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Visibilidade e accountability: o evento do ônibus 174 Rousiley C. M. Maia 1 Visibilidade: a mediação e a constituição pública de eventos Os modelos de democracia deliberativa, os quais estabelecem um importante ideal ético e prático para o funcionamento da esfera pública, raramente se preocupam com o processo de mediatização operado pelos meios de comunicação. Como prática efetiva, o processo deliberativo apenas pode tornar- se visível – ser reconhecido e apreciado pelo cidadão comum – através dos veículos de comunicação de massa. Os meios de comu- nicação produzem um tipo de publicidade fraca, uma vez que expõem fenômenos, proferimentos, posições e planos para o conhecimento geral (Maia, 2002; Thompson, 1995; Gomes, 1999). Isso permite produzir um tipo de conhecimento “publicizado, compartilhado e socialmente acessível”, como J. Dewey (1954) influentemente escreveu. Estudos diversos têm apontado que a imprensa exerce, entre outras, as funções de dar visibilidade à coisa pública, a demandas do público e a setores da sociedade, servindo como uma espécie de fórum; atua ainda como agente de vigilância e de mobilização (Norris, 2000; Abreu, 2003). Desde Edmund Burke, a mídia tem sido tradicionalmente vista como um dos atores clássicos que promove con- trole na divisão de poderes, através de mecanismos de “checks and balances ”. Menos claro é o modo pelo qual a mídia opera como um fórum para o debate, constrangen- do os interlocutores a seguir certas regras pragmáticas de trocas dialógicas em público, diante de uma platéia ampliada. Nesse sen- tido, procuro abordar a mídia não apenas como uma instância em que as falas dos atores sociais adquirem ‘visibilidade’, i.e, tornam-se disponíveis ao conhecimento do público em geral, mas, também, como uma instância que constrange os interlocutores a seguirem certas regras pragmáticas de trocas dialógicas em público, diante de uma platéia ampliada. Particularmente em situações problemá- ticas, de escândalo ou crise (envolvendo matérias passíveis de regulamentação), os meios de comunicação de massa convocam os representantes das instituições públicas a prestarem contas, a explicarem e a justifi- carem suas ações diante de seus públicos. Isso permite confrontos diretos ou virtuais entre os representantes do aparato estatal- administrativo, os especialistas e os atores da sociedade civil. Há frequentemente uma troca de visões e interpretações num processo de idas e vindas, que também se ramifica para além da oposição inicial dos enunciados de cada falante. Como numa atividade dialógica, aqueles falantes que se expressam na cena midiática podem incorporar e re-interpretar as contribuições dos outros em seus próprios termos; podem adotar um vocabulário não utilizado anteriormente, alterar o julgamento e o próprio modo de expressão (Bohman, 2000:58). Evidentemente, esta é uma atividade que nem sempre resulta, na prática, em um diálogo aberto entre a administração pública e seus públicos. De tal sorte, é fundamental que as condições de possibili- dade, as limitações desse processo e os obstáculos que lhe são impostos sejam iden- tificados e discutidos. Neste artigo, pretendo examinar particu- larmente o modo pelo qual a mídia, diante de uma situação problema, ajuda a instaurar um processo de accountabilitity 2 , isto é, de prestação de contas, de responsabilidade pública das pessoas públicas. Para tanto, busco investigar empiricamente práticas efetivas de discurso político mediado, apre- endidas em sua especificidade histórica e cultural, a respeito do evento do sequestro do ônibus 174 ocorrido em 12 de junho de 2000 na cidade do Rio de Janeiro 3 . O se- questro ao ônibus criou um evento público de notável repercussão global: foi transmi- tido “ao vivo” por 4 horas ininterruptas 4 para

Maia Rousiley Visibilidade Accountability

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551 OPINIOPBLICAEAUDINCIASVisibilidadeeaccountability:oeventodonibus174RousileyC.M.Maia1Visibilidade:amediaoeaconstituiopblicadeeventosOsmodelosdedemocraciadeliberativa,osquaisestabelecemumimportanteidealtico e prtico para o funcionamento da esferapblica,raramentesepreocupamcomoprocessodemediatizaooperadopelosmeios de comunicao. Como prtica efetiva,oprocessodeliberativoapenaspodetornar-se visvel ser reconhecido e apreciado pelocidadocomumatravsdosveculosdecomunicaodemassa.Osmeiosdecomu-nicaoproduzemumtipodepublicidadefraca,umavezqueexpemfenmenos,proferimentos,posieseplanosparaoconhecimento geral (Maia, 2002; Thompson,1995;Gomes,1999).Issopermiteproduzirumtipodeconhecimentopublicizado,compartilhado e socialmente acessvel, comoJ.Dewey(1954)influentementeescreveu.Estudosdiversostmapontadoqueaimprensaexerce,entreoutras,asfunesdedarvisibilidadecoisapblica,ademandasdo pblico e a setores da sociedade, servindocomo uma espcie de frum; atua ainda comoagente de vigilncia e de mobilizao (Norris,2000;Abreu,2003).DesdeEdmundBurke,a mdia tem sido tradicionalmente vista comoumdosatoresclssicosquepromovecon-trolenadivisodepoderes,atravsdemecanismosdechecksandbalances.Menos claro o modo pelo qual a mdia operacomo um frum para o debate, constrangen-doosinterlocutoresaseguircertasregraspragmticas de trocas dialgicas em pblico,diantedeumaplatiaampliada.Nessesen-tido,procuroabordaramdianoapenascomoumainstnciaemqueasfalasdosatoressociaisadquiremvisibilidade,i.e,tornam-sedisponveisaoconhecimentodopblicoemgeral,mas,tambm,comoumainstnciaqueconstrangeosinterlocutoresaseguirem certas regras pragmticas de trocasdialgicas em pblico, diante de uma platiaampliada.Particularmenteemsituaesproblem-ticas,deescndalooucrise(envolvendomatriaspassveisderegulamentao),osmeiosdecomunicaodemassaconvocamosrepresentantesdasinstituiespblicasaprestaremcontas,aexplicaremeajustifi-caremsuasaesdiantedeseuspblicos.Issopermiteconfrontosdiretosouvirtuaisentreosrepresentantesdoaparatoestatal-administrativo,osespecialistaseosatoresdasociedadecivil.Hfrequentementeumatrocadeviseseinterpretaesnumprocessodeidasevindas,quetambmseramificaparaalmdaoposioinicialdosenunciadosdecadafalante.Comonumaatividadedialgica,aquelesfalantesqueseexpressamnacenamiditicapodemincorporarere-interpretaras contribuies dos outros em seus prpriostermos;podemadotarumvocabulrionoutilizado anteriormente, alterar o julgamentoeoprpriomododeexpresso(Bohman,2000:58).Evidentemente,estaumaatividade que nem sempre resulta, na prtica,emumdilogoabertoentreaadministraopblicaeseuspblicos.Detalsorte,fundamentalqueascondiesdepossibili-dade,aslimitaesdesseprocessoeosobstculos que lhe so impostos sejam iden-tificadosediscutidos.Nesteartigo,pretendoexaminarparticu-larmenteomodopeloqualamdia,diantedeumasituaoproblema,ajudaainstaurarumprocessodeaccountabilitity2,isto,deprestaodecontas,deresponsabilidadepblicadaspessoaspblicas.Paratanto,buscoinvestigarempiricamenteprticasefetivasdediscursopolticomediado,apre-endidasemsuaespecificidadehistricaecultural,arespeitodoeventodosequestrodonibus174ocorridoem12dejunhode2000nacidadedoRiodeJaneiro3.Ose-questroaonibuscriouumeventopblicodenotvelrepercussoglobal:foitransmi-tido ao vivo por 4 horas ininterruptas4 para552 ACTASDOIIISOPCOM,VILUSOCOMeIIIBRICOVolumeIVumaplatiaestimadaem54milhesdeespectadores,interrompeuarotinadoslaresedediversasinstituiesnopasemotivouo pronunciamento do Presidente da Repbli-ca,doGovernadordoEstadoedediversosagentespblicos.Das diferentes dimenses de accountabilityAquestodaaccountabilitycomoodeverdeprestarcontassobreasprpriasaesouaobrigaodedarsatisfaesfundamentalparaaqualificaodademo-cracia moderna. Diz respeito ao requisito paraquerepresentantes,nadisposiodeseuspoderesedeveres,respondamaosrepresen-tados,demrespostasscrticasoudeman-dasaelesdirigidas,eaceitem(alguma)responsabilidade por falhas ou falta de com-petncia.NocontextodoEstadodemocr-tico,oprocessocentraldaaccountabilitysed entre os cidados e os ocupantes dos cargospblicos,dentreeentreasfileirashierrqui-casdosrepresentantesoficiais,entreospolticoseleitoseosrepresentantesdasinstituiesburocrticas.Implica,grossomodo,emdireitosdeautoridade,atravsdainteraoedatrocasocial.Aquelequedemandaaccountability,porumlado,exigerespostas e justificaes, enquanto aquele quese mantm accountable, por outro lado, aceitaresponsabilidadesedexplicaes.A problemtica da accountability eviden-ciaatensointernaexistenteentreadimen-sonormativadosistemapolticodemocr-ticorelacionadaaosfinsaquedeveres-pondereadimensooperacionalrela-cionadasperformancesobtidas.Refere-setantoaofuncionamentorealdasinstituiespblicasquantoavaliaododesempenhodestas:secondizentecomosinteresseseas necessidades dos cidados. A fora motrizpor trs de todo o sistema deaccountability,comopropeMulgan,oimperativode-mocrticodequeasorganizaesdogover-nodevemrespondersdemandasderepre-sentantes polticos e do pblico mais amplo(Mulgan,2000:559).importanteressaltarqueadimensonormativanodizrespeitoapenasaalgumconjuntomaisoumenosabstratodevalorestico-morais,oqualficariadependentedefortesidealizaes.Refere-se,tambm,aoconjuntodeexpectativasqueoscidadosproduzem acerca do sistema e de seu desem-penho,enquantoumprocessocoletivo,marcadopelahistoricidadeepelasituacionalidadedeatoresconcretos.Detalsorte,tooumaisimportantedoqueodesempenhorealdademocracia,comodestaca Lattman-Weltman, a percepo queosatorestm,oupodemter,acercadessedesempenhoedequantooregimeeseusmandatriosrespondem,prestamcontasssuasnecessidadeseinteresses(Lattman-Weltman, 2001:2). De modo mais especfico,diversosautoresdateoriademocrticaedaadministraopblica(Hunold,2001;Roberts,2002;RomzekeDubnick,1987)vmmostrandoqueoconceitodeaccountabilitypodedesdobrar-seemques-tesanalticasdistintas:a)aosensointeriorde responsabilidade individual, a partir da ex-pectativaacercadointeressepblicoespe-rado sobre determinada atuao, o que abran-geodesempenhoconscientedosdeveresedasfunes(accountabilityprofissionaloupessoal);b)aplicaodemecanismosemtodosdiversosdechecksandbalancesparacontrolarasorganizaespblicaseasaesdeseusagentes(accountabilitycomocontrole). Tm como propsito fazer com queosoficiaispblicos(representantesdop-blico)ajamdeacordocomasprescriesnormativaseasregraslegais,e,tambm,sejamconstrangidosdemodoadequado,ficandosujeitosaprestarcontas,aoferecerexplicaessobresuasaeseaceitarsan-es;c)aomodopeloqualosgovernantesvisamatenderaosdesejosesnecessidadesdoscidadoseaelesdarsatisfao,inde-pendentementedaexistnciadecontroleformal(accountabilitycomoresponsiveness,aobrigaodedarsatis-fao);d)dimensopresentenadiscussopblica, de troca dialgica entre os cidados,mesmoquandonoexisteumarelaofor-maldeautoridadeesubordinaoentreaspartesenvolvidasnarelaodeaccountability (accountability como dilogo)5(Mulgan,2000).Ascenasdosequestrodonibus174desencadeiamvriosmecanismosdepresta-odecontasentreasautoridadesemem-bros de instituies encarregadas da seguran-a pblica incluindo a avaliao das pressu-553 OPINIOPBLICAEAUDINCIASposiesdasinstituies,aperformancedacorporaopolicialeasresponsabilidadespessoais. Mas esclarecer por que o sequestrodonibus174umeventoquedemandaaccountabilitynoumaquestoimediata.Paranossospropsitos,interessaparticular-menteevidenciaraemergnciaeatransfor-maodedisputaspelainterpretaodosentidodoeventoeoprocessodeprestaodecontasinstaladonoprprioespaodevisibilidademiditica.A mediao de um problema complexo: ouporqueosequestrodonibus174umeventoquedemandaaccountability?Emprimeirolugarprecisoreconhecerqueaviolnciaematochamaaatenodopblico.Senasociedademodernaosatosde violncia a tortura, o suplcio do corpo,abrutalidadeenquantoexibiodaforafsica continuam obviamente existindo, elesocorremgeralmentelongedoolhardop-blico,daaudinciaemgrandenmero.Amodernidaderetirouaviolnciadacenapblicaeexpropriouaexperinciadavio-lnciadavidaordinria,comodiscutidoporGiddenseFoucault(Giddens,1991;Foucault,1987).Atravsdatransmissoaovivodosequestro,aviolnciaematoodescontroledosequestrador,ousodaforaparamanterospassageiroscomorefnsdentrodonibus,asequnciadeameaaspdeservistaeouvidaportodos6.Issopermitiuavivnciamediadadeumasitu-ao aterrorizadora. Diversos pronunciamen-tosdepessoascomunsveiculadosnamdiaapontamqueoepisdioacionoulembranasdeexperinciasviolentasvividasoupoten-cialmenteconcebidas7,provocandoterror,indignao, desejo de interferir nos even-tosparainterromperocursodasaesouparafazerjustiacomasprpriasmos8.Fiqueividradonaquelateleviso,comoseadiantasse...Fiqueitorcen-do,aflito,angustiado,paraqueocanalhamorresselogoedeixasseaquelaspessoasvoltaremparasuascasas,parasuasfamlias.Quepenaquenoeraumfilme,erarealidade(comerciante)9E eis que, de um instante para outro,ao chegar aminha casa depois de maisumdiacansativodetrabalho,meviajoelhadanomeiodeminhasala,rezando,implorandoaDeuspormi-sericrdia, suplicando para que aquelaestriativesseumfinalfeliz!10Achoqueseeutocassenocontroleremotomebateriam,tamanhaacon-centraodetodos.EeumesmonoconseguisairdafrentedaTV(ge-rentedeumalojadeTV).Parecia que eu estava assistindo a umfilme,maserareal(funcionriodaAssembliaLegislativa).11Asimagensdaviolnciaematoduranteo sequestro absolutamente corriqueiras emproduescinematogrficasaonegaremoestatutoficcional,provocamumchoque.Aviolncia emerge como algo que no deveriaocorrer,elapareceresvalardeumaoutraordem.Ademais,afacetamaispeculiardasprticasdaviolnciaurbanaoseucarterdifuso, imprevisvel, sem lugar definido nocorpo social ou no cenrio ampliado da cidade(Digenes,2000:55).Afortedramaticidadedoepisdio,con-tudo,nocondiosuficienteparainstau-rarumprocessodedeliberao,nosentidoaquidefendido.OeventodoJardimBot-nicoocorridoempraapblica,sobosholofotesdamdiaexpenoexatamenteoinfortnioeodestinotrgicodospassa-geirosdonibus174,mas,sim,odramaurbanodasmetrpolesbrasileiraseoriscoqueacometeatodosqueprecisamutilizarascaladaseasviaspblicas.Emumasociedade com um dos mais altos ndices decriminalidade e casos hediondos de violnciaurbana(IPEA,2003:89),ningumpodesentir-seplenamenteseguroouasalvodasbrutalidades testemunhadas atravs do vdeo.Oeventodramatiza,assim,umproblemapercebidoerefletidopelaspesquisasdeopinio12comoumdosmaisgravesdopas;trazparaodebatepblicoachamadaes-caladadaviolnciaurbanaeacorrelataquestodaseguranapblica.E,apesardodesfecho do sequestro com a morte da refmportirosprovocadospelaprpriapolciaeaexecuodosequestradordentrodocarrodapolciaacaminhodadelegaciapoder554 ACTASDOIIISOPCOM,VILUSOCOMeIIIBRICOVolumeIVser perfeitamente identificado como sinal dofuncionamentonormaldasinstituiespoli-ciaisedeseusmodosoperatriosquearigornuncafuncionarambemoquemaissenotanamdiaainterpretaodopro-cessocomoevidnciaclaradeumaintensacriseinstitucional.Accountability ao pblico em geral: o pasnoaguentamaisLogoapsoencerramentodosequestro,FernandoHenrique,oentopresidentedaRepblica, atravs de pronunciamento trans-mitidoemrededeteleviso,interpelaostelespectadorescomopartedeumamesmacomunidadepolticadetodososbrasilei-rosumdensquesenteummistodepavoreindignaocomoqueestavaacontecendo13.Nsacabamosdeassistir,todosestarrecidos,durantehoras,aumacenadeumsequestrodeumapessoaaparentemente drogada, numa violn-ciaabsolutamenteinaceitveleatcertopontocontristadopornoveruma ao mais rpida que fosse capazdeevitarodesenlacefataldeumajovem absolutamente inocente. (...) Eeu, como presidente da Repblica, nopoderiadeixardedarumapalavraprimeirodesolidariedadefamlia,mas,tambm,aopovosofridodascidadesdoBrasil.Opresidentedmostrasdequesen-svelaosefeitosmalficosdaquelavioln-cia absolutamente inaceitvel, em termos dosofrimento humano afetando as vtimas reaisoupotenciais.Nessesentido,aviolnciadespertaumsentimentogenricodesoli-dariedade,derivadodasobrigaesticasemoraisdacomunidadesocial,jquease-guranafsicadaprpriavidatendeaserumvalorfundamentalparatodos.OprpriogovernadordoRio,apsoepisdio,assumeo papel implcito do outro: No queria estarno lugar de nenhum dos passageiros14. Essameninapoderiaserminhafilha15.OPresi-dentedaRepblicatambmadotaopontode vista do que poderia ser chamado de umoutrogeneralizado:hsempreumatrag-diapessoalportrsdasestatsticassobreaviolncia.Qualdensnosofreu,indiretamente,aaodessaviolncia?16.Comojapontado,oprocessodedebatepblicosomenteocorrequandohumgraudesensibilidadeeateno,jinstaladosnomeiosocial,parasituaesqueseconfigu-ramcomoproblemasqueafetamatodacoletividade.Detalsorte,FHCressaltaqueaquele acontecimento demanda sria atenodosgovernantesedaprpriasociedade.Issoimpeatodosnsbrasileirose,sobretudo,ans,quetemosres-ponsabilidadedegoverno,anecessi-dadedeumaaoconjunta,maiseficaz,paracombateraviolncia,ocrime,adroga,porqueestamosche-gando a um ponto que inaceitvel.Nessesentido,aprestaodecontasdeFHCdirecionadaaopblico,esignifica,decertaforma,umaaceitaolegtimadaresponsabilidade dos representantes eleitos degarantirebemcomumeproverproteoeseguranapblicapopulao.DesdeasprimeirasteoriasdoEstadoModernoreco-nhece-sequefinalidademnimadeumGovernomanterascondiesquepermitamacoexistnciapacficaentregruposeindi-vduos,impedindoaesviolentas.Atravsdaordemjurdica,osindivduossoexpro-priados da utilizao daviolncia para atingirseusfins,ficandooEstado,comodetentordomonopliodousolegtimodaviolncia,comfunodeproverproteopblicaaoscidados contra os custos externos ameaacriminosa.Apolcia,comoainstituiodecontrolesocialporexcelncia,seencarregadeprevenirouimpedirosdelitoscontraapessoa,contraapropriedadeecontraoscostumes.Reduz,assim,oriscodemorteviolentaquealarmavaThomasHobbesegaranteaordemparaosindivduosperse-guiremoprpriointeresse,comodesejavaAdamSmith.Porcerto,aviolnciaurbanaumpro-blema complexo, sem uma terapia especficarecomendadapararesoluodaconstruoda ordem democrtica. Estudos contempor-neosnobuscammaisexplicaraviolnciaurbananumavisolineardecausaeefeitos,555 OPINIOPBLICAEAUDINCIASmas,aoinvsdisso,entende-sequeumconjuntodefatoresdesencadeiamumcon-juntodedispositivos,comumacadeiadeefeitosquecruzamentresi(Zaluar,1996:53).Fatoresscio-econmicos(aper-sistnciadamisria,ocrescimentodode-sempregonascidades,aprecariedadedossistemasdeeducao,deassistnciapblicaou de reabilitao) reforam os processos desegregaoeexclusosocial,negandomaioria da populao os recursos bsicos paraauto-realizao.Ademais,numasociedadecomfortetradioderelaeshierrquicas,oprincpiodeigualdadesejacomoigual-dadeperantealei,sejacomoresponsabili-dadecoletivapelaexclusodeclassenochegoupropriamenteaseconsolidar,nemcomoiderio,nemcomoprticadoEstadodeBem-estarsocial(Paoli&Telles,2000;Carvalho,2000;Velho,1996).Aimpossibi-lidadedaconstituiodeprocessosdereci-procidadeentreoscidadostendeagerarimpassessocioculturaiseairrupodavi-olnciadentroeentreosgrupossociais(Velho,1996:10;Soares,2000).Contudo,osrepresentantessorespon-sveispelaspolticasquesustentametam-bmpelosresultadosdetaispolticas(Gutmann&Thompson,1996:137).Nessesentido,FHCsustentaigualmenteaexpec-tativa de ser responsvel pelosoutros agen-tes dentro do sistema poltico para encontrarassoluesparaosproblemassociais.Opresidente reafirma que, apesar dos governosestaduais serem os responsveis diretospelaseguranapblica,asautoridadesfederais,nombitodesuasaes,jestavamseorganizando para impulsionar um programadeemergncia,umavezqueaviolnciaassistidapeloBrasilobrigaumaveloci-dademaior17.Prope,nessembito,queosrepresentantesoficiaisformemummutirode combate violncia, para agir com maisenergiaparacoibiressesatosquesofran-camenteassustadores:Com todas as dificuldades que exis-tem,nstemosquenosdarasmos:osgovernadores,opresidentedaRepblica, as foras de segurana, asForasArmadas, no que lhes corres-ponde,paraprumparadeiroaessaondadeviolnciaquetemnocrimeorganizado,nadroga,asmolasfun-damentais.Achoqueopasnoaguentamais.18Ademocraciarepresentativaconfigu-ra-secomoumacadeiadedelegaodecompetnciasdedeciso,emdiferentesnveis:doseleitoresaosrepresentanteselei-tos,dolegislativosagnciasdoexecutivo,doexecutivoaosdiferentessetoresministe-riaiscomsuassecretarias,doschefesdediferentesdepartamentosexecutivosaosservidorespblicos. Talcadeiadedelegaoseespelhaaumacadeiacorrespondentedeaccountability,aqualoperanadireoin-versa (Strom, 2000: 267). Apesar de algumasdificuldadesconceituais19,talnoocontri-buiparamostrarosmecanismosquepermi-tem aos mandatrios fazer com que os agentespblicossejamresponsabilizados(ouresponsabilizveis), accountable ex post,pelorealfuncionamentodasinstituies,nosis-temademocrtico.Seguindoaviainstitucional,nota-sequeoPresidentedaRepblicademandaqueosagentespblicosvenhamadarrespostasaoproblema:O governo federal entrar em contatodeimediato,comojfizhoje,comogovernadordoRiodeJaneiro,quenaturalmentemedissequeelesesta-vam fazendo o que lhes correspondiaeeudissequeestavapreparadoparaajudarnoqueelenecessitasse.Maseuseique,nessashoras,dependedaaodiretadequemtemocomandosobreapolcia.20Accountabilityecontrole:damelhorso-luo possvel a uma operao sem rumoesemcontroleOprimeiropronunciamentooficialdoGovernadordoRioapresentaumaavaliaomaisespecficadequemtemocomandosobreapolcia.Ogovernadorlamentaamortedarefmereconheceodesempenhodapolciacomosatisfatrio.()aassessoriadeimprensadeGarotinhoinformouqueogoverna-dorsentiu-sealiviadocomodes-fecho,queeleelogiaraaatuao556 ACTASDOIIISOPCOM,VILUSOCOMeIIIBRICOVolumeIVenrgicadapolciaequeelehaviaconsideradoqueofinaldosequestrohaviasidoamelhorsoluoposs-vel21.No dia seguinte, o governador declara queodesfechonoagradounemaele,nemaocomandantedaoperaoefalhafoitermorridoalgum22.Tambmosecretriodesegurana pblica do Rio afirma, de maneirabastante ambgua,que os policiais deixaramde corresponder ao desempenho esperado: aaodosoldadofoiinoportuna,elefezumaavaliaoerrada,massetivessematadoNascimento,eamoanofosseatingidapordisparos,aaoteriasidocorreta23.Oprimeiropassoparadesencadearaccountabilitynomearalgocomoumproblema (Pritchard, 2000). No hexign-ciaparaexplicaoejustificao,amenosque algum defina a questo como sendo algoimprprio,erradoouindesejvel.Se,numprimeiromomento,amortedarefmapre-senta-secomoumacidenteouumafatali-dade,novasfalasvmcena,alterandotalquadrointerpretativo.Estabelecem-sepolmicasprincipalmenteemtorno:a)daconturbadanegociaoentreospoliciaiseosequestradore,emparticular,dotironahoradarendio,oqualprovocouamortedarefmeb)damortedeSandrodoNascimento,dentrodocarrodapolciaqueoconduziadelegacia,oquelevantaainterpretaoimediatadequeospoliciaisexecutaramoprisioneiro.Essasquestesapresentam,demaneiradramtica,asduasfacesdoproblemadapolcianaordemsocialdemocrtica:(a)aeficcianaprovisodaordem,aqualen-volveaconcentraodepodersimblicoeinstrumentalnaorganizaopolicial;(b)arestrioaousodopodernaproduodaordempelopoliciali.e,ousoarbitrriodepoderpelosagentesdoEstado,nocombate ao crime (Paixo e Beato, 1997: 236;Soares, 2000: 29). A primeira polmica podesercaracterizadacomoumprocessoinfor-maldeaccountability24 derivadadocon-junto de expectativas polticas e sociais, bemcomodasnormasdasorganizaesburocr-ticas,deregrasdeoperaesdesegurana,edoscdigosdeticaprofissionaldacorporao policial. A segunda polmica, porsua vez, desencadeia mecanismos formais deaccountability, baseados em controles hierr-quicos da corporao policial e do judicirio.Contudo,nosepodeadotarumavisorealistadesseprocesso,comoseasregrasfossemclarasdeincio,ouqueoperemdemaneirarelativamenteautomtica.Aoinvsdisso,aespecificaodeumadadanormaesuaaplicaoouainterpretaodasaesem cada situao particular depende frequen-tementedaconsideraodediferentespon-tosdevista,envolvendoadiscussoentrevriosatoressociais.Detalsorte,maisadequadoconceberquediferentestiposdeaccountabilitysoacionadosnumaredederelaes,osquaisencampamdiferentesdemandasdeprestaodecontasexer-cciosdejulgamentoedeapuraoderes-ponsabilidadescomosquaisosoficiaispblicosprecisam,naprtica,lidar.Noespaodevisibilidademiditica,osagentes da mdia, seguindo um procedimentoconvencionaldojornalismo(Mouillaud,2002),buscamescrutinaraatuaodospoliciaisdurante o sequestro. Para comentaras tcnicas e os procedimentosadotados pelapolcianaoperao,acionamasvozesdediversos especialistas profissionais em aestticas desegurana, membros da corporaopolicial atuando em instituies de diferentesestados,coronisedelegados.Vriosestra-tegistaserepresentantessuperioresdacorporaopolicialressaltamqueoproces-so de negociao foicompletamenteequi-vocado25, com erros de avaliao, com usosinadequados de equipamentos e confuso nasoperaestticas:oatiradordaPMcariocadeutirosconsideradosdealtoriscoparasuaposio () a arma estava umpoucoabaixada e ele no tinha noo precisadadireodoprojtil(). Aquilofoiumaloteriaeaprobabilidadedeerroeramuitomaiorqueadeacerto.26Houvedesencontrodeinformaesefaltadeumcomandocentralizadoconsideradaumaregradasmaisrelevantesnessetipodesituao.Apiorfalhanaaofoiadecomando.Umatropabemtreinadanoadmiteherosmoindividual.27557 OPINIOPBLICAEAUDINCIASOs discursos especializados proporcionamumtipodeconstrangimentoparticularmenteforte.Aolongododebate,vaitornando-secadavezmaisconsensualqueaaodospoliciaisfoidesastrada,contendoumafalhaatrsdaoutra,umasucessodeerros28.OentoMinistrodaDefesaafirma,ementrevista,queodesfechodoepisdiodeixouclaroodespreparodospoliciaisenvolvidosnaoperao29.Demaneirasemelhante,oentoMinistrodaJustiainterpretouoepisdiocomoumademons-trao de quanto o Brasil est despreparado,pela ausncia de tcnica e competncia, paraenfrentarumasituaolimite(...)oqueseviu no desfecho foi que no havia rumo nemcomando30.Umaveznomeadooproblema,osegun-dopassodoprocessodeaccountability,segundoPrichard(2000),apurarrespon-sabilidades,identificandoosresponsveispelasfalhas.Apurarresponsabilidadeseimputar culpas no so processoscoinciden-tes.Somentequandopossvelestabeleceraculpadedeterminadosatoresconstitui-seaterceiraetapadaaccountability,isto,oencaminhamentodaquestoparaumtrata-mentojurdicoouparaoutrosrgosderegulamentaodoEstado,requerendoaaplicaoformaldepunioouaexignciaderetratao.Diantedacaracterizaodaaodospoliciaiscomoinadequadaeim-prudente, os membros da corporao policialso chamados a investigar e a avaliar as aespraticadas (ou no praticadas), no somenteunsdiantedosoutros,mas,tambm,diantedoscidados,sendoquesuasjustificativasprecisamapelarparaopblicoemgeral(Gutmann&Thompson,1996:137).Em tais circunstncias, fica particularmen-te evidente opapel que a mdia desempenhacomo instncia de publicidadeque constran-geosinterlocutoresaseguirospadresdacomunicao pblica, apresentando argumen-tospassveisdeseremdefendidosempbli-co.Detalsorte,osmembrosdacorporaopolicialsochamadosaexplicarsuasaesdentrodeduaslgicasconcorrentesadacorreodosprincpiospautandoseusatose,tambm,adasconsequnciasdessesatos.AchamadaneutralizaodeSandrofoiparticularmentequestionada.Nojargodospoliciaismilitaresecivisfluminenses,neutralizarumapessoaamesmacoisaquemat-la()AordemdeQuintal[secretriodeSeguranaPblicadoRio]foipassada por Penteado [comandante doBOPE]paradoissoldadosdoBope,queseposicionaramembaixodonibus.31Aresponsabilizaodeagentesparticu-laresporaesespecficasdependedapos-sibilidadedepoderounodeterminarseelesestiveramgenuinamenteenvolvidosnatomada de deciso sobre as aes praticadas.Ao buscar tornar explcitoaquilo que estavalatenteemseusentendimentos,restritoaopequenogrupodacorporaoousobodomniodasprticasdainstituio,ospo-liciaismostram-se,porumlado,particular-mentepreocupadosemsalientarqueelesagiramemconformidadecomumaregralegtima,sejaadocdigodecondutadacorporao,sejaadoDireito.Neutralizaro sequestrador, no caso, uma atitude corretasehouverriscodemorteparaasvtimas.32Poroutrolado,ospoliciaistmdificul-dadesemequacionarasresponsabilidadespessoais, tendo em vista as consequncias daao,nocasoconcreto. Apelam,ento,paraqueseusinterlocutoresfaamumexercciomental,imaginandodesfechosalternativosparaocaso:Seele[soldadoMarceloO.Santos]acertasseacabeadomalditovirariaherinacionaleoBopecontinuariasendoamelhortropadomundo.Infelizmente,noacertou.33Notenhocomoresponderseanegociao teria xito caso o soldadonotivesseatirado.34Em diversas entrevistas35, o comandantedoBopereafirmaquenodeuordemaossoldadosparaatirar.Destacaqueseusho-mens so treinados para ter autonomia e tomardecises36.Numsistemaparticularmenteconfiguradoparaadequar-sescomplexi-dadesdoconhecimentoprofissionalescompetnciastcnicaspeculiares,comum558 ACTASDOIIISOPCOM,VILUSOCOMeIIIBRICOVolumeIVqueoschefesdecorporaesadotemumpadroformaldejustificao,aoseremchamadosaprestarcontaseminstnciasexternasinstituio.Osoficiaissuperiorestendemasustentaraperspectivadequeprecisamconfiaremequipesespecializadaseemempregadoshbeisparaproporcionarsoluesapropriadaseque,portanto,confi-am em seus subordinados para fazer o melhortrabalho possvel (Bomzek e Dubnick, 1987).Noprocessodeavaliarasresponsabili-dadesindividuais,diversosinterlocutoresdacorporao buscam sustentar a inocncia dospoliciais,negandoaresponsabilidadedaautoriadaaooumesmoautoridadepes-soalsuficienteparaexerc-la.OprpriocomandantedoBopedeclaraqueanegoci-aoemcasoscomoaqueleexigiraaaodeforasespeciaisdaspolciasenodoefetivo que cuida do policiamento rotineiro37.Outrosressaltamqueospoliciaisnocon-tavamcomosrecursosnecessriosapa-relhagem tcnica ou treinamento qualificadoparaatingirasmetasdainstituio.Taispadresdejustificativatendemadeslocararesponsabilidadeindividualparaosatorescoletivos,organizaesesistemassociais,minando a base que permite imputar respon-sabilidadespelasconsequnciasdaaoaagentessingulares.Outropadrodejustificativasutilizadopor membros dacorporao policial baseia-senadiluiodasresponsabilidadesentreoutrasautoridadesdocentrodosistemapoltico. Aobuscarresponderquemseriamosverdadeirosresponsveisporaquelaoperaosemrumoesemcomando,al-gunsapontamquerepresentantesdesetoressuperioresdoexecutivoexerceramumcontrole manipulativo da autoridade poltica,impedindoumaatuaoeficientedacorporaopolicial.APMnoteveliber-dade de agir porque o governador ficou dandopiruada (palpite) por telefone38. Uma notaoficialdaassessoriadeimprensadoGover-nadordoRio,emitidalogoapsoencerra-mento do sequestro, e reproduzida em diver-sosemjornaisimpressos,sugerequeumarededecontatos39foiestabelecidaduranteosequestro:Garotinhoestevedurantetodotem-po em contato direto com o secretriodeSeguranaPblicadoEstado,JosiasQuintal,que,porsuavez,doprprio gabinete, matinha contato como comandante do Batalho OperaesEspeciais (BOPE) que atuava na cenadosequestro.40SegundoaFolhadeS.Paulo,opr-prio Presidente da Repblica teria telefonadoparaoSecretriodeSeguranadoRiodeJaneiropedindoqueospoliciaislanassemgs lacrimognio ou tomassem outra medidaparadarumdesfechorpidoaoepisdio41.Diversosautoresquetratamdaaccountabilitynaadministraopblicaapontamasdificuldadesparaassegurararesponsabilidadepblicadosagentespbli-cos (Hunold, 2001: 161-163; Roberts, 2002).Apesardehaverumacordosobreaneces-sidade de fazer com que agentes particularesprestemcontasdesuasaescomoumaspectofundamentalatodasastentativasdecontrolaropoderpblicohpoucocon-sensosobre qual tipo de accountability deveprevaleceremumdadomomento.Issosobretudoquandosetratadeprocessosin-formaisdeprestaodecontasoudeapu-raoderesponsabilidadesprofissionaisoupolticas que contam com reduzido potencialdecontroleinternoouexterno(RomzekeDubnick,1987).Homicdio dentro do camburo e longe davisibilidadepblicaA morte de Sandro do Nascimento dentrodocarrodapolciaquedeverialev-lodelegaciaasegundacontrovrsiaimpor-tantequesedesdobrouemtornodoevento.Assimqueolaudodaperciamdicadivulgado,afirmandoqueSandrochegouaohospitaljmorto,porasfixia,oentogo-vernadordoRionomeia,deimediato,oproblema: a polcia asfixiou o bandido. Issointolervel,notemcabimentoemlugarnenhum.42Ainterpretaodequeospoli-ciaisusaramaforademaneirailegtimatambmapresentadapelosecretriodese-guranapblicadoRio:estamosconven-cidos de que foi praticado um crime no trajetoeoscincopoliciaisqueoacompanhavamjestopresosnoquarteldoBopeeseroindiciados.43559 OPINIOPBLICAEAUDINCIASAaccountabilitydemandadaemsitu-aesemqueasexpectativaseacoordena-odasaesforamrompidas.Comojapontado,oEstadoModernodetmomo-nopliodaviolncialegtimaparaprotegeros membros da sociedade. A utilizao destaviolnciafunciona,comopropeH. Arendt,comooltimorecursodecontenodosindivduosisolados...queserecusamaserdominadospeloconsensodamaioria(Arendt, 1985: 27). Por princpio, a violnciaquesustentaaeficciacontinuadadeumpodercoercitivonaproduodaordemdistingue-sedaviolnciaquealimentaumasituaodeterror,pelofatodeaprimeirasermensurveleprevisvel,exercidademaneiradiscriminadaeponderada,aopassoqueasegundaincomensurveleimprevisvel,exercidadeformacega.Ospoliciais,aofazeremusodosaparelhoseinstrumentos daviolncia de maneira ilegal,obscurecem tal distino. Convertem-se numaparelhodeagressoenumaameaaaoscidadosquedeveriamproteger.Manterarestriolegalaoarbtriopo-licialnousodeviolnciaumelementocrucialdanoodecidadania,enquantoproteodosdireitoseliberdadescivispotencialmenteameaadospelacoerodasorganizaesdoEstado.Omodelodeordemsobleiencontranasubordinaodapolciaaojudicirioenaconformidadecompulsriadotrabalhopolicialsregrasdodueprocessascon-diesquefazemdaatividadepolicialagarantiadaliberdadehumana.Avignciaefetivadessascondiesdistingueoestadodemocrticodoestadoautoritrio(PaixoeBeato,1997:235).Longedavisibilidadepblicadentrodo camburo os instrumentos da violncia,nostermosdeH.Arendt,somudos,abdi-camdousodalinguagemquecaracterizaasrelaesdepoderbaseadasnapersuaso,nainfluncia ou na legitimidade(Arendt, 1985:13).Dessemodo,aobrigaodospoliciaisde justificar seus atos torna-se mais premen-te, pois eles se vm sujeitos a sofrer sanesporsuasaesimprprias,apartirdecon-troleshierrquicosdaprpriacorporaoedo judicirio. Nota-se maior cautela por partedosmembrosdacorporaoemtentarde-finirasituaodemaneiracondizentecomasnormasgeraisdodireito(Lassiteretal,2001:54)44. Os chefes da corporao afirmamque os soldados agiram em legitima defesa.H,concomitantemente,umafastamento,dacenapblica,dospoliciaisenvolvidoseumprogressivo silenciamento de suas vozes45. Osadvogadospassamafalarporeles.OsadvogadosdaPMapresentaramumapetio15DelegaciadePolcia,solicitandoqueospoliciaisno participassem da reconstituio damorte deSandro do Nascimento. Eleargumentouqueseusclientestmodireitodeficarcalados.()Oad-vogadoafirmouquetinhaorientadoseusclientesasfalaremjuzo,porque eles j tinham informado o queaconteceuduranteodepoimento.46Ospoliciaisenvolvidos,aoseretiraremda cena pblica, inviabilizam a possibilidadedecooperaocomunicativa,oua)deaccountabilitypermanentedosatoresemsituaoproblemticaeb)deengajamentonacomunicaogeneralizadacomoutrosinterlocutoresdaesferapblica.Comosesabe,aconfissoouaexpressodeatosincriminadoresdeindivduossuspeitosouindiciadossopoderosasevidnciasquepodemserusadascontraelesemprocessosdejulgamento.Nessesentido,vriasformasde argumentao que lidam com as infraesseorganizamapartirdospadresdecomu-nicao que so resguardados por instituiescomoaprprialei.Interessa ressaltar que, mesmo nesse caso,a retrao do espao pblico no completa.Aaccountabilitypblicaexigeumaesferapblicapolticaemquetodasasinstituiestornam-se sujeitas a dar respostas ao pblico.Buscando esclarecer o que ocorreu dentro docamburo,osadvogadosalegamqueose-questradorresistiuprisoeospoliciaistiveram dificuldades para imobiliz-lo, j quenotinhamalgemas.Osadvogadosbuscamevidnciasparasustentaressasproposies,e, apesar de certas incoerncias47, reafirmamqueoscincospoliciaismilitaresagiramnoestritocumprimentododevereemlegtimadefesa.Elesestariam,detalforma,procu-randodefenderaprpriavidaetambmadasociedade48.560 ACTASDOIIISOPCOM,VILUSOCOMeIIIBRICOVolumeIVA esfera pblica se estrutura pelo dilogoaberto,permanente,entreaadministraopblicaeseuspblicos.Mesmoquandoinformaesaparentementebsicassobuscadasparaesclarecerosfatos,taisinfor-maessomentefarosentidodentrodoquadro interpretativo e explicativoassumidoporaquelesquequestionam,podendoseraceitasoucontestadas.Quandoadeliberaosetornasus-peita das razes anteriormente aceitase o carcter genuinamente pblico desuascomunicaesunscomosou-tros, ento, eles [os interlocutores] tmnovas possibilidades: podem conside-rarospontosdevistaalternativosenovas razes e, assim, rejeitar formasinteirasdejustificao;podemsetornar cientes de operaes ocultas depoder,preconceitoeautoridadeemsuascomunicaesecrenas(Bohman,2000:40).Estamosaquidiantedeumaquestocrucialdaesferapblica.Aesferapblicano tem poder de tomar deciso ou de aplicarsanes.Noobstante,umproferimentopblicodevesercompreensveledeveres-pondersobjeeslevantadaspelosoutros.Seno,osatorespodemperderoseustatuspblicocomoresponsveis(accountable)diantedeumaaudinciainfinita.A comunicao que pressupe algu-maautoridadealmdaautoridadedarazopodedeixardecomunicarcomaquelesquenoseencontramsujei-tostalautoridade;elespodeminterpret-la,semuito,apenassobaperspectivadealgumareivindicaoquerejeitam(ONoraONeillcitan-doBohman,200:39).Padresmeramenteformaisdejustifica-onososuficientes,nessecaso.Suspei-tasgeneralizadascolocamsobquestoaveracidadedaafirmaodequeospoliciaisagiramdentrodospadresdalegalidade.Acredibilidadedaenunciaocomprome-tidasobretudoporumsentimentoambguocomrelaopolcia,disseminadonacul-turapolticabrasileira.ComoapontaSouza,Aviolnciaemrelaoaopblicoearesistnciaaosmecanismosexternosdecontroletmcontribudoparacriarumaimagempblicadapolciacomoumains-tituiodefortesinteressescorporativistas,emdetrimentodaimagemcomoserviopblicoemconformidadecompreceitosdemocrticosdacidadania(Souza,2001:157).Nosabrutalidadeeosmeiosextra-legaisfazempartedorepertrioroti-neirodapolciadesdeaconstituiodoEstadomoderno(Zaluar,1999:9),como,tambm, h continuidade de prticas abusivasdoperododaditadura,taiscomoaintimi-dao e a retaliao de suspeitos, prises semmandato,aviolaodaintegridadefsicadedetentos,etc.Estudosapontamquetaisprticas so dirigidas, sobretudo, s camadaspopulares,havendoumgrandenmerodemortes com caractersticas de execuo, entreaqueles [suspeitos] que se entregaram, aque-lesqueresistiramprisooutentaramescapar(Avritzer,2002:115).Osprpriosrelatrios das Ouvidorias de Polcia de gran-descidades(taiscomoRiodeJaneiro,BeloHorizonteeSoPaulo)confirmamagravi-dadedaviolnciaabusivaemambasaspolcias,civilemilitar(Sapori&Souza,2001:176).Seasfalasdacorporaopolicialpro-curamsingularizarosacontecimentosdonibus174oqueimportanteparareconstituiroprocessodecoordenaodasaeseadelegaodatomadadedecisonacadeiadeaccountabilitydentrodosiste-mapolticoosagentesdasociedadecivilbuscamgeneralizaroocorrido,entendendo-ocomopartedeumasriedecasosseme-lhantes.Leigosemembrosdeorganizaesvoluntriasdeproteoaosdireitoshuma-nos,taiscomoaAmnistiaInternacionaleHumanRightsWatch,representantesdeConselhos Comunitrios de Segurana Pbli-ca oumovimentos sociais, como Basta! Euqueropaz,SoudaPazeVivaRio,buscam,antes,apontarpadresrecorrentesdeabusodaforapolicialeoprivilgiodajustiacorporativa,marcadapelalentidoepeloformalismo49.DenunciamnosadiscrepnciaentreasatribuiespblicasdaPM e o carter semi-pblico dos procedimen-tos administrativos rotineiros, como, tambm,aineficciadosmecanismosmesmosde561 OPINIOPBLICAEAUDINCIASaccountability desta instituio. Destacam queapuniodepoliciaisconstantementedenegada,sendoqueosistemajudiciriotornapraticamenteimpossvelacondenaodepoliciaisporcrimesviolentos.Arepre-sentante da organizao Human Rights Watchno Brasil, por exemplo, declara que oeventoseconstituiemumapossibilidadedeogovernobrasileiroseposicionaremudarohistrico de impunidade do pas.() Segun-doela,apesardocrimepraticadopelose-questrador,eletinhadireitodefesanaJustia.()50.guisadeconcluso:umdesfechode-sastrosoerecursosparainovaoinstitucionalAdemandaparaqueosgovernantesouosrepresentantesoficiaisprestemcontas,publicamente, de suas aes nolegislativo,nostribunais,ounamdiafora-osaengajar-seemumtipodedilogocomseupblico. A mdia estende a outros de maneiramaisampladoqueseriapossveleminteraesface-afaceoupresenciais,opo-tencialparaqueosrepresentantestornem-seresponsveis(answerable)(Dahl,1985;Thompson,1995).Quandoestendidoparaalmdoscontextosderotina,oprocessodeaccountabilitypblicamedidoemtermosdeconquistasprticascontnuas.Estasso-ciadoaumadiversidadedemecanismosdecoordenao,explicaoejustificao,apartirdepreceitosmoraiselegais.Amdiacriaumabasereflexivaquepermiteosatoressociaismudarsuasformasdeapresentao,interpretaoecomunica-odiantedeatoresconcretosdosistemapoltico, e, tambm, diante de uma audinciaimplcitadecidados.Comovimos,expres-sar e trocar interpretaes publicamente podealteraromodopeloqualosagentesadqui-remeusamoconhecimento.Se,imediata-menteapsofimdosequestro,oGoverna-dordoRioelogiouaaoenrgicadapolciaeconsiderouqueoepisdioteveomelhordesfechopossvel,talavaliaofoidrasticamentealterada:Garotinho....mudoudeidiaeclas-sificou-a [a ao da polcia] como umfracasso, um desfecho desastroso, foiapiorcoisaquepoderiateraconte-cido.51Anteseletinhaumaviso,depoisexaminouosfatos,olhouasfotosemudoudeposioeclassificou-acomoumfracassoetrocouachefiadaPM.Fezincontveisreunies.Criticousuapolciaeprometeuver-bas, programas e aes especiais, almdeindenizarosparentesdeGesa.52Amdianonempoderiaserresponsvelpelacadeiadeaesquesegueseu curso dentro das instituies, nosistemapoltico.Obviamente,asriededemissesdacpuladaPMseguiupressesenego-ciaesdeinteressesquesedolongedavisibilidadepblica.Noobstante,ineg-velqueamdiafundamentalparaacons-tituiopblicadoseventoscomoocasoemtelabemcomoparacatalisarodebateamplo sobre problemas que se acumulam emcertossetoresouinstituies,atravsdoagrupamento de questionamentos especficosedabuscaativaporsolues.Aanlisedospadresargumentativosapresentadospelacorporaopolicialsobreo evento do nibus 174, na mdia,evidenciaumasriedeobstculosepatologiasquebloqueiam a sintonizao do desempenho dacorporaocomosinteressespblicos.Noprocesso de discusso pblica, ficou eviden-te o reduzido espao para o aparecimento dosujeito da argumentao e da negociao. Noqueosmembrosdacorporaopolicialsenegassem arbitrariamente ao dilogo, mas elesficaram, na maioria das vezes, enclausuradosnarepetioderegrasformais,seguindopadresconvencionaisdejustificao.Aoseremchamados a prestar contas, os oficiaispblicos,quegeralmentepossuemumconhecimento completo sobre os constrangi-mentoslegais,comoressaltaMulgan,en-quadramsuaspolticasedecisesdemodoasemanteremdentrodoslimiteslegaisimpostosaeles(Mulgan,2000:564).Cabeindagarquetipodeaccountabilitypode-se obter deagentes de instituies cujomodusoperandiinternopermanecenopblico.Particularmentenocasodapolciacarioca,comodefineLuisEduardoSoares,estamos diante de um universo corporativista562 ACTASDOIIISOPCOM,VILUSOCOMeIIIBRICOVolumeIVfechado, fortemente marcado por comprome-timentosecumplicidadesdegradantes,comumaimagempblicanegativa,atadoatra-diesautoritriaseburocratizantes,infensoaoplanejamento,avaliao,refratrioaocontrole externo e insensvel s demandas dasociedade(Soares,2000:148).Obviamen-te, as instituies que negligenciam os anseiosdopblicoesistematicamenteresistemsdemandas de transformao perdem legitimi-dade.Issocolocaproblemasparaaefetividadedodebatepblicoeparaosmecanismosdeaccountability,consideradacomoodeverdeatenderosdesejoseasnecessidadesdocidado, ou como um mecanismo de contro-ledemocrtico.Ora,aaccountabilitypres-supeexatamenteaexistnciadeumaco-nexoentreofluxodecomunicaodopblico e o da instituio pblica. Como dizHabermas:Duranteosprocessosdesintoniza-o,nopoderomper-seolaodadelegaodecompetnciasdedeci-so.Somenteassimpossvelcon-servarovnculocomopblicodecidados,osquaistmodireitoeseencontramnacondiodeperce-ber,identificaretematizarpublica-menteainaceitabilidadesocialdesistemasdefuncionamento.(Habermas,1997:83)Sehumaimpermeabilidadepermanen-te,porpartedainstituio,aosfluxosco-municativos advindos da esfera pblica,estesno s deixam de resolver os problemas quepretendemresolvercomo,tambm,tornam-seincuospararestabelecerestruturasparaaaccountabilitypoltica.Sabemosbemqueumaparatoadministrativoelegaladequada-menteflexveleajustadoaosinteressesdoscidadosestlongedeseroresultadododesejodeindivduosisolados.Deformafrequente, as instituies burocrticas podemnosdeixardeproporcionarinstalaesearranjoslegaisadequados,correspondendoapropriadamenteaosinteressespblicos,como,tambm,desviar-sedeprocessosdesuperviso independente, e, assim,esquivar-sedodeverdeprestarcontas.Noobstante,precisoperceberque,mesmoquandoadeliberaofracassa,oprocessodetrocadevises,argumentosecrticasqueseiniciaforadasinstituiespreparaocaminhoparaarenovaodessasmesmasinstituies.ComoBohmandiscu-te,adeliberaodentrodeinstituiesmeramente re-arranja, ao invs de modificar,oconjuntodeinstalaes,dispositivosealternativasdisponveis.Quandoadelibera-oeomodonormalderesolverproble-masmostram-sebloqueados,opbliconopodemaisdeliberardemodorestrito,con-finado aos desenhos institucionais existentes.Quandoasinstituiestornam-seimper-meveisemrelaoesferapblicaeacomunicaobloqueadaporprticascul-turaiscristalizadasouporrotinasinstituci-onaisirresponsveis,osagentescrticostmqueseengajarprecisamentenessetipodediscursocrticoparaalcanaroefeitodese-jado:reabrirumdilogoampliadoetrazer tona problemaslatentes da instituio parao reconhecimento pblico, demandando aten-o pblica e nova regulamentao. Do mododevistanormativodosistemademocrtico,importasaberqueconstelaesdepoderserefletemnessespadresdeaodedetermi-nadasinstituiesecomopossvelmud-los. Como aponta Habermas, esse novo mododeoperartemaconscinciadecrise,maioratenopblica,buscaintensificadadesolues,tudocontribuindonumaproblematizao.Noscasosemqueaper-cepo dos conflitos e as prprias problem-ticas so transformadas pelos conflitos, cres-ceaatenoesedesencadeiamcontrovr-siasnaesferapblica,envolvendoaspectosnormativosdosproblemasenfocados(Habermas,1997:89).Nessesentido,acomunicaoquesedesenrolanosmeiosdecomunicaocru-cial.Osagentesdamdiaprocessamfluxoscomunicativosdeorigemeorientaesdi-versas,direcionando-osparaumagregadocomum.Aindaquedeterminadosatoresseesquivemdacomunicaoabertaetranspa-rente, no intuito de resguardar, muitas vezes,interessescorporativistasouparticularistas,precisamenteporrazesno-pblicasepormodosno-pblicosdeatuao,acomuni-caono fica restrita a eles. Ao invs disso,563 OPINIOPBLICAEAUDINCIASelaseentrelaacomafaladeoutrosatorespolticosdasociedadecomplexaediversificada.Comovimos,osatoresdasociedade civil estavammenos preocupadosemrestabeleceracoordenaodasaesparticulares do episdio do nibus 174 e maisem tematizar os problemas scio-econmicosmaisamplosquelevamviolnciaurbanaeosdficitsdomodelodepolciavigente.Buscam,comisso,atualizar,dentrodoEstadodeDireito,sensibilidadesemrela-osresponsabilidadespolticasregula-dasjuridicamente(Habermas,1997:89).Nessesentido,osmecanismosdeinovaoeostrmitesrotineirosdasinstituiespodemseverpressionadosasofrerumaacelerao.Diante das controvrsias geradas em tornodoeventodonibus174edaprolongadacrise de legitimidade das instituiesencar-regadasdaseguranapblica53,oPresidenteda Repblica decidiu antecipar o anncio doPlanodeSeguranaNacionalumambici-osoplanoenvolvendo124aes,compro-postaseprogramasdirecionadosatodososelosdosfluxosdejustiacriminal54ecomsignificativacessoderecursosparaasunidadessub-federativas.Efetivamenteimplementadoem2000,oPlanoevidenciao comprometimento do governo federal coma questo da segurana pblica, que, at ento,erapraticamenteexclusivadosestados55.Nosepodesupor,apesardisso,efetivademocratizaodosprocessosdeinovaoinstitucional. Aps 3 anos deimplementaodoPlanodeSeguranaNacional,diversosestudos tm apontado que diagnsticos sobrecadaquestoemparticularnoforamrea-lizados. No houve debates mais amplos quepermitissem uma compreenso das vicissitu-des presentes nos vrios campos e, ainda, umadefiniomaisprecisaacercademodelosideaisdefuncionamentodasinstituiesemquesequeriaintervir.Pararesolverproble-mascomplexos,oplanejamentointeligentedogovernocentralexigemaisquevontadepolticaerecursosfinanceiros(Beato,2001;2000:12)56. Programas de interveno social,pressupondoaesmultidisciplinareseinterinstitucionais,focalizadasgeografica-mente, requerem a cooperao continuada dediversos atores sociais e processos de apren-dizagem coletiva, para que novas orientaesesoluescriativassejamalcanadasepas-semaguiarosprojetosinstitucionaiseasatividadesprticas.Por fim, a mdia no est obviamente livredeseusprpriosobstculos,sejanombitodesuasorganizaesinstitucionais,sejanombito de suas prticas sociais. Contudo, paraalmdosjogosdeinteressesdeatoresso-ciaisparticulares,quebuscamcontrolarosfluxoseoscontedosdacomunicao,oudas estratgias visando administrar a prpriaimagem(Thompson,1996,2000;MaWby,2002), a visibilidade miditica formada porumapluralidadedeagentes,sendoquenenhumatorpodeconstitu-lademaneiraisoladaouexclusiva.Dopontodevisanormativo, interessa identificar os obstculosque impedem a mdia de cumprir sua funocomofrumdedebatepluralistanassoci-edades democrticas, estabelecendo platafor-masquepermitamaexpressodepontosdevistadepolticos,derepresentantesdaso-ciedadeciviledegruposdeinteresse,fa-vorecendoaconstruodeprticasdeliberativasampliadas.Restasabercomotornaramdiamaisaccountable.NOTA.AgradeoaGiseleGomesdeAlmeida,BolsistadeIniciaoCientfica,pelapreciosacolaboraonacoletaenacategorizaodomaterialemprico.Univer-sidadeFederaldeMinasGeraisDeptodeComunicaoSocial,FAFICH564 ACTASDOIIISOPCOM,VILUSOCOMeIIIBRICOVolumeIVBibliografiaAbreu,Alzira.Jornalismocidado.Es-tudos Histricos.Rio de Janeiro, n.31, p.25-40.Adorno,Srgio.ACriminalidadeUrba-na Violenta no Brasil Um recorte temtico.BIB,no35,1sem.,1993,pp.3-24.Arendt,Hannah.DaViolncia.Braslia:Ed.UniversidadedeBraslia,1985.Avritzer,Leonardo.DemocracyandPublicspaceinLatinAmerica.Princeton:PrincetonUniversityPress,2002.BeatoF.,CludioC.Informaoede-sempenhopolicial.TeoriaeSociedade.Ju-nho,2001,pp.117-150.BeatoF.,CludioC.Polciaesociedadedemocrtica. 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EstetextoapresentaresultadosparciaisdoprojetodepesquisaintituladoMdiaedimensesdadeli-berao,financiadopeloCNPq.2Dadaadificuldadeemtraduzirotermoaccountabilitydemaneiraprecisanalnguaportuguesa,estetermovemsendoutilizadoeminglsnamaiorpartedosestudossobreotema(Rodrigues,2002;Avritzer,2002;Lattman-Weltman,2001).32Ocorpusempricoconstitui-sede128matriasjornalsticasveiculadasentre13/06/00a22/06/00,assimdistribudasentreosveculos:EstadodeMinas:55;FolhadeSoPaulo:68;Veja:1(matriacomchamadanacapa);Isto:2(matriadecapa);poca:2(matriadecapa).4OsequestrofoitransmitidopelasprincipaisredesdetelevisodopasepelaCNN,quedistribuiuasimagensnumacadeiamundial.5Talnoodesenvolvidapordiversosautores,taiscomoS.Chambers,J.Cohen,J.Fishkin,A.Gutmann,J.DryzekeJ.Habermas,quefocalizamadeliberaonasociedadecivil,sustentandoummodelodescentradodedelibe-rao,aoinvsdadeliberaoeminstituiesadministrativasformais.6 Aoperceberapresenadascmerasde TV,oprpriosequestradorestabeleceestratgiasdecomunicaocomopblico,personificaocri-minososdicoeencenadramatizaesdemau-tratossvtimas.Almdisso,simulouamortede outra refm e solicitou ao grupo quedemons-566 ACTASDOIIISOPCOM,VILUSOCOMeIIIBRICOVolumeIVtrassepnico,comoesclarecidopelasvtimasemdiversasentrevistas,namdiaenodocumentrionibus 174, de Jos Padilha,realizado em 2002.718/06FOLHAcotidianoC6.8 Na minha fantasia, eu trocava de canal comoseestivessevendoumfilmeviolento,queaca-bariacomumatodebravuradosmocinhos.Obandidoseriaalvejadocomumtirocerteiroeasvtimasacabariamsalvas(JorgeLuisdePaulaBaptista,emgrupodediscussonaInternet,18/06 FOLHA cotidiano C6) 18/06 FOLHAcotidianoC11).918/06FOLHAcotidianoC8.1018/06FOLHAcotidianoC8.1118/06FOLHAcotidianoC11.12Umtratamentoadequadodoobjetoexigequesediscrimineanaliticamenteentreastendn-cias e caractersticas das prticas delituosas, a fimde se apreender, num intervalo de um tempo, quaisasocorrnciaspoliciaisquemanifestamcresci-mentoeretrao,porcidadesouregies,com-parativamenteaumperodoanterior.Osndicesdecriminalidadeurbanaviolentavmcrescendopaulatinamenteemtermosabsolutosnosanos80e90e,aps1992talcrescimentoseevidenciaparticularmentenataxadeassassinatos(IBGE,1992-1999). Os estudos de Paixo evidenciam que,entre1932e1987,astaxasmdiasdecrimeemBeloHorizonteeSoPaulodecresceramsubs-tancialmente em relao ao nmero total de crimeseemrelaoacadacategoriaemparticular(Paixo,Adorno,1993:4).Acriminalidadenascapitaisdosudestetemdeclinadoenquantooscrimes contra a pessoa tm aumentado em muitascapitaisdoNordesteedoNortedopas(IPEA,2003).1314/06EMpolticap.8.14Garotinho(13/06FOLHAcotidianoC3).15Garotinho(13/06FOLHAcotidianoC4).1614/06EMpolticap.8.17FHC(13/06FOLHAcotidianoC2.1813/06FOLHAcotidianoC2.19 A viso da democracia representativa comoumacadeiadedelegaoeaccountabilityumasimplificaoemdiversosaspectos.Primeiro,osagentespolticospodemserindividuaisoucoletivos, assim como os cidados (principals).Atorescoletivoscomplicamoexercciodedelegao e accountability. Segundo, os eleitores,comodetentoresemltimainstnciadasobera-nia,defrontam-secomgrandesproblemasdecoordenao. Em sociedades de larga escala, elesnopodemsimplesmentedecidirsobreospro-cessosderecrutamentoedesupervisodosoficiais e nem instruir ativamente seus dirigentes.nessesentidoquemodelosdeliberativosdedemocraciadefendemque,entreosprocessosdestinadosaagregarpreferncias,asprticasdedebatecoletivosoosmeioslegtimosparaaconstruoeadefesadeinteressescomuns,bemcomoatomadadedecisesquevinculamlegal-menteoscidados.20FHC(13/06FOLHAcotidianoC2eC4;13/06EMnacionalp.7).2113/06FOLHAcotidianoC4.22Garotinho(13/06FOLHAcotidianoC3).23 Josias Quintal (14/06 - FOLHA cotidianoC6).24RomzekeDubnick(1987)propemdis-tinguirentrediferentesformasdeaccountability,apartirdafontedecontrole(internoouexterno)edograudecontroleexercidosobreosagentespblicos(altooureduzido).Soelas:Aaccountabilityburocrticacomaltopotencialdecontroleinternoderiva-sedearranjoshie-rrquicosquesobaseadosnasupervisoenaorganizaodediretrizes;aaccountabilitylegalcomaltopotencialdecontroleexternoga-rantida por arranjos contratuaiss: a accountabilityprofissionalcombaixocontroleinternobaseadanaobservnciadaexpertisepelosparesouporgruposdetrabalho,jaaccountabilitypoltica com baixopotencial de controle externo estabelecida pela capacidade dos representan-tesdeprestaremcontasedaremsatisfaes.25 Presidente do Sindicado dos delegados (13/06FOLHAcotidianoC4).26CoroneldaPolciaMilitardeSoPaulo,especialistaemtirodefensivoeaestticas.27CoroneldaPM,pesquisadordareadeseguranadoInstitutodeSeguranaFernandBraudel(21/06VEJAp.44).28 Agonia... ao desastrada... e um desfechotrgico.VEJA,21/06/2002,p.42-43;FOLHAcotidiano-14/06C12).29GeraldoMagelaQuinto(16/06EMpoltica,p.5).30 Jos Gregori (16/06 EM poltica p.5).3114/06-FOLHAcotidianoC6.32CoronelJosVicentedaSilva(13/06FOLHAcotidianoC3).33TenentecoronelJosPenteado(21/06ISTOp.30e32).34TenentecoronelJosPenteado(14/06FOLHAcotidianoC6).35Tenente-coronelJosPenteado(14/06FOLHA cotidiano C6; 21/06 ISTO p.30e32).3621/06ISTOp.30e32.3713/06FOLHAcotidianoC3.38CapitoreformadodoExrcito(14/06FOLHAcotidianoC12),3913/06FOLHAcotidianoC4.4013/06EMnacionalp.7.567 OPINIOPBLICAEAUDINCIAS41Nofoidetectada,nasmatriasexamina-das,nenhumadeclaraooficialconfirmandotaltelefonemadoPresidente.42Garotinho(14/06FOLHAcotidianoC7eC12).4314/06FOLHAcotidianoC6.4422/07FOLHAcotidianoC5.45OsoldadoMarceloOliveiradosSantosafastado pelo BOPE do servio policial por tempoindeterminado,sendoencaminhandoaumacl-nica,comodiagnsticodedepresso(16/06FOLHAcotidianoC3).4622/06FOLHAcotidianoC4P54.47Umdospoliciaisteveobraoquebradoeosadvogadosencarregadosdocasotomamessefato como evidncia de que houve um embate entreospoliciaiseSandro.Asversessocontrover-sas:umaadvogadaafirmaqueoconflitoocorreudentrodocamburo,quandoosequestradorten-tou apanhar a arma do policial; j outra advogadaafirma que o embate ocorreu no momento em queopolicialtentavadominarosequestrador,apli-cando-lheumagravata,doladodeforadaviatura (16/06 EM nacional p.7; 16/06 FOLHA-cotidianoC1).48 Chaia Ramos e Daniele Braga (16/06 EMnacionalp.7e16/06FOLHAcotidianoC1).49Emjunhoejulhode2002,houvediversasmanifestaesdasociedadecivildemonstrandoosentimentogeneralizadodeexaustodiantedaviolncia,taiscomoaspasseatasMorroeAs-faltonoRiodeJaneiroem18/06,Basta!EuqueroPaz,realizadaemmaisde15estadosdopasem7/07.Alemdisso,ainstituioSoudaPazorganizouem2000acampanhaBasta!EuqueroPaz,emmbitonacional,atuandoem3frentesprincipais:(i)promoodedebatessobreos diversos aspectos da violncia, organizao deencontroseconsultoriascomespecialistassobreotemaecomlideranassociaisrepresentativasemtodopas;(ii)desenvolvimentodeaesdemobilizaosocialpelodesarmamentoecontroleradical do uso da arma de fogo (pelos criminosos,pelapolciaepelapopulaoemgeral);(iii)valorizaodapolciaedesenvolvimentodemecanismosdecooperaoentreossistemasdeseguranapblicaeasociedadecivil,atravsdeaes comunitrias (http://www.soudapaz.org/cam-panhas/index.html).5015/06FOLHAcotidianoC1.5114/06EMeFOLHApolticaecoti-dianop.3eC12.5221/06ISTOp.31.53Ele(FHC)decidiuanteciparoannciodoplano, em estudo desde oincio do ano, por contadaaodesastrosadapolcianosequestrodeumnibusnoRiodeJaneiro(15/06FOLHA-cotidianoC5).Defendendo-sedecrticasdeoportunismopoltico,FHCafirma:Nosoudemagogo.Nohimpactoqueresolvaopro-blemadaseguranadocidado;oquehaocontinuada(16/06EMpolticap.5).54OPlanoNacionaldeSeguranaPblicaapresentapropostaseprogramasdirecionadospolcia(ProgramaSeguranadoCidado,CombateaoCrimeOrganizado);aoMinistrioPblicoejustia(compropostasdeReformulaodoCdigoPenaledoCdigodoProcessoPenal),aosetorscio-educativodereabilitao(ProgramadeRe-inseroSocialdoAdolescente em Conflito com a Lei) e do prprioSistemaPenitencirioNacional(ProgramaReestruturaodoSistemaPenitencirio).55AexecuooramentrianombitodoMinistriodaJustiaevidenciaqueasaplicaesem programas ligados segurana pblica aumen-taramdeR$128milhes,em1995,paraR$871milhes,em2002(emvaloresreais,apreosdedezembrode2001)(IPEA,2003:97).56Detalsorte,osrecursosacabaramsendodestinadosreproduodemodelosanterioresconstitudos, obsoletos ou deficientes (Soares 2000,Beato,2001,Souza2001).OProgramaSegu-ranadoCidado,porexemplo,investiumaisdeR$1bilhode2000a2003,principalmentenacompradeveculosenaintensificaodopoliciamento ostensivo, como se o problema daspolciasnopasfossemeramenteainsuficinciaderecursos,maisdoqueoesgotamentodeummodelopolicialultrapassado(IPEA,2003:98).