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MACHADO DE ASSIS [1839-1908] Memórias Póstumas de Brás Cubas (1881) FUVEST / UNICAMP 2014

Memórias Póstumas de Brás Cubas (1881) · método: a primeira é que eu não sou propriamente um autor defunto, mas um defunto autor, para quem ... ele dava-me tudo o que eu lhe

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MACHADO DE ASSIS

[1839-1908]

Memórias Póstumas

de Brás Cubas (1881)

FUVEST / UNICAMP 2014

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PERSONAGENS

Quincas Borba

(humanitismo)

Sabina

Cotrim

BRÁS CUBAS

Dona Plácida

Virgília

Eugênia

Marcela

Lobo Neves

Nhá Loló

Prudêncio

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1. REALISMO CRÍTICO E MODERNO

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"defunto autor"

foco narrativo em primeira pessoa, mas

“distanciado” da história

1 A – NARRATIVA “SUBJETIVA”

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“Algum tempo hesitei se devia abrir estas memórias

pelo princípio ou pelo fim, isto é, se poria em

primeiro lugar o meu nascimento ou a minha morte.

Suposto o uso vulgar seja começar pelo nascimento,

duas considerações me levaram a adotar diferente

método: a primeira é que eu não sou propriamente

um autor defunto, mas um defunto autor, para quem

a campa foi outro berço; a segunda é que o escrito

ficaria assim mais galante e mais novo. Moisés, que

também contou sua morte, não a pôs no introito,

mas no cabo: diferença radical entre este livro e o

Pentateuco.”

(cap. 1 – Óbito do autor)

METALINGUAGEM – falar sobre a própria obra

[INTERTEXTUALIDADE: referência a outras obras]

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1 B – NARRATIVA FRAGMENTADA

"forma livre", "estilo ébrio"

digressões (desvios narrativos)

metalinguagem e intertextualidade

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DIGRESSÃO: narração fragmentária e

manipulação arbitrária do tempo e do espaço

[METALINGUAGEM:

a conversa com o leitor; a desfaçatez]

“Começo a arrepender-me deste livro. Não que ele

me canse; (...) Mas o livro é enfadonho, cheira a

sepulcro, traz certa contração cadavérica; vício

grave, e aliás ínfimo, porque o maior defeito deste

livro és tu, leitor. Tu tens pressa de envelhecer, e

o livro anda devagar; tu amas a narração direita e

nutrida, o estilo regular e fluente, e este livro e o

meu estilo são como os ébrios, guinam à direita

e à esquerda, andam e param, resmungam,

urram, gargalham, ameaçam o céu, escorregam e

caem...” (cap. 71 – O senão do livro)

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1. Capítulo 125 - Epitáfio

AQUI JAZ

DONA EULÁLIA DAMASCENO DE BRITO

MORTA

AOS DEZENOVE ANOS DE IDADE

ORAI POR ELA!

2. Capítulo 139 – De como não fui ministro de estado

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FORMA: CAPÍTULOS CURTOS E MODERNIDADE

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1 C – CRÍTICA AO CIENTIFICISMO

HUMANITISMO

sátira ao

Positivismo, ao

Evolucionismo e

ao Determinismo

esquemáticos

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“Ora bem; abre mão dos velhos preconceitos,

esquece as retóricos safadas, e estuda a inveja,

esse sentimento tão sutil e tão nobre. (...) O mesmo

direi do indivíduo que estripa a outro; é uma

manifestação da força de Humanitas. Nada obsta (e

há exemplos) que ele seja igualmente estripado. Se

entendeste bem, facilmente compreenderás que a

inveja não é senão uma admiração que luta, e sendo

a luta a grande função do gênero humano, todos os

sentimentos belicosos são os mais adequados a

sua felicidade. Daí vem que a inveja é uma virtude.”

(cap. 117 – O Humanitismo)

HUMANITISMO sátira ao EVOLUCIONISMO e ao POSITIVISMO

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1 D – USO CONSTANTE DA IRONIA

visão crítica e bem-humorada do

ser humano e da vida social

exercita

ambiguidade

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HUMOR: A IRONIA

1 . “Era meu o universo; mas, ai triste! não o era

de graça. Foi-me preciso coligir dinheiro,

multiplicá-lo, inventá-lo. Primeiro explorei as

larguezas de meu pai; ele dava-me tudo o que eu

lhe pedia, sem repreensão, sem demora, sem

frieza; dizia a todos que eu era rapaz e que ele o

fora também.”

(cap. 15 – Marcela)

2 . “... Marcela amou-me durante quinze meses e

onze contos de réis; nada menos.”

(cap. 17 – Do trapézio e outras coisas)

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2 – INVESTIGAÇÃO PSICOLÓGICA

E SOCIAL

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O HOMEM SOCIAL: O JOGO DE APARÊNCIAS

“Talvez espante ao leitor a franqueza com que lhe

exponho e realço a minha mediocridade; advirta que

a franqueza é a primeira virtude de um defunto. Na

vida, o olhar da opinião, o contraste dos

interesses, a luta das cobiças obrigam a gente a (...)

não estender ao mundo as revelações que faz à

consciência; (...). Mas, na morte, que diferença! que

desabafo! que liberdade! Como a gente pode (...)

confessar lisamente o que foi e o que deixou de ser!

Porque, em suma, já não há vizinhos, nem amigos,

nem conhecidos, nem estranhos; não há platéia. (...)

Senhores vivos, não há nada tão incomensurável

como o desdém dos finados.”

(cap. 24 – Curto, mas alegre)

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“Reconheço que [Cotrim] era um modelo. Argüiam-

no de avareza e cuido que tinham razão; (...). Como

era muito seco de maneiras tinha inimigos que

chegavam a acusá-lo de bárbaro. O único fato

alegado neste particular era o de mandar com

freqüência escravos ao calabouço, donde eles

desciam a correr sangue; (...) ocorre que tendo

longamente contrabandeado em escravos,

habituara-se de certo modo ao trato um pouco mais

duro que esse gênero de negócio requeria (...). Era

tesoureiro de uma confraria, e irmão de várias

irmandades, e até irmão remido de uma destas,

(...).”

(cap. 123 – O derradeiro Cotrim)

REALISMO SOCIAL: O BRASIL (RJ) NO SÉCULO XIX

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“Meu caro crítico, Algumas páginas atrás, dizendo

eu que tinha cinqüenta anos, acrescentei: ‘Já se vai

sentindo que o meu estilo não é tão lesto como nos

primeiros dias’. Talvez aches esta frase

incompreensível, sabendo-se o meu atual estado;

mas eu chamo a tua atenção para a sutileza

daquele pensamento. O que eu quero dizer não é

que esteja agora mais velho do que quando

comecei o livro. A morte não envelhece. Quero

dizer, sim, que em cada fase da narração da

minha vida, experimento a sensação

correspondente. Valha-me Deus! é preciso explicar

tudo.”

(cap. 138 – A um crítico)

A VERDADE ESCONDIDA NAS DIGRESSÕES

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“Um filho!Um ser tirado do meu ser! Esta era a

minha preocupação exclusiva daquele tempo. (...)

Eu só pensava naquele embrião anônimo, de

obscura paternidade, e uma voz secreta me dizia: é

teu filho. Meu filho! E repetia estas duas palavras,

com certa voluptuosidade indefinível, e não sei que

assomos do orgulho. Sentia-me um homem.”

(cap. 90 – O velho colóquio de Adão e Caim)

A PERSONALIDADE POR TRÁS DAS DIGRESSÕES - 1

“Uma tarde, após algumas semanas de gestação,

esboroou-se todo o edifício das minhas quimeras

paternais. Foi-se o embrião, (...).”

(cap. 95 – Flores de antanho)

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“Este último capítulo é todo de negativas. Não

alcancei a celebridade do emplasto, não fui ministro,

não fui califa, não conheci o casamento. Verdade é

que, ao lados dessas faltas, coube-me a boa fortuna

de não comprar o pão com o suor do meu rosto. (...)

Somadas umas coisas e outras, qualquer pessoa

imaginará que não houve míngua nem sobra, e

consegüintemente que saí quite com a vida. E

imaginará mal; porque, ao chegar a este outro lado

do mistério, achei-me com um pequeno saldo, que é

a derradeira negativa deste capítulo de negativas: -

Não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o

legado da nossa miséria.”

(cap. 140 – Das negativas)

A PERSONALIDADE POR TRÁS DAS DIGRESSÕES-2

[PESSIMISMO – CETICISMO]

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BRÁS CUBAS

um burguês egocêntrico,

vaidoso e fracassado que se

esconde por detrás da

petulância, das ironias e das

digressões

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3 – LEITOR CRÍTICO

o narrador chama o

leitor para julgar /

avaliar o livro, as

personagens, ele

próprio