MACIEL 2006 Eficacia GL Cinergis

Artigo Original Cinergis ISSN 1519-2512

Cinergis, V. 7, p. 113-122, 2006 113

AVALIAÇÃO DA EFICÁCIA DA GINÁSTICA LABORAL VALUATION OF EFFICACY ON LABOR GYNMASTICS

Marcos Gonçalves Maciel1

RESUMO

O presente trabalho investigou a eficácia de um programa de Ginástica Laboral como meio de promoção da saúde. Os resultados mostraram que o programa alcançou os objetivos propostos, como a melhoria do bem-estar geral, do clima organizacional, aumentou a disposição dos colaboradores para trabalhar, reduziu o stress e as queixas de dores musculares, dentre outros benefícios. Em virtude dos resultados demonstrados aconselha-se que as empresas adotem programas de exercícios físicos para melhorar a qualidade de vida de seus funcionários.

Palavras chaves: ginástica laboral, qualidade de vida, promoção da saúde, trabalho.

ABSTRACT

The present study searched the effects of a program in laboral gymnastics with workers, in order to achieve the promotion of health. The results showed the program reached its objectives, as the improvement of health, of work surrounding, increase on determination to work, decrease the stress and the complaints body pain, etc. In virtue of results showed, it is advisable the organizations adopt programs of physical activity to improve quality of live of their workers.

Keywords: laboral gymnastics, quality of life, health promotion, labor.

1 Graduado em Educação Física pela Escola de Educação Física, Fisioterapia e Terapia Ocupacional – UFMG. Especialista em treinamento esportivo pela Escola de Educação Física, Fisioterapia e Terapia Ocupacional – UFMG.


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1 INTRODUÇÃO

O mundo do trabalho sofreu profundas modificações desde o início da sociedade moderna, passando de tarefas artesanais e familiares, para a mecanização e automatização principalmente em grandes organizações. Assim, o ser humano teve que se adaptar ao novo ritmo e estilo de vida que as empresas lhe impunham, deixando de ter uma vida “pacata e autônoma” por uma “agitada e antinatural”, sujeitando-se às novas exigências do mercado. A respeito do trabalho moderno, Faria Junior (1990, p.105) declara que,

O ser humano passa a metade de sua vida ativa trabalhando em condições que não lhe permitem desenvolver-se, nem psicologicamente, nem fisicamente, é lícito reconhecer os efeitos nefastos que daí advém. Analisando-se o trabalho moderno, observa-se que na maior parte das vezes ele está preocupado unicamente em obter uma maior produtividade, sem considerar as necessidades, as possibilidades e as limitações do ser humano.

Como forma de compensar esse desgaste proporcionado pelo trabalho que já vem acontecendo há décadas e aumentar a produtividade, as empresas começaram a partir da metade da década de 80 a investir em ações que promovam a saúde e a qualidade de vida no trabalho. Segundo Aguiar (2000) no mundo mais de 20 mil empresas desenvolve alguma ação com esse objetivo. Dentre essas ações podemos citar as correções ergonômicas, medidas para melhorar o relacionamento interpessoal entre os colaboradores – para reduzir os conflitos pessoais que podem desencadear, por exemplo, o stress, a depressão, o isolamento social -, programas de prevenção de acidentes de trabalho, uma alimentação mais adequada, planos de saúde, programas de incentivo de mudança de um estilo de vida inadequado para um mais saudável – controle do peso corporal e dos riscos cardiovasculares, redução do tabagismo e etilismo e do sedentarismo -, dentre outras ações. Um dos meios adotados pelas empresas como promoção da saúde é a ginástica laboral (GL). Esta tem sido objeto de estudo em muitas pesquisas nos últimos anos no país (BATTISTI, GUIMARÃES, SIMAS; 2005; POHL, 2003; LIMA, 2003; BERGAMASCHI, DEUTSCH, FERREIRA, 2002; MARTINS, DUARTE, 2000; BARRETO, BARBOSA - BRANCO 2000; PIMENTEL, 1999) e tem obtido resultados favoráveis, comprovando ser um instrumento importante na prevenção de doenças osteomusculoligamentares, do stress e da melhoria da qualidade de vida no trabalho, dentre outros benefícios alcançados. Para Reis (1999) a GL busca a melhoria da qualidade de vida, considerando que essa atividade tem trabalhado as relações interpessoais, incentivando a inclusão de novos valores e hábitos de saúde e prevenção de doenças ocupacionais, e mobilizando a participação coletiva dos vários níveis hierárquico da empresa, proporcionando momentos de sorrisos e brincadeiras.

Segundo a literatura a GL tem como meta primordial o aspecto funcionalista, ou seja, compensar o trabalho realizado nas tarefas profissionais, como as posturas incorretas e cansativas - com ou sem repetitividade e uso de força - adotada pelos colaboradores durante a maior parte de do expediente. Ladeira (2002) declara que a ginástica deve ser planejada a partir da análise da organização do trabalho e das condições biopsicossocial dos trabalhadores; pois, essas situações podem desencadear dores musculares, problemas de má circulação, tensões musculares e psicológicas etc.

Para Reis (1999) durante o desempenho das atividades profissionais há um desgaste orgânico e um dispêndio de energia física, emocional e mental do trabalhador,


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em maior ou menor escala. Assim sendo, a prática de exercícios físicos específicos como proposto pela GL, ajudará na redução do desgaste proporcionado pelo trabalho, relaxando e alongando a musculatura, ativando a circulação sangüínea, ajudando na manutenção da homeostase e eliminação das tensões psicológicas. Pois, esses exercícios contribuem para a liberação da serotonina, que diminuem a depressão, e da endorfina, substância antiinflamatória e relaxante, deixando os músculos mais “relaxados”, provocando a redução das dores musculares. Isso contribuirá para a retomada das funções profissionais num nível satisfatório de desempenho.

Um dos fatores mais importantes para o sucesso da GL está relacionado à elaboração das séries. O planejamento dessa interferirá diretamente nos resultados alcançados, ou seja, se serão satisfatórios e compatíveis com os objetivos traçados. Para Pohl (2003) na elaboração da série GL “é fundamental a observação dos gestos profissionais executados durante as tarefas, pontuando os seguintes aspectos: movimentos segmentados, globais e as cargas dinâmicas e estáticas presentes”; Para Scherer (1997) a freqüência dos exercícios depende da carga horária e do gesto motor dos colaboradores; Blue e Conrad (1995) apud Ladeira (2002) enfatizam que os exercícios que compõem o programa de ginástica devem ser programados, considerando que a improvisação leva transtornos à saúde dos participantes. Essa improvisação, ou seja, a falta de planejamento implica deixar de trabalhar os músculos afetados por excesso de movimentos ou posturas inadequadas, e que necessitam de um trabalho específico, além de ser um dos fatores responsáveis pela evasão de trabalhadores praticantes da ginástica.

Tendo como objetivo investigar os benefícios da GL, foi realizada uma pesquisa com os trabalhadores de uma empresa do ramo automobilístico em São Joaquim de Bicas/MG, na qual realizavam esse programa havia seis.

2 METODOLOGIA

2.1 Participantes Um total de 127 funcionários de diversos setores – produção, ferramentaria,

almoxarifado, administração – em que a GL foi implantada responderam um questionário avaliativo a respeito da mesma, de forma livre e esclarecida.

2.2 Instrumento

Foi utilizado um questionário de múltipla escolha (idealizado para esse fim) contendo oito “perguntas fechadas”, abordando aspectos sobre a avaliação do estilo de vida dos funcionários; a satisfação, a adequação em relação ao expediente de trabalho e a participação na GL; os benefícios alcançados para a saúde através de sua prática.

2.3 Resultados

Para a análise dos dados foi utilizada a estatística descritiva e as tabelas representam as perguntas feitas aos funcionários. A tabela 1 apresenta a percepção dos funcionários em relação a melhoria do seu bem-estar geral com a realização dos exercícios. Segundo a literatura, a GL tem como objetivos promover a melhoria da saúde e da qualidade de vida no trabalho, do bem-estar, dos relacionamentos interpessoais, estimular a adoção de um estilo de vida mais


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saudável e fisicamente ativo, reduzir o desgaste psicofisiológico dos trabalhadores, (POHL, RECKZIEGEL, GOLDSCHMIDT, 2000; PIMENTEL, 1999).Os resultados apresentados demonstram a eficácia da implantação e manutenção da GL tendo alcançado os objetivos propostos.

Esse resultado pode ser atribuído entre outros fatores à metodologia utilizada – três sessões diárias, uma preparatória antes de começar o trabalho, e duas compensatórias durante o expediente, com duração de oito minutos cada, com troca das séries de exercícios a cada três semanas – foi eficaz na promoção da melhoria do bem-estar (90,4%).

Percepção subjetiva da melhoria

do bem-estar geral Não perceberam melhoria

do bem-estar geral. 90,4% 9,6%

Tabela 1. Melhoria do bem-estar geral.

A tabela 2 demonstra os benefícios alcançados pelos funcionários com a realização dos exercícios. Dentre os principais benefícios percebidos está o aumento da disposição para trabalhar (14,5%), a redução das dores musculares (13,8%), a aquisição de novos conhecimentos sobre a saúde relacionada à atividade física (11,9%), a melhoria do ambiente de trabalho (11,6%), a redução do cansaço físico (9,2%). Esses resultados podem ser atribuídos a um maior contato social entre os funcionários durante a GL (REIS, 1999); a adequação dos exercícios às características biomecânicas das tarefas laborais desempenhadas, trabalhando as estruturas osteomusculoligamentares corretas (LADEIRA, 2000); à realização diária dos exercícios (SCHERER, 1997), e em três sessões; a assiduidade dos funcionários em participar da GL (66,6%), bem como a elaboração de séries que despertou a motivação dos trabalhadores em particpar das mesmas (MACIEL, 2007).

Aspectos relatados %

Aumento da disposição para trabalhar 14,5 Redução das dores musculares durante o trabalho

13,8

Sente-se mais animado de um modo geral 12,3 Adquiriu novos conhecimentos 11,9 Melhorou o ambiente de trabalho 11,6 Reduziu o cansaço físico 9,9 Reduziu o stress 9,2 Passou a dormir melhor 9,2 Reduziu as dores musculares após o trabalho 7,5

Tabela 2. Benefícios alcançados com a ginástica. A tabela 3 apresenta a diminuição das queixas de dores musculares por

segmento corporal relatada pelos funcionários. Dentre essas reduções destacam-se as dores nas pernas (17,4%), ombro (17,1%), lombar (16,5%) e braços (15,9%). Esse fato pode ser atribuído além da adequação dos exercícios às tarefas laborais, às orientações feitas pelo profissional de GL em relação às posturas e movimentos realizados durante as tarefas, reduzindo a sobrecarga física sobre os músculos e articulações (PIMENTEL, 1999; BARRETO, BARBOSA-BRANCO, 2000).


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Região corporal % Pernas 17,4 Ombros 17,1 Costas/lombar 16,5 Braços 15,9 Pescoço 11,0 Mãos 8,8 Antebraços 4,3 Cabeça 3,6 Outros 4,9

Tabela 3. Redução das queixas de dores musculares. A tabela 4 demonstra a mudança do estilo de vida dos funcionários que

anteriormente não se exercitavam e passaram a se exercitarem após o início da GL, sendo que quase metade dos funcionários (47,5%) que participavam do programa de ginástica começaram a exercitarem durante o tempo de lazer. Um fator importante que pode ter auxiliado a atingir os benefícios relatados, é que além da GL, foram realizadas palestras e campanhas de conscientização sobre a importância da prática de uma atividade física regular para ser ter melhoria da qualidade de vida e da saúde. Em conversas informais com os funcionários, muitos disseram que passaram a realizar as séries de exercícios da GL em casa – alguns com a família, outros sozinhos -, outros iniciaram um programa de caminhada, ou entraram numa academia.

Mudaram de estilo de vida Não mudaram de estilo de vida

47,5% 52,5% Tabela 4. Mudança do estilo de vida.

A tabela 5 relata o interesse dos funcionários pela continuidade da GL na empresa. Devido aos benefícios alcançados e o interesse dos funcionários demonstrados em praticar os exercícios seria natural que o programa contasse com a aprovação dos funcionários para a sua uma continuidade. Os fatores que contribuíram para despertar esse interesse se devem a um bom diagnóstico laboral que permitiu traçar um planejamento adequado abrangendo desde a escolha do horário, do tempo das sessões, dos tipos de exercícios e a elaboração das séries, de forma que permitiu despertar a motivação dos funcionários.

Favoráveis à continuação

da GL Não Favoráveis à continuação

da GL 95,5% 4,5%

Tabela 5. Interesse dos funcionários quanto à continuidade da GL. A tabela 6 apresenta a opinião dos funcionários quanto à adequação dos horários

da GL em relação a possíveis transtornos que refletissem na realização do trabalho pessoal ou do setor. Pelos resultados apresentados, o acompanhamento técnico oferecido foi satisfatório de acordo com os funcionários, que na sua grande maioria o aprovou (84,5%). A realização de um estudo diagnóstico como sugerido por Maciel (2007) das características dos métodos de trabalho de cada setor pelo profissional da GL juntamente com as áreas de Segurança do Trabalho, Engenharia de Produção e chefias intermediárias permitiu a adequação dos horários da GL em função das peculiaridades do sistema de trabalho, possibilitando assim, a participação dos funcionários, sem interferir no andamento normal dos setores.


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A GL tem trazido transtornos A GL não tem trazido transtornos

15,5% 84,5% Tabela 6. Adequação dos horários da GL.

A tabela 7 demonstra a freqüência de participação dos funcionários nas sessões de ginástica. A grande maioria relatou participar quase sempre das sessões de GL, o que demonstra o interesse e a satisfação em relação à mesma, como já foi discutido nos itens anteriores. Mesmo aqueles que não tiveram uma maior freqüência (30,4%), mantiveram certo interesse em participar da mesma, o que por um lado é positivo, pois, demonstram que perceberam a importância da prática da atividade física como meio de socialização e saúde. Por outro lado, como o projeto foi avaliado seis meses após a sua implantação, essas pessoas podem ainda não ter criado o hábito de se exercitarem, segundo Weinberg e Gould (2004) durante esse período de tempo as pessoas que anteriormente eram sedentárias, ainda estão criando um processo de formação do hábito para a prática da atividade esportiva, sendo instável a sua participação.

Participação na GL %

Quase todas às vezes 66,6 Algumas vezes 30,4 Nenhuma vez 3,0

Tabela 7. Freqüência nas sessões da GL. A tabela 8 apresenta a satisfação dos funcionários em relação ao

acompanhamento feito pelo profissional responsável pela GL (88,1%). Esse resultado está relacionado diretamente a alguns fatores como a devida capacitação técnica e da experiência necessárias para conduzir a GL. Entendemos que esse profissional deve se preocupar em criar uma empatia com os funcionários, ou seja, ser capaz de promover um bom relacionamento interpessoal, ser gentil e atencioso, bem como transmitir segurança em suas orientações e prestar um acompanhamento de “perto”, estando sempre disponível para esclarecer as dúvidas e conhecer as dificuldades que estiverem acontecendo nos setores para a realização da GL, ou de alguma insatisfação em relação às séries de exercícios.

Satisfeitos com o acompanhamento

técnico Não satisfeitos com o acompanhamento

técnico 88,1% 11,9%

Tabela 8. Satisfação com o acompanhamento profissional da GL.

3 Conclusão A adoção de um programa de GL é benéfica à saúde dos trabalhadores, desde que devidamente bem administrado. Para tal, entendemos que deve ser feito um diagnóstico laboral criterioso; uma devida conscientização dos funcionários sobre a importância da prática de atividades físicas regulares como meio de promoção da saúde; um planejamento adequação das séries de GL – número de vezes ao dia/semana, duração e tipo de exercícios -; uma intervenção de “perto” do profissional de GL, dentre outros fatores.

Os principais benefícios alcançados pelos funcionários neste estudo foi a redução das queixas de dores musculares, uma maior disposição para trabalhar, uma


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redução do stress e cansaço físico, bem como a melhoria do ambiente de trabalho e o incentivo a adoção de um estilo de vida ativo fisicamente, corroborando com a de outros estudos.

Em virtude dos resultados apresentados, recomenda-se as empresas a adotarem ações que promovam a prática de atividades físicas no ambiente de trabalho, como a GL, como meio de proteção à saúde do trabalhador e melhoria da qualidade de vida no trabalho.

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