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MACHADO DE ASSIS

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MACHADO DE ASSIS

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O REALISMO MACHADIANO

Embora seja realista, Machado extrapolou os pressupostosmais caros à estética.

Seu realismo se configura na abordagem de situações queguardam estreita relação com a realidade.

A maneira, entretanto, como aborda aponta para umaestrutura que foge às características realistas-naturalistas.

Machado enceta várias inovações estruturais que, emalguns casos, chegam antecipar característicasmodernistas.

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Em Memórias póstumas de Brás Cubas, o narrador é um

defunto-autor, o que quebra a verossimilhança.

Em Dom Casmurro, o narrador quer provar a culpabilidade

da esposa, através de argumentos de natureza subjetiva.

Em contos, como Uns braços e Missa do galo, a temática

é intensamente psicológica, porque toda a trama está

centrada nas sensações interiores das personagens.

Os pressupostos cientificistas, tão em moda na

época, são ironizados em várias de suas narrativas, mas

aparecem com mais contundência em o Alienista.

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AS DUAS FASES MACHADIANAS A produção romanesca de Machado de Assis, de acordo com a

crítica, é dividida em duas fases: uma romântica e outra realista.

Na fase romântica, destacam-se romances como A Mão e a Luva,

Helena, Ressurreição, e Iaiá Garcia, e alguns contos, como Miss

Dolar.

A chamada fase realista, a mais substancial de sua produção,

engloba romances e contos, em que se destacam:

Memórias Póstumas de Brás Cubas, Quincas Borba, Dom Casmurro,

Esaú e Jacó e Memorial de Aires, romances, e os contos O Alienista,

A Cartomante, Uns braços, O Enfermeiro e Missa do galo.

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A FASE ROMÂNTICA Os romances da fase romântica apresentam ainda um enredo com

estrutura de folhetim, em que a trama parece ser o elemento fundamental,

a exemplo do que acontecia com o romance romântico.

Entretanto, já é possível perceber a propensão machadiana para esboçar o

caráter das personagens, através de um enredo em que se evidencia

ações embasadas no interesse e em conflitos psicológicos.

A temática do amor platônico, calcada em torno de dois personagens,

desaparece nos romances da primeira fase de Machado, ocorrendo um

insinuado triângulo amoroso, que será elemento fundamental na fase

realista do autor.

Também o chamado final feliz, tão caro aos românticos, em suas obras

desaparece, dando lugar a um desfecho em que as personagens não

conseguem resolver satisfatoriamente os seus conflitos de ordem

sentimental.

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SINTETIZANDO AS CARACTERÍSTICA DA PRIMEIRA FASE

Os romances dessa fase ainda não possuem densidade

psicológica.

Os personagens ainda não são complexos, apresentando-se

lineares.

Os enredos ainda são eivados de peripécias, constituindo-se

em romances de ação.

Os romances ainda possuem estrutura de folhetim.

O enredo é estruturado em torno de uma história de amor, se

bem que não seja platônico.

Percebe-se já a tendência do narrador aos comentários, às

digressões de ordem psicológica.

Os personagens já agem por interesse amoroso, inclusive o

amor já é materialista.

Nos desfechos das narrativas, observa-se já uma ponta de

pessimismo.

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ROMANCES DA PRIMEIRA FASE

Em Ressurreição, Machado já adverte: Não quis fazer romance de costumes; tenteio esboço de uma situação e o contraste de dois caracteres; com esses simpleselementos busquei o interesse do livro.

A trama é centrada em torno do Dr. Félix, que, apesar de não acreditar no amor, seapaixona por uma viúva, a bela Lívia, sendo emocionalmente instável e sacudido atodo momento por impulsões devido ao temperamento desconfiado e inseguro, oque leva Lívia a romper com a situação.

Em a Mão e a luva, narra-se a história de Guiomar, moça altiva e segura de si, queprocura, com frieza e cálculo, realizar o ambicioso plano de ascender socialmente,compensando a sua modesta origem. A obra relata com ironia o casamento, vistocomo troca de favores e movido pelo dinheiro e pela ambição.

Neste romance, já aparecem personagens com um certo grau de complexidadepsicológica, como Guiomar, a heroína, que tem a sua volta três pretendentes:Estevão, sentimental; Jorge, calculista; Luís Alves, ambicioso. A estes três junta-sea baronesa, sob cuja proteção encontra-se a órfã Guiomar e a inglesa Mrs. Oswald,dama de companhia.

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Em Helena, observa-se a temática da ambição social como elementocondutor da narrativa, mas a trama ainda guarda resquícios daestrutura folhetinesca do Romantismo.

A história gira em torno do Conselheiro Vale, um homem importantee rico, que mantém caso amoroso com uma mulher que tinha separado do marido devido a dificuldades financeiras. A mulher jápossuía uma filha, que, mais tarde, foi perfilhada pelo amante rico.

Helena sabe que não é filha do Conselheiro, mas aceitando asituação por interesse na herança, mas acaba se apaixonando porEstácio que, por sua vez, está comprometido com Eugênia, cujafamília está interessado na riqueza do rapaz.

No desfecho, Helena adoece e morre, antes revelando que amavaEstácio e que, na verdade, não era irmão dela, mas a felicidade dapossível união amorosa não se concretiza.

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Em Iaiá Garcia, o enredo se constitui de uma série de incidentesque giram sempre em torno do mesmo ponto, a realização ou a não-realização de um casamento. Todos os atos das personagens sãoconduzidos, de modo direto ou indireto, para a consecução ou parao impedimento desse objetivo.

O romance trata do conflito social entre as classes, aproveitandocomo eixo o romance entre Jorge, um cavalheiro de alta sociedadee Estela, uma jovem pobre. A adolescente Iaiá funciona comoobservadora dos fatos que se desenrolam à sua frente.

A mãe de Jorge, Valéria Gomes, viúva rica, não quer para seu filhouma esposa pobre e sem lustro social, a moça era filha de LuísGarcia, um ex-empregado de seu falecido pai.

Com o retorno de Jorge da guerra do Paraguai, sua mãe já morta,encontros e desencontros, risos e lágrimas, Jorge por fim acaba porse casar com Iaiá.

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A LINGUAGEM MACHADIANA E A

ESTRUTURA DOS ROMANCES

REALISTAS.

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AS OBRAS DA SEGUNDA FASE MACHADIANA

Memórias póstumas de Brás Cubas

Quincas Borba

Dom Casmurro

Esaú e Jacó

Memorial de Aires

A maioria dos contos

Nestas obras, Machado inova na linguagem e na estrutura,tornando-se, desta maneira, um precursor do Modernismo.

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Machado insere o leitor na

narrativa com o objetivo de

torná-lo cúmplice e ao mesmo

tempo ironizá-lo.

No diálogo com o leitor o

narrador metalinguisticamente

estabelece uma teoria da

narrativa, constituindo-se,

pois, numa inovação para a

época.

Começo a arrepender-me deste livro. Não que

ele me canse: eu não tenho que fazer; e,

realmente, expedir alguns magros capítulos para

esse mundo sempre é tarefa que distrai um

pouco da eternidade. Mas o livro é enfadonho,

cheira a sepulcro, traz certa contração

cadavérica: vício grave, e aliás ínfimo, porque o

maior defeito deste livro és tu, leitor. Tu tens

pressa de envelhecer, e o livro anda devagar; tu

amas a narração direita e nutrida, o estilo regular

e fluente, e este livro e o meu estilo são como os

ébrios, guinam à direita e à esquerda, andam e

param, resmungam, urram, gargalham, ameaçam

o céu, escorregam e caem...

DIÁLOGO COM O LEITOR/ O LEITOR INCLUSO

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O narrador onisciente do romance

realista com Machado penetra na

narrativa, dando

opiniões, comentando e participando

dos fatos narrados.

Essa atitude provoca

ambiguidade, com o narrador

oscilando entre primeira e terceira

pessoa.

Embora suas narrativas possuam um

narrador, percebe-se a presença de

várias vozes narrativas, o que

provoca uma polifonia.

“Este Quincas Borba, se acaso me fizeste ofavor de ler as Memórias póstumas de BrásCubas, é aquele mesmo náufrago daexistência, que ali aparece, mendigo,herdeiro inopinado, e inventor de umafilosofia. Aqui o tens agora em Barbacena.”

( ... )

“Se a guerra não fosse isso, taisdemonstrações não chegariam a dar-se, pelomotivo real de que o homem só comemora eama o que lhe é aprazível ou vantajoso, epelo motivo racional de que nenhuma pessoacanoniza uma ação que virtualmente adestrói. Ao vencido, ódio ou compaixão; aovencedor, as batatas.”

O NARRADOR INTRUSO, AMBIGUIDADE DO

FOCO NARRATIVO E A POLIFONIA

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INTERTEXTUALIDADE/CITAÇÕES

BIBLÍCAS, FILOSÓFICAS, CLÁSSICAS, PROVÉRBIOS

POPULARES E PARÓDIAS.CONSTANTEMENTE MACHADO USA DO RECURSO DA INTERTEXTUALIDADE PARA

EXPLICAR, JUSTIFICAR, IRONIZAR, SATIRIZAR E PARODIAR. AS IDEIAS ORIGINAIS

CITADAS SÃO DESMISTIFICADAS.

“Algum tempo hesitei se devia abrir estas memórias pelo princípio

ou pelo fim, isto é, se poria em primeiro lugar o meu nascimento ou

a minha morte. Suposto o uso vulgar seja começar pelo

nascimento, duas considerações me levaram a adotar diferente

método: a primeira é que eu não sou propriamente um autor

defunto, mas um defunto autor, para quem a campa foi outro

berço; a Segunda é que o escrito ficaria assim mais galante e mais

novo, Moisés, que também contou a sua morte, não a pôs no

introito, mas no cabo: diferença radical entre este livro e o

Pentateuco.”

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DIGRESSÕES/ COMENTÁRIOS/EXPLICAÇÕES

As narrativas machadianas são por natureza digressivas, ou seja, comentadas

e explicadas, recurso que favorece ao seu realismo atípico, bastante

preocupado com o entendimento dos comportamentos.

“Essa ideia era nada menos que a invenção de um medicamento sublime, um

emplasto anti-hipocondríaco, destinado a aliviar a nossa melancólica

humanidade. Na petição de privilégio que então redigi, chamei a atenção do

governo para esse resultado, verdadeiramente cristão. Todavia, não neguei aos

amigos as vantagens pecuniárias que deviam resultar da distribuição de um

produto de tamanhos e tão profundos efeitos. Agora, porém, que sou cá do

outro lado da vida, posso confessar tudo: o que me influiu principalmente foi o

gosto de ver impressas nos jornais, mostradores, folhetos, esquinas e enfim nas

caixinhas do remédio, estas três palavras: Emplasto Brás Cubas.”

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INTROSPECÇÃO/ O PSICOLOGISMO/ ANÁLISE PSICOLÓGICO-PSICANALÍTICA DAS

PERSONAGENS

A Machado interessa muito mais sondar a alma humana, entender seus comportamentos interiores

do que suas ações. São as chamadas narrativas interiorizadas, introspectivas. Esse recurso

machadiano antecipa as narrativas psicanalíticas do século XX.

LINGUAGEM LACUNAR/ LINGUAGEM ELÍPTICA/ O NÃO DITO

Considerado um recurso inovador, Machado contraria o conceito de racionalismo dos realistas ao

criar um discurso ambíguo e cheio de não ditos. Abre, portanto, para inexatidão dos fatos, deixando

o leitor em dúvida no desfecho das narrativas.

LINGUAGEM CORROSIVA – IRONIA FINA, HUMOR SUTIL E PERMANENTE, SÁTIRA E

PARÓDIA.

Machado antecipa a linguagem corrosiva dos modernistas ao criar um discurso que desconstrói as

ideologias vigentes, através de um senso de humor sem precedentes. Assim Machado cria uma

caricatura da sociedade que retrata, parodiando os costumes e as ideias.

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METALINGUAGEM

O narrador machadiano sente uma necessidade de explicar o narrado, principalmente suas inovações estruturais.

Os recursos intertextuais servem à metalinguagem.

QUEBRA DA ESTRUTURA LINEAR/ ENREDO NÃO LINEAR/ FLASH-BACK

O flashback por si só não provoca quebra, mas Machado abusa desse recurso, narrando não só no recuo, mas

também em ziguezague. Por isso quebra constantemente a sequência lógica e temporal.

CAPÍTULOS CURTOS/ MICROCAPÍTULOS DIGRESSIVOS

Os capítulos curtos, por um lado, são em decorrência da intenção de Machado em não querer enfadar o leitor

com longos comentários, mas, por outro, é um recurso que favorece aos comentários.

QUEBRA DA VEROSSIMILHANÇA

Contrariando as regras do Realismo, Machado quebra a verossimilhança na criação de elementos irreais, sem

lógica, como acontece com Brás Cubas que é um defunto autor.

A FUSÃO OBJETIVIDADE/SUBJETIVIDADE

As narrativas machadianas contrariam o Realismo de escola ao fundir objetividade e subjetividade. Em outras

palavras, os fatos são objetivos, mas a interpretação dada pelo narrador ou personagens é subjetiva.

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A TEMÁTICA MACHADIANA

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O ADULTÉRIO

A temática da infidelidade amorosa, em Machado, ocorre com os seguintes objetivos:

Desmistificar o chamado amor romântico.

Satirizar as relações sociais burguesas.

Desnudar as aparências sociais da sociedade burguesa.

Satirizar as relações sociais e culturais da sociedade burguesa.

A AMBIGUIDADE FEMININA

A exemplo de Alencar, Machado cria os chamados perfis de mulheres. São mulheres

dissimuladas, ambíguas, interesseiras e ardilosas.

Capitu – Dom Casmurro.

Vigília, Marcela, Dona Plácida – Memórias Póstumas de Brás Cubas.

Sofia – Quincas Borba.

Conceição – Missa do Galo.

Dona Severina – Uns braços.

Rita – A cartomante.

Ao contrário do que se pensa Machado não dá a essas mulheres um conceito negativo, mas

principalmente, uma atitude de defesa diante de uma sociedade machista e patriarcal.

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A FALTA DE GRANDEZA NO HOMEM: HIPOCRISIA, PERFIDIA, DISSIMULAÇÃO,

INTERESSE.

Machado possui uma visão radicalmente pessimista do ser humano. O homem é por natureza

mau caráter.

A DUALIDADE DO SER HUMANO / A CONTRADIÇÃO/ SER E PARECER

A visão machadiana sobre o homem é desidealizada. Segundo ele, o homem já traz em seu

interior um comportamento contraditório. Por isso, suas atitudes são de aparência,

escondendo evidentemente a sua essência. Para Machado, o homem tem inclinação a ser

mau-caráter.

A DÚVIDA, O TALVEZ

Machado é cético em relação à previsibilidade dos comportamentos humanos e das relações

sociais. Ao contrariar o que preceituava a ciência da época, Machado abre espaço para a

dúvida quando aos valores humanos e sociais autênticos.

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VISÃO METAFÍSICA RELATIVISTA DE TODOS OS VALORES HUMANOS.

A dúvida em relação aos comportamentos humanos e sociais proporciona a Machado a

relativizar as atitudes do homem e aos valores sociais. A autenticidade é uma questão

de conveniência.

O PESSIMISMO/ A VISÃO NIILISTA

Decorre de sua visão cética do homem e da sociedade. Para Machado, o homem e a

sociedade burguesa não abrem possibilidade de melhorar.

CONFUSÃO ENTRE RAZÃO E LOUCURA

Machado ironiza os conceitos de loucura do século XIX com duas narrativas

impecáveis: Quincas Borba e o Alienista. Em ambas percebe-se a inversão dos

conceitos de loucura. Os que pensam são loucos, e os que são loucos raciocinam.

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SÁTIRA AOS CONCEITOS CIENTÍFICOS E FILOSÓFICOS

Machado relativiza os conceitos das ciências e das filosofias do século XIX,

principalmente, no tocante á pretensão de verdade absoluta. Cético quanto a esta

questão, Machado ironiza os conceitos criando personagens e situações pelo avesso.

TEORIAS FREUDIANAS: PROIBIDO X PERMITIDO/ EXPLÍCITO X IMPLÍCITO/

DESEJOS REPRIMIDOS

Machado antecipa a psicanálise de Freud do século XX ao trabalhar com temas

desconhecidos e pouco esclarecidos em sua época. O desejo reprimido é o tema mais

explorado em seus romances.

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ANÁLISE DOS PRINCIPAIS

ROMANCES MACHADIANOS

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MEMÓRIAS PÓSTUMAS

DE BRÁS CUBAS

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O romance é narrado em primeira pessoa, narrador personagem Brás

Cubas, portanto, um defunto autor.

Brás Cubas é uma espécie de anti herói, que narra sarcástica e

ironicamente sua trajetória existencial desde sua sepultura.

A narração de Brás Cubas é eivada de ironia, mas uma ironia fina em que

se percebe a intenção de desnudar a aparência da sociedade em que viveu.

Brás Cubas faz um inventário das relações sociais, afetivas e políticas da

sociedade burguesa da segunda metade do século XIX.

Ganham destaque, por conseguinte, as relações com a

família, principalmente, com o pai que queria vê-lo casado e a brilhar como

deputado ou ministro.

As relações afetivas também são destacadas, principalmente, com

Virgília, Marcela, Eugênia e Eulália com as quais Brás Cubas namorou.

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No final de sua vida, Brás Cubas conhece Quincas Borba, mendigo inicialmente, e

depois, rico e filósofo. Tenta fazer Brás Cubas entender sua filosofia, que,

ironicamente, explica o fracasso do protagonista.

A filosofia de Quincas Borba, Humanitas, cujo desenvolvimento vai acontecer no

romance Quincas Borba, é baseada no aforismo: “Ao vencedor as batatas”.

Durante toda a sua trajetória existencial, Brás Cubas perseguiu a fama, o

reconhecimento e a celebridade, fracassando em todas as suas tentativas.

No desfecho tenta comercializar sua descoberta; o emplasto Brás Cubas, mas contrai

uma pneumonia e morre.

Mesmo diante do fracasso social e existencial, Brás Cubas se considera um

vencedor: “Não teve filhos, portanto não transmitiu a nenhuma criatura o legado de

nossa miséria” e também” não precisou do suor do rosto para ter o pão de cada dia”.

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Espécie de anti modelo, anti herói, personagem símbolo da ironia

machadiana quanto ao ideal burguês de "vencer na vida".

A figura de Brás Cubas constitui uma inversão da travessia dos heróis

burgueses, tematizados pela literatura racionalista.

Brás Cubas em toda a sua trajetória fracassa em sua tentativa de glória

e de riqueza.

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QUINCAS BORBA

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O romance é narrado em terceira pessoa, narrador onisciente, mas compassagens em que ele se torna intruso.

O romance acompanha a trajetória do modesto professor Rubião, que depobre se torna rico e depois volta a ser pobre.

Rubião mora em Barbacena, Minas Gerais, e além de professor cuida comoenfermeiro de Quincas Borba, um filósofo semilouco que já apareceu noromance Memórias Póstumas de Brás Cubas.

Ao morrer, na casa de seu amigo Brás Cubas, no Rio de Janeiro, Quincasdeixa toda a sua herança para Rubião que decide também morar no Rio deJaneiro.

Para ter toda a herança. Rubião terá também de tomar conta do cachorroQuincas Borba, condição para manter sua riqueza em mãos.

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Durante sua doença, o velho filósofo tenta ensinar a Rubião uma filosofia,

chamada de Humanitas que é uma sátira aos conceitos científicos do Positivismo

e do Darwinismo.

Humanitas conceitua o homem como sendo “o lobo do próprio homem” e tem

como máxima a frase “ao vencedor as batatas”.[

Rubião, muito ingênuo, não compreende a essência da filosofia, o que só vai ser

possível mais tarde quando fica louco.

De posse da riqueza, Rubião vai morar no Rio de Janeiro, onde é explorado por

um casal: Cristiano Palha e Sofia.

Enquanto Sofia engana Rubião fingindo namorá-lo, Palha subtrai todo o dinheiro

do ex-professor que fica totalmente pobre.

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Sem Sofia, que prefere trair o marido com Carlos Maria, Rubião

enlouquece paulatinamente, e volta para Barbacena.

Já em Minas, Rubião contrai uma pneumonia, e morre em companhia

do cachorro Quincas Borba a quem abandonou quando estava no Rio

de Janeiro.

Neste romance, Machado de Assis ironicamente critica o cientificismo

darwiniano e o positivismo de Augusto Conte, através da

pseudofilosofia, Humanitas.

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DOM CASMURRO

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Romance narrado em primeira pessoa, narrador personagem Dom

Casmurro.

Dom Casmurro é advogado sexagenário que leva uma vida solitária,

no Rio de Janeiro, e com uma intensa crise existencial.

Na tentativa de fugir ao tédio resolve escrever um livro, História dos

subúrbios, mas desiste, escrevendo a sua própria história.

Para escrever sua autobiografia, o velho escritor toma todas as

providências, inclusive fazendo uma casa igual a que morava na Rua

Matacavalos, na infância.

Seu grande objetivo é “restaurar na velhice a adolescência”.

Mas Dom Casmurro acaba se concentrando mesmo na história dele

com Capitu, com quem namorou e depois casou.

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O leitor percebe que a intenção do narrador é alinhavar provas contra sua ex-

esposa, que segundo ele o traiu com seu melhor amigo: Escobar.

Assim é que Dom Casmurro vai levantando algumas provas, num tom irônico e

satírico, da época em que se chamava Bentinho, desde seu tempo de menino, de

seminarista, de casado, até a separação.

As provas, segundo Dom Casmurro, são as semelhanças de seu único filho

Ezequiel com Escobar, provável amante de sua mulher, Capitu.

Na narrativa, Capitu aparece ao leitor pela visão de Bentinho, cujo melhor retrato

é dado pelo agregado José Dias: “Olhos de cigana, oblíqua e dissimulada.”

É também de José Dias outra frase insinuadora: “O filho do homem”, para se

referir a Ezequiel.

A personalidade de Bentinho se revela em suas confissões como sendo de um

homem ciumento e extremamente subjetivo o que lhe confere um status de “não

confiável”.

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No desfecho do romance, conclui suas confissões certo de que foi traído pela

esposa a quem abandona, inclusive ao filho que morre em Jerusalém.

Para o leitor, entretanto, as provas de Bentinho sobre o suposto adultério de

Capitu são, no mínimo, duvidosas e ambíguas.

Obra em que o leitor tenta desvendar o verdadeiro caráter do narrador de

primeira pessoa, Bentinho, que se revela não confiável, pois umbilicalmente

está envolvido com o que conta por sua personalidade ciumenta, invejosa,

cruel e perversa.

Bentinho destrói todos ao seu redor, inclusive, as pessoas que o amam, por

suspeitas que o leitor atento perceber serem no mínimo discutíveis.

A grande razão do romance é a sua construção formal ambígua, não dando

margem ao leitor fazer conclusões exatas sobre o acontecido.

O grande destaque desse romance é a personagem Capitu, com seus olhos de

cigana, oblíqua e dissimulada, e o próprio narrador que se revela ambíguo e

construtor de um ponto de vista unilateral.

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CONTOS, TEATRO, POESIA, CRÔNICA E CRÍTICA Os contos de Machado de Assis, em sua maioria, possui as características e

temáticas mais inovadoras do autor.

Cada conto é uma espécie de reafirmação da abordagem psicológica e dasinovações de linguagem e de estrutura que procede em sua obra.

Destacam-se O Alienista pela ironia ao Positivismo e ao Darwinismo, atravésda história de Simão Bacamarte, um cientista que trata da loucura de seuspacientes.

Em O Enfermeiro, a questão da consciência humana volúvel e do remorso écolocado à prova, através do enfermeiro Procópio depois do crime quecometeu.

Em Missa do galo, ganha relevo a questão do não dito, ou seja, a insinuaçãode um possível adultério da personagem Rita com um rapaz que morava emsua casa.

A mesma temática reaparece no conto Uns braços, em que Dona Severinavê-se tentada por um rapaz que é obcecado pelos braços da senhora.

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A poesia machadiana, por sua vez, apresenta estrutura formal impecável, o

que revela fortes influências parnasianas, mas os temas abordados giram em

torno da melancolia e tristeza romântica ou o seu conhecido pessimismo,

através de um tom filosófico.

Em suas peças teatrais, como O caminho da porta, O protocolo e Lição de

botânica revelam um Machado de Assis observador das relações sociais e

culturais do contexto em que viveu.

As crônicas de Machado são verdadeiros exercícios crítico do cotidiano do Rio

de Janeiro da segunda metade do século XIX, e, em alguns casos, se

aproximam do mesmo nível dos contos.

Seus textos críticos são de uma importância extraordinária para o

conhecimento de sua concepção de literatura brasileira, constituindo-se,

“Instinto de nacionalidade” seu texto principal, principalmente, porque aponta

como se construir uma literatura verdadeira nacionalista.

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A CAROLINA

Querida, ao pé do leito derradeiro

Em que descansas dessa longa vida,

Aqui venho e virei, pobre querida,

Trazer-te o coração do companheiro.

Pulsa-lhe aquele afeto verdadeiro

Que, a despeito de toda a humana lida,

Fez a nossa existência apetecida

E num recanto pôs um mundo inteiro.

Trago-te flores, - restos arrancados

Da terra que nos viu passar unidos

E ora mortos nos deixa e separados.

Que eu, se tenho nos olhos malferidos

Pensamentos de vida formulados,

São pensamentos idos e vividos.