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rindes fofos, promoções tentadoras e embalagens mirabolantes. A indústria alimentícia aposta em estratégias de gente grande para fisgar os pequenos, e vale tudo para conquistar as crianças que coman- dam o carrinho na hora das compras. O público infantil é uma fatia do mercado consumidor que cresce e tem cada vez mais poder de decisão na hora da compra. “Ir ao mercado com minha filha é uma roubada. Sempre gasto muito mais. A Isabel quer levar todas as novidades e é fissurada em brindes”, comenta a jornalista Larissa Moraes, de 33 anos. Isabel ajuda a engordar as estatísticas de mais de 55 milhões de crianças que influenciam direta- mente na escolha dos pais. A fatia de mercado acima de cinco anos é considerada a mais influente na hora da compra. Atingir esse público tornou-se meta da indústria de alimentos desde os anos 1950. A diferença é que atualmente crianças e adoles- centes têm acesso à informação pela TV e Internet sobre os lançamentos e promoções. “As crianças são altamente influenciáveis pela comunicação. Na hora da compra, que acontece sempre em lugares públicos, os pais preferem ceder e satisfazer as vontades dos filhos a enfrentar pro- blemas como choros e gritarias”, explica a psi- canalista infanto-juvenil Suely Carvalho Alves. Cena que já foi protagonizada por Aline, de 6 anos, que chegou a colocar o hambúrguer em segundo plano por uma Hello Kitty. “Fazia coleção, mas era meu pai que comia o McLanche Feliz e eu só ficava com a boneca. Ele chegou até a engordar, minha mãe disse”, diverte-se, enquanto o pai não ri da piada. O que atrai as crianças na hora da com- pra não é o mesmo que atrai os pais. “Os pequenos gostam de personagens e brincadeiras. Já os pais optam por marcas de confiança, qualidade e pre- ferem produtos que têm o apelo pela nutrição e saúde”, complementa a psicanalista. Eles se sentem cansados com a pressão exercida pelos filhos a comprar a comida apenas para ter o brinde: “A vida das mães virou um inferno depois da p romoção da tatuagem da Elma Chips. Minha filha já estava tatuada e abria todos os pacotes sem comer nada.”, diz a jornalista. Porém, Larissa, que estimu- la a alimentação saudável, afirma que no mercado sua filha também pede para comprar couve-flor. Janeiro/Junho 2006 30 ALÍPIO LOYOLA, ALVARO GRIBEL, JULIA RIBEIRO E TATIANA HELLMAN Mamãe, eu quero ! Isabel Mendes, de 3 anos, adora um brinde, mas pede couve-flor no supermercado O segmento criança como mercado consumidor na indústria alimentícia Júlia Ribeiro

Mamãe, eu queropuc-riodigital.com.puc-rio.br/media/9 - mamãe eu quero.pdf · De acordo com pesquisa das pediatras ameri-canas Theresa Nicklas e Jennifer Fisher, do Children`s Nutricion

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rindes fofos, promoções tentadoras eembalagens mirabolantes. A indústriaalimentícia aposta em estratégias degente grande para fisgar os pequenos, e

vale tudo para conquistar as crianças que coman-dam o carrinho na hora das compras. O públicoinfantil é uma fatia do mercado consumidor quecresce e tem cada vez mais poder de decisão nahora da compra. “Ir ao mercado com minha filha éuma roubada. Sempre gasto muito mais. A Isabelquer levar todas as novidades e é fissurada embrindes”, comenta a jornalista Larissa Moraes, de33 anos.

Isabel ajuda a engordar as estatísticas de mais de55 milhões de crianças que influenciam direta-mente na escolha dos pais. A fatia de mercadoacima de cinco anos é considerada a mais influentena hora da compra. Atingir esse público tornou-semeta da indústria de alimentos desde os anos 1950.A diferença é que atualmente crianças e adoles-centes têm acesso à informação pela TV e Internetsobre os lançamentos e promoções.

“As crianças são altamente influenciáveis pelacomunicação. Na hora da compra, que acontecesempre em lugares públicos, os pais preferem cedere satisfazer as vontades dos filhos a enfrentar pro-blemas como choros e gritarias”, explica a psi-canalista infanto-juvenil Suely Carvalho Alves.

Cena que já foi protagonizada por Aline, de 6anos, que chegou a colocar o hambúrguer emsegundo plano por uma Hello Kitty. “Fazia coleção,mas era meu pai que comia o McLanche Feliz e eusó ficava com a boneca. Ele chegou até a engordar,minha mãe disse”, diverte-se, enquanto o pai não rida piada. O que atrai as crianças na hora da com-pra não é o mesmo que atrai os pais. “Os pequenos

gostam de personagens e brincadeiras. Já os paisoptam por marcas de confiança, qualidade e pre-ferem produtos que têm o apelo pela nutrição esaúde”, complementa a psicanalista.

Eles se sentem cansados com a pressão exerc i d apelos filhos a comprar a comida apenas para ter obrinde: “A vida das mães virou um inferno depois dap romoção da tatuagem da Elma Chips. Minha filhajá estava tatuada e abria todos os pacotes sem comernada.”, diz a jornalista. Porém, Larissa, que estimu-la a alimentação saudável, afirma que no merc a d osua filha também pede para comprar couve-flor.

Janeiro/Junho 200630

ALÍPIO LOYOLA, ALVARO GRIBEL, JULIA RIBEIRO E TATIANA HELLMAN

Mamãe, eu quero !

Isabel Mendes, de 3 anos, adora um brinde, mas pedecouve-flor no supermercado

O segmento criança como mercado consumidorna indústria alimentícia

Júlia Ribeiro

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De acordo com pesquisa das pediatras ameri-canas Theresa Nicklas e Jennifer Fisher, doChildren`s Nutricion Research Center, no entanto, apreferência das crianças pelos alimentos dependediretamente da influência dos pais. Pelo estudo, amaioria das crianças que gostam de f a s t - f o o daprenderam a associar estes alimentos com ambi-entes alegres, já que os sanduíches estiveram sem-pre presentes nas saídas para um passeio, cinemaou uma festa.

“É importante observar que muitas criançasgostam de espinafre influenciadas pelo perso-nagem do marinheiro Popeye. Elas associam o ali-mento a algum tipo de sentimento, de subjetivi-dade implícita. Os pais precisam ser criativos paraconseguir alimentar bem seus filhos”, explicaS u e l y.

Mãe de João Pedro, de três anos, a dona-de-casaAna Lucia do Vale não enfrenta problemas emcasa. Ela encontrou na moderação a fórmula desucesso para agradar aos caprichos do filho e aindamanter uma alimentação saudável. “Ele come detudo: saladas, legumes, frutas, o que estiver namesa. Mas quando tem vontade de comer umaguloseima, eu também não nego, porque acho queé pior”, contou.

Bons de boca, mas com a mão na massaDe olho no mercado infanto-

juvenil, a professora de culináriaGracia Wenna começou a daraulas também para crianças.“Há 20 anos, tive a idéia de mon-tar um curso depois que meusnetos me pediram para aprendera cozinhar”, explicou dona Gracia.

No curso, as crianças aprendem a fazer váriostipos de guloseimas, como biscoitos amanteigados,pizzas, brigadeiros e pudim. “É preciso ter cuidado.Não deixo as crianças chegarem perto do forno.Mas quando podem, elas adoram colocar a mão namassa. Literalmente”, brinca Dona Gracia, queministra os cursos sempre nas férias escolares, econta com alunos de 7 a 12 anos. “As aulas são umsucesso. As crianças adoram porque no fim podemcomer o que prepararam e também porque se sen-tem como adultas”, comemora.

Brindes para estimular as vendas sãoproibidos

Depois de ouvir reclamações de consumidorescansados com a pressão exercida pelos filhos a

comprar a comida apenas parater o brinde, o Ministério Públicode São Paulo conseguiu proibir avenda do McLanche Feliz combrinquedos e ovos de páscoacomo brinde.

A advogada Carolina Duarte,36 anos, acredita que a ação foi válida porque ag a rotada é muito influenciada pelo apelo dosbrindes. Para ela, a batalha dos pais contra o mar-keting voltado para crianças é desleal “Acho impor-tante ações deste tipo. Muitas vezes, os pais ficammuito sozinhos na lutas contra as campanhas. Ossupermercados abusam dos coloridos e usam todosos tipos de estratégias para fisgar as crianças.Precisamos de ajuda”, afirma. Para a advogada oproblema da alimentação também está na escola:“É preciso rever o que as crianças comem fora decasa, longe dos pais”.

Quer um pedacinho? 31

Em clima de Copa, a criançada abusa das guloseimaspara desespero dos pais

A presença de personagensem embalagens

aumenta até 50% as vendas dos produtos

Júlia Ribeiro

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De acordo com o presidente da AssociaçãoBrasileira de Embalagens (ABRE) Fábio Mestriner, apresença de personagens em embalagens aumentade 30% a 50% as vendas dos produtos. “Esse nú-mero depende da influência da personagem esco-lhida”, diz. A escolha varia conforme o momentodo lançamento e os desenhos que são destaque na

época. Como exemplo, Mestriner cita os produtoscom a ilustração do Pokémon. Há alguns anos,várias indústrias apostaram no desenho japonêspara incrementar as vendas.

A proibição do prefeito Cesar Maia sobre avenda de guloseimas nas cantinas das escolas, noentanto, causa polêmica. Para a nutricionistaSheila Wowczyk, uma campanha de educação ali-mentar seria a melhor forma de conscientizar paise alunos. “Não dá para radicalizar. Mesmo trazer acomida de casa tem seus problemas. A criança podese sentir discriminada por não poder comer na can-tina como os colegas”, defendeu.

É o que também pensa o presidente do Sindicatodos Estabelecimentos de Ensino do Rio (SinepeRio),José Antônio Teixeira, que é contra a proibição.“Proibir não adianta. O aluno traz de casa e não hácomo impedir”, afirmou.

Inspiração para mães, diretoras de escola enutricionistas, o jovem chef inglês Jamie Oliver é oapresentador do programa A cantina escolar deJamie, do canal GNT. Trata-se de uma cartilha tele-visiva sobre alimentação saudável nas escolas. Ochef ensina a preparar deliciosos pratos e mostra àscrianças das escolas britânicas que comida saudá-vel pode ser gostosa. São pratos coloridos, frangoscom pouca gordura e cheios de sabor.

Além de ensinar tudo o que a molecada devesaber sobre o assunto, ele ainda se encarrega de co-zinhar 20 mil refeições escolares por dia. Se con-seguir mudar os maus hábitos dos estudantes ingle-

Fragmentos da infância e apré-adolescência habitam asprofundezas mais remotas damemória. Como num video-clipe, uma fusão de imagens,sabores e sensações descone-xos. Faça o teste abaixo e con-fira como anda sua memóriasobre guloseimas!

Teste seus c o n h e c i m e n t o s

Renata Gusmão,de 8 anos, fez questão da festa temáticae muitos doces na mesa

Júlia Ribeiro

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ses, ele vai criar um modelo que poderá ser implan-tado nas outras escolas da Grã-Bretanha. Para ele,não vai ser fácil abolir os gord u rosos quitutes dacantina e banir, de uma vez por todas, o fast fooddas cantinas escolares. “Deveria haver educação ali-mentar nas escolas, além de algumas noções de co-zinha, como matéria extracurr i c u l a r. Apenas para

que as crianças possam cozinhar para si próprias ec o m p reender que o jeito que elas se alimentami n t e rf e re no jeito que crescem e vivem”, comentouJamie Oliver em entrevista para a revista GNT PraL e r. O s i t e w w w. f e e d m e b e t t e r.com mostra como aspessoas podem obter mais informações para mudaros hábitos alimentares em suas escolas.

Tire o Ipods, desligue laptop, celular com câmera,saia do MSN e pare de checar e-mails. A viagemnostálgica terá um sabor doce. Quem lembra dosclássicos Balas Van Melle, Cigarrinho de Chocolate,Bollets (pirulito que vinha com chiclete dentro),balas Soft, Grapete, Dip n’ Lik, Balas Juquinha,Pirulito Zorro, Supra Sumo; Bolachas Crek Crek ePirocóptero. A garotada que está no colégio agora,provavelmente nunca ouviu falar dessas coisas.Reconheça. Você já pode falar “isso é da minhaépoca...”.

Muitas dessas guloseimas da década de 1980podem ser encontradas. Manuel Lopes, 65 anos, umdos sócios da Francesco’s Bomboniere, emIpanema, no Rio de Janeiro, faz questão de garim-par produtos dessa época. “É uma verdadeira caçaao tesouro, muitas fábricas já fecharam, mas eumantenho a tradição. Aquela bala da boneca rosanão encontro mais. É uma pena”, diz. Manuelacrescentou que essas “antiguidades gastronômi-cas”, apesar de vendere mmenos, têm público fiel.

Nostálgicos e gulosos devárias faixas etárias sed i v e rtem na loja. A estudanteJuliana Santos, de 20 anos,extasiada diante das pra-teleiras exclama: “Isso aqui éum museu, mas com tudo àvenda! Vou voltar e trazer mi-nhas amigas!”, exclamou coma sacola repleta de Dip n´Lik.O professor de História Mar-cos Lins, de 34 anos, acre d i t aque o ritual de comprar gulo-seimas de tempos atrás é umre t o rno à infância. “Vo ufuçando e a cada mês encon-t ro uma coisa nova, aliás, tão

velha que já estava perdida na minha memória”.Porém, ele ficou desiludido ao saber que os cigar-rinhos de chocolate da Pan estavam fora do merc a-do. “Eles foram proibidos porque diziam queestimulava o fumo. Hoje virou Chocolápis e nãovende mais. O charme era brincar que estavafumando”, diverte-se Francesco, que não desiste deprocurar raridades para alegria de seus clientes. Naloja pode-se comprar a varejo, mas quem desejarevirar o passado e comprar guloseimas no ataca-do pode se dirigir ao Mercadão Rio Doces, noCentro.

Onde encontrar? Ipanema - Francesco’s Bomboniere. Rua Vinícius deMoraes, 128B – tel.: 2522 5111

Centro - Mercadão Rio Doces Ltda. Rua BuenosAires, 311 – tel.: 3684 6215

Quer um pedacinho? 33

Guloseimas da nossa épocaS o rria! Seu passado está em outra década

Você sabia?• Se todos os cachorros quentes consumidos pelos americanos em 1 anofossem enfileirados, poderia se fazer uma “ponte” que daria duas vezes adistância da terra até a lua.• Um terço de todo sorvete vendido no mundo é de baunilha.• Quando você for ao Mc Donald’s, preste atenção na maneira com que osatendentes colocam a comida na sua bandeja: o “M” está sempre viradopara o seu lado.• O forno de microondas surgiu quando um pesquisador que estudava asmicroondas percebeu que elas haviam derretido o chocolate que estava emseu bolso.• Depois que estoura, um milho de pipoca pode aumentar até 4 vezes oseu tamanho.• As pastilhas elásticas, ou chicletes, são tidas como algo tipicamentenorte-americano devido a sua popularização nos Estados Unidos. Noentanto foram copiadas dos índios da Guatemala, que mascavam a resinaextraída de uma árvore, o chicle, para estimular a produção de saliva eevitar que a boca ficasse seca durante longas caminhadas.