Upload
hakhanh
View
214
Download
0
Embed Size (px)
Citation preview
UMA MACRO-ANÁLISE DA ECONOMIA BRASILEIRA:1991-2005
(Fevereiro, 2006)
Manuel Alcino R. da FonsecaProfessor de Economia e FinançasUniversidade Federal do Rio de JaneiroE-mail:[email protected]
Resumo
O objetivo principal deste artigo é usar um banco de dados econômicos e financeiros trimestrais para o Brasil, recentemente elaborado pela equipe de pesquisa de Planejamento Econômico e Financeiro (www.planejamento.org), para investigar as principais tendências macroeconômicas e financeiras no país nos últimos 15 anos. No artigo, as causas da estagnação econômica, que tem estado presente no Brasil na maior parte desse período, são investigadas.
Introdução
O ponto de partida deste artigo é a convicção de que o atual estado da economia brasileira
apresenta, de uma perspectiva macro, alguns importantes enigmas que, para serem
corretamente entendidos, precisam ser examinados de forma empírica, com maior atenção a
detalhes do que está normalmente disponível na maioria de artigos e livros. Por exemplo, o
baixo crescimento econômico crônico observado nas duas últimas décadas, e que se situa
Fonseca – Macro-Análise do Brasil – 2
em forte contraste com o padrão histórico de longo prazo. Além disso, a inflação se
mantém em um nível muito elevado – uma taxa anual média em torno de 10% desde 1995 –
apesar das políticas muito duras adotadas desde o início do plano Real, especialmente nos
mercados cambial, monetário e de trabalho – políticas que contribuíram para o frustrante
desempenho em termos de crescimento.
Essencialmente, o artigo lida com os fatores que explicamo o ciclo vicioso de inflação
relativamente alta, medidas econômicas recessivas, e baixo crescimento que se vem
autoperpetuando, especialmente depois de 1994.
O artigo é dividido em sete Seções, onde são examinadas variáveis macro e financeiras
específicas. Para cada Seção, um gráfico foi construído retratando as principais tendências
dessas variáveis em base trimestral, e servindo como ferramenta empírica para guiar a
análise. Além disso, uma Seção final também é apresentada, onde algumas conclusões são
elaboradas.
1. Crescimento econômico
A taxa de crescimento anual do PIB – que resulta da comparação dos valores de um
trimestre com o do ano anterior – e dados trimestrais do PIB em valores constantes
aparecem na Figura 1. A linha para as taxas de crescimento mostra uma clara tendência
cíclica, com períodos – do início até o final do ciclo – de três anos em média. Para os 14
anos de 1991-III até 2005-II, a taxa de crescimento média1 foi de 2,63%, um resultado
extremamente baixo seja em comparação com outras nações emergentes, seja em
perspectiva histórica.2
O crescimento econômico foi mais forte no período após o começo do Plano Real (até o
segundo trimestre de 1995),3 graças ao aumento do consumo privado (ver Seção 2). Depois
desse período, as taxas de crescimento sofreram grande redução – a taxa de crescimento
Fonseca – Macro-Análise do Brasil – 3
média de 1995-III até 2005-II foi de 2,39%. A Figura 1 deixa claro que, apesar do padrão
cíclico, a economia brasileira seguiu uma tendência inalterada de crescimento econômico –
tendência que se manteve em nível muito baixo.
As conclusões no parágrafo anterior, principalmente de que o padrão de crescimento
econômico não mudou desde 1995, encontram-se em forte oposição às análises feitas por
muitos pesquisadores e economistas profissionais.4 De acordo com essa visão comum,
todos os requesitos necessários para um crescimento mais forte estão presentes na
economia do país, e as causas para a frustrante performance verificada ao longo dos anos se
originam no setor externo – como na crise cambial de 1998 – ou no sistema político – como
na eleição de um presidente de esquerda em 2002.
No entanto, os dados econômicos contam uma história diferente, e o fato de que, desde
2003, o Brasil se beneficiou de um cenário extremamente favorável na economia global, o
que originou saldos comercias recordes em 2004 e 2005, sem nenhuma mudança
perceptível na tendência econômica de longo-prazo (ver Figura 1), apóia fortemente a
conclusão de que aqueles analistas estão errados – isto é, as causas da estagnação
econômica são domésticas, e estão firmemente enraizadas nas tendências econômicas que
prevaleceram no país na última década. O material nas Seções subseqüentes explora esse
ponto.
2. Tendência dos componentes de demanda
Os componentes da demanda final em valores constantes aparecem na Figura 2, que mostra
que, a partir do começo do Plano Real, ocorreu um grande aumento no consumo privado,
uma tendência que durou até o fim de 1996.5 O crescimento dos gastos privados foi o
principal fator por trás do forte crescimento do PIB naquele período, examinado na Seção
anterior. Na Figura, a linha de gastos dos consumidores mostra que, na verdade, essa
Fonseca – Macro-Análise do Brasil – 4
tendência de elevação teve início antes do começo do Plano, apesar de o padrão de
crescimento se ter acelerado posteriormente.
Outra tendência de crescimento desse período é mostrada na linha para o investimento (ver
Figura 2), com início em 1993 e término no último trimestre de 1994 – isto é, logo após o
início do Plano. A explicação mais provável para o fato de que a expansão do investimento
encerrou-se muito antes que a do consumo é que as taxas de juros, em termos reais, foram
mantidas em nível muito elevado no primeiro estágio do plano Real (ver Seção 5). Na
verdade, taxas de juros muito altas têm sido a regra, e não a exceção, a partir de 1994
(assim como antes desse período). Para uma visão clara do efeito no investimento, deve-se
ter em mente que os dados apresentados neste texto se referem aos juros pagos pelo
governo, referentes à dívida pública. As firmas estão sujeitas a taxas muito mais altas em
instrumentos de crédito, que normalmente têm períodos curtos de vencimento – um fato
que tem feito com que as firmas utilizem mercados de capitais internacionais e, portanto, se
submetam ao risco de desvalorização cambial.
O investimento teve redução ainda maior em 1999, depois da crise cambial, e novamente
em 2002, quando o presidente Lula da Silva foi eleito. Adicionalmente, é possível
identificar um padrão de longo-prazo de estagnação nos dados de investimento, já que a
taxa média de crescimento nos últimos 14 anos, iniciados em 1991-III, foi de apenas 1,94%
– ou seja, muito menor do que o resultado para o PIB. Na verdade, essa tendência é muito
provavelmente uma das causas principais do padrão de baixo crescimento discutido na
primeira Seção.
Uma das principais conseqüências do aumento no consumo privado que ocorreu no
primeiro estágio do plano Real foi o aparecimento de déficits comerciais (Figura 2). Esses
déficits inicialmente cresceram em ritmo elevado e posteriormente se estabilizaram,
ilustrando o fato que a produção doméstica aumentou menos que a demanda. Por outro
lado, a maior disponibilidade de produtos estrangeiros foi decisiva para o sucesso inicial do
Plano no combate à inflação (Fonseca, 1998). A balança comercial começou a se equilibrar
apenas após a crise cambial de 1999, e se tornou firmemente positiva, inicialmente, depois
Fonseca – Macro-Análise do Brasil – 5
da grande desvalorização cambial que acompanhou da eleição de Lula da Silva (ver Seção
7) e, posteriormente, devido ao aumento da demanda internacional.
3. Desempenho dos setores produtivos
Os dados em valores constantes para o PIB da agropecuária, da indústria e de serviços
aparecem na Figura 3. Tendências sazonais a parte, o gráfico ilustra padrões de crescimento
muito diferentes, com a agricultura superando os outros dois setores por uma grande
margem. De 1991-III até 2005-II, a taxa média de crescimento do setor primário atingiu
4,27%, em comparação com as taxas de 2,07% e 1,84% da indústria e serviços
(respectivamente). No caso do setor industrial, a valorização exagerada do real, que foi
proeminente até 1999 e de novo a partir de 2003 (ver Seção 7), e o conseqüente aumento da
competição com produtos estrangeiros explicam, pelo menos em parte, a frustrante taxa de
crescimento.
No caso da agricultura, porém, o aumento de demanda externa, especialmente depois de
1999, parece ter sido um importante fator no desempenho relativamente favorável. Os
dados das exportações brasileiras aparecem abaixo.
Tabela 1. Exportações Brasileiras – milhões de dólares
1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005Total 43.545 46.506 47.747 52.994 51.140 48.011 55.086 58.223 60.362 73.084 96.475 118.309
Variação (%) - - 6,8 2,7 11,0 -3,5 -6,1 14,7 5,7 3,7 21,1 32,0 22,6Bens
primários 10.835 10.512 11.899 14.472 12.977 11.828 12.562 15.342 16.952 21.179 28.518 34.722Variação (%) - - -3,0 13,2 21,6 -10,3 -8,9 6,2 22,1 10,5 24,9 34,7 21,8% do Total 24,9 22,6 24,9 27,3 25,4 24,6 22,8 26,4 28,1 29,0 29,6 29,3
Fonte: Banco Central do Brasil (www.bcb.gov.br).
Baseado nos contrastantes padrões de crescimento dos setores de produção, parece
apropriado concluir que o Brasil está caminhando para voltar a se tornar um grande
Fonseca – Macro-Análise do Brasil – 6
produtor e exportador de produtos primários, ao contrário da tendência observada nos anos
1970 e 1980, quando o setor industrial teve um papel predominante.6
4. Renda agregada e juros
Dados trimestrais para a renda nacional bruta – isto é, o PIB menos a renda líquida
transferida para estrangeiros – e os impostos sobre produtos e serviços aparecem na Figura
4. A taxa média de crescimento da renda nacional desde 1991-III até 2005-II foi de 2,50%,
um valor um pouco menor que a taxa de crescimento do PIB (ver Seção 1), o que revela
que ocorreu um aumento relativo de transferências externas no período.
A Figura 4 também inclui informações sobre a renda disponível, que foram obtidas dos
dados para impostos indiretos, disponíveis em base trimestral, e estimativas para impostos
diretos – essas estimativas foram baseadas nos valores anuais do PIB. O aumento médio da
renda disponível para os 14 anos com início em 1991-III foi de 1,90%, um resultado muito
inferior ao da renda nacional bruta. Esta última tendência revela o formidável aumento dos
impostos que ocorreu nesse período, especialmente depois do início do Plano Real, o que
foi apelidado de “massacre fiscal”.
O “massacre fiscal” é um importante fator por trás da estagnação do consumo privado que
ocorreu depois da fase inicial do Plano Real, e muito possivelmente também contribuiu
para o mau desempenho do investimento. Suas origens estão na crença por parte dos
formuladores de política (policy makers) brasileiros de que a estabilidade econômica
depende de forma crucial da capacidade do governo de produzir superávits fiscais,
necessários para o pagamento da dívida pública interna e externa. Na verdade, uma vez que
as taxas de juros sobre a dívida interna são muito altas, o governo brasileiro tem sido capaz
de produzir apenas superávits primários (que não incluem os pagamentos de juros) – ou
seja, apenas se os gastos correntes e as despesas de investimento forem levados em conta.
Por outro lado, quando os pagamentos de juros são devidamente considerados, o orçamento
Fonseca – Macro-Análise do Brasil – 7
do governo mostra déficits expressivos. Esse fato é ilustrado pelo forte crescimento da
dívida interna na última década. Esses dados aparecem na Tabela 2.
Tabela 2. Dívida Publica Interna e PIB – milhões de reais (valores correntes)
1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005Dívida Interna * 418.553 510.698 624.084 623.191 731.858 810.264 979.662
Variação (%) - - 22,0 22,2 -0,1 17,4 10,7 20,9
PIB † 973.8461.101.25
51.198.73
51.346.02
81.556.18
11.766.62
01.888.72
9% do PIB 43,0 46,4 52,1 46,3 47,0 45,9 51,9
* Dados para dezembro de cada ano. Em 1999, o valor é para janeiro de 2000. † O valor para 2005 inclui estimativa para o quarto trimestre.Fontes: Banco Central do Brasil (www.bcb.gov.br) e Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (www.ibge.gov.br).
Um dos principais fatores estruturais que vêm prejudicando o potencial de crescimento da
economia brasileira não é apenas o nível dos tributos, que aumentou consideravelmente,
mas também a natureza caótica da estrutura de impostos – existem dezenas de tributos que
são aplicados a firmas e a indivíduos. Isso está ilustrado no Apêndice 1.
Em relação ao gastos públicos, é de certa forma surpreendente que o consumo do governo
não tenha crescido a uma taxa elevada – tendo em vista a percepção geral de que o governo
brasileiro faz um mau trabalho no controle de despesas. A taxa média de crescimento dos
gastos do governo de 1991-III até 2005-II foi de 1,64%. Esse resultado, em contraste com o
crescimento da dívida mostrado na Tabela 2, indica que as transferências – que não fazem
parte das despesas correntes, e que incluem o pagamento de juros – tornaram-se o principal
componente dos gastos do governo.
5. Preços, salários e taxas de juros
A Figura 5 contém dados para taxas de juros acumuladas no trimestre ajustadas para
descontar a inflação – usando o Índice Geral de Preços (IGP-DI). Dados para o IGP-DI e
para um índice da renda média recebida por trabalhadores no setor industrial, produzido
Fonseca – Macro-Análise do Brasil – 8
pelo IBGE, também estão incluídos. Pode-se identificar na Figura uma tendência de longo
prazo de diminuição nas taxas reais de juros, que durou de 1991 até 2002. Em 2003, houve
um forte aumento nos juros reais, uma tendência que foi repetida em 2005.
Por outro lado, desde o começo do Plano Real, os salários no setor industrial cresceram
acima da inflação até o começo de 2000. Depois desse período, o nível dos salários
industriais (em valores nominais) foi crescentemente ultrapassado pelo nível médio de
preços – além disso, de 1996 até 2002, os salários nominais no setor industrial praticamente
não mostraram crescimento algum. Essa tendência pós-2000 coincide de forma aproximada
com o período de saldos comerciais crescentes, o que indica que, com a estagnação dos
salários, a demanda interna aumentou menos que a produção, e o crescimento do PIB ficou
cada vez mais dependente da demanda externa.
Outro fator que, após 2000, contribuiu para estimular a exportação foi a posição mais
favorável dos produtos brasileiros em relação à competição estrangeira devido a menores
custos de trabalho. Essa tendência, até certo ponto, compensou o efeito negativo sobre as
exportações causado pela subrevalorização cambial, o que tem ocorrido desde o começo de
2003 (ver Seção 7).
Uma conclusão que pode ser extraída da Figura 5 é que a aceleração da inflação que
ocorreu em 2002 definitivamente não foi causada por custos de trabalho elevados. Será
visto, na Seção 7, que a causa foi a aguda elevação do dólar, que está relacionada com a
eleição presidencial de 2002.
6. Oferta de moeda
Dados trimestrais do estoque de moeda (M1) – para o final do período – aparecem na
Figura 6, junto com valores para a participação do M1 no PIB e o índice de preços IGP-DI.
A principal conclusão que pode ser tirada da Figura é que o crescimento do M1 foi muito
Fonseca – Macro-Análise do Brasil – 9
superior à alta dos preços. Em outras palavras, ao contrário do que vem sendo afirmado por
muitos analistas (ver Nota 4), não existiu absolutamente nenhum controle monetário no
Brasil após o Plano Real. Isso apesar de taxas reais de juros muito elevadas (ver Seção
anterior) e de outras grandes restrições ao crédito bancário – especialmente o elevadíssimo
coeficiente de reservas compulsórias sobre depósitos à vista, que atualmente é de 45% (!).
Existem várias causas para essa falta de controle monetário, e provavelmente a mais
importante é o grande déficit no orçamento – quando os pagamentos de juros são levados
em consideração (ver Seção 4). Outro fator, que está ligado ao anterior, é a dívida interna
do governo, bastante elevada e em rápido crescimento. Em perspectiva, pode-se concluir
que a maior falha do Plano Real foi não ter equilibrado, logo no começo do Plano, a
estrutura de arrecadação e de gastos do governo (Fonseca, 1988). Esse problema foi
agravado na última década, especialmente devido aos pagamentos relacionados à dívida, e a
principal conseqüência foi que fortes pressões inflacionárias continuaram presentes no país.
Além disso, as políticas econômicas implementadas para reduzir a demanda, como taxas de
juros elevadas e controle de crédito, contribuíram para a estagnação econômica.
7. Mercado cambial
A Figura 7 contém cotações do dólar em reais (R$/US$) – preços para grandes transações,
que são divulgados pelo Banco Central – correspondendo ao último dia útil de cada
trimestre. Na Figura, também aparecem dados baseados no conceito da paridade do poder
de compra (PPC), e os meios de pagamento (M1). Os valores para a PPC foram derivados
da cotação do dólar em janeiro de 1994 – esse valor foi atualizado usando índices de preços
no atacado para o Brasil e os EUA.
Duas importantes conclusões podem ser tiradas da Figura 7. Primeiro, que o indicador da
PPC fornece uma boa aproximação para a tendência de longo-prazo do mercado cambial –
isto é, no longo-prazo, o valor do dólar em reais se ajusta ao valor baseado na PPC. Essa
conclusão indica que, dado o nível atual de valorização do real, grandes desvalorizações
Fonseca – Macro-Análise do Brasil – 10
devem ocorrer no futuro. Outra conclusão é que, como seria esperado da análise econômica
e financeira, a tendência de longo prazo do câmbio também é afetada pelo comportamento
dos meios de pagamentos.
As tendências observadas desde 2003 têm sido, até agora, importantes exceções na
conclusão geral do parágrafo anterior, e a principal explicação está na significativa
expansão da economia global, que aumentou os níveis da demanda externa e também
contribuiu para aumentos de preços no caso de muitos produtos exportados por firmas
brasileiras. O cenário atual é, por isso, muito diferente da tendência histórica – em
particular da situação na segunda metade da década de 90, quando a sobrevalorização do
real causou grandes déficits comerciais (ver Seção 2).
Outro fator que contribuiu para a queda do dólar desde 2003 é o aumento do fluxo de
investimentos financeiros nos mercados brasileiros, uma tendência explicada por taxas
domésticas de juros muito elevadas, ganhos favoráveis proporcionados pelo mercado de
ações e, mais recentemente, pelo consenso geral de que a moeda norte-americana está em
uma tendência prolongada de queda. Como se sabe, com base no comportamento dos
mercados financeiros, as expectativas são freqüentemente auto-realizadas e, neste caso, tem
proporcionado ganhos significativos aos investidores.
8. Conclusões
A principal conclusão das Seções anteriores é que, ao contrário das análises convencionais,
o Plano Real não eliminou as pressões inflacionárias. Na verdade, de certa forma, essas
pressões de fato aumentaram na última década, devido a maior dívida pública, deterioração
do orçamento do governo, falta de controle monetário, e grandes distorções no mercado
cambial. Além disso, o relativo sucesso no controle da inflação – isto é, em comparação
com tendências passadas, já que a taxa de inflação média se mantém ao redor de 10% –7
resultou da estagnação da demanda interna, especialmente no caso do investimento, e
Fonseca – Macro-Análise do Brasil – 11
também de grandes perdas nos salários reais, e da sobrevalorização do real. Este último
fator, combinado com taxas de juros extremamente elevadas, prejudicou o setor industrial,
que perdeu espaço para a agricultura.
Em geral, as tendências descritas nos parágrafos anteriores tiveram efeitos negativos em
termos de crescimento econômico – na verdade, o histórico de crescimento do Brasil na
última década foi frustrante. Dados trimestrais mostram que a economia do país manteve-se
em padrão dinâmico cíclico relativamente estável, com uma taxa de crescimento médio ao
redor de 2,5% – uma marca muito baixa, seja em comparação com outras nações
emergentes, ou em perspectiva histórica. Essa tendência insatisfatória teve efeitos sociais
fortemente negativos e também afetou o sistema político – discussões que, no entanto, estão
fora do escopo deste texto.8
Como comentário final, o governo brasileiro não perseguiu de forma efetiva os objetivos
normalmente associados ao crescimento e desenvolvimento, tais como melhor educação,
aprimoramento da infra-estrutura, e redução da desigualdade de renda. Em particular, neste
último ponto, o governo causou um aumento da desigualdade uma vez que, através da
estrutura de juros e despesas, transferiu, na prática, renda dos segmentos mais pobres da
sociedade para os mais ricos – os principais beneficiários das taxas de juros elevadas,
tendência esta que tem predominado na vida econômica brasileira.
Fonseca – Macro-Análise do Brasil – 12
PIB - Preços de Mercado(Milhões de Reais de 2004)
-6%
-4%
-2%
0%
2%
4%
6%
8%
10%
12%
1991
.I
1991
.IV
1992
.III
1993
.II
1994
.I
1994
.IV
1995
.III
1996
.II
1997
.I
1997
.IV
1998
.III
1999
.II
2000
.I
2000
.IV
2001
.III
2002
.II
2003
.I
2003
.IV
2004
.III
2005
.II
200
250
300
350
400
450
500
Taxa anual de crescimento PIBpm (eixo direito)
Figura 1. PIB – Preços de Mercado.
Componentes da Demanda Final(Milhões de Reais de 2004)
-40
-20
0
20
40
60
80
100
1991
.I
1991
.IV
1992
.III
1993
.II
1994
.I
1994
.IV
1995
.III
1996
.II
1997
.I
1997
.IV
1998
.III
1999
.II
2000
.I
2000
.IV
2001
.III
2002
.II
2003
.I
2003
.IV
2004
.III
2005
.II
100
120
140
160
180
200
220
240
260
280
Consumo do gov. Investimento
Saldo com ercial Cons . privado (eixo dir.)
Figura 2. Componentes de Demanda Final.
Fonseca – Macro-Análise do Brasil – 13
Setores Produtivos(Milhões de Reais de 2004)
90
110
130
150
170
190
210
230
250
1991
.I
1991
.IV
1992
.III
1993
.II
1994
.I
1994
.IV
1995
.III
1996
.II
1997
.I
1997
.IV
1998
.III
1999
.II
2000
.I
2000
.IV
2001
.III
2002
.II
2003
.I
2003
.IV
2004
.III
2005
.II
10
15
20
25
30
35
40
45
50
55
Indús tria Serviços Agropecuária (eixo dir.)
Figura 3. Setores Produtivos.
Renda Nacional(Milhões de Reais de 2004)
200
250
300
350
400
450
500
1991
.I
1991
.IV
1992
.III
1993
.II
1994
.I
1994
.IV
1995
.III
1996
.II
1997
.I
1997
.IV
1998
.III
1999
.II
2000
.I
2000
.IV
2001
.III
2002
.II
2003
.I
2003
.IV
2004
.III
2005
.II
9,0%
9,5%
10,0%
10,5%
11,0%
11,5%
Renda Nacional Bruta
Renda Disponível
Im postos sobre produtos (% do PIBpm, eixo dir.)
Figura 4. Renda Nacional.
Fonseca – Macro-Análise do Brasil – 14
Juros, Preços e Salários
-15
-10
-5
0
5
10
15
1991
.I
1991
.IV
1992
.III
1993
.II
1994
.I
1994
.IV
1995
.III
1996
.II
1997
.I
1997
.IV
1998
.III
1999
.II
2000
.I
2000
.IV
2001
.III
2002
.II
2003
.I
2003
.IV
2004
.III
2005
.II
0
50
100
150
200
250
300
350
Juros reais no período - CDI (%, eixo esq.)
IGP-DI (Ago./94=100)
Rem uneração m édia na indústria (3o. trim ./94=100)
Figura 5. Taxas de juros, Preços e Salários.
Meios de Pagamento e Preços
0%
5%
10%
15%
20%
25%
30%
35%
1991
.I
1991
.IV
1992
.III
1993
.II
1994
.I
1994
.IV
1995
.III
1996
.II
1997
.I
1997
.IV
1998
.III
1999
.II
2000
.I
2000
.IV
2001
.III
2002
.II
2003
.I
2003
.IV
2004
.III
2005
.II
0
100
200
300
400
500
600
700
800
900
M1/PIBpm (eixo esq.) IGP-DI (Ago./94=100) M1 (3o. trim ./94=100)
Figura 6. Moeda e Preços.
Fonseca – Macro-Análise do Brasil – 15
Câmbio e Meios de Pagamento
0
0,5
1
1,5
2
2,5
3
3,5
4
4,5
1991
.I
1991
.IV
1992
.III
1993
.II
1994
.I
1994
.IV
1995
.III
1996
.II
1997
.I
1997
.IV
1998
.III
1999
.II
2000
.I
2000
.IV
2001
.III
2002
.II
2003
.I
2003
.IV
2004
.III
2005
.II
0
100
200
300
400
500
600
700
800
900
Câmbio PPC (R$/US$) R$/US$ M1 (3o. trim ./94=100, eixo dir.)
Figura 7. Câmbio e Meios de Pagamentos.
Fonseca – Macro-Análise do Brasil – 16
Apêndice 1
Classificação dos impostos no Brasil
Classificação dos Tributos em Contas Nacionais
Impostos ligados à produção e à importação Impostos sobre produtos Impostos sobre o valor adicionado IPI ICMS Imposto sobre importação Outros impostos sobre produtos Imposto sobre a exportação Imposto operações de crédito, câmbio e seguro, mobiliários ou sobre operações relativas a títulos ou valores mobiliários Imposto sobre serviços Demais Outros impostos ligados à produção Impostos sobre a folha de pagamento Contribuição do salário educação Contribuição para Sesi, Sesc, Senai e Senac Demais Outros impostos e taxas sobre a produção Taxa de poder de polícia Taxa de prestação de serviços Contribuição p/ fundo investimento social (COFINS) Contribuições para o PIS / PASEP DemaisImpostos sobre a Renda e a Propriedade IRPF IRPJ Outros Impostos sobre a Renda e a Propriedade IPTU IPVA IPMF/CPMF Contribuição Social sobre Lucro de Pessoa Jurídica DemaisContribuições aos Institutos Oficiais de PrevidênciaContribuições Previdenciárias do Funcionalismo Público
Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Indicadores IBGE – Contas Nacionais Trimestrais, Indicadores de Volume e Valores Correntes. Julho/Setembro, 2005 (disponível em www.ibge.gov.br).
Fonseca – Macro-Análise do Brasil – 17
Apêndice 2
Dados Macroeconômicos Trimestrais – em milhões de reais de 2004
PIBCons.
PrivadoCons.Gov. Investi.
Var.Ações Export. Import.
Impos.Ind.
Impos.Diretos
1991.I 280755 158476 58768 58082 -3498 27118 18190 25909 370981991.II 320208 176550 67133 66734 2948 30290 23448 30380 370981991.III 341807 197283 76163 74111 -4859 26351 27243 33371 370981991.IV 318585 180689 70125 62354 6366 27243 28193 30601 370981992.I 297797 169520 67465 58370 -4321 29118 22356 27152 372501992.II 313029 172839 68356 60784 4580 30244 23774 28974 372501992.III 325795 184133 72592 63121 -2383 34720 26389 30679 372501992.IV 317898 181475 71502 61702 -3115 35285 28951 30643 372501993.I 307442 175533 67798 60345 -4410 33483 25307 28763 364841993.II 330664 183562 71003 66296 4401 35498 30096 31874 364841993.III 345146 194303 75225 67345 6705 39391 37822 34065 364841993.IV 333067 186827 72359 65446 7740 36108 35413 32867 364841994.I 319802 183045 66076 67146 1472 32760 30696 30190 428361994.II 339091 185846 67086 68565 12694 38997 34098 32538 428361994.III 365216 208185 75172 74824 2502 41727 37193 35763 428361994.IV 369242 218676 78995 85869 1741 36784 52823 39139 428361995.I 354260 215982 72659 83476 -1662 33206 49400 37335 529091995.II 363499 209737 70591 82825 16947 36507 53107 38696 529091995.III 371490 218587 73596 76771 12435 40726 50626 37969 529091995.IV 362906 220763 74341 74941 5265 36775 49179 38089 529091996.I 346395 207060 68130 73179 3974 35227 41175 34840 646601996.II 368680 214073 70438 79726 15006 38781 49343 37896 646601996.III 394836 238891 78603 84820 10742 39907 58127 41417 646601996.IV 380885 237143 78038 84093 11947 34233 64569 41629 646601997.I 362688 221531 72173 82462 5016 35271 53765 37377 688581997.II 386409 226812 73902 88783 15403 44400 62891 41451 688581997.III 402234 240640 78404 92108 13827 46681 69425 44076 688581997.IV 388219 236268 76961 88495 13335 38315 65155 42286 688581998.I 365778 220978 74068 84875 6116 38169 58429 37905 724611998.II 393089 224171 75205 90264 19319 45599 61469 40971 724611998.III 402452 240426 80824 90894 11892 46013 67597 43231 724611998.IV 380260 232682 78537 84676 6417 40986 63038 40914 724611999.I 368774 217766 74939 79020 5281 39344 47576 36252 722491999.II 391746 222084 76728 82558 15345 46946 51914 39740 722491999.III 400517 236750 81988 82194 4953 49343 54711 41719 722491999.IV 392683 237946 82506 81536 -2611 50926 57620 41680 722492000.I 388219 224100 79621 78938 8604 47010 50053 40002 724952000.II 408289 232379 79301 85417 16578 51011 56397 42576 724952000.III 417060 245814 80379 87178 11695 56965 64971 44471 724952000.IV 407914 247348 80871 88269 5119 51337 65030 44039 724952001.I 403233 234520 80618 87062 9664 52442 61074 43355 756242001.II 416248 240390 80299 87268 11299 59015 62022 43768 756242001.III 418683 238998 80950 88063 10628 60158 60115 44347 756242001.IV 404606 240800 81376 81008 -370 57907 56115 42845 756242002.I 400236 231968 82081 78602 6289 51282 49985 40757 79837
Fonseca – Macro-Análise do Brasil – 18
2002.II 421211 239498 81496 81276 18016 53507 52581 43451 798372002.III 430949 239195 82014 84930 7563 73099 55851 44860 798372002.IV 421960 240533 82034 84306 -3221 69775 51467 43907 798372003.I 406229 229488 82526 78506 5470 57452 47213 41242 744402003.II 421336 229524 82932 73995 18152 66255 49522 41979 744402003.III 430138 234609 83338 78444 14100 72553 52906 43569 744402003.IV 425830 243548 83131 81296 992 73574 56712 44320 744402004.I 422491 233164 83165 79952 10085 69247 53122 42914 744402004.II 442779 239319 81775 83943 16374 77907 56539 45539 744402004.III 455451 247081 83604 93568 7759 85727 62288 48387 744402004.IV 445900 255681 83790 88872 -3982 85506 63966 48279 744402005.I 434289 240818 84082 81756 8557 78680 59604 44936 744402005.II 460476 246778 84282 87274 17867 87990 63715 48239 744402005.III 459883 253932 84687 91607 1577 96248 68169 49748 74440
PIB Agric. PIB Indust. PIB Servs.1991.I 21415 97271 1614001991.II 26927 118948 1739501991.III 26317 131865 1815041991.IV 23972 116549 1768881992.I 24006 103516 1685561992.II 28202 109424 1736041992.III 26881 118704 1779601992.IV 24368 113398 1756781993.I 22583 109042 1702851993.II 26957 120199 1775621993.III 28769 126675 1821091993.IV 25067 120349 1780811994.I 22984 114580 1722561994.II 27660 122736 1779951994.III 31029 135341 1856001994.IV 27341 135654 1849611995.I 23252 130081 1797921995.II 29056 128587 1825411995.III 33103 131274 1844251995.IV 28044 128077 1833881996.I 24687 122087 1779601996.II 30815 130266 1854791996.III 33065 145606 1925671996.IV 28421 137056 1906831997.I 25993 129316 1846841997.II 30985 139512 1913571997.III 31515 149209 1959721997.IV 27521 141852 1937251998.I 24775 130973 1868111998.II 34230 141134 1940361998.III 32469 146718 1980641998.IV 26015 135283 1937941999.I 29328 125482 191391
Fonseca – Macro-Análise do Brasil – 19
1999.II 35850 135248 1969061999.III 33532 142211 2001211999.IV 28564 138851 1998272000.I 32036 131587 1998962000.II 37368 141528 2041312000.III 33159 148780 2078482000.IV 27446 145942 2063092001.I 33678 138226 2045812001.II 38861 142315 2088162001.III 34626 145976 2105792001.IV 30333 138457 2085392002.I 35497 133174 2071912002.II 41384 143509 2108732002.III 37008 152012 2150042002.IV 31223 150807 2129122003.I 39087 134634 2089542003.II 44188 141354 2119622003.III 35769 153240 2151252003.IV 32581 150692 2151082004.I 41347 141979 2138802004.II 46842 150217 2187722004.III 37881 163968 2239242004.IV 33573 159578 2228172005.I 42413 146428 2185482005.II 48340 158500 2245112005.III 37175 164617 227329
Fonte: Cálculos baseados em dados originais do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (www.ibge.gov.br).
Fonseca – Macro-Análise do Brasil – 21
Bibliografia
Baer, Werner. The Brazilian Economy: Growth and Development, 4a ed. Westport-Connecticut, Praeger, 1995.
Chafee, Wilber Albert. “Desenvolvimento”: Politics and Economy in Brazil. Boulder-Colorado, Linne Rienner, 1998.
Fonseca, Manuel Alcino R. da. “Brazil’s Real Plan”. Journal of Latin American Studies, vol. 30, n. 3, Outubro 1998, pp. 619-39.
__________. “Analysis of Brazil's Macroeconomic Trends”. Em J. Guilhoto e G. Hewings (eds.), Structure and Structural Change in the Brazilian Economy. Aldershot-Hampshire, Ashgate, 2001.
1 Média geométrica.2 Até a década de 1980, o Brasil esteve entre os países com as maiores taxas de crescimento do século XX.3 A nova moeda, o real, foi introduzida em primeiro de julho de 1994.4 Estas ánalises estão disponíveis em artigos relativamente superficiais escritos por acadêmicos brasileiros, que são publicados rotineiramente em “O Estado de São Paulo” e no “Valor Econômico".5 Os dados de consumo incluem variações de estoques.6 Sobre o processo de industrialização em períodos anteriores, ver Baer (1995).7 De acordo com o índice IGP-DI, a inflação média de 1995 a 2005 foi de 10,8%.8 Sobre estas questões, ver Chafee (1998).