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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ-UESC UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA-UFBA
Mestrado em Cultura & Turismo
MAILANE VINHAS DE SOUZA BONFIM
UMA ABORDAGEM DOS IMPACTOS ECONÔMICOS E SOCIAIS DO QUARTEIRÃO JORGE AMADO, ILHÉUS - BA.
ILHÉUS – BAHIA Agosto – 2005
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MAILANE VINHAS DE SOUZA BONFIM
UMA ABORDAGEM DOS IMPACTOS ECONÔMICOS E SOCIAIS DO QUARTEIRÃO JORGE AMADO, ILHÉUS - BA.
Dissertação apresentada para obtenção do título de Mestre em Cultura e Turismo, à Universidade Estadual de Santa Cruz e à Universidade Federal da Bahia. Área de concentração: Turismo. Orientador: Prof. Dr. Henrique Tomé da Costa Mata.
ILHÉUS – BAHIA Agosto- 2005
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MAILANE VINHAS DE SOUZA BONFIM
UMA ABORDAGEM DOS IMPACTOS ECONÔMICOS E SOCIAIS DO QUARTEIRÃO JORGE AMADO, ILHÉUS - BA.
Dissertação apresentada para obtenção do título de Mestre em Cultura e Turismo, à Universidade Estadual de Santa Cruz e à Universidade Federal da Bahia. Área de concentração: Turismo. Orientador: Prof. Dr. Henrique Tomé da Costa Mata.
Ilhéus - Ba, ____/____/2005. _____________________________________________________________________ Henrique Tomé da Costa Mata
UESC (Orientador)
_____________________________________________________________________ Odilon Pinto de Mesquita Filho - Dr.
UESC
_____________________________________________________________________ Odaléia Telles Marcondes Machado Queiroz - Drª
ISCA
iv
À minha mãe, Maria de Fátima Vinhas de Souza, o meu exemplo de vida e ao meu
esposo Marcos Vinícius Bonfim Garcia Matos, o qual sinto profundo amor e
admiração,
dedico este trabalho.
v
Agradecimentos
À Deus, pela minha vida;
À Universidade Estadual de Santa Cruz e a Universidade Federal da Bahia, pela
oportunidade de realização do curso;
Aos professores do mestrado, pelos ensinamentos transmitidos e pelos momentos
juntos;
Aos meus colegas de mestrado, pela amizade e coleguismo;
À secretária do mestrado Graça Argolo, pelo companheirismo sempre;
Aos administradores do Quarteirão Jorge Amado e aos moradores do município de
Ilhéus-BA, pela atenção e compreensão;
À minha família, pelo incentivo e amparo nos momentos difíceis.
vi
UMA ABORDAGEM DOS IMPACTOS ECONÔMICOS E SOCIAIS DO QUARTEIRÃO JORGE AMADO, ILHÉUS - BA.
Autora: MAILANE VINHAS DE SOUZA BONFIM
Orientador: Dr. HENRIQUE TOMÉ DA COSTA MATA
RESUMO
O trabalho analisa os efeitos econômicos e sociais do Quarteirão Jorge Amado no município de Ilhéus e como este pode impulsionar o desenvolvimento local de forma sustentável. Discute conceitos de impacto, economia, turismo cultural e cultura, os quais fundamentam a pesquisa. Apresenta um diagnóstico ao abordar o patrimônio material de Ilhéus, focalizado na obra Jorge-amadiana e analisa a sua importância para a comunidade como alternativa de geração de emprego, renda e de fixação da identidade cultural local. A pesquisa parte do pressuposto de que, o Quarteirão Jorge Amado apresenta elementos que potencializam o desenvolvimento econômico e sócio-cultural do município de Ilhéus. Especificamente fez-se um estudo quantitativo da demanda; do nível de emprego e remuneração gerados, traçando também o perfil sócio-econômico do pessoal empregado na atividade; e da relação existente entre residentes e atrativos no que tange a identificação cultural local. Utilizou-se como procedimento metodológico uma análise descritiva, fundamentada com base nos métodos dedutivo e quantitativo, auxiliados por pesquisas bibliográficas e documentais, acompanhadas de entrevistas e questionários. Este estudo concluiu que o Quarteirão Jorge Amado, não apresenta resultados econômicos e sociais capazes de alavancar o desenvolvimento sustentável do município, necessitando principalmente de um planejamento participativo com ações valorizadoras das iniciativas da comunidade local. Palavras-chave: Impacto; turismo; economia; cultura; identidade.
vii
AN APPROACH TO THE SOCIAL-ECONOMIC EFFECTS OF THE JORGE AMADO QUARTER, ILHÉUS, BAHIA
Author: MAILANE VINHAS DE SOUZA BONFIM
Adviser: Dr. HENRIQUE TOMÉ DA COSTA MATA
ABSTRACT This paper analyses the social-economic effects of the Jorge Amado Quarter in the city of Ilhéus, Bahia and how they promote sustainable local development. It discusses the concepts concerning impacts, economy, cultural tourism and culture which underlie this study. It also analyses the importance of the city´s patrimony arising from the works of Jorge Amado as an alternative source of employment, income and establishment of a local cultural identity. The study starts with the premise that the Jorge Amado Quarter enhances social, cultural and economic development of the municipality of Ilhéus. A quantitative survey was conducted to determine demand; the level of income and wealth generated; the social-economic profile of the population employed in this activity; and the relationship between residents and touristic attractions concerning the identification of a local culture. The methodology used was descriptive analyses based on the deductive and quantitive methods aided by bibliographical and documental research, interviews and surveys. The study concludes that the Jorge Amado Quarter does not present social-economic results capable of leveraging the sustainable develepment of the municipality, requiring mainly participative planning which takes into account the initiatives born within the local community. Key words: Impact, tourism, economy, culture, identity
viii
LISTA DE FIGURAS
01 Ilustração da Costa do Cacau .................................................................................... 11
02 Os limites do município de Ilhéus............................................................................. 12
03 Ilustração do Quarteirão Jorge Amado...................................................................... 16
04 Distribuição percentual do nível de escolaridade do pessoal ocupado no Quarteirão
Jorge Amado ....................................................................................................................... 74
05 Distribuição por salários, da remuneração das pessoas ocupadas no Quarteirão Jorge
Amado...................................................................................................................... 75
06 Distribuição por função, dos postos de trabalho gerados no Quarteirão Jorge Amado 75
07 Distribuição por salários, da renda familiar das pessoas ocupadas no Quarteirão Jorge
Amado...................................................................................................................... 77
08 Nível de escolaridade dos moradores do município de Ilhéus.................................... 80
09 Referencial mental dos moradores de Ilhéus em relação ao Quarteirão...................... 82
10 Atrativos desconhecidos como parte do Quarteirão Jorge Amado pelos moradores de
Ilhéus........................................................................................................................ 83
11 Atrativos erroneamente citados pelos moradores como integrantes do Quarteirão ..... 84
12 Percentual dos moradores que diferenciam os atrativos dos roteiros cravo e canela... 86
13 Opinião dos entrevistados quanto à criação do Quarteirão Jorge Amado ................... 87
14 Grupo Escolar General Ozório.................................................................................. 89
ix
LISTA DE QUADROS
01 Elementos culturais que compõem os roteiros Cravo e Canela do Quarteirão Jorge
Amado no município de Ilhéus-BA. ..................................................................................... 17
02 Classificação dos atrativos turísticos culturais........................................................... 46
03 Número de turistas/mês que visitaram o Quarteirão Jorge Amado, Ilhéus-BA........... 67
04 Postos de Trabalho/ocupações gerados pelo Quarteirão Jorge Amado, Ilhéus-BA..... 71
05 Atrativos culturais do Quarteirão Jorge Amado mais conhecidos pelos moradores.... 81
x
SUMÁRIO
Pág Resumo..................................................................................................................... vi
Abstract................................................................................................................ ...vii
1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................01
1.1 Considerações Gerais ..............................................................................................01
1.2 Problema de pesquisa ..............................................................................................07
1.3 Objetivos ................................................................................................................. 09
1.4 Organização e estrutura da dissertação................................................................. 09
2 METODOLOGIA................................................................................................... 11
2.1 Descrição geral da área de pesquisa ...................................................................... 11
2.2 O Quarteirão Jorge Amado.................................................................................... 15
2.3 Dados da pesquisa........................................................................................................17
2.4 Métodos e técnicas adotadas .................................................................................. 20
3 REVISÃO DE LITERATURA .............................................................................. 23
3.1 Uma abordagem sobre a economia do turismo .................................................... 23
3.1.1 Impactos econômicos do turismo .............................................................................. 31
3.2 Uma abordagem sobre a cultura e o turismo ........................................................ 38
3.2.1 Turismo, cultura e desenvolvimento.......................................................................... 43
3.2.2 Impactos socioculturais provocados pelo turismo ..................................................... 51
4 RESULTADOS E DISCUSSÕES .......................................................................... 57
4.1 Caminhando pelo Quarteirão ................................................................................ 57
4.2 Dimensão quantitativa da demanda atual do Quarteirão Jorge Amado e os elementos culturais de uso turístico mais visitados ............................................... 66
4.3 Postos de trabalho gerados e perfil sócio-econômico do pessoal ocupado no Quarteirão Jorge Amado ....................................................................................... 70
4.3.1 Postos de trabalho gerados no Quarteirão Jorge Amado ......................................... 70
4.3.2 Perfil sócio-econômico do pessoal ocupado no Quarteirão Jorge amado ................. 73
4.3.3 Ações culturais planejadas pelos administradores dos atrativos do Quarteirão Jorge
Amado ................................................................................................................................. 78
xi
4.4 Percepção da comunidade local em relação aos monumentos do Quarteirão Jorge Amado ................................................................................................................................ 79 4.4.1 Os lugares simbólicos da cidade............................................................................... 88
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................. 91
REFERÊNCIAS .................................................................................................... 96
ANEXO ................................................................................................................... 99
APÊNDICE............................................................................................................ 101
xii
1- INTRODUÇÃO 1.1 Considerações Gerais A atividade turística nos últimos anos tem sido considerada de extrema importância
no que tange ao crescimento e desenvolvimento das economias dos países industrializados e
dos países em desenvolvimento. O turismo hoje é responsável por grande parte do Produto
Interno Bruto (PIB) de muitos países, que têm melhorado suas condições econômicas e
sociais em decorrência do avanço que o setor tem proporcionado.
O sucesso dessa atividade surgiu devido à melhoria econômica das populações, do
desenvolvimento tecnológico das comunicações e dos transportes e da diminuição da jornada
de trabalho ao longo dos anos. Sobre este assunto, Balanzá & Nadal (2003, p. 07) acrescentam
que do “ponto de vista tradicional, as pessoas encontram no turismo a válvula de escape que
necessitam, sejam para descansar em regiões praianas ou de interior, seja para conhecer novas
culturas e tradições ou ainda para praticar seu esporte favorito (...)”.
Além destes, outros fatores foram responsáveis para que as viagens turísticas se
transformassem numa prática comum, como as viagens de negócios, por exemplo. O sistema
capitalista se aproveitou dessas condições favoráveis para fazer da atividade, uma das maiores
"indústrias" em termos de geração de receitas e empregos, como é o caso da França, dos
Estados Unidos e da Espanha, alguns dos líderes do turismo mundial.
Segundo a OMT in Morais (1997, p.11), em artigo publicado na revista Rumos do
Desenvolvimento, o crescimento da atividade e a capacidade do turismo de gerar divisas para
os países receptores tornam-se evidente:
xiii
De acordo com a Organização Mundial do Turismo - OMT, (Órgão da ONU responsável pelas ações e políticas para o turismo, e pela padronização dos serviços no mundo), no ano de 1996, 592 milhões de pessoas viajaram pelo mundo, gerando US$ 423 bilhões de divisas para os países visitados; prevendo um crescimento de 4% ao ano no setor, estima-se (...) para 2010 a expectativa de 1 bilhão de visitantes e 1,6 bilhão em 2020.
Por possuir uma oferta diferenciada (infinidades de belezas naturais e manifestações
culturais), o Brasil vem se destacando como pólo de turismo cada vez mais atraente,
apresentando um quadro significativo do fluxo emissivo internacional estimado em 4,8
milhões de brasileiros e do fluxo receptivo na ordem de 3 milhões de turistas estrangeiros.
Acrescenta-se ao movimento doméstico do turismo nacional, um montante representativo de
mais de 25 milhões de passageiros aéreos e outros milhões de turistas que transladam de
ônibus e carros pelas mais variadas regiões brasileiras (LAGE E MILONE, 2001).
Torna-se importante dizer, que muitos são os reflexos dessa atividade numa
determinada região ou país. Além da participação significativa no Produto Interno Bruto
(PIB), da geração de receitas, da valorização da cultura local, entre outros, o turismo é um
grande gerador de empregos, porque a atividade turística requer uma grande quantidade de
mão-de-obra para desenvolver-se, por se tratar de uma atividade do setor de serviços, o que
contribui para a redução de um dos problemas de ordem social.
Segundo a matriz de insumo produto do Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE) no Brasil, o turismo impacta 52 segmentos diferentes da economia,
empregando em sua cadeia, desde mão- de- obra mais qualificada em áreas que se utilizam de
alta tecnologia, até as de menor qualificação tanto no emprego formal quanto no informal
(LAGE E MILONE, 2001).
Vê-se, pois a importância que o turismo exerce no desenvolvimento de um país,
dadas as características particulares inerentes ao setor, pois o produto turístico é constituído
por um conjunto enorme de diferentes serviços e essa diversidade está intimamente ligada ao
nível e dinamismo da atividade econômica.
xiv
As formas pelas quais o turismo pode ser desenvolvido são várias. Estas são
decorrentes da grande diversidade de atrativos existentes e das intenções dos viajantes em
conhecer determinada região ou país, como afirmam Balanzá & Nadal (2003, p. 06): “Ao
longo dos anos o interesse pelo turismo foi crescendo e com o tempo as necessidades dos
turistas foram mudando, de descanso e distração para novos estilos de turismo, como os de
negócios, os de aventura, cultura, etc”.
Como foi visto, o turismo pode ser desenvolvido por diferentes formas, destacando-
se nesta pesquisa o Turismo Cultural, que vem se apresentando como uma grande alternativa
à ânsia do contato humano, podendo dar resposta à busca da autenticidade cultural das
cidades.
Segundo Cunha (1997), as relações entre turismo e cultura são bastante profundas e
possuem um duplo significado: turismo como atividade cultural e forma de cultura e turismo
cultural como via que permite ao homem o acesso a formas de expressões culturais. De
acordo com o autor (p. 170):
No primeiro caso, o turismo é entendido como meio de promoção cultural, ou seja, como agente de formação de estilos, formas, atitudes, gostos e experiências... No segundo caso, o turismo é um meio de proporcionar o encontro de culturas que lhe são preexistentes e de estabelecer relações com valores adquiridos.
Este segmento de turismo (turismo cultural), é muito amplo tanto pela diversidade de
modalidades artísticas, como pelos níveis ou origens de expressão freqüentes, como: popular,
de massa, erudita, urbana, rural, nativa etc. O que parece caracterizar mais forte o segmento é
a intenção de apreciar manifestações e obras de arte, seja pelo aspecto estético ou histórico.
O turismo cultural apresenta níveis diversos de programação, tanto em modalidades
artísticas, como na amplitude de interesses. São vários os atrativos que são utilizados para
desenvolver esse tipo de turismo.
xv
Dentre as opções existentes, os roteiros mais genéricos normalmente incluem além
do folclore e produtos típicos de uma localidade, visitas a museus e construções de relevante
valor arquitetônico, como igrejas, por exemplo, e atraem pessoas que pretendem experimentar
a sensação de observar de perto obras culturais importantes.
Mas existem ainda, interesses bastante específicos, como conhecer os locais em que
viveu determinado artista, procurar entender a partir deste contato, o ambiente e as
circunstâncias que motivaram a construção das obras. Dessa forma, a revitalização de áreas
urbanas tem-se acelerado ao longo dos anos preservando todo um setor dentro do contexto
histórico no qual ele surgiu.
Barroco1 (2002, p.09), ressalta a importância e o crescimento do turismo cultural no
mundo:
Na Europa, as pessoas visitam museus, palácios e assistem teatro cada vez mais. Nos Estados Unidos da América, segundo relatório da "Travel Scope Survey" citado por Lucas (2000), mais de um quarto de adultos americanos viajaram pelo menos uma vez para um museu ou lugar histórico (53,6 milhões de pessoas). Por outro lado, 33 milhões de adultos (17%), fizeram uma visita a um evento cultural. Ao todo, 65,9 milhões de americanos, estiveram envolvidos, de alguma forma, com turismo cultural. Por outro lado, o relatório do "The International Trade Administration's Tourism Industries" informou que 31% dos visitantes estrangeiros, nos Estados Unidos, visitaram lugares históricos, sendo que 23% foram a museus ou galerias de arte e 16% assistiram a um concerto, ou espetáculo musical.
Vê-se que, esse tipo de turismo não é um fenômeno isolado ou um modismo
passageiro, pois, tanto nos países desenvolvidos como também nas classes dominantes dos
países em desenvolvimento, a procura pelo turismo cultural tem sido crescente. Esse fato,
pode ser justificado pelo nível de instrução da população que tem se tornado cada vez maior,
proporcionando maior usufruto de bens e equipamentos culturais (TRIGO, 1993).
Portanto, o turismo proporciona para uma comunidade, estado ou país, vários
benefícios tanto no âmbito econômico como no social, mas o seu crescimento de forma
desordenada pode provocar efeitos negativos, na ausência de um planejamento adequado e
xvi
integrado. E é por isso, que o planejamento da atividade turística se mostra, como um
poderoso instrumento de fomento ao desenvolvimento socioeconômico de uma comunidade.
Diante disso, deve-se adotar princípios que permeiam o desenvolvimento sustentável,
porque este, não separa o desenvolvimento da proteção ao meio ambiente e não separa o
aspecto econômico do social. De acordo com Cunha (1997, p.268) “O turismo é uma
atividade profundamente ligada aos valores locais (...) fatores de ordem natural, ambiental,
cultural e histórica que apenas se encontram em determinadas áreas geográficas...”.
Nesse contexto a cidade de Ilhéus- BA está inserida, por possuir aspectos de ordem
natural, ambiental, cultural e histórico com grande potencial de exploração turística. Assim, o
município busca utilizar suas potencialidades como uma das alternativas para o
desenvolvimento regional.
Principalmente, pelo fato de ter sido tema de inspiração de muitas obras de Jorge
Amado, transformando-se em forte apelo turístico, pois, muitos se sentem atraídos em
conhecer os ambientes descritos pelo famoso escritor. Por outro lado, outros desejam
conhecer fazendas de cacau e verificar todo folclore nascido de sua lavoura.
Nascimento e Barroco2 (2002, p. 15), reconhecem a importância do município de
Ilhéus no desenvolvimento da atividade turística na região nordeste, admitindo que o
crescimento do setor, depende da abordagem sobre os aspectos culturais da cidade:
Ilhéus reflete o crescimento estimado do turismo para o nordeste, como indicam a Ilheustur e algumas agências de turismo da cidade. Assim, urge que se faça um planejamento para o seu turismo cultural. Assim como o Turismo Ecológico incentiva a preservação da natureza, Ilhéus deve buscar a preservação das tradições, mesmo que seja admitindo as transformações naturais por que passam todas as culturas.
1 BARROCO, Hélio Estrela. Das Imagens Sacras às Manifestações Culturais Regionais. Universidade Estadual de Santa Cruz, outubro, 2002. 2 NASCIMENTO, A.S.B.; BARROCO, H.E. FESTA DE IEMANJÁ EM ILHÉUS:Cultura, Religião e Turismo. (UESC), janeiro, 2002.
xvii
À medida que o interesse estético ou histórico mistura-se com interesse recreativo e
de lazer, as fronteiras entre turismo cultural e o turismo de lazer ficam muito mais tênues.
Torna-se necessário, portanto, estreitar a relação entre a cultura e o turismo para que se
promova o desenvolvimento local sustentável, pois, este se apresenta como a melhor maneira
de intervir diretamente na comunidade, com efeitos positivos tanto no aspecto econômico
como no social, sensibilizando os indivíduos sobre a importância dessa atividade para a
preservação e promoção local.
Diante do exposto, o município de Ilhéus foi escolhido para o desenvolvimento desta
pesquisa, porque possui atrativos culturais de grande relevância, merecendo destaque
estratégico para o desenvolvimento econômico municipal, seguindo o exemplo de Porto
Seguro (BA), que usa o monumento histórico do descobrimento como atrativo turístico;
Salvador (BA), que preserva o Pelourinho como importante atrativo; Tiradentes (MG), que
adotou a estratégia de criação do sítio histórico com a supervisão do Serviço Patrimônio
Histórico Artístico Nacional (SPHAN), como medida de promoção do município, dentre
outras.
O estudo do turismo cultural se justifica nesta pesquisa, como motivo principal para
a escolha do tema dessa dissertação, por se tratar de um assunto contemporâneo, que tem
merecido uma atenção especial como instrumento de fomento para o desenvolvimento.
Outra razão, foi uma reflexão acerca das observações realizadas no turismo
desenvolvido na cidade de Ilhéus. Essas observações se enveredaram para o âmbito cultural
do município, que possui como principal projeto o Quarteirão Jorge Amado, o qual segundo
seus idealizadores, apresenta características históricas e identitárias da comunidade.
Diante do exposto, este trabalho se propõe a oferecer uma abordagem crítica acerca
dos impactos provocados pelo projeto “Quarteirão Jorge Amado” no município de Ilhéus,
xviii
buscando apontar possíveis problemas existentes quanto à sua funcionalidade, contribuindo
para uma utilização eficaz dos roteiros enquanto atrativo turístico-cultural.
Pois, tal como em outros lugares do Brasil, Ilhéus possui um enorme potencial, que
se bem administrado, pode tornar-se efetivamente uma alternativa no âmbito econômico para
a geração de emprego e renda, e no âmbito sociocultural para a melhoria da qualidade de vida,
como também para a valorização cultural, determinando níveis de desenvolvimento local mais
sustentáveis.
1.2 Problema de pesquisa
O município de Ilhéus faz parte da microrregião cacaueira, juntamente com o
município de Itabuna, os quais formam um pólo socioeconômico. Ilhéus durante décadas, teve
na cultura do cacau sua principal fonte de receitas, através das exportações realizadas em seu
porto. Atualmente, em função dos baixos preços do produto no mercado internacional e da
queda da produção decorrente da "vassoura-de-bruxa" (uma praga que atingiu os cacauais), a
cidade está passando por dificuldades econômicas, juntamente com os demais municípios da
microrregião.
Diante deste quadro decadente da cacauicultura, que em curto prazo torna-se
irreversível, o município busca novas alternativas para dinamizar sua economia. Sendo assim,
o turismo tornou-se um novo ramo a ser explorado uma vez que o município possui
características de uma região com boa potencialidade de destinação turística. Além das praias
e dos atrativos arquitetônicos, a cidade é também conhecida através das obras do escritor
Jorge Amado, que inseriu o município no contexto cultural internacional através de seus
romances literários (BONFIM, 2001).
xix
Apesar de possuir atrativos culturais bastante ricos, estes mesmos atrativos não são
tão evidenciados no contexto municipal como produtos relevantes dentro da atividade
turística. É importante ressaltar, que o elemento cultural, é uma grande base de aposta para o
futuro do turismo e uma tendência quase consensual no mundo inteiro, pressupondo a busca
de soluções no âmbito local, valorizadoras das especificidades culturais, difundindo a
identidade local e conseqüentemente a atividade turística.
Dentre as riquezas histórica e cultural locais, destacam-se o Teatro Municipal, a
igreja da Matriz de São Jorge, a Catedral de São Sebastião, a Casa de Jorge Amado, dentre
outras que constituem importantes bases do patrimônio cultural local, que em conjunto
formam o Quarteirão Jorge Amado.
Portanto, os elementos culturais considerados neste trabalho, são aqueles que
compõem este Quarteirão (objeto de estudo desta pesquisa), que está dividido em dois roteiros
culturais denominados Cravo e Canela, onde se reuniu trechos da vida de Jorge Amado.
O Quarteirão Jorge Amado é o único projeto de grande relevância desenvolvido pelo
município, na tentativa de promover o turismo cultural e reforçar o lugar na sua expressão
identitária. Diante dessa realidade, surge a seguinte indagação: O conjunto dos atrativos que
compõem o Quarteirão Jorge Amado, apresenta elementos que potencializam o
desenvolvimento econômico e sociocultural do município de Ilhéus?
Identificado o problema, construiu-se uma hipótese para o trabalho: Os elementos
turístico-culturais que compõem o Quarteirão Jorge Amado apresentam capacidade potencial
de utilização que pode determinar níveis de desenvolvimento econômico e sociocultural
sustentáveis.
xx
1.3 Objetivos
Como objetivo geral deste trabalho tem-se:
iAnalisar o potencial dos atrativos turístico-culturais que compõem o Quarteirão Jorge
Amado, quanto às possibilidades de utilização no âmbito econômico e social, no
desenvolvimento da atividade turística do município de Ilhéus.
A pesquisa se insere nos seguintes objetivos específicos:
i Dimensionar quantitativamente a demanda atual do Quarteirão Jorge Amado,
identificando os elementos culturais de uso turístico mais visitados;
iCaracterizar o perfil sócio-econômico do pessoal ocupado na atividade e estimar o
nível de emprego e remuneração gerados pelo turismo cultural em Ilhéus;
iVerificar a percepção da comunidade local quanto a sua identificação com os
elementos que compõem o Quarteirão Jorge Amado.
1.4 Organização e estrutura da dissertação
Além desta introdução e das considerações finais, a dissertação está organizada da
seguinte forma: Primeiramente, trata-se da metodologia da pesquisa, detalhando os
procedimentos adotados, esclarecendo sua operacionalização, bem como destacando as
variáveis consideradas nesta pesquisa.
Num segundo momento, tem-se um debate teórico recente sobre:
a) O turismo como atividade econômica, destacando o conceito de turismo que permeia
este trabalho e apresentando reflexões sobre a necessidade da utilização de atrativos para o
desenvolvimento da atividade, contemplando estudos sobre a demanda e oferta turísticas.
xxi
Principalmente, foram abordados os impactos econômicos decorrentes do turismo destacando
os positivos e os negativos no desenvolvimento da atividade numa comunidade.
b) O binômio cultura e turismo foi estudado, abordando as relações entre eles,
destacando os atrativos que contemplam o segmento do turismo cultural. Apresenta os
principais conceitos que merecem destaque dentro da atividade turística- cultural,
como os de cultura, patrimônio cultural e símbolos, destacando a importância de se
manter a identidade cultural local através dos tempos. Discute-se também nesta parte,
o papel da cultura como mola propulsora para o desenvolvimento endógeno,
abarcando a necessidade de se planejar metas integradas para proporcionar a
sustentabilidade da atividade turística. Destaca-se por fim, os impactos socioculturais
positivos e negativos do turismo.
Em seguida, tem-se a componente relativa aos resultados e discussões, convidando o leitor
a fazer um passeio pelo Quarteirão Jorge Amado, conhecendo através de seus atrativos, um
pouco da história vivida pelos coronéis, na época de ouro do cacau. Durante o percurso, são
destacadas algumas características do entorno dos atrativos, buscando apresentar toda a
dimensão do Quarteirão. Por fim, tem-se a análise dos dados obtidos, apresentando os
resultados da implantação deste projeto para a comunidade no âmbito econômico e no âmbito
social, destacando o referencial mental dos moradores em relação ao Quarteirão Jorge
Amado.
xxii
2- METODOLOGIA 2.1 Descrição geral da área de pesquisa
Ilhéus está localizada na região sul do estado da Bahia, a 462 Km da capital Salvador
e pode ser alcançada por vias aéreas, terrestre ou marítima. Está inserida na zona da Costa do
Cacau, de acordo com a classificação geográfica do turismo na Bahia, desenvolvida pela
Bahiatursa (órgão responsável pelo turismo desenvolvido na Bahia), juntamente com os
municípios de Uruçuca, Itacaré, Una, Canavieiras, Santa Luzia e Itabuna (figura 01).
Fonte: www.tcviagens.com.br/mapa.jpg
Figura 01- Ilustração da Costa do Cacau.
xxiii
Tem como limites ao leste, o Oceano Atlântico, que margeia seu território formando
80 Km de praias exuberantes; ao norte, encontram-se os municípios de Aurelino Leal (79
Km), Itararé (65 Km) e Uruçuca (48 Km); ao sudoeste, Itabuna (26 Km) e Buerarema (39
Km); ao oeste Coaraci (75 Km) e Itajuípe (45 Km); ao noroeste com Itapitanga que dista 108
Km de Ilhéus e ao sul, localiza-se a cidade de Una a 57 Km3 (figura 02).
Fonte: FARIA FILHO e ARAÚJO, 2002 apud MIRA (2003, p. 38).
Figura 02- Os Limites do município de Ilhéus.
Atualmente, o município abriga 222.127 habitantes, sendo 162.125 destes residentes
na zona urbana e 60.002 residentes na zona rural do município, numa área territorial total de
1.841,03 Km2 (IBGE, 2000).
A economia do município durante muito tempo, teve como base a monocultura do
cacau, sua principal fonte de geração de riqueza, correspondendo a 95% da economia local,
sendo considerado o maior produtor individual do país. Mas, a partir da década de 80 a
cacauicultura deixou de ser a atividade produtiva básica em função vassoura-de-bruxa.
A crise teve como conseqüência à queda das receitas nos municípios da região. Em
Ilhéus o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços- ICMS, sofreu uma redução de
3 Informações adquiridas no site www.ilheus.ba.gov.br, consultado em 18 de junho de 2004.
xxiv
54%, provocando além do empobrecimento do município ocasionado pela queda na produção,
quedas nos setores de comércio e serviço. Segundo consta no site oficial do município
www.ilheus.ba.gov.br/desenvolvimento.php:
“Por sua condição de pólo regional, a cidade também passou a receber milhares de migrantes desempregados, o que gerou uma demanda por serviços públicos (...) gerando impactos sociais negativos com a ocorrência de invasões inclusive em áreas de manguezais ou de relevo acidentados”.
Consta no mesmo site, que a população ilheense cresceu a uma taxa de 4,95% dos
anos de 1980 a 1991, passando de 131.454 para 223.750 habitantes. Essa explosão
demográfica justifica-se pelo êxodo rural, caracterizado por demissões de trabalhadores rurais
no campo. Entre os anos de 1991 e 2000 houve uma queda da taxa de crescimento
populacional, porém não significativa de –0,07% caindo de 223.750 para 222.127 habitantes.
Diante desse quadro, novas possibilidades econômicas foram adotadas para o
desenvolvimento da região, buscando alternativas mais rentáveis como a diversificação de
cultivos, implantação de pequenas indústrias de diversos setores, criação do pólo de
informática e do Programa de Apoio a Recuperação da Lavoura Cacaueira- cujo ritmo
encontra-se lento.
Dentro dessa perspectiva, o turismo surgiu como uma alternativa de renascimento da
cidade de Ilhéus, buscando proporcionar desenvolvimento social e econômico às populações
locais.
Para facilitar o desenvolvimento da atividade turística, a cidade possui algumas bases
infra-estruturais que serão descritas em seguida: o Porto do Malhado, recebendo passageiros
de navios nacionais e internacionais; o Aeroporto, operando com várias empresas aéreas,
trazendo turistas de várias regiões do país e do mundo. Por via terrestre, a cidade é atendida
xxv
por diversas empresas de transportes intermunicipal e interestadual que se encarregam de ligar
Ilhéus às principais cidades do Estado e do País, além de inúmeras rodovias.
Para suportar o fluxo de visitação turística, a cidade possui uma extensa rede de
hotéis, pousadas, chalés, albergues e áreas para campings, apresentando dessa forma, diversas
alternativas de acomodação. Essa diversidade, encontra-se também no número de
restaurantes, pizzarias, bares, lanchonetes e cafés, onde os turistas podem desfrutar da
gastronomia local, regional, nacional e internacional.
Além destes, inúmeros serviços são desenvolvidos e instalados com o intuito de
promover o bem-estar daqueles que se propõem a conhecer a cidade. Dentre estes destacam-
se agências bancárias totalizando 06 (seis), de acordo com dados do IBGE 2000; comércio
diversificado; lojas de artesanatos; provedor de Internet, facilitando a comunicação dos
turistas com outros; e no que se refere a segurança, além dos policiais militares, civis e
federais, existem ainda, guardas municipais distribuídos pelas ruas da cidade reforçando a
segurança pública. É importante destacar também, que o município dispõe de uma delegacia
voltada especificamente para atender as necessidades do turista. Contudo, consta-se que
alguns desses serviços apresentam-se deficientes.
O município também dispõe de alternativas de entretenimento aos turistas através da
existência de atrativos culturais e de lazer como bibliotecas públicas, o museu (consagrado ao
escritor Jorge Amado pelos seus romances), teatros e salas de espetáculo, monumentos e
cinema.
Com a descoberta da vocação turística, o município procurou evidenciar além de
suas praias, a imponência de sua arquitetura que representa um misto de simbolismo,
retratando o poder dos coronéis na construção da civilização do cacau. Civilização esta,
retratada por Jorge Amado em seus romances sobre a cidade.
xxvi
2.2 O Quarteirão Jorge Amado
Jorge Amado foi um dos mais importantes escritores brasileiros, nasceu em Ferradas,
distrito que pertence ao município de Itabuna-BA, em 10 de agosto de 1912 e morreu em
Salvador no dia 06 de agosto de 2002. Viveu sua infância e juventude no município de Ilhéus-
BA, onde escreveu capítulos de seu primeiro romance chamado “O País do Carnaval” (com
tradução para outros idiomas). Seus escritos posteriores, adquiriram divulgação tanto no
cinema como na televisão através das telenovelas Renascer, Tieta do Agreste e Gabriela,
sendo esta última considerada símbolo da cidade de Ilhéus.
As obras do escritor, são compostas por romances ditos “da Bahia” (Suor, Mar
Morto, Capitães da Areia, Tenda dos Milagres, Os Velhos Marinheiros, dentre outros) e por
histórias e romances ocorridos na época de ouro do cacau (O País do Carnaval, Cacau, Terras
do Sem Fim, São Jorge dos Ilhéus, Gabriela Cravo e Canela e Tocaia Grande) (FUNDACI,
2004).
Neste contexto, ganhou destaque no município de Ilhéus um projeto de criação do
Quarteirão Jorge Amado (um espaço localizado no centro da cidade, onde são encontrados
prédios e monumentos, citados pelo escritor em seus romances), buscando desenvolver a
atividade turística e cultural. Os prédios foram selecionados de acordo com sua importância
histórica para a cidade de Ilhéus.
Essa iniciativa foi formulada pela Fundação Cultural de Ilhéus e pela Ilhéustur (hoje
denominada Setur- Secretaria de Turismo da cidade) com a finalidade de proporcionar mais
uma opção de lazer para o turista que visita Ilhéus. Desta forma, a cidade vem buscando
projeção no mundo como um pedaço privilegiado da Região Nordeste possuindo um grande
potencial de desenvolvimento turístico.
xxvii
No dia 10 de agosto do ano de 2000 (quando Jorge Amado completara 88 anos), foi
enviado para ser aprovado pela Câmara de Vereadores da cidade, o projeto de lei que
denominou o Quarteirão Jorge Amado como área do Centro Histórico, ligada diretamente à
obra e biografia do romancista4.
O Quarteirão Jorge Amado está dividido em dois circuitos: o Circuito Cravo e o
Circuito Canela, numa lembrança a faceira Gabriela Cravo e Canela criada pelo escritor. A
figura 03, mostra o mapa divulgado pela SETUR, sinalizando a distribuição geográfica dos
elementos do Quarteirão na cidade. E o quadro 01 demonstra as especificidades de cada
roteiro.
Fonte: MENEZES (2004, p. 81).
Figura 03- Ilustração do Quarteirão Jorge Amado. É importante destacar que a escolha dos elementos que compõe cada circuito foi feita
de acordo com a proximidade entre eles.
4 Informações cedidas pela Casa de Cultura Jorge Amado-Ilhéus Bahia, no dia 07/07/2004.
xxviii
Quadro 01- Elementos culturais que compõem os roteiros Cravo e Canela do Quarteirão Jorge Amado no município de Ilhéus- BA.
Fonte: ILHÉUSTUR, 2001- adaptação própria.
2.3 Dados da pesquisa
A pesquisa foi desenvolvida com base em dados secundários (pesquisas bibliográfica
e documental) e dados primários (questionários). As pesquisas bibliográficas fundamentaram
o estudo através do referencial teórico e conceitos específicos para o estudo.
A pesquisa documental possibilitou levantar dados para a análise das variáveis
relevantes. Esse tipo de pesquisa foi desenvolvido na Secretaria de Turismo de Ilhéus
(SETUR) e nos setores responsáveis pelas informações sobre os monumentos que compõem o
Quarteirão Jorge Amado. Além desses, foram colhidas também, informações, na prefeitura
municipal e na Fundação Cultural de Ilhéus (FUNDACI). Como afirma Dencker (1998, p.
125), as fontes documentais podem ser:
Documentais de primeira mão conservadas em arquivos de instituições públicas e privadas (formulários da Embratur, registro de hóspedes) ou pessoais (diários,
ROTEIRO CRAVO
- Catedral de São Sebastião; - Bar Vesúvio; - Teatro Municipal; - Casa de Cultura Jorge Amado; - Casa dos Artistas; - Associação Comercial de Ilhéus; - Estátua de Sapho; - Palácio Paranaguá; - Igreja Museu São Jorge; - Casa do Coronel Misael Tavares; - Casa de Tonico Bastos;.
ROTEIRO CANELA
- Ilhéus Hotel e Restaurante do Coronel; - Antigo Porto; - O Bataclã; - O Cristo Redentor; - Oiteiro de São Sebastião.
xxix
relatos de viagem). Além desses temos os documentos de segunda mão: relatórios (de pesquisa de empresas) e dados estatísticos (IBGE).
Neste trabalho fez-se uso dos dois tipos de pesquisa, utilizando documentos tanto de
instituições públicas como privadas, e também fazendo uso de relatórios e dados estatísticos
sobre o turismo cultural em Ilhéus.
Os questionários foram aplicados juntos aos agentes responsáveis pelas instituições
(proprietários/administradores e funcionários). Foram utilizados também, questionários
aplicados a uma amostra probabilística aleatória simples, da população residente na sede do
município de Ilhéus. Foi através da aplicação dos questionários que se inseriu a participação
da comunidade receptora nesta pesquisa.
Os objetivos da pesquisa foram trabalhados da seguinte forma:
Dimensionar quantitativamente a demanda atual do Quarteirão Jorge Amado,
identificando os elementos culturais de uso turístico mais visitados: A quantificação da
demanda atual, foi feita através da aplicação de questionários em cada elemento que compõe
o Quarteirão Jorge Amado, objetivando saber o número de turistas que freqüentam o atrativo
tanto na baixa quanto na alta estação.
Foram destacadas algumas características dessa demanda com base na pesquisa
realizada pela Bahiatursa (2002), para saber qual o perfil de turista que visita o município
porém, este não foi o objetivo da pesquisa. A identificação dos elementos mais visitados foi
feita, tomando por base o número de visitações em cada atrativo, através da aplicação de
questionário (Apêndice A).
Caracterizar o perfil sócio-econômico do pessoal empregado na atividade e
estimar o nível de remuneração e emprego gerados pelo turismo cultural em Ilhéus: Este
objetivo foi respondido através da aplicação de questionários aos próprios empregados, com o
intuito de descobrir sua escolaridade, idade, local de residência, se existe outra ocupação além
xxx
desta, se possui conhecimento da cultura ou do local em que trabalha, dentre outras (Apêndice
B).
Para dimensionar o nível de renda e emprego gerados, também foram aplicados
questionários aos responsáveis pelo funcionamento da cada atrativo. É importante destacar,
que só foram considerados na pesquisa, aqueles empregos gerados nos monumentos
decorrentes da atividade turística desenvolvida pelo município, porque segundo Souza (2003)
a maioria dos atrativos turístico-culturais de Ilhéus não possuem funcionários específicos para
o atendimento ao turismo, desempenhando outras funções no local.
Verificar a percepção da comunidade local quanto a sua identificação com os
principais elementos que compõem o Quarteirão Jorge Amado: Somente a população
residente na zona urbana foi escolhida, porque buscou-se neste trabalho, identificar qual a
relação destes com o Quarteirão Jorge Amado (localizado na zona urbana), se conhecem a
história de seus monumentos, quais os atrativos que o compõe, se concordam com a criação
dos roteiros, se existe identificação com as histórias e os lugares, dentre outros. Só foram
considerados os residentes na sede do município por estarem mais próximos dos atrativos. As
respostas foram adquiridas através de questionários aplicados à população (Apêndice C).
A aplicação dos questionários foi realizada, respeitando-se o processo de
amostragem aleatória simples. Tomando como base o número de bairros do município, a
aplicação foi feita dividindo os questionários proporcionalmente ao número de bairros, porque
o município não forneceu até o momento da pesquisa, o número de habitantes de cada bairro,
para que se dividisse proporcionalmente pelo número de habitantes/bairro. O número de
bairros apresentados pela prefeitura municipal foi 41 no total (anexo 1).
Os elementos da amostra foram selecionados de forma intencional em cada bairro,
admitindo as características necessárias: os entrevistados tiveram no mínimo 18 anos de
idade, podendo ser do sexo masculino ou feminino, considerados aptos a responder questões
xxxi
relacionadas à cultura local, uma vez que se pressupõe já terem concluído o Ensino Médio.
Contudo, admite-se que houve uma busca pelos moradores mais idosos. A composição dos
questionários, foi feita buscando informações relacionadas à idade, grau de escolaridade,
roteiros turísticos importantes da cidade e perguntas relacionadas à existência e a história dos
monumentos culturais do município de Ilhéus.
O tamanho da amostra foi determinado, com base na fórmula estatística para uma
população finita conforme (MARTINS 2001, p. 187):
Onde:
N = é o tamanho da população; Z = abscissa da normal padrão; p̂ = estimativa da
proporção; q = 1- p̂; ; d = erro amostral; n = tamanho da amostra aleatória simples a ser
selecionada da população.
A amostra foi calculada com base num nível de confiança de 90%, com a margem de
erro de 0,10% e valores de p e q iguais a 50%, para probabilidade de máximo tamanho da
amostra. A amostra estimada para N= 162.125 foi de 67,21, definindo-se o tamanho de 68
entrevistados para efeitos operacionais.
2.4 Métodos e técnicas adotadas
O estudo sobre a abordagem do turismo cultural no município de Ilhéus, e seus efeitos
sociais e econômicos, foi descritivo e quantitativo. Esse tipo de estudo (descritivo), foi
Z 2. p̂ . q̂ . N
n= d2 (N - 1) + Z 2. p̂ . q̂
xxxii
escolhido, porque procura abranger aspectos gerais e amplos no contexto social,
proporcionando uma melhor compreensão das variáveis analisadas.
O método quantitativo merece igual importância, porque implica a quantificação de
opiniões e de dados, expressos nas formas de coleta de informações, fazendo uso também, dos
recursos e técnicas estatísticas para o tratamento dos dados.
Como afirma Oliveira (2001, p. 115), o método quantitativo é muito utilizado no
desenvolvimento das pesquisas descritivas, "na qual se procura descobrir e classificar a
relação entre variáveis, assim como na investigação da relação de causalidade entre os
fenômenos: causa e efeito". Os recursos e técnicas utilizadas, envolvem desde as mais simples
como percentagem, média, moda, mediana, desvio padrão, até as de uso mais complexo como
coeficiente de correlação e análise de regressão, dentre outros.
Com objetivo de agregar valor à fundamentação da identidade cultural local,
trabalhada na pesquisa, foi aplicada a 10 moradores do município (mais antigos, escolhidos de
forma intencional em função da idade) a técnica da história oral, muito usada em projetos que
procuram enfocar raízes históricas de alguma preocupação contemporânea. De acordo com
Thompson (1992, p. 44):
A história oral é uma história construída em torno de pessoas. Ela lança vida para dentro da própria história e isso alarga seu campo de ação. Admite heróis vindos não só dentre os líderes, mas dentre a maioria desconhecida do povo. Traz a história para dentro da comunidade e extraí a história de dentro da comunidade (...) Ela pode dar um sentimento de pertencer a determinado lugar e a determinada época.
E é isto que se pretende descobrir. Se existem, outros monumentos que possuam maior
identificação de acordo com as perspectivas dos moradores, sendo representativos da cultura
local e se estes condizem com os monumentos do Quarteirão Jorge Amado. É importante
esclarecer, que não se pretende traçar um perfil dos moradores de Ilhéus, mas através dos
xxxiii
depoimentos recolhidos, tentar descobrir nas profundidades das memórias sociais soterradas e
das fantasias, outros universos de sentido.
Optou-se por essa técnica, por que ela contribui para uma construção mais realista do
passado, tendo como mérito principal, seu grau de amplitude em relação à maioria das fontes,
permitindo que se recrie a multiplicidade original de pontos de vistas da comunidade.
É uma técnica em que o pesquisador, poderá escolher exatamente a quem entrevistar e
a respeito do que perguntar. Deve-se deixar a entrevista fluir, orientá-la mas não controlá-la,
pois seu objetivo não é à busca de informações ou evidências que valham por si mesmas, mas
sim “fazer um registro” subjetivo “de como um homem, ou uma mulher, olha para trás e
enxerga a própria vida, em sua totalidade, ou em uma de suas partes” (IBDEM, p. 258).
Nas entrevistas foram utilizadas perguntas neutras, evitando-se perguntas diretivas,
buscando conseguir ir além das generalizações estereotipadas ou evasivas e chegar a
lembranças mais detalhadas (apêndice D). Do amplo universo de depoimentos significativos
sobre a cidade, foram recortados das entrevistas, lugares considerados simbólicos pela
comunidade que constituem o seu imaginário. Essa é uma das habilidades e das oportunidades
do trabalho oral. Os depoimentos foram registrados de forma escrita e as fotografias dispostas
representam a interpretação imagética da cidade pelos moradores.
xxxiv
3- REVISÃO DE LITERATURA 3.1 Uma abordagem sobre a economia do turismo
O conceito de turismo, segundo vários autores que estudam do fenômeno, apresenta-se
de forma controversa. Hoje, muitos estudiosos procuram conceituá-lo e muitas definições têm
sido dadas, através de estudos científicos. A primeira tentativa foi concebida em 1911 pelo
economista austríaco Hermann Von Schullern Zu Schattenhofen, definindo o turismo como
“o conceito que compreende todos os processos, especialmente os econômicos, que se
manifestam na chegada, na permanência e na saída do turista de um determinado município,
país ou estado” (BARRETO, 1977, p. 09).
A partir deste conceito, foram surgindo novos estudos que apontam outras definições
de turismo, ressaltando que essa atividade não deve ser entendida como viagens realizadas
com o objetivo de obtenção de vínculos empregatícios.
Uma das mais recentes definições do turismo é atribuída a Oscar de la Torre (México).
Para ele, o turismo se apresenta como um fenômeno social e não como fenômeno puramente
econômico:
Consiste no deslocamento voluntário e temporário de indivíduos ou grupos de pessoas que, fundamentalmente por motivos de recreação, descanso, cultura ou saúde, saem de seu local de residência habitual para outro, no qual não exercem nenhuma atividade lucrativa nem remunerada, gerando múltiplas relações de importância social, econômica e cultural (BARRETO, 1997, p.13).
Tendo em vista a complexidade e as características que envolvem a atividade turística
como um todo, ou seja, um ambiente diverso, formado pelo somatório de equipamentos e
xxxv
atrativos à disposição do turista, para satisfazer seus desejos e necessidades é aceitável a dose
de subjetividade dada para as definições do turismo. Porém, destaca-se que nesta pesquisa o
turismo é entendido como:
Uma combinação complexa de inter-relacionamento entre produção e serviços, em cuja composição interagem-se uma prática social com base cultural, com herança histórica a um meio ambiente diverso, cartografia natural, relações sociais de hospitalidade, troca de informações interculturais. O somatório dessa dinâmica sociocultural gera fenômeno, recheado de objetividade/subjetividade, consumido por milhares de pessoas como síntese: O produto turístico (MOESCH, 2002, p. 09).
Essa é uma definição de Marutschka Moesch, que segue uma linha estruturalista, com
uma visão sistêmica do turismo, abordando a necessidade da interação de empresas, governos
locais e comunidade na busca da sustentabilidade. Sendo assim, apresenta uma forte relação
entre os aspectos econômicos, ambientais, sociais e culturais.
O turismo apesar de ser considerado um objeto recente de estudo, é uma atividade que
apresenta um crescimento acelerado no país e no mundo, tendo se tornando já no século XIX
uma atividade econômica organizada.
Atualmente, a atividade assume um papel decisivo como promotor de
desenvolvimento em qualquer nível de organização da sociedade, sendo componente
constante nas equações de desenvolvimento, assumindo um papel cada vez mais significativo
dentro de uma nova forma de organização da sociedade, onde o tempo livre torna-se cada vez
mais importante.
A prática da atividade turística, surgiu como privilégio das classes sociais mais
favorecidas, caracterizada como uma atividade apenas da elite. Hoje pode-se dizer, que o
turismo é uma atividade popular, e mesmo de massa, influenciada pela mudanças ocorridas na
sociedade moderna e capitalista (FERNANDES & COELHO, 2002).
O turismo é entendido como uma atividade importante para qualquer economia local,
regional ou nacional, pois, o movimento constante de novas pessoas aumenta o consumo,
xxxvi
aumenta a necessidade de maior produção de bens, serviços e empregos e, conseqüentemente
a geração de maiores lucros, proporcionando assim, o aumento da riqueza.
Além de produtor de riquezas, o turismo se apresenta como um dos mais importantes
segmentos geradores de emprego e postos de trabalho, uma vez que se coloca entre um dos
principais itens geradores de receitas e de divisas na economia mundial. Sobre esse assunto,
Bezerra (2003, p. 17) afirma que:
Os dados oficiais da OMT em 1999 confirmam um movimento real de 613 milhões de deslocamentos turísticos no mundo, correspondendo a um montante de US$ 3,8 trilhões de renda direta e indireta. O turismo, enquanto atividade do setor terciário da economia, representa em termos de PIB aproximadamente 11% da atividade mundial e 8% na atividade brasileira gerando 1 em cada 10 empregos diretos no mundo, abrangendo quase 60 setores da atividade econômica.
Sua importância numa economia está intimamente relacionada aos fatores naturais e
econômicos, a infra-estrutura urbana, aos equipamentos turísticos e a acessibilidade ao
mercado consumidor. Além destas, são consideradas também, características dos destinos em
função de suas alternativas econômicas e do papel reservado ao setor turístico em sua
estratégia de desenvolvimento econômico.
Para que o turismo aconteça, é necessário que a localidade possua características de
um centro turístico, ou seja, um aglomerado geográfico que possua dentro de seu território
recursos capazes de motivar uma visitação turística. Estes recursos, "são todos os bens e
serviços que, por meio da atividade do homem e dos meios com que conta, tornam possível a
atividade turística e satisfazem a necessidade da demanda". Esta é uma definição da OMT
parafraseada por Dias (2003, p.58).
São os recursos turísticos que revelam a potencialidade local para a execução da
atividade turística. Estes recursos podem ser naturais e culturais. Os primeiros, são as
paisagens, praias, florestas, lagos, dentre outros. Enquanto os recursos culturais podem ser
exemplificados através de construções de igrejas, casarões, monumentos histórico-culturais,
instituições e estabelecimentos de pesquisa e lazer, manifestações, usos e tradições populares,
xxxvii
sítios, acontecimentos programados, dente outros elementos. O recurso é a matéria-prima do
turismo, que transformado em atrativo, forma parte essencial da oferta turística, juntamente
com a infra-estrutura para receber visitantes.
O conceito de atrativo é nos dado por Fernandes & Coelho (2002, p. 124), abordando
de forma objetiva as especificidades do mesmo: "Todos os lugares, objetos ou acontecimentos
de interesse, que motivem o deslocamento de grupos humanos para conhecê-los". É
importante destacar que os atrativos, já são produtos, prontos para serem comercializados no
mercado turístico.
Os atrativos distinguem-se em atuais e potenciais. Os atrativos atuais são aqueles que
já estão sendo utilizados para a atividade turística, dotados de infra-estrutura básica e
equipamentos para o atendimento aos turistas. Os potenciais são considerados como aqueles
que ainda não estão inseridos no mercado turístico e não possuem infra-estrutura para atender
os visitantes.
Estes atrativos formam a oferta de produtos de um destino que é definida de acordo
com a teoria da oferta "como várias quantidades que os produtores estão dispostos e aptos a
oferecer no mercado, em função dos vários níveis de preços, em dado período de tempo"
(ROSSETTI, 2000, p. 420).
Diante do exposto e considerando as especificidades da atividade turística, Fernandes
& Coelho (2002, p. 122) definem a oferta turística “como um conjunto de estabelecimentos,
bens e serviços locais, alimentícios, artísticos, culturais, sociais e outros, capazes de captar e
assentar uma população com origem externa numa determinada região e por um certo tempo”.
Percebe-se, portanto, a amplitude produtiva e econômica da atividade turística, pois
envolve vários segmentos da economia e não se limita apenas aos serviços de entretenimento,
transporte, hospedagem e agência de viagem. Mas também, infra-estrutura de apoio turístico,
composto por informações básicas do município, segurança e equipamentos médico-
xxxviii
hospitalar. Dessa forma, “a oferta turística é constituída por todos aqueles bens e serviços
necessários ou interessantes para satisfazer as necessidades do turista” (BALANZÁ &
NADAL, 2003, p. 65).
De acordo com a teoria da oferta abordada pelo economista Rossetti (2000), existem
alguns fatores determinantes da oferta de um determinado produto, são eles: capacidade
instalada; condições da oferta dos fatores de produção; preços dos insumos; tecnologia;
expectativas sobre a evolução da procura e sobre o comportamento do preço do produto.
A capacidade instalada é um dos principais fatores determinantes da oferta, pois,
parte-se do pressuposto de que quanto maior o número de empresas e de capacidade de
produção, maior será a quantidade ofertada de produtos ou serviços disponíveis na economia.
A oferta de fatores de produção, não menos importante, indica que se ocorrerem modificações
para mais ou para menos na oferta de qualquer um dos fatores, ocorrerá também alterações
nos padrões de remuneração dos empregados.
O preço dos insumos, também é outro fator que influencia no comportamento dos
produtores, pois, se houver redução no preço dos insumos que são bens e serviços
intermediários empregado na produção de bens finais, conseqüentemente poderá ocorrer uma
indução na expansão da oferta dos produtos em função dos baixos custos de produção. As
mudanças tecnológicas, na maioria das vezes, provocam alterações na oferta para mais, pois
expandem a produtividade com utilização de técnicas modernas, independentemente dos
preços praticados no mercado.
Por fim, tem-se a expectativa dos produtores como fator indutor da oferta, pois, se
houver uma estimativa de expansão da demanda, juntamente com uma perspectiva de reação
dos preços em relação aos níveis correntes, as decisões empresariais serão de se antecipar aos
movimentos esperados, expandindo-se a oferta, na certeza de um aumento nas quantidades
procuradas dos produtos e serviços.
xxxix
Pode-se perceber isto de forma evidente, no setor de infra-estrutura e hotelaria, no qual
os empresários são bastante sensíveis às tendências do mercado, retraindo ou expandindo
investimentos conforme as expectativas futuras. Isto por que, o investidor possui aversão ao
risco, em épocas de incertezas quanto ao cenário futuro, limitam-se às inversões dos lucros,
buscando-se alternativas de aplicação dos recursos que ofereçam maior segurança.
Contudo, no âmbito da atividade turística cabe destacar que o produto turístico é
diferenciado dos demais produtos produzidos na economia, pois, não é tangível, é um bem de
consumo abstrato; a venda e prestação do serviço não coincidem com o seu consumo, sendo
analisado e avaliado no momento de sua utilização; sua mobilidade, pois o elemento que se
desloca é o consumidor e não o produto; por fim, o produto turístico não é estocável, pois, na
medida em que o hoteleiro não vende a diária de um apartamento, essa receita é irrecuperável.
A base da oferta turística é constituída de localidades turísticas, no que tange a
diversidade de seus fatores de atração, as instalações de que dispõe e de sua vocação. Dentro
desse contexto, torna-se pertinente analisar sócio e economicamente o Quarteirão Jorge
Amado, por ser um dos principais componentes da oferta turística do destino Ilhéus.
Entretanto, para se desenvolver a atividade turística, torna-se necessária à interação
da oferta e demanda no mercado turístico. Mercado nesta pesquisa é entendido “como toda
organização ou lugar através do qual de um lado compradores e de outro vendedores de um
bem ou serviço realizam negócios de venda, compra ou troca” (FERNANDES & COELHO,
2002, p.167).
Na economia de mercado, os agentes econômicos (consumidores e produtores) atuam
de forma individual. De um lado, consumidores adquirem bens e serviços limitados, visando
obter o máximo de satisfação e bem-estar. De outro, os produtores trabalham para maximizar
seus lucros. Neste modelo de sistema econômico, a atividade turística pode ser facilmente
visualizada e compreendida, pois a compra de uma passagem aérea, o pagamento de diárias, o
xl
ingresso em uma festa ou evento, dentre outras transações envolvendo turistas e vendedores
de produtos e serviços turísticos, não poderiam deixar de serem contextualizados em um
sistema econômico.
O turismo é uma atividade altamente sensível a variações do comportamento do
consumidor. São vários os fatores que podem influenciar o seu comportamento, dentre eles
podem ser destacados, além dos preços dos produtos e da renda do consumidor, o nível de
investimento em divulgação, disponibilidade de tempo livre, gostos e preferências, qualidade
na prestação dos serviços, dentre outros (IBDEM, 2002 ).
O preço é um fator fundamental para o consumo de um produto ou serviço, devido à
relação inversa estabelecida entre preços e quantidades. Parte-se da teoria da demanda que
afirma, que quanto mais altos os preços dos produtos e serviços, menores serão as quantidades
procuradas correspondentes. Esta relação, está intimamente ligado ao nível de renda do
consumidor, que acaba direcionando o seu consumo para bens e serviços compatíveis com os
seus rendimentos.
A divulgação é outro fator importante, pois o consumidor-turista é sempre atraído por
informações, paisagens, folders, revistas, recomendações de amigos e parentes. E, possuindo
disponibilidade de tempo para viagem, utilizará seus gostos e preferências para a escolha do
destino. Contudo, a qualidade dos serviços é que determina uma avaliação positiva ou
negativa do lugar visitado, proporcionando aumento ou redução da demanda turística naquela
localidade.
A demanda, como afirma Rossetti (2000, p. 410), pode ser entendida “pelas várias
quantidades que os consumidores estão dispostos e aptos a adquirir, em função de vários
níveis possíveis de preços em dado período de tempo”. A demanda é indispensável para a
alavancagem do turismo, pois sem o turista a atividade não se mantém, daí a sua importância.
xli
A demanda ou procura turística pode ser expressa de muitas formas: pelo número de
turistas que chegam a uma região, pelo número de bens e serviços que consomem, pelo
número de pernoites em hotéis que utilizam e muitas outras manifestações. Teórica e
genericamente, a demanda pode ser interpretada como: "A quantidade de bens e serviços
turísticos que os consumidores desejam e são capazes de consumir a dado preço em
determinado período de tempo" (LAGE E MILONE, 2001, p.56).
Segundo os mesmos autores e adicionalmente Balanzá & Nadal (2003), Ignarra (1998)
e Cooper et al (2001), a demanda pode ser de vários tipos, destacando a efetiva ou atual e a
demanda potencial. "A demanda efetiva é aquela que já consome determinado produto
turístico. Já a demanda potencial é aquela que tem condições para consumir esse produto, mas
não o faz por alguma razão" (IGNARRA, 2001, p.37). Balanzá & Nadal (2003) exemplificam
esse último tipo de demanda como parte da população que não pode viajar, por restrição de
renda, não só nos países em desenvolvimento como nos países desenvolvidos.
Mas, além da demanda atual e potencial, existe ainda o conceito de demanda protelada
estudada por Cooper et al (2001, p. 56): "A demanda protelada é a demanda adiada por causa
de um problema no âmbito da oferta, como a falta de capacidade de hospedagem, de
condições meteorológicas ou até mesmo de atividade terrorista". Porém, neste trabalho
destaca-se a categoria de demanda atual do turismo cultural.
É importante destacar, que uma das características principais do turismo é que sua
demanda é extremamente elástica, ou seja, pode aumentar ou diminuir de um momento para
outro em função de mudanças no âmbito econômico, social ou político. É através da demanda
que o turismo se realimenta, pois a despesa dos visitantes faz surgir uma renda que, por sua
vez gera consumo, formando uma cadeia contínua de despesa-renda que permeará vários
setores da economia, uns mais outros menos, ensejando efeitos multiplicadores no sistema
produtivo. Esses efeitos serão abordados no tópico seguinte.
xlii
3.1.1 Impactos econômicos do turismo
A expansão turística representa aumento na demanda por produtos agrícolas,
mobiliários, de transporte, construção civil e outros. A aquisição de produtos na localidade
contribui, para a elevação do número de empregos, gera mais receitas para os empresários,
aumenta a receita tributária e fixa a população.
O adequado tratamento econômico do turismo, exige o conhecimento detalhado dos
impactos econômicos derivados dessa atividade, uma vez que os turistas gastam sua renda
numa ampla variedade de mercadorias e serviços. Essa renda é vista como uma injeção de
recursos, que estimula a economia local, sem a qual, o dinamismo econômico local não se
faria sentir.
Os impactos econômicos positivos ou negativos da atividade sobre uma comunidade
dependerão em grande parte, do grau de desenvolvimento da região, por isso, o turismo deve
ser trabalhado com bastante seriedade, porque possui um efeito duplo sobre a sociedade. Por
um lado, pode ajudar a conhecer, desenvolver e promover culturas, e de outro pode alterar ou
distorcer padrões culturais quando se busca apenas obter benefícios econômicos. Portanto, o
turismo deve ser desenvolvido, buscando a minimização dos impactos negativos na
comunidade receptora.
Os impactos a que se refere nesta pesquisa, segue a idéia de Ruschmann (1997, p. 34)
que afirma que: "Os impactos do turismo se referem à gama de modificações ou à seqüência
de eventos provocados pelo processo de desenvolvimento turístico nas localidades
receptoras". Os impactos provocados pelo desenvolvimento turístico sobre o patrimônio
natural e cultural são percebidos local, regional, nacional e internacionalmente, podendo ser
positivos ou negativos. Em alguns casos, os impactos não são relevantes, mas em outros,
comprometem as condições de vida ou a atratividade das localidades turísticas.
xliii
São muitas as literaturas sobre turismo que mostram os efeitos benéficos do setor para
as comunidades, pois o turismo tem grande importância no desenvolvimento socioeconômico.
Bezerra (2003, p.07), concorda com a importância socioeconômica do turismo, mas destaca a
necessidade da interação dos setores envolvidos na atividade:
A percepção de que o turismo é uma ferramenta poderosa para gerar emprego e renda deve ser entendida por todos os setores que trabalham com essa atividade de forma que venham utilizar a localidade conscientemente, a fim de promover sua auto-sustentabilidade, gerando dessa forma um bom relacionamento entre comunidade, governo e meio ambiente.
O turismo pode impactar tanto no campo econômico como no campo sociocultural.
Nesta seção, serão tratados apenas os impactos econômicos provocados pela atividade. Os
impactos econômicos podem ser avaliados como impactos diretos, indiretos e induzidos.
Impactos diretos: representados pelo total de renda criada nos setores turísticos como resultante direta da variação dos gastos com esses produtos; impactos indiretos: representados pelo total da renda criada pelos gastos dos setores do turismo em bens e serviços produzidos e ofertados na economia; impactos induzidos: representados na medida em que os níveis de renda aumentem em toda a economia como resultado dos impactos diretos e indiretos das variações dos gastos turísticos e, ainda, parte da renda adicional é gasta em bens e serviços produzidos internamente (LAGE E MILONE, 2001, p. 128).
Como impactos econômicos positivos produzidos pela atividade turística tem-se o
aumento da renda do lugar visitado; estímulos aos investimentos e geração de empregos;
capacidade de redistribuição de riquezas; revitalização da atividade econômica; no balanço de
pagamentos e o efeito multiplicador (DIAS, 2003). Além destes, tem-se ainda os impactos
citados por Fernandes & Coelho (2002) como a contribuição na formação do PIB e
contribuição na arrecadação dos impostos.
O aumento da renda do lugar visitado é percebido através da entrada de divisas, visto
que os gastos dos turistas representam entrada de recursos na economia. Esses recursos são
tratados como estímulos aos investimentos na super e infra-estrutura do destino, além de gerar
empregos, proporcionando ocupação para um elevado número de pessoas, na produção de
xliv
bens e serviços prestados diretamente aos turistas, através dos meios de hospedagem,
restaurantes, transportes turísticos, dentre outros.
De acordo com os autores Fernandes & Coelho (2002, p. 03), as atividades de turismo
são geradoras de trabalho e “empregam um montante estimado de 100 milhões de pessoas no
mundo, principalmente em empresas familiares e de pequenos e médio portes”. Ainda
segundo os mesmos autores (p. 32):
Cerca de 10% da população economicamente ativa do mundo trabalha em atividades ligadas direta ou indiretamente ao turismo. No Brasil, pesquisa realizada pelo Instituto de Hospitalidade, com o apoio do Sebrae e do Banco Interamericano de Desenvolvimento, as pessoas que atuam de forma direta no turismo correspondem a 6,1% da população economicamente ativa, ou seja, 4,4 milhões.
A geração de emprego em turismo, é decorrente da capacidade de geração de riqueza
proporcionada pela atividade. Pois, o turista adquire sua renda em um destino, gastando em
outro com o propósito da viagem. Essa viagem é benéfica para ambas às partes, tanto para o
turista pela experiência vivida, como para a população local, através da rápida distribuição
geográfica de renda.
A revitalização da atividade econômica, ocorre através da melhoria da infra-estrutura
pública e do surgimento de linhas de crédito, que contribuem para a implantação de
empreendimentos turísticos, como também, para o setor industrial em geral, criando redes de
pequenos e médios negócios no setor, fomentando o desenvolvimento local.
No balanço de pagamento, o impacto econômico do turismo pode ser percebido
através da participação percentual das receitas internacionais, no volume total de exportações
de todos os bens e serviços produzidos no mundo. Os gastos dos turistas, funcionam como
uma exportação invisível, na qual ocorre o deslocamento dos consumidores e não das
mercadorias. Em outras palavras, entra no país o dinheiro, dólares, divisas e saem as diárias
do hotel, refeições nos restaurantes e outros serviços, transformados em benefícios
psicológicos para o turista.
xlv
Ainda sobre esse assunto, Fernandes & Coelho (2002, p. 03), destacam as vantagens
do turismo internacional em prover recursos para o equilíbrio do balanço de pagamentos:
“receitas oriundas de viagens internacionais no mundo excedem exportações de produtos
como o petróleo, veículos motorizados, equipamentos de telecomunicações têxteis e outros
produtos e serviços”.
Os gastos dos turistas em restaurantes, hotéis, atrações de lazer, dentre outros, se
transformam em salários e empregos, num fluxo de compra de novos alimentos, gerando
assim um efeito multiplicador significativo no conjunto da economia.
A análise do efeito multiplicador na economia foi desenvolvida pelo economista inglês
John Maynard Keynes e “calcula a relação quantitativa entre um novo investimento na
economia e o aumento subseqüente do emprego” (ROSSETTI, 2000, p. 807). Keynes
demonstrou, que a magnitude desse multiplicador era tanto mais intensa quanto maior fosse a
propensão marginal a consumir. Essa propensão marginal a consumir, refere-se à parcela da
renda do consumidor que é destinada ao consumo. Segundo ele, o multiplicador é medido da
seguinte fórmula: K= 1/1-c onde c é a inclinação da função consumo, ou seja, a propensão
marginal a consumir do consumidor.
A partir desse multiplicador econômico Keynesiano, foram desenvolvidos
multiplicadores específicos do turismo tais como da produção, da renda e do emprego.
O multiplicador da produção relata o montante de produção adicional gerada na economia como conseqüência de um aumento no gasto turístico. O multiplicador da renda pode ser entendido como a mensuração da renda adicional gerada na economia devido a um aumento no gasto turístico. O multiplicador do emprego mede o montante total de empregos criados em conseqüência de uma unidade adicional de gasto turístico (FERNANDES & COELHO, 2002, p. 93).
A determinação dos valores numérica desses multiplicadores, exerce grande
importância para o planejamento econômico racional e eficiente do setor turístico. Permitem
xlvi
quantificar a magnitude dos diferentes impactos, que são determinados pela variação dos
níveis de gastos realizados pelos indivíduos na demanda de bens e serviços turísticos.
O multiplicador proporciona uma redução dos desequilíbrios regionais, pois, o turismo
é uma atividade que apresenta uma relação mão-de-obra empregada/capital investido
relativamente alta. E o aumento da demanda turística, provoca uma série de efeitos
multiplicadores sobre diferentes setores produtivos, que funcionam no destino.
Apesar de compor o setor terciário, o turismo interage em todos os setores da
economia, irradiando reflexos positivos em todas as direções. Por exemplo, na implantação de
um hotel, beneficia-se a indústria de construção civil; para equipar esse hotel com telefones,
televisores e móveis em geral, o setor secundário será beneficiado; para a aquisição de
produtos, indispensáveis ao bom atendimento das necessidades e desejos dos hóspedes,
concernentes aos itens de alimentos e bebidas, o setor primário da economia também será
acionado (FERNANDES & COELHO, 2002).
Portanto, convém afirmar que o turismo vem apresentando uma participação cada vez
mais crescente na composição (PIB) de um país. Segundo Rossetti (2000, p. 594), o PIB
representa o “resultado final das atividades econômicas de produção realizadas dentro do
território econômico do país, não incluídas as transações intermediárias”. Sobre esse assunto
Fernandes & Coelho (2002, p. 100) destaca que “atualmente o turismo contribui com cerca de
16% no PIB espanhol, motivo de admiração até mesmo em outros países de primeiro mundo”.
O último impacto econômico positivo do turismo abordado nesta pesquisa, refere-se à
contribuição da atividade na arrecadação de impostos. Pois, o aumento da circulação da renda
em uma determinada localidade beneficia também, o setor público local. Esse benefício,
ocorre através da arrecadação de tributos visando proporcionar o equilíbrio orçamentário nos
diversos níveis de governo, Municipal, Estadual e Federal.
xlvii
Deve-se compreender, que o turismo é uma atividade inserida dentro do contexto da
sociedade capitalista. Portanto, seus rumos e direções estão orientados para obtenção de
lucros, geração de riquezas e principalmente à satisfação dos consumidores que alimentam o
sistema de produção e consumo.
Como em todas as áreas da economia, o turismo também apresenta desvantagens e
riscos à população. O setor exige grandes investimentos de capital, principalmente em sua
fase inicial de implantação e o processo se mostra lento até atingir o mercado consumidor. A
falta de informação e de conhecimento das peculiaridades de produção representa
desvantagem que impede o desenvolvimento da atividade de forma adequada.
Nesse contexto, o turismo pode provocar muitas vezes impactos negativos na
economia e conseqüentemente sobre a população de uma região ou país. Dentre os principais
impactos negativos, Lage e Milone (2001), Mathieson & Wall (1992) e Dias (2003) destacam
os principais: pressão inflacionária; a grande dependência em relação ao turismo; custos
sociais e ambientais do turismo; vandalismo; prioridade dos investimentos e desarticulação
das atividades tradicionais.
A pressão inflacionária é provocada pelos turistas que dispõem de maior poder
aquisitivo e processo de consumo de produtos turísticos, fazendo com que os preços se
elevem durante a temporada. Em conseqüência, os moradores locais acabam comprando
produtos com preços mais altos dos que correntemente praticados, baixando seu poder
aquisitivo.
Outro impacto negativo é a dependência em relação ao turismo, pois as regiões ficam
mais vulneráveis às flutuações sazonais da demanda, de produtos turísticos e do emprego,
levando os empreendimentos turísticos, a experimentarem baixas taxas de retorno do capital
investido. A sazonalidade é um dos maiores problemas enfrentados, pois a descontinuidade do
xlviii
fluxo turístico, está vinculado a fatores que independem da oferta como clima, período de
férias, feriados, fins de semana prolongados, dentre outros.
Os custos sociais e ambientais do turismo, decorrem da necessidade de preservação
dos recursos naturais e culturais, pois, o crescimento do turismo pode provocar a degradação
no estoque desses recursos, restando às regiões e aos residentes, o pagamento desses custos
sociais.
A presença de turistas de forma desordenada, pode destruir os monumentos naturais,
culturais e equipamentos públicos de lazer, o que se comumente é chamado de vandalismo,
havendo a necessidade de empreender ações de educação e fortalecimento da cidadania,
envolvendo turistas e moradores.
Essas ações, se refletem nas prioridades dos investimentos dos governos, pois acabam
dando prioridade máxima ao papel que o turismo desempenha no local, podendo haver
descuidos em investimentos que merecem uma atenção maior, como os problemas de ordem
sociais referentes à educação, saúde, moradia, transporte, dentre outros, que devem ser a
prioridade política de um país em desenvolvimento, caso contrário, o desenvolvimento do
turismo será prejudicial e indesejável.
Por fim, destaca-se a desarticulação das atividades tradicionais. É importante lembrar,
que as características peculiares da cultura local, são aspectos que contribuem para a atração
de turistas e nessas características, encontram-se as atividades econômicas tradicionais como
a pesca, o artesanato, agricultura de subsistência, dentre outras. Para tanto, deve-se trabalhar
com a população local, a importância dessa atividade, dimensionando seu papel social e
cultural e não focando somente seu aspecto econômico.
É importante dizer, que forças mercadológicas agem na transformação do real para o
ideal, gerando mudanças na constituição dos espaços urbanos, como alocação de fatores
xlix
indesejáveis para os espaços menos nobres, deixando as áreas mais valorizadas para usufruto
dos turistas e como lugar de trabalho para a população local.
Esse tipo de turismo representa uma forma cruel de organização espacial, que só vem
contribuir para compreensão indesejável da atividade, que na maioria das vezes não
proporciona efeitos positivos à população, podendo ocasionar distanciamento das questões
relacionadas ao meio ambiente, na medida em que a preocupação dessa população está
voltada para quase que exclusivamente à sua sobrevivência.
3.2 Uma abordagem sobre a Cultura e o Turismo
As questões teóricas sobre o relacionamento da cultura com o espaço urbano e o
turismo emergem da década de 1980. Da atividade espontânea que busca o original como
parte do cotidiano, passa então a cultura a ser valorizada na sociedade de consumo, na qual
tudo se transforma em um produto, tornando o homem muitas vezes, um elemento passivo
dessa mesma cultura e, ao mesmo tempo, responsável pela produção de uma nova atividade,
diferenciada, com ocupações especializadas que geram novo espaço ou novas formas de uso
desse espaço (BARRETO, 2000).
Nessa perspectiva, o turismo cultural busca atrair visitantes com o intuito de, através
da cultura local e do seu Patrimônio Cultural, promover o desenvolvimento do lugar.
Destaca-se, portanto, a importância do tripé, cultura, patrimônio e turismo, onde a
cultura merece destaque por ser a força maior, mais abrangente, geradora de patrimônios,
elementos utilizados pelo turismo. Sobre esse ponto de vista Azevedo apud Coriolano (1998,
p. 194) destaca:
... a cultura representa, portanto, o código mais profundo que revela a feição singular de um povo, ou seja sua identidade. O Patrimônio condensa acumulação. É o
l
conjunto de bens herdados, construídos e/ou em construção. O Turismo, por natureza e essência, implica a busca de diferenças traçadas pela cultura e pelo patrimônio. Turismo tem na cultura e no patrimônio dois esteios insubstituíveis que lhes permitem usufruir o encontro de singularidades.
Percebe-se, portanto, a importância de se trabalhar os conceitos de cultura e
patrimônio, devido a amplitude de suas relações com a atividade turística, destacando a
necessidade de se fortalecer a identidade cultural de cada povo.
Falar de cultura é falar de referenciais mentais, que dão sentido ao comportamento
social dos indivíduos, associados às manifestações, tanto matérias, como imateriais,
caracterizando diferentes estilos ou modos de vida, valores e aspirações. Dessa forma, a
cultura se encarna na realidade empírica da existência cotidiana através de seus bens. Segundo
Meneses apud Yázigi et al. (2002, p. 89):
Tais sentidos ao invés de meras elucubrações mentais, são parte essencial das representações com as quais alimentamos e orientamos práticas (vice-versa), e lançando mão de suportes materiais e não-materiais procuramos produzir inteligibilidade e reelaboramos simbolicamente as estruturas naturais de organização social, legitimando-as, reforçando-as ou as contestando e transformando. Vê-se pois que, antes que um refinamento ou sofisticação, a cultura é uma condição de produção e reprodução da sociedade.
Cultura é uma dimensão do processo social, da vida de uma sociedade. Não é
estanque ou estável e se vale de mais variadas formas de expressão humana. Para Pinto apud
Trigo (1993, p. 54):
...Cultura é o processo pelo qual o homem acumula as experiências que vai sendo capaz de realizar, discerne entre elas, fixa as de efeito favorável e, como resultado da ação exercida, converte as idéias em imagens e lembranças, a princípio coladas às realidades sensíveis, e depois generalizadas, desse contato inventivo com o mundo natural.
Para a abordagem proposta, a pesquisa toma como base à concepção de cultura
adotada por Singer, considerada importante por atribuir aos símbolos, que também constituem
o Patrimônio, a lembrança de comportamentos e idéias de uma época.
li
Os padrões explícitos ou implícitos do comportamento, adquiridos ou transmitidos por símbolos que constituem o patrimônio de grupos humanos, inclusive sua materialização em artefatos. O aspecto mais importante de uma cultura reside nas idéias tradicionais- de origem e seleção histórica- e, principalmente, no seu significado... (RUSCHMANN, 1997, p.50).
Seguindo esta mesma linha de pensamento “a cultura é um corpo de normas,
símbolos, mitos e imagens que penetram o indivíduo em sua intimidade, estruturam os
instintos, executam as emoções” MORFIM (1972) apud PIRES (2002, p.101).
Destaca-se portanto, a importância para a comunidade da significação simbólica,
dado aos bens culturais produzidos pelos seus membros. Jaffé (1969) citado por Pires (2002,
p.101) apresentou estudos que evidenciam a capacidade humana de transformar objetos em
símbolos.
A história do simbolismo mostra que tudo pode assumir significação simbólica: objetos naturais (...) ou coisas feitas pelo homem (...), o homem com a sua propensão para criar símbolos, transforma inconscientemente os objetos em símbolos, dotando-os portanto, de grande importância psicológica.
Os bens criados pelo homem, bens tangíveis ou materiais-monumentos, edificações,
sítios históricos; e bens intangíveis ou imateriais-história, tradição, oralidade, valores, formam
o que modernamente se compreende por patrimônio cultural ( PIRES, 2002 ).
Autores como Pellegrini Filho (1997, p. 94) e Ramalho apud Filho et al (1999, p.
182), definem patrimônio cultural e destacam a sua importância para a comunidade local.
“Todo e qualquer artefato humano que tendo um forte componente simbólico, seja de algum
modo representativo da comunidade, da região, da época específica, permitindo melhor
compreender-se o processo histórico”. “Evoca significados distintos relacionados à herança,
ao legado e conseqüentemente à posse, pessoal ou coletiva, mas também ao sentimento de
pertencer (ao contexto, por exemplo)”.
lii
Dentre os bens característicos de uma cultura local, destacam-se para esta pesquisa
os bens materiais do patrimônio cultural, onde se inserem os monumentos: obras
arquitetônicas e esculturas que compõem o Quarteirão Jorge Amado.
Os monumentos testemunham sistemas mentais da época em que foram criados e solicitam, não raro, uma relação não apenas perceptiva mas também efabuladora, que mistura os tempos presente e passado, as histórias individuais às coletivas (FREIRE, 1997, p. 55).
Todo bem que é representativo de uma cultura é um bem cultural. No exterior, por
exemplo, as ruínas de Machu Picchu indicam no seu conjunto, aspectos da vida de povos pré-
colombianos; no Brasil, as ruínas de São Miguel no Rio Grande do Sul, mostram como foram
as missões jesuíticas; o conjunto urbano de Ouro Preto é bastante representativo do ciclo de
ouro em Minas Gerais; em Ilhéus, o Quarteirão Jorge Amado mostra como viveram os
coronéis na época do auge do cacau.
No tocante a identificação e ao simbolismo do patrimônio cultural local, regional ou
nacional, é de suma importância ter consciência, de que na atualidade, o processo de
globalização5 põe em risco a identidade cultural, no momento em que mistura ou até mesmo
superpõe concepções e valores de uma cultura mundial-homogeinização cultural. Diante
disso, torna-se evidente a necessidade de preservação do patrimônio cultural para que este não
desapareça com o tempo. Destaca-se, portanto, que o global e o local estão sempre presentes
nas discussões atuais no que se refere à cultura, contudo, o processo de globalização não é
objeto de estudo deste trabalho.
Segundo HALL (1999, p. 51):
As culturas nacionais ao produzir sentido sobre a “nação” sentidos com os quais podemos nos identificar, constroem identidades. Esses sentidos estão contidos nas histórias que são contadas sobre a nação, memórias que conectam seu presente com o seu passado e imagens que delas são construídas.
5 Transformações em escala global, que integram e conectam comunidades e organizações em novas combinações de espaço-tempo, tornando o mundo mais interconectado (HALL, 1999).
liii
Nesse sentido, deve-se atentar para a importância de se fortalecer e proteger a
identidade cultural de uma comunidade. A identidade de um povo é formada por processos
sociais e esses processos estão implícitos na formação e conservação da identidade, são
determinados pela estrutura social na qual está inserida a comunidade. Segundo Martins
(2003, p. 42) em linhas gerais, a identidade é “esse sentido de pertencer que as pessoas trazem
enquanto seres simbólicos que são. Esse ser de algum lugar pertence a algum grupo, sente
afinidade com algo que lhe resgata algo seu; isto tudo é chamado de identidade”.
Pires (2002, p. 102) concorda com essa abordagem e define identidade cultural de
forma mais específica como “o conjunto de caracteres próprios e exclusivos de um corpo de
conhecimentos, seus elementos individualizadores e identificadores; enfim, o conjunto dos
traços psicológicos de um grupo, que se reflete nas ações e na cultura material”. Este é o
conceito de identidade cultural adotado pela pesquisa, pois retrata que através da cultura
material, podem ser identificados traços característicos de uma comunidade.
A identidade refere-se à memória coletiva, exterior ao indivíduo. É através de sua
memória que o indivíduo busca referências para resgatar sua história, principalmente em
função do processo de globalização em que o individual se perde no padrão. Sobre este
aspecto Freire (1997, p. 55) destaca que “pensar a relação dos habitantes de uma cidade com
seus monumentos é ver a cidade além de sua funcionalidade imediata, é privilegiar antes de
tudo, seu componente histórico e estético”.
Diante disso, manter a identidade, torna-se algo vital para que as pessoas se sintam
seguras, unidas por um território, costumes e hábitos que lhe indiquem suas origens, para que
lhes referenciem diante de um modelo social tão diverso (MARTINS, 2003).
Portanto, se justifica a preservação do legado cultural, para que o indivíduo saiba de
seu local de origem e para o conhecimento e usufruto de gerações futuras. No tocante à
liv
preservação, destaca-se o papel da comunidade na decisão do que deve ser preservado dentre
os seus bens culturais.
Estudos comprovam que esta prática de preservação por parte da comunidade já é
uma realidade. Em Olinda, um pequeno lugarejo situado na região do Cariri Cearense, Sul do
Estado, as crianças e jovens participam de uma ação cultural de preservação da memória de
seu local de origem; em Fortaleza, no bairro Pirambu, seus membros criaram um centro de
memória, com documentos, fotografias, entrevistas orais, entre outros.
Vê-se a importância da participação da comunidade na preservação do patrimônio
cultural local, principalmente buscando através deste, alavancar o desenvolvimento tendo o
turismo como principal atividade, pois, como aborda Azevedo apud Coriolano (1998, p.16),
"Ressalta-se o papel da cultura no contexto social, pela geração de renda e emprego que
propicia; e mais ainda, como mecanismo de defesa da relação identidade/diversidade".
Após a abordagem de alguns conceitos acerca da cultura, patrimônio e identidade,
serão apresentadas a seguir, as relações desses com o turismo para a promoção do
desenvolvimento de uma comunidade.
3.2.1 Turismo, Cultura e Desenvolvimento
É inegável que exista um conflito entre a atividade do turismo e as estratégias de
preservação do patrimônio cultural, pois nem sempre o turismo e a preservação andam juntos.
Por um lado, o turismo pode ajudar a dinamizar esse patrimônio, ou parte dele, por outro pode
contribuir para a sua descaracterização e até mesmo sua destruição, quando o passado é
ignorado ou substituído pelo “progresso”.
Entretanto, a sinergia entre turismo e preservação, funciona de diversas maneiras,
pois o turismo de qualidade e de baixo impacto pode estabelecer relacionamentos proveitosos
lv
com a preservação viva do patrimônio local. Assim, proporciona a geração de renda e
emprego em tempo integral ou parcial e mantém vivas as tradições, criando oportunidades de
aprendizado para o turista, que passa a descobrir naquele lugar, sua gente, seus valores, seus
costumes e sua história. Com a chegada dos visitantes, novas oportunidades também se abrem
para a preservação, pois, locais bem interpretados ensinam sobre sua história e sua
importância, estimulando assim, a preservação e interpretação de outros sítios e regiões.
É importante reconhecer o papel do turismo como fator de dinamização social e
econômico, de integração local, regional, nacional, mundial e como fator de fixação da
comunidade em seu próprio contexto. A partir do momento, em que o patrimônio de uma
comunidade é a substância mesma do que ela oferece ao visitante, proteger esse patrimônio
torna-se essencial. Portanto, o maior desafio do turismo cultural é assegurar que o incremento
do turismo não venha a destruir as principais qualidades do patrimônio, que são o fator
mesmo de atração turística.
O segmento do turismo cultural vem apresentando um crescimento bastante relevante
em todo o mundo: Na Áustria, o turismo cultural cresceu 135% e na Inglaterra embora o
segmento “sol e alegria” seja majoritário, verifica-se um crescimento de 15% de seu turismo
cultural ao ano (PIRES, 2002).
No Brasil, a cultura vem ganhando substancial importância, pois os resultados do
RINTUR-98 (Relatório Nacional do Turismo-EMBRATUR, 1998), mostram que, no âmbito
do turismo doméstico, o Brasil apresenta uma tendência evidente de preferência pelo turismo
cultural, que vem sendo cada vez mais escolhido pelos brasileiros como tema de suas
viagens6.
6 Informação retirada da apostila o que é turismo cultural? fornecida na oficina sobre Patrimônio Cultural, no Mestrado de Cultura e Turismo, ministrada pela professora Sônia Maria de Mattos Lucas.
lvi
O turismo cultural engloba aspectos de viagens que proporcionam ao turista, o
conhecimento da vida e do pensamento da comunidade receptiva. Segundo Cunha (1997, p.
171):
O turismo cultural abrange as viagens cujas motivações incluímos nos grupos das culturais e educativas e a que corresponde a uma oferta muito variada e dependente dos valores culturais existentes. Nuns casos predominam nessa oferta, os sítios arqueológicos, os monumentos e arquitetura e os museus, noutros, os espetáculos, noutros as formas de viver das populações, e noutros, ainda, a conjugação de todos eles.
Outros autores como Fernandez Fuster e Arrillaga, citado por Barreto (1997, p.21),
abordam dentro dos objetivos do turismo, o turismo cultural e o definem como: “aquele que
não tem como atrativo principal um recurso natural. As coisas feitas pelo homem consistem a
oferta cultural, portanto o turismo cultural seria aquele que tem como objetivo conhecer os
bens materiais e imateriais produzidos pelo homem”.
Ainda sobre esse assunto, Silberlereg apud Pires (2002, p. 67) postula o turismo
cultural como “visitas de pessoas de fora da comunidade receptora motivadas completamente
ou em parte por interesses na oferta histórica, artística, científica ou no estilo de vida,
tradições da comunidade, religião, grupo ou instituição”.
Observa-se que conhecer as formas de vida de outras populações, bem como os bens
produzidos por elas sendo materiais ou imateriais, tornam-se os principais fatores que
motivam esse tipo de turismo. Deve existir uma valorização do cotidiano e não simplesmente
a produção de uma manifestação cultural para o turista, pois, muitos são os aspectos a serem
explorados para a atração de visitantes como a arte, a música, o artesanato, a gastronomia, o
folclore (danças, espetáculos teatrais), manifestações religiosas, a história da comunidade
local e outros, apontados por (IGNARRA, 2001, p. 51) (ver quadro 02).
lvii
Quadro 02- Classificação dos Atrativos Turísticos Culturais.
TIPOS SUBTIPOS
Monumentos
Arquitetura civil; Arquitetura Religiosa/Funerária; Arquitetura Industrial Religiosa; Arquitetura Militar; Ruínas; Esculturas; Pinturas; Outros Legados.
Sítios Sítios Históricos; Sítios Científicos.
Instituições e Estabelecimentos de Pesquisa e Lazer
Museus; Bibliotecas; Arquivos; Institutos Históricos e Geográficos.
Manifestações, Usos e Tradições Populares
Festas/Comemorações/Atividades Religiosas; Comemorações Populares e Folclóricas; Festas/Comemorações Cívicas; Gastronomia Típica; Feiras e Mercados.
Realizações Técnicas e Científicas Contemporâneas
Exploração de Minérios; Exploração Agrícola Pastoril; Exploração Industrial; Assentamento Urbano e Paisagístico; Usinas/Barragens/Eclusas; Zoológicos/Aquários/Viveiros; Jardins/Botânicos/Hortas; Planetários; Outros.
Acontecimentos Programados
Congressos e Convenções; Feiras e Exposições; Realizações Desportivas; Realizações Artísticas/Culturais; Realizações Sociais/Assistenciais; Realizações Gastronômicas/de Produtos; Outros.
Fonte: IGNARRA, 2001, p. 51.
Percebe-se que a riqueza histórica e social e as manifestações culturais, são poderosos
elementos de atração turística. Portanto, a utilização dos bens culturais de uma comunidade
deve ser desenvolvida com muito cuidado para que não desencadeie um processo de
aculturação ou até mesmo de destruição.
lviii
Sabe-se que os valores culturais não podem ser impostos, mas entendidos como uma
ação constante que está sofrendo influência do meio, e para serem aceitos, precisam ser
apropriados, escolhidos e valorizados. Precisam ter identidade própria, estarem impregnados
de signos, ancorados em um espaço e serem representativos de uma sociedade em um tempo
determinado.
Na contemporaneidade, o respeito entre os diferentes grupos sociais será o fator que
irá alimentar e permitir a heterogeneidade e a pluralidade cultural, tornando o Patrimônio
Cultural um diferencial para a atividade turística, podendo contribuir para o seu
desenvolvimento local. Ratificando tais palavras, Filho et al (1999, p. 187) ressalta o papel da
cultura no processo de desenvolvimento endógeno, através do turismo.
Trata-se da promoção de um processo de modernização, de dinamização ou revitalização econômica, dentro dos limites (dinâmicos) da continuidade cultural, o que supõe, ao mesmo tempo, seletividade e adaptação das soluções e modelos exógenos, mas sobretudo mobilização e revalorização dos recursos patrimoniais...
Relevante atualmente, a cultura tem sido vista, como alternativa para um outro
desenvolvimento, a partir da valorização dos recursos do patrimônio local, mais próximo do
ideal de ser ecologicamente prudente, socialmente mais justo e economicamente viável, numa
perspectiva sustentável de longo prazo. O turismo cultural combina autenticidade, promoção,
serviços de atendimento ao visitante e desenvolvimento econômico local e regional, quando
profissionais e proprietários ou administradores de bens culturais, trabalham juntos para
desenvolver uma indústria.
Mas é de suma importância destacar, que o casamento entre a cultura e o
desenvolvimento econômico é mutuamente benéfico, desde que, as vozes e os interesses da
comunidade sejam representados. Sem o apoio local e o engajamento das comunidades, os
mais promissores projetos de desenvolvimento do turismo cultural são fadados ao fracasso.
lix
Desenvolvimento nesta pesquisa será considerado como um processo de
transformação socioambiental, buscando proporcionar à satisfação das necessidades e à
realização das potencialidades do homem em todas as suas dimensões. Assim, o
desenvolvimento constitui no fim, e o crescimento econômico, um meio-condição necessária,
mas não suficiente.
O desenvolvimento é um processo cultural que não pode ser imposto de fora ou generosamente produzido por instituições bilaterais ou multilaterais de assistência; deve, ao contrário, nascer no âmago de cada sociedade (...) A cultura é, por conseguinte, um fator indispensável do desenvolvimento; na realidade, deveria ser o ponto de partida de todo programa de desenvolvimento autônomo. Tomar a cultura como ponto de partida da transformação de cada comunidade é fundar o desenvolvimento sobre a identidade e os valores de cada povo (FILHO ET AL, 1999, p. 154).
Exemplificando tal colocação, tem–se o Vale da Paraíba- SP, que após um grande
período de esquecimento causado pela decadência da economia cafeeira, começou a despertar
para o seu legado histórico, cultural, arquitetônico e ecológico. Esse renascimento, mostrou
que é possível combinar os recursos históricos, naturais, culturais e humanos de uma
comunidade, e fazer deles uma ferramenta para o desenvolvimento regional. O “Preservale”
fundado em 1994 tem como missão, a promoção e o desenvolvimento dos recursos culturais,
do patrimônio histórico, ecológicos e turísticos do Vale do Paraíba, numa aliança com os
municípios, os agentes culturais das comunidades e as empresas da região7.
Contudo, para se alcançar o desenvolvimento desejado, torna-se evidente a
necessidade de um planejamento do turismo cultural, buscando ouvir os interesses da
comunidade local e dos setores público e privado, traçando estratégias integradas, envolvendo
políticas públicas e cidadania participativa.
A comunidade deve antes de qualquer coisa, conhecer sua história para poder decidir
sobre o que deve ser preservado, participando do processo de planejamento do turismo
7 Informação retirada da apostila o que é turismo cultural? fornecida na oficina sobre Patrimônio Cultural, no Mestrado de Cultura e Turismo, ministrada pela professora Sônia Maria de Mattos Lucas.
lx
juntamente com os demais setores envolvidos. Nesse sentido, as palavras de Barroco (2000, p.
09), colaboraram com essa concepção, abordando a necessidade de um planejamento
integrado no turismo: "Sendo a cultura a matéria prima básica do turismo, é imprescindível
que essa relação de proximidade leve em conta políticas que tenham como principal desafio o
desenvolvimento mútuo dos setores".
O planejamento "é uma atividade que envolve a intenção de estabelecer condições
favoráveis para alcançar objetivos propostos" (RUSCHMANN, 1997, p. 83). Na atividade
turística, o plano de desenvolvimento de estratégias constitui um instrumento fundamental na
determinação e seleção das prioridades para a evolução harmoniosa do turismo, determinando
suas dimensões ideais, para que, a partir daí, se possa regular ou restringir sua evolução.
Munoz apud Ignarra (2001, p. 62), apresenta um conceito de planejamento que aborda essas
questões:
O planejamento consiste na definição dos objetivos, na ordenação dos recursos materiais e humanos, na determinação dos métodos e formas de organização, no estabelecimento das medidas de tempo, quantidade e qualidade, na localização espacial das atividades e outras especificações necessárias para canalizar racionalmente a conduta de uma pessoa ou grupo.
É necessário destacar, que um planejamento turístico não se limita apenas em um
recurso (ou localidade), mas também em seu entorno, considerando as regiões
geograficamente homogêneas, buscando promover o desenvolvimento de uma região ou de
um país. É preciso assim, analisar não apenas a atividade como consumo direto da paisagem
natural ou patrimonial mas, o circuito produtivo de forma ampla.
Portanto, é preciso concentrar esforços em um desenvolvimento sustentável do
turismo não apenas do patrimônio natural, mas também, dos produtos que se estruturam sobre
todos os atrativos turísticos. A sustentabilidade busca "atender as necessidades do presente
sem comprometer a capacidade das gerações futuras de atender às suas próprias necessidades"
lxi
Relatório Brundtland,1987 apud (COOPER et al 2001, p. 142). É importante destacar que o
conceito de sustentabilidade requer uma visão de longo prazo e aborda que o consumo do
turismo não exceda a capacidade da destinação de receber turistas futuros.
A Comissão Mundial sobre Meio Ambiente entende o desenvolvimento sustentável
como:
Um processo de transformação, no qual a exploração dos recursos, a direção dos investimentos, a orientação da evolução tecnológica e a mudança institucional se harmonizam e reforçam o potencial presente e futuro, a fim de atender às necessidades e aspirações humanas (RUSCHMANN, 1997, P.109).
Refletindo a partir da concepção de desenvolvimento sustentável e da sua importância
no planejamento da atividade turística, autores como Globe parafraseado por Ruschmann,
(1997, p.110), identifica que a sustentabilidade do turismo deve considerar:
a gestão de todos os ambientes, os recursos e as comunidades receptoras, de modo a atender às necessidades econômicas, sociais, vivenciais e estéticas, enquanto a integridade cultural, os processos ecológicos essenciais e a diversidade biológica dos meios humano e ambiental são mantidos através dos tempos.
Vê-se diante disso, que o desenvolvimento sustentável abrange a contribuição
integrada da economia, da sociedade e do meio ambiente para o bem- estar futuro da
humanidade, buscando a perpetuação da atratividade dos recursos turísticos.
Este conceito de turismo sustentável apresenta uma ligação com a sustentabilidade
natural e cultural, atrativos básicos do turismo. Dentro dessa perspectiva, não pode ser
dissociado da dimensão econômica e social. Os esforços na preservação da qualidade do meio
ambiente manterão a atratividade em alta durante um período maior, ampliando a
lucratividade dos empreendimentos, a geração de emprego e renda, e a fixação da identidade
local, desencadeando mudanças nas comunidades.
Conclui-se, portanto, que o turismo só é capaz de gerar sustentabilidade quando vem
associado ao planejamento e, sobretudo, a uma visão integrada e integradora com relação aos
lxii
demais aspectos da vida de uma comunidade. O espírito de cooperação que o turismo cultural
requer, transporta-se para outras dimensões da vida social. Mais do que um simples
instrumento econômico, o turismo cultural desempenha um importante papel na revitalização
do tecido social, trazendo para os cidadãos o sentido de participação num empreendimento
global.
3.2.2 Impactos socioculturais provocados pelo turismo
Tratando-se dos impactos sociais do turismo merecem destaque, aqueles relacionados
ao turista, no que se refere às suas expectativas, suas atitudes e às suas motivações; à
comunidade local, pois, novos padrões de emprego e hábitos serão vistos; e principalmente na
relação entre ambos: turista x comunidade.
Segundo Mathieson & Wall (1992), essa relação pode ser analisada em diferentes
aspectos: de acordo com a sua natureza transitória, pois para o turista, o contato com os
moradores acontece de forma rápida e agradável, mas, para os moradores, trata-se de uma
prática repetitiva e artificial, porque ocorre com inúmeros turistas num mesmo período; de
acordo com as restrições espaciais e temporais que influenciam a duração e a intensidade do
contato, pois, o turista quer fazer tudo em pouco tempo e se irrita quando as coisas não
acontecem conforme planejado. Por outro lado, os moradores tendem a criar dualidade de
preços e qualidades, por acreditar que está sendo explorado pelo turismo.
As relações entre turista e comunidade ainda podem ser analisadas pela falta de
espontaneidade e pelas experiências desiguais e assimétricas entre ambos. No primeiro caso, o
turismo consegue na maioria das vezes, transformar contatos espontâneos em transações
comerciais. A exemplo disso, tem-se os pacotes turísticos (atrações planejadas) que são
conhecidos antes mesmo de o turista chegar ao destino, abrindo dessa forma, mão da
lxiii
espontaneidade. No segundo caso, as desigualdades observadas a partir das atitudes e gastos
dos turistas fazem com que os moradores sintam-se inferiores e comecem a realizar a
exploração de turistas.
Diante desse contexto, têm-se especificamente como impactos sociais positivos do
turismo, a melhoria da infra-estrutura pública, através de viabilização de projetos referentes
ao saneamento, as estradas, equipamentos de saúde, dentre outros necessários ao
desenvolvimento da atividade turística; maiores investimentos em educação, pois o turismo
necessita de grande contingente de mão-de-obra treinada, necessitando também, de
qualificação dos recursos ofertados para o turismo, em educação formal; crescimento da
oferta de emprego em tempo parcial, pois o turismo necessita de grande quantidade de mão-
de-obra e em comunidades pobres, este é um grande fator de ocupação, pois, gera uma renda
adicional para a família.
Quanto aos impactos sociais negativos, Cooper et al (2001) destaca aqueles referentes
ao sexo, que acontece pelo fato de que os turistas viajam para desfrutar de encontros sexuais
casuais desinibidos e por outro lado, jovens de baixa renda desejosas de sair da
marginalidade, buscam a prostituição como fonte de renda; ao crime, onde afirma que a
presença de uma grande quantidade de turistas oferece uma oportunidade para atividades
ilegais como tráfico de drogas, roubo e violência; refere-se ainda à saúde, abordando que
doenças poderão ser transmitidas com a interação de pessoas de diferentes comunidades,
causando estresse econômico e social na população anfitriã, que pode ter menos imunidade a
elas.
Outros impactos sociais negativos provocados pelo turismo estão na literatura de
Mathieson & Wall (1992), onde destacam o efeito demonstração e o surgimento do
neocolonialismo. O efeito demonstração acontece quando novos hábitos e costumes são
inseridos nas comunidades receptoras mais frágeis, que passam a imitar o comportamento dos
lxiv
visitantes, podendo afetar indumentárias e hábitos de alimentação. O neocolonialismo por sua
vez, pode ser visto, quando as decisões locais passam a depender de operadores turísticos
externos, quando ocorre a transferência de lucros para investidores externos e quando ocorre
importação de mão-de-obra qualificada, restando apenas os empregos menos qualificados
para a população local.
Os impactos culturais provocados pelo turismo são considerados mais complexos e
mais difíceis de serem quantificados, confundindo-se muitas vezes, com os impactos sociais
ou econômicos, pois se referem a mercadização de costumes e tradições locais.
Dentre os impactos culturais positivos, registrados por diversos autores, tem-se a
valorização do artesanato, incentivando a perpetuação da marca local, além da possibilidade
da geração de renda através de atividades tradicionais. Sobre esse aspecto, Lage & Milone
(2001, p.166) afirmam que “Com relação a artes e artesanatos, há de se ter o consenso de que
o turismo tem ajudado na redescoberta e manutenção das artes e regiões de setores artísticos e
de artesanatos, resultando em ambos, preservação e diversificação nos bens e serviços
produzidos”.
De acordo com os mesmos autores com a criação do valor econômico o turismo pode
ajudar a preservar a herança cultural e o patrimônio histórico, beneficiando tanto os turistas
como os moradores do destino, como prédios religiosos, locais arquitetônicos, danças tribais,
festas, folclore, dentre outros, que são valorizadas por ambos os grupos e passam a ser
orgulho da comunidade, fortalecendo a cidadania.
O turismo também pode proporcionar uma compreensão intercultural e a partir do
momento que as pessoas viajam para diversas partes do mundo, elas podem aprender mais e
melhor sobre as culturas de outras localidades, tornando-se mais tolerantes e experientes. O
contato dos visitantes com os nativos de uma localidade contribui para o desenvolvimento
cultural de ambos os grupos.
lxv
Rodrigues (2002, p.21) colabora com essa concepção, mas alerta para cuidados que os
moradores precisam ter: “A cultura local deve estar bem entendida pelos seus residentes
procurando diminuir os choques ou contrastes produzidos pelo contato entre grupos sociais
socioeconômica e culturalmente distintos”.
Juntamente com o trabalho que deve ser desenvolvido com os atrativos turísticos, deve
haver uma sensibilização da população local para receber o turista. No Brasil, por exemplo,
em 1998, lançou-se a campanha com o seguinte slogan: "O turista é um amigo, cuide bem
dele". Infelizmente, esta campanha não teve continuidade. Segundo Boiteux e Werner (2002),
esse trabalho de sensibilização, deve vir acompanhado de ações educacionais que ensinem a
população local a respeitar e valorizar o seu entorno turístico, promovendo a sustentabilidade
do lugar.
Outro fator de grande relevância, no que se refere às comunidades locais, é o
conhecimento que os residentes precisam ter sobre seu município e sua história, podendo
dessa forma, transmiti-lo aos turistas. Todo núcleo receptor tem uma história, que de nenhuma
forma pode ser negada ou desvalorizada pelos seus moradores.
É claro que é importante o cidadão aprender fatos históricos como o Descobrimento do Brasil, mas também é importante que todo o indivíduo tenha conhecimento do que o cerca, como por exemplo, porque a sua rua recebeu o nome que tem, quais os monumentos existentes em seu bairro e qual o estilo arquitetônico da igreja mais próxima. Além de alimentar a auto-estima da população local, o conhecimento cultural agregado só vem a acalentar sentimentos de orgulho e de contentamento em receber visitantes (BOITEUX e WERNER, 2002, p. 69).
É inegável que o turismo depende da população em todos os aspectos, tanto em
hospitalidade como em investimentos necessários. Portanto, a população deve ter consciência
da importância dessa atividade, os empresários do turismo devem se engajar nas discussões
políticas do seu município e os estudantes e sindicatos devem ser esclarecidos sobre o turismo
e os impactos provocados no mercado de trabalho. O que deve existir é uma interação de
todos os segmentos da sociedade.
lxvi
Quanto aos impactos culturais negativos, provocados pelo turismo, Ruschamann
(1997), destaca a descaracterização do artesanato, decorrente da produção de produtos em
escala industrial e que muitas vezes, ocorre fora da região de origem, podendo dessa forma,
sofrer modificações de cor ou tamanho para o atendimento exclusivo aos turistas.
Outros efeitos negativos também estão presentes, nas manifestações culturais
tradicionais, como folclore ou grupos folclóricos que são formados exclusivamente para
atender a demanda, transformando-se em shows para os turistas, sendo muitas vezes
deturpados; na arquitetura tradicional local, que pode ser transformada, a partir de uma
demanda turística que busca o conforto com o qual está acostumada; e por fim, no modo de
vida da comunidade receptora, quando se muda a forma de viver para atender a procura, pois
muitas vezes os turistas se julgam superiores a grupos minoritários, que passam a se
considerar inferiores, deixando-se influenciar por novos hábitos e costumes.
A cultura local vai aos poucos assimilando os novos hábitos de consumo e o bem estar
trazido pelos avanços tecnológicos, cria novas necessidades. Dessa maneira, velhos hábitos
são aos poucos abandonados, o contato intenso com o “exterior” cria novos padrões de
comportamento, de consumo e cria um impasse, pois a essência é substituída pela aparência, o
conteúdo pela forma, o ritual pelo espetáculo, a história pelo desenraizamento.
Dessa forma, o turista não consome o real e o autêntico, mas tudo que foi criado para
satisfazer seus desejos, direcionando seus olhares para locais de interesse turístico que lhes
são impostos. Assim, ocorre o distanciamento cada vez maior na interação entre visitante e
visitado e a exclusão indesejável de uma parcela da população que acaba sendo
marginalizada.
Diante do exposto, conclui-se que não existe a possibilidade de desenvolver a
atividade turística, sem que ocorram impactos socioculturais, mas é possível, com o
lxvii
planejamento adequado, gerenciar o desenvolvimento turístico buscando a minimização dos
impactos negativos ao mesmo tempo em que se busca estimular impactos positivos.
Dessa forma, o turismo como um fator promotor do desenvolvimento local e mesmo
indutor de um subseqüente desenvolvimento regional, deve ser trabalhado com base nos
princípios do desenvolvimento sustentável e do turismo sustentável. Esses princípios, estão
intimamente ligados a sustentabilidade do meio ambiente, pois, dependem da preservação e
da viabilidade de uso dos recursos naturais.
lxviii
4- RESULTADOS E DISCUSSÕES
4.1 Caminhando pelo Quarteirão8...
Neste momento da pesquisa, convido o leitor a percorrer os caminhos que nos levam
a conhecer o Quarteirão Jorge Amado, para percebermos a dimensão de sua potencialidade.
Torna-se importante destacar, que a descrição deste passeio apresenta uma escrita literária,
considerando adjetivos contidos nos folders de divulgação.
Chegando na praça Dom Eduardo, começamos a percorrer o circuito Cravo do
Quarteirão. A imponente Catedral de São Sebastião (um dos três padroeiros da cidade) com
límpidos vitrais e altas colunas coríntias, nos faz um convite para subir seus 21 degraus de
escada e conhecê-la. Também no seu espaço interior é bastante majestosa, com lindíssimas
imagens sacras, além de sua singular arquitetura. Dizem que foi uma obra bastante ambiciosa,
autorizada em 1927, após longas polêmicas quanto à demolição da antiga capela de 1765.
Nela reunia-se a partir dos meados do século XX, a sociedade de Ilhéus para missas,
novenas, batizados, casamentos e outras cerimônias religiosas. “Enquanto as beatas e damas
da sociedade freqüentavam as missas, alguns jovens da época, como Jorge Amado,
participavam do “footing” (passeio) na praça, levando as namoradas ao cinema ou a sorveteria
ao lado” (FOLDER SETUR, 2001).
Esse footing consistia em contornar a praça, pela calçada em sentido contrário: as
moças saíam em direção ao mar e os marmanjos rumo ao bar do Emílio Maron, versão antiga
8 Circuito feito pela autora no dia 09/08/2004, auxiliado por folder cedido pelo centro de informações turísticas do município e por informações cedidas pela casa de cultura Jorge Amado.
lxix
do atual bar Vesúvio. Ocorria mesmo a intenção de namorar através de olhares ou toques sutis
e ainda marcavam nas agendas encontros para a matinê do domingo próximo, no Cine–
Theatro Ilhéos.
Seguindo o nosso caminho, encontramos o famoso bar Vesúvio, que fica à esquerda
da Catedral. Neste bar, se reuniam os coronéis do cacau para contar “causos” de suas
experiências amorosas e empresariais, da política regional e é claro da cotação do cacau,. Ah!
foi este o bar em que Gabriela e Nacib se conheceram, personagens do romance Gabriela
Cravo e Canela de Jorge Amado. Outro fato importante é que estes personagens deram ao bar
fama internacional. Segundo contam, Gabriela foi inspirada em duas mulheres: dona Lourdes
Maron, esposa de Emílio Maron (terceiro proprietário do Vesúvio) na qualidade de quituteira
muito louvada pelos quibes e pastéis que fritava e uma mulata sensual, amante do português
Figueiredo, segundo dono do Vesúvio.
Na parede lateral do bar que dá para a rua Coronel Paiva, estão as figuras de Jorge
Amado e Gabriela pintados numa imagem que parecem estar numa janela de verdade, é
bastante interessante! Por dentro, existe uma exposição de fotografias do bar e da praça,
retratando como eram antigamente. Este bar e restaurante é um dos mais famosos marcos do
Quarteirão.
Saindo do Vesúvio é só atravessar a rua seguindo pelo mesmo lado, para encontrar o
Cine Teatro Municipal de Ilhéos (antigamente escrevia-se assim) localizado na rua Jorge
Amado, antiga rua 28 de junho. Foi inaugurado em 1932 por Eusínio Lavinge e reconstruído
pela prefeitura em 1986, com capacidade para receber 475 pessoas. Era através desse teatro
que os jovens buscavam motivação para as artes. “No cine teatro, rapazola em férias, namorei
em matinês românticas, roubei beijos e troquei juras de amor-emoções inesquecíveis”(folder
da SETUR, 2001 sobre Jorge Amado).
lxx
O teatro chegou a receber cantores como Emilinha Borba, companhias líricas de peso
como as de Jaime Costa e Procópio Ferreira, hoje, dedica-se com exclusividade a espetáculos
teatrais e mostras artísticas. Mas, além desses atrativos, você ainda pode subir no terraço do
teatro (onde em baixo localiza-se uma sorveteria), para ver a cidade, o mar da avenida Soares
Lopes e as pessoas que descansam e conversam na pracinha em frente. Esta praça, também é
palco de manifestações culturais locais.
Antes de partir para o próximo atrativo, é melhor deliciar-se com sorvetes de
variados sabores e tipos como faziam os jovens personagens da história de Ilhéus. Feito isso,
ainda caminhando pela rua Jorge Amado, deparamo-nos com a bela arquitetura da Casa de
Cultura Jorge Amado, construída em 1926 pelo seu pai o Sr. Amado Faria e inaugurada
como museu dinâmico em 28 de junho de 1997.
Nesta casa, existe uma exposição do acervo pessoal do escritor, com livros, fotos,
esculturas e curiosidades a respeito da cultura e da região cacaueira. Ainda assistimos a filmes
educativos e a verdadeiras aulas expositivas sobre os objetos. Lá, também existe uma mini
loja com artefatos e literaturas de escritores regionais. Este monumento está localizado em
pleno coração do Quarteirão e é considerado uma das principais atrações culturais e turísticas
da cidade.
Mais adiante, seguindo pelo mesmo lado do calçadão, a mais ou menos duas casa de
distância, encontra-se a Casa dos Artistas. Nesta casa encontramos artistas de diversas áreas
como músicos, pintores, escultores, atores, enfim. São apresentadas peças teatrais produzidas
por eles, além de exposições de quadros e esculturas para vendas. Se você levar uma foto sua,
os artistas desenham, pintam e ampliam a sua imagem em questão de minutos. É perfeito! A
casa foi residência de Adami de Sá, prefeito da cidade em 1907, hoje, pertence a um
empresário suíço que denominou este nome, destinando o espaço para atividades artísticas.
lxxi
Continuando o percurso em direção ao Palácio Marquês de Paranaguá, você
encontrará as principais ruas de comércio de Ilhéus. É um centro bastante diversificado, nele
você pode encontrar artigos de todos os gêneros como roupas para todas as idades,
lanchonetes e bares, artigos de fotografias, lojas de celular, escritórios e consultórios de
profissionais liberais, sex shop, agências de viagens, entre outros. Tudo isso funcionando em
prédios antigos (ainda com características da época do cacau) que nos remetem a tempos
passados e prédios novos, nos trazendo à realidade. Essa mistura do antigo com o novo é
bastante interessante, pois nos permitem comparações. Esse calçadão é bastante movimentado
e a todo momento, turistas e moradores se confundem.
Ao sair do calçadão, o Palácio Marquês de Paranaguá atrai todos os olhares. É um
monumento majestoso e belo, possuindo uma riqueza nos seus detalhes arquitetônicos tanto
no exterior (fachada) como no seu interior, vale a pena conferir. Foi inaugurado em dezembro
de 1907 pelo prefeito da época e desde então é utilizado como sede do governo. Este nome foi
dado em homenagem ao governador da Bahia da época, Marquês de Paranaguá, que elevou
Ilhéus à condição de cidade (FOLDER SETUR, 2001).
O palácio fica localizado na praça J.J. Seabra. Esta praça é bastante agradável,
arborizada, com bastante bancos para descanso e momentos de contemplação e descontração.
Ainda possui quiosques para lanches e telefones públicos, caso seja necessário. É uma praça
bem conservada e movimentada, pois, em torno dela tem-se ainda o prédio da Câmara
Municipal, do Banco do Nordeste do Brasil, entre outros. Encontramos também, a estátua de
Sapho e o monumento da Associação Comercial de Ilhéus, esses dois inseridos no circuito do
roteiro Cravo.
A estátua de Sapho fica bem em frente ao palácio Paranaguá, e é a única da América
do Sul que representa esta personagem da história grega. Ela é muito bonita construída em
mármore carrara e encontra-se protegida por um portão de ferro ao seu redor. Segundo
lxxii
contam, essa poetisa grega é registrada na história como a primeira mulher a lutar pelo direito
de igualdade entre homens e mulheres. No folder do quarteirão tem escrito que a estátua foi
arrematada em leilão pela esposa de um grande coronel na época. Na sua placa de
identificação diz que Sapho foi colocada em praça pública pelo intendente Mário Pessoa em
1924. Contudo, não foi descoberta durante o passeio a existência de algum grau de parentesco
entre as duas pessoas.
No prédio da Associação Comercial de Ilhéus, nosso próximo ponto, era realizado
discussões dos fazendeiros, comerciantes e dos exportadores de cacau. Nele, trabalhava o
poeta Sosígenes Costa, avesso à boemia da época e pelas suas características, inspirou Jorge
Amado no romance São Jorge dos Ilhéus, para traçar o perfil de Sérgio Moura. O prédio é
enorme e entrando em suas salas você pode imaginar como ocorriam as tais discussões
comerciais da época. Nesta visita, uma observação deve ser feita: sua fachada é muito bonita,
porém, fica escondida por árvores gigantescas que abrigam os pássaros que por ali passam e
cantarolam todos os dias.
Foi observada também, nesta mesma praça, uma estátua representando a estação do
inverno, feita em mármore carrara, adquirida e colocada em praça pública pelo intendente
Mário Pessoa em 1924 (mesmo ano em que foi colocada a estátua de Sapho), chamada estátua
de inverno. Esta não faz parte do roteiro, mas atrai muitos olhares pela sua beleza e
representação.
Para concluir o roteiro cravo do Quarteirão, é necessário retornar pela rua Jorge
Amado (calçadão) e dobrar a primeira esquina à esquerda, seguindo pela rua Dom Pedro II
em direção a praça Antônio Muniz.
Chegando nesta praça, segue-se reto e dobra-se a primeira rua à esquerda, onde se
encontra na esquina um casarão muito bonito, hoje na cor rosa claro. Esta é a rua Antônio
Lavigne de Lemos. Caminhando por esta rua, passando por uma lojinha de artesanato da vovó
lxxiii
Aydil, segue-se em frente, vislumbrando um dos locais mais atraentes do núcleo histórico
ilheense: a famosa rua calçada com paralelepípedos comprados em 1907, de um navio inglês
que aportou no município. Diz a história que foi a primeira rua calçada da cidade de Ilhéus e
segundo rumores, a rua foi calçada pelo então coronel Misael Tavares, para servir a cerimônia
de casamento de sua filha na igreja de São Jorge, pois, vinham convidados ilustres e a rua era
de barro.
Desta rua podemos ver a Igreja Museu São Jorge, o Palacete Misael Tavares e a
casa de Tonico Bastos. Começamos então pela Igreja, ela é muito bonita e possui um pátio
enorme na frente. Sua importância se dá ao fato de ter sido construída com pedras lapidadas
de maneira artesanal e por ser a igreja mais antiga do centro da cidade, inaugurada em 1556.
A sua arquitetura permanece intacta, podendo ser visto na parte inferior um pequeno acervo
de obras sacras belíssimas dos séculos XVI, XVII e XVIII. Porém, o que mais chama a
atenção é uma valiosa imagem secular de São Jorge sem o cavalo, única na América Latina.
Esta igreja é tida como um símbolo de fé e crença da saga do cacau.
O Palacete Misael Tavares, fica bem pertinho da igreja e foi construído em 1914. O
coronel Misael Tavares foi um dos homens mais ricos da região, o maior produtor individual
de cacau do Brasil. Segundo contam, o seu palacete possuía maçanetas de cristal da Bélgica,
tapetes persas e desenhos no teto igual ao assoalho. Hoje, não mantém mais essas
características e pertence à loja maçônica Regeneração Sul- Baiana. Sua estrutura física foi
um pouco modificada, ao entrar um salão imenso pode ser visto com alguns objetos da época,
você também pode conhecer os cômodos da casa que antigamente eram os quartos da família.
Quase nada está como antes, mas vale a pena conhecer.
Por fim, está a casa do coronel Tonico Bastos, localizada na praça Ruy Barbosa.
Segundo informações adquiridas na casa de Cultura, Tonico era dono de um cartório e andava
sempre bem vestido, limpo e perfumado. Possuía um fino bigode como armadilha para
lxxiv
sedução, tinha a fama de mulherengo e gostava da vida boêmia. Por estas características, foi
inspiração para Jorge Amado no romance Gabriela Cravo e Canela, sendo o protagonista da
história.
Para imaginarmos quão mulherengo era este coronel, basta saber desta história
contada por Hélio Pólvora e Raimundo Sá Barreto num artigo cedido pela casa de Cultura
Jorge Amado: “a mulher do coronel Tonico ia sempre as matinês. Uma destas não se realizou,
por falta de energia elétrica, e ela, chegando mais cedo em casa, encontrou o marido nos
braços da empregada doméstica Gabriela”.
Em sua casa hoje, funciona uma clínica de estética do tipo SPA e por isto, não
podemos entrar para conhecer seu interior, apenas a sua fachada continua nos transportando
ao imaginário da época, embora suas cores sejam diferentes daquela.
Aqui se encerra o roteiro Cravo e para começar o roteiro Canela, a melhor opção é
voltar pela rua Antônio Lavigne de Lemos (aquela calçada com paralelepípedos ingleses), até
chegar a Catedral de São Sebastião. Chegando lá, siga em direção à sorveteria que fica numa
esquina e entre na rua Coronel Paiva. Nesta rua, dobrando-se a segunda transversal à direita,
será avistado o prédio do Ilhéus Hotel (o primeiro monumento do roteiro canela), localizado
na rua Eustáquio Bastos. É um prédio enorme na cor mostarda, é inconfundível. Ele foi
construído em 1930 pelo Coronel Misael Tavares para hospedar os comerciantes e visitantes
que desembarcavam no porto e também funcionava seu banco particular e dois depósitos de
cacau na parte térrea (FOLDER SETUR, 2001).
Este hotel ainda conserva muitas características de sua fachada, porém, alguns
departamentos estão sendo alugados para outras atividades como por exemplo, a sede da
Coelba, que acabou modificando suas características originais com a utilização de vidros
fumê. O interior também possui características conservadas como: corredores com muros
pintados, salões para festas e exposições de alguns quadros e objetos do coronel. Além disso,
lxxv
nele foi instalado o primeiro elevador do Sul da Bahia, que funciona até os dias atuais,
mostrando sua estrutura interna.
Ao sair do Hotel, bem à nossa frente fica a baía do Pontal, onde funcionava o Porto
de Ilhéus. Foi em janeiro de 1926 que a exportação do cacau virou realidade, iniciando uma
nova fase na movimentação da cidade. Com a demolição dos armazéns e a construção do
“novo” porto, o antigo ficou apenas como cartão postal da época áurea do cacau. É
considerado um ponto bastante representativo do cotidiano daquela época. Segundo o folder
fornecido pela Setur “os ilheenses freqüentavam-no para ver quem chegava e partia, beber
chope a bordo dos navios, comprar peixe fresco e acompanhar as modas e as novidades
vindas de fora. Era o “piont” do momento”.
Hoje, sua revitalização consistiu em estacionamentos para carros, espaços para bares
e restaurantes e a construção de um píer, para quem deseja contemplar a baía. Contudo, ainda
sobram espaços para apresentações de manifestações culturais locais como grupos de capoeira
e de percussão afro, que foi visto nesse passeio.
O nosso próximo ponto é o Bataclan. Seguindo em direção à praça da avenida 2 de
julho, avista-se o famoso cabaré (referência da vida boêmia dos anos 20), descrito por Jorge
Amado que vadiava pelas ruas de Ilhéus, cheio de artes e ouvindo causos. Neste cabaré,
envolto de fumaças de charutos, predominava os tangos, boleros e valsas. De acordo com
informações adquiridas no local, os freqüentadores eram homens de colarinhos altos e ternos
de linho que engravatados, deslizavam no salão com mulheres de fora, com colantes vestidos
abertos na metade das coxas.
Dá para imaginar que o cabaré era o centro da vida noturna da região, palco de
grandes amores, paixões e disputas. Hoje, revitalizado, o Bataclan conservou algumas paredes
da época, mas, predominam características mais modernas como vidros fumê que antigamente
não existia. A função do seu espaço agora é outra, pois, antes funcionava como uma casa
lxxvi
noturna e hoje, funciona como um espaço de cultura, com exposição de quadros de artistas
locais e apresentações culturais. Dando ainda um ar mais moderno, localiza-se dentro do
espaço, um cyber café para usufruto de visitantes e turistas.
Além de tudo isso, ainda pode ser visto alguns ambientes como o quarto e a cama de
Maria Machadão, com algum de seus objetos. Outro ponto alto do passeio é conhecer a
passagem secreta que dá acesso ao bar Vesúvio, onde vários coronéis “enganavam” suas
esposas dizendo que estavam no bar e não no cabaré. “É verdade que o cabaré Bataclan não
funciona mais, e que dos amores proibidos só restam lendas...” (FOLDER SETUR, 2001).
Caminhando ainda pela avenida dois de julho, encontra-se prédios arquitetônicos de
grande valor histórico, como o prédio da União Protetora dos Artistas e Operários de Ilhéus
que não faz parte do circuito, mas contribui para a beleza do lugar e para a formação do
patrimônio histórico de Ilhéus. Nesta mesma avenida, encontra-se pizzarias e quiosques para
lanches, caso queira parar um pouco para descansar. Seguindo o nosso percurso a beira mar,
fica fácil encontrar o monumento do Cristo Redentor, inaugurado em 1942 tendo na época
bastante repercussão. O Cristo abençoa os que chegam por mar, terra e ar, possuindo mais de
7 metros de altura. É um ponto turístico muito bonito para fotografar, vale a pena passar por
lá.
Para conhecer o último atrativo que compõe o roteiro canela, basta continuar a
caminhada, seguindo pela calçada beirando a praia, passando pelo antigo restaurante Os
Velhos Marinheiros, até chegar ao bar e restaurante Búzios. A partir deste ponto, dobre a
esquerda e suba a ladeira que dá acesso ao Outeiro de São Sebastião. Lá foi onde tudo
começou, você pode ver a Igrejinha de Nossa Senhora de Lourdes, considerada o marco-
símbolo da fundação da Capitania de São Jorge dos Ilhéus e ter o privilégio de ver a cidade
pelo mirante. O outeiro atualmente é palco de lazer para a comunidade local, que utiliza o
lxxvii
espaço para a prática de esportes. E é no Outeiro de São Sebastião que se encerra o roteiro e o
fim da nossa caminhada...
Este é o Quarteirão Jorge Amado, objeto de estudo desta pesquisa.
4.2 Dimensão quantitativa da demanda atual do Quarteirão Jorge Amado e os elementos
culturais de uso turístico mais visitados
Os questionários foram aplicados aos responsáveis pelos seguintes atrativos do
Quarteirão Jorge Amado: Catedral de São Sebastião; bar Vesúvio; Teatro Municipal; casa de
Cultura Jorge Amado; casa dos Artistas; Associação Comercial de Ilhéus; Palácio Paranaguá;
Igreja Museu São Jorge; Casa do Coronel Misael Tavares; Ilhéus Hotel e o Bataclan. Faz-se
necessário destacar, que a casa de Tonico Bastos não pode ser visitada pelos turistas, pois nele
funciona um SPA, restando a estes apenas vislumbrar a fachada.
De acordo com os dados coletados, o Quarteirão Jorge Amado apresentou um fluxo
mensal de turistas9 no final do ano de 2003 e início do ano 2004 de 40.300 turistas no período
da alta estação, compreendido pelos meses de julho, dezembro, janeiro e fevereiro, conforme
apresentado no quadro 03.
9 Apenas a Casa de Cultura Jorge Amado, a Casa dos Artistas e o Bataclan possuem registro do número de visitantes.
lxxviii
Quadro 03- Número de turistas/mês que visitaram o Quarteirão Jorge Amado, Ilhéus, BA.
PERÍODO/ESTAÇÃO MONUMENTOS
ALTA BAIXA
Bataclan - 1.500
Ilhéus Hotel 200 50
Casa Jorge Amado 4.500 1.800
Vesúvio 8.000 4.500
C. de Tonico Bastos - -
P. Misael Tavares 400 200
Casa dos Artistas 6.000 2.000
A. C. de Ilhéus 100 30
C. de São Sebastião 15.000 7.500
I. Museu São Jorge 2.100 450
Palácio Paranaguá - -
Teatro Municipal 4.000 2.000
TOTAL 40.300 20.030
Fonte: Dados da pesquisa.
Diante desses dados, algumas observações devem ser feitas para facilitar o
entendimento: O número de turistas do Bataclan corresponde ao somatório de turistas que
visam o cyber café (1.050) e o espaço cultural (450). Não foi constatada nenhuma informação
no período da alta estação, porque os questionários foram aplicados no período de 28/06/04 a
04/07/04, quando este havia sido reinaugurado há 14 dias.
É de grande relevância destacar, que na Casa do Coronel Tonico Bastos não foi
registrado nenhum número de turistas, devido a sua função atual de SPA, não permitindo
dessa forma, a entrada dos mesmos. Destaca-se também, que no Palácio Paranaguá, não foi
dada nenhuma informação no que tange ao número de turistas que visitam o local, por não
lxxix
existir nenhum controle e nenhuma idéia aproximada do fluxo. De acordo com a entrevista
realizada neste monumento, os próprios funcionários da prefeitura atendem os turistas quando
chegam. Contudo, esta informação não foi constatada na prática, pois fazendo uma
observação in loco a mesma não foi confirmada.
Existem ainda, outros atrativos que não possuem informações a respeito do número de
turistas, por não possuírem registro ou até mesmo uma pessoa para fazer a recepção dos
turistas. São eles: a estátua de Sapho, o antigo porto, o Cristo Redentor e o outeiro de São
Sebastião.
Analisando ainda o quadro 01, observa-se que no período de baixa estação, o número
de turistas que visita o Quarteirão decresce de forma significativa para 20.030 turistas/mês.
Registra-se dessa forma, uma queda equivalente a 50,3%, do fluxo de turistas que deixam de
conhecer o local. Esses números evidenciam a inexistência de um planejamento que busque
atrair turistas no período de baixa estação, visto que, não é necessário ter o atrativo sol o ano
inteiro para atrair turistas que procuram encontros excitantes e educativos com as pessoas, as
tradições, a história e a arte dos povos.
Numa pesquisa realizada sobre o patrimônio arquitetônico de Ilhéus, foi observado por
Souza (2003, p.32 e 38) que existem opiniões bastante relevantes dos funcionários dos
atrativos, no que tange aos motivos característicos do baixo número de turistas, mesmo no
período da alta estação.
(...) falta uma maior divulgação regional e nacional, planejamento adequado, funcionários específicos para o turismo, mais interação dos setores envolvidos. (...) falta informação aos turistas para que cheguem nos horários de funcionamento, investimentos em segurança, conscientização das empresas de viagens e dos turistas para o interesse da cultura local, pois, só buscam conhecer as belezas das fachadas.
Os turistas que visitam os roteiros são atraídos pelo atrativo sol e praia, mas alguns
não deixam de conhecer as histórias do lugar. Segundo os entrevistados dos atrativos, algumas
características desses turistas podem ser destacadas como: maior nível de escolaridade, uma
lxxx
certa vivência com a cultura, sendo em sua maioria paulistas, paranaenses, goianos e
estrangeiros10.
De acordo com a pesquisa de demanda turística realizada pela Bahiatursa 2002,
observou-se que os turistas em sua maioria visitam Ilhéus por motivo de passeio, atraídos
pelos atrativos naturais da cidade. Numa avaliação dos atrativos do município no que tange a
capacidade de atração, o patrimônio histórico da cidade foi considerado bom pelos turistas,
representando 71,8% dos entrevistados, o que evidenciou que a cultura possui uma boa
aceitação. Quanto à avaliação dos atrativos naturais, estes foram considerados ótimos por
92% dos entrevistados (www. bahiatursa.gov.com.br).
Sobre o que mais agradou no município, a pesquisa realizada pela Bahiatursa mostra
que as praias, os atrativos naturais e a hospitalidade foram os mais citados por 57,7%; 18,4%;
e 13,2% dos entrevistados respectivamente. Esses dados, sinalizam para uma análise acerca da
cultura de Ilhéus, enquanto instrumento propulsor do desenvolvimento, levantando questões
para uma discussão atual: Como tornar a cultura atrativa para os turistas? Como o patrimônio
cultural pode contribuir para o desenvolvimento local?
Deve-se, portanto, buscar trabalhar o patrimônio cultural em seu conjunto como uma
alternativa de turismo, visto que o município possui alguns monumentos que se destacam no
contexto de sua história. Esses monumentos são: a Catedral de São Sebastião que corresponde
a 22.500 turistas nos períodos de alta e baixa estação; o bar Vesúvio com 12.500 turistas; a
Casa dos Artistas com 8.000; a Casa de Cultura Jorge Amado com 6.300; o teatro municipal
de Ilhéus com 6.000 e a Igreja Museu São Jorge 2.550 turistas. Estes podem ser destacados,
como evidenciam os números, como os atrativos de uso turístico mais visitados dentro do
Quarteirão.
10 Informações colhidas na Casa de Cultura Jorge Amado.
lxxxi
4.3 Postos de trabalho gerados e perfil sócio-econômico do pessoal ocupado no
Quarteirão Jorge Amado
4.3.1 Postos de trabalho gerados no Quarteirão Jorge Amado
O emprego tem se tornado um fator preocupante em todo o país. Este fato é
decorrente da grande retração do mercado de trabalho em função das condições
macroeconômicas bem como do uso da robotização já em curso no Brasil, tendo como
exemplo, demissões nas indústrias metalúrgicas e automobilísticas. Atualmente, a
mecanização está sendo empregada nos setores de bebidas e alimentos, remédios e
cosméticos, etc.
Em Ilhéus, esse cenário não é diferente, pois desde a queda da produção da lavoura
cacaueira, grande responsável pelo êxodo rural, a cidade vem buscando novas alternativas de
geração de postos de trabalho.
O turismo em todas as suas especificidades é uma atividade, que se apresenta como
uma alternativa de absorção dessa mão-de-obra desempregada, pois necessita para seu
desenvolvimento, desde a mão-de-obra menos qualificada até a mais qualificada. Rodrigues
(2002, p. 63) destaca a importância do setor turístico nos países periféricos como o México,
onde o comércio ambulante voltado para o setor é surpreendente “já que abrange mais da
metade da população ativa”.
Vê-se, portanto, que várias são as funções desenvolvidas pelo turismo, dentre as
quais destacam-se as referentes ao funcionamento de hotéis e pousadas, cabanas de praias,
comércio ambulante, administração de atrativos naturais e culturais, dentre outras. Segundo
Bonfim (2001)11, no setor de alimentos e bebidas do município de Ilhéus, foram gerados no
ano de 2000, 378 postos de trabalho permanentes e 190 temporários (período de alta estação).
11 Não há registros mais atualizados destes dados.
lxxxii
Contudo, nesta pesquisa serão abordados os empregos gerados no âmbito cultural do
município de Ilhéus, especificamente àqueles gerados nos atrativos que compõem o
Quarteirão Jorge Amado.
Para atender os turistas que visitam o Quarteirão Jorge Amado, foram gerados 44
postos de trabalho diretos, distribuídos em apenas 5 dos 16 atrativos. Nos 11 atrativos
restantes, não foram gerados postos de trabalho ligados à atividade. As pessoas desempenham
as funções/cargos de garçons (15,9%), atendentes (31,82%), cozinheiros (4,55%), chefe de
cozinha (2,27%); ajudante de cozinha (15,91%); caixa (6,82%), operadores/técnicos de
informática (4,55%), administradores/gerentes (6,82%), serviços gerais (6,82%); camareira
(2,27%); copeira (2,27%) e bar man (6,82%). O quadro 04 apresenta as unidades em que estes
empregos foram gerados.
Quadro 04- Postos de trabalho/ocupações gerados no Quarteirão Jorge Amado, Ilhéus, BA.
ATRATIVOS POSTOS DE TRABALHO (%)
Bataclan* 38,63
C. de C. Jorge Amado 13,64
Vesúvio 29,55
Casa dos Artistas 2,27
Ilhéus Hotel 15,91
TOTAL 100
Fonte: Dados da pesquisa. *Das ocupações geradas no Bataclan, 8 correspondem à parte cultural e 9 à parte do
cyber café.
Na Casa dos Artistas foram identificados quatro postos de trabalho. Durante a
aplicação do questionário apenas um dos entrevistados se declarou como empregado do setor,
tendo inclusive carteira de trabalho assinada. Os três restantes são artistas que trabalham
lxxxiii
como professores da rede municipal de ensino do município de Ilhéus. Estes foram cedidos
por um turno para o atendimento ao turista e por esta razão se declararam como voluntários.
É importante dizer, que muitos atrativos estão no roteiro, mas não possuem infra-
estrutura adequada para receber visitantes. Nesse contexto, ressalta-se os locais em que
funcionam outros serviços, como é o exemplo do teatro municipal, que não possui funcionário
específico para atender o turista, o Palácio Paranaguá (onde funciona a Prefeitura Municipal),
a Catedral de São Sebastião, Igreja Museu São Jorge, Associação Comercial de Ilhéus,
Palacete Misael Tavares (onde funciona a Loja Maçônica Regeneração Sul-Bahiana), casa de
Tonico Bastos (onde funciona um spa).
Nestes lugares, onde não existem pessoas para atender o turismo, os funcionários do
local acabam desempenhado essa função, porém destaca-se que suas funções são outras. Esta
realidade também foi detectada por Souza (2003, p. 43) quando afirma que:
... o município não utiliza de forma eficiente os seus recursos, pois, na grande maioria dos atrativos que podem ser utilizados para desenvolver o turismo cultural, não possui profissionais preparados para atendimento ao público, sendo o mesmo prestado por funcionários que trabalham nestes locais, porém, em funções diversas, visto que na maioria das vezes os monumentos são utilizados para outras finalidades.
A discussão proposta aqui, não se fundamenta no fato de que não deva existir outra
atividade desenvolvida nos monumentos que compõem os roteiros. Mas sim, que existam
pessoas específicas para atender exclusivamente os turistas, gerando novos empregos e
impedindo que os funcionários interrompam suas atividades. Pois, por não serem
remunerados para desenvolver uma função do turismo, estes funcionários não desenvolvem
pesquisas profundas sobre a história do lugar e nem são preparados para passar as
informações corretas aos turistas.
lxxxiv
Existem ainda outros atrativos como o Outeiro de São Sebastião, a estátua de Sapho,
o Cristo Redentor e o antigo Porto. Estes também não possuem nenhum funcionário para
vigilância do local nem para recepção de turistas.
Percebe-se diante do exposto, um potencial de geração de postos de trabalho nestes
locais, desde vigilantes, guias, recepcionistas até administradores ou coordenadores. Pode-se
estimar, portanto, que se em cada um destes locais estivesse uma pessoa para o atendimento
ao turista e um vigilante/segurança para guardar o local, ter-se-iam mais 22 postos de
trabalho. Nesta perspectiva teríamos um total de 66 ocupações geradas. Sem contar com os
empregos informais gerados nas proximidades do Quarteirão (vendedores de acarajé, de água
de coco, lanches em geral, bijuterias, quadros, entre outros) que não é objetivo deste trabalho,
mas merece ser destacado.
Esta estimativa baseia-se no uso mínimo da capacidade potencial dos atrativos, sem
considerar o aumento da demanda pelo Quarteirão Jorge Amado, pois quanto maior o fluxo de
turistas maior será o número necessário de pessoas para atendê-los.
4.3.2 Perfil sócio-econômico do pessoal ocupado no Quarteirão Jorge Amado
A pesquisa identificou que dentre as 44 pessoas ocupadas no Quarteirão Jorge Amado,
56,82% são mulheres e 43,18% são homens. Constatou-se também que 36,36%, a maior parte
da população ocupada possui idade variando entre 26 e 33 anos, 34,09% com idade acima de
33 anos e 29,55% entre 18 e 25 anos.
Essas pessoas são em sua maioria casadas (77,27%) e 52,86% têm filhos, sendo em
média duas crianças por pessoa.
Quanto ao nível de escolaridade, 36,36% possuem apenas o ensino médio completo. É
importante destacar que 22,73% das pessoas ocupadas no Quarteirão Jorge Amado, possui
lxxxv
ensino fundamental incompleto, o que demonstra a pouca qualificação destas pessoas, fator
este que pode influenciar o atendimento final dos serviços turístico-culturais no município
(Figura 04).
Fonte: Dados de Pesquisa. Figura 04–Distribuição percentual do nível de Escolaridade do pessoal ocupado no Quarteirão
Jorge Amado.
Outro ponto importante a ser destacado, refere-se ao percentual relativo às pessoas
com o ensino superior completo. Estas representam apenas 4,55% do total, mostrando que
apesar de existir no município uma Universidade Pública Estadual e outras faculdades
particulares, os profissionais com qualificação de nível superior são ainda minoria dentre as
pessoas ocupadas no Quarteirão Jorge Amado.
Contudo, não se pode afirmar que existe uma carência de profissionais com nível
superior na cidade. Talvez, a remuneração oferecida pela atividade, não seja atrativa para
atender esses profissionais. Pois, de acordo com a figura 05, apenas 4,55% possuem uma
remuneração acima de 4 salários mínimos (SM), os que desempenham as funções de
administrador e de coordenador de projetos.
22,73%
9,09%
15,91%
36,36%
11,36%4,55%
Ens. Fund. incompleto
Ens. Fund. completo
Ens. Méd. incompleto
Ens. Méd. completo
Ens. Sup. incompleto
Ens. Sup. completo
lxxxvi
Fonte: Dados de Pesquisa.
Figura 05 – Distribuição por salários, da remuneração das pessoas ocupadas no Quarteirão
Jorge Amado.
Ainda sobre esse assunto, as pessoas trabalham em média 8 horas diárias, sendo que
90,91% destas pessoas recebem entre 1 e 2 salários mínimos. Dentre as funções
desempenhadas que recebem esta remuneração, tem-se a de recepcionistas, que representa a
de maior número de ocupados, 14 pessoas. Seguindo a função de garçom com 7 pessoas
ocupadas e as funções de barmam, serviços gerais, ajudante de cozinha e caixa com 3 postos
de trabalho, cada uma. Além destas, há ainda outras funções, ilustradas na figura 06.
Fonte: Dados de Pesquisa.
Figura 06 – Distribuição por função, dos postos de trabalho gerados no Quarteirão Jorge Amado.
14
73
3
3
3
3
21
111 1 1 RECEPCIONISTAGARÇOMBARMANSERVIÇOS GERAISAJUDANTE DE COZINHACAIXAADMINISTRADORCOZINHEIRACHEFE DE COZINHAOPERADOR DE INFORMÁTICATÉCNICO EM INFORMÁTICACOORDENADOR DE PROJETOSCOPEIRACAMAREIRA
90,91%
0,00%4,55%
2,27%
2,27%
Menos de 1SM
1 a 2 SM
2 a 3 SM
3 a 4 SM
Acima de 4 SM
lxxxvii
É importante destacar que nenhum funcionário recebe remuneração inferior a 1 S/M.
Observou-se ainda que, os trabalhadores que desempenham a função de garçom, recebem
gratificação pelos seus serviços, totalizando salário base mais gratificação mensal. As
remunerações dessas pessoas, são pagas pelo governo Municipal, como é o caso do Bataclan
(parte cultural), da casa dos Artistas e da casa de cultura Jorge Amado; por empresas privadas
como é o caso do cyber café no Bataclan e do Ilhéus Hotel; e por uma cooperativa dos
trabalhadores, no bar Vesúvio.
Foi constatado nesta pesquisa que a maioria dos atrativos não possui receitas
oriundas da atividade turística (visitação), através de taxas cobradas, pois, verificou-se que
apenas na casa Jorge Amado é cobrado valor de R$ 1,00 (um real) por visitante, o qual é
utilizado para comprar materiais de limpeza e escritório. Na casa dos Artistas não é cobrada
taxa para visitação, mas é cobrado um valor de R$ 5,00 (cinco reais) para assistir os
espetáculos e peças teatrais (ingressos). De acordo com os entrevistados, o espaço comporta
apenas 50 pessoas, considerado pequeno e a variação do número de espectadores é constante.
Torna-se importante deixar claro, que os valores cobrados pelos atrativos não complementam
as despesas com a remuneração mensal dos ocupados no Quarteirão.
Dentre os postos de trabalho gerados, 61,36% são fixos e 38,64% são temporários.
Observa-se, portanto, que apesar da sazonalidade inerente ao setor turístico, a maior
proporção dos postos de trabalho são fixos. Dos postos de trabalho temporários, todos ocupam
a função pela primeira vez, já nos fixos as pessoas trabalham nos locais em média há 4 anos e
um mês.
De todas as pessoas que ocupam funções no Quarteirão, apenas 16 possuem carteira de
trabalho assinada, representando apenas 36,36% do total, contudo, mesmo diante desta
realidade, 52,27% do total das pessoas entrevistadas acreditam que esta ocupação lhes
proporciona segurança/estabilidade financeira.
lxxxviii
Observou-se, portanto, que o fato de receberem suas remunerações mensalmente, já
lhes oferece a sensação de estabilidade, por poderem garantir sua subsistência, não
demonstrando dessa forma, qualquer preocupação com a falta dos benefícios oriundos da não
formalização da ocupação. Inclusive, muitos mostraram não ter conhecimento acerca de seus
direitos trabalhistas tais como o recolhimento do INSS para fins de aposentadoria, férias
remuneradas, seguro desemprego.
É importante destacar que apesar de ter sido comum as críticas aos baixos valores das
remunerações, apenas 25% dos entrevistados possuem outras ocupações além daquela
desenvolvida no Quarteirão Jorge Amado, dentre as quais têm-se: representantes de vendas,
costureiras e produtores de eventos.
A renda familiar de 38,64% dos entrevistados varia entre 1 e 2 salários mínimos.
Apenas 25% dos entrevistados, possuem rendimento familiar acima de 4 salários mínimos e
ressalta-se que nenhuma das pessoas ocupadas no Quarteirão Jorge Amado, tem renda
familiar inferior a um salário mínimo, como mostra a figura 07.
Fonte: Dados de Pesquisa.
Figura 07 - Distribuição por salários, da renda familiar das pessoas ocupadas no Quarteirão Jorge Amado.
0,00%
38,64%
34,09%
2,27%
25,00% Menos de 1SM
1 a 2 SM
2 a 3 SM
3 a 4 SM
Acima de 4 SM
lxxxix
Em relação à satisfação da atividade desenvolvida, a maioria dos entrevistados,
93,18% gosta do que fazem, justificando que o trabalho lhes conduz ao aprendizado diário e
ao contato com pessoas e conhecimento sobre culturas diferentes. Desta forma, afirmam que
esta ocupação lhes acrescenta, além da experiência profissional, algo de importante em suas
vidas, pois lhes permitiu descobrir a história de Ilhéus, até então desconhecida.
Os entrevistados, reconhecem a importância do Quarteirão Jorge Amado dentro do
contexto turístico do município, pela sua história e para o desenvolvimento da cidade, pois
representa a memória viva do povo de Ilhéus, numa reunião dos principais atrativos, buscando
a valorização do patrimônio histórico e o fortalecimento do turismo cultural.
Apesar de todos os entrevistados residirem na cidade de Ilhéus, apenas um
demonstrou um sentido de pertencer ao contexto, justificando que o Quarteirão faz parte da
história “da nossa cidade” e tem “a mesma importância que Jorge Amado tem para o povo
ilheense”.
Observou-se na maioria das respostas, que a importância do Quarteirão está na sua
capacidade de gerar postos de trabalho, sem mencionar a importância cultural para a cidade.
Outras pessoas afirmaram ainda, que “não vêem com bons olhos o uso abusivo dos romances
para atrair turistas”. Há ainda aqueles que não reconhecem a importância do Quarteirão para o
fortalecimento da identidade cultural local, afirmando ser apenas uma atração a mais para o
turista visitar.
4.3.3 Ações culturais planejadas pelos administradores dos atrativos do Quarteirão Jorge
Amado
Contatou-se que existe uma preocupação muito grande dos administradores dos
atrativos, no que concerne ao desenvolvimento de projetos que busquem atrair mais visitantes
e promover a atratividade do local. Nestes projetos, observou-se um cunho econômico, social
xc
e cultural, como: apresentação de Saraus; chorinho ao vivo; esquetes teatrais; e o projeto: a
escola vai ao bataclan, buscando além do objetivo econômico, apresentar a cultura local numa
estratégia de fixação da identidade cultural.
Na casa de cultura Jorge Amado, as estratégias são: lançamento de livros de
escritores regionais; concursos de poesias entre escolas municipais; saraus contendo músicas e
fantasias jorgeamadianas em ballet; e cursos de guias mirins. No bar Vesúvio, existe um
projeto cultural apresentando shows e peças teatrais do romance Gabriela Cravo e Canela. No
Teatro Municipal existe o projeto maio mês da dança, desenvolvido todos os anos; troféu
Jorge Amado de Cultura e Arte; projeto Águia da Cultura que consiste em percorrer os bairros
da cidade num ônibus com biblioteca, telão, computador, e realizando oficinas.
Por fim, tem-se a casa dos Artistas, com projetos teatrais em parceria com a
Companhia de Teatro de Braga (Portugal); projetos teatrais desenvolvidos no próprio local;
esquetes teatrais apresentadas em praça pública; e um projeto de criação de conselhos
populares, que segundo os entrevistados é o mais importante dos projetos. Este projeto
consiste na criação de conselhos representativos de cada bairro, destacando suas próprias
características e estilos de dança e de vida para a criação de políticas culturais municipais,
envolvendo as tradições de cada bairro. De acordo com os entrevistados, essas políticas
culturais seriam apresentadas aos políticos municipais, independentemente de partidos, a fim
de que sejam postas em prática.
4.4 Percepção da comunidade local em relação aos monumentos do Quarteirão Jorge
Amado.
De acordo com a amostra total de 68 entrevistados, destaca-se que, 57,35% são do
sexo masculino e 42,65% do sexo feminino, tendo em média, 40 anos de idade.
xci
Quanto ao nível de escolaridade (ver figura 08), observou-se que 28% dos moradores
não possuem o ensino fundamental completo e 24% possuem apenas o ensino médio
completo, dos quais destes últimos, esperava-se um conhecimento maior sobre os atrativos
culturais da cidade. Por fim, destaca-se que 23% dos entrevistados possuem ou estão cursando
o ensino superior.
Fonte: Dados da pesquisa.
Figura 08- Nível de escolaridade dos moradores do município de Ilhéus-Ba.
Quando perguntados sobre o significado de atrativo cultural, aproximadamente 53%
dos entrevistados disseram não saber o que representa, ou apresentando respostas equivocadas
como futebol, renda, visita de turistas, dentre outros. Por outro lado, 47% demonstraram
entender que atrativo cultural representa os monumentos existentes na cidade, as festas
regionais, as músicas, o teatro, a história, objetos antigos, o Quarteirão Jorge Amado, enfim,
tudo que mostra a cultura, a essência para o povo e para os turistas.
Estes últimos mostraram uma preocupação, no que tange a importância da cultura,
para a formação da identidade dos Ilheenses, ao passo que a maioria dos entrevistados, não
demonstrou conhecimento dessa importância. Adotou-se como parâmetro das respostas, o
conceito de atrativo cultural, apresentado na revisão de literatura deste trabalho.
Essas respostas mostram, que apesar da cidade de Ilhéus ser um destino turístico,
tendo como proposta o desenvolvimento do turismo cultural, não existe um trabalho de
28%
7%
18%
24%
16%
7%
Ens. Fund. incompleto
Ens. Fund. completo
Ens. Méd. incompleto
Ens. Méd. completo
Nív. Sup. incompleto
Nív. Sup. completo
xcii
sensibilização e educação da comunidade, sobre a importância da cultura local para o
desenvolvimento da atividade. As pessoas precisam ter conhecimento da forma como o
turismo se desenvolve, seus mecanismos, e não somente entender que a atividade gera
emprego e renda.
Sobre esse assunto, um dado positivo é que 94,12% dos moradores tem
conhecimento da existência do Quarteirão Jorge Amado no município. Porém, estes,
conhecem em média apenas 3 e visitaram em média apenas 2, dos 16 atrativos totais,
mostrando que não existe interação do sujeito com as obras dos roteiros.
Dentre os mais conhecidos/visitados e podendo então serem “considerados” aqueles
que estão no imaginário coletivo, estão o bar Vesúvio, o Teatro Municipal de Ilheos, a casa de
cultura Jorge Amado, a Catedral de São Sebastião, a casa dos Artistas e o Bataclan (ver
quadro 05). Estes, formam o referencial mental dos moradores entrevistados em relação ao
Quarteirão, ilustrados na figura 09.
Quadro 05- Atrativos culturais do Quarteirão Jorge Amado mais conhecidos pelos moradores.
Fonte: Dados da pesquisa.
ATRATIVOS DO Q.J.A. (%) Vesúvio 64,06Teatro Municipal 54,69Casa de Jorge Amado 48,44Catedral de S. Sebastião 46,88Casa dos Artistas 40,63Bataclan 32,81Antigo Porto 6,25Igreja Museu São Jorge 4,69Ilhéus Hotel 4,69Palacete Misael Tavares 4,69Palácio M. de Paranaguá 4,69Estátua de Sapho 3,13Associação C. de Ilhéus 1,56Casa de Tonico Bastos 0,00Cristo Redentor 0,00Outeiro de São Sebastião 0,00
xciii
Fonte: 1 e 4 – Mailane Vinhas de Souza Bonfim; 2 – MENEZES (2004); 3 e 5 HEINE (2003); 6 – www.verao.com.br/galeria.
Figura 09 – Referencial mental dos moradores de Ilhéus em relação ao Quarteirão.
Fazendo uma comparação com o mapa mental do ilheense, desenvolvido pela empresa
Sócio Estatística12 no ano de 1999, a Catedral é a principal referência geográfica do ilheense,
ocupando lugar central no seu mapa mental. Além da Catedral, também foram apontados os
elementos Praça D. Eduardo e o Vesúvio. Em segundo lugar, o elemento da paisagem
1 – Bar Vesúvio 2 – Teatro Municipal de Ilheos 3 – Casa Jorge Amado 4 – Catedral de São Sebastião 5 – Casa dos Artistas 6 – Bataclan
xciv
geográfica de Ilhéus mais apontado, foi a Avenida Soares Lopes, ficando a Rodoviária em
terceiro lugar.
De acordo com a mesma pesquisa, outras referências foram citadas como o Centro da
cidade, a Prefeitura e a Praça Cairú. Porém, de acordo com essa pesquisa, o mapa mental dos
ilheenses aponta claramente para um conjunto constituído pela Catedral e Avenida Soares
Lopes, sendo estes importantes elementos do seu imaginário.
Cabe dizer que, nesta pesquisa sobre o Quarteirão Jorge Amado, o bar Vesúvio foi o
atrativo mais citado pelos moradores, detectando um interesse maior pelos lugares citados por
Jorge Amado e não pela sua biografia, pois a casa do escritor, aparece em 3º lugar dentre os
mais citados, como mostrou o quadro 05.
Destaca-se ainda, o fato de que existem atrativos que a população de Ilhéus
desconhece como parte do Quarteirão Jorge Amado, a exemplo da casa do Coronel Tonico
Bastos, o Cristo Redentor e o Outeiro de São Sebastião, conforme apresentado no quadro 05 e
ilustrados na figura 10.
Fonte: MENEZES (2004).
Figura 10 – Atrativos desconhecidos como parte do Quarteirão Jorge Amado pelos moradores de Ilhéus. Existem ainda outros lugares, citados pelos moradores como monumentos do
Quarteirão, que estão no imaginário da população, mas que na realidade não fazem parte
12 Empresa de pesquisas estatísticas localizada no município de Itabuna-Ba.
1 – Casa de Tonico Bastos 2 – Cristo Redentor 3 – Outeiro de S. Sebastião
xcv
deste, como a sorveteria Ponto Chic, a Universidade Livre do Mar e da Mata – Maramata, a
Igreja Nossa Senhora da Piedade e a avenida Soares Lopes (ver figura 11), que segundo os
moradores, possuem relevância histórica na cidade. Neste momento, percebe-se a ausência da
participação da comunidade local quando realizado o processo de escolha dos atrativos.
Fonte: 1 – Mailane Vinhas de Souza Bonfim; 2- HEINE (2003); 3- www.verao.com.br/galeria; 4 – www.consist.com.br/galeria. Figura 11 – Atrativos erroneamente citados pelos moradores como integrantes do Quarteirão.
Quanto á divisão do Quarteirão em dois roteiros, Cravo e Canela, 68,75% dos
moradores, disseram não conhecer essa divisão. Esse dado demonstra, que esse projeto apesar
de ser prioritário no município, não tem sido divulgado internamente, para conhecimento da
1 – Sorveteria Ponto Chic 2 – Igreja N. S. da Piedade 3 - Maramata 4 – Av. Soares Lopes
xcvi
população local, a qual deve estar inserida em qualquer estratégia de desenvolvimento de
turismo.
Dentre os 31,25% dos entrevistados que disseram conhecer a divisão do Quarteirão,
apenas 40% concordam com a divisão realizada, justificando que facilita a compreensão da
história e interpretação do lugar. Outros justificam que, cravo e canela nos remetem à mistura,
ou seja, mistura de todos os atrativos importantes da cidade. Os 60% que não concordam com
a divisão realizada, justificam que se é um quarteirão só, não deveria ser dividido, outros
ainda, não souberam justificar, demonstrando falta de conhecimento do projeto.
Ratificando a falta de conhecimento dos moradores em relação ao Quarteirão,
observou-se na pesquisa, que as pessoas não conseguem distinguir entre os atrativos que
compõem os roteiros cravo e canela, pois, quando pedido para citar apenas três de cada
roteiro, apenas 6% aproximadamente das pessoas responderam. Ainda assim, dos que
responderam, 50% acertaram os atrativos do roteiro cravo, citando o bar Vesúvio, a casa Jorge
Amado, a casa dos Artistas, o Teatro Municipal de Ilheos e a Catedral de São Sebastião. Os
outros 50% citaram como atrativo a Barraquítica e a baiana do acarajé, os quais não fazem
parte deste roteiro. Estes, fazem parte apenas das vias de acesso entre um atrativo e outro.
Quanto ao roteiro canela, daqueles que citaram os atrativos, 75% responderam
erroneamente, citando também locais que não fazem parte de nenhum dos roteiros, como por
exemplo, a feira do pontal. Essa feira acontece em outro bairro da cidade (Bairro Pontal) e
não no Centro, onde está localizado o Quarteirão. Apenas 25% acertaram, citando a estátua de
Sapho, o Ilhéus Hotel e o Bataclan.
O fato de que 94% dos entrevistados não conseguem fazer uma distinção entre os
atrativos que compõem os roteiros, nos remete a uma reflexão sobre a divulgação destes
roteiros internamente e sobre a correlação histórico-cultural entre os atrativos, na
identificação da história da cidade (ver figura 12).
xcvii
Fonte: Dados da pesquisa.
Figura 12- Percentual dos moradores que diferenciam os atrativos entre os roteiros cravo e canela.
Dentre os atrativos do Quarteirão, apenas o bar Vesúvio, a Catedral de São
Sebastião, o teatro municipal e a casa Jorge Amado, foram citados como sendo os mais
representativos da história do município de Ilhéus (apresentados na figura 09). Segundo os
entrevistados, estes retratam melhor a história da cidade, principalmente o bar Vesúvio pois, a
personagem Gabriela Cravo e Canela é conhecida em várias partes do mundo. Outros
justificaram que por serem os mais visitados pelos turistas, representam melhor a história da
cidade. Outros ainda, afirmaram que por estarem localizados no centro da cidade, retratam a
história do município.
Contudo, observou-se que os moradores não mencionaram a importância histórica
dos atrativos, no que tange à época de construção dos mesmos, bem como sua contribuição
para a formação da identidade cultural local. Identidade essa, que não é entendida como
decorrente da cultura do cacau, mas sim, pelos romances de Jorge Amado. Muitos dos
entrevistados afirmam, que tudo começou a partir do momento em que o escritor escreveu seu
1º livro, quando na verdade, a história de Ilhéus foi construída pelas lutas dos coronéis de
cacau, sendo contada por Jorge Amado em seus romances, e não criada por ele.
Mesmo não conhecendo por completo o Quarteirão, 67,6% dos moradores (ver figura
13) concordam com a criação do mesmo, justificando a importância do escritor para a cidade,
6%
94%
Diferencia
Não diferencia
xcviii
pois segundo os moradores, seu nome é respeitado mundialmente e descreveu a cidade muito
bem através de seus romances. Observou-se, portanto, um sentimento de gratidão por Jorge
Amado, pela divulgação da cidade em todo o mundo, e por isso torna-se justa a homenagem
da criação do Quarteirão. Contudo, mesmo concordando com a criação do Quarteirão Jorge
Amado, os entrevistados reconhecem que outros nomes podem ser lembrados.
Fonte: Dados da pesquisa
Figura 13- Opinião dos entrevistados quanto à criação do Quarteirão Jorge Amado.
É importante destacar que 16,2% concordam que Jorge Amado representa a cultura
do município por não conhecer nenhum outro personagem importante da história da cidade.
Esse fato evidencia, a falta de interesse da população em conhecer melhor o lugar onde
nasceu e onde vive.
Por outro lado, 16,2% dos moradores entrevistados (ver figura 13), não concordam
com a criação do Quarteirão, justificando suas respostas afirmando que Jorge Amado não fez
nada para construir a história de Ilhéus, apenas a retratou em seus romances. Outros afirmam
que ele não é filho de Ilhéus e por isso não deve ser considerado como carro-chefe da cultura
local. Outros ainda, afirmam que a figura da Gabriela criada pelo escritor é muito vulgar, e
não corresponde à realidade local.
Para esses moradores, existem outras pessoas que merecem destaque no município e
possuem uma importância maior na construção da história da cidade, são eles: Ariston
67,60%
16,20%
16,20%
Concordam
Concordam por nãoconhecer outros
Não concordam
xcix
Cardoso (foi prefeito de Ilhéus), Sá Barreto (escritor e tabelião) e Osvaldo de Souza (político
ilheense).
Sobre essa iniciativa do poder público de aproveitar a cultura local, para o
desenvolvimento do turismo cultural, 94, 2% dos moradores concordam com essa estratégia
para geração de emprego e renda para a cidade. Segundo eles, mesmos que os empregos
gerados sejam poucos, de qualquer forma, ajudam algumas pessoas da região, pois os turistas
deixam seu dinheiro na cidade. Por outro lado, algumas pessoas disseram ainda que essa
iniciativa só é benéfica para quem trabalha no setor turístico, pois, não conseguiu ainda
perceber melhorias em outros setores.
Torna-se importante destacar que os 5,8% dos moradores que não concordam com a
iniciativa do poder público, afirmam que o município ainda não conhece sua história,
abordando a necessidade de conhecê-la para depois divulgá-la como estratégia de
desenvolvimento sócio-econômico.
Contudo, apesar de reconhecer algumas falhas do poder público, principalmente no
que tange à participação da comunidade local nesse processo, 100% dos entrevistados
concordam ser importante para a cidade, o desenvolvimento do turismo no âmbito cultural.
Segundo os mesmos, “além dos turistas conhecerem a história local, geram emprego e renda
para os moradores, diminuindo a incidência de roubo na cidade”.
4.4.1 Os lugares simbólicos da cidade...
Destaca-se inicialmente que as pessoas que participaram da técnica da história oral
possuem em média 55 anos de idade, residentes em Ilhéus desde seu nascimento. Estas
pessoas, não quiseram ser identificadas talvez, por vergonha ou timidez.
c
Os lugares considerados simbólicos da cidade, recortados dos depoimentos dos
moradores, foram: a sorveteria Ponto Chic, destacando que para os entrevistados este lugar foi
palco de grandes paixões, além de possuir o sorvete mais gostoso da cidade; a Igreja Nossa
Senhora da Piedade, onde as famílias da cidade faziam suas promessas e orações; e o Grupo
Escolar General Osório que marcava a característica de uma época, com pavilhões separados
por sexo: “nós ficávamos retardando nossa entrada no colégio, para poder conhecer as moças
bonitas que chegavam, naquele tempo as mulheres eram mais recatadas e gostavam das
nossas paqueras” relatou um entrevistado. Estes lugares foram ilustrados na figura 11, exceto
o Grupo Escolar General Ozório, que pode ser visto na figura 14.
Fonte: HEINE (2003).
Figura 14- Grupo Escolar General Ozório.
Além destes, destacam-se ainda a Avenida Soares Lopes e a área geográfica onde
atualmente se encontra a Maramata. Na Soares Lopes, a maioria justificou ter sido há muito
tempo atrás a melhor área de lazer da cidade, pois, jogava-se futebol, fazia-se piqueniques e
banhava-se no mar. Hoje segundo os entrevistados, o espaço ficou “elitizado” e não existe
mais lugar para a comunidade e sim para os turistas (ilustrados na figura 11).
A área geográfica de localização da Maramata (figura 11) foi o elemento de maior
lembrança pelos moradores, pois segundo eles, naquele lugar antigamente moravam índios e
ci
pescadores que, com o desenvolvimento do local e construção de casas, foram expulsos de
seu habitat e seguiram para Olivença.
Naquele tempo não tinha luz, nem água encanada, comprávamos água que vinha nas carroças. Para ir ao centro da cidade, atravessávamos de “besouros”, uma embarcação improvisada de madeira, pois não tinha ponte... ...Mesmo com todas essas dificuldades, era muito bom viver assim, pois não existia a violência que existe hoje na cidade (Informação verbal adquirida no depoimento).
Observou-se, portanto, que nenhum dos elementos citados condizem com os
elementos dos roteiros do Quarteirão Jorge Amado. Diante desta constatação pode-se então
afirmar, que existem lugares que fazem parte da memória cultural da comunidade, mas que
não são utilizados como elementos turísticos no projeto de fortalecimento do turismo cultural
local.
cii
5- CONSIDERAÇÕES FINAIS
Neste trabalho o quarteirão Jorge Amado foi analisado como elemento capaz de
alavancar o desenvolvimento econômico e social do município de Ilhéus, no contexto do
turismo cultural. O estudo mostrou que a estratégia de criação do quarteirão não tem se
configurado numa alternativa de desenvolvimento, pois não foram verificados impactos
relevantes do ponto de vista da sustentabilidade.
A análise quantitativa da demanda mostrou que os elementos culturais de uso turístico
mais visitados, são a Catedral de São Sebastião, o bar Vesúvio, a casa dos Artistas, a casa de
Cultura Jorge Amado, o Teatro Municipal e a Igreja Museu São Jorge. Estes elementos, fazem
parte apenas do roteiro cravo e representam um número baixo de monumentos visitados pelos
turistas, em relação à totalidade do Quarteirão. Nota-se neste aspecto, a sobreposição do
roteiro cravo em relação ao roteiro canela, o que evidencia falhas na estratégia de divulgação
e até mesmo de articulação entre os dois roteiros.
Outra falha na estratégia de divulgação foi verificada, ao observar-se que os turistas
que chegam a Ilhéus e que visitam o Quarteirão, não a visitam exclusivamente por causa
deste, pois o objetivo principal de sua viagem é o recurso natural que a cidade apresenta. Os
roteiros acabam fazendo parte da viagem dos turistas de forma secundária, mostrando que
esse projeto não apresenta níveis de atração tão relevantes.
A pesquisa comprovou que o fluxo de turistas na baixa estação reduz-se praticamente
à metade, o que representa mais uma falha na divulgação, pois o turismo cultural pode ser
ciii
desenvolvido o ano inteiro, aproveitando-se do fato de ser um turismo segmentado, inclusive
como alternativa de redução dos impactos da sazonalidade.
O número de postos de trabalho gerados é considerado baixo (apenas 44), em relação à
sua abrangência, pois estas ocupações estão distribuídas em apenas cinco, dos dezesseis
atrativos. Pode-se dizer portanto, que os elementos restantes possuem capacidade de absorção
da mão-de-obra, o que confirma o potencial do Quarteirão. Porém, a inexistência da oferta de
trabalho verificada atualmente, nestes onze atrativos, mostra um cenário negativo e
impeditivo para o desenvolvimento do turismo cultural na cidade.
É no mínimo contraditória a ausência de pessoas para o atendimento ao turista, uma
vez que a divulgação do Quarteirão Jorge Amado é realizada e as pessoas são convidadas a
visitá-lo. Essa falta de estrutura para o atendimento aos visitantes é problemática, pois a
atividade possui características específicas de prestação de serviço e de bom atendimento aos
turistas.
Não foi verificada também, geração de postos de trabalho nas intermediações do
centro histórico, como por exemplo, de exposição de trabalhos artesanais ou até mesmo de
vendedores de refrigerantes, sucos, lanches, petiscos, dentre outros, confirmando que a
atividade desenvolvida até o momento, não tem experimentado os efeitos multiplicadores que
o turismo pode exercer na economia de uma localidade.
A remuneração praticada no Quarteirão, também tem se mostrado como um entrave
para a atividade, pois, nos poucos postos de trabalho ofertados, a remuneração varia entre 1 e
2 salários mínimos, não sendo considerada atraente para o desenvolvimento digno da
atividade. A pesquisa mostrou que os entrevistados a consideram baixa, uma vez que para sua
maioria, esta é a principal fonte de renda das famílias, as quais possuem em média dois filhos.
civ
Torna-se importante destacar que, a maioria das ocupações caracteriza-se por serem
fixas, apesar da sazonalidade inerente à atividade, mas poucos possuem carteira de trabalho
assinada, estando em condições irregulares quanto às leis de trabalho.
A relação comunidade/Quarteirão é praticamente inexistente, pois, a pesquisa apontou
um significativo desconhecimento da oferta de atrativos do Quarteirão e conseqüentemente
sobre seu potencial turístico. A população conhece em média somente três, dos dezesseis
atrativos culturais, o que gera um fraco envolvimento e interesse da comunidade com aspectos
relevantes da cultura local e conseqüentemente do turismo.
A maioria das pessoas desconhece a existência e o significado da divisão do
Quarteirão em roteiros, não sabem o que eles significam, não sabem quais monumentos os
compõem. Quanto à representatividade histórica desses elementos para o município, não se
observou relação de identidade entre a comunidade local e os elementos dos roteiros, pois,
estes foram lembrados pela localização geográfica e pelos romances escritos por Jorge
Amado.
É notório o desconhecimento da população, no que tange à representatividade histórica
de cada atrativo e a sua identificação para o fortalecimento da identidade local, pois a
comunidade não consegue perceber algo que se identifique com sua vida, à vida de seus
parentes, e nem demonstra conhecimento da importância daqueles monumentos, para a
reconstrução da história do município no presente.
Esta constatação, justifica a aceitação pela comunidade dessa estratégia de criação do
Quarteirão, para geração apenas de emprego e renda e não para a fixação da cultura local, pois
a visitação dos moradores aos monumentos é mínima. Essa estratégia de turismo, não mostra
elementos de sustentabilidade da atividade, o que em longo prazo tende a provocar o declínio
do turismo cultural no município de Ilhéus.
cv
Torna-se evidente portanto, que é inexistente a percepção da comunidade em relação
às unidades do Quarteirão Jorge Amado, demonstrando este, ser um produto artificialmente
criado, cuja formatação atual não encontra identificação junto à comunidade local. O que se
encontra são prédios históricos de grande relevância ou elementos “criados” em homenagem
ao escritor, não havendo dessa forma uma correlação entre eles.
A falta de planejamento dos setores público e privado de Ilhéus, evidencia-se por não
haver uma sensibilização e uma educação, voltada para a atividade cultural, tendo por
conseqüência, a ausência do envolvimento das pessoas do núcleo receptor, no processo de
gestão turística. Essa realidade difere totalmente daquela encontrada em Redonda, localidade
do município de Icapuí, litoral leste do estado do Ceará, onde a comunidade é consciente e
politizada, e as decisões são tomadas de forma coletiva e popular (BEZERRA, 2003).
Portanto, a análise desenvolvida sobre o turismo realizado no Quarteirão Jorge Amado
em Ilhéus, conduziu a conclusão, partindo-se dos depoimentos recolhidos, de que o conjunto
dos atrativos que o compõem, apresenta elementos que poderiam potencializar o
desenvolvimento econômico e sóciocultural do município. Porém, a cidade não tem
conseguido fazer daquele espaço uma alternativa para o desenvolvimento de um turismo
cultural sustentável.
É perceptível a minimização da cultura ilheense, resultantes das observações empíricas
junto aos moradores e funcionários, resumindo-a ao período do cacau e principalmente a
expressão “Jorge-Amadiana”, a ponto de esta última, ser a mais conhecida pelos moradores
como responsável pela representação da história de Ilhéus, mostrando que a romantização
desta cultura com traços ficcionistas, vem se sobrepondo a história do município desde
Capitania de São Jorge dos Ilhéus até ser o primeiro produtor de cacau do mundo.
Contudo, destaca-se a importância dessa iniciativa de criação do projeto, que tem
como pressuposto valorizar a cultura e a história da cidade, almejando o crescimento de seu
cvi
fluxo turístico. Mas é importante alertar principalmente, como comprovou a pesquisa, para a
necessidade de um “re”planejamento enfocando a operacionalização dos elementos
identificados, excluindo quando possível, todos aqueles que não se mostram adequados, como
por exemplo a Casa do Coronel Tonico Bastos, bem como uma “re”estruturação do
Quarteirão, trabalhando junto aos moradores e analisando a inclusão/exclusão de elementos
por eles apontados, fazendo com que a comunidade seja parceira do projeto. Pois, planejar
junto com a participação de representantes da comunidade ainda é o caminho mais curto para
uma relação harmoniosa entre a cultura e o turismo.
Dessa forma, o interesse dos moradores em conhecer os monumentos será cada vez
maior, pois a exclusão verificada atualmente, pode ser a causadora da falta de entusiasmo e
conhecimento da história e do potencial turístico do lugar, remetendo o patrimônio histórico a
uma simples mercadoria de âmbito comercial, o que não é desejável do ponto de vista de um
turismo plenamente sustentável em seus aspectos econômicos e sociais.
Essa pesquisa mostrou, que os impactos gerados pela implantação do Quarteirão Jorge
amado, não tem se mostrado até o momento relevantes, no contexto do desenvolvimento
turístico do município e não tem tomado proporções perceptíveis do ponto de vista de
melhoria da comunidade em sua totalidade.
cvii
REFERÊNCIAS
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cx
ANEXO
cxi
LISTA DE BAIRROS DO MUNICÍPIO DE ILHÉUS-BA.
1. CENTRO 2. TERESÓPOLIS 3. ALTO DA BOA VISTA 4. CIDADE NOVA 5. CONQUISTA
6. TAPERA 7. ALTO DA UBERLÂNDIA 8. MALHADO 9. BASÍLIO II 10. BASÍLIO I 11. ALTO DA ESPERANÇA 12. SOLEDADE 13. ALTO DO AMPARO 14. VILA NAZARÉ 15. NOVA ESPERANÇA 16. TEOTÔNIO VILELA 17. BARRA 18. JARDIM SAVÓIA 19. DISTRITO INDUSTRIAL 20. VILA DE SÃO MIGUEL 21. LOTEAMENTO BARRA NORTE 22. IGUAPE 23. LOTEAMENTO SÃO DOMINGOS 24. JARDIM PONTAL 25. SAPETINGA 26. PONTAL 27. NOVA BRASÍLIA 28. JARDIM ATLÂNTICO 29. NELSON COSTA 30. SÃO FRANCISCO 31. URBIS 32. VIVENDAS DO ATLÂNTICO 33. ILHÉUS II 34. NOSSA SENHORA DA VITÓRIA 35. MORADAS DO BOSQUE 36. BANCO DA VITÓRIA 37. VILA CACHOEIRA 38. SALOBRINHO 39. EXPANSÃO URBANA 40. EXPANSÃO URBANA NORTE 41. EXPANSÃO URBANA SUL
cxii
APÊNDICES
cxiii
APÊNDICE A QUESTIONÁRIO Nº 1- (Administrador de cada atrativo do Quarteirão Jorge Amado). 1- Quantos visitantes vocês recebem por mês neste local? Alta estação ( ) Baixa estação ( ) 1.2- Existe registro desses números de visitas? Sim ( ) Não ( ) 2- Quais os meses que possuem o maior número de visitantes? ___________________________________________________________________________ 3- Quantas pessoas estão empregadas neste local para atender a atividade turística? E quais as funções desempenhadas?______ _____________________,_____________________,_____________________,___________ ___________________,___________________. 4- De que forma é realizada a remuneração desse pessoal pelos serviços prestados? Caso marque a opção outros, especifique. Salário ( ) gratificação ( ) não é remunerado ( ) outros ( ) 5- Qual o total da remuneração mensal que cada empregado recebe neste local para atender a atividade turístico- cultural? Menos de 1 S/M ( ) 1 a 2 S/M ( ) 2 a 3 S/M ( ) 3 a 4 S/M ( ) acima de 4 S/M ( ) 6- Os empregados possuem carteiras de trabalho assinadas? Respondeu-se não, justifique. Sim ( ) Não ( ) ___________________________________________________________________________ 7- O pagamento desta remuneração é realizada pelos Governos Municipal, Estadual ou outros órgãos competentes? Respondeu-se outros órgãos, especifique. Governo Municipal ( ) Governo Estadual ( ) outros órgãos competentes ( )
cxiv
8- É cobrada alguma espécie de taxa para que se possa conhecer este local? Qual o valor?___________ Sim ( ) Não ( ) 9- Se respondeu sim, o que é feito com o total arrecadado? 10- Já foi ou está sendo desenvolvido algum tipo de projeto financiado neste local? Qual?Nesses projetos existem alguma previsão orçamentária ou metas a serem alcançadas a nível econômico, social e cultural? Sim ( ) Não ( ) ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ 11- Quais os horários de funcionamento deste local? Baixa estação: Segunda à sexta _____________________ Sábado_____________________________ Domingo___________________________ Alta estação: Segunda à sexta _____________________ Sábado_____________________________ Domingo___________________________
cxv
APÊNDICE B QUESTIONÁRIO Nº 2- (Empregados de cada atrativo do Quarteirão Jorge Amado).
PERFIL SÓCIO-ECONÔMICO DO PESSOAL EMPREGADO NA ATIVIDADE
TURÍSTICO-CULTURAL DO MUNICÍPIO DE ILHÉUS-BA 1- Sexo: Masculino ( ) Feminino ( ) 2- Idade: ( ) 3- Estado civil: Solteiro (a) ( ) Casado (a) ( ) 4-Tem filhos? Sim ( ) Não ( ) Se respondeu sim, quantos? __________ 5- Nível de escolaridade: 1º grau incompleto ( ) 1º grau completo ( ) 2º grau incompleto ( ) 2º grau completo ( ) Nível superior incompleto ( ) Nível superior completo ( ) 6- Qual função você desempenha neste local? ____________________________________________ 7- Quantas horas diárias você trabalha neste local? ____________________________________________ 8- Este emprego é fixo ou temporário? Fixo ( ) temporário ( ) Se responder temporário, é a primeira vez que está empregado neste local? Sim ( ) Não ( ) Se respondeu fixo, há quanto tempo trabalha aqui? ___________________________________________
cxvi
9- Você possui carteira de trabalho assinada? Sim ( ) Não ( ) 10- De que forma você é remunerado (a) pelos serviços prestados? Caso marque a opção outros, especifique. Salário ( ) gratificação ( ) não é remunerado ( ) outros ( ) ___________________________ 11- Qual o total da remuneração mensal que você recebe neste local para atender a atividade turístico- cultural? Menos de 1 S/M ( ) 1 a 2 S/M ( ) 2 a 3 S/M ( ) 3 a 4 S/M ( ) acima de 4 S/M ( ) 12- Você possui outra ocupação além desta? Sim ( ) Não ( ) Se respondeu sim, qual? _________________________________________________________________ 13- Qual sua renda familiar mensal? Menos de 1 S/M ( ) 1 a 2 S/M ( ) 2 a 3 S/M ( ) 3 a 4 S/M ( ) acima de 4 S/M ( ) 14- Você reside em qual cidade? Ilhéus ( ) Outras localidades ( ) Se respondeu outras localidades, qual? _____________________________________________________ 15- Precisa pegar transporte para chegar neste local? Sim ( ) Não ( ) Se responder sim, qual é o gasto médio mensal com transporte? _________________________________ 16- Você está satisfeito(a) com a função que desempenha? Ou seja, você gosta do que faz? Justifique: Sim ( ) Não ( ) ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ 17- Este emprego acrescenta algo de importante em sua vida? Você aprendeu ou aprende alguma coisa com ele? Justifique:
cxvii
___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ 18- Este emprego lhe dá segurança/ estabilidade financeira? Justifique:
Sim ( ) Não ( ) ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ 19- Na sua opinião, qual a importância do Quarteirão Jorge Amado, dentro do contexto turístico do município? ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________
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APÊNDICE C QUESTIONÁRIO Nº 3- (Amostra dos moradores do município de Ilhéus- zona urbana) 1- Sexo: ( ) Masculino ( ) Feminino 2-Idade?_______ 3-Nível de escolaridade? 1º grau incompleto ( ) 1º grau completo ( ) 2º grau incompleto ( ) 2º grau completo ( ) Nível superior incompleto ( ) Nível superior completo ( ) 4- O que você entende por atrativo cultural? 5- Você tem conhecimento da existência do Quarteirão Jorge Amado aqui em Ilhéus? Sim ( ) Não ( ) 5.1 Quais atrativos culturais do Quarteirão Jorge Amado você conhece? ( )Catedral de S. Sebastião ( )Vesúvio ( )Teatro Municipal ( )Casa de Jorge Amado ( )Casa dos Artistas ( )Associação C. de Ilhéus ( )Estátua de Sapho ( )Palácio Paranaguá ( )Igreja museu S. Jorge ( )Palacete Misael Tavares ( )Casa de Tonico Bastos ( )Antigo porto ( )Bataclan ( )Cristo Redentor ( )Outeiro de S. Sebastião ( ) Ilhéus Hotel 6- Quais você já visitou? ( )Catedral de S. Sebastião ( )Vesúvio ( )Teatro Municipal ( )Casa de Jorge Amado ( )Casa dos Artistas ( )Associação C. de Ilhéus ( )Estátua de Sapho ( )Palácio Paranaguá ( )Igreja museu S. Jorge ( )Palacete Misael Tavares ( )Casa de Tonico Bastos ( )Antigo porto ( )Bataclan ( )Cristo Redentor ( )Outeiro de S. Sebastião ( ) Ilhéus Hotel 7- Você tem conhecimento de que o Quarteirão Jorge Amado é dividido em dois roteiros, cravo e canela? Sim ( ) Não ( ) 7.1 Você concorda com a divisão que foi feita dos atrativos? Sim ( ) Não ( ) Porque? ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________
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8- Cite três atrativos que compõem os roteiros: Cravo:_________________________,________________________,____________________ Canela:________________________,_______________________,_____________________ 9- Quais atrativos que fazem parte do Quarteirão Jorge Amado, você considera que realmente representa a história do município de Ilhéus? Porque? ( )Catedral de S. Sebastião ( )Vesúvio ( )Teatro Municipal ( )Casa de Jorge Amado ( )Casa dos Artistas ( )Associação C. de Ilhéus ( )Estátua de Sapho ( )Palácio Paranaguá ( )Igreja museu S. Jorge ( )Palacete Misael Tavares ( )Casa de Tonico Bastos ( )Antigo porto ( )Bataclan ( )Cristo Redentor ( )Outeiro de S. Sebastião ( ) Ilhéus Hotel ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ 10- Você acha que Jorge Amado representa a cultura do município e por isso se justifica a criação do Quarteirão, ou existem outros personagens da história local, que deveriam receber maior destaque para ser trabalhado na proposta de turismo cultural que Ilhéus apresenta? Se existem outros, cite-os. ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ 11- Você concorda com a decisão do poder público em aproveitar a cultura local através do turismo cultural como uma alternativa de geração de emprego e renda para o município de Ilhéus? Sim ( ) Não( ) Porque? ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ 12- É importante para a cidade o desenvolvimento da atividade turístico-cultural? Porquê? Sim ( ) Não ( ) _________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
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APÊNDICE D HISTÓRIA ORAL - Pergunta 1. Qual o seu nome?
2. Qual a sua idade?
3. Há quanto tempo reside em Ilhéus?
4. Quais os lugares da cidade de Ilhéus lembram passagens importantes da sua vida?