesma coisa, ou seja, os que foram estimulados fisicamente em grupo resistiram muito melhor aos estressores físicos e psicológicos que aqueles isolados.

Todos nós necessitamos, para manejar o estresse nosso do dia-a-dia, de pessoas próximas com quem possamos contar para dividir nossas angústias e que também possam nos dar, de maneira incondicional, apoio e proteção.

Nada melhor para encerrar do que um pensamento de Hans Selye, que ensina que estresse é o sal da vida, ou seja, o estresse faz parte da vida, é ele que impulsiona as pessoas e a humanidade para a evolução e para o crescimento.

Logo, como já dissemos anteriormente, além de impossível, é indesejável eliminar o es-tresse; o desafio está em administrar o nosso estresse produtivamente. E há duas estratégias

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básicas para isso: na primeira, cada um tem de apreender a adaptar-se a uma carga suportável e há uma convivência adequada na medida em que se obedece aos seis itens anteriormente descritos (dieta, exercícios físicos, relaxamento, diversão, trabalho e grupo de apoio); na segun-da, que deve ser usada quando não é mais possível nos adaptarmos, deve-se diminuir a carga, eliminar a fonte de estresse e reestruturar a vida.

Lembre-se que cada um é o “senhor de sua vida”, não é o(a) parceiro(a), a família, o trabalho. Cada um de nós é o responsável maior por sua própria vida e pelo cumprimento de nosso destino. Assim... mãos à obra!

Atividades1. É considerada doença do trabalho:

a) faringite crônica em professor.

b) hipertensão arterial em empresário obeso de 50 anos.

c) diabete melitus em trabalhador idoso com histórico familiar positivo para a doença.

d) malária em trabalhador morador de região endêmica.

2. Assinale a alternativa correta.

a) Toda pessoa, de qualquer faixa etária, tem direito aos benefícios fornecidos pela Previdência Social.

b) A perícia médica é um serviço cujas atribuições são de responsabilidade do Ministério da Saúde.

c) O trabalhador acidentado, recebendo o auxílio-acidente, não tem direito a ser atendido nos postos da Rede Pública de Saúde.

d) O INSS não é responsável pelos atendimentos médicos, convênios hospitalares, internamen-tos ou quaisquer outros serviços relacionados à saúde, cabendo ao SUS gerir essa área.

e) O trabalhador só tem acesso aos serviços prestados pelo SUS após 12 meses de carência.

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Gabarito

Introdução à Segurança, Saúde, Higiene e Medicina do Trabalho

1. B

2. C

Medicina do Trabalho e Toxicologia

1. C

2. A

Toxicologia ocupacional

1. E

2. E

Metais pesados

1. C

2. B

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Legislação de Segurança, Saúde, Higiene e Medicina do Trabalho1. D

2. C

Normas regulamentadoras1. B

2. D

Riscos ambientais1. D

2. C

Acidentes de trabalho e riscos físicos1. C

2. C

Doenças ocupacionais1. B

2. D

Previdência Social1. A

2. D

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Anotações

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Parte I

Ouviram do Ipiranga as margens plácidas De um povo heróico o brado retumbante, E o sol da liberdade, em raios fúlgidos, Brilhou no céu da pátria nesse instante.

Se o penhor dessa igualdade Conseguimos conquistar com braço forte, Em teu seio, ó liberdade, Desa�a o nosso peito a própria morte!

Ó Pátria amada, Idolatrada, Salve! Salve!

Brasil, um sonho intenso, um raio vívido De amor e de esperança à terra desce, Se em teu formoso céu, risonho e límpido, A imagem do Cruzeiro resplandece.

Gigante pela própria natureza, És belo, és forte, impávido colosso, E o teu futuro espelha essa grandeza.

Terra adorada, Entre outras mil, És tu, Brasil, Ó Pátria amada!

Dos �lhos deste solo és mãe gentil, Pátria amada, Brasil!

Parte II

Deitado eternamente em berço esplêndido, Ao som do mar e à luz do céu profundo, Fulguras, ó Brasil, �orão da América, Iluminado ao sol do Novo Mundo!

Do que a terra, mais garrida, Teus risonhos, lindos campos têm mais �ores; “Nossos bosques têm mais vida”, “Nossa vida” no teu seio “mais amores.”

Ó Pátria amada, Idolatrada, Salve! Salve!

Brasil, de amor eterno seja símbolo O lábaro que ostentas estrelado, E diga o verde-louro dessa �âmula – “Paz no futuro e glória no passado.”

Mas, se ergues da justiça a clava forte, Verás que um �lho teu não foge à luta, Nem teme, quem te adora, a própria morte.

Terra adorada, Entre outras mil, És tu, Brasil, Ó Pátria amada!

Dos �lhos deste solo és mãe gentil, Pátria amada, Brasil!

Atualizado ortogra�camente em conformidade com a Lei 5.765, de 1971, e com o artigo 3.º da Convenção Ortográ�ca celebrada entre Brasil e Portugal em 29/12/1943.

Hino NacionalPoema de Joaquim Osório Duque Estrada

Música de Francisco Manoel da Silva