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Macro Ano 1 - Nº011 - Novembro 2010 - Brasil - R$5,90 - Europa €1,50 A revista brasileira de fotografia! A absurda provocação do olhar Entrevista exclusiva com James Natchway: O mais famoso fotógrafo de guerra da atualidade Homenagem aos fotojornalistas com imagens de André Dusek A fotografia cura depressão? Sacha Goldberger transformou sua avó na super Mamika Cobertura inédita da 21ª Bienal Internacional da Fotografia realizada há 21 anos na Grécia Perfil do fotojornalista Didier Lefèvre: ele ficou famoso ao narrar sua história nos quadrinhos

Macro - A revista brasileira de fotografia

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Revista fictícia criada como parte da disciplina de Diagramação na Universidade Estadual de Londrina. Orientação: Mário Benedito Sales.

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Page 1: Macro - A revista brasileira de fotografia

MacroAno 1 - Nº011 - Novembro 2010 - Brasil - R$5,90 - Europa €1,50

A revista brasileira de fotografia!

A absurda provocação do olhar

Entrevista exclusiva com James Natchway:

O mais famoso fotógrafo de guerra da atualidade

Homenagem aos fotojornalistas com

imagens de André Dusek

A fotografia cura depressão? Sacha

Goldberger transformou sua avó na super Mamika

Cobertura inédita da 21ª Bienal Internacionalda Fotografia realizada há 21 anos na Grécia

Perfil do fotojornalista Didier Lefèvre: ele ficou

famoso ao narrar sua história nos quadrinhos

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Edição 11 | Novembro 2010 | Macro 3

Nesta edição:

MacroA revista brasileira de fotografia!

Fotografia cura depressão?

Pág. 24

Editorial: A arte do olhar fotográfico - Pág. 4

Zoom: O papel do celular na fotografia - Pág. 5

Entrevista exclusiva com o fotógrafo de guerra

Pág. 10

Matéria especial sobre Fotojornalismo

Pág. 06

Perfil: Didier Lefèvre

Pág. 28

Confira a cobertura inédita no Brasil da Bienal Internacional da Fotografia realizada anualmente há 21 anos na Grécia

Pág. 17

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Macro | Novembro 2010 | Edição 11

MacroEditora chEfE E jornalista rEsponsávEl

Carmem Lúcia - MTb.10.756

rEdação

Diretor de redação: Alexandre CarbonieriRepórteres: Ravi Jaganatha, Heitor

Headbanger e Logato NeguEditor de arte: Lucas Godoy

publicidadE

Radha Damodara

assinaturas E atEndimEnto ao lEitor

Gerente: Rosa Teresan [email protected]

Consultores: Lúcio Chicarelli, Luciana Godoy, Romeu Fernandes, Mateus CamposTeleatendimento: 0800-549796Pela internet: www.revistamacro.com.brE-mail: [email protected]

administração

Paulino Benvenuto

imprEssão

Editora Voz do Povo

EditorialQual o segredo de uma

boa foto? A exposição certa, o foco preciso, o eq-uipamento adequado, as cores, a luz ideal, a escolha do cenário ou do assunto.. Mas a verdade é que a re-sposta é bem mais simples do que parece!

Para uma foto impres-sionar ela precisa, antes de tudo, nos falar à alma. E a ferramenta mais poderosa para isso é a composição. Claro que o conhecimento técnico ajuda mas no final é a forma que dispomos os elementos no quadro que

permite criar fotos que to-cam até mesmo os mais indiferentes.

Então, a dica é: coloque a máquina e o olhar fo-tográfico na bagagem e carregue-os para onde for. Aprenda a viver o momen-to com o olhar aceso, se apaixone, aponte a lente e disparare o diafragma. Ga-ranto que o resultado irá surpreender e encantar. A fotografia é uma arte pos-sível para quem a pratica em tempo integral, para quem a vive.

Lucas Godoy

A arte do olhar fotográfico

Olhar do leitor..Não concordei com a análise da Canon EOS 1000D. Entre as mais antigas ela é barata e acessível sim mas a lente que acompanha o kit original deixa a desejar se comparado ao kit Nikon D3000 que foi lançada logo depois, por exemplo, e acho que faltou comentar isso.

Fernanda TrapoEstudante de Jornalismo

Olá Macro! Gostaria de solicitar que vocês voltassem a publicar fotógrafos antigos como o José Oiticica Filho na 5ª edição pois são excelentes referências para nossa criatividade e nos enxem os olhos.

Franciele FaveroBióloga e professora

Escreva para a macro você também:[email protected]

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olhar do leitor, editorial, expediente

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Edição 11 | Novembro 2010 | Macro

opinião e notícias relevantes

Zoom Por Lucas Godoy

O artigo “Fotografia Por celu-lar”, publicado recentemente pela pesquisadora da Universidade Fed-eral da Bahia Karla Schuch Brunet é mais um reflexo do que tem sacudi-do o mundo da fotografia. O celular chegou para estabelecer um novo marco no ramo da fotografia?

A mobilidade permite registrar os fatos na hora em que aconte-cem, isso permitiu uma boa acei-tação desta pelo jornalismo. Um exemplo foi a publicação, no mês passado, do ensaio do america-no Damon Winter no Afeganistão pelo The New York Times. Para realizar as fotos ele usou apenas um iphone e garante que as-sim os militares ficaram mais a von-tade do que se estivesse com sua lente reflex em mãos.

Além disso, para outros muitos, a fotografia com o celular passa a ser algo completamente efêmero, algo para se usar como tela de fun-do ou enviar na hora aos amigos, sem a necessidade de armazenar no álbum de memórias, como tradi-

O papel do celular na fotografia

cionamente imaginamos a utilidade da fotografia.

Tem havido ainda alusões comuns no meio fotográfico ao fato de que a fotografia o celular poderá alcançar lugar importante na cultu-ra visual de nossa sociedade e que a baixa qualidade das imagens será superada em breve.

E justamente aí está a con-tradição que eu gostaria abordar no artigo desse mês. Não deve-mos apenas nos sentar e aguardar a fabricação de celulares perfeitos para a fotografia, nossa tarefa é a

de observar esse momento histórico. Em que essa cara-cterística de tecno-logia nova, barata e em desenvolvimen-to também habilita

novas possibilidades no campo da experimentação artística.

Assim como as Lomos foram consideradas a princípio câmeras de baixa qualidade para depois, até hoje, serem muito bem aceitas no campo da arte. Quem garante que isso não irá ocorrer com os celu-lares? Estejamos atentos, os celu-

lares estão aí e suas possibilidades ainda foram pouco exploradas.

Reparem nas distorções pos-síveis sem a edição de imagem, programando para registrar daqui a 3 segundos, por exemplo, e jogan-do o celular para cima. É só uma idéia, o convite fica aqui: a fotogra-fia com o celular pode render novas formas de ver o mundo?

“Não devemos apenas nos sentar e aguardar a fabricação de celulares

perfeitos para a fotografia”

Flash Por Nayara Ghundi

Antonio Bandeiras é ousadoO ator espanhol Antonio Ban-

deras mostrará pela primeira vez seu trabalho como fotógrafo na exposição “Segredos sobre negro”, aberta ao público nesta sexta-feira no Instituto Cervantes em Madri.

Para ele, as imagens retratam o universo da cultura espanhola sob o ponto de vista da feminilidade. Ele afirma que quer “apenas dar vazão às inquietações”. “Tenho 50 anos e muito por fazer”, declarou.

A mostra permanecerá em Madri até 21 de dezembro.

Morre Sibylle BergemannA fotógrafa alemã Sibylle Berge-

mann, conhecida por documentar com suas instantâneas a vida cotid-iana na extinta República Democ-rática Alemã (RDA) faleceu no dia 3 de novembro.

A frase “Me interessam as fron-teiras do mundo, não seu centro” foi um marco em sua forma de pen-sar a fotografia.

Suas fotos mais famosas resi-dem na revista de moda Sibylle e em sua documentação do dia a dia na Alemanha comunista na RDA.

“Me agrada o que é não é correto nos rostos e nas paisagens”

Sibylle Bergemann

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Foto: Sibylle B

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Foto: A

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Macro | Novembro 2010 | Edição 116

reportagem especial sobre fotojornalismo

Alma do fotojornalismo brasileiro

Composição

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Edição 11 | Novembro 2010 | Macro 7

reportagem especial sobre fotojornalismo

Para conquistar um espaço de destaque nas páginas de jornais, sites e revistas, os fotojornalistas se desdobram, correm, enfrentam empurra-empurra, sobem em cadeira, escada, muro, andam na enchente, imploram para entrar em prédios vizinhos ao local do fato e até mergulham

Fotos: A

ndré Dusek

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Macro | Novembro 2010 | Edição 11

FotojornalismoCenas desoladoras, lances

de futebol, detalhes de rostos, vio-lência urbana, acontecimentos so-ciais, estes são alguns aspectos do dia-a-dia do repórter fotográfico. O ambiente em que ele trabalha, até mesmo são mostradas pelas fotos que chegam aos jornais, revistas e exposições fotográficas.

O esforço de captar uma ima-gem que traduza os fatos tem início quando o pauteiro, aquele que rege suas andanças ou mesmo a sensi-bilidade do próprio fotógrafo, que obedecendo a um impulso pessoal, busca colocar em prática, em forma de trabalho, aquilo que ele sabe fazer melhor.

Numa primeira relação com a reportagem fotográfica no campo social emerge no fotógrafo a neces-sidade de aprofundar o seu trabal-ho, de se aproximar das pessoas. A emoção forte de entrar em contato com elas, descobrir seus anseios mais profundos revelados pela in-

timidade do olhar, muitas vezes, atônitos, clamando por justiça, solidariedade ou até mesmo, por esperança, tornam o repórter fo-tográfico numa testemunha ocular de uma realidade, muitas vezes, ig-norada pela nossa sociedade.

O profissional sabe que cada

reportagem especial sobre fotojornalismo

imagem traduz uma realidade par-cial, não traz todos ingredientes que a compõe. Mesmo um olhar triste ou alegre não dá a dimensão de sua dor ou felicidade, apenas incita. Entretanto para o fotógrafo, os primeiros cliques de sua câmera não escondem a emoção do conta-

Fotojornalistas se praparam na tribuna de imprensa do Maracanã

O COLEGUINHA

André Dusek

“Começou com uma brincadeira lá em 1978. Em locais como

Brasília, passamos horas juntos esperando a notícia acontecer.

Mas com o tempo, passei a arquivar essas fotos e hoje

tenho até um site para publicar minhas histórias e imagens dos

coleguinhas, que é como nós jornalistas nos apelidamos”

André Dusek nos presente-ou com as belas imagens que ilustram esta reportagem.

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Edição 11 | Novembro 2010 | Macro

reportagem especial sobre fotojornalismo

to, da descoberta daquelas pessoas simples que, à sua frente, se preo-cupam com a aparência pessoal e seus pertences.

Não são raros os momentos em que o repórter se sensibiliza. O contato com o cotidiano se torna um momento de transformação do

próprio fotógrafo.Entre a dualidade de emoções,

o repórter fotográfico, pode estar acostumado com as turbulências de um país instável, mas, certamente, é transformado diáriamente pelos seus registros que capta e a com-partilha com seus semelhantes na

tentativa de mostrar com os seus trabalhos um pouco do mundo real que cerca a todos.

Ser fotojornalista é poder co-brir situações do cotidiano e tam-bém captar imagens de pessoas que são constantemente marginali-zadas devido a inúmeros fatores – pobreza, cor, regionalismo, aparên-cia etc. São momentos difíceis, mas necessários e revigorantes para o fotógrafo: impressionar, captar o inesperado e sacudir a sensibilidade dos leitores com o cotidiano.

Quando este tipo de imagem é publicada, torna-se eterna pelo tal-ento do repórter fotográfico. Serve ainda como referência para lembrar o passado. A profissão, entretanto, não é fácil, após uma sessão de fo-tos é preciso retomar a vida familiar normal, e por mais emocionado que esteja o fotojornalista não deve se deixar tocar totalmente com a feliz ou cruel realidade que enfrenta e traduz diáriamente.

Lucas Godoy

Pablo Valadares registra em Brasília o protesto Fora Arruda em 2009 A satisfação após uma boa foto

Paulo César Boni

O PIONEIRO“Tenho a mais absoluta certeza

que estas fotografias só são o que são porque Haruo nunca pensou em comercializá-las;

fotografou pelo amor incondi-cional que tinha pela fotografia.”

O primeiro doutor em fo-tojornalismo do Brasil, e um dos maiores pesquisadores no tema atualmente, Paulo César Boni demonstra a essência do que é ser fotógrafo ao se referir ao trabalho de Haruo Ohara.

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Macro | Novembro 2010 | Edição 1110

entrevista

James Natchway: “Eu não me censuro”

Diafragma

Em entrevista exclusiva, o mais famoso fotógrafo de guerra, que cobriu conflitos e horrores em todo o mundo, pede para que eles não sejam esquecidos nem repetidos

Caminha devagar, suave e muito direito. É um homem sério, perfeccionista, totalmente comprometido com o fotojornal-ismo, descreve quem o conhece. James Nachtwey aparenta ser um solitário, apesar de definir a agência VII, por si fundada em 2001, como uma cooperativa de amigos; isto é, fotógrafos tão empenhados como ele na cober-tura de conflitos e causas sociais. Hoje, vive em Banguecoque. Vi-venciou o horror das guerras nos últimos 25 anos. O mostrou na edição luxuosa do seu segundo livro, Inferno (Phaidon Press). “Se olharmos para uma imagem de guerra, e ela não nos per-turbar, algo falhou?”, defende. A conversa tem muitas pausas, próprias de quem mede o que diz. James Nachtwey prefere, claramente, o silêncio das im-agens à prerrogativa de ser um homem de opiniões.

Por Leslye Trapo

Foto

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Edição 11 | Novembro 2010 | Macro 11

entrevista

África do Sul, 1992, jovem Xhosano cumpre ritual da passagem para a idade adulta

MACRO: Seu forte é o jor-nalismo de guerra, como vê fotos de outros gêneros?

JAMES NACHTWEY: Apre-cio-as pelo que são. Eu próprio fiz retratos, para entender o de-safio que implicavam. Mas me preparei para ser fotógrafo de guerra. Parecia-me ser este o uso mais importante da fotogra-fia. A guerra é a atividade que tem os efeitos mais profundos em populações numerosas. E isso tem de ser mu-dado. A fotogra-fia de guerra é, sob todos os aspectos, o mais difícil género de fotojornalismo: é preciso chegar ao lugar certo, na hora certa, ser capaz de lidar com os aspectos da sobrevivên-cia e ainda criar uma fotografia poderosa. Tudo isto num mundo caótico, violento, onde tudo está fora do controle. Que outra fo-tografia é tão desafiadora?

Mas muito mais fácil para o público…

É verdade. Essa outra fo-tografia tem mais espaço na im-prensa: são temas que não per-turbam, mais fáceis de olhar e mais vendáveis.. Vivemos num mundo visualmente orientado, em que ficamos sofisticados até no olhar. As fotografias falam.

Áfeganistão, 1986, Mujahedins jogam durante uma operação militar contra o exército soviético

Mas o desafio é conseguir que as fotos mais exigentes, como as de conflitos, sejam publicadas! Como convencer editores a dar espaço, quando os anunciantes quere, outro tipo de imagem? Há sempre tensão entre o market-ing e a responsabilidade social.

Qual seu critério para con-siderar uma fotografia forte?

O mais importante é o con-teúdo humano e emocional.

Isso é o coração e alma da imagem. E outra parte é o quão eloquente o fotógrafo conseg-

ue ser com a linguagem visual, a transmitir essa emoção. No meu caso, coloco a forma ao serviço

do conteúdo: quero a fotografia invisível e que o conteúdo salte.

Retoca as suas imagens, para as tornar mais fortes?

Quando fazemos a impressão, escolhemos o nível de contraste, o brilho, a escuridão, a profun-didade das sombras. Como se revela um negativo feito há cem anos? A dada altura, colocamos num quadro de luz e pensamos: “Que tipo de papel usar? Há cen-tenas de papéis. E o químico? Há dezenas.” Isso que é fotografia.

Vejo o negativo e o digital como pontos de partida para recriar um sentido de realidade. Não tento criar uma estética. Alguns fotógrafos gostam de grandes contrastes, sombras ne-

O capitão e fundador da ong Sea Shepard, famosa por atacar em alto mar caçadores ilegais de baleias, Paul Watson

“A fotografia de guerra é, sob todos os aspectos, o mais difícil género de

fotojornalismo”

Fotos: James Natchway

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Macro | Novembro 2010 | Edição 1112

entrevista

gras.. Mas o olho humano não vê assim: vê todos os pormeno-res, até nas sombras! E eu tento respeitar essa realidade.

Quando se deve parar a câmara e ajudar as pessoas?

Temos uma grande responsa-bilidade e temos que nos dedicar. Mas há alturas em que somos as únicas pessoa para ajudar. Não é um código moral, é humanidade básica. Qualquer um o faria. Não estou a dizer que tenho um qualquer código moral superior. Por exemplo, a maior parte das fotografias sobre a fome são fei-tas em centros de alimentação, onde as pessoas estão reunidas. É muito difícil encontrar vítimas de fome espalhadas pela pais-agem vasta. As pessoas vão lá, quando sabem que há comida a ser distribuída e é quando as fotografias são tiradas. Portanto,

essas vítimas já estão a ser aju-dadas; não há mais nada que um fotógrafo possa fazer. Mas já houve situações, quando trabal-hei em certas zonas costeiras, em que encontrei quem tentasse chegar ao centro de alimen-tação, estando demasiado fraco para conseguir percorrer o cam-inho e chegar lá. Nessa altura, eu próprio os levei.

Já baixou a câmara em uma situação horrível ou para conceder privacidade?

São questões diferentes. Se alguém me diz que não posso tir-ar-lhe uma fotografia, então não violo sua privacidade. A outra questão, o que posso dizer é que vejo situações tão horríveis, que preferia não as ver, mas entendo ser meu dever documentá-las. Guerras e problemas de saúde são sempre muito difíceis de ver,

mas é nossa responsabilidade olhar e interpretar para que out-ros vejam também. Proteger a nossa sensibilidade delicada e violar a nossa responsabilidade como jornalistas, não é correto. Eu não me censuro.

Não teme ser instrumen-

Rwanda, 1994 - Sobrevivente de um campo de concentração

..bombeiros buscam sobreviventes

Nova Yorke, 11 de setembro de 2001..

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Edição 11 | Novembro 2010 | Macro 13

entrevista

talizado por um dos lados ou prejudicar por fotografar uma situação?

É muito exagerada. É fácil acusar a imprensa, argumentan-do que a única razão por que um acto violento aconteceu é estar-mos lá. Não é verdade! Quem diz

isso são pessoas que promovem a violência e têm interesse e querem que ninguém veja a re-alidade. Se há uma guerra, não é por causa dos jornalistas; é pelas condições históricas, a re-pressão. A guerra é a resposta a isso. O registro não a provoca.

Mas as câmaras podem atiçar os ânimos?

Raramente vi isso. Por exem-plo, durante a revolta palestini-ana, o exército israelita dizia que não podíamos fotografar porque causaríamos mais violência. Isso é mentira. Às vezes, eles inter-ditavam o acesso pois não que-riam mostrar que justamente nesses dias eram mortos mais palestinianos. Nada contra os is-raelitas, é só um exemplo..

O que pensa sobre o jor-nalismo acessorado: em que só se vê o permitido?

Quando a América invadiu o Iraque seria impossível a cente-nas de jornalistas vaguear por sua conta e risco pelo campo de batalha. Portanto, é melhor que hajam mecanismos que permi-tam cobrir a guerra. Isso cria al-gumas limitações mas ao menos torna algum trabalho possível.

Você tem sempre um pon-to de vista?

Não acredito que exista tal objetividade. Há sempre uma bagagem individual – cultura, educação, história, família. Te-mos a nossa história interna.

Mas seu ponto de vista é americano?

Sou um americano. Mas não sinto que esteja, consciente-mente, a transmitir o ponto de vista americano. Não somos lim-itados pela nacionalidade, é ap-enas um fator entre outros.

Chechenya, 1996 - Ruínas no centro de Grozny

..bombeiros buscam sobreviventes

Nova Yorke, 11 de setembro de 2001..

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Macro | Novembro 2010 | Edição 1114

Você se vê como um mis-sionário contemporâneo?

Me vejo como alguém que tem um propósito. Tento revelar o que se passa e fazer agir. Não tento promover a religião ou a agenda política de outros.

Foi ferido no Iraque, você é viciado em adrenalina?

Não. A adren-alina é um fato, mas não é por ela que fotografo.

O 11 de Setembro acon-teceu no seu bairro. Isso in-fluenciou a forma de ver a guerra do Iraque?

Não creio na ligação direta entre o ataque a Nova Iorque e a invasão o Iraque. A ligação foi criada, mas não erareal. Es-tava na mente da Administração [Bush]. Hoje, já foi admitido por todos que era esse o caso. Esta

situação é uma trapalhada, o Iraque está numa posição ter-rível. Detesto dizer mas é difícil pensar como a situação poderá ser resolvida.

Fez exposições, livros em edição luxuosas. Há quem o acuse de se beneficiar da

tragédia?[Pausa] Tentei

criar uma consciên-cia sobre situações no mundo que gri-

tam por uma mudança. Esse foi o meu objetivo. Essas acusações seriam como dizer que um médico que não tem direito a rendimentos. Todos tem direito a ganhar com o que faz. O que ganho não é nada extravagante. Tenho de trabalhar muito, e me sujeitar a condições duras e ris-cos. Não percebo as bases des-sas acusações.

Recebeu a medalha de

ouro Robert Capa. Considera natural ser herdeiro dele?

Nunca diria isso de mim mes-mo. Mas sinto-me inspirado por ele. Entendo que ele foi um fo-tojornalista com consciência e propósito, e só por se colocar em situações duras e arriscadas sinto uma ligação.

Capa morreu em serviço. Teme que isso lhe aconteça?

Não chamaria de medo, mas respeito essa possibilidade

E no conflito, como lida

entrevista

Kosovo, 1999, impressão de um homem morto pelos sérvios

“Me vejo como alguém que tem um propósito. Tento revelar o que se

passa e fazer agir”

..relíquia da guerra civil vira diversão em um parque

Nicaragua, 1984..

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Edição 11 | Novembro 2010 | Macro 15

Alabama, 1994, prisioneiro no setor externo da penitenciária

entrevista

com o medo?Temos de controlar o medo.

Existe uma razão para ter medo: é um mecanismo de sobrevivên-cia, como a adrenalina, que a natureza deu a todos. Se somos por ele dominados não funcion-amos. Temos de ultrapassar os nossos próprios obstáculos emo-cionais – e o medo é um deles.

Qual seu maior medo?Eu diria que é falhar no que

faço. Não corresponder às min-has responsabilidades.

..relíquia da guerra civil vira diversão em um parque

Para saber mais sobre Natchway veja o documentário “Fotógrafo de guerra” lançado em 2001

Foto: C

élio Costa

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Macro | Novembro 2010 | Edição 11

capa

A absurda provocação do olhar

Ampliação

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Edição 11 | Novembro 2010 | Macro

capa

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A reportagem especial deste mês trás a cobertura completa da 21ª Bienal internacional da fotografia realizada na Grécia no mês passado. A ousadia e o experimentalismo foram as marcas registradas deste ano F

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Macro | Novembro 2010 | Edição 1118

capa

A Grécia e a fotografiaPouca gente sabe, mas a Grécia,

popularmente conhecida como o berço da democracia, da filosofia, das olimpíadas tem também uma longa tradição nas artes e, em es-pecial, na fotografia.

Para se ter idéia, já em 1987, a terra dos museus, fundaria o seu espaço histórico destinado à fo-tografia. O Museu fica lozalizado na metrópole de Thessaloniki e realiza há 21 anos a bienal internacional de fotografia.

Foi um orgulho participar do evento, além disso, esta matéria nos é significativa pois somos a pri-meira equipe de reportagem bra-sileira a cobrir esta bienal. Detal-haremos a seguir o funcionamento, a estrutura e também os principais destaques deste ano, a impressão que ficou é a melhor possível.

Por Lucas Godoy

A estrutura da BienalDe acordo com o diretor que

está a frente da mostra desde 2005, Vangelis Ioakimidis, o objetivo não é apenas o de conservar a história da fotografia grega e mundial, mas é principalmente “incentivar a produção contemporânea, seja ela documental ou artística de imagens fotográficas”.

Neste ano, a bienal reuniu 180 artistas de 35 países. O evento congrega exibições de trabalhos, grupos de trabalho e revisões de portifólios, premiações, lançamen-to de livros e leituras, colóquios e oficinas.

A mostra adota sempre um tema norteador. Em 2008 foi “tempo”, neste ano “local” e em 2011 será “discurso”. Essa temática central rompe os limites do museu e diversas ex-posições são monta-das em espaços culturais da cidade na região de Thessaloniki.

A equipeTodo ano, Ioakimidis convida um

grupo de pesquisadores, coleciona-dores e institutos para auxiliá-lo na

organização da mostra que, mesmo neste momento de crise, é patroci-nada integralmente pelo governo Grego. Recebendo apenas alguns apoios de outras organizações para as mostras descentralizadas e as premiações.

GaleriasAlém disso, todo ano há uma

programação paralela com o obje-tivo de não limitar os criadores ao tema central. É impressionante o que notamos, mas no período da mostra todas as galerias de arte da cidade apenas aceitam sugestões e somente exibem materiais rela-

cionados, direta ou in-diretamente, à arte da fotografia.

PremiaçõesIoakimidis nos expli-

cou ainda que as premi-ações foram criadas para incentivar os criadores a trabalharem também sobre os temas centrais. Como de costume, uma grande empresa in-ternacional financia estas premi-ações e neste ano a Epson assumiu

os custos e a responsabilidade. De acordo com o diretor execu-

tivo da empresa na Grécia, Henrics-sen Palatinaikos, esta foi a melhor forma encontrada para incentivar a produção de arte, mas não deixa de concordar que esta é uma parceria muito lucrativa, afinal, multinacion-al é uma das maiores fabricantes mundiais de impressoras fotográfi-cas e copiadoras.

A grandiosidade do museu grego da fotografia em Thessaloniki criado e mantido em funcionamento há 23 anos pela Grécia

“Neste ano, a bienal reuniu 180 artistas provenientes de 35

países”

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Page 19: Macro - A revista brasileira de fotografia

Edição 11 | Novembro 2010 | Macro 19

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A capital da região da Macedônia é belíssima durante a noite, toda iluminada e repleta de tentações para os turistas

Thessaloniki é a segunda maior cidade grega com 363,987 mil

habitantes somente na área central e 995,766 em toda região

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Macro | Novembro 2010 | Edição 112020

capa

Atividades educacionaisSe você acha que acabou, muita

calma, existiram uma infinidade de atividades educacionais na Foto Bi-enal de Thessaloniki. Essas atividades são divididas em níveis e todo amante da fo-tografia pode partici-ar de um evento, de acordo com seu nível e interesse.

Para começar, alguns partici-pantes são selecionados para par-ticipar de uma revisão de seus por-tifólios por profissionais renomados na área.

Além disso existem uma série de oficinas como de iluminação em es-túdio, técnicas fotográficas e com-posição, por exemplo.

Como se não bas-tasse tudo isso, al-guns grandes nomes da fotografia são convidados para pal-estrar e lançar seus livros no evento.

E, é claro, estamos falando da Grécia. Para fechar o cardápio, os participantes são convidados a in-tegrar excursões fotog´raficas pelo interior grego. Neste ano, estiver-am no roteiro as cidades de Alexan-

A conceituada fotógrafa holandesa de exteriores Laurien Vanden Hoven, de roxo, observa o andamento de sua oficina

..a melhor abordagem parao assunto escolhido

Ao ver que era brasileiros Hoven fez questão de posar para nós..

droupoli, Kastoria, Volos, Heraklion, Naoussa e Xanthi. Todas as cidades visitadas também receberam ex-ibições da mostra.

A Macro foi muito bem recebida e a mostra é um exemplo para o qual as organizações de qualquer tipo deveriam olhar com carinho e atenção.

As oficinas e palestrasForam cerca de 50 oficinas para

os mais diversos níveis de fotógra-fos. Até oficinas infantis acontece-ram. Estas, muito divertidas, volta-vam-se mais para a recreação, a educação social e a criatividade do que para a técnica, um bom exem-

“a mostra é um exemplo para o qual as organizações de

qualquer tipo deveriam olhar com carinho”

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esEstudantes discutem..

Page 21: Macro - A revista brasileira de fotografia

Edição 11 | Novembro 2010 | Macro 2121

capa

O workshop de conversão de fotografias em 3d foi concorrido e integrará matéria específica na macro do próximo mês

..a melhor abordagem parao assunto escolhido

..nesta divertida foto ao lado de seu companheiro Peter Hoven

plo de como a fotografia pode sim ser aplicada como método educa-tivo e de lazer.

A cultura da solidariedade e do amor à fotografia ficou evidente nos gregos. Todos querem opinar, fo-tografar e participar ativamente.

A brasileira Talita Trapo nos con-fessa que é apenas uma fotógrafa amadora e não tem intenção em se profissionalizar. “Estava de férias quando um amigo que está estu-dando aqui da Grécia me ligou e convidou para passar uns dias em sua casa, ele me disse que iria par-ticipar de algumas oficinas de fo-tografia e me explicou como eu de-

veria me inscrever. Estou adorando e também me encantei com a hos-pitalidade dos gregos, é a primeira vez que visito o país“. Ela disse também que no final de semana iria iniciar um tour pelo interior da Grécia e nos en-viaria algumas fotos de sua viagem.

Ainda no primeiro dia que estivemos aqui tivemos a oportunidade de assistir a palestra do fotógrafo de guerra James Natchway que, muito simpático e humilde nos conced-eria em seguida a entrevista pre-

sente nesta edição da Macro. No-tamos logo que ele é uma figura de presença, que fala pouco mas demonstra com clareza suas con-

vicções. Na ocasição ele também apre-sentou algumas de suas fotografias ti-radas em sua última viagem ao Congo. Imagens muito fotes, porém, para

nossa surpresa, algumas também eram bem divertidas e leves.

As imagens!Vejam a seguir algumas belas

fotografias expostas na mostra.

“Foram cerca de 50 oficinas para os mais diversos

níveis de fotógrafos. Até oficinas infantis

aconteceram”

Estudantes discutem..

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Macro | Novembro 2010 | Edição 1122

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A australiana Annelies de Mey criou uma proposta estética de explorar os espaços, a geometria e a cultura de massa e encantou a todos com suas capturas em preto e branco

Já o italiano Toledano Philip abusou dos efeitos em sua série de crítica social

Do museu da fotografia na Rússia, Rasmus Rasmussen, ousou em suas experiências

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Edição 11 | Novembro 2010 | Macro 23

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Imagens fortes da série “A água que não dorme“ produzidas pelo grego Theodoros Tempos

E parece o Brasil sim, mas é a grécia mais humilde nos olhos do grego Pavlos Pavlidis

Já a finlandesa Kari Soinio explorou deformações, desfoques e distorções

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Ensaio para curar a depressão

Exposição Por Sacha Goldberger Texto de Lugas Godoy

O Fotógrafo francês Sacha Goldberger descobriu que sua avó Frederika, 91, estava sofrendo de uma forte depressão

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Para ajudá-la a superar a doença, ele a fez protagonizar este divertido ensaio transformando-a na Super Mamika

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Macro | Novembro 2010 | Edição 11

O ensaio foi um sucesso: vovó Frederika Goldberger agora se diz completamente livre da depressão..

As fotos decolaram tanto que eles já estão na quarta edição da super Mamika

Ensaio deu uma força na carreira de Goldberger

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Edição 11 | Novembro 2010 | Macro

Ops, pequeno acidente na quadra de tênis..

E Frederika agora é sua garota propaganda

Superhomem não percebeu, mas..

..Batman está emabaixo da cama

Receita do sucesso: inovação, Goldberger fugiu da velha receita que busca um padrão estético e abusou do bom humor

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Macro | Novembro 2010 | Edição 1128

Didier Lefèvre: de observador a protagonista

Retrato

Lefèvre nasceu em 1957 na França e se formou como biólogo farmaceutico,

foi quando recebeu o convide para integrar a equipe dos Médicos Sem

Fronteiras. Aceitou imediatamente e, assim, sua vida mudou completamente

Acima, Lefèvre com sua máquina fotográficaAbaixo, foto que compõe seu primeiro livro

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Isso foi em 1984, quando publicou sua primeira reportagem fotográfica. A partir daí, não parou mais. Percorreu Afeganistão, Sri Lanka, Colômbia, Iran, Israel, vários países da África e produziu um material único

Afeganistão, 1986, o Hazara aterrorizado que estava guiando a equipe dos Médicos Sem Fronteiras

Zaire, 1991, bicicleta improvisada durante a ditadura de Mobutu, conhecida como uma das mais corruptas

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oto: Didier Lefèvre

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Macro | Novembro 2010 | Edição 11

Após publicar suas primeiras fotos em jornais, seu trabalho ganhou destaque em revistas francesas conceituadas como a LL’Express e Éditions Ouest France.

Seu trabalho seria finalmente consagrado e ganharia fama mundial de forma muito inova-dora. Produziu um livro em co-autoria com o amigo e renoma-do ilustrador Emmanuel Guibert e do designer Frédéric Lemer-cier. “O fotógrafo“ , lançado no Brasil pela editora Conrad. Ao final do terceiro volume ele conclui a missão de mostrar ao mundo a história e a cultura de um país arrasado pela pobreza e pela guerra durante a invasão soviética em 1986.

Didier Lefèvre faleceu subita-mente em sua casa no dia 29 de janeiro, em Morangis, na França, vítima de um ataque cardíaco.

Suas imagens, porém, estarão para sempre registradas na memória da humanidade.

ServiçoLivros: O Fotógrafo, vol. 1, 2 e 3Editora: ConradAutores: Didier Lefèvre, Emmanuel Guibert e Frédéric LemercierPreço: R$ 27,60 cada

“Ainda lembro do que a mulher do camponês disse ao Didier quando cobríamos uma história

em Burundi: “Você é muito simples para ser um repórter, você parece um

ser humano normal”Florence Aubenas

Jornalista do Le Nouvel Observateur

Hazaras descansam com o burro de carga antes de seguir viagem pelos árduos vales afegãos

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