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Momentos de instabilidade política em Moçambique - uma cronologia (1ª parte) Saiba quais foram os momentos mais marcantes que levaram à crise entre o maior partido da oposição em Moçambique, a RENAMO, e o Governo da FRELIMO. Soldados zimbabueanos patrulham a linha ferroviária do Corredor da Beira durante a guerra civil (foto de 1987) Uma síntese desta cronologia encontra-se no artigo: Doze momentos-chave do conflito entre a RENAMO e o Governo de Moçambique . A segunda parte desta cronologia encontra-se aqui: Cronologia do conflito entre a RENAMO e o Governo de Moçambique (2014-2016) 1975

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Momentos de instabilidade política em Moçambique - uma cronologia (1ª parte)Saiba quais foram os momentos mais marcantes que levaram à crise entre o maior partido da oposição em Moçambique, a RENAMO, e o Governo da FRELIMO.

Soldados zimbabueanos patrulham a linha ferroviária do Corredor da Beira durante a guerra civil (foto de 1987)

Uma síntese desta cronologia encontra-se no artigo: Doze momentos-chave do conflito entre a RENAMO e o Governo de Moçambique.

A segunda parte desta cronologia encontra-se aqui: Cronologia do conflito entre a RENAMO e o Governo de Moçambique (2014-2016)

1975Ao fim de mais de uma década de guerra de libertação, a República Popular de Moçambique é proclamada a 25 de junho por Samora Machel, Presidente da Frente de Libertação de Moçambique, FRELIMO, e primeiro Presidente do país. A Revolução dos Cravos, que, a 25 de abril do ano anterior, tinha derrubado a ditadura em Portugal, abriu o caminho para a independência das então províncias ultramarinas (à exceção da Guiné-Bissau, cuja independência foi proclamada unilateralmente a 24 de setembro de 1973, reconhecida internacionalmente, mas não por Lisboa) e a assinatura dos Acordos de Lusaka, a 7 de setembro de 1974, entre o Estado português e a FRELIMO. Na capital

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da Zâmbia é reconhecido o direito à independência do povo moçambicano e acordada a transferência de poderes. A FRELIMO assume o poder e declara Moçambique um estado monopartidário marxista.

1976Eclode uma guerra civil entre o Governo da FRELIMO e os rebeldes da RENAMO, a Resistência Nacional Moçambicana. O conflito dura 16 anos. A maior parte deste período inclui-se na Guerra Fria, que se reflete nos apoios recebidos por um e pelo outro lados: a FRELIMO, de orientação marxista a partir de 1977, é apoiada por países como a União Soviética, enquanto a RENAMO recebe assistência da África do Sul a partir de 1980, depois do colapso da Rodésia (atual Zimbabué).

A República Democrática da Alemanha (RDA), a Alemanha Oriental, ajudou o Governo da FRELIMO. Na foto: tratores para os países socialistas de África na fábrica "Traktorenwerk Schönebeck"

1990A FRELIMO abandona a ideologia marxista e revê a Constituição do país. O novo texto prevê um sistema político multipartidário. O país abre-se para uma economia de mercado. Governo e rebeldes reiniciam negociações no sentido de chegar a um cessar-fogo. Já antes, em 1984, as duas partes do conflito tinham assinado um cessar-fogo sob o Acordo de Nkomati. A condição, imposta no acordo, de que a FRELIMO retiraria o seu apoio ao Congresso Nacional Africano, ANC, e a África do Sul, por sua vez, o seu à RENAMO nãosobrevivera muito tempo e este primeiro cessar-fogo saíra frustrado.

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1992FRELIMO e RENAMO assinam o Acordo Geral de Paz a 4 de outubro, em Roma, Itália. No fim da guerra, contam-se mais de um milhão de mortos, a economia moçambicana está de rastos e o país é considerado o mais pobre do mundo.

O Acordo Geral de Paz foi possível, a 4 de outubro de 1992, através de muitos mediadores

1994A FRELIMO vence as primeiras eleições multipartidárias com 44% dos votos contra 38% da RENAMO. Joaquim Chissano é reeleito Presidente da República. Chissano tinha assumido o cargo, depois da morte de Samora Machel num acidente de avião em 1986.

2000Mais de 40 pessoas são mortas em tumultos durante protestos da RENAMO contra as eleições de 1999, nas quais Chissano tinha sido, mais uma vez, reeleito contra o seu adversário da RENAMO, Afonso Dhlakama. O maior partido da oposição protesta contra alegada falta de transparência no escrutínio, enquanto observadores internacionais afirmam que este foi livre e justo.

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2009O líder da RENAMO, Afonso Dhlakama, ameaça recomeçar a guerra depois de voltar a perder as eleições presidenciais contra Armando Emílio Guebuza, candidato da FRELIMO. Em 2005, Guebuza tinha sido nomeado chefe de Estado, depois de vencer as presidenciais de novembro do ano anterior. A RENAMO volta a acusar a FRELIMO de fraude perante o resultado: 75% para Armando Guebuza. Desta vez, também observadores acusam a Comissão Nacional de Eleições de não trabalhar de forma independente.

Nos dias 1 e 2 de dezembro de 2004, realizaram-se eleicoes gerais em Mocambique. Armando Guebuza venceu com 75% dos votos

2010Moçambicanos saem à rua em protesto contra o aumento dos preços dos alimentos. Várias pessoas morrem em confrontos com a polícia, que abre fogo contra os manifestantes.

2012, 8 de marçoUm polícia é morto em confrontos com ex-combatentes da RENAMO, instalados há três meses na sede do partido da oposição na cidade de Nampula, no norte do país.

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2012, 4 de outubroMoçambique festeja os 20 anos de paz e do Acordo Geral de Paz de 1992, que foi assinado em Roma, na Itália. Cresce a insatisfação no seio da RENAMO. Reclamam mais acesso às instituições do Estado, às Forças Armadas e à Comissão Nacional de Eleições (CNE).

Treinamento de membros armados da RENAMO na região da Gorongosa no centro de Moçambique (foto de novembro de 2012)

2012, 17 de outubroDhlakama instala uma base militar na região da Gorongosa, no centro de Moçambique, e começa a treinar antigos veteranos, exigindo uma nova ordem política. Satunjira foi a primeira base fixa militar do então movimento rebelde da RENAMO em 1980. A data do regresso de Dhlakama a Satunjira, 17 de outubro, coincide com o aniversário do primeiro líder da RENAMO, André Matsangaissa, morto em 1979 durante a guerra civil. Dlakhama chegou de Nampula, a capital do norte do país e uma das províncias de maior implantação da RENAMO junto do eleitorado, onde tinha permanecido nos meses anteriores após a sua saída da capital Maputo.

2012, 3 de dezembro

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Começam negociações entre o Governo e a RENAMO, que exige uma maior representação nas forças armadas, a revisão do sistema eleitoral e um quinhão mais importante das receitas de gás e carvão. As conversações falham.

2013, 4 de abrilQuatro polícias e um militante da RENAMO são mortos num ataque contra uma esquadra da polícia na cidade de Muxúnguè, província central de Sofala. O objetivo é libertar mais de uma dezena de militantes da RENAMO detidos numa invasão pela polícia da sede do partido no dia anterior. O ataque do dia 4 é justificado pela RENAMO como retaliação à invasão da sua sede.

Os ataques intensificaram-se, em abril, na região de Muxúnguè, centro de Moçambique

2013, 6 de abrilPelo menos duas pessoas morrem num ataque contra um autocarro de passageiros e um camião na região centro. A RENAMO não reivindica o ataque.

2013, 17 de JunhoHomens armados, alegadamente da RENAMO, matam seis militares num ataque contra um paiol na região de Savane, no centro do país. A incursão reacende a ameaça de uma confrontação mais grave entre as forças de defesa e segurança e os antigos combatentes da RENAMO. O partido da oposição rejeita a autoria do ataque.

2013, 21 de junhoO chefe do Departamento de Informação da RENAMO, Jerónimo Malagueta, é detido durante a madrugada, aparentemente na sequência das ameaças que o movimento proferiu dois dias antes. A 19 de junho, Malagueta tinha anunciado que o seu partido iria recorrer aos seus homens armados para impedir a circulação rodoviária e ferroviária no centro do país, contra uma alegada concentração do exército nas antigas bases militares do movimento, na região da Gorongosa, centro, onde o seu Presidente, Afonso Dhlakama, se encontra instalado.

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2013, 24 de junhoHomens armados, alegadamente da RENAMO, atacam três viaturas civis na região de Muxúnguè. Entretanto, a sétima ronda de negociações entre o Governo e a RENAMO termina sem que as partes cheguem a consenso no sentido de pôr fim à tensão política que se vive no país.

Mapa do centro de Moçambique

2013, 25 de junhoO Presidente moçambicano, Armando Guebuza, assegura que “o Governo permanece firme na sua determinação de, pela via de diálogo, encontrar resposta” à crise político-militar que, nos últimos dias, causou a morte de 10 pessoas em Moçambique. O país comemora 38 anos de independência.

2013, 26 de junhoArmando Guebuza exonera o chefe de Estado-Maior General das Forças Armadas (CMGFA), Paulino Macaringue, e reconduz o seu vice, Olímpio Cambona, que entrou no exército oriundo da antiga guerrilha da RENAMO. O antigo Presidente Joaquim Chissano defende uma solução pacífica para a instabilidade política no país, observando que deve ser evitada a destruição do que foi construído desde a assinatura do Acordo Geral de Paz em 1992.

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2013, 3 de julhoA RENAMO assume a autoria dos ataques de homens armados em Muxúnguè, Sofala, centro de Moçambique, mas nega o assalto ao paiol de Savane. Afonso Dhlakama, presidente da RENAMO, garantiu ter ordenado ataques contra alvos militares na província de Sofala para não permitir que o exército governamental e a polícia antimotim se concentrassem no centro, próximo ao seu quartel-general junto à Serra da Gorongosa. "Sim, autorizei ataque... Mas dois dias depois ordenei o cessar-fogo, porque sentimos quando um civil ficou ferido, o objetivo não era civil, era atacar o exército", disse Afonso Dhlakama. Contudo, Dhlakama negou o assalto ao paiol de Savane, no distrito de Dondo (Sofala), a 17 de junho, onde, além do roubo de material bélico, morreram seis militares das Forças Armadas de Defesa de Moçambique (FADM). "Não queremos a guerra, que se diga isso. Eu não quero a guerra. Mandamos parar (os ataques), mas não me perguntem 'vão parar até quando'", finalizou Dhlakama.

Afonso Dhlakama numa conferência de imprensa no dia 10 de abril de 2013

2013, 6 de julhoForças governamentais destruíram um acampamento de antigos guerrilheiros da RENAMO, com 53 cabanas, na região de Mogomonha, distrito de Chibabava, província de Sofala. O Comandante da Polícia em Sofala, Joaquim Nido, diz que no local estavam homens armados que realizaram ataques contra alvos civis nas últimas semanas no trajeto que liga o rio Save e Muxungué. “As operações tinham em vista tornar a zona livre de bandidos, para restabelecer o nível de estabilidade e devolver a tranquilidade ao troço”, justificou. “Eles estão à procura da RENAMO para a atacar”, diz Afonso

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Dlakhama, líder do maior partido da oposição, que descreve a atuação do governo como uma “provocação”.

2013, 8 de julhoA décima ronda negocial entre a RENAMO e o governo termina sem acordo. Em cima da mesa estavam três questões, nomeadamente a preparação de um encontro entre o Presidente Armando Guebuza e o líder da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO), Afonso Dlakhama, a desmilitarização da RENAMO e a revisão do pacote eleitoral.

2013, 15 de julhoA décima primeira ronda das negociações entre o maior partido da oposição moçambicano, a RENAMO, e o Governo trouxeram, pela primeira vez, resultados. Relativamente ao pacote eleitoral, poderão ser feitas as mudanças exigidas pelo maior partido da oposição. Os políticos chegaram a um acordo parcial sobre a composição da Comissão Nacional de Eleições (CNE). Já quanto à desmilitarização da RENAMO, exigida pelo Governo, permanece o impasse.

2013, 29 de julhoO líder da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO), Afonso Dhlakama, ameaça dividir o país em províncias independentes, caso o governo prossiga com as eleições autárquicas marcadas para novembro de 2013. A realização das eleições autárquicas a 20 de novembro, com os órgãos eleitorais "incompletos", constitui um "ato fatal para a democracia multipartidária" em Moçambique, avisa Dhlakama. Caso se realizem as eleições autárquicas "vamos dividir o país", afirma Afonso Dhlakama. Diz também que se assiste ao "fim da unidade nacional" com a recusa da FRELIMO em aumentar a representação da sociedade civil nos órgãos eleitorais.

2013, 30 de julhoAfonso Dhlakama, o líder da RENAMO, diz durante a reunião do Conselho Nacional da RENAMO, que caso as negociações com o Governo para resolver a tensão política prevalecente em Moçambique não produzam resultados num prazo de uma semana, poderá "tomar medidas à sua maneira". O governo rejeita o últimato.

2013, 5 de agostoA décima quatra ronda das negociações entre a RENAMO e o Governo termina, como as duas rondas anteriores, sem resultados concretos.

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14.a ronda de negociações entre a RENAMO e o Governo de Moçambique

2013, 6 de agostoTermina o prazo para o registro dos partidos que pretendem concorrer às eleições autárquicas de novembro de 2013: a RENAMO fica fora da corrida eleitoral. O maior partido da oposição não se inscreveu. Os seguintes partidos fizeram o registro: FRELIMO, Movimento Democrático de Moçambique (MDM), Partido Humanitário de Moçambique (PAHUMO), Partido Trabalhista (PT), Partido para Paz, Partido Democracia e Desenvolvimento (PDD), Partido Independente de Moçambique (PIMO), Partido Nacional de Moçambique (PANAMO), Partido de Renovação Nacional (PARENA) e Partido do Progresso Liberal de Moçambique (PPLM), bem como a coligação do Partido Ecologista e do Movimento Patriótico para a Democracia (MPD).

2013, 10 de agostoNa região de Pandje, na província de Sofala no centro de Moçambique, registra-se um confronto entre a RENAMO e forças do governo. A RENAMO diz ter morto 36 soldados, já o governo fala de uma vítima mortal. O porta-voz do principal partido da oposição, Fernando Mazanga, acusa as forças governamentais de terem lançado o ataque: “um contingente composto por 225 elementos das Forças Armadas de Defesa de Moçambique (FADM) e da Força de Intervenção Rápida (FIR) atacou a segurança da RENAMO, usando armas de guerra de alto teor bélico”.

2013, 14 de agosto

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Novo impasse voltou a registar-se nas negociações entre o Governo moçambicano e a RENAMO. Ao cabo de 16 rondas negociais, o Governo e a Renamo não conseguiram alcançar um acordo com vista a por fim a tensão política no país que tem degenerado em cenas de violência, nos últimos meses.

Desde abril, os veículos na Estrada Nacional 1, no troço entre o Rio Save e Muxúnguè, região centro do país, circulam sob proteção de militares moçambicanos

2013, 15 de agostoEncerrou a sessão extraordinária do Parlamento de Moçambique. A Assembleia da República foi convocada para apreciar eventuais propostas de revisão do pacote eleitoral saído das negociações entre o Governo e a RENAMO. Aumentam os receios em relação ao eventual desfecho da atual tensão política no país.

2013, 26 de agostoA décima oitava ronda de negociações entre a RENAMO e o governo terminou – como a décima sétima ronda na semana anterior – sem conclusões.

2013, 2 de setembroComo as tentativas anteriores, a décima nona ronda de negociações entre a RENAMO e o governo fracassou. A RENAMO pede uma mediação para facilitar as conversas entre as duas partes.

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2013, 6 de setembroO Presidente moçambicano, Armando Guebuza, responsabilizou a REANMO por ainda não se ter encontrado com o líder do movimento, Afonso Dhlakama, para a resolução da crise política no país. "A delegação do Governo diz que vamos preparar o encontro, a delegação da RENAMO diz não e coloca uma série de coisas, condicionando tal diálogo. Quando posso-me encontrar com ele, o faço sem problemas", afirmou Guebuza.

2013, 11 de setembroO líder da RENAMO, Afonso Dhlakama, reiterou que só se vai reunir com o Presidente moçambicano, Armando Guebuza, se a polícia e o exército forem retirados da antiga base central do movimento. "Quero o encontro, urgente, desde que retirem todos os elementos das Forças Armadas de Defesa e Segurança de Moçambique e agentes da Força de Intervenção Rápida que cercam a minha base", disse Dhlakama. "Se não retirarem estes militares, jamais sairei daqui para uma reunião com Guebuza. Os militares que cercam a minha base não vieram para festejar comigo. Querem eliminar-me fisicamente. E, para evitar que isso aconteça, não abandonarei esta base".

José Pacheco chefia a delegação do Governo

2013, 7 de outubro

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Depois de mais um encontro regular às segundas-feiras, a RENAMO anunciou a suspensão das negociações com o Governo e exigiu a participação de facilitadores nacionais e observadores internacionais. "Não vamos romper o diálogo, estamos prontos para estar aqui todas as segundas-feiras para trabalhar, mas, perante a falta de consenso, as próximas rondas não vão iniciar sem a presença de facilitadores nacionais e observadores internacionais", disse o chefe da delegação da principal força política da oposição moçambicana, Saimon Macuiane, que é também deputado da RENAMO na Assembleia da República.

Por seu turno, o chefe da delegação do Governo, José Pacheco, rejeitou a exigência da RENAMO. "Até este momento, ainda não há razões bastantes para recorrermos a terceiros para resolvermos as questões levantadas pela RENAMO para estas negociações. O que nós achamos é que a delegação da Renamo não se sente com qualidade suficiente para debater estes assuntos, mas nós reiteramos que ela é soberana para contratar quem quiser para esta assessoria", disse Pacheco.

Falhou o encontro paralelo dos militares por ausência da delegação militar da RENAMO. Saimon Macuiane apontou dificuldades financeiras do seu partido como razão para os militares da Renamo não se terem deslocado de Santundgira para Maputo. É na localidade de Santundgira nas proximidades do Parque da Gorongosa, província de Sofala no centro do país, que fica a base central do movimento.

Saimon Macuiane chefia a delegação da RENAMO

2013, 14 de outubro

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A RENAMO volta para trás e senta-se de novo na mesa das negociações com o Governo de Moçambique. O encontro termina, como já é o costume, sem resultados palpáveis.

2013, 17 de outubroAtaques armados marcaram o primeiro aniversário de Afonso Dhlakama na sua base em Satunjira, Gorongosa. Segundo o Ministério da Defesa Nacional de Moçambique as Forças Armadas de Defesa de Moçambique (FADM) mataram dois homens armados da RENAMO em resposta a uma "emboscada". O diretor Nacional de Política de Defesa no Ministério da Defesa, Cristóvão Chume, disse que as mortes aconteceram no distrito de Gorongosa, centro de Moçambique, quando elementos armados da RENAMO atacaram militares que faziam um trabalho de rotina na área. "Na zona de Mucodza, distrito de Gorongosa, uma subunidade das FADM, que realizava a sua atividade normal de trânsito, proveniente de Casa Banana em direção à Vila de Gorongosa, a cerca de sete quilómetros desta vila, sofreu uma emboscada e, em resposta, abateu dois homens da guerrilha da RENAMO, capturou um e apreendeu duas armas", disse Cristóvão Chume.

2013, 21 de outubroForças governamentais cercaram e tomaram a base da RENAMO na Gorongosa. Logo a seguir, a RENAMO, anunciou o fim do Acordo de Paz de 1992. “A atitude irresponsável do comandante e chefe das forças de segurança coloca um termo ao Acordo de Paz de Roma”, declarou o porta-voz da RENAMO, Fernando Mazanga, numa crítica direta ao Presidente Armando Guebuza. Segundo a RENAMO, o exército moçambicano tomou a residência de Afonso Dhlakama, obrigando-o a abandonar a casa. Dhlakama fugiu de "boa saúde", acrescentou o porta-voz. O controlo da antiga base rebelde pelos militares moçambicanos, também foi confirmado pelo Ministério da Defesa de Moçambique.

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Ministro da Defesa de Moçambique, Filipe Nyusi, visita a base da RENAMO em Satunjira após a tomada pelas Forças de Defesa de Moçambique (FADM)

2013, 22 de outubroHomens armados da RENAMO atacaram esta madrugada um posto da polícia em Maríngue, centro de Moçambique, horas depois do aquartelamento do seu líder, Afonso Dhlakama, ter sido ocupado pelo exército. O ataque foi descrito como "intenso" por uma fonte policial à Rádio Moçambique, tendo durado uma hora, mas sem causar vítimas. Uma parte da população local começa a abandonar a região do conflito entre a RENAMO e o Governo.

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A população local fugiu das zonas do confronto na Serra da Gorongosa (foto de Maríngue)

2013, 23 de outubroAumenta a pressão da Sociedade Civil de Moçambique para que se mantenha a paz. Face ao clima tenso no país, várias organizações não-governamentais enviaram ao Presidente da República uma carta intitulada "Não queremos mais guerra, queremos paz". Multiplicam-se as iniciativas para a paz nas redes sociais como a campanha "#MozQuerPAZ" do site Moz Maníacos.

2013, 24 de outubroA RENAMO recua e afirma que continua "vinculada" ao Acordo Geral de Paz, considerando "uma má interpretação" a declaração de que o movimento havia denunciado o entendimento. No dia 21 de outubro, o porta-voz da Renamo, Fernando Mazanga, tinha lido uma declaração à imprensa que dizia que a tomada pelo exército da base onde se encontrava o líder do partido, Afonso Dhlakama, "coloca ponto final aos entendimentos de Roma", assinados em 1992. Porém, no dia 24, em declarações à agência Lusa em Maputo, o porta-voz da RENAMO declarou que o partido continua vinculado ao Acordo Geral de Paz e que as informações sobre a denúncia do pacto resultam de uma interpretação errada. "O Acordo Geral de Paz é o nosso produto, continuamos vinculados a ele, é o nosso filho e usamos com ele a sabedoria do Rei Salomão, que ficou do lado da mulher que se recusou a sacrificar o seu filho", disse o porta-voz da RENAMO.

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Porta-voz da RENAMO, Fernando Mazanga

2013, 25 de outubroA RENAMO anuncia o falecimento do seu membro Armindo Milaco, deputado da Assembleia Nacional. Segundo o porta-voz da RENAMO, Arnaldo Chalaua, Milaco morreu devido aos ferimentos que sofreu durante o ataque de forças governamentais à base na Gorongosa na segunda-feira. Esteve em Satunjira para participar nas comemorações do aniversário da morte do fundador da RENAMO, André Matsangaíssa. O líder da RENAMO, Afonso Dhlakama, continua desaparecido.

2013, 26 de outubroUm autocarro é atacado na Estrada Nacional EN1. Uma pessoa morre e dez são feridas. Um grupo de homens metralhou o veículo que fazia a ligação Machanga-Beira, junto do Rio Repembe, nas proximidades da localidade de Muxúnguè e cerca de 50 quilômetros a norte da Ponte do Rio Save. O porta-voz da Renamo, Fernando Mazanga, disse à agência Lusa que os atos não podem ser imputados ao principal partido da oposição moçambicana, porque este "perdeu a voz do comando". O porta-voz da Presidência de Moçambique, Edson Macuácua, condenou a violência e declarou que apesar do "ataque perpetrado pela RENAMO", o chefe de Estado moçambicano, Armando Guebuza pretende dialogar com o líder do principal partido da oposição, Afonso Dhlakama.

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Armando Guebuza fala com soldados no dia 24 de outubro durante uma visita presidencial à província de Sofala

2013, 28 de outubroEsta segunda-feira, 28 de outubro, era o dia para iniciar novas negociações, segundo uma proposta que o Governo de Moçambique enviou à RENAMO. Mas o maior partido da oposição continua a vincular o regresso à mesa de negociações a uma mediação externa das conversas.

2013, 29 de outubroOs ataques alastram-se a outras regiões de Moçambique e atingem pela primeira vez a região nortenha de Nampula. O palco foi Nampome, distrito de Rapalo, a cerca de 70 kilometros de Nampula, informou o comando provincial da polícia local. Miguel Botelho, o porta-voz da polícia, diz que os ex-guerrilheiros da RENAMO refugiaram-se numa mata desse distrito, a partir de onde impediam a população de exercer as suas atividades diárias. Face a essa situação, segundo Miguel Botelho, houve uma intervenção. "Na manhã as forças de defesa e segurança da província de Nampula dirigiram-se ao local para repor a ordem pública. Houve troca de tiros."

No centro do país, as Forças Armadas de Defesa de Moçambique (FADM) e os homens da RENAMO confrontaram-se em Maríngué, distrito da Gorongosa, província de Sofala. Não há registo de vítimas. A presidência da República, através do seu porta-voz Edson Macuácua, informou que as duas principais bases da RENAMO, Satunjira e

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Maríngué, foram desativadas. Edson Macuácua declarou-se convencido da fragilidade da RENAMO: "Eles estão fracos no momento, com a desativação das duas bases."

Localidade de Maríngué (foto de 2010)

2013, 30 de outubroO Presidente moçambicano, Armando Guebuza, manifestou disponibilidade em Chimoio, Manica, centro de Moçambique, para se encontrar com o líder da oposição, Afonso Dhlakama, apesar dos atuais ataques e confrontos entre o exército e a guarda da RENAMO. "Apesar da situação de Satunjira, estou pronto para receber o senhor Afonso Dhlakama para dialogar. As nossas delegações política e militar continuam prontas para acertos do nosso encontro", disse Armando Guebuza.

Doze pessoas, incluindo um militar, ficaram feridas, dois dos quais em estado grave, nas últimas 48 horas, vítimas de ataques supostamente protagonizados pela Renamo, indica o mais recente balanço divulgado no dia 30 de outubro pelo Ministério da Defesa de Moçambique. Mesmo assim, oPresidente de Moçambique insistiu que os confrontos violentos com os antigos rebeldes não implicam um regresso à guerra civil, reiterando que a nação rica em energia permanece atrativa para os investidores. "Eu não penso, e este é um forte 'não', que estejamos de regresso à guerra", disse Armando Guebuza durante uma entrevista à agência AFP.

O Presidente moçambicano também dispensou um possível apoio militar externo do Zimbabué para resolver a atual crise político-militar: "Nós não pedimos nada até agora. A solidariedade deles (Zimbabué) para nós é importante, mas não temos nenhuma

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solicitação para fora em termos militares", precisou Guebuza, em conferência de imprensa em Chimoio.

2013, 31 de outubroMilhares manifestam-se contra raptos e guerra em Moçambique. As cidades de Maputo, Beira e Quelimane foram palco de manifestações contra a onda de raptos no país e também a favor da paz. Na capital assistiu-se ao maior protesto contra o Governo dos últimos anos. “Queremos a paz”, “não à guerra”, “stop raptos”, “exigimos segurança” foram alguns dos apelos ouvidos durante a “Marcha pela paz e contra os raptos” que percorreu várias artérias da cidade de Maputo e que culminou com um encontro na Praça da Independência.

Organizada pela Liga dos Direitos Humanos, a manifestação na capital moçambicana foi a maior marcha popular de protesto contra o Governo da Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO), no poder desde a independência do território há 38 anos. A manifestação na capital decorreu de forma ordeira e pacífica apesar de ter contado com a adesão de mais de 20 mil pessoas, de acordo com os organizadores.

Confrontos entre militares e supostos elementos armados da RENAMO em Mutivaze e Navevene, na província de Nampula, norte de Moçambique, provocaram pelo menos dois mortos e a fuga de populações para as matas para se protegerem.

Manifestação contra os raptos e pela paz em Maputo

2013, 1 de novembro

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Na região de Muxúnguè, centro do país, homens armados atacaram a última escolta militar de viaturas, em que seguiam altas patentes das Forças Armadas de Defesa de Moçambique (FADM) e Força de Intervenção Rápida (FIR), tendo morrido duas pessoas, incluindo um motorista carbonizado, e ficado feridas cinco, enquanto uma viatura foi incendiada.

Na cidade da Beira, a polícia antimotim invadiu a sede da RENAMO e simultaneamente uma das casas do seu líder, Afonso Dhlakama, para efetuar buscas e apreensão de material bélico. Segundo fontes oficiosas, deteve seis guerrilheiros da RENAMO, que se encontravam na sede do partido. Já na casa de Dhlakama, apreendeu 494 munições de AKM, 15 cartuchos e uma caçadeira calibre 12.

No distrito de Rapale, no norte de Moçambique, oito ex-guerrilheiros da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO), principal partido da oposição moçambicana, foram capturados pelo exército moçambicano, durante uma perseguição, , noticiou hoje o canal STV. Segundo a emissora privada, os ex-guerrilheiros capturados fazem parte de um grupo de 18 homens armados da RENAMO que guarneciam a casa do líder do movimento, Afonso Dhlakama, na cidade de Nampula e que "saíram secretamente" do local.

O Parque Nacional da Gorongosa (PNG), no centro de Moçambique, recebeu cerca de 900 visitantes nos primeiros nove meses de 2013, o que prenuncia uma queda abrupta de turistas devido à tensão militar na zona. Como todos os anos, o parque fecha em novembro, devido à estação das chuvas, e a previsão de visitantes em 2013 aponta para um número inferior ao do registo mais baixo até agora verificado - cerca de 1.500 turistas, em 2007 - disse à agência Lusa o administrador do Parque, Mateus Mutembe. Em 2011, no ano de maior procura, o PNG recebeu 7500 turistas mas no ano seguinte, quando o líder da RENAMO, Afonso Dhlakama, se mudou para a região, o número de entradas caiu para 6.500 visitantes.

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Barco no Parque Nacional da Gorongosa próximo da localidade de Vinho

2013, 2 de novembroHomens armados, supostamente da RENAMO, metralharam, no princípio da manhã, a escolta militar de viaturas na região de Muxúnguè, centro do país, da qual resultou um morto e três feridos.

2013, 4 de novembroO presidente da Comissão Nacional de Eleições (CNE) moçambicana, Abdul Carimo, admitiu o adiamento das eleições municipais do dia 20 de novembro nos municípios onde não houver condições de segurança, devido à instabilidade militar no país.

Homens armados feriram cinco pessoas, duas das quais com gravidade, em dois ataques contra uma escolta militar de viaturas na região de Muxúnguè, Sofala, centro de Moçambique.

2013, 5 de novembroEm Vunduzi, na região da Gorongosa, um ataque da RENAMO contra exército moçambicano causa a morte de oito soldados, segundo o jornal @Verdade. Foi o ataque mais mortífero da RENAMO desde que recomeçaram os confrontos armados.

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Em Canda, distrito de Nhamadzi e província de Sofala, os guerrilheiros da RENAMO atacaram um centro de saúde. Os ataques contra centros de saúde foi uma tática frequente da RENAMO durante a guerra civil de 1976 a 1992.

A Presidência moçambicana anunciou que o chefe de Estado, Armando Guebuza, está disponível para se encontrar em Maputo com o líder da RENAMO, Afonso Dhlakama, na sexta-feira para discutir a tensão política e militar no país. "O Presidente Armando Guebuza, no âmbito dos esforços contínuos empreendidos pelo Governo visando a preservação da paz, convidou o líder da RENAMO, Afonso Dhlakama, a deslocar-se no próximo dia 08 de novembro a Maputo, para um encontro que servirá para a auscultação das preocupações que apoquentam a RENAMO", refere o comunicado distribuído à imprensa por Edson Macuácua, porta-voz do Presidente moçambicano.

A RENAMO, rejeitou o convite da Presidência moçambicana considerando não haver condições para a reunião. "Se, na verdade, há interesse do Presidente da República para se encontrar com o presidente Afonso Dhlakama, deve ordenar imediatamente a cessação dos ataques e perseguição que o exército está a mover à figura do Presidente Dhlakama e dos seguranças da RENAMO", afirmou o porta-voz da RENAMO, Fernando Mazanga.

Apensar dos incidentes, a campanha para as eleições autárquicas arrancou com calma em todos os 53 municípios que participam no pleito.

Campanha do MDM em Maputo

2013, 6 de novembro

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O antigo Presidente moçambicano Joaquim Chissano apelou à RENAMO para que "coloque a mão na consciência" e aceite o desarmamento da sua antiga guerrilha, envolvida em confrontos com o exército no centro do país.

Joaquim Chissano

2013, 8 de novembroUm novo ataque de homens armados contra uma escolta militar de viaturas na principal estrada de Moçambique, a EN 1 no centro do país, fez três feridos segundo notícias da agência Lusa. O ataque visou um autocarro de passageiros, que ficou imobilizado, tendo já sido levado para o posto policial de Muxúnguè, a região mais atingida pela tensão político-militar na região centro de Moçambique. "Foi na primeira coluna da sexta-feira, quando os homens da RENAMO atacaram um machimbombo (autocarro de passageiros). Furaram todos os pneus de trás e duas senhoras foram atingidas. Outro senhor também foi ferido durante a agitação quando a coluna parou", explicou à Lusa ao telefone, Helena Baptista, que se encontrava no local.

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Ponte entre a Gorongosa e Inchope na Estrada Nacional EN1

2013, 15 de novembroDuas pessoas morreram e nove ficaram feridas durante um ataque a uma coluna militar perto do rio Pembe, no centro de Moçambique, alegadamente protagonizado por homens armados da RENAMO. O ataque, que terá ocorrido no troço Save-Muxúnguè da Estrada Nacional EN 1, provocou a morte de um elemento da Força de Intervenção Rápida (FIR) e de um ex-guerrilheiro da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO), noticiou a Televisão Independente de Moçambique (TIM), que deu ainda conta de nove feridos, dois dos quais em estado grave.

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Acampamento de militares moçambicanos na localidade de Inchope na Estrada Nacional EN1

2013, 18 de novembroO executivo moçambicano admitiu pela primeira vez a hipótese de aceitar a participação de observadores nacionais no diálogo, mas rejeita a presença de mediadores internacionais, por considerá-la uma "ingerência". A admissão da possibilidade foi feita pelo chefe da delegação governamental, José Pacheco, após o fracasso de mais uma ronda negocial com a RENAMO. O maior partido da oposição moçambicana não compareceu ao local do encontro proposto pelo Executivo, porque estabeleceu a presença de observadores como condição para o regresso ao diálogo. A RENAMO aceitou o convite, mas fez finca-pé na sua exigência: o diálogo com vista ao fim da tensão político-militar só pode acontecer na presença de facilitadores.

2013, 20 de novembroAs eleições autárquicas em Moçambique tiveram lugar como previsto na quarta-feira dia 20 de novembro às 7h00, registando-se um ambiente de tranquilidade que contrastou com o clima de tensão político-militar causado pelos recentes confrontos entre o partido no poder, a FRELIMO, e o maior partido da oposição, a RENAMO. As eleições em Nampula tiveram que ser repetidas por causa de falhas nos boletins de voto que omitiram uma candidata.

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Mesmo na Gorongosa, as eleições do dia 20 de novembro aconteceu com tranquilidade

2013, 22 de novembroSão conhecidos os resultados das eleições autárquicas. A FRELIMO somou mais uma vitória eleitoral ao seu currículo sem derrotas. A FRELIMO ganhou na maioria dos 53 municípios, mas a oposição ganhou mais força nos redutos do partido governamental. Além da habitual vitória, com mais de 80% dos votos, nos seis municípios de Gaza, província de onde são originários os seus históricos dirigentes, a FRELIMO viu o MDM avançar em eleitorados inesperados, como os de Maputo e da Matola, habituais bastiões do partido.

Mesmo assim, o MDM apenas conquistou as cidades da Beira e de Quelimane, as duas cidades em que os edis já eram do MDM.

Observadores, analistas e sociedade civil questionam o futuro político da RENAMO, depois do boicote às eleições autárquicas. Especialistas ouvidos pela DW África falam em "enfraquecimento". O sociólogo Moisés Mabunda considera que "a RENAMO, em vez de apostar na organização interna, na coerência político-estratégica, na mobilização dos moçambicanos, em apresentar-se como uma alternativa de liderança social, mostra que está a derrapar. Não mostra absolutamente nada e isto beneficia o MDM, que se vai afirmando, de eleições em eleições, como uma força política a ter em conta para um futuro não muito longo".

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Manuel de Araújo do MDM foi reeleito como edil da cidade de Quelimane na província da Zambézia

2013, 27 de novembroHouve registos de pelo menos dois mortos, 34 feridos, pneus queimados e de arremesso de paus e pedras durante uma revolta popular na cidade da Beira, a segunda maior do país, contra o alegado recrutamento de jovens para o serviço militar. As autoridades moçambicanas negaram a operação. Ninguém está a recrutar ninguém", garantiu Carlos Michon, delegado do Centro de Recrutamento na província central de Sofala. Também no distrito do Dondo, igualmente na província central de Sofala, os ânimos estiveram exaltados, mas em menor escala.

2013, 30 de novembroHomens armados, alegadamente ligados à RENAMO causaram três mortos e dezenas de feridos em dois ataques na região de Muxúnguè, Sofala, centro de Mocambique, disseram à Lusa varias fontes. Os ataques ocorreram no sábado (30.11.) e domingo (01.12.), contra os veículos militares que protegiam a coluna de veículos civis na estrada da Beira.

2013, 1 de dezembro

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Repetição das as eleições autárquicas em Nampula. Vence o candidato da oposição, Mahamudo Amurane. O MDM passa as governa a segunda (Beira) e a terceira (Nampula) maior cidade do país.

Campanha do MDM na cidade de Nampula (no meio o vencedor das eleições Mahamudo Amurane)

2013, 3 de dezembroA RENAMO reiterou a exigência da participação de mediadores nacionais e internacionais "idóneos e imparciais" nas negociações com o governo, para o fim da crise política e militar no país. "Com o objetivo de acompanhar, coordenar e moderar as negociações, a RENAMO propõe a indigitação de mediadores nacionais e internacionais, a serem convidados pela RENAMO e pelo governo, em conformidade com os seus representantes na mesa", indica a nota de imprensa do partido. O governo moçambicano já aceitou a participação de observadores nacionais nas negociações, mas recusa-se a admitir o envolvimento de estrangeiros.

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Lourenço do Rosário, reitor da Universidade Politécnica de Maputo, é uma das poucas personalidades que tem facilitado o contato entre a RENAMO e o Governo

2013, 4 de dezembroEm conferência de imprensa sobre a situação militar no país, o diretor Nacional da Política de Defesa, Cristóvão Chume, acusou "os guerrilheiros da RENAMO" de terem matado 10 pessoas e ferido 26, no centro do país. "Existe um certo escalar dos ataques da RENAMO contra pessoas e bens. A RENAMO tem vindo a multiplicar os ataques nas últimas seis semanas", disse Cristóvão Chume. O perfil dos ataques, assinalou Chume, demonstra que há uma coordenação e um comando exercido ao mais alto nível da liderança do partido.

2013, 11 de dezembroA agência Lusa, citando populares da região da Gorongosa, e outros meios de comunicação de Moçambique noticiam a retomada da base de Satunjira por guerrilheiros da RENAMO. A base foi ocupada pelo exército moçambicano a 20 de outubro, dia em que fugiu para um lugar desconhecido Afonso Dhlakama. No dia 11 de dezembro, o líder da RENAMO deu a sua primeira entrevista desde a sua fuga. Em entrevista ao semanário Canal de Moçambique, Dhlakama disse que vive perto de Satunjira e mostra-se confiante que Moçambique voltará a ter paz. "Este ano pode não ser, mas em janeiro ou fevereiro vamos ter paz. Eu estou convencido. A guerra dos 16 anos durou muito, porque não havia investimento estrangeiro", disse Afonso Dhlakama, aludindo à guerra civil moçambicana, que terminou com o Acordo Geral de Paz de Roma, em 1992. "Os americanos estão a fazer a prospecção de gás e petróleo na Bacia

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do Rovuma. Mesmo os brasileiros, da Vale, e os australianos, da Rio Tinto, estão a gastar muito a investir. Várias prospecções estão a ser feitas por franceses, britânicos e portugueses", disse o líder da Renamo, referindo-se aos países que, na sua opinião, farão de tudo para que Moçambique não entre numa espiral de violência.

2013, 12 de dezembroHomens armados suspeitos de pertencerem à Resistência Nacional Moçambicana atacaram hoje uma posição militar na região de Vunduzi, Gorongosa, centro de Moçambique, sem causar vitimas, disse à Lusa o chefe do posto. Viola Caravina, chefe do posto administrativo de Vunduzi, disse que o grupo disparou contra a posição do exército durante a madrugada, mas recuou de seguida, sem ter causado vítimas.

2013, 16 de dezembroO líder da RENAMO, Afonso Dhlakama, que desde outubro está em parte incerta "mas em Moçambique", disse à Lusa que os seus homens se limitam a responder aos ataques do exército, rejeitando responsabilidade na morte de civis. "A RENAMO não está a matar civis", disse, o líder do maior partido da oposição em Moçambique, falando por telefone, e garantindo estar a "poucos metros" da base de Satunjira, de onde foi expulso em outubro pelo exército. "Aqui, onde eu estou a falar, a 200 metros estão civis, vizinhos da minha casa. Não faz sentido mandar um grupo a partir da Gorongosa a matar civis a 300 ou 500 quilómetros de cá", acrescentou Dhlakama.

O líder do maior partido da oposição em Moçambique, Afonso Dhlakama, abriu hoje a porta à participação da RENAMO nas eleições presidenciais e legislativas do ano de 2014, depois de ter boicotado as municipais de novembro passado.

2013, 20 de dezembroA chefe da bancada parlamentar da RENAMO, Angelina Enoque, voltou hoje a exigir a participação de mediadores internacionais como condição para o seu partido negociar com o Governo moçambicano, alegando que eles são necessários para "recriar confiança mútua". Angelina Enoque, que falava durante a sessão anual de encerramento da Assembleia da República, disse que o ataque, em outubro, das forças de defesa e segurança às bases de Sandjujira e Maringué, na região de Sofala, onde estavam instalados antigos guerrilheiros da RENAMO e o seu líder, Afonso Dhlakama, tornou "indispensável" a participação de mediadores internacionais nas negociações.

2013, 30 de dezembroQuatro pessoas morreram em confrontos durante três dias entre o exército e homens armados, suspeitos de estarem ligados à RENAMO, no distrito de Gorongosa, Sofala, centro de Moçambique, disseram à Lusa fontes locais. Os confrontos registaram-se perto da vila de Tambarara, tendo uma pessoa perdido a vida, e no bairro Nhambondo, nos arredores da Gorongosa, onde foi morto um comerciante local, que teve os seus

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bens saqueados. Em Nhatsapa e Tazoronda, outras duas pessoas morreram atingidas por projéteis. "No sábado foi assassinado um comerciante no bairro Nhambondo, depois de um idoso de 65 anos ter sido atingido na machamba (quinta) durante um ataque a uma coluna militar em Mucodza. Em duas semanas somam quatro civis mortos", precisou Paulo Majacunene, administrador de Gorongosa. "Os ataques foram intensos na quinta e sexta-feira, e no sábado de manhã já na vila de Gorongosa demoraram quase três horas", disse à Lusa um morador.

Animal no Parque da Gorongosa

2014, 1 de janeiroDois ataques a coluna militar de viaturas fizeram cinco feridos durante a passagem do ano em Muxúnguè, Sofala, centro de Moçambique, palco de confrontos entre exército e homens armados, disseram à Lusa várias fontes. "As duas primeiras colunas foram atacadas por homens da RENAMO na terça-feira. Muitas pessoas desistiram de atravessar o troço Save-Muxúnguè no dia, embora as viaturas estivessem a ser escoltadas por boinas vermelhas, e se acumularam na vila (Muxúnguè)", disse à Lusa Ismael Sulemane, um morador. "Foram dois ataques, um no dia 31 de dezembro e outro a 1 de janeiro, mas sem mortes", precisou José Luís, pároco de Muxúnguè.

2014, 6 de janeiroO Governo ordenou à Rádio Comunitária de Homoíne na província de Inhambane para interromper a transmissão de informações sobre a presença de homens armados da RENAMO na região, sob ameaça de fechar a rádio. Naldo Chivite, membro do Fórum

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das Rádios Comunitárias Moçambicanas – também conhecido por FORCOM – em entrevista à DW África explica o que se passou: "A rádio tem produzido programas que abordam a questão da inquietação das comunidades que resultou na migração das comunidades de um posto para o outro a fugir do terror." Ainda segundo explicações de Chivite, circulavam notícias de que supostos homens da RENAMO andavam pelas casas a pedir alimentos, "facto que levou os jornalistas da rádio a questionarem ao Governo sobre o seu papel".

2014, 7 de janeiroHomens armados alegadamente da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO) estão a confrontar-se com o exército no distrito de Homoíne, na província de Inhambane. Até agora, os confrontos entre elementos da RENAMO e das forças de segurança estavam circunscritos à província central de Sofala, à exceção de incidentes de pequena escala registados a Norte, em Nampula. A população local está assustada e começou a fugir para outras zonas da província do sul do país. Meios de comunicação de Moçambique como a STV e o Mediafax falam de pelo menos dois mortos nos confrontos.

A DW África falou com o porta-voz da RENAMO, Fernando Mazanga, que confirma a presença de homens do maior partido da oposição em Inhambane, mas declina responsabilidades nos confrontos. "O que eu posso confirmar é que temos lá os nossos seguranças, na província de Inhambane", adiantou.Segundo Mazanga, os homens da RENAMO na zona Sul do país quiseram deslocar-se para o Centro, quando souberam que o líder Afonso Dhlakama estava a ser atacado por tropas do Governo.

"Tratam-se de desmobilizados de guerra, que foram retirados do Exército e que não chegaram a ser integrados. Quando souberam que o presidente Afonso Dhlakama estava a ser atacado, decidiram juntar-se a ele na Gorongosa", explicou Mazanga. "Mas o presidente Afonso Dhlakama pediu para que não se concentrassem todos em Sofala, mas que deveriam dispersar-se também na região Sul, para desencorajar a ida de muitos militares do Sul para o Centro", acrescentou. Fernando Mazanga garante que os homens da RENAMO apresentaram-se junto do povo de Homoíne e das autoridades locais, garantindo que estavam na região pela Paz. "Eles informaram que só reagiriam se fossem atacados pela polícia", asseverou.

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Com os confrontos em Homoíne, o conflito começa a aproximar-se aos centros do turismo de Moçambique (na foto: praia no Tofo, em Inhambane)

2014, 9 de janeiroA crise político-militar entre a RENAMO e o Governo moçambicano está a gerar uma vaga de deslocados na região centro e sul de Moçambique, contando-se já cerca de 4.000 pessoas em campos de acolhimento temporário. Na vila-sede da Gorongosa, na província de Sofala, centro do país, as autoridades locais estimam que pelo menos 3.845 pessoas estejam concentradas num campo de acolhimento temporário, refugiadas das localidades de Vunduzi e Canda, onde se têm registado frequentes confrontos entre as forças governamentais e homens armados da Resistência Nacional Moçambicana.

2014, 13 de janeiroA União Europeia (UE), o principal parceiro de Moçambique, e o Japão acabam de juntar-se ao coro de vozes que apela a uma rápida solução pacífica para a tensão político-militar em Moçambique. A Alta Representante da UE para a Política Externa e de Segurança, Catherine Ashton, manifestou, em comunicado, preocupação com o eclodir da violência causada pela movimentação na província sul de Inhambane de homens armados, supostamente da RENAMO (Resistência Nacional Moçambicana), o maior partido da oposição. Catherine Ashton condena o uso da força como meio de atingir fins políticos e lamenta a perda de vidas e a deslocação de populações locais devido ao clima de insegurança. A representante da UE insta ao fim imediato dos ataques a civis e a forças de segurança governamentais. Apela também a que a RENAMO e o Governo estabeleçam, sem demora, um processo de diálogo político

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genuíno e construtivo com vista a alcançarem resultados concretos no sentido da reconciliação pacífica.

O Japão, que acaba de anunciar este fim de semana uma ajuda de quase 500 milhões de euros a Moçambique, apelou igualmente à intensificação do diálogo para a solução pacifica da tensão político-militar no país. O primeiro-ministro nipónico, Shinko Abe, terminou a vista a Moçambique que decorreu entre os dias 11 e 13 de janeiro.

Ainda esta segunda-feira (13.01) falhou mais uma ronda de negociações entre o Governo e a RENAMO, que se encontram suspensas há mais de dois meses. O principal partido da oposição garante que continua disponível para dialogar: "a RENAMO estará presente nas negociações com o Governo a qualquer hora quando o senhor Presidente da República responder ao ofício solicitado a pedir a contribuição da RENAMO em torno do princípio de mediação e observação nacional e internacional bem como das propostas de indigitação de mediadores e observadores", afirmou Saimone Macuiane, porta-voz da delegação negocial daquele partido.

Do outro lado, os representantes do Executivo de Maputo reiteram que as duas partes devem discutir antes, em sede de conversações, os termos de referência dos observadores nacionais.

Catherine Ashton, Alta Representante da UE para a Política Externa e de Segurança, está preocupada com a violência em Moçambique

2014, 14 de janeiro

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Homens armados, supostamente da RENAMO, terão realizado esta terça-feira (14.01) mais um ataque no sul do país, em Funhalouro. Depois de Homoíne, é o segundo ataque na província de Inhambane. Fontes independentes dizem que a vitima mortal do ataque é um agente da polícia. A Rádio Nacional de Moçambique (RM) noticiou que o ambiente em Mavume é de medo e que a população está a retirar-se para locais seguros na Vila de Funhalouro, no distrito de Morumbene, e na cidade de Maxixe.

2014, 15 de janeiroUm ataque, atribuído a homens armados ligados à Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO) fez três mortos. Também feriu com gravidade cinco civis, incluindo dois jogadores do clube de Chibuto (da província de Gaza), equipa a ser treinada pelo português João Eusébio. Um autocarro de passageiros da empresa Etrago, contratada para movimentação de militares nas regiões centro e sul, foi "fortemente metralhado", quando a coluna de viaturas foi parada na zona de Chimutanda, a 15 quilómetros da vila de Muxúnguè. "Foi um outro banho de sangue hoje. O hospital rural de Muxúnguè está cheio de militares e estão a impedir a entrada de civis. Os militares feridos chegaram numa viatura civil", disse à agência Lusa um residente local.

Segundo dados da LUSA, desde o dia 4 de abril de 2013, quando os ataques foram iniciados no posto policial de Muxúngè, numa retaliação da RENAMO ao assalto e ocupação da sua base local pelas forças governamentais, já morreram, pelo menos, 39 pessoas além de 79 feridos.

2014, 18 de janeiroUm ataque a uma coluna de viaturas matou um militar e feriu outros cinco na região de Muxúnguè, Sofala, centro de Moçambique, após serem "surpreendidos por um tiroteio", disseram à Lusa várias fontes.

2014, 20 de janeiroSegundo informações da DW, homens armados, alegadamente vinculados à RENAMO, estariam acampados no distrito de Moatize na província de Tete. É a zona de Moçambique onde estão localizadas as multinacionais extratoras de carvão mineral. Homens com idade avançada, fortemente armados e com equipamento novo. Assim é descrito o efetivo militar, alegadamente da RENAMO, que avançou pelo distrito de Moatize, na Província de Tete. Conforme informações apuradas pela reportagem da DW, não houve registo de confrontos, mas algumas famílias já fogem da região, com receio de um ataque das forças governamentais. Ao mesmo tempo que estaria ocupando posições estratégicas no Norte, a RENAMO recua na ideia de cessar-fogo durante as negociações. O Governo moçambicano também demora a responder sobre a composição da equipa de mediadores do conflito que já dura quase um ano.

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Ponte sobre o Rio Zambeze que liga a cidade de Tete a Moatize

2014, 30 de janeiroPrevia-se que recenseamento começasse no dia 30 de janeiro, mas Governo moçambicano alterou a data a pedido da RENAMO. O recenseamento eleitoral vai agora realizar-se de 15 de fevereiro a 29 de abril. O porta-voz do Governo, Alberto Nkutumula, revelou que a decisão de adiar o recenseamento foi tomada a pedido expresso da segunda maior força política do país, a RENAMO, para permitir a sua melhor preparação para as eleições gerais, marcadas para 15 de outubro. Entretanto, a União Europeia reafirmou a importância de eleições justas, transparentes e inclusivas.

O chefe da delegação da União Europeia em Moçambique, o embaixador Paul Malin, considerou que constitui uma premissa fundamental da democracia no país que os vencedores das eleições gerais deste ano sejam apurados nas urnas em atos eleitorais "justos, transparentes e inclusivos". Malin recordou a ocorrência de algumas irregularidades nas eleições locais de 20 de novembro de 2013, como "a detenção arbitrária de delegados dos partidos e a não acreditação de muitos observadores nacionais." Outras irregularidades apontadas consistem no desaparecimento de editais de resultados, indicações de duplicação de votos e da introdução ilícita de votos nas urnas ou ainda interferências nos boletins de voto que os invalidaram. A União Europeia defende a responsabilização dos autores destes ilícitos eleitorais.

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A União Europeia (UE) é um dos principais parceiros de Moçambique

2014, 1 de fevereiroAs negociações entre o Governo e a RENAMO foram retomadas num clima mais pacífico, pois há mais de uma semana que não aconteceram ataques no país. As duas partes acordaram em cinco nomes de observadores nacionais para assistirem às negociações. Numa sessão extraordinária, no sábado (01.02), foram também aprovados os termos de referência que estabelecem o papel dos observadores. Os observadores nacionais não são ainda oficialmente conhecidos. Mas segundo a imprensa moçambicana, o Governo já tinha aceite os nomes do académico Lourenço do Rosário e de Dom Dinis Sengulane. E a RENAMO apontava os nomes de Alice Mabota, presidente da Liga Moçambicana dos Direitos Humanos, e de Filipe Couto, ex-reitor da Universidade Eduardo Mondlane.

A Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO) deixa assim cair a exigência sobre a presença de observadores ou mediadores internacionais. “Se o objetivo é se avançar para se encontrar uma solução rápida, nós podemos por hora deixar de lado esta discussão, esta exigência de observação e mediação internacional na expectativa que a nível local se resolva o assunto com a celeridade, serenidade e a honestidade que o assunto exige”, justifica Ivone Soares, deputada do maior partido da oposição.

"Conseguimos também acordar e afirmar que embora nesta primeira fase não vamos ter na mesa a comunidade internacional e pessoas de boa vontade, não moçambicanas, ou mesmo moçambicanas, com a excepção dos que foram designados, mas deixamos o espaço aberto para os cidadãos nacionais ou estrangeiros darem a sua contribuição para

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que as negociações tenham sucesso", disse Saimon Macuiane, chefe da delegação da RENAMO.

O Governo também cedeu em muitos pontos. José Pacheco, chefe da delegação do Governo, refere os procedimentos para que seja definida a composição da equipa de observadores: "Identificamos cinco potenciais observadores nacionais, iremos fazer as devidas consultas para aferir o seu interesse e a sua disponibilidade para participarem no diálogo." A grande reivindicação da RENAMO refere-se contudo à lei eleitoral e parece haver agora sinais de que a legislação será realmente discutida.

A presidente da Liga dos Direitos Humanos (LDH), Alice Mabota, durante a manifestação em Maputo contra raptos e a guerra em outubro de 2013

2014, 9 de fevereiroA RENAMO acusou o exército de ter atacado posições do movimento na Serra da Gorongosa, no centro do país, recorrendo a "armas de destruição maciça", nomeadamente artilharia B10 e B11, um armamento que pode atingir um raio de alcance de cerca de 20 quilómetros. Em entrevista à DW África, António Muxanga, porta-voz do presidente da RENAMO, disse que a presença do exército na região com armas de grande calibre poderia denunciar a vontade do executivo de "assassinar" o líder do partido, Afonso Dhlakama.

Três dias depois do ataque, o diretor nacional da política de defesa de Moçambique, Cristóvão Chume, confirmou que as forças governamentais usaram no domingo [09.02.14] artilharia pesada: “De forma frequente, [os homens armados da RENAMO] aproximam-se das posições das Forças Armadas de Defesa de Moçambique (FADM) na

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Gorongosa e em Muxungué e disparam de forma intermitente, para poderem reagir e entrar em colisão”, afirmou Cristovão Chume.

É a primeira vez que uma fonte governamental anuncia publicamente a utilização deste tipo de material bélico desde que eclodiu a tensão político-militar no país no ano passado. Segundo o responsável do Ministério da Defesa, os homens da RENAMO “têm atacado também de forma frequente as colunas militares”, que fazem o abastecimento das posições do exército, “quase diariamente e muitas vezes provocando feridos”.

2014, 10 de fevereiroO Governo da Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO) e a Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO), alcançaram um consenso sobre a composição da Comissão Nacional de Eleições, depois de vários meses de negociações.

O acordo foi alcançado durante uma sessão que contou com a presença de observadores nacionais, após uma série de rondas negociais iniciadas há dez meses. Gabriel Muthisse, chefe adjunto da delegação do Governo, disse que o executivo sempre defendeu a participação de todas as forças políticas nas eleições. O chefe da delegação da RENAMO, Saimone Macuiane, considerou a decisão um passo importante para a realização de escrutínios livres e justos em Moçambique.

2014, 11 de fevereiroO presidente do MDM, Daviz Simango, disse em entrevista à DW África repudiar o que considera a “bipolarização de decisões em relação à lei eleitoral”, depois de RENAMO e Governo informarem ter chegado a um consenso.

“Os moçambicanos nas eleições de 2009 deram um mandato a três partidos políticos na Assembleia da República para abordarem a mantéria da lei eleitoral. Portanto, não faz sentido que dois partidos ex-beligerantes, que procuram a todo o custo bipolarizar o processo eleitoral, definam as regras de jogo da composição e funcionamento da Comissão Nacional de Eleições (CNE) e do Secretariado Técnico Administração Eleitoral (STAE)”, disse Daviz Simango. “O MDM entende que deve participar nesse debate porque também é um dos mandatários do povo para abordar esta matéria.”

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Daviz Simango será o candidato do MDM nas eleições de 15 de outubro de 2014

2014, 13 de fevereiroA presença de homens armados da Renamo está a provocar fraca afluência às aulas no arranque do ano letivo em Nkondedzi, província de Tete, no centro de Moçambique, disse à Lusa o diretor dos serviços de educação local. Segundo o diretor, nas escolas de Ndande e Duende, alunos e professores ainda não foram às aulas, que começaram há duas semanas, por temerem ataques dos homens armados da RENAMO, que têm sido vistos nesta localidade do distrito de Moatize.

2014, 21 de fevereiroO Parlamento moçambicano aprovou na generalidade o projeto de revisão das leis da Comissão Nacional de Eleições e do Recenseamento Eleitoral, apresentado pelo principal partido da oposição, a RENAMO. As referidas leis são consideradas duas das principais leis que compõem a proposta de revisão do pacote eleitoral submetida pela Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO) ao Parlamento, na sequência dos consensos alcançados no diálogo com o Governo.

A nova lei da Comissão de Eleições aprovada na generalidade prevê que este órgão passe a ter 17 membros contra os actuais 13. Dos 17 membros, cinco são indicados pelo partido no poder, a Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO), quatro pela RENAMO e um pelo Movimento Democrático de Moçambique (MDM). Os restantes sete membros são indicados pela sociedade civil.

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Prevê-se igualmente a criação de cargos de directores adjuntos do Secretariado Técnico de Administração Eleitoral (STAE) indicados pela FRELIMO e pela RENAMO, para além da afectação nos órgãos eleitorais de técnicos indicados pelos três partidos com assento parlamentar. No total, estarão envolvidos no processo eleitoral cerca de 1.200 representantes dos partidos políticos.

José de Sousa, do segundo maior partido da oposição moçambicana, MDM, espera que a aprovação da revisão pontual do pacote eleitoral se traduza no fim da tensão político-militar que se vive no país. “Temos que envidar esforços para que efectivamente esta tensão político-militar pare e consequentemente pare o sofrimento do nosso povo”, disse. “Se este sofrimento acabar pela via da aprovação de algumas alterações pontuais à legislação eleitoral, naturalmente que o MDM está unido nesse propósito”, acrescentou.

2014, 25 de fevereiroUm militar morreu e outros 13 ficaram feridos, quatro com gravidade, em confrontos entre o exército e homens armados, ligados à RENAMO, em Gorongosa, Sofala, centro de Moçambique, segundo a agência Lusa. "Há um militar morto e quatro feridos gravemente durante a emboscada que o grupo sofreu", disse à Lusa um funcionário do hospital distrital de Gorongosa, garantindo que todos foram atingidos em várias partes do corpo por balas.

Os confrontos, que se mantiveram até à manhã do dia 25 de fevereiro, começaram quando a guarda do líder da RENAMO enfrentou uma ofensiva do exército na segunda-feira, dia 24 de fevereiro, contra as encostas da serra da Gorongosa, onde se supõe esteja Afonso Dhlakama, em lugar incerto há quatro meses. Um camião do exército foi incendiado durante os combates, que se estenderam até a vila sede do distrito de Gorongosa.

2014, 26 de fevereiroCerca de dois mil moçambicanos residentes no distrito de Moatize, centro do país, refugiaram-se no Malaui, devido à movimentação de homens armados da RENAMO na zona. Outros habitantes de Tete também se terão refugiado nos distritos malauianos de Neno e Chikwakwa. A informação é do diário Notícias de Maputo que cita o administrador de Muanza, distrito malauiano que faz fronteira com Moatize.

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Fronteira entre Zobué na província moçambicana de Tete e Mwanza, Malaui

2014, 1 de marçoO comité central da FRELIMO elegeu o ministro da Defesa, Filipe Nyusi, como candidato do partido no poder em Moçambique às eleições presidenciais de 15 de outubro. Filipe Nyusi, 56 anos, natural de Cabo Delgado, norte de Moçambique, é formado em engenharia mecânica, grau obtido na antiga Checoslováquia, e tem uma licenciatura em gestão, pela Universidade de Manchester, no Reino Unido. Ex-administrador dos Caminhos de Ferro de Moçambique (CFM), Nyusi é ministro da Defesa de Moçambique desde 2010. O candidato da FRELIMO é oriundo de uma família de antigos combatentes e pertence à influente etnia maconde do norte do país, apoiante da primeira hora da guerrilha da FRELIMO contra o colonialismo português e que deu vários generais ao partido.

Na corrida estavam cinco candidatos: o atual primeiro-ministro, Alberto Vaquina, os ministros da Defesa, Filipe Nyusi, e da Agricultura, José Pacheco, e os antigos primeiros-ministros Aires Aly (2010-2012) e Luísa Diogo (2004-2010).

Nyusi deverá ter como adversários o histórico presidente da RENAMO, Afonso Dhlakama, e o líder do MDM, Daviz Simango, que já anunciou a intenção de se candidatar à Ponta Vermelha, a sede da Presidência.

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Delegados da FRELIMO festejam vitória de Nyusi

2014, 3 de marçoUm ataque contra um carro militar, atribuído à RENAMO, matou quatro agentes e feriu outros cinco, das Forças da Guarda-fronteira, em Mussicadzi, Gorongosa, centro de Moçambique. "Deram entrada quatro óbitos no princípio da tarde de segunda-feira e os feridos foram transferidos para o Hospital Central da Beira, mas dois deles estão com um quadro clínico grave", disse à Lusa um funcionário do hospital da Gorongosa, na condição de anonimato.

2014, 5 de marçoA RENAMO acusou o exército de ter lançado rockets contra a Serra da Gorongosa, onde supostamente está o seu líder Afonso Dlakhama. O Governo diz que se tratou de uma contra-ataque. António Muchanga, porta-voz do presidente da RENAMO, Afonso Dlakhama, foi quem fez a denúncia à imprensa. "As forças combinadas das Força de Intervenção Rápida (FIR) e a Forças Armadas de Moçambique (FADM) atacaram no dia 5 de março as posições das forças da RENAMO em Gorongosa e Inhaminga. Usarm armas de destruição em massa, dispararam obuses e 38 rockets", afirmou.

Nos últimos dias foram reportados dois ataques, em menos de uma semana, contra posições das forças governamentais que resultaram em pelo menos quatro mortos e seis feridos, do lado do exército.

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O chefe da delegação do Governo nas negociações com a RENAMO, José Pacheco, reagiu às acusações do partido da oposição atribuindo àquela formação política a iniciativa dos ataques: "Temos uma RENAMO que é violenta, que na segunda-feira (05.03.) atacou um carro da polícia que fazia reabastecimento logístico. As nossas forças estão a perseguir os que efetuaram os ataques, os meios que usam cabe a nossas forças decidir."

Para António Muxanga, da RENAMO, o ataque contra a Serra da Gorongosa reforça a ideia da necessidade da presença de observadores estrangeiros para monitorizar o cessar-fogo. "Esse ataque de hoje vem provar que precisamos de peritos internacionais para ajudar Moçambique", salientou.

Crescem os números referentes aos deslocados. Em março, o primeiro-ministro moçambicano, Alberto Vaquina, revelou no Parlamento que 6.727 pessoas foram obrigadas a deslocar-se da região da Gorongosa devido aos ataques armados da RENAMO.

Área da base da RENAMO no distrito de Inhaminga

2014, 17 de marçoA Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO) chegou a um acordo com o Governo que representantes internacionais podem fazer parte da equipa que mediará um possível cessar-fogo no país. O aceite do Governo foi visto com bons olhos por António Muxanga, porta-voz do presidente da RENAMO, Afonso Dhlakama. Ele garantiu que os negociadores da força de oposição vão trabalhar com o Governo para que sejam indicados os países que estarão envolvidos na mediação.

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"Nós solicitamos que a comunidade internacional, nomeadamente Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC), União Africana, União Europeia e Estados Unidos façam parte dos técnicos militares que farão a supervisão do cessar-fogo. O Governo não aceitava isto, mas finalmente deu luz verde", disse o representante da RENAMO.

O Governo concorda com a supervisão internacional do cessar-fogo, mas escolheu a SADC como organismo supervisor. António Muxanga considera, no entanto, que outros representantes internacionais devem ser incluídos. "A própria União Europeia tem interesses neste país. A maior parte do orçamento (moçambicano) é assegurado pela União Europeia."

Para Muxanga, os Estados Unidos não podem ficar de fora porque apóia "a maior parte dos programas de desenvolvimento" em Moçambique. "Nunca é demais termos estes países a observarem o cessar-fogo, a ajudarem na supervisão e a controlarem como as coisas estão a ocorrer", opina.

2014, 19 de marçoMoçambique poderá comprar aviões de ataque Super Tucano e um simulador de manobras navais ao Brasil, disse, em Maputo, o ministro da Defesa brasileiro, Celso Amorim, depois de um encontro com o seu homólogo moçambicano Agostinho Mondlane. Sobre a promessa brasileira de doação de três aviões de treino Tucano (Embraer EBM-312) a Moçambique, o ministro brasileiro referiu que a proposta já foi aprovada pelo executivo liderado pela Presidente do Brasil, Dilma Rousseff, faltando o aval do Congresso Nacional do país. O anúncio da doação destes equipamentos causou polémica no Brasil, uma vez que foi feito numa altura em que Moçambique já se encontrava mergulhado numa crise político-militar, provocada por diferendos, entre a RENAMO e o Governo de Maputo.

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Avião de treino do tipo Embraer EMB-312 Tucano nas Honduras

2014, 28 de marçoO chefe do Departamento de Informação da RENAMO, Jerónimo Malagueta, foi hoje libertado sob fiança, depois de ter estado detido durante cerca de nove meses na Cadeia de Máxima Segurança da Machava, nos arredores de Maputo. Segundo António Muchanga, porta-voz do presidente da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO), Jerónimo Malagueta foi libertado ao início da tarde. O antigo deputado da RENAMO, principal partido da oposição, foi detido a 21 de junho do último ano, sob acusação do crime de incitação à violência, depois de ter anunciado que "as forças" do partido se iriam posicionar no troço Save-Muxúnguè, na região centro de Moçambique, "para impedir a circulação de viaturas transportando pessoas e bens".

2014, 31 de marçoO Ministério da Defesa Nacional de Moçambique revelou que o exército moçambicano foi alvo, no domingo, de pelo menos doze ataques de alegados homens armados da RENAMO na região da Gorongosa. De acordo com o diretor-adjunto da Política de Defesa do MDM, coronel Manuel Mazuze, os ataques visaram várias posições das Forças de Defesa e Segurança de Moçambique (FADM) no distrito da Gorongosa, na província de Sofala. "Infelizmente, estas ações [ataques armados] têm sido sistemáticas, ao ponto de num só dia assistirmos a 12 ataques contra posições das FADM, em Gorongosa", disse Manuel Mazuze, escusando-se a adiantar informações sobre possíveis feridos e mortes resultantes dos confrontos.

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A RENAMO acusou os órgãos eleitorais de não colocarem brigadas de recenseamento em zonas fiéis ao partido em Manica, centro, a um mês do fim do processo. Em declarações à Lusa, Alfredo Magumisse, chefe da brigada central da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO) para Manica, disse que o recenseamento ainda não arrancou em "vários bastiões" do partido. "A província de Manica é génese da RENAMO, e nas regiões de Gunhe, Matenguana, Chimbia, onde o partido tem muita influência, ainda não há brigadas. As zonas não constam do mapa dos órgãos para o recenseamento", precisou Alfredo Magumisse, assegurando que desde as primeiras eleições, em 1994, a área sempre teve brigadas de recenseamento. O responsável disse que na região de Goi-Goi e Mupengo (Mossurize), onde a RENAMO obteve 95 por cento de votos em 2004, e acima de 80% em 2009, as brigadas de recenseamento do Secretariado de Administração Eleitoral (STAE) abrem às 11:00 e encerram às 16:00, contra as oito horas diárias (das 08:00 às 16:00) estabelecidas. Por sua vez, Luciano José, chefe do departamento de organização e operações eleitorais no STAE em Manica, disse que aquele órgão está a guiar-se pelo mapa para o recenseamento e que trabalhos estão em curso para as brigadas, cujo arranque foi afetado por chuvas, consigam atingir as metas do processo.

Paisagem na província de Manica

2014, 1 de abrilO Governo moçambicano e a RENAMO chegaram a acordo para a criação de subcomissões de "desmilitarização" do movimento, no âmbito das negociações visando ultrapassar a crise política e militar no país. Em declarações à imprensa, após mais uma ronda negocial, o chefe da delegação do Governo, José Pacheco, disse que as duas partes entenderam-se quanto à criação de três subcomissões regionais e de um comando

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central, para a "desmilitarização" da RENAMO (Resistência Nacional Moçambicana). As três subcomissões vão ser instaladas no sul, centro e norte do país e o comando central vai funcionar em Maputo, adiantou Pacheco. Segundo o chefe da delegação do Governo, as duas partes acordaram igualmente na participação de 23 observadores dos EUA, Itália, Zimbabué e Botsuana, para a supervisão do cessar-fogo. Por seu turno, o chefe da delegação da RENAMO, Saimon Macuiane, afirmou que a RENAMO pretende a integração do seu contingente armado nas forças de defesa e segurança moçambicanas, até 28 de fevereiro de 2015. "Entendemos que, para além de definir a política de defesa e segurança do país no cômputo geral, também iremos integrar nesta parte a questão que tem que ver com a reintegração, ou seja, a participação plena da RENAMO nas Forças Armadas de Defesa de Moçambique, na polícia e nos serviços de segurança do Estado", adiantou Saimon Macuiane.

2014, 2 de abrilUm comboio transportando carvão da multinacional brasileira Vale foi atacado na segunda-feira por homens armados supostamente da RENAMO, principal partido da oposição moçambicana, no centro do país, afirmou hoje o ministro do Interior moçambicano, José Mandra. Em declarações aos jornalistas, José Mandra indicou que o maquinista da locomotiva foi ferido no pé durante o ataque na linha férrea de Sena, no distrito de Muanza, província de Sofala, centro de Moçambique.

Na sequência do ataque, a companhia mineira brasileira Vale anunciou a suspensão temporária das exportações de carvão que extrai na província moçambicana de Tete para "permitir o melhor andamento das investigações", remetendo às autoridades o esclarecimento sobre os contornos do incidente. A linha férrea de Sena é a principal via de escoamento do carvão extraído na província de Tete, centro de Moçambique, pelas multinacionais envolvidas na extração mineira.

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Início da Linha de Sena em Moatize, Tete

2014, 10 de abrilO Governo moçambicano e a RENAMO divergiram em relação ao desarmamento do braço armado do movimento, no âmbito das negociações para acabar com a crise política e militar no país. Em declarações aos jornalistas, no final de mais uma ronda negocial o substituto do chefe da delegação do Governo às negociações, Gabriel Muthisse, disse que o Governo moçambicano defende que os "homens armados" da RENAMO (Resistência Nacional Moçambicana) sejam desarmados paralelamente ao cessar-fogo entre as duas partes, com o acompanhamento dos observadores internacionais. Segundo Gabriel Muthisse, que é também ministro dos Transportes e Comunicações, os observadores internacionais devem acompanhar o processo de desarmamento da RENAMO, "não fazendo sentido que venham ao país apenas para monitorizar um simples cessar-fogo".

Por seu turno, o chefe da delegação da RENAMO, Saimone Macuiane, afirmou que a questão do desarmamento da RENAMO não deve ser parte da discussão sobre os termos de referência da missão de observação internacional, defendendo que esse tema deve ser incorporado no ponto sobre Defesa e Segurança, previsto no atual processo negocial. "O Governo é que colocou a questão prévia do cessar-fogo. Uma vez ultrapassada essa questão, teremos tempo para discutir o ponto seguinte da agenda", afirmou Saimone Macuaine.

Os comboios para escoamento de carvão de Moatize, Tete, centro de Moçambique, voltaram a circular com "segurança reforçada", oito dias após ataque da locomotiva da Vale, atribuído a homens armados da RENAMO, disse hoje à Lusa fonte policial. "As

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três companhias que escoam carvão a partir da Linha de Sena, incluindo a brasileira Vale, retomaram a circulação dos comboios. A Polícia está no terreno e medidas operativas e de segurança estão garantidas", disse à Agencia Lusa Daniel Macuacua, porta-voz da Polícia de Sofala.

2014, 14 de abrilA Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO) exige a integração dos seus membros em cargos dirigentes das forças de defesa e segurança do país para se desmilitarizar, condição que o Governo moçambicano considera "uma aberração". A exigência da RENAMO foi anunciada, na segunda-feira, durante uma nova ronda negocial entre o maior partido da oposição do país e o Governo moçambicano, tendo o encontro terminado com discursos crispados. Saimone Macuiane, chefe da delegação negocial da RENAMO, anunciou que o partido pretende que "os seus homens" ocupem cargos como o de "Chefe do Estado-Maior, que há mais de 20 anos vêo por homens das antigas forças guerrilheiras da RENAMO e das FPLM, denominado de Forças Armadas de Defesa de Moçambique (FADM). Desde a formação das FADM, em 1994, a RENAMO tem vindo a contestar o processo de integração das suas forças militares, considerando que os antigos membros das FPLM são preteridos para cargos de comando. "Os homens da RENAMO já estão no exército. Nós não queremos que eles fiquem como assessores e cozinheiros dos outros. Queremos que fiquem como verdadeiros militares no exército", afirmou Macuiane.

Comentando as novas imposições negociais da RENAMO, o representante governamental e ministro da Agricultura, José Pacheco, disse: "A Constituição da República e demais legislações emanam que o Estado organiza-se com regras não partidárias. A própria RENAMO exige num dos pontos a despartidarização da função pública. A RENAMO foi ao ponto de dizer que Chefe de Estado-Maior das Forças Armadas deve ser da RENAMO. Isso é uma aberração", afirmou.

2014, 22 de abrilUm confronto entre as forças governamentais e homens armados ligados à RENAMO, maior partido da oposição em Moçambique, fez hoje dois mortos e cinco feridos na Gorongosa, Sofala, centro de Moçambique, disseram hoje à Lusa várias fontes.

2014, 23 de abrilA RENAMO pediu à Comissão Nacional de Eleições (CNE) a prorrogação do recenseamento eleitoral por 30 dias, quando faltam seis dias para o fim da operação, indicou à Lusa o órgão eleitoral. O recenseamento eleitoral em curso, que termina no dia 29, destina-se à inscrição de eleitores para as eleições gerais (presidenciais e legislativas) de 15 de outubro. Em declarações à Lusa em Maputo, o porta-voz da CNE, Paulo Cuinica, afirmou que a RENAMO (Resistência Nacional Moçambicana) solicitou, por escrito, a prorrogação do recenseamento eleitoral, adiantando que a entidade está a analisar os fundamentos do pedido do principal partido da oposição.

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O líder da RENAMO, Afonso Dhlakama, ameaçou impedir as eleições gerais, caso o seu partido não participe no escrutínio, numa entrevista divulgada pelo Canal de Moçambique. A entrevista, de quatro páginas, foi a primeira de Afonso Dhlakama nos três meses anteriores, depois de ter falado a órgãos de comunicação sociais moçambicanos e estrangeiros, algures a partir da Serra da Gorongosa, centro do país, onde se refugiou em outubro do ano passado, quando foi desalojado do seu acampamento por uma ofensiva do exército moçambicano. Em declarações ao Canal de Moçambique, o líder da RENAMO ameaçou inviabilizar as eleições gerais (presidenciais e legislativas) de 15 de outubro, caso o seu movimento não participe no escrutínio. Apesar de vários dirigentes do partido terem reiterado que a RENAMO vai participar no escrutínio, após ter boicotado as eleições autárquicas de 20 de novembro passado, por discordar da lei eleitoral, aumentam as dúvidas sobre essa hipótese pelo facto de o seu líder não se ter recenseado a uma semana do fim do recenseamento eleitoral, alegando falta de segurança. Segundo Afonso Dlhakama, "eles (a Frelimo) não podem fazer brincadeiras com as presidenciais e legislativas, não podem pensar que podem realizar as eleições sem a RENAMO".

Recenseamento de eleitores em Nampula

2014, 24 de abrilO Governo moçambicano qualificou como "tentativa de golpe de Estado" a exigência da RENAMO, principal partido da oposição, de chefiar o exército e a polícia, como condição para o desarmamento do seu braço armado. “Existem entidades responsáveis para usar e armazenar armas em Moçambique", declarou o líder da delegação do Governo, José Pacheco, em declarações aos jornalistas, no final de mais uma ronda negocial.

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O ex-presidente moçambicano Joaquim Chissano disse que pode chegar o momento em que Maputo terá de dizer à RENAMO que as cedências atingiram o limite, mas manifestou-se confiante que não será o Governo a iniciar o confronto. "O Governo tem uma linha que é a de não ir às armas. Não é o Governo que vai pegar em armas para fazer alguma coisa. Vai dizer que basta, que não vai haver mais cedências para exigências, que são completamente absurdas. Eu penso que é o que vai acontecer, porque não se pode pensar que o Governo vai dar tudo só por causa das ameaças. Há limites", sublinhou Joaquim Chissano, em entrevista à Lusa, em Lisboa. "O Dhlakama e a RENAMO têm alguma possibilidade de criar alguma perturbação no seio das populações civis, mas eu duvido que tenham força capaz de enfrentar uma guerra", disse, ressalvando, no entanto, que muitos dos elementos da RENAMO "são contra a guerra".

2014, 25 de abrilAs oito brigadas de recenseamento, que deviam arrancar hoje com a inscrição nas zonas de conflito armado, estão retidas na vila da Gorongosa (Moçambique) devido a ataques na região, disse à Lusa fonte oficial. "Ainda não há segurança para a entrada das oito brigadas devido à situação de tensão na zona", destacou Picardo Madibe, diretor distrital do Secretariado Técnico de Administração Eleitoral (STAE) de Gorongosa. Cerca de 16 mil eleitores, um terço do potencial do distrito, estão por recensear nas regiões de Nhataca, Mucodza, Vunduzi, Chionde, Casa Banana, Mussicadzi, Piro e Domba, um dos postos administrativo que perfaz o maior círculo eleitoral de Gorongosa, atingido pela tensão político-militar, que opõe o governo e a RENAMO, maior partido da oposição em Moçambique.

O Governo e a Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO), chegaram na quarta-feira ao consenso, para uma trégua - a segurança das brigadas estaria a cargo do partido - que permitiria o reaparecimento e recenseamento do seu líder, Afonso Dhlakama, desalojado pelo exército da sua base de Satunjira e em lugar desconhecido há seis meses.

2014, 28 de abrilO Governo prorrogou por mais 10 dias o processo de recenseamento eleitoral afirmou hoje o diretor-geral do STAE, Felisberto Naife, durante uma conferência de imprensa, em Maputo, estimando que o adiamento deverá representar um custo acrescido de cerca de 1,6 milhões de euros. Com o adiamento, o Governo moçambicano cedeu, pela segunda vez, a pedidos da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO).

O governador da província moçambicana de Sofala, Félix Paulo, impediu hoje a entrada de brigadas de recenseamento eleitoral nas zonas de conflito na Gorongosa, centro de Moçambique, disse fonte da Comissão Nacional de Eleições (CNE). "Ficamos surpresos com a medida do governador. Tudo estava pronto, incluindo alguns computadores seguiam com uma equipe para reforçar as brigadas (de recenseamento) na Gorongosa, quando receberam ordens para regressar", disse hoje à Lusa Meque Brás, segundo vice-presidente da CNE, indicado pela Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO), o principal partido da oposição e que mantém um conflito armado com o governo.

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"Estamos até agora em negociações para permitir que as brigadas se desloquem e recenseiem a população daquela zona, incluindo o líder da RENAMO", referiu hoje Meque Brás, que chefiava o grupo, sugerindo falta de interesse politico para a inscrição eleitoral do líder da RENAMO, Afonso Dhlakama, que se encontra refugiado na região. O recenseamento do líder da RENAMO, "candidato natural" do partido, às eleições gerais de 15 de outubro, continua pendente a um dia do fim do processo, marcado para 29 de abril.

2014, 2 de maioA Resistência Nacional Moçambicana anunciou o reposicionamento dos seus homens armados em resposta ao avanço das Forças de Defesa e Segurança na serra da Gorongosa (Sofala). António Muchanga, porta-voz da RENAMO, assegurou que o partido vai levantar a "trégua unilateral" tomada para abrandar os confrontos e possibilitar um cessar-fogo com o Governo, o que permitiria o reaparecimento e recenseamento de Afonso Dhlakama, ainda não inscrito para às eleições de 15 de outubro, no quarto dia de prorrogação do processo, que termina a 9 de maio.

2014, 3 de maioUm ataque de homens armados ligados à RENAMO fez cinco feridos, incluindo um menor, no troço Save-Muxúnguè da Estrada Nacional 1, no centro de Moçambique, disse à Lusa fonte policial. "Do ataque foram registadas cinco vítimas civis, uma das quais criança,

que foram socorridas e levadas para o hospital rural de Save [Inhambane, sul]", disse à agência Lusa Daniel Macuacua, porta-voz da Polícia de Sofala.

2014, 5 de maioUma nova ronda negocial entre a RENAMO e o Governo moçambicano terminou sem quaisquer avanços sobre a participação de observadores internacionais para mediação do conflito político-militar que as partes mantêm.

Os Estados Unidos condenaram o recurso à violência para a resolução de diferendos políticos em Moçambique, exortando o país a adotar mecanismos pacíficos e democráticos para ultrapassar divergências. "A embaixada dos Estados Unidos da América em Moçambique reitera o seu apoio incondicional à utilização de mecanismos pacíficos e democráticos na resolução de qualquer diferendo no processo político moçambicano e manifesta a sua veemente condenação ao recurso à violência e ameaças no processo de busca de soluções em qualquer esfera da vida do país", diz o comunicado. A embaixada norte-americana acrescenta que as eleições são um dos pilares importantes de afirmação da vontade popular numa democracia, encorajando a todos os moçambicanos a participarem nas eleições gerais (presidenciais e legislativas) marcadas para 15 de outubro.

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2014, 6 de maioConfrontos entre forças governamentais e homens armados, alegadamente ligados à Resistência Nacional de Moçambique (RENAMO) causaram hoje diversos feridos em Ripembe, Sofala, centro do país, disseram à Lusa várias fontes. Homens armados, supostamente da RENAMO, abriram, com explosivos, uma cratera na N1, a principal estrada do país, onde emboscaram uma viatura militar de reconhecimento, após esta ter caído na cova aberta pela explosão.

2014, 7 de maioA RENAMO anunciou em Maputo a suspensão das suas ações armadas no centro de Moçambique, para permitir o recenseamento eleitoral na região. Numa declaração ao país lida em Maputo, o porta-voz da RENAMO, António Muchanga, anunciou que o partido suspende hoje ações militares para permitir o recenseamento eleitoral no distrito de Gorongosa. A dois dias do fim do recenseamento eleitoral para as eleições gerais de 15 de outubro, as oito brigadas do Secretariado Técnico de Administração Eleitoral (STAE) moçambicano que deviam trabalhar no distrito de Gorongosa, onde está refugiado o líder da RENAMO, Afonso Dhlakama, ainda não conseguiram proceder ao registo dos eleitores, devido a confrontos entre o exército moçambicano e homens armados do principal partido da oposição.

2014, 8 de maioO recenseamento de Afonso Dhlakama concretizou-se depois das brigadas de recenseamento eleitoral terem conseguido finalmente entrar na Gorongosa, na província central de Sofala. A informação concernente ao recenseamento do líder da RENAMO foi confirmada ao CIP (Centro de Integridade Pública) e à AWEPA (Parlamentares Europeus para a África) pelo porta-voz de Dlhakama, António Muchanga. Deste modo, estão agora reunidas todas as condições para que Dlhakama possa candidatar-se à presidência da República nas eleições de outubro próximo. Após se recensear, cercado por membros da sua segurança, Afonso Dhlakama voltou para o local onde está refugiado, caminhando pela mata cerrada da Serra da Gorongosa.

2014, 15 de maioUm militar morreu e outro ficou ferido em confrontos entre as forças governamentais e homens armados ligados à RENAMO, em Murrothane, 50 quilómetros a norte de Mocuba, Zambézia, centro de Moçambique, disseram hoje à Lusa fontes locais. "Deu entrada um militar morto, e outro ferido, atingidos por projéteis de balas", declarou à Lusa uma fonte médica do Hospital Rural de Mocuba, segunda maior cidade da Zambézia, para onde foram transferidas as vítimas. O confronto ocorreu ao princípio da manhã numa zona fiel à RENAMO, quando forças governamentais alegadamente forçaram um líder de Murrothane a mostrar a antiga base do movimento.

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2014, 20 de maioO Governo moçambicano qualificou de irresponsável a exigência da RENAMO de participação de assessores militares estrangeiros na fiscalização do fim dos confrontos entre o exército e o movimento no centro do país. Em declarações aos jornalistas, no final de mais uma ronda negocial, o chefe adjunto da delegação do Governo, Gabriel Muthisse, acusou a RENAMO de ter mudado de posição, passando a exigir a presença de assessores militares estrangeiros no lugar de mediadores.

No final da ronda negocial, os observadores moçambicanos nas negociações também reagiram e manifestaram a "tristeza com a lentidão" do processo negocial. Em declarações aos jornalistas, o bispo emérito da Igreja Anglicana e observador Dinis Sengulane expressou a sua frustração com o que considera lentidão das negociações entre os dois lados. "Estamos tristes com a forma lenta como o diálogo está a decorrer, mas não perdemos a esperança", afirmou Sengulane.

2014, 22 de maioO secretário-geral da RENAMO, principal partido da oposição em Moçambique, Manuel Bissopo, anunciou que o líder do movimento, Afonso Dhlakama, será o candidato presidencial da organização às eleições gerais de 15 de outubro próximo. "Mesmo que o presidente Dhlakama não consiga sair para circulação, de forma a exercer a atividade política por motivos de segurança, vai candidatar-se", afirmou.

A Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO), partido no poder, elegeu Filipe Nyusi, como seu candidato presidencial, e o Movimento Democrático de Moçambique (MDM), a terceira maior força política no país, escolheu Daviz Simango, presidente do partido, para a corrida à Ponta Vermelha, a residência oficial do chefe de Estado moçambicano.

Afonso Dhlakama, o líder da RENAMO, manifestou a vontade de abandonar o seu esconderijo e fazer pré-campanha para as eleições gerais de outubro, acusando o exército de cercar o seu refúgio. Apesar de ter aparecido em público há cerca de duas semanas perante uma brigada de recenseamento eleitoral, para se registar e obter o cartão de eleitor, na Serra da Gorongosa, centro do país, Afonso Dhlakama encontra-se em paradeiro desconhecido, desde que o acampamento em que vivia, na região, foi ocupado pelo exército moçambicano em outubro do ano passado, na sequência de confrontos com os homens armados da RENAMO (Resistência Nacional Moçambicana). Em entrevista telefónica que concedeu algures a partir da Serra da Gorongosa para órgãos de comunicação social reunidos na sede da RENAMO em Maputo, Afonso Dhlakama manifestou a vontade de abandonar o seu refúgio, enfatizando que essa intenção não se está a materializar, porque o exército moçambicano mantém o cerco ao local. "Eu quero sair daqui de Gorongosa, quero começar a andar, mas o Governo não está a retirar as FADM (Forças Armadas de Defesa de Moçambique), para impedir que eu me movimente", disse Dhlakama.

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Cartaz publicitário de Afonso Dhlakama da campanha para as eleições de 2009

2014, 23 de maioO Presidente de Moçambique e líder da FRELIMO , Armando Guebuza, pediu à sociedade civil moçambicana para convencer a RENAMO a baixar as armas e voltar às negociações sem condicionalismos. Num comício realizado em Chókwè, no início de uma presidência aberta na província de Gaza, sul do país, Guebuza garantiu a disponibilidade do Governo para o diálogo e convidou o maior partido da oposição a ouvir o povo, "porque todos almejam a paz". Guebuza mostrou-se confiante num desfecho pacífico, salientando que, "quando a RENAMO acordar, vai compreender que este país precisa de paz".

2014, 24 de maioO Governo moçambicano disse que Afonso Dhlakama, líder do maior partido de oposição, é livre de sair do seu esconderijo na Gorongosa, centro do país, e iniciar o trabalho político com vista às eleições gerais de outubro. "Afonso Dhlakama é livre de sair do seu esconderijo, mas o seu 'status' já não será mais o mesmo. Não poderá continuar a manter homens armados em Gorongosa, Satunjira, Muxúnguè ou em qualquer outro ponto do país. No nosso país já não há espaço para homens armados da RENAMO", declarou ao jornal Notícias o subchefe da delegação governamental no diálogo com a RENAMO. Gabriel Muthisse respondia ao líder da oposição, que na sexta-feira (23.05.) manifestou a vontade de abandonar o seu esconderijo na serra da Gorongosa e fazer pré-campanha para as eleições gerais de 15 de outubro, acusando o exército de cercar o seu refúgio.

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2014, 26 de maioO Governo moçambicano voltou a convidar o líder da RENAMO, Afonso Dhlakama, para uma reunião em Maputo com o Presidente Armando Guebuza, num momento em que as negociações com o maior partido de oposição se encontram num impasse. "Estamos na disposição de suportar os encargos desta deslocação, desde que a RENAMO nos dê indicações muito precisas de quem quer que traga o seu presidente para a mesa do diálogo", disse José Pacheco, chefe da delegação do Governo nas negociações com a RENAMO, após mais uma reunião inconclusiva para o desfecho da crise político-militar que se vive no país.

2014, 27 de maioO conflito armado em Moçambique provocou perdas diretas na indústria de turismo de 7,3 milhões de euros em apenas três meses, segundo um estudo da Associação de Comércio e Indústria de Sofala e da agência norte-americana USAID. Os dados, hoje apresentados em Maputo pela consultora Ema Batey, que preparou o estudo Custo do Conflito no Turismo em Moçambique para aquelas instituições, indicam que, entre novembro de 2013 e janeiro de 2014, os confrontos que opõem a Resistência Nacional de Moçambique (RENAMO) e o Governo, tiveram uma relação direta com as perdas no setor, mais acentuadas no turismo de lazer do que no turismo de negócios. No estudo, é apontado o caso concreto de Vilanculos, na província de Inhambane, sul do país, que teve uma perda de 50% do seu volume de negócios entre dezembro de 2013 e janeiro deste ano. "O impacto do declínio no setor afeta os operadores comerciais locais, as vendas e todas as cadeias de valor", disse Batey, lembrando que o turismo contribui com 85% das receitas locais.

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Praias vazias: menos turistas chegam a Moçambique em consequência do conflito (na foto: Tofo, Inhambane)

2014, 2 de junhoA RENAMO, principal partido da oposição moçambicana, anunciou a suspensão do cessar-fogo unilateral que anunciara para travar os confrontos com o Exército, principalmente no centro do país, em resposta a alegados ataques militares. Em conferência de imprensa hoje em Maputo, o porta-voz da RENAMO, António Muchanga, disse que o seu partido vai suspender, a partir do dia 2 de junho, o cessar-fogo, para que os homens armados do movimento se possam defender da alegada ofensiva do Exército, na província de Sofala, centro do país. "Os comandantes da RENAMO entendem que só se voltará a cessar-fogo depois de um entendimento pelas duas delegações no diálogo e com a chegada da mediação internacional, para garantir o respeito pelo compromisso pelas partes", afirmou António Muchanga. Depois de várias semanas de acalmia nas hostilidades entre o braço armado da RENAMO e as forças de defesa e segurança moçambicanas, na sequência de um cessar-fogo unilateral decretado pelo movimento, no dia 07 de maio, as duas partes voltaram a confrontar-se a partir de sexta-feira última (30.05.), havendo relatos de vários feridos e um morto do lado do Exército, mas não confirmados oficialmente. O porta-voz da RENAMO disse ainda que, com a suspensão do cessar-fogo, o seu partido já não pode dar garantias de segurança na circulação na principal estrada do país, no troço da região centro, onde a movimentação de passageiros e carga tem sido feita sob escolta militar, desde abril do ano passado, quando eclodiram os primeiros confrontos.

No mesmo dia, um ataque a uma coluna de viaturas, atribuído a homens ligados à RENAMO, feriu cinco militares e duas civis em Zove, a 10 quilómetros de Muxúnguè, Sofala, centro de Moçambique, disse à Lusa fonte médica. "Deram entrada no hospital dois civis e cinco militares, todos com contusões e escoriações", precisou à Lusa Pedro Vidamão, diretor do Hospital Rural de Muxúnguè, adiantando que "um militar teve uma fratura no antebraço e foi submetido a uma operação".

2014, 3 de junhoDois novos ataques atribuídos a homens da RENAMO mataram hoje um militar e deixaram seis feridos, quatro dos quais civis, próximo de Zove, na região de Muxúnguè, província de Sofala, centro de Moçambique, disse à Lusa fonte médica. Segundo Pedro Vidamão, diretor do Hospital Rural de Muxúnguè, uma coluna do Exército foi emboscada duas vezes na manhã de hoje, em menos de meia-hora, na principal estrada de Moçambique e que une o sul e o norte do país. Esta sucessão de ataques segue-se ao anúncio, na segunda-feira, do fim do cessar-fogo declarado unilateralmente pela Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO) devido ao impasse nas negociações com o Governo. “Deram entrada no hospital de forma faseada dois grupos, o primeiro de três civis e um militar [feridos] e o segundo de um civil e um militar feridos e um militar morto", disse à Lusa o diretor do Hospital Rural de Muxúnguè.

2014, 4 de junho

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O secretário-geral da RENAMO, Manuel Bissopo, disse que o seu movimento está preparado para dividir o país, caso o Governo não aceite a paridade na composição do exército. "Se a FRELIMO continuar a dizer que não aceita a paridade, então a RENAMO e o presidente Afonso Dhlakama não têm mais nada a fazer, senão aceitar o que a FRELIMO quer, que é criar condições para dividir o país", disse Manuel Bissopo, citado pelo diário O País. Quadros do principal partido da oposição já ameaçaram, em ocasiões anteriores, dividir o país a partir do Rio Save, que divide o sul do centro e norte, regiões de maior implantação da RENAMO.

Um ataque de homens armados no centro de Moçambique provocou três feridos, elevando para um morto e 24 feridos o balanço dos confrontos entre a Resistência Nacional Moçambicana e o exército em menos de uma semana. Segundo habitantes locais ouvidos pela Lusa, o ataque de hoje foi dirigido a uma viatura militar que fazia escolta a uma coluna de veículos na N1, a principal estrada do país, e que foi emboscada a seis quilómetros da vila de Muxúnguè, província de Sofala. Na escalada dos ataques atribuídos a homens armados da RENAMO, o principal partido da oposição em Moçambique, este é o primeiro que ocorre perto de uma zona residencial.

A ponte sobre o Rio Save: a partir daqui começa a zona perigosa da Estrada Nacional 1

2014, 5 de junhoEm conferência de imprensa sobre o recrudescimento da situação política e militar em Moçambique, o porta-voz da FRELIMO (Frente de Libertação de Moçambique), Damião José, acusou o principal partido da oposição de estar a comportar-se como um grupo de "bandidos armados", o epíteto que os dirigentes do partido no poder e a comunicação social estatal usavam para se referir à guerrilha da RENAMO, durante os

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16 anos de guerra civil, que terminou em 1992. "Com esta postura, de bandidos armados, já não há dúvidas de que a RENAMO continua a ser inimiga do povo moçambicano, que a RENAMO não quer a paz, que a RENAMO tem medo de participar nas eleições gerais e provinciais de outubro", afirmou o porta-voz da FRELIMO.

2014, 8 de junhoA RENAMO ameaçou alargar o conflito a outras regiões do país, em resposta a bombardeamentos do exército na serra da Gorongosa, suposto esconderijo do seu líder, Afonso Dhlakama. "Estão a bombardear com B11 [antiaérea] a serra da Gorongosa", disse à Lusa António Muchanga, porta-voz da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO), adiantando que "isso pode provocar o desdobramento dos militares.

2014, 9 de junhoOs ataques a escoltas militares de viaturas na estrada que liga o sul e centro de Moçambique, provocaram uma queda do número de passageiros dos transportes semipúblicos e a subida de preço dos alimentos na região. "Os ataques fizeram escassear os produtos provenientes do sul, o que fez disparar o preço da cebola, batata e ovo", disse à Lusa Arminda Fajú, comerciante do mercado central em Chimoio, a capital da província de Manica. O número de passageiros que procuram ligar por terra as cidades de Chimoio e Maputo, através de transportes semipúblicos ("chapas") caiu quase para um quarto, desde o reinício dos confrontos naquele troço da região centro. "A procura baixou muito. Agora temos que encorajar cada passageiro que nos procura para viajar. Há autocarros que saem para Maputo com 15 passageiros, num total de 57 lugares", disse à Lusa Fredson Rodrigues, funcionário da companhia de transporte Angolano, assegurando que a receita nem cobre o combustível necessário para a viagem.

O presidente da Federação Moçambicana dos Transportadores Rodoviários (FEMATRO) admitiu à Lusa em Maputo, no dia seguinte, que a organização "não descarta" a hipótese de suspender a atividade no centro do país, caso os ataques armados a veículos continuem. "Os transportadores vivem uma situação de enorme preocupação, devido à situação grave que se vive no troço Muxúnguè-Save. Estão a morrer pessoas e a acumularem-se prejuízos", frisou Castigo Nhamane.

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Autocarro na província de Manica

2014, 10 de junhoCerca de 150 organizações da sociedade civil moçambicana exigiram hoje que a RENAMO, principal partido da oposição, restabeleça o cessar-fogo, cujo anúncio de levantamento, há uma semana, foi seguido de diversos ataques armados na região centro de Moçambique. Condenando "os cinco ataques reportados pela imprensa", que foram atribuídos a homens armados da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO), os subscritores do documento "Não ao Assassinato de moçambicanas e moçambicanas", hoje apresentado em Maputo, apelaram ao partido para que "restabeleça e mantenha o cessar-fogo", levantado a 28 de maio. "Apelamos para que a RENAMO se abstenha de pronunciar discursos que incitem à violência usando os órgãos de comunicação social como veículo", lê-se no documento, no qual se insta o partido político a "contribuir genuinamente para a reestruturação da paz no país". Na mensagem, a sociedade civil condena também o "discurso e terminologias de incitamento à tensão política" da FRELIMO.

2014, 13 de junhoEm declarações à agência Lusa, o porta-voz da RENAMO, António Muchanga, considerou extemporâneo o pedido de cessar-fogo, porque, no seu entender, devia ter sido feito quando o movimento acusou as forças governamentais de estarem a bombardear a Serra da Gorongosa, onde está refugiado o líder do partido, Afonso Dhlakama. "Por mais legítimas que sejam as exigências da sociedade civil, pecam por ser extemporâneas, porque não foram feitas no momento em que ocorreram as razões

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que levaram a RENAMO a suspender o cessar-fogo", assinalou Muchanga. O porta-voz da RENAMO acusou algumas organizações da sociedade civil que subscreveram o pedido de cessar-fogo de agirem por encomenda do Governo, alegando que cederam às pressões de figuras afetas ao executivo para criticarem aquele partido. António Muchanga reiterou que a RENAMO está comprometida com a paz no país. "A RENAMO fará tudo o que estiver ao seu alcance para que a situação volte à normalidade", acrescentou Muchanga.

2014, 15 de junhoHomens armados ligados à RENAMO mataram hoje quatro militares do Exército e feriram outros 13 numa emboscada no centro de país, disse à Lusa fonte do Hospital Distrital de Gorongosa. Segundo um morador contatado telefonicamente pela Lusa, "o Exército entrou a disparar durante a manhã e, no seu regresso, já no princípio da noite, foi emboscado no rio Mucodza, a 12 quilómetros da vila de Gorongosa", província de Sofala. António Muchanga, porta-voz da RENAMO, confirmou à Lusa a emboscada e que houve baixas do Exército, acrescentando que o socorro dos feridos "decorreu no escuro desde o princípio da noite".

O Presidente moçambicano, Armando Guebuza, afirmou que quer resolver o conflito político e militar com a RENAMO o mais depressa possível, reiterando que as eleições gerais de 15 de outubro não estão em causa. Falando no âmbito de uma presidência aberta à província de Tete, no centro-norte do país, Guebuza admitiu que os confrontos militares com a RENAMO (Resistência Nacional Moçambicana) mancham o fim do seu segundo e último mandato, acusando o líder da oposição, Afonso Dhlakama, de reaparecer "sobretudo para matar cidadãos inocentes".

2014, 16 de junhoUm cidadão chinês ficou hoje "gravemente ferido" durante uma emboscada de homens armados ligados à RENAMO à coluna de viaturas escoltada pelo exército, na região de Zove, Sofala, centro de Moçambique, disseram à Lusa militares e viajantes. "O cidadão chinês foi alvejado na cabine do camião que transportava toros de madeira para Maputo. Tem balas alojadas no corpo e foi levado para primeiros socorros no Hospital de Save", disse à Lusa, por telefone, um militar integrante da escolta. A coluna de viaturas foi emboscada 45 minutos depois de deixar Muxúnguè para Save - um troço de escolta militar obrigatória -, supostamente por homens armados da RENAMO.

2014, 17 de junhoUm confronto entre forças governamentais e homens armados, ligados a RENAMO, maior partido da oposiçao em Moçambique, fez hoje 14 feridos em Murrothone, interior de Mocuba, Zambezia, centro de Moçambique, disse hoje fonte médica à agência Lusa. "Deram entrada na enfermaria de medicina 14 feridos, a maioria atingidos por projéteis de balas", declarou fonte médica do Hospital Rural de Mocuba, na segunda maior cidade da Zambézia, para onde foram transferidas as vitimas. O confronto, contou à Lusa um habitante, iniciou-se cerca das cinco horas da manhã, quando as forças do

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Governo, pertencentes a uma brigada de Lichinga (norte) tentaram pela segunda vez num mês desativar uma base da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO), que supostamente reagrupa ex-guerrilheiros do movimento.

2014, 18 de junhoA presidente da Liga dos Direitos Humanos moçambicana (LDH), Alice Mabota, defendeu hoje a intervenção da comunidade internacional na resolução da crise política e militar, para que o país não resvale para um conflito mais grave. Alice Mabota advogou a necessidade da presença de entidades internacionais para mediar a crise em Moçambique, em declarações aos jornalistas, depois de um encontro com uma delegação da RENAMO, em que abordou a situação política no país. "Achamos que a comunidade internacional tem um papel a desempenhar na busca de uma solução para as hostilidades entre o Governo e a RENAMO. A comunidade internacional tem por hábito intervir quando já é tarde", afirmou Mabota.

2014, 21 de junhoSeis ataques a colunas de viaturas, escoltadas pelo Exército, no troço de 100 quilómetros entre Muxúnguè e rio Save, Sofala, no centro de Moçambique, fizeram dois mortos e quatro feridos nos últimos três dias, disseram hoje à Lusa várias fontes locais. As vítimas, disse à Lusa fonte militar, foram atingidas num transporte público proveniente de Machanga (Sofala) no final da tarde de sexta-feira, após uma emboscada na zona de Zove, atribuída a homens armados da RENAMO, que se confronta há um ano com o Exército na região. "Um homem e uma mulher que vinham no transporte morreram. Também três mulheres e um professor ficaram feridos no ataque de sexta-feira, totalizando dois mortos e quatro feridos", declarou à Lusa por telefone uma fonte militar em Muxúnguè.

2014, 23 de junhoO Conselho Nacional da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO) elegeu hoje por aclamação Afonso Dhlakama para candidato às eleições presidenciais de 15 de outubro, disse à Lusa fonte do maior partido de oposição de Moçambique. "O presidente Afonso Dhlakama foi aclamado por unanimidade pelo Conselho Nacional do partido ", informou José Manteiga, porta-voz do Conselho Nacional da RENAMO, reunido na Beira, Sofala, centro de Moçambique. O líder da RENAMO, que se mantém escondido em parte incerta na serra da Gorongosa, já tinha sido apontado pelo partido como candidato às presidenciais, mas a escolha ainda não tinha sido formalizada pelas estruturas partidárias.

2014, 24 de junhoO líder da RENAMO, Afonso Dhlakama, reiterou durante um comício na Beira a ameaça de dividir o pais se o Governo não ceder na unificação do exército. Dhlakama, que se mantém escondido na serra Gorongosa, falou por videoconferência, no populoso

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bairro da Munhava, bastião da RENAMO, no lançamento da sua pré-campanha eleitoral às presidenciais de 15 de outubro, e considerou insustentável a coabitação com o Governo, tendo decidido criar fronteiras geopolíticas para dividir o país a partir do Save, província de Sofala, no centro do país. Com a divisão proposta pela RENAMO, o Governo ficaria apenas com a gestão de quatro províncias da região sul, incluindo a capital Maputo, passando as remanescentes sete províncias do centro e norte de Moçambique para a gestão da RENAMO. "Se a Frelimo continuar a negar que as forças da RENAMO estejam no Exército nacional, não teremos alternativa: vamos dividir o país a partir do rio Save", declarou Afonso Dhlakama, no comício realizado em paralelo com o Conselho Nacional do partido, também na Beira, ironizando que não há nenhuma ilha para "acomodar" os seus seguidores.

O líder partidário, que voltou a autoproclamar-se "pai da democracia" na reunião que juntou centenas de pessoas, de crianças a idosos, defendeu ainda a necessidade de se reafirmar a real participação no pais, e desafiou mais uma vez o Presidente moçambicano a cancelar as escoltas militares, no troço entre Save e Muxungue, na principal estrada de Moçambique, que liga o sul e centro do pais, palco de confrontos entre o Exército e homens armados da RENAMO. Afonso Dhlakama negou a autoria de ataques a civis naquele troço, adiantando que as colunas, escoltadas pelo exército, "são uma manobra do Governo para usar a população como escudo para reforçar a presença de militares" no centro de Moçambique, particularmente na serra da Gorongosa, onde se supõe que esteja refugiado. "Como eu podia deixar a população circunvizinha na Gorongosa para ir atacar em Muxúnguè, a minha terra natal, onde estão os meus irmãos?", questionou Afonso Dhlakama.

Na cidade da Beira teve lugar o congresso da RENAMO (na foto: o porto da cidade)

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2014, 27 de junhoDois militares e dois civis morreram num ataque a uma coluna de viaturas escoltadas pelo Exército moçambicano, em Mutinda, a 22 quilómetros de Muxúnguè, Sofala, no centro do país, disseram à Lusa várias fontes locais. No ataque, atribuído a homens armados da RENAMO também ficaram feridos dois civis, um dos quais com gravidade.

2014, 30 de junhoO Governo moçambicano e a RENAMO, maior partido de oposição, voltaram a encontrar-se em Maputo, ao fim de duas semanas sem negociações e em plena escalada do conflito militar na região centro do país. "Não podemos concluir que houve avanços significativos, porque o essencial ainda não foi concluído", declarou no fim do encontro Saimone Macuiane, chefe da delegação da RENAMO nas negociações e deputado na Assembleia da República. O chefe da delegação do Governo e ministro da agricultura, José Pacheco, lamentou, por seu lado a falta de acordo sobre a desmilitarização da RENAMO. "A RENAMO entende que este ponto não faz parte dos termos de referência. Ora, faz sentido que os nossos observadores venham a observar os pilares fundamentais de todo o processo do diálogo", disse Pacheco. As negociações entre as duas partes duram há mais de um ano e continuam marcadas pelo impasse.

2014, 2 de julhoA RENAMO exigiu ao Governo que quadros seus preencham metade do efetivo de duas forças especiais da polícia. "Neste momento pretendemos a partilha de 50% de duas forças especiais que a polícia criou fora do Acordo Geral de Paz, que é a Força de Proteção de Altas Individualidades e a Força de Intervenção Rápida, declarou em Maputo António Muchanga, clarificando as exigências da RENAMO em relação às forças de defesa e segurança do país. "Pode-se chegar ao consenso de se partilhar o comando dos ramos e das unidades, na proporção em que quando o comandante é da RENAMO o adjunto é da Frelimo e vice-versa, alternadamente nas várias unidades desde a base até ao topo", informou o porta-voz do partido de oposição, que anteriormente exigia o comando das forças armadas e da polícia.

O Presidente moçambicano, Armando Guebuza, considerou em Lisboa, que as exigências da RENAMO nas negociações políticas que decorrem no país são cada vez mais "impossíveis de satisfazer", mas reiterou a disponibilidade para continuar o diálogo. Em entrevista à agência Lusa no âmbito da visita de três dias que está a efetuar a Portugal e que termina na quinta-feira, o chefe de Estado moçambicano referiu que nas negociações para acabar com o conflito político-militar, a Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO), "infelizmente, quando se resolve um problema, cria outras preocupações, aparentemente cada vez mais impossíveis de satisfazer". No entanto, Armando Guebuza considerou que "alguma coisa de positivo já se conseguiu", uma vez que "a RENAMO declarou estar interessada em participar nas eleições, o líder da RENAMO recenseou-se e agora declarou-se como o candidato natural" do principal partido da oposição à presidência, nas eleições gerais de 15 de outubro próximo.

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Armando Guebuza (foto tirada em Maputo)

2014, 7 de julhoO Conselho de Estado de Moçambique apelou para que a RENAMO prossiga o diálogo com vista à paz e à realização das eleições gerais de 15 de outubro. "Os membros do Conselho de Estado apelaram à RENAMO para que cesse as hostilidades militares, que têm semeado o luto e a dor em muitas famílias moçambicanas, para que abdique dos discursos ostensivamente belicistas que têm sido multiplicados, para que a RENAMO enverede pelo caminho do diálogo e para que participe no jogo democrático em curso no país", afirmou o Edson Macuácuá, porta-voz da presidência moçambicana, no fim da reunião de cerca de três horas em Maputo. Dhlakama, ausente em parte incerta na serra da Gorongosa, na província de Sofala, não tomou parte no Conselho de Estado que se reuniu na presidência moçambicana, tendo a RENAMO sido representada pelo porta-voz do partido. À saída da reunião, António Muchanga disse aos jornalistas que "a RENAMO sempre teve o compromisso para que a paz seja uma realidade", acrescentando que, em agosto, também tinha recebido garantias "e até agora nada".

À saída do palácio da Presidência moçambicana, poucos minutos após o fim do Conselho de Estado, António Muchanga foi detido por incitação à violência. O Conselho de Estado tinha decidido levantar-lhe a imunidade de que gozava na qualidade de conselheiro.

2014, 8 de julho

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A FRELIMO congratulou-se com a decisão de levantamento de imunidade do porta-voz da RENAMO, principal partido de oposição, e considerou que a sua detenção apenas peca por tardia. "A sábia decisão do Conselho de Estado e pronta resposta da administração de justiça peca apenas por chegar tarde, porque há já bastante tempo que o povo perguntava se António Muchanga era intocável e estava acima da lei", declarou numa conferência de imprensa em Maputo, Damião José, porta-voz da FRELIMO.

O porta-voz da RENAMO mantinha-se detido numa esquadra da Polícia da República de Moçambique (PRM) na zona do porto de Maputo. A advogada dele afirmou que está a ser impedida de visitar o seu constituinte. Alice Mabota, que é também presidente da Liga dos Direitos Humanos de Moçambique, tentou em vão encontrar-se com António Muchanga na esquadra. "Dizem [agentes da esquadra] que têm ordens do chefe para não me deixarem entrar. Estamos a fazer uma carta de protesto à Procuradoria-Geral da República (PGR). Qualquer que seja o tipo de crime, ele tem direito a um advogado, que é um direito constitucional", afirmou Alice Mabota.

Falando à imprensa, no final de um encontro entre uma delegação da RENAMO e o procurador-geral adjunto Afonso Antunes, a chefe da bancada parlamentar do principal partido da oposição, Angelina Enoque, disse: "Para nós (a detenção de António Muchanga), foi uma ilegalidade cumprida, os órgãos envolvidos neste ato estavam em sintonia, sabiam que a sessão do Conselho de Estado ia terminar e que ele ia sair". A chefe da bancada parlamentar do partido referiu que a delegação da RENAMO queixou-se ainda à PGR da alegada falta de mandado judicial e de a detenção ter supostamente ocorrido no recinto da Presidência da República, onde se realizou a reunião do Conselho de Estado.

2014, 9 de julhoO Presidente moçambicano, Armando Guebuza, começou uma visita à província de Sofala, onde se têm registado confrontos entre Governo e RENAMO, destacando num comício em Búzi que a paz e unidade são fundamentais para uma nação forte. O Presidente moçambicano reafirmou a sua disponibilidade para o diálogo, num momento em que se intensificou a crise política e militar com a RENAMO com as negociações entre as partes bloqueadas e a manutenção de um estado de guerra na região centro do país.

2014, 10 de julhoO presidente da RENAMO, Afonso Dhlakama, considerou que a recente detenção do porta-voz do partido, António Muchanga, representa uma violação da Constituição, assegurando que "não vai retaliar militarmente" ao sucedido. Falando por teleconferência a partir da Gorongosa, o presidente da RENAMO, o maior partido da oposição em Moçambique, classificou como uma "pouca-vergonha" o Conselho de Estado (CE) decorrido na segunda-feira em Maputo, e no qual disse ter sido violada a Constituição moçambicana. "Através dos resultados que tivemos nas eleições, o Muchanga é membro do Conselho de Estado. diferente dos outros membros, que foram convidados pelo Presidente da República. O que aconteceu é uma violação da constituição e da própria lei, é um abuso de poder", disse, referindo-se à decisão do CE

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de retirar a imunidade ao porta-voz da RENAMO, de que gozava enquanto membro daquele órgão. António Muchanga foi transferido para a Cadeia de Alta Segurança de Maputo, vulgarmente reconhecida como B.O. "Porque é que o Muchanga foi conduzido para a B.O.? Matou alguém? Qual foi o crime que praticou? Apenas porque é o porta-voz do Dhlakama? Porque faz conferências de imprensa? Isto é um abuso e é antidemocrático", considerou Afonso Dhlakama, mostrando-se "muito indignado" com aquilo que disse ser uma "provocação" do Governo moçambicano ao seu partido.

2014, 13 de julhoO ex-número dois da RENAMO, Raul Domingos defendeu que a crise no país resulta das "deficiências de implementação" do Acordo Geral de Paz. Em entrevista à Lusa, Raúl Domingos, que liderou a delegação da RENAMO (Resistência Nacional Moçambicana) às negociações que culminaram com a assinatura do Acordo Geral de Paz (AGP) em outubro de 1992, que acabou com 16 anos de guerra civil, afirmou que a crise política e militar que o país enfrenta tem a sua génese na "não efetiva implementação" do pacto por parte do Governo da Frente de Libertação de Moçambique. O político acusou o atual chefe de Estado moçambicano, Armando Guebuza, de ser o responsável pela atual situação, porque, com a sua ascensão ao poder, em 2005, a FRELIMO começou, supostamente, a recuar no compromisso de respeitar a paridade na composição das Forças Armadas de Defesa de Moçambique (FADM), através de um comando conjunto com oficiais oriundos da antiga guerrilha. "A paridade nas FADM tinha sido acordada em Roma (onde foi assinado o AGP), mas, depois da era do Presidente Joaquim Chissano, começou a assistir-se a um recuo, o primeiro, muito claramente visível, é a introdução das células do partido FRELIMO na Função Pública, que automaticamente viola o AGP; porque o AGP fala da despartidarização da Função Pública", sublinhou Raúl Domingos.

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Rául Domingos foi um dos arquitetos da paz de 1992

2014, 15 de julhoA RENAMO principal partido de oposição em Moçambique, depositou hoje na Comissão Nacional de Eleições (CNE) a candidatura às eleições legislativas de 15 de outubro, assumindo-se "preparada para vencer com maioria qualificada". A submissão da candidatura da RENAMO às eleições legislativas e assembleias provinciais acontece depois de o partido ter depositado na sexta-feira (12.07.), no Conselho Constitucional, a candidatura do seu líder, Afonso Dhlakama, às eleições presidenciais, também marcadas para o dia 15 de outubro.

2014, 18 de julhoO Governo moçambicano e a RENAMO declararam em Maputo ter registado "avanços para um "entendimento" que visa acabar com a crise política e militar no país. "Hoje tivemos a ronda número 64, gostaríamos de dizer que, nesta ronda, tivemos avanços, ainda não conclusivos, mas tivemos avanços. Esperamos que nas próximas rondas possamos concluir aquilo que é fundamental para podermos trazer a tranquilidade ao nosso povo e a todos nós", disse à comunicação social o chefe da delegação da RENAMO nas negociações com o Governo, Saimone Macuiane. Macuiane escusou-se a especificar o conteúdo dos progressos verificados nas negociações, remetendo essa informação para as próximas rondas negociais, mas avançou que o impulso registado no diálogo com o Governo vai permitir a harmonização dos aspetos na origem do impasse que prevalecia.

Por seu turno, o chefe-adjunto da delegação do Governo, Gabriel Muthisse, disse que a RENAMO levou hoje à mesa novas propostas, que abrem caminho para uma solução em torno da crise política e militar em Moçambique. "Tivemos hoje uma sessão que foi relativamente demorada, a RENAMO trouxe propostas bastante novas, que, do nosso ponto de vista, são um ponto de partida para uma discussão muito importante, e sobretudo, são propostas que procuram remover grande parte daquilo que eram as nossas diferenças", afirmou Muthisse.

Os ataques da RENAMO a colunas de viaturas, no troço Muxúnguè-Save, Sofala, centro de Moçambique, também cessaram nas duas semanas anteriores a esta ronda negocial, mas o movimento de pessoas e bens mantém-se sob forte escolta do exército.

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Em julho, foi possível viajar com mais segurança na Estrada Nacional 1 (na foto: ponte entre Gorongosa e Inchope)

2014, 21 de julhoA RENAMO entregou hoje ao Conselho Constitucional a certidão do registo criminal de Afonso Dhlakama, candidato pelo partido às eleições presidenciais de 15 de outubro. Apesar de ter formalizado a candidatura de Dhlakama às presidenciais há mais de uma semana, a RENAMO não conseguiu na altura entregar a certidão do registo criminal do seu líder, apontando "razões conhecidas", numa alusão ao facto de o candidato encontrar-se em lugar incerto, algures na Serra da Gorongosa, centro do país, desde que o seu acampamento foi tomado em outubro do ano passado pelo exército. O prazo de candidaturas para as eleições presidenciais, que vão decorrer em simultâneo com as legislativas e para as assembleias provinciais, terminou no dia 21 de julho.

O Governo de Sofala apresentou um balanço oficial de seis mortos e 59 feridos em junho em resultado de ataques armados da RENAMO a colunas de viaturas escoltadas pelo Exército no centro de Moçambique. "Em junho houve um recrudescimento de tiros [ataques] no troço Save-Muxúnguè", disse António Pelembe, comandante da Polícia de Sofala, centro de Moçambique, assegurando a continuidade das escoltas militares obrigatórias naquele troço de cem quilómetros, para retrair novas ofensivas. Ao todo, disse, durante o mês de junho, foram realizadas 29 emboscadas atribuídas a homens armados da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO), a maioria, segundo as autoridades provinciais, dirigidas a viaturas civis, sobretudo transportes semipúblicos de passageiros. O número real de vítimas nos ataques na estrada N1, a única que liga o sul e o centro do país, bem como nos confrontos entre as partes na Gorongosa, também na

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província de Sofala, onde se refugia o líder da RENAMO, Afonso Dhlakama, permanece uma incógnita.

2014, 22 de julhoO Governo moçambicano e a RENAMO, principal partido da oposição, anunciaram hoje um entendimento em relação a 95% das matérias que são objeto de negociação para o fim da crise política e militar no país. "Do nosso ponto de vista, em relação a todas as questões relevantes e estruturais, parece haver um acordo entre o Governo e a RENAMO, há ainda uma ou outra questão de forma que tem de ser pensada", disse o chefe-adjunto da delegação do Governo, Gabriel Muthisse. Questionado sobre o conteúdo dos entendimentos alcançados nas negociações, o chefe-adjunto da delegação do Governo respondeu que as duas partes acordaram revelar a substância do acordo no final do processo de diálogo, adiantando que tal poderá acontecer na próxima sessão, agendada para segunda-feira, dia 28 de julho. Enfatizando que as duas últimas sessões de diálogo decorreram num espírito positivo e foram construtivas, Muthisse disse esperar que os progressos que têm sido registados nas últimas rondas resultem na restauração da estabilidade nas zonas de conflito, mesmo antes de um acordo formal.

Por seu turno, o chefe da delegação da RENAMO, Saimone Macuiane, afirmou: "Hoje, tivemos a ronda número 65, houve avanços significativos, ainda não concluímos o trabalho, mas consideramos que 95% já está feito, queremos reiterar que a RENAMO e o seu presidente, Afonso Dhlakama, continuam firmes no diálogo, colaboração e consulta em nome dos interesses superiores do povo". O chefe da delegação do principal partido da oposição disse esperar que as duas delegações produzam resultados definitivos para a crise política e militar em Moçambique na ronda da próxima segunda-feira. "O povo moçambicano quer saber que se chegou a um meio-termo, para a paz e estabilidade, e as partes estão perto de concluir o seu trabalho", afirmou Saimone Macuiane.

2014, 28 de julhoNa 66.a ronda de negociações, o Governo e a RENAMO alcançaram finalmente um consenso em relação a todos os pontos essenciais do acordo com vista à cessação das hostilidades no país. "Este documento já agrega todos os elementos essenciais do processo de cessação das hostilidades militares e da integração nas Forças Armadas e na Polícia da República de Moçambique", disse o chefe da delegação governamental, José Pacheco. Além disso, o documento base contempla também a reinserção económica e social dos elementos da RENAMO. Segundo o representante do Executivo moçambicano, as partes concordaram ainda que, "terminado este processo, nenhum partido poderá ter elementos armados."

O chefe da delegação da RENAMO, Saimone Macuiane, afirmou igualmente que um ambiente harmonioso tem caracterizado a presente fase das negociações. "O que nós já fizemos corresponde exatamente à nossa preocupação de encontrar uma paz e uma estabilidade duradouras no nosso país", afirmou Macuiane. Contudo, segundo José Pacheco, da delegação governamental, falta ainda harmonizar aspetos relacionados com as "responsabilidades das partes intervenientes no âmbito da implementação das ações

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inerentes à cessação das hostilidades e à consolidação da paz, ordem e segurança pública."

É em Maputo, no Centro de Convenções Joaquim Chissano (CCJC), que têm lugar as negociações entre a RENAMO e o Governo

2014, 30 de julhoAo contrário das previsões, o Governo e a RENAMO não assinaram nesta quarta-feira o aguardado acordo para a cessação das hostilidades no país. Depois da 67.a ronda de negociações, a delegação do Governo acusou a RENAMO de ter levado à mesa do dialogo novas propostas em relação às matérias em debate quanto às garantias após a cessação das hostilidades. Por seu turno, a RENAMO nega que tenha apresentado elementos novos, afirmando que se limitou a colocar um aspeto que visa clarificar os mecanismos de garantias. As duas partes combinaram a encontrar-se de novo na segunda-feira para a próxima ronda de negociações.

2014, 4 de agostoMais uma vez, o Governo e a RENAMO não assinaram o acordo de paz. Na 68.a ronda de negociações, ambas as delegações anunciaram que ainda falta clarificar um aspecto operacional da missão de observação internacional para finalizar o acordo sobre o fim da crise no país. O Governo moçambicano e a RENAMO admitiram, no entanto, que se registaram avanços nesta ronda negocial.

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O chefe adjunto da delegação do Governo, Gabriel Muthisse, revelou que, na sequência dos consensos alcançados, o Governo e a RENAMO iniciaram “a revisão dos termos de referência da missão da observação internacional à luz dos últimos entendimentos”. De acordo com Muthisse, os termos de referência “foram consensualizados quase na totalidade, mas ficou em aberto um aspecto operacional”, que considerou de detalhe, em relação ao qual o Governo pediu tempo para refletir. Gabriel Muthisse escusou-se a entrar em pormenores sobre a divergência que ainda falta ultrapassar, dizendo apenas que as partes vão voltar a reunir-se para superar a questão pendente.

Por seu turno, o chefe da delegação da RENAMO, Saimone Macuiane, confirmou que falta apenas ultrapassar este aspecto, explicando que “isso se deve ao facto de o Governo ter pedido para “revisitar um termo que diz respeito ao organograma do comando central da missão dos observadores internacionais em Maputo, bem como os sub-comandos”. “Há mais de três meses que me têm vindo a dizer que um dos sub-comandos estaria em Sofala, o outro em Nampula, em Tete e em Inhambane”, clarificou.

2014, 5 de agostoApós 69 rondas negociais, o Governo moçambicano e a RENAMO finalmente alcançaram um acordo final para a cessação das hostilidades no país. O acordo deverá ser assinado ao mais alto nível, pelo Presidente Armando Guebuza e o líder da RENAMO, Afonso Dlakhama, como referiu Saimone Macuiane, chefe da delegação do maior partido da oposição no país. "Hoje não assinamos o fim das hostilidades do país. Nós temos, neste momento, a oportunidade de fazer chegar às nossas lideranças e, partir daí, haverá um dia oficial que de uma vez para sempre, que é o nosso desejo, irá ser declarado como o fim das hostilidades," disse.

Segundo o chefe adjunto da delegação do Governo, Gabriel Muthisse, três passos se seguem. "O primeiro é relativo ao cenário da assinatura dos documentos que consensualizámos, de modo a que eles tenham eficácia no terreno. O segundo passo é preparar o encontro entre o Presidente da República e o presidente da RENAMO. Um terceiro passo é o Governo encetar as marchas para convidar os observadores militares estrangeiros que vão monitorizar os processos de cessação das hostilidades e o consequente processo de integração dos homens armados da RENAMO nas Forças Armadas e na Polícia da República de Moçambique," afirmou.

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Os membros da delegação do Governo na 69.a ronda negocial no Centro de Convenções Joaquim Chissano em Maputo

Cronologia do conflito entre a RENAMO e o Governo de Moçambique (2ª parte)Moçambique vive mais um período de instabilidade com confrontos entre as forças de segurança e a RENAMO. Os principais acontecimentos depois do acordo de paz de 2014 que não conseguiu evitar os confrontos em 2015 e 2016.

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Forças de segurança de Moçambique prendem um membro da RENAMO em frente da residência de Afonso Dhlakama na cidade da Beira no dia 9 de outubro de 2015

12 de agosto de 2014: Parlamento moçambicano aprova Lei de Amnistia

O Parlamento aprovou a Lei de Amnistia, um dos pilares para a reconciliação entre o Governo da FRELIMO (Frente de Libertação de Moçambique) e a RENAMO (Resistência Moçambicana), maior partido da oposição.

O debate sobre a nova legislação de lei durou o dia todo. A bancada parlamentar da RENAMO apresentou objeções à proposta de lei inicial. A proposta impedia a punição penal de autores de crimes contra a segurança do Estado e crimes militares ou conexos cometidos contra pessoas e a propriedade, no âmbito das hostilidades militares ou conexas ocorridas entre junho de 2012 e a entrada em vigor da legislação. A FRELIMO acabou por ceder à exigência. A abrangência da legislação foi alargada de junho de 2012 para março de 2012

A volta à normalidade foi acordada no início de agosto de 2014 numa reunião entre representantes do Governo e da RENAMO. As hostilidades duraram 18 meses e fizeram vários mortos no país.

No dia anterior, 11 de agosto, o chefe da delegação do Governo, José Pacheco, e o chefe da delegação da RENAMO, Saimone Macuiane, tinham assinado os três documentos-base do entendimento: os princípios gerais para o fim da violência militar, os termos de referência da missão de observadores internacionais que vão fiscalizar o fim das hostilidades e os mecanismos de garantia de implementação dos acordos, que incluem a aprovação da Lei de Amnistia.

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Boia Efraime, psicoterapeuta moçambicano e membro da Associação Reconstruindo Esperança, diz que os efeitos do conflito RENAMO - FRELIMO na sociedade de Moçambique podem ser desastrosos: "Há muita gente ainda traumatizada com os conflitos no passado. Essas pessoas voltaram a ficar assustadas, feridas foram reabertas. Os traumas ainda não estão superados. Mais do que isso, o conflito atual mina a capacidade das pessoas de terem confiança no futuro. Isto significa que a nossa reconciliação ainda está sobre pernas muito trémulas."

19 de agosto de 2014: António Muchanga, porta-voz da RENAMO, libertado

A libertação do porta-voz da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO) aconteceu no dia em que foi publicada no Boletim da República a Lei da Amnistia, aprovada uma semana antes pelo Parlamento. A libertação de António Muchanga é a primeira no âmbito da Lei da Amnistia.

António Muchanga foi detido no dia 7 de julho de 2014, depois de ter participado numa sessão do Conselho de Estado, em Maputo, altura em que lhe foi retirada a imunidade. “A minha libertação é um direito que me assiste porque fui preso sem justa causa”, declarou o porta-voz do maior partido da oposição moçambicana em entrevista telefónica à DW África.

“Os membros do Conselho de Estado naquele dia deixaram se der conselheiros de Estado e transformaram o Conselho quase num Conselho de gentios”, criticou Muchanga. “E com a reposição da verdade agora estou fora”, acrescentou. António Muchanga saiu esta terça-feira em liberdade, no âmbito da Lei da Amnistia recentemente aprovada. O porta-voz do principal partido da oposição moçambicana diz que a sua detenção, há cerca de um mês, foi "injusta".

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24 de agosto de 2014: Governo e RENAMO assinam cessar-fogo

O Governo moçambicano e a RENAMO assinaram em Maputo um acordo para a cessação imediata das hostilidades militares em todo o país. O ato visa “dar a certeza” de que as lideranças tanto do Governo como da RENAMO vão cumprir o que ficou acordado, segundo afirmou um dos observadores nacionais nas negociações, Lourenço do Rosário. O acordo acontece depois de quase um ano e meio de conflito armado e 74 rondas de negociação.

"Mandatados por Armando Emílio Guebuza, Presidente da República de Moçambique, e por Afonso Dhlakama, presidente do partido RENAMO, [os negociadores das duas partes] declaram o cessar das hostilidades militares, em todo o território nacional com efeitos imediatos", declarou o académico Lourenço do Rosário.

O chefe dos observadores disse, no final da reunião, que também foram assinados o memorando de entendimento, os mecanismos de garantia e os termos de referência da equipa militar de observação do cessar de hostilidades.

O acordo foi assinado pelo chefe da delegação governamental e ministro da Agricultura, José Pacheco, e pelo líder dos negociadores da RENAMO, Saimone Macuiane, que depois se abraçaram perante os jornalistas, representantes de ambas as partes, numa cerimónia transmitida em direto pelas principais televisões do país.

Na base do atraso da assinatura do entendimento, esteve a declaração de cessar-fogo, cujos termos foram negociados ao longo da tarde e parte da noite de domingo. Os chefes das delegações do executivo e da RENAMO ultrapassaram também as últimas divergências, que se prendiam com os mandatos conferidos aos negociadores para subscrever o entendimento em nome dos seus líderes.

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O acordo conseguido entre o Governo e a RENAMO é um bom ponto de partida, mas exige grandes desafios, considerou o analista moçambicano Silvestre Baessa. E o primeiro teste serão precisamente as eleições de 15 de outubro: “Vamos ver até que ponto este acordo irá sobreviver a toda a problemática que as eleições criam no país. É muito cedo para o considerarmos um acordo efetivo”, advertiu o especialista.

25 de agosto de 2014: Afonso Dhlakama promete respeitar acordo de cessar-fogo

Falando a jornalistas em Maputo via teleconferência, a partir do local incerto onde se encontrou, Afonso Dhlakama mostrou-se satisfeito com a declaração imediata do cessar-fogo em todo o país anunciada domingo entre o seu partido e o Governo. “Estou muito satisfeito por aquilo que foi conseguido ontem, embora o acordo tenha demorado”, afirmou.

Segundo o líder da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO), os seus homens armados já foram instruídos para não realizarem mais disparos. “Ninguém vai disparar mais. Embora o acordo tenha sido ontem à noite, eu, como líder da RENAMO e comandante-chefe das Forças da RENAMO, fiz a comunicação a todas as nossas unidades militares para que pudessem cessar fogo. Todos ouviram bem. Receberam bem as ordens”, declarou.

Afonso Dhlakama prometeu fazer tudo ao seu alcance para garantir a implementação do cessar-fogo. “Não vai haver nenhuma violação do cessar-fogo do nosso lado. A não ser que as Forças Armadas de Moçambique cheguem onde estivermos e disparem para nos matar. Se não conseguirmos fugir, poderemos responder a título de afugentá-los. Mas declaro mesmo que o conflito armado terminou”, disse.

28 de agosto de 2014: RENAMO não inicia campanha sem que acordo de paz seja lei

Em entrevista à DW África, Afonso Dhlakama nega estar "em parte incerta" , afirmando que está à espera da promulgação da lei, na Gorongosa, para dar início à sua campanha eleitoral: "Não estou num lugar incerto, porque tenho comunicação com os moçambicanos, de Rovuma a Maputo, tenho falado com eles. Estou no distrito da Gorongosa, à espera que os documentos que foram assinados em Maputo sejam transformados em leis pela Assembleia, promulgados pelo Presidente e publicados em Diário da República."

O líder do maior partido da oposição em Moçambique e candidato presidencial às eleições gerais de 15 de outubro, Afonso Dhlakama, disse não iniciar a sua campanha no domingo (31.08.2014), data prevista para o início dos trabalhos no calendário do processo eleitoral. Para já, o líder da RENAMO quer "garantias" da parte do Governo e, sem demoras, um encontro com o Presidente Armando Guebuza - em qualquer parte do país, mesmo em Maputo - para transmitir confiança à população e aos parceiros internacionais.

31 de agosto de 2014: Clima de receio no arranque da campanha eleitoral

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Apesar do fim dos confrontos entre o exército moçambicano e homens da RENAMO, o espectro da violência continua vivo no país, onde no domingo, 31 de agosto, teve início a campanha partidária para as eleições gerais de 15 de outubro .

A gestão dos confrontos galvanizou a imagem das partes beligerantes, principalmente da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO), o maior partido da oposição, consideram analistas nacionais. Das 30 formações inscritas, as mais visíveis são apenas três.

Para o analista político Silvério Ronguane, o momento que se avizinha poderá não ser de habitual festa, como era de se desejar. “Por um lado, esta devia ser a campanha mais animada de todas porque estamos reconciliados e ultrapassamos a guerra. Mas também tenho medo que a campanha eleitoral possa abrir feridas que ainda não estão bem cicatrizadas, que possa ter um tom de conflitualidade”, explica.

1 de setembro de 2014: Dhlakama finalmente anuncia a sua tão aguardada ida a Maputo

O chefe da delegação da RENAMO (Resistência Nacional Moçambicana) nas negociações com o Governo, Saimone Macuiane, confirmou que o líder do principal partido da oposição, Afonso Dhlakama, se vai deslocar a Maputo. À saída da septuagésima quinta ronda negocial entre o executivo ministerial e o principal partido da oposição, Saimone Macuiane adiantou que Dhlakama deverá encontrar-se com o Presidente da República, Armando Guebuza, já na sexta-feira, dia 5 de setembro.

Também Afonso Dhlakama confirmou a sua disponilidade para participar no encontro, quando recebeu no dia 30 de agosto, na Gorongosa, uma missão italiana chefiada pelo vice-ministro para o Desenvolvimento Económico, Carlo Calenda.

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Afonso Dhlakama no Chimoio

4 de setembro de 2014: Afonso Dhlakama regressa a Maputo depois de cinco anos

O líder da RENAMO foi recebido em ambiente de festa na capital de Moçambique por centenas de militantes do partido, após ausência de cinco anos.

Acompanhado por alguns quadros do movimento e diplomatas estrangeiros acreditados na capital moçambicana, Dhlakama foi recebido por centenas de militantes do partido que, desde o final da manhã, começaram a afluir ao aeroporto da capital moçambicana, trajando camisolas com uma imagem estampada já antiga de Dhlakama e brandindo bandeiras da RENAMO, gerando um incomum ambiente de festa na infraestrutura aeroportuária.

Dhlakama chegou a Maputo após ter presidido a um comício na cidade de Chimoio, capital da província de Manica, centro de Moçambique, de onde embarcou para a capital do país, depois de uma viagem de carro do refúgio onde vivia desde outubro do ano passado, após o seu acampamento em Satunjira, província de Sofala, na região centro, ter sido tomado pelo exército.

No seu reaparecimento público, em Chimoio, Afonso Dhlakama assegurou que a sua ausência, por um ano e meio em parte incerta, serviu para tornar Moçambique mais "pacífico e democrático" e "rejuvenescer o multipartidarismo". O líder da RENAMO garantiu mais uma vez que vai cumprir o acordo de cessar-fogo e prometeu ir às eleições “para lutar contra a má gestão do país".

5 de setembro de 2014: Ratificação do acordo entre o Governo e a RENAMO

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O Presidente de Moçambique, Armando Guebuza e Afonso Dhlakama, líder da RENAMO, assinaram o acordo de cessar-fogo. O acordo foi assinado na presença de dezenas de diplomatas e responsáveis governamentais na sede da Presidência moçambicana, em Maputo. Menos de vinte e quatro horas após o seu regresso a Maputo, depois de abandonar o local incerto onde se encontrava há cerca de um ano, por causa da tensão político-militar no país, o líder da Resistência Nacional de Moçambique, RENAMO, Afonso Dhlakhma, e o Presidente Armando Guebuza, abandonaram a sala de mãos dadas.

A assinatura do acordo permitirá a participação de Afonso Dhlakama na campanha eleitoral já em curso para as eleições gerais (presidenciais, legislativas e para as assembleias provinciais) de 15 de outubro.

Trata-se de mais um passo para a normalização da situação política em Moçambique, posta em causa por meses de confrontos entre o braço armado da RENAMO e as Forças de Defesa e Segurança. A crise político-militar, que provocou um número indeterminado de mortos e de feridos, foi desencadeada por divergências sobre a lei eleitoral e em torno do desarmamento do braço armado da RENAMO.

Inicialmente, o Governo e o maior partido de oposição desentenderam-se sobre a lei eleitoral, ao que se juntaram depois diferendos sobre o desarmamento da RENAMO e sua integração nas Forças de Defesa e Segurança. Outros contenciosos eram a observação do processo de in integração e das próximas eleições por observadores internacionais.

8 de setembro de 2014: Parlamento moçambicano aprova acordo de paz

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O acordo de paz foi aprovado numa sessão extraordinária no Parlamento de Moçambique convocada de urgência. O acordo é constituído por quatro documentos, nomeadamente a declaração de cessar-fogo, o memorando de entendimento, os mecanismos de garantias e os termos de referência da observação internacional.

A chefe da bancada parlamentar da Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO), Margarida Talapa, disse esta segunda-feira que, com a aprovação do acordo, o povo moçambicano "tem agora a oportunidade de prosseguir com mais confiança o seu projeto de edificação de uma nação forte e próspera onde cada um participa na produção da riqueza."

A líder da bancada parlamentar da RENAMO, Angelina Enoque, afirmou que os moçambicanos estão a testemunhar um momento histórico. "O país registou um dos momentos mais marcantes dos anais da sua história, mostrando que irmãos ora desavindos podem conviver e sentar-se à mesma mesa", disse.

O analista Calton Cadeado diz que a aprovação da nova lei visa dar um cunho jurídico ao acordo. Isto porque, segundo Cadeado, com o precedente aberto depois da assinatura do acordo de paz em 1992, tanto o Governo como a Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO) não querem assumir o risco de ficar simplesmente na dimensão dos consensos políticos: "Amanhã, se, por alguma eventualidade, surgir algum conflito, eles terão a lei como instrumento e guia", afirma o analista. Por outro lado, "este acordo menciona a questão da interpretação nas garantias de implementação. No futuro, qualquer interpretação destes consensos terá de ser feita em comum acordo e estudada em comum."

12 de setembro de 2014: Tropas bloqueiam acesso a sede da RENAMO em Maringué

A situação é denunciada por António Campira, delegado distrital da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO) em Maringué. Segundo Campira, as tropas governamentais, que instalaram a sua base militar nas imediações do edifício da delegação distrital do maior partido de oposição moçambicana, proíbem a aproximação de membros da RENAMO por alegadamente estarem a programar ações que podem pôr em causa a ordem e tranquilidade públicas na região. "Por que estão a proibir a RENAMO de se aproximar e ficar na sua sede? Essa é a nossa casa, é propriedade do partido", diz Campira.

Em Maringué, província central de Sofala, situava-se a maior base militar do braço armado da RENAMO durante a guerra dos 16 anos. O edifício da RENAMO, atualmente arruinado, foi abandonado durante o recente período de tensão político-militar no país.

16 de setembro de 2014: Dhlakama entra na campanha com comício em Chimoio

Apesar de a campanha eleitoral ter arrancado a 31 de agosto, a RENAMO (Resistência Nacional Moçambicana) esteve até agora a meio gás. A conclusão do acordo de paz entre o principal partido da oposição e o Governo, a assinatura do documento e a sua aprovação no Parlamento dificultaram a RENAMO nas duas primeiras semanas de caça

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ao voto. A campanha entra numa nova fase com a presença do líder Afonso Dhlakama num comício na cidade de Chimoio, capital da província de Manica, centro do país.

“O tempo perdido nunca se recupera, mas vamos tentar fazer o melhor de nós”, afirma António Muchanga, porta-voz do líder da RENAMO.

Setembro de 2014: Tensões na campanha eleitoral em Moçambique

A campanha eleitoral em Moçambique não está a ser pacífica . A RENAMO diz que está a ser vítima de sabotagem aos seus panfletos, o terceiro maior partido do país, o MDM (Movimento Democrático de Moçambique) viu inviabilizado um comício e há brigas entre os adeptos dos vários partidos.

O aumento da violência na campanha eleitoral em Moçambique levou a CNE (Comissão Nacional de Eleições) a apelar à contenção. Neste contexto o presidente da CNE, Sheik Abdul Carimo, decidiu também conversar com os candidatos dos principais partidos.

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1 de outubro de 2014: EMOCHM iniciou a sua tarefa em Moçambique

A EMOCHM (Equipa Militar de Observadores Internacionais da Cessação das Hostilidades Militares) composta por 93 membros, dos quais 23 estrangeiros, começou a fiscalização do acordo do fim da violência militar em Moçambique.

A equipa de observação tem um mandato de 135 dias e é composta por 70 peritos militares nacionais, sendo 35 do Governo e igual número da RENAMO, e ainda por 23 peritos militares estrangeiros nomeadamente do Botswana, Cabo Verde, Zimbabwe, África do Sul, Quénia, Portugal, Itália, Reino Unido, e Estados Unidos.

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2 de outubro de 2014: Moçambique diz não a violência

Moçambique junta-se a uma campanha virtual no Dia Internacional da Não-Violência. E numa altura em que a campanha eleitoral assume contornos pouco pacíficos, várias organizações unem-se para dizer não aos confrontos.

O projeto "Espaços Não Violentos", idealizado por um grupo humanista mundial, lançou uma campanha internacional virtual que convida a refletir sobre o tema. Moçambique também se juntou a esta iniciativa. "As pessoas tiram uma selfie onde põem aquilo que as inspira sobre a paz e a não-violência, algo criativo e individual, e partilham-na no seu Facebook ou no Twitter", explica Djamila Andrade, uma jovem moçambicana que vive na capital francesa, Paris, e que está ligada ao projeto.

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9 de outubro de 2014: "Posso dizer que já ganhei", afirma Dhlakama

Em entrevista exclusiva à DW África, o líder da RENAMO e candidato a Presidente, Afonso Dhlakama, mostrou-se tranquilo e otimista em relação às eleições: "Estou em vantagem, mas em vantagem mesmo!" garantiu.

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16 de outubro de 2014: Eleições em Moçambique marcadas por incidentes e confrontos

O dia em que os moçambicanos foram às urnas houve relatos de violência, atrasos na abertura e fecho de urnas e suspeitas de fraude. À noite, graves distúrbios em Nampula e na Beira provocaram pelo menos dois feridos.

Embora as autoridades eleitorais tenham feito um balanço positivo das eleições, órgãos de informação nacionais e redes sociais denunciaram ilícitos eleitorais em quase todo o país, no dia em que quase 11 milhões de moçambicanos foram chamados às urnas.

Dezenas de postos de votação no centro e norte do país permaneciam encerradas a meio da manhã, por causa de erros nos cadernos eleitorais ou devido à ausência dos membros das mesas. E depois das 18:00 locais, hora prevista para o encerramento das urnas, em várias assembleias de voto continuava a haver longas filas de eleitores.

Nas últimas horas da votação começaram também a ser denunciados vários casos de tentativas de fraude em vários pontos do país, sobretudo através do enchimento de urnas.

17 de outubro de 2014: RENAMO rejeita os resultados das eleições

Números preliminares das projeções apontam para uma vitória folgada da FRELIMO, o partido no poder, enquanto que a taxa de participação se terá situado acima dos 50%, uma ligeira subida em comparação com os 45% de 2009. Segundo os mesmos dados preliminares, Afonso Dhlakama da RENAMO, o maior partido da oposição, terá registado um bom desempenho, enquanto que Daviz Simango do MDM, a segunda maior força da oposição, terá ficado abaixo das expetativas.

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Várias missões internacionais de observação eleitoral consideram que as eleições gerais em Moçambique foram “livres, justas e transparentes”.

Mesmo assim, O porta-voz da RENAMO, António Muchanga, a seguir ao encerramento das urnas, disse que o seu partido não vai aceitar estes resultados, porque – afirma – o processo eleitoral foi manchado por graves fraudes: "Urnas com boletins já assinalados a favor de um dos concorrentes na cidade da Beira, próximo da Escola Primária Macome. O caso do saco com boletins de voto encontrado na posse de um indivíduo, cujo denunciante foi baleado pela polícia em Sofala. Estes episódios preocupam-nos, pois no lugar da Polícia ter neutralizado quem tinha boletins de voto ilegalmente, disparou contra o denunciante."

Também os agentes da lei e ordem foram alvo de críticas por parte da RENAMO, que revela ainda que "apareceram polícias a disparar, intimidando as populações nas cidades de Nampula e Beira, foram baleadas, no total, seis pessoas, quatro na Beira, uma no Buzi e uma outra atingida mortalmente em Nhamatanda. Em várias partes do país houve várias tentativas de fazer enchimento usando meios fraudulentos, uns com sucesso e outros neutralizados, por isso não aceitamos o resultados destas eleições."

António Muchanga afirma ainda que – segundo os seus dados, a RENAMO seria a legítima vencedora do escrutínio.

18 de outubro de 2014: Dhlakama não descarta Governo de unidade

Quando os resultados provisórios apontaram para uma larga vantagem da FRELIMO, a RENAMO prometeu não avançar para um conflito, embora não afaste a hipótese de exigir mais poder.

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Dhlakama disse estar pronto para negociar com o Governo a propósito da criação de "uma verdadeira democracia", depois de ter criticado as irregularidades que mancharam a votação. Segundo Dhlakama, o partido vai dar prioridade ao diálogo "com os irmãos do Governo de Moçambique" e "fazê-los ver que já é tempo de que o povo seja soberano e possa ser governado por governantes eleitos democraticamente".

"Não é preciso violência, isto significa que não vou andar aos tiros. Quero prometer que nunca mais vai haver um conflito", garantiu em conferência de imprensa.

20 de outubro de 2014: RENAMO processa CNE

A RENAMO apresenta várias queixas de irregularidades e de detenção de membros do partido. Por exemplo, na cidade de Quelimane a RENAMO acusou a Comissão Distrital de Eleições, na capital da Zambézia, de ter viciado os resultados das eleições anunciadas, e já apresentou queixa em tribunal. A acusação é de que a Comissão de Eleições terá "atraiçoado" os resultados e permitido o desaparecimento dos editais de algumas assembleias de voto.

30 de outubro de 2014: FRELIMO ganhou as eleições gerais, anuncia CNE

A Comissão Nacional de Eleições (CNE) de Moçambique anunciou os resultados preliminares das eleições gerais de 15 de outubro, cujos apuramentos distrital e provincial foram marcados pelo registo de várias irregularidades.

A FRELIMO venceu as eleições gerais com uma maioria absoluta de 55,97% no Parlamento e o seu candidato, Filipe Nyusi, ganha as presidenciais com 57,03%.

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Ainda segundo os resultados oficiais preliminares, a RENAMO, conserva o estatuto de maior partido da oposição, obtendo 32,49% nas legislativas e o seu líder, Afonso Dhlakama, 36,61% nas presidenciais, enquanto o Movimento Democrático de Moçambique (MDM) consolida a posição de terceira força, com 7,21% no Parlamento e 6,36% do seu candidato Daviz Simango, na corrida à sucessão do atual chefe de Estado Armando Guebuza.

Assim sendo, a FRELIMO terá 144 deputados, menos 47 do que o atual grupo parlamentar, a RENAMO aumenta a sua presença de 51 para 89 mandatos e o MDM passa de oito para dezessete.

4 de novembro de 2014: CNE rejeita pedido da RENAMO para anular eleições

A Comissão Nacional de Eleições (CNE) moçambicana considerou "improcedente" o pedido da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO) para anular as eleições gerais. Nove membros da CNE votaram contra o pedido da RENAMO, oito votaram a favor. A RENAMO anunciou que vai recorrer da decisão.

O porta-voz do órgão eleitoral disse que a reclamação apresentada pelo partido, apesar de ter sido dirigida na altura do apuramento, não dizia respeito a essa fase do escrutínio, "mas a situações que se haviam passado em outros processos". Além disso, segundo Paulo Cuinica, a RENAMO terá violado vários preceitos definidos por lei, tendo inclusive reclamado junto da CNE quando o deveria ter feito junto do Conselho Constitucional.

"[A RENAMO] arrola uma série de irregularidades, das quais algumas foram apreciadas na mesa, algumas foram apresentadas ao STAE (Secretariado Técnico de Administração Eleitoral), inclusive tem lá decisões dos tribunais distritais, que deviam subir para o

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Conselho Constitucional e não para a CNE", afirmou o porta-voz da CNE citado pela agência de notícias Lusa.

A CNE disse que os partidos políticos, na maior parte dos casos, não apresentaram as provas de irregularidades e nem cumpriram os prazos de apresentação das queixas. A RENAMO e o MDM, entretanto negam tudo . Para eles o "mau da fita" é claramente a Comissão Nacional de Eleições (CNE) e não cessam de mostrar exemplos.

26 de novembro de 2014: Proposta da RENAMO de "governo de gestão" recusada pelo Parlamento

A bancada parlamentar da FRELIMO rejeitou um pedido do maior partido da oposição, a RENAMO, que teve o apoio da terceira força política do país, o Movimento Democrático de Moçambique (MDM), para a inclusão na agenda do debate da criação de um "governo de gestão".

A oposição exige que o país seja dirigido por um “governo de gestão” até às próximas eleições gerais argumentando que o recente escrutínio registou várias irregularidades pelo que deve ser anulado.

Os resultados anunciados pela Comissão Nacional de Eleições (CNE) dão vitória à FRELIMO e ao seu candidato Filipe Nyusi, mas aguarda-se ainda a sua validação e proclamação pelo Conselho Constitucional.

4 de dezembro de 2014: Dhlakama ganha estatuto especial como líder da oposição

Afonso Dhlakama, líder da RENAMO, o segundo maior partido com assento no Parlamento moçambicano, passa a ter um estatuto especial que foi aprovado na

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Assembleia da República. A proposta foi submetida ao Parlamento através da Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO), apesar da ideia ser defendida pela RENAMO desde 1994. Tal estatuto era uma das últimas exigências do líder da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO) e foi prometido pelo Presidente da República, Armando Guebuza, no quadro do acordo de cessação de hostilidades obtido em setembro.

Com a lei agora aprovada, Afonso Dhlakama, o líder do segundo maior partido com assento no Parlamento, vai passar a gozar de honras e precedência no protocolo de Estado. Também terá um salário, residência oficial, gabinete de trabalho, segurança pessoal e passaporte diplomático, entre outros direitos orçados em cerca de um milhão e oitocentos mil euros.

"Prometo que vamos criar o 'Governo de gestão'", garantiu Dhlakama no mesmo dia 4 de dezembro durante um comício em Nampula, no norte do país. "Toda esta gente quer que eu seja Presidente da República e que entre já no Palácio. Porque, mais uma vez, roubaram-me 35 por cento [dos votos]".

5 de dezembro de 2014: Conselho Constitucional de Moçambique rejeita recurso da RENAMO

O Conselho Constitucional (CC) decidiu não dar provimento ao recurso da RENAMO, que exigia a anulação das recentes eleições gerais, alegando ter-se registado fraude generalizada.

A RENAMO, rejeitou o acórdão do Conselho Constitucional e declarou que "uma crise se desenha". O porta-voz do maior partido da oposição em Moçambique, António Muchanga, disse aos jornalistas que não surpreende a decisão do Conselho

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Constitucional que chumbou o recurso alegando não cumprimento de procedimentos legais, dado ser prática recorrente da justiça moçambicana preocupar-se em agradar o partido no poder, a FRELIMO.

Muchanga disse que a RENAMO propõe um “diálogo sério” que culmine com a criação de um Governo de gestão para se ultrapassar a crise pós eleitoral, uma vez que, segundo ele, a maioria dos moçambicanos não aceita os resultados eleitorais anunciados pela Comissão Eleitoral. "Propomos um Governo de gestão porque precisamos reformar o STAE, Secretariado Técnico de Administração Eleitoral, e a polícia desde a base ao topo. Necessitamos de tempo por forma garantir que a imparcialidade e a transparência sejam elementos básicos na atuação desses dois órgãos."

9 de dezembro de 2014: Dhlakama põe de lado "Governo de gestão" e faz nova proposta

Afonso Dhlakama afastou-se da ideia de criar um "Governo de gestão", que propôs anteriormente. No mínimo, a RENAMO deve governar nas províncias em que venceu, diz o líder do partido em Nampula. Afonso Dhlakama disse que o seu partido quer governar sozinho em Moçambique ou, pelo menos, nas províncias em que venceu as eleições. Foi essa a vontade manifestada pelos populares, diz Ivone Soares, dirigente da RENAMO que acompanhou a viagem de Dhlakama ao norte do país. Soares escreveu na rede social Twitter: "Os meus irmãos negaram que se poupe a FRELIMO [Frente de Libertação de Moçambique] desta vez".

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11 de dezembro de 2014: Dhlakama admite referendo sobre divisão de Moçambique

O líder da RENAMO avisa que a população exigirá um referendo para dividir o país se o Governo da FRELIMO continuar a rejeitar a criação de um Governo de gestão. Segundo Afonso Dhlakama, é essa a vontade da população nos locais que tem visitado, no centro e norte do país. Se a FRELIMO não aprovar o Governo de gestão, os populares vão exigir um referendo sobre a divisão de Moçambique "à semelhança daquilo que aconteceu no Sudão", diz Dhlakama. "Embora eu não esteja a favor, tenho de seguir aquilo que a maioria deseja."

Dezembro de 2014: Continua o braço de ferro

Depois da assinatura do acordo concernente ao fim das hostilidades entre a RENAMO e o Governo em setembro de 2014 e da realização de eleições gerais em outubro, alguns pontos que representavam insatisfação para a RENAMO ficaram ainda por resolver.

"Ao nível das Forças Armadas de Defesa de Moçambique, a RENAMO está a defender os oficiais que devem ter uma ocupação. E no caso concreto dos atuais oficiais- generais apenas cinco são da RENAMO e os outros 27 são das antigas Forças Populares de Libertação de Moçambique (FPLM)", disse em entrevista à DW África Saimon Macuiane, chefe da delegação da RENAMO.

"O mesmo pode dizer-se em relação à polícia. Mas aqui privilegiamos o princípio da partilha de responsabilidades ao nível da polícia, enquanto na FIR pode ser a nível dos efetivos bem como das forças de proteção de altas entidades. É isso que em traços gerais estamos a defender", explicou.

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O Governo anunciou em outubro que iria disponibilizar 300 vagas, 200 no exército e 100 na polícia, no âmbito do acordo que colocou um termo às hostilidades armadas entre as duas partes. Neste momento na mesa de discussão o que para um lado é tema não categórico, para outra parte é uma atitude que desencadeia o impasse que já dura há mais de oito semanas.

Antigos combatentes de Moçambique manifestaram-se contra governo de gestão proposto pela RENAMO . A Associação de Antigos Combatentes de Luta de Libertação Nacional (ACLIN) repudia a postura de Afonso Dhlakama, de querer formar um governo de gestão ou governar nas províncias onde teve a maioria de voto.

30 de dezembro de 2014: Conselho Constitucional validou os resultados das eleições

O Conselho Constitucional validou e proclamou os resultados das eleições gerais de 15 de outubro de 2014 que dão vitória ao partido no poder, a FRELIMO, e ao seu candidato, Filipe Nyusi. A RENAMO, rejeitou os resultados e insiste num governo de gestão, enquanto o MDM se diz triste com esta validação.

Fica assim confirmado oficialmente o candidato da FRELIMO às Presidenciais, Filipe Nyusi, como vencedor das eleições com 57 por cento dos votos. A segunda posição foi ocupada por Afonso Dlakhama, da Renamo, com 36,6 por cento dos votos seguido de Daviz Simango do Movimento Democrático de Moçambique (MDM) com 6,04 por cento. Nas legislativas, a FRELIMO, obteve 144 mandatos, menos quarenta e sete em relação à última legislatura (2009). A RENAMO elegeu 89 deputados e o MDM com 17 mandatos.

O acórdão do Conselho Constitucional foi apresentado pelo Presidente do órgão, Hermenegildo Gamito, numa cerimónia pública tendo a certa altura declarado que o órgão que dirige "considera que de um modo geral as eleições presidenciais, legislativas e para as assembleias provinciais decorreram em consonância com o quadro legal estabelecido". Gamito reconheceu, no entanto, que durante o processo eleitoral registaram-se alguns ilícitos.

O mandatário da RENAMO, André Majibiri, reagiu à validação e proclamação dos resultados eleitorais ao afirmar que "não aceitamos esses resultados porque são fraudulentos e pelo facto tanto Filipe Nyusi como a FRELIMO não estão em condições de formar o governo. Por isso defendemos a ideia de um governo de gestão".

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21 de janeiro de 2015: Velhos desentendimentos persistem

Governo e RENAMO voltaram a não registar progressos esta segunda-feira na primeira ronda de negociações, após a tomada de posse do novo executivo. O desarmamento da RENAMO continua a ser o ponto de discórdia.

As delegações negociais do Governo e da RENAMO, o maior partido da oposição, mantêm o braço de ferro no debate relacionado com o desarmamento e integração dos homens armados da RENAMO nas Forças Armadas de Defesa e Segurança.

Saimone Macuiane é o chefe da delegação da RENAMO nas negociações: "É nosso desejo ver os nossos oficiais que estão nas Forças Armadas ocuparem cargos importantes ao nível das Forças Armadas de Defesa de Moçambique." Por sua vez, o chefe da delegação do Governo, José Pacheco, afirmou que a direção e chefia no sistema moçambicano tem como base o princípio da meritocracia.

Sublinhou que um dos desafios, do qual a RENAMO faz parte, é criar em Moçambique um Estado não partidário. "Se embarcarmos num processo de confiar tarefas de comando de forma representativa dos partidos estaremos a ter forças armadas partidárias, o que viola a Constituição da República, a legislação que cria as Forças de Defesa e Segurança no seu todo."

José Pacheco considerou ainda que a RENAMO ao protelar o processo de desarmamento dos seus homens está a retirar a oportunidade destes poderem usufruir dos benefícios que resultariam da sua integração no Exército, na Polícia ou da sua reinserção social.

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6 de fevereiro de 2015: RENAMO boicota à tomada de posse nas assembleias provinciais

Terminou o prazo de trinta dias estabelecido por lei para que tomassem posse os membros das assembleias provinciais pela RENAMO, o maior partido da oposição. O boicote da RENAMO segue-se à recusa do partido de aceitar os resultados das últimas eleições gerais que deram a vitória à FRELIMO, partido no poder, alegando ter-se registado fraude.

Os membros da RENAMO incorrem agora no risco de perderem os seus mandatos, devendo ser substituídos nos próximos dias por membros suplentes. Caso estes também não tomem posse, poderão não estar reunidas as condições para o funcionamento de pelo menos três assembleias provinciais, nomeadamente em Sofala, Zambézia e Tete, uma vez que para a assembleia se reunir e deliberar de forma válida, devem estar presentes na sessão pelo menos 50% dos seus membros mais um. A verificar-se a situação de falta de quórum, poderão ser convocadas pela primeira vez eleições intercalares nas províncias afetadas.

Recorde-se que a RENAMO anunciou que os seus deputados eleitos para o Parlamento também não vão tomar posse enquanto não for ultrapassada a atual crise pós-eleitoral. O prazo para a sua investidura termina na quarta-feira, dia 12 de fevereiro.

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7 de fevereiro de 2014: Dhlakama e Nyusi satisfeitos com primeiro frente-a-frente

Tanto o Presidente moçambicano como o líder da RENAMO saíram sorridentes do seu primeiro encontro. O Presidente Filipe Nyusi e o líder da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO), Afonso Dhlakama, reuniram-se a sós, à porta fechada, durante cerca de três horas.

Nos últimos meses, o maior partido da oposição tem ameaçado inviabilizar o funcionamento das instituições saídas das eleições gerais de outubro, que considera terem sido fraudulentas. A RENAMO tem exigido a criação de um "Governo de gestão" ou de uma região autónoma no centro e norte do país, onde o partido obteve a maioria de votos.

Mas o líder da RENAMO disse que está para "breve" o fim do boicote do partido ao Parlamento e às assembleias provinciais. "O país não terá problemas. Da maneira como nos conhecemos, como conversámos, posso dizer que tudo correu bem", disse Dhlakama. "Saio desta sala muito satisfeito e sei que teremos soluções como moçambicanos, como irmãos. Como sempre fizemos desde que a democracia foi introduzida em 1992."

"Quando dois irmãos se encontram e falam é sempre bom. Foi bom termos falado", afirmou, por seu lado, o Presidente moçambicano, Filipe Nyusi.

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12 de fevereiro de 2014: Deputados da RENAMO ocupam os assentos no Parlamento

Os deputados da RENAMO ocuparam finalmente os seus assentos no Parlamento, pondo fim a um boicote que se prolongava há 30 dias em protesto contra os resultados das últimas eleições gerais realizadas em Moçambique. O levantamento do boicote seguiu-se a um encontro que o líder da RENAMO, Afonso Dlakhama, manteve no dia 7 de fevereiro com o Presidente Filipe Nyusi.

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Judith Sargentini chefe da Missão de Observadores da UE nas eleições gerais em Moçambique

17 de fevereiro de 2015: Balanço crítico da UE sobre as eleições gerais em Moçambique

A Missão de Observação Eleitoral da União Europeia em Moçambique (MOE-UE) teceu críticas ao processo de apuramento de votos nas eleições gerais de 15 de outubro de 2014, considerando que teve alguns efeitos negativos mas que não alteraram o resultado final.

A MOE-UE avaliou a transparência do processo eleitoral no dia da votação como tendo sido boa ou muito boa em 90 por cento das mesas de assembleia de voto visitadas. Os restantes 10 por cento demonstraram irregularidades e a não observância dos procedimentos de votação e contagem, como a não exibição das urnas vazias, a não leitura do número do boletim de voto e o não anúncio adequado do número de eleitores nas mesas de assembleia de voto.

Reagindo ao relatório final apresentado publicamente esta terça feirça-feira (17.02) em Maputo pela Missão Europeia, os dois principais partidos da oposição, a RENAMO e o MDM, reiteraram a sua contestação aos resultados eleitorais, que deram vitória ao partido no poder, a FRELIMO, defendendo que as eleições foram fraudulentas.

24 de fevereiro de 2014: Prorrogado mandato da EMOCHM, sem prazo definido

O Governo moçambicano e a RENAMO acordaram o prolongamento do mandato da EMOCHM (Equipa Militar de Observadores Internacionais da Cessação das Hostilidades Militares). A equipa resulta do acordo de paz, celebrado em setembro de

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2014. O mandato inicial da missão previa 135 dias de trabalho que foram concluídos no dia 23 de fevereiro.

No entanto, durante a ronda negocial, as partes não alcançaram um consenso em relação ao período de duração da prorrogação do mandato. O Governo quer presença dos observadores militares por apenas mais 60 dias e a RENAMO por mais 120 dias.

3 de março de 2015: Morreu constitucionalista moçambicano Gilles Cistac alvo de atentado

Gilles Cistac, professor catedrático de Direito Constitucional na Universidade Eduardo Mondlane (UEM), foi atingido por três tiros, na avenida Eduardo Mondlane, no coração de Maputo.

O constitucionalista estaria a ser alvo de ameaças. Segundo o Canalmoz, o constitucionalista moçambicano chegou a apresentar uma queixa à Procuradoria-Geral da República (PGR), a informar que estava a ser vítima de intolerância política. Numa entrevista à DW África, Gilles Cistac tinha afirmado que, para criar uma "república autónoma", como pede o maior partido da oposição, seria preciso mudar a Constituição. Mas isso não se aplica à criação de "províncias autónomas".

Uma declaração que fortaleceu a posição da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO) de gestão autónoma na sua querela com o Governo da Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO).

O líder da RENAMO, Afonso Dhlakama, acusou os "radicais do regime" da FRELIMO de terem assassinado Gilles Cistac . "Ele, como constitucionalista, estava a querer

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defender a causa do povo moçambicano. Por isso, queremos trabalhar para nos vingarmos da morte daquele senhor", disse Dhlakama, de visita à província do Niassa.

18 de março de 2015: Nyusi disponível para um novo encontro com líder da RENAMO

O Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, está disponível para um novo encontro com o líder da RENAMO. O anúncio foi feito após um encontro que Nyusi manteve com a sociedade civil.

António Gaspar, porta-voz do Chefe de Estado disse aos jornalistas que "o Presidente está sempre disponível para dialogar seja com quem for. Também com o senhor Dhlakama, o Presidente está sempre disponível. Quando diz que tem em mente a paz isso significa que o Presidente está disponível o tempo todo".

Abril de 2015: Residentes fogem de confrontos no sul de Moçambique

Enquanto o Governo e a RENAMO permanecem num longo braço de ferro devido a questões governativas, a população do distrito de Guijá, na província de Gaza, vê a sua vida destabilizada. Os confrontos entre os homens do maior partido da oposição, que ali se fixaram, e o exército governamental levaram várias pessoas a refugiarem-se em locais mais seguros, sendo a África do Sul um dos destinos de eleição. Algumas escolas estão desertas e houve moradores que começaram até a vender os seus bens, receando um possível saque, segundo testemunhas ouvidas pela DW África.

Na aldeia de Passane, a rotina quotidiana foi interrompida. As escolas estão vazias há mais de uma semana. "Várias pessoas fugiram. Os professores foram os primeiros e por isso as crianças não vão à escola", conta um dos residentes, Anselmo Mabunda. Porém,

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no posto administrativo de Nalazi, os professores continuaram a dar aulas. "Os funcionários do Governo não podem fugir e incitar a fuga", declara Vasco Mauai, um morador.

Os homens da RENAMO estão em Nhambondze, perto destes povoados. Mas, embora os guerrilheiros mantenham uma relação pacífica com a população, esta tem bastante receio: "Eles são muitos, estão armados", diz Mabunda.

30 de abril de 2015: Parlamento moçambicano chumbou o projeto-lei de autarquias provinciais

A FRELIMO, reprovou, esta quinta-feira (30.04) o projeto de lei do maior partido da oposição, RENAMO, que previa a criação de Autarquias Provinciais, com vista a ultrapassar a crise pós-eleitoral.

O partido no poder, a FRELIMO (Frente de Libertação de Moçambique), defendeu que o documento contém vicíos jurídicos legais insanáveis.

Por seu turno, a terceira bancada parlamentar, o MDM (Movimento Democrático de Moçambique), advogou uma solução política em nome da estabilidade do país.

Já a RENAMO (Resistência Nacional Moçambicana), afirmou que o projeto de lei se enquadra no aprofundamento da democracia e da descentralização administrativa.

O líder do partido, Afonso Dhlakama, não recua após chumbo das "autarquias provinciais" no Parlamento. "Não quero sentir-me obrigado a termos de governar à força. Quero governar ou nomear as pessoas constitucionalmente." A reprovação do documento teve motivações políticas, segundo o líder do maior partido da oposição.

Dhlakama diz que a Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO), o partido no poder, deve pensar melhor na decisão: "[Com] a minha idade, não quero nem impedir investimentos, nem assustar investimentos nacionais e internacionais. Portanto, lanço o meu apelo ao [Presidente] Nyusi e à FRELIMO para refletirem bem na decisão deles. Porque ainda é cedo, muita coisa pode ser recuperada."

O presidente da RENAMO tranquilizou a população, garantindo que não haverá nem manifestações, nem agitação popular, como algumas correntes já previam caso o ante-projeto não passasse no Parlamento.

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4 de junho de 2015: Observadores internacionais deixam país após falhanço da missão

A Equipa Militar de Observadores das Hostilidades Militares (EMOCHM) cumpriu dois mandatos, totalizando 195 dias, enquanto aguardava que se iniciasse o processo de desmilitarização da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO), que não chegou a acontecer por falta de entendimento nas negociações entre o Governo e o maior partido da oposição.

Enquanto o Governo defende que a RENAMO deve apresentar a lista dos seus homens a serem desarmados, o partido da oposição exige a adopção prévia do modelo de reintegração das suas forças.

O chefe da EMOCHM, o brigadeiro Terego Tseretse, aponta a falta de entendimento entre o Governo e a RENAMO como a principal causa do fracasso da missão de observação. Por isso, na hora de despedida desejou "sucessos nas negociações e que isso tenha cedo ou tarde uma solução definitiva ou uma solução aceitável para a segurança, unidade, e prosperidade para beneficio de todos os moçambicanos".

A EMOCHM custou aos cofres do Estado moçambicano 540 milhões de meticais, o equivalente a mais de 14 milhões de euros.

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Convenção da RENAMO

11 de junho de 2015: RENAMO anuncia criação de uma polícia e reorganização militar para forçar autarquias provinciais

José Manteigas, porta-voz da V sessão do Conselho Nacional da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO), que decorreu na cidade da Beira, disse que o quórum reunido na cidade da Beira aprovou a criação, "a bem ou a mal", das autarquias provinciais, incluindo o uso da ala militar do partido, que será redistribuída para responder a eventuais ataques do Governo.

"Todos nós sabemos que a FRELIMO (partido no poder em Moçambique) tem usado a polícia para impor a sua vontade, por via disso a RENAMO porque não pode desaparecer e não deve, irá também criar as suas forças, para autodefender-se nas situações em que for atacada", declarou José Manteigas, recusando a ideia de que estas decisões sejam lidas como uma declaração de guerra.

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16 de junho de 2015: "A paciência dos comandantes da RENAMO está a esgotar-se"

A RENAMO condenou dois alegados ataques levados a cabo por forças governamentais contra posições de homens armados residuais do maior partido da oposição nas províncias de Tete e Inhambane, no centro e sul do país, respetivamente. Segundo o porta-voz do partido, António Muchanga, no domingo à tarde (dia 14 de junho), militares que seguiam em dois camiões e num veículo Land Cruiser equipado com uma metralhadora atacaram o quartel da RENAMO na zona de Mucumbedzi, distrito de Moatize, na província de Tete. "Dos confrontos, resultaram mortos e feridos e a destruição do carro Land Cruiser."

Muchanga não precisou o número de vítimas. O outro ataque, segundo o porta-voz, registou-se na província de Inhambane. "Na quinta-feira [dia 11 de junho], as forças do Governo atacaram o quartel da RENAMO em Funhalouro. Não houve confrontos porque os guerrilheiros da RENAMO conseguiram escapulir-se."

24 de julho de 2015: Falta de acesso às bases da RENAMO dificulta registo de desmobilizados

Em Sofala, centro de Moçambique, começaram os trabalhos de inscrição de desmobilizados de guerra para o financiamento de projectos através do Fundo de Paz e Reconciliação Nacional. As brigadas anteriormente constituídas não conseguiram efectuar as incrições no primeiro mês de trabalho, devido a complicações ao tentar aceder às zonas com maior aglomeração de desmobilizados da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO). Reunido na Beira a 17 de julho, em Conselho Coordenador, o Ministério dos Combatentes criou brigadas multissectoriais que trabalham há vários dias no processo de inscrição.

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"Temos tido dificuldades no acesso a alguns locais de concentração dos desmobilizados da RENAMO", diz Horácio Massangai, porta-voz do VI Conselho Coordenador do Ministério dos Combatentes. "É o caso das bases na província de Sofala e Matsequenhe, na província de Maputo", especifica, adiantando que "todos os esforços têm estado a ser feitos com a direcção da RENAMO" para que conceda o acesso. No entanto, "em alguns locais, os próprios residentes recomendam que não tenhamos acesso, o que dificulta o processo de registo", acrescenta Massangai. Por isso, o número de desmobilizados da RENAMO inscritos "ainda é baixo", conclui.

25 e 26 de julho de 2015: Confrontos em Tete originam pânico e põem populações em fuga

Tiroteios entre as Forças de Intervenção Rápida (FIR) e o braço armado da RENAMO, sexta-feira e sábado, na província moçambicana de Tete, resultaram em casas incendiadas e na fuga das populações para o vizinho Malawi.

O conflito entre agentes de Intervenção Rápida das forças de segurança governamentais (FIR) e o braço armado da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO) está a criar um ambiente de pânico no povoado de Ndande, posto administrativo de Ncondedzi, no distrito de Moatize.

O tiroteio começou na manhã de sexta-feira (dia 24 de julho), altura em que "foram disparados vários tiros com armas pesadas", testemunha Robat Kenneth. "Foi por sorte que escapamos", acrescenta o residente em Ndande, que estava perto do local.

Várias casas e infraestruturas sociais foram incendiadas. "As populações locais acusam a Unidade de Intervenção Rápida destes actos", relatam Ana Maria e Sónia Maria, que

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se cruzaram com o repórter da DW África no caminho para Ndande, na manhã de sábado (dia 25 de julho).

As duas testemunhas refugiaram-se num abrigo nas matas de Ndande, onde passaram a noite. "Na sexta-feira aparecem aqueles militares da cidade, queimaram-nos todas as coisas e nós ficamos sem nada", contam as testemunhas oculares, que viram as suas casas e celeiros serem queimados. "Queimaram o carro, queimaram tudo. Dormimos no mato [durante a noite] para poder ir à cidade [quando amanhecesse]", disse Ana Maria, uma camponesa residente na cidade de Tete e que se dedica à agricultura na zona do Ndande.

Nos dias seguintes, o Embaixador da União Europeia em Moçambique, Sven Burgsdorff, lamentou os incidentes armados na província de Tete.

Saimon Macuiane, chefe da delegação da RENAMO nas negociações com o Governo

17 de agosto de 2015: RENAMO quer gestores nas empresas públicas

A RENAMO defendeu que "não pode continuar o princípio segundo o qual só aquele que tem o cartão do actual partido no poder, a Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO), pode ter acesso aos recursos".

A segunda força política do país propõe a gestão partilhada das empresas públicas e participadas do Estado, através da indicação de quadros provenientes dos partidos políticos com assento parlamentar. A proposta foi apresentada no início do debate das questões económicas nas negociações entre o Governo e a RENAMO.

19 de agosto de 2015: Dhlakama dispensa proteção da polícia moçambicana

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O líder do maior partido da oposição moçambicana prescindiu da proteção policial do Estado, alegando ter sido abandonado pelas forças que o protegiam em Tete. A sua segurança será agora garantida por homens da RENAMO. Na qualidade de líder da oposição, Afonso Dhlakama tem direito a proteção policial. No entanto, o líder da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO) diz que já não quer ser protegido pela polícia estatal.

O presidente da RENAMO alega que, na semana passada, foi abandonado pela polícia quando orientava um comício popular no distrito de Chifundi, na província central de Tete. "Começaram a tremer. Abandonaram-me num comício, fugiram de Chifundi e voltaram para Tete", conta Dlakhama. "Não preciso mais da polícia da FRELIMO (Frente de Libertação de Moçambique) nem da Polícia de Intervenção Rápida. Eu tenho os meus homens, os mais fortes de Moçambique", adiantou o líder da RENAMO.

Questionado pelos jornalistas sobre o caso, o porta-voz do Comando Geral da Polícia, Pedro Cossa, alegou problemas operacionais. Segundo Cossa, esta não foi a primeira vez que Dlakhama ficou sem escolta da polícia estatal.

20 de agosto de 2015: Dhlakama mostra arrependimento por ter assinado o tratado de paz, em 1992 e anuncia recrutamento de jovens para a milícia da RENAMO

O líder da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO), Afonso Dhlakama, diz ter “sido enganado” pela Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO) partido que está atualmente no poder. Dhlakama discursou durante a conferência nacional dos desmobilizados de guerra da RENAMO na cidade de Quelimane, na Zambézia, que conta com a participação de 206 membros do maior partido de oposição em Moçambique.

Dhlakama começou o seu discurso a pedir desculpa por ter assinado o Acordo Geral de Paz, em Roma, que pôs fim a 16 anos de guerra civil. O líder da RENAMO "pensava que a FRELIMO estava convencida em aceitar a democracia” e nesse sentido “fizemos o acordo e assinamos”, declara Dhlakama fazendo referência ao Acordo de Paz em 1992.

Durante a conferência de Quelimane, a RENAMO anunciou também que vai criar um quartel no distrito de Morrumbala, na província da Zambézia. A decisão foi tomada por ex-guerrilheiros durante a Conferência Nacional do partido realizada no último fim de semana na cidade de Quelimane.

Em discurso, o líder da oposição, Afonso Dhlakama, lembrou que o acordo de cessação de hostilidades, assinado em agosto do ano passado, permite a criação do quartel. “O conteúdo daquele acordo falava da entrada dos comandos da RENAMO no seio da polícia e também nos lugares-chave no seio das forças armadas”, declarou Dhlakama.

Além de enviar guerrilheiros para o quartel, Dhlakama disse que vai recrutar mais jovens para receber formação e servir ao exército e à polícia. “Decidimos criar nossas forças armadas constituídas por aqueles que lutaram pela democracia”, afirmou.

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5 de setembro de 2015: "A RENAMO nunca esteve preparada para se desmilitarizar", diz mediador Chembeze

Faz um ano que o acordo de cessação das hostilidades militares entre o Governo e a RENAMO foi assinado. Entretanto não foi cumprida uma das principais cláusulas do acordo, a desmilitarização.

Um dos mediadores do diálogo político entre o Governo de Moçambique e a RENAMO, Anastácio Chembeze, considera que o maior benefício do acordo foi o fim do conflito armado. Segundo ele, este facto permitiu a criação de condições básicas para a realização de eleições. Chembeze apontou, no entanto, como um dos elos mais fracos da implementação do acordo a não desmilitarização da Resistência Nacional Moçambicana, RENAMO, e a reinserção dos seus homens armados.

Sobre o que terá falhado para o não cumprimento desta cláusula do acordo, o Reverendo Chembeze disse que "as partes pura e simplesmente não cumpriram. Por outro lado, penso que da leitura que todos nós fazemos é que a RENAMO nunca esteve preparada para se desmilitarizar."

E o reverendo fala ainda das estratégias da RENAMO neste processo: "E à volta disso há outros meios que devem ser usados para persuadir e negociar. Na linguagem de resolução de conflitos há o que se chama trunfo. Qual é o trunfo que a RENAMO tem para qualquer situação de negociação? São os seus homens armados."

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Apoiantes da RENAMO em Nampula

11 de setembro de 2015: RENAMO acusa polícia de executar dois militantes em Nampula

A chefe provincial de mobilização da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO) na província nortenha de Nampula, Abiba Aba, acusou a polícia de ter detido e fuzilado, sem justa causa, dois membros do partido no distrito de Murrupula, no final do mês passado. "Foram levados para a localidade de Cavina, onde foram fuzilados a 28 de agosto, pelas sete horas, em frente a uma escola primária. É contra a lei tirar a vida de um ser humano", disse Abiba Aba.

A Polícia da República de Moçambique (PRM) já desmentiu as denúncias feitas pela RENAMO. "São completamente infundadas estas alegações, tendo em conta que somos um órgão público do Estado responsável pela garantia da ordem e segurança", declarou o porta-voz da PRM em Nampula, Sérgio Mourinho. "Gostaríamos de lembrar à RENAMO que a polícia não faz política", sublinhou.

Sérgio Mourinho negou ainda um alegado fuzilamento por parte da polícia de dois membros do partido da oposição em Murrupula. "O que confirmamos é que há duas pessoas detidas no distrito de Murrupula. Foram processadas criminalmente pelo roubo de bens e decorrem os trâmites legais para o seu julgamento", esclareceu o porta-voz.

12 de setembro de 2015: Emboscada ao líder da RENAMO

Uma caravana de automóveis em que seguia o presidente da RENAMO, Afonso Dhlakama, foi atacada ao início da noite na província de Manica, centro de

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Moçambique, havendo pelo menos sete feridos, três da RENAMO, um dos quais grave, e quatro presumíveis atacantes.

Armando Mude, comandante da polícia em Manica, disse em conferência de imprensa, na segunda-feira (dia 14 de setembro), que "o ataque foi protagonizado por indivíduos armados e desconhecidos pela corporação".

Por volta das 19 horas e 20 minutos de sábado, a comitiva da RENAMO foi surpreendida com disparos de armas ligeiras e bazucas de homens desconhecidos que abriram fogo quando a caravana se encontrava em Chibata, a cerca de 15 quilómetros da cidade de Chimoio. O correspondente da DW África, Bernardo Jequete testemunhou o ataque junto com outros jornalistas que também integravam a comitiva.

Entretanto, para amainar a fúria dos atacantes, a força da RENAMO que acompanhava Afonso Dhlakama respondeu de imediato com o objetivo de manter a segurança do seu líder cuja viatura foi atingida com uma bala na porta esquerda, ou seja, do lado do guarda-costas.

Quase vinte minutos depois da emboscada, repelida a tiros pela guarda da RENAMO, uma viatura da Unidade de Intervenção Rápida (UIR), lotada de agentes desta força, passou no local, fazendo sinais de emergência, observou também o jornalista da agencia Lusa. Meia hora depois, uma ambulância cruzou o local em direção a Chimoio.

Um dos motoristas, cuja viatura ficou totalmente danificada com os tiros que se presume serem de metralhadoras AK47, contou à DW África, momentos após o calar das armas que “estavam a disparar, eu estava no chão apenas com um colete e um carregador, alguém chegou e apontou-me uma arma”.

Já o líder da RENAMO, Afonso Dhlakama, acusa e diz que o ataque tem a mão da FRELIMO que, segundo ele, pretende elimina-lo para acabar com o seu partido, e consequentemente, com a democracia em Moçambique. Mas Dhlakama avisa que “a sua morte não significa o fim da RENAMO”.

15 de setembro de 2015: RENAMO volta a propor ao Parlamento moçambicano maior autonomia para as províncias

O projeto de lei sumetido pela RENAMO (Resistência Nacional Moçambicana), o principal partido da oposição, defende a autonomia das autarquias provinciais, garantindo que a mesma não afeta a integridade da soberania do Estado e será exercida no quadro da Constituição.

"Pretendemos que a FRELIMO [Frente de Libertação de Moçambique, o partido no poder] aceite a descentralização da administração do Estado para que as províncias tenham autonomia, porque até aqui as províncias são governadas pelos governadores nomeados a partir de Maputo", explica Afonso Dhlakama, líder da RENAMO.

O projeto de lei propõe que os governadores provinciais passem a ser nomeados pelo Presidente da República sob proposta das Assembleias Provinciais. Se a lei for aprovada, a RENAMO poderá propor os governadores para seis das dez províncias do país, onde obteve o maior número de votos nas últimas eleições gerais (em outubro de

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2014), nomeadamente em Sofala, Zambézia, Tete, Manica (centro), Nampula e Niassa (norte do país).

Encontro na província de Cabo Delgado

23 de setembro de 2015: Apelos a favor da paz

Membros séniores dos três maiores partidos no distrito de Montepuez, em Cabo Delgado, juntaram-se em campanhas contra a violência e a favor da democracia face ao clima de instabilidade política que se vive em Moçambique.

A iniciativa que resulta da conjugação de esforços dos partidos Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO), Movimento Democrático de Moçambique (MDM) e Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO), no distrito de Montepuez, em Cabo Delgado, visa essencialmente combater a violência para garantir a manutenção da paz em Moçambique.

Assane Luciano da RENAMO explicou à DW África que, mais do que ninguém, o seu partido conhece os malefícios da guerra pelo que nunca foi apologista da mesma. “Pretendemos tranquilizar o povo que estará acompanhado pela RENAMO que pretende defender a democracia”, disse o membro sénior do partido.

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Carros da comitiva de Dhlakama após o ataque

25 de setembro de 2015: Afonso Dhlakama sai ileso de uma nova emboscada

O líder da Renamo, Afonso Dhlakama, escapou ileso a um novo ataque em menos de duas semanas na província de Manica, centro de Moçambique. Segundo a agência de notícias Lusa, o ataque ocorreu na Estrada Nacional 6 (EN6) em Zimpinga, distrito de Gondola, quando a comitiva da RENAMO (Resistência Nacional Moçambicana) seguia para Nampula, segundo o presidente do partido Afonso Dhlakama, que falava no local do incidente.

Dhlakama mencionou que três dos seus guardas foram feridos, mas o jornalista da Lusa que se dirigiu para o local observou pelo menos nove mortos, entre os quais dois homens com uniformes da RENAMO.

Quem começou os confrontos entre as autoridades de segurança moçambicanas e a comitiva do líder da RENAMO, Afonso Dhlakama? A polícia diz que a culpa é do maior partido da oposição em Moçambique. No entanto, testemunhas do tiroteio garantem que esta foi uma emboscada protagonizada por elementos das Forças de Defesa e Segurança. Outra questão em aberto diz respeito ao número de vítimas mortais. Têm sido avançados dados diferentes. As testemunhas dizem que morreram mais pessoas do que as anunciadas até agora.

A polícia afirma que homens armados da RENAMO atacaram um autocarro e que, por isso, os agentes dirigiram-se ao local para repor a ordem. Depois, acabaram por envolver-se em confrontos com os militantes do partido da oposição.

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No entanto, as testemunhas do ataque têm uma versão diferente. Félix Luís é guarda numa empresa que acolheu muitos populares em fuga. “Eu estava aqui em casa e vi 15 carros a subir a montanha. Fui para lá, tentar ver, e um vizinho disse-me que havia uma confusão”, conta Félix Luís, que acrescenta, sem hesitar, que os veículos “eram da FRELIMO”. “Estavam cheios de pessoas da FRELIMO, que não estavam fardados. Estavam à civil, traziam armas, e mal subiram a montanha começámos a ouvir os tiros”, diz.

Elias José João, morador de Maforga, posto administrativo de Zimpinga, acredita que a emboscada foi programada. Segundo este habitante, o povoado começou a ser frequentado por pessoas estranhas dias antes do ataque. “Chineses, pessoas que começaram a subir a montanha com vidros fumados”, descreve.

Segundo a RENAMO, sete militantes morreram no ataque, registando-se dezenas de vítimas mortais entre os alegados atacantes. No dia 29 de setembro, o Governo moçambicano anunciou que um civil e vinte e três militares da RENAMO morreram no incidente.

Daviz Simango, o líder do MDM condenou os ataques contra o líder da RENAMO e exige uma investigação para se apurar os autores. Daviz Simango acha que por detrás disso há um problema de ódio e vingança. O ataque contra Dhlakama "cheira a envolvimento da FRELIMO", diz Daviz Simango.

4 de outubro de 2015: Nyusi admite voltar a falar com Dhlakama para ultrapassar crise

No decorrer das celebrações do Dia da Paz, o Presidente Filipe Nyusi destacou que ”continuamos a pautar pelo diálogo e segundo os últimos desenvolvimentos que temos

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tido dos contatos existe a esperança de que dentro de muito pouco tempo voltaremos a dialogar para falar sobre a paz. Estes são os desenvolvimentos das duas últimas semanas”.

O líder da RENAMO, Afonso Dlakhama revelou que estão em curso contactos para o seu regresso a capital do país, ido de parte incerta, onde se encontra refugiado desde finais de setembro depois da sua comitiva ter sido emboscada, pela segunda vez em menos de um mês, na provincia de Manica.

A RENAMO suspendeu o diálogo com o Governo há cerca de um mês alegando falta de progressos nas negociações por alegada falta de seriedade por parte do executivo. Nas últimas semanas o discurso político subiu de tom e a RENAMO acusou o governo de ter levado a cabo duas emboscadas contra a comitiva do seu lider, Afonso Dlakhama. Falando a partir de local incerto onde se encontra refugiado na sequência da última emboscada, a 25 de Setembro, Dlakhama reafirmou que não vai retaliar e adiantou que estão em curso contactos para o seu regresso a Maputo.

Dhlakama durante a campanha para as eleições de 2014 na Gorongosa

8 de outubro de 2015: Dhlakama reaparece após duas semanas em parte incerta

No início da tarde Afonso Dhlakama saiu das matas da Gorongosa, na zona de Macucuá, e se apresentou aos jornalistas e observadores convidados pela RENAMO para assistir ao reaparecimento público do líder da oposição. O líder do principal partido da oposição em Moçambique limitou-se a agradecer a presença dos convidados, referindo que, após o incidente do dia 25 de setembro em Gondola, província de Manica, percorreu dezenas de quilómetros a pé pelo planalto e atravessou o rio Púnguè até à região da Gorongosa, província de Sofala.

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"Mando uma mensagem para o povo. Contem comigo, não iremos desistir por temer a morte. Não tenho medo de morrer, para mim, já morri", afirmou Dhlakama, numa breve declaração aos jornalistas, acrescentando que a RENAMO vai continuar a trabalhar e afastando qualquer vontade de vingança.

9 de outubro de 2015: Polícia moçambicana invade casa de Dhlakama na Beira

Depois do seu reaparecimento na Serra da Gorongosa, na província central de Sofala, Afonso Dhlakama viajou depois para a Beira, onde no dia 9 de outubro era esperada uma conferência de imprensa na sua residência no bairro das Palmeiras, pelas 09h00 locais. A essa hora, forças da Unidade de Intervenção Rápida (UIR) e Grupo Operativo Especial (GOE) da polícia de Moçambique vedavam o acesso dos jornalistas ao perímetro da casa de Dhlakama, que permanecia no seu interior, e evacuavam residências vizinhas.

Vários guardas do partido da oposição foram presos. A polícia disparou tiros e lançou gás lacrimogéneo para afugentar a população. Seguiram-se horas de negociações entre Dhlakama, a polícia e mediadores das negociações entre o Governo e o partido da oposição, que acorreram ao local.

O momento é um dos mais tensos durante a crise entre o Governo da FRELIMO e a RENAMO. A Delegação da União Europeia em Moçambique publica um comunicado e reafirma a necessidade de "uma solução pacífica e negociada" para a crise política:

“Enquanto parceiro de longa data do povo moçambicano, a União Europeia segue com apreensão os desenvolvimentos na Beira. [...] Os esforços empreendidos nos últimos dias com vista a inverter a escalada das tensões militares e a criar um clima de confiança entre as partes arriscam-se a ser postos em causa.”

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O líder da RENAMO disse, mais tarde, que o cerco à sua residência teve como objetivo recuperar as armas do Governo apreendidas pela RENAMO no incidente em Gondola, a 25 de setembro, e desarmar a guarda do partido. Depois de Afonso Dhlakama entregar as armas, as forças de segurança saíram do local.

O material (16 armas AK-47 “Kalashnikov”, uma pistola Tokarev, munições, um punhal e três carregadores) foi entregue pessoalmente por Afonso Dhlakama aos mediadores do processo de diálogo entre o Governo e RENAMO. Estes, por sua vez, deixaram-no à responsabilidade dos representantes da polícia moçambicana.

O presidente do maior partido da oposição admitiu aos jornalistas que esteve perto de dar ordem de retaliação, mas não o fez para evitar um banho de sangue. A governadora da província de Sofala, Helena Taipo (da FRELIMO), sublinhou que o desarmamento é um "sinal de esperança".

Nos dias a seguir ao cerco da sua casa na Beira, Dhlakama desaparece mais uma vez.

15 de outubro de 2015: Igreja Católica preocupada

Os bispos católicos moçambicanos dizem ter ficado preocupados com o cerco das forças de segurança à casa do líder do maior partido da oposição, a RENAMO. Numa conferência de imprensa, o arcebispo da Beira, Dom Cláudio Dalla Zuanna, referiu, que há que pôr fim à proliferação de armas no país: "Os partidos ou grupos que confiam nas armas para resolver ou para impor a sua razão, já estão do lado daquele que vai perder. É preciso, com certeza, fazer um trabalho, para convencer que as armas não podem estar espalhadas no país nas mãos de qualquer cidadão".

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Dom Cláudio Dalla Zuanna foi um dos mediadores que foi à casa de Afonso Dhlakama, durante o cerco das forças de segurança. Alguns dias depois, Zuanna visitou o líder da RENAMO, tendo Dhlakama reiterado a vontade de resolver os diferendos políticos através do diálogo. "Foi uma conversa tranquila. Vi um homem tranquilo. Ele continua a afirmar o seu desejo de um diálogo, que seja um diálogo construtivo, um diálogo sobre assuntos concretos, sobre tentar enfrentar algumas questões práticas. Isto é o que ele afirmou", disse o arcebispo.

Os bispos católicos redigiram esta semana uma carta ao Presidente da República, Filipe Nyusi, e ao líder da RENAMO, Afonso Dhlakama, em que solicitam um encontro entre ambas as partes, disse o arcebispo da Beira.

21 de outubro de 2015: Escritor Mia Couto preocupado com a instabilidade

Em declarações à DW África, Mia Couto disse que continua preocupado com os sinais de instabilidade em Moçambique. "Porque ainda não resolvemos a situação da paz. Há armas em dois exércitos. Ninguém em nenhum país estaria tranquilo com armas distribuídas em duas forças", sublinha.

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23 de outubro de 2015: Troca de armas por materiais de construção

A Polícia da República de Moçambique, na província central de Manica, quer recolher todas as armas de fogo que estejam em mãos alheias e incentivou a população a colaborar numa campanha de “troca de armas por materiais de construção”, explica o comandante na província de Manica, Armando Canhenze: “Se alguém tiver um irmão que lhe deu uma arma para guardar, não tenha receio, nós recebemos a arma desde que esteja em condições. Quem conseguir quatro armas terá em troca 20 sacos de cimento”. O comandante provincial garantiu que não haverá questionamentos sobre a proveniência das armas.

Sofrimento Matequenha, delegado da RENAMO em Manica, refere que a polícia está a utilizar a campanha de troca de armas como engodo para apanhar guerrilheiros da RENAMO.

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26 de outubro de 2015: 700 refugiados moçambicanos no Malawi

Os moçambicanos começaram a entrar no Malawi no início de julho, fugindo dos confrontos entre as forças do Governo de Moçambique e da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO). Em entrevista à DW África, o secretário de Estado da Administração Interna do Malawi diz que cerca de 700 moçambicanos procuraram refúgio no país nos últimos quatro meses.

O campo de refugiados de Luwani - o mais próximo da fronteira com Moçambique - acolhe cerca de 140 moçambicanos. Este mês, de acordo com dados do ACNUR, mais 150 pessoas pediram para serem acolhidas nas instalações.

No entanto, os pedidos mais recentes de entrada no campo de refugiados de Luwani, feitos em setembro e outubro, têm sido recusados pelas autoridades do Malawi. O Governo diz que os cidadãos moçambicanos devem regressar a casa, uma vez que já não existe perigo.

As autoridades sublinham que as instalações de Luwani são temporárias, uma vez que o campo foi oficialmente encerrado pelo Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) em outubro de 2007 e não tem condições para acolher os refugiados.

27 de outubro de 2015: Especialista acha que é preciso Comissão de Verdade

O especialista moçambicano em políticas de violência em África, leis de amnistia e reconciliação, Victor Igreja, defendeu em entrevista à DW África que a criação de uma Comissão de Verdade e Reconciliação em Moçambique poderia resolver ódios entre a RENAMO e a FRELIMO: “Muitas pessoas, hoje em dia, pensam que Moçambique

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precisa mesmo duma Comissão de Verdade, porque todos os métodos que já se tentaram – por via da democracia, da Constituição, do novo Parlamento – ainda não se conseguiu quebrar esta lógica de ódio e desconfiança. O único remédio que ainda não experimentamos é uma Comissão de Verdade. Concordo com aqueles que pensam que esta comissão poderia ajudar a resolver ou minimizar estes ódios mútuos.”

28 de outubro de 2015: Confrontos em Morrumbala, Zambézia

O distrito de Morrumbala, na província Zambézia, foi palco de um tiroteio entre guerrilheiros da RENAMO, o maior partido da oposição, e as Forças de Intervenção Rápida (FIR) que se deslocaram a um quartel da RENAMO instalado na região. Fontes populares confirmaram à DW África que a troca de tiros iniciou por volta das quinze horas, altura em que se ouviram pequenos disparos na localidade de Sabe, e a situação agravou-se durante a noite.

Centenas de residentes abandonaram as suas casas e bens para se refugiaram na vila sede de Morrumbala, tal como confirma um dos deslocados: "Houve mortos e feridos. Outros estão aqui. Houve 5 feridos e 70 mortos."

O CanalMoz informou que o pelotão do exército governamental terá perdido quase todas as suas armas nos confrontos. Estas terão sido recolhidas posteriormente pelos homens da RENAMO.

Face à tensa situação que se vive no local, os professores não compareceram no dia seguinte as salas de aulas e a circulação dos transportes semi-coletivos de passageiros foi interrompida. Nos dias seguintes, as principais vias de acesso à localidade de Sabe permaneceram bloqueadas e sob forte vigilância das forças governamentais.

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30 de outubro de 2015: Mais confrontos em Inhaminga, Sofala

Desta vez, Inhaminga, na província central de Sofala, foi palco de confrontos. Segundo relato do padre Adelino Fernandes à agência de notícias Lusa, um novo tiroteio forçou a fuga da população para as matas, deixando a vila deserta. Na vila situa-se uma das bases mais antigas da milícia da RENAMO.

O exército nacional terá ainda alertado a população da região para se retirar do local. Por outro lado, o ministro do Interior Basílio Monteiro confirmou no mesmo dia novas operações das forças de defesa e segurança para recolher armas na posse da RENAMO, em Gorongosa (Sofala) e Morrumbala (Zambézia), centro de Moçambique.

António Muchanga, porta-voz da RENAMO, disse em entrevista à DW África que “quem está a dizer que o Governo está a violar o acordo não é só a RENAMO. É o próprio Governo que está assumir esta violação. Este é um processo que se alastra há muitos dias porque os elementos da RENAMO estão aglomerados em algumas localidades onde esperam a sua re-integração, nomeadamente em Inhambane, Sofala, Zambézia e Tete.”

Para o maior partido da oposição, as novas operações são uma violação dos Acordos de Paz de 1992 e do Acordo do fim das hostilidades de 2014. “Esses ataques violam os acordos e podem criar problemas porque nos confrontos estão a morrer muitas pessoas. E esses acordos foram precisamente para parar com o derramamento de sangue", destacou Muchanga.

4 de novembro de 2015: Governo nega plano de assassinato de Dhlakama

O Governo moçambicano foi ao Parlamento responder às questões apresentadas pelos deputados, numa sessão dominada por intervenções da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO). Segundo o maior partido da oposição, o Governo pretende assassinar o seu líder, Afonso Dlakhama. A RENAMO questionou se o governo considera moral e politicamente justificado recorrer às forças de defesa e segurança do país para ações cujo o objetivo é assassinar o seu dirigente, enquanto manifesta vontade de dialogar com o mesmo.

Mas Basílio Monteiro, ministro do Interior, desmentiu existir um plano de assassinato de Dhlakama, dizendo que "o Governo não coloca nem sequer como ténue hipótese o uso das forças de defesa e segurança para alegadas ações que visam assassinar quem quer que seja, muito menos o líder da RENAMO".

O ministro acrescentou que "a missão primária das forças de defesa e segurança é de assegurar a defesa da ordem pública por forma garantir a paz, o direito à vida, a livre circulação de pessoas e bens e o exercício dos direitos e liberdades fundamentais consagrados na Constituição da República".

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9 de novembro de 2015: RENAMO sugere mediação internacional

A Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO) apelou à criação de uma equipa envolvendo a Igreja Católica e a comunidade internacional para mediar a realização de negociações com vista a pôr fim ao clima de instabilidade política que se vive no país e ao restabelecimento da paz.

O apelo para o Governo e a RENAMO abandonarem em absoluto as armas e retomarem o diálogo, envolvendo outras forças vivas da sociedade, tinha sido lançado domingo (dia 8 de novembro) pela Igreja Católica moçambicana.

Os líderes católicos criticam a "falta de coerência" nos discursos políticos sobre a paz. Na visão dos bispos moçambicanos, aquilo que se diz não corresponde à prática e a relação entre o Governo e a RENAMO ainda é marcada por confrontação.

Falando num encontro com o Presidente da República, Filipe Nyusi, a Igreja Católica alertou que a falta de entendimento político tem efeitos na economia e cria pobreza e desigualdades.

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Turistas na Praia do Tofo, Inhambane (foto de 2014)

Novembro de 2015: Mobilização de forças armadas em Sofala provoca fuga das populações

Em Sofala, centro de Moçambique, reina um clima de medo no seio das populações devido às movimentações de homens armados da RENAMO e das forças de defesa e segurança governamentais.

Testemunhos escutados pela DW África, nas zonas de conflito da Gorongosa e Muxúnguè, relataram novos confrontos militares.

No entanto, a instabilidade política em Moçambique afasta os turistas e investimento estrangeiro.

A natureza do sistema político moçambicano está esgotada, diz o politólogo João Pereira em entrevista à DW África. Na opinião do politólogo, o jogo político foi "privatizado" pelos dois maiores partidos do país, a Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO) e a Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO). A par disso faltará também à sociedade civil a capacidade de mobilizar quem fica excluído do debate público.

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19 de novembro de 2015: "Estou pronto para falar com qualquer pessoa", diz Nyusi

O chefe de Estado moçambicano, Filipe Nyusi, reitera que está aberto ao diálogo e pede "ponderação" no desarmamento da RENAMO. O apelo surge numa altura em que aumentam as críticas ao desarmamento à força.

O Presidente moçambicano Filipe Nyusi apelou aos homens residuais da maior força da oposição, a Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO), para entregarem voluntariamente as armas, afirmando que "se a entrega das armas não for feita à vontade, a paz não poderá acontecer."

O chefe de Estado e Comandante-Chefe das Forças de Defesa e Segurança moçambicanas falava durante uma cerimónia de graduação de guardas penitenciários, no distrito da Moamba, no sul do país. Nyusi fez o apelo depois de consultar várias personalidades nacionais e estrangeiras.

"No espírito da concórdia, reconciliação e tolerância, de modo a permitir que a sociedade se reencontre e consigamos restabelecer o diálogo que todos os moçambicanos esperam, usamos esse pódio para instruir a ponderação do desarmamento compulsivo e permitir para que todos possam voluntariamente entregar aquilo que acham que não devem possuir, mas sobretudo para nos permitir trabalhar e dialogar", afirmou Filipe Nyusi.

30 de novembro de 2015: Dhlakama volta a prometer governar nas províncias

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O líder da RENAMO, Afonso Dhlakama, prometeu tomar posse nas seis províncias onde reivindica a vitória eleitoral de 15 outubro de 2014, depois das festas de Natal e de fim de ano.

Segundo a agência de notícias Lusa, Dhlakama voltou a assegurar que “não vai fazer a guerra”, num discurso, por telefone, durante uma reunião da Liga da Juventude do seu partido, realizada em Maputo.

Afonso Dhlakama reclama vitória eleitoral em seis províncias do centro e norte de Moçambique, onde quer governar através do modelo de autarquias provinciais. Analistas políticos e algumas forças partidárias moçambicanas criticam a RENAMO e o Governo pelo facto de estarem a privar os moçambicanos de viverem em paz.

A RENAMO continua a não revelar o paradeiro de Afonso Dhlakama. O partido garante, no entanto, que o Presidente “está bem de saúde”.

José Manteigas da RENAMO

7 de dezembro de 2015: Projeto de revisão da Constituição chumbado

O Parlamento moçambicano chumbou um projeto de lei da RENAMO, maior partido da oposição, que sugeria que os governadores passassem a ser propostos pelas assembleias das respetivas províncias.

O projeto de revisão da Constituição da República tinha por objetivo acomodar uma exigência da RENAMO, Resistência Nacional Moçambicana, para que os governadores passassem a ser propostos pelas Assembleias das respetivas províncias, nomeadamente nas que a RENAMO reivindica vitória nas última eleições autárquicas.

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A RENAMO defendeu ainda que esta seria uma alternativa com vista a ultrapassar a atual crise pós-eleitoral, na sequência da contestação dos resultados das últimas eleições gerais por parte da oposição.

José Manteigas, porta-voz do Conselho Nacional da RENAMO, frisou a ideia de que a proposta tinha em vista contribuir para a descentralização dos poderes do Estado, sem afetar a integridade da soberania nacional: “Este ato legislativo visa dotar o país de um quadro jurídico constitucional que se adeque à nossa realidade sócio-política como forma de respeitar a legitimidade emanada pelo povo moçambicano no dia 15 de outubro de 2014”, data das eleições gerais em Moçambique.

Já Hélder Njonjo, da FRELIMO, Frente da Libertação de Moçambique, partido no poder, diz que o projeto da RENAMO procura esvaziar os poderes estaduais, limitando a soberania interna do Estado: “Votámos contra porque o projeto pretende que os governadores provinciais sejam propostos ao nível provincial e transfere as atribuições do Estado para as autarquias provinciais”.

15 de dezembro de 2015: Presidente de Moçambique fala sobre o estado geral da Nação

O chefe de Estado apresentou o seu primeiro informe ao Parlamento sobre o estado geral da Nação, numa sessão que foi boicotada pela Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO), alegando que o atual Governo é ilegítimo. O Presidente moçambicano reiterou a sua disponibilidade para se encontrar com o líder da RENAMO, Afonso Dhlakama, para discutir a paz e o desenvolvimento do país, indicando que as “boas ideias não têm cor partidária”.

Entretanto, falando para jornalistas via teleconferência, Afonso Dlakhama disse que neste momento só aceita negociar com Nyusi se for para abordar a questão da governação do seu partido nas seis províncias onde afirma ter vencido nas eleições de 2014. “Estou disponível a iniciarmos com a nossa governação, tomarmos conta das nossas províncias, para nos sentirmos bem com a nossa população”, sublinhou Afonso Dhlakama.

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21 de dezembro de 2015: RENAMO propõe Zuma como mediador

António Muchanga, porta-voz da RENAMO, considerou que os anteriores mediadores "já deram o que tinham a dar". Eram "aprendizes" e "resultou naquilo que todos vimos", afirmou em conferência de imprensa. António Muchanga, acusou os mediadores de conivência no cerco das forças governamentais à residência de Afonso Dlakhama.

A RENAMO propõe como novos mediadores o Presidente sul-africano Jacob Zuma e a Igreja Católica. O partido evoca a "experiência de sucesso" de ambos: Jacob Zuma foi bem sucedido na mediação do conflito pós-eleitoral no Zimbabué e a Igreja Católica na guerra civil em Moçambique.

O partido liderado por Afonso Dlhakama diz que já manifestou este desejo em outubro último ao Governo, mas até agora não obteve uma resposta.

23 de dezembro de 2015: Mediadores negam qualquer conivência na invasão à casa de Dhlakama

O Sheik Saide Habibo, um dos mediadores, negou esta acusação, sublinhando que o grupo se deslocou a Gorongosa, a pedido da RENAMO, com o conhecimento do Governo, e apenas para testemunhar a retirada do líder da Resistência Nacional Moçambicana das matas.

"Cabe ao porta-voz da RENAMO apresentar as evidências de que realmente nós, como mediadores, tínhamos conhecimento do que iria acontecer ou que estávamos a par dos planos do Governo", disse Habibo.

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A equipa de mediadores nacionais no diálogo político revelou que o grupo tem tido um envolvimento quase nulo no processo de pacificação de Moçambique desde outubro, altura do cerco das forças governamentais à residência do líder da Renamo. Um dos mediadores, o Professor Lourenço do Rosário, explicou: “Decidimos, discretamente, não nos pronunciarmos, nem nos movimentarmos, à volta do processo para não prejudicar aquilo que seria o processo do diálogo.”

29 de dezembro de 2015: Polícia impede marcha da RENAMO em Maputo

A Polícia da República de Moçambique cercou esta terça-feira a delegação da RENAMO, em Maputo, para impedir a realização de uma marcha alegadamente ilegal. Durante o cerco, que durou cerca de três horas, a PRM deteve seis membros da RENAMO supostamente por desacato às autoridades.

A RENAMO nega que tenha tentado marchar sem autorização e acusa a polícia de agir a mando da Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO, no poder), para intimidar o exercício democrático no país.

14 de janeiro de 2016: Dhlakama quer "ensinar" FRELIMO a governar

O líder da RENAMO insiste que, em março, o seu partido vai governar nas províncias do norte e centro de Moçambique onde reivindica vitória eleitoral. Afonso Dhlakama reafirma que não está interessado no retorno à guerra.

O líder do maior partido da oposição moçambicana diz que já tem uma lista de todos os governadores e administradores distritais nas seis províncias do norte e centro do país, onde a Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO) reivindica vitória desde as eleições gerais de 15 de outubro de 2014.

"Antes de chegarmos aí, o governador arruma as suas coisas e entra no avião e vai-se embora. Enquanto está a acontecer em Nampula, o mesmo vai acontecer em Sofala, Tete, Zambézia, Manica e Niassa", anunciou Afonso Dhlakama, que numa teleconferência num hotel de Nampula, a partir da sua base militar de Satunjira, no distrito de Gorongosa, província central de Sofala.

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20 de janeiro de 2016: Secretário-geral da RENAMO Manuel Bissopo baleado

O secretário-geral da RENAMO, Manuel Bissopo, foi baleado por desconhecidos na cidade da Beira, centro de Moçambique. Foi atingido a tiro quando acabava de realizar uma conferência de imprensa na Beira, tendo o seu guarda-costas morrido no local, informaram o porta-voz do partido, António Muchanga, e a líder parlamentar da força de oposição, Ivone Soares.

No dia seguinte, Ivone Soares, líder parlamentar da RENAMO, deu uma conferência de imprensa na cidade de Quelimane e atribuiu à FRELIMO a autoria de todos os incidentes, acusando o partido no poder de tentativas repetidas de assassínio dos dirigentes da maior força de oposição. Ivone Soares disse que o país está numa situação crítica devido à onda de assassinato dos membros da RENAMO, e civis que se opõem à FRELIMO. "O governo deve parar incondicionalmente com esses atentados contra a vida de políticos, académicos, jornalistas e empresários", afirmou.

A FRELIMO lamentou o baleamento do secretário-geral da RENAMO. Em declarações à LUSA, Damião José, o porta-voz do partido no poder, condenou este tipo de ações: “É mais uma ação criminosa que lamentamos profundamente e condenamos naturalmente este tipo de ações que põe em causa a integridade física dos cidadãos. Esperamos que Manuel Bissopo melhore rapidamente e regresse ao convívio da sua família e ao seu partido, para dar o seu contributo no trabalho político da oposição".

Manuel Bissopo recebeu cuidados médicos numa clínica na Beira e, a seguir, foi transferido para uma clínica na África do Sul para seguir o tratamento médico.

22 de janeiro de 2016: Dhlakama responsabiliza FRELIMO pelo baleamento de Bissopo

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Nas suas primeiras declarações públicas após o baleamento por desconhecidos do secretário-geral da RENAMO, Afonso Dhlakama, falando à Lusa por telefone, disse: "Acuso o regime da FRELIMO [Frente de Libertação de Moçambique], a FRELIMO tornou-se num partido terrorista, num Estado terrorista - o partido, o regime, o Governo. Nunca vimos isto."

Para Afonso Dhlakama, o baleamento pode levar a uma mudança no tom do discurso político e ao agravamento da atual crise política, mas ele afastou um cenário de guerra: "Posso acreditar que a situação pode deteriorar-se, mas não há guerra".

Janeiro de 2016: Acusações de refugiados moçambicanos no Malawi

Até finais de janeiro de 2016, mais de três mil moçambicanos tinham fugido dos confrontos entre as forças governamentais e homens armados da RENAMO na província de Tete, a maioria mulheres e crianças. Os refugiados acusam as forças de defesa de tortura, mas a polícia nega.

Luísa Mateus, camponesa e mãe de quatro crianças, está no centro de acolhimento de Kapise, no sudoeste do Malawi, desde o final de novembro de 2015. Todos os seus pertences foram destruídos, alegadamente pelas forças de defesa moçambicanas. "Queimaram tudo dentro da minha casa. Até abandonei a minha 'machamba'", diz.

Refugiados vindos da localidade de Nkondedzi, distrito de Moatize, acusam as forças de segurança de violarem mulheres e queimarem casas e celeiros de populares – supostamente por apoiarem homens armados da RENAMO.

As autoridades negam as acusações. O comandante-geral da Polícia da República de Moçambique (PRM), Jorge Khalau, rejeita que as forças de defesa tenham torturado

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civis em Nkondedzi: "Não é verdade que eles estão a fugir da polícia. Eles estão a fugir desta barbaridade, desta situação de rapto que a RENAMO está fazendo", declarou Khalau numa conferência de imprensa.

Segundo Jorge Jasse, chefe do posto administrativo de Zóbue, distrito de Moatize, não há moçambicanos a fugir para o Malawi – antes malawianos que atravessam a fronteira para Moçambique, onde praticam agricultura, e que com a tensão político-militar na província de Tete regressaram ao país de origem. "Isso é montagem. Esses não são moçambicanos", afirma Jasse. "São preguiçosos que não querem trabalhar a terra e que se acumulam aí para o Governo lhes dar comida."

Fevereiro de 2016: Confrontos violentos na Zambézia mantêm clima de instabilidade

O Comandante da Policia da Zambézia, João Mahunguele, disse à imprensa que em finais de janeiro houve troca de tiros que resultaram em ferimentos de um agente da força de proteção dos recursos florestais na zona de Zero no distrito de Mopeia.

Segundo a Polícia, o ataque não provocou vítimas mortais. No entanto Mahunguele afirma que “ou cessam isto ou entretanto vai ter que haver resposta. As forças de segurança estão no terreno, as populações estão no terreno, há livre circulação de pessoas e bens. A missão das forças de defesa e segurança é manter a ordem e segurança da ordem pública. A tolerância tem procedimentos e limites“. A polícia moçambicana admitiu ainda possuir provas do envolvimento de homens armados da RENAMO, mas afirma ter dificuldade em identificar os autores.

O Comandante da Policia da Zambézia acrescentou ainda que a corporação já não vai mais tolerar as provocações dos homens de Afonso Dhlakama, líder da RENAMO, e que as forças de defesa e segurança na província da Zambézia já estão prontas para uma resposta imediata.

A já tensa situação militar em Morrumbala, voltou a agravar-se na semana passada quando homens armados da RENAMO foram perseguidos e detidos pela polícia num dos postos policiais depois de terem assaltado e agredido fisicamente um cidadão, revelou a polícia.

5 de fevereiro de 2016: "Já não precisamos da guerra", alertam psicólogos

Psicólogos moçambicanos lamentam a "falta de aceitação" entre o Governo da FRELIMO e a RENAMO. E dizem que é urgente avançar com propostas para resolver um conflito que não precisa de desencadear violência. Os psicólogos entendem que muitos políticos moçambicanos continuam a não prestar atenção aos traumas que a guerra civil, entre 1976 e 1992, causou em vários grupos sociais, sobretudo em crianças.

"Há necessidade de os psicólogos tentarem trabalhar com as pessoas, para as ensinar que já não precisamos da guerra", afirma o psicólogo Nataniel Moela. Seria necessário, principalmente, superar problemas de auto-estima no seio da população. Segundo este psicólogo, a razão principal da origem dos confrontos militares tem sido a inferiorização das pessoas. "Quando a pessoa perde a sua auto-estima, fica violenta. E o que se espera de uma pessoa violenta são percursos incalculáveis, decisões impensáveis", diz.

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8 de fevereiro de 2016: RENAMO quer fiscalizar viaturas "suspeitas" no centro e norte

A Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO) anunciou que vai começar a fiscalizar viaturas "suspeitas" nas estradas do centro e norte do país. A ala militar do maior partido da oposição em Moçambique criará grupos e postos de fiscalização nas maiores estradas das seis províncias onde reclama vitória nas eleições gerais de 2014.

"Esses controlos vão servir para fiscalizar os carros que saem do sul para o centro, do centro para o sul, do norte para o sul...", explicou, o chefe de propaganda e mobilização da RENAMO na província central de Sofala, Horácio Calavete. A medida visa interditar a circulação na região centro de Moçambique de viaturas transportando material bélico e militares para as antigas zonas de conflito, segundo Calavete. A RENAMO pretende "colocar controlos em toda a estrada, entre Inchope-Rio Save, Inchope-Caia, e Inchope-Rio Zambeze, de Tete."

A RENAMO denuncia ainda atos de tortura e assassinato de membros incómodos do partido por alegados grupos ligados à Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO), no poder.

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9 de fevereiro de 2016: Governo moçambicano nega existência de refugiados no Malawi

O Governo de Moçambique nega a existência de refugiados no Malawi. O Executivo de Maputo prefere considerar os quatro mil cidadãos moçambicanos, atualmente num centro de acolhimento no Malawi, de deslocados.

A reação segue-se aos pronunciamentos de algumas organizações não-governamentais no Malawi, que têm estado a pressionar Lilongwe para que conceda o estatuto de refugiados aos moçambicanos.

Os quatro mil moçambicanos encontram-se no centro de acolhimento de Kapise, no distrito malawiano de Mwanza, a cem quilómetros a sul da capital do Malawi, Lilongwe. Estes moçambicanos partiram de Nkondedzi, distrito de Moatize, na província central de Tete, devido aos confrontos militares entre forças do exército governamental e elementos armados da RENAMO (Resistência Nacional Moçambicana).

O diretor do Instituto Nacional de Apoio aos Refugiados, Adérito Matangala, explicou que as organizações não-governamentais que operam no Malawi deviam ter bom senso. "Estranhamente, as ONG pressionam o Governo de Lilongwe para que conceda o estatuto de refugiado. Mas as coisas não funcionam assim. O estatuto de refugiado é um processo administrativo complexo. Nunca vi coisa igual, organizações não-governamentais extremamente pressionantes no Malawi onde o Governo é subalternizado. Este papel compete ao próprio Malawi: aceitar ou não as pessoas".

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Rio Save

11 de fevereiro de 2016: Centro de Moçambique volta a ser palco de ataques armados

Quatro viaturas foram atacadas na manhã quando circulavam entre Rio Save-Muxúnguè, na província de Sofala, centro de Moçambique. Supõe-se que os homens armados da RENAMO sejam os autores.

O braço armado do maior partido da oposição moçambicana, RENAMO, protagonizou três ataques separados a viaturas na estrada nacional número 1, a principal estrada do país, na província central de Sofala. Segundo a polícia o balanço é de três feridos ligeiros e danos materiais não avultados.

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Ponte sobre o Rio Save

12 de fevereiro de 2016: RENAMO não nega nem confirma autoria dos ataques

A polícia da república de Moçambique (PRM) na província central de Sofala confirmou três novos ataques armados, no dia 12 de fevereiro, atribuídos ao braço armado da RENAMO, o maior partido da oposição.

A porta-voz do comando provincial de Sofala, Sididi Paulo, relata: "Temos a informar que os homens armados da RENAMO protagonizaram três ataques, sendo dois na zona de Zove e Gongodje no distrito de Chibabava, concretamente no posto administrativo de Muxúnguè. O ataque aconteceu contra viaturas civis resultando em dois feridos ligeiros. O outro ataque ocorreu cerca das 11 horas no troço Nhamapaza-Caia, no distrito de Maringué, e desta ação uma viatura com quatro ocupantes foi atingida, o motorista foi alvejado na perna. Os restantes três estão em observação no centro de saúde local."

Entretanto, em Gorongosa, onde se prepara a partir de março a governação de seis províncias do centro e norte de Moçambique, o líder da RENAMO Afonso Dhlakama não confirmou nem desmentiu que os ataques contra alvos civis estariam a acontecer a seu mando. Segundo ele, "a RENAMO em defesa própria quando é atacada persegue, quando somos atacados respondemos. Antes de nos virem atacar, quando a nossa inteligência nos confirmar que está aí o grupo que amanhã vem atacar é não esperar apenas para responder quando já estiverem a disparar, porque se calhar ao primeiro tiro você morre. É atacar já o seu adversário antes de te matar. É o que está acontecer um pouco em Tete, no Sul, na Zambézia..."

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Por outro lado, o chefe da delegação do Governo moçambicano nas negociações com a RENAMO, José Pacheco, defendeu o desarmamento urgente do maior partido da oposição.

17 de fevereiro de 2016: Partidos no Parlamento de Moçambique apelam ao diálogo

Todos os partidos querem a paz. Foi a mensagem que passou na primeira sessão anual do Parlamento moçambicano, quando se multiplicam os casos de confrontos violentos entre as forças armadas do Governo e da RENAMO.

No próprio dia da abertura dos trabalhos parlamentares na quarta-feira, 17 de fevereiro, voltaram a verificar-se ataques, desta vez na vila de Gorongosa, na província de Sofala, centro de Moçambique. Por volta da uma hora da madrugada do dia 17 de fevereiro, um grupo de homens armados atacou um posto de controlo misto das forças de defesa e segurança na vila de Gorongosa, província de Sofala, em Moçambique.

Há registo de pelo menos um morto no grupo de atacantes. No entanto, Manuel Jamaca, administrador de Gorongosa, disse, em declarações à Lusa, que se registou também um morto pertencente às Forças de Defesa e Segurança (FDS), que ainda não foi confirmado pela porta-voz das FDS. A polícia atribuiu este ataque ao braço armado da RENAMO, o maior partido de oposição em Moçambique.

Em Maputo, no Parlamento, o maior partido da oposição, a Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO), negou qualquer envolvimento em ataques contra civis ocorridos neste país. A RENAMO atribuiu a autoria dos ataques às forças governamentais. A chefe da bancada do principal partido da oposição, Ivone Soares, disse que os governantes estão a levar a cabo o que descreveu como sendo “terrorismo

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de Estado”. Acrescentou que o executivo está a inviabilizar a atividade política da oposição, e não só: “Raptar opositores num distrito e ir matá-los noutro, é terrorismo. Emboscar dirigentes da oposição para dar continuidade ao plano de assassinatos, é banditismo, é terrorismo. Cercar delegações dos partidos adversários, cortar a liberdade de reunião, manifestação e expressão, é terrorismo. Carbonizar membros dos partidos da oposição, e os membros das suas famílias, é terrorismo”.

Por seu lado, a chefe da bancada do partido governamental Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO), Margarida Talapa, apelou ao diálogo no Parlamento entre todos os partidos para assegurar um consenso: “O diálogo permanente e sem pré-condições é a única via para consolidarmos a democracia, alcançarmos a paz efetiva, e contribuirmos para o desenvolvimento deste belo Moçambique”.

Para o chefe da bancada do partido da oposição, Movimento Democrático de Moçambique (MDM), Lutero Simango, a cultura de violência e intimidação das pessoas ameaça levar o país ao abismo e à destruição. Simango deu o alerta: "Mais perigoso se torna, quando os administradores, chefes de postos, assumem um papel de impedir os partidos políticos que se conformam com a lei, de exercerem as suas atividades políticas em liberdade, intimidam e perseguem os funcionários públicos e manifestam publicamente a sua simpatia com a oposição. Até chegam ao ponto de proibirem um enterro em cemitérios públicos de membros da oposição, e o acesso a água potável, e dizem: “Vão buscar a água ao vosso partido””.

Perante a escalada da tensão política, Daviz Simango, o presidente do Movimento Democrático de Moçambique (MDM), a segunda maior força política da oposição, pede um diálogo mais inclusivo em entrevista exclusiva à DW África.

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19 de fevereiro de 2016: África do Sul admite mediação entre Governo de Moçambique e RENAMO

Durante uma visita a Moçambique, Mandis Mpahlwa, Alto Comissário da África do Sul anunciou que o Presidente sul-africano, Jacob Zuma, está disponível para ajudar o país a resolver a situação de tensão e instabilidade política e apelou para que o Governo e a RENAMO acordem na necessidade de mediação e diálogo.

O representante da África do Sul, confirmou assim a troca de correspondência entre o seu Governo e a RENAMO, em que o maior partido da oposição moçambicana solicita a mediação no conflito político no país.

22 de fevereiro de 2016: "Superlotação" de aldeias de refugiados moçambicanos no Malawi preocupa Médicos Sem Fronteiras

Nos campos de refugiados do Malawi, as dificuldades são muitas. Amaury Grégory, responsável da missão da Médicos Sem Fronteiras (MSF) no Malawi e Moçambique, falou sobre a situação no campo de Kapise, Mwanza: "Desde novembro que os refugiados começaram a chegar ao Malawi e o número tem aumentado, agora são cerca de 6000 de acordo com o ACNUR. Não há condições para receber todas essas pessoas. Agora as chuvas que caem diariamente tornaram a região insegura. Infelizmente não temos capacidade para abastecer água, distribuímos oito litros de água por pessoa e por dia. Há muito poucas latrinas, cerca de 120, mas o ideal seriam 300. Mas o espaço na aldeia é muito pequeno para albergar os refugiados, há uma superlotação. As condições são realmente muito dificeis."

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22 de fevereiro de 2016: Human Rights Watch: Exército de Moçambique executa e viola em Tete

A organização de direitos humanos Human Rights Watch (HRW) disse ter ouvido dezenas de relatos de refugiados no Malawi, que acusam as forças armadas na província central de Tete de execuções sumárias, abusos sexuais e maus-tratos. "Chocou-me particularmente o caso de uma mulher que contou que um alegado soldado, vestido com o uniforme das forças armadas de Moçambique, lhe disse: 'foge'. Ela fugiu, foi esconder as crianças debaixo de uma ponte e, quando regressou, o marido tinha sido morto. Este é apenas um caso", afirmou Zenaida Machado, uma pesquisadora da organização.

Outra testemunha contou que viu soldados a fazer cortes, com uma "faca de grande dimensão", na cabeça de um homem, que acusavam de pertencer ao grupo armado do maior partido da oposição, a RENAMO. Um refugiado disse que chegou ao Malawi "só com a roupa do corpo" depois de soldados incendiarem a sua casa e tudo o que tinha.

Desde o final do ano passado, mais de 6.000 pessoas fugiram de Moçambique para o vizinho Malawi, segundo o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR). Foram obrigadas a sair das suas casas após confrontos na região entre as forças de segurança e homens armados do maior partido da oposição, a RENAMO. Agora, temem regressar.

23 e 24 de fevereiro de 2016: Mais ataques apesar de novas escoltas nas estradas

Após os sucessivos ataques a viaturas civis, na província de Sofala, por alegados homens armados da RENAMO, a polícia moçambicana introduziu em meados de fevereiro escoltas militares em dois troços da Estrada Nacional 1: Rio Save-Muxúnguè

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(já houve escoltas neste troço em 2013/2014) e – mais a norte – Maringué-Caia (novo troço com escoltas).

Ainda assim, as populações demonstram medo em viajar nesta que é a maior estrada do país, principalmente após os mais três ataques contra colunas militares que escoltavam viaturas civis.

Dois destes ataques aconteceram no dia 23 de fevereiro nos troços de Muxúnguè-Save e Nhamapaza-Caia. O balanço da polícia aponta para dois feridos sem gravidade e danos materiais em algumas viaturas.

Quanto ao terceiro ataque, que ocorreu no dia 24 de fevereiro, sabe-se que foi contra uma coluna que seguia no sentido Save-Muxúnguè. Segundo a agência de notícias Lusa, três pessoas ficaram feridas, incluindo uma criança.

O ataque, já atribuído a homens armados da RENAMO, começou com um tiroteio contra a coluna escoltada por militares do Governo, que destruiu duas viaturas na zona de Zove, distrito de Muxúnguè, centro de Moçambique. Logo de seguida, a escolta foi parada e iniciou-se uma perseguição aos atacantes.

Segundo a polícia moçambicana, citada pelo Centro de Integridade Pública (CIP), 18 ataques foram registados na EN 1 (Estrada Nacional) entre os dias 11 e 25 de fevereiro de 2016.

Chefe da diplomacia da União Europeia, Federica Mogherini (esq.), e ministro moçambicano dos Negócios Estrangeiros, Oldemiro Baloi

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25 de fevereiro de 2016: Chefe da diplomacia europeia apela ao diálogo em Moçambique

A União Europeia (UE) está preocupada com a onda de instabilidade política em Moçambique. De visita a Maputo, a chefe da diplomacia europeia, Federica Mogherini, alertou para a necessidade de "não se perseguirem objetivos políticos através da força das armas".

"É necessário reforçar a democracia no país e é igualmente crucial que se crie um ambiente que permita resultados substanciais e significativos no diálogo político", disse Mogherini, esta quinta-feira (25.02), à saída de um encontro com o Presidente da República, Filipe Nyusi, na capital moçambicana.

Durante a visita de Mogherini, houve um pedido da RENAMO (Resistência Nacional Moçambicana) à União Europeia para a mediação da crise polítcia e militar que se vive em Moçambique.

25 de fevereiro de 2016: Nyusi reforça que está aberto a diálogo e RENAMO volta a pedir mediação

Filipe Nyusi voltou a mostrar qual a sua posição em relação ao conflito, na cerimónia de graduação na Academia de Ciências Policiais, em Maputo. "Reiteramos a nossa abertura para o diálogo sem pré-condições, assente no estrito respeito pela ordem jurídica estabelecida no nosso país", disse o Presidente durante o seu discurso.

Filipe Nyusi condenou ainda os ataques atribuídos ao partido da oposição, sublinhando que os mesmos "perturbam a vida das pessoas e destroem propriedades, num claro atentado à paz, estabilidade, unidade nacional e democracia".

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"Apelamos aos nossos compatriotas e a todos os nossos amigos: ninguém deve encorajar o porte de armas nem matanças ao povo moçambicano para forçar a sua ascensão ao poder ou sustentar as vontades individuais", reforçou o Presidente.

De acordo com um comunicado distribuído à imprensa, a RENAMO volta a reforçar que só aceitará dialogar com o Governo se governar nas seis províncias onde reivindica a vitória nas eleições gerais de 2014. Na mesma nota, é feita referência ao pedido de ajuda na mediação do conflito feito pelo maior partido da oposição a Jacob Zuma, Presidente da África do Sul, e à Igreja Católica. "Para a RENAMO, um diálogo verdadeiro e sério só é possível se a FRELIMO aceitar uma mediação séria, posição já manifestada publicamente".

26 de fevereiro de 2016: Governo moçambicano não se responsabiliza pela segurança de Dhlakama

O ministro da Defesa Nacional moçambicano afirmou, em declarações após a abertura do ano letivo militar na Beira, que o Governo não se responsabiliza pela segurança de Afonso Dhlakama, enquanto ele não regressar às cidades moçambicanas.

Atanásio Salvador Ntumuke acrescentou ainda que cabe ao líder da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO) criar condições para a sua segurança onde quer que ele esteja. "Como é que ele saiu? Então, aí é que está o problema. Nós, da defesa e segurança, não sabemos", afirmou o ministro.

"Isto depende dele, ele foge de algo, da cidade para o mato. Portanto, nós estamos prontos para garantir a sua segurança, mas ele está no mato. Como é que nós vamos garantir a segurança? A não ser que os senhores conheçam onde ele está", acrescentou Ntumuke, quando questionado pelos jornalistas presentes se o Governo estaria a fazer algo para garantir a segurança de Dhlakama.

Em entrevista à DW África, Corinna Jentzsch, professora assistente de Relações Internacionais da Universidade Leiden, na Holanda, disse que retorno à guerra civil é improvável, mas conflitos entre RENAMO e FRELIMO fragilizam o longo processo de paz. A falta de reconciliação nacional e falhas na reintegração de ex-combatentes são os principais responsáveis pela instabilidade política atual. "A polarização social persiste ao longo dos anos desde o acordo de paz. O país permanece dividido entre simpatizantes da RENAMO e da FRELIMO, entre o Norte e o Sul", explica a especialista que fez pesquisas de campo sobre a guerra civil e o processo de paz em Moçambique. Segundo a especialista, Dhlakama mantém uma mentalidade de guerrilha.

Por sua vez, a FRELIMO acentua as rivalidades. “A repressão está aumentando. A FRELIMO propõe a ideia de união nacional ao ponto de silenciar a oposição. Nunca houve um processo de reconciliação a nível nacional. A guerra continuou não puramente com violência, mas com palavras. Todos os problemas sociais de Moçambique são entendidos hoje sob o espectro do conflito entre a RENAMO e a FRELIMO. Essas diferenças nunca foram superadas, então a rivalidade da guerra civil continua", analisa.

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Março de 2016: Mais moçambicanos fogem na província de Tete

Apesar de as tensões entre RENAMO e FRELIMO terem diminuído em finais de fevereiro de 2016, moradores continuam a abandonar as regiões de Nkondedzi e Chibaene, nos distritos de Moatize e Tsangano . Em Nkondedzi, mais de seis mil moçambicanos já terão atravessado a fronteira para o Malawi à procura de segurança. Algumas centenas optaram por encontrar refúgio noutros pontos da província de Tete.

Moradores que ainda resistiam em deixar suas casas decidiram sair em busca de lugares mais seguros. Eles alegam que as forças de defesa estão a cometer atrocidades contra as pessoas que ainda continuam nas comunidades.

A Polícia da República de Moçambique (PRM) na província de Tete garante que há calma e tranquilidade em Nkondedzi e Chibaene. O governador da província, Paulo Auade, disse ao canal de televisão moçambicano STV que os refugiados no centro de Kapise, no Malawi, onde se encontram muitos moçambicanos, são malawianos assolados pela seca, que procuram ajuda. “Não há nenhum refugiado. Aqueles que estão no Malawi são deslocados. Se verificar bem, tem mais crianças e mulheres do que homens armados”, ressalvou.

Enquanto prevalece a tensão político-militar muitas empresas que operam na província de Tete começam a acumular prejuízos, devido à retração de investimentos.

2 de março de 2016: International Crisis Group coloca Moçambique em "alerta de risco de conflito"

A organização International Crisis Group colocou Moçambique na lista de países ou regiões em "alerta de risco de conflito", após a situação política e militar se ter agravado

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em fevereiro com registo de vários incidentes. Para a ICG, os acontecimentos "justificaram" o agravamento da situação, que começou logo no início do mês, quando a Renamo, oposição, rejeitou conversações com o Presidente moçambicano, Filipe Nyusi.

Segundo o relatório mensal da International Crisis Group (ICG), com sede em Bruxelas, Moçambique figura ao lado do Afeganistão, Chade, Somália, Turquia, Venezuela e Zimbabué, bem como a região da península da Coreia.

3 de março de 2016: Há um ano Gilles Cistac foi assassinado e nenhuma detenção foi feita

Um ano após o assassínio do constitucionalista franco-moçambicano Gilles Cistac, as autoridades moçambicanas ainda não detiveram ninguém relacionado com o caso, segundo o porta-voz da polícia, Inácio Dina. "Houve pessoas intimadas a prestar depoimentos, algumas por terem testemunhado o crime e outras por suspeitas do seu envolvimento, mas depois soltas", disse o porta-voz do Comando Geral da Polícia da República de Moçambique (PRM). Inácio Dina acrescentou que a polícia continua a investigar o caso e a falta de resultados não pode ser encarada como um arquivamento do processo.

5 de março de 2016: Ataques contra autocarros

Foram registados ataques a colunas de veículos civis escoltadas pelos militares atribuídos à RENAMO, em dois troços da EN1, a principal estrada de Moçambique, na província de Sofala, mas há relatos de incidentes noutros pontos do país. No dia 5 houve tiros ao pé da localidade de Honde (Manica) contra um autocarro da empresa Nagi Investimentos, que veio com mais de 60 passageiros de Tete. O condutor e um passageiro morreram. Nos dias seguintes, houve mais um ataque contra um autocarro.

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A Federação Moçambicana dos Transportadores Rodoviários e empresários apelaram ao fim dos confrontos em Moçambique, que começam a prejudicar o transporte de pessoas e mercadorias. Os prejuízos dos empresários desde o início dos ataques, em 2013, estimam-se em dois milhões de dólares e alguns ameaçam fechar portas. Várias empresas de transporte moçambicanas anunciaram na sequência dos ataques de que iriam paralisar a sua atividade. "No conflito de há dois anos sofremos muitos prejuízos, que rondam os dois milhões de dólares, nomeadamente em pneus e vidros", diz Mussagy Goupal, empresário da área dos transportes.

O jornalista Luis Filipe Nhachote, jornalista e participante na iniciativa Africaleaks pelo jornal @Verdade, afirma em entrevista à DW África que os moçambicanos estão fartos de discursos de violência, sobretudo dos dirigentes da RENAMO. O maior partido da oposição em Moçambique corre assim o risco de perder a confiança dos cidadãos, sobretudo no seio da classe média, nas maiores cidades do país, afirma Nhachote para acrescentar que “é um retrocesso de mais de 20 anos, na história de belicismo que aconteceu neste país. A RENAMO pouco a pouco está perdendo a sua credibilidade. Sempre que há crises eles acham que a única maneira de negociar é pela força das armas."

9 de março de 2016: Mais de 11 mil refugiados moçambicanos no Malawi

São cada vez mais os moçambicanos que procuram refúgio em Kapise. Por semana, chegam cerca de 300 pessoas que fogem dos confrontos entre o exército e a RENAMO. Até ao momento, o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) registou 8.776 moçambicanos que pediram asilo na localidade malawiana. Outros 2.250 estarão à espera de serem registados.

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O centro de acolhimento de Kapise está sobrelotado. É nesta aldeia a apenas seis quilómetros da fronteira com Moçambique que se concentra a maioria dos que fogem dos confrontos entre o exército e a Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO), o maior partido da oposição. Os primeiros chegaram em junho de 2015, em pequenos grupos. Desde dezembro de 2015, o número não pára de aumentar.

Monique Ekoko, representante do ACNUR no Malawi, afirma que a situação é preocupante. "O local está congestionado. Há 11 mil pessoas a viver num espaço concebido para acolher, no máximo, três mil", conta à DW África. "As pessoas estão praticamente a viver umas em cima das outras, em espaços muito pequenos". Para atender às necessidades são necessários 15 milhões de dólares.

A falta de espaço dificulta a criação de infraestruturas necessárias como latrinas, recreios para as crianças e tendas para instalar escolas. Segundo Ekoko, o Governo do Malawi já prometeu que iria encontrar um local com mais espaço e melhores condições.

10 de março de 2016: Governo de Quelimane preocupado com infiltração de guerrilheiros da RENAMO

Carlos Carneiro, administrador de Quelimane, na província da Zambézia, Moçambique, disse que a cidade de Quelimane está ameaçada pelos homens da RENAMO e teme que os mesmos se estejam a infiltrar na cidade. Carlos Carneiro referiu que algumas zonas, principalmente no Supinho e no Maquival, reina um clima de medo, daí que se possa dizer que há de facto uma ameaça à população.

"Em Quelimane temos informações de que alguns grupos também criam instabilidade nas casas e nas vias públicas e isso atormenta de certa maneira o bom ambiente onde a população se faz presente. Por isso é que não pensámos duas vezes em fazer esta reunião. Precisamos de arregaçar as mangas como Governo", explica o administrador de Quelimane.

Agradecimentos: Esta cronologia apenas foi possível com as contribuições de todos os jornalistas da DW África. Nomeadamente: Amos Zacarias (Tete), António Cascais, António Rocha, Arcénio Sebastião (Beira), Bernardo Jequete (Chimoio), Bettina Riffel, Cristiane Vieira, Cristina Krippahl, Eleutério Silvestre (Pemba), Ernesto Saúl (Maputo), Filipa Serra Gaspar, Glória Sousa, Guilherme Correia da Silva, Karina Gomes, João Carlos (Lisboa), Leonel Matias (Maputo), Madalena Sampaio, Manuel David (Lichinga), Marcelino Mueia (Quelimane), Maria João Pinto, Nádia Issufo, Nelson Carvalho Miguel (Nampula), Nuno de Noronha, Romeu da Silva (Maputo), Sitoi Lutxeque (Nampula) e Sofia Diogo Mateus.

DW – 12.03.2016