64
UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DE PERNAMBUCO PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO PRPPG PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM BOTÂNICA PPGB VARIAÇÃO INTRAESPECÍFICA, CONHECIMENTO E MANEJO LOCAL DE MANDIOCA, Manihot esculenta Crantz, NO SEMIÁRIDO DE PERNAMBUCO, NORDESTE DO BRASIL. RECIFE PE 2018

MANDIOCA, Manihot esculenta Crantz, NO SEMIÁRIDO DE ... · Carlos Castaneda - Viaje a Ixtlán . ix LISTA DE FIGURAS INTRODUÇÃO GERAL E REVISÃO DE LITERATURA Fig. 1. Partes do

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UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DE PERNAMBUCO

PROacute-REITORIA DE PESQUISA E POacuteS-GRADUACcedilAtildeO ndash PRPPG

PROGRAMA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO EM BOTAcircNICA ndash PPGB

VARIACcedilAtildeO INTRAESPECIacuteFICA CONHECIMENTO E MANEJO LOCAL DE

MANDIOCA Manihot esculenta Crantz NO SEMIAacuteRIDO DE PERNAMBUCO

NORDESTE DO BRASIL

RECIFE ndash PE

2018

ii

MIRELA NATAacuteLIA SANTOS

VARIACcedilAtildeO INTRAESPECIacuteFICA CONHECIMENTO E MANEJO LOCAL DE

MANDIOCA Manihot esculenta Crantz NO SEMIAacuteRIDO DE PERNAMBUCO

NORDESTE DO BRASIL

Dissertaccedilatildeo apresentada ao Programa de

Poacutes-Graduaccedilatildeo em Botacircnica ndash PPGB da

Universidade Federal Rural de Pernambuco como

parte dos requisitos para a obtenccedilatildeo do tiacutetulo de

Mestre em Botacircnica

Orientador

Dr Ulysses Paulino de Albuquerque

(Universidade Federal de Pernambuco)

Coorientador

Dr Reginaldo de Carvalho

(Universidade Federal Rural de Pernambuco)

RECIFE ndash PE

2018

iii Dados Internacionais de Catalogaccedilatildeo na Publicaccedilatildeo (CIP) Sistema Integrado de Bibliotecas da UFRPE Biblioteca Central Recife-PE Brasil

S237v Santos Mirela Nataacutelia Variaccedilatildeo intraespeciacutefica conhecimento e manejo local de mandioca Manihot esculenta Crantz no semiaacuterido de Pernambuco Nordeste do Brasil Mirela Nataacutelia Santos ndash Recife 2018 63 f il Orientador(a) Ulysses Paulino de Albuquerque Coorientador(a) Reginaldo de Carvalho Dissertaccedilatildeo (Mestrado) ndash Universidade Federal Rural de Pernambuco Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Botacircnica Recife BR-PE 2018 Inclui referecircncias 1 Agricultura tradicional 2 Agrobiodiversidade 3 Etnobiologia 4 Plantas Alimentiacutecias I Albuquerque Ulysses Paulino de orient II Carvalho Reginaldo de coorient III Tiacutetulo CDD 58115

iv

VARIACcedilAtildeO INTRAESPECIacuteFICA CONHECIMENTO E MANEJO TRADICIONAL

DE MANDIOCA Manihot esculenta Crantz NO SEMIAacuteRIDO DE PERNAMBUCO

NORDESTE DO BRASIL

MIRELA NATAacuteLIA SANTOS

Dissertaccedilatildeo apresentada ao Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo em Botacircnica da Universidade

Federal Rural de Pernambuco desenvolvido dentro da Linha de Pesquisa de

Etnobotacircnica e Botacircnica Aplicada como parte das exigecircncias para a obtenccedilatildeo do tiacutetulo

de Mestre em Botacircnica

Aprovada pela Banca Examinadora em ______2018

_____________________________________________

Dr Ulysses Paulino de Albuquerquendash Presidente

(Universidade Federal de Pernambuco)

_____________________________________________

Dra Andrecircsa Suana Argemiro Alves- Titular

(Universidade Federal Rural de Pernambuco)

_____________________________________________

Dra Ivanilda Soares Feitosa- Titular

(Universidade Federal Rural de Pernambuco)

________________________________________________

Dra Elcida de Lima Arauacutejo - Suplente

(Universidade Federal Rural de Pernambuco)

_____________________________________________

Dr Marcelo Alves Ramos - Suplente

(Universidade de Pernambuco)

Recife 2018

v

Aos meus pais Maacutercia Santos e Maacutezio Santos

e aos agricultores envolvidos na pesquisa

Dedico

vi

AGRADECIMENTOS

Ao meu orientador Dr Ulysses Paulino de Albuquerque de quem recebi o acolhimento

a orientaccedilatildeo e por quem experimentei um sentimento de admiraccedilatildeo Obrigada pela paciecircncia

oportunidades e por todo o conhecimento transmitido Agradeccedilo tambeacutem ao meu coorientador

Reginaldo de Carvalho que me abriu as portas para a realizaccedilatildeo do mestrado

A minha famiacutelia minha matildee Maacutercia meu pai Maacutezio e meu irmatildeo Maacutercio pois sempre

estiveram ao meu lado me incentivando e dando todo o suporte emocional Agradeccedilo pela

doaccedilatildeo e esforccedilos para que eu consiga alcanccedilar meus objetivos Pai obrigada por ser esse

exemplo de honestidade forccedila de vontade e dedicaccedilatildeo Agradeccedilo pela paciecircncia compreensatildeo

e sacrifiacutecios de longos trajetos que tivemos que enfrentar durante nossas idas e vindas para a

Universidade Matildee obrigada pela sua feacute e por me ensinar tanto com sua natureza humilde e

bondosa

Meus mais sinceros e profundos agradecimentos a todos os agricultores e agricultoras

que participaram desta pesquisa pela acolhida e confianccedila Obrigada por generosamente me

deixarem entrar em suas casas nos seus roccedilados na intimidade suas vidas e por compartilharem

comigo um pouco de seus conhecimentos dificuldades e principalmente ESPERANCcedilAS

Especialmente a Arlindo Ferreira Edgar Antocircnio Joseacute Sebastiatildeo e Juvenal Oliveira que satildeo

verdadeiros exemplos de humildade e solidariedade A Janete Alves e seu esposo Dida que me

hospedam em sua casa e me ajudaram de vaacuterias formas durante as minhas viagens de campo

Foi uma experiecircncia memoraacutevel e cada minuto embora difiacutecil foi fundamental para minha

formaccedilatildeo pessoal e profissional

A Viniacutecius Barbosa pela cumplicidade compreensatildeo e principalmente pela paciecircncia

Agradeccedilo por Deus ter me dado a oportunidade de compartilhar momentos inesqueciacuteceis ao

lado de uma pessoa tatildeo incriacutevel

Agradeccedilo tambeacutem agraves minhas amigas Amanda Eloi Jeacutessica Arruda Rayana Lima

Rayanne Gusmatildeo pela amizade de longas datas por todo apoio e compreensatildeo quando estive

ausente em nossos encontros Ao meu amigo Bartolomeu Neto pela ajuda com o

desenvolvimento do mapa das aacutereas em estudo

Aos meus companheiros de trabalho e parcerias do Laboratoacuterio de Ecologia e Evoluccedilatildeo

de Sistemas Socioecoloacutegicos (LEA - UFPE) que estiveram comigo durante este periacuteodo de

crescimento pessoal e profissional Em especial a Andreacute Borba Ivanilda Soares Juliane Hora

Nylber Silva Regina Ceacutelia Risoneide Henriques e Roberta Caetano

vii

A Rafael Zaacuterate agradeccedilo por toda disposiccedilatildeo dedicaccedilatildeo e aprendizado adquirido

Obrigada pelas horas de discussotildees sobre os temas do trabalho pelas ajudas em campo com as

anaacutelises estatiacutesticas e pela paciecircncia

Por fim agradeccedilo ao Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo em Botacircnica da Universidade Federal

Rural de Pernambuco (UFRPE) pela oportunidade de realizaccedilatildeo do mestrado e ao Conselho

Nacional de Desenvolvimento Cientifico e Tecnoloacutegico (CNPq) pela concessatildeo da bolsa de

incentivo a pesquisa

viii

ldquoEl mundo que nos rodea es un misterio ndash dijo-

Y los hombres no son mejores que ninguna otra cosardquo

Carlos Castaneda - Viaje a Ixtlaacuten

ix

LISTA DE FIGURAS

INTRODUCcedilAtildeO GERAL E REVISAtildeO DE LITERATURA

Fig 1 Partes do processo de fabricaccedilatildeo de farinha de mandioca Onde a raspagem b e c

processo de trituraccedilatildeo e d peneiramento 52

VARIACcedilAtildeO INTRAESPECIacuteFICA CONHECIMENTO E MANEJO LOCAL DE

MANDIOCA (Manihot esculenta Crantz) NO SEMIAacuteRIDO DE PERNAMBUCO

NORDESTE DO BRASIL

Fig 2 Mapa de localizaccedilatildeo geograacutefica dos Municiacutepios de Altinho e Panelas e das comunidades

estudadas na regiatildeo semiaacuterida do Estado de Pernambuco 53

Fig 3 Processo de fabricaccedilatildeo da farinha de mandioca Apoacutes a colheita as raiacutezes satildeo lavadas

raspadas e trituradas (a) A massa extraiacuteda eacute prensada e coada Ao sair da prensa a massa

peneirada (b) e em seguida eacute torrada (c) em fornos artesanais ou parcialmente mecanizados

54

Fig 4 a Sede da Comunidade do Caratildeo b Agricultor transportando a palma forrageira que eacute

um exemplo de estrateacutegia adaptativa para suprir a falta de alimento dos animais devido agrave seca

c Feira-livre que acontece na comunidade a cada quinze dias 55

Fig 5 a O agricultor nos explicava as mudanccedilas que vem fazendo em seus roccedilados para se

adaptar aos longos periacuteodos de seca b Quando o agricultor nos mostrava as diferentes

etnovariedades que mantinha em sua roccedila c Durante a pesquisa nos explicavam como era

feita a colheita da mandioca e como selecionavam as manivas para o proacuteximo plantio 55

Fig 6 Possiacuteveis estruturas de rede que descrevem as interaccedilotildees dos agricultores (losango)

ligados as etnovariedades (ciacuterculos) que cultivam Onde a Aninhada b Modular c Aleatoacuteria

56

Fig 7 Correlaccedilatildeo de Spearman entre a diversidade de etnovariedades de mandiocas conhecidas

como cultivadas e variedades atualmente cultivadas por agricultor e as variaacuteveis

socioeconocircmicas Onde Nvc= nuacutemero de citadas como cultivadas Nve= nuacutemero de variedades

atualmente cultivadas Esc= escolaridade Id= idade Gen= gecircnero Tr= tamanho do roccedilado

Exp= experiecircncia na agricultura Sld= renda Nr= nuacutemero de roccedilados Cores distintivas

representam correlaccedilotildees significativas (Ple005) 57

Fig 8 Modelo individual de rede de etnovariedades de mandioca citadas (esquerda) por

agricultores como cultivadas (direita) nos Municiacutepios de Altinho e Panelas As redes foram

x

desenhadas com o pacote bipartite (Dormann et al 2017) usando o software R (R CORE

TEAM 2017) 58

Fig 9 Anaacutelise de Correspondecircncia Muacuteltipla das 17 etnovariedades de mandioca considerando

os sete descritores morfoloacutegicos utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo em roccedilas de

agricultores tradicionais de sete comunidades no semiaacuterido de Pernambuco 59

Fig 10 Agrupamento hieraacuterquico das 17 etnovariedades de mandioca caracterizadas de acordo

com os descritores utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo 59

xi

LISTA DE TABELAS

CAPIacuteTULO IVARIACcedilAtildeO INTRAESPECIacuteFICA CONHECIMENTO E MANEJO

LOCAL DE MANDIOCA (Manihot esculenta Crantz) NO SEMIAacuteRIDO DE

PERNAMBUCO NORDESTE DO BRASIL

Tabela 1 Caracteres e estados utilizados pelos agricultores como descritores botacircnicos para

caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das etnovariedades de mandioca 60

Tabela 2 Lista das 22 etnovariedades de mandiocas citadas (132 citaccedilotildees) como cultivadas nas

comunidades pertencentes aos Municiacutepios de Altinho (Caratildeo n=8) e ao Municiacutepio de Panelas

(Aracuatilde Satildeo Joseacute do Bola Brejo Velho Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima e Lajeiro

Dantas n=21) 61

Tabela 3 Lista de 17 etnovariedades atualmente cultivadas nos roccedilados das comunidades em

estudo 62

Tabela 4 Descriccedilatildeo das classes do agrupamento por meacutetodo de Ward agrupadas pelo conjunto

dos descritores mais significativos para a caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das variedades de mandioca

63

xii

SUMAacuteRIO

RESUMO GERAL xiii

1 Introduccedilatildeo Geral 14

2 Revisatildeo bibliograacutefica 17

21 Manihot esculenta Crantz e conhecimento local de agricultores tradicionais 17

22Manejo tradicional em roccedilas e diversidade intraespeciacutefica da mandioca 18

23 Redes sociais de troca e circulaccedilatildeo de etnovariedades de mandioca 20

3 Referecircncias bibliograacuteficas 22

VARIACcedilAtildeO INTRAESPECIacuteFICA CONHECIMENTO E MANEJO LOCAL DE

MANDIOCA (Manihot esculenta Crantz) NO SEMIAacuteRIDO DE PERNAMBUCO

NORDESTE DO BRASIL 25

Resumo 26

Introduccedilatildeo 27

Material e meacutetodos 29

Resultados 36

Discussatildeo 40

Conclusatildeo 45

Agradecimentos 45

Referecircncias bibliograacuteficas 46

ANEXOS 51

xiii

RESUMO GERAL

Agricultores de pequena escala que praticam agricultura de modo tradicional em roccedilas

desempenham um importante papel na geraccedilatildeo manutenccedilatildeo e conservaccedilatildeo da

agrobiodiversidade local Dentre as espeacutecies mais cultivadas em roccedilas a Manihot esculenta

Crantz (mandioca) em sua diversidade intrespeciacutefica eacute um dos recursos agriacutecolas de maior

importacircncia econocircmica e de subsistecircncia para diversas populaccedilotildees locais no mundo Acredita-

se que as praacuteticas de manejo dedicadas ao cultivo da mandioca associadas ao conhecimento de

agricultores resultam no aumento da diversidade intraespeciacutefica assim como na conservaccedilatildeo

dessa diversidade Diante disso a pesquisa teve como objetivo compreender os processos

envolvidos na dinacircmica da diversidade agriacutecola da mandioca por meio do acesso ao

conhecimento dos agricultores quanto as praacuteticas de menejo e entender quais fatores podem

estar relacionados a geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da diversidade local Para isso o estudo foi

desenvolvido junto a agricultores tradicionais de sete comunidades rurais localizadas na regiatildeo

semiaacuterida do estado de Pernambuco A abordagem metodoloacutegica foi baseada em entrevistas

semiestruturadas conversas com os informantes e visitas aos roccedilados para caracterizar e

compreender a importacircncia manejo da agricultura de sequeiro e das redes sociais estabelecidas

entre os agricultores bem como identificar as variedades de mandioca atualmente cultivadas

A partir do conhecimento da diversidade manejada analisamos a estrutura da rede de interaccedilatildeo

social formada pelas trocas de etnovariedades entre os agricultores A partir destas informaccedilotildees

discutimos sobre o importante papel dos agricultores na manutenccedilatildeo do conjunto de

etnovariedades regionais Um total de 22 etnovariedades foram citadas as quais satildeo

identificadas pelos agricultores principalmente por meio de sete caracteres morfoloacutegicos A

estrutura em redes de trocas de variedades favorece a manutenccedilatildeo e amplificaccedilatildeo das diferentes

variedades locais

Palavras-Chave Agricultura tradicional Agricultura de sequeiro Agrobiodiversidade

Plantas alimentiacutecias Redes sociais

xiv

ABSTRACT

Small-scale farmers who practice traditional agriculture fields have an important role in

generation maintenance and conservation of local agrobiodiversity Among the most cultivated

species the Manihot esculenta Crantz (cassava) in its intrespecific diversity is one of the

moust important agricultural resources of economic importance and livelihood for many local

people in the world It is believed that the management practices dedicated to the cultivation of

cassava associated with the knowledge of farmers result in increased intraspecific diversity

and the conservation of this diversity Therefore the research aimed to understand the processes

involved in the dynamics of agricultural diversity of cassava through access the knowledge of

farmers as the management of practices and understand what factors may be related to the

generation and maintenance of local diversity For this the study was developed with the

traditional farmers of seven rural communities located in the semiarid region of the state of

Pernambuco The methodological approach was based on semi-structured interviews

conversations with informants and visits to fields to characterize and understand the

importance of management of dry framing and social networks established between farmers

and to identify the cassava varieties currently grown From the knowledge of managed

diversity we analyze the structure of social interaction network formed by the exchange of

landraces among farmers From this information We discussed the important role of farmers

in the overall regional landraces maintenance A total of 22 landraces were cited which are

identified by farmers mainly through seven morphological characters The structure of

varieties sharing networks favors the maintenance and amplification of different local varieties

Keywords Agrobiodiversity Dry Farming Food plants Social networks Traditional

agriculture

14

1 Introduccedilatildeo Geral

Ao longo dos anos populaccedilotildees tradicionais foram adquirindo aprimorando e transmitindo

seus conhecimentos sobre o manejo dos recursos naturais existentes em suas respectivas

regiotildees e assim foram desenvolvendo teacutecnicas para se adaptar e sobreviver ao ambiente Essas

populaccedilotildees foram domesticando uma grande variedade de espeacutecies de plantas alimentiacutecias

numa agricultura de pequena escala (BALLEacute 2006 CLEMENT et al 2010)

Essa interaccedilatildeo pessoas-planta por meio do cultivo e manejo das espeacutecies vegetais vem

contribuindo para ambos com alteraccedilotildees adaptativas por meio da seleccedilatildeo artificial Essas

alteraccedilotildees resultaram em mudanccedilas na estrutura geneacutetica das espeacutecies vegetais pelo manejo da

seleccedilatildeo de caracteriacutesticas fenotiacutepicas fisioloacutegicas e econocircmicas das plantas E essa seleccedilatildeo

consciente ou inconsciente das plantas se traduz em uma grande variaccedilatildeo intraespeciacutefica nas

populaccedilotildees vegetais sob diferentes regimes de manejo (CARMONA CASAS 2005)

Por meio do cultivo agricultores em comunidades tradicionais desempenham um papel

fundamental no processo dinacircmico de geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da agrobiodiversidade local em

sistemas de roccedilas Essas roccedilas satildeo aacutereas de agricultura tradicional localizadas dentro de

comunidades caracterizadas natildeo soacute pelo grande nuacutemero espeacutecies cultivadas mas tambeacutem pela

alta diversidade intraespeciacutefica que essas espeacutecies apresentam (MARTINS 2005) Dentre as

espeacutecies comumente cultivadas nesse sistema a mandioca (Manihot esculenta Crantz

Euphorbiaceae) eacute considerada uma cultura de alto valor econocircmico nutricional utilitaacuterio

cultural e social para muitas populaccedilotildees humanas no mundo (CLEMENT et al 2010) Aleacutem

disso a mandioca apresenta uma grande diversidade intraespeciacutefica e por essas caracteriacutesticas

tornou-se uma espeacutecie-modelo para compreender como os diferentes padrotildees e estrateacutegias de

manejo adotadas pelos agricultores podem influenciar na diversidade local (ELIAS et al 2001

EMPERAIRE PERONI 2007 EMPERAIRE ELOY 2008)

Segundo PERONI amp MARTINS (2000) as diferentes praacuteticas de manejo desse

importante recurso favorecem a alta diversidade intraespeciacutefica em roccedilas de agricultura

itinerante1 Um dos fatores responsaacuteveis pela geraccedilatildeo dessa diversidade consiste na capacidade

de incorporaccedilatildeo de novos germoplasmas por meio da reproduccedilatildeo sexuada associada ao manejo

agriacutecola tradicional (PUJOL et al 2005 EMPERAIRE PERONI 2007) Apesar de propagada

1 Agricultura caracterizada por ciclos de uso e pousio como por exemplo corte e queima

15

vegetativamente pelos agricultores a mandioca (M esculenta) ainda manteacutem a sua capacidade

de reproduccedilatildeo sexual sendo este um aspecto muito importante para dinacircmica evolutiva da

cultura (PUJOL et al 2007 CLEMENT et al 2010) Apoacutes a fecundaccedilatildeo cruzada e dispersatildeo

das sementes um banco destas eacute formado no solo e as novas variedades germinam nas roccedilas

(MARTINS 2005) Antes de serem imcorporadas ao acervo essas lsquolsquovariedades-voluntaacuteriasrsquorsquo

passam por um filtro cultural ou seja seratildeo reconhecidas pelos agricultores por meio de

caracteriacutesticas morfoloacutegicas experimentadas e entatildeo selecionadas (MARTINS OLIVEIRA

2009)

Outro evento envolvido na geraccedilatildeo de diversidade intraespeciacutefica eacute incorporaccedilatildeo de

novas variedades de mandioca por meio de uma rede social de troca de material propagativo

estabelecida entre os agricultores (CAVECHIA et al 2014) Esse mecanismo permite a

circulaccedilatildeo das manivas2 tanto a niacutevel local quanto regional permite tambeacutem o acesso aos

diferentes conjuntos de variedades cultivadas entre as comunidades e ainda que o conjunto de

etnovariedades3 locais eou regionais seja conservado (EMPERAIRE ELOY 2008) Dentro

dessas redes sociais de troca as relaccedilotildees entre os agricultores atuam como mecanismo

fundamental para dispersatildeo e experimentaccedilatildeo das etnovariedades entre as roccedilas E satildeo essas

relaccedilotildees e decisotildees estabelecidas entre os agricultores que iratildeo definir quais etnovariedades

seratildeo mantidas ao longo do tempo e quais seratildeo abandonadas (LIMA et al 2012)

Sendo os agricultores e as interaccedilotildees entre eles fundamentais para o estabelecimento da

diversidade local (PINTON EMPERAIRE 2001 EMPERAIRE ELOY 2008) torna-se

pertinente entender como as diferentes estrateacutegias adotadas pelos agricultores influenciam na

dinacircmica da agrobiodiversidade local Muitos trabalhos com esse enfoque foram desenvolvidos

nas regiotildees Amazocircnica e Sudeste mas pouco se discute sobre a dinacircmica da agrobiodiversidade

em regiotildees semiaacuteridas

Nesse sentido o presente estudo visa investigar as interaccedilotildees entre agricultores

tradicionais de comunidades rurais estabelecidas na regiatildeo semiaacuterida de Pernambuco O

objetivo geral eacute compreender os processos envolvidos na dinacircmica da diversidade agriacutecola por

meio do acesso ao conhecimento dos agricultores quanto as praacuteticas de menejo e entender quais

quais fatores podem estar relacionados a geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da diversidade local Para esse

estudo a mandioca foi escolhida como modelo devida agrave sua importacircncia econocircmica e de

subsistecircncia para comunidades locais Os objetivos especiacuteficos foram (i) caracterizar o manejo

2 Satildeo pedaccedilos das hastes ou ramas da mandioca usadas para o plantio 3 Variedades intraespeciacuteficas de mandioca (M esculenta) identificadas pelos agricultores por nomenclatura

popular local (Martins 2005)

16

da agricultura de sequeiro bem como analisar se os paracircmetros socioeconocircmicos influenciam

na diversidade local (ii) registrar as etnovariedades atualmente cultivadas e identificar os

diferentes criteacuterios morfoloacutegicos utilizados pelos agricultores para a seleccedilatildeo e classificaccedilatildeo das

etnovariedades e (iii) descrever a estrutura da rede de interaccedilatildeo entre os agricultores e a

diversidade de etnovariedades de mandioca cultivadas para tentar entender como essas relaccedilotildees

podem influenciar na manutenccedilatildeo ou perda da diversidade local

a

b c

17

2 Revisatildeo bibliograacutefica

21 Manihot esculenta Crantz e conhecimento local de agricultores tradicionais

O gecircnero Manihot Miller (Euforbiaceae) possui cerca de 98 espeacutecies distribuiacutedas em 19

seccedilotildees das quais 13 delas ocorrem no Brasil (ROGERS APPAN 1973) Dentre as espeacutecies do

gecircnero Manihot esculenta Crantz (mandioca) eacute a principal cultivar uma vez que compotildee a

base da dieta alimentar de diversas populaccedilotildees rurais principalmente em regiotildees tropicais A

mandioca foi domesticada na Ameacuterica do Sul pois eacute onde se encontra o maior centro de

diversificaccedilatildeo Estudos relacionados ao entendimento de sua origem botacircnica tecircm contribuiacutedo

para a compreensatildeo das accedilotildees humanas no processo de domesticaccedilatildeo e ampliaccedilatildeo da

diversidade da espeacutecie (OLSEN SCHAAL 1999 ELIAS et al 2004 ELLEN 2012)

As diferentes variedades da espeacutecie satildeo reconhecidas em dois grandes grupos principais

o das variedades mais toacutexicas e o de variedades menos toacutexicas baseadas no potencial de

glicosiacutedeos cianogecircnicos (HCN) contido na polpa das raiacutezes (ELIAS et al 2004) Variedades

com baixa toxicidade contecircm baixas concentraccedilotildees de glicosiacutedeos cianogecircnicos (HCNlt100

mgKg-1) e satildeo conhecidas em comunidades agriacutecolas variando entre regiotildees ou grupos eacutetnicos

como ldquomacaxeirasrdquo ldquomandiocas doces ou mansasrdquo ou ldquoaipinsrdquo As variedades mais toacutexicas

com altas concentraccedilotildees de HCN (HCNgt 100 mgKg-1) satildeo reconhecidas como ldquomandiocasrdquo

ou ldquomandiocas amargas ou bravasrdquo (PERONI et al 2007 MCKEY et al 2010) E portanto

precisam passar por um processo de desintoxicaccedilatildeo para se tornarem aptas ao consumo como

por exemplo pelo processo de fabricaccedilatildeo da farinha de mandioca (Fig 1) Apesar do seu

potencial toacutexico as variedades amargas possuem teores mais elevados de amido e se adaptam

bem a solos pobres e aacutecidos aleacutem de serem mais resistentes aos patoacutegenos e pragas em

comparaccedilatildeo com as variedades doces (FRASER et al 2010)

Sob o ponto de vista botacircnico esta dicotomia natildeo eacute reconhecida mas existem alguns

trabalhos que evidenciam a relaccedilatildeo entre a coerecircncia da taxonomia popular com a diferenciaccedilatildeo

geneacutetica para separaraccedilatildeo das variedades ldquodocesrdquo e ldquoamargasrdquo (ELIAS et al 2004 PERONI

et al 2007) O conhecimento das caracteriacutesticas morfoloacutegicas das plantas e a coerecircncia na

identificaccedilatildeo dessas variedades com niacuteveis distintos de HCN eacute de grande importacircncia

adaptativa para as populaccedilotildees que gerem esse recurso sobretudo pelo risco de intoxicaccedilatildeo

(RIVAL MCKEY 2008)

18

No estudo realizado por AMOROZO (2000) por exemplo os agricultores geralmente

classificavam as variedades que tinham raiacutezes brancas como ldquobravasrdquo e aquelas que tinham

raiacutezes vermelhas como ldquomansasrdquo embora eles reconhecessem algumas exceccedilotildees Em pesquisas

realizados por FARALDO et al (2000) MKUMBIRA et al (2003) ELIAS et al (2004) e

PERONI et al (2007) os agricultores foram consistentes na distinccedilatildeo de suas variedades

lsquolsquodocesrdquo e ldquoamargasrsquorsquo e com base no conhecimento de caracteres morfoloacutegicos distintos os

nomes das variedades refletiram na diversidade geneacutetica A partir dessas evidecircncias podemos

inferir que o conhecimento local dos agricultores associado agrave experiecircncia eacute importante natildeo

somente para o reconhecimento das variedades locais por si soacute mas tambeacutem por conter

informaccedilotildees relevantes sobre o papel que esses recursos podem desempenhar nos sistemas

agriacutecolas de pequena escala e para as populaccedilotildees locais (GADGIL et al 1993)

O conhecimento tradicional dos agricultores trata-se de um conjunto de saberes praacuteticas

e crenccedilas baseadas no contato direto nas observaccedilotildees experimentaccedilotildees diaacuterias e nas

dependecircncias econocircmicas eou de subsistecircncia dos recursos que satildeo geralmente transmitidas

oralmente dentro e entre as geraccedilotildees (AMOROZO 2000 DOMINGUES ARRUDA 2001

BEGOSSI 2004) Sendo assim o conhecimento tradicional de agricultores que praticam a

agricultura de pequena escala realizada em comunidades tradicionais eacute importante pois tem

garantido a perpetuaccedilatildeo dos conhecimentos e das praacuteticas agriacutecolas desenvolvidas durante

milhares de anos entre os agroecossistemas locais

22 Manejo tradicional em roccedilas e diversidade intraespeciacutefica da mandioca

A agricultura de pequena escala praticada em comunidades locais tem garantido a

perpetuaccedilatildeo do conhecimento sobre o manejo e a diversidade de espeacutecies agriacutecolas O sistema

de cultivo em roccedilas eacute tipicamente praticado por agricultores de comunidades tradicionais em

aacutereas uacutemidas no mundo inteiro As roccedilas satildeo aacutereas de cultivo de pequena escala localizadas

dentro de comunidades proacuteximas umas das outras que se tornaram objeto de estudo em vaacuterias

pesquisas antropoloacutegicas etnobotacircnicas geneacuteticas e ecologias especialmente por apresentarem

grande diversidade de espeacutecies cultivadas e pelo manejo destinar-se agrave subsistecircncia de grupos

familiares de agricultores de pequena escala (PUJOL et al 2007)

Aleacutem da diversidade de espeacutecies outra caracteriacutestica dessas roccedilas eacute o grande nuacutemero de

variedades dentro de cada espeacutecie Esta diversidade intraespeciacutefica pode ser referida como

etnovariedades que eacute um termo utilizado para definir grupos de indiviacuteduos identificados por

19

nomenclatura popular local a qual pode expressar elementos do contexto cultural econocircmico

e social das populaccedilotildees associado ao uso (PERONI MARTINS 2000 EMPERAIRE

PERONI 2007)

Dentre as vaacuterias espeacutecies cultivadas em roccedilas a mandioca (M esculenta) em seu

nuacutemero de etnovariedades eacute uma das principais culturas de importacircncia econocircmica e

nutricional para populaccedilotildees que utilizam esse sistema Sua diversidade pode estar relacionada

ao sistema reprodutivo da cultura ao modo de gestatildeo da agricultura pelas pressotildees de seleccedilatildeo

exercidas pelo proacuteprio homem ou ateacute mesmo por causas naturais (MARTINS 2005

CLEMENT et al 2010)

As caracteriacutesticas de manejo empregadas no cultivo da mandioca em roccedilas favorecem

a elevada diversidade intraespeciacutefica dessa cultura O modo de propagaccedilatildeo da mandioca eacute feito

pelos agricultores por meios de estacas (manivas) que satildeo selecionadas de acordo com as

caracteriacutesticas desejaacuteveis que elas apresentam seja para fins econocircmicos ou utilitaacuterios Apesar

de propagada vegetativamente que eacute um meacutetodo usado pelas populaccedilotildees humanas para plantio

e multiplicaccedilatildeo de plantas a mandioca natildeo perdeu a sua capacidade de reproduccedilatildeo sexual

sendo esse um aspecto importante para dinacircmica evolutiva da cultura (PUJOL et al 2007)

Esse meacutetodo de propagaccedilatildeo permite o fluxo e a circulaccedilatildeo do material geneacutetico entre os

diferentes roccedilados por meio de um sistema de redes sociais de troca de etnovariedade de

mandioca entre os agricultores tanto a niacutevel regional (entre comunidades) quanto em escalas

menores (entre vizinhos e parentes) (ELIAS et al 2004 EMPERAIRE OLIVEIRA 2010)

Segundo Emperaire e Peroni (2007) esse mecanismo de troca de germoplasma eacute uma grande

forccedila de dispersatildeo que resulta na agrobiodiversidade regional mais elevada pois estabelece

viacutenculos entre as diferentes roccedilas e promove oportunidades de seleccedilatildeo e cruzamento entre as

diferentes etnovariedades (EMPERAIRE ELOY 2008)

Atributo bioloacutegicos da espeacutecie tambeacutem estatildeo relacionados com o aumento da

diversidade intrespeciacutefica como a capacidade de dormecircncia das sementes e a dispersatildeo

autocoacuterica que propiciam o desenvolvimento de um banco de sementes no solo ao longo do

tempo permitindo o cruzamento entre as novas variedades adquiridasplantadas e entre estas

com variedades que existiram anterioemente na mesma aacuterea (PERONI MARTINS 2000

MARTINS 2005) A presenccedila dessas ldquoplantas-voluntaacuteriasrdquo ou seja aquelas nascidas de

germinaccedilatildeo expontacircnea eacute um dos eventos identificados como precursores de diversidade

intraespeciacutefica nas populaccedilotildees de mandioca cultivadas (PUJOL et al 2007)

20

Contudo muitos esforccedilos vecircm sendo empregados em estudos que observam a ecologia

da mandioca e o manejo agriacutecola associado agrave geraccedilatildeo de diversidade varietal e geneacutetica na

espeacutecie para tentar entender como esses mecanismos influenciam na diversidade de

etnovariedades locais e na sua dinacircmica (PUJOL et al 2007 KOMBO et al 2012 ELIAS et

al 2001)

23 Redes sociais de troca e circulaccedilatildeo de etnovariedades de mandioca

Sistemas agriacutecolas de pequena escala dependem de uma grande diversidade de espeacutecies e

variedades cultivadas e do fluxo destas por meio de redes sociais de troca material vegetativo

estabelecidas entre agricultores podendo o alcance da circulaccedilatildeo variar em escala local eou

regional (EMPERAIRE ELOY 2008) As trocas dependem de dois mecanismos principais

dos padrotildees de interaccedilatildeo social entre os agricultores e dos padrotildees de uso dos recursos

(CAVECHIA et al 2014) e as redes variam em funccedilatildeo das caracteriacutesticas culturais

econocircmicas e sociais das comunidades (EMPERAIRE PERONI 2007 PAUTASSO et al

2012)

No caso da mandioca (Manihot esculenta Crantz) a propagaccedilatildeo se da por estaquia o que

favorece a troca de material de vegetativo entre os agricultores e permite o fluxo entre

variedades locais e regionais (MARTINS 2005) As trocas de variedades de mandioca entre os

agricultores geralmente acontecem por alguma circunstacircncia que leve o agricultor a pedir o

material propagativo para o plantio com por exemplo para o plantio de uma nova roccedila ou por

alguma fitopatologia deslocaccedilatildeo ou estaccedilotildees de chuva e seca prolongadas (EMPERAIRE et

al 2001 EMPERAIRE ELOY 2008) Em alguns casos como no de algumas comunidades

agriacutecolas de pequena escala as redes de casamento satildeo utilizadas para a circulaccedilatildeo de

variedades (EMPERAIRE PERONI 2007 DELEcircTRE et al 2011)

O processo de manutenccedilatildeo da diversidade nesses sistemas resulta do interesse ou da

necessidade do agricultor em adquirir ou abandonar variedades testar e selecionar novas

etnovariedades de mandioca Dentre os fatores que dirigem a seleccedilatildeo de etnovariedades estatildeo

as preferecircncias individuais dos agricultores Alguns podem optar por cultivar todas as

etnovariedades comuns eou disponiacuteveis na regiatildeo enquanto que outros optam apenas por

manter um conjunto especiacutefico dessa diversidade (CAVECHIA et al 2014) Seja para atender

a alguma demanda individual pelo interesse em aumentar a produtividade ou pela necessidade

21

de conservar o material vegetativo para o proacuteximo plantio no caso de perda de material por

algum fator ambiental adverso (EMPERAIRE et al 2001 EMPERAIRE ELOY 2008)

Nesse sentido satildeo os agricultores os maiores responsaacuteveis por determinar como e quais

etnovariedades seratildeo compartilhadas e mantidas entre as comunidades (PAUTASSO et al

2012) E a chave para a compreensatildeo da dinacircmica da diversidade varietal eacute por meio desse

intercacircmbio e dos fatores que influenciam essa conectividade entre as comunidades pois essas

redes representam um grande impacto sobre a diversidade de variedades cultivadas E eacute por

meio dessas redes que se diminui coletivamente os riscos de perda total de diversidade geneacutetica

local (EMPERAIRE ELOY 2008)

Desse modo as relaccedilotildees estabelecidas pelos agricultores entre as comunidades por meio

das redes troca de germoplasma podem ter consequecircncias importantes sobre a diversidade

varietal da mandioca E compreender os processos envolvidos na manutenccedilatildeo ou perda de

germoplasma nos sistemas agriacutecolas eacute importante uma vez que compreendendo a maneira

como os agricultores usam esse conjunto de etnovariedades de mandioca e as compartilham

vai trazer importantes discussotildees a cerca da qualidade e a quantidade do recurso que seraacute

mantido transmitido ou perdido dentro dos sistemas ao longo do tempo

22

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25

VARIACcedilAtildeO INTRAESPECIacuteFICA CONHECIMENTO E MANEJO

LOCAL DE MANDIOCA (Manihot esculenta Crantz) NO SEMIAacuteRIDO DE

PERNAMBUCO NORDESTE DO BRASIL

Artigo submetido ao perioacutedico Human Ecology

Normas para submissatildeo em anexos

26

Variaccedilatildeo intraespeciacutefica conhecimento e manejo local de mandioca 1

(Manihot esculenta Crantz) no semiaacuterido de Pernambuco Nordeste do 2

Brasil 3

Mirela Nataacutelia Santos12 Jhonatan Rafael Zaacuterate-Salazar1 Reginaldo de Carvalho1 amp 4

Ulysses Paulino de Albuquerque2 5

6

1 Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo em Botacircnica Departamento de Biologia Rua Dom Manuel de Medeiros 7

Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) sn Dois Irmatildeos Recife Pernambuco 52171-8

900 Brasil 9

2 Laboratoacuterio de Ecologia e Evoluccedilatildeo de Sistemas Socioecoloacutegicos (LEA) Departamento de Botacircnica 10

Avenida Professor Moraes Rego Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) sn Cidade 11

Universitaacuteria Recife Pernambuco 50670-901 Brasil 12

Resumo 13

Historicamente a espeacutecie Manihot esculenta Crantz (mandioca) eacute uma espeacutecie de grande valor 14

econocircmico e de subsistecircncia para populaccedilotildees em comunidades tradicionais Variedades de 15

mandioca satildeo selecionadas com base nos interesses dos agricultores conduzindo uma evoluccedilatildeo 16

especiacutefica sobre a geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da agrobiodiversidade local Diante disso a mandioca 17

tornou-se espeacutecie-modelo em estudos que buscam compreender como os padrotildees e estrateacutegias 18

adotadas pelas populaccedilotildees humanas influenciam na diversidade intraespeciacutefica local em regiotildees 19

tropicais No entanto os fatores que influenciam a diversidade da mandioca em regiotildees 20

semiaacuteridas ainda natildeo foram bem documentados Nesse sentido objetivo geral do estudo foi 21

compreender os processos envolvidos na dinacircmica da diversidade agriacutecola em sete 22

comunidades tradicionais localizadas na regiatildeo semiaacuterida do estado de Pernambuco (Nordeste 23

do Brasil) por meio do acesso ao conhecimento dos agricultores quanto as praacuteticas de menejo 24

para tentar quais quais fatores podem estar relacionados a geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da diversidade 25

local Com os resultados da anaacutelise de redes verificamos uma alta diversidade de 26

etnovariedades cultivadas e a sua composiccedilatildeo eacute determinada pelas preferecircncias e 27

comportamentos individuais dos agricultores que foram provavelmente os mecanismos 28

27

responsaacuteveis pelo surgimento da estrutura aninhada observada na anaacutelise rede Esse padratildeo 29

aninhado contribui na conservaccedilatildeo das etnovariedades mais comuns mas tambeacutem pode resultar 30

em perda daquelas de menor frequecircncia ao longo do tempo 31

Palavras-Chave Agricultura tradicional Agricultura de sequeiro Agrobiodiversidade 32

Etnobiologia Plantas alimentiacutecias 33

34

Introduccedilatildeo 35

Historicamente as populaccedilotildees humanas foram acumulando conhecimentos sobre 36

praacuteticas da agricultura desenvolvendo teacutecnicas adaptadas ao meio natural e assim foram 37

domesticando uma grande variedade de cultivos alimentares para garantirem a sua 38

sobrevivecircncia (Balleacute 2006 Clement et al 2010) Essa interaccedilatildeo pessoas-plantas por meio do 39

cultivo e manejo das espeacutecies vegetais considerando tanto os aspectos sociais quanto naturais 40

dos sistemas dinacircmicos eacute uma importante ferramenta para o entendimento do conhecimento 41

dos agricultores sobre os agroecossistemas locais ( Alcorn 1995) 42

Aleacutem disso essas interaccedilotildees vem contribuindo com alteraccedilotildees nas populaccedilotildees vegetais 43

por meio da seleccedilatildeo artificial Essas alteraccedilotildees resultaram em mudanccedilas na estrutura geneacutetica 44

dessas populaccedilotildees que satildeo determinadas geralmente pela seleccedilatildeo de caracteriacutesticas fenotiacutepicas 45

fisioloacutegicas eou econocircmicas das plantas refletidas em classificaccedilotildees e nomenclaturas 46

especiacuteficas baseadas em percepccedilotildees individuais (Carmona amp Casas 2005) 47

Muitos pesquisadores tentam explicar o papel dos agricultores de pequena escala na 48

seleccedilatildeo classificaccedilatildeo e manutenccedilatildeo da agrobiodiversidade local em roccedilas tradicionalmente 49

manejas em regiotildees uacutemidas (Emperaire amp Peroni 2007 Emperaire amp Eloy 2008 Marchetti et 50

al 2013) Essas roccedila satildeo aacutereas de cultivo caracterizadas por conter uma alta diversidade 51

intraespeciacutefica de espeacutecies (Martins 2005) Dentre elas a Manihot esculenta Crantz 52

28

(mandioca) Euphorbiaceae em sua diversidade de etnovariedades eacute a espeacutecie mais importante 53

sob ponto de vista econocircmico e de subsistecircncia para as populaccedilotildees locais e mais cultivada 54

devido a sua grande adaptabilidade ambiental e baixos custos de gestatildeo (Elias et al 2001) 55

A alta diversidade da mandioca nessas aacutereas pode ser atribuiacuteda agrave possibilidade de 56

introduccedilatildeo de novas variedades via reproduccedilatildeo sexuada associada a ecologia da espeacutecie Esse 57

mecanismo permite o fluxo gecircnico entre as variedades de mandioca cultivadas do mesmo local 58

e entre estas com variedades de locais vizinhos (Pujol et al 2007) Outro mecanismo que 59

favorece essa diversidade eacute agrave circulaccedilatildeo de material propagativo por meio redes sociais de troca 60

variedades entre os agricultores (Pujol et al 2005 Emperaire amp Peroni 2007 Clement et al 61

2010) Esse mecanismo de troca eacute fundamental para o estabelecimento de interaccedilotildees entre as 62

diferentes aacutereas de roccedila promovendo oportunidade de seleccedilatildeo e cruzamento entre os diferentes 63

conjuntos de variedades aleacutem de permitir que este conjunto seja conservado (Emperaire amp Eloy 64

2008) 65

Diante desse cenaacuterio podemos observar que a agrobiodiversidade local natildeo eacute fruto 66

apenas de fatores naturais mas eacute tambeacutem influenciada pelas caracteriacutesticas culturais e 67

socioeconocircmica das populaccedilotildees locais refletidas especialmente no conhecimento e manejo 68

local Nesse sentido o presente estudo visa investigar as interaccedilotildees entre agricultores 69

tradicionais de comunidades rurais estabelecidas na regiatildeo semiaacuterida de Pernambuco 70

O objetivo geral eacute compreender os processos envolvidos na dinacircmica da diversidade 71

agriacutecola por meio do acesso ao conhecimento dos agricultores quanto as praacuteticas de menejo e 72

entender quais quais fatores podem estar relacionados a geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da diversidade 73

local Para esse estudo a mandioca foi escolhida como modelo devida agrave sua importacircncia 74

econocircmica e de subsistecircncia para comunidades locais Os objetivos especiacuteficos foram (i) 75

caracterizar o manejo da agricultura de sequeiro bem como analisar se os paracircmetros 76

socioeconocircmicos influenciam na diversidade local (ii) registrar as etnovariedades atualmente 77

29

cultivadas e identificar os diferentes criteacuterios morfoloacutegicos utilizados pelos agricultores para a 78

seleccedilatildeo e classificaccedilatildeo das etnovariedadese (iii) descrever a estrutura da rede de interaccedilatildeo entre 79

os agricultores e a diversidade de etnovariedades de mandioca cultivadas para tentar entender 80

como essas relaccedilotildees podem influenciar na manutenccedilatildeo ou perda da diversidade local 81

Material e meacutetodos 82

Aacutereas de estudo 83

Amostramos sete comunidades rurais estabelecidas na regiatildeo semiaacuterida de 84

Pernambuco Nordeste do Brasil Uma das comunidades (Caratildeo) pertence ao Municiacutepio de 85

Altinho (ldquo8deg 29rsquo 10rdquo S e 36deg 03rsquo 49rdquo W) e as demais (Satildeo Joseacute do Bola Brejo velho 86

Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima Lajedo Dantas e Aracuatilde) ao Municiacutepio de 87

Panelas (8 deg 39 48 S e 36 deg 01 23 W) (Fig 2) 88

O modelo agriacutecola adotado na regiatildeo segue o sistema tradicional de sequeiro4 e todas 89

as comunidades em estudo possuem histoacuterico de cultivo de mandioca (M esculenta) As aacutereas 90

de cultivo satildeo estabelecidas por unidade familiar e as atividades satildeo realizadas em sua maioria 91

por homens tendo cada agricultor cerca de um a dois hectares de aacuterea para plantio Aleacutem da 92

mandioca os cultivos mais utilizados na comunidades satildeo milho (Zea mays) e feijatildeo (Phaseolus 93

sp) 94

Para os membros das comunidades a produccedilatildeo da farinha de mandioca (Fig 3) eacute uma 95

das atividades agriacutecolas mais importantes tanto pelo seu papel na dieta alimentar quanto pela 96

importacircncia social e econocircmica 97

Caracteriacutesticas das comunidades do estudo 98

A comunidade do Caratildeo localiza-se sob domiacutenio de Caatinga caracterizado por climas 99

quentes e secos com regimes escassos de chuvas correspondente ao tipo BSrsquoh segundo a 100

4 Eacute o cultivo praticado sem irrigaccedilatildeo em regiotildees onde a pluviosidade eacute diminuta

30

classificaccedilatildeo climaacutetica de Koumlppen A vegetaccedilatildeo eacute composto por espeacutecies perenes que 101

conseguem sobreviver mesmo em periacuteodos de seca e espeacutecies anuais que aparecem apenas em 102

periacuteodos com chuva (Cruz et al 2013) 103

De acordo os dados de precipitaccedilatildeo do Laboratoacuterio de Anaacutelise e Processamento de 104

Imagens de Sateacutelites (LAPIS) no ano de 2012 foi registrada a menor meacutedia anual de 105

precipitaccedilatildeo dos uacuteltimos 10 anos para essa regiatildeo (3784 mm) Essa realidade ambiental quando 106

comparada com estudo realizado por de Sieber e colaboradores (2011) na mesma comunidade 107

observa-se que houve uma diminuiccedilatildeo considerada das praacuteticas agriacutecolas realizadas pelos 108

membros da comunidade culminando em uma seacuterie de prejuiacutezos aos agricultores como a perda 109

de plantaccedilotildees e animais Essa perda de produtividade afetou a estrutura econocircmica da 110

comunidade uma vez que a principal fonte de subsistecircncia das famiacutelias eacute a agricultura 111

Associada as atividades agriacutecolas os moradores complementam a dieta e a renda 112

familiar com a venda dos excedentes da produccedilatildeo em feiras-livres ou centros comerciais da 113

regiatildeo (Cruz et al 2013) E com a pecuaacuteria de pequena escala bovina caprina e com avicultura 114

No entanto a diminuiccedilatildeo da forragem natural e cultivada causada pela escassez de chuvas 115

associada aos elevados custos envolvidos na compra de raccedilatildeo levou muitos animais agrave morte 116

(Fig 4) 117

No Municiacutepio de Altinho a comunidade do Caratildeo foi inicialmente escolhida devido ao 118

reconhecimento preacutevio do registro de agricultores realizado em estudos desenvolvidos pelo 119

nosso grupo de pesquisa facilitando assim o acesso agraves informaccedilotildees necessaacuterias para o 120

desenvolvimento da pesquisa 121

As comunidades Aracuatilde Brejo Velho Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima 122

Lajedo Dandas e Satildeo Joseacute do Bola amostradas no estudo pertencem ao Municiacutepio de Panelas 123

que se limita ao Norte com o Municiacutepio de Altinho Essas comunidades estatildeo localizadas em 124

31

no domiacutenio morfoclimaacutetico de Caatinga O clima eacute do tipo semiaacuterido Bsrsquoh segundo a 125

classificaccedilatildeo climaacutetica de Koumleppen 126

A maior parte dos membros dessas comunidades assim como no Caratildeo tecircm como 127

principal fonte de subsistecircncia a agricultura de sequeiro principalmente o cultivo da mandioca 128

(Fig 5) Como renda extra a pecuaacuteria de pequeno porte com criaccedilatildeo bovina caprina e 129

avicultura sendo os excedentes dos alimentos produzidos vendidos em feiras locais ou para 130

escolas 131

As atividades agriacutecolas entre as comunidades tambeacutem foram duramente afetadas pela 132

seca na regiatildeo nos uacuteltimos anos A escassez de chuvas desestimulou o plantio a produccedilatildeo de 133

mandioca foi fortemente comprometida e a colheita foi adiada devido ao subdesenvolvimento 134

das raiacutezes gerando impactos econocircmicos para os membros das comunidades 135

As comunidades amostradas neste muniacutecipio foram escolhidas em funccedilatildeo das 136

indicaccedilotildees dos agricultores entrevistados a princiacutepio na comunidade do Caratildeo que reportaram 137

manter viacutenculos sociais com os agricultores do municiacutepio vizinho 138

Coleta de dados 139

Acessamos as comunidades com a ajuda de um liacuteder comunitaacuterio (Alexandre O 140

Nascimento) em companhia de outros pesquisadores que desenvolviam pesquisas na regiatildeo 141

Previamente as entrevistas todos objetivos e procedimentos para a realizaccedilatildeo da pesquisa foram 142

apresentados aos entrevistados e todos que aceitaram participar foram convidados a assinar um 143

Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) de acordo com a Resoluccedilatildeo 46612 do 144

Conselho Nacional de Sauacutede concordando com a realizaccedilatildeo das entrevistas e avaliaccedilotildees 145

morfoloacutegicas em campo O presente trabalho foi submetido ao Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa da 146

Universidade de Pernambuco (UPE) 147

32

Em todas as comunidades o meacutetodo de acesso ao informante foi o mesmo a partir do 148

primeiro contato com um informante-chave identificamos outros potenciais agricultores 149

seguindo a teacutecnica de ldquobola de neverdquo (Albuquerque et al 2014a) Esse meacutetodo consistiu na 150

amostragem intencional dos participantes e nesse particular os agricultores chefes de famiacutelia 151

(ge 18 anos) da regiatildeo que declararam cultivar mandioca (M esculenta) em suas roccedilas 152

Reunimos informaccedilotildees socioeconocircmicas desses agricultores tais como nome idade gecircnero 153

escolaridade renda experiecircncia na agricultura e tamanho da aacuterea de cultivo para tentar 154

identificar se esses paracircmetros socioeconocircmicos tecircm uma relaccedilatildeo com a agrobiodiversidade 155

local 156

Em seguida conduzimos entrevistas semiestruturadas (Albuquerque et al 2014b) com 157

o objetivo de caracterizar o modo de vida dos agricultores o manejo da agricultura bem como 158

obter dados sobre o conhecimento uso e caracterizaccedilatildeo das etnovariedades de mandioca 159

5cultivadas Aleacutem disso neste momento tambeacutem aplicamos a teacutecnica da lista livre 160

(Albuquerque et al 2014b) a fim de registrar as variedades de mandioca atualmente cultivadas 161

pelos agricultores e identificar as de maior importacircncia local Apoacutes as entrevistas realizamos 162

visitas aos roccedilados para o registro fotograacutefico georreferenciamento das roccedilas e caracterizaccedilatildeo 163

morfoloacutegica das variedades cultivadas 164

Entrevistamos 50 agricultores no total distribuiacutedos nas sete comunidades Caratildeo (3) 165

Satildeo Joseacute do Bola (10) Brejo velho (7) Japaranduba de Baixo (7) Japaranduba de Cima (8) 166

Lajedo Dantas (9) e Aracuatilde (6) Destes 10 satildeo mulheres e 40 homens com idade variando entre 167

31 e 82 anos A maioria dos entrevistados natildeo apresentava instruccedilatildeo formal (46) mais da 168

metade eram aposentados (56) e os demais apresentaram renda inferior a um salaacuterio miacutenimo 169

5 Entende-se por etnovariedade de mandioca o conjunto de variedades intraespeciacuteficas de mandioca (M esculenta)

reconhecidas pelos agricultores por nomenclatura popular local (Peroni 2004)

33

O tempo meacutedio de experiecircncia na agricultura foi de 40 anos Cada agricultor possui entre um e 170

dois roccedilados (aacuterea de plantio) com aproximadamente um a dois hectares 171

Redes de interaccedilatildeo social 172

Confeccionamos a rede que descreve as interaccedilotildees entre os agricultores e as 173

etnovariedades cultivadas a partir de uma matriz de incidecircncia R (presenccedilaausecircncia) onde nas 174

linhas estavam as etnovariedades de mandioca cultivadas (j) e nas colunas os agricultores locais 175

(i) O elemento Rij dessa matriz foi 1 (um) no caso de a etnovariedade j ser cultivada pelo 176

agricultor i caso contraacuterio seria atribuiacutedo 0 (zero) As interaccedilotildees entre os agricultores e as 177

etnovariedades foram descritas em dois modos (Pires et al 2011) onde os ldquonoacutesrdquo da esquerda 178

representam os agricultores que foram vinculados aos ldquonoacutesrdquo da direita representados pelas 179

etnovariedades citadas durante as entrevistas Esses ldquonoacutesrdquo seriam o espelho das decisotildees dos 180

agricultores em manter um determinado conjunto local de etnovariedades em suas roccedilas 181

Avaliamos a estrutura da rede que conecta os agricultores agraves etnovariedades cultivadas 182

a partir de trecircs cenaacuterios hipoteacuteticos (Fig 6) segundo Cachevia et al (2014) No primeiro se os 183

agricultores apresentassem diferentes graus de seletividade para a utilizaccedilatildeo de suas 184

etnovariedades a estrutura seria aninhada (Fig 6a) Isso significa que alguns agricultores 185

cultivam vaacuterias etnovariedades enquanto que outros cultivam o subconjunto mais 186

disponiacutevelcomum dessas etnovariedades Em segundo lugar se a rede apresentasse uma 187

estrutura modular (Fig 6b) significaria que os agricultores apresentam semelhanccedila na seleccedilatildeo 188

do recurso ou seja subgrupos de agricultores cultivam subgrupos distintos de etnovariedades 189

regionalmente disponiacuteveiscomuns E o terceiro se os agricultores natildeo apresentassem 190

preferecircncias quanto a seleccedilatildeo das etnovariedades entatildeo a rede apresentaria uma estrutura 191

aleatoacuteria (Fig 6c) 192

O objetivo da anaacutelise de rede nesse estudo foi tentar entender se o conjunto de 193

etnovariedades presentes no local do estudo constituem uma subamostra de um conjunto mais 194

34

amplo no caso de um alto grau de aninhamento ou se a sua composiccedilatildeo eacute determinada por 195

variaacuteveis locais (Ulrich 2008) Onde as conexotildees entre os informantes e as etnovariedades 196

representam as decisotildees dos agricultores de manter um conjunto determinado de variedades de 197

mandioca dentre as comunidades Esta anaacutelise tambeacutem nos permitiu identificar quais os nuacutecleos 198

de etnovariedades que apresentam maior conexatildeo com os diferentes perfis dos agricultores 199

Diversidade fenotiacutepica 200

Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 201

Apoacutes as entrevistas buscamos identificar quais os caracteres morfoloacutegicos considerados 202

mais importantes para a diferenciaccedilatildeo das etnovariedades de mandioca a partir do seguinte 203

questionamento ldquoQuais as diferenccedilas que vocecirc reconhece para separar uma qualidade de 204

mandioca (variedade) de uma outrardquo Assim os agricultores mencionaram quais os criteacuterios 205

mais importantes utilizados para a caracterizaccedilatildeo de suas etnovariedades 206

Compilamos uma listagem dessas caracteriacutesticas baseada nas indicaccedilotildees dos 207

agricultores e a partir delas selecionamos os caracteres morfoloacutegicos mais citados para a 208

caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica ldquoin siturdquo tais como cor da folha (cor da folha desenvolvida) olho 209

(cor do broto foliar) cor do talo (cor do peciacuteolo) maniva (cor externa do caule) embriatildeo 210

(protuberacircncia da cicatriz foliar) cor da entrecasca (coacutertex da raiz) e cor miolo (polpa da raiz) 211

(Tabela 1) O objetivo dessa caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica foi indicar como estaacute distribuiacuteda a 212

variaccedilatildeo fenotiacutepica das etnovariedades de mandioca nas comunidades na regiatildeo semiaacuterida de 213

Pernambuco bem como identificar que caracteriacutesticas satildeo mais importantes para distinguir 214

esses grupos no intuito de tentar entender como os agricultores classificam suas variedades de 215

mandioca 216

Nas sete comunidades para cada etnovariedade citada no roccedilado caracterizamos ldquoin 217

siturdquo trecircs indiviacuteduos de M esculentade de cada uma totalizando 171 indiviacuteduos (Aracuatilde=11 218

35

Caratildeo=4 Satildeo Joseacute do Bola=13 Brejo Velho=16 Japaranduba de Baixo=6 Japaranduba de 219

Cima=3 e Lajedo Dantas=4) Fotografamos e avaliamos todos os indiviacuteduos com base em parte 220

dos descritores morfoloacutegicos seguindo recomendaccedilotildees de Fukuda amp Guevara (1998) e aleacutem 221

disso georreferenciamos todas as aacutereas de roccedila 222

Anaacutelise dos dados 223

Analisamos os dados socioeconocircmicos das entrevistas semiestruturadas por meio de 224

estatiacutestica descritiva para explicar os aspectos da realidade econocircmica e social dos agricultores 225

Para identificar se a diversidade intraespeciacutefica da mandioca cultivada localmente eacute 226

influenciada por paracircmetros socioeconocircmicos utilizamos o coeficiente de correlaccedilatildeo de 227

Spearman (Ple005) (Sokal amp Rohlf 1995) 228

Com base na lista livre das variedades de mandioca cultivadas pelos agricultores 229

calculamos a frequecircncia de citaccedilatildeo o ranking e o iacutendice de saliecircncia com o objetivo de 230

identificar quais as mais importantes ou preferidas para as comunidades O iacutendice de saliecircncia 231

considerou a frequecircncia de citaccedilatildeo e o ranking referente ao posicionamento das variedades 232

dentro das listas livres (Thompson amp Juan 2006) As etnovariedades mais citadas e com maior 233

valor de saliecircncia representam as de maior importacircncia ou preferecircncia para as comunidades 234

Anaacutelise de rede 235

Medimos o grau de aninhamento (NODF) para investigar a estrutura de rede de 236

interaccedilatildeo social dos agricultores em funccedilatildeo das variedades cultivadas As matrizes altamente 237

aninhadas apresentam NODF tendendo a 1 caso contraacuterio tentem a ser 0 238

Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 239

Para o estudo das semelhanccedilas e diferenccedilas fenotiacutepicas entre as variedades de mandioca 240

ldquoin siturdquo realizamos anaacutelises multivariadas para identificar possiacuteveis grupos de variedades que 241

compartilham semelhanccedilas entre si 242

36

A anaacutelise de correspondecircncia muacuteltipla (MCA) permitiu identificar como as variedades 243

de mandioca estatildeo ordenadas em funccedilatildeo dos seus descritores etnobotacircnicos As etnovariedades 244

foram plotadas ao longo um plano cartesiano bi ou tridimensional onde a variaccedilatildeo total eacute 245

explicada pelos dois primeiros eixos Complementar a esta anaacutelise realizamos a anaacutelise de 246

agrupamento hieraacuterquico (Cluster) para identificar como estatildeo agrupadas as etnovariedades de 247

acordo seus descritores Conferimos a consistecircncia do dendrograma com coeficiente de 248

correlaccedilatildeo cofeneacutetica conforme Sneath amp Sokal (1973) que quantifica se a correlaccedilatildeo entre a 249

matriz de distacircncias originais e a matriz de distacircncias cofeneacuteticas eacute representativa Para 250

mensurar as dissimilaridades entre as variedades de mandioca foi utilizada a distacircncia 251

euclidiana e com o meacutetodo de Ward 252

Softwares utilizados 253

Para a anaacutelise da lista livre usamos o software ANTROPAC versatildeo 10 O software 254

ANINHADO 30 (Guimaratildees amp Guimaratildees 2006) foi usado para medir o grau de aninhamento 255

da rede Utilizamos o software estatiacutestico R (R core team 2017) para a anaacutelise de correlaccedilatildeo 256

de Spearman com o pacote corrplot (Wei amp Simko 2013) o desenho da rede que descreve a 257

interaccedilatildeo entre os agricultores e as etnovariedades com o pacote bipartite (Dormann et al 258

2017) E com os pacotes FactoMineR (LEcirc et al 2008) factoextra (Kassambara et al 2016) e 259

vegan (Oksanen et al 2017) foram realizadas as anaacutelises de cluster de correspondecircncia 260

muacuteltipla (MCA) e de correlaccedilatildeo coefeneacutetica respectivamente 261

Resultados 262

As diferentes etnovariedades de mandioca encontradas no estudo suprem a demanda 263

local por alimento enquanto outras atendem agraves preferecircncias individuais ou do comeacutercio As 264

variedades que possuem maior rendimento e a farinha produzida apresenta coloraccedilatildeo branca 265

satildeo as de maior valor comercial para os agricultores devido agraves preferecircncias do mercado Jaacute 266

37

outras variedades que satildeo mais moles e apresentam coloraccedilatildeo amarelada natildeo satildeo empregadas 267

na produccedilatildeo de farinha mas sim consumidas cozidas ou assadas A depender da demanda local 268

os agricultores intencionalmente aumentam ou diminuem a frequecircncia de suas variedades nos 269

roccedilados seja por alguma exigecircncia do comeacutercio ou para consumo familiar 270

Nas comunidades os agricultores separam suas variedades de mandioca em dois grupos 271

como observado em outras comunidades na mata Atlacircntica por Emperaire e Peroni (2007) o 272

das ldquomacaxeirasrdquo que satildeo as variedades exploradas basicamente para o consumo familiar sem 273

processo preacutevio de desintoxicaccedilatildeo cujas raiacutezes satildeo consumidas fritas eou cozidas Sendo 274

utilizadas tambeacutem como complemento na dieta dos animais E o grupo das ldquomandiocasrdquo que 275

satildeo as variedades que necessitam de processo preacutevio de desintoxicaccedilatildeo para o consumo 276

utilizadas comumente para a produccedilatildeo de farinha de mandioca Para os agricultores as 277

ldquomandiocasrdquo possuem maior valor comercial pois apresentam maior rendimento e 278

rentabilidade pois a farinha produzida eacute branca e atende as preferencias do comercio local 279

Aleacutem da farinha outros produtos e subprodutos produzidos dentre os quais foram citados 280

ldquotapioca ou gomardquo ldquobijurdquo ou ldquobolo de mandiocardquo satildeo utilizados para o consumo proacuteprio ou 281

eventual comercializaccedilatildeo 282

Os informantes natildeo possuiacuteam conhecimento sobre a origem dos nomes das variedades 283

de mandioca Quanto a compreensatildeo da geraccedilatildeo da diversidade intraespeciacutefica identificamos 284

que apesar de 66 dos agricultores citarem que conhecem variedades fruto de germinaccedilatildeo de 285

suas sementes nenhum deles utiliza as manivas para o plantio por essas variedades de 286

mandioca ldquovoluntaacuteriasrdquo natildeo apresentarem bom rendimento 287

Observamos que existe uma baixa correlaccedilatildeo entre a diversidade de variedades 288

atualmente cultivadas e as variaacuteveis socioeconocircmicas como no caso do nuacutemero de roccedilados 289

(r=028 Ple005) e do tamanho do roccedilado (r=033 Ple005) (Fig 7) Essa baixa correlaccedilatildeo pode 290

38

ser explicada pelo fato de existirem grupos de agricultores que preferem manter as variedades 291

de maior valor econocircmico e de subsistecircncia mesmo com aacutereas maiores de cultivo 292

Verificamos tambeacutem uma correlaccedilatildeo positiva moderada entre o nuacutemero de variedades 293

conhecidas com o nuacutemero de variedades atualmente cultivadas (r=054 Ple005) Na lista livre 294

foram identificadas 22 etnovariedades de mandioca cultivadas (132 citaccedilotildees no total) sendo 295

oito dessas mais citadas com maiores valores de saliecircncia (entre 047 e 0082) (Tabela 2) As 296

etnovariedades ldquoMacaxeira Rosardquo e ldquoMandioca Isabel de Souzardquo exibiram os maiores valores 297

de saliecircncia 047 e 037 respectivamente Logo essas variedades satildeo as mais conhecidas 298

dentro das comunidades com 66 e 48 das citaccedilotildees respectivamente 299

Dentre as etnovariedades citadas 12 foram idiossincraacuteticas pois apresentaram menor 300

frequecircncia de citaccedilatildeo e menores valores de saliecircncia (entre 0032 e 0006) (Tabela 2) 301

Redes de interaccedilatildeo social 302

A rede apresentou uma estrutura aninhada com grau de aninhamento significativamente 303

superior aos modelos nulos (N=3072 Plt0001) para as comunidades sendo um nuacutecleo de 304

etnovariedades altamente conectado aos agricultores (Fig 8) A estrutura aninhada nos permite 305

inferir que existe um grupo de agricultores que cultiva uma maior diversidade de etnovariedades 306

de mandioca em suas roccedilas enquanto que outro subgrupo que tem menor diversidade cultivam 307

as mais comuns ou disponiacuteveis (Cavechia et al 2014) Isso significa que os agricultores locais 308

mesmo em diferentes comunidades cultivam um nuacutecleo de etnovariedades comum entre eles 309

(n=6 Tabela 2) 310

Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 311

Observamos que a maioria dos indiviacuteduos de mandioca satildeo caracterizados por meio de 312

um conjunto de sete caracteres morfoloacutegicos os quais foram citados pelos agricultores como 313

mais importantes para a caracterizaccedilatildeo de suas variedades Nas visitas aos roccedilados registramos 314

39

as etnovariedades atualmente cultivadas e a tabela 3 fornece a lista completa com as 17 315

etnovariedades de mandioca e o local de registro 316

Por meio da anaacutelise de correspondecircncia muacuteltipla as variedades de mandioca foram 317

ordenadas em funccedilatildeo de seus descritores ao longo do primeiro e segundo eixo correspondentes 318

a 3680 da variacircncia total (Fig 9) 319

As variaacuteveis mais correlacionadas e que agruparam as variedades de mandioca no 320

primeiro eixo foram cor da folha desenvolvida (CFD) (r= 07239 Ple0001) cor do coacutertex da 321

raiz (CDR) (r= 06473 Ple0001) cor do broto foliar (CBF) (r= 06880 Ple0001) cor do peciacuteolo 322

(CDP) (r= 05250 Ple005) cor externa do caule (CEC) (r= 06883 Ple005) cor da polpa da 323

raiz (PDR) (r= 02473 Ple005) Para o segundo eixo as variaacuteveis correlacionadas foram cor 324

da folha desenvolvida (CFD) (r= 07220 Ple0001) cor externa do caule (CEC) (r= 08718 325

Ple0001) e cor do peciacuteolo (CDP) (r= 06927 Ple005) 326

O agrupamento de todas as variedades caracterizadas ldquoin siturdquo gerou uma aacutervore 327

hieraacuterquica (dendrograma) (Fig 9) utilizando a distacircncia euclidiana seguindo o criteacuterio de 328

Ward O dendrograma gerado apresentou um coeficiente de correlaccedilatildeo cofeneacutetica r= 06780 329

indicando que existe consistecircncia com os dados originais no agrupamento quanto agrave 330

classificaccedilatildeo e estrutura de tal forma que as variedades foram agrupadas em oito classes as 331

quais foram explicadas pelas variaacuteveis mais significativas descritas na tabela 4 332

O resultado do agrupamento (utilizada a distacircncia euclidiana e com o meacutetodo de Ward) 333

observamos que as etnovariedades de mandioca caracterizadas ldquoin siturdquo foram agrupadas em 334

dois grandes agrupamentos indicados na Fig 10 pelos retacircngulos em vermelho A partir dessa 335

anaacutelise percebemos que os caracteres morfoloacutegicos selecionados pelos agricultores natildeo foram 336

suficientes para separar as variedades de macaxeira e mandioca pois em ambos os 337

agrupamentos encontramos tanto macaxeiras quanto mandiocas 338

40

As variedades da classe 1 foram identificadas pelos agricultores pela cor do peciacuteolo 339

(CDP) verde A classe 2 agrupou as etnoveriedades caracterizadas pela protuberacircncia da cicatriz 340

foliar (PCF) mais protuberante Esse descritor segundo os agricultores era identificado como 341

ldquoembriatildeordquo A classe 3 consiste apenas da variedade ldquoMandioca Pretonardquo indicada pela presenccedila 342

de cor do peciacuteolo (CDP) vermelho A classe 4 agrupou trecircs variedades caracterizadas pelos 343

agricultores pela presenccedila de cor coacutertex da raiz (CDR) rosa e cor da polpa da raiacutez (PDR) branca 344

identificadas como ldquoMacaxeira vermelhardquo ldquoMacaxeira Rosa Brancardquo ldquoMacaxeira Rosardquo As 345

variedades agrupadas na classe 5 foras as variedades de mandioca caracterizadas pelos 346

agricultores por apresentarem cor do coacutertex (CDR) da raiacutez branca A classe 6 agrupou 347

variedades identificadas pelos agricultores pela cor do broto foliar (CBF) verde A classe 7 348

consiste apenas da variedade ldquoMacaxeira Sementerdquo identificada pelos agricultores pela cor do 349

peciacuteolo (CDP) roxo e protuberacircncia da cicatriz foliar pouco proeminente Essa variedade 350

segundo os agricultores era fruto do nascimento espontacircneo no roccedilado poreacutem eles geralmente 351

natildeo utilizam essas variedades por apresentarem apenas uma raiz pequena e de baixo 352

rendimento Na classe 8 as variedades foram identificadas pelos agricultores pela cor do peciacuteolo 353

(CDP) verde amarelado e protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) pouco proeminente As 354

ldquoMandioca Isabel de Souzardquo ldquoMandioca Isabel trecircs galhosrdquo segundo os agricultores se 355

diferenciavam pelo maior nuacutemero de caules presentes na variedade ldquoIsabel trecircs galhosrdquo 356

Discussatildeo 357

As sete comunidades estudadas manejavam um nuacutemero consideraacutevel de variedades 358

locais A quantidade de etnovariedades registradas eacute proacutexima a encontrada por Bender et al 359

(2009) e Cavechia et al (2014) em comunidades na regiatildeo sul e sudeste por Oler e Amorozo 360

(2017) em uma comunidade tradicional na regiatildeo centro-oeste Poreacutem foi quantitativamente 361

inferior quando comparada a estudos como os de Elias et al (2001) e Kawa et al (2013) em 362

comunidades na regiatildeo amazocircnica pois possuiacuteam uma alta diversidade Essa alta diversidade 363

41

na regiatildeo amazocircnica pode estar relacionada com o fato de que essa regiatildeo eacute o provaacutevel centro 364

de origem da mandioca (M esculenta) (Allem 1994) 365

As etnovariedades registradas neste estudo estatildeo disponiacuteveis para a maioria dos 366

agricultores dessa regiatildeo e esse fator favorece a circulaccedilatildeo das etnovariedades entre as 367

comunidades locais Por isso haacute semelhanccedilas das etnovariedades utilizadas entre os agricultores 368

da mesma comunidade e entre comunidades vizinhas 369

Parte dos agricultores optam por manter uma alta frequecircncia de variedades mais 370

utilizadas enquanto que outros optam por manter etnovariedades de baixa frequecircncia 371

Conforme discutido por Amorozo (2013) os agricultores escolhem seu acervo de acordo com 372

as necessidades e contexto em que vivem A reduccedilatildeo da diversidade de etnoveriedades por 373

exemplo pode ser impulsionada por fatores que simplificam o sistema como a seleccedilatildeo de 374

etnovariedades para a produccedilatildeo de farinha resultando no cultivo de poucas ou ateacute de uma uacutenica 375

etnovariedade (Peroni amp Hanazaki 2002) mesmo em aacutereas maiores 376

377

Redes de interaccedilatildeo social 378

Com as anaacutelises de rede demonstramos que os agricultores de diferentes comunidades 379

em uma mesma regiatildeo efetivamente trocam variedades de mandioca entre si corroborando 380

com estudos realizados por Emperaire amp Eloy (2008) Pautasso et al (2012) e Cavechia et al 381

(2014) Nesses estudos os autores tambeacutem consideram que as trocas de etnovariedades por 382

meio da rede de intercacircmbio entre os agricultores eacute um mecanismo fundamental para a 383

manutenccedilatildeo da diversidade local 384

A visualizaccedilatildeo da rede demonstrou que entre as comunidades os agricultores 385

compartilham um nuacutecleo de etnovariedades mais utilizadas dentre as quais estatildeo as de maior 386

valor econocircmico e de subsistecircncia Essas de maior frequecircncia satildeo aquelas altamente produtivas 387

utilizadas pelos agricultores para atenderem agraves demandas de mercado por farinha e para o 388

consumo proacuteprio (Kawa et al 2013) 389

42

No entanto observamos que existe outro nuacutecleo de etnovariedades menos frequentes 390

Essas etnovariedades raras podem ser resultantes do processo de experimentaccedilatildeo ou 391

preferecircncias individuais dos agricultores Outra possiacutevel razatildeo para a baixa frequecircncia de 392

algumas etnovariedades poderia ser explicada pela variaccedilatildeo da nomenclatura pelos 393

agricultores que segundo Peroni amp Hanazaki (2002) pode ocorrer durante o processo de troca 394

e introduccedilatildeo de novas variedades aos roccedilados Ainda assim natildeo descartamos a hipoacutetese de que 395

essas etnovariedades raras possam ser provenientes do cruzamento entre variedades diferentes 396

cultivadas da mesma roccedilado ou em roccedilas vizinhas De acordo com Martins (2005) essas 397

variedades fruto de germinaccedilatildeo expentacircnea satildeo incorporadas aos roccedilados pelos agricultores 398

pela curiosidade em experimentar novas variedades agraves suas coleccedilotildees 399

Nesse estudo admitimos que optar por etnovariedades raras entre as comunidades 400

estudadas eacute um comportamento adotado por agricultores que manejam uma maior diversidade 401

corroborando com os estudos de Cavechia et al (2014) e Emperaire et al (2016) em regiotildees 402

uacutemidas Para esses autores etnovaridedades de baixa frequecircncia representam um subconjunto 403

das de alta frequecircncia cultivadas por agricultores que manteacutem a maior diversidade em seus 404

roccedilados Sendo assim inferimos que no geral entre as comunidades satildeo os agricultores 405

generalistas aqueles que cultivam maior diversidade os responsaacuteveis por incorporar novas 406

etnovariedades aos roccedilados 407

As decisotildees dos agricultores em manter o acervo direcionado principalmente para 408

atender a demanda de mercado por exemplo podem levar a uma homogeneizaccedilatildeo nas roccedilas 409

colocando em risco a manutenccedilatildeo da diversidade local (Peroni amp Hanazaki 2002) Como 410

discutido por Elias et al (2000) os agricultores que selecionam apenas um nuacutemero reduzido e 411

especiacutefico de variedades mais produtivas tendem a fazer com que as variedades menos 412

frequentes desapareccedilam ao longo do tempo Essa tendecircndia pode influenciar na capacidade de 413

43

resiliecircncia do sistema assim como dos agricultores em lidar com possiacuteveis adversidades 414

ambientais que possam ocorrer 415

Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 416

No geral os agricultores demonstraram uma tendecircncia em classificarseparar suas 417

diferentes etnovariedades de mandioca a partir da combinaccedilatildeo de um conjunto de sete 418

caracteres morfoloacutegicos distintos e de faacutecil percepccedilatildeo os quais natildeo tem relaccedilatildeo com o uso 419

como por exemplo a cores das raiacutezes caule e folhas Logo consideramos que esses caracteres 420

morfoloacutegicos podem ser considerados como uma forma de classificaccedilatildeo pelos agricultores 421

baseada na capacidade percepccedilatildeo das diferenccedilas morfoloacutegicas que cada etnovariedades 422

apresenta (Boster 1985) Estes resultados nos levam a entender que entre os agricultores o 423

conhecimento sobre a diversidade da mandioca estaacute relacionado ao conhecimento de 424

caracteriacutesticas morfoloacutegicas consistentes 425

A existecircncia de alguns fenoacutetipos comuns nos permitiu avaliar a classificaccedilatildeo da 426

consistecircncia da taxonomia popular entre os agricultores Por exemplo as etnovariedades 427

ldquoMaxaceira Rosardquo e ldquoMacaxeira Rosa Brancardquo e ldquoMacaxeira vermelhardquo foram agrupadas no 428

mesmo cluster (C4) por apresentaram fenoacutetipos semelhantes Notamos que os agricultores 429

classificaram essas variedades de acordo com os traccedilos morfoloacutegicos mais relevantes como a 430

cor do coacutertex da raiz rosa e cor branca da polpa O mesmo ocorreu com as etnovariedades 431

ldquoMandioca varudardquo ldquoMandioca campina da granderdquo e ldquoMandioca campinardquo caracterizadas 432

pela presenccedila do peciacuteolo verde agrupadas no cluster (C1) 433

A partir dessas evidecircncias consideramos a hipoacutetese de que as variedades mesmo 434

apresentando caracteriacutesticas morfoloacutegicas muito semelhantes estatildeo sujeitas a variaccedilatildeo 435

nomenclatural durante o processo a incorporaccedilatildeo aos roccedilados pelos agricultores pois a 436

capacidade para distinguir e nomear variedades entre os agricultores da mesma regiatildeo pode 437

variar (Sambatti et al 2001 Elias et al 2001 Mekbib 2007) Consideramos tambeacutem que pode 438

44

existir variaccedilatildeo geneacutetica entre os indiviacuteduos identificados por um mesmo nome ou entatildeo que 439

os agricultores datildeo o mesmo nome para variedades diferentes E esta situaccedilatildeo pode levar a uma 440

superestimaccedilatildeo ou subestimaccedilatildeo da diversidade de mandioca cultiva nas aacutereas de estudo 441

Sabemos que a mandioca eacute propagada vegetativamente pelos agricultores por meio de 442

estacas em sistemas de agricultura tradicional No entanto alguns variedades produzem flores 443

e sementes que germinam e podem originar outras variedades ou outros clones por meio de 444

fecundaccedilatildeo cruzada (Elias et al 2001) Nesse contexto a etnovariedade ldquoMacaxeira Sementerdquo 445

presente no cluster (C7) trata-se de um uacutenico indiviacuteduo amostrado em uma roccedila de um dos 446

agricultores Esta apresentava algumas caracteriacutesticas morfoloacutegicas distintas das demais 447

reconhecidas pelo agricultor como por exemplo a produccedilatildeo de uma raiz uacutenica e 448

consequentemente de baixo rendimento Encontramos apenas um indiviacuteduo dessa 449

etnovariedade e nossa hipoacutetese de que esta poderia ter sido originada da germinaccedilatildeo da 450

semente mesmo quando 100 dos informantes declararam natildeo dar qualquer importacircncia e 451

descartar essas ldquovariedades-voluntaacuteriasrdquo foi confirmada pelo agricultor que afirmou que se 452

tratava de uma variedade nascida da germinaccedilatildeo da semente Esse comportamento vai de 453

encontro ao estudo de Fraser et al (2012) pois apesar dos agricultores reportarem nas 454

entrevistas que conhecem essas ldquovariedades-voluntaacuteriasrdquo nenhum agricultor faz o uso delas 455

Peroni et al (1999) e Agre et al (2016) analisando morfologicamente as variedades 456

locais de mandioca mantidas por agricultores em sistemas agriacutecolas tropicais tambeacutem 457

demonstraram que os agricultores satildeo coerentes quanto a separaccedilatildeo e identificaccedilatildeo de suas 458

etnovariedades a partir da formaccedilatildeo de grupos de coesos quanto a nomenclatura local utilizada 459

No entanto para o melhor entendimento dessa diversidade aleacutem da caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica 460

o uso de anaacutelises complementares como anaacutelise molecular seria importante para tentar 461

identificar se esses grupos representam a mesma variedade com nomes distintos ou se satildeo 462

variedades distintas com o mesmo nome 463

45

Conclusatildeo 464

O estudo demonstrou que no sistema de manejo da mandioca ao niacutevel de roccedila em 465

comunidades localizadas na regiatildeo semiaacuterida de Pernambuco compotildee uma diversidade 466

intrespeciacutefica de mandioca para atender agraves demandas econocircmicas e de subsistecircncia das 467

populaccedilotildees locais 468

Com relaccedilatildeo a anaacutelise de rede demostramos que haacute um nuacutecleo de etnovariedades 469

fortemente conectado aos agricultores e sua composiccedilatildeo eacute direcionada pelas preferecircncias e 470

necessidades individuais dos agricultores que foram os fatores responsaacuteveis pelo surgimento 471

da estrutura aninhada observada na anaacutelise rede entre as comunidades deste estudo E esse 472

padratildeo aninhado observado contribui na conservaccedilatildeo das etnovariedades mais comuns mas 473

tambeacutem pode resultar em perda daquelas de menor frequecircncia ao longo do tempo 474

A caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica ldquoin siturdquo nos permitiram inferir que os agricultores 475

reconhecem as diferentes caracteriacutesticas morfoloacutegicas de suas cultivares e satildeo coerentes na 476

separaccedilatildeo de suas variedades de mandioca e macaxeira Entretanto esses resultados sugerem a 477

realizaccedilatildeo de um estudo em niacutevel de diversidade geneacutetica exploratoacuterio para identificar se as 478

consistecircncias morfoloacutegicas refletem em consistecircncias geneacuteticas elucidando assim as possiacuteveis 479

confusotildees atribuiacutedas aos nomes das etnovariedades de mandioca 480

Agradecimentos 481

Agradecemos ao liacuteder comunitaacuterio Alexandre O Nascimento aos agricultores e 482

agricultoras das comunidades pela acolhida confianccedila e pela gentileza de compartilharem 483

conosco seus conhecimentos e contribuiacuterem com este estudo Especialmente a Arlindo Ferreira 484

Edgar Antocircnio Joseacute Sebastiatildeo Juvenal Oliveira e Janete Alves Ao Laboratoacuterio de Ecologia e 485

Evoluccedilatildeo de Sistemas Socioecoloacutegicos (LEA - UFPE) E agradecemos ao CNPq pelo apoio 486

com a bolsa de estudos do primeiro autor 487

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073 230(231) 11 613

614

51

ANEXOS 615

616

Nome da revista 617

Human Ecology 618

Link de acesso 619

httpsgooglDVLbFj 620

Qualis-CAPES 621

B1 em Biodiversidade 622

623

624

625

626

627

628

629

630

631

632

633

634

635

636

637

638

639

640

641

642

52

Figuras 643

644

645

Fig 1 Partes do processo de fabricaccedilatildeo de farinha de mandioca Onde a raspagem b e c 646

processo de trituraccedilatildeo e d peneiramento Foto registrada em Abril de 2017 por Mirela Santos 647

648

649

650

c

d

b

a

53

651

Fig 2 Mapa de localizaccedilatildeo geograacutefica dos Municiacutepios de Altinho e Panelas e das comunidades 652

estudadas na regiatildeo semiaacuterida do Estado de Pernambuco (Elaborado por SANTOS 2018) 653

54

654

655

656

657

Fig 3 Processo de fabricaccedilatildeo da farinha de mandioca Apoacutes a colheita as raiacutezes satildeo lavadas 658

raspadas e trituradas (a) A massa extraiacuteda eacute prensada e coada Ao sair da prensa a massa 659

peneirada (b) e em seguida eacute torrada (c) em fornos artesanais ou parcialmente mecanizados 660

Imagem registrada em janeiro de 2017 na Comunidade do Caratildeo por Mirela Santos 661

662

663

a

b c

55

664

Fig 4 a Sede da Comunidade do Caratildeo b Agricultor transportando a palma forrageira que eacute 665

um exemplo de estrateacutegia adaptativa para suprir a falta de alimento dos animais devido agrave seca 666

c Feira-livre que acontece na comunidade a cada quinze dias Imagem registrada em julho de 667

2016 na Comunidade do Caratildeo por Mirela Santos 668

669

670

Fig 5 a O agricultor nos explicava as mudanccedilas que vem fazendo em seus roccedilados para se 671

adaptar aos longos periacuteodos de seca b Quando o agricultor nos mostrava as diferentes 672

etnovariedades que mantinha em sua roccedila c Durante a pesquisa nos explicavam como era feita 673

a colheita da mandioca e como selecionavam as manivas para o proacuteximo plantio Foto registrada 674

em abril de 2017 na Comunidade do Brejo Velho por Mirela Santos 675

a

b c

c b

a

56 676

677

Fig 6 Possiacuteveis estruturas de rede que descrevem as interaccedilotildees dos agricultores (losango) 678

ligados as etnovariedades (ciacuterculos) que cultivam Onde a Aninhada b Modular c Aleatoacuteria 679

(Fonte Cavechia et al 2014 com adaptaccedilotildees) 680

681

682

683

684

685

686

687

688

689

690

691

692

693

694

695

696

697

a c b

57

698

699

700

701

702

703

704

705

706

707

Fig 7 Correlaccedilatildeo de Spearman entre a diversidade de etnovariedades de mandiocas conhecidas 708

como cultivadas e variedades atualmente cultivadas por agricultor e as variaacuteveis 709

socioeconocircmicas Onde Nvc= nuacutemero de citadas como cultivadas Nve= nuacutemero de variedades 710

atualmente cultivadas Esc= escolaridade Id= idade Gen= gecircnero Tr= tamanho do roccedilado 711

Exp= experiecircncia na agricultura Sld= renda Nr= nuacutemero de roccedilados Cores distintivas 712

representam correlaccedilotildees significativas (Ple005) 713

714

58

715

Fig 8 Modelo individual de rede de etnovariedades de mandioca citadas (esquerda) por 716

agricultores como cultivadas (direita) nos Municiacutepios de Altinho e Panelas As redes foram 717

desenhadas com o pacote bipartite (Dormann et al 2017) usando o software R (R CORE 718

TEAM 2017) 719

720

59

721

Fig 9 Anaacutelise de Correspondecircncia Muacuteltipla das 17 etnovariedades de mandioca considerando 722

os sete descritores morfoloacutegicos utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo em roccedilas de 723

agricultores tradicionais de sete comunidades no semiaacuterido de Pernambuco 724

725

726

727

728

729

730

731

732

733

734

735

736

737

McCambadinha

McCampina

McCampinaDaGrande

McCampinaRasteira

McCampinaVaruda

McGauba

McIsabelDeSouza

McIsabelTresGalhos

McOlhoDePombo

McOlhoVerde

McPretinha

McPretona

MxBranca

MxRosa

MxRosaBrancaMxRosaVermelha

MxSemente

CFD_Verde_Arroxeado

CFD_Verde_ClaroCFD_Verde_Escuro

CBF_Roxo

CBF_Verde_ArroxeadoCBF_Verde_Claro

CBF_Verde_Escuro

CDP_Verde

CDP_Verde_Amarelado

CDP_Verde_Avermelhado

CDP_Vermelho

CEC_Cinza

CEC_Dourado

CEC_Laranja

CEC_Marrom_Claro

CEC_Marrom_Escuro

CEC_Prateado

CEC_Verde_AmareladoCicatriz_M

Cicatriz_P

PDR_Branco

PDR_Creme

CDR_BrancoCDR_Creme CDR_Rosa

-4

-2

0

2

4

-4 -2 0 2 4

Dim1 (206)

Dim

2 (

162

)

MCA - Biplot

00

10

Hierarchical Clustering

inertia gain

McC

am

pin

aV

aru

da

McC

am

pin

aD

aG

rande

McC

am

pin

a

McG

auba

McP

retin

ha

McP

reto

na

MxR

osaV

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MxR

osaB

ranca

MxR

osa

McC

am

pin

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ira

McC

am

badin

ha

McO

lhoV

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e

MxB

ranca

MxS

em

ente

McIsabelT

resG

alh

os

McIsabelD

eS

ouza

McO

lhoD

eP

om

bo

00

05

10

15

Hierarchical Classification

Heig

ht

C1 C2 C3 C4 C5 C6 C7 C8

Fig 10 Agrupamento hieraacuterquico das 17 etnovariedades de mandioca caracterizadas de acordo

com os descritores utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo

60

Tabelas 738

739

Tabela 1 Caracteres e estados utilizados pelos agricultores como descritores botacircnicos para 740

caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das etnovariedades de mandioca 741

Caracter Sigla Estados

Folha

Cor da folha desenvolvida CFD 1- verde claro 2- verde escuro 3- verde arroxeado 4- roxo

Cor do broto foliar CBF 1- verde claro 2- verde escuro 3- verde arroxeado 4- roxo

Cor do peciacuteolo CDP 1- verde amarelado 2- verde 3- verde avermelhado 4- roxo

5- vermelho

Caule

Cor externa do caule CEC 1- laranja 2- verde amarelado 3- dourado 4- marrom claro

5- prateado 6- cinza 7- marrom escuro 8- verde

Protuberacircncia da cicatriz foliar PCF 1- pouco proeminente 2- muito proeminente

Raiacutez

Cor da poupa da raiz PDR 1- branco 2- creme

Cor do coacutertex da raiacutez CDR 1- rosa 2- branco 3- creme

742

743

744

745

746

747

748

749

750

751

61

Tabela 2 Lista das 22 etnovariedades de mandiocas citadas (132 citaccedilotildees) como cultivadas nas 752

comunidades pertencentes aos Municiacutepios de Altinho (Caratildeo n=8) e ao Municiacutepio de Panelas 753

(Aracuatilde Satildeo Joseacute do Bola Brejo Velho Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima e Lajeiro 754

Dantas n=21) 755

Etnovariedade Frequecircncia () Ranking Saliecircncia

Macaxeira Rosa 66 179 0472

Mandioca Isabel de Souza 48 179 0372

Mandioca Campina 24 217 0148

Macaxeira Branca 20 210 0134

Macaxeira Rosa branca 18 122 0168

Mandioca Pretona 16 338 0082

Mandioca Cambadinha 12 283 0071

Mandioca Isabel trecircs galhos 10 180 0075

Mandioca Gauacuteba 10 260 0070

Mandioca Pretinha 8 225 0053

Mandioca Peacute de pombo 4 400 0011

Mandioca Olho verde 4 350 0012

Macaxeira Rosinha 4 200 0027

Mandioca Campina varuda 4 200 0032

Mandioca Campina rasteira 4 300 0021

Mandioca Caboquinha 2 500 0007

Macaxeira Rasteira 2 200 0013

Macaxeira Paraacute 2 100 0020

Mandioca Barra ferro 2 300 0007

Mandioca Campina da grande 2 100 0020

Mandioca Olho de pombo 2 300 0010

Mandioca Jasmim 2 600 0006

756

757

758

62

Tabela 3 Lista de 17 etnovariedades atualmente cultivadas nos roccedilados das comunidades em 759

estudo 760

Ca Ar Bo Br Jb Jc Ld

Etnovariedade

Macaxeira Branca x x x x

Macaxeira Rosa

x x x x x x

Macaxeira Rosa Branca x x x x

Macaxeira Rosa Vermelha

x

Macaxeira Semente

x

Mandioca Cambadinha x

x

Mandioca Campina

x

x

x

Mandioca Campina da Grande x

Mandioca Campina Rasteira

x

Mandioca Campina Varuda

x

Mandioca Gauacuteba

x

Mandioca Isabel de Souza

x x x

Mandioca Isabel trecircs Galhos

x

x

Mandioca Olho de Pombo

x

Mandioca Olho Verde

x

Mandioca Pretinha

x

Mandioca Pretona x x x

Comunidades Ca= Caratildeo Ar=Aracuatilde Bo= Satildeo Joseacute do Bola Jb= Japaranduba de Baixo 761

Jc= Japaranduba de Cima Ld= Lajedo Dantas 762

763

764

765

766

767

768

63

Tabela 4 Descriccedilatildeo das classes do agrupamento por meacutetodo de Ward agrupadas pelo conjunto 769

dos descritores mais significativos para a caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das variedades de mandioca 770

Classes Descritores in situ p-valor

C1 Cor do peciacuteolo (CDP) 0016

C2 Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023

C3 Cor do peciacuteolo (CDP) 0012

C4 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0004

Cor da poupa da raiacutez (PDF) 0021

C5 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0003

C6 Cor do broto foliar (CBF) 0002

C7 Cor da folha desenvolvida (CFD) 0004

Cor externa do caule (CEC) 0040

C8 Cor do peciacuteolo (CDP) 0005

Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023

Valores de Ple005 satildeo significativos 771

772

ii

MIRELA NATAacuteLIA SANTOS

VARIACcedilAtildeO INTRAESPECIacuteFICA CONHECIMENTO E MANEJO LOCAL DE

MANDIOCA Manihot esculenta Crantz NO SEMIAacuteRIDO DE PERNAMBUCO

NORDESTE DO BRASIL

Dissertaccedilatildeo apresentada ao Programa de

Poacutes-Graduaccedilatildeo em Botacircnica ndash PPGB da

Universidade Federal Rural de Pernambuco como

parte dos requisitos para a obtenccedilatildeo do tiacutetulo de

Mestre em Botacircnica

Orientador

Dr Ulysses Paulino de Albuquerque

(Universidade Federal de Pernambuco)

Coorientador

Dr Reginaldo de Carvalho

(Universidade Federal Rural de Pernambuco)

RECIFE ndash PE

2018

iii Dados Internacionais de Catalogaccedilatildeo na Publicaccedilatildeo (CIP) Sistema Integrado de Bibliotecas da UFRPE Biblioteca Central Recife-PE Brasil

S237v Santos Mirela Nataacutelia Variaccedilatildeo intraespeciacutefica conhecimento e manejo local de mandioca Manihot esculenta Crantz no semiaacuterido de Pernambuco Nordeste do Brasil Mirela Nataacutelia Santos ndash Recife 2018 63 f il Orientador(a) Ulysses Paulino de Albuquerque Coorientador(a) Reginaldo de Carvalho Dissertaccedilatildeo (Mestrado) ndash Universidade Federal Rural de Pernambuco Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Botacircnica Recife BR-PE 2018 Inclui referecircncias 1 Agricultura tradicional 2 Agrobiodiversidade 3 Etnobiologia 4 Plantas Alimentiacutecias I Albuquerque Ulysses Paulino de orient II Carvalho Reginaldo de coorient III Tiacutetulo CDD 58115

iv

VARIACcedilAtildeO INTRAESPECIacuteFICA CONHECIMENTO E MANEJO TRADICIONAL

DE MANDIOCA Manihot esculenta Crantz NO SEMIAacuteRIDO DE PERNAMBUCO

NORDESTE DO BRASIL

MIRELA NATAacuteLIA SANTOS

Dissertaccedilatildeo apresentada ao Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo em Botacircnica da Universidade

Federal Rural de Pernambuco desenvolvido dentro da Linha de Pesquisa de

Etnobotacircnica e Botacircnica Aplicada como parte das exigecircncias para a obtenccedilatildeo do tiacutetulo

de Mestre em Botacircnica

Aprovada pela Banca Examinadora em ______2018

_____________________________________________

Dr Ulysses Paulino de Albuquerquendash Presidente

(Universidade Federal de Pernambuco)

_____________________________________________

Dra Andrecircsa Suana Argemiro Alves- Titular

(Universidade Federal Rural de Pernambuco)

_____________________________________________

Dra Ivanilda Soares Feitosa- Titular

(Universidade Federal Rural de Pernambuco)

________________________________________________

Dra Elcida de Lima Arauacutejo - Suplente

(Universidade Federal Rural de Pernambuco)

_____________________________________________

Dr Marcelo Alves Ramos - Suplente

(Universidade de Pernambuco)

Recife 2018

v

Aos meus pais Maacutercia Santos e Maacutezio Santos

e aos agricultores envolvidos na pesquisa

Dedico

vi

AGRADECIMENTOS

Ao meu orientador Dr Ulysses Paulino de Albuquerque de quem recebi o acolhimento

a orientaccedilatildeo e por quem experimentei um sentimento de admiraccedilatildeo Obrigada pela paciecircncia

oportunidades e por todo o conhecimento transmitido Agradeccedilo tambeacutem ao meu coorientador

Reginaldo de Carvalho que me abriu as portas para a realizaccedilatildeo do mestrado

A minha famiacutelia minha matildee Maacutercia meu pai Maacutezio e meu irmatildeo Maacutercio pois sempre

estiveram ao meu lado me incentivando e dando todo o suporte emocional Agradeccedilo pela

doaccedilatildeo e esforccedilos para que eu consiga alcanccedilar meus objetivos Pai obrigada por ser esse

exemplo de honestidade forccedila de vontade e dedicaccedilatildeo Agradeccedilo pela paciecircncia compreensatildeo

e sacrifiacutecios de longos trajetos que tivemos que enfrentar durante nossas idas e vindas para a

Universidade Matildee obrigada pela sua feacute e por me ensinar tanto com sua natureza humilde e

bondosa

Meus mais sinceros e profundos agradecimentos a todos os agricultores e agricultoras

que participaram desta pesquisa pela acolhida e confianccedila Obrigada por generosamente me

deixarem entrar em suas casas nos seus roccedilados na intimidade suas vidas e por compartilharem

comigo um pouco de seus conhecimentos dificuldades e principalmente ESPERANCcedilAS

Especialmente a Arlindo Ferreira Edgar Antocircnio Joseacute Sebastiatildeo e Juvenal Oliveira que satildeo

verdadeiros exemplos de humildade e solidariedade A Janete Alves e seu esposo Dida que me

hospedam em sua casa e me ajudaram de vaacuterias formas durante as minhas viagens de campo

Foi uma experiecircncia memoraacutevel e cada minuto embora difiacutecil foi fundamental para minha

formaccedilatildeo pessoal e profissional

A Viniacutecius Barbosa pela cumplicidade compreensatildeo e principalmente pela paciecircncia

Agradeccedilo por Deus ter me dado a oportunidade de compartilhar momentos inesqueciacuteceis ao

lado de uma pessoa tatildeo incriacutevel

Agradeccedilo tambeacutem agraves minhas amigas Amanda Eloi Jeacutessica Arruda Rayana Lima

Rayanne Gusmatildeo pela amizade de longas datas por todo apoio e compreensatildeo quando estive

ausente em nossos encontros Ao meu amigo Bartolomeu Neto pela ajuda com o

desenvolvimento do mapa das aacutereas em estudo

Aos meus companheiros de trabalho e parcerias do Laboratoacuterio de Ecologia e Evoluccedilatildeo

de Sistemas Socioecoloacutegicos (LEA - UFPE) que estiveram comigo durante este periacuteodo de

crescimento pessoal e profissional Em especial a Andreacute Borba Ivanilda Soares Juliane Hora

Nylber Silva Regina Ceacutelia Risoneide Henriques e Roberta Caetano

vii

A Rafael Zaacuterate agradeccedilo por toda disposiccedilatildeo dedicaccedilatildeo e aprendizado adquirido

Obrigada pelas horas de discussotildees sobre os temas do trabalho pelas ajudas em campo com as

anaacutelises estatiacutesticas e pela paciecircncia

Por fim agradeccedilo ao Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo em Botacircnica da Universidade Federal

Rural de Pernambuco (UFRPE) pela oportunidade de realizaccedilatildeo do mestrado e ao Conselho

Nacional de Desenvolvimento Cientifico e Tecnoloacutegico (CNPq) pela concessatildeo da bolsa de

incentivo a pesquisa

viii

ldquoEl mundo que nos rodea es un misterio ndash dijo-

Y los hombres no son mejores que ninguna otra cosardquo

Carlos Castaneda - Viaje a Ixtlaacuten

ix

LISTA DE FIGURAS

INTRODUCcedilAtildeO GERAL E REVISAtildeO DE LITERATURA

Fig 1 Partes do processo de fabricaccedilatildeo de farinha de mandioca Onde a raspagem b e c

processo de trituraccedilatildeo e d peneiramento 52

VARIACcedilAtildeO INTRAESPECIacuteFICA CONHECIMENTO E MANEJO LOCAL DE

MANDIOCA (Manihot esculenta Crantz) NO SEMIAacuteRIDO DE PERNAMBUCO

NORDESTE DO BRASIL

Fig 2 Mapa de localizaccedilatildeo geograacutefica dos Municiacutepios de Altinho e Panelas e das comunidades

estudadas na regiatildeo semiaacuterida do Estado de Pernambuco 53

Fig 3 Processo de fabricaccedilatildeo da farinha de mandioca Apoacutes a colheita as raiacutezes satildeo lavadas

raspadas e trituradas (a) A massa extraiacuteda eacute prensada e coada Ao sair da prensa a massa

peneirada (b) e em seguida eacute torrada (c) em fornos artesanais ou parcialmente mecanizados

54

Fig 4 a Sede da Comunidade do Caratildeo b Agricultor transportando a palma forrageira que eacute

um exemplo de estrateacutegia adaptativa para suprir a falta de alimento dos animais devido agrave seca

c Feira-livre que acontece na comunidade a cada quinze dias 55

Fig 5 a O agricultor nos explicava as mudanccedilas que vem fazendo em seus roccedilados para se

adaptar aos longos periacuteodos de seca b Quando o agricultor nos mostrava as diferentes

etnovariedades que mantinha em sua roccedila c Durante a pesquisa nos explicavam como era

feita a colheita da mandioca e como selecionavam as manivas para o proacuteximo plantio 55

Fig 6 Possiacuteveis estruturas de rede que descrevem as interaccedilotildees dos agricultores (losango)

ligados as etnovariedades (ciacuterculos) que cultivam Onde a Aninhada b Modular c Aleatoacuteria

56

Fig 7 Correlaccedilatildeo de Spearman entre a diversidade de etnovariedades de mandiocas conhecidas

como cultivadas e variedades atualmente cultivadas por agricultor e as variaacuteveis

socioeconocircmicas Onde Nvc= nuacutemero de citadas como cultivadas Nve= nuacutemero de variedades

atualmente cultivadas Esc= escolaridade Id= idade Gen= gecircnero Tr= tamanho do roccedilado

Exp= experiecircncia na agricultura Sld= renda Nr= nuacutemero de roccedilados Cores distintivas

representam correlaccedilotildees significativas (Ple005) 57

Fig 8 Modelo individual de rede de etnovariedades de mandioca citadas (esquerda) por

agricultores como cultivadas (direita) nos Municiacutepios de Altinho e Panelas As redes foram

x

desenhadas com o pacote bipartite (Dormann et al 2017) usando o software R (R CORE

TEAM 2017) 58

Fig 9 Anaacutelise de Correspondecircncia Muacuteltipla das 17 etnovariedades de mandioca considerando

os sete descritores morfoloacutegicos utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo em roccedilas de

agricultores tradicionais de sete comunidades no semiaacuterido de Pernambuco 59

Fig 10 Agrupamento hieraacuterquico das 17 etnovariedades de mandioca caracterizadas de acordo

com os descritores utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo 59

xi

LISTA DE TABELAS

CAPIacuteTULO IVARIACcedilAtildeO INTRAESPECIacuteFICA CONHECIMENTO E MANEJO

LOCAL DE MANDIOCA (Manihot esculenta Crantz) NO SEMIAacuteRIDO DE

PERNAMBUCO NORDESTE DO BRASIL

Tabela 1 Caracteres e estados utilizados pelos agricultores como descritores botacircnicos para

caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das etnovariedades de mandioca 60

Tabela 2 Lista das 22 etnovariedades de mandiocas citadas (132 citaccedilotildees) como cultivadas nas

comunidades pertencentes aos Municiacutepios de Altinho (Caratildeo n=8) e ao Municiacutepio de Panelas

(Aracuatilde Satildeo Joseacute do Bola Brejo Velho Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima e Lajeiro

Dantas n=21) 61

Tabela 3 Lista de 17 etnovariedades atualmente cultivadas nos roccedilados das comunidades em

estudo 62

Tabela 4 Descriccedilatildeo das classes do agrupamento por meacutetodo de Ward agrupadas pelo conjunto

dos descritores mais significativos para a caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das variedades de mandioca

63

xii

SUMAacuteRIO

RESUMO GERAL xiii

1 Introduccedilatildeo Geral 14

2 Revisatildeo bibliograacutefica 17

21 Manihot esculenta Crantz e conhecimento local de agricultores tradicionais 17

22Manejo tradicional em roccedilas e diversidade intraespeciacutefica da mandioca 18

23 Redes sociais de troca e circulaccedilatildeo de etnovariedades de mandioca 20

3 Referecircncias bibliograacuteficas 22

VARIACcedilAtildeO INTRAESPECIacuteFICA CONHECIMENTO E MANEJO LOCAL DE

MANDIOCA (Manihot esculenta Crantz) NO SEMIAacuteRIDO DE PERNAMBUCO

NORDESTE DO BRASIL 25

Resumo 26

Introduccedilatildeo 27

Material e meacutetodos 29

Resultados 36

Discussatildeo 40

Conclusatildeo 45

Agradecimentos 45

Referecircncias bibliograacuteficas 46

ANEXOS 51

xiii

RESUMO GERAL

Agricultores de pequena escala que praticam agricultura de modo tradicional em roccedilas

desempenham um importante papel na geraccedilatildeo manutenccedilatildeo e conservaccedilatildeo da

agrobiodiversidade local Dentre as espeacutecies mais cultivadas em roccedilas a Manihot esculenta

Crantz (mandioca) em sua diversidade intrespeciacutefica eacute um dos recursos agriacutecolas de maior

importacircncia econocircmica e de subsistecircncia para diversas populaccedilotildees locais no mundo Acredita-

se que as praacuteticas de manejo dedicadas ao cultivo da mandioca associadas ao conhecimento de

agricultores resultam no aumento da diversidade intraespeciacutefica assim como na conservaccedilatildeo

dessa diversidade Diante disso a pesquisa teve como objetivo compreender os processos

envolvidos na dinacircmica da diversidade agriacutecola da mandioca por meio do acesso ao

conhecimento dos agricultores quanto as praacuteticas de menejo e entender quais fatores podem

estar relacionados a geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da diversidade local Para isso o estudo foi

desenvolvido junto a agricultores tradicionais de sete comunidades rurais localizadas na regiatildeo

semiaacuterida do estado de Pernambuco A abordagem metodoloacutegica foi baseada em entrevistas

semiestruturadas conversas com os informantes e visitas aos roccedilados para caracterizar e

compreender a importacircncia manejo da agricultura de sequeiro e das redes sociais estabelecidas

entre os agricultores bem como identificar as variedades de mandioca atualmente cultivadas

A partir do conhecimento da diversidade manejada analisamos a estrutura da rede de interaccedilatildeo

social formada pelas trocas de etnovariedades entre os agricultores A partir destas informaccedilotildees

discutimos sobre o importante papel dos agricultores na manutenccedilatildeo do conjunto de

etnovariedades regionais Um total de 22 etnovariedades foram citadas as quais satildeo

identificadas pelos agricultores principalmente por meio de sete caracteres morfoloacutegicos A

estrutura em redes de trocas de variedades favorece a manutenccedilatildeo e amplificaccedilatildeo das diferentes

variedades locais

Palavras-Chave Agricultura tradicional Agricultura de sequeiro Agrobiodiversidade

Plantas alimentiacutecias Redes sociais

xiv

ABSTRACT

Small-scale farmers who practice traditional agriculture fields have an important role in

generation maintenance and conservation of local agrobiodiversity Among the most cultivated

species the Manihot esculenta Crantz (cassava) in its intrespecific diversity is one of the

moust important agricultural resources of economic importance and livelihood for many local

people in the world It is believed that the management practices dedicated to the cultivation of

cassava associated with the knowledge of farmers result in increased intraspecific diversity

and the conservation of this diversity Therefore the research aimed to understand the processes

involved in the dynamics of agricultural diversity of cassava through access the knowledge of

farmers as the management of practices and understand what factors may be related to the

generation and maintenance of local diversity For this the study was developed with the

traditional farmers of seven rural communities located in the semiarid region of the state of

Pernambuco The methodological approach was based on semi-structured interviews

conversations with informants and visits to fields to characterize and understand the

importance of management of dry framing and social networks established between farmers

and to identify the cassava varieties currently grown From the knowledge of managed

diversity we analyze the structure of social interaction network formed by the exchange of

landraces among farmers From this information We discussed the important role of farmers

in the overall regional landraces maintenance A total of 22 landraces were cited which are

identified by farmers mainly through seven morphological characters The structure of

varieties sharing networks favors the maintenance and amplification of different local varieties

Keywords Agrobiodiversity Dry Farming Food plants Social networks Traditional

agriculture

14

1 Introduccedilatildeo Geral

Ao longo dos anos populaccedilotildees tradicionais foram adquirindo aprimorando e transmitindo

seus conhecimentos sobre o manejo dos recursos naturais existentes em suas respectivas

regiotildees e assim foram desenvolvendo teacutecnicas para se adaptar e sobreviver ao ambiente Essas

populaccedilotildees foram domesticando uma grande variedade de espeacutecies de plantas alimentiacutecias

numa agricultura de pequena escala (BALLEacute 2006 CLEMENT et al 2010)

Essa interaccedilatildeo pessoas-planta por meio do cultivo e manejo das espeacutecies vegetais vem

contribuindo para ambos com alteraccedilotildees adaptativas por meio da seleccedilatildeo artificial Essas

alteraccedilotildees resultaram em mudanccedilas na estrutura geneacutetica das espeacutecies vegetais pelo manejo da

seleccedilatildeo de caracteriacutesticas fenotiacutepicas fisioloacutegicas e econocircmicas das plantas E essa seleccedilatildeo

consciente ou inconsciente das plantas se traduz em uma grande variaccedilatildeo intraespeciacutefica nas

populaccedilotildees vegetais sob diferentes regimes de manejo (CARMONA CASAS 2005)

Por meio do cultivo agricultores em comunidades tradicionais desempenham um papel

fundamental no processo dinacircmico de geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da agrobiodiversidade local em

sistemas de roccedilas Essas roccedilas satildeo aacutereas de agricultura tradicional localizadas dentro de

comunidades caracterizadas natildeo soacute pelo grande nuacutemero espeacutecies cultivadas mas tambeacutem pela

alta diversidade intraespeciacutefica que essas espeacutecies apresentam (MARTINS 2005) Dentre as

espeacutecies comumente cultivadas nesse sistema a mandioca (Manihot esculenta Crantz

Euphorbiaceae) eacute considerada uma cultura de alto valor econocircmico nutricional utilitaacuterio

cultural e social para muitas populaccedilotildees humanas no mundo (CLEMENT et al 2010) Aleacutem

disso a mandioca apresenta uma grande diversidade intraespeciacutefica e por essas caracteriacutesticas

tornou-se uma espeacutecie-modelo para compreender como os diferentes padrotildees e estrateacutegias de

manejo adotadas pelos agricultores podem influenciar na diversidade local (ELIAS et al 2001

EMPERAIRE PERONI 2007 EMPERAIRE ELOY 2008)

Segundo PERONI amp MARTINS (2000) as diferentes praacuteticas de manejo desse

importante recurso favorecem a alta diversidade intraespeciacutefica em roccedilas de agricultura

itinerante1 Um dos fatores responsaacuteveis pela geraccedilatildeo dessa diversidade consiste na capacidade

de incorporaccedilatildeo de novos germoplasmas por meio da reproduccedilatildeo sexuada associada ao manejo

agriacutecola tradicional (PUJOL et al 2005 EMPERAIRE PERONI 2007) Apesar de propagada

1 Agricultura caracterizada por ciclos de uso e pousio como por exemplo corte e queima

15

vegetativamente pelos agricultores a mandioca (M esculenta) ainda manteacutem a sua capacidade

de reproduccedilatildeo sexual sendo este um aspecto muito importante para dinacircmica evolutiva da

cultura (PUJOL et al 2007 CLEMENT et al 2010) Apoacutes a fecundaccedilatildeo cruzada e dispersatildeo

das sementes um banco destas eacute formado no solo e as novas variedades germinam nas roccedilas

(MARTINS 2005) Antes de serem imcorporadas ao acervo essas lsquolsquovariedades-voluntaacuteriasrsquorsquo

passam por um filtro cultural ou seja seratildeo reconhecidas pelos agricultores por meio de

caracteriacutesticas morfoloacutegicas experimentadas e entatildeo selecionadas (MARTINS OLIVEIRA

2009)

Outro evento envolvido na geraccedilatildeo de diversidade intraespeciacutefica eacute incorporaccedilatildeo de

novas variedades de mandioca por meio de uma rede social de troca de material propagativo

estabelecida entre os agricultores (CAVECHIA et al 2014) Esse mecanismo permite a

circulaccedilatildeo das manivas2 tanto a niacutevel local quanto regional permite tambeacutem o acesso aos

diferentes conjuntos de variedades cultivadas entre as comunidades e ainda que o conjunto de

etnovariedades3 locais eou regionais seja conservado (EMPERAIRE ELOY 2008) Dentro

dessas redes sociais de troca as relaccedilotildees entre os agricultores atuam como mecanismo

fundamental para dispersatildeo e experimentaccedilatildeo das etnovariedades entre as roccedilas E satildeo essas

relaccedilotildees e decisotildees estabelecidas entre os agricultores que iratildeo definir quais etnovariedades

seratildeo mantidas ao longo do tempo e quais seratildeo abandonadas (LIMA et al 2012)

Sendo os agricultores e as interaccedilotildees entre eles fundamentais para o estabelecimento da

diversidade local (PINTON EMPERAIRE 2001 EMPERAIRE ELOY 2008) torna-se

pertinente entender como as diferentes estrateacutegias adotadas pelos agricultores influenciam na

dinacircmica da agrobiodiversidade local Muitos trabalhos com esse enfoque foram desenvolvidos

nas regiotildees Amazocircnica e Sudeste mas pouco se discute sobre a dinacircmica da agrobiodiversidade

em regiotildees semiaacuteridas

Nesse sentido o presente estudo visa investigar as interaccedilotildees entre agricultores

tradicionais de comunidades rurais estabelecidas na regiatildeo semiaacuterida de Pernambuco O

objetivo geral eacute compreender os processos envolvidos na dinacircmica da diversidade agriacutecola por

meio do acesso ao conhecimento dos agricultores quanto as praacuteticas de menejo e entender quais

quais fatores podem estar relacionados a geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da diversidade local Para esse

estudo a mandioca foi escolhida como modelo devida agrave sua importacircncia econocircmica e de

subsistecircncia para comunidades locais Os objetivos especiacuteficos foram (i) caracterizar o manejo

2 Satildeo pedaccedilos das hastes ou ramas da mandioca usadas para o plantio 3 Variedades intraespeciacuteficas de mandioca (M esculenta) identificadas pelos agricultores por nomenclatura

popular local (Martins 2005)

16

da agricultura de sequeiro bem como analisar se os paracircmetros socioeconocircmicos influenciam

na diversidade local (ii) registrar as etnovariedades atualmente cultivadas e identificar os

diferentes criteacuterios morfoloacutegicos utilizados pelos agricultores para a seleccedilatildeo e classificaccedilatildeo das

etnovariedades e (iii) descrever a estrutura da rede de interaccedilatildeo entre os agricultores e a

diversidade de etnovariedades de mandioca cultivadas para tentar entender como essas relaccedilotildees

podem influenciar na manutenccedilatildeo ou perda da diversidade local

a

b c

17

2 Revisatildeo bibliograacutefica

21 Manihot esculenta Crantz e conhecimento local de agricultores tradicionais

O gecircnero Manihot Miller (Euforbiaceae) possui cerca de 98 espeacutecies distribuiacutedas em 19

seccedilotildees das quais 13 delas ocorrem no Brasil (ROGERS APPAN 1973) Dentre as espeacutecies do

gecircnero Manihot esculenta Crantz (mandioca) eacute a principal cultivar uma vez que compotildee a

base da dieta alimentar de diversas populaccedilotildees rurais principalmente em regiotildees tropicais A

mandioca foi domesticada na Ameacuterica do Sul pois eacute onde se encontra o maior centro de

diversificaccedilatildeo Estudos relacionados ao entendimento de sua origem botacircnica tecircm contribuiacutedo

para a compreensatildeo das accedilotildees humanas no processo de domesticaccedilatildeo e ampliaccedilatildeo da

diversidade da espeacutecie (OLSEN SCHAAL 1999 ELIAS et al 2004 ELLEN 2012)

As diferentes variedades da espeacutecie satildeo reconhecidas em dois grandes grupos principais

o das variedades mais toacutexicas e o de variedades menos toacutexicas baseadas no potencial de

glicosiacutedeos cianogecircnicos (HCN) contido na polpa das raiacutezes (ELIAS et al 2004) Variedades

com baixa toxicidade contecircm baixas concentraccedilotildees de glicosiacutedeos cianogecircnicos (HCNlt100

mgKg-1) e satildeo conhecidas em comunidades agriacutecolas variando entre regiotildees ou grupos eacutetnicos

como ldquomacaxeirasrdquo ldquomandiocas doces ou mansasrdquo ou ldquoaipinsrdquo As variedades mais toacutexicas

com altas concentraccedilotildees de HCN (HCNgt 100 mgKg-1) satildeo reconhecidas como ldquomandiocasrdquo

ou ldquomandiocas amargas ou bravasrdquo (PERONI et al 2007 MCKEY et al 2010) E portanto

precisam passar por um processo de desintoxicaccedilatildeo para se tornarem aptas ao consumo como

por exemplo pelo processo de fabricaccedilatildeo da farinha de mandioca (Fig 1) Apesar do seu

potencial toacutexico as variedades amargas possuem teores mais elevados de amido e se adaptam

bem a solos pobres e aacutecidos aleacutem de serem mais resistentes aos patoacutegenos e pragas em

comparaccedilatildeo com as variedades doces (FRASER et al 2010)

Sob o ponto de vista botacircnico esta dicotomia natildeo eacute reconhecida mas existem alguns

trabalhos que evidenciam a relaccedilatildeo entre a coerecircncia da taxonomia popular com a diferenciaccedilatildeo

geneacutetica para separaraccedilatildeo das variedades ldquodocesrdquo e ldquoamargasrdquo (ELIAS et al 2004 PERONI

et al 2007) O conhecimento das caracteriacutesticas morfoloacutegicas das plantas e a coerecircncia na

identificaccedilatildeo dessas variedades com niacuteveis distintos de HCN eacute de grande importacircncia

adaptativa para as populaccedilotildees que gerem esse recurso sobretudo pelo risco de intoxicaccedilatildeo

(RIVAL MCKEY 2008)

18

No estudo realizado por AMOROZO (2000) por exemplo os agricultores geralmente

classificavam as variedades que tinham raiacutezes brancas como ldquobravasrdquo e aquelas que tinham

raiacutezes vermelhas como ldquomansasrdquo embora eles reconhecessem algumas exceccedilotildees Em pesquisas

realizados por FARALDO et al (2000) MKUMBIRA et al (2003) ELIAS et al (2004) e

PERONI et al (2007) os agricultores foram consistentes na distinccedilatildeo de suas variedades

lsquolsquodocesrdquo e ldquoamargasrsquorsquo e com base no conhecimento de caracteres morfoloacutegicos distintos os

nomes das variedades refletiram na diversidade geneacutetica A partir dessas evidecircncias podemos

inferir que o conhecimento local dos agricultores associado agrave experiecircncia eacute importante natildeo

somente para o reconhecimento das variedades locais por si soacute mas tambeacutem por conter

informaccedilotildees relevantes sobre o papel que esses recursos podem desempenhar nos sistemas

agriacutecolas de pequena escala e para as populaccedilotildees locais (GADGIL et al 1993)

O conhecimento tradicional dos agricultores trata-se de um conjunto de saberes praacuteticas

e crenccedilas baseadas no contato direto nas observaccedilotildees experimentaccedilotildees diaacuterias e nas

dependecircncias econocircmicas eou de subsistecircncia dos recursos que satildeo geralmente transmitidas

oralmente dentro e entre as geraccedilotildees (AMOROZO 2000 DOMINGUES ARRUDA 2001

BEGOSSI 2004) Sendo assim o conhecimento tradicional de agricultores que praticam a

agricultura de pequena escala realizada em comunidades tradicionais eacute importante pois tem

garantido a perpetuaccedilatildeo dos conhecimentos e das praacuteticas agriacutecolas desenvolvidas durante

milhares de anos entre os agroecossistemas locais

22 Manejo tradicional em roccedilas e diversidade intraespeciacutefica da mandioca

A agricultura de pequena escala praticada em comunidades locais tem garantido a

perpetuaccedilatildeo do conhecimento sobre o manejo e a diversidade de espeacutecies agriacutecolas O sistema

de cultivo em roccedilas eacute tipicamente praticado por agricultores de comunidades tradicionais em

aacutereas uacutemidas no mundo inteiro As roccedilas satildeo aacutereas de cultivo de pequena escala localizadas

dentro de comunidades proacuteximas umas das outras que se tornaram objeto de estudo em vaacuterias

pesquisas antropoloacutegicas etnobotacircnicas geneacuteticas e ecologias especialmente por apresentarem

grande diversidade de espeacutecies cultivadas e pelo manejo destinar-se agrave subsistecircncia de grupos

familiares de agricultores de pequena escala (PUJOL et al 2007)

Aleacutem da diversidade de espeacutecies outra caracteriacutestica dessas roccedilas eacute o grande nuacutemero de

variedades dentro de cada espeacutecie Esta diversidade intraespeciacutefica pode ser referida como

etnovariedades que eacute um termo utilizado para definir grupos de indiviacuteduos identificados por

19

nomenclatura popular local a qual pode expressar elementos do contexto cultural econocircmico

e social das populaccedilotildees associado ao uso (PERONI MARTINS 2000 EMPERAIRE

PERONI 2007)

Dentre as vaacuterias espeacutecies cultivadas em roccedilas a mandioca (M esculenta) em seu

nuacutemero de etnovariedades eacute uma das principais culturas de importacircncia econocircmica e

nutricional para populaccedilotildees que utilizam esse sistema Sua diversidade pode estar relacionada

ao sistema reprodutivo da cultura ao modo de gestatildeo da agricultura pelas pressotildees de seleccedilatildeo

exercidas pelo proacuteprio homem ou ateacute mesmo por causas naturais (MARTINS 2005

CLEMENT et al 2010)

As caracteriacutesticas de manejo empregadas no cultivo da mandioca em roccedilas favorecem

a elevada diversidade intraespeciacutefica dessa cultura O modo de propagaccedilatildeo da mandioca eacute feito

pelos agricultores por meios de estacas (manivas) que satildeo selecionadas de acordo com as

caracteriacutesticas desejaacuteveis que elas apresentam seja para fins econocircmicos ou utilitaacuterios Apesar

de propagada vegetativamente que eacute um meacutetodo usado pelas populaccedilotildees humanas para plantio

e multiplicaccedilatildeo de plantas a mandioca natildeo perdeu a sua capacidade de reproduccedilatildeo sexual

sendo esse um aspecto importante para dinacircmica evolutiva da cultura (PUJOL et al 2007)

Esse meacutetodo de propagaccedilatildeo permite o fluxo e a circulaccedilatildeo do material geneacutetico entre os

diferentes roccedilados por meio de um sistema de redes sociais de troca de etnovariedade de

mandioca entre os agricultores tanto a niacutevel regional (entre comunidades) quanto em escalas

menores (entre vizinhos e parentes) (ELIAS et al 2004 EMPERAIRE OLIVEIRA 2010)

Segundo Emperaire e Peroni (2007) esse mecanismo de troca de germoplasma eacute uma grande

forccedila de dispersatildeo que resulta na agrobiodiversidade regional mais elevada pois estabelece

viacutenculos entre as diferentes roccedilas e promove oportunidades de seleccedilatildeo e cruzamento entre as

diferentes etnovariedades (EMPERAIRE ELOY 2008)

Atributo bioloacutegicos da espeacutecie tambeacutem estatildeo relacionados com o aumento da

diversidade intrespeciacutefica como a capacidade de dormecircncia das sementes e a dispersatildeo

autocoacuterica que propiciam o desenvolvimento de um banco de sementes no solo ao longo do

tempo permitindo o cruzamento entre as novas variedades adquiridasplantadas e entre estas

com variedades que existiram anterioemente na mesma aacuterea (PERONI MARTINS 2000

MARTINS 2005) A presenccedila dessas ldquoplantas-voluntaacuteriasrdquo ou seja aquelas nascidas de

germinaccedilatildeo expontacircnea eacute um dos eventos identificados como precursores de diversidade

intraespeciacutefica nas populaccedilotildees de mandioca cultivadas (PUJOL et al 2007)

20

Contudo muitos esforccedilos vecircm sendo empregados em estudos que observam a ecologia

da mandioca e o manejo agriacutecola associado agrave geraccedilatildeo de diversidade varietal e geneacutetica na

espeacutecie para tentar entender como esses mecanismos influenciam na diversidade de

etnovariedades locais e na sua dinacircmica (PUJOL et al 2007 KOMBO et al 2012 ELIAS et

al 2001)

23 Redes sociais de troca e circulaccedilatildeo de etnovariedades de mandioca

Sistemas agriacutecolas de pequena escala dependem de uma grande diversidade de espeacutecies e

variedades cultivadas e do fluxo destas por meio de redes sociais de troca material vegetativo

estabelecidas entre agricultores podendo o alcance da circulaccedilatildeo variar em escala local eou

regional (EMPERAIRE ELOY 2008) As trocas dependem de dois mecanismos principais

dos padrotildees de interaccedilatildeo social entre os agricultores e dos padrotildees de uso dos recursos

(CAVECHIA et al 2014) e as redes variam em funccedilatildeo das caracteriacutesticas culturais

econocircmicas e sociais das comunidades (EMPERAIRE PERONI 2007 PAUTASSO et al

2012)

No caso da mandioca (Manihot esculenta Crantz) a propagaccedilatildeo se da por estaquia o que

favorece a troca de material de vegetativo entre os agricultores e permite o fluxo entre

variedades locais e regionais (MARTINS 2005) As trocas de variedades de mandioca entre os

agricultores geralmente acontecem por alguma circunstacircncia que leve o agricultor a pedir o

material propagativo para o plantio com por exemplo para o plantio de uma nova roccedila ou por

alguma fitopatologia deslocaccedilatildeo ou estaccedilotildees de chuva e seca prolongadas (EMPERAIRE et

al 2001 EMPERAIRE ELOY 2008) Em alguns casos como no de algumas comunidades

agriacutecolas de pequena escala as redes de casamento satildeo utilizadas para a circulaccedilatildeo de

variedades (EMPERAIRE PERONI 2007 DELEcircTRE et al 2011)

O processo de manutenccedilatildeo da diversidade nesses sistemas resulta do interesse ou da

necessidade do agricultor em adquirir ou abandonar variedades testar e selecionar novas

etnovariedades de mandioca Dentre os fatores que dirigem a seleccedilatildeo de etnovariedades estatildeo

as preferecircncias individuais dos agricultores Alguns podem optar por cultivar todas as

etnovariedades comuns eou disponiacuteveis na regiatildeo enquanto que outros optam apenas por

manter um conjunto especiacutefico dessa diversidade (CAVECHIA et al 2014) Seja para atender

a alguma demanda individual pelo interesse em aumentar a produtividade ou pela necessidade

21

de conservar o material vegetativo para o proacuteximo plantio no caso de perda de material por

algum fator ambiental adverso (EMPERAIRE et al 2001 EMPERAIRE ELOY 2008)

Nesse sentido satildeo os agricultores os maiores responsaacuteveis por determinar como e quais

etnovariedades seratildeo compartilhadas e mantidas entre as comunidades (PAUTASSO et al

2012) E a chave para a compreensatildeo da dinacircmica da diversidade varietal eacute por meio desse

intercacircmbio e dos fatores que influenciam essa conectividade entre as comunidades pois essas

redes representam um grande impacto sobre a diversidade de variedades cultivadas E eacute por

meio dessas redes que se diminui coletivamente os riscos de perda total de diversidade geneacutetica

local (EMPERAIRE ELOY 2008)

Desse modo as relaccedilotildees estabelecidas pelos agricultores entre as comunidades por meio

das redes troca de germoplasma podem ter consequecircncias importantes sobre a diversidade

varietal da mandioca E compreender os processos envolvidos na manutenccedilatildeo ou perda de

germoplasma nos sistemas agriacutecolas eacute importante uma vez que compreendendo a maneira

como os agricultores usam esse conjunto de etnovariedades de mandioca e as compartilham

vai trazer importantes discussotildees a cerca da qualidade e a quantidade do recurso que seraacute

mantido transmitido ou perdido dentro dos sistemas ao longo do tempo

22

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25

VARIACcedilAtildeO INTRAESPECIacuteFICA CONHECIMENTO E MANEJO

LOCAL DE MANDIOCA (Manihot esculenta Crantz) NO SEMIAacuteRIDO DE

PERNAMBUCO NORDESTE DO BRASIL

Artigo submetido ao perioacutedico Human Ecology

Normas para submissatildeo em anexos

26

Variaccedilatildeo intraespeciacutefica conhecimento e manejo local de mandioca 1

(Manihot esculenta Crantz) no semiaacuterido de Pernambuco Nordeste do 2

Brasil 3

Mirela Nataacutelia Santos12 Jhonatan Rafael Zaacuterate-Salazar1 Reginaldo de Carvalho1 amp 4

Ulysses Paulino de Albuquerque2 5

6

1 Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo em Botacircnica Departamento de Biologia Rua Dom Manuel de Medeiros 7

Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) sn Dois Irmatildeos Recife Pernambuco 52171-8

900 Brasil 9

2 Laboratoacuterio de Ecologia e Evoluccedilatildeo de Sistemas Socioecoloacutegicos (LEA) Departamento de Botacircnica 10

Avenida Professor Moraes Rego Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) sn Cidade 11

Universitaacuteria Recife Pernambuco 50670-901 Brasil 12

Resumo 13

Historicamente a espeacutecie Manihot esculenta Crantz (mandioca) eacute uma espeacutecie de grande valor 14

econocircmico e de subsistecircncia para populaccedilotildees em comunidades tradicionais Variedades de 15

mandioca satildeo selecionadas com base nos interesses dos agricultores conduzindo uma evoluccedilatildeo 16

especiacutefica sobre a geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da agrobiodiversidade local Diante disso a mandioca 17

tornou-se espeacutecie-modelo em estudos que buscam compreender como os padrotildees e estrateacutegias 18

adotadas pelas populaccedilotildees humanas influenciam na diversidade intraespeciacutefica local em regiotildees 19

tropicais No entanto os fatores que influenciam a diversidade da mandioca em regiotildees 20

semiaacuteridas ainda natildeo foram bem documentados Nesse sentido objetivo geral do estudo foi 21

compreender os processos envolvidos na dinacircmica da diversidade agriacutecola em sete 22

comunidades tradicionais localizadas na regiatildeo semiaacuterida do estado de Pernambuco (Nordeste 23

do Brasil) por meio do acesso ao conhecimento dos agricultores quanto as praacuteticas de menejo 24

para tentar quais quais fatores podem estar relacionados a geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da diversidade 25

local Com os resultados da anaacutelise de redes verificamos uma alta diversidade de 26

etnovariedades cultivadas e a sua composiccedilatildeo eacute determinada pelas preferecircncias e 27

comportamentos individuais dos agricultores que foram provavelmente os mecanismos 28

27

responsaacuteveis pelo surgimento da estrutura aninhada observada na anaacutelise rede Esse padratildeo 29

aninhado contribui na conservaccedilatildeo das etnovariedades mais comuns mas tambeacutem pode resultar 30

em perda daquelas de menor frequecircncia ao longo do tempo 31

Palavras-Chave Agricultura tradicional Agricultura de sequeiro Agrobiodiversidade 32

Etnobiologia Plantas alimentiacutecias 33

34

Introduccedilatildeo 35

Historicamente as populaccedilotildees humanas foram acumulando conhecimentos sobre 36

praacuteticas da agricultura desenvolvendo teacutecnicas adaptadas ao meio natural e assim foram 37

domesticando uma grande variedade de cultivos alimentares para garantirem a sua 38

sobrevivecircncia (Balleacute 2006 Clement et al 2010) Essa interaccedilatildeo pessoas-plantas por meio do 39

cultivo e manejo das espeacutecies vegetais considerando tanto os aspectos sociais quanto naturais 40

dos sistemas dinacircmicos eacute uma importante ferramenta para o entendimento do conhecimento 41

dos agricultores sobre os agroecossistemas locais ( Alcorn 1995) 42

Aleacutem disso essas interaccedilotildees vem contribuindo com alteraccedilotildees nas populaccedilotildees vegetais 43

por meio da seleccedilatildeo artificial Essas alteraccedilotildees resultaram em mudanccedilas na estrutura geneacutetica 44

dessas populaccedilotildees que satildeo determinadas geralmente pela seleccedilatildeo de caracteriacutesticas fenotiacutepicas 45

fisioloacutegicas eou econocircmicas das plantas refletidas em classificaccedilotildees e nomenclaturas 46

especiacuteficas baseadas em percepccedilotildees individuais (Carmona amp Casas 2005) 47

Muitos pesquisadores tentam explicar o papel dos agricultores de pequena escala na 48

seleccedilatildeo classificaccedilatildeo e manutenccedilatildeo da agrobiodiversidade local em roccedilas tradicionalmente 49

manejas em regiotildees uacutemidas (Emperaire amp Peroni 2007 Emperaire amp Eloy 2008 Marchetti et 50

al 2013) Essas roccedila satildeo aacutereas de cultivo caracterizadas por conter uma alta diversidade 51

intraespeciacutefica de espeacutecies (Martins 2005) Dentre elas a Manihot esculenta Crantz 52

28

(mandioca) Euphorbiaceae em sua diversidade de etnovariedades eacute a espeacutecie mais importante 53

sob ponto de vista econocircmico e de subsistecircncia para as populaccedilotildees locais e mais cultivada 54

devido a sua grande adaptabilidade ambiental e baixos custos de gestatildeo (Elias et al 2001) 55

A alta diversidade da mandioca nessas aacutereas pode ser atribuiacuteda agrave possibilidade de 56

introduccedilatildeo de novas variedades via reproduccedilatildeo sexuada associada a ecologia da espeacutecie Esse 57

mecanismo permite o fluxo gecircnico entre as variedades de mandioca cultivadas do mesmo local 58

e entre estas com variedades de locais vizinhos (Pujol et al 2007) Outro mecanismo que 59

favorece essa diversidade eacute agrave circulaccedilatildeo de material propagativo por meio redes sociais de troca 60

variedades entre os agricultores (Pujol et al 2005 Emperaire amp Peroni 2007 Clement et al 61

2010) Esse mecanismo de troca eacute fundamental para o estabelecimento de interaccedilotildees entre as 62

diferentes aacutereas de roccedila promovendo oportunidade de seleccedilatildeo e cruzamento entre os diferentes 63

conjuntos de variedades aleacutem de permitir que este conjunto seja conservado (Emperaire amp Eloy 64

2008) 65

Diante desse cenaacuterio podemos observar que a agrobiodiversidade local natildeo eacute fruto 66

apenas de fatores naturais mas eacute tambeacutem influenciada pelas caracteriacutesticas culturais e 67

socioeconocircmica das populaccedilotildees locais refletidas especialmente no conhecimento e manejo 68

local Nesse sentido o presente estudo visa investigar as interaccedilotildees entre agricultores 69

tradicionais de comunidades rurais estabelecidas na regiatildeo semiaacuterida de Pernambuco 70

O objetivo geral eacute compreender os processos envolvidos na dinacircmica da diversidade 71

agriacutecola por meio do acesso ao conhecimento dos agricultores quanto as praacuteticas de menejo e 72

entender quais quais fatores podem estar relacionados a geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da diversidade 73

local Para esse estudo a mandioca foi escolhida como modelo devida agrave sua importacircncia 74

econocircmica e de subsistecircncia para comunidades locais Os objetivos especiacuteficos foram (i) 75

caracterizar o manejo da agricultura de sequeiro bem como analisar se os paracircmetros 76

socioeconocircmicos influenciam na diversidade local (ii) registrar as etnovariedades atualmente 77

29

cultivadas e identificar os diferentes criteacuterios morfoloacutegicos utilizados pelos agricultores para a 78

seleccedilatildeo e classificaccedilatildeo das etnovariedadese (iii) descrever a estrutura da rede de interaccedilatildeo entre 79

os agricultores e a diversidade de etnovariedades de mandioca cultivadas para tentar entender 80

como essas relaccedilotildees podem influenciar na manutenccedilatildeo ou perda da diversidade local 81

Material e meacutetodos 82

Aacutereas de estudo 83

Amostramos sete comunidades rurais estabelecidas na regiatildeo semiaacuterida de 84

Pernambuco Nordeste do Brasil Uma das comunidades (Caratildeo) pertence ao Municiacutepio de 85

Altinho (ldquo8deg 29rsquo 10rdquo S e 36deg 03rsquo 49rdquo W) e as demais (Satildeo Joseacute do Bola Brejo velho 86

Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima Lajedo Dantas e Aracuatilde) ao Municiacutepio de 87

Panelas (8 deg 39 48 S e 36 deg 01 23 W) (Fig 2) 88

O modelo agriacutecola adotado na regiatildeo segue o sistema tradicional de sequeiro4 e todas 89

as comunidades em estudo possuem histoacuterico de cultivo de mandioca (M esculenta) As aacutereas 90

de cultivo satildeo estabelecidas por unidade familiar e as atividades satildeo realizadas em sua maioria 91

por homens tendo cada agricultor cerca de um a dois hectares de aacuterea para plantio Aleacutem da 92

mandioca os cultivos mais utilizados na comunidades satildeo milho (Zea mays) e feijatildeo (Phaseolus 93

sp) 94

Para os membros das comunidades a produccedilatildeo da farinha de mandioca (Fig 3) eacute uma 95

das atividades agriacutecolas mais importantes tanto pelo seu papel na dieta alimentar quanto pela 96

importacircncia social e econocircmica 97

Caracteriacutesticas das comunidades do estudo 98

A comunidade do Caratildeo localiza-se sob domiacutenio de Caatinga caracterizado por climas 99

quentes e secos com regimes escassos de chuvas correspondente ao tipo BSrsquoh segundo a 100

4 Eacute o cultivo praticado sem irrigaccedilatildeo em regiotildees onde a pluviosidade eacute diminuta

30

classificaccedilatildeo climaacutetica de Koumlppen A vegetaccedilatildeo eacute composto por espeacutecies perenes que 101

conseguem sobreviver mesmo em periacuteodos de seca e espeacutecies anuais que aparecem apenas em 102

periacuteodos com chuva (Cruz et al 2013) 103

De acordo os dados de precipitaccedilatildeo do Laboratoacuterio de Anaacutelise e Processamento de 104

Imagens de Sateacutelites (LAPIS) no ano de 2012 foi registrada a menor meacutedia anual de 105

precipitaccedilatildeo dos uacuteltimos 10 anos para essa regiatildeo (3784 mm) Essa realidade ambiental quando 106

comparada com estudo realizado por de Sieber e colaboradores (2011) na mesma comunidade 107

observa-se que houve uma diminuiccedilatildeo considerada das praacuteticas agriacutecolas realizadas pelos 108

membros da comunidade culminando em uma seacuterie de prejuiacutezos aos agricultores como a perda 109

de plantaccedilotildees e animais Essa perda de produtividade afetou a estrutura econocircmica da 110

comunidade uma vez que a principal fonte de subsistecircncia das famiacutelias eacute a agricultura 111

Associada as atividades agriacutecolas os moradores complementam a dieta e a renda 112

familiar com a venda dos excedentes da produccedilatildeo em feiras-livres ou centros comerciais da 113

regiatildeo (Cruz et al 2013) E com a pecuaacuteria de pequena escala bovina caprina e com avicultura 114

No entanto a diminuiccedilatildeo da forragem natural e cultivada causada pela escassez de chuvas 115

associada aos elevados custos envolvidos na compra de raccedilatildeo levou muitos animais agrave morte 116

(Fig 4) 117

No Municiacutepio de Altinho a comunidade do Caratildeo foi inicialmente escolhida devido ao 118

reconhecimento preacutevio do registro de agricultores realizado em estudos desenvolvidos pelo 119

nosso grupo de pesquisa facilitando assim o acesso agraves informaccedilotildees necessaacuterias para o 120

desenvolvimento da pesquisa 121

As comunidades Aracuatilde Brejo Velho Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima 122

Lajedo Dandas e Satildeo Joseacute do Bola amostradas no estudo pertencem ao Municiacutepio de Panelas 123

que se limita ao Norte com o Municiacutepio de Altinho Essas comunidades estatildeo localizadas em 124

31

no domiacutenio morfoclimaacutetico de Caatinga O clima eacute do tipo semiaacuterido Bsrsquoh segundo a 125

classificaccedilatildeo climaacutetica de Koumleppen 126

A maior parte dos membros dessas comunidades assim como no Caratildeo tecircm como 127

principal fonte de subsistecircncia a agricultura de sequeiro principalmente o cultivo da mandioca 128

(Fig 5) Como renda extra a pecuaacuteria de pequeno porte com criaccedilatildeo bovina caprina e 129

avicultura sendo os excedentes dos alimentos produzidos vendidos em feiras locais ou para 130

escolas 131

As atividades agriacutecolas entre as comunidades tambeacutem foram duramente afetadas pela 132

seca na regiatildeo nos uacuteltimos anos A escassez de chuvas desestimulou o plantio a produccedilatildeo de 133

mandioca foi fortemente comprometida e a colheita foi adiada devido ao subdesenvolvimento 134

das raiacutezes gerando impactos econocircmicos para os membros das comunidades 135

As comunidades amostradas neste muniacutecipio foram escolhidas em funccedilatildeo das 136

indicaccedilotildees dos agricultores entrevistados a princiacutepio na comunidade do Caratildeo que reportaram 137

manter viacutenculos sociais com os agricultores do municiacutepio vizinho 138

Coleta de dados 139

Acessamos as comunidades com a ajuda de um liacuteder comunitaacuterio (Alexandre O 140

Nascimento) em companhia de outros pesquisadores que desenvolviam pesquisas na regiatildeo 141

Previamente as entrevistas todos objetivos e procedimentos para a realizaccedilatildeo da pesquisa foram 142

apresentados aos entrevistados e todos que aceitaram participar foram convidados a assinar um 143

Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) de acordo com a Resoluccedilatildeo 46612 do 144

Conselho Nacional de Sauacutede concordando com a realizaccedilatildeo das entrevistas e avaliaccedilotildees 145

morfoloacutegicas em campo O presente trabalho foi submetido ao Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa da 146

Universidade de Pernambuco (UPE) 147

32

Em todas as comunidades o meacutetodo de acesso ao informante foi o mesmo a partir do 148

primeiro contato com um informante-chave identificamos outros potenciais agricultores 149

seguindo a teacutecnica de ldquobola de neverdquo (Albuquerque et al 2014a) Esse meacutetodo consistiu na 150

amostragem intencional dos participantes e nesse particular os agricultores chefes de famiacutelia 151

(ge 18 anos) da regiatildeo que declararam cultivar mandioca (M esculenta) em suas roccedilas 152

Reunimos informaccedilotildees socioeconocircmicas desses agricultores tais como nome idade gecircnero 153

escolaridade renda experiecircncia na agricultura e tamanho da aacuterea de cultivo para tentar 154

identificar se esses paracircmetros socioeconocircmicos tecircm uma relaccedilatildeo com a agrobiodiversidade 155

local 156

Em seguida conduzimos entrevistas semiestruturadas (Albuquerque et al 2014b) com 157

o objetivo de caracterizar o modo de vida dos agricultores o manejo da agricultura bem como 158

obter dados sobre o conhecimento uso e caracterizaccedilatildeo das etnovariedades de mandioca 159

5cultivadas Aleacutem disso neste momento tambeacutem aplicamos a teacutecnica da lista livre 160

(Albuquerque et al 2014b) a fim de registrar as variedades de mandioca atualmente cultivadas 161

pelos agricultores e identificar as de maior importacircncia local Apoacutes as entrevistas realizamos 162

visitas aos roccedilados para o registro fotograacutefico georreferenciamento das roccedilas e caracterizaccedilatildeo 163

morfoloacutegica das variedades cultivadas 164

Entrevistamos 50 agricultores no total distribuiacutedos nas sete comunidades Caratildeo (3) 165

Satildeo Joseacute do Bola (10) Brejo velho (7) Japaranduba de Baixo (7) Japaranduba de Cima (8) 166

Lajedo Dantas (9) e Aracuatilde (6) Destes 10 satildeo mulheres e 40 homens com idade variando entre 167

31 e 82 anos A maioria dos entrevistados natildeo apresentava instruccedilatildeo formal (46) mais da 168

metade eram aposentados (56) e os demais apresentaram renda inferior a um salaacuterio miacutenimo 169

5 Entende-se por etnovariedade de mandioca o conjunto de variedades intraespeciacuteficas de mandioca (M esculenta)

reconhecidas pelos agricultores por nomenclatura popular local (Peroni 2004)

33

O tempo meacutedio de experiecircncia na agricultura foi de 40 anos Cada agricultor possui entre um e 170

dois roccedilados (aacuterea de plantio) com aproximadamente um a dois hectares 171

Redes de interaccedilatildeo social 172

Confeccionamos a rede que descreve as interaccedilotildees entre os agricultores e as 173

etnovariedades cultivadas a partir de uma matriz de incidecircncia R (presenccedilaausecircncia) onde nas 174

linhas estavam as etnovariedades de mandioca cultivadas (j) e nas colunas os agricultores locais 175

(i) O elemento Rij dessa matriz foi 1 (um) no caso de a etnovariedade j ser cultivada pelo 176

agricultor i caso contraacuterio seria atribuiacutedo 0 (zero) As interaccedilotildees entre os agricultores e as 177

etnovariedades foram descritas em dois modos (Pires et al 2011) onde os ldquonoacutesrdquo da esquerda 178

representam os agricultores que foram vinculados aos ldquonoacutesrdquo da direita representados pelas 179

etnovariedades citadas durante as entrevistas Esses ldquonoacutesrdquo seriam o espelho das decisotildees dos 180

agricultores em manter um determinado conjunto local de etnovariedades em suas roccedilas 181

Avaliamos a estrutura da rede que conecta os agricultores agraves etnovariedades cultivadas 182

a partir de trecircs cenaacuterios hipoteacuteticos (Fig 6) segundo Cachevia et al (2014) No primeiro se os 183

agricultores apresentassem diferentes graus de seletividade para a utilizaccedilatildeo de suas 184

etnovariedades a estrutura seria aninhada (Fig 6a) Isso significa que alguns agricultores 185

cultivam vaacuterias etnovariedades enquanto que outros cultivam o subconjunto mais 186

disponiacutevelcomum dessas etnovariedades Em segundo lugar se a rede apresentasse uma 187

estrutura modular (Fig 6b) significaria que os agricultores apresentam semelhanccedila na seleccedilatildeo 188

do recurso ou seja subgrupos de agricultores cultivam subgrupos distintos de etnovariedades 189

regionalmente disponiacuteveiscomuns E o terceiro se os agricultores natildeo apresentassem 190

preferecircncias quanto a seleccedilatildeo das etnovariedades entatildeo a rede apresentaria uma estrutura 191

aleatoacuteria (Fig 6c) 192

O objetivo da anaacutelise de rede nesse estudo foi tentar entender se o conjunto de 193

etnovariedades presentes no local do estudo constituem uma subamostra de um conjunto mais 194

34

amplo no caso de um alto grau de aninhamento ou se a sua composiccedilatildeo eacute determinada por 195

variaacuteveis locais (Ulrich 2008) Onde as conexotildees entre os informantes e as etnovariedades 196

representam as decisotildees dos agricultores de manter um conjunto determinado de variedades de 197

mandioca dentre as comunidades Esta anaacutelise tambeacutem nos permitiu identificar quais os nuacutecleos 198

de etnovariedades que apresentam maior conexatildeo com os diferentes perfis dos agricultores 199

Diversidade fenotiacutepica 200

Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 201

Apoacutes as entrevistas buscamos identificar quais os caracteres morfoloacutegicos considerados 202

mais importantes para a diferenciaccedilatildeo das etnovariedades de mandioca a partir do seguinte 203

questionamento ldquoQuais as diferenccedilas que vocecirc reconhece para separar uma qualidade de 204

mandioca (variedade) de uma outrardquo Assim os agricultores mencionaram quais os criteacuterios 205

mais importantes utilizados para a caracterizaccedilatildeo de suas etnovariedades 206

Compilamos uma listagem dessas caracteriacutesticas baseada nas indicaccedilotildees dos 207

agricultores e a partir delas selecionamos os caracteres morfoloacutegicos mais citados para a 208

caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica ldquoin siturdquo tais como cor da folha (cor da folha desenvolvida) olho 209

(cor do broto foliar) cor do talo (cor do peciacuteolo) maniva (cor externa do caule) embriatildeo 210

(protuberacircncia da cicatriz foliar) cor da entrecasca (coacutertex da raiz) e cor miolo (polpa da raiz) 211

(Tabela 1) O objetivo dessa caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica foi indicar como estaacute distribuiacuteda a 212

variaccedilatildeo fenotiacutepica das etnovariedades de mandioca nas comunidades na regiatildeo semiaacuterida de 213

Pernambuco bem como identificar que caracteriacutesticas satildeo mais importantes para distinguir 214

esses grupos no intuito de tentar entender como os agricultores classificam suas variedades de 215

mandioca 216

Nas sete comunidades para cada etnovariedade citada no roccedilado caracterizamos ldquoin 217

siturdquo trecircs indiviacuteduos de M esculentade de cada uma totalizando 171 indiviacuteduos (Aracuatilde=11 218

35

Caratildeo=4 Satildeo Joseacute do Bola=13 Brejo Velho=16 Japaranduba de Baixo=6 Japaranduba de 219

Cima=3 e Lajedo Dantas=4) Fotografamos e avaliamos todos os indiviacuteduos com base em parte 220

dos descritores morfoloacutegicos seguindo recomendaccedilotildees de Fukuda amp Guevara (1998) e aleacutem 221

disso georreferenciamos todas as aacutereas de roccedila 222

Anaacutelise dos dados 223

Analisamos os dados socioeconocircmicos das entrevistas semiestruturadas por meio de 224

estatiacutestica descritiva para explicar os aspectos da realidade econocircmica e social dos agricultores 225

Para identificar se a diversidade intraespeciacutefica da mandioca cultivada localmente eacute 226

influenciada por paracircmetros socioeconocircmicos utilizamos o coeficiente de correlaccedilatildeo de 227

Spearman (Ple005) (Sokal amp Rohlf 1995) 228

Com base na lista livre das variedades de mandioca cultivadas pelos agricultores 229

calculamos a frequecircncia de citaccedilatildeo o ranking e o iacutendice de saliecircncia com o objetivo de 230

identificar quais as mais importantes ou preferidas para as comunidades O iacutendice de saliecircncia 231

considerou a frequecircncia de citaccedilatildeo e o ranking referente ao posicionamento das variedades 232

dentro das listas livres (Thompson amp Juan 2006) As etnovariedades mais citadas e com maior 233

valor de saliecircncia representam as de maior importacircncia ou preferecircncia para as comunidades 234

Anaacutelise de rede 235

Medimos o grau de aninhamento (NODF) para investigar a estrutura de rede de 236

interaccedilatildeo social dos agricultores em funccedilatildeo das variedades cultivadas As matrizes altamente 237

aninhadas apresentam NODF tendendo a 1 caso contraacuterio tentem a ser 0 238

Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 239

Para o estudo das semelhanccedilas e diferenccedilas fenotiacutepicas entre as variedades de mandioca 240

ldquoin siturdquo realizamos anaacutelises multivariadas para identificar possiacuteveis grupos de variedades que 241

compartilham semelhanccedilas entre si 242

36

A anaacutelise de correspondecircncia muacuteltipla (MCA) permitiu identificar como as variedades 243

de mandioca estatildeo ordenadas em funccedilatildeo dos seus descritores etnobotacircnicos As etnovariedades 244

foram plotadas ao longo um plano cartesiano bi ou tridimensional onde a variaccedilatildeo total eacute 245

explicada pelos dois primeiros eixos Complementar a esta anaacutelise realizamos a anaacutelise de 246

agrupamento hieraacuterquico (Cluster) para identificar como estatildeo agrupadas as etnovariedades de 247

acordo seus descritores Conferimos a consistecircncia do dendrograma com coeficiente de 248

correlaccedilatildeo cofeneacutetica conforme Sneath amp Sokal (1973) que quantifica se a correlaccedilatildeo entre a 249

matriz de distacircncias originais e a matriz de distacircncias cofeneacuteticas eacute representativa Para 250

mensurar as dissimilaridades entre as variedades de mandioca foi utilizada a distacircncia 251

euclidiana e com o meacutetodo de Ward 252

Softwares utilizados 253

Para a anaacutelise da lista livre usamos o software ANTROPAC versatildeo 10 O software 254

ANINHADO 30 (Guimaratildees amp Guimaratildees 2006) foi usado para medir o grau de aninhamento 255

da rede Utilizamos o software estatiacutestico R (R core team 2017) para a anaacutelise de correlaccedilatildeo 256

de Spearman com o pacote corrplot (Wei amp Simko 2013) o desenho da rede que descreve a 257

interaccedilatildeo entre os agricultores e as etnovariedades com o pacote bipartite (Dormann et al 258

2017) E com os pacotes FactoMineR (LEcirc et al 2008) factoextra (Kassambara et al 2016) e 259

vegan (Oksanen et al 2017) foram realizadas as anaacutelises de cluster de correspondecircncia 260

muacuteltipla (MCA) e de correlaccedilatildeo coefeneacutetica respectivamente 261

Resultados 262

As diferentes etnovariedades de mandioca encontradas no estudo suprem a demanda 263

local por alimento enquanto outras atendem agraves preferecircncias individuais ou do comeacutercio As 264

variedades que possuem maior rendimento e a farinha produzida apresenta coloraccedilatildeo branca 265

satildeo as de maior valor comercial para os agricultores devido agraves preferecircncias do mercado Jaacute 266

37

outras variedades que satildeo mais moles e apresentam coloraccedilatildeo amarelada natildeo satildeo empregadas 267

na produccedilatildeo de farinha mas sim consumidas cozidas ou assadas A depender da demanda local 268

os agricultores intencionalmente aumentam ou diminuem a frequecircncia de suas variedades nos 269

roccedilados seja por alguma exigecircncia do comeacutercio ou para consumo familiar 270

Nas comunidades os agricultores separam suas variedades de mandioca em dois grupos 271

como observado em outras comunidades na mata Atlacircntica por Emperaire e Peroni (2007) o 272

das ldquomacaxeirasrdquo que satildeo as variedades exploradas basicamente para o consumo familiar sem 273

processo preacutevio de desintoxicaccedilatildeo cujas raiacutezes satildeo consumidas fritas eou cozidas Sendo 274

utilizadas tambeacutem como complemento na dieta dos animais E o grupo das ldquomandiocasrdquo que 275

satildeo as variedades que necessitam de processo preacutevio de desintoxicaccedilatildeo para o consumo 276

utilizadas comumente para a produccedilatildeo de farinha de mandioca Para os agricultores as 277

ldquomandiocasrdquo possuem maior valor comercial pois apresentam maior rendimento e 278

rentabilidade pois a farinha produzida eacute branca e atende as preferencias do comercio local 279

Aleacutem da farinha outros produtos e subprodutos produzidos dentre os quais foram citados 280

ldquotapioca ou gomardquo ldquobijurdquo ou ldquobolo de mandiocardquo satildeo utilizados para o consumo proacuteprio ou 281

eventual comercializaccedilatildeo 282

Os informantes natildeo possuiacuteam conhecimento sobre a origem dos nomes das variedades 283

de mandioca Quanto a compreensatildeo da geraccedilatildeo da diversidade intraespeciacutefica identificamos 284

que apesar de 66 dos agricultores citarem que conhecem variedades fruto de germinaccedilatildeo de 285

suas sementes nenhum deles utiliza as manivas para o plantio por essas variedades de 286

mandioca ldquovoluntaacuteriasrdquo natildeo apresentarem bom rendimento 287

Observamos que existe uma baixa correlaccedilatildeo entre a diversidade de variedades 288

atualmente cultivadas e as variaacuteveis socioeconocircmicas como no caso do nuacutemero de roccedilados 289

(r=028 Ple005) e do tamanho do roccedilado (r=033 Ple005) (Fig 7) Essa baixa correlaccedilatildeo pode 290

38

ser explicada pelo fato de existirem grupos de agricultores que preferem manter as variedades 291

de maior valor econocircmico e de subsistecircncia mesmo com aacutereas maiores de cultivo 292

Verificamos tambeacutem uma correlaccedilatildeo positiva moderada entre o nuacutemero de variedades 293

conhecidas com o nuacutemero de variedades atualmente cultivadas (r=054 Ple005) Na lista livre 294

foram identificadas 22 etnovariedades de mandioca cultivadas (132 citaccedilotildees no total) sendo 295

oito dessas mais citadas com maiores valores de saliecircncia (entre 047 e 0082) (Tabela 2) As 296

etnovariedades ldquoMacaxeira Rosardquo e ldquoMandioca Isabel de Souzardquo exibiram os maiores valores 297

de saliecircncia 047 e 037 respectivamente Logo essas variedades satildeo as mais conhecidas 298

dentro das comunidades com 66 e 48 das citaccedilotildees respectivamente 299

Dentre as etnovariedades citadas 12 foram idiossincraacuteticas pois apresentaram menor 300

frequecircncia de citaccedilatildeo e menores valores de saliecircncia (entre 0032 e 0006) (Tabela 2) 301

Redes de interaccedilatildeo social 302

A rede apresentou uma estrutura aninhada com grau de aninhamento significativamente 303

superior aos modelos nulos (N=3072 Plt0001) para as comunidades sendo um nuacutecleo de 304

etnovariedades altamente conectado aos agricultores (Fig 8) A estrutura aninhada nos permite 305

inferir que existe um grupo de agricultores que cultiva uma maior diversidade de etnovariedades 306

de mandioca em suas roccedilas enquanto que outro subgrupo que tem menor diversidade cultivam 307

as mais comuns ou disponiacuteveis (Cavechia et al 2014) Isso significa que os agricultores locais 308

mesmo em diferentes comunidades cultivam um nuacutecleo de etnovariedades comum entre eles 309

(n=6 Tabela 2) 310

Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 311

Observamos que a maioria dos indiviacuteduos de mandioca satildeo caracterizados por meio de 312

um conjunto de sete caracteres morfoloacutegicos os quais foram citados pelos agricultores como 313

mais importantes para a caracterizaccedilatildeo de suas variedades Nas visitas aos roccedilados registramos 314

39

as etnovariedades atualmente cultivadas e a tabela 3 fornece a lista completa com as 17 315

etnovariedades de mandioca e o local de registro 316

Por meio da anaacutelise de correspondecircncia muacuteltipla as variedades de mandioca foram 317

ordenadas em funccedilatildeo de seus descritores ao longo do primeiro e segundo eixo correspondentes 318

a 3680 da variacircncia total (Fig 9) 319

As variaacuteveis mais correlacionadas e que agruparam as variedades de mandioca no 320

primeiro eixo foram cor da folha desenvolvida (CFD) (r= 07239 Ple0001) cor do coacutertex da 321

raiz (CDR) (r= 06473 Ple0001) cor do broto foliar (CBF) (r= 06880 Ple0001) cor do peciacuteolo 322

(CDP) (r= 05250 Ple005) cor externa do caule (CEC) (r= 06883 Ple005) cor da polpa da 323

raiz (PDR) (r= 02473 Ple005) Para o segundo eixo as variaacuteveis correlacionadas foram cor 324

da folha desenvolvida (CFD) (r= 07220 Ple0001) cor externa do caule (CEC) (r= 08718 325

Ple0001) e cor do peciacuteolo (CDP) (r= 06927 Ple005) 326

O agrupamento de todas as variedades caracterizadas ldquoin siturdquo gerou uma aacutervore 327

hieraacuterquica (dendrograma) (Fig 9) utilizando a distacircncia euclidiana seguindo o criteacuterio de 328

Ward O dendrograma gerado apresentou um coeficiente de correlaccedilatildeo cofeneacutetica r= 06780 329

indicando que existe consistecircncia com os dados originais no agrupamento quanto agrave 330

classificaccedilatildeo e estrutura de tal forma que as variedades foram agrupadas em oito classes as 331

quais foram explicadas pelas variaacuteveis mais significativas descritas na tabela 4 332

O resultado do agrupamento (utilizada a distacircncia euclidiana e com o meacutetodo de Ward) 333

observamos que as etnovariedades de mandioca caracterizadas ldquoin siturdquo foram agrupadas em 334

dois grandes agrupamentos indicados na Fig 10 pelos retacircngulos em vermelho A partir dessa 335

anaacutelise percebemos que os caracteres morfoloacutegicos selecionados pelos agricultores natildeo foram 336

suficientes para separar as variedades de macaxeira e mandioca pois em ambos os 337

agrupamentos encontramos tanto macaxeiras quanto mandiocas 338

40

As variedades da classe 1 foram identificadas pelos agricultores pela cor do peciacuteolo 339

(CDP) verde A classe 2 agrupou as etnoveriedades caracterizadas pela protuberacircncia da cicatriz 340

foliar (PCF) mais protuberante Esse descritor segundo os agricultores era identificado como 341

ldquoembriatildeordquo A classe 3 consiste apenas da variedade ldquoMandioca Pretonardquo indicada pela presenccedila 342

de cor do peciacuteolo (CDP) vermelho A classe 4 agrupou trecircs variedades caracterizadas pelos 343

agricultores pela presenccedila de cor coacutertex da raiz (CDR) rosa e cor da polpa da raiacutez (PDR) branca 344

identificadas como ldquoMacaxeira vermelhardquo ldquoMacaxeira Rosa Brancardquo ldquoMacaxeira Rosardquo As 345

variedades agrupadas na classe 5 foras as variedades de mandioca caracterizadas pelos 346

agricultores por apresentarem cor do coacutertex (CDR) da raiacutez branca A classe 6 agrupou 347

variedades identificadas pelos agricultores pela cor do broto foliar (CBF) verde A classe 7 348

consiste apenas da variedade ldquoMacaxeira Sementerdquo identificada pelos agricultores pela cor do 349

peciacuteolo (CDP) roxo e protuberacircncia da cicatriz foliar pouco proeminente Essa variedade 350

segundo os agricultores era fruto do nascimento espontacircneo no roccedilado poreacutem eles geralmente 351

natildeo utilizam essas variedades por apresentarem apenas uma raiz pequena e de baixo 352

rendimento Na classe 8 as variedades foram identificadas pelos agricultores pela cor do peciacuteolo 353

(CDP) verde amarelado e protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) pouco proeminente As 354

ldquoMandioca Isabel de Souzardquo ldquoMandioca Isabel trecircs galhosrdquo segundo os agricultores se 355

diferenciavam pelo maior nuacutemero de caules presentes na variedade ldquoIsabel trecircs galhosrdquo 356

Discussatildeo 357

As sete comunidades estudadas manejavam um nuacutemero consideraacutevel de variedades 358

locais A quantidade de etnovariedades registradas eacute proacutexima a encontrada por Bender et al 359

(2009) e Cavechia et al (2014) em comunidades na regiatildeo sul e sudeste por Oler e Amorozo 360

(2017) em uma comunidade tradicional na regiatildeo centro-oeste Poreacutem foi quantitativamente 361

inferior quando comparada a estudos como os de Elias et al (2001) e Kawa et al (2013) em 362

comunidades na regiatildeo amazocircnica pois possuiacuteam uma alta diversidade Essa alta diversidade 363

41

na regiatildeo amazocircnica pode estar relacionada com o fato de que essa regiatildeo eacute o provaacutevel centro 364

de origem da mandioca (M esculenta) (Allem 1994) 365

As etnovariedades registradas neste estudo estatildeo disponiacuteveis para a maioria dos 366

agricultores dessa regiatildeo e esse fator favorece a circulaccedilatildeo das etnovariedades entre as 367

comunidades locais Por isso haacute semelhanccedilas das etnovariedades utilizadas entre os agricultores 368

da mesma comunidade e entre comunidades vizinhas 369

Parte dos agricultores optam por manter uma alta frequecircncia de variedades mais 370

utilizadas enquanto que outros optam por manter etnovariedades de baixa frequecircncia 371

Conforme discutido por Amorozo (2013) os agricultores escolhem seu acervo de acordo com 372

as necessidades e contexto em que vivem A reduccedilatildeo da diversidade de etnoveriedades por 373

exemplo pode ser impulsionada por fatores que simplificam o sistema como a seleccedilatildeo de 374

etnovariedades para a produccedilatildeo de farinha resultando no cultivo de poucas ou ateacute de uma uacutenica 375

etnovariedade (Peroni amp Hanazaki 2002) mesmo em aacutereas maiores 376

377

Redes de interaccedilatildeo social 378

Com as anaacutelises de rede demonstramos que os agricultores de diferentes comunidades 379

em uma mesma regiatildeo efetivamente trocam variedades de mandioca entre si corroborando 380

com estudos realizados por Emperaire amp Eloy (2008) Pautasso et al (2012) e Cavechia et al 381

(2014) Nesses estudos os autores tambeacutem consideram que as trocas de etnovariedades por 382

meio da rede de intercacircmbio entre os agricultores eacute um mecanismo fundamental para a 383

manutenccedilatildeo da diversidade local 384

A visualizaccedilatildeo da rede demonstrou que entre as comunidades os agricultores 385

compartilham um nuacutecleo de etnovariedades mais utilizadas dentre as quais estatildeo as de maior 386

valor econocircmico e de subsistecircncia Essas de maior frequecircncia satildeo aquelas altamente produtivas 387

utilizadas pelos agricultores para atenderem agraves demandas de mercado por farinha e para o 388

consumo proacuteprio (Kawa et al 2013) 389

42

No entanto observamos que existe outro nuacutecleo de etnovariedades menos frequentes 390

Essas etnovariedades raras podem ser resultantes do processo de experimentaccedilatildeo ou 391

preferecircncias individuais dos agricultores Outra possiacutevel razatildeo para a baixa frequecircncia de 392

algumas etnovariedades poderia ser explicada pela variaccedilatildeo da nomenclatura pelos 393

agricultores que segundo Peroni amp Hanazaki (2002) pode ocorrer durante o processo de troca 394

e introduccedilatildeo de novas variedades aos roccedilados Ainda assim natildeo descartamos a hipoacutetese de que 395

essas etnovariedades raras possam ser provenientes do cruzamento entre variedades diferentes 396

cultivadas da mesma roccedilado ou em roccedilas vizinhas De acordo com Martins (2005) essas 397

variedades fruto de germinaccedilatildeo expentacircnea satildeo incorporadas aos roccedilados pelos agricultores 398

pela curiosidade em experimentar novas variedades agraves suas coleccedilotildees 399

Nesse estudo admitimos que optar por etnovariedades raras entre as comunidades 400

estudadas eacute um comportamento adotado por agricultores que manejam uma maior diversidade 401

corroborando com os estudos de Cavechia et al (2014) e Emperaire et al (2016) em regiotildees 402

uacutemidas Para esses autores etnovaridedades de baixa frequecircncia representam um subconjunto 403

das de alta frequecircncia cultivadas por agricultores que manteacutem a maior diversidade em seus 404

roccedilados Sendo assim inferimos que no geral entre as comunidades satildeo os agricultores 405

generalistas aqueles que cultivam maior diversidade os responsaacuteveis por incorporar novas 406

etnovariedades aos roccedilados 407

As decisotildees dos agricultores em manter o acervo direcionado principalmente para 408

atender a demanda de mercado por exemplo podem levar a uma homogeneizaccedilatildeo nas roccedilas 409

colocando em risco a manutenccedilatildeo da diversidade local (Peroni amp Hanazaki 2002) Como 410

discutido por Elias et al (2000) os agricultores que selecionam apenas um nuacutemero reduzido e 411

especiacutefico de variedades mais produtivas tendem a fazer com que as variedades menos 412

frequentes desapareccedilam ao longo do tempo Essa tendecircndia pode influenciar na capacidade de 413

43

resiliecircncia do sistema assim como dos agricultores em lidar com possiacuteveis adversidades 414

ambientais que possam ocorrer 415

Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 416

No geral os agricultores demonstraram uma tendecircncia em classificarseparar suas 417

diferentes etnovariedades de mandioca a partir da combinaccedilatildeo de um conjunto de sete 418

caracteres morfoloacutegicos distintos e de faacutecil percepccedilatildeo os quais natildeo tem relaccedilatildeo com o uso 419

como por exemplo a cores das raiacutezes caule e folhas Logo consideramos que esses caracteres 420

morfoloacutegicos podem ser considerados como uma forma de classificaccedilatildeo pelos agricultores 421

baseada na capacidade percepccedilatildeo das diferenccedilas morfoloacutegicas que cada etnovariedades 422

apresenta (Boster 1985) Estes resultados nos levam a entender que entre os agricultores o 423

conhecimento sobre a diversidade da mandioca estaacute relacionado ao conhecimento de 424

caracteriacutesticas morfoloacutegicas consistentes 425

A existecircncia de alguns fenoacutetipos comuns nos permitiu avaliar a classificaccedilatildeo da 426

consistecircncia da taxonomia popular entre os agricultores Por exemplo as etnovariedades 427

ldquoMaxaceira Rosardquo e ldquoMacaxeira Rosa Brancardquo e ldquoMacaxeira vermelhardquo foram agrupadas no 428

mesmo cluster (C4) por apresentaram fenoacutetipos semelhantes Notamos que os agricultores 429

classificaram essas variedades de acordo com os traccedilos morfoloacutegicos mais relevantes como a 430

cor do coacutertex da raiz rosa e cor branca da polpa O mesmo ocorreu com as etnovariedades 431

ldquoMandioca varudardquo ldquoMandioca campina da granderdquo e ldquoMandioca campinardquo caracterizadas 432

pela presenccedila do peciacuteolo verde agrupadas no cluster (C1) 433

A partir dessas evidecircncias consideramos a hipoacutetese de que as variedades mesmo 434

apresentando caracteriacutesticas morfoloacutegicas muito semelhantes estatildeo sujeitas a variaccedilatildeo 435

nomenclatural durante o processo a incorporaccedilatildeo aos roccedilados pelos agricultores pois a 436

capacidade para distinguir e nomear variedades entre os agricultores da mesma regiatildeo pode 437

variar (Sambatti et al 2001 Elias et al 2001 Mekbib 2007) Consideramos tambeacutem que pode 438

44

existir variaccedilatildeo geneacutetica entre os indiviacuteduos identificados por um mesmo nome ou entatildeo que 439

os agricultores datildeo o mesmo nome para variedades diferentes E esta situaccedilatildeo pode levar a uma 440

superestimaccedilatildeo ou subestimaccedilatildeo da diversidade de mandioca cultiva nas aacutereas de estudo 441

Sabemos que a mandioca eacute propagada vegetativamente pelos agricultores por meio de 442

estacas em sistemas de agricultura tradicional No entanto alguns variedades produzem flores 443

e sementes que germinam e podem originar outras variedades ou outros clones por meio de 444

fecundaccedilatildeo cruzada (Elias et al 2001) Nesse contexto a etnovariedade ldquoMacaxeira Sementerdquo 445

presente no cluster (C7) trata-se de um uacutenico indiviacuteduo amostrado em uma roccedila de um dos 446

agricultores Esta apresentava algumas caracteriacutesticas morfoloacutegicas distintas das demais 447

reconhecidas pelo agricultor como por exemplo a produccedilatildeo de uma raiz uacutenica e 448

consequentemente de baixo rendimento Encontramos apenas um indiviacuteduo dessa 449

etnovariedade e nossa hipoacutetese de que esta poderia ter sido originada da germinaccedilatildeo da 450

semente mesmo quando 100 dos informantes declararam natildeo dar qualquer importacircncia e 451

descartar essas ldquovariedades-voluntaacuteriasrdquo foi confirmada pelo agricultor que afirmou que se 452

tratava de uma variedade nascida da germinaccedilatildeo da semente Esse comportamento vai de 453

encontro ao estudo de Fraser et al (2012) pois apesar dos agricultores reportarem nas 454

entrevistas que conhecem essas ldquovariedades-voluntaacuteriasrdquo nenhum agricultor faz o uso delas 455

Peroni et al (1999) e Agre et al (2016) analisando morfologicamente as variedades 456

locais de mandioca mantidas por agricultores em sistemas agriacutecolas tropicais tambeacutem 457

demonstraram que os agricultores satildeo coerentes quanto a separaccedilatildeo e identificaccedilatildeo de suas 458

etnovariedades a partir da formaccedilatildeo de grupos de coesos quanto a nomenclatura local utilizada 459

No entanto para o melhor entendimento dessa diversidade aleacutem da caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica 460

o uso de anaacutelises complementares como anaacutelise molecular seria importante para tentar 461

identificar se esses grupos representam a mesma variedade com nomes distintos ou se satildeo 462

variedades distintas com o mesmo nome 463

45

Conclusatildeo 464

O estudo demonstrou que no sistema de manejo da mandioca ao niacutevel de roccedila em 465

comunidades localizadas na regiatildeo semiaacuterida de Pernambuco compotildee uma diversidade 466

intrespeciacutefica de mandioca para atender agraves demandas econocircmicas e de subsistecircncia das 467

populaccedilotildees locais 468

Com relaccedilatildeo a anaacutelise de rede demostramos que haacute um nuacutecleo de etnovariedades 469

fortemente conectado aos agricultores e sua composiccedilatildeo eacute direcionada pelas preferecircncias e 470

necessidades individuais dos agricultores que foram os fatores responsaacuteveis pelo surgimento 471

da estrutura aninhada observada na anaacutelise rede entre as comunidades deste estudo E esse 472

padratildeo aninhado observado contribui na conservaccedilatildeo das etnovariedades mais comuns mas 473

tambeacutem pode resultar em perda daquelas de menor frequecircncia ao longo do tempo 474

A caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica ldquoin siturdquo nos permitiram inferir que os agricultores 475

reconhecem as diferentes caracteriacutesticas morfoloacutegicas de suas cultivares e satildeo coerentes na 476

separaccedilatildeo de suas variedades de mandioca e macaxeira Entretanto esses resultados sugerem a 477

realizaccedilatildeo de um estudo em niacutevel de diversidade geneacutetica exploratoacuterio para identificar se as 478

consistecircncias morfoloacutegicas refletem em consistecircncias geneacuteticas elucidando assim as possiacuteveis 479

confusotildees atribuiacutedas aos nomes das etnovariedades de mandioca 480

Agradecimentos 481

Agradecemos ao liacuteder comunitaacuterio Alexandre O Nascimento aos agricultores e 482

agricultoras das comunidades pela acolhida confianccedila e pela gentileza de compartilharem 483

conosco seus conhecimentos e contribuiacuterem com este estudo Especialmente a Arlindo Ferreira 484

Edgar Antocircnio Joseacute Sebastiatildeo Juvenal Oliveira e Janete Alves Ao Laboratoacuterio de Ecologia e 485

Evoluccedilatildeo de Sistemas Socioecoloacutegicos (LEA - UFPE) E agradecemos ao CNPq pelo apoio 486

com a bolsa de estudos do primeiro autor 487

46

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(Amazonas Brasil) Boletim Do Museu Paraense Emiacutelio Goeldi Ciecircncias Humanas 3(2) 536

195ndash211 537

Emperaire L Eloy L amp Seixas A C (2016) Redes e observatoacuterios da agrobiodiversidade 538

como e para quem Uma abordagem exploratoacuteria na regiatildeo de Cruzeiro do Sul Acre 539

Boletim Do Museu Paraense Emrsquoilio Goeldi Ciecircncias Humanas 11(1) 159ndash192 540

Emperaire L amp Peroni N (2007) Traditional management of agrobiodiversity in Brazil a 541

case study of manioc Human Ecology 35(6) 761ndash768 542

Fraser J A Alves-Pereira A Junqueira A B Peroni N amp Clement C R (2012) 543

Convergent adaptations bitter manioc cultivation systems in fertile anthropogenic dark 544

earths and floodplain soils in Central Amazonia PLoS One 7(8) e43636 545

48

Fukuda W M G amp Guevara C L (1998) Descritores morfoloacutegicos e agronocircmicos para a 546

caracterizaccedilatildeo de mandioca (Manihot esculenta Crantz) Embrapa Mandioca E 547

Fruticultura-Documentos (INFOTECA-E) 548

Guimaraes Jr P R amp Guimaraes P (2006) Improving the analyses of nestedness for large 549

sets of matrices Environmental Modelling amp Software 21(10) 1512ndash1513 550

Hanazaki N Zank S Pinto M C Kumagai L Cavechia L A amp Peroni N (2012) 551

Etnobotacircnica nos Areais da Ribanceira de Imbituba Compreendendo a biodiversidade 552

vegetal manejada para subsidiar a criaccedilatildeo de uma reserva de desenvolvimento sustentaacutevel 553

Biodivers Bras 2 50ndash64 554

Kassambara A amp Mundt F (2016) Factoextra extract and visualize the results of 555

multivariate data analyses R Package Version 1(3) 556

Kawa N C McCarty C amp Clement C R (2013) Manioc varietal diversity social networks 557

and distribution constraints in rural Amazonia Current Anthropology 54(6) 764ndash770 558

Lecirc S Josse J Husson F amp others (2008) FactoMineR an R package for multivariate 559

analysis Journal of Statistical Software 25(1) 1ndash18 560

Lima D Steward A amp Richers B T (2012) Trocas experimentaccedilotildees e preferecircncias Um 561

estudo sobre a dinacircmica da diversidade da mandioca no meacutedio Solimotildees Amazonas 562

Boletimdo Museu Paraense Emilio GoeldiCiencias Humanas 7(2) 371ndash396 563

httpsdoiorg101590S1981-81222012000200005 564

Marchetti F F Massaro L R de Mello Amorozo M C amp Butturi-Gomes D (2013) 565

Maintenance of manioc diversity by traditional farmers in the State of Mato Grosso 566

Brazil a 20-year comparison Economic Botany 67(4) 313ndash323 567

Martins P S (2005) Dinacircmica evolutiva em roccedilas de caboclos amazocircnicos Estudos 568

Avanccedilados 19(53) 209ndash220 569

Mekbib F (2007) Infra-specific folk taxonomy in sorghum (Sorghum bicolor (L) Moench) in 570

Ethiopia folk nomenclature classification and criteria Journal of Ethnobiology and 571

Ethnomedicine 3(1) 38 572

Mkumbira J Chiwona-Karltun L Lagercrantz U Mahungu N M Saka J Mhone A hellip 573

Rosling H (2003) Classification of cassava into ldquobitterrdquoand ldquocoolrdquoin Malawi From 574

farmersrsquo perception to characterisation by molecular markers Euphytica 132(1) 7ndash22 575

49

Oksanen J Blanchet F G Kindt R Legendre P Minchin P R Orsquohara R B hellip others 576

(2017) Package ldquoveganrdquo Community Ecology Package Version 2(9) 577

Pautasso M Aistara G Barnaud A Caillon S Clouvel P Coomes O T hellip others 578

(2012) Seed exchange networks for agrobiodiversity conservation A review Agronomy 579

for Sustainable Development 33(1) 151ndash175 580

Peroni N amp Hanazaki N (2002) Current and lost diversity of cultivated varieties especially 581

cassava under swidden cultivation systems in the Brazilian Atlantic Forest Agriculture 582

Ecosystems amp Environment 92(2ndash3) 171ndash183 583

Peroni N Martins P S amp Ando A (1999) Diversidade inter-e intra-especiacutefica e uso de 584

anaacutelise multivariada para morfologia da mandioca (Manihot esculenta Crantz) um estudo 585

de caso Inter-and intraspecific diversity and use of multivariate analysis for the 586

morphology of cassava (Manihot esculent Scientia Agricola 56(3) 587ndash595 587

Pinton F amp Emperaire L (2001) Le manioc en Amazonie breacutesilienne diversiteacute varieacutetale et 588

marcheacute Genet Sel Evol 33(1) 491ndash512 589

Pires M M Guimaratildees P R Arauacutejo M S Giaretta A A Costa J C L amp Dos Reis S 590

F (2011) The nested assembly of individual-resource networks Journal of Animal 591

Ecology 80(4) 896ndash903 592

Pujol B Renoux F Elias M Rival L amp Mckey D (2007) The unappreciated ecology of 593

landrace populations Conservation consequences of soil seed banks in Cassava 594

Biological Conservation 136(4) 541ndash551 httpsdoiorg101016jbiocon200612025 595

Sambatti J B M Martins P S amp Ando A (2001) Folk taxonomy and evolutionary 596

dynamics of cassava a case study in Ubatuba Brazil Economic Botany 55(1) 93ndash105 597

Sieber S S Medeiros P M amp Albuquerque U P (2011) Local perception of environmental 598

change in a semi-arid area of Northeast Brazil a new approach for the use of participatory 599

methods at the level of family units Journal of Agricultural and Environmental Ethics 600

24(5) 511ndash531 601

Sneath P H A Sokal R R amp others (1973) Numerical taxonomy The principles and 602

practice of numerical classification 603

Sokal R R amp Rohlf F J (1995) 1995 Biometry WH Freeman San Francisco Sulikowski 604

JA J Kneebone S Elzey P Danley WH Howell and PWC Tsang--2005 The 605

50

Reproductive Cycle of the Thorny Skate Amblyraja Radiata in the Gulf of Maine Fish 606

Bull 103 536ndash543 607

Team R C (2017) R A Language and Environment for Statistical Computing Vienna 608

Austria Retrieved from httpswwwr-projectorg 609

Thompson E C amp Juan Z (2006) Comparative cultural salience Measures using free-list 610

data Field Methods 18(4) 398ndash412 611

Wei T amp Simko V (2013) corrplot Visualization of a correlation matrix R Package Version 612

073 230(231) 11 613

614

51

ANEXOS 615

616

Nome da revista 617

Human Ecology 618

Link de acesso 619

httpsgooglDVLbFj 620

Qualis-CAPES 621

B1 em Biodiversidade 622

623

624

625

626

627

628

629

630

631

632

633

634

635

636

637

638

639

640

641

642

52

Figuras 643

644

645

Fig 1 Partes do processo de fabricaccedilatildeo de farinha de mandioca Onde a raspagem b e c 646

processo de trituraccedilatildeo e d peneiramento Foto registrada em Abril de 2017 por Mirela Santos 647

648

649

650

c

d

b

a

53

651

Fig 2 Mapa de localizaccedilatildeo geograacutefica dos Municiacutepios de Altinho e Panelas e das comunidades 652

estudadas na regiatildeo semiaacuterida do Estado de Pernambuco (Elaborado por SANTOS 2018) 653

54

654

655

656

657

Fig 3 Processo de fabricaccedilatildeo da farinha de mandioca Apoacutes a colheita as raiacutezes satildeo lavadas 658

raspadas e trituradas (a) A massa extraiacuteda eacute prensada e coada Ao sair da prensa a massa 659

peneirada (b) e em seguida eacute torrada (c) em fornos artesanais ou parcialmente mecanizados 660

Imagem registrada em janeiro de 2017 na Comunidade do Caratildeo por Mirela Santos 661

662

663

a

b c

55

664

Fig 4 a Sede da Comunidade do Caratildeo b Agricultor transportando a palma forrageira que eacute 665

um exemplo de estrateacutegia adaptativa para suprir a falta de alimento dos animais devido agrave seca 666

c Feira-livre que acontece na comunidade a cada quinze dias Imagem registrada em julho de 667

2016 na Comunidade do Caratildeo por Mirela Santos 668

669

670

Fig 5 a O agricultor nos explicava as mudanccedilas que vem fazendo em seus roccedilados para se 671

adaptar aos longos periacuteodos de seca b Quando o agricultor nos mostrava as diferentes 672

etnovariedades que mantinha em sua roccedila c Durante a pesquisa nos explicavam como era feita 673

a colheita da mandioca e como selecionavam as manivas para o proacuteximo plantio Foto registrada 674

em abril de 2017 na Comunidade do Brejo Velho por Mirela Santos 675

a

b c

c b

a

56 676

677

Fig 6 Possiacuteveis estruturas de rede que descrevem as interaccedilotildees dos agricultores (losango) 678

ligados as etnovariedades (ciacuterculos) que cultivam Onde a Aninhada b Modular c Aleatoacuteria 679

(Fonte Cavechia et al 2014 com adaptaccedilotildees) 680

681

682

683

684

685

686

687

688

689

690

691

692

693

694

695

696

697

a c b

57

698

699

700

701

702

703

704

705

706

707

Fig 7 Correlaccedilatildeo de Spearman entre a diversidade de etnovariedades de mandiocas conhecidas 708

como cultivadas e variedades atualmente cultivadas por agricultor e as variaacuteveis 709

socioeconocircmicas Onde Nvc= nuacutemero de citadas como cultivadas Nve= nuacutemero de variedades 710

atualmente cultivadas Esc= escolaridade Id= idade Gen= gecircnero Tr= tamanho do roccedilado 711

Exp= experiecircncia na agricultura Sld= renda Nr= nuacutemero de roccedilados Cores distintivas 712

representam correlaccedilotildees significativas (Ple005) 713

714

58

715

Fig 8 Modelo individual de rede de etnovariedades de mandioca citadas (esquerda) por 716

agricultores como cultivadas (direita) nos Municiacutepios de Altinho e Panelas As redes foram 717

desenhadas com o pacote bipartite (Dormann et al 2017) usando o software R (R CORE 718

TEAM 2017) 719

720

59

721

Fig 9 Anaacutelise de Correspondecircncia Muacuteltipla das 17 etnovariedades de mandioca considerando 722

os sete descritores morfoloacutegicos utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo em roccedilas de 723

agricultores tradicionais de sete comunidades no semiaacuterido de Pernambuco 724

725

726

727

728

729

730

731

732

733

734

735

736

737

McCambadinha

McCampina

McCampinaDaGrande

McCampinaRasteira

McCampinaVaruda

McGauba

McIsabelDeSouza

McIsabelTresGalhos

McOlhoDePombo

McOlhoVerde

McPretinha

McPretona

MxBranca

MxRosa

MxRosaBrancaMxRosaVermelha

MxSemente

CFD_Verde_Arroxeado

CFD_Verde_ClaroCFD_Verde_Escuro

CBF_Roxo

CBF_Verde_ArroxeadoCBF_Verde_Claro

CBF_Verde_Escuro

CDP_Verde

CDP_Verde_Amarelado

CDP_Verde_Avermelhado

CDP_Vermelho

CEC_Cinza

CEC_Dourado

CEC_Laranja

CEC_Marrom_Claro

CEC_Marrom_Escuro

CEC_Prateado

CEC_Verde_AmareladoCicatriz_M

Cicatriz_P

PDR_Branco

PDR_Creme

CDR_BrancoCDR_Creme CDR_Rosa

-4

-2

0

2

4

-4 -2 0 2 4

Dim1 (206)

Dim

2 (

162

)

MCA - Biplot

00

10

Hierarchical Clustering

inertia gain

McC

am

pin

aV

aru

da

McC

am

pin

aD

aG

rande

McC

am

pin

a

McG

auba

McP

retin

ha

McP

reto

na

MxR

osaV

erm

elh

a

MxR

osaB

ranca

MxR

osa

McC

am

pin

aR

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ira

McC

am

badin

ha

McO

lhoV

erd

e

MxB

ranca

MxS

em

ente

McIsabelT

resG

alh

os

McIsabelD

eS

ouza

McO

lhoD

eP

om

bo

00

05

10

15

Hierarchical Classification

Heig

ht

C1 C2 C3 C4 C5 C6 C7 C8

Fig 10 Agrupamento hieraacuterquico das 17 etnovariedades de mandioca caracterizadas de acordo

com os descritores utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo

60

Tabelas 738

739

Tabela 1 Caracteres e estados utilizados pelos agricultores como descritores botacircnicos para 740

caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das etnovariedades de mandioca 741

Caracter Sigla Estados

Folha

Cor da folha desenvolvida CFD 1- verde claro 2- verde escuro 3- verde arroxeado 4- roxo

Cor do broto foliar CBF 1- verde claro 2- verde escuro 3- verde arroxeado 4- roxo

Cor do peciacuteolo CDP 1- verde amarelado 2- verde 3- verde avermelhado 4- roxo

5- vermelho

Caule

Cor externa do caule CEC 1- laranja 2- verde amarelado 3- dourado 4- marrom claro

5- prateado 6- cinza 7- marrom escuro 8- verde

Protuberacircncia da cicatriz foliar PCF 1- pouco proeminente 2- muito proeminente

Raiacutez

Cor da poupa da raiz PDR 1- branco 2- creme

Cor do coacutertex da raiacutez CDR 1- rosa 2- branco 3- creme

742

743

744

745

746

747

748

749

750

751

61

Tabela 2 Lista das 22 etnovariedades de mandiocas citadas (132 citaccedilotildees) como cultivadas nas 752

comunidades pertencentes aos Municiacutepios de Altinho (Caratildeo n=8) e ao Municiacutepio de Panelas 753

(Aracuatilde Satildeo Joseacute do Bola Brejo Velho Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima e Lajeiro 754

Dantas n=21) 755

Etnovariedade Frequecircncia () Ranking Saliecircncia

Macaxeira Rosa 66 179 0472

Mandioca Isabel de Souza 48 179 0372

Mandioca Campina 24 217 0148

Macaxeira Branca 20 210 0134

Macaxeira Rosa branca 18 122 0168

Mandioca Pretona 16 338 0082

Mandioca Cambadinha 12 283 0071

Mandioca Isabel trecircs galhos 10 180 0075

Mandioca Gauacuteba 10 260 0070

Mandioca Pretinha 8 225 0053

Mandioca Peacute de pombo 4 400 0011

Mandioca Olho verde 4 350 0012

Macaxeira Rosinha 4 200 0027

Mandioca Campina varuda 4 200 0032

Mandioca Campina rasteira 4 300 0021

Mandioca Caboquinha 2 500 0007

Macaxeira Rasteira 2 200 0013

Macaxeira Paraacute 2 100 0020

Mandioca Barra ferro 2 300 0007

Mandioca Campina da grande 2 100 0020

Mandioca Olho de pombo 2 300 0010

Mandioca Jasmim 2 600 0006

756

757

758

62

Tabela 3 Lista de 17 etnovariedades atualmente cultivadas nos roccedilados das comunidades em 759

estudo 760

Ca Ar Bo Br Jb Jc Ld

Etnovariedade

Macaxeira Branca x x x x

Macaxeira Rosa

x x x x x x

Macaxeira Rosa Branca x x x x

Macaxeira Rosa Vermelha

x

Macaxeira Semente

x

Mandioca Cambadinha x

x

Mandioca Campina

x

x

x

Mandioca Campina da Grande x

Mandioca Campina Rasteira

x

Mandioca Campina Varuda

x

Mandioca Gauacuteba

x

Mandioca Isabel de Souza

x x x

Mandioca Isabel trecircs Galhos

x

x

Mandioca Olho de Pombo

x

Mandioca Olho Verde

x

Mandioca Pretinha

x

Mandioca Pretona x x x

Comunidades Ca= Caratildeo Ar=Aracuatilde Bo= Satildeo Joseacute do Bola Jb= Japaranduba de Baixo 761

Jc= Japaranduba de Cima Ld= Lajedo Dantas 762

763

764

765

766

767

768

63

Tabela 4 Descriccedilatildeo das classes do agrupamento por meacutetodo de Ward agrupadas pelo conjunto 769

dos descritores mais significativos para a caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das variedades de mandioca 770

Classes Descritores in situ p-valor

C1 Cor do peciacuteolo (CDP) 0016

C2 Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023

C3 Cor do peciacuteolo (CDP) 0012

C4 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0004

Cor da poupa da raiacutez (PDF) 0021

C5 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0003

C6 Cor do broto foliar (CBF) 0002

C7 Cor da folha desenvolvida (CFD) 0004

Cor externa do caule (CEC) 0040

C8 Cor do peciacuteolo (CDP) 0005

Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023

Valores de Ple005 satildeo significativos 771

772

iii Dados Internacionais de Catalogaccedilatildeo na Publicaccedilatildeo (CIP) Sistema Integrado de Bibliotecas da UFRPE Biblioteca Central Recife-PE Brasil

S237v Santos Mirela Nataacutelia Variaccedilatildeo intraespeciacutefica conhecimento e manejo local de mandioca Manihot esculenta Crantz no semiaacuterido de Pernambuco Nordeste do Brasil Mirela Nataacutelia Santos ndash Recife 2018 63 f il Orientador(a) Ulysses Paulino de Albuquerque Coorientador(a) Reginaldo de Carvalho Dissertaccedilatildeo (Mestrado) ndash Universidade Federal Rural de Pernambuco Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Botacircnica Recife BR-PE 2018 Inclui referecircncias 1 Agricultura tradicional 2 Agrobiodiversidade 3 Etnobiologia 4 Plantas Alimentiacutecias I Albuquerque Ulysses Paulino de orient II Carvalho Reginaldo de coorient III Tiacutetulo CDD 58115

iv

VARIACcedilAtildeO INTRAESPECIacuteFICA CONHECIMENTO E MANEJO TRADICIONAL

DE MANDIOCA Manihot esculenta Crantz NO SEMIAacuteRIDO DE PERNAMBUCO

NORDESTE DO BRASIL

MIRELA NATAacuteLIA SANTOS

Dissertaccedilatildeo apresentada ao Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo em Botacircnica da Universidade

Federal Rural de Pernambuco desenvolvido dentro da Linha de Pesquisa de

Etnobotacircnica e Botacircnica Aplicada como parte das exigecircncias para a obtenccedilatildeo do tiacutetulo

de Mestre em Botacircnica

Aprovada pela Banca Examinadora em ______2018

_____________________________________________

Dr Ulysses Paulino de Albuquerquendash Presidente

(Universidade Federal de Pernambuco)

_____________________________________________

Dra Andrecircsa Suana Argemiro Alves- Titular

(Universidade Federal Rural de Pernambuco)

_____________________________________________

Dra Ivanilda Soares Feitosa- Titular

(Universidade Federal Rural de Pernambuco)

________________________________________________

Dra Elcida de Lima Arauacutejo - Suplente

(Universidade Federal Rural de Pernambuco)

_____________________________________________

Dr Marcelo Alves Ramos - Suplente

(Universidade de Pernambuco)

Recife 2018

v

Aos meus pais Maacutercia Santos e Maacutezio Santos

e aos agricultores envolvidos na pesquisa

Dedico

vi

AGRADECIMENTOS

Ao meu orientador Dr Ulysses Paulino de Albuquerque de quem recebi o acolhimento

a orientaccedilatildeo e por quem experimentei um sentimento de admiraccedilatildeo Obrigada pela paciecircncia

oportunidades e por todo o conhecimento transmitido Agradeccedilo tambeacutem ao meu coorientador

Reginaldo de Carvalho que me abriu as portas para a realizaccedilatildeo do mestrado

A minha famiacutelia minha matildee Maacutercia meu pai Maacutezio e meu irmatildeo Maacutercio pois sempre

estiveram ao meu lado me incentivando e dando todo o suporte emocional Agradeccedilo pela

doaccedilatildeo e esforccedilos para que eu consiga alcanccedilar meus objetivos Pai obrigada por ser esse

exemplo de honestidade forccedila de vontade e dedicaccedilatildeo Agradeccedilo pela paciecircncia compreensatildeo

e sacrifiacutecios de longos trajetos que tivemos que enfrentar durante nossas idas e vindas para a

Universidade Matildee obrigada pela sua feacute e por me ensinar tanto com sua natureza humilde e

bondosa

Meus mais sinceros e profundos agradecimentos a todos os agricultores e agricultoras

que participaram desta pesquisa pela acolhida e confianccedila Obrigada por generosamente me

deixarem entrar em suas casas nos seus roccedilados na intimidade suas vidas e por compartilharem

comigo um pouco de seus conhecimentos dificuldades e principalmente ESPERANCcedilAS

Especialmente a Arlindo Ferreira Edgar Antocircnio Joseacute Sebastiatildeo e Juvenal Oliveira que satildeo

verdadeiros exemplos de humildade e solidariedade A Janete Alves e seu esposo Dida que me

hospedam em sua casa e me ajudaram de vaacuterias formas durante as minhas viagens de campo

Foi uma experiecircncia memoraacutevel e cada minuto embora difiacutecil foi fundamental para minha

formaccedilatildeo pessoal e profissional

A Viniacutecius Barbosa pela cumplicidade compreensatildeo e principalmente pela paciecircncia

Agradeccedilo por Deus ter me dado a oportunidade de compartilhar momentos inesqueciacuteceis ao

lado de uma pessoa tatildeo incriacutevel

Agradeccedilo tambeacutem agraves minhas amigas Amanda Eloi Jeacutessica Arruda Rayana Lima

Rayanne Gusmatildeo pela amizade de longas datas por todo apoio e compreensatildeo quando estive

ausente em nossos encontros Ao meu amigo Bartolomeu Neto pela ajuda com o

desenvolvimento do mapa das aacutereas em estudo

Aos meus companheiros de trabalho e parcerias do Laboratoacuterio de Ecologia e Evoluccedilatildeo

de Sistemas Socioecoloacutegicos (LEA - UFPE) que estiveram comigo durante este periacuteodo de

crescimento pessoal e profissional Em especial a Andreacute Borba Ivanilda Soares Juliane Hora

Nylber Silva Regina Ceacutelia Risoneide Henriques e Roberta Caetano

vii

A Rafael Zaacuterate agradeccedilo por toda disposiccedilatildeo dedicaccedilatildeo e aprendizado adquirido

Obrigada pelas horas de discussotildees sobre os temas do trabalho pelas ajudas em campo com as

anaacutelises estatiacutesticas e pela paciecircncia

Por fim agradeccedilo ao Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo em Botacircnica da Universidade Federal

Rural de Pernambuco (UFRPE) pela oportunidade de realizaccedilatildeo do mestrado e ao Conselho

Nacional de Desenvolvimento Cientifico e Tecnoloacutegico (CNPq) pela concessatildeo da bolsa de

incentivo a pesquisa

viii

ldquoEl mundo que nos rodea es un misterio ndash dijo-

Y los hombres no son mejores que ninguna otra cosardquo

Carlos Castaneda - Viaje a Ixtlaacuten

ix

LISTA DE FIGURAS

INTRODUCcedilAtildeO GERAL E REVISAtildeO DE LITERATURA

Fig 1 Partes do processo de fabricaccedilatildeo de farinha de mandioca Onde a raspagem b e c

processo de trituraccedilatildeo e d peneiramento 52

VARIACcedilAtildeO INTRAESPECIacuteFICA CONHECIMENTO E MANEJO LOCAL DE

MANDIOCA (Manihot esculenta Crantz) NO SEMIAacuteRIDO DE PERNAMBUCO

NORDESTE DO BRASIL

Fig 2 Mapa de localizaccedilatildeo geograacutefica dos Municiacutepios de Altinho e Panelas e das comunidades

estudadas na regiatildeo semiaacuterida do Estado de Pernambuco 53

Fig 3 Processo de fabricaccedilatildeo da farinha de mandioca Apoacutes a colheita as raiacutezes satildeo lavadas

raspadas e trituradas (a) A massa extraiacuteda eacute prensada e coada Ao sair da prensa a massa

peneirada (b) e em seguida eacute torrada (c) em fornos artesanais ou parcialmente mecanizados

54

Fig 4 a Sede da Comunidade do Caratildeo b Agricultor transportando a palma forrageira que eacute

um exemplo de estrateacutegia adaptativa para suprir a falta de alimento dos animais devido agrave seca

c Feira-livre que acontece na comunidade a cada quinze dias 55

Fig 5 a O agricultor nos explicava as mudanccedilas que vem fazendo em seus roccedilados para se

adaptar aos longos periacuteodos de seca b Quando o agricultor nos mostrava as diferentes

etnovariedades que mantinha em sua roccedila c Durante a pesquisa nos explicavam como era

feita a colheita da mandioca e como selecionavam as manivas para o proacuteximo plantio 55

Fig 6 Possiacuteveis estruturas de rede que descrevem as interaccedilotildees dos agricultores (losango)

ligados as etnovariedades (ciacuterculos) que cultivam Onde a Aninhada b Modular c Aleatoacuteria

56

Fig 7 Correlaccedilatildeo de Spearman entre a diversidade de etnovariedades de mandiocas conhecidas

como cultivadas e variedades atualmente cultivadas por agricultor e as variaacuteveis

socioeconocircmicas Onde Nvc= nuacutemero de citadas como cultivadas Nve= nuacutemero de variedades

atualmente cultivadas Esc= escolaridade Id= idade Gen= gecircnero Tr= tamanho do roccedilado

Exp= experiecircncia na agricultura Sld= renda Nr= nuacutemero de roccedilados Cores distintivas

representam correlaccedilotildees significativas (Ple005) 57

Fig 8 Modelo individual de rede de etnovariedades de mandioca citadas (esquerda) por

agricultores como cultivadas (direita) nos Municiacutepios de Altinho e Panelas As redes foram

x

desenhadas com o pacote bipartite (Dormann et al 2017) usando o software R (R CORE

TEAM 2017) 58

Fig 9 Anaacutelise de Correspondecircncia Muacuteltipla das 17 etnovariedades de mandioca considerando

os sete descritores morfoloacutegicos utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo em roccedilas de

agricultores tradicionais de sete comunidades no semiaacuterido de Pernambuco 59

Fig 10 Agrupamento hieraacuterquico das 17 etnovariedades de mandioca caracterizadas de acordo

com os descritores utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo 59

xi

LISTA DE TABELAS

CAPIacuteTULO IVARIACcedilAtildeO INTRAESPECIacuteFICA CONHECIMENTO E MANEJO

LOCAL DE MANDIOCA (Manihot esculenta Crantz) NO SEMIAacuteRIDO DE

PERNAMBUCO NORDESTE DO BRASIL

Tabela 1 Caracteres e estados utilizados pelos agricultores como descritores botacircnicos para

caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das etnovariedades de mandioca 60

Tabela 2 Lista das 22 etnovariedades de mandiocas citadas (132 citaccedilotildees) como cultivadas nas

comunidades pertencentes aos Municiacutepios de Altinho (Caratildeo n=8) e ao Municiacutepio de Panelas

(Aracuatilde Satildeo Joseacute do Bola Brejo Velho Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima e Lajeiro

Dantas n=21) 61

Tabela 3 Lista de 17 etnovariedades atualmente cultivadas nos roccedilados das comunidades em

estudo 62

Tabela 4 Descriccedilatildeo das classes do agrupamento por meacutetodo de Ward agrupadas pelo conjunto

dos descritores mais significativos para a caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das variedades de mandioca

63

xii

SUMAacuteRIO

RESUMO GERAL xiii

1 Introduccedilatildeo Geral 14

2 Revisatildeo bibliograacutefica 17

21 Manihot esculenta Crantz e conhecimento local de agricultores tradicionais 17

22Manejo tradicional em roccedilas e diversidade intraespeciacutefica da mandioca 18

23 Redes sociais de troca e circulaccedilatildeo de etnovariedades de mandioca 20

3 Referecircncias bibliograacuteficas 22

VARIACcedilAtildeO INTRAESPECIacuteFICA CONHECIMENTO E MANEJO LOCAL DE

MANDIOCA (Manihot esculenta Crantz) NO SEMIAacuteRIDO DE PERNAMBUCO

NORDESTE DO BRASIL 25

Resumo 26

Introduccedilatildeo 27

Material e meacutetodos 29

Resultados 36

Discussatildeo 40

Conclusatildeo 45

Agradecimentos 45

Referecircncias bibliograacuteficas 46

ANEXOS 51

xiii

RESUMO GERAL

Agricultores de pequena escala que praticam agricultura de modo tradicional em roccedilas

desempenham um importante papel na geraccedilatildeo manutenccedilatildeo e conservaccedilatildeo da

agrobiodiversidade local Dentre as espeacutecies mais cultivadas em roccedilas a Manihot esculenta

Crantz (mandioca) em sua diversidade intrespeciacutefica eacute um dos recursos agriacutecolas de maior

importacircncia econocircmica e de subsistecircncia para diversas populaccedilotildees locais no mundo Acredita-

se que as praacuteticas de manejo dedicadas ao cultivo da mandioca associadas ao conhecimento de

agricultores resultam no aumento da diversidade intraespeciacutefica assim como na conservaccedilatildeo

dessa diversidade Diante disso a pesquisa teve como objetivo compreender os processos

envolvidos na dinacircmica da diversidade agriacutecola da mandioca por meio do acesso ao

conhecimento dos agricultores quanto as praacuteticas de menejo e entender quais fatores podem

estar relacionados a geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da diversidade local Para isso o estudo foi

desenvolvido junto a agricultores tradicionais de sete comunidades rurais localizadas na regiatildeo

semiaacuterida do estado de Pernambuco A abordagem metodoloacutegica foi baseada em entrevistas

semiestruturadas conversas com os informantes e visitas aos roccedilados para caracterizar e

compreender a importacircncia manejo da agricultura de sequeiro e das redes sociais estabelecidas

entre os agricultores bem como identificar as variedades de mandioca atualmente cultivadas

A partir do conhecimento da diversidade manejada analisamos a estrutura da rede de interaccedilatildeo

social formada pelas trocas de etnovariedades entre os agricultores A partir destas informaccedilotildees

discutimos sobre o importante papel dos agricultores na manutenccedilatildeo do conjunto de

etnovariedades regionais Um total de 22 etnovariedades foram citadas as quais satildeo

identificadas pelos agricultores principalmente por meio de sete caracteres morfoloacutegicos A

estrutura em redes de trocas de variedades favorece a manutenccedilatildeo e amplificaccedilatildeo das diferentes

variedades locais

Palavras-Chave Agricultura tradicional Agricultura de sequeiro Agrobiodiversidade

Plantas alimentiacutecias Redes sociais

xiv

ABSTRACT

Small-scale farmers who practice traditional agriculture fields have an important role in

generation maintenance and conservation of local agrobiodiversity Among the most cultivated

species the Manihot esculenta Crantz (cassava) in its intrespecific diversity is one of the

moust important agricultural resources of economic importance and livelihood for many local

people in the world It is believed that the management practices dedicated to the cultivation of

cassava associated with the knowledge of farmers result in increased intraspecific diversity

and the conservation of this diversity Therefore the research aimed to understand the processes

involved in the dynamics of agricultural diversity of cassava through access the knowledge of

farmers as the management of practices and understand what factors may be related to the

generation and maintenance of local diversity For this the study was developed with the

traditional farmers of seven rural communities located in the semiarid region of the state of

Pernambuco The methodological approach was based on semi-structured interviews

conversations with informants and visits to fields to characterize and understand the

importance of management of dry framing and social networks established between farmers

and to identify the cassava varieties currently grown From the knowledge of managed

diversity we analyze the structure of social interaction network formed by the exchange of

landraces among farmers From this information We discussed the important role of farmers

in the overall regional landraces maintenance A total of 22 landraces were cited which are

identified by farmers mainly through seven morphological characters The structure of

varieties sharing networks favors the maintenance and amplification of different local varieties

Keywords Agrobiodiversity Dry Farming Food plants Social networks Traditional

agriculture

14

1 Introduccedilatildeo Geral

Ao longo dos anos populaccedilotildees tradicionais foram adquirindo aprimorando e transmitindo

seus conhecimentos sobre o manejo dos recursos naturais existentes em suas respectivas

regiotildees e assim foram desenvolvendo teacutecnicas para se adaptar e sobreviver ao ambiente Essas

populaccedilotildees foram domesticando uma grande variedade de espeacutecies de plantas alimentiacutecias

numa agricultura de pequena escala (BALLEacute 2006 CLEMENT et al 2010)

Essa interaccedilatildeo pessoas-planta por meio do cultivo e manejo das espeacutecies vegetais vem

contribuindo para ambos com alteraccedilotildees adaptativas por meio da seleccedilatildeo artificial Essas

alteraccedilotildees resultaram em mudanccedilas na estrutura geneacutetica das espeacutecies vegetais pelo manejo da

seleccedilatildeo de caracteriacutesticas fenotiacutepicas fisioloacutegicas e econocircmicas das plantas E essa seleccedilatildeo

consciente ou inconsciente das plantas se traduz em uma grande variaccedilatildeo intraespeciacutefica nas

populaccedilotildees vegetais sob diferentes regimes de manejo (CARMONA CASAS 2005)

Por meio do cultivo agricultores em comunidades tradicionais desempenham um papel

fundamental no processo dinacircmico de geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da agrobiodiversidade local em

sistemas de roccedilas Essas roccedilas satildeo aacutereas de agricultura tradicional localizadas dentro de

comunidades caracterizadas natildeo soacute pelo grande nuacutemero espeacutecies cultivadas mas tambeacutem pela

alta diversidade intraespeciacutefica que essas espeacutecies apresentam (MARTINS 2005) Dentre as

espeacutecies comumente cultivadas nesse sistema a mandioca (Manihot esculenta Crantz

Euphorbiaceae) eacute considerada uma cultura de alto valor econocircmico nutricional utilitaacuterio

cultural e social para muitas populaccedilotildees humanas no mundo (CLEMENT et al 2010) Aleacutem

disso a mandioca apresenta uma grande diversidade intraespeciacutefica e por essas caracteriacutesticas

tornou-se uma espeacutecie-modelo para compreender como os diferentes padrotildees e estrateacutegias de

manejo adotadas pelos agricultores podem influenciar na diversidade local (ELIAS et al 2001

EMPERAIRE PERONI 2007 EMPERAIRE ELOY 2008)

Segundo PERONI amp MARTINS (2000) as diferentes praacuteticas de manejo desse

importante recurso favorecem a alta diversidade intraespeciacutefica em roccedilas de agricultura

itinerante1 Um dos fatores responsaacuteveis pela geraccedilatildeo dessa diversidade consiste na capacidade

de incorporaccedilatildeo de novos germoplasmas por meio da reproduccedilatildeo sexuada associada ao manejo

agriacutecola tradicional (PUJOL et al 2005 EMPERAIRE PERONI 2007) Apesar de propagada

1 Agricultura caracterizada por ciclos de uso e pousio como por exemplo corte e queima

15

vegetativamente pelos agricultores a mandioca (M esculenta) ainda manteacutem a sua capacidade

de reproduccedilatildeo sexual sendo este um aspecto muito importante para dinacircmica evolutiva da

cultura (PUJOL et al 2007 CLEMENT et al 2010) Apoacutes a fecundaccedilatildeo cruzada e dispersatildeo

das sementes um banco destas eacute formado no solo e as novas variedades germinam nas roccedilas

(MARTINS 2005) Antes de serem imcorporadas ao acervo essas lsquolsquovariedades-voluntaacuteriasrsquorsquo

passam por um filtro cultural ou seja seratildeo reconhecidas pelos agricultores por meio de

caracteriacutesticas morfoloacutegicas experimentadas e entatildeo selecionadas (MARTINS OLIVEIRA

2009)

Outro evento envolvido na geraccedilatildeo de diversidade intraespeciacutefica eacute incorporaccedilatildeo de

novas variedades de mandioca por meio de uma rede social de troca de material propagativo

estabelecida entre os agricultores (CAVECHIA et al 2014) Esse mecanismo permite a

circulaccedilatildeo das manivas2 tanto a niacutevel local quanto regional permite tambeacutem o acesso aos

diferentes conjuntos de variedades cultivadas entre as comunidades e ainda que o conjunto de

etnovariedades3 locais eou regionais seja conservado (EMPERAIRE ELOY 2008) Dentro

dessas redes sociais de troca as relaccedilotildees entre os agricultores atuam como mecanismo

fundamental para dispersatildeo e experimentaccedilatildeo das etnovariedades entre as roccedilas E satildeo essas

relaccedilotildees e decisotildees estabelecidas entre os agricultores que iratildeo definir quais etnovariedades

seratildeo mantidas ao longo do tempo e quais seratildeo abandonadas (LIMA et al 2012)

Sendo os agricultores e as interaccedilotildees entre eles fundamentais para o estabelecimento da

diversidade local (PINTON EMPERAIRE 2001 EMPERAIRE ELOY 2008) torna-se

pertinente entender como as diferentes estrateacutegias adotadas pelos agricultores influenciam na

dinacircmica da agrobiodiversidade local Muitos trabalhos com esse enfoque foram desenvolvidos

nas regiotildees Amazocircnica e Sudeste mas pouco se discute sobre a dinacircmica da agrobiodiversidade

em regiotildees semiaacuteridas

Nesse sentido o presente estudo visa investigar as interaccedilotildees entre agricultores

tradicionais de comunidades rurais estabelecidas na regiatildeo semiaacuterida de Pernambuco O

objetivo geral eacute compreender os processos envolvidos na dinacircmica da diversidade agriacutecola por

meio do acesso ao conhecimento dos agricultores quanto as praacuteticas de menejo e entender quais

quais fatores podem estar relacionados a geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da diversidade local Para esse

estudo a mandioca foi escolhida como modelo devida agrave sua importacircncia econocircmica e de

subsistecircncia para comunidades locais Os objetivos especiacuteficos foram (i) caracterizar o manejo

2 Satildeo pedaccedilos das hastes ou ramas da mandioca usadas para o plantio 3 Variedades intraespeciacuteficas de mandioca (M esculenta) identificadas pelos agricultores por nomenclatura

popular local (Martins 2005)

16

da agricultura de sequeiro bem como analisar se os paracircmetros socioeconocircmicos influenciam

na diversidade local (ii) registrar as etnovariedades atualmente cultivadas e identificar os

diferentes criteacuterios morfoloacutegicos utilizados pelos agricultores para a seleccedilatildeo e classificaccedilatildeo das

etnovariedades e (iii) descrever a estrutura da rede de interaccedilatildeo entre os agricultores e a

diversidade de etnovariedades de mandioca cultivadas para tentar entender como essas relaccedilotildees

podem influenciar na manutenccedilatildeo ou perda da diversidade local

a

b c

17

2 Revisatildeo bibliograacutefica

21 Manihot esculenta Crantz e conhecimento local de agricultores tradicionais

O gecircnero Manihot Miller (Euforbiaceae) possui cerca de 98 espeacutecies distribuiacutedas em 19

seccedilotildees das quais 13 delas ocorrem no Brasil (ROGERS APPAN 1973) Dentre as espeacutecies do

gecircnero Manihot esculenta Crantz (mandioca) eacute a principal cultivar uma vez que compotildee a

base da dieta alimentar de diversas populaccedilotildees rurais principalmente em regiotildees tropicais A

mandioca foi domesticada na Ameacuterica do Sul pois eacute onde se encontra o maior centro de

diversificaccedilatildeo Estudos relacionados ao entendimento de sua origem botacircnica tecircm contribuiacutedo

para a compreensatildeo das accedilotildees humanas no processo de domesticaccedilatildeo e ampliaccedilatildeo da

diversidade da espeacutecie (OLSEN SCHAAL 1999 ELIAS et al 2004 ELLEN 2012)

As diferentes variedades da espeacutecie satildeo reconhecidas em dois grandes grupos principais

o das variedades mais toacutexicas e o de variedades menos toacutexicas baseadas no potencial de

glicosiacutedeos cianogecircnicos (HCN) contido na polpa das raiacutezes (ELIAS et al 2004) Variedades

com baixa toxicidade contecircm baixas concentraccedilotildees de glicosiacutedeos cianogecircnicos (HCNlt100

mgKg-1) e satildeo conhecidas em comunidades agriacutecolas variando entre regiotildees ou grupos eacutetnicos

como ldquomacaxeirasrdquo ldquomandiocas doces ou mansasrdquo ou ldquoaipinsrdquo As variedades mais toacutexicas

com altas concentraccedilotildees de HCN (HCNgt 100 mgKg-1) satildeo reconhecidas como ldquomandiocasrdquo

ou ldquomandiocas amargas ou bravasrdquo (PERONI et al 2007 MCKEY et al 2010) E portanto

precisam passar por um processo de desintoxicaccedilatildeo para se tornarem aptas ao consumo como

por exemplo pelo processo de fabricaccedilatildeo da farinha de mandioca (Fig 1) Apesar do seu

potencial toacutexico as variedades amargas possuem teores mais elevados de amido e se adaptam

bem a solos pobres e aacutecidos aleacutem de serem mais resistentes aos patoacutegenos e pragas em

comparaccedilatildeo com as variedades doces (FRASER et al 2010)

Sob o ponto de vista botacircnico esta dicotomia natildeo eacute reconhecida mas existem alguns

trabalhos que evidenciam a relaccedilatildeo entre a coerecircncia da taxonomia popular com a diferenciaccedilatildeo

geneacutetica para separaraccedilatildeo das variedades ldquodocesrdquo e ldquoamargasrdquo (ELIAS et al 2004 PERONI

et al 2007) O conhecimento das caracteriacutesticas morfoloacutegicas das plantas e a coerecircncia na

identificaccedilatildeo dessas variedades com niacuteveis distintos de HCN eacute de grande importacircncia

adaptativa para as populaccedilotildees que gerem esse recurso sobretudo pelo risco de intoxicaccedilatildeo

(RIVAL MCKEY 2008)

18

No estudo realizado por AMOROZO (2000) por exemplo os agricultores geralmente

classificavam as variedades que tinham raiacutezes brancas como ldquobravasrdquo e aquelas que tinham

raiacutezes vermelhas como ldquomansasrdquo embora eles reconhecessem algumas exceccedilotildees Em pesquisas

realizados por FARALDO et al (2000) MKUMBIRA et al (2003) ELIAS et al (2004) e

PERONI et al (2007) os agricultores foram consistentes na distinccedilatildeo de suas variedades

lsquolsquodocesrdquo e ldquoamargasrsquorsquo e com base no conhecimento de caracteres morfoloacutegicos distintos os

nomes das variedades refletiram na diversidade geneacutetica A partir dessas evidecircncias podemos

inferir que o conhecimento local dos agricultores associado agrave experiecircncia eacute importante natildeo

somente para o reconhecimento das variedades locais por si soacute mas tambeacutem por conter

informaccedilotildees relevantes sobre o papel que esses recursos podem desempenhar nos sistemas

agriacutecolas de pequena escala e para as populaccedilotildees locais (GADGIL et al 1993)

O conhecimento tradicional dos agricultores trata-se de um conjunto de saberes praacuteticas

e crenccedilas baseadas no contato direto nas observaccedilotildees experimentaccedilotildees diaacuterias e nas

dependecircncias econocircmicas eou de subsistecircncia dos recursos que satildeo geralmente transmitidas

oralmente dentro e entre as geraccedilotildees (AMOROZO 2000 DOMINGUES ARRUDA 2001

BEGOSSI 2004) Sendo assim o conhecimento tradicional de agricultores que praticam a

agricultura de pequena escala realizada em comunidades tradicionais eacute importante pois tem

garantido a perpetuaccedilatildeo dos conhecimentos e das praacuteticas agriacutecolas desenvolvidas durante

milhares de anos entre os agroecossistemas locais

22 Manejo tradicional em roccedilas e diversidade intraespeciacutefica da mandioca

A agricultura de pequena escala praticada em comunidades locais tem garantido a

perpetuaccedilatildeo do conhecimento sobre o manejo e a diversidade de espeacutecies agriacutecolas O sistema

de cultivo em roccedilas eacute tipicamente praticado por agricultores de comunidades tradicionais em

aacutereas uacutemidas no mundo inteiro As roccedilas satildeo aacutereas de cultivo de pequena escala localizadas

dentro de comunidades proacuteximas umas das outras que se tornaram objeto de estudo em vaacuterias

pesquisas antropoloacutegicas etnobotacircnicas geneacuteticas e ecologias especialmente por apresentarem

grande diversidade de espeacutecies cultivadas e pelo manejo destinar-se agrave subsistecircncia de grupos

familiares de agricultores de pequena escala (PUJOL et al 2007)

Aleacutem da diversidade de espeacutecies outra caracteriacutestica dessas roccedilas eacute o grande nuacutemero de

variedades dentro de cada espeacutecie Esta diversidade intraespeciacutefica pode ser referida como

etnovariedades que eacute um termo utilizado para definir grupos de indiviacuteduos identificados por

19

nomenclatura popular local a qual pode expressar elementos do contexto cultural econocircmico

e social das populaccedilotildees associado ao uso (PERONI MARTINS 2000 EMPERAIRE

PERONI 2007)

Dentre as vaacuterias espeacutecies cultivadas em roccedilas a mandioca (M esculenta) em seu

nuacutemero de etnovariedades eacute uma das principais culturas de importacircncia econocircmica e

nutricional para populaccedilotildees que utilizam esse sistema Sua diversidade pode estar relacionada

ao sistema reprodutivo da cultura ao modo de gestatildeo da agricultura pelas pressotildees de seleccedilatildeo

exercidas pelo proacuteprio homem ou ateacute mesmo por causas naturais (MARTINS 2005

CLEMENT et al 2010)

As caracteriacutesticas de manejo empregadas no cultivo da mandioca em roccedilas favorecem

a elevada diversidade intraespeciacutefica dessa cultura O modo de propagaccedilatildeo da mandioca eacute feito

pelos agricultores por meios de estacas (manivas) que satildeo selecionadas de acordo com as

caracteriacutesticas desejaacuteveis que elas apresentam seja para fins econocircmicos ou utilitaacuterios Apesar

de propagada vegetativamente que eacute um meacutetodo usado pelas populaccedilotildees humanas para plantio

e multiplicaccedilatildeo de plantas a mandioca natildeo perdeu a sua capacidade de reproduccedilatildeo sexual

sendo esse um aspecto importante para dinacircmica evolutiva da cultura (PUJOL et al 2007)

Esse meacutetodo de propagaccedilatildeo permite o fluxo e a circulaccedilatildeo do material geneacutetico entre os

diferentes roccedilados por meio de um sistema de redes sociais de troca de etnovariedade de

mandioca entre os agricultores tanto a niacutevel regional (entre comunidades) quanto em escalas

menores (entre vizinhos e parentes) (ELIAS et al 2004 EMPERAIRE OLIVEIRA 2010)

Segundo Emperaire e Peroni (2007) esse mecanismo de troca de germoplasma eacute uma grande

forccedila de dispersatildeo que resulta na agrobiodiversidade regional mais elevada pois estabelece

viacutenculos entre as diferentes roccedilas e promove oportunidades de seleccedilatildeo e cruzamento entre as

diferentes etnovariedades (EMPERAIRE ELOY 2008)

Atributo bioloacutegicos da espeacutecie tambeacutem estatildeo relacionados com o aumento da

diversidade intrespeciacutefica como a capacidade de dormecircncia das sementes e a dispersatildeo

autocoacuterica que propiciam o desenvolvimento de um banco de sementes no solo ao longo do

tempo permitindo o cruzamento entre as novas variedades adquiridasplantadas e entre estas

com variedades que existiram anterioemente na mesma aacuterea (PERONI MARTINS 2000

MARTINS 2005) A presenccedila dessas ldquoplantas-voluntaacuteriasrdquo ou seja aquelas nascidas de

germinaccedilatildeo expontacircnea eacute um dos eventos identificados como precursores de diversidade

intraespeciacutefica nas populaccedilotildees de mandioca cultivadas (PUJOL et al 2007)

20

Contudo muitos esforccedilos vecircm sendo empregados em estudos que observam a ecologia

da mandioca e o manejo agriacutecola associado agrave geraccedilatildeo de diversidade varietal e geneacutetica na

espeacutecie para tentar entender como esses mecanismos influenciam na diversidade de

etnovariedades locais e na sua dinacircmica (PUJOL et al 2007 KOMBO et al 2012 ELIAS et

al 2001)

23 Redes sociais de troca e circulaccedilatildeo de etnovariedades de mandioca

Sistemas agriacutecolas de pequena escala dependem de uma grande diversidade de espeacutecies e

variedades cultivadas e do fluxo destas por meio de redes sociais de troca material vegetativo

estabelecidas entre agricultores podendo o alcance da circulaccedilatildeo variar em escala local eou

regional (EMPERAIRE ELOY 2008) As trocas dependem de dois mecanismos principais

dos padrotildees de interaccedilatildeo social entre os agricultores e dos padrotildees de uso dos recursos

(CAVECHIA et al 2014) e as redes variam em funccedilatildeo das caracteriacutesticas culturais

econocircmicas e sociais das comunidades (EMPERAIRE PERONI 2007 PAUTASSO et al

2012)

No caso da mandioca (Manihot esculenta Crantz) a propagaccedilatildeo se da por estaquia o que

favorece a troca de material de vegetativo entre os agricultores e permite o fluxo entre

variedades locais e regionais (MARTINS 2005) As trocas de variedades de mandioca entre os

agricultores geralmente acontecem por alguma circunstacircncia que leve o agricultor a pedir o

material propagativo para o plantio com por exemplo para o plantio de uma nova roccedila ou por

alguma fitopatologia deslocaccedilatildeo ou estaccedilotildees de chuva e seca prolongadas (EMPERAIRE et

al 2001 EMPERAIRE ELOY 2008) Em alguns casos como no de algumas comunidades

agriacutecolas de pequena escala as redes de casamento satildeo utilizadas para a circulaccedilatildeo de

variedades (EMPERAIRE PERONI 2007 DELEcircTRE et al 2011)

O processo de manutenccedilatildeo da diversidade nesses sistemas resulta do interesse ou da

necessidade do agricultor em adquirir ou abandonar variedades testar e selecionar novas

etnovariedades de mandioca Dentre os fatores que dirigem a seleccedilatildeo de etnovariedades estatildeo

as preferecircncias individuais dos agricultores Alguns podem optar por cultivar todas as

etnovariedades comuns eou disponiacuteveis na regiatildeo enquanto que outros optam apenas por

manter um conjunto especiacutefico dessa diversidade (CAVECHIA et al 2014) Seja para atender

a alguma demanda individual pelo interesse em aumentar a produtividade ou pela necessidade

21

de conservar o material vegetativo para o proacuteximo plantio no caso de perda de material por

algum fator ambiental adverso (EMPERAIRE et al 2001 EMPERAIRE ELOY 2008)

Nesse sentido satildeo os agricultores os maiores responsaacuteveis por determinar como e quais

etnovariedades seratildeo compartilhadas e mantidas entre as comunidades (PAUTASSO et al

2012) E a chave para a compreensatildeo da dinacircmica da diversidade varietal eacute por meio desse

intercacircmbio e dos fatores que influenciam essa conectividade entre as comunidades pois essas

redes representam um grande impacto sobre a diversidade de variedades cultivadas E eacute por

meio dessas redes que se diminui coletivamente os riscos de perda total de diversidade geneacutetica

local (EMPERAIRE ELOY 2008)

Desse modo as relaccedilotildees estabelecidas pelos agricultores entre as comunidades por meio

das redes troca de germoplasma podem ter consequecircncias importantes sobre a diversidade

varietal da mandioca E compreender os processos envolvidos na manutenccedilatildeo ou perda de

germoplasma nos sistemas agriacutecolas eacute importante uma vez que compreendendo a maneira

como os agricultores usam esse conjunto de etnovariedades de mandioca e as compartilham

vai trazer importantes discussotildees a cerca da qualidade e a quantidade do recurso que seraacute

mantido transmitido ou perdido dentro dos sistemas ao longo do tempo

22

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24

management systems (Brazil) Genetic Resources and Crop Evolution v 54 n 6 p 1333ndash

1349 10 mar 2007

PERONI N SODERO MARTINS P Influecircncia da dinacircmica agriacutecola itinerante na geraccedilatildeo

de diversidade de etnovariedades cultivadas vegetativamente Interciencia v 25 n 1 2000

PINTON F EMPERAIRE L Le manioc en Amazonie breacutesilienne diversiteacute varieacutetale et

marcheacute Genetic Sel Evol v 33 n 1 p 491ndash512 2001

PUJOL B et al The unappreciated ecology of landrace populations Conservation

consequences of soil seed banks in Cassava Biological Conservation v 136 n 4 p 541ndash

551 maio 2007

PUJOL B DAVID P MCKEY D Microevolution in agricultural environments how a

traditional Amerindian farming practice favours heterozygosity in cassava (Manihot esculenta

Crantz Euphorbiaceae) Ecology Letters v 8 n 2 p 138ndash147 2005

RIVAL L MCKEY D Domestication and diversity in manioc (Manihot esculenta Crantz

ssp esculenta Euphorbiaceae) Current anthropology v 49 n 6 p 1119ndash1128 2008

ROGERS D J APPAN S G Manihot and Manihotoides (Euphorbiaceae) a computer

assisted study Flora neotropica v 13 p 1973ndash278 1973

25

VARIACcedilAtildeO INTRAESPECIacuteFICA CONHECIMENTO E MANEJO

LOCAL DE MANDIOCA (Manihot esculenta Crantz) NO SEMIAacuteRIDO DE

PERNAMBUCO NORDESTE DO BRASIL

Artigo submetido ao perioacutedico Human Ecology

Normas para submissatildeo em anexos

26

Variaccedilatildeo intraespeciacutefica conhecimento e manejo local de mandioca 1

(Manihot esculenta Crantz) no semiaacuterido de Pernambuco Nordeste do 2

Brasil 3

Mirela Nataacutelia Santos12 Jhonatan Rafael Zaacuterate-Salazar1 Reginaldo de Carvalho1 amp 4

Ulysses Paulino de Albuquerque2 5

6

1 Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo em Botacircnica Departamento de Biologia Rua Dom Manuel de Medeiros 7

Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) sn Dois Irmatildeos Recife Pernambuco 52171-8

900 Brasil 9

2 Laboratoacuterio de Ecologia e Evoluccedilatildeo de Sistemas Socioecoloacutegicos (LEA) Departamento de Botacircnica 10

Avenida Professor Moraes Rego Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) sn Cidade 11

Universitaacuteria Recife Pernambuco 50670-901 Brasil 12

Resumo 13

Historicamente a espeacutecie Manihot esculenta Crantz (mandioca) eacute uma espeacutecie de grande valor 14

econocircmico e de subsistecircncia para populaccedilotildees em comunidades tradicionais Variedades de 15

mandioca satildeo selecionadas com base nos interesses dos agricultores conduzindo uma evoluccedilatildeo 16

especiacutefica sobre a geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da agrobiodiversidade local Diante disso a mandioca 17

tornou-se espeacutecie-modelo em estudos que buscam compreender como os padrotildees e estrateacutegias 18

adotadas pelas populaccedilotildees humanas influenciam na diversidade intraespeciacutefica local em regiotildees 19

tropicais No entanto os fatores que influenciam a diversidade da mandioca em regiotildees 20

semiaacuteridas ainda natildeo foram bem documentados Nesse sentido objetivo geral do estudo foi 21

compreender os processos envolvidos na dinacircmica da diversidade agriacutecola em sete 22

comunidades tradicionais localizadas na regiatildeo semiaacuterida do estado de Pernambuco (Nordeste 23

do Brasil) por meio do acesso ao conhecimento dos agricultores quanto as praacuteticas de menejo 24

para tentar quais quais fatores podem estar relacionados a geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da diversidade 25

local Com os resultados da anaacutelise de redes verificamos uma alta diversidade de 26

etnovariedades cultivadas e a sua composiccedilatildeo eacute determinada pelas preferecircncias e 27

comportamentos individuais dos agricultores que foram provavelmente os mecanismos 28

27

responsaacuteveis pelo surgimento da estrutura aninhada observada na anaacutelise rede Esse padratildeo 29

aninhado contribui na conservaccedilatildeo das etnovariedades mais comuns mas tambeacutem pode resultar 30

em perda daquelas de menor frequecircncia ao longo do tempo 31

Palavras-Chave Agricultura tradicional Agricultura de sequeiro Agrobiodiversidade 32

Etnobiologia Plantas alimentiacutecias 33

34

Introduccedilatildeo 35

Historicamente as populaccedilotildees humanas foram acumulando conhecimentos sobre 36

praacuteticas da agricultura desenvolvendo teacutecnicas adaptadas ao meio natural e assim foram 37

domesticando uma grande variedade de cultivos alimentares para garantirem a sua 38

sobrevivecircncia (Balleacute 2006 Clement et al 2010) Essa interaccedilatildeo pessoas-plantas por meio do 39

cultivo e manejo das espeacutecies vegetais considerando tanto os aspectos sociais quanto naturais 40

dos sistemas dinacircmicos eacute uma importante ferramenta para o entendimento do conhecimento 41

dos agricultores sobre os agroecossistemas locais ( Alcorn 1995) 42

Aleacutem disso essas interaccedilotildees vem contribuindo com alteraccedilotildees nas populaccedilotildees vegetais 43

por meio da seleccedilatildeo artificial Essas alteraccedilotildees resultaram em mudanccedilas na estrutura geneacutetica 44

dessas populaccedilotildees que satildeo determinadas geralmente pela seleccedilatildeo de caracteriacutesticas fenotiacutepicas 45

fisioloacutegicas eou econocircmicas das plantas refletidas em classificaccedilotildees e nomenclaturas 46

especiacuteficas baseadas em percepccedilotildees individuais (Carmona amp Casas 2005) 47

Muitos pesquisadores tentam explicar o papel dos agricultores de pequena escala na 48

seleccedilatildeo classificaccedilatildeo e manutenccedilatildeo da agrobiodiversidade local em roccedilas tradicionalmente 49

manejas em regiotildees uacutemidas (Emperaire amp Peroni 2007 Emperaire amp Eloy 2008 Marchetti et 50

al 2013) Essas roccedila satildeo aacutereas de cultivo caracterizadas por conter uma alta diversidade 51

intraespeciacutefica de espeacutecies (Martins 2005) Dentre elas a Manihot esculenta Crantz 52

28

(mandioca) Euphorbiaceae em sua diversidade de etnovariedades eacute a espeacutecie mais importante 53

sob ponto de vista econocircmico e de subsistecircncia para as populaccedilotildees locais e mais cultivada 54

devido a sua grande adaptabilidade ambiental e baixos custos de gestatildeo (Elias et al 2001) 55

A alta diversidade da mandioca nessas aacutereas pode ser atribuiacuteda agrave possibilidade de 56

introduccedilatildeo de novas variedades via reproduccedilatildeo sexuada associada a ecologia da espeacutecie Esse 57

mecanismo permite o fluxo gecircnico entre as variedades de mandioca cultivadas do mesmo local 58

e entre estas com variedades de locais vizinhos (Pujol et al 2007) Outro mecanismo que 59

favorece essa diversidade eacute agrave circulaccedilatildeo de material propagativo por meio redes sociais de troca 60

variedades entre os agricultores (Pujol et al 2005 Emperaire amp Peroni 2007 Clement et al 61

2010) Esse mecanismo de troca eacute fundamental para o estabelecimento de interaccedilotildees entre as 62

diferentes aacutereas de roccedila promovendo oportunidade de seleccedilatildeo e cruzamento entre os diferentes 63

conjuntos de variedades aleacutem de permitir que este conjunto seja conservado (Emperaire amp Eloy 64

2008) 65

Diante desse cenaacuterio podemos observar que a agrobiodiversidade local natildeo eacute fruto 66

apenas de fatores naturais mas eacute tambeacutem influenciada pelas caracteriacutesticas culturais e 67

socioeconocircmica das populaccedilotildees locais refletidas especialmente no conhecimento e manejo 68

local Nesse sentido o presente estudo visa investigar as interaccedilotildees entre agricultores 69

tradicionais de comunidades rurais estabelecidas na regiatildeo semiaacuterida de Pernambuco 70

O objetivo geral eacute compreender os processos envolvidos na dinacircmica da diversidade 71

agriacutecola por meio do acesso ao conhecimento dos agricultores quanto as praacuteticas de menejo e 72

entender quais quais fatores podem estar relacionados a geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da diversidade 73

local Para esse estudo a mandioca foi escolhida como modelo devida agrave sua importacircncia 74

econocircmica e de subsistecircncia para comunidades locais Os objetivos especiacuteficos foram (i) 75

caracterizar o manejo da agricultura de sequeiro bem como analisar se os paracircmetros 76

socioeconocircmicos influenciam na diversidade local (ii) registrar as etnovariedades atualmente 77

29

cultivadas e identificar os diferentes criteacuterios morfoloacutegicos utilizados pelos agricultores para a 78

seleccedilatildeo e classificaccedilatildeo das etnovariedadese (iii) descrever a estrutura da rede de interaccedilatildeo entre 79

os agricultores e a diversidade de etnovariedades de mandioca cultivadas para tentar entender 80

como essas relaccedilotildees podem influenciar na manutenccedilatildeo ou perda da diversidade local 81

Material e meacutetodos 82

Aacutereas de estudo 83

Amostramos sete comunidades rurais estabelecidas na regiatildeo semiaacuterida de 84

Pernambuco Nordeste do Brasil Uma das comunidades (Caratildeo) pertence ao Municiacutepio de 85

Altinho (ldquo8deg 29rsquo 10rdquo S e 36deg 03rsquo 49rdquo W) e as demais (Satildeo Joseacute do Bola Brejo velho 86

Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima Lajedo Dantas e Aracuatilde) ao Municiacutepio de 87

Panelas (8 deg 39 48 S e 36 deg 01 23 W) (Fig 2) 88

O modelo agriacutecola adotado na regiatildeo segue o sistema tradicional de sequeiro4 e todas 89

as comunidades em estudo possuem histoacuterico de cultivo de mandioca (M esculenta) As aacutereas 90

de cultivo satildeo estabelecidas por unidade familiar e as atividades satildeo realizadas em sua maioria 91

por homens tendo cada agricultor cerca de um a dois hectares de aacuterea para plantio Aleacutem da 92

mandioca os cultivos mais utilizados na comunidades satildeo milho (Zea mays) e feijatildeo (Phaseolus 93

sp) 94

Para os membros das comunidades a produccedilatildeo da farinha de mandioca (Fig 3) eacute uma 95

das atividades agriacutecolas mais importantes tanto pelo seu papel na dieta alimentar quanto pela 96

importacircncia social e econocircmica 97

Caracteriacutesticas das comunidades do estudo 98

A comunidade do Caratildeo localiza-se sob domiacutenio de Caatinga caracterizado por climas 99

quentes e secos com regimes escassos de chuvas correspondente ao tipo BSrsquoh segundo a 100

4 Eacute o cultivo praticado sem irrigaccedilatildeo em regiotildees onde a pluviosidade eacute diminuta

30

classificaccedilatildeo climaacutetica de Koumlppen A vegetaccedilatildeo eacute composto por espeacutecies perenes que 101

conseguem sobreviver mesmo em periacuteodos de seca e espeacutecies anuais que aparecem apenas em 102

periacuteodos com chuva (Cruz et al 2013) 103

De acordo os dados de precipitaccedilatildeo do Laboratoacuterio de Anaacutelise e Processamento de 104

Imagens de Sateacutelites (LAPIS) no ano de 2012 foi registrada a menor meacutedia anual de 105

precipitaccedilatildeo dos uacuteltimos 10 anos para essa regiatildeo (3784 mm) Essa realidade ambiental quando 106

comparada com estudo realizado por de Sieber e colaboradores (2011) na mesma comunidade 107

observa-se que houve uma diminuiccedilatildeo considerada das praacuteticas agriacutecolas realizadas pelos 108

membros da comunidade culminando em uma seacuterie de prejuiacutezos aos agricultores como a perda 109

de plantaccedilotildees e animais Essa perda de produtividade afetou a estrutura econocircmica da 110

comunidade uma vez que a principal fonte de subsistecircncia das famiacutelias eacute a agricultura 111

Associada as atividades agriacutecolas os moradores complementam a dieta e a renda 112

familiar com a venda dos excedentes da produccedilatildeo em feiras-livres ou centros comerciais da 113

regiatildeo (Cruz et al 2013) E com a pecuaacuteria de pequena escala bovina caprina e com avicultura 114

No entanto a diminuiccedilatildeo da forragem natural e cultivada causada pela escassez de chuvas 115

associada aos elevados custos envolvidos na compra de raccedilatildeo levou muitos animais agrave morte 116

(Fig 4) 117

No Municiacutepio de Altinho a comunidade do Caratildeo foi inicialmente escolhida devido ao 118

reconhecimento preacutevio do registro de agricultores realizado em estudos desenvolvidos pelo 119

nosso grupo de pesquisa facilitando assim o acesso agraves informaccedilotildees necessaacuterias para o 120

desenvolvimento da pesquisa 121

As comunidades Aracuatilde Brejo Velho Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima 122

Lajedo Dandas e Satildeo Joseacute do Bola amostradas no estudo pertencem ao Municiacutepio de Panelas 123

que se limita ao Norte com o Municiacutepio de Altinho Essas comunidades estatildeo localizadas em 124

31

no domiacutenio morfoclimaacutetico de Caatinga O clima eacute do tipo semiaacuterido Bsrsquoh segundo a 125

classificaccedilatildeo climaacutetica de Koumleppen 126

A maior parte dos membros dessas comunidades assim como no Caratildeo tecircm como 127

principal fonte de subsistecircncia a agricultura de sequeiro principalmente o cultivo da mandioca 128

(Fig 5) Como renda extra a pecuaacuteria de pequeno porte com criaccedilatildeo bovina caprina e 129

avicultura sendo os excedentes dos alimentos produzidos vendidos em feiras locais ou para 130

escolas 131

As atividades agriacutecolas entre as comunidades tambeacutem foram duramente afetadas pela 132

seca na regiatildeo nos uacuteltimos anos A escassez de chuvas desestimulou o plantio a produccedilatildeo de 133

mandioca foi fortemente comprometida e a colheita foi adiada devido ao subdesenvolvimento 134

das raiacutezes gerando impactos econocircmicos para os membros das comunidades 135

As comunidades amostradas neste muniacutecipio foram escolhidas em funccedilatildeo das 136

indicaccedilotildees dos agricultores entrevistados a princiacutepio na comunidade do Caratildeo que reportaram 137

manter viacutenculos sociais com os agricultores do municiacutepio vizinho 138

Coleta de dados 139

Acessamos as comunidades com a ajuda de um liacuteder comunitaacuterio (Alexandre O 140

Nascimento) em companhia de outros pesquisadores que desenvolviam pesquisas na regiatildeo 141

Previamente as entrevistas todos objetivos e procedimentos para a realizaccedilatildeo da pesquisa foram 142

apresentados aos entrevistados e todos que aceitaram participar foram convidados a assinar um 143

Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) de acordo com a Resoluccedilatildeo 46612 do 144

Conselho Nacional de Sauacutede concordando com a realizaccedilatildeo das entrevistas e avaliaccedilotildees 145

morfoloacutegicas em campo O presente trabalho foi submetido ao Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa da 146

Universidade de Pernambuco (UPE) 147

32

Em todas as comunidades o meacutetodo de acesso ao informante foi o mesmo a partir do 148

primeiro contato com um informante-chave identificamos outros potenciais agricultores 149

seguindo a teacutecnica de ldquobola de neverdquo (Albuquerque et al 2014a) Esse meacutetodo consistiu na 150

amostragem intencional dos participantes e nesse particular os agricultores chefes de famiacutelia 151

(ge 18 anos) da regiatildeo que declararam cultivar mandioca (M esculenta) em suas roccedilas 152

Reunimos informaccedilotildees socioeconocircmicas desses agricultores tais como nome idade gecircnero 153

escolaridade renda experiecircncia na agricultura e tamanho da aacuterea de cultivo para tentar 154

identificar se esses paracircmetros socioeconocircmicos tecircm uma relaccedilatildeo com a agrobiodiversidade 155

local 156

Em seguida conduzimos entrevistas semiestruturadas (Albuquerque et al 2014b) com 157

o objetivo de caracterizar o modo de vida dos agricultores o manejo da agricultura bem como 158

obter dados sobre o conhecimento uso e caracterizaccedilatildeo das etnovariedades de mandioca 159

5cultivadas Aleacutem disso neste momento tambeacutem aplicamos a teacutecnica da lista livre 160

(Albuquerque et al 2014b) a fim de registrar as variedades de mandioca atualmente cultivadas 161

pelos agricultores e identificar as de maior importacircncia local Apoacutes as entrevistas realizamos 162

visitas aos roccedilados para o registro fotograacutefico georreferenciamento das roccedilas e caracterizaccedilatildeo 163

morfoloacutegica das variedades cultivadas 164

Entrevistamos 50 agricultores no total distribuiacutedos nas sete comunidades Caratildeo (3) 165

Satildeo Joseacute do Bola (10) Brejo velho (7) Japaranduba de Baixo (7) Japaranduba de Cima (8) 166

Lajedo Dantas (9) e Aracuatilde (6) Destes 10 satildeo mulheres e 40 homens com idade variando entre 167

31 e 82 anos A maioria dos entrevistados natildeo apresentava instruccedilatildeo formal (46) mais da 168

metade eram aposentados (56) e os demais apresentaram renda inferior a um salaacuterio miacutenimo 169

5 Entende-se por etnovariedade de mandioca o conjunto de variedades intraespeciacuteficas de mandioca (M esculenta)

reconhecidas pelos agricultores por nomenclatura popular local (Peroni 2004)

33

O tempo meacutedio de experiecircncia na agricultura foi de 40 anos Cada agricultor possui entre um e 170

dois roccedilados (aacuterea de plantio) com aproximadamente um a dois hectares 171

Redes de interaccedilatildeo social 172

Confeccionamos a rede que descreve as interaccedilotildees entre os agricultores e as 173

etnovariedades cultivadas a partir de uma matriz de incidecircncia R (presenccedilaausecircncia) onde nas 174

linhas estavam as etnovariedades de mandioca cultivadas (j) e nas colunas os agricultores locais 175

(i) O elemento Rij dessa matriz foi 1 (um) no caso de a etnovariedade j ser cultivada pelo 176

agricultor i caso contraacuterio seria atribuiacutedo 0 (zero) As interaccedilotildees entre os agricultores e as 177

etnovariedades foram descritas em dois modos (Pires et al 2011) onde os ldquonoacutesrdquo da esquerda 178

representam os agricultores que foram vinculados aos ldquonoacutesrdquo da direita representados pelas 179

etnovariedades citadas durante as entrevistas Esses ldquonoacutesrdquo seriam o espelho das decisotildees dos 180

agricultores em manter um determinado conjunto local de etnovariedades em suas roccedilas 181

Avaliamos a estrutura da rede que conecta os agricultores agraves etnovariedades cultivadas 182

a partir de trecircs cenaacuterios hipoteacuteticos (Fig 6) segundo Cachevia et al (2014) No primeiro se os 183

agricultores apresentassem diferentes graus de seletividade para a utilizaccedilatildeo de suas 184

etnovariedades a estrutura seria aninhada (Fig 6a) Isso significa que alguns agricultores 185

cultivam vaacuterias etnovariedades enquanto que outros cultivam o subconjunto mais 186

disponiacutevelcomum dessas etnovariedades Em segundo lugar se a rede apresentasse uma 187

estrutura modular (Fig 6b) significaria que os agricultores apresentam semelhanccedila na seleccedilatildeo 188

do recurso ou seja subgrupos de agricultores cultivam subgrupos distintos de etnovariedades 189

regionalmente disponiacuteveiscomuns E o terceiro se os agricultores natildeo apresentassem 190

preferecircncias quanto a seleccedilatildeo das etnovariedades entatildeo a rede apresentaria uma estrutura 191

aleatoacuteria (Fig 6c) 192

O objetivo da anaacutelise de rede nesse estudo foi tentar entender se o conjunto de 193

etnovariedades presentes no local do estudo constituem uma subamostra de um conjunto mais 194

34

amplo no caso de um alto grau de aninhamento ou se a sua composiccedilatildeo eacute determinada por 195

variaacuteveis locais (Ulrich 2008) Onde as conexotildees entre os informantes e as etnovariedades 196

representam as decisotildees dos agricultores de manter um conjunto determinado de variedades de 197

mandioca dentre as comunidades Esta anaacutelise tambeacutem nos permitiu identificar quais os nuacutecleos 198

de etnovariedades que apresentam maior conexatildeo com os diferentes perfis dos agricultores 199

Diversidade fenotiacutepica 200

Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 201

Apoacutes as entrevistas buscamos identificar quais os caracteres morfoloacutegicos considerados 202

mais importantes para a diferenciaccedilatildeo das etnovariedades de mandioca a partir do seguinte 203

questionamento ldquoQuais as diferenccedilas que vocecirc reconhece para separar uma qualidade de 204

mandioca (variedade) de uma outrardquo Assim os agricultores mencionaram quais os criteacuterios 205

mais importantes utilizados para a caracterizaccedilatildeo de suas etnovariedades 206

Compilamos uma listagem dessas caracteriacutesticas baseada nas indicaccedilotildees dos 207

agricultores e a partir delas selecionamos os caracteres morfoloacutegicos mais citados para a 208

caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica ldquoin siturdquo tais como cor da folha (cor da folha desenvolvida) olho 209

(cor do broto foliar) cor do talo (cor do peciacuteolo) maniva (cor externa do caule) embriatildeo 210

(protuberacircncia da cicatriz foliar) cor da entrecasca (coacutertex da raiz) e cor miolo (polpa da raiz) 211

(Tabela 1) O objetivo dessa caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica foi indicar como estaacute distribuiacuteda a 212

variaccedilatildeo fenotiacutepica das etnovariedades de mandioca nas comunidades na regiatildeo semiaacuterida de 213

Pernambuco bem como identificar que caracteriacutesticas satildeo mais importantes para distinguir 214

esses grupos no intuito de tentar entender como os agricultores classificam suas variedades de 215

mandioca 216

Nas sete comunidades para cada etnovariedade citada no roccedilado caracterizamos ldquoin 217

siturdquo trecircs indiviacuteduos de M esculentade de cada uma totalizando 171 indiviacuteduos (Aracuatilde=11 218

35

Caratildeo=4 Satildeo Joseacute do Bola=13 Brejo Velho=16 Japaranduba de Baixo=6 Japaranduba de 219

Cima=3 e Lajedo Dantas=4) Fotografamos e avaliamos todos os indiviacuteduos com base em parte 220

dos descritores morfoloacutegicos seguindo recomendaccedilotildees de Fukuda amp Guevara (1998) e aleacutem 221

disso georreferenciamos todas as aacutereas de roccedila 222

Anaacutelise dos dados 223

Analisamos os dados socioeconocircmicos das entrevistas semiestruturadas por meio de 224

estatiacutestica descritiva para explicar os aspectos da realidade econocircmica e social dos agricultores 225

Para identificar se a diversidade intraespeciacutefica da mandioca cultivada localmente eacute 226

influenciada por paracircmetros socioeconocircmicos utilizamos o coeficiente de correlaccedilatildeo de 227

Spearman (Ple005) (Sokal amp Rohlf 1995) 228

Com base na lista livre das variedades de mandioca cultivadas pelos agricultores 229

calculamos a frequecircncia de citaccedilatildeo o ranking e o iacutendice de saliecircncia com o objetivo de 230

identificar quais as mais importantes ou preferidas para as comunidades O iacutendice de saliecircncia 231

considerou a frequecircncia de citaccedilatildeo e o ranking referente ao posicionamento das variedades 232

dentro das listas livres (Thompson amp Juan 2006) As etnovariedades mais citadas e com maior 233

valor de saliecircncia representam as de maior importacircncia ou preferecircncia para as comunidades 234

Anaacutelise de rede 235

Medimos o grau de aninhamento (NODF) para investigar a estrutura de rede de 236

interaccedilatildeo social dos agricultores em funccedilatildeo das variedades cultivadas As matrizes altamente 237

aninhadas apresentam NODF tendendo a 1 caso contraacuterio tentem a ser 0 238

Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 239

Para o estudo das semelhanccedilas e diferenccedilas fenotiacutepicas entre as variedades de mandioca 240

ldquoin siturdquo realizamos anaacutelises multivariadas para identificar possiacuteveis grupos de variedades que 241

compartilham semelhanccedilas entre si 242

36

A anaacutelise de correspondecircncia muacuteltipla (MCA) permitiu identificar como as variedades 243

de mandioca estatildeo ordenadas em funccedilatildeo dos seus descritores etnobotacircnicos As etnovariedades 244

foram plotadas ao longo um plano cartesiano bi ou tridimensional onde a variaccedilatildeo total eacute 245

explicada pelos dois primeiros eixos Complementar a esta anaacutelise realizamos a anaacutelise de 246

agrupamento hieraacuterquico (Cluster) para identificar como estatildeo agrupadas as etnovariedades de 247

acordo seus descritores Conferimos a consistecircncia do dendrograma com coeficiente de 248

correlaccedilatildeo cofeneacutetica conforme Sneath amp Sokal (1973) que quantifica se a correlaccedilatildeo entre a 249

matriz de distacircncias originais e a matriz de distacircncias cofeneacuteticas eacute representativa Para 250

mensurar as dissimilaridades entre as variedades de mandioca foi utilizada a distacircncia 251

euclidiana e com o meacutetodo de Ward 252

Softwares utilizados 253

Para a anaacutelise da lista livre usamos o software ANTROPAC versatildeo 10 O software 254

ANINHADO 30 (Guimaratildees amp Guimaratildees 2006) foi usado para medir o grau de aninhamento 255

da rede Utilizamos o software estatiacutestico R (R core team 2017) para a anaacutelise de correlaccedilatildeo 256

de Spearman com o pacote corrplot (Wei amp Simko 2013) o desenho da rede que descreve a 257

interaccedilatildeo entre os agricultores e as etnovariedades com o pacote bipartite (Dormann et al 258

2017) E com os pacotes FactoMineR (LEcirc et al 2008) factoextra (Kassambara et al 2016) e 259

vegan (Oksanen et al 2017) foram realizadas as anaacutelises de cluster de correspondecircncia 260

muacuteltipla (MCA) e de correlaccedilatildeo coefeneacutetica respectivamente 261

Resultados 262

As diferentes etnovariedades de mandioca encontradas no estudo suprem a demanda 263

local por alimento enquanto outras atendem agraves preferecircncias individuais ou do comeacutercio As 264

variedades que possuem maior rendimento e a farinha produzida apresenta coloraccedilatildeo branca 265

satildeo as de maior valor comercial para os agricultores devido agraves preferecircncias do mercado Jaacute 266

37

outras variedades que satildeo mais moles e apresentam coloraccedilatildeo amarelada natildeo satildeo empregadas 267

na produccedilatildeo de farinha mas sim consumidas cozidas ou assadas A depender da demanda local 268

os agricultores intencionalmente aumentam ou diminuem a frequecircncia de suas variedades nos 269

roccedilados seja por alguma exigecircncia do comeacutercio ou para consumo familiar 270

Nas comunidades os agricultores separam suas variedades de mandioca em dois grupos 271

como observado em outras comunidades na mata Atlacircntica por Emperaire e Peroni (2007) o 272

das ldquomacaxeirasrdquo que satildeo as variedades exploradas basicamente para o consumo familiar sem 273

processo preacutevio de desintoxicaccedilatildeo cujas raiacutezes satildeo consumidas fritas eou cozidas Sendo 274

utilizadas tambeacutem como complemento na dieta dos animais E o grupo das ldquomandiocasrdquo que 275

satildeo as variedades que necessitam de processo preacutevio de desintoxicaccedilatildeo para o consumo 276

utilizadas comumente para a produccedilatildeo de farinha de mandioca Para os agricultores as 277

ldquomandiocasrdquo possuem maior valor comercial pois apresentam maior rendimento e 278

rentabilidade pois a farinha produzida eacute branca e atende as preferencias do comercio local 279

Aleacutem da farinha outros produtos e subprodutos produzidos dentre os quais foram citados 280

ldquotapioca ou gomardquo ldquobijurdquo ou ldquobolo de mandiocardquo satildeo utilizados para o consumo proacuteprio ou 281

eventual comercializaccedilatildeo 282

Os informantes natildeo possuiacuteam conhecimento sobre a origem dos nomes das variedades 283

de mandioca Quanto a compreensatildeo da geraccedilatildeo da diversidade intraespeciacutefica identificamos 284

que apesar de 66 dos agricultores citarem que conhecem variedades fruto de germinaccedilatildeo de 285

suas sementes nenhum deles utiliza as manivas para o plantio por essas variedades de 286

mandioca ldquovoluntaacuteriasrdquo natildeo apresentarem bom rendimento 287

Observamos que existe uma baixa correlaccedilatildeo entre a diversidade de variedades 288

atualmente cultivadas e as variaacuteveis socioeconocircmicas como no caso do nuacutemero de roccedilados 289

(r=028 Ple005) e do tamanho do roccedilado (r=033 Ple005) (Fig 7) Essa baixa correlaccedilatildeo pode 290

38

ser explicada pelo fato de existirem grupos de agricultores que preferem manter as variedades 291

de maior valor econocircmico e de subsistecircncia mesmo com aacutereas maiores de cultivo 292

Verificamos tambeacutem uma correlaccedilatildeo positiva moderada entre o nuacutemero de variedades 293

conhecidas com o nuacutemero de variedades atualmente cultivadas (r=054 Ple005) Na lista livre 294

foram identificadas 22 etnovariedades de mandioca cultivadas (132 citaccedilotildees no total) sendo 295

oito dessas mais citadas com maiores valores de saliecircncia (entre 047 e 0082) (Tabela 2) As 296

etnovariedades ldquoMacaxeira Rosardquo e ldquoMandioca Isabel de Souzardquo exibiram os maiores valores 297

de saliecircncia 047 e 037 respectivamente Logo essas variedades satildeo as mais conhecidas 298

dentro das comunidades com 66 e 48 das citaccedilotildees respectivamente 299

Dentre as etnovariedades citadas 12 foram idiossincraacuteticas pois apresentaram menor 300

frequecircncia de citaccedilatildeo e menores valores de saliecircncia (entre 0032 e 0006) (Tabela 2) 301

Redes de interaccedilatildeo social 302

A rede apresentou uma estrutura aninhada com grau de aninhamento significativamente 303

superior aos modelos nulos (N=3072 Plt0001) para as comunidades sendo um nuacutecleo de 304

etnovariedades altamente conectado aos agricultores (Fig 8) A estrutura aninhada nos permite 305

inferir que existe um grupo de agricultores que cultiva uma maior diversidade de etnovariedades 306

de mandioca em suas roccedilas enquanto que outro subgrupo que tem menor diversidade cultivam 307

as mais comuns ou disponiacuteveis (Cavechia et al 2014) Isso significa que os agricultores locais 308

mesmo em diferentes comunidades cultivam um nuacutecleo de etnovariedades comum entre eles 309

(n=6 Tabela 2) 310

Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 311

Observamos que a maioria dos indiviacuteduos de mandioca satildeo caracterizados por meio de 312

um conjunto de sete caracteres morfoloacutegicos os quais foram citados pelos agricultores como 313

mais importantes para a caracterizaccedilatildeo de suas variedades Nas visitas aos roccedilados registramos 314

39

as etnovariedades atualmente cultivadas e a tabela 3 fornece a lista completa com as 17 315

etnovariedades de mandioca e o local de registro 316

Por meio da anaacutelise de correspondecircncia muacuteltipla as variedades de mandioca foram 317

ordenadas em funccedilatildeo de seus descritores ao longo do primeiro e segundo eixo correspondentes 318

a 3680 da variacircncia total (Fig 9) 319

As variaacuteveis mais correlacionadas e que agruparam as variedades de mandioca no 320

primeiro eixo foram cor da folha desenvolvida (CFD) (r= 07239 Ple0001) cor do coacutertex da 321

raiz (CDR) (r= 06473 Ple0001) cor do broto foliar (CBF) (r= 06880 Ple0001) cor do peciacuteolo 322

(CDP) (r= 05250 Ple005) cor externa do caule (CEC) (r= 06883 Ple005) cor da polpa da 323

raiz (PDR) (r= 02473 Ple005) Para o segundo eixo as variaacuteveis correlacionadas foram cor 324

da folha desenvolvida (CFD) (r= 07220 Ple0001) cor externa do caule (CEC) (r= 08718 325

Ple0001) e cor do peciacuteolo (CDP) (r= 06927 Ple005) 326

O agrupamento de todas as variedades caracterizadas ldquoin siturdquo gerou uma aacutervore 327

hieraacuterquica (dendrograma) (Fig 9) utilizando a distacircncia euclidiana seguindo o criteacuterio de 328

Ward O dendrograma gerado apresentou um coeficiente de correlaccedilatildeo cofeneacutetica r= 06780 329

indicando que existe consistecircncia com os dados originais no agrupamento quanto agrave 330

classificaccedilatildeo e estrutura de tal forma que as variedades foram agrupadas em oito classes as 331

quais foram explicadas pelas variaacuteveis mais significativas descritas na tabela 4 332

O resultado do agrupamento (utilizada a distacircncia euclidiana e com o meacutetodo de Ward) 333

observamos que as etnovariedades de mandioca caracterizadas ldquoin siturdquo foram agrupadas em 334

dois grandes agrupamentos indicados na Fig 10 pelos retacircngulos em vermelho A partir dessa 335

anaacutelise percebemos que os caracteres morfoloacutegicos selecionados pelos agricultores natildeo foram 336

suficientes para separar as variedades de macaxeira e mandioca pois em ambos os 337

agrupamentos encontramos tanto macaxeiras quanto mandiocas 338

40

As variedades da classe 1 foram identificadas pelos agricultores pela cor do peciacuteolo 339

(CDP) verde A classe 2 agrupou as etnoveriedades caracterizadas pela protuberacircncia da cicatriz 340

foliar (PCF) mais protuberante Esse descritor segundo os agricultores era identificado como 341

ldquoembriatildeordquo A classe 3 consiste apenas da variedade ldquoMandioca Pretonardquo indicada pela presenccedila 342

de cor do peciacuteolo (CDP) vermelho A classe 4 agrupou trecircs variedades caracterizadas pelos 343

agricultores pela presenccedila de cor coacutertex da raiz (CDR) rosa e cor da polpa da raiacutez (PDR) branca 344

identificadas como ldquoMacaxeira vermelhardquo ldquoMacaxeira Rosa Brancardquo ldquoMacaxeira Rosardquo As 345

variedades agrupadas na classe 5 foras as variedades de mandioca caracterizadas pelos 346

agricultores por apresentarem cor do coacutertex (CDR) da raiacutez branca A classe 6 agrupou 347

variedades identificadas pelos agricultores pela cor do broto foliar (CBF) verde A classe 7 348

consiste apenas da variedade ldquoMacaxeira Sementerdquo identificada pelos agricultores pela cor do 349

peciacuteolo (CDP) roxo e protuberacircncia da cicatriz foliar pouco proeminente Essa variedade 350

segundo os agricultores era fruto do nascimento espontacircneo no roccedilado poreacutem eles geralmente 351

natildeo utilizam essas variedades por apresentarem apenas uma raiz pequena e de baixo 352

rendimento Na classe 8 as variedades foram identificadas pelos agricultores pela cor do peciacuteolo 353

(CDP) verde amarelado e protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) pouco proeminente As 354

ldquoMandioca Isabel de Souzardquo ldquoMandioca Isabel trecircs galhosrdquo segundo os agricultores se 355

diferenciavam pelo maior nuacutemero de caules presentes na variedade ldquoIsabel trecircs galhosrdquo 356

Discussatildeo 357

As sete comunidades estudadas manejavam um nuacutemero consideraacutevel de variedades 358

locais A quantidade de etnovariedades registradas eacute proacutexima a encontrada por Bender et al 359

(2009) e Cavechia et al (2014) em comunidades na regiatildeo sul e sudeste por Oler e Amorozo 360

(2017) em uma comunidade tradicional na regiatildeo centro-oeste Poreacutem foi quantitativamente 361

inferior quando comparada a estudos como os de Elias et al (2001) e Kawa et al (2013) em 362

comunidades na regiatildeo amazocircnica pois possuiacuteam uma alta diversidade Essa alta diversidade 363

41

na regiatildeo amazocircnica pode estar relacionada com o fato de que essa regiatildeo eacute o provaacutevel centro 364

de origem da mandioca (M esculenta) (Allem 1994) 365

As etnovariedades registradas neste estudo estatildeo disponiacuteveis para a maioria dos 366

agricultores dessa regiatildeo e esse fator favorece a circulaccedilatildeo das etnovariedades entre as 367

comunidades locais Por isso haacute semelhanccedilas das etnovariedades utilizadas entre os agricultores 368

da mesma comunidade e entre comunidades vizinhas 369

Parte dos agricultores optam por manter uma alta frequecircncia de variedades mais 370

utilizadas enquanto que outros optam por manter etnovariedades de baixa frequecircncia 371

Conforme discutido por Amorozo (2013) os agricultores escolhem seu acervo de acordo com 372

as necessidades e contexto em que vivem A reduccedilatildeo da diversidade de etnoveriedades por 373

exemplo pode ser impulsionada por fatores que simplificam o sistema como a seleccedilatildeo de 374

etnovariedades para a produccedilatildeo de farinha resultando no cultivo de poucas ou ateacute de uma uacutenica 375

etnovariedade (Peroni amp Hanazaki 2002) mesmo em aacutereas maiores 376

377

Redes de interaccedilatildeo social 378

Com as anaacutelises de rede demonstramos que os agricultores de diferentes comunidades 379

em uma mesma regiatildeo efetivamente trocam variedades de mandioca entre si corroborando 380

com estudos realizados por Emperaire amp Eloy (2008) Pautasso et al (2012) e Cavechia et al 381

(2014) Nesses estudos os autores tambeacutem consideram que as trocas de etnovariedades por 382

meio da rede de intercacircmbio entre os agricultores eacute um mecanismo fundamental para a 383

manutenccedilatildeo da diversidade local 384

A visualizaccedilatildeo da rede demonstrou que entre as comunidades os agricultores 385

compartilham um nuacutecleo de etnovariedades mais utilizadas dentre as quais estatildeo as de maior 386

valor econocircmico e de subsistecircncia Essas de maior frequecircncia satildeo aquelas altamente produtivas 387

utilizadas pelos agricultores para atenderem agraves demandas de mercado por farinha e para o 388

consumo proacuteprio (Kawa et al 2013) 389

42

No entanto observamos que existe outro nuacutecleo de etnovariedades menos frequentes 390

Essas etnovariedades raras podem ser resultantes do processo de experimentaccedilatildeo ou 391

preferecircncias individuais dos agricultores Outra possiacutevel razatildeo para a baixa frequecircncia de 392

algumas etnovariedades poderia ser explicada pela variaccedilatildeo da nomenclatura pelos 393

agricultores que segundo Peroni amp Hanazaki (2002) pode ocorrer durante o processo de troca 394

e introduccedilatildeo de novas variedades aos roccedilados Ainda assim natildeo descartamos a hipoacutetese de que 395

essas etnovariedades raras possam ser provenientes do cruzamento entre variedades diferentes 396

cultivadas da mesma roccedilado ou em roccedilas vizinhas De acordo com Martins (2005) essas 397

variedades fruto de germinaccedilatildeo expentacircnea satildeo incorporadas aos roccedilados pelos agricultores 398

pela curiosidade em experimentar novas variedades agraves suas coleccedilotildees 399

Nesse estudo admitimos que optar por etnovariedades raras entre as comunidades 400

estudadas eacute um comportamento adotado por agricultores que manejam uma maior diversidade 401

corroborando com os estudos de Cavechia et al (2014) e Emperaire et al (2016) em regiotildees 402

uacutemidas Para esses autores etnovaridedades de baixa frequecircncia representam um subconjunto 403

das de alta frequecircncia cultivadas por agricultores que manteacutem a maior diversidade em seus 404

roccedilados Sendo assim inferimos que no geral entre as comunidades satildeo os agricultores 405

generalistas aqueles que cultivam maior diversidade os responsaacuteveis por incorporar novas 406

etnovariedades aos roccedilados 407

As decisotildees dos agricultores em manter o acervo direcionado principalmente para 408

atender a demanda de mercado por exemplo podem levar a uma homogeneizaccedilatildeo nas roccedilas 409

colocando em risco a manutenccedilatildeo da diversidade local (Peroni amp Hanazaki 2002) Como 410

discutido por Elias et al (2000) os agricultores que selecionam apenas um nuacutemero reduzido e 411

especiacutefico de variedades mais produtivas tendem a fazer com que as variedades menos 412

frequentes desapareccedilam ao longo do tempo Essa tendecircndia pode influenciar na capacidade de 413

43

resiliecircncia do sistema assim como dos agricultores em lidar com possiacuteveis adversidades 414

ambientais que possam ocorrer 415

Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 416

No geral os agricultores demonstraram uma tendecircncia em classificarseparar suas 417

diferentes etnovariedades de mandioca a partir da combinaccedilatildeo de um conjunto de sete 418

caracteres morfoloacutegicos distintos e de faacutecil percepccedilatildeo os quais natildeo tem relaccedilatildeo com o uso 419

como por exemplo a cores das raiacutezes caule e folhas Logo consideramos que esses caracteres 420

morfoloacutegicos podem ser considerados como uma forma de classificaccedilatildeo pelos agricultores 421

baseada na capacidade percepccedilatildeo das diferenccedilas morfoloacutegicas que cada etnovariedades 422

apresenta (Boster 1985) Estes resultados nos levam a entender que entre os agricultores o 423

conhecimento sobre a diversidade da mandioca estaacute relacionado ao conhecimento de 424

caracteriacutesticas morfoloacutegicas consistentes 425

A existecircncia de alguns fenoacutetipos comuns nos permitiu avaliar a classificaccedilatildeo da 426

consistecircncia da taxonomia popular entre os agricultores Por exemplo as etnovariedades 427

ldquoMaxaceira Rosardquo e ldquoMacaxeira Rosa Brancardquo e ldquoMacaxeira vermelhardquo foram agrupadas no 428

mesmo cluster (C4) por apresentaram fenoacutetipos semelhantes Notamos que os agricultores 429

classificaram essas variedades de acordo com os traccedilos morfoloacutegicos mais relevantes como a 430

cor do coacutertex da raiz rosa e cor branca da polpa O mesmo ocorreu com as etnovariedades 431

ldquoMandioca varudardquo ldquoMandioca campina da granderdquo e ldquoMandioca campinardquo caracterizadas 432

pela presenccedila do peciacuteolo verde agrupadas no cluster (C1) 433

A partir dessas evidecircncias consideramos a hipoacutetese de que as variedades mesmo 434

apresentando caracteriacutesticas morfoloacutegicas muito semelhantes estatildeo sujeitas a variaccedilatildeo 435

nomenclatural durante o processo a incorporaccedilatildeo aos roccedilados pelos agricultores pois a 436

capacidade para distinguir e nomear variedades entre os agricultores da mesma regiatildeo pode 437

variar (Sambatti et al 2001 Elias et al 2001 Mekbib 2007) Consideramos tambeacutem que pode 438

44

existir variaccedilatildeo geneacutetica entre os indiviacuteduos identificados por um mesmo nome ou entatildeo que 439

os agricultores datildeo o mesmo nome para variedades diferentes E esta situaccedilatildeo pode levar a uma 440

superestimaccedilatildeo ou subestimaccedilatildeo da diversidade de mandioca cultiva nas aacutereas de estudo 441

Sabemos que a mandioca eacute propagada vegetativamente pelos agricultores por meio de 442

estacas em sistemas de agricultura tradicional No entanto alguns variedades produzem flores 443

e sementes que germinam e podem originar outras variedades ou outros clones por meio de 444

fecundaccedilatildeo cruzada (Elias et al 2001) Nesse contexto a etnovariedade ldquoMacaxeira Sementerdquo 445

presente no cluster (C7) trata-se de um uacutenico indiviacuteduo amostrado em uma roccedila de um dos 446

agricultores Esta apresentava algumas caracteriacutesticas morfoloacutegicas distintas das demais 447

reconhecidas pelo agricultor como por exemplo a produccedilatildeo de uma raiz uacutenica e 448

consequentemente de baixo rendimento Encontramos apenas um indiviacuteduo dessa 449

etnovariedade e nossa hipoacutetese de que esta poderia ter sido originada da germinaccedilatildeo da 450

semente mesmo quando 100 dos informantes declararam natildeo dar qualquer importacircncia e 451

descartar essas ldquovariedades-voluntaacuteriasrdquo foi confirmada pelo agricultor que afirmou que se 452

tratava de uma variedade nascida da germinaccedilatildeo da semente Esse comportamento vai de 453

encontro ao estudo de Fraser et al (2012) pois apesar dos agricultores reportarem nas 454

entrevistas que conhecem essas ldquovariedades-voluntaacuteriasrdquo nenhum agricultor faz o uso delas 455

Peroni et al (1999) e Agre et al (2016) analisando morfologicamente as variedades 456

locais de mandioca mantidas por agricultores em sistemas agriacutecolas tropicais tambeacutem 457

demonstraram que os agricultores satildeo coerentes quanto a separaccedilatildeo e identificaccedilatildeo de suas 458

etnovariedades a partir da formaccedilatildeo de grupos de coesos quanto a nomenclatura local utilizada 459

No entanto para o melhor entendimento dessa diversidade aleacutem da caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica 460

o uso de anaacutelises complementares como anaacutelise molecular seria importante para tentar 461

identificar se esses grupos representam a mesma variedade com nomes distintos ou se satildeo 462

variedades distintas com o mesmo nome 463

45

Conclusatildeo 464

O estudo demonstrou que no sistema de manejo da mandioca ao niacutevel de roccedila em 465

comunidades localizadas na regiatildeo semiaacuterida de Pernambuco compotildee uma diversidade 466

intrespeciacutefica de mandioca para atender agraves demandas econocircmicas e de subsistecircncia das 467

populaccedilotildees locais 468

Com relaccedilatildeo a anaacutelise de rede demostramos que haacute um nuacutecleo de etnovariedades 469

fortemente conectado aos agricultores e sua composiccedilatildeo eacute direcionada pelas preferecircncias e 470

necessidades individuais dos agricultores que foram os fatores responsaacuteveis pelo surgimento 471

da estrutura aninhada observada na anaacutelise rede entre as comunidades deste estudo E esse 472

padratildeo aninhado observado contribui na conservaccedilatildeo das etnovariedades mais comuns mas 473

tambeacutem pode resultar em perda daquelas de menor frequecircncia ao longo do tempo 474

A caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica ldquoin siturdquo nos permitiram inferir que os agricultores 475

reconhecem as diferentes caracteriacutesticas morfoloacutegicas de suas cultivares e satildeo coerentes na 476

separaccedilatildeo de suas variedades de mandioca e macaxeira Entretanto esses resultados sugerem a 477

realizaccedilatildeo de um estudo em niacutevel de diversidade geneacutetica exploratoacuterio para identificar se as 478

consistecircncias morfoloacutegicas refletem em consistecircncias geneacuteticas elucidando assim as possiacuteveis 479

confusotildees atribuiacutedas aos nomes das etnovariedades de mandioca 480

Agradecimentos 481

Agradecemos ao liacuteder comunitaacuterio Alexandre O Nascimento aos agricultores e 482

agricultoras das comunidades pela acolhida confianccedila e pela gentileza de compartilharem 483

conosco seus conhecimentos e contribuiacuterem com este estudo Especialmente a Arlindo Ferreira 484

Edgar Antocircnio Joseacute Sebastiatildeo Juvenal Oliveira e Janete Alves Ao Laboratoacuterio de Ecologia e 485

Evoluccedilatildeo de Sistemas Socioecoloacutegicos (LEA - UFPE) E agradecemos ao CNPq pelo apoio 486

com a bolsa de estudos do primeiro autor 487

46

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anaacutelise multivariada para morfologia da mandioca (Manihot esculenta Crantz) um estudo 585

de caso Inter-and intraspecific diversity and use of multivariate analysis for the 586

morphology of cassava (Manihot esculent Scientia Agricola 56(3) 587ndash595 587

Pinton F amp Emperaire L (2001) Le manioc en Amazonie breacutesilienne diversiteacute varieacutetale et 588

marcheacute Genet Sel Evol 33(1) 491ndash512 589

Pires M M Guimaratildees P R Arauacutejo M S Giaretta A A Costa J C L amp Dos Reis S 590

F (2011) The nested assembly of individual-resource networks Journal of Animal 591

Ecology 80(4) 896ndash903 592

Pujol B Renoux F Elias M Rival L amp Mckey D (2007) The unappreciated ecology of 593

landrace populations Conservation consequences of soil seed banks in Cassava 594

Biological Conservation 136(4) 541ndash551 httpsdoiorg101016jbiocon200612025 595

Sambatti J B M Martins P S amp Ando A (2001) Folk taxonomy and evolutionary 596

dynamics of cassava a case study in Ubatuba Brazil Economic Botany 55(1) 93ndash105 597

Sieber S S Medeiros P M amp Albuquerque U P (2011) Local perception of environmental 598

change in a semi-arid area of Northeast Brazil a new approach for the use of participatory 599

methods at the level of family units Journal of Agricultural and Environmental Ethics 600

24(5) 511ndash531 601

Sneath P H A Sokal R R amp others (1973) Numerical taxonomy The principles and 602

practice of numerical classification 603

Sokal R R amp Rohlf F J (1995) 1995 Biometry WH Freeman San Francisco Sulikowski 604

JA J Kneebone S Elzey P Danley WH Howell and PWC Tsang--2005 The 605

50

Reproductive Cycle of the Thorny Skate Amblyraja Radiata in the Gulf of Maine Fish 606

Bull 103 536ndash543 607

Team R C (2017) R A Language and Environment for Statistical Computing Vienna 608

Austria Retrieved from httpswwwr-projectorg 609

Thompson E C amp Juan Z (2006) Comparative cultural salience Measures using free-list 610

data Field Methods 18(4) 398ndash412 611

Wei T amp Simko V (2013) corrplot Visualization of a correlation matrix R Package Version 612

073 230(231) 11 613

614

51

ANEXOS 615

616

Nome da revista 617

Human Ecology 618

Link de acesso 619

httpsgooglDVLbFj 620

Qualis-CAPES 621

B1 em Biodiversidade 622

623

624

625

626

627

628

629

630

631

632

633

634

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636

637

638

639

640

641

642

52

Figuras 643

644

645

Fig 1 Partes do processo de fabricaccedilatildeo de farinha de mandioca Onde a raspagem b e c 646

processo de trituraccedilatildeo e d peneiramento Foto registrada em Abril de 2017 por Mirela Santos 647

648

649

650

c

d

b

a

53

651

Fig 2 Mapa de localizaccedilatildeo geograacutefica dos Municiacutepios de Altinho e Panelas e das comunidades 652

estudadas na regiatildeo semiaacuterida do Estado de Pernambuco (Elaborado por SANTOS 2018) 653

54

654

655

656

657

Fig 3 Processo de fabricaccedilatildeo da farinha de mandioca Apoacutes a colheita as raiacutezes satildeo lavadas 658

raspadas e trituradas (a) A massa extraiacuteda eacute prensada e coada Ao sair da prensa a massa 659

peneirada (b) e em seguida eacute torrada (c) em fornos artesanais ou parcialmente mecanizados 660

Imagem registrada em janeiro de 2017 na Comunidade do Caratildeo por Mirela Santos 661

662

663

a

b c

55

664

Fig 4 a Sede da Comunidade do Caratildeo b Agricultor transportando a palma forrageira que eacute 665

um exemplo de estrateacutegia adaptativa para suprir a falta de alimento dos animais devido agrave seca 666

c Feira-livre que acontece na comunidade a cada quinze dias Imagem registrada em julho de 667

2016 na Comunidade do Caratildeo por Mirela Santos 668

669

670

Fig 5 a O agricultor nos explicava as mudanccedilas que vem fazendo em seus roccedilados para se 671

adaptar aos longos periacuteodos de seca b Quando o agricultor nos mostrava as diferentes 672

etnovariedades que mantinha em sua roccedila c Durante a pesquisa nos explicavam como era feita 673

a colheita da mandioca e como selecionavam as manivas para o proacuteximo plantio Foto registrada 674

em abril de 2017 na Comunidade do Brejo Velho por Mirela Santos 675

a

b c

c b

a

56 676

677

Fig 6 Possiacuteveis estruturas de rede que descrevem as interaccedilotildees dos agricultores (losango) 678

ligados as etnovariedades (ciacuterculos) que cultivam Onde a Aninhada b Modular c Aleatoacuteria 679

(Fonte Cavechia et al 2014 com adaptaccedilotildees) 680

681

682

683

684

685

686

687

688

689

690

691

692

693

694

695

696

697

a c b

57

698

699

700

701

702

703

704

705

706

707

Fig 7 Correlaccedilatildeo de Spearman entre a diversidade de etnovariedades de mandiocas conhecidas 708

como cultivadas e variedades atualmente cultivadas por agricultor e as variaacuteveis 709

socioeconocircmicas Onde Nvc= nuacutemero de citadas como cultivadas Nve= nuacutemero de variedades 710

atualmente cultivadas Esc= escolaridade Id= idade Gen= gecircnero Tr= tamanho do roccedilado 711

Exp= experiecircncia na agricultura Sld= renda Nr= nuacutemero de roccedilados Cores distintivas 712

representam correlaccedilotildees significativas (Ple005) 713

714

58

715

Fig 8 Modelo individual de rede de etnovariedades de mandioca citadas (esquerda) por 716

agricultores como cultivadas (direita) nos Municiacutepios de Altinho e Panelas As redes foram 717

desenhadas com o pacote bipartite (Dormann et al 2017) usando o software R (R CORE 718

TEAM 2017) 719

720

59

721

Fig 9 Anaacutelise de Correspondecircncia Muacuteltipla das 17 etnovariedades de mandioca considerando 722

os sete descritores morfoloacutegicos utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo em roccedilas de 723

agricultores tradicionais de sete comunidades no semiaacuterido de Pernambuco 724

725

726

727

728

729

730

731

732

733

734

735

736

737

McCambadinha

McCampina

McCampinaDaGrande

McCampinaRasteira

McCampinaVaruda

McGauba

McIsabelDeSouza

McIsabelTresGalhos

McOlhoDePombo

McOlhoVerde

McPretinha

McPretona

MxBranca

MxRosa

MxRosaBrancaMxRosaVermelha

MxSemente

CFD_Verde_Arroxeado

CFD_Verde_ClaroCFD_Verde_Escuro

CBF_Roxo

CBF_Verde_ArroxeadoCBF_Verde_Claro

CBF_Verde_Escuro

CDP_Verde

CDP_Verde_Amarelado

CDP_Verde_Avermelhado

CDP_Vermelho

CEC_Cinza

CEC_Dourado

CEC_Laranja

CEC_Marrom_Claro

CEC_Marrom_Escuro

CEC_Prateado

CEC_Verde_AmareladoCicatriz_M

Cicatriz_P

PDR_Branco

PDR_Creme

CDR_BrancoCDR_Creme CDR_Rosa

-4

-2

0

2

4

-4 -2 0 2 4

Dim1 (206)

Dim

2 (

162

)

MCA - Biplot

00

10

Hierarchical Clustering

inertia gain

McC

am

pin

aV

aru

da

McC

am

pin

aD

aG

rande

McC

am

pin

a

McG

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MxR

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McIsabelT

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McIsabelD

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McO

lhoD

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bo

00

05

10

15

Hierarchical Classification

Heig

ht

C1 C2 C3 C4 C5 C6 C7 C8

Fig 10 Agrupamento hieraacuterquico das 17 etnovariedades de mandioca caracterizadas de acordo

com os descritores utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo

60

Tabelas 738

739

Tabela 1 Caracteres e estados utilizados pelos agricultores como descritores botacircnicos para 740

caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das etnovariedades de mandioca 741

Caracter Sigla Estados

Folha

Cor da folha desenvolvida CFD 1- verde claro 2- verde escuro 3- verde arroxeado 4- roxo

Cor do broto foliar CBF 1- verde claro 2- verde escuro 3- verde arroxeado 4- roxo

Cor do peciacuteolo CDP 1- verde amarelado 2- verde 3- verde avermelhado 4- roxo

5- vermelho

Caule

Cor externa do caule CEC 1- laranja 2- verde amarelado 3- dourado 4- marrom claro

5- prateado 6- cinza 7- marrom escuro 8- verde

Protuberacircncia da cicatriz foliar PCF 1- pouco proeminente 2- muito proeminente

Raiacutez

Cor da poupa da raiz PDR 1- branco 2- creme

Cor do coacutertex da raiacutez CDR 1- rosa 2- branco 3- creme

742

743

744

745

746

747

748

749

750

751

61

Tabela 2 Lista das 22 etnovariedades de mandiocas citadas (132 citaccedilotildees) como cultivadas nas 752

comunidades pertencentes aos Municiacutepios de Altinho (Caratildeo n=8) e ao Municiacutepio de Panelas 753

(Aracuatilde Satildeo Joseacute do Bola Brejo Velho Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima e Lajeiro 754

Dantas n=21) 755

Etnovariedade Frequecircncia () Ranking Saliecircncia

Macaxeira Rosa 66 179 0472

Mandioca Isabel de Souza 48 179 0372

Mandioca Campina 24 217 0148

Macaxeira Branca 20 210 0134

Macaxeira Rosa branca 18 122 0168

Mandioca Pretona 16 338 0082

Mandioca Cambadinha 12 283 0071

Mandioca Isabel trecircs galhos 10 180 0075

Mandioca Gauacuteba 10 260 0070

Mandioca Pretinha 8 225 0053

Mandioca Peacute de pombo 4 400 0011

Mandioca Olho verde 4 350 0012

Macaxeira Rosinha 4 200 0027

Mandioca Campina varuda 4 200 0032

Mandioca Campina rasteira 4 300 0021

Mandioca Caboquinha 2 500 0007

Macaxeira Rasteira 2 200 0013

Macaxeira Paraacute 2 100 0020

Mandioca Barra ferro 2 300 0007

Mandioca Campina da grande 2 100 0020

Mandioca Olho de pombo 2 300 0010

Mandioca Jasmim 2 600 0006

756

757

758

62

Tabela 3 Lista de 17 etnovariedades atualmente cultivadas nos roccedilados das comunidades em 759

estudo 760

Ca Ar Bo Br Jb Jc Ld

Etnovariedade

Macaxeira Branca x x x x

Macaxeira Rosa

x x x x x x

Macaxeira Rosa Branca x x x x

Macaxeira Rosa Vermelha

x

Macaxeira Semente

x

Mandioca Cambadinha x

x

Mandioca Campina

x

x

x

Mandioca Campina da Grande x

Mandioca Campina Rasteira

x

Mandioca Campina Varuda

x

Mandioca Gauacuteba

x

Mandioca Isabel de Souza

x x x

Mandioca Isabel trecircs Galhos

x

x

Mandioca Olho de Pombo

x

Mandioca Olho Verde

x

Mandioca Pretinha

x

Mandioca Pretona x x x

Comunidades Ca= Caratildeo Ar=Aracuatilde Bo= Satildeo Joseacute do Bola Jb= Japaranduba de Baixo 761

Jc= Japaranduba de Cima Ld= Lajedo Dantas 762

763

764

765

766

767

768

63

Tabela 4 Descriccedilatildeo das classes do agrupamento por meacutetodo de Ward agrupadas pelo conjunto 769

dos descritores mais significativos para a caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das variedades de mandioca 770

Classes Descritores in situ p-valor

C1 Cor do peciacuteolo (CDP) 0016

C2 Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023

C3 Cor do peciacuteolo (CDP) 0012

C4 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0004

Cor da poupa da raiacutez (PDF) 0021

C5 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0003

C6 Cor do broto foliar (CBF) 0002

C7 Cor da folha desenvolvida (CFD) 0004

Cor externa do caule (CEC) 0040

C8 Cor do peciacuteolo (CDP) 0005

Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023

Valores de Ple005 satildeo significativos 771

772

iv

VARIACcedilAtildeO INTRAESPECIacuteFICA CONHECIMENTO E MANEJO TRADICIONAL

DE MANDIOCA Manihot esculenta Crantz NO SEMIAacuteRIDO DE PERNAMBUCO

NORDESTE DO BRASIL

MIRELA NATAacuteLIA SANTOS

Dissertaccedilatildeo apresentada ao Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo em Botacircnica da Universidade

Federal Rural de Pernambuco desenvolvido dentro da Linha de Pesquisa de

Etnobotacircnica e Botacircnica Aplicada como parte das exigecircncias para a obtenccedilatildeo do tiacutetulo

de Mestre em Botacircnica

Aprovada pela Banca Examinadora em ______2018

_____________________________________________

Dr Ulysses Paulino de Albuquerquendash Presidente

(Universidade Federal de Pernambuco)

_____________________________________________

Dra Andrecircsa Suana Argemiro Alves- Titular

(Universidade Federal Rural de Pernambuco)

_____________________________________________

Dra Ivanilda Soares Feitosa- Titular

(Universidade Federal Rural de Pernambuco)

________________________________________________

Dra Elcida de Lima Arauacutejo - Suplente

(Universidade Federal Rural de Pernambuco)

_____________________________________________

Dr Marcelo Alves Ramos - Suplente

(Universidade de Pernambuco)

Recife 2018

v

Aos meus pais Maacutercia Santos e Maacutezio Santos

e aos agricultores envolvidos na pesquisa

Dedico

vi

AGRADECIMENTOS

Ao meu orientador Dr Ulysses Paulino de Albuquerque de quem recebi o acolhimento

a orientaccedilatildeo e por quem experimentei um sentimento de admiraccedilatildeo Obrigada pela paciecircncia

oportunidades e por todo o conhecimento transmitido Agradeccedilo tambeacutem ao meu coorientador

Reginaldo de Carvalho que me abriu as portas para a realizaccedilatildeo do mestrado

A minha famiacutelia minha matildee Maacutercia meu pai Maacutezio e meu irmatildeo Maacutercio pois sempre

estiveram ao meu lado me incentivando e dando todo o suporte emocional Agradeccedilo pela

doaccedilatildeo e esforccedilos para que eu consiga alcanccedilar meus objetivos Pai obrigada por ser esse

exemplo de honestidade forccedila de vontade e dedicaccedilatildeo Agradeccedilo pela paciecircncia compreensatildeo

e sacrifiacutecios de longos trajetos que tivemos que enfrentar durante nossas idas e vindas para a

Universidade Matildee obrigada pela sua feacute e por me ensinar tanto com sua natureza humilde e

bondosa

Meus mais sinceros e profundos agradecimentos a todos os agricultores e agricultoras

que participaram desta pesquisa pela acolhida e confianccedila Obrigada por generosamente me

deixarem entrar em suas casas nos seus roccedilados na intimidade suas vidas e por compartilharem

comigo um pouco de seus conhecimentos dificuldades e principalmente ESPERANCcedilAS

Especialmente a Arlindo Ferreira Edgar Antocircnio Joseacute Sebastiatildeo e Juvenal Oliveira que satildeo

verdadeiros exemplos de humildade e solidariedade A Janete Alves e seu esposo Dida que me

hospedam em sua casa e me ajudaram de vaacuterias formas durante as minhas viagens de campo

Foi uma experiecircncia memoraacutevel e cada minuto embora difiacutecil foi fundamental para minha

formaccedilatildeo pessoal e profissional

A Viniacutecius Barbosa pela cumplicidade compreensatildeo e principalmente pela paciecircncia

Agradeccedilo por Deus ter me dado a oportunidade de compartilhar momentos inesqueciacuteceis ao

lado de uma pessoa tatildeo incriacutevel

Agradeccedilo tambeacutem agraves minhas amigas Amanda Eloi Jeacutessica Arruda Rayana Lima

Rayanne Gusmatildeo pela amizade de longas datas por todo apoio e compreensatildeo quando estive

ausente em nossos encontros Ao meu amigo Bartolomeu Neto pela ajuda com o

desenvolvimento do mapa das aacutereas em estudo

Aos meus companheiros de trabalho e parcerias do Laboratoacuterio de Ecologia e Evoluccedilatildeo

de Sistemas Socioecoloacutegicos (LEA - UFPE) que estiveram comigo durante este periacuteodo de

crescimento pessoal e profissional Em especial a Andreacute Borba Ivanilda Soares Juliane Hora

Nylber Silva Regina Ceacutelia Risoneide Henriques e Roberta Caetano

vii

A Rafael Zaacuterate agradeccedilo por toda disposiccedilatildeo dedicaccedilatildeo e aprendizado adquirido

Obrigada pelas horas de discussotildees sobre os temas do trabalho pelas ajudas em campo com as

anaacutelises estatiacutesticas e pela paciecircncia

Por fim agradeccedilo ao Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo em Botacircnica da Universidade Federal

Rural de Pernambuco (UFRPE) pela oportunidade de realizaccedilatildeo do mestrado e ao Conselho

Nacional de Desenvolvimento Cientifico e Tecnoloacutegico (CNPq) pela concessatildeo da bolsa de

incentivo a pesquisa

viii

ldquoEl mundo que nos rodea es un misterio ndash dijo-

Y los hombres no son mejores que ninguna otra cosardquo

Carlos Castaneda - Viaje a Ixtlaacuten

ix

LISTA DE FIGURAS

INTRODUCcedilAtildeO GERAL E REVISAtildeO DE LITERATURA

Fig 1 Partes do processo de fabricaccedilatildeo de farinha de mandioca Onde a raspagem b e c

processo de trituraccedilatildeo e d peneiramento 52

VARIACcedilAtildeO INTRAESPECIacuteFICA CONHECIMENTO E MANEJO LOCAL DE

MANDIOCA (Manihot esculenta Crantz) NO SEMIAacuteRIDO DE PERNAMBUCO

NORDESTE DO BRASIL

Fig 2 Mapa de localizaccedilatildeo geograacutefica dos Municiacutepios de Altinho e Panelas e das comunidades

estudadas na regiatildeo semiaacuterida do Estado de Pernambuco 53

Fig 3 Processo de fabricaccedilatildeo da farinha de mandioca Apoacutes a colheita as raiacutezes satildeo lavadas

raspadas e trituradas (a) A massa extraiacuteda eacute prensada e coada Ao sair da prensa a massa

peneirada (b) e em seguida eacute torrada (c) em fornos artesanais ou parcialmente mecanizados

54

Fig 4 a Sede da Comunidade do Caratildeo b Agricultor transportando a palma forrageira que eacute

um exemplo de estrateacutegia adaptativa para suprir a falta de alimento dos animais devido agrave seca

c Feira-livre que acontece na comunidade a cada quinze dias 55

Fig 5 a O agricultor nos explicava as mudanccedilas que vem fazendo em seus roccedilados para se

adaptar aos longos periacuteodos de seca b Quando o agricultor nos mostrava as diferentes

etnovariedades que mantinha em sua roccedila c Durante a pesquisa nos explicavam como era

feita a colheita da mandioca e como selecionavam as manivas para o proacuteximo plantio 55

Fig 6 Possiacuteveis estruturas de rede que descrevem as interaccedilotildees dos agricultores (losango)

ligados as etnovariedades (ciacuterculos) que cultivam Onde a Aninhada b Modular c Aleatoacuteria

56

Fig 7 Correlaccedilatildeo de Spearman entre a diversidade de etnovariedades de mandiocas conhecidas

como cultivadas e variedades atualmente cultivadas por agricultor e as variaacuteveis

socioeconocircmicas Onde Nvc= nuacutemero de citadas como cultivadas Nve= nuacutemero de variedades

atualmente cultivadas Esc= escolaridade Id= idade Gen= gecircnero Tr= tamanho do roccedilado

Exp= experiecircncia na agricultura Sld= renda Nr= nuacutemero de roccedilados Cores distintivas

representam correlaccedilotildees significativas (Ple005) 57

Fig 8 Modelo individual de rede de etnovariedades de mandioca citadas (esquerda) por

agricultores como cultivadas (direita) nos Municiacutepios de Altinho e Panelas As redes foram

x

desenhadas com o pacote bipartite (Dormann et al 2017) usando o software R (R CORE

TEAM 2017) 58

Fig 9 Anaacutelise de Correspondecircncia Muacuteltipla das 17 etnovariedades de mandioca considerando

os sete descritores morfoloacutegicos utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo em roccedilas de

agricultores tradicionais de sete comunidades no semiaacuterido de Pernambuco 59

Fig 10 Agrupamento hieraacuterquico das 17 etnovariedades de mandioca caracterizadas de acordo

com os descritores utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo 59

xi

LISTA DE TABELAS

CAPIacuteTULO IVARIACcedilAtildeO INTRAESPECIacuteFICA CONHECIMENTO E MANEJO

LOCAL DE MANDIOCA (Manihot esculenta Crantz) NO SEMIAacuteRIDO DE

PERNAMBUCO NORDESTE DO BRASIL

Tabela 1 Caracteres e estados utilizados pelos agricultores como descritores botacircnicos para

caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das etnovariedades de mandioca 60

Tabela 2 Lista das 22 etnovariedades de mandiocas citadas (132 citaccedilotildees) como cultivadas nas

comunidades pertencentes aos Municiacutepios de Altinho (Caratildeo n=8) e ao Municiacutepio de Panelas

(Aracuatilde Satildeo Joseacute do Bola Brejo Velho Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima e Lajeiro

Dantas n=21) 61

Tabela 3 Lista de 17 etnovariedades atualmente cultivadas nos roccedilados das comunidades em

estudo 62

Tabela 4 Descriccedilatildeo das classes do agrupamento por meacutetodo de Ward agrupadas pelo conjunto

dos descritores mais significativos para a caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das variedades de mandioca

63

xii

SUMAacuteRIO

RESUMO GERAL xiii

1 Introduccedilatildeo Geral 14

2 Revisatildeo bibliograacutefica 17

21 Manihot esculenta Crantz e conhecimento local de agricultores tradicionais 17

22Manejo tradicional em roccedilas e diversidade intraespeciacutefica da mandioca 18

23 Redes sociais de troca e circulaccedilatildeo de etnovariedades de mandioca 20

3 Referecircncias bibliograacuteficas 22

VARIACcedilAtildeO INTRAESPECIacuteFICA CONHECIMENTO E MANEJO LOCAL DE

MANDIOCA (Manihot esculenta Crantz) NO SEMIAacuteRIDO DE PERNAMBUCO

NORDESTE DO BRASIL 25

Resumo 26

Introduccedilatildeo 27

Material e meacutetodos 29

Resultados 36

Discussatildeo 40

Conclusatildeo 45

Agradecimentos 45

Referecircncias bibliograacuteficas 46

ANEXOS 51

xiii

RESUMO GERAL

Agricultores de pequena escala que praticam agricultura de modo tradicional em roccedilas

desempenham um importante papel na geraccedilatildeo manutenccedilatildeo e conservaccedilatildeo da

agrobiodiversidade local Dentre as espeacutecies mais cultivadas em roccedilas a Manihot esculenta

Crantz (mandioca) em sua diversidade intrespeciacutefica eacute um dos recursos agriacutecolas de maior

importacircncia econocircmica e de subsistecircncia para diversas populaccedilotildees locais no mundo Acredita-

se que as praacuteticas de manejo dedicadas ao cultivo da mandioca associadas ao conhecimento de

agricultores resultam no aumento da diversidade intraespeciacutefica assim como na conservaccedilatildeo

dessa diversidade Diante disso a pesquisa teve como objetivo compreender os processos

envolvidos na dinacircmica da diversidade agriacutecola da mandioca por meio do acesso ao

conhecimento dos agricultores quanto as praacuteticas de menejo e entender quais fatores podem

estar relacionados a geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da diversidade local Para isso o estudo foi

desenvolvido junto a agricultores tradicionais de sete comunidades rurais localizadas na regiatildeo

semiaacuterida do estado de Pernambuco A abordagem metodoloacutegica foi baseada em entrevistas

semiestruturadas conversas com os informantes e visitas aos roccedilados para caracterizar e

compreender a importacircncia manejo da agricultura de sequeiro e das redes sociais estabelecidas

entre os agricultores bem como identificar as variedades de mandioca atualmente cultivadas

A partir do conhecimento da diversidade manejada analisamos a estrutura da rede de interaccedilatildeo

social formada pelas trocas de etnovariedades entre os agricultores A partir destas informaccedilotildees

discutimos sobre o importante papel dos agricultores na manutenccedilatildeo do conjunto de

etnovariedades regionais Um total de 22 etnovariedades foram citadas as quais satildeo

identificadas pelos agricultores principalmente por meio de sete caracteres morfoloacutegicos A

estrutura em redes de trocas de variedades favorece a manutenccedilatildeo e amplificaccedilatildeo das diferentes

variedades locais

Palavras-Chave Agricultura tradicional Agricultura de sequeiro Agrobiodiversidade

Plantas alimentiacutecias Redes sociais

xiv

ABSTRACT

Small-scale farmers who practice traditional agriculture fields have an important role in

generation maintenance and conservation of local agrobiodiversity Among the most cultivated

species the Manihot esculenta Crantz (cassava) in its intrespecific diversity is one of the

moust important agricultural resources of economic importance and livelihood for many local

people in the world It is believed that the management practices dedicated to the cultivation of

cassava associated with the knowledge of farmers result in increased intraspecific diversity

and the conservation of this diversity Therefore the research aimed to understand the processes

involved in the dynamics of agricultural diversity of cassava through access the knowledge of

farmers as the management of practices and understand what factors may be related to the

generation and maintenance of local diversity For this the study was developed with the

traditional farmers of seven rural communities located in the semiarid region of the state of

Pernambuco The methodological approach was based on semi-structured interviews

conversations with informants and visits to fields to characterize and understand the

importance of management of dry framing and social networks established between farmers

and to identify the cassava varieties currently grown From the knowledge of managed

diversity we analyze the structure of social interaction network formed by the exchange of

landraces among farmers From this information We discussed the important role of farmers

in the overall regional landraces maintenance A total of 22 landraces were cited which are

identified by farmers mainly through seven morphological characters The structure of

varieties sharing networks favors the maintenance and amplification of different local varieties

Keywords Agrobiodiversity Dry Farming Food plants Social networks Traditional

agriculture

14

1 Introduccedilatildeo Geral

Ao longo dos anos populaccedilotildees tradicionais foram adquirindo aprimorando e transmitindo

seus conhecimentos sobre o manejo dos recursos naturais existentes em suas respectivas

regiotildees e assim foram desenvolvendo teacutecnicas para se adaptar e sobreviver ao ambiente Essas

populaccedilotildees foram domesticando uma grande variedade de espeacutecies de plantas alimentiacutecias

numa agricultura de pequena escala (BALLEacute 2006 CLEMENT et al 2010)

Essa interaccedilatildeo pessoas-planta por meio do cultivo e manejo das espeacutecies vegetais vem

contribuindo para ambos com alteraccedilotildees adaptativas por meio da seleccedilatildeo artificial Essas

alteraccedilotildees resultaram em mudanccedilas na estrutura geneacutetica das espeacutecies vegetais pelo manejo da

seleccedilatildeo de caracteriacutesticas fenotiacutepicas fisioloacutegicas e econocircmicas das plantas E essa seleccedilatildeo

consciente ou inconsciente das plantas se traduz em uma grande variaccedilatildeo intraespeciacutefica nas

populaccedilotildees vegetais sob diferentes regimes de manejo (CARMONA CASAS 2005)

Por meio do cultivo agricultores em comunidades tradicionais desempenham um papel

fundamental no processo dinacircmico de geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da agrobiodiversidade local em

sistemas de roccedilas Essas roccedilas satildeo aacutereas de agricultura tradicional localizadas dentro de

comunidades caracterizadas natildeo soacute pelo grande nuacutemero espeacutecies cultivadas mas tambeacutem pela

alta diversidade intraespeciacutefica que essas espeacutecies apresentam (MARTINS 2005) Dentre as

espeacutecies comumente cultivadas nesse sistema a mandioca (Manihot esculenta Crantz

Euphorbiaceae) eacute considerada uma cultura de alto valor econocircmico nutricional utilitaacuterio

cultural e social para muitas populaccedilotildees humanas no mundo (CLEMENT et al 2010) Aleacutem

disso a mandioca apresenta uma grande diversidade intraespeciacutefica e por essas caracteriacutesticas

tornou-se uma espeacutecie-modelo para compreender como os diferentes padrotildees e estrateacutegias de

manejo adotadas pelos agricultores podem influenciar na diversidade local (ELIAS et al 2001

EMPERAIRE PERONI 2007 EMPERAIRE ELOY 2008)

Segundo PERONI amp MARTINS (2000) as diferentes praacuteticas de manejo desse

importante recurso favorecem a alta diversidade intraespeciacutefica em roccedilas de agricultura

itinerante1 Um dos fatores responsaacuteveis pela geraccedilatildeo dessa diversidade consiste na capacidade

de incorporaccedilatildeo de novos germoplasmas por meio da reproduccedilatildeo sexuada associada ao manejo

agriacutecola tradicional (PUJOL et al 2005 EMPERAIRE PERONI 2007) Apesar de propagada

1 Agricultura caracterizada por ciclos de uso e pousio como por exemplo corte e queima

15

vegetativamente pelos agricultores a mandioca (M esculenta) ainda manteacutem a sua capacidade

de reproduccedilatildeo sexual sendo este um aspecto muito importante para dinacircmica evolutiva da

cultura (PUJOL et al 2007 CLEMENT et al 2010) Apoacutes a fecundaccedilatildeo cruzada e dispersatildeo

das sementes um banco destas eacute formado no solo e as novas variedades germinam nas roccedilas

(MARTINS 2005) Antes de serem imcorporadas ao acervo essas lsquolsquovariedades-voluntaacuteriasrsquorsquo

passam por um filtro cultural ou seja seratildeo reconhecidas pelos agricultores por meio de

caracteriacutesticas morfoloacutegicas experimentadas e entatildeo selecionadas (MARTINS OLIVEIRA

2009)

Outro evento envolvido na geraccedilatildeo de diversidade intraespeciacutefica eacute incorporaccedilatildeo de

novas variedades de mandioca por meio de uma rede social de troca de material propagativo

estabelecida entre os agricultores (CAVECHIA et al 2014) Esse mecanismo permite a

circulaccedilatildeo das manivas2 tanto a niacutevel local quanto regional permite tambeacutem o acesso aos

diferentes conjuntos de variedades cultivadas entre as comunidades e ainda que o conjunto de

etnovariedades3 locais eou regionais seja conservado (EMPERAIRE ELOY 2008) Dentro

dessas redes sociais de troca as relaccedilotildees entre os agricultores atuam como mecanismo

fundamental para dispersatildeo e experimentaccedilatildeo das etnovariedades entre as roccedilas E satildeo essas

relaccedilotildees e decisotildees estabelecidas entre os agricultores que iratildeo definir quais etnovariedades

seratildeo mantidas ao longo do tempo e quais seratildeo abandonadas (LIMA et al 2012)

Sendo os agricultores e as interaccedilotildees entre eles fundamentais para o estabelecimento da

diversidade local (PINTON EMPERAIRE 2001 EMPERAIRE ELOY 2008) torna-se

pertinente entender como as diferentes estrateacutegias adotadas pelos agricultores influenciam na

dinacircmica da agrobiodiversidade local Muitos trabalhos com esse enfoque foram desenvolvidos

nas regiotildees Amazocircnica e Sudeste mas pouco se discute sobre a dinacircmica da agrobiodiversidade

em regiotildees semiaacuteridas

Nesse sentido o presente estudo visa investigar as interaccedilotildees entre agricultores

tradicionais de comunidades rurais estabelecidas na regiatildeo semiaacuterida de Pernambuco O

objetivo geral eacute compreender os processos envolvidos na dinacircmica da diversidade agriacutecola por

meio do acesso ao conhecimento dos agricultores quanto as praacuteticas de menejo e entender quais

quais fatores podem estar relacionados a geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da diversidade local Para esse

estudo a mandioca foi escolhida como modelo devida agrave sua importacircncia econocircmica e de

subsistecircncia para comunidades locais Os objetivos especiacuteficos foram (i) caracterizar o manejo

2 Satildeo pedaccedilos das hastes ou ramas da mandioca usadas para o plantio 3 Variedades intraespeciacuteficas de mandioca (M esculenta) identificadas pelos agricultores por nomenclatura

popular local (Martins 2005)

16

da agricultura de sequeiro bem como analisar se os paracircmetros socioeconocircmicos influenciam

na diversidade local (ii) registrar as etnovariedades atualmente cultivadas e identificar os

diferentes criteacuterios morfoloacutegicos utilizados pelos agricultores para a seleccedilatildeo e classificaccedilatildeo das

etnovariedades e (iii) descrever a estrutura da rede de interaccedilatildeo entre os agricultores e a

diversidade de etnovariedades de mandioca cultivadas para tentar entender como essas relaccedilotildees

podem influenciar na manutenccedilatildeo ou perda da diversidade local

a

b c

17

2 Revisatildeo bibliograacutefica

21 Manihot esculenta Crantz e conhecimento local de agricultores tradicionais

O gecircnero Manihot Miller (Euforbiaceae) possui cerca de 98 espeacutecies distribuiacutedas em 19

seccedilotildees das quais 13 delas ocorrem no Brasil (ROGERS APPAN 1973) Dentre as espeacutecies do

gecircnero Manihot esculenta Crantz (mandioca) eacute a principal cultivar uma vez que compotildee a

base da dieta alimentar de diversas populaccedilotildees rurais principalmente em regiotildees tropicais A

mandioca foi domesticada na Ameacuterica do Sul pois eacute onde se encontra o maior centro de

diversificaccedilatildeo Estudos relacionados ao entendimento de sua origem botacircnica tecircm contribuiacutedo

para a compreensatildeo das accedilotildees humanas no processo de domesticaccedilatildeo e ampliaccedilatildeo da

diversidade da espeacutecie (OLSEN SCHAAL 1999 ELIAS et al 2004 ELLEN 2012)

As diferentes variedades da espeacutecie satildeo reconhecidas em dois grandes grupos principais

o das variedades mais toacutexicas e o de variedades menos toacutexicas baseadas no potencial de

glicosiacutedeos cianogecircnicos (HCN) contido na polpa das raiacutezes (ELIAS et al 2004) Variedades

com baixa toxicidade contecircm baixas concentraccedilotildees de glicosiacutedeos cianogecircnicos (HCNlt100

mgKg-1) e satildeo conhecidas em comunidades agriacutecolas variando entre regiotildees ou grupos eacutetnicos

como ldquomacaxeirasrdquo ldquomandiocas doces ou mansasrdquo ou ldquoaipinsrdquo As variedades mais toacutexicas

com altas concentraccedilotildees de HCN (HCNgt 100 mgKg-1) satildeo reconhecidas como ldquomandiocasrdquo

ou ldquomandiocas amargas ou bravasrdquo (PERONI et al 2007 MCKEY et al 2010) E portanto

precisam passar por um processo de desintoxicaccedilatildeo para se tornarem aptas ao consumo como

por exemplo pelo processo de fabricaccedilatildeo da farinha de mandioca (Fig 1) Apesar do seu

potencial toacutexico as variedades amargas possuem teores mais elevados de amido e se adaptam

bem a solos pobres e aacutecidos aleacutem de serem mais resistentes aos patoacutegenos e pragas em

comparaccedilatildeo com as variedades doces (FRASER et al 2010)

Sob o ponto de vista botacircnico esta dicotomia natildeo eacute reconhecida mas existem alguns

trabalhos que evidenciam a relaccedilatildeo entre a coerecircncia da taxonomia popular com a diferenciaccedilatildeo

geneacutetica para separaraccedilatildeo das variedades ldquodocesrdquo e ldquoamargasrdquo (ELIAS et al 2004 PERONI

et al 2007) O conhecimento das caracteriacutesticas morfoloacutegicas das plantas e a coerecircncia na

identificaccedilatildeo dessas variedades com niacuteveis distintos de HCN eacute de grande importacircncia

adaptativa para as populaccedilotildees que gerem esse recurso sobretudo pelo risco de intoxicaccedilatildeo

(RIVAL MCKEY 2008)

18

No estudo realizado por AMOROZO (2000) por exemplo os agricultores geralmente

classificavam as variedades que tinham raiacutezes brancas como ldquobravasrdquo e aquelas que tinham

raiacutezes vermelhas como ldquomansasrdquo embora eles reconhecessem algumas exceccedilotildees Em pesquisas

realizados por FARALDO et al (2000) MKUMBIRA et al (2003) ELIAS et al (2004) e

PERONI et al (2007) os agricultores foram consistentes na distinccedilatildeo de suas variedades

lsquolsquodocesrdquo e ldquoamargasrsquorsquo e com base no conhecimento de caracteres morfoloacutegicos distintos os

nomes das variedades refletiram na diversidade geneacutetica A partir dessas evidecircncias podemos

inferir que o conhecimento local dos agricultores associado agrave experiecircncia eacute importante natildeo

somente para o reconhecimento das variedades locais por si soacute mas tambeacutem por conter

informaccedilotildees relevantes sobre o papel que esses recursos podem desempenhar nos sistemas

agriacutecolas de pequena escala e para as populaccedilotildees locais (GADGIL et al 1993)

O conhecimento tradicional dos agricultores trata-se de um conjunto de saberes praacuteticas

e crenccedilas baseadas no contato direto nas observaccedilotildees experimentaccedilotildees diaacuterias e nas

dependecircncias econocircmicas eou de subsistecircncia dos recursos que satildeo geralmente transmitidas

oralmente dentro e entre as geraccedilotildees (AMOROZO 2000 DOMINGUES ARRUDA 2001

BEGOSSI 2004) Sendo assim o conhecimento tradicional de agricultores que praticam a

agricultura de pequena escala realizada em comunidades tradicionais eacute importante pois tem

garantido a perpetuaccedilatildeo dos conhecimentos e das praacuteticas agriacutecolas desenvolvidas durante

milhares de anos entre os agroecossistemas locais

22 Manejo tradicional em roccedilas e diversidade intraespeciacutefica da mandioca

A agricultura de pequena escala praticada em comunidades locais tem garantido a

perpetuaccedilatildeo do conhecimento sobre o manejo e a diversidade de espeacutecies agriacutecolas O sistema

de cultivo em roccedilas eacute tipicamente praticado por agricultores de comunidades tradicionais em

aacutereas uacutemidas no mundo inteiro As roccedilas satildeo aacutereas de cultivo de pequena escala localizadas

dentro de comunidades proacuteximas umas das outras que se tornaram objeto de estudo em vaacuterias

pesquisas antropoloacutegicas etnobotacircnicas geneacuteticas e ecologias especialmente por apresentarem

grande diversidade de espeacutecies cultivadas e pelo manejo destinar-se agrave subsistecircncia de grupos

familiares de agricultores de pequena escala (PUJOL et al 2007)

Aleacutem da diversidade de espeacutecies outra caracteriacutestica dessas roccedilas eacute o grande nuacutemero de

variedades dentro de cada espeacutecie Esta diversidade intraespeciacutefica pode ser referida como

etnovariedades que eacute um termo utilizado para definir grupos de indiviacuteduos identificados por

19

nomenclatura popular local a qual pode expressar elementos do contexto cultural econocircmico

e social das populaccedilotildees associado ao uso (PERONI MARTINS 2000 EMPERAIRE

PERONI 2007)

Dentre as vaacuterias espeacutecies cultivadas em roccedilas a mandioca (M esculenta) em seu

nuacutemero de etnovariedades eacute uma das principais culturas de importacircncia econocircmica e

nutricional para populaccedilotildees que utilizam esse sistema Sua diversidade pode estar relacionada

ao sistema reprodutivo da cultura ao modo de gestatildeo da agricultura pelas pressotildees de seleccedilatildeo

exercidas pelo proacuteprio homem ou ateacute mesmo por causas naturais (MARTINS 2005

CLEMENT et al 2010)

As caracteriacutesticas de manejo empregadas no cultivo da mandioca em roccedilas favorecem

a elevada diversidade intraespeciacutefica dessa cultura O modo de propagaccedilatildeo da mandioca eacute feito

pelos agricultores por meios de estacas (manivas) que satildeo selecionadas de acordo com as

caracteriacutesticas desejaacuteveis que elas apresentam seja para fins econocircmicos ou utilitaacuterios Apesar

de propagada vegetativamente que eacute um meacutetodo usado pelas populaccedilotildees humanas para plantio

e multiplicaccedilatildeo de plantas a mandioca natildeo perdeu a sua capacidade de reproduccedilatildeo sexual

sendo esse um aspecto importante para dinacircmica evolutiva da cultura (PUJOL et al 2007)

Esse meacutetodo de propagaccedilatildeo permite o fluxo e a circulaccedilatildeo do material geneacutetico entre os

diferentes roccedilados por meio de um sistema de redes sociais de troca de etnovariedade de

mandioca entre os agricultores tanto a niacutevel regional (entre comunidades) quanto em escalas

menores (entre vizinhos e parentes) (ELIAS et al 2004 EMPERAIRE OLIVEIRA 2010)

Segundo Emperaire e Peroni (2007) esse mecanismo de troca de germoplasma eacute uma grande

forccedila de dispersatildeo que resulta na agrobiodiversidade regional mais elevada pois estabelece

viacutenculos entre as diferentes roccedilas e promove oportunidades de seleccedilatildeo e cruzamento entre as

diferentes etnovariedades (EMPERAIRE ELOY 2008)

Atributo bioloacutegicos da espeacutecie tambeacutem estatildeo relacionados com o aumento da

diversidade intrespeciacutefica como a capacidade de dormecircncia das sementes e a dispersatildeo

autocoacuterica que propiciam o desenvolvimento de um banco de sementes no solo ao longo do

tempo permitindo o cruzamento entre as novas variedades adquiridasplantadas e entre estas

com variedades que existiram anterioemente na mesma aacuterea (PERONI MARTINS 2000

MARTINS 2005) A presenccedila dessas ldquoplantas-voluntaacuteriasrdquo ou seja aquelas nascidas de

germinaccedilatildeo expontacircnea eacute um dos eventos identificados como precursores de diversidade

intraespeciacutefica nas populaccedilotildees de mandioca cultivadas (PUJOL et al 2007)

20

Contudo muitos esforccedilos vecircm sendo empregados em estudos que observam a ecologia

da mandioca e o manejo agriacutecola associado agrave geraccedilatildeo de diversidade varietal e geneacutetica na

espeacutecie para tentar entender como esses mecanismos influenciam na diversidade de

etnovariedades locais e na sua dinacircmica (PUJOL et al 2007 KOMBO et al 2012 ELIAS et

al 2001)

23 Redes sociais de troca e circulaccedilatildeo de etnovariedades de mandioca

Sistemas agriacutecolas de pequena escala dependem de uma grande diversidade de espeacutecies e

variedades cultivadas e do fluxo destas por meio de redes sociais de troca material vegetativo

estabelecidas entre agricultores podendo o alcance da circulaccedilatildeo variar em escala local eou

regional (EMPERAIRE ELOY 2008) As trocas dependem de dois mecanismos principais

dos padrotildees de interaccedilatildeo social entre os agricultores e dos padrotildees de uso dos recursos

(CAVECHIA et al 2014) e as redes variam em funccedilatildeo das caracteriacutesticas culturais

econocircmicas e sociais das comunidades (EMPERAIRE PERONI 2007 PAUTASSO et al

2012)

No caso da mandioca (Manihot esculenta Crantz) a propagaccedilatildeo se da por estaquia o que

favorece a troca de material de vegetativo entre os agricultores e permite o fluxo entre

variedades locais e regionais (MARTINS 2005) As trocas de variedades de mandioca entre os

agricultores geralmente acontecem por alguma circunstacircncia que leve o agricultor a pedir o

material propagativo para o plantio com por exemplo para o plantio de uma nova roccedila ou por

alguma fitopatologia deslocaccedilatildeo ou estaccedilotildees de chuva e seca prolongadas (EMPERAIRE et

al 2001 EMPERAIRE ELOY 2008) Em alguns casos como no de algumas comunidades

agriacutecolas de pequena escala as redes de casamento satildeo utilizadas para a circulaccedilatildeo de

variedades (EMPERAIRE PERONI 2007 DELEcircTRE et al 2011)

O processo de manutenccedilatildeo da diversidade nesses sistemas resulta do interesse ou da

necessidade do agricultor em adquirir ou abandonar variedades testar e selecionar novas

etnovariedades de mandioca Dentre os fatores que dirigem a seleccedilatildeo de etnovariedades estatildeo

as preferecircncias individuais dos agricultores Alguns podem optar por cultivar todas as

etnovariedades comuns eou disponiacuteveis na regiatildeo enquanto que outros optam apenas por

manter um conjunto especiacutefico dessa diversidade (CAVECHIA et al 2014) Seja para atender

a alguma demanda individual pelo interesse em aumentar a produtividade ou pela necessidade

21

de conservar o material vegetativo para o proacuteximo plantio no caso de perda de material por

algum fator ambiental adverso (EMPERAIRE et al 2001 EMPERAIRE ELOY 2008)

Nesse sentido satildeo os agricultores os maiores responsaacuteveis por determinar como e quais

etnovariedades seratildeo compartilhadas e mantidas entre as comunidades (PAUTASSO et al

2012) E a chave para a compreensatildeo da dinacircmica da diversidade varietal eacute por meio desse

intercacircmbio e dos fatores que influenciam essa conectividade entre as comunidades pois essas

redes representam um grande impacto sobre a diversidade de variedades cultivadas E eacute por

meio dessas redes que se diminui coletivamente os riscos de perda total de diversidade geneacutetica

local (EMPERAIRE ELOY 2008)

Desse modo as relaccedilotildees estabelecidas pelos agricultores entre as comunidades por meio

das redes troca de germoplasma podem ter consequecircncias importantes sobre a diversidade

varietal da mandioca E compreender os processos envolvidos na manutenccedilatildeo ou perda de

germoplasma nos sistemas agriacutecolas eacute importante uma vez que compreendendo a maneira

como os agricultores usam esse conjunto de etnovariedades de mandioca e as compartilham

vai trazer importantes discussotildees a cerca da qualidade e a quantidade do recurso que seraacute

mantido transmitido ou perdido dentro dos sistemas ao longo do tempo

22

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25

VARIACcedilAtildeO INTRAESPECIacuteFICA CONHECIMENTO E MANEJO

LOCAL DE MANDIOCA (Manihot esculenta Crantz) NO SEMIAacuteRIDO DE

PERNAMBUCO NORDESTE DO BRASIL

Artigo submetido ao perioacutedico Human Ecology

Normas para submissatildeo em anexos

26

Variaccedilatildeo intraespeciacutefica conhecimento e manejo local de mandioca 1

(Manihot esculenta Crantz) no semiaacuterido de Pernambuco Nordeste do 2

Brasil 3

Mirela Nataacutelia Santos12 Jhonatan Rafael Zaacuterate-Salazar1 Reginaldo de Carvalho1 amp 4

Ulysses Paulino de Albuquerque2 5

6

1 Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo em Botacircnica Departamento de Biologia Rua Dom Manuel de Medeiros 7

Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) sn Dois Irmatildeos Recife Pernambuco 52171-8

900 Brasil 9

2 Laboratoacuterio de Ecologia e Evoluccedilatildeo de Sistemas Socioecoloacutegicos (LEA) Departamento de Botacircnica 10

Avenida Professor Moraes Rego Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) sn Cidade 11

Universitaacuteria Recife Pernambuco 50670-901 Brasil 12

Resumo 13

Historicamente a espeacutecie Manihot esculenta Crantz (mandioca) eacute uma espeacutecie de grande valor 14

econocircmico e de subsistecircncia para populaccedilotildees em comunidades tradicionais Variedades de 15

mandioca satildeo selecionadas com base nos interesses dos agricultores conduzindo uma evoluccedilatildeo 16

especiacutefica sobre a geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da agrobiodiversidade local Diante disso a mandioca 17

tornou-se espeacutecie-modelo em estudos que buscam compreender como os padrotildees e estrateacutegias 18

adotadas pelas populaccedilotildees humanas influenciam na diversidade intraespeciacutefica local em regiotildees 19

tropicais No entanto os fatores que influenciam a diversidade da mandioca em regiotildees 20

semiaacuteridas ainda natildeo foram bem documentados Nesse sentido objetivo geral do estudo foi 21

compreender os processos envolvidos na dinacircmica da diversidade agriacutecola em sete 22

comunidades tradicionais localizadas na regiatildeo semiaacuterida do estado de Pernambuco (Nordeste 23

do Brasil) por meio do acesso ao conhecimento dos agricultores quanto as praacuteticas de menejo 24

para tentar quais quais fatores podem estar relacionados a geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da diversidade 25

local Com os resultados da anaacutelise de redes verificamos uma alta diversidade de 26

etnovariedades cultivadas e a sua composiccedilatildeo eacute determinada pelas preferecircncias e 27

comportamentos individuais dos agricultores que foram provavelmente os mecanismos 28

27

responsaacuteveis pelo surgimento da estrutura aninhada observada na anaacutelise rede Esse padratildeo 29

aninhado contribui na conservaccedilatildeo das etnovariedades mais comuns mas tambeacutem pode resultar 30

em perda daquelas de menor frequecircncia ao longo do tempo 31

Palavras-Chave Agricultura tradicional Agricultura de sequeiro Agrobiodiversidade 32

Etnobiologia Plantas alimentiacutecias 33

34

Introduccedilatildeo 35

Historicamente as populaccedilotildees humanas foram acumulando conhecimentos sobre 36

praacuteticas da agricultura desenvolvendo teacutecnicas adaptadas ao meio natural e assim foram 37

domesticando uma grande variedade de cultivos alimentares para garantirem a sua 38

sobrevivecircncia (Balleacute 2006 Clement et al 2010) Essa interaccedilatildeo pessoas-plantas por meio do 39

cultivo e manejo das espeacutecies vegetais considerando tanto os aspectos sociais quanto naturais 40

dos sistemas dinacircmicos eacute uma importante ferramenta para o entendimento do conhecimento 41

dos agricultores sobre os agroecossistemas locais ( Alcorn 1995) 42

Aleacutem disso essas interaccedilotildees vem contribuindo com alteraccedilotildees nas populaccedilotildees vegetais 43

por meio da seleccedilatildeo artificial Essas alteraccedilotildees resultaram em mudanccedilas na estrutura geneacutetica 44

dessas populaccedilotildees que satildeo determinadas geralmente pela seleccedilatildeo de caracteriacutesticas fenotiacutepicas 45

fisioloacutegicas eou econocircmicas das plantas refletidas em classificaccedilotildees e nomenclaturas 46

especiacuteficas baseadas em percepccedilotildees individuais (Carmona amp Casas 2005) 47

Muitos pesquisadores tentam explicar o papel dos agricultores de pequena escala na 48

seleccedilatildeo classificaccedilatildeo e manutenccedilatildeo da agrobiodiversidade local em roccedilas tradicionalmente 49

manejas em regiotildees uacutemidas (Emperaire amp Peroni 2007 Emperaire amp Eloy 2008 Marchetti et 50

al 2013) Essas roccedila satildeo aacutereas de cultivo caracterizadas por conter uma alta diversidade 51

intraespeciacutefica de espeacutecies (Martins 2005) Dentre elas a Manihot esculenta Crantz 52

28

(mandioca) Euphorbiaceae em sua diversidade de etnovariedades eacute a espeacutecie mais importante 53

sob ponto de vista econocircmico e de subsistecircncia para as populaccedilotildees locais e mais cultivada 54

devido a sua grande adaptabilidade ambiental e baixos custos de gestatildeo (Elias et al 2001) 55

A alta diversidade da mandioca nessas aacutereas pode ser atribuiacuteda agrave possibilidade de 56

introduccedilatildeo de novas variedades via reproduccedilatildeo sexuada associada a ecologia da espeacutecie Esse 57

mecanismo permite o fluxo gecircnico entre as variedades de mandioca cultivadas do mesmo local 58

e entre estas com variedades de locais vizinhos (Pujol et al 2007) Outro mecanismo que 59

favorece essa diversidade eacute agrave circulaccedilatildeo de material propagativo por meio redes sociais de troca 60

variedades entre os agricultores (Pujol et al 2005 Emperaire amp Peroni 2007 Clement et al 61

2010) Esse mecanismo de troca eacute fundamental para o estabelecimento de interaccedilotildees entre as 62

diferentes aacutereas de roccedila promovendo oportunidade de seleccedilatildeo e cruzamento entre os diferentes 63

conjuntos de variedades aleacutem de permitir que este conjunto seja conservado (Emperaire amp Eloy 64

2008) 65

Diante desse cenaacuterio podemos observar que a agrobiodiversidade local natildeo eacute fruto 66

apenas de fatores naturais mas eacute tambeacutem influenciada pelas caracteriacutesticas culturais e 67

socioeconocircmica das populaccedilotildees locais refletidas especialmente no conhecimento e manejo 68

local Nesse sentido o presente estudo visa investigar as interaccedilotildees entre agricultores 69

tradicionais de comunidades rurais estabelecidas na regiatildeo semiaacuterida de Pernambuco 70

O objetivo geral eacute compreender os processos envolvidos na dinacircmica da diversidade 71

agriacutecola por meio do acesso ao conhecimento dos agricultores quanto as praacuteticas de menejo e 72

entender quais quais fatores podem estar relacionados a geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da diversidade 73

local Para esse estudo a mandioca foi escolhida como modelo devida agrave sua importacircncia 74

econocircmica e de subsistecircncia para comunidades locais Os objetivos especiacuteficos foram (i) 75

caracterizar o manejo da agricultura de sequeiro bem como analisar se os paracircmetros 76

socioeconocircmicos influenciam na diversidade local (ii) registrar as etnovariedades atualmente 77

29

cultivadas e identificar os diferentes criteacuterios morfoloacutegicos utilizados pelos agricultores para a 78

seleccedilatildeo e classificaccedilatildeo das etnovariedadese (iii) descrever a estrutura da rede de interaccedilatildeo entre 79

os agricultores e a diversidade de etnovariedades de mandioca cultivadas para tentar entender 80

como essas relaccedilotildees podem influenciar na manutenccedilatildeo ou perda da diversidade local 81

Material e meacutetodos 82

Aacutereas de estudo 83

Amostramos sete comunidades rurais estabelecidas na regiatildeo semiaacuterida de 84

Pernambuco Nordeste do Brasil Uma das comunidades (Caratildeo) pertence ao Municiacutepio de 85

Altinho (ldquo8deg 29rsquo 10rdquo S e 36deg 03rsquo 49rdquo W) e as demais (Satildeo Joseacute do Bola Brejo velho 86

Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima Lajedo Dantas e Aracuatilde) ao Municiacutepio de 87

Panelas (8 deg 39 48 S e 36 deg 01 23 W) (Fig 2) 88

O modelo agriacutecola adotado na regiatildeo segue o sistema tradicional de sequeiro4 e todas 89

as comunidades em estudo possuem histoacuterico de cultivo de mandioca (M esculenta) As aacutereas 90

de cultivo satildeo estabelecidas por unidade familiar e as atividades satildeo realizadas em sua maioria 91

por homens tendo cada agricultor cerca de um a dois hectares de aacuterea para plantio Aleacutem da 92

mandioca os cultivos mais utilizados na comunidades satildeo milho (Zea mays) e feijatildeo (Phaseolus 93

sp) 94

Para os membros das comunidades a produccedilatildeo da farinha de mandioca (Fig 3) eacute uma 95

das atividades agriacutecolas mais importantes tanto pelo seu papel na dieta alimentar quanto pela 96

importacircncia social e econocircmica 97

Caracteriacutesticas das comunidades do estudo 98

A comunidade do Caratildeo localiza-se sob domiacutenio de Caatinga caracterizado por climas 99

quentes e secos com regimes escassos de chuvas correspondente ao tipo BSrsquoh segundo a 100

4 Eacute o cultivo praticado sem irrigaccedilatildeo em regiotildees onde a pluviosidade eacute diminuta

30

classificaccedilatildeo climaacutetica de Koumlppen A vegetaccedilatildeo eacute composto por espeacutecies perenes que 101

conseguem sobreviver mesmo em periacuteodos de seca e espeacutecies anuais que aparecem apenas em 102

periacuteodos com chuva (Cruz et al 2013) 103

De acordo os dados de precipitaccedilatildeo do Laboratoacuterio de Anaacutelise e Processamento de 104

Imagens de Sateacutelites (LAPIS) no ano de 2012 foi registrada a menor meacutedia anual de 105

precipitaccedilatildeo dos uacuteltimos 10 anos para essa regiatildeo (3784 mm) Essa realidade ambiental quando 106

comparada com estudo realizado por de Sieber e colaboradores (2011) na mesma comunidade 107

observa-se que houve uma diminuiccedilatildeo considerada das praacuteticas agriacutecolas realizadas pelos 108

membros da comunidade culminando em uma seacuterie de prejuiacutezos aos agricultores como a perda 109

de plantaccedilotildees e animais Essa perda de produtividade afetou a estrutura econocircmica da 110

comunidade uma vez que a principal fonte de subsistecircncia das famiacutelias eacute a agricultura 111

Associada as atividades agriacutecolas os moradores complementam a dieta e a renda 112

familiar com a venda dos excedentes da produccedilatildeo em feiras-livres ou centros comerciais da 113

regiatildeo (Cruz et al 2013) E com a pecuaacuteria de pequena escala bovina caprina e com avicultura 114

No entanto a diminuiccedilatildeo da forragem natural e cultivada causada pela escassez de chuvas 115

associada aos elevados custos envolvidos na compra de raccedilatildeo levou muitos animais agrave morte 116

(Fig 4) 117

No Municiacutepio de Altinho a comunidade do Caratildeo foi inicialmente escolhida devido ao 118

reconhecimento preacutevio do registro de agricultores realizado em estudos desenvolvidos pelo 119

nosso grupo de pesquisa facilitando assim o acesso agraves informaccedilotildees necessaacuterias para o 120

desenvolvimento da pesquisa 121

As comunidades Aracuatilde Brejo Velho Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima 122

Lajedo Dandas e Satildeo Joseacute do Bola amostradas no estudo pertencem ao Municiacutepio de Panelas 123

que se limita ao Norte com o Municiacutepio de Altinho Essas comunidades estatildeo localizadas em 124

31

no domiacutenio morfoclimaacutetico de Caatinga O clima eacute do tipo semiaacuterido Bsrsquoh segundo a 125

classificaccedilatildeo climaacutetica de Koumleppen 126

A maior parte dos membros dessas comunidades assim como no Caratildeo tecircm como 127

principal fonte de subsistecircncia a agricultura de sequeiro principalmente o cultivo da mandioca 128

(Fig 5) Como renda extra a pecuaacuteria de pequeno porte com criaccedilatildeo bovina caprina e 129

avicultura sendo os excedentes dos alimentos produzidos vendidos em feiras locais ou para 130

escolas 131

As atividades agriacutecolas entre as comunidades tambeacutem foram duramente afetadas pela 132

seca na regiatildeo nos uacuteltimos anos A escassez de chuvas desestimulou o plantio a produccedilatildeo de 133

mandioca foi fortemente comprometida e a colheita foi adiada devido ao subdesenvolvimento 134

das raiacutezes gerando impactos econocircmicos para os membros das comunidades 135

As comunidades amostradas neste muniacutecipio foram escolhidas em funccedilatildeo das 136

indicaccedilotildees dos agricultores entrevistados a princiacutepio na comunidade do Caratildeo que reportaram 137

manter viacutenculos sociais com os agricultores do municiacutepio vizinho 138

Coleta de dados 139

Acessamos as comunidades com a ajuda de um liacuteder comunitaacuterio (Alexandre O 140

Nascimento) em companhia de outros pesquisadores que desenvolviam pesquisas na regiatildeo 141

Previamente as entrevistas todos objetivos e procedimentos para a realizaccedilatildeo da pesquisa foram 142

apresentados aos entrevistados e todos que aceitaram participar foram convidados a assinar um 143

Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) de acordo com a Resoluccedilatildeo 46612 do 144

Conselho Nacional de Sauacutede concordando com a realizaccedilatildeo das entrevistas e avaliaccedilotildees 145

morfoloacutegicas em campo O presente trabalho foi submetido ao Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa da 146

Universidade de Pernambuco (UPE) 147

32

Em todas as comunidades o meacutetodo de acesso ao informante foi o mesmo a partir do 148

primeiro contato com um informante-chave identificamos outros potenciais agricultores 149

seguindo a teacutecnica de ldquobola de neverdquo (Albuquerque et al 2014a) Esse meacutetodo consistiu na 150

amostragem intencional dos participantes e nesse particular os agricultores chefes de famiacutelia 151

(ge 18 anos) da regiatildeo que declararam cultivar mandioca (M esculenta) em suas roccedilas 152

Reunimos informaccedilotildees socioeconocircmicas desses agricultores tais como nome idade gecircnero 153

escolaridade renda experiecircncia na agricultura e tamanho da aacuterea de cultivo para tentar 154

identificar se esses paracircmetros socioeconocircmicos tecircm uma relaccedilatildeo com a agrobiodiversidade 155

local 156

Em seguida conduzimos entrevistas semiestruturadas (Albuquerque et al 2014b) com 157

o objetivo de caracterizar o modo de vida dos agricultores o manejo da agricultura bem como 158

obter dados sobre o conhecimento uso e caracterizaccedilatildeo das etnovariedades de mandioca 159

5cultivadas Aleacutem disso neste momento tambeacutem aplicamos a teacutecnica da lista livre 160

(Albuquerque et al 2014b) a fim de registrar as variedades de mandioca atualmente cultivadas 161

pelos agricultores e identificar as de maior importacircncia local Apoacutes as entrevistas realizamos 162

visitas aos roccedilados para o registro fotograacutefico georreferenciamento das roccedilas e caracterizaccedilatildeo 163

morfoloacutegica das variedades cultivadas 164

Entrevistamos 50 agricultores no total distribuiacutedos nas sete comunidades Caratildeo (3) 165

Satildeo Joseacute do Bola (10) Brejo velho (7) Japaranduba de Baixo (7) Japaranduba de Cima (8) 166

Lajedo Dantas (9) e Aracuatilde (6) Destes 10 satildeo mulheres e 40 homens com idade variando entre 167

31 e 82 anos A maioria dos entrevistados natildeo apresentava instruccedilatildeo formal (46) mais da 168

metade eram aposentados (56) e os demais apresentaram renda inferior a um salaacuterio miacutenimo 169

5 Entende-se por etnovariedade de mandioca o conjunto de variedades intraespeciacuteficas de mandioca (M esculenta)

reconhecidas pelos agricultores por nomenclatura popular local (Peroni 2004)

33

O tempo meacutedio de experiecircncia na agricultura foi de 40 anos Cada agricultor possui entre um e 170

dois roccedilados (aacuterea de plantio) com aproximadamente um a dois hectares 171

Redes de interaccedilatildeo social 172

Confeccionamos a rede que descreve as interaccedilotildees entre os agricultores e as 173

etnovariedades cultivadas a partir de uma matriz de incidecircncia R (presenccedilaausecircncia) onde nas 174

linhas estavam as etnovariedades de mandioca cultivadas (j) e nas colunas os agricultores locais 175

(i) O elemento Rij dessa matriz foi 1 (um) no caso de a etnovariedade j ser cultivada pelo 176

agricultor i caso contraacuterio seria atribuiacutedo 0 (zero) As interaccedilotildees entre os agricultores e as 177

etnovariedades foram descritas em dois modos (Pires et al 2011) onde os ldquonoacutesrdquo da esquerda 178

representam os agricultores que foram vinculados aos ldquonoacutesrdquo da direita representados pelas 179

etnovariedades citadas durante as entrevistas Esses ldquonoacutesrdquo seriam o espelho das decisotildees dos 180

agricultores em manter um determinado conjunto local de etnovariedades em suas roccedilas 181

Avaliamos a estrutura da rede que conecta os agricultores agraves etnovariedades cultivadas 182

a partir de trecircs cenaacuterios hipoteacuteticos (Fig 6) segundo Cachevia et al (2014) No primeiro se os 183

agricultores apresentassem diferentes graus de seletividade para a utilizaccedilatildeo de suas 184

etnovariedades a estrutura seria aninhada (Fig 6a) Isso significa que alguns agricultores 185

cultivam vaacuterias etnovariedades enquanto que outros cultivam o subconjunto mais 186

disponiacutevelcomum dessas etnovariedades Em segundo lugar se a rede apresentasse uma 187

estrutura modular (Fig 6b) significaria que os agricultores apresentam semelhanccedila na seleccedilatildeo 188

do recurso ou seja subgrupos de agricultores cultivam subgrupos distintos de etnovariedades 189

regionalmente disponiacuteveiscomuns E o terceiro se os agricultores natildeo apresentassem 190

preferecircncias quanto a seleccedilatildeo das etnovariedades entatildeo a rede apresentaria uma estrutura 191

aleatoacuteria (Fig 6c) 192

O objetivo da anaacutelise de rede nesse estudo foi tentar entender se o conjunto de 193

etnovariedades presentes no local do estudo constituem uma subamostra de um conjunto mais 194

34

amplo no caso de um alto grau de aninhamento ou se a sua composiccedilatildeo eacute determinada por 195

variaacuteveis locais (Ulrich 2008) Onde as conexotildees entre os informantes e as etnovariedades 196

representam as decisotildees dos agricultores de manter um conjunto determinado de variedades de 197

mandioca dentre as comunidades Esta anaacutelise tambeacutem nos permitiu identificar quais os nuacutecleos 198

de etnovariedades que apresentam maior conexatildeo com os diferentes perfis dos agricultores 199

Diversidade fenotiacutepica 200

Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 201

Apoacutes as entrevistas buscamos identificar quais os caracteres morfoloacutegicos considerados 202

mais importantes para a diferenciaccedilatildeo das etnovariedades de mandioca a partir do seguinte 203

questionamento ldquoQuais as diferenccedilas que vocecirc reconhece para separar uma qualidade de 204

mandioca (variedade) de uma outrardquo Assim os agricultores mencionaram quais os criteacuterios 205

mais importantes utilizados para a caracterizaccedilatildeo de suas etnovariedades 206

Compilamos uma listagem dessas caracteriacutesticas baseada nas indicaccedilotildees dos 207

agricultores e a partir delas selecionamos os caracteres morfoloacutegicos mais citados para a 208

caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica ldquoin siturdquo tais como cor da folha (cor da folha desenvolvida) olho 209

(cor do broto foliar) cor do talo (cor do peciacuteolo) maniva (cor externa do caule) embriatildeo 210

(protuberacircncia da cicatriz foliar) cor da entrecasca (coacutertex da raiz) e cor miolo (polpa da raiz) 211

(Tabela 1) O objetivo dessa caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica foi indicar como estaacute distribuiacuteda a 212

variaccedilatildeo fenotiacutepica das etnovariedades de mandioca nas comunidades na regiatildeo semiaacuterida de 213

Pernambuco bem como identificar que caracteriacutesticas satildeo mais importantes para distinguir 214

esses grupos no intuito de tentar entender como os agricultores classificam suas variedades de 215

mandioca 216

Nas sete comunidades para cada etnovariedade citada no roccedilado caracterizamos ldquoin 217

siturdquo trecircs indiviacuteduos de M esculentade de cada uma totalizando 171 indiviacuteduos (Aracuatilde=11 218

35

Caratildeo=4 Satildeo Joseacute do Bola=13 Brejo Velho=16 Japaranduba de Baixo=6 Japaranduba de 219

Cima=3 e Lajedo Dantas=4) Fotografamos e avaliamos todos os indiviacuteduos com base em parte 220

dos descritores morfoloacutegicos seguindo recomendaccedilotildees de Fukuda amp Guevara (1998) e aleacutem 221

disso georreferenciamos todas as aacutereas de roccedila 222

Anaacutelise dos dados 223

Analisamos os dados socioeconocircmicos das entrevistas semiestruturadas por meio de 224

estatiacutestica descritiva para explicar os aspectos da realidade econocircmica e social dos agricultores 225

Para identificar se a diversidade intraespeciacutefica da mandioca cultivada localmente eacute 226

influenciada por paracircmetros socioeconocircmicos utilizamos o coeficiente de correlaccedilatildeo de 227

Spearman (Ple005) (Sokal amp Rohlf 1995) 228

Com base na lista livre das variedades de mandioca cultivadas pelos agricultores 229

calculamos a frequecircncia de citaccedilatildeo o ranking e o iacutendice de saliecircncia com o objetivo de 230

identificar quais as mais importantes ou preferidas para as comunidades O iacutendice de saliecircncia 231

considerou a frequecircncia de citaccedilatildeo e o ranking referente ao posicionamento das variedades 232

dentro das listas livres (Thompson amp Juan 2006) As etnovariedades mais citadas e com maior 233

valor de saliecircncia representam as de maior importacircncia ou preferecircncia para as comunidades 234

Anaacutelise de rede 235

Medimos o grau de aninhamento (NODF) para investigar a estrutura de rede de 236

interaccedilatildeo social dos agricultores em funccedilatildeo das variedades cultivadas As matrizes altamente 237

aninhadas apresentam NODF tendendo a 1 caso contraacuterio tentem a ser 0 238

Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 239

Para o estudo das semelhanccedilas e diferenccedilas fenotiacutepicas entre as variedades de mandioca 240

ldquoin siturdquo realizamos anaacutelises multivariadas para identificar possiacuteveis grupos de variedades que 241

compartilham semelhanccedilas entre si 242

36

A anaacutelise de correspondecircncia muacuteltipla (MCA) permitiu identificar como as variedades 243

de mandioca estatildeo ordenadas em funccedilatildeo dos seus descritores etnobotacircnicos As etnovariedades 244

foram plotadas ao longo um plano cartesiano bi ou tridimensional onde a variaccedilatildeo total eacute 245

explicada pelos dois primeiros eixos Complementar a esta anaacutelise realizamos a anaacutelise de 246

agrupamento hieraacuterquico (Cluster) para identificar como estatildeo agrupadas as etnovariedades de 247

acordo seus descritores Conferimos a consistecircncia do dendrograma com coeficiente de 248

correlaccedilatildeo cofeneacutetica conforme Sneath amp Sokal (1973) que quantifica se a correlaccedilatildeo entre a 249

matriz de distacircncias originais e a matriz de distacircncias cofeneacuteticas eacute representativa Para 250

mensurar as dissimilaridades entre as variedades de mandioca foi utilizada a distacircncia 251

euclidiana e com o meacutetodo de Ward 252

Softwares utilizados 253

Para a anaacutelise da lista livre usamos o software ANTROPAC versatildeo 10 O software 254

ANINHADO 30 (Guimaratildees amp Guimaratildees 2006) foi usado para medir o grau de aninhamento 255

da rede Utilizamos o software estatiacutestico R (R core team 2017) para a anaacutelise de correlaccedilatildeo 256

de Spearman com o pacote corrplot (Wei amp Simko 2013) o desenho da rede que descreve a 257

interaccedilatildeo entre os agricultores e as etnovariedades com o pacote bipartite (Dormann et al 258

2017) E com os pacotes FactoMineR (LEcirc et al 2008) factoextra (Kassambara et al 2016) e 259

vegan (Oksanen et al 2017) foram realizadas as anaacutelises de cluster de correspondecircncia 260

muacuteltipla (MCA) e de correlaccedilatildeo coefeneacutetica respectivamente 261

Resultados 262

As diferentes etnovariedades de mandioca encontradas no estudo suprem a demanda 263

local por alimento enquanto outras atendem agraves preferecircncias individuais ou do comeacutercio As 264

variedades que possuem maior rendimento e a farinha produzida apresenta coloraccedilatildeo branca 265

satildeo as de maior valor comercial para os agricultores devido agraves preferecircncias do mercado Jaacute 266

37

outras variedades que satildeo mais moles e apresentam coloraccedilatildeo amarelada natildeo satildeo empregadas 267

na produccedilatildeo de farinha mas sim consumidas cozidas ou assadas A depender da demanda local 268

os agricultores intencionalmente aumentam ou diminuem a frequecircncia de suas variedades nos 269

roccedilados seja por alguma exigecircncia do comeacutercio ou para consumo familiar 270

Nas comunidades os agricultores separam suas variedades de mandioca em dois grupos 271

como observado em outras comunidades na mata Atlacircntica por Emperaire e Peroni (2007) o 272

das ldquomacaxeirasrdquo que satildeo as variedades exploradas basicamente para o consumo familiar sem 273

processo preacutevio de desintoxicaccedilatildeo cujas raiacutezes satildeo consumidas fritas eou cozidas Sendo 274

utilizadas tambeacutem como complemento na dieta dos animais E o grupo das ldquomandiocasrdquo que 275

satildeo as variedades que necessitam de processo preacutevio de desintoxicaccedilatildeo para o consumo 276

utilizadas comumente para a produccedilatildeo de farinha de mandioca Para os agricultores as 277

ldquomandiocasrdquo possuem maior valor comercial pois apresentam maior rendimento e 278

rentabilidade pois a farinha produzida eacute branca e atende as preferencias do comercio local 279

Aleacutem da farinha outros produtos e subprodutos produzidos dentre os quais foram citados 280

ldquotapioca ou gomardquo ldquobijurdquo ou ldquobolo de mandiocardquo satildeo utilizados para o consumo proacuteprio ou 281

eventual comercializaccedilatildeo 282

Os informantes natildeo possuiacuteam conhecimento sobre a origem dos nomes das variedades 283

de mandioca Quanto a compreensatildeo da geraccedilatildeo da diversidade intraespeciacutefica identificamos 284

que apesar de 66 dos agricultores citarem que conhecem variedades fruto de germinaccedilatildeo de 285

suas sementes nenhum deles utiliza as manivas para o plantio por essas variedades de 286

mandioca ldquovoluntaacuteriasrdquo natildeo apresentarem bom rendimento 287

Observamos que existe uma baixa correlaccedilatildeo entre a diversidade de variedades 288

atualmente cultivadas e as variaacuteveis socioeconocircmicas como no caso do nuacutemero de roccedilados 289

(r=028 Ple005) e do tamanho do roccedilado (r=033 Ple005) (Fig 7) Essa baixa correlaccedilatildeo pode 290

38

ser explicada pelo fato de existirem grupos de agricultores que preferem manter as variedades 291

de maior valor econocircmico e de subsistecircncia mesmo com aacutereas maiores de cultivo 292

Verificamos tambeacutem uma correlaccedilatildeo positiva moderada entre o nuacutemero de variedades 293

conhecidas com o nuacutemero de variedades atualmente cultivadas (r=054 Ple005) Na lista livre 294

foram identificadas 22 etnovariedades de mandioca cultivadas (132 citaccedilotildees no total) sendo 295

oito dessas mais citadas com maiores valores de saliecircncia (entre 047 e 0082) (Tabela 2) As 296

etnovariedades ldquoMacaxeira Rosardquo e ldquoMandioca Isabel de Souzardquo exibiram os maiores valores 297

de saliecircncia 047 e 037 respectivamente Logo essas variedades satildeo as mais conhecidas 298

dentro das comunidades com 66 e 48 das citaccedilotildees respectivamente 299

Dentre as etnovariedades citadas 12 foram idiossincraacuteticas pois apresentaram menor 300

frequecircncia de citaccedilatildeo e menores valores de saliecircncia (entre 0032 e 0006) (Tabela 2) 301

Redes de interaccedilatildeo social 302

A rede apresentou uma estrutura aninhada com grau de aninhamento significativamente 303

superior aos modelos nulos (N=3072 Plt0001) para as comunidades sendo um nuacutecleo de 304

etnovariedades altamente conectado aos agricultores (Fig 8) A estrutura aninhada nos permite 305

inferir que existe um grupo de agricultores que cultiva uma maior diversidade de etnovariedades 306

de mandioca em suas roccedilas enquanto que outro subgrupo que tem menor diversidade cultivam 307

as mais comuns ou disponiacuteveis (Cavechia et al 2014) Isso significa que os agricultores locais 308

mesmo em diferentes comunidades cultivam um nuacutecleo de etnovariedades comum entre eles 309

(n=6 Tabela 2) 310

Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 311

Observamos que a maioria dos indiviacuteduos de mandioca satildeo caracterizados por meio de 312

um conjunto de sete caracteres morfoloacutegicos os quais foram citados pelos agricultores como 313

mais importantes para a caracterizaccedilatildeo de suas variedades Nas visitas aos roccedilados registramos 314

39

as etnovariedades atualmente cultivadas e a tabela 3 fornece a lista completa com as 17 315

etnovariedades de mandioca e o local de registro 316

Por meio da anaacutelise de correspondecircncia muacuteltipla as variedades de mandioca foram 317

ordenadas em funccedilatildeo de seus descritores ao longo do primeiro e segundo eixo correspondentes 318

a 3680 da variacircncia total (Fig 9) 319

As variaacuteveis mais correlacionadas e que agruparam as variedades de mandioca no 320

primeiro eixo foram cor da folha desenvolvida (CFD) (r= 07239 Ple0001) cor do coacutertex da 321

raiz (CDR) (r= 06473 Ple0001) cor do broto foliar (CBF) (r= 06880 Ple0001) cor do peciacuteolo 322

(CDP) (r= 05250 Ple005) cor externa do caule (CEC) (r= 06883 Ple005) cor da polpa da 323

raiz (PDR) (r= 02473 Ple005) Para o segundo eixo as variaacuteveis correlacionadas foram cor 324

da folha desenvolvida (CFD) (r= 07220 Ple0001) cor externa do caule (CEC) (r= 08718 325

Ple0001) e cor do peciacuteolo (CDP) (r= 06927 Ple005) 326

O agrupamento de todas as variedades caracterizadas ldquoin siturdquo gerou uma aacutervore 327

hieraacuterquica (dendrograma) (Fig 9) utilizando a distacircncia euclidiana seguindo o criteacuterio de 328

Ward O dendrograma gerado apresentou um coeficiente de correlaccedilatildeo cofeneacutetica r= 06780 329

indicando que existe consistecircncia com os dados originais no agrupamento quanto agrave 330

classificaccedilatildeo e estrutura de tal forma que as variedades foram agrupadas em oito classes as 331

quais foram explicadas pelas variaacuteveis mais significativas descritas na tabela 4 332

O resultado do agrupamento (utilizada a distacircncia euclidiana e com o meacutetodo de Ward) 333

observamos que as etnovariedades de mandioca caracterizadas ldquoin siturdquo foram agrupadas em 334

dois grandes agrupamentos indicados na Fig 10 pelos retacircngulos em vermelho A partir dessa 335

anaacutelise percebemos que os caracteres morfoloacutegicos selecionados pelos agricultores natildeo foram 336

suficientes para separar as variedades de macaxeira e mandioca pois em ambos os 337

agrupamentos encontramos tanto macaxeiras quanto mandiocas 338

40

As variedades da classe 1 foram identificadas pelos agricultores pela cor do peciacuteolo 339

(CDP) verde A classe 2 agrupou as etnoveriedades caracterizadas pela protuberacircncia da cicatriz 340

foliar (PCF) mais protuberante Esse descritor segundo os agricultores era identificado como 341

ldquoembriatildeordquo A classe 3 consiste apenas da variedade ldquoMandioca Pretonardquo indicada pela presenccedila 342

de cor do peciacuteolo (CDP) vermelho A classe 4 agrupou trecircs variedades caracterizadas pelos 343

agricultores pela presenccedila de cor coacutertex da raiz (CDR) rosa e cor da polpa da raiacutez (PDR) branca 344

identificadas como ldquoMacaxeira vermelhardquo ldquoMacaxeira Rosa Brancardquo ldquoMacaxeira Rosardquo As 345

variedades agrupadas na classe 5 foras as variedades de mandioca caracterizadas pelos 346

agricultores por apresentarem cor do coacutertex (CDR) da raiacutez branca A classe 6 agrupou 347

variedades identificadas pelos agricultores pela cor do broto foliar (CBF) verde A classe 7 348

consiste apenas da variedade ldquoMacaxeira Sementerdquo identificada pelos agricultores pela cor do 349

peciacuteolo (CDP) roxo e protuberacircncia da cicatriz foliar pouco proeminente Essa variedade 350

segundo os agricultores era fruto do nascimento espontacircneo no roccedilado poreacutem eles geralmente 351

natildeo utilizam essas variedades por apresentarem apenas uma raiz pequena e de baixo 352

rendimento Na classe 8 as variedades foram identificadas pelos agricultores pela cor do peciacuteolo 353

(CDP) verde amarelado e protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) pouco proeminente As 354

ldquoMandioca Isabel de Souzardquo ldquoMandioca Isabel trecircs galhosrdquo segundo os agricultores se 355

diferenciavam pelo maior nuacutemero de caules presentes na variedade ldquoIsabel trecircs galhosrdquo 356

Discussatildeo 357

As sete comunidades estudadas manejavam um nuacutemero consideraacutevel de variedades 358

locais A quantidade de etnovariedades registradas eacute proacutexima a encontrada por Bender et al 359

(2009) e Cavechia et al (2014) em comunidades na regiatildeo sul e sudeste por Oler e Amorozo 360

(2017) em uma comunidade tradicional na regiatildeo centro-oeste Poreacutem foi quantitativamente 361

inferior quando comparada a estudos como os de Elias et al (2001) e Kawa et al (2013) em 362

comunidades na regiatildeo amazocircnica pois possuiacuteam uma alta diversidade Essa alta diversidade 363

41

na regiatildeo amazocircnica pode estar relacionada com o fato de que essa regiatildeo eacute o provaacutevel centro 364

de origem da mandioca (M esculenta) (Allem 1994) 365

As etnovariedades registradas neste estudo estatildeo disponiacuteveis para a maioria dos 366

agricultores dessa regiatildeo e esse fator favorece a circulaccedilatildeo das etnovariedades entre as 367

comunidades locais Por isso haacute semelhanccedilas das etnovariedades utilizadas entre os agricultores 368

da mesma comunidade e entre comunidades vizinhas 369

Parte dos agricultores optam por manter uma alta frequecircncia de variedades mais 370

utilizadas enquanto que outros optam por manter etnovariedades de baixa frequecircncia 371

Conforme discutido por Amorozo (2013) os agricultores escolhem seu acervo de acordo com 372

as necessidades e contexto em que vivem A reduccedilatildeo da diversidade de etnoveriedades por 373

exemplo pode ser impulsionada por fatores que simplificam o sistema como a seleccedilatildeo de 374

etnovariedades para a produccedilatildeo de farinha resultando no cultivo de poucas ou ateacute de uma uacutenica 375

etnovariedade (Peroni amp Hanazaki 2002) mesmo em aacutereas maiores 376

377

Redes de interaccedilatildeo social 378

Com as anaacutelises de rede demonstramos que os agricultores de diferentes comunidades 379

em uma mesma regiatildeo efetivamente trocam variedades de mandioca entre si corroborando 380

com estudos realizados por Emperaire amp Eloy (2008) Pautasso et al (2012) e Cavechia et al 381

(2014) Nesses estudos os autores tambeacutem consideram que as trocas de etnovariedades por 382

meio da rede de intercacircmbio entre os agricultores eacute um mecanismo fundamental para a 383

manutenccedilatildeo da diversidade local 384

A visualizaccedilatildeo da rede demonstrou que entre as comunidades os agricultores 385

compartilham um nuacutecleo de etnovariedades mais utilizadas dentre as quais estatildeo as de maior 386

valor econocircmico e de subsistecircncia Essas de maior frequecircncia satildeo aquelas altamente produtivas 387

utilizadas pelos agricultores para atenderem agraves demandas de mercado por farinha e para o 388

consumo proacuteprio (Kawa et al 2013) 389

42

No entanto observamos que existe outro nuacutecleo de etnovariedades menos frequentes 390

Essas etnovariedades raras podem ser resultantes do processo de experimentaccedilatildeo ou 391

preferecircncias individuais dos agricultores Outra possiacutevel razatildeo para a baixa frequecircncia de 392

algumas etnovariedades poderia ser explicada pela variaccedilatildeo da nomenclatura pelos 393

agricultores que segundo Peroni amp Hanazaki (2002) pode ocorrer durante o processo de troca 394

e introduccedilatildeo de novas variedades aos roccedilados Ainda assim natildeo descartamos a hipoacutetese de que 395

essas etnovariedades raras possam ser provenientes do cruzamento entre variedades diferentes 396

cultivadas da mesma roccedilado ou em roccedilas vizinhas De acordo com Martins (2005) essas 397

variedades fruto de germinaccedilatildeo expentacircnea satildeo incorporadas aos roccedilados pelos agricultores 398

pela curiosidade em experimentar novas variedades agraves suas coleccedilotildees 399

Nesse estudo admitimos que optar por etnovariedades raras entre as comunidades 400

estudadas eacute um comportamento adotado por agricultores que manejam uma maior diversidade 401

corroborando com os estudos de Cavechia et al (2014) e Emperaire et al (2016) em regiotildees 402

uacutemidas Para esses autores etnovaridedades de baixa frequecircncia representam um subconjunto 403

das de alta frequecircncia cultivadas por agricultores que manteacutem a maior diversidade em seus 404

roccedilados Sendo assim inferimos que no geral entre as comunidades satildeo os agricultores 405

generalistas aqueles que cultivam maior diversidade os responsaacuteveis por incorporar novas 406

etnovariedades aos roccedilados 407

As decisotildees dos agricultores em manter o acervo direcionado principalmente para 408

atender a demanda de mercado por exemplo podem levar a uma homogeneizaccedilatildeo nas roccedilas 409

colocando em risco a manutenccedilatildeo da diversidade local (Peroni amp Hanazaki 2002) Como 410

discutido por Elias et al (2000) os agricultores que selecionam apenas um nuacutemero reduzido e 411

especiacutefico de variedades mais produtivas tendem a fazer com que as variedades menos 412

frequentes desapareccedilam ao longo do tempo Essa tendecircndia pode influenciar na capacidade de 413

43

resiliecircncia do sistema assim como dos agricultores em lidar com possiacuteveis adversidades 414

ambientais que possam ocorrer 415

Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 416

No geral os agricultores demonstraram uma tendecircncia em classificarseparar suas 417

diferentes etnovariedades de mandioca a partir da combinaccedilatildeo de um conjunto de sete 418

caracteres morfoloacutegicos distintos e de faacutecil percepccedilatildeo os quais natildeo tem relaccedilatildeo com o uso 419

como por exemplo a cores das raiacutezes caule e folhas Logo consideramos que esses caracteres 420

morfoloacutegicos podem ser considerados como uma forma de classificaccedilatildeo pelos agricultores 421

baseada na capacidade percepccedilatildeo das diferenccedilas morfoloacutegicas que cada etnovariedades 422

apresenta (Boster 1985) Estes resultados nos levam a entender que entre os agricultores o 423

conhecimento sobre a diversidade da mandioca estaacute relacionado ao conhecimento de 424

caracteriacutesticas morfoloacutegicas consistentes 425

A existecircncia de alguns fenoacutetipos comuns nos permitiu avaliar a classificaccedilatildeo da 426

consistecircncia da taxonomia popular entre os agricultores Por exemplo as etnovariedades 427

ldquoMaxaceira Rosardquo e ldquoMacaxeira Rosa Brancardquo e ldquoMacaxeira vermelhardquo foram agrupadas no 428

mesmo cluster (C4) por apresentaram fenoacutetipos semelhantes Notamos que os agricultores 429

classificaram essas variedades de acordo com os traccedilos morfoloacutegicos mais relevantes como a 430

cor do coacutertex da raiz rosa e cor branca da polpa O mesmo ocorreu com as etnovariedades 431

ldquoMandioca varudardquo ldquoMandioca campina da granderdquo e ldquoMandioca campinardquo caracterizadas 432

pela presenccedila do peciacuteolo verde agrupadas no cluster (C1) 433

A partir dessas evidecircncias consideramos a hipoacutetese de que as variedades mesmo 434

apresentando caracteriacutesticas morfoloacutegicas muito semelhantes estatildeo sujeitas a variaccedilatildeo 435

nomenclatural durante o processo a incorporaccedilatildeo aos roccedilados pelos agricultores pois a 436

capacidade para distinguir e nomear variedades entre os agricultores da mesma regiatildeo pode 437

variar (Sambatti et al 2001 Elias et al 2001 Mekbib 2007) Consideramos tambeacutem que pode 438

44

existir variaccedilatildeo geneacutetica entre os indiviacuteduos identificados por um mesmo nome ou entatildeo que 439

os agricultores datildeo o mesmo nome para variedades diferentes E esta situaccedilatildeo pode levar a uma 440

superestimaccedilatildeo ou subestimaccedilatildeo da diversidade de mandioca cultiva nas aacutereas de estudo 441

Sabemos que a mandioca eacute propagada vegetativamente pelos agricultores por meio de 442

estacas em sistemas de agricultura tradicional No entanto alguns variedades produzem flores 443

e sementes que germinam e podem originar outras variedades ou outros clones por meio de 444

fecundaccedilatildeo cruzada (Elias et al 2001) Nesse contexto a etnovariedade ldquoMacaxeira Sementerdquo 445

presente no cluster (C7) trata-se de um uacutenico indiviacuteduo amostrado em uma roccedila de um dos 446

agricultores Esta apresentava algumas caracteriacutesticas morfoloacutegicas distintas das demais 447

reconhecidas pelo agricultor como por exemplo a produccedilatildeo de uma raiz uacutenica e 448

consequentemente de baixo rendimento Encontramos apenas um indiviacuteduo dessa 449

etnovariedade e nossa hipoacutetese de que esta poderia ter sido originada da germinaccedilatildeo da 450

semente mesmo quando 100 dos informantes declararam natildeo dar qualquer importacircncia e 451

descartar essas ldquovariedades-voluntaacuteriasrdquo foi confirmada pelo agricultor que afirmou que se 452

tratava de uma variedade nascida da germinaccedilatildeo da semente Esse comportamento vai de 453

encontro ao estudo de Fraser et al (2012) pois apesar dos agricultores reportarem nas 454

entrevistas que conhecem essas ldquovariedades-voluntaacuteriasrdquo nenhum agricultor faz o uso delas 455

Peroni et al (1999) e Agre et al (2016) analisando morfologicamente as variedades 456

locais de mandioca mantidas por agricultores em sistemas agriacutecolas tropicais tambeacutem 457

demonstraram que os agricultores satildeo coerentes quanto a separaccedilatildeo e identificaccedilatildeo de suas 458

etnovariedades a partir da formaccedilatildeo de grupos de coesos quanto a nomenclatura local utilizada 459

No entanto para o melhor entendimento dessa diversidade aleacutem da caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica 460

o uso de anaacutelises complementares como anaacutelise molecular seria importante para tentar 461

identificar se esses grupos representam a mesma variedade com nomes distintos ou se satildeo 462

variedades distintas com o mesmo nome 463

45

Conclusatildeo 464

O estudo demonstrou que no sistema de manejo da mandioca ao niacutevel de roccedila em 465

comunidades localizadas na regiatildeo semiaacuterida de Pernambuco compotildee uma diversidade 466

intrespeciacutefica de mandioca para atender agraves demandas econocircmicas e de subsistecircncia das 467

populaccedilotildees locais 468

Com relaccedilatildeo a anaacutelise de rede demostramos que haacute um nuacutecleo de etnovariedades 469

fortemente conectado aos agricultores e sua composiccedilatildeo eacute direcionada pelas preferecircncias e 470

necessidades individuais dos agricultores que foram os fatores responsaacuteveis pelo surgimento 471

da estrutura aninhada observada na anaacutelise rede entre as comunidades deste estudo E esse 472

padratildeo aninhado observado contribui na conservaccedilatildeo das etnovariedades mais comuns mas 473

tambeacutem pode resultar em perda daquelas de menor frequecircncia ao longo do tempo 474

A caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica ldquoin siturdquo nos permitiram inferir que os agricultores 475

reconhecem as diferentes caracteriacutesticas morfoloacutegicas de suas cultivares e satildeo coerentes na 476

separaccedilatildeo de suas variedades de mandioca e macaxeira Entretanto esses resultados sugerem a 477

realizaccedilatildeo de um estudo em niacutevel de diversidade geneacutetica exploratoacuterio para identificar se as 478

consistecircncias morfoloacutegicas refletem em consistecircncias geneacuteticas elucidando assim as possiacuteveis 479

confusotildees atribuiacutedas aos nomes das etnovariedades de mandioca 480

Agradecimentos 481

Agradecemos ao liacuteder comunitaacuterio Alexandre O Nascimento aos agricultores e 482

agricultoras das comunidades pela acolhida confianccedila e pela gentileza de compartilharem 483

conosco seus conhecimentos e contribuiacuterem com este estudo Especialmente a Arlindo Ferreira 484

Edgar Antocircnio Joseacute Sebastiatildeo Juvenal Oliveira e Janete Alves Ao Laboratoacuterio de Ecologia e 485

Evoluccedilatildeo de Sistemas Socioecoloacutegicos (LEA - UFPE) E agradecemos ao CNPq pelo apoio 486

com a bolsa de estudos do primeiro autor 487

46

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Qualis-CAPES 621

B1 em Biodiversidade 622

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625

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627

628

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630

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641

642

52

Figuras 643

644

645

Fig 1 Partes do processo de fabricaccedilatildeo de farinha de mandioca Onde a raspagem b e c 646

processo de trituraccedilatildeo e d peneiramento Foto registrada em Abril de 2017 por Mirela Santos 647

648

649

650

c

d

b

a

53

651

Fig 2 Mapa de localizaccedilatildeo geograacutefica dos Municiacutepios de Altinho e Panelas e das comunidades 652

estudadas na regiatildeo semiaacuterida do Estado de Pernambuco (Elaborado por SANTOS 2018) 653

54

654

655

656

657

Fig 3 Processo de fabricaccedilatildeo da farinha de mandioca Apoacutes a colheita as raiacutezes satildeo lavadas 658

raspadas e trituradas (a) A massa extraiacuteda eacute prensada e coada Ao sair da prensa a massa 659

peneirada (b) e em seguida eacute torrada (c) em fornos artesanais ou parcialmente mecanizados 660

Imagem registrada em janeiro de 2017 na Comunidade do Caratildeo por Mirela Santos 661

662

663

a

b c

55

664

Fig 4 a Sede da Comunidade do Caratildeo b Agricultor transportando a palma forrageira que eacute 665

um exemplo de estrateacutegia adaptativa para suprir a falta de alimento dos animais devido agrave seca 666

c Feira-livre que acontece na comunidade a cada quinze dias Imagem registrada em julho de 667

2016 na Comunidade do Caratildeo por Mirela Santos 668

669

670

Fig 5 a O agricultor nos explicava as mudanccedilas que vem fazendo em seus roccedilados para se 671

adaptar aos longos periacuteodos de seca b Quando o agricultor nos mostrava as diferentes 672

etnovariedades que mantinha em sua roccedila c Durante a pesquisa nos explicavam como era feita 673

a colheita da mandioca e como selecionavam as manivas para o proacuteximo plantio Foto registrada 674

em abril de 2017 na Comunidade do Brejo Velho por Mirela Santos 675

a

b c

c b

a

56 676

677

Fig 6 Possiacuteveis estruturas de rede que descrevem as interaccedilotildees dos agricultores (losango) 678

ligados as etnovariedades (ciacuterculos) que cultivam Onde a Aninhada b Modular c Aleatoacuteria 679

(Fonte Cavechia et al 2014 com adaptaccedilotildees) 680

681

682

683

684

685

686

687

688

689

690

691

692

693

694

695

696

697

a c b

57

698

699

700

701

702

703

704

705

706

707

Fig 7 Correlaccedilatildeo de Spearman entre a diversidade de etnovariedades de mandiocas conhecidas 708

como cultivadas e variedades atualmente cultivadas por agricultor e as variaacuteveis 709

socioeconocircmicas Onde Nvc= nuacutemero de citadas como cultivadas Nve= nuacutemero de variedades 710

atualmente cultivadas Esc= escolaridade Id= idade Gen= gecircnero Tr= tamanho do roccedilado 711

Exp= experiecircncia na agricultura Sld= renda Nr= nuacutemero de roccedilados Cores distintivas 712

representam correlaccedilotildees significativas (Ple005) 713

714

58

715

Fig 8 Modelo individual de rede de etnovariedades de mandioca citadas (esquerda) por 716

agricultores como cultivadas (direita) nos Municiacutepios de Altinho e Panelas As redes foram 717

desenhadas com o pacote bipartite (Dormann et al 2017) usando o software R (R CORE 718

TEAM 2017) 719

720

59

721

Fig 9 Anaacutelise de Correspondecircncia Muacuteltipla das 17 etnovariedades de mandioca considerando 722

os sete descritores morfoloacutegicos utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo em roccedilas de 723

agricultores tradicionais de sete comunidades no semiaacuterido de Pernambuco 724

725

726

727

728

729

730

731

732

733

734

735

736

737

McCambadinha

McCampina

McCampinaDaGrande

McCampinaRasteira

McCampinaVaruda

McGauba

McIsabelDeSouza

McIsabelTresGalhos

McOlhoDePombo

McOlhoVerde

McPretinha

McPretona

MxBranca

MxRosa

MxRosaBrancaMxRosaVermelha

MxSemente

CFD_Verde_Arroxeado

CFD_Verde_ClaroCFD_Verde_Escuro

CBF_Roxo

CBF_Verde_ArroxeadoCBF_Verde_Claro

CBF_Verde_Escuro

CDP_Verde

CDP_Verde_Amarelado

CDP_Verde_Avermelhado

CDP_Vermelho

CEC_Cinza

CEC_Dourado

CEC_Laranja

CEC_Marrom_Claro

CEC_Marrom_Escuro

CEC_Prateado

CEC_Verde_AmareladoCicatriz_M

Cicatriz_P

PDR_Branco

PDR_Creme

CDR_BrancoCDR_Creme CDR_Rosa

-4

-2

0

2

4

-4 -2 0 2 4

Dim1 (206)

Dim

2 (

162

)

MCA - Biplot

00

10

Hierarchical Clustering

inertia gain

McC

am

pin

aV

aru

da

McC

am

pin

aD

aG

rande

McC

am

pin

a

McG

auba

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MxR

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ente

McIsabelT

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McIsabelD

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ouza

McO

lhoD

eP

om

bo

00

05

10

15

Hierarchical Classification

Heig

ht

C1 C2 C3 C4 C5 C6 C7 C8

Fig 10 Agrupamento hieraacuterquico das 17 etnovariedades de mandioca caracterizadas de acordo

com os descritores utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo

60

Tabelas 738

739

Tabela 1 Caracteres e estados utilizados pelos agricultores como descritores botacircnicos para 740

caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das etnovariedades de mandioca 741

Caracter Sigla Estados

Folha

Cor da folha desenvolvida CFD 1- verde claro 2- verde escuro 3- verde arroxeado 4- roxo

Cor do broto foliar CBF 1- verde claro 2- verde escuro 3- verde arroxeado 4- roxo

Cor do peciacuteolo CDP 1- verde amarelado 2- verde 3- verde avermelhado 4- roxo

5- vermelho

Caule

Cor externa do caule CEC 1- laranja 2- verde amarelado 3- dourado 4- marrom claro

5- prateado 6- cinza 7- marrom escuro 8- verde

Protuberacircncia da cicatriz foliar PCF 1- pouco proeminente 2- muito proeminente

Raiacutez

Cor da poupa da raiz PDR 1- branco 2- creme

Cor do coacutertex da raiacutez CDR 1- rosa 2- branco 3- creme

742

743

744

745

746

747

748

749

750

751

61

Tabela 2 Lista das 22 etnovariedades de mandiocas citadas (132 citaccedilotildees) como cultivadas nas 752

comunidades pertencentes aos Municiacutepios de Altinho (Caratildeo n=8) e ao Municiacutepio de Panelas 753

(Aracuatilde Satildeo Joseacute do Bola Brejo Velho Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima e Lajeiro 754

Dantas n=21) 755

Etnovariedade Frequecircncia () Ranking Saliecircncia

Macaxeira Rosa 66 179 0472

Mandioca Isabel de Souza 48 179 0372

Mandioca Campina 24 217 0148

Macaxeira Branca 20 210 0134

Macaxeira Rosa branca 18 122 0168

Mandioca Pretona 16 338 0082

Mandioca Cambadinha 12 283 0071

Mandioca Isabel trecircs galhos 10 180 0075

Mandioca Gauacuteba 10 260 0070

Mandioca Pretinha 8 225 0053

Mandioca Peacute de pombo 4 400 0011

Mandioca Olho verde 4 350 0012

Macaxeira Rosinha 4 200 0027

Mandioca Campina varuda 4 200 0032

Mandioca Campina rasteira 4 300 0021

Mandioca Caboquinha 2 500 0007

Macaxeira Rasteira 2 200 0013

Macaxeira Paraacute 2 100 0020

Mandioca Barra ferro 2 300 0007

Mandioca Campina da grande 2 100 0020

Mandioca Olho de pombo 2 300 0010

Mandioca Jasmim 2 600 0006

756

757

758

62

Tabela 3 Lista de 17 etnovariedades atualmente cultivadas nos roccedilados das comunidades em 759

estudo 760

Ca Ar Bo Br Jb Jc Ld

Etnovariedade

Macaxeira Branca x x x x

Macaxeira Rosa

x x x x x x

Macaxeira Rosa Branca x x x x

Macaxeira Rosa Vermelha

x

Macaxeira Semente

x

Mandioca Cambadinha x

x

Mandioca Campina

x

x

x

Mandioca Campina da Grande x

Mandioca Campina Rasteira

x

Mandioca Campina Varuda

x

Mandioca Gauacuteba

x

Mandioca Isabel de Souza

x x x

Mandioca Isabel trecircs Galhos

x

x

Mandioca Olho de Pombo

x

Mandioca Olho Verde

x

Mandioca Pretinha

x

Mandioca Pretona x x x

Comunidades Ca= Caratildeo Ar=Aracuatilde Bo= Satildeo Joseacute do Bola Jb= Japaranduba de Baixo 761

Jc= Japaranduba de Cima Ld= Lajedo Dantas 762

763

764

765

766

767

768

63

Tabela 4 Descriccedilatildeo das classes do agrupamento por meacutetodo de Ward agrupadas pelo conjunto 769

dos descritores mais significativos para a caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das variedades de mandioca 770

Classes Descritores in situ p-valor

C1 Cor do peciacuteolo (CDP) 0016

C2 Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023

C3 Cor do peciacuteolo (CDP) 0012

C4 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0004

Cor da poupa da raiacutez (PDF) 0021

C5 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0003

C6 Cor do broto foliar (CBF) 0002

C7 Cor da folha desenvolvida (CFD) 0004

Cor externa do caule (CEC) 0040

C8 Cor do peciacuteolo (CDP) 0005

Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023

Valores de Ple005 satildeo significativos 771

772

v

Aos meus pais Maacutercia Santos e Maacutezio Santos

e aos agricultores envolvidos na pesquisa

Dedico

vi

AGRADECIMENTOS

Ao meu orientador Dr Ulysses Paulino de Albuquerque de quem recebi o acolhimento

a orientaccedilatildeo e por quem experimentei um sentimento de admiraccedilatildeo Obrigada pela paciecircncia

oportunidades e por todo o conhecimento transmitido Agradeccedilo tambeacutem ao meu coorientador

Reginaldo de Carvalho que me abriu as portas para a realizaccedilatildeo do mestrado

A minha famiacutelia minha matildee Maacutercia meu pai Maacutezio e meu irmatildeo Maacutercio pois sempre

estiveram ao meu lado me incentivando e dando todo o suporte emocional Agradeccedilo pela

doaccedilatildeo e esforccedilos para que eu consiga alcanccedilar meus objetivos Pai obrigada por ser esse

exemplo de honestidade forccedila de vontade e dedicaccedilatildeo Agradeccedilo pela paciecircncia compreensatildeo

e sacrifiacutecios de longos trajetos que tivemos que enfrentar durante nossas idas e vindas para a

Universidade Matildee obrigada pela sua feacute e por me ensinar tanto com sua natureza humilde e

bondosa

Meus mais sinceros e profundos agradecimentos a todos os agricultores e agricultoras

que participaram desta pesquisa pela acolhida e confianccedila Obrigada por generosamente me

deixarem entrar em suas casas nos seus roccedilados na intimidade suas vidas e por compartilharem

comigo um pouco de seus conhecimentos dificuldades e principalmente ESPERANCcedilAS

Especialmente a Arlindo Ferreira Edgar Antocircnio Joseacute Sebastiatildeo e Juvenal Oliveira que satildeo

verdadeiros exemplos de humildade e solidariedade A Janete Alves e seu esposo Dida que me

hospedam em sua casa e me ajudaram de vaacuterias formas durante as minhas viagens de campo

Foi uma experiecircncia memoraacutevel e cada minuto embora difiacutecil foi fundamental para minha

formaccedilatildeo pessoal e profissional

A Viniacutecius Barbosa pela cumplicidade compreensatildeo e principalmente pela paciecircncia

Agradeccedilo por Deus ter me dado a oportunidade de compartilhar momentos inesqueciacuteceis ao

lado de uma pessoa tatildeo incriacutevel

Agradeccedilo tambeacutem agraves minhas amigas Amanda Eloi Jeacutessica Arruda Rayana Lima

Rayanne Gusmatildeo pela amizade de longas datas por todo apoio e compreensatildeo quando estive

ausente em nossos encontros Ao meu amigo Bartolomeu Neto pela ajuda com o

desenvolvimento do mapa das aacutereas em estudo

Aos meus companheiros de trabalho e parcerias do Laboratoacuterio de Ecologia e Evoluccedilatildeo

de Sistemas Socioecoloacutegicos (LEA - UFPE) que estiveram comigo durante este periacuteodo de

crescimento pessoal e profissional Em especial a Andreacute Borba Ivanilda Soares Juliane Hora

Nylber Silva Regina Ceacutelia Risoneide Henriques e Roberta Caetano

vii

A Rafael Zaacuterate agradeccedilo por toda disposiccedilatildeo dedicaccedilatildeo e aprendizado adquirido

Obrigada pelas horas de discussotildees sobre os temas do trabalho pelas ajudas em campo com as

anaacutelises estatiacutesticas e pela paciecircncia

Por fim agradeccedilo ao Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo em Botacircnica da Universidade Federal

Rural de Pernambuco (UFRPE) pela oportunidade de realizaccedilatildeo do mestrado e ao Conselho

Nacional de Desenvolvimento Cientifico e Tecnoloacutegico (CNPq) pela concessatildeo da bolsa de

incentivo a pesquisa

viii

ldquoEl mundo que nos rodea es un misterio ndash dijo-

Y los hombres no son mejores que ninguna otra cosardquo

Carlos Castaneda - Viaje a Ixtlaacuten

ix

LISTA DE FIGURAS

INTRODUCcedilAtildeO GERAL E REVISAtildeO DE LITERATURA

Fig 1 Partes do processo de fabricaccedilatildeo de farinha de mandioca Onde a raspagem b e c

processo de trituraccedilatildeo e d peneiramento 52

VARIACcedilAtildeO INTRAESPECIacuteFICA CONHECIMENTO E MANEJO LOCAL DE

MANDIOCA (Manihot esculenta Crantz) NO SEMIAacuteRIDO DE PERNAMBUCO

NORDESTE DO BRASIL

Fig 2 Mapa de localizaccedilatildeo geograacutefica dos Municiacutepios de Altinho e Panelas e das comunidades

estudadas na regiatildeo semiaacuterida do Estado de Pernambuco 53

Fig 3 Processo de fabricaccedilatildeo da farinha de mandioca Apoacutes a colheita as raiacutezes satildeo lavadas

raspadas e trituradas (a) A massa extraiacuteda eacute prensada e coada Ao sair da prensa a massa

peneirada (b) e em seguida eacute torrada (c) em fornos artesanais ou parcialmente mecanizados

54

Fig 4 a Sede da Comunidade do Caratildeo b Agricultor transportando a palma forrageira que eacute

um exemplo de estrateacutegia adaptativa para suprir a falta de alimento dos animais devido agrave seca

c Feira-livre que acontece na comunidade a cada quinze dias 55

Fig 5 a O agricultor nos explicava as mudanccedilas que vem fazendo em seus roccedilados para se

adaptar aos longos periacuteodos de seca b Quando o agricultor nos mostrava as diferentes

etnovariedades que mantinha em sua roccedila c Durante a pesquisa nos explicavam como era

feita a colheita da mandioca e como selecionavam as manivas para o proacuteximo plantio 55

Fig 6 Possiacuteveis estruturas de rede que descrevem as interaccedilotildees dos agricultores (losango)

ligados as etnovariedades (ciacuterculos) que cultivam Onde a Aninhada b Modular c Aleatoacuteria

56

Fig 7 Correlaccedilatildeo de Spearman entre a diversidade de etnovariedades de mandiocas conhecidas

como cultivadas e variedades atualmente cultivadas por agricultor e as variaacuteveis

socioeconocircmicas Onde Nvc= nuacutemero de citadas como cultivadas Nve= nuacutemero de variedades

atualmente cultivadas Esc= escolaridade Id= idade Gen= gecircnero Tr= tamanho do roccedilado

Exp= experiecircncia na agricultura Sld= renda Nr= nuacutemero de roccedilados Cores distintivas

representam correlaccedilotildees significativas (Ple005) 57

Fig 8 Modelo individual de rede de etnovariedades de mandioca citadas (esquerda) por

agricultores como cultivadas (direita) nos Municiacutepios de Altinho e Panelas As redes foram

x

desenhadas com o pacote bipartite (Dormann et al 2017) usando o software R (R CORE

TEAM 2017) 58

Fig 9 Anaacutelise de Correspondecircncia Muacuteltipla das 17 etnovariedades de mandioca considerando

os sete descritores morfoloacutegicos utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo em roccedilas de

agricultores tradicionais de sete comunidades no semiaacuterido de Pernambuco 59

Fig 10 Agrupamento hieraacuterquico das 17 etnovariedades de mandioca caracterizadas de acordo

com os descritores utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo 59

xi

LISTA DE TABELAS

CAPIacuteTULO IVARIACcedilAtildeO INTRAESPECIacuteFICA CONHECIMENTO E MANEJO

LOCAL DE MANDIOCA (Manihot esculenta Crantz) NO SEMIAacuteRIDO DE

PERNAMBUCO NORDESTE DO BRASIL

Tabela 1 Caracteres e estados utilizados pelos agricultores como descritores botacircnicos para

caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das etnovariedades de mandioca 60

Tabela 2 Lista das 22 etnovariedades de mandiocas citadas (132 citaccedilotildees) como cultivadas nas

comunidades pertencentes aos Municiacutepios de Altinho (Caratildeo n=8) e ao Municiacutepio de Panelas

(Aracuatilde Satildeo Joseacute do Bola Brejo Velho Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima e Lajeiro

Dantas n=21) 61

Tabela 3 Lista de 17 etnovariedades atualmente cultivadas nos roccedilados das comunidades em

estudo 62

Tabela 4 Descriccedilatildeo das classes do agrupamento por meacutetodo de Ward agrupadas pelo conjunto

dos descritores mais significativos para a caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das variedades de mandioca

63

xii

SUMAacuteRIO

RESUMO GERAL xiii

1 Introduccedilatildeo Geral 14

2 Revisatildeo bibliograacutefica 17

21 Manihot esculenta Crantz e conhecimento local de agricultores tradicionais 17

22Manejo tradicional em roccedilas e diversidade intraespeciacutefica da mandioca 18

23 Redes sociais de troca e circulaccedilatildeo de etnovariedades de mandioca 20

3 Referecircncias bibliograacuteficas 22

VARIACcedilAtildeO INTRAESPECIacuteFICA CONHECIMENTO E MANEJO LOCAL DE

MANDIOCA (Manihot esculenta Crantz) NO SEMIAacuteRIDO DE PERNAMBUCO

NORDESTE DO BRASIL 25

Resumo 26

Introduccedilatildeo 27

Material e meacutetodos 29

Resultados 36

Discussatildeo 40

Conclusatildeo 45

Agradecimentos 45

Referecircncias bibliograacuteficas 46

ANEXOS 51

xiii

RESUMO GERAL

Agricultores de pequena escala que praticam agricultura de modo tradicional em roccedilas

desempenham um importante papel na geraccedilatildeo manutenccedilatildeo e conservaccedilatildeo da

agrobiodiversidade local Dentre as espeacutecies mais cultivadas em roccedilas a Manihot esculenta

Crantz (mandioca) em sua diversidade intrespeciacutefica eacute um dos recursos agriacutecolas de maior

importacircncia econocircmica e de subsistecircncia para diversas populaccedilotildees locais no mundo Acredita-

se que as praacuteticas de manejo dedicadas ao cultivo da mandioca associadas ao conhecimento de

agricultores resultam no aumento da diversidade intraespeciacutefica assim como na conservaccedilatildeo

dessa diversidade Diante disso a pesquisa teve como objetivo compreender os processos

envolvidos na dinacircmica da diversidade agriacutecola da mandioca por meio do acesso ao

conhecimento dos agricultores quanto as praacuteticas de menejo e entender quais fatores podem

estar relacionados a geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da diversidade local Para isso o estudo foi

desenvolvido junto a agricultores tradicionais de sete comunidades rurais localizadas na regiatildeo

semiaacuterida do estado de Pernambuco A abordagem metodoloacutegica foi baseada em entrevistas

semiestruturadas conversas com os informantes e visitas aos roccedilados para caracterizar e

compreender a importacircncia manejo da agricultura de sequeiro e das redes sociais estabelecidas

entre os agricultores bem como identificar as variedades de mandioca atualmente cultivadas

A partir do conhecimento da diversidade manejada analisamos a estrutura da rede de interaccedilatildeo

social formada pelas trocas de etnovariedades entre os agricultores A partir destas informaccedilotildees

discutimos sobre o importante papel dos agricultores na manutenccedilatildeo do conjunto de

etnovariedades regionais Um total de 22 etnovariedades foram citadas as quais satildeo

identificadas pelos agricultores principalmente por meio de sete caracteres morfoloacutegicos A

estrutura em redes de trocas de variedades favorece a manutenccedilatildeo e amplificaccedilatildeo das diferentes

variedades locais

Palavras-Chave Agricultura tradicional Agricultura de sequeiro Agrobiodiversidade

Plantas alimentiacutecias Redes sociais

xiv

ABSTRACT

Small-scale farmers who practice traditional agriculture fields have an important role in

generation maintenance and conservation of local agrobiodiversity Among the most cultivated

species the Manihot esculenta Crantz (cassava) in its intrespecific diversity is one of the

moust important agricultural resources of economic importance and livelihood for many local

people in the world It is believed that the management practices dedicated to the cultivation of

cassava associated with the knowledge of farmers result in increased intraspecific diversity

and the conservation of this diversity Therefore the research aimed to understand the processes

involved in the dynamics of agricultural diversity of cassava through access the knowledge of

farmers as the management of practices and understand what factors may be related to the

generation and maintenance of local diversity For this the study was developed with the

traditional farmers of seven rural communities located in the semiarid region of the state of

Pernambuco The methodological approach was based on semi-structured interviews

conversations with informants and visits to fields to characterize and understand the

importance of management of dry framing and social networks established between farmers

and to identify the cassava varieties currently grown From the knowledge of managed

diversity we analyze the structure of social interaction network formed by the exchange of

landraces among farmers From this information We discussed the important role of farmers

in the overall regional landraces maintenance A total of 22 landraces were cited which are

identified by farmers mainly through seven morphological characters The structure of

varieties sharing networks favors the maintenance and amplification of different local varieties

Keywords Agrobiodiversity Dry Farming Food plants Social networks Traditional

agriculture

14

1 Introduccedilatildeo Geral

Ao longo dos anos populaccedilotildees tradicionais foram adquirindo aprimorando e transmitindo

seus conhecimentos sobre o manejo dos recursos naturais existentes em suas respectivas

regiotildees e assim foram desenvolvendo teacutecnicas para se adaptar e sobreviver ao ambiente Essas

populaccedilotildees foram domesticando uma grande variedade de espeacutecies de plantas alimentiacutecias

numa agricultura de pequena escala (BALLEacute 2006 CLEMENT et al 2010)

Essa interaccedilatildeo pessoas-planta por meio do cultivo e manejo das espeacutecies vegetais vem

contribuindo para ambos com alteraccedilotildees adaptativas por meio da seleccedilatildeo artificial Essas

alteraccedilotildees resultaram em mudanccedilas na estrutura geneacutetica das espeacutecies vegetais pelo manejo da

seleccedilatildeo de caracteriacutesticas fenotiacutepicas fisioloacutegicas e econocircmicas das plantas E essa seleccedilatildeo

consciente ou inconsciente das plantas se traduz em uma grande variaccedilatildeo intraespeciacutefica nas

populaccedilotildees vegetais sob diferentes regimes de manejo (CARMONA CASAS 2005)

Por meio do cultivo agricultores em comunidades tradicionais desempenham um papel

fundamental no processo dinacircmico de geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da agrobiodiversidade local em

sistemas de roccedilas Essas roccedilas satildeo aacutereas de agricultura tradicional localizadas dentro de

comunidades caracterizadas natildeo soacute pelo grande nuacutemero espeacutecies cultivadas mas tambeacutem pela

alta diversidade intraespeciacutefica que essas espeacutecies apresentam (MARTINS 2005) Dentre as

espeacutecies comumente cultivadas nesse sistema a mandioca (Manihot esculenta Crantz

Euphorbiaceae) eacute considerada uma cultura de alto valor econocircmico nutricional utilitaacuterio

cultural e social para muitas populaccedilotildees humanas no mundo (CLEMENT et al 2010) Aleacutem

disso a mandioca apresenta uma grande diversidade intraespeciacutefica e por essas caracteriacutesticas

tornou-se uma espeacutecie-modelo para compreender como os diferentes padrotildees e estrateacutegias de

manejo adotadas pelos agricultores podem influenciar na diversidade local (ELIAS et al 2001

EMPERAIRE PERONI 2007 EMPERAIRE ELOY 2008)

Segundo PERONI amp MARTINS (2000) as diferentes praacuteticas de manejo desse

importante recurso favorecem a alta diversidade intraespeciacutefica em roccedilas de agricultura

itinerante1 Um dos fatores responsaacuteveis pela geraccedilatildeo dessa diversidade consiste na capacidade

de incorporaccedilatildeo de novos germoplasmas por meio da reproduccedilatildeo sexuada associada ao manejo

agriacutecola tradicional (PUJOL et al 2005 EMPERAIRE PERONI 2007) Apesar de propagada

1 Agricultura caracterizada por ciclos de uso e pousio como por exemplo corte e queima

15

vegetativamente pelos agricultores a mandioca (M esculenta) ainda manteacutem a sua capacidade

de reproduccedilatildeo sexual sendo este um aspecto muito importante para dinacircmica evolutiva da

cultura (PUJOL et al 2007 CLEMENT et al 2010) Apoacutes a fecundaccedilatildeo cruzada e dispersatildeo

das sementes um banco destas eacute formado no solo e as novas variedades germinam nas roccedilas

(MARTINS 2005) Antes de serem imcorporadas ao acervo essas lsquolsquovariedades-voluntaacuteriasrsquorsquo

passam por um filtro cultural ou seja seratildeo reconhecidas pelos agricultores por meio de

caracteriacutesticas morfoloacutegicas experimentadas e entatildeo selecionadas (MARTINS OLIVEIRA

2009)

Outro evento envolvido na geraccedilatildeo de diversidade intraespeciacutefica eacute incorporaccedilatildeo de

novas variedades de mandioca por meio de uma rede social de troca de material propagativo

estabelecida entre os agricultores (CAVECHIA et al 2014) Esse mecanismo permite a

circulaccedilatildeo das manivas2 tanto a niacutevel local quanto regional permite tambeacutem o acesso aos

diferentes conjuntos de variedades cultivadas entre as comunidades e ainda que o conjunto de

etnovariedades3 locais eou regionais seja conservado (EMPERAIRE ELOY 2008) Dentro

dessas redes sociais de troca as relaccedilotildees entre os agricultores atuam como mecanismo

fundamental para dispersatildeo e experimentaccedilatildeo das etnovariedades entre as roccedilas E satildeo essas

relaccedilotildees e decisotildees estabelecidas entre os agricultores que iratildeo definir quais etnovariedades

seratildeo mantidas ao longo do tempo e quais seratildeo abandonadas (LIMA et al 2012)

Sendo os agricultores e as interaccedilotildees entre eles fundamentais para o estabelecimento da

diversidade local (PINTON EMPERAIRE 2001 EMPERAIRE ELOY 2008) torna-se

pertinente entender como as diferentes estrateacutegias adotadas pelos agricultores influenciam na

dinacircmica da agrobiodiversidade local Muitos trabalhos com esse enfoque foram desenvolvidos

nas regiotildees Amazocircnica e Sudeste mas pouco se discute sobre a dinacircmica da agrobiodiversidade

em regiotildees semiaacuteridas

Nesse sentido o presente estudo visa investigar as interaccedilotildees entre agricultores

tradicionais de comunidades rurais estabelecidas na regiatildeo semiaacuterida de Pernambuco O

objetivo geral eacute compreender os processos envolvidos na dinacircmica da diversidade agriacutecola por

meio do acesso ao conhecimento dos agricultores quanto as praacuteticas de menejo e entender quais

quais fatores podem estar relacionados a geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da diversidade local Para esse

estudo a mandioca foi escolhida como modelo devida agrave sua importacircncia econocircmica e de

subsistecircncia para comunidades locais Os objetivos especiacuteficos foram (i) caracterizar o manejo

2 Satildeo pedaccedilos das hastes ou ramas da mandioca usadas para o plantio 3 Variedades intraespeciacuteficas de mandioca (M esculenta) identificadas pelos agricultores por nomenclatura

popular local (Martins 2005)

16

da agricultura de sequeiro bem como analisar se os paracircmetros socioeconocircmicos influenciam

na diversidade local (ii) registrar as etnovariedades atualmente cultivadas e identificar os

diferentes criteacuterios morfoloacutegicos utilizados pelos agricultores para a seleccedilatildeo e classificaccedilatildeo das

etnovariedades e (iii) descrever a estrutura da rede de interaccedilatildeo entre os agricultores e a

diversidade de etnovariedades de mandioca cultivadas para tentar entender como essas relaccedilotildees

podem influenciar na manutenccedilatildeo ou perda da diversidade local

a

b c

17

2 Revisatildeo bibliograacutefica

21 Manihot esculenta Crantz e conhecimento local de agricultores tradicionais

O gecircnero Manihot Miller (Euforbiaceae) possui cerca de 98 espeacutecies distribuiacutedas em 19

seccedilotildees das quais 13 delas ocorrem no Brasil (ROGERS APPAN 1973) Dentre as espeacutecies do

gecircnero Manihot esculenta Crantz (mandioca) eacute a principal cultivar uma vez que compotildee a

base da dieta alimentar de diversas populaccedilotildees rurais principalmente em regiotildees tropicais A

mandioca foi domesticada na Ameacuterica do Sul pois eacute onde se encontra o maior centro de

diversificaccedilatildeo Estudos relacionados ao entendimento de sua origem botacircnica tecircm contribuiacutedo

para a compreensatildeo das accedilotildees humanas no processo de domesticaccedilatildeo e ampliaccedilatildeo da

diversidade da espeacutecie (OLSEN SCHAAL 1999 ELIAS et al 2004 ELLEN 2012)

As diferentes variedades da espeacutecie satildeo reconhecidas em dois grandes grupos principais

o das variedades mais toacutexicas e o de variedades menos toacutexicas baseadas no potencial de

glicosiacutedeos cianogecircnicos (HCN) contido na polpa das raiacutezes (ELIAS et al 2004) Variedades

com baixa toxicidade contecircm baixas concentraccedilotildees de glicosiacutedeos cianogecircnicos (HCNlt100

mgKg-1) e satildeo conhecidas em comunidades agriacutecolas variando entre regiotildees ou grupos eacutetnicos

como ldquomacaxeirasrdquo ldquomandiocas doces ou mansasrdquo ou ldquoaipinsrdquo As variedades mais toacutexicas

com altas concentraccedilotildees de HCN (HCNgt 100 mgKg-1) satildeo reconhecidas como ldquomandiocasrdquo

ou ldquomandiocas amargas ou bravasrdquo (PERONI et al 2007 MCKEY et al 2010) E portanto

precisam passar por um processo de desintoxicaccedilatildeo para se tornarem aptas ao consumo como

por exemplo pelo processo de fabricaccedilatildeo da farinha de mandioca (Fig 1) Apesar do seu

potencial toacutexico as variedades amargas possuem teores mais elevados de amido e se adaptam

bem a solos pobres e aacutecidos aleacutem de serem mais resistentes aos patoacutegenos e pragas em

comparaccedilatildeo com as variedades doces (FRASER et al 2010)

Sob o ponto de vista botacircnico esta dicotomia natildeo eacute reconhecida mas existem alguns

trabalhos que evidenciam a relaccedilatildeo entre a coerecircncia da taxonomia popular com a diferenciaccedilatildeo

geneacutetica para separaraccedilatildeo das variedades ldquodocesrdquo e ldquoamargasrdquo (ELIAS et al 2004 PERONI

et al 2007) O conhecimento das caracteriacutesticas morfoloacutegicas das plantas e a coerecircncia na

identificaccedilatildeo dessas variedades com niacuteveis distintos de HCN eacute de grande importacircncia

adaptativa para as populaccedilotildees que gerem esse recurso sobretudo pelo risco de intoxicaccedilatildeo

(RIVAL MCKEY 2008)

18

No estudo realizado por AMOROZO (2000) por exemplo os agricultores geralmente

classificavam as variedades que tinham raiacutezes brancas como ldquobravasrdquo e aquelas que tinham

raiacutezes vermelhas como ldquomansasrdquo embora eles reconhecessem algumas exceccedilotildees Em pesquisas

realizados por FARALDO et al (2000) MKUMBIRA et al (2003) ELIAS et al (2004) e

PERONI et al (2007) os agricultores foram consistentes na distinccedilatildeo de suas variedades

lsquolsquodocesrdquo e ldquoamargasrsquorsquo e com base no conhecimento de caracteres morfoloacutegicos distintos os

nomes das variedades refletiram na diversidade geneacutetica A partir dessas evidecircncias podemos

inferir que o conhecimento local dos agricultores associado agrave experiecircncia eacute importante natildeo

somente para o reconhecimento das variedades locais por si soacute mas tambeacutem por conter

informaccedilotildees relevantes sobre o papel que esses recursos podem desempenhar nos sistemas

agriacutecolas de pequena escala e para as populaccedilotildees locais (GADGIL et al 1993)

O conhecimento tradicional dos agricultores trata-se de um conjunto de saberes praacuteticas

e crenccedilas baseadas no contato direto nas observaccedilotildees experimentaccedilotildees diaacuterias e nas

dependecircncias econocircmicas eou de subsistecircncia dos recursos que satildeo geralmente transmitidas

oralmente dentro e entre as geraccedilotildees (AMOROZO 2000 DOMINGUES ARRUDA 2001

BEGOSSI 2004) Sendo assim o conhecimento tradicional de agricultores que praticam a

agricultura de pequena escala realizada em comunidades tradicionais eacute importante pois tem

garantido a perpetuaccedilatildeo dos conhecimentos e das praacuteticas agriacutecolas desenvolvidas durante

milhares de anos entre os agroecossistemas locais

22 Manejo tradicional em roccedilas e diversidade intraespeciacutefica da mandioca

A agricultura de pequena escala praticada em comunidades locais tem garantido a

perpetuaccedilatildeo do conhecimento sobre o manejo e a diversidade de espeacutecies agriacutecolas O sistema

de cultivo em roccedilas eacute tipicamente praticado por agricultores de comunidades tradicionais em

aacutereas uacutemidas no mundo inteiro As roccedilas satildeo aacutereas de cultivo de pequena escala localizadas

dentro de comunidades proacuteximas umas das outras que se tornaram objeto de estudo em vaacuterias

pesquisas antropoloacutegicas etnobotacircnicas geneacuteticas e ecologias especialmente por apresentarem

grande diversidade de espeacutecies cultivadas e pelo manejo destinar-se agrave subsistecircncia de grupos

familiares de agricultores de pequena escala (PUJOL et al 2007)

Aleacutem da diversidade de espeacutecies outra caracteriacutestica dessas roccedilas eacute o grande nuacutemero de

variedades dentro de cada espeacutecie Esta diversidade intraespeciacutefica pode ser referida como

etnovariedades que eacute um termo utilizado para definir grupos de indiviacuteduos identificados por

19

nomenclatura popular local a qual pode expressar elementos do contexto cultural econocircmico

e social das populaccedilotildees associado ao uso (PERONI MARTINS 2000 EMPERAIRE

PERONI 2007)

Dentre as vaacuterias espeacutecies cultivadas em roccedilas a mandioca (M esculenta) em seu

nuacutemero de etnovariedades eacute uma das principais culturas de importacircncia econocircmica e

nutricional para populaccedilotildees que utilizam esse sistema Sua diversidade pode estar relacionada

ao sistema reprodutivo da cultura ao modo de gestatildeo da agricultura pelas pressotildees de seleccedilatildeo

exercidas pelo proacuteprio homem ou ateacute mesmo por causas naturais (MARTINS 2005

CLEMENT et al 2010)

As caracteriacutesticas de manejo empregadas no cultivo da mandioca em roccedilas favorecem

a elevada diversidade intraespeciacutefica dessa cultura O modo de propagaccedilatildeo da mandioca eacute feito

pelos agricultores por meios de estacas (manivas) que satildeo selecionadas de acordo com as

caracteriacutesticas desejaacuteveis que elas apresentam seja para fins econocircmicos ou utilitaacuterios Apesar

de propagada vegetativamente que eacute um meacutetodo usado pelas populaccedilotildees humanas para plantio

e multiplicaccedilatildeo de plantas a mandioca natildeo perdeu a sua capacidade de reproduccedilatildeo sexual

sendo esse um aspecto importante para dinacircmica evolutiva da cultura (PUJOL et al 2007)

Esse meacutetodo de propagaccedilatildeo permite o fluxo e a circulaccedilatildeo do material geneacutetico entre os

diferentes roccedilados por meio de um sistema de redes sociais de troca de etnovariedade de

mandioca entre os agricultores tanto a niacutevel regional (entre comunidades) quanto em escalas

menores (entre vizinhos e parentes) (ELIAS et al 2004 EMPERAIRE OLIVEIRA 2010)

Segundo Emperaire e Peroni (2007) esse mecanismo de troca de germoplasma eacute uma grande

forccedila de dispersatildeo que resulta na agrobiodiversidade regional mais elevada pois estabelece

viacutenculos entre as diferentes roccedilas e promove oportunidades de seleccedilatildeo e cruzamento entre as

diferentes etnovariedades (EMPERAIRE ELOY 2008)

Atributo bioloacutegicos da espeacutecie tambeacutem estatildeo relacionados com o aumento da

diversidade intrespeciacutefica como a capacidade de dormecircncia das sementes e a dispersatildeo

autocoacuterica que propiciam o desenvolvimento de um banco de sementes no solo ao longo do

tempo permitindo o cruzamento entre as novas variedades adquiridasplantadas e entre estas

com variedades que existiram anterioemente na mesma aacuterea (PERONI MARTINS 2000

MARTINS 2005) A presenccedila dessas ldquoplantas-voluntaacuteriasrdquo ou seja aquelas nascidas de

germinaccedilatildeo expontacircnea eacute um dos eventos identificados como precursores de diversidade

intraespeciacutefica nas populaccedilotildees de mandioca cultivadas (PUJOL et al 2007)

20

Contudo muitos esforccedilos vecircm sendo empregados em estudos que observam a ecologia

da mandioca e o manejo agriacutecola associado agrave geraccedilatildeo de diversidade varietal e geneacutetica na

espeacutecie para tentar entender como esses mecanismos influenciam na diversidade de

etnovariedades locais e na sua dinacircmica (PUJOL et al 2007 KOMBO et al 2012 ELIAS et

al 2001)

23 Redes sociais de troca e circulaccedilatildeo de etnovariedades de mandioca

Sistemas agriacutecolas de pequena escala dependem de uma grande diversidade de espeacutecies e

variedades cultivadas e do fluxo destas por meio de redes sociais de troca material vegetativo

estabelecidas entre agricultores podendo o alcance da circulaccedilatildeo variar em escala local eou

regional (EMPERAIRE ELOY 2008) As trocas dependem de dois mecanismos principais

dos padrotildees de interaccedilatildeo social entre os agricultores e dos padrotildees de uso dos recursos

(CAVECHIA et al 2014) e as redes variam em funccedilatildeo das caracteriacutesticas culturais

econocircmicas e sociais das comunidades (EMPERAIRE PERONI 2007 PAUTASSO et al

2012)

No caso da mandioca (Manihot esculenta Crantz) a propagaccedilatildeo se da por estaquia o que

favorece a troca de material de vegetativo entre os agricultores e permite o fluxo entre

variedades locais e regionais (MARTINS 2005) As trocas de variedades de mandioca entre os

agricultores geralmente acontecem por alguma circunstacircncia que leve o agricultor a pedir o

material propagativo para o plantio com por exemplo para o plantio de uma nova roccedila ou por

alguma fitopatologia deslocaccedilatildeo ou estaccedilotildees de chuva e seca prolongadas (EMPERAIRE et

al 2001 EMPERAIRE ELOY 2008) Em alguns casos como no de algumas comunidades

agriacutecolas de pequena escala as redes de casamento satildeo utilizadas para a circulaccedilatildeo de

variedades (EMPERAIRE PERONI 2007 DELEcircTRE et al 2011)

O processo de manutenccedilatildeo da diversidade nesses sistemas resulta do interesse ou da

necessidade do agricultor em adquirir ou abandonar variedades testar e selecionar novas

etnovariedades de mandioca Dentre os fatores que dirigem a seleccedilatildeo de etnovariedades estatildeo

as preferecircncias individuais dos agricultores Alguns podem optar por cultivar todas as

etnovariedades comuns eou disponiacuteveis na regiatildeo enquanto que outros optam apenas por

manter um conjunto especiacutefico dessa diversidade (CAVECHIA et al 2014) Seja para atender

a alguma demanda individual pelo interesse em aumentar a produtividade ou pela necessidade

21

de conservar o material vegetativo para o proacuteximo plantio no caso de perda de material por

algum fator ambiental adverso (EMPERAIRE et al 2001 EMPERAIRE ELOY 2008)

Nesse sentido satildeo os agricultores os maiores responsaacuteveis por determinar como e quais

etnovariedades seratildeo compartilhadas e mantidas entre as comunidades (PAUTASSO et al

2012) E a chave para a compreensatildeo da dinacircmica da diversidade varietal eacute por meio desse

intercacircmbio e dos fatores que influenciam essa conectividade entre as comunidades pois essas

redes representam um grande impacto sobre a diversidade de variedades cultivadas E eacute por

meio dessas redes que se diminui coletivamente os riscos de perda total de diversidade geneacutetica

local (EMPERAIRE ELOY 2008)

Desse modo as relaccedilotildees estabelecidas pelos agricultores entre as comunidades por meio

das redes troca de germoplasma podem ter consequecircncias importantes sobre a diversidade

varietal da mandioca E compreender os processos envolvidos na manutenccedilatildeo ou perda de

germoplasma nos sistemas agriacutecolas eacute importante uma vez que compreendendo a maneira

como os agricultores usam esse conjunto de etnovariedades de mandioca e as compartilham

vai trazer importantes discussotildees a cerca da qualidade e a quantidade do recurso que seraacute

mantido transmitido ou perdido dentro dos sistemas ao longo do tempo

22

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25

VARIACcedilAtildeO INTRAESPECIacuteFICA CONHECIMENTO E MANEJO

LOCAL DE MANDIOCA (Manihot esculenta Crantz) NO SEMIAacuteRIDO DE

PERNAMBUCO NORDESTE DO BRASIL

Artigo submetido ao perioacutedico Human Ecology

Normas para submissatildeo em anexos

26

Variaccedilatildeo intraespeciacutefica conhecimento e manejo local de mandioca 1

(Manihot esculenta Crantz) no semiaacuterido de Pernambuco Nordeste do 2

Brasil 3

Mirela Nataacutelia Santos12 Jhonatan Rafael Zaacuterate-Salazar1 Reginaldo de Carvalho1 amp 4

Ulysses Paulino de Albuquerque2 5

6

1 Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo em Botacircnica Departamento de Biologia Rua Dom Manuel de Medeiros 7

Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) sn Dois Irmatildeos Recife Pernambuco 52171-8

900 Brasil 9

2 Laboratoacuterio de Ecologia e Evoluccedilatildeo de Sistemas Socioecoloacutegicos (LEA) Departamento de Botacircnica 10

Avenida Professor Moraes Rego Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) sn Cidade 11

Universitaacuteria Recife Pernambuco 50670-901 Brasil 12

Resumo 13

Historicamente a espeacutecie Manihot esculenta Crantz (mandioca) eacute uma espeacutecie de grande valor 14

econocircmico e de subsistecircncia para populaccedilotildees em comunidades tradicionais Variedades de 15

mandioca satildeo selecionadas com base nos interesses dos agricultores conduzindo uma evoluccedilatildeo 16

especiacutefica sobre a geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da agrobiodiversidade local Diante disso a mandioca 17

tornou-se espeacutecie-modelo em estudos que buscam compreender como os padrotildees e estrateacutegias 18

adotadas pelas populaccedilotildees humanas influenciam na diversidade intraespeciacutefica local em regiotildees 19

tropicais No entanto os fatores que influenciam a diversidade da mandioca em regiotildees 20

semiaacuteridas ainda natildeo foram bem documentados Nesse sentido objetivo geral do estudo foi 21

compreender os processos envolvidos na dinacircmica da diversidade agriacutecola em sete 22

comunidades tradicionais localizadas na regiatildeo semiaacuterida do estado de Pernambuco (Nordeste 23

do Brasil) por meio do acesso ao conhecimento dos agricultores quanto as praacuteticas de menejo 24

para tentar quais quais fatores podem estar relacionados a geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da diversidade 25

local Com os resultados da anaacutelise de redes verificamos uma alta diversidade de 26

etnovariedades cultivadas e a sua composiccedilatildeo eacute determinada pelas preferecircncias e 27

comportamentos individuais dos agricultores que foram provavelmente os mecanismos 28

27

responsaacuteveis pelo surgimento da estrutura aninhada observada na anaacutelise rede Esse padratildeo 29

aninhado contribui na conservaccedilatildeo das etnovariedades mais comuns mas tambeacutem pode resultar 30

em perda daquelas de menor frequecircncia ao longo do tempo 31

Palavras-Chave Agricultura tradicional Agricultura de sequeiro Agrobiodiversidade 32

Etnobiologia Plantas alimentiacutecias 33

34

Introduccedilatildeo 35

Historicamente as populaccedilotildees humanas foram acumulando conhecimentos sobre 36

praacuteticas da agricultura desenvolvendo teacutecnicas adaptadas ao meio natural e assim foram 37

domesticando uma grande variedade de cultivos alimentares para garantirem a sua 38

sobrevivecircncia (Balleacute 2006 Clement et al 2010) Essa interaccedilatildeo pessoas-plantas por meio do 39

cultivo e manejo das espeacutecies vegetais considerando tanto os aspectos sociais quanto naturais 40

dos sistemas dinacircmicos eacute uma importante ferramenta para o entendimento do conhecimento 41

dos agricultores sobre os agroecossistemas locais ( Alcorn 1995) 42

Aleacutem disso essas interaccedilotildees vem contribuindo com alteraccedilotildees nas populaccedilotildees vegetais 43

por meio da seleccedilatildeo artificial Essas alteraccedilotildees resultaram em mudanccedilas na estrutura geneacutetica 44

dessas populaccedilotildees que satildeo determinadas geralmente pela seleccedilatildeo de caracteriacutesticas fenotiacutepicas 45

fisioloacutegicas eou econocircmicas das plantas refletidas em classificaccedilotildees e nomenclaturas 46

especiacuteficas baseadas em percepccedilotildees individuais (Carmona amp Casas 2005) 47

Muitos pesquisadores tentam explicar o papel dos agricultores de pequena escala na 48

seleccedilatildeo classificaccedilatildeo e manutenccedilatildeo da agrobiodiversidade local em roccedilas tradicionalmente 49

manejas em regiotildees uacutemidas (Emperaire amp Peroni 2007 Emperaire amp Eloy 2008 Marchetti et 50

al 2013) Essas roccedila satildeo aacutereas de cultivo caracterizadas por conter uma alta diversidade 51

intraespeciacutefica de espeacutecies (Martins 2005) Dentre elas a Manihot esculenta Crantz 52

28

(mandioca) Euphorbiaceae em sua diversidade de etnovariedades eacute a espeacutecie mais importante 53

sob ponto de vista econocircmico e de subsistecircncia para as populaccedilotildees locais e mais cultivada 54

devido a sua grande adaptabilidade ambiental e baixos custos de gestatildeo (Elias et al 2001) 55

A alta diversidade da mandioca nessas aacutereas pode ser atribuiacuteda agrave possibilidade de 56

introduccedilatildeo de novas variedades via reproduccedilatildeo sexuada associada a ecologia da espeacutecie Esse 57

mecanismo permite o fluxo gecircnico entre as variedades de mandioca cultivadas do mesmo local 58

e entre estas com variedades de locais vizinhos (Pujol et al 2007) Outro mecanismo que 59

favorece essa diversidade eacute agrave circulaccedilatildeo de material propagativo por meio redes sociais de troca 60

variedades entre os agricultores (Pujol et al 2005 Emperaire amp Peroni 2007 Clement et al 61

2010) Esse mecanismo de troca eacute fundamental para o estabelecimento de interaccedilotildees entre as 62

diferentes aacutereas de roccedila promovendo oportunidade de seleccedilatildeo e cruzamento entre os diferentes 63

conjuntos de variedades aleacutem de permitir que este conjunto seja conservado (Emperaire amp Eloy 64

2008) 65

Diante desse cenaacuterio podemos observar que a agrobiodiversidade local natildeo eacute fruto 66

apenas de fatores naturais mas eacute tambeacutem influenciada pelas caracteriacutesticas culturais e 67

socioeconocircmica das populaccedilotildees locais refletidas especialmente no conhecimento e manejo 68

local Nesse sentido o presente estudo visa investigar as interaccedilotildees entre agricultores 69

tradicionais de comunidades rurais estabelecidas na regiatildeo semiaacuterida de Pernambuco 70

O objetivo geral eacute compreender os processos envolvidos na dinacircmica da diversidade 71

agriacutecola por meio do acesso ao conhecimento dos agricultores quanto as praacuteticas de menejo e 72

entender quais quais fatores podem estar relacionados a geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da diversidade 73

local Para esse estudo a mandioca foi escolhida como modelo devida agrave sua importacircncia 74

econocircmica e de subsistecircncia para comunidades locais Os objetivos especiacuteficos foram (i) 75

caracterizar o manejo da agricultura de sequeiro bem como analisar se os paracircmetros 76

socioeconocircmicos influenciam na diversidade local (ii) registrar as etnovariedades atualmente 77

29

cultivadas e identificar os diferentes criteacuterios morfoloacutegicos utilizados pelos agricultores para a 78

seleccedilatildeo e classificaccedilatildeo das etnovariedadese (iii) descrever a estrutura da rede de interaccedilatildeo entre 79

os agricultores e a diversidade de etnovariedades de mandioca cultivadas para tentar entender 80

como essas relaccedilotildees podem influenciar na manutenccedilatildeo ou perda da diversidade local 81

Material e meacutetodos 82

Aacutereas de estudo 83

Amostramos sete comunidades rurais estabelecidas na regiatildeo semiaacuterida de 84

Pernambuco Nordeste do Brasil Uma das comunidades (Caratildeo) pertence ao Municiacutepio de 85

Altinho (ldquo8deg 29rsquo 10rdquo S e 36deg 03rsquo 49rdquo W) e as demais (Satildeo Joseacute do Bola Brejo velho 86

Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima Lajedo Dantas e Aracuatilde) ao Municiacutepio de 87

Panelas (8 deg 39 48 S e 36 deg 01 23 W) (Fig 2) 88

O modelo agriacutecola adotado na regiatildeo segue o sistema tradicional de sequeiro4 e todas 89

as comunidades em estudo possuem histoacuterico de cultivo de mandioca (M esculenta) As aacutereas 90

de cultivo satildeo estabelecidas por unidade familiar e as atividades satildeo realizadas em sua maioria 91

por homens tendo cada agricultor cerca de um a dois hectares de aacuterea para plantio Aleacutem da 92

mandioca os cultivos mais utilizados na comunidades satildeo milho (Zea mays) e feijatildeo (Phaseolus 93

sp) 94

Para os membros das comunidades a produccedilatildeo da farinha de mandioca (Fig 3) eacute uma 95

das atividades agriacutecolas mais importantes tanto pelo seu papel na dieta alimentar quanto pela 96

importacircncia social e econocircmica 97

Caracteriacutesticas das comunidades do estudo 98

A comunidade do Caratildeo localiza-se sob domiacutenio de Caatinga caracterizado por climas 99

quentes e secos com regimes escassos de chuvas correspondente ao tipo BSrsquoh segundo a 100

4 Eacute o cultivo praticado sem irrigaccedilatildeo em regiotildees onde a pluviosidade eacute diminuta

30

classificaccedilatildeo climaacutetica de Koumlppen A vegetaccedilatildeo eacute composto por espeacutecies perenes que 101

conseguem sobreviver mesmo em periacuteodos de seca e espeacutecies anuais que aparecem apenas em 102

periacuteodos com chuva (Cruz et al 2013) 103

De acordo os dados de precipitaccedilatildeo do Laboratoacuterio de Anaacutelise e Processamento de 104

Imagens de Sateacutelites (LAPIS) no ano de 2012 foi registrada a menor meacutedia anual de 105

precipitaccedilatildeo dos uacuteltimos 10 anos para essa regiatildeo (3784 mm) Essa realidade ambiental quando 106

comparada com estudo realizado por de Sieber e colaboradores (2011) na mesma comunidade 107

observa-se que houve uma diminuiccedilatildeo considerada das praacuteticas agriacutecolas realizadas pelos 108

membros da comunidade culminando em uma seacuterie de prejuiacutezos aos agricultores como a perda 109

de plantaccedilotildees e animais Essa perda de produtividade afetou a estrutura econocircmica da 110

comunidade uma vez que a principal fonte de subsistecircncia das famiacutelias eacute a agricultura 111

Associada as atividades agriacutecolas os moradores complementam a dieta e a renda 112

familiar com a venda dos excedentes da produccedilatildeo em feiras-livres ou centros comerciais da 113

regiatildeo (Cruz et al 2013) E com a pecuaacuteria de pequena escala bovina caprina e com avicultura 114

No entanto a diminuiccedilatildeo da forragem natural e cultivada causada pela escassez de chuvas 115

associada aos elevados custos envolvidos na compra de raccedilatildeo levou muitos animais agrave morte 116

(Fig 4) 117

No Municiacutepio de Altinho a comunidade do Caratildeo foi inicialmente escolhida devido ao 118

reconhecimento preacutevio do registro de agricultores realizado em estudos desenvolvidos pelo 119

nosso grupo de pesquisa facilitando assim o acesso agraves informaccedilotildees necessaacuterias para o 120

desenvolvimento da pesquisa 121

As comunidades Aracuatilde Brejo Velho Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima 122

Lajedo Dandas e Satildeo Joseacute do Bola amostradas no estudo pertencem ao Municiacutepio de Panelas 123

que se limita ao Norte com o Municiacutepio de Altinho Essas comunidades estatildeo localizadas em 124

31

no domiacutenio morfoclimaacutetico de Caatinga O clima eacute do tipo semiaacuterido Bsrsquoh segundo a 125

classificaccedilatildeo climaacutetica de Koumleppen 126

A maior parte dos membros dessas comunidades assim como no Caratildeo tecircm como 127

principal fonte de subsistecircncia a agricultura de sequeiro principalmente o cultivo da mandioca 128

(Fig 5) Como renda extra a pecuaacuteria de pequeno porte com criaccedilatildeo bovina caprina e 129

avicultura sendo os excedentes dos alimentos produzidos vendidos em feiras locais ou para 130

escolas 131

As atividades agriacutecolas entre as comunidades tambeacutem foram duramente afetadas pela 132

seca na regiatildeo nos uacuteltimos anos A escassez de chuvas desestimulou o plantio a produccedilatildeo de 133

mandioca foi fortemente comprometida e a colheita foi adiada devido ao subdesenvolvimento 134

das raiacutezes gerando impactos econocircmicos para os membros das comunidades 135

As comunidades amostradas neste muniacutecipio foram escolhidas em funccedilatildeo das 136

indicaccedilotildees dos agricultores entrevistados a princiacutepio na comunidade do Caratildeo que reportaram 137

manter viacutenculos sociais com os agricultores do municiacutepio vizinho 138

Coleta de dados 139

Acessamos as comunidades com a ajuda de um liacuteder comunitaacuterio (Alexandre O 140

Nascimento) em companhia de outros pesquisadores que desenvolviam pesquisas na regiatildeo 141

Previamente as entrevistas todos objetivos e procedimentos para a realizaccedilatildeo da pesquisa foram 142

apresentados aos entrevistados e todos que aceitaram participar foram convidados a assinar um 143

Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) de acordo com a Resoluccedilatildeo 46612 do 144

Conselho Nacional de Sauacutede concordando com a realizaccedilatildeo das entrevistas e avaliaccedilotildees 145

morfoloacutegicas em campo O presente trabalho foi submetido ao Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa da 146

Universidade de Pernambuco (UPE) 147

32

Em todas as comunidades o meacutetodo de acesso ao informante foi o mesmo a partir do 148

primeiro contato com um informante-chave identificamos outros potenciais agricultores 149

seguindo a teacutecnica de ldquobola de neverdquo (Albuquerque et al 2014a) Esse meacutetodo consistiu na 150

amostragem intencional dos participantes e nesse particular os agricultores chefes de famiacutelia 151

(ge 18 anos) da regiatildeo que declararam cultivar mandioca (M esculenta) em suas roccedilas 152

Reunimos informaccedilotildees socioeconocircmicas desses agricultores tais como nome idade gecircnero 153

escolaridade renda experiecircncia na agricultura e tamanho da aacuterea de cultivo para tentar 154

identificar se esses paracircmetros socioeconocircmicos tecircm uma relaccedilatildeo com a agrobiodiversidade 155

local 156

Em seguida conduzimos entrevistas semiestruturadas (Albuquerque et al 2014b) com 157

o objetivo de caracterizar o modo de vida dos agricultores o manejo da agricultura bem como 158

obter dados sobre o conhecimento uso e caracterizaccedilatildeo das etnovariedades de mandioca 159

5cultivadas Aleacutem disso neste momento tambeacutem aplicamos a teacutecnica da lista livre 160

(Albuquerque et al 2014b) a fim de registrar as variedades de mandioca atualmente cultivadas 161

pelos agricultores e identificar as de maior importacircncia local Apoacutes as entrevistas realizamos 162

visitas aos roccedilados para o registro fotograacutefico georreferenciamento das roccedilas e caracterizaccedilatildeo 163

morfoloacutegica das variedades cultivadas 164

Entrevistamos 50 agricultores no total distribuiacutedos nas sete comunidades Caratildeo (3) 165

Satildeo Joseacute do Bola (10) Brejo velho (7) Japaranduba de Baixo (7) Japaranduba de Cima (8) 166

Lajedo Dantas (9) e Aracuatilde (6) Destes 10 satildeo mulheres e 40 homens com idade variando entre 167

31 e 82 anos A maioria dos entrevistados natildeo apresentava instruccedilatildeo formal (46) mais da 168

metade eram aposentados (56) e os demais apresentaram renda inferior a um salaacuterio miacutenimo 169

5 Entende-se por etnovariedade de mandioca o conjunto de variedades intraespeciacuteficas de mandioca (M esculenta)

reconhecidas pelos agricultores por nomenclatura popular local (Peroni 2004)

33

O tempo meacutedio de experiecircncia na agricultura foi de 40 anos Cada agricultor possui entre um e 170

dois roccedilados (aacuterea de plantio) com aproximadamente um a dois hectares 171

Redes de interaccedilatildeo social 172

Confeccionamos a rede que descreve as interaccedilotildees entre os agricultores e as 173

etnovariedades cultivadas a partir de uma matriz de incidecircncia R (presenccedilaausecircncia) onde nas 174

linhas estavam as etnovariedades de mandioca cultivadas (j) e nas colunas os agricultores locais 175

(i) O elemento Rij dessa matriz foi 1 (um) no caso de a etnovariedade j ser cultivada pelo 176

agricultor i caso contraacuterio seria atribuiacutedo 0 (zero) As interaccedilotildees entre os agricultores e as 177

etnovariedades foram descritas em dois modos (Pires et al 2011) onde os ldquonoacutesrdquo da esquerda 178

representam os agricultores que foram vinculados aos ldquonoacutesrdquo da direita representados pelas 179

etnovariedades citadas durante as entrevistas Esses ldquonoacutesrdquo seriam o espelho das decisotildees dos 180

agricultores em manter um determinado conjunto local de etnovariedades em suas roccedilas 181

Avaliamos a estrutura da rede que conecta os agricultores agraves etnovariedades cultivadas 182

a partir de trecircs cenaacuterios hipoteacuteticos (Fig 6) segundo Cachevia et al (2014) No primeiro se os 183

agricultores apresentassem diferentes graus de seletividade para a utilizaccedilatildeo de suas 184

etnovariedades a estrutura seria aninhada (Fig 6a) Isso significa que alguns agricultores 185

cultivam vaacuterias etnovariedades enquanto que outros cultivam o subconjunto mais 186

disponiacutevelcomum dessas etnovariedades Em segundo lugar se a rede apresentasse uma 187

estrutura modular (Fig 6b) significaria que os agricultores apresentam semelhanccedila na seleccedilatildeo 188

do recurso ou seja subgrupos de agricultores cultivam subgrupos distintos de etnovariedades 189

regionalmente disponiacuteveiscomuns E o terceiro se os agricultores natildeo apresentassem 190

preferecircncias quanto a seleccedilatildeo das etnovariedades entatildeo a rede apresentaria uma estrutura 191

aleatoacuteria (Fig 6c) 192

O objetivo da anaacutelise de rede nesse estudo foi tentar entender se o conjunto de 193

etnovariedades presentes no local do estudo constituem uma subamostra de um conjunto mais 194

34

amplo no caso de um alto grau de aninhamento ou se a sua composiccedilatildeo eacute determinada por 195

variaacuteveis locais (Ulrich 2008) Onde as conexotildees entre os informantes e as etnovariedades 196

representam as decisotildees dos agricultores de manter um conjunto determinado de variedades de 197

mandioca dentre as comunidades Esta anaacutelise tambeacutem nos permitiu identificar quais os nuacutecleos 198

de etnovariedades que apresentam maior conexatildeo com os diferentes perfis dos agricultores 199

Diversidade fenotiacutepica 200

Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 201

Apoacutes as entrevistas buscamos identificar quais os caracteres morfoloacutegicos considerados 202

mais importantes para a diferenciaccedilatildeo das etnovariedades de mandioca a partir do seguinte 203

questionamento ldquoQuais as diferenccedilas que vocecirc reconhece para separar uma qualidade de 204

mandioca (variedade) de uma outrardquo Assim os agricultores mencionaram quais os criteacuterios 205

mais importantes utilizados para a caracterizaccedilatildeo de suas etnovariedades 206

Compilamos uma listagem dessas caracteriacutesticas baseada nas indicaccedilotildees dos 207

agricultores e a partir delas selecionamos os caracteres morfoloacutegicos mais citados para a 208

caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica ldquoin siturdquo tais como cor da folha (cor da folha desenvolvida) olho 209

(cor do broto foliar) cor do talo (cor do peciacuteolo) maniva (cor externa do caule) embriatildeo 210

(protuberacircncia da cicatriz foliar) cor da entrecasca (coacutertex da raiz) e cor miolo (polpa da raiz) 211

(Tabela 1) O objetivo dessa caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica foi indicar como estaacute distribuiacuteda a 212

variaccedilatildeo fenotiacutepica das etnovariedades de mandioca nas comunidades na regiatildeo semiaacuterida de 213

Pernambuco bem como identificar que caracteriacutesticas satildeo mais importantes para distinguir 214

esses grupos no intuito de tentar entender como os agricultores classificam suas variedades de 215

mandioca 216

Nas sete comunidades para cada etnovariedade citada no roccedilado caracterizamos ldquoin 217

siturdquo trecircs indiviacuteduos de M esculentade de cada uma totalizando 171 indiviacuteduos (Aracuatilde=11 218

35

Caratildeo=4 Satildeo Joseacute do Bola=13 Brejo Velho=16 Japaranduba de Baixo=6 Japaranduba de 219

Cima=3 e Lajedo Dantas=4) Fotografamos e avaliamos todos os indiviacuteduos com base em parte 220

dos descritores morfoloacutegicos seguindo recomendaccedilotildees de Fukuda amp Guevara (1998) e aleacutem 221

disso georreferenciamos todas as aacutereas de roccedila 222

Anaacutelise dos dados 223

Analisamos os dados socioeconocircmicos das entrevistas semiestruturadas por meio de 224

estatiacutestica descritiva para explicar os aspectos da realidade econocircmica e social dos agricultores 225

Para identificar se a diversidade intraespeciacutefica da mandioca cultivada localmente eacute 226

influenciada por paracircmetros socioeconocircmicos utilizamos o coeficiente de correlaccedilatildeo de 227

Spearman (Ple005) (Sokal amp Rohlf 1995) 228

Com base na lista livre das variedades de mandioca cultivadas pelos agricultores 229

calculamos a frequecircncia de citaccedilatildeo o ranking e o iacutendice de saliecircncia com o objetivo de 230

identificar quais as mais importantes ou preferidas para as comunidades O iacutendice de saliecircncia 231

considerou a frequecircncia de citaccedilatildeo e o ranking referente ao posicionamento das variedades 232

dentro das listas livres (Thompson amp Juan 2006) As etnovariedades mais citadas e com maior 233

valor de saliecircncia representam as de maior importacircncia ou preferecircncia para as comunidades 234

Anaacutelise de rede 235

Medimos o grau de aninhamento (NODF) para investigar a estrutura de rede de 236

interaccedilatildeo social dos agricultores em funccedilatildeo das variedades cultivadas As matrizes altamente 237

aninhadas apresentam NODF tendendo a 1 caso contraacuterio tentem a ser 0 238

Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 239

Para o estudo das semelhanccedilas e diferenccedilas fenotiacutepicas entre as variedades de mandioca 240

ldquoin siturdquo realizamos anaacutelises multivariadas para identificar possiacuteveis grupos de variedades que 241

compartilham semelhanccedilas entre si 242

36

A anaacutelise de correspondecircncia muacuteltipla (MCA) permitiu identificar como as variedades 243

de mandioca estatildeo ordenadas em funccedilatildeo dos seus descritores etnobotacircnicos As etnovariedades 244

foram plotadas ao longo um plano cartesiano bi ou tridimensional onde a variaccedilatildeo total eacute 245

explicada pelos dois primeiros eixos Complementar a esta anaacutelise realizamos a anaacutelise de 246

agrupamento hieraacuterquico (Cluster) para identificar como estatildeo agrupadas as etnovariedades de 247

acordo seus descritores Conferimos a consistecircncia do dendrograma com coeficiente de 248

correlaccedilatildeo cofeneacutetica conforme Sneath amp Sokal (1973) que quantifica se a correlaccedilatildeo entre a 249

matriz de distacircncias originais e a matriz de distacircncias cofeneacuteticas eacute representativa Para 250

mensurar as dissimilaridades entre as variedades de mandioca foi utilizada a distacircncia 251

euclidiana e com o meacutetodo de Ward 252

Softwares utilizados 253

Para a anaacutelise da lista livre usamos o software ANTROPAC versatildeo 10 O software 254

ANINHADO 30 (Guimaratildees amp Guimaratildees 2006) foi usado para medir o grau de aninhamento 255

da rede Utilizamos o software estatiacutestico R (R core team 2017) para a anaacutelise de correlaccedilatildeo 256

de Spearman com o pacote corrplot (Wei amp Simko 2013) o desenho da rede que descreve a 257

interaccedilatildeo entre os agricultores e as etnovariedades com o pacote bipartite (Dormann et al 258

2017) E com os pacotes FactoMineR (LEcirc et al 2008) factoextra (Kassambara et al 2016) e 259

vegan (Oksanen et al 2017) foram realizadas as anaacutelises de cluster de correspondecircncia 260

muacuteltipla (MCA) e de correlaccedilatildeo coefeneacutetica respectivamente 261

Resultados 262

As diferentes etnovariedades de mandioca encontradas no estudo suprem a demanda 263

local por alimento enquanto outras atendem agraves preferecircncias individuais ou do comeacutercio As 264

variedades que possuem maior rendimento e a farinha produzida apresenta coloraccedilatildeo branca 265

satildeo as de maior valor comercial para os agricultores devido agraves preferecircncias do mercado Jaacute 266

37

outras variedades que satildeo mais moles e apresentam coloraccedilatildeo amarelada natildeo satildeo empregadas 267

na produccedilatildeo de farinha mas sim consumidas cozidas ou assadas A depender da demanda local 268

os agricultores intencionalmente aumentam ou diminuem a frequecircncia de suas variedades nos 269

roccedilados seja por alguma exigecircncia do comeacutercio ou para consumo familiar 270

Nas comunidades os agricultores separam suas variedades de mandioca em dois grupos 271

como observado em outras comunidades na mata Atlacircntica por Emperaire e Peroni (2007) o 272

das ldquomacaxeirasrdquo que satildeo as variedades exploradas basicamente para o consumo familiar sem 273

processo preacutevio de desintoxicaccedilatildeo cujas raiacutezes satildeo consumidas fritas eou cozidas Sendo 274

utilizadas tambeacutem como complemento na dieta dos animais E o grupo das ldquomandiocasrdquo que 275

satildeo as variedades que necessitam de processo preacutevio de desintoxicaccedilatildeo para o consumo 276

utilizadas comumente para a produccedilatildeo de farinha de mandioca Para os agricultores as 277

ldquomandiocasrdquo possuem maior valor comercial pois apresentam maior rendimento e 278

rentabilidade pois a farinha produzida eacute branca e atende as preferencias do comercio local 279

Aleacutem da farinha outros produtos e subprodutos produzidos dentre os quais foram citados 280

ldquotapioca ou gomardquo ldquobijurdquo ou ldquobolo de mandiocardquo satildeo utilizados para o consumo proacuteprio ou 281

eventual comercializaccedilatildeo 282

Os informantes natildeo possuiacuteam conhecimento sobre a origem dos nomes das variedades 283

de mandioca Quanto a compreensatildeo da geraccedilatildeo da diversidade intraespeciacutefica identificamos 284

que apesar de 66 dos agricultores citarem que conhecem variedades fruto de germinaccedilatildeo de 285

suas sementes nenhum deles utiliza as manivas para o plantio por essas variedades de 286

mandioca ldquovoluntaacuteriasrdquo natildeo apresentarem bom rendimento 287

Observamos que existe uma baixa correlaccedilatildeo entre a diversidade de variedades 288

atualmente cultivadas e as variaacuteveis socioeconocircmicas como no caso do nuacutemero de roccedilados 289

(r=028 Ple005) e do tamanho do roccedilado (r=033 Ple005) (Fig 7) Essa baixa correlaccedilatildeo pode 290

38

ser explicada pelo fato de existirem grupos de agricultores que preferem manter as variedades 291

de maior valor econocircmico e de subsistecircncia mesmo com aacutereas maiores de cultivo 292

Verificamos tambeacutem uma correlaccedilatildeo positiva moderada entre o nuacutemero de variedades 293

conhecidas com o nuacutemero de variedades atualmente cultivadas (r=054 Ple005) Na lista livre 294

foram identificadas 22 etnovariedades de mandioca cultivadas (132 citaccedilotildees no total) sendo 295

oito dessas mais citadas com maiores valores de saliecircncia (entre 047 e 0082) (Tabela 2) As 296

etnovariedades ldquoMacaxeira Rosardquo e ldquoMandioca Isabel de Souzardquo exibiram os maiores valores 297

de saliecircncia 047 e 037 respectivamente Logo essas variedades satildeo as mais conhecidas 298

dentro das comunidades com 66 e 48 das citaccedilotildees respectivamente 299

Dentre as etnovariedades citadas 12 foram idiossincraacuteticas pois apresentaram menor 300

frequecircncia de citaccedilatildeo e menores valores de saliecircncia (entre 0032 e 0006) (Tabela 2) 301

Redes de interaccedilatildeo social 302

A rede apresentou uma estrutura aninhada com grau de aninhamento significativamente 303

superior aos modelos nulos (N=3072 Plt0001) para as comunidades sendo um nuacutecleo de 304

etnovariedades altamente conectado aos agricultores (Fig 8) A estrutura aninhada nos permite 305

inferir que existe um grupo de agricultores que cultiva uma maior diversidade de etnovariedades 306

de mandioca em suas roccedilas enquanto que outro subgrupo que tem menor diversidade cultivam 307

as mais comuns ou disponiacuteveis (Cavechia et al 2014) Isso significa que os agricultores locais 308

mesmo em diferentes comunidades cultivam um nuacutecleo de etnovariedades comum entre eles 309

(n=6 Tabela 2) 310

Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 311

Observamos que a maioria dos indiviacuteduos de mandioca satildeo caracterizados por meio de 312

um conjunto de sete caracteres morfoloacutegicos os quais foram citados pelos agricultores como 313

mais importantes para a caracterizaccedilatildeo de suas variedades Nas visitas aos roccedilados registramos 314

39

as etnovariedades atualmente cultivadas e a tabela 3 fornece a lista completa com as 17 315

etnovariedades de mandioca e o local de registro 316

Por meio da anaacutelise de correspondecircncia muacuteltipla as variedades de mandioca foram 317

ordenadas em funccedilatildeo de seus descritores ao longo do primeiro e segundo eixo correspondentes 318

a 3680 da variacircncia total (Fig 9) 319

As variaacuteveis mais correlacionadas e que agruparam as variedades de mandioca no 320

primeiro eixo foram cor da folha desenvolvida (CFD) (r= 07239 Ple0001) cor do coacutertex da 321

raiz (CDR) (r= 06473 Ple0001) cor do broto foliar (CBF) (r= 06880 Ple0001) cor do peciacuteolo 322

(CDP) (r= 05250 Ple005) cor externa do caule (CEC) (r= 06883 Ple005) cor da polpa da 323

raiz (PDR) (r= 02473 Ple005) Para o segundo eixo as variaacuteveis correlacionadas foram cor 324

da folha desenvolvida (CFD) (r= 07220 Ple0001) cor externa do caule (CEC) (r= 08718 325

Ple0001) e cor do peciacuteolo (CDP) (r= 06927 Ple005) 326

O agrupamento de todas as variedades caracterizadas ldquoin siturdquo gerou uma aacutervore 327

hieraacuterquica (dendrograma) (Fig 9) utilizando a distacircncia euclidiana seguindo o criteacuterio de 328

Ward O dendrograma gerado apresentou um coeficiente de correlaccedilatildeo cofeneacutetica r= 06780 329

indicando que existe consistecircncia com os dados originais no agrupamento quanto agrave 330

classificaccedilatildeo e estrutura de tal forma que as variedades foram agrupadas em oito classes as 331

quais foram explicadas pelas variaacuteveis mais significativas descritas na tabela 4 332

O resultado do agrupamento (utilizada a distacircncia euclidiana e com o meacutetodo de Ward) 333

observamos que as etnovariedades de mandioca caracterizadas ldquoin siturdquo foram agrupadas em 334

dois grandes agrupamentos indicados na Fig 10 pelos retacircngulos em vermelho A partir dessa 335

anaacutelise percebemos que os caracteres morfoloacutegicos selecionados pelos agricultores natildeo foram 336

suficientes para separar as variedades de macaxeira e mandioca pois em ambos os 337

agrupamentos encontramos tanto macaxeiras quanto mandiocas 338

40

As variedades da classe 1 foram identificadas pelos agricultores pela cor do peciacuteolo 339

(CDP) verde A classe 2 agrupou as etnoveriedades caracterizadas pela protuberacircncia da cicatriz 340

foliar (PCF) mais protuberante Esse descritor segundo os agricultores era identificado como 341

ldquoembriatildeordquo A classe 3 consiste apenas da variedade ldquoMandioca Pretonardquo indicada pela presenccedila 342

de cor do peciacuteolo (CDP) vermelho A classe 4 agrupou trecircs variedades caracterizadas pelos 343

agricultores pela presenccedila de cor coacutertex da raiz (CDR) rosa e cor da polpa da raiacutez (PDR) branca 344

identificadas como ldquoMacaxeira vermelhardquo ldquoMacaxeira Rosa Brancardquo ldquoMacaxeira Rosardquo As 345

variedades agrupadas na classe 5 foras as variedades de mandioca caracterizadas pelos 346

agricultores por apresentarem cor do coacutertex (CDR) da raiacutez branca A classe 6 agrupou 347

variedades identificadas pelos agricultores pela cor do broto foliar (CBF) verde A classe 7 348

consiste apenas da variedade ldquoMacaxeira Sementerdquo identificada pelos agricultores pela cor do 349

peciacuteolo (CDP) roxo e protuberacircncia da cicatriz foliar pouco proeminente Essa variedade 350

segundo os agricultores era fruto do nascimento espontacircneo no roccedilado poreacutem eles geralmente 351

natildeo utilizam essas variedades por apresentarem apenas uma raiz pequena e de baixo 352

rendimento Na classe 8 as variedades foram identificadas pelos agricultores pela cor do peciacuteolo 353

(CDP) verde amarelado e protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) pouco proeminente As 354

ldquoMandioca Isabel de Souzardquo ldquoMandioca Isabel trecircs galhosrdquo segundo os agricultores se 355

diferenciavam pelo maior nuacutemero de caules presentes na variedade ldquoIsabel trecircs galhosrdquo 356

Discussatildeo 357

As sete comunidades estudadas manejavam um nuacutemero consideraacutevel de variedades 358

locais A quantidade de etnovariedades registradas eacute proacutexima a encontrada por Bender et al 359

(2009) e Cavechia et al (2014) em comunidades na regiatildeo sul e sudeste por Oler e Amorozo 360

(2017) em uma comunidade tradicional na regiatildeo centro-oeste Poreacutem foi quantitativamente 361

inferior quando comparada a estudos como os de Elias et al (2001) e Kawa et al (2013) em 362

comunidades na regiatildeo amazocircnica pois possuiacuteam uma alta diversidade Essa alta diversidade 363

41

na regiatildeo amazocircnica pode estar relacionada com o fato de que essa regiatildeo eacute o provaacutevel centro 364

de origem da mandioca (M esculenta) (Allem 1994) 365

As etnovariedades registradas neste estudo estatildeo disponiacuteveis para a maioria dos 366

agricultores dessa regiatildeo e esse fator favorece a circulaccedilatildeo das etnovariedades entre as 367

comunidades locais Por isso haacute semelhanccedilas das etnovariedades utilizadas entre os agricultores 368

da mesma comunidade e entre comunidades vizinhas 369

Parte dos agricultores optam por manter uma alta frequecircncia de variedades mais 370

utilizadas enquanto que outros optam por manter etnovariedades de baixa frequecircncia 371

Conforme discutido por Amorozo (2013) os agricultores escolhem seu acervo de acordo com 372

as necessidades e contexto em que vivem A reduccedilatildeo da diversidade de etnoveriedades por 373

exemplo pode ser impulsionada por fatores que simplificam o sistema como a seleccedilatildeo de 374

etnovariedades para a produccedilatildeo de farinha resultando no cultivo de poucas ou ateacute de uma uacutenica 375

etnovariedade (Peroni amp Hanazaki 2002) mesmo em aacutereas maiores 376

377

Redes de interaccedilatildeo social 378

Com as anaacutelises de rede demonstramos que os agricultores de diferentes comunidades 379

em uma mesma regiatildeo efetivamente trocam variedades de mandioca entre si corroborando 380

com estudos realizados por Emperaire amp Eloy (2008) Pautasso et al (2012) e Cavechia et al 381

(2014) Nesses estudos os autores tambeacutem consideram que as trocas de etnovariedades por 382

meio da rede de intercacircmbio entre os agricultores eacute um mecanismo fundamental para a 383

manutenccedilatildeo da diversidade local 384

A visualizaccedilatildeo da rede demonstrou que entre as comunidades os agricultores 385

compartilham um nuacutecleo de etnovariedades mais utilizadas dentre as quais estatildeo as de maior 386

valor econocircmico e de subsistecircncia Essas de maior frequecircncia satildeo aquelas altamente produtivas 387

utilizadas pelos agricultores para atenderem agraves demandas de mercado por farinha e para o 388

consumo proacuteprio (Kawa et al 2013) 389

42

No entanto observamos que existe outro nuacutecleo de etnovariedades menos frequentes 390

Essas etnovariedades raras podem ser resultantes do processo de experimentaccedilatildeo ou 391

preferecircncias individuais dos agricultores Outra possiacutevel razatildeo para a baixa frequecircncia de 392

algumas etnovariedades poderia ser explicada pela variaccedilatildeo da nomenclatura pelos 393

agricultores que segundo Peroni amp Hanazaki (2002) pode ocorrer durante o processo de troca 394

e introduccedilatildeo de novas variedades aos roccedilados Ainda assim natildeo descartamos a hipoacutetese de que 395

essas etnovariedades raras possam ser provenientes do cruzamento entre variedades diferentes 396

cultivadas da mesma roccedilado ou em roccedilas vizinhas De acordo com Martins (2005) essas 397

variedades fruto de germinaccedilatildeo expentacircnea satildeo incorporadas aos roccedilados pelos agricultores 398

pela curiosidade em experimentar novas variedades agraves suas coleccedilotildees 399

Nesse estudo admitimos que optar por etnovariedades raras entre as comunidades 400

estudadas eacute um comportamento adotado por agricultores que manejam uma maior diversidade 401

corroborando com os estudos de Cavechia et al (2014) e Emperaire et al (2016) em regiotildees 402

uacutemidas Para esses autores etnovaridedades de baixa frequecircncia representam um subconjunto 403

das de alta frequecircncia cultivadas por agricultores que manteacutem a maior diversidade em seus 404

roccedilados Sendo assim inferimos que no geral entre as comunidades satildeo os agricultores 405

generalistas aqueles que cultivam maior diversidade os responsaacuteveis por incorporar novas 406

etnovariedades aos roccedilados 407

As decisotildees dos agricultores em manter o acervo direcionado principalmente para 408

atender a demanda de mercado por exemplo podem levar a uma homogeneizaccedilatildeo nas roccedilas 409

colocando em risco a manutenccedilatildeo da diversidade local (Peroni amp Hanazaki 2002) Como 410

discutido por Elias et al (2000) os agricultores que selecionam apenas um nuacutemero reduzido e 411

especiacutefico de variedades mais produtivas tendem a fazer com que as variedades menos 412

frequentes desapareccedilam ao longo do tempo Essa tendecircndia pode influenciar na capacidade de 413

43

resiliecircncia do sistema assim como dos agricultores em lidar com possiacuteveis adversidades 414

ambientais que possam ocorrer 415

Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 416

No geral os agricultores demonstraram uma tendecircncia em classificarseparar suas 417

diferentes etnovariedades de mandioca a partir da combinaccedilatildeo de um conjunto de sete 418

caracteres morfoloacutegicos distintos e de faacutecil percepccedilatildeo os quais natildeo tem relaccedilatildeo com o uso 419

como por exemplo a cores das raiacutezes caule e folhas Logo consideramos que esses caracteres 420

morfoloacutegicos podem ser considerados como uma forma de classificaccedilatildeo pelos agricultores 421

baseada na capacidade percepccedilatildeo das diferenccedilas morfoloacutegicas que cada etnovariedades 422

apresenta (Boster 1985) Estes resultados nos levam a entender que entre os agricultores o 423

conhecimento sobre a diversidade da mandioca estaacute relacionado ao conhecimento de 424

caracteriacutesticas morfoloacutegicas consistentes 425

A existecircncia de alguns fenoacutetipos comuns nos permitiu avaliar a classificaccedilatildeo da 426

consistecircncia da taxonomia popular entre os agricultores Por exemplo as etnovariedades 427

ldquoMaxaceira Rosardquo e ldquoMacaxeira Rosa Brancardquo e ldquoMacaxeira vermelhardquo foram agrupadas no 428

mesmo cluster (C4) por apresentaram fenoacutetipos semelhantes Notamos que os agricultores 429

classificaram essas variedades de acordo com os traccedilos morfoloacutegicos mais relevantes como a 430

cor do coacutertex da raiz rosa e cor branca da polpa O mesmo ocorreu com as etnovariedades 431

ldquoMandioca varudardquo ldquoMandioca campina da granderdquo e ldquoMandioca campinardquo caracterizadas 432

pela presenccedila do peciacuteolo verde agrupadas no cluster (C1) 433

A partir dessas evidecircncias consideramos a hipoacutetese de que as variedades mesmo 434

apresentando caracteriacutesticas morfoloacutegicas muito semelhantes estatildeo sujeitas a variaccedilatildeo 435

nomenclatural durante o processo a incorporaccedilatildeo aos roccedilados pelos agricultores pois a 436

capacidade para distinguir e nomear variedades entre os agricultores da mesma regiatildeo pode 437

variar (Sambatti et al 2001 Elias et al 2001 Mekbib 2007) Consideramos tambeacutem que pode 438

44

existir variaccedilatildeo geneacutetica entre os indiviacuteduos identificados por um mesmo nome ou entatildeo que 439

os agricultores datildeo o mesmo nome para variedades diferentes E esta situaccedilatildeo pode levar a uma 440

superestimaccedilatildeo ou subestimaccedilatildeo da diversidade de mandioca cultiva nas aacutereas de estudo 441

Sabemos que a mandioca eacute propagada vegetativamente pelos agricultores por meio de 442

estacas em sistemas de agricultura tradicional No entanto alguns variedades produzem flores 443

e sementes que germinam e podem originar outras variedades ou outros clones por meio de 444

fecundaccedilatildeo cruzada (Elias et al 2001) Nesse contexto a etnovariedade ldquoMacaxeira Sementerdquo 445

presente no cluster (C7) trata-se de um uacutenico indiviacuteduo amostrado em uma roccedila de um dos 446

agricultores Esta apresentava algumas caracteriacutesticas morfoloacutegicas distintas das demais 447

reconhecidas pelo agricultor como por exemplo a produccedilatildeo de uma raiz uacutenica e 448

consequentemente de baixo rendimento Encontramos apenas um indiviacuteduo dessa 449

etnovariedade e nossa hipoacutetese de que esta poderia ter sido originada da germinaccedilatildeo da 450

semente mesmo quando 100 dos informantes declararam natildeo dar qualquer importacircncia e 451

descartar essas ldquovariedades-voluntaacuteriasrdquo foi confirmada pelo agricultor que afirmou que se 452

tratava de uma variedade nascida da germinaccedilatildeo da semente Esse comportamento vai de 453

encontro ao estudo de Fraser et al (2012) pois apesar dos agricultores reportarem nas 454

entrevistas que conhecem essas ldquovariedades-voluntaacuteriasrdquo nenhum agricultor faz o uso delas 455

Peroni et al (1999) e Agre et al (2016) analisando morfologicamente as variedades 456

locais de mandioca mantidas por agricultores em sistemas agriacutecolas tropicais tambeacutem 457

demonstraram que os agricultores satildeo coerentes quanto a separaccedilatildeo e identificaccedilatildeo de suas 458

etnovariedades a partir da formaccedilatildeo de grupos de coesos quanto a nomenclatura local utilizada 459

No entanto para o melhor entendimento dessa diversidade aleacutem da caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica 460

o uso de anaacutelises complementares como anaacutelise molecular seria importante para tentar 461

identificar se esses grupos representam a mesma variedade com nomes distintos ou se satildeo 462

variedades distintas com o mesmo nome 463

45

Conclusatildeo 464

O estudo demonstrou que no sistema de manejo da mandioca ao niacutevel de roccedila em 465

comunidades localizadas na regiatildeo semiaacuterida de Pernambuco compotildee uma diversidade 466

intrespeciacutefica de mandioca para atender agraves demandas econocircmicas e de subsistecircncia das 467

populaccedilotildees locais 468

Com relaccedilatildeo a anaacutelise de rede demostramos que haacute um nuacutecleo de etnovariedades 469

fortemente conectado aos agricultores e sua composiccedilatildeo eacute direcionada pelas preferecircncias e 470

necessidades individuais dos agricultores que foram os fatores responsaacuteveis pelo surgimento 471

da estrutura aninhada observada na anaacutelise rede entre as comunidades deste estudo E esse 472

padratildeo aninhado observado contribui na conservaccedilatildeo das etnovariedades mais comuns mas 473

tambeacutem pode resultar em perda daquelas de menor frequecircncia ao longo do tempo 474

A caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica ldquoin siturdquo nos permitiram inferir que os agricultores 475

reconhecem as diferentes caracteriacutesticas morfoloacutegicas de suas cultivares e satildeo coerentes na 476

separaccedilatildeo de suas variedades de mandioca e macaxeira Entretanto esses resultados sugerem a 477

realizaccedilatildeo de um estudo em niacutevel de diversidade geneacutetica exploratoacuterio para identificar se as 478

consistecircncias morfoloacutegicas refletem em consistecircncias geneacuteticas elucidando assim as possiacuteveis 479

confusotildees atribuiacutedas aos nomes das etnovariedades de mandioca 480

Agradecimentos 481

Agradecemos ao liacuteder comunitaacuterio Alexandre O Nascimento aos agricultores e 482

agricultoras das comunidades pela acolhida confianccedila e pela gentileza de compartilharem 483

conosco seus conhecimentos e contribuiacuterem com este estudo Especialmente a Arlindo Ferreira 484

Edgar Antocircnio Joseacute Sebastiatildeo Juvenal Oliveira e Janete Alves Ao Laboratoacuterio de Ecologia e 485

Evoluccedilatildeo de Sistemas Socioecoloacutegicos (LEA - UFPE) E agradecemos ao CNPq pelo apoio 486

com a bolsa de estudos do primeiro autor 487

46

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614

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ANEXOS 615

616

Nome da revista 617

Human Ecology 618

Link de acesso 619

httpsgooglDVLbFj 620

Qualis-CAPES 621

B1 em Biodiversidade 622

623

624

625

626

627

628

629

630

631

632

633

634

635

636

637

638

639

640

641

642

52

Figuras 643

644

645

Fig 1 Partes do processo de fabricaccedilatildeo de farinha de mandioca Onde a raspagem b e c 646

processo de trituraccedilatildeo e d peneiramento Foto registrada em Abril de 2017 por Mirela Santos 647

648

649

650

c

d

b

a

53

651

Fig 2 Mapa de localizaccedilatildeo geograacutefica dos Municiacutepios de Altinho e Panelas e das comunidades 652

estudadas na regiatildeo semiaacuterida do Estado de Pernambuco (Elaborado por SANTOS 2018) 653

54

654

655

656

657

Fig 3 Processo de fabricaccedilatildeo da farinha de mandioca Apoacutes a colheita as raiacutezes satildeo lavadas 658

raspadas e trituradas (a) A massa extraiacuteda eacute prensada e coada Ao sair da prensa a massa 659

peneirada (b) e em seguida eacute torrada (c) em fornos artesanais ou parcialmente mecanizados 660

Imagem registrada em janeiro de 2017 na Comunidade do Caratildeo por Mirela Santos 661

662

663

a

b c

55

664

Fig 4 a Sede da Comunidade do Caratildeo b Agricultor transportando a palma forrageira que eacute 665

um exemplo de estrateacutegia adaptativa para suprir a falta de alimento dos animais devido agrave seca 666

c Feira-livre que acontece na comunidade a cada quinze dias Imagem registrada em julho de 667

2016 na Comunidade do Caratildeo por Mirela Santos 668

669

670

Fig 5 a O agricultor nos explicava as mudanccedilas que vem fazendo em seus roccedilados para se 671

adaptar aos longos periacuteodos de seca b Quando o agricultor nos mostrava as diferentes 672

etnovariedades que mantinha em sua roccedila c Durante a pesquisa nos explicavam como era feita 673

a colheita da mandioca e como selecionavam as manivas para o proacuteximo plantio Foto registrada 674

em abril de 2017 na Comunidade do Brejo Velho por Mirela Santos 675

a

b c

c b

a

56 676

677

Fig 6 Possiacuteveis estruturas de rede que descrevem as interaccedilotildees dos agricultores (losango) 678

ligados as etnovariedades (ciacuterculos) que cultivam Onde a Aninhada b Modular c Aleatoacuteria 679

(Fonte Cavechia et al 2014 com adaptaccedilotildees) 680

681

682

683

684

685

686

687

688

689

690

691

692

693

694

695

696

697

a c b

57

698

699

700

701

702

703

704

705

706

707

Fig 7 Correlaccedilatildeo de Spearman entre a diversidade de etnovariedades de mandiocas conhecidas 708

como cultivadas e variedades atualmente cultivadas por agricultor e as variaacuteveis 709

socioeconocircmicas Onde Nvc= nuacutemero de citadas como cultivadas Nve= nuacutemero de variedades 710

atualmente cultivadas Esc= escolaridade Id= idade Gen= gecircnero Tr= tamanho do roccedilado 711

Exp= experiecircncia na agricultura Sld= renda Nr= nuacutemero de roccedilados Cores distintivas 712

representam correlaccedilotildees significativas (Ple005) 713

714

58

715

Fig 8 Modelo individual de rede de etnovariedades de mandioca citadas (esquerda) por 716

agricultores como cultivadas (direita) nos Municiacutepios de Altinho e Panelas As redes foram 717

desenhadas com o pacote bipartite (Dormann et al 2017) usando o software R (R CORE 718

TEAM 2017) 719

720

59

721

Fig 9 Anaacutelise de Correspondecircncia Muacuteltipla das 17 etnovariedades de mandioca considerando 722

os sete descritores morfoloacutegicos utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo em roccedilas de 723

agricultores tradicionais de sete comunidades no semiaacuterido de Pernambuco 724

725

726

727

728

729

730

731

732

733

734

735

736

737

McCambadinha

McCampina

McCampinaDaGrande

McCampinaRasteira

McCampinaVaruda

McGauba

McIsabelDeSouza

McIsabelTresGalhos

McOlhoDePombo

McOlhoVerde

McPretinha

McPretona

MxBranca

MxRosa

MxRosaBrancaMxRosaVermelha

MxSemente

CFD_Verde_Arroxeado

CFD_Verde_ClaroCFD_Verde_Escuro

CBF_Roxo

CBF_Verde_ArroxeadoCBF_Verde_Claro

CBF_Verde_Escuro

CDP_Verde

CDP_Verde_Amarelado

CDP_Verde_Avermelhado

CDP_Vermelho

CEC_Cinza

CEC_Dourado

CEC_Laranja

CEC_Marrom_Claro

CEC_Marrom_Escuro

CEC_Prateado

CEC_Verde_AmareladoCicatriz_M

Cicatriz_P

PDR_Branco

PDR_Creme

CDR_BrancoCDR_Creme CDR_Rosa

-4

-2

0

2

4

-4 -2 0 2 4

Dim1 (206)

Dim

2 (

162

)

MCA - Biplot

00

10

Hierarchical Clustering

inertia gain

McC

am

pin

aV

aru

da

McC

am

pin

aD

aG

rande

McC

am

pin

a

McG

auba

McP

retin

ha

McP

reto

na

MxR

osaV

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MxR

osaB

ranca

MxR

osa

McC

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pin

aR

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ira

McC

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lhoV

erd

e

MxB

ranca

MxS

em

ente

McIsabelT

resG

alh

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McIsabelD

eS

ouza

McO

lhoD

eP

om

bo

00

05

10

15

Hierarchical Classification

Heig

ht

C1 C2 C3 C4 C5 C6 C7 C8

Fig 10 Agrupamento hieraacuterquico das 17 etnovariedades de mandioca caracterizadas de acordo

com os descritores utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo

60

Tabelas 738

739

Tabela 1 Caracteres e estados utilizados pelos agricultores como descritores botacircnicos para 740

caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das etnovariedades de mandioca 741

Caracter Sigla Estados

Folha

Cor da folha desenvolvida CFD 1- verde claro 2- verde escuro 3- verde arroxeado 4- roxo

Cor do broto foliar CBF 1- verde claro 2- verde escuro 3- verde arroxeado 4- roxo

Cor do peciacuteolo CDP 1- verde amarelado 2- verde 3- verde avermelhado 4- roxo

5- vermelho

Caule

Cor externa do caule CEC 1- laranja 2- verde amarelado 3- dourado 4- marrom claro

5- prateado 6- cinza 7- marrom escuro 8- verde

Protuberacircncia da cicatriz foliar PCF 1- pouco proeminente 2- muito proeminente

Raiacutez

Cor da poupa da raiz PDR 1- branco 2- creme

Cor do coacutertex da raiacutez CDR 1- rosa 2- branco 3- creme

742

743

744

745

746

747

748

749

750

751

61

Tabela 2 Lista das 22 etnovariedades de mandiocas citadas (132 citaccedilotildees) como cultivadas nas 752

comunidades pertencentes aos Municiacutepios de Altinho (Caratildeo n=8) e ao Municiacutepio de Panelas 753

(Aracuatilde Satildeo Joseacute do Bola Brejo Velho Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima e Lajeiro 754

Dantas n=21) 755

Etnovariedade Frequecircncia () Ranking Saliecircncia

Macaxeira Rosa 66 179 0472

Mandioca Isabel de Souza 48 179 0372

Mandioca Campina 24 217 0148

Macaxeira Branca 20 210 0134

Macaxeira Rosa branca 18 122 0168

Mandioca Pretona 16 338 0082

Mandioca Cambadinha 12 283 0071

Mandioca Isabel trecircs galhos 10 180 0075

Mandioca Gauacuteba 10 260 0070

Mandioca Pretinha 8 225 0053

Mandioca Peacute de pombo 4 400 0011

Mandioca Olho verde 4 350 0012

Macaxeira Rosinha 4 200 0027

Mandioca Campina varuda 4 200 0032

Mandioca Campina rasteira 4 300 0021

Mandioca Caboquinha 2 500 0007

Macaxeira Rasteira 2 200 0013

Macaxeira Paraacute 2 100 0020

Mandioca Barra ferro 2 300 0007

Mandioca Campina da grande 2 100 0020

Mandioca Olho de pombo 2 300 0010

Mandioca Jasmim 2 600 0006

756

757

758

62

Tabela 3 Lista de 17 etnovariedades atualmente cultivadas nos roccedilados das comunidades em 759

estudo 760

Ca Ar Bo Br Jb Jc Ld

Etnovariedade

Macaxeira Branca x x x x

Macaxeira Rosa

x x x x x x

Macaxeira Rosa Branca x x x x

Macaxeira Rosa Vermelha

x

Macaxeira Semente

x

Mandioca Cambadinha x

x

Mandioca Campina

x

x

x

Mandioca Campina da Grande x

Mandioca Campina Rasteira

x

Mandioca Campina Varuda

x

Mandioca Gauacuteba

x

Mandioca Isabel de Souza

x x x

Mandioca Isabel trecircs Galhos

x

x

Mandioca Olho de Pombo

x

Mandioca Olho Verde

x

Mandioca Pretinha

x

Mandioca Pretona x x x

Comunidades Ca= Caratildeo Ar=Aracuatilde Bo= Satildeo Joseacute do Bola Jb= Japaranduba de Baixo 761

Jc= Japaranduba de Cima Ld= Lajedo Dantas 762

763

764

765

766

767

768

63

Tabela 4 Descriccedilatildeo das classes do agrupamento por meacutetodo de Ward agrupadas pelo conjunto 769

dos descritores mais significativos para a caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das variedades de mandioca 770

Classes Descritores in situ p-valor

C1 Cor do peciacuteolo (CDP) 0016

C2 Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023

C3 Cor do peciacuteolo (CDP) 0012

C4 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0004

Cor da poupa da raiacutez (PDF) 0021

C5 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0003

C6 Cor do broto foliar (CBF) 0002

C7 Cor da folha desenvolvida (CFD) 0004

Cor externa do caule (CEC) 0040

C8 Cor do peciacuteolo (CDP) 0005

Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023

Valores de Ple005 satildeo significativos 771

772

vi

AGRADECIMENTOS

Ao meu orientador Dr Ulysses Paulino de Albuquerque de quem recebi o acolhimento

a orientaccedilatildeo e por quem experimentei um sentimento de admiraccedilatildeo Obrigada pela paciecircncia

oportunidades e por todo o conhecimento transmitido Agradeccedilo tambeacutem ao meu coorientador

Reginaldo de Carvalho que me abriu as portas para a realizaccedilatildeo do mestrado

A minha famiacutelia minha matildee Maacutercia meu pai Maacutezio e meu irmatildeo Maacutercio pois sempre

estiveram ao meu lado me incentivando e dando todo o suporte emocional Agradeccedilo pela

doaccedilatildeo e esforccedilos para que eu consiga alcanccedilar meus objetivos Pai obrigada por ser esse

exemplo de honestidade forccedila de vontade e dedicaccedilatildeo Agradeccedilo pela paciecircncia compreensatildeo

e sacrifiacutecios de longos trajetos que tivemos que enfrentar durante nossas idas e vindas para a

Universidade Matildee obrigada pela sua feacute e por me ensinar tanto com sua natureza humilde e

bondosa

Meus mais sinceros e profundos agradecimentos a todos os agricultores e agricultoras

que participaram desta pesquisa pela acolhida e confianccedila Obrigada por generosamente me

deixarem entrar em suas casas nos seus roccedilados na intimidade suas vidas e por compartilharem

comigo um pouco de seus conhecimentos dificuldades e principalmente ESPERANCcedilAS

Especialmente a Arlindo Ferreira Edgar Antocircnio Joseacute Sebastiatildeo e Juvenal Oliveira que satildeo

verdadeiros exemplos de humildade e solidariedade A Janete Alves e seu esposo Dida que me

hospedam em sua casa e me ajudaram de vaacuterias formas durante as minhas viagens de campo

Foi uma experiecircncia memoraacutevel e cada minuto embora difiacutecil foi fundamental para minha

formaccedilatildeo pessoal e profissional

A Viniacutecius Barbosa pela cumplicidade compreensatildeo e principalmente pela paciecircncia

Agradeccedilo por Deus ter me dado a oportunidade de compartilhar momentos inesqueciacuteceis ao

lado de uma pessoa tatildeo incriacutevel

Agradeccedilo tambeacutem agraves minhas amigas Amanda Eloi Jeacutessica Arruda Rayana Lima

Rayanne Gusmatildeo pela amizade de longas datas por todo apoio e compreensatildeo quando estive

ausente em nossos encontros Ao meu amigo Bartolomeu Neto pela ajuda com o

desenvolvimento do mapa das aacutereas em estudo

Aos meus companheiros de trabalho e parcerias do Laboratoacuterio de Ecologia e Evoluccedilatildeo

de Sistemas Socioecoloacutegicos (LEA - UFPE) que estiveram comigo durante este periacuteodo de

crescimento pessoal e profissional Em especial a Andreacute Borba Ivanilda Soares Juliane Hora

Nylber Silva Regina Ceacutelia Risoneide Henriques e Roberta Caetano

vii

A Rafael Zaacuterate agradeccedilo por toda disposiccedilatildeo dedicaccedilatildeo e aprendizado adquirido

Obrigada pelas horas de discussotildees sobre os temas do trabalho pelas ajudas em campo com as

anaacutelises estatiacutesticas e pela paciecircncia

Por fim agradeccedilo ao Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo em Botacircnica da Universidade Federal

Rural de Pernambuco (UFRPE) pela oportunidade de realizaccedilatildeo do mestrado e ao Conselho

Nacional de Desenvolvimento Cientifico e Tecnoloacutegico (CNPq) pela concessatildeo da bolsa de

incentivo a pesquisa

viii

ldquoEl mundo que nos rodea es un misterio ndash dijo-

Y los hombres no son mejores que ninguna otra cosardquo

Carlos Castaneda - Viaje a Ixtlaacuten

ix

LISTA DE FIGURAS

INTRODUCcedilAtildeO GERAL E REVISAtildeO DE LITERATURA

Fig 1 Partes do processo de fabricaccedilatildeo de farinha de mandioca Onde a raspagem b e c

processo de trituraccedilatildeo e d peneiramento 52

VARIACcedilAtildeO INTRAESPECIacuteFICA CONHECIMENTO E MANEJO LOCAL DE

MANDIOCA (Manihot esculenta Crantz) NO SEMIAacuteRIDO DE PERNAMBUCO

NORDESTE DO BRASIL

Fig 2 Mapa de localizaccedilatildeo geograacutefica dos Municiacutepios de Altinho e Panelas e das comunidades

estudadas na regiatildeo semiaacuterida do Estado de Pernambuco 53

Fig 3 Processo de fabricaccedilatildeo da farinha de mandioca Apoacutes a colheita as raiacutezes satildeo lavadas

raspadas e trituradas (a) A massa extraiacuteda eacute prensada e coada Ao sair da prensa a massa

peneirada (b) e em seguida eacute torrada (c) em fornos artesanais ou parcialmente mecanizados

54

Fig 4 a Sede da Comunidade do Caratildeo b Agricultor transportando a palma forrageira que eacute

um exemplo de estrateacutegia adaptativa para suprir a falta de alimento dos animais devido agrave seca

c Feira-livre que acontece na comunidade a cada quinze dias 55

Fig 5 a O agricultor nos explicava as mudanccedilas que vem fazendo em seus roccedilados para se

adaptar aos longos periacuteodos de seca b Quando o agricultor nos mostrava as diferentes

etnovariedades que mantinha em sua roccedila c Durante a pesquisa nos explicavam como era

feita a colheita da mandioca e como selecionavam as manivas para o proacuteximo plantio 55

Fig 6 Possiacuteveis estruturas de rede que descrevem as interaccedilotildees dos agricultores (losango)

ligados as etnovariedades (ciacuterculos) que cultivam Onde a Aninhada b Modular c Aleatoacuteria

56

Fig 7 Correlaccedilatildeo de Spearman entre a diversidade de etnovariedades de mandiocas conhecidas

como cultivadas e variedades atualmente cultivadas por agricultor e as variaacuteveis

socioeconocircmicas Onde Nvc= nuacutemero de citadas como cultivadas Nve= nuacutemero de variedades

atualmente cultivadas Esc= escolaridade Id= idade Gen= gecircnero Tr= tamanho do roccedilado

Exp= experiecircncia na agricultura Sld= renda Nr= nuacutemero de roccedilados Cores distintivas

representam correlaccedilotildees significativas (Ple005) 57

Fig 8 Modelo individual de rede de etnovariedades de mandioca citadas (esquerda) por

agricultores como cultivadas (direita) nos Municiacutepios de Altinho e Panelas As redes foram

x

desenhadas com o pacote bipartite (Dormann et al 2017) usando o software R (R CORE

TEAM 2017) 58

Fig 9 Anaacutelise de Correspondecircncia Muacuteltipla das 17 etnovariedades de mandioca considerando

os sete descritores morfoloacutegicos utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo em roccedilas de

agricultores tradicionais de sete comunidades no semiaacuterido de Pernambuco 59

Fig 10 Agrupamento hieraacuterquico das 17 etnovariedades de mandioca caracterizadas de acordo

com os descritores utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo 59

xi

LISTA DE TABELAS

CAPIacuteTULO IVARIACcedilAtildeO INTRAESPECIacuteFICA CONHECIMENTO E MANEJO

LOCAL DE MANDIOCA (Manihot esculenta Crantz) NO SEMIAacuteRIDO DE

PERNAMBUCO NORDESTE DO BRASIL

Tabela 1 Caracteres e estados utilizados pelos agricultores como descritores botacircnicos para

caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das etnovariedades de mandioca 60

Tabela 2 Lista das 22 etnovariedades de mandiocas citadas (132 citaccedilotildees) como cultivadas nas

comunidades pertencentes aos Municiacutepios de Altinho (Caratildeo n=8) e ao Municiacutepio de Panelas

(Aracuatilde Satildeo Joseacute do Bola Brejo Velho Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima e Lajeiro

Dantas n=21) 61

Tabela 3 Lista de 17 etnovariedades atualmente cultivadas nos roccedilados das comunidades em

estudo 62

Tabela 4 Descriccedilatildeo das classes do agrupamento por meacutetodo de Ward agrupadas pelo conjunto

dos descritores mais significativos para a caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das variedades de mandioca

63

xii

SUMAacuteRIO

RESUMO GERAL xiii

1 Introduccedilatildeo Geral 14

2 Revisatildeo bibliograacutefica 17

21 Manihot esculenta Crantz e conhecimento local de agricultores tradicionais 17

22Manejo tradicional em roccedilas e diversidade intraespeciacutefica da mandioca 18

23 Redes sociais de troca e circulaccedilatildeo de etnovariedades de mandioca 20

3 Referecircncias bibliograacuteficas 22

VARIACcedilAtildeO INTRAESPECIacuteFICA CONHECIMENTO E MANEJO LOCAL DE

MANDIOCA (Manihot esculenta Crantz) NO SEMIAacuteRIDO DE PERNAMBUCO

NORDESTE DO BRASIL 25

Resumo 26

Introduccedilatildeo 27

Material e meacutetodos 29

Resultados 36

Discussatildeo 40

Conclusatildeo 45

Agradecimentos 45

Referecircncias bibliograacuteficas 46

ANEXOS 51

xiii

RESUMO GERAL

Agricultores de pequena escala que praticam agricultura de modo tradicional em roccedilas

desempenham um importante papel na geraccedilatildeo manutenccedilatildeo e conservaccedilatildeo da

agrobiodiversidade local Dentre as espeacutecies mais cultivadas em roccedilas a Manihot esculenta

Crantz (mandioca) em sua diversidade intrespeciacutefica eacute um dos recursos agriacutecolas de maior

importacircncia econocircmica e de subsistecircncia para diversas populaccedilotildees locais no mundo Acredita-

se que as praacuteticas de manejo dedicadas ao cultivo da mandioca associadas ao conhecimento de

agricultores resultam no aumento da diversidade intraespeciacutefica assim como na conservaccedilatildeo

dessa diversidade Diante disso a pesquisa teve como objetivo compreender os processos

envolvidos na dinacircmica da diversidade agriacutecola da mandioca por meio do acesso ao

conhecimento dos agricultores quanto as praacuteticas de menejo e entender quais fatores podem

estar relacionados a geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da diversidade local Para isso o estudo foi

desenvolvido junto a agricultores tradicionais de sete comunidades rurais localizadas na regiatildeo

semiaacuterida do estado de Pernambuco A abordagem metodoloacutegica foi baseada em entrevistas

semiestruturadas conversas com os informantes e visitas aos roccedilados para caracterizar e

compreender a importacircncia manejo da agricultura de sequeiro e das redes sociais estabelecidas

entre os agricultores bem como identificar as variedades de mandioca atualmente cultivadas

A partir do conhecimento da diversidade manejada analisamos a estrutura da rede de interaccedilatildeo

social formada pelas trocas de etnovariedades entre os agricultores A partir destas informaccedilotildees

discutimos sobre o importante papel dos agricultores na manutenccedilatildeo do conjunto de

etnovariedades regionais Um total de 22 etnovariedades foram citadas as quais satildeo

identificadas pelos agricultores principalmente por meio de sete caracteres morfoloacutegicos A

estrutura em redes de trocas de variedades favorece a manutenccedilatildeo e amplificaccedilatildeo das diferentes

variedades locais

Palavras-Chave Agricultura tradicional Agricultura de sequeiro Agrobiodiversidade

Plantas alimentiacutecias Redes sociais

xiv

ABSTRACT

Small-scale farmers who practice traditional agriculture fields have an important role in

generation maintenance and conservation of local agrobiodiversity Among the most cultivated

species the Manihot esculenta Crantz (cassava) in its intrespecific diversity is one of the

moust important agricultural resources of economic importance and livelihood for many local

people in the world It is believed that the management practices dedicated to the cultivation of

cassava associated with the knowledge of farmers result in increased intraspecific diversity

and the conservation of this diversity Therefore the research aimed to understand the processes

involved in the dynamics of agricultural diversity of cassava through access the knowledge of

farmers as the management of practices and understand what factors may be related to the

generation and maintenance of local diversity For this the study was developed with the

traditional farmers of seven rural communities located in the semiarid region of the state of

Pernambuco The methodological approach was based on semi-structured interviews

conversations with informants and visits to fields to characterize and understand the

importance of management of dry framing and social networks established between farmers

and to identify the cassava varieties currently grown From the knowledge of managed

diversity we analyze the structure of social interaction network formed by the exchange of

landraces among farmers From this information We discussed the important role of farmers

in the overall regional landraces maintenance A total of 22 landraces were cited which are

identified by farmers mainly through seven morphological characters The structure of

varieties sharing networks favors the maintenance and amplification of different local varieties

Keywords Agrobiodiversity Dry Farming Food plants Social networks Traditional

agriculture

14

1 Introduccedilatildeo Geral

Ao longo dos anos populaccedilotildees tradicionais foram adquirindo aprimorando e transmitindo

seus conhecimentos sobre o manejo dos recursos naturais existentes em suas respectivas

regiotildees e assim foram desenvolvendo teacutecnicas para se adaptar e sobreviver ao ambiente Essas

populaccedilotildees foram domesticando uma grande variedade de espeacutecies de plantas alimentiacutecias

numa agricultura de pequena escala (BALLEacute 2006 CLEMENT et al 2010)

Essa interaccedilatildeo pessoas-planta por meio do cultivo e manejo das espeacutecies vegetais vem

contribuindo para ambos com alteraccedilotildees adaptativas por meio da seleccedilatildeo artificial Essas

alteraccedilotildees resultaram em mudanccedilas na estrutura geneacutetica das espeacutecies vegetais pelo manejo da

seleccedilatildeo de caracteriacutesticas fenotiacutepicas fisioloacutegicas e econocircmicas das plantas E essa seleccedilatildeo

consciente ou inconsciente das plantas se traduz em uma grande variaccedilatildeo intraespeciacutefica nas

populaccedilotildees vegetais sob diferentes regimes de manejo (CARMONA CASAS 2005)

Por meio do cultivo agricultores em comunidades tradicionais desempenham um papel

fundamental no processo dinacircmico de geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da agrobiodiversidade local em

sistemas de roccedilas Essas roccedilas satildeo aacutereas de agricultura tradicional localizadas dentro de

comunidades caracterizadas natildeo soacute pelo grande nuacutemero espeacutecies cultivadas mas tambeacutem pela

alta diversidade intraespeciacutefica que essas espeacutecies apresentam (MARTINS 2005) Dentre as

espeacutecies comumente cultivadas nesse sistema a mandioca (Manihot esculenta Crantz

Euphorbiaceae) eacute considerada uma cultura de alto valor econocircmico nutricional utilitaacuterio

cultural e social para muitas populaccedilotildees humanas no mundo (CLEMENT et al 2010) Aleacutem

disso a mandioca apresenta uma grande diversidade intraespeciacutefica e por essas caracteriacutesticas

tornou-se uma espeacutecie-modelo para compreender como os diferentes padrotildees e estrateacutegias de

manejo adotadas pelos agricultores podem influenciar na diversidade local (ELIAS et al 2001

EMPERAIRE PERONI 2007 EMPERAIRE ELOY 2008)

Segundo PERONI amp MARTINS (2000) as diferentes praacuteticas de manejo desse

importante recurso favorecem a alta diversidade intraespeciacutefica em roccedilas de agricultura

itinerante1 Um dos fatores responsaacuteveis pela geraccedilatildeo dessa diversidade consiste na capacidade

de incorporaccedilatildeo de novos germoplasmas por meio da reproduccedilatildeo sexuada associada ao manejo

agriacutecola tradicional (PUJOL et al 2005 EMPERAIRE PERONI 2007) Apesar de propagada

1 Agricultura caracterizada por ciclos de uso e pousio como por exemplo corte e queima

15

vegetativamente pelos agricultores a mandioca (M esculenta) ainda manteacutem a sua capacidade

de reproduccedilatildeo sexual sendo este um aspecto muito importante para dinacircmica evolutiva da

cultura (PUJOL et al 2007 CLEMENT et al 2010) Apoacutes a fecundaccedilatildeo cruzada e dispersatildeo

das sementes um banco destas eacute formado no solo e as novas variedades germinam nas roccedilas

(MARTINS 2005) Antes de serem imcorporadas ao acervo essas lsquolsquovariedades-voluntaacuteriasrsquorsquo

passam por um filtro cultural ou seja seratildeo reconhecidas pelos agricultores por meio de

caracteriacutesticas morfoloacutegicas experimentadas e entatildeo selecionadas (MARTINS OLIVEIRA

2009)

Outro evento envolvido na geraccedilatildeo de diversidade intraespeciacutefica eacute incorporaccedilatildeo de

novas variedades de mandioca por meio de uma rede social de troca de material propagativo

estabelecida entre os agricultores (CAVECHIA et al 2014) Esse mecanismo permite a

circulaccedilatildeo das manivas2 tanto a niacutevel local quanto regional permite tambeacutem o acesso aos

diferentes conjuntos de variedades cultivadas entre as comunidades e ainda que o conjunto de

etnovariedades3 locais eou regionais seja conservado (EMPERAIRE ELOY 2008) Dentro

dessas redes sociais de troca as relaccedilotildees entre os agricultores atuam como mecanismo

fundamental para dispersatildeo e experimentaccedilatildeo das etnovariedades entre as roccedilas E satildeo essas

relaccedilotildees e decisotildees estabelecidas entre os agricultores que iratildeo definir quais etnovariedades

seratildeo mantidas ao longo do tempo e quais seratildeo abandonadas (LIMA et al 2012)

Sendo os agricultores e as interaccedilotildees entre eles fundamentais para o estabelecimento da

diversidade local (PINTON EMPERAIRE 2001 EMPERAIRE ELOY 2008) torna-se

pertinente entender como as diferentes estrateacutegias adotadas pelos agricultores influenciam na

dinacircmica da agrobiodiversidade local Muitos trabalhos com esse enfoque foram desenvolvidos

nas regiotildees Amazocircnica e Sudeste mas pouco se discute sobre a dinacircmica da agrobiodiversidade

em regiotildees semiaacuteridas

Nesse sentido o presente estudo visa investigar as interaccedilotildees entre agricultores

tradicionais de comunidades rurais estabelecidas na regiatildeo semiaacuterida de Pernambuco O

objetivo geral eacute compreender os processos envolvidos na dinacircmica da diversidade agriacutecola por

meio do acesso ao conhecimento dos agricultores quanto as praacuteticas de menejo e entender quais

quais fatores podem estar relacionados a geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da diversidade local Para esse

estudo a mandioca foi escolhida como modelo devida agrave sua importacircncia econocircmica e de

subsistecircncia para comunidades locais Os objetivos especiacuteficos foram (i) caracterizar o manejo

2 Satildeo pedaccedilos das hastes ou ramas da mandioca usadas para o plantio 3 Variedades intraespeciacuteficas de mandioca (M esculenta) identificadas pelos agricultores por nomenclatura

popular local (Martins 2005)

16

da agricultura de sequeiro bem como analisar se os paracircmetros socioeconocircmicos influenciam

na diversidade local (ii) registrar as etnovariedades atualmente cultivadas e identificar os

diferentes criteacuterios morfoloacutegicos utilizados pelos agricultores para a seleccedilatildeo e classificaccedilatildeo das

etnovariedades e (iii) descrever a estrutura da rede de interaccedilatildeo entre os agricultores e a

diversidade de etnovariedades de mandioca cultivadas para tentar entender como essas relaccedilotildees

podem influenciar na manutenccedilatildeo ou perda da diversidade local

a

b c

17

2 Revisatildeo bibliograacutefica

21 Manihot esculenta Crantz e conhecimento local de agricultores tradicionais

O gecircnero Manihot Miller (Euforbiaceae) possui cerca de 98 espeacutecies distribuiacutedas em 19

seccedilotildees das quais 13 delas ocorrem no Brasil (ROGERS APPAN 1973) Dentre as espeacutecies do

gecircnero Manihot esculenta Crantz (mandioca) eacute a principal cultivar uma vez que compotildee a

base da dieta alimentar de diversas populaccedilotildees rurais principalmente em regiotildees tropicais A

mandioca foi domesticada na Ameacuterica do Sul pois eacute onde se encontra o maior centro de

diversificaccedilatildeo Estudos relacionados ao entendimento de sua origem botacircnica tecircm contribuiacutedo

para a compreensatildeo das accedilotildees humanas no processo de domesticaccedilatildeo e ampliaccedilatildeo da

diversidade da espeacutecie (OLSEN SCHAAL 1999 ELIAS et al 2004 ELLEN 2012)

As diferentes variedades da espeacutecie satildeo reconhecidas em dois grandes grupos principais

o das variedades mais toacutexicas e o de variedades menos toacutexicas baseadas no potencial de

glicosiacutedeos cianogecircnicos (HCN) contido na polpa das raiacutezes (ELIAS et al 2004) Variedades

com baixa toxicidade contecircm baixas concentraccedilotildees de glicosiacutedeos cianogecircnicos (HCNlt100

mgKg-1) e satildeo conhecidas em comunidades agriacutecolas variando entre regiotildees ou grupos eacutetnicos

como ldquomacaxeirasrdquo ldquomandiocas doces ou mansasrdquo ou ldquoaipinsrdquo As variedades mais toacutexicas

com altas concentraccedilotildees de HCN (HCNgt 100 mgKg-1) satildeo reconhecidas como ldquomandiocasrdquo

ou ldquomandiocas amargas ou bravasrdquo (PERONI et al 2007 MCKEY et al 2010) E portanto

precisam passar por um processo de desintoxicaccedilatildeo para se tornarem aptas ao consumo como

por exemplo pelo processo de fabricaccedilatildeo da farinha de mandioca (Fig 1) Apesar do seu

potencial toacutexico as variedades amargas possuem teores mais elevados de amido e se adaptam

bem a solos pobres e aacutecidos aleacutem de serem mais resistentes aos patoacutegenos e pragas em

comparaccedilatildeo com as variedades doces (FRASER et al 2010)

Sob o ponto de vista botacircnico esta dicotomia natildeo eacute reconhecida mas existem alguns

trabalhos que evidenciam a relaccedilatildeo entre a coerecircncia da taxonomia popular com a diferenciaccedilatildeo

geneacutetica para separaraccedilatildeo das variedades ldquodocesrdquo e ldquoamargasrdquo (ELIAS et al 2004 PERONI

et al 2007) O conhecimento das caracteriacutesticas morfoloacutegicas das plantas e a coerecircncia na

identificaccedilatildeo dessas variedades com niacuteveis distintos de HCN eacute de grande importacircncia

adaptativa para as populaccedilotildees que gerem esse recurso sobretudo pelo risco de intoxicaccedilatildeo

(RIVAL MCKEY 2008)

18

No estudo realizado por AMOROZO (2000) por exemplo os agricultores geralmente

classificavam as variedades que tinham raiacutezes brancas como ldquobravasrdquo e aquelas que tinham

raiacutezes vermelhas como ldquomansasrdquo embora eles reconhecessem algumas exceccedilotildees Em pesquisas

realizados por FARALDO et al (2000) MKUMBIRA et al (2003) ELIAS et al (2004) e

PERONI et al (2007) os agricultores foram consistentes na distinccedilatildeo de suas variedades

lsquolsquodocesrdquo e ldquoamargasrsquorsquo e com base no conhecimento de caracteres morfoloacutegicos distintos os

nomes das variedades refletiram na diversidade geneacutetica A partir dessas evidecircncias podemos

inferir que o conhecimento local dos agricultores associado agrave experiecircncia eacute importante natildeo

somente para o reconhecimento das variedades locais por si soacute mas tambeacutem por conter

informaccedilotildees relevantes sobre o papel que esses recursos podem desempenhar nos sistemas

agriacutecolas de pequena escala e para as populaccedilotildees locais (GADGIL et al 1993)

O conhecimento tradicional dos agricultores trata-se de um conjunto de saberes praacuteticas

e crenccedilas baseadas no contato direto nas observaccedilotildees experimentaccedilotildees diaacuterias e nas

dependecircncias econocircmicas eou de subsistecircncia dos recursos que satildeo geralmente transmitidas

oralmente dentro e entre as geraccedilotildees (AMOROZO 2000 DOMINGUES ARRUDA 2001

BEGOSSI 2004) Sendo assim o conhecimento tradicional de agricultores que praticam a

agricultura de pequena escala realizada em comunidades tradicionais eacute importante pois tem

garantido a perpetuaccedilatildeo dos conhecimentos e das praacuteticas agriacutecolas desenvolvidas durante

milhares de anos entre os agroecossistemas locais

22 Manejo tradicional em roccedilas e diversidade intraespeciacutefica da mandioca

A agricultura de pequena escala praticada em comunidades locais tem garantido a

perpetuaccedilatildeo do conhecimento sobre o manejo e a diversidade de espeacutecies agriacutecolas O sistema

de cultivo em roccedilas eacute tipicamente praticado por agricultores de comunidades tradicionais em

aacutereas uacutemidas no mundo inteiro As roccedilas satildeo aacutereas de cultivo de pequena escala localizadas

dentro de comunidades proacuteximas umas das outras que se tornaram objeto de estudo em vaacuterias

pesquisas antropoloacutegicas etnobotacircnicas geneacuteticas e ecologias especialmente por apresentarem

grande diversidade de espeacutecies cultivadas e pelo manejo destinar-se agrave subsistecircncia de grupos

familiares de agricultores de pequena escala (PUJOL et al 2007)

Aleacutem da diversidade de espeacutecies outra caracteriacutestica dessas roccedilas eacute o grande nuacutemero de

variedades dentro de cada espeacutecie Esta diversidade intraespeciacutefica pode ser referida como

etnovariedades que eacute um termo utilizado para definir grupos de indiviacuteduos identificados por

19

nomenclatura popular local a qual pode expressar elementos do contexto cultural econocircmico

e social das populaccedilotildees associado ao uso (PERONI MARTINS 2000 EMPERAIRE

PERONI 2007)

Dentre as vaacuterias espeacutecies cultivadas em roccedilas a mandioca (M esculenta) em seu

nuacutemero de etnovariedades eacute uma das principais culturas de importacircncia econocircmica e

nutricional para populaccedilotildees que utilizam esse sistema Sua diversidade pode estar relacionada

ao sistema reprodutivo da cultura ao modo de gestatildeo da agricultura pelas pressotildees de seleccedilatildeo

exercidas pelo proacuteprio homem ou ateacute mesmo por causas naturais (MARTINS 2005

CLEMENT et al 2010)

As caracteriacutesticas de manejo empregadas no cultivo da mandioca em roccedilas favorecem

a elevada diversidade intraespeciacutefica dessa cultura O modo de propagaccedilatildeo da mandioca eacute feito

pelos agricultores por meios de estacas (manivas) que satildeo selecionadas de acordo com as

caracteriacutesticas desejaacuteveis que elas apresentam seja para fins econocircmicos ou utilitaacuterios Apesar

de propagada vegetativamente que eacute um meacutetodo usado pelas populaccedilotildees humanas para plantio

e multiplicaccedilatildeo de plantas a mandioca natildeo perdeu a sua capacidade de reproduccedilatildeo sexual

sendo esse um aspecto importante para dinacircmica evolutiva da cultura (PUJOL et al 2007)

Esse meacutetodo de propagaccedilatildeo permite o fluxo e a circulaccedilatildeo do material geneacutetico entre os

diferentes roccedilados por meio de um sistema de redes sociais de troca de etnovariedade de

mandioca entre os agricultores tanto a niacutevel regional (entre comunidades) quanto em escalas

menores (entre vizinhos e parentes) (ELIAS et al 2004 EMPERAIRE OLIVEIRA 2010)

Segundo Emperaire e Peroni (2007) esse mecanismo de troca de germoplasma eacute uma grande

forccedila de dispersatildeo que resulta na agrobiodiversidade regional mais elevada pois estabelece

viacutenculos entre as diferentes roccedilas e promove oportunidades de seleccedilatildeo e cruzamento entre as

diferentes etnovariedades (EMPERAIRE ELOY 2008)

Atributo bioloacutegicos da espeacutecie tambeacutem estatildeo relacionados com o aumento da

diversidade intrespeciacutefica como a capacidade de dormecircncia das sementes e a dispersatildeo

autocoacuterica que propiciam o desenvolvimento de um banco de sementes no solo ao longo do

tempo permitindo o cruzamento entre as novas variedades adquiridasplantadas e entre estas

com variedades que existiram anterioemente na mesma aacuterea (PERONI MARTINS 2000

MARTINS 2005) A presenccedila dessas ldquoplantas-voluntaacuteriasrdquo ou seja aquelas nascidas de

germinaccedilatildeo expontacircnea eacute um dos eventos identificados como precursores de diversidade

intraespeciacutefica nas populaccedilotildees de mandioca cultivadas (PUJOL et al 2007)

20

Contudo muitos esforccedilos vecircm sendo empregados em estudos que observam a ecologia

da mandioca e o manejo agriacutecola associado agrave geraccedilatildeo de diversidade varietal e geneacutetica na

espeacutecie para tentar entender como esses mecanismos influenciam na diversidade de

etnovariedades locais e na sua dinacircmica (PUJOL et al 2007 KOMBO et al 2012 ELIAS et

al 2001)

23 Redes sociais de troca e circulaccedilatildeo de etnovariedades de mandioca

Sistemas agriacutecolas de pequena escala dependem de uma grande diversidade de espeacutecies e

variedades cultivadas e do fluxo destas por meio de redes sociais de troca material vegetativo

estabelecidas entre agricultores podendo o alcance da circulaccedilatildeo variar em escala local eou

regional (EMPERAIRE ELOY 2008) As trocas dependem de dois mecanismos principais

dos padrotildees de interaccedilatildeo social entre os agricultores e dos padrotildees de uso dos recursos

(CAVECHIA et al 2014) e as redes variam em funccedilatildeo das caracteriacutesticas culturais

econocircmicas e sociais das comunidades (EMPERAIRE PERONI 2007 PAUTASSO et al

2012)

No caso da mandioca (Manihot esculenta Crantz) a propagaccedilatildeo se da por estaquia o que

favorece a troca de material de vegetativo entre os agricultores e permite o fluxo entre

variedades locais e regionais (MARTINS 2005) As trocas de variedades de mandioca entre os

agricultores geralmente acontecem por alguma circunstacircncia que leve o agricultor a pedir o

material propagativo para o plantio com por exemplo para o plantio de uma nova roccedila ou por

alguma fitopatologia deslocaccedilatildeo ou estaccedilotildees de chuva e seca prolongadas (EMPERAIRE et

al 2001 EMPERAIRE ELOY 2008) Em alguns casos como no de algumas comunidades

agriacutecolas de pequena escala as redes de casamento satildeo utilizadas para a circulaccedilatildeo de

variedades (EMPERAIRE PERONI 2007 DELEcircTRE et al 2011)

O processo de manutenccedilatildeo da diversidade nesses sistemas resulta do interesse ou da

necessidade do agricultor em adquirir ou abandonar variedades testar e selecionar novas

etnovariedades de mandioca Dentre os fatores que dirigem a seleccedilatildeo de etnovariedades estatildeo

as preferecircncias individuais dos agricultores Alguns podem optar por cultivar todas as

etnovariedades comuns eou disponiacuteveis na regiatildeo enquanto que outros optam apenas por

manter um conjunto especiacutefico dessa diversidade (CAVECHIA et al 2014) Seja para atender

a alguma demanda individual pelo interesse em aumentar a produtividade ou pela necessidade

21

de conservar o material vegetativo para o proacuteximo plantio no caso de perda de material por

algum fator ambiental adverso (EMPERAIRE et al 2001 EMPERAIRE ELOY 2008)

Nesse sentido satildeo os agricultores os maiores responsaacuteveis por determinar como e quais

etnovariedades seratildeo compartilhadas e mantidas entre as comunidades (PAUTASSO et al

2012) E a chave para a compreensatildeo da dinacircmica da diversidade varietal eacute por meio desse

intercacircmbio e dos fatores que influenciam essa conectividade entre as comunidades pois essas

redes representam um grande impacto sobre a diversidade de variedades cultivadas E eacute por

meio dessas redes que se diminui coletivamente os riscos de perda total de diversidade geneacutetica

local (EMPERAIRE ELOY 2008)

Desse modo as relaccedilotildees estabelecidas pelos agricultores entre as comunidades por meio

das redes troca de germoplasma podem ter consequecircncias importantes sobre a diversidade

varietal da mandioca E compreender os processos envolvidos na manutenccedilatildeo ou perda de

germoplasma nos sistemas agriacutecolas eacute importante uma vez que compreendendo a maneira

como os agricultores usam esse conjunto de etnovariedades de mandioca e as compartilham

vai trazer importantes discussotildees a cerca da qualidade e a quantidade do recurso que seraacute

mantido transmitido ou perdido dentro dos sistemas ao longo do tempo

22

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25

VARIACcedilAtildeO INTRAESPECIacuteFICA CONHECIMENTO E MANEJO

LOCAL DE MANDIOCA (Manihot esculenta Crantz) NO SEMIAacuteRIDO DE

PERNAMBUCO NORDESTE DO BRASIL

Artigo submetido ao perioacutedico Human Ecology

Normas para submissatildeo em anexos

26

Variaccedilatildeo intraespeciacutefica conhecimento e manejo local de mandioca 1

(Manihot esculenta Crantz) no semiaacuterido de Pernambuco Nordeste do 2

Brasil 3

Mirela Nataacutelia Santos12 Jhonatan Rafael Zaacuterate-Salazar1 Reginaldo de Carvalho1 amp 4

Ulysses Paulino de Albuquerque2 5

6

1 Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo em Botacircnica Departamento de Biologia Rua Dom Manuel de Medeiros 7

Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) sn Dois Irmatildeos Recife Pernambuco 52171-8

900 Brasil 9

2 Laboratoacuterio de Ecologia e Evoluccedilatildeo de Sistemas Socioecoloacutegicos (LEA) Departamento de Botacircnica 10

Avenida Professor Moraes Rego Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) sn Cidade 11

Universitaacuteria Recife Pernambuco 50670-901 Brasil 12

Resumo 13

Historicamente a espeacutecie Manihot esculenta Crantz (mandioca) eacute uma espeacutecie de grande valor 14

econocircmico e de subsistecircncia para populaccedilotildees em comunidades tradicionais Variedades de 15

mandioca satildeo selecionadas com base nos interesses dos agricultores conduzindo uma evoluccedilatildeo 16

especiacutefica sobre a geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da agrobiodiversidade local Diante disso a mandioca 17

tornou-se espeacutecie-modelo em estudos que buscam compreender como os padrotildees e estrateacutegias 18

adotadas pelas populaccedilotildees humanas influenciam na diversidade intraespeciacutefica local em regiotildees 19

tropicais No entanto os fatores que influenciam a diversidade da mandioca em regiotildees 20

semiaacuteridas ainda natildeo foram bem documentados Nesse sentido objetivo geral do estudo foi 21

compreender os processos envolvidos na dinacircmica da diversidade agriacutecola em sete 22

comunidades tradicionais localizadas na regiatildeo semiaacuterida do estado de Pernambuco (Nordeste 23

do Brasil) por meio do acesso ao conhecimento dos agricultores quanto as praacuteticas de menejo 24

para tentar quais quais fatores podem estar relacionados a geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da diversidade 25

local Com os resultados da anaacutelise de redes verificamos uma alta diversidade de 26

etnovariedades cultivadas e a sua composiccedilatildeo eacute determinada pelas preferecircncias e 27

comportamentos individuais dos agricultores que foram provavelmente os mecanismos 28

27

responsaacuteveis pelo surgimento da estrutura aninhada observada na anaacutelise rede Esse padratildeo 29

aninhado contribui na conservaccedilatildeo das etnovariedades mais comuns mas tambeacutem pode resultar 30

em perda daquelas de menor frequecircncia ao longo do tempo 31

Palavras-Chave Agricultura tradicional Agricultura de sequeiro Agrobiodiversidade 32

Etnobiologia Plantas alimentiacutecias 33

34

Introduccedilatildeo 35

Historicamente as populaccedilotildees humanas foram acumulando conhecimentos sobre 36

praacuteticas da agricultura desenvolvendo teacutecnicas adaptadas ao meio natural e assim foram 37

domesticando uma grande variedade de cultivos alimentares para garantirem a sua 38

sobrevivecircncia (Balleacute 2006 Clement et al 2010) Essa interaccedilatildeo pessoas-plantas por meio do 39

cultivo e manejo das espeacutecies vegetais considerando tanto os aspectos sociais quanto naturais 40

dos sistemas dinacircmicos eacute uma importante ferramenta para o entendimento do conhecimento 41

dos agricultores sobre os agroecossistemas locais ( Alcorn 1995) 42

Aleacutem disso essas interaccedilotildees vem contribuindo com alteraccedilotildees nas populaccedilotildees vegetais 43

por meio da seleccedilatildeo artificial Essas alteraccedilotildees resultaram em mudanccedilas na estrutura geneacutetica 44

dessas populaccedilotildees que satildeo determinadas geralmente pela seleccedilatildeo de caracteriacutesticas fenotiacutepicas 45

fisioloacutegicas eou econocircmicas das plantas refletidas em classificaccedilotildees e nomenclaturas 46

especiacuteficas baseadas em percepccedilotildees individuais (Carmona amp Casas 2005) 47

Muitos pesquisadores tentam explicar o papel dos agricultores de pequena escala na 48

seleccedilatildeo classificaccedilatildeo e manutenccedilatildeo da agrobiodiversidade local em roccedilas tradicionalmente 49

manejas em regiotildees uacutemidas (Emperaire amp Peroni 2007 Emperaire amp Eloy 2008 Marchetti et 50

al 2013) Essas roccedila satildeo aacutereas de cultivo caracterizadas por conter uma alta diversidade 51

intraespeciacutefica de espeacutecies (Martins 2005) Dentre elas a Manihot esculenta Crantz 52

28

(mandioca) Euphorbiaceae em sua diversidade de etnovariedades eacute a espeacutecie mais importante 53

sob ponto de vista econocircmico e de subsistecircncia para as populaccedilotildees locais e mais cultivada 54

devido a sua grande adaptabilidade ambiental e baixos custos de gestatildeo (Elias et al 2001) 55

A alta diversidade da mandioca nessas aacutereas pode ser atribuiacuteda agrave possibilidade de 56

introduccedilatildeo de novas variedades via reproduccedilatildeo sexuada associada a ecologia da espeacutecie Esse 57

mecanismo permite o fluxo gecircnico entre as variedades de mandioca cultivadas do mesmo local 58

e entre estas com variedades de locais vizinhos (Pujol et al 2007) Outro mecanismo que 59

favorece essa diversidade eacute agrave circulaccedilatildeo de material propagativo por meio redes sociais de troca 60

variedades entre os agricultores (Pujol et al 2005 Emperaire amp Peroni 2007 Clement et al 61

2010) Esse mecanismo de troca eacute fundamental para o estabelecimento de interaccedilotildees entre as 62

diferentes aacutereas de roccedila promovendo oportunidade de seleccedilatildeo e cruzamento entre os diferentes 63

conjuntos de variedades aleacutem de permitir que este conjunto seja conservado (Emperaire amp Eloy 64

2008) 65

Diante desse cenaacuterio podemos observar que a agrobiodiversidade local natildeo eacute fruto 66

apenas de fatores naturais mas eacute tambeacutem influenciada pelas caracteriacutesticas culturais e 67

socioeconocircmica das populaccedilotildees locais refletidas especialmente no conhecimento e manejo 68

local Nesse sentido o presente estudo visa investigar as interaccedilotildees entre agricultores 69

tradicionais de comunidades rurais estabelecidas na regiatildeo semiaacuterida de Pernambuco 70

O objetivo geral eacute compreender os processos envolvidos na dinacircmica da diversidade 71

agriacutecola por meio do acesso ao conhecimento dos agricultores quanto as praacuteticas de menejo e 72

entender quais quais fatores podem estar relacionados a geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da diversidade 73

local Para esse estudo a mandioca foi escolhida como modelo devida agrave sua importacircncia 74

econocircmica e de subsistecircncia para comunidades locais Os objetivos especiacuteficos foram (i) 75

caracterizar o manejo da agricultura de sequeiro bem como analisar se os paracircmetros 76

socioeconocircmicos influenciam na diversidade local (ii) registrar as etnovariedades atualmente 77

29

cultivadas e identificar os diferentes criteacuterios morfoloacutegicos utilizados pelos agricultores para a 78

seleccedilatildeo e classificaccedilatildeo das etnovariedadese (iii) descrever a estrutura da rede de interaccedilatildeo entre 79

os agricultores e a diversidade de etnovariedades de mandioca cultivadas para tentar entender 80

como essas relaccedilotildees podem influenciar na manutenccedilatildeo ou perda da diversidade local 81

Material e meacutetodos 82

Aacutereas de estudo 83

Amostramos sete comunidades rurais estabelecidas na regiatildeo semiaacuterida de 84

Pernambuco Nordeste do Brasil Uma das comunidades (Caratildeo) pertence ao Municiacutepio de 85

Altinho (ldquo8deg 29rsquo 10rdquo S e 36deg 03rsquo 49rdquo W) e as demais (Satildeo Joseacute do Bola Brejo velho 86

Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima Lajedo Dantas e Aracuatilde) ao Municiacutepio de 87

Panelas (8 deg 39 48 S e 36 deg 01 23 W) (Fig 2) 88

O modelo agriacutecola adotado na regiatildeo segue o sistema tradicional de sequeiro4 e todas 89

as comunidades em estudo possuem histoacuterico de cultivo de mandioca (M esculenta) As aacutereas 90

de cultivo satildeo estabelecidas por unidade familiar e as atividades satildeo realizadas em sua maioria 91

por homens tendo cada agricultor cerca de um a dois hectares de aacuterea para plantio Aleacutem da 92

mandioca os cultivos mais utilizados na comunidades satildeo milho (Zea mays) e feijatildeo (Phaseolus 93

sp) 94

Para os membros das comunidades a produccedilatildeo da farinha de mandioca (Fig 3) eacute uma 95

das atividades agriacutecolas mais importantes tanto pelo seu papel na dieta alimentar quanto pela 96

importacircncia social e econocircmica 97

Caracteriacutesticas das comunidades do estudo 98

A comunidade do Caratildeo localiza-se sob domiacutenio de Caatinga caracterizado por climas 99

quentes e secos com regimes escassos de chuvas correspondente ao tipo BSrsquoh segundo a 100

4 Eacute o cultivo praticado sem irrigaccedilatildeo em regiotildees onde a pluviosidade eacute diminuta

30

classificaccedilatildeo climaacutetica de Koumlppen A vegetaccedilatildeo eacute composto por espeacutecies perenes que 101

conseguem sobreviver mesmo em periacuteodos de seca e espeacutecies anuais que aparecem apenas em 102

periacuteodos com chuva (Cruz et al 2013) 103

De acordo os dados de precipitaccedilatildeo do Laboratoacuterio de Anaacutelise e Processamento de 104

Imagens de Sateacutelites (LAPIS) no ano de 2012 foi registrada a menor meacutedia anual de 105

precipitaccedilatildeo dos uacuteltimos 10 anos para essa regiatildeo (3784 mm) Essa realidade ambiental quando 106

comparada com estudo realizado por de Sieber e colaboradores (2011) na mesma comunidade 107

observa-se que houve uma diminuiccedilatildeo considerada das praacuteticas agriacutecolas realizadas pelos 108

membros da comunidade culminando em uma seacuterie de prejuiacutezos aos agricultores como a perda 109

de plantaccedilotildees e animais Essa perda de produtividade afetou a estrutura econocircmica da 110

comunidade uma vez que a principal fonte de subsistecircncia das famiacutelias eacute a agricultura 111

Associada as atividades agriacutecolas os moradores complementam a dieta e a renda 112

familiar com a venda dos excedentes da produccedilatildeo em feiras-livres ou centros comerciais da 113

regiatildeo (Cruz et al 2013) E com a pecuaacuteria de pequena escala bovina caprina e com avicultura 114

No entanto a diminuiccedilatildeo da forragem natural e cultivada causada pela escassez de chuvas 115

associada aos elevados custos envolvidos na compra de raccedilatildeo levou muitos animais agrave morte 116

(Fig 4) 117

No Municiacutepio de Altinho a comunidade do Caratildeo foi inicialmente escolhida devido ao 118

reconhecimento preacutevio do registro de agricultores realizado em estudos desenvolvidos pelo 119

nosso grupo de pesquisa facilitando assim o acesso agraves informaccedilotildees necessaacuterias para o 120

desenvolvimento da pesquisa 121

As comunidades Aracuatilde Brejo Velho Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima 122

Lajedo Dandas e Satildeo Joseacute do Bola amostradas no estudo pertencem ao Municiacutepio de Panelas 123

que se limita ao Norte com o Municiacutepio de Altinho Essas comunidades estatildeo localizadas em 124

31

no domiacutenio morfoclimaacutetico de Caatinga O clima eacute do tipo semiaacuterido Bsrsquoh segundo a 125

classificaccedilatildeo climaacutetica de Koumleppen 126

A maior parte dos membros dessas comunidades assim como no Caratildeo tecircm como 127

principal fonte de subsistecircncia a agricultura de sequeiro principalmente o cultivo da mandioca 128

(Fig 5) Como renda extra a pecuaacuteria de pequeno porte com criaccedilatildeo bovina caprina e 129

avicultura sendo os excedentes dos alimentos produzidos vendidos em feiras locais ou para 130

escolas 131

As atividades agriacutecolas entre as comunidades tambeacutem foram duramente afetadas pela 132

seca na regiatildeo nos uacuteltimos anos A escassez de chuvas desestimulou o plantio a produccedilatildeo de 133

mandioca foi fortemente comprometida e a colheita foi adiada devido ao subdesenvolvimento 134

das raiacutezes gerando impactos econocircmicos para os membros das comunidades 135

As comunidades amostradas neste muniacutecipio foram escolhidas em funccedilatildeo das 136

indicaccedilotildees dos agricultores entrevistados a princiacutepio na comunidade do Caratildeo que reportaram 137

manter viacutenculos sociais com os agricultores do municiacutepio vizinho 138

Coleta de dados 139

Acessamos as comunidades com a ajuda de um liacuteder comunitaacuterio (Alexandre O 140

Nascimento) em companhia de outros pesquisadores que desenvolviam pesquisas na regiatildeo 141

Previamente as entrevistas todos objetivos e procedimentos para a realizaccedilatildeo da pesquisa foram 142

apresentados aos entrevistados e todos que aceitaram participar foram convidados a assinar um 143

Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) de acordo com a Resoluccedilatildeo 46612 do 144

Conselho Nacional de Sauacutede concordando com a realizaccedilatildeo das entrevistas e avaliaccedilotildees 145

morfoloacutegicas em campo O presente trabalho foi submetido ao Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa da 146

Universidade de Pernambuco (UPE) 147

32

Em todas as comunidades o meacutetodo de acesso ao informante foi o mesmo a partir do 148

primeiro contato com um informante-chave identificamos outros potenciais agricultores 149

seguindo a teacutecnica de ldquobola de neverdquo (Albuquerque et al 2014a) Esse meacutetodo consistiu na 150

amostragem intencional dos participantes e nesse particular os agricultores chefes de famiacutelia 151

(ge 18 anos) da regiatildeo que declararam cultivar mandioca (M esculenta) em suas roccedilas 152

Reunimos informaccedilotildees socioeconocircmicas desses agricultores tais como nome idade gecircnero 153

escolaridade renda experiecircncia na agricultura e tamanho da aacuterea de cultivo para tentar 154

identificar se esses paracircmetros socioeconocircmicos tecircm uma relaccedilatildeo com a agrobiodiversidade 155

local 156

Em seguida conduzimos entrevistas semiestruturadas (Albuquerque et al 2014b) com 157

o objetivo de caracterizar o modo de vida dos agricultores o manejo da agricultura bem como 158

obter dados sobre o conhecimento uso e caracterizaccedilatildeo das etnovariedades de mandioca 159

5cultivadas Aleacutem disso neste momento tambeacutem aplicamos a teacutecnica da lista livre 160

(Albuquerque et al 2014b) a fim de registrar as variedades de mandioca atualmente cultivadas 161

pelos agricultores e identificar as de maior importacircncia local Apoacutes as entrevistas realizamos 162

visitas aos roccedilados para o registro fotograacutefico georreferenciamento das roccedilas e caracterizaccedilatildeo 163

morfoloacutegica das variedades cultivadas 164

Entrevistamos 50 agricultores no total distribuiacutedos nas sete comunidades Caratildeo (3) 165

Satildeo Joseacute do Bola (10) Brejo velho (7) Japaranduba de Baixo (7) Japaranduba de Cima (8) 166

Lajedo Dantas (9) e Aracuatilde (6) Destes 10 satildeo mulheres e 40 homens com idade variando entre 167

31 e 82 anos A maioria dos entrevistados natildeo apresentava instruccedilatildeo formal (46) mais da 168

metade eram aposentados (56) e os demais apresentaram renda inferior a um salaacuterio miacutenimo 169

5 Entende-se por etnovariedade de mandioca o conjunto de variedades intraespeciacuteficas de mandioca (M esculenta)

reconhecidas pelos agricultores por nomenclatura popular local (Peroni 2004)

33

O tempo meacutedio de experiecircncia na agricultura foi de 40 anos Cada agricultor possui entre um e 170

dois roccedilados (aacuterea de plantio) com aproximadamente um a dois hectares 171

Redes de interaccedilatildeo social 172

Confeccionamos a rede que descreve as interaccedilotildees entre os agricultores e as 173

etnovariedades cultivadas a partir de uma matriz de incidecircncia R (presenccedilaausecircncia) onde nas 174

linhas estavam as etnovariedades de mandioca cultivadas (j) e nas colunas os agricultores locais 175

(i) O elemento Rij dessa matriz foi 1 (um) no caso de a etnovariedade j ser cultivada pelo 176

agricultor i caso contraacuterio seria atribuiacutedo 0 (zero) As interaccedilotildees entre os agricultores e as 177

etnovariedades foram descritas em dois modos (Pires et al 2011) onde os ldquonoacutesrdquo da esquerda 178

representam os agricultores que foram vinculados aos ldquonoacutesrdquo da direita representados pelas 179

etnovariedades citadas durante as entrevistas Esses ldquonoacutesrdquo seriam o espelho das decisotildees dos 180

agricultores em manter um determinado conjunto local de etnovariedades em suas roccedilas 181

Avaliamos a estrutura da rede que conecta os agricultores agraves etnovariedades cultivadas 182

a partir de trecircs cenaacuterios hipoteacuteticos (Fig 6) segundo Cachevia et al (2014) No primeiro se os 183

agricultores apresentassem diferentes graus de seletividade para a utilizaccedilatildeo de suas 184

etnovariedades a estrutura seria aninhada (Fig 6a) Isso significa que alguns agricultores 185

cultivam vaacuterias etnovariedades enquanto que outros cultivam o subconjunto mais 186

disponiacutevelcomum dessas etnovariedades Em segundo lugar se a rede apresentasse uma 187

estrutura modular (Fig 6b) significaria que os agricultores apresentam semelhanccedila na seleccedilatildeo 188

do recurso ou seja subgrupos de agricultores cultivam subgrupos distintos de etnovariedades 189

regionalmente disponiacuteveiscomuns E o terceiro se os agricultores natildeo apresentassem 190

preferecircncias quanto a seleccedilatildeo das etnovariedades entatildeo a rede apresentaria uma estrutura 191

aleatoacuteria (Fig 6c) 192

O objetivo da anaacutelise de rede nesse estudo foi tentar entender se o conjunto de 193

etnovariedades presentes no local do estudo constituem uma subamostra de um conjunto mais 194

34

amplo no caso de um alto grau de aninhamento ou se a sua composiccedilatildeo eacute determinada por 195

variaacuteveis locais (Ulrich 2008) Onde as conexotildees entre os informantes e as etnovariedades 196

representam as decisotildees dos agricultores de manter um conjunto determinado de variedades de 197

mandioca dentre as comunidades Esta anaacutelise tambeacutem nos permitiu identificar quais os nuacutecleos 198

de etnovariedades que apresentam maior conexatildeo com os diferentes perfis dos agricultores 199

Diversidade fenotiacutepica 200

Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 201

Apoacutes as entrevistas buscamos identificar quais os caracteres morfoloacutegicos considerados 202

mais importantes para a diferenciaccedilatildeo das etnovariedades de mandioca a partir do seguinte 203

questionamento ldquoQuais as diferenccedilas que vocecirc reconhece para separar uma qualidade de 204

mandioca (variedade) de uma outrardquo Assim os agricultores mencionaram quais os criteacuterios 205

mais importantes utilizados para a caracterizaccedilatildeo de suas etnovariedades 206

Compilamos uma listagem dessas caracteriacutesticas baseada nas indicaccedilotildees dos 207

agricultores e a partir delas selecionamos os caracteres morfoloacutegicos mais citados para a 208

caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica ldquoin siturdquo tais como cor da folha (cor da folha desenvolvida) olho 209

(cor do broto foliar) cor do talo (cor do peciacuteolo) maniva (cor externa do caule) embriatildeo 210

(protuberacircncia da cicatriz foliar) cor da entrecasca (coacutertex da raiz) e cor miolo (polpa da raiz) 211

(Tabela 1) O objetivo dessa caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica foi indicar como estaacute distribuiacuteda a 212

variaccedilatildeo fenotiacutepica das etnovariedades de mandioca nas comunidades na regiatildeo semiaacuterida de 213

Pernambuco bem como identificar que caracteriacutesticas satildeo mais importantes para distinguir 214

esses grupos no intuito de tentar entender como os agricultores classificam suas variedades de 215

mandioca 216

Nas sete comunidades para cada etnovariedade citada no roccedilado caracterizamos ldquoin 217

siturdquo trecircs indiviacuteduos de M esculentade de cada uma totalizando 171 indiviacuteduos (Aracuatilde=11 218

35

Caratildeo=4 Satildeo Joseacute do Bola=13 Brejo Velho=16 Japaranduba de Baixo=6 Japaranduba de 219

Cima=3 e Lajedo Dantas=4) Fotografamos e avaliamos todos os indiviacuteduos com base em parte 220

dos descritores morfoloacutegicos seguindo recomendaccedilotildees de Fukuda amp Guevara (1998) e aleacutem 221

disso georreferenciamos todas as aacutereas de roccedila 222

Anaacutelise dos dados 223

Analisamos os dados socioeconocircmicos das entrevistas semiestruturadas por meio de 224

estatiacutestica descritiva para explicar os aspectos da realidade econocircmica e social dos agricultores 225

Para identificar se a diversidade intraespeciacutefica da mandioca cultivada localmente eacute 226

influenciada por paracircmetros socioeconocircmicos utilizamos o coeficiente de correlaccedilatildeo de 227

Spearman (Ple005) (Sokal amp Rohlf 1995) 228

Com base na lista livre das variedades de mandioca cultivadas pelos agricultores 229

calculamos a frequecircncia de citaccedilatildeo o ranking e o iacutendice de saliecircncia com o objetivo de 230

identificar quais as mais importantes ou preferidas para as comunidades O iacutendice de saliecircncia 231

considerou a frequecircncia de citaccedilatildeo e o ranking referente ao posicionamento das variedades 232

dentro das listas livres (Thompson amp Juan 2006) As etnovariedades mais citadas e com maior 233

valor de saliecircncia representam as de maior importacircncia ou preferecircncia para as comunidades 234

Anaacutelise de rede 235

Medimos o grau de aninhamento (NODF) para investigar a estrutura de rede de 236

interaccedilatildeo social dos agricultores em funccedilatildeo das variedades cultivadas As matrizes altamente 237

aninhadas apresentam NODF tendendo a 1 caso contraacuterio tentem a ser 0 238

Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 239

Para o estudo das semelhanccedilas e diferenccedilas fenotiacutepicas entre as variedades de mandioca 240

ldquoin siturdquo realizamos anaacutelises multivariadas para identificar possiacuteveis grupos de variedades que 241

compartilham semelhanccedilas entre si 242

36

A anaacutelise de correspondecircncia muacuteltipla (MCA) permitiu identificar como as variedades 243

de mandioca estatildeo ordenadas em funccedilatildeo dos seus descritores etnobotacircnicos As etnovariedades 244

foram plotadas ao longo um plano cartesiano bi ou tridimensional onde a variaccedilatildeo total eacute 245

explicada pelos dois primeiros eixos Complementar a esta anaacutelise realizamos a anaacutelise de 246

agrupamento hieraacuterquico (Cluster) para identificar como estatildeo agrupadas as etnovariedades de 247

acordo seus descritores Conferimos a consistecircncia do dendrograma com coeficiente de 248

correlaccedilatildeo cofeneacutetica conforme Sneath amp Sokal (1973) que quantifica se a correlaccedilatildeo entre a 249

matriz de distacircncias originais e a matriz de distacircncias cofeneacuteticas eacute representativa Para 250

mensurar as dissimilaridades entre as variedades de mandioca foi utilizada a distacircncia 251

euclidiana e com o meacutetodo de Ward 252

Softwares utilizados 253

Para a anaacutelise da lista livre usamos o software ANTROPAC versatildeo 10 O software 254

ANINHADO 30 (Guimaratildees amp Guimaratildees 2006) foi usado para medir o grau de aninhamento 255

da rede Utilizamos o software estatiacutestico R (R core team 2017) para a anaacutelise de correlaccedilatildeo 256

de Spearman com o pacote corrplot (Wei amp Simko 2013) o desenho da rede que descreve a 257

interaccedilatildeo entre os agricultores e as etnovariedades com o pacote bipartite (Dormann et al 258

2017) E com os pacotes FactoMineR (LEcirc et al 2008) factoextra (Kassambara et al 2016) e 259

vegan (Oksanen et al 2017) foram realizadas as anaacutelises de cluster de correspondecircncia 260

muacuteltipla (MCA) e de correlaccedilatildeo coefeneacutetica respectivamente 261

Resultados 262

As diferentes etnovariedades de mandioca encontradas no estudo suprem a demanda 263

local por alimento enquanto outras atendem agraves preferecircncias individuais ou do comeacutercio As 264

variedades que possuem maior rendimento e a farinha produzida apresenta coloraccedilatildeo branca 265

satildeo as de maior valor comercial para os agricultores devido agraves preferecircncias do mercado Jaacute 266

37

outras variedades que satildeo mais moles e apresentam coloraccedilatildeo amarelada natildeo satildeo empregadas 267

na produccedilatildeo de farinha mas sim consumidas cozidas ou assadas A depender da demanda local 268

os agricultores intencionalmente aumentam ou diminuem a frequecircncia de suas variedades nos 269

roccedilados seja por alguma exigecircncia do comeacutercio ou para consumo familiar 270

Nas comunidades os agricultores separam suas variedades de mandioca em dois grupos 271

como observado em outras comunidades na mata Atlacircntica por Emperaire e Peroni (2007) o 272

das ldquomacaxeirasrdquo que satildeo as variedades exploradas basicamente para o consumo familiar sem 273

processo preacutevio de desintoxicaccedilatildeo cujas raiacutezes satildeo consumidas fritas eou cozidas Sendo 274

utilizadas tambeacutem como complemento na dieta dos animais E o grupo das ldquomandiocasrdquo que 275

satildeo as variedades que necessitam de processo preacutevio de desintoxicaccedilatildeo para o consumo 276

utilizadas comumente para a produccedilatildeo de farinha de mandioca Para os agricultores as 277

ldquomandiocasrdquo possuem maior valor comercial pois apresentam maior rendimento e 278

rentabilidade pois a farinha produzida eacute branca e atende as preferencias do comercio local 279

Aleacutem da farinha outros produtos e subprodutos produzidos dentre os quais foram citados 280

ldquotapioca ou gomardquo ldquobijurdquo ou ldquobolo de mandiocardquo satildeo utilizados para o consumo proacuteprio ou 281

eventual comercializaccedilatildeo 282

Os informantes natildeo possuiacuteam conhecimento sobre a origem dos nomes das variedades 283

de mandioca Quanto a compreensatildeo da geraccedilatildeo da diversidade intraespeciacutefica identificamos 284

que apesar de 66 dos agricultores citarem que conhecem variedades fruto de germinaccedilatildeo de 285

suas sementes nenhum deles utiliza as manivas para o plantio por essas variedades de 286

mandioca ldquovoluntaacuteriasrdquo natildeo apresentarem bom rendimento 287

Observamos que existe uma baixa correlaccedilatildeo entre a diversidade de variedades 288

atualmente cultivadas e as variaacuteveis socioeconocircmicas como no caso do nuacutemero de roccedilados 289

(r=028 Ple005) e do tamanho do roccedilado (r=033 Ple005) (Fig 7) Essa baixa correlaccedilatildeo pode 290

38

ser explicada pelo fato de existirem grupos de agricultores que preferem manter as variedades 291

de maior valor econocircmico e de subsistecircncia mesmo com aacutereas maiores de cultivo 292

Verificamos tambeacutem uma correlaccedilatildeo positiva moderada entre o nuacutemero de variedades 293

conhecidas com o nuacutemero de variedades atualmente cultivadas (r=054 Ple005) Na lista livre 294

foram identificadas 22 etnovariedades de mandioca cultivadas (132 citaccedilotildees no total) sendo 295

oito dessas mais citadas com maiores valores de saliecircncia (entre 047 e 0082) (Tabela 2) As 296

etnovariedades ldquoMacaxeira Rosardquo e ldquoMandioca Isabel de Souzardquo exibiram os maiores valores 297

de saliecircncia 047 e 037 respectivamente Logo essas variedades satildeo as mais conhecidas 298

dentro das comunidades com 66 e 48 das citaccedilotildees respectivamente 299

Dentre as etnovariedades citadas 12 foram idiossincraacuteticas pois apresentaram menor 300

frequecircncia de citaccedilatildeo e menores valores de saliecircncia (entre 0032 e 0006) (Tabela 2) 301

Redes de interaccedilatildeo social 302

A rede apresentou uma estrutura aninhada com grau de aninhamento significativamente 303

superior aos modelos nulos (N=3072 Plt0001) para as comunidades sendo um nuacutecleo de 304

etnovariedades altamente conectado aos agricultores (Fig 8) A estrutura aninhada nos permite 305

inferir que existe um grupo de agricultores que cultiva uma maior diversidade de etnovariedades 306

de mandioca em suas roccedilas enquanto que outro subgrupo que tem menor diversidade cultivam 307

as mais comuns ou disponiacuteveis (Cavechia et al 2014) Isso significa que os agricultores locais 308

mesmo em diferentes comunidades cultivam um nuacutecleo de etnovariedades comum entre eles 309

(n=6 Tabela 2) 310

Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 311

Observamos que a maioria dos indiviacuteduos de mandioca satildeo caracterizados por meio de 312

um conjunto de sete caracteres morfoloacutegicos os quais foram citados pelos agricultores como 313

mais importantes para a caracterizaccedilatildeo de suas variedades Nas visitas aos roccedilados registramos 314

39

as etnovariedades atualmente cultivadas e a tabela 3 fornece a lista completa com as 17 315

etnovariedades de mandioca e o local de registro 316

Por meio da anaacutelise de correspondecircncia muacuteltipla as variedades de mandioca foram 317

ordenadas em funccedilatildeo de seus descritores ao longo do primeiro e segundo eixo correspondentes 318

a 3680 da variacircncia total (Fig 9) 319

As variaacuteveis mais correlacionadas e que agruparam as variedades de mandioca no 320

primeiro eixo foram cor da folha desenvolvida (CFD) (r= 07239 Ple0001) cor do coacutertex da 321

raiz (CDR) (r= 06473 Ple0001) cor do broto foliar (CBF) (r= 06880 Ple0001) cor do peciacuteolo 322

(CDP) (r= 05250 Ple005) cor externa do caule (CEC) (r= 06883 Ple005) cor da polpa da 323

raiz (PDR) (r= 02473 Ple005) Para o segundo eixo as variaacuteveis correlacionadas foram cor 324

da folha desenvolvida (CFD) (r= 07220 Ple0001) cor externa do caule (CEC) (r= 08718 325

Ple0001) e cor do peciacuteolo (CDP) (r= 06927 Ple005) 326

O agrupamento de todas as variedades caracterizadas ldquoin siturdquo gerou uma aacutervore 327

hieraacuterquica (dendrograma) (Fig 9) utilizando a distacircncia euclidiana seguindo o criteacuterio de 328

Ward O dendrograma gerado apresentou um coeficiente de correlaccedilatildeo cofeneacutetica r= 06780 329

indicando que existe consistecircncia com os dados originais no agrupamento quanto agrave 330

classificaccedilatildeo e estrutura de tal forma que as variedades foram agrupadas em oito classes as 331

quais foram explicadas pelas variaacuteveis mais significativas descritas na tabela 4 332

O resultado do agrupamento (utilizada a distacircncia euclidiana e com o meacutetodo de Ward) 333

observamos que as etnovariedades de mandioca caracterizadas ldquoin siturdquo foram agrupadas em 334

dois grandes agrupamentos indicados na Fig 10 pelos retacircngulos em vermelho A partir dessa 335

anaacutelise percebemos que os caracteres morfoloacutegicos selecionados pelos agricultores natildeo foram 336

suficientes para separar as variedades de macaxeira e mandioca pois em ambos os 337

agrupamentos encontramos tanto macaxeiras quanto mandiocas 338

40

As variedades da classe 1 foram identificadas pelos agricultores pela cor do peciacuteolo 339

(CDP) verde A classe 2 agrupou as etnoveriedades caracterizadas pela protuberacircncia da cicatriz 340

foliar (PCF) mais protuberante Esse descritor segundo os agricultores era identificado como 341

ldquoembriatildeordquo A classe 3 consiste apenas da variedade ldquoMandioca Pretonardquo indicada pela presenccedila 342

de cor do peciacuteolo (CDP) vermelho A classe 4 agrupou trecircs variedades caracterizadas pelos 343

agricultores pela presenccedila de cor coacutertex da raiz (CDR) rosa e cor da polpa da raiacutez (PDR) branca 344

identificadas como ldquoMacaxeira vermelhardquo ldquoMacaxeira Rosa Brancardquo ldquoMacaxeira Rosardquo As 345

variedades agrupadas na classe 5 foras as variedades de mandioca caracterizadas pelos 346

agricultores por apresentarem cor do coacutertex (CDR) da raiacutez branca A classe 6 agrupou 347

variedades identificadas pelos agricultores pela cor do broto foliar (CBF) verde A classe 7 348

consiste apenas da variedade ldquoMacaxeira Sementerdquo identificada pelos agricultores pela cor do 349

peciacuteolo (CDP) roxo e protuberacircncia da cicatriz foliar pouco proeminente Essa variedade 350

segundo os agricultores era fruto do nascimento espontacircneo no roccedilado poreacutem eles geralmente 351

natildeo utilizam essas variedades por apresentarem apenas uma raiz pequena e de baixo 352

rendimento Na classe 8 as variedades foram identificadas pelos agricultores pela cor do peciacuteolo 353

(CDP) verde amarelado e protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) pouco proeminente As 354

ldquoMandioca Isabel de Souzardquo ldquoMandioca Isabel trecircs galhosrdquo segundo os agricultores se 355

diferenciavam pelo maior nuacutemero de caules presentes na variedade ldquoIsabel trecircs galhosrdquo 356

Discussatildeo 357

As sete comunidades estudadas manejavam um nuacutemero consideraacutevel de variedades 358

locais A quantidade de etnovariedades registradas eacute proacutexima a encontrada por Bender et al 359

(2009) e Cavechia et al (2014) em comunidades na regiatildeo sul e sudeste por Oler e Amorozo 360

(2017) em uma comunidade tradicional na regiatildeo centro-oeste Poreacutem foi quantitativamente 361

inferior quando comparada a estudos como os de Elias et al (2001) e Kawa et al (2013) em 362

comunidades na regiatildeo amazocircnica pois possuiacuteam uma alta diversidade Essa alta diversidade 363

41

na regiatildeo amazocircnica pode estar relacionada com o fato de que essa regiatildeo eacute o provaacutevel centro 364

de origem da mandioca (M esculenta) (Allem 1994) 365

As etnovariedades registradas neste estudo estatildeo disponiacuteveis para a maioria dos 366

agricultores dessa regiatildeo e esse fator favorece a circulaccedilatildeo das etnovariedades entre as 367

comunidades locais Por isso haacute semelhanccedilas das etnovariedades utilizadas entre os agricultores 368

da mesma comunidade e entre comunidades vizinhas 369

Parte dos agricultores optam por manter uma alta frequecircncia de variedades mais 370

utilizadas enquanto que outros optam por manter etnovariedades de baixa frequecircncia 371

Conforme discutido por Amorozo (2013) os agricultores escolhem seu acervo de acordo com 372

as necessidades e contexto em que vivem A reduccedilatildeo da diversidade de etnoveriedades por 373

exemplo pode ser impulsionada por fatores que simplificam o sistema como a seleccedilatildeo de 374

etnovariedades para a produccedilatildeo de farinha resultando no cultivo de poucas ou ateacute de uma uacutenica 375

etnovariedade (Peroni amp Hanazaki 2002) mesmo em aacutereas maiores 376

377

Redes de interaccedilatildeo social 378

Com as anaacutelises de rede demonstramos que os agricultores de diferentes comunidades 379

em uma mesma regiatildeo efetivamente trocam variedades de mandioca entre si corroborando 380

com estudos realizados por Emperaire amp Eloy (2008) Pautasso et al (2012) e Cavechia et al 381

(2014) Nesses estudos os autores tambeacutem consideram que as trocas de etnovariedades por 382

meio da rede de intercacircmbio entre os agricultores eacute um mecanismo fundamental para a 383

manutenccedilatildeo da diversidade local 384

A visualizaccedilatildeo da rede demonstrou que entre as comunidades os agricultores 385

compartilham um nuacutecleo de etnovariedades mais utilizadas dentre as quais estatildeo as de maior 386

valor econocircmico e de subsistecircncia Essas de maior frequecircncia satildeo aquelas altamente produtivas 387

utilizadas pelos agricultores para atenderem agraves demandas de mercado por farinha e para o 388

consumo proacuteprio (Kawa et al 2013) 389

42

No entanto observamos que existe outro nuacutecleo de etnovariedades menos frequentes 390

Essas etnovariedades raras podem ser resultantes do processo de experimentaccedilatildeo ou 391

preferecircncias individuais dos agricultores Outra possiacutevel razatildeo para a baixa frequecircncia de 392

algumas etnovariedades poderia ser explicada pela variaccedilatildeo da nomenclatura pelos 393

agricultores que segundo Peroni amp Hanazaki (2002) pode ocorrer durante o processo de troca 394

e introduccedilatildeo de novas variedades aos roccedilados Ainda assim natildeo descartamos a hipoacutetese de que 395

essas etnovariedades raras possam ser provenientes do cruzamento entre variedades diferentes 396

cultivadas da mesma roccedilado ou em roccedilas vizinhas De acordo com Martins (2005) essas 397

variedades fruto de germinaccedilatildeo expentacircnea satildeo incorporadas aos roccedilados pelos agricultores 398

pela curiosidade em experimentar novas variedades agraves suas coleccedilotildees 399

Nesse estudo admitimos que optar por etnovariedades raras entre as comunidades 400

estudadas eacute um comportamento adotado por agricultores que manejam uma maior diversidade 401

corroborando com os estudos de Cavechia et al (2014) e Emperaire et al (2016) em regiotildees 402

uacutemidas Para esses autores etnovaridedades de baixa frequecircncia representam um subconjunto 403

das de alta frequecircncia cultivadas por agricultores que manteacutem a maior diversidade em seus 404

roccedilados Sendo assim inferimos que no geral entre as comunidades satildeo os agricultores 405

generalistas aqueles que cultivam maior diversidade os responsaacuteveis por incorporar novas 406

etnovariedades aos roccedilados 407

As decisotildees dos agricultores em manter o acervo direcionado principalmente para 408

atender a demanda de mercado por exemplo podem levar a uma homogeneizaccedilatildeo nas roccedilas 409

colocando em risco a manutenccedilatildeo da diversidade local (Peroni amp Hanazaki 2002) Como 410

discutido por Elias et al (2000) os agricultores que selecionam apenas um nuacutemero reduzido e 411

especiacutefico de variedades mais produtivas tendem a fazer com que as variedades menos 412

frequentes desapareccedilam ao longo do tempo Essa tendecircndia pode influenciar na capacidade de 413

43

resiliecircncia do sistema assim como dos agricultores em lidar com possiacuteveis adversidades 414

ambientais que possam ocorrer 415

Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 416

No geral os agricultores demonstraram uma tendecircncia em classificarseparar suas 417

diferentes etnovariedades de mandioca a partir da combinaccedilatildeo de um conjunto de sete 418

caracteres morfoloacutegicos distintos e de faacutecil percepccedilatildeo os quais natildeo tem relaccedilatildeo com o uso 419

como por exemplo a cores das raiacutezes caule e folhas Logo consideramos que esses caracteres 420

morfoloacutegicos podem ser considerados como uma forma de classificaccedilatildeo pelos agricultores 421

baseada na capacidade percepccedilatildeo das diferenccedilas morfoloacutegicas que cada etnovariedades 422

apresenta (Boster 1985) Estes resultados nos levam a entender que entre os agricultores o 423

conhecimento sobre a diversidade da mandioca estaacute relacionado ao conhecimento de 424

caracteriacutesticas morfoloacutegicas consistentes 425

A existecircncia de alguns fenoacutetipos comuns nos permitiu avaliar a classificaccedilatildeo da 426

consistecircncia da taxonomia popular entre os agricultores Por exemplo as etnovariedades 427

ldquoMaxaceira Rosardquo e ldquoMacaxeira Rosa Brancardquo e ldquoMacaxeira vermelhardquo foram agrupadas no 428

mesmo cluster (C4) por apresentaram fenoacutetipos semelhantes Notamos que os agricultores 429

classificaram essas variedades de acordo com os traccedilos morfoloacutegicos mais relevantes como a 430

cor do coacutertex da raiz rosa e cor branca da polpa O mesmo ocorreu com as etnovariedades 431

ldquoMandioca varudardquo ldquoMandioca campina da granderdquo e ldquoMandioca campinardquo caracterizadas 432

pela presenccedila do peciacuteolo verde agrupadas no cluster (C1) 433

A partir dessas evidecircncias consideramos a hipoacutetese de que as variedades mesmo 434

apresentando caracteriacutesticas morfoloacutegicas muito semelhantes estatildeo sujeitas a variaccedilatildeo 435

nomenclatural durante o processo a incorporaccedilatildeo aos roccedilados pelos agricultores pois a 436

capacidade para distinguir e nomear variedades entre os agricultores da mesma regiatildeo pode 437

variar (Sambatti et al 2001 Elias et al 2001 Mekbib 2007) Consideramos tambeacutem que pode 438

44

existir variaccedilatildeo geneacutetica entre os indiviacuteduos identificados por um mesmo nome ou entatildeo que 439

os agricultores datildeo o mesmo nome para variedades diferentes E esta situaccedilatildeo pode levar a uma 440

superestimaccedilatildeo ou subestimaccedilatildeo da diversidade de mandioca cultiva nas aacutereas de estudo 441

Sabemos que a mandioca eacute propagada vegetativamente pelos agricultores por meio de 442

estacas em sistemas de agricultura tradicional No entanto alguns variedades produzem flores 443

e sementes que germinam e podem originar outras variedades ou outros clones por meio de 444

fecundaccedilatildeo cruzada (Elias et al 2001) Nesse contexto a etnovariedade ldquoMacaxeira Sementerdquo 445

presente no cluster (C7) trata-se de um uacutenico indiviacuteduo amostrado em uma roccedila de um dos 446

agricultores Esta apresentava algumas caracteriacutesticas morfoloacutegicas distintas das demais 447

reconhecidas pelo agricultor como por exemplo a produccedilatildeo de uma raiz uacutenica e 448

consequentemente de baixo rendimento Encontramos apenas um indiviacuteduo dessa 449

etnovariedade e nossa hipoacutetese de que esta poderia ter sido originada da germinaccedilatildeo da 450

semente mesmo quando 100 dos informantes declararam natildeo dar qualquer importacircncia e 451

descartar essas ldquovariedades-voluntaacuteriasrdquo foi confirmada pelo agricultor que afirmou que se 452

tratava de uma variedade nascida da germinaccedilatildeo da semente Esse comportamento vai de 453

encontro ao estudo de Fraser et al (2012) pois apesar dos agricultores reportarem nas 454

entrevistas que conhecem essas ldquovariedades-voluntaacuteriasrdquo nenhum agricultor faz o uso delas 455

Peroni et al (1999) e Agre et al (2016) analisando morfologicamente as variedades 456

locais de mandioca mantidas por agricultores em sistemas agriacutecolas tropicais tambeacutem 457

demonstraram que os agricultores satildeo coerentes quanto a separaccedilatildeo e identificaccedilatildeo de suas 458

etnovariedades a partir da formaccedilatildeo de grupos de coesos quanto a nomenclatura local utilizada 459

No entanto para o melhor entendimento dessa diversidade aleacutem da caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica 460

o uso de anaacutelises complementares como anaacutelise molecular seria importante para tentar 461

identificar se esses grupos representam a mesma variedade com nomes distintos ou se satildeo 462

variedades distintas com o mesmo nome 463

45

Conclusatildeo 464

O estudo demonstrou que no sistema de manejo da mandioca ao niacutevel de roccedila em 465

comunidades localizadas na regiatildeo semiaacuterida de Pernambuco compotildee uma diversidade 466

intrespeciacutefica de mandioca para atender agraves demandas econocircmicas e de subsistecircncia das 467

populaccedilotildees locais 468

Com relaccedilatildeo a anaacutelise de rede demostramos que haacute um nuacutecleo de etnovariedades 469

fortemente conectado aos agricultores e sua composiccedilatildeo eacute direcionada pelas preferecircncias e 470

necessidades individuais dos agricultores que foram os fatores responsaacuteveis pelo surgimento 471

da estrutura aninhada observada na anaacutelise rede entre as comunidades deste estudo E esse 472

padratildeo aninhado observado contribui na conservaccedilatildeo das etnovariedades mais comuns mas 473

tambeacutem pode resultar em perda daquelas de menor frequecircncia ao longo do tempo 474

A caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica ldquoin siturdquo nos permitiram inferir que os agricultores 475

reconhecem as diferentes caracteriacutesticas morfoloacutegicas de suas cultivares e satildeo coerentes na 476

separaccedilatildeo de suas variedades de mandioca e macaxeira Entretanto esses resultados sugerem a 477

realizaccedilatildeo de um estudo em niacutevel de diversidade geneacutetica exploratoacuterio para identificar se as 478

consistecircncias morfoloacutegicas refletem em consistecircncias geneacuteticas elucidando assim as possiacuteveis 479

confusotildees atribuiacutedas aos nomes das etnovariedades de mandioca 480

Agradecimentos 481

Agradecemos ao liacuteder comunitaacuterio Alexandre O Nascimento aos agricultores e 482

agricultoras das comunidades pela acolhida confianccedila e pela gentileza de compartilharem 483

conosco seus conhecimentos e contribuiacuterem com este estudo Especialmente a Arlindo Ferreira 484

Edgar Antocircnio Joseacute Sebastiatildeo Juvenal Oliveira e Janete Alves Ao Laboratoacuterio de Ecologia e 485

Evoluccedilatildeo de Sistemas Socioecoloacutegicos (LEA - UFPE) E agradecemos ao CNPq pelo apoio 486

com a bolsa de estudos do primeiro autor 487

46

Referecircncias bibliograacuteficas 488

489

Agre A P Gueye B Adjatin A Dansi M Bathacharjee R Rabbi I Y amp Gedil M 490

(2016) Folk taxonomy and traditional management of cassava (Manihot esculenta Crantz) 491

diversity in southern and central Benin International Journal of Innovation and Scientific 492

Research 20(2) 500ndash515 493

Albuquerque U P de Lucena R F P amp Neto E M de F L (2014) Selection of research 494

participants In Methods and techniques in ethnobiology and ethnoecology (pp 1ndash13) 495

Springer 496

Albuquerque U P Ramos M A de Lucena R F P amp Alencar N L (2014) Methods and 497

techniques used to collect ethnobiological data In Methods and techniques in 498

Ethnobiology and Ethnoecology (pp 15ndash37) Springer 499

Alcorn J B The scope and aims of ethnobotany in a developing world (1995) In SCHULTES 500

R E REIS S V (Eds) Ethnobotany evolution of a discipline Portland Discoriedes 501

Press p 23-29 502

Allem A C The origin of Manihot esculenta crantz (Euphorbiaceae) (1994) Genetic 503

Resources and Crop evolution Dordrecht v 41 p 133-150 504

Balleacute M Beauvallet G Smalley A amp Sobek D K (2006) The thinking production system 505

Reflections 7(2) 1ndash12 506

Bender M Assis A L Tiepo E Hanazaki N amp Peroni N (2009) Crantz ssp esculenta 507

and landscape dynamics at Santa Catarina Island Brazil In Recent Developments and 508

Case Studies in Ethnobotany (pp 271ndash287) 509

Boster J S (1985) Selection for perceptual distinctiveness Evidence from Aguaruna cultivars 510

ofManihot esculenta Economic Botany 39(3) 310ndash325 511

Bousquets Llorente J (1990) La buacutesqueda del meacutetodo natural 512

Carmona A amp Casas A (2005) Management phenotypic patterns and domestication of 513

Polaskia chichipe (Cactaceae) in the Tehuacaacuten Valley Central Mexico Journal of Arid 514

Environments 60(1) 115ndash132 515

47

Cavechia L A Cantor M Begossi A amp Peroni N (2014) Resource-use patterns in 516

swidden farming communities implications for the resilience of cassava diversity Human 517

Ecology 42(4) 605ndash616 518

Clement C R de Cristo-Arauacutejo M Coppens DrsquoEeckenbrugge G Alves Pereira A amp 519

Picanccedilo-Rodrigues D (2010) Origin and domestication of native Amazonian crops 520

Diversity 2(1) 72ndash106 521

Cruz M P Peroni N amp Albuquerque U P (2013) Knowledge use and management of 522

native wild edible plants from a seasonal dry forest (NE Brazil) Journal of Ethnobiology 523

and Ethnomedicine 9(1) 79 524

Delecirctre M McKey D B amp Hodkinson T R (2011) Marriage exchanges seed exchanges 525

and the dynamics of manioc diversity Proceedings of the National Academy of Sciences 526

of the United States of America 108(45) 18249ndash54 527

httpsdoiorg101073pnas1106259108 528

Dormann C F Fruend J amp Gruber B (2017) Visualising Bipartite Networks and 529

Calculating Some (Ecological) Indices 2nd edn R packages 530

Elias M Penet L Vindry P McKey D Panaud O amp Robert T (2001) Unmanaged 531

sexual reproduction and the dynamics of genetic diversity of a vegetatively propagated 532

crop plant cassava (Manihot esculenta Crantz) in a traditional farming system Molecular 533

Ecology 10(8) 1895ndash1907 534

Emperaire L amp Eloy L (2008) A cidade um foco de diversidade agriacutecola no Rio Negro 535

(Amazonas Brasil) Boletim Do Museu Paraense Emiacutelio Goeldi Ciecircncias Humanas 3(2) 536

195ndash211 537

Emperaire L Eloy L amp Seixas A C (2016) Redes e observatoacuterios da agrobiodiversidade 538

como e para quem Uma abordagem exploratoacuteria na regiatildeo de Cruzeiro do Sul Acre 539

Boletim Do Museu Paraense Emrsquoilio Goeldi Ciecircncias Humanas 11(1) 159ndash192 540

Emperaire L amp Peroni N (2007) Traditional management of agrobiodiversity in Brazil a 541

case study of manioc Human Ecology 35(6) 761ndash768 542

Fraser J A Alves-Pereira A Junqueira A B Peroni N amp Clement C R (2012) 543

Convergent adaptations bitter manioc cultivation systems in fertile anthropogenic dark 544

earths and floodplain soils in Central Amazonia PLoS One 7(8) e43636 545

48

Fukuda W M G amp Guevara C L (1998) Descritores morfoloacutegicos e agronocircmicos para a 546

caracterizaccedilatildeo de mandioca (Manihot esculenta Crantz) Embrapa Mandioca E 547

Fruticultura-Documentos (INFOTECA-E) 548

Guimaraes Jr P R amp Guimaraes P (2006) Improving the analyses of nestedness for large 549

sets of matrices Environmental Modelling amp Software 21(10) 1512ndash1513 550

Hanazaki N Zank S Pinto M C Kumagai L Cavechia L A amp Peroni N (2012) 551

Etnobotacircnica nos Areais da Ribanceira de Imbituba Compreendendo a biodiversidade 552

vegetal manejada para subsidiar a criaccedilatildeo de uma reserva de desenvolvimento sustentaacutevel 553

Biodivers Bras 2 50ndash64 554

Kassambara A amp Mundt F (2016) Factoextra extract and visualize the results of 555

multivariate data analyses R Package Version 1(3) 556

Kawa N C McCarty C amp Clement C R (2013) Manioc varietal diversity social networks 557

and distribution constraints in rural Amazonia Current Anthropology 54(6) 764ndash770 558

Lecirc S Josse J Husson F amp others (2008) FactoMineR an R package for multivariate 559

analysis Journal of Statistical Software 25(1) 1ndash18 560

Lima D Steward A amp Richers B T (2012) Trocas experimentaccedilotildees e preferecircncias Um 561

estudo sobre a dinacircmica da diversidade da mandioca no meacutedio Solimotildees Amazonas 562

Boletimdo Museu Paraense Emilio GoeldiCiencias Humanas 7(2) 371ndash396 563

httpsdoiorg101590S1981-81222012000200005 564

Marchetti F F Massaro L R de Mello Amorozo M C amp Butturi-Gomes D (2013) 565

Maintenance of manioc diversity by traditional farmers in the State of Mato Grosso 566

Brazil a 20-year comparison Economic Botany 67(4) 313ndash323 567

Martins P S (2005) Dinacircmica evolutiva em roccedilas de caboclos amazocircnicos Estudos 568

Avanccedilados 19(53) 209ndash220 569

Mekbib F (2007) Infra-specific folk taxonomy in sorghum (Sorghum bicolor (L) Moench) in 570

Ethiopia folk nomenclature classification and criteria Journal of Ethnobiology and 571

Ethnomedicine 3(1) 38 572

Mkumbira J Chiwona-Karltun L Lagercrantz U Mahungu N M Saka J Mhone A hellip 573

Rosling H (2003) Classification of cassava into ldquobitterrdquoand ldquocoolrdquoin Malawi From 574

farmersrsquo perception to characterisation by molecular markers Euphytica 132(1) 7ndash22 575

49

Oksanen J Blanchet F G Kindt R Legendre P Minchin P R Orsquohara R B hellip others 576

(2017) Package ldquoveganrdquo Community Ecology Package Version 2(9) 577

Pautasso M Aistara G Barnaud A Caillon S Clouvel P Coomes O T hellip others 578

(2012) Seed exchange networks for agrobiodiversity conservation A review Agronomy 579

for Sustainable Development 33(1) 151ndash175 580

Peroni N amp Hanazaki N (2002) Current and lost diversity of cultivated varieties especially 581

cassava under swidden cultivation systems in the Brazilian Atlantic Forest Agriculture 582

Ecosystems amp Environment 92(2ndash3) 171ndash183 583

Peroni N Martins P S amp Ando A (1999) Diversidade inter-e intra-especiacutefica e uso de 584

anaacutelise multivariada para morfologia da mandioca (Manihot esculenta Crantz) um estudo 585

de caso Inter-and intraspecific diversity and use of multivariate analysis for the 586

morphology of cassava (Manihot esculent Scientia Agricola 56(3) 587ndash595 587

Pinton F amp Emperaire L (2001) Le manioc en Amazonie breacutesilienne diversiteacute varieacutetale et 588

marcheacute Genet Sel Evol 33(1) 491ndash512 589

Pires M M Guimaratildees P R Arauacutejo M S Giaretta A A Costa J C L amp Dos Reis S 590

F (2011) The nested assembly of individual-resource networks Journal of Animal 591

Ecology 80(4) 896ndash903 592

Pujol B Renoux F Elias M Rival L amp Mckey D (2007) The unappreciated ecology of 593

landrace populations Conservation consequences of soil seed banks in Cassava 594

Biological Conservation 136(4) 541ndash551 httpsdoiorg101016jbiocon200612025 595

Sambatti J B M Martins P S amp Ando A (2001) Folk taxonomy and evolutionary 596

dynamics of cassava a case study in Ubatuba Brazil Economic Botany 55(1) 93ndash105 597

Sieber S S Medeiros P M amp Albuquerque U P (2011) Local perception of environmental 598

change in a semi-arid area of Northeast Brazil a new approach for the use of participatory 599

methods at the level of family units Journal of Agricultural and Environmental Ethics 600

24(5) 511ndash531 601

Sneath P H A Sokal R R amp others (1973) Numerical taxonomy The principles and 602

practice of numerical classification 603

Sokal R R amp Rohlf F J (1995) 1995 Biometry WH Freeman San Francisco Sulikowski 604

JA J Kneebone S Elzey P Danley WH Howell and PWC Tsang--2005 The 605

50

Reproductive Cycle of the Thorny Skate Amblyraja Radiata in the Gulf of Maine Fish 606

Bull 103 536ndash543 607

Team R C (2017) R A Language and Environment for Statistical Computing Vienna 608

Austria Retrieved from httpswwwr-projectorg 609

Thompson E C amp Juan Z (2006) Comparative cultural salience Measures using free-list 610

data Field Methods 18(4) 398ndash412 611

Wei T amp Simko V (2013) corrplot Visualization of a correlation matrix R Package Version 612

073 230(231) 11 613

614

51

ANEXOS 615

616

Nome da revista 617

Human Ecology 618

Link de acesso 619

httpsgooglDVLbFj 620

Qualis-CAPES 621

B1 em Biodiversidade 622

623

624

625

626

627

628

629

630

631

632

633

634

635

636

637

638

639

640

641

642

52

Figuras 643

644

645

Fig 1 Partes do processo de fabricaccedilatildeo de farinha de mandioca Onde a raspagem b e c 646

processo de trituraccedilatildeo e d peneiramento Foto registrada em Abril de 2017 por Mirela Santos 647

648

649

650

c

d

b

a

53

651

Fig 2 Mapa de localizaccedilatildeo geograacutefica dos Municiacutepios de Altinho e Panelas e das comunidades 652

estudadas na regiatildeo semiaacuterida do Estado de Pernambuco (Elaborado por SANTOS 2018) 653

54

654

655

656

657

Fig 3 Processo de fabricaccedilatildeo da farinha de mandioca Apoacutes a colheita as raiacutezes satildeo lavadas 658

raspadas e trituradas (a) A massa extraiacuteda eacute prensada e coada Ao sair da prensa a massa 659

peneirada (b) e em seguida eacute torrada (c) em fornos artesanais ou parcialmente mecanizados 660

Imagem registrada em janeiro de 2017 na Comunidade do Caratildeo por Mirela Santos 661

662

663

a

b c

55

664

Fig 4 a Sede da Comunidade do Caratildeo b Agricultor transportando a palma forrageira que eacute 665

um exemplo de estrateacutegia adaptativa para suprir a falta de alimento dos animais devido agrave seca 666

c Feira-livre que acontece na comunidade a cada quinze dias Imagem registrada em julho de 667

2016 na Comunidade do Caratildeo por Mirela Santos 668

669

670

Fig 5 a O agricultor nos explicava as mudanccedilas que vem fazendo em seus roccedilados para se 671

adaptar aos longos periacuteodos de seca b Quando o agricultor nos mostrava as diferentes 672

etnovariedades que mantinha em sua roccedila c Durante a pesquisa nos explicavam como era feita 673

a colheita da mandioca e como selecionavam as manivas para o proacuteximo plantio Foto registrada 674

em abril de 2017 na Comunidade do Brejo Velho por Mirela Santos 675

a

b c

c b

a

56 676

677

Fig 6 Possiacuteveis estruturas de rede que descrevem as interaccedilotildees dos agricultores (losango) 678

ligados as etnovariedades (ciacuterculos) que cultivam Onde a Aninhada b Modular c Aleatoacuteria 679

(Fonte Cavechia et al 2014 com adaptaccedilotildees) 680

681

682

683

684

685

686

687

688

689

690

691

692

693

694

695

696

697

a c b

57

698

699

700

701

702

703

704

705

706

707

Fig 7 Correlaccedilatildeo de Spearman entre a diversidade de etnovariedades de mandiocas conhecidas 708

como cultivadas e variedades atualmente cultivadas por agricultor e as variaacuteveis 709

socioeconocircmicas Onde Nvc= nuacutemero de citadas como cultivadas Nve= nuacutemero de variedades 710

atualmente cultivadas Esc= escolaridade Id= idade Gen= gecircnero Tr= tamanho do roccedilado 711

Exp= experiecircncia na agricultura Sld= renda Nr= nuacutemero de roccedilados Cores distintivas 712

representam correlaccedilotildees significativas (Ple005) 713

714

58

715

Fig 8 Modelo individual de rede de etnovariedades de mandioca citadas (esquerda) por 716

agricultores como cultivadas (direita) nos Municiacutepios de Altinho e Panelas As redes foram 717

desenhadas com o pacote bipartite (Dormann et al 2017) usando o software R (R CORE 718

TEAM 2017) 719

720

59

721

Fig 9 Anaacutelise de Correspondecircncia Muacuteltipla das 17 etnovariedades de mandioca considerando 722

os sete descritores morfoloacutegicos utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo em roccedilas de 723

agricultores tradicionais de sete comunidades no semiaacuterido de Pernambuco 724

725

726

727

728

729

730

731

732

733

734

735

736

737

McCambadinha

McCampina

McCampinaDaGrande

McCampinaRasteira

McCampinaVaruda

McGauba

McIsabelDeSouza

McIsabelTresGalhos

McOlhoDePombo

McOlhoVerde

McPretinha

McPretona

MxBranca

MxRosa

MxRosaBrancaMxRosaVermelha

MxSemente

CFD_Verde_Arroxeado

CFD_Verde_ClaroCFD_Verde_Escuro

CBF_Roxo

CBF_Verde_ArroxeadoCBF_Verde_Claro

CBF_Verde_Escuro

CDP_Verde

CDP_Verde_Amarelado

CDP_Verde_Avermelhado

CDP_Vermelho

CEC_Cinza

CEC_Dourado

CEC_Laranja

CEC_Marrom_Claro

CEC_Marrom_Escuro

CEC_Prateado

CEC_Verde_AmareladoCicatriz_M

Cicatriz_P

PDR_Branco

PDR_Creme

CDR_BrancoCDR_Creme CDR_Rosa

-4

-2

0

2

4

-4 -2 0 2 4

Dim1 (206)

Dim

2 (

162

)

MCA - Biplot

00

10

Hierarchical Clustering

inertia gain

McC

am

pin

aV

aru

da

McC

am

pin

aD

aG

rande

McC

am

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a

McG

auba

McP

retin

ha

McP

reto

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MxR

osaV

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a

MxR

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ranca

MxR

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McC

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pin

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ira

McC

am

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e

MxB

ranca

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em

ente

McIsabelT

resG

alh

os

McIsabelD

eS

ouza

McO

lhoD

eP

om

bo

00

05

10

15

Hierarchical Classification

Heig

ht

C1 C2 C3 C4 C5 C6 C7 C8

Fig 10 Agrupamento hieraacuterquico das 17 etnovariedades de mandioca caracterizadas de acordo

com os descritores utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo

60

Tabelas 738

739

Tabela 1 Caracteres e estados utilizados pelos agricultores como descritores botacircnicos para 740

caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das etnovariedades de mandioca 741

Caracter Sigla Estados

Folha

Cor da folha desenvolvida CFD 1- verde claro 2- verde escuro 3- verde arroxeado 4- roxo

Cor do broto foliar CBF 1- verde claro 2- verde escuro 3- verde arroxeado 4- roxo

Cor do peciacuteolo CDP 1- verde amarelado 2- verde 3- verde avermelhado 4- roxo

5- vermelho

Caule

Cor externa do caule CEC 1- laranja 2- verde amarelado 3- dourado 4- marrom claro

5- prateado 6- cinza 7- marrom escuro 8- verde

Protuberacircncia da cicatriz foliar PCF 1- pouco proeminente 2- muito proeminente

Raiacutez

Cor da poupa da raiz PDR 1- branco 2- creme

Cor do coacutertex da raiacutez CDR 1- rosa 2- branco 3- creme

742

743

744

745

746

747

748

749

750

751

61

Tabela 2 Lista das 22 etnovariedades de mandiocas citadas (132 citaccedilotildees) como cultivadas nas 752

comunidades pertencentes aos Municiacutepios de Altinho (Caratildeo n=8) e ao Municiacutepio de Panelas 753

(Aracuatilde Satildeo Joseacute do Bola Brejo Velho Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima e Lajeiro 754

Dantas n=21) 755

Etnovariedade Frequecircncia () Ranking Saliecircncia

Macaxeira Rosa 66 179 0472

Mandioca Isabel de Souza 48 179 0372

Mandioca Campina 24 217 0148

Macaxeira Branca 20 210 0134

Macaxeira Rosa branca 18 122 0168

Mandioca Pretona 16 338 0082

Mandioca Cambadinha 12 283 0071

Mandioca Isabel trecircs galhos 10 180 0075

Mandioca Gauacuteba 10 260 0070

Mandioca Pretinha 8 225 0053

Mandioca Peacute de pombo 4 400 0011

Mandioca Olho verde 4 350 0012

Macaxeira Rosinha 4 200 0027

Mandioca Campina varuda 4 200 0032

Mandioca Campina rasteira 4 300 0021

Mandioca Caboquinha 2 500 0007

Macaxeira Rasteira 2 200 0013

Macaxeira Paraacute 2 100 0020

Mandioca Barra ferro 2 300 0007

Mandioca Campina da grande 2 100 0020

Mandioca Olho de pombo 2 300 0010

Mandioca Jasmim 2 600 0006

756

757

758

62

Tabela 3 Lista de 17 etnovariedades atualmente cultivadas nos roccedilados das comunidades em 759

estudo 760

Ca Ar Bo Br Jb Jc Ld

Etnovariedade

Macaxeira Branca x x x x

Macaxeira Rosa

x x x x x x

Macaxeira Rosa Branca x x x x

Macaxeira Rosa Vermelha

x

Macaxeira Semente

x

Mandioca Cambadinha x

x

Mandioca Campina

x

x

x

Mandioca Campina da Grande x

Mandioca Campina Rasteira

x

Mandioca Campina Varuda

x

Mandioca Gauacuteba

x

Mandioca Isabel de Souza

x x x

Mandioca Isabel trecircs Galhos

x

x

Mandioca Olho de Pombo

x

Mandioca Olho Verde

x

Mandioca Pretinha

x

Mandioca Pretona x x x

Comunidades Ca= Caratildeo Ar=Aracuatilde Bo= Satildeo Joseacute do Bola Jb= Japaranduba de Baixo 761

Jc= Japaranduba de Cima Ld= Lajedo Dantas 762

763

764

765

766

767

768

63

Tabela 4 Descriccedilatildeo das classes do agrupamento por meacutetodo de Ward agrupadas pelo conjunto 769

dos descritores mais significativos para a caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das variedades de mandioca 770

Classes Descritores in situ p-valor

C1 Cor do peciacuteolo (CDP) 0016

C2 Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023

C3 Cor do peciacuteolo (CDP) 0012

C4 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0004

Cor da poupa da raiacutez (PDF) 0021

C5 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0003

C6 Cor do broto foliar (CBF) 0002

C7 Cor da folha desenvolvida (CFD) 0004

Cor externa do caule (CEC) 0040

C8 Cor do peciacuteolo (CDP) 0005

Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023

Valores de Ple005 satildeo significativos 771

772

vii

A Rafael Zaacuterate agradeccedilo por toda disposiccedilatildeo dedicaccedilatildeo e aprendizado adquirido

Obrigada pelas horas de discussotildees sobre os temas do trabalho pelas ajudas em campo com as

anaacutelises estatiacutesticas e pela paciecircncia

Por fim agradeccedilo ao Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo em Botacircnica da Universidade Federal

Rural de Pernambuco (UFRPE) pela oportunidade de realizaccedilatildeo do mestrado e ao Conselho

Nacional de Desenvolvimento Cientifico e Tecnoloacutegico (CNPq) pela concessatildeo da bolsa de

incentivo a pesquisa

viii

ldquoEl mundo que nos rodea es un misterio ndash dijo-

Y los hombres no son mejores que ninguna otra cosardquo

Carlos Castaneda - Viaje a Ixtlaacuten

ix

LISTA DE FIGURAS

INTRODUCcedilAtildeO GERAL E REVISAtildeO DE LITERATURA

Fig 1 Partes do processo de fabricaccedilatildeo de farinha de mandioca Onde a raspagem b e c

processo de trituraccedilatildeo e d peneiramento 52

VARIACcedilAtildeO INTRAESPECIacuteFICA CONHECIMENTO E MANEJO LOCAL DE

MANDIOCA (Manihot esculenta Crantz) NO SEMIAacuteRIDO DE PERNAMBUCO

NORDESTE DO BRASIL

Fig 2 Mapa de localizaccedilatildeo geograacutefica dos Municiacutepios de Altinho e Panelas e das comunidades

estudadas na regiatildeo semiaacuterida do Estado de Pernambuco 53

Fig 3 Processo de fabricaccedilatildeo da farinha de mandioca Apoacutes a colheita as raiacutezes satildeo lavadas

raspadas e trituradas (a) A massa extraiacuteda eacute prensada e coada Ao sair da prensa a massa

peneirada (b) e em seguida eacute torrada (c) em fornos artesanais ou parcialmente mecanizados

54

Fig 4 a Sede da Comunidade do Caratildeo b Agricultor transportando a palma forrageira que eacute

um exemplo de estrateacutegia adaptativa para suprir a falta de alimento dos animais devido agrave seca

c Feira-livre que acontece na comunidade a cada quinze dias 55

Fig 5 a O agricultor nos explicava as mudanccedilas que vem fazendo em seus roccedilados para se

adaptar aos longos periacuteodos de seca b Quando o agricultor nos mostrava as diferentes

etnovariedades que mantinha em sua roccedila c Durante a pesquisa nos explicavam como era

feita a colheita da mandioca e como selecionavam as manivas para o proacuteximo plantio 55

Fig 6 Possiacuteveis estruturas de rede que descrevem as interaccedilotildees dos agricultores (losango)

ligados as etnovariedades (ciacuterculos) que cultivam Onde a Aninhada b Modular c Aleatoacuteria

56

Fig 7 Correlaccedilatildeo de Spearman entre a diversidade de etnovariedades de mandiocas conhecidas

como cultivadas e variedades atualmente cultivadas por agricultor e as variaacuteveis

socioeconocircmicas Onde Nvc= nuacutemero de citadas como cultivadas Nve= nuacutemero de variedades

atualmente cultivadas Esc= escolaridade Id= idade Gen= gecircnero Tr= tamanho do roccedilado

Exp= experiecircncia na agricultura Sld= renda Nr= nuacutemero de roccedilados Cores distintivas

representam correlaccedilotildees significativas (Ple005) 57

Fig 8 Modelo individual de rede de etnovariedades de mandioca citadas (esquerda) por

agricultores como cultivadas (direita) nos Municiacutepios de Altinho e Panelas As redes foram

x

desenhadas com o pacote bipartite (Dormann et al 2017) usando o software R (R CORE

TEAM 2017) 58

Fig 9 Anaacutelise de Correspondecircncia Muacuteltipla das 17 etnovariedades de mandioca considerando

os sete descritores morfoloacutegicos utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo em roccedilas de

agricultores tradicionais de sete comunidades no semiaacuterido de Pernambuco 59

Fig 10 Agrupamento hieraacuterquico das 17 etnovariedades de mandioca caracterizadas de acordo

com os descritores utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo 59

xi

LISTA DE TABELAS

CAPIacuteTULO IVARIACcedilAtildeO INTRAESPECIacuteFICA CONHECIMENTO E MANEJO

LOCAL DE MANDIOCA (Manihot esculenta Crantz) NO SEMIAacuteRIDO DE

PERNAMBUCO NORDESTE DO BRASIL

Tabela 1 Caracteres e estados utilizados pelos agricultores como descritores botacircnicos para

caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das etnovariedades de mandioca 60

Tabela 2 Lista das 22 etnovariedades de mandiocas citadas (132 citaccedilotildees) como cultivadas nas

comunidades pertencentes aos Municiacutepios de Altinho (Caratildeo n=8) e ao Municiacutepio de Panelas

(Aracuatilde Satildeo Joseacute do Bola Brejo Velho Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima e Lajeiro

Dantas n=21) 61

Tabela 3 Lista de 17 etnovariedades atualmente cultivadas nos roccedilados das comunidades em

estudo 62

Tabela 4 Descriccedilatildeo das classes do agrupamento por meacutetodo de Ward agrupadas pelo conjunto

dos descritores mais significativos para a caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das variedades de mandioca

63

xii

SUMAacuteRIO

RESUMO GERAL xiii

1 Introduccedilatildeo Geral 14

2 Revisatildeo bibliograacutefica 17

21 Manihot esculenta Crantz e conhecimento local de agricultores tradicionais 17

22Manejo tradicional em roccedilas e diversidade intraespeciacutefica da mandioca 18

23 Redes sociais de troca e circulaccedilatildeo de etnovariedades de mandioca 20

3 Referecircncias bibliograacuteficas 22

VARIACcedilAtildeO INTRAESPECIacuteFICA CONHECIMENTO E MANEJO LOCAL DE

MANDIOCA (Manihot esculenta Crantz) NO SEMIAacuteRIDO DE PERNAMBUCO

NORDESTE DO BRASIL 25

Resumo 26

Introduccedilatildeo 27

Material e meacutetodos 29

Resultados 36

Discussatildeo 40

Conclusatildeo 45

Agradecimentos 45

Referecircncias bibliograacuteficas 46

ANEXOS 51

xiii

RESUMO GERAL

Agricultores de pequena escala que praticam agricultura de modo tradicional em roccedilas

desempenham um importante papel na geraccedilatildeo manutenccedilatildeo e conservaccedilatildeo da

agrobiodiversidade local Dentre as espeacutecies mais cultivadas em roccedilas a Manihot esculenta

Crantz (mandioca) em sua diversidade intrespeciacutefica eacute um dos recursos agriacutecolas de maior

importacircncia econocircmica e de subsistecircncia para diversas populaccedilotildees locais no mundo Acredita-

se que as praacuteticas de manejo dedicadas ao cultivo da mandioca associadas ao conhecimento de

agricultores resultam no aumento da diversidade intraespeciacutefica assim como na conservaccedilatildeo

dessa diversidade Diante disso a pesquisa teve como objetivo compreender os processos

envolvidos na dinacircmica da diversidade agriacutecola da mandioca por meio do acesso ao

conhecimento dos agricultores quanto as praacuteticas de menejo e entender quais fatores podem

estar relacionados a geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da diversidade local Para isso o estudo foi

desenvolvido junto a agricultores tradicionais de sete comunidades rurais localizadas na regiatildeo

semiaacuterida do estado de Pernambuco A abordagem metodoloacutegica foi baseada em entrevistas

semiestruturadas conversas com os informantes e visitas aos roccedilados para caracterizar e

compreender a importacircncia manejo da agricultura de sequeiro e das redes sociais estabelecidas

entre os agricultores bem como identificar as variedades de mandioca atualmente cultivadas

A partir do conhecimento da diversidade manejada analisamos a estrutura da rede de interaccedilatildeo

social formada pelas trocas de etnovariedades entre os agricultores A partir destas informaccedilotildees

discutimos sobre o importante papel dos agricultores na manutenccedilatildeo do conjunto de

etnovariedades regionais Um total de 22 etnovariedades foram citadas as quais satildeo

identificadas pelos agricultores principalmente por meio de sete caracteres morfoloacutegicos A

estrutura em redes de trocas de variedades favorece a manutenccedilatildeo e amplificaccedilatildeo das diferentes

variedades locais

Palavras-Chave Agricultura tradicional Agricultura de sequeiro Agrobiodiversidade

Plantas alimentiacutecias Redes sociais

xiv

ABSTRACT

Small-scale farmers who practice traditional agriculture fields have an important role in

generation maintenance and conservation of local agrobiodiversity Among the most cultivated

species the Manihot esculenta Crantz (cassava) in its intrespecific diversity is one of the

moust important agricultural resources of economic importance and livelihood for many local

people in the world It is believed that the management practices dedicated to the cultivation of

cassava associated with the knowledge of farmers result in increased intraspecific diversity

and the conservation of this diversity Therefore the research aimed to understand the processes

involved in the dynamics of agricultural diversity of cassava through access the knowledge of

farmers as the management of practices and understand what factors may be related to the

generation and maintenance of local diversity For this the study was developed with the

traditional farmers of seven rural communities located in the semiarid region of the state of

Pernambuco The methodological approach was based on semi-structured interviews

conversations with informants and visits to fields to characterize and understand the

importance of management of dry framing and social networks established between farmers

and to identify the cassava varieties currently grown From the knowledge of managed

diversity we analyze the structure of social interaction network formed by the exchange of

landraces among farmers From this information We discussed the important role of farmers

in the overall regional landraces maintenance A total of 22 landraces were cited which are

identified by farmers mainly through seven morphological characters The structure of

varieties sharing networks favors the maintenance and amplification of different local varieties

Keywords Agrobiodiversity Dry Farming Food plants Social networks Traditional

agriculture

14

1 Introduccedilatildeo Geral

Ao longo dos anos populaccedilotildees tradicionais foram adquirindo aprimorando e transmitindo

seus conhecimentos sobre o manejo dos recursos naturais existentes em suas respectivas

regiotildees e assim foram desenvolvendo teacutecnicas para se adaptar e sobreviver ao ambiente Essas

populaccedilotildees foram domesticando uma grande variedade de espeacutecies de plantas alimentiacutecias

numa agricultura de pequena escala (BALLEacute 2006 CLEMENT et al 2010)

Essa interaccedilatildeo pessoas-planta por meio do cultivo e manejo das espeacutecies vegetais vem

contribuindo para ambos com alteraccedilotildees adaptativas por meio da seleccedilatildeo artificial Essas

alteraccedilotildees resultaram em mudanccedilas na estrutura geneacutetica das espeacutecies vegetais pelo manejo da

seleccedilatildeo de caracteriacutesticas fenotiacutepicas fisioloacutegicas e econocircmicas das plantas E essa seleccedilatildeo

consciente ou inconsciente das plantas se traduz em uma grande variaccedilatildeo intraespeciacutefica nas

populaccedilotildees vegetais sob diferentes regimes de manejo (CARMONA CASAS 2005)

Por meio do cultivo agricultores em comunidades tradicionais desempenham um papel

fundamental no processo dinacircmico de geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da agrobiodiversidade local em

sistemas de roccedilas Essas roccedilas satildeo aacutereas de agricultura tradicional localizadas dentro de

comunidades caracterizadas natildeo soacute pelo grande nuacutemero espeacutecies cultivadas mas tambeacutem pela

alta diversidade intraespeciacutefica que essas espeacutecies apresentam (MARTINS 2005) Dentre as

espeacutecies comumente cultivadas nesse sistema a mandioca (Manihot esculenta Crantz

Euphorbiaceae) eacute considerada uma cultura de alto valor econocircmico nutricional utilitaacuterio

cultural e social para muitas populaccedilotildees humanas no mundo (CLEMENT et al 2010) Aleacutem

disso a mandioca apresenta uma grande diversidade intraespeciacutefica e por essas caracteriacutesticas

tornou-se uma espeacutecie-modelo para compreender como os diferentes padrotildees e estrateacutegias de

manejo adotadas pelos agricultores podem influenciar na diversidade local (ELIAS et al 2001

EMPERAIRE PERONI 2007 EMPERAIRE ELOY 2008)

Segundo PERONI amp MARTINS (2000) as diferentes praacuteticas de manejo desse

importante recurso favorecem a alta diversidade intraespeciacutefica em roccedilas de agricultura

itinerante1 Um dos fatores responsaacuteveis pela geraccedilatildeo dessa diversidade consiste na capacidade

de incorporaccedilatildeo de novos germoplasmas por meio da reproduccedilatildeo sexuada associada ao manejo

agriacutecola tradicional (PUJOL et al 2005 EMPERAIRE PERONI 2007) Apesar de propagada

1 Agricultura caracterizada por ciclos de uso e pousio como por exemplo corte e queima

15

vegetativamente pelos agricultores a mandioca (M esculenta) ainda manteacutem a sua capacidade

de reproduccedilatildeo sexual sendo este um aspecto muito importante para dinacircmica evolutiva da

cultura (PUJOL et al 2007 CLEMENT et al 2010) Apoacutes a fecundaccedilatildeo cruzada e dispersatildeo

das sementes um banco destas eacute formado no solo e as novas variedades germinam nas roccedilas

(MARTINS 2005) Antes de serem imcorporadas ao acervo essas lsquolsquovariedades-voluntaacuteriasrsquorsquo

passam por um filtro cultural ou seja seratildeo reconhecidas pelos agricultores por meio de

caracteriacutesticas morfoloacutegicas experimentadas e entatildeo selecionadas (MARTINS OLIVEIRA

2009)

Outro evento envolvido na geraccedilatildeo de diversidade intraespeciacutefica eacute incorporaccedilatildeo de

novas variedades de mandioca por meio de uma rede social de troca de material propagativo

estabelecida entre os agricultores (CAVECHIA et al 2014) Esse mecanismo permite a

circulaccedilatildeo das manivas2 tanto a niacutevel local quanto regional permite tambeacutem o acesso aos

diferentes conjuntos de variedades cultivadas entre as comunidades e ainda que o conjunto de

etnovariedades3 locais eou regionais seja conservado (EMPERAIRE ELOY 2008) Dentro

dessas redes sociais de troca as relaccedilotildees entre os agricultores atuam como mecanismo

fundamental para dispersatildeo e experimentaccedilatildeo das etnovariedades entre as roccedilas E satildeo essas

relaccedilotildees e decisotildees estabelecidas entre os agricultores que iratildeo definir quais etnovariedades

seratildeo mantidas ao longo do tempo e quais seratildeo abandonadas (LIMA et al 2012)

Sendo os agricultores e as interaccedilotildees entre eles fundamentais para o estabelecimento da

diversidade local (PINTON EMPERAIRE 2001 EMPERAIRE ELOY 2008) torna-se

pertinente entender como as diferentes estrateacutegias adotadas pelos agricultores influenciam na

dinacircmica da agrobiodiversidade local Muitos trabalhos com esse enfoque foram desenvolvidos

nas regiotildees Amazocircnica e Sudeste mas pouco se discute sobre a dinacircmica da agrobiodiversidade

em regiotildees semiaacuteridas

Nesse sentido o presente estudo visa investigar as interaccedilotildees entre agricultores

tradicionais de comunidades rurais estabelecidas na regiatildeo semiaacuterida de Pernambuco O

objetivo geral eacute compreender os processos envolvidos na dinacircmica da diversidade agriacutecola por

meio do acesso ao conhecimento dos agricultores quanto as praacuteticas de menejo e entender quais

quais fatores podem estar relacionados a geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da diversidade local Para esse

estudo a mandioca foi escolhida como modelo devida agrave sua importacircncia econocircmica e de

subsistecircncia para comunidades locais Os objetivos especiacuteficos foram (i) caracterizar o manejo

2 Satildeo pedaccedilos das hastes ou ramas da mandioca usadas para o plantio 3 Variedades intraespeciacuteficas de mandioca (M esculenta) identificadas pelos agricultores por nomenclatura

popular local (Martins 2005)

16

da agricultura de sequeiro bem como analisar se os paracircmetros socioeconocircmicos influenciam

na diversidade local (ii) registrar as etnovariedades atualmente cultivadas e identificar os

diferentes criteacuterios morfoloacutegicos utilizados pelos agricultores para a seleccedilatildeo e classificaccedilatildeo das

etnovariedades e (iii) descrever a estrutura da rede de interaccedilatildeo entre os agricultores e a

diversidade de etnovariedades de mandioca cultivadas para tentar entender como essas relaccedilotildees

podem influenciar na manutenccedilatildeo ou perda da diversidade local

a

b c

17

2 Revisatildeo bibliograacutefica

21 Manihot esculenta Crantz e conhecimento local de agricultores tradicionais

O gecircnero Manihot Miller (Euforbiaceae) possui cerca de 98 espeacutecies distribuiacutedas em 19

seccedilotildees das quais 13 delas ocorrem no Brasil (ROGERS APPAN 1973) Dentre as espeacutecies do

gecircnero Manihot esculenta Crantz (mandioca) eacute a principal cultivar uma vez que compotildee a

base da dieta alimentar de diversas populaccedilotildees rurais principalmente em regiotildees tropicais A

mandioca foi domesticada na Ameacuterica do Sul pois eacute onde se encontra o maior centro de

diversificaccedilatildeo Estudos relacionados ao entendimento de sua origem botacircnica tecircm contribuiacutedo

para a compreensatildeo das accedilotildees humanas no processo de domesticaccedilatildeo e ampliaccedilatildeo da

diversidade da espeacutecie (OLSEN SCHAAL 1999 ELIAS et al 2004 ELLEN 2012)

As diferentes variedades da espeacutecie satildeo reconhecidas em dois grandes grupos principais

o das variedades mais toacutexicas e o de variedades menos toacutexicas baseadas no potencial de

glicosiacutedeos cianogecircnicos (HCN) contido na polpa das raiacutezes (ELIAS et al 2004) Variedades

com baixa toxicidade contecircm baixas concentraccedilotildees de glicosiacutedeos cianogecircnicos (HCNlt100

mgKg-1) e satildeo conhecidas em comunidades agriacutecolas variando entre regiotildees ou grupos eacutetnicos

como ldquomacaxeirasrdquo ldquomandiocas doces ou mansasrdquo ou ldquoaipinsrdquo As variedades mais toacutexicas

com altas concentraccedilotildees de HCN (HCNgt 100 mgKg-1) satildeo reconhecidas como ldquomandiocasrdquo

ou ldquomandiocas amargas ou bravasrdquo (PERONI et al 2007 MCKEY et al 2010) E portanto

precisam passar por um processo de desintoxicaccedilatildeo para se tornarem aptas ao consumo como

por exemplo pelo processo de fabricaccedilatildeo da farinha de mandioca (Fig 1) Apesar do seu

potencial toacutexico as variedades amargas possuem teores mais elevados de amido e se adaptam

bem a solos pobres e aacutecidos aleacutem de serem mais resistentes aos patoacutegenos e pragas em

comparaccedilatildeo com as variedades doces (FRASER et al 2010)

Sob o ponto de vista botacircnico esta dicotomia natildeo eacute reconhecida mas existem alguns

trabalhos que evidenciam a relaccedilatildeo entre a coerecircncia da taxonomia popular com a diferenciaccedilatildeo

geneacutetica para separaraccedilatildeo das variedades ldquodocesrdquo e ldquoamargasrdquo (ELIAS et al 2004 PERONI

et al 2007) O conhecimento das caracteriacutesticas morfoloacutegicas das plantas e a coerecircncia na

identificaccedilatildeo dessas variedades com niacuteveis distintos de HCN eacute de grande importacircncia

adaptativa para as populaccedilotildees que gerem esse recurso sobretudo pelo risco de intoxicaccedilatildeo

(RIVAL MCKEY 2008)

18

No estudo realizado por AMOROZO (2000) por exemplo os agricultores geralmente

classificavam as variedades que tinham raiacutezes brancas como ldquobravasrdquo e aquelas que tinham

raiacutezes vermelhas como ldquomansasrdquo embora eles reconhecessem algumas exceccedilotildees Em pesquisas

realizados por FARALDO et al (2000) MKUMBIRA et al (2003) ELIAS et al (2004) e

PERONI et al (2007) os agricultores foram consistentes na distinccedilatildeo de suas variedades

lsquolsquodocesrdquo e ldquoamargasrsquorsquo e com base no conhecimento de caracteres morfoloacutegicos distintos os

nomes das variedades refletiram na diversidade geneacutetica A partir dessas evidecircncias podemos

inferir que o conhecimento local dos agricultores associado agrave experiecircncia eacute importante natildeo

somente para o reconhecimento das variedades locais por si soacute mas tambeacutem por conter

informaccedilotildees relevantes sobre o papel que esses recursos podem desempenhar nos sistemas

agriacutecolas de pequena escala e para as populaccedilotildees locais (GADGIL et al 1993)

O conhecimento tradicional dos agricultores trata-se de um conjunto de saberes praacuteticas

e crenccedilas baseadas no contato direto nas observaccedilotildees experimentaccedilotildees diaacuterias e nas

dependecircncias econocircmicas eou de subsistecircncia dos recursos que satildeo geralmente transmitidas

oralmente dentro e entre as geraccedilotildees (AMOROZO 2000 DOMINGUES ARRUDA 2001

BEGOSSI 2004) Sendo assim o conhecimento tradicional de agricultores que praticam a

agricultura de pequena escala realizada em comunidades tradicionais eacute importante pois tem

garantido a perpetuaccedilatildeo dos conhecimentos e das praacuteticas agriacutecolas desenvolvidas durante

milhares de anos entre os agroecossistemas locais

22 Manejo tradicional em roccedilas e diversidade intraespeciacutefica da mandioca

A agricultura de pequena escala praticada em comunidades locais tem garantido a

perpetuaccedilatildeo do conhecimento sobre o manejo e a diversidade de espeacutecies agriacutecolas O sistema

de cultivo em roccedilas eacute tipicamente praticado por agricultores de comunidades tradicionais em

aacutereas uacutemidas no mundo inteiro As roccedilas satildeo aacutereas de cultivo de pequena escala localizadas

dentro de comunidades proacuteximas umas das outras que se tornaram objeto de estudo em vaacuterias

pesquisas antropoloacutegicas etnobotacircnicas geneacuteticas e ecologias especialmente por apresentarem

grande diversidade de espeacutecies cultivadas e pelo manejo destinar-se agrave subsistecircncia de grupos

familiares de agricultores de pequena escala (PUJOL et al 2007)

Aleacutem da diversidade de espeacutecies outra caracteriacutestica dessas roccedilas eacute o grande nuacutemero de

variedades dentro de cada espeacutecie Esta diversidade intraespeciacutefica pode ser referida como

etnovariedades que eacute um termo utilizado para definir grupos de indiviacuteduos identificados por

19

nomenclatura popular local a qual pode expressar elementos do contexto cultural econocircmico

e social das populaccedilotildees associado ao uso (PERONI MARTINS 2000 EMPERAIRE

PERONI 2007)

Dentre as vaacuterias espeacutecies cultivadas em roccedilas a mandioca (M esculenta) em seu

nuacutemero de etnovariedades eacute uma das principais culturas de importacircncia econocircmica e

nutricional para populaccedilotildees que utilizam esse sistema Sua diversidade pode estar relacionada

ao sistema reprodutivo da cultura ao modo de gestatildeo da agricultura pelas pressotildees de seleccedilatildeo

exercidas pelo proacuteprio homem ou ateacute mesmo por causas naturais (MARTINS 2005

CLEMENT et al 2010)

As caracteriacutesticas de manejo empregadas no cultivo da mandioca em roccedilas favorecem

a elevada diversidade intraespeciacutefica dessa cultura O modo de propagaccedilatildeo da mandioca eacute feito

pelos agricultores por meios de estacas (manivas) que satildeo selecionadas de acordo com as

caracteriacutesticas desejaacuteveis que elas apresentam seja para fins econocircmicos ou utilitaacuterios Apesar

de propagada vegetativamente que eacute um meacutetodo usado pelas populaccedilotildees humanas para plantio

e multiplicaccedilatildeo de plantas a mandioca natildeo perdeu a sua capacidade de reproduccedilatildeo sexual

sendo esse um aspecto importante para dinacircmica evolutiva da cultura (PUJOL et al 2007)

Esse meacutetodo de propagaccedilatildeo permite o fluxo e a circulaccedilatildeo do material geneacutetico entre os

diferentes roccedilados por meio de um sistema de redes sociais de troca de etnovariedade de

mandioca entre os agricultores tanto a niacutevel regional (entre comunidades) quanto em escalas

menores (entre vizinhos e parentes) (ELIAS et al 2004 EMPERAIRE OLIVEIRA 2010)

Segundo Emperaire e Peroni (2007) esse mecanismo de troca de germoplasma eacute uma grande

forccedila de dispersatildeo que resulta na agrobiodiversidade regional mais elevada pois estabelece

viacutenculos entre as diferentes roccedilas e promove oportunidades de seleccedilatildeo e cruzamento entre as

diferentes etnovariedades (EMPERAIRE ELOY 2008)

Atributo bioloacutegicos da espeacutecie tambeacutem estatildeo relacionados com o aumento da

diversidade intrespeciacutefica como a capacidade de dormecircncia das sementes e a dispersatildeo

autocoacuterica que propiciam o desenvolvimento de um banco de sementes no solo ao longo do

tempo permitindo o cruzamento entre as novas variedades adquiridasplantadas e entre estas

com variedades que existiram anterioemente na mesma aacuterea (PERONI MARTINS 2000

MARTINS 2005) A presenccedila dessas ldquoplantas-voluntaacuteriasrdquo ou seja aquelas nascidas de

germinaccedilatildeo expontacircnea eacute um dos eventos identificados como precursores de diversidade

intraespeciacutefica nas populaccedilotildees de mandioca cultivadas (PUJOL et al 2007)

20

Contudo muitos esforccedilos vecircm sendo empregados em estudos que observam a ecologia

da mandioca e o manejo agriacutecola associado agrave geraccedilatildeo de diversidade varietal e geneacutetica na

espeacutecie para tentar entender como esses mecanismos influenciam na diversidade de

etnovariedades locais e na sua dinacircmica (PUJOL et al 2007 KOMBO et al 2012 ELIAS et

al 2001)

23 Redes sociais de troca e circulaccedilatildeo de etnovariedades de mandioca

Sistemas agriacutecolas de pequena escala dependem de uma grande diversidade de espeacutecies e

variedades cultivadas e do fluxo destas por meio de redes sociais de troca material vegetativo

estabelecidas entre agricultores podendo o alcance da circulaccedilatildeo variar em escala local eou

regional (EMPERAIRE ELOY 2008) As trocas dependem de dois mecanismos principais

dos padrotildees de interaccedilatildeo social entre os agricultores e dos padrotildees de uso dos recursos

(CAVECHIA et al 2014) e as redes variam em funccedilatildeo das caracteriacutesticas culturais

econocircmicas e sociais das comunidades (EMPERAIRE PERONI 2007 PAUTASSO et al

2012)

No caso da mandioca (Manihot esculenta Crantz) a propagaccedilatildeo se da por estaquia o que

favorece a troca de material de vegetativo entre os agricultores e permite o fluxo entre

variedades locais e regionais (MARTINS 2005) As trocas de variedades de mandioca entre os

agricultores geralmente acontecem por alguma circunstacircncia que leve o agricultor a pedir o

material propagativo para o plantio com por exemplo para o plantio de uma nova roccedila ou por

alguma fitopatologia deslocaccedilatildeo ou estaccedilotildees de chuva e seca prolongadas (EMPERAIRE et

al 2001 EMPERAIRE ELOY 2008) Em alguns casos como no de algumas comunidades

agriacutecolas de pequena escala as redes de casamento satildeo utilizadas para a circulaccedilatildeo de

variedades (EMPERAIRE PERONI 2007 DELEcircTRE et al 2011)

O processo de manutenccedilatildeo da diversidade nesses sistemas resulta do interesse ou da

necessidade do agricultor em adquirir ou abandonar variedades testar e selecionar novas

etnovariedades de mandioca Dentre os fatores que dirigem a seleccedilatildeo de etnovariedades estatildeo

as preferecircncias individuais dos agricultores Alguns podem optar por cultivar todas as

etnovariedades comuns eou disponiacuteveis na regiatildeo enquanto que outros optam apenas por

manter um conjunto especiacutefico dessa diversidade (CAVECHIA et al 2014) Seja para atender

a alguma demanda individual pelo interesse em aumentar a produtividade ou pela necessidade

21

de conservar o material vegetativo para o proacuteximo plantio no caso de perda de material por

algum fator ambiental adverso (EMPERAIRE et al 2001 EMPERAIRE ELOY 2008)

Nesse sentido satildeo os agricultores os maiores responsaacuteveis por determinar como e quais

etnovariedades seratildeo compartilhadas e mantidas entre as comunidades (PAUTASSO et al

2012) E a chave para a compreensatildeo da dinacircmica da diversidade varietal eacute por meio desse

intercacircmbio e dos fatores que influenciam essa conectividade entre as comunidades pois essas

redes representam um grande impacto sobre a diversidade de variedades cultivadas E eacute por

meio dessas redes que se diminui coletivamente os riscos de perda total de diversidade geneacutetica

local (EMPERAIRE ELOY 2008)

Desse modo as relaccedilotildees estabelecidas pelos agricultores entre as comunidades por meio

das redes troca de germoplasma podem ter consequecircncias importantes sobre a diversidade

varietal da mandioca E compreender os processos envolvidos na manutenccedilatildeo ou perda de

germoplasma nos sistemas agriacutecolas eacute importante uma vez que compreendendo a maneira

como os agricultores usam esse conjunto de etnovariedades de mandioca e as compartilham

vai trazer importantes discussotildees a cerca da qualidade e a quantidade do recurso que seraacute

mantido transmitido ou perdido dentro dos sistemas ao longo do tempo

22

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consequences of soil seed banks in Cassava Biological Conservation v 136 n 4 p 541ndash

551 maio 2007

PUJOL B DAVID P MCKEY D Microevolution in agricultural environments how a

traditional Amerindian farming practice favours heterozygosity in cassava (Manihot esculenta

Crantz Euphorbiaceae) Ecology Letters v 8 n 2 p 138ndash147 2005

RIVAL L MCKEY D Domestication and diversity in manioc (Manihot esculenta Crantz

ssp esculenta Euphorbiaceae) Current anthropology v 49 n 6 p 1119ndash1128 2008

ROGERS D J APPAN S G Manihot and Manihotoides (Euphorbiaceae) a computer

assisted study Flora neotropica v 13 p 1973ndash278 1973

25

VARIACcedilAtildeO INTRAESPECIacuteFICA CONHECIMENTO E MANEJO

LOCAL DE MANDIOCA (Manihot esculenta Crantz) NO SEMIAacuteRIDO DE

PERNAMBUCO NORDESTE DO BRASIL

Artigo submetido ao perioacutedico Human Ecology

Normas para submissatildeo em anexos

26

Variaccedilatildeo intraespeciacutefica conhecimento e manejo local de mandioca 1

(Manihot esculenta Crantz) no semiaacuterido de Pernambuco Nordeste do 2

Brasil 3

Mirela Nataacutelia Santos12 Jhonatan Rafael Zaacuterate-Salazar1 Reginaldo de Carvalho1 amp 4

Ulysses Paulino de Albuquerque2 5

6

1 Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo em Botacircnica Departamento de Biologia Rua Dom Manuel de Medeiros 7

Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) sn Dois Irmatildeos Recife Pernambuco 52171-8

900 Brasil 9

2 Laboratoacuterio de Ecologia e Evoluccedilatildeo de Sistemas Socioecoloacutegicos (LEA) Departamento de Botacircnica 10

Avenida Professor Moraes Rego Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) sn Cidade 11

Universitaacuteria Recife Pernambuco 50670-901 Brasil 12

Resumo 13

Historicamente a espeacutecie Manihot esculenta Crantz (mandioca) eacute uma espeacutecie de grande valor 14

econocircmico e de subsistecircncia para populaccedilotildees em comunidades tradicionais Variedades de 15

mandioca satildeo selecionadas com base nos interesses dos agricultores conduzindo uma evoluccedilatildeo 16

especiacutefica sobre a geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da agrobiodiversidade local Diante disso a mandioca 17

tornou-se espeacutecie-modelo em estudos que buscam compreender como os padrotildees e estrateacutegias 18

adotadas pelas populaccedilotildees humanas influenciam na diversidade intraespeciacutefica local em regiotildees 19

tropicais No entanto os fatores que influenciam a diversidade da mandioca em regiotildees 20

semiaacuteridas ainda natildeo foram bem documentados Nesse sentido objetivo geral do estudo foi 21

compreender os processos envolvidos na dinacircmica da diversidade agriacutecola em sete 22

comunidades tradicionais localizadas na regiatildeo semiaacuterida do estado de Pernambuco (Nordeste 23

do Brasil) por meio do acesso ao conhecimento dos agricultores quanto as praacuteticas de menejo 24

para tentar quais quais fatores podem estar relacionados a geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da diversidade 25

local Com os resultados da anaacutelise de redes verificamos uma alta diversidade de 26

etnovariedades cultivadas e a sua composiccedilatildeo eacute determinada pelas preferecircncias e 27

comportamentos individuais dos agricultores que foram provavelmente os mecanismos 28

27

responsaacuteveis pelo surgimento da estrutura aninhada observada na anaacutelise rede Esse padratildeo 29

aninhado contribui na conservaccedilatildeo das etnovariedades mais comuns mas tambeacutem pode resultar 30

em perda daquelas de menor frequecircncia ao longo do tempo 31

Palavras-Chave Agricultura tradicional Agricultura de sequeiro Agrobiodiversidade 32

Etnobiologia Plantas alimentiacutecias 33

34

Introduccedilatildeo 35

Historicamente as populaccedilotildees humanas foram acumulando conhecimentos sobre 36

praacuteticas da agricultura desenvolvendo teacutecnicas adaptadas ao meio natural e assim foram 37

domesticando uma grande variedade de cultivos alimentares para garantirem a sua 38

sobrevivecircncia (Balleacute 2006 Clement et al 2010) Essa interaccedilatildeo pessoas-plantas por meio do 39

cultivo e manejo das espeacutecies vegetais considerando tanto os aspectos sociais quanto naturais 40

dos sistemas dinacircmicos eacute uma importante ferramenta para o entendimento do conhecimento 41

dos agricultores sobre os agroecossistemas locais ( Alcorn 1995) 42

Aleacutem disso essas interaccedilotildees vem contribuindo com alteraccedilotildees nas populaccedilotildees vegetais 43

por meio da seleccedilatildeo artificial Essas alteraccedilotildees resultaram em mudanccedilas na estrutura geneacutetica 44

dessas populaccedilotildees que satildeo determinadas geralmente pela seleccedilatildeo de caracteriacutesticas fenotiacutepicas 45

fisioloacutegicas eou econocircmicas das plantas refletidas em classificaccedilotildees e nomenclaturas 46

especiacuteficas baseadas em percepccedilotildees individuais (Carmona amp Casas 2005) 47

Muitos pesquisadores tentam explicar o papel dos agricultores de pequena escala na 48

seleccedilatildeo classificaccedilatildeo e manutenccedilatildeo da agrobiodiversidade local em roccedilas tradicionalmente 49

manejas em regiotildees uacutemidas (Emperaire amp Peroni 2007 Emperaire amp Eloy 2008 Marchetti et 50

al 2013) Essas roccedila satildeo aacutereas de cultivo caracterizadas por conter uma alta diversidade 51

intraespeciacutefica de espeacutecies (Martins 2005) Dentre elas a Manihot esculenta Crantz 52

28

(mandioca) Euphorbiaceae em sua diversidade de etnovariedades eacute a espeacutecie mais importante 53

sob ponto de vista econocircmico e de subsistecircncia para as populaccedilotildees locais e mais cultivada 54

devido a sua grande adaptabilidade ambiental e baixos custos de gestatildeo (Elias et al 2001) 55

A alta diversidade da mandioca nessas aacutereas pode ser atribuiacuteda agrave possibilidade de 56

introduccedilatildeo de novas variedades via reproduccedilatildeo sexuada associada a ecologia da espeacutecie Esse 57

mecanismo permite o fluxo gecircnico entre as variedades de mandioca cultivadas do mesmo local 58

e entre estas com variedades de locais vizinhos (Pujol et al 2007) Outro mecanismo que 59

favorece essa diversidade eacute agrave circulaccedilatildeo de material propagativo por meio redes sociais de troca 60

variedades entre os agricultores (Pujol et al 2005 Emperaire amp Peroni 2007 Clement et al 61

2010) Esse mecanismo de troca eacute fundamental para o estabelecimento de interaccedilotildees entre as 62

diferentes aacutereas de roccedila promovendo oportunidade de seleccedilatildeo e cruzamento entre os diferentes 63

conjuntos de variedades aleacutem de permitir que este conjunto seja conservado (Emperaire amp Eloy 64

2008) 65

Diante desse cenaacuterio podemos observar que a agrobiodiversidade local natildeo eacute fruto 66

apenas de fatores naturais mas eacute tambeacutem influenciada pelas caracteriacutesticas culturais e 67

socioeconocircmica das populaccedilotildees locais refletidas especialmente no conhecimento e manejo 68

local Nesse sentido o presente estudo visa investigar as interaccedilotildees entre agricultores 69

tradicionais de comunidades rurais estabelecidas na regiatildeo semiaacuterida de Pernambuco 70

O objetivo geral eacute compreender os processos envolvidos na dinacircmica da diversidade 71

agriacutecola por meio do acesso ao conhecimento dos agricultores quanto as praacuteticas de menejo e 72

entender quais quais fatores podem estar relacionados a geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da diversidade 73

local Para esse estudo a mandioca foi escolhida como modelo devida agrave sua importacircncia 74

econocircmica e de subsistecircncia para comunidades locais Os objetivos especiacuteficos foram (i) 75

caracterizar o manejo da agricultura de sequeiro bem como analisar se os paracircmetros 76

socioeconocircmicos influenciam na diversidade local (ii) registrar as etnovariedades atualmente 77

29

cultivadas e identificar os diferentes criteacuterios morfoloacutegicos utilizados pelos agricultores para a 78

seleccedilatildeo e classificaccedilatildeo das etnovariedadese (iii) descrever a estrutura da rede de interaccedilatildeo entre 79

os agricultores e a diversidade de etnovariedades de mandioca cultivadas para tentar entender 80

como essas relaccedilotildees podem influenciar na manutenccedilatildeo ou perda da diversidade local 81

Material e meacutetodos 82

Aacutereas de estudo 83

Amostramos sete comunidades rurais estabelecidas na regiatildeo semiaacuterida de 84

Pernambuco Nordeste do Brasil Uma das comunidades (Caratildeo) pertence ao Municiacutepio de 85

Altinho (ldquo8deg 29rsquo 10rdquo S e 36deg 03rsquo 49rdquo W) e as demais (Satildeo Joseacute do Bola Brejo velho 86

Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima Lajedo Dantas e Aracuatilde) ao Municiacutepio de 87

Panelas (8 deg 39 48 S e 36 deg 01 23 W) (Fig 2) 88

O modelo agriacutecola adotado na regiatildeo segue o sistema tradicional de sequeiro4 e todas 89

as comunidades em estudo possuem histoacuterico de cultivo de mandioca (M esculenta) As aacutereas 90

de cultivo satildeo estabelecidas por unidade familiar e as atividades satildeo realizadas em sua maioria 91

por homens tendo cada agricultor cerca de um a dois hectares de aacuterea para plantio Aleacutem da 92

mandioca os cultivos mais utilizados na comunidades satildeo milho (Zea mays) e feijatildeo (Phaseolus 93

sp) 94

Para os membros das comunidades a produccedilatildeo da farinha de mandioca (Fig 3) eacute uma 95

das atividades agriacutecolas mais importantes tanto pelo seu papel na dieta alimentar quanto pela 96

importacircncia social e econocircmica 97

Caracteriacutesticas das comunidades do estudo 98

A comunidade do Caratildeo localiza-se sob domiacutenio de Caatinga caracterizado por climas 99

quentes e secos com regimes escassos de chuvas correspondente ao tipo BSrsquoh segundo a 100

4 Eacute o cultivo praticado sem irrigaccedilatildeo em regiotildees onde a pluviosidade eacute diminuta

30

classificaccedilatildeo climaacutetica de Koumlppen A vegetaccedilatildeo eacute composto por espeacutecies perenes que 101

conseguem sobreviver mesmo em periacuteodos de seca e espeacutecies anuais que aparecem apenas em 102

periacuteodos com chuva (Cruz et al 2013) 103

De acordo os dados de precipitaccedilatildeo do Laboratoacuterio de Anaacutelise e Processamento de 104

Imagens de Sateacutelites (LAPIS) no ano de 2012 foi registrada a menor meacutedia anual de 105

precipitaccedilatildeo dos uacuteltimos 10 anos para essa regiatildeo (3784 mm) Essa realidade ambiental quando 106

comparada com estudo realizado por de Sieber e colaboradores (2011) na mesma comunidade 107

observa-se que houve uma diminuiccedilatildeo considerada das praacuteticas agriacutecolas realizadas pelos 108

membros da comunidade culminando em uma seacuterie de prejuiacutezos aos agricultores como a perda 109

de plantaccedilotildees e animais Essa perda de produtividade afetou a estrutura econocircmica da 110

comunidade uma vez que a principal fonte de subsistecircncia das famiacutelias eacute a agricultura 111

Associada as atividades agriacutecolas os moradores complementam a dieta e a renda 112

familiar com a venda dos excedentes da produccedilatildeo em feiras-livres ou centros comerciais da 113

regiatildeo (Cruz et al 2013) E com a pecuaacuteria de pequena escala bovina caprina e com avicultura 114

No entanto a diminuiccedilatildeo da forragem natural e cultivada causada pela escassez de chuvas 115

associada aos elevados custos envolvidos na compra de raccedilatildeo levou muitos animais agrave morte 116

(Fig 4) 117

No Municiacutepio de Altinho a comunidade do Caratildeo foi inicialmente escolhida devido ao 118

reconhecimento preacutevio do registro de agricultores realizado em estudos desenvolvidos pelo 119

nosso grupo de pesquisa facilitando assim o acesso agraves informaccedilotildees necessaacuterias para o 120

desenvolvimento da pesquisa 121

As comunidades Aracuatilde Brejo Velho Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima 122

Lajedo Dandas e Satildeo Joseacute do Bola amostradas no estudo pertencem ao Municiacutepio de Panelas 123

que se limita ao Norte com o Municiacutepio de Altinho Essas comunidades estatildeo localizadas em 124

31

no domiacutenio morfoclimaacutetico de Caatinga O clima eacute do tipo semiaacuterido Bsrsquoh segundo a 125

classificaccedilatildeo climaacutetica de Koumleppen 126

A maior parte dos membros dessas comunidades assim como no Caratildeo tecircm como 127

principal fonte de subsistecircncia a agricultura de sequeiro principalmente o cultivo da mandioca 128

(Fig 5) Como renda extra a pecuaacuteria de pequeno porte com criaccedilatildeo bovina caprina e 129

avicultura sendo os excedentes dos alimentos produzidos vendidos em feiras locais ou para 130

escolas 131

As atividades agriacutecolas entre as comunidades tambeacutem foram duramente afetadas pela 132

seca na regiatildeo nos uacuteltimos anos A escassez de chuvas desestimulou o plantio a produccedilatildeo de 133

mandioca foi fortemente comprometida e a colheita foi adiada devido ao subdesenvolvimento 134

das raiacutezes gerando impactos econocircmicos para os membros das comunidades 135

As comunidades amostradas neste muniacutecipio foram escolhidas em funccedilatildeo das 136

indicaccedilotildees dos agricultores entrevistados a princiacutepio na comunidade do Caratildeo que reportaram 137

manter viacutenculos sociais com os agricultores do municiacutepio vizinho 138

Coleta de dados 139

Acessamos as comunidades com a ajuda de um liacuteder comunitaacuterio (Alexandre O 140

Nascimento) em companhia de outros pesquisadores que desenvolviam pesquisas na regiatildeo 141

Previamente as entrevistas todos objetivos e procedimentos para a realizaccedilatildeo da pesquisa foram 142

apresentados aos entrevistados e todos que aceitaram participar foram convidados a assinar um 143

Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) de acordo com a Resoluccedilatildeo 46612 do 144

Conselho Nacional de Sauacutede concordando com a realizaccedilatildeo das entrevistas e avaliaccedilotildees 145

morfoloacutegicas em campo O presente trabalho foi submetido ao Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa da 146

Universidade de Pernambuco (UPE) 147

32

Em todas as comunidades o meacutetodo de acesso ao informante foi o mesmo a partir do 148

primeiro contato com um informante-chave identificamos outros potenciais agricultores 149

seguindo a teacutecnica de ldquobola de neverdquo (Albuquerque et al 2014a) Esse meacutetodo consistiu na 150

amostragem intencional dos participantes e nesse particular os agricultores chefes de famiacutelia 151

(ge 18 anos) da regiatildeo que declararam cultivar mandioca (M esculenta) em suas roccedilas 152

Reunimos informaccedilotildees socioeconocircmicas desses agricultores tais como nome idade gecircnero 153

escolaridade renda experiecircncia na agricultura e tamanho da aacuterea de cultivo para tentar 154

identificar se esses paracircmetros socioeconocircmicos tecircm uma relaccedilatildeo com a agrobiodiversidade 155

local 156

Em seguida conduzimos entrevistas semiestruturadas (Albuquerque et al 2014b) com 157

o objetivo de caracterizar o modo de vida dos agricultores o manejo da agricultura bem como 158

obter dados sobre o conhecimento uso e caracterizaccedilatildeo das etnovariedades de mandioca 159

5cultivadas Aleacutem disso neste momento tambeacutem aplicamos a teacutecnica da lista livre 160

(Albuquerque et al 2014b) a fim de registrar as variedades de mandioca atualmente cultivadas 161

pelos agricultores e identificar as de maior importacircncia local Apoacutes as entrevistas realizamos 162

visitas aos roccedilados para o registro fotograacutefico georreferenciamento das roccedilas e caracterizaccedilatildeo 163

morfoloacutegica das variedades cultivadas 164

Entrevistamos 50 agricultores no total distribuiacutedos nas sete comunidades Caratildeo (3) 165

Satildeo Joseacute do Bola (10) Brejo velho (7) Japaranduba de Baixo (7) Japaranduba de Cima (8) 166

Lajedo Dantas (9) e Aracuatilde (6) Destes 10 satildeo mulheres e 40 homens com idade variando entre 167

31 e 82 anos A maioria dos entrevistados natildeo apresentava instruccedilatildeo formal (46) mais da 168

metade eram aposentados (56) e os demais apresentaram renda inferior a um salaacuterio miacutenimo 169

5 Entende-se por etnovariedade de mandioca o conjunto de variedades intraespeciacuteficas de mandioca (M esculenta)

reconhecidas pelos agricultores por nomenclatura popular local (Peroni 2004)

33

O tempo meacutedio de experiecircncia na agricultura foi de 40 anos Cada agricultor possui entre um e 170

dois roccedilados (aacuterea de plantio) com aproximadamente um a dois hectares 171

Redes de interaccedilatildeo social 172

Confeccionamos a rede que descreve as interaccedilotildees entre os agricultores e as 173

etnovariedades cultivadas a partir de uma matriz de incidecircncia R (presenccedilaausecircncia) onde nas 174

linhas estavam as etnovariedades de mandioca cultivadas (j) e nas colunas os agricultores locais 175

(i) O elemento Rij dessa matriz foi 1 (um) no caso de a etnovariedade j ser cultivada pelo 176

agricultor i caso contraacuterio seria atribuiacutedo 0 (zero) As interaccedilotildees entre os agricultores e as 177

etnovariedades foram descritas em dois modos (Pires et al 2011) onde os ldquonoacutesrdquo da esquerda 178

representam os agricultores que foram vinculados aos ldquonoacutesrdquo da direita representados pelas 179

etnovariedades citadas durante as entrevistas Esses ldquonoacutesrdquo seriam o espelho das decisotildees dos 180

agricultores em manter um determinado conjunto local de etnovariedades em suas roccedilas 181

Avaliamos a estrutura da rede que conecta os agricultores agraves etnovariedades cultivadas 182

a partir de trecircs cenaacuterios hipoteacuteticos (Fig 6) segundo Cachevia et al (2014) No primeiro se os 183

agricultores apresentassem diferentes graus de seletividade para a utilizaccedilatildeo de suas 184

etnovariedades a estrutura seria aninhada (Fig 6a) Isso significa que alguns agricultores 185

cultivam vaacuterias etnovariedades enquanto que outros cultivam o subconjunto mais 186

disponiacutevelcomum dessas etnovariedades Em segundo lugar se a rede apresentasse uma 187

estrutura modular (Fig 6b) significaria que os agricultores apresentam semelhanccedila na seleccedilatildeo 188

do recurso ou seja subgrupos de agricultores cultivam subgrupos distintos de etnovariedades 189

regionalmente disponiacuteveiscomuns E o terceiro se os agricultores natildeo apresentassem 190

preferecircncias quanto a seleccedilatildeo das etnovariedades entatildeo a rede apresentaria uma estrutura 191

aleatoacuteria (Fig 6c) 192

O objetivo da anaacutelise de rede nesse estudo foi tentar entender se o conjunto de 193

etnovariedades presentes no local do estudo constituem uma subamostra de um conjunto mais 194

34

amplo no caso de um alto grau de aninhamento ou se a sua composiccedilatildeo eacute determinada por 195

variaacuteveis locais (Ulrich 2008) Onde as conexotildees entre os informantes e as etnovariedades 196

representam as decisotildees dos agricultores de manter um conjunto determinado de variedades de 197

mandioca dentre as comunidades Esta anaacutelise tambeacutem nos permitiu identificar quais os nuacutecleos 198

de etnovariedades que apresentam maior conexatildeo com os diferentes perfis dos agricultores 199

Diversidade fenotiacutepica 200

Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 201

Apoacutes as entrevistas buscamos identificar quais os caracteres morfoloacutegicos considerados 202

mais importantes para a diferenciaccedilatildeo das etnovariedades de mandioca a partir do seguinte 203

questionamento ldquoQuais as diferenccedilas que vocecirc reconhece para separar uma qualidade de 204

mandioca (variedade) de uma outrardquo Assim os agricultores mencionaram quais os criteacuterios 205

mais importantes utilizados para a caracterizaccedilatildeo de suas etnovariedades 206

Compilamos uma listagem dessas caracteriacutesticas baseada nas indicaccedilotildees dos 207

agricultores e a partir delas selecionamos os caracteres morfoloacutegicos mais citados para a 208

caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica ldquoin siturdquo tais como cor da folha (cor da folha desenvolvida) olho 209

(cor do broto foliar) cor do talo (cor do peciacuteolo) maniva (cor externa do caule) embriatildeo 210

(protuberacircncia da cicatriz foliar) cor da entrecasca (coacutertex da raiz) e cor miolo (polpa da raiz) 211

(Tabela 1) O objetivo dessa caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica foi indicar como estaacute distribuiacuteda a 212

variaccedilatildeo fenotiacutepica das etnovariedades de mandioca nas comunidades na regiatildeo semiaacuterida de 213

Pernambuco bem como identificar que caracteriacutesticas satildeo mais importantes para distinguir 214

esses grupos no intuito de tentar entender como os agricultores classificam suas variedades de 215

mandioca 216

Nas sete comunidades para cada etnovariedade citada no roccedilado caracterizamos ldquoin 217

siturdquo trecircs indiviacuteduos de M esculentade de cada uma totalizando 171 indiviacuteduos (Aracuatilde=11 218

35

Caratildeo=4 Satildeo Joseacute do Bola=13 Brejo Velho=16 Japaranduba de Baixo=6 Japaranduba de 219

Cima=3 e Lajedo Dantas=4) Fotografamos e avaliamos todos os indiviacuteduos com base em parte 220

dos descritores morfoloacutegicos seguindo recomendaccedilotildees de Fukuda amp Guevara (1998) e aleacutem 221

disso georreferenciamos todas as aacutereas de roccedila 222

Anaacutelise dos dados 223

Analisamos os dados socioeconocircmicos das entrevistas semiestruturadas por meio de 224

estatiacutestica descritiva para explicar os aspectos da realidade econocircmica e social dos agricultores 225

Para identificar se a diversidade intraespeciacutefica da mandioca cultivada localmente eacute 226

influenciada por paracircmetros socioeconocircmicos utilizamos o coeficiente de correlaccedilatildeo de 227

Spearman (Ple005) (Sokal amp Rohlf 1995) 228

Com base na lista livre das variedades de mandioca cultivadas pelos agricultores 229

calculamos a frequecircncia de citaccedilatildeo o ranking e o iacutendice de saliecircncia com o objetivo de 230

identificar quais as mais importantes ou preferidas para as comunidades O iacutendice de saliecircncia 231

considerou a frequecircncia de citaccedilatildeo e o ranking referente ao posicionamento das variedades 232

dentro das listas livres (Thompson amp Juan 2006) As etnovariedades mais citadas e com maior 233

valor de saliecircncia representam as de maior importacircncia ou preferecircncia para as comunidades 234

Anaacutelise de rede 235

Medimos o grau de aninhamento (NODF) para investigar a estrutura de rede de 236

interaccedilatildeo social dos agricultores em funccedilatildeo das variedades cultivadas As matrizes altamente 237

aninhadas apresentam NODF tendendo a 1 caso contraacuterio tentem a ser 0 238

Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 239

Para o estudo das semelhanccedilas e diferenccedilas fenotiacutepicas entre as variedades de mandioca 240

ldquoin siturdquo realizamos anaacutelises multivariadas para identificar possiacuteveis grupos de variedades que 241

compartilham semelhanccedilas entre si 242

36

A anaacutelise de correspondecircncia muacuteltipla (MCA) permitiu identificar como as variedades 243

de mandioca estatildeo ordenadas em funccedilatildeo dos seus descritores etnobotacircnicos As etnovariedades 244

foram plotadas ao longo um plano cartesiano bi ou tridimensional onde a variaccedilatildeo total eacute 245

explicada pelos dois primeiros eixos Complementar a esta anaacutelise realizamos a anaacutelise de 246

agrupamento hieraacuterquico (Cluster) para identificar como estatildeo agrupadas as etnovariedades de 247

acordo seus descritores Conferimos a consistecircncia do dendrograma com coeficiente de 248

correlaccedilatildeo cofeneacutetica conforme Sneath amp Sokal (1973) que quantifica se a correlaccedilatildeo entre a 249

matriz de distacircncias originais e a matriz de distacircncias cofeneacuteticas eacute representativa Para 250

mensurar as dissimilaridades entre as variedades de mandioca foi utilizada a distacircncia 251

euclidiana e com o meacutetodo de Ward 252

Softwares utilizados 253

Para a anaacutelise da lista livre usamos o software ANTROPAC versatildeo 10 O software 254

ANINHADO 30 (Guimaratildees amp Guimaratildees 2006) foi usado para medir o grau de aninhamento 255

da rede Utilizamos o software estatiacutestico R (R core team 2017) para a anaacutelise de correlaccedilatildeo 256

de Spearman com o pacote corrplot (Wei amp Simko 2013) o desenho da rede que descreve a 257

interaccedilatildeo entre os agricultores e as etnovariedades com o pacote bipartite (Dormann et al 258

2017) E com os pacotes FactoMineR (LEcirc et al 2008) factoextra (Kassambara et al 2016) e 259

vegan (Oksanen et al 2017) foram realizadas as anaacutelises de cluster de correspondecircncia 260

muacuteltipla (MCA) e de correlaccedilatildeo coefeneacutetica respectivamente 261

Resultados 262

As diferentes etnovariedades de mandioca encontradas no estudo suprem a demanda 263

local por alimento enquanto outras atendem agraves preferecircncias individuais ou do comeacutercio As 264

variedades que possuem maior rendimento e a farinha produzida apresenta coloraccedilatildeo branca 265

satildeo as de maior valor comercial para os agricultores devido agraves preferecircncias do mercado Jaacute 266

37

outras variedades que satildeo mais moles e apresentam coloraccedilatildeo amarelada natildeo satildeo empregadas 267

na produccedilatildeo de farinha mas sim consumidas cozidas ou assadas A depender da demanda local 268

os agricultores intencionalmente aumentam ou diminuem a frequecircncia de suas variedades nos 269

roccedilados seja por alguma exigecircncia do comeacutercio ou para consumo familiar 270

Nas comunidades os agricultores separam suas variedades de mandioca em dois grupos 271

como observado em outras comunidades na mata Atlacircntica por Emperaire e Peroni (2007) o 272

das ldquomacaxeirasrdquo que satildeo as variedades exploradas basicamente para o consumo familiar sem 273

processo preacutevio de desintoxicaccedilatildeo cujas raiacutezes satildeo consumidas fritas eou cozidas Sendo 274

utilizadas tambeacutem como complemento na dieta dos animais E o grupo das ldquomandiocasrdquo que 275

satildeo as variedades que necessitam de processo preacutevio de desintoxicaccedilatildeo para o consumo 276

utilizadas comumente para a produccedilatildeo de farinha de mandioca Para os agricultores as 277

ldquomandiocasrdquo possuem maior valor comercial pois apresentam maior rendimento e 278

rentabilidade pois a farinha produzida eacute branca e atende as preferencias do comercio local 279

Aleacutem da farinha outros produtos e subprodutos produzidos dentre os quais foram citados 280

ldquotapioca ou gomardquo ldquobijurdquo ou ldquobolo de mandiocardquo satildeo utilizados para o consumo proacuteprio ou 281

eventual comercializaccedilatildeo 282

Os informantes natildeo possuiacuteam conhecimento sobre a origem dos nomes das variedades 283

de mandioca Quanto a compreensatildeo da geraccedilatildeo da diversidade intraespeciacutefica identificamos 284

que apesar de 66 dos agricultores citarem que conhecem variedades fruto de germinaccedilatildeo de 285

suas sementes nenhum deles utiliza as manivas para o plantio por essas variedades de 286

mandioca ldquovoluntaacuteriasrdquo natildeo apresentarem bom rendimento 287

Observamos que existe uma baixa correlaccedilatildeo entre a diversidade de variedades 288

atualmente cultivadas e as variaacuteveis socioeconocircmicas como no caso do nuacutemero de roccedilados 289

(r=028 Ple005) e do tamanho do roccedilado (r=033 Ple005) (Fig 7) Essa baixa correlaccedilatildeo pode 290

38

ser explicada pelo fato de existirem grupos de agricultores que preferem manter as variedades 291

de maior valor econocircmico e de subsistecircncia mesmo com aacutereas maiores de cultivo 292

Verificamos tambeacutem uma correlaccedilatildeo positiva moderada entre o nuacutemero de variedades 293

conhecidas com o nuacutemero de variedades atualmente cultivadas (r=054 Ple005) Na lista livre 294

foram identificadas 22 etnovariedades de mandioca cultivadas (132 citaccedilotildees no total) sendo 295

oito dessas mais citadas com maiores valores de saliecircncia (entre 047 e 0082) (Tabela 2) As 296

etnovariedades ldquoMacaxeira Rosardquo e ldquoMandioca Isabel de Souzardquo exibiram os maiores valores 297

de saliecircncia 047 e 037 respectivamente Logo essas variedades satildeo as mais conhecidas 298

dentro das comunidades com 66 e 48 das citaccedilotildees respectivamente 299

Dentre as etnovariedades citadas 12 foram idiossincraacuteticas pois apresentaram menor 300

frequecircncia de citaccedilatildeo e menores valores de saliecircncia (entre 0032 e 0006) (Tabela 2) 301

Redes de interaccedilatildeo social 302

A rede apresentou uma estrutura aninhada com grau de aninhamento significativamente 303

superior aos modelos nulos (N=3072 Plt0001) para as comunidades sendo um nuacutecleo de 304

etnovariedades altamente conectado aos agricultores (Fig 8) A estrutura aninhada nos permite 305

inferir que existe um grupo de agricultores que cultiva uma maior diversidade de etnovariedades 306

de mandioca em suas roccedilas enquanto que outro subgrupo que tem menor diversidade cultivam 307

as mais comuns ou disponiacuteveis (Cavechia et al 2014) Isso significa que os agricultores locais 308

mesmo em diferentes comunidades cultivam um nuacutecleo de etnovariedades comum entre eles 309

(n=6 Tabela 2) 310

Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 311

Observamos que a maioria dos indiviacuteduos de mandioca satildeo caracterizados por meio de 312

um conjunto de sete caracteres morfoloacutegicos os quais foram citados pelos agricultores como 313

mais importantes para a caracterizaccedilatildeo de suas variedades Nas visitas aos roccedilados registramos 314

39

as etnovariedades atualmente cultivadas e a tabela 3 fornece a lista completa com as 17 315

etnovariedades de mandioca e o local de registro 316

Por meio da anaacutelise de correspondecircncia muacuteltipla as variedades de mandioca foram 317

ordenadas em funccedilatildeo de seus descritores ao longo do primeiro e segundo eixo correspondentes 318

a 3680 da variacircncia total (Fig 9) 319

As variaacuteveis mais correlacionadas e que agruparam as variedades de mandioca no 320

primeiro eixo foram cor da folha desenvolvida (CFD) (r= 07239 Ple0001) cor do coacutertex da 321

raiz (CDR) (r= 06473 Ple0001) cor do broto foliar (CBF) (r= 06880 Ple0001) cor do peciacuteolo 322

(CDP) (r= 05250 Ple005) cor externa do caule (CEC) (r= 06883 Ple005) cor da polpa da 323

raiz (PDR) (r= 02473 Ple005) Para o segundo eixo as variaacuteveis correlacionadas foram cor 324

da folha desenvolvida (CFD) (r= 07220 Ple0001) cor externa do caule (CEC) (r= 08718 325

Ple0001) e cor do peciacuteolo (CDP) (r= 06927 Ple005) 326

O agrupamento de todas as variedades caracterizadas ldquoin siturdquo gerou uma aacutervore 327

hieraacuterquica (dendrograma) (Fig 9) utilizando a distacircncia euclidiana seguindo o criteacuterio de 328

Ward O dendrograma gerado apresentou um coeficiente de correlaccedilatildeo cofeneacutetica r= 06780 329

indicando que existe consistecircncia com os dados originais no agrupamento quanto agrave 330

classificaccedilatildeo e estrutura de tal forma que as variedades foram agrupadas em oito classes as 331

quais foram explicadas pelas variaacuteveis mais significativas descritas na tabela 4 332

O resultado do agrupamento (utilizada a distacircncia euclidiana e com o meacutetodo de Ward) 333

observamos que as etnovariedades de mandioca caracterizadas ldquoin siturdquo foram agrupadas em 334

dois grandes agrupamentos indicados na Fig 10 pelos retacircngulos em vermelho A partir dessa 335

anaacutelise percebemos que os caracteres morfoloacutegicos selecionados pelos agricultores natildeo foram 336

suficientes para separar as variedades de macaxeira e mandioca pois em ambos os 337

agrupamentos encontramos tanto macaxeiras quanto mandiocas 338

40

As variedades da classe 1 foram identificadas pelos agricultores pela cor do peciacuteolo 339

(CDP) verde A classe 2 agrupou as etnoveriedades caracterizadas pela protuberacircncia da cicatriz 340

foliar (PCF) mais protuberante Esse descritor segundo os agricultores era identificado como 341

ldquoembriatildeordquo A classe 3 consiste apenas da variedade ldquoMandioca Pretonardquo indicada pela presenccedila 342

de cor do peciacuteolo (CDP) vermelho A classe 4 agrupou trecircs variedades caracterizadas pelos 343

agricultores pela presenccedila de cor coacutertex da raiz (CDR) rosa e cor da polpa da raiacutez (PDR) branca 344

identificadas como ldquoMacaxeira vermelhardquo ldquoMacaxeira Rosa Brancardquo ldquoMacaxeira Rosardquo As 345

variedades agrupadas na classe 5 foras as variedades de mandioca caracterizadas pelos 346

agricultores por apresentarem cor do coacutertex (CDR) da raiacutez branca A classe 6 agrupou 347

variedades identificadas pelos agricultores pela cor do broto foliar (CBF) verde A classe 7 348

consiste apenas da variedade ldquoMacaxeira Sementerdquo identificada pelos agricultores pela cor do 349

peciacuteolo (CDP) roxo e protuberacircncia da cicatriz foliar pouco proeminente Essa variedade 350

segundo os agricultores era fruto do nascimento espontacircneo no roccedilado poreacutem eles geralmente 351

natildeo utilizam essas variedades por apresentarem apenas uma raiz pequena e de baixo 352

rendimento Na classe 8 as variedades foram identificadas pelos agricultores pela cor do peciacuteolo 353

(CDP) verde amarelado e protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) pouco proeminente As 354

ldquoMandioca Isabel de Souzardquo ldquoMandioca Isabel trecircs galhosrdquo segundo os agricultores se 355

diferenciavam pelo maior nuacutemero de caules presentes na variedade ldquoIsabel trecircs galhosrdquo 356

Discussatildeo 357

As sete comunidades estudadas manejavam um nuacutemero consideraacutevel de variedades 358

locais A quantidade de etnovariedades registradas eacute proacutexima a encontrada por Bender et al 359

(2009) e Cavechia et al (2014) em comunidades na regiatildeo sul e sudeste por Oler e Amorozo 360

(2017) em uma comunidade tradicional na regiatildeo centro-oeste Poreacutem foi quantitativamente 361

inferior quando comparada a estudos como os de Elias et al (2001) e Kawa et al (2013) em 362

comunidades na regiatildeo amazocircnica pois possuiacuteam uma alta diversidade Essa alta diversidade 363

41

na regiatildeo amazocircnica pode estar relacionada com o fato de que essa regiatildeo eacute o provaacutevel centro 364

de origem da mandioca (M esculenta) (Allem 1994) 365

As etnovariedades registradas neste estudo estatildeo disponiacuteveis para a maioria dos 366

agricultores dessa regiatildeo e esse fator favorece a circulaccedilatildeo das etnovariedades entre as 367

comunidades locais Por isso haacute semelhanccedilas das etnovariedades utilizadas entre os agricultores 368

da mesma comunidade e entre comunidades vizinhas 369

Parte dos agricultores optam por manter uma alta frequecircncia de variedades mais 370

utilizadas enquanto que outros optam por manter etnovariedades de baixa frequecircncia 371

Conforme discutido por Amorozo (2013) os agricultores escolhem seu acervo de acordo com 372

as necessidades e contexto em que vivem A reduccedilatildeo da diversidade de etnoveriedades por 373

exemplo pode ser impulsionada por fatores que simplificam o sistema como a seleccedilatildeo de 374

etnovariedades para a produccedilatildeo de farinha resultando no cultivo de poucas ou ateacute de uma uacutenica 375

etnovariedade (Peroni amp Hanazaki 2002) mesmo em aacutereas maiores 376

377

Redes de interaccedilatildeo social 378

Com as anaacutelises de rede demonstramos que os agricultores de diferentes comunidades 379

em uma mesma regiatildeo efetivamente trocam variedades de mandioca entre si corroborando 380

com estudos realizados por Emperaire amp Eloy (2008) Pautasso et al (2012) e Cavechia et al 381

(2014) Nesses estudos os autores tambeacutem consideram que as trocas de etnovariedades por 382

meio da rede de intercacircmbio entre os agricultores eacute um mecanismo fundamental para a 383

manutenccedilatildeo da diversidade local 384

A visualizaccedilatildeo da rede demonstrou que entre as comunidades os agricultores 385

compartilham um nuacutecleo de etnovariedades mais utilizadas dentre as quais estatildeo as de maior 386

valor econocircmico e de subsistecircncia Essas de maior frequecircncia satildeo aquelas altamente produtivas 387

utilizadas pelos agricultores para atenderem agraves demandas de mercado por farinha e para o 388

consumo proacuteprio (Kawa et al 2013) 389

42

No entanto observamos que existe outro nuacutecleo de etnovariedades menos frequentes 390

Essas etnovariedades raras podem ser resultantes do processo de experimentaccedilatildeo ou 391

preferecircncias individuais dos agricultores Outra possiacutevel razatildeo para a baixa frequecircncia de 392

algumas etnovariedades poderia ser explicada pela variaccedilatildeo da nomenclatura pelos 393

agricultores que segundo Peroni amp Hanazaki (2002) pode ocorrer durante o processo de troca 394

e introduccedilatildeo de novas variedades aos roccedilados Ainda assim natildeo descartamos a hipoacutetese de que 395

essas etnovariedades raras possam ser provenientes do cruzamento entre variedades diferentes 396

cultivadas da mesma roccedilado ou em roccedilas vizinhas De acordo com Martins (2005) essas 397

variedades fruto de germinaccedilatildeo expentacircnea satildeo incorporadas aos roccedilados pelos agricultores 398

pela curiosidade em experimentar novas variedades agraves suas coleccedilotildees 399

Nesse estudo admitimos que optar por etnovariedades raras entre as comunidades 400

estudadas eacute um comportamento adotado por agricultores que manejam uma maior diversidade 401

corroborando com os estudos de Cavechia et al (2014) e Emperaire et al (2016) em regiotildees 402

uacutemidas Para esses autores etnovaridedades de baixa frequecircncia representam um subconjunto 403

das de alta frequecircncia cultivadas por agricultores que manteacutem a maior diversidade em seus 404

roccedilados Sendo assim inferimos que no geral entre as comunidades satildeo os agricultores 405

generalistas aqueles que cultivam maior diversidade os responsaacuteveis por incorporar novas 406

etnovariedades aos roccedilados 407

As decisotildees dos agricultores em manter o acervo direcionado principalmente para 408

atender a demanda de mercado por exemplo podem levar a uma homogeneizaccedilatildeo nas roccedilas 409

colocando em risco a manutenccedilatildeo da diversidade local (Peroni amp Hanazaki 2002) Como 410

discutido por Elias et al (2000) os agricultores que selecionam apenas um nuacutemero reduzido e 411

especiacutefico de variedades mais produtivas tendem a fazer com que as variedades menos 412

frequentes desapareccedilam ao longo do tempo Essa tendecircndia pode influenciar na capacidade de 413

43

resiliecircncia do sistema assim como dos agricultores em lidar com possiacuteveis adversidades 414

ambientais que possam ocorrer 415

Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 416

No geral os agricultores demonstraram uma tendecircncia em classificarseparar suas 417

diferentes etnovariedades de mandioca a partir da combinaccedilatildeo de um conjunto de sete 418

caracteres morfoloacutegicos distintos e de faacutecil percepccedilatildeo os quais natildeo tem relaccedilatildeo com o uso 419

como por exemplo a cores das raiacutezes caule e folhas Logo consideramos que esses caracteres 420

morfoloacutegicos podem ser considerados como uma forma de classificaccedilatildeo pelos agricultores 421

baseada na capacidade percepccedilatildeo das diferenccedilas morfoloacutegicas que cada etnovariedades 422

apresenta (Boster 1985) Estes resultados nos levam a entender que entre os agricultores o 423

conhecimento sobre a diversidade da mandioca estaacute relacionado ao conhecimento de 424

caracteriacutesticas morfoloacutegicas consistentes 425

A existecircncia de alguns fenoacutetipos comuns nos permitiu avaliar a classificaccedilatildeo da 426

consistecircncia da taxonomia popular entre os agricultores Por exemplo as etnovariedades 427

ldquoMaxaceira Rosardquo e ldquoMacaxeira Rosa Brancardquo e ldquoMacaxeira vermelhardquo foram agrupadas no 428

mesmo cluster (C4) por apresentaram fenoacutetipos semelhantes Notamos que os agricultores 429

classificaram essas variedades de acordo com os traccedilos morfoloacutegicos mais relevantes como a 430

cor do coacutertex da raiz rosa e cor branca da polpa O mesmo ocorreu com as etnovariedades 431

ldquoMandioca varudardquo ldquoMandioca campina da granderdquo e ldquoMandioca campinardquo caracterizadas 432

pela presenccedila do peciacuteolo verde agrupadas no cluster (C1) 433

A partir dessas evidecircncias consideramos a hipoacutetese de que as variedades mesmo 434

apresentando caracteriacutesticas morfoloacutegicas muito semelhantes estatildeo sujeitas a variaccedilatildeo 435

nomenclatural durante o processo a incorporaccedilatildeo aos roccedilados pelos agricultores pois a 436

capacidade para distinguir e nomear variedades entre os agricultores da mesma regiatildeo pode 437

variar (Sambatti et al 2001 Elias et al 2001 Mekbib 2007) Consideramos tambeacutem que pode 438

44

existir variaccedilatildeo geneacutetica entre os indiviacuteduos identificados por um mesmo nome ou entatildeo que 439

os agricultores datildeo o mesmo nome para variedades diferentes E esta situaccedilatildeo pode levar a uma 440

superestimaccedilatildeo ou subestimaccedilatildeo da diversidade de mandioca cultiva nas aacutereas de estudo 441

Sabemos que a mandioca eacute propagada vegetativamente pelos agricultores por meio de 442

estacas em sistemas de agricultura tradicional No entanto alguns variedades produzem flores 443

e sementes que germinam e podem originar outras variedades ou outros clones por meio de 444

fecundaccedilatildeo cruzada (Elias et al 2001) Nesse contexto a etnovariedade ldquoMacaxeira Sementerdquo 445

presente no cluster (C7) trata-se de um uacutenico indiviacuteduo amostrado em uma roccedila de um dos 446

agricultores Esta apresentava algumas caracteriacutesticas morfoloacutegicas distintas das demais 447

reconhecidas pelo agricultor como por exemplo a produccedilatildeo de uma raiz uacutenica e 448

consequentemente de baixo rendimento Encontramos apenas um indiviacuteduo dessa 449

etnovariedade e nossa hipoacutetese de que esta poderia ter sido originada da germinaccedilatildeo da 450

semente mesmo quando 100 dos informantes declararam natildeo dar qualquer importacircncia e 451

descartar essas ldquovariedades-voluntaacuteriasrdquo foi confirmada pelo agricultor que afirmou que se 452

tratava de uma variedade nascida da germinaccedilatildeo da semente Esse comportamento vai de 453

encontro ao estudo de Fraser et al (2012) pois apesar dos agricultores reportarem nas 454

entrevistas que conhecem essas ldquovariedades-voluntaacuteriasrdquo nenhum agricultor faz o uso delas 455

Peroni et al (1999) e Agre et al (2016) analisando morfologicamente as variedades 456

locais de mandioca mantidas por agricultores em sistemas agriacutecolas tropicais tambeacutem 457

demonstraram que os agricultores satildeo coerentes quanto a separaccedilatildeo e identificaccedilatildeo de suas 458

etnovariedades a partir da formaccedilatildeo de grupos de coesos quanto a nomenclatura local utilizada 459

No entanto para o melhor entendimento dessa diversidade aleacutem da caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica 460

o uso de anaacutelises complementares como anaacutelise molecular seria importante para tentar 461

identificar se esses grupos representam a mesma variedade com nomes distintos ou se satildeo 462

variedades distintas com o mesmo nome 463

45

Conclusatildeo 464

O estudo demonstrou que no sistema de manejo da mandioca ao niacutevel de roccedila em 465

comunidades localizadas na regiatildeo semiaacuterida de Pernambuco compotildee uma diversidade 466

intrespeciacutefica de mandioca para atender agraves demandas econocircmicas e de subsistecircncia das 467

populaccedilotildees locais 468

Com relaccedilatildeo a anaacutelise de rede demostramos que haacute um nuacutecleo de etnovariedades 469

fortemente conectado aos agricultores e sua composiccedilatildeo eacute direcionada pelas preferecircncias e 470

necessidades individuais dos agricultores que foram os fatores responsaacuteveis pelo surgimento 471

da estrutura aninhada observada na anaacutelise rede entre as comunidades deste estudo E esse 472

padratildeo aninhado observado contribui na conservaccedilatildeo das etnovariedades mais comuns mas 473

tambeacutem pode resultar em perda daquelas de menor frequecircncia ao longo do tempo 474

A caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica ldquoin siturdquo nos permitiram inferir que os agricultores 475

reconhecem as diferentes caracteriacutesticas morfoloacutegicas de suas cultivares e satildeo coerentes na 476

separaccedilatildeo de suas variedades de mandioca e macaxeira Entretanto esses resultados sugerem a 477

realizaccedilatildeo de um estudo em niacutevel de diversidade geneacutetica exploratoacuterio para identificar se as 478

consistecircncias morfoloacutegicas refletem em consistecircncias geneacuteticas elucidando assim as possiacuteveis 479

confusotildees atribuiacutedas aos nomes das etnovariedades de mandioca 480

Agradecimentos 481

Agradecemos ao liacuteder comunitaacuterio Alexandre O Nascimento aos agricultores e 482

agricultoras das comunidades pela acolhida confianccedila e pela gentileza de compartilharem 483

conosco seus conhecimentos e contribuiacuterem com este estudo Especialmente a Arlindo Ferreira 484

Edgar Antocircnio Joseacute Sebastiatildeo Juvenal Oliveira e Janete Alves Ao Laboratoacuterio de Ecologia e 485

Evoluccedilatildeo de Sistemas Socioecoloacutegicos (LEA - UFPE) E agradecemos ao CNPq pelo apoio 486

com a bolsa de estudos do primeiro autor 487

46

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Pires M M Guimaratildees P R Arauacutejo M S Giaretta A A Costa J C L amp Dos Reis S 590

F (2011) The nested assembly of individual-resource networks Journal of Animal 591

Ecology 80(4) 896ndash903 592

Pujol B Renoux F Elias M Rival L amp Mckey D (2007) The unappreciated ecology of 593

landrace populations Conservation consequences of soil seed banks in Cassava 594

Biological Conservation 136(4) 541ndash551 httpsdoiorg101016jbiocon200612025 595

Sambatti J B M Martins P S amp Ando A (2001) Folk taxonomy and evolutionary 596

dynamics of cassava a case study in Ubatuba Brazil Economic Botany 55(1) 93ndash105 597

Sieber S S Medeiros P M amp Albuquerque U P (2011) Local perception of environmental 598

change in a semi-arid area of Northeast Brazil a new approach for the use of participatory 599

methods at the level of family units Journal of Agricultural and Environmental Ethics 600

24(5) 511ndash531 601

Sneath P H A Sokal R R amp others (1973) Numerical taxonomy The principles and 602

practice of numerical classification 603

Sokal R R amp Rohlf F J (1995) 1995 Biometry WH Freeman San Francisco Sulikowski 604

JA J Kneebone S Elzey P Danley WH Howell and PWC Tsang--2005 The 605

50

Reproductive Cycle of the Thorny Skate Amblyraja Radiata in the Gulf of Maine Fish 606

Bull 103 536ndash543 607

Team R C (2017) R A Language and Environment for Statistical Computing Vienna 608

Austria Retrieved from httpswwwr-projectorg 609

Thompson E C amp Juan Z (2006) Comparative cultural salience Measures using free-list 610

data Field Methods 18(4) 398ndash412 611

Wei T amp Simko V (2013) corrplot Visualization of a correlation matrix R Package Version 612

073 230(231) 11 613

614

51

ANEXOS 615

616

Nome da revista 617

Human Ecology 618

Link de acesso 619

httpsgooglDVLbFj 620

Qualis-CAPES 621

B1 em Biodiversidade 622

623

624

625

626

627

628

629

630

631

632

633

634

635

636

637

638

639

640

641

642

52

Figuras 643

644

645

Fig 1 Partes do processo de fabricaccedilatildeo de farinha de mandioca Onde a raspagem b e c 646

processo de trituraccedilatildeo e d peneiramento Foto registrada em Abril de 2017 por Mirela Santos 647

648

649

650

c

d

b

a

53

651

Fig 2 Mapa de localizaccedilatildeo geograacutefica dos Municiacutepios de Altinho e Panelas e das comunidades 652

estudadas na regiatildeo semiaacuterida do Estado de Pernambuco (Elaborado por SANTOS 2018) 653

54

654

655

656

657

Fig 3 Processo de fabricaccedilatildeo da farinha de mandioca Apoacutes a colheita as raiacutezes satildeo lavadas 658

raspadas e trituradas (a) A massa extraiacuteda eacute prensada e coada Ao sair da prensa a massa 659

peneirada (b) e em seguida eacute torrada (c) em fornos artesanais ou parcialmente mecanizados 660

Imagem registrada em janeiro de 2017 na Comunidade do Caratildeo por Mirela Santos 661

662

663

a

b c

55

664

Fig 4 a Sede da Comunidade do Caratildeo b Agricultor transportando a palma forrageira que eacute 665

um exemplo de estrateacutegia adaptativa para suprir a falta de alimento dos animais devido agrave seca 666

c Feira-livre que acontece na comunidade a cada quinze dias Imagem registrada em julho de 667

2016 na Comunidade do Caratildeo por Mirela Santos 668

669

670

Fig 5 a O agricultor nos explicava as mudanccedilas que vem fazendo em seus roccedilados para se 671

adaptar aos longos periacuteodos de seca b Quando o agricultor nos mostrava as diferentes 672

etnovariedades que mantinha em sua roccedila c Durante a pesquisa nos explicavam como era feita 673

a colheita da mandioca e como selecionavam as manivas para o proacuteximo plantio Foto registrada 674

em abril de 2017 na Comunidade do Brejo Velho por Mirela Santos 675

a

b c

c b

a

56 676

677

Fig 6 Possiacuteveis estruturas de rede que descrevem as interaccedilotildees dos agricultores (losango) 678

ligados as etnovariedades (ciacuterculos) que cultivam Onde a Aninhada b Modular c Aleatoacuteria 679

(Fonte Cavechia et al 2014 com adaptaccedilotildees) 680

681

682

683

684

685

686

687

688

689

690

691

692

693

694

695

696

697

a c b

57

698

699

700

701

702

703

704

705

706

707

Fig 7 Correlaccedilatildeo de Spearman entre a diversidade de etnovariedades de mandiocas conhecidas 708

como cultivadas e variedades atualmente cultivadas por agricultor e as variaacuteveis 709

socioeconocircmicas Onde Nvc= nuacutemero de citadas como cultivadas Nve= nuacutemero de variedades 710

atualmente cultivadas Esc= escolaridade Id= idade Gen= gecircnero Tr= tamanho do roccedilado 711

Exp= experiecircncia na agricultura Sld= renda Nr= nuacutemero de roccedilados Cores distintivas 712

representam correlaccedilotildees significativas (Ple005) 713

714

58

715

Fig 8 Modelo individual de rede de etnovariedades de mandioca citadas (esquerda) por 716

agricultores como cultivadas (direita) nos Municiacutepios de Altinho e Panelas As redes foram 717

desenhadas com o pacote bipartite (Dormann et al 2017) usando o software R (R CORE 718

TEAM 2017) 719

720

59

721

Fig 9 Anaacutelise de Correspondecircncia Muacuteltipla das 17 etnovariedades de mandioca considerando 722

os sete descritores morfoloacutegicos utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo em roccedilas de 723

agricultores tradicionais de sete comunidades no semiaacuterido de Pernambuco 724

725

726

727

728

729

730

731

732

733

734

735

736

737

McCambadinha

McCampina

McCampinaDaGrande

McCampinaRasteira

McCampinaVaruda

McGauba

McIsabelDeSouza

McIsabelTresGalhos

McOlhoDePombo

McOlhoVerde

McPretinha

McPretona

MxBranca

MxRosa

MxRosaBrancaMxRosaVermelha

MxSemente

CFD_Verde_Arroxeado

CFD_Verde_ClaroCFD_Verde_Escuro

CBF_Roxo

CBF_Verde_ArroxeadoCBF_Verde_Claro

CBF_Verde_Escuro

CDP_Verde

CDP_Verde_Amarelado

CDP_Verde_Avermelhado

CDP_Vermelho

CEC_Cinza

CEC_Dourado

CEC_Laranja

CEC_Marrom_Claro

CEC_Marrom_Escuro

CEC_Prateado

CEC_Verde_AmareladoCicatriz_M

Cicatriz_P

PDR_Branco

PDR_Creme

CDR_BrancoCDR_Creme CDR_Rosa

-4

-2

0

2

4

-4 -2 0 2 4

Dim1 (206)

Dim

2 (

162

)

MCA - Biplot

00

10

Hierarchical Clustering

inertia gain

McC

am

pin

aV

aru

da

McC

am

pin

aD

aG

rande

McC

am

pin

a

McG

auba

McP

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MxR

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McIsabelT

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McIsabelD

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McO

lhoD

eP

om

bo

00

05

10

15

Hierarchical Classification

Heig

ht

C1 C2 C3 C4 C5 C6 C7 C8

Fig 10 Agrupamento hieraacuterquico das 17 etnovariedades de mandioca caracterizadas de acordo

com os descritores utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo

60

Tabelas 738

739

Tabela 1 Caracteres e estados utilizados pelos agricultores como descritores botacircnicos para 740

caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das etnovariedades de mandioca 741

Caracter Sigla Estados

Folha

Cor da folha desenvolvida CFD 1- verde claro 2- verde escuro 3- verde arroxeado 4- roxo

Cor do broto foliar CBF 1- verde claro 2- verde escuro 3- verde arroxeado 4- roxo

Cor do peciacuteolo CDP 1- verde amarelado 2- verde 3- verde avermelhado 4- roxo

5- vermelho

Caule

Cor externa do caule CEC 1- laranja 2- verde amarelado 3- dourado 4- marrom claro

5- prateado 6- cinza 7- marrom escuro 8- verde

Protuberacircncia da cicatriz foliar PCF 1- pouco proeminente 2- muito proeminente

Raiacutez

Cor da poupa da raiz PDR 1- branco 2- creme

Cor do coacutertex da raiacutez CDR 1- rosa 2- branco 3- creme

742

743

744

745

746

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749

750

751

61

Tabela 2 Lista das 22 etnovariedades de mandiocas citadas (132 citaccedilotildees) como cultivadas nas 752

comunidades pertencentes aos Municiacutepios de Altinho (Caratildeo n=8) e ao Municiacutepio de Panelas 753

(Aracuatilde Satildeo Joseacute do Bola Brejo Velho Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima e Lajeiro 754

Dantas n=21) 755

Etnovariedade Frequecircncia () Ranking Saliecircncia

Macaxeira Rosa 66 179 0472

Mandioca Isabel de Souza 48 179 0372

Mandioca Campina 24 217 0148

Macaxeira Branca 20 210 0134

Macaxeira Rosa branca 18 122 0168

Mandioca Pretona 16 338 0082

Mandioca Cambadinha 12 283 0071

Mandioca Isabel trecircs galhos 10 180 0075

Mandioca Gauacuteba 10 260 0070

Mandioca Pretinha 8 225 0053

Mandioca Peacute de pombo 4 400 0011

Mandioca Olho verde 4 350 0012

Macaxeira Rosinha 4 200 0027

Mandioca Campina varuda 4 200 0032

Mandioca Campina rasteira 4 300 0021

Mandioca Caboquinha 2 500 0007

Macaxeira Rasteira 2 200 0013

Macaxeira Paraacute 2 100 0020

Mandioca Barra ferro 2 300 0007

Mandioca Campina da grande 2 100 0020

Mandioca Olho de pombo 2 300 0010

Mandioca Jasmim 2 600 0006

756

757

758

62

Tabela 3 Lista de 17 etnovariedades atualmente cultivadas nos roccedilados das comunidades em 759

estudo 760

Ca Ar Bo Br Jb Jc Ld

Etnovariedade

Macaxeira Branca x x x x

Macaxeira Rosa

x x x x x x

Macaxeira Rosa Branca x x x x

Macaxeira Rosa Vermelha

x

Macaxeira Semente

x

Mandioca Cambadinha x

x

Mandioca Campina

x

x

x

Mandioca Campina da Grande x

Mandioca Campina Rasteira

x

Mandioca Campina Varuda

x

Mandioca Gauacuteba

x

Mandioca Isabel de Souza

x x x

Mandioca Isabel trecircs Galhos

x

x

Mandioca Olho de Pombo

x

Mandioca Olho Verde

x

Mandioca Pretinha

x

Mandioca Pretona x x x

Comunidades Ca= Caratildeo Ar=Aracuatilde Bo= Satildeo Joseacute do Bola Jb= Japaranduba de Baixo 761

Jc= Japaranduba de Cima Ld= Lajedo Dantas 762

763

764

765

766

767

768

63

Tabela 4 Descriccedilatildeo das classes do agrupamento por meacutetodo de Ward agrupadas pelo conjunto 769

dos descritores mais significativos para a caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das variedades de mandioca 770

Classes Descritores in situ p-valor

C1 Cor do peciacuteolo (CDP) 0016

C2 Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023

C3 Cor do peciacuteolo (CDP) 0012

C4 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0004

Cor da poupa da raiacutez (PDF) 0021

C5 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0003

C6 Cor do broto foliar (CBF) 0002

C7 Cor da folha desenvolvida (CFD) 0004

Cor externa do caule (CEC) 0040

C8 Cor do peciacuteolo (CDP) 0005

Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023

Valores de Ple005 satildeo significativos 771

772

viii

ldquoEl mundo que nos rodea es un misterio ndash dijo-

Y los hombres no son mejores que ninguna otra cosardquo

Carlos Castaneda - Viaje a Ixtlaacuten

ix

LISTA DE FIGURAS

INTRODUCcedilAtildeO GERAL E REVISAtildeO DE LITERATURA

Fig 1 Partes do processo de fabricaccedilatildeo de farinha de mandioca Onde a raspagem b e c

processo de trituraccedilatildeo e d peneiramento 52

VARIACcedilAtildeO INTRAESPECIacuteFICA CONHECIMENTO E MANEJO LOCAL DE

MANDIOCA (Manihot esculenta Crantz) NO SEMIAacuteRIDO DE PERNAMBUCO

NORDESTE DO BRASIL

Fig 2 Mapa de localizaccedilatildeo geograacutefica dos Municiacutepios de Altinho e Panelas e das comunidades

estudadas na regiatildeo semiaacuterida do Estado de Pernambuco 53

Fig 3 Processo de fabricaccedilatildeo da farinha de mandioca Apoacutes a colheita as raiacutezes satildeo lavadas

raspadas e trituradas (a) A massa extraiacuteda eacute prensada e coada Ao sair da prensa a massa

peneirada (b) e em seguida eacute torrada (c) em fornos artesanais ou parcialmente mecanizados

54

Fig 4 a Sede da Comunidade do Caratildeo b Agricultor transportando a palma forrageira que eacute

um exemplo de estrateacutegia adaptativa para suprir a falta de alimento dos animais devido agrave seca

c Feira-livre que acontece na comunidade a cada quinze dias 55

Fig 5 a O agricultor nos explicava as mudanccedilas que vem fazendo em seus roccedilados para se

adaptar aos longos periacuteodos de seca b Quando o agricultor nos mostrava as diferentes

etnovariedades que mantinha em sua roccedila c Durante a pesquisa nos explicavam como era

feita a colheita da mandioca e como selecionavam as manivas para o proacuteximo plantio 55

Fig 6 Possiacuteveis estruturas de rede que descrevem as interaccedilotildees dos agricultores (losango)

ligados as etnovariedades (ciacuterculos) que cultivam Onde a Aninhada b Modular c Aleatoacuteria

56

Fig 7 Correlaccedilatildeo de Spearman entre a diversidade de etnovariedades de mandiocas conhecidas

como cultivadas e variedades atualmente cultivadas por agricultor e as variaacuteveis

socioeconocircmicas Onde Nvc= nuacutemero de citadas como cultivadas Nve= nuacutemero de variedades

atualmente cultivadas Esc= escolaridade Id= idade Gen= gecircnero Tr= tamanho do roccedilado

Exp= experiecircncia na agricultura Sld= renda Nr= nuacutemero de roccedilados Cores distintivas

representam correlaccedilotildees significativas (Ple005) 57

Fig 8 Modelo individual de rede de etnovariedades de mandioca citadas (esquerda) por

agricultores como cultivadas (direita) nos Municiacutepios de Altinho e Panelas As redes foram

x

desenhadas com o pacote bipartite (Dormann et al 2017) usando o software R (R CORE

TEAM 2017) 58

Fig 9 Anaacutelise de Correspondecircncia Muacuteltipla das 17 etnovariedades de mandioca considerando

os sete descritores morfoloacutegicos utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo em roccedilas de

agricultores tradicionais de sete comunidades no semiaacuterido de Pernambuco 59

Fig 10 Agrupamento hieraacuterquico das 17 etnovariedades de mandioca caracterizadas de acordo

com os descritores utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo 59

xi

LISTA DE TABELAS

CAPIacuteTULO IVARIACcedilAtildeO INTRAESPECIacuteFICA CONHECIMENTO E MANEJO

LOCAL DE MANDIOCA (Manihot esculenta Crantz) NO SEMIAacuteRIDO DE

PERNAMBUCO NORDESTE DO BRASIL

Tabela 1 Caracteres e estados utilizados pelos agricultores como descritores botacircnicos para

caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das etnovariedades de mandioca 60

Tabela 2 Lista das 22 etnovariedades de mandiocas citadas (132 citaccedilotildees) como cultivadas nas

comunidades pertencentes aos Municiacutepios de Altinho (Caratildeo n=8) e ao Municiacutepio de Panelas

(Aracuatilde Satildeo Joseacute do Bola Brejo Velho Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima e Lajeiro

Dantas n=21) 61

Tabela 3 Lista de 17 etnovariedades atualmente cultivadas nos roccedilados das comunidades em

estudo 62

Tabela 4 Descriccedilatildeo das classes do agrupamento por meacutetodo de Ward agrupadas pelo conjunto

dos descritores mais significativos para a caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das variedades de mandioca

63

xii

SUMAacuteRIO

RESUMO GERAL xiii

1 Introduccedilatildeo Geral 14

2 Revisatildeo bibliograacutefica 17

21 Manihot esculenta Crantz e conhecimento local de agricultores tradicionais 17

22Manejo tradicional em roccedilas e diversidade intraespeciacutefica da mandioca 18

23 Redes sociais de troca e circulaccedilatildeo de etnovariedades de mandioca 20

3 Referecircncias bibliograacuteficas 22

VARIACcedilAtildeO INTRAESPECIacuteFICA CONHECIMENTO E MANEJO LOCAL DE

MANDIOCA (Manihot esculenta Crantz) NO SEMIAacuteRIDO DE PERNAMBUCO

NORDESTE DO BRASIL 25

Resumo 26

Introduccedilatildeo 27

Material e meacutetodos 29

Resultados 36

Discussatildeo 40

Conclusatildeo 45

Agradecimentos 45

Referecircncias bibliograacuteficas 46

ANEXOS 51

xiii

RESUMO GERAL

Agricultores de pequena escala que praticam agricultura de modo tradicional em roccedilas

desempenham um importante papel na geraccedilatildeo manutenccedilatildeo e conservaccedilatildeo da

agrobiodiversidade local Dentre as espeacutecies mais cultivadas em roccedilas a Manihot esculenta

Crantz (mandioca) em sua diversidade intrespeciacutefica eacute um dos recursos agriacutecolas de maior

importacircncia econocircmica e de subsistecircncia para diversas populaccedilotildees locais no mundo Acredita-

se que as praacuteticas de manejo dedicadas ao cultivo da mandioca associadas ao conhecimento de

agricultores resultam no aumento da diversidade intraespeciacutefica assim como na conservaccedilatildeo

dessa diversidade Diante disso a pesquisa teve como objetivo compreender os processos

envolvidos na dinacircmica da diversidade agriacutecola da mandioca por meio do acesso ao

conhecimento dos agricultores quanto as praacuteticas de menejo e entender quais fatores podem

estar relacionados a geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da diversidade local Para isso o estudo foi

desenvolvido junto a agricultores tradicionais de sete comunidades rurais localizadas na regiatildeo

semiaacuterida do estado de Pernambuco A abordagem metodoloacutegica foi baseada em entrevistas

semiestruturadas conversas com os informantes e visitas aos roccedilados para caracterizar e

compreender a importacircncia manejo da agricultura de sequeiro e das redes sociais estabelecidas

entre os agricultores bem como identificar as variedades de mandioca atualmente cultivadas

A partir do conhecimento da diversidade manejada analisamos a estrutura da rede de interaccedilatildeo

social formada pelas trocas de etnovariedades entre os agricultores A partir destas informaccedilotildees

discutimos sobre o importante papel dos agricultores na manutenccedilatildeo do conjunto de

etnovariedades regionais Um total de 22 etnovariedades foram citadas as quais satildeo

identificadas pelos agricultores principalmente por meio de sete caracteres morfoloacutegicos A

estrutura em redes de trocas de variedades favorece a manutenccedilatildeo e amplificaccedilatildeo das diferentes

variedades locais

Palavras-Chave Agricultura tradicional Agricultura de sequeiro Agrobiodiversidade

Plantas alimentiacutecias Redes sociais

xiv

ABSTRACT

Small-scale farmers who practice traditional agriculture fields have an important role in

generation maintenance and conservation of local agrobiodiversity Among the most cultivated

species the Manihot esculenta Crantz (cassava) in its intrespecific diversity is one of the

moust important agricultural resources of economic importance and livelihood for many local

people in the world It is believed that the management practices dedicated to the cultivation of

cassava associated with the knowledge of farmers result in increased intraspecific diversity

and the conservation of this diversity Therefore the research aimed to understand the processes

involved in the dynamics of agricultural diversity of cassava through access the knowledge of

farmers as the management of practices and understand what factors may be related to the

generation and maintenance of local diversity For this the study was developed with the

traditional farmers of seven rural communities located in the semiarid region of the state of

Pernambuco The methodological approach was based on semi-structured interviews

conversations with informants and visits to fields to characterize and understand the

importance of management of dry framing and social networks established between farmers

and to identify the cassava varieties currently grown From the knowledge of managed

diversity we analyze the structure of social interaction network formed by the exchange of

landraces among farmers From this information We discussed the important role of farmers

in the overall regional landraces maintenance A total of 22 landraces were cited which are

identified by farmers mainly through seven morphological characters The structure of

varieties sharing networks favors the maintenance and amplification of different local varieties

Keywords Agrobiodiversity Dry Farming Food plants Social networks Traditional

agriculture

14

1 Introduccedilatildeo Geral

Ao longo dos anos populaccedilotildees tradicionais foram adquirindo aprimorando e transmitindo

seus conhecimentos sobre o manejo dos recursos naturais existentes em suas respectivas

regiotildees e assim foram desenvolvendo teacutecnicas para se adaptar e sobreviver ao ambiente Essas

populaccedilotildees foram domesticando uma grande variedade de espeacutecies de plantas alimentiacutecias

numa agricultura de pequena escala (BALLEacute 2006 CLEMENT et al 2010)

Essa interaccedilatildeo pessoas-planta por meio do cultivo e manejo das espeacutecies vegetais vem

contribuindo para ambos com alteraccedilotildees adaptativas por meio da seleccedilatildeo artificial Essas

alteraccedilotildees resultaram em mudanccedilas na estrutura geneacutetica das espeacutecies vegetais pelo manejo da

seleccedilatildeo de caracteriacutesticas fenotiacutepicas fisioloacutegicas e econocircmicas das plantas E essa seleccedilatildeo

consciente ou inconsciente das plantas se traduz em uma grande variaccedilatildeo intraespeciacutefica nas

populaccedilotildees vegetais sob diferentes regimes de manejo (CARMONA CASAS 2005)

Por meio do cultivo agricultores em comunidades tradicionais desempenham um papel

fundamental no processo dinacircmico de geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da agrobiodiversidade local em

sistemas de roccedilas Essas roccedilas satildeo aacutereas de agricultura tradicional localizadas dentro de

comunidades caracterizadas natildeo soacute pelo grande nuacutemero espeacutecies cultivadas mas tambeacutem pela

alta diversidade intraespeciacutefica que essas espeacutecies apresentam (MARTINS 2005) Dentre as

espeacutecies comumente cultivadas nesse sistema a mandioca (Manihot esculenta Crantz

Euphorbiaceae) eacute considerada uma cultura de alto valor econocircmico nutricional utilitaacuterio

cultural e social para muitas populaccedilotildees humanas no mundo (CLEMENT et al 2010) Aleacutem

disso a mandioca apresenta uma grande diversidade intraespeciacutefica e por essas caracteriacutesticas

tornou-se uma espeacutecie-modelo para compreender como os diferentes padrotildees e estrateacutegias de

manejo adotadas pelos agricultores podem influenciar na diversidade local (ELIAS et al 2001

EMPERAIRE PERONI 2007 EMPERAIRE ELOY 2008)

Segundo PERONI amp MARTINS (2000) as diferentes praacuteticas de manejo desse

importante recurso favorecem a alta diversidade intraespeciacutefica em roccedilas de agricultura

itinerante1 Um dos fatores responsaacuteveis pela geraccedilatildeo dessa diversidade consiste na capacidade

de incorporaccedilatildeo de novos germoplasmas por meio da reproduccedilatildeo sexuada associada ao manejo

agriacutecola tradicional (PUJOL et al 2005 EMPERAIRE PERONI 2007) Apesar de propagada

1 Agricultura caracterizada por ciclos de uso e pousio como por exemplo corte e queima

15

vegetativamente pelos agricultores a mandioca (M esculenta) ainda manteacutem a sua capacidade

de reproduccedilatildeo sexual sendo este um aspecto muito importante para dinacircmica evolutiva da

cultura (PUJOL et al 2007 CLEMENT et al 2010) Apoacutes a fecundaccedilatildeo cruzada e dispersatildeo

das sementes um banco destas eacute formado no solo e as novas variedades germinam nas roccedilas

(MARTINS 2005) Antes de serem imcorporadas ao acervo essas lsquolsquovariedades-voluntaacuteriasrsquorsquo

passam por um filtro cultural ou seja seratildeo reconhecidas pelos agricultores por meio de

caracteriacutesticas morfoloacutegicas experimentadas e entatildeo selecionadas (MARTINS OLIVEIRA

2009)

Outro evento envolvido na geraccedilatildeo de diversidade intraespeciacutefica eacute incorporaccedilatildeo de

novas variedades de mandioca por meio de uma rede social de troca de material propagativo

estabelecida entre os agricultores (CAVECHIA et al 2014) Esse mecanismo permite a

circulaccedilatildeo das manivas2 tanto a niacutevel local quanto regional permite tambeacutem o acesso aos

diferentes conjuntos de variedades cultivadas entre as comunidades e ainda que o conjunto de

etnovariedades3 locais eou regionais seja conservado (EMPERAIRE ELOY 2008) Dentro

dessas redes sociais de troca as relaccedilotildees entre os agricultores atuam como mecanismo

fundamental para dispersatildeo e experimentaccedilatildeo das etnovariedades entre as roccedilas E satildeo essas

relaccedilotildees e decisotildees estabelecidas entre os agricultores que iratildeo definir quais etnovariedades

seratildeo mantidas ao longo do tempo e quais seratildeo abandonadas (LIMA et al 2012)

Sendo os agricultores e as interaccedilotildees entre eles fundamentais para o estabelecimento da

diversidade local (PINTON EMPERAIRE 2001 EMPERAIRE ELOY 2008) torna-se

pertinente entender como as diferentes estrateacutegias adotadas pelos agricultores influenciam na

dinacircmica da agrobiodiversidade local Muitos trabalhos com esse enfoque foram desenvolvidos

nas regiotildees Amazocircnica e Sudeste mas pouco se discute sobre a dinacircmica da agrobiodiversidade

em regiotildees semiaacuteridas

Nesse sentido o presente estudo visa investigar as interaccedilotildees entre agricultores

tradicionais de comunidades rurais estabelecidas na regiatildeo semiaacuterida de Pernambuco O

objetivo geral eacute compreender os processos envolvidos na dinacircmica da diversidade agriacutecola por

meio do acesso ao conhecimento dos agricultores quanto as praacuteticas de menejo e entender quais

quais fatores podem estar relacionados a geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da diversidade local Para esse

estudo a mandioca foi escolhida como modelo devida agrave sua importacircncia econocircmica e de

subsistecircncia para comunidades locais Os objetivos especiacuteficos foram (i) caracterizar o manejo

2 Satildeo pedaccedilos das hastes ou ramas da mandioca usadas para o plantio 3 Variedades intraespeciacuteficas de mandioca (M esculenta) identificadas pelos agricultores por nomenclatura

popular local (Martins 2005)

16

da agricultura de sequeiro bem como analisar se os paracircmetros socioeconocircmicos influenciam

na diversidade local (ii) registrar as etnovariedades atualmente cultivadas e identificar os

diferentes criteacuterios morfoloacutegicos utilizados pelos agricultores para a seleccedilatildeo e classificaccedilatildeo das

etnovariedades e (iii) descrever a estrutura da rede de interaccedilatildeo entre os agricultores e a

diversidade de etnovariedades de mandioca cultivadas para tentar entender como essas relaccedilotildees

podem influenciar na manutenccedilatildeo ou perda da diversidade local

a

b c

17

2 Revisatildeo bibliograacutefica

21 Manihot esculenta Crantz e conhecimento local de agricultores tradicionais

O gecircnero Manihot Miller (Euforbiaceae) possui cerca de 98 espeacutecies distribuiacutedas em 19

seccedilotildees das quais 13 delas ocorrem no Brasil (ROGERS APPAN 1973) Dentre as espeacutecies do

gecircnero Manihot esculenta Crantz (mandioca) eacute a principal cultivar uma vez que compotildee a

base da dieta alimentar de diversas populaccedilotildees rurais principalmente em regiotildees tropicais A

mandioca foi domesticada na Ameacuterica do Sul pois eacute onde se encontra o maior centro de

diversificaccedilatildeo Estudos relacionados ao entendimento de sua origem botacircnica tecircm contribuiacutedo

para a compreensatildeo das accedilotildees humanas no processo de domesticaccedilatildeo e ampliaccedilatildeo da

diversidade da espeacutecie (OLSEN SCHAAL 1999 ELIAS et al 2004 ELLEN 2012)

As diferentes variedades da espeacutecie satildeo reconhecidas em dois grandes grupos principais

o das variedades mais toacutexicas e o de variedades menos toacutexicas baseadas no potencial de

glicosiacutedeos cianogecircnicos (HCN) contido na polpa das raiacutezes (ELIAS et al 2004) Variedades

com baixa toxicidade contecircm baixas concentraccedilotildees de glicosiacutedeos cianogecircnicos (HCNlt100

mgKg-1) e satildeo conhecidas em comunidades agriacutecolas variando entre regiotildees ou grupos eacutetnicos

como ldquomacaxeirasrdquo ldquomandiocas doces ou mansasrdquo ou ldquoaipinsrdquo As variedades mais toacutexicas

com altas concentraccedilotildees de HCN (HCNgt 100 mgKg-1) satildeo reconhecidas como ldquomandiocasrdquo

ou ldquomandiocas amargas ou bravasrdquo (PERONI et al 2007 MCKEY et al 2010) E portanto

precisam passar por um processo de desintoxicaccedilatildeo para se tornarem aptas ao consumo como

por exemplo pelo processo de fabricaccedilatildeo da farinha de mandioca (Fig 1) Apesar do seu

potencial toacutexico as variedades amargas possuem teores mais elevados de amido e se adaptam

bem a solos pobres e aacutecidos aleacutem de serem mais resistentes aos patoacutegenos e pragas em

comparaccedilatildeo com as variedades doces (FRASER et al 2010)

Sob o ponto de vista botacircnico esta dicotomia natildeo eacute reconhecida mas existem alguns

trabalhos que evidenciam a relaccedilatildeo entre a coerecircncia da taxonomia popular com a diferenciaccedilatildeo

geneacutetica para separaraccedilatildeo das variedades ldquodocesrdquo e ldquoamargasrdquo (ELIAS et al 2004 PERONI

et al 2007) O conhecimento das caracteriacutesticas morfoloacutegicas das plantas e a coerecircncia na

identificaccedilatildeo dessas variedades com niacuteveis distintos de HCN eacute de grande importacircncia

adaptativa para as populaccedilotildees que gerem esse recurso sobretudo pelo risco de intoxicaccedilatildeo

(RIVAL MCKEY 2008)

18

No estudo realizado por AMOROZO (2000) por exemplo os agricultores geralmente

classificavam as variedades que tinham raiacutezes brancas como ldquobravasrdquo e aquelas que tinham

raiacutezes vermelhas como ldquomansasrdquo embora eles reconhecessem algumas exceccedilotildees Em pesquisas

realizados por FARALDO et al (2000) MKUMBIRA et al (2003) ELIAS et al (2004) e

PERONI et al (2007) os agricultores foram consistentes na distinccedilatildeo de suas variedades

lsquolsquodocesrdquo e ldquoamargasrsquorsquo e com base no conhecimento de caracteres morfoloacutegicos distintos os

nomes das variedades refletiram na diversidade geneacutetica A partir dessas evidecircncias podemos

inferir que o conhecimento local dos agricultores associado agrave experiecircncia eacute importante natildeo

somente para o reconhecimento das variedades locais por si soacute mas tambeacutem por conter

informaccedilotildees relevantes sobre o papel que esses recursos podem desempenhar nos sistemas

agriacutecolas de pequena escala e para as populaccedilotildees locais (GADGIL et al 1993)

O conhecimento tradicional dos agricultores trata-se de um conjunto de saberes praacuteticas

e crenccedilas baseadas no contato direto nas observaccedilotildees experimentaccedilotildees diaacuterias e nas

dependecircncias econocircmicas eou de subsistecircncia dos recursos que satildeo geralmente transmitidas

oralmente dentro e entre as geraccedilotildees (AMOROZO 2000 DOMINGUES ARRUDA 2001

BEGOSSI 2004) Sendo assim o conhecimento tradicional de agricultores que praticam a

agricultura de pequena escala realizada em comunidades tradicionais eacute importante pois tem

garantido a perpetuaccedilatildeo dos conhecimentos e das praacuteticas agriacutecolas desenvolvidas durante

milhares de anos entre os agroecossistemas locais

22 Manejo tradicional em roccedilas e diversidade intraespeciacutefica da mandioca

A agricultura de pequena escala praticada em comunidades locais tem garantido a

perpetuaccedilatildeo do conhecimento sobre o manejo e a diversidade de espeacutecies agriacutecolas O sistema

de cultivo em roccedilas eacute tipicamente praticado por agricultores de comunidades tradicionais em

aacutereas uacutemidas no mundo inteiro As roccedilas satildeo aacutereas de cultivo de pequena escala localizadas

dentro de comunidades proacuteximas umas das outras que se tornaram objeto de estudo em vaacuterias

pesquisas antropoloacutegicas etnobotacircnicas geneacuteticas e ecologias especialmente por apresentarem

grande diversidade de espeacutecies cultivadas e pelo manejo destinar-se agrave subsistecircncia de grupos

familiares de agricultores de pequena escala (PUJOL et al 2007)

Aleacutem da diversidade de espeacutecies outra caracteriacutestica dessas roccedilas eacute o grande nuacutemero de

variedades dentro de cada espeacutecie Esta diversidade intraespeciacutefica pode ser referida como

etnovariedades que eacute um termo utilizado para definir grupos de indiviacuteduos identificados por

19

nomenclatura popular local a qual pode expressar elementos do contexto cultural econocircmico

e social das populaccedilotildees associado ao uso (PERONI MARTINS 2000 EMPERAIRE

PERONI 2007)

Dentre as vaacuterias espeacutecies cultivadas em roccedilas a mandioca (M esculenta) em seu

nuacutemero de etnovariedades eacute uma das principais culturas de importacircncia econocircmica e

nutricional para populaccedilotildees que utilizam esse sistema Sua diversidade pode estar relacionada

ao sistema reprodutivo da cultura ao modo de gestatildeo da agricultura pelas pressotildees de seleccedilatildeo

exercidas pelo proacuteprio homem ou ateacute mesmo por causas naturais (MARTINS 2005

CLEMENT et al 2010)

As caracteriacutesticas de manejo empregadas no cultivo da mandioca em roccedilas favorecem

a elevada diversidade intraespeciacutefica dessa cultura O modo de propagaccedilatildeo da mandioca eacute feito

pelos agricultores por meios de estacas (manivas) que satildeo selecionadas de acordo com as

caracteriacutesticas desejaacuteveis que elas apresentam seja para fins econocircmicos ou utilitaacuterios Apesar

de propagada vegetativamente que eacute um meacutetodo usado pelas populaccedilotildees humanas para plantio

e multiplicaccedilatildeo de plantas a mandioca natildeo perdeu a sua capacidade de reproduccedilatildeo sexual

sendo esse um aspecto importante para dinacircmica evolutiva da cultura (PUJOL et al 2007)

Esse meacutetodo de propagaccedilatildeo permite o fluxo e a circulaccedilatildeo do material geneacutetico entre os

diferentes roccedilados por meio de um sistema de redes sociais de troca de etnovariedade de

mandioca entre os agricultores tanto a niacutevel regional (entre comunidades) quanto em escalas

menores (entre vizinhos e parentes) (ELIAS et al 2004 EMPERAIRE OLIVEIRA 2010)

Segundo Emperaire e Peroni (2007) esse mecanismo de troca de germoplasma eacute uma grande

forccedila de dispersatildeo que resulta na agrobiodiversidade regional mais elevada pois estabelece

viacutenculos entre as diferentes roccedilas e promove oportunidades de seleccedilatildeo e cruzamento entre as

diferentes etnovariedades (EMPERAIRE ELOY 2008)

Atributo bioloacutegicos da espeacutecie tambeacutem estatildeo relacionados com o aumento da

diversidade intrespeciacutefica como a capacidade de dormecircncia das sementes e a dispersatildeo

autocoacuterica que propiciam o desenvolvimento de um banco de sementes no solo ao longo do

tempo permitindo o cruzamento entre as novas variedades adquiridasplantadas e entre estas

com variedades que existiram anterioemente na mesma aacuterea (PERONI MARTINS 2000

MARTINS 2005) A presenccedila dessas ldquoplantas-voluntaacuteriasrdquo ou seja aquelas nascidas de

germinaccedilatildeo expontacircnea eacute um dos eventos identificados como precursores de diversidade

intraespeciacutefica nas populaccedilotildees de mandioca cultivadas (PUJOL et al 2007)

20

Contudo muitos esforccedilos vecircm sendo empregados em estudos que observam a ecologia

da mandioca e o manejo agriacutecola associado agrave geraccedilatildeo de diversidade varietal e geneacutetica na

espeacutecie para tentar entender como esses mecanismos influenciam na diversidade de

etnovariedades locais e na sua dinacircmica (PUJOL et al 2007 KOMBO et al 2012 ELIAS et

al 2001)

23 Redes sociais de troca e circulaccedilatildeo de etnovariedades de mandioca

Sistemas agriacutecolas de pequena escala dependem de uma grande diversidade de espeacutecies e

variedades cultivadas e do fluxo destas por meio de redes sociais de troca material vegetativo

estabelecidas entre agricultores podendo o alcance da circulaccedilatildeo variar em escala local eou

regional (EMPERAIRE ELOY 2008) As trocas dependem de dois mecanismos principais

dos padrotildees de interaccedilatildeo social entre os agricultores e dos padrotildees de uso dos recursos

(CAVECHIA et al 2014) e as redes variam em funccedilatildeo das caracteriacutesticas culturais

econocircmicas e sociais das comunidades (EMPERAIRE PERONI 2007 PAUTASSO et al

2012)

No caso da mandioca (Manihot esculenta Crantz) a propagaccedilatildeo se da por estaquia o que

favorece a troca de material de vegetativo entre os agricultores e permite o fluxo entre

variedades locais e regionais (MARTINS 2005) As trocas de variedades de mandioca entre os

agricultores geralmente acontecem por alguma circunstacircncia que leve o agricultor a pedir o

material propagativo para o plantio com por exemplo para o plantio de uma nova roccedila ou por

alguma fitopatologia deslocaccedilatildeo ou estaccedilotildees de chuva e seca prolongadas (EMPERAIRE et

al 2001 EMPERAIRE ELOY 2008) Em alguns casos como no de algumas comunidades

agriacutecolas de pequena escala as redes de casamento satildeo utilizadas para a circulaccedilatildeo de

variedades (EMPERAIRE PERONI 2007 DELEcircTRE et al 2011)

O processo de manutenccedilatildeo da diversidade nesses sistemas resulta do interesse ou da

necessidade do agricultor em adquirir ou abandonar variedades testar e selecionar novas

etnovariedades de mandioca Dentre os fatores que dirigem a seleccedilatildeo de etnovariedades estatildeo

as preferecircncias individuais dos agricultores Alguns podem optar por cultivar todas as

etnovariedades comuns eou disponiacuteveis na regiatildeo enquanto que outros optam apenas por

manter um conjunto especiacutefico dessa diversidade (CAVECHIA et al 2014) Seja para atender

a alguma demanda individual pelo interesse em aumentar a produtividade ou pela necessidade

21

de conservar o material vegetativo para o proacuteximo plantio no caso de perda de material por

algum fator ambiental adverso (EMPERAIRE et al 2001 EMPERAIRE ELOY 2008)

Nesse sentido satildeo os agricultores os maiores responsaacuteveis por determinar como e quais

etnovariedades seratildeo compartilhadas e mantidas entre as comunidades (PAUTASSO et al

2012) E a chave para a compreensatildeo da dinacircmica da diversidade varietal eacute por meio desse

intercacircmbio e dos fatores que influenciam essa conectividade entre as comunidades pois essas

redes representam um grande impacto sobre a diversidade de variedades cultivadas E eacute por

meio dessas redes que se diminui coletivamente os riscos de perda total de diversidade geneacutetica

local (EMPERAIRE ELOY 2008)

Desse modo as relaccedilotildees estabelecidas pelos agricultores entre as comunidades por meio

das redes troca de germoplasma podem ter consequecircncias importantes sobre a diversidade

varietal da mandioca E compreender os processos envolvidos na manutenccedilatildeo ou perda de

germoplasma nos sistemas agriacutecolas eacute importante uma vez que compreendendo a maneira

como os agricultores usam esse conjunto de etnovariedades de mandioca e as compartilham

vai trazer importantes discussotildees a cerca da qualidade e a quantidade do recurso que seraacute

mantido transmitido ou perdido dentro dos sistemas ao longo do tempo

22

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25

VARIACcedilAtildeO INTRAESPECIacuteFICA CONHECIMENTO E MANEJO

LOCAL DE MANDIOCA (Manihot esculenta Crantz) NO SEMIAacuteRIDO DE

PERNAMBUCO NORDESTE DO BRASIL

Artigo submetido ao perioacutedico Human Ecology

Normas para submissatildeo em anexos

26

Variaccedilatildeo intraespeciacutefica conhecimento e manejo local de mandioca 1

(Manihot esculenta Crantz) no semiaacuterido de Pernambuco Nordeste do 2

Brasil 3

Mirela Nataacutelia Santos12 Jhonatan Rafael Zaacuterate-Salazar1 Reginaldo de Carvalho1 amp 4

Ulysses Paulino de Albuquerque2 5

6

1 Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo em Botacircnica Departamento de Biologia Rua Dom Manuel de Medeiros 7

Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) sn Dois Irmatildeos Recife Pernambuco 52171-8

900 Brasil 9

2 Laboratoacuterio de Ecologia e Evoluccedilatildeo de Sistemas Socioecoloacutegicos (LEA) Departamento de Botacircnica 10

Avenida Professor Moraes Rego Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) sn Cidade 11

Universitaacuteria Recife Pernambuco 50670-901 Brasil 12

Resumo 13

Historicamente a espeacutecie Manihot esculenta Crantz (mandioca) eacute uma espeacutecie de grande valor 14

econocircmico e de subsistecircncia para populaccedilotildees em comunidades tradicionais Variedades de 15

mandioca satildeo selecionadas com base nos interesses dos agricultores conduzindo uma evoluccedilatildeo 16

especiacutefica sobre a geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da agrobiodiversidade local Diante disso a mandioca 17

tornou-se espeacutecie-modelo em estudos que buscam compreender como os padrotildees e estrateacutegias 18

adotadas pelas populaccedilotildees humanas influenciam na diversidade intraespeciacutefica local em regiotildees 19

tropicais No entanto os fatores que influenciam a diversidade da mandioca em regiotildees 20

semiaacuteridas ainda natildeo foram bem documentados Nesse sentido objetivo geral do estudo foi 21

compreender os processos envolvidos na dinacircmica da diversidade agriacutecola em sete 22

comunidades tradicionais localizadas na regiatildeo semiaacuterida do estado de Pernambuco (Nordeste 23

do Brasil) por meio do acesso ao conhecimento dos agricultores quanto as praacuteticas de menejo 24

para tentar quais quais fatores podem estar relacionados a geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da diversidade 25

local Com os resultados da anaacutelise de redes verificamos uma alta diversidade de 26

etnovariedades cultivadas e a sua composiccedilatildeo eacute determinada pelas preferecircncias e 27

comportamentos individuais dos agricultores que foram provavelmente os mecanismos 28

27

responsaacuteveis pelo surgimento da estrutura aninhada observada na anaacutelise rede Esse padratildeo 29

aninhado contribui na conservaccedilatildeo das etnovariedades mais comuns mas tambeacutem pode resultar 30

em perda daquelas de menor frequecircncia ao longo do tempo 31

Palavras-Chave Agricultura tradicional Agricultura de sequeiro Agrobiodiversidade 32

Etnobiologia Plantas alimentiacutecias 33

34

Introduccedilatildeo 35

Historicamente as populaccedilotildees humanas foram acumulando conhecimentos sobre 36

praacuteticas da agricultura desenvolvendo teacutecnicas adaptadas ao meio natural e assim foram 37

domesticando uma grande variedade de cultivos alimentares para garantirem a sua 38

sobrevivecircncia (Balleacute 2006 Clement et al 2010) Essa interaccedilatildeo pessoas-plantas por meio do 39

cultivo e manejo das espeacutecies vegetais considerando tanto os aspectos sociais quanto naturais 40

dos sistemas dinacircmicos eacute uma importante ferramenta para o entendimento do conhecimento 41

dos agricultores sobre os agroecossistemas locais ( Alcorn 1995) 42

Aleacutem disso essas interaccedilotildees vem contribuindo com alteraccedilotildees nas populaccedilotildees vegetais 43

por meio da seleccedilatildeo artificial Essas alteraccedilotildees resultaram em mudanccedilas na estrutura geneacutetica 44

dessas populaccedilotildees que satildeo determinadas geralmente pela seleccedilatildeo de caracteriacutesticas fenotiacutepicas 45

fisioloacutegicas eou econocircmicas das plantas refletidas em classificaccedilotildees e nomenclaturas 46

especiacuteficas baseadas em percepccedilotildees individuais (Carmona amp Casas 2005) 47

Muitos pesquisadores tentam explicar o papel dos agricultores de pequena escala na 48

seleccedilatildeo classificaccedilatildeo e manutenccedilatildeo da agrobiodiversidade local em roccedilas tradicionalmente 49

manejas em regiotildees uacutemidas (Emperaire amp Peroni 2007 Emperaire amp Eloy 2008 Marchetti et 50

al 2013) Essas roccedila satildeo aacutereas de cultivo caracterizadas por conter uma alta diversidade 51

intraespeciacutefica de espeacutecies (Martins 2005) Dentre elas a Manihot esculenta Crantz 52

28

(mandioca) Euphorbiaceae em sua diversidade de etnovariedades eacute a espeacutecie mais importante 53

sob ponto de vista econocircmico e de subsistecircncia para as populaccedilotildees locais e mais cultivada 54

devido a sua grande adaptabilidade ambiental e baixos custos de gestatildeo (Elias et al 2001) 55

A alta diversidade da mandioca nessas aacutereas pode ser atribuiacuteda agrave possibilidade de 56

introduccedilatildeo de novas variedades via reproduccedilatildeo sexuada associada a ecologia da espeacutecie Esse 57

mecanismo permite o fluxo gecircnico entre as variedades de mandioca cultivadas do mesmo local 58

e entre estas com variedades de locais vizinhos (Pujol et al 2007) Outro mecanismo que 59

favorece essa diversidade eacute agrave circulaccedilatildeo de material propagativo por meio redes sociais de troca 60

variedades entre os agricultores (Pujol et al 2005 Emperaire amp Peroni 2007 Clement et al 61

2010) Esse mecanismo de troca eacute fundamental para o estabelecimento de interaccedilotildees entre as 62

diferentes aacutereas de roccedila promovendo oportunidade de seleccedilatildeo e cruzamento entre os diferentes 63

conjuntos de variedades aleacutem de permitir que este conjunto seja conservado (Emperaire amp Eloy 64

2008) 65

Diante desse cenaacuterio podemos observar que a agrobiodiversidade local natildeo eacute fruto 66

apenas de fatores naturais mas eacute tambeacutem influenciada pelas caracteriacutesticas culturais e 67

socioeconocircmica das populaccedilotildees locais refletidas especialmente no conhecimento e manejo 68

local Nesse sentido o presente estudo visa investigar as interaccedilotildees entre agricultores 69

tradicionais de comunidades rurais estabelecidas na regiatildeo semiaacuterida de Pernambuco 70

O objetivo geral eacute compreender os processos envolvidos na dinacircmica da diversidade 71

agriacutecola por meio do acesso ao conhecimento dos agricultores quanto as praacuteticas de menejo e 72

entender quais quais fatores podem estar relacionados a geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da diversidade 73

local Para esse estudo a mandioca foi escolhida como modelo devida agrave sua importacircncia 74

econocircmica e de subsistecircncia para comunidades locais Os objetivos especiacuteficos foram (i) 75

caracterizar o manejo da agricultura de sequeiro bem como analisar se os paracircmetros 76

socioeconocircmicos influenciam na diversidade local (ii) registrar as etnovariedades atualmente 77

29

cultivadas e identificar os diferentes criteacuterios morfoloacutegicos utilizados pelos agricultores para a 78

seleccedilatildeo e classificaccedilatildeo das etnovariedadese (iii) descrever a estrutura da rede de interaccedilatildeo entre 79

os agricultores e a diversidade de etnovariedades de mandioca cultivadas para tentar entender 80

como essas relaccedilotildees podem influenciar na manutenccedilatildeo ou perda da diversidade local 81

Material e meacutetodos 82

Aacutereas de estudo 83

Amostramos sete comunidades rurais estabelecidas na regiatildeo semiaacuterida de 84

Pernambuco Nordeste do Brasil Uma das comunidades (Caratildeo) pertence ao Municiacutepio de 85

Altinho (ldquo8deg 29rsquo 10rdquo S e 36deg 03rsquo 49rdquo W) e as demais (Satildeo Joseacute do Bola Brejo velho 86

Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima Lajedo Dantas e Aracuatilde) ao Municiacutepio de 87

Panelas (8 deg 39 48 S e 36 deg 01 23 W) (Fig 2) 88

O modelo agriacutecola adotado na regiatildeo segue o sistema tradicional de sequeiro4 e todas 89

as comunidades em estudo possuem histoacuterico de cultivo de mandioca (M esculenta) As aacutereas 90

de cultivo satildeo estabelecidas por unidade familiar e as atividades satildeo realizadas em sua maioria 91

por homens tendo cada agricultor cerca de um a dois hectares de aacuterea para plantio Aleacutem da 92

mandioca os cultivos mais utilizados na comunidades satildeo milho (Zea mays) e feijatildeo (Phaseolus 93

sp) 94

Para os membros das comunidades a produccedilatildeo da farinha de mandioca (Fig 3) eacute uma 95

das atividades agriacutecolas mais importantes tanto pelo seu papel na dieta alimentar quanto pela 96

importacircncia social e econocircmica 97

Caracteriacutesticas das comunidades do estudo 98

A comunidade do Caratildeo localiza-se sob domiacutenio de Caatinga caracterizado por climas 99

quentes e secos com regimes escassos de chuvas correspondente ao tipo BSrsquoh segundo a 100

4 Eacute o cultivo praticado sem irrigaccedilatildeo em regiotildees onde a pluviosidade eacute diminuta

30

classificaccedilatildeo climaacutetica de Koumlppen A vegetaccedilatildeo eacute composto por espeacutecies perenes que 101

conseguem sobreviver mesmo em periacuteodos de seca e espeacutecies anuais que aparecem apenas em 102

periacuteodos com chuva (Cruz et al 2013) 103

De acordo os dados de precipitaccedilatildeo do Laboratoacuterio de Anaacutelise e Processamento de 104

Imagens de Sateacutelites (LAPIS) no ano de 2012 foi registrada a menor meacutedia anual de 105

precipitaccedilatildeo dos uacuteltimos 10 anos para essa regiatildeo (3784 mm) Essa realidade ambiental quando 106

comparada com estudo realizado por de Sieber e colaboradores (2011) na mesma comunidade 107

observa-se que houve uma diminuiccedilatildeo considerada das praacuteticas agriacutecolas realizadas pelos 108

membros da comunidade culminando em uma seacuterie de prejuiacutezos aos agricultores como a perda 109

de plantaccedilotildees e animais Essa perda de produtividade afetou a estrutura econocircmica da 110

comunidade uma vez que a principal fonte de subsistecircncia das famiacutelias eacute a agricultura 111

Associada as atividades agriacutecolas os moradores complementam a dieta e a renda 112

familiar com a venda dos excedentes da produccedilatildeo em feiras-livres ou centros comerciais da 113

regiatildeo (Cruz et al 2013) E com a pecuaacuteria de pequena escala bovina caprina e com avicultura 114

No entanto a diminuiccedilatildeo da forragem natural e cultivada causada pela escassez de chuvas 115

associada aos elevados custos envolvidos na compra de raccedilatildeo levou muitos animais agrave morte 116

(Fig 4) 117

No Municiacutepio de Altinho a comunidade do Caratildeo foi inicialmente escolhida devido ao 118

reconhecimento preacutevio do registro de agricultores realizado em estudos desenvolvidos pelo 119

nosso grupo de pesquisa facilitando assim o acesso agraves informaccedilotildees necessaacuterias para o 120

desenvolvimento da pesquisa 121

As comunidades Aracuatilde Brejo Velho Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima 122

Lajedo Dandas e Satildeo Joseacute do Bola amostradas no estudo pertencem ao Municiacutepio de Panelas 123

que se limita ao Norte com o Municiacutepio de Altinho Essas comunidades estatildeo localizadas em 124

31

no domiacutenio morfoclimaacutetico de Caatinga O clima eacute do tipo semiaacuterido Bsrsquoh segundo a 125

classificaccedilatildeo climaacutetica de Koumleppen 126

A maior parte dos membros dessas comunidades assim como no Caratildeo tecircm como 127

principal fonte de subsistecircncia a agricultura de sequeiro principalmente o cultivo da mandioca 128

(Fig 5) Como renda extra a pecuaacuteria de pequeno porte com criaccedilatildeo bovina caprina e 129

avicultura sendo os excedentes dos alimentos produzidos vendidos em feiras locais ou para 130

escolas 131

As atividades agriacutecolas entre as comunidades tambeacutem foram duramente afetadas pela 132

seca na regiatildeo nos uacuteltimos anos A escassez de chuvas desestimulou o plantio a produccedilatildeo de 133

mandioca foi fortemente comprometida e a colheita foi adiada devido ao subdesenvolvimento 134

das raiacutezes gerando impactos econocircmicos para os membros das comunidades 135

As comunidades amostradas neste muniacutecipio foram escolhidas em funccedilatildeo das 136

indicaccedilotildees dos agricultores entrevistados a princiacutepio na comunidade do Caratildeo que reportaram 137

manter viacutenculos sociais com os agricultores do municiacutepio vizinho 138

Coleta de dados 139

Acessamos as comunidades com a ajuda de um liacuteder comunitaacuterio (Alexandre O 140

Nascimento) em companhia de outros pesquisadores que desenvolviam pesquisas na regiatildeo 141

Previamente as entrevistas todos objetivos e procedimentos para a realizaccedilatildeo da pesquisa foram 142

apresentados aos entrevistados e todos que aceitaram participar foram convidados a assinar um 143

Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) de acordo com a Resoluccedilatildeo 46612 do 144

Conselho Nacional de Sauacutede concordando com a realizaccedilatildeo das entrevistas e avaliaccedilotildees 145

morfoloacutegicas em campo O presente trabalho foi submetido ao Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa da 146

Universidade de Pernambuco (UPE) 147

32

Em todas as comunidades o meacutetodo de acesso ao informante foi o mesmo a partir do 148

primeiro contato com um informante-chave identificamos outros potenciais agricultores 149

seguindo a teacutecnica de ldquobola de neverdquo (Albuquerque et al 2014a) Esse meacutetodo consistiu na 150

amostragem intencional dos participantes e nesse particular os agricultores chefes de famiacutelia 151

(ge 18 anos) da regiatildeo que declararam cultivar mandioca (M esculenta) em suas roccedilas 152

Reunimos informaccedilotildees socioeconocircmicas desses agricultores tais como nome idade gecircnero 153

escolaridade renda experiecircncia na agricultura e tamanho da aacuterea de cultivo para tentar 154

identificar se esses paracircmetros socioeconocircmicos tecircm uma relaccedilatildeo com a agrobiodiversidade 155

local 156

Em seguida conduzimos entrevistas semiestruturadas (Albuquerque et al 2014b) com 157

o objetivo de caracterizar o modo de vida dos agricultores o manejo da agricultura bem como 158

obter dados sobre o conhecimento uso e caracterizaccedilatildeo das etnovariedades de mandioca 159

5cultivadas Aleacutem disso neste momento tambeacutem aplicamos a teacutecnica da lista livre 160

(Albuquerque et al 2014b) a fim de registrar as variedades de mandioca atualmente cultivadas 161

pelos agricultores e identificar as de maior importacircncia local Apoacutes as entrevistas realizamos 162

visitas aos roccedilados para o registro fotograacutefico georreferenciamento das roccedilas e caracterizaccedilatildeo 163

morfoloacutegica das variedades cultivadas 164

Entrevistamos 50 agricultores no total distribuiacutedos nas sete comunidades Caratildeo (3) 165

Satildeo Joseacute do Bola (10) Brejo velho (7) Japaranduba de Baixo (7) Japaranduba de Cima (8) 166

Lajedo Dantas (9) e Aracuatilde (6) Destes 10 satildeo mulheres e 40 homens com idade variando entre 167

31 e 82 anos A maioria dos entrevistados natildeo apresentava instruccedilatildeo formal (46) mais da 168

metade eram aposentados (56) e os demais apresentaram renda inferior a um salaacuterio miacutenimo 169

5 Entende-se por etnovariedade de mandioca o conjunto de variedades intraespeciacuteficas de mandioca (M esculenta)

reconhecidas pelos agricultores por nomenclatura popular local (Peroni 2004)

33

O tempo meacutedio de experiecircncia na agricultura foi de 40 anos Cada agricultor possui entre um e 170

dois roccedilados (aacuterea de plantio) com aproximadamente um a dois hectares 171

Redes de interaccedilatildeo social 172

Confeccionamos a rede que descreve as interaccedilotildees entre os agricultores e as 173

etnovariedades cultivadas a partir de uma matriz de incidecircncia R (presenccedilaausecircncia) onde nas 174

linhas estavam as etnovariedades de mandioca cultivadas (j) e nas colunas os agricultores locais 175

(i) O elemento Rij dessa matriz foi 1 (um) no caso de a etnovariedade j ser cultivada pelo 176

agricultor i caso contraacuterio seria atribuiacutedo 0 (zero) As interaccedilotildees entre os agricultores e as 177

etnovariedades foram descritas em dois modos (Pires et al 2011) onde os ldquonoacutesrdquo da esquerda 178

representam os agricultores que foram vinculados aos ldquonoacutesrdquo da direita representados pelas 179

etnovariedades citadas durante as entrevistas Esses ldquonoacutesrdquo seriam o espelho das decisotildees dos 180

agricultores em manter um determinado conjunto local de etnovariedades em suas roccedilas 181

Avaliamos a estrutura da rede que conecta os agricultores agraves etnovariedades cultivadas 182

a partir de trecircs cenaacuterios hipoteacuteticos (Fig 6) segundo Cachevia et al (2014) No primeiro se os 183

agricultores apresentassem diferentes graus de seletividade para a utilizaccedilatildeo de suas 184

etnovariedades a estrutura seria aninhada (Fig 6a) Isso significa que alguns agricultores 185

cultivam vaacuterias etnovariedades enquanto que outros cultivam o subconjunto mais 186

disponiacutevelcomum dessas etnovariedades Em segundo lugar se a rede apresentasse uma 187

estrutura modular (Fig 6b) significaria que os agricultores apresentam semelhanccedila na seleccedilatildeo 188

do recurso ou seja subgrupos de agricultores cultivam subgrupos distintos de etnovariedades 189

regionalmente disponiacuteveiscomuns E o terceiro se os agricultores natildeo apresentassem 190

preferecircncias quanto a seleccedilatildeo das etnovariedades entatildeo a rede apresentaria uma estrutura 191

aleatoacuteria (Fig 6c) 192

O objetivo da anaacutelise de rede nesse estudo foi tentar entender se o conjunto de 193

etnovariedades presentes no local do estudo constituem uma subamostra de um conjunto mais 194

34

amplo no caso de um alto grau de aninhamento ou se a sua composiccedilatildeo eacute determinada por 195

variaacuteveis locais (Ulrich 2008) Onde as conexotildees entre os informantes e as etnovariedades 196

representam as decisotildees dos agricultores de manter um conjunto determinado de variedades de 197

mandioca dentre as comunidades Esta anaacutelise tambeacutem nos permitiu identificar quais os nuacutecleos 198

de etnovariedades que apresentam maior conexatildeo com os diferentes perfis dos agricultores 199

Diversidade fenotiacutepica 200

Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 201

Apoacutes as entrevistas buscamos identificar quais os caracteres morfoloacutegicos considerados 202

mais importantes para a diferenciaccedilatildeo das etnovariedades de mandioca a partir do seguinte 203

questionamento ldquoQuais as diferenccedilas que vocecirc reconhece para separar uma qualidade de 204

mandioca (variedade) de uma outrardquo Assim os agricultores mencionaram quais os criteacuterios 205

mais importantes utilizados para a caracterizaccedilatildeo de suas etnovariedades 206

Compilamos uma listagem dessas caracteriacutesticas baseada nas indicaccedilotildees dos 207

agricultores e a partir delas selecionamos os caracteres morfoloacutegicos mais citados para a 208

caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica ldquoin siturdquo tais como cor da folha (cor da folha desenvolvida) olho 209

(cor do broto foliar) cor do talo (cor do peciacuteolo) maniva (cor externa do caule) embriatildeo 210

(protuberacircncia da cicatriz foliar) cor da entrecasca (coacutertex da raiz) e cor miolo (polpa da raiz) 211

(Tabela 1) O objetivo dessa caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica foi indicar como estaacute distribuiacuteda a 212

variaccedilatildeo fenotiacutepica das etnovariedades de mandioca nas comunidades na regiatildeo semiaacuterida de 213

Pernambuco bem como identificar que caracteriacutesticas satildeo mais importantes para distinguir 214

esses grupos no intuito de tentar entender como os agricultores classificam suas variedades de 215

mandioca 216

Nas sete comunidades para cada etnovariedade citada no roccedilado caracterizamos ldquoin 217

siturdquo trecircs indiviacuteduos de M esculentade de cada uma totalizando 171 indiviacuteduos (Aracuatilde=11 218

35

Caratildeo=4 Satildeo Joseacute do Bola=13 Brejo Velho=16 Japaranduba de Baixo=6 Japaranduba de 219

Cima=3 e Lajedo Dantas=4) Fotografamos e avaliamos todos os indiviacuteduos com base em parte 220

dos descritores morfoloacutegicos seguindo recomendaccedilotildees de Fukuda amp Guevara (1998) e aleacutem 221

disso georreferenciamos todas as aacutereas de roccedila 222

Anaacutelise dos dados 223

Analisamos os dados socioeconocircmicos das entrevistas semiestruturadas por meio de 224

estatiacutestica descritiva para explicar os aspectos da realidade econocircmica e social dos agricultores 225

Para identificar se a diversidade intraespeciacutefica da mandioca cultivada localmente eacute 226

influenciada por paracircmetros socioeconocircmicos utilizamos o coeficiente de correlaccedilatildeo de 227

Spearman (Ple005) (Sokal amp Rohlf 1995) 228

Com base na lista livre das variedades de mandioca cultivadas pelos agricultores 229

calculamos a frequecircncia de citaccedilatildeo o ranking e o iacutendice de saliecircncia com o objetivo de 230

identificar quais as mais importantes ou preferidas para as comunidades O iacutendice de saliecircncia 231

considerou a frequecircncia de citaccedilatildeo e o ranking referente ao posicionamento das variedades 232

dentro das listas livres (Thompson amp Juan 2006) As etnovariedades mais citadas e com maior 233

valor de saliecircncia representam as de maior importacircncia ou preferecircncia para as comunidades 234

Anaacutelise de rede 235

Medimos o grau de aninhamento (NODF) para investigar a estrutura de rede de 236

interaccedilatildeo social dos agricultores em funccedilatildeo das variedades cultivadas As matrizes altamente 237

aninhadas apresentam NODF tendendo a 1 caso contraacuterio tentem a ser 0 238

Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 239

Para o estudo das semelhanccedilas e diferenccedilas fenotiacutepicas entre as variedades de mandioca 240

ldquoin siturdquo realizamos anaacutelises multivariadas para identificar possiacuteveis grupos de variedades que 241

compartilham semelhanccedilas entre si 242

36

A anaacutelise de correspondecircncia muacuteltipla (MCA) permitiu identificar como as variedades 243

de mandioca estatildeo ordenadas em funccedilatildeo dos seus descritores etnobotacircnicos As etnovariedades 244

foram plotadas ao longo um plano cartesiano bi ou tridimensional onde a variaccedilatildeo total eacute 245

explicada pelos dois primeiros eixos Complementar a esta anaacutelise realizamos a anaacutelise de 246

agrupamento hieraacuterquico (Cluster) para identificar como estatildeo agrupadas as etnovariedades de 247

acordo seus descritores Conferimos a consistecircncia do dendrograma com coeficiente de 248

correlaccedilatildeo cofeneacutetica conforme Sneath amp Sokal (1973) que quantifica se a correlaccedilatildeo entre a 249

matriz de distacircncias originais e a matriz de distacircncias cofeneacuteticas eacute representativa Para 250

mensurar as dissimilaridades entre as variedades de mandioca foi utilizada a distacircncia 251

euclidiana e com o meacutetodo de Ward 252

Softwares utilizados 253

Para a anaacutelise da lista livre usamos o software ANTROPAC versatildeo 10 O software 254

ANINHADO 30 (Guimaratildees amp Guimaratildees 2006) foi usado para medir o grau de aninhamento 255

da rede Utilizamos o software estatiacutestico R (R core team 2017) para a anaacutelise de correlaccedilatildeo 256

de Spearman com o pacote corrplot (Wei amp Simko 2013) o desenho da rede que descreve a 257

interaccedilatildeo entre os agricultores e as etnovariedades com o pacote bipartite (Dormann et al 258

2017) E com os pacotes FactoMineR (LEcirc et al 2008) factoextra (Kassambara et al 2016) e 259

vegan (Oksanen et al 2017) foram realizadas as anaacutelises de cluster de correspondecircncia 260

muacuteltipla (MCA) e de correlaccedilatildeo coefeneacutetica respectivamente 261

Resultados 262

As diferentes etnovariedades de mandioca encontradas no estudo suprem a demanda 263

local por alimento enquanto outras atendem agraves preferecircncias individuais ou do comeacutercio As 264

variedades que possuem maior rendimento e a farinha produzida apresenta coloraccedilatildeo branca 265

satildeo as de maior valor comercial para os agricultores devido agraves preferecircncias do mercado Jaacute 266

37

outras variedades que satildeo mais moles e apresentam coloraccedilatildeo amarelada natildeo satildeo empregadas 267

na produccedilatildeo de farinha mas sim consumidas cozidas ou assadas A depender da demanda local 268

os agricultores intencionalmente aumentam ou diminuem a frequecircncia de suas variedades nos 269

roccedilados seja por alguma exigecircncia do comeacutercio ou para consumo familiar 270

Nas comunidades os agricultores separam suas variedades de mandioca em dois grupos 271

como observado em outras comunidades na mata Atlacircntica por Emperaire e Peroni (2007) o 272

das ldquomacaxeirasrdquo que satildeo as variedades exploradas basicamente para o consumo familiar sem 273

processo preacutevio de desintoxicaccedilatildeo cujas raiacutezes satildeo consumidas fritas eou cozidas Sendo 274

utilizadas tambeacutem como complemento na dieta dos animais E o grupo das ldquomandiocasrdquo que 275

satildeo as variedades que necessitam de processo preacutevio de desintoxicaccedilatildeo para o consumo 276

utilizadas comumente para a produccedilatildeo de farinha de mandioca Para os agricultores as 277

ldquomandiocasrdquo possuem maior valor comercial pois apresentam maior rendimento e 278

rentabilidade pois a farinha produzida eacute branca e atende as preferencias do comercio local 279

Aleacutem da farinha outros produtos e subprodutos produzidos dentre os quais foram citados 280

ldquotapioca ou gomardquo ldquobijurdquo ou ldquobolo de mandiocardquo satildeo utilizados para o consumo proacuteprio ou 281

eventual comercializaccedilatildeo 282

Os informantes natildeo possuiacuteam conhecimento sobre a origem dos nomes das variedades 283

de mandioca Quanto a compreensatildeo da geraccedilatildeo da diversidade intraespeciacutefica identificamos 284

que apesar de 66 dos agricultores citarem que conhecem variedades fruto de germinaccedilatildeo de 285

suas sementes nenhum deles utiliza as manivas para o plantio por essas variedades de 286

mandioca ldquovoluntaacuteriasrdquo natildeo apresentarem bom rendimento 287

Observamos que existe uma baixa correlaccedilatildeo entre a diversidade de variedades 288

atualmente cultivadas e as variaacuteveis socioeconocircmicas como no caso do nuacutemero de roccedilados 289

(r=028 Ple005) e do tamanho do roccedilado (r=033 Ple005) (Fig 7) Essa baixa correlaccedilatildeo pode 290

38

ser explicada pelo fato de existirem grupos de agricultores que preferem manter as variedades 291

de maior valor econocircmico e de subsistecircncia mesmo com aacutereas maiores de cultivo 292

Verificamos tambeacutem uma correlaccedilatildeo positiva moderada entre o nuacutemero de variedades 293

conhecidas com o nuacutemero de variedades atualmente cultivadas (r=054 Ple005) Na lista livre 294

foram identificadas 22 etnovariedades de mandioca cultivadas (132 citaccedilotildees no total) sendo 295

oito dessas mais citadas com maiores valores de saliecircncia (entre 047 e 0082) (Tabela 2) As 296

etnovariedades ldquoMacaxeira Rosardquo e ldquoMandioca Isabel de Souzardquo exibiram os maiores valores 297

de saliecircncia 047 e 037 respectivamente Logo essas variedades satildeo as mais conhecidas 298

dentro das comunidades com 66 e 48 das citaccedilotildees respectivamente 299

Dentre as etnovariedades citadas 12 foram idiossincraacuteticas pois apresentaram menor 300

frequecircncia de citaccedilatildeo e menores valores de saliecircncia (entre 0032 e 0006) (Tabela 2) 301

Redes de interaccedilatildeo social 302

A rede apresentou uma estrutura aninhada com grau de aninhamento significativamente 303

superior aos modelos nulos (N=3072 Plt0001) para as comunidades sendo um nuacutecleo de 304

etnovariedades altamente conectado aos agricultores (Fig 8) A estrutura aninhada nos permite 305

inferir que existe um grupo de agricultores que cultiva uma maior diversidade de etnovariedades 306

de mandioca em suas roccedilas enquanto que outro subgrupo que tem menor diversidade cultivam 307

as mais comuns ou disponiacuteveis (Cavechia et al 2014) Isso significa que os agricultores locais 308

mesmo em diferentes comunidades cultivam um nuacutecleo de etnovariedades comum entre eles 309

(n=6 Tabela 2) 310

Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 311

Observamos que a maioria dos indiviacuteduos de mandioca satildeo caracterizados por meio de 312

um conjunto de sete caracteres morfoloacutegicos os quais foram citados pelos agricultores como 313

mais importantes para a caracterizaccedilatildeo de suas variedades Nas visitas aos roccedilados registramos 314

39

as etnovariedades atualmente cultivadas e a tabela 3 fornece a lista completa com as 17 315

etnovariedades de mandioca e o local de registro 316

Por meio da anaacutelise de correspondecircncia muacuteltipla as variedades de mandioca foram 317

ordenadas em funccedilatildeo de seus descritores ao longo do primeiro e segundo eixo correspondentes 318

a 3680 da variacircncia total (Fig 9) 319

As variaacuteveis mais correlacionadas e que agruparam as variedades de mandioca no 320

primeiro eixo foram cor da folha desenvolvida (CFD) (r= 07239 Ple0001) cor do coacutertex da 321

raiz (CDR) (r= 06473 Ple0001) cor do broto foliar (CBF) (r= 06880 Ple0001) cor do peciacuteolo 322

(CDP) (r= 05250 Ple005) cor externa do caule (CEC) (r= 06883 Ple005) cor da polpa da 323

raiz (PDR) (r= 02473 Ple005) Para o segundo eixo as variaacuteveis correlacionadas foram cor 324

da folha desenvolvida (CFD) (r= 07220 Ple0001) cor externa do caule (CEC) (r= 08718 325

Ple0001) e cor do peciacuteolo (CDP) (r= 06927 Ple005) 326

O agrupamento de todas as variedades caracterizadas ldquoin siturdquo gerou uma aacutervore 327

hieraacuterquica (dendrograma) (Fig 9) utilizando a distacircncia euclidiana seguindo o criteacuterio de 328

Ward O dendrograma gerado apresentou um coeficiente de correlaccedilatildeo cofeneacutetica r= 06780 329

indicando que existe consistecircncia com os dados originais no agrupamento quanto agrave 330

classificaccedilatildeo e estrutura de tal forma que as variedades foram agrupadas em oito classes as 331

quais foram explicadas pelas variaacuteveis mais significativas descritas na tabela 4 332

O resultado do agrupamento (utilizada a distacircncia euclidiana e com o meacutetodo de Ward) 333

observamos que as etnovariedades de mandioca caracterizadas ldquoin siturdquo foram agrupadas em 334

dois grandes agrupamentos indicados na Fig 10 pelos retacircngulos em vermelho A partir dessa 335

anaacutelise percebemos que os caracteres morfoloacutegicos selecionados pelos agricultores natildeo foram 336

suficientes para separar as variedades de macaxeira e mandioca pois em ambos os 337

agrupamentos encontramos tanto macaxeiras quanto mandiocas 338

40

As variedades da classe 1 foram identificadas pelos agricultores pela cor do peciacuteolo 339

(CDP) verde A classe 2 agrupou as etnoveriedades caracterizadas pela protuberacircncia da cicatriz 340

foliar (PCF) mais protuberante Esse descritor segundo os agricultores era identificado como 341

ldquoembriatildeordquo A classe 3 consiste apenas da variedade ldquoMandioca Pretonardquo indicada pela presenccedila 342

de cor do peciacuteolo (CDP) vermelho A classe 4 agrupou trecircs variedades caracterizadas pelos 343

agricultores pela presenccedila de cor coacutertex da raiz (CDR) rosa e cor da polpa da raiacutez (PDR) branca 344

identificadas como ldquoMacaxeira vermelhardquo ldquoMacaxeira Rosa Brancardquo ldquoMacaxeira Rosardquo As 345

variedades agrupadas na classe 5 foras as variedades de mandioca caracterizadas pelos 346

agricultores por apresentarem cor do coacutertex (CDR) da raiacutez branca A classe 6 agrupou 347

variedades identificadas pelos agricultores pela cor do broto foliar (CBF) verde A classe 7 348

consiste apenas da variedade ldquoMacaxeira Sementerdquo identificada pelos agricultores pela cor do 349

peciacuteolo (CDP) roxo e protuberacircncia da cicatriz foliar pouco proeminente Essa variedade 350

segundo os agricultores era fruto do nascimento espontacircneo no roccedilado poreacutem eles geralmente 351

natildeo utilizam essas variedades por apresentarem apenas uma raiz pequena e de baixo 352

rendimento Na classe 8 as variedades foram identificadas pelos agricultores pela cor do peciacuteolo 353

(CDP) verde amarelado e protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) pouco proeminente As 354

ldquoMandioca Isabel de Souzardquo ldquoMandioca Isabel trecircs galhosrdquo segundo os agricultores se 355

diferenciavam pelo maior nuacutemero de caules presentes na variedade ldquoIsabel trecircs galhosrdquo 356

Discussatildeo 357

As sete comunidades estudadas manejavam um nuacutemero consideraacutevel de variedades 358

locais A quantidade de etnovariedades registradas eacute proacutexima a encontrada por Bender et al 359

(2009) e Cavechia et al (2014) em comunidades na regiatildeo sul e sudeste por Oler e Amorozo 360

(2017) em uma comunidade tradicional na regiatildeo centro-oeste Poreacutem foi quantitativamente 361

inferior quando comparada a estudos como os de Elias et al (2001) e Kawa et al (2013) em 362

comunidades na regiatildeo amazocircnica pois possuiacuteam uma alta diversidade Essa alta diversidade 363

41

na regiatildeo amazocircnica pode estar relacionada com o fato de que essa regiatildeo eacute o provaacutevel centro 364

de origem da mandioca (M esculenta) (Allem 1994) 365

As etnovariedades registradas neste estudo estatildeo disponiacuteveis para a maioria dos 366

agricultores dessa regiatildeo e esse fator favorece a circulaccedilatildeo das etnovariedades entre as 367

comunidades locais Por isso haacute semelhanccedilas das etnovariedades utilizadas entre os agricultores 368

da mesma comunidade e entre comunidades vizinhas 369

Parte dos agricultores optam por manter uma alta frequecircncia de variedades mais 370

utilizadas enquanto que outros optam por manter etnovariedades de baixa frequecircncia 371

Conforme discutido por Amorozo (2013) os agricultores escolhem seu acervo de acordo com 372

as necessidades e contexto em que vivem A reduccedilatildeo da diversidade de etnoveriedades por 373

exemplo pode ser impulsionada por fatores que simplificam o sistema como a seleccedilatildeo de 374

etnovariedades para a produccedilatildeo de farinha resultando no cultivo de poucas ou ateacute de uma uacutenica 375

etnovariedade (Peroni amp Hanazaki 2002) mesmo em aacutereas maiores 376

377

Redes de interaccedilatildeo social 378

Com as anaacutelises de rede demonstramos que os agricultores de diferentes comunidades 379

em uma mesma regiatildeo efetivamente trocam variedades de mandioca entre si corroborando 380

com estudos realizados por Emperaire amp Eloy (2008) Pautasso et al (2012) e Cavechia et al 381

(2014) Nesses estudos os autores tambeacutem consideram que as trocas de etnovariedades por 382

meio da rede de intercacircmbio entre os agricultores eacute um mecanismo fundamental para a 383

manutenccedilatildeo da diversidade local 384

A visualizaccedilatildeo da rede demonstrou que entre as comunidades os agricultores 385

compartilham um nuacutecleo de etnovariedades mais utilizadas dentre as quais estatildeo as de maior 386

valor econocircmico e de subsistecircncia Essas de maior frequecircncia satildeo aquelas altamente produtivas 387

utilizadas pelos agricultores para atenderem agraves demandas de mercado por farinha e para o 388

consumo proacuteprio (Kawa et al 2013) 389

42

No entanto observamos que existe outro nuacutecleo de etnovariedades menos frequentes 390

Essas etnovariedades raras podem ser resultantes do processo de experimentaccedilatildeo ou 391

preferecircncias individuais dos agricultores Outra possiacutevel razatildeo para a baixa frequecircncia de 392

algumas etnovariedades poderia ser explicada pela variaccedilatildeo da nomenclatura pelos 393

agricultores que segundo Peroni amp Hanazaki (2002) pode ocorrer durante o processo de troca 394

e introduccedilatildeo de novas variedades aos roccedilados Ainda assim natildeo descartamos a hipoacutetese de que 395

essas etnovariedades raras possam ser provenientes do cruzamento entre variedades diferentes 396

cultivadas da mesma roccedilado ou em roccedilas vizinhas De acordo com Martins (2005) essas 397

variedades fruto de germinaccedilatildeo expentacircnea satildeo incorporadas aos roccedilados pelos agricultores 398

pela curiosidade em experimentar novas variedades agraves suas coleccedilotildees 399

Nesse estudo admitimos que optar por etnovariedades raras entre as comunidades 400

estudadas eacute um comportamento adotado por agricultores que manejam uma maior diversidade 401

corroborando com os estudos de Cavechia et al (2014) e Emperaire et al (2016) em regiotildees 402

uacutemidas Para esses autores etnovaridedades de baixa frequecircncia representam um subconjunto 403

das de alta frequecircncia cultivadas por agricultores que manteacutem a maior diversidade em seus 404

roccedilados Sendo assim inferimos que no geral entre as comunidades satildeo os agricultores 405

generalistas aqueles que cultivam maior diversidade os responsaacuteveis por incorporar novas 406

etnovariedades aos roccedilados 407

As decisotildees dos agricultores em manter o acervo direcionado principalmente para 408

atender a demanda de mercado por exemplo podem levar a uma homogeneizaccedilatildeo nas roccedilas 409

colocando em risco a manutenccedilatildeo da diversidade local (Peroni amp Hanazaki 2002) Como 410

discutido por Elias et al (2000) os agricultores que selecionam apenas um nuacutemero reduzido e 411

especiacutefico de variedades mais produtivas tendem a fazer com que as variedades menos 412

frequentes desapareccedilam ao longo do tempo Essa tendecircndia pode influenciar na capacidade de 413

43

resiliecircncia do sistema assim como dos agricultores em lidar com possiacuteveis adversidades 414

ambientais que possam ocorrer 415

Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 416

No geral os agricultores demonstraram uma tendecircncia em classificarseparar suas 417

diferentes etnovariedades de mandioca a partir da combinaccedilatildeo de um conjunto de sete 418

caracteres morfoloacutegicos distintos e de faacutecil percepccedilatildeo os quais natildeo tem relaccedilatildeo com o uso 419

como por exemplo a cores das raiacutezes caule e folhas Logo consideramos que esses caracteres 420

morfoloacutegicos podem ser considerados como uma forma de classificaccedilatildeo pelos agricultores 421

baseada na capacidade percepccedilatildeo das diferenccedilas morfoloacutegicas que cada etnovariedades 422

apresenta (Boster 1985) Estes resultados nos levam a entender que entre os agricultores o 423

conhecimento sobre a diversidade da mandioca estaacute relacionado ao conhecimento de 424

caracteriacutesticas morfoloacutegicas consistentes 425

A existecircncia de alguns fenoacutetipos comuns nos permitiu avaliar a classificaccedilatildeo da 426

consistecircncia da taxonomia popular entre os agricultores Por exemplo as etnovariedades 427

ldquoMaxaceira Rosardquo e ldquoMacaxeira Rosa Brancardquo e ldquoMacaxeira vermelhardquo foram agrupadas no 428

mesmo cluster (C4) por apresentaram fenoacutetipos semelhantes Notamos que os agricultores 429

classificaram essas variedades de acordo com os traccedilos morfoloacutegicos mais relevantes como a 430

cor do coacutertex da raiz rosa e cor branca da polpa O mesmo ocorreu com as etnovariedades 431

ldquoMandioca varudardquo ldquoMandioca campina da granderdquo e ldquoMandioca campinardquo caracterizadas 432

pela presenccedila do peciacuteolo verde agrupadas no cluster (C1) 433

A partir dessas evidecircncias consideramos a hipoacutetese de que as variedades mesmo 434

apresentando caracteriacutesticas morfoloacutegicas muito semelhantes estatildeo sujeitas a variaccedilatildeo 435

nomenclatural durante o processo a incorporaccedilatildeo aos roccedilados pelos agricultores pois a 436

capacidade para distinguir e nomear variedades entre os agricultores da mesma regiatildeo pode 437

variar (Sambatti et al 2001 Elias et al 2001 Mekbib 2007) Consideramos tambeacutem que pode 438

44

existir variaccedilatildeo geneacutetica entre os indiviacuteduos identificados por um mesmo nome ou entatildeo que 439

os agricultores datildeo o mesmo nome para variedades diferentes E esta situaccedilatildeo pode levar a uma 440

superestimaccedilatildeo ou subestimaccedilatildeo da diversidade de mandioca cultiva nas aacutereas de estudo 441

Sabemos que a mandioca eacute propagada vegetativamente pelos agricultores por meio de 442

estacas em sistemas de agricultura tradicional No entanto alguns variedades produzem flores 443

e sementes que germinam e podem originar outras variedades ou outros clones por meio de 444

fecundaccedilatildeo cruzada (Elias et al 2001) Nesse contexto a etnovariedade ldquoMacaxeira Sementerdquo 445

presente no cluster (C7) trata-se de um uacutenico indiviacuteduo amostrado em uma roccedila de um dos 446

agricultores Esta apresentava algumas caracteriacutesticas morfoloacutegicas distintas das demais 447

reconhecidas pelo agricultor como por exemplo a produccedilatildeo de uma raiz uacutenica e 448

consequentemente de baixo rendimento Encontramos apenas um indiviacuteduo dessa 449

etnovariedade e nossa hipoacutetese de que esta poderia ter sido originada da germinaccedilatildeo da 450

semente mesmo quando 100 dos informantes declararam natildeo dar qualquer importacircncia e 451

descartar essas ldquovariedades-voluntaacuteriasrdquo foi confirmada pelo agricultor que afirmou que se 452

tratava de uma variedade nascida da germinaccedilatildeo da semente Esse comportamento vai de 453

encontro ao estudo de Fraser et al (2012) pois apesar dos agricultores reportarem nas 454

entrevistas que conhecem essas ldquovariedades-voluntaacuteriasrdquo nenhum agricultor faz o uso delas 455

Peroni et al (1999) e Agre et al (2016) analisando morfologicamente as variedades 456

locais de mandioca mantidas por agricultores em sistemas agriacutecolas tropicais tambeacutem 457

demonstraram que os agricultores satildeo coerentes quanto a separaccedilatildeo e identificaccedilatildeo de suas 458

etnovariedades a partir da formaccedilatildeo de grupos de coesos quanto a nomenclatura local utilizada 459

No entanto para o melhor entendimento dessa diversidade aleacutem da caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica 460

o uso de anaacutelises complementares como anaacutelise molecular seria importante para tentar 461

identificar se esses grupos representam a mesma variedade com nomes distintos ou se satildeo 462

variedades distintas com o mesmo nome 463

45

Conclusatildeo 464

O estudo demonstrou que no sistema de manejo da mandioca ao niacutevel de roccedila em 465

comunidades localizadas na regiatildeo semiaacuterida de Pernambuco compotildee uma diversidade 466

intrespeciacutefica de mandioca para atender agraves demandas econocircmicas e de subsistecircncia das 467

populaccedilotildees locais 468

Com relaccedilatildeo a anaacutelise de rede demostramos que haacute um nuacutecleo de etnovariedades 469

fortemente conectado aos agricultores e sua composiccedilatildeo eacute direcionada pelas preferecircncias e 470

necessidades individuais dos agricultores que foram os fatores responsaacuteveis pelo surgimento 471

da estrutura aninhada observada na anaacutelise rede entre as comunidades deste estudo E esse 472

padratildeo aninhado observado contribui na conservaccedilatildeo das etnovariedades mais comuns mas 473

tambeacutem pode resultar em perda daquelas de menor frequecircncia ao longo do tempo 474

A caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica ldquoin siturdquo nos permitiram inferir que os agricultores 475

reconhecem as diferentes caracteriacutesticas morfoloacutegicas de suas cultivares e satildeo coerentes na 476

separaccedilatildeo de suas variedades de mandioca e macaxeira Entretanto esses resultados sugerem a 477

realizaccedilatildeo de um estudo em niacutevel de diversidade geneacutetica exploratoacuterio para identificar se as 478

consistecircncias morfoloacutegicas refletem em consistecircncias geneacuteticas elucidando assim as possiacuteveis 479

confusotildees atribuiacutedas aos nomes das etnovariedades de mandioca 480

Agradecimentos 481

Agradecemos ao liacuteder comunitaacuterio Alexandre O Nascimento aos agricultores e 482

agricultoras das comunidades pela acolhida confianccedila e pela gentileza de compartilharem 483

conosco seus conhecimentos e contribuiacuterem com este estudo Especialmente a Arlindo Ferreira 484

Edgar Antocircnio Joseacute Sebastiatildeo Juvenal Oliveira e Janete Alves Ao Laboratoacuterio de Ecologia e 485

Evoluccedilatildeo de Sistemas Socioecoloacutegicos (LEA - UFPE) E agradecemos ao CNPq pelo apoio 486

com a bolsa de estudos do primeiro autor 487

46

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ANEXOS 615

616

Nome da revista 617

Human Ecology 618

Link de acesso 619

httpsgooglDVLbFj 620

Qualis-CAPES 621

B1 em Biodiversidade 622

623

624

625

626

627

628

629

630

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641

642

52

Figuras 643

644

645

Fig 1 Partes do processo de fabricaccedilatildeo de farinha de mandioca Onde a raspagem b e c 646

processo de trituraccedilatildeo e d peneiramento Foto registrada em Abril de 2017 por Mirela Santos 647

648

649

650

c

d

b

a

53

651

Fig 2 Mapa de localizaccedilatildeo geograacutefica dos Municiacutepios de Altinho e Panelas e das comunidades 652

estudadas na regiatildeo semiaacuterida do Estado de Pernambuco (Elaborado por SANTOS 2018) 653

54

654

655

656

657

Fig 3 Processo de fabricaccedilatildeo da farinha de mandioca Apoacutes a colheita as raiacutezes satildeo lavadas 658

raspadas e trituradas (a) A massa extraiacuteda eacute prensada e coada Ao sair da prensa a massa 659

peneirada (b) e em seguida eacute torrada (c) em fornos artesanais ou parcialmente mecanizados 660

Imagem registrada em janeiro de 2017 na Comunidade do Caratildeo por Mirela Santos 661

662

663

a

b c

55

664

Fig 4 a Sede da Comunidade do Caratildeo b Agricultor transportando a palma forrageira que eacute 665

um exemplo de estrateacutegia adaptativa para suprir a falta de alimento dos animais devido agrave seca 666

c Feira-livre que acontece na comunidade a cada quinze dias Imagem registrada em julho de 667

2016 na Comunidade do Caratildeo por Mirela Santos 668

669

670

Fig 5 a O agricultor nos explicava as mudanccedilas que vem fazendo em seus roccedilados para se 671

adaptar aos longos periacuteodos de seca b Quando o agricultor nos mostrava as diferentes 672

etnovariedades que mantinha em sua roccedila c Durante a pesquisa nos explicavam como era feita 673

a colheita da mandioca e como selecionavam as manivas para o proacuteximo plantio Foto registrada 674

em abril de 2017 na Comunidade do Brejo Velho por Mirela Santos 675

a

b c

c b

a

56 676

677

Fig 6 Possiacuteveis estruturas de rede que descrevem as interaccedilotildees dos agricultores (losango) 678

ligados as etnovariedades (ciacuterculos) que cultivam Onde a Aninhada b Modular c Aleatoacuteria 679

(Fonte Cavechia et al 2014 com adaptaccedilotildees) 680

681

682

683

684

685

686

687

688

689

690

691

692

693

694

695

696

697

a c b

57

698

699

700

701

702

703

704

705

706

707

Fig 7 Correlaccedilatildeo de Spearman entre a diversidade de etnovariedades de mandiocas conhecidas 708

como cultivadas e variedades atualmente cultivadas por agricultor e as variaacuteveis 709

socioeconocircmicas Onde Nvc= nuacutemero de citadas como cultivadas Nve= nuacutemero de variedades 710

atualmente cultivadas Esc= escolaridade Id= idade Gen= gecircnero Tr= tamanho do roccedilado 711

Exp= experiecircncia na agricultura Sld= renda Nr= nuacutemero de roccedilados Cores distintivas 712

representam correlaccedilotildees significativas (Ple005) 713

714

58

715

Fig 8 Modelo individual de rede de etnovariedades de mandioca citadas (esquerda) por 716

agricultores como cultivadas (direita) nos Municiacutepios de Altinho e Panelas As redes foram 717

desenhadas com o pacote bipartite (Dormann et al 2017) usando o software R (R CORE 718

TEAM 2017) 719

720

59

721

Fig 9 Anaacutelise de Correspondecircncia Muacuteltipla das 17 etnovariedades de mandioca considerando 722

os sete descritores morfoloacutegicos utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo em roccedilas de 723

agricultores tradicionais de sete comunidades no semiaacuterido de Pernambuco 724

725

726

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728

729

730

731

732

733

734

735

736

737

McCambadinha

McCampina

McCampinaDaGrande

McCampinaRasteira

McCampinaVaruda

McGauba

McIsabelDeSouza

McIsabelTresGalhos

McOlhoDePombo

McOlhoVerde

McPretinha

McPretona

MxBranca

MxRosa

MxRosaBrancaMxRosaVermelha

MxSemente

CFD_Verde_Arroxeado

CFD_Verde_ClaroCFD_Verde_Escuro

CBF_Roxo

CBF_Verde_ArroxeadoCBF_Verde_Claro

CBF_Verde_Escuro

CDP_Verde

CDP_Verde_Amarelado

CDP_Verde_Avermelhado

CDP_Vermelho

CEC_Cinza

CEC_Dourado

CEC_Laranja

CEC_Marrom_Claro

CEC_Marrom_Escuro

CEC_Prateado

CEC_Verde_AmareladoCicatriz_M

Cicatriz_P

PDR_Branco

PDR_Creme

CDR_BrancoCDR_Creme CDR_Rosa

-4

-2

0

2

4

-4 -2 0 2 4

Dim1 (206)

Dim

2 (

162

)

MCA - Biplot

00

10

Hierarchical Clustering

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McC

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pin

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McC

am

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05

10

15

Hierarchical Classification

Heig

ht

C1 C2 C3 C4 C5 C6 C7 C8

Fig 10 Agrupamento hieraacuterquico das 17 etnovariedades de mandioca caracterizadas de acordo

com os descritores utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo

60

Tabelas 738

739

Tabela 1 Caracteres e estados utilizados pelos agricultores como descritores botacircnicos para 740

caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das etnovariedades de mandioca 741

Caracter Sigla Estados

Folha

Cor da folha desenvolvida CFD 1- verde claro 2- verde escuro 3- verde arroxeado 4- roxo

Cor do broto foliar CBF 1- verde claro 2- verde escuro 3- verde arroxeado 4- roxo

Cor do peciacuteolo CDP 1- verde amarelado 2- verde 3- verde avermelhado 4- roxo

5- vermelho

Caule

Cor externa do caule CEC 1- laranja 2- verde amarelado 3- dourado 4- marrom claro

5- prateado 6- cinza 7- marrom escuro 8- verde

Protuberacircncia da cicatriz foliar PCF 1- pouco proeminente 2- muito proeminente

Raiacutez

Cor da poupa da raiz PDR 1- branco 2- creme

Cor do coacutertex da raiacutez CDR 1- rosa 2- branco 3- creme

742

743

744

745

746

747

748

749

750

751

61

Tabela 2 Lista das 22 etnovariedades de mandiocas citadas (132 citaccedilotildees) como cultivadas nas 752

comunidades pertencentes aos Municiacutepios de Altinho (Caratildeo n=8) e ao Municiacutepio de Panelas 753

(Aracuatilde Satildeo Joseacute do Bola Brejo Velho Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima e Lajeiro 754

Dantas n=21) 755

Etnovariedade Frequecircncia () Ranking Saliecircncia

Macaxeira Rosa 66 179 0472

Mandioca Isabel de Souza 48 179 0372

Mandioca Campina 24 217 0148

Macaxeira Branca 20 210 0134

Macaxeira Rosa branca 18 122 0168

Mandioca Pretona 16 338 0082

Mandioca Cambadinha 12 283 0071

Mandioca Isabel trecircs galhos 10 180 0075

Mandioca Gauacuteba 10 260 0070

Mandioca Pretinha 8 225 0053

Mandioca Peacute de pombo 4 400 0011

Mandioca Olho verde 4 350 0012

Macaxeira Rosinha 4 200 0027

Mandioca Campina varuda 4 200 0032

Mandioca Campina rasteira 4 300 0021

Mandioca Caboquinha 2 500 0007

Macaxeira Rasteira 2 200 0013

Macaxeira Paraacute 2 100 0020

Mandioca Barra ferro 2 300 0007

Mandioca Campina da grande 2 100 0020

Mandioca Olho de pombo 2 300 0010

Mandioca Jasmim 2 600 0006

756

757

758

62

Tabela 3 Lista de 17 etnovariedades atualmente cultivadas nos roccedilados das comunidades em 759

estudo 760

Ca Ar Bo Br Jb Jc Ld

Etnovariedade

Macaxeira Branca x x x x

Macaxeira Rosa

x x x x x x

Macaxeira Rosa Branca x x x x

Macaxeira Rosa Vermelha

x

Macaxeira Semente

x

Mandioca Cambadinha x

x

Mandioca Campina

x

x

x

Mandioca Campina da Grande x

Mandioca Campina Rasteira

x

Mandioca Campina Varuda

x

Mandioca Gauacuteba

x

Mandioca Isabel de Souza

x x x

Mandioca Isabel trecircs Galhos

x

x

Mandioca Olho de Pombo

x

Mandioca Olho Verde

x

Mandioca Pretinha

x

Mandioca Pretona x x x

Comunidades Ca= Caratildeo Ar=Aracuatilde Bo= Satildeo Joseacute do Bola Jb= Japaranduba de Baixo 761

Jc= Japaranduba de Cima Ld= Lajedo Dantas 762

763

764

765

766

767

768

63

Tabela 4 Descriccedilatildeo das classes do agrupamento por meacutetodo de Ward agrupadas pelo conjunto 769

dos descritores mais significativos para a caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das variedades de mandioca 770

Classes Descritores in situ p-valor

C1 Cor do peciacuteolo (CDP) 0016

C2 Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023

C3 Cor do peciacuteolo (CDP) 0012

C4 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0004

Cor da poupa da raiacutez (PDF) 0021

C5 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0003

C6 Cor do broto foliar (CBF) 0002

C7 Cor da folha desenvolvida (CFD) 0004

Cor externa do caule (CEC) 0040

C8 Cor do peciacuteolo (CDP) 0005

Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023

Valores de Ple005 satildeo significativos 771

772

ix

LISTA DE FIGURAS

INTRODUCcedilAtildeO GERAL E REVISAtildeO DE LITERATURA

Fig 1 Partes do processo de fabricaccedilatildeo de farinha de mandioca Onde a raspagem b e c

processo de trituraccedilatildeo e d peneiramento 52

VARIACcedilAtildeO INTRAESPECIacuteFICA CONHECIMENTO E MANEJO LOCAL DE

MANDIOCA (Manihot esculenta Crantz) NO SEMIAacuteRIDO DE PERNAMBUCO

NORDESTE DO BRASIL

Fig 2 Mapa de localizaccedilatildeo geograacutefica dos Municiacutepios de Altinho e Panelas e das comunidades

estudadas na regiatildeo semiaacuterida do Estado de Pernambuco 53

Fig 3 Processo de fabricaccedilatildeo da farinha de mandioca Apoacutes a colheita as raiacutezes satildeo lavadas

raspadas e trituradas (a) A massa extraiacuteda eacute prensada e coada Ao sair da prensa a massa

peneirada (b) e em seguida eacute torrada (c) em fornos artesanais ou parcialmente mecanizados

54

Fig 4 a Sede da Comunidade do Caratildeo b Agricultor transportando a palma forrageira que eacute

um exemplo de estrateacutegia adaptativa para suprir a falta de alimento dos animais devido agrave seca

c Feira-livre que acontece na comunidade a cada quinze dias 55

Fig 5 a O agricultor nos explicava as mudanccedilas que vem fazendo em seus roccedilados para se

adaptar aos longos periacuteodos de seca b Quando o agricultor nos mostrava as diferentes

etnovariedades que mantinha em sua roccedila c Durante a pesquisa nos explicavam como era

feita a colheita da mandioca e como selecionavam as manivas para o proacuteximo plantio 55

Fig 6 Possiacuteveis estruturas de rede que descrevem as interaccedilotildees dos agricultores (losango)

ligados as etnovariedades (ciacuterculos) que cultivam Onde a Aninhada b Modular c Aleatoacuteria

56

Fig 7 Correlaccedilatildeo de Spearman entre a diversidade de etnovariedades de mandiocas conhecidas

como cultivadas e variedades atualmente cultivadas por agricultor e as variaacuteveis

socioeconocircmicas Onde Nvc= nuacutemero de citadas como cultivadas Nve= nuacutemero de variedades

atualmente cultivadas Esc= escolaridade Id= idade Gen= gecircnero Tr= tamanho do roccedilado

Exp= experiecircncia na agricultura Sld= renda Nr= nuacutemero de roccedilados Cores distintivas

representam correlaccedilotildees significativas (Ple005) 57

Fig 8 Modelo individual de rede de etnovariedades de mandioca citadas (esquerda) por

agricultores como cultivadas (direita) nos Municiacutepios de Altinho e Panelas As redes foram

x

desenhadas com o pacote bipartite (Dormann et al 2017) usando o software R (R CORE

TEAM 2017) 58

Fig 9 Anaacutelise de Correspondecircncia Muacuteltipla das 17 etnovariedades de mandioca considerando

os sete descritores morfoloacutegicos utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo em roccedilas de

agricultores tradicionais de sete comunidades no semiaacuterido de Pernambuco 59

Fig 10 Agrupamento hieraacuterquico das 17 etnovariedades de mandioca caracterizadas de acordo

com os descritores utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo 59

xi

LISTA DE TABELAS

CAPIacuteTULO IVARIACcedilAtildeO INTRAESPECIacuteFICA CONHECIMENTO E MANEJO

LOCAL DE MANDIOCA (Manihot esculenta Crantz) NO SEMIAacuteRIDO DE

PERNAMBUCO NORDESTE DO BRASIL

Tabela 1 Caracteres e estados utilizados pelos agricultores como descritores botacircnicos para

caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das etnovariedades de mandioca 60

Tabela 2 Lista das 22 etnovariedades de mandiocas citadas (132 citaccedilotildees) como cultivadas nas

comunidades pertencentes aos Municiacutepios de Altinho (Caratildeo n=8) e ao Municiacutepio de Panelas

(Aracuatilde Satildeo Joseacute do Bola Brejo Velho Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima e Lajeiro

Dantas n=21) 61

Tabela 3 Lista de 17 etnovariedades atualmente cultivadas nos roccedilados das comunidades em

estudo 62

Tabela 4 Descriccedilatildeo das classes do agrupamento por meacutetodo de Ward agrupadas pelo conjunto

dos descritores mais significativos para a caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das variedades de mandioca

63

xii

SUMAacuteRIO

RESUMO GERAL xiii

1 Introduccedilatildeo Geral 14

2 Revisatildeo bibliograacutefica 17

21 Manihot esculenta Crantz e conhecimento local de agricultores tradicionais 17

22Manejo tradicional em roccedilas e diversidade intraespeciacutefica da mandioca 18

23 Redes sociais de troca e circulaccedilatildeo de etnovariedades de mandioca 20

3 Referecircncias bibliograacuteficas 22

VARIACcedilAtildeO INTRAESPECIacuteFICA CONHECIMENTO E MANEJO LOCAL DE

MANDIOCA (Manihot esculenta Crantz) NO SEMIAacuteRIDO DE PERNAMBUCO

NORDESTE DO BRASIL 25

Resumo 26

Introduccedilatildeo 27

Material e meacutetodos 29

Resultados 36

Discussatildeo 40

Conclusatildeo 45

Agradecimentos 45

Referecircncias bibliograacuteficas 46

ANEXOS 51

xiii

RESUMO GERAL

Agricultores de pequena escala que praticam agricultura de modo tradicional em roccedilas

desempenham um importante papel na geraccedilatildeo manutenccedilatildeo e conservaccedilatildeo da

agrobiodiversidade local Dentre as espeacutecies mais cultivadas em roccedilas a Manihot esculenta

Crantz (mandioca) em sua diversidade intrespeciacutefica eacute um dos recursos agriacutecolas de maior

importacircncia econocircmica e de subsistecircncia para diversas populaccedilotildees locais no mundo Acredita-

se que as praacuteticas de manejo dedicadas ao cultivo da mandioca associadas ao conhecimento de

agricultores resultam no aumento da diversidade intraespeciacutefica assim como na conservaccedilatildeo

dessa diversidade Diante disso a pesquisa teve como objetivo compreender os processos

envolvidos na dinacircmica da diversidade agriacutecola da mandioca por meio do acesso ao

conhecimento dos agricultores quanto as praacuteticas de menejo e entender quais fatores podem

estar relacionados a geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da diversidade local Para isso o estudo foi

desenvolvido junto a agricultores tradicionais de sete comunidades rurais localizadas na regiatildeo

semiaacuterida do estado de Pernambuco A abordagem metodoloacutegica foi baseada em entrevistas

semiestruturadas conversas com os informantes e visitas aos roccedilados para caracterizar e

compreender a importacircncia manejo da agricultura de sequeiro e das redes sociais estabelecidas

entre os agricultores bem como identificar as variedades de mandioca atualmente cultivadas

A partir do conhecimento da diversidade manejada analisamos a estrutura da rede de interaccedilatildeo

social formada pelas trocas de etnovariedades entre os agricultores A partir destas informaccedilotildees

discutimos sobre o importante papel dos agricultores na manutenccedilatildeo do conjunto de

etnovariedades regionais Um total de 22 etnovariedades foram citadas as quais satildeo

identificadas pelos agricultores principalmente por meio de sete caracteres morfoloacutegicos A

estrutura em redes de trocas de variedades favorece a manutenccedilatildeo e amplificaccedilatildeo das diferentes

variedades locais

Palavras-Chave Agricultura tradicional Agricultura de sequeiro Agrobiodiversidade

Plantas alimentiacutecias Redes sociais

xiv

ABSTRACT

Small-scale farmers who practice traditional agriculture fields have an important role in

generation maintenance and conservation of local agrobiodiversity Among the most cultivated

species the Manihot esculenta Crantz (cassava) in its intrespecific diversity is one of the

moust important agricultural resources of economic importance and livelihood for many local

people in the world It is believed that the management practices dedicated to the cultivation of

cassava associated with the knowledge of farmers result in increased intraspecific diversity

and the conservation of this diversity Therefore the research aimed to understand the processes

involved in the dynamics of agricultural diversity of cassava through access the knowledge of

farmers as the management of practices and understand what factors may be related to the

generation and maintenance of local diversity For this the study was developed with the

traditional farmers of seven rural communities located in the semiarid region of the state of

Pernambuco The methodological approach was based on semi-structured interviews

conversations with informants and visits to fields to characterize and understand the

importance of management of dry framing and social networks established between farmers

and to identify the cassava varieties currently grown From the knowledge of managed

diversity we analyze the structure of social interaction network formed by the exchange of

landraces among farmers From this information We discussed the important role of farmers

in the overall regional landraces maintenance A total of 22 landraces were cited which are

identified by farmers mainly through seven morphological characters The structure of

varieties sharing networks favors the maintenance and amplification of different local varieties

Keywords Agrobiodiversity Dry Farming Food plants Social networks Traditional

agriculture

14

1 Introduccedilatildeo Geral

Ao longo dos anos populaccedilotildees tradicionais foram adquirindo aprimorando e transmitindo

seus conhecimentos sobre o manejo dos recursos naturais existentes em suas respectivas

regiotildees e assim foram desenvolvendo teacutecnicas para se adaptar e sobreviver ao ambiente Essas

populaccedilotildees foram domesticando uma grande variedade de espeacutecies de plantas alimentiacutecias

numa agricultura de pequena escala (BALLEacute 2006 CLEMENT et al 2010)

Essa interaccedilatildeo pessoas-planta por meio do cultivo e manejo das espeacutecies vegetais vem

contribuindo para ambos com alteraccedilotildees adaptativas por meio da seleccedilatildeo artificial Essas

alteraccedilotildees resultaram em mudanccedilas na estrutura geneacutetica das espeacutecies vegetais pelo manejo da

seleccedilatildeo de caracteriacutesticas fenotiacutepicas fisioloacutegicas e econocircmicas das plantas E essa seleccedilatildeo

consciente ou inconsciente das plantas se traduz em uma grande variaccedilatildeo intraespeciacutefica nas

populaccedilotildees vegetais sob diferentes regimes de manejo (CARMONA CASAS 2005)

Por meio do cultivo agricultores em comunidades tradicionais desempenham um papel

fundamental no processo dinacircmico de geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da agrobiodiversidade local em

sistemas de roccedilas Essas roccedilas satildeo aacutereas de agricultura tradicional localizadas dentro de

comunidades caracterizadas natildeo soacute pelo grande nuacutemero espeacutecies cultivadas mas tambeacutem pela

alta diversidade intraespeciacutefica que essas espeacutecies apresentam (MARTINS 2005) Dentre as

espeacutecies comumente cultivadas nesse sistema a mandioca (Manihot esculenta Crantz

Euphorbiaceae) eacute considerada uma cultura de alto valor econocircmico nutricional utilitaacuterio

cultural e social para muitas populaccedilotildees humanas no mundo (CLEMENT et al 2010) Aleacutem

disso a mandioca apresenta uma grande diversidade intraespeciacutefica e por essas caracteriacutesticas

tornou-se uma espeacutecie-modelo para compreender como os diferentes padrotildees e estrateacutegias de

manejo adotadas pelos agricultores podem influenciar na diversidade local (ELIAS et al 2001

EMPERAIRE PERONI 2007 EMPERAIRE ELOY 2008)

Segundo PERONI amp MARTINS (2000) as diferentes praacuteticas de manejo desse

importante recurso favorecem a alta diversidade intraespeciacutefica em roccedilas de agricultura

itinerante1 Um dos fatores responsaacuteveis pela geraccedilatildeo dessa diversidade consiste na capacidade

de incorporaccedilatildeo de novos germoplasmas por meio da reproduccedilatildeo sexuada associada ao manejo

agriacutecola tradicional (PUJOL et al 2005 EMPERAIRE PERONI 2007) Apesar de propagada

1 Agricultura caracterizada por ciclos de uso e pousio como por exemplo corte e queima

15

vegetativamente pelos agricultores a mandioca (M esculenta) ainda manteacutem a sua capacidade

de reproduccedilatildeo sexual sendo este um aspecto muito importante para dinacircmica evolutiva da

cultura (PUJOL et al 2007 CLEMENT et al 2010) Apoacutes a fecundaccedilatildeo cruzada e dispersatildeo

das sementes um banco destas eacute formado no solo e as novas variedades germinam nas roccedilas

(MARTINS 2005) Antes de serem imcorporadas ao acervo essas lsquolsquovariedades-voluntaacuteriasrsquorsquo

passam por um filtro cultural ou seja seratildeo reconhecidas pelos agricultores por meio de

caracteriacutesticas morfoloacutegicas experimentadas e entatildeo selecionadas (MARTINS OLIVEIRA

2009)

Outro evento envolvido na geraccedilatildeo de diversidade intraespeciacutefica eacute incorporaccedilatildeo de

novas variedades de mandioca por meio de uma rede social de troca de material propagativo

estabelecida entre os agricultores (CAVECHIA et al 2014) Esse mecanismo permite a

circulaccedilatildeo das manivas2 tanto a niacutevel local quanto regional permite tambeacutem o acesso aos

diferentes conjuntos de variedades cultivadas entre as comunidades e ainda que o conjunto de

etnovariedades3 locais eou regionais seja conservado (EMPERAIRE ELOY 2008) Dentro

dessas redes sociais de troca as relaccedilotildees entre os agricultores atuam como mecanismo

fundamental para dispersatildeo e experimentaccedilatildeo das etnovariedades entre as roccedilas E satildeo essas

relaccedilotildees e decisotildees estabelecidas entre os agricultores que iratildeo definir quais etnovariedades

seratildeo mantidas ao longo do tempo e quais seratildeo abandonadas (LIMA et al 2012)

Sendo os agricultores e as interaccedilotildees entre eles fundamentais para o estabelecimento da

diversidade local (PINTON EMPERAIRE 2001 EMPERAIRE ELOY 2008) torna-se

pertinente entender como as diferentes estrateacutegias adotadas pelos agricultores influenciam na

dinacircmica da agrobiodiversidade local Muitos trabalhos com esse enfoque foram desenvolvidos

nas regiotildees Amazocircnica e Sudeste mas pouco se discute sobre a dinacircmica da agrobiodiversidade

em regiotildees semiaacuteridas

Nesse sentido o presente estudo visa investigar as interaccedilotildees entre agricultores

tradicionais de comunidades rurais estabelecidas na regiatildeo semiaacuterida de Pernambuco O

objetivo geral eacute compreender os processos envolvidos na dinacircmica da diversidade agriacutecola por

meio do acesso ao conhecimento dos agricultores quanto as praacuteticas de menejo e entender quais

quais fatores podem estar relacionados a geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da diversidade local Para esse

estudo a mandioca foi escolhida como modelo devida agrave sua importacircncia econocircmica e de

subsistecircncia para comunidades locais Os objetivos especiacuteficos foram (i) caracterizar o manejo

2 Satildeo pedaccedilos das hastes ou ramas da mandioca usadas para o plantio 3 Variedades intraespeciacuteficas de mandioca (M esculenta) identificadas pelos agricultores por nomenclatura

popular local (Martins 2005)

16

da agricultura de sequeiro bem como analisar se os paracircmetros socioeconocircmicos influenciam

na diversidade local (ii) registrar as etnovariedades atualmente cultivadas e identificar os

diferentes criteacuterios morfoloacutegicos utilizados pelos agricultores para a seleccedilatildeo e classificaccedilatildeo das

etnovariedades e (iii) descrever a estrutura da rede de interaccedilatildeo entre os agricultores e a

diversidade de etnovariedades de mandioca cultivadas para tentar entender como essas relaccedilotildees

podem influenciar na manutenccedilatildeo ou perda da diversidade local

a

b c

17

2 Revisatildeo bibliograacutefica

21 Manihot esculenta Crantz e conhecimento local de agricultores tradicionais

O gecircnero Manihot Miller (Euforbiaceae) possui cerca de 98 espeacutecies distribuiacutedas em 19

seccedilotildees das quais 13 delas ocorrem no Brasil (ROGERS APPAN 1973) Dentre as espeacutecies do

gecircnero Manihot esculenta Crantz (mandioca) eacute a principal cultivar uma vez que compotildee a

base da dieta alimentar de diversas populaccedilotildees rurais principalmente em regiotildees tropicais A

mandioca foi domesticada na Ameacuterica do Sul pois eacute onde se encontra o maior centro de

diversificaccedilatildeo Estudos relacionados ao entendimento de sua origem botacircnica tecircm contribuiacutedo

para a compreensatildeo das accedilotildees humanas no processo de domesticaccedilatildeo e ampliaccedilatildeo da

diversidade da espeacutecie (OLSEN SCHAAL 1999 ELIAS et al 2004 ELLEN 2012)

As diferentes variedades da espeacutecie satildeo reconhecidas em dois grandes grupos principais

o das variedades mais toacutexicas e o de variedades menos toacutexicas baseadas no potencial de

glicosiacutedeos cianogecircnicos (HCN) contido na polpa das raiacutezes (ELIAS et al 2004) Variedades

com baixa toxicidade contecircm baixas concentraccedilotildees de glicosiacutedeos cianogecircnicos (HCNlt100

mgKg-1) e satildeo conhecidas em comunidades agriacutecolas variando entre regiotildees ou grupos eacutetnicos

como ldquomacaxeirasrdquo ldquomandiocas doces ou mansasrdquo ou ldquoaipinsrdquo As variedades mais toacutexicas

com altas concentraccedilotildees de HCN (HCNgt 100 mgKg-1) satildeo reconhecidas como ldquomandiocasrdquo

ou ldquomandiocas amargas ou bravasrdquo (PERONI et al 2007 MCKEY et al 2010) E portanto

precisam passar por um processo de desintoxicaccedilatildeo para se tornarem aptas ao consumo como

por exemplo pelo processo de fabricaccedilatildeo da farinha de mandioca (Fig 1) Apesar do seu

potencial toacutexico as variedades amargas possuem teores mais elevados de amido e se adaptam

bem a solos pobres e aacutecidos aleacutem de serem mais resistentes aos patoacutegenos e pragas em

comparaccedilatildeo com as variedades doces (FRASER et al 2010)

Sob o ponto de vista botacircnico esta dicotomia natildeo eacute reconhecida mas existem alguns

trabalhos que evidenciam a relaccedilatildeo entre a coerecircncia da taxonomia popular com a diferenciaccedilatildeo

geneacutetica para separaraccedilatildeo das variedades ldquodocesrdquo e ldquoamargasrdquo (ELIAS et al 2004 PERONI

et al 2007) O conhecimento das caracteriacutesticas morfoloacutegicas das plantas e a coerecircncia na

identificaccedilatildeo dessas variedades com niacuteveis distintos de HCN eacute de grande importacircncia

adaptativa para as populaccedilotildees que gerem esse recurso sobretudo pelo risco de intoxicaccedilatildeo

(RIVAL MCKEY 2008)

18

No estudo realizado por AMOROZO (2000) por exemplo os agricultores geralmente

classificavam as variedades que tinham raiacutezes brancas como ldquobravasrdquo e aquelas que tinham

raiacutezes vermelhas como ldquomansasrdquo embora eles reconhecessem algumas exceccedilotildees Em pesquisas

realizados por FARALDO et al (2000) MKUMBIRA et al (2003) ELIAS et al (2004) e

PERONI et al (2007) os agricultores foram consistentes na distinccedilatildeo de suas variedades

lsquolsquodocesrdquo e ldquoamargasrsquorsquo e com base no conhecimento de caracteres morfoloacutegicos distintos os

nomes das variedades refletiram na diversidade geneacutetica A partir dessas evidecircncias podemos

inferir que o conhecimento local dos agricultores associado agrave experiecircncia eacute importante natildeo

somente para o reconhecimento das variedades locais por si soacute mas tambeacutem por conter

informaccedilotildees relevantes sobre o papel que esses recursos podem desempenhar nos sistemas

agriacutecolas de pequena escala e para as populaccedilotildees locais (GADGIL et al 1993)

O conhecimento tradicional dos agricultores trata-se de um conjunto de saberes praacuteticas

e crenccedilas baseadas no contato direto nas observaccedilotildees experimentaccedilotildees diaacuterias e nas

dependecircncias econocircmicas eou de subsistecircncia dos recursos que satildeo geralmente transmitidas

oralmente dentro e entre as geraccedilotildees (AMOROZO 2000 DOMINGUES ARRUDA 2001

BEGOSSI 2004) Sendo assim o conhecimento tradicional de agricultores que praticam a

agricultura de pequena escala realizada em comunidades tradicionais eacute importante pois tem

garantido a perpetuaccedilatildeo dos conhecimentos e das praacuteticas agriacutecolas desenvolvidas durante

milhares de anos entre os agroecossistemas locais

22 Manejo tradicional em roccedilas e diversidade intraespeciacutefica da mandioca

A agricultura de pequena escala praticada em comunidades locais tem garantido a

perpetuaccedilatildeo do conhecimento sobre o manejo e a diversidade de espeacutecies agriacutecolas O sistema

de cultivo em roccedilas eacute tipicamente praticado por agricultores de comunidades tradicionais em

aacutereas uacutemidas no mundo inteiro As roccedilas satildeo aacutereas de cultivo de pequena escala localizadas

dentro de comunidades proacuteximas umas das outras que se tornaram objeto de estudo em vaacuterias

pesquisas antropoloacutegicas etnobotacircnicas geneacuteticas e ecologias especialmente por apresentarem

grande diversidade de espeacutecies cultivadas e pelo manejo destinar-se agrave subsistecircncia de grupos

familiares de agricultores de pequena escala (PUJOL et al 2007)

Aleacutem da diversidade de espeacutecies outra caracteriacutestica dessas roccedilas eacute o grande nuacutemero de

variedades dentro de cada espeacutecie Esta diversidade intraespeciacutefica pode ser referida como

etnovariedades que eacute um termo utilizado para definir grupos de indiviacuteduos identificados por

19

nomenclatura popular local a qual pode expressar elementos do contexto cultural econocircmico

e social das populaccedilotildees associado ao uso (PERONI MARTINS 2000 EMPERAIRE

PERONI 2007)

Dentre as vaacuterias espeacutecies cultivadas em roccedilas a mandioca (M esculenta) em seu

nuacutemero de etnovariedades eacute uma das principais culturas de importacircncia econocircmica e

nutricional para populaccedilotildees que utilizam esse sistema Sua diversidade pode estar relacionada

ao sistema reprodutivo da cultura ao modo de gestatildeo da agricultura pelas pressotildees de seleccedilatildeo

exercidas pelo proacuteprio homem ou ateacute mesmo por causas naturais (MARTINS 2005

CLEMENT et al 2010)

As caracteriacutesticas de manejo empregadas no cultivo da mandioca em roccedilas favorecem

a elevada diversidade intraespeciacutefica dessa cultura O modo de propagaccedilatildeo da mandioca eacute feito

pelos agricultores por meios de estacas (manivas) que satildeo selecionadas de acordo com as

caracteriacutesticas desejaacuteveis que elas apresentam seja para fins econocircmicos ou utilitaacuterios Apesar

de propagada vegetativamente que eacute um meacutetodo usado pelas populaccedilotildees humanas para plantio

e multiplicaccedilatildeo de plantas a mandioca natildeo perdeu a sua capacidade de reproduccedilatildeo sexual

sendo esse um aspecto importante para dinacircmica evolutiva da cultura (PUJOL et al 2007)

Esse meacutetodo de propagaccedilatildeo permite o fluxo e a circulaccedilatildeo do material geneacutetico entre os

diferentes roccedilados por meio de um sistema de redes sociais de troca de etnovariedade de

mandioca entre os agricultores tanto a niacutevel regional (entre comunidades) quanto em escalas

menores (entre vizinhos e parentes) (ELIAS et al 2004 EMPERAIRE OLIVEIRA 2010)

Segundo Emperaire e Peroni (2007) esse mecanismo de troca de germoplasma eacute uma grande

forccedila de dispersatildeo que resulta na agrobiodiversidade regional mais elevada pois estabelece

viacutenculos entre as diferentes roccedilas e promove oportunidades de seleccedilatildeo e cruzamento entre as

diferentes etnovariedades (EMPERAIRE ELOY 2008)

Atributo bioloacutegicos da espeacutecie tambeacutem estatildeo relacionados com o aumento da

diversidade intrespeciacutefica como a capacidade de dormecircncia das sementes e a dispersatildeo

autocoacuterica que propiciam o desenvolvimento de um banco de sementes no solo ao longo do

tempo permitindo o cruzamento entre as novas variedades adquiridasplantadas e entre estas

com variedades que existiram anterioemente na mesma aacuterea (PERONI MARTINS 2000

MARTINS 2005) A presenccedila dessas ldquoplantas-voluntaacuteriasrdquo ou seja aquelas nascidas de

germinaccedilatildeo expontacircnea eacute um dos eventos identificados como precursores de diversidade

intraespeciacutefica nas populaccedilotildees de mandioca cultivadas (PUJOL et al 2007)

20

Contudo muitos esforccedilos vecircm sendo empregados em estudos que observam a ecologia

da mandioca e o manejo agriacutecola associado agrave geraccedilatildeo de diversidade varietal e geneacutetica na

espeacutecie para tentar entender como esses mecanismos influenciam na diversidade de

etnovariedades locais e na sua dinacircmica (PUJOL et al 2007 KOMBO et al 2012 ELIAS et

al 2001)

23 Redes sociais de troca e circulaccedilatildeo de etnovariedades de mandioca

Sistemas agriacutecolas de pequena escala dependem de uma grande diversidade de espeacutecies e

variedades cultivadas e do fluxo destas por meio de redes sociais de troca material vegetativo

estabelecidas entre agricultores podendo o alcance da circulaccedilatildeo variar em escala local eou

regional (EMPERAIRE ELOY 2008) As trocas dependem de dois mecanismos principais

dos padrotildees de interaccedilatildeo social entre os agricultores e dos padrotildees de uso dos recursos

(CAVECHIA et al 2014) e as redes variam em funccedilatildeo das caracteriacutesticas culturais

econocircmicas e sociais das comunidades (EMPERAIRE PERONI 2007 PAUTASSO et al

2012)

No caso da mandioca (Manihot esculenta Crantz) a propagaccedilatildeo se da por estaquia o que

favorece a troca de material de vegetativo entre os agricultores e permite o fluxo entre

variedades locais e regionais (MARTINS 2005) As trocas de variedades de mandioca entre os

agricultores geralmente acontecem por alguma circunstacircncia que leve o agricultor a pedir o

material propagativo para o plantio com por exemplo para o plantio de uma nova roccedila ou por

alguma fitopatologia deslocaccedilatildeo ou estaccedilotildees de chuva e seca prolongadas (EMPERAIRE et

al 2001 EMPERAIRE ELOY 2008) Em alguns casos como no de algumas comunidades

agriacutecolas de pequena escala as redes de casamento satildeo utilizadas para a circulaccedilatildeo de

variedades (EMPERAIRE PERONI 2007 DELEcircTRE et al 2011)

O processo de manutenccedilatildeo da diversidade nesses sistemas resulta do interesse ou da

necessidade do agricultor em adquirir ou abandonar variedades testar e selecionar novas

etnovariedades de mandioca Dentre os fatores que dirigem a seleccedilatildeo de etnovariedades estatildeo

as preferecircncias individuais dos agricultores Alguns podem optar por cultivar todas as

etnovariedades comuns eou disponiacuteveis na regiatildeo enquanto que outros optam apenas por

manter um conjunto especiacutefico dessa diversidade (CAVECHIA et al 2014) Seja para atender

a alguma demanda individual pelo interesse em aumentar a produtividade ou pela necessidade

21

de conservar o material vegetativo para o proacuteximo plantio no caso de perda de material por

algum fator ambiental adverso (EMPERAIRE et al 2001 EMPERAIRE ELOY 2008)

Nesse sentido satildeo os agricultores os maiores responsaacuteveis por determinar como e quais

etnovariedades seratildeo compartilhadas e mantidas entre as comunidades (PAUTASSO et al

2012) E a chave para a compreensatildeo da dinacircmica da diversidade varietal eacute por meio desse

intercacircmbio e dos fatores que influenciam essa conectividade entre as comunidades pois essas

redes representam um grande impacto sobre a diversidade de variedades cultivadas E eacute por

meio dessas redes que se diminui coletivamente os riscos de perda total de diversidade geneacutetica

local (EMPERAIRE ELOY 2008)

Desse modo as relaccedilotildees estabelecidas pelos agricultores entre as comunidades por meio

das redes troca de germoplasma podem ter consequecircncias importantes sobre a diversidade

varietal da mandioca E compreender os processos envolvidos na manutenccedilatildeo ou perda de

germoplasma nos sistemas agriacutecolas eacute importante uma vez que compreendendo a maneira

como os agricultores usam esse conjunto de etnovariedades de mandioca e as compartilham

vai trazer importantes discussotildees a cerca da qualidade e a quantidade do recurso que seraacute

mantido transmitido ou perdido dentro dos sistemas ao longo do tempo

22

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25

VARIACcedilAtildeO INTRAESPECIacuteFICA CONHECIMENTO E MANEJO

LOCAL DE MANDIOCA (Manihot esculenta Crantz) NO SEMIAacuteRIDO DE

PERNAMBUCO NORDESTE DO BRASIL

Artigo submetido ao perioacutedico Human Ecology

Normas para submissatildeo em anexos

26

Variaccedilatildeo intraespeciacutefica conhecimento e manejo local de mandioca 1

(Manihot esculenta Crantz) no semiaacuterido de Pernambuco Nordeste do 2

Brasil 3

Mirela Nataacutelia Santos12 Jhonatan Rafael Zaacuterate-Salazar1 Reginaldo de Carvalho1 amp 4

Ulysses Paulino de Albuquerque2 5

6

1 Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo em Botacircnica Departamento de Biologia Rua Dom Manuel de Medeiros 7

Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) sn Dois Irmatildeos Recife Pernambuco 52171-8

900 Brasil 9

2 Laboratoacuterio de Ecologia e Evoluccedilatildeo de Sistemas Socioecoloacutegicos (LEA) Departamento de Botacircnica 10

Avenida Professor Moraes Rego Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) sn Cidade 11

Universitaacuteria Recife Pernambuco 50670-901 Brasil 12

Resumo 13

Historicamente a espeacutecie Manihot esculenta Crantz (mandioca) eacute uma espeacutecie de grande valor 14

econocircmico e de subsistecircncia para populaccedilotildees em comunidades tradicionais Variedades de 15

mandioca satildeo selecionadas com base nos interesses dos agricultores conduzindo uma evoluccedilatildeo 16

especiacutefica sobre a geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da agrobiodiversidade local Diante disso a mandioca 17

tornou-se espeacutecie-modelo em estudos que buscam compreender como os padrotildees e estrateacutegias 18

adotadas pelas populaccedilotildees humanas influenciam na diversidade intraespeciacutefica local em regiotildees 19

tropicais No entanto os fatores que influenciam a diversidade da mandioca em regiotildees 20

semiaacuteridas ainda natildeo foram bem documentados Nesse sentido objetivo geral do estudo foi 21

compreender os processos envolvidos na dinacircmica da diversidade agriacutecola em sete 22

comunidades tradicionais localizadas na regiatildeo semiaacuterida do estado de Pernambuco (Nordeste 23

do Brasil) por meio do acesso ao conhecimento dos agricultores quanto as praacuteticas de menejo 24

para tentar quais quais fatores podem estar relacionados a geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da diversidade 25

local Com os resultados da anaacutelise de redes verificamos uma alta diversidade de 26

etnovariedades cultivadas e a sua composiccedilatildeo eacute determinada pelas preferecircncias e 27

comportamentos individuais dos agricultores que foram provavelmente os mecanismos 28

27

responsaacuteveis pelo surgimento da estrutura aninhada observada na anaacutelise rede Esse padratildeo 29

aninhado contribui na conservaccedilatildeo das etnovariedades mais comuns mas tambeacutem pode resultar 30

em perda daquelas de menor frequecircncia ao longo do tempo 31

Palavras-Chave Agricultura tradicional Agricultura de sequeiro Agrobiodiversidade 32

Etnobiologia Plantas alimentiacutecias 33

34

Introduccedilatildeo 35

Historicamente as populaccedilotildees humanas foram acumulando conhecimentos sobre 36

praacuteticas da agricultura desenvolvendo teacutecnicas adaptadas ao meio natural e assim foram 37

domesticando uma grande variedade de cultivos alimentares para garantirem a sua 38

sobrevivecircncia (Balleacute 2006 Clement et al 2010) Essa interaccedilatildeo pessoas-plantas por meio do 39

cultivo e manejo das espeacutecies vegetais considerando tanto os aspectos sociais quanto naturais 40

dos sistemas dinacircmicos eacute uma importante ferramenta para o entendimento do conhecimento 41

dos agricultores sobre os agroecossistemas locais ( Alcorn 1995) 42

Aleacutem disso essas interaccedilotildees vem contribuindo com alteraccedilotildees nas populaccedilotildees vegetais 43

por meio da seleccedilatildeo artificial Essas alteraccedilotildees resultaram em mudanccedilas na estrutura geneacutetica 44

dessas populaccedilotildees que satildeo determinadas geralmente pela seleccedilatildeo de caracteriacutesticas fenotiacutepicas 45

fisioloacutegicas eou econocircmicas das plantas refletidas em classificaccedilotildees e nomenclaturas 46

especiacuteficas baseadas em percepccedilotildees individuais (Carmona amp Casas 2005) 47

Muitos pesquisadores tentam explicar o papel dos agricultores de pequena escala na 48

seleccedilatildeo classificaccedilatildeo e manutenccedilatildeo da agrobiodiversidade local em roccedilas tradicionalmente 49

manejas em regiotildees uacutemidas (Emperaire amp Peroni 2007 Emperaire amp Eloy 2008 Marchetti et 50

al 2013) Essas roccedila satildeo aacutereas de cultivo caracterizadas por conter uma alta diversidade 51

intraespeciacutefica de espeacutecies (Martins 2005) Dentre elas a Manihot esculenta Crantz 52

28

(mandioca) Euphorbiaceae em sua diversidade de etnovariedades eacute a espeacutecie mais importante 53

sob ponto de vista econocircmico e de subsistecircncia para as populaccedilotildees locais e mais cultivada 54

devido a sua grande adaptabilidade ambiental e baixos custos de gestatildeo (Elias et al 2001) 55

A alta diversidade da mandioca nessas aacutereas pode ser atribuiacuteda agrave possibilidade de 56

introduccedilatildeo de novas variedades via reproduccedilatildeo sexuada associada a ecologia da espeacutecie Esse 57

mecanismo permite o fluxo gecircnico entre as variedades de mandioca cultivadas do mesmo local 58

e entre estas com variedades de locais vizinhos (Pujol et al 2007) Outro mecanismo que 59

favorece essa diversidade eacute agrave circulaccedilatildeo de material propagativo por meio redes sociais de troca 60

variedades entre os agricultores (Pujol et al 2005 Emperaire amp Peroni 2007 Clement et al 61

2010) Esse mecanismo de troca eacute fundamental para o estabelecimento de interaccedilotildees entre as 62

diferentes aacutereas de roccedila promovendo oportunidade de seleccedilatildeo e cruzamento entre os diferentes 63

conjuntos de variedades aleacutem de permitir que este conjunto seja conservado (Emperaire amp Eloy 64

2008) 65

Diante desse cenaacuterio podemos observar que a agrobiodiversidade local natildeo eacute fruto 66

apenas de fatores naturais mas eacute tambeacutem influenciada pelas caracteriacutesticas culturais e 67

socioeconocircmica das populaccedilotildees locais refletidas especialmente no conhecimento e manejo 68

local Nesse sentido o presente estudo visa investigar as interaccedilotildees entre agricultores 69

tradicionais de comunidades rurais estabelecidas na regiatildeo semiaacuterida de Pernambuco 70

O objetivo geral eacute compreender os processos envolvidos na dinacircmica da diversidade 71

agriacutecola por meio do acesso ao conhecimento dos agricultores quanto as praacuteticas de menejo e 72

entender quais quais fatores podem estar relacionados a geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da diversidade 73

local Para esse estudo a mandioca foi escolhida como modelo devida agrave sua importacircncia 74

econocircmica e de subsistecircncia para comunidades locais Os objetivos especiacuteficos foram (i) 75

caracterizar o manejo da agricultura de sequeiro bem como analisar se os paracircmetros 76

socioeconocircmicos influenciam na diversidade local (ii) registrar as etnovariedades atualmente 77

29

cultivadas e identificar os diferentes criteacuterios morfoloacutegicos utilizados pelos agricultores para a 78

seleccedilatildeo e classificaccedilatildeo das etnovariedadese (iii) descrever a estrutura da rede de interaccedilatildeo entre 79

os agricultores e a diversidade de etnovariedades de mandioca cultivadas para tentar entender 80

como essas relaccedilotildees podem influenciar na manutenccedilatildeo ou perda da diversidade local 81

Material e meacutetodos 82

Aacutereas de estudo 83

Amostramos sete comunidades rurais estabelecidas na regiatildeo semiaacuterida de 84

Pernambuco Nordeste do Brasil Uma das comunidades (Caratildeo) pertence ao Municiacutepio de 85

Altinho (ldquo8deg 29rsquo 10rdquo S e 36deg 03rsquo 49rdquo W) e as demais (Satildeo Joseacute do Bola Brejo velho 86

Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima Lajedo Dantas e Aracuatilde) ao Municiacutepio de 87

Panelas (8 deg 39 48 S e 36 deg 01 23 W) (Fig 2) 88

O modelo agriacutecola adotado na regiatildeo segue o sistema tradicional de sequeiro4 e todas 89

as comunidades em estudo possuem histoacuterico de cultivo de mandioca (M esculenta) As aacutereas 90

de cultivo satildeo estabelecidas por unidade familiar e as atividades satildeo realizadas em sua maioria 91

por homens tendo cada agricultor cerca de um a dois hectares de aacuterea para plantio Aleacutem da 92

mandioca os cultivos mais utilizados na comunidades satildeo milho (Zea mays) e feijatildeo (Phaseolus 93

sp) 94

Para os membros das comunidades a produccedilatildeo da farinha de mandioca (Fig 3) eacute uma 95

das atividades agriacutecolas mais importantes tanto pelo seu papel na dieta alimentar quanto pela 96

importacircncia social e econocircmica 97

Caracteriacutesticas das comunidades do estudo 98

A comunidade do Caratildeo localiza-se sob domiacutenio de Caatinga caracterizado por climas 99

quentes e secos com regimes escassos de chuvas correspondente ao tipo BSrsquoh segundo a 100

4 Eacute o cultivo praticado sem irrigaccedilatildeo em regiotildees onde a pluviosidade eacute diminuta

30

classificaccedilatildeo climaacutetica de Koumlppen A vegetaccedilatildeo eacute composto por espeacutecies perenes que 101

conseguem sobreviver mesmo em periacuteodos de seca e espeacutecies anuais que aparecem apenas em 102

periacuteodos com chuva (Cruz et al 2013) 103

De acordo os dados de precipitaccedilatildeo do Laboratoacuterio de Anaacutelise e Processamento de 104

Imagens de Sateacutelites (LAPIS) no ano de 2012 foi registrada a menor meacutedia anual de 105

precipitaccedilatildeo dos uacuteltimos 10 anos para essa regiatildeo (3784 mm) Essa realidade ambiental quando 106

comparada com estudo realizado por de Sieber e colaboradores (2011) na mesma comunidade 107

observa-se que houve uma diminuiccedilatildeo considerada das praacuteticas agriacutecolas realizadas pelos 108

membros da comunidade culminando em uma seacuterie de prejuiacutezos aos agricultores como a perda 109

de plantaccedilotildees e animais Essa perda de produtividade afetou a estrutura econocircmica da 110

comunidade uma vez que a principal fonte de subsistecircncia das famiacutelias eacute a agricultura 111

Associada as atividades agriacutecolas os moradores complementam a dieta e a renda 112

familiar com a venda dos excedentes da produccedilatildeo em feiras-livres ou centros comerciais da 113

regiatildeo (Cruz et al 2013) E com a pecuaacuteria de pequena escala bovina caprina e com avicultura 114

No entanto a diminuiccedilatildeo da forragem natural e cultivada causada pela escassez de chuvas 115

associada aos elevados custos envolvidos na compra de raccedilatildeo levou muitos animais agrave morte 116

(Fig 4) 117

No Municiacutepio de Altinho a comunidade do Caratildeo foi inicialmente escolhida devido ao 118

reconhecimento preacutevio do registro de agricultores realizado em estudos desenvolvidos pelo 119

nosso grupo de pesquisa facilitando assim o acesso agraves informaccedilotildees necessaacuterias para o 120

desenvolvimento da pesquisa 121

As comunidades Aracuatilde Brejo Velho Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima 122

Lajedo Dandas e Satildeo Joseacute do Bola amostradas no estudo pertencem ao Municiacutepio de Panelas 123

que se limita ao Norte com o Municiacutepio de Altinho Essas comunidades estatildeo localizadas em 124

31

no domiacutenio morfoclimaacutetico de Caatinga O clima eacute do tipo semiaacuterido Bsrsquoh segundo a 125

classificaccedilatildeo climaacutetica de Koumleppen 126

A maior parte dos membros dessas comunidades assim como no Caratildeo tecircm como 127

principal fonte de subsistecircncia a agricultura de sequeiro principalmente o cultivo da mandioca 128

(Fig 5) Como renda extra a pecuaacuteria de pequeno porte com criaccedilatildeo bovina caprina e 129

avicultura sendo os excedentes dos alimentos produzidos vendidos em feiras locais ou para 130

escolas 131

As atividades agriacutecolas entre as comunidades tambeacutem foram duramente afetadas pela 132

seca na regiatildeo nos uacuteltimos anos A escassez de chuvas desestimulou o plantio a produccedilatildeo de 133

mandioca foi fortemente comprometida e a colheita foi adiada devido ao subdesenvolvimento 134

das raiacutezes gerando impactos econocircmicos para os membros das comunidades 135

As comunidades amostradas neste muniacutecipio foram escolhidas em funccedilatildeo das 136

indicaccedilotildees dos agricultores entrevistados a princiacutepio na comunidade do Caratildeo que reportaram 137

manter viacutenculos sociais com os agricultores do municiacutepio vizinho 138

Coleta de dados 139

Acessamos as comunidades com a ajuda de um liacuteder comunitaacuterio (Alexandre O 140

Nascimento) em companhia de outros pesquisadores que desenvolviam pesquisas na regiatildeo 141

Previamente as entrevistas todos objetivos e procedimentos para a realizaccedilatildeo da pesquisa foram 142

apresentados aos entrevistados e todos que aceitaram participar foram convidados a assinar um 143

Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) de acordo com a Resoluccedilatildeo 46612 do 144

Conselho Nacional de Sauacutede concordando com a realizaccedilatildeo das entrevistas e avaliaccedilotildees 145

morfoloacutegicas em campo O presente trabalho foi submetido ao Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa da 146

Universidade de Pernambuco (UPE) 147

32

Em todas as comunidades o meacutetodo de acesso ao informante foi o mesmo a partir do 148

primeiro contato com um informante-chave identificamos outros potenciais agricultores 149

seguindo a teacutecnica de ldquobola de neverdquo (Albuquerque et al 2014a) Esse meacutetodo consistiu na 150

amostragem intencional dos participantes e nesse particular os agricultores chefes de famiacutelia 151

(ge 18 anos) da regiatildeo que declararam cultivar mandioca (M esculenta) em suas roccedilas 152

Reunimos informaccedilotildees socioeconocircmicas desses agricultores tais como nome idade gecircnero 153

escolaridade renda experiecircncia na agricultura e tamanho da aacuterea de cultivo para tentar 154

identificar se esses paracircmetros socioeconocircmicos tecircm uma relaccedilatildeo com a agrobiodiversidade 155

local 156

Em seguida conduzimos entrevistas semiestruturadas (Albuquerque et al 2014b) com 157

o objetivo de caracterizar o modo de vida dos agricultores o manejo da agricultura bem como 158

obter dados sobre o conhecimento uso e caracterizaccedilatildeo das etnovariedades de mandioca 159

5cultivadas Aleacutem disso neste momento tambeacutem aplicamos a teacutecnica da lista livre 160

(Albuquerque et al 2014b) a fim de registrar as variedades de mandioca atualmente cultivadas 161

pelos agricultores e identificar as de maior importacircncia local Apoacutes as entrevistas realizamos 162

visitas aos roccedilados para o registro fotograacutefico georreferenciamento das roccedilas e caracterizaccedilatildeo 163

morfoloacutegica das variedades cultivadas 164

Entrevistamos 50 agricultores no total distribuiacutedos nas sete comunidades Caratildeo (3) 165

Satildeo Joseacute do Bola (10) Brejo velho (7) Japaranduba de Baixo (7) Japaranduba de Cima (8) 166

Lajedo Dantas (9) e Aracuatilde (6) Destes 10 satildeo mulheres e 40 homens com idade variando entre 167

31 e 82 anos A maioria dos entrevistados natildeo apresentava instruccedilatildeo formal (46) mais da 168

metade eram aposentados (56) e os demais apresentaram renda inferior a um salaacuterio miacutenimo 169

5 Entende-se por etnovariedade de mandioca o conjunto de variedades intraespeciacuteficas de mandioca (M esculenta)

reconhecidas pelos agricultores por nomenclatura popular local (Peroni 2004)

33

O tempo meacutedio de experiecircncia na agricultura foi de 40 anos Cada agricultor possui entre um e 170

dois roccedilados (aacuterea de plantio) com aproximadamente um a dois hectares 171

Redes de interaccedilatildeo social 172

Confeccionamos a rede que descreve as interaccedilotildees entre os agricultores e as 173

etnovariedades cultivadas a partir de uma matriz de incidecircncia R (presenccedilaausecircncia) onde nas 174

linhas estavam as etnovariedades de mandioca cultivadas (j) e nas colunas os agricultores locais 175

(i) O elemento Rij dessa matriz foi 1 (um) no caso de a etnovariedade j ser cultivada pelo 176

agricultor i caso contraacuterio seria atribuiacutedo 0 (zero) As interaccedilotildees entre os agricultores e as 177

etnovariedades foram descritas em dois modos (Pires et al 2011) onde os ldquonoacutesrdquo da esquerda 178

representam os agricultores que foram vinculados aos ldquonoacutesrdquo da direita representados pelas 179

etnovariedades citadas durante as entrevistas Esses ldquonoacutesrdquo seriam o espelho das decisotildees dos 180

agricultores em manter um determinado conjunto local de etnovariedades em suas roccedilas 181

Avaliamos a estrutura da rede que conecta os agricultores agraves etnovariedades cultivadas 182

a partir de trecircs cenaacuterios hipoteacuteticos (Fig 6) segundo Cachevia et al (2014) No primeiro se os 183

agricultores apresentassem diferentes graus de seletividade para a utilizaccedilatildeo de suas 184

etnovariedades a estrutura seria aninhada (Fig 6a) Isso significa que alguns agricultores 185

cultivam vaacuterias etnovariedades enquanto que outros cultivam o subconjunto mais 186

disponiacutevelcomum dessas etnovariedades Em segundo lugar se a rede apresentasse uma 187

estrutura modular (Fig 6b) significaria que os agricultores apresentam semelhanccedila na seleccedilatildeo 188

do recurso ou seja subgrupos de agricultores cultivam subgrupos distintos de etnovariedades 189

regionalmente disponiacuteveiscomuns E o terceiro se os agricultores natildeo apresentassem 190

preferecircncias quanto a seleccedilatildeo das etnovariedades entatildeo a rede apresentaria uma estrutura 191

aleatoacuteria (Fig 6c) 192

O objetivo da anaacutelise de rede nesse estudo foi tentar entender se o conjunto de 193

etnovariedades presentes no local do estudo constituem uma subamostra de um conjunto mais 194

34

amplo no caso de um alto grau de aninhamento ou se a sua composiccedilatildeo eacute determinada por 195

variaacuteveis locais (Ulrich 2008) Onde as conexotildees entre os informantes e as etnovariedades 196

representam as decisotildees dos agricultores de manter um conjunto determinado de variedades de 197

mandioca dentre as comunidades Esta anaacutelise tambeacutem nos permitiu identificar quais os nuacutecleos 198

de etnovariedades que apresentam maior conexatildeo com os diferentes perfis dos agricultores 199

Diversidade fenotiacutepica 200

Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 201

Apoacutes as entrevistas buscamos identificar quais os caracteres morfoloacutegicos considerados 202

mais importantes para a diferenciaccedilatildeo das etnovariedades de mandioca a partir do seguinte 203

questionamento ldquoQuais as diferenccedilas que vocecirc reconhece para separar uma qualidade de 204

mandioca (variedade) de uma outrardquo Assim os agricultores mencionaram quais os criteacuterios 205

mais importantes utilizados para a caracterizaccedilatildeo de suas etnovariedades 206

Compilamos uma listagem dessas caracteriacutesticas baseada nas indicaccedilotildees dos 207

agricultores e a partir delas selecionamos os caracteres morfoloacutegicos mais citados para a 208

caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica ldquoin siturdquo tais como cor da folha (cor da folha desenvolvida) olho 209

(cor do broto foliar) cor do talo (cor do peciacuteolo) maniva (cor externa do caule) embriatildeo 210

(protuberacircncia da cicatriz foliar) cor da entrecasca (coacutertex da raiz) e cor miolo (polpa da raiz) 211

(Tabela 1) O objetivo dessa caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica foi indicar como estaacute distribuiacuteda a 212

variaccedilatildeo fenotiacutepica das etnovariedades de mandioca nas comunidades na regiatildeo semiaacuterida de 213

Pernambuco bem como identificar que caracteriacutesticas satildeo mais importantes para distinguir 214

esses grupos no intuito de tentar entender como os agricultores classificam suas variedades de 215

mandioca 216

Nas sete comunidades para cada etnovariedade citada no roccedilado caracterizamos ldquoin 217

siturdquo trecircs indiviacuteduos de M esculentade de cada uma totalizando 171 indiviacuteduos (Aracuatilde=11 218

35

Caratildeo=4 Satildeo Joseacute do Bola=13 Brejo Velho=16 Japaranduba de Baixo=6 Japaranduba de 219

Cima=3 e Lajedo Dantas=4) Fotografamos e avaliamos todos os indiviacuteduos com base em parte 220

dos descritores morfoloacutegicos seguindo recomendaccedilotildees de Fukuda amp Guevara (1998) e aleacutem 221

disso georreferenciamos todas as aacutereas de roccedila 222

Anaacutelise dos dados 223

Analisamos os dados socioeconocircmicos das entrevistas semiestruturadas por meio de 224

estatiacutestica descritiva para explicar os aspectos da realidade econocircmica e social dos agricultores 225

Para identificar se a diversidade intraespeciacutefica da mandioca cultivada localmente eacute 226

influenciada por paracircmetros socioeconocircmicos utilizamos o coeficiente de correlaccedilatildeo de 227

Spearman (Ple005) (Sokal amp Rohlf 1995) 228

Com base na lista livre das variedades de mandioca cultivadas pelos agricultores 229

calculamos a frequecircncia de citaccedilatildeo o ranking e o iacutendice de saliecircncia com o objetivo de 230

identificar quais as mais importantes ou preferidas para as comunidades O iacutendice de saliecircncia 231

considerou a frequecircncia de citaccedilatildeo e o ranking referente ao posicionamento das variedades 232

dentro das listas livres (Thompson amp Juan 2006) As etnovariedades mais citadas e com maior 233

valor de saliecircncia representam as de maior importacircncia ou preferecircncia para as comunidades 234

Anaacutelise de rede 235

Medimos o grau de aninhamento (NODF) para investigar a estrutura de rede de 236

interaccedilatildeo social dos agricultores em funccedilatildeo das variedades cultivadas As matrizes altamente 237

aninhadas apresentam NODF tendendo a 1 caso contraacuterio tentem a ser 0 238

Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 239

Para o estudo das semelhanccedilas e diferenccedilas fenotiacutepicas entre as variedades de mandioca 240

ldquoin siturdquo realizamos anaacutelises multivariadas para identificar possiacuteveis grupos de variedades que 241

compartilham semelhanccedilas entre si 242

36

A anaacutelise de correspondecircncia muacuteltipla (MCA) permitiu identificar como as variedades 243

de mandioca estatildeo ordenadas em funccedilatildeo dos seus descritores etnobotacircnicos As etnovariedades 244

foram plotadas ao longo um plano cartesiano bi ou tridimensional onde a variaccedilatildeo total eacute 245

explicada pelos dois primeiros eixos Complementar a esta anaacutelise realizamos a anaacutelise de 246

agrupamento hieraacuterquico (Cluster) para identificar como estatildeo agrupadas as etnovariedades de 247

acordo seus descritores Conferimos a consistecircncia do dendrograma com coeficiente de 248

correlaccedilatildeo cofeneacutetica conforme Sneath amp Sokal (1973) que quantifica se a correlaccedilatildeo entre a 249

matriz de distacircncias originais e a matriz de distacircncias cofeneacuteticas eacute representativa Para 250

mensurar as dissimilaridades entre as variedades de mandioca foi utilizada a distacircncia 251

euclidiana e com o meacutetodo de Ward 252

Softwares utilizados 253

Para a anaacutelise da lista livre usamos o software ANTROPAC versatildeo 10 O software 254

ANINHADO 30 (Guimaratildees amp Guimaratildees 2006) foi usado para medir o grau de aninhamento 255

da rede Utilizamos o software estatiacutestico R (R core team 2017) para a anaacutelise de correlaccedilatildeo 256

de Spearman com o pacote corrplot (Wei amp Simko 2013) o desenho da rede que descreve a 257

interaccedilatildeo entre os agricultores e as etnovariedades com o pacote bipartite (Dormann et al 258

2017) E com os pacotes FactoMineR (LEcirc et al 2008) factoextra (Kassambara et al 2016) e 259

vegan (Oksanen et al 2017) foram realizadas as anaacutelises de cluster de correspondecircncia 260

muacuteltipla (MCA) e de correlaccedilatildeo coefeneacutetica respectivamente 261

Resultados 262

As diferentes etnovariedades de mandioca encontradas no estudo suprem a demanda 263

local por alimento enquanto outras atendem agraves preferecircncias individuais ou do comeacutercio As 264

variedades que possuem maior rendimento e a farinha produzida apresenta coloraccedilatildeo branca 265

satildeo as de maior valor comercial para os agricultores devido agraves preferecircncias do mercado Jaacute 266

37

outras variedades que satildeo mais moles e apresentam coloraccedilatildeo amarelada natildeo satildeo empregadas 267

na produccedilatildeo de farinha mas sim consumidas cozidas ou assadas A depender da demanda local 268

os agricultores intencionalmente aumentam ou diminuem a frequecircncia de suas variedades nos 269

roccedilados seja por alguma exigecircncia do comeacutercio ou para consumo familiar 270

Nas comunidades os agricultores separam suas variedades de mandioca em dois grupos 271

como observado em outras comunidades na mata Atlacircntica por Emperaire e Peroni (2007) o 272

das ldquomacaxeirasrdquo que satildeo as variedades exploradas basicamente para o consumo familiar sem 273

processo preacutevio de desintoxicaccedilatildeo cujas raiacutezes satildeo consumidas fritas eou cozidas Sendo 274

utilizadas tambeacutem como complemento na dieta dos animais E o grupo das ldquomandiocasrdquo que 275

satildeo as variedades que necessitam de processo preacutevio de desintoxicaccedilatildeo para o consumo 276

utilizadas comumente para a produccedilatildeo de farinha de mandioca Para os agricultores as 277

ldquomandiocasrdquo possuem maior valor comercial pois apresentam maior rendimento e 278

rentabilidade pois a farinha produzida eacute branca e atende as preferencias do comercio local 279

Aleacutem da farinha outros produtos e subprodutos produzidos dentre os quais foram citados 280

ldquotapioca ou gomardquo ldquobijurdquo ou ldquobolo de mandiocardquo satildeo utilizados para o consumo proacuteprio ou 281

eventual comercializaccedilatildeo 282

Os informantes natildeo possuiacuteam conhecimento sobre a origem dos nomes das variedades 283

de mandioca Quanto a compreensatildeo da geraccedilatildeo da diversidade intraespeciacutefica identificamos 284

que apesar de 66 dos agricultores citarem que conhecem variedades fruto de germinaccedilatildeo de 285

suas sementes nenhum deles utiliza as manivas para o plantio por essas variedades de 286

mandioca ldquovoluntaacuteriasrdquo natildeo apresentarem bom rendimento 287

Observamos que existe uma baixa correlaccedilatildeo entre a diversidade de variedades 288

atualmente cultivadas e as variaacuteveis socioeconocircmicas como no caso do nuacutemero de roccedilados 289

(r=028 Ple005) e do tamanho do roccedilado (r=033 Ple005) (Fig 7) Essa baixa correlaccedilatildeo pode 290

38

ser explicada pelo fato de existirem grupos de agricultores que preferem manter as variedades 291

de maior valor econocircmico e de subsistecircncia mesmo com aacutereas maiores de cultivo 292

Verificamos tambeacutem uma correlaccedilatildeo positiva moderada entre o nuacutemero de variedades 293

conhecidas com o nuacutemero de variedades atualmente cultivadas (r=054 Ple005) Na lista livre 294

foram identificadas 22 etnovariedades de mandioca cultivadas (132 citaccedilotildees no total) sendo 295

oito dessas mais citadas com maiores valores de saliecircncia (entre 047 e 0082) (Tabela 2) As 296

etnovariedades ldquoMacaxeira Rosardquo e ldquoMandioca Isabel de Souzardquo exibiram os maiores valores 297

de saliecircncia 047 e 037 respectivamente Logo essas variedades satildeo as mais conhecidas 298

dentro das comunidades com 66 e 48 das citaccedilotildees respectivamente 299

Dentre as etnovariedades citadas 12 foram idiossincraacuteticas pois apresentaram menor 300

frequecircncia de citaccedilatildeo e menores valores de saliecircncia (entre 0032 e 0006) (Tabela 2) 301

Redes de interaccedilatildeo social 302

A rede apresentou uma estrutura aninhada com grau de aninhamento significativamente 303

superior aos modelos nulos (N=3072 Plt0001) para as comunidades sendo um nuacutecleo de 304

etnovariedades altamente conectado aos agricultores (Fig 8) A estrutura aninhada nos permite 305

inferir que existe um grupo de agricultores que cultiva uma maior diversidade de etnovariedades 306

de mandioca em suas roccedilas enquanto que outro subgrupo que tem menor diversidade cultivam 307

as mais comuns ou disponiacuteveis (Cavechia et al 2014) Isso significa que os agricultores locais 308

mesmo em diferentes comunidades cultivam um nuacutecleo de etnovariedades comum entre eles 309

(n=6 Tabela 2) 310

Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 311

Observamos que a maioria dos indiviacuteduos de mandioca satildeo caracterizados por meio de 312

um conjunto de sete caracteres morfoloacutegicos os quais foram citados pelos agricultores como 313

mais importantes para a caracterizaccedilatildeo de suas variedades Nas visitas aos roccedilados registramos 314

39

as etnovariedades atualmente cultivadas e a tabela 3 fornece a lista completa com as 17 315

etnovariedades de mandioca e o local de registro 316

Por meio da anaacutelise de correspondecircncia muacuteltipla as variedades de mandioca foram 317

ordenadas em funccedilatildeo de seus descritores ao longo do primeiro e segundo eixo correspondentes 318

a 3680 da variacircncia total (Fig 9) 319

As variaacuteveis mais correlacionadas e que agruparam as variedades de mandioca no 320

primeiro eixo foram cor da folha desenvolvida (CFD) (r= 07239 Ple0001) cor do coacutertex da 321

raiz (CDR) (r= 06473 Ple0001) cor do broto foliar (CBF) (r= 06880 Ple0001) cor do peciacuteolo 322

(CDP) (r= 05250 Ple005) cor externa do caule (CEC) (r= 06883 Ple005) cor da polpa da 323

raiz (PDR) (r= 02473 Ple005) Para o segundo eixo as variaacuteveis correlacionadas foram cor 324

da folha desenvolvida (CFD) (r= 07220 Ple0001) cor externa do caule (CEC) (r= 08718 325

Ple0001) e cor do peciacuteolo (CDP) (r= 06927 Ple005) 326

O agrupamento de todas as variedades caracterizadas ldquoin siturdquo gerou uma aacutervore 327

hieraacuterquica (dendrograma) (Fig 9) utilizando a distacircncia euclidiana seguindo o criteacuterio de 328

Ward O dendrograma gerado apresentou um coeficiente de correlaccedilatildeo cofeneacutetica r= 06780 329

indicando que existe consistecircncia com os dados originais no agrupamento quanto agrave 330

classificaccedilatildeo e estrutura de tal forma que as variedades foram agrupadas em oito classes as 331

quais foram explicadas pelas variaacuteveis mais significativas descritas na tabela 4 332

O resultado do agrupamento (utilizada a distacircncia euclidiana e com o meacutetodo de Ward) 333

observamos que as etnovariedades de mandioca caracterizadas ldquoin siturdquo foram agrupadas em 334

dois grandes agrupamentos indicados na Fig 10 pelos retacircngulos em vermelho A partir dessa 335

anaacutelise percebemos que os caracteres morfoloacutegicos selecionados pelos agricultores natildeo foram 336

suficientes para separar as variedades de macaxeira e mandioca pois em ambos os 337

agrupamentos encontramos tanto macaxeiras quanto mandiocas 338

40

As variedades da classe 1 foram identificadas pelos agricultores pela cor do peciacuteolo 339

(CDP) verde A classe 2 agrupou as etnoveriedades caracterizadas pela protuberacircncia da cicatriz 340

foliar (PCF) mais protuberante Esse descritor segundo os agricultores era identificado como 341

ldquoembriatildeordquo A classe 3 consiste apenas da variedade ldquoMandioca Pretonardquo indicada pela presenccedila 342

de cor do peciacuteolo (CDP) vermelho A classe 4 agrupou trecircs variedades caracterizadas pelos 343

agricultores pela presenccedila de cor coacutertex da raiz (CDR) rosa e cor da polpa da raiacutez (PDR) branca 344

identificadas como ldquoMacaxeira vermelhardquo ldquoMacaxeira Rosa Brancardquo ldquoMacaxeira Rosardquo As 345

variedades agrupadas na classe 5 foras as variedades de mandioca caracterizadas pelos 346

agricultores por apresentarem cor do coacutertex (CDR) da raiacutez branca A classe 6 agrupou 347

variedades identificadas pelos agricultores pela cor do broto foliar (CBF) verde A classe 7 348

consiste apenas da variedade ldquoMacaxeira Sementerdquo identificada pelos agricultores pela cor do 349

peciacuteolo (CDP) roxo e protuberacircncia da cicatriz foliar pouco proeminente Essa variedade 350

segundo os agricultores era fruto do nascimento espontacircneo no roccedilado poreacutem eles geralmente 351

natildeo utilizam essas variedades por apresentarem apenas uma raiz pequena e de baixo 352

rendimento Na classe 8 as variedades foram identificadas pelos agricultores pela cor do peciacuteolo 353

(CDP) verde amarelado e protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) pouco proeminente As 354

ldquoMandioca Isabel de Souzardquo ldquoMandioca Isabel trecircs galhosrdquo segundo os agricultores se 355

diferenciavam pelo maior nuacutemero de caules presentes na variedade ldquoIsabel trecircs galhosrdquo 356

Discussatildeo 357

As sete comunidades estudadas manejavam um nuacutemero consideraacutevel de variedades 358

locais A quantidade de etnovariedades registradas eacute proacutexima a encontrada por Bender et al 359

(2009) e Cavechia et al (2014) em comunidades na regiatildeo sul e sudeste por Oler e Amorozo 360

(2017) em uma comunidade tradicional na regiatildeo centro-oeste Poreacutem foi quantitativamente 361

inferior quando comparada a estudos como os de Elias et al (2001) e Kawa et al (2013) em 362

comunidades na regiatildeo amazocircnica pois possuiacuteam uma alta diversidade Essa alta diversidade 363

41

na regiatildeo amazocircnica pode estar relacionada com o fato de que essa regiatildeo eacute o provaacutevel centro 364

de origem da mandioca (M esculenta) (Allem 1994) 365

As etnovariedades registradas neste estudo estatildeo disponiacuteveis para a maioria dos 366

agricultores dessa regiatildeo e esse fator favorece a circulaccedilatildeo das etnovariedades entre as 367

comunidades locais Por isso haacute semelhanccedilas das etnovariedades utilizadas entre os agricultores 368

da mesma comunidade e entre comunidades vizinhas 369

Parte dos agricultores optam por manter uma alta frequecircncia de variedades mais 370

utilizadas enquanto que outros optam por manter etnovariedades de baixa frequecircncia 371

Conforme discutido por Amorozo (2013) os agricultores escolhem seu acervo de acordo com 372

as necessidades e contexto em que vivem A reduccedilatildeo da diversidade de etnoveriedades por 373

exemplo pode ser impulsionada por fatores que simplificam o sistema como a seleccedilatildeo de 374

etnovariedades para a produccedilatildeo de farinha resultando no cultivo de poucas ou ateacute de uma uacutenica 375

etnovariedade (Peroni amp Hanazaki 2002) mesmo em aacutereas maiores 376

377

Redes de interaccedilatildeo social 378

Com as anaacutelises de rede demonstramos que os agricultores de diferentes comunidades 379

em uma mesma regiatildeo efetivamente trocam variedades de mandioca entre si corroborando 380

com estudos realizados por Emperaire amp Eloy (2008) Pautasso et al (2012) e Cavechia et al 381

(2014) Nesses estudos os autores tambeacutem consideram que as trocas de etnovariedades por 382

meio da rede de intercacircmbio entre os agricultores eacute um mecanismo fundamental para a 383

manutenccedilatildeo da diversidade local 384

A visualizaccedilatildeo da rede demonstrou que entre as comunidades os agricultores 385

compartilham um nuacutecleo de etnovariedades mais utilizadas dentre as quais estatildeo as de maior 386

valor econocircmico e de subsistecircncia Essas de maior frequecircncia satildeo aquelas altamente produtivas 387

utilizadas pelos agricultores para atenderem agraves demandas de mercado por farinha e para o 388

consumo proacuteprio (Kawa et al 2013) 389

42

No entanto observamos que existe outro nuacutecleo de etnovariedades menos frequentes 390

Essas etnovariedades raras podem ser resultantes do processo de experimentaccedilatildeo ou 391

preferecircncias individuais dos agricultores Outra possiacutevel razatildeo para a baixa frequecircncia de 392

algumas etnovariedades poderia ser explicada pela variaccedilatildeo da nomenclatura pelos 393

agricultores que segundo Peroni amp Hanazaki (2002) pode ocorrer durante o processo de troca 394

e introduccedilatildeo de novas variedades aos roccedilados Ainda assim natildeo descartamos a hipoacutetese de que 395

essas etnovariedades raras possam ser provenientes do cruzamento entre variedades diferentes 396

cultivadas da mesma roccedilado ou em roccedilas vizinhas De acordo com Martins (2005) essas 397

variedades fruto de germinaccedilatildeo expentacircnea satildeo incorporadas aos roccedilados pelos agricultores 398

pela curiosidade em experimentar novas variedades agraves suas coleccedilotildees 399

Nesse estudo admitimos que optar por etnovariedades raras entre as comunidades 400

estudadas eacute um comportamento adotado por agricultores que manejam uma maior diversidade 401

corroborando com os estudos de Cavechia et al (2014) e Emperaire et al (2016) em regiotildees 402

uacutemidas Para esses autores etnovaridedades de baixa frequecircncia representam um subconjunto 403

das de alta frequecircncia cultivadas por agricultores que manteacutem a maior diversidade em seus 404

roccedilados Sendo assim inferimos que no geral entre as comunidades satildeo os agricultores 405

generalistas aqueles que cultivam maior diversidade os responsaacuteveis por incorporar novas 406

etnovariedades aos roccedilados 407

As decisotildees dos agricultores em manter o acervo direcionado principalmente para 408

atender a demanda de mercado por exemplo podem levar a uma homogeneizaccedilatildeo nas roccedilas 409

colocando em risco a manutenccedilatildeo da diversidade local (Peroni amp Hanazaki 2002) Como 410

discutido por Elias et al (2000) os agricultores que selecionam apenas um nuacutemero reduzido e 411

especiacutefico de variedades mais produtivas tendem a fazer com que as variedades menos 412

frequentes desapareccedilam ao longo do tempo Essa tendecircndia pode influenciar na capacidade de 413

43

resiliecircncia do sistema assim como dos agricultores em lidar com possiacuteveis adversidades 414

ambientais que possam ocorrer 415

Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 416

No geral os agricultores demonstraram uma tendecircncia em classificarseparar suas 417

diferentes etnovariedades de mandioca a partir da combinaccedilatildeo de um conjunto de sete 418

caracteres morfoloacutegicos distintos e de faacutecil percepccedilatildeo os quais natildeo tem relaccedilatildeo com o uso 419

como por exemplo a cores das raiacutezes caule e folhas Logo consideramos que esses caracteres 420

morfoloacutegicos podem ser considerados como uma forma de classificaccedilatildeo pelos agricultores 421

baseada na capacidade percepccedilatildeo das diferenccedilas morfoloacutegicas que cada etnovariedades 422

apresenta (Boster 1985) Estes resultados nos levam a entender que entre os agricultores o 423

conhecimento sobre a diversidade da mandioca estaacute relacionado ao conhecimento de 424

caracteriacutesticas morfoloacutegicas consistentes 425

A existecircncia de alguns fenoacutetipos comuns nos permitiu avaliar a classificaccedilatildeo da 426

consistecircncia da taxonomia popular entre os agricultores Por exemplo as etnovariedades 427

ldquoMaxaceira Rosardquo e ldquoMacaxeira Rosa Brancardquo e ldquoMacaxeira vermelhardquo foram agrupadas no 428

mesmo cluster (C4) por apresentaram fenoacutetipos semelhantes Notamos que os agricultores 429

classificaram essas variedades de acordo com os traccedilos morfoloacutegicos mais relevantes como a 430

cor do coacutertex da raiz rosa e cor branca da polpa O mesmo ocorreu com as etnovariedades 431

ldquoMandioca varudardquo ldquoMandioca campina da granderdquo e ldquoMandioca campinardquo caracterizadas 432

pela presenccedila do peciacuteolo verde agrupadas no cluster (C1) 433

A partir dessas evidecircncias consideramos a hipoacutetese de que as variedades mesmo 434

apresentando caracteriacutesticas morfoloacutegicas muito semelhantes estatildeo sujeitas a variaccedilatildeo 435

nomenclatural durante o processo a incorporaccedilatildeo aos roccedilados pelos agricultores pois a 436

capacidade para distinguir e nomear variedades entre os agricultores da mesma regiatildeo pode 437

variar (Sambatti et al 2001 Elias et al 2001 Mekbib 2007) Consideramos tambeacutem que pode 438

44

existir variaccedilatildeo geneacutetica entre os indiviacuteduos identificados por um mesmo nome ou entatildeo que 439

os agricultores datildeo o mesmo nome para variedades diferentes E esta situaccedilatildeo pode levar a uma 440

superestimaccedilatildeo ou subestimaccedilatildeo da diversidade de mandioca cultiva nas aacutereas de estudo 441

Sabemos que a mandioca eacute propagada vegetativamente pelos agricultores por meio de 442

estacas em sistemas de agricultura tradicional No entanto alguns variedades produzem flores 443

e sementes que germinam e podem originar outras variedades ou outros clones por meio de 444

fecundaccedilatildeo cruzada (Elias et al 2001) Nesse contexto a etnovariedade ldquoMacaxeira Sementerdquo 445

presente no cluster (C7) trata-se de um uacutenico indiviacuteduo amostrado em uma roccedila de um dos 446

agricultores Esta apresentava algumas caracteriacutesticas morfoloacutegicas distintas das demais 447

reconhecidas pelo agricultor como por exemplo a produccedilatildeo de uma raiz uacutenica e 448

consequentemente de baixo rendimento Encontramos apenas um indiviacuteduo dessa 449

etnovariedade e nossa hipoacutetese de que esta poderia ter sido originada da germinaccedilatildeo da 450

semente mesmo quando 100 dos informantes declararam natildeo dar qualquer importacircncia e 451

descartar essas ldquovariedades-voluntaacuteriasrdquo foi confirmada pelo agricultor que afirmou que se 452

tratava de uma variedade nascida da germinaccedilatildeo da semente Esse comportamento vai de 453

encontro ao estudo de Fraser et al (2012) pois apesar dos agricultores reportarem nas 454

entrevistas que conhecem essas ldquovariedades-voluntaacuteriasrdquo nenhum agricultor faz o uso delas 455

Peroni et al (1999) e Agre et al (2016) analisando morfologicamente as variedades 456

locais de mandioca mantidas por agricultores em sistemas agriacutecolas tropicais tambeacutem 457

demonstraram que os agricultores satildeo coerentes quanto a separaccedilatildeo e identificaccedilatildeo de suas 458

etnovariedades a partir da formaccedilatildeo de grupos de coesos quanto a nomenclatura local utilizada 459

No entanto para o melhor entendimento dessa diversidade aleacutem da caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica 460

o uso de anaacutelises complementares como anaacutelise molecular seria importante para tentar 461

identificar se esses grupos representam a mesma variedade com nomes distintos ou se satildeo 462

variedades distintas com o mesmo nome 463

45

Conclusatildeo 464

O estudo demonstrou que no sistema de manejo da mandioca ao niacutevel de roccedila em 465

comunidades localizadas na regiatildeo semiaacuterida de Pernambuco compotildee uma diversidade 466

intrespeciacutefica de mandioca para atender agraves demandas econocircmicas e de subsistecircncia das 467

populaccedilotildees locais 468

Com relaccedilatildeo a anaacutelise de rede demostramos que haacute um nuacutecleo de etnovariedades 469

fortemente conectado aos agricultores e sua composiccedilatildeo eacute direcionada pelas preferecircncias e 470

necessidades individuais dos agricultores que foram os fatores responsaacuteveis pelo surgimento 471

da estrutura aninhada observada na anaacutelise rede entre as comunidades deste estudo E esse 472

padratildeo aninhado observado contribui na conservaccedilatildeo das etnovariedades mais comuns mas 473

tambeacutem pode resultar em perda daquelas de menor frequecircncia ao longo do tempo 474

A caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica ldquoin siturdquo nos permitiram inferir que os agricultores 475

reconhecem as diferentes caracteriacutesticas morfoloacutegicas de suas cultivares e satildeo coerentes na 476

separaccedilatildeo de suas variedades de mandioca e macaxeira Entretanto esses resultados sugerem a 477

realizaccedilatildeo de um estudo em niacutevel de diversidade geneacutetica exploratoacuterio para identificar se as 478

consistecircncias morfoloacutegicas refletem em consistecircncias geneacuteticas elucidando assim as possiacuteveis 479

confusotildees atribuiacutedas aos nomes das etnovariedades de mandioca 480

Agradecimentos 481

Agradecemos ao liacuteder comunitaacuterio Alexandre O Nascimento aos agricultores e 482

agricultoras das comunidades pela acolhida confianccedila e pela gentileza de compartilharem 483

conosco seus conhecimentos e contribuiacuterem com este estudo Especialmente a Arlindo Ferreira 484

Edgar Antocircnio Joseacute Sebastiatildeo Juvenal Oliveira e Janete Alves Ao Laboratoacuterio de Ecologia e 485

Evoluccedilatildeo de Sistemas Socioecoloacutegicos (LEA - UFPE) E agradecemos ao CNPq pelo apoio 486

com a bolsa de estudos do primeiro autor 487

46

Referecircncias bibliograacuteficas 488

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073 230(231) 11 613

614

51

ANEXOS 615

616

Nome da revista 617

Human Ecology 618

Link de acesso 619

httpsgooglDVLbFj 620

Qualis-CAPES 621

B1 em Biodiversidade 622

623

624

625

626

627

628

629

630

631

632

633

634

635

636

637

638

639

640

641

642

52

Figuras 643

644

645

Fig 1 Partes do processo de fabricaccedilatildeo de farinha de mandioca Onde a raspagem b e c 646

processo de trituraccedilatildeo e d peneiramento Foto registrada em Abril de 2017 por Mirela Santos 647

648

649

650

c

d

b

a

53

651

Fig 2 Mapa de localizaccedilatildeo geograacutefica dos Municiacutepios de Altinho e Panelas e das comunidades 652

estudadas na regiatildeo semiaacuterida do Estado de Pernambuco (Elaborado por SANTOS 2018) 653

54

654

655

656

657

Fig 3 Processo de fabricaccedilatildeo da farinha de mandioca Apoacutes a colheita as raiacutezes satildeo lavadas 658

raspadas e trituradas (a) A massa extraiacuteda eacute prensada e coada Ao sair da prensa a massa 659

peneirada (b) e em seguida eacute torrada (c) em fornos artesanais ou parcialmente mecanizados 660

Imagem registrada em janeiro de 2017 na Comunidade do Caratildeo por Mirela Santos 661

662

663

a

b c

55

664

Fig 4 a Sede da Comunidade do Caratildeo b Agricultor transportando a palma forrageira que eacute 665

um exemplo de estrateacutegia adaptativa para suprir a falta de alimento dos animais devido agrave seca 666

c Feira-livre que acontece na comunidade a cada quinze dias Imagem registrada em julho de 667

2016 na Comunidade do Caratildeo por Mirela Santos 668

669

670

Fig 5 a O agricultor nos explicava as mudanccedilas que vem fazendo em seus roccedilados para se 671

adaptar aos longos periacuteodos de seca b Quando o agricultor nos mostrava as diferentes 672

etnovariedades que mantinha em sua roccedila c Durante a pesquisa nos explicavam como era feita 673

a colheita da mandioca e como selecionavam as manivas para o proacuteximo plantio Foto registrada 674

em abril de 2017 na Comunidade do Brejo Velho por Mirela Santos 675

a

b c

c b

a

56 676

677

Fig 6 Possiacuteveis estruturas de rede que descrevem as interaccedilotildees dos agricultores (losango) 678

ligados as etnovariedades (ciacuterculos) que cultivam Onde a Aninhada b Modular c Aleatoacuteria 679

(Fonte Cavechia et al 2014 com adaptaccedilotildees) 680

681

682

683

684

685

686

687

688

689

690

691

692

693

694

695

696

697

a c b

57

698

699

700

701

702

703

704

705

706

707

Fig 7 Correlaccedilatildeo de Spearman entre a diversidade de etnovariedades de mandiocas conhecidas 708

como cultivadas e variedades atualmente cultivadas por agricultor e as variaacuteveis 709

socioeconocircmicas Onde Nvc= nuacutemero de citadas como cultivadas Nve= nuacutemero de variedades 710

atualmente cultivadas Esc= escolaridade Id= idade Gen= gecircnero Tr= tamanho do roccedilado 711

Exp= experiecircncia na agricultura Sld= renda Nr= nuacutemero de roccedilados Cores distintivas 712

representam correlaccedilotildees significativas (Ple005) 713

714

58

715

Fig 8 Modelo individual de rede de etnovariedades de mandioca citadas (esquerda) por 716

agricultores como cultivadas (direita) nos Municiacutepios de Altinho e Panelas As redes foram 717

desenhadas com o pacote bipartite (Dormann et al 2017) usando o software R (R CORE 718

TEAM 2017) 719

720

59

721

Fig 9 Anaacutelise de Correspondecircncia Muacuteltipla das 17 etnovariedades de mandioca considerando 722

os sete descritores morfoloacutegicos utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo em roccedilas de 723

agricultores tradicionais de sete comunidades no semiaacuterido de Pernambuco 724

725

726

727

728

729

730

731

732

733

734

735

736

737

McCambadinha

McCampina

McCampinaDaGrande

McCampinaRasteira

McCampinaVaruda

McGauba

McIsabelDeSouza

McIsabelTresGalhos

McOlhoDePombo

McOlhoVerde

McPretinha

McPretona

MxBranca

MxRosa

MxRosaBrancaMxRosaVermelha

MxSemente

CFD_Verde_Arroxeado

CFD_Verde_ClaroCFD_Verde_Escuro

CBF_Roxo

CBF_Verde_ArroxeadoCBF_Verde_Claro

CBF_Verde_Escuro

CDP_Verde

CDP_Verde_Amarelado

CDP_Verde_Avermelhado

CDP_Vermelho

CEC_Cinza

CEC_Dourado

CEC_Laranja

CEC_Marrom_Claro

CEC_Marrom_Escuro

CEC_Prateado

CEC_Verde_AmareladoCicatriz_M

Cicatriz_P

PDR_Branco

PDR_Creme

CDR_BrancoCDR_Creme CDR_Rosa

-4

-2

0

2

4

-4 -2 0 2 4

Dim1 (206)

Dim

2 (

162

)

MCA - Biplot

00

10

Hierarchical Clustering

inertia gain

McC

am

pin

aV

aru

da

McC

am

pin

aD

aG

rande

McC

am

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a

McG

auba

McP

retin

ha

McP

reto

na

MxR

osaV

erm

elh

a

MxR

osaB

ranca

MxR

osa

McC

am

pin

aR

aste

ira

McC

am

badin

ha

McO

lhoV

erd

e

MxB

ranca

MxS

em

ente

McIsabelT

resG

alh

os

McIsabelD

eS

ouza

McO

lhoD

eP

om

bo

00

05

10

15

Hierarchical Classification

Heig

ht

C1 C2 C3 C4 C5 C6 C7 C8

Fig 10 Agrupamento hieraacuterquico das 17 etnovariedades de mandioca caracterizadas de acordo

com os descritores utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo

60

Tabelas 738

739

Tabela 1 Caracteres e estados utilizados pelos agricultores como descritores botacircnicos para 740

caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das etnovariedades de mandioca 741

Caracter Sigla Estados

Folha

Cor da folha desenvolvida CFD 1- verde claro 2- verde escuro 3- verde arroxeado 4- roxo

Cor do broto foliar CBF 1- verde claro 2- verde escuro 3- verde arroxeado 4- roxo

Cor do peciacuteolo CDP 1- verde amarelado 2- verde 3- verde avermelhado 4- roxo

5- vermelho

Caule

Cor externa do caule CEC 1- laranja 2- verde amarelado 3- dourado 4- marrom claro

5- prateado 6- cinza 7- marrom escuro 8- verde

Protuberacircncia da cicatriz foliar PCF 1- pouco proeminente 2- muito proeminente

Raiacutez

Cor da poupa da raiz PDR 1- branco 2- creme

Cor do coacutertex da raiacutez CDR 1- rosa 2- branco 3- creme

742

743

744

745

746

747

748

749

750

751

61

Tabela 2 Lista das 22 etnovariedades de mandiocas citadas (132 citaccedilotildees) como cultivadas nas 752

comunidades pertencentes aos Municiacutepios de Altinho (Caratildeo n=8) e ao Municiacutepio de Panelas 753

(Aracuatilde Satildeo Joseacute do Bola Brejo Velho Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima e Lajeiro 754

Dantas n=21) 755

Etnovariedade Frequecircncia () Ranking Saliecircncia

Macaxeira Rosa 66 179 0472

Mandioca Isabel de Souza 48 179 0372

Mandioca Campina 24 217 0148

Macaxeira Branca 20 210 0134

Macaxeira Rosa branca 18 122 0168

Mandioca Pretona 16 338 0082

Mandioca Cambadinha 12 283 0071

Mandioca Isabel trecircs galhos 10 180 0075

Mandioca Gauacuteba 10 260 0070

Mandioca Pretinha 8 225 0053

Mandioca Peacute de pombo 4 400 0011

Mandioca Olho verde 4 350 0012

Macaxeira Rosinha 4 200 0027

Mandioca Campina varuda 4 200 0032

Mandioca Campina rasteira 4 300 0021

Mandioca Caboquinha 2 500 0007

Macaxeira Rasteira 2 200 0013

Macaxeira Paraacute 2 100 0020

Mandioca Barra ferro 2 300 0007

Mandioca Campina da grande 2 100 0020

Mandioca Olho de pombo 2 300 0010

Mandioca Jasmim 2 600 0006

756

757

758

62

Tabela 3 Lista de 17 etnovariedades atualmente cultivadas nos roccedilados das comunidades em 759

estudo 760

Ca Ar Bo Br Jb Jc Ld

Etnovariedade

Macaxeira Branca x x x x

Macaxeira Rosa

x x x x x x

Macaxeira Rosa Branca x x x x

Macaxeira Rosa Vermelha

x

Macaxeira Semente

x

Mandioca Cambadinha x

x

Mandioca Campina

x

x

x

Mandioca Campina da Grande x

Mandioca Campina Rasteira

x

Mandioca Campina Varuda

x

Mandioca Gauacuteba

x

Mandioca Isabel de Souza

x x x

Mandioca Isabel trecircs Galhos

x

x

Mandioca Olho de Pombo

x

Mandioca Olho Verde

x

Mandioca Pretinha

x

Mandioca Pretona x x x

Comunidades Ca= Caratildeo Ar=Aracuatilde Bo= Satildeo Joseacute do Bola Jb= Japaranduba de Baixo 761

Jc= Japaranduba de Cima Ld= Lajedo Dantas 762

763

764

765

766

767

768

63

Tabela 4 Descriccedilatildeo das classes do agrupamento por meacutetodo de Ward agrupadas pelo conjunto 769

dos descritores mais significativos para a caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das variedades de mandioca 770

Classes Descritores in situ p-valor

C1 Cor do peciacuteolo (CDP) 0016

C2 Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023

C3 Cor do peciacuteolo (CDP) 0012

C4 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0004

Cor da poupa da raiacutez (PDF) 0021

C5 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0003

C6 Cor do broto foliar (CBF) 0002

C7 Cor da folha desenvolvida (CFD) 0004

Cor externa do caule (CEC) 0040

C8 Cor do peciacuteolo (CDP) 0005

Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023

Valores de Ple005 satildeo significativos 771

772

x

desenhadas com o pacote bipartite (Dormann et al 2017) usando o software R (R CORE

TEAM 2017) 58

Fig 9 Anaacutelise de Correspondecircncia Muacuteltipla das 17 etnovariedades de mandioca considerando

os sete descritores morfoloacutegicos utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo em roccedilas de

agricultores tradicionais de sete comunidades no semiaacuterido de Pernambuco 59

Fig 10 Agrupamento hieraacuterquico das 17 etnovariedades de mandioca caracterizadas de acordo

com os descritores utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo 59

xi

LISTA DE TABELAS

CAPIacuteTULO IVARIACcedilAtildeO INTRAESPECIacuteFICA CONHECIMENTO E MANEJO

LOCAL DE MANDIOCA (Manihot esculenta Crantz) NO SEMIAacuteRIDO DE

PERNAMBUCO NORDESTE DO BRASIL

Tabela 1 Caracteres e estados utilizados pelos agricultores como descritores botacircnicos para

caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das etnovariedades de mandioca 60

Tabela 2 Lista das 22 etnovariedades de mandiocas citadas (132 citaccedilotildees) como cultivadas nas

comunidades pertencentes aos Municiacutepios de Altinho (Caratildeo n=8) e ao Municiacutepio de Panelas

(Aracuatilde Satildeo Joseacute do Bola Brejo Velho Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima e Lajeiro

Dantas n=21) 61

Tabela 3 Lista de 17 etnovariedades atualmente cultivadas nos roccedilados das comunidades em

estudo 62

Tabela 4 Descriccedilatildeo das classes do agrupamento por meacutetodo de Ward agrupadas pelo conjunto

dos descritores mais significativos para a caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das variedades de mandioca

63

xii

SUMAacuteRIO

RESUMO GERAL xiii

1 Introduccedilatildeo Geral 14

2 Revisatildeo bibliograacutefica 17

21 Manihot esculenta Crantz e conhecimento local de agricultores tradicionais 17

22Manejo tradicional em roccedilas e diversidade intraespeciacutefica da mandioca 18

23 Redes sociais de troca e circulaccedilatildeo de etnovariedades de mandioca 20

3 Referecircncias bibliograacuteficas 22

VARIACcedilAtildeO INTRAESPECIacuteFICA CONHECIMENTO E MANEJO LOCAL DE

MANDIOCA (Manihot esculenta Crantz) NO SEMIAacuteRIDO DE PERNAMBUCO

NORDESTE DO BRASIL 25

Resumo 26

Introduccedilatildeo 27

Material e meacutetodos 29

Resultados 36

Discussatildeo 40

Conclusatildeo 45

Agradecimentos 45

Referecircncias bibliograacuteficas 46

ANEXOS 51

xiii

RESUMO GERAL

Agricultores de pequena escala que praticam agricultura de modo tradicional em roccedilas

desempenham um importante papel na geraccedilatildeo manutenccedilatildeo e conservaccedilatildeo da

agrobiodiversidade local Dentre as espeacutecies mais cultivadas em roccedilas a Manihot esculenta

Crantz (mandioca) em sua diversidade intrespeciacutefica eacute um dos recursos agriacutecolas de maior

importacircncia econocircmica e de subsistecircncia para diversas populaccedilotildees locais no mundo Acredita-

se que as praacuteticas de manejo dedicadas ao cultivo da mandioca associadas ao conhecimento de

agricultores resultam no aumento da diversidade intraespeciacutefica assim como na conservaccedilatildeo

dessa diversidade Diante disso a pesquisa teve como objetivo compreender os processos

envolvidos na dinacircmica da diversidade agriacutecola da mandioca por meio do acesso ao

conhecimento dos agricultores quanto as praacuteticas de menejo e entender quais fatores podem

estar relacionados a geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da diversidade local Para isso o estudo foi

desenvolvido junto a agricultores tradicionais de sete comunidades rurais localizadas na regiatildeo

semiaacuterida do estado de Pernambuco A abordagem metodoloacutegica foi baseada em entrevistas

semiestruturadas conversas com os informantes e visitas aos roccedilados para caracterizar e

compreender a importacircncia manejo da agricultura de sequeiro e das redes sociais estabelecidas

entre os agricultores bem como identificar as variedades de mandioca atualmente cultivadas

A partir do conhecimento da diversidade manejada analisamos a estrutura da rede de interaccedilatildeo

social formada pelas trocas de etnovariedades entre os agricultores A partir destas informaccedilotildees

discutimos sobre o importante papel dos agricultores na manutenccedilatildeo do conjunto de

etnovariedades regionais Um total de 22 etnovariedades foram citadas as quais satildeo

identificadas pelos agricultores principalmente por meio de sete caracteres morfoloacutegicos A

estrutura em redes de trocas de variedades favorece a manutenccedilatildeo e amplificaccedilatildeo das diferentes

variedades locais

Palavras-Chave Agricultura tradicional Agricultura de sequeiro Agrobiodiversidade

Plantas alimentiacutecias Redes sociais

xiv

ABSTRACT

Small-scale farmers who practice traditional agriculture fields have an important role in

generation maintenance and conservation of local agrobiodiversity Among the most cultivated

species the Manihot esculenta Crantz (cassava) in its intrespecific diversity is one of the

moust important agricultural resources of economic importance and livelihood for many local

people in the world It is believed that the management practices dedicated to the cultivation of

cassava associated with the knowledge of farmers result in increased intraspecific diversity

and the conservation of this diversity Therefore the research aimed to understand the processes

involved in the dynamics of agricultural diversity of cassava through access the knowledge of

farmers as the management of practices and understand what factors may be related to the

generation and maintenance of local diversity For this the study was developed with the

traditional farmers of seven rural communities located in the semiarid region of the state of

Pernambuco The methodological approach was based on semi-structured interviews

conversations with informants and visits to fields to characterize and understand the

importance of management of dry framing and social networks established between farmers

and to identify the cassava varieties currently grown From the knowledge of managed

diversity we analyze the structure of social interaction network formed by the exchange of

landraces among farmers From this information We discussed the important role of farmers

in the overall regional landraces maintenance A total of 22 landraces were cited which are

identified by farmers mainly through seven morphological characters The structure of

varieties sharing networks favors the maintenance and amplification of different local varieties

Keywords Agrobiodiversity Dry Farming Food plants Social networks Traditional

agriculture

14

1 Introduccedilatildeo Geral

Ao longo dos anos populaccedilotildees tradicionais foram adquirindo aprimorando e transmitindo

seus conhecimentos sobre o manejo dos recursos naturais existentes em suas respectivas

regiotildees e assim foram desenvolvendo teacutecnicas para se adaptar e sobreviver ao ambiente Essas

populaccedilotildees foram domesticando uma grande variedade de espeacutecies de plantas alimentiacutecias

numa agricultura de pequena escala (BALLEacute 2006 CLEMENT et al 2010)

Essa interaccedilatildeo pessoas-planta por meio do cultivo e manejo das espeacutecies vegetais vem

contribuindo para ambos com alteraccedilotildees adaptativas por meio da seleccedilatildeo artificial Essas

alteraccedilotildees resultaram em mudanccedilas na estrutura geneacutetica das espeacutecies vegetais pelo manejo da

seleccedilatildeo de caracteriacutesticas fenotiacutepicas fisioloacutegicas e econocircmicas das plantas E essa seleccedilatildeo

consciente ou inconsciente das plantas se traduz em uma grande variaccedilatildeo intraespeciacutefica nas

populaccedilotildees vegetais sob diferentes regimes de manejo (CARMONA CASAS 2005)

Por meio do cultivo agricultores em comunidades tradicionais desempenham um papel

fundamental no processo dinacircmico de geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da agrobiodiversidade local em

sistemas de roccedilas Essas roccedilas satildeo aacutereas de agricultura tradicional localizadas dentro de

comunidades caracterizadas natildeo soacute pelo grande nuacutemero espeacutecies cultivadas mas tambeacutem pela

alta diversidade intraespeciacutefica que essas espeacutecies apresentam (MARTINS 2005) Dentre as

espeacutecies comumente cultivadas nesse sistema a mandioca (Manihot esculenta Crantz

Euphorbiaceae) eacute considerada uma cultura de alto valor econocircmico nutricional utilitaacuterio

cultural e social para muitas populaccedilotildees humanas no mundo (CLEMENT et al 2010) Aleacutem

disso a mandioca apresenta uma grande diversidade intraespeciacutefica e por essas caracteriacutesticas

tornou-se uma espeacutecie-modelo para compreender como os diferentes padrotildees e estrateacutegias de

manejo adotadas pelos agricultores podem influenciar na diversidade local (ELIAS et al 2001

EMPERAIRE PERONI 2007 EMPERAIRE ELOY 2008)

Segundo PERONI amp MARTINS (2000) as diferentes praacuteticas de manejo desse

importante recurso favorecem a alta diversidade intraespeciacutefica em roccedilas de agricultura

itinerante1 Um dos fatores responsaacuteveis pela geraccedilatildeo dessa diversidade consiste na capacidade

de incorporaccedilatildeo de novos germoplasmas por meio da reproduccedilatildeo sexuada associada ao manejo

agriacutecola tradicional (PUJOL et al 2005 EMPERAIRE PERONI 2007) Apesar de propagada

1 Agricultura caracterizada por ciclos de uso e pousio como por exemplo corte e queima

15

vegetativamente pelos agricultores a mandioca (M esculenta) ainda manteacutem a sua capacidade

de reproduccedilatildeo sexual sendo este um aspecto muito importante para dinacircmica evolutiva da

cultura (PUJOL et al 2007 CLEMENT et al 2010) Apoacutes a fecundaccedilatildeo cruzada e dispersatildeo

das sementes um banco destas eacute formado no solo e as novas variedades germinam nas roccedilas

(MARTINS 2005) Antes de serem imcorporadas ao acervo essas lsquolsquovariedades-voluntaacuteriasrsquorsquo

passam por um filtro cultural ou seja seratildeo reconhecidas pelos agricultores por meio de

caracteriacutesticas morfoloacutegicas experimentadas e entatildeo selecionadas (MARTINS OLIVEIRA

2009)

Outro evento envolvido na geraccedilatildeo de diversidade intraespeciacutefica eacute incorporaccedilatildeo de

novas variedades de mandioca por meio de uma rede social de troca de material propagativo

estabelecida entre os agricultores (CAVECHIA et al 2014) Esse mecanismo permite a

circulaccedilatildeo das manivas2 tanto a niacutevel local quanto regional permite tambeacutem o acesso aos

diferentes conjuntos de variedades cultivadas entre as comunidades e ainda que o conjunto de

etnovariedades3 locais eou regionais seja conservado (EMPERAIRE ELOY 2008) Dentro

dessas redes sociais de troca as relaccedilotildees entre os agricultores atuam como mecanismo

fundamental para dispersatildeo e experimentaccedilatildeo das etnovariedades entre as roccedilas E satildeo essas

relaccedilotildees e decisotildees estabelecidas entre os agricultores que iratildeo definir quais etnovariedades

seratildeo mantidas ao longo do tempo e quais seratildeo abandonadas (LIMA et al 2012)

Sendo os agricultores e as interaccedilotildees entre eles fundamentais para o estabelecimento da

diversidade local (PINTON EMPERAIRE 2001 EMPERAIRE ELOY 2008) torna-se

pertinente entender como as diferentes estrateacutegias adotadas pelos agricultores influenciam na

dinacircmica da agrobiodiversidade local Muitos trabalhos com esse enfoque foram desenvolvidos

nas regiotildees Amazocircnica e Sudeste mas pouco se discute sobre a dinacircmica da agrobiodiversidade

em regiotildees semiaacuteridas

Nesse sentido o presente estudo visa investigar as interaccedilotildees entre agricultores

tradicionais de comunidades rurais estabelecidas na regiatildeo semiaacuterida de Pernambuco O

objetivo geral eacute compreender os processos envolvidos na dinacircmica da diversidade agriacutecola por

meio do acesso ao conhecimento dos agricultores quanto as praacuteticas de menejo e entender quais

quais fatores podem estar relacionados a geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da diversidade local Para esse

estudo a mandioca foi escolhida como modelo devida agrave sua importacircncia econocircmica e de

subsistecircncia para comunidades locais Os objetivos especiacuteficos foram (i) caracterizar o manejo

2 Satildeo pedaccedilos das hastes ou ramas da mandioca usadas para o plantio 3 Variedades intraespeciacuteficas de mandioca (M esculenta) identificadas pelos agricultores por nomenclatura

popular local (Martins 2005)

16

da agricultura de sequeiro bem como analisar se os paracircmetros socioeconocircmicos influenciam

na diversidade local (ii) registrar as etnovariedades atualmente cultivadas e identificar os

diferentes criteacuterios morfoloacutegicos utilizados pelos agricultores para a seleccedilatildeo e classificaccedilatildeo das

etnovariedades e (iii) descrever a estrutura da rede de interaccedilatildeo entre os agricultores e a

diversidade de etnovariedades de mandioca cultivadas para tentar entender como essas relaccedilotildees

podem influenciar na manutenccedilatildeo ou perda da diversidade local

a

b c

17

2 Revisatildeo bibliograacutefica

21 Manihot esculenta Crantz e conhecimento local de agricultores tradicionais

O gecircnero Manihot Miller (Euforbiaceae) possui cerca de 98 espeacutecies distribuiacutedas em 19

seccedilotildees das quais 13 delas ocorrem no Brasil (ROGERS APPAN 1973) Dentre as espeacutecies do

gecircnero Manihot esculenta Crantz (mandioca) eacute a principal cultivar uma vez que compotildee a

base da dieta alimentar de diversas populaccedilotildees rurais principalmente em regiotildees tropicais A

mandioca foi domesticada na Ameacuterica do Sul pois eacute onde se encontra o maior centro de

diversificaccedilatildeo Estudos relacionados ao entendimento de sua origem botacircnica tecircm contribuiacutedo

para a compreensatildeo das accedilotildees humanas no processo de domesticaccedilatildeo e ampliaccedilatildeo da

diversidade da espeacutecie (OLSEN SCHAAL 1999 ELIAS et al 2004 ELLEN 2012)

As diferentes variedades da espeacutecie satildeo reconhecidas em dois grandes grupos principais

o das variedades mais toacutexicas e o de variedades menos toacutexicas baseadas no potencial de

glicosiacutedeos cianogecircnicos (HCN) contido na polpa das raiacutezes (ELIAS et al 2004) Variedades

com baixa toxicidade contecircm baixas concentraccedilotildees de glicosiacutedeos cianogecircnicos (HCNlt100

mgKg-1) e satildeo conhecidas em comunidades agriacutecolas variando entre regiotildees ou grupos eacutetnicos

como ldquomacaxeirasrdquo ldquomandiocas doces ou mansasrdquo ou ldquoaipinsrdquo As variedades mais toacutexicas

com altas concentraccedilotildees de HCN (HCNgt 100 mgKg-1) satildeo reconhecidas como ldquomandiocasrdquo

ou ldquomandiocas amargas ou bravasrdquo (PERONI et al 2007 MCKEY et al 2010) E portanto

precisam passar por um processo de desintoxicaccedilatildeo para se tornarem aptas ao consumo como

por exemplo pelo processo de fabricaccedilatildeo da farinha de mandioca (Fig 1) Apesar do seu

potencial toacutexico as variedades amargas possuem teores mais elevados de amido e se adaptam

bem a solos pobres e aacutecidos aleacutem de serem mais resistentes aos patoacutegenos e pragas em

comparaccedilatildeo com as variedades doces (FRASER et al 2010)

Sob o ponto de vista botacircnico esta dicotomia natildeo eacute reconhecida mas existem alguns

trabalhos que evidenciam a relaccedilatildeo entre a coerecircncia da taxonomia popular com a diferenciaccedilatildeo

geneacutetica para separaraccedilatildeo das variedades ldquodocesrdquo e ldquoamargasrdquo (ELIAS et al 2004 PERONI

et al 2007) O conhecimento das caracteriacutesticas morfoloacutegicas das plantas e a coerecircncia na

identificaccedilatildeo dessas variedades com niacuteveis distintos de HCN eacute de grande importacircncia

adaptativa para as populaccedilotildees que gerem esse recurso sobretudo pelo risco de intoxicaccedilatildeo

(RIVAL MCKEY 2008)

18

No estudo realizado por AMOROZO (2000) por exemplo os agricultores geralmente

classificavam as variedades que tinham raiacutezes brancas como ldquobravasrdquo e aquelas que tinham

raiacutezes vermelhas como ldquomansasrdquo embora eles reconhecessem algumas exceccedilotildees Em pesquisas

realizados por FARALDO et al (2000) MKUMBIRA et al (2003) ELIAS et al (2004) e

PERONI et al (2007) os agricultores foram consistentes na distinccedilatildeo de suas variedades

lsquolsquodocesrdquo e ldquoamargasrsquorsquo e com base no conhecimento de caracteres morfoloacutegicos distintos os

nomes das variedades refletiram na diversidade geneacutetica A partir dessas evidecircncias podemos

inferir que o conhecimento local dos agricultores associado agrave experiecircncia eacute importante natildeo

somente para o reconhecimento das variedades locais por si soacute mas tambeacutem por conter

informaccedilotildees relevantes sobre o papel que esses recursos podem desempenhar nos sistemas

agriacutecolas de pequena escala e para as populaccedilotildees locais (GADGIL et al 1993)

O conhecimento tradicional dos agricultores trata-se de um conjunto de saberes praacuteticas

e crenccedilas baseadas no contato direto nas observaccedilotildees experimentaccedilotildees diaacuterias e nas

dependecircncias econocircmicas eou de subsistecircncia dos recursos que satildeo geralmente transmitidas

oralmente dentro e entre as geraccedilotildees (AMOROZO 2000 DOMINGUES ARRUDA 2001

BEGOSSI 2004) Sendo assim o conhecimento tradicional de agricultores que praticam a

agricultura de pequena escala realizada em comunidades tradicionais eacute importante pois tem

garantido a perpetuaccedilatildeo dos conhecimentos e das praacuteticas agriacutecolas desenvolvidas durante

milhares de anos entre os agroecossistemas locais

22 Manejo tradicional em roccedilas e diversidade intraespeciacutefica da mandioca

A agricultura de pequena escala praticada em comunidades locais tem garantido a

perpetuaccedilatildeo do conhecimento sobre o manejo e a diversidade de espeacutecies agriacutecolas O sistema

de cultivo em roccedilas eacute tipicamente praticado por agricultores de comunidades tradicionais em

aacutereas uacutemidas no mundo inteiro As roccedilas satildeo aacutereas de cultivo de pequena escala localizadas

dentro de comunidades proacuteximas umas das outras que se tornaram objeto de estudo em vaacuterias

pesquisas antropoloacutegicas etnobotacircnicas geneacuteticas e ecologias especialmente por apresentarem

grande diversidade de espeacutecies cultivadas e pelo manejo destinar-se agrave subsistecircncia de grupos

familiares de agricultores de pequena escala (PUJOL et al 2007)

Aleacutem da diversidade de espeacutecies outra caracteriacutestica dessas roccedilas eacute o grande nuacutemero de

variedades dentro de cada espeacutecie Esta diversidade intraespeciacutefica pode ser referida como

etnovariedades que eacute um termo utilizado para definir grupos de indiviacuteduos identificados por

19

nomenclatura popular local a qual pode expressar elementos do contexto cultural econocircmico

e social das populaccedilotildees associado ao uso (PERONI MARTINS 2000 EMPERAIRE

PERONI 2007)

Dentre as vaacuterias espeacutecies cultivadas em roccedilas a mandioca (M esculenta) em seu

nuacutemero de etnovariedades eacute uma das principais culturas de importacircncia econocircmica e

nutricional para populaccedilotildees que utilizam esse sistema Sua diversidade pode estar relacionada

ao sistema reprodutivo da cultura ao modo de gestatildeo da agricultura pelas pressotildees de seleccedilatildeo

exercidas pelo proacuteprio homem ou ateacute mesmo por causas naturais (MARTINS 2005

CLEMENT et al 2010)

As caracteriacutesticas de manejo empregadas no cultivo da mandioca em roccedilas favorecem

a elevada diversidade intraespeciacutefica dessa cultura O modo de propagaccedilatildeo da mandioca eacute feito

pelos agricultores por meios de estacas (manivas) que satildeo selecionadas de acordo com as

caracteriacutesticas desejaacuteveis que elas apresentam seja para fins econocircmicos ou utilitaacuterios Apesar

de propagada vegetativamente que eacute um meacutetodo usado pelas populaccedilotildees humanas para plantio

e multiplicaccedilatildeo de plantas a mandioca natildeo perdeu a sua capacidade de reproduccedilatildeo sexual

sendo esse um aspecto importante para dinacircmica evolutiva da cultura (PUJOL et al 2007)

Esse meacutetodo de propagaccedilatildeo permite o fluxo e a circulaccedilatildeo do material geneacutetico entre os

diferentes roccedilados por meio de um sistema de redes sociais de troca de etnovariedade de

mandioca entre os agricultores tanto a niacutevel regional (entre comunidades) quanto em escalas

menores (entre vizinhos e parentes) (ELIAS et al 2004 EMPERAIRE OLIVEIRA 2010)

Segundo Emperaire e Peroni (2007) esse mecanismo de troca de germoplasma eacute uma grande

forccedila de dispersatildeo que resulta na agrobiodiversidade regional mais elevada pois estabelece

viacutenculos entre as diferentes roccedilas e promove oportunidades de seleccedilatildeo e cruzamento entre as

diferentes etnovariedades (EMPERAIRE ELOY 2008)

Atributo bioloacutegicos da espeacutecie tambeacutem estatildeo relacionados com o aumento da

diversidade intrespeciacutefica como a capacidade de dormecircncia das sementes e a dispersatildeo

autocoacuterica que propiciam o desenvolvimento de um banco de sementes no solo ao longo do

tempo permitindo o cruzamento entre as novas variedades adquiridasplantadas e entre estas

com variedades que existiram anterioemente na mesma aacuterea (PERONI MARTINS 2000

MARTINS 2005) A presenccedila dessas ldquoplantas-voluntaacuteriasrdquo ou seja aquelas nascidas de

germinaccedilatildeo expontacircnea eacute um dos eventos identificados como precursores de diversidade

intraespeciacutefica nas populaccedilotildees de mandioca cultivadas (PUJOL et al 2007)

20

Contudo muitos esforccedilos vecircm sendo empregados em estudos que observam a ecologia

da mandioca e o manejo agriacutecola associado agrave geraccedilatildeo de diversidade varietal e geneacutetica na

espeacutecie para tentar entender como esses mecanismos influenciam na diversidade de

etnovariedades locais e na sua dinacircmica (PUJOL et al 2007 KOMBO et al 2012 ELIAS et

al 2001)

23 Redes sociais de troca e circulaccedilatildeo de etnovariedades de mandioca

Sistemas agriacutecolas de pequena escala dependem de uma grande diversidade de espeacutecies e

variedades cultivadas e do fluxo destas por meio de redes sociais de troca material vegetativo

estabelecidas entre agricultores podendo o alcance da circulaccedilatildeo variar em escala local eou

regional (EMPERAIRE ELOY 2008) As trocas dependem de dois mecanismos principais

dos padrotildees de interaccedilatildeo social entre os agricultores e dos padrotildees de uso dos recursos

(CAVECHIA et al 2014) e as redes variam em funccedilatildeo das caracteriacutesticas culturais

econocircmicas e sociais das comunidades (EMPERAIRE PERONI 2007 PAUTASSO et al

2012)

No caso da mandioca (Manihot esculenta Crantz) a propagaccedilatildeo se da por estaquia o que

favorece a troca de material de vegetativo entre os agricultores e permite o fluxo entre

variedades locais e regionais (MARTINS 2005) As trocas de variedades de mandioca entre os

agricultores geralmente acontecem por alguma circunstacircncia que leve o agricultor a pedir o

material propagativo para o plantio com por exemplo para o plantio de uma nova roccedila ou por

alguma fitopatologia deslocaccedilatildeo ou estaccedilotildees de chuva e seca prolongadas (EMPERAIRE et

al 2001 EMPERAIRE ELOY 2008) Em alguns casos como no de algumas comunidades

agriacutecolas de pequena escala as redes de casamento satildeo utilizadas para a circulaccedilatildeo de

variedades (EMPERAIRE PERONI 2007 DELEcircTRE et al 2011)

O processo de manutenccedilatildeo da diversidade nesses sistemas resulta do interesse ou da

necessidade do agricultor em adquirir ou abandonar variedades testar e selecionar novas

etnovariedades de mandioca Dentre os fatores que dirigem a seleccedilatildeo de etnovariedades estatildeo

as preferecircncias individuais dos agricultores Alguns podem optar por cultivar todas as

etnovariedades comuns eou disponiacuteveis na regiatildeo enquanto que outros optam apenas por

manter um conjunto especiacutefico dessa diversidade (CAVECHIA et al 2014) Seja para atender

a alguma demanda individual pelo interesse em aumentar a produtividade ou pela necessidade

21

de conservar o material vegetativo para o proacuteximo plantio no caso de perda de material por

algum fator ambiental adverso (EMPERAIRE et al 2001 EMPERAIRE ELOY 2008)

Nesse sentido satildeo os agricultores os maiores responsaacuteveis por determinar como e quais

etnovariedades seratildeo compartilhadas e mantidas entre as comunidades (PAUTASSO et al

2012) E a chave para a compreensatildeo da dinacircmica da diversidade varietal eacute por meio desse

intercacircmbio e dos fatores que influenciam essa conectividade entre as comunidades pois essas

redes representam um grande impacto sobre a diversidade de variedades cultivadas E eacute por

meio dessas redes que se diminui coletivamente os riscos de perda total de diversidade geneacutetica

local (EMPERAIRE ELOY 2008)

Desse modo as relaccedilotildees estabelecidas pelos agricultores entre as comunidades por meio

das redes troca de germoplasma podem ter consequecircncias importantes sobre a diversidade

varietal da mandioca E compreender os processos envolvidos na manutenccedilatildeo ou perda de

germoplasma nos sistemas agriacutecolas eacute importante uma vez que compreendendo a maneira

como os agricultores usam esse conjunto de etnovariedades de mandioca e as compartilham

vai trazer importantes discussotildees a cerca da qualidade e a quantidade do recurso que seraacute

mantido transmitido ou perdido dentro dos sistemas ao longo do tempo

22

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25

VARIACcedilAtildeO INTRAESPECIacuteFICA CONHECIMENTO E MANEJO

LOCAL DE MANDIOCA (Manihot esculenta Crantz) NO SEMIAacuteRIDO DE

PERNAMBUCO NORDESTE DO BRASIL

Artigo submetido ao perioacutedico Human Ecology

Normas para submissatildeo em anexos

26

Variaccedilatildeo intraespeciacutefica conhecimento e manejo local de mandioca 1

(Manihot esculenta Crantz) no semiaacuterido de Pernambuco Nordeste do 2

Brasil 3

Mirela Nataacutelia Santos12 Jhonatan Rafael Zaacuterate-Salazar1 Reginaldo de Carvalho1 amp 4

Ulysses Paulino de Albuquerque2 5

6

1 Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo em Botacircnica Departamento de Biologia Rua Dom Manuel de Medeiros 7

Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) sn Dois Irmatildeos Recife Pernambuco 52171-8

900 Brasil 9

2 Laboratoacuterio de Ecologia e Evoluccedilatildeo de Sistemas Socioecoloacutegicos (LEA) Departamento de Botacircnica 10

Avenida Professor Moraes Rego Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) sn Cidade 11

Universitaacuteria Recife Pernambuco 50670-901 Brasil 12

Resumo 13

Historicamente a espeacutecie Manihot esculenta Crantz (mandioca) eacute uma espeacutecie de grande valor 14

econocircmico e de subsistecircncia para populaccedilotildees em comunidades tradicionais Variedades de 15

mandioca satildeo selecionadas com base nos interesses dos agricultores conduzindo uma evoluccedilatildeo 16

especiacutefica sobre a geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da agrobiodiversidade local Diante disso a mandioca 17

tornou-se espeacutecie-modelo em estudos que buscam compreender como os padrotildees e estrateacutegias 18

adotadas pelas populaccedilotildees humanas influenciam na diversidade intraespeciacutefica local em regiotildees 19

tropicais No entanto os fatores que influenciam a diversidade da mandioca em regiotildees 20

semiaacuteridas ainda natildeo foram bem documentados Nesse sentido objetivo geral do estudo foi 21

compreender os processos envolvidos na dinacircmica da diversidade agriacutecola em sete 22

comunidades tradicionais localizadas na regiatildeo semiaacuterida do estado de Pernambuco (Nordeste 23

do Brasil) por meio do acesso ao conhecimento dos agricultores quanto as praacuteticas de menejo 24

para tentar quais quais fatores podem estar relacionados a geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da diversidade 25

local Com os resultados da anaacutelise de redes verificamos uma alta diversidade de 26

etnovariedades cultivadas e a sua composiccedilatildeo eacute determinada pelas preferecircncias e 27

comportamentos individuais dos agricultores que foram provavelmente os mecanismos 28

27

responsaacuteveis pelo surgimento da estrutura aninhada observada na anaacutelise rede Esse padratildeo 29

aninhado contribui na conservaccedilatildeo das etnovariedades mais comuns mas tambeacutem pode resultar 30

em perda daquelas de menor frequecircncia ao longo do tempo 31

Palavras-Chave Agricultura tradicional Agricultura de sequeiro Agrobiodiversidade 32

Etnobiologia Plantas alimentiacutecias 33

34

Introduccedilatildeo 35

Historicamente as populaccedilotildees humanas foram acumulando conhecimentos sobre 36

praacuteticas da agricultura desenvolvendo teacutecnicas adaptadas ao meio natural e assim foram 37

domesticando uma grande variedade de cultivos alimentares para garantirem a sua 38

sobrevivecircncia (Balleacute 2006 Clement et al 2010) Essa interaccedilatildeo pessoas-plantas por meio do 39

cultivo e manejo das espeacutecies vegetais considerando tanto os aspectos sociais quanto naturais 40

dos sistemas dinacircmicos eacute uma importante ferramenta para o entendimento do conhecimento 41

dos agricultores sobre os agroecossistemas locais ( Alcorn 1995) 42

Aleacutem disso essas interaccedilotildees vem contribuindo com alteraccedilotildees nas populaccedilotildees vegetais 43

por meio da seleccedilatildeo artificial Essas alteraccedilotildees resultaram em mudanccedilas na estrutura geneacutetica 44

dessas populaccedilotildees que satildeo determinadas geralmente pela seleccedilatildeo de caracteriacutesticas fenotiacutepicas 45

fisioloacutegicas eou econocircmicas das plantas refletidas em classificaccedilotildees e nomenclaturas 46

especiacuteficas baseadas em percepccedilotildees individuais (Carmona amp Casas 2005) 47

Muitos pesquisadores tentam explicar o papel dos agricultores de pequena escala na 48

seleccedilatildeo classificaccedilatildeo e manutenccedilatildeo da agrobiodiversidade local em roccedilas tradicionalmente 49

manejas em regiotildees uacutemidas (Emperaire amp Peroni 2007 Emperaire amp Eloy 2008 Marchetti et 50

al 2013) Essas roccedila satildeo aacutereas de cultivo caracterizadas por conter uma alta diversidade 51

intraespeciacutefica de espeacutecies (Martins 2005) Dentre elas a Manihot esculenta Crantz 52

28

(mandioca) Euphorbiaceae em sua diversidade de etnovariedades eacute a espeacutecie mais importante 53

sob ponto de vista econocircmico e de subsistecircncia para as populaccedilotildees locais e mais cultivada 54

devido a sua grande adaptabilidade ambiental e baixos custos de gestatildeo (Elias et al 2001) 55

A alta diversidade da mandioca nessas aacutereas pode ser atribuiacuteda agrave possibilidade de 56

introduccedilatildeo de novas variedades via reproduccedilatildeo sexuada associada a ecologia da espeacutecie Esse 57

mecanismo permite o fluxo gecircnico entre as variedades de mandioca cultivadas do mesmo local 58

e entre estas com variedades de locais vizinhos (Pujol et al 2007) Outro mecanismo que 59

favorece essa diversidade eacute agrave circulaccedilatildeo de material propagativo por meio redes sociais de troca 60

variedades entre os agricultores (Pujol et al 2005 Emperaire amp Peroni 2007 Clement et al 61

2010) Esse mecanismo de troca eacute fundamental para o estabelecimento de interaccedilotildees entre as 62

diferentes aacutereas de roccedila promovendo oportunidade de seleccedilatildeo e cruzamento entre os diferentes 63

conjuntos de variedades aleacutem de permitir que este conjunto seja conservado (Emperaire amp Eloy 64

2008) 65

Diante desse cenaacuterio podemos observar que a agrobiodiversidade local natildeo eacute fruto 66

apenas de fatores naturais mas eacute tambeacutem influenciada pelas caracteriacutesticas culturais e 67

socioeconocircmica das populaccedilotildees locais refletidas especialmente no conhecimento e manejo 68

local Nesse sentido o presente estudo visa investigar as interaccedilotildees entre agricultores 69

tradicionais de comunidades rurais estabelecidas na regiatildeo semiaacuterida de Pernambuco 70

O objetivo geral eacute compreender os processos envolvidos na dinacircmica da diversidade 71

agriacutecola por meio do acesso ao conhecimento dos agricultores quanto as praacuteticas de menejo e 72

entender quais quais fatores podem estar relacionados a geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da diversidade 73

local Para esse estudo a mandioca foi escolhida como modelo devida agrave sua importacircncia 74

econocircmica e de subsistecircncia para comunidades locais Os objetivos especiacuteficos foram (i) 75

caracterizar o manejo da agricultura de sequeiro bem como analisar se os paracircmetros 76

socioeconocircmicos influenciam na diversidade local (ii) registrar as etnovariedades atualmente 77

29

cultivadas e identificar os diferentes criteacuterios morfoloacutegicos utilizados pelos agricultores para a 78

seleccedilatildeo e classificaccedilatildeo das etnovariedadese (iii) descrever a estrutura da rede de interaccedilatildeo entre 79

os agricultores e a diversidade de etnovariedades de mandioca cultivadas para tentar entender 80

como essas relaccedilotildees podem influenciar na manutenccedilatildeo ou perda da diversidade local 81

Material e meacutetodos 82

Aacutereas de estudo 83

Amostramos sete comunidades rurais estabelecidas na regiatildeo semiaacuterida de 84

Pernambuco Nordeste do Brasil Uma das comunidades (Caratildeo) pertence ao Municiacutepio de 85

Altinho (ldquo8deg 29rsquo 10rdquo S e 36deg 03rsquo 49rdquo W) e as demais (Satildeo Joseacute do Bola Brejo velho 86

Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima Lajedo Dantas e Aracuatilde) ao Municiacutepio de 87

Panelas (8 deg 39 48 S e 36 deg 01 23 W) (Fig 2) 88

O modelo agriacutecola adotado na regiatildeo segue o sistema tradicional de sequeiro4 e todas 89

as comunidades em estudo possuem histoacuterico de cultivo de mandioca (M esculenta) As aacutereas 90

de cultivo satildeo estabelecidas por unidade familiar e as atividades satildeo realizadas em sua maioria 91

por homens tendo cada agricultor cerca de um a dois hectares de aacuterea para plantio Aleacutem da 92

mandioca os cultivos mais utilizados na comunidades satildeo milho (Zea mays) e feijatildeo (Phaseolus 93

sp) 94

Para os membros das comunidades a produccedilatildeo da farinha de mandioca (Fig 3) eacute uma 95

das atividades agriacutecolas mais importantes tanto pelo seu papel na dieta alimentar quanto pela 96

importacircncia social e econocircmica 97

Caracteriacutesticas das comunidades do estudo 98

A comunidade do Caratildeo localiza-se sob domiacutenio de Caatinga caracterizado por climas 99

quentes e secos com regimes escassos de chuvas correspondente ao tipo BSrsquoh segundo a 100

4 Eacute o cultivo praticado sem irrigaccedilatildeo em regiotildees onde a pluviosidade eacute diminuta

30

classificaccedilatildeo climaacutetica de Koumlppen A vegetaccedilatildeo eacute composto por espeacutecies perenes que 101

conseguem sobreviver mesmo em periacuteodos de seca e espeacutecies anuais que aparecem apenas em 102

periacuteodos com chuva (Cruz et al 2013) 103

De acordo os dados de precipitaccedilatildeo do Laboratoacuterio de Anaacutelise e Processamento de 104

Imagens de Sateacutelites (LAPIS) no ano de 2012 foi registrada a menor meacutedia anual de 105

precipitaccedilatildeo dos uacuteltimos 10 anos para essa regiatildeo (3784 mm) Essa realidade ambiental quando 106

comparada com estudo realizado por de Sieber e colaboradores (2011) na mesma comunidade 107

observa-se que houve uma diminuiccedilatildeo considerada das praacuteticas agriacutecolas realizadas pelos 108

membros da comunidade culminando em uma seacuterie de prejuiacutezos aos agricultores como a perda 109

de plantaccedilotildees e animais Essa perda de produtividade afetou a estrutura econocircmica da 110

comunidade uma vez que a principal fonte de subsistecircncia das famiacutelias eacute a agricultura 111

Associada as atividades agriacutecolas os moradores complementam a dieta e a renda 112

familiar com a venda dos excedentes da produccedilatildeo em feiras-livres ou centros comerciais da 113

regiatildeo (Cruz et al 2013) E com a pecuaacuteria de pequena escala bovina caprina e com avicultura 114

No entanto a diminuiccedilatildeo da forragem natural e cultivada causada pela escassez de chuvas 115

associada aos elevados custos envolvidos na compra de raccedilatildeo levou muitos animais agrave morte 116

(Fig 4) 117

No Municiacutepio de Altinho a comunidade do Caratildeo foi inicialmente escolhida devido ao 118

reconhecimento preacutevio do registro de agricultores realizado em estudos desenvolvidos pelo 119

nosso grupo de pesquisa facilitando assim o acesso agraves informaccedilotildees necessaacuterias para o 120

desenvolvimento da pesquisa 121

As comunidades Aracuatilde Brejo Velho Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima 122

Lajedo Dandas e Satildeo Joseacute do Bola amostradas no estudo pertencem ao Municiacutepio de Panelas 123

que se limita ao Norte com o Municiacutepio de Altinho Essas comunidades estatildeo localizadas em 124

31

no domiacutenio morfoclimaacutetico de Caatinga O clima eacute do tipo semiaacuterido Bsrsquoh segundo a 125

classificaccedilatildeo climaacutetica de Koumleppen 126

A maior parte dos membros dessas comunidades assim como no Caratildeo tecircm como 127

principal fonte de subsistecircncia a agricultura de sequeiro principalmente o cultivo da mandioca 128

(Fig 5) Como renda extra a pecuaacuteria de pequeno porte com criaccedilatildeo bovina caprina e 129

avicultura sendo os excedentes dos alimentos produzidos vendidos em feiras locais ou para 130

escolas 131

As atividades agriacutecolas entre as comunidades tambeacutem foram duramente afetadas pela 132

seca na regiatildeo nos uacuteltimos anos A escassez de chuvas desestimulou o plantio a produccedilatildeo de 133

mandioca foi fortemente comprometida e a colheita foi adiada devido ao subdesenvolvimento 134

das raiacutezes gerando impactos econocircmicos para os membros das comunidades 135

As comunidades amostradas neste muniacutecipio foram escolhidas em funccedilatildeo das 136

indicaccedilotildees dos agricultores entrevistados a princiacutepio na comunidade do Caratildeo que reportaram 137

manter viacutenculos sociais com os agricultores do municiacutepio vizinho 138

Coleta de dados 139

Acessamos as comunidades com a ajuda de um liacuteder comunitaacuterio (Alexandre O 140

Nascimento) em companhia de outros pesquisadores que desenvolviam pesquisas na regiatildeo 141

Previamente as entrevistas todos objetivos e procedimentos para a realizaccedilatildeo da pesquisa foram 142

apresentados aos entrevistados e todos que aceitaram participar foram convidados a assinar um 143

Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) de acordo com a Resoluccedilatildeo 46612 do 144

Conselho Nacional de Sauacutede concordando com a realizaccedilatildeo das entrevistas e avaliaccedilotildees 145

morfoloacutegicas em campo O presente trabalho foi submetido ao Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa da 146

Universidade de Pernambuco (UPE) 147

32

Em todas as comunidades o meacutetodo de acesso ao informante foi o mesmo a partir do 148

primeiro contato com um informante-chave identificamos outros potenciais agricultores 149

seguindo a teacutecnica de ldquobola de neverdquo (Albuquerque et al 2014a) Esse meacutetodo consistiu na 150

amostragem intencional dos participantes e nesse particular os agricultores chefes de famiacutelia 151

(ge 18 anos) da regiatildeo que declararam cultivar mandioca (M esculenta) em suas roccedilas 152

Reunimos informaccedilotildees socioeconocircmicas desses agricultores tais como nome idade gecircnero 153

escolaridade renda experiecircncia na agricultura e tamanho da aacuterea de cultivo para tentar 154

identificar se esses paracircmetros socioeconocircmicos tecircm uma relaccedilatildeo com a agrobiodiversidade 155

local 156

Em seguida conduzimos entrevistas semiestruturadas (Albuquerque et al 2014b) com 157

o objetivo de caracterizar o modo de vida dos agricultores o manejo da agricultura bem como 158

obter dados sobre o conhecimento uso e caracterizaccedilatildeo das etnovariedades de mandioca 159

5cultivadas Aleacutem disso neste momento tambeacutem aplicamos a teacutecnica da lista livre 160

(Albuquerque et al 2014b) a fim de registrar as variedades de mandioca atualmente cultivadas 161

pelos agricultores e identificar as de maior importacircncia local Apoacutes as entrevistas realizamos 162

visitas aos roccedilados para o registro fotograacutefico georreferenciamento das roccedilas e caracterizaccedilatildeo 163

morfoloacutegica das variedades cultivadas 164

Entrevistamos 50 agricultores no total distribuiacutedos nas sete comunidades Caratildeo (3) 165

Satildeo Joseacute do Bola (10) Brejo velho (7) Japaranduba de Baixo (7) Japaranduba de Cima (8) 166

Lajedo Dantas (9) e Aracuatilde (6) Destes 10 satildeo mulheres e 40 homens com idade variando entre 167

31 e 82 anos A maioria dos entrevistados natildeo apresentava instruccedilatildeo formal (46) mais da 168

metade eram aposentados (56) e os demais apresentaram renda inferior a um salaacuterio miacutenimo 169

5 Entende-se por etnovariedade de mandioca o conjunto de variedades intraespeciacuteficas de mandioca (M esculenta)

reconhecidas pelos agricultores por nomenclatura popular local (Peroni 2004)

33

O tempo meacutedio de experiecircncia na agricultura foi de 40 anos Cada agricultor possui entre um e 170

dois roccedilados (aacuterea de plantio) com aproximadamente um a dois hectares 171

Redes de interaccedilatildeo social 172

Confeccionamos a rede que descreve as interaccedilotildees entre os agricultores e as 173

etnovariedades cultivadas a partir de uma matriz de incidecircncia R (presenccedilaausecircncia) onde nas 174

linhas estavam as etnovariedades de mandioca cultivadas (j) e nas colunas os agricultores locais 175

(i) O elemento Rij dessa matriz foi 1 (um) no caso de a etnovariedade j ser cultivada pelo 176

agricultor i caso contraacuterio seria atribuiacutedo 0 (zero) As interaccedilotildees entre os agricultores e as 177

etnovariedades foram descritas em dois modos (Pires et al 2011) onde os ldquonoacutesrdquo da esquerda 178

representam os agricultores que foram vinculados aos ldquonoacutesrdquo da direita representados pelas 179

etnovariedades citadas durante as entrevistas Esses ldquonoacutesrdquo seriam o espelho das decisotildees dos 180

agricultores em manter um determinado conjunto local de etnovariedades em suas roccedilas 181

Avaliamos a estrutura da rede que conecta os agricultores agraves etnovariedades cultivadas 182

a partir de trecircs cenaacuterios hipoteacuteticos (Fig 6) segundo Cachevia et al (2014) No primeiro se os 183

agricultores apresentassem diferentes graus de seletividade para a utilizaccedilatildeo de suas 184

etnovariedades a estrutura seria aninhada (Fig 6a) Isso significa que alguns agricultores 185

cultivam vaacuterias etnovariedades enquanto que outros cultivam o subconjunto mais 186

disponiacutevelcomum dessas etnovariedades Em segundo lugar se a rede apresentasse uma 187

estrutura modular (Fig 6b) significaria que os agricultores apresentam semelhanccedila na seleccedilatildeo 188

do recurso ou seja subgrupos de agricultores cultivam subgrupos distintos de etnovariedades 189

regionalmente disponiacuteveiscomuns E o terceiro se os agricultores natildeo apresentassem 190

preferecircncias quanto a seleccedilatildeo das etnovariedades entatildeo a rede apresentaria uma estrutura 191

aleatoacuteria (Fig 6c) 192

O objetivo da anaacutelise de rede nesse estudo foi tentar entender se o conjunto de 193

etnovariedades presentes no local do estudo constituem uma subamostra de um conjunto mais 194

34

amplo no caso de um alto grau de aninhamento ou se a sua composiccedilatildeo eacute determinada por 195

variaacuteveis locais (Ulrich 2008) Onde as conexotildees entre os informantes e as etnovariedades 196

representam as decisotildees dos agricultores de manter um conjunto determinado de variedades de 197

mandioca dentre as comunidades Esta anaacutelise tambeacutem nos permitiu identificar quais os nuacutecleos 198

de etnovariedades que apresentam maior conexatildeo com os diferentes perfis dos agricultores 199

Diversidade fenotiacutepica 200

Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 201

Apoacutes as entrevistas buscamos identificar quais os caracteres morfoloacutegicos considerados 202

mais importantes para a diferenciaccedilatildeo das etnovariedades de mandioca a partir do seguinte 203

questionamento ldquoQuais as diferenccedilas que vocecirc reconhece para separar uma qualidade de 204

mandioca (variedade) de uma outrardquo Assim os agricultores mencionaram quais os criteacuterios 205

mais importantes utilizados para a caracterizaccedilatildeo de suas etnovariedades 206

Compilamos uma listagem dessas caracteriacutesticas baseada nas indicaccedilotildees dos 207

agricultores e a partir delas selecionamos os caracteres morfoloacutegicos mais citados para a 208

caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica ldquoin siturdquo tais como cor da folha (cor da folha desenvolvida) olho 209

(cor do broto foliar) cor do talo (cor do peciacuteolo) maniva (cor externa do caule) embriatildeo 210

(protuberacircncia da cicatriz foliar) cor da entrecasca (coacutertex da raiz) e cor miolo (polpa da raiz) 211

(Tabela 1) O objetivo dessa caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica foi indicar como estaacute distribuiacuteda a 212

variaccedilatildeo fenotiacutepica das etnovariedades de mandioca nas comunidades na regiatildeo semiaacuterida de 213

Pernambuco bem como identificar que caracteriacutesticas satildeo mais importantes para distinguir 214

esses grupos no intuito de tentar entender como os agricultores classificam suas variedades de 215

mandioca 216

Nas sete comunidades para cada etnovariedade citada no roccedilado caracterizamos ldquoin 217

siturdquo trecircs indiviacuteduos de M esculentade de cada uma totalizando 171 indiviacuteduos (Aracuatilde=11 218

35

Caratildeo=4 Satildeo Joseacute do Bola=13 Brejo Velho=16 Japaranduba de Baixo=6 Japaranduba de 219

Cima=3 e Lajedo Dantas=4) Fotografamos e avaliamos todos os indiviacuteduos com base em parte 220

dos descritores morfoloacutegicos seguindo recomendaccedilotildees de Fukuda amp Guevara (1998) e aleacutem 221

disso georreferenciamos todas as aacutereas de roccedila 222

Anaacutelise dos dados 223

Analisamos os dados socioeconocircmicos das entrevistas semiestruturadas por meio de 224

estatiacutestica descritiva para explicar os aspectos da realidade econocircmica e social dos agricultores 225

Para identificar se a diversidade intraespeciacutefica da mandioca cultivada localmente eacute 226

influenciada por paracircmetros socioeconocircmicos utilizamos o coeficiente de correlaccedilatildeo de 227

Spearman (Ple005) (Sokal amp Rohlf 1995) 228

Com base na lista livre das variedades de mandioca cultivadas pelos agricultores 229

calculamos a frequecircncia de citaccedilatildeo o ranking e o iacutendice de saliecircncia com o objetivo de 230

identificar quais as mais importantes ou preferidas para as comunidades O iacutendice de saliecircncia 231

considerou a frequecircncia de citaccedilatildeo e o ranking referente ao posicionamento das variedades 232

dentro das listas livres (Thompson amp Juan 2006) As etnovariedades mais citadas e com maior 233

valor de saliecircncia representam as de maior importacircncia ou preferecircncia para as comunidades 234

Anaacutelise de rede 235

Medimos o grau de aninhamento (NODF) para investigar a estrutura de rede de 236

interaccedilatildeo social dos agricultores em funccedilatildeo das variedades cultivadas As matrizes altamente 237

aninhadas apresentam NODF tendendo a 1 caso contraacuterio tentem a ser 0 238

Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 239

Para o estudo das semelhanccedilas e diferenccedilas fenotiacutepicas entre as variedades de mandioca 240

ldquoin siturdquo realizamos anaacutelises multivariadas para identificar possiacuteveis grupos de variedades que 241

compartilham semelhanccedilas entre si 242

36

A anaacutelise de correspondecircncia muacuteltipla (MCA) permitiu identificar como as variedades 243

de mandioca estatildeo ordenadas em funccedilatildeo dos seus descritores etnobotacircnicos As etnovariedades 244

foram plotadas ao longo um plano cartesiano bi ou tridimensional onde a variaccedilatildeo total eacute 245

explicada pelos dois primeiros eixos Complementar a esta anaacutelise realizamos a anaacutelise de 246

agrupamento hieraacuterquico (Cluster) para identificar como estatildeo agrupadas as etnovariedades de 247

acordo seus descritores Conferimos a consistecircncia do dendrograma com coeficiente de 248

correlaccedilatildeo cofeneacutetica conforme Sneath amp Sokal (1973) que quantifica se a correlaccedilatildeo entre a 249

matriz de distacircncias originais e a matriz de distacircncias cofeneacuteticas eacute representativa Para 250

mensurar as dissimilaridades entre as variedades de mandioca foi utilizada a distacircncia 251

euclidiana e com o meacutetodo de Ward 252

Softwares utilizados 253

Para a anaacutelise da lista livre usamos o software ANTROPAC versatildeo 10 O software 254

ANINHADO 30 (Guimaratildees amp Guimaratildees 2006) foi usado para medir o grau de aninhamento 255

da rede Utilizamos o software estatiacutestico R (R core team 2017) para a anaacutelise de correlaccedilatildeo 256

de Spearman com o pacote corrplot (Wei amp Simko 2013) o desenho da rede que descreve a 257

interaccedilatildeo entre os agricultores e as etnovariedades com o pacote bipartite (Dormann et al 258

2017) E com os pacotes FactoMineR (LEcirc et al 2008) factoextra (Kassambara et al 2016) e 259

vegan (Oksanen et al 2017) foram realizadas as anaacutelises de cluster de correspondecircncia 260

muacuteltipla (MCA) e de correlaccedilatildeo coefeneacutetica respectivamente 261

Resultados 262

As diferentes etnovariedades de mandioca encontradas no estudo suprem a demanda 263

local por alimento enquanto outras atendem agraves preferecircncias individuais ou do comeacutercio As 264

variedades que possuem maior rendimento e a farinha produzida apresenta coloraccedilatildeo branca 265

satildeo as de maior valor comercial para os agricultores devido agraves preferecircncias do mercado Jaacute 266

37

outras variedades que satildeo mais moles e apresentam coloraccedilatildeo amarelada natildeo satildeo empregadas 267

na produccedilatildeo de farinha mas sim consumidas cozidas ou assadas A depender da demanda local 268

os agricultores intencionalmente aumentam ou diminuem a frequecircncia de suas variedades nos 269

roccedilados seja por alguma exigecircncia do comeacutercio ou para consumo familiar 270

Nas comunidades os agricultores separam suas variedades de mandioca em dois grupos 271

como observado em outras comunidades na mata Atlacircntica por Emperaire e Peroni (2007) o 272

das ldquomacaxeirasrdquo que satildeo as variedades exploradas basicamente para o consumo familiar sem 273

processo preacutevio de desintoxicaccedilatildeo cujas raiacutezes satildeo consumidas fritas eou cozidas Sendo 274

utilizadas tambeacutem como complemento na dieta dos animais E o grupo das ldquomandiocasrdquo que 275

satildeo as variedades que necessitam de processo preacutevio de desintoxicaccedilatildeo para o consumo 276

utilizadas comumente para a produccedilatildeo de farinha de mandioca Para os agricultores as 277

ldquomandiocasrdquo possuem maior valor comercial pois apresentam maior rendimento e 278

rentabilidade pois a farinha produzida eacute branca e atende as preferencias do comercio local 279

Aleacutem da farinha outros produtos e subprodutos produzidos dentre os quais foram citados 280

ldquotapioca ou gomardquo ldquobijurdquo ou ldquobolo de mandiocardquo satildeo utilizados para o consumo proacuteprio ou 281

eventual comercializaccedilatildeo 282

Os informantes natildeo possuiacuteam conhecimento sobre a origem dos nomes das variedades 283

de mandioca Quanto a compreensatildeo da geraccedilatildeo da diversidade intraespeciacutefica identificamos 284

que apesar de 66 dos agricultores citarem que conhecem variedades fruto de germinaccedilatildeo de 285

suas sementes nenhum deles utiliza as manivas para o plantio por essas variedades de 286

mandioca ldquovoluntaacuteriasrdquo natildeo apresentarem bom rendimento 287

Observamos que existe uma baixa correlaccedilatildeo entre a diversidade de variedades 288

atualmente cultivadas e as variaacuteveis socioeconocircmicas como no caso do nuacutemero de roccedilados 289

(r=028 Ple005) e do tamanho do roccedilado (r=033 Ple005) (Fig 7) Essa baixa correlaccedilatildeo pode 290

38

ser explicada pelo fato de existirem grupos de agricultores que preferem manter as variedades 291

de maior valor econocircmico e de subsistecircncia mesmo com aacutereas maiores de cultivo 292

Verificamos tambeacutem uma correlaccedilatildeo positiva moderada entre o nuacutemero de variedades 293

conhecidas com o nuacutemero de variedades atualmente cultivadas (r=054 Ple005) Na lista livre 294

foram identificadas 22 etnovariedades de mandioca cultivadas (132 citaccedilotildees no total) sendo 295

oito dessas mais citadas com maiores valores de saliecircncia (entre 047 e 0082) (Tabela 2) As 296

etnovariedades ldquoMacaxeira Rosardquo e ldquoMandioca Isabel de Souzardquo exibiram os maiores valores 297

de saliecircncia 047 e 037 respectivamente Logo essas variedades satildeo as mais conhecidas 298

dentro das comunidades com 66 e 48 das citaccedilotildees respectivamente 299

Dentre as etnovariedades citadas 12 foram idiossincraacuteticas pois apresentaram menor 300

frequecircncia de citaccedilatildeo e menores valores de saliecircncia (entre 0032 e 0006) (Tabela 2) 301

Redes de interaccedilatildeo social 302

A rede apresentou uma estrutura aninhada com grau de aninhamento significativamente 303

superior aos modelos nulos (N=3072 Plt0001) para as comunidades sendo um nuacutecleo de 304

etnovariedades altamente conectado aos agricultores (Fig 8) A estrutura aninhada nos permite 305

inferir que existe um grupo de agricultores que cultiva uma maior diversidade de etnovariedades 306

de mandioca em suas roccedilas enquanto que outro subgrupo que tem menor diversidade cultivam 307

as mais comuns ou disponiacuteveis (Cavechia et al 2014) Isso significa que os agricultores locais 308

mesmo em diferentes comunidades cultivam um nuacutecleo de etnovariedades comum entre eles 309

(n=6 Tabela 2) 310

Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 311

Observamos que a maioria dos indiviacuteduos de mandioca satildeo caracterizados por meio de 312

um conjunto de sete caracteres morfoloacutegicos os quais foram citados pelos agricultores como 313

mais importantes para a caracterizaccedilatildeo de suas variedades Nas visitas aos roccedilados registramos 314

39

as etnovariedades atualmente cultivadas e a tabela 3 fornece a lista completa com as 17 315

etnovariedades de mandioca e o local de registro 316

Por meio da anaacutelise de correspondecircncia muacuteltipla as variedades de mandioca foram 317

ordenadas em funccedilatildeo de seus descritores ao longo do primeiro e segundo eixo correspondentes 318

a 3680 da variacircncia total (Fig 9) 319

As variaacuteveis mais correlacionadas e que agruparam as variedades de mandioca no 320

primeiro eixo foram cor da folha desenvolvida (CFD) (r= 07239 Ple0001) cor do coacutertex da 321

raiz (CDR) (r= 06473 Ple0001) cor do broto foliar (CBF) (r= 06880 Ple0001) cor do peciacuteolo 322

(CDP) (r= 05250 Ple005) cor externa do caule (CEC) (r= 06883 Ple005) cor da polpa da 323

raiz (PDR) (r= 02473 Ple005) Para o segundo eixo as variaacuteveis correlacionadas foram cor 324

da folha desenvolvida (CFD) (r= 07220 Ple0001) cor externa do caule (CEC) (r= 08718 325

Ple0001) e cor do peciacuteolo (CDP) (r= 06927 Ple005) 326

O agrupamento de todas as variedades caracterizadas ldquoin siturdquo gerou uma aacutervore 327

hieraacuterquica (dendrograma) (Fig 9) utilizando a distacircncia euclidiana seguindo o criteacuterio de 328

Ward O dendrograma gerado apresentou um coeficiente de correlaccedilatildeo cofeneacutetica r= 06780 329

indicando que existe consistecircncia com os dados originais no agrupamento quanto agrave 330

classificaccedilatildeo e estrutura de tal forma que as variedades foram agrupadas em oito classes as 331

quais foram explicadas pelas variaacuteveis mais significativas descritas na tabela 4 332

O resultado do agrupamento (utilizada a distacircncia euclidiana e com o meacutetodo de Ward) 333

observamos que as etnovariedades de mandioca caracterizadas ldquoin siturdquo foram agrupadas em 334

dois grandes agrupamentos indicados na Fig 10 pelos retacircngulos em vermelho A partir dessa 335

anaacutelise percebemos que os caracteres morfoloacutegicos selecionados pelos agricultores natildeo foram 336

suficientes para separar as variedades de macaxeira e mandioca pois em ambos os 337

agrupamentos encontramos tanto macaxeiras quanto mandiocas 338

40

As variedades da classe 1 foram identificadas pelos agricultores pela cor do peciacuteolo 339

(CDP) verde A classe 2 agrupou as etnoveriedades caracterizadas pela protuberacircncia da cicatriz 340

foliar (PCF) mais protuberante Esse descritor segundo os agricultores era identificado como 341

ldquoembriatildeordquo A classe 3 consiste apenas da variedade ldquoMandioca Pretonardquo indicada pela presenccedila 342

de cor do peciacuteolo (CDP) vermelho A classe 4 agrupou trecircs variedades caracterizadas pelos 343

agricultores pela presenccedila de cor coacutertex da raiz (CDR) rosa e cor da polpa da raiacutez (PDR) branca 344

identificadas como ldquoMacaxeira vermelhardquo ldquoMacaxeira Rosa Brancardquo ldquoMacaxeira Rosardquo As 345

variedades agrupadas na classe 5 foras as variedades de mandioca caracterizadas pelos 346

agricultores por apresentarem cor do coacutertex (CDR) da raiacutez branca A classe 6 agrupou 347

variedades identificadas pelos agricultores pela cor do broto foliar (CBF) verde A classe 7 348

consiste apenas da variedade ldquoMacaxeira Sementerdquo identificada pelos agricultores pela cor do 349

peciacuteolo (CDP) roxo e protuberacircncia da cicatriz foliar pouco proeminente Essa variedade 350

segundo os agricultores era fruto do nascimento espontacircneo no roccedilado poreacutem eles geralmente 351

natildeo utilizam essas variedades por apresentarem apenas uma raiz pequena e de baixo 352

rendimento Na classe 8 as variedades foram identificadas pelos agricultores pela cor do peciacuteolo 353

(CDP) verde amarelado e protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) pouco proeminente As 354

ldquoMandioca Isabel de Souzardquo ldquoMandioca Isabel trecircs galhosrdquo segundo os agricultores se 355

diferenciavam pelo maior nuacutemero de caules presentes na variedade ldquoIsabel trecircs galhosrdquo 356

Discussatildeo 357

As sete comunidades estudadas manejavam um nuacutemero consideraacutevel de variedades 358

locais A quantidade de etnovariedades registradas eacute proacutexima a encontrada por Bender et al 359

(2009) e Cavechia et al (2014) em comunidades na regiatildeo sul e sudeste por Oler e Amorozo 360

(2017) em uma comunidade tradicional na regiatildeo centro-oeste Poreacutem foi quantitativamente 361

inferior quando comparada a estudos como os de Elias et al (2001) e Kawa et al (2013) em 362

comunidades na regiatildeo amazocircnica pois possuiacuteam uma alta diversidade Essa alta diversidade 363

41

na regiatildeo amazocircnica pode estar relacionada com o fato de que essa regiatildeo eacute o provaacutevel centro 364

de origem da mandioca (M esculenta) (Allem 1994) 365

As etnovariedades registradas neste estudo estatildeo disponiacuteveis para a maioria dos 366

agricultores dessa regiatildeo e esse fator favorece a circulaccedilatildeo das etnovariedades entre as 367

comunidades locais Por isso haacute semelhanccedilas das etnovariedades utilizadas entre os agricultores 368

da mesma comunidade e entre comunidades vizinhas 369

Parte dos agricultores optam por manter uma alta frequecircncia de variedades mais 370

utilizadas enquanto que outros optam por manter etnovariedades de baixa frequecircncia 371

Conforme discutido por Amorozo (2013) os agricultores escolhem seu acervo de acordo com 372

as necessidades e contexto em que vivem A reduccedilatildeo da diversidade de etnoveriedades por 373

exemplo pode ser impulsionada por fatores que simplificam o sistema como a seleccedilatildeo de 374

etnovariedades para a produccedilatildeo de farinha resultando no cultivo de poucas ou ateacute de uma uacutenica 375

etnovariedade (Peroni amp Hanazaki 2002) mesmo em aacutereas maiores 376

377

Redes de interaccedilatildeo social 378

Com as anaacutelises de rede demonstramos que os agricultores de diferentes comunidades 379

em uma mesma regiatildeo efetivamente trocam variedades de mandioca entre si corroborando 380

com estudos realizados por Emperaire amp Eloy (2008) Pautasso et al (2012) e Cavechia et al 381

(2014) Nesses estudos os autores tambeacutem consideram que as trocas de etnovariedades por 382

meio da rede de intercacircmbio entre os agricultores eacute um mecanismo fundamental para a 383

manutenccedilatildeo da diversidade local 384

A visualizaccedilatildeo da rede demonstrou que entre as comunidades os agricultores 385

compartilham um nuacutecleo de etnovariedades mais utilizadas dentre as quais estatildeo as de maior 386

valor econocircmico e de subsistecircncia Essas de maior frequecircncia satildeo aquelas altamente produtivas 387

utilizadas pelos agricultores para atenderem agraves demandas de mercado por farinha e para o 388

consumo proacuteprio (Kawa et al 2013) 389

42

No entanto observamos que existe outro nuacutecleo de etnovariedades menos frequentes 390

Essas etnovariedades raras podem ser resultantes do processo de experimentaccedilatildeo ou 391

preferecircncias individuais dos agricultores Outra possiacutevel razatildeo para a baixa frequecircncia de 392

algumas etnovariedades poderia ser explicada pela variaccedilatildeo da nomenclatura pelos 393

agricultores que segundo Peroni amp Hanazaki (2002) pode ocorrer durante o processo de troca 394

e introduccedilatildeo de novas variedades aos roccedilados Ainda assim natildeo descartamos a hipoacutetese de que 395

essas etnovariedades raras possam ser provenientes do cruzamento entre variedades diferentes 396

cultivadas da mesma roccedilado ou em roccedilas vizinhas De acordo com Martins (2005) essas 397

variedades fruto de germinaccedilatildeo expentacircnea satildeo incorporadas aos roccedilados pelos agricultores 398

pela curiosidade em experimentar novas variedades agraves suas coleccedilotildees 399

Nesse estudo admitimos que optar por etnovariedades raras entre as comunidades 400

estudadas eacute um comportamento adotado por agricultores que manejam uma maior diversidade 401

corroborando com os estudos de Cavechia et al (2014) e Emperaire et al (2016) em regiotildees 402

uacutemidas Para esses autores etnovaridedades de baixa frequecircncia representam um subconjunto 403

das de alta frequecircncia cultivadas por agricultores que manteacutem a maior diversidade em seus 404

roccedilados Sendo assim inferimos que no geral entre as comunidades satildeo os agricultores 405

generalistas aqueles que cultivam maior diversidade os responsaacuteveis por incorporar novas 406

etnovariedades aos roccedilados 407

As decisotildees dos agricultores em manter o acervo direcionado principalmente para 408

atender a demanda de mercado por exemplo podem levar a uma homogeneizaccedilatildeo nas roccedilas 409

colocando em risco a manutenccedilatildeo da diversidade local (Peroni amp Hanazaki 2002) Como 410

discutido por Elias et al (2000) os agricultores que selecionam apenas um nuacutemero reduzido e 411

especiacutefico de variedades mais produtivas tendem a fazer com que as variedades menos 412

frequentes desapareccedilam ao longo do tempo Essa tendecircndia pode influenciar na capacidade de 413

43

resiliecircncia do sistema assim como dos agricultores em lidar com possiacuteveis adversidades 414

ambientais que possam ocorrer 415

Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 416

No geral os agricultores demonstraram uma tendecircncia em classificarseparar suas 417

diferentes etnovariedades de mandioca a partir da combinaccedilatildeo de um conjunto de sete 418

caracteres morfoloacutegicos distintos e de faacutecil percepccedilatildeo os quais natildeo tem relaccedilatildeo com o uso 419

como por exemplo a cores das raiacutezes caule e folhas Logo consideramos que esses caracteres 420

morfoloacutegicos podem ser considerados como uma forma de classificaccedilatildeo pelos agricultores 421

baseada na capacidade percepccedilatildeo das diferenccedilas morfoloacutegicas que cada etnovariedades 422

apresenta (Boster 1985) Estes resultados nos levam a entender que entre os agricultores o 423

conhecimento sobre a diversidade da mandioca estaacute relacionado ao conhecimento de 424

caracteriacutesticas morfoloacutegicas consistentes 425

A existecircncia de alguns fenoacutetipos comuns nos permitiu avaliar a classificaccedilatildeo da 426

consistecircncia da taxonomia popular entre os agricultores Por exemplo as etnovariedades 427

ldquoMaxaceira Rosardquo e ldquoMacaxeira Rosa Brancardquo e ldquoMacaxeira vermelhardquo foram agrupadas no 428

mesmo cluster (C4) por apresentaram fenoacutetipos semelhantes Notamos que os agricultores 429

classificaram essas variedades de acordo com os traccedilos morfoloacutegicos mais relevantes como a 430

cor do coacutertex da raiz rosa e cor branca da polpa O mesmo ocorreu com as etnovariedades 431

ldquoMandioca varudardquo ldquoMandioca campina da granderdquo e ldquoMandioca campinardquo caracterizadas 432

pela presenccedila do peciacuteolo verde agrupadas no cluster (C1) 433

A partir dessas evidecircncias consideramos a hipoacutetese de que as variedades mesmo 434

apresentando caracteriacutesticas morfoloacutegicas muito semelhantes estatildeo sujeitas a variaccedilatildeo 435

nomenclatural durante o processo a incorporaccedilatildeo aos roccedilados pelos agricultores pois a 436

capacidade para distinguir e nomear variedades entre os agricultores da mesma regiatildeo pode 437

variar (Sambatti et al 2001 Elias et al 2001 Mekbib 2007) Consideramos tambeacutem que pode 438

44

existir variaccedilatildeo geneacutetica entre os indiviacuteduos identificados por um mesmo nome ou entatildeo que 439

os agricultores datildeo o mesmo nome para variedades diferentes E esta situaccedilatildeo pode levar a uma 440

superestimaccedilatildeo ou subestimaccedilatildeo da diversidade de mandioca cultiva nas aacutereas de estudo 441

Sabemos que a mandioca eacute propagada vegetativamente pelos agricultores por meio de 442

estacas em sistemas de agricultura tradicional No entanto alguns variedades produzem flores 443

e sementes que germinam e podem originar outras variedades ou outros clones por meio de 444

fecundaccedilatildeo cruzada (Elias et al 2001) Nesse contexto a etnovariedade ldquoMacaxeira Sementerdquo 445

presente no cluster (C7) trata-se de um uacutenico indiviacuteduo amostrado em uma roccedila de um dos 446

agricultores Esta apresentava algumas caracteriacutesticas morfoloacutegicas distintas das demais 447

reconhecidas pelo agricultor como por exemplo a produccedilatildeo de uma raiz uacutenica e 448

consequentemente de baixo rendimento Encontramos apenas um indiviacuteduo dessa 449

etnovariedade e nossa hipoacutetese de que esta poderia ter sido originada da germinaccedilatildeo da 450

semente mesmo quando 100 dos informantes declararam natildeo dar qualquer importacircncia e 451

descartar essas ldquovariedades-voluntaacuteriasrdquo foi confirmada pelo agricultor que afirmou que se 452

tratava de uma variedade nascida da germinaccedilatildeo da semente Esse comportamento vai de 453

encontro ao estudo de Fraser et al (2012) pois apesar dos agricultores reportarem nas 454

entrevistas que conhecem essas ldquovariedades-voluntaacuteriasrdquo nenhum agricultor faz o uso delas 455

Peroni et al (1999) e Agre et al (2016) analisando morfologicamente as variedades 456

locais de mandioca mantidas por agricultores em sistemas agriacutecolas tropicais tambeacutem 457

demonstraram que os agricultores satildeo coerentes quanto a separaccedilatildeo e identificaccedilatildeo de suas 458

etnovariedades a partir da formaccedilatildeo de grupos de coesos quanto a nomenclatura local utilizada 459

No entanto para o melhor entendimento dessa diversidade aleacutem da caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica 460

o uso de anaacutelises complementares como anaacutelise molecular seria importante para tentar 461

identificar se esses grupos representam a mesma variedade com nomes distintos ou se satildeo 462

variedades distintas com o mesmo nome 463

45

Conclusatildeo 464

O estudo demonstrou que no sistema de manejo da mandioca ao niacutevel de roccedila em 465

comunidades localizadas na regiatildeo semiaacuterida de Pernambuco compotildee uma diversidade 466

intrespeciacutefica de mandioca para atender agraves demandas econocircmicas e de subsistecircncia das 467

populaccedilotildees locais 468

Com relaccedilatildeo a anaacutelise de rede demostramos que haacute um nuacutecleo de etnovariedades 469

fortemente conectado aos agricultores e sua composiccedilatildeo eacute direcionada pelas preferecircncias e 470

necessidades individuais dos agricultores que foram os fatores responsaacuteveis pelo surgimento 471

da estrutura aninhada observada na anaacutelise rede entre as comunidades deste estudo E esse 472

padratildeo aninhado observado contribui na conservaccedilatildeo das etnovariedades mais comuns mas 473

tambeacutem pode resultar em perda daquelas de menor frequecircncia ao longo do tempo 474

A caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica ldquoin siturdquo nos permitiram inferir que os agricultores 475

reconhecem as diferentes caracteriacutesticas morfoloacutegicas de suas cultivares e satildeo coerentes na 476

separaccedilatildeo de suas variedades de mandioca e macaxeira Entretanto esses resultados sugerem a 477

realizaccedilatildeo de um estudo em niacutevel de diversidade geneacutetica exploratoacuterio para identificar se as 478

consistecircncias morfoloacutegicas refletem em consistecircncias geneacuteticas elucidando assim as possiacuteveis 479

confusotildees atribuiacutedas aos nomes das etnovariedades de mandioca 480

Agradecimentos 481

Agradecemos ao liacuteder comunitaacuterio Alexandre O Nascimento aos agricultores e 482

agricultoras das comunidades pela acolhida confianccedila e pela gentileza de compartilharem 483

conosco seus conhecimentos e contribuiacuterem com este estudo Especialmente a Arlindo Ferreira 484

Edgar Antocircnio Joseacute Sebastiatildeo Juvenal Oliveira e Janete Alves Ao Laboratoacuterio de Ecologia e 485

Evoluccedilatildeo de Sistemas Socioecoloacutegicos (LEA - UFPE) E agradecemos ao CNPq pelo apoio 486

com a bolsa de estudos do primeiro autor 487

46

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Link de acesso 619

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Qualis-CAPES 621

B1 em Biodiversidade 622

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642

52

Figuras 643

644

645

Fig 1 Partes do processo de fabricaccedilatildeo de farinha de mandioca Onde a raspagem b e c 646

processo de trituraccedilatildeo e d peneiramento Foto registrada em Abril de 2017 por Mirela Santos 647

648

649

650

c

d

b

a

53

651

Fig 2 Mapa de localizaccedilatildeo geograacutefica dos Municiacutepios de Altinho e Panelas e das comunidades 652

estudadas na regiatildeo semiaacuterida do Estado de Pernambuco (Elaborado por SANTOS 2018) 653

54

654

655

656

657

Fig 3 Processo de fabricaccedilatildeo da farinha de mandioca Apoacutes a colheita as raiacutezes satildeo lavadas 658

raspadas e trituradas (a) A massa extraiacuteda eacute prensada e coada Ao sair da prensa a massa 659

peneirada (b) e em seguida eacute torrada (c) em fornos artesanais ou parcialmente mecanizados 660

Imagem registrada em janeiro de 2017 na Comunidade do Caratildeo por Mirela Santos 661

662

663

a

b c

55

664

Fig 4 a Sede da Comunidade do Caratildeo b Agricultor transportando a palma forrageira que eacute 665

um exemplo de estrateacutegia adaptativa para suprir a falta de alimento dos animais devido agrave seca 666

c Feira-livre que acontece na comunidade a cada quinze dias Imagem registrada em julho de 667

2016 na Comunidade do Caratildeo por Mirela Santos 668

669

670

Fig 5 a O agricultor nos explicava as mudanccedilas que vem fazendo em seus roccedilados para se 671

adaptar aos longos periacuteodos de seca b Quando o agricultor nos mostrava as diferentes 672

etnovariedades que mantinha em sua roccedila c Durante a pesquisa nos explicavam como era feita 673

a colheita da mandioca e como selecionavam as manivas para o proacuteximo plantio Foto registrada 674

em abril de 2017 na Comunidade do Brejo Velho por Mirela Santos 675

a

b c

c b

a

56 676

677

Fig 6 Possiacuteveis estruturas de rede que descrevem as interaccedilotildees dos agricultores (losango) 678

ligados as etnovariedades (ciacuterculos) que cultivam Onde a Aninhada b Modular c Aleatoacuteria 679

(Fonte Cavechia et al 2014 com adaptaccedilotildees) 680

681

682

683

684

685

686

687

688

689

690

691

692

693

694

695

696

697

a c b

57

698

699

700

701

702

703

704

705

706

707

Fig 7 Correlaccedilatildeo de Spearman entre a diversidade de etnovariedades de mandiocas conhecidas 708

como cultivadas e variedades atualmente cultivadas por agricultor e as variaacuteveis 709

socioeconocircmicas Onde Nvc= nuacutemero de citadas como cultivadas Nve= nuacutemero de variedades 710

atualmente cultivadas Esc= escolaridade Id= idade Gen= gecircnero Tr= tamanho do roccedilado 711

Exp= experiecircncia na agricultura Sld= renda Nr= nuacutemero de roccedilados Cores distintivas 712

representam correlaccedilotildees significativas (Ple005) 713

714

58

715

Fig 8 Modelo individual de rede de etnovariedades de mandioca citadas (esquerda) por 716

agricultores como cultivadas (direita) nos Municiacutepios de Altinho e Panelas As redes foram 717

desenhadas com o pacote bipartite (Dormann et al 2017) usando o software R (R CORE 718

TEAM 2017) 719

720

59

721

Fig 9 Anaacutelise de Correspondecircncia Muacuteltipla das 17 etnovariedades de mandioca considerando 722

os sete descritores morfoloacutegicos utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo em roccedilas de 723

agricultores tradicionais de sete comunidades no semiaacuterido de Pernambuco 724

725

726

727

728

729

730

731

732

733

734

735

736

737

McCambadinha

McCampina

McCampinaDaGrande

McCampinaRasteira

McCampinaVaruda

McGauba

McIsabelDeSouza

McIsabelTresGalhos

McOlhoDePombo

McOlhoVerde

McPretinha

McPretona

MxBranca

MxRosa

MxRosaBrancaMxRosaVermelha

MxSemente

CFD_Verde_Arroxeado

CFD_Verde_ClaroCFD_Verde_Escuro

CBF_Roxo

CBF_Verde_ArroxeadoCBF_Verde_Claro

CBF_Verde_Escuro

CDP_Verde

CDP_Verde_Amarelado

CDP_Verde_Avermelhado

CDP_Vermelho

CEC_Cinza

CEC_Dourado

CEC_Laranja

CEC_Marrom_Claro

CEC_Marrom_Escuro

CEC_Prateado

CEC_Verde_AmareladoCicatriz_M

Cicatriz_P

PDR_Branco

PDR_Creme

CDR_BrancoCDR_Creme CDR_Rosa

-4

-2

0

2

4

-4 -2 0 2 4

Dim1 (206)

Dim

2 (

162

)

MCA - Biplot

00

10

Hierarchical Clustering

inertia gain

McC

am

pin

aV

aru

da

McC

am

pin

aD

aG

rande

McC

am

pin

a

McG

auba

McP

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McP

reto

na

MxR

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MxR

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ranca

MxR

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McC

am

pin

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ira

McC

am

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e

MxB

ranca

MxS

em

ente

McIsabelT

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alh

os

McIsabelD

eS

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McO

lhoD

eP

om

bo

00

05

10

15

Hierarchical Classification

Heig

ht

C1 C2 C3 C4 C5 C6 C7 C8

Fig 10 Agrupamento hieraacuterquico das 17 etnovariedades de mandioca caracterizadas de acordo

com os descritores utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo

60

Tabelas 738

739

Tabela 1 Caracteres e estados utilizados pelos agricultores como descritores botacircnicos para 740

caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das etnovariedades de mandioca 741

Caracter Sigla Estados

Folha

Cor da folha desenvolvida CFD 1- verde claro 2- verde escuro 3- verde arroxeado 4- roxo

Cor do broto foliar CBF 1- verde claro 2- verde escuro 3- verde arroxeado 4- roxo

Cor do peciacuteolo CDP 1- verde amarelado 2- verde 3- verde avermelhado 4- roxo

5- vermelho

Caule

Cor externa do caule CEC 1- laranja 2- verde amarelado 3- dourado 4- marrom claro

5- prateado 6- cinza 7- marrom escuro 8- verde

Protuberacircncia da cicatriz foliar PCF 1- pouco proeminente 2- muito proeminente

Raiacutez

Cor da poupa da raiz PDR 1- branco 2- creme

Cor do coacutertex da raiacutez CDR 1- rosa 2- branco 3- creme

742

743

744

745

746

747

748

749

750

751

61

Tabela 2 Lista das 22 etnovariedades de mandiocas citadas (132 citaccedilotildees) como cultivadas nas 752

comunidades pertencentes aos Municiacutepios de Altinho (Caratildeo n=8) e ao Municiacutepio de Panelas 753

(Aracuatilde Satildeo Joseacute do Bola Brejo Velho Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima e Lajeiro 754

Dantas n=21) 755

Etnovariedade Frequecircncia () Ranking Saliecircncia

Macaxeira Rosa 66 179 0472

Mandioca Isabel de Souza 48 179 0372

Mandioca Campina 24 217 0148

Macaxeira Branca 20 210 0134

Macaxeira Rosa branca 18 122 0168

Mandioca Pretona 16 338 0082

Mandioca Cambadinha 12 283 0071

Mandioca Isabel trecircs galhos 10 180 0075

Mandioca Gauacuteba 10 260 0070

Mandioca Pretinha 8 225 0053

Mandioca Peacute de pombo 4 400 0011

Mandioca Olho verde 4 350 0012

Macaxeira Rosinha 4 200 0027

Mandioca Campina varuda 4 200 0032

Mandioca Campina rasteira 4 300 0021

Mandioca Caboquinha 2 500 0007

Macaxeira Rasteira 2 200 0013

Macaxeira Paraacute 2 100 0020

Mandioca Barra ferro 2 300 0007

Mandioca Campina da grande 2 100 0020

Mandioca Olho de pombo 2 300 0010

Mandioca Jasmim 2 600 0006

756

757

758

62

Tabela 3 Lista de 17 etnovariedades atualmente cultivadas nos roccedilados das comunidades em 759

estudo 760

Ca Ar Bo Br Jb Jc Ld

Etnovariedade

Macaxeira Branca x x x x

Macaxeira Rosa

x x x x x x

Macaxeira Rosa Branca x x x x

Macaxeira Rosa Vermelha

x

Macaxeira Semente

x

Mandioca Cambadinha x

x

Mandioca Campina

x

x

x

Mandioca Campina da Grande x

Mandioca Campina Rasteira

x

Mandioca Campina Varuda

x

Mandioca Gauacuteba

x

Mandioca Isabel de Souza

x x x

Mandioca Isabel trecircs Galhos

x

x

Mandioca Olho de Pombo

x

Mandioca Olho Verde

x

Mandioca Pretinha

x

Mandioca Pretona x x x

Comunidades Ca= Caratildeo Ar=Aracuatilde Bo= Satildeo Joseacute do Bola Jb= Japaranduba de Baixo 761

Jc= Japaranduba de Cima Ld= Lajedo Dantas 762

763

764

765

766

767

768

63

Tabela 4 Descriccedilatildeo das classes do agrupamento por meacutetodo de Ward agrupadas pelo conjunto 769

dos descritores mais significativos para a caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das variedades de mandioca 770

Classes Descritores in situ p-valor

C1 Cor do peciacuteolo (CDP) 0016

C2 Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023

C3 Cor do peciacuteolo (CDP) 0012

C4 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0004

Cor da poupa da raiacutez (PDF) 0021

C5 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0003

C6 Cor do broto foliar (CBF) 0002

C7 Cor da folha desenvolvida (CFD) 0004

Cor externa do caule (CEC) 0040

C8 Cor do peciacuteolo (CDP) 0005

Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023

Valores de Ple005 satildeo significativos 771

772

xi

LISTA DE TABELAS

CAPIacuteTULO IVARIACcedilAtildeO INTRAESPECIacuteFICA CONHECIMENTO E MANEJO

LOCAL DE MANDIOCA (Manihot esculenta Crantz) NO SEMIAacuteRIDO DE

PERNAMBUCO NORDESTE DO BRASIL

Tabela 1 Caracteres e estados utilizados pelos agricultores como descritores botacircnicos para

caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das etnovariedades de mandioca 60

Tabela 2 Lista das 22 etnovariedades de mandiocas citadas (132 citaccedilotildees) como cultivadas nas

comunidades pertencentes aos Municiacutepios de Altinho (Caratildeo n=8) e ao Municiacutepio de Panelas

(Aracuatilde Satildeo Joseacute do Bola Brejo Velho Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima e Lajeiro

Dantas n=21) 61

Tabela 3 Lista de 17 etnovariedades atualmente cultivadas nos roccedilados das comunidades em

estudo 62

Tabela 4 Descriccedilatildeo das classes do agrupamento por meacutetodo de Ward agrupadas pelo conjunto

dos descritores mais significativos para a caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das variedades de mandioca

63

xii

SUMAacuteRIO

RESUMO GERAL xiii

1 Introduccedilatildeo Geral 14

2 Revisatildeo bibliograacutefica 17

21 Manihot esculenta Crantz e conhecimento local de agricultores tradicionais 17

22Manejo tradicional em roccedilas e diversidade intraespeciacutefica da mandioca 18

23 Redes sociais de troca e circulaccedilatildeo de etnovariedades de mandioca 20

3 Referecircncias bibliograacuteficas 22

VARIACcedilAtildeO INTRAESPECIacuteFICA CONHECIMENTO E MANEJO LOCAL DE

MANDIOCA (Manihot esculenta Crantz) NO SEMIAacuteRIDO DE PERNAMBUCO

NORDESTE DO BRASIL 25

Resumo 26

Introduccedilatildeo 27

Material e meacutetodos 29

Resultados 36

Discussatildeo 40

Conclusatildeo 45

Agradecimentos 45

Referecircncias bibliograacuteficas 46

ANEXOS 51

xiii

RESUMO GERAL

Agricultores de pequena escala que praticam agricultura de modo tradicional em roccedilas

desempenham um importante papel na geraccedilatildeo manutenccedilatildeo e conservaccedilatildeo da

agrobiodiversidade local Dentre as espeacutecies mais cultivadas em roccedilas a Manihot esculenta

Crantz (mandioca) em sua diversidade intrespeciacutefica eacute um dos recursos agriacutecolas de maior

importacircncia econocircmica e de subsistecircncia para diversas populaccedilotildees locais no mundo Acredita-

se que as praacuteticas de manejo dedicadas ao cultivo da mandioca associadas ao conhecimento de

agricultores resultam no aumento da diversidade intraespeciacutefica assim como na conservaccedilatildeo

dessa diversidade Diante disso a pesquisa teve como objetivo compreender os processos

envolvidos na dinacircmica da diversidade agriacutecola da mandioca por meio do acesso ao

conhecimento dos agricultores quanto as praacuteticas de menejo e entender quais fatores podem

estar relacionados a geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da diversidade local Para isso o estudo foi

desenvolvido junto a agricultores tradicionais de sete comunidades rurais localizadas na regiatildeo

semiaacuterida do estado de Pernambuco A abordagem metodoloacutegica foi baseada em entrevistas

semiestruturadas conversas com os informantes e visitas aos roccedilados para caracterizar e

compreender a importacircncia manejo da agricultura de sequeiro e das redes sociais estabelecidas

entre os agricultores bem como identificar as variedades de mandioca atualmente cultivadas

A partir do conhecimento da diversidade manejada analisamos a estrutura da rede de interaccedilatildeo

social formada pelas trocas de etnovariedades entre os agricultores A partir destas informaccedilotildees

discutimos sobre o importante papel dos agricultores na manutenccedilatildeo do conjunto de

etnovariedades regionais Um total de 22 etnovariedades foram citadas as quais satildeo

identificadas pelos agricultores principalmente por meio de sete caracteres morfoloacutegicos A

estrutura em redes de trocas de variedades favorece a manutenccedilatildeo e amplificaccedilatildeo das diferentes

variedades locais

Palavras-Chave Agricultura tradicional Agricultura de sequeiro Agrobiodiversidade

Plantas alimentiacutecias Redes sociais

xiv

ABSTRACT

Small-scale farmers who practice traditional agriculture fields have an important role in

generation maintenance and conservation of local agrobiodiversity Among the most cultivated

species the Manihot esculenta Crantz (cassava) in its intrespecific diversity is one of the

moust important agricultural resources of economic importance and livelihood for many local

people in the world It is believed that the management practices dedicated to the cultivation of

cassava associated with the knowledge of farmers result in increased intraspecific diversity

and the conservation of this diversity Therefore the research aimed to understand the processes

involved in the dynamics of agricultural diversity of cassava through access the knowledge of

farmers as the management of practices and understand what factors may be related to the

generation and maintenance of local diversity For this the study was developed with the

traditional farmers of seven rural communities located in the semiarid region of the state of

Pernambuco The methodological approach was based on semi-structured interviews

conversations with informants and visits to fields to characterize and understand the

importance of management of dry framing and social networks established between farmers

and to identify the cassava varieties currently grown From the knowledge of managed

diversity we analyze the structure of social interaction network formed by the exchange of

landraces among farmers From this information We discussed the important role of farmers

in the overall regional landraces maintenance A total of 22 landraces were cited which are

identified by farmers mainly through seven morphological characters The structure of

varieties sharing networks favors the maintenance and amplification of different local varieties

Keywords Agrobiodiversity Dry Farming Food plants Social networks Traditional

agriculture

14

1 Introduccedilatildeo Geral

Ao longo dos anos populaccedilotildees tradicionais foram adquirindo aprimorando e transmitindo

seus conhecimentos sobre o manejo dos recursos naturais existentes em suas respectivas

regiotildees e assim foram desenvolvendo teacutecnicas para se adaptar e sobreviver ao ambiente Essas

populaccedilotildees foram domesticando uma grande variedade de espeacutecies de plantas alimentiacutecias

numa agricultura de pequena escala (BALLEacute 2006 CLEMENT et al 2010)

Essa interaccedilatildeo pessoas-planta por meio do cultivo e manejo das espeacutecies vegetais vem

contribuindo para ambos com alteraccedilotildees adaptativas por meio da seleccedilatildeo artificial Essas

alteraccedilotildees resultaram em mudanccedilas na estrutura geneacutetica das espeacutecies vegetais pelo manejo da

seleccedilatildeo de caracteriacutesticas fenotiacutepicas fisioloacutegicas e econocircmicas das plantas E essa seleccedilatildeo

consciente ou inconsciente das plantas se traduz em uma grande variaccedilatildeo intraespeciacutefica nas

populaccedilotildees vegetais sob diferentes regimes de manejo (CARMONA CASAS 2005)

Por meio do cultivo agricultores em comunidades tradicionais desempenham um papel

fundamental no processo dinacircmico de geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da agrobiodiversidade local em

sistemas de roccedilas Essas roccedilas satildeo aacutereas de agricultura tradicional localizadas dentro de

comunidades caracterizadas natildeo soacute pelo grande nuacutemero espeacutecies cultivadas mas tambeacutem pela

alta diversidade intraespeciacutefica que essas espeacutecies apresentam (MARTINS 2005) Dentre as

espeacutecies comumente cultivadas nesse sistema a mandioca (Manihot esculenta Crantz

Euphorbiaceae) eacute considerada uma cultura de alto valor econocircmico nutricional utilitaacuterio

cultural e social para muitas populaccedilotildees humanas no mundo (CLEMENT et al 2010) Aleacutem

disso a mandioca apresenta uma grande diversidade intraespeciacutefica e por essas caracteriacutesticas

tornou-se uma espeacutecie-modelo para compreender como os diferentes padrotildees e estrateacutegias de

manejo adotadas pelos agricultores podem influenciar na diversidade local (ELIAS et al 2001

EMPERAIRE PERONI 2007 EMPERAIRE ELOY 2008)

Segundo PERONI amp MARTINS (2000) as diferentes praacuteticas de manejo desse

importante recurso favorecem a alta diversidade intraespeciacutefica em roccedilas de agricultura

itinerante1 Um dos fatores responsaacuteveis pela geraccedilatildeo dessa diversidade consiste na capacidade

de incorporaccedilatildeo de novos germoplasmas por meio da reproduccedilatildeo sexuada associada ao manejo

agriacutecola tradicional (PUJOL et al 2005 EMPERAIRE PERONI 2007) Apesar de propagada

1 Agricultura caracterizada por ciclos de uso e pousio como por exemplo corte e queima

15

vegetativamente pelos agricultores a mandioca (M esculenta) ainda manteacutem a sua capacidade

de reproduccedilatildeo sexual sendo este um aspecto muito importante para dinacircmica evolutiva da

cultura (PUJOL et al 2007 CLEMENT et al 2010) Apoacutes a fecundaccedilatildeo cruzada e dispersatildeo

das sementes um banco destas eacute formado no solo e as novas variedades germinam nas roccedilas

(MARTINS 2005) Antes de serem imcorporadas ao acervo essas lsquolsquovariedades-voluntaacuteriasrsquorsquo

passam por um filtro cultural ou seja seratildeo reconhecidas pelos agricultores por meio de

caracteriacutesticas morfoloacutegicas experimentadas e entatildeo selecionadas (MARTINS OLIVEIRA

2009)

Outro evento envolvido na geraccedilatildeo de diversidade intraespeciacutefica eacute incorporaccedilatildeo de

novas variedades de mandioca por meio de uma rede social de troca de material propagativo

estabelecida entre os agricultores (CAVECHIA et al 2014) Esse mecanismo permite a

circulaccedilatildeo das manivas2 tanto a niacutevel local quanto regional permite tambeacutem o acesso aos

diferentes conjuntos de variedades cultivadas entre as comunidades e ainda que o conjunto de

etnovariedades3 locais eou regionais seja conservado (EMPERAIRE ELOY 2008) Dentro

dessas redes sociais de troca as relaccedilotildees entre os agricultores atuam como mecanismo

fundamental para dispersatildeo e experimentaccedilatildeo das etnovariedades entre as roccedilas E satildeo essas

relaccedilotildees e decisotildees estabelecidas entre os agricultores que iratildeo definir quais etnovariedades

seratildeo mantidas ao longo do tempo e quais seratildeo abandonadas (LIMA et al 2012)

Sendo os agricultores e as interaccedilotildees entre eles fundamentais para o estabelecimento da

diversidade local (PINTON EMPERAIRE 2001 EMPERAIRE ELOY 2008) torna-se

pertinente entender como as diferentes estrateacutegias adotadas pelos agricultores influenciam na

dinacircmica da agrobiodiversidade local Muitos trabalhos com esse enfoque foram desenvolvidos

nas regiotildees Amazocircnica e Sudeste mas pouco se discute sobre a dinacircmica da agrobiodiversidade

em regiotildees semiaacuteridas

Nesse sentido o presente estudo visa investigar as interaccedilotildees entre agricultores

tradicionais de comunidades rurais estabelecidas na regiatildeo semiaacuterida de Pernambuco O

objetivo geral eacute compreender os processos envolvidos na dinacircmica da diversidade agriacutecola por

meio do acesso ao conhecimento dos agricultores quanto as praacuteticas de menejo e entender quais

quais fatores podem estar relacionados a geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da diversidade local Para esse

estudo a mandioca foi escolhida como modelo devida agrave sua importacircncia econocircmica e de

subsistecircncia para comunidades locais Os objetivos especiacuteficos foram (i) caracterizar o manejo

2 Satildeo pedaccedilos das hastes ou ramas da mandioca usadas para o plantio 3 Variedades intraespeciacuteficas de mandioca (M esculenta) identificadas pelos agricultores por nomenclatura

popular local (Martins 2005)

16

da agricultura de sequeiro bem como analisar se os paracircmetros socioeconocircmicos influenciam

na diversidade local (ii) registrar as etnovariedades atualmente cultivadas e identificar os

diferentes criteacuterios morfoloacutegicos utilizados pelos agricultores para a seleccedilatildeo e classificaccedilatildeo das

etnovariedades e (iii) descrever a estrutura da rede de interaccedilatildeo entre os agricultores e a

diversidade de etnovariedades de mandioca cultivadas para tentar entender como essas relaccedilotildees

podem influenciar na manutenccedilatildeo ou perda da diversidade local

a

b c

17

2 Revisatildeo bibliograacutefica

21 Manihot esculenta Crantz e conhecimento local de agricultores tradicionais

O gecircnero Manihot Miller (Euforbiaceae) possui cerca de 98 espeacutecies distribuiacutedas em 19

seccedilotildees das quais 13 delas ocorrem no Brasil (ROGERS APPAN 1973) Dentre as espeacutecies do

gecircnero Manihot esculenta Crantz (mandioca) eacute a principal cultivar uma vez que compotildee a

base da dieta alimentar de diversas populaccedilotildees rurais principalmente em regiotildees tropicais A

mandioca foi domesticada na Ameacuterica do Sul pois eacute onde se encontra o maior centro de

diversificaccedilatildeo Estudos relacionados ao entendimento de sua origem botacircnica tecircm contribuiacutedo

para a compreensatildeo das accedilotildees humanas no processo de domesticaccedilatildeo e ampliaccedilatildeo da

diversidade da espeacutecie (OLSEN SCHAAL 1999 ELIAS et al 2004 ELLEN 2012)

As diferentes variedades da espeacutecie satildeo reconhecidas em dois grandes grupos principais

o das variedades mais toacutexicas e o de variedades menos toacutexicas baseadas no potencial de

glicosiacutedeos cianogecircnicos (HCN) contido na polpa das raiacutezes (ELIAS et al 2004) Variedades

com baixa toxicidade contecircm baixas concentraccedilotildees de glicosiacutedeos cianogecircnicos (HCNlt100

mgKg-1) e satildeo conhecidas em comunidades agriacutecolas variando entre regiotildees ou grupos eacutetnicos

como ldquomacaxeirasrdquo ldquomandiocas doces ou mansasrdquo ou ldquoaipinsrdquo As variedades mais toacutexicas

com altas concentraccedilotildees de HCN (HCNgt 100 mgKg-1) satildeo reconhecidas como ldquomandiocasrdquo

ou ldquomandiocas amargas ou bravasrdquo (PERONI et al 2007 MCKEY et al 2010) E portanto

precisam passar por um processo de desintoxicaccedilatildeo para se tornarem aptas ao consumo como

por exemplo pelo processo de fabricaccedilatildeo da farinha de mandioca (Fig 1) Apesar do seu

potencial toacutexico as variedades amargas possuem teores mais elevados de amido e se adaptam

bem a solos pobres e aacutecidos aleacutem de serem mais resistentes aos patoacutegenos e pragas em

comparaccedilatildeo com as variedades doces (FRASER et al 2010)

Sob o ponto de vista botacircnico esta dicotomia natildeo eacute reconhecida mas existem alguns

trabalhos que evidenciam a relaccedilatildeo entre a coerecircncia da taxonomia popular com a diferenciaccedilatildeo

geneacutetica para separaraccedilatildeo das variedades ldquodocesrdquo e ldquoamargasrdquo (ELIAS et al 2004 PERONI

et al 2007) O conhecimento das caracteriacutesticas morfoloacutegicas das plantas e a coerecircncia na

identificaccedilatildeo dessas variedades com niacuteveis distintos de HCN eacute de grande importacircncia

adaptativa para as populaccedilotildees que gerem esse recurso sobretudo pelo risco de intoxicaccedilatildeo

(RIVAL MCKEY 2008)

18

No estudo realizado por AMOROZO (2000) por exemplo os agricultores geralmente

classificavam as variedades que tinham raiacutezes brancas como ldquobravasrdquo e aquelas que tinham

raiacutezes vermelhas como ldquomansasrdquo embora eles reconhecessem algumas exceccedilotildees Em pesquisas

realizados por FARALDO et al (2000) MKUMBIRA et al (2003) ELIAS et al (2004) e

PERONI et al (2007) os agricultores foram consistentes na distinccedilatildeo de suas variedades

lsquolsquodocesrdquo e ldquoamargasrsquorsquo e com base no conhecimento de caracteres morfoloacutegicos distintos os

nomes das variedades refletiram na diversidade geneacutetica A partir dessas evidecircncias podemos

inferir que o conhecimento local dos agricultores associado agrave experiecircncia eacute importante natildeo

somente para o reconhecimento das variedades locais por si soacute mas tambeacutem por conter

informaccedilotildees relevantes sobre o papel que esses recursos podem desempenhar nos sistemas

agriacutecolas de pequena escala e para as populaccedilotildees locais (GADGIL et al 1993)

O conhecimento tradicional dos agricultores trata-se de um conjunto de saberes praacuteticas

e crenccedilas baseadas no contato direto nas observaccedilotildees experimentaccedilotildees diaacuterias e nas

dependecircncias econocircmicas eou de subsistecircncia dos recursos que satildeo geralmente transmitidas

oralmente dentro e entre as geraccedilotildees (AMOROZO 2000 DOMINGUES ARRUDA 2001

BEGOSSI 2004) Sendo assim o conhecimento tradicional de agricultores que praticam a

agricultura de pequena escala realizada em comunidades tradicionais eacute importante pois tem

garantido a perpetuaccedilatildeo dos conhecimentos e das praacuteticas agriacutecolas desenvolvidas durante

milhares de anos entre os agroecossistemas locais

22 Manejo tradicional em roccedilas e diversidade intraespeciacutefica da mandioca

A agricultura de pequena escala praticada em comunidades locais tem garantido a

perpetuaccedilatildeo do conhecimento sobre o manejo e a diversidade de espeacutecies agriacutecolas O sistema

de cultivo em roccedilas eacute tipicamente praticado por agricultores de comunidades tradicionais em

aacutereas uacutemidas no mundo inteiro As roccedilas satildeo aacutereas de cultivo de pequena escala localizadas

dentro de comunidades proacuteximas umas das outras que se tornaram objeto de estudo em vaacuterias

pesquisas antropoloacutegicas etnobotacircnicas geneacuteticas e ecologias especialmente por apresentarem

grande diversidade de espeacutecies cultivadas e pelo manejo destinar-se agrave subsistecircncia de grupos

familiares de agricultores de pequena escala (PUJOL et al 2007)

Aleacutem da diversidade de espeacutecies outra caracteriacutestica dessas roccedilas eacute o grande nuacutemero de

variedades dentro de cada espeacutecie Esta diversidade intraespeciacutefica pode ser referida como

etnovariedades que eacute um termo utilizado para definir grupos de indiviacuteduos identificados por

19

nomenclatura popular local a qual pode expressar elementos do contexto cultural econocircmico

e social das populaccedilotildees associado ao uso (PERONI MARTINS 2000 EMPERAIRE

PERONI 2007)

Dentre as vaacuterias espeacutecies cultivadas em roccedilas a mandioca (M esculenta) em seu

nuacutemero de etnovariedades eacute uma das principais culturas de importacircncia econocircmica e

nutricional para populaccedilotildees que utilizam esse sistema Sua diversidade pode estar relacionada

ao sistema reprodutivo da cultura ao modo de gestatildeo da agricultura pelas pressotildees de seleccedilatildeo

exercidas pelo proacuteprio homem ou ateacute mesmo por causas naturais (MARTINS 2005

CLEMENT et al 2010)

As caracteriacutesticas de manejo empregadas no cultivo da mandioca em roccedilas favorecem

a elevada diversidade intraespeciacutefica dessa cultura O modo de propagaccedilatildeo da mandioca eacute feito

pelos agricultores por meios de estacas (manivas) que satildeo selecionadas de acordo com as

caracteriacutesticas desejaacuteveis que elas apresentam seja para fins econocircmicos ou utilitaacuterios Apesar

de propagada vegetativamente que eacute um meacutetodo usado pelas populaccedilotildees humanas para plantio

e multiplicaccedilatildeo de plantas a mandioca natildeo perdeu a sua capacidade de reproduccedilatildeo sexual

sendo esse um aspecto importante para dinacircmica evolutiva da cultura (PUJOL et al 2007)

Esse meacutetodo de propagaccedilatildeo permite o fluxo e a circulaccedilatildeo do material geneacutetico entre os

diferentes roccedilados por meio de um sistema de redes sociais de troca de etnovariedade de

mandioca entre os agricultores tanto a niacutevel regional (entre comunidades) quanto em escalas

menores (entre vizinhos e parentes) (ELIAS et al 2004 EMPERAIRE OLIVEIRA 2010)

Segundo Emperaire e Peroni (2007) esse mecanismo de troca de germoplasma eacute uma grande

forccedila de dispersatildeo que resulta na agrobiodiversidade regional mais elevada pois estabelece

viacutenculos entre as diferentes roccedilas e promove oportunidades de seleccedilatildeo e cruzamento entre as

diferentes etnovariedades (EMPERAIRE ELOY 2008)

Atributo bioloacutegicos da espeacutecie tambeacutem estatildeo relacionados com o aumento da

diversidade intrespeciacutefica como a capacidade de dormecircncia das sementes e a dispersatildeo

autocoacuterica que propiciam o desenvolvimento de um banco de sementes no solo ao longo do

tempo permitindo o cruzamento entre as novas variedades adquiridasplantadas e entre estas

com variedades que existiram anterioemente na mesma aacuterea (PERONI MARTINS 2000

MARTINS 2005) A presenccedila dessas ldquoplantas-voluntaacuteriasrdquo ou seja aquelas nascidas de

germinaccedilatildeo expontacircnea eacute um dos eventos identificados como precursores de diversidade

intraespeciacutefica nas populaccedilotildees de mandioca cultivadas (PUJOL et al 2007)

20

Contudo muitos esforccedilos vecircm sendo empregados em estudos que observam a ecologia

da mandioca e o manejo agriacutecola associado agrave geraccedilatildeo de diversidade varietal e geneacutetica na

espeacutecie para tentar entender como esses mecanismos influenciam na diversidade de

etnovariedades locais e na sua dinacircmica (PUJOL et al 2007 KOMBO et al 2012 ELIAS et

al 2001)

23 Redes sociais de troca e circulaccedilatildeo de etnovariedades de mandioca

Sistemas agriacutecolas de pequena escala dependem de uma grande diversidade de espeacutecies e

variedades cultivadas e do fluxo destas por meio de redes sociais de troca material vegetativo

estabelecidas entre agricultores podendo o alcance da circulaccedilatildeo variar em escala local eou

regional (EMPERAIRE ELOY 2008) As trocas dependem de dois mecanismos principais

dos padrotildees de interaccedilatildeo social entre os agricultores e dos padrotildees de uso dos recursos

(CAVECHIA et al 2014) e as redes variam em funccedilatildeo das caracteriacutesticas culturais

econocircmicas e sociais das comunidades (EMPERAIRE PERONI 2007 PAUTASSO et al

2012)

No caso da mandioca (Manihot esculenta Crantz) a propagaccedilatildeo se da por estaquia o que

favorece a troca de material de vegetativo entre os agricultores e permite o fluxo entre

variedades locais e regionais (MARTINS 2005) As trocas de variedades de mandioca entre os

agricultores geralmente acontecem por alguma circunstacircncia que leve o agricultor a pedir o

material propagativo para o plantio com por exemplo para o plantio de uma nova roccedila ou por

alguma fitopatologia deslocaccedilatildeo ou estaccedilotildees de chuva e seca prolongadas (EMPERAIRE et

al 2001 EMPERAIRE ELOY 2008) Em alguns casos como no de algumas comunidades

agriacutecolas de pequena escala as redes de casamento satildeo utilizadas para a circulaccedilatildeo de

variedades (EMPERAIRE PERONI 2007 DELEcircTRE et al 2011)

O processo de manutenccedilatildeo da diversidade nesses sistemas resulta do interesse ou da

necessidade do agricultor em adquirir ou abandonar variedades testar e selecionar novas

etnovariedades de mandioca Dentre os fatores que dirigem a seleccedilatildeo de etnovariedades estatildeo

as preferecircncias individuais dos agricultores Alguns podem optar por cultivar todas as

etnovariedades comuns eou disponiacuteveis na regiatildeo enquanto que outros optam apenas por

manter um conjunto especiacutefico dessa diversidade (CAVECHIA et al 2014) Seja para atender

a alguma demanda individual pelo interesse em aumentar a produtividade ou pela necessidade

21

de conservar o material vegetativo para o proacuteximo plantio no caso de perda de material por

algum fator ambiental adverso (EMPERAIRE et al 2001 EMPERAIRE ELOY 2008)

Nesse sentido satildeo os agricultores os maiores responsaacuteveis por determinar como e quais

etnovariedades seratildeo compartilhadas e mantidas entre as comunidades (PAUTASSO et al

2012) E a chave para a compreensatildeo da dinacircmica da diversidade varietal eacute por meio desse

intercacircmbio e dos fatores que influenciam essa conectividade entre as comunidades pois essas

redes representam um grande impacto sobre a diversidade de variedades cultivadas E eacute por

meio dessas redes que se diminui coletivamente os riscos de perda total de diversidade geneacutetica

local (EMPERAIRE ELOY 2008)

Desse modo as relaccedilotildees estabelecidas pelos agricultores entre as comunidades por meio

das redes troca de germoplasma podem ter consequecircncias importantes sobre a diversidade

varietal da mandioca E compreender os processos envolvidos na manutenccedilatildeo ou perda de

germoplasma nos sistemas agriacutecolas eacute importante uma vez que compreendendo a maneira

como os agricultores usam esse conjunto de etnovariedades de mandioca e as compartilham

vai trazer importantes discussotildees a cerca da qualidade e a quantidade do recurso que seraacute

mantido transmitido ou perdido dentro dos sistemas ao longo do tempo

22

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25

VARIACcedilAtildeO INTRAESPECIacuteFICA CONHECIMENTO E MANEJO

LOCAL DE MANDIOCA (Manihot esculenta Crantz) NO SEMIAacuteRIDO DE

PERNAMBUCO NORDESTE DO BRASIL

Artigo submetido ao perioacutedico Human Ecology

Normas para submissatildeo em anexos

26

Variaccedilatildeo intraespeciacutefica conhecimento e manejo local de mandioca 1

(Manihot esculenta Crantz) no semiaacuterido de Pernambuco Nordeste do 2

Brasil 3

Mirela Nataacutelia Santos12 Jhonatan Rafael Zaacuterate-Salazar1 Reginaldo de Carvalho1 amp 4

Ulysses Paulino de Albuquerque2 5

6

1 Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo em Botacircnica Departamento de Biologia Rua Dom Manuel de Medeiros 7

Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) sn Dois Irmatildeos Recife Pernambuco 52171-8

900 Brasil 9

2 Laboratoacuterio de Ecologia e Evoluccedilatildeo de Sistemas Socioecoloacutegicos (LEA) Departamento de Botacircnica 10

Avenida Professor Moraes Rego Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) sn Cidade 11

Universitaacuteria Recife Pernambuco 50670-901 Brasil 12

Resumo 13

Historicamente a espeacutecie Manihot esculenta Crantz (mandioca) eacute uma espeacutecie de grande valor 14

econocircmico e de subsistecircncia para populaccedilotildees em comunidades tradicionais Variedades de 15

mandioca satildeo selecionadas com base nos interesses dos agricultores conduzindo uma evoluccedilatildeo 16

especiacutefica sobre a geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da agrobiodiversidade local Diante disso a mandioca 17

tornou-se espeacutecie-modelo em estudos que buscam compreender como os padrotildees e estrateacutegias 18

adotadas pelas populaccedilotildees humanas influenciam na diversidade intraespeciacutefica local em regiotildees 19

tropicais No entanto os fatores que influenciam a diversidade da mandioca em regiotildees 20

semiaacuteridas ainda natildeo foram bem documentados Nesse sentido objetivo geral do estudo foi 21

compreender os processos envolvidos na dinacircmica da diversidade agriacutecola em sete 22

comunidades tradicionais localizadas na regiatildeo semiaacuterida do estado de Pernambuco (Nordeste 23

do Brasil) por meio do acesso ao conhecimento dos agricultores quanto as praacuteticas de menejo 24

para tentar quais quais fatores podem estar relacionados a geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da diversidade 25

local Com os resultados da anaacutelise de redes verificamos uma alta diversidade de 26

etnovariedades cultivadas e a sua composiccedilatildeo eacute determinada pelas preferecircncias e 27

comportamentos individuais dos agricultores que foram provavelmente os mecanismos 28

27

responsaacuteveis pelo surgimento da estrutura aninhada observada na anaacutelise rede Esse padratildeo 29

aninhado contribui na conservaccedilatildeo das etnovariedades mais comuns mas tambeacutem pode resultar 30

em perda daquelas de menor frequecircncia ao longo do tempo 31

Palavras-Chave Agricultura tradicional Agricultura de sequeiro Agrobiodiversidade 32

Etnobiologia Plantas alimentiacutecias 33

34

Introduccedilatildeo 35

Historicamente as populaccedilotildees humanas foram acumulando conhecimentos sobre 36

praacuteticas da agricultura desenvolvendo teacutecnicas adaptadas ao meio natural e assim foram 37

domesticando uma grande variedade de cultivos alimentares para garantirem a sua 38

sobrevivecircncia (Balleacute 2006 Clement et al 2010) Essa interaccedilatildeo pessoas-plantas por meio do 39

cultivo e manejo das espeacutecies vegetais considerando tanto os aspectos sociais quanto naturais 40

dos sistemas dinacircmicos eacute uma importante ferramenta para o entendimento do conhecimento 41

dos agricultores sobre os agroecossistemas locais ( Alcorn 1995) 42

Aleacutem disso essas interaccedilotildees vem contribuindo com alteraccedilotildees nas populaccedilotildees vegetais 43

por meio da seleccedilatildeo artificial Essas alteraccedilotildees resultaram em mudanccedilas na estrutura geneacutetica 44

dessas populaccedilotildees que satildeo determinadas geralmente pela seleccedilatildeo de caracteriacutesticas fenotiacutepicas 45

fisioloacutegicas eou econocircmicas das plantas refletidas em classificaccedilotildees e nomenclaturas 46

especiacuteficas baseadas em percepccedilotildees individuais (Carmona amp Casas 2005) 47

Muitos pesquisadores tentam explicar o papel dos agricultores de pequena escala na 48

seleccedilatildeo classificaccedilatildeo e manutenccedilatildeo da agrobiodiversidade local em roccedilas tradicionalmente 49

manejas em regiotildees uacutemidas (Emperaire amp Peroni 2007 Emperaire amp Eloy 2008 Marchetti et 50

al 2013) Essas roccedila satildeo aacutereas de cultivo caracterizadas por conter uma alta diversidade 51

intraespeciacutefica de espeacutecies (Martins 2005) Dentre elas a Manihot esculenta Crantz 52

28

(mandioca) Euphorbiaceae em sua diversidade de etnovariedades eacute a espeacutecie mais importante 53

sob ponto de vista econocircmico e de subsistecircncia para as populaccedilotildees locais e mais cultivada 54

devido a sua grande adaptabilidade ambiental e baixos custos de gestatildeo (Elias et al 2001) 55

A alta diversidade da mandioca nessas aacutereas pode ser atribuiacuteda agrave possibilidade de 56

introduccedilatildeo de novas variedades via reproduccedilatildeo sexuada associada a ecologia da espeacutecie Esse 57

mecanismo permite o fluxo gecircnico entre as variedades de mandioca cultivadas do mesmo local 58

e entre estas com variedades de locais vizinhos (Pujol et al 2007) Outro mecanismo que 59

favorece essa diversidade eacute agrave circulaccedilatildeo de material propagativo por meio redes sociais de troca 60

variedades entre os agricultores (Pujol et al 2005 Emperaire amp Peroni 2007 Clement et al 61

2010) Esse mecanismo de troca eacute fundamental para o estabelecimento de interaccedilotildees entre as 62

diferentes aacutereas de roccedila promovendo oportunidade de seleccedilatildeo e cruzamento entre os diferentes 63

conjuntos de variedades aleacutem de permitir que este conjunto seja conservado (Emperaire amp Eloy 64

2008) 65

Diante desse cenaacuterio podemos observar que a agrobiodiversidade local natildeo eacute fruto 66

apenas de fatores naturais mas eacute tambeacutem influenciada pelas caracteriacutesticas culturais e 67

socioeconocircmica das populaccedilotildees locais refletidas especialmente no conhecimento e manejo 68

local Nesse sentido o presente estudo visa investigar as interaccedilotildees entre agricultores 69

tradicionais de comunidades rurais estabelecidas na regiatildeo semiaacuterida de Pernambuco 70

O objetivo geral eacute compreender os processos envolvidos na dinacircmica da diversidade 71

agriacutecola por meio do acesso ao conhecimento dos agricultores quanto as praacuteticas de menejo e 72

entender quais quais fatores podem estar relacionados a geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da diversidade 73

local Para esse estudo a mandioca foi escolhida como modelo devida agrave sua importacircncia 74

econocircmica e de subsistecircncia para comunidades locais Os objetivos especiacuteficos foram (i) 75

caracterizar o manejo da agricultura de sequeiro bem como analisar se os paracircmetros 76

socioeconocircmicos influenciam na diversidade local (ii) registrar as etnovariedades atualmente 77

29

cultivadas e identificar os diferentes criteacuterios morfoloacutegicos utilizados pelos agricultores para a 78

seleccedilatildeo e classificaccedilatildeo das etnovariedadese (iii) descrever a estrutura da rede de interaccedilatildeo entre 79

os agricultores e a diversidade de etnovariedades de mandioca cultivadas para tentar entender 80

como essas relaccedilotildees podem influenciar na manutenccedilatildeo ou perda da diversidade local 81

Material e meacutetodos 82

Aacutereas de estudo 83

Amostramos sete comunidades rurais estabelecidas na regiatildeo semiaacuterida de 84

Pernambuco Nordeste do Brasil Uma das comunidades (Caratildeo) pertence ao Municiacutepio de 85

Altinho (ldquo8deg 29rsquo 10rdquo S e 36deg 03rsquo 49rdquo W) e as demais (Satildeo Joseacute do Bola Brejo velho 86

Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima Lajedo Dantas e Aracuatilde) ao Municiacutepio de 87

Panelas (8 deg 39 48 S e 36 deg 01 23 W) (Fig 2) 88

O modelo agriacutecola adotado na regiatildeo segue o sistema tradicional de sequeiro4 e todas 89

as comunidades em estudo possuem histoacuterico de cultivo de mandioca (M esculenta) As aacutereas 90

de cultivo satildeo estabelecidas por unidade familiar e as atividades satildeo realizadas em sua maioria 91

por homens tendo cada agricultor cerca de um a dois hectares de aacuterea para plantio Aleacutem da 92

mandioca os cultivos mais utilizados na comunidades satildeo milho (Zea mays) e feijatildeo (Phaseolus 93

sp) 94

Para os membros das comunidades a produccedilatildeo da farinha de mandioca (Fig 3) eacute uma 95

das atividades agriacutecolas mais importantes tanto pelo seu papel na dieta alimentar quanto pela 96

importacircncia social e econocircmica 97

Caracteriacutesticas das comunidades do estudo 98

A comunidade do Caratildeo localiza-se sob domiacutenio de Caatinga caracterizado por climas 99

quentes e secos com regimes escassos de chuvas correspondente ao tipo BSrsquoh segundo a 100

4 Eacute o cultivo praticado sem irrigaccedilatildeo em regiotildees onde a pluviosidade eacute diminuta

30

classificaccedilatildeo climaacutetica de Koumlppen A vegetaccedilatildeo eacute composto por espeacutecies perenes que 101

conseguem sobreviver mesmo em periacuteodos de seca e espeacutecies anuais que aparecem apenas em 102

periacuteodos com chuva (Cruz et al 2013) 103

De acordo os dados de precipitaccedilatildeo do Laboratoacuterio de Anaacutelise e Processamento de 104

Imagens de Sateacutelites (LAPIS) no ano de 2012 foi registrada a menor meacutedia anual de 105

precipitaccedilatildeo dos uacuteltimos 10 anos para essa regiatildeo (3784 mm) Essa realidade ambiental quando 106

comparada com estudo realizado por de Sieber e colaboradores (2011) na mesma comunidade 107

observa-se que houve uma diminuiccedilatildeo considerada das praacuteticas agriacutecolas realizadas pelos 108

membros da comunidade culminando em uma seacuterie de prejuiacutezos aos agricultores como a perda 109

de plantaccedilotildees e animais Essa perda de produtividade afetou a estrutura econocircmica da 110

comunidade uma vez que a principal fonte de subsistecircncia das famiacutelias eacute a agricultura 111

Associada as atividades agriacutecolas os moradores complementam a dieta e a renda 112

familiar com a venda dos excedentes da produccedilatildeo em feiras-livres ou centros comerciais da 113

regiatildeo (Cruz et al 2013) E com a pecuaacuteria de pequena escala bovina caprina e com avicultura 114

No entanto a diminuiccedilatildeo da forragem natural e cultivada causada pela escassez de chuvas 115

associada aos elevados custos envolvidos na compra de raccedilatildeo levou muitos animais agrave morte 116

(Fig 4) 117

No Municiacutepio de Altinho a comunidade do Caratildeo foi inicialmente escolhida devido ao 118

reconhecimento preacutevio do registro de agricultores realizado em estudos desenvolvidos pelo 119

nosso grupo de pesquisa facilitando assim o acesso agraves informaccedilotildees necessaacuterias para o 120

desenvolvimento da pesquisa 121

As comunidades Aracuatilde Brejo Velho Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima 122

Lajedo Dandas e Satildeo Joseacute do Bola amostradas no estudo pertencem ao Municiacutepio de Panelas 123

que se limita ao Norte com o Municiacutepio de Altinho Essas comunidades estatildeo localizadas em 124

31

no domiacutenio morfoclimaacutetico de Caatinga O clima eacute do tipo semiaacuterido Bsrsquoh segundo a 125

classificaccedilatildeo climaacutetica de Koumleppen 126

A maior parte dos membros dessas comunidades assim como no Caratildeo tecircm como 127

principal fonte de subsistecircncia a agricultura de sequeiro principalmente o cultivo da mandioca 128

(Fig 5) Como renda extra a pecuaacuteria de pequeno porte com criaccedilatildeo bovina caprina e 129

avicultura sendo os excedentes dos alimentos produzidos vendidos em feiras locais ou para 130

escolas 131

As atividades agriacutecolas entre as comunidades tambeacutem foram duramente afetadas pela 132

seca na regiatildeo nos uacuteltimos anos A escassez de chuvas desestimulou o plantio a produccedilatildeo de 133

mandioca foi fortemente comprometida e a colheita foi adiada devido ao subdesenvolvimento 134

das raiacutezes gerando impactos econocircmicos para os membros das comunidades 135

As comunidades amostradas neste muniacutecipio foram escolhidas em funccedilatildeo das 136

indicaccedilotildees dos agricultores entrevistados a princiacutepio na comunidade do Caratildeo que reportaram 137

manter viacutenculos sociais com os agricultores do municiacutepio vizinho 138

Coleta de dados 139

Acessamos as comunidades com a ajuda de um liacuteder comunitaacuterio (Alexandre O 140

Nascimento) em companhia de outros pesquisadores que desenvolviam pesquisas na regiatildeo 141

Previamente as entrevistas todos objetivos e procedimentos para a realizaccedilatildeo da pesquisa foram 142

apresentados aos entrevistados e todos que aceitaram participar foram convidados a assinar um 143

Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) de acordo com a Resoluccedilatildeo 46612 do 144

Conselho Nacional de Sauacutede concordando com a realizaccedilatildeo das entrevistas e avaliaccedilotildees 145

morfoloacutegicas em campo O presente trabalho foi submetido ao Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa da 146

Universidade de Pernambuco (UPE) 147

32

Em todas as comunidades o meacutetodo de acesso ao informante foi o mesmo a partir do 148

primeiro contato com um informante-chave identificamos outros potenciais agricultores 149

seguindo a teacutecnica de ldquobola de neverdquo (Albuquerque et al 2014a) Esse meacutetodo consistiu na 150

amostragem intencional dos participantes e nesse particular os agricultores chefes de famiacutelia 151

(ge 18 anos) da regiatildeo que declararam cultivar mandioca (M esculenta) em suas roccedilas 152

Reunimos informaccedilotildees socioeconocircmicas desses agricultores tais como nome idade gecircnero 153

escolaridade renda experiecircncia na agricultura e tamanho da aacuterea de cultivo para tentar 154

identificar se esses paracircmetros socioeconocircmicos tecircm uma relaccedilatildeo com a agrobiodiversidade 155

local 156

Em seguida conduzimos entrevistas semiestruturadas (Albuquerque et al 2014b) com 157

o objetivo de caracterizar o modo de vida dos agricultores o manejo da agricultura bem como 158

obter dados sobre o conhecimento uso e caracterizaccedilatildeo das etnovariedades de mandioca 159

5cultivadas Aleacutem disso neste momento tambeacutem aplicamos a teacutecnica da lista livre 160

(Albuquerque et al 2014b) a fim de registrar as variedades de mandioca atualmente cultivadas 161

pelos agricultores e identificar as de maior importacircncia local Apoacutes as entrevistas realizamos 162

visitas aos roccedilados para o registro fotograacutefico georreferenciamento das roccedilas e caracterizaccedilatildeo 163

morfoloacutegica das variedades cultivadas 164

Entrevistamos 50 agricultores no total distribuiacutedos nas sete comunidades Caratildeo (3) 165

Satildeo Joseacute do Bola (10) Brejo velho (7) Japaranduba de Baixo (7) Japaranduba de Cima (8) 166

Lajedo Dantas (9) e Aracuatilde (6) Destes 10 satildeo mulheres e 40 homens com idade variando entre 167

31 e 82 anos A maioria dos entrevistados natildeo apresentava instruccedilatildeo formal (46) mais da 168

metade eram aposentados (56) e os demais apresentaram renda inferior a um salaacuterio miacutenimo 169

5 Entende-se por etnovariedade de mandioca o conjunto de variedades intraespeciacuteficas de mandioca (M esculenta)

reconhecidas pelos agricultores por nomenclatura popular local (Peroni 2004)

33

O tempo meacutedio de experiecircncia na agricultura foi de 40 anos Cada agricultor possui entre um e 170

dois roccedilados (aacuterea de plantio) com aproximadamente um a dois hectares 171

Redes de interaccedilatildeo social 172

Confeccionamos a rede que descreve as interaccedilotildees entre os agricultores e as 173

etnovariedades cultivadas a partir de uma matriz de incidecircncia R (presenccedilaausecircncia) onde nas 174

linhas estavam as etnovariedades de mandioca cultivadas (j) e nas colunas os agricultores locais 175

(i) O elemento Rij dessa matriz foi 1 (um) no caso de a etnovariedade j ser cultivada pelo 176

agricultor i caso contraacuterio seria atribuiacutedo 0 (zero) As interaccedilotildees entre os agricultores e as 177

etnovariedades foram descritas em dois modos (Pires et al 2011) onde os ldquonoacutesrdquo da esquerda 178

representam os agricultores que foram vinculados aos ldquonoacutesrdquo da direita representados pelas 179

etnovariedades citadas durante as entrevistas Esses ldquonoacutesrdquo seriam o espelho das decisotildees dos 180

agricultores em manter um determinado conjunto local de etnovariedades em suas roccedilas 181

Avaliamos a estrutura da rede que conecta os agricultores agraves etnovariedades cultivadas 182

a partir de trecircs cenaacuterios hipoteacuteticos (Fig 6) segundo Cachevia et al (2014) No primeiro se os 183

agricultores apresentassem diferentes graus de seletividade para a utilizaccedilatildeo de suas 184

etnovariedades a estrutura seria aninhada (Fig 6a) Isso significa que alguns agricultores 185

cultivam vaacuterias etnovariedades enquanto que outros cultivam o subconjunto mais 186

disponiacutevelcomum dessas etnovariedades Em segundo lugar se a rede apresentasse uma 187

estrutura modular (Fig 6b) significaria que os agricultores apresentam semelhanccedila na seleccedilatildeo 188

do recurso ou seja subgrupos de agricultores cultivam subgrupos distintos de etnovariedades 189

regionalmente disponiacuteveiscomuns E o terceiro se os agricultores natildeo apresentassem 190

preferecircncias quanto a seleccedilatildeo das etnovariedades entatildeo a rede apresentaria uma estrutura 191

aleatoacuteria (Fig 6c) 192

O objetivo da anaacutelise de rede nesse estudo foi tentar entender se o conjunto de 193

etnovariedades presentes no local do estudo constituem uma subamostra de um conjunto mais 194

34

amplo no caso de um alto grau de aninhamento ou se a sua composiccedilatildeo eacute determinada por 195

variaacuteveis locais (Ulrich 2008) Onde as conexotildees entre os informantes e as etnovariedades 196

representam as decisotildees dos agricultores de manter um conjunto determinado de variedades de 197

mandioca dentre as comunidades Esta anaacutelise tambeacutem nos permitiu identificar quais os nuacutecleos 198

de etnovariedades que apresentam maior conexatildeo com os diferentes perfis dos agricultores 199

Diversidade fenotiacutepica 200

Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 201

Apoacutes as entrevistas buscamos identificar quais os caracteres morfoloacutegicos considerados 202

mais importantes para a diferenciaccedilatildeo das etnovariedades de mandioca a partir do seguinte 203

questionamento ldquoQuais as diferenccedilas que vocecirc reconhece para separar uma qualidade de 204

mandioca (variedade) de uma outrardquo Assim os agricultores mencionaram quais os criteacuterios 205

mais importantes utilizados para a caracterizaccedilatildeo de suas etnovariedades 206

Compilamos uma listagem dessas caracteriacutesticas baseada nas indicaccedilotildees dos 207

agricultores e a partir delas selecionamos os caracteres morfoloacutegicos mais citados para a 208

caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica ldquoin siturdquo tais como cor da folha (cor da folha desenvolvida) olho 209

(cor do broto foliar) cor do talo (cor do peciacuteolo) maniva (cor externa do caule) embriatildeo 210

(protuberacircncia da cicatriz foliar) cor da entrecasca (coacutertex da raiz) e cor miolo (polpa da raiz) 211

(Tabela 1) O objetivo dessa caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica foi indicar como estaacute distribuiacuteda a 212

variaccedilatildeo fenotiacutepica das etnovariedades de mandioca nas comunidades na regiatildeo semiaacuterida de 213

Pernambuco bem como identificar que caracteriacutesticas satildeo mais importantes para distinguir 214

esses grupos no intuito de tentar entender como os agricultores classificam suas variedades de 215

mandioca 216

Nas sete comunidades para cada etnovariedade citada no roccedilado caracterizamos ldquoin 217

siturdquo trecircs indiviacuteduos de M esculentade de cada uma totalizando 171 indiviacuteduos (Aracuatilde=11 218

35

Caratildeo=4 Satildeo Joseacute do Bola=13 Brejo Velho=16 Japaranduba de Baixo=6 Japaranduba de 219

Cima=3 e Lajedo Dantas=4) Fotografamos e avaliamos todos os indiviacuteduos com base em parte 220

dos descritores morfoloacutegicos seguindo recomendaccedilotildees de Fukuda amp Guevara (1998) e aleacutem 221

disso georreferenciamos todas as aacutereas de roccedila 222

Anaacutelise dos dados 223

Analisamos os dados socioeconocircmicos das entrevistas semiestruturadas por meio de 224

estatiacutestica descritiva para explicar os aspectos da realidade econocircmica e social dos agricultores 225

Para identificar se a diversidade intraespeciacutefica da mandioca cultivada localmente eacute 226

influenciada por paracircmetros socioeconocircmicos utilizamos o coeficiente de correlaccedilatildeo de 227

Spearman (Ple005) (Sokal amp Rohlf 1995) 228

Com base na lista livre das variedades de mandioca cultivadas pelos agricultores 229

calculamos a frequecircncia de citaccedilatildeo o ranking e o iacutendice de saliecircncia com o objetivo de 230

identificar quais as mais importantes ou preferidas para as comunidades O iacutendice de saliecircncia 231

considerou a frequecircncia de citaccedilatildeo e o ranking referente ao posicionamento das variedades 232

dentro das listas livres (Thompson amp Juan 2006) As etnovariedades mais citadas e com maior 233

valor de saliecircncia representam as de maior importacircncia ou preferecircncia para as comunidades 234

Anaacutelise de rede 235

Medimos o grau de aninhamento (NODF) para investigar a estrutura de rede de 236

interaccedilatildeo social dos agricultores em funccedilatildeo das variedades cultivadas As matrizes altamente 237

aninhadas apresentam NODF tendendo a 1 caso contraacuterio tentem a ser 0 238

Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 239

Para o estudo das semelhanccedilas e diferenccedilas fenotiacutepicas entre as variedades de mandioca 240

ldquoin siturdquo realizamos anaacutelises multivariadas para identificar possiacuteveis grupos de variedades que 241

compartilham semelhanccedilas entre si 242

36

A anaacutelise de correspondecircncia muacuteltipla (MCA) permitiu identificar como as variedades 243

de mandioca estatildeo ordenadas em funccedilatildeo dos seus descritores etnobotacircnicos As etnovariedades 244

foram plotadas ao longo um plano cartesiano bi ou tridimensional onde a variaccedilatildeo total eacute 245

explicada pelos dois primeiros eixos Complementar a esta anaacutelise realizamos a anaacutelise de 246

agrupamento hieraacuterquico (Cluster) para identificar como estatildeo agrupadas as etnovariedades de 247

acordo seus descritores Conferimos a consistecircncia do dendrograma com coeficiente de 248

correlaccedilatildeo cofeneacutetica conforme Sneath amp Sokal (1973) que quantifica se a correlaccedilatildeo entre a 249

matriz de distacircncias originais e a matriz de distacircncias cofeneacuteticas eacute representativa Para 250

mensurar as dissimilaridades entre as variedades de mandioca foi utilizada a distacircncia 251

euclidiana e com o meacutetodo de Ward 252

Softwares utilizados 253

Para a anaacutelise da lista livre usamos o software ANTROPAC versatildeo 10 O software 254

ANINHADO 30 (Guimaratildees amp Guimaratildees 2006) foi usado para medir o grau de aninhamento 255

da rede Utilizamos o software estatiacutestico R (R core team 2017) para a anaacutelise de correlaccedilatildeo 256

de Spearman com o pacote corrplot (Wei amp Simko 2013) o desenho da rede que descreve a 257

interaccedilatildeo entre os agricultores e as etnovariedades com o pacote bipartite (Dormann et al 258

2017) E com os pacotes FactoMineR (LEcirc et al 2008) factoextra (Kassambara et al 2016) e 259

vegan (Oksanen et al 2017) foram realizadas as anaacutelises de cluster de correspondecircncia 260

muacuteltipla (MCA) e de correlaccedilatildeo coefeneacutetica respectivamente 261

Resultados 262

As diferentes etnovariedades de mandioca encontradas no estudo suprem a demanda 263

local por alimento enquanto outras atendem agraves preferecircncias individuais ou do comeacutercio As 264

variedades que possuem maior rendimento e a farinha produzida apresenta coloraccedilatildeo branca 265

satildeo as de maior valor comercial para os agricultores devido agraves preferecircncias do mercado Jaacute 266

37

outras variedades que satildeo mais moles e apresentam coloraccedilatildeo amarelada natildeo satildeo empregadas 267

na produccedilatildeo de farinha mas sim consumidas cozidas ou assadas A depender da demanda local 268

os agricultores intencionalmente aumentam ou diminuem a frequecircncia de suas variedades nos 269

roccedilados seja por alguma exigecircncia do comeacutercio ou para consumo familiar 270

Nas comunidades os agricultores separam suas variedades de mandioca em dois grupos 271

como observado em outras comunidades na mata Atlacircntica por Emperaire e Peroni (2007) o 272

das ldquomacaxeirasrdquo que satildeo as variedades exploradas basicamente para o consumo familiar sem 273

processo preacutevio de desintoxicaccedilatildeo cujas raiacutezes satildeo consumidas fritas eou cozidas Sendo 274

utilizadas tambeacutem como complemento na dieta dos animais E o grupo das ldquomandiocasrdquo que 275

satildeo as variedades que necessitam de processo preacutevio de desintoxicaccedilatildeo para o consumo 276

utilizadas comumente para a produccedilatildeo de farinha de mandioca Para os agricultores as 277

ldquomandiocasrdquo possuem maior valor comercial pois apresentam maior rendimento e 278

rentabilidade pois a farinha produzida eacute branca e atende as preferencias do comercio local 279

Aleacutem da farinha outros produtos e subprodutos produzidos dentre os quais foram citados 280

ldquotapioca ou gomardquo ldquobijurdquo ou ldquobolo de mandiocardquo satildeo utilizados para o consumo proacuteprio ou 281

eventual comercializaccedilatildeo 282

Os informantes natildeo possuiacuteam conhecimento sobre a origem dos nomes das variedades 283

de mandioca Quanto a compreensatildeo da geraccedilatildeo da diversidade intraespeciacutefica identificamos 284

que apesar de 66 dos agricultores citarem que conhecem variedades fruto de germinaccedilatildeo de 285

suas sementes nenhum deles utiliza as manivas para o plantio por essas variedades de 286

mandioca ldquovoluntaacuteriasrdquo natildeo apresentarem bom rendimento 287

Observamos que existe uma baixa correlaccedilatildeo entre a diversidade de variedades 288

atualmente cultivadas e as variaacuteveis socioeconocircmicas como no caso do nuacutemero de roccedilados 289

(r=028 Ple005) e do tamanho do roccedilado (r=033 Ple005) (Fig 7) Essa baixa correlaccedilatildeo pode 290

38

ser explicada pelo fato de existirem grupos de agricultores que preferem manter as variedades 291

de maior valor econocircmico e de subsistecircncia mesmo com aacutereas maiores de cultivo 292

Verificamos tambeacutem uma correlaccedilatildeo positiva moderada entre o nuacutemero de variedades 293

conhecidas com o nuacutemero de variedades atualmente cultivadas (r=054 Ple005) Na lista livre 294

foram identificadas 22 etnovariedades de mandioca cultivadas (132 citaccedilotildees no total) sendo 295

oito dessas mais citadas com maiores valores de saliecircncia (entre 047 e 0082) (Tabela 2) As 296

etnovariedades ldquoMacaxeira Rosardquo e ldquoMandioca Isabel de Souzardquo exibiram os maiores valores 297

de saliecircncia 047 e 037 respectivamente Logo essas variedades satildeo as mais conhecidas 298

dentro das comunidades com 66 e 48 das citaccedilotildees respectivamente 299

Dentre as etnovariedades citadas 12 foram idiossincraacuteticas pois apresentaram menor 300

frequecircncia de citaccedilatildeo e menores valores de saliecircncia (entre 0032 e 0006) (Tabela 2) 301

Redes de interaccedilatildeo social 302

A rede apresentou uma estrutura aninhada com grau de aninhamento significativamente 303

superior aos modelos nulos (N=3072 Plt0001) para as comunidades sendo um nuacutecleo de 304

etnovariedades altamente conectado aos agricultores (Fig 8) A estrutura aninhada nos permite 305

inferir que existe um grupo de agricultores que cultiva uma maior diversidade de etnovariedades 306

de mandioca em suas roccedilas enquanto que outro subgrupo que tem menor diversidade cultivam 307

as mais comuns ou disponiacuteveis (Cavechia et al 2014) Isso significa que os agricultores locais 308

mesmo em diferentes comunidades cultivam um nuacutecleo de etnovariedades comum entre eles 309

(n=6 Tabela 2) 310

Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 311

Observamos que a maioria dos indiviacuteduos de mandioca satildeo caracterizados por meio de 312

um conjunto de sete caracteres morfoloacutegicos os quais foram citados pelos agricultores como 313

mais importantes para a caracterizaccedilatildeo de suas variedades Nas visitas aos roccedilados registramos 314

39

as etnovariedades atualmente cultivadas e a tabela 3 fornece a lista completa com as 17 315

etnovariedades de mandioca e o local de registro 316

Por meio da anaacutelise de correspondecircncia muacuteltipla as variedades de mandioca foram 317

ordenadas em funccedilatildeo de seus descritores ao longo do primeiro e segundo eixo correspondentes 318

a 3680 da variacircncia total (Fig 9) 319

As variaacuteveis mais correlacionadas e que agruparam as variedades de mandioca no 320

primeiro eixo foram cor da folha desenvolvida (CFD) (r= 07239 Ple0001) cor do coacutertex da 321

raiz (CDR) (r= 06473 Ple0001) cor do broto foliar (CBF) (r= 06880 Ple0001) cor do peciacuteolo 322

(CDP) (r= 05250 Ple005) cor externa do caule (CEC) (r= 06883 Ple005) cor da polpa da 323

raiz (PDR) (r= 02473 Ple005) Para o segundo eixo as variaacuteveis correlacionadas foram cor 324

da folha desenvolvida (CFD) (r= 07220 Ple0001) cor externa do caule (CEC) (r= 08718 325

Ple0001) e cor do peciacuteolo (CDP) (r= 06927 Ple005) 326

O agrupamento de todas as variedades caracterizadas ldquoin siturdquo gerou uma aacutervore 327

hieraacuterquica (dendrograma) (Fig 9) utilizando a distacircncia euclidiana seguindo o criteacuterio de 328

Ward O dendrograma gerado apresentou um coeficiente de correlaccedilatildeo cofeneacutetica r= 06780 329

indicando que existe consistecircncia com os dados originais no agrupamento quanto agrave 330

classificaccedilatildeo e estrutura de tal forma que as variedades foram agrupadas em oito classes as 331

quais foram explicadas pelas variaacuteveis mais significativas descritas na tabela 4 332

O resultado do agrupamento (utilizada a distacircncia euclidiana e com o meacutetodo de Ward) 333

observamos que as etnovariedades de mandioca caracterizadas ldquoin siturdquo foram agrupadas em 334

dois grandes agrupamentos indicados na Fig 10 pelos retacircngulos em vermelho A partir dessa 335

anaacutelise percebemos que os caracteres morfoloacutegicos selecionados pelos agricultores natildeo foram 336

suficientes para separar as variedades de macaxeira e mandioca pois em ambos os 337

agrupamentos encontramos tanto macaxeiras quanto mandiocas 338

40

As variedades da classe 1 foram identificadas pelos agricultores pela cor do peciacuteolo 339

(CDP) verde A classe 2 agrupou as etnoveriedades caracterizadas pela protuberacircncia da cicatriz 340

foliar (PCF) mais protuberante Esse descritor segundo os agricultores era identificado como 341

ldquoembriatildeordquo A classe 3 consiste apenas da variedade ldquoMandioca Pretonardquo indicada pela presenccedila 342

de cor do peciacuteolo (CDP) vermelho A classe 4 agrupou trecircs variedades caracterizadas pelos 343

agricultores pela presenccedila de cor coacutertex da raiz (CDR) rosa e cor da polpa da raiacutez (PDR) branca 344

identificadas como ldquoMacaxeira vermelhardquo ldquoMacaxeira Rosa Brancardquo ldquoMacaxeira Rosardquo As 345

variedades agrupadas na classe 5 foras as variedades de mandioca caracterizadas pelos 346

agricultores por apresentarem cor do coacutertex (CDR) da raiacutez branca A classe 6 agrupou 347

variedades identificadas pelos agricultores pela cor do broto foliar (CBF) verde A classe 7 348

consiste apenas da variedade ldquoMacaxeira Sementerdquo identificada pelos agricultores pela cor do 349

peciacuteolo (CDP) roxo e protuberacircncia da cicatriz foliar pouco proeminente Essa variedade 350

segundo os agricultores era fruto do nascimento espontacircneo no roccedilado poreacutem eles geralmente 351

natildeo utilizam essas variedades por apresentarem apenas uma raiz pequena e de baixo 352

rendimento Na classe 8 as variedades foram identificadas pelos agricultores pela cor do peciacuteolo 353

(CDP) verde amarelado e protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) pouco proeminente As 354

ldquoMandioca Isabel de Souzardquo ldquoMandioca Isabel trecircs galhosrdquo segundo os agricultores se 355

diferenciavam pelo maior nuacutemero de caules presentes na variedade ldquoIsabel trecircs galhosrdquo 356

Discussatildeo 357

As sete comunidades estudadas manejavam um nuacutemero consideraacutevel de variedades 358

locais A quantidade de etnovariedades registradas eacute proacutexima a encontrada por Bender et al 359

(2009) e Cavechia et al (2014) em comunidades na regiatildeo sul e sudeste por Oler e Amorozo 360

(2017) em uma comunidade tradicional na regiatildeo centro-oeste Poreacutem foi quantitativamente 361

inferior quando comparada a estudos como os de Elias et al (2001) e Kawa et al (2013) em 362

comunidades na regiatildeo amazocircnica pois possuiacuteam uma alta diversidade Essa alta diversidade 363

41

na regiatildeo amazocircnica pode estar relacionada com o fato de que essa regiatildeo eacute o provaacutevel centro 364

de origem da mandioca (M esculenta) (Allem 1994) 365

As etnovariedades registradas neste estudo estatildeo disponiacuteveis para a maioria dos 366

agricultores dessa regiatildeo e esse fator favorece a circulaccedilatildeo das etnovariedades entre as 367

comunidades locais Por isso haacute semelhanccedilas das etnovariedades utilizadas entre os agricultores 368

da mesma comunidade e entre comunidades vizinhas 369

Parte dos agricultores optam por manter uma alta frequecircncia de variedades mais 370

utilizadas enquanto que outros optam por manter etnovariedades de baixa frequecircncia 371

Conforme discutido por Amorozo (2013) os agricultores escolhem seu acervo de acordo com 372

as necessidades e contexto em que vivem A reduccedilatildeo da diversidade de etnoveriedades por 373

exemplo pode ser impulsionada por fatores que simplificam o sistema como a seleccedilatildeo de 374

etnovariedades para a produccedilatildeo de farinha resultando no cultivo de poucas ou ateacute de uma uacutenica 375

etnovariedade (Peroni amp Hanazaki 2002) mesmo em aacutereas maiores 376

377

Redes de interaccedilatildeo social 378

Com as anaacutelises de rede demonstramos que os agricultores de diferentes comunidades 379

em uma mesma regiatildeo efetivamente trocam variedades de mandioca entre si corroborando 380

com estudos realizados por Emperaire amp Eloy (2008) Pautasso et al (2012) e Cavechia et al 381

(2014) Nesses estudos os autores tambeacutem consideram que as trocas de etnovariedades por 382

meio da rede de intercacircmbio entre os agricultores eacute um mecanismo fundamental para a 383

manutenccedilatildeo da diversidade local 384

A visualizaccedilatildeo da rede demonstrou que entre as comunidades os agricultores 385

compartilham um nuacutecleo de etnovariedades mais utilizadas dentre as quais estatildeo as de maior 386

valor econocircmico e de subsistecircncia Essas de maior frequecircncia satildeo aquelas altamente produtivas 387

utilizadas pelos agricultores para atenderem agraves demandas de mercado por farinha e para o 388

consumo proacuteprio (Kawa et al 2013) 389

42

No entanto observamos que existe outro nuacutecleo de etnovariedades menos frequentes 390

Essas etnovariedades raras podem ser resultantes do processo de experimentaccedilatildeo ou 391

preferecircncias individuais dos agricultores Outra possiacutevel razatildeo para a baixa frequecircncia de 392

algumas etnovariedades poderia ser explicada pela variaccedilatildeo da nomenclatura pelos 393

agricultores que segundo Peroni amp Hanazaki (2002) pode ocorrer durante o processo de troca 394

e introduccedilatildeo de novas variedades aos roccedilados Ainda assim natildeo descartamos a hipoacutetese de que 395

essas etnovariedades raras possam ser provenientes do cruzamento entre variedades diferentes 396

cultivadas da mesma roccedilado ou em roccedilas vizinhas De acordo com Martins (2005) essas 397

variedades fruto de germinaccedilatildeo expentacircnea satildeo incorporadas aos roccedilados pelos agricultores 398

pela curiosidade em experimentar novas variedades agraves suas coleccedilotildees 399

Nesse estudo admitimos que optar por etnovariedades raras entre as comunidades 400

estudadas eacute um comportamento adotado por agricultores que manejam uma maior diversidade 401

corroborando com os estudos de Cavechia et al (2014) e Emperaire et al (2016) em regiotildees 402

uacutemidas Para esses autores etnovaridedades de baixa frequecircncia representam um subconjunto 403

das de alta frequecircncia cultivadas por agricultores que manteacutem a maior diversidade em seus 404

roccedilados Sendo assim inferimos que no geral entre as comunidades satildeo os agricultores 405

generalistas aqueles que cultivam maior diversidade os responsaacuteveis por incorporar novas 406

etnovariedades aos roccedilados 407

As decisotildees dos agricultores em manter o acervo direcionado principalmente para 408

atender a demanda de mercado por exemplo podem levar a uma homogeneizaccedilatildeo nas roccedilas 409

colocando em risco a manutenccedilatildeo da diversidade local (Peroni amp Hanazaki 2002) Como 410

discutido por Elias et al (2000) os agricultores que selecionam apenas um nuacutemero reduzido e 411

especiacutefico de variedades mais produtivas tendem a fazer com que as variedades menos 412

frequentes desapareccedilam ao longo do tempo Essa tendecircndia pode influenciar na capacidade de 413

43

resiliecircncia do sistema assim como dos agricultores em lidar com possiacuteveis adversidades 414

ambientais que possam ocorrer 415

Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 416

No geral os agricultores demonstraram uma tendecircncia em classificarseparar suas 417

diferentes etnovariedades de mandioca a partir da combinaccedilatildeo de um conjunto de sete 418

caracteres morfoloacutegicos distintos e de faacutecil percepccedilatildeo os quais natildeo tem relaccedilatildeo com o uso 419

como por exemplo a cores das raiacutezes caule e folhas Logo consideramos que esses caracteres 420

morfoloacutegicos podem ser considerados como uma forma de classificaccedilatildeo pelos agricultores 421

baseada na capacidade percepccedilatildeo das diferenccedilas morfoloacutegicas que cada etnovariedades 422

apresenta (Boster 1985) Estes resultados nos levam a entender que entre os agricultores o 423

conhecimento sobre a diversidade da mandioca estaacute relacionado ao conhecimento de 424

caracteriacutesticas morfoloacutegicas consistentes 425

A existecircncia de alguns fenoacutetipos comuns nos permitiu avaliar a classificaccedilatildeo da 426

consistecircncia da taxonomia popular entre os agricultores Por exemplo as etnovariedades 427

ldquoMaxaceira Rosardquo e ldquoMacaxeira Rosa Brancardquo e ldquoMacaxeira vermelhardquo foram agrupadas no 428

mesmo cluster (C4) por apresentaram fenoacutetipos semelhantes Notamos que os agricultores 429

classificaram essas variedades de acordo com os traccedilos morfoloacutegicos mais relevantes como a 430

cor do coacutertex da raiz rosa e cor branca da polpa O mesmo ocorreu com as etnovariedades 431

ldquoMandioca varudardquo ldquoMandioca campina da granderdquo e ldquoMandioca campinardquo caracterizadas 432

pela presenccedila do peciacuteolo verde agrupadas no cluster (C1) 433

A partir dessas evidecircncias consideramos a hipoacutetese de que as variedades mesmo 434

apresentando caracteriacutesticas morfoloacutegicas muito semelhantes estatildeo sujeitas a variaccedilatildeo 435

nomenclatural durante o processo a incorporaccedilatildeo aos roccedilados pelos agricultores pois a 436

capacidade para distinguir e nomear variedades entre os agricultores da mesma regiatildeo pode 437

variar (Sambatti et al 2001 Elias et al 2001 Mekbib 2007) Consideramos tambeacutem que pode 438

44

existir variaccedilatildeo geneacutetica entre os indiviacuteduos identificados por um mesmo nome ou entatildeo que 439

os agricultores datildeo o mesmo nome para variedades diferentes E esta situaccedilatildeo pode levar a uma 440

superestimaccedilatildeo ou subestimaccedilatildeo da diversidade de mandioca cultiva nas aacutereas de estudo 441

Sabemos que a mandioca eacute propagada vegetativamente pelos agricultores por meio de 442

estacas em sistemas de agricultura tradicional No entanto alguns variedades produzem flores 443

e sementes que germinam e podem originar outras variedades ou outros clones por meio de 444

fecundaccedilatildeo cruzada (Elias et al 2001) Nesse contexto a etnovariedade ldquoMacaxeira Sementerdquo 445

presente no cluster (C7) trata-se de um uacutenico indiviacuteduo amostrado em uma roccedila de um dos 446

agricultores Esta apresentava algumas caracteriacutesticas morfoloacutegicas distintas das demais 447

reconhecidas pelo agricultor como por exemplo a produccedilatildeo de uma raiz uacutenica e 448

consequentemente de baixo rendimento Encontramos apenas um indiviacuteduo dessa 449

etnovariedade e nossa hipoacutetese de que esta poderia ter sido originada da germinaccedilatildeo da 450

semente mesmo quando 100 dos informantes declararam natildeo dar qualquer importacircncia e 451

descartar essas ldquovariedades-voluntaacuteriasrdquo foi confirmada pelo agricultor que afirmou que se 452

tratava de uma variedade nascida da germinaccedilatildeo da semente Esse comportamento vai de 453

encontro ao estudo de Fraser et al (2012) pois apesar dos agricultores reportarem nas 454

entrevistas que conhecem essas ldquovariedades-voluntaacuteriasrdquo nenhum agricultor faz o uso delas 455

Peroni et al (1999) e Agre et al (2016) analisando morfologicamente as variedades 456

locais de mandioca mantidas por agricultores em sistemas agriacutecolas tropicais tambeacutem 457

demonstraram que os agricultores satildeo coerentes quanto a separaccedilatildeo e identificaccedilatildeo de suas 458

etnovariedades a partir da formaccedilatildeo de grupos de coesos quanto a nomenclatura local utilizada 459

No entanto para o melhor entendimento dessa diversidade aleacutem da caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica 460

o uso de anaacutelises complementares como anaacutelise molecular seria importante para tentar 461

identificar se esses grupos representam a mesma variedade com nomes distintos ou se satildeo 462

variedades distintas com o mesmo nome 463

45

Conclusatildeo 464

O estudo demonstrou que no sistema de manejo da mandioca ao niacutevel de roccedila em 465

comunidades localizadas na regiatildeo semiaacuterida de Pernambuco compotildee uma diversidade 466

intrespeciacutefica de mandioca para atender agraves demandas econocircmicas e de subsistecircncia das 467

populaccedilotildees locais 468

Com relaccedilatildeo a anaacutelise de rede demostramos que haacute um nuacutecleo de etnovariedades 469

fortemente conectado aos agricultores e sua composiccedilatildeo eacute direcionada pelas preferecircncias e 470

necessidades individuais dos agricultores que foram os fatores responsaacuteveis pelo surgimento 471

da estrutura aninhada observada na anaacutelise rede entre as comunidades deste estudo E esse 472

padratildeo aninhado observado contribui na conservaccedilatildeo das etnovariedades mais comuns mas 473

tambeacutem pode resultar em perda daquelas de menor frequecircncia ao longo do tempo 474

A caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica ldquoin siturdquo nos permitiram inferir que os agricultores 475

reconhecem as diferentes caracteriacutesticas morfoloacutegicas de suas cultivares e satildeo coerentes na 476

separaccedilatildeo de suas variedades de mandioca e macaxeira Entretanto esses resultados sugerem a 477

realizaccedilatildeo de um estudo em niacutevel de diversidade geneacutetica exploratoacuterio para identificar se as 478

consistecircncias morfoloacutegicas refletem em consistecircncias geneacuteticas elucidando assim as possiacuteveis 479

confusotildees atribuiacutedas aos nomes das etnovariedades de mandioca 480

Agradecimentos 481

Agradecemos ao liacuteder comunitaacuterio Alexandre O Nascimento aos agricultores e 482

agricultoras das comunidades pela acolhida confianccedila e pela gentileza de compartilharem 483

conosco seus conhecimentos e contribuiacuterem com este estudo Especialmente a Arlindo Ferreira 484

Edgar Antocircnio Joseacute Sebastiatildeo Juvenal Oliveira e Janete Alves Ao Laboratoacuterio de Ecologia e 485

Evoluccedilatildeo de Sistemas Socioecoloacutegicos (LEA - UFPE) E agradecemos ao CNPq pelo apoio 486

com a bolsa de estudos do primeiro autor 487

46

Referecircncias bibliograacuteficas 488

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073 230(231) 11 613

614

51

ANEXOS 615

616

Nome da revista 617

Human Ecology 618

Link de acesso 619

httpsgooglDVLbFj 620

Qualis-CAPES 621

B1 em Biodiversidade 622

623

624

625

626

627

628

629

630

631

632

633

634

635

636

637

638

639

640

641

642

52

Figuras 643

644

645

Fig 1 Partes do processo de fabricaccedilatildeo de farinha de mandioca Onde a raspagem b e c 646

processo de trituraccedilatildeo e d peneiramento Foto registrada em Abril de 2017 por Mirela Santos 647

648

649

650

c

d

b

a

53

651

Fig 2 Mapa de localizaccedilatildeo geograacutefica dos Municiacutepios de Altinho e Panelas e das comunidades 652

estudadas na regiatildeo semiaacuterida do Estado de Pernambuco (Elaborado por SANTOS 2018) 653

54

654

655

656

657

Fig 3 Processo de fabricaccedilatildeo da farinha de mandioca Apoacutes a colheita as raiacutezes satildeo lavadas 658

raspadas e trituradas (a) A massa extraiacuteda eacute prensada e coada Ao sair da prensa a massa 659

peneirada (b) e em seguida eacute torrada (c) em fornos artesanais ou parcialmente mecanizados 660

Imagem registrada em janeiro de 2017 na Comunidade do Caratildeo por Mirela Santos 661

662

663

a

b c

55

664

Fig 4 a Sede da Comunidade do Caratildeo b Agricultor transportando a palma forrageira que eacute 665

um exemplo de estrateacutegia adaptativa para suprir a falta de alimento dos animais devido agrave seca 666

c Feira-livre que acontece na comunidade a cada quinze dias Imagem registrada em julho de 667

2016 na Comunidade do Caratildeo por Mirela Santos 668

669

670

Fig 5 a O agricultor nos explicava as mudanccedilas que vem fazendo em seus roccedilados para se 671

adaptar aos longos periacuteodos de seca b Quando o agricultor nos mostrava as diferentes 672

etnovariedades que mantinha em sua roccedila c Durante a pesquisa nos explicavam como era feita 673

a colheita da mandioca e como selecionavam as manivas para o proacuteximo plantio Foto registrada 674

em abril de 2017 na Comunidade do Brejo Velho por Mirela Santos 675

a

b c

c b

a

56 676

677

Fig 6 Possiacuteveis estruturas de rede que descrevem as interaccedilotildees dos agricultores (losango) 678

ligados as etnovariedades (ciacuterculos) que cultivam Onde a Aninhada b Modular c Aleatoacuteria 679

(Fonte Cavechia et al 2014 com adaptaccedilotildees) 680

681

682

683

684

685

686

687

688

689

690

691

692

693

694

695

696

697

a c b

57

698

699

700

701

702

703

704

705

706

707

Fig 7 Correlaccedilatildeo de Spearman entre a diversidade de etnovariedades de mandiocas conhecidas 708

como cultivadas e variedades atualmente cultivadas por agricultor e as variaacuteveis 709

socioeconocircmicas Onde Nvc= nuacutemero de citadas como cultivadas Nve= nuacutemero de variedades 710

atualmente cultivadas Esc= escolaridade Id= idade Gen= gecircnero Tr= tamanho do roccedilado 711

Exp= experiecircncia na agricultura Sld= renda Nr= nuacutemero de roccedilados Cores distintivas 712

representam correlaccedilotildees significativas (Ple005) 713

714

58

715

Fig 8 Modelo individual de rede de etnovariedades de mandioca citadas (esquerda) por 716

agricultores como cultivadas (direita) nos Municiacutepios de Altinho e Panelas As redes foram 717

desenhadas com o pacote bipartite (Dormann et al 2017) usando o software R (R CORE 718

TEAM 2017) 719

720

59

721

Fig 9 Anaacutelise de Correspondecircncia Muacuteltipla das 17 etnovariedades de mandioca considerando 722

os sete descritores morfoloacutegicos utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo em roccedilas de 723

agricultores tradicionais de sete comunidades no semiaacuterido de Pernambuco 724

725

726

727

728

729

730

731

732

733

734

735

736

737

McCambadinha

McCampina

McCampinaDaGrande

McCampinaRasteira

McCampinaVaruda

McGauba

McIsabelDeSouza

McIsabelTresGalhos

McOlhoDePombo

McOlhoVerde

McPretinha

McPretona

MxBranca

MxRosa

MxRosaBrancaMxRosaVermelha

MxSemente

CFD_Verde_Arroxeado

CFD_Verde_ClaroCFD_Verde_Escuro

CBF_Roxo

CBF_Verde_ArroxeadoCBF_Verde_Claro

CBF_Verde_Escuro

CDP_Verde

CDP_Verde_Amarelado

CDP_Verde_Avermelhado

CDP_Vermelho

CEC_Cinza

CEC_Dourado

CEC_Laranja

CEC_Marrom_Claro

CEC_Marrom_Escuro

CEC_Prateado

CEC_Verde_AmareladoCicatriz_M

Cicatriz_P

PDR_Branco

PDR_Creme

CDR_BrancoCDR_Creme CDR_Rosa

-4

-2

0

2

4

-4 -2 0 2 4

Dim1 (206)

Dim

2 (

162

)

MCA - Biplot

00

10

Hierarchical Clustering

inertia gain

McC

am

pin

aV

aru

da

McC

am

pin

aD

aG

rande

McC

am

pin

a

McG

auba

McP

retin

ha

McP

reto

na

MxR

osaV

erm

elh

a

MxR

osaB

ranca

MxR

osa

McC

am

pin

aR

aste

ira

McC

am

badin

ha

McO

lhoV

erd

e

MxB

ranca

MxS

em

ente

McIsabelT

resG

alh

os

McIsabelD

eS

ouza

McO

lhoD

eP

om

bo

00

05

10

15

Hierarchical Classification

Heig

ht

C1 C2 C3 C4 C5 C6 C7 C8

Fig 10 Agrupamento hieraacuterquico das 17 etnovariedades de mandioca caracterizadas de acordo

com os descritores utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo

60

Tabelas 738

739

Tabela 1 Caracteres e estados utilizados pelos agricultores como descritores botacircnicos para 740

caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das etnovariedades de mandioca 741

Caracter Sigla Estados

Folha

Cor da folha desenvolvida CFD 1- verde claro 2- verde escuro 3- verde arroxeado 4- roxo

Cor do broto foliar CBF 1- verde claro 2- verde escuro 3- verde arroxeado 4- roxo

Cor do peciacuteolo CDP 1- verde amarelado 2- verde 3- verde avermelhado 4- roxo

5- vermelho

Caule

Cor externa do caule CEC 1- laranja 2- verde amarelado 3- dourado 4- marrom claro

5- prateado 6- cinza 7- marrom escuro 8- verde

Protuberacircncia da cicatriz foliar PCF 1- pouco proeminente 2- muito proeminente

Raiacutez

Cor da poupa da raiz PDR 1- branco 2- creme

Cor do coacutertex da raiacutez CDR 1- rosa 2- branco 3- creme

742

743

744

745

746

747

748

749

750

751

61

Tabela 2 Lista das 22 etnovariedades de mandiocas citadas (132 citaccedilotildees) como cultivadas nas 752

comunidades pertencentes aos Municiacutepios de Altinho (Caratildeo n=8) e ao Municiacutepio de Panelas 753

(Aracuatilde Satildeo Joseacute do Bola Brejo Velho Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima e Lajeiro 754

Dantas n=21) 755

Etnovariedade Frequecircncia () Ranking Saliecircncia

Macaxeira Rosa 66 179 0472

Mandioca Isabel de Souza 48 179 0372

Mandioca Campina 24 217 0148

Macaxeira Branca 20 210 0134

Macaxeira Rosa branca 18 122 0168

Mandioca Pretona 16 338 0082

Mandioca Cambadinha 12 283 0071

Mandioca Isabel trecircs galhos 10 180 0075

Mandioca Gauacuteba 10 260 0070

Mandioca Pretinha 8 225 0053

Mandioca Peacute de pombo 4 400 0011

Mandioca Olho verde 4 350 0012

Macaxeira Rosinha 4 200 0027

Mandioca Campina varuda 4 200 0032

Mandioca Campina rasteira 4 300 0021

Mandioca Caboquinha 2 500 0007

Macaxeira Rasteira 2 200 0013

Macaxeira Paraacute 2 100 0020

Mandioca Barra ferro 2 300 0007

Mandioca Campina da grande 2 100 0020

Mandioca Olho de pombo 2 300 0010

Mandioca Jasmim 2 600 0006

756

757

758

62

Tabela 3 Lista de 17 etnovariedades atualmente cultivadas nos roccedilados das comunidades em 759

estudo 760

Ca Ar Bo Br Jb Jc Ld

Etnovariedade

Macaxeira Branca x x x x

Macaxeira Rosa

x x x x x x

Macaxeira Rosa Branca x x x x

Macaxeira Rosa Vermelha

x

Macaxeira Semente

x

Mandioca Cambadinha x

x

Mandioca Campina

x

x

x

Mandioca Campina da Grande x

Mandioca Campina Rasteira

x

Mandioca Campina Varuda

x

Mandioca Gauacuteba

x

Mandioca Isabel de Souza

x x x

Mandioca Isabel trecircs Galhos

x

x

Mandioca Olho de Pombo

x

Mandioca Olho Verde

x

Mandioca Pretinha

x

Mandioca Pretona x x x

Comunidades Ca= Caratildeo Ar=Aracuatilde Bo= Satildeo Joseacute do Bola Jb= Japaranduba de Baixo 761

Jc= Japaranduba de Cima Ld= Lajedo Dantas 762

763

764

765

766

767

768

63

Tabela 4 Descriccedilatildeo das classes do agrupamento por meacutetodo de Ward agrupadas pelo conjunto 769

dos descritores mais significativos para a caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das variedades de mandioca 770

Classes Descritores in situ p-valor

C1 Cor do peciacuteolo (CDP) 0016

C2 Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023

C3 Cor do peciacuteolo (CDP) 0012

C4 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0004

Cor da poupa da raiacutez (PDF) 0021

C5 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0003

C6 Cor do broto foliar (CBF) 0002

C7 Cor da folha desenvolvida (CFD) 0004

Cor externa do caule (CEC) 0040

C8 Cor do peciacuteolo (CDP) 0005

Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023

Valores de Ple005 satildeo significativos 771

772

xii

SUMAacuteRIO

RESUMO GERAL xiii

1 Introduccedilatildeo Geral 14

2 Revisatildeo bibliograacutefica 17

21 Manihot esculenta Crantz e conhecimento local de agricultores tradicionais 17

22Manejo tradicional em roccedilas e diversidade intraespeciacutefica da mandioca 18

23 Redes sociais de troca e circulaccedilatildeo de etnovariedades de mandioca 20

3 Referecircncias bibliograacuteficas 22

VARIACcedilAtildeO INTRAESPECIacuteFICA CONHECIMENTO E MANEJO LOCAL DE

MANDIOCA (Manihot esculenta Crantz) NO SEMIAacuteRIDO DE PERNAMBUCO

NORDESTE DO BRASIL 25

Resumo 26

Introduccedilatildeo 27

Material e meacutetodos 29

Resultados 36

Discussatildeo 40

Conclusatildeo 45

Agradecimentos 45

Referecircncias bibliograacuteficas 46

ANEXOS 51

xiii

RESUMO GERAL

Agricultores de pequena escala que praticam agricultura de modo tradicional em roccedilas

desempenham um importante papel na geraccedilatildeo manutenccedilatildeo e conservaccedilatildeo da

agrobiodiversidade local Dentre as espeacutecies mais cultivadas em roccedilas a Manihot esculenta

Crantz (mandioca) em sua diversidade intrespeciacutefica eacute um dos recursos agriacutecolas de maior

importacircncia econocircmica e de subsistecircncia para diversas populaccedilotildees locais no mundo Acredita-

se que as praacuteticas de manejo dedicadas ao cultivo da mandioca associadas ao conhecimento de

agricultores resultam no aumento da diversidade intraespeciacutefica assim como na conservaccedilatildeo

dessa diversidade Diante disso a pesquisa teve como objetivo compreender os processos

envolvidos na dinacircmica da diversidade agriacutecola da mandioca por meio do acesso ao

conhecimento dos agricultores quanto as praacuteticas de menejo e entender quais fatores podem

estar relacionados a geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da diversidade local Para isso o estudo foi

desenvolvido junto a agricultores tradicionais de sete comunidades rurais localizadas na regiatildeo

semiaacuterida do estado de Pernambuco A abordagem metodoloacutegica foi baseada em entrevistas

semiestruturadas conversas com os informantes e visitas aos roccedilados para caracterizar e

compreender a importacircncia manejo da agricultura de sequeiro e das redes sociais estabelecidas

entre os agricultores bem como identificar as variedades de mandioca atualmente cultivadas

A partir do conhecimento da diversidade manejada analisamos a estrutura da rede de interaccedilatildeo

social formada pelas trocas de etnovariedades entre os agricultores A partir destas informaccedilotildees

discutimos sobre o importante papel dos agricultores na manutenccedilatildeo do conjunto de

etnovariedades regionais Um total de 22 etnovariedades foram citadas as quais satildeo

identificadas pelos agricultores principalmente por meio de sete caracteres morfoloacutegicos A

estrutura em redes de trocas de variedades favorece a manutenccedilatildeo e amplificaccedilatildeo das diferentes

variedades locais

Palavras-Chave Agricultura tradicional Agricultura de sequeiro Agrobiodiversidade

Plantas alimentiacutecias Redes sociais

xiv

ABSTRACT

Small-scale farmers who practice traditional agriculture fields have an important role in

generation maintenance and conservation of local agrobiodiversity Among the most cultivated

species the Manihot esculenta Crantz (cassava) in its intrespecific diversity is one of the

moust important agricultural resources of economic importance and livelihood for many local

people in the world It is believed that the management practices dedicated to the cultivation of

cassava associated with the knowledge of farmers result in increased intraspecific diversity

and the conservation of this diversity Therefore the research aimed to understand the processes

involved in the dynamics of agricultural diversity of cassava through access the knowledge of

farmers as the management of practices and understand what factors may be related to the

generation and maintenance of local diversity For this the study was developed with the

traditional farmers of seven rural communities located in the semiarid region of the state of

Pernambuco The methodological approach was based on semi-structured interviews

conversations with informants and visits to fields to characterize and understand the

importance of management of dry framing and social networks established between farmers

and to identify the cassava varieties currently grown From the knowledge of managed

diversity we analyze the structure of social interaction network formed by the exchange of

landraces among farmers From this information We discussed the important role of farmers

in the overall regional landraces maintenance A total of 22 landraces were cited which are

identified by farmers mainly through seven morphological characters The structure of

varieties sharing networks favors the maintenance and amplification of different local varieties

Keywords Agrobiodiversity Dry Farming Food plants Social networks Traditional

agriculture

14

1 Introduccedilatildeo Geral

Ao longo dos anos populaccedilotildees tradicionais foram adquirindo aprimorando e transmitindo

seus conhecimentos sobre o manejo dos recursos naturais existentes em suas respectivas

regiotildees e assim foram desenvolvendo teacutecnicas para se adaptar e sobreviver ao ambiente Essas

populaccedilotildees foram domesticando uma grande variedade de espeacutecies de plantas alimentiacutecias

numa agricultura de pequena escala (BALLEacute 2006 CLEMENT et al 2010)

Essa interaccedilatildeo pessoas-planta por meio do cultivo e manejo das espeacutecies vegetais vem

contribuindo para ambos com alteraccedilotildees adaptativas por meio da seleccedilatildeo artificial Essas

alteraccedilotildees resultaram em mudanccedilas na estrutura geneacutetica das espeacutecies vegetais pelo manejo da

seleccedilatildeo de caracteriacutesticas fenotiacutepicas fisioloacutegicas e econocircmicas das plantas E essa seleccedilatildeo

consciente ou inconsciente das plantas se traduz em uma grande variaccedilatildeo intraespeciacutefica nas

populaccedilotildees vegetais sob diferentes regimes de manejo (CARMONA CASAS 2005)

Por meio do cultivo agricultores em comunidades tradicionais desempenham um papel

fundamental no processo dinacircmico de geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da agrobiodiversidade local em

sistemas de roccedilas Essas roccedilas satildeo aacutereas de agricultura tradicional localizadas dentro de

comunidades caracterizadas natildeo soacute pelo grande nuacutemero espeacutecies cultivadas mas tambeacutem pela

alta diversidade intraespeciacutefica que essas espeacutecies apresentam (MARTINS 2005) Dentre as

espeacutecies comumente cultivadas nesse sistema a mandioca (Manihot esculenta Crantz

Euphorbiaceae) eacute considerada uma cultura de alto valor econocircmico nutricional utilitaacuterio

cultural e social para muitas populaccedilotildees humanas no mundo (CLEMENT et al 2010) Aleacutem

disso a mandioca apresenta uma grande diversidade intraespeciacutefica e por essas caracteriacutesticas

tornou-se uma espeacutecie-modelo para compreender como os diferentes padrotildees e estrateacutegias de

manejo adotadas pelos agricultores podem influenciar na diversidade local (ELIAS et al 2001

EMPERAIRE PERONI 2007 EMPERAIRE ELOY 2008)

Segundo PERONI amp MARTINS (2000) as diferentes praacuteticas de manejo desse

importante recurso favorecem a alta diversidade intraespeciacutefica em roccedilas de agricultura

itinerante1 Um dos fatores responsaacuteveis pela geraccedilatildeo dessa diversidade consiste na capacidade

de incorporaccedilatildeo de novos germoplasmas por meio da reproduccedilatildeo sexuada associada ao manejo

agriacutecola tradicional (PUJOL et al 2005 EMPERAIRE PERONI 2007) Apesar de propagada

1 Agricultura caracterizada por ciclos de uso e pousio como por exemplo corte e queima

15

vegetativamente pelos agricultores a mandioca (M esculenta) ainda manteacutem a sua capacidade

de reproduccedilatildeo sexual sendo este um aspecto muito importante para dinacircmica evolutiva da

cultura (PUJOL et al 2007 CLEMENT et al 2010) Apoacutes a fecundaccedilatildeo cruzada e dispersatildeo

das sementes um banco destas eacute formado no solo e as novas variedades germinam nas roccedilas

(MARTINS 2005) Antes de serem imcorporadas ao acervo essas lsquolsquovariedades-voluntaacuteriasrsquorsquo

passam por um filtro cultural ou seja seratildeo reconhecidas pelos agricultores por meio de

caracteriacutesticas morfoloacutegicas experimentadas e entatildeo selecionadas (MARTINS OLIVEIRA

2009)

Outro evento envolvido na geraccedilatildeo de diversidade intraespeciacutefica eacute incorporaccedilatildeo de

novas variedades de mandioca por meio de uma rede social de troca de material propagativo

estabelecida entre os agricultores (CAVECHIA et al 2014) Esse mecanismo permite a

circulaccedilatildeo das manivas2 tanto a niacutevel local quanto regional permite tambeacutem o acesso aos

diferentes conjuntos de variedades cultivadas entre as comunidades e ainda que o conjunto de

etnovariedades3 locais eou regionais seja conservado (EMPERAIRE ELOY 2008) Dentro

dessas redes sociais de troca as relaccedilotildees entre os agricultores atuam como mecanismo

fundamental para dispersatildeo e experimentaccedilatildeo das etnovariedades entre as roccedilas E satildeo essas

relaccedilotildees e decisotildees estabelecidas entre os agricultores que iratildeo definir quais etnovariedades

seratildeo mantidas ao longo do tempo e quais seratildeo abandonadas (LIMA et al 2012)

Sendo os agricultores e as interaccedilotildees entre eles fundamentais para o estabelecimento da

diversidade local (PINTON EMPERAIRE 2001 EMPERAIRE ELOY 2008) torna-se

pertinente entender como as diferentes estrateacutegias adotadas pelos agricultores influenciam na

dinacircmica da agrobiodiversidade local Muitos trabalhos com esse enfoque foram desenvolvidos

nas regiotildees Amazocircnica e Sudeste mas pouco se discute sobre a dinacircmica da agrobiodiversidade

em regiotildees semiaacuteridas

Nesse sentido o presente estudo visa investigar as interaccedilotildees entre agricultores

tradicionais de comunidades rurais estabelecidas na regiatildeo semiaacuterida de Pernambuco O

objetivo geral eacute compreender os processos envolvidos na dinacircmica da diversidade agriacutecola por

meio do acesso ao conhecimento dos agricultores quanto as praacuteticas de menejo e entender quais

quais fatores podem estar relacionados a geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da diversidade local Para esse

estudo a mandioca foi escolhida como modelo devida agrave sua importacircncia econocircmica e de

subsistecircncia para comunidades locais Os objetivos especiacuteficos foram (i) caracterizar o manejo

2 Satildeo pedaccedilos das hastes ou ramas da mandioca usadas para o plantio 3 Variedades intraespeciacuteficas de mandioca (M esculenta) identificadas pelos agricultores por nomenclatura

popular local (Martins 2005)

16

da agricultura de sequeiro bem como analisar se os paracircmetros socioeconocircmicos influenciam

na diversidade local (ii) registrar as etnovariedades atualmente cultivadas e identificar os

diferentes criteacuterios morfoloacutegicos utilizados pelos agricultores para a seleccedilatildeo e classificaccedilatildeo das

etnovariedades e (iii) descrever a estrutura da rede de interaccedilatildeo entre os agricultores e a

diversidade de etnovariedades de mandioca cultivadas para tentar entender como essas relaccedilotildees

podem influenciar na manutenccedilatildeo ou perda da diversidade local

a

b c

17

2 Revisatildeo bibliograacutefica

21 Manihot esculenta Crantz e conhecimento local de agricultores tradicionais

O gecircnero Manihot Miller (Euforbiaceae) possui cerca de 98 espeacutecies distribuiacutedas em 19

seccedilotildees das quais 13 delas ocorrem no Brasil (ROGERS APPAN 1973) Dentre as espeacutecies do

gecircnero Manihot esculenta Crantz (mandioca) eacute a principal cultivar uma vez que compotildee a

base da dieta alimentar de diversas populaccedilotildees rurais principalmente em regiotildees tropicais A

mandioca foi domesticada na Ameacuterica do Sul pois eacute onde se encontra o maior centro de

diversificaccedilatildeo Estudos relacionados ao entendimento de sua origem botacircnica tecircm contribuiacutedo

para a compreensatildeo das accedilotildees humanas no processo de domesticaccedilatildeo e ampliaccedilatildeo da

diversidade da espeacutecie (OLSEN SCHAAL 1999 ELIAS et al 2004 ELLEN 2012)

As diferentes variedades da espeacutecie satildeo reconhecidas em dois grandes grupos principais

o das variedades mais toacutexicas e o de variedades menos toacutexicas baseadas no potencial de

glicosiacutedeos cianogecircnicos (HCN) contido na polpa das raiacutezes (ELIAS et al 2004) Variedades

com baixa toxicidade contecircm baixas concentraccedilotildees de glicosiacutedeos cianogecircnicos (HCNlt100

mgKg-1) e satildeo conhecidas em comunidades agriacutecolas variando entre regiotildees ou grupos eacutetnicos

como ldquomacaxeirasrdquo ldquomandiocas doces ou mansasrdquo ou ldquoaipinsrdquo As variedades mais toacutexicas

com altas concentraccedilotildees de HCN (HCNgt 100 mgKg-1) satildeo reconhecidas como ldquomandiocasrdquo

ou ldquomandiocas amargas ou bravasrdquo (PERONI et al 2007 MCKEY et al 2010) E portanto

precisam passar por um processo de desintoxicaccedilatildeo para se tornarem aptas ao consumo como

por exemplo pelo processo de fabricaccedilatildeo da farinha de mandioca (Fig 1) Apesar do seu

potencial toacutexico as variedades amargas possuem teores mais elevados de amido e se adaptam

bem a solos pobres e aacutecidos aleacutem de serem mais resistentes aos patoacutegenos e pragas em

comparaccedilatildeo com as variedades doces (FRASER et al 2010)

Sob o ponto de vista botacircnico esta dicotomia natildeo eacute reconhecida mas existem alguns

trabalhos que evidenciam a relaccedilatildeo entre a coerecircncia da taxonomia popular com a diferenciaccedilatildeo

geneacutetica para separaraccedilatildeo das variedades ldquodocesrdquo e ldquoamargasrdquo (ELIAS et al 2004 PERONI

et al 2007) O conhecimento das caracteriacutesticas morfoloacutegicas das plantas e a coerecircncia na

identificaccedilatildeo dessas variedades com niacuteveis distintos de HCN eacute de grande importacircncia

adaptativa para as populaccedilotildees que gerem esse recurso sobretudo pelo risco de intoxicaccedilatildeo

(RIVAL MCKEY 2008)

18

No estudo realizado por AMOROZO (2000) por exemplo os agricultores geralmente

classificavam as variedades que tinham raiacutezes brancas como ldquobravasrdquo e aquelas que tinham

raiacutezes vermelhas como ldquomansasrdquo embora eles reconhecessem algumas exceccedilotildees Em pesquisas

realizados por FARALDO et al (2000) MKUMBIRA et al (2003) ELIAS et al (2004) e

PERONI et al (2007) os agricultores foram consistentes na distinccedilatildeo de suas variedades

lsquolsquodocesrdquo e ldquoamargasrsquorsquo e com base no conhecimento de caracteres morfoloacutegicos distintos os

nomes das variedades refletiram na diversidade geneacutetica A partir dessas evidecircncias podemos

inferir que o conhecimento local dos agricultores associado agrave experiecircncia eacute importante natildeo

somente para o reconhecimento das variedades locais por si soacute mas tambeacutem por conter

informaccedilotildees relevantes sobre o papel que esses recursos podem desempenhar nos sistemas

agriacutecolas de pequena escala e para as populaccedilotildees locais (GADGIL et al 1993)

O conhecimento tradicional dos agricultores trata-se de um conjunto de saberes praacuteticas

e crenccedilas baseadas no contato direto nas observaccedilotildees experimentaccedilotildees diaacuterias e nas

dependecircncias econocircmicas eou de subsistecircncia dos recursos que satildeo geralmente transmitidas

oralmente dentro e entre as geraccedilotildees (AMOROZO 2000 DOMINGUES ARRUDA 2001

BEGOSSI 2004) Sendo assim o conhecimento tradicional de agricultores que praticam a

agricultura de pequena escala realizada em comunidades tradicionais eacute importante pois tem

garantido a perpetuaccedilatildeo dos conhecimentos e das praacuteticas agriacutecolas desenvolvidas durante

milhares de anos entre os agroecossistemas locais

22 Manejo tradicional em roccedilas e diversidade intraespeciacutefica da mandioca

A agricultura de pequena escala praticada em comunidades locais tem garantido a

perpetuaccedilatildeo do conhecimento sobre o manejo e a diversidade de espeacutecies agriacutecolas O sistema

de cultivo em roccedilas eacute tipicamente praticado por agricultores de comunidades tradicionais em

aacutereas uacutemidas no mundo inteiro As roccedilas satildeo aacutereas de cultivo de pequena escala localizadas

dentro de comunidades proacuteximas umas das outras que se tornaram objeto de estudo em vaacuterias

pesquisas antropoloacutegicas etnobotacircnicas geneacuteticas e ecologias especialmente por apresentarem

grande diversidade de espeacutecies cultivadas e pelo manejo destinar-se agrave subsistecircncia de grupos

familiares de agricultores de pequena escala (PUJOL et al 2007)

Aleacutem da diversidade de espeacutecies outra caracteriacutestica dessas roccedilas eacute o grande nuacutemero de

variedades dentro de cada espeacutecie Esta diversidade intraespeciacutefica pode ser referida como

etnovariedades que eacute um termo utilizado para definir grupos de indiviacuteduos identificados por

19

nomenclatura popular local a qual pode expressar elementos do contexto cultural econocircmico

e social das populaccedilotildees associado ao uso (PERONI MARTINS 2000 EMPERAIRE

PERONI 2007)

Dentre as vaacuterias espeacutecies cultivadas em roccedilas a mandioca (M esculenta) em seu

nuacutemero de etnovariedades eacute uma das principais culturas de importacircncia econocircmica e

nutricional para populaccedilotildees que utilizam esse sistema Sua diversidade pode estar relacionada

ao sistema reprodutivo da cultura ao modo de gestatildeo da agricultura pelas pressotildees de seleccedilatildeo

exercidas pelo proacuteprio homem ou ateacute mesmo por causas naturais (MARTINS 2005

CLEMENT et al 2010)

As caracteriacutesticas de manejo empregadas no cultivo da mandioca em roccedilas favorecem

a elevada diversidade intraespeciacutefica dessa cultura O modo de propagaccedilatildeo da mandioca eacute feito

pelos agricultores por meios de estacas (manivas) que satildeo selecionadas de acordo com as

caracteriacutesticas desejaacuteveis que elas apresentam seja para fins econocircmicos ou utilitaacuterios Apesar

de propagada vegetativamente que eacute um meacutetodo usado pelas populaccedilotildees humanas para plantio

e multiplicaccedilatildeo de plantas a mandioca natildeo perdeu a sua capacidade de reproduccedilatildeo sexual

sendo esse um aspecto importante para dinacircmica evolutiva da cultura (PUJOL et al 2007)

Esse meacutetodo de propagaccedilatildeo permite o fluxo e a circulaccedilatildeo do material geneacutetico entre os

diferentes roccedilados por meio de um sistema de redes sociais de troca de etnovariedade de

mandioca entre os agricultores tanto a niacutevel regional (entre comunidades) quanto em escalas

menores (entre vizinhos e parentes) (ELIAS et al 2004 EMPERAIRE OLIVEIRA 2010)

Segundo Emperaire e Peroni (2007) esse mecanismo de troca de germoplasma eacute uma grande

forccedila de dispersatildeo que resulta na agrobiodiversidade regional mais elevada pois estabelece

viacutenculos entre as diferentes roccedilas e promove oportunidades de seleccedilatildeo e cruzamento entre as

diferentes etnovariedades (EMPERAIRE ELOY 2008)

Atributo bioloacutegicos da espeacutecie tambeacutem estatildeo relacionados com o aumento da

diversidade intrespeciacutefica como a capacidade de dormecircncia das sementes e a dispersatildeo

autocoacuterica que propiciam o desenvolvimento de um banco de sementes no solo ao longo do

tempo permitindo o cruzamento entre as novas variedades adquiridasplantadas e entre estas

com variedades que existiram anterioemente na mesma aacuterea (PERONI MARTINS 2000

MARTINS 2005) A presenccedila dessas ldquoplantas-voluntaacuteriasrdquo ou seja aquelas nascidas de

germinaccedilatildeo expontacircnea eacute um dos eventos identificados como precursores de diversidade

intraespeciacutefica nas populaccedilotildees de mandioca cultivadas (PUJOL et al 2007)

20

Contudo muitos esforccedilos vecircm sendo empregados em estudos que observam a ecologia

da mandioca e o manejo agriacutecola associado agrave geraccedilatildeo de diversidade varietal e geneacutetica na

espeacutecie para tentar entender como esses mecanismos influenciam na diversidade de

etnovariedades locais e na sua dinacircmica (PUJOL et al 2007 KOMBO et al 2012 ELIAS et

al 2001)

23 Redes sociais de troca e circulaccedilatildeo de etnovariedades de mandioca

Sistemas agriacutecolas de pequena escala dependem de uma grande diversidade de espeacutecies e

variedades cultivadas e do fluxo destas por meio de redes sociais de troca material vegetativo

estabelecidas entre agricultores podendo o alcance da circulaccedilatildeo variar em escala local eou

regional (EMPERAIRE ELOY 2008) As trocas dependem de dois mecanismos principais

dos padrotildees de interaccedilatildeo social entre os agricultores e dos padrotildees de uso dos recursos

(CAVECHIA et al 2014) e as redes variam em funccedilatildeo das caracteriacutesticas culturais

econocircmicas e sociais das comunidades (EMPERAIRE PERONI 2007 PAUTASSO et al

2012)

No caso da mandioca (Manihot esculenta Crantz) a propagaccedilatildeo se da por estaquia o que

favorece a troca de material de vegetativo entre os agricultores e permite o fluxo entre

variedades locais e regionais (MARTINS 2005) As trocas de variedades de mandioca entre os

agricultores geralmente acontecem por alguma circunstacircncia que leve o agricultor a pedir o

material propagativo para o plantio com por exemplo para o plantio de uma nova roccedila ou por

alguma fitopatologia deslocaccedilatildeo ou estaccedilotildees de chuva e seca prolongadas (EMPERAIRE et

al 2001 EMPERAIRE ELOY 2008) Em alguns casos como no de algumas comunidades

agriacutecolas de pequena escala as redes de casamento satildeo utilizadas para a circulaccedilatildeo de

variedades (EMPERAIRE PERONI 2007 DELEcircTRE et al 2011)

O processo de manutenccedilatildeo da diversidade nesses sistemas resulta do interesse ou da

necessidade do agricultor em adquirir ou abandonar variedades testar e selecionar novas

etnovariedades de mandioca Dentre os fatores que dirigem a seleccedilatildeo de etnovariedades estatildeo

as preferecircncias individuais dos agricultores Alguns podem optar por cultivar todas as

etnovariedades comuns eou disponiacuteveis na regiatildeo enquanto que outros optam apenas por

manter um conjunto especiacutefico dessa diversidade (CAVECHIA et al 2014) Seja para atender

a alguma demanda individual pelo interesse em aumentar a produtividade ou pela necessidade

21

de conservar o material vegetativo para o proacuteximo plantio no caso de perda de material por

algum fator ambiental adverso (EMPERAIRE et al 2001 EMPERAIRE ELOY 2008)

Nesse sentido satildeo os agricultores os maiores responsaacuteveis por determinar como e quais

etnovariedades seratildeo compartilhadas e mantidas entre as comunidades (PAUTASSO et al

2012) E a chave para a compreensatildeo da dinacircmica da diversidade varietal eacute por meio desse

intercacircmbio e dos fatores que influenciam essa conectividade entre as comunidades pois essas

redes representam um grande impacto sobre a diversidade de variedades cultivadas E eacute por

meio dessas redes que se diminui coletivamente os riscos de perda total de diversidade geneacutetica

local (EMPERAIRE ELOY 2008)

Desse modo as relaccedilotildees estabelecidas pelos agricultores entre as comunidades por meio

das redes troca de germoplasma podem ter consequecircncias importantes sobre a diversidade

varietal da mandioca E compreender os processos envolvidos na manutenccedilatildeo ou perda de

germoplasma nos sistemas agriacutecolas eacute importante uma vez que compreendendo a maneira

como os agricultores usam esse conjunto de etnovariedades de mandioca e as compartilham

vai trazer importantes discussotildees a cerca da qualidade e a quantidade do recurso que seraacute

mantido transmitido ou perdido dentro dos sistemas ao longo do tempo

22

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25

VARIACcedilAtildeO INTRAESPECIacuteFICA CONHECIMENTO E MANEJO

LOCAL DE MANDIOCA (Manihot esculenta Crantz) NO SEMIAacuteRIDO DE

PERNAMBUCO NORDESTE DO BRASIL

Artigo submetido ao perioacutedico Human Ecology

Normas para submissatildeo em anexos

26

Variaccedilatildeo intraespeciacutefica conhecimento e manejo local de mandioca 1

(Manihot esculenta Crantz) no semiaacuterido de Pernambuco Nordeste do 2

Brasil 3

Mirela Nataacutelia Santos12 Jhonatan Rafael Zaacuterate-Salazar1 Reginaldo de Carvalho1 amp 4

Ulysses Paulino de Albuquerque2 5

6

1 Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo em Botacircnica Departamento de Biologia Rua Dom Manuel de Medeiros 7

Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) sn Dois Irmatildeos Recife Pernambuco 52171-8

900 Brasil 9

2 Laboratoacuterio de Ecologia e Evoluccedilatildeo de Sistemas Socioecoloacutegicos (LEA) Departamento de Botacircnica 10

Avenida Professor Moraes Rego Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) sn Cidade 11

Universitaacuteria Recife Pernambuco 50670-901 Brasil 12

Resumo 13

Historicamente a espeacutecie Manihot esculenta Crantz (mandioca) eacute uma espeacutecie de grande valor 14

econocircmico e de subsistecircncia para populaccedilotildees em comunidades tradicionais Variedades de 15

mandioca satildeo selecionadas com base nos interesses dos agricultores conduzindo uma evoluccedilatildeo 16

especiacutefica sobre a geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da agrobiodiversidade local Diante disso a mandioca 17

tornou-se espeacutecie-modelo em estudos que buscam compreender como os padrotildees e estrateacutegias 18

adotadas pelas populaccedilotildees humanas influenciam na diversidade intraespeciacutefica local em regiotildees 19

tropicais No entanto os fatores que influenciam a diversidade da mandioca em regiotildees 20

semiaacuteridas ainda natildeo foram bem documentados Nesse sentido objetivo geral do estudo foi 21

compreender os processos envolvidos na dinacircmica da diversidade agriacutecola em sete 22

comunidades tradicionais localizadas na regiatildeo semiaacuterida do estado de Pernambuco (Nordeste 23

do Brasil) por meio do acesso ao conhecimento dos agricultores quanto as praacuteticas de menejo 24

para tentar quais quais fatores podem estar relacionados a geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da diversidade 25

local Com os resultados da anaacutelise de redes verificamos uma alta diversidade de 26

etnovariedades cultivadas e a sua composiccedilatildeo eacute determinada pelas preferecircncias e 27

comportamentos individuais dos agricultores que foram provavelmente os mecanismos 28

27

responsaacuteveis pelo surgimento da estrutura aninhada observada na anaacutelise rede Esse padratildeo 29

aninhado contribui na conservaccedilatildeo das etnovariedades mais comuns mas tambeacutem pode resultar 30

em perda daquelas de menor frequecircncia ao longo do tempo 31

Palavras-Chave Agricultura tradicional Agricultura de sequeiro Agrobiodiversidade 32

Etnobiologia Plantas alimentiacutecias 33

34

Introduccedilatildeo 35

Historicamente as populaccedilotildees humanas foram acumulando conhecimentos sobre 36

praacuteticas da agricultura desenvolvendo teacutecnicas adaptadas ao meio natural e assim foram 37

domesticando uma grande variedade de cultivos alimentares para garantirem a sua 38

sobrevivecircncia (Balleacute 2006 Clement et al 2010) Essa interaccedilatildeo pessoas-plantas por meio do 39

cultivo e manejo das espeacutecies vegetais considerando tanto os aspectos sociais quanto naturais 40

dos sistemas dinacircmicos eacute uma importante ferramenta para o entendimento do conhecimento 41

dos agricultores sobre os agroecossistemas locais ( Alcorn 1995) 42

Aleacutem disso essas interaccedilotildees vem contribuindo com alteraccedilotildees nas populaccedilotildees vegetais 43

por meio da seleccedilatildeo artificial Essas alteraccedilotildees resultaram em mudanccedilas na estrutura geneacutetica 44

dessas populaccedilotildees que satildeo determinadas geralmente pela seleccedilatildeo de caracteriacutesticas fenotiacutepicas 45

fisioloacutegicas eou econocircmicas das plantas refletidas em classificaccedilotildees e nomenclaturas 46

especiacuteficas baseadas em percepccedilotildees individuais (Carmona amp Casas 2005) 47

Muitos pesquisadores tentam explicar o papel dos agricultores de pequena escala na 48

seleccedilatildeo classificaccedilatildeo e manutenccedilatildeo da agrobiodiversidade local em roccedilas tradicionalmente 49

manejas em regiotildees uacutemidas (Emperaire amp Peroni 2007 Emperaire amp Eloy 2008 Marchetti et 50

al 2013) Essas roccedila satildeo aacutereas de cultivo caracterizadas por conter uma alta diversidade 51

intraespeciacutefica de espeacutecies (Martins 2005) Dentre elas a Manihot esculenta Crantz 52

28

(mandioca) Euphorbiaceae em sua diversidade de etnovariedades eacute a espeacutecie mais importante 53

sob ponto de vista econocircmico e de subsistecircncia para as populaccedilotildees locais e mais cultivada 54

devido a sua grande adaptabilidade ambiental e baixos custos de gestatildeo (Elias et al 2001) 55

A alta diversidade da mandioca nessas aacutereas pode ser atribuiacuteda agrave possibilidade de 56

introduccedilatildeo de novas variedades via reproduccedilatildeo sexuada associada a ecologia da espeacutecie Esse 57

mecanismo permite o fluxo gecircnico entre as variedades de mandioca cultivadas do mesmo local 58

e entre estas com variedades de locais vizinhos (Pujol et al 2007) Outro mecanismo que 59

favorece essa diversidade eacute agrave circulaccedilatildeo de material propagativo por meio redes sociais de troca 60

variedades entre os agricultores (Pujol et al 2005 Emperaire amp Peroni 2007 Clement et al 61

2010) Esse mecanismo de troca eacute fundamental para o estabelecimento de interaccedilotildees entre as 62

diferentes aacutereas de roccedila promovendo oportunidade de seleccedilatildeo e cruzamento entre os diferentes 63

conjuntos de variedades aleacutem de permitir que este conjunto seja conservado (Emperaire amp Eloy 64

2008) 65

Diante desse cenaacuterio podemos observar que a agrobiodiversidade local natildeo eacute fruto 66

apenas de fatores naturais mas eacute tambeacutem influenciada pelas caracteriacutesticas culturais e 67

socioeconocircmica das populaccedilotildees locais refletidas especialmente no conhecimento e manejo 68

local Nesse sentido o presente estudo visa investigar as interaccedilotildees entre agricultores 69

tradicionais de comunidades rurais estabelecidas na regiatildeo semiaacuterida de Pernambuco 70

O objetivo geral eacute compreender os processos envolvidos na dinacircmica da diversidade 71

agriacutecola por meio do acesso ao conhecimento dos agricultores quanto as praacuteticas de menejo e 72

entender quais quais fatores podem estar relacionados a geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da diversidade 73

local Para esse estudo a mandioca foi escolhida como modelo devida agrave sua importacircncia 74

econocircmica e de subsistecircncia para comunidades locais Os objetivos especiacuteficos foram (i) 75

caracterizar o manejo da agricultura de sequeiro bem como analisar se os paracircmetros 76

socioeconocircmicos influenciam na diversidade local (ii) registrar as etnovariedades atualmente 77

29

cultivadas e identificar os diferentes criteacuterios morfoloacutegicos utilizados pelos agricultores para a 78

seleccedilatildeo e classificaccedilatildeo das etnovariedadese (iii) descrever a estrutura da rede de interaccedilatildeo entre 79

os agricultores e a diversidade de etnovariedades de mandioca cultivadas para tentar entender 80

como essas relaccedilotildees podem influenciar na manutenccedilatildeo ou perda da diversidade local 81

Material e meacutetodos 82

Aacutereas de estudo 83

Amostramos sete comunidades rurais estabelecidas na regiatildeo semiaacuterida de 84

Pernambuco Nordeste do Brasil Uma das comunidades (Caratildeo) pertence ao Municiacutepio de 85

Altinho (ldquo8deg 29rsquo 10rdquo S e 36deg 03rsquo 49rdquo W) e as demais (Satildeo Joseacute do Bola Brejo velho 86

Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima Lajedo Dantas e Aracuatilde) ao Municiacutepio de 87

Panelas (8 deg 39 48 S e 36 deg 01 23 W) (Fig 2) 88

O modelo agriacutecola adotado na regiatildeo segue o sistema tradicional de sequeiro4 e todas 89

as comunidades em estudo possuem histoacuterico de cultivo de mandioca (M esculenta) As aacutereas 90

de cultivo satildeo estabelecidas por unidade familiar e as atividades satildeo realizadas em sua maioria 91

por homens tendo cada agricultor cerca de um a dois hectares de aacuterea para plantio Aleacutem da 92

mandioca os cultivos mais utilizados na comunidades satildeo milho (Zea mays) e feijatildeo (Phaseolus 93

sp) 94

Para os membros das comunidades a produccedilatildeo da farinha de mandioca (Fig 3) eacute uma 95

das atividades agriacutecolas mais importantes tanto pelo seu papel na dieta alimentar quanto pela 96

importacircncia social e econocircmica 97

Caracteriacutesticas das comunidades do estudo 98

A comunidade do Caratildeo localiza-se sob domiacutenio de Caatinga caracterizado por climas 99

quentes e secos com regimes escassos de chuvas correspondente ao tipo BSrsquoh segundo a 100

4 Eacute o cultivo praticado sem irrigaccedilatildeo em regiotildees onde a pluviosidade eacute diminuta

30

classificaccedilatildeo climaacutetica de Koumlppen A vegetaccedilatildeo eacute composto por espeacutecies perenes que 101

conseguem sobreviver mesmo em periacuteodos de seca e espeacutecies anuais que aparecem apenas em 102

periacuteodos com chuva (Cruz et al 2013) 103

De acordo os dados de precipitaccedilatildeo do Laboratoacuterio de Anaacutelise e Processamento de 104

Imagens de Sateacutelites (LAPIS) no ano de 2012 foi registrada a menor meacutedia anual de 105

precipitaccedilatildeo dos uacuteltimos 10 anos para essa regiatildeo (3784 mm) Essa realidade ambiental quando 106

comparada com estudo realizado por de Sieber e colaboradores (2011) na mesma comunidade 107

observa-se que houve uma diminuiccedilatildeo considerada das praacuteticas agriacutecolas realizadas pelos 108

membros da comunidade culminando em uma seacuterie de prejuiacutezos aos agricultores como a perda 109

de plantaccedilotildees e animais Essa perda de produtividade afetou a estrutura econocircmica da 110

comunidade uma vez que a principal fonte de subsistecircncia das famiacutelias eacute a agricultura 111

Associada as atividades agriacutecolas os moradores complementam a dieta e a renda 112

familiar com a venda dos excedentes da produccedilatildeo em feiras-livres ou centros comerciais da 113

regiatildeo (Cruz et al 2013) E com a pecuaacuteria de pequena escala bovina caprina e com avicultura 114

No entanto a diminuiccedilatildeo da forragem natural e cultivada causada pela escassez de chuvas 115

associada aos elevados custos envolvidos na compra de raccedilatildeo levou muitos animais agrave morte 116

(Fig 4) 117

No Municiacutepio de Altinho a comunidade do Caratildeo foi inicialmente escolhida devido ao 118

reconhecimento preacutevio do registro de agricultores realizado em estudos desenvolvidos pelo 119

nosso grupo de pesquisa facilitando assim o acesso agraves informaccedilotildees necessaacuterias para o 120

desenvolvimento da pesquisa 121

As comunidades Aracuatilde Brejo Velho Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima 122

Lajedo Dandas e Satildeo Joseacute do Bola amostradas no estudo pertencem ao Municiacutepio de Panelas 123

que se limita ao Norte com o Municiacutepio de Altinho Essas comunidades estatildeo localizadas em 124

31

no domiacutenio morfoclimaacutetico de Caatinga O clima eacute do tipo semiaacuterido Bsrsquoh segundo a 125

classificaccedilatildeo climaacutetica de Koumleppen 126

A maior parte dos membros dessas comunidades assim como no Caratildeo tecircm como 127

principal fonte de subsistecircncia a agricultura de sequeiro principalmente o cultivo da mandioca 128

(Fig 5) Como renda extra a pecuaacuteria de pequeno porte com criaccedilatildeo bovina caprina e 129

avicultura sendo os excedentes dos alimentos produzidos vendidos em feiras locais ou para 130

escolas 131

As atividades agriacutecolas entre as comunidades tambeacutem foram duramente afetadas pela 132

seca na regiatildeo nos uacuteltimos anos A escassez de chuvas desestimulou o plantio a produccedilatildeo de 133

mandioca foi fortemente comprometida e a colheita foi adiada devido ao subdesenvolvimento 134

das raiacutezes gerando impactos econocircmicos para os membros das comunidades 135

As comunidades amostradas neste muniacutecipio foram escolhidas em funccedilatildeo das 136

indicaccedilotildees dos agricultores entrevistados a princiacutepio na comunidade do Caratildeo que reportaram 137

manter viacutenculos sociais com os agricultores do municiacutepio vizinho 138

Coleta de dados 139

Acessamos as comunidades com a ajuda de um liacuteder comunitaacuterio (Alexandre O 140

Nascimento) em companhia de outros pesquisadores que desenvolviam pesquisas na regiatildeo 141

Previamente as entrevistas todos objetivos e procedimentos para a realizaccedilatildeo da pesquisa foram 142

apresentados aos entrevistados e todos que aceitaram participar foram convidados a assinar um 143

Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) de acordo com a Resoluccedilatildeo 46612 do 144

Conselho Nacional de Sauacutede concordando com a realizaccedilatildeo das entrevistas e avaliaccedilotildees 145

morfoloacutegicas em campo O presente trabalho foi submetido ao Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa da 146

Universidade de Pernambuco (UPE) 147

32

Em todas as comunidades o meacutetodo de acesso ao informante foi o mesmo a partir do 148

primeiro contato com um informante-chave identificamos outros potenciais agricultores 149

seguindo a teacutecnica de ldquobola de neverdquo (Albuquerque et al 2014a) Esse meacutetodo consistiu na 150

amostragem intencional dos participantes e nesse particular os agricultores chefes de famiacutelia 151

(ge 18 anos) da regiatildeo que declararam cultivar mandioca (M esculenta) em suas roccedilas 152

Reunimos informaccedilotildees socioeconocircmicas desses agricultores tais como nome idade gecircnero 153

escolaridade renda experiecircncia na agricultura e tamanho da aacuterea de cultivo para tentar 154

identificar se esses paracircmetros socioeconocircmicos tecircm uma relaccedilatildeo com a agrobiodiversidade 155

local 156

Em seguida conduzimos entrevistas semiestruturadas (Albuquerque et al 2014b) com 157

o objetivo de caracterizar o modo de vida dos agricultores o manejo da agricultura bem como 158

obter dados sobre o conhecimento uso e caracterizaccedilatildeo das etnovariedades de mandioca 159

5cultivadas Aleacutem disso neste momento tambeacutem aplicamos a teacutecnica da lista livre 160

(Albuquerque et al 2014b) a fim de registrar as variedades de mandioca atualmente cultivadas 161

pelos agricultores e identificar as de maior importacircncia local Apoacutes as entrevistas realizamos 162

visitas aos roccedilados para o registro fotograacutefico georreferenciamento das roccedilas e caracterizaccedilatildeo 163

morfoloacutegica das variedades cultivadas 164

Entrevistamos 50 agricultores no total distribuiacutedos nas sete comunidades Caratildeo (3) 165

Satildeo Joseacute do Bola (10) Brejo velho (7) Japaranduba de Baixo (7) Japaranduba de Cima (8) 166

Lajedo Dantas (9) e Aracuatilde (6) Destes 10 satildeo mulheres e 40 homens com idade variando entre 167

31 e 82 anos A maioria dos entrevistados natildeo apresentava instruccedilatildeo formal (46) mais da 168

metade eram aposentados (56) e os demais apresentaram renda inferior a um salaacuterio miacutenimo 169

5 Entende-se por etnovariedade de mandioca o conjunto de variedades intraespeciacuteficas de mandioca (M esculenta)

reconhecidas pelos agricultores por nomenclatura popular local (Peroni 2004)

33

O tempo meacutedio de experiecircncia na agricultura foi de 40 anos Cada agricultor possui entre um e 170

dois roccedilados (aacuterea de plantio) com aproximadamente um a dois hectares 171

Redes de interaccedilatildeo social 172

Confeccionamos a rede que descreve as interaccedilotildees entre os agricultores e as 173

etnovariedades cultivadas a partir de uma matriz de incidecircncia R (presenccedilaausecircncia) onde nas 174

linhas estavam as etnovariedades de mandioca cultivadas (j) e nas colunas os agricultores locais 175

(i) O elemento Rij dessa matriz foi 1 (um) no caso de a etnovariedade j ser cultivada pelo 176

agricultor i caso contraacuterio seria atribuiacutedo 0 (zero) As interaccedilotildees entre os agricultores e as 177

etnovariedades foram descritas em dois modos (Pires et al 2011) onde os ldquonoacutesrdquo da esquerda 178

representam os agricultores que foram vinculados aos ldquonoacutesrdquo da direita representados pelas 179

etnovariedades citadas durante as entrevistas Esses ldquonoacutesrdquo seriam o espelho das decisotildees dos 180

agricultores em manter um determinado conjunto local de etnovariedades em suas roccedilas 181

Avaliamos a estrutura da rede que conecta os agricultores agraves etnovariedades cultivadas 182

a partir de trecircs cenaacuterios hipoteacuteticos (Fig 6) segundo Cachevia et al (2014) No primeiro se os 183

agricultores apresentassem diferentes graus de seletividade para a utilizaccedilatildeo de suas 184

etnovariedades a estrutura seria aninhada (Fig 6a) Isso significa que alguns agricultores 185

cultivam vaacuterias etnovariedades enquanto que outros cultivam o subconjunto mais 186

disponiacutevelcomum dessas etnovariedades Em segundo lugar se a rede apresentasse uma 187

estrutura modular (Fig 6b) significaria que os agricultores apresentam semelhanccedila na seleccedilatildeo 188

do recurso ou seja subgrupos de agricultores cultivam subgrupos distintos de etnovariedades 189

regionalmente disponiacuteveiscomuns E o terceiro se os agricultores natildeo apresentassem 190

preferecircncias quanto a seleccedilatildeo das etnovariedades entatildeo a rede apresentaria uma estrutura 191

aleatoacuteria (Fig 6c) 192

O objetivo da anaacutelise de rede nesse estudo foi tentar entender se o conjunto de 193

etnovariedades presentes no local do estudo constituem uma subamostra de um conjunto mais 194

34

amplo no caso de um alto grau de aninhamento ou se a sua composiccedilatildeo eacute determinada por 195

variaacuteveis locais (Ulrich 2008) Onde as conexotildees entre os informantes e as etnovariedades 196

representam as decisotildees dos agricultores de manter um conjunto determinado de variedades de 197

mandioca dentre as comunidades Esta anaacutelise tambeacutem nos permitiu identificar quais os nuacutecleos 198

de etnovariedades que apresentam maior conexatildeo com os diferentes perfis dos agricultores 199

Diversidade fenotiacutepica 200

Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 201

Apoacutes as entrevistas buscamos identificar quais os caracteres morfoloacutegicos considerados 202

mais importantes para a diferenciaccedilatildeo das etnovariedades de mandioca a partir do seguinte 203

questionamento ldquoQuais as diferenccedilas que vocecirc reconhece para separar uma qualidade de 204

mandioca (variedade) de uma outrardquo Assim os agricultores mencionaram quais os criteacuterios 205

mais importantes utilizados para a caracterizaccedilatildeo de suas etnovariedades 206

Compilamos uma listagem dessas caracteriacutesticas baseada nas indicaccedilotildees dos 207

agricultores e a partir delas selecionamos os caracteres morfoloacutegicos mais citados para a 208

caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica ldquoin siturdquo tais como cor da folha (cor da folha desenvolvida) olho 209

(cor do broto foliar) cor do talo (cor do peciacuteolo) maniva (cor externa do caule) embriatildeo 210

(protuberacircncia da cicatriz foliar) cor da entrecasca (coacutertex da raiz) e cor miolo (polpa da raiz) 211

(Tabela 1) O objetivo dessa caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica foi indicar como estaacute distribuiacuteda a 212

variaccedilatildeo fenotiacutepica das etnovariedades de mandioca nas comunidades na regiatildeo semiaacuterida de 213

Pernambuco bem como identificar que caracteriacutesticas satildeo mais importantes para distinguir 214

esses grupos no intuito de tentar entender como os agricultores classificam suas variedades de 215

mandioca 216

Nas sete comunidades para cada etnovariedade citada no roccedilado caracterizamos ldquoin 217

siturdquo trecircs indiviacuteduos de M esculentade de cada uma totalizando 171 indiviacuteduos (Aracuatilde=11 218

35

Caratildeo=4 Satildeo Joseacute do Bola=13 Brejo Velho=16 Japaranduba de Baixo=6 Japaranduba de 219

Cima=3 e Lajedo Dantas=4) Fotografamos e avaliamos todos os indiviacuteduos com base em parte 220

dos descritores morfoloacutegicos seguindo recomendaccedilotildees de Fukuda amp Guevara (1998) e aleacutem 221

disso georreferenciamos todas as aacutereas de roccedila 222

Anaacutelise dos dados 223

Analisamos os dados socioeconocircmicos das entrevistas semiestruturadas por meio de 224

estatiacutestica descritiva para explicar os aspectos da realidade econocircmica e social dos agricultores 225

Para identificar se a diversidade intraespeciacutefica da mandioca cultivada localmente eacute 226

influenciada por paracircmetros socioeconocircmicos utilizamos o coeficiente de correlaccedilatildeo de 227

Spearman (Ple005) (Sokal amp Rohlf 1995) 228

Com base na lista livre das variedades de mandioca cultivadas pelos agricultores 229

calculamos a frequecircncia de citaccedilatildeo o ranking e o iacutendice de saliecircncia com o objetivo de 230

identificar quais as mais importantes ou preferidas para as comunidades O iacutendice de saliecircncia 231

considerou a frequecircncia de citaccedilatildeo e o ranking referente ao posicionamento das variedades 232

dentro das listas livres (Thompson amp Juan 2006) As etnovariedades mais citadas e com maior 233

valor de saliecircncia representam as de maior importacircncia ou preferecircncia para as comunidades 234

Anaacutelise de rede 235

Medimos o grau de aninhamento (NODF) para investigar a estrutura de rede de 236

interaccedilatildeo social dos agricultores em funccedilatildeo das variedades cultivadas As matrizes altamente 237

aninhadas apresentam NODF tendendo a 1 caso contraacuterio tentem a ser 0 238

Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 239

Para o estudo das semelhanccedilas e diferenccedilas fenotiacutepicas entre as variedades de mandioca 240

ldquoin siturdquo realizamos anaacutelises multivariadas para identificar possiacuteveis grupos de variedades que 241

compartilham semelhanccedilas entre si 242

36

A anaacutelise de correspondecircncia muacuteltipla (MCA) permitiu identificar como as variedades 243

de mandioca estatildeo ordenadas em funccedilatildeo dos seus descritores etnobotacircnicos As etnovariedades 244

foram plotadas ao longo um plano cartesiano bi ou tridimensional onde a variaccedilatildeo total eacute 245

explicada pelos dois primeiros eixos Complementar a esta anaacutelise realizamos a anaacutelise de 246

agrupamento hieraacuterquico (Cluster) para identificar como estatildeo agrupadas as etnovariedades de 247

acordo seus descritores Conferimos a consistecircncia do dendrograma com coeficiente de 248

correlaccedilatildeo cofeneacutetica conforme Sneath amp Sokal (1973) que quantifica se a correlaccedilatildeo entre a 249

matriz de distacircncias originais e a matriz de distacircncias cofeneacuteticas eacute representativa Para 250

mensurar as dissimilaridades entre as variedades de mandioca foi utilizada a distacircncia 251

euclidiana e com o meacutetodo de Ward 252

Softwares utilizados 253

Para a anaacutelise da lista livre usamos o software ANTROPAC versatildeo 10 O software 254

ANINHADO 30 (Guimaratildees amp Guimaratildees 2006) foi usado para medir o grau de aninhamento 255

da rede Utilizamos o software estatiacutestico R (R core team 2017) para a anaacutelise de correlaccedilatildeo 256

de Spearman com o pacote corrplot (Wei amp Simko 2013) o desenho da rede que descreve a 257

interaccedilatildeo entre os agricultores e as etnovariedades com o pacote bipartite (Dormann et al 258

2017) E com os pacotes FactoMineR (LEcirc et al 2008) factoextra (Kassambara et al 2016) e 259

vegan (Oksanen et al 2017) foram realizadas as anaacutelises de cluster de correspondecircncia 260

muacuteltipla (MCA) e de correlaccedilatildeo coefeneacutetica respectivamente 261

Resultados 262

As diferentes etnovariedades de mandioca encontradas no estudo suprem a demanda 263

local por alimento enquanto outras atendem agraves preferecircncias individuais ou do comeacutercio As 264

variedades que possuem maior rendimento e a farinha produzida apresenta coloraccedilatildeo branca 265

satildeo as de maior valor comercial para os agricultores devido agraves preferecircncias do mercado Jaacute 266

37

outras variedades que satildeo mais moles e apresentam coloraccedilatildeo amarelada natildeo satildeo empregadas 267

na produccedilatildeo de farinha mas sim consumidas cozidas ou assadas A depender da demanda local 268

os agricultores intencionalmente aumentam ou diminuem a frequecircncia de suas variedades nos 269

roccedilados seja por alguma exigecircncia do comeacutercio ou para consumo familiar 270

Nas comunidades os agricultores separam suas variedades de mandioca em dois grupos 271

como observado em outras comunidades na mata Atlacircntica por Emperaire e Peroni (2007) o 272

das ldquomacaxeirasrdquo que satildeo as variedades exploradas basicamente para o consumo familiar sem 273

processo preacutevio de desintoxicaccedilatildeo cujas raiacutezes satildeo consumidas fritas eou cozidas Sendo 274

utilizadas tambeacutem como complemento na dieta dos animais E o grupo das ldquomandiocasrdquo que 275

satildeo as variedades que necessitam de processo preacutevio de desintoxicaccedilatildeo para o consumo 276

utilizadas comumente para a produccedilatildeo de farinha de mandioca Para os agricultores as 277

ldquomandiocasrdquo possuem maior valor comercial pois apresentam maior rendimento e 278

rentabilidade pois a farinha produzida eacute branca e atende as preferencias do comercio local 279

Aleacutem da farinha outros produtos e subprodutos produzidos dentre os quais foram citados 280

ldquotapioca ou gomardquo ldquobijurdquo ou ldquobolo de mandiocardquo satildeo utilizados para o consumo proacuteprio ou 281

eventual comercializaccedilatildeo 282

Os informantes natildeo possuiacuteam conhecimento sobre a origem dos nomes das variedades 283

de mandioca Quanto a compreensatildeo da geraccedilatildeo da diversidade intraespeciacutefica identificamos 284

que apesar de 66 dos agricultores citarem que conhecem variedades fruto de germinaccedilatildeo de 285

suas sementes nenhum deles utiliza as manivas para o plantio por essas variedades de 286

mandioca ldquovoluntaacuteriasrdquo natildeo apresentarem bom rendimento 287

Observamos que existe uma baixa correlaccedilatildeo entre a diversidade de variedades 288

atualmente cultivadas e as variaacuteveis socioeconocircmicas como no caso do nuacutemero de roccedilados 289

(r=028 Ple005) e do tamanho do roccedilado (r=033 Ple005) (Fig 7) Essa baixa correlaccedilatildeo pode 290

38

ser explicada pelo fato de existirem grupos de agricultores que preferem manter as variedades 291

de maior valor econocircmico e de subsistecircncia mesmo com aacutereas maiores de cultivo 292

Verificamos tambeacutem uma correlaccedilatildeo positiva moderada entre o nuacutemero de variedades 293

conhecidas com o nuacutemero de variedades atualmente cultivadas (r=054 Ple005) Na lista livre 294

foram identificadas 22 etnovariedades de mandioca cultivadas (132 citaccedilotildees no total) sendo 295

oito dessas mais citadas com maiores valores de saliecircncia (entre 047 e 0082) (Tabela 2) As 296

etnovariedades ldquoMacaxeira Rosardquo e ldquoMandioca Isabel de Souzardquo exibiram os maiores valores 297

de saliecircncia 047 e 037 respectivamente Logo essas variedades satildeo as mais conhecidas 298

dentro das comunidades com 66 e 48 das citaccedilotildees respectivamente 299

Dentre as etnovariedades citadas 12 foram idiossincraacuteticas pois apresentaram menor 300

frequecircncia de citaccedilatildeo e menores valores de saliecircncia (entre 0032 e 0006) (Tabela 2) 301

Redes de interaccedilatildeo social 302

A rede apresentou uma estrutura aninhada com grau de aninhamento significativamente 303

superior aos modelos nulos (N=3072 Plt0001) para as comunidades sendo um nuacutecleo de 304

etnovariedades altamente conectado aos agricultores (Fig 8) A estrutura aninhada nos permite 305

inferir que existe um grupo de agricultores que cultiva uma maior diversidade de etnovariedades 306

de mandioca em suas roccedilas enquanto que outro subgrupo que tem menor diversidade cultivam 307

as mais comuns ou disponiacuteveis (Cavechia et al 2014) Isso significa que os agricultores locais 308

mesmo em diferentes comunidades cultivam um nuacutecleo de etnovariedades comum entre eles 309

(n=6 Tabela 2) 310

Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 311

Observamos que a maioria dos indiviacuteduos de mandioca satildeo caracterizados por meio de 312

um conjunto de sete caracteres morfoloacutegicos os quais foram citados pelos agricultores como 313

mais importantes para a caracterizaccedilatildeo de suas variedades Nas visitas aos roccedilados registramos 314

39

as etnovariedades atualmente cultivadas e a tabela 3 fornece a lista completa com as 17 315

etnovariedades de mandioca e o local de registro 316

Por meio da anaacutelise de correspondecircncia muacuteltipla as variedades de mandioca foram 317

ordenadas em funccedilatildeo de seus descritores ao longo do primeiro e segundo eixo correspondentes 318

a 3680 da variacircncia total (Fig 9) 319

As variaacuteveis mais correlacionadas e que agruparam as variedades de mandioca no 320

primeiro eixo foram cor da folha desenvolvida (CFD) (r= 07239 Ple0001) cor do coacutertex da 321

raiz (CDR) (r= 06473 Ple0001) cor do broto foliar (CBF) (r= 06880 Ple0001) cor do peciacuteolo 322

(CDP) (r= 05250 Ple005) cor externa do caule (CEC) (r= 06883 Ple005) cor da polpa da 323

raiz (PDR) (r= 02473 Ple005) Para o segundo eixo as variaacuteveis correlacionadas foram cor 324

da folha desenvolvida (CFD) (r= 07220 Ple0001) cor externa do caule (CEC) (r= 08718 325

Ple0001) e cor do peciacuteolo (CDP) (r= 06927 Ple005) 326

O agrupamento de todas as variedades caracterizadas ldquoin siturdquo gerou uma aacutervore 327

hieraacuterquica (dendrograma) (Fig 9) utilizando a distacircncia euclidiana seguindo o criteacuterio de 328

Ward O dendrograma gerado apresentou um coeficiente de correlaccedilatildeo cofeneacutetica r= 06780 329

indicando que existe consistecircncia com os dados originais no agrupamento quanto agrave 330

classificaccedilatildeo e estrutura de tal forma que as variedades foram agrupadas em oito classes as 331

quais foram explicadas pelas variaacuteveis mais significativas descritas na tabela 4 332

O resultado do agrupamento (utilizada a distacircncia euclidiana e com o meacutetodo de Ward) 333

observamos que as etnovariedades de mandioca caracterizadas ldquoin siturdquo foram agrupadas em 334

dois grandes agrupamentos indicados na Fig 10 pelos retacircngulos em vermelho A partir dessa 335

anaacutelise percebemos que os caracteres morfoloacutegicos selecionados pelos agricultores natildeo foram 336

suficientes para separar as variedades de macaxeira e mandioca pois em ambos os 337

agrupamentos encontramos tanto macaxeiras quanto mandiocas 338

40

As variedades da classe 1 foram identificadas pelos agricultores pela cor do peciacuteolo 339

(CDP) verde A classe 2 agrupou as etnoveriedades caracterizadas pela protuberacircncia da cicatriz 340

foliar (PCF) mais protuberante Esse descritor segundo os agricultores era identificado como 341

ldquoembriatildeordquo A classe 3 consiste apenas da variedade ldquoMandioca Pretonardquo indicada pela presenccedila 342

de cor do peciacuteolo (CDP) vermelho A classe 4 agrupou trecircs variedades caracterizadas pelos 343

agricultores pela presenccedila de cor coacutertex da raiz (CDR) rosa e cor da polpa da raiacutez (PDR) branca 344

identificadas como ldquoMacaxeira vermelhardquo ldquoMacaxeira Rosa Brancardquo ldquoMacaxeira Rosardquo As 345

variedades agrupadas na classe 5 foras as variedades de mandioca caracterizadas pelos 346

agricultores por apresentarem cor do coacutertex (CDR) da raiacutez branca A classe 6 agrupou 347

variedades identificadas pelos agricultores pela cor do broto foliar (CBF) verde A classe 7 348

consiste apenas da variedade ldquoMacaxeira Sementerdquo identificada pelos agricultores pela cor do 349

peciacuteolo (CDP) roxo e protuberacircncia da cicatriz foliar pouco proeminente Essa variedade 350

segundo os agricultores era fruto do nascimento espontacircneo no roccedilado poreacutem eles geralmente 351

natildeo utilizam essas variedades por apresentarem apenas uma raiz pequena e de baixo 352

rendimento Na classe 8 as variedades foram identificadas pelos agricultores pela cor do peciacuteolo 353

(CDP) verde amarelado e protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) pouco proeminente As 354

ldquoMandioca Isabel de Souzardquo ldquoMandioca Isabel trecircs galhosrdquo segundo os agricultores se 355

diferenciavam pelo maior nuacutemero de caules presentes na variedade ldquoIsabel trecircs galhosrdquo 356

Discussatildeo 357

As sete comunidades estudadas manejavam um nuacutemero consideraacutevel de variedades 358

locais A quantidade de etnovariedades registradas eacute proacutexima a encontrada por Bender et al 359

(2009) e Cavechia et al (2014) em comunidades na regiatildeo sul e sudeste por Oler e Amorozo 360

(2017) em uma comunidade tradicional na regiatildeo centro-oeste Poreacutem foi quantitativamente 361

inferior quando comparada a estudos como os de Elias et al (2001) e Kawa et al (2013) em 362

comunidades na regiatildeo amazocircnica pois possuiacuteam uma alta diversidade Essa alta diversidade 363

41

na regiatildeo amazocircnica pode estar relacionada com o fato de que essa regiatildeo eacute o provaacutevel centro 364

de origem da mandioca (M esculenta) (Allem 1994) 365

As etnovariedades registradas neste estudo estatildeo disponiacuteveis para a maioria dos 366

agricultores dessa regiatildeo e esse fator favorece a circulaccedilatildeo das etnovariedades entre as 367

comunidades locais Por isso haacute semelhanccedilas das etnovariedades utilizadas entre os agricultores 368

da mesma comunidade e entre comunidades vizinhas 369

Parte dos agricultores optam por manter uma alta frequecircncia de variedades mais 370

utilizadas enquanto que outros optam por manter etnovariedades de baixa frequecircncia 371

Conforme discutido por Amorozo (2013) os agricultores escolhem seu acervo de acordo com 372

as necessidades e contexto em que vivem A reduccedilatildeo da diversidade de etnoveriedades por 373

exemplo pode ser impulsionada por fatores que simplificam o sistema como a seleccedilatildeo de 374

etnovariedades para a produccedilatildeo de farinha resultando no cultivo de poucas ou ateacute de uma uacutenica 375

etnovariedade (Peroni amp Hanazaki 2002) mesmo em aacutereas maiores 376

377

Redes de interaccedilatildeo social 378

Com as anaacutelises de rede demonstramos que os agricultores de diferentes comunidades 379

em uma mesma regiatildeo efetivamente trocam variedades de mandioca entre si corroborando 380

com estudos realizados por Emperaire amp Eloy (2008) Pautasso et al (2012) e Cavechia et al 381

(2014) Nesses estudos os autores tambeacutem consideram que as trocas de etnovariedades por 382

meio da rede de intercacircmbio entre os agricultores eacute um mecanismo fundamental para a 383

manutenccedilatildeo da diversidade local 384

A visualizaccedilatildeo da rede demonstrou que entre as comunidades os agricultores 385

compartilham um nuacutecleo de etnovariedades mais utilizadas dentre as quais estatildeo as de maior 386

valor econocircmico e de subsistecircncia Essas de maior frequecircncia satildeo aquelas altamente produtivas 387

utilizadas pelos agricultores para atenderem agraves demandas de mercado por farinha e para o 388

consumo proacuteprio (Kawa et al 2013) 389

42

No entanto observamos que existe outro nuacutecleo de etnovariedades menos frequentes 390

Essas etnovariedades raras podem ser resultantes do processo de experimentaccedilatildeo ou 391

preferecircncias individuais dos agricultores Outra possiacutevel razatildeo para a baixa frequecircncia de 392

algumas etnovariedades poderia ser explicada pela variaccedilatildeo da nomenclatura pelos 393

agricultores que segundo Peroni amp Hanazaki (2002) pode ocorrer durante o processo de troca 394

e introduccedilatildeo de novas variedades aos roccedilados Ainda assim natildeo descartamos a hipoacutetese de que 395

essas etnovariedades raras possam ser provenientes do cruzamento entre variedades diferentes 396

cultivadas da mesma roccedilado ou em roccedilas vizinhas De acordo com Martins (2005) essas 397

variedades fruto de germinaccedilatildeo expentacircnea satildeo incorporadas aos roccedilados pelos agricultores 398

pela curiosidade em experimentar novas variedades agraves suas coleccedilotildees 399

Nesse estudo admitimos que optar por etnovariedades raras entre as comunidades 400

estudadas eacute um comportamento adotado por agricultores que manejam uma maior diversidade 401

corroborando com os estudos de Cavechia et al (2014) e Emperaire et al (2016) em regiotildees 402

uacutemidas Para esses autores etnovaridedades de baixa frequecircncia representam um subconjunto 403

das de alta frequecircncia cultivadas por agricultores que manteacutem a maior diversidade em seus 404

roccedilados Sendo assim inferimos que no geral entre as comunidades satildeo os agricultores 405

generalistas aqueles que cultivam maior diversidade os responsaacuteveis por incorporar novas 406

etnovariedades aos roccedilados 407

As decisotildees dos agricultores em manter o acervo direcionado principalmente para 408

atender a demanda de mercado por exemplo podem levar a uma homogeneizaccedilatildeo nas roccedilas 409

colocando em risco a manutenccedilatildeo da diversidade local (Peroni amp Hanazaki 2002) Como 410

discutido por Elias et al (2000) os agricultores que selecionam apenas um nuacutemero reduzido e 411

especiacutefico de variedades mais produtivas tendem a fazer com que as variedades menos 412

frequentes desapareccedilam ao longo do tempo Essa tendecircndia pode influenciar na capacidade de 413

43

resiliecircncia do sistema assim como dos agricultores em lidar com possiacuteveis adversidades 414

ambientais que possam ocorrer 415

Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 416

No geral os agricultores demonstraram uma tendecircncia em classificarseparar suas 417

diferentes etnovariedades de mandioca a partir da combinaccedilatildeo de um conjunto de sete 418

caracteres morfoloacutegicos distintos e de faacutecil percepccedilatildeo os quais natildeo tem relaccedilatildeo com o uso 419

como por exemplo a cores das raiacutezes caule e folhas Logo consideramos que esses caracteres 420

morfoloacutegicos podem ser considerados como uma forma de classificaccedilatildeo pelos agricultores 421

baseada na capacidade percepccedilatildeo das diferenccedilas morfoloacutegicas que cada etnovariedades 422

apresenta (Boster 1985) Estes resultados nos levam a entender que entre os agricultores o 423

conhecimento sobre a diversidade da mandioca estaacute relacionado ao conhecimento de 424

caracteriacutesticas morfoloacutegicas consistentes 425

A existecircncia de alguns fenoacutetipos comuns nos permitiu avaliar a classificaccedilatildeo da 426

consistecircncia da taxonomia popular entre os agricultores Por exemplo as etnovariedades 427

ldquoMaxaceira Rosardquo e ldquoMacaxeira Rosa Brancardquo e ldquoMacaxeira vermelhardquo foram agrupadas no 428

mesmo cluster (C4) por apresentaram fenoacutetipos semelhantes Notamos que os agricultores 429

classificaram essas variedades de acordo com os traccedilos morfoloacutegicos mais relevantes como a 430

cor do coacutertex da raiz rosa e cor branca da polpa O mesmo ocorreu com as etnovariedades 431

ldquoMandioca varudardquo ldquoMandioca campina da granderdquo e ldquoMandioca campinardquo caracterizadas 432

pela presenccedila do peciacuteolo verde agrupadas no cluster (C1) 433

A partir dessas evidecircncias consideramos a hipoacutetese de que as variedades mesmo 434

apresentando caracteriacutesticas morfoloacutegicas muito semelhantes estatildeo sujeitas a variaccedilatildeo 435

nomenclatural durante o processo a incorporaccedilatildeo aos roccedilados pelos agricultores pois a 436

capacidade para distinguir e nomear variedades entre os agricultores da mesma regiatildeo pode 437

variar (Sambatti et al 2001 Elias et al 2001 Mekbib 2007) Consideramos tambeacutem que pode 438

44

existir variaccedilatildeo geneacutetica entre os indiviacuteduos identificados por um mesmo nome ou entatildeo que 439

os agricultores datildeo o mesmo nome para variedades diferentes E esta situaccedilatildeo pode levar a uma 440

superestimaccedilatildeo ou subestimaccedilatildeo da diversidade de mandioca cultiva nas aacutereas de estudo 441

Sabemos que a mandioca eacute propagada vegetativamente pelos agricultores por meio de 442

estacas em sistemas de agricultura tradicional No entanto alguns variedades produzem flores 443

e sementes que germinam e podem originar outras variedades ou outros clones por meio de 444

fecundaccedilatildeo cruzada (Elias et al 2001) Nesse contexto a etnovariedade ldquoMacaxeira Sementerdquo 445

presente no cluster (C7) trata-se de um uacutenico indiviacuteduo amostrado em uma roccedila de um dos 446

agricultores Esta apresentava algumas caracteriacutesticas morfoloacutegicas distintas das demais 447

reconhecidas pelo agricultor como por exemplo a produccedilatildeo de uma raiz uacutenica e 448

consequentemente de baixo rendimento Encontramos apenas um indiviacuteduo dessa 449

etnovariedade e nossa hipoacutetese de que esta poderia ter sido originada da germinaccedilatildeo da 450

semente mesmo quando 100 dos informantes declararam natildeo dar qualquer importacircncia e 451

descartar essas ldquovariedades-voluntaacuteriasrdquo foi confirmada pelo agricultor que afirmou que se 452

tratava de uma variedade nascida da germinaccedilatildeo da semente Esse comportamento vai de 453

encontro ao estudo de Fraser et al (2012) pois apesar dos agricultores reportarem nas 454

entrevistas que conhecem essas ldquovariedades-voluntaacuteriasrdquo nenhum agricultor faz o uso delas 455

Peroni et al (1999) e Agre et al (2016) analisando morfologicamente as variedades 456

locais de mandioca mantidas por agricultores em sistemas agriacutecolas tropicais tambeacutem 457

demonstraram que os agricultores satildeo coerentes quanto a separaccedilatildeo e identificaccedilatildeo de suas 458

etnovariedades a partir da formaccedilatildeo de grupos de coesos quanto a nomenclatura local utilizada 459

No entanto para o melhor entendimento dessa diversidade aleacutem da caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica 460

o uso de anaacutelises complementares como anaacutelise molecular seria importante para tentar 461

identificar se esses grupos representam a mesma variedade com nomes distintos ou se satildeo 462

variedades distintas com o mesmo nome 463

45

Conclusatildeo 464

O estudo demonstrou que no sistema de manejo da mandioca ao niacutevel de roccedila em 465

comunidades localizadas na regiatildeo semiaacuterida de Pernambuco compotildee uma diversidade 466

intrespeciacutefica de mandioca para atender agraves demandas econocircmicas e de subsistecircncia das 467

populaccedilotildees locais 468

Com relaccedilatildeo a anaacutelise de rede demostramos que haacute um nuacutecleo de etnovariedades 469

fortemente conectado aos agricultores e sua composiccedilatildeo eacute direcionada pelas preferecircncias e 470

necessidades individuais dos agricultores que foram os fatores responsaacuteveis pelo surgimento 471

da estrutura aninhada observada na anaacutelise rede entre as comunidades deste estudo E esse 472

padratildeo aninhado observado contribui na conservaccedilatildeo das etnovariedades mais comuns mas 473

tambeacutem pode resultar em perda daquelas de menor frequecircncia ao longo do tempo 474

A caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica ldquoin siturdquo nos permitiram inferir que os agricultores 475

reconhecem as diferentes caracteriacutesticas morfoloacutegicas de suas cultivares e satildeo coerentes na 476

separaccedilatildeo de suas variedades de mandioca e macaxeira Entretanto esses resultados sugerem a 477

realizaccedilatildeo de um estudo em niacutevel de diversidade geneacutetica exploratoacuterio para identificar se as 478

consistecircncias morfoloacutegicas refletem em consistecircncias geneacuteticas elucidando assim as possiacuteveis 479

confusotildees atribuiacutedas aos nomes das etnovariedades de mandioca 480

Agradecimentos 481

Agradecemos ao liacuteder comunitaacuterio Alexandre O Nascimento aos agricultores e 482

agricultoras das comunidades pela acolhida confianccedila e pela gentileza de compartilharem 483

conosco seus conhecimentos e contribuiacuterem com este estudo Especialmente a Arlindo Ferreira 484

Edgar Antocircnio Joseacute Sebastiatildeo Juvenal Oliveira e Janete Alves Ao Laboratoacuterio de Ecologia e 485

Evoluccedilatildeo de Sistemas Socioecoloacutegicos (LEA - UFPE) E agradecemos ao CNPq pelo apoio 486

com a bolsa de estudos do primeiro autor 487

46

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52

Figuras 643

644

645

Fig 1 Partes do processo de fabricaccedilatildeo de farinha de mandioca Onde a raspagem b e c 646

processo de trituraccedilatildeo e d peneiramento Foto registrada em Abril de 2017 por Mirela Santos 647

648

649

650

c

d

b

a

53

651

Fig 2 Mapa de localizaccedilatildeo geograacutefica dos Municiacutepios de Altinho e Panelas e das comunidades 652

estudadas na regiatildeo semiaacuterida do Estado de Pernambuco (Elaborado por SANTOS 2018) 653

54

654

655

656

657

Fig 3 Processo de fabricaccedilatildeo da farinha de mandioca Apoacutes a colheita as raiacutezes satildeo lavadas 658

raspadas e trituradas (a) A massa extraiacuteda eacute prensada e coada Ao sair da prensa a massa 659

peneirada (b) e em seguida eacute torrada (c) em fornos artesanais ou parcialmente mecanizados 660

Imagem registrada em janeiro de 2017 na Comunidade do Caratildeo por Mirela Santos 661

662

663

a

b c

55

664

Fig 4 a Sede da Comunidade do Caratildeo b Agricultor transportando a palma forrageira que eacute 665

um exemplo de estrateacutegia adaptativa para suprir a falta de alimento dos animais devido agrave seca 666

c Feira-livre que acontece na comunidade a cada quinze dias Imagem registrada em julho de 667

2016 na Comunidade do Caratildeo por Mirela Santos 668

669

670

Fig 5 a O agricultor nos explicava as mudanccedilas que vem fazendo em seus roccedilados para se 671

adaptar aos longos periacuteodos de seca b Quando o agricultor nos mostrava as diferentes 672

etnovariedades que mantinha em sua roccedila c Durante a pesquisa nos explicavam como era feita 673

a colheita da mandioca e como selecionavam as manivas para o proacuteximo plantio Foto registrada 674

em abril de 2017 na Comunidade do Brejo Velho por Mirela Santos 675

a

b c

c b

a

56 676

677

Fig 6 Possiacuteveis estruturas de rede que descrevem as interaccedilotildees dos agricultores (losango) 678

ligados as etnovariedades (ciacuterculos) que cultivam Onde a Aninhada b Modular c Aleatoacuteria 679

(Fonte Cavechia et al 2014 com adaptaccedilotildees) 680

681

682

683

684

685

686

687

688

689

690

691

692

693

694

695

696

697

a c b

57

698

699

700

701

702

703

704

705

706

707

Fig 7 Correlaccedilatildeo de Spearman entre a diversidade de etnovariedades de mandiocas conhecidas 708

como cultivadas e variedades atualmente cultivadas por agricultor e as variaacuteveis 709

socioeconocircmicas Onde Nvc= nuacutemero de citadas como cultivadas Nve= nuacutemero de variedades 710

atualmente cultivadas Esc= escolaridade Id= idade Gen= gecircnero Tr= tamanho do roccedilado 711

Exp= experiecircncia na agricultura Sld= renda Nr= nuacutemero de roccedilados Cores distintivas 712

representam correlaccedilotildees significativas (Ple005) 713

714

58

715

Fig 8 Modelo individual de rede de etnovariedades de mandioca citadas (esquerda) por 716

agricultores como cultivadas (direita) nos Municiacutepios de Altinho e Panelas As redes foram 717

desenhadas com o pacote bipartite (Dormann et al 2017) usando o software R (R CORE 718

TEAM 2017) 719

720

59

721

Fig 9 Anaacutelise de Correspondecircncia Muacuteltipla das 17 etnovariedades de mandioca considerando 722

os sete descritores morfoloacutegicos utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo em roccedilas de 723

agricultores tradicionais de sete comunidades no semiaacuterido de Pernambuco 724

725

726

727

728

729

730

731

732

733

734

735

736

737

McCambadinha

McCampina

McCampinaDaGrande

McCampinaRasteira

McCampinaVaruda

McGauba

McIsabelDeSouza

McIsabelTresGalhos

McOlhoDePombo

McOlhoVerde

McPretinha

McPretona

MxBranca

MxRosa

MxRosaBrancaMxRosaVermelha

MxSemente

CFD_Verde_Arroxeado

CFD_Verde_ClaroCFD_Verde_Escuro

CBF_Roxo

CBF_Verde_ArroxeadoCBF_Verde_Claro

CBF_Verde_Escuro

CDP_Verde

CDP_Verde_Amarelado

CDP_Verde_Avermelhado

CDP_Vermelho

CEC_Cinza

CEC_Dourado

CEC_Laranja

CEC_Marrom_Claro

CEC_Marrom_Escuro

CEC_Prateado

CEC_Verde_AmareladoCicatriz_M

Cicatriz_P

PDR_Branco

PDR_Creme

CDR_BrancoCDR_Creme CDR_Rosa

-4

-2

0

2

4

-4 -2 0 2 4

Dim1 (206)

Dim

2 (

162

)

MCA - Biplot

00

10

Hierarchical Clustering

inertia gain

McC

am

pin

aV

aru

da

McC

am

pin

aD

aG

rande

McC

am

pin

a

McG

auba

McP

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reto

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MxR

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MxR

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MxR

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pin

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McC

am

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McIsabelT

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McIsabelD

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McO

lhoD

eP

om

bo

00

05

10

15

Hierarchical Classification

Heig

ht

C1 C2 C3 C4 C5 C6 C7 C8

Fig 10 Agrupamento hieraacuterquico das 17 etnovariedades de mandioca caracterizadas de acordo

com os descritores utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo

60

Tabelas 738

739

Tabela 1 Caracteres e estados utilizados pelos agricultores como descritores botacircnicos para 740

caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das etnovariedades de mandioca 741

Caracter Sigla Estados

Folha

Cor da folha desenvolvida CFD 1- verde claro 2- verde escuro 3- verde arroxeado 4- roxo

Cor do broto foliar CBF 1- verde claro 2- verde escuro 3- verde arroxeado 4- roxo

Cor do peciacuteolo CDP 1- verde amarelado 2- verde 3- verde avermelhado 4- roxo

5- vermelho

Caule

Cor externa do caule CEC 1- laranja 2- verde amarelado 3- dourado 4- marrom claro

5- prateado 6- cinza 7- marrom escuro 8- verde

Protuberacircncia da cicatriz foliar PCF 1- pouco proeminente 2- muito proeminente

Raiacutez

Cor da poupa da raiz PDR 1- branco 2- creme

Cor do coacutertex da raiacutez CDR 1- rosa 2- branco 3- creme

742

743

744

745

746

747

748

749

750

751

61

Tabela 2 Lista das 22 etnovariedades de mandiocas citadas (132 citaccedilotildees) como cultivadas nas 752

comunidades pertencentes aos Municiacutepios de Altinho (Caratildeo n=8) e ao Municiacutepio de Panelas 753

(Aracuatilde Satildeo Joseacute do Bola Brejo Velho Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima e Lajeiro 754

Dantas n=21) 755

Etnovariedade Frequecircncia () Ranking Saliecircncia

Macaxeira Rosa 66 179 0472

Mandioca Isabel de Souza 48 179 0372

Mandioca Campina 24 217 0148

Macaxeira Branca 20 210 0134

Macaxeira Rosa branca 18 122 0168

Mandioca Pretona 16 338 0082

Mandioca Cambadinha 12 283 0071

Mandioca Isabel trecircs galhos 10 180 0075

Mandioca Gauacuteba 10 260 0070

Mandioca Pretinha 8 225 0053

Mandioca Peacute de pombo 4 400 0011

Mandioca Olho verde 4 350 0012

Macaxeira Rosinha 4 200 0027

Mandioca Campina varuda 4 200 0032

Mandioca Campina rasteira 4 300 0021

Mandioca Caboquinha 2 500 0007

Macaxeira Rasteira 2 200 0013

Macaxeira Paraacute 2 100 0020

Mandioca Barra ferro 2 300 0007

Mandioca Campina da grande 2 100 0020

Mandioca Olho de pombo 2 300 0010

Mandioca Jasmim 2 600 0006

756

757

758

62

Tabela 3 Lista de 17 etnovariedades atualmente cultivadas nos roccedilados das comunidades em 759

estudo 760

Ca Ar Bo Br Jb Jc Ld

Etnovariedade

Macaxeira Branca x x x x

Macaxeira Rosa

x x x x x x

Macaxeira Rosa Branca x x x x

Macaxeira Rosa Vermelha

x

Macaxeira Semente

x

Mandioca Cambadinha x

x

Mandioca Campina

x

x

x

Mandioca Campina da Grande x

Mandioca Campina Rasteira

x

Mandioca Campina Varuda

x

Mandioca Gauacuteba

x

Mandioca Isabel de Souza

x x x

Mandioca Isabel trecircs Galhos

x

x

Mandioca Olho de Pombo

x

Mandioca Olho Verde

x

Mandioca Pretinha

x

Mandioca Pretona x x x

Comunidades Ca= Caratildeo Ar=Aracuatilde Bo= Satildeo Joseacute do Bola Jb= Japaranduba de Baixo 761

Jc= Japaranduba de Cima Ld= Lajedo Dantas 762

763

764

765

766

767

768

63

Tabela 4 Descriccedilatildeo das classes do agrupamento por meacutetodo de Ward agrupadas pelo conjunto 769

dos descritores mais significativos para a caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das variedades de mandioca 770

Classes Descritores in situ p-valor

C1 Cor do peciacuteolo (CDP) 0016

C2 Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023

C3 Cor do peciacuteolo (CDP) 0012

C4 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0004

Cor da poupa da raiacutez (PDF) 0021

C5 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0003

C6 Cor do broto foliar (CBF) 0002

C7 Cor da folha desenvolvida (CFD) 0004

Cor externa do caule (CEC) 0040

C8 Cor do peciacuteolo (CDP) 0005

Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023

Valores de Ple005 satildeo significativos 771

772

xiii

RESUMO GERAL

Agricultores de pequena escala que praticam agricultura de modo tradicional em roccedilas

desempenham um importante papel na geraccedilatildeo manutenccedilatildeo e conservaccedilatildeo da

agrobiodiversidade local Dentre as espeacutecies mais cultivadas em roccedilas a Manihot esculenta

Crantz (mandioca) em sua diversidade intrespeciacutefica eacute um dos recursos agriacutecolas de maior

importacircncia econocircmica e de subsistecircncia para diversas populaccedilotildees locais no mundo Acredita-

se que as praacuteticas de manejo dedicadas ao cultivo da mandioca associadas ao conhecimento de

agricultores resultam no aumento da diversidade intraespeciacutefica assim como na conservaccedilatildeo

dessa diversidade Diante disso a pesquisa teve como objetivo compreender os processos

envolvidos na dinacircmica da diversidade agriacutecola da mandioca por meio do acesso ao

conhecimento dos agricultores quanto as praacuteticas de menejo e entender quais fatores podem

estar relacionados a geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da diversidade local Para isso o estudo foi

desenvolvido junto a agricultores tradicionais de sete comunidades rurais localizadas na regiatildeo

semiaacuterida do estado de Pernambuco A abordagem metodoloacutegica foi baseada em entrevistas

semiestruturadas conversas com os informantes e visitas aos roccedilados para caracterizar e

compreender a importacircncia manejo da agricultura de sequeiro e das redes sociais estabelecidas

entre os agricultores bem como identificar as variedades de mandioca atualmente cultivadas

A partir do conhecimento da diversidade manejada analisamos a estrutura da rede de interaccedilatildeo

social formada pelas trocas de etnovariedades entre os agricultores A partir destas informaccedilotildees

discutimos sobre o importante papel dos agricultores na manutenccedilatildeo do conjunto de

etnovariedades regionais Um total de 22 etnovariedades foram citadas as quais satildeo

identificadas pelos agricultores principalmente por meio de sete caracteres morfoloacutegicos A

estrutura em redes de trocas de variedades favorece a manutenccedilatildeo e amplificaccedilatildeo das diferentes

variedades locais

Palavras-Chave Agricultura tradicional Agricultura de sequeiro Agrobiodiversidade

Plantas alimentiacutecias Redes sociais

xiv

ABSTRACT

Small-scale farmers who practice traditional agriculture fields have an important role in

generation maintenance and conservation of local agrobiodiversity Among the most cultivated

species the Manihot esculenta Crantz (cassava) in its intrespecific diversity is one of the

moust important agricultural resources of economic importance and livelihood for many local

people in the world It is believed that the management practices dedicated to the cultivation of

cassava associated with the knowledge of farmers result in increased intraspecific diversity

and the conservation of this diversity Therefore the research aimed to understand the processes

involved in the dynamics of agricultural diversity of cassava through access the knowledge of

farmers as the management of practices and understand what factors may be related to the

generation and maintenance of local diversity For this the study was developed with the

traditional farmers of seven rural communities located in the semiarid region of the state of

Pernambuco The methodological approach was based on semi-structured interviews

conversations with informants and visits to fields to characterize and understand the

importance of management of dry framing and social networks established between farmers

and to identify the cassava varieties currently grown From the knowledge of managed

diversity we analyze the structure of social interaction network formed by the exchange of

landraces among farmers From this information We discussed the important role of farmers

in the overall regional landraces maintenance A total of 22 landraces were cited which are

identified by farmers mainly through seven morphological characters The structure of

varieties sharing networks favors the maintenance and amplification of different local varieties

Keywords Agrobiodiversity Dry Farming Food plants Social networks Traditional

agriculture

14

1 Introduccedilatildeo Geral

Ao longo dos anos populaccedilotildees tradicionais foram adquirindo aprimorando e transmitindo

seus conhecimentos sobre o manejo dos recursos naturais existentes em suas respectivas

regiotildees e assim foram desenvolvendo teacutecnicas para se adaptar e sobreviver ao ambiente Essas

populaccedilotildees foram domesticando uma grande variedade de espeacutecies de plantas alimentiacutecias

numa agricultura de pequena escala (BALLEacute 2006 CLEMENT et al 2010)

Essa interaccedilatildeo pessoas-planta por meio do cultivo e manejo das espeacutecies vegetais vem

contribuindo para ambos com alteraccedilotildees adaptativas por meio da seleccedilatildeo artificial Essas

alteraccedilotildees resultaram em mudanccedilas na estrutura geneacutetica das espeacutecies vegetais pelo manejo da

seleccedilatildeo de caracteriacutesticas fenotiacutepicas fisioloacutegicas e econocircmicas das plantas E essa seleccedilatildeo

consciente ou inconsciente das plantas se traduz em uma grande variaccedilatildeo intraespeciacutefica nas

populaccedilotildees vegetais sob diferentes regimes de manejo (CARMONA CASAS 2005)

Por meio do cultivo agricultores em comunidades tradicionais desempenham um papel

fundamental no processo dinacircmico de geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da agrobiodiversidade local em

sistemas de roccedilas Essas roccedilas satildeo aacutereas de agricultura tradicional localizadas dentro de

comunidades caracterizadas natildeo soacute pelo grande nuacutemero espeacutecies cultivadas mas tambeacutem pela

alta diversidade intraespeciacutefica que essas espeacutecies apresentam (MARTINS 2005) Dentre as

espeacutecies comumente cultivadas nesse sistema a mandioca (Manihot esculenta Crantz

Euphorbiaceae) eacute considerada uma cultura de alto valor econocircmico nutricional utilitaacuterio

cultural e social para muitas populaccedilotildees humanas no mundo (CLEMENT et al 2010) Aleacutem

disso a mandioca apresenta uma grande diversidade intraespeciacutefica e por essas caracteriacutesticas

tornou-se uma espeacutecie-modelo para compreender como os diferentes padrotildees e estrateacutegias de

manejo adotadas pelos agricultores podem influenciar na diversidade local (ELIAS et al 2001

EMPERAIRE PERONI 2007 EMPERAIRE ELOY 2008)

Segundo PERONI amp MARTINS (2000) as diferentes praacuteticas de manejo desse

importante recurso favorecem a alta diversidade intraespeciacutefica em roccedilas de agricultura

itinerante1 Um dos fatores responsaacuteveis pela geraccedilatildeo dessa diversidade consiste na capacidade

de incorporaccedilatildeo de novos germoplasmas por meio da reproduccedilatildeo sexuada associada ao manejo

agriacutecola tradicional (PUJOL et al 2005 EMPERAIRE PERONI 2007) Apesar de propagada

1 Agricultura caracterizada por ciclos de uso e pousio como por exemplo corte e queima

15

vegetativamente pelos agricultores a mandioca (M esculenta) ainda manteacutem a sua capacidade

de reproduccedilatildeo sexual sendo este um aspecto muito importante para dinacircmica evolutiva da

cultura (PUJOL et al 2007 CLEMENT et al 2010) Apoacutes a fecundaccedilatildeo cruzada e dispersatildeo

das sementes um banco destas eacute formado no solo e as novas variedades germinam nas roccedilas

(MARTINS 2005) Antes de serem imcorporadas ao acervo essas lsquolsquovariedades-voluntaacuteriasrsquorsquo

passam por um filtro cultural ou seja seratildeo reconhecidas pelos agricultores por meio de

caracteriacutesticas morfoloacutegicas experimentadas e entatildeo selecionadas (MARTINS OLIVEIRA

2009)

Outro evento envolvido na geraccedilatildeo de diversidade intraespeciacutefica eacute incorporaccedilatildeo de

novas variedades de mandioca por meio de uma rede social de troca de material propagativo

estabelecida entre os agricultores (CAVECHIA et al 2014) Esse mecanismo permite a

circulaccedilatildeo das manivas2 tanto a niacutevel local quanto regional permite tambeacutem o acesso aos

diferentes conjuntos de variedades cultivadas entre as comunidades e ainda que o conjunto de

etnovariedades3 locais eou regionais seja conservado (EMPERAIRE ELOY 2008) Dentro

dessas redes sociais de troca as relaccedilotildees entre os agricultores atuam como mecanismo

fundamental para dispersatildeo e experimentaccedilatildeo das etnovariedades entre as roccedilas E satildeo essas

relaccedilotildees e decisotildees estabelecidas entre os agricultores que iratildeo definir quais etnovariedades

seratildeo mantidas ao longo do tempo e quais seratildeo abandonadas (LIMA et al 2012)

Sendo os agricultores e as interaccedilotildees entre eles fundamentais para o estabelecimento da

diversidade local (PINTON EMPERAIRE 2001 EMPERAIRE ELOY 2008) torna-se

pertinente entender como as diferentes estrateacutegias adotadas pelos agricultores influenciam na

dinacircmica da agrobiodiversidade local Muitos trabalhos com esse enfoque foram desenvolvidos

nas regiotildees Amazocircnica e Sudeste mas pouco se discute sobre a dinacircmica da agrobiodiversidade

em regiotildees semiaacuteridas

Nesse sentido o presente estudo visa investigar as interaccedilotildees entre agricultores

tradicionais de comunidades rurais estabelecidas na regiatildeo semiaacuterida de Pernambuco O

objetivo geral eacute compreender os processos envolvidos na dinacircmica da diversidade agriacutecola por

meio do acesso ao conhecimento dos agricultores quanto as praacuteticas de menejo e entender quais

quais fatores podem estar relacionados a geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da diversidade local Para esse

estudo a mandioca foi escolhida como modelo devida agrave sua importacircncia econocircmica e de

subsistecircncia para comunidades locais Os objetivos especiacuteficos foram (i) caracterizar o manejo

2 Satildeo pedaccedilos das hastes ou ramas da mandioca usadas para o plantio 3 Variedades intraespeciacuteficas de mandioca (M esculenta) identificadas pelos agricultores por nomenclatura

popular local (Martins 2005)

16

da agricultura de sequeiro bem como analisar se os paracircmetros socioeconocircmicos influenciam

na diversidade local (ii) registrar as etnovariedades atualmente cultivadas e identificar os

diferentes criteacuterios morfoloacutegicos utilizados pelos agricultores para a seleccedilatildeo e classificaccedilatildeo das

etnovariedades e (iii) descrever a estrutura da rede de interaccedilatildeo entre os agricultores e a

diversidade de etnovariedades de mandioca cultivadas para tentar entender como essas relaccedilotildees

podem influenciar na manutenccedilatildeo ou perda da diversidade local

a

b c

17

2 Revisatildeo bibliograacutefica

21 Manihot esculenta Crantz e conhecimento local de agricultores tradicionais

O gecircnero Manihot Miller (Euforbiaceae) possui cerca de 98 espeacutecies distribuiacutedas em 19

seccedilotildees das quais 13 delas ocorrem no Brasil (ROGERS APPAN 1973) Dentre as espeacutecies do

gecircnero Manihot esculenta Crantz (mandioca) eacute a principal cultivar uma vez que compotildee a

base da dieta alimentar de diversas populaccedilotildees rurais principalmente em regiotildees tropicais A

mandioca foi domesticada na Ameacuterica do Sul pois eacute onde se encontra o maior centro de

diversificaccedilatildeo Estudos relacionados ao entendimento de sua origem botacircnica tecircm contribuiacutedo

para a compreensatildeo das accedilotildees humanas no processo de domesticaccedilatildeo e ampliaccedilatildeo da

diversidade da espeacutecie (OLSEN SCHAAL 1999 ELIAS et al 2004 ELLEN 2012)

As diferentes variedades da espeacutecie satildeo reconhecidas em dois grandes grupos principais

o das variedades mais toacutexicas e o de variedades menos toacutexicas baseadas no potencial de

glicosiacutedeos cianogecircnicos (HCN) contido na polpa das raiacutezes (ELIAS et al 2004) Variedades

com baixa toxicidade contecircm baixas concentraccedilotildees de glicosiacutedeos cianogecircnicos (HCNlt100

mgKg-1) e satildeo conhecidas em comunidades agriacutecolas variando entre regiotildees ou grupos eacutetnicos

como ldquomacaxeirasrdquo ldquomandiocas doces ou mansasrdquo ou ldquoaipinsrdquo As variedades mais toacutexicas

com altas concentraccedilotildees de HCN (HCNgt 100 mgKg-1) satildeo reconhecidas como ldquomandiocasrdquo

ou ldquomandiocas amargas ou bravasrdquo (PERONI et al 2007 MCKEY et al 2010) E portanto

precisam passar por um processo de desintoxicaccedilatildeo para se tornarem aptas ao consumo como

por exemplo pelo processo de fabricaccedilatildeo da farinha de mandioca (Fig 1) Apesar do seu

potencial toacutexico as variedades amargas possuem teores mais elevados de amido e se adaptam

bem a solos pobres e aacutecidos aleacutem de serem mais resistentes aos patoacutegenos e pragas em

comparaccedilatildeo com as variedades doces (FRASER et al 2010)

Sob o ponto de vista botacircnico esta dicotomia natildeo eacute reconhecida mas existem alguns

trabalhos que evidenciam a relaccedilatildeo entre a coerecircncia da taxonomia popular com a diferenciaccedilatildeo

geneacutetica para separaraccedilatildeo das variedades ldquodocesrdquo e ldquoamargasrdquo (ELIAS et al 2004 PERONI

et al 2007) O conhecimento das caracteriacutesticas morfoloacutegicas das plantas e a coerecircncia na

identificaccedilatildeo dessas variedades com niacuteveis distintos de HCN eacute de grande importacircncia

adaptativa para as populaccedilotildees que gerem esse recurso sobretudo pelo risco de intoxicaccedilatildeo

(RIVAL MCKEY 2008)

18

No estudo realizado por AMOROZO (2000) por exemplo os agricultores geralmente

classificavam as variedades que tinham raiacutezes brancas como ldquobravasrdquo e aquelas que tinham

raiacutezes vermelhas como ldquomansasrdquo embora eles reconhecessem algumas exceccedilotildees Em pesquisas

realizados por FARALDO et al (2000) MKUMBIRA et al (2003) ELIAS et al (2004) e

PERONI et al (2007) os agricultores foram consistentes na distinccedilatildeo de suas variedades

lsquolsquodocesrdquo e ldquoamargasrsquorsquo e com base no conhecimento de caracteres morfoloacutegicos distintos os

nomes das variedades refletiram na diversidade geneacutetica A partir dessas evidecircncias podemos

inferir que o conhecimento local dos agricultores associado agrave experiecircncia eacute importante natildeo

somente para o reconhecimento das variedades locais por si soacute mas tambeacutem por conter

informaccedilotildees relevantes sobre o papel que esses recursos podem desempenhar nos sistemas

agriacutecolas de pequena escala e para as populaccedilotildees locais (GADGIL et al 1993)

O conhecimento tradicional dos agricultores trata-se de um conjunto de saberes praacuteticas

e crenccedilas baseadas no contato direto nas observaccedilotildees experimentaccedilotildees diaacuterias e nas

dependecircncias econocircmicas eou de subsistecircncia dos recursos que satildeo geralmente transmitidas

oralmente dentro e entre as geraccedilotildees (AMOROZO 2000 DOMINGUES ARRUDA 2001

BEGOSSI 2004) Sendo assim o conhecimento tradicional de agricultores que praticam a

agricultura de pequena escala realizada em comunidades tradicionais eacute importante pois tem

garantido a perpetuaccedilatildeo dos conhecimentos e das praacuteticas agriacutecolas desenvolvidas durante

milhares de anos entre os agroecossistemas locais

22 Manejo tradicional em roccedilas e diversidade intraespeciacutefica da mandioca

A agricultura de pequena escala praticada em comunidades locais tem garantido a

perpetuaccedilatildeo do conhecimento sobre o manejo e a diversidade de espeacutecies agriacutecolas O sistema

de cultivo em roccedilas eacute tipicamente praticado por agricultores de comunidades tradicionais em

aacutereas uacutemidas no mundo inteiro As roccedilas satildeo aacutereas de cultivo de pequena escala localizadas

dentro de comunidades proacuteximas umas das outras que se tornaram objeto de estudo em vaacuterias

pesquisas antropoloacutegicas etnobotacircnicas geneacuteticas e ecologias especialmente por apresentarem

grande diversidade de espeacutecies cultivadas e pelo manejo destinar-se agrave subsistecircncia de grupos

familiares de agricultores de pequena escala (PUJOL et al 2007)

Aleacutem da diversidade de espeacutecies outra caracteriacutestica dessas roccedilas eacute o grande nuacutemero de

variedades dentro de cada espeacutecie Esta diversidade intraespeciacutefica pode ser referida como

etnovariedades que eacute um termo utilizado para definir grupos de indiviacuteduos identificados por

19

nomenclatura popular local a qual pode expressar elementos do contexto cultural econocircmico

e social das populaccedilotildees associado ao uso (PERONI MARTINS 2000 EMPERAIRE

PERONI 2007)

Dentre as vaacuterias espeacutecies cultivadas em roccedilas a mandioca (M esculenta) em seu

nuacutemero de etnovariedades eacute uma das principais culturas de importacircncia econocircmica e

nutricional para populaccedilotildees que utilizam esse sistema Sua diversidade pode estar relacionada

ao sistema reprodutivo da cultura ao modo de gestatildeo da agricultura pelas pressotildees de seleccedilatildeo

exercidas pelo proacuteprio homem ou ateacute mesmo por causas naturais (MARTINS 2005

CLEMENT et al 2010)

As caracteriacutesticas de manejo empregadas no cultivo da mandioca em roccedilas favorecem

a elevada diversidade intraespeciacutefica dessa cultura O modo de propagaccedilatildeo da mandioca eacute feito

pelos agricultores por meios de estacas (manivas) que satildeo selecionadas de acordo com as

caracteriacutesticas desejaacuteveis que elas apresentam seja para fins econocircmicos ou utilitaacuterios Apesar

de propagada vegetativamente que eacute um meacutetodo usado pelas populaccedilotildees humanas para plantio

e multiplicaccedilatildeo de plantas a mandioca natildeo perdeu a sua capacidade de reproduccedilatildeo sexual

sendo esse um aspecto importante para dinacircmica evolutiva da cultura (PUJOL et al 2007)

Esse meacutetodo de propagaccedilatildeo permite o fluxo e a circulaccedilatildeo do material geneacutetico entre os

diferentes roccedilados por meio de um sistema de redes sociais de troca de etnovariedade de

mandioca entre os agricultores tanto a niacutevel regional (entre comunidades) quanto em escalas

menores (entre vizinhos e parentes) (ELIAS et al 2004 EMPERAIRE OLIVEIRA 2010)

Segundo Emperaire e Peroni (2007) esse mecanismo de troca de germoplasma eacute uma grande

forccedila de dispersatildeo que resulta na agrobiodiversidade regional mais elevada pois estabelece

viacutenculos entre as diferentes roccedilas e promove oportunidades de seleccedilatildeo e cruzamento entre as

diferentes etnovariedades (EMPERAIRE ELOY 2008)

Atributo bioloacutegicos da espeacutecie tambeacutem estatildeo relacionados com o aumento da

diversidade intrespeciacutefica como a capacidade de dormecircncia das sementes e a dispersatildeo

autocoacuterica que propiciam o desenvolvimento de um banco de sementes no solo ao longo do

tempo permitindo o cruzamento entre as novas variedades adquiridasplantadas e entre estas

com variedades que existiram anterioemente na mesma aacuterea (PERONI MARTINS 2000

MARTINS 2005) A presenccedila dessas ldquoplantas-voluntaacuteriasrdquo ou seja aquelas nascidas de

germinaccedilatildeo expontacircnea eacute um dos eventos identificados como precursores de diversidade

intraespeciacutefica nas populaccedilotildees de mandioca cultivadas (PUJOL et al 2007)

20

Contudo muitos esforccedilos vecircm sendo empregados em estudos que observam a ecologia

da mandioca e o manejo agriacutecola associado agrave geraccedilatildeo de diversidade varietal e geneacutetica na

espeacutecie para tentar entender como esses mecanismos influenciam na diversidade de

etnovariedades locais e na sua dinacircmica (PUJOL et al 2007 KOMBO et al 2012 ELIAS et

al 2001)

23 Redes sociais de troca e circulaccedilatildeo de etnovariedades de mandioca

Sistemas agriacutecolas de pequena escala dependem de uma grande diversidade de espeacutecies e

variedades cultivadas e do fluxo destas por meio de redes sociais de troca material vegetativo

estabelecidas entre agricultores podendo o alcance da circulaccedilatildeo variar em escala local eou

regional (EMPERAIRE ELOY 2008) As trocas dependem de dois mecanismos principais

dos padrotildees de interaccedilatildeo social entre os agricultores e dos padrotildees de uso dos recursos

(CAVECHIA et al 2014) e as redes variam em funccedilatildeo das caracteriacutesticas culturais

econocircmicas e sociais das comunidades (EMPERAIRE PERONI 2007 PAUTASSO et al

2012)

No caso da mandioca (Manihot esculenta Crantz) a propagaccedilatildeo se da por estaquia o que

favorece a troca de material de vegetativo entre os agricultores e permite o fluxo entre

variedades locais e regionais (MARTINS 2005) As trocas de variedades de mandioca entre os

agricultores geralmente acontecem por alguma circunstacircncia que leve o agricultor a pedir o

material propagativo para o plantio com por exemplo para o plantio de uma nova roccedila ou por

alguma fitopatologia deslocaccedilatildeo ou estaccedilotildees de chuva e seca prolongadas (EMPERAIRE et

al 2001 EMPERAIRE ELOY 2008) Em alguns casos como no de algumas comunidades

agriacutecolas de pequena escala as redes de casamento satildeo utilizadas para a circulaccedilatildeo de

variedades (EMPERAIRE PERONI 2007 DELEcircTRE et al 2011)

O processo de manutenccedilatildeo da diversidade nesses sistemas resulta do interesse ou da

necessidade do agricultor em adquirir ou abandonar variedades testar e selecionar novas

etnovariedades de mandioca Dentre os fatores que dirigem a seleccedilatildeo de etnovariedades estatildeo

as preferecircncias individuais dos agricultores Alguns podem optar por cultivar todas as

etnovariedades comuns eou disponiacuteveis na regiatildeo enquanto que outros optam apenas por

manter um conjunto especiacutefico dessa diversidade (CAVECHIA et al 2014) Seja para atender

a alguma demanda individual pelo interesse em aumentar a produtividade ou pela necessidade

21

de conservar o material vegetativo para o proacuteximo plantio no caso de perda de material por

algum fator ambiental adverso (EMPERAIRE et al 2001 EMPERAIRE ELOY 2008)

Nesse sentido satildeo os agricultores os maiores responsaacuteveis por determinar como e quais

etnovariedades seratildeo compartilhadas e mantidas entre as comunidades (PAUTASSO et al

2012) E a chave para a compreensatildeo da dinacircmica da diversidade varietal eacute por meio desse

intercacircmbio e dos fatores que influenciam essa conectividade entre as comunidades pois essas

redes representam um grande impacto sobre a diversidade de variedades cultivadas E eacute por

meio dessas redes que se diminui coletivamente os riscos de perda total de diversidade geneacutetica

local (EMPERAIRE ELOY 2008)

Desse modo as relaccedilotildees estabelecidas pelos agricultores entre as comunidades por meio

das redes troca de germoplasma podem ter consequecircncias importantes sobre a diversidade

varietal da mandioca E compreender os processos envolvidos na manutenccedilatildeo ou perda de

germoplasma nos sistemas agriacutecolas eacute importante uma vez que compreendendo a maneira

como os agricultores usam esse conjunto de etnovariedades de mandioca e as compartilham

vai trazer importantes discussotildees a cerca da qualidade e a quantidade do recurso que seraacute

mantido transmitido ou perdido dentro dos sistemas ao longo do tempo

22

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25

VARIACcedilAtildeO INTRAESPECIacuteFICA CONHECIMENTO E MANEJO

LOCAL DE MANDIOCA (Manihot esculenta Crantz) NO SEMIAacuteRIDO DE

PERNAMBUCO NORDESTE DO BRASIL

Artigo submetido ao perioacutedico Human Ecology

Normas para submissatildeo em anexos

26

Variaccedilatildeo intraespeciacutefica conhecimento e manejo local de mandioca 1

(Manihot esculenta Crantz) no semiaacuterido de Pernambuco Nordeste do 2

Brasil 3

Mirela Nataacutelia Santos12 Jhonatan Rafael Zaacuterate-Salazar1 Reginaldo de Carvalho1 amp 4

Ulysses Paulino de Albuquerque2 5

6

1 Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo em Botacircnica Departamento de Biologia Rua Dom Manuel de Medeiros 7

Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) sn Dois Irmatildeos Recife Pernambuco 52171-8

900 Brasil 9

2 Laboratoacuterio de Ecologia e Evoluccedilatildeo de Sistemas Socioecoloacutegicos (LEA) Departamento de Botacircnica 10

Avenida Professor Moraes Rego Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) sn Cidade 11

Universitaacuteria Recife Pernambuco 50670-901 Brasil 12

Resumo 13

Historicamente a espeacutecie Manihot esculenta Crantz (mandioca) eacute uma espeacutecie de grande valor 14

econocircmico e de subsistecircncia para populaccedilotildees em comunidades tradicionais Variedades de 15

mandioca satildeo selecionadas com base nos interesses dos agricultores conduzindo uma evoluccedilatildeo 16

especiacutefica sobre a geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da agrobiodiversidade local Diante disso a mandioca 17

tornou-se espeacutecie-modelo em estudos que buscam compreender como os padrotildees e estrateacutegias 18

adotadas pelas populaccedilotildees humanas influenciam na diversidade intraespeciacutefica local em regiotildees 19

tropicais No entanto os fatores que influenciam a diversidade da mandioca em regiotildees 20

semiaacuteridas ainda natildeo foram bem documentados Nesse sentido objetivo geral do estudo foi 21

compreender os processos envolvidos na dinacircmica da diversidade agriacutecola em sete 22

comunidades tradicionais localizadas na regiatildeo semiaacuterida do estado de Pernambuco (Nordeste 23

do Brasil) por meio do acesso ao conhecimento dos agricultores quanto as praacuteticas de menejo 24

para tentar quais quais fatores podem estar relacionados a geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da diversidade 25

local Com os resultados da anaacutelise de redes verificamos uma alta diversidade de 26

etnovariedades cultivadas e a sua composiccedilatildeo eacute determinada pelas preferecircncias e 27

comportamentos individuais dos agricultores que foram provavelmente os mecanismos 28

27

responsaacuteveis pelo surgimento da estrutura aninhada observada na anaacutelise rede Esse padratildeo 29

aninhado contribui na conservaccedilatildeo das etnovariedades mais comuns mas tambeacutem pode resultar 30

em perda daquelas de menor frequecircncia ao longo do tempo 31

Palavras-Chave Agricultura tradicional Agricultura de sequeiro Agrobiodiversidade 32

Etnobiologia Plantas alimentiacutecias 33

34

Introduccedilatildeo 35

Historicamente as populaccedilotildees humanas foram acumulando conhecimentos sobre 36

praacuteticas da agricultura desenvolvendo teacutecnicas adaptadas ao meio natural e assim foram 37

domesticando uma grande variedade de cultivos alimentares para garantirem a sua 38

sobrevivecircncia (Balleacute 2006 Clement et al 2010) Essa interaccedilatildeo pessoas-plantas por meio do 39

cultivo e manejo das espeacutecies vegetais considerando tanto os aspectos sociais quanto naturais 40

dos sistemas dinacircmicos eacute uma importante ferramenta para o entendimento do conhecimento 41

dos agricultores sobre os agroecossistemas locais ( Alcorn 1995) 42

Aleacutem disso essas interaccedilotildees vem contribuindo com alteraccedilotildees nas populaccedilotildees vegetais 43

por meio da seleccedilatildeo artificial Essas alteraccedilotildees resultaram em mudanccedilas na estrutura geneacutetica 44

dessas populaccedilotildees que satildeo determinadas geralmente pela seleccedilatildeo de caracteriacutesticas fenotiacutepicas 45

fisioloacutegicas eou econocircmicas das plantas refletidas em classificaccedilotildees e nomenclaturas 46

especiacuteficas baseadas em percepccedilotildees individuais (Carmona amp Casas 2005) 47

Muitos pesquisadores tentam explicar o papel dos agricultores de pequena escala na 48

seleccedilatildeo classificaccedilatildeo e manutenccedilatildeo da agrobiodiversidade local em roccedilas tradicionalmente 49

manejas em regiotildees uacutemidas (Emperaire amp Peroni 2007 Emperaire amp Eloy 2008 Marchetti et 50

al 2013) Essas roccedila satildeo aacutereas de cultivo caracterizadas por conter uma alta diversidade 51

intraespeciacutefica de espeacutecies (Martins 2005) Dentre elas a Manihot esculenta Crantz 52

28

(mandioca) Euphorbiaceae em sua diversidade de etnovariedades eacute a espeacutecie mais importante 53

sob ponto de vista econocircmico e de subsistecircncia para as populaccedilotildees locais e mais cultivada 54

devido a sua grande adaptabilidade ambiental e baixos custos de gestatildeo (Elias et al 2001) 55

A alta diversidade da mandioca nessas aacutereas pode ser atribuiacuteda agrave possibilidade de 56

introduccedilatildeo de novas variedades via reproduccedilatildeo sexuada associada a ecologia da espeacutecie Esse 57

mecanismo permite o fluxo gecircnico entre as variedades de mandioca cultivadas do mesmo local 58

e entre estas com variedades de locais vizinhos (Pujol et al 2007) Outro mecanismo que 59

favorece essa diversidade eacute agrave circulaccedilatildeo de material propagativo por meio redes sociais de troca 60

variedades entre os agricultores (Pujol et al 2005 Emperaire amp Peroni 2007 Clement et al 61

2010) Esse mecanismo de troca eacute fundamental para o estabelecimento de interaccedilotildees entre as 62

diferentes aacutereas de roccedila promovendo oportunidade de seleccedilatildeo e cruzamento entre os diferentes 63

conjuntos de variedades aleacutem de permitir que este conjunto seja conservado (Emperaire amp Eloy 64

2008) 65

Diante desse cenaacuterio podemos observar que a agrobiodiversidade local natildeo eacute fruto 66

apenas de fatores naturais mas eacute tambeacutem influenciada pelas caracteriacutesticas culturais e 67

socioeconocircmica das populaccedilotildees locais refletidas especialmente no conhecimento e manejo 68

local Nesse sentido o presente estudo visa investigar as interaccedilotildees entre agricultores 69

tradicionais de comunidades rurais estabelecidas na regiatildeo semiaacuterida de Pernambuco 70

O objetivo geral eacute compreender os processos envolvidos na dinacircmica da diversidade 71

agriacutecola por meio do acesso ao conhecimento dos agricultores quanto as praacuteticas de menejo e 72

entender quais quais fatores podem estar relacionados a geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da diversidade 73

local Para esse estudo a mandioca foi escolhida como modelo devida agrave sua importacircncia 74

econocircmica e de subsistecircncia para comunidades locais Os objetivos especiacuteficos foram (i) 75

caracterizar o manejo da agricultura de sequeiro bem como analisar se os paracircmetros 76

socioeconocircmicos influenciam na diversidade local (ii) registrar as etnovariedades atualmente 77

29

cultivadas e identificar os diferentes criteacuterios morfoloacutegicos utilizados pelos agricultores para a 78

seleccedilatildeo e classificaccedilatildeo das etnovariedadese (iii) descrever a estrutura da rede de interaccedilatildeo entre 79

os agricultores e a diversidade de etnovariedades de mandioca cultivadas para tentar entender 80

como essas relaccedilotildees podem influenciar na manutenccedilatildeo ou perda da diversidade local 81

Material e meacutetodos 82

Aacutereas de estudo 83

Amostramos sete comunidades rurais estabelecidas na regiatildeo semiaacuterida de 84

Pernambuco Nordeste do Brasil Uma das comunidades (Caratildeo) pertence ao Municiacutepio de 85

Altinho (ldquo8deg 29rsquo 10rdquo S e 36deg 03rsquo 49rdquo W) e as demais (Satildeo Joseacute do Bola Brejo velho 86

Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima Lajedo Dantas e Aracuatilde) ao Municiacutepio de 87

Panelas (8 deg 39 48 S e 36 deg 01 23 W) (Fig 2) 88

O modelo agriacutecola adotado na regiatildeo segue o sistema tradicional de sequeiro4 e todas 89

as comunidades em estudo possuem histoacuterico de cultivo de mandioca (M esculenta) As aacutereas 90

de cultivo satildeo estabelecidas por unidade familiar e as atividades satildeo realizadas em sua maioria 91

por homens tendo cada agricultor cerca de um a dois hectares de aacuterea para plantio Aleacutem da 92

mandioca os cultivos mais utilizados na comunidades satildeo milho (Zea mays) e feijatildeo (Phaseolus 93

sp) 94

Para os membros das comunidades a produccedilatildeo da farinha de mandioca (Fig 3) eacute uma 95

das atividades agriacutecolas mais importantes tanto pelo seu papel na dieta alimentar quanto pela 96

importacircncia social e econocircmica 97

Caracteriacutesticas das comunidades do estudo 98

A comunidade do Caratildeo localiza-se sob domiacutenio de Caatinga caracterizado por climas 99

quentes e secos com regimes escassos de chuvas correspondente ao tipo BSrsquoh segundo a 100

4 Eacute o cultivo praticado sem irrigaccedilatildeo em regiotildees onde a pluviosidade eacute diminuta

30

classificaccedilatildeo climaacutetica de Koumlppen A vegetaccedilatildeo eacute composto por espeacutecies perenes que 101

conseguem sobreviver mesmo em periacuteodos de seca e espeacutecies anuais que aparecem apenas em 102

periacuteodos com chuva (Cruz et al 2013) 103

De acordo os dados de precipitaccedilatildeo do Laboratoacuterio de Anaacutelise e Processamento de 104

Imagens de Sateacutelites (LAPIS) no ano de 2012 foi registrada a menor meacutedia anual de 105

precipitaccedilatildeo dos uacuteltimos 10 anos para essa regiatildeo (3784 mm) Essa realidade ambiental quando 106

comparada com estudo realizado por de Sieber e colaboradores (2011) na mesma comunidade 107

observa-se que houve uma diminuiccedilatildeo considerada das praacuteticas agriacutecolas realizadas pelos 108

membros da comunidade culminando em uma seacuterie de prejuiacutezos aos agricultores como a perda 109

de plantaccedilotildees e animais Essa perda de produtividade afetou a estrutura econocircmica da 110

comunidade uma vez que a principal fonte de subsistecircncia das famiacutelias eacute a agricultura 111

Associada as atividades agriacutecolas os moradores complementam a dieta e a renda 112

familiar com a venda dos excedentes da produccedilatildeo em feiras-livres ou centros comerciais da 113

regiatildeo (Cruz et al 2013) E com a pecuaacuteria de pequena escala bovina caprina e com avicultura 114

No entanto a diminuiccedilatildeo da forragem natural e cultivada causada pela escassez de chuvas 115

associada aos elevados custos envolvidos na compra de raccedilatildeo levou muitos animais agrave morte 116

(Fig 4) 117

No Municiacutepio de Altinho a comunidade do Caratildeo foi inicialmente escolhida devido ao 118

reconhecimento preacutevio do registro de agricultores realizado em estudos desenvolvidos pelo 119

nosso grupo de pesquisa facilitando assim o acesso agraves informaccedilotildees necessaacuterias para o 120

desenvolvimento da pesquisa 121

As comunidades Aracuatilde Brejo Velho Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima 122

Lajedo Dandas e Satildeo Joseacute do Bola amostradas no estudo pertencem ao Municiacutepio de Panelas 123

que se limita ao Norte com o Municiacutepio de Altinho Essas comunidades estatildeo localizadas em 124

31

no domiacutenio morfoclimaacutetico de Caatinga O clima eacute do tipo semiaacuterido Bsrsquoh segundo a 125

classificaccedilatildeo climaacutetica de Koumleppen 126

A maior parte dos membros dessas comunidades assim como no Caratildeo tecircm como 127

principal fonte de subsistecircncia a agricultura de sequeiro principalmente o cultivo da mandioca 128

(Fig 5) Como renda extra a pecuaacuteria de pequeno porte com criaccedilatildeo bovina caprina e 129

avicultura sendo os excedentes dos alimentos produzidos vendidos em feiras locais ou para 130

escolas 131

As atividades agriacutecolas entre as comunidades tambeacutem foram duramente afetadas pela 132

seca na regiatildeo nos uacuteltimos anos A escassez de chuvas desestimulou o plantio a produccedilatildeo de 133

mandioca foi fortemente comprometida e a colheita foi adiada devido ao subdesenvolvimento 134

das raiacutezes gerando impactos econocircmicos para os membros das comunidades 135

As comunidades amostradas neste muniacutecipio foram escolhidas em funccedilatildeo das 136

indicaccedilotildees dos agricultores entrevistados a princiacutepio na comunidade do Caratildeo que reportaram 137

manter viacutenculos sociais com os agricultores do municiacutepio vizinho 138

Coleta de dados 139

Acessamos as comunidades com a ajuda de um liacuteder comunitaacuterio (Alexandre O 140

Nascimento) em companhia de outros pesquisadores que desenvolviam pesquisas na regiatildeo 141

Previamente as entrevistas todos objetivos e procedimentos para a realizaccedilatildeo da pesquisa foram 142

apresentados aos entrevistados e todos que aceitaram participar foram convidados a assinar um 143

Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) de acordo com a Resoluccedilatildeo 46612 do 144

Conselho Nacional de Sauacutede concordando com a realizaccedilatildeo das entrevistas e avaliaccedilotildees 145

morfoloacutegicas em campo O presente trabalho foi submetido ao Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa da 146

Universidade de Pernambuco (UPE) 147

32

Em todas as comunidades o meacutetodo de acesso ao informante foi o mesmo a partir do 148

primeiro contato com um informante-chave identificamos outros potenciais agricultores 149

seguindo a teacutecnica de ldquobola de neverdquo (Albuquerque et al 2014a) Esse meacutetodo consistiu na 150

amostragem intencional dos participantes e nesse particular os agricultores chefes de famiacutelia 151

(ge 18 anos) da regiatildeo que declararam cultivar mandioca (M esculenta) em suas roccedilas 152

Reunimos informaccedilotildees socioeconocircmicas desses agricultores tais como nome idade gecircnero 153

escolaridade renda experiecircncia na agricultura e tamanho da aacuterea de cultivo para tentar 154

identificar se esses paracircmetros socioeconocircmicos tecircm uma relaccedilatildeo com a agrobiodiversidade 155

local 156

Em seguida conduzimos entrevistas semiestruturadas (Albuquerque et al 2014b) com 157

o objetivo de caracterizar o modo de vida dos agricultores o manejo da agricultura bem como 158

obter dados sobre o conhecimento uso e caracterizaccedilatildeo das etnovariedades de mandioca 159

5cultivadas Aleacutem disso neste momento tambeacutem aplicamos a teacutecnica da lista livre 160

(Albuquerque et al 2014b) a fim de registrar as variedades de mandioca atualmente cultivadas 161

pelos agricultores e identificar as de maior importacircncia local Apoacutes as entrevistas realizamos 162

visitas aos roccedilados para o registro fotograacutefico georreferenciamento das roccedilas e caracterizaccedilatildeo 163

morfoloacutegica das variedades cultivadas 164

Entrevistamos 50 agricultores no total distribuiacutedos nas sete comunidades Caratildeo (3) 165

Satildeo Joseacute do Bola (10) Brejo velho (7) Japaranduba de Baixo (7) Japaranduba de Cima (8) 166

Lajedo Dantas (9) e Aracuatilde (6) Destes 10 satildeo mulheres e 40 homens com idade variando entre 167

31 e 82 anos A maioria dos entrevistados natildeo apresentava instruccedilatildeo formal (46) mais da 168

metade eram aposentados (56) e os demais apresentaram renda inferior a um salaacuterio miacutenimo 169

5 Entende-se por etnovariedade de mandioca o conjunto de variedades intraespeciacuteficas de mandioca (M esculenta)

reconhecidas pelos agricultores por nomenclatura popular local (Peroni 2004)

33

O tempo meacutedio de experiecircncia na agricultura foi de 40 anos Cada agricultor possui entre um e 170

dois roccedilados (aacuterea de plantio) com aproximadamente um a dois hectares 171

Redes de interaccedilatildeo social 172

Confeccionamos a rede que descreve as interaccedilotildees entre os agricultores e as 173

etnovariedades cultivadas a partir de uma matriz de incidecircncia R (presenccedilaausecircncia) onde nas 174

linhas estavam as etnovariedades de mandioca cultivadas (j) e nas colunas os agricultores locais 175

(i) O elemento Rij dessa matriz foi 1 (um) no caso de a etnovariedade j ser cultivada pelo 176

agricultor i caso contraacuterio seria atribuiacutedo 0 (zero) As interaccedilotildees entre os agricultores e as 177

etnovariedades foram descritas em dois modos (Pires et al 2011) onde os ldquonoacutesrdquo da esquerda 178

representam os agricultores que foram vinculados aos ldquonoacutesrdquo da direita representados pelas 179

etnovariedades citadas durante as entrevistas Esses ldquonoacutesrdquo seriam o espelho das decisotildees dos 180

agricultores em manter um determinado conjunto local de etnovariedades em suas roccedilas 181

Avaliamos a estrutura da rede que conecta os agricultores agraves etnovariedades cultivadas 182

a partir de trecircs cenaacuterios hipoteacuteticos (Fig 6) segundo Cachevia et al (2014) No primeiro se os 183

agricultores apresentassem diferentes graus de seletividade para a utilizaccedilatildeo de suas 184

etnovariedades a estrutura seria aninhada (Fig 6a) Isso significa que alguns agricultores 185

cultivam vaacuterias etnovariedades enquanto que outros cultivam o subconjunto mais 186

disponiacutevelcomum dessas etnovariedades Em segundo lugar se a rede apresentasse uma 187

estrutura modular (Fig 6b) significaria que os agricultores apresentam semelhanccedila na seleccedilatildeo 188

do recurso ou seja subgrupos de agricultores cultivam subgrupos distintos de etnovariedades 189

regionalmente disponiacuteveiscomuns E o terceiro se os agricultores natildeo apresentassem 190

preferecircncias quanto a seleccedilatildeo das etnovariedades entatildeo a rede apresentaria uma estrutura 191

aleatoacuteria (Fig 6c) 192

O objetivo da anaacutelise de rede nesse estudo foi tentar entender se o conjunto de 193

etnovariedades presentes no local do estudo constituem uma subamostra de um conjunto mais 194

34

amplo no caso de um alto grau de aninhamento ou se a sua composiccedilatildeo eacute determinada por 195

variaacuteveis locais (Ulrich 2008) Onde as conexotildees entre os informantes e as etnovariedades 196

representam as decisotildees dos agricultores de manter um conjunto determinado de variedades de 197

mandioca dentre as comunidades Esta anaacutelise tambeacutem nos permitiu identificar quais os nuacutecleos 198

de etnovariedades que apresentam maior conexatildeo com os diferentes perfis dos agricultores 199

Diversidade fenotiacutepica 200

Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 201

Apoacutes as entrevistas buscamos identificar quais os caracteres morfoloacutegicos considerados 202

mais importantes para a diferenciaccedilatildeo das etnovariedades de mandioca a partir do seguinte 203

questionamento ldquoQuais as diferenccedilas que vocecirc reconhece para separar uma qualidade de 204

mandioca (variedade) de uma outrardquo Assim os agricultores mencionaram quais os criteacuterios 205

mais importantes utilizados para a caracterizaccedilatildeo de suas etnovariedades 206

Compilamos uma listagem dessas caracteriacutesticas baseada nas indicaccedilotildees dos 207

agricultores e a partir delas selecionamos os caracteres morfoloacutegicos mais citados para a 208

caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica ldquoin siturdquo tais como cor da folha (cor da folha desenvolvida) olho 209

(cor do broto foliar) cor do talo (cor do peciacuteolo) maniva (cor externa do caule) embriatildeo 210

(protuberacircncia da cicatriz foliar) cor da entrecasca (coacutertex da raiz) e cor miolo (polpa da raiz) 211

(Tabela 1) O objetivo dessa caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica foi indicar como estaacute distribuiacuteda a 212

variaccedilatildeo fenotiacutepica das etnovariedades de mandioca nas comunidades na regiatildeo semiaacuterida de 213

Pernambuco bem como identificar que caracteriacutesticas satildeo mais importantes para distinguir 214

esses grupos no intuito de tentar entender como os agricultores classificam suas variedades de 215

mandioca 216

Nas sete comunidades para cada etnovariedade citada no roccedilado caracterizamos ldquoin 217

siturdquo trecircs indiviacuteduos de M esculentade de cada uma totalizando 171 indiviacuteduos (Aracuatilde=11 218

35

Caratildeo=4 Satildeo Joseacute do Bola=13 Brejo Velho=16 Japaranduba de Baixo=6 Japaranduba de 219

Cima=3 e Lajedo Dantas=4) Fotografamos e avaliamos todos os indiviacuteduos com base em parte 220

dos descritores morfoloacutegicos seguindo recomendaccedilotildees de Fukuda amp Guevara (1998) e aleacutem 221

disso georreferenciamos todas as aacutereas de roccedila 222

Anaacutelise dos dados 223

Analisamos os dados socioeconocircmicos das entrevistas semiestruturadas por meio de 224

estatiacutestica descritiva para explicar os aspectos da realidade econocircmica e social dos agricultores 225

Para identificar se a diversidade intraespeciacutefica da mandioca cultivada localmente eacute 226

influenciada por paracircmetros socioeconocircmicos utilizamos o coeficiente de correlaccedilatildeo de 227

Spearman (Ple005) (Sokal amp Rohlf 1995) 228

Com base na lista livre das variedades de mandioca cultivadas pelos agricultores 229

calculamos a frequecircncia de citaccedilatildeo o ranking e o iacutendice de saliecircncia com o objetivo de 230

identificar quais as mais importantes ou preferidas para as comunidades O iacutendice de saliecircncia 231

considerou a frequecircncia de citaccedilatildeo e o ranking referente ao posicionamento das variedades 232

dentro das listas livres (Thompson amp Juan 2006) As etnovariedades mais citadas e com maior 233

valor de saliecircncia representam as de maior importacircncia ou preferecircncia para as comunidades 234

Anaacutelise de rede 235

Medimos o grau de aninhamento (NODF) para investigar a estrutura de rede de 236

interaccedilatildeo social dos agricultores em funccedilatildeo das variedades cultivadas As matrizes altamente 237

aninhadas apresentam NODF tendendo a 1 caso contraacuterio tentem a ser 0 238

Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 239

Para o estudo das semelhanccedilas e diferenccedilas fenotiacutepicas entre as variedades de mandioca 240

ldquoin siturdquo realizamos anaacutelises multivariadas para identificar possiacuteveis grupos de variedades que 241

compartilham semelhanccedilas entre si 242

36

A anaacutelise de correspondecircncia muacuteltipla (MCA) permitiu identificar como as variedades 243

de mandioca estatildeo ordenadas em funccedilatildeo dos seus descritores etnobotacircnicos As etnovariedades 244

foram plotadas ao longo um plano cartesiano bi ou tridimensional onde a variaccedilatildeo total eacute 245

explicada pelos dois primeiros eixos Complementar a esta anaacutelise realizamos a anaacutelise de 246

agrupamento hieraacuterquico (Cluster) para identificar como estatildeo agrupadas as etnovariedades de 247

acordo seus descritores Conferimos a consistecircncia do dendrograma com coeficiente de 248

correlaccedilatildeo cofeneacutetica conforme Sneath amp Sokal (1973) que quantifica se a correlaccedilatildeo entre a 249

matriz de distacircncias originais e a matriz de distacircncias cofeneacuteticas eacute representativa Para 250

mensurar as dissimilaridades entre as variedades de mandioca foi utilizada a distacircncia 251

euclidiana e com o meacutetodo de Ward 252

Softwares utilizados 253

Para a anaacutelise da lista livre usamos o software ANTROPAC versatildeo 10 O software 254

ANINHADO 30 (Guimaratildees amp Guimaratildees 2006) foi usado para medir o grau de aninhamento 255

da rede Utilizamos o software estatiacutestico R (R core team 2017) para a anaacutelise de correlaccedilatildeo 256

de Spearman com o pacote corrplot (Wei amp Simko 2013) o desenho da rede que descreve a 257

interaccedilatildeo entre os agricultores e as etnovariedades com o pacote bipartite (Dormann et al 258

2017) E com os pacotes FactoMineR (LEcirc et al 2008) factoextra (Kassambara et al 2016) e 259

vegan (Oksanen et al 2017) foram realizadas as anaacutelises de cluster de correspondecircncia 260

muacuteltipla (MCA) e de correlaccedilatildeo coefeneacutetica respectivamente 261

Resultados 262

As diferentes etnovariedades de mandioca encontradas no estudo suprem a demanda 263

local por alimento enquanto outras atendem agraves preferecircncias individuais ou do comeacutercio As 264

variedades que possuem maior rendimento e a farinha produzida apresenta coloraccedilatildeo branca 265

satildeo as de maior valor comercial para os agricultores devido agraves preferecircncias do mercado Jaacute 266

37

outras variedades que satildeo mais moles e apresentam coloraccedilatildeo amarelada natildeo satildeo empregadas 267

na produccedilatildeo de farinha mas sim consumidas cozidas ou assadas A depender da demanda local 268

os agricultores intencionalmente aumentam ou diminuem a frequecircncia de suas variedades nos 269

roccedilados seja por alguma exigecircncia do comeacutercio ou para consumo familiar 270

Nas comunidades os agricultores separam suas variedades de mandioca em dois grupos 271

como observado em outras comunidades na mata Atlacircntica por Emperaire e Peroni (2007) o 272

das ldquomacaxeirasrdquo que satildeo as variedades exploradas basicamente para o consumo familiar sem 273

processo preacutevio de desintoxicaccedilatildeo cujas raiacutezes satildeo consumidas fritas eou cozidas Sendo 274

utilizadas tambeacutem como complemento na dieta dos animais E o grupo das ldquomandiocasrdquo que 275

satildeo as variedades que necessitam de processo preacutevio de desintoxicaccedilatildeo para o consumo 276

utilizadas comumente para a produccedilatildeo de farinha de mandioca Para os agricultores as 277

ldquomandiocasrdquo possuem maior valor comercial pois apresentam maior rendimento e 278

rentabilidade pois a farinha produzida eacute branca e atende as preferencias do comercio local 279

Aleacutem da farinha outros produtos e subprodutos produzidos dentre os quais foram citados 280

ldquotapioca ou gomardquo ldquobijurdquo ou ldquobolo de mandiocardquo satildeo utilizados para o consumo proacuteprio ou 281

eventual comercializaccedilatildeo 282

Os informantes natildeo possuiacuteam conhecimento sobre a origem dos nomes das variedades 283

de mandioca Quanto a compreensatildeo da geraccedilatildeo da diversidade intraespeciacutefica identificamos 284

que apesar de 66 dos agricultores citarem que conhecem variedades fruto de germinaccedilatildeo de 285

suas sementes nenhum deles utiliza as manivas para o plantio por essas variedades de 286

mandioca ldquovoluntaacuteriasrdquo natildeo apresentarem bom rendimento 287

Observamos que existe uma baixa correlaccedilatildeo entre a diversidade de variedades 288

atualmente cultivadas e as variaacuteveis socioeconocircmicas como no caso do nuacutemero de roccedilados 289

(r=028 Ple005) e do tamanho do roccedilado (r=033 Ple005) (Fig 7) Essa baixa correlaccedilatildeo pode 290

38

ser explicada pelo fato de existirem grupos de agricultores que preferem manter as variedades 291

de maior valor econocircmico e de subsistecircncia mesmo com aacutereas maiores de cultivo 292

Verificamos tambeacutem uma correlaccedilatildeo positiva moderada entre o nuacutemero de variedades 293

conhecidas com o nuacutemero de variedades atualmente cultivadas (r=054 Ple005) Na lista livre 294

foram identificadas 22 etnovariedades de mandioca cultivadas (132 citaccedilotildees no total) sendo 295

oito dessas mais citadas com maiores valores de saliecircncia (entre 047 e 0082) (Tabela 2) As 296

etnovariedades ldquoMacaxeira Rosardquo e ldquoMandioca Isabel de Souzardquo exibiram os maiores valores 297

de saliecircncia 047 e 037 respectivamente Logo essas variedades satildeo as mais conhecidas 298

dentro das comunidades com 66 e 48 das citaccedilotildees respectivamente 299

Dentre as etnovariedades citadas 12 foram idiossincraacuteticas pois apresentaram menor 300

frequecircncia de citaccedilatildeo e menores valores de saliecircncia (entre 0032 e 0006) (Tabela 2) 301

Redes de interaccedilatildeo social 302

A rede apresentou uma estrutura aninhada com grau de aninhamento significativamente 303

superior aos modelos nulos (N=3072 Plt0001) para as comunidades sendo um nuacutecleo de 304

etnovariedades altamente conectado aos agricultores (Fig 8) A estrutura aninhada nos permite 305

inferir que existe um grupo de agricultores que cultiva uma maior diversidade de etnovariedades 306

de mandioca em suas roccedilas enquanto que outro subgrupo que tem menor diversidade cultivam 307

as mais comuns ou disponiacuteveis (Cavechia et al 2014) Isso significa que os agricultores locais 308

mesmo em diferentes comunidades cultivam um nuacutecleo de etnovariedades comum entre eles 309

(n=6 Tabela 2) 310

Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 311

Observamos que a maioria dos indiviacuteduos de mandioca satildeo caracterizados por meio de 312

um conjunto de sete caracteres morfoloacutegicos os quais foram citados pelos agricultores como 313

mais importantes para a caracterizaccedilatildeo de suas variedades Nas visitas aos roccedilados registramos 314

39

as etnovariedades atualmente cultivadas e a tabela 3 fornece a lista completa com as 17 315

etnovariedades de mandioca e o local de registro 316

Por meio da anaacutelise de correspondecircncia muacuteltipla as variedades de mandioca foram 317

ordenadas em funccedilatildeo de seus descritores ao longo do primeiro e segundo eixo correspondentes 318

a 3680 da variacircncia total (Fig 9) 319

As variaacuteveis mais correlacionadas e que agruparam as variedades de mandioca no 320

primeiro eixo foram cor da folha desenvolvida (CFD) (r= 07239 Ple0001) cor do coacutertex da 321

raiz (CDR) (r= 06473 Ple0001) cor do broto foliar (CBF) (r= 06880 Ple0001) cor do peciacuteolo 322

(CDP) (r= 05250 Ple005) cor externa do caule (CEC) (r= 06883 Ple005) cor da polpa da 323

raiz (PDR) (r= 02473 Ple005) Para o segundo eixo as variaacuteveis correlacionadas foram cor 324

da folha desenvolvida (CFD) (r= 07220 Ple0001) cor externa do caule (CEC) (r= 08718 325

Ple0001) e cor do peciacuteolo (CDP) (r= 06927 Ple005) 326

O agrupamento de todas as variedades caracterizadas ldquoin siturdquo gerou uma aacutervore 327

hieraacuterquica (dendrograma) (Fig 9) utilizando a distacircncia euclidiana seguindo o criteacuterio de 328

Ward O dendrograma gerado apresentou um coeficiente de correlaccedilatildeo cofeneacutetica r= 06780 329

indicando que existe consistecircncia com os dados originais no agrupamento quanto agrave 330

classificaccedilatildeo e estrutura de tal forma que as variedades foram agrupadas em oito classes as 331

quais foram explicadas pelas variaacuteveis mais significativas descritas na tabela 4 332

O resultado do agrupamento (utilizada a distacircncia euclidiana e com o meacutetodo de Ward) 333

observamos que as etnovariedades de mandioca caracterizadas ldquoin siturdquo foram agrupadas em 334

dois grandes agrupamentos indicados na Fig 10 pelos retacircngulos em vermelho A partir dessa 335

anaacutelise percebemos que os caracteres morfoloacutegicos selecionados pelos agricultores natildeo foram 336

suficientes para separar as variedades de macaxeira e mandioca pois em ambos os 337

agrupamentos encontramos tanto macaxeiras quanto mandiocas 338

40

As variedades da classe 1 foram identificadas pelos agricultores pela cor do peciacuteolo 339

(CDP) verde A classe 2 agrupou as etnoveriedades caracterizadas pela protuberacircncia da cicatriz 340

foliar (PCF) mais protuberante Esse descritor segundo os agricultores era identificado como 341

ldquoembriatildeordquo A classe 3 consiste apenas da variedade ldquoMandioca Pretonardquo indicada pela presenccedila 342

de cor do peciacuteolo (CDP) vermelho A classe 4 agrupou trecircs variedades caracterizadas pelos 343

agricultores pela presenccedila de cor coacutertex da raiz (CDR) rosa e cor da polpa da raiacutez (PDR) branca 344

identificadas como ldquoMacaxeira vermelhardquo ldquoMacaxeira Rosa Brancardquo ldquoMacaxeira Rosardquo As 345

variedades agrupadas na classe 5 foras as variedades de mandioca caracterizadas pelos 346

agricultores por apresentarem cor do coacutertex (CDR) da raiacutez branca A classe 6 agrupou 347

variedades identificadas pelos agricultores pela cor do broto foliar (CBF) verde A classe 7 348

consiste apenas da variedade ldquoMacaxeira Sementerdquo identificada pelos agricultores pela cor do 349

peciacuteolo (CDP) roxo e protuberacircncia da cicatriz foliar pouco proeminente Essa variedade 350

segundo os agricultores era fruto do nascimento espontacircneo no roccedilado poreacutem eles geralmente 351

natildeo utilizam essas variedades por apresentarem apenas uma raiz pequena e de baixo 352

rendimento Na classe 8 as variedades foram identificadas pelos agricultores pela cor do peciacuteolo 353

(CDP) verde amarelado e protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) pouco proeminente As 354

ldquoMandioca Isabel de Souzardquo ldquoMandioca Isabel trecircs galhosrdquo segundo os agricultores se 355

diferenciavam pelo maior nuacutemero de caules presentes na variedade ldquoIsabel trecircs galhosrdquo 356

Discussatildeo 357

As sete comunidades estudadas manejavam um nuacutemero consideraacutevel de variedades 358

locais A quantidade de etnovariedades registradas eacute proacutexima a encontrada por Bender et al 359

(2009) e Cavechia et al (2014) em comunidades na regiatildeo sul e sudeste por Oler e Amorozo 360

(2017) em uma comunidade tradicional na regiatildeo centro-oeste Poreacutem foi quantitativamente 361

inferior quando comparada a estudos como os de Elias et al (2001) e Kawa et al (2013) em 362

comunidades na regiatildeo amazocircnica pois possuiacuteam uma alta diversidade Essa alta diversidade 363

41

na regiatildeo amazocircnica pode estar relacionada com o fato de que essa regiatildeo eacute o provaacutevel centro 364

de origem da mandioca (M esculenta) (Allem 1994) 365

As etnovariedades registradas neste estudo estatildeo disponiacuteveis para a maioria dos 366

agricultores dessa regiatildeo e esse fator favorece a circulaccedilatildeo das etnovariedades entre as 367

comunidades locais Por isso haacute semelhanccedilas das etnovariedades utilizadas entre os agricultores 368

da mesma comunidade e entre comunidades vizinhas 369

Parte dos agricultores optam por manter uma alta frequecircncia de variedades mais 370

utilizadas enquanto que outros optam por manter etnovariedades de baixa frequecircncia 371

Conforme discutido por Amorozo (2013) os agricultores escolhem seu acervo de acordo com 372

as necessidades e contexto em que vivem A reduccedilatildeo da diversidade de etnoveriedades por 373

exemplo pode ser impulsionada por fatores que simplificam o sistema como a seleccedilatildeo de 374

etnovariedades para a produccedilatildeo de farinha resultando no cultivo de poucas ou ateacute de uma uacutenica 375

etnovariedade (Peroni amp Hanazaki 2002) mesmo em aacutereas maiores 376

377

Redes de interaccedilatildeo social 378

Com as anaacutelises de rede demonstramos que os agricultores de diferentes comunidades 379

em uma mesma regiatildeo efetivamente trocam variedades de mandioca entre si corroborando 380

com estudos realizados por Emperaire amp Eloy (2008) Pautasso et al (2012) e Cavechia et al 381

(2014) Nesses estudos os autores tambeacutem consideram que as trocas de etnovariedades por 382

meio da rede de intercacircmbio entre os agricultores eacute um mecanismo fundamental para a 383

manutenccedilatildeo da diversidade local 384

A visualizaccedilatildeo da rede demonstrou que entre as comunidades os agricultores 385

compartilham um nuacutecleo de etnovariedades mais utilizadas dentre as quais estatildeo as de maior 386

valor econocircmico e de subsistecircncia Essas de maior frequecircncia satildeo aquelas altamente produtivas 387

utilizadas pelos agricultores para atenderem agraves demandas de mercado por farinha e para o 388

consumo proacuteprio (Kawa et al 2013) 389

42

No entanto observamos que existe outro nuacutecleo de etnovariedades menos frequentes 390

Essas etnovariedades raras podem ser resultantes do processo de experimentaccedilatildeo ou 391

preferecircncias individuais dos agricultores Outra possiacutevel razatildeo para a baixa frequecircncia de 392

algumas etnovariedades poderia ser explicada pela variaccedilatildeo da nomenclatura pelos 393

agricultores que segundo Peroni amp Hanazaki (2002) pode ocorrer durante o processo de troca 394

e introduccedilatildeo de novas variedades aos roccedilados Ainda assim natildeo descartamos a hipoacutetese de que 395

essas etnovariedades raras possam ser provenientes do cruzamento entre variedades diferentes 396

cultivadas da mesma roccedilado ou em roccedilas vizinhas De acordo com Martins (2005) essas 397

variedades fruto de germinaccedilatildeo expentacircnea satildeo incorporadas aos roccedilados pelos agricultores 398

pela curiosidade em experimentar novas variedades agraves suas coleccedilotildees 399

Nesse estudo admitimos que optar por etnovariedades raras entre as comunidades 400

estudadas eacute um comportamento adotado por agricultores que manejam uma maior diversidade 401

corroborando com os estudos de Cavechia et al (2014) e Emperaire et al (2016) em regiotildees 402

uacutemidas Para esses autores etnovaridedades de baixa frequecircncia representam um subconjunto 403

das de alta frequecircncia cultivadas por agricultores que manteacutem a maior diversidade em seus 404

roccedilados Sendo assim inferimos que no geral entre as comunidades satildeo os agricultores 405

generalistas aqueles que cultivam maior diversidade os responsaacuteveis por incorporar novas 406

etnovariedades aos roccedilados 407

As decisotildees dos agricultores em manter o acervo direcionado principalmente para 408

atender a demanda de mercado por exemplo podem levar a uma homogeneizaccedilatildeo nas roccedilas 409

colocando em risco a manutenccedilatildeo da diversidade local (Peroni amp Hanazaki 2002) Como 410

discutido por Elias et al (2000) os agricultores que selecionam apenas um nuacutemero reduzido e 411

especiacutefico de variedades mais produtivas tendem a fazer com que as variedades menos 412

frequentes desapareccedilam ao longo do tempo Essa tendecircndia pode influenciar na capacidade de 413

43

resiliecircncia do sistema assim como dos agricultores em lidar com possiacuteveis adversidades 414

ambientais que possam ocorrer 415

Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 416

No geral os agricultores demonstraram uma tendecircncia em classificarseparar suas 417

diferentes etnovariedades de mandioca a partir da combinaccedilatildeo de um conjunto de sete 418

caracteres morfoloacutegicos distintos e de faacutecil percepccedilatildeo os quais natildeo tem relaccedilatildeo com o uso 419

como por exemplo a cores das raiacutezes caule e folhas Logo consideramos que esses caracteres 420

morfoloacutegicos podem ser considerados como uma forma de classificaccedilatildeo pelos agricultores 421

baseada na capacidade percepccedilatildeo das diferenccedilas morfoloacutegicas que cada etnovariedades 422

apresenta (Boster 1985) Estes resultados nos levam a entender que entre os agricultores o 423

conhecimento sobre a diversidade da mandioca estaacute relacionado ao conhecimento de 424

caracteriacutesticas morfoloacutegicas consistentes 425

A existecircncia de alguns fenoacutetipos comuns nos permitiu avaliar a classificaccedilatildeo da 426

consistecircncia da taxonomia popular entre os agricultores Por exemplo as etnovariedades 427

ldquoMaxaceira Rosardquo e ldquoMacaxeira Rosa Brancardquo e ldquoMacaxeira vermelhardquo foram agrupadas no 428

mesmo cluster (C4) por apresentaram fenoacutetipos semelhantes Notamos que os agricultores 429

classificaram essas variedades de acordo com os traccedilos morfoloacutegicos mais relevantes como a 430

cor do coacutertex da raiz rosa e cor branca da polpa O mesmo ocorreu com as etnovariedades 431

ldquoMandioca varudardquo ldquoMandioca campina da granderdquo e ldquoMandioca campinardquo caracterizadas 432

pela presenccedila do peciacuteolo verde agrupadas no cluster (C1) 433

A partir dessas evidecircncias consideramos a hipoacutetese de que as variedades mesmo 434

apresentando caracteriacutesticas morfoloacutegicas muito semelhantes estatildeo sujeitas a variaccedilatildeo 435

nomenclatural durante o processo a incorporaccedilatildeo aos roccedilados pelos agricultores pois a 436

capacidade para distinguir e nomear variedades entre os agricultores da mesma regiatildeo pode 437

variar (Sambatti et al 2001 Elias et al 2001 Mekbib 2007) Consideramos tambeacutem que pode 438

44

existir variaccedilatildeo geneacutetica entre os indiviacuteduos identificados por um mesmo nome ou entatildeo que 439

os agricultores datildeo o mesmo nome para variedades diferentes E esta situaccedilatildeo pode levar a uma 440

superestimaccedilatildeo ou subestimaccedilatildeo da diversidade de mandioca cultiva nas aacutereas de estudo 441

Sabemos que a mandioca eacute propagada vegetativamente pelos agricultores por meio de 442

estacas em sistemas de agricultura tradicional No entanto alguns variedades produzem flores 443

e sementes que germinam e podem originar outras variedades ou outros clones por meio de 444

fecundaccedilatildeo cruzada (Elias et al 2001) Nesse contexto a etnovariedade ldquoMacaxeira Sementerdquo 445

presente no cluster (C7) trata-se de um uacutenico indiviacuteduo amostrado em uma roccedila de um dos 446

agricultores Esta apresentava algumas caracteriacutesticas morfoloacutegicas distintas das demais 447

reconhecidas pelo agricultor como por exemplo a produccedilatildeo de uma raiz uacutenica e 448

consequentemente de baixo rendimento Encontramos apenas um indiviacuteduo dessa 449

etnovariedade e nossa hipoacutetese de que esta poderia ter sido originada da germinaccedilatildeo da 450

semente mesmo quando 100 dos informantes declararam natildeo dar qualquer importacircncia e 451

descartar essas ldquovariedades-voluntaacuteriasrdquo foi confirmada pelo agricultor que afirmou que se 452

tratava de uma variedade nascida da germinaccedilatildeo da semente Esse comportamento vai de 453

encontro ao estudo de Fraser et al (2012) pois apesar dos agricultores reportarem nas 454

entrevistas que conhecem essas ldquovariedades-voluntaacuteriasrdquo nenhum agricultor faz o uso delas 455

Peroni et al (1999) e Agre et al (2016) analisando morfologicamente as variedades 456

locais de mandioca mantidas por agricultores em sistemas agriacutecolas tropicais tambeacutem 457

demonstraram que os agricultores satildeo coerentes quanto a separaccedilatildeo e identificaccedilatildeo de suas 458

etnovariedades a partir da formaccedilatildeo de grupos de coesos quanto a nomenclatura local utilizada 459

No entanto para o melhor entendimento dessa diversidade aleacutem da caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica 460

o uso de anaacutelises complementares como anaacutelise molecular seria importante para tentar 461

identificar se esses grupos representam a mesma variedade com nomes distintos ou se satildeo 462

variedades distintas com o mesmo nome 463

45

Conclusatildeo 464

O estudo demonstrou que no sistema de manejo da mandioca ao niacutevel de roccedila em 465

comunidades localizadas na regiatildeo semiaacuterida de Pernambuco compotildee uma diversidade 466

intrespeciacutefica de mandioca para atender agraves demandas econocircmicas e de subsistecircncia das 467

populaccedilotildees locais 468

Com relaccedilatildeo a anaacutelise de rede demostramos que haacute um nuacutecleo de etnovariedades 469

fortemente conectado aos agricultores e sua composiccedilatildeo eacute direcionada pelas preferecircncias e 470

necessidades individuais dos agricultores que foram os fatores responsaacuteveis pelo surgimento 471

da estrutura aninhada observada na anaacutelise rede entre as comunidades deste estudo E esse 472

padratildeo aninhado observado contribui na conservaccedilatildeo das etnovariedades mais comuns mas 473

tambeacutem pode resultar em perda daquelas de menor frequecircncia ao longo do tempo 474

A caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica ldquoin siturdquo nos permitiram inferir que os agricultores 475

reconhecem as diferentes caracteriacutesticas morfoloacutegicas de suas cultivares e satildeo coerentes na 476

separaccedilatildeo de suas variedades de mandioca e macaxeira Entretanto esses resultados sugerem a 477

realizaccedilatildeo de um estudo em niacutevel de diversidade geneacutetica exploratoacuterio para identificar se as 478

consistecircncias morfoloacutegicas refletem em consistecircncias geneacuteticas elucidando assim as possiacuteveis 479

confusotildees atribuiacutedas aos nomes das etnovariedades de mandioca 480

Agradecimentos 481

Agradecemos ao liacuteder comunitaacuterio Alexandre O Nascimento aos agricultores e 482

agricultoras das comunidades pela acolhida confianccedila e pela gentileza de compartilharem 483

conosco seus conhecimentos e contribuiacuterem com este estudo Especialmente a Arlindo Ferreira 484

Edgar Antocircnio Joseacute Sebastiatildeo Juvenal Oliveira e Janete Alves Ao Laboratoacuterio de Ecologia e 485

Evoluccedilatildeo de Sistemas Socioecoloacutegicos (LEA - UFPE) E agradecemos ao CNPq pelo apoio 486

com a bolsa de estudos do primeiro autor 487

46

Referecircncias bibliograacuteficas 488

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614

51

ANEXOS 615

616

Nome da revista 617

Human Ecology 618

Link de acesso 619

httpsgooglDVLbFj 620

Qualis-CAPES 621

B1 em Biodiversidade 622

623

624

625

626

627

628

629

630

631

632

633

634

635

636

637

638

639

640

641

642

52

Figuras 643

644

645

Fig 1 Partes do processo de fabricaccedilatildeo de farinha de mandioca Onde a raspagem b e c 646

processo de trituraccedilatildeo e d peneiramento Foto registrada em Abril de 2017 por Mirela Santos 647

648

649

650

c

d

b

a

53

651

Fig 2 Mapa de localizaccedilatildeo geograacutefica dos Municiacutepios de Altinho e Panelas e das comunidades 652

estudadas na regiatildeo semiaacuterida do Estado de Pernambuco (Elaborado por SANTOS 2018) 653

54

654

655

656

657

Fig 3 Processo de fabricaccedilatildeo da farinha de mandioca Apoacutes a colheita as raiacutezes satildeo lavadas 658

raspadas e trituradas (a) A massa extraiacuteda eacute prensada e coada Ao sair da prensa a massa 659

peneirada (b) e em seguida eacute torrada (c) em fornos artesanais ou parcialmente mecanizados 660

Imagem registrada em janeiro de 2017 na Comunidade do Caratildeo por Mirela Santos 661

662

663

a

b c

55

664

Fig 4 a Sede da Comunidade do Caratildeo b Agricultor transportando a palma forrageira que eacute 665

um exemplo de estrateacutegia adaptativa para suprir a falta de alimento dos animais devido agrave seca 666

c Feira-livre que acontece na comunidade a cada quinze dias Imagem registrada em julho de 667

2016 na Comunidade do Caratildeo por Mirela Santos 668

669

670

Fig 5 a O agricultor nos explicava as mudanccedilas que vem fazendo em seus roccedilados para se 671

adaptar aos longos periacuteodos de seca b Quando o agricultor nos mostrava as diferentes 672

etnovariedades que mantinha em sua roccedila c Durante a pesquisa nos explicavam como era feita 673

a colheita da mandioca e como selecionavam as manivas para o proacuteximo plantio Foto registrada 674

em abril de 2017 na Comunidade do Brejo Velho por Mirela Santos 675

a

b c

c b

a

56 676

677

Fig 6 Possiacuteveis estruturas de rede que descrevem as interaccedilotildees dos agricultores (losango) 678

ligados as etnovariedades (ciacuterculos) que cultivam Onde a Aninhada b Modular c Aleatoacuteria 679

(Fonte Cavechia et al 2014 com adaptaccedilotildees) 680

681

682

683

684

685

686

687

688

689

690

691

692

693

694

695

696

697

a c b

57

698

699

700

701

702

703

704

705

706

707

Fig 7 Correlaccedilatildeo de Spearman entre a diversidade de etnovariedades de mandiocas conhecidas 708

como cultivadas e variedades atualmente cultivadas por agricultor e as variaacuteveis 709

socioeconocircmicas Onde Nvc= nuacutemero de citadas como cultivadas Nve= nuacutemero de variedades 710

atualmente cultivadas Esc= escolaridade Id= idade Gen= gecircnero Tr= tamanho do roccedilado 711

Exp= experiecircncia na agricultura Sld= renda Nr= nuacutemero de roccedilados Cores distintivas 712

representam correlaccedilotildees significativas (Ple005) 713

714

58

715

Fig 8 Modelo individual de rede de etnovariedades de mandioca citadas (esquerda) por 716

agricultores como cultivadas (direita) nos Municiacutepios de Altinho e Panelas As redes foram 717

desenhadas com o pacote bipartite (Dormann et al 2017) usando o software R (R CORE 718

TEAM 2017) 719

720

59

721

Fig 9 Anaacutelise de Correspondecircncia Muacuteltipla das 17 etnovariedades de mandioca considerando 722

os sete descritores morfoloacutegicos utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo em roccedilas de 723

agricultores tradicionais de sete comunidades no semiaacuterido de Pernambuco 724

725

726

727

728

729

730

731

732

733

734

735

736

737

McCambadinha

McCampina

McCampinaDaGrande

McCampinaRasteira

McCampinaVaruda

McGauba

McIsabelDeSouza

McIsabelTresGalhos

McOlhoDePombo

McOlhoVerde

McPretinha

McPretona

MxBranca

MxRosa

MxRosaBrancaMxRosaVermelha

MxSemente

CFD_Verde_Arroxeado

CFD_Verde_ClaroCFD_Verde_Escuro

CBF_Roxo

CBF_Verde_ArroxeadoCBF_Verde_Claro

CBF_Verde_Escuro

CDP_Verde

CDP_Verde_Amarelado

CDP_Verde_Avermelhado

CDP_Vermelho

CEC_Cinza

CEC_Dourado

CEC_Laranja

CEC_Marrom_Claro

CEC_Marrom_Escuro

CEC_Prateado

CEC_Verde_AmareladoCicatriz_M

Cicatriz_P

PDR_Branco

PDR_Creme

CDR_BrancoCDR_Creme CDR_Rosa

-4

-2

0

2

4

-4 -2 0 2 4

Dim1 (206)

Dim

2 (

162

)

MCA - Biplot

00

10

Hierarchical Clustering

inertia gain

McC

am

pin

aV

aru

da

McC

am

pin

aD

aG

rande

McC

am

pin

a

McG

auba

McP

retin

ha

McP

reto

na

MxR

osaV

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a

MxR

osaB

ranca

MxR

osa

McC

am

pin

aR

aste

ira

McC

am

badin

ha

McO

lhoV

erd

e

MxB

ranca

MxS

em

ente

McIsabelT

resG

alh

os

McIsabelD

eS

ouza

McO

lhoD

eP

om

bo

00

05

10

15

Hierarchical Classification

Heig

ht

C1 C2 C3 C4 C5 C6 C7 C8

Fig 10 Agrupamento hieraacuterquico das 17 etnovariedades de mandioca caracterizadas de acordo

com os descritores utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo

60

Tabelas 738

739

Tabela 1 Caracteres e estados utilizados pelos agricultores como descritores botacircnicos para 740

caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das etnovariedades de mandioca 741

Caracter Sigla Estados

Folha

Cor da folha desenvolvida CFD 1- verde claro 2- verde escuro 3- verde arroxeado 4- roxo

Cor do broto foliar CBF 1- verde claro 2- verde escuro 3- verde arroxeado 4- roxo

Cor do peciacuteolo CDP 1- verde amarelado 2- verde 3- verde avermelhado 4- roxo

5- vermelho

Caule

Cor externa do caule CEC 1- laranja 2- verde amarelado 3- dourado 4- marrom claro

5- prateado 6- cinza 7- marrom escuro 8- verde

Protuberacircncia da cicatriz foliar PCF 1- pouco proeminente 2- muito proeminente

Raiacutez

Cor da poupa da raiz PDR 1- branco 2- creme

Cor do coacutertex da raiacutez CDR 1- rosa 2- branco 3- creme

742

743

744

745

746

747

748

749

750

751

61

Tabela 2 Lista das 22 etnovariedades de mandiocas citadas (132 citaccedilotildees) como cultivadas nas 752

comunidades pertencentes aos Municiacutepios de Altinho (Caratildeo n=8) e ao Municiacutepio de Panelas 753

(Aracuatilde Satildeo Joseacute do Bola Brejo Velho Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima e Lajeiro 754

Dantas n=21) 755

Etnovariedade Frequecircncia () Ranking Saliecircncia

Macaxeira Rosa 66 179 0472

Mandioca Isabel de Souza 48 179 0372

Mandioca Campina 24 217 0148

Macaxeira Branca 20 210 0134

Macaxeira Rosa branca 18 122 0168

Mandioca Pretona 16 338 0082

Mandioca Cambadinha 12 283 0071

Mandioca Isabel trecircs galhos 10 180 0075

Mandioca Gauacuteba 10 260 0070

Mandioca Pretinha 8 225 0053

Mandioca Peacute de pombo 4 400 0011

Mandioca Olho verde 4 350 0012

Macaxeira Rosinha 4 200 0027

Mandioca Campina varuda 4 200 0032

Mandioca Campina rasteira 4 300 0021

Mandioca Caboquinha 2 500 0007

Macaxeira Rasteira 2 200 0013

Macaxeira Paraacute 2 100 0020

Mandioca Barra ferro 2 300 0007

Mandioca Campina da grande 2 100 0020

Mandioca Olho de pombo 2 300 0010

Mandioca Jasmim 2 600 0006

756

757

758

62

Tabela 3 Lista de 17 etnovariedades atualmente cultivadas nos roccedilados das comunidades em 759

estudo 760

Ca Ar Bo Br Jb Jc Ld

Etnovariedade

Macaxeira Branca x x x x

Macaxeira Rosa

x x x x x x

Macaxeira Rosa Branca x x x x

Macaxeira Rosa Vermelha

x

Macaxeira Semente

x

Mandioca Cambadinha x

x

Mandioca Campina

x

x

x

Mandioca Campina da Grande x

Mandioca Campina Rasteira

x

Mandioca Campina Varuda

x

Mandioca Gauacuteba

x

Mandioca Isabel de Souza

x x x

Mandioca Isabel trecircs Galhos

x

x

Mandioca Olho de Pombo

x

Mandioca Olho Verde

x

Mandioca Pretinha

x

Mandioca Pretona x x x

Comunidades Ca= Caratildeo Ar=Aracuatilde Bo= Satildeo Joseacute do Bola Jb= Japaranduba de Baixo 761

Jc= Japaranduba de Cima Ld= Lajedo Dantas 762

763

764

765

766

767

768

63

Tabela 4 Descriccedilatildeo das classes do agrupamento por meacutetodo de Ward agrupadas pelo conjunto 769

dos descritores mais significativos para a caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das variedades de mandioca 770

Classes Descritores in situ p-valor

C1 Cor do peciacuteolo (CDP) 0016

C2 Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023

C3 Cor do peciacuteolo (CDP) 0012

C4 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0004

Cor da poupa da raiacutez (PDF) 0021

C5 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0003

C6 Cor do broto foliar (CBF) 0002

C7 Cor da folha desenvolvida (CFD) 0004

Cor externa do caule (CEC) 0040

C8 Cor do peciacuteolo (CDP) 0005

Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023

Valores de Ple005 satildeo significativos 771

772

xiv

ABSTRACT

Small-scale farmers who practice traditional agriculture fields have an important role in

generation maintenance and conservation of local agrobiodiversity Among the most cultivated

species the Manihot esculenta Crantz (cassava) in its intrespecific diversity is one of the

moust important agricultural resources of economic importance and livelihood for many local

people in the world It is believed that the management practices dedicated to the cultivation of

cassava associated with the knowledge of farmers result in increased intraspecific diversity

and the conservation of this diversity Therefore the research aimed to understand the processes

involved in the dynamics of agricultural diversity of cassava through access the knowledge of

farmers as the management of practices and understand what factors may be related to the

generation and maintenance of local diversity For this the study was developed with the

traditional farmers of seven rural communities located in the semiarid region of the state of

Pernambuco The methodological approach was based on semi-structured interviews

conversations with informants and visits to fields to characterize and understand the

importance of management of dry framing and social networks established between farmers

and to identify the cassava varieties currently grown From the knowledge of managed

diversity we analyze the structure of social interaction network formed by the exchange of

landraces among farmers From this information We discussed the important role of farmers

in the overall regional landraces maintenance A total of 22 landraces were cited which are

identified by farmers mainly through seven morphological characters The structure of

varieties sharing networks favors the maintenance and amplification of different local varieties

Keywords Agrobiodiversity Dry Farming Food plants Social networks Traditional

agriculture

14

1 Introduccedilatildeo Geral

Ao longo dos anos populaccedilotildees tradicionais foram adquirindo aprimorando e transmitindo

seus conhecimentos sobre o manejo dos recursos naturais existentes em suas respectivas

regiotildees e assim foram desenvolvendo teacutecnicas para se adaptar e sobreviver ao ambiente Essas

populaccedilotildees foram domesticando uma grande variedade de espeacutecies de plantas alimentiacutecias

numa agricultura de pequena escala (BALLEacute 2006 CLEMENT et al 2010)

Essa interaccedilatildeo pessoas-planta por meio do cultivo e manejo das espeacutecies vegetais vem

contribuindo para ambos com alteraccedilotildees adaptativas por meio da seleccedilatildeo artificial Essas

alteraccedilotildees resultaram em mudanccedilas na estrutura geneacutetica das espeacutecies vegetais pelo manejo da

seleccedilatildeo de caracteriacutesticas fenotiacutepicas fisioloacutegicas e econocircmicas das plantas E essa seleccedilatildeo

consciente ou inconsciente das plantas se traduz em uma grande variaccedilatildeo intraespeciacutefica nas

populaccedilotildees vegetais sob diferentes regimes de manejo (CARMONA CASAS 2005)

Por meio do cultivo agricultores em comunidades tradicionais desempenham um papel

fundamental no processo dinacircmico de geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da agrobiodiversidade local em

sistemas de roccedilas Essas roccedilas satildeo aacutereas de agricultura tradicional localizadas dentro de

comunidades caracterizadas natildeo soacute pelo grande nuacutemero espeacutecies cultivadas mas tambeacutem pela

alta diversidade intraespeciacutefica que essas espeacutecies apresentam (MARTINS 2005) Dentre as

espeacutecies comumente cultivadas nesse sistema a mandioca (Manihot esculenta Crantz

Euphorbiaceae) eacute considerada uma cultura de alto valor econocircmico nutricional utilitaacuterio

cultural e social para muitas populaccedilotildees humanas no mundo (CLEMENT et al 2010) Aleacutem

disso a mandioca apresenta uma grande diversidade intraespeciacutefica e por essas caracteriacutesticas

tornou-se uma espeacutecie-modelo para compreender como os diferentes padrotildees e estrateacutegias de

manejo adotadas pelos agricultores podem influenciar na diversidade local (ELIAS et al 2001

EMPERAIRE PERONI 2007 EMPERAIRE ELOY 2008)

Segundo PERONI amp MARTINS (2000) as diferentes praacuteticas de manejo desse

importante recurso favorecem a alta diversidade intraespeciacutefica em roccedilas de agricultura

itinerante1 Um dos fatores responsaacuteveis pela geraccedilatildeo dessa diversidade consiste na capacidade

de incorporaccedilatildeo de novos germoplasmas por meio da reproduccedilatildeo sexuada associada ao manejo

agriacutecola tradicional (PUJOL et al 2005 EMPERAIRE PERONI 2007) Apesar de propagada

1 Agricultura caracterizada por ciclos de uso e pousio como por exemplo corte e queima

15

vegetativamente pelos agricultores a mandioca (M esculenta) ainda manteacutem a sua capacidade

de reproduccedilatildeo sexual sendo este um aspecto muito importante para dinacircmica evolutiva da

cultura (PUJOL et al 2007 CLEMENT et al 2010) Apoacutes a fecundaccedilatildeo cruzada e dispersatildeo

das sementes um banco destas eacute formado no solo e as novas variedades germinam nas roccedilas

(MARTINS 2005) Antes de serem imcorporadas ao acervo essas lsquolsquovariedades-voluntaacuteriasrsquorsquo

passam por um filtro cultural ou seja seratildeo reconhecidas pelos agricultores por meio de

caracteriacutesticas morfoloacutegicas experimentadas e entatildeo selecionadas (MARTINS OLIVEIRA

2009)

Outro evento envolvido na geraccedilatildeo de diversidade intraespeciacutefica eacute incorporaccedilatildeo de

novas variedades de mandioca por meio de uma rede social de troca de material propagativo

estabelecida entre os agricultores (CAVECHIA et al 2014) Esse mecanismo permite a

circulaccedilatildeo das manivas2 tanto a niacutevel local quanto regional permite tambeacutem o acesso aos

diferentes conjuntos de variedades cultivadas entre as comunidades e ainda que o conjunto de

etnovariedades3 locais eou regionais seja conservado (EMPERAIRE ELOY 2008) Dentro

dessas redes sociais de troca as relaccedilotildees entre os agricultores atuam como mecanismo

fundamental para dispersatildeo e experimentaccedilatildeo das etnovariedades entre as roccedilas E satildeo essas

relaccedilotildees e decisotildees estabelecidas entre os agricultores que iratildeo definir quais etnovariedades

seratildeo mantidas ao longo do tempo e quais seratildeo abandonadas (LIMA et al 2012)

Sendo os agricultores e as interaccedilotildees entre eles fundamentais para o estabelecimento da

diversidade local (PINTON EMPERAIRE 2001 EMPERAIRE ELOY 2008) torna-se

pertinente entender como as diferentes estrateacutegias adotadas pelos agricultores influenciam na

dinacircmica da agrobiodiversidade local Muitos trabalhos com esse enfoque foram desenvolvidos

nas regiotildees Amazocircnica e Sudeste mas pouco se discute sobre a dinacircmica da agrobiodiversidade

em regiotildees semiaacuteridas

Nesse sentido o presente estudo visa investigar as interaccedilotildees entre agricultores

tradicionais de comunidades rurais estabelecidas na regiatildeo semiaacuterida de Pernambuco O

objetivo geral eacute compreender os processos envolvidos na dinacircmica da diversidade agriacutecola por

meio do acesso ao conhecimento dos agricultores quanto as praacuteticas de menejo e entender quais

quais fatores podem estar relacionados a geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da diversidade local Para esse

estudo a mandioca foi escolhida como modelo devida agrave sua importacircncia econocircmica e de

subsistecircncia para comunidades locais Os objetivos especiacuteficos foram (i) caracterizar o manejo

2 Satildeo pedaccedilos das hastes ou ramas da mandioca usadas para o plantio 3 Variedades intraespeciacuteficas de mandioca (M esculenta) identificadas pelos agricultores por nomenclatura

popular local (Martins 2005)

16

da agricultura de sequeiro bem como analisar se os paracircmetros socioeconocircmicos influenciam

na diversidade local (ii) registrar as etnovariedades atualmente cultivadas e identificar os

diferentes criteacuterios morfoloacutegicos utilizados pelos agricultores para a seleccedilatildeo e classificaccedilatildeo das

etnovariedades e (iii) descrever a estrutura da rede de interaccedilatildeo entre os agricultores e a

diversidade de etnovariedades de mandioca cultivadas para tentar entender como essas relaccedilotildees

podem influenciar na manutenccedilatildeo ou perda da diversidade local

a

b c

17

2 Revisatildeo bibliograacutefica

21 Manihot esculenta Crantz e conhecimento local de agricultores tradicionais

O gecircnero Manihot Miller (Euforbiaceae) possui cerca de 98 espeacutecies distribuiacutedas em 19

seccedilotildees das quais 13 delas ocorrem no Brasil (ROGERS APPAN 1973) Dentre as espeacutecies do

gecircnero Manihot esculenta Crantz (mandioca) eacute a principal cultivar uma vez que compotildee a

base da dieta alimentar de diversas populaccedilotildees rurais principalmente em regiotildees tropicais A

mandioca foi domesticada na Ameacuterica do Sul pois eacute onde se encontra o maior centro de

diversificaccedilatildeo Estudos relacionados ao entendimento de sua origem botacircnica tecircm contribuiacutedo

para a compreensatildeo das accedilotildees humanas no processo de domesticaccedilatildeo e ampliaccedilatildeo da

diversidade da espeacutecie (OLSEN SCHAAL 1999 ELIAS et al 2004 ELLEN 2012)

As diferentes variedades da espeacutecie satildeo reconhecidas em dois grandes grupos principais

o das variedades mais toacutexicas e o de variedades menos toacutexicas baseadas no potencial de

glicosiacutedeos cianogecircnicos (HCN) contido na polpa das raiacutezes (ELIAS et al 2004) Variedades

com baixa toxicidade contecircm baixas concentraccedilotildees de glicosiacutedeos cianogecircnicos (HCNlt100

mgKg-1) e satildeo conhecidas em comunidades agriacutecolas variando entre regiotildees ou grupos eacutetnicos

como ldquomacaxeirasrdquo ldquomandiocas doces ou mansasrdquo ou ldquoaipinsrdquo As variedades mais toacutexicas

com altas concentraccedilotildees de HCN (HCNgt 100 mgKg-1) satildeo reconhecidas como ldquomandiocasrdquo

ou ldquomandiocas amargas ou bravasrdquo (PERONI et al 2007 MCKEY et al 2010) E portanto

precisam passar por um processo de desintoxicaccedilatildeo para se tornarem aptas ao consumo como

por exemplo pelo processo de fabricaccedilatildeo da farinha de mandioca (Fig 1) Apesar do seu

potencial toacutexico as variedades amargas possuem teores mais elevados de amido e se adaptam

bem a solos pobres e aacutecidos aleacutem de serem mais resistentes aos patoacutegenos e pragas em

comparaccedilatildeo com as variedades doces (FRASER et al 2010)

Sob o ponto de vista botacircnico esta dicotomia natildeo eacute reconhecida mas existem alguns

trabalhos que evidenciam a relaccedilatildeo entre a coerecircncia da taxonomia popular com a diferenciaccedilatildeo

geneacutetica para separaraccedilatildeo das variedades ldquodocesrdquo e ldquoamargasrdquo (ELIAS et al 2004 PERONI

et al 2007) O conhecimento das caracteriacutesticas morfoloacutegicas das plantas e a coerecircncia na

identificaccedilatildeo dessas variedades com niacuteveis distintos de HCN eacute de grande importacircncia

adaptativa para as populaccedilotildees que gerem esse recurso sobretudo pelo risco de intoxicaccedilatildeo

(RIVAL MCKEY 2008)

18

No estudo realizado por AMOROZO (2000) por exemplo os agricultores geralmente

classificavam as variedades que tinham raiacutezes brancas como ldquobravasrdquo e aquelas que tinham

raiacutezes vermelhas como ldquomansasrdquo embora eles reconhecessem algumas exceccedilotildees Em pesquisas

realizados por FARALDO et al (2000) MKUMBIRA et al (2003) ELIAS et al (2004) e

PERONI et al (2007) os agricultores foram consistentes na distinccedilatildeo de suas variedades

lsquolsquodocesrdquo e ldquoamargasrsquorsquo e com base no conhecimento de caracteres morfoloacutegicos distintos os

nomes das variedades refletiram na diversidade geneacutetica A partir dessas evidecircncias podemos

inferir que o conhecimento local dos agricultores associado agrave experiecircncia eacute importante natildeo

somente para o reconhecimento das variedades locais por si soacute mas tambeacutem por conter

informaccedilotildees relevantes sobre o papel que esses recursos podem desempenhar nos sistemas

agriacutecolas de pequena escala e para as populaccedilotildees locais (GADGIL et al 1993)

O conhecimento tradicional dos agricultores trata-se de um conjunto de saberes praacuteticas

e crenccedilas baseadas no contato direto nas observaccedilotildees experimentaccedilotildees diaacuterias e nas

dependecircncias econocircmicas eou de subsistecircncia dos recursos que satildeo geralmente transmitidas

oralmente dentro e entre as geraccedilotildees (AMOROZO 2000 DOMINGUES ARRUDA 2001

BEGOSSI 2004) Sendo assim o conhecimento tradicional de agricultores que praticam a

agricultura de pequena escala realizada em comunidades tradicionais eacute importante pois tem

garantido a perpetuaccedilatildeo dos conhecimentos e das praacuteticas agriacutecolas desenvolvidas durante

milhares de anos entre os agroecossistemas locais

22 Manejo tradicional em roccedilas e diversidade intraespeciacutefica da mandioca

A agricultura de pequena escala praticada em comunidades locais tem garantido a

perpetuaccedilatildeo do conhecimento sobre o manejo e a diversidade de espeacutecies agriacutecolas O sistema

de cultivo em roccedilas eacute tipicamente praticado por agricultores de comunidades tradicionais em

aacutereas uacutemidas no mundo inteiro As roccedilas satildeo aacutereas de cultivo de pequena escala localizadas

dentro de comunidades proacuteximas umas das outras que se tornaram objeto de estudo em vaacuterias

pesquisas antropoloacutegicas etnobotacircnicas geneacuteticas e ecologias especialmente por apresentarem

grande diversidade de espeacutecies cultivadas e pelo manejo destinar-se agrave subsistecircncia de grupos

familiares de agricultores de pequena escala (PUJOL et al 2007)

Aleacutem da diversidade de espeacutecies outra caracteriacutestica dessas roccedilas eacute o grande nuacutemero de

variedades dentro de cada espeacutecie Esta diversidade intraespeciacutefica pode ser referida como

etnovariedades que eacute um termo utilizado para definir grupos de indiviacuteduos identificados por

19

nomenclatura popular local a qual pode expressar elementos do contexto cultural econocircmico

e social das populaccedilotildees associado ao uso (PERONI MARTINS 2000 EMPERAIRE

PERONI 2007)

Dentre as vaacuterias espeacutecies cultivadas em roccedilas a mandioca (M esculenta) em seu

nuacutemero de etnovariedades eacute uma das principais culturas de importacircncia econocircmica e

nutricional para populaccedilotildees que utilizam esse sistema Sua diversidade pode estar relacionada

ao sistema reprodutivo da cultura ao modo de gestatildeo da agricultura pelas pressotildees de seleccedilatildeo

exercidas pelo proacuteprio homem ou ateacute mesmo por causas naturais (MARTINS 2005

CLEMENT et al 2010)

As caracteriacutesticas de manejo empregadas no cultivo da mandioca em roccedilas favorecem

a elevada diversidade intraespeciacutefica dessa cultura O modo de propagaccedilatildeo da mandioca eacute feito

pelos agricultores por meios de estacas (manivas) que satildeo selecionadas de acordo com as

caracteriacutesticas desejaacuteveis que elas apresentam seja para fins econocircmicos ou utilitaacuterios Apesar

de propagada vegetativamente que eacute um meacutetodo usado pelas populaccedilotildees humanas para plantio

e multiplicaccedilatildeo de plantas a mandioca natildeo perdeu a sua capacidade de reproduccedilatildeo sexual

sendo esse um aspecto importante para dinacircmica evolutiva da cultura (PUJOL et al 2007)

Esse meacutetodo de propagaccedilatildeo permite o fluxo e a circulaccedilatildeo do material geneacutetico entre os

diferentes roccedilados por meio de um sistema de redes sociais de troca de etnovariedade de

mandioca entre os agricultores tanto a niacutevel regional (entre comunidades) quanto em escalas

menores (entre vizinhos e parentes) (ELIAS et al 2004 EMPERAIRE OLIVEIRA 2010)

Segundo Emperaire e Peroni (2007) esse mecanismo de troca de germoplasma eacute uma grande

forccedila de dispersatildeo que resulta na agrobiodiversidade regional mais elevada pois estabelece

viacutenculos entre as diferentes roccedilas e promove oportunidades de seleccedilatildeo e cruzamento entre as

diferentes etnovariedades (EMPERAIRE ELOY 2008)

Atributo bioloacutegicos da espeacutecie tambeacutem estatildeo relacionados com o aumento da

diversidade intrespeciacutefica como a capacidade de dormecircncia das sementes e a dispersatildeo

autocoacuterica que propiciam o desenvolvimento de um banco de sementes no solo ao longo do

tempo permitindo o cruzamento entre as novas variedades adquiridasplantadas e entre estas

com variedades que existiram anterioemente na mesma aacuterea (PERONI MARTINS 2000

MARTINS 2005) A presenccedila dessas ldquoplantas-voluntaacuteriasrdquo ou seja aquelas nascidas de

germinaccedilatildeo expontacircnea eacute um dos eventos identificados como precursores de diversidade

intraespeciacutefica nas populaccedilotildees de mandioca cultivadas (PUJOL et al 2007)

20

Contudo muitos esforccedilos vecircm sendo empregados em estudos que observam a ecologia

da mandioca e o manejo agriacutecola associado agrave geraccedilatildeo de diversidade varietal e geneacutetica na

espeacutecie para tentar entender como esses mecanismos influenciam na diversidade de

etnovariedades locais e na sua dinacircmica (PUJOL et al 2007 KOMBO et al 2012 ELIAS et

al 2001)

23 Redes sociais de troca e circulaccedilatildeo de etnovariedades de mandioca

Sistemas agriacutecolas de pequena escala dependem de uma grande diversidade de espeacutecies e

variedades cultivadas e do fluxo destas por meio de redes sociais de troca material vegetativo

estabelecidas entre agricultores podendo o alcance da circulaccedilatildeo variar em escala local eou

regional (EMPERAIRE ELOY 2008) As trocas dependem de dois mecanismos principais

dos padrotildees de interaccedilatildeo social entre os agricultores e dos padrotildees de uso dos recursos

(CAVECHIA et al 2014) e as redes variam em funccedilatildeo das caracteriacutesticas culturais

econocircmicas e sociais das comunidades (EMPERAIRE PERONI 2007 PAUTASSO et al

2012)

No caso da mandioca (Manihot esculenta Crantz) a propagaccedilatildeo se da por estaquia o que

favorece a troca de material de vegetativo entre os agricultores e permite o fluxo entre

variedades locais e regionais (MARTINS 2005) As trocas de variedades de mandioca entre os

agricultores geralmente acontecem por alguma circunstacircncia que leve o agricultor a pedir o

material propagativo para o plantio com por exemplo para o plantio de uma nova roccedila ou por

alguma fitopatologia deslocaccedilatildeo ou estaccedilotildees de chuva e seca prolongadas (EMPERAIRE et

al 2001 EMPERAIRE ELOY 2008) Em alguns casos como no de algumas comunidades

agriacutecolas de pequena escala as redes de casamento satildeo utilizadas para a circulaccedilatildeo de

variedades (EMPERAIRE PERONI 2007 DELEcircTRE et al 2011)

O processo de manutenccedilatildeo da diversidade nesses sistemas resulta do interesse ou da

necessidade do agricultor em adquirir ou abandonar variedades testar e selecionar novas

etnovariedades de mandioca Dentre os fatores que dirigem a seleccedilatildeo de etnovariedades estatildeo

as preferecircncias individuais dos agricultores Alguns podem optar por cultivar todas as

etnovariedades comuns eou disponiacuteveis na regiatildeo enquanto que outros optam apenas por

manter um conjunto especiacutefico dessa diversidade (CAVECHIA et al 2014) Seja para atender

a alguma demanda individual pelo interesse em aumentar a produtividade ou pela necessidade

21

de conservar o material vegetativo para o proacuteximo plantio no caso de perda de material por

algum fator ambiental adverso (EMPERAIRE et al 2001 EMPERAIRE ELOY 2008)

Nesse sentido satildeo os agricultores os maiores responsaacuteveis por determinar como e quais

etnovariedades seratildeo compartilhadas e mantidas entre as comunidades (PAUTASSO et al

2012) E a chave para a compreensatildeo da dinacircmica da diversidade varietal eacute por meio desse

intercacircmbio e dos fatores que influenciam essa conectividade entre as comunidades pois essas

redes representam um grande impacto sobre a diversidade de variedades cultivadas E eacute por

meio dessas redes que se diminui coletivamente os riscos de perda total de diversidade geneacutetica

local (EMPERAIRE ELOY 2008)

Desse modo as relaccedilotildees estabelecidas pelos agricultores entre as comunidades por meio

das redes troca de germoplasma podem ter consequecircncias importantes sobre a diversidade

varietal da mandioca E compreender os processos envolvidos na manutenccedilatildeo ou perda de

germoplasma nos sistemas agriacutecolas eacute importante uma vez que compreendendo a maneira

como os agricultores usam esse conjunto de etnovariedades de mandioca e as compartilham

vai trazer importantes discussotildees a cerca da qualidade e a quantidade do recurso que seraacute

mantido transmitido ou perdido dentro dos sistemas ao longo do tempo

22

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25

VARIACcedilAtildeO INTRAESPECIacuteFICA CONHECIMENTO E MANEJO

LOCAL DE MANDIOCA (Manihot esculenta Crantz) NO SEMIAacuteRIDO DE

PERNAMBUCO NORDESTE DO BRASIL

Artigo submetido ao perioacutedico Human Ecology

Normas para submissatildeo em anexos

26

Variaccedilatildeo intraespeciacutefica conhecimento e manejo local de mandioca 1

(Manihot esculenta Crantz) no semiaacuterido de Pernambuco Nordeste do 2

Brasil 3

Mirela Nataacutelia Santos12 Jhonatan Rafael Zaacuterate-Salazar1 Reginaldo de Carvalho1 amp 4

Ulysses Paulino de Albuquerque2 5

6

1 Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo em Botacircnica Departamento de Biologia Rua Dom Manuel de Medeiros 7

Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) sn Dois Irmatildeos Recife Pernambuco 52171-8

900 Brasil 9

2 Laboratoacuterio de Ecologia e Evoluccedilatildeo de Sistemas Socioecoloacutegicos (LEA) Departamento de Botacircnica 10

Avenida Professor Moraes Rego Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) sn Cidade 11

Universitaacuteria Recife Pernambuco 50670-901 Brasil 12

Resumo 13

Historicamente a espeacutecie Manihot esculenta Crantz (mandioca) eacute uma espeacutecie de grande valor 14

econocircmico e de subsistecircncia para populaccedilotildees em comunidades tradicionais Variedades de 15

mandioca satildeo selecionadas com base nos interesses dos agricultores conduzindo uma evoluccedilatildeo 16

especiacutefica sobre a geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da agrobiodiversidade local Diante disso a mandioca 17

tornou-se espeacutecie-modelo em estudos que buscam compreender como os padrotildees e estrateacutegias 18

adotadas pelas populaccedilotildees humanas influenciam na diversidade intraespeciacutefica local em regiotildees 19

tropicais No entanto os fatores que influenciam a diversidade da mandioca em regiotildees 20

semiaacuteridas ainda natildeo foram bem documentados Nesse sentido objetivo geral do estudo foi 21

compreender os processos envolvidos na dinacircmica da diversidade agriacutecola em sete 22

comunidades tradicionais localizadas na regiatildeo semiaacuterida do estado de Pernambuco (Nordeste 23

do Brasil) por meio do acesso ao conhecimento dos agricultores quanto as praacuteticas de menejo 24

para tentar quais quais fatores podem estar relacionados a geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da diversidade 25

local Com os resultados da anaacutelise de redes verificamos uma alta diversidade de 26

etnovariedades cultivadas e a sua composiccedilatildeo eacute determinada pelas preferecircncias e 27

comportamentos individuais dos agricultores que foram provavelmente os mecanismos 28

27

responsaacuteveis pelo surgimento da estrutura aninhada observada na anaacutelise rede Esse padratildeo 29

aninhado contribui na conservaccedilatildeo das etnovariedades mais comuns mas tambeacutem pode resultar 30

em perda daquelas de menor frequecircncia ao longo do tempo 31

Palavras-Chave Agricultura tradicional Agricultura de sequeiro Agrobiodiversidade 32

Etnobiologia Plantas alimentiacutecias 33

34

Introduccedilatildeo 35

Historicamente as populaccedilotildees humanas foram acumulando conhecimentos sobre 36

praacuteticas da agricultura desenvolvendo teacutecnicas adaptadas ao meio natural e assim foram 37

domesticando uma grande variedade de cultivos alimentares para garantirem a sua 38

sobrevivecircncia (Balleacute 2006 Clement et al 2010) Essa interaccedilatildeo pessoas-plantas por meio do 39

cultivo e manejo das espeacutecies vegetais considerando tanto os aspectos sociais quanto naturais 40

dos sistemas dinacircmicos eacute uma importante ferramenta para o entendimento do conhecimento 41

dos agricultores sobre os agroecossistemas locais ( Alcorn 1995) 42

Aleacutem disso essas interaccedilotildees vem contribuindo com alteraccedilotildees nas populaccedilotildees vegetais 43

por meio da seleccedilatildeo artificial Essas alteraccedilotildees resultaram em mudanccedilas na estrutura geneacutetica 44

dessas populaccedilotildees que satildeo determinadas geralmente pela seleccedilatildeo de caracteriacutesticas fenotiacutepicas 45

fisioloacutegicas eou econocircmicas das plantas refletidas em classificaccedilotildees e nomenclaturas 46

especiacuteficas baseadas em percepccedilotildees individuais (Carmona amp Casas 2005) 47

Muitos pesquisadores tentam explicar o papel dos agricultores de pequena escala na 48

seleccedilatildeo classificaccedilatildeo e manutenccedilatildeo da agrobiodiversidade local em roccedilas tradicionalmente 49

manejas em regiotildees uacutemidas (Emperaire amp Peroni 2007 Emperaire amp Eloy 2008 Marchetti et 50

al 2013) Essas roccedila satildeo aacutereas de cultivo caracterizadas por conter uma alta diversidade 51

intraespeciacutefica de espeacutecies (Martins 2005) Dentre elas a Manihot esculenta Crantz 52

28

(mandioca) Euphorbiaceae em sua diversidade de etnovariedades eacute a espeacutecie mais importante 53

sob ponto de vista econocircmico e de subsistecircncia para as populaccedilotildees locais e mais cultivada 54

devido a sua grande adaptabilidade ambiental e baixos custos de gestatildeo (Elias et al 2001) 55

A alta diversidade da mandioca nessas aacutereas pode ser atribuiacuteda agrave possibilidade de 56

introduccedilatildeo de novas variedades via reproduccedilatildeo sexuada associada a ecologia da espeacutecie Esse 57

mecanismo permite o fluxo gecircnico entre as variedades de mandioca cultivadas do mesmo local 58

e entre estas com variedades de locais vizinhos (Pujol et al 2007) Outro mecanismo que 59

favorece essa diversidade eacute agrave circulaccedilatildeo de material propagativo por meio redes sociais de troca 60

variedades entre os agricultores (Pujol et al 2005 Emperaire amp Peroni 2007 Clement et al 61

2010) Esse mecanismo de troca eacute fundamental para o estabelecimento de interaccedilotildees entre as 62

diferentes aacutereas de roccedila promovendo oportunidade de seleccedilatildeo e cruzamento entre os diferentes 63

conjuntos de variedades aleacutem de permitir que este conjunto seja conservado (Emperaire amp Eloy 64

2008) 65

Diante desse cenaacuterio podemos observar que a agrobiodiversidade local natildeo eacute fruto 66

apenas de fatores naturais mas eacute tambeacutem influenciada pelas caracteriacutesticas culturais e 67

socioeconocircmica das populaccedilotildees locais refletidas especialmente no conhecimento e manejo 68

local Nesse sentido o presente estudo visa investigar as interaccedilotildees entre agricultores 69

tradicionais de comunidades rurais estabelecidas na regiatildeo semiaacuterida de Pernambuco 70

O objetivo geral eacute compreender os processos envolvidos na dinacircmica da diversidade 71

agriacutecola por meio do acesso ao conhecimento dos agricultores quanto as praacuteticas de menejo e 72

entender quais quais fatores podem estar relacionados a geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da diversidade 73

local Para esse estudo a mandioca foi escolhida como modelo devida agrave sua importacircncia 74

econocircmica e de subsistecircncia para comunidades locais Os objetivos especiacuteficos foram (i) 75

caracterizar o manejo da agricultura de sequeiro bem como analisar se os paracircmetros 76

socioeconocircmicos influenciam na diversidade local (ii) registrar as etnovariedades atualmente 77

29

cultivadas e identificar os diferentes criteacuterios morfoloacutegicos utilizados pelos agricultores para a 78

seleccedilatildeo e classificaccedilatildeo das etnovariedadese (iii) descrever a estrutura da rede de interaccedilatildeo entre 79

os agricultores e a diversidade de etnovariedades de mandioca cultivadas para tentar entender 80

como essas relaccedilotildees podem influenciar na manutenccedilatildeo ou perda da diversidade local 81

Material e meacutetodos 82

Aacutereas de estudo 83

Amostramos sete comunidades rurais estabelecidas na regiatildeo semiaacuterida de 84

Pernambuco Nordeste do Brasil Uma das comunidades (Caratildeo) pertence ao Municiacutepio de 85

Altinho (ldquo8deg 29rsquo 10rdquo S e 36deg 03rsquo 49rdquo W) e as demais (Satildeo Joseacute do Bola Brejo velho 86

Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima Lajedo Dantas e Aracuatilde) ao Municiacutepio de 87

Panelas (8 deg 39 48 S e 36 deg 01 23 W) (Fig 2) 88

O modelo agriacutecola adotado na regiatildeo segue o sistema tradicional de sequeiro4 e todas 89

as comunidades em estudo possuem histoacuterico de cultivo de mandioca (M esculenta) As aacutereas 90

de cultivo satildeo estabelecidas por unidade familiar e as atividades satildeo realizadas em sua maioria 91

por homens tendo cada agricultor cerca de um a dois hectares de aacuterea para plantio Aleacutem da 92

mandioca os cultivos mais utilizados na comunidades satildeo milho (Zea mays) e feijatildeo (Phaseolus 93

sp) 94

Para os membros das comunidades a produccedilatildeo da farinha de mandioca (Fig 3) eacute uma 95

das atividades agriacutecolas mais importantes tanto pelo seu papel na dieta alimentar quanto pela 96

importacircncia social e econocircmica 97

Caracteriacutesticas das comunidades do estudo 98

A comunidade do Caratildeo localiza-se sob domiacutenio de Caatinga caracterizado por climas 99

quentes e secos com regimes escassos de chuvas correspondente ao tipo BSrsquoh segundo a 100

4 Eacute o cultivo praticado sem irrigaccedilatildeo em regiotildees onde a pluviosidade eacute diminuta

30

classificaccedilatildeo climaacutetica de Koumlppen A vegetaccedilatildeo eacute composto por espeacutecies perenes que 101

conseguem sobreviver mesmo em periacuteodos de seca e espeacutecies anuais que aparecem apenas em 102

periacuteodos com chuva (Cruz et al 2013) 103

De acordo os dados de precipitaccedilatildeo do Laboratoacuterio de Anaacutelise e Processamento de 104

Imagens de Sateacutelites (LAPIS) no ano de 2012 foi registrada a menor meacutedia anual de 105

precipitaccedilatildeo dos uacuteltimos 10 anos para essa regiatildeo (3784 mm) Essa realidade ambiental quando 106

comparada com estudo realizado por de Sieber e colaboradores (2011) na mesma comunidade 107

observa-se que houve uma diminuiccedilatildeo considerada das praacuteticas agriacutecolas realizadas pelos 108

membros da comunidade culminando em uma seacuterie de prejuiacutezos aos agricultores como a perda 109

de plantaccedilotildees e animais Essa perda de produtividade afetou a estrutura econocircmica da 110

comunidade uma vez que a principal fonte de subsistecircncia das famiacutelias eacute a agricultura 111

Associada as atividades agriacutecolas os moradores complementam a dieta e a renda 112

familiar com a venda dos excedentes da produccedilatildeo em feiras-livres ou centros comerciais da 113

regiatildeo (Cruz et al 2013) E com a pecuaacuteria de pequena escala bovina caprina e com avicultura 114

No entanto a diminuiccedilatildeo da forragem natural e cultivada causada pela escassez de chuvas 115

associada aos elevados custos envolvidos na compra de raccedilatildeo levou muitos animais agrave morte 116

(Fig 4) 117

No Municiacutepio de Altinho a comunidade do Caratildeo foi inicialmente escolhida devido ao 118

reconhecimento preacutevio do registro de agricultores realizado em estudos desenvolvidos pelo 119

nosso grupo de pesquisa facilitando assim o acesso agraves informaccedilotildees necessaacuterias para o 120

desenvolvimento da pesquisa 121

As comunidades Aracuatilde Brejo Velho Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima 122

Lajedo Dandas e Satildeo Joseacute do Bola amostradas no estudo pertencem ao Municiacutepio de Panelas 123

que se limita ao Norte com o Municiacutepio de Altinho Essas comunidades estatildeo localizadas em 124

31

no domiacutenio morfoclimaacutetico de Caatinga O clima eacute do tipo semiaacuterido Bsrsquoh segundo a 125

classificaccedilatildeo climaacutetica de Koumleppen 126

A maior parte dos membros dessas comunidades assim como no Caratildeo tecircm como 127

principal fonte de subsistecircncia a agricultura de sequeiro principalmente o cultivo da mandioca 128

(Fig 5) Como renda extra a pecuaacuteria de pequeno porte com criaccedilatildeo bovina caprina e 129

avicultura sendo os excedentes dos alimentos produzidos vendidos em feiras locais ou para 130

escolas 131

As atividades agriacutecolas entre as comunidades tambeacutem foram duramente afetadas pela 132

seca na regiatildeo nos uacuteltimos anos A escassez de chuvas desestimulou o plantio a produccedilatildeo de 133

mandioca foi fortemente comprometida e a colheita foi adiada devido ao subdesenvolvimento 134

das raiacutezes gerando impactos econocircmicos para os membros das comunidades 135

As comunidades amostradas neste muniacutecipio foram escolhidas em funccedilatildeo das 136

indicaccedilotildees dos agricultores entrevistados a princiacutepio na comunidade do Caratildeo que reportaram 137

manter viacutenculos sociais com os agricultores do municiacutepio vizinho 138

Coleta de dados 139

Acessamos as comunidades com a ajuda de um liacuteder comunitaacuterio (Alexandre O 140

Nascimento) em companhia de outros pesquisadores que desenvolviam pesquisas na regiatildeo 141

Previamente as entrevistas todos objetivos e procedimentos para a realizaccedilatildeo da pesquisa foram 142

apresentados aos entrevistados e todos que aceitaram participar foram convidados a assinar um 143

Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) de acordo com a Resoluccedilatildeo 46612 do 144

Conselho Nacional de Sauacutede concordando com a realizaccedilatildeo das entrevistas e avaliaccedilotildees 145

morfoloacutegicas em campo O presente trabalho foi submetido ao Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa da 146

Universidade de Pernambuco (UPE) 147

32

Em todas as comunidades o meacutetodo de acesso ao informante foi o mesmo a partir do 148

primeiro contato com um informante-chave identificamos outros potenciais agricultores 149

seguindo a teacutecnica de ldquobola de neverdquo (Albuquerque et al 2014a) Esse meacutetodo consistiu na 150

amostragem intencional dos participantes e nesse particular os agricultores chefes de famiacutelia 151

(ge 18 anos) da regiatildeo que declararam cultivar mandioca (M esculenta) em suas roccedilas 152

Reunimos informaccedilotildees socioeconocircmicas desses agricultores tais como nome idade gecircnero 153

escolaridade renda experiecircncia na agricultura e tamanho da aacuterea de cultivo para tentar 154

identificar se esses paracircmetros socioeconocircmicos tecircm uma relaccedilatildeo com a agrobiodiversidade 155

local 156

Em seguida conduzimos entrevistas semiestruturadas (Albuquerque et al 2014b) com 157

o objetivo de caracterizar o modo de vida dos agricultores o manejo da agricultura bem como 158

obter dados sobre o conhecimento uso e caracterizaccedilatildeo das etnovariedades de mandioca 159

5cultivadas Aleacutem disso neste momento tambeacutem aplicamos a teacutecnica da lista livre 160

(Albuquerque et al 2014b) a fim de registrar as variedades de mandioca atualmente cultivadas 161

pelos agricultores e identificar as de maior importacircncia local Apoacutes as entrevistas realizamos 162

visitas aos roccedilados para o registro fotograacutefico georreferenciamento das roccedilas e caracterizaccedilatildeo 163

morfoloacutegica das variedades cultivadas 164

Entrevistamos 50 agricultores no total distribuiacutedos nas sete comunidades Caratildeo (3) 165

Satildeo Joseacute do Bola (10) Brejo velho (7) Japaranduba de Baixo (7) Japaranduba de Cima (8) 166

Lajedo Dantas (9) e Aracuatilde (6) Destes 10 satildeo mulheres e 40 homens com idade variando entre 167

31 e 82 anos A maioria dos entrevistados natildeo apresentava instruccedilatildeo formal (46) mais da 168

metade eram aposentados (56) e os demais apresentaram renda inferior a um salaacuterio miacutenimo 169

5 Entende-se por etnovariedade de mandioca o conjunto de variedades intraespeciacuteficas de mandioca (M esculenta)

reconhecidas pelos agricultores por nomenclatura popular local (Peroni 2004)

33

O tempo meacutedio de experiecircncia na agricultura foi de 40 anos Cada agricultor possui entre um e 170

dois roccedilados (aacuterea de plantio) com aproximadamente um a dois hectares 171

Redes de interaccedilatildeo social 172

Confeccionamos a rede que descreve as interaccedilotildees entre os agricultores e as 173

etnovariedades cultivadas a partir de uma matriz de incidecircncia R (presenccedilaausecircncia) onde nas 174

linhas estavam as etnovariedades de mandioca cultivadas (j) e nas colunas os agricultores locais 175

(i) O elemento Rij dessa matriz foi 1 (um) no caso de a etnovariedade j ser cultivada pelo 176

agricultor i caso contraacuterio seria atribuiacutedo 0 (zero) As interaccedilotildees entre os agricultores e as 177

etnovariedades foram descritas em dois modos (Pires et al 2011) onde os ldquonoacutesrdquo da esquerda 178

representam os agricultores que foram vinculados aos ldquonoacutesrdquo da direita representados pelas 179

etnovariedades citadas durante as entrevistas Esses ldquonoacutesrdquo seriam o espelho das decisotildees dos 180

agricultores em manter um determinado conjunto local de etnovariedades em suas roccedilas 181

Avaliamos a estrutura da rede que conecta os agricultores agraves etnovariedades cultivadas 182

a partir de trecircs cenaacuterios hipoteacuteticos (Fig 6) segundo Cachevia et al (2014) No primeiro se os 183

agricultores apresentassem diferentes graus de seletividade para a utilizaccedilatildeo de suas 184

etnovariedades a estrutura seria aninhada (Fig 6a) Isso significa que alguns agricultores 185

cultivam vaacuterias etnovariedades enquanto que outros cultivam o subconjunto mais 186

disponiacutevelcomum dessas etnovariedades Em segundo lugar se a rede apresentasse uma 187

estrutura modular (Fig 6b) significaria que os agricultores apresentam semelhanccedila na seleccedilatildeo 188

do recurso ou seja subgrupos de agricultores cultivam subgrupos distintos de etnovariedades 189

regionalmente disponiacuteveiscomuns E o terceiro se os agricultores natildeo apresentassem 190

preferecircncias quanto a seleccedilatildeo das etnovariedades entatildeo a rede apresentaria uma estrutura 191

aleatoacuteria (Fig 6c) 192

O objetivo da anaacutelise de rede nesse estudo foi tentar entender se o conjunto de 193

etnovariedades presentes no local do estudo constituem uma subamostra de um conjunto mais 194

34

amplo no caso de um alto grau de aninhamento ou se a sua composiccedilatildeo eacute determinada por 195

variaacuteveis locais (Ulrich 2008) Onde as conexotildees entre os informantes e as etnovariedades 196

representam as decisotildees dos agricultores de manter um conjunto determinado de variedades de 197

mandioca dentre as comunidades Esta anaacutelise tambeacutem nos permitiu identificar quais os nuacutecleos 198

de etnovariedades que apresentam maior conexatildeo com os diferentes perfis dos agricultores 199

Diversidade fenotiacutepica 200

Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 201

Apoacutes as entrevistas buscamos identificar quais os caracteres morfoloacutegicos considerados 202

mais importantes para a diferenciaccedilatildeo das etnovariedades de mandioca a partir do seguinte 203

questionamento ldquoQuais as diferenccedilas que vocecirc reconhece para separar uma qualidade de 204

mandioca (variedade) de uma outrardquo Assim os agricultores mencionaram quais os criteacuterios 205

mais importantes utilizados para a caracterizaccedilatildeo de suas etnovariedades 206

Compilamos uma listagem dessas caracteriacutesticas baseada nas indicaccedilotildees dos 207

agricultores e a partir delas selecionamos os caracteres morfoloacutegicos mais citados para a 208

caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica ldquoin siturdquo tais como cor da folha (cor da folha desenvolvida) olho 209

(cor do broto foliar) cor do talo (cor do peciacuteolo) maniva (cor externa do caule) embriatildeo 210

(protuberacircncia da cicatriz foliar) cor da entrecasca (coacutertex da raiz) e cor miolo (polpa da raiz) 211

(Tabela 1) O objetivo dessa caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica foi indicar como estaacute distribuiacuteda a 212

variaccedilatildeo fenotiacutepica das etnovariedades de mandioca nas comunidades na regiatildeo semiaacuterida de 213

Pernambuco bem como identificar que caracteriacutesticas satildeo mais importantes para distinguir 214

esses grupos no intuito de tentar entender como os agricultores classificam suas variedades de 215

mandioca 216

Nas sete comunidades para cada etnovariedade citada no roccedilado caracterizamos ldquoin 217

siturdquo trecircs indiviacuteduos de M esculentade de cada uma totalizando 171 indiviacuteduos (Aracuatilde=11 218

35

Caratildeo=4 Satildeo Joseacute do Bola=13 Brejo Velho=16 Japaranduba de Baixo=6 Japaranduba de 219

Cima=3 e Lajedo Dantas=4) Fotografamos e avaliamos todos os indiviacuteduos com base em parte 220

dos descritores morfoloacutegicos seguindo recomendaccedilotildees de Fukuda amp Guevara (1998) e aleacutem 221

disso georreferenciamos todas as aacutereas de roccedila 222

Anaacutelise dos dados 223

Analisamos os dados socioeconocircmicos das entrevistas semiestruturadas por meio de 224

estatiacutestica descritiva para explicar os aspectos da realidade econocircmica e social dos agricultores 225

Para identificar se a diversidade intraespeciacutefica da mandioca cultivada localmente eacute 226

influenciada por paracircmetros socioeconocircmicos utilizamos o coeficiente de correlaccedilatildeo de 227

Spearman (Ple005) (Sokal amp Rohlf 1995) 228

Com base na lista livre das variedades de mandioca cultivadas pelos agricultores 229

calculamos a frequecircncia de citaccedilatildeo o ranking e o iacutendice de saliecircncia com o objetivo de 230

identificar quais as mais importantes ou preferidas para as comunidades O iacutendice de saliecircncia 231

considerou a frequecircncia de citaccedilatildeo e o ranking referente ao posicionamento das variedades 232

dentro das listas livres (Thompson amp Juan 2006) As etnovariedades mais citadas e com maior 233

valor de saliecircncia representam as de maior importacircncia ou preferecircncia para as comunidades 234

Anaacutelise de rede 235

Medimos o grau de aninhamento (NODF) para investigar a estrutura de rede de 236

interaccedilatildeo social dos agricultores em funccedilatildeo das variedades cultivadas As matrizes altamente 237

aninhadas apresentam NODF tendendo a 1 caso contraacuterio tentem a ser 0 238

Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 239

Para o estudo das semelhanccedilas e diferenccedilas fenotiacutepicas entre as variedades de mandioca 240

ldquoin siturdquo realizamos anaacutelises multivariadas para identificar possiacuteveis grupos de variedades que 241

compartilham semelhanccedilas entre si 242

36

A anaacutelise de correspondecircncia muacuteltipla (MCA) permitiu identificar como as variedades 243

de mandioca estatildeo ordenadas em funccedilatildeo dos seus descritores etnobotacircnicos As etnovariedades 244

foram plotadas ao longo um plano cartesiano bi ou tridimensional onde a variaccedilatildeo total eacute 245

explicada pelos dois primeiros eixos Complementar a esta anaacutelise realizamos a anaacutelise de 246

agrupamento hieraacuterquico (Cluster) para identificar como estatildeo agrupadas as etnovariedades de 247

acordo seus descritores Conferimos a consistecircncia do dendrograma com coeficiente de 248

correlaccedilatildeo cofeneacutetica conforme Sneath amp Sokal (1973) que quantifica se a correlaccedilatildeo entre a 249

matriz de distacircncias originais e a matriz de distacircncias cofeneacuteticas eacute representativa Para 250

mensurar as dissimilaridades entre as variedades de mandioca foi utilizada a distacircncia 251

euclidiana e com o meacutetodo de Ward 252

Softwares utilizados 253

Para a anaacutelise da lista livre usamos o software ANTROPAC versatildeo 10 O software 254

ANINHADO 30 (Guimaratildees amp Guimaratildees 2006) foi usado para medir o grau de aninhamento 255

da rede Utilizamos o software estatiacutestico R (R core team 2017) para a anaacutelise de correlaccedilatildeo 256

de Spearman com o pacote corrplot (Wei amp Simko 2013) o desenho da rede que descreve a 257

interaccedilatildeo entre os agricultores e as etnovariedades com o pacote bipartite (Dormann et al 258

2017) E com os pacotes FactoMineR (LEcirc et al 2008) factoextra (Kassambara et al 2016) e 259

vegan (Oksanen et al 2017) foram realizadas as anaacutelises de cluster de correspondecircncia 260

muacuteltipla (MCA) e de correlaccedilatildeo coefeneacutetica respectivamente 261

Resultados 262

As diferentes etnovariedades de mandioca encontradas no estudo suprem a demanda 263

local por alimento enquanto outras atendem agraves preferecircncias individuais ou do comeacutercio As 264

variedades que possuem maior rendimento e a farinha produzida apresenta coloraccedilatildeo branca 265

satildeo as de maior valor comercial para os agricultores devido agraves preferecircncias do mercado Jaacute 266

37

outras variedades que satildeo mais moles e apresentam coloraccedilatildeo amarelada natildeo satildeo empregadas 267

na produccedilatildeo de farinha mas sim consumidas cozidas ou assadas A depender da demanda local 268

os agricultores intencionalmente aumentam ou diminuem a frequecircncia de suas variedades nos 269

roccedilados seja por alguma exigecircncia do comeacutercio ou para consumo familiar 270

Nas comunidades os agricultores separam suas variedades de mandioca em dois grupos 271

como observado em outras comunidades na mata Atlacircntica por Emperaire e Peroni (2007) o 272

das ldquomacaxeirasrdquo que satildeo as variedades exploradas basicamente para o consumo familiar sem 273

processo preacutevio de desintoxicaccedilatildeo cujas raiacutezes satildeo consumidas fritas eou cozidas Sendo 274

utilizadas tambeacutem como complemento na dieta dos animais E o grupo das ldquomandiocasrdquo que 275

satildeo as variedades que necessitam de processo preacutevio de desintoxicaccedilatildeo para o consumo 276

utilizadas comumente para a produccedilatildeo de farinha de mandioca Para os agricultores as 277

ldquomandiocasrdquo possuem maior valor comercial pois apresentam maior rendimento e 278

rentabilidade pois a farinha produzida eacute branca e atende as preferencias do comercio local 279

Aleacutem da farinha outros produtos e subprodutos produzidos dentre os quais foram citados 280

ldquotapioca ou gomardquo ldquobijurdquo ou ldquobolo de mandiocardquo satildeo utilizados para o consumo proacuteprio ou 281

eventual comercializaccedilatildeo 282

Os informantes natildeo possuiacuteam conhecimento sobre a origem dos nomes das variedades 283

de mandioca Quanto a compreensatildeo da geraccedilatildeo da diversidade intraespeciacutefica identificamos 284

que apesar de 66 dos agricultores citarem que conhecem variedades fruto de germinaccedilatildeo de 285

suas sementes nenhum deles utiliza as manivas para o plantio por essas variedades de 286

mandioca ldquovoluntaacuteriasrdquo natildeo apresentarem bom rendimento 287

Observamos que existe uma baixa correlaccedilatildeo entre a diversidade de variedades 288

atualmente cultivadas e as variaacuteveis socioeconocircmicas como no caso do nuacutemero de roccedilados 289

(r=028 Ple005) e do tamanho do roccedilado (r=033 Ple005) (Fig 7) Essa baixa correlaccedilatildeo pode 290

38

ser explicada pelo fato de existirem grupos de agricultores que preferem manter as variedades 291

de maior valor econocircmico e de subsistecircncia mesmo com aacutereas maiores de cultivo 292

Verificamos tambeacutem uma correlaccedilatildeo positiva moderada entre o nuacutemero de variedades 293

conhecidas com o nuacutemero de variedades atualmente cultivadas (r=054 Ple005) Na lista livre 294

foram identificadas 22 etnovariedades de mandioca cultivadas (132 citaccedilotildees no total) sendo 295

oito dessas mais citadas com maiores valores de saliecircncia (entre 047 e 0082) (Tabela 2) As 296

etnovariedades ldquoMacaxeira Rosardquo e ldquoMandioca Isabel de Souzardquo exibiram os maiores valores 297

de saliecircncia 047 e 037 respectivamente Logo essas variedades satildeo as mais conhecidas 298

dentro das comunidades com 66 e 48 das citaccedilotildees respectivamente 299

Dentre as etnovariedades citadas 12 foram idiossincraacuteticas pois apresentaram menor 300

frequecircncia de citaccedilatildeo e menores valores de saliecircncia (entre 0032 e 0006) (Tabela 2) 301

Redes de interaccedilatildeo social 302

A rede apresentou uma estrutura aninhada com grau de aninhamento significativamente 303

superior aos modelos nulos (N=3072 Plt0001) para as comunidades sendo um nuacutecleo de 304

etnovariedades altamente conectado aos agricultores (Fig 8) A estrutura aninhada nos permite 305

inferir que existe um grupo de agricultores que cultiva uma maior diversidade de etnovariedades 306

de mandioca em suas roccedilas enquanto que outro subgrupo que tem menor diversidade cultivam 307

as mais comuns ou disponiacuteveis (Cavechia et al 2014) Isso significa que os agricultores locais 308

mesmo em diferentes comunidades cultivam um nuacutecleo de etnovariedades comum entre eles 309

(n=6 Tabela 2) 310

Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 311

Observamos que a maioria dos indiviacuteduos de mandioca satildeo caracterizados por meio de 312

um conjunto de sete caracteres morfoloacutegicos os quais foram citados pelos agricultores como 313

mais importantes para a caracterizaccedilatildeo de suas variedades Nas visitas aos roccedilados registramos 314

39

as etnovariedades atualmente cultivadas e a tabela 3 fornece a lista completa com as 17 315

etnovariedades de mandioca e o local de registro 316

Por meio da anaacutelise de correspondecircncia muacuteltipla as variedades de mandioca foram 317

ordenadas em funccedilatildeo de seus descritores ao longo do primeiro e segundo eixo correspondentes 318

a 3680 da variacircncia total (Fig 9) 319

As variaacuteveis mais correlacionadas e que agruparam as variedades de mandioca no 320

primeiro eixo foram cor da folha desenvolvida (CFD) (r= 07239 Ple0001) cor do coacutertex da 321

raiz (CDR) (r= 06473 Ple0001) cor do broto foliar (CBF) (r= 06880 Ple0001) cor do peciacuteolo 322

(CDP) (r= 05250 Ple005) cor externa do caule (CEC) (r= 06883 Ple005) cor da polpa da 323

raiz (PDR) (r= 02473 Ple005) Para o segundo eixo as variaacuteveis correlacionadas foram cor 324

da folha desenvolvida (CFD) (r= 07220 Ple0001) cor externa do caule (CEC) (r= 08718 325

Ple0001) e cor do peciacuteolo (CDP) (r= 06927 Ple005) 326

O agrupamento de todas as variedades caracterizadas ldquoin siturdquo gerou uma aacutervore 327

hieraacuterquica (dendrograma) (Fig 9) utilizando a distacircncia euclidiana seguindo o criteacuterio de 328

Ward O dendrograma gerado apresentou um coeficiente de correlaccedilatildeo cofeneacutetica r= 06780 329

indicando que existe consistecircncia com os dados originais no agrupamento quanto agrave 330

classificaccedilatildeo e estrutura de tal forma que as variedades foram agrupadas em oito classes as 331

quais foram explicadas pelas variaacuteveis mais significativas descritas na tabela 4 332

O resultado do agrupamento (utilizada a distacircncia euclidiana e com o meacutetodo de Ward) 333

observamos que as etnovariedades de mandioca caracterizadas ldquoin siturdquo foram agrupadas em 334

dois grandes agrupamentos indicados na Fig 10 pelos retacircngulos em vermelho A partir dessa 335

anaacutelise percebemos que os caracteres morfoloacutegicos selecionados pelos agricultores natildeo foram 336

suficientes para separar as variedades de macaxeira e mandioca pois em ambos os 337

agrupamentos encontramos tanto macaxeiras quanto mandiocas 338

40

As variedades da classe 1 foram identificadas pelos agricultores pela cor do peciacuteolo 339

(CDP) verde A classe 2 agrupou as etnoveriedades caracterizadas pela protuberacircncia da cicatriz 340

foliar (PCF) mais protuberante Esse descritor segundo os agricultores era identificado como 341

ldquoembriatildeordquo A classe 3 consiste apenas da variedade ldquoMandioca Pretonardquo indicada pela presenccedila 342

de cor do peciacuteolo (CDP) vermelho A classe 4 agrupou trecircs variedades caracterizadas pelos 343

agricultores pela presenccedila de cor coacutertex da raiz (CDR) rosa e cor da polpa da raiacutez (PDR) branca 344

identificadas como ldquoMacaxeira vermelhardquo ldquoMacaxeira Rosa Brancardquo ldquoMacaxeira Rosardquo As 345

variedades agrupadas na classe 5 foras as variedades de mandioca caracterizadas pelos 346

agricultores por apresentarem cor do coacutertex (CDR) da raiacutez branca A classe 6 agrupou 347

variedades identificadas pelos agricultores pela cor do broto foliar (CBF) verde A classe 7 348

consiste apenas da variedade ldquoMacaxeira Sementerdquo identificada pelos agricultores pela cor do 349

peciacuteolo (CDP) roxo e protuberacircncia da cicatriz foliar pouco proeminente Essa variedade 350

segundo os agricultores era fruto do nascimento espontacircneo no roccedilado poreacutem eles geralmente 351

natildeo utilizam essas variedades por apresentarem apenas uma raiz pequena e de baixo 352

rendimento Na classe 8 as variedades foram identificadas pelos agricultores pela cor do peciacuteolo 353

(CDP) verde amarelado e protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) pouco proeminente As 354

ldquoMandioca Isabel de Souzardquo ldquoMandioca Isabel trecircs galhosrdquo segundo os agricultores se 355

diferenciavam pelo maior nuacutemero de caules presentes na variedade ldquoIsabel trecircs galhosrdquo 356

Discussatildeo 357

As sete comunidades estudadas manejavam um nuacutemero consideraacutevel de variedades 358

locais A quantidade de etnovariedades registradas eacute proacutexima a encontrada por Bender et al 359

(2009) e Cavechia et al (2014) em comunidades na regiatildeo sul e sudeste por Oler e Amorozo 360

(2017) em uma comunidade tradicional na regiatildeo centro-oeste Poreacutem foi quantitativamente 361

inferior quando comparada a estudos como os de Elias et al (2001) e Kawa et al (2013) em 362

comunidades na regiatildeo amazocircnica pois possuiacuteam uma alta diversidade Essa alta diversidade 363

41

na regiatildeo amazocircnica pode estar relacionada com o fato de que essa regiatildeo eacute o provaacutevel centro 364

de origem da mandioca (M esculenta) (Allem 1994) 365

As etnovariedades registradas neste estudo estatildeo disponiacuteveis para a maioria dos 366

agricultores dessa regiatildeo e esse fator favorece a circulaccedilatildeo das etnovariedades entre as 367

comunidades locais Por isso haacute semelhanccedilas das etnovariedades utilizadas entre os agricultores 368

da mesma comunidade e entre comunidades vizinhas 369

Parte dos agricultores optam por manter uma alta frequecircncia de variedades mais 370

utilizadas enquanto que outros optam por manter etnovariedades de baixa frequecircncia 371

Conforme discutido por Amorozo (2013) os agricultores escolhem seu acervo de acordo com 372

as necessidades e contexto em que vivem A reduccedilatildeo da diversidade de etnoveriedades por 373

exemplo pode ser impulsionada por fatores que simplificam o sistema como a seleccedilatildeo de 374

etnovariedades para a produccedilatildeo de farinha resultando no cultivo de poucas ou ateacute de uma uacutenica 375

etnovariedade (Peroni amp Hanazaki 2002) mesmo em aacutereas maiores 376

377

Redes de interaccedilatildeo social 378

Com as anaacutelises de rede demonstramos que os agricultores de diferentes comunidades 379

em uma mesma regiatildeo efetivamente trocam variedades de mandioca entre si corroborando 380

com estudos realizados por Emperaire amp Eloy (2008) Pautasso et al (2012) e Cavechia et al 381

(2014) Nesses estudos os autores tambeacutem consideram que as trocas de etnovariedades por 382

meio da rede de intercacircmbio entre os agricultores eacute um mecanismo fundamental para a 383

manutenccedilatildeo da diversidade local 384

A visualizaccedilatildeo da rede demonstrou que entre as comunidades os agricultores 385

compartilham um nuacutecleo de etnovariedades mais utilizadas dentre as quais estatildeo as de maior 386

valor econocircmico e de subsistecircncia Essas de maior frequecircncia satildeo aquelas altamente produtivas 387

utilizadas pelos agricultores para atenderem agraves demandas de mercado por farinha e para o 388

consumo proacuteprio (Kawa et al 2013) 389

42

No entanto observamos que existe outro nuacutecleo de etnovariedades menos frequentes 390

Essas etnovariedades raras podem ser resultantes do processo de experimentaccedilatildeo ou 391

preferecircncias individuais dos agricultores Outra possiacutevel razatildeo para a baixa frequecircncia de 392

algumas etnovariedades poderia ser explicada pela variaccedilatildeo da nomenclatura pelos 393

agricultores que segundo Peroni amp Hanazaki (2002) pode ocorrer durante o processo de troca 394

e introduccedilatildeo de novas variedades aos roccedilados Ainda assim natildeo descartamos a hipoacutetese de que 395

essas etnovariedades raras possam ser provenientes do cruzamento entre variedades diferentes 396

cultivadas da mesma roccedilado ou em roccedilas vizinhas De acordo com Martins (2005) essas 397

variedades fruto de germinaccedilatildeo expentacircnea satildeo incorporadas aos roccedilados pelos agricultores 398

pela curiosidade em experimentar novas variedades agraves suas coleccedilotildees 399

Nesse estudo admitimos que optar por etnovariedades raras entre as comunidades 400

estudadas eacute um comportamento adotado por agricultores que manejam uma maior diversidade 401

corroborando com os estudos de Cavechia et al (2014) e Emperaire et al (2016) em regiotildees 402

uacutemidas Para esses autores etnovaridedades de baixa frequecircncia representam um subconjunto 403

das de alta frequecircncia cultivadas por agricultores que manteacutem a maior diversidade em seus 404

roccedilados Sendo assim inferimos que no geral entre as comunidades satildeo os agricultores 405

generalistas aqueles que cultivam maior diversidade os responsaacuteveis por incorporar novas 406

etnovariedades aos roccedilados 407

As decisotildees dos agricultores em manter o acervo direcionado principalmente para 408

atender a demanda de mercado por exemplo podem levar a uma homogeneizaccedilatildeo nas roccedilas 409

colocando em risco a manutenccedilatildeo da diversidade local (Peroni amp Hanazaki 2002) Como 410

discutido por Elias et al (2000) os agricultores que selecionam apenas um nuacutemero reduzido e 411

especiacutefico de variedades mais produtivas tendem a fazer com que as variedades menos 412

frequentes desapareccedilam ao longo do tempo Essa tendecircndia pode influenciar na capacidade de 413

43

resiliecircncia do sistema assim como dos agricultores em lidar com possiacuteveis adversidades 414

ambientais que possam ocorrer 415

Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 416

No geral os agricultores demonstraram uma tendecircncia em classificarseparar suas 417

diferentes etnovariedades de mandioca a partir da combinaccedilatildeo de um conjunto de sete 418

caracteres morfoloacutegicos distintos e de faacutecil percepccedilatildeo os quais natildeo tem relaccedilatildeo com o uso 419

como por exemplo a cores das raiacutezes caule e folhas Logo consideramos que esses caracteres 420

morfoloacutegicos podem ser considerados como uma forma de classificaccedilatildeo pelos agricultores 421

baseada na capacidade percepccedilatildeo das diferenccedilas morfoloacutegicas que cada etnovariedades 422

apresenta (Boster 1985) Estes resultados nos levam a entender que entre os agricultores o 423

conhecimento sobre a diversidade da mandioca estaacute relacionado ao conhecimento de 424

caracteriacutesticas morfoloacutegicas consistentes 425

A existecircncia de alguns fenoacutetipos comuns nos permitiu avaliar a classificaccedilatildeo da 426

consistecircncia da taxonomia popular entre os agricultores Por exemplo as etnovariedades 427

ldquoMaxaceira Rosardquo e ldquoMacaxeira Rosa Brancardquo e ldquoMacaxeira vermelhardquo foram agrupadas no 428

mesmo cluster (C4) por apresentaram fenoacutetipos semelhantes Notamos que os agricultores 429

classificaram essas variedades de acordo com os traccedilos morfoloacutegicos mais relevantes como a 430

cor do coacutertex da raiz rosa e cor branca da polpa O mesmo ocorreu com as etnovariedades 431

ldquoMandioca varudardquo ldquoMandioca campina da granderdquo e ldquoMandioca campinardquo caracterizadas 432

pela presenccedila do peciacuteolo verde agrupadas no cluster (C1) 433

A partir dessas evidecircncias consideramos a hipoacutetese de que as variedades mesmo 434

apresentando caracteriacutesticas morfoloacutegicas muito semelhantes estatildeo sujeitas a variaccedilatildeo 435

nomenclatural durante o processo a incorporaccedilatildeo aos roccedilados pelos agricultores pois a 436

capacidade para distinguir e nomear variedades entre os agricultores da mesma regiatildeo pode 437

variar (Sambatti et al 2001 Elias et al 2001 Mekbib 2007) Consideramos tambeacutem que pode 438

44

existir variaccedilatildeo geneacutetica entre os indiviacuteduos identificados por um mesmo nome ou entatildeo que 439

os agricultores datildeo o mesmo nome para variedades diferentes E esta situaccedilatildeo pode levar a uma 440

superestimaccedilatildeo ou subestimaccedilatildeo da diversidade de mandioca cultiva nas aacutereas de estudo 441

Sabemos que a mandioca eacute propagada vegetativamente pelos agricultores por meio de 442

estacas em sistemas de agricultura tradicional No entanto alguns variedades produzem flores 443

e sementes que germinam e podem originar outras variedades ou outros clones por meio de 444

fecundaccedilatildeo cruzada (Elias et al 2001) Nesse contexto a etnovariedade ldquoMacaxeira Sementerdquo 445

presente no cluster (C7) trata-se de um uacutenico indiviacuteduo amostrado em uma roccedila de um dos 446

agricultores Esta apresentava algumas caracteriacutesticas morfoloacutegicas distintas das demais 447

reconhecidas pelo agricultor como por exemplo a produccedilatildeo de uma raiz uacutenica e 448

consequentemente de baixo rendimento Encontramos apenas um indiviacuteduo dessa 449

etnovariedade e nossa hipoacutetese de que esta poderia ter sido originada da germinaccedilatildeo da 450

semente mesmo quando 100 dos informantes declararam natildeo dar qualquer importacircncia e 451

descartar essas ldquovariedades-voluntaacuteriasrdquo foi confirmada pelo agricultor que afirmou que se 452

tratava de uma variedade nascida da germinaccedilatildeo da semente Esse comportamento vai de 453

encontro ao estudo de Fraser et al (2012) pois apesar dos agricultores reportarem nas 454

entrevistas que conhecem essas ldquovariedades-voluntaacuteriasrdquo nenhum agricultor faz o uso delas 455

Peroni et al (1999) e Agre et al (2016) analisando morfologicamente as variedades 456

locais de mandioca mantidas por agricultores em sistemas agriacutecolas tropicais tambeacutem 457

demonstraram que os agricultores satildeo coerentes quanto a separaccedilatildeo e identificaccedilatildeo de suas 458

etnovariedades a partir da formaccedilatildeo de grupos de coesos quanto a nomenclatura local utilizada 459

No entanto para o melhor entendimento dessa diversidade aleacutem da caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica 460

o uso de anaacutelises complementares como anaacutelise molecular seria importante para tentar 461

identificar se esses grupos representam a mesma variedade com nomes distintos ou se satildeo 462

variedades distintas com o mesmo nome 463

45

Conclusatildeo 464

O estudo demonstrou que no sistema de manejo da mandioca ao niacutevel de roccedila em 465

comunidades localizadas na regiatildeo semiaacuterida de Pernambuco compotildee uma diversidade 466

intrespeciacutefica de mandioca para atender agraves demandas econocircmicas e de subsistecircncia das 467

populaccedilotildees locais 468

Com relaccedilatildeo a anaacutelise de rede demostramos que haacute um nuacutecleo de etnovariedades 469

fortemente conectado aos agricultores e sua composiccedilatildeo eacute direcionada pelas preferecircncias e 470

necessidades individuais dos agricultores que foram os fatores responsaacuteveis pelo surgimento 471

da estrutura aninhada observada na anaacutelise rede entre as comunidades deste estudo E esse 472

padratildeo aninhado observado contribui na conservaccedilatildeo das etnovariedades mais comuns mas 473

tambeacutem pode resultar em perda daquelas de menor frequecircncia ao longo do tempo 474

A caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica ldquoin siturdquo nos permitiram inferir que os agricultores 475

reconhecem as diferentes caracteriacutesticas morfoloacutegicas de suas cultivares e satildeo coerentes na 476

separaccedilatildeo de suas variedades de mandioca e macaxeira Entretanto esses resultados sugerem a 477

realizaccedilatildeo de um estudo em niacutevel de diversidade geneacutetica exploratoacuterio para identificar se as 478

consistecircncias morfoloacutegicas refletem em consistecircncias geneacuteticas elucidando assim as possiacuteveis 479

confusotildees atribuiacutedas aos nomes das etnovariedades de mandioca 480

Agradecimentos 481

Agradecemos ao liacuteder comunitaacuterio Alexandre O Nascimento aos agricultores e 482

agricultoras das comunidades pela acolhida confianccedila e pela gentileza de compartilharem 483

conosco seus conhecimentos e contribuiacuterem com este estudo Especialmente a Arlindo Ferreira 484

Edgar Antocircnio Joseacute Sebastiatildeo Juvenal Oliveira e Janete Alves Ao Laboratoacuterio de Ecologia e 485

Evoluccedilatildeo de Sistemas Socioecoloacutegicos (LEA - UFPE) E agradecemos ao CNPq pelo apoio 486

com a bolsa de estudos do primeiro autor 487

46

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Nome da revista 617

Human Ecology 618

Link de acesso 619

httpsgooglDVLbFj 620

Qualis-CAPES 621

B1 em Biodiversidade 622

623

624

625

626

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52

Figuras 643

644

645

Fig 1 Partes do processo de fabricaccedilatildeo de farinha de mandioca Onde a raspagem b e c 646

processo de trituraccedilatildeo e d peneiramento Foto registrada em Abril de 2017 por Mirela Santos 647

648

649

650

c

d

b

a

53

651

Fig 2 Mapa de localizaccedilatildeo geograacutefica dos Municiacutepios de Altinho e Panelas e das comunidades 652

estudadas na regiatildeo semiaacuterida do Estado de Pernambuco (Elaborado por SANTOS 2018) 653

54

654

655

656

657

Fig 3 Processo de fabricaccedilatildeo da farinha de mandioca Apoacutes a colheita as raiacutezes satildeo lavadas 658

raspadas e trituradas (a) A massa extraiacuteda eacute prensada e coada Ao sair da prensa a massa 659

peneirada (b) e em seguida eacute torrada (c) em fornos artesanais ou parcialmente mecanizados 660

Imagem registrada em janeiro de 2017 na Comunidade do Caratildeo por Mirela Santos 661

662

663

a

b c

55

664

Fig 4 a Sede da Comunidade do Caratildeo b Agricultor transportando a palma forrageira que eacute 665

um exemplo de estrateacutegia adaptativa para suprir a falta de alimento dos animais devido agrave seca 666

c Feira-livre que acontece na comunidade a cada quinze dias Imagem registrada em julho de 667

2016 na Comunidade do Caratildeo por Mirela Santos 668

669

670

Fig 5 a O agricultor nos explicava as mudanccedilas que vem fazendo em seus roccedilados para se 671

adaptar aos longos periacuteodos de seca b Quando o agricultor nos mostrava as diferentes 672

etnovariedades que mantinha em sua roccedila c Durante a pesquisa nos explicavam como era feita 673

a colheita da mandioca e como selecionavam as manivas para o proacuteximo plantio Foto registrada 674

em abril de 2017 na Comunidade do Brejo Velho por Mirela Santos 675

a

b c

c b

a

56 676

677

Fig 6 Possiacuteveis estruturas de rede que descrevem as interaccedilotildees dos agricultores (losango) 678

ligados as etnovariedades (ciacuterculos) que cultivam Onde a Aninhada b Modular c Aleatoacuteria 679

(Fonte Cavechia et al 2014 com adaptaccedilotildees) 680

681

682

683

684

685

686

687

688

689

690

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692

693

694

695

696

697

a c b

57

698

699

700

701

702

703

704

705

706

707

Fig 7 Correlaccedilatildeo de Spearman entre a diversidade de etnovariedades de mandiocas conhecidas 708

como cultivadas e variedades atualmente cultivadas por agricultor e as variaacuteveis 709

socioeconocircmicas Onde Nvc= nuacutemero de citadas como cultivadas Nve= nuacutemero de variedades 710

atualmente cultivadas Esc= escolaridade Id= idade Gen= gecircnero Tr= tamanho do roccedilado 711

Exp= experiecircncia na agricultura Sld= renda Nr= nuacutemero de roccedilados Cores distintivas 712

representam correlaccedilotildees significativas (Ple005) 713

714

58

715

Fig 8 Modelo individual de rede de etnovariedades de mandioca citadas (esquerda) por 716

agricultores como cultivadas (direita) nos Municiacutepios de Altinho e Panelas As redes foram 717

desenhadas com o pacote bipartite (Dormann et al 2017) usando o software R (R CORE 718

TEAM 2017) 719

720

59

721

Fig 9 Anaacutelise de Correspondecircncia Muacuteltipla das 17 etnovariedades de mandioca considerando 722

os sete descritores morfoloacutegicos utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo em roccedilas de 723

agricultores tradicionais de sete comunidades no semiaacuterido de Pernambuco 724

725

726

727

728

729

730

731

732

733

734

735

736

737

McCambadinha

McCampina

McCampinaDaGrande

McCampinaRasteira

McCampinaVaruda

McGauba

McIsabelDeSouza

McIsabelTresGalhos

McOlhoDePombo

McOlhoVerde

McPretinha

McPretona

MxBranca

MxRosa

MxRosaBrancaMxRosaVermelha

MxSemente

CFD_Verde_Arroxeado

CFD_Verde_ClaroCFD_Verde_Escuro

CBF_Roxo

CBF_Verde_ArroxeadoCBF_Verde_Claro

CBF_Verde_Escuro

CDP_Verde

CDP_Verde_Amarelado

CDP_Verde_Avermelhado

CDP_Vermelho

CEC_Cinza

CEC_Dourado

CEC_Laranja

CEC_Marrom_Claro

CEC_Marrom_Escuro

CEC_Prateado

CEC_Verde_AmareladoCicatriz_M

Cicatriz_P

PDR_Branco

PDR_Creme

CDR_BrancoCDR_Creme CDR_Rosa

-4

-2

0

2

4

-4 -2 0 2 4

Dim1 (206)

Dim

2 (

162

)

MCA - Biplot

00

10

Hierarchical Clustering

inertia gain

McC

am

pin

aV

aru

da

McC

am

pin

aD

aG

rande

McC

am

pin

a

McG

auba

McP

retin

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McP

reto

na

MxR

osaV

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MxR

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ranca

MxR

osa

McC

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pin

aR

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ira

McC

am

badin

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McO

lhoV

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e

MxB

ranca

MxS

em

ente

McIsabelT

resG

alh

os

McIsabelD

eS

ouza

McO

lhoD

eP

om

bo

00

05

10

15

Hierarchical Classification

Heig

ht

C1 C2 C3 C4 C5 C6 C7 C8

Fig 10 Agrupamento hieraacuterquico das 17 etnovariedades de mandioca caracterizadas de acordo

com os descritores utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo

60

Tabelas 738

739

Tabela 1 Caracteres e estados utilizados pelos agricultores como descritores botacircnicos para 740

caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das etnovariedades de mandioca 741

Caracter Sigla Estados

Folha

Cor da folha desenvolvida CFD 1- verde claro 2- verde escuro 3- verde arroxeado 4- roxo

Cor do broto foliar CBF 1- verde claro 2- verde escuro 3- verde arroxeado 4- roxo

Cor do peciacuteolo CDP 1- verde amarelado 2- verde 3- verde avermelhado 4- roxo

5- vermelho

Caule

Cor externa do caule CEC 1- laranja 2- verde amarelado 3- dourado 4- marrom claro

5- prateado 6- cinza 7- marrom escuro 8- verde

Protuberacircncia da cicatriz foliar PCF 1- pouco proeminente 2- muito proeminente

Raiacutez

Cor da poupa da raiz PDR 1- branco 2- creme

Cor do coacutertex da raiacutez CDR 1- rosa 2- branco 3- creme

742

743

744

745

746

747

748

749

750

751

61

Tabela 2 Lista das 22 etnovariedades de mandiocas citadas (132 citaccedilotildees) como cultivadas nas 752

comunidades pertencentes aos Municiacutepios de Altinho (Caratildeo n=8) e ao Municiacutepio de Panelas 753

(Aracuatilde Satildeo Joseacute do Bola Brejo Velho Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima e Lajeiro 754

Dantas n=21) 755

Etnovariedade Frequecircncia () Ranking Saliecircncia

Macaxeira Rosa 66 179 0472

Mandioca Isabel de Souza 48 179 0372

Mandioca Campina 24 217 0148

Macaxeira Branca 20 210 0134

Macaxeira Rosa branca 18 122 0168

Mandioca Pretona 16 338 0082

Mandioca Cambadinha 12 283 0071

Mandioca Isabel trecircs galhos 10 180 0075

Mandioca Gauacuteba 10 260 0070

Mandioca Pretinha 8 225 0053

Mandioca Peacute de pombo 4 400 0011

Mandioca Olho verde 4 350 0012

Macaxeira Rosinha 4 200 0027

Mandioca Campina varuda 4 200 0032

Mandioca Campina rasteira 4 300 0021

Mandioca Caboquinha 2 500 0007

Macaxeira Rasteira 2 200 0013

Macaxeira Paraacute 2 100 0020

Mandioca Barra ferro 2 300 0007

Mandioca Campina da grande 2 100 0020

Mandioca Olho de pombo 2 300 0010

Mandioca Jasmim 2 600 0006

756

757

758

62

Tabela 3 Lista de 17 etnovariedades atualmente cultivadas nos roccedilados das comunidades em 759

estudo 760

Ca Ar Bo Br Jb Jc Ld

Etnovariedade

Macaxeira Branca x x x x

Macaxeira Rosa

x x x x x x

Macaxeira Rosa Branca x x x x

Macaxeira Rosa Vermelha

x

Macaxeira Semente

x

Mandioca Cambadinha x

x

Mandioca Campina

x

x

x

Mandioca Campina da Grande x

Mandioca Campina Rasteira

x

Mandioca Campina Varuda

x

Mandioca Gauacuteba

x

Mandioca Isabel de Souza

x x x

Mandioca Isabel trecircs Galhos

x

x

Mandioca Olho de Pombo

x

Mandioca Olho Verde

x

Mandioca Pretinha

x

Mandioca Pretona x x x

Comunidades Ca= Caratildeo Ar=Aracuatilde Bo= Satildeo Joseacute do Bola Jb= Japaranduba de Baixo 761

Jc= Japaranduba de Cima Ld= Lajedo Dantas 762

763

764

765

766

767

768

63

Tabela 4 Descriccedilatildeo das classes do agrupamento por meacutetodo de Ward agrupadas pelo conjunto 769

dos descritores mais significativos para a caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das variedades de mandioca 770

Classes Descritores in situ p-valor

C1 Cor do peciacuteolo (CDP) 0016

C2 Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023

C3 Cor do peciacuteolo (CDP) 0012

C4 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0004

Cor da poupa da raiacutez (PDF) 0021

C5 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0003

C6 Cor do broto foliar (CBF) 0002

C7 Cor da folha desenvolvida (CFD) 0004

Cor externa do caule (CEC) 0040

C8 Cor do peciacuteolo (CDP) 0005

Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023

Valores de Ple005 satildeo significativos 771

772

14

1 Introduccedilatildeo Geral

Ao longo dos anos populaccedilotildees tradicionais foram adquirindo aprimorando e transmitindo

seus conhecimentos sobre o manejo dos recursos naturais existentes em suas respectivas

regiotildees e assim foram desenvolvendo teacutecnicas para se adaptar e sobreviver ao ambiente Essas

populaccedilotildees foram domesticando uma grande variedade de espeacutecies de plantas alimentiacutecias

numa agricultura de pequena escala (BALLEacute 2006 CLEMENT et al 2010)

Essa interaccedilatildeo pessoas-planta por meio do cultivo e manejo das espeacutecies vegetais vem

contribuindo para ambos com alteraccedilotildees adaptativas por meio da seleccedilatildeo artificial Essas

alteraccedilotildees resultaram em mudanccedilas na estrutura geneacutetica das espeacutecies vegetais pelo manejo da

seleccedilatildeo de caracteriacutesticas fenotiacutepicas fisioloacutegicas e econocircmicas das plantas E essa seleccedilatildeo

consciente ou inconsciente das plantas se traduz em uma grande variaccedilatildeo intraespeciacutefica nas

populaccedilotildees vegetais sob diferentes regimes de manejo (CARMONA CASAS 2005)

Por meio do cultivo agricultores em comunidades tradicionais desempenham um papel

fundamental no processo dinacircmico de geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da agrobiodiversidade local em

sistemas de roccedilas Essas roccedilas satildeo aacutereas de agricultura tradicional localizadas dentro de

comunidades caracterizadas natildeo soacute pelo grande nuacutemero espeacutecies cultivadas mas tambeacutem pela

alta diversidade intraespeciacutefica que essas espeacutecies apresentam (MARTINS 2005) Dentre as

espeacutecies comumente cultivadas nesse sistema a mandioca (Manihot esculenta Crantz

Euphorbiaceae) eacute considerada uma cultura de alto valor econocircmico nutricional utilitaacuterio

cultural e social para muitas populaccedilotildees humanas no mundo (CLEMENT et al 2010) Aleacutem

disso a mandioca apresenta uma grande diversidade intraespeciacutefica e por essas caracteriacutesticas

tornou-se uma espeacutecie-modelo para compreender como os diferentes padrotildees e estrateacutegias de

manejo adotadas pelos agricultores podem influenciar na diversidade local (ELIAS et al 2001

EMPERAIRE PERONI 2007 EMPERAIRE ELOY 2008)

Segundo PERONI amp MARTINS (2000) as diferentes praacuteticas de manejo desse

importante recurso favorecem a alta diversidade intraespeciacutefica em roccedilas de agricultura

itinerante1 Um dos fatores responsaacuteveis pela geraccedilatildeo dessa diversidade consiste na capacidade

de incorporaccedilatildeo de novos germoplasmas por meio da reproduccedilatildeo sexuada associada ao manejo

agriacutecola tradicional (PUJOL et al 2005 EMPERAIRE PERONI 2007) Apesar de propagada

1 Agricultura caracterizada por ciclos de uso e pousio como por exemplo corte e queima

15

vegetativamente pelos agricultores a mandioca (M esculenta) ainda manteacutem a sua capacidade

de reproduccedilatildeo sexual sendo este um aspecto muito importante para dinacircmica evolutiva da

cultura (PUJOL et al 2007 CLEMENT et al 2010) Apoacutes a fecundaccedilatildeo cruzada e dispersatildeo

das sementes um banco destas eacute formado no solo e as novas variedades germinam nas roccedilas

(MARTINS 2005) Antes de serem imcorporadas ao acervo essas lsquolsquovariedades-voluntaacuteriasrsquorsquo

passam por um filtro cultural ou seja seratildeo reconhecidas pelos agricultores por meio de

caracteriacutesticas morfoloacutegicas experimentadas e entatildeo selecionadas (MARTINS OLIVEIRA

2009)

Outro evento envolvido na geraccedilatildeo de diversidade intraespeciacutefica eacute incorporaccedilatildeo de

novas variedades de mandioca por meio de uma rede social de troca de material propagativo

estabelecida entre os agricultores (CAVECHIA et al 2014) Esse mecanismo permite a

circulaccedilatildeo das manivas2 tanto a niacutevel local quanto regional permite tambeacutem o acesso aos

diferentes conjuntos de variedades cultivadas entre as comunidades e ainda que o conjunto de

etnovariedades3 locais eou regionais seja conservado (EMPERAIRE ELOY 2008) Dentro

dessas redes sociais de troca as relaccedilotildees entre os agricultores atuam como mecanismo

fundamental para dispersatildeo e experimentaccedilatildeo das etnovariedades entre as roccedilas E satildeo essas

relaccedilotildees e decisotildees estabelecidas entre os agricultores que iratildeo definir quais etnovariedades

seratildeo mantidas ao longo do tempo e quais seratildeo abandonadas (LIMA et al 2012)

Sendo os agricultores e as interaccedilotildees entre eles fundamentais para o estabelecimento da

diversidade local (PINTON EMPERAIRE 2001 EMPERAIRE ELOY 2008) torna-se

pertinente entender como as diferentes estrateacutegias adotadas pelos agricultores influenciam na

dinacircmica da agrobiodiversidade local Muitos trabalhos com esse enfoque foram desenvolvidos

nas regiotildees Amazocircnica e Sudeste mas pouco se discute sobre a dinacircmica da agrobiodiversidade

em regiotildees semiaacuteridas

Nesse sentido o presente estudo visa investigar as interaccedilotildees entre agricultores

tradicionais de comunidades rurais estabelecidas na regiatildeo semiaacuterida de Pernambuco O

objetivo geral eacute compreender os processos envolvidos na dinacircmica da diversidade agriacutecola por

meio do acesso ao conhecimento dos agricultores quanto as praacuteticas de menejo e entender quais

quais fatores podem estar relacionados a geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da diversidade local Para esse

estudo a mandioca foi escolhida como modelo devida agrave sua importacircncia econocircmica e de

subsistecircncia para comunidades locais Os objetivos especiacuteficos foram (i) caracterizar o manejo

2 Satildeo pedaccedilos das hastes ou ramas da mandioca usadas para o plantio 3 Variedades intraespeciacuteficas de mandioca (M esculenta) identificadas pelos agricultores por nomenclatura

popular local (Martins 2005)

16

da agricultura de sequeiro bem como analisar se os paracircmetros socioeconocircmicos influenciam

na diversidade local (ii) registrar as etnovariedades atualmente cultivadas e identificar os

diferentes criteacuterios morfoloacutegicos utilizados pelos agricultores para a seleccedilatildeo e classificaccedilatildeo das

etnovariedades e (iii) descrever a estrutura da rede de interaccedilatildeo entre os agricultores e a

diversidade de etnovariedades de mandioca cultivadas para tentar entender como essas relaccedilotildees

podem influenciar na manutenccedilatildeo ou perda da diversidade local

a

b c

17

2 Revisatildeo bibliograacutefica

21 Manihot esculenta Crantz e conhecimento local de agricultores tradicionais

O gecircnero Manihot Miller (Euforbiaceae) possui cerca de 98 espeacutecies distribuiacutedas em 19

seccedilotildees das quais 13 delas ocorrem no Brasil (ROGERS APPAN 1973) Dentre as espeacutecies do

gecircnero Manihot esculenta Crantz (mandioca) eacute a principal cultivar uma vez que compotildee a

base da dieta alimentar de diversas populaccedilotildees rurais principalmente em regiotildees tropicais A

mandioca foi domesticada na Ameacuterica do Sul pois eacute onde se encontra o maior centro de

diversificaccedilatildeo Estudos relacionados ao entendimento de sua origem botacircnica tecircm contribuiacutedo

para a compreensatildeo das accedilotildees humanas no processo de domesticaccedilatildeo e ampliaccedilatildeo da

diversidade da espeacutecie (OLSEN SCHAAL 1999 ELIAS et al 2004 ELLEN 2012)

As diferentes variedades da espeacutecie satildeo reconhecidas em dois grandes grupos principais

o das variedades mais toacutexicas e o de variedades menos toacutexicas baseadas no potencial de

glicosiacutedeos cianogecircnicos (HCN) contido na polpa das raiacutezes (ELIAS et al 2004) Variedades

com baixa toxicidade contecircm baixas concentraccedilotildees de glicosiacutedeos cianogecircnicos (HCNlt100

mgKg-1) e satildeo conhecidas em comunidades agriacutecolas variando entre regiotildees ou grupos eacutetnicos

como ldquomacaxeirasrdquo ldquomandiocas doces ou mansasrdquo ou ldquoaipinsrdquo As variedades mais toacutexicas

com altas concentraccedilotildees de HCN (HCNgt 100 mgKg-1) satildeo reconhecidas como ldquomandiocasrdquo

ou ldquomandiocas amargas ou bravasrdquo (PERONI et al 2007 MCKEY et al 2010) E portanto

precisam passar por um processo de desintoxicaccedilatildeo para se tornarem aptas ao consumo como

por exemplo pelo processo de fabricaccedilatildeo da farinha de mandioca (Fig 1) Apesar do seu

potencial toacutexico as variedades amargas possuem teores mais elevados de amido e se adaptam

bem a solos pobres e aacutecidos aleacutem de serem mais resistentes aos patoacutegenos e pragas em

comparaccedilatildeo com as variedades doces (FRASER et al 2010)

Sob o ponto de vista botacircnico esta dicotomia natildeo eacute reconhecida mas existem alguns

trabalhos que evidenciam a relaccedilatildeo entre a coerecircncia da taxonomia popular com a diferenciaccedilatildeo

geneacutetica para separaraccedilatildeo das variedades ldquodocesrdquo e ldquoamargasrdquo (ELIAS et al 2004 PERONI

et al 2007) O conhecimento das caracteriacutesticas morfoloacutegicas das plantas e a coerecircncia na

identificaccedilatildeo dessas variedades com niacuteveis distintos de HCN eacute de grande importacircncia

adaptativa para as populaccedilotildees que gerem esse recurso sobretudo pelo risco de intoxicaccedilatildeo

(RIVAL MCKEY 2008)

18

No estudo realizado por AMOROZO (2000) por exemplo os agricultores geralmente

classificavam as variedades que tinham raiacutezes brancas como ldquobravasrdquo e aquelas que tinham

raiacutezes vermelhas como ldquomansasrdquo embora eles reconhecessem algumas exceccedilotildees Em pesquisas

realizados por FARALDO et al (2000) MKUMBIRA et al (2003) ELIAS et al (2004) e

PERONI et al (2007) os agricultores foram consistentes na distinccedilatildeo de suas variedades

lsquolsquodocesrdquo e ldquoamargasrsquorsquo e com base no conhecimento de caracteres morfoloacutegicos distintos os

nomes das variedades refletiram na diversidade geneacutetica A partir dessas evidecircncias podemos

inferir que o conhecimento local dos agricultores associado agrave experiecircncia eacute importante natildeo

somente para o reconhecimento das variedades locais por si soacute mas tambeacutem por conter

informaccedilotildees relevantes sobre o papel que esses recursos podem desempenhar nos sistemas

agriacutecolas de pequena escala e para as populaccedilotildees locais (GADGIL et al 1993)

O conhecimento tradicional dos agricultores trata-se de um conjunto de saberes praacuteticas

e crenccedilas baseadas no contato direto nas observaccedilotildees experimentaccedilotildees diaacuterias e nas

dependecircncias econocircmicas eou de subsistecircncia dos recursos que satildeo geralmente transmitidas

oralmente dentro e entre as geraccedilotildees (AMOROZO 2000 DOMINGUES ARRUDA 2001

BEGOSSI 2004) Sendo assim o conhecimento tradicional de agricultores que praticam a

agricultura de pequena escala realizada em comunidades tradicionais eacute importante pois tem

garantido a perpetuaccedilatildeo dos conhecimentos e das praacuteticas agriacutecolas desenvolvidas durante

milhares de anos entre os agroecossistemas locais

22 Manejo tradicional em roccedilas e diversidade intraespeciacutefica da mandioca

A agricultura de pequena escala praticada em comunidades locais tem garantido a

perpetuaccedilatildeo do conhecimento sobre o manejo e a diversidade de espeacutecies agriacutecolas O sistema

de cultivo em roccedilas eacute tipicamente praticado por agricultores de comunidades tradicionais em

aacutereas uacutemidas no mundo inteiro As roccedilas satildeo aacutereas de cultivo de pequena escala localizadas

dentro de comunidades proacuteximas umas das outras que se tornaram objeto de estudo em vaacuterias

pesquisas antropoloacutegicas etnobotacircnicas geneacuteticas e ecologias especialmente por apresentarem

grande diversidade de espeacutecies cultivadas e pelo manejo destinar-se agrave subsistecircncia de grupos

familiares de agricultores de pequena escala (PUJOL et al 2007)

Aleacutem da diversidade de espeacutecies outra caracteriacutestica dessas roccedilas eacute o grande nuacutemero de

variedades dentro de cada espeacutecie Esta diversidade intraespeciacutefica pode ser referida como

etnovariedades que eacute um termo utilizado para definir grupos de indiviacuteduos identificados por

19

nomenclatura popular local a qual pode expressar elementos do contexto cultural econocircmico

e social das populaccedilotildees associado ao uso (PERONI MARTINS 2000 EMPERAIRE

PERONI 2007)

Dentre as vaacuterias espeacutecies cultivadas em roccedilas a mandioca (M esculenta) em seu

nuacutemero de etnovariedades eacute uma das principais culturas de importacircncia econocircmica e

nutricional para populaccedilotildees que utilizam esse sistema Sua diversidade pode estar relacionada

ao sistema reprodutivo da cultura ao modo de gestatildeo da agricultura pelas pressotildees de seleccedilatildeo

exercidas pelo proacuteprio homem ou ateacute mesmo por causas naturais (MARTINS 2005

CLEMENT et al 2010)

As caracteriacutesticas de manejo empregadas no cultivo da mandioca em roccedilas favorecem

a elevada diversidade intraespeciacutefica dessa cultura O modo de propagaccedilatildeo da mandioca eacute feito

pelos agricultores por meios de estacas (manivas) que satildeo selecionadas de acordo com as

caracteriacutesticas desejaacuteveis que elas apresentam seja para fins econocircmicos ou utilitaacuterios Apesar

de propagada vegetativamente que eacute um meacutetodo usado pelas populaccedilotildees humanas para plantio

e multiplicaccedilatildeo de plantas a mandioca natildeo perdeu a sua capacidade de reproduccedilatildeo sexual

sendo esse um aspecto importante para dinacircmica evolutiva da cultura (PUJOL et al 2007)

Esse meacutetodo de propagaccedilatildeo permite o fluxo e a circulaccedilatildeo do material geneacutetico entre os

diferentes roccedilados por meio de um sistema de redes sociais de troca de etnovariedade de

mandioca entre os agricultores tanto a niacutevel regional (entre comunidades) quanto em escalas

menores (entre vizinhos e parentes) (ELIAS et al 2004 EMPERAIRE OLIVEIRA 2010)

Segundo Emperaire e Peroni (2007) esse mecanismo de troca de germoplasma eacute uma grande

forccedila de dispersatildeo que resulta na agrobiodiversidade regional mais elevada pois estabelece

viacutenculos entre as diferentes roccedilas e promove oportunidades de seleccedilatildeo e cruzamento entre as

diferentes etnovariedades (EMPERAIRE ELOY 2008)

Atributo bioloacutegicos da espeacutecie tambeacutem estatildeo relacionados com o aumento da

diversidade intrespeciacutefica como a capacidade de dormecircncia das sementes e a dispersatildeo

autocoacuterica que propiciam o desenvolvimento de um banco de sementes no solo ao longo do

tempo permitindo o cruzamento entre as novas variedades adquiridasplantadas e entre estas

com variedades que existiram anterioemente na mesma aacuterea (PERONI MARTINS 2000

MARTINS 2005) A presenccedila dessas ldquoplantas-voluntaacuteriasrdquo ou seja aquelas nascidas de

germinaccedilatildeo expontacircnea eacute um dos eventos identificados como precursores de diversidade

intraespeciacutefica nas populaccedilotildees de mandioca cultivadas (PUJOL et al 2007)

20

Contudo muitos esforccedilos vecircm sendo empregados em estudos que observam a ecologia

da mandioca e o manejo agriacutecola associado agrave geraccedilatildeo de diversidade varietal e geneacutetica na

espeacutecie para tentar entender como esses mecanismos influenciam na diversidade de

etnovariedades locais e na sua dinacircmica (PUJOL et al 2007 KOMBO et al 2012 ELIAS et

al 2001)

23 Redes sociais de troca e circulaccedilatildeo de etnovariedades de mandioca

Sistemas agriacutecolas de pequena escala dependem de uma grande diversidade de espeacutecies e

variedades cultivadas e do fluxo destas por meio de redes sociais de troca material vegetativo

estabelecidas entre agricultores podendo o alcance da circulaccedilatildeo variar em escala local eou

regional (EMPERAIRE ELOY 2008) As trocas dependem de dois mecanismos principais

dos padrotildees de interaccedilatildeo social entre os agricultores e dos padrotildees de uso dos recursos

(CAVECHIA et al 2014) e as redes variam em funccedilatildeo das caracteriacutesticas culturais

econocircmicas e sociais das comunidades (EMPERAIRE PERONI 2007 PAUTASSO et al

2012)

No caso da mandioca (Manihot esculenta Crantz) a propagaccedilatildeo se da por estaquia o que

favorece a troca de material de vegetativo entre os agricultores e permite o fluxo entre

variedades locais e regionais (MARTINS 2005) As trocas de variedades de mandioca entre os

agricultores geralmente acontecem por alguma circunstacircncia que leve o agricultor a pedir o

material propagativo para o plantio com por exemplo para o plantio de uma nova roccedila ou por

alguma fitopatologia deslocaccedilatildeo ou estaccedilotildees de chuva e seca prolongadas (EMPERAIRE et

al 2001 EMPERAIRE ELOY 2008) Em alguns casos como no de algumas comunidades

agriacutecolas de pequena escala as redes de casamento satildeo utilizadas para a circulaccedilatildeo de

variedades (EMPERAIRE PERONI 2007 DELEcircTRE et al 2011)

O processo de manutenccedilatildeo da diversidade nesses sistemas resulta do interesse ou da

necessidade do agricultor em adquirir ou abandonar variedades testar e selecionar novas

etnovariedades de mandioca Dentre os fatores que dirigem a seleccedilatildeo de etnovariedades estatildeo

as preferecircncias individuais dos agricultores Alguns podem optar por cultivar todas as

etnovariedades comuns eou disponiacuteveis na regiatildeo enquanto que outros optam apenas por

manter um conjunto especiacutefico dessa diversidade (CAVECHIA et al 2014) Seja para atender

a alguma demanda individual pelo interesse em aumentar a produtividade ou pela necessidade

21

de conservar o material vegetativo para o proacuteximo plantio no caso de perda de material por

algum fator ambiental adverso (EMPERAIRE et al 2001 EMPERAIRE ELOY 2008)

Nesse sentido satildeo os agricultores os maiores responsaacuteveis por determinar como e quais

etnovariedades seratildeo compartilhadas e mantidas entre as comunidades (PAUTASSO et al

2012) E a chave para a compreensatildeo da dinacircmica da diversidade varietal eacute por meio desse

intercacircmbio e dos fatores que influenciam essa conectividade entre as comunidades pois essas

redes representam um grande impacto sobre a diversidade de variedades cultivadas E eacute por

meio dessas redes que se diminui coletivamente os riscos de perda total de diversidade geneacutetica

local (EMPERAIRE ELOY 2008)

Desse modo as relaccedilotildees estabelecidas pelos agricultores entre as comunidades por meio

das redes troca de germoplasma podem ter consequecircncias importantes sobre a diversidade

varietal da mandioca E compreender os processos envolvidos na manutenccedilatildeo ou perda de

germoplasma nos sistemas agriacutecolas eacute importante uma vez que compreendendo a maneira

como os agricultores usam esse conjunto de etnovariedades de mandioca e as compartilham

vai trazer importantes discussotildees a cerca da qualidade e a quantidade do recurso que seraacute

mantido transmitido ou perdido dentro dos sistemas ao longo do tempo

22

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25

VARIACcedilAtildeO INTRAESPECIacuteFICA CONHECIMENTO E MANEJO

LOCAL DE MANDIOCA (Manihot esculenta Crantz) NO SEMIAacuteRIDO DE

PERNAMBUCO NORDESTE DO BRASIL

Artigo submetido ao perioacutedico Human Ecology

Normas para submissatildeo em anexos

26

Variaccedilatildeo intraespeciacutefica conhecimento e manejo local de mandioca 1

(Manihot esculenta Crantz) no semiaacuterido de Pernambuco Nordeste do 2

Brasil 3

Mirela Nataacutelia Santos12 Jhonatan Rafael Zaacuterate-Salazar1 Reginaldo de Carvalho1 amp 4

Ulysses Paulino de Albuquerque2 5

6

1 Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo em Botacircnica Departamento de Biologia Rua Dom Manuel de Medeiros 7

Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) sn Dois Irmatildeos Recife Pernambuco 52171-8

900 Brasil 9

2 Laboratoacuterio de Ecologia e Evoluccedilatildeo de Sistemas Socioecoloacutegicos (LEA) Departamento de Botacircnica 10

Avenida Professor Moraes Rego Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) sn Cidade 11

Universitaacuteria Recife Pernambuco 50670-901 Brasil 12

Resumo 13

Historicamente a espeacutecie Manihot esculenta Crantz (mandioca) eacute uma espeacutecie de grande valor 14

econocircmico e de subsistecircncia para populaccedilotildees em comunidades tradicionais Variedades de 15

mandioca satildeo selecionadas com base nos interesses dos agricultores conduzindo uma evoluccedilatildeo 16

especiacutefica sobre a geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da agrobiodiversidade local Diante disso a mandioca 17

tornou-se espeacutecie-modelo em estudos que buscam compreender como os padrotildees e estrateacutegias 18

adotadas pelas populaccedilotildees humanas influenciam na diversidade intraespeciacutefica local em regiotildees 19

tropicais No entanto os fatores que influenciam a diversidade da mandioca em regiotildees 20

semiaacuteridas ainda natildeo foram bem documentados Nesse sentido objetivo geral do estudo foi 21

compreender os processos envolvidos na dinacircmica da diversidade agriacutecola em sete 22

comunidades tradicionais localizadas na regiatildeo semiaacuterida do estado de Pernambuco (Nordeste 23

do Brasil) por meio do acesso ao conhecimento dos agricultores quanto as praacuteticas de menejo 24

para tentar quais quais fatores podem estar relacionados a geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da diversidade 25

local Com os resultados da anaacutelise de redes verificamos uma alta diversidade de 26

etnovariedades cultivadas e a sua composiccedilatildeo eacute determinada pelas preferecircncias e 27

comportamentos individuais dos agricultores que foram provavelmente os mecanismos 28

27

responsaacuteveis pelo surgimento da estrutura aninhada observada na anaacutelise rede Esse padratildeo 29

aninhado contribui na conservaccedilatildeo das etnovariedades mais comuns mas tambeacutem pode resultar 30

em perda daquelas de menor frequecircncia ao longo do tempo 31

Palavras-Chave Agricultura tradicional Agricultura de sequeiro Agrobiodiversidade 32

Etnobiologia Plantas alimentiacutecias 33

34

Introduccedilatildeo 35

Historicamente as populaccedilotildees humanas foram acumulando conhecimentos sobre 36

praacuteticas da agricultura desenvolvendo teacutecnicas adaptadas ao meio natural e assim foram 37

domesticando uma grande variedade de cultivos alimentares para garantirem a sua 38

sobrevivecircncia (Balleacute 2006 Clement et al 2010) Essa interaccedilatildeo pessoas-plantas por meio do 39

cultivo e manejo das espeacutecies vegetais considerando tanto os aspectos sociais quanto naturais 40

dos sistemas dinacircmicos eacute uma importante ferramenta para o entendimento do conhecimento 41

dos agricultores sobre os agroecossistemas locais ( Alcorn 1995) 42

Aleacutem disso essas interaccedilotildees vem contribuindo com alteraccedilotildees nas populaccedilotildees vegetais 43

por meio da seleccedilatildeo artificial Essas alteraccedilotildees resultaram em mudanccedilas na estrutura geneacutetica 44

dessas populaccedilotildees que satildeo determinadas geralmente pela seleccedilatildeo de caracteriacutesticas fenotiacutepicas 45

fisioloacutegicas eou econocircmicas das plantas refletidas em classificaccedilotildees e nomenclaturas 46

especiacuteficas baseadas em percepccedilotildees individuais (Carmona amp Casas 2005) 47

Muitos pesquisadores tentam explicar o papel dos agricultores de pequena escala na 48

seleccedilatildeo classificaccedilatildeo e manutenccedilatildeo da agrobiodiversidade local em roccedilas tradicionalmente 49

manejas em regiotildees uacutemidas (Emperaire amp Peroni 2007 Emperaire amp Eloy 2008 Marchetti et 50

al 2013) Essas roccedila satildeo aacutereas de cultivo caracterizadas por conter uma alta diversidade 51

intraespeciacutefica de espeacutecies (Martins 2005) Dentre elas a Manihot esculenta Crantz 52

28

(mandioca) Euphorbiaceae em sua diversidade de etnovariedades eacute a espeacutecie mais importante 53

sob ponto de vista econocircmico e de subsistecircncia para as populaccedilotildees locais e mais cultivada 54

devido a sua grande adaptabilidade ambiental e baixos custos de gestatildeo (Elias et al 2001) 55

A alta diversidade da mandioca nessas aacutereas pode ser atribuiacuteda agrave possibilidade de 56

introduccedilatildeo de novas variedades via reproduccedilatildeo sexuada associada a ecologia da espeacutecie Esse 57

mecanismo permite o fluxo gecircnico entre as variedades de mandioca cultivadas do mesmo local 58

e entre estas com variedades de locais vizinhos (Pujol et al 2007) Outro mecanismo que 59

favorece essa diversidade eacute agrave circulaccedilatildeo de material propagativo por meio redes sociais de troca 60

variedades entre os agricultores (Pujol et al 2005 Emperaire amp Peroni 2007 Clement et al 61

2010) Esse mecanismo de troca eacute fundamental para o estabelecimento de interaccedilotildees entre as 62

diferentes aacutereas de roccedila promovendo oportunidade de seleccedilatildeo e cruzamento entre os diferentes 63

conjuntos de variedades aleacutem de permitir que este conjunto seja conservado (Emperaire amp Eloy 64

2008) 65

Diante desse cenaacuterio podemos observar que a agrobiodiversidade local natildeo eacute fruto 66

apenas de fatores naturais mas eacute tambeacutem influenciada pelas caracteriacutesticas culturais e 67

socioeconocircmica das populaccedilotildees locais refletidas especialmente no conhecimento e manejo 68

local Nesse sentido o presente estudo visa investigar as interaccedilotildees entre agricultores 69

tradicionais de comunidades rurais estabelecidas na regiatildeo semiaacuterida de Pernambuco 70

O objetivo geral eacute compreender os processos envolvidos na dinacircmica da diversidade 71

agriacutecola por meio do acesso ao conhecimento dos agricultores quanto as praacuteticas de menejo e 72

entender quais quais fatores podem estar relacionados a geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da diversidade 73

local Para esse estudo a mandioca foi escolhida como modelo devida agrave sua importacircncia 74

econocircmica e de subsistecircncia para comunidades locais Os objetivos especiacuteficos foram (i) 75

caracterizar o manejo da agricultura de sequeiro bem como analisar se os paracircmetros 76

socioeconocircmicos influenciam na diversidade local (ii) registrar as etnovariedades atualmente 77

29

cultivadas e identificar os diferentes criteacuterios morfoloacutegicos utilizados pelos agricultores para a 78

seleccedilatildeo e classificaccedilatildeo das etnovariedadese (iii) descrever a estrutura da rede de interaccedilatildeo entre 79

os agricultores e a diversidade de etnovariedades de mandioca cultivadas para tentar entender 80

como essas relaccedilotildees podem influenciar na manutenccedilatildeo ou perda da diversidade local 81

Material e meacutetodos 82

Aacutereas de estudo 83

Amostramos sete comunidades rurais estabelecidas na regiatildeo semiaacuterida de 84

Pernambuco Nordeste do Brasil Uma das comunidades (Caratildeo) pertence ao Municiacutepio de 85

Altinho (ldquo8deg 29rsquo 10rdquo S e 36deg 03rsquo 49rdquo W) e as demais (Satildeo Joseacute do Bola Brejo velho 86

Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima Lajedo Dantas e Aracuatilde) ao Municiacutepio de 87

Panelas (8 deg 39 48 S e 36 deg 01 23 W) (Fig 2) 88

O modelo agriacutecola adotado na regiatildeo segue o sistema tradicional de sequeiro4 e todas 89

as comunidades em estudo possuem histoacuterico de cultivo de mandioca (M esculenta) As aacutereas 90

de cultivo satildeo estabelecidas por unidade familiar e as atividades satildeo realizadas em sua maioria 91

por homens tendo cada agricultor cerca de um a dois hectares de aacuterea para plantio Aleacutem da 92

mandioca os cultivos mais utilizados na comunidades satildeo milho (Zea mays) e feijatildeo (Phaseolus 93

sp) 94

Para os membros das comunidades a produccedilatildeo da farinha de mandioca (Fig 3) eacute uma 95

das atividades agriacutecolas mais importantes tanto pelo seu papel na dieta alimentar quanto pela 96

importacircncia social e econocircmica 97

Caracteriacutesticas das comunidades do estudo 98

A comunidade do Caratildeo localiza-se sob domiacutenio de Caatinga caracterizado por climas 99

quentes e secos com regimes escassos de chuvas correspondente ao tipo BSrsquoh segundo a 100

4 Eacute o cultivo praticado sem irrigaccedilatildeo em regiotildees onde a pluviosidade eacute diminuta

30

classificaccedilatildeo climaacutetica de Koumlppen A vegetaccedilatildeo eacute composto por espeacutecies perenes que 101

conseguem sobreviver mesmo em periacuteodos de seca e espeacutecies anuais que aparecem apenas em 102

periacuteodos com chuva (Cruz et al 2013) 103

De acordo os dados de precipitaccedilatildeo do Laboratoacuterio de Anaacutelise e Processamento de 104

Imagens de Sateacutelites (LAPIS) no ano de 2012 foi registrada a menor meacutedia anual de 105

precipitaccedilatildeo dos uacuteltimos 10 anos para essa regiatildeo (3784 mm) Essa realidade ambiental quando 106

comparada com estudo realizado por de Sieber e colaboradores (2011) na mesma comunidade 107

observa-se que houve uma diminuiccedilatildeo considerada das praacuteticas agriacutecolas realizadas pelos 108

membros da comunidade culminando em uma seacuterie de prejuiacutezos aos agricultores como a perda 109

de plantaccedilotildees e animais Essa perda de produtividade afetou a estrutura econocircmica da 110

comunidade uma vez que a principal fonte de subsistecircncia das famiacutelias eacute a agricultura 111

Associada as atividades agriacutecolas os moradores complementam a dieta e a renda 112

familiar com a venda dos excedentes da produccedilatildeo em feiras-livres ou centros comerciais da 113

regiatildeo (Cruz et al 2013) E com a pecuaacuteria de pequena escala bovina caprina e com avicultura 114

No entanto a diminuiccedilatildeo da forragem natural e cultivada causada pela escassez de chuvas 115

associada aos elevados custos envolvidos na compra de raccedilatildeo levou muitos animais agrave morte 116

(Fig 4) 117

No Municiacutepio de Altinho a comunidade do Caratildeo foi inicialmente escolhida devido ao 118

reconhecimento preacutevio do registro de agricultores realizado em estudos desenvolvidos pelo 119

nosso grupo de pesquisa facilitando assim o acesso agraves informaccedilotildees necessaacuterias para o 120

desenvolvimento da pesquisa 121

As comunidades Aracuatilde Brejo Velho Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima 122

Lajedo Dandas e Satildeo Joseacute do Bola amostradas no estudo pertencem ao Municiacutepio de Panelas 123

que se limita ao Norte com o Municiacutepio de Altinho Essas comunidades estatildeo localizadas em 124

31

no domiacutenio morfoclimaacutetico de Caatinga O clima eacute do tipo semiaacuterido Bsrsquoh segundo a 125

classificaccedilatildeo climaacutetica de Koumleppen 126

A maior parte dos membros dessas comunidades assim como no Caratildeo tecircm como 127

principal fonte de subsistecircncia a agricultura de sequeiro principalmente o cultivo da mandioca 128

(Fig 5) Como renda extra a pecuaacuteria de pequeno porte com criaccedilatildeo bovina caprina e 129

avicultura sendo os excedentes dos alimentos produzidos vendidos em feiras locais ou para 130

escolas 131

As atividades agriacutecolas entre as comunidades tambeacutem foram duramente afetadas pela 132

seca na regiatildeo nos uacuteltimos anos A escassez de chuvas desestimulou o plantio a produccedilatildeo de 133

mandioca foi fortemente comprometida e a colheita foi adiada devido ao subdesenvolvimento 134

das raiacutezes gerando impactos econocircmicos para os membros das comunidades 135

As comunidades amostradas neste muniacutecipio foram escolhidas em funccedilatildeo das 136

indicaccedilotildees dos agricultores entrevistados a princiacutepio na comunidade do Caratildeo que reportaram 137

manter viacutenculos sociais com os agricultores do municiacutepio vizinho 138

Coleta de dados 139

Acessamos as comunidades com a ajuda de um liacuteder comunitaacuterio (Alexandre O 140

Nascimento) em companhia de outros pesquisadores que desenvolviam pesquisas na regiatildeo 141

Previamente as entrevistas todos objetivos e procedimentos para a realizaccedilatildeo da pesquisa foram 142

apresentados aos entrevistados e todos que aceitaram participar foram convidados a assinar um 143

Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) de acordo com a Resoluccedilatildeo 46612 do 144

Conselho Nacional de Sauacutede concordando com a realizaccedilatildeo das entrevistas e avaliaccedilotildees 145

morfoloacutegicas em campo O presente trabalho foi submetido ao Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa da 146

Universidade de Pernambuco (UPE) 147

32

Em todas as comunidades o meacutetodo de acesso ao informante foi o mesmo a partir do 148

primeiro contato com um informante-chave identificamos outros potenciais agricultores 149

seguindo a teacutecnica de ldquobola de neverdquo (Albuquerque et al 2014a) Esse meacutetodo consistiu na 150

amostragem intencional dos participantes e nesse particular os agricultores chefes de famiacutelia 151

(ge 18 anos) da regiatildeo que declararam cultivar mandioca (M esculenta) em suas roccedilas 152

Reunimos informaccedilotildees socioeconocircmicas desses agricultores tais como nome idade gecircnero 153

escolaridade renda experiecircncia na agricultura e tamanho da aacuterea de cultivo para tentar 154

identificar se esses paracircmetros socioeconocircmicos tecircm uma relaccedilatildeo com a agrobiodiversidade 155

local 156

Em seguida conduzimos entrevistas semiestruturadas (Albuquerque et al 2014b) com 157

o objetivo de caracterizar o modo de vida dos agricultores o manejo da agricultura bem como 158

obter dados sobre o conhecimento uso e caracterizaccedilatildeo das etnovariedades de mandioca 159

5cultivadas Aleacutem disso neste momento tambeacutem aplicamos a teacutecnica da lista livre 160

(Albuquerque et al 2014b) a fim de registrar as variedades de mandioca atualmente cultivadas 161

pelos agricultores e identificar as de maior importacircncia local Apoacutes as entrevistas realizamos 162

visitas aos roccedilados para o registro fotograacutefico georreferenciamento das roccedilas e caracterizaccedilatildeo 163

morfoloacutegica das variedades cultivadas 164

Entrevistamos 50 agricultores no total distribuiacutedos nas sete comunidades Caratildeo (3) 165

Satildeo Joseacute do Bola (10) Brejo velho (7) Japaranduba de Baixo (7) Japaranduba de Cima (8) 166

Lajedo Dantas (9) e Aracuatilde (6) Destes 10 satildeo mulheres e 40 homens com idade variando entre 167

31 e 82 anos A maioria dos entrevistados natildeo apresentava instruccedilatildeo formal (46) mais da 168

metade eram aposentados (56) e os demais apresentaram renda inferior a um salaacuterio miacutenimo 169

5 Entende-se por etnovariedade de mandioca o conjunto de variedades intraespeciacuteficas de mandioca (M esculenta)

reconhecidas pelos agricultores por nomenclatura popular local (Peroni 2004)

33

O tempo meacutedio de experiecircncia na agricultura foi de 40 anos Cada agricultor possui entre um e 170

dois roccedilados (aacuterea de plantio) com aproximadamente um a dois hectares 171

Redes de interaccedilatildeo social 172

Confeccionamos a rede que descreve as interaccedilotildees entre os agricultores e as 173

etnovariedades cultivadas a partir de uma matriz de incidecircncia R (presenccedilaausecircncia) onde nas 174

linhas estavam as etnovariedades de mandioca cultivadas (j) e nas colunas os agricultores locais 175

(i) O elemento Rij dessa matriz foi 1 (um) no caso de a etnovariedade j ser cultivada pelo 176

agricultor i caso contraacuterio seria atribuiacutedo 0 (zero) As interaccedilotildees entre os agricultores e as 177

etnovariedades foram descritas em dois modos (Pires et al 2011) onde os ldquonoacutesrdquo da esquerda 178

representam os agricultores que foram vinculados aos ldquonoacutesrdquo da direita representados pelas 179

etnovariedades citadas durante as entrevistas Esses ldquonoacutesrdquo seriam o espelho das decisotildees dos 180

agricultores em manter um determinado conjunto local de etnovariedades em suas roccedilas 181

Avaliamos a estrutura da rede que conecta os agricultores agraves etnovariedades cultivadas 182

a partir de trecircs cenaacuterios hipoteacuteticos (Fig 6) segundo Cachevia et al (2014) No primeiro se os 183

agricultores apresentassem diferentes graus de seletividade para a utilizaccedilatildeo de suas 184

etnovariedades a estrutura seria aninhada (Fig 6a) Isso significa que alguns agricultores 185

cultivam vaacuterias etnovariedades enquanto que outros cultivam o subconjunto mais 186

disponiacutevelcomum dessas etnovariedades Em segundo lugar se a rede apresentasse uma 187

estrutura modular (Fig 6b) significaria que os agricultores apresentam semelhanccedila na seleccedilatildeo 188

do recurso ou seja subgrupos de agricultores cultivam subgrupos distintos de etnovariedades 189

regionalmente disponiacuteveiscomuns E o terceiro se os agricultores natildeo apresentassem 190

preferecircncias quanto a seleccedilatildeo das etnovariedades entatildeo a rede apresentaria uma estrutura 191

aleatoacuteria (Fig 6c) 192

O objetivo da anaacutelise de rede nesse estudo foi tentar entender se o conjunto de 193

etnovariedades presentes no local do estudo constituem uma subamostra de um conjunto mais 194

34

amplo no caso de um alto grau de aninhamento ou se a sua composiccedilatildeo eacute determinada por 195

variaacuteveis locais (Ulrich 2008) Onde as conexotildees entre os informantes e as etnovariedades 196

representam as decisotildees dos agricultores de manter um conjunto determinado de variedades de 197

mandioca dentre as comunidades Esta anaacutelise tambeacutem nos permitiu identificar quais os nuacutecleos 198

de etnovariedades que apresentam maior conexatildeo com os diferentes perfis dos agricultores 199

Diversidade fenotiacutepica 200

Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 201

Apoacutes as entrevistas buscamos identificar quais os caracteres morfoloacutegicos considerados 202

mais importantes para a diferenciaccedilatildeo das etnovariedades de mandioca a partir do seguinte 203

questionamento ldquoQuais as diferenccedilas que vocecirc reconhece para separar uma qualidade de 204

mandioca (variedade) de uma outrardquo Assim os agricultores mencionaram quais os criteacuterios 205

mais importantes utilizados para a caracterizaccedilatildeo de suas etnovariedades 206

Compilamos uma listagem dessas caracteriacutesticas baseada nas indicaccedilotildees dos 207

agricultores e a partir delas selecionamos os caracteres morfoloacutegicos mais citados para a 208

caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica ldquoin siturdquo tais como cor da folha (cor da folha desenvolvida) olho 209

(cor do broto foliar) cor do talo (cor do peciacuteolo) maniva (cor externa do caule) embriatildeo 210

(protuberacircncia da cicatriz foliar) cor da entrecasca (coacutertex da raiz) e cor miolo (polpa da raiz) 211

(Tabela 1) O objetivo dessa caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica foi indicar como estaacute distribuiacuteda a 212

variaccedilatildeo fenotiacutepica das etnovariedades de mandioca nas comunidades na regiatildeo semiaacuterida de 213

Pernambuco bem como identificar que caracteriacutesticas satildeo mais importantes para distinguir 214

esses grupos no intuito de tentar entender como os agricultores classificam suas variedades de 215

mandioca 216

Nas sete comunidades para cada etnovariedade citada no roccedilado caracterizamos ldquoin 217

siturdquo trecircs indiviacuteduos de M esculentade de cada uma totalizando 171 indiviacuteduos (Aracuatilde=11 218

35

Caratildeo=4 Satildeo Joseacute do Bola=13 Brejo Velho=16 Japaranduba de Baixo=6 Japaranduba de 219

Cima=3 e Lajedo Dantas=4) Fotografamos e avaliamos todos os indiviacuteduos com base em parte 220

dos descritores morfoloacutegicos seguindo recomendaccedilotildees de Fukuda amp Guevara (1998) e aleacutem 221

disso georreferenciamos todas as aacutereas de roccedila 222

Anaacutelise dos dados 223

Analisamos os dados socioeconocircmicos das entrevistas semiestruturadas por meio de 224

estatiacutestica descritiva para explicar os aspectos da realidade econocircmica e social dos agricultores 225

Para identificar se a diversidade intraespeciacutefica da mandioca cultivada localmente eacute 226

influenciada por paracircmetros socioeconocircmicos utilizamos o coeficiente de correlaccedilatildeo de 227

Spearman (Ple005) (Sokal amp Rohlf 1995) 228

Com base na lista livre das variedades de mandioca cultivadas pelos agricultores 229

calculamos a frequecircncia de citaccedilatildeo o ranking e o iacutendice de saliecircncia com o objetivo de 230

identificar quais as mais importantes ou preferidas para as comunidades O iacutendice de saliecircncia 231

considerou a frequecircncia de citaccedilatildeo e o ranking referente ao posicionamento das variedades 232

dentro das listas livres (Thompson amp Juan 2006) As etnovariedades mais citadas e com maior 233

valor de saliecircncia representam as de maior importacircncia ou preferecircncia para as comunidades 234

Anaacutelise de rede 235

Medimos o grau de aninhamento (NODF) para investigar a estrutura de rede de 236

interaccedilatildeo social dos agricultores em funccedilatildeo das variedades cultivadas As matrizes altamente 237

aninhadas apresentam NODF tendendo a 1 caso contraacuterio tentem a ser 0 238

Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 239

Para o estudo das semelhanccedilas e diferenccedilas fenotiacutepicas entre as variedades de mandioca 240

ldquoin siturdquo realizamos anaacutelises multivariadas para identificar possiacuteveis grupos de variedades que 241

compartilham semelhanccedilas entre si 242

36

A anaacutelise de correspondecircncia muacuteltipla (MCA) permitiu identificar como as variedades 243

de mandioca estatildeo ordenadas em funccedilatildeo dos seus descritores etnobotacircnicos As etnovariedades 244

foram plotadas ao longo um plano cartesiano bi ou tridimensional onde a variaccedilatildeo total eacute 245

explicada pelos dois primeiros eixos Complementar a esta anaacutelise realizamos a anaacutelise de 246

agrupamento hieraacuterquico (Cluster) para identificar como estatildeo agrupadas as etnovariedades de 247

acordo seus descritores Conferimos a consistecircncia do dendrograma com coeficiente de 248

correlaccedilatildeo cofeneacutetica conforme Sneath amp Sokal (1973) que quantifica se a correlaccedilatildeo entre a 249

matriz de distacircncias originais e a matriz de distacircncias cofeneacuteticas eacute representativa Para 250

mensurar as dissimilaridades entre as variedades de mandioca foi utilizada a distacircncia 251

euclidiana e com o meacutetodo de Ward 252

Softwares utilizados 253

Para a anaacutelise da lista livre usamos o software ANTROPAC versatildeo 10 O software 254

ANINHADO 30 (Guimaratildees amp Guimaratildees 2006) foi usado para medir o grau de aninhamento 255

da rede Utilizamos o software estatiacutestico R (R core team 2017) para a anaacutelise de correlaccedilatildeo 256

de Spearman com o pacote corrplot (Wei amp Simko 2013) o desenho da rede que descreve a 257

interaccedilatildeo entre os agricultores e as etnovariedades com o pacote bipartite (Dormann et al 258

2017) E com os pacotes FactoMineR (LEcirc et al 2008) factoextra (Kassambara et al 2016) e 259

vegan (Oksanen et al 2017) foram realizadas as anaacutelises de cluster de correspondecircncia 260

muacuteltipla (MCA) e de correlaccedilatildeo coefeneacutetica respectivamente 261

Resultados 262

As diferentes etnovariedades de mandioca encontradas no estudo suprem a demanda 263

local por alimento enquanto outras atendem agraves preferecircncias individuais ou do comeacutercio As 264

variedades que possuem maior rendimento e a farinha produzida apresenta coloraccedilatildeo branca 265

satildeo as de maior valor comercial para os agricultores devido agraves preferecircncias do mercado Jaacute 266

37

outras variedades que satildeo mais moles e apresentam coloraccedilatildeo amarelada natildeo satildeo empregadas 267

na produccedilatildeo de farinha mas sim consumidas cozidas ou assadas A depender da demanda local 268

os agricultores intencionalmente aumentam ou diminuem a frequecircncia de suas variedades nos 269

roccedilados seja por alguma exigecircncia do comeacutercio ou para consumo familiar 270

Nas comunidades os agricultores separam suas variedades de mandioca em dois grupos 271

como observado em outras comunidades na mata Atlacircntica por Emperaire e Peroni (2007) o 272

das ldquomacaxeirasrdquo que satildeo as variedades exploradas basicamente para o consumo familiar sem 273

processo preacutevio de desintoxicaccedilatildeo cujas raiacutezes satildeo consumidas fritas eou cozidas Sendo 274

utilizadas tambeacutem como complemento na dieta dos animais E o grupo das ldquomandiocasrdquo que 275

satildeo as variedades que necessitam de processo preacutevio de desintoxicaccedilatildeo para o consumo 276

utilizadas comumente para a produccedilatildeo de farinha de mandioca Para os agricultores as 277

ldquomandiocasrdquo possuem maior valor comercial pois apresentam maior rendimento e 278

rentabilidade pois a farinha produzida eacute branca e atende as preferencias do comercio local 279

Aleacutem da farinha outros produtos e subprodutos produzidos dentre os quais foram citados 280

ldquotapioca ou gomardquo ldquobijurdquo ou ldquobolo de mandiocardquo satildeo utilizados para o consumo proacuteprio ou 281

eventual comercializaccedilatildeo 282

Os informantes natildeo possuiacuteam conhecimento sobre a origem dos nomes das variedades 283

de mandioca Quanto a compreensatildeo da geraccedilatildeo da diversidade intraespeciacutefica identificamos 284

que apesar de 66 dos agricultores citarem que conhecem variedades fruto de germinaccedilatildeo de 285

suas sementes nenhum deles utiliza as manivas para o plantio por essas variedades de 286

mandioca ldquovoluntaacuteriasrdquo natildeo apresentarem bom rendimento 287

Observamos que existe uma baixa correlaccedilatildeo entre a diversidade de variedades 288

atualmente cultivadas e as variaacuteveis socioeconocircmicas como no caso do nuacutemero de roccedilados 289

(r=028 Ple005) e do tamanho do roccedilado (r=033 Ple005) (Fig 7) Essa baixa correlaccedilatildeo pode 290

38

ser explicada pelo fato de existirem grupos de agricultores que preferem manter as variedades 291

de maior valor econocircmico e de subsistecircncia mesmo com aacutereas maiores de cultivo 292

Verificamos tambeacutem uma correlaccedilatildeo positiva moderada entre o nuacutemero de variedades 293

conhecidas com o nuacutemero de variedades atualmente cultivadas (r=054 Ple005) Na lista livre 294

foram identificadas 22 etnovariedades de mandioca cultivadas (132 citaccedilotildees no total) sendo 295

oito dessas mais citadas com maiores valores de saliecircncia (entre 047 e 0082) (Tabela 2) As 296

etnovariedades ldquoMacaxeira Rosardquo e ldquoMandioca Isabel de Souzardquo exibiram os maiores valores 297

de saliecircncia 047 e 037 respectivamente Logo essas variedades satildeo as mais conhecidas 298

dentro das comunidades com 66 e 48 das citaccedilotildees respectivamente 299

Dentre as etnovariedades citadas 12 foram idiossincraacuteticas pois apresentaram menor 300

frequecircncia de citaccedilatildeo e menores valores de saliecircncia (entre 0032 e 0006) (Tabela 2) 301

Redes de interaccedilatildeo social 302

A rede apresentou uma estrutura aninhada com grau de aninhamento significativamente 303

superior aos modelos nulos (N=3072 Plt0001) para as comunidades sendo um nuacutecleo de 304

etnovariedades altamente conectado aos agricultores (Fig 8) A estrutura aninhada nos permite 305

inferir que existe um grupo de agricultores que cultiva uma maior diversidade de etnovariedades 306

de mandioca em suas roccedilas enquanto que outro subgrupo que tem menor diversidade cultivam 307

as mais comuns ou disponiacuteveis (Cavechia et al 2014) Isso significa que os agricultores locais 308

mesmo em diferentes comunidades cultivam um nuacutecleo de etnovariedades comum entre eles 309

(n=6 Tabela 2) 310

Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 311

Observamos que a maioria dos indiviacuteduos de mandioca satildeo caracterizados por meio de 312

um conjunto de sete caracteres morfoloacutegicos os quais foram citados pelos agricultores como 313

mais importantes para a caracterizaccedilatildeo de suas variedades Nas visitas aos roccedilados registramos 314

39

as etnovariedades atualmente cultivadas e a tabela 3 fornece a lista completa com as 17 315

etnovariedades de mandioca e o local de registro 316

Por meio da anaacutelise de correspondecircncia muacuteltipla as variedades de mandioca foram 317

ordenadas em funccedilatildeo de seus descritores ao longo do primeiro e segundo eixo correspondentes 318

a 3680 da variacircncia total (Fig 9) 319

As variaacuteveis mais correlacionadas e que agruparam as variedades de mandioca no 320

primeiro eixo foram cor da folha desenvolvida (CFD) (r= 07239 Ple0001) cor do coacutertex da 321

raiz (CDR) (r= 06473 Ple0001) cor do broto foliar (CBF) (r= 06880 Ple0001) cor do peciacuteolo 322

(CDP) (r= 05250 Ple005) cor externa do caule (CEC) (r= 06883 Ple005) cor da polpa da 323

raiz (PDR) (r= 02473 Ple005) Para o segundo eixo as variaacuteveis correlacionadas foram cor 324

da folha desenvolvida (CFD) (r= 07220 Ple0001) cor externa do caule (CEC) (r= 08718 325

Ple0001) e cor do peciacuteolo (CDP) (r= 06927 Ple005) 326

O agrupamento de todas as variedades caracterizadas ldquoin siturdquo gerou uma aacutervore 327

hieraacuterquica (dendrograma) (Fig 9) utilizando a distacircncia euclidiana seguindo o criteacuterio de 328

Ward O dendrograma gerado apresentou um coeficiente de correlaccedilatildeo cofeneacutetica r= 06780 329

indicando que existe consistecircncia com os dados originais no agrupamento quanto agrave 330

classificaccedilatildeo e estrutura de tal forma que as variedades foram agrupadas em oito classes as 331

quais foram explicadas pelas variaacuteveis mais significativas descritas na tabela 4 332

O resultado do agrupamento (utilizada a distacircncia euclidiana e com o meacutetodo de Ward) 333

observamos que as etnovariedades de mandioca caracterizadas ldquoin siturdquo foram agrupadas em 334

dois grandes agrupamentos indicados na Fig 10 pelos retacircngulos em vermelho A partir dessa 335

anaacutelise percebemos que os caracteres morfoloacutegicos selecionados pelos agricultores natildeo foram 336

suficientes para separar as variedades de macaxeira e mandioca pois em ambos os 337

agrupamentos encontramos tanto macaxeiras quanto mandiocas 338

40

As variedades da classe 1 foram identificadas pelos agricultores pela cor do peciacuteolo 339

(CDP) verde A classe 2 agrupou as etnoveriedades caracterizadas pela protuberacircncia da cicatriz 340

foliar (PCF) mais protuberante Esse descritor segundo os agricultores era identificado como 341

ldquoembriatildeordquo A classe 3 consiste apenas da variedade ldquoMandioca Pretonardquo indicada pela presenccedila 342

de cor do peciacuteolo (CDP) vermelho A classe 4 agrupou trecircs variedades caracterizadas pelos 343

agricultores pela presenccedila de cor coacutertex da raiz (CDR) rosa e cor da polpa da raiacutez (PDR) branca 344

identificadas como ldquoMacaxeira vermelhardquo ldquoMacaxeira Rosa Brancardquo ldquoMacaxeira Rosardquo As 345

variedades agrupadas na classe 5 foras as variedades de mandioca caracterizadas pelos 346

agricultores por apresentarem cor do coacutertex (CDR) da raiacutez branca A classe 6 agrupou 347

variedades identificadas pelos agricultores pela cor do broto foliar (CBF) verde A classe 7 348

consiste apenas da variedade ldquoMacaxeira Sementerdquo identificada pelos agricultores pela cor do 349

peciacuteolo (CDP) roxo e protuberacircncia da cicatriz foliar pouco proeminente Essa variedade 350

segundo os agricultores era fruto do nascimento espontacircneo no roccedilado poreacutem eles geralmente 351

natildeo utilizam essas variedades por apresentarem apenas uma raiz pequena e de baixo 352

rendimento Na classe 8 as variedades foram identificadas pelos agricultores pela cor do peciacuteolo 353

(CDP) verde amarelado e protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) pouco proeminente As 354

ldquoMandioca Isabel de Souzardquo ldquoMandioca Isabel trecircs galhosrdquo segundo os agricultores se 355

diferenciavam pelo maior nuacutemero de caules presentes na variedade ldquoIsabel trecircs galhosrdquo 356

Discussatildeo 357

As sete comunidades estudadas manejavam um nuacutemero consideraacutevel de variedades 358

locais A quantidade de etnovariedades registradas eacute proacutexima a encontrada por Bender et al 359

(2009) e Cavechia et al (2014) em comunidades na regiatildeo sul e sudeste por Oler e Amorozo 360

(2017) em uma comunidade tradicional na regiatildeo centro-oeste Poreacutem foi quantitativamente 361

inferior quando comparada a estudos como os de Elias et al (2001) e Kawa et al (2013) em 362

comunidades na regiatildeo amazocircnica pois possuiacuteam uma alta diversidade Essa alta diversidade 363

41

na regiatildeo amazocircnica pode estar relacionada com o fato de que essa regiatildeo eacute o provaacutevel centro 364

de origem da mandioca (M esculenta) (Allem 1994) 365

As etnovariedades registradas neste estudo estatildeo disponiacuteveis para a maioria dos 366

agricultores dessa regiatildeo e esse fator favorece a circulaccedilatildeo das etnovariedades entre as 367

comunidades locais Por isso haacute semelhanccedilas das etnovariedades utilizadas entre os agricultores 368

da mesma comunidade e entre comunidades vizinhas 369

Parte dos agricultores optam por manter uma alta frequecircncia de variedades mais 370

utilizadas enquanto que outros optam por manter etnovariedades de baixa frequecircncia 371

Conforme discutido por Amorozo (2013) os agricultores escolhem seu acervo de acordo com 372

as necessidades e contexto em que vivem A reduccedilatildeo da diversidade de etnoveriedades por 373

exemplo pode ser impulsionada por fatores que simplificam o sistema como a seleccedilatildeo de 374

etnovariedades para a produccedilatildeo de farinha resultando no cultivo de poucas ou ateacute de uma uacutenica 375

etnovariedade (Peroni amp Hanazaki 2002) mesmo em aacutereas maiores 376

377

Redes de interaccedilatildeo social 378

Com as anaacutelises de rede demonstramos que os agricultores de diferentes comunidades 379

em uma mesma regiatildeo efetivamente trocam variedades de mandioca entre si corroborando 380

com estudos realizados por Emperaire amp Eloy (2008) Pautasso et al (2012) e Cavechia et al 381

(2014) Nesses estudos os autores tambeacutem consideram que as trocas de etnovariedades por 382

meio da rede de intercacircmbio entre os agricultores eacute um mecanismo fundamental para a 383

manutenccedilatildeo da diversidade local 384

A visualizaccedilatildeo da rede demonstrou que entre as comunidades os agricultores 385

compartilham um nuacutecleo de etnovariedades mais utilizadas dentre as quais estatildeo as de maior 386

valor econocircmico e de subsistecircncia Essas de maior frequecircncia satildeo aquelas altamente produtivas 387

utilizadas pelos agricultores para atenderem agraves demandas de mercado por farinha e para o 388

consumo proacuteprio (Kawa et al 2013) 389

42

No entanto observamos que existe outro nuacutecleo de etnovariedades menos frequentes 390

Essas etnovariedades raras podem ser resultantes do processo de experimentaccedilatildeo ou 391

preferecircncias individuais dos agricultores Outra possiacutevel razatildeo para a baixa frequecircncia de 392

algumas etnovariedades poderia ser explicada pela variaccedilatildeo da nomenclatura pelos 393

agricultores que segundo Peroni amp Hanazaki (2002) pode ocorrer durante o processo de troca 394

e introduccedilatildeo de novas variedades aos roccedilados Ainda assim natildeo descartamos a hipoacutetese de que 395

essas etnovariedades raras possam ser provenientes do cruzamento entre variedades diferentes 396

cultivadas da mesma roccedilado ou em roccedilas vizinhas De acordo com Martins (2005) essas 397

variedades fruto de germinaccedilatildeo expentacircnea satildeo incorporadas aos roccedilados pelos agricultores 398

pela curiosidade em experimentar novas variedades agraves suas coleccedilotildees 399

Nesse estudo admitimos que optar por etnovariedades raras entre as comunidades 400

estudadas eacute um comportamento adotado por agricultores que manejam uma maior diversidade 401

corroborando com os estudos de Cavechia et al (2014) e Emperaire et al (2016) em regiotildees 402

uacutemidas Para esses autores etnovaridedades de baixa frequecircncia representam um subconjunto 403

das de alta frequecircncia cultivadas por agricultores que manteacutem a maior diversidade em seus 404

roccedilados Sendo assim inferimos que no geral entre as comunidades satildeo os agricultores 405

generalistas aqueles que cultivam maior diversidade os responsaacuteveis por incorporar novas 406

etnovariedades aos roccedilados 407

As decisotildees dos agricultores em manter o acervo direcionado principalmente para 408

atender a demanda de mercado por exemplo podem levar a uma homogeneizaccedilatildeo nas roccedilas 409

colocando em risco a manutenccedilatildeo da diversidade local (Peroni amp Hanazaki 2002) Como 410

discutido por Elias et al (2000) os agricultores que selecionam apenas um nuacutemero reduzido e 411

especiacutefico de variedades mais produtivas tendem a fazer com que as variedades menos 412

frequentes desapareccedilam ao longo do tempo Essa tendecircndia pode influenciar na capacidade de 413

43

resiliecircncia do sistema assim como dos agricultores em lidar com possiacuteveis adversidades 414

ambientais que possam ocorrer 415

Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 416

No geral os agricultores demonstraram uma tendecircncia em classificarseparar suas 417

diferentes etnovariedades de mandioca a partir da combinaccedilatildeo de um conjunto de sete 418

caracteres morfoloacutegicos distintos e de faacutecil percepccedilatildeo os quais natildeo tem relaccedilatildeo com o uso 419

como por exemplo a cores das raiacutezes caule e folhas Logo consideramos que esses caracteres 420

morfoloacutegicos podem ser considerados como uma forma de classificaccedilatildeo pelos agricultores 421

baseada na capacidade percepccedilatildeo das diferenccedilas morfoloacutegicas que cada etnovariedades 422

apresenta (Boster 1985) Estes resultados nos levam a entender que entre os agricultores o 423

conhecimento sobre a diversidade da mandioca estaacute relacionado ao conhecimento de 424

caracteriacutesticas morfoloacutegicas consistentes 425

A existecircncia de alguns fenoacutetipos comuns nos permitiu avaliar a classificaccedilatildeo da 426

consistecircncia da taxonomia popular entre os agricultores Por exemplo as etnovariedades 427

ldquoMaxaceira Rosardquo e ldquoMacaxeira Rosa Brancardquo e ldquoMacaxeira vermelhardquo foram agrupadas no 428

mesmo cluster (C4) por apresentaram fenoacutetipos semelhantes Notamos que os agricultores 429

classificaram essas variedades de acordo com os traccedilos morfoloacutegicos mais relevantes como a 430

cor do coacutertex da raiz rosa e cor branca da polpa O mesmo ocorreu com as etnovariedades 431

ldquoMandioca varudardquo ldquoMandioca campina da granderdquo e ldquoMandioca campinardquo caracterizadas 432

pela presenccedila do peciacuteolo verde agrupadas no cluster (C1) 433

A partir dessas evidecircncias consideramos a hipoacutetese de que as variedades mesmo 434

apresentando caracteriacutesticas morfoloacutegicas muito semelhantes estatildeo sujeitas a variaccedilatildeo 435

nomenclatural durante o processo a incorporaccedilatildeo aos roccedilados pelos agricultores pois a 436

capacidade para distinguir e nomear variedades entre os agricultores da mesma regiatildeo pode 437

variar (Sambatti et al 2001 Elias et al 2001 Mekbib 2007) Consideramos tambeacutem que pode 438

44

existir variaccedilatildeo geneacutetica entre os indiviacuteduos identificados por um mesmo nome ou entatildeo que 439

os agricultores datildeo o mesmo nome para variedades diferentes E esta situaccedilatildeo pode levar a uma 440

superestimaccedilatildeo ou subestimaccedilatildeo da diversidade de mandioca cultiva nas aacutereas de estudo 441

Sabemos que a mandioca eacute propagada vegetativamente pelos agricultores por meio de 442

estacas em sistemas de agricultura tradicional No entanto alguns variedades produzem flores 443

e sementes que germinam e podem originar outras variedades ou outros clones por meio de 444

fecundaccedilatildeo cruzada (Elias et al 2001) Nesse contexto a etnovariedade ldquoMacaxeira Sementerdquo 445

presente no cluster (C7) trata-se de um uacutenico indiviacuteduo amostrado em uma roccedila de um dos 446

agricultores Esta apresentava algumas caracteriacutesticas morfoloacutegicas distintas das demais 447

reconhecidas pelo agricultor como por exemplo a produccedilatildeo de uma raiz uacutenica e 448

consequentemente de baixo rendimento Encontramos apenas um indiviacuteduo dessa 449

etnovariedade e nossa hipoacutetese de que esta poderia ter sido originada da germinaccedilatildeo da 450

semente mesmo quando 100 dos informantes declararam natildeo dar qualquer importacircncia e 451

descartar essas ldquovariedades-voluntaacuteriasrdquo foi confirmada pelo agricultor que afirmou que se 452

tratava de uma variedade nascida da germinaccedilatildeo da semente Esse comportamento vai de 453

encontro ao estudo de Fraser et al (2012) pois apesar dos agricultores reportarem nas 454

entrevistas que conhecem essas ldquovariedades-voluntaacuteriasrdquo nenhum agricultor faz o uso delas 455

Peroni et al (1999) e Agre et al (2016) analisando morfologicamente as variedades 456

locais de mandioca mantidas por agricultores em sistemas agriacutecolas tropicais tambeacutem 457

demonstraram que os agricultores satildeo coerentes quanto a separaccedilatildeo e identificaccedilatildeo de suas 458

etnovariedades a partir da formaccedilatildeo de grupos de coesos quanto a nomenclatura local utilizada 459

No entanto para o melhor entendimento dessa diversidade aleacutem da caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica 460

o uso de anaacutelises complementares como anaacutelise molecular seria importante para tentar 461

identificar se esses grupos representam a mesma variedade com nomes distintos ou se satildeo 462

variedades distintas com o mesmo nome 463

45

Conclusatildeo 464

O estudo demonstrou que no sistema de manejo da mandioca ao niacutevel de roccedila em 465

comunidades localizadas na regiatildeo semiaacuterida de Pernambuco compotildee uma diversidade 466

intrespeciacutefica de mandioca para atender agraves demandas econocircmicas e de subsistecircncia das 467

populaccedilotildees locais 468

Com relaccedilatildeo a anaacutelise de rede demostramos que haacute um nuacutecleo de etnovariedades 469

fortemente conectado aos agricultores e sua composiccedilatildeo eacute direcionada pelas preferecircncias e 470

necessidades individuais dos agricultores que foram os fatores responsaacuteveis pelo surgimento 471

da estrutura aninhada observada na anaacutelise rede entre as comunidades deste estudo E esse 472

padratildeo aninhado observado contribui na conservaccedilatildeo das etnovariedades mais comuns mas 473

tambeacutem pode resultar em perda daquelas de menor frequecircncia ao longo do tempo 474

A caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica ldquoin siturdquo nos permitiram inferir que os agricultores 475

reconhecem as diferentes caracteriacutesticas morfoloacutegicas de suas cultivares e satildeo coerentes na 476

separaccedilatildeo de suas variedades de mandioca e macaxeira Entretanto esses resultados sugerem a 477

realizaccedilatildeo de um estudo em niacutevel de diversidade geneacutetica exploratoacuterio para identificar se as 478

consistecircncias morfoloacutegicas refletem em consistecircncias geneacuteticas elucidando assim as possiacuteveis 479

confusotildees atribuiacutedas aos nomes das etnovariedades de mandioca 480

Agradecimentos 481

Agradecemos ao liacuteder comunitaacuterio Alexandre O Nascimento aos agricultores e 482

agricultoras das comunidades pela acolhida confianccedila e pela gentileza de compartilharem 483

conosco seus conhecimentos e contribuiacuterem com este estudo Especialmente a Arlindo Ferreira 484

Edgar Antocircnio Joseacute Sebastiatildeo Juvenal Oliveira e Janete Alves Ao Laboratoacuterio de Ecologia e 485

Evoluccedilatildeo de Sistemas Socioecoloacutegicos (LEA - UFPE) E agradecemos ao CNPq pelo apoio 486

com a bolsa de estudos do primeiro autor 487

46

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analysis Journal of Statistical Software 25(1) 1ndash18 560

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estudo sobre a dinacircmica da diversidade da mandioca no meacutedio Solimotildees Amazonas 562

Boletimdo Museu Paraense Emilio GoeldiCiencias Humanas 7(2) 371ndash396 563

httpsdoiorg101590S1981-81222012000200005 564

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49

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(2017) Package ldquoveganrdquo Community Ecology Package Version 2(9) 577

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Ecosystems amp Environment 92(2ndash3) 171ndash183 583

Peroni N Martins P S amp Ando A (1999) Diversidade inter-e intra-especiacutefica e uso de 584

anaacutelise multivariada para morfologia da mandioca (Manihot esculenta Crantz) um estudo 585

de caso Inter-and intraspecific diversity and use of multivariate analysis for the 586

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Pinton F amp Emperaire L (2001) Le manioc en Amazonie breacutesilienne diversiteacute varieacutetale et 588

marcheacute Genet Sel Evol 33(1) 491ndash512 589

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Biological Conservation 136(4) 541ndash551 httpsdoiorg101016jbiocon200612025 595

Sambatti J B M Martins P S amp Ando A (2001) Folk taxonomy and evolutionary 596

dynamics of cassava a case study in Ubatuba Brazil Economic Botany 55(1) 93ndash105 597

Sieber S S Medeiros P M amp Albuquerque U P (2011) Local perception of environmental 598

change in a semi-arid area of Northeast Brazil a new approach for the use of participatory 599

methods at the level of family units Journal of Agricultural and Environmental Ethics 600

24(5) 511ndash531 601

Sneath P H A Sokal R R amp others (1973) Numerical taxonomy The principles and 602

practice of numerical classification 603

Sokal R R amp Rohlf F J (1995) 1995 Biometry WH Freeman San Francisco Sulikowski 604

JA J Kneebone S Elzey P Danley WH Howell and PWC Tsang--2005 The 605

50

Reproductive Cycle of the Thorny Skate Amblyraja Radiata in the Gulf of Maine Fish 606

Bull 103 536ndash543 607

Team R C (2017) R A Language and Environment for Statistical Computing Vienna 608

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Thompson E C amp Juan Z (2006) Comparative cultural salience Measures using free-list 610

data Field Methods 18(4) 398ndash412 611

Wei T amp Simko V (2013) corrplot Visualization of a correlation matrix R Package Version 612

073 230(231) 11 613

614

51

ANEXOS 615

616

Nome da revista 617

Human Ecology 618

Link de acesso 619

httpsgooglDVLbFj 620

Qualis-CAPES 621

B1 em Biodiversidade 622

623

624

625

626

627

628

629

630

631

632

633

634

635

636

637

638

639

640

641

642

52

Figuras 643

644

645

Fig 1 Partes do processo de fabricaccedilatildeo de farinha de mandioca Onde a raspagem b e c 646

processo de trituraccedilatildeo e d peneiramento Foto registrada em Abril de 2017 por Mirela Santos 647

648

649

650

c

d

b

a

53

651

Fig 2 Mapa de localizaccedilatildeo geograacutefica dos Municiacutepios de Altinho e Panelas e das comunidades 652

estudadas na regiatildeo semiaacuterida do Estado de Pernambuco (Elaborado por SANTOS 2018) 653

54

654

655

656

657

Fig 3 Processo de fabricaccedilatildeo da farinha de mandioca Apoacutes a colheita as raiacutezes satildeo lavadas 658

raspadas e trituradas (a) A massa extraiacuteda eacute prensada e coada Ao sair da prensa a massa 659

peneirada (b) e em seguida eacute torrada (c) em fornos artesanais ou parcialmente mecanizados 660

Imagem registrada em janeiro de 2017 na Comunidade do Caratildeo por Mirela Santos 661

662

663

a

b c

55

664

Fig 4 a Sede da Comunidade do Caratildeo b Agricultor transportando a palma forrageira que eacute 665

um exemplo de estrateacutegia adaptativa para suprir a falta de alimento dos animais devido agrave seca 666

c Feira-livre que acontece na comunidade a cada quinze dias Imagem registrada em julho de 667

2016 na Comunidade do Caratildeo por Mirela Santos 668

669

670

Fig 5 a O agricultor nos explicava as mudanccedilas que vem fazendo em seus roccedilados para se 671

adaptar aos longos periacuteodos de seca b Quando o agricultor nos mostrava as diferentes 672

etnovariedades que mantinha em sua roccedila c Durante a pesquisa nos explicavam como era feita 673

a colheita da mandioca e como selecionavam as manivas para o proacuteximo plantio Foto registrada 674

em abril de 2017 na Comunidade do Brejo Velho por Mirela Santos 675

a

b c

c b

a

56 676

677

Fig 6 Possiacuteveis estruturas de rede que descrevem as interaccedilotildees dos agricultores (losango) 678

ligados as etnovariedades (ciacuterculos) que cultivam Onde a Aninhada b Modular c Aleatoacuteria 679

(Fonte Cavechia et al 2014 com adaptaccedilotildees) 680

681

682

683

684

685

686

687

688

689

690

691

692

693

694

695

696

697

a c b

57

698

699

700

701

702

703

704

705

706

707

Fig 7 Correlaccedilatildeo de Spearman entre a diversidade de etnovariedades de mandiocas conhecidas 708

como cultivadas e variedades atualmente cultivadas por agricultor e as variaacuteveis 709

socioeconocircmicas Onde Nvc= nuacutemero de citadas como cultivadas Nve= nuacutemero de variedades 710

atualmente cultivadas Esc= escolaridade Id= idade Gen= gecircnero Tr= tamanho do roccedilado 711

Exp= experiecircncia na agricultura Sld= renda Nr= nuacutemero de roccedilados Cores distintivas 712

representam correlaccedilotildees significativas (Ple005) 713

714

58

715

Fig 8 Modelo individual de rede de etnovariedades de mandioca citadas (esquerda) por 716

agricultores como cultivadas (direita) nos Municiacutepios de Altinho e Panelas As redes foram 717

desenhadas com o pacote bipartite (Dormann et al 2017) usando o software R (R CORE 718

TEAM 2017) 719

720

59

721

Fig 9 Anaacutelise de Correspondecircncia Muacuteltipla das 17 etnovariedades de mandioca considerando 722

os sete descritores morfoloacutegicos utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo em roccedilas de 723

agricultores tradicionais de sete comunidades no semiaacuterido de Pernambuco 724

725

726

727

728

729

730

731

732

733

734

735

736

737

McCambadinha

McCampina

McCampinaDaGrande

McCampinaRasteira

McCampinaVaruda

McGauba

McIsabelDeSouza

McIsabelTresGalhos

McOlhoDePombo

McOlhoVerde

McPretinha

McPretona

MxBranca

MxRosa

MxRosaBrancaMxRosaVermelha

MxSemente

CFD_Verde_Arroxeado

CFD_Verde_ClaroCFD_Verde_Escuro

CBF_Roxo

CBF_Verde_ArroxeadoCBF_Verde_Claro

CBF_Verde_Escuro

CDP_Verde

CDP_Verde_Amarelado

CDP_Verde_Avermelhado

CDP_Vermelho

CEC_Cinza

CEC_Dourado

CEC_Laranja

CEC_Marrom_Claro

CEC_Marrom_Escuro

CEC_Prateado

CEC_Verde_AmareladoCicatriz_M

Cicatriz_P

PDR_Branco

PDR_Creme

CDR_BrancoCDR_Creme CDR_Rosa

-4

-2

0

2

4

-4 -2 0 2 4

Dim1 (206)

Dim

2 (

162

)

MCA - Biplot

00

10

Hierarchical Clustering

inertia gain

McC

am

pin

aV

aru

da

McC

am

pin

aD

aG

rande

McC

am

pin

a

McG

auba

McP

retin

ha

McP

reto

na

MxR

osaV

erm

elh

a

MxR

osaB

ranca

MxR

osa

McC

am

pin

aR

aste

ira

McC

am

badin

ha

McO

lhoV

erd

e

MxB

ranca

MxS

em

ente

McIsabelT

resG

alh

os

McIsabelD

eS

ouza

McO

lhoD

eP

om

bo

00

05

10

15

Hierarchical Classification

Heig

ht

C1 C2 C3 C4 C5 C6 C7 C8

Fig 10 Agrupamento hieraacuterquico das 17 etnovariedades de mandioca caracterizadas de acordo

com os descritores utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo

60

Tabelas 738

739

Tabela 1 Caracteres e estados utilizados pelos agricultores como descritores botacircnicos para 740

caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das etnovariedades de mandioca 741

Caracter Sigla Estados

Folha

Cor da folha desenvolvida CFD 1- verde claro 2- verde escuro 3- verde arroxeado 4- roxo

Cor do broto foliar CBF 1- verde claro 2- verde escuro 3- verde arroxeado 4- roxo

Cor do peciacuteolo CDP 1- verde amarelado 2- verde 3- verde avermelhado 4- roxo

5- vermelho

Caule

Cor externa do caule CEC 1- laranja 2- verde amarelado 3- dourado 4- marrom claro

5- prateado 6- cinza 7- marrom escuro 8- verde

Protuberacircncia da cicatriz foliar PCF 1- pouco proeminente 2- muito proeminente

Raiacutez

Cor da poupa da raiz PDR 1- branco 2- creme

Cor do coacutertex da raiacutez CDR 1- rosa 2- branco 3- creme

742

743

744

745

746

747

748

749

750

751

61

Tabela 2 Lista das 22 etnovariedades de mandiocas citadas (132 citaccedilotildees) como cultivadas nas 752

comunidades pertencentes aos Municiacutepios de Altinho (Caratildeo n=8) e ao Municiacutepio de Panelas 753

(Aracuatilde Satildeo Joseacute do Bola Brejo Velho Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima e Lajeiro 754

Dantas n=21) 755

Etnovariedade Frequecircncia () Ranking Saliecircncia

Macaxeira Rosa 66 179 0472

Mandioca Isabel de Souza 48 179 0372

Mandioca Campina 24 217 0148

Macaxeira Branca 20 210 0134

Macaxeira Rosa branca 18 122 0168

Mandioca Pretona 16 338 0082

Mandioca Cambadinha 12 283 0071

Mandioca Isabel trecircs galhos 10 180 0075

Mandioca Gauacuteba 10 260 0070

Mandioca Pretinha 8 225 0053

Mandioca Peacute de pombo 4 400 0011

Mandioca Olho verde 4 350 0012

Macaxeira Rosinha 4 200 0027

Mandioca Campina varuda 4 200 0032

Mandioca Campina rasteira 4 300 0021

Mandioca Caboquinha 2 500 0007

Macaxeira Rasteira 2 200 0013

Macaxeira Paraacute 2 100 0020

Mandioca Barra ferro 2 300 0007

Mandioca Campina da grande 2 100 0020

Mandioca Olho de pombo 2 300 0010

Mandioca Jasmim 2 600 0006

756

757

758

62

Tabela 3 Lista de 17 etnovariedades atualmente cultivadas nos roccedilados das comunidades em 759

estudo 760

Ca Ar Bo Br Jb Jc Ld

Etnovariedade

Macaxeira Branca x x x x

Macaxeira Rosa

x x x x x x

Macaxeira Rosa Branca x x x x

Macaxeira Rosa Vermelha

x

Macaxeira Semente

x

Mandioca Cambadinha x

x

Mandioca Campina

x

x

x

Mandioca Campina da Grande x

Mandioca Campina Rasteira

x

Mandioca Campina Varuda

x

Mandioca Gauacuteba

x

Mandioca Isabel de Souza

x x x

Mandioca Isabel trecircs Galhos

x

x

Mandioca Olho de Pombo

x

Mandioca Olho Verde

x

Mandioca Pretinha

x

Mandioca Pretona x x x

Comunidades Ca= Caratildeo Ar=Aracuatilde Bo= Satildeo Joseacute do Bola Jb= Japaranduba de Baixo 761

Jc= Japaranduba de Cima Ld= Lajedo Dantas 762

763

764

765

766

767

768

63

Tabela 4 Descriccedilatildeo das classes do agrupamento por meacutetodo de Ward agrupadas pelo conjunto 769

dos descritores mais significativos para a caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das variedades de mandioca 770

Classes Descritores in situ p-valor

C1 Cor do peciacuteolo (CDP) 0016

C2 Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023

C3 Cor do peciacuteolo (CDP) 0012

C4 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0004

Cor da poupa da raiacutez (PDF) 0021

C5 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0003

C6 Cor do broto foliar (CBF) 0002

C7 Cor da folha desenvolvida (CFD) 0004

Cor externa do caule (CEC) 0040

C8 Cor do peciacuteolo (CDP) 0005

Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023

Valores de Ple005 satildeo significativos 771

772

15

vegetativamente pelos agricultores a mandioca (M esculenta) ainda manteacutem a sua capacidade

de reproduccedilatildeo sexual sendo este um aspecto muito importante para dinacircmica evolutiva da

cultura (PUJOL et al 2007 CLEMENT et al 2010) Apoacutes a fecundaccedilatildeo cruzada e dispersatildeo

das sementes um banco destas eacute formado no solo e as novas variedades germinam nas roccedilas

(MARTINS 2005) Antes de serem imcorporadas ao acervo essas lsquolsquovariedades-voluntaacuteriasrsquorsquo

passam por um filtro cultural ou seja seratildeo reconhecidas pelos agricultores por meio de

caracteriacutesticas morfoloacutegicas experimentadas e entatildeo selecionadas (MARTINS OLIVEIRA

2009)

Outro evento envolvido na geraccedilatildeo de diversidade intraespeciacutefica eacute incorporaccedilatildeo de

novas variedades de mandioca por meio de uma rede social de troca de material propagativo

estabelecida entre os agricultores (CAVECHIA et al 2014) Esse mecanismo permite a

circulaccedilatildeo das manivas2 tanto a niacutevel local quanto regional permite tambeacutem o acesso aos

diferentes conjuntos de variedades cultivadas entre as comunidades e ainda que o conjunto de

etnovariedades3 locais eou regionais seja conservado (EMPERAIRE ELOY 2008) Dentro

dessas redes sociais de troca as relaccedilotildees entre os agricultores atuam como mecanismo

fundamental para dispersatildeo e experimentaccedilatildeo das etnovariedades entre as roccedilas E satildeo essas

relaccedilotildees e decisotildees estabelecidas entre os agricultores que iratildeo definir quais etnovariedades

seratildeo mantidas ao longo do tempo e quais seratildeo abandonadas (LIMA et al 2012)

Sendo os agricultores e as interaccedilotildees entre eles fundamentais para o estabelecimento da

diversidade local (PINTON EMPERAIRE 2001 EMPERAIRE ELOY 2008) torna-se

pertinente entender como as diferentes estrateacutegias adotadas pelos agricultores influenciam na

dinacircmica da agrobiodiversidade local Muitos trabalhos com esse enfoque foram desenvolvidos

nas regiotildees Amazocircnica e Sudeste mas pouco se discute sobre a dinacircmica da agrobiodiversidade

em regiotildees semiaacuteridas

Nesse sentido o presente estudo visa investigar as interaccedilotildees entre agricultores

tradicionais de comunidades rurais estabelecidas na regiatildeo semiaacuterida de Pernambuco O

objetivo geral eacute compreender os processos envolvidos na dinacircmica da diversidade agriacutecola por

meio do acesso ao conhecimento dos agricultores quanto as praacuteticas de menejo e entender quais

quais fatores podem estar relacionados a geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da diversidade local Para esse

estudo a mandioca foi escolhida como modelo devida agrave sua importacircncia econocircmica e de

subsistecircncia para comunidades locais Os objetivos especiacuteficos foram (i) caracterizar o manejo

2 Satildeo pedaccedilos das hastes ou ramas da mandioca usadas para o plantio 3 Variedades intraespeciacuteficas de mandioca (M esculenta) identificadas pelos agricultores por nomenclatura

popular local (Martins 2005)

16

da agricultura de sequeiro bem como analisar se os paracircmetros socioeconocircmicos influenciam

na diversidade local (ii) registrar as etnovariedades atualmente cultivadas e identificar os

diferentes criteacuterios morfoloacutegicos utilizados pelos agricultores para a seleccedilatildeo e classificaccedilatildeo das

etnovariedades e (iii) descrever a estrutura da rede de interaccedilatildeo entre os agricultores e a

diversidade de etnovariedades de mandioca cultivadas para tentar entender como essas relaccedilotildees

podem influenciar na manutenccedilatildeo ou perda da diversidade local

a

b c

17

2 Revisatildeo bibliograacutefica

21 Manihot esculenta Crantz e conhecimento local de agricultores tradicionais

O gecircnero Manihot Miller (Euforbiaceae) possui cerca de 98 espeacutecies distribuiacutedas em 19

seccedilotildees das quais 13 delas ocorrem no Brasil (ROGERS APPAN 1973) Dentre as espeacutecies do

gecircnero Manihot esculenta Crantz (mandioca) eacute a principal cultivar uma vez que compotildee a

base da dieta alimentar de diversas populaccedilotildees rurais principalmente em regiotildees tropicais A

mandioca foi domesticada na Ameacuterica do Sul pois eacute onde se encontra o maior centro de

diversificaccedilatildeo Estudos relacionados ao entendimento de sua origem botacircnica tecircm contribuiacutedo

para a compreensatildeo das accedilotildees humanas no processo de domesticaccedilatildeo e ampliaccedilatildeo da

diversidade da espeacutecie (OLSEN SCHAAL 1999 ELIAS et al 2004 ELLEN 2012)

As diferentes variedades da espeacutecie satildeo reconhecidas em dois grandes grupos principais

o das variedades mais toacutexicas e o de variedades menos toacutexicas baseadas no potencial de

glicosiacutedeos cianogecircnicos (HCN) contido na polpa das raiacutezes (ELIAS et al 2004) Variedades

com baixa toxicidade contecircm baixas concentraccedilotildees de glicosiacutedeos cianogecircnicos (HCNlt100

mgKg-1) e satildeo conhecidas em comunidades agriacutecolas variando entre regiotildees ou grupos eacutetnicos

como ldquomacaxeirasrdquo ldquomandiocas doces ou mansasrdquo ou ldquoaipinsrdquo As variedades mais toacutexicas

com altas concentraccedilotildees de HCN (HCNgt 100 mgKg-1) satildeo reconhecidas como ldquomandiocasrdquo

ou ldquomandiocas amargas ou bravasrdquo (PERONI et al 2007 MCKEY et al 2010) E portanto

precisam passar por um processo de desintoxicaccedilatildeo para se tornarem aptas ao consumo como

por exemplo pelo processo de fabricaccedilatildeo da farinha de mandioca (Fig 1) Apesar do seu

potencial toacutexico as variedades amargas possuem teores mais elevados de amido e se adaptam

bem a solos pobres e aacutecidos aleacutem de serem mais resistentes aos patoacutegenos e pragas em

comparaccedilatildeo com as variedades doces (FRASER et al 2010)

Sob o ponto de vista botacircnico esta dicotomia natildeo eacute reconhecida mas existem alguns

trabalhos que evidenciam a relaccedilatildeo entre a coerecircncia da taxonomia popular com a diferenciaccedilatildeo

geneacutetica para separaraccedilatildeo das variedades ldquodocesrdquo e ldquoamargasrdquo (ELIAS et al 2004 PERONI

et al 2007) O conhecimento das caracteriacutesticas morfoloacutegicas das plantas e a coerecircncia na

identificaccedilatildeo dessas variedades com niacuteveis distintos de HCN eacute de grande importacircncia

adaptativa para as populaccedilotildees que gerem esse recurso sobretudo pelo risco de intoxicaccedilatildeo

(RIVAL MCKEY 2008)

18

No estudo realizado por AMOROZO (2000) por exemplo os agricultores geralmente

classificavam as variedades que tinham raiacutezes brancas como ldquobravasrdquo e aquelas que tinham

raiacutezes vermelhas como ldquomansasrdquo embora eles reconhecessem algumas exceccedilotildees Em pesquisas

realizados por FARALDO et al (2000) MKUMBIRA et al (2003) ELIAS et al (2004) e

PERONI et al (2007) os agricultores foram consistentes na distinccedilatildeo de suas variedades

lsquolsquodocesrdquo e ldquoamargasrsquorsquo e com base no conhecimento de caracteres morfoloacutegicos distintos os

nomes das variedades refletiram na diversidade geneacutetica A partir dessas evidecircncias podemos

inferir que o conhecimento local dos agricultores associado agrave experiecircncia eacute importante natildeo

somente para o reconhecimento das variedades locais por si soacute mas tambeacutem por conter

informaccedilotildees relevantes sobre o papel que esses recursos podem desempenhar nos sistemas

agriacutecolas de pequena escala e para as populaccedilotildees locais (GADGIL et al 1993)

O conhecimento tradicional dos agricultores trata-se de um conjunto de saberes praacuteticas

e crenccedilas baseadas no contato direto nas observaccedilotildees experimentaccedilotildees diaacuterias e nas

dependecircncias econocircmicas eou de subsistecircncia dos recursos que satildeo geralmente transmitidas

oralmente dentro e entre as geraccedilotildees (AMOROZO 2000 DOMINGUES ARRUDA 2001

BEGOSSI 2004) Sendo assim o conhecimento tradicional de agricultores que praticam a

agricultura de pequena escala realizada em comunidades tradicionais eacute importante pois tem

garantido a perpetuaccedilatildeo dos conhecimentos e das praacuteticas agriacutecolas desenvolvidas durante

milhares de anos entre os agroecossistemas locais

22 Manejo tradicional em roccedilas e diversidade intraespeciacutefica da mandioca

A agricultura de pequena escala praticada em comunidades locais tem garantido a

perpetuaccedilatildeo do conhecimento sobre o manejo e a diversidade de espeacutecies agriacutecolas O sistema

de cultivo em roccedilas eacute tipicamente praticado por agricultores de comunidades tradicionais em

aacutereas uacutemidas no mundo inteiro As roccedilas satildeo aacutereas de cultivo de pequena escala localizadas

dentro de comunidades proacuteximas umas das outras que se tornaram objeto de estudo em vaacuterias

pesquisas antropoloacutegicas etnobotacircnicas geneacuteticas e ecologias especialmente por apresentarem

grande diversidade de espeacutecies cultivadas e pelo manejo destinar-se agrave subsistecircncia de grupos

familiares de agricultores de pequena escala (PUJOL et al 2007)

Aleacutem da diversidade de espeacutecies outra caracteriacutestica dessas roccedilas eacute o grande nuacutemero de

variedades dentro de cada espeacutecie Esta diversidade intraespeciacutefica pode ser referida como

etnovariedades que eacute um termo utilizado para definir grupos de indiviacuteduos identificados por

19

nomenclatura popular local a qual pode expressar elementos do contexto cultural econocircmico

e social das populaccedilotildees associado ao uso (PERONI MARTINS 2000 EMPERAIRE

PERONI 2007)

Dentre as vaacuterias espeacutecies cultivadas em roccedilas a mandioca (M esculenta) em seu

nuacutemero de etnovariedades eacute uma das principais culturas de importacircncia econocircmica e

nutricional para populaccedilotildees que utilizam esse sistema Sua diversidade pode estar relacionada

ao sistema reprodutivo da cultura ao modo de gestatildeo da agricultura pelas pressotildees de seleccedilatildeo

exercidas pelo proacuteprio homem ou ateacute mesmo por causas naturais (MARTINS 2005

CLEMENT et al 2010)

As caracteriacutesticas de manejo empregadas no cultivo da mandioca em roccedilas favorecem

a elevada diversidade intraespeciacutefica dessa cultura O modo de propagaccedilatildeo da mandioca eacute feito

pelos agricultores por meios de estacas (manivas) que satildeo selecionadas de acordo com as

caracteriacutesticas desejaacuteveis que elas apresentam seja para fins econocircmicos ou utilitaacuterios Apesar

de propagada vegetativamente que eacute um meacutetodo usado pelas populaccedilotildees humanas para plantio

e multiplicaccedilatildeo de plantas a mandioca natildeo perdeu a sua capacidade de reproduccedilatildeo sexual

sendo esse um aspecto importante para dinacircmica evolutiva da cultura (PUJOL et al 2007)

Esse meacutetodo de propagaccedilatildeo permite o fluxo e a circulaccedilatildeo do material geneacutetico entre os

diferentes roccedilados por meio de um sistema de redes sociais de troca de etnovariedade de

mandioca entre os agricultores tanto a niacutevel regional (entre comunidades) quanto em escalas

menores (entre vizinhos e parentes) (ELIAS et al 2004 EMPERAIRE OLIVEIRA 2010)

Segundo Emperaire e Peroni (2007) esse mecanismo de troca de germoplasma eacute uma grande

forccedila de dispersatildeo que resulta na agrobiodiversidade regional mais elevada pois estabelece

viacutenculos entre as diferentes roccedilas e promove oportunidades de seleccedilatildeo e cruzamento entre as

diferentes etnovariedades (EMPERAIRE ELOY 2008)

Atributo bioloacutegicos da espeacutecie tambeacutem estatildeo relacionados com o aumento da

diversidade intrespeciacutefica como a capacidade de dormecircncia das sementes e a dispersatildeo

autocoacuterica que propiciam o desenvolvimento de um banco de sementes no solo ao longo do

tempo permitindo o cruzamento entre as novas variedades adquiridasplantadas e entre estas

com variedades que existiram anterioemente na mesma aacuterea (PERONI MARTINS 2000

MARTINS 2005) A presenccedila dessas ldquoplantas-voluntaacuteriasrdquo ou seja aquelas nascidas de

germinaccedilatildeo expontacircnea eacute um dos eventos identificados como precursores de diversidade

intraespeciacutefica nas populaccedilotildees de mandioca cultivadas (PUJOL et al 2007)

20

Contudo muitos esforccedilos vecircm sendo empregados em estudos que observam a ecologia

da mandioca e o manejo agriacutecola associado agrave geraccedilatildeo de diversidade varietal e geneacutetica na

espeacutecie para tentar entender como esses mecanismos influenciam na diversidade de

etnovariedades locais e na sua dinacircmica (PUJOL et al 2007 KOMBO et al 2012 ELIAS et

al 2001)

23 Redes sociais de troca e circulaccedilatildeo de etnovariedades de mandioca

Sistemas agriacutecolas de pequena escala dependem de uma grande diversidade de espeacutecies e

variedades cultivadas e do fluxo destas por meio de redes sociais de troca material vegetativo

estabelecidas entre agricultores podendo o alcance da circulaccedilatildeo variar em escala local eou

regional (EMPERAIRE ELOY 2008) As trocas dependem de dois mecanismos principais

dos padrotildees de interaccedilatildeo social entre os agricultores e dos padrotildees de uso dos recursos

(CAVECHIA et al 2014) e as redes variam em funccedilatildeo das caracteriacutesticas culturais

econocircmicas e sociais das comunidades (EMPERAIRE PERONI 2007 PAUTASSO et al

2012)

No caso da mandioca (Manihot esculenta Crantz) a propagaccedilatildeo se da por estaquia o que

favorece a troca de material de vegetativo entre os agricultores e permite o fluxo entre

variedades locais e regionais (MARTINS 2005) As trocas de variedades de mandioca entre os

agricultores geralmente acontecem por alguma circunstacircncia que leve o agricultor a pedir o

material propagativo para o plantio com por exemplo para o plantio de uma nova roccedila ou por

alguma fitopatologia deslocaccedilatildeo ou estaccedilotildees de chuva e seca prolongadas (EMPERAIRE et

al 2001 EMPERAIRE ELOY 2008) Em alguns casos como no de algumas comunidades

agriacutecolas de pequena escala as redes de casamento satildeo utilizadas para a circulaccedilatildeo de

variedades (EMPERAIRE PERONI 2007 DELEcircTRE et al 2011)

O processo de manutenccedilatildeo da diversidade nesses sistemas resulta do interesse ou da

necessidade do agricultor em adquirir ou abandonar variedades testar e selecionar novas

etnovariedades de mandioca Dentre os fatores que dirigem a seleccedilatildeo de etnovariedades estatildeo

as preferecircncias individuais dos agricultores Alguns podem optar por cultivar todas as

etnovariedades comuns eou disponiacuteveis na regiatildeo enquanto que outros optam apenas por

manter um conjunto especiacutefico dessa diversidade (CAVECHIA et al 2014) Seja para atender

a alguma demanda individual pelo interesse em aumentar a produtividade ou pela necessidade

21

de conservar o material vegetativo para o proacuteximo plantio no caso de perda de material por

algum fator ambiental adverso (EMPERAIRE et al 2001 EMPERAIRE ELOY 2008)

Nesse sentido satildeo os agricultores os maiores responsaacuteveis por determinar como e quais

etnovariedades seratildeo compartilhadas e mantidas entre as comunidades (PAUTASSO et al

2012) E a chave para a compreensatildeo da dinacircmica da diversidade varietal eacute por meio desse

intercacircmbio e dos fatores que influenciam essa conectividade entre as comunidades pois essas

redes representam um grande impacto sobre a diversidade de variedades cultivadas E eacute por

meio dessas redes que se diminui coletivamente os riscos de perda total de diversidade geneacutetica

local (EMPERAIRE ELOY 2008)

Desse modo as relaccedilotildees estabelecidas pelos agricultores entre as comunidades por meio

das redes troca de germoplasma podem ter consequecircncias importantes sobre a diversidade

varietal da mandioca E compreender os processos envolvidos na manutenccedilatildeo ou perda de

germoplasma nos sistemas agriacutecolas eacute importante uma vez que compreendendo a maneira

como os agricultores usam esse conjunto de etnovariedades de mandioca e as compartilham

vai trazer importantes discussotildees a cerca da qualidade e a quantidade do recurso que seraacute

mantido transmitido ou perdido dentro dos sistemas ao longo do tempo

22

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25

VARIACcedilAtildeO INTRAESPECIacuteFICA CONHECIMENTO E MANEJO

LOCAL DE MANDIOCA (Manihot esculenta Crantz) NO SEMIAacuteRIDO DE

PERNAMBUCO NORDESTE DO BRASIL

Artigo submetido ao perioacutedico Human Ecology

Normas para submissatildeo em anexos

26

Variaccedilatildeo intraespeciacutefica conhecimento e manejo local de mandioca 1

(Manihot esculenta Crantz) no semiaacuterido de Pernambuco Nordeste do 2

Brasil 3

Mirela Nataacutelia Santos12 Jhonatan Rafael Zaacuterate-Salazar1 Reginaldo de Carvalho1 amp 4

Ulysses Paulino de Albuquerque2 5

6

1 Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo em Botacircnica Departamento de Biologia Rua Dom Manuel de Medeiros 7

Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) sn Dois Irmatildeos Recife Pernambuco 52171-8

900 Brasil 9

2 Laboratoacuterio de Ecologia e Evoluccedilatildeo de Sistemas Socioecoloacutegicos (LEA) Departamento de Botacircnica 10

Avenida Professor Moraes Rego Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) sn Cidade 11

Universitaacuteria Recife Pernambuco 50670-901 Brasil 12

Resumo 13

Historicamente a espeacutecie Manihot esculenta Crantz (mandioca) eacute uma espeacutecie de grande valor 14

econocircmico e de subsistecircncia para populaccedilotildees em comunidades tradicionais Variedades de 15

mandioca satildeo selecionadas com base nos interesses dos agricultores conduzindo uma evoluccedilatildeo 16

especiacutefica sobre a geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da agrobiodiversidade local Diante disso a mandioca 17

tornou-se espeacutecie-modelo em estudos que buscam compreender como os padrotildees e estrateacutegias 18

adotadas pelas populaccedilotildees humanas influenciam na diversidade intraespeciacutefica local em regiotildees 19

tropicais No entanto os fatores que influenciam a diversidade da mandioca em regiotildees 20

semiaacuteridas ainda natildeo foram bem documentados Nesse sentido objetivo geral do estudo foi 21

compreender os processos envolvidos na dinacircmica da diversidade agriacutecola em sete 22

comunidades tradicionais localizadas na regiatildeo semiaacuterida do estado de Pernambuco (Nordeste 23

do Brasil) por meio do acesso ao conhecimento dos agricultores quanto as praacuteticas de menejo 24

para tentar quais quais fatores podem estar relacionados a geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da diversidade 25

local Com os resultados da anaacutelise de redes verificamos uma alta diversidade de 26

etnovariedades cultivadas e a sua composiccedilatildeo eacute determinada pelas preferecircncias e 27

comportamentos individuais dos agricultores que foram provavelmente os mecanismos 28

27

responsaacuteveis pelo surgimento da estrutura aninhada observada na anaacutelise rede Esse padratildeo 29

aninhado contribui na conservaccedilatildeo das etnovariedades mais comuns mas tambeacutem pode resultar 30

em perda daquelas de menor frequecircncia ao longo do tempo 31

Palavras-Chave Agricultura tradicional Agricultura de sequeiro Agrobiodiversidade 32

Etnobiologia Plantas alimentiacutecias 33

34

Introduccedilatildeo 35

Historicamente as populaccedilotildees humanas foram acumulando conhecimentos sobre 36

praacuteticas da agricultura desenvolvendo teacutecnicas adaptadas ao meio natural e assim foram 37

domesticando uma grande variedade de cultivos alimentares para garantirem a sua 38

sobrevivecircncia (Balleacute 2006 Clement et al 2010) Essa interaccedilatildeo pessoas-plantas por meio do 39

cultivo e manejo das espeacutecies vegetais considerando tanto os aspectos sociais quanto naturais 40

dos sistemas dinacircmicos eacute uma importante ferramenta para o entendimento do conhecimento 41

dos agricultores sobre os agroecossistemas locais ( Alcorn 1995) 42

Aleacutem disso essas interaccedilotildees vem contribuindo com alteraccedilotildees nas populaccedilotildees vegetais 43

por meio da seleccedilatildeo artificial Essas alteraccedilotildees resultaram em mudanccedilas na estrutura geneacutetica 44

dessas populaccedilotildees que satildeo determinadas geralmente pela seleccedilatildeo de caracteriacutesticas fenotiacutepicas 45

fisioloacutegicas eou econocircmicas das plantas refletidas em classificaccedilotildees e nomenclaturas 46

especiacuteficas baseadas em percepccedilotildees individuais (Carmona amp Casas 2005) 47

Muitos pesquisadores tentam explicar o papel dos agricultores de pequena escala na 48

seleccedilatildeo classificaccedilatildeo e manutenccedilatildeo da agrobiodiversidade local em roccedilas tradicionalmente 49

manejas em regiotildees uacutemidas (Emperaire amp Peroni 2007 Emperaire amp Eloy 2008 Marchetti et 50

al 2013) Essas roccedila satildeo aacutereas de cultivo caracterizadas por conter uma alta diversidade 51

intraespeciacutefica de espeacutecies (Martins 2005) Dentre elas a Manihot esculenta Crantz 52

28

(mandioca) Euphorbiaceae em sua diversidade de etnovariedades eacute a espeacutecie mais importante 53

sob ponto de vista econocircmico e de subsistecircncia para as populaccedilotildees locais e mais cultivada 54

devido a sua grande adaptabilidade ambiental e baixos custos de gestatildeo (Elias et al 2001) 55

A alta diversidade da mandioca nessas aacutereas pode ser atribuiacuteda agrave possibilidade de 56

introduccedilatildeo de novas variedades via reproduccedilatildeo sexuada associada a ecologia da espeacutecie Esse 57

mecanismo permite o fluxo gecircnico entre as variedades de mandioca cultivadas do mesmo local 58

e entre estas com variedades de locais vizinhos (Pujol et al 2007) Outro mecanismo que 59

favorece essa diversidade eacute agrave circulaccedilatildeo de material propagativo por meio redes sociais de troca 60

variedades entre os agricultores (Pujol et al 2005 Emperaire amp Peroni 2007 Clement et al 61

2010) Esse mecanismo de troca eacute fundamental para o estabelecimento de interaccedilotildees entre as 62

diferentes aacutereas de roccedila promovendo oportunidade de seleccedilatildeo e cruzamento entre os diferentes 63

conjuntos de variedades aleacutem de permitir que este conjunto seja conservado (Emperaire amp Eloy 64

2008) 65

Diante desse cenaacuterio podemos observar que a agrobiodiversidade local natildeo eacute fruto 66

apenas de fatores naturais mas eacute tambeacutem influenciada pelas caracteriacutesticas culturais e 67

socioeconocircmica das populaccedilotildees locais refletidas especialmente no conhecimento e manejo 68

local Nesse sentido o presente estudo visa investigar as interaccedilotildees entre agricultores 69

tradicionais de comunidades rurais estabelecidas na regiatildeo semiaacuterida de Pernambuco 70

O objetivo geral eacute compreender os processos envolvidos na dinacircmica da diversidade 71

agriacutecola por meio do acesso ao conhecimento dos agricultores quanto as praacuteticas de menejo e 72

entender quais quais fatores podem estar relacionados a geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da diversidade 73

local Para esse estudo a mandioca foi escolhida como modelo devida agrave sua importacircncia 74

econocircmica e de subsistecircncia para comunidades locais Os objetivos especiacuteficos foram (i) 75

caracterizar o manejo da agricultura de sequeiro bem como analisar se os paracircmetros 76

socioeconocircmicos influenciam na diversidade local (ii) registrar as etnovariedades atualmente 77

29

cultivadas e identificar os diferentes criteacuterios morfoloacutegicos utilizados pelos agricultores para a 78

seleccedilatildeo e classificaccedilatildeo das etnovariedadese (iii) descrever a estrutura da rede de interaccedilatildeo entre 79

os agricultores e a diversidade de etnovariedades de mandioca cultivadas para tentar entender 80

como essas relaccedilotildees podem influenciar na manutenccedilatildeo ou perda da diversidade local 81

Material e meacutetodos 82

Aacutereas de estudo 83

Amostramos sete comunidades rurais estabelecidas na regiatildeo semiaacuterida de 84

Pernambuco Nordeste do Brasil Uma das comunidades (Caratildeo) pertence ao Municiacutepio de 85

Altinho (ldquo8deg 29rsquo 10rdquo S e 36deg 03rsquo 49rdquo W) e as demais (Satildeo Joseacute do Bola Brejo velho 86

Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima Lajedo Dantas e Aracuatilde) ao Municiacutepio de 87

Panelas (8 deg 39 48 S e 36 deg 01 23 W) (Fig 2) 88

O modelo agriacutecola adotado na regiatildeo segue o sistema tradicional de sequeiro4 e todas 89

as comunidades em estudo possuem histoacuterico de cultivo de mandioca (M esculenta) As aacutereas 90

de cultivo satildeo estabelecidas por unidade familiar e as atividades satildeo realizadas em sua maioria 91

por homens tendo cada agricultor cerca de um a dois hectares de aacuterea para plantio Aleacutem da 92

mandioca os cultivos mais utilizados na comunidades satildeo milho (Zea mays) e feijatildeo (Phaseolus 93

sp) 94

Para os membros das comunidades a produccedilatildeo da farinha de mandioca (Fig 3) eacute uma 95

das atividades agriacutecolas mais importantes tanto pelo seu papel na dieta alimentar quanto pela 96

importacircncia social e econocircmica 97

Caracteriacutesticas das comunidades do estudo 98

A comunidade do Caratildeo localiza-se sob domiacutenio de Caatinga caracterizado por climas 99

quentes e secos com regimes escassos de chuvas correspondente ao tipo BSrsquoh segundo a 100

4 Eacute o cultivo praticado sem irrigaccedilatildeo em regiotildees onde a pluviosidade eacute diminuta

30

classificaccedilatildeo climaacutetica de Koumlppen A vegetaccedilatildeo eacute composto por espeacutecies perenes que 101

conseguem sobreviver mesmo em periacuteodos de seca e espeacutecies anuais que aparecem apenas em 102

periacuteodos com chuva (Cruz et al 2013) 103

De acordo os dados de precipitaccedilatildeo do Laboratoacuterio de Anaacutelise e Processamento de 104

Imagens de Sateacutelites (LAPIS) no ano de 2012 foi registrada a menor meacutedia anual de 105

precipitaccedilatildeo dos uacuteltimos 10 anos para essa regiatildeo (3784 mm) Essa realidade ambiental quando 106

comparada com estudo realizado por de Sieber e colaboradores (2011) na mesma comunidade 107

observa-se que houve uma diminuiccedilatildeo considerada das praacuteticas agriacutecolas realizadas pelos 108

membros da comunidade culminando em uma seacuterie de prejuiacutezos aos agricultores como a perda 109

de plantaccedilotildees e animais Essa perda de produtividade afetou a estrutura econocircmica da 110

comunidade uma vez que a principal fonte de subsistecircncia das famiacutelias eacute a agricultura 111

Associada as atividades agriacutecolas os moradores complementam a dieta e a renda 112

familiar com a venda dos excedentes da produccedilatildeo em feiras-livres ou centros comerciais da 113

regiatildeo (Cruz et al 2013) E com a pecuaacuteria de pequena escala bovina caprina e com avicultura 114

No entanto a diminuiccedilatildeo da forragem natural e cultivada causada pela escassez de chuvas 115

associada aos elevados custos envolvidos na compra de raccedilatildeo levou muitos animais agrave morte 116

(Fig 4) 117

No Municiacutepio de Altinho a comunidade do Caratildeo foi inicialmente escolhida devido ao 118

reconhecimento preacutevio do registro de agricultores realizado em estudos desenvolvidos pelo 119

nosso grupo de pesquisa facilitando assim o acesso agraves informaccedilotildees necessaacuterias para o 120

desenvolvimento da pesquisa 121

As comunidades Aracuatilde Brejo Velho Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima 122

Lajedo Dandas e Satildeo Joseacute do Bola amostradas no estudo pertencem ao Municiacutepio de Panelas 123

que se limita ao Norte com o Municiacutepio de Altinho Essas comunidades estatildeo localizadas em 124

31

no domiacutenio morfoclimaacutetico de Caatinga O clima eacute do tipo semiaacuterido Bsrsquoh segundo a 125

classificaccedilatildeo climaacutetica de Koumleppen 126

A maior parte dos membros dessas comunidades assim como no Caratildeo tecircm como 127

principal fonte de subsistecircncia a agricultura de sequeiro principalmente o cultivo da mandioca 128

(Fig 5) Como renda extra a pecuaacuteria de pequeno porte com criaccedilatildeo bovina caprina e 129

avicultura sendo os excedentes dos alimentos produzidos vendidos em feiras locais ou para 130

escolas 131

As atividades agriacutecolas entre as comunidades tambeacutem foram duramente afetadas pela 132

seca na regiatildeo nos uacuteltimos anos A escassez de chuvas desestimulou o plantio a produccedilatildeo de 133

mandioca foi fortemente comprometida e a colheita foi adiada devido ao subdesenvolvimento 134

das raiacutezes gerando impactos econocircmicos para os membros das comunidades 135

As comunidades amostradas neste muniacutecipio foram escolhidas em funccedilatildeo das 136

indicaccedilotildees dos agricultores entrevistados a princiacutepio na comunidade do Caratildeo que reportaram 137

manter viacutenculos sociais com os agricultores do municiacutepio vizinho 138

Coleta de dados 139

Acessamos as comunidades com a ajuda de um liacuteder comunitaacuterio (Alexandre O 140

Nascimento) em companhia de outros pesquisadores que desenvolviam pesquisas na regiatildeo 141

Previamente as entrevistas todos objetivos e procedimentos para a realizaccedilatildeo da pesquisa foram 142

apresentados aos entrevistados e todos que aceitaram participar foram convidados a assinar um 143

Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) de acordo com a Resoluccedilatildeo 46612 do 144

Conselho Nacional de Sauacutede concordando com a realizaccedilatildeo das entrevistas e avaliaccedilotildees 145

morfoloacutegicas em campo O presente trabalho foi submetido ao Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa da 146

Universidade de Pernambuco (UPE) 147

32

Em todas as comunidades o meacutetodo de acesso ao informante foi o mesmo a partir do 148

primeiro contato com um informante-chave identificamos outros potenciais agricultores 149

seguindo a teacutecnica de ldquobola de neverdquo (Albuquerque et al 2014a) Esse meacutetodo consistiu na 150

amostragem intencional dos participantes e nesse particular os agricultores chefes de famiacutelia 151

(ge 18 anos) da regiatildeo que declararam cultivar mandioca (M esculenta) em suas roccedilas 152

Reunimos informaccedilotildees socioeconocircmicas desses agricultores tais como nome idade gecircnero 153

escolaridade renda experiecircncia na agricultura e tamanho da aacuterea de cultivo para tentar 154

identificar se esses paracircmetros socioeconocircmicos tecircm uma relaccedilatildeo com a agrobiodiversidade 155

local 156

Em seguida conduzimos entrevistas semiestruturadas (Albuquerque et al 2014b) com 157

o objetivo de caracterizar o modo de vida dos agricultores o manejo da agricultura bem como 158

obter dados sobre o conhecimento uso e caracterizaccedilatildeo das etnovariedades de mandioca 159

5cultivadas Aleacutem disso neste momento tambeacutem aplicamos a teacutecnica da lista livre 160

(Albuquerque et al 2014b) a fim de registrar as variedades de mandioca atualmente cultivadas 161

pelos agricultores e identificar as de maior importacircncia local Apoacutes as entrevistas realizamos 162

visitas aos roccedilados para o registro fotograacutefico georreferenciamento das roccedilas e caracterizaccedilatildeo 163

morfoloacutegica das variedades cultivadas 164

Entrevistamos 50 agricultores no total distribuiacutedos nas sete comunidades Caratildeo (3) 165

Satildeo Joseacute do Bola (10) Brejo velho (7) Japaranduba de Baixo (7) Japaranduba de Cima (8) 166

Lajedo Dantas (9) e Aracuatilde (6) Destes 10 satildeo mulheres e 40 homens com idade variando entre 167

31 e 82 anos A maioria dos entrevistados natildeo apresentava instruccedilatildeo formal (46) mais da 168

metade eram aposentados (56) e os demais apresentaram renda inferior a um salaacuterio miacutenimo 169

5 Entende-se por etnovariedade de mandioca o conjunto de variedades intraespeciacuteficas de mandioca (M esculenta)

reconhecidas pelos agricultores por nomenclatura popular local (Peroni 2004)

33

O tempo meacutedio de experiecircncia na agricultura foi de 40 anos Cada agricultor possui entre um e 170

dois roccedilados (aacuterea de plantio) com aproximadamente um a dois hectares 171

Redes de interaccedilatildeo social 172

Confeccionamos a rede que descreve as interaccedilotildees entre os agricultores e as 173

etnovariedades cultivadas a partir de uma matriz de incidecircncia R (presenccedilaausecircncia) onde nas 174

linhas estavam as etnovariedades de mandioca cultivadas (j) e nas colunas os agricultores locais 175

(i) O elemento Rij dessa matriz foi 1 (um) no caso de a etnovariedade j ser cultivada pelo 176

agricultor i caso contraacuterio seria atribuiacutedo 0 (zero) As interaccedilotildees entre os agricultores e as 177

etnovariedades foram descritas em dois modos (Pires et al 2011) onde os ldquonoacutesrdquo da esquerda 178

representam os agricultores que foram vinculados aos ldquonoacutesrdquo da direita representados pelas 179

etnovariedades citadas durante as entrevistas Esses ldquonoacutesrdquo seriam o espelho das decisotildees dos 180

agricultores em manter um determinado conjunto local de etnovariedades em suas roccedilas 181

Avaliamos a estrutura da rede que conecta os agricultores agraves etnovariedades cultivadas 182

a partir de trecircs cenaacuterios hipoteacuteticos (Fig 6) segundo Cachevia et al (2014) No primeiro se os 183

agricultores apresentassem diferentes graus de seletividade para a utilizaccedilatildeo de suas 184

etnovariedades a estrutura seria aninhada (Fig 6a) Isso significa que alguns agricultores 185

cultivam vaacuterias etnovariedades enquanto que outros cultivam o subconjunto mais 186

disponiacutevelcomum dessas etnovariedades Em segundo lugar se a rede apresentasse uma 187

estrutura modular (Fig 6b) significaria que os agricultores apresentam semelhanccedila na seleccedilatildeo 188

do recurso ou seja subgrupos de agricultores cultivam subgrupos distintos de etnovariedades 189

regionalmente disponiacuteveiscomuns E o terceiro se os agricultores natildeo apresentassem 190

preferecircncias quanto a seleccedilatildeo das etnovariedades entatildeo a rede apresentaria uma estrutura 191

aleatoacuteria (Fig 6c) 192

O objetivo da anaacutelise de rede nesse estudo foi tentar entender se o conjunto de 193

etnovariedades presentes no local do estudo constituem uma subamostra de um conjunto mais 194

34

amplo no caso de um alto grau de aninhamento ou se a sua composiccedilatildeo eacute determinada por 195

variaacuteveis locais (Ulrich 2008) Onde as conexotildees entre os informantes e as etnovariedades 196

representam as decisotildees dos agricultores de manter um conjunto determinado de variedades de 197

mandioca dentre as comunidades Esta anaacutelise tambeacutem nos permitiu identificar quais os nuacutecleos 198

de etnovariedades que apresentam maior conexatildeo com os diferentes perfis dos agricultores 199

Diversidade fenotiacutepica 200

Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 201

Apoacutes as entrevistas buscamos identificar quais os caracteres morfoloacutegicos considerados 202

mais importantes para a diferenciaccedilatildeo das etnovariedades de mandioca a partir do seguinte 203

questionamento ldquoQuais as diferenccedilas que vocecirc reconhece para separar uma qualidade de 204

mandioca (variedade) de uma outrardquo Assim os agricultores mencionaram quais os criteacuterios 205

mais importantes utilizados para a caracterizaccedilatildeo de suas etnovariedades 206

Compilamos uma listagem dessas caracteriacutesticas baseada nas indicaccedilotildees dos 207

agricultores e a partir delas selecionamos os caracteres morfoloacutegicos mais citados para a 208

caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica ldquoin siturdquo tais como cor da folha (cor da folha desenvolvida) olho 209

(cor do broto foliar) cor do talo (cor do peciacuteolo) maniva (cor externa do caule) embriatildeo 210

(protuberacircncia da cicatriz foliar) cor da entrecasca (coacutertex da raiz) e cor miolo (polpa da raiz) 211

(Tabela 1) O objetivo dessa caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica foi indicar como estaacute distribuiacuteda a 212

variaccedilatildeo fenotiacutepica das etnovariedades de mandioca nas comunidades na regiatildeo semiaacuterida de 213

Pernambuco bem como identificar que caracteriacutesticas satildeo mais importantes para distinguir 214

esses grupos no intuito de tentar entender como os agricultores classificam suas variedades de 215

mandioca 216

Nas sete comunidades para cada etnovariedade citada no roccedilado caracterizamos ldquoin 217

siturdquo trecircs indiviacuteduos de M esculentade de cada uma totalizando 171 indiviacuteduos (Aracuatilde=11 218

35

Caratildeo=4 Satildeo Joseacute do Bola=13 Brejo Velho=16 Japaranduba de Baixo=6 Japaranduba de 219

Cima=3 e Lajedo Dantas=4) Fotografamos e avaliamos todos os indiviacuteduos com base em parte 220

dos descritores morfoloacutegicos seguindo recomendaccedilotildees de Fukuda amp Guevara (1998) e aleacutem 221

disso georreferenciamos todas as aacutereas de roccedila 222

Anaacutelise dos dados 223

Analisamos os dados socioeconocircmicos das entrevistas semiestruturadas por meio de 224

estatiacutestica descritiva para explicar os aspectos da realidade econocircmica e social dos agricultores 225

Para identificar se a diversidade intraespeciacutefica da mandioca cultivada localmente eacute 226

influenciada por paracircmetros socioeconocircmicos utilizamos o coeficiente de correlaccedilatildeo de 227

Spearman (Ple005) (Sokal amp Rohlf 1995) 228

Com base na lista livre das variedades de mandioca cultivadas pelos agricultores 229

calculamos a frequecircncia de citaccedilatildeo o ranking e o iacutendice de saliecircncia com o objetivo de 230

identificar quais as mais importantes ou preferidas para as comunidades O iacutendice de saliecircncia 231

considerou a frequecircncia de citaccedilatildeo e o ranking referente ao posicionamento das variedades 232

dentro das listas livres (Thompson amp Juan 2006) As etnovariedades mais citadas e com maior 233

valor de saliecircncia representam as de maior importacircncia ou preferecircncia para as comunidades 234

Anaacutelise de rede 235

Medimos o grau de aninhamento (NODF) para investigar a estrutura de rede de 236

interaccedilatildeo social dos agricultores em funccedilatildeo das variedades cultivadas As matrizes altamente 237

aninhadas apresentam NODF tendendo a 1 caso contraacuterio tentem a ser 0 238

Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 239

Para o estudo das semelhanccedilas e diferenccedilas fenotiacutepicas entre as variedades de mandioca 240

ldquoin siturdquo realizamos anaacutelises multivariadas para identificar possiacuteveis grupos de variedades que 241

compartilham semelhanccedilas entre si 242

36

A anaacutelise de correspondecircncia muacuteltipla (MCA) permitiu identificar como as variedades 243

de mandioca estatildeo ordenadas em funccedilatildeo dos seus descritores etnobotacircnicos As etnovariedades 244

foram plotadas ao longo um plano cartesiano bi ou tridimensional onde a variaccedilatildeo total eacute 245

explicada pelos dois primeiros eixos Complementar a esta anaacutelise realizamos a anaacutelise de 246

agrupamento hieraacuterquico (Cluster) para identificar como estatildeo agrupadas as etnovariedades de 247

acordo seus descritores Conferimos a consistecircncia do dendrograma com coeficiente de 248

correlaccedilatildeo cofeneacutetica conforme Sneath amp Sokal (1973) que quantifica se a correlaccedilatildeo entre a 249

matriz de distacircncias originais e a matriz de distacircncias cofeneacuteticas eacute representativa Para 250

mensurar as dissimilaridades entre as variedades de mandioca foi utilizada a distacircncia 251

euclidiana e com o meacutetodo de Ward 252

Softwares utilizados 253

Para a anaacutelise da lista livre usamos o software ANTROPAC versatildeo 10 O software 254

ANINHADO 30 (Guimaratildees amp Guimaratildees 2006) foi usado para medir o grau de aninhamento 255

da rede Utilizamos o software estatiacutestico R (R core team 2017) para a anaacutelise de correlaccedilatildeo 256

de Spearman com o pacote corrplot (Wei amp Simko 2013) o desenho da rede que descreve a 257

interaccedilatildeo entre os agricultores e as etnovariedades com o pacote bipartite (Dormann et al 258

2017) E com os pacotes FactoMineR (LEcirc et al 2008) factoextra (Kassambara et al 2016) e 259

vegan (Oksanen et al 2017) foram realizadas as anaacutelises de cluster de correspondecircncia 260

muacuteltipla (MCA) e de correlaccedilatildeo coefeneacutetica respectivamente 261

Resultados 262

As diferentes etnovariedades de mandioca encontradas no estudo suprem a demanda 263

local por alimento enquanto outras atendem agraves preferecircncias individuais ou do comeacutercio As 264

variedades que possuem maior rendimento e a farinha produzida apresenta coloraccedilatildeo branca 265

satildeo as de maior valor comercial para os agricultores devido agraves preferecircncias do mercado Jaacute 266

37

outras variedades que satildeo mais moles e apresentam coloraccedilatildeo amarelada natildeo satildeo empregadas 267

na produccedilatildeo de farinha mas sim consumidas cozidas ou assadas A depender da demanda local 268

os agricultores intencionalmente aumentam ou diminuem a frequecircncia de suas variedades nos 269

roccedilados seja por alguma exigecircncia do comeacutercio ou para consumo familiar 270

Nas comunidades os agricultores separam suas variedades de mandioca em dois grupos 271

como observado em outras comunidades na mata Atlacircntica por Emperaire e Peroni (2007) o 272

das ldquomacaxeirasrdquo que satildeo as variedades exploradas basicamente para o consumo familiar sem 273

processo preacutevio de desintoxicaccedilatildeo cujas raiacutezes satildeo consumidas fritas eou cozidas Sendo 274

utilizadas tambeacutem como complemento na dieta dos animais E o grupo das ldquomandiocasrdquo que 275

satildeo as variedades que necessitam de processo preacutevio de desintoxicaccedilatildeo para o consumo 276

utilizadas comumente para a produccedilatildeo de farinha de mandioca Para os agricultores as 277

ldquomandiocasrdquo possuem maior valor comercial pois apresentam maior rendimento e 278

rentabilidade pois a farinha produzida eacute branca e atende as preferencias do comercio local 279

Aleacutem da farinha outros produtos e subprodutos produzidos dentre os quais foram citados 280

ldquotapioca ou gomardquo ldquobijurdquo ou ldquobolo de mandiocardquo satildeo utilizados para o consumo proacuteprio ou 281

eventual comercializaccedilatildeo 282

Os informantes natildeo possuiacuteam conhecimento sobre a origem dos nomes das variedades 283

de mandioca Quanto a compreensatildeo da geraccedilatildeo da diversidade intraespeciacutefica identificamos 284

que apesar de 66 dos agricultores citarem que conhecem variedades fruto de germinaccedilatildeo de 285

suas sementes nenhum deles utiliza as manivas para o plantio por essas variedades de 286

mandioca ldquovoluntaacuteriasrdquo natildeo apresentarem bom rendimento 287

Observamos que existe uma baixa correlaccedilatildeo entre a diversidade de variedades 288

atualmente cultivadas e as variaacuteveis socioeconocircmicas como no caso do nuacutemero de roccedilados 289

(r=028 Ple005) e do tamanho do roccedilado (r=033 Ple005) (Fig 7) Essa baixa correlaccedilatildeo pode 290

38

ser explicada pelo fato de existirem grupos de agricultores que preferem manter as variedades 291

de maior valor econocircmico e de subsistecircncia mesmo com aacutereas maiores de cultivo 292

Verificamos tambeacutem uma correlaccedilatildeo positiva moderada entre o nuacutemero de variedades 293

conhecidas com o nuacutemero de variedades atualmente cultivadas (r=054 Ple005) Na lista livre 294

foram identificadas 22 etnovariedades de mandioca cultivadas (132 citaccedilotildees no total) sendo 295

oito dessas mais citadas com maiores valores de saliecircncia (entre 047 e 0082) (Tabela 2) As 296

etnovariedades ldquoMacaxeira Rosardquo e ldquoMandioca Isabel de Souzardquo exibiram os maiores valores 297

de saliecircncia 047 e 037 respectivamente Logo essas variedades satildeo as mais conhecidas 298

dentro das comunidades com 66 e 48 das citaccedilotildees respectivamente 299

Dentre as etnovariedades citadas 12 foram idiossincraacuteticas pois apresentaram menor 300

frequecircncia de citaccedilatildeo e menores valores de saliecircncia (entre 0032 e 0006) (Tabela 2) 301

Redes de interaccedilatildeo social 302

A rede apresentou uma estrutura aninhada com grau de aninhamento significativamente 303

superior aos modelos nulos (N=3072 Plt0001) para as comunidades sendo um nuacutecleo de 304

etnovariedades altamente conectado aos agricultores (Fig 8) A estrutura aninhada nos permite 305

inferir que existe um grupo de agricultores que cultiva uma maior diversidade de etnovariedades 306

de mandioca em suas roccedilas enquanto que outro subgrupo que tem menor diversidade cultivam 307

as mais comuns ou disponiacuteveis (Cavechia et al 2014) Isso significa que os agricultores locais 308

mesmo em diferentes comunidades cultivam um nuacutecleo de etnovariedades comum entre eles 309

(n=6 Tabela 2) 310

Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 311

Observamos que a maioria dos indiviacuteduos de mandioca satildeo caracterizados por meio de 312

um conjunto de sete caracteres morfoloacutegicos os quais foram citados pelos agricultores como 313

mais importantes para a caracterizaccedilatildeo de suas variedades Nas visitas aos roccedilados registramos 314

39

as etnovariedades atualmente cultivadas e a tabela 3 fornece a lista completa com as 17 315

etnovariedades de mandioca e o local de registro 316

Por meio da anaacutelise de correspondecircncia muacuteltipla as variedades de mandioca foram 317

ordenadas em funccedilatildeo de seus descritores ao longo do primeiro e segundo eixo correspondentes 318

a 3680 da variacircncia total (Fig 9) 319

As variaacuteveis mais correlacionadas e que agruparam as variedades de mandioca no 320

primeiro eixo foram cor da folha desenvolvida (CFD) (r= 07239 Ple0001) cor do coacutertex da 321

raiz (CDR) (r= 06473 Ple0001) cor do broto foliar (CBF) (r= 06880 Ple0001) cor do peciacuteolo 322

(CDP) (r= 05250 Ple005) cor externa do caule (CEC) (r= 06883 Ple005) cor da polpa da 323

raiz (PDR) (r= 02473 Ple005) Para o segundo eixo as variaacuteveis correlacionadas foram cor 324

da folha desenvolvida (CFD) (r= 07220 Ple0001) cor externa do caule (CEC) (r= 08718 325

Ple0001) e cor do peciacuteolo (CDP) (r= 06927 Ple005) 326

O agrupamento de todas as variedades caracterizadas ldquoin siturdquo gerou uma aacutervore 327

hieraacuterquica (dendrograma) (Fig 9) utilizando a distacircncia euclidiana seguindo o criteacuterio de 328

Ward O dendrograma gerado apresentou um coeficiente de correlaccedilatildeo cofeneacutetica r= 06780 329

indicando que existe consistecircncia com os dados originais no agrupamento quanto agrave 330

classificaccedilatildeo e estrutura de tal forma que as variedades foram agrupadas em oito classes as 331

quais foram explicadas pelas variaacuteveis mais significativas descritas na tabela 4 332

O resultado do agrupamento (utilizada a distacircncia euclidiana e com o meacutetodo de Ward) 333

observamos que as etnovariedades de mandioca caracterizadas ldquoin siturdquo foram agrupadas em 334

dois grandes agrupamentos indicados na Fig 10 pelos retacircngulos em vermelho A partir dessa 335

anaacutelise percebemos que os caracteres morfoloacutegicos selecionados pelos agricultores natildeo foram 336

suficientes para separar as variedades de macaxeira e mandioca pois em ambos os 337

agrupamentos encontramos tanto macaxeiras quanto mandiocas 338

40

As variedades da classe 1 foram identificadas pelos agricultores pela cor do peciacuteolo 339

(CDP) verde A classe 2 agrupou as etnoveriedades caracterizadas pela protuberacircncia da cicatriz 340

foliar (PCF) mais protuberante Esse descritor segundo os agricultores era identificado como 341

ldquoembriatildeordquo A classe 3 consiste apenas da variedade ldquoMandioca Pretonardquo indicada pela presenccedila 342

de cor do peciacuteolo (CDP) vermelho A classe 4 agrupou trecircs variedades caracterizadas pelos 343

agricultores pela presenccedila de cor coacutertex da raiz (CDR) rosa e cor da polpa da raiacutez (PDR) branca 344

identificadas como ldquoMacaxeira vermelhardquo ldquoMacaxeira Rosa Brancardquo ldquoMacaxeira Rosardquo As 345

variedades agrupadas na classe 5 foras as variedades de mandioca caracterizadas pelos 346

agricultores por apresentarem cor do coacutertex (CDR) da raiacutez branca A classe 6 agrupou 347

variedades identificadas pelos agricultores pela cor do broto foliar (CBF) verde A classe 7 348

consiste apenas da variedade ldquoMacaxeira Sementerdquo identificada pelos agricultores pela cor do 349

peciacuteolo (CDP) roxo e protuberacircncia da cicatriz foliar pouco proeminente Essa variedade 350

segundo os agricultores era fruto do nascimento espontacircneo no roccedilado poreacutem eles geralmente 351

natildeo utilizam essas variedades por apresentarem apenas uma raiz pequena e de baixo 352

rendimento Na classe 8 as variedades foram identificadas pelos agricultores pela cor do peciacuteolo 353

(CDP) verde amarelado e protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) pouco proeminente As 354

ldquoMandioca Isabel de Souzardquo ldquoMandioca Isabel trecircs galhosrdquo segundo os agricultores se 355

diferenciavam pelo maior nuacutemero de caules presentes na variedade ldquoIsabel trecircs galhosrdquo 356

Discussatildeo 357

As sete comunidades estudadas manejavam um nuacutemero consideraacutevel de variedades 358

locais A quantidade de etnovariedades registradas eacute proacutexima a encontrada por Bender et al 359

(2009) e Cavechia et al (2014) em comunidades na regiatildeo sul e sudeste por Oler e Amorozo 360

(2017) em uma comunidade tradicional na regiatildeo centro-oeste Poreacutem foi quantitativamente 361

inferior quando comparada a estudos como os de Elias et al (2001) e Kawa et al (2013) em 362

comunidades na regiatildeo amazocircnica pois possuiacuteam uma alta diversidade Essa alta diversidade 363

41

na regiatildeo amazocircnica pode estar relacionada com o fato de que essa regiatildeo eacute o provaacutevel centro 364

de origem da mandioca (M esculenta) (Allem 1994) 365

As etnovariedades registradas neste estudo estatildeo disponiacuteveis para a maioria dos 366

agricultores dessa regiatildeo e esse fator favorece a circulaccedilatildeo das etnovariedades entre as 367

comunidades locais Por isso haacute semelhanccedilas das etnovariedades utilizadas entre os agricultores 368

da mesma comunidade e entre comunidades vizinhas 369

Parte dos agricultores optam por manter uma alta frequecircncia de variedades mais 370

utilizadas enquanto que outros optam por manter etnovariedades de baixa frequecircncia 371

Conforme discutido por Amorozo (2013) os agricultores escolhem seu acervo de acordo com 372

as necessidades e contexto em que vivem A reduccedilatildeo da diversidade de etnoveriedades por 373

exemplo pode ser impulsionada por fatores que simplificam o sistema como a seleccedilatildeo de 374

etnovariedades para a produccedilatildeo de farinha resultando no cultivo de poucas ou ateacute de uma uacutenica 375

etnovariedade (Peroni amp Hanazaki 2002) mesmo em aacutereas maiores 376

377

Redes de interaccedilatildeo social 378

Com as anaacutelises de rede demonstramos que os agricultores de diferentes comunidades 379

em uma mesma regiatildeo efetivamente trocam variedades de mandioca entre si corroborando 380

com estudos realizados por Emperaire amp Eloy (2008) Pautasso et al (2012) e Cavechia et al 381

(2014) Nesses estudos os autores tambeacutem consideram que as trocas de etnovariedades por 382

meio da rede de intercacircmbio entre os agricultores eacute um mecanismo fundamental para a 383

manutenccedilatildeo da diversidade local 384

A visualizaccedilatildeo da rede demonstrou que entre as comunidades os agricultores 385

compartilham um nuacutecleo de etnovariedades mais utilizadas dentre as quais estatildeo as de maior 386

valor econocircmico e de subsistecircncia Essas de maior frequecircncia satildeo aquelas altamente produtivas 387

utilizadas pelos agricultores para atenderem agraves demandas de mercado por farinha e para o 388

consumo proacuteprio (Kawa et al 2013) 389

42

No entanto observamos que existe outro nuacutecleo de etnovariedades menos frequentes 390

Essas etnovariedades raras podem ser resultantes do processo de experimentaccedilatildeo ou 391

preferecircncias individuais dos agricultores Outra possiacutevel razatildeo para a baixa frequecircncia de 392

algumas etnovariedades poderia ser explicada pela variaccedilatildeo da nomenclatura pelos 393

agricultores que segundo Peroni amp Hanazaki (2002) pode ocorrer durante o processo de troca 394

e introduccedilatildeo de novas variedades aos roccedilados Ainda assim natildeo descartamos a hipoacutetese de que 395

essas etnovariedades raras possam ser provenientes do cruzamento entre variedades diferentes 396

cultivadas da mesma roccedilado ou em roccedilas vizinhas De acordo com Martins (2005) essas 397

variedades fruto de germinaccedilatildeo expentacircnea satildeo incorporadas aos roccedilados pelos agricultores 398

pela curiosidade em experimentar novas variedades agraves suas coleccedilotildees 399

Nesse estudo admitimos que optar por etnovariedades raras entre as comunidades 400

estudadas eacute um comportamento adotado por agricultores que manejam uma maior diversidade 401

corroborando com os estudos de Cavechia et al (2014) e Emperaire et al (2016) em regiotildees 402

uacutemidas Para esses autores etnovaridedades de baixa frequecircncia representam um subconjunto 403

das de alta frequecircncia cultivadas por agricultores que manteacutem a maior diversidade em seus 404

roccedilados Sendo assim inferimos que no geral entre as comunidades satildeo os agricultores 405

generalistas aqueles que cultivam maior diversidade os responsaacuteveis por incorporar novas 406

etnovariedades aos roccedilados 407

As decisotildees dos agricultores em manter o acervo direcionado principalmente para 408

atender a demanda de mercado por exemplo podem levar a uma homogeneizaccedilatildeo nas roccedilas 409

colocando em risco a manutenccedilatildeo da diversidade local (Peroni amp Hanazaki 2002) Como 410

discutido por Elias et al (2000) os agricultores que selecionam apenas um nuacutemero reduzido e 411

especiacutefico de variedades mais produtivas tendem a fazer com que as variedades menos 412

frequentes desapareccedilam ao longo do tempo Essa tendecircndia pode influenciar na capacidade de 413

43

resiliecircncia do sistema assim como dos agricultores em lidar com possiacuteveis adversidades 414

ambientais que possam ocorrer 415

Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 416

No geral os agricultores demonstraram uma tendecircncia em classificarseparar suas 417

diferentes etnovariedades de mandioca a partir da combinaccedilatildeo de um conjunto de sete 418

caracteres morfoloacutegicos distintos e de faacutecil percepccedilatildeo os quais natildeo tem relaccedilatildeo com o uso 419

como por exemplo a cores das raiacutezes caule e folhas Logo consideramos que esses caracteres 420

morfoloacutegicos podem ser considerados como uma forma de classificaccedilatildeo pelos agricultores 421

baseada na capacidade percepccedilatildeo das diferenccedilas morfoloacutegicas que cada etnovariedades 422

apresenta (Boster 1985) Estes resultados nos levam a entender que entre os agricultores o 423

conhecimento sobre a diversidade da mandioca estaacute relacionado ao conhecimento de 424

caracteriacutesticas morfoloacutegicas consistentes 425

A existecircncia de alguns fenoacutetipos comuns nos permitiu avaliar a classificaccedilatildeo da 426

consistecircncia da taxonomia popular entre os agricultores Por exemplo as etnovariedades 427

ldquoMaxaceira Rosardquo e ldquoMacaxeira Rosa Brancardquo e ldquoMacaxeira vermelhardquo foram agrupadas no 428

mesmo cluster (C4) por apresentaram fenoacutetipos semelhantes Notamos que os agricultores 429

classificaram essas variedades de acordo com os traccedilos morfoloacutegicos mais relevantes como a 430

cor do coacutertex da raiz rosa e cor branca da polpa O mesmo ocorreu com as etnovariedades 431

ldquoMandioca varudardquo ldquoMandioca campina da granderdquo e ldquoMandioca campinardquo caracterizadas 432

pela presenccedila do peciacuteolo verde agrupadas no cluster (C1) 433

A partir dessas evidecircncias consideramos a hipoacutetese de que as variedades mesmo 434

apresentando caracteriacutesticas morfoloacutegicas muito semelhantes estatildeo sujeitas a variaccedilatildeo 435

nomenclatural durante o processo a incorporaccedilatildeo aos roccedilados pelos agricultores pois a 436

capacidade para distinguir e nomear variedades entre os agricultores da mesma regiatildeo pode 437

variar (Sambatti et al 2001 Elias et al 2001 Mekbib 2007) Consideramos tambeacutem que pode 438

44

existir variaccedilatildeo geneacutetica entre os indiviacuteduos identificados por um mesmo nome ou entatildeo que 439

os agricultores datildeo o mesmo nome para variedades diferentes E esta situaccedilatildeo pode levar a uma 440

superestimaccedilatildeo ou subestimaccedilatildeo da diversidade de mandioca cultiva nas aacutereas de estudo 441

Sabemos que a mandioca eacute propagada vegetativamente pelos agricultores por meio de 442

estacas em sistemas de agricultura tradicional No entanto alguns variedades produzem flores 443

e sementes que germinam e podem originar outras variedades ou outros clones por meio de 444

fecundaccedilatildeo cruzada (Elias et al 2001) Nesse contexto a etnovariedade ldquoMacaxeira Sementerdquo 445

presente no cluster (C7) trata-se de um uacutenico indiviacuteduo amostrado em uma roccedila de um dos 446

agricultores Esta apresentava algumas caracteriacutesticas morfoloacutegicas distintas das demais 447

reconhecidas pelo agricultor como por exemplo a produccedilatildeo de uma raiz uacutenica e 448

consequentemente de baixo rendimento Encontramos apenas um indiviacuteduo dessa 449

etnovariedade e nossa hipoacutetese de que esta poderia ter sido originada da germinaccedilatildeo da 450

semente mesmo quando 100 dos informantes declararam natildeo dar qualquer importacircncia e 451

descartar essas ldquovariedades-voluntaacuteriasrdquo foi confirmada pelo agricultor que afirmou que se 452

tratava de uma variedade nascida da germinaccedilatildeo da semente Esse comportamento vai de 453

encontro ao estudo de Fraser et al (2012) pois apesar dos agricultores reportarem nas 454

entrevistas que conhecem essas ldquovariedades-voluntaacuteriasrdquo nenhum agricultor faz o uso delas 455

Peroni et al (1999) e Agre et al (2016) analisando morfologicamente as variedades 456

locais de mandioca mantidas por agricultores em sistemas agriacutecolas tropicais tambeacutem 457

demonstraram que os agricultores satildeo coerentes quanto a separaccedilatildeo e identificaccedilatildeo de suas 458

etnovariedades a partir da formaccedilatildeo de grupos de coesos quanto a nomenclatura local utilizada 459

No entanto para o melhor entendimento dessa diversidade aleacutem da caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica 460

o uso de anaacutelises complementares como anaacutelise molecular seria importante para tentar 461

identificar se esses grupos representam a mesma variedade com nomes distintos ou se satildeo 462

variedades distintas com o mesmo nome 463

45

Conclusatildeo 464

O estudo demonstrou que no sistema de manejo da mandioca ao niacutevel de roccedila em 465

comunidades localizadas na regiatildeo semiaacuterida de Pernambuco compotildee uma diversidade 466

intrespeciacutefica de mandioca para atender agraves demandas econocircmicas e de subsistecircncia das 467

populaccedilotildees locais 468

Com relaccedilatildeo a anaacutelise de rede demostramos que haacute um nuacutecleo de etnovariedades 469

fortemente conectado aos agricultores e sua composiccedilatildeo eacute direcionada pelas preferecircncias e 470

necessidades individuais dos agricultores que foram os fatores responsaacuteveis pelo surgimento 471

da estrutura aninhada observada na anaacutelise rede entre as comunidades deste estudo E esse 472

padratildeo aninhado observado contribui na conservaccedilatildeo das etnovariedades mais comuns mas 473

tambeacutem pode resultar em perda daquelas de menor frequecircncia ao longo do tempo 474

A caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica ldquoin siturdquo nos permitiram inferir que os agricultores 475

reconhecem as diferentes caracteriacutesticas morfoloacutegicas de suas cultivares e satildeo coerentes na 476

separaccedilatildeo de suas variedades de mandioca e macaxeira Entretanto esses resultados sugerem a 477

realizaccedilatildeo de um estudo em niacutevel de diversidade geneacutetica exploratoacuterio para identificar se as 478

consistecircncias morfoloacutegicas refletem em consistecircncias geneacuteticas elucidando assim as possiacuteveis 479

confusotildees atribuiacutedas aos nomes das etnovariedades de mandioca 480

Agradecimentos 481

Agradecemos ao liacuteder comunitaacuterio Alexandre O Nascimento aos agricultores e 482

agricultoras das comunidades pela acolhida confianccedila e pela gentileza de compartilharem 483

conosco seus conhecimentos e contribuiacuterem com este estudo Especialmente a Arlindo Ferreira 484

Edgar Antocircnio Joseacute Sebastiatildeo Juvenal Oliveira e Janete Alves Ao Laboratoacuterio de Ecologia e 485

Evoluccedilatildeo de Sistemas Socioecoloacutegicos (LEA - UFPE) E agradecemos ao CNPq pelo apoio 486

com a bolsa de estudos do primeiro autor 487

46

Referecircncias bibliograacuteficas 488

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614

51

ANEXOS 615

616

Nome da revista 617

Human Ecology 618

Link de acesso 619

httpsgooglDVLbFj 620

Qualis-CAPES 621

B1 em Biodiversidade 622

623

624

625

626

627

628

629

630

631

632

633

634

635

636

637

638

639

640

641

642

52

Figuras 643

644

645

Fig 1 Partes do processo de fabricaccedilatildeo de farinha de mandioca Onde a raspagem b e c 646

processo de trituraccedilatildeo e d peneiramento Foto registrada em Abril de 2017 por Mirela Santos 647

648

649

650

c

d

b

a

53

651

Fig 2 Mapa de localizaccedilatildeo geograacutefica dos Municiacutepios de Altinho e Panelas e das comunidades 652

estudadas na regiatildeo semiaacuterida do Estado de Pernambuco (Elaborado por SANTOS 2018) 653

54

654

655

656

657

Fig 3 Processo de fabricaccedilatildeo da farinha de mandioca Apoacutes a colheita as raiacutezes satildeo lavadas 658

raspadas e trituradas (a) A massa extraiacuteda eacute prensada e coada Ao sair da prensa a massa 659

peneirada (b) e em seguida eacute torrada (c) em fornos artesanais ou parcialmente mecanizados 660

Imagem registrada em janeiro de 2017 na Comunidade do Caratildeo por Mirela Santos 661

662

663

a

b c

55

664

Fig 4 a Sede da Comunidade do Caratildeo b Agricultor transportando a palma forrageira que eacute 665

um exemplo de estrateacutegia adaptativa para suprir a falta de alimento dos animais devido agrave seca 666

c Feira-livre que acontece na comunidade a cada quinze dias Imagem registrada em julho de 667

2016 na Comunidade do Caratildeo por Mirela Santos 668

669

670

Fig 5 a O agricultor nos explicava as mudanccedilas que vem fazendo em seus roccedilados para se 671

adaptar aos longos periacuteodos de seca b Quando o agricultor nos mostrava as diferentes 672

etnovariedades que mantinha em sua roccedila c Durante a pesquisa nos explicavam como era feita 673

a colheita da mandioca e como selecionavam as manivas para o proacuteximo plantio Foto registrada 674

em abril de 2017 na Comunidade do Brejo Velho por Mirela Santos 675

a

b c

c b

a

56 676

677

Fig 6 Possiacuteveis estruturas de rede que descrevem as interaccedilotildees dos agricultores (losango) 678

ligados as etnovariedades (ciacuterculos) que cultivam Onde a Aninhada b Modular c Aleatoacuteria 679

(Fonte Cavechia et al 2014 com adaptaccedilotildees) 680

681

682

683

684

685

686

687

688

689

690

691

692

693

694

695

696

697

a c b

57

698

699

700

701

702

703

704

705

706

707

Fig 7 Correlaccedilatildeo de Spearman entre a diversidade de etnovariedades de mandiocas conhecidas 708

como cultivadas e variedades atualmente cultivadas por agricultor e as variaacuteveis 709

socioeconocircmicas Onde Nvc= nuacutemero de citadas como cultivadas Nve= nuacutemero de variedades 710

atualmente cultivadas Esc= escolaridade Id= idade Gen= gecircnero Tr= tamanho do roccedilado 711

Exp= experiecircncia na agricultura Sld= renda Nr= nuacutemero de roccedilados Cores distintivas 712

representam correlaccedilotildees significativas (Ple005) 713

714

58

715

Fig 8 Modelo individual de rede de etnovariedades de mandioca citadas (esquerda) por 716

agricultores como cultivadas (direita) nos Municiacutepios de Altinho e Panelas As redes foram 717

desenhadas com o pacote bipartite (Dormann et al 2017) usando o software R (R CORE 718

TEAM 2017) 719

720

59

721

Fig 9 Anaacutelise de Correspondecircncia Muacuteltipla das 17 etnovariedades de mandioca considerando 722

os sete descritores morfoloacutegicos utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo em roccedilas de 723

agricultores tradicionais de sete comunidades no semiaacuterido de Pernambuco 724

725

726

727

728

729

730

731

732

733

734

735

736

737

McCambadinha

McCampina

McCampinaDaGrande

McCampinaRasteira

McCampinaVaruda

McGauba

McIsabelDeSouza

McIsabelTresGalhos

McOlhoDePombo

McOlhoVerde

McPretinha

McPretona

MxBranca

MxRosa

MxRosaBrancaMxRosaVermelha

MxSemente

CFD_Verde_Arroxeado

CFD_Verde_ClaroCFD_Verde_Escuro

CBF_Roxo

CBF_Verde_ArroxeadoCBF_Verde_Claro

CBF_Verde_Escuro

CDP_Verde

CDP_Verde_Amarelado

CDP_Verde_Avermelhado

CDP_Vermelho

CEC_Cinza

CEC_Dourado

CEC_Laranja

CEC_Marrom_Claro

CEC_Marrom_Escuro

CEC_Prateado

CEC_Verde_AmareladoCicatriz_M

Cicatriz_P

PDR_Branco

PDR_Creme

CDR_BrancoCDR_Creme CDR_Rosa

-4

-2

0

2

4

-4 -2 0 2 4

Dim1 (206)

Dim

2 (

162

)

MCA - Biplot

00

10

Hierarchical Clustering

inertia gain

McC

am

pin

aV

aru

da

McC

am

pin

aD

aG

rande

McC

am

pin

a

McG

auba

McP

retin

ha

McP

reto

na

MxR

osaV

erm

elh

a

MxR

osaB

ranca

MxR

osa

McC

am

pin

aR

aste

ira

McC

am

badin

ha

McO

lhoV

erd

e

MxB

ranca

MxS

em

ente

McIsabelT

resG

alh

os

McIsabelD

eS

ouza

McO

lhoD

eP

om

bo

00

05

10

15

Hierarchical Classification

Heig

ht

C1 C2 C3 C4 C5 C6 C7 C8

Fig 10 Agrupamento hieraacuterquico das 17 etnovariedades de mandioca caracterizadas de acordo

com os descritores utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo

60

Tabelas 738

739

Tabela 1 Caracteres e estados utilizados pelos agricultores como descritores botacircnicos para 740

caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das etnovariedades de mandioca 741

Caracter Sigla Estados

Folha

Cor da folha desenvolvida CFD 1- verde claro 2- verde escuro 3- verde arroxeado 4- roxo

Cor do broto foliar CBF 1- verde claro 2- verde escuro 3- verde arroxeado 4- roxo

Cor do peciacuteolo CDP 1- verde amarelado 2- verde 3- verde avermelhado 4- roxo

5- vermelho

Caule

Cor externa do caule CEC 1- laranja 2- verde amarelado 3- dourado 4- marrom claro

5- prateado 6- cinza 7- marrom escuro 8- verde

Protuberacircncia da cicatriz foliar PCF 1- pouco proeminente 2- muito proeminente

Raiacutez

Cor da poupa da raiz PDR 1- branco 2- creme

Cor do coacutertex da raiacutez CDR 1- rosa 2- branco 3- creme

742

743

744

745

746

747

748

749

750

751

61

Tabela 2 Lista das 22 etnovariedades de mandiocas citadas (132 citaccedilotildees) como cultivadas nas 752

comunidades pertencentes aos Municiacutepios de Altinho (Caratildeo n=8) e ao Municiacutepio de Panelas 753

(Aracuatilde Satildeo Joseacute do Bola Brejo Velho Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima e Lajeiro 754

Dantas n=21) 755

Etnovariedade Frequecircncia () Ranking Saliecircncia

Macaxeira Rosa 66 179 0472

Mandioca Isabel de Souza 48 179 0372

Mandioca Campina 24 217 0148

Macaxeira Branca 20 210 0134

Macaxeira Rosa branca 18 122 0168

Mandioca Pretona 16 338 0082

Mandioca Cambadinha 12 283 0071

Mandioca Isabel trecircs galhos 10 180 0075

Mandioca Gauacuteba 10 260 0070

Mandioca Pretinha 8 225 0053

Mandioca Peacute de pombo 4 400 0011

Mandioca Olho verde 4 350 0012

Macaxeira Rosinha 4 200 0027

Mandioca Campina varuda 4 200 0032

Mandioca Campina rasteira 4 300 0021

Mandioca Caboquinha 2 500 0007

Macaxeira Rasteira 2 200 0013

Macaxeira Paraacute 2 100 0020

Mandioca Barra ferro 2 300 0007

Mandioca Campina da grande 2 100 0020

Mandioca Olho de pombo 2 300 0010

Mandioca Jasmim 2 600 0006

756

757

758

62

Tabela 3 Lista de 17 etnovariedades atualmente cultivadas nos roccedilados das comunidades em 759

estudo 760

Ca Ar Bo Br Jb Jc Ld

Etnovariedade

Macaxeira Branca x x x x

Macaxeira Rosa

x x x x x x

Macaxeira Rosa Branca x x x x

Macaxeira Rosa Vermelha

x

Macaxeira Semente

x

Mandioca Cambadinha x

x

Mandioca Campina

x

x

x

Mandioca Campina da Grande x

Mandioca Campina Rasteira

x

Mandioca Campina Varuda

x

Mandioca Gauacuteba

x

Mandioca Isabel de Souza

x x x

Mandioca Isabel trecircs Galhos

x

x

Mandioca Olho de Pombo

x

Mandioca Olho Verde

x

Mandioca Pretinha

x

Mandioca Pretona x x x

Comunidades Ca= Caratildeo Ar=Aracuatilde Bo= Satildeo Joseacute do Bola Jb= Japaranduba de Baixo 761

Jc= Japaranduba de Cima Ld= Lajedo Dantas 762

763

764

765

766

767

768

63

Tabela 4 Descriccedilatildeo das classes do agrupamento por meacutetodo de Ward agrupadas pelo conjunto 769

dos descritores mais significativos para a caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das variedades de mandioca 770

Classes Descritores in situ p-valor

C1 Cor do peciacuteolo (CDP) 0016

C2 Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023

C3 Cor do peciacuteolo (CDP) 0012

C4 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0004

Cor da poupa da raiacutez (PDF) 0021

C5 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0003

C6 Cor do broto foliar (CBF) 0002

C7 Cor da folha desenvolvida (CFD) 0004

Cor externa do caule (CEC) 0040

C8 Cor do peciacuteolo (CDP) 0005

Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023

Valores de Ple005 satildeo significativos 771

772

16

da agricultura de sequeiro bem como analisar se os paracircmetros socioeconocircmicos influenciam

na diversidade local (ii) registrar as etnovariedades atualmente cultivadas e identificar os

diferentes criteacuterios morfoloacutegicos utilizados pelos agricultores para a seleccedilatildeo e classificaccedilatildeo das

etnovariedades e (iii) descrever a estrutura da rede de interaccedilatildeo entre os agricultores e a

diversidade de etnovariedades de mandioca cultivadas para tentar entender como essas relaccedilotildees

podem influenciar na manutenccedilatildeo ou perda da diversidade local

a

b c

17

2 Revisatildeo bibliograacutefica

21 Manihot esculenta Crantz e conhecimento local de agricultores tradicionais

O gecircnero Manihot Miller (Euforbiaceae) possui cerca de 98 espeacutecies distribuiacutedas em 19

seccedilotildees das quais 13 delas ocorrem no Brasil (ROGERS APPAN 1973) Dentre as espeacutecies do

gecircnero Manihot esculenta Crantz (mandioca) eacute a principal cultivar uma vez que compotildee a

base da dieta alimentar de diversas populaccedilotildees rurais principalmente em regiotildees tropicais A

mandioca foi domesticada na Ameacuterica do Sul pois eacute onde se encontra o maior centro de

diversificaccedilatildeo Estudos relacionados ao entendimento de sua origem botacircnica tecircm contribuiacutedo

para a compreensatildeo das accedilotildees humanas no processo de domesticaccedilatildeo e ampliaccedilatildeo da

diversidade da espeacutecie (OLSEN SCHAAL 1999 ELIAS et al 2004 ELLEN 2012)

As diferentes variedades da espeacutecie satildeo reconhecidas em dois grandes grupos principais

o das variedades mais toacutexicas e o de variedades menos toacutexicas baseadas no potencial de

glicosiacutedeos cianogecircnicos (HCN) contido na polpa das raiacutezes (ELIAS et al 2004) Variedades

com baixa toxicidade contecircm baixas concentraccedilotildees de glicosiacutedeos cianogecircnicos (HCNlt100

mgKg-1) e satildeo conhecidas em comunidades agriacutecolas variando entre regiotildees ou grupos eacutetnicos

como ldquomacaxeirasrdquo ldquomandiocas doces ou mansasrdquo ou ldquoaipinsrdquo As variedades mais toacutexicas

com altas concentraccedilotildees de HCN (HCNgt 100 mgKg-1) satildeo reconhecidas como ldquomandiocasrdquo

ou ldquomandiocas amargas ou bravasrdquo (PERONI et al 2007 MCKEY et al 2010) E portanto

precisam passar por um processo de desintoxicaccedilatildeo para se tornarem aptas ao consumo como

por exemplo pelo processo de fabricaccedilatildeo da farinha de mandioca (Fig 1) Apesar do seu

potencial toacutexico as variedades amargas possuem teores mais elevados de amido e se adaptam

bem a solos pobres e aacutecidos aleacutem de serem mais resistentes aos patoacutegenos e pragas em

comparaccedilatildeo com as variedades doces (FRASER et al 2010)

Sob o ponto de vista botacircnico esta dicotomia natildeo eacute reconhecida mas existem alguns

trabalhos que evidenciam a relaccedilatildeo entre a coerecircncia da taxonomia popular com a diferenciaccedilatildeo

geneacutetica para separaraccedilatildeo das variedades ldquodocesrdquo e ldquoamargasrdquo (ELIAS et al 2004 PERONI

et al 2007) O conhecimento das caracteriacutesticas morfoloacutegicas das plantas e a coerecircncia na

identificaccedilatildeo dessas variedades com niacuteveis distintos de HCN eacute de grande importacircncia

adaptativa para as populaccedilotildees que gerem esse recurso sobretudo pelo risco de intoxicaccedilatildeo

(RIVAL MCKEY 2008)

18

No estudo realizado por AMOROZO (2000) por exemplo os agricultores geralmente

classificavam as variedades que tinham raiacutezes brancas como ldquobravasrdquo e aquelas que tinham

raiacutezes vermelhas como ldquomansasrdquo embora eles reconhecessem algumas exceccedilotildees Em pesquisas

realizados por FARALDO et al (2000) MKUMBIRA et al (2003) ELIAS et al (2004) e

PERONI et al (2007) os agricultores foram consistentes na distinccedilatildeo de suas variedades

lsquolsquodocesrdquo e ldquoamargasrsquorsquo e com base no conhecimento de caracteres morfoloacutegicos distintos os

nomes das variedades refletiram na diversidade geneacutetica A partir dessas evidecircncias podemos

inferir que o conhecimento local dos agricultores associado agrave experiecircncia eacute importante natildeo

somente para o reconhecimento das variedades locais por si soacute mas tambeacutem por conter

informaccedilotildees relevantes sobre o papel que esses recursos podem desempenhar nos sistemas

agriacutecolas de pequena escala e para as populaccedilotildees locais (GADGIL et al 1993)

O conhecimento tradicional dos agricultores trata-se de um conjunto de saberes praacuteticas

e crenccedilas baseadas no contato direto nas observaccedilotildees experimentaccedilotildees diaacuterias e nas

dependecircncias econocircmicas eou de subsistecircncia dos recursos que satildeo geralmente transmitidas

oralmente dentro e entre as geraccedilotildees (AMOROZO 2000 DOMINGUES ARRUDA 2001

BEGOSSI 2004) Sendo assim o conhecimento tradicional de agricultores que praticam a

agricultura de pequena escala realizada em comunidades tradicionais eacute importante pois tem

garantido a perpetuaccedilatildeo dos conhecimentos e das praacuteticas agriacutecolas desenvolvidas durante

milhares de anos entre os agroecossistemas locais

22 Manejo tradicional em roccedilas e diversidade intraespeciacutefica da mandioca

A agricultura de pequena escala praticada em comunidades locais tem garantido a

perpetuaccedilatildeo do conhecimento sobre o manejo e a diversidade de espeacutecies agriacutecolas O sistema

de cultivo em roccedilas eacute tipicamente praticado por agricultores de comunidades tradicionais em

aacutereas uacutemidas no mundo inteiro As roccedilas satildeo aacutereas de cultivo de pequena escala localizadas

dentro de comunidades proacuteximas umas das outras que se tornaram objeto de estudo em vaacuterias

pesquisas antropoloacutegicas etnobotacircnicas geneacuteticas e ecologias especialmente por apresentarem

grande diversidade de espeacutecies cultivadas e pelo manejo destinar-se agrave subsistecircncia de grupos

familiares de agricultores de pequena escala (PUJOL et al 2007)

Aleacutem da diversidade de espeacutecies outra caracteriacutestica dessas roccedilas eacute o grande nuacutemero de

variedades dentro de cada espeacutecie Esta diversidade intraespeciacutefica pode ser referida como

etnovariedades que eacute um termo utilizado para definir grupos de indiviacuteduos identificados por

19

nomenclatura popular local a qual pode expressar elementos do contexto cultural econocircmico

e social das populaccedilotildees associado ao uso (PERONI MARTINS 2000 EMPERAIRE

PERONI 2007)

Dentre as vaacuterias espeacutecies cultivadas em roccedilas a mandioca (M esculenta) em seu

nuacutemero de etnovariedades eacute uma das principais culturas de importacircncia econocircmica e

nutricional para populaccedilotildees que utilizam esse sistema Sua diversidade pode estar relacionada

ao sistema reprodutivo da cultura ao modo de gestatildeo da agricultura pelas pressotildees de seleccedilatildeo

exercidas pelo proacuteprio homem ou ateacute mesmo por causas naturais (MARTINS 2005

CLEMENT et al 2010)

As caracteriacutesticas de manejo empregadas no cultivo da mandioca em roccedilas favorecem

a elevada diversidade intraespeciacutefica dessa cultura O modo de propagaccedilatildeo da mandioca eacute feito

pelos agricultores por meios de estacas (manivas) que satildeo selecionadas de acordo com as

caracteriacutesticas desejaacuteveis que elas apresentam seja para fins econocircmicos ou utilitaacuterios Apesar

de propagada vegetativamente que eacute um meacutetodo usado pelas populaccedilotildees humanas para plantio

e multiplicaccedilatildeo de plantas a mandioca natildeo perdeu a sua capacidade de reproduccedilatildeo sexual

sendo esse um aspecto importante para dinacircmica evolutiva da cultura (PUJOL et al 2007)

Esse meacutetodo de propagaccedilatildeo permite o fluxo e a circulaccedilatildeo do material geneacutetico entre os

diferentes roccedilados por meio de um sistema de redes sociais de troca de etnovariedade de

mandioca entre os agricultores tanto a niacutevel regional (entre comunidades) quanto em escalas

menores (entre vizinhos e parentes) (ELIAS et al 2004 EMPERAIRE OLIVEIRA 2010)

Segundo Emperaire e Peroni (2007) esse mecanismo de troca de germoplasma eacute uma grande

forccedila de dispersatildeo que resulta na agrobiodiversidade regional mais elevada pois estabelece

viacutenculos entre as diferentes roccedilas e promove oportunidades de seleccedilatildeo e cruzamento entre as

diferentes etnovariedades (EMPERAIRE ELOY 2008)

Atributo bioloacutegicos da espeacutecie tambeacutem estatildeo relacionados com o aumento da

diversidade intrespeciacutefica como a capacidade de dormecircncia das sementes e a dispersatildeo

autocoacuterica que propiciam o desenvolvimento de um banco de sementes no solo ao longo do

tempo permitindo o cruzamento entre as novas variedades adquiridasplantadas e entre estas

com variedades que existiram anterioemente na mesma aacuterea (PERONI MARTINS 2000

MARTINS 2005) A presenccedila dessas ldquoplantas-voluntaacuteriasrdquo ou seja aquelas nascidas de

germinaccedilatildeo expontacircnea eacute um dos eventos identificados como precursores de diversidade

intraespeciacutefica nas populaccedilotildees de mandioca cultivadas (PUJOL et al 2007)

20

Contudo muitos esforccedilos vecircm sendo empregados em estudos que observam a ecologia

da mandioca e o manejo agriacutecola associado agrave geraccedilatildeo de diversidade varietal e geneacutetica na

espeacutecie para tentar entender como esses mecanismos influenciam na diversidade de

etnovariedades locais e na sua dinacircmica (PUJOL et al 2007 KOMBO et al 2012 ELIAS et

al 2001)

23 Redes sociais de troca e circulaccedilatildeo de etnovariedades de mandioca

Sistemas agriacutecolas de pequena escala dependem de uma grande diversidade de espeacutecies e

variedades cultivadas e do fluxo destas por meio de redes sociais de troca material vegetativo

estabelecidas entre agricultores podendo o alcance da circulaccedilatildeo variar em escala local eou

regional (EMPERAIRE ELOY 2008) As trocas dependem de dois mecanismos principais

dos padrotildees de interaccedilatildeo social entre os agricultores e dos padrotildees de uso dos recursos

(CAVECHIA et al 2014) e as redes variam em funccedilatildeo das caracteriacutesticas culturais

econocircmicas e sociais das comunidades (EMPERAIRE PERONI 2007 PAUTASSO et al

2012)

No caso da mandioca (Manihot esculenta Crantz) a propagaccedilatildeo se da por estaquia o que

favorece a troca de material de vegetativo entre os agricultores e permite o fluxo entre

variedades locais e regionais (MARTINS 2005) As trocas de variedades de mandioca entre os

agricultores geralmente acontecem por alguma circunstacircncia que leve o agricultor a pedir o

material propagativo para o plantio com por exemplo para o plantio de uma nova roccedila ou por

alguma fitopatologia deslocaccedilatildeo ou estaccedilotildees de chuva e seca prolongadas (EMPERAIRE et

al 2001 EMPERAIRE ELOY 2008) Em alguns casos como no de algumas comunidades

agriacutecolas de pequena escala as redes de casamento satildeo utilizadas para a circulaccedilatildeo de

variedades (EMPERAIRE PERONI 2007 DELEcircTRE et al 2011)

O processo de manutenccedilatildeo da diversidade nesses sistemas resulta do interesse ou da

necessidade do agricultor em adquirir ou abandonar variedades testar e selecionar novas

etnovariedades de mandioca Dentre os fatores que dirigem a seleccedilatildeo de etnovariedades estatildeo

as preferecircncias individuais dos agricultores Alguns podem optar por cultivar todas as

etnovariedades comuns eou disponiacuteveis na regiatildeo enquanto que outros optam apenas por

manter um conjunto especiacutefico dessa diversidade (CAVECHIA et al 2014) Seja para atender

a alguma demanda individual pelo interesse em aumentar a produtividade ou pela necessidade

21

de conservar o material vegetativo para o proacuteximo plantio no caso de perda de material por

algum fator ambiental adverso (EMPERAIRE et al 2001 EMPERAIRE ELOY 2008)

Nesse sentido satildeo os agricultores os maiores responsaacuteveis por determinar como e quais

etnovariedades seratildeo compartilhadas e mantidas entre as comunidades (PAUTASSO et al

2012) E a chave para a compreensatildeo da dinacircmica da diversidade varietal eacute por meio desse

intercacircmbio e dos fatores que influenciam essa conectividade entre as comunidades pois essas

redes representam um grande impacto sobre a diversidade de variedades cultivadas E eacute por

meio dessas redes que se diminui coletivamente os riscos de perda total de diversidade geneacutetica

local (EMPERAIRE ELOY 2008)

Desse modo as relaccedilotildees estabelecidas pelos agricultores entre as comunidades por meio

das redes troca de germoplasma podem ter consequecircncias importantes sobre a diversidade

varietal da mandioca E compreender os processos envolvidos na manutenccedilatildeo ou perda de

germoplasma nos sistemas agriacutecolas eacute importante uma vez que compreendendo a maneira

como os agricultores usam esse conjunto de etnovariedades de mandioca e as compartilham

vai trazer importantes discussotildees a cerca da qualidade e a quantidade do recurso que seraacute

mantido transmitido ou perdido dentro dos sistemas ao longo do tempo

22

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25

VARIACcedilAtildeO INTRAESPECIacuteFICA CONHECIMENTO E MANEJO

LOCAL DE MANDIOCA (Manihot esculenta Crantz) NO SEMIAacuteRIDO DE

PERNAMBUCO NORDESTE DO BRASIL

Artigo submetido ao perioacutedico Human Ecology

Normas para submissatildeo em anexos

26

Variaccedilatildeo intraespeciacutefica conhecimento e manejo local de mandioca 1

(Manihot esculenta Crantz) no semiaacuterido de Pernambuco Nordeste do 2

Brasil 3

Mirela Nataacutelia Santos12 Jhonatan Rafael Zaacuterate-Salazar1 Reginaldo de Carvalho1 amp 4

Ulysses Paulino de Albuquerque2 5

6

1 Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo em Botacircnica Departamento de Biologia Rua Dom Manuel de Medeiros 7

Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) sn Dois Irmatildeos Recife Pernambuco 52171-8

900 Brasil 9

2 Laboratoacuterio de Ecologia e Evoluccedilatildeo de Sistemas Socioecoloacutegicos (LEA) Departamento de Botacircnica 10

Avenida Professor Moraes Rego Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) sn Cidade 11

Universitaacuteria Recife Pernambuco 50670-901 Brasil 12

Resumo 13

Historicamente a espeacutecie Manihot esculenta Crantz (mandioca) eacute uma espeacutecie de grande valor 14

econocircmico e de subsistecircncia para populaccedilotildees em comunidades tradicionais Variedades de 15

mandioca satildeo selecionadas com base nos interesses dos agricultores conduzindo uma evoluccedilatildeo 16

especiacutefica sobre a geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da agrobiodiversidade local Diante disso a mandioca 17

tornou-se espeacutecie-modelo em estudos que buscam compreender como os padrotildees e estrateacutegias 18

adotadas pelas populaccedilotildees humanas influenciam na diversidade intraespeciacutefica local em regiotildees 19

tropicais No entanto os fatores que influenciam a diversidade da mandioca em regiotildees 20

semiaacuteridas ainda natildeo foram bem documentados Nesse sentido objetivo geral do estudo foi 21

compreender os processos envolvidos na dinacircmica da diversidade agriacutecola em sete 22

comunidades tradicionais localizadas na regiatildeo semiaacuterida do estado de Pernambuco (Nordeste 23

do Brasil) por meio do acesso ao conhecimento dos agricultores quanto as praacuteticas de menejo 24

para tentar quais quais fatores podem estar relacionados a geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da diversidade 25

local Com os resultados da anaacutelise de redes verificamos uma alta diversidade de 26

etnovariedades cultivadas e a sua composiccedilatildeo eacute determinada pelas preferecircncias e 27

comportamentos individuais dos agricultores que foram provavelmente os mecanismos 28

27

responsaacuteveis pelo surgimento da estrutura aninhada observada na anaacutelise rede Esse padratildeo 29

aninhado contribui na conservaccedilatildeo das etnovariedades mais comuns mas tambeacutem pode resultar 30

em perda daquelas de menor frequecircncia ao longo do tempo 31

Palavras-Chave Agricultura tradicional Agricultura de sequeiro Agrobiodiversidade 32

Etnobiologia Plantas alimentiacutecias 33

34

Introduccedilatildeo 35

Historicamente as populaccedilotildees humanas foram acumulando conhecimentos sobre 36

praacuteticas da agricultura desenvolvendo teacutecnicas adaptadas ao meio natural e assim foram 37

domesticando uma grande variedade de cultivos alimentares para garantirem a sua 38

sobrevivecircncia (Balleacute 2006 Clement et al 2010) Essa interaccedilatildeo pessoas-plantas por meio do 39

cultivo e manejo das espeacutecies vegetais considerando tanto os aspectos sociais quanto naturais 40

dos sistemas dinacircmicos eacute uma importante ferramenta para o entendimento do conhecimento 41

dos agricultores sobre os agroecossistemas locais ( Alcorn 1995) 42

Aleacutem disso essas interaccedilotildees vem contribuindo com alteraccedilotildees nas populaccedilotildees vegetais 43

por meio da seleccedilatildeo artificial Essas alteraccedilotildees resultaram em mudanccedilas na estrutura geneacutetica 44

dessas populaccedilotildees que satildeo determinadas geralmente pela seleccedilatildeo de caracteriacutesticas fenotiacutepicas 45

fisioloacutegicas eou econocircmicas das plantas refletidas em classificaccedilotildees e nomenclaturas 46

especiacuteficas baseadas em percepccedilotildees individuais (Carmona amp Casas 2005) 47

Muitos pesquisadores tentam explicar o papel dos agricultores de pequena escala na 48

seleccedilatildeo classificaccedilatildeo e manutenccedilatildeo da agrobiodiversidade local em roccedilas tradicionalmente 49

manejas em regiotildees uacutemidas (Emperaire amp Peroni 2007 Emperaire amp Eloy 2008 Marchetti et 50

al 2013) Essas roccedila satildeo aacutereas de cultivo caracterizadas por conter uma alta diversidade 51

intraespeciacutefica de espeacutecies (Martins 2005) Dentre elas a Manihot esculenta Crantz 52

28

(mandioca) Euphorbiaceae em sua diversidade de etnovariedades eacute a espeacutecie mais importante 53

sob ponto de vista econocircmico e de subsistecircncia para as populaccedilotildees locais e mais cultivada 54

devido a sua grande adaptabilidade ambiental e baixos custos de gestatildeo (Elias et al 2001) 55

A alta diversidade da mandioca nessas aacutereas pode ser atribuiacuteda agrave possibilidade de 56

introduccedilatildeo de novas variedades via reproduccedilatildeo sexuada associada a ecologia da espeacutecie Esse 57

mecanismo permite o fluxo gecircnico entre as variedades de mandioca cultivadas do mesmo local 58

e entre estas com variedades de locais vizinhos (Pujol et al 2007) Outro mecanismo que 59

favorece essa diversidade eacute agrave circulaccedilatildeo de material propagativo por meio redes sociais de troca 60

variedades entre os agricultores (Pujol et al 2005 Emperaire amp Peroni 2007 Clement et al 61

2010) Esse mecanismo de troca eacute fundamental para o estabelecimento de interaccedilotildees entre as 62

diferentes aacutereas de roccedila promovendo oportunidade de seleccedilatildeo e cruzamento entre os diferentes 63

conjuntos de variedades aleacutem de permitir que este conjunto seja conservado (Emperaire amp Eloy 64

2008) 65

Diante desse cenaacuterio podemos observar que a agrobiodiversidade local natildeo eacute fruto 66

apenas de fatores naturais mas eacute tambeacutem influenciada pelas caracteriacutesticas culturais e 67

socioeconocircmica das populaccedilotildees locais refletidas especialmente no conhecimento e manejo 68

local Nesse sentido o presente estudo visa investigar as interaccedilotildees entre agricultores 69

tradicionais de comunidades rurais estabelecidas na regiatildeo semiaacuterida de Pernambuco 70

O objetivo geral eacute compreender os processos envolvidos na dinacircmica da diversidade 71

agriacutecola por meio do acesso ao conhecimento dos agricultores quanto as praacuteticas de menejo e 72

entender quais quais fatores podem estar relacionados a geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da diversidade 73

local Para esse estudo a mandioca foi escolhida como modelo devida agrave sua importacircncia 74

econocircmica e de subsistecircncia para comunidades locais Os objetivos especiacuteficos foram (i) 75

caracterizar o manejo da agricultura de sequeiro bem como analisar se os paracircmetros 76

socioeconocircmicos influenciam na diversidade local (ii) registrar as etnovariedades atualmente 77

29

cultivadas e identificar os diferentes criteacuterios morfoloacutegicos utilizados pelos agricultores para a 78

seleccedilatildeo e classificaccedilatildeo das etnovariedadese (iii) descrever a estrutura da rede de interaccedilatildeo entre 79

os agricultores e a diversidade de etnovariedades de mandioca cultivadas para tentar entender 80

como essas relaccedilotildees podem influenciar na manutenccedilatildeo ou perda da diversidade local 81

Material e meacutetodos 82

Aacutereas de estudo 83

Amostramos sete comunidades rurais estabelecidas na regiatildeo semiaacuterida de 84

Pernambuco Nordeste do Brasil Uma das comunidades (Caratildeo) pertence ao Municiacutepio de 85

Altinho (ldquo8deg 29rsquo 10rdquo S e 36deg 03rsquo 49rdquo W) e as demais (Satildeo Joseacute do Bola Brejo velho 86

Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima Lajedo Dantas e Aracuatilde) ao Municiacutepio de 87

Panelas (8 deg 39 48 S e 36 deg 01 23 W) (Fig 2) 88

O modelo agriacutecola adotado na regiatildeo segue o sistema tradicional de sequeiro4 e todas 89

as comunidades em estudo possuem histoacuterico de cultivo de mandioca (M esculenta) As aacutereas 90

de cultivo satildeo estabelecidas por unidade familiar e as atividades satildeo realizadas em sua maioria 91

por homens tendo cada agricultor cerca de um a dois hectares de aacuterea para plantio Aleacutem da 92

mandioca os cultivos mais utilizados na comunidades satildeo milho (Zea mays) e feijatildeo (Phaseolus 93

sp) 94

Para os membros das comunidades a produccedilatildeo da farinha de mandioca (Fig 3) eacute uma 95

das atividades agriacutecolas mais importantes tanto pelo seu papel na dieta alimentar quanto pela 96

importacircncia social e econocircmica 97

Caracteriacutesticas das comunidades do estudo 98

A comunidade do Caratildeo localiza-se sob domiacutenio de Caatinga caracterizado por climas 99

quentes e secos com regimes escassos de chuvas correspondente ao tipo BSrsquoh segundo a 100

4 Eacute o cultivo praticado sem irrigaccedilatildeo em regiotildees onde a pluviosidade eacute diminuta

30

classificaccedilatildeo climaacutetica de Koumlppen A vegetaccedilatildeo eacute composto por espeacutecies perenes que 101

conseguem sobreviver mesmo em periacuteodos de seca e espeacutecies anuais que aparecem apenas em 102

periacuteodos com chuva (Cruz et al 2013) 103

De acordo os dados de precipitaccedilatildeo do Laboratoacuterio de Anaacutelise e Processamento de 104

Imagens de Sateacutelites (LAPIS) no ano de 2012 foi registrada a menor meacutedia anual de 105

precipitaccedilatildeo dos uacuteltimos 10 anos para essa regiatildeo (3784 mm) Essa realidade ambiental quando 106

comparada com estudo realizado por de Sieber e colaboradores (2011) na mesma comunidade 107

observa-se que houve uma diminuiccedilatildeo considerada das praacuteticas agriacutecolas realizadas pelos 108

membros da comunidade culminando em uma seacuterie de prejuiacutezos aos agricultores como a perda 109

de plantaccedilotildees e animais Essa perda de produtividade afetou a estrutura econocircmica da 110

comunidade uma vez que a principal fonte de subsistecircncia das famiacutelias eacute a agricultura 111

Associada as atividades agriacutecolas os moradores complementam a dieta e a renda 112

familiar com a venda dos excedentes da produccedilatildeo em feiras-livres ou centros comerciais da 113

regiatildeo (Cruz et al 2013) E com a pecuaacuteria de pequena escala bovina caprina e com avicultura 114

No entanto a diminuiccedilatildeo da forragem natural e cultivada causada pela escassez de chuvas 115

associada aos elevados custos envolvidos na compra de raccedilatildeo levou muitos animais agrave morte 116

(Fig 4) 117

No Municiacutepio de Altinho a comunidade do Caratildeo foi inicialmente escolhida devido ao 118

reconhecimento preacutevio do registro de agricultores realizado em estudos desenvolvidos pelo 119

nosso grupo de pesquisa facilitando assim o acesso agraves informaccedilotildees necessaacuterias para o 120

desenvolvimento da pesquisa 121

As comunidades Aracuatilde Brejo Velho Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima 122

Lajedo Dandas e Satildeo Joseacute do Bola amostradas no estudo pertencem ao Municiacutepio de Panelas 123

que se limita ao Norte com o Municiacutepio de Altinho Essas comunidades estatildeo localizadas em 124

31

no domiacutenio morfoclimaacutetico de Caatinga O clima eacute do tipo semiaacuterido Bsrsquoh segundo a 125

classificaccedilatildeo climaacutetica de Koumleppen 126

A maior parte dos membros dessas comunidades assim como no Caratildeo tecircm como 127

principal fonte de subsistecircncia a agricultura de sequeiro principalmente o cultivo da mandioca 128

(Fig 5) Como renda extra a pecuaacuteria de pequeno porte com criaccedilatildeo bovina caprina e 129

avicultura sendo os excedentes dos alimentos produzidos vendidos em feiras locais ou para 130

escolas 131

As atividades agriacutecolas entre as comunidades tambeacutem foram duramente afetadas pela 132

seca na regiatildeo nos uacuteltimos anos A escassez de chuvas desestimulou o plantio a produccedilatildeo de 133

mandioca foi fortemente comprometida e a colheita foi adiada devido ao subdesenvolvimento 134

das raiacutezes gerando impactos econocircmicos para os membros das comunidades 135

As comunidades amostradas neste muniacutecipio foram escolhidas em funccedilatildeo das 136

indicaccedilotildees dos agricultores entrevistados a princiacutepio na comunidade do Caratildeo que reportaram 137

manter viacutenculos sociais com os agricultores do municiacutepio vizinho 138

Coleta de dados 139

Acessamos as comunidades com a ajuda de um liacuteder comunitaacuterio (Alexandre O 140

Nascimento) em companhia de outros pesquisadores que desenvolviam pesquisas na regiatildeo 141

Previamente as entrevistas todos objetivos e procedimentos para a realizaccedilatildeo da pesquisa foram 142

apresentados aos entrevistados e todos que aceitaram participar foram convidados a assinar um 143

Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) de acordo com a Resoluccedilatildeo 46612 do 144

Conselho Nacional de Sauacutede concordando com a realizaccedilatildeo das entrevistas e avaliaccedilotildees 145

morfoloacutegicas em campo O presente trabalho foi submetido ao Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa da 146

Universidade de Pernambuco (UPE) 147

32

Em todas as comunidades o meacutetodo de acesso ao informante foi o mesmo a partir do 148

primeiro contato com um informante-chave identificamos outros potenciais agricultores 149

seguindo a teacutecnica de ldquobola de neverdquo (Albuquerque et al 2014a) Esse meacutetodo consistiu na 150

amostragem intencional dos participantes e nesse particular os agricultores chefes de famiacutelia 151

(ge 18 anos) da regiatildeo que declararam cultivar mandioca (M esculenta) em suas roccedilas 152

Reunimos informaccedilotildees socioeconocircmicas desses agricultores tais como nome idade gecircnero 153

escolaridade renda experiecircncia na agricultura e tamanho da aacuterea de cultivo para tentar 154

identificar se esses paracircmetros socioeconocircmicos tecircm uma relaccedilatildeo com a agrobiodiversidade 155

local 156

Em seguida conduzimos entrevistas semiestruturadas (Albuquerque et al 2014b) com 157

o objetivo de caracterizar o modo de vida dos agricultores o manejo da agricultura bem como 158

obter dados sobre o conhecimento uso e caracterizaccedilatildeo das etnovariedades de mandioca 159

5cultivadas Aleacutem disso neste momento tambeacutem aplicamos a teacutecnica da lista livre 160

(Albuquerque et al 2014b) a fim de registrar as variedades de mandioca atualmente cultivadas 161

pelos agricultores e identificar as de maior importacircncia local Apoacutes as entrevistas realizamos 162

visitas aos roccedilados para o registro fotograacutefico georreferenciamento das roccedilas e caracterizaccedilatildeo 163

morfoloacutegica das variedades cultivadas 164

Entrevistamos 50 agricultores no total distribuiacutedos nas sete comunidades Caratildeo (3) 165

Satildeo Joseacute do Bola (10) Brejo velho (7) Japaranduba de Baixo (7) Japaranduba de Cima (8) 166

Lajedo Dantas (9) e Aracuatilde (6) Destes 10 satildeo mulheres e 40 homens com idade variando entre 167

31 e 82 anos A maioria dos entrevistados natildeo apresentava instruccedilatildeo formal (46) mais da 168

metade eram aposentados (56) e os demais apresentaram renda inferior a um salaacuterio miacutenimo 169

5 Entende-se por etnovariedade de mandioca o conjunto de variedades intraespeciacuteficas de mandioca (M esculenta)

reconhecidas pelos agricultores por nomenclatura popular local (Peroni 2004)

33

O tempo meacutedio de experiecircncia na agricultura foi de 40 anos Cada agricultor possui entre um e 170

dois roccedilados (aacuterea de plantio) com aproximadamente um a dois hectares 171

Redes de interaccedilatildeo social 172

Confeccionamos a rede que descreve as interaccedilotildees entre os agricultores e as 173

etnovariedades cultivadas a partir de uma matriz de incidecircncia R (presenccedilaausecircncia) onde nas 174

linhas estavam as etnovariedades de mandioca cultivadas (j) e nas colunas os agricultores locais 175

(i) O elemento Rij dessa matriz foi 1 (um) no caso de a etnovariedade j ser cultivada pelo 176

agricultor i caso contraacuterio seria atribuiacutedo 0 (zero) As interaccedilotildees entre os agricultores e as 177

etnovariedades foram descritas em dois modos (Pires et al 2011) onde os ldquonoacutesrdquo da esquerda 178

representam os agricultores que foram vinculados aos ldquonoacutesrdquo da direita representados pelas 179

etnovariedades citadas durante as entrevistas Esses ldquonoacutesrdquo seriam o espelho das decisotildees dos 180

agricultores em manter um determinado conjunto local de etnovariedades em suas roccedilas 181

Avaliamos a estrutura da rede que conecta os agricultores agraves etnovariedades cultivadas 182

a partir de trecircs cenaacuterios hipoteacuteticos (Fig 6) segundo Cachevia et al (2014) No primeiro se os 183

agricultores apresentassem diferentes graus de seletividade para a utilizaccedilatildeo de suas 184

etnovariedades a estrutura seria aninhada (Fig 6a) Isso significa que alguns agricultores 185

cultivam vaacuterias etnovariedades enquanto que outros cultivam o subconjunto mais 186

disponiacutevelcomum dessas etnovariedades Em segundo lugar se a rede apresentasse uma 187

estrutura modular (Fig 6b) significaria que os agricultores apresentam semelhanccedila na seleccedilatildeo 188

do recurso ou seja subgrupos de agricultores cultivam subgrupos distintos de etnovariedades 189

regionalmente disponiacuteveiscomuns E o terceiro se os agricultores natildeo apresentassem 190

preferecircncias quanto a seleccedilatildeo das etnovariedades entatildeo a rede apresentaria uma estrutura 191

aleatoacuteria (Fig 6c) 192

O objetivo da anaacutelise de rede nesse estudo foi tentar entender se o conjunto de 193

etnovariedades presentes no local do estudo constituem uma subamostra de um conjunto mais 194

34

amplo no caso de um alto grau de aninhamento ou se a sua composiccedilatildeo eacute determinada por 195

variaacuteveis locais (Ulrich 2008) Onde as conexotildees entre os informantes e as etnovariedades 196

representam as decisotildees dos agricultores de manter um conjunto determinado de variedades de 197

mandioca dentre as comunidades Esta anaacutelise tambeacutem nos permitiu identificar quais os nuacutecleos 198

de etnovariedades que apresentam maior conexatildeo com os diferentes perfis dos agricultores 199

Diversidade fenotiacutepica 200

Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 201

Apoacutes as entrevistas buscamos identificar quais os caracteres morfoloacutegicos considerados 202

mais importantes para a diferenciaccedilatildeo das etnovariedades de mandioca a partir do seguinte 203

questionamento ldquoQuais as diferenccedilas que vocecirc reconhece para separar uma qualidade de 204

mandioca (variedade) de uma outrardquo Assim os agricultores mencionaram quais os criteacuterios 205

mais importantes utilizados para a caracterizaccedilatildeo de suas etnovariedades 206

Compilamos uma listagem dessas caracteriacutesticas baseada nas indicaccedilotildees dos 207

agricultores e a partir delas selecionamos os caracteres morfoloacutegicos mais citados para a 208

caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica ldquoin siturdquo tais como cor da folha (cor da folha desenvolvida) olho 209

(cor do broto foliar) cor do talo (cor do peciacuteolo) maniva (cor externa do caule) embriatildeo 210

(protuberacircncia da cicatriz foliar) cor da entrecasca (coacutertex da raiz) e cor miolo (polpa da raiz) 211

(Tabela 1) O objetivo dessa caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica foi indicar como estaacute distribuiacuteda a 212

variaccedilatildeo fenotiacutepica das etnovariedades de mandioca nas comunidades na regiatildeo semiaacuterida de 213

Pernambuco bem como identificar que caracteriacutesticas satildeo mais importantes para distinguir 214

esses grupos no intuito de tentar entender como os agricultores classificam suas variedades de 215

mandioca 216

Nas sete comunidades para cada etnovariedade citada no roccedilado caracterizamos ldquoin 217

siturdquo trecircs indiviacuteduos de M esculentade de cada uma totalizando 171 indiviacuteduos (Aracuatilde=11 218

35

Caratildeo=4 Satildeo Joseacute do Bola=13 Brejo Velho=16 Japaranduba de Baixo=6 Japaranduba de 219

Cima=3 e Lajedo Dantas=4) Fotografamos e avaliamos todos os indiviacuteduos com base em parte 220

dos descritores morfoloacutegicos seguindo recomendaccedilotildees de Fukuda amp Guevara (1998) e aleacutem 221

disso georreferenciamos todas as aacutereas de roccedila 222

Anaacutelise dos dados 223

Analisamos os dados socioeconocircmicos das entrevistas semiestruturadas por meio de 224

estatiacutestica descritiva para explicar os aspectos da realidade econocircmica e social dos agricultores 225

Para identificar se a diversidade intraespeciacutefica da mandioca cultivada localmente eacute 226

influenciada por paracircmetros socioeconocircmicos utilizamos o coeficiente de correlaccedilatildeo de 227

Spearman (Ple005) (Sokal amp Rohlf 1995) 228

Com base na lista livre das variedades de mandioca cultivadas pelos agricultores 229

calculamos a frequecircncia de citaccedilatildeo o ranking e o iacutendice de saliecircncia com o objetivo de 230

identificar quais as mais importantes ou preferidas para as comunidades O iacutendice de saliecircncia 231

considerou a frequecircncia de citaccedilatildeo e o ranking referente ao posicionamento das variedades 232

dentro das listas livres (Thompson amp Juan 2006) As etnovariedades mais citadas e com maior 233

valor de saliecircncia representam as de maior importacircncia ou preferecircncia para as comunidades 234

Anaacutelise de rede 235

Medimos o grau de aninhamento (NODF) para investigar a estrutura de rede de 236

interaccedilatildeo social dos agricultores em funccedilatildeo das variedades cultivadas As matrizes altamente 237

aninhadas apresentam NODF tendendo a 1 caso contraacuterio tentem a ser 0 238

Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 239

Para o estudo das semelhanccedilas e diferenccedilas fenotiacutepicas entre as variedades de mandioca 240

ldquoin siturdquo realizamos anaacutelises multivariadas para identificar possiacuteveis grupos de variedades que 241

compartilham semelhanccedilas entre si 242

36

A anaacutelise de correspondecircncia muacuteltipla (MCA) permitiu identificar como as variedades 243

de mandioca estatildeo ordenadas em funccedilatildeo dos seus descritores etnobotacircnicos As etnovariedades 244

foram plotadas ao longo um plano cartesiano bi ou tridimensional onde a variaccedilatildeo total eacute 245

explicada pelos dois primeiros eixos Complementar a esta anaacutelise realizamos a anaacutelise de 246

agrupamento hieraacuterquico (Cluster) para identificar como estatildeo agrupadas as etnovariedades de 247

acordo seus descritores Conferimos a consistecircncia do dendrograma com coeficiente de 248

correlaccedilatildeo cofeneacutetica conforme Sneath amp Sokal (1973) que quantifica se a correlaccedilatildeo entre a 249

matriz de distacircncias originais e a matriz de distacircncias cofeneacuteticas eacute representativa Para 250

mensurar as dissimilaridades entre as variedades de mandioca foi utilizada a distacircncia 251

euclidiana e com o meacutetodo de Ward 252

Softwares utilizados 253

Para a anaacutelise da lista livre usamos o software ANTROPAC versatildeo 10 O software 254

ANINHADO 30 (Guimaratildees amp Guimaratildees 2006) foi usado para medir o grau de aninhamento 255

da rede Utilizamos o software estatiacutestico R (R core team 2017) para a anaacutelise de correlaccedilatildeo 256

de Spearman com o pacote corrplot (Wei amp Simko 2013) o desenho da rede que descreve a 257

interaccedilatildeo entre os agricultores e as etnovariedades com o pacote bipartite (Dormann et al 258

2017) E com os pacotes FactoMineR (LEcirc et al 2008) factoextra (Kassambara et al 2016) e 259

vegan (Oksanen et al 2017) foram realizadas as anaacutelises de cluster de correspondecircncia 260

muacuteltipla (MCA) e de correlaccedilatildeo coefeneacutetica respectivamente 261

Resultados 262

As diferentes etnovariedades de mandioca encontradas no estudo suprem a demanda 263

local por alimento enquanto outras atendem agraves preferecircncias individuais ou do comeacutercio As 264

variedades que possuem maior rendimento e a farinha produzida apresenta coloraccedilatildeo branca 265

satildeo as de maior valor comercial para os agricultores devido agraves preferecircncias do mercado Jaacute 266

37

outras variedades que satildeo mais moles e apresentam coloraccedilatildeo amarelada natildeo satildeo empregadas 267

na produccedilatildeo de farinha mas sim consumidas cozidas ou assadas A depender da demanda local 268

os agricultores intencionalmente aumentam ou diminuem a frequecircncia de suas variedades nos 269

roccedilados seja por alguma exigecircncia do comeacutercio ou para consumo familiar 270

Nas comunidades os agricultores separam suas variedades de mandioca em dois grupos 271

como observado em outras comunidades na mata Atlacircntica por Emperaire e Peroni (2007) o 272

das ldquomacaxeirasrdquo que satildeo as variedades exploradas basicamente para o consumo familiar sem 273

processo preacutevio de desintoxicaccedilatildeo cujas raiacutezes satildeo consumidas fritas eou cozidas Sendo 274

utilizadas tambeacutem como complemento na dieta dos animais E o grupo das ldquomandiocasrdquo que 275

satildeo as variedades que necessitam de processo preacutevio de desintoxicaccedilatildeo para o consumo 276

utilizadas comumente para a produccedilatildeo de farinha de mandioca Para os agricultores as 277

ldquomandiocasrdquo possuem maior valor comercial pois apresentam maior rendimento e 278

rentabilidade pois a farinha produzida eacute branca e atende as preferencias do comercio local 279

Aleacutem da farinha outros produtos e subprodutos produzidos dentre os quais foram citados 280

ldquotapioca ou gomardquo ldquobijurdquo ou ldquobolo de mandiocardquo satildeo utilizados para o consumo proacuteprio ou 281

eventual comercializaccedilatildeo 282

Os informantes natildeo possuiacuteam conhecimento sobre a origem dos nomes das variedades 283

de mandioca Quanto a compreensatildeo da geraccedilatildeo da diversidade intraespeciacutefica identificamos 284

que apesar de 66 dos agricultores citarem que conhecem variedades fruto de germinaccedilatildeo de 285

suas sementes nenhum deles utiliza as manivas para o plantio por essas variedades de 286

mandioca ldquovoluntaacuteriasrdquo natildeo apresentarem bom rendimento 287

Observamos que existe uma baixa correlaccedilatildeo entre a diversidade de variedades 288

atualmente cultivadas e as variaacuteveis socioeconocircmicas como no caso do nuacutemero de roccedilados 289

(r=028 Ple005) e do tamanho do roccedilado (r=033 Ple005) (Fig 7) Essa baixa correlaccedilatildeo pode 290

38

ser explicada pelo fato de existirem grupos de agricultores que preferem manter as variedades 291

de maior valor econocircmico e de subsistecircncia mesmo com aacutereas maiores de cultivo 292

Verificamos tambeacutem uma correlaccedilatildeo positiva moderada entre o nuacutemero de variedades 293

conhecidas com o nuacutemero de variedades atualmente cultivadas (r=054 Ple005) Na lista livre 294

foram identificadas 22 etnovariedades de mandioca cultivadas (132 citaccedilotildees no total) sendo 295

oito dessas mais citadas com maiores valores de saliecircncia (entre 047 e 0082) (Tabela 2) As 296

etnovariedades ldquoMacaxeira Rosardquo e ldquoMandioca Isabel de Souzardquo exibiram os maiores valores 297

de saliecircncia 047 e 037 respectivamente Logo essas variedades satildeo as mais conhecidas 298

dentro das comunidades com 66 e 48 das citaccedilotildees respectivamente 299

Dentre as etnovariedades citadas 12 foram idiossincraacuteticas pois apresentaram menor 300

frequecircncia de citaccedilatildeo e menores valores de saliecircncia (entre 0032 e 0006) (Tabela 2) 301

Redes de interaccedilatildeo social 302

A rede apresentou uma estrutura aninhada com grau de aninhamento significativamente 303

superior aos modelos nulos (N=3072 Plt0001) para as comunidades sendo um nuacutecleo de 304

etnovariedades altamente conectado aos agricultores (Fig 8) A estrutura aninhada nos permite 305

inferir que existe um grupo de agricultores que cultiva uma maior diversidade de etnovariedades 306

de mandioca em suas roccedilas enquanto que outro subgrupo que tem menor diversidade cultivam 307

as mais comuns ou disponiacuteveis (Cavechia et al 2014) Isso significa que os agricultores locais 308

mesmo em diferentes comunidades cultivam um nuacutecleo de etnovariedades comum entre eles 309

(n=6 Tabela 2) 310

Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 311

Observamos que a maioria dos indiviacuteduos de mandioca satildeo caracterizados por meio de 312

um conjunto de sete caracteres morfoloacutegicos os quais foram citados pelos agricultores como 313

mais importantes para a caracterizaccedilatildeo de suas variedades Nas visitas aos roccedilados registramos 314

39

as etnovariedades atualmente cultivadas e a tabela 3 fornece a lista completa com as 17 315

etnovariedades de mandioca e o local de registro 316

Por meio da anaacutelise de correspondecircncia muacuteltipla as variedades de mandioca foram 317

ordenadas em funccedilatildeo de seus descritores ao longo do primeiro e segundo eixo correspondentes 318

a 3680 da variacircncia total (Fig 9) 319

As variaacuteveis mais correlacionadas e que agruparam as variedades de mandioca no 320

primeiro eixo foram cor da folha desenvolvida (CFD) (r= 07239 Ple0001) cor do coacutertex da 321

raiz (CDR) (r= 06473 Ple0001) cor do broto foliar (CBF) (r= 06880 Ple0001) cor do peciacuteolo 322

(CDP) (r= 05250 Ple005) cor externa do caule (CEC) (r= 06883 Ple005) cor da polpa da 323

raiz (PDR) (r= 02473 Ple005) Para o segundo eixo as variaacuteveis correlacionadas foram cor 324

da folha desenvolvida (CFD) (r= 07220 Ple0001) cor externa do caule (CEC) (r= 08718 325

Ple0001) e cor do peciacuteolo (CDP) (r= 06927 Ple005) 326

O agrupamento de todas as variedades caracterizadas ldquoin siturdquo gerou uma aacutervore 327

hieraacuterquica (dendrograma) (Fig 9) utilizando a distacircncia euclidiana seguindo o criteacuterio de 328

Ward O dendrograma gerado apresentou um coeficiente de correlaccedilatildeo cofeneacutetica r= 06780 329

indicando que existe consistecircncia com os dados originais no agrupamento quanto agrave 330

classificaccedilatildeo e estrutura de tal forma que as variedades foram agrupadas em oito classes as 331

quais foram explicadas pelas variaacuteveis mais significativas descritas na tabela 4 332

O resultado do agrupamento (utilizada a distacircncia euclidiana e com o meacutetodo de Ward) 333

observamos que as etnovariedades de mandioca caracterizadas ldquoin siturdquo foram agrupadas em 334

dois grandes agrupamentos indicados na Fig 10 pelos retacircngulos em vermelho A partir dessa 335

anaacutelise percebemos que os caracteres morfoloacutegicos selecionados pelos agricultores natildeo foram 336

suficientes para separar as variedades de macaxeira e mandioca pois em ambos os 337

agrupamentos encontramos tanto macaxeiras quanto mandiocas 338

40

As variedades da classe 1 foram identificadas pelos agricultores pela cor do peciacuteolo 339

(CDP) verde A classe 2 agrupou as etnoveriedades caracterizadas pela protuberacircncia da cicatriz 340

foliar (PCF) mais protuberante Esse descritor segundo os agricultores era identificado como 341

ldquoembriatildeordquo A classe 3 consiste apenas da variedade ldquoMandioca Pretonardquo indicada pela presenccedila 342

de cor do peciacuteolo (CDP) vermelho A classe 4 agrupou trecircs variedades caracterizadas pelos 343

agricultores pela presenccedila de cor coacutertex da raiz (CDR) rosa e cor da polpa da raiacutez (PDR) branca 344

identificadas como ldquoMacaxeira vermelhardquo ldquoMacaxeira Rosa Brancardquo ldquoMacaxeira Rosardquo As 345

variedades agrupadas na classe 5 foras as variedades de mandioca caracterizadas pelos 346

agricultores por apresentarem cor do coacutertex (CDR) da raiacutez branca A classe 6 agrupou 347

variedades identificadas pelos agricultores pela cor do broto foliar (CBF) verde A classe 7 348

consiste apenas da variedade ldquoMacaxeira Sementerdquo identificada pelos agricultores pela cor do 349

peciacuteolo (CDP) roxo e protuberacircncia da cicatriz foliar pouco proeminente Essa variedade 350

segundo os agricultores era fruto do nascimento espontacircneo no roccedilado poreacutem eles geralmente 351

natildeo utilizam essas variedades por apresentarem apenas uma raiz pequena e de baixo 352

rendimento Na classe 8 as variedades foram identificadas pelos agricultores pela cor do peciacuteolo 353

(CDP) verde amarelado e protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) pouco proeminente As 354

ldquoMandioca Isabel de Souzardquo ldquoMandioca Isabel trecircs galhosrdquo segundo os agricultores se 355

diferenciavam pelo maior nuacutemero de caules presentes na variedade ldquoIsabel trecircs galhosrdquo 356

Discussatildeo 357

As sete comunidades estudadas manejavam um nuacutemero consideraacutevel de variedades 358

locais A quantidade de etnovariedades registradas eacute proacutexima a encontrada por Bender et al 359

(2009) e Cavechia et al (2014) em comunidades na regiatildeo sul e sudeste por Oler e Amorozo 360

(2017) em uma comunidade tradicional na regiatildeo centro-oeste Poreacutem foi quantitativamente 361

inferior quando comparada a estudos como os de Elias et al (2001) e Kawa et al (2013) em 362

comunidades na regiatildeo amazocircnica pois possuiacuteam uma alta diversidade Essa alta diversidade 363

41

na regiatildeo amazocircnica pode estar relacionada com o fato de que essa regiatildeo eacute o provaacutevel centro 364

de origem da mandioca (M esculenta) (Allem 1994) 365

As etnovariedades registradas neste estudo estatildeo disponiacuteveis para a maioria dos 366

agricultores dessa regiatildeo e esse fator favorece a circulaccedilatildeo das etnovariedades entre as 367

comunidades locais Por isso haacute semelhanccedilas das etnovariedades utilizadas entre os agricultores 368

da mesma comunidade e entre comunidades vizinhas 369

Parte dos agricultores optam por manter uma alta frequecircncia de variedades mais 370

utilizadas enquanto que outros optam por manter etnovariedades de baixa frequecircncia 371

Conforme discutido por Amorozo (2013) os agricultores escolhem seu acervo de acordo com 372

as necessidades e contexto em que vivem A reduccedilatildeo da diversidade de etnoveriedades por 373

exemplo pode ser impulsionada por fatores que simplificam o sistema como a seleccedilatildeo de 374

etnovariedades para a produccedilatildeo de farinha resultando no cultivo de poucas ou ateacute de uma uacutenica 375

etnovariedade (Peroni amp Hanazaki 2002) mesmo em aacutereas maiores 376

377

Redes de interaccedilatildeo social 378

Com as anaacutelises de rede demonstramos que os agricultores de diferentes comunidades 379

em uma mesma regiatildeo efetivamente trocam variedades de mandioca entre si corroborando 380

com estudos realizados por Emperaire amp Eloy (2008) Pautasso et al (2012) e Cavechia et al 381

(2014) Nesses estudos os autores tambeacutem consideram que as trocas de etnovariedades por 382

meio da rede de intercacircmbio entre os agricultores eacute um mecanismo fundamental para a 383

manutenccedilatildeo da diversidade local 384

A visualizaccedilatildeo da rede demonstrou que entre as comunidades os agricultores 385

compartilham um nuacutecleo de etnovariedades mais utilizadas dentre as quais estatildeo as de maior 386

valor econocircmico e de subsistecircncia Essas de maior frequecircncia satildeo aquelas altamente produtivas 387

utilizadas pelos agricultores para atenderem agraves demandas de mercado por farinha e para o 388

consumo proacuteprio (Kawa et al 2013) 389

42

No entanto observamos que existe outro nuacutecleo de etnovariedades menos frequentes 390

Essas etnovariedades raras podem ser resultantes do processo de experimentaccedilatildeo ou 391

preferecircncias individuais dos agricultores Outra possiacutevel razatildeo para a baixa frequecircncia de 392

algumas etnovariedades poderia ser explicada pela variaccedilatildeo da nomenclatura pelos 393

agricultores que segundo Peroni amp Hanazaki (2002) pode ocorrer durante o processo de troca 394

e introduccedilatildeo de novas variedades aos roccedilados Ainda assim natildeo descartamos a hipoacutetese de que 395

essas etnovariedades raras possam ser provenientes do cruzamento entre variedades diferentes 396

cultivadas da mesma roccedilado ou em roccedilas vizinhas De acordo com Martins (2005) essas 397

variedades fruto de germinaccedilatildeo expentacircnea satildeo incorporadas aos roccedilados pelos agricultores 398

pela curiosidade em experimentar novas variedades agraves suas coleccedilotildees 399

Nesse estudo admitimos que optar por etnovariedades raras entre as comunidades 400

estudadas eacute um comportamento adotado por agricultores que manejam uma maior diversidade 401

corroborando com os estudos de Cavechia et al (2014) e Emperaire et al (2016) em regiotildees 402

uacutemidas Para esses autores etnovaridedades de baixa frequecircncia representam um subconjunto 403

das de alta frequecircncia cultivadas por agricultores que manteacutem a maior diversidade em seus 404

roccedilados Sendo assim inferimos que no geral entre as comunidades satildeo os agricultores 405

generalistas aqueles que cultivam maior diversidade os responsaacuteveis por incorporar novas 406

etnovariedades aos roccedilados 407

As decisotildees dos agricultores em manter o acervo direcionado principalmente para 408

atender a demanda de mercado por exemplo podem levar a uma homogeneizaccedilatildeo nas roccedilas 409

colocando em risco a manutenccedilatildeo da diversidade local (Peroni amp Hanazaki 2002) Como 410

discutido por Elias et al (2000) os agricultores que selecionam apenas um nuacutemero reduzido e 411

especiacutefico de variedades mais produtivas tendem a fazer com que as variedades menos 412

frequentes desapareccedilam ao longo do tempo Essa tendecircndia pode influenciar na capacidade de 413

43

resiliecircncia do sistema assim como dos agricultores em lidar com possiacuteveis adversidades 414

ambientais que possam ocorrer 415

Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 416

No geral os agricultores demonstraram uma tendecircncia em classificarseparar suas 417

diferentes etnovariedades de mandioca a partir da combinaccedilatildeo de um conjunto de sete 418

caracteres morfoloacutegicos distintos e de faacutecil percepccedilatildeo os quais natildeo tem relaccedilatildeo com o uso 419

como por exemplo a cores das raiacutezes caule e folhas Logo consideramos que esses caracteres 420

morfoloacutegicos podem ser considerados como uma forma de classificaccedilatildeo pelos agricultores 421

baseada na capacidade percepccedilatildeo das diferenccedilas morfoloacutegicas que cada etnovariedades 422

apresenta (Boster 1985) Estes resultados nos levam a entender que entre os agricultores o 423

conhecimento sobre a diversidade da mandioca estaacute relacionado ao conhecimento de 424

caracteriacutesticas morfoloacutegicas consistentes 425

A existecircncia de alguns fenoacutetipos comuns nos permitiu avaliar a classificaccedilatildeo da 426

consistecircncia da taxonomia popular entre os agricultores Por exemplo as etnovariedades 427

ldquoMaxaceira Rosardquo e ldquoMacaxeira Rosa Brancardquo e ldquoMacaxeira vermelhardquo foram agrupadas no 428

mesmo cluster (C4) por apresentaram fenoacutetipos semelhantes Notamos que os agricultores 429

classificaram essas variedades de acordo com os traccedilos morfoloacutegicos mais relevantes como a 430

cor do coacutertex da raiz rosa e cor branca da polpa O mesmo ocorreu com as etnovariedades 431

ldquoMandioca varudardquo ldquoMandioca campina da granderdquo e ldquoMandioca campinardquo caracterizadas 432

pela presenccedila do peciacuteolo verde agrupadas no cluster (C1) 433

A partir dessas evidecircncias consideramos a hipoacutetese de que as variedades mesmo 434

apresentando caracteriacutesticas morfoloacutegicas muito semelhantes estatildeo sujeitas a variaccedilatildeo 435

nomenclatural durante o processo a incorporaccedilatildeo aos roccedilados pelos agricultores pois a 436

capacidade para distinguir e nomear variedades entre os agricultores da mesma regiatildeo pode 437

variar (Sambatti et al 2001 Elias et al 2001 Mekbib 2007) Consideramos tambeacutem que pode 438

44

existir variaccedilatildeo geneacutetica entre os indiviacuteduos identificados por um mesmo nome ou entatildeo que 439

os agricultores datildeo o mesmo nome para variedades diferentes E esta situaccedilatildeo pode levar a uma 440

superestimaccedilatildeo ou subestimaccedilatildeo da diversidade de mandioca cultiva nas aacutereas de estudo 441

Sabemos que a mandioca eacute propagada vegetativamente pelos agricultores por meio de 442

estacas em sistemas de agricultura tradicional No entanto alguns variedades produzem flores 443

e sementes que germinam e podem originar outras variedades ou outros clones por meio de 444

fecundaccedilatildeo cruzada (Elias et al 2001) Nesse contexto a etnovariedade ldquoMacaxeira Sementerdquo 445

presente no cluster (C7) trata-se de um uacutenico indiviacuteduo amostrado em uma roccedila de um dos 446

agricultores Esta apresentava algumas caracteriacutesticas morfoloacutegicas distintas das demais 447

reconhecidas pelo agricultor como por exemplo a produccedilatildeo de uma raiz uacutenica e 448

consequentemente de baixo rendimento Encontramos apenas um indiviacuteduo dessa 449

etnovariedade e nossa hipoacutetese de que esta poderia ter sido originada da germinaccedilatildeo da 450

semente mesmo quando 100 dos informantes declararam natildeo dar qualquer importacircncia e 451

descartar essas ldquovariedades-voluntaacuteriasrdquo foi confirmada pelo agricultor que afirmou que se 452

tratava de uma variedade nascida da germinaccedilatildeo da semente Esse comportamento vai de 453

encontro ao estudo de Fraser et al (2012) pois apesar dos agricultores reportarem nas 454

entrevistas que conhecem essas ldquovariedades-voluntaacuteriasrdquo nenhum agricultor faz o uso delas 455

Peroni et al (1999) e Agre et al (2016) analisando morfologicamente as variedades 456

locais de mandioca mantidas por agricultores em sistemas agriacutecolas tropicais tambeacutem 457

demonstraram que os agricultores satildeo coerentes quanto a separaccedilatildeo e identificaccedilatildeo de suas 458

etnovariedades a partir da formaccedilatildeo de grupos de coesos quanto a nomenclatura local utilizada 459

No entanto para o melhor entendimento dessa diversidade aleacutem da caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica 460

o uso de anaacutelises complementares como anaacutelise molecular seria importante para tentar 461

identificar se esses grupos representam a mesma variedade com nomes distintos ou se satildeo 462

variedades distintas com o mesmo nome 463

45

Conclusatildeo 464

O estudo demonstrou que no sistema de manejo da mandioca ao niacutevel de roccedila em 465

comunidades localizadas na regiatildeo semiaacuterida de Pernambuco compotildee uma diversidade 466

intrespeciacutefica de mandioca para atender agraves demandas econocircmicas e de subsistecircncia das 467

populaccedilotildees locais 468

Com relaccedilatildeo a anaacutelise de rede demostramos que haacute um nuacutecleo de etnovariedades 469

fortemente conectado aos agricultores e sua composiccedilatildeo eacute direcionada pelas preferecircncias e 470

necessidades individuais dos agricultores que foram os fatores responsaacuteveis pelo surgimento 471

da estrutura aninhada observada na anaacutelise rede entre as comunidades deste estudo E esse 472

padratildeo aninhado observado contribui na conservaccedilatildeo das etnovariedades mais comuns mas 473

tambeacutem pode resultar em perda daquelas de menor frequecircncia ao longo do tempo 474

A caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica ldquoin siturdquo nos permitiram inferir que os agricultores 475

reconhecem as diferentes caracteriacutesticas morfoloacutegicas de suas cultivares e satildeo coerentes na 476

separaccedilatildeo de suas variedades de mandioca e macaxeira Entretanto esses resultados sugerem a 477

realizaccedilatildeo de um estudo em niacutevel de diversidade geneacutetica exploratoacuterio para identificar se as 478

consistecircncias morfoloacutegicas refletem em consistecircncias geneacuteticas elucidando assim as possiacuteveis 479

confusotildees atribuiacutedas aos nomes das etnovariedades de mandioca 480

Agradecimentos 481

Agradecemos ao liacuteder comunitaacuterio Alexandre O Nascimento aos agricultores e 482

agricultoras das comunidades pela acolhida confianccedila e pela gentileza de compartilharem 483

conosco seus conhecimentos e contribuiacuterem com este estudo Especialmente a Arlindo Ferreira 484

Edgar Antocircnio Joseacute Sebastiatildeo Juvenal Oliveira e Janete Alves Ao Laboratoacuterio de Ecologia e 485

Evoluccedilatildeo de Sistemas Socioecoloacutegicos (LEA - UFPE) E agradecemos ao CNPq pelo apoio 486

com a bolsa de estudos do primeiro autor 487

46

Referecircncias bibliograacuteficas 488

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614

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ANEXOS 615

616

Nome da revista 617

Human Ecology 618

Link de acesso 619

httpsgooglDVLbFj 620

Qualis-CAPES 621

B1 em Biodiversidade 622

623

624

625

626

627

628

629

630

631

632

633

634

635

636

637

638

639

640

641

642

52

Figuras 643

644

645

Fig 1 Partes do processo de fabricaccedilatildeo de farinha de mandioca Onde a raspagem b e c 646

processo de trituraccedilatildeo e d peneiramento Foto registrada em Abril de 2017 por Mirela Santos 647

648

649

650

c

d

b

a

53

651

Fig 2 Mapa de localizaccedilatildeo geograacutefica dos Municiacutepios de Altinho e Panelas e das comunidades 652

estudadas na regiatildeo semiaacuterida do Estado de Pernambuco (Elaborado por SANTOS 2018) 653

54

654

655

656

657

Fig 3 Processo de fabricaccedilatildeo da farinha de mandioca Apoacutes a colheita as raiacutezes satildeo lavadas 658

raspadas e trituradas (a) A massa extraiacuteda eacute prensada e coada Ao sair da prensa a massa 659

peneirada (b) e em seguida eacute torrada (c) em fornos artesanais ou parcialmente mecanizados 660

Imagem registrada em janeiro de 2017 na Comunidade do Caratildeo por Mirela Santos 661

662

663

a

b c

55

664

Fig 4 a Sede da Comunidade do Caratildeo b Agricultor transportando a palma forrageira que eacute 665

um exemplo de estrateacutegia adaptativa para suprir a falta de alimento dos animais devido agrave seca 666

c Feira-livre que acontece na comunidade a cada quinze dias Imagem registrada em julho de 667

2016 na Comunidade do Caratildeo por Mirela Santos 668

669

670

Fig 5 a O agricultor nos explicava as mudanccedilas que vem fazendo em seus roccedilados para se 671

adaptar aos longos periacuteodos de seca b Quando o agricultor nos mostrava as diferentes 672

etnovariedades que mantinha em sua roccedila c Durante a pesquisa nos explicavam como era feita 673

a colheita da mandioca e como selecionavam as manivas para o proacuteximo plantio Foto registrada 674

em abril de 2017 na Comunidade do Brejo Velho por Mirela Santos 675

a

b c

c b

a

56 676

677

Fig 6 Possiacuteveis estruturas de rede que descrevem as interaccedilotildees dos agricultores (losango) 678

ligados as etnovariedades (ciacuterculos) que cultivam Onde a Aninhada b Modular c Aleatoacuteria 679

(Fonte Cavechia et al 2014 com adaptaccedilotildees) 680

681

682

683

684

685

686

687

688

689

690

691

692

693

694

695

696

697

a c b

57

698

699

700

701

702

703

704

705

706

707

Fig 7 Correlaccedilatildeo de Spearman entre a diversidade de etnovariedades de mandiocas conhecidas 708

como cultivadas e variedades atualmente cultivadas por agricultor e as variaacuteveis 709

socioeconocircmicas Onde Nvc= nuacutemero de citadas como cultivadas Nve= nuacutemero de variedades 710

atualmente cultivadas Esc= escolaridade Id= idade Gen= gecircnero Tr= tamanho do roccedilado 711

Exp= experiecircncia na agricultura Sld= renda Nr= nuacutemero de roccedilados Cores distintivas 712

representam correlaccedilotildees significativas (Ple005) 713

714

58

715

Fig 8 Modelo individual de rede de etnovariedades de mandioca citadas (esquerda) por 716

agricultores como cultivadas (direita) nos Municiacutepios de Altinho e Panelas As redes foram 717

desenhadas com o pacote bipartite (Dormann et al 2017) usando o software R (R CORE 718

TEAM 2017) 719

720

59

721

Fig 9 Anaacutelise de Correspondecircncia Muacuteltipla das 17 etnovariedades de mandioca considerando 722

os sete descritores morfoloacutegicos utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo em roccedilas de 723

agricultores tradicionais de sete comunidades no semiaacuterido de Pernambuco 724

725

726

727

728

729

730

731

732

733

734

735

736

737

McCambadinha

McCampina

McCampinaDaGrande

McCampinaRasteira

McCampinaVaruda

McGauba

McIsabelDeSouza

McIsabelTresGalhos

McOlhoDePombo

McOlhoVerde

McPretinha

McPretona

MxBranca

MxRosa

MxRosaBrancaMxRosaVermelha

MxSemente

CFD_Verde_Arroxeado

CFD_Verde_ClaroCFD_Verde_Escuro

CBF_Roxo

CBF_Verde_ArroxeadoCBF_Verde_Claro

CBF_Verde_Escuro

CDP_Verde

CDP_Verde_Amarelado

CDP_Verde_Avermelhado

CDP_Vermelho

CEC_Cinza

CEC_Dourado

CEC_Laranja

CEC_Marrom_Claro

CEC_Marrom_Escuro

CEC_Prateado

CEC_Verde_AmareladoCicatriz_M

Cicatriz_P

PDR_Branco

PDR_Creme

CDR_BrancoCDR_Creme CDR_Rosa

-4

-2

0

2

4

-4 -2 0 2 4

Dim1 (206)

Dim

2 (

162

)

MCA - Biplot

00

10

Hierarchical Clustering

inertia gain

McC

am

pin

aV

aru

da

McC

am

pin

aD

aG

rande

McC

am

pin

a

McG

auba

McP

retin

ha

McP

reto

na

MxR

osaV

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a

MxR

osaB

ranca

MxR

osa

McC

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pin

aR

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ira

McC

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lhoV

erd

e

MxB

ranca

MxS

em

ente

McIsabelT

resG

alh

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McIsabelD

eS

ouza

McO

lhoD

eP

om

bo

00

05

10

15

Hierarchical Classification

Heig

ht

C1 C2 C3 C4 C5 C6 C7 C8

Fig 10 Agrupamento hieraacuterquico das 17 etnovariedades de mandioca caracterizadas de acordo

com os descritores utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo

60

Tabelas 738

739

Tabela 1 Caracteres e estados utilizados pelos agricultores como descritores botacircnicos para 740

caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das etnovariedades de mandioca 741

Caracter Sigla Estados

Folha

Cor da folha desenvolvida CFD 1- verde claro 2- verde escuro 3- verde arroxeado 4- roxo

Cor do broto foliar CBF 1- verde claro 2- verde escuro 3- verde arroxeado 4- roxo

Cor do peciacuteolo CDP 1- verde amarelado 2- verde 3- verde avermelhado 4- roxo

5- vermelho

Caule

Cor externa do caule CEC 1- laranja 2- verde amarelado 3- dourado 4- marrom claro

5- prateado 6- cinza 7- marrom escuro 8- verde

Protuberacircncia da cicatriz foliar PCF 1- pouco proeminente 2- muito proeminente

Raiacutez

Cor da poupa da raiz PDR 1- branco 2- creme

Cor do coacutertex da raiacutez CDR 1- rosa 2- branco 3- creme

742

743

744

745

746

747

748

749

750

751

61

Tabela 2 Lista das 22 etnovariedades de mandiocas citadas (132 citaccedilotildees) como cultivadas nas 752

comunidades pertencentes aos Municiacutepios de Altinho (Caratildeo n=8) e ao Municiacutepio de Panelas 753

(Aracuatilde Satildeo Joseacute do Bola Brejo Velho Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima e Lajeiro 754

Dantas n=21) 755

Etnovariedade Frequecircncia () Ranking Saliecircncia

Macaxeira Rosa 66 179 0472

Mandioca Isabel de Souza 48 179 0372

Mandioca Campina 24 217 0148

Macaxeira Branca 20 210 0134

Macaxeira Rosa branca 18 122 0168

Mandioca Pretona 16 338 0082

Mandioca Cambadinha 12 283 0071

Mandioca Isabel trecircs galhos 10 180 0075

Mandioca Gauacuteba 10 260 0070

Mandioca Pretinha 8 225 0053

Mandioca Peacute de pombo 4 400 0011

Mandioca Olho verde 4 350 0012

Macaxeira Rosinha 4 200 0027

Mandioca Campina varuda 4 200 0032

Mandioca Campina rasteira 4 300 0021

Mandioca Caboquinha 2 500 0007

Macaxeira Rasteira 2 200 0013

Macaxeira Paraacute 2 100 0020

Mandioca Barra ferro 2 300 0007

Mandioca Campina da grande 2 100 0020

Mandioca Olho de pombo 2 300 0010

Mandioca Jasmim 2 600 0006

756

757

758

62

Tabela 3 Lista de 17 etnovariedades atualmente cultivadas nos roccedilados das comunidades em 759

estudo 760

Ca Ar Bo Br Jb Jc Ld

Etnovariedade

Macaxeira Branca x x x x

Macaxeira Rosa

x x x x x x

Macaxeira Rosa Branca x x x x

Macaxeira Rosa Vermelha

x

Macaxeira Semente

x

Mandioca Cambadinha x

x

Mandioca Campina

x

x

x

Mandioca Campina da Grande x

Mandioca Campina Rasteira

x

Mandioca Campina Varuda

x

Mandioca Gauacuteba

x

Mandioca Isabel de Souza

x x x

Mandioca Isabel trecircs Galhos

x

x

Mandioca Olho de Pombo

x

Mandioca Olho Verde

x

Mandioca Pretinha

x

Mandioca Pretona x x x

Comunidades Ca= Caratildeo Ar=Aracuatilde Bo= Satildeo Joseacute do Bola Jb= Japaranduba de Baixo 761

Jc= Japaranduba de Cima Ld= Lajedo Dantas 762

763

764

765

766

767

768

63

Tabela 4 Descriccedilatildeo das classes do agrupamento por meacutetodo de Ward agrupadas pelo conjunto 769

dos descritores mais significativos para a caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das variedades de mandioca 770

Classes Descritores in situ p-valor

C1 Cor do peciacuteolo (CDP) 0016

C2 Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023

C3 Cor do peciacuteolo (CDP) 0012

C4 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0004

Cor da poupa da raiacutez (PDF) 0021

C5 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0003

C6 Cor do broto foliar (CBF) 0002

C7 Cor da folha desenvolvida (CFD) 0004

Cor externa do caule (CEC) 0040

C8 Cor do peciacuteolo (CDP) 0005

Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023

Valores de Ple005 satildeo significativos 771

772

17

2 Revisatildeo bibliograacutefica

21 Manihot esculenta Crantz e conhecimento local de agricultores tradicionais

O gecircnero Manihot Miller (Euforbiaceae) possui cerca de 98 espeacutecies distribuiacutedas em 19

seccedilotildees das quais 13 delas ocorrem no Brasil (ROGERS APPAN 1973) Dentre as espeacutecies do

gecircnero Manihot esculenta Crantz (mandioca) eacute a principal cultivar uma vez que compotildee a

base da dieta alimentar de diversas populaccedilotildees rurais principalmente em regiotildees tropicais A

mandioca foi domesticada na Ameacuterica do Sul pois eacute onde se encontra o maior centro de

diversificaccedilatildeo Estudos relacionados ao entendimento de sua origem botacircnica tecircm contribuiacutedo

para a compreensatildeo das accedilotildees humanas no processo de domesticaccedilatildeo e ampliaccedilatildeo da

diversidade da espeacutecie (OLSEN SCHAAL 1999 ELIAS et al 2004 ELLEN 2012)

As diferentes variedades da espeacutecie satildeo reconhecidas em dois grandes grupos principais

o das variedades mais toacutexicas e o de variedades menos toacutexicas baseadas no potencial de

glicosiacutedeos cianogecircnicos (HCN) contido na polpa das raiacutezes (ELIAS et al 2004) Variedades

com baixa toxicidade contecircm baixas concentraccedilotildees de glicosiacutedeos cianogecircnicos (HCNlt100

mgKg-1) e satildeo conhecidas em comunidades agriacutecolas variando entre regiotildees ou grupos eacutetnicos

como ldquomacaxeirasrdquo ldquomandiocas doces ou mansasrdquo ou ldquoaipinsrdquo As variedades mais toacutexicas

com altas concentraccedilotildees de HCN (HCNgt 100 mgKg-1) satildeo reconhecidas como ldquomandiocasrdquo

ou ldquomandiocas amargas ou bravasrdquo (PERONI et al 2007 MCKEY et al 2010) E portanto

precisam passar por um processo de desintoxicaccedilatildeo para se tornarem aptas ao consumo como

por exemplo pelo processo de fabricaccedilatildeo da farinha de mandioca (Fig 1) Apesar do seu

potencial toacutexico as variedades amargas possuem teores mais elevados de amido e se adaptam

bem a solos pobres e aacutecidos aleacutem de serem mais resistentes aos patoacutegenos e pragas em

comparaccedilatildeo com as variedades doces (FRASER et al 2010)

Sob o ponto de vista botacircnico esta dicotomia natildeo eacute reconhecida mas existem alguns

trabalhos que evidenciam a relaccedilatildeo entre a coerecircncia da taxonomia popular com a diferenciaccedilatildeo

geneacutetica para separaraccedilatildeo das variedades ldquodocesrdquo e ldquoamargasrdquo (ELIAS et al 2004 PERONI

et al 2007) O conhecimento das caracteriacutesticas morfoloacutegicas das plantas e a coerecircncia na

identificaccedilatildeo dessas variedades com niacuteveis distintos de HCN eacute de grande importacircncia

adaptativa para as populaccedilotildees que gerem esse recurso sobretudo pelo risco de intoxicaccedilatildeo

(RIVAL MCKEY 2008)

18

No estudo realizado por AMOROZO (2000) por exemplo os agricultores geralmente

classificavam as variedades que tinham raiacutezes brancas como ldquobravasrdquo e aquelas que tinham

raiacutezes vermelhas como ldquomansasrdquo embora eles reconhecessem algumas exceccedilotildees Em pesquisas

realizados por FARALDO et al (2000) MKUMBIRA et al (2003) ELIAS et al (2004) e

PERONI et al (2007) os agricultores foram consistentes na distinccedilatildeo de suas variedades

lsquolsquodocesrdquo e ldquoamargasrsquorsquo e com base no conhecimento de caracteres morfoloacutegicos distintos os

nomes das variedades refletiram na diversidade geneacutetica A partir dessas evidecircncias podemos

inferir que o conhecimento local dos agricultores associado agrave experiecircncia eacute importante natildeo

somente para o reconhecimento das variedades locais por si soacute mas tambeacutem por conter

informaccedilotildees relevantes sobre o papel que esses recursos podem desempenhar nos sistemas

agriacutecolas de pequena escala e para as populaccedilotildees locais (GADGIL et al 1993)

O conhecimento tradicional dos agricultores trata-se de um conjunto de saberes praacuteticas

e crenccedilas baseadas no contato direto nas observaccedilotildees experimentaccedilotildees diaacuterias e nas

dependecircncias econocircmicas eou de subsistecircncia dos recursos que satildeo geralmente transmitidas

oralmente dentro e entre as geraccedilotildees (AMOROZO 2000 DOMINGUES ARRUDA 2001

BEGOSSI 2004) Sendo assim o conhecimento tradicional de agricultores que praticam a

agricultura de pequena escala realizada em comunidades tradicionais eacute importante pois tem

garantido a perpetuaccedilatildeo dos conhecimentos e das praacuteticas agriacutecolas desenvolvidas durante

milhares de anos entre os agroecossistemas locais

22 Manejo tradicional em roccedilas e diversidade intraespeciacutefica da mandioca

A agricultura de pequena escala praticada em comunidades locais tem garantido a

perpetuaccedilatildeo do conhecimento sobre o manejo e a diversidade de espeacutecies agriacutecolas O sistema

de cultivo em roccedilas eacute tipicamente praticado por agricultores de comunidades tradicionais em

aacutereas uacutemidas no mundo inteiro As roccedilas satildeo aacutereas de cultivo de pequena escala localizadas

dentro de comunidades proacuteximas umas das outras que se tornaram objeto de estudo em vaacuterias

pesquisas antropoloacutegicas etnobotacircnicas geneacuteticas e ecologias especialmente por apresentarem

grande diversidade de espeacutecies cultivadas e pelo manejo destinar-se agrave subsistecircncia de grupos

familiares de agricultores de pequena escala (PUJOL et al 2007)

Aleacutem da diversidade de espeacutecies outra caracteriacutestica dessas roccedilas eacute o grande nuacutemero de

variedades dentro de cada espeacutecie Esta diversidade intraespeciacutefica pode ser referida como

etnovariedades que eacute um termo utilizado para definir grupos de indiviacuteduos identificados por

19

nomenclatura popular local a qual pode expressar elementos do contexto cultural econocircmico

e social das populaccedilotildees associado ao uso (PERONI MARTINS 2000 EMPERAIRE

PERONI 2007)

Dentre as vaacuterias espeacutecies cultivadas em roccedilas a mandioca (M esculenta) em seu

nuacutemero de etnovariedades eacute uma das principais culturas de importacircncia econocircmica e

nutricional para populaccedilotildees que utilizam esse sistema Sua diversidade pode estar relacionada

ao sistema reprodutivo da cultura ao modo de gestatildeo da agricultura pelas pressotildees de seleccedilatildeo

exercidas pelo proacuteprio homem ou ateacute mesmo por causas naturais (MARTINS 2005

CLEMENT et al 2010)

As caracteriacutesticas de manejo empregadas no cultivo da mandioca em roccedilas favorecem

a elevada diversidade intraespeciacutefica dessa cultura O modo de propagaccedilatildeo da mandioca eacute feito

pelos agricultores por meios de estacas (manivas) que satildeo selecionadas de acordo com as

caracteriacutesticas desejaacuteveis que elas apresentam seja para fins econocircmicos ou utilitaacuterios Apesar

de propagada vegetativamente que eacute um meacutetodo usado pelas populaccedilotildees humanas para plantio

e multiplicaccedilatildeo de plantas a mandioca natildeo perdeu a sua capacidade de reproduccedilatildeo sexual

sendo esse um aspecto importante para dinacircmica evolutiva da cultura (PUJOL et al 2007)

Esse meacutetodo de propagaccedilatildeo permite o fluxo e a circulaccedilatildeo do material geneacutetico entre os

diferentes roccedilados por meio de um sistema de redes sociais de troca de etnovariedade de

mandioca entre os agricultores tanto a niacutevel regional (entre comunidades) quanto em escalas

menores (entre vizinhos e parentes) (ELIAS et al 2004 EMPERAIRE OLIVEIRA 2010)

Segundo Emperaire e Peroni (2007) esse mecanismo de troca de germoplasma eacute uma grande

forccedila de dispersatildeo que resulta na agrobiodiversidade regional mais elevada pois estabelece

viacutenculos entre as diferentes roccedilas e promove oportunidades de seleccedilatildeo e cruzamento entre as

diferentes etnovariedades (EMPERAIRE ELOY 2008)

Atributo bioloacutegicos da espeacutecie tambeacutem estatildeo relacionados com o aumento da

diversidade intrespeciacutefica como a capacidade de dormecircncia das sementes e a dispersatildeo

autocoacuterica que propiciam o desenvolvimento de um banco de sementes no solo ao longo do

tempo permitindo o cruzamento entre as novas variedades adquiridasplantadas e entre estas

com variedades que existiram anterioemente na mesma aacuterea (PERONI MARTINS 2000

MARTINS 2005) A presenccedila dessas ldquoplantas-voluntaacuteriasrdquo ou seja aquelas nascidas de

germinaccedilatildeo expontacircnea eacute um dos eventos identificados como precursores de diversidade

intraespeciacutefica nas populaccedilotildees de mandioca cultivadas (PUJOL et al 2007)

20

Contudo muitos esforccedilos vecircm sendo empregados em estudos que observam a ecologia

da mandioca e o manejo agriacutecola associado agrave geraccedilatildeo de diversidade varietal e geneacutetica na

espeacutecie para tentar entender como esses mecanismos influenciam na diversidade de

etnovariedades locais e na sua dinacircmica (PUJOL et al 2007 KOMBO et al 2012 ELIAS et

al 2001)

23 Redes sociais de troca e circulaccedilatildeo de etnovariedades de mandioca

Sistemas agriacutecolas de pequena escala dependem de uma grande diversidade de espeacutecies e

variedades cultivadas e do fluxo destas por meio de redes sociais de troca material vegetativo

estabelecidas entre agricultores podendo o alcance da circulaccedilatildeo variar em escala local eou

regional (EMPERAIRE ELOY 2008) As trocas dependem de dois mecanismos principais

dos padrotildees de interaccedilatildeo social entre os agricultores e dos padrotildees de uso dos recursos

(CAVECHIA et al 2014) e as redes variam em funccedilatildeo das caracteriacutesticas culturais

econocircmicas e sociais das comunidades (EMPERAIRE PERONI 2007 PAUTASSO et al

2012)

No caso da mandioca (Manihot esculenta Crantz) a propagaccedilatildeo se da por estaquia o que

favorece a troca de material de vegetativo entre os agricultores e permite o fluxo entre

variedades locais e regionais (MARTINS 2005) As trocas de variedades de mandioca entre os

agricultores geralmente acontecem por alguma circunstacircncia que leve o agricultor a pedir o

material propagativo para o plantio com por exemplo para o plantio de uma nova roccedila ou por

alguma fitopatologia deslocaccedilatildeo ou estaccedilotildees de chuva e seca prolongadas (EMPERAIRE et

al 2001 EMPERAIRE ELOY 2008) Em alguns casos como no de algumas comunidades

agriacutecolas de pequena escala as redes de casamento satildeo utilizadas para a circulaccedilatildeo de

variedades (EMPERAIRE PERONI 2007 DELEcircTRE et al 2011)

O processo de manutenccedilatildeo da diversidade nesses sistemas resulta do interesse ou da

necessidade do agricultor em adquirir ou abandonar variedades testar e selecionar novas

etnovariedades de mandioca Dentre os fatores que dirigem a seleccedilatildeo de etnovariedades estatildeo

as preferecircncias individuais dos agricultores Alguns podem optar por cultivar todas as

etnovariedades comuns eou disponiacuteveis na regiatildeo enquanto que outros optam apenas por

manter um conjunto especiacutefico dessa diversidade (CAVECHIA et al 2014) Seja para atender

a alguma demanda individual pelo interesse em aumentar a produtividade ou pela necessidade

21

de conservar o material vegetativo para o proacuteximo plantio no caso de perda de material por

algum fator ambiental adverso (EMPERAIRE et al 2001 EMPERAIRE ELOY 2008)

Nesse sentido satildeo os agricultores os maiores responsaacuteveis por determinar como e quais

etnovariedades seratildeo compartilhadas e mantidas entre as comunidades (PAUTASSO et al

2012) E a chave para a compreensatildeo da dinacircmica da diversidade varietal eacute por meio desse

intercacircmbio e dos fatores que influenciam essa conectividade entre as comunidades pois essas

redes representam um grande impacto sobre a diversidade de variedades cultivadas E eacute por

meio dessas redes que se diminui coletivamente os riscos de perda total de diversidade geneacutetica

local (EMPERAIRE ELOY 2008)

Desse modo as relaccedilotildees estabelecidas pelos agricultores entre as comunidades por meio

das redes troca de germoplasma podem ter consequecircncias importantes sobre a diversidade

varietal da mandioca E compreender os processos envolvidos na manutenccedilatildeo ou perda de

germoplasma nos sistemas agriacutecolas eacute importante uma vez que compreendendo a maneira

como os agricultores usam esse conjunto de etnovariedades de mandioca e as compartilham

vai trazer importantes discussotildees a cerca da qualidade e a quantidade do recurso que seraacute

mantido transmitido ou perdido dentro dos sistemas ao longo do tempo

22

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25

VARIACcedilAtildeO INTRAESPECIacuteFICA CONHECIMENTO E MANEJO

LOCAL DE MANDIOCA (Manihot esculenta Crantz) NO SEMIAacuteRIDO DE

PERNAMBUCO NORDESTE DO BRASIL

Artigo submetido ao perioacutedico Human Ecology

Normas para submissatildeo em anexos

26

Variaccedilatildeo intraespeciacutefica conhecimento e manejo local de mandioca 1

(Manihot esculenta Crantz) no semiaacuterido de Pernambuco Nordeste do 2

Brasil 3

Mirela Nataacutelia Santos12 Jhonatan Rafael Zaacuterate-Salazar1 Reginaldo de Carvalho1 amp 4

Ulysses Paulino de Albuquerque2 5

6

1 Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo em Botacircnica Departamento de Biologia Rua Dom Manuel de Medeiros 7

Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) sn Dois Irmatildeos Recife Pernambuco 52171-8

900 Brasil 9

2 Laboratoacuterio de Ecologia e Evoluccedilatildeo de Sistemas Socioecoloacutegicos (LEA) Departamento de Botacircnica 10

Avenida Professor Moraes Rego Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) sn Cidade 11

Universitaacuteria Recife Pernambuco 50670-901 Brasil 12

Resumo 13

Historicamente a espeacutecie Manihot esculenta Crantz (mandioca) eacute uma espeacutecie de grande valor 14

econocircmico e de subsistecircncia para populaccedilotildees em comunidades tradicionais Variedades de 15

mandioca satildeo selecionadas com base nos interesses dos agricultores conduzindo uma evoluccedilatildeo 16

especiacutefica sobre a geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da agrobiodiversidade local Diante disso a mandioca 17

tornou-se espeacutecie-modelo em estudos que buscam compreender como os padrotildees e estrateacutegias 18

adotadas pelas populaccedilotildees humanas influenciam na diversidade intraespeciacutefica local em regiotildees 19

tropicais No entanto os fatores que influenciam a diversidade da mandioca em regiotildees 20

semiaacuteridas ainda natildeo foram bem documentados Nesse sentido objetivo geral do estudo foi 21

compreender os processos envolvidos na dinacircmica da diversidade agriacutecola em sete 22

comunidades tradicionais localizadas na regiatildeo semiaacuterida do estado de Pernambuco (Nordeste 23

do Brasil) por meio do acesso ao conhecimento dos agricultores quanto as praacuteticas de menejo 24

para tentar quais quais fatores podem estar relacionados a geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da diversidade 25

local Com os resultados da anaacutelise de redes verificamos uma alta diversidade de 26

etnovariedades cultivadas e a sua composiccedilatildeo eacute determinada pelas preferecircncias e 27

comportamentos individuais dos agricultores que foram provavelmente os mecanismos 28

27

responsaacuteveis pelo surgimento da estrutura aninhada observada na anaacutelise rede Esse padratildeo 29

aninhado contribui na conservaccedilatildeo das etnovariedades mais comuns mas tambeacutem pode resultar 30

em perda daquelas de menor frequecircncia ao longo do tempo 31

Palavras-Chave Agricultura tradicional Agricultura de sequeiro Agrobiodiversidade 32

Etnobiologia Plantas alimentiacutecias 33

34

Introduccedilatildeo 35

Historicamente as populaccedilotildees humanas foram acumulando conhecimentos sobre 36

praacuteticas da agricultura desenvolvendo teacutecnicas adaptadas ao meio natural e assim foram 37

domesticando uma grande variedade de cultivos alimentares para garantirem a sua 38

sobrevivecircncia (Balleacute 2006 Clement et al 2010) Essa interaccedilatildeo pessoas-plantas por meio do 39

cultivo e manejo das espeacutecies vegetais considerando tanto os aspectos sociais quanto naturais 40

dos sistemas dinacircmicos eacute uma importante ferramenta para o entendimento do conhecimento 41

dos agricultores sobre os agroecossistemas locais ( Alcorn 1995) 42

Aleacutem disso essas interaccedilotildees vem contribuindo com alteraccedilotildees nas populaccedilotildees vegetais 43

por meio da seleccedilatildeo artificial Essas alteraccedilotildees resultaram em mudanccedilas na estrutura geneacutetica 44

dessas populaccedilotildees que satildeo determinadas geralmente pela seleccedilatildeo de caracteriacutesticas fenotiacutepicas 45

fisioloacutegicas eou econocircmicas das plantas refletidas em classificaccedilotildees e nomenclaturas 46

especiacuteficas baseadas em percepccedilotildees individuais (Carmona amp Casas 2005) 47

Muitos pesquisadores tentam explicar o papel dos agricultores de pequena escala na 48

seleccedilatildeo classificaccedilatildeo e manutenccedilatildeo da agrobiodiversidade local em roccedilas tradicionalmente 49

manejas em regiotildees uacutemidas (Emperaire amp Peroni 2007 Emperaire amp Eloy 2008 Marchetti et 50

al 2013) Essas roccedila satildeo aacutereas de cultivo caracterizadas por conter uma alta diversidade 51

intraespeciacutefica de espeacutecies (Martins 2005) Dentre elas a Manihot esculenta Crantz 52

28

(mandioca) Euphorbiaceae em sua diversidade de etnovariedades eacute a espeacutecie mais importante 53

sob ponto de vista econocircmico e de subsistecircncia para as populaccedilotildees locais e mais cultivada 54

devido a sua grande adaptabilidade ambiental e baixos custos de gestatildeo (Elias et al 2001) 55

A alta diversidade da mandioca nessas aacutereas pode ser atribuiacuteda agrave possibilidade de 56

introduccedilatildeo de novas variedades via reproduccedilatildeo sexuada associada a ecologia da espeacutecie Esse 57

mecanismo permite o fluxo gecircnico entre as variedades de mandioca cultivadas do mesmo local 58

e entre estas com variedades de locais vizinhos (Pujol et al 2007) Outro mecanismo que 59

favorece essa diversidade eacute agrave circulaccedilatildeo de material propagativo por meio redes sociais de troca 60

variedades entre os agricultores (Pujol et al 2005 Emperaire amp Peroni 2007 Clement et al 61

2010) Esse mecanismo de troca eacute fundamental para o estabelecimento de interaccedilotildees entre as 62

diferentes aacutereas de roccedila promovendo oportunidade de seleccedilatildeo e cruzamento entre os diferentes 63

conjuntos de variedades aleacutem de permitir que este conjunto seja conservado (Emperaire amp Eloy 64

2008) 65

Diante desse cenaacuterio podemos observar que a agrobiodiversidade local natildeo eacute fruto 66

apenas de fatores naturais mas eacute tambeacutem influenciada pelas caracteriacutesticas culturais e 67

socioeconocircmica das populaccedilotildees locais refletidas especialmente no conhecimento e manejo 68

local Nesse sentido o presente estudo visa investigar as interaccedilotildees entre agricultores 69

tradicionais de comunidades rurais estabelecidas na regiatildeo semiaacuterida de Pernambuco 70

O objetivo geral eacute compreender os processos envolvidos na dinacircmica da diversidade 71

agriacutecola por meio do acesso ao conhecimento dos agricultores quanto as praacuteticas de menejo e 72

entender quais quais fatores podem estar relacionados a geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da diversidade 73

local Para esse estudo a mandioca foi escolhida como modelo devida agrave sua importacircncia 74

econocircmica e de subsistecircncia para comunidades locais Os objetivos especiacuteficos foram (i) 75

caracterizar o manejo da agricultura de sequeiro bem como analisar se os paracircmetros 76

socioeconocircmicos influenciam na diversidade local (ii) registrar as etnovariedades atualmente 77

29

cultivadas e identificar os diferentes criteacuterios morfoloacutegicos utilizados pelos agricultores para a 78

seleccedilatildeo e classificaccedilatildeo das etnovariedadese (iii) descrever a estrutura da rede de interaccedilatildeo entre 79

os agricultores e a diversidade de etnovariedades de mandioca cultivadas para tentar entender 80

como essas relaccedilotildees podem influenciar na manutenccedilatildeo ou perda da diversidade local 81

Material e meacutetodos 82

Aacutereas de estudo 83

Amostramos sete comunidades rurais estabelecidas na regiatildeo semiaacuterida de 84

Pernambuco Nordeste do Brasil Uma das comunidades (Caratildeo) pertence ao Municiacutepio de 85

Altinho (ldquo8deg 29rsquo 10rdquo S e 36deg 03rsquo 49rdquo W) e as demais (Satildeo Joseacute do Bola Brejo velho 86

Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima Lajedo Dantas e Aracuatilde) ao Municiacutepio de 87

Panelas (8 deg 39 48 S e 36 deg 01 23 W) (Fig 2) 88

O modelo agriacutecola adotado na regiatildeo segue o sistema tradicional de sequeiro4 e todas 89

as comunidades em estudo possuem histoacuterico de cultivo de mandioca (M esculenta) As aacutereas 90

de cultivo satildeo estabelecidas por unidade familiar e as atividades satildeo realizadas em sua maioria 91

por homens tendo cada agricultor cerca de um a dois hectares de aacuterea para plantio Aleacutem da 92

mandioca os cultivos mais utilizados na comunidades satildeo milho (Zea mays) e feijatildeo (Phaseolus 93

sp) 94

Para os membros das comunidades a produccedilatildeo da farinha de mandioca (Fig 3) eacute uma 95

das atividades agriacutecolas mais importantes tanto pelo seu papel na dieta alimentar quanto pela 96

importacircncia social e econocircmica 97

Caracteriacutesticas das comunidades do estudo 98

A comunidade do Caratildeo localiza-se sob domiacutenio de Caatinga caracterizado por climas 99

quentes e secos com regimes escassos de chuvas correspondente ao tipo BSrsquoh segundo a 100

4 Eacute o cultivo praticado sem irrigaccedilatildeo em regiotildees onde a pluviosidade eacute diminuta

30

classificaccedilatildeo climaacutetica de Koumlppen A vegetaccedilatildeo eacute composto por espeacutecies perenes que 101

conseguem sobreviver mesmo em periacuteodos de seca e espeacutecies anuais que aparecem apenas em 102

periacuteodos com chuva (Cruz et al 2013) 103

De acordo os dados de precipitaccedilatildeo do Laboratoacuterio de Anaacutelise e Processamento de 104

Imagens de Sateacutelites (LAPIS) no ano de 2012 foi registrada a menor meacutedia anual de 105

precipitaccedilatildeo dos uacuteltimos 10 anos para essa regiatildeo (3784 mm) Essa realidade ambiental quando 106

comparada com estudo realizado por de Sieber e colaboradores (2011) na mesma comunidade 107

observa-se que houve uma diminuiccedilatildeo considerada das praacuteticas agriacutecolas realizadas pelos 108

membros da comunidade culminando em uma seacuterie de prejuiacutezos aos agricultores como a perda 109

de plantaccedilotildees e animais Essa perda de produtividade afetou a estrutura econocircmica da 110

comunidade uma vez que a principal fonte de subsistecircncia das famiacutelias eacute a agricultura 111

Associada as atividades agriacutecolas os moradores complementam a dieta e a renda 112

familiar com a venda dos excedentes da produccedilatildeo em feiras-livres ou centros comerciais da 113

regiatildeo (Cruz et al 2013) E com a pecuaacuteria de pequena escala bovina caprina e com avicultura 114

No entanto a diminuiccedilatildeo da forragem natural e cultivada causada pela escassez de chuvas 115

associada aos elevados custos envolvidos na compra de raccedilatildeo levou muitos animais agrave morte 116

(Fig 4) 117

No Municiacutepio de Altinho a comunidade do Caratildeo foi inicialmente escolhida devido ao 118

reconhecimento preacutevio do registro de agricultores realizado em estudos desenvolvidos pelo 119

nosso grupo de pesquisa facilitando assim o acesso agraves informaccedilotildees necessaacuterias para o 120

desenvolvimento da pesquisa 121

As comunidades Aracuatilde Brejo Velho Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima 122

Lajedo Dandas e Satildeo Joseacute do Bola amostradas no estudo pertencem ao Municiacutepio de Panelas 123

que se limita ao Norte com o Municiacutepio de Altinho Essas comunidades estatildeo localizadas em 124

31

no domiacutenio morfoclimaacutetico de Caatinga O clima eacute do tipo semiaacuterido Bsrsquoh segundo a 125

classificaccedilatildeo climaacutetica de Koumleppen 126

A maior parte dos membros dessas comunidades assim como no Caratildeo tecircm como 127

principal fonte de subsistecircncia a agricultura de sequeiro principalmente o cultivo da mandioca 128

(Fig 5) Como renda extra a pecuaacuteria de pequeno porte com criaccedilatildeo bovina caprina e 129

avicultura sendo os excedentes dos alimentos produzidos vendidos em feiras locais ou para 130

escolas 131

As atividades agriacutecolas entre as comunidades tambeacutem foram duramente afetadas pela 132

seca na regiatildeo nos uacuteltimos anos A escassez de chuvas desestimulou o plantio a produccedilatildeo de 133

mandioca foi fortemente comprometida e a colheita foi adiada devido ao subdesenvolvimento 134

das raiacutezes gerando impactos econocircmicos para os membros das comunidades 135

As comunidades amostradas neste muniacutecipio foram escolhidas em funccedilatildeo das 136

indicaccedilotildees dos agricultores entrevistados a princiacutepio na comunidade do Caratildeo que reportaram 137

manter viacutenculos sociais com os agricultores do municiacutepio vizinho 138

Coleta de dados 139

Acessamos as comunidades com a ajuda de um liacuteder comunitaacuterio (Alexandre O 140

Nascimento) em companhia de outros pesquisadores que desenvolviam pesquisas na regiatildeo 141

Previamente as entrevistas todos objetivos e procedimentos para a realizaccedilatildeo da pesquisa foram 142

apresentados aos entrevistados e todos que aceitaram participar foram convidados a assinar um 143

Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) de acordo com a Resoluccedilatildeo 46612 do 144

Conselho Nacional de Sauacutede concordando com a realizaccedilatildeo das entrevistas e avaliaccedilotildees 145

morfoloacutegicas em campo O presente trabalho foi submetido ao Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa da 146

Universidade de Pernambuco (UPE) 147

32

Em todas as comunidades o meacutetodo de acesso ao informante foi o mesmo a partir do 148

primeiro contato com um informante-chave identificamos outros potenciais agricultores 149

seguindo a teacutecnica de ldquobola de neverdquo (Albuquerque et al 2014a) Esse meacutetodo consistiu na 150

amostragem intencional dos participantes e nesse particular os agricultores chefes de famiacutelia 151

(ge 18 anos) da regiatildeo que declararam cultivar mandioca (M esculenta) em suas roccedilas 152

Reunimos informaccedilotildees socioeconocircmicas desses agricultores tais como nome idade gecircnero 153

escolaridade renda experiecircncia na agricultura e tamanho da aacuterea de cultivo para tentar 154

identificar se esses paracircmetros socioeconocircmicos tecircm uma relaccedilatildeo com a agrobiodiversidade 155

local 156

Em seguida conduzimos entrevistas semiestruturadas (Albuquerque et al 2014b) com 157

o objetivo de caracterizar o modo de vida dos agricultores o manejo da agricultura bem como 158

obter dados sobre o conhecimento uso e caracterizaccedilatildeo das etnovariedades de mandioca 159

5cultivadas Aleacutem disso neste momento tambeacutem aplicamos a teacutecnica da lista livre 160

(Albuquerque et al 2014b) a fim de registrar as variedades de mandioca atualmente cultivadas 161

pelos agricultores e identificar as de maior importacircncia local Apoacutes as entrevistas realizamos 162

visitas aos roccedilados para o registro fotograacutefico georreferenciamento das roccedilas e caracterizaccedilatildeo 163

morfoloacutegica das variedades cultivadas 164

Entrevistamos 50 agricultores no total distribuiacutedos nas sete comunidades Caratildeo (3) 165

Satildeo Joseacute do Bola (10) Brejo velho (7) Japaranduba de Baixo (7) Japaranduba de Cima (8) 166

Lajedo Dantas (9) e Aracuatilde (6) Destes 10 satildeo mulheres e 40 homens com idade variando entre 167

31 e 82 anos A maioria dos entrevistados natildeo apresentava instruccedilatildeo formal (46) mais da 168

metade eram aposentados (56) e os demais apresentaram renda inferior a um salaacuterio miacutenimo 169

5 Entende-se por etnovariedade de mandioca o conjunto de variedades intraespeciacuteficas de mandioca (M esculenta)

reconhecidas pelos agricultores por nomenclatura popular local (Peroni 2004)

33

O tempo meacutedio de experiecircncia na agricultura foi de 40 anos Cada agricultor possui entre um e 170

dois roccedilados (aacuterea de plantio) com aproximadamente um a dois hectares 171

Redes de interaccedilatildeo social 172

Confeccionamos a rede que descreve as interaccedilotildees entre os agricultores e as 173

etnovariedades cultivadas a partir de uma matriz de incidecircncia R (presenccedilaausecircncia) onde nas 174

linhas estavam as etnovariedades de mandioca cultivadas (j) e nas colunas os agricultores locais 175

(i) O elemento Rij dessa matriz foi 1 (um) no caso de a etnovariedade j ser cultivada pelo 176

agricultor i caso contraacuterio seria atribuiacutedo 0 (zero) As interaccedilotildees entre os agricultores e as 177

etnovariedades foram descritas em dois modos (Pires et al 2011) onde os ldquonoacutesrdquo da esquerda 178

representam os agricultores que foram vinculados aos ldquonoacutesrdquo da direita representados pelas 179

etnovariedades citadas durante as entrevistas Esses ldquonoacutesrdquo seriam o espelho das decisotildees dos 180

agricultores em manter um determinado conjunto local de etnovariedades em suas roccedilas 181

Avaliamos a estrutura da rede que conecta os agricultores agraves etnovariedades cultivadas 182

a partir de trecircs cenaacuterios hipoteacuteticos (Fig 6) segundo Cachevia et al (2014) No primeiro se os 183

agricultores apresentassem diferentes graus de seletividade para a utilizaccedilatildeo de suas 184

etnovariedades a estrutura seria aninhada (Fig 6a) Isso significa que alguns agricultores 185

cultivam vaacuterias etnovariedades enquanto que outros cultivam o subconjunto mais 186

disponiacutevelcomum dessas etnovariedades Em segundo lugar se a rede apresentasse uma 187

estrutura modular (Fig 6b) significaria que os agricultores apresentam semelhanccedila na seleccedilatildeo 188

do recurso ou seja subgrupos de agricultores cultivam subgrupos distintos de etnovariedades 189

regionalmente disponiacuteveiscomuns E o terceiro se os agricultores natildeo apresentassem 190

preferecircncias quanto a seleccedilatildeo das etnovariedades entatildeo a rede apresentaria uma estrutura 191

aleatoacuteria (Fig 6c) 192

O objetivo da anaacutelise de rede nesse estudo foi tentar entender se o conjunto de 193

etnovariedades presentes no local do estudo constituem uma subamostra de um conjunto mais 194

34

amplo no caso de um alto grau de aninhamento ou se a sua composiccedilatildeo eacute determinada por 195

variaacuteveis locais (Ulrich 2008) Onde as conexotildees entre os informantes e as etnovariedades 196

representam as decisotildees dos agricultores de manter um conjunto determinado de variedades de 197

mandioca dentre as comunidades Esta anaacutelise tambeacutem nos permitiu identificar quais os nuacutecleos 198

de etnovariedades que apresentam maior conexatildeo com os diferentes perfis dos agricultores 199

Diversidade fenotiacutepica 200

Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 201

Apoacutes as entrevistas buscamos identificar quais os caracteres morfoloacutegicos considerados 202

mais importantes para a diferenciaccedilatildeo das etnovariedades de mandioca a partir do seguinte 203

questionamento ldquoQuais as diferenccedilas que vocecirc reconhece para separar uma qualidade de 204

mandioca (variedade) de uma outrardquo Assim os agricultores mencionaram quais os criteacuterios 205

mais importantes utilizados para a caracterizaccedilatildeo de suas etnovariedades 206

Compilamos uma listagem dessas caracteriacutesticas baseada nas indicaccedilotildees dos 207

agricultores e a partir delas selecionamos os caracteres morfoloacutegicos mais citados para a 208

caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica ldquoin siturdquo tais como cor da folha (cor da folha desenvolvida) olho 209

(cor do broto foliar) cor do talo (cor do peciacuteolo) maniva (cor externa do caule) embriatildeo 210

(protuberacircncia da cicatriz foliar) cor da entrecasca (coacutertex da raiz) e cor miolo (polpa da raiz) 211

(Tabela 1) O objetivo dessa caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica foi indicar como estaacute distribuiacuteda a 212

variaccedilatildeo fenotiacutepica das etnovariedades de mandioca nas comunidades na regiatildeo semiaacuterida de 213

Pernambuco bem como identificar que caracteriacutesticas satildeo mais importantes para distinguir 214

esses grupos no intuito de tentar entender como os agricultores classificam suas variedades de 215

mandioca 216

Nas sete comunidades para cada etnovariedade citada no roccedilado caracterizamos ldquoin 217

siturdquo trecircs indiviacuteduos de M esculentade de cada uma totalizando 171 indiviacuteduos (Aracuatilde=11 218

35

Caratildeo=4 Satildeo Joseacute do Bola=13 Brejo Velho=16 Japaranduba de Baixo=6 Japaranduba de 219

Cima=3 e Lajedo Dantas=4) Fotografamos e avaliamos todos os indiviacuteduos com base em parte 220

dos descritores morfoloacutegicos seguindo recomendaccedilotildees de Fukuda amp Guevara (1998) e aleacutem 221

disso georreferenciamos todas as aacutereas de roccedila 222

Anaacutelise dos dados 223

Analisamos os dados socioeconocircmicos das entrevistas semiestruturadas por meio de 224

estatiacutestica descritiva para explicar os aspectos da realidade econocircmica e social dos agricultores 225

Para identificar se a diversidade intraespeciacutefica da mandioca cultivada localmente eacute 226

influenciada por paracircmetros socioeconocircmicos utilizamos o coeficiente de correlaccedilatildeo de 227

Spearman (Ple005) (Sokal amp Rohlf 1995) 228

Com base na lista livre das variedades de mandioca cultivadas pelos agricultores 229

calculamos a frequecircncia de citaccedilatildeo o ranking e o iacutendice de saliecircncia com o objetivo de 230

identificar quais as mais importantes ou preferidas para as comunidades O iacutendice de saliecircncia 231

considerou a frequecircncia de citaccedilatildeo e o ranking referente ao posicionamento das variedades 232

dentro das listas livres (Thompson amp Juan 2006) As etnovariedades mais citadas e com maior 233

valor de saliecircncia representam as de maior importacircncia ou preferecircncia para as comunidades 234

Anaacutelise de rede 235

Medimos o grau de aninhamento (NODF) para investigar a estrutura de rede de 236

interaccedilatildeo social dos agricultores em funccedilatildeo das variedades cultivadas As matrizes altamente 237

aninhadas apresentam NODF tendendo a 1 caso contraacuterio tentem a ser 0 238

Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 239

Para o estudo das semelhanccedilas e diferenccedilas fenotiacutepicas entre as variedades de mandioca 240

ldquoin siturdquo realizamos anaacutelises multivariadas para identificar possiacuteveis grupos de variedades que 241

compartilham semelhanccedilas entre si 242

36

A anaacutelise de correspondecircncia muacuteltipla (MCA) permitiu identificar como as variedades 243

de mandioca estatildeo ordenadas em funccedilatildeo dos seus descritores etnobotacircnicos As etnovariedades 244

foram plotadas ao longo um plano cartesiano bi ou tridimensional onde a variaccedilatildeo total eacute 245

explicada pelos dois primeiros eixos Complementar a esta anaacutelise realizamos a anaacutelise de 246

agrupamento hieraacuterquico (Cluster) para identificar como estatildeo agrupadas as etnovariedades de 247

acordo seus descritores Conferimos a consistecircncia do dendrograma com coeficiente de 248

correlaccedilatildeo cofeneacutetica conforme Sneath amp Sokal (1973) que quantifica se a correlaccedilatildeo entre a 249

matriz de distacircncias originais e a matriz de distacircncias cofeneacuteticas eacute representativa Para 250

mensurar as dissimilaridades entre as variedades de mandioca foi utilizada a distacircncia 251

euclidiana e com o meacutetodo de Ward 252

Softwares utilizados 253

Para a anaacutelise da lista livre usamos o software ANTROPAC versatildeo 10 O software 254

ANINHADO 30 (Guimaratildees amp Guimaratildees 2006) foi usado para medir o grau de aninhamento 255

da rede Utilizamos o software estatiacutestico R (R core team 2017) para a anaacutelise de correlaccedilatildeo 256

de Spearman com o pacote corrplot (Wei amp Simko 2013) o desenho da rede que descreve a 257

interaccedilatildeo entre os agricultores e as etnovariedades com o pacote bipartite (Dormann et al 258

2017) E com os pacotes FactoMineR (LEcirc et al 2008) factoextra (Kassambara et al 2016) e 259

vegan (Oksanen et al 2017) foram realizadas as anaacutelises de cluster de correspondecircncia 260

muacuteltipla (MCA) e de correlaccedilatildeo coefeneacutetica respectivamente 261

Resultados 262

As diferentes etnovariedades de mandioca encontradas no estudo suprem a demanda 263

local por alimento enquanto outras atendem agraves preferecircncias individuais ou do comeacutercio As 264

variedades que possuem maior rendimento e a farinha produzida apresenta coloraccedilatildeo branca 265

satildeo as de maior valor comercial para os agricultores devido agraves preferecircncias do mercado Jaacute 266

37

outras variedades que satildeo mais moles e apresentam coloraccedilatildeo amarelada natildeo satildeo empregadas 267

na produccedilatildeo de farinha mas sim consumidas cozidas ou assadas A depender da demanda local 268

os agricultores intencionalmente aumentam ou diminuem a frequecircncia de suas variedades nos 269

roccedilados seja por alguma exigecircncia do comeacutercio ou para consumo familiar 270

Nas comunidades os agricultores separam suas variedades de mandioca em dois grupos 271

como observado em outras comunidades na mata Atlacircntica por Emperaire e Peroni (2007) o 272

das ldquomacaxeirasrdquo que satildeo as variedades exploradas basicamente para o consumo familiar sem 273

processo preacutevio de desintoxicaccedilatildeo cujas raiacutezes satildeo consumidas fritas eou cozidas Sendo 274

utilizadas tambeacutem como complemento na dieta dos animais E o grupo das ldquomandiocasrdquo que 275

satildeo as variedades que necessitam de processo preacutevio de desintoxicaccedilatildeo para o consumo 276

utilizadas comumente para a produccedilatildeo de farinha de mandioca Para os agricultores as 277

ldquomandiocasrdquo possuem maior valor comercial pois apresentam maior rendimento e 278

rentabilidade pois a farinha produzida eacute branca e atende as preferencias do comercio local 279

Aleacutem da farinha outros produtos e subprodutos produzidos dentre os quais foram citados 280

ldquotapioca ou gomardquo ldquobijurdquo ou ldquobolo de mandiocardquo satildeo utilizados para o consumo proacuteprio ou 281

eventual comercializaccedilatildeo 282

Os informantes natildeo possuiacuteam conhecimento sobre a origem dos nomes das variedades 283

de mandioca Quanto a compreensatildeo da geraccedilatildeo da diversidade intraespeciacutefica identificamos 284

que apesar de 66 dos agricultores citarem que conhecem variedades fruto de germinaccedilatildeo de 285

suas sementes nenhum deles utiliza as manivas para o plantio por essas variedades de 286

mandioca ldquovoluntaacuteriasrdquo natildeo apresentarem bom rendimento 287

Observamos que existe uma baixa correlaccedilatildeo entre a diversidade de variedades 288

atualmente cultivadas e as variaacuteveis socioeconocircmicas como no caso do nuacutemero de roccedilados 289

(r=028 Ple005) e do tamanho do roccedilado (r=033 Ple005) (Fig 7) Essa baixa correlaccedilatildeo pode 290

38

ser explicada pelo fato de existirem grupos de agricultores que preferem manter as variedades 291

de maior valor econocircmico e de subsistecircncia mesmo com aacutereas maiores de cultivo 292

Verificamos tambeacutem uma correlaccedilatildeo positiva moderada entre o nuacutemero de variedades 293

conhecidas com o nuacutemero de variedades atualmente cultivadas (r=054 Ple005) Na lista livre 294

foram identificadas 22 etnovariedades de mandioca cultivadas (132 citaccedilotildees no total) sendo 295

oito dessas mais citadas com maiores valores de saliecircncia (entre 047 e 0082) (Tabela 2) As 296

etnovariedades ldquoMacaxeira Rosardquo e ldquoMandioca Isabel de Souzardquo exibiram os maiores valores 297

de saliecircncia 047 e 037 respectivamente Logo essas variedades satildeo as mais conhecidas 298

dentro das comunidades com 66 e 48 das citaccedilotildees respectivamente 299

Dentre as etnovariedades citadas 12 foram idiossincraacuteticas pois apresentaram menor 300

frequecircncia de citaccedilatildeo e menores valores de saliecircncia (entre 0032 e 0006) (Tabela 2) 301

Redes de interaccedilatildeo social 302

A rede apresentou uma estrutura aninhada com grau de aninhamento significativamente 303

superior aos modelos nulos (N=3072 Plt0001) para as comunidades sendo um nuacutecleo de 304

etnovariedades altamente conectado aos agricultores (Fig 8) A estrutura aninhada nos permite 305

inferir que existe um grupo de agricultores que cultiva uma maior diversidade de etnovariedades 306

de mandioca em suas roccedilas enquanto que outro subgrupo que tem menor diversidade cultivam 307

as mais comuns ou disponiacuteveis (Cavechia et al 2014) Isso significa que os agricultores locais 308

mesmo em diferentes comunidades cultivam um nuacutecleo de etnovariedades comum entre eles 309

(n=6 Tabela 2) 310

Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 311

Observamos que a maioria dos indiviacuteduos de mandioca satildeo caracterizados por meio de 312

um conjunto de sete caracteres morfoloacutegicos os quais foram citados pelos agricultores como 313

mais importantes para a caracterizaccedilatildeo de suas variedades Nas visitas aos roccedilados registramos 314

39

as etnovariedades atualmente cultivadas e a tabela 3 fornece a lista completa com as 17 315

etnovariedades de mandioca e o local de registro 316

Por meio da anaacutelise de correspondecircncia muacuteltipla as variedades de mandioca foram 317

ordenadas em funccedilatildeo de seus descritores ao longo do primeiro e segundo eixo correspondentes 318

a 3680 da variacircncia total (Fig 9) 319

As variaacuteveis mais correlacionadas e que agruparam as variedades de mandioca no 320

primeiro eixo foram cor da folha desenvolvida (CFD) (r= 07239 Ple0001) cor do coacutertex da 321

raiz (CDR) (r= 06473 Ple0001) cor do broto foliar (CBF) (r= 06880 Ple0001) cor do peciacuteolo 322

(CDP) (r= 05250 Ple005) cor externa do caule (CEC) (r= 06883 Ple005) cor da polpa da 323

raiz (PDR) (r= 02473 Ple005) Para o segundo eixo as variaacuteveis correlacionadas foram cor 324

da folha desenvolvida (CFD) (r= 07220 Ple0001) cor externa do caule (CEC) (r= 08718 325

Ple0001) e cor do peciacuteolo (CDP) (r= 06927 Ple005) 326

O agrupamento de todas as variedades caracterizadas ldquoin siturdquo gerou uma aacutervore 327

hieraacuterquica (dendrograma) (Fig 9) utilizando a distacircncia euclidiana seguindo o criteacuterio de 328

Ward O dendrograma gerado apresentou um coeficiente de correlaccedilatildeo cofeneacutetica r= 06780 329

indicando que existe consistecircncia com os dados originais no agrupamento quanto agrave 330

classificaccedilatildeo e estrutura de tal forma que as variedades foram agrupadas em oito classes as 331

quais foram explicadas pelas variaacuteveis mais significativas descritas na tabela 4 332

O resultado do agrupamento (utilizada a distacircncia euclidiana e com o meacutetodo de Ward) 333

observamos que as etnovariedades de mandioca caracterizadas ldquoin siturdquo foram agrupadas em 334

dois grandes agrupamentos indicados na Fig 10 pelos retacircngulos em vermelho A partir dessa 335

anaacutelise percebemos que os caracteres morfoloacutegicos selecionados pelos agricultores natildeo foram 336

suficientes para separar as variedades de macaxeira e mandioca pois em ambos os 337

agrupamentos encontramos tanto macaxeiras quanto mandiocas 338

40

As variedades da classe 1 foram identificadas pelos agricultores pela cor do peciacuteolo 339

(CDP) verde A classe 2 agrupou as etnoveriedades caracterizadas pela protuberacircncia da cicatriz 340

foliar (PCF) mais protuberante Esse descritor segundo os agricultores era identificado como 341

ldquoembriatildeordquo A classe 3 consiste apenas da variedade ldquoMandioca Pretonardquo indicada pela presenccedila 342

de cor do peciacuteolo (CDP) vermelho A classe 4 agrupou trecircs variedades caracterizadas pelos 343

agricultores pela presenccedila de cor coacutertex da raiz (CDR) rosa e cor da polpa da raiacutez (PDR) branca 344

identificadas como ldquoMacaxeira vermelhardquo ldquoMacaxeira Rosa Brancardquo ldquoMacaxeira Rosardquo As 345

variedades agrupadas na classe 5 foras as variedades de mandioca caracterizadas pelos 346

agricultores por apresentarem cor do coacutertex (CDR) da raiacutez branca A classe 6 agrupou 347

variedades identificadas pelos agricultores pela cor do broto foliar (CBF) verde A classe 7 348

consiste apenas da variedade ldquoMacaxeira Sementerdquo identificada pelos agricultores pela cor do 349

peciacuteolo (CDP) roxo e protuberacircncia da cicatriz foliar pouco proeminente Essa variedade 350

segundo os agricultores era fruto do nascimento espontacircneo no roccedilado poreacutem eles geralmente 351

natildeo utilizam essas variedades por apresentarem apenas uma raiz pequena e de baixo 352

rendimento Na classe 8 as variedades foram identificadas pelos agricultores pela cor do peciacuteolo 353

(CDP) verde amarelado e protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) pouco proeminente As 354

ldquoMandioca Isabel de Souzardquo ldquoMandioca Isabel trecircs galhosrdquo segundo os agricultores se 355

diferenciavam pelo maior nuacutemero de caules presentes na variedade ldquoIsabel trecircs galhosrdquo 356

Discussatildeo 357

As sete comunidades estudadas manejavam um nuacutemero consideraacutevel de variedades 358

locais A quantidade de etnovariedades registradas eacute proacutexima a encontrada por Bender et al 359

(2009) e Cavechia et al (2014) em comunidades na regiatildeo sul e sudeste por Oler e Amorozo 360

(2017) em uma comunidade tradicional na regiatildeo centro-oeste Poreacutem foi quantitativamente 361

inferior quando comparada a estudos como os de Elias et al (2001) e Kawa et al (2013) em 362

comunidades na regiatildeo amazocircnica pois possuiacuteam uma alta diversidade Essa alta diversidade 363

41

na regiatildeo amazocircnica pode estar relacionada com o fato de que essa regiatildeo eacute o provaacutevel centro 364

de origem da mandioca (M esculenta) (Allem 1994) 365

As etnovariedades registradas neste estudo estatildeo disponiacuteveis para a maioria dos 366

agricultores dessa regiatildeo e esse fator favorece a circulaccedilatildeo das etnovariedades entre as 367

comunidades locais Por isso haacute semelhanccedilas das etnovariedades utilizadas entre os agricultores 368

da mesma comunidade e entre comunidades vizinhas 369

Parte dos agricultores optam por manter uma alta frequecircncia de variedades mais 370

utilizadas enquanto que outros optam por manter etnovariedades de baixa frequecircncia 371

Conforme discutido por Amorozo (2013) os agricultores escolhem seu acervo de acordo com 372

as necessidades e contexto em que vivem A reduccedilatildeo da diversidade de etnoveriedades por 373

exemplo pode ser impulsionada por fatores que simplificam o sistema como a seleccedilatildeo de 374

etnovariedades para a produccedilatildeo de farinha resultando no cultivo de poucas ou ateacute de uma uacutenica 375

etnovariedade (Peroni amp Hanazaki 2002) mesmo em aacutereas maiores 376

377

Redes de interaccedilatildeo social 378

Com as anaacutelises de rede demonstramos que os agricultores de diferentes comunidades 379

em uma mesma regiatildeo efetivamente trocam variedades de mandioca entre si corroborando 380

com estudos realizados por Emperaire amp Eloy (2008) Pautasso et al (2012) e Cavechia et al 381

(2014) Nesses estudos os autores tambeacutem consideram que as trocas de etnovariedades por 382

meio da rede de intercacircmbio entre os agricultores eacute um mecanismo fundamental para a 383

manutenccedilatildeo da diversidade local 384

A visualizaccedilatildeo da rede demonstrou que entre as comunidades os agricultores 385

compartilham um nuacutecleo de etnovariedades mais utilizadas dentre as quais estatildeo as de maior 386

valor econocircmico e de subsistecircncia Essas de maior frequecircncia satildeo aquelas altamente produtivas 387

utilizadas pelos agricultores para atenderem agraves demandas de mercado por farinha e para o 388

consumo proacuteprio (Kawa et al 2013) 389

42

No entanto observamos que existe outro nuacutecleo de etnovariedades menos frequentes 390

Essas etnovariedades raras podem ser resultantes do processo de experimentaccedilatildeo ou 391

preferecircncias individuais dos agricultores Outra possiacutevel razatildeo para a baixa frequecircncia de 392

algumas etnovariedades poderia ser explicada pela variaccedilatildeo da nomenclatura pelos 393

agricultores que segundo Peroni amp Hanazaki (2002) pode ocorrer durante o processo de troca 394

e introduccedilatildeo de novas variedades aos roccedilados Ainda assim natildeo descartamos a hipoacutetese de que 395

essas etnovariedades raras possam ser provenientes do cruzamento entre variedades diferentes 396

cultivadas da mesma roccedilado ou em roccedilas vizinhas De acordo com Martins (2005) essas 397

variedades fruto de germinaccedilatildeo expentacircnea satildeo incorporadas aos roccedilados pelos agricultores 398

pela curiosidade em experimentar novas variedades agraves suas coleccedilotildees 399

Nesse estudo admitimos que optar por etnovariedades raras entre as comunidades 400

estudadas eacute um comportamento adotado por agricultores que manejam uma maior diversidade 401

corroborando com os estudos de Cavechia et al (2014) e Emperaire et al (2016) em regiotildees 402

uacutemidas Para esses autores etnovaridedades de baixa frequecircncia representam um subconjunto 403

das de alta frequecircncia cultivadas por agricultores que manteacutem a maior diversidade em seus 404

roccedilados Sendo assim inferimos que no geral entre as comunidades satildeo os agricultores 405

generalistas aqueles que cultivam maior diversidade os responsaacuteveis por incorporar novas 406

etnovariedades aos roccedilados 407

As decisotildees dos agricultores em manter o acervo direcionado principalmente para 408

atender a demanda de mercado por exemplo podem levar a uma homogeneizaccedilatildeo nas roccedilas 409

colocando em risco a manutenccedilatildeo da diversidade local (Peroni amp Hanazaki 2002) Como 410

discutido por Elias et al (2000) os agricultores que selecionam apenas um nuacutemero reduzido e 411

especiacutefico de variedades mais produtivas tendem a fazer com que as variedades menos 412

frequentes desapareccedilam ao longo do tempo Essa tendecircndia pode influenciar na capacidade de 413

43

resiliecircncia do sistema assim como dos agricultores em lidar com possiacuteveis adversidades 414

ambientais que possam ocorrer 415

Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 416

No geral os agricultores demonstraram uma tendecircncia em classificarseparar suas 417

diferentes etnovariedades de mandioca a partir da combinaccedilatildeo de um conjunto de sete 418

caracteres morfoloacutegicos distintos e de faacutecil percepccedilatildeo os quais natildeo tem relaccedilatildeo com o uso 419

como por exemplo a cores das raiacutezes caule e folhas Logo consideramos que esses caracteres 420

morfoloacutegicos podem ser considerados como uma forma de classificaccedilatildeo pelos agricultores 421

baseada na capacidade percepccedilatildeo das diferenccedilas morfoloacutegicas que cada etnovariedades 422

apresenta (Boster 1985) Estes resultados nos levam a entender que entre os agricultores o 423

conhecimento sobre a diversidade da mandioca estaacute relacionado ao conhecimento de 424

caracteriacutesticas morfoloacutegicas consistentes 425

A existecircncia de alguns fenoacutetipos comuns nos permitiu avaliar a classificaccedilatildeo da 426

consistecircncia da taxonomia popular entre os agricultores Por exemplo as etnovariedades 427

ldquoMaxaceira Rosardquo e ldquoMacaxeira Rosa Brancardquo e ldquoMacaxeira vermelhardquo foram agrupadas no 428

mesmo cluster (C4) por apresentaram fenoacutetipos semelhantes Notamos que os agricultores 429

classificaram essas variedades de acordo com os traccedilos morfoloacutegicos mais relevantes como a 430

cor do coacutertex da raiz rosa e cor branca da polpa O mesmo ocorreu com as etnovariedades 431

ldquoMandioca varudardquo ldquoMandioca campina da granderdquo e ldquoMandioca campinardquo caracterizadas 432

pela presenccedila do peciacuteolo verde agrupadas no cluster (C1) 433

A partir dessas evidecircncias consideramos a hipoacutetese de que as variedades mesmo 434

apresentando caracteriacutesticas morfoloacutegicas muito semelhantes estatildeo sujeitas a variaccedilatildeo 435

nomenclatural durante o processo a incorporaccedilatildeo aos roccedilados pelos agricultores pois a 436

capacidade para distinguir e nomear variedades entre os agricultores da mesma regiatildeo pode 437

variar (Sambatti et al 2001 Elias et al 2001 Mekbib 2007) Consideramos tambeacutem que pode 438

44

existir variaccedilatildeo geneacutetica entre os indiviacuteduos identificados por um mesmo nome ou entatildeo que 439

os agricultores datildeo o mesmo nome para variedades diferentes E esta situaccedilatildeo pode levar a uma 440

superestimaccedilatildeo ou subestimaccedilatildeo da diversidade de mandioca cultiva nas aacutereas de estudo 441

Sabemos que a mandioca eacute propagada vegetativamente pelos agricultores por meio de 442

estacas em sistemas de agricultura tradicional No entanto alguns variedades produzem flores 443

e sementes que germinam e podem originar outras variedades ou outros clones por meio de 444

fecundaccedilatildeo cruzada (Elias et al 2001) Nesse contexto a etnovariedade ldquoMacaxeira Sementerdquo 445

presente no cluster (C7) trata-se de um uacutenico indiviacuteduo amostrado em uma roccedila de um dos 446

agricultores Esta apresentava algumas caracteriacutesticas morfoloacutegicas distintas das demais 447

reconhecidas pelo agricultor como por exemplo a produccedilatildeo de uma raiz uacutenica e 448

consequentemente de baixo rendimento Encontramos apenas um indiviacuteduo dessa 449

etnovariedade e nossa hipoacutetese de que esta poderia ter sido originada da germinaccedilatildeo da 450

semente mesmo quando 100 dos informantes declararam natildeo dar qualquer importacircncia e 451

descartar essas ldquovariedades-voluntaacuteriasrdquo foi confirmada pelo agricultor que afirmou que se 452

tratava de uma variedade nascida da germinaccedilatildeo da semente Esse comportamento vai de 453

encontro ao estudo de Fraser et al (2012) pois apesar dos agricultores reportarem nas 454

entrevistas que conhecem essas ldquovariedades-voluntaacuteriasrdquo nenhum agricultor faz o uso delas 455

Peroni et al (1999) e Agre et al (2016) analisando morfologicamente as variedades 456

locais de mandioca mantidas por agricultores em sistemas agriacutecolas tropicais tambeacutem 457

demonstraram que os agricultores satildeo coerentes quanto a separaccedilatildeo e identificaccedilatildeo de suas 458

etnovariedades a partir da formaccedilatildeo de grupos de coesos quanto a nomenclatura local utilizada 459

No entanto para o melhor entendimento dessa diversidade aleacutem da caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica 460

o uso de anaacutelises complementares como anaacutelise molecular seria importante para tentar 461

identificar se esses grupos representam a mesma variedade com nomes distintos ou se satildeo 462

variedades distintas com o mesmo nome 463

45

Conclusatildeo 464

O estudo demonstrou que no sistema de manejo da mandioca ao niacutevel de roccedila em 465

comunidades localizadas na regiatildeo semiaacuterida de Pernambuco compotildee uma diversidade 466

intrespeciacutefica de mandioca para atender agraves demandas econocircmicas e de subsistecircncia das 467

populaccedilotildees locais 468

Com relaccedilatildeo a anaacutelise de rede demostramos que haacute um nuacutecleo de etnovariedades 469

fortemente conectado aos agricultores e sua composiccedilatildeo eacute direcionada pelas preferecircncias e 470

necessidades individuais dos agricultores que foram os fatores responsaacuteveis pelo surgimento 471

da estrutura aninhada observada na anaacutelise rede entre as comunidades deste estudo E esse 472

padratildeo aninhado observado contribui na conservaccedilatildeo das etnovariedades mais comuns mas 473

tambeacutem pode resultar em perda daquelas de menor frequecircncia ao longo do tempo 474

A caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica ldquoin siturdquo nos permitiram inferir que os agricultores 475

reconhecem as diferentes caracteriacutesticas morfoloacutegicas de suas cultivares e satildeo coerentes na 476

separaccedilatildeo de suas variedades de mandioca e macaxeira Entretanto esses resultados sugerem a 477

realizaccedilatildeo de um estudo em niacutevel de diversidade geneacutetica exploratoacuterio para identificar se as 478

consistecircncias morfoloacutegicas refletem em consistecircncias geneacuteticas elucidando assim as possiacuteveis 479

confusotildees atribuiacutedas aos nomes das etnovariedades de mandioca 480

Agradecimentos 481

Agradecemos ao liacuteder comunitaacuterio Alexandre O Nascimento aos agricultores e 482

agricultoras das comunidades pela acolhida confianccedila e pela gentileza de compartilharem 483

conosco seus conhecimentos e contribuiacuterem com este estudo Especialmente a Arlindo Ferreira 484

Edgar Antocircnio Joseacute Sebastiatildeo Juvenal Oliveira e Janete Alves Ao Laboratoacuterio de Ecologia e 485

Evoluccedilatildeo de Sistemas Socioecoloacutegicos (LEA - UFPE) E agradecemos ao CNPq pelo apoio 486

com a bolsa de estudos do primeiro autor 487

46

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ANEXOS 615

616

Nome da revista 617

Human Ecology 618

Link de acesso 619

httpsgooglDVLbFj 620

Qualis-CAPES 621

B1 em Biodiversidade 622

623

624

625

626

627

628

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630

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641

642

52

Figuras 643

644

645

Fig 1 Partes do processo de fabricaccedilatildeo de farinha de mandioca Onde a raspagem b e c 646

processo de trituraccedilatildeo e d peneiramento Foto registrada em Abril de 2017 por Mirela Santos 647

648

649

650

c

d

b

a

53

651

Fig 2 Mapa de localizaccedilatildeo geograacutefica dos Municiacutepios de Altinho e Panelas e das comunidades 652

estudadas na regiatildeo semiaacuterida do Estado de Pernambuco (Elaborado por SANTOS 2018) 653

54

654

655

656

657

Fig 3 Processo de fabricaccedilatildeo da farinha de mandioca Apoacutes a colheita as raiacutezes satildeo lavadas 658

raspadas e trituradas (a) A massa extraiacuteda eacute prensada e coada Ao sair da prensa a massa 659

peneirada (b) e em seguida eacute torrada (c) em fornos artesanais ou parcialmente mecanizados 660

Imagem registrada em janeiro de 2017 na Comunidade do Caratildeo por Mirela Santos 661

662

663

a

b c

55

664

Fig 4 a Sede da Comunidade do Caratildeo b Agricultor transportando a palma forrageira que eacute 665

um exemplo de estrateacutegia adaptativa para suprir a falta de alimento dos animais devido agrave seca 666

c Feira-livre que acontece na comunidade a cada quinze dias Imagem registrada em julho de 667

2016 na Comunidade do Caratildeo por Mirela Santos 668

669

670

Fig 5 a O agricultor nos explicava as mudanccedilas que vem fazendo em seus roccedilados para se 671

adaptar aos longos periacuteodos de seca b Quando o agricultor nos mostrava as diferentes 672

etnovariedades que mantinha em sua roccedila c Durante a pesquisa nos explicavam como era feita 673

a colheita da mandioca e como selecionavam as manivas para o proacuteximo plantio Foto registrada 674

em abril de 2017 na Comunidade do Brejo Velho por Mirela Santos 675

a

b c

c b

a

56 676

677

Fig 6 Possiacuteveis estruturas de rede que descrevem as interaccedilotildees dos agricultores (losango) 678

ligados as etnovariedades (ciacuterculos) que cultivam Onde a Aninhada b Modular c Aleatoacuteria 679

(Fonte Cavechia et al 2014 com adaptaccedilotildees) 680

681

682

683

684

685

686

687

688

689

690

691

692

693

694

695

696

697

a c b

57

698

699

700

701

702

703

704

705

706

707

Fig 7 Correlaccedilatildeo de Spearman entre a diversidade de etnovariedades de mandiocas conhecidas 708

como cultivadas e variedades atualmente cultivadas por agricultor e as variaacuteveis 709

socioeconocircmicas Onde Nvc= nuacutemero de citadas como cultivadas Nve= nuacutemero de variedades 710

atualmente cultivadas Esc= escolaridade Id= idade Gen= gecircnero Tr= tamanho do roccedilado 711

Exp= experiecircncia na agricultura Sld= renda Nr= nuacutemero de roccedilados Cores distintivas 712

representam correlaccedilotildees significativas (Ple005) 713

714

58

715

Fig 8 Modelo individual de rede de etnovariedades de mandioca citadas (esquerda) por 716

agricultores como cultivadas (direita) nos Municiacutepios de Altinho e Panelas As redes foram 717

desenhadas com o pacote bipartite (Dormann et al 2017) usando o software R (R CORE 718

TEAM 2017) 719

720

59

721

Fig 9 Anaacutelise de Correspondecircncia Muacuteltipla das 17 etnovariedades de mandioca considerando 722

os sete descritores morfoloacutegicos utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo em roccedilas de 723

agricultores tradicionais de sete comunidades no semiaacuterido de Pernambuco 724

725

726

727

728

729

730

731

732

733

734

735

736

737

McCambadinha

McCampina

McCampinaDaGrande

McCampinaRasteira

McCampinaVaruda

McGauba

McIsabelDeSouza

McIsabelTresGalhos

McOlhoDePombo

McOlhoVerde

McPretinha

McPretona

MxBranca

MxRosa

MxRosaBrancaMxRosaVermelha

MxSemente

CFD_Verde_Arroxeado

CFD_Verde_ClaroCFD_Verde_Escuro

CBF_Roxo

CBF_Verde_ArroxeadoCBF_Verde_Claro

CBF_Verde_Escuro

CDP_Verde

CDP_Verde_Amarelado

CDP_Verde_Avermelhado

CDP_Vermelho

CEC_Cinza

CEC_Dourado

CEC_Laranja

CEC_Marrom_Claro

CEC_Marrom_Escuro

CEC_Prateado

CEC_Verde_AmareladoCicatriz_M

Cicatriz_P

PDR_Branco

PDR_Creme

CDR_BrancoCDR_Creme CDR_Rosa

-4

-2

0

2

4

-4 -2 0 2 4

Dim1 (206)

Dim

2 (

162

)

MCA - Biplot

00

10

Hierarchical Clustering

inertia gain

McC

am

pin

aV

aru

da

McC

am

pin

aD

aG

rande

McC

am

pin

a

McG

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MxR

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MxR

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em

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McIsabelT

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McIsabelD

eS

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McO

lhoD

eP

om

bo

00

05

10

15

Hierarchical Classification

Heig

ht

C1 C2 C3 C4 C5 C6 C7 C8

Fig 10 Agrupamento hieraacuterquico das 17 etnovariedades de mandioca caracterizadas de acordo

com os descritores utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo

60

Tabelas 738

739

Tabela 1 Caracteres e estados utilizados pelos agricultores como descritores botacircnicos para 740

caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das etnovariedades de mandioca 741

Caracter Sigla Estados

Folha

Cor da folha desenvolvida CFD 1- verde claro 2- verde escuro 3- verde arroxeado 4- roxo

Cor do broto foliar CBF 1- verde claro 2- verde escuro 3- verde arroxeado 4- roxo

Cor do peciacuteolo CDP 1- verde amarelado 2- verde 3- verde avermelhado 4- roxo

5- vermelho

Caule

Cor externa do caule CEC 1- laranja 2- verde amarelado 3- dourado 4- marrom claro

5- prateado 6- cinza 7- marrom escuro 8- verde

Protuberacircncia da cicatriz foliar PCF 1- pouco proeminente 2- muito proeminente

Raiacutez

Cor da poupa da raiz PDR 1- branco 2- creme

Cor do coacutertex da raiacutez CDR 1- rosa 2- branco 3- creme

742

743

744

745

746

747

748

749

750

751

61

Tabela 2 Lista das 22 etnovariedades de mandiocas citadas (132 citaccedilotildees) como cultivadas nas 752

comunidades pertencentes aos Municiacutepios de Altinho (Caratildeo n=8) e ao Municiacutepio de Panelas 753

(Aracuatilde Satildeo Joseacute do Bola Brejo Velho Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima e Lajeiro 754

Dantas n=21) 755

Etnovariedade Frequecircncia () Ranking Saliecircncia

Macaxeira Rosa 66 179 0472

Mandioca Isabel de Souza 48 179 0372

Mandioca Campina 24 217 0148

Macaxeira Branca 20 210 0134

Macaxeira Rosa branca 18 122 0168

Mandioca Pretona 16 338 0082

Mandioca Cambadinha 12 283 0071

Mandioca Isabel trecircs galhos 10 180 0075

Mandioca Gauacuteba 10 260 0070

Mandioca Pretinha 8 225 0053

Mandioca Peacute de pombo 4 400 0011

Mandioca Olho verde 4 350 0012

Macaxeira Rosinha 4 200 0027

Mandioca Campina varuda 4 200 0032

Mandioca Campina rasteira 4 300 0021

Mandioca Caboquinha 2 500 0007

Macaxeira Rasteira 2 200 0013

Macaxeira Paraacute 2 100 0020

Mandioca Barra ferro 2 300 0007

Mandioca Campina da grande 2 100 0020

Mandioca Olho de pombo 2 300 0010

Mandioca Jasmim 2 600 0006

756

757

758

62

Tabela 3 Lista de 17 etnovariedades atualmente cultivadas nos roccedilados das comunidades em 759

estudo 760

Ca Ar Bo Br Jb Jc Ld

Etnovariedade

Macaxeira Branca x x x x

Macaxeira Rosa

x x x x x x

Macaxeira Rosa Branca x x x x

Macaxeira Rosa Vermelha

x

Macaxeira Semente

x

Mandioca Cambadinha x

x

Mandioca Campina

x

x

x

Mandioca Campina da Grande x

Mandioca Campina Rasteira

x

Mandioca Campina Varuda

x

Mandioca Gauacuteba

x

Mandioca Isabel de Souza

x x x

Mandioca Isabel trecircs Galhos

x

x

Mandioca Olho de Pombo

x

Mandioca Olho Verde

x

Mandioca Pretinha

x

Mandioca Pretona x x x

Comunidades Ca= Caratildeo Ar=Aracuatilde Bo= Satildeo Joseacute do Bola Jb= Japaranduba de Baixo 761

Jc= Japaranduba de Cima Ld= Lajedo Dantas 762

763

764

765

766

767

768

63

Tabela 4 Descriccedilatildeo das classes do agrupamento por meacutetodo de Ward agrupadas pelo conjunto 769

dos descritores mais significativos para a caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das variedades de mandioca 770

Classes Descritores in situ p-valor

C1 Cor do peciacuteolo (CDP) 0016

C2 Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023

C3 Cor do peciacuteolo (CDP) 0012

C4 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0004

Cor da poupa da raiacutez (PDF) 0021

C5 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0003

C6 Cor do broto foliar (CBF) 0002

C7 Cor da folha desenvolvida (CFD) 0004

Cor externa do caule (CEC) 0040

C8 Cor do peciacuteolo (CDP) 0005

Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023

Valores de Ple005 satildeo significativos 771

772

18

No estudo realizado por AMOROZO (2000) por exemplo os agricultores geralmente

classificavam as variedades que tinham raiacutezes brancas como ldquobravasrdquo e aquelas que tinham

raiacutezes vermelhas como ldquomansasrdquo embora eles reconhecessem algumas exceccedilotildees Em pesquisas

realizados por FARALDO et al (2000) MKUMBIRA et al (2003) ELIAS et al (2004) e

PERONI et al (2007) os agricultores foram consistentes na distinccedilatildeo de suas variedades

lsquolsquodocesrdquo e ldquoamargasrsquorsquo e com base no conhecimento de caracteres morfoloacutegicos distintos os

nomes das variedades refletiram na diversidade geneacutetica A partir dessas evidecircncias podemos

inferir que o conhecimento local dos agricultores associado agrave experiecircncia eacute importante natildeo

somente para o reconhecimento das variedades locais por si soacute mas tambeacutem por conter

informaccedilotildees relevantes sobre o papel que esses recursos podem desempenhar nos sistemas

agriacutecolas de pequena escala e para as populaccedilotildees locais (GADGIL et al 1993)

O conhecimento tradicional dos agricultores trata-se de um conjunto de saberes praacuteticas

e crenccedilas baseadas no contato direto nas observaccedilotildees experimentaccedilotildees diaacuterias e nas

dependecircncias econocircmicas eou de subsistecircncia dos recursos que satildeo geralmente transmitidas

oralmente dentro e entre as geraccedilotildees (AMOROZO 2000 DOMINGUES ARRUDA 2001

BEGOSSI 2004) Sendo assim o conhecimento tradicional de agricultores que praticam a

agricultura de pequena escala realizada em comunidades tradicionais eacute importante pois tem

garantido a perpetuaccedilatildeo dos conhecimentos e das praacuteticas agriacutecolas desenvolvidas durante

milhares de anos entre os agroecossistemas locais

22 Manejo tradicional em roccedilas e diversidade intraespeciacutefica da mandioca

A agricultura de pequena escala praticada em comunidades locais tem garantido a

perpetuaccedilatildeo do conhecimento sobre o manejo e a diversidade de espeacutecies agriacutecolas O sistema

de cultivo em roccedilas eacute tipicamente praticado por agricultores de comunidades tradicionais em

aacutereas uacutemidas no mundo inteiro As roccedilas satildeo aacutereas de cultivo de pequena escala localizadas

dentro de comunidades proacuteximas umas das outras que se tornaram objeto de estudo em vaacuterias

pesquisas antropoloacutegicas etnobotacircnicas geneacuteticas e ecologias especialmente por apresentarem

grande diversidade de espeacutecies cultivadas e pelo manejo destinar-se agrave subsistecircncia de grupos

familiares de agricultores de pequena escala (PUJOL et al 2007)

Aleacutem da diversidade de espeacutecies outra caracteriacutestica dessas roccedilas eacute o grande nuacutemero de

variedades dentro de cada espeacutecie Esta diversidade intraespeciacutefica pode ser referida como

etnovariedades que eacute um termo utilizado para definir grupos de indiviacuteduos identificados por

19

nomenclatura popular local a qual pode expressar elementos do contexto cultural econocircmico

e social das populaccedilotildees associado ao uso (PERONI MARTINS 2000 EMPERAIRE

PERONI 2007)

Dentre as vaacuterias espeacutecies cultivadas em roccedilas a mandioca (M esculenta) em seu

nuacutemero de etnovariedades eacute uma das principais culturas de importacircncia econocircmica e

nutricional para populaccedilotildees que utilizam esse sistema Sua diversidade pode estar relacionada

ao sistema reprodutivo da cultura ao modo de gestatildeo da agricultura pelas pressotildees de seleccedilatildeo

exercidas pelo proacuteprio homem ou ateacute mesmo por causas naturais (MARTINS 2005

CLEMENT et al 2010)

As caracteriacutesticas de manejo empregadas no cultivo da mandioca em roccedilas favorecem

a elevada diversidade intraespeciacutefica dessa cultura O modo de propagaccedilatildeo da mandioca eacute feito

pelos agricultores por meios de estacas (manivas) que satildeo selecionadas de acordo com as

caracteriacutesticas desejaacuteveis que elas apresentam seja para fins econocircmicos ou utilitaacuterios Apesar

de propagada vegetativamente que eacute um meacutetodo usado pelas populaccedilotildees humanas para plantio

e multiplicaccedilatildeo de plantas a mandioca natildeo perdeu a sua capacidade de reproduccedilatildeo sexual

sendo esse um aspecto importante para dinacircmica evolutiva da cultura (PUJOL et al 2007)

Esse meacutetodo de propagaccedilatildeo permite o fluxo e a circulaccedilatildeo do material geneacutetico entre os

diferentes roccedilados por meio de um sistema de redes sociais de troca de etnovariedade de

mandioca entre os agricultores tanto a niacutevel regional (entre comunidades) quanto em escalas

menores (entre vizinhos e parentes) (ELIAS et al 2004 EMPERAIRE OLIVEIRA 2010)

Segundo Emperaire e Peroni (2007) esse mecanismo de troca de germoplasma eacute uma grande

forccedila de dispersatildeo que resulta na agrobiodiversidade regional mais elevada pois estabelece

viacutenculos entre as diferentes roccedilas e promove oportunidades de seleccedilatildeo e cruzamento entre as

diferentes etnovariedades (EMPERAIRE ELOY 2008)

Atributo bioloacutegicos da espeacutecie tambeacutem estatildeo relacionados com o aumento da

diversidade intrespeciacutefica como a capacidade de dormecircncia das sementes e a dispersatildeo

autocoacuterica que propiciam o desenvolvimento de um banco de sementes no solo ao longo do

tempo permitindo o cruzamento entre as novas variedades adquiridasplantadas e entre estas

com variedades que existiram anterioemente na mesma aacuterea (PERONI MARTINS 2000

MARTINS 2005) A presenccedila dessas ldquoplantas-voluntaacuteriasrdquo ou seja aquelas nascidas de

germinaccedilatildeo expontacircnea eacute um dos eventos identificados como precursores de diversidade

intraespeciacutefica nas populaccedilotildees de mandioca cultivadas (PUJOL et al 2007)

20

Contudo muitos esforccedilos vecircm sendo empregados em estudos que observam a ecologia

da mandioca e o manejo agriacutecola associado agrave geraccedilatildeo de diversidade varietal e geneacutetica na

espeacutecie para tentar entender como esses mecanismos influenciam na diversidade de

etnovariedades locais e na sua dinacircmica (PUJOL et al 2007 KOMBO et al 2012 ELIAS et

al 2001)

23 Redes sociais de troca e circulaccedilatildeo de etnovariedades de mandioca

Sistemas agriacutecolas de pequena escala dependem de uma grande diversidade de espeacutecies e

variedades cultivadas e do fluxo destas por meio de redes sociais de troca material vegetativo

estabelecidas entre agricultores podendo o alcance da circulaccedilatildeo variar em escala local eou

regional (EMPERAIRE ELOY 2008) As trocas dependem de dois mecanismos principais

dos padrotildees de interaccedilatildeo social entre os agricultores e dos padrotildees de uso dos recursos

(CAVECHIA et al 2014) e as redes variam em funccedilatildeo das caracteriacutesticas culturais

econocircmicas e sociais das comunidades (EMPERAIRE PERONI 2007 PAUTASSO et al

2012)

No caso da mandioca (Manihot esculenta Crantz) a propagaccedilatildeo se da por estaquia o que

favorece a troca de material de vegetativo entre os agricultores e permite o fluxo entre

variedades locais e regionais (MARTINS 2005) As trocas de variedades de mandioca entre os

agricultores geralmente acontecem por alguma circunstacircncia que leve o agricultor a pedir o

material propagativo para o plantio com por exemplo para o plantio de uma nova roccedila ou por

alguma fitopatologia deslocaccedilatildeo ou estaccedilotildees de chuva e seca prolongadas (EMPERAIRE et

al 2001 EMPERAIRE ELOY 2008) Em alguns casos como no de algumas comunidades

agriacutecolas de pequena escala as redes de casamento satildeo utilizadas para a circulaccedilatildeo de

variedades (EMPERAIRE PERONI 2007 DELEcircTRE et al 2011)

O processo de manutenccedilatildeo da diversidade nesses sistemas resulta do interesse ou da

necessidade do agricultor em adquirir ou abandonar variedades testar e selecionar novas

etnovariedades de mandioca Dentre os fatores que dirigem a seleccedilatildeo de etnovariedades estatildeo

as preferecircncias individuais dos agricultores Alguns podem optar por cultivar todas as

etnovariedades comuns eou disponiacuteveis na regiatildeo enquanto que outros optam apenas por

manter um conjunto especiacutefico dessa diversidade (CAVECHIA et al 2014) Seja para atender

a alguma demanda individual pelo interesse em aumentar a produtividade ou pela necessidade

21

de conservar o material vegetativo para o proacuteximo plantio no caso de perda de material por

algum fator ambiental adverso (EMPERAIRE et al 2001 EMPERAIRE ELOY 2008)

Nesse sentido satildeo os agricultores os maiores responsaacuteveis por determinar como e quais

etnovariedades seratildeo compartilhadas e mantidas entre as comunidades (PAUTASSO et al

2012) E a chave para a compreensatildeo da dinacircmica da diversidade varietal eacute por meio desse

intercacircmbio e dos fatores que influenciam essa conectividade entre as comunidades pois essas

redes representam um grande impacto sobre a diversidade de variedades cultivadas E eacute por

meio dessas redes que se diminui coletivamente os riscos de perda total de diversidade geneacutetica

local (EMPERAIRE ELOY 2008)

Desse modo as relaccedilotildees estabelecidas pelos agricultores entre as comunidades por meio

das redes troca de germoplasma podem ter consequecircncias importantes sobre a diversidade

varietal da mandioca E compreender os processos envolvidos na manutenccedilatildeo ou perda de

germoplasma nos sistemas agriacutecolas eacute importante uma vez que compreendendo a maneira

como os agricultores usam esse conjunto de etnovariedades de mandioca e as compartilham

vai trazer importantes discussotildees a cerca da qualidade e a quantidade do recurso que seraacute

mantido transmitido ou perdido dentro dos sistemas ao longo do tempo

22

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25

VARIACcedilAtildeO INTRAESPECIacuteFICA CONHECIMENTO E MANEJO

LOCAL DE MANDIOCA (Manihot esculenta Crantz) NO SEMIAacuteRIDO DE

PERNAMBUCO NORDESTE DO BRASIL

Artigo submetido ao perioacutedico Human Ecology

Normas para submissatildeo em anexos

26

Variaccedilatildeo intraespeciacutefica conhecimento e manejo local de mandioca 1

(Manihot esculenta Crantz) no semiaacuterido de Pernambuco Nordeste do 2

Brasil 3

Mirela Nataacutelia Santos12 Jhonatan Rafael Zaacuterate-Salazar1 Reginaldo de Carvalho1 amp 4

Ulysses Paulino de Albuquerque2 5

6

1 Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo em Botacircnica Departamento de Biologia Rua Dom Manuel de Medeiros 7

Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) sn Dois Irmatildeos Recife Pernambuco 52171-8

900 Brasil 9

2 Laboratoacuterio de Ecologia e Evoluccedilatildeo de Sistemas Socioecoloacutegicos (LEA) Departamento de Botacircnica 10

Avenida Professor Moraes Rego Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) sn Cidade 11

Universitaacuteria Recife Pernambuco 50670-901 Brasil 12

Resumo 13

Historicamente a espeacutecie Manihot esculenta Crantz (mandioca) eacute uma espeacutecie de grande valor 14

econocircmico e de subsistecircncia para populaccedilotildees em comunidades tradicionais Variedades de 15

mandioca satildeo selecionadas com base nos interesses dos agricultores conduzindo uma evoluccedilatildeo 16

especiacutefica sobre a geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da agrobiodiversidade local Diante disso a mandioca 17

tornou-se espeacutecie-modelo em estudos que buscam compreender como os padrotildees e estrateacutegias 18

adotadas pelas populaccedilotildees humanas influenciam na diversidade intraespeciacutefica local em regiotildees 19

tropicais No entanto os fatores que influenciam a diversidade da mandioca em regiotildees 20

semiaacuteridas ainda natildeo foram bem documentados Nesse sentido objetivo geral do estudo foi 21

compreender os processos envolvidos na dinacircmica da diversidade agriacutecola em sete 22

comunidades tradicionais localizadas na regiatildeo semiaacuterida do estado de Pernambuco (Nordeste 23

do Brasil) por meio do acesso ao conhecimento dos agricultores quanto as praacuteticas de menejo 24

para tentar quais quais fatores podem estar relacionados a geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da diversidade 25

local Com os resultados da anaacutelise de redes verificamos uma alta diversidade de 26

etnovariedades cultivadas e a sua composiccedilatildeo eacute determinada pelas preferecircncias e 27

comportamentos individuais dos agricultores que foram provavelmente os mecanismos 28

27

responsaacuteveis pelo surgimento da estrutura aninhada observada na anaacutelise rede Esse padratildeo 29

aninhado contribui na conservaccedilatildeo das etnovariedades mais comuns mas tambeacutem pode resultar 30

em perda daquelas de menor frequecircncia ao longo do tempo 31

Palavras-Chave Agricultura tradicional Agricultura de sequeiro Agrobiodiversidade 32

Etnobiologia Plantas alimentiacutecias 33

34

Introduccedilatildeo 35

Historicamente as populaccedilotildees humanas foram acumulando conhecimentos sobre 36

praacuteticas da agricultura desenvolvendo teacutecnicas adaptadas ao meio natural e assim foram 37

domesticando uma grande variedade de cultivos alimentares para garantirem a sua 38

sobrevivecircncia (Balleacute 2006 Clement et al 2010) Essa interaccedilatildeo pessoas-plantas por meio do 39

cultivo e manejo das espeacutecies vegetais considerando tanto os aspectos sociais quanto naturais 40

dos sistemas dinacircmicos eacute uma importante ferramenta para o entendimento do conhecimento 41

dos agricultores sobre os agroecossistemas locais ( Alcorn 1995) 42

Aleacutem disso essas interaccedilotildees vem contribuindo com alteraccedilotildees nas populaccedilotildees vegetais 43

por meio da seleccedilatildeo artificial Essas alteraccedilotildees resultaram em mudanccedilas na estrutura geneacutetica 44

dessas populaccedilotildees que satildeo determinadas geralmente pela seleccedilatildeo de caracteriacutesticas fenotiacutepicas 45

fisioloacutegicas eou econocircmicas das plantas refletidas em classificaccedilotildees e nomenclaturas 46

especiacuteficas baseadas em percepccedilotildees individuais (Carmona amp Casas 2005) 47

Muitos pesquisadores tentam explicar o papel dos agricultores de pequena escala na 48

seleccedilatildeo classificaccedilatildeo e manutenccedilatildeo da agrobiodiversidade local em roccedilas tradicionalmente 49

manejas em regiotildees uacutemidas (Emperaire amp Peroni 2007 Emperaire amp Eloy 2008 Marchetti et 50

al 2013) Essas roccedila satildeo aacutereas de cultivo caracterizadas por conter uma alta diversidade 51

intraespeciacutefica de espeacutecies (Martins 2005) Dentre elas a Manihot esculenta Crantz 52

28

(mandioca) Euphorbiaceae em sua diversidade de etnovariedades eacute a espeacutecie mais importante 53

sob ponto de vista econocircmico e de subsistecircncia para as populaccedilotildees locais e mais cultivada 54

devido a sua grande adaptabilidade ambiental e baixos custos de gestatildeo (Elias et al 2001) 55

A alta diversidade da mandioca nessas aacutereas pode ser atribuiacuteda agrave possibilidade de 56

introduccedilatildeo de novas variedades via reproduccedilatildeo sexuada associada a ecologia da espeacutecie Esse 57

mecanismo permite o fluxo gecircnico entre as variedades de mandioca cultivadas do mesmo local 58

e entre estas com variedades de locais vizinhos (Pujol et al 2007) Outro mecanismo que 59

favorece essa diversidade eacute agrave circulaccedilatildeo de material propagativo por meio redes sociais de troca 60

variedades entre os agricultores (Pujol et al 2005 Emperaire amp Peroni 2007 Clement et al 61

2010) Esse mecanismo de troca eacute fundamental para o estabelecimento de interaccedilotildees entre as 62

diferentes aacutereas de roccedila promovendo oportunidade de seleccedilatildeo e cruzamento entre os diferentes 63

conjuntos de variedades aleacutem de permitir que este conjunto seja conservado (Emperaire amp Eloy 64

2008) 65

Diante desse cenaacuterio podemos observar que a agrobiodiversidade local natildeo eacute fruto 66

apenas de fatores naturais mas eacute tambeacutem influenciada pelas caracteriacutesticas culturais e 67

socioeconocircmica das populaccedilotildees locais refletidas especialmente no conhecimento e manejo 68

local Nesse sentido o presente estudo visa investigar as interaccedilotildees entre agricultores 69

tradicionais de comunidades rurais estabelecidas na regiatildeo semiaacuterida de Pernambuco 70

O objetivo geral eacute compreender os processos envolvidos na dinacircmica da diversidade 71

agriacutecola por meio do acesso ao conhecimento dos agricultores quanto as praacuteticas de menejo e 72

entender quais quais fatores podem estar relacionados a geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da diversidade 73

local Para esse estudo a mandioca foi escolhida como modelo devida agrave sua importacircncia 74

econocircmica e de subsistecircncia para comunidades locais Os objetivos especiacuteficos foram (i) 75

caracterizar o manejo da agricultura de sequeiro bem como analisar se os paracircmetros 76

socioeconocircmicos influenciam na diversidade local (ii) registrar as etnovariedades atualmente 77

29

cultivadas e identificar os diferentes criteacuterios morfoloacutegicos utilizados pelos agricultores para a 78

seleccedilatildeo e classificaccedilatildeo das etnovariedadese (iii) descrever a estrutura da rede de interaccedilatildeo entre 79

os agricultores e a diversidade de etnovariedades de mandioca cultivadas para tentar entender 80

como essas relaccedilotildees podem influenciar na manutenccedilatildeo ou perda da diversidade local 81

Material e meacutetodos 82

Aacutereas de estudo 83

Amostramos sete comunidades rurais estabelecidas na regiatildeo semiaacuterida de 84

Pernambuco Nordeste do Brasil Uma das comunidades (Caratildeo) pertence ao Municiacutepio de 85

Altinho (ldquo8deg 29rsquo 10rdquo S e 36deg 03rsquo 49rdquo W) e as demais (Satildeo Joseacute do Bola Brejo velho 86

Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima Lajedo Dantas e Aracuatilde) ao Municiacutepio de 87

Panelas (8 deg 39 48 S e 36 deg 01 23 W) (Fig 2) 88

O modelo agriacutecola adotado na regiatildeo segue o sistema tradicional de sequeiro4 e todas 89

as comunidades em estudo possuem histoacuterico de cultivo de mandioca (M esculenta) As aacutereas 90

de cultivo satildeo estabelecidas por unidade familiar e as atividades satildeo realizadas em sua maioria 91

por homens tendo cada agricultor cerca de um a dois hectares de aacuterea para plantio Aleacutem da 92

mandioca os cultivos mais utilizados na comunidades satildeo milho (Zea mays) e feijatildeo (Phaseolus 93

sp) 94

Para os membros das comunidades a produccedilatildeo da farinha de mandioca (Fig 3) eacute uma 95

das atividades agriacutecolas mais importantes tanto pelo seu papel na dieta alimentar quanto pela 96

importacircncia social e econocircmica 97

Caracteriacutesticas das comunidades do estudo 98

A comunidade do Caratildeo localiza-se sob domiacutenio de Caatinga caracterizado por climas 99

quentes e secos com regimes escassos de chuvas correspondente ao tipo BSrsquoh segundo a 100

4 Eacute o cultivo praticado sem irrigaccedilatildeo em regiotildees onde a pluviosidade eacute diminuta

30

classificaccedilatildeo climaacutetica de Koumlppen A vegetaccedilatildeo eacute composto por espeacutecies perenes que 101

conseguem sobreviver mesmo em periacuteodos de seca e espeacutecies anuais que aparecem apenas em 102

periacuteodos com chuva (Cruz et al 2013) 103

De acordo os dados de precipitaccedilatildeo do Laboratoacuterio de Anaacutelise e Processamento de 104

Imagens de Sateacutelites (LAPIS) no ano de 2012 foi registrada a menor meacutedia anual de 105

precipitaccedilatildeo dos uacuteltimos 10 anos para essa regiatildeo (3784 mm) Essa realidade ambiental quando 106

comparada com estudo realizado por de Sieber e colaboradores (2011) na mesma comunidade 107

observa-se que houve uma diminuiccedilatildeo considerada das praacuteticas agriacutecolas realizadas pelos 108

membros da comunidade culminando em uma seacuterie de prejuiacutezos aos agricultores como a perda 109

de plantaccedilotildees e animais Essa perda de produtividade afetou a estrutura econocircmica da 110

comunidade uma vez que a principal fonte de subsistecircncia das famiacutelias eacute a agricultura 111

Associada as atividades agriacutecolas os moradores complementam a dieta e a renda 112

familiar com a venda dos excedentes da produccedilatildeo em feiras-livres ou centros comerciais da 113

regiatildeo (Cruz et al 2013) E com a pecuaacuteria de pequena escala bovina caprina e com avicultura 114

No entanto a diminuiccedilatildeo da forragem natural e cultivada causada pela escassez de chuvas 115

associada aos elevados custos envolvidos na compra de raccedilatildeo levou muitos animais agrave morte 116

(Fig 4) 117

No Municiacutepio de Altinho a comunidade do Caratildeo foi inicialmente escolhida devido ao 118

reconhecimento preacutevio do registro de agricultores realizado em estudos desenvolvidos pelo 119

nosso grupo de pesquisa facilitando assim o acesso agraves informaccedilotildees necessaacuterias para o 120

desenvolvimento da pesquisa 121

As comunidades Aracuatilde Brejo Velho Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima 122

Lajedo Dandas e Satildeo Joseacute do Bola amostradas no estudo pertencem ao Municiacutepio de Panelas 123

que se limita ao Norte com o Municiacutepio de Altinho Essas comunidades estatildeo localizadas em 124

31

no domiacutenio morfoclimaacutetico de Caatinga O clima eacute do tipo semiaacuterido Bsrsquoh segundo a 125

classificaccedilatildeo climaacutetica de Koumleppen 126

A maior parte dos membros dessas comunidades assim como no Caratildeo tecircm como 127

principal fonte de subsistecircncia a agricultura de sequeiro principalmente o cultivo da mandioca 128

(Fig 5) Como renda extra a pecuaacuteria de pequeno porte com criaccedilatildeo bovina caprina e 129

avicultura sendo os excedentes dos alimentos produzidos vendidos em feiras locais ou para 130

escolas 131

As atividades agriacutecolas entre as comunidades tambeacutem foram duramente afetadas pela 132

seca na regiatildeo nos uacuteltimos anos A escassez de chuvas desestimulou o plantio a produccedilatildeo de 133

mandioca foi fortemente comprometida e a colheita foi adiada devido ao subdesenvolvimento 134

das raiacutezes gerando impactos econocircmicos para os membros das comunidades 135

As comunidades amostradas neste muniacutecipio foram escolhidas em funccedilatildeo das 136

indicaccedilotildees dos agricultores entrevistados a princiacutepio na comunidade do Caratildeo que reportaram 137

manter viacutenculos sociais com os agricultores do municiacutepio vizinho 138

Coleta de dados 139

Acessamos as comunidades com a ajuda de um liacuteder comunitaacuterio (Alexandre O 140

Nascimento) em companhia de outros pesquisadores que desenvolviam pesquisas na regiatildeo 141

Previamente as entrevistas todos objetivos e procedimentos para a realizaccedilatildeo da pesquisa foram 142

apresentados aos entrevistados e todos que aceitaram participar foram convidados a assinar um 143

Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) de acordo com a Resoluccedilatildeo 46612 do 144

Conselho Nacional de Sauacutede concordando com a realizaccedilatildeo das entrevistas e avaliaccedilotildees 145

morfoloacutegicas em campo O presente trabalho foi submetido ao Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa da 146

Universidade de Pernambuco (UPE) 147

32

Em todas as comunidades o meacutetodo de acesso ao informante foi o mesmo a partir do 148

primeiro contato com um informante-chave identificamos outros potenciais agricultores 149

seguindo a teacutecnica de ldquobola de neverdquo (Albuquerque et al 2014a) Esse meacutetodo consistiu na 150

amostragem intencional dos participantes e nesse particular os agricultores chefes de famiacutelia 151

(ge 18 anos) da regiatildeo que declararam cultivar mandioca (M esculenta) em suas roccedilas 152

Reunimos informaccedilotildees socioeconocircmicas desses agricultores tais como nome idade gecircnero 153

escolaridade renda experiecircncia na agricultura e tamanho da aacuterea de cultivo para tentar 154

identificar se esses paracircmetros socioeconocircmicos tecircm uma relaccedilatildeo com a agrobiodiversidade 155

local 156

Em seguida conduzimos entrevistas semiestruturadas (Albuquerque et al 2014b) com 157

o objetivo de caracterizar o modo de vida dos agricultores o manejo da agricultura bem como 158

obter dados sobre o conhecimento uso e caracterizaccedilatildeo das etnovariedades de mandioca 159

5cultivadas Aleacutem disso neste momento tambeacutem aplicamos a teacutecnica da lista livre 160

(Albuquerque et al 2014b) a fim de registrar as variedades de mandioca atualmente cultivadas 161

pelos agricultores e identificar as de maior importacircncia local Apoacutes as entrevistas realizamos 162

visitas aos roccedilados para o registro fotograacutefico georreferenciamento das roccedilas e caracterizaccedilatildeo 163

morfoloacutegica das variedades cultivadas 164

Entrevistamos 50 agricultores no total distribuiacutedos nas sete comunidades Caratildeo (3) 165

Satildeo Joseacute do Bola (10) Brejo velho (7) Japaranduba de Baixo (7) Japaranduba de Cima (8) 166

Lajedo Dantas (9) e Aracuatilde (6) Destes 10 satildeo mulheres e 40 homens com idade variando entre 167

31 e 82 anos A maioria dos entrevistados natildeo apresentava instruccedilatildeo formal (46) mais da 168

metade eram aposentados (56) e os demais apresentaram renda inferior a um salaacuterio miacutenimo 169

5 Entende-se por etnovariedade de mandioca o conjunto de variedades intraespeciacuteficas de mandioca (M esculenta)

reconhecidas pelos agricultores por nomenclatura popular local (Peroni 2004)

33

O tempo meacutedio de experiecircncia na agricultura foi de 40 anos Cada agricultor possui entre um e 170

dois roccedilados (aacuterea de plantio) com aproximadamente um a dois hectares 171

Redes de interaccedilatildeo social 172

Confeccionamos a rede que descreve as interaccedilotildees entre os agricultores e as 173

etnovariedades cultivadas a partir de uma matriz de incidecircncia R (presenccedilaausecircncia) onde nas 174

linhas estavam as etnovariedades de mandioca cultivadas (j) e nas colunas os agricultores locais 175

(i) O elemento Rij dessa matriz foi 1 (um) no caso de a etnovariedade j ser cultivada pelo 176

agricultor i caso contraacuterio seria atribuiacutedo 0 (zero) As interaccedilotildees entre os agricultores e as 177

etnovariedades foram descritas em dois modos (Pires et al 2011) onde os ldquonoacutesrdquo da esquerda 178

representam os agricultores que foram vinculados aos ldquonoacutesrdquo da direita representados pelas 179

etnovariedades citadas durante as entrevistas Esses ldquonoacutesrdquo seriam o espelho das decisotildees dos 180

agricultores em manter um determinado conjunto local de etnovariedades em suas roccedilas 181

Avaliamos a estrutura da rede que conecta os agricultores agraves etnovariedades cultivadas 182

a partir de trecircs cenaacuterios hipoteacuteticos (Fig 6) segundo Cachevia et al (2014) No primeiro se os 183

agricultores apresentassem diferentes graus de seletividade para a utilizaccedilatildeo de suas 184

etnovariedades a estrutura seria aninhada (Fig 6a) Isso significa que alguns agricultores 185

cultivam vaacuterias etnovariedades enquanto que outros cultivam o subconjunto mais 186

disponiacutevelcomum dessas etnovariedades Em segundo lugar se a rede apresentasse uma 187

estrutura modular (Fig 6b) significaria que os agricultores apresentam semelhanccedila na seleccedilatildeo 188

do recurso ou seja subgrupos de agricultores cultivam subgrupos distintos de etnovariedades 189

regionalmente disponiacuteveiscomuns E o terceiro se os agricultores natildeo apresentassem 190

preferecircncias quanto a seleccedilatildeo das etnovariedades entatildeo a rede apresentaria uma estrutura 191

aleatoacuteria (Fig 6c) 192

O objetivo da anaacutelise de rede nesse estudo foi tentar entender se o conjunto de 193

etnovariedades presentes no local do estudo constituem uma subamostra de um conjunto mais 194

34

amplo no caso de um alto grau de aninhamento ou se a sua composiccedilatildeo eacute determinada por 195

variaacuteveis locais (Ulrich 2008) Onde as conexotildees entre os informantes e as etnovariedades 196

representam as decisotildees dos agricultores de manter um conjunto determinado de variedades de 197

mandioca dentre as comunidades Esta anaacutelise tambeacutem nos permitiu identificar quais os nuacutecleos 198

de etnovariedades que apresentam maior conexatildeo com os diferentes perfis dos agricultores 199

Diversidade fenotiacutepica 200

Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 201

Apoacutes as entrevistas buscamos identificar quais os caracteres morfoloacutegicos considerados 202

mais importantes para a diferenciaccedilatildeo das etnovariedades de mandioca a partir do seguinte 203

questionamento ldquoQuais as diferenccedilas que vocecirc reconhece para separar uma qualidade de 204

mandioca (variedade) de uma outrardquo Assim os agricultores mencionaram quais os criteacuterios 205

mais importantes utilizados para a caracterizaccedilatildeo de suas etnovariedades 206

Compilamos uma listagem dessas caracteriacutesticas baseada nas indicaccedilotildees dos 207

agricultores e a partir delas selecionamos os caracteres morfoloacutegicos mais citados para a 208

caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica ldquoin siturdquo tais como cor da folha (cor da folha desenvolvida) olho 209

(cor do broto foliar) cor do talo (cor do peciacuteolo) maniva (cor externa do caule) embriatildeo 210

(protuberacircncia da cicatriz foliar) cor da entrecasca (coacutertex da raiz) e cor miolo (polpa da raiz) 211

(Tabela 1) O objetivo dessa caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica foi indicar como estaacute distribuiacuteda a 212

variaccedilatildeo fenotiacutepica das etnovariedades de mandioca nas comunidades na regiatildeo semiaacuterida de 213

Pernambuco bem como identificar que caracteriacutesticas satildeo mais importantes para distinguir 214

esses grupos no intuito de tentar entender como os agricultores classificam suas variedades de 215

mandioca 216

Nas sete comunidades para cada etnovariedade citada no roccedilado caracterizamos ldquoin 217

siturdquo trecircs indiviacuteduos de M esculentade de cada uma totalizando 171 indiviacuteduos (Aracuatilde=11 218

35

Caratildeo=4 Satildeo Joseacute do Bola=13 Brejo Velho=16 Japaranduba de Baixo=6 Japaranduba de 219

Cima=3 e Lajedo Dantas=4) Fotografamos e avaliamos todos os indiviacuteduos com base em parte 220

dos descritores morfoloacutegicos seguindo recomendaccedilotildees de Fukuda amp Guevara (1998) e aleacutem 221

disso georreferenciamos todas as aacutereas de roccedila 222

Anaacutelise dos dados 223

Analisamos os dados socioeconocircmicos das entrevistas semiestruturadas por meio de 224

estatiacutestica descritiva para explicar os aspectos da realidade econocircmica e social dos agricultores 225

Para identificar se a diversidade intraespeciacutefica da mandioca cultivada localmente eacute 226

influenciada por paracircmetros socioeconocircmicos utilizamos o coeficiente de correlaccedilatildeo de 227

Spearman (Ple005) (Sokal amp Rohlf 1995) 228

Com base na lista livre das variedades de mandioca cultivadas pelos agricultores 229

calculamos a frequecircncia de citaccedilatildeo o ranking e o iacutendice de saliecircncia com o objetivo de 230

identificar quais as mais importantes ou preferidas para as comunidades O iacutendice de saliecircncia 231

considerou a frequecircncia de citaccedilatildeo e o ranking referente ao posicionamento das variedades 232

dentro das listas livres (Thompson amp Juan 2006) As etnovariedades mais citadas e com maior 233

valor de saliecircncia representam as de maior importacircncia ou preferecircncia para as comunidades 234

Anaacutelise de rede 235

Medimos o grau de aninhamento (NODF) para investigar a estrutura de rede de 236

interaccedilatildeo social dos agricultores em funccedilatildeo das variedades cultivadas As matrizes altamente 237

aninhadas apresentam NODF tendendo a 1 caso contraacuterio tentem a ser 0 238

Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 239

Para o estudo das semelhanccedilas e diferenccedilas fenotiacutepicas entre as variedades de mandioca 240

ldquoin siturdquo realizamos anaacutelises multivariadas para identificar possiacuteveis grupos de variedades que 241

compartilham semelhanccedilas entre si 242

36

A anaacutelise de correspondecircncia muacuteltipla (MCA) permitiu identificar como as variedades 243

de mandioca estatildeo ordenadas em funccedilatildeo dos seus descritores etnobotacircnicos As etnovariedades 244

foram plotadas ao longo um plano cartesiano bi ou tridimensional onde a variaccedilatildeo total eacute 245

explicada pelos dois primeiros eixos Complementar a esta anaacutelise realizamos a anaacutelise de 246

agrupamento hieraacuterquico (Cluster) para identificar como estatildeo agrupadas as etnovariedades de 247

acordo seus descritores Conferimos a consistecircncia do dendrograma com coeficiente de 248

correlaccedilatildeo cofeneacutetica conforme Sneath amp Sokal (1973) que quantifica se a correlaccedilatildeo entre a 249

matriz de distacircncias originais e a matriz de distacircncias cofeneacuteticas eacute representativa Para 250

mensurar as dissimilaridades entre as variedades de mandioca foi utilizada a distacircncia 251

euclidiana e com o meacutetodo de Ward 252

Softwares utilizados 253

Para a anaacutelise da lista livre usamos o software ANTROPAC versatildeo 10 O software 254

ANINHADO 30 (Guimaratildees amp Guimaratildees 2006) foi usado para medir o grau de aninhamento 255

da rede Utilizamos o software estatiacutestico R (R core team 2017) para a anaacutelise de correlaccedilatildeo 256

de Spearman com o pacote corrplot (Wei amp Simko 2013) o desenho da rede que descreve a 257

interaccedilatildeo entre os agricultores e as etnovariedades com o pacote bipartite (Dormann et al 258

2017) E com os pacotes FactoMineR (LEcirc et al 2008) factoextra (Kassambara et al 2016) e 259

vegan (Oksanen et al 2017) foram realizadas as anaacutelises de cluster de correspondecircncia 260

muacuteltipla (MCA) e de correlaccedilatildeo coefeneacutetica respectivamente 261

Resultados 262

As diferentes etnovariedades de mandioca encontradas no estudo suprem a demanda 263

local por alimento enquanto outras atendem agraves preferecircncias individuais ou do comeacutercio As 264

variedades que possuem maior rendimento e a farinha produzida apresenta coloraccedilatildeo branca 265

satildeo as de maior valor comercial para os agricultores devido agraves preferecircncias do mercado Jaacute 266

37

outras variedades que satildeo mais moles e apresentam coloraccedilatildeo amarelada natildeo satildeo empregadas 267

na produccedilatildeo de farinha mas sim consumidas cozidas ou assadas A depender da demanda local 268

os agricultores intencionalmente aumentam ou diminuem a frequecircncia de suas variedades nos 269

roccedilados seja por alguma exigecircncia do comeacutercio ou para consumo familiar 270

Nas comunidades os agricultores separam suas variedades de mandioca em dois grupos 271

como observado em outras comunidades na mata Atlacircntica por Emperaire e Peroni (2007) o 272

das ldquomacaxeirasrdquo que satildeo as variedades exploradas basicamente para o consumo familiar sem 273

processo preacutevio de desintoxicaccedilatildeo cujas raiacutezes satildeo consumidas fritas eou cozidas Sendo 274

utilizadas tambeacutem como complemento na dieta dos animais E o grupo das ldquomandiocasrdquo que 275

satildeo as variedades que necessitam de processo preacutevio de desintoxicaccedilatildeo para o consumo 276

utilizadas comumente para a produccedilatildeo de farinha de mandioca Para os agricultores as 277

ldquomandiocasrdquo possuem maior valor comercial pois apresentam maior rendimento e 278

rentabilidade pois a farinha produzida eacute branca e atende as preferencias do comercio local 279

Aleacutem da farinha outros produtos e subprodutos produzidos dentre os quais foram citados 280

ldquotapioca ou gomardquo ldquobijurdquo ou ldquobolo de mandiocardquo satildeo utilizados para o consumo proacuteprio ou 281

eventual comercializaccedilatildeo 282

Os informantes natildeo possuiacuteam conhecimento sobre a origem dos nomes das variedades 283

de mandioca Quanto a compreensatildeo da geraccedilatildeo da diversidade intraespeciacutefica identificamos 284

que apesar de 66 dos agricultores citarem que conhecem variedades fruto de germinaccedilatildeo de 285

suas sementes nenhum deles utiliza as manivas para o plantio por essas variedades de 286

mandioca ldquovoluntaacuteriasrdquo natildeo apresentarem bom rendimento 287

Observamos que existe uma baixa correlaccedilatildeo entre a diversidade de variedades 288

atualmente cultivadas e as variaacuteveis socioeconocircmicas como no caso do nuacutemero de roccedilados 289

(r=028 Ple005) e do tamanho do roccedilado (r=033 Ple005) (Fig 7) Essa baixa correlaccedilatildeo pode 290

38

ser explicada pelo fato de existirem grupos de agricultores que preferem manter as variedades 291

de maior valor econocircmico e de subsistecircncia mesmo com aacutereas maiores de cultivo 292

Verificamos tambeacutem uma correlaccedilatildeo positiva moderada entre o nuacutemero de variedades 293

conhecidas com o nuacutemero de variedades atualmente cultivadas (r=054 Ple005) Na lista livre 294

foram identificadas 22 etnovariedades de mandioca cultivadas (132 citaccedilotildees no total) sendo 295

oito dessas mais citadas com maiores valores de saliecircncia (entre 047 e 0082) (Tabela 2) As 296

etnovariedades ldquoMacaxeira Rosardquo e ldquoMandioca Isabel de Souzardquo exibiram os maiores valores 297

de saliecircncia 047 e 037 respectivamente Logo essas variedades satildeo as mais conhecidas 298

dentro das comunidades com 66 e 48 das citaccedilotildees respectivamente 299

Dentre as etnovariedades citadas 12 foram idiossincraacuteticas pois apresentaram menor 300

frequecircncia de citaccedilatildeo e menores valores de saliecircncia (entre 0032 e 0006) (Tabela 2) 301

Redes de interaccedilatildeo social 302

A rede apresentou uma estrutura aninhada com grau de aninhamento significativamente 303

superior aos modelos nulos (N=3072 Plt0001) para as comunidades sendo um nuacutecleo de 304

etnovariedades altamente conectado aos agricultores (Fig 8) A estrutura aninhada nos permite 305

inferir que existe um grupo de agricultores que cultiva uma maior diversidade de etnovariedades 306

de mandioca em suas roccedilas enquanto que outro subgrupo que tem menor diversidade cultivam 307

as mais comuns ou disponiacuteveis (Cavechia et al 2014) Isso significa que os agricultores locais 308

mesmo em diferentes comunidades cultivam um nuacutecleo de etnovariedades comum entre eles 309

(n=6 Tabela 2) 310

Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 311

Observamos que a maioria dos indiviacuteduos de mandioca satildeo caracterizados por meio de 312

um conjunto de sete caracteres morfoloacutegicos os quais foram citados pelos agricultores como 313

mais importantes para a caracterizaccedilatildeo de suas variedades Nas visitas aos roccedilados registramos 314

39

as etnovariedades atualmente cultivadas e a tabela 3 fornece a lista completa com as 17 315

etnovariedades de mandioca e o local de registro 316

Por meio da anaacutelise de correspondecircncia muacuteltipla as variedades de mandioca foram 317

ordenadas em funccedilatildeo de seus descritores ao longo do primeiro e segundo eixo correspondentes 318

a 3680 da variacircncia total (Fig 9) 319

As variaacuteveis mais correlacionadas e que agruparam as variedades de mandioca no 320

primeiro eixo foram cor da folha desenvolvida (CFD) (r= 07239 Ple0001) cor do coacutertex da 321

raiz (CDR) (r= 06473 Ple0001) cor do broto foliar (CBF) (r= 06880 Ple0001) cor do peciacuteolo 322

(CDP) (r= 05250 Ple005) cor externa do caule (CEC) (r= 06883 Ple005) cor da polpa da 323

raiz (PDR) (r= 02473 Ple005) Para o segundo eixo as variaacuteveis correlacionadas foram cor 324

da folha desenvolvida (CFD) (r= 07220 Ple0001) cor externa do caule (CEC) (r= 08718 325

Ple0001) e cor do peciacuteolo (CDP) (r= 06927 Ple005) 326

O agrupamento de todas as variedades caracterizadas ldquoin siturdquo gerou uma aacutervore 327

hieraacuterquica (dendrograma) (Fig 9) utilizando a distacircncia euclidiana seguindo o criteacuterio de 328

Ward O dendrograma gerado apresentou um coeficiente de correlaccedilatildeo cofeneacutetica r= 06780 329

indicando que existe consistecircncia com os dados originais no agrupamento quanto agrave 330

classificaccedilatildeo e estrutura de tal forma que as variedades foram agrupadas em oito classes as 331

quais foram explicadas pelas variaacuteveis mais significativas descritas na tabela 4 332

O resultado do agrupamento (utilizada a distacircncia euclidiana e com o meacutetodo de Ward) 333

observamos que as etnovariedades de mandioca caracterizadas ldquoin siturdquo foram agrupadas em 334

dois grandes agrupamentos indicados na Fig 10 pelos retacircngulos em vermelho A partir dessa 335

anaacutelise percebemos que os caracteres morfoloacutegicos selecionados pelos agricultores natildeo foram 336

suficientes para separar as variedades de macaxeira e mandioca pois em ambos os 337

agrupamentos encontramos tanto macaxeiras quanto mandiocas 338

40

As variedades da classe 1 foram identificadas pelos agricultores pela cor do peciacuteolo 339

(CDP) verde A classe 2 agrupou as etnoveriedades caracterizadas pela protuberacircncia da cicatriz 340

foliar (PCF) mais protuberante Esse descritor segundo os agricultores era identificado como 341

ldquoembriatildeordquo A classe 3 consiste apenas da variedade ldquoMandioca Pretonardquo indicada pela presenccedila 342

de cor do peciacuteolo (CDP) vermelho A classe 4 agrupou trecircs variedades caracterizadas pelos 343

agricultores pela presenccedila de cor coacutertex da raiz (CDR) rosa e cor da polpa da raiacutez (PDR) branca 344

identificadas como ldquoMacaxeira vermelhardquo ldquoMacaxeira Rosa Brancardquo ldquoMacaxeira Rosardquo As 345

variedades agrupadas na classe 5 foras as variedades de mandioca caracterizadas pelos 346

agricultores por apresentarem cor do coacutertex (CDR) da raiacutez branca A classe 6 agrupou 347

variedades identificadas pelos agricultores pela cor do broto foliar (CBF) verde A classe 7 348

consiste apenas da variedade ldquoMacaxeira Sementerdquo identificada pelos agricultores pela cor do 349

peciacuteolo (CDP) roxo e protuberacircncia da cicatriz foliar pouco proeminente Essa variedade 350

segundo os agricultores era fruto do nascimento espontacircneo no roccedilado poreacutem eles geralmente 351

natildeo utilizam essas variedades por apresentarem apenas uma raiz pequena e de baixo 352

rendimento Na classe 8 as variedades foram identificadas pelos agricultores pela cor do peciacuteolo 353

(CDP) verde amarelado e protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) pouco proeminente As 354

ldquoMandioca Isabel de Souzardquo ldquoMandioca Isabel trecircs galhosrdquo segundo os agricultores se 355

diferenciavam pelo maior nuacutemero de caules presentes na variedade ldquoIsabel trecircs galhosrdquo 356

Discussatildeo 357

As sete comunidades estudadas manejavam um nuacutemero consideraacutevel de variedades 358

locais A quantidade de etnovariedades registradas eacute proacutexima a encontrada por Bender et al 359

(2009) e Cavechia et al (2014) em comunidades na regiatildeo sul e sudeste por Oler e Amorozo 360

(2017) em uma comunidade tradicional na regiatildeo centro-oeste Poreacutem foi quantitativamente 361

inferior quando comparada a estudos como os de Elias et al (2001) e Kawa et al (2013) em 362

comunidades na regiatildeo amazocircnica pois possuiacuteam uma alta diversidade Essa alta diversidade 363

41

na regiatildeo amazocircnica pode estar relacionada com o fato de que essa regiatildeo eacute o provaacutevel centro 364

de origem da mandioca (M esculenta) (Allem 1994) 365

As etnovariedades registradas neste estudo estatildeo disponiacuteveis para a maioria dos 366

agricultores dessa regiatildeo e esse fator favorece a circulaccedilatildeo das etnovariedades entre as 367

comunidades locais Por isso haacute semelhanccedilas das etnovariedades utilizadas entre os agricultores 368

da mesma comunidade e entre comunidades vizinhas 369

Parte dos agricultores optam por manter uma alta frequecircncia de variedades mais 370

utilizadas enquanto que outros optam por manter etnovariedades de baixa frequecircncia 371

Conforme discutido por Amorozo (2013) os agricultores escolhem seu acervo de acordo com 372

as necessidades e contexto em que vivem A reduccedilatildeo da diversidade de etnoveriedades por 373

exemplo pode ser impulsionada por fatores que simplificam o sistema como a seleccedilatildeo de 374

etnovariedades para a produccedilatildeo de farinha resultando no cultivo de poucas ou ateacute de uma uacutenica 375

etnovariedade (Peroni amp Hanazaki 2002) mesmo em aacutereas maiores 376

377

Redes de interaccedilatildeo social 378

Com as anaacutelises de rede demonstramos que os agricultores de diferentes comunidades 379

em uma mesma regiatildeo efetivamente trocam variedades de mandioca entre si corroborando 380

com estudos realizados por Emperaire amp Eloy (2008) Pautasso et al (2012) e Cavechia et al 381

(2014) Nesses estudos os autores tambeacutem consideram que as trocas de etnovariedades por 382

meio da rede de intercacircmbio entre os agricultores eacute um mecanismo fundamental para a 383

manutenccedilatildeo da diversidade local 384

A visualizaccedilatildeo da rede demonstrou que entre as comunidades os agricultores 385

compartilham um nuacutecleo de etnovariedades mais utilizadas dentre as quais estatildeo as de maior 386

valor econocircmico e de subsistecircncia Essas de maior frequecircncia satildeo aquelas altamente produtivas 387

utilizadas pelos agricultores para atenderem agraves demandas de mercado por farinha e para o 388

consumo proacuteprio (Kawa et al 2013) 389

42

No entanto observamos que existe outro nuacutecleo de etnovariedades menos frequentes 390

Essas etnovariedades raras podem ser resultantes do processo de experimentaccedilatildeo ou 391

preferecircncias individuais dos agricultores Outra possiacutevel razatildeo para a baixa frequecircncia de 392

algumas etnovariedades poderia ser explicada pela variaccedilatildeo da nomenclatura pelos 393

agricultores que segundo Peroni amp Hanazaki (2002) pode ocorrer durante o processo de troca 394

e introduccedilatildeo de novas variedades aos roccedilados Ainda assim natildeo descartamos a hipoacutetese de que 395

essas etnovariedades raras possam ser provenientes do cruzamento entre variedades diferentes 396

cultivadas da mesma roccedilado ou em roccedilas vizinhas De acordo com Martins (2005) essas 397

variedades fruto de germinaccedilatildeo expentacircnea satildeo incorporadas aos roccedilados pelos agricultores 398

pela curiosidade em experimentar novas variedades agraves suas coleccedilotildees 399

Nesse estudo admitimos que optar por etnovariedades raras entre as comunidades 400

estudadas eacute um comportamento adotado por agricultores que manejam uma maior diversidade 401

corroborando com os estudos de Cavechia et al (2014) e Emperaire et al (2016) em regiotildees 402

uacutemidas Para esses autores etnovaridedades de baixa frequecircncia representam um subconjunto 403

das de alta frequecircncia cultivadas por agricultores que manteacutem a maior diversidade em seus 404

roccedilados Sendo assim inferimos que no geral entre as comunidades satildeo os agricultores 405

generalistas aqueles que cultivam maior diversidade os responsaacuteveis por incorporar novas 406

etnovariedades aos roccedilados 407

As decisotildees dos agricultores em manter o acervo direcionado principalmente para 408

atender a demanda de mercado por exemplo podem levar a uma homogeneizaccedilatildeo nas roccedilas 409

colocando em risco a manutenccedilatildeo da diversidade local (Peroni amp Hanazaki 2002) Como 410

discutido por Elias et al (2000) os agricultores que selecionam apenas um nuacutemero reduzido e 411

especiacutefico de variedades mais produtivas tendem a fazer com que as variedades menos 412

frequentes desapareccedilam ao longo do tempo Essa tendecircndia pode influenciar na capacidade de 413

43

resiliecircncia do sistema assim como dos agricultores em lidar com possiacuteveis adversidades 414

ambientais que possam ocorrer 415

Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 416

No geral os agricultores demonstraram uma tendecircncia em classificarseparar suas 417

diferentes etnovariedades de mandioca a partir da combinaccedilatildeo de um conjunto de sete 418

caracteres morfoloacutegicos distintos e de faacutecil percepccedilatildeo os quais natildeo tem relaccedilatildeo com o uso 419

como por exemplo a cores das raiacutezes caule e folhas Logo consideramos que esses caracteres 420

morfoloacutegicos podem ser considerados como uma forma de classificaccedilatildeo pelos agricultores 421

baseada na capacidade percepccedilatildeo das diferenccedilas morfoloacutegicas que cada etnovariedades 422

apresenta (Boster 1985) Estes resultados nos levam a entender que entre os agricultores o 423

conhecimento sobre a diversidade da mandioca estaacute relacionado ao conhecimento de 424

caracteriacutesticas morfoloacutegicas consistentes 425

A existecircncia de alguns fenoacutetipos comuns nos permitiu avaliar a classificaccedilatildeo da 426

consistecircncia da taxonomia popular entre os agricultores Por exemplo as etnovariedades 427

ldquoMaxaceira Rosardquo e ldquoMacaxeira Rosa Brancardquo e ldquoMacaxeira vermelhardquo foram agrupadas no 428

mesmo cluster (C4) por apresentaram fenoacutetipos semelhantes Notamos que os agricultores 429

classificaram essas variedades de acordo com os traccedilos morfoloacutegicos mais relevantes como a 430

cor do coacutertex da raiz rosa e cor branca da polpa O mesmo ocorreu com as etnovariedades 431

ldquoMandioca varudardquo ldquoMandioca campina da granderdquo e ldquoMandioca campinardquo caracterizadas 432

pela presenccedila do peciacuteolo verde agrupadas no cluster (C1) 433

A partir dessas evidecircncias consideramos a hipoacutetese de que as variedades mesmo 434

apresentando caracteriacutesticas morfoloacutegicas muito semelhantes estatildeo sujeitas a variaccedilatildeo 435

nomenclatural durante o processo a incorporaccedilatildeo aos roccedilados pelos agricultores pois a 436

capacidade para distinguir e nomear variedades entre os agricultores da mesma regiatildeo pode 437

variar (Sambatti et al 2001 Elias et al 2001 Mekbib 2007) Consideramos tambeacutem que pode 438

44

existir variaccedilatildeo geneacutetica entre os indiviacuteduos identificados por um mesmo nome ou entatildeo que 439

os agricultores datildeo o mesmo nome para variedades diferentes E esta situaccedilatildeo pode levar a uma 440

superestimaccedilatildeo ou subestimaccedilatildeo da diversidade de mandioca cultiva nas aacutereas de estudo 441

Sabemos que a mandioca eacute propagada vegetativamente pelos agricultores por meio de 442

estacas em sistemas de agricultura tradicional No entanto alguns variedades produzem flores 443

e sementes que germinam e podem originar outras variedades ou outros clones por meio de 444

fecundaccedilatildeo cruzada (Elias et al 2001) Nesse contexto a etnovariedade ldquoMacaxeira Sementerdquo 445

presente no cluster (C7) trata-se de um uacutenico indiviacuteduo amostrado em uma roccedila de um dos 446

agricultores Esta apresentava algumas caracteriacutesticas morfoloacutegicas distintas das demais 447

reconhecidas pelo agricultor como por exemplo a produccedilatildeo de uma raiz uacutenica e 448

consequentemente de baixo rendimento Encontramos apenas um indiviacuteduo dessa 449

etnovariedade e nossa hipoacutetese de que esta poderia ter sido originada da germinaccedilatildeo da 450

semente mesmo quando 100 dos informantes declararam natildeo dar qualquer importacircncia e 451

descartar essas ldquovariedades-voluntaacuteriasrdquo foi confirmada pelo agricultor que afirmou que se 452

tratava de uma variedade nascida da germinaccedilatildeo da semente Esse comportamento vai de 453

encontro ao estudo de Fraser et al (2012) pois apesar dos agricultores reportarem nas 454

entrevistas que conhecem essas ldquovariedades-voluntaacuteriasrdquo nenhum agricultor faz o uso delas 455

Peroni et al (1999) e Agre et al (2016) analisando morfologicamente as variedades 456

locais de mandioca mantidas por agricultores em sistemas agriacutecolas tropicais tambeacutem 457

demonstraram que os agricultores satildeo coerentes quanto a separaccedilatildeo e identificaccedilatildeo de suas 458

etnovariedades a partir da formaccedilatildeo de grupos de coesos quanto a nomenclatura local utilizada 459

No entanto para o melhor entendimento dessa diversidade aleacutem da caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica 460

o uso de anaacutelises complementares como anaacutelise molecular seria importante para tentar 461

identificar se esses grupos representam a mesma variedade com nomes distintos ou se satildeo 462

variedades distintas com o mesmo nome 463

45

Conclusatildeo 464

O estudo demonstrou que no sistema de manejo da mandioca ao niacutevel de roccedila em 465

comunidades localizadas na regiatildeo semiaacuterida de Pernambuco compotildee uma diversidade 466

intrespeciacutefica de mandioca para atender agraves demandas econocircmicas e de subsistecircncia das 467

populaccedilotildees locais 468

Com relaccedilatildeo a anaacutelise de rede demostramos que haacute um nuacutecleo de etnovariedades 469

fortemente conectado aos agricultores e sua composiccedilatildeo eacute direcionada pelas preferecircncias e 470

necessidades individuais dos agricultores que foram os fatores responsaacuteveis pelo surgimento 471

da estrutura aninhada observada na anaacutelise rede entre as comunidades deste estudo E esse 472

padratildeo aninhado observado contribui na conservaccedilatildeo das etnovariedades mais comuns mas 473

tambeacutem pode resultar em perda daquelas de menor frequecircncia ao longo do tempo 474

A caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica ldquoin siturdquo nos permitiram inferir que os agricultores 475

reconhecem as diferentes caracteriacutesticas morfoloacutegicas de suas cultivares e satildeo coerentes na 476

separaccedilatildeo de suas variedades de mandioca e macaxeira Entretanto esses resultados sugerem a 477

realizaccedilatildeo de um estudo em niacutevel de diversidade geneacutetica exploratoacuterio para identificar se as 478

consistecircncias morfoloacutegicas refletem em consistecircncias geneacuteticas elucidando assim as possiacuteveis 479

confusotildees atribuiacutedas aos nomes das etnovariedades de mandioca 480

Agradecimentos 481

Agradecemos ao liacuteder comunitaacuterio Alexandre O Nascimento aos agricultores e 482

agricultoras das comunidades pela acolhida confianccedila e pela gentileza de compartilharem 483

conosco seus conhecimentos e contribuiacuterem com este estudo Especialmente a Arlindo Ferreira 484

Edgar Antocircnio Joseacute Sebastiatildeo Juvenal Oliveira e Janete Alves Ao Laboratoacuterio de Ecologia e 485

Evoluccedilatildeo de Sistemas Socioecoloacutegicos (LEA - UFPE) E agradecemos ao CNPq pelo apoio 486

com a bolsa de estudos do primeiro autor 487

46

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Nome da revista 617

Human Ecology 618

Link de acesso 619

httpsgooglDVLbFj 620

Qualis-CAPES 621

B1 em Biodiversidade 622

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52

Figuras 643

644

645

Fig 1 Partes do processo de fabricaccedilatildeo de farinha de mandioca Onde a raspagem b e c 646

processo de trituraccedilatildeo e d peneiramento Foto registrada em Abril de 2017 por Mirela Santos 647

648

649

650

c

d

b

a

53

651

Fig 2 Mapa de localizaccedilatildeo geograacutefica dos Municiacutepios de Altinho e Panelas e das comunidades 652

estudadas na regiatildeo semiaacuterida do Estado de Pernambuco (Elaborado por SANTOS 2018) 653

54

654

655

656

657

Fig 3 Processo de fabricaccedilatildeo da farinha de mandioca Apoacutes a colheita as raiacutezes satildeo lavadas 658

raspadas e trituradas (a) A massa extraiacuteda eacute prensada e coada Ao sair da prensa a massa 659

peneirada (b) e em seguida eacute torrada (c) em fornos artesanais ou parcialmente mecanizados 660

Imagem registrada em janeiro de 2017 na Comunidade do Caratildeo por Mirela Santos 661

662

663

a

b c

55

664

Fig 4 a Sede da Comunidade do Caratildeo b Agricultor transportando a palma forrageira que eacute 665

um exemplo de estrateacutegia adaptativa para suprir a falta de alimento dos animais devido agrave seca 666

c Feira-livre que acontece na comunidade a cada quinze dias Imagem registrada em julho de 667

2016 na Comunidade do Caratildeo por Mirela Santos 668

669

670

Fig 5 a O agricultor nos explicava as mudanccedilas que vem fazendo em seus roccedilados para se 671

adaptar aos longos periacuteodos de seca b Quando o agricultor nos mostrava as diferentes 672

etnovariedades que mantinha em sua roccedila c Durante a pesquisa nos explicavam como era feita 673

a colheita da mandioca e como selecionavam as manivas para o proacuteximo plantio Foto registrada 674

em abril de 2017 na Comunidade do Brejo Velho por Mirela Santos 675

a

b c

c b

a

56 676

677

Fig 6 Possiacuteveis estruturas de rede que descrevem as interaccedilotildees dos agricultores (losango) 678

ligados as etnovariedades (ciacuterculos) que cultivam Onde a Aninhada b Modular c Aleatoacuteria 679

(Fonte Cavechia et al 2014 com adaptaccedilotildees) 680

681

682

683

684

685

686

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688

689

690

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692

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696

697

a c b

57

698

699

700

701

702

703

704

705

706

707

Fig 7 Correlaccedilatildeo de Spearman entre a diversidade de etnovariedades de mandiocas conhecidas 708

como cultivadas e variedades atualmente cultivadas por agricultor e as variaacuteveis 709

socioeconocircmicas Onde Nvc= nuacutemero de citadas como cultivadas Nve= nuacutemero de variedades 710

atualmente cultivadas Esc= escolaridade Id= idade Gen= gecircnero Tr= tamanho do roccedilado 711

Exp= experiecircncia na agricultura Sld= renda Nr= nuacutemero de roccedilados Cores distintivas 712

representam correlaccedilotildees significativas (Ple005) 713

714

58

715

Fig 8 Modelo individual de rede de etnovariedades de mandioca citadas (esquerda) por 716

agricultores como cultivadas (direita) nos Municiacutepios de Altinho e Panelas As redes foram 717

desenhadas com o pacote bipartite (Dormann et al 2017) usando o software R (R CORE 718

TEAM 2017) 719

720

59

721

Fig 9 Anaacutelise de Correspondecircncia Muacuteltipla das 17 etnovariedades de mandioca considerando 722

os sete descritores morfoloacutegicos utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo em roccedilas de 723

agricultores tradicionais de sete comunidades no semiaacuterido de Pernambuco 724

725

726

727

728

729

730

731

732

733

734

735

736

737

McCambadinha

McCampina

McCampinaDaGrande

McCampinaRasteira

McCampinaVaruda

McGauba

McIsabelDeSouza

McIsabelTresGalhos

McOlhoDePombo

McOlhoVerde

McPretinha

McPretona

MxBranca

MxRosa

MxRosaBrancaMxRosaVermelha

MxSemente

CFD_Verde_Arroxeado

CFD_Verde_ClaroCFD_Verde_Escuro

CBF_Roxo

CBF_Verde_ArroxeadoCBF_Verde_Claro

CBF_Verde_Escuro

CDP_Verde

CDP_Verde_Amarelado

CDP_Verde_Avermelhado

CDP_Vermelho

CEC_Cinza

CEC_Dourado

CEC_Laranja

CEC_Marrom_Claro

CEC_Marrom_Escuro

CEC_Prateado

CEC_Verde_AmareladoCicatriz_M

Cicatriz_P

PDR_Branco

PDR_Creme

CDR_BrancoCDR_Creme CDR_Rosa

-4

-2

0

2

4

-4 -2 0 2 4

Dim1 (206)

Dim

2 (

162

)

MCA - Biplot

00

10

Hierarchical Clustering

inertia gain

McC

am

pin

aV

aru

da

McC

am

pin

aD

aG

rande

McC

am

pin

a

McG

auba

McP

retin

ha

McP

reto

na

MxR

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MxR

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ranca

MxR

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McC

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pin

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ira

McC

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e

MxB

ranca

MxS

em

ente

McIsabelT

resG

alh

os

McIsabelD

eS

ouza

McO

lhoD

eP

om

bo

00

05

10

15

Hierarchical Classification

Heig

ht

C1 C2 C3 C4 C5 C6 C7 C8

Fig 10 Agrupamento hieraacuterquico das 17 etnovariedades de mandioca caracterizadas de acordo

com os descritores utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo

60

Tabelas 738

739

Tabela 1 Caracteres e estados utilizados pelos agricultores como descritores botacircnicos para 740

caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das etnovariedades de mandioca 741

Caracter Sigla Estados

Folha

Cor da folha desenvolvida CFD 1- verde claro 2- verde escuro 3- verde arroxeado 4- roxo

Cor do broto foliar CBF 1- verde claro 2- verde escuro 3- verde arroxeado 4- roxo

Cor do peciacuteolo CDP 1- verde amarelado 2- verde 3- verde avermelhado 4- roxo

5- vermelho

Caule

Cor externa do caule CEC 1- laranja 2- verde amarelado 3- dourado 4- marrom claro

5- prateado 6- cinza 7- marrom escuro 8- verde

Protuberacircncia da cicatriz foliar PCF 1- pouco proeminente 2- muito proeminente

Raiacutez

Cor da poupa da raiz PDR 1- branco 2- creme

Cor do coacutertex da raiacutez CDR 1- rosa 2- branco 3- creme

742

743

744

745

746

747

748

749

750

751

61

Tabela 2 Lista das 22 etnovariedades de mandiocas citadas (132 citaccedilotildees) como cultivadas nas 752

comunidades pertencentes aos Municiacutepios de Altinho (Caratildeo n=8) e ao Municiacutepio de Panelas 753

(Aracuatilde Satildeo Joseacute do Bola Brejo Velho Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima e Lajeiro 754

Dantas n=21) 755

Etnovariedade Frequecircncia () Ranking Saliecircncia

Macaxeira Rosa 66 179 0472

Mandioca Isabel de Souza 48 179 0372

Mandioca Campina 24 217 0148

Macaxeira Branca 20 210 0134

Macaxeira Rosa branca 18 122 0168

Mandioca Pretona 16 338 0082

Mandioca Cambadinha 12 283 0071

Mandioca Isabel trecircs galhos 10 180 0075

Mandioca Gauacuteba 10 260 0070

Mandioca Pretinha 8 225 0053

Mandioca Peacute de pombo 4 400 0011

Mandioca Olho verde 4 350 0012

Macaxeira Rosinha 4 200 0027

Mandioca Campina varuda 4 200 0032

Mandioca Campina rasteira 4 300 0021

Mandioca Caboquinha 2 500 0007

Macaxeira Rasteira 2 200 0013

Macaxeira Paraacute 2 100 0020

Mandioca Barra ferro 2 300 0007

Mandioca Campina da grande 2 100 0020

Mandioca Olho de pombo 2 300 0010

Mandioca Jasmim 2 600 0006

756

757

758

62

Tabela 3 Lista de 17 etnovariedades atualmente cultivadas nos roccedilados das comunidades em 759

estudo 760

Ca Ar Bo Br Jb Jc Ld

Etnovariedade

Macaxeira Branca x x x x

Macaxeira Rosa

x x x x x x

Macaxeira Rosa Branca x x x x

Macaxeira Rosa Vermelha

x

Macaxeira Semente

x

Mandioca Cambadinha x

x

Mandioca Campina

x

x

x

Mandioca Campina da Grande x

Mandioca Campina Rasteira

x

Mandioca Campina Varuda

x

Mandioca Gauacuteba

x

Mandioca Isabel de Souza

x x x

Mandioca Isabel trecircs Galhos

x

x

Mandioca Olho de Pombo

x

Mandioca Olho Verde

x

Mandioca Pretinha

x

Mandioca Pretona x x x

Comunidades Ca= Caratildeo Ar=Aracuatilde Bo= Satildeo Joseacute do Bola Jb= Japaranduba de Baixo 761

Jc= Japaranduba de Cima Ld= Lajedo Dantas 762

763

764

765

766

767

768

63

Tabela 4 Descriccedilatildeo das classes do agrupamento por meacutetodo de Ward agrupadas pelo conjunto 769

dos descritores mais significativos para a caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das variedades de mandioca 770

Classes Descritores in situ p-valor

C1 Cor do peciacuteolo (CDP) 0016

C2 Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023

C3 Cor do peciacuteolo (CDP) 0012

C4 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0004

Cor da poupa da raiacutez (PDF) 0021

C5 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0003

C6 Cor do broto foliar (CBF) 0002

C7 Cor da folha desenvolvida (CFD) 0004

Cor externa do caule (CEC) 0040

C8 Cor do peciacuteolo (CDP) 0005

Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023

Valores de Ple005 satildeo significativos 771

772

19

nomenclatura popular local a qual pode expressar elementos do contexto cultural econocircmico

e social das populaccedilotildees associado ao uso (PERONI MARTINS 2000 EMPERAIRE

PERONI 2007)

Dentre as vaacuterias espeacutecies cultivadas em roccedilas a mandioca (M esculenta) em seu

nuacutemero de etnovariedades eacute uma das principais culturas de importacircncia econocircmica e

nutricional para populaccedilotildees que utilizam esse sistema Sua diversidade pode estar relacionada

ao sistema reprodutivo da cultura ao modo de gestatildeo da agricultura pelas pressotildees de seleccedilatildeo

exercidas pelo proacuteprio homem ou ateacute mesmo por causas naturais (MARTINS 2005

CLEMENT et al 2010)

As caracteriacutesticas de manejo empregadas no cultivo da mandioca em roccedilas favorecem

a elevada diversidade intraespeciacutefica dessa cultura O modo de propagaccedilatildeo da mandioca eacute feito

pelos agricultores por meios de estacas (manivas) que satildeo selecionadas de acordo com as

caracteriacutesticas desejaacuteveis que elas apresentam seja para fins econocircmicos ou utilitaacuterios Apesar

de propagada vegetativamente que eacute um meacutetodo usado pelas populaccedilotildees humanas para plantio

e multiplicaccedilatildeo de plantas a mandioca natildeo perdeu a sua capacidade de reproduccedilatildeo sexual

sendo esse um aspecto importante para dinacircmica evolutiva da cultura (PUJOL et al 2007)

Esse meacutetodo de propagaccedilatildeo permite o fluxo e a circulaccedilatildeo do material geneacutetico entre os

diferentes roccedilados por meio de um sistema de redes sociais de troca de etnovariedade de

mandioca entre os agricultores tanto a niacutevel regional (entre comunidades) quanto em escalas

menores (entre vizinhos e parentes) (ELIAS et al 2004 EMPERAIRE OLIVEIRA 2010)

Segundo Emperaire e Peroni (2007) esse mecanismo de troca de germoplasma eacute uma grande

forccedila de dispersatildeo que resulta na agrobiodiversidade regional mais elevada pois estabelece

viacutenculos entre as diferentes roccedilas e promove oportunidades de seleccedilatildeo e cruzamento entre as

diferentes etnovariedades (EMPERAIRE ELOY 2008)

Atributo bioloacutegicos da espeacutecie tambeacutem estatildeo relacionados com o aumento da

diversidade intrespeciacutefica como a capacidade de dormecircncia das sementes e a dispersatildeo

autocoacuterica que propiciam o desenvolvimento de um banco de sementes no solo ao longo do

tempo permitindo o cruzamento entre as novas variedades adquiridasplantadas e entre estas

com variedades que existiram anterioemente na mesma aacuterea (PERONI MARTINS 2000

MARTINS 2005) A presenccedila dessas ldquoplantas-voluntaacuteriasrdquo ou seja aquelas nascidas de

germinaccedilatildeo expontacircnea eacute um dos eventos identificados como precursores de diversidade

intraespeciacutefica nas populaccedilotildees de mandioca cultivadas (PUJOL et al 2007)

20

Contudo muitos esforccedilos vecircm sendo empregados em estudos que observam a ecologia

da mandioca e o manejo agriacutecola associado agrave geraccedilatildeo de diversidade varietal e geneacutetica na

espeacutecie para tentar entender como esses mecanismos influenciam na diversidade de

etnovariedades locais e na sua dinacircmica (PUJOL et al 2007 KOMBO et al 2012 ELIAS et

al 2001)

23 Redes sociais de troca e circulaccedilatildeo de etnovariedades de mandioca

Sistemas agriacutecolas de pequena escala dependem de uma grande diversidade de espeacutecies e

variedades cultivadas e do fluxo destas por meio de redes sociais de troca material vegetativo

estabelecidas entre agricultores podendo o alcance da circulaccedilatildeo variar em escala local eou

regional (EMPERAIRE ELOY 2008) As trocas dependem de dois mecanismos principais

dos padrotildees de interaccedilatildeo social entre os agricultores e dos padrotildees de uso dos recursos

(CAVECHIA et al 2014) e as redes variam em funccedilatildeo das caracteriacutesticas culturais

econocircmicas e sociais das comunidades (EMPERAIRE PERONI 2007 PAUTASSO et al

2012)

No caso da mandioca (Manihot esculenta Crantz) a propagaccedilatildeo se da por estaquia o que

favorece a troca de material de vegetativo entre os agricultores e permite o fluxo entre

variedades locais e regionais (MARTINS 2005) As trocas de variedades de mandioca entre os

agricultores geralmente acontecem por alguma circunstacircncia que leve o agricultor a pedir o

material propagativo para o plantio com por exemplo para o plantio de uma nova roccedila ou por

alguma fitopatologia deslocaccedilatildeo ou estaccedilotildees de chuva e seca prolongadas (EMPERAIRE et

al 2001 EMPERAIRE ELOY 2008) Em alguns casos como no de algumas comunidades

agriacutecolas de pequena escala as redes de casamento satildeo utilizadas para a circulaccedilatildeo de

variedades (EMPERAIRE PERONI 2007 DELEcircTRE et al 2011)

O processo de manutenccedilatildeo da diversidade nesses sistemas resulta do interesse ou da

necessidade do agricultor em adquirir ou abandonar variedades testar e selecionar novas

etnovariedades de mandioca Dentre os fatores que dirigem a seleccedilatildeo de etnovariedades estatildeo

as preferecircncias individuais dos agricultores Alguns podem optar por cultivar todas as

etnovariedades comuns eou disponiacuteveis na regiatildeo enquanto que outros optam apenas por

manter um conjunto especiacutefico dessa diversidade (CAVECHIA et al 2014) Seja para atender

a alguma demanda individual pelo interesse em aumentar a produtividade ou pela necessidade

21

de conservar o material vegetativo para o proacuteximo plantio no caso de perda de material por

algum fator ambiental adverso (EMPERAIRE et al 2001 EMPERAIRE ELOY 2008)

Nesse sentido satildeo os agricultores os maiores responsaacuteveis por determinar como e quais

etnovariedades seratildeo compartilhadas e mantidas entre as comunidades (PAUTASSO et al

2012) E a chave para a compreensatildeo da dinacircmica da diversidade varietal eacute por meio desse

intercacircmbio e dos fatores que influenciam essa conectividade entre as comunidades pois essas

redes representam um grande impacto sobre a diversidade de variedades cultivadas E eacute por

meio dessas redes que se diminui coletivamente os riscos de perda total de diversidade geneacutetica

local (EMPERAIRE ELOY 2008)

Desse modo as relaccedilotildees estabelecidas pelos agricultores entre as comunidades por meio

das redes troca de germoplasma podem ter consequecircncias importantes sobre a diversidade

varietal da mandioca E compreender os processos envolvidos na manutenccedilatildeo ou perda de

germoplasma nos sistemas agriacutecolas eacute importante uma vez que compreendendo a maneira

como os agricultores usam esse conjunto de etnovariedades de mandioca e as compartilham

vai trazer importantes discussotildees a cerca da qualidade e a quantidade do recurso que seraacute

mantido transmitido ou perdido dentro dos sistemas ao longo do tempo

22

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25

VARIACcedilAtildeO INTRAESPECIacuteFICA CONHECIMENTO E MANEJO

LOCAL DE MANDIOCA (Manihot esculenta Crantz) NO SEMIAacuteRIDO DE

PERNAMBUCO NORDESTE DO BRASIL

Artigo submetido ao perioacutedico Human Ecology

Normas para submissatildeo em anexos

26

Variaccedilatildeo intraespeciacutefica conhecimento e manejo local de mandioca 1

(Manihot esculenta Crantz) no semiaacuterido de Pernambuco Nordeste do 2

Brasil 3

Mirela Nataacutelia Santos12 Jhonatan Rafael Zaacuterate-Salazar1 Reginaldo de Carvalho1 amp 4

Ulysses Paulino de Albuquerque2 5

6

1 Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo em Botacircnica Departamento de Biologia Rua Dom Manuel de Medeiros 7

Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) sn Dois Irmatildeos Recife Pernambuco 52171-8

900 Brasil 9

2 Laboratoacuterio de Ecologia e Evoluccedilatildeo de Sistemas Socioecoloacutegicos (LEA) Departamento de Botacircnica 10

Avenida Professor Moraes Rego Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) sn Cidade 11

Universitaacuteria Recife Pernambuco 50670-901 Brasil 12

Resumo 13

Historicamente a espeacutecie Manihot esculenta Crantz (mandioca) eacute uma espeacutecie de grande valor 14

econocircmico e de subsistecircncia para populaccedilotildees em comunidades tradicionais Variedades de 15

mandioca satildeo selecionadas com base nos interesses dos agricultores conduzindo uma evoluccedilatildeo 16

especiacutefica sobre a geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da agrobiodiversidade local Diante disso a mandioca 17

tornou-se espeacutecie-modelo em estudos que buscam compreender como os padrotildees e estrateacutegias 18

adotadas pelas populaccedilotildees humanas influenciam na diversidade intraespeciacutefica local em regiotildees 19

tropicais No entanto os fatores que influenciam a diversidade da mandioca em regiotildees 20

semiaacuteridas ainda natildeo foram bem documentados Nesse sentido objetivo geral do estudo foi 21

compreender os processos envolvidos na dinacircmica da diversidade agriacutecola em sete 22

comunidades tradicionais localizadas na regiatildeo semiaacuterida do estado de Pernambuco (Nordeste 23

do Brasil) por meio do acesso ao conhecimento dos agricultores quanto as praacuteticas de menejo 24

para tentar quais quais fatores podem estar relacionados a geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da diversidade 25

local Com os resultados da anaacutelise de redes verificamos uma alta diversidade de 26

etnovariedades cultivadas e a sua composiccedilatildeo eacute determinada pelas preferecircncias e 27

comportamentos individuais dos agricultores que foram provavelmente os mecanismos 28

27

responsaacuteveis pelo surgimento da estrutura aninhada observada na anaacutelise rede Esse padratildeo 29

aninhado contribui na conservaccedilatildeo das etnovariedades mais comuns mas tambeacutem pode resultar 30

em perda daquelas de menor frequecircncia ao longo do tempo 31

Palavras-Chave Agricultura tradicional Agricultura de sequeiro Agrobiodiversidade 32

Etnobiologia Plantas alimentiacutecias 33

34

Introduccedilatildeo 35

Historicamente as populaccedilotildees humanas foram acumulando conhecimentos sobre 36

praacuteticas da agricultura desenvolvendo teacutecnicas adaptadas ao meio natural e assim foram 37

domesticando uma grande variedade de cultivos alimentares para garantirem a sua 38

sobrevivecircncia (Balleacute 2006 Clement et al 2010) Essa interaccedilatildeo pessoas-plantas por meio do 39

cultivo e manejo das espeacutecies vegetais considerando tanto os aspectos sociais quanto naturais 40

dos sistemas dinacircmicos eacute uma importante ferramenta para o entendimento do conhecimento 41

dos agricultores sobre os agroecossistemas locais ( Alcorn 1995) 42

Aleacutem disso essas interaccedilotildees vem contribuindo com alteraccedilotildees nas populaccedilotildees vegetais 43

por meio da seleccedilatildeo artificial Essas alteraccedilotildees resultaram em mudanccedilas na estrutura geneacutetica 44

dessas populaccedilotildees que satildeo determinadas geralmente pela seleccedilatildeo de caracteriacutesticas fenotiacutepicas 45

fisioloacutegicas eou econocircmicas das plantas refletidas em classificaccedilotildees e nomenclaturas 46

especiacuteficas baseadas em percepccedilotildees individuais (Carmona amp Casas 2005) 47

Muitos pesquisadores tentam explicar o papel dos agricultores de pequena escala na 48

seleccedilatildeo classificaccedilatildeo e manutenccedilatildeo da agrobiodiversidade local em roccedilas tradicionalmente 49

manejas em regiotildees uacutemidas (Emperaire amp Peroni 2007 Emperaire amp Eloy 2008 Marchetti et 50

al 2013) Essas roccedila satildeo aacutereas de cultivo caracterizadas por conter uma alta diversidade 51

intraespeciacutefica de espeacutecies (Martins 2005) Dentre elas a Manihot esculenta Crantz 52

28

(mandioca) Euphorbiaceae em sua diversidade de etnovariedades eacute a espeacutecie mais importante 53

sob ponto de vista econocircmico e de subsistecircncia para as populaccedilotildees locais e mais cultivada 54

devido a sua grande adaptabilidade ambiental e baixos custos de gestatildeo (Elias et al 2001) 55

A alta diversidade da mandioca nessas aacutereas pode ser atribuiacuteda agrave possibilidade de 56

introduccedilatildeo de novas variedades via reproduccedilatildeo sexuada associada a ecologia da espeacutecie Esse 57

mecanismo permite o fluxo gecircnico entre as variedades de mandioca cultivadas do mesmo local 58

e entre estas com variedades de locais vizinhos (Pujol et al 2007) Outro mecanismo que 59

favorece essa diversidade eacute agrave circulaccedilatildeo de material propagativo por meio redes sociais de troca 60

variedades entre os agricultores (Pujol et al 2005 Emperaire amp Peroni 2007 Clement et al 61

2010) Esse mecanismo de troca eacute fundamental para o estabelecimento de interaccedilotildees entre as 62

diferentes aacutereas de roccedila promovendo oportunidade de seleccedilatildeo e cruzamento entre os diferentes 63

conjuntos de variedades aleacutem de permitir que este conjunto seja conservado (Emperaire amp Eloy 64

2008) 65

Diante desse cenaacuterio podemos observar que a agrobiodiversidade local natildeo eacute fruto 66

apenas de fatores naturais mas eacute tambeacutem influenciada pelas caracteriacutesticas culturais e 67

socioeconocircmica das populaccedilotildees locais refletidas especialmente no conhecimento e manejo 68

local Nesse sentido o presente estudo visa investigar as interaccedilotildees entre agricultores 69

tradicionais de comunidades rurais estabelecidas na regiatildeo semiaacuterida de Pernambuco 70

O objetivo geral eacute compreender os processos envolvidos na dinacircmica da diversidade 71

agriacutecola por meio do acesso ao conhecimento dos agricultores quanto as praacuteticas de menejo e 72

entender quais quais fatores podem estar relacionados a geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da diversidade 73

local Para esse estudo a mandioca foi escolhida como modelo devida agrave sua importacircncia 74

econocircmica e de subsistecircncia para comunidades locais Os objetivos especiacuteficos foram (i) 75

caracterizar o manejo da agricultura de sequeiro bem como analisar se os paracircmetros 76

socioeconocircmicos influenciam na diversidade local (ii) registrar as etnovariedades atualmente 77

29

cultivadas e identificar os diferentes criteacuterios morfoloacutegicos utilizados pelos agricultores para a 78

seleccedilatildeo e classificaccedilatildeo das etnovariedadese (iii) descrever a estrutura da rede de interaccedilatildeo entre 79

os agricultores e a diversidade de etnovariedades de mandioca cultivadas para tentar entender 80

como essas relaccedilotildees podem influenciar na manutenccedilatildeo ou perda da diversidade local 81

Material e meacutetodos 82

Aacutereas de estudo 83

Amostramos sete comunidades rurais estabelecidas na regiatildeo semiaacuterida de 84

Pernambuco Nordeste do Brasil Uma das comunidades (Caratildeo) pertence ao Municiacutepio de 85

Altinho (ldquo8deg 29rsquo 10rdquo S e 36deg 03rsquo 49rdquo W) e as demais (Satildeo Joseacute do Bola Brejo velho 86

Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima Lajedo Dantas e Aracuatilde) ao Municiacutepio de 87

Panelas (8 deg 39 48 S e 36 deg 01 23 W) (Fig 2) 88

O modelo agriacutecola adotado na regiatildeo segue o sistema tradicional de sequeiro4 e todas 89

as comunidades em estudo possuem histoacuterico de cultivo de mandioca (M esculenta) As aacutereas 90

de cultivo satildeo estabelecidas por unidade familiar e as atividades satildeo realizadas em sua maioria 91

por homens tendo cada agricultor cerca de um a dois hectares de aacuterea para plantio Aleacutem da 92

mandioca os cultivos mais utilizados na comunidades satildeo milho (Zea mays) e feijatildeo (Phaseolus 93

sp) 94

Para os membros das comunidades a produccedilatildeo da farinha de mandioca (Fig 3) eacute uma 95

das atividades agriacutecolas mais importantes tanto pelo seu papel na dieta alimentar quanto pela 96

importacircncia social e econocircmica 97

Caracteriacutesticas das comunidades do estudo 98

A comunidade do Caratildeo localiza-se sob domiacutenio de Caatinga caracterizado por climas 99

quentes e secos com regimes escassos de chuvas correspondente ao tipo BSrsquoh segundo a 100

4 Eacute o cultivo praticado sem irrigaccedilatildeo em regiotildees onde a pluviosidade eacute diminuta

30

classificaccedilatildeo climaacutetica de Koumlppen A vegetaccedilatildeo eacute composto por espeacutecies perenes que 101

conseguem sobreviver mesmo em periacuteodos de seca e espeacutecies anuais que aparecem apenas em 102

periacuteodos com chuva (Cruz et al 2013) 103

De acordo os dados de precipitaccedilatildeo do Laboratoacuterio de Anaacutelise e Processamento de 104

Imagens de Sateacutelites (LAPIS) no ano de 2012 foi registrada a menor meacutedia anual de 105

precipitaccedilatildeo dos uacuteltimos 10 anos para essa regiatildeo (3784 mm) Essa realidade ambiental quando 106

comparada com estudo realizado por de Sieber e colaboradores (2011) na mesma comunidade 107

observa-se que houve uma diminuiccedilatildeo considerada das praacuteticas agriacutecolas realizadas pelos 108

membros da comunidade culminando em uma seacuterie de prejuiacutezos aos agricultores como a perda 109

de plantaccedilotildees e animais Essa perda de produtividade afetou a estrutura econocircmica da 110

comunidade uma vez que a principal fonte de subsistecircncia das famiacutelias eacute a agricultura 111

Associada as atividades agriacutecolas os moradores complementam a dieta e a renda 112

familiar com a venda dos excedentes da produccedilatildeo em feiras-livres ou centros comerciais da 113

regiatildeo (Cruz et al 2013) E com a pecuaacuteria de pequena escala bovina caprina e com avicultura 114

No entanto a diminuiccedilatildeo da forragem natural e cultivada causada pela escassez de chuvas 115

associada aos elevados custos envolvidos na compra de raccedilatildeo levou muitos animais agrave morte 116

(Fig 4) 117

No Municiacutepio de Altinho a comunidade do Caratildeo foi inicialmente escolhida devido ao 118

reconhecimento preacutevio do registro de agricultores realizado em estudos desenvolvidos pelo 119

nosso grupo de pesquisa facilitando assim o acesso agraves informaccedilotildees necessaacuterias para o 120

desenvolvimento da pesquisa 121

As comunidades Aracuatilde Brejo Velho Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima 122

Lajedo Dandas e Satildeo Joseacute do Bola amostradas no estudo pertencem ao Municiacutepio de Panelas 123

que se limita ao Norte com o Municiacutepio de Altinho Essas comunidades estatildeo localizadas em 124

31

no domiacutenio morfoclimaacutetico de Caatinga O clima eacute do tipo semiaacuterido Bsrsquoh segundo a 125

classificaccedilatildeo climaacutetica de Koumleppen 126

A maior parte dos membros dessas comunidades assim como no Caratildeo tecircm como 127

principal fonte de subsistecircncia a agricultura de sequeiro principalmente o cultivo da mandioca 128

(Fig 5) Como renda extra a pecuaacuteria de pequeno porte com criaccedilatildeo bovina caprina e 129

avicultura sendo os excedentes dos alimentos produzidos vendidos em feiras locais ou para 130

escolas 131

As atividades agriacutecolas entre as comunidades tambeacutem foram duramente afetadas pela 132

seca na regiatildeo nos uacuteltimos anos A escassez de chuvas desestimulou o plantio a produccedilatildeo de 133

mandioca foi fortemente comprometida e a colheita foi adiada devido ao subdesenvolvimento 134

das raiacutezes gerando impactos econocircmicos para os membros das comunidades 135

As comunidades amostradas neste muniacutecipio foram escolhidas em funccedilatildeo das 136

indicaccedilotildees dos agricultores entrevistados a princiacutepio na comunidade do Caratildeo que reportaram 137

manter viacutenculos sociais com os agricultores do municiacutepio vizinho 138

Coleta de dados 139

Acessamos as comunidades com a ajuda de um liacuteder comunitaacuterio (Alexandre O 140

Nascimento) em companhia de outros pesquisadores que desenvolviam pesquisas na regiatildeo 141

Previamente as entrevistas todos objetivos e procedimentos para a realizaccedilatildeo da pesquisa foram 142

apresentados aos entrevistados e todos que aceitaram participar foram convidados a assinar um 143

Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) de acordo com a Resoluccedilatildeo 46612 do 144

Conselho Nacional de Sauacutede concordando com a realizaccedilatildeo das entrevistas e avaliaccedilotildees 145

morfoloacutegicas em campo O presente trabalho foi submetido ao Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa da 146

Universidade de Pernambuco (UPE) 147

32

Em todas as comunidades o meacutetodo de acesso ao informante foi o mesmo a partir do 148

primeiro contato com um informante-chave identificamos outros potenciais agricultores 149

seguindo a teacutecnica de ldquobola de neverdquo (Albuquerque et al 2014a) Esse meacutetodo consistiu na 150

amostragem intencional dos participantes e nesse particular os agricultores chefes de famiacutelia 151

(ge 18 anos) da regiatildeo que declararam cultivar mandioca (M esculenta) em suas roccedilas 152

Reunimos informaccedilotildees socioeconocircmicas desses agricultores tais como nome idade gecircnero 153

escolaridade renda experiecircncia na agricultura e tamanho da aacuterea de cultivo para tentar 154

identificar se esses paracircmetros socioeconocircmicos tecircm uma relaccedilatildeo com a agrobiodiversidade 155

local 156

Em seguida conduzimos entrevistas semiestruturadas (Albuquerque et al 2014b) com 157

o objetivo de caracterizar o modo de vida dos agricultores o manejo da agricultura bem como 158

obter dados sobre o conhecimento uso e caracterizaccedilatildeo das etnovariedades de mandioca 159

5cultivadas Aleacutem disso neste momento tambeacutem aplicamos a teacutecnica da lista livre 160

(Albuquerque et al 2014b) a fim de registrar as variedades de mandioca atualmente cultivadas 161

pelos agricultores e identificar as de maior importacircncia local Apoacutes as entrevistas realizamos 162

visitas aos roccedilados para o registro fotograacutefico georreferenciamento das roccedilas e caracterizaccedilatildeo 163

morfoloacutegica das variedades cultivadas 164

Entrevistamos 50 agricultores no total distribuiacutedos nas sete comunidades Caratildeo (3) 165

Satildeo Joseacute do Bola (10) Brejo velho (7) Japaranduba de Baixo (7) Japaranduba de Cima (8) 166

Lajedo Dantas (9) e Aracuatilde (6) Destes 10 satildeo mulheres e 40 homens com idade variando entre 167

31 e 82 anos A maioria dos entrevistados natildeo apresentava instruccedilatildeo formal (46) mais da 168

metade eram aposentados (56) e os demais apresentaram renda inferior a um salaacuterio miacutenimo 169

5 Entende-se por etnovariedade de mandioca o conjunto de variedades intraespeciacuteficas de mandioca (M esculenta)

reconhecidas pelos agricultores por nomenclatura popular local (Peroni 2004)

33

O tempo meacutedio de experiecircncia na agricultura foi de 40 anos Cada agricultor possui entre um e 170

dois roccedilados (aacuterea de plantio) com aproximadamente um a dois hectares 171

Redes de interaccedilatildeo social 172

Confeccionamos a rede que descreve as interaccedilotildees entre os agricultores e as 173

etnovariedades cultivadas a partir de uma matriz de incidecircncia R (presenccedilaausecircncia) onde nas 174

linhas estavam as etnovariedades de mandioca cultivadas (j) e nas colunas os agricultores locais 175

(i) O elemento Rij dessa matriz foi 1 (um) no caso de a etnovariedade j ser cultivada pelo 176

agricultor i caso contraacuterio seria atribuiacutedo 0 (zero) As interaccedilotildees entre os agricultores e as 177

etnovariedades foram descritas em dois modos (Pires et al 2011) onde os ldquonoacutesrdquo da esquerda 178

representam os agricultores que foram vinculados aos ldquonoacutesrdquo da direita representados pelas 179

etnovariedades citadas durante as entrevistas Esses ldquonoacutesrdquo seriam o espelho das decisotildees dos 180

agricultores em manter um determinado conjunto local de etnovariedades em suas roccedilas 181

Avaliamos a estrutura da rede que conecta os agricultores agraves etnovariedades cultivadas 182

a partir de trecircs cenaacuterios hipoteacuteticos (Fig 6) segundo Cachevia et al (2014) No primeiro se os 183

agricultores apresentassem diferentes graus de seletividade para a utilizaccedilatildeo de suas 184

etnovariedades a estrutura seria aninhada (Fig 6a) Isso significa que alguns agricultores 185

cultivam vaacuterias etnovariedades enquanto que outros cultivam o subconjunto mais 186

disponiacutevelcomum dessas etnovariedades Em segundo lugar se a rede apresentasse uma 187

estrutura modular (Fig 6b) significaria que os agricultores apresentam semelhanccedila na seleccedilatildeo 188

do recurso ou seja subgrupos de agricultores cultivam subgrupos distintos de etnovariedades 189

regionalmente disponiacuteveiscomuns E o terceiro se os agricultores natildeo apresentassem 190

preferecircncias quanto a seleccedilatildeo das etnovariedades entatildeo a rede apresentaria uma estrutura 191

aleatoacuteria (Fig 6c) 192

O objetivo da anaacutelise de rede nesse estudo foi tentar entender se o conjunto de 193

etnovariedades presentes no local do estudo constituem uma subamostra de um conjunto mais 194

34

amplo no caso de um alto grau de aninhamento ou se a sua composiccedilatildeo eacute determinada por 195

variaacuteveis locais (Ulrich 2008) Onde as conexotildees entre os informantes e as etnovariedades 196

representam as decisotildees dos agricultores de manter um conjunto determinado de variedades de 197

mandioca dentre as comunidades Esta anaacutelise tambeacutem nos permitiu identificar quais os nuacutecleos 198

de etnovariedades que apresentam maior conexatildeo com os diferentes perfis dos agricultores 199

Diversidade fenotiacutepica 200

Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 201

Apoacutes as entrevistas buscamos identificar quais os caracteres morfoloacutegicos considerados 202

mais importantes para a diferenciaccedilatildeo das etnovariedades de mandioca a partir do seguinte 203

questionamento ldquoQuais as diferenccedilas que vocecirc reconhece para separar uma qualidade de 204

mandioca (variedade) de uma outrardquo Assim os agricultores mencionaram quais os criteacuterios 205

mais importantes utilizados para a caracterizaccedilatildeo de suas etnovariedades 206

Compilamos uma listagem dessas caracteriacutesticas baseada nas indicaccedilotildees dos 207

agricultores e a partir delas selecionamos os caracteres morfoloacutegicos mais citados para a 208

caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica ldquoin siturdquo tais como cor da folha (cor da folha desenvolvida) olho 209

(cor do broto foliar) cor do talo (cor do peciacuteolo) maniva (cor externa do caule) embriatildeo 210

(protuberacircncia da cicatriz foliar) cor da entrecasca (coacutertex da raiz) e cor miolo (polpa da raiz) 211

(Tabela 1) O objetivo dessa caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica foi indicar como estaacute distribuiacuteda a 212

variaccedilatildeo fenotiacutepica das etnovariedades de mandioca nas comunidades na regiatildeo semiaacuterida de 213

Pernambuco bem como identificar que caracteriacutesticas satildeo mais importantes para distinguir 214

esses grupos no intuito de tentar entender como os agricultores classificam suas variedades de 215

mandioca 216

Nas sete comunidades para cada etnovariedade citada no roccedilado caracterizamos ldquoin 217

siturdquo trecircs indiviacuteduos de M esculentade de cada uma totalizando 171 indiviacuteduos (Aracuatilde=11 218

35

Caratildeo=4 Satildeo Joseacute do Bola=13 Brejo Velho=16 Japaranduba de Baixo=6 Japaranduba de 219

Cima=3 e Lajedo Dantas=4) Fotografamos e avaliamos todos os indiviacuteduos com base em parte 220

dos descritores morfoloacutegicos seguindo recomendaccedilotildees de Fukuda amp Guevara (1998) e aleacutem 221

disso georreferenciamos todas as aacutereas de roccedila 222

Anaacutelise dos dados 223

Analisamos os dados socioeconocircmicos das entrevistas semiestruturadas por meio de 224

estatiacutestica descritiva para explicar os aspectos da realidade econocircmica e social dos agricultores 225

Para identificar se a diversidade intraespeciacutefica da mandioca cultivada localmente eacute 226

influenciada por paracircmetros socioeconocircmicos utilizamos o coeficiente de correlaccedilatildeo de 227

Spearman (Ple005) (Sokal amp Rohlf 1995) 228

Com base na lista livre das variedades de mandioca cultivadas pelos agricultores 229

calculamos a frequecircncia de citaccedilatildeo o ranking e o iacutendice de saliecircncia com o objetivo de 230

identificar quais as mais importantes ou preferidas para as comunidades O iacutendice de saliecircncia 231

considerou a frequecircncia de citaccedilatildeo e o ranking referente ao posicionamento das variedades 232

dentro das listas livres (Thompson amp Juan 2006) As etnovariedades mais citadas e com maior 233

valor de saliecircncia representam as de maior importacircncia ou preferecircncia para as comunidades 234

Anaacutelise de rede 235

Medimos o grau de aninhamento (NODF) para investigar a estrutura de rede de 236

interaccedilatildeo social dos agricultores em funccedilatildeo das variedades cultivadas As matrizes altamente 237

aninhadas apresentam NODF tendendo a 1 caso contraacuterio tentem a ser 0 238

Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 239

Para o estudo das semelhanccedilas e diferenccedilas fenotiacutepicas entre as variedades de mandioca 240

ldquoin siturdquo realizamos anaacutelises multivariadas para identificar possiacuteveis grupos de variedades que 241

compartilham semelhanccedilas entre si 242

36

A anaacutelise de correspondecircncia muacuteltipla (MCA) permitiu identificar como as variedades 243

de mandioca estatildeo ordenadas em funccedilatildeo dos seus descritores etnobotacircnicos As etnovariedades 244

foram plotadas ao longo um plano cartesiano bi ou tridimensional onde a variaccedilatildeo total eacute 245

explicada pelos dois primeiros eixos Complementar a esta anaacutelise realizamos a anaacutelise de 246

agrupamento hieraacuterquico (Cluster) para identificar como estatildeo agrupadas as etnovariedades de 247

acordo seus descritores Conferimos a consistecircncia do dendrograma com coeficiente de 248

correlaccedilatildeo cofeneacutetica conforme Sneath amp Sokal (1973) que quantifica se a correlaccedilatildeo entre a 249

matriz de distacircncias originais e a matriz de distacircncias cofeneacuteticas eacute representativa Para 250

mensurar as dissimilaridades entre as variedades de mandioca foi utilizada a distacircncia 251

euclidiana e com o meacutetodo de Ward 252

Softwares utilizados 253

Para a anaacutelise da lista livre usamos o software ANTROPAC versatildeo 10 O software 254

ANINHADO 30 (Guimaratildees amp Guimaratildees 2006) foi usado para medir o grau de aninhamento 255

da rede Utilizamos o software estatiacutestico R (R core team 2017) para a anaacutelise de correlaccedilatildeo 256

de Spearman com o pacote corrplot (Wei amp Simko 2013) o desenho da rede que descreve a 257

interaccedilatildeo entre os agricultores e as etnovariedades com o pacote bipartite (Dormann et al 258

2017) E com os pacotes FactoMineR (LEcirc et al 2008) factoextra (Kassambara et al 2016) e 259

vegan (Oksanen et al 2017) foram realizadas as anaacutelises de cluster de correspondecircncia 260

muacuteltipla (MCA) e de correlaccedilatildeo coefeneacutetica respectivamente 261

Resultados 262

As diferentes etnovariedades de mandioca encontradas no estudo suprem a demanda 263

local por alimento enquanto outras atendem agraves preferecircncias individuais ou do comeacutercio As 264

variedades que possuem maior rendimento e a farinha produzida apresenta coloraccedilatildeo branca 265

satildeo as de maior valor comercial para os agricultores devido agraves preferecircncias do mercado Jaacute 266

37

outras variedades que satildeo mais moles e apresentam coloraccedilatildeo amarelada natildeo satildeo empregadas 267

na produccedilatildeo de farinha mas sim consumidas cozidas ou assadas A depender da demanda local 268

os agricultores intencionalmente aumentam ou diminuem a frequecircncia de suas variedades nos 269

roccedilados seja por alguma exigecircncia do comeacutercio ou para consumo familiar 270

Nas comunidades os agricultores separam suas variedades de mandioca em dois grupos 271

como observado em outras comunidades na mata Atlacircntica por Emperaire e Peroni (2007) o 272

das ldquomacaxeirasrdquo que satildeo as variedades exploradas basicamente para o consumo familiar sem 273

processo preacutevio de desintoxicaccedilatildeo cujas raiacutezes satildeo consumidas fritas eou cozidas Sendo 274

utilizadas tambeacutem como complemento na dieta dos animais E o grupo das ldquomandiocasrdquo que 275

satildeo as variedades que necessitam de processo preacutevio de desintoxicaccedilatildeo para o consumo 276

utilizadas comumente para a produccedilatildeo de farinha de mandioca Para os agricultores as 277

ldquomandiocasrdquo possuem maior valor comercial pois apresentam maior rendimento e 278

rentabilidade pois a farinha produzida eacute branca e atende as preferencias do comercio local 279

Aleacutem da farinha outros produtos e subprodutos produzidos dentre os quais foram citados 280

ldquotapioca ou gomardquo ldquobijurdquo ou ldquobolo de mandiocardquo satildeo utilizados para o consumo proacuteprio ou 281

eventual comercializaccedilatildeo 282

Os informantes natildeo possuiacuteam conhecimento sobre a origem dos nomes das variedades 283

de mandioca Quanto a compreensatildeo da geraccedilatildeo da diversidade intraespeciacutefica identificamos 284

que apesar de 66 dos agricultores citarem que conhecem variedades fruto de germinaccedilatildeo de 285

suas sementes nenhum deles utiliza as manivas para o plantio por essas variedades de 286

mandioca ldquovoluntaacuteriasrdquo natildeo apresentarem bom rendimento 287

Observamos que existe uma baixa correlaccedilatildeo entre a diversidade de variedades 288

atualmente cultivadas e as variaacuteveis socioeconocircmicas como no caso do nuacutemero de roccedilados 289

(r=028 Ple005) e do tamanho do roccedilado (r=033 Ple005) (Fig 7) Essa baixa correlaccedilatildeo pode 290

38

ser explicada pelo fato de existirem grupos de agricultores que preferem manter as variedades 291

de maior valor econocircmico e de subsistecircncia mesmo com aacutereas maiores de cultivo 292

Verificamos tambeacutem uma correlaccedilatildeo positiva moderada entre o nuacutemero de variedades 293

conhecidas com o nuacutemero de variedades atualmente cultivadas (r=054 Ple005) Na lista livre 294

foram identificadas 22 etnovariedades de mandioca cultivadas (132 citaccedilotildees no total) sendo 295

oito dessas mais citadas com maiores valores de saliecircncia (entre 047 e 0082) (Tabela 2) As 296

etnovariedades ldquoMacaxeira Rosardquo e ldquoMandioca Isabel de Souzardquo exibiram os maiores valores 297

de saliecircncia 047 e 037 respectivamente Logo essas variedades satildeo as mais conhecidas 298

dentro das comunidades com 66 e 48 das citaccedilotildees respectivamente 299

Dentre as etnovariedades citadas 12 foram idiossincraacuteticas pois apresentaram menor 300

frequecircncia de citaccedilatildeo e menores valores de saliecircncia (entre 0032 e 0006) (Tabela 2) 301

Redes de interaccedilatildeo social 302

A rede apresentou uma estrutura aninhada com grau de aninhamento significativamente 303

superior aos modelos nulos (N=3072 Plt0001) para as comunidades sendo um nuacutecleo de 304

etnovariedades altamente conectado aos agricultores (Fig 8) A estrutura aninhada nos permite 305

inferir que existe um grupo de agricultores que cultiva uma maior diversidade de etnovariedades 306

de mandioca em suas roccedilas enquanto que outro subgrupo que tem menor diversidade cultivam 307

as mais comuns ou disponiacuteveis (Cavechia et al 2014) Isso significa que os agricultores locais 308

mesmo em diferentes comunidades cultivam um nuacutecleo de etnovariedades comum entre eles 309

(n=6 Tabela 2) 310

Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 311

Observamos que a maioria dos indiviacuteduos de mandioca satildeo caracterizados por meio de 312

um conjunto de sete caracteres morfoloacutegicos os quais foram citados pelos agricultores como 313

mais importantes para a caracterizaccedilatildeo de suas variedades Nas visitas aos roccedilados registramos 314

39

as etnovariedades atualmente cultivadas e a tabela 3 fornece a lista completa com as 17 315

etnovariedades de mandioca e o local de registro 316

Por meio da anaacutelise de correspondecircncia muacuteltipla as variedades de mandioca foram 317

ordenadas em funccedilatildeo de seus descritores ao longo do primeiro e segundo eixo correspondentes 318

a 3680 da variacircncia total (Fig 9) 319

As variaacuteveis mais correlacionadas e que agruparam as variedades de mandioca no 320

primeiro eixo foram cor da folha desenvolvida (CFD) (r= 07239 Ple0001) cor do coacutertex da 321

raiz (CDR) (r= 06473 Ple0001) cor do broto foliar (CBF) (r= 06880 Ple0001) cor do peciacuteolo 322

(CDP) (r= 05250 Ple005) cor externa do caule (CEC) (r= 06883 Ple005) cor da polpa da 323

raiz (PDR) (r= 02473 Ple005) Para o segundo eixo as variaacuteveis correlacionadas foram cor 324

da folha desenvolvida (CFD) (r= 07220 Ple0001) cor externa do caule (CEC) (r= 08718 325

Ple0001) e cor do peciacuteolo (CDP) (r= 06927 Ple005) 326

O agrupamento de todas as variedades caracterizadas ldquoin siturdquo gerou uma aacutervore 327

hieraacuterquica (dendrograma) (Fig 9) utilizando a distacircncia euclidiana seguindo o criteacuterio de 328

Ward O dendrograma gerado apresentou um coeficiente de correlaccedilatildeo cofeneacutetica r= 06780 329

indicando que existe consistecircncia com os dados originais no agrupamento quanto agrave 330

classificaccedilatildeo e estrutura de tal forma que as variedades foram agrupadas em oito classes as 331

quais foram explicadas pelas variaacuteveis mais significativas descritas na tabela 4 332

O resultado do agrupamento (utilizada a distacircncia euclidiana e com o meacutetodo de Ward) 333

observamos que as etnovariedades de mandioca caracterizadas ldquoin siturdquo foram agrupadas em 334

dois grandes agrupamentos indicados na Fig 10 pelos retacircngulos em vermelho A partir dessa 335

anaacutelise percebemos que os caracteres morfoloacutegicos selecionados pelos agricultores natildeo foram 336

suficientes para separar as variedades de macaxeira e mandioca pois em ambos os 337

agrupamentos encontramos tanto macaxeiras quanto mandiocas 338

40

As variedades da classe 1 foram identificadas pelos agricultores pela cor do peciacuteolo 339

(CDP) verde A classe 2 agrupou as etnoveriedades caracterizadas pela protuberacircncia da cicatriz 340

foliar (PCF) mais protuberante Esse descritor segundo os agricultores era identificado como 341

ldquoembriatildeordquo A classe 3 consiste apenas da variedade ldquoMandioca Pretonardquo indicada pela presenccedila 342

de cor do peciacuteolo (CDP) vermelho A classe 4 agrupou trecircs variedades caracterizadas pelos 343

agricultores pela presenccedila de cor coacutertex da raiz (CDR) rosa e cor da polpa da raiacutez (PDR) branca 344

identificadas como ldquoMacaxeira vermelhardquo ldquoMacaxeira Rosa Brancardquo ldquoMacaxeira Rosardquo As 345

variedades agrupadas na classe 5 foras as variedades de mandioca caracterizadas pelos 346

agricultores por apresentarem cor do coacutertex (CDR) da raiacutez branca A classe 6 agrupou 347

variedades identificadas pelos agricultores pela cor do broto foliar (CBF) verde A classe 7 348

consiste apenas da variedade ldquoMacaxeira Sementerdquo identificada pelos agricultores pela cor do 349

peciacuteolo (CDP) roxo e protuberacircncia da cicatriz foliar pouco proeminente Essa variedade 350

segundo os agricultores era fruto do nascimento espontacircneo no roccedilado poreacutem eles geralmente 351

natildeo utilizam essas variedades por apresentarem apenas uma raiz pequena e de baixo 352

rendimento Na classe 8 as variedades foram identificadas pelos agricultores pela cor do peciacuteolo 353

(CDP) verde amarelado e protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) pouco proeminente As 354

ldquoMandioca Isabel de Souzardquo ldquoMandioca Isabel trecircs galhosrdquo segundo os agricultores se 355

diferenciavam pelo maior nuacutemero de caules presentes na variedade ldquoIsabel trecircs galhosrdquo 356

Discussatildeo 357

As sete comunidades estudadas manejavam um nuacutemero consideraacutevel de variedades 358

locais A quantidade de etnovariedades registradas eacute proacutexima a encontrada por Bender et al 359

(2009) e Cavechia et al (2014) em comunidades na regiatildeo sul e sudeste por Oler e Amorozo 360

(2017) em uma comunidade tradicional na regiatildeo centro-oeste Poreacutem foi quantitativamente 361

inferior quando comparada a estudos como os de Elias et al (2001) e Kawa et al (2013) em 362

comunidades na regiatildeo amazocircnica pois possuiacuteam uma alta diversidade Essa alta diversidade 363

41

na regiatildeo amazocircnica pode estar relacionada com o fato de que essa regiatildeo eacute o provaacutevel centro 364

de origem da mandioca (M esculenta) (Allem 1994) 365

As etnovariedades registradas neste estudo estatildeo disponiacuteveis para a maioria dos 366

agricultores dessa regiatildeo e esse fator favorece a circulaccedilatildeo das etnovariedades entre as 367

comunidades locais Por isso haacute semelhanccedilas das etnovariedades utilizadas entre os agricultores 368

da mesma comunidade e entre comunidades vizinhas 369

Parte dos agricultores optam por manter uma alta frequecircncia de variedades mais 370

utilizadas enquanto que outros optam por manter etnovariedades de baixa frequecircncia 371

Conforme discutido por Amorozo (2013) os agricultores escolhem seu acervo de acordo com 372

as necessidades e contexto em que vivem A reduccedilatildeo da diversidade de etnoveriedades por 373

exemplo pode ser impulsionada por fatores que simplificam o sistema como a seleccedilatildeo de 374

etnovariedades para a produccedilatildeo de farinha resultando no cultivo de poucas ou ateacute de uma uacutenica 375

etnovariedade (Peroni amp Hanazaki 2002) mesmo em aacutereas maiores 376

377

Redes de interaccedilatildeo social 378

Com as anaacutelises de rede demonstramos que os agricultores de diferentes comunidades 379

em uma mesma regiatildeo efetivamente trocam variedades de mandioca entre si corroborando 380

com estudos realizados por Emperaire amp Eloy (2008) Pautasso et al (2012) e Cavechia et al 381

(2014) Nesses estudos os autores tambeacutem consideram que as trocas de etnovariedades por 382

meio da rede de intercacircmbio entre os agricultores eacute um mecanismo fundamental para a 383

manutenccedilatildeo da diversidade local 384

A visualizaccedilatildeo da rede demonstrou que entre as comunidades os agricultores 385

compartilham um nuacutecleo de etnovariedades mais utilizadas dentre as quais estatildeo as de maior 386

valor econocircmico e de subsistecircncia Essas de maior frequecircncia satildeo aquelas altamente produtivas 387

utilizadas pelos agricultores para atenderem agraves demandas de mercado por farinha e para o 388

consumo proacuteprio (Kawa et al 2013) 389

42

No entanto observamos que existe outro nuacutecleo de etnovariedades menos frequentes 390

Essas etnovariedades raras podem ser resultantes do processo de experimentaccedilatildeo ou 391

preferecircncias individuais dos agricultores Outra possiacutevel razatildeo para a baixa frequecircncia de 392

algumas etnovariedades poderia ser explicada pela variaccedilatildeo da nomenclatura pelos 393

agricultores que segundo Peroni amp Hanazaki (2002) pode ocorrer durante o processo de troca 394

e introduccedilatildeo de novas variedades aos roccedilados Ainda assim natildeo descartamos a hipoacutetese de que 395

essas etnovariedades raras possam ser provenientes do cruzamento entre variedades diferentes 396

cultivadas da mesma roccedilado ou em roccedilas vizinhas De acordo com Martins (2005) essas 397

variedades fruto de germinaccedilatildeo expentacircnea satildeo incorporadas aos roccedilados pelos agricultores 398

pela curiosidade em experimentar novas variedades agraves suas coleccedilotildees 399

Nesse estudo admitimos que optar por etnovariedades raras entre as comunidades 400

estudadas eacute um comportamento adotado por agricultores que manejam uma maior diversidade 401

corroborando com os estudos de Cavechia et al (2014) e Emperaire et al (2016) em regiotildees 402

uacutemidas Para esses autores etnovaridedades de baixa frequecircncia representam um subconjunto 403

das de alta frequecircncia cultivadas por agricultores que manteacutem a maior diversidade em seus 404

roccedilados Sendo assim inferimos que no geral entre as comunidades satildeo os agricultores 405

generalistas aqueles que cultivam maior diversidade os responsaacuteveis por incorporar novas 406

etnovariedades aos roccedilados 407

As decisotildees dos agricultores em manter o acervo direcionado principalmente para 408

atender a demanda de mercado por exemplo podem levar a uma homogeneizaccedilatildeo nas roccedilas 409

colocando em risco a manutenccedilatildeo da diversidade local (Peroni amp Hanazaki 2002) Como 410

discutido por Elias et al (2000) os agricultores que selecionam apenas um nuacutemero reduzido e 411

especiacutefico de variedades mais produtivas tendem a fazer com que as variedades menos 412

frequentes desapareccedilam ao longo do tempo Essa tendecircndia pode influenciar na capacidade de 413

43

resiliecircncia do sistema assim como dos agricultores em lidar com possiacuteveis adversidades 414

ambientais que possam ocorrer 415

Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 416

No geral os agricultores demonstraram uma tendecircncia em classificarseparar suas 417

diferentes etnovariedades de mandioca a partir da combinaccedilatildeo de um conjunto de sete 418

caracteres morfoloacutegicos distintos e de faacutecil percepccedilatildeo os quais natildeo tem relaccedilatildeo com o uso 419

como por exemplo a cores das raiacutezes caule e folhas Logo consideramos que esses caracteres 420

morfoloacutegicos podem ser considerados como uma forma de classificaccedilatildeo pelos agricultores 421

baseada na capacidade percepccedilatildeo das diferenccedilas morfoloacutegicas que cada etnovariedades 422

apresenta (Boster 1985) Estes resultados nos levam a entender que entre os agricultores o 423

conhecimento sobre a diversidade da mandioca estaacute relacionado ao conhecimento de 424

caracteriacutesticas morfoloacutegicas consistentes 425

A existecircncia de alguns fenoacutetipos comuns nos permitiu avaliar a classificaccedilatildeo da 426

consistecircncia da taxonomia popular entre os agricultores Por exemplo as etnovariedades 427

ldquoMaxaceira Rosardquo e ldquoMacaxeira Rosa Brancardquo e ldquoMacaxeira vermelhardquo foram agrupadas no 428

mesmo cluster (C4) por apresentaram fenoacutetipos semelhantes Notamos que os agricultores 429

classificaram essas variedades de acordo com os traccedilos morfoloacutegicos mais relevantes como a 430

cor do coacutertex da raiz rosa e cor branca da polpa O mesmo ocorreu com as etnovariedades 431

ldquoMandioca varudardquo ldquoMandioca campina da granderdquo e ldquoMandioca campinardquo caracterizadas 432

pela presenccedila do peciacuteolo verde agrupadas no cluster (C1) 433

A partir dessas evidecircncias consideramos a hipoacutetese de que as variedades mesmo 434

apresentando caracteriacutesticas morfoloacutegicas muito semelhantes estatildeo sujeitas a variaccedilatildeo 435

nomenclatural durante o processo a incorporaccedilatildeo aos roccedilados pelos agricultores pois a 436

capacidade para distinguir e nomear variedades entre os agricultores da mesma regiatildeo pode 437

variar (Sambatti et al 2001 Elias et al 2001 Mekbib 2007) Consideramos tambeacutem que pode 438

44

existir variaccedilatildeo geneacutetica entre os indiviacuteduos identificados por um mesmo nome ou entatildeo que 439

os agricultores datildeo o mesmo nome para variedades diferentes E esta situaccedilatildeo pode levar a uma 440

superestimaccedilatildeo ou subestimaccedilatildeo da diversidade de mandioca cultiva nas aacutereas de estudo 441

Sabemos que a mandioca eacute propagada vegetativamente pelos agricultores por meio de 442

estacas em sistemas de agricultura tradicional No entanto alguns variedades produzem flores 443

e sementes que germinam e podem originar outras variedades ou outros clones por meio de 444

fecundaccedilatildeo cruzada (Elias et al 2001) Nesse contexto a etnovariedade ldquoMacaxeira Sementerdquo 445

presente no cluster (C7) trata-se de um uacutenico indiviacuteduo amostrado em uma roccedila de um dos 446

agricultores Esta apresentava algumas caracteriacutesticas morfoloacutegicas distintas das demais 447

reconhecidas pelo agricultor como por exemplo a produccedilatildeo de uma raiz uacutenica e 448

consequentemente de baixo rendimento Encontramos apenas um indiviacuteduo dessa 449

etnovariedade e nossa hipoacutetese de que esta poderia ter sido originada da germinaccedilatildeo da 450

semente mesmo quando 100 dos informantes declararam natildeo dar qualquer importacircncia e 451

descartar essas ldquovariedades-voluntaacuteriasrdquo foi confirmada pelo agricultor que afirmou que se 452

tratava de uma variedade nascida da germinaccedilatildeo da semente Esse comportamento vai de 453

encontro ao estudo de Fraser et al (2012) pois apesar dos agricultores reportarem nas 454

entrevistas que conhecem essas ldquovariedades-voluntaacuteriasrdquo nenhum agricultor faz o uso delas 455

Peroni et al (1999) e Agre et al (2016) analisando morfologicamente as variedades 456

locais de mandioca mantidas por agricultores em sistemas agriacutecolas tropicais tambeacutem 457

demonstraram que os agricultores satildeo coerentes quanto a separaccedilatildeo e identificaccedilatildeo de suas 458

etnovariedades a partir da formaccedilatildeo de grupos de coesos quanto a nomenclatura local utilizada 459

No entanto para o melhor entendimento dessa diversidade aleacutem da caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica 460

o uso de anaacutelises complementares como anaacutelise molecular seria importante para tentar 461

identificar se esses grupos representam a mesma variedade com nomes distintos ou se satildeo 462

variedades distintas com o mesmo nome 463

45

Conclusatildeo 464

O estudo demonstrou que no sistema de manejo da mandioca ao niacutevel de roccedila em 465

comunidades localizadas na regiatildeo semiaacuterida de Pernambuco compotildee uma diversidade 466

intrespeciacutefica de mandioca para atender agraves demandas econocircmicas e de subsistecircncia das 467

populaccedilotildees locais 468

Com relaccedilatildeo a anaacutelise de rede demostramos que haacute um nuacutecleo de etnovariedades 469

fortemente conectado aos agricultores e sua composiccedilatildeo eacute direcionada pelas preferecircncias e 470

necessidades individuais dos agricultores que foram os fatores responsaacuteveis pelo surgimento 471

da estrutura aninhada observada na anaacutelise rede entre as comunidades deste estudo E esse 472

padratildeo aninhado observado contribui na conservaccedilatildeo das etnovariedades mais comuns mas 473

tambeacutem pode resultar em perda daquelas de menor frequecircncia ao longo do tempo 474

A caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica ldquoin siturdquo nos permitiram inferir que os agricultores 475

reconhecem as diferentes caracteriacutesticas morfoloacutegicas de suas cultivares e satildeo coerentes na 476

separaccedilatildeo de suas variedades de mandioca e macaxeira Entretanto esses resultados sugerem a 477

realizaccedilatildeo de um estudo em niacutevel de diversidade geneacutetica exploratoacuterio para identificar se as 478

consistecircncias morfoloacutegicas refletem em consistecircncias geneacuteticas elucidando assim as possiacuteveis 479

confusotildees atribuiacutedas aos nomes das etnovariedades de mandioca 480

Agradecimentos 481

Agradecemos ao liacuteder comunitaacuterio Alexandre O Nascimento aos agricultores e 482

agricultoras das comunidades pela acolhida confianccedila e pela gentileza de compartilharem 483

conosco seus conhecimentos e contribuiacuterem com este estudo Especialmente a Arlindo Ferreira 484

Edgar Antocircnio Joseacute Sebastiatildeo Juvenal Oliveira e Janete Alves Ao Laboratoacuterio de Ecologia e 485

Evoluccedilatildeo de Sistemas Socioecoloacutegicos (LEA - UFPE) E agradecemos ao CNPq pelo apoio 486

com a bolsa de estudos do primeiro autor 487

46

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ANEXOS 615

616

Nome da revista 617

Human Ecology 618

Link de acesso 619

httpsgooglDVLbFj 620

Qualis-CAPES 621

B1 em Biodiversidade 622

623

624

625

626

627

628

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630

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641

642

52

Figuras 643

644

645

Fig 1 Partes do processo de fabricaccedilatildeo de farinha de mandioca Onde a raspagem b e c 646

processo de trituraccedilatildeo e d peneiramento Foto registrada em Abril de 2017 por Mirela Santos 647

648

649

650

c

d

b

a

53

651

Fig 2 Mapa de localizaccedilatildeo geograacutefica dos Municiacutepios de Altinho e Panelas e das comunidades 652

estudadas na regiatildeo semiaacuterida do Estado de Pernambuco (Elaborado por SANTOS 2018) 653

54

654

655

656

657

Fig 3 Processo de fabricaccedilatildeo da farinha de mandioca Apoacutes a colheita as raiacutezes satildeo lavadas 658

raspadas e trituradas (a) A massa extraiacuteda eacute prensada e coada Ao sair da prensa a massa 659

peneirada (b) e em seguida eacute torrada (c) em fornos artesanais ou parcialmente mecanizados 660

Imagem registrada em janeiro de 2017 na Comunidade do Caratildeo por Mirela Santos 661

662

663

a

b c

55

664

Fig 4 a Sede da Comunidade do Caratildeo b Agricultor transportando a palma forrageira que eacute 665

um exemplo de estrateacutegia adaptativa para suprir a falta de alimento dos animais devido agrave seca 666

c Feira-livre que acontece na comunidade a cada quinze dias Imagem registrada em julho de 667

2016 na Comunidade do Caratildeo por Mirela Santos 668

669

670

Fig 5 a O agricultor nos explicava as mudanccedilas que vem fazendo em seus roccedilados para se 671

adaptar aos longos periacuteodos de seca b Quando o agricultor nos mostrava as diferentes 672

etnovariedades que mantinha em sua roccedila c Durante a pesquisa nos explicavam como era feita 673

a colheita da mandioca e como selecionavam as manivas para o proacuteximo plantio Foto registrada 674

em abril de 2017 na Comunidade do Brejo Velho por Mirela Santos 675

a

b c

c b

a

56 676

677

Fig 6 Possiacuteveis estruturas de rede que descrevem as interaccedilotildees dos agricultores (losango) 678

ligados as etnovariedades (ciacuterculos) que cultivam Onde a Aninhada b Modular c Aleatoacuteria 679

(Fonte Cavechia et al 2014 com adaptaccedilotildees) 680

681

682

683

684

685

686

687

688

689

690

691

692

693

694

695

696

697

a c b

57

698

699

700

701

702

703

704

705

706

707

Fig 7 Correlaccedilatildeo de Spearman entre a diversidade de etnovariedades de mandiocas conhecidas 708

como cultivadas e variedades atualmente cultivadas por agricultor e as variaacuteveis 709

socioeconocircmicas Onde Nvc= nuacutemero de citadas como cultivadas Nve= nuacutemero de variedades 710

atualmente cultivadas Esc= escolaridade Id= idade Gen= gecircnero Tr= tamanho do roccedilado 711

Exp= experiecircncia na agricultura Sld= renda Nr= nuacutemero de roccedilados Cores distintivas 712

representam correlaccedilotildees significativas (Ple005) 713

714

58

715

Fig 8 Modelo individual de rede de etnovariedades de mandioca citadas (esquerda) por 716

agricultores como cultivadas (direita) nos Municiacutepios de Altinho e Panelas As redes foram 717

desenhadas com o pacote bipartite (Dormann et al 2017) usando o software R (R CORE 718

TEAM 2017) 719

720

59

721

Fig 9 Anaacutelise de Correspondecircncia Muacuteltipla das 17 etnovariedades de mandioca considerando 722

os sete descritores morfoloacutegicos utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo em roccedilas de 723

agricultores tradicionais de sete comunidades no semiaacuterido de Pernambuco 724

725

726

727

728

729

730

731

732

733

734

735

736

737

McCambadinha

McCampina

McCampinaDaGrande

McCampinaRasteira

McCampinaVaruda

McGauba

McIsabelDeSouza

McIsabelTresGalhos

McOlhoDePombo

McOlhoVerde

McPretinha

McPretona

MxBranca

MxRosa

MxRosaBrancaMxRosaVermelha

MxSemente

CFD_Verde_Arroxeado

CFD_Verde_ClaroCFD_Verde_Escuro

CBF_Roxo

CBF_Verde_ArroxeadoCBF_Verde_Claro

CBF_Verde_Escuro

CDP_Verde

CDP_Verde_Amarelado

CDP_Verde_Avermelhado

CDP_Vermelho

CEC_Cinza

CEC_Dourado

CEC_Laranja

CEC_Marrom_Claro

CEC_Marrom_Escuro

CEC_Prateado

CEC_Verde_AmareladoCicatriz_M

Cicatriz_P

PDR_Branco

PDR_Creme

CDR_BrancoCDR_Creme CDR_Rosa

-4

-2

0

2

4

-4 -2 0 2 4

Dim1 (206)

Dim

2 (

162

)

MCA - Biplot

00

10

Hierarchical Clustering

inertia gain

McC

am

pin

aV

aru

da

McC

am

pin

aD

aG

rande

McC

am

pin

a

McG

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MxR

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McO

lhoD

eP

om

bo

00

05

10

15

Hierarchical Classification

Heig

ht

C1 C2 C3 C4 C5 C6 C7 C8

Fig 10 Agrupamento hieraacuterquico das 17 etnovariedades de mandioca caracterizadas de acordo

com os descritores utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo

60

Tabelas 738

739

Tabela 1 Caracteres e estados utilizados pelos agricultores como descritores botacircnicos para 740

caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das etnovariedades de mandioca 741

Caracter Sigla Estados

Folha

Cor da folha desenvolvida CFD 1- verde claro 2- verde escuro 3- verde arroxeado 4- roxo

Cor do broto foliar CBF 1- verde claro 2- verde escuro 3- verde arroxeado 4- roxo

Cor do peciacuteolo CDP 1- verde amarelado 2- verde 3- verde avermelhado 4- roxo

5- vermelho

Caule

Cor externa do caule CEC 1- laranja 2- verde amarelado 3- dourado 4- marrom claro

5- prateado 6- cinza 7- marrom escuro 8- verde

Protuberacircncia da cicatriz foliar PCF 1- pouco proeminente 2- muito proeminente

Raiacutez

Cor da poupa da raiz PDR 1- branco 2- creme

Cor do coacutertex da raiacutez CDR 1- rosa 2- branco 3- creme

742

743

744

745

746

747

748

749

750

751

61

Tabela 2 Lista das 22 etnovariedades de mandiocas citadas (132 citaccedilotildees) como cultivadas nas 752

comunidades pertencentes aos Municiacutepios de Altinho (Caratildeo n=8) e ao Municiacutepio de Panelas 753

(Aracuatilde Satildeo Joseacute do Bola Brejo Velho Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima e Lajeiro 754

Dantas n=21) 755

Etnovariedade Frequecircncia () Ranking Saliecircncia

Macaxeira Rosa 66 179 0472

Mandioca Isabel de Souza 48 179 0372

Mandioca Campina 24 217 0148

Macaxeira Branca 20 210 0134

Macaxeira Rosa branca 18 122 0168

Mandioca Pretona 16 338 0082

Mandioca Cambadinha 12 283 0071

Mandioca Isabel trecircs galhos 10 180 0075

Mandioca Gauacuteba 10 260 0070

Mandioca Pretinha 8 225 0053

Mandioca Peacute de pombo 4 400 0011

Mandioca Olho verde 4 350 0012

Macaxeira Rosinha 4 200 0027

Mandioca Campina varuda 4 200 0032

Mandioca Campina rasteira 4 300 0021

Mandioca Caboquinha 2 500 0007

Macaxeira Rasteira 2 200 0013

Macaxeira Paraacute 2 100 0020

Mandioca Barra ferro 2 300 0007

Mandioca Campina da grande 2 100 0020

Mandioca Olho de pombo 2 300 0010

Mandioca Jasmim 2 600 0006

756

757

758

62

Tabela 3 Lista de 17 etnovariedades atualmente cultivadas nos roccedilados das comunidades em 759

estudo 760

Ca Ar Bo Br Jb Jc Ld

Etnovariedade

Macaxeira Branca x x x x

Macaxeira Rosa

x x x x x x

Macaxeira Rosa Branca x x x x

Macaxeira Rosa Vermelha

x

Macaxeira Semente

x

Mandioca Cambadinha x

x

Mandioca Campina

x

x

x

Mandioca Campina da Grande x

Mandioca Campina Rasteira

x

Mandioca Campina Varuda

x

Mandioca Gauacuteba

x

Mandioca Isabel de Souza

x x x

Mandioca Isabel trecircs Galhos

x

x

Mandioca Olho de Pombo

x

Mandioca Olho Verde

x

Mandioca Pretinha

x

Mandioca Pretona x x x

Comunidades Ca= Caratildeo Ar=Aracuatilde Bo= Satildeo Joseacute do Bola Jb= Japaranduba de Baixo 761

Jc= Japaranduba de Cima Ld= Lajedo Dantas 762

763

764

765

766

767

768

63

Tabela 4 Descriccedilatildeo das classes do agrupamento por meacutetodo de Ward agrupadas pelo conjunto 769

dos descritores mais significativos para a caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das variedades de mandioca 770

Classes Descritores in situ p-valor

C1 Cor do peciacuteolo (CDP) 0016

C2 Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023

C3 Cor do peciacuteolo (CDP) 0012

C4 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0004

Cor da poupa da raiacutez (PDF) 0021

C5 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0003

C6 Cor do broto foliar (CBF) 0002

C7 Cor da folha desenvolvida (CFD) 0004

Cor externa do caule (CEC) 0040

C8 Cor do peciacuteolo (CDP) 0005

Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023

Valores de Ple005 satildeo significativos 771

772

20

Contudo muitos esforccedilos vecircm sendo empregados em estudos que observam a ecologia

da mandioca e o manejo agriacutecola associado agrave geraccedilatildeo de diversidade varietal e geneacutetica na

espeacutecie para tentar entender como esses mecanismos influenciam na diversidade de

etnovariedades locais e na sua dinacircmica (PUJOL et al 2007 KOMBO et al 2012 ELIAS et

al 2001)

23 Redes sociais de troca e circulaccedilatildeo de etnovariedades de mandioca

Sistemas agriacutecolas de pequena escala dependem de uma grande diversidade de espeacutecies e

variedades cultivadas e do fluxo destas por meio de redes sociais de troca material vegetativo

estabelecidas entre agricultores podendo o alcance da circulaccedilatildeo variar em escala local eou

regional (EMPERAIRE ELOY 2008) As trocas dependem de dois mecanismos principais

dos padrotildees de interaccedilatildeo social entre os agricultores e dos padrotildees de uso dos recursos

(CAVECHIA et al 2014) e as redes variam em funccedilatildeo das caracteriacutesticas culturais

econocircmicas e sociais das comunidades (EMPERAIRE PERONI 2007 PAUTASSO et al

2012)

No caso da mandioca (Manihot esculenta Crantz) a propagaccedilatildeo se da por estaquia o que

favorece a troca de material de vegetativo entre os agricultores e permite o fluxo entre

variedades locais e regionais (MARTINS 2005) As trocas de variedades de mandioca entre os

agricultores geralmente acontecem por alguma circunstacircncia que leve o agricultor a pedir o

material propagativo para o plantio com por exemplo para o plantio de uma nova roccedila ou por

alguma fitopatologia deslocaccedilatildeo ou estaccedilotildees de chuva e seca prolongadas (EMPERAIRE et

al 2001 EMPERAIRE ELOY 2008) Em alguns casos como no de algumas comunidades

agriacutecolas de pequena escala as redes de casamento satildeo utilizadas para a circulaccedilatildeo de

variedades (EMPERAIRE PERONI 2007 DELEcircTRE et al 2011)

O processo de manutenccedilatildeo da diversidade nesses sistemas resulta do interesse ou da

necessidade do agricultor em adquirir ou abandonar variedades testar e selecionar novas

etnovariedades de mandioca Dentre os fatores que dirigem a seleccedilatildeo de etnovariedades estatildeo

as preferecircncias individuais dos agricultores Alguns podem optar por cultivar todas as

etnovariedades comuns eou disponiacuteveis na regiatildeo enquanto que outros optam apenas por

manter um conjunto especiacutefico dessa diversidade (CAVECHIA et al 2014) Seja para atender

a alguma demanda individual pelo interesse em aumentar a produtividade ou pela necessidade

21

de conservar o material vegetativo para o proacuteximo plantio no caso de perda de material por

algum fator ambiental adverso (EMPERAIRE et al 2001 EMPERAIRE ELOY 2008)

Nesse sentido satildeo os agricultores os maiores responsaacuteveis por determinar como e quais

etnovariedades seratildeo compartilhadas e mantidas entre as comunidades (PAUTASSO et al

2012) E a chave para a compreensatildeo da dinacircmica da diversidade varietal eacute por meio desse

intercacircmbio e dos fatores que influenciam essa conectividade entre as comunidades pois essas

redes representam um grande impacto sobre a diversidade de variedades cultivadas E eacute por

meio dessas redes que se diminui coletivamente os riscos de perda total de diversidade geneacutetica

local (EMPERAIRE ELOY 2008)

Desse modo as relaccedilotildees estabelecidas pelos agricultores entre as comunidades por meio

das redes troca de germoplasma podem ter consequecircncias importantes sobre a diversidade

varietal da mandioca E compreender os processos envolvidos na manutenccedilatildeo ou perda de

germoplasma nos sistemas agriacutecolas eacute importante uma vez que compreendendo a maneira

como os agricultores usam esse conjunto de etnovariedades de mandioca e as compartilham

vai trazer importantes discussotildees a cerca da qualidade e a quantidade do recurso que seraacute

mantido transmitido ou perdido dentro dos sistemas ao longo do tempo

22

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25

VARIACcedilAtildeO INTRAESPECIacuteFICA CONHECIMENTO E MANEJO

LOCAL DE MANDIOCA (Manihot esculenta Crantz) NO SEMIAacuteRIDO DE

PERNAMBUCO NORDESTE DO BRASIL

Artigo submetido ao perioacutedico Human Ecology

Normas para submissatildeo em anexos

26

Variaccedilatildeo intraespeciacutefica conhecimento e manejo local de mandioca 1

(Manihot esculenta Crantz) no semiaacuterido de Pernambuco Nordeste do 2

Brasil 3

Mirela Nataacutelia Santos12 Jhonatan Rafael Zaacuterate-Salazar1 Reginaldo de Carvalho1 amp 4

Ulysses Paulino de Albuquerque2 5

6

1 Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo em Botacircnica Departamento de Biologia Rua Dom Manuel de Medeiros 7

Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) sn Dois Irmatildeos Recife Pernambuco 52171-8

900 Brasil 9

2 Laboratoacuterio de Ecologia e Evoluccedilatildeo de Sistemas Socioecoloacutegicos (LEA) Departamento de Botacircnica 10

Avenida Professor Moraes Rego Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) sn Cidade 11

Universitaacuteria Recife Pernambuco 50670-901 Brasil 12

Resumo 13

Historicamente a espeacutecie Manihot esculenta Crantz (mandioca) eacute uma espeacutecie de grande valor 14

econocircmico e de subsistecircncia para populaccedilotildees em comunidades tradicionais Variedades de 15

mandioca satildeo selecionadas com base nos interesses dos agricultores conduzindo uma evoluccedilatildeo 16

especiacutefica sobre a geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da agrobiodiversidade local Diante disso a mandioca 17

tornou-se espeacutecie-modelo em estudos que buscam compreender como os padrotildees e estrateacutegias 18

adotadas pelas populaccedilotildees humanas influenciam na diversidade intraespeciacutefica local em regiotildees 19

tropicais No entanto os fatores que influenciam a diversidade da mandioca em regiotildees 20

semiaacuteridas ainda natildeo foram bem documentados Nesse sentido objetivo geral do estudo foi 21

compreender os processos envolvidos na dinacircmica da diversidade agriacutecola em sete 22

comunidades tradicionais localizadas na regiatildeo semiaacuterida do estado de Pernambuco (Nordeste 23

do Brasil) por meio do acesso ao conhecimento dos agricultores quanto as praacuteticas de menejo 24

para tentar quais quais fatores podem estar relacionados a geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da diversidade 25

local Com os resultados da anaacutelise de redes verificamos uma alta diversidade de 26

etnovariedades cultivadas e a sua composiccedilatildeo eacute determinada pelas preferecircncias e 27

comportamentos individuais dos agricultores que foram provavelmente os mecanismos 28

27

responsaacuteveis pelo surgimento da estrutura aninhada observada na anaacutelise rede Esse padratildeo 29

aninhado contribui na conservaccedilatildeo das etnovariedades mais comuns mas tambeacutem pode resultar 30

em perda daquelas de menor frequecircncia ao longo do tempo 31

Palavras-Chave Agricultura tradicional Agricultura de sequeiro Agrobiodiversidade 32

Etnobiologia Plantas alimentiacutecias 33

34

Introduccedilatildeo 35

Historicamente as populaccedilotildees humanas foram acumulando conhecimentos sobre 36

praacuteticas da agricultura desenvolvendo teacutecnicas adaptadas ao meio natural e assim foram 37

domesticando uma grande variedade de cultivos alimentares para garantirem a sua 38

sobrevivecircncia (Balleacute 2006 Clement et al 2010) Essa interaccedilatildeo pessoas-plantas por meio do 39

cultivo e manejo das espeacutecies vegetais considerando tanto os aspectos sociais quanto naturais 40

dos sistemas dinacircmicos eacute uma importante ferramenta para o entendimento do conhecimento 41

dos agricultores sobre os agroecossistemas locais ( Alcorn 1995) 42

Aleacutem disso essas interaccedilotildees vem contribuindo com alteraccedilotildees nas populaccedilotildees vegetais 43

por meio da seleccedilatildeo artificial Essas alteraccedilotildees resultaram em mudanccedilas na estrutura geneacutetica 44

dessas populaccedilotildees que satildeo determinadas geralmente pela seleccedilatildeo de caracteriacutesticas fenotiacutepicas 45

fisioloacutegicas eou econocircmicas das plantas refletidas em classificaccedilotildees e nomenclaturas 46

especiacuteficas baseadas em percepccedilotildees individuais (Carmona amp Casas 2005) 47

Muitos pesquisadores tentam explicar o papel dos agricultores de pequena escala na 48

seleccedilatildeo classificaccedilatildeo e manutenccedilatildeo da agrobiodiversidade local em roccedilas tradicionalmente 49

manejas em regiotildees uacutemidas (Emperaire amp Peroni 2007 Emperaire amp Eloy 2008 Marchetti et 50

al 2013) Essas roccedila satildeo aacutereas de cultivo caracterizadas por conter uma alta diversidade 51

intraespeciacutefica de espeacutecies (Martins 2005) Dentre elas a Manihot esculenta Crantz 52

28

(mandioca) Euphorbiaceae em sua diversidade de etnovariedades eacute a espeacutecie mais importante 53

sob ponto de vista econocircmico e de subsistecircncia para as populaccedilotildees locais e mais cultivada 54

devido a sua grande adaptabilidade ambiental e baixos custos de gestatildeo (Elias et al 2001) 55

A alta diversidade da mandioca nessas aacutereas pode ser atribuiacuteda agrave possibilidade de 56

introduccedilatildeo de novas variedades via reproduccedilatildeo sexuada associada a ecologia da espeacutecie Esse 57

mecanismo permite o fluxo gecircnico entre as variedades de mandioca cultivadas do mesmo local 58

e entre estas com variedades de locais vizinhos (Pujol et al 2007) Outro mecanismo que 59

favorece essa diversidade eacute agrave circulaccedilatildeo de material propagativo por meio redes sociais de troca 60

variedades entre os agricultores (Pujol et al 2005 Emperaire amp Peroni 2007 Clement et al 61

2010) Esse mecanismo de troca eacute fundamental para o estabelecimento de interaccedilotildees entre as 62

diferentes aacutereas de roccedila promovendo oportunidade de seleccedilatildeo e cruzamento entre os diferentes 63

conjuntos de variedades aleacutem de permitir que este conjunto seja conservado (Emperaire amp Eloy 64

2008) 65

Diante desse cenaacuterio podemos observar que a agrobiodiversidade local natildeo eacute fruto 66

apenas de fatores naturais mas eacute tambeacutem influenciada pelas caracteriacutesticas culturais e 67

socioeconocircmica das populaccedilotildees locais refletidas especialmente no conhecimento e manejo 68

local Nesse sentido o presente estudo visa investigar as interaccedilotildees entre agricultores 69

tradicionais de comunidades rurais estabelecidas na regiatildeo semiaacuterida de Pernambuco 70

O objetivo geral eacute compreender os processos envolvidos na dinacircmica da diversidade 71

agriacutecola por meio do acesso ao conhecimento dos agricultores quanto as praacuteticas de menejo e 72

entender quais quais fatores podem estar relacionados a geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da diversidade 73

local Para esse estudo a mandioca foi escolhida como modelo devida agrave sua importacircncia 74

econocircmica e de subsistecircncia para comunidades locais Os objetivos especiacuteficos foram (i) 75

caracterizar o manejo da agricultura de sequeiro bem como analisar se os paracircmetros 76

socioeconocircmicos influenciam na diversidade local (ii) registrar as etnovariedades atualmente 77

29

cultivadas e identificar os diferentes criteacuterios morfoloacutegicos utilizados pelos agricultores para a 78

seleccedilatildeo e classificaccedilatildeo das etnovariedadese (iii) descrever a estrutura da rede de interaccedilatildeo entre 79

os agricultores e a diversidade de etnovariedades de mandioca cultivadas para tentar entender 80

como essas relaccedilotildees podem influenciar na manutenccedilatildeo ou perda da diversidade local 81

Material e meacutetodos 82

Aacutereas de estudo 83

Amostramos sete comunidades rurais estabelecidas na regiatildeo semiaacuterida de 84

Pernambuco Nordeste do Brasil Uma das comunidades (Caratildeo) pertence ao Municiacutepio de 85

Altinho (ldquo8deg 29rsquo 10rdquo S e 36deg 03rsquo 49rdquo W) e as demais (Satildeo Joseacute do Bola Brejo velho 86

Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima Lajedo Dantas e Aracuatilde) ao Municiacutepio de 87

Panelas (8 deg 39 48 S e 36 deg 01 23 W) (Fig 2) 88

O modelo agriacutecola adotado na regiatildeo segue o sistema tradicional de sequeiro4 e todas 89

as comunidades em estudo possuem histoacuterico de cultivo de mandioca (M esculenta) As aacutereas 90

de cultivo satildeo estabelecidas por unidade familiar e as atividades satildeo realizadas em sua maioria 91

por homens tendo cada agricultor cerca de um a dois hectares de aacuterea para plantio Aleacutem da 92

mandioca os cultivos mais utilizados na comunidades satildeo milho (Zea mays) e feijatildeo (Phaseolus 93

sp) 94

Para os membros das comunidades a produccedilatildeo da farinha de mandioca (Fig 3) eacute uma 95

das atividades agriacutecolas mais importantes tanto pelo seu papel na dieta alimentar quanto pela 96

importacircncia social e econocircmica 97

Caracteriacutesticas das comunidades do estudo 98

A comunidade do Caratildeo localiza-se sob domiacutenio de Caatinga caracterizado por climas 99

quentes e secos com regimes escassos de chuvas correspondente ao tipo BSrsquoh segundo a 100

4 Eacute o cultivo praticado sem irrigaccedilatildeo em regiotildees onde a pluviosidade eacute diminuta

30

classificaccedilatildeo climaacutetica de Koumlppen A vegetaccedilatildeo eacute composto por espeacutecies perenes que 101

conseguem sobreviver mesmo em periacuteodos de seca e espeacutecies anuais que aparecem apenas em 102

periacuteodos com chuva (Cruz et al 2013) 103

De acordo os dados de precipitaccedilatildeo do Laboratoacuterio de Anaacutelise e Processamento de 104

Imagens de Sateacutelites (LAPIS) no ano de 2012 foi registrada a menor meacutedia anual de 105

precipitaccedilatildeo dos uacuteltimos 10 anos para essa regiatildeo (3784 mm) Essa realidade ambiental quando 106

comparada com estudo realizado por de Sieber e colaboradores (2011) na mesma comunidade 107

observa-se que houve uma diminuiccedilatildeo considerada das praacuteticas agriacutecolas realizadas pelos 108

membros da comunidade culminando em uma seacuterie de prejuiacutezos aos agricultores como a perda 109

de plantaccedilotildees e animais Essa perda de produtividade afetou a estrutura econocircmica da 110

comunidade uma vez que a principal fonte de subsistecircncia das famiacutelias eacute a agricultura 111

Associada as atividades agriacutecolas os moradores complementam a dieta e a renda 112

familiar com a venda dos excedentes da produccedilatildeo em feiras-livres ou centros comerciais da 113

regiatildeo (Cruz et al 2013) E com a pecuaacuteria de pequena escala bovina caprina e com avicultura 114

No entanto a diminuiccedilatildeo da forragem natural e cultivada causada pela escassez de chuvas 115

associada aos elevados custos envolvidos na compra de raccedilatildeo levou muitos animais agrave morte 116

(Fig 4) 117

No Municiacutepio de Altinho a comunidade do Caratildeo foi inicialmente escolhida devido ao 118

reconhecimento preacutevio do registro de agricultores realizado em estudos desenvolvidos pelo 119

nosso grupo de pesquisa facilitando assim o acesso agraves informaccedilotildees necessaacuterias para o 120

desenvolvimento da pesquisa 121

As comunidades Aracuatilde Brejo Velho Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima 122

Lajedo Dandas e Satildeo Joseacute do Bola amostradas no estudo pertencem ao Municiacutepio de Panelas 123

que se limita ao Norte com o Municiacutepio de Altinho Essas comunidades estatildeo localizadas em 124

31

no domiacutenio morfoclimaacutetico de Caatinga O clima eacute do tipo semiaacuterido Bsrsquoh segundo a 125

classificaccedilatildeo climaacutetica de Koumleppen 126

A maior parte dos membros dessas comunidades assim como no Caratildeo tecircm como 127

principal fonte de subsistecircncia a agricultura de sequeiro principalmente o cultivo da mandioca 128

(Fig 5) Como renda extra a pecuaacuteria de pequeno porte com criaccedilatildeo bovina caprina e 129

avicultura sendo os excedentes dos alimentos produzidos vendidos em feiras locais ou para 130

escolas 131

As atividades agriacutecolas entre as comunidades tambeacutem foram duramente afetadas pela 132

seca na regiatildeo nos uacuteltimos anos A escassez de chuvas desestimulou o plantio a produccedilatildeo de 133

mandioca foi fortemente comprometida e a colheita foi adiada devido ao subdesenvolvimento 134

das raiacutezes gerando impactos econocircmicos para os membros das comunidades 135

As comunidades amostradas neste muniacutecipio foram escolhidas em funccedilatildeo das 136

indicaccedilotildees dos agricultores entrevistados a princiacutepio na comunidade do Caratildeo que reportaram 137

manter viacutenculos sociais com os agricultores do municiacutepio vizinho 138

Coleta de dados 139

Acessamos as comunidades com a ajuda de um liacuteder comunitaacuterio (Alexandre O 140

Nascimento) em companhia de outros pesquisadores que desenvolviam pesquisas na regiatildeo 141

Previamente as entrevistas todos objetivos e procedimentos para a realizaccedilatildeo da pesquisa foram 142

apresentados aos entrevistados e todos que aceitaram participar foram convidados a assinar um 143

Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) de acordo com a Resoluccedilatildeo 46612 do 144

Conselho Nacional de Sauacutede concordando com a realizaccedilatildeo das entrevistas e avaliaccedilotildees 145

morfoloacutegicas em campo O presente trabalho foi submetido ao Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa da 146

Universidade de Pernambuco (UPE) 147

32

Em todas as comunidades o meacutetodo de acesso ao informante foi o mesmo a partir do 148

primeiro contato com um informante-chave identificamos outros potenciais agricultores 149

seguindo a teacutecnica de ldquobola de neverdquo (Albuquerque et al 2014a) Esse meacutetodo consistiu na 150

amostragem intencional dos participantes e nesse particular os agricultores chefes de famiacutelia 151

(ge 18 anos) da regiatildeo que declararam cultivar mandioca (M esculenta) em suas roccedilas 152

Reunimos informaccedilotildees socioeconocircmicas desses agricultores tais como nome idade gecircnero 153

escolaridade renda experiecircncia na agricultura e tamanho da aacuterea de cultivo para tentar 154

identificar se esses paracircmetros socioeconocircmicos tecircm uma relaccedilatildeo com a agrobiodiversidade 155

local 156

Em seguida conduzimos entrevistas semiestruturadas (Albuquerque et al 2014b) com 157

o objetivo de caracterizar o modo de vida dos agricultores o manejo da agricultura bem como 158

obter dados sobre o conhecimento uso e caracterizaccedilatildeo das etnovariedades de mandioca 159

5cultivadas Aleacutem disso neste momento tambeacutem aplicamos a teacutecnica da lista livre 160

(Albuquerque et al 2014b) a fim de registrar as variedades de mandioca atualmente cultivadas 161

pelos agricultores e identificar as de maior importacircncia local Apoacutes as entrevistas realizamos 162

visitas aos roccedilados para o registro fotograacutefico georreferenciamento das roccedilas e caracterizaccedilatildeo 163

morfoloacutegica das variedades cultivadas 164

Entrevistamos 50 agricultores no total distribuiacutedos nas sete comunidades Caratildeo (3) 165

Satildeo Joseacute do Bola (10) Brejo velho (7) Japaranduba de Baixo (7) Japaranduba de Cima (8) 166

Lajedo Dantas (9) e Aracuatilde (6) Destes 10 satildeo mulheres e 40 homens com idade variando entre 167

31 e 82 anos A maioria dos entrevistados natildeo apresentava instruccedilatildeo formal (46) mais da 168

metade eram aposentados (56) e os demais apresentaram renda inferior a um salaacuterio miacutenimo 169

5 Entende-se por etnovariedade de mandioca o conjunto de variedades intraespeciacuteficas de mandioca (M esculenta)

reconhecidas pelos agricultores por nomenclatura popular local (Peroni 2004)

33

O tempo meacutedio de experiecircncia na agricultura foi de 40 anos Cada agricultor possui entre um e 170

dois roccedilados (aacuterea de plantio) com aproximadamente um a dois hectares 171

Redes de interaccedilatildeo social 172

Confeccionamos a rede que descreve as interaccedilotildees entre os agricultores e as 173

etnovariedades cultivadas a partir de uma matriz de incidecircncia R (presenccedilaausecircncia) onde nas 174

linhas estavam as etnovariedades de mandioca cultivadas (j) e nas colunas os agricultores locais 175

(i) O elemento Rij dessa matriz foi 1 (um) no caso de a etnovariedade j ser cultivada pelo 176

agricultor i caso contraacuterio seria atribuiacutedo 0 (zero) As interaccedilotildees entre os agricultores e as 177

etnovariedades foram descritas em dois modos (Pires et al 2011) onde os ldquonoacutesrdquo da esquerda 178

representam os agricultores que foram vinculados aos ldquonoacutesrdquo da direita representados pelas 179

etnovariedades citadas durante as entrevistas Esses ldquonoacutesrdquo seriam o espelho das decisotildees dos 180

agricultores em manter um determinado conjunto local de etnovariedades em suas roccedilas 181

Avaliamos a estrutura da rede que conecta os agricultores agraves etnovariedades cultivadas 182

a partir de trecircs cenaacuterios hipoteacuteticos (Fig 6) segundo Cachevia et al (2014) No primeiro se os 183

agricultores apresentassem diferentes graus de seletividade para a utilizaccedilatildeo de suas 184

etnovariedades a estrutura seria aninhada (Fig 6a) Isso significa que alguns agricultores 185

cultivam vaacuterias etnovariedades enquanto que outros cultivam o subconjunto mais 186

disponiacutevelcomum dessas etnovariedades Em segundo lugar se a rede apresentasse uma 187

estrutura modular (Fig 6b) significaria que os agricultores apresentam semelhanccedila na seleccedilatildeo 188

do recurso ou seja subgrupos de agricultores cultivam subgrupos distintos de etnovariedades 189

regionalmente disponiacuteveiscomuns E o terceiro se os agricultores natildeo apresentassem 190

preferecircncias quanto a seleccedilatildeo das etnovariedades entatildeo a rede apresentaria uma estrutura 191

aleatoacuteria (Fig 6c) 192

O objetivo da anaacutelise de rede nesse estudo foi tentar entender se o conjunto de 193

etnovariedades presentes no local do estudo constituem uma subamostra de um conjunto mais 194

34

amplo no caso de um alto grau de aninhamento ou se a sua composiccedilatildeo eacute determinada por 195

variaacuteveis locais (Ulrich 2008) Onde as conexotildees entre os informantes e as etnovariedades 196

representam as decisotildees dos agricultores de manter um conjunto determinado de variedades de 197

mandioca dentre as comunidades Esta anaacutelise tambeacutem nos permitiu identificar quais os nuacutecleos 198

de etnovariedades que apresentam maior conexatildeo com os diferentes perfis dos agricultores 199

Diversidade fenotiacutepica 200

Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 201

Apoacutes as entrevistas buscamos identificar quais os caracteres morfoloacutegicos considerados 202

mais importantes para a diferenciaccedilatildeo das etnovariedades de mandioca a partir do seguinte 203

questionamento ldquoQuais as diferenccedilas que vocecirc reconhece para separar uma qualidade de 204

mandioca (variedade) de uma outrardquo Assim os agricultores mencionaram quais os criteacuterios 205

mais importantes utilizados para a caracterizaccedilatildeo de suas etnovariedades 206

Compilamos uma listagem dessas caracteriacutesticas baseada nas indicaccedilotildees dos 207

agricultores e a partir delas selecionamos os caracteres morfoloacutegicos mais citados para a 208

caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica ldquoin siturdquo tais como cor da folha (cor da folha desenvolvida) olho 209

(cor do broto foliar) cor do talo (cor do peciacuteolo) maniva (cor externa do caule) embriatildeo 210

(protuberacircncia da cicatriz foliar) cor da entrecasca (coacutertex da raiz) e cor miolo (polpa da raiz) 211

(Tabela 1) O objetivo dessa caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica foi indicar como estaacute distribuiacuteda a 212

variaccedilatildeo fenotiacutepica das etnovariedades de mandioca nas comunidades na regiatildeo semiaacuterida de 213

Pernambuco bem como identificar que caracteriacutesticas satildeo mais importantes para distinguir 214

esses grupos no intuito de tentar entender como os agricultores classificam suas variedades de 215

mandioca 216

Nas sete comunidades para cada etnovariedade citada no roccedilado caracterizamos ldquoin 217

siturdquo trecircs indiviacuteduos de M esculentade de cada uma totalizando 171 indiviacuteduos (Aracuatilde=11 218

35

Caratildeo=4 Satildeo Joseacute do Bola=13 Brejo Velho=16 Japaranduba de Baixo=6 Japaranduba de 219

Cima=3 e Lajedo Dantas=4) Fotografamos e avaliamos todos os indiviacuteduos com base em parte 220

dos descritores morfoloacutegicos seguindo recomendaccedilotildees de Fukuda amp Guevara (1998) e aleacutem 221

disso georreferenciamos todas as aacutereas de roccedila 222

Anaacutelise dos dados 223

Analisamos os dados socioeconocircmicos das entrevistas semiestruturadas por meio de 224

estatiacutestica descritiva para explicar os aspectos da realidade econocircmica e social dos agricultores 225

Para identificar se a diversidade intraespeciacutefica da mandioca cultivada localmente eacute 226

influenciada por paracircmetros socioeconocircmicos utilizamos o coeficiente de correlaccedilatildeo de 227

Spearman (Ple005) (Sokal amp Rohlf 1995) 228

Com base na lista livre das variedades de mandioca cultivadas pelos agricultores 229

calculamos a frequecircncia de citaccedilatildeo o ranking e o iacutendice de saliecircncia com o objetivo de 230

identificar quais as mais importantes ou preferidas para as comunidades O iacutendice de saliecircncia 231

considerou a frequecircncia de citaccedilatildeo e o ranking referente ao posicionamento das variedades 232

dentro das listas livres (Thompson amp Juan 2006) As etnovariedades mais citadas e com maior 233

valor de saliecircncia representam as de maior importacircncia ou preferecircncia para as comunidades 234

Anaacutelise de rede 235

Medimos o grau de aninhamento (NODF) para investigar a estrutura de rede de 236

interaccedilatildeo social dos agricultores em funccedilatildeo das variedades cultivadas As matrizes altamente 237

aninhadas apresentam NODF tendendo a 1 caso contraacuterio tentem a ser 0 238

Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 239

Para o estudo das semelhanccedilas e diferenccedilas fenotiacutepicas entre as variedades de mandioca 240

ldquoin siturdquo realizamos anaacutelises multivariadas para identificar possiacuteveis grupos de variedades que 241

compartilham semelhanccedilas entre si 242

36

A anaacutelise de correspondecircncia muacuteltipla (MCA) permitiu identificar como as variedades 243

de mandioca estatildeo ordenadas em funccedilatildeo dos seus descritores etnobotacircnicos As etnovariedades 244

foram plotadas ao longo um plano cartesiano bi ou tridimensional onde a variaccedilatildeo total eacute 245

explicada pelos dois primeiros eixos Complementar a esta anaacutelise realizamos a anaacutelise de 246

agrupamento hieraacuterquico (Cluster) para identificar como estatildeo agrupadas as etnovariedades de 247

acordo seus descritores Conferimos a consistecircncia do dendrograma com coeficiente de 248

correlaccedilatildeo cofeneacutetica conforme Sneath amp Sokal (1973) que quantifica se a correlaccedilatildeo entre a 249

matriz de distacircncias originais e a matriz de distacircncias cofeneacuteticas eacute representativa Para 250

mensurar as dissimilaridades entre as variedades de mandioca foi utilizada a distacircncia 251

euclidiana e com o meacutetodo de Ward 252

Softwares utilizados 253

Para a anaacutelise da lista livre usamos o software ANTROPAC versatildeo 10 O software 254

ANINHADO 30 (Guimaratildees amp Guimaratildees 2006) foi usado para medir o grau de aninhamento 255

da rede Utilizamos o software estatiacutestico R (R core team 2017) para a anaacutelise de correlaccedilatildeo 256

de Spearman com o pacote corrplot (Wei amp Simko 2013) o desenho da rede que descreve a 257

interaccedilatildeo entre os agricultores e as etnovariedades com o pacote bipartite (Dormann et al 258

2017) E com os pacotes FactoMineR (LEcirc et al 2008) factoextra (Kassambara et al 2016) e 259

vegan (Oksanen et al 2017) foram realizadas as anaacutelises de cluster de correspondecircncia 260

muacuteltipla (MCA) e de correlaccedilatildeo coefeneacutetica respectivamente 261

Resultados 262

As diferentes etnovariedades de mandioca encontradas no estudo suprem a demanda 263

local por alimento enquanto outras atendem agraves preferecircncias individuais ou do comeacutercio As 264

variedades que possuem maior rendimento e a farinha produzida apresenta coloraccedilatildeo branca 265

satildeo as de maior valor comercial para os agricultores devido agraves preferecircncias do mercado Jaacute 266

37

outras variedades que satildeo mais moles e apresentam coloraccedilatildeo amarelada natildeo satildeo empregadas 267

na produccedilatildeo de farinha mas sim consumidas cozidas ou assadas A depender da demanda local 268

os agricultores intencionalmente aumentam ou diminuem a frequecircncia de suas variedades nos 269

roccedilados seja por alguma exigecircncia do comeacutercio ou para consumo familiar 270

Nas comunidades os agricultores separam suas variedades de mandioca em dois grupos 271

como observado em outras comunidades na mata Atlacircntica por Emperaire e Peroni (2007) o 272

das ldquomacaxeirasrdquo que satildeo as variedades exploradas basicamente para o consumo familiar sem 273

processo preacutevio de desintoxicaccedilatildeo cujas raiacutezes satildeo consumidas fritas eou cozidas Sendo 274

utilizadas tambeacutem como complemento na dieta dos animais E o grupo das ldquomandiocasrdquo que 275

satildeo as variedades que necessitam de processo preacutevio de desintoxicaccedilatildeo para o consumo 276

utilizadas comumente para a produccedilatildeo de farinha de mandioca Para os agricultores as 277

ldquomandiocasrdquo possuem maior valor comercial pois apresentam maior rendimento e 278

rentabilidade pois a farinha produzida eacute branca e atende as preferencias do comercio local 279

Aleacutem da farinha outros produtos e subprodutos produzidos dentre os quais foram citados 280

ldquotapioca ou gomardquo ldquobijurdquo ou ldquobolo de mandiocardquo satildeo utilizados para o consumo proacuteprio ou 281

eventual comercializaccedilatildeo 282

Os informantes natildeo possuiacuteam conhecimento sobre a origem dos nomes das variedades 283

de mandioca Quanto a compreensatildeo da geraccedilatildeo da diversidade intraespeciacutefica identificamos 284

que apesar de 66 dos agricultores citarem que conhecem variedades fruto de germinaccedilatildeo de 285

suas sementes nenhum deles utiliza as manivas para o plantio por essas variedades de 286

mandioca ldquovoluntaacuteriasrdquo natildeo apresentarem bom rendimento 287

Observamos que existe uma baixa correlaccedilatildeo entre a diversidade de variedades 288

atualmente cultivadas e as variaacuteveis socioeconocircmicas como no caso do nuacutemero de roccedilados 289

(r=028 Ple005) e do tamanho do roccedilado (r=033 Ple005) (Fig 7) Essa baixa correlaccedilatildeo pode 290

38

ser explicada pelo fato de existirem grupos de agricultores que preferem manter as variedades 291

de maior valor econocircmico e de subsistecircncia mesmo com aacutereas maiores de cultivo 292

Verificamos tambeacutem uma correlaccedilatildeo positiva moderada entre o nuacutemero de variedades 293

conhecidas com o nuacutemero de variedades atualmente cultivadas (r=054 Ple005) Na lista livre 294

foram identificadas 22 etnovariedades de mandioca cultivadas (132 citaccedilotildees no total) sendo 295

oito dessas mais citadas com maiores valores de saliecircncia (entre 047 e 0082) (Tabela 2) As 296

etnovariedades ldquoMacaxeira Rosardquo e ldquoMandioca Isabel de Souzardquo exibiram os maiores valores 297

de saliecircncia 047 e 037 respectivamente Logo essas variedades satildeo as mais conhecidas 298

dentro das comunidades com 66 e 48 das citaccedilotildees respectivamente 299

Dentre as etnovariedades citadas 12 foram idiossincraacuteticas pois apresentaram menor 300

frequecircncia de citaccedilatildeo e menores valores de saliecircncia (entre 0032 e 0006) (Tabela 2) 301

Redes de interaccedilatildeo social 302

A rede apresentou uma estrutura aninhada com grau de aninhamento significativamente 303

superior aos modelos nulos (N=3072 Plt0001) para as comunidades sendo um nuacutecleo de 304

etnovariedades altamente conectado aos agricultores (Fig 8) A estrutura aninhada nos permite 305

inferir que existe um grupo de agricultores que cultiva uma maior diversidade de etnovariedades 306

de mandioca em suas roccedilas enquanto que outro subgrupo que tem menor diversidade cultivam 307

as mais comuns ou disponiacuteveis (Cavechia et al 2014) Isso significa que os agricultores locais 308

mesmo em diferentes comunidades cultivam um nuacutecleo de etnovariedades comum entre eles 309

(n=6 Tabela 2) 310

Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 311

Observamos que a maioria dos indiviacuteduos de mandioca satildeo caracterizados por meio de 312

um conjunto de sete caracteres morfoloacutegicos os quais foram citados pelos agricultores como 313

mais importantes para a caracterizaccedilatildeo de suas variedades Nas visitas aos roccedilados registramos 314

39

as etnovariedades atualmente cultivadas e a tabela 3 fornece a lista completa com as 17 315

etnovariedades de mandioca e o local de registro 316

Por meio da anaacutelise de correspondecircncia muacuteltipla as variedades de mandioca foram 317

ordenadas em funccedilatildeo de seus descritores ao longo do primeiro e segundo eixo correspondentes 318

a 3680 da variacircncia total (Fig 9) 319

As variaacuteveis mais correlacionadas e que agruparam as variedades de mandioca no 320

primeiro eixo foram cor da folha desenvolvida (CFD) (r= 07239 Ple0001) cor do coacutertex da 321

raiz (CDR) (r= 06473 Ple0001) cor do broto foliar (CBF) (r= 06880 Ple0001) cor do peciacuteolo 322

(CDP) (r= 05250 Ple005) cor externa do caule (CEC) (r= 06883 Ple005) cor da polpa da 323

raiz (PDR) (r= 02473 Ple005) Para o segundo eixo as variaacuteveis correlacionadas foram cor 324

da folha desenvolvida (CFD) (r= 07220 Ple0001) cor externa do caule (CEC) (r= 08718 325

Ple0001) e cor do peciacuteolo (CDP) (r= 06927 Ple005) 326

O agrupamento de todas as variedades caracterizadas ldquoin siturdquo gerou uma aacutervore 327

hieraacuterquica (dendrograma) (Fig 9) utilizando a distacircncia euclidiana seguindo o criteacuterio de 328

Ward O dendrograma gerado apresentou um coeficiente de correlaccedilatildeo cofeneacutetica r= 06780 329

indicando que existe consistecircncia com os dados originais no agrupamento quanto agrave 330

classificaccedilatildeo e estrutura de tal forma que as variedades foram agrupadas em oito classes as 331

quais foram explicadas pelas variaacuteveis mais significativas descritas na tabela 4 332

O resultado do agrupamento (utilizada a distacircncia euclidiana e com o meacutetodo de Ward) 333

observamos que as etnovariedades de mandioca caracterizadas ldquoin siturdquo foram agrupadas em 334

dois grandes agrupamentos indicados na Fig 10 pelos retacircngulos em vermelho A partir dessa 335

anaacutelise percebemos que os caracteres morfoloacutegicos selecionados pelos agricultores natildeo foram 336

suficientes para separar as variedades de macaxeira e mandioca pois em ambos os 337

agrupamentos encontramos tanto macaxeiras quanto mandiocas 338

40

As variedades da classe 1 foram identificadas pelos agricultores pela cor do peciacuteolo 339

(CDP) verde A classe 2 agrupou as etnoveriedades caracterizadas pela protuberacircncia da cicatriz 340

foliar (PCF) mais protuberante Esse descritor segundo os agricultores era identificado como 341

ldquoembriatildeordquo A classe 3 consiste apenas da variedade ldquoMandioca Pretonardquo indicada pela presenccedila 342

de cor do peciacuteolo (CDP) vermelho A classe 4 agrupou trecircs variedades caracterizadas pelos 343

agricultores pela presenccedila de cor coacutertex da raiz (CDR) rosa e cor da polpa da raiacutez (PDR) branca 344

identificadas como ldquoMacaxeira vermelhardquo ldquoMacaxeira Rosa Brancardquo ldquoMacaxeira Rosardquo As 345

variedades agrupadas na classe 5 foras as variedades de mandioca caracterizadas pelos 346

agricultores por apresentarem cor do coacutertex (CDR) da raiacutez branca A classe 6 agrupou 347

variedades identificadas pelos agricultores pela cor do broto foliar (CBF) verde A classe 7 348

consiste apenas da variedade ldquoMacaxeira Sementerdquo identificada pelos agricultores pela cor do 349

peciacuteolo (CDP) roxo e protuberacircncia da cicatriz foliar pouco proeminente Essa variedade 350

segundo os agricultores era fruto do nascimento espontacircneo no roccedilado poreacutem eles geralmente 351

natildeo utilizam essas variedades por apresentarem apenas uma raiz pequena e de baixo 352

rendimento Na classe 8 as variedades foram identificadas pelos agricultores pela cor do peciacuteolo 353

(CDP) verde amarelado e protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) pouco proeminente As 354

ldquoMandioca Isabel de Souzardquo ldquoMandioca Isabel trecircs galhosrdquo segundo os agricultores se 355

diferenciavam pelo maior nuacutemero de caules presentes na variedade ldquoIsabel trecircs galhosrdquo 356

Discussatildeo 357

As sete comunidades estudadas manejavam um nuacutemero consideraacutevel de variedades 358

locais A quantidade de etnovariedades registradas eacute proacutexima a encontrada por Bender et al 359

(2009) e Cavechia et al (2014) em comunidades na regiatildeo sul e sudeste por Oler e Amorozo 360

(2017) em uma comunidade tradicional na regiatildeo centro-oeste Poreacutem foi quantitativamente 361

inferior quando comparada a estudos como os de Elias et al (2001) e Kawa et al (2013) em 362

comunidades na regiatildeo amazocircnica pois possuiacuteam uma alta diversidade Essa alta diversidade 363

41

na regiatildeo amazocircnica pode estar relacionada com o fato de que essa regiatildeo eacute o provaacutevel centro 364

de origem da mandioca (M esculenta) (Allem 1994) 365

As etnovariedades registradas neste estudo estatildeo disponiacuteveis para a maioria dos 366

agricultores dessa regiatildeo e esse fator favorece a circulaccedilatildeo das etnovariedades entre as 367

comunidades locais Por isso haacute semelhanccedilas das etnovariedades utilizadas entre os agricultores 368

da mesma comunidade e entre comunidades vizinhas 369

Parte dos agricultores optam por manter uma alta frequecircncia de variedades mais 370

utilizadas enquanto que outros optam por manter etnovariedades de baixa frequecircncia 371

Conforme discutido por Amorozo (2013) os agricultores escolhem seu acervo de acordo com 372

as necessidades e contexto em que vivem A reduccedilatildeo da diversidade de etnoveriedades por 373

exemplo pode ser impulsionada por fatores que simplificam o sistema como a seleccedilatildeo de 374

etnovariedades para a produccedilatildeo de farinha resultando no cultivo de poucas ou ateacute de uma uacutenica 375

etnovariedade (Peroni amp Hanazaki 2002) mesmo em aacutereas maiores 376

377

Redes de interaccedilatildeo social 378

Com as anaacutelises de rede demonstramos que os agricultores de diferentes comunidades 379

em uma mesma regiatildeo efetivamente trocam variedades de mandioca entre si corroborando 380

com estudos realizados por Emperaire amp Eloy (2008) Pautasso et al (2012) e Cavechia et al 381

(2014) Nesses estudos os autores tambeacutem consideram que as trocas de etnovariedades por 382

meio da rede de intercacircmbio entre os agricultores eacute um mecanismo fundamental para a 383

manutenccedilatildeo da diversidade local 384

A visualizaccedilatildeo da rede demonstrou que entre as comunidades os agricultores 385

compartilham um nuacutecleo de etnovariedades mais utilizadas dentre as quais estatildeo as de maior 386

valor econocircmico e de subsistecircncia Essas de maior frequecircncia satildeo aquelas altamente produtivas 387

utilizadas pelos agricultores para atenderem agraves demandas de mercado por farinha e para o 388

consumo proacuteprio (Kawa et al 2013) 389

42

No entanto observamos que existe outro nuacutecleo de etnovariedades menos frequentes 390

Essas etnovariedades raras podem ser resultantes do processo de experimentaccedilatildeo ou 391

preferecircncias individuais dos agricultores Outra possiacutevel razatildeo para a baixa frequecircncia de 392

algumas etnovariedades poderia ser explicada pela variaccedilatildeo da nomenclatura pelos 393

agricultores que segundo Peroni amp Hanazaki (2002) pode ocorrer durante o processo de troca 394

e introduccedilatildeo de novas variedades aos roccedilados Ainda assim natildeo descartamos a hipoacutetese de que 395

essas etnovariedades raras possam ser provenientes do cruzamento entre variedades diferentes 396

cultivadas da mesma roccedilado ou em roccedilas vizinhas De acordo com Martins (2005) essas 397

variedades fruto de germinaccedilatildeo expentacircnea satildeo incorporadas aos roccedilados pelos agricultores 398

pela curiosidade em experimentar novas variedades agraves suas coleccedilotildees 399

Nesse estudo admitimos que optar por etnovariedades raras entre as comunidades 400

estudadas eacute um comportamento adotado por agricultores que manejam uma maior diversidade 401

corroborando com os estudos de Cavechia et al (2014) e Emperaire et al (2016) em regiotildees 402

uacutemidas Para esses autores etnovaridedades de baixa frequecircncia representam um subconjunto 403

das de alta frequecircncia cultivadas por agricultores que manteacutem a maior diversidade em seus 404

roccedilados Sendo assim inferimos que no geral entre as comunidades satildeo os agricultores 405

generalistas aqueles que cultivam maior diversidade os responsaacuteveis por incorporar novas 406

etnovariedades aos roccedilados 407

As decisotildees dos agricultores em manter o acervo direcionado principalmente para 408

atender a demanda de mercado por exemplo podem levar a uma homogeneizaccedilatildeo nas roccedilas 409

colocando em risco a manutenccedilatildeo da diversidade local (Peroni amp Hanazaki 2002) Como 410

discutido por Elias et al (2000) os agricultores que selecionam apenas um nuacutemero reduzido e 411

especiacutefico de variedades mais produtivas tendem a fazer com que as variedades menos 412

frequentes desapareccedilam ao longo do tempo Essa tendecircndia pode influenciar na capacidade de 413

43

resiliecircncia do sistema assim como dos agricultores em lidar com possiacuteveis adversidades 414

ambientais que possam ocorrer 415

Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 416

No geral os agricultores demonstraram uma tendecircncia em classificarseparar suas 417

diferentes etnovariedades de mandioca a partir da combinaccedilatildeo de um conjunto de sete 418

caracteres morfoloacutegicos distintos e de faacutecil percepccedilatildeo os quais natildeo tem relaccedilatildeo com o uso 419

como por exemplo a cores das raiacutezes caule e folhas Logo consideramos que esses caracteres 420

morfoloacutegicos podem ser considerados como uma forma de classificaccedilatildeo pelos agricultores 421

baseada na capacidade percepccedilatildeo das diferenccedilas morfoloacutegicas que cada etnovariedades 422

apresenta (Boster 1985) Estes resultados nos levam a entender que entre os agricultores o 423

conhecimento sobre a diversidade da mandioca estaacute relacionado ao conhecimento de 424

caracteriacutesticas morfoloacutegicas consistentes 425

A existecircncia de alguns fenoacutetipos comuns nos permitiu avaliar a classificaccedilatildeo da 426

consistecircncia da taxonomia popular entre os agricultores Por exemplo as etnovariedades 427

ldquoMaxaceira Rosardquo e ldquoMacaxeira Rosa Brancardquo e ldquoMacaxeira vermelhardquo foram agrupadas no 428

mesmo cluster (C4) por apresentaram fenoacutetipos semelhantes Notamos que os agricultores 429

classificaram essas variedades de acordo com os traccedilos morfoloacutegicos mais relevantes como a 430

cor do coacutertex da raiz rosa e cor branca da polpa O mesmo ocorreu com as etnovariedades 431

ldquoMandioca varudardquo ldquoMandioca campina da granderdquo e ldquoMandioca campinardquo caracterizadas 432

pela presenccedila do peciacuteolo verde agrupadas no cluster (C1) 433

A partir dessas evidecircncias consideramos a hipoacutetese de que as variedades mesmo 434

apresentando caracteriacutesticas morfoloacutegicas muito semelhantes estatildeo sujeitas a variaccedilatildeo 435

nomenclatural durante o processo a incorporaccedilatildeo aos roccedilados pelos agricultores pois a 436

capacidade para distinguir e nomear variedades entre os agricultores da mesma regiatildeo pode 437

variar (Sambatti et al 2001 Elias et al 2001 Mekbib 2007) Consideramos tambeacutem que pode 438

44

existir variaccedilatildeo geneacutetica entre os indiviacuteduos identificados por um mesmo nome ou entatildeo que 439

os agricultores datildeo o mesmo nome para variedades diferentes E esta situaccedilatildeo pode levar a uma 440

superestimaccedilatildeo ou subestimaccedilatildeo da diversidade de mandioca cultiva nas aacutereas de estudo 441

Sabemos que a mandioca eacute propagada vegetativamente pelos agricultores por meio de 442

estacas em sistemas de agricultura tradicional No entanto alguns variedades produzem flores 443

e sementes que germinam e podem originar outras variedades ou outros clones por meio de 444

fecundaccedilatildeo cruzada (Elias et al 2001) Nesse contexto a etnovariedade ldquoMacaxeira Sementerdquo 445

presente no cluster (C7) trata-se de um uacutenico indiviacuteduo amostrado em uma roccedila de um dos 446

agricultores Esta apresentava algumas caracteriacutesticas morfoloacutegicas distintas das demais 447

reconhecidas pelo agricultor como por exemplo a produccedilatildeo de uma raiz uacutenica e 448

consequentemente de baixo rendimento Encontramos apenas um indiviacuteduo dessa 449

etnovariedade e nossa hipoacutetese de que esta poderia ter sido originada da germinaccedilatildeo da 450

semente mesmo quando 100 dos informantes declararam natildeo dar qualquer importacircncia e 451

descartar essas ldquovariedades-voluntaacuteriasrdquo foi confirmada pelo agricultor que afirmou que se 452

tratava de uma variedade nascida da germinaccedilatildeo da semente Esse comportamento vai de 453

encontro ao estudo de Fraser et al (2012) pois apesar dos agricultores reportarem nas 454

entrevistas que conhecem essas ldquovariedades-voluntaacuteriasrdquo nenhum agricultor faz o uso delas 455

Peroni et al (1999) e Agre et al (2016) analisando morfologicamente as variedades 456

locais de mandioca mantidas por agricultores em sistemas agriacutecolas tropicais tambeacutem 457

demonstraram que os agricultores satildeo coerentes quanto a separaccedilatildeo e identificaccedilatildeo de suas 458

etnovariedades a partir da formaccedilatildeo de grupos de coesos quanto a nomenclatura local utilizada 459

No entanto para o melhor entendimento dessa diversidade aleacutem da caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica 460

o uso de anaacutelises complementares como anaacutelise molecular seria importante para tentar 461

identificar se esses grupos representam a mesma variedade com nomes distintos ou se satildeo 462

variedades distintas com o mesmo nome 463

45

Conclusatildeo 464

O estudo demonstrou que no sistema de manejo da mandioca ao niacutevel de roccedila em 465

comunidades localizadas na regiatildeo semiaacuterida de Pernambuco compotildee uma diversidade 466

intrespeciacutefica de mandioca para atender agraves demandas econocircmicas e de subsistecircncia das 467

populaccedilotildees locais 468

Com relaccedilatildeo a anaacutelise de rede demostramos que haacute um nuacutecleo de etnovariedades 469

fortemente conectado aos agricultores e sua composiccedilatildeo eacute direcionada pelas preferecircncias e 470

necessidades individuais dos agricultores que foram os fatores responsaacuteveis pelo surgimento 471

da estrutura aninhada observada na anaacutelise rede entre as comunidades deste estudo E esse 472

padratildeo aninhado observado contribui na conservaccedilatildeo das etnovariedades mais comuns mas 473

tambeacutem pode resultar em perda daquelas de menor frequecircncia ao longo do tempo 474

A caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica ldquoin siturdquo nos permitiram inferir que os agricultores 475

reconhecem as diferentes caracteriacutesticas morfoloacutegicas de suas cultivares e satildeo coerentes na 476

separaccedilatildeo de suas variedades de mandioca e macaxeira Entretanto esses resultados sugerem a 477

realizaccedilatildeo de um estudo em niacutevel de diversidade geneacutetica exploratoacuterio para identificar se as 478

consistecircncias morfoloacutegicas refletem em consistecircncias geneacuteticas elucidando assim as possiacuteveis 479

confusotildees atribuiacutedas aos nomes das etnovariedades de mandioca 480

Agradecimentos 481

Agradecemos ao liacuteder comunitaacuterio Alexandre O Nascimento aos agricultores e 482

agricultoras das comunidades pela acolhida confianccedila e pela gentileza de compartilharem 483

conosco seus conhecimentos e contribuiacuterem com este estudo Especialmente a Arlindo Ferreira 484

Edgar Antocircnio Joseacute Sebastiatildeo Juvenal Oliveira e Janete Alves Ao Laboratoacuterio de Ecologia e 485

Evoluccedilatildeo de Sistemas Socioecoloacutegicos (LEA - UFPE) E agradecemos ao CNPq pelo apoio 486

com a bolsa de estudos do primeiro autor 487

46

Referecircncias bibliograacuteficas 488

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614

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ANEXOS 615

616

Nome da revista 617

Human Ecology 618

Link de acesso 619

httpsgooglDVLbFj 620

Qualis-CAPES 621

B1 em Biodiversidade 622

623

624

625

626

627

628

629

630

631

632

633

634

635

636

637

638

639

640

641

642

52

Figuras 643

644

645

Fig 1 Partes do processo de fabricaccedilatildeo de farinha de mandioca Onde a raspagem b e c 646

processo de trituraccedilatildeo e d peneiramento Foto registrada em Abril de 2017 por Mirela Santos 647

648

649

650

c

d

b

a

53

651

Fig 2 Mapa de localizaccedilatildeo geograacutefica dos Municiacutepios de Altinho e Panelas e das comunidades 652

estudadas na regiatildeo semiaacuterida do Estado de Pernambuco (Elaborado por SANTOS 2018) 653

54

654

655

656

657

Fig 3 Processo de fabricaccedilatildeo da farinha de mandioca Apoacutes a colheita as raiacutezes satildeo lavadas 658

raspadas e trituradas (a) A massa extraiacuteda eacute prensada e coada Ao sair da prensa a massa 659

peneirada (b) e em seguida eacute torrada (c) em fornos artesanais ou parcialmente mecanizados 660

Imagem registrada em janeiro de 2017 na Comunidade do Caratildeo por Mirela Santos 661

662

663

a

b c

55

664

Fig 4 a Sede da Comunidade do Caratildeo b Agricultor transportando a palma forrageira que eacute 665

um exemplo de estrateacutegia adaptativa para suprir a falta de alimento dos animais devido agrave seca 666

c Feira-livre que acontece na comunidade a cada quinze dias Imagem registrada em julho de 667

2016 na Comunidade do Caratildeo por Mirela Santos 668

669

670

Fig 5 a O agricultor nos explicava as mudanccedilas que vem fazendo em seus roccedilados para se 671

adaptar aos longos periacuteodos de seca b Quando o agricultor nos mostrava as diferentes 672

etnovariedades que mantinha em sua roccedila c Durante a pesquisa nos explicavam como era feita 673

a colheita da mandioca e como selecionavam as manivas para o proacuteximo plantio Foto registrada 674

em abril de 2017 na Comunidade do Brejo Velho por Mirela Santos 675

a

b c

c b

a

56 676

677

Fig 6 Possiacuteveis estruturas de rede que descrevem as interaccedilotildees dos agricultores (losango) 678

ligados as etnovariedades (ciacuterculos) que cultivam Onde a Aninhada b Modular c Aleatoacuteria 679

(Fonte Cavechia et al 2014 com adaptaccedilotildees) 680

681

682

683

684

685

686

687

688

689

690

691

692

693

694

695

696

697

a c b

57

698

699

700

701

702

703

704

705

706

707

Fig 7 Correlaccedilatildeo de Spearman entre a diversidade de etnovariedades de mandiocas conhecidas 708

como cultivadas e variedades atualmente cultivadas por agricultor e as variaacuteveis 709

socioeconocircmicas Onde Nvc= nuacutemero de citadas como cultivadas Nve= nuacutemero de variedades 710

atualmente cultivadas Esc= escolaridade Id= idade Gen= gecircnero Tr= tamanho do roccedilado 711

Exp= experiecircncia na agricultura Sld= renda Nr= nuacutemero de roccedilados Cores distintivas 712

representam correlaccedilotildees significativas (Ple005) 713

714

58

715

Fig 8 Modelo individual de rede de etnovariedades de mandioca citadas (esquerda) por 716

agricultores como cultivadas (direita) nos Municiacutepios de Altinho e Panelas As redes foram 717

desenhadas com o pacote bipartite (Dormann et al 2017) usando o software R (R CORE 718

TEAM 2017) 719

720

59

721

Fig 9 Anaacutelise de Correspondecircncia Muacuteltipla das 17 etnovariedades de mandioca considerando 722

os sete descritores morfoloacutegicos utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo em roccedilas de 723

agricultores tradicionais de sete comunidades no semiaacuterido de Pernambuco 724

725

726

727

728

729

730

731

732

733

734

735

736

737

McCambadinha

McCampina

McCampinaDaGrande

McCampinaRasteira

McCampinaVaruda

McGauba

McIsabelDeSouza

McIsabelTresGalhos

McOlhoDePombo

McOlhoVerde

McPretinha

McPretona

MxBranca

MxRosa

MxRosaBrancaMxRosaVermelha

MxSemente

CFD_Verde_Arroxeado

CFD_Verde_ClaroCFD_Verde_Escuro

CBF_Roxo

CBF_Verde_ArroxeadoCBF_Verde_Claro

CBF_Verde_Escuro

CDP_Verde

CDP_Verde_Amarelado

CDP_Verde_Avermelhado

CDP_Vermelho

CEC_Cinza

CEC_Dourado

CEC_Laranja

CEC_Marrom_Claro

CEC_Marrom_Escuro

CEC_Prateado

CEC_Verde_AmareladoCicatriz_M

Cicatriz_P

PDR_Branco

PDR_Creme

CDR_BrancoCDR_Creme CDR_Rosa

-4

-2

0

2

4

-4 -2 0 2 4

Dim1 (206)

Dim

2 (

162

)

MCA - Biplot

00

10

Hierarchical Clustering

inertia gain

McC

am

pin

aV

aru

da

McC

am

pin

aD

aG

rande

McC

am

pin

a

McG

auba

McP

retin

ha

McP

reto

na

MxR

osaV

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a

MxR

osaB

ranca

MxR

osa

McC

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pin

aR

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ira

McC

am

badin

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lhoV

erd

e

MxB

ranca

MxS

em

ente

McIsabelT

resG

alh

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McIsabelD

eS

ouza

McO

lhoD

eP

om

bo

00

05

10

15

Hierarchical Classification

Heig

ht

C1 C2 C3 C4 C5 C6 C7 C8

Fig 10 Agrupamento hieraacuterquico das 17 etnovariedades de mandioca caracterizadas de acordo

com os descritores utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo

60

Tabelas 738

739

Tabela 1 Caracteres e estados utilizados pelos agricultores como descritores botacircnicos para 740

caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das etnovariedades de mandioca 741

Caracter Sigla Estados

Folha

Cor da folha desenvolvida CFD 1- verde claro 2- verde escuro 3- verde arroxeado 4- roxo

Cor do broto foliar CBF 1- verde claro 2- verde escuro 3- verde arroxeado 4- roxo

Cor do peciacuteolo CDP 1- verde amarelado 2- verde 3- verde avermelhado 4- roxo

5- vermelho

Caule

Cor externa do caule CEC 1- laranja 2- verde amarelado 3- dourado 4- marrom claro

5- prateado 6- cinza 7- marrom escuro 8- verde

Protuberacircncia da cicatriz foliar PCF 1- pouco proeminente 2- muito proeminente

Raiacutez

Cor da poupa da raiz PDR 1- branco 2- creme

Cor do coacutertex da raiacutez CDR 1- rosa 2- branco 3- creme

742

743

744

745

746

747

748

749

750

751

61

Tabela 2 Lista das 22 etnovariedades de mandiocas citadas (132 citaccedilotildees) como cultivadas nas 752

comunidades pertencentes aos Municiacutepios de Altinho (Caratildeo n=8) e ao Municiacutepio de Panelas 753

(Aracuatilde Satildeo Joseacute do Bola Brejo Velho Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima e Lajeiro 754

Dantas n=21) 755

Etnovariedade Frequecircncia () Ranking Saliecircncia

Macaxeira Rosa 66 179 0472

Mandioca Isabel de Souza 48 179 0372

Mandioca Campina 24 217 0148

Macaxeira Branca 20 210 0134

Macaxeira Rosa branca 18 122 0168

Mandioca Pretona 16 338 0082

Mandioca Cambadinha 12 283 0071

Mandioca Isabel trecircs galhos 10 180 0075

Mandioca Gauacuteba 10 260 0070

Mandioca Pretinha 8 225 0053

Mandioca Peacute de pombo 4 400 0011

Mandioca Olho verde 4 350 0012

Macaxeira Rosinha 4 200 0027

Mandioca Campina varuda 4 200 0032

Mandioca Campina rasteira 4 300 0021

Mandioca Caboquinha 2 500 0007

Macaxeira Rasteira 2 200 0013

Macaxeira Paraacute 2 100 0020

Mandioca Barra ferro 2 300 0007

Mandioca Campina da grande 2 100 0020

Mandioca Olho de pombo 2 300 0010

Mandioca Jasmim 2 600 0006

756

757

758

62

Tabela 3 Lista de 17 etnovariedades atualmente cultivadas nos roccedilados das comunidades em 759

estudo 760

Ca Ar Bo Br Jb Jc Ld

Etnovariedade

Macaxeira Branca x x x x

Macaxeira Rosa

x x x x x x

Macaxeira Rosa Branca x x x x

Macaxeira Rosa Vermelha

x

Macaxeira Semente

x

Mandioca Cambadinha x

x

Mandioca Campina

x

x

x

Mandioca Campina da Grande x

Mandioca Campina Rasteira

x

Mandioca Campina Varuda

x

Mandioca Gauacuteba

x

Mandioca Isabel de Souza

x x x

Mandioca Isabel trecircs Galhos

x

x

Mandioca Olho de Pombo

x

Mandioca Olho Verde

x

Mandioca Pretinha

x

Mandioca Pretona x x x

Comunidades Ca= Caratildeo Ar=Aracuatilde Bo= Satildeo Joseacute do Bola Jb= Japaranduba de Baixo 761

Jc= Japaranduba de Cima Ld= Lajedo Dantas 762

763

764

765

766

767

768

63

Tabela 4 Descriccedilatildeo das classes do agrupamento por meacutetodo de Ward agrupadas pelo conjunto 769

dos descritores mais significativos para a caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das variedades de mandioca 770

Classes Descritores in situ p-valor

C1 Cor do peciacuteolo (CDP) 0016

C2 Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023

C3 Cor do peciacuteolo (CDP) 0012

C4 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0004

Cor da poupa da raiacutez (PDF) 0021

C5 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0003

C6 Cor do broto foliar (CBF) 0002

C7 Cor da folha desenvolvida (CFD) 0004

Cor externa do caule (CEC) 0040

C8 Cor do peciacuteolo (CDP) 0005

Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023

Valores de Ple005 satildeo significativos 771

772

21

de conservar o material vegetativo para o proacuteximo plantio no caso de perda de material por

algum fator ambiental adverso (EMPERAIRE et al 2001 EMPERAIRE ELOY 2008)

Nesse sentido satildeo os agricultores os maiores responsaacuteveis por determinar como e quais

etnovariedades seratildeo compartilhadas e mantidas entre as comunidades (PAUTASSO et al

2012) E a chave para a compreensatildeo da dinacircmica da diversidade varietal eacute por meio desse

intercacircmbio e dos fatores que influenciam essa conectividade entre as comunidades pois essas

redes representam um grande impacto sobre a diversidade de variedades cultivadas E eacute por

meio dessas redes que se diminui coletivamente os riscos de perda total de diversidade geneacutetica

local (EMPERAIRE ELOY 2008)

Desse modo as relaccedilotildees estabelecidas pelos agricultores entre as comunidades por meio

das redes troca de germoplasma podem ter consequecircncias importantes sobre a diversidade

varietal da mandioca E compreender os processos envolvidos na manutenccedilatildeo ou perda de

germoplasma nos sistemas agriacutecolas eacute importante uma vez que compreendendo a maneira

como os agricultores usam esse conjunto de etnovariedades de mandioca e as compartilham

vai trazer importantes discussotildees a cerca da qualidade e a quantidade do recurso que seraacute

mantido transmitido ou perdido dentro dos sistemas ao longo do tempo

22

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25

VARIACcedilAtildeO INTRAESPECIacuteFICA CONHECIMENTO E MANEJO

LOCAL DE MANDIOCA (Manihot esculenta Crantz) NO SEMIAacuteRIDO DE

PERNAMBUCO NORDESTE DO BRASIL

Artigo submetido ao perioacutedico Human Ecology

Normas para submissatildeo em anexos

26

Variaccedilatildeo intraespeciacutefica conhecimento e manejo local de mandioca 1

(Manihot esculenta Crantz) no semiaacuterido de Pernambuco Nordeste do 2

Brasil 3

Mirela Nataacutelia Santos12 Jhonatan Rafael Zaacuterate-Salazar1 Reginaldo de Carvalho1 amp 4

Ulysses Paulino de Albuquerque2 5

6

1 Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo em Botacircnica Departamento de Biologia Rua Dom Manuel de Medeiros 7

Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) sn Dois Irmatildeos Recife Pernambuco 52171-8

900 Brasil 9

2 Laboratoacuterio de Ecologia e Evoluccedilatildeo de Sistemas Socioecoloacutegicos (LEA) Departamento de Botacircnica 10

Avenida Professor Moraes Rego Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) sn Cidade 11

Universitaacuteria Recife Pernambuco 50670-901 Brasil 12

Resumo 13

Historicamente a espeacutecie Manihot esculenta Crantz (mandioca) eacute uma espeacutecie de grande valor 14

econocircmico e de subsistecircncia para populaccedilotildees em comunidades tradicionais Variedades de 15

mandioca satildeo selecionadas com base nos interesses dos agricultores conduzindo uma evoluccedilatildeo 16

especiacutefica sobre a geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da agrobiodiversidade local Diante disso a mandioca 17

tornou-se espeacutecie-modelo em estudos que buscam compreender como os padrotildees e estrateacutegias 18

adotadas pelas populaccedilotildees humanas influenciam na diversidade intraespeciacutefica local em regiotildees 19

tropicais No entanto os fatores que influenciam a diversidade da mandioca em regiotildees 20

semiaacuteridas ainda natildeo foram bem documentados Nesse sentido objetivo geral do estudo foi 21

compreender os processos envolvidos na dinacircmica da diversidade agriacutecola em sete 22

comunidades tradicionais localizadas na regiatildeo semiaacuterida do estado de Pernambuco (Nordeste 23

do Brasil) por meio do acesso ao conhecimento dos agricultores quanto as praacuteticas de menejo 24

para tentar quais quais fatores podem estar relacionados a geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da diversidade 25

local Com os resultados da anaacutelise de redes verificamos uma alta diversidade de 26

etnovariedades cultivadas e a sua composiccedilatildeo eacute determinada pelas preferecircncias e 27

comportamentos individuais dos agricultores que foram provavelmente os mecanismos 28

27

responsaacuteveis pelo surgimento da estrutura aninhada observada na anaacutelise rede Esse padratildeo 29

aninhado contribui na conservaccedilatildeo das etnovariedades mais comuns mas tambeacutem pode resultar 30

em perda daquelas de menor frequecircncia ao longo do tempo 31

Palavras-Chave Agricultura tradicional Agricultura de sequeiro Agrobiodiversidade 32

Etnobiologia Plantas alimentiacutecias 33

34

Introduccedilatildeo 35

Historicamente as populaccedilotildees humanas foram acumulando conhecimentos sobre 36

praacuteticas da agricultura desenvolvendo teacutecnicas adaptadas ao meio natural e assim foram 37

domesticando uma grande variedade de cultivos alimentares para garantirem a sua 38

sobrevivecircncia (Balleacute 2006 Clement et al 2010) Essa interaccedilatildeo pessoas-plantas por meio do 39

cultivo e manejo das espeacutecies vegetais considerando tanto os aspectos sociais quanto naturais 40

dos sistemas dinacircmicos eacute uma importante ferramenta para o entendimento do conhecimento 41

dos agricultores sobre os agroecossistemas locais ( Alcorn 1995) 42

Aleacutem disso essas interaccedilotildees vem contribuindo com alteraccedilotildees nas populaccedilotildees vegetais 43

por meio da seleccedilatildeo artificial Essas alteraccedilotildees resultaram em mudanccedilas na estrutura geneacutetica 44

dessas populaccedilotildees que satildeo determinadas geralmente pela seleccedilatildeo de caracteriacutesticas fenotiacutepicas 45

fisioloacutegicas eou econocircmicas das plantas refletidas em classificaccedilotildees e nomenclaturas 46

especiacuteficas baseadas em percepccedilotildees individuais (Carmona amp Casas 2005) 47

Muitos pesquisadores tentam explicar o papel dos agricultores de pequena escala na 48

seleccedilatildeo classificaccedilatildeo e manutenccedilatildeo da agrobiodiversidade local em roccedilas tradicionalmente 49

manejas em regiotildees uacutemidas (Emperaire amp Peroni 2007 Emperaire amp Eloy 2008 Marchetti et 50

al 2013) Essas roccedila satildeo aacutereas de cultivo caracterizadas por conter uma alta diversidade 51

intraespeciacutefica de espeacutecies (Martins 2005) Dentre elas a Manihot esculenta Crantz 52

28

(mandioca) Euphorbiaceae em sua diversidade de etnovariedades eacute a espeacutecie mais importante 53

sob ponto de vista econocircmico e de subsistecircncia para as populaccedilotildees locais e mais cultivada 54

devido a sua grande adaptabilidade ambiental e baixos custos de gestatildeo (Elias et al 2001) 55

A alta diversidade da mandioca nessas aacutereas pode ser atribuiacuteda agrave possibilidade de 56

introduccedilatildeo de novas variedades via reproduccedilatildeo sexuada associada a ecologia da espeacutecie Esse 57

mecanismo permite o fluxo gecircnico entre as variedades de mandioca cultivadas do mesmo local 58

e entre estas com variedades de locais vizinhos (Pujol et al 2007) Outro mecanismo que 59

favorece essa diversidade eacute agrave circulaccedilatildeo de material propagativo por meio redes sociais de troca 60

variedades entre os agricultores (Pujol et al 2005 Emperaire amp Peroni 2007 Clement et al 61

2010) Esse mecanismo de troca eacute fundamental para o estabelecimento de interaccedilotildees entre as 62

diferentes aacutereas de roccedila promovendo oportunidade de seleccedilatildeo e cruzamento entre os diferentes 63

conjuntos de variedades aleacutem de permitir que este conjunto seja conservado (Emperaire amp Eloy 64

2008) 65

Diante desse cenaacuterio podemos observar que a agrobiodiversidade local natildeo eacute fruto 66

apenas de fatores naturais mas eacute tambeacutem influenciada pelas caracteriacutesticas culturais e 67

socioeconocircmica das populaccedilotildees locais refletidas especialmente no conhecimento e manejo 68

local Nesse sentido o presente estudo visa investigar as interaccedilotildees entre agricultores 69

tradicionais de comunidades rurais estabelecidas na regiatildeo semiaacuterida de Pernambuco 70

O objetivo geral eacute compreender os processos envolvidos na dinacircmica da diversidade 71

agriacutecola por meio do acesso ao conhecimento dos agricultores quanto as praacuteticas de menejo e 72

entender quais quais fatores podem estar relacionados a geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da diversidade 73

local Para esse estudo a mandioca foi escolhida como modelo devida agrave sua importacircncia 74

econocircmica e de subsistecircncia para comunidades locais Os objetivos especiacuteficos foram (i) 75

caracterizar o manejo da agricultura de sequeiro bem como analisar se os paracircmetros 76

socioeconocircmicos influenciam na diversidade local (ii) registrar as etnovariedades atualmente 77

29

cultivadas e identificar os diferentes criteacuterios morfoloacutegicos utilizados pelos agricultores para a 78

seleccedilatildeo e classificaccedilatildeo das etnovariedadese (iii) descrever a estrutura da rede de interaccedilatildeo entre 79

os agricultores e a diversidade de etnovariedades de mandioca cultivadas para tentar entender 80

como essas relaccedilotildees podem influenciar na manutenccedilatildeo ou perda da diversidade local 81

Material e meacutetodos 82

Aacutereas de estudo 83

Amostramos sete comunidades rurais estabelecidas na regiatildeo semiaacuterida de 84

Pernambuco Nordeste do Brasil Uma das comunidades (Caratildeo) pertence ao Municiacutepio de 85

Altinho (ldquo8deg 29rsquo 10rdquo S e 36deg 03rsquo 49rdquo W) e as demais (Satildeo Joseacute do Bola Brejo velho 86

Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima Lajedo Dantas e Aracuatilde) ao Municiacutepio de 87

Panelas (8 deg 39 48 S e 36 deg 01 23 W) (Fig 2) 88

O modelo agriacutecola adotado na regiatildeo segue o sistema tradicional de sequeiro4 e todas 89

as comunidades em estudo possuem histoacuterico de cultivo de mandioca (M esculenta) As aacutereas 90

de cultivo satildeo estabelecidas por unidade familiar e as atividades satildeo realizadas em sua maioria 91

por homens tendo cada agricultor cerca de um a dois hectares de aacuterea para plantio Aleacutem da 92

mandioca os cultivos mais utilizados na comunidades satildeo milho (Zea mays) e feijatildeo (Phaseolus 93

sp) 94

Para os membros das comunidades a produccedilatildeo da farinha de mandioca (Fig 3) eacute uma 95

das atividades agriacutecolas mais importantes tanto pelo seu papel na dieta alimentar quanto pela 96

importacircncia social e econocircmica 97

Caracteriacutesticas das comunidades do estudo 98

A comunidade do Caratildeo localiza-se sob domiacutenio de Caatinga caracterizado por climas 99

quentes e secos com regimes escassos de chuvas correspondente ao tipo BSrsquoh segundo a 100

4 Eacute o cultivo praticado sem irrigaccedilatildeo em regiotildees onde a pluviosidade eacute diminuta

30

classificaccedilatildeo climaacutetica de Koumlppen A vegetaccedilatildeo eacute composto por espeacutecies perenes que 101

conseguem sobreviver mesmo em periacuteodos de seca e espeacutecies anuais que aparecem apenas em 102

periacuteodos com chuva (Cruz et al 2013) 103

De acordo os dados de precipitaccedilatildeo do Laboratoacuterio de Anaacutelise e Processamento de 104

Imagens de Sateacutelites (LAPIS) no ano de 2012 foi registrada a menor meacutedia anual de 105

precipitaccedilatildeo dos uacuteltimos 10 anos para essa regiatildeo (3784 mm) Essa realidade ambiental quando 106

comparada com estudo realizado por de Sieber e colaboradores (2011) na mesma comunidade 107

observa-se que houve uma diminuiccedilatildeo considerada das praacuteticas agriacutecolas realizadas pelos 108

membros da comunidade culminando em uma seacuterie de prejuiacutezos aos agricultores como a perda 109

de plantaccedilotildees e animais Essa perda de produtividade afetou a estrutura econocircmica da 110

comunidade uma vez que a principal fonte de subsistecircncia das famiacutelias eacute a agricultura 111

Associada as atividades agriacutecolas os moradores complementam a dieta e a renda 112

familiar com a venda dos excedentes da produccedilatildeo em feiras-livres ou centros comerciais da 113

regiatildeo (Cruz et al 2013) E com a pecuaacuteria de pequena escala bovina caprina e com avicultura 114

No entanto a diminuiccedilatildeo da forragem natural e cultivada causada pela escassez de chuvas 115

associada aos elevados custos envolvidos na compra de raccedilatildeo levou muitos animais agrave morte 116

(Fig 4) 117

No Municiacutepio de Altinho a comunidade do Caratildeo foi inicialmente escolhida devido ao 118

reconhecimento preacutevio do registro de agricultores realizado em estudos desenvolvidos pelo 119

nosso grupo de pesquisa facilitando assim o acesso agraves informaccedilotildees necessaacuterias para o 120

desenvolvimento da pesquisa 121

As comunidades Aracuatilde Brejo Velho Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima 122

Lajedo Dandas e Satildeo Joseacute do Bola amostradas no estudo pertencem ao Municiacutepio de Panelas 123

que se limita ao Norte com o Municiacutepio de Altinho Essas comunidades estatildeo localizadas em 124

31

no domiacutenio morfoclimaacutetico de Caatinga O clima eacute do tipo semiaacuterido Bsrsquoh segundo a 125

classificaccedilatildeo climaacutetica de Koumleppen 126

A maior parte dos membros dessas comunidades assim como no Caratildeo tecircm como 127

principal fonte de subsistecircncia a agricultura de sequeiro principalmente o cultivo da mandioca 128

(Fig 5) Como renda extra a pecuaacuteria de pequeno porte com criaccedilatildeo bovina caprina e 129

avicultura sendo os excedentes dos alimentos produzidos vendidos em feiras locais ou para 130

escolas 131

As atividades agriacutecolas entre as comunidades tambeacutem foram duramente afetadas pela 132

seca na regiatildeo nos uacuteltimos anos A escassez de chuvas desestimulou o plantio a produccedilatildeo de 133

mandioca foi fortemente comprometida e a colheita foi adiada devido ao subdesenvolvimento 134

das raiacutezes gerando impactos econocircmicos para os membros das comunidades 135

As comunidades amostradas neste muniacutecipio foram escolhidas em funccedilatildeo das 136

indicaccedilotildees dos agricultores entrevistados a princiacutepio na comunidade do Caratildeo que reportaram 137

manter viacutenculos sociais com os agricultores do municiacutepio vizinho 138

Coleta de dados 139

Acessamos as comunidades com a ajuda de um liacuteder comunitaacuterio (Alexandre O 140

Nascimento) em companhia de outros pesquisadores que desenvolviam pesquisas na regiatildeo 141

Previamente as entrevistas todos objetivos e procedimentos para a realizaccedilatildeo da pesquisa foram 142

apresentados aos entrevistados e todos que aceitaram participar foram convidados a assinar um 143

Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) de acordo com a Resoluccedilatildeo 46612 do 144

Conselho Nacional de Sauacutede concordando com a realizaccedilatildeo das entrevistas e avaliaccedilotildees 145

morfoloacutegicas em campo O presente trabalho foi submetido ao Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa da 146

Universidade de Pernambuco (UPE) 147

32

Em todas as comunidades o meacutetodo de acesso ao informante foi o mesmo a partir do 148

primeiro contato com um informante-chave identificamos outros potenciais agricultores 149

seguindo a teacutecnica de ldquobola de neverdquo (Albuquerque et al 2014a) Esse meacutetodo consistiu na 150

amostragem intencional dos participantes e nesse particular os agricultores chefes de famiacutelia 151

(ge 18 anos) da regiatildeo que declararam cultivar mandioca (M esculenta) em suas roccedilas 152

Reunimos informaccedilotildees socioeconocircmicas desses agricultores tais como nome idade gecircnero 153

escolaridade renda experiecircncia na agricultura e tamanho da aacuterea de cultivo para tentar 154

identificar se esses paracircmetros socioeconocircmicos tecircm uma relaccedilatildeo com a agrobiodiversidade 155

local 156

Em seguida conduzimos entrevistas semiestruturadas (Albuquerque et al 2014b) com 157

o objetivo de caracterizar o modo de vida dos agricultores o manejo da agricultura bem como 158

obter dados sobre o conhecimento uso e caracterizaccedilatildeo das etnovariedades de mandioca 159

5cultivadas Aleacutem disso neste momento tambeacutem aplicamos a teacutecnica da lista livre 160

(Albuquerque et al 2014b) a fim de registrar as variedades de mandioca atualmente cultivadas 161

pelos agricultores e identificar as de maior importacircncia local Apoacutes as entrevistas realizamos 162

visitas aos roccedilados para o registro fotograacutefico georreferenciamento das roccedilas e caracterizaccedilatildeo 163

morfoloacutegica das variedades cultivadas 164

Entrevistamos 50 agricultores no total distribuiacutedos nas sete comunidades Caratildeo (3) 165

Satildeo Joseacute do Bola (10) Brejo velho (7) Japaranduba de Baixo (7) Japaranduba de Cima (8) 166

Lajedo Dantas (9) e Aracuatilde (6) Destes 10 satildeo mulheres e 40 homens com idade variando entre 167

31 e 82 anos A maioria dos entrevistados natildeo apresentava instruccedilatildeo formal (46) mais da 168

metade eram aposentados (56) e os demais apresentaram renda inferior a um salaacuterio miacutenimo 169

5 Entende-se por etnovariedade de mandioca o conjunto de variedades intraespeciacuteficas de mandioca (M esculenta)

reconhecidas pelos agricultores por nomenclatura popular local (Peroni 2004)

33

O tempo meacutedio de experiecircncia na agricultura foi de 40 anos Cada agricultor possui entre um e 170

dois roccedilados (aacuterea de plantio) com aproximadamente um a dois hectares 171

Redes de interaccedilatildeo social 172

Confeccionamos a rede que descreve as interaccedilotildees entre os agricultores e as 173

etnovariedades cultivadas a partir de uma matriz de incidecircncia R (presenccedilaausecircncia) onde nas 174

linhas estavam as etnovariedades de mandioca cultivadas (j) e nas colunas os agricultores locais 175

(i) O elemento Rij dessa matriz foi 1 (um) no caso de a etnovariedade j ser cultivada pelo 176

agricultor i caso contraacuterio seria atribuiacutedo 0 (zero) As interaccedilotildees entre os agricultores e as 177

etnovariedades foram descritas em dois modos (Pires et al 2011) onde os ldquonoacutesrdquo da esquerda 178

representam os agricultores que foram vinculados aos ldquonoacutesrdquo da direita representados pelas 179

etnovariedades citadas durante as entrevistas Esses ldquonoacutesrdquo seriam o espelho das decisotildees dos 180

agricultores em manter um determinado conjunto local de etnovariedades em suas roccedilas 181

Avaliamos a estrutura da rede que conecta os agricultores agraves etnovariedades cultivadas 182

a partir de trecircs cenaacuterios hipoteacuteticos (Fig 6) segundo Cachevia et al (2014) No primeiro se os 183

agricultores apresentassem diferentes graus de seletividade para a utilizaccedilatildeo de suas 184

etnovariedades a estrutura seria aninhada (Fig 6a) Isso significa que alguns agricultores 185

cultivam vaacuterias etnovariedades enquanto que outros cultivam o subconjunto mais 186

disponiacutevelcomum dessas etnovariedades Em segundo lugar se a rede apresentasse uma 187

estrutura modular (Fig 6b) significaria que os agricultores apresentam semelhanccedila na seleccedilatildeo 188

do recurso ou seja subgrupos de agricultores cultivam subgrupos distintos de etnovariedades 189

regionalmente disponiacuteveiscomuns E o terceiro se os agricultores natildeo apresentassem 190

preferecircncias quanto a seleccedilatildeo das etnovariedades entatildeo a rede apresentaria uma estrutura 191

aleatoacuteria (Fig 6c) 192

O objetivo da anaacutelise de rede nesse estudo foi tentar entender se o conjunto de 193

etnovariedades presentes no local do estudo constituem uma subamostra de um conjunto mais 194

34

amplo no caso de um alto grau de aninhamento ou se a sua composiccedilatildeo eacute determinada por 195

variaacuteveis locais (Ulrich 2008) Onde as conexotildees entre os informantes e as etnovariedades 196

representam as decisotildees dos agricultores de manter um conjunto determinado de variedades de 197

mandioca dentre as comunidades Esta anaacutelise tambeacutem nos permitiu identificar quais os nuacutecleos 198

de etnovariedades que apresentam maior conexatildeo com os diferentes perfis dos agricultores 199

Diversidade fenotiacutepica 200

Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 201

Apoacutes as entrevistas buscamos identificar quais os caracteres morfoloacutegicos considerados 202

mais importantes para a diferenciaccedilatildeo das etnovariedades de mandioca a partir do seguinte 203

questionamento ldquoQuais as diferenccedilas que vocecirc reconhece para separar uma qualidade de 204

mandioca (variedade) de uma outrardquo Assim os agricultores mencionaram quais os criteacuterios 205

mais importantes utilizados para a caracterizaccedilatildeo de suas etnovariedades 206

Compilamos uma listagem dessas caracteriacutesticas baseada nas indicaccedilotildees dos 207

agricultores e a partir delas selecionamos os caracteres morfoloacutegicos mais citados para a 208

caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica ldquoin siturdquo tais como cor da folha (cor da folha desenvolvida) olho 209

(cor do broto foliar) cor do talo (cor do peciacuteolo) maniva (cor externa do caule) embriatildeo 210

(protuberacircncia da cicatriz foliar) cor da entrecasca (coacutertex da raiz) e cor miolo (polpa da raiz) 211

(Tabela 1) O objetivo dessa caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica foi indicar como estaacute distribuiacuteda a 212

variaccedilatildeo fenotiacutepica das etnovariedades de mandioca nas comunidades na regiatildeo semiaacuterida de 213

Pernambuco bem como identificar que caracteriacutesticas satildeo mais importantes para distinguir 214

esses grupos no intuito de tentar entender como os agricultores classificam suas variedades de 215

mandioca 216

Nas sete comunidades para cada etnovariedade citada no roccedilado caracterizamos ldquoin 217

siturdquo trecircs indiviacuteduos de M esculentade de cada uma totalizando 171 indiviacuteduos (Aracuatilde=11 218

35

Caratildeo=4 Satildeo Joseacute do Bola=13 Brejo Velho=16 Japaranduba de Baixo=6 Japaranduba de 219

Cima=3 e Lajedo Dantas=4) Fotografamos e avaliamos todos os indiviacuteduos com base em parte 220

dos descritores morfoloacutegicos seguindo recomendaccedilotildees de Fukuda amp Guevara (1998) e aleacutem 221

disso georreferenciamos todas as aacutereas de roccedila 222

Anaacutelise dos dados 223

Analisamos os dados socioeconocircmicos das entrevistas semiestruturadas por meio de 224

estatiacutestica descritiva para explicar os aspectos da realidade econocircmica e social dos agricultores 225

Para identificar se a diversidade intraespeciacutefica da mandioca cultivada localmente eacute 226

influenciada por paracircmetros socioeconocircmicos utilizamos o coeficiente de correlaccedilatildeo de 227

Spearman (Ple005) (Sokal amp Rohlf 1995) 228

Com base na lista livre das variedades de mandioca cultivadas pelos agricultores 229

calculamos a frequecircncia de citaccedilatildeo o ranking e o iacutendice de saliecircncia com o objetivo de 230

identificar quais as mais importantes ou preferidas para as comunidades O iacutendice de saliecircncia 231

considerou a frequecircncia de citaccedilatildeo e o ranking referente ao posicionamento das variedades 232

dentro das listas livres (Thompson amp Juan 2006) As etnovariedades mais citadas e com maior 233

valor de saliecircncia representam as de maior importacircncia ou preferecircncia para as comunidades 234

Anaacutelise de rede 235

Medimos o grau de aninhamento (NODF) para investigar a estrutura de rede de 236

interaccedilatildeo social dos agricultores em funccedilatildeo das variedades cultivadas As matrizes altamente 237

aninhadas apresentam NODF tendendo a 1 caso contraacuterio tentem a ser 0 238

Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 239

Para o estudo das semelhanccedilas e diferenccedilas fenotiacutepicas entre as variedades de mandioca 240

ldquoin siturdquo realizamos anaacutelises multivariadas para identificar possiacuteveis grupos de variedades que 241

compartilham semelhanccedilas entre si 242

36

A anaacutelise de correspondecircncia muacuteltipla (MCA) permitiu identificar como as variedades 243

de mandioca estatildeo ordenadas em funccedilatildeo dos seus descritores etnobotacircnicos As etnovariedades 244

foram plotadas ao longo um plano cartesiano bi ou tridimensional onde a variaccedilatildeo total eacute 245

explicada pelos dois primeiros eixos Complementar a esta anaacutelise realizamos a anaacutelise de 246

agrupamento hieraacuterquico (Cluster) para identificar como estatildeo agrupadas as etnovariedades de 247

acordo seus descritores Conferimos a consistecircncia do dendrograma com coeficiente de 248

correlaccedilatildeo cofeneacutetica conforme Sneath amp Sokal (1973) que quantifica se a correlaccedilatildeo entre a 249

matriz de distacircncias originais e a matriz de distacircncias cofeneacuteticas eacute representativa Para 250

mensurar as dissimilaridades entre as variedades de mandioca foi utilizada a distacircncia 251

euclidiana e com o meacutetodo de Ward 252

Softwares utilizados 253

Para a anaacutelise da lista livre usamos o software ANTROPAC versatildeo 10 O software 254

ANINHADO 30 (Guimaratildees amp Guimaratildees 2006) foi usado para medir o grau de aninhamento 255

da rede Utilizamos o software estatiacutestico R (R core team 2017) para a anaacutelise de correlaccedilatildeo 256

de Spearman com o pacote corrplot (Wei amp Simko 2013) o desenho da rede que descreve a 257

interaccedilatildeo entre os agricultores e as etnovariedades com o pacote bipartite (Dormann et al 258

2017) E com os pacotes FactoMineR (LEcirc et al 2008) factoextra (Kassambara et al 2016) e 259

vegan (Oksanen et al 2017) foram realizadas as anaacutelises de cluster de correspondecircncia 260

muacuteltipla (MCA) e de correlaccedilatildeo coefeneacutetica respectivamente 261

Resultados 262

As diferentes etnovariedades de mandioca encontradas no estudo suprem a demanda 263

local por alimento enquanto outras atendem agraves preferecircncias individuais ou do comeacutercio As 264

variedades que possuem maior rendimento e a farinha produzida apresenta coloraccedilatildeo branca 265

satildeo as de maior valor comercial para os agricultores devido agraves preferecircncias do mercado Jaacute 266

37

outras variedades que satildeo mais moles e apresentam coloraccedilatildeo amarelada natildeo satildeo empregadas 267

na produccedilatildeo de farinha mas sim consumidas cozidas ou assadas A depender da demanda local 268

os agricultores intencionalmente aumentam ou diminuem a frequecircncia de suas variedades nos 269

roccedilados seja por alguma exigecircncia do comeacutercio ou para consumo familiar 270

Nas comunidades os agricultores separam suas variedades de mandioca em dois grupos 271

como observado em outras comunidades na mata Atlacircntica por Emperaire e Peroni (2007) o 272

das ldquomacaxeirasrdquo que satildeo as variedades exploradas basicamente para o consumo familiar sem 273

processo preacutevio de desintoxicaccedilatildeo cujas raiacutezes satildeo consumidas fritas eou cozidas Sendo 274

utilizadas tambeacutem como complemento na dieta dos animais E o grupo das ldquomandiocasrdquo que 275

satildeo as variedades que necessitam de processo preacutevio de desintoxicaccedilatildeo para o consumo 276

utilizadas comumente para a produccedilatildeo de farinha de mandioca Para os agricultores as 277

ldquomandiocasrdquo possuem maior valor comercial pois apresentam maior rendimento e 278

rentabilidade pois a farinha produzida eacute branca e atende as preferencias do comercio local 279

Aleacutem da farinha outros produtos e subprodutos produzidos dentre os quais foram citados 280

ldquotapioca ou gomardquo ldquobijurdquo ou ldquobolo de mandiocardquo satildeo utilizados para o consumo proacuteprio ou 281

eventual comercializaccedilatildeo 282

Os informantes natildeo possuiacuteam conhecimento sobre a origem dos nomes das variedades 283

de mandioca Quanto a compreensatildeo da geraccedilatildeo da diversidade intraespeciacutefica identificamos 284

que apesar de 66 dos agricultores citarem que conhecem variedades fruto de germinaccedilatildeo de 285

suas sementes nenhum deles utiliza as manivas para o plantio por essas variedades de 286

mandioca ldquovoluntaacuteriasrdquo natildeo apresentarem bom rendimento 287

Observamos que existe uma baixa correlaccedilatildeo entre a diversidade de variedades 288

atualmente cultivadas e as variaacuteveis socioeconocircmicas como no caso do nuacutemero de roccedilados 289

(r=028 Ple005) e do tamanho do roccedilado (r=033 Ple005) (Fig 7) Essa baixa correlaccedilatildeo pode 290

38

ser explicada pelo fato de existirem grupos de agricultores que preferem manter as variedades 291

de maior valor econocircmico e de subsistecircncia mesmo com aacutereas maiores de cultivo 292

Verificamos tambeacutem uma correlaccedilatildeo positiva moderada entre o nuacutemero de variedades 293

conhecidas com o nuacutemero de variedades atualmente cultivadas (r=054 Ple005) Na lista livre 294

foram identificadas 22 etnovariedades de mandioca cultivadas (132 citaccedilotildees no total) sendo 295

oito dessas mais citadas com maiores valores de saliecircncia (entre 047 e 0082) (Tabela 2) As 296

etnovariedades ldquoMacaxeira Rosardquo e ldquoMandioca Isabel de Souzardquo exibiram os maiores valores 297

de saliecircncia 047 e 037 respectivamente Logo essas variedades satildeo as mais conhecidas 298

dentro das comunidades com 66 e 48 das citaccedilotildees respectivamente 299

Dentre as etnovariedades citadas 12 foram idiossincraacuteticas pois apresentaram menor 300

frequecircncia de citaccedilatildeo e menores valores de saliecircncia (entre 0032 e 0006) (Tabela 2) 301

Redes de interaccedilatildeo social 302

A rede apresentou uma estrutura aninhada com grau de aninhamento significativamente 303

superior aos modelos nulos (N=3072 Plt0001) para as comunidades sendo um nuacutecleo de 304

etnovariedades altamente conectado aos agricultores (Fig 8) A estrutura aninhada nos permite 305

inferir que existe um grupo de agricultores que cultiva uma maior diversidade de etnovariedades 306

de mandioca em suas roccedilas enquanto que outro subgrupo que tem menor diversidade cultivam 307

as mais comuns ou disponiacuteveis (Cavechia et al 2014) Isso significa que os agricultores locais 308

mesmo em diferentes comunidades cultivam um nuacutecleo de etnovariedades comum entre eles 309

(n=6 Tabela 2) 310

Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 311

Observamos que a maioria dos indiviacuteduos de mandioca satildeo caracterizados por meio de 312

um conjunto de sete caracteres morfoloacutegicos os quais foram citados pelos agricultores como 313

mais importantes para a caracterizaccedilatildeo de suas variedades Nas visitas aos roccedilados registramos 314

39

as etnovariedades atualmente cultivadas e a tabela 3 fornece a lista completa com as 17 315

etnovariedades de mandioca e o local de registro 316

Por meio da anaacutelise de correspondecircncia muacuteltipla as variedades de mandioca foram 317

ordenadas em funccedilatildeo de seus descritores ao longo do primeiro e segundo eixo correspondentes 318

a 3680 da variacircncia total (Fig 9) 319

As variaacuteveis mais correlacionadas e que agruparam as variedades de mandioca no 320

primeiro eixo foram cor da folha desenvolvida (CFD) (r= 07239 Ple0001) cor do coacutertex da 321

raiz (CDR) (r= 06473 Ple0001) cor do broto foliar (CBF) (r= 06880 Ple0001) cor do peciacuteolo 322

(CDP) (r= 05250 Ple005) cor externa do caule (CEC) (r= 06883 Ple005) cor da polpa da 323

raiz (PDR) (r= 02473 Ple005) Para o segundo eixo as variaacuteveis correlacionadas foram cor 324

da folha desenvolvida (CFD) (r= 07220 Ple0001) cor externa do caule (CEC) (r= 08718 325

Ple0001) e cor do peciacuteolo (CDP) (r= 06927 Ple005) 326

O agrupamento de todas as variedades caracterizadas ldquoin siturdquo gerou uma aacutervore 327

hieraacuterquica (dendrograma) (Fig 9) utilizando a distacircncia euclidiana seguindo o criteacuterio de 328

Ward O dendrograma gerado apresentou um coeficiente de correlaccedilatildeo cofeneacutetica r= 06780 329

indicando que existe consistecircncia com os dados originais no agrupamento quanto agrave 330

classificaccedilatildeo e estrutura de tal forma que as variedades foram agrupadas em oito classes as 331

quais foram explicadas pelas variaacuteveis mais significativas descritas na tabela 4 332

O resultado do agrupamento (utilizada a distacircncia euclidiana e com o meacutetodo de Ward) 333

observamos que as etnovariedades de mandioca caracterizadas ldquoin siturdquo foram agrupadas em 334

dois grandes agrupamentos indicados na Fig 10 pelos retacircngulos em vermelho A partir dessa 335

anaacutelise percebemos que os caracteres morfoloacutegicos selecionados pelos agricultores natildeo foram 336

suficientes para separar as variedades de macaxeira e mandioca pois em ambos os 337

agrupamentos encontramos tanto macaxeiras quanto mandiocas 338

40

As variedades da classe 1 foram identificadas pelos agricultores pela cor do peciacuteolo 339

(CDP) verde A classe 2 agrupou as etnoveriedades caracterizadas pela protuberacircncia da cicatriz 340

foliar (PCF) mais protuberante Esse descritor segundo os agricultores era identificado como 341

ldquoembriatildeordquo A classe 3 consiste apenas da variedade ldquoMandioca Pretonardquo indicada pela presenccedila 342

de cor do peciacuteolo (CDP) vermelho A classe 4 agrupou trecircs variedades caracterizadas pelos 343

agricultores pela presenccedila de cor coacutertex da raiz (CDR) rosa e cor da polpa da raiacutez (PDR) branca 344

identificadas como ldquoMacaxeira vermelhardquo ldquoMacaxeira Rosa Brancardquo ldquoMacaxeira Rosardquo As 345

variedades agrupadas na classe 5 foras as variedades de mandioca caracterizadas pelos 346

agricultores por apresentarem cor do coacutertex (CDR) da raiacutez branca A classe 6 agrupou 347

variedades identificadas pelos agricultores pela cor do broto foliar (CBF) verde A classe 7 348

consiste apenas da variedade ldquoMacaxeira Sementerdquo identificada pelos agricultores pela cor do 349

peciacuteolo (CDP) roxo e protuberacircncia da cicatriz foliar pouco proeminente Essa variedade 350

segundo os agricultores era fruto do nascimento espontacircneo no roccedilado poreacutem eles geralmente 351

natildeo utilizam essas variedades por apresentarem apenas uma raiz pequena e de baixo 352

rendimento Na classe 8 as variedades foram identificadas pelos agricultores pela cor do peciacuteolo 353

(CDP) verde amarelado e protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) pouco proeminente As 354

ldquoMandioca Isabel de Souzardquo ldquoMandioca Isabel trecircs galhosrdquo segundo os agricultores se 355

diferenciavam pelo maior nuacutemero de caules presentes na variedade ldquoIsabel trecircs galhosrdquo 356

Discussatildeo 357

As sete comunidades estudadas manejavam um nuacutemero consideraacutevel de variedades 358

locais A quantidade de etnovariedades registradas eacute proacutexima a encontrada por Bender et al 359

(2009) e Cavechia et al (2014) em comunidades na regiatildeo sul e sudeste por Oler e Amorozo 360

(2017) em uma comunidade tradicional na regiatildeo centro-oeste Poreacutem foi quantitativamente 361

inferior quando comparada a estudos como os de Elias et al (2001) e Kawa et al (2013) em 362

comunidades na regiatildeo amazocircnica pois possuiacuteam uma alta diversidade Essa alta diversidade 363

41

na regiatildeo amazocircnica pode estar relacionada com o fato de que essa regiatildeo eacute o provaacutevel centro 364

de origem da mandioca (M esculenta) (Allem 1994) 365

As etnovariedades registradas neste estudo estatildeo disponiacuteveis para a maioria dos 366

agricultores dessa regiatildeo e esse fator favorece a circulaccedilatildeo das etnovariedades entre as 367

comunidades locais Por isso haacute semelhanccedilas das etnovariedades utilizadas entre os agricultores 368

da mesma comunidade e entre comunidades vizinhas 369

Parte dos agricultores optam por manter uma alta frequecircncia de variedades mais 370

utilizadas enquanto que outros optam por manter etnovariedades de baixa frequecircncia 371

Conforme discutido por Amorozo (2013) os agricultores escolhem seu acervo de acordo com 372

as necessidades e contexto em que vivem A reduccedilatildeo da diversidade de etnoveriedades por 373

exemplo pode ser impulsionada por fatores que simplificam o sistema como a seleccedilatildeo de 374

etnovariedades para a produccedilatildeo de farinha resultando no cultivo de poucas ou ateacute de uma uacutenica 375

etnovariedade (Peroni amp Hanazaki 2002) mesmo em aacutereas maiores 376

377

Redes de interaccedilatildeo social 378

Com as anaacutelises de rede demonstramos que os agricultores de diferentes comunidades 379

em uma mesma regiatildeo efetivamente trocam variedades de mandioca entre si corroborando 380

com estudos realizados por Emperaire amp Eloy (2008) Pautasso et al (2012) e Cavechia et al 381

(2014) Nesses estudos os autores tambeacutem consideram que as trocas de etnovariedades por 382

meio da rede de intercacircmbio entre os agricultores eacute um mecanismo fundamental para a 383

manutenccedilatildeo da diversidade local 384

A visualizaccedilatildeo da rede demonstrou que entre as comunidades os agricultores 385

compartilham um nuacutecleo de etnovariedades mais utilizadas dentre as quais estatildeo as de maior 386

valor econocircmico e de subsistecircncia Essas de maior frequecircncia satildeo aquelas altamente produtivas 387

utilizadas pelos agricultores para atenderem agraves demandas de mercado por farinha e para o 388

consumo proacuteprio (Kawa et al 2013) 389

42

No entanto observamos que existe outro nuacutecleo de etnovariedades menos frequentes 390

Essas etnovariedades raras podem ser resultantes do processo de experimentaccedilatildeo ou 391

preferecircncias individuais dos agricultores Outra possiacutevel razatildeo para a baixa frequecircncia de 392

algumas etnovariedades poderia ser explicada pela variaccedilatildeo da nomenclatura pelos 393

agricultores que segundo Peroni amp Hanazaki (2002) pode ocorrer durante o processo de troca 394

e introduccedilatildeo de novas variedades aos roccedilados Ainda assim natildeo descartamos a hipoacutetese de que 395

essas etnovariedades raras possam ser provenientes do cruzamento entre variedades diferentes 396

cultivadas da mesma roccedilado ou em roccedilas vizinhas De acordo com Martins (2005) essas 397

variedades fruto de germinaccedilatildeo expentacircnea satildeo incorporadas aos roccedilados pelos agricultores 398

pela curiosidade em experimentar novas variedades agraves suas coleccedilotildees 399

Nesse estudo admitimos que optar por etnovariedades raras entre as comunidades 400

estudadas eacute um comportamento adotado por agricultores que manejam uma maior diversidade 401

corroborando com os estudos de Cavechia et al (2014) e Emperaire et al (2016) em regiotildees 402

uacutemidas Para esses autores etnovaridedades de baixa frequecircncia representam um subconjunto 403

das de alta frequecircncia cultivadas por agricultores que manteacutem a maior diversidade em seus 404

roccedilados Sendo assim inferimos que no geral entre as comunidades satildeo os agricultores 405

generalistas aqueles que cultivam maior diversidade os responsaacuteveis por incorporar novas 406

etnovariedades aos roccedilados 407

As decisotildees dos agricultores em manter o acervo direcionado principalmente para 408

atender a demanda de mercado por exemplo podem levar a uma homogeneizaccedilatildeo nas roccedilas 409

colocando em risco a manutenccedilatildeo da diversidade local (Peroni amp Hanazaki 2002) Como 410

discutido por Elias et al (2000) os agricultores que selecionam apenas um nuacutemero reduzido e 411

especiacutefico de variedades mais produtivas tendem a fazer com que as variedades menos 412

frequentes desapareccedilam ao longo do tempo Essa tendecircndia pode influenciar na capacidade de 413

43

resiliecircncia do sistema assim como dos agricultores em lidar com possiacuteveis adversidades 414

ambientais que possam ocorrer 415

Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 416

No geral os agricultores demonstraram uma tendecircncia em classificarseparar suas 417

diferentes etnovariedades de mandioca a partir da combinaccedilatildeo de um conjunto de sete 418

caracteres morfoloacutegicos distintos e de faacutecil percepccedilatildeo os quais natildeo tem relaccedilatildeo com o uso 419

como por exemplo a cores das raiacutezes caule e folhas Logo consideramos que esses caracteres 420

morfoloacutegicos podem ser considerados como uma forma de classificaccedilatildeo pelos agricultores 421

baseada na capacidade percepccedilatildeo das diferenccedilas morfoloacutegicas que cada etnovariedades 422

apresenta (Boster 1985) Estes resultados nos levam a entender que entre os agricultores o 423

conhecimento sobre a diversidade da mandioca estaacute relacionado ao conhecimento de 424

caracteriacutesticas morfoloacutegicas consistentes 425

A existecircncia de alguns fenoacutetipos comuns nos permitiu avaliar a classificaccedilatildeo da 426

consistecircncia da taxonomia popular entre os agricultores Por exemplo as etnovariedades 427

ldquoMaxaceira Rosardquo e ldquoMacaxeira Rosa Brancardquo e ldquoMacaxeira vermelhardquo foram agrupadas no 428

mesmo cluster (C4) por apresentaram fenoacutetipos semelhantes Notamos que os agricultores 429

classificaram essas variedades de acordo com os traccedilos morfoloacutegicos mais relevantes como a 430

cor do coacutertex da raiz rosa e cor branca da polpa O mesmo ocorreu com as etnovariedades 431

ldquoMandioca varudardquo ldquoMandioca campina da granderdquo e ldquoMandioca campinardquo caracterizadas 432

pela presenccedila do peciacuteolo verde agrupadas no cluster (C1) 433

A partir dessas evidecircncias consideramos a hipoacutetese de que as variedades mesmo 434

apresentando caracteriacutesticas morfoloacutegicas muito semelhantes estatildeo sujeitas a variaccedilatildeo 435

nomenclatural durante o processo a incorporaccedilatildeo aos roccedilados pelos agricultores pois a 436

capacidade para distinguir e nomear variedades entre os agricultores da mesma regiatildeo pode 437

variar (Sambatti et al 2001 Elias et al 2001 Mekbib 2007) Consideramos tambeacutem que pode 438

44

existir variaccedilatildeo geneacutetica entre os indiviacuteduos identificados por um mesmo nome ou entatildeo que 439

os agricultores datildeo o mesmo nome para variedades diferentes E esta situaccedilatildeo pode levar a uma 440

superestimaccedilatildeo ou subestimaccedilatildeo da diversidade de mandioca cultiva nas aacutereas de estudo 441

Sabemos que a mandioca eacute propagada vegetativamente pelos agricultores por meio de 442

estacas em sistemas de agricultura tradicional No entanto alguns variedades produzem flores 443

e sementes que germinam e podem originar outras variedades ou outros clones por meio de 444

fecundaccedilatildeo cruzada (Elias et al 2001) Nesse contexto a etnovariedade ldquoMacaxeira Sementerdquo 445

presente no cluster (C7) trata-se de um uacutenico indiviacuteduo amostrado em uma roccedila de um dos 446

agricultores Esta apresentava algumas caracteriacutesticas morfoloacutegicas distintas das demais 447

reconhecidas pelo agricultor como por exemplo a produccedilatildeo de uma raiz uacutenica e 448

consequentemente de baixo rendimento Encontramos apenas um indiviacuteduo dessa 449

etnovariedade e nossa hipoacutetese de que esta poderia ter sido originada da germinaccedilatildeo da 450

semente mesmo quando 100 dos informantes declararam natildeo dar qualquer importacircncia e 451

descartar essas ldquovariedades-voluntaacuteriasrdquo foi confirmada pelo agricultor que afirmou que se 452

tratava de uma variedade nascida da germinaccedilatildeo da semente Esse comportamento vai de 453

encontro ao estudo de Fraser et al (2012) pois apesar dos agricultores reportarem nas 454

entrevistas que conhecem essas ldquovariedades-voluntaacuteriasrdquo nenhum agricultor faz o uso delas 455

Peroni et al (1999) e Agre et al (2016) analisando morfologicamente as variedades 456

locais de mandioca mantidas por agricultores em sistemas agriacutecolas tropicais tambeacutem 457

demonstraram que os agricultores satildeo coerentes quanto a separaccedilatildeo e identificaccedilatildeo de suas 458

etnovariedades a partir da formaccedilatildeo de grupos de coesos quanto a nomenclatura local utilizada 459

No entanto para o melhor entendimento dessa diversidade aleacutem da caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica 460

o uso de anaacutelises complementares como anaacutelise molecular seria importante para tentar 461

identificar se esses grupos representam a mesma variedade com nomes distintos ou se satildeo 462

variedades distintas com o mesmo nome 463

45

Conclusatildeo 464

O estudo demonstrou que no sistema de manejo da mandioca ao niacutevel de roccedila em 465

comunidades localizadas na regiatildeo semiaacuterida de Pernambuco compotildee uma diversidade 466

intrespeciacutefica de mandioca para atender agraves demandas econocircmicas e de subsistecircncia das 467

populaccedilotildees locais 468

Com relaccedilatildeo a anaacutelise de rede demostramos que haacute um nuacutecleo de etnovariedades 469

fortemente conectado aos agricultores e sua composiccedilatildeo eacute direcionada pelas preferecircncias e 470

necessidades individuais dos agricultores que foram os fatores responsaacuteveis pelo surgimento 471

da estrutura aninhada observada na anaacutelise rede entre as comunidades deste estudo E esse 472

padratildeo aninhado observado contribui na conservaccedilatildeo das etnovariedades mais comuns mas 473

tambeacutem pode resultar em perda daquelas de menor frequecircncia ao longo do tempo 474

A caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica ldquoin siturdquo nos permitiram inferir que os agricultores 475

reconhecem as diferentes caracteriacutesticas morfoloacutegicas de suas cultivares e satildeo coerentes na 476

separaccedilatildeo de suas variedades de mandioca e macaxeira Entretanto esses resultados sugerem a 477

realizaccedilatildeo de um estudo em niacutevel de diversidade geneacutetica exploratoacuterio para identificar se as 478

consistecircncias morfoloacutegicas refletem em consistecircncias geneacuteticas elucidando assim as possiacuteveis 479

confusotildees atribuiacutedas aos nomes das etnovariedades de mandioca 480

Agradecimentos 481

Agradecemos ao liacuteder comunitaacuterio Alexandre O Nascimento aos agricultores e 482

agricultoras das comunidades pela acolhida confianccedila e pela gentileza de compartilharem 483

conosco seus conhecimentos e contribuiacuterem com este estudo Especialmente a Arlindo Ferreira 484

Edgar Antocircnio Joseacute Sebastiatildeo Juvenal Oliveira e Janete Alves Ao Laboratoacuterio de Ecologia e 485

Evoluccedilatildeo de Sistemas Socioecoloacutegicos (LEA - UFPE) E agradecemos ao CNPq pelo apoio 486

com a bolsa de estudos do primeiro autor 487

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ANEXOS 615

616

Nome da revista 617

Human Ecology 618

Link de acesso 619

httpsgooglDVLbFj 620

Qualis-CAPES 621

B1 em Biodiversidade 622

623

624

625

626

627

628

629

630

631

632

633

634

635

636

637

638

639

640

641

642

52

Figuras 643

644

645

Fig 1 Partes do processo de fabricaccedilatildeo de farinha de mandioca Onde a raspagem b e c 646

processo de trituraccedilatildeo e d peneiramento Foto registrada em Abril de 2017 por Mirela Santos 647

648

649

650

c

d

b

a

53

651

Fig 2 Mapa de localizaccedilatildeo geograacutefica dos Municiacutepios de Altinho e Panelas e das comunidades 652

estudadas na regiatildeo semiaacuterida do Estado de Pernambuco (Elaborado por SANTOS 2018) 653

54

654

655

656

657

Fig 3 Processo de fabricaccedilatildeo da farinha de mandioca Apoacutes a colheita as raiacutezes satildeo lavadas 658

raspadas e trituradas (a) A massa extraiacuteda eacute prensada e coada Ao sair da prensa a massa 659

peneirada (b) e em seguida eacute torrada (c) em fornos artesanais ou parcialmente mecanizados 660

Imagem registrada em janeiro de 2017 na Comunidade do Caratildeo por Mirela Santos 661

662

663

a

b c

55

664

Fig 4 a Sede da Comunidade do Caratildeo b Agricultor transportando a palma forrageira que eacute 665

um exemplo de estrateacutegia adaptativa para suprir a falta de alimento dos animais devido agrave seca 666

c Feira-livre que acontece na comunidade a cada quinze dias Imagem registrada em julho de 667

2016 na Comunidade do Caratildeo por Mirela Santos 668

669

670

Fig 5 a O agricultor nos explicava as mudanccedilas que vem fazendo em seus roccedilados para se 671

adaptar aos longos periacuteodos de seca b Quando o agricultor nos mostrava as diferentes 672

etnovariedades que mantinha em sua roccedila c Durante a pesquisa nos explicavam como era feita 673

a colheita da mandioca e como selecionavam as manivas para o proacuteximo plantio Foto registrada 674

em abril de 2017 na Comunidade do Brejo Velho por Mirela Santos 675

a

b c

c b

a

56 676

677

Fig 6 Possiacuteveis estruturas de rede que descrevem as interaccedilotildees dos agricultores (losango) 678

ligados as etnovariedades (ciacuterculos) que cultivam Onde a Aninhada b Modular c Aleatoacuteria 679

(Fonte Cavechia et al 2014 com adaptaccedilotildees) 680

681

682

683

684

685

686

687

688

689

690

691

692

693

694

695

696

697

a c b

57

698

699

700

701

702

703

704

705

706

707

Fig 7 Correlaccedilatildeo de Spearman entre a diversidade de etnovariedades de mandiocas conhecidas 708

como cultivadas e variedades atualmente cultivadas por agricultor e as variaacuteveis 709

socioeconocircmicas Onde Nvc= nuacutemero de citadas como cultivadas Nve= nuacutemero de variedades 710

atualmente cultivadas Esc= escolaridade Id= idade Gen= gecircnero Tr= tamanho do roccedilado 711

Exp= experiecircncia na agricultura Sld= renda Nr= nuacutemero de roccedilados Cores distintivas 712

representam correlaccedilotildees significativas (Ple005) 713

714

58

715

Fig 8 Modelo individual de rede de etnovariedades de mandioca citadas (esquerda) por 716

agricultores como cultivadas (direita) nos Municiacutepios de Altinho e Panelas As redes foram 717

desenhadas com o pacote bipartite (Dormann et al 2017) usando o software R (R CORE 718

TEAM 2017) 719

720

59

721

Fig 9 Anaacutelise de Correspondecircncia Muacuteltipla das 17 etnovariedades de mandioca considerando 722

os sete descritores morfoloacutegicos utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo em roccedilas de 723

agricultores tradicionais de sete comunidades no semiaacuterido de Pernambuco 724

725

726

727

728

729

730

731

732

733

734

735

736

737

McCambadinha

McCampina

McCampinaDaGrande

McCampinaRasteira

McCampinaVaruda

McGauba

McIsabelDeSouza

McIsabelTresGalhos

McOlhoDePombo

McOlhoVerde

McPretinha

McPretona

MxBranca

MxRosa

MxRosaBrancaMxRosaVermelha

MxSemente

CFD_Verde_Arroxeado

CFD_Verde_ClaroCFD_Verde_Escuro

CBF_Roxo

CBF_Verde_ArroxeadoCBF_Verde_Claro

CBF_Verde_Escuro

CDP_Verde

CDP_Verde_Amarelado

CDP_Verde_Avermelhado

CDP_Vermelho

CEC_Cinza

CEC_Dourado

CEC_Laranja

CEC_Marrom_Claro

CEC_Marrom_Escuro

CEC_Prateado

CEC_Verde_AmareladoCicatriz_M

Cicatriz_P

PDR_Branco

PDR_Creme

CDR_BrancoCDR_Creme CDR_Rosa

-4

-2

0

2

4

-4 -2 0 2 4

Dim1 (206)

Dim

2 (

162

)

MCA - Biplot

00

10

Hierarchical Clustering

inertia gain

McC

am

pin

aV

aru

da

McC

am

pin

aD

aG

rande

McC

am

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a

McG

auba

McP

retin

ha

McP

reto

na

MxR

osaV

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MxR

osaB

ranca

MxR

osa

McC

am

pin

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ira

McC

am

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ha

McO

lhoV

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e

MxB

ranca

MxS

em

ente

McIsabelT

resG

alh

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McIsabelD

eS

ouza

McO

lhoD

eP

om

bo

00

05

10

15

Hierarchical Classification

Heig

ht

C1 C2 C3 C4 C5 C6 C7 C8

Fig 10 Agrupamento hieraacuterquico das 17 etnovariedades de mandioca caracterizadas de acordo

com os descritores utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo

60

Tabelas 738

739

Tabela 1 Caracteres e estados utilizados pelos agricultores como descritores botacircnicos para 740

caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das etnovariedades de mandioca 741

Caracter Sigla Estados

Folha

Cor da folha desenvolvida CFD 1- verde claro 2- verde escuro 3- verde arroxeado 4- roxo

Cor do broto foliar CBF 1- verde claro 2- verde escuro 3- verde arroxeado 4- roxo

Cor do peciacuteolo CDP 1- verde amarelado 2- verde 3- verde avermelhado 4- roxo

5- vermelho

Caule

Cor externa do caule CEC 1- laranja 2- verde amarelado 3- dourado 4- marrom claro

5- prateado 6- cinza 7- marrom escuro 8- verde

Protuberacircncia da cicatriz foliar PCF 1- pouco proeminente 2- muito proeminente

Raiacutez

Cor da poupa da raiz PDR 1- branco 2- creme

Cor do coacutertex da raiacutez CDR 1- rosa 2- branco 3- creme

742

743

744

745

746

747

748

749

750

751

61

Tabela 2 Lista das 22 etnovariedades de mandiocas citadas (132 citaccedilotildees) como cultivadas nas 752

comunidades pertencentes aos Municiacutepios de Altinho (Caratildeo n=8) e ao Municiacutepio de Panelas 753

(Aracuatilde Satildeo Joseacute do Bola Brejo Velho Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima e Lajeiro 754

Dantas n=21) 755

Etnovariedade Frequecircncia () Ranking Saliecircncia

Macaxeira Rosa 66 179 0472

Mandioca Isabel de Souza 48 179 0372

Mandioca Campina 24 217 0148

Macaxeira Branca 20 210 0134

Macaxeira Rosa branca 18 122 0168

Mandioca Pretona 16 338 0082

Mandioca Cambadinha 12 283 0071

Mandioca Isabel trecircs galhos 10 180 0075

Mandioca Gauacuteba 10 260 0070

Mandioca Pretinha 8 225 0053

Mandioca Peacute de pombo 4 400 0011

Mandioca Olho verde 4 350 0012

Macaxeira Rosinha 4 200 0027

Mandioca Campina varuda 4 200 0032

Mandioca Campina rasteira 4 300 0021

Mandioca Caboquinha 2 500 0007

Macaxeira Rasteira 2 200 0013

Macaxeira Paraacute 2 100 0020

Mandioca Barra ferro 2 300 0007

Mandioca Campina da grande 2 100 0020

Mandioca Olho de pombo 2 300 0010

Mandioca Jasmim 2 600 0006

756

757

758

62

Tabela 3 Lista de 17 etnovariedades atualmente cultivadas nos roccedilados das comunidades em 759

estudo 760

Ca Ar Bo Br Jb Jc Ld

Etnovariedade

Macaxeira Branca x x x x

Macaxeira Rosa

x x x x x x

Macaxeira Rosa Branca x x x x

Macaxeira Rosa Vermelha

x

Macaxeira Semente

x

Mandioca Cambadinha x

x

Mandioca Campina

x

x

x

Mandioca Campina da Grande x

Mandioca Campina Rasteira

x

Mandioca Campina Varuda

x

Mandioca Gauacuteba

x

Mandioca Isabel de Souza

x x x

Mandioca Isabel trecircs Galhos

x

x

Mandioca Olho de Pombo

x

Mandioca Olho Verde

x

Mandioca Pretinha

x

Mandioca Pretona x x x

Comunidades Ca= Caratildeo Ar=Aracuatilde Bo= Satildeo Joseacute do Bola Jb= Japaranduba de Baixo 761

Jc= Japaranduba de Cima Ld= Lajedo Dantas 762

763

764

765

766

767

768

63

Tabela 4 Descriccedilatildeo das classes do agrupamento por meacutetodo de Ward agrupadas pelo conjunto 769

dos descritores mais significativos para a caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das variedades de mandioca 770

Classes Descritores in situ p-valor

C1 Cor do peciacuteolo (CDP) 0016

C2 Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023

C3 Cor do peciacuteolo (CDP) 0012

C4 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0004

Cor da poupa da raiacutez (PDF) 0021

C5 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0003

C6 Cor do broto foliar (CBF) 0002

C7 Cor da folha desenvolvida (CFD) 0004

Cor externa do caule (CEC) 0040

C8 Cor do peciacuteolo (CDP) 0005

Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023

Valores de Ple005 satildeo significativos 771

772

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25

VARIACcedilAtildeO INTRAESPECIacuteFICA CONHECIMENTO E MANEJO

LOCAL DE MANDIOCA (Manihot esculenta Crantz) NO SEMIAacuteRIDO DE

PERNAMBUCO NORDESTE DO BRASIL

Artigo submetido ao perioacutedico Human Ecology

Normas para submissatildeo em anexos

26

Variaccedilatildeo intraespeciacutefica conhecimento e manejo local de mandioca 1

(Manihot esculenta Crantz) no semiaacuterido de Pernambuco Nordeste do 2

Brasil 3

Mirela Nataacutelia Santos12 Jhonatan Rafael Zaacuterate-Salazar1 Reginaldo de Carvalho1 amp 4

Ulysses Paulino de Albuquerque2 5

6

1 Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo em Botacircnica Departamento de Biologia Rua Dom Manuel de Medeiros 7

Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) sn Dois Irmatildeos Recife Pernambuco 52171-8

900 Brasil 9

2 Laboratoacuterio de Ecologia e Evoluccedilatildeo de Sistemas Socioecoloacutegicos (LEA) Departamento de Botacircnica 10

Avenida Professor Moraes Rego Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) sn Cidade 11

Universitaacuteria Recife Pernambuco 50670-901 Brasil 12

Resumo 13

Historicamente a espeacutecie Manihot esculenta Crantz (mandioca) eacute uma espeacutecie de grande valor 14

econocircmico e de subsistecircncia para populaccedilotildees em comunidades tradicionais Variedades de 15

mandioca satildeo selecionadas com base nos interesses dos agricultores conduzindo uma evoluccedilatildeo 16

especiacutefica sobre a geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da agrobiodiversidade local Diante disso a mandioca 17

tornou-se espeacutecie-modelo em estudos que buscam compreender como os padrotildees e estrateacutegias 18

adotadas pelas populaccedilotildees humanas influenciam na diversidade intraespeciacutefica local em regiotildees 19

tropicais No entanto os fatores que influenciam a diversidade da mandioca em regiotildees 20

semiaacuteridas ainda natildeo foram bem documentados Nesse sentido objetivo geral do estudo foi 21

compreender os processos envolvidos na dinacircmica da diversidade agriacutecola em sete 22

comunidades tradicionais localizadas na regiatildeo semiaacuterida do estado de Pernambuco (Nordeste 23

do Brasil) por meio do acesso ao conhecimento dos agricultores quanto as praacuteticas de menejo 24

para tentar quais quais fatores podem estar relacionados a geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da diversidade 25

local Com os resultados da anaacutelise de redes verificamos uma alta diversidade de 26

etnovariedades cultivadas e a sua composiccedilatildeo eacute determinada pelas preferecircncias e 27

comportamentos individuais dos agricultores que foram provavelmente os mecanismos 28

27

responsaacuteveis pelo surgimento da estrutura aninhada observada na anaacutelise rede Esse padratildeo 29

aninhado contribui na conservaccedilatildeo das etnovariedades mais comuns mas tambeacutem pode resultar 30

em perda daquelas de menor frequecircncia ao longo do tempo 31

Palavras-Chave Agricultura tradicional Agricultura de sequeiro Agrobiodiversidade 32

Etnobiologia Plantas alimentiacutecias 33

34

Introduccedilatildeo 35

Historicamente as populaccedilotildees humanas foram acumulando conhecimentos sobre 36

praacuteticas da agricultura desenvolvendo teacutecnicas adaptadas ao meio natural e assim foram 37

domesticando uma grande variedade de cultivos alimentares para garantirem a sua 38

sobrevivecircncia (Balleacute 2006 Clement et al 2010) Essa interaccedilatildeo pessoas-plantas por meio do 39

cultivo e manejo das espeacutecies vegetais considerando tanto os aspectos sociais quanto naturais 40

dos sistemas dinacircmicos eacute uma importante ferramenta para o entendimento do conhecimento 41

dos agricultores sobre os agroecossistemas locais ( Alcorn 1995) 42

Aleacutem disso essas interaccedilotildees vem contribuindo com alteraccedilotildees nas populaccedilotildees vegetais 43

por meio da seleccedilatildeo artificial Essas alteraccedilotildees resultaram em mudanccedilas na estrutura geneacutetica 44

dessas populaccedilotildees que satildeo determinadas geralmente pela seleccedilatildeo de caracteriacutesticas fenotiacutepicas 45

fisioloacutegicas eou econocircmicas das plantas refletidas em classificaccedilotildees e nomenclaturas 46

especiacuteficas baseadas em percepccedilotildees individuais (Carmona amp Casas 2005) 47

Muitos pesquisadores tentam explicar o papel dos agricultores de pequena escala na 48

seleccedilatildeo classificaccedilatildeo e manutenccedilatildeo da agrobiodiversidade local em roccedilas tradicionalmente 49

manejas em regiotildees uacutemidas (Emperaire amp Peroni 2007 Emperaire amp Eloy 2008 Marchetti et 50

al 2013) Essas roccedila satildeo aacutereas de cultivo caracterizadas por conter uma alta diversidade 51

intraespeciacutefica de espeacutecies (Martins 2005) Dentre elas a Manihot esculenta Crantz 52

28

(mandioca) Euphorbiaceae em sua diversidade de etnovariedades eacute a espeacutecie mais importante 53

sob ponto de vista econocircmico e de subsistecircncia para as populaccedilotildees locais e mais cultivada 54

devido a sua grande adaptabilidade ambiental e baixos custos de gestatildeo (Elias et al 2001) 55

A alta diversidade da mandioca nessas aacutereas pode ser atribuiacuteda agrave possibilidade de 56

introduccedilatildeo de novas variedades via reproduccedilatildeo sexuada associada a ecologia da espeacutecie Esse 57

mecanismo permite o fluxo gecircnico entre as variedades de mandioca cultivadas do mesmo local 58

e entre estas com variedades de locais vizinhos (Pujol et al 2007) Outro mecanismo que 59

favorece essa diversidade eacute agrave circulaccedilatildeo de material propagativo por meio redes sociais de troca 60

variedades entre os agricultores (Pujol et al 2005 Emperaire amp Peroni 2007 Clement et al 61

2010) Esse mecanismo de troca eacute fundamental para o estabelecimento de interaccedilotildees entre as 62

diferentes aacutereas de roccedila promovendo oportunidade de seleccedilatildeo e cruzamento entre os diferentes 63

conjuntos de variedades aleacutem de permitir que este conjunto seja conservado (Emperaire amp Eloy 64

2008) 65

Diante desse cenaacuterio podemos observar que a agrobiodiversidade local natildeo eacute fruto 66

apenas de fatores naturais mas eacute tambeacutem influenciada pelas caracteriacutesticas culturais e 67

socioeconocircmica das populaccedilotildees locais refletidas especialmente no conhecimento e manejo 68

local Nesse sentido o presente estudo visa investigar as interaccedilotildees entre agricultores 69

tradicionais de comunidades rurais estabelecidas na regiatildeo semiaacuterida de Pernambuco 70

O objetivo geral eacute compreender os processos envolvidos na dinacircmica da diversidade 71

agriacutecola por meio do acesso ao conhecimento dos agricultores quanto as praacuteticas de menejo e 72

entender quais quais fatores podem estar relacionados a geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da diversidade 73

local Para esse estudo a mandioca foi escolhida como modelo devida agrave sua importacircncia 74

econocircmica e de subsistecircncia para comunidades locais Os objetivos especiacuteficos foram (i) 75

caracterizar o manejo da agricultura de sequeiro bem como analisar se os paracircmetros 76

socioeconocircmicos influenciam na diversidade local (ii) registrar as etnovariedades atualmente 77

29

cultivadas e identificar os diferentes criteacuterios morfoloacutegicos utilizados pelos agricultores para a 78

seleccedilatildeo e classificaccedilatildeo das etnovariedadese (iii) descrever a estrutura da rede de interaccedilatildeo entre 79

os agricultores e a diversidade de etnovariedades de mandioca cultivadas para tentar entender 80

como essas relaccedilotildees podem influenciar na manutenccedilatildeo ou perda da diversidade local 81

Material e meacutetodos 82

Aacutereas de estudo 83

Amostramos sete comunidades rurais estabelecidas na regiatildeo semiaacuterida de 84

Pernambuco Nordeste do Brasil Uma das comunidades (Caratildeo) pertence ao Municiacutepio de 85

Altinho (ldquo8deg 29rsquo 10rdquo S e 36deg 03rsquo 49rdquo W) e as demais (Satildeo Joseacute do Bola Brejo velho 86

Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima Lajedo Dantas e Aracuatilde) ao Municiacutepio de 87

Panelas (8 deg 39 48 S e 36 deg 01 23 W) (Fig 2) 88

O modelo agriacutecola adotado na regiatildeo segue o sistema tradicional de sequeiro4 e todas 89

as comunidades em estudo possuem histoacuterico de cultivo de mandioca (M esculenta) As aacutereas 90

de cultivo satildeo estabelecidas por unidade familiar e as atividades satildeo realizadas em sua maioria 91

por homens tendo cada agricultor cerca de um a dois hectares de aacuterea para plantio Aleacutem da 92

mandioca os cultivos mais utilizados na comunidades satildeo milho (Zea mays) e feijatildeo (Phaseolus 93

sp) 94

Para os membros das comunidades a produccedilatildeo da farinha de mandioca (Fig 3) eacute uma 95

das atividades agriacutecolas mais importantes tanto pelo seu papel na dieta alimentar quanto pela 96

importacircncia social e econocircmica 97

Caracteriacutesticas das comunidades do estudo 98

A comunidade do Caratildeo localiza-se sob domiacutenio de Caatinga caracterizado por climas 99

quentes e secos com regimes escassos de chuvas correspondente ao tipo BSrsquoh segundo a 100

4 Eacute o cultivo praticado sem irrigaccedilatildeo em regiotildees onde a pluviosidade eacute diminuta

30

classificaccedilatildeo climaacutetica de Koumlppen A vegetaccedilatildeo eacute composto por espeacutecies perenes que 101

conseguem sobreviver mesmo em periacuteodos de seca e espeacutecies anuais que aparecem apenas em 102

periacuteodos com chuva (Cruz et al 2013) 103

De acordo os dados de precipitaccedilatildeo do Laboratoacuterio de Anaacutelise e Processamento de 104

Imagens de Sateacutelites (LAPIS) no ano de 2012 foi registrada a menor meacutedia anual de 105

precipitaccedilatildeo dos uacuteltimos 10 anos para essa regiatildeo (3784 mm) Essa realidade ambiental quando 106

comparada com estudo realizado por de Sieber e colaboradores (2011) na mesma comunidade 107

observa-se que houve uma diminuiccedilatildeo considerada das praacuteticas agriacutecolas realizadas pelos 108

membros da comunidade culminando em uma seacuterie de prejuiacutezos aos agricultores como a perda 109

de plantaccedilotildees e animais Essa perda de produtividade afetou a estrutura econocircmica da 110

comunidade uma vez que a principal fonte de subsistecircncia das famiacutelias eacute a agricultura 111

Associada as atividades agriacutecolas os moradores complementam a dieta e a renda 112

familiar com a venda dos excedentes da produccedilatildeo em feiras-livres ou centros comerciais da 113

regiatildeo (Cruz et al 2013) E com a pecuaacuteria de pequena escala bovina caprina e com avicultura 114

No entanto a diminuiccedilatildeo da forragem natural e cultivada causada pela escassez de chuvas 115

associada aos elevados custos envolvidos na compra de raccedilatildeo levou muitos animais agrave morte 116

(Fig 4) 117

No Municiacutepio de Altinho a comunidade do Caratildeo foi inicialmente escolhida devido ao 118

reconhecimento preacutevio do registro de agricultores realizado em estudos desenvolvidos pelo 119

nosso grupo de pesquisa facilitando assim o acesso agraves informaccedilotildees necessaacuterias para o 120

desenvolvimento da pesquisa 121

As comunidades Aracuatilde Brejo Velho Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima 122

Lajedo Dandas e Satildeo Joseacute do Bola amostradas no estudo pertencem ao Municiacutepio de Panelas 123

que se limita ao Norte com o Municiacutepio de Altinho Essas comunidades estatildeo localizadas em 124

31

no domiacutenio morfoclimaacutetico de Caatinga O clima eacute do tipo semiaacuterido Bsrsquoh segundo a 125

classificaccedilatildeo climaacutetica de Koumleppen 126

A maior parte dos membros dessas comunidades assim como no Caratildeo tecircm como 127

principal fonte de subsistecircncia a agricultura de sequeiro principalmente o cultivo da mandioca 128

(Fig 5) Como renda extra a pecuaacuteria de pequeno porte com criaccedilatildeo bovina caprina e 129

avicultura sendo os excedentes dos alimentos produzidos vendidos em feiras locais ou para 130

escolas 131

As atividades agriacutecolas entre as comunidades tambeacutem foram duramente afetadas pela 132

seca na regiatildeo nos uacuteltimos anos A escassez de chuvas desestimulou o plantio a produccedilatildeo de 133

mandioca foi fortemente comprometida e a colheita foi adiada devido ao subdesenvolvimento 134

das raiacutezes gerando impactos econocircmicos para os membros das comunidades 135

As comunidades amostradas neste muniacutecipio foram escolhidas em funccedilatildeo das 136

indicaccedilotildees dos agricultores entrevistados a princiacutepio na comunidade do Caratildeo que reportaram 137

manter viacutenculos sociais com os agricultores do municiacutepio vizinho 138

Coleta de dados 139

Acessamos as comunidades com a ajuda de um liacuteder comunitaacuterio (Alexandre O 140

Nascimento) em companhia de outros pesquisadores que desenvolviam pesquisas na regiatildeo 141

Previamente as entrevistas todos objetivos e procedimentos para a realizaccedilatildeo da pesquisa foram 142

apresentados aos entrevistados e todos que aceitaram participar foram convidados a assinar um 143

Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) de acordo com a Resoluccedilatildeo 46612 do 144

Conselho Nacional de Sauacutede concordando com a realizaccedilatildeo das entrevistas e avaliaccedilotildees 145

morfoloacutegicas em campo O presente trabalho foi submetido ao Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa da 146

Universidade de Pernambuco (UPE) 147

32

Em todas as comunidades o meacutetodo de acesso ao informante foi o mesmo a partir do 148

primeiro contato com um informante-chave identificamos outros potenciais agricultores 149

seguindo a teacutecnica de ldquobola de neverdquo (Albuquerque et al 2014a) Esse meacutetodo consistiu na 150

amostragem intencional dos participantes e nesse particular os agricultores chefes de famiacutelia 151

(ge 18 anos) da regiatildeo que declararam cultivar mandioca (M esculenta) em suas roccedilas 152

Reunimos informaccedilotildees socioeconocircmicas desses agricultores tais como nome idade gecircnero 153

escolaridade renda experiecircncia na agricultura e tamanho da aacuterea de cultivo para tentar 154

identificar se esses paracircmetros socioeconocircmicos tecircm uma relaccedilatildeo com a agrobiodiversidade 155

local 156

Em seguida conduzimos entrevistas semiestruturadas (Albuquerque et al 2014b) com 157

o objetivo de caracterizar o modo de vida dos agricultores o manejo da agricultura bem como 158

obter dados sobre o conhecimento uso e caracterizaccedilatildeo das etnovariedades de mandioca 159

5cultivadas Aleacutem disso neste momento tambeacutem aplicamos a teacutecnica da lista livre 160

(Albuquerque et al 2014b) a fim de registrar as variedades de mandioca atualmente cultivadas 161

pelos agricultores e identificar as de maior importacircncia local Apoacutes as entrevistas realizamos 162

visitas aos roccedilados para o registro fotograacutefico georreferenciamento das roccedilas e caracterizaccedilatildeo 163

morfoloacutegica das variedades cultivadas 164

Entrevistamos 50 agricultores no total distribuiacutedos nas sete comunidades Caratildeo (3) 165

Satildeo Joseacute do Bola (10) Brejo velho (7) Japaranduba de Baixo (7) Japaranduba de Cima (8) 166

Lajedo Dantas (9) e Aracuatilde (6) Destes 10 satildeo mulheres e 40 homens com idade variando entre 167

31 e 82 anos A maioria dos entrevistados natildeo apresentava instruccedilatildeo formal (46) mais da 168

metade eram aposentados (56) e os demais apresentaram renda inferior a um salaacuterio miacutenimo 169

5 Entende-se por etnovariedade de mandioca o conjunto de variedades intraespeciacuteficas de mandioca (M esculenta)

reconhecidas pelos agricultores por nomenclatura popular local (Peroni 2004)

33

O tempo meacutedio de experiecircncia na agricultura foi de 40 anos Cada agricultor possui entre um e 170

dois roccedilados (aacuterea de plantio) com aproximadamente um a dois hectares 171

Redes de interaccedilatildeo social 172

Confeccionamos a rede que descreve as interaccedilotildees entre os agricultores e as 173

etnovariedades cultivadas a partir de uma matriz de incidecircncia R (presenccedilaausecircncia) onde nas 174

linhas estavam as etnovariedades de mandioca cultivadas (j) e nas colunas os agricultores locais 175

(i) O elemento Rij dessa matriz foi 1 (um) no caso de a etnovariedade j ser cultivada pelo 176

agricultor i caso contraacuterio seria atribuiacutedo 0 (zero) As interaccedilotildees entre os agricultores e as 177

etnovariedades foram descritas em dois modos (Pires et al 2011) onde os ldquonoacutesrdquo da esquerda 178

representam os agricultores que foram vinculados aos ldquonoacutesrdquo da direita representados pelas 179

etnovariedades citadas durante as entrevistas Esses ldquonoacutesrdquo seriam o espelho das decisotildees dos 180

agricultores em manter um determinado conjunto local de etnovariedades em suas roccedilas 181

Avaliamos a estrutura da rede que conecta os agricultores agraves etnovariedades cultivadas 182

a partir de trecircs cenaacuterios hipoteacuteticos (Fig 6) segundo Cachevia et al (2014) No primeiro se os 183

agricultores apresentassem diferentes graus de seletividade para a utilizaccedilatildeo de suas 184

etnovariedades a estrutura seria aninhada (Fig 6a) Isso significa que alguns agricultores 185

cultivam vaacuterias etnovariedades enquanto que outros cultivam o subconjunto mais 186

disponiacutevelcomum dessas etnovariedades Em segundo lugar se a rede apresentasse uma 187

estrutura modular (Fig 6b) significaria que os agricultores apresentam semelhanccedila na seleccedilatildeo 188

do recurso ou seja subgrupos de agricultores cultivam subgrupos distintos de etnovariedades 189

regionalmente disponiacuteveiscomuns E o terceiro se os agricultores natildeo apresentassem 190

preferecircncias quanto a seleccedilatildeo das etnovariedades entatildeo a rede apresentaria uma estrutura 191

aleatoacuteria (Fig 6c) 192

O objetivo da anaacutelise de rede nesse estudo foi tentar entender se o conjunto de 193

etnovariedades presentes no local do estudo constituem uma subamostra de um conjunto mais 194

34

amplo no caso de um alto grau de aninhamento ou se a sua composiccedilatildeo eacute determinada por 195

variaacuteveis locais (Ulrich 2008) Onde as conexotildees entre os informantes e as etnovariedades 196

representam as decisotildees dos agricultores de manter um conjunto determinado de variedades de 197

mandioca dentre as comunidades Esta anaacutelise tambeacutem nos permitiu identificar quais os nuacutecleos 198

de etnovariedades que apresentam maior conexatildeo com os diferentes perfis dos agricultores 199

Diversidade fenotiacutepica 200

Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 201

Apoacutes as entrevistas buscamos identificar quais os caracteres morfoloacutegicos considerados 202

mais importantes para a diferenciaccedilatildeo das etnovariedades de mandioca a partir do seguinte 203

questionamento ldquoQuais as diferenccedilas que vocecirc reconhece para separar uma qualidade de 204

mandioca (variedade) de uma outrardquo Assim os agricultores mencionaram quais os criteacuterios 205

mais importantes utilizados para a caracterizaccedilatildeo de suas etnovariedades 206

Compilamos uma listagem dessas caracteriacutesticas baseada nas indicaccedilotildees dos 207

agricultores e a partir delas selecionamos os caracteres morfoloacutegicos mais citados para a 208

caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica ldquoin siturdquo tais como cor da folha (cor da folha desenvolvida) olho 209

(cor do broto foliar) cor do talo (cor do peciacuteolo) maniva (cor externa do caule) embriatildeo 210

(protuberacircncia da cicatriz foliar) cor da entrecasca (coacutertex da raiz) e cor miolo (polpa da raiz) 211

(Tabela 1) O objetivo dessa caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica foi indicar como estaacute distribuiacuteda a 212

variaccedilatildeo fenotiacutepica das etnovariedades de mandioca nas comunidades na regiatildeo semiaacuterida de 213

Pernambuco bem como identificar que caracteriacutesticas satildeo mais importantes para distinguir 214

esses grupos no intuito de tentar entender como os agricultores classificam suas variedades de 215

mandioca 216

Nas sete comunidades para cada etnovariedade citada no roccedilado caracterizamos ldquoin 217

siturdquo trecircs indiviacuteduos de M esculentade de cada uma totalizando 171 indiviacuteduos (Aracuatilde=11 218

35

Caratildeo=4 Satildeo Joseacute do Bola=13 Brejo Velho=16 Japaranduba de Baixo=6 Japaranduba de 219

Cima=3 e Lajedo Dantas=4) Fotografamos e avaliamos todos os indiviacuteduos com base em parte 220

dos descritores morfoloacutegicos seguindo recomendaccedilotildees de Fukuda amp Guevara (1998) e aleacutem 221

disso georreferenciamos todas as aacutereas de roccedila 222

Anaacutelise dos dados 223

Analisamos os dados socioeconocircmicos das entrevistas semiestruturadas por meio de 224

estatiacutestica descritiva para explicar os aspectos da realidade econocircmica e social dos agricultores 225

Para identificar se a diversidade intraespeciacutefica da mandioca cultivada localmente eacute 226

influenciada por paracircmetros socioeconocircmicos utilizamos o coeficiente de correlaccedilatildeo de 227

Spearman (Ple005) (Sokal amp Rohlf 1995) 228

Com base na lista livre das variedades de mandioca cultivadas pelos agricultores 229

calculamos a frequecircncia de citaccedilatildeo o ranking e o iacutendice de saliecircncia com o objetivo de 230

identificar quais as mais importantes ou preferidas para as comunidades O iacutendice de saliecircncia 231

considerou a frequecircncia de citaccedilatildeo e o ranking referente ao posicionamento das variedades 232

dentro das listas livres (Thompson amp Juan 2006) As etnovariedades mais citadas e com maior 233

valor de saliecircncia representam as de maior importacircncia ou preferecircncia para as comunidades 234

Anaacutelise de rede 235

Medimos o grau de aninhamento (NODF) para investigar a estrutura de rede de 236

interaccedilatildeo social dos agricultores em funccedilatildeo das variedades cultivadas As matrizes altamente 237

aninhadas apresentam NODF tendendo a 1 caso contraacuterio tentem a ser 0 238

Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 239

Para o estudo das semelhanccedilas e diferenccedilas fenotiacutepicas entre as variedades de mandioca 240

ldquoin siturdquo realizamos anaacutelises multivariadas para identificar possiacuteveis grupos de variedades que 241

compartilham semelhanccedilas entre si 242

36

A anaacutelise de correspondecircncia muacuteltipla (MCA) permitiu identificar como as variedades 243

de mandioca estatildeo ordenadas em funccedilatildeo dos seus descritores etnobotacircnicos As etnovariedades 244

foram plotadas ao longo um plano cartesiano bi ou tridimensional onde a variaccedilatildeo total eacute 245

explicada pelos dois primeiros eixos Complementar a esta anaacutelise realizamos a anaacutelise de 246

agrupamento hieraacuterquico (Cluster) para identificar como estatildeo agrupadas as etnovariedades de 247

acordo seus descritores Conferimos a consistecircncia do dendrograma com coeficiente de 248

correlaccedilatildeo cofeneacutetica conforme Sneath amp Sokal (1973) que quantifica se a correlaccedilatildeo entre a 249

matriz de distacircncias originais e a matriz de distacircncias cofeneacuteticas eacute representativa Para 250

mensurar as dissimilaridades entre as variedades de mandioca foi utilizada a distacircncia 251

euclidiana e com o meacutetodo de Ward 252

Softwares utilizados 253

Para a anaacutelise da lista livre usamos o software ANTROPAC versatildeo 10 O software 254

ANINHADO 30 (Guimaratildees amp Guimaratildees 2006) foi usado para medir o grau de aninhamento 255

da rede Utilizamos o software estatiacutestico R (R core team 2017) para a anaacutelise de correlaccedilatildeo 256

de Spearman com o pacote corrplot (Wei amp Simko 2013) o desenho da rede que descreve a 257

interaccedilatildeo entre os agricultores e as etnovariedades com o pacote bipartite (Dormann et al 258

2017) E com os pacotes FactoMineR (LEcirc et al 2008) factoextra (Kassambara et al 2016) e 259

vegan (Oksanen et al 2017) foram realizadas as anaacutelises de cluster de correspondecircncia 260

muacuteltipla (MCA) e de correlaccedilatildeo coefeneacutetica respectivamente 261

Resultados 262

As diferentes etnovariedades de mandioca encontradas no estudo suprem a demanda 263

local por alimento enquanto outras atendem agraves preferecircncias individuais ou do comeacutercio As 264

variedades que possuem maior rendimento e a farinha produzida apresenta coloraccedilatildeo branca 265

satildeo as de maior valor comercial para os agricultores devido agraves preferecircncias do mercado Jaacute 266

37

outras variedades que satildeo mais moles e apresentam coloraccedilatildeo amarelada natildeo satildeo empregadas 267

na produccedilatildeo de farinha mas sim consumidas cozidas ou assadas A depender da demanda local 268

os agricultores intencionalmente aumentam ou diminuem a frequecircncia de suas variedades nos 269

roccedilados seja por alguma exigecircncia do comeacutercio ou para consumo familiar 270

Nas comunidades os agricultores separam suas variedades de mandioca em dois grupos 271

como observado em outras comunidades na mata Atlacircntica por Emperaire e Peroni (2007) o 272

das ldquomacaxeirasrdquo que satildeo as variedades exploradas basicamente para o consumo familiar sem 273

processo preacutevio de desintoxicaccedilatildeo cujas raiacutezes satildeo consumidas fritas eou cozidas Sendo 274

utilizadas tambeacutem como complemento na dieta dos animais E o grupo das ldquomandiocasrdquo que 275

satildeo as variedades que necessitam de processo preacutevio de desintoxicaccedilatildeo para o consumo 276

utilizadas comumente para a produccedilatildeo de farinha de mandioca Para os agricultores as 277

ldquomandiocasrdquo possuem maior valor comercial pois apresentam maior rendimento e 278

rentabilidade pois a farinha produzida eacute branca e atende as preferencias do comercio local 279

Aleacutem da farinha outros produtos e subprodutos produzidos dentre os quais foram citados 280

ldquotapioca ou gomardquo ldquobijurdquo ou ldquobolo de mandiocardquo satildeo utilizados para o consumo proacuteprio ou 281

eventual comercializaccedilatildeo 282

Os informantes natildeo possuiacuteam conhecimento sobre a origem dos nomes das variedades 283

de mandioca Quanto a compreensatildeo da geraccedilatildeo da diversidade intraespeciacutefica identificamos 284

que apesar de 66 dos agricultores citarem que conhecem variedades fruto de germinaccedilatildeo de 285

suas sementes nenhum deles utiliza as manivas para o plantio por essas variedades de 286

mandioca ldquovoluntaacuteriasrdquo natildeo apresentarem bom rendimento 287

Observamos que existe uma baixa correlaccedilatildeo entre a diversidade de variedades 288

atualmente cultivadas e as variaacuteveis socioeconocircmicas como no caso do nuacutemero de roccedilados 289

(r=028 Ple005) e do tamanho do roccedilado (r=033 Ple005) (Fig 7) Essa baixa correlaccedilatildeo pode 290

38

ser explicada pelo fato de existirem grupos de agricultores que preferem manter as variedades 291

de maior valor econocircmico e de subsistecircncia mesmo com aacutereas maiores de cultivo 292

Verificamos tambeacutem uma correlaccedilatildeo positiva moderada entre o nuacutemero de variedades 293

conhecidas com o nuacutemero de variedades atualmente cultivadas (r=054 Ple005) Na lista livre 294

foram identificadas 22 etnovariedades de mandioca cultivadas (132 citaccedilotildees no total) sendo 295

oito dessas mais citadas com maiores valores de saliecircncia (entre 047 e 0082) (Tabela 2) As 296

etnovariedades ldquoMacaxeira Rosardquo e ldquoMandioca Isabel de Souzardquo exibiram os maiores valores 297

de saliecircncia 047 e 037 respectivamente Logo essas variedades satildeo as mais conhecidas 298

dentro das comunidades com 66 e 48 das citaccedilotildees respectivamente 299

Dentre as etnovariedades citadas 12 foram idiossincraacuteticas pois apresentaram menor 300

frequecircncia de citaccedilatildeo e menores valores de saliecircncia (entre 0032 e 0006) (Tabela 2) 301

Redes de interaccedilatildeo social 302

A rede apresentou uma estrutura aninhada com grau de aninhamento significativamente 303

superior aos modelos nulos (N=3072 Plt0001) para as comunidades sendo um nuacutecleo de 304

etnovariedades altamente conectado aos agricultores (Fig 8) A estrutura aninhada nos permite 305

inferir que existe um grupo de agricultores que cultiva uma maior diversidade de etnovariedades 306

de mandioca em suas roccedilas enquanto que outro subgrupo que tem menor diversidade cultivam 307

as mais comuns ou disponiacuteveis (Cavechia et al 2014) Isso significa que os agricultores locais 308

mesmo em diferentes comunidades cultivam um nuacutecleo de etnovariedades comum entre eles 309

(n=6 Tabela 2) 310

Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 311

Observamos que a maioria dos indiviacuteduos de mandioca satildeo caracterizados por meio de 312

um conjunto de sete caracteres morfoloacutegicos os quais foram citados pelos agricultores como 313

mais importantes para a caracterizaccedilatildeo de suas variedades Nas visitas aos roccedilados registramos 314

39

as etnovariedades atualmente cultivadas e a tabela 3 fornece a lista completa com as 17 315

etnovariedades de mandioca e o local de registro 316

Por meio da anaacutelise de correspondecircncia muacuteltipla as variedades de mandioca foram 317

ordenadas em funccedilatildeo de seus descritores ao longo do primeiro e segundo eixo correspondentes 318

a 3680 da variacircncia total (Fig 9) 319

As variaacuteveis mais correlacionadas e que agruparam as variedades de mandioca no 320

primeiro eixo foram cor da folha desenvolvida (CFD) (r= 07239 Ple0001) cor do coacutertex da 321

raiz (CDR) (r= 06473 Ple0001) cor do broto foliar (CBF) (r= 06880 Ple0001) cor do peciacuteolo 322

(CDP) (r= 05250 Ple005) cor externa do caule (CEC) (r= 06883 Ple005) cor da polpa da 323

raiz (PDR) (r= 02473 Ple005) Para o segundo eixo as variaacuteveis correlacionadas foram cor 324

da folha desenvolvida (CFD) (r= 07220 Ple0001) cor externa do caule (CEC) (r= 08718 325

Ple0001) e cor do peciacuteolo (CDP) (r= 06927 Ple005) 326

O agrupamento de todas as variedades caracterizadas ldquoin siturdquo gerou uma aacutervore 327

hieraacuterquica (dendrograma) (Fig 9) utilizando a distacircncia euclidiana seguindo o criteacuterio de 328

Ward O dendrograma gerado apresentou um coeficiente de correlaccedilatildeo cofeneacutetica r= 06780 329

indicando que existe consistecircncia com os dados originais no agrupamento quanto agrave 330

classificaccedilatildeo e estrutura de tal forma que as variedades foram agrupadas em oito classes as 331

quais foram explicadas pelas variaacuteveis mais significativas descritas na tabela 4 332

O resultado do agrupamento (utilizada a distacircncia euclidiana e com o meacutetodo de Ward) 333

observamos que as etnovariedades de mandioca caracterizadas ldquoin siturdquo foram agrupadas em 334

dois grandes agrupamentos indicados na Fig 10 pelos retacircngulos em vermelho A partir dessa 335

anaacutelise percebemos que os caracteres morfoloacutegicos selecionados pelos agricultores natildeo foram 336

suficientes para separar as variedades de macaxeira e mandioca pois em ambos os 337

agrupamentos encontramos tanto macaxeiras quanto mandiocas 338

40

As variedades da classe 1 foram identificadas pelos agricultores pela cor do peciacuteolo 339

(CDP) verde A classe 2 agrupou as etnoveriedades caracterizadas pela protuberacircncia da cicatriz 340

foliar (PCF) mais protuberante Esse descritor segundo os agricultores era identificado como 341

ldquoembriatildeordquo A classe 3 consiste apenas da variedade ldquoMandioca Pretonardquo indicada pela presenccedila 342

de cor do peciacuteolo (CDP) vermelho A classe 4 agrupou trecircs variedades caracterizadas pelos 343

agricultores pela presenccedila de cor coacutertex da raiz (CDR) rosa e cor da polpa da raiacutez (PDR) branca 344

identificadas como ldquoMacaxeira vermelhardquo ldquoMacaxeira Rosa Brancardquo ldquoMacaxeira Rosardquo As 345

variedades agrupadas na classe 5 foras as variedades de mandioca caracterizadas pelos 346

agricultores por apresentarem cor do coacutertex (CDR) da raiacutez branca A classe 6 agrupou 347

variedades identificadas pelos agricultores pela cor do broto foliar (CBF) verde A classe 7 348

consiste apenas da variedade ldquoMacaxeira Sementerdquo identificada pelos agricultores pela cor do 349

peciacuteolo (CDP) roxo e protuberacircncia da cicatriz foliar pouco proeminente Essa variedade 350

segundo os agricultores era fruto do nascimento espontacircneo no roccedilado poreacutem eles geralmente 351

natildeo utilizam essas variedades por apresentarem apenas uma raiz pequena e de baixo 352

rendimento Na classe 8 as variedades foram identificadas pelos agricultores pela cor do peciacuteolo 353

(CDP) verde amarelado e protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) pouco proeminente As 354

ldquoMandioca Isabel de Souzardquo ldquoMandioca Isabel trecircs galhosrdquo segundo os agricultores se 355

diferenciavam pelo maior nuacutemero de caules presentes na variedade ldquoIsabel trecircs galhosrdquo 356

Discussatildeo 357

As sete comunidades estudadas manejavam um nuacutemero consideraacutevel de variedades 358

locais A quantidade de etnovariedades registradas eacute proacutexima a encontrada por Bender et al 359

(2009) e Cavechia et al (2014) em comunidades na regiatildeo sul e sudeste por Oler e Amorozo 360

(2017) em uma comunidade tradicional na regiatildeo centro-oeste Poreacutem foi quantitativamente 361

inferior quando comparada a estudos como os de Elias et al (2001) e Kawa et al (2013) em 362

comunidades na regiatildeo amazocircnica pois possuiacuteam uma alta diversidade Essa alta diversidade 363

41

na regiatildeo amazocircnica pode estar relacionada com o fato de que essa regiatildeo eacute o provaacutevel centro 364

de origem da mandioca (M esculenta) (Allem 1994) 365

As etnovariedades registradas neste estudo estatildeo disponiacuteveis para a maioria dos 366

agricultores dessa regiatildeo e esse fator favorece a circulaccedilatildeo das etnovariedades entre as 367

comunidades locais Por isso haacute semelhanccedilas das etnovariedades utilizadas entre os agricultores 368

da mesma comunidade e entre comunidades vizinhas 369

Parte dos agricultores optam por manter uma alta frequecircncia de variedades mais 370

utilizadas enquanto que outros optam por manter etnovariedades de baixa frequecircncia 371

Conforme discutido por Amorozo (2013) os agricultores escolhem seu acervo de acordo com 372

as necessidades e contexto em que vivem A reduccedilatildeo da diversidade de etnoveriedades por 373

exemplo pode ser impulsionada por fatores que simplificam o sistema como a seleccedilatildeo de 374

etnovariedades para a produccedilatildeo de farinha resultando no cultivo de poucas ou ateacute de uma uacutenica 375

etnovariedade (Peroni amp Hanazaki 2002) mesmo em aacutereas maiores 376

377

Redes de interaccedilatildeo social 378

Com as anaacutelises de rede demonstramos que os agricultores de diferentes comunidades 379

em uma mesma regiatildeo efetivamente trocam variedades de mandioca entre si corroborando 380

com estudos realizados por Emperaire amp Eloy (2008) Pautasso et al (2012) e Cavechia et al 381

(2014) Nesses estudos os autores tambeacutem consideram que as trocas de etnovariedades por 382

meio da rede de intercacircmbio entre os agricultores eacute um mecanismo fundamental para a 383

manutenccedilatildeo da diversidade local 384

A visualizaccedilatildeo da rede demonstrou que entre as comunidades os agricultores 385

compartilham um nuacutecleo de etnovariedades mais utilizadas dentre as quais estatildeo as de maior 386

valor econocircmico e de subsistecircncia Essas de maior frequecircncia satildeo aquelas altamente produtivas 387

utilizadas pelos agricultores para atenderem agraves demandas de mercado por farinha e para o 388

consumo proacuteprio (Kawa et al 2013) 389

42

No entanto observamos que existe outro nuacutecleo de etnovariedades menos frequentes 390

Essas etnovariedades raras podem ser resultantes do processo de experimentaccedilatildeo ou 391

preferecircncias individuais dos agricultores Outra possiacutevel razatildeo para a baixa frequecircncia de 392

algumas etnovariedades poderia ser explicada pela variaccedilatildeo da nomenclatura pelos 393

agricultores que segundo Peroni amp Hanazaki (2002) pode ocorrer durante o processo de troca 394

e introduccedilatildeo de novas variedades aos roccedilados Ainda assim natildeo descartamos a hipoacutetese de que 395

essas etnovariedades raras possam ser provenientes do cruzamento entre variedades diferentes 396

cultivadas da mesma roccedilado ou em roccedilas vizinhas De acordo com Martins (2005) essas 397

variedades fruto de germinaccedilatildeo expentacircnea satildeo incorporadas aos roccedilados pelos agricultores 398

pela curiosidade em experimentar novas variedades agraves suas coleccedilotildees 399

Nesse estudo admitimos que optar por etnovariedades raras entre as comunidades 400

estudadas eacute um comportamento adotado por agricultores que manejam uma maior diversidade 401

corroborando com os estudos de Cavechia et al (2014) e Emperaire et al (2016) em regiotildees 402

uacutemidas Para esses autores etnovaridedades de baixa frequecircncia representam um subconjunto 403

das de alta frequecircncia cultivadas por agricultores que manteacutem a maior diversidade em seus 404

roccedilados Sendo assim inferimos que no geral entre as comunidades satildeo os agricultores 405

generalistas aqueles que cultivam maior diversidade os responsaacuteveis por incorporar novas 406

etnovariedades aos roccedilados 407

As decisotildees dos agricultores em manter o acervo direcionado principalmente para 408

atender a demanda de mercado por exemplo podem levar a uma homogeneizaccedilatildeo nas roccedilas 409

colocando em risco a manutenccedilatildeo da diversidade local (Peroni amp Hanazaki 2002) Como 410

discutido por Elias et al (2000) os agricultores que selecionam apenas um nuacutemero reduzido e 411

especiacutefico de variedades mais produtivas tendem a fazer com que as variedades menos 412

frequentes desapareccedilam ao longo do tempo Essa tendecircndia pode influenciar na capacidade de 413

43

resiliecircncia do sistema assim como dos agricultores em lidar com possiacuteveis adversidades 414

ambientais que possam ocorrer 415

Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 416

No geral os agricultores demonstraram uma tendecircncia em classificarseparar suas 417

diferentes etnovariedades de mandioca a partir da combinaccedilatildeo de um conjunto de sete 418

caracteres morfoloacutegicos distintos e de faacutecil percepccedilatildeo os quais natildeo tem relaccedilatildeo com o uso 419

como por exemplo a cores das raiacutezes caule e folhas Logo consideramos que esses caracteres 420

morfoloacutegicos podem ser considerados como uma forma de classificaccedilatildeo pelos agricultores 421

baseada na capacidade percepccedilatildeo das diferenccedilas morfoloacutegicas que cada etnovariedades 422

apresenta (Boster 1985) Estes resultados nos levam a entender que entre os agricultores o 423

conhecimento sobre a diversidade da mandioca estaacute relacionado ao conhecimento de 424

caracteriacutesticas morfoloacutegicas consistentes 425

A existecircncia de alguns fenoacutetipos comuns nos permitiu avaliar a classificaccedilatildeo da 426

consistecircncia da taxonomia popular entre os agricultores Por exemplo as etnovariedades 427

ldquoMaxaceira Rosardquo e ldquoMacaxeira Rosa Brancardquo e ldquoMacaxeira vermelhardquo foram agrupadas no 428

mesmo cluster (C4) por apresentaram fenoacutetipos semelhantes Notamos que os agricultores 429

classificaram essas variedades de acordo com os traccedilos morfoloacutegicos mais relevantes como a 430

cor do coacutertex da raiz rosa e cor branca da polpa O mesmo ocorreu com as etnovariedades 431

ldquoMandioca varudardquo ldquoMandioca campina da granderdquo e ldquoMandioca campinardquo caracterizadas 432

pela presenccedila do peciacuteolo verde agrupadas no cluster (C1) 433

A partir dessas evidecircncias consideramos a hipoacutetese de que as variedades mesmo 434

apresentando caracteriacutesticas morfoloacutegicas muito semelhantes estatildeo sujeitas a variaccedilatildeo 435

nomenclatural durante o processo a incorporaccedilatildeo aos roccedilados pelos agricultores pois a 436

capacidade para distinguir e nomear variedades entre os agricultores da mesma regiatildeo pode 437

variar (Sambatti et al 2001 Elias et al 2001 Mekbib 2007) Consideramos tambeacutem que pode 438

44

existir variaccedilatildeo geneacutetica entre os indiviacuteduos identificados por um mesmo nome ou entatildeo que 439

os agricultores datildeo o mesmo nome para variedades diferentes E esta situaccedilatildeo pode levar a uma 440

superestimaccedilatildeo ou subestimaccedilatildeo da diversidade de mandioca cultiva nas aacutereas de estudo 441

Sabemos que a mandioca eacute propagada vegetativamente pelos agricultores por meio de 442

estacas em sistemas de agricultura tradicional No entanto alguns variedades produzem flores 443

e sementes que germinam e podem originar outras variedades ou outros clones por meio de 444

fecundaccedilatildeo cruzada (Elias et al 2001) Nesse contexto a etnovariedade ldquoMacaxeira Sementerdquo 445

presente no cluster (C7) trata-se de um uacutenico indiviacuteduo amostrado em uma roccedila de um dos 446

agricultores Esta apresentava algumas caracteriacutesticas morfoloacutegicas distintas das demais 447

reconhecidas pelo agricultor como por exemplo a produccedilatildeo de uma raiz uacutenica e 448

consequentemente de baixo rendimento Encontramos apenas um indiviacuteduo dessa 449

etnovariedade e nossa hipoacutetese de que esta poderia ter sido originada da germinaccedilatildeo da 450

semente mesmo quando 100 dos informantes declararam natildeo dar qualquer importacircncia e 451

descartar essas ldquovariedades-voluntaacuteriasrdquo foi confirmada pelo agricultor que afirmou que se 452

tratava de uma variedade nascida da germinaccedilatildeo da semente Esse comportamento vai de 453

encontro ao estudo de Fraser et al (2012) pois apesar dos agricultores reportarem nas 454

entrevistas que conhecem essas ldquovariedades-voluntaacuteriasrdquo nenhum agricultor faz o uso delas 455

Peroni et al (1999) e Agre et al (2016) analisando morfologicamente as variedades 456

locais de mandioca mantidas por agricultores em sistemas agriacutecolas tropicais tambeacutem 457

demonstraram que os agricultores satildeo coerentes quanto a separaccedilatildeo e identificaccedilatildeo de suas 458

etnovariedades a partir da formaccedilatildeo de grupos de coesos quanto a nomenclatura local utilizada 459

No entanto para o melhor entendimento dessa diversidade aleacutem da caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica 460

o uso de anaacutelises complementares como anaacutelise molecular seria importante para tentar 461

identificar se esses grupos representam a mesma variedade com nomes distintos ou se satildeo 462

variedades distintas com o mesmo nome 463

45

Conclusatildeo 464

O estudo demonstrou que no sistema de manejo da mandioca ao niacutevel de roccedila em 465

comunidades localizadas na regiatildeo semiaacuterida de Pernambuco compotildee uma diversidade 466

intrespeciacutefica de mandioca para atender agraves demandas econocircmicas e de subsistecircncia das 467

populaccedilotildees locais 468

Com relaccedilatildeo a anaacutelise de rede demostramos que haacute um nuacutecleo de etnovariedades 469

fortemente conectado aos agricultores e sua composiccedilatildeo eacute direcionada pelas preferecircncias e 470

necessidades individuais dos agricultores que foram os fatores responsaacuteveis pelo surgimento 471

da estrutura aninhada observada na anaacutelise rede entre as comunidades deste estudo E esse 472

padratildeo aninhado observado contribui na conservaccedilatildeo das etnovariedades mais comuns mas 473

tambeacutem pode resultar em perda daquelas de menor frequecircncia ao longo do tempo 474

A caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica ldquoin siturdquo nos permitiram inferir que os agricultores 475

reconhecem as diferentes caracteriacutesticas morfoloacutegicas de suas cultivares e satildeo coerentes na 476

separaccedilatildeo de suas variedades de mandioca e macaxeira Entretanto esses resultados sugerem a 477

realizaccedilatildeo de um estudo em niacutevel de diversidade geneacutetica exploratoacuterio para identificar se as 478

consistecircncias morfoloacutegicas refletem em consistecircncias geneacuteticas elucidando assim as possiacuteveis 479

confusotildees atribuiacutedas aos nomes das etnovariedades de mandioca 480

Agradecimentos 481

Agradecemos ao liacuteder comunitaacuterio Alexandre O Nascimento aos agricultores e 482

agricultoras das comunidades pela acolhida confianccedila e pela gentileza de compartilharem 483

conosco seus conhecimentos e contribuiacuterem com este estudo Especialmente a Arlindo Ferreira 484

Edgar Antocircnio Joseacute Sebastiatildeo Juvenal Oliveira e Janete Alves Ao Laboratoacuterio de Ecologia e 485

Evoluccedilatildeo de Sistemas Socioecoloacutegicos (LEA - UFPE) E agradecemos ao CNPq pelo apoio 486

com a bolsa de estudos do primeiro autor 487

46

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073 230(231) 11 613

614

51

ANEXOS 615

616

Nome da revista 617

Human Ecology 618

Link de acesso 619

httpsgooglDVLbFj 620

Qualis-CAPES 621

B1 em Biodiversidade 622

623

624

625

626

627

628

629

630

631

632

633

634

635

636

637

638

639

640

641

642

52

Figuras 643

644

645

Fig 1 Partes do processo de fabricaccedilatildeo de farinha de mandioca Onde a raspagem b e c 646

processo de trituraccedilatildeo e d peneiramento Foto registrada em Abril de 2017 por Mirela Santos 647

648

649

650

c

d

b

a

53

651

Fig 2 Mapa de localizaccedilatildeo geograacutefica dos Municiacutepios de Altinho e Panelas e das comunidades 652

estudadas na regiatildeo semiaacuterida do Estado de Pernambuco (Elaborado por SANTOS 2018) 653

54

654

655

656

657

Fig 3 Processo de fabricaccedilatildeo da farinha de mandioca Apoacutes a colheita as raiacutezes satildeo lavadas 658

raspadas e trituradas (a) A massa extraiacuteda eacute prensada e coada Ao sair da prensa a massa 659

peneirada (b) e em seguida eacute torrada (c) em fornos artesanais ou parcialmente mecanizados 660

Imagem registrada em janeiro de 2017 na Comunidade do Caratildeo por Mirela Santos 661

662

663

a

b c

55

664

Fig 4 a Sede da Comunidade do Caratildeo b Agricultor transportando a palma forrageira que eacute 665

um exemplo de estrateacutegia adaptativa para suprir a falta de alimento dos animais devido agrave seca 666

c Feira-livre que acontece na comunidade a cada quinze dias Imagem registrada em julho de 667

2016 na Comunidade do Caratildeo por Mirela Santos 668

669

670

Fig 5 a O agricultor nos explicava as mudanccedilas que vem fazendo em seus roccedilados para se 671

adaptar aos longos periacuteodos de seca b Quando o agricultor nos mostrava as diferentes 672

etnovariedades que mantinha em sua roccedila c Durante a pesquisa nos explicavam como era feita 673

a colheita da mandioca e como selecionavam as manivas para o proacuteximo plantio Foto registrada 674

em abril de 2017 na Comunidade do Brejo Velho por Mirela Santos 675

a

b c

c b

a

56 676

677

Fig 6 Possiacuteveis estruturas de rede que descrevem as interaccedilotildees dos agricultores (losango) 678

ligados as etnovariedades (ciacuterculos) que cultivam Onde a Aninhada b Modular c Aleatoacuteria 679

(Fonte Cavechia et al 2014 com adaptaccedilotildees) 680

681

682

683

684

685

686

687

688

689

690

691

692

693

694

695

696

697

a c b

57

698

699

700

701

702

703

704

705

706

707

Fig 7 Correlaccedilatildeo de Spearman entre a diversidade de etnovariedades de mandiocas conhecidas 708

como cultivadas e variedades atualmente cultivadas por agricultor e as variaacuteveis 709

socioeconocircmicas Onde Nvc= nuacutemero de citadas como cultivadas Nve= nuacutemero de variedades 710

atualmente cultivadas Esc= escolaridade Id= idade Gen= gecircnero Tr= tamanho do roccedilado 711

Exp= experiecircncia na agricultura Sld= renda Nr= nuacutemero de roccedilados Cores distintivas 712

representam correlaccedilotildees significativas (Ple005) 713

714

58

715

Fig 8 Modelo individual de rede de etnovariedades de mandioca citadas (esquerda) por 716

agricultores como cultivadas (direita) nos Municiacutepios de Altinho e Panelas As redes foram 717

desenhadas com o pacote bipartite (Dormann et al 2017) usando o software R (R CORE 718

TEAM 2017) 719

720

59

721

Fig 9 Anaacutelise de Correspondecircncia Muacuteltipla das 17 etnovariedades de mandioca considerando 722

os sete descritores morfoloacutegicos utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo em roccedilas de 723

agricultores tradicionais de sete comunidades no semiaacuterido de Pernambuco 724

725

726

727

728

729

730

731

732

733

734

735

736

737

McCambadinha

McCampina

McCampinaDaGrande

McCampinaRasteira

McCampinaVaruda

McGauba

McIsabelDeSouza

McIsabelTresGalhos

McOlhoDePombo

McOlhoVerde

McPretinha

McPretona

MxBranca

MxRosa

MxRosaBrancaMxRosaVermelha

MxSemente

CFD_Verde_Arroxeado

CFD_Verde_ClaroCFD_Verde_Escuro

CBF_Roxo

CBF_Verde_ArroxeadoCBF_Verde_Claro

CBF_Verde_Escuro

CDP_Verde

CDP_Verde_Amarelado

CDP_Verde_Avermelhado

CDP_Vermelho

CEC_Cinza

CEC_Dourado

CEC_Laranja

CEC_Marrom_Claro

CEC_Marrom_Escuro

CEC_Prateado

CEC_Verde_AmareladoCicatriz_M

Cicatriz_P

PDR_Branco

PDR_Creme

CDR_BrancoCDR_Creme CDR_Rosa

-4

-2

0

2

4

-4 -2 0 2 4

Dim1 (206)

Dim

2 (

162

)

MCA - Biplot

00

10

Hierarchical Clustering

inertia gain

McC

am

pin

aV

aru

da

McC

am

pin

aD

aG

rande

McC

am

pin

a

McG

auba

McP

retin

ha

McP

reto

na

MxR

osaV

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a

MxR

osaB

ranca

MxR

osa

McC

am

pin

aR

aste

ira

McC

am

badin

ha

McO

lhoV

erd

e

MxB

ranca

MxS

em

ente

McIsabelT

resG

alh

os

McIsabelD

eS

ouza

McO

lhoD

eP

om

bo

00

05

10

15

Hierarchical Classification

Heig

ht

C1 C2 C3 C4 C5 C6 C7 C8

Fig 10 Agrupamento hieraacuterquico das 17 etnovariedades de mandioca caracterizadas de acordo

com os descritores utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo

60

Tabelas 738

739

Tabela 1 Caracteres e estados utilizados pelos agricultores como descritores botacircnicos para 740

caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das etnovariedades de mandioca 741

Caracter Sigla Estados

Folha

Cor da folha desenvolvida CFD 1- verde claro 2- verde escuro 3- verde arroxeado 4- roxo

Cor do broto foliar CBF 1- verde claro 2- verde escuro 3- verde arroxeado 4- roxo

Cor do peciacuteolo CDP 1- verde amarelado 2- verde 3- verde avermelhado 4- roxo

5- vermelho

Caule

Cor externa do caule CEC 1- laranja 2- verde amarelado 3- dourado 4- marrom claro

5- prateado 6- cinza 7- marrom escuro 8- verde

Protuberacircncia da cicatriz foliar PCF 1- pouco proeminente 2- muito proeminente

Raiacutez

Cor da poupa da raiz PDR 1- branco 2- creme

Cor do coacutertex da raiacutez CDR 1- rosa 2- branco 3- creme

742

743

744

745

746

747

748

749

750

751

61

Tabela 2 Lista das 22 etnovariedades de mandiocas citadas (132 citaccedilotildees) como cultivadas nas 752

comunidades pertencentes aos Municiacutepios de Altinho (Caratildeo n=8) e ao Municiacutepio de Panelas 753

(Aracuatilde Satildeo Joseacute do Bola Brejo Velho Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima e Lajeiro 754

Dantas n=21) 755

Etnovariedade Frequecircncia () Ranking Saliecircncia

Macaxeira Rosa 66 179 0472

Mandioca Isabel de Souza 48 179 0372

Mandioca Campina 24 217 0148

Macaxeira Branca 20 210 0134

Macaxeira Rosa branca 18 122 0168

Mandioca Pretona 16 338 0082

Mandioca Cambadinha 12 283 0071

Mandioca Isabel trecircs galhos 10 180 0075

Mandioca Gauacuteba 10 260 0070

Mandioca Pretinha 8 225 0053

Mandioca Peacute de pombo 4 400 0011

Mandioca Olho verde 4 350 0012

Macaxeira Rosinha 4 200 0027

Mandioca Campina varuda 4 200 0032

Mandioca Campina rasteira 4 300 0021

Mandioca Caboquinha 2 500 0007

Macaxeira Rasteira 2 200 0013

Macaxeira Paraacute 2 100 0020

Mandioca Barra ferro 2 300 0007

Mandioca Campina da grande 2 100 0020

Mandioca Olho de pombo 2 300 0010

Mandioca Jasmim 2 600 0006

756

757

758

62

Tabela 3 Lista de 17 etnovariedades atualmente cultivadas nos roccedilados das comunidades em 759

estudo 760

Ca Ar Bo Br Jb Jc Ld

Etnovariedade

Macaxeira Branca x x x x

Macaxeira Rosa

x x x x x x

Macaxeira Rosa Branca x x x x

Macaxeira Rosa Vermelha

x

Macaxeira Semente

x

Mandioca Cambadinha x

x

Mandioca Campina

x

x

x

Mandioca Campina da Grande x

Mandioca Campina Rasteira

x

Mandioca Campina Varuda

x

Mandioca Gauacuteba

x

Mandioca Isabel de Souza

x x x

Mandioca Isabel trecircs Galhos

x

x

Mandioca Olho de Pombo

x

Mandioca Olho Verde

x

Mandioca Pretinha

x

Mandioca Pretona x x x

Comunidades Ca= Caratildeo Ar=Aracuatilde Bo= Satildeo Joseacute do Bola Jb= Japaranduba de Baixo 761

Jc= Japaranduba de Cima Ld= Lajedo Dantas 762

763

764

765

766

767

768

63

Tabela 4 Descriccedilatildeo das classes do agrupamento por meacutetodo de Ward agrupadas pelo conjunto 769

dos descritores mais significativos para a caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das variedades de mandioca 770

Classes Descritores in situ p-valor

C1 Cor do peciacuteolo (CDP) 0016

C2 Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023

C3 Cor do peciacuteolo (CDP) 0012

C4 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0004

Cor da poupa da raiacutez (PDF) 0021

C5 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0003

C6 Cor do broto foliar (CBF) 0002

C7 Cor da folha desenvolvida (CFD) 0004

Cor externa do caule (CEC) 0040

C8 Cor do peciacuteolo (CDP) 0005

Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023

Valores de Ple005 satildeo significativos 771

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25

VARIACcedilAtildeO INTRAESPECIacuteFICA CONHECIMENTO E MANEJO

LOCAL DE MANDIOCA (Manihot esculenta Crantz) NO SEMIAacuteRIDO DE

PERNAMBUCO NORDESTE DO BRASIL

Artigo submetido ao perioacutedico Human Ecology

Normas para submissatildeo em anexos

26

Variaccedilatildeo intraespeciacutefica conhecimento e manejo local de mandioca 1

(Manihot esculenta Crantz) no semiaacuterido de Pernambuco Nordeste do 2

Brasil 3

Mirela Nataacutelia Santos12 Jhonatan Rafael Zaacuterate-Salazar1 Reginaldo de Carvalho1 amp 4

Ulysses Paulino de Albuquerque2 5

6

1 Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo em Botacircnica Departamento de Biologia Rua Dom Manuel de Medeiros 7

Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) sn Dois Irmatildeos Recife Pernambuco 52171-8

900 Brasil 9

2 Laboratoacuterio de Ecologia e Evoluccedilatildeo de Sistemas Socioecoloacutegicos (LEA) Departamento de Botacircnica 10

Avenida Professor Moraes Rego Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) sn Cidade 11

Universitaacuteria Recife Pernambuco 50670-901 Brasil 12

Resumo 13

Historicamente a espeacutecie Manihot esculenta Crantz (mandioca) eacute uma espeacutecie de grande valor 14

econocircmico e de subsistecircncia para populaccedilotildees em comunidades tradicionais Variedades de 15

mandioca satildeo selecionadas com base nos interesses dos agricultores conduzindo uma evoluccedilatildeo 16

especiacutefica sobre a geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da agrobiodiversidade local Diante disso a mandioca 17

tornou-se espeacutecie-modelo em estudos que buscam compreender como os padrotildees e estrateacutegias 18

adotadas pelas populaccedilotildees humanas influenciam na diversidade intraespeciacutefica local em regiotildees 19

tropicais No entanto os fatores que influenciam a diversidade da mandioca em regiotildees 20

semiaacuteridas ainda natildeo foram bem documentados Nesse sentido objetivo geral do estudo foi 21

compreender os processos envolvidos na dinacircmica da diversidade agriacutecola em sete 22

comunidades tradicionais localizadas na regiatildeo semiaacuterida do estado de Pernambuco (Nordeste 23

do Brasil) por meio do acesso ao conhecimento dos agricultores quanto as praacuteticas de menejo 24

para tentar quais quais fatores podem estar relacionados a geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da diversidade 25

local Com os resultados da anaacutelise de redes verificamos uma alta diversidade de 26

etnovariedades cultivadas e a sua composiccedilatildeo eacute determinada pelas preferecircncias e 27

comportamentos individuais dos agricultores que foram provavelmente os mecanismos 28

27

responsaacuteveis pelo surgimento da estrutura aninhada observada na anaacutelise rede Esse padratildeo 29

aninhado contribui na conservaccedilatildeo das etnovariedades mais comuns mas tambeacutem pode resultar 30

em perda daquelas de menor frequecircncia ao longo do tempo 31

Palavras-Chave Agricultura tradicional Agricultura de sequeiro Agrobiodiversidade 32

Etnobiologia Plantas alimentiacutecias 33

34

Introduccedilatildeo 35

Historicamente as populaccedilotildees humanas foram acumulando conhecimentos sobre 36

praacuteticas da agricultura desenvolvendo teacutecnicas adaptadas ao meio natural e assim foram 37

domesticando uma grande variedade de cultivos alimentares para garantirem a sua 38

sobrevivecircncia (Balleacute 2006 Clement et al 2010) Essa interaccedilatildeo pessoas-plantas por meio do 39

cultivo e manejo das espeacutecies vegetais considerando tanto os aspectos sociais quanto naturais 40

dos sistemas dinacircmicos eacute uma importante ferramenta para o entendimento do conhecimento 41

dos agricultores sobre os agroecossistemas locais ( Alcorn 1995) 42

Aleacutem disso essas interaccedilotildees vem contribuindo com alteraccedilotildees nas populaccedilotildees vegetais 43

por meio da seleccedilatildeo artificial Essas alteraccedilotildees resultaram em mudanccedilas na estrutura geneacutetica 44

dessas populaccedilotildees que satildeo determinadas geralmente pela seleccedilatildeo de caracteriacutesticas fenotiacutepicas 45

fisioloacutegicas eou econocircmicas das plantas refletidas em classificaccedilotildees e nomenclaturas 46

especiacuteficas baseadas em percepccedilotildees individuais (Carmona amp Casas 2005) 47

Muitos pesquisadores tentam explicar o papel dos agricultores de pequena escala na 48

seleccedilatildeo classificaccedilatildeo e manutenccedilatildeo da agrobiodiversidade local em roccedilas tradicionalmente 49

manejas em regiotildees uacutemidas (Emperaire amp Peroni 2007 Emperaire amp Eloy 2008 Marchetti et 50

al 2013) Essas roccedila satildeo aacutereas de cultivo caracterizadas por conter uma alta diversidade 51

intraespeciacutefica de espeacutecies (Martins 2005) Dentre elas a Manihot esculenta Crantz 52

28

(mandioca) Euphorbiaceae em sua diversidade de etnovariedades eacute a espeacutecie mais importante 53

sob ponto de vista econocircmico e de subsistecircncia para as populaccedilotildees locais e mais cultivada 54

devido a sua grande adaptabilidade ambiental e baixos custos de gestatildeo (Elias et al 2001) 55

A alta diversidade da mandioca nessas aacutereas pode ser atribuiacuteda agrave possibilidade de 56

introduccedilatildeo de novas variedades via reproduccedilatildeo sexuada associada a ecologia da espeacutecie Esse 57

mecanismo permite o fluxo gecircnico entre as variedades de mandioca cultivadas do mesmo local 58

e entre estas com variedades de locais vizinhos (Pujol et al 2007) Outro mecanismo que 59

favorece essa diversidade eacute agrave circulaccedilatildeo de material propagativo por meio redes sociais de troca 60

variedades entre os agricultores (Pujol et al 2005 Emperaire amp Peroni 2007 Clement et al 61

2010) Esse mecanismo de troca eacute fundamental para o estabelecimento de interaccedilotildees entre as 62

diferentes aacutereas de roccedila promovendo oportunidade de seleccedilatildeo e cruzamento entre os diferentes 63

conjuntos de variedades aleacutem de permitir que este conjunto seja conservado (Emperaire amp Eloy 64

2008) 65

Diante desse cenaacuterio podemos observar que a agrobiodiversidade local natildeo eacute fruto 66

apenas de fatores naturais mas eacute tambeacutem influenciada pelas caracteriacutesticas culturais e 67

socioeconocircmica das populaccedilotildees locais refletidas especialmente no conhecimento e manejo 68

local Nesse sentido o presente estudo visa investigar as interaccedilotildees entre agricultores 69

tradicionais de comunidades rurais estabelecidas na regiatildeo semiaacuterida de Pernambuco 70

O objetivo geral eacute compreender os processos envolvidos na dinacircmica da diversidade 71

agriacutecola por meio do acesso ao conhecimento dos agricultores quanto as praacuteticas de menejo e 72

entender quais quais fatores podem estar relacionados a geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da diversidade 73

local Para esse estudo a mandioca foi escolhida como modelo devida agrave sua importacircncia 74

econocircmica e de subsistecircncia para comunidades locais Os objetivos especiacuteficos foram (i) 75

caracterizar o manejo da agricultura de sequeiro bem como analisar se os paracircmetros 76

socioeconocircmicos influenciam na diversidade local (ii) registrar as etnovariedades atualmente 77

29

cultivadas e identificar os diferentes criteacuterios morfoloacutegicos utilizados pelos agricultores para a 78

seleccedilatildeo e classificaccedilatildeo das etnovariedadese (iii) descrever a estrutura da rede de interaccedilatildeo entre 79

os agricultores e a diversidade de etnovariedades de mandioca cultivadas para tentar entender 80

como essas relaccedilotildees podem influenciar na manutenccedilatildeo ou perda da diversidade local 81

Material e meacutetodos 82

Aacutereas de estudo 83

Amostramos sete comunidades rurais estabelecidas na regiatildeo semiaacuterida de 84

Pernambuco Nordeste do Brasil Uma das comunidades (Caratildeo) pertence ao Municiacutepio de 85

Altinho (ldquo8deg 29rsquo 10rdquo S e 36deg 03rsquo 49rdquo W) e as demais (Satildeo Joseacute do Bola Brejo velho 86

Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima Lajedo Dantas e Aracuatilde) ao Municiacutepio de 87

Panelas (8 deg 39 48 S e 36 deg 01 23 W) (Fig 2) 88

O modelo agriacutecola adotado na regiatildeo segue o sistema tradicional de sequeiro4 e todas 89

as comunidades em estudo possuem histoacuterico de cultivo de mandioca (M esculenta) As aacutereas 90

de cultivo satildeo estabelecidas por unidade familiar e as atividades satildeo realizadas em sua maioria 91

por homens tendo cada agricultor cerca de um a dois hectares de aacuterea para plantio Aleacutem da 92

mandioca os cultivos mais utilizados na comunidades satildeo milho (Zea mays) e feijatildeo (Phaseolus 93

sp) 94

Para os membros das comunidades a produccedilatildeo da farinha de mandioca (Fig 3) eacute uma 95

das atividades agriacutecolas mais importantes tanto pelo seu papel na dieta alimentar quanto pela 96

importacircncia social e econocircmica 97

Caracteriacutesticas das comunidades do estudo 98

A comunidade do Caratildeo localiza-se sob domiacutenio de Caatinga caracterizado por climas 99

quentes e secos com regimes escassos de chuvas correspondente ao tipo BSrsquoh segundo a 100

4 Eacute o cultivo praticado sem irrigaccedilatildeo em regiotildees onde a pluviosidade eacute diminuta

30

classificaccedilatildeo climaacutetica de Koumlppen A vegetaccedilatildeo eacute composto por espeacutecies perenes que 101

conseguem sobreviver mesmo em periacuteodos de seca e espeacutecies anuais que aparecem apenas em 102

periacuteodos com chuva (Cruz et al 2013) 103

De acordo os dados de precipitaccedilatildeo do Laboratoacuterio de Anaacutelise e Processamento de 104

Imagens de Sateacutelites (LAPIS) no ano de 2012 foi registrada a menor meacutedia anual de 105

precipitaccedilatildeo dos uacuteltimos 10 anos para essa regiatildeo (3784 mm) Essa realidade ambiental quando 106

comparada com estudo realizado por de Sieber e colaboradores (2011) na mesma comunidade 107

observa-se que houve uma diminuiccedilatildeo considerada das praacuteticas agriacutecolas realizadas pelos 108

membros da comunidade culminando em uma seacuterie de prejuiacutezos aos agricultores como a perda 109

de plantaccedilotildees e animais Essa perda de produtividade afetou a estrutura econocircmica da 110

comunidade uma vez que a principal fonte de subsistecircncia das famiacutelias eacute a agricultura 111

Associada as atividades agriacutecolas os moradores complementam a dieta e a renda 112

familiar com a venda dos excedentes da produccedilatildeo em feiras-livres ou centros comerciais da 113

regiatildeo (Cruz et al 2013) E com a pecuaacuteria de pequena escala bovina caprina e com avicultura 114

No entanto a diminuiccedilatildeo da forragem natural e cultivada causada pela escassez de chuvas 115

associada aos elevados custos envolvidos na compra de raccedilatildeo levou muitos animais agrave morte 116

(Fig 4) 117

No Municiacutepio de Altinho a comunidade do Caratildeo foi inicialmente escolhida devido ao 118

reconhecimento preacutevio do registro de agricultores realizado em estudos desenvolvidos pelo 119

nosso grupo de pesquisa facilitando assim o acesso agraves informaccedilotildees necessaacuterias para o 120

desenvolvimento da pesquisa 121

As comunidades Aracuatilde Brejo Velho Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima 122

Lajedo Dandas e Satildeo Joseacute do Bola amostradas no estudo pertencem ao Municiacutepio de Panelas 123

que se limita ao Norte com o Municiacutepio de Altinho Essas comunidades estatildeo localizadas em 124

31

no domiacutenio morfoclimaacutetico de Caatinga O clima eacute do tipo semiaacuterido Bsrsquoh segundo a 125

classificaccedilatildeo climaacutetica de Koumleppen 126

A maior parte dos membros dessas comunidades assim como no Caratildeo tecircm como 127

principal fonte de subsistecircncia a agricultura de sequeiro principalmente o cultivo da mandioca 128

(Fig 5) Como renda extra a pecuaacuteria de pequeno porte com criaccedilatildeo bovina caprina e 129

avicultura sendo os excedentes dos alimentos produzidos vendidos em feiras locais ou para 130

escolas 131

As atividades agriacutecolas entre as comunidades tambeacutem foram duramente afetadas pela 132

seca na regiatildeo nos uacuteltimos anos A escassez de chuvas desestimulou o plantio a produccedilatildeo de 133

mandioca foi fortemente comprometida e a colheita foi adiada devido ao subdesenvolvimento 134

das raiacutezes gerando impactos econocircmicos para os membros das comunidades 135

As comunidades amostradas neste muniacutecipio foram escolhidas em funccedilatildeo das 136

indicaccedilotildees dos agricultores entrevistados a princiacutepio na comunidade do Caratildeo que reportaram 137

manter viacutenculos sociais com os agricultores do municiacutepio vizinho 138

Coleta de dados 139

Acessamos as comunidades com a ajuda de um liacuteder comunitaacuterio (Alexandre O 140

Nascimento) em companhia de outros pesquisadores que desenvolviam pesquisas na regiatildeo 141

Previamente as entrevistas todos objetivos e procedimentos para a realizaccedilatildeo da pesquisa foram 142

apresentados aos entrevistados e todos que aceitaram participar foram convidados a assinar um 143

Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) de acordo com a Resoluccedilatildeo 46612 do 144

Conselho Nacional de Sauacutede concordando com a realizaccedilatildeo das entrevistas e avaliaccedilotildees 145

morfoloacutegicas em campo O presente trabalho foi submetido ao Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa da 146

Universidade de Pernambuco (UPE) 147

32

Em todas as comunidades o meacutetodo de acesso ao informante foi o mesmo a partir do 148

primeiro contato com um informante-chave identificamos outros potenciais agricultores 149

seguindo a teacutecnica de ldquobola de neverdquo (Albuquerque et al 2014a) Esse meacutetodo consistiu na 150

amostragem intencional dos participantes e nesse particular os agricultores chefes de famiacutelia 151

(ge 18 anos) da regiatildeo que declararam cultivar mandioca (M esculenta) em suas roccedilas 152

Reunimos informaccedilotildees socioeconocircmicas desses agricultores tais como nome idade gecircnero 153

escolaridade renda experiecircncia na agricultura e tamanho da aacuterea de cultivo para tentar 154

identificar se esses paracircmetros socioeconocircmicos tecircm uma relaccedilatildeo com a agrobiodiversidade 155

local 156

Em seguida conduzimos entrevistas semiestruturadas (Albuquerque et al 2014b) com 157

o objetivo de caracterizar o modo de vida dos agricultores o manejo da agricultura bem como 158

obter dados sobre o conhecimento uso e caracterizaccedilatildeo das etnovariedades de mandioca 159

5cultivadas Aleacutem disso neste momento tambeacutem aplicamos a teacutecnica da lista livre 160

(Albuquerque et al 2014b) a fim de registrar as variedades de mandioca atualmente cultivadas 161

pelos agricultores e identificar as de maior importacircncia local Apoacutes as entrevistas realizamos 162

visitas aos roccedilados para o registro fotograacutefico georreferenciamento das roccedilas e caracterizaccedilatildeo 163

morfoloacutegica das variedades cultivadas 164

Entrevistamos 50 agricultores no total distribuiacutedos nas sete comunidades Caratildeo (3) 165

Satildeo Joseacute do Bola (10) Brejo velho (7) Japaranduba de Baixo (7) Japaranduba de Cima (8) 166

Lajedo Dantas (9) e Aracuatilde (6) Destes 10 satildeo mulheres e 40 homens com idade variando entre 167

31 e 82 anos A maioria dos entrevistados natildeo apresentava instruccedilatildeo formal (46) mais da 168

metade eram aposentados (56) e os demais apresentaram renda inferior a um salaacuterio miacutenimo 169

5 Entende-se por etnovariedade de mandioca o conjunto de variedades intraespeciacuteficas de mandioca (M esculenta)

reconhecidas pelos agricultores por nomenclatura popular local (Peroni 2004)

33

O tempo meacutedio de experiecircncia na agricultura foi de 40 anos Cada agricultor possui entre um e 170

dois roccedilados (aacuterea de plantio) com aproximadamente um a dois hectares 171

Redes de interaccedilatildeo social 172

Confeccionamos a rede que descreve as interaccedilotildees entre os agricultores e as 173

etnovariedades cultivadas a partir de uma matriz de incidecircncia R (presenccedilaausecircncia) onde nas 174

linhas estavam as etnovariedades de mandioca cultivadas (j) e nas colunas os agricultores locais 175

(i) O elemento Rij dessa matriz foi 1 (um) no caso de a etnovariedade j ser cultivada pelo 176

agricultor i caso contraacuterio seria atribuiacutedo 0 (zero) As interaccedilotildees entre os agricultores e as 177

etnovariedades foram descritas em dois modos (Pires et al 2011) onde os ldquonoacutesrdquo da esquerda 178

representam os agricultores que foram vinculados aos ldquonoacutesrdquo da direita representados pelas 179

etnovariedades citadas durante as entrevistas Esses ldquonoacutesrdquo seriam o espelho das decisotildees dos 180

agricultores em manter um determinado conjunto local de etnovariedades em suas roccedilas 181

Avaliamos a estrutura da rede que conecta os agricultores agraves etnovariedades cultivadas 182

a partir de trecircs cenaacuterios hipoteacuteticos (Fig 6) segundo Cachevia et al (2014) No primeiro se os 183

agricultores apresentassem diferentes graus de seletividade para a utilizaccedilatildeo de suas 184

etnovariedades a estrutura seria aninhada (Fig 6a) Isso significa que alguns agricultores 185

cultivam vaacuterias etnovariedades enquanto que outros cultivam o subconjunto mais 186

disponiacutevelcomum dessas etnovariedades Em segundo lugar se a rede apresentasse uma 187

estrutura modular (Fig 6b) significaria que os agricultores apresentam semelhanccedila na seleccedilatildeo 188

do recurso ou seja subgrupos de agricultores cultivam subgrupos distintos de etnovariedades 189

regionalmente disponiacuteveiscomuns E o terceiro se os agricultores natildeo apresentassem 190

preferecircncias quanto a seleccedilatildeo das etnovariedades entatildeo a rede apresentaria uma estrutura 191

aleatoacuteria (Fig 6c) 192

O objetivo da anaacutelise de rede nesse estudo foi tentar entender se o conjunto de 193

etnovariedades presentes no local do estudo constituem uma subamostra de um conjunto mais 194

34

amplo no caso de um alto grau de aninhamento ou se a sua composiccedilatildeo eacute determinada por 195

variaacuteveis locais (Ulrich 2008) Onde as conexotildees entre os informantes e as etnovariedades 196

representam as decisotildees dos agricultores de manter um conjunto determinado de variedades de 197

mandioca dentre as comunidades Esta anaacutelise tambeacutem nos permitiu identificar quais os nuacutecleos 198

de etnovariedades que apresentam maior conexatildeo com os diferentes perfis dos agricultores 199

Diversidade fenotiacutepica 200

Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 201

Apoacutes as entrevistas buscamos identificar quais os caracteres morfoloacutegicos considerados 202

mais importantes para a diferenciaccedilatildeo das etnovariedades de mandioca a partir do seguinte 203

questionamento ldquoQuais as diferenccedilas que vocecirc reconhece para separar uma qualidade de 204

mandioca (variedade) de uma outrardquo Assim os agricultores mencionaram quais os criteacuterios 205

mais importantes utilizados para a caracterizaccedilatildeo de suas etnovariedades 206

Compilamos uma listagem dessas caracteriacutesticas baseada nas indicaccedilotildees dos 207

agricultores e a partir delas selecionamos os caracteres morfoloacutegicos mais citados para a 208

caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica ldquoin siturdquo tais como cor da folha (cor da folha desenvolvida) olho 209

(cor do broto foliar) cor do talo (cor do peciacuteolo) maniva (cor externa do caule) embriatildeo 210

(protuberacircncia da cicatriz foliar) cor da entrecasca (coacutertex da raiz) e cor miolo (polpa da raiz) 211

(Tabela 1) O objetivo dessa caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica foi indicar como estaacute distribuiacuteda a 212

variaccedilatildeo fenotiacutepica das etnovariedades de mandioca nas comunidades na regiatildeo semiaacuterida de 213

Pernambuco bem como identificar que caracteriacutesticas satildeo mais importantes para distinguir 214

esses grupos no intuito de tentar entender como os agricultores classificam suas variedades de 215

mandioca 216

Nas sete comunidades para cada etnovariedade citada no roccedilado caracterizamos ldquoin 217

siturdquo trecircs indiviacuteduos de M esculentade de cada uma totalizando 171 indiviacuteduos (Aracuatilde=11 218

35

Caratildeo=4 Satildeo Joseacute do Bola=13 Brejo Velho=16 Japaranduba de Baixo=6 Japaranduba de 219

Cima=3 e Lajedo Dantas=4) Fotografamos e avaliamos todos os indiviacuteduos com base em parte 220

dos descritores morfoloacutegicos seguindo recomendaccedilotildees de Fukuda amp Guevara (1998) e aleacutem 221

disso georreferenciamos todas as aacutereas de roccedila 222

Anaacutelise dos dados 223

Analisamos os dados socioeconocircmicos das entrevistas semiestruturadas por meio de 224

estatiacutestica descritiva para explicar os aspectos da realidade econocircmica e social dos agricultores 225

Para identificar se a diversidade intraespeciacutefica da mandioca cultivada localmente eacute 226

influenciada por paracircmetros socioeconocircmicos utilizamos o coeficiente de correlaccedilatildeo de 227

Spearman (Ple005) (Sokal amp Rohlf 1995) 228

Com base na lista livre das variedades de mandioca cultivadas pelos agricultores 229

calculamos a frequecircncia de citaccedilatildeo o ranking e o iacutendice de saliecircncia com o objetivo de 230

identificar quais as mais importantes ou preferidas para as comunidades O iacutendice de saliecircncia 231

considerou a frequecircncia de citaccedilatildeo e o ranking referente ao posicionamento das variedades 232

dentro das listas livres (Thompson amp Juan 2006) As etnovariedades mais citadas e com maior 233

valor de saliecircncia representam as de maior importacircncia ou preferecircncia para as comunidades 234

Anaacutelise de rede 235

Medimos o grau de aninhamento (NODF) para investigar a estrutura de rede de 236

interaccedilatildeo social dos agricultores em funccedilatildeo das variedades cultivadas As matrizes altamente 237

aninhadas apresentam NODF tendendo a 1 caso contraacuterio tentem a ser 0 238

Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 239

Para o estudo das semelhanccedilas e diferenccedilas fenotiacutepicas entre as variedades de mandioca 240

ldquoin siturdquo realizamos anaacutelises multivariadas para identificar possiacuteveis grupos de variedades que 241

compartilham semelhanccedilas entre si 242

36

A anaacutelise de correspondecircncia muacuteltipla (MCA) permitiu identificar como as variedades 243

de mandioca estatildeo ordenadas em funccedilatildeo dos seus descritores etnobotacircnicos As etnovariedades 244

foram plotadas ao longo um plano cartesiano bi ou tridimensional onde a variaccedilatildeo total eacute 245

explicada pelos dois primeiros eixos Complementar a esta anaacutelise realizamos a anaacutelise de 246

agrupamento hieraacuterquico (Cluster) para identificar como estatildeo agrupadas as etnovariedades de 247

acordo seus descritores Conferimos a consistecircncia do dendrograma com coeficiente de 248

correlaccedilatildeo cofeneacutetica conforme Sneath amp Sokal (1973) que quantifica se a correlaccedilatildeo entre a 249

matriz de distacircncias originais e a matriz de distacircncias cofeneacuteticas eacute representativa Para 250

mensurar as dissimilaridades entre as variedades de mandioca foi utilizada a distacircncia 251

euclidiana e com o meacutetodo de Ward 252

Softwares utilizados 253

Para a anaacutelise da lista livre usamos o software ANTROPAC versatildeo 10 O software 254

ANINHADO 30 (Guimaratildees amp Guimaratildees 2006) foi usado para medir o grau de aninhamento 255

da rede Utilizamos o software estatiacutestico R (R core team 2017) para a anaacutelise de correlaccedilatildeo 256

de Spearman com o pacote corrplot (Wei amp Simko 2013) o desenho da rede que descreve a 257

interaccedilatildeo entre os agricultores e as etnovariedades com o pacote bipartite (Dormann et al 258

2017) E com os pacotes FactoMineR (LEcirc et al 2008) factoextra (Kassambara et al 2016) e 259

vegan (Oksanen et al 2017) foram realizadas as anaacutelises de cluster de correspondecircncia 260

muacuteltipla (MCA) e de correlaccedilatildeo coefeneacutetica respectivamente 261

Resultados 262

As diferentes etnovariedades de mandioca encontradas no estudo suprem a demanda 263

local por alimento enquanto outras atendem agraves preferecircncias individuais ou do comeacutercio As 264

variedades que possuem maior rendimento e a farinha produzida apresenta coloraccedilatildeo branca 265

satildeo as de maior valor comercial para os agricultores devido agraves preferecircncias do mercado Jaacute 266

37

outras variedades que satildeo mais moles e apresentam coloraccedilatildeo amarelada natildeo satildeo empregadas 267

na produccedilatildeo de farinha mas sim consumidas cozidas ou assadas A depender da demanda local 268

os agricultores intencionalmente aumentam ou diminuem a frequecircncia de suas variedades nos 269

roccedilados seja por alguma exigecircncia do comeacutercio ou para consumo familiar 270

Nas comunidades os agricultores separam suas variedades de mandioca em dois grupos 271

como observado em outras comunidades na mata Atlacircntica por Emperaire e Peroni (2007) o 272

das ldquomacaxeirasrdquo que satildeo as variedades exploradas basicamente para o consumo familiar sem 273

processo preacutevio de desintoxicaccedilatildeo cujas raiacutezes satildeo consumidas fritas eou cozidas Sendo 274

utilizadas tambeacutem como complemento na dieta dos animais E o grupo das ldquomandiocasrdquo que 275

satildeo as variedades que necessitam de processo preacutevio de desintoxicaccedilatildeo para o consumo 276

utilizadas comumente para a produccedilatildeo de farinha de mandioca Para os agricultores as 277

ldquomandiocasrdquo possuem maior valor comercial pois apresentam maior rendimento e 278

rentabilidade pois a farinha produzida eacute branca e atende as preferencias do comercio local 279

Aleacutem da farinha outros produtos e subprodutos produzidos dentre os quais foram citados 280

ldquotapioca ou gomardquo ldquobijurdquo ou ldquobolo de mandiocardquo satildeo utilizados para o consumo proacuteprio ou 281

eventual comercializaccedilatildeo 282

Os informantes natildeo possuiacuteam conhecimento sobre a origem dos nomes das variedades 283

de mandioca Quanto a compreensatildeo da geraccedilatildeo da diversidade intraespeciacutefica identificamos 284

que apesar de 66 dos agricultores citarem que conhecem variedades fruto de germinaccedilatildeo de 285

suas sementes nenhum deles utiliza as manivas para o plantio por essas variedades de 286

mandioca ldquovoluntaacuteriasrdquo natildeo apresentarem bom rendimento 287

Observamos que existe uma baixa correlaccedilatildeo entre a diversidade de variedades 288

atualmente cultivadas e as variaacuteveis socioeconocircmicas como no caso do nuacutemero de roccedilados 289

(r=028 Ple005) e do tamanho do roccedilado (r=033 Ple005) (Fig 7) Essa baixa correlaccedilatildeo pode 290

38

ser explicada pelo fato de existirem grupos de agricultores que preferem manter as variedades 291

de maior valor econocircmico e de subsistecircncia mesmo com aacutereas maiores de cultivo 292

Verificamos tambeacutem uma correlaccedilatildeo positiva moderada entre o nuacutemero de variedades 293

conhecidas com o nuacutemero de variedades atualmente cultivadas (r=054 Ple005) Na lista livre 294

foram identificadas 22 etnovariedades de mandioca cultivadas (132 citaccedilotildees no total) sendo 295

oito dessas mais citadas com maiores valores de saliecircncia (entre 047 e 0082) (Tabela 2) As 296

etnovariedades ldquoMacaxeira Rosardquo e ldquoMandioca Isabel de Souzardquo exibiram os maiores valores 297

de saliecircncia 047 e 037 respectivamente Logo essas variedades satildeo as mais conhecidas 298

dentro das comunidades com 66 e 48 das citaccedilotildees respectivamente 299

Dentre as etnovariedades citadas 12 foram idiossincraacuteticas pois apresentaram menor 300

frequecircncia de citaccedilatildeo e menores valores de saliecircncia (entre 0032 e 0006) (Tabela 2) 301

Redes de interaccedilatildeo social 302

A rede apresentou uma estrutura aninhada com grau de aninhamento significativamente 303

superior aos modelos nulos (N=3072 Plt0001) para as comunidades sendo um nuacutecleo de 304

etnovariedades altamente conectado aos agricultores (Fig 8) A estrutura aninhada nos permite 305

inferir que existe um grupo de agricultores que cultiva uma maior diversidade de etnovariedades 306

de mandioca em suas roccedilas enquanto que outro subgrupo que tem menor diversidade cultivam 307

as mais comuns ou disponiacuteveis (Cavechia et al 2014) Isso significa que os agricultores locais 308

mesmo em diferentes comunidades cultivam um nuacutecleo de etnovariedades comum entre eles 309

(n=6 Tabela 2) 310

Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 311

Observamos que a maioria dos indiviacuteduos de mandioca satildeo caracterizados por meio de 312

um conjunto de sete caracteres morfoloacutegicos os quais foram citados pelos agricultores como 313

mais importantes para a caracterizaccedilatildeo de suas variedades Nas visitas aos roccedilados registramos 314

39

as etnovariedades atualmente cultivadas e a tabela 3 fornece a lista completa com as 17 315

etnovariedades de mandioca e o local de registro 316

Por meio da anaacutelise de correspondecircncia muacuteltipla as variedades de mandioca foram 317

ordenadas em funccedilatildeo de seus descritores ao longo do primeiro e segundo eixo correspondentes 318

a 3680 da variacircncia total (Fig 9) 319

As variaacuteveis mais correlacionadas e que agruparam as variedades de mandioca no 320

primeiro eixo foram cor da folha desenvolvida (CFD) (r= 07239 Ple0001) cor do coacutertex da 321

raiz (CDR) (r= 06473 Ple0001) cor do broto foliar (CBF) (r= 06880 Ple0001) cor do peciacuteolo 322

(CDP) (r= 05250 Ple005) cor externa do caule (CEC) (r= 06883 Ple005) cor da polpa da 323

raiz (PDR) (r= 02473 Ple005) Para o segundo eixo as variaacuteveis correlacionadas foram cor 324

da folha desenvolvida (CFD) (r= 07220 Ple0001) cor externa do caule (CEC) (r= 08718 325

Ple0001) e cor do peciacuteolo (CDP) (r= 06927 Ple005) 326

O agrupamento de todas as variedades caracterizadas ldquoin siturdquo gerou uma aacutervore 327

hieraacuterquica (dendrograma) (Fig 9) utilizando a distacircncia euclidiana seguindo o criteacuterio de 328

Ward O dendrograma gerado apresentou um coeficiente de correlaccedilatildeo cofeneacutetica r= 06780 329

indicando que existe consistecircncia com os dados originais no agrupamento quanto agrave 330

classificaccedilatildeo e estrutura de tal forma que as variedades foram agrupadas em oito classes as 331

quais foram explicadas pelas variaacuteveis mais significativas descritas na tabela 4 332

O resultado do agrupamento (utilizada a distacircncia euclidiana e com o meacutetodo de Ward) 333

observamos que as etnovariedades de mandioca caracterizadas ldquoin siturdquo foram agrupadas em 334

dois grandes agrupamentos indicados na Fig 10 pelos retacircngulos em vermelho A partir dessa 335

anaacutelise percebemos que os caracteres morfoloacutegicos selecionados pelos agricultores natildeo foram 336

suficientes para separar as variedades de macaxeira e mandioca pois em ambos os 337

agrupamentos encontramos tanto macaxeiras quanto mandiocas 338

40

As variedades da classe 1 foram identificadas pelos agricultores pela cor do peciacuteolo 339

(CDP) verde A classe 2 agrupou as etnoveriedades caracterizadas pela protuberacircncia da cicatriz 340

foliar (PCF) mais protuberante Esse descritor segundo os agricultores era identificado como 341

ldquoembriatildeordquo A classe 3 consiste apenas da variedade ldquoMandioca Pretonardquo indicada pela presenccedila 342

de cor do peciacuteolo (CDP) vermelho A classe 4 agrupou trecircs variedades caracterizadas pelos 343

agricultores pela presenccedila de cor coacutertex da raiz (CDR) rosa e cor da polpa da raiacutez (PDR) branca 344

identificadas como ldquoMacaxeira vermelhardquo ldquoMacaxeira Rosa Brancardquo ldquoMacaxeira Rosardquo As 345

variedades agrupadas na classe 5 foras as variedades de mandioca caracterizadas pelos 346

agricultores por apresentarem cor do coacutertex (CDR) da raiacutez branca A classe 6 agrupou 347

variedades identificadas pelos agricultores pela cor do broto foliar (CBF) verde A classe 7 348

consiste apenas da variedade ldquoMacaxeira Sementerdquo identificada pelos agricultores pela cor do 349

peciacuteolo (CDP) roxo e protuberacircncia da cicatriz foliar pouco proeminente Essa variedade 350

segundo os agricultores era fruto do nascimento espontacircneo no roccedilado poreacutem eles geralmente 351

natildeo utilizam essas variedades por apresentarem apenas uma raiz pequena e de baixo 352

rendimento Na classe 8 as variedades foram identificadas pelos agricultores pela cor do peciacuteolo 353

(CDP) verde amarelado e protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) pouco proeminente As 354

ldquoMandioca Isabel de Souzardquo ldquoMandioca Isabel trecircs galhosrdquo segundo os agricultores se 355

diferenciavam pelo maior nuacutemero de caules presentes na variedade ldquoIsabel trecircs galhosrdquo 356

Discussatildeo 357

As sete comunidades estudadas manejavam um nuacutemero consideraacutevel de variedades 358

locais A quantidade de etnovariedades registradas eacute proacutexima a encontrada por Bender et al 359

(2009) e Cavechia et al (2014) em comunidades na regiatildeo sul e sudeste por Oler e Amorozo 360

(2017) em uma comunidade tradicional na regiatildeo centro-oeste Poreacutem foi quantitativamente 361

inferior quando comparada a estudos como os de Elias et al (2001) e Kawa et al (2013) em 362

comunidades na regiatildeo amazocircnica pois possuiacuteam uma alta diversidade Essa alta diversidade 363

41

na regiatildeo amazocircnica pode estar relacionada com o fato de que essa regiatildeo eacute o provaacutevel centro 364

de origem da mandioca (M esculenta) (Allem 1994) 365

As etnovariedades registradas neste estudo estatildeo disponiacuteveis para a maioria dos 366

agricultores dessa regiatildeo e esse fator favorece a circulaccedilatildeo das etnovariedades entre as 367

comunidades locais Por isso haacute semelhanccedilas das etnovariedades utilizadas entre os agricultores 368

da mesma comunidade e entre comunidades vizinhas 369

Parte dos agricultores optam por manter uma alta frequecircncia de variedades mais 370

utilizadas enquanto que outros optam por manter etnovariedades de baixa frequecircncia 371

Conforme discutido por Amorozo (2013) os agricultores escolhem seu acervo de acordo com 372

as necessidades e contexto em que vivem A reduccedilatildeo da diversidade de etnoveriedades por 373

exemplo pode ser impulsionada por fatores que simplificam o sistema como a seleccedilatildeo de 374

etnovariedades para a produccedilatildeo de farinha resultando no cultivo de poucas ou ateacute de uma uacutenica 375

etnovariedade (Peroni amp Hanazaki 2002) mesmo em aacutereas maiores 376

377

Redes de interaccedilatildeo social 378

Com as anaacutelises de rede demonstramos que os agricultores de diferentes comunidades 379

em uma mesma regiatildeo efetivamente trocam variedades de mandioca entre si corroborando 380

com estudos realizados por Emperaire amp Eloy (2008) Pautasso et al (2012) e Cavechia et al 381

(2014) Nesses estudos os autores tambeacutem consideram que as trocas de etnovariedades por 382

meio da rede de intercacircmbio entre os agricultores eacute um mecanismo fundamental para a 383

manutenccedilatildeo da diversidade local 384

A visualizaccedilatildeo da rede demonstrou que entre as comunidades os agricultores 385

compartilham um nuacutecleo de etnovariedades mais utilizadas dentre as quais estatildeo as de maior 386

valor econocircmico e de subsistecircncia Essas de maior frequecircncia satildeo aquelas altamente produtivas 387

utilizadas pelos agricultores para atenderem agraves demandas de mercado por farinha e para o 388

consumo proacuteprio (Kawa et al 2013) 389

42

No entanto observamos que existe outro nuacutecleo de etnovariedades menos frequentes 390

Essas etnovariedades raras podem ser resultantes do processo de experimentaccedilatildeo ou 391

preferecircncias individuais dos agricultores Outra possiacutevel razatildeo para a baixa frequecircncia de 392

algumas etnovariedades poderia ser explicada pela variaccedilatildeo da nomenclatura pelos 393

agricultores que segundo Peroni amp Hanazaki (2002) pode ocorrer durante o processo de troca 394

e introduccedilatildeo de novas variedades aos roccedilados Ainda assim natildeo descartamos a hipoacutetese de que 395

essas etnovariedades raras possam ser provenientes do cruzamento entre variedades diferentes 396

cultivadas da mesma roccedilado ou em roccedilas vizinhas De acordo com Martins (2005) essas 397

variedades fruto de germinaccedilatildeo expentacircnea satildeo incorporadas aos roccedilados pelos agricultores 398

pela curiosidade em experimentar novas variedades agraves suas coleccedilotildees 399

Nesse estudo admitimos que optar por etnovariedades raras entre as comunidades 400

estudadas eacute um comportamento adotado por agricultores que manejam uma maior diversidade 401

corroborando com os estudos de Cavechia et al (2014) e Emperaire et al (2016) em regiotildees 402

uacutemidas Para esses autores etnovaridedades de baixa frequecircncia representam um subconjunto 403

das de alta frequecircncia cultivadas por agricultores que manteacutem a maior diversidade em seus 404

roccedilados Sendo assim inferimos que no geral entre as comunidades satildeo os agricultores 405

generalistas aqueles que cultivam maior diversidade os responsaacuteveis por incorporar novas 406

etnovariedades aos roccedilados 407

As decisotildees dos agricultores em manter o acervo direcionado principalmente para 408

atender a demanda de mercado por exemplo podem levar a uma homogeneizaccedilatildeo nas roccedilas 409

colocando em risco a manutenccedilatildeo da diversidade local (Peroni amp Hanazaki 2002) Como 410

discutido por Elias et al (2000) os agricultores que selecionam apenas um nuacutemero reduzido e 411

especiacutefico de variedades mais produtivas tendem a fazer com que as variedades menos 412

frequentes desapareccedilam ao longo do tempo Essa tendecircndia pode influenciar na capacidade de 413

43

resiliecircncia do sistema assim como dos agricultores em lidar com possiacuteveis adversidades 414

ambientais que possam ocorrer 415

Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 416

No geral os agricultores demonstraram uma tendecircncia em classificarseparar suas 417

diferentes etnovariedades de mandioca a partir da combinaccedilatildeo de um conjunto de sete 418

caracteres morfoloacutegicos distintos e de faacutecil percepccedilatildeo os quais natildeo tem relaccedilatildeo com o uso 419

como por exemplo a cores das raiacutezes caule e folhas Logo consideramos que esses caracteres 420

morfoloacutegicos podem ser considerados como uma forma de classificaccedilatildeo pelos agricultores 421

baseada na capacidade percepccedilatildeo das diferenccedilas morfoloacutegicas que cada etnovariedades 422

apresenta (Boster 1985) Estes resultados nos levam a entender que entre os agricultores o 423

conhecimento sobre a diversidade da mandioca estaacute relacionado ao conhecimento de 424

caracteriacutesticas morfoloacutegicas consistentes 425

A existecircncia de alguns fenoacutetipos comuns nos permitiu avaliar a classificaccedilatildeo da 426

consistecircncia da taxonomia popular entre os agricultores Por exemplo as etnovariedades 427

ldquoMaxaceira Rosardquo e ldquoMacaxeira Rosa Brancardquo e ldquoMacaxeira vermelhardquo foram agrupadas no 428

mesmo cluster (C4) por apresentaram fenoacutetipos semelhantes Notamos que os agricultores 429

classificaram essas variedades de acordo com os traccedilos morfoloacutegicos mais relevantes como a 430

cor do coacutertex da raiz rosa e cor branca da polpa O mesmo ocorreu com as etnovariedades 431

ldquoMandioca varudardquo ldquoMandioca campina da granderdquo e ldquoMandioca campinardquo caracterizadas 432

pela presenccedila do peciacuteolo verde agrupadas no cluster (C1) 433

A partir dessas evidecircncias consideramos a hipoacutetese de que as variedades mesmo 434

apresentando caracteriacutesticas morfoloacutegicas muito semelhantes estatildeo sujeitas a variaccedilatildeo 435

nomenclatural durante o processo a incorporaccedilatildeo aos roccedilados pelos agricultores pois a 436

capacidade para distinguir e nomear variedades entre os agricultores da mesma regiatildeo pode 437

variar (Sambatti et al 2001 Elias et al 2001 Mekbib 2007) Consideramos tambeacutem que pode 438

44

existir variaccedilatildeo geneacutetica entre os indiviacuteduos identificados por um mesmo nome ou entatildeo que 439

os agricultores datildeo o mesmo nome para variedades diferentes E esta situaccedilatildeo pode levar a uma 440

superestimaccedilatildeo ou subestimaccedilatildeo da diversidade de mandioca cultiva nas aacutereas de estudo 441

Sabemos que a mandioca eacute propagada vegetativamente pelos agricultores por meio de 442

estacas em sistemas de agricultura tradicional No entanto alguns variedades produzem flores 443

e sementes que germinam e podem originar outras variedades ou outros clones por meio de 444

fecundaccedilatildeo cruzada (Elias et al 2001) Nesse contexto a etnovariedade ldquoMacaxeira Sementerdquo 445

presente no cluster (C7) trata-se de um uacutenico indiviacuteduo amostrado em uma roccedila de um dos 446

agricultores Esta apresentava algumas caracteriacutesticas morfoloacutegicas distintas das demais 447

reconhecidas pelo agricultor como por exemplo a produccedilatildeo de uma raiz uacutenica e 448

consequentemente de baixo rendimento Encontramos apenas um indiviacuteduo dessa 449

etnovariedade e nossa hipoacutetese de que esta poderia ter sido originada da germinaccedilatildeo da 450

semente mesmo quando 100 dos informantes declararam natildeo dar qualquer importacircncia e 451

descartar essas ldquovariedades-voluntaacuteriasrdquo foi confirmada pelo agricultor que afirmou que se 452

tratava de uma variedade nascida da germinaccedilatildeo da semente Esse comportamento vai de 453

encontro ao estudo de Fraser et al (2012) pois apesar dos agricultores reportarem nas 454

entrevistas que conhecem essas ldquovariedades-voluntaacuteriasrdquo nenhum agricultor faz o uso delas 455

Peroni et al (1999) e Agre et al (2016) analisando morfologicamente as variedades 456

locais de mandioca mantidas por agricultores em sistemas agriacutecolas tropicais tambeacutem 457

demonstraram que os agricultores satildeo coerentes quanto a separaccedilatildeo e identificaccedilatildeo de suas 458

etnovariedades a partir da formaccedilatildeo de grupos de coesos quanto a nomenclatura local utilizada 459

No entanto para o melhor entendimento dessa diversidade aleacutem da caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica 460

o uso de anaacutelises complementares como anaacutelise molecular seria importante para tentar 461

identificar se esses grupos representam a mesma variedade com nomes distintos ou se satildeo 462

variedades distintas com o mesmo nome 463

45

Conclusatildeo 464

O estudo demonstrou que no sistema de manejo da mandioca ao niacutevel de roccedila em 465

comunidades localizadas na regiatildeo semiaacuterida de Pernambuco compotildee uma diversidade 466

intrespeciacutefica de mandioca para atender agraves demandas econocircmicas e de subsistecircncia das 467

populaccedilotildees locais 468

Com relaccedilatildeo a anaacutelise de rede demostramos que haacute um nuacutecleo de etnovariedades 469

fortemente conectado aos agricultores e sua composiccedilatildeo eacute direcionada pelas preferecircncias e 470

necessidades individuais dos agricultores que foram os fatores responsaacuteveis pelo surgimento 471

da estrutura aninhada observada na anaacutelise rede entre as comunidades deste estudo E esse 472

padratildeo aninhado observado contribui na conservaccedilatildeo das etnovariedades mais comuns mas 473

tambeacutem pode resultar em perda daquelas de menor frequecircncia ao longo do tempo 474

A caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica ldquoin siturdquo nos permitiram inferir que os agricultores 475

reconhecem as diferentes caracteriacutesticas morfoloacutegicas de suas cultivares e satildeo coerentes na 476

separaccedilatildeo de suas variedades de mandioca e macaxeira Entretanto esses resultados sugerem a 477

realizaccedilatildeo de um estudo em niacutevel de diversidade geneacutetica exploratoacuterio para identificar se as 478

consistecircncias morfoloacutegicas refletem em consistecircncias geneacuteticas elucidando assim as possiacuteveis 479

confusotildees atribuiacutedas aos nomes das etnovariedades de mandioca 480

Agradecimentos 481

Agradecemos ao liacuteder comunitaacuterio Alexandre O Nascimento aos agricultores e 482

agricultoras das comunidades pela acolhida confianccedila e pela gentileza de compartilharem 483

conosco seus conhecimentos e contribuiacuterem com este estudo Especialmente a Arlindo Ferreira 484

Edgar Antocircnio Joseacute Sebastiatildeo Juvenal Oliveira e Janete Alves Ao Laboratoacuterio de Ecologia e 485

Evoluccedilatildeo de Sistemas Socioecoloacutegicos (LEA - UFPE) E agradecemos ao CNPq pelo apoio 486

com a bolsa de estudos do primeiro autor 487

46

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ANEXOS 615

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Nome da revista 617

Human Ecology 618

Link de acesso 619

httpsgooglDVLbFj 620

Qualis-CAPES 621

B1 em Biodiversidade 622

623

624

625

626

627

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641

642

52

Figuras 643

644

645

Fig 1 Partes do processo de fabricaccedilatildeo de farinha de mandioca Onde a raspagem b e c 646

processo de trituraccedilatildeo e d peneiramento Foto registrada em Abril de 2017 por Mirela Santos 647

648

649

650

c

d

b

a

53

651

Fig 2 Mapa de localizaccedilatildeo geograacutefica dos Municiacutepios de Altinho e Panelas e das comunidades 652

estudadas na regiatildeo semiaacuterida do Estado de Pernambuco (Elaborado por SANTOS 2018) 653

54

654

655

656

657

Fig 3 Processo de fabricaccedilatildeo da farinha de mandioca Apoacutes a colheita as raiacutezes satildeo lavadas 658

raspadas e trituradas (a) A massa extraiacuteda eacute prensada e coada Ao sair da prensa a massa 659

peneirada (b) e em seguida eacute torrada (c) em fornos artesanais ou parcialmente mecanizados 660

Imagem registrada em janeiro de 2017 na Comunidade do Caratildeo por Mirela Santos 661

662

663

a

b c

55

664

Fig 4 a Sede da Comunidade do Caratildeo b Agricultor transportando a palma forrageira que eacute 665

um exemplo de estrateacutegia adaptativa para suprir a falta de alimento dos animais devido agrave seca 666

c Feira-livre que acontece na comunidade a cada quinze dias Imagem registrada em julho de 667

2016 na Comunidade do Caratildeo por Mirela Santos 668

669

670

Fig 5 a O agricultor nos explicava as mudanccedilas que vem fazendo em seus roccedilados para se 671

adaptar aos longos periacuteodos de seca b Quando o agricultor nos mostrava as diferentes 672

etnovariedades que mantinha em sua roccedila c Durante a pesquisa nos explicavam como era feita 673

a colheita da mandioca e como selecionavam as manivas para o proacuteximo plantio Foto registrada 674

em abril de 2017 na Comunidade do Brejo Velho por Mirela Santos 675

a

b c

c b

a

56 676

677

Fig 6 Possiacuteveis estruturas de rede que descrevem as interaccedilotildees dos agricultores (losango) 678

ligados as etnovariedades (ciacuterculos) que cultivam Onde a Aninhada b Modular c Aleatoacuteria 679

(Fonte Cavechia et al 2014 com adaptaccedilotildees) 680

681

682

683

684

685

686

687

688

689

690

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692

693

694

695

696

697

a c b

57

698

699

700

701

702

703

704

705

706

707

Fig 7 Correlaccedilatildeo de Spearman entre a diversidade de etnovariedades de mandiocas conhecidas 708

como cultivadas e variedades atualmente cultivadas por agricultor e as variaacuteveis 709

socioeconocircmicas Onde Nvc= nuacutemero de citadas como cultivadas Nve= nuacutemero de variedades 710

atualmente cultivadas Esc= escolaridade Id= idade Gen= gecircnero Tr= tamanho do roccedilado 711

Exp= experiecircncia na agricultura Sld= renda Nr= nuacutemero de roccedilados Cores distintivas 712

representam correlaccedilotildees significativas (Ple005) 713

714

58

715

Fig 8 Modelo individual de rede de etnovariedades de mandioca citadas (esquerda) por 716

agricultores como cultivadas (direita) nos Municiacutepios de Altinho e Panelas As redes foram 717

desenhadas com o pacote bipartite (Dormann et al 2017) usando o software R (R CORE 718

TEAM 2017) 719

720

59

721

Fig 9 Anaacutelise de Correspondecircncia Muacuteltipla das 17 etnovariedades de mandioca considerando 722

os sete descritores morfoloacutegicos utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo em roccedilas de 723

agricultores tradicionais de sete comunidades no semiaacuterido de Pernambuco 724

725

726

727

728

729

730

731

732

733

734

735

736

737

McCambadinha

McCampina

McCampinaDaGrande

McCampinaRasteira

McCampinaVaruda

McGauba

McIsabelDeSouza

McIsabelTresGalhos

McOlhoDePombo

McOlhoVerde

McPretinha

McPretona

MxBranca

MxRosa

MxRosaBrancaMxRosaVermelha

MxSemente

CFD_Verde_Arroxeado

CFD_Verde_ClaroCFD_Verde_Escuro

CBF_Roxo

CBF_Verde_ArroxeadoCBF_Verde_Claro

CBF_Verde_Escuro

CDP_Verde

CDP_Verde_Amarelado

CDP_Verde_Avermelhado

CDP_Vermelho

CEC_Cinza

CEC_Dourado

CEC_Laranja

CEC_Marrom_Claro

CEC_Marrom_Escuro

CEC_Prateado

CEC_Verde_AmareladoCicatriz_M

Cicatriz_P

PDR_Branco

PDR_Creme

CDR_BrancoCDR_Creme CDR_Rosa

-4

-2

0

2

4

-4 -2 0 2 4

Dim1 (206)

Dim

2 (

162

)

MCA - Biplot

00

10

Hierarchical Clustering

inertia gain

McC

am

pin

aV

aru

da

McC

am

pin

aD

aG

rande

McC

am

pin

a

McG

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MxR

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McIsabelT

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McIsabelD

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McO

lhoD

eP

om

bo

00

05

10

15

Hierarchical Classification

Heig

ht

C1 C2 C3 C4 C5 C6 C7 C8

Fig 10 Agrupamento hieraacuterquico das 17 etnovariedades de mandioca caracterizadas de acordo

com os descritores utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo

60

Tabelas 738

739

Tabela 1 Caracteres e estados utilizados pelos agricultores como descritores botacircnicos para 740

caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das etnovariedades de mandioca 741

Caracter Sigla Estados

Folha

Cor da folha desenvolvida CFD 1- verde claro 2- verde escuro 3- verde arroxeado 4- roxo

Cor do broto foliar CBF 1- verde claro 2- verde escuro 3- verde arroxeado 4- roxo

Cor do peciacuteolo CDP 1- verde amarelado 2- verde 3- verde avermelhado 4- roxo

5- vermelho

Caule

Cor externa do caule CEC 1- laranja 2- verde amarelado 3- dourado 4- marrom claro

5- prateado 6- cinza 7- marrom escuro 8- verde

Protuberacircncia da cicatriz foliar PCF 1- pouco proeminente 2- muito proeminente

Raiacutez

Cor da poupa da raiz PDR 1- branco 2- creme

Cor do coacutertex da raiacutez CDR 1- rosa 2- branco 3- creme

742

743

744

745

746

747

748

749

750

751

61

Tabela 2 Lista das 22 etnovariedades de mandiocas citadas (132 citaccedilotildees) como cultivadas nas 752

comunidades pertencentes aos Municiacutepios de Altinho (Caratildeo n=8) e ao Municiacutepio de Panelas 753

(Aracuatilde Satildeo Joseacute do Bola Brejo Velho Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima e Lajeiro 754

Dantas n=21) 755

Etnovariedade Frequecircncia () Ranking Saliecircncia

Macaxeira Rosa 66 179 0472

Mandioca Isabel de Souza 48 179 0372

Mandioca Campina 24 217 0148

Macaxeira Branca 20 210 0134

Macaxeira Rosa branca 18 122 0168

Mandioca Pretona 16 338 0082

Mandioca Cambadinha 12 283 0071

Mandioca Isabel trecircs galhos 10 180 0075

Mandioca Gauacuteba 10 260 0070

Mandioca Pretinha 8 225 0053

Mandioca Peacute de pombo 4 400 0011

Mandioca Olho verde 4 350 0012

Macaxeira Rosinha 4 200 0027

Mandioca Campina varuda 4 200 0032

Mandioca Campina rasteira 4 300 0021

Mandioca Caboquinha 2 500 0007

Macaxeira Rasteira 2 200 0013

Macaxeira Paraacute 2 100 0020

Mandioca Barra ferro 2 300 0007

Mandioca Campina da grande 2 100 0020

Mandioca Olho de pombo 2 300 0010

Mandioca Jasmim 2 600 0006

756

757

758

62

Tabela 3 Lista de 17 etnovariedades atualmente cultivadas nos roccedilados das comunidades em 759

estudo 760

Ca Ar Bo Br Jb Jc Ld

Etnovariedade

Macaxeira Branca x x x x

Macaxeira Rosa

x x x x x x

Macaxeira Rosa Branca x x x x

Macaxeira Rosa Vermelha

x

Macaxeira Semente

x

Mandioca Cambadinha x

x

Mandioca Campina

x

x

x

Mandioca Campina da Grande x

Mandioca Campina Rasteira

x

Mandioca Campina Varuda

x

Mandioca Gauacuteba

x

Mandioca Isabel de Souza

x x x

Mandioca Isabel trecircs Galhos

x

x

Mandioca Olho de Pombo

x

Mandioca Olho Verde

x

Mandioca Pretinha

x

Mandioca Pretona x x x

Comunidades Ca= Caratildeo Ar=Aracuatilde Bo= Satildeo Joseacute do Bola Jb= Japaranduba de Baixo 761

Jc= Japaranduba de Cima Ld= Lajedo Dantas 762

763

764

765

766

767

768

63

Tabela 4 Descriccedilatildeo das classes do agrupamento por meacutetodo de Ward agrupadas pelo conjunto 769

dos descritores mais significativos para a caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das variedades de mandioca 770

Classes Descritores in situ p-valor

C1 Cor do peciacuteolo (CDP) 0016

C2 Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023

C3 Cor do peciacuteolo (CDP) 0012

C4 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0004

Cor da poupa da raiacutez (PDF) 0021

C5 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0003

C6 Cor do broto foliar (CBF) 0002

C7 Cor da folha desenvolvida (CFD) 0004

Cor externa do caule (CEC) 0040

C8 Cor do peciacuteolo (CDP) 0005

Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023

Valores de Ple005 satildeo significativos 771

772

24

management systems (Brazil) Genetic Resources and Crop Evolution v 54 n 6 p 1333ndash

1349 10 mar 2007

PERONI N SODERO MARTINS P Influecircncia da dinacircmica agriacutecola itinerante na geraccedilatildeo

de diversidade de etnovariedades cultivadas vegetativamente Interciencia v 25 n 1 2000

PINTON F EMPERAIRE L Le manioc en Amazonie breacutesilienne diversiteacute varieacutetale et

marcheacute Genetic Sel Evol v 33 n 1 p 491ndash512 2001

PUJOL B et al The unappreciated ecology of landrace populations Conservation

consequences of soil seed banks in Cassava Biological Conservation v 136 n 4 p 541ndash

551 maio 2007

PUJOL B DAVID P MCKEY D Microevolution in agricultural environments how a

traditional Amerindian farming practice favours heterozygosity in cassava (Manihot esculenta

Crantz Euphorbiaceae) Ecology Letters v 8 n 2 p 138ndash147 2005

RIVAL L MCKEY D Domestication and diversity in manioc (Manihot esculenta Crantz

ssp esculenta Euphorbiaceae) Current anthropology v 49 n 6 p 1119ndash1128 2008

ROGERS D J APPAN S G Manihot and Manihotoides (Euphorbiaceae) a computer

assisted study Flora neotropica v 13 p 1973ndash278 1973

25

VARIACcedilAtildeO INTRAESPECIacuteFICA CONHECIMENTO E MANEJO

LOCAL DE MANDIOCA (Manihot esculenta Crantz) NO SEMIAacuteRIDO DE

PERNAMBUCO NORDESTE DO BRASIL

Artigo submetido ao perioacutedico Human Ecology

Normas para submissatildeo em anexos

26

Variaccedilatildeo intraespeciacutefica conhecimento e manejo local de mandioca 1

(Manihot esculenta Crantz) no semiaacuterido de Pernambuco Nordeste do 2

Brasil 3

Mirela Nataacutelia Santos12 Jhonatan Rafael Zaacuterate-Salazar1 Reginaldo de Carvalho1 amp 4

Ulysses Paulino de Albuquerque2 5

6

1 Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo em Botacircnica Departamento de Biologia Rua Dom Manuel de Medeiros 7

Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) sn Dois Irmatildeos Recife Pernambuco 52171-8

900 Brasil 9

2 Laboratoacuterio de Ecologia e Evoluccedilatildeo de Sistemas Socioecoloacutegicos (LEA) Departamento de Botacircnica 10

Avenida Professor Moraes Rego Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) sn Cidade 11

Universitaacuteria Recife Pernambuco 50670-901 Brasil 12

Resumo 13

Historicamente a espeacutecie Manihot esculenta Crantz (mandioca) eacute uma espeacutecie de grande valor 14

econocircmico e de subsistecircncia para populaccedilotildees em comunidades tradicionais Variedades de 15

mandioca satildeo selecionadas com base nos interesses dos agricultores conduzindo uma evoluccedilatildeo 16

especiacutefica sobre a geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da agrobiodiversidade local Diante disso a mandioca 17

tornou-se espeacutecie-modelo em estudos que buscam compreender como os padrotildees e estrateacutegias 18

adotadas pelas populaccedilotildees humanas influenciam na diversidade intraespeciacutefica local em regiotildees 19

tropicais No entanto os fatores que influenciam a diversidade da mandioca em regiotildees 20

semiaacuteridas ainda natildeo foram bem documentados Nesse sentido objetivo geral do estudo foi 21

compreender os processos envolvidos na dinacircmica da diversidade agriacutecola em sete 22

comunidades tradicionais localizadas na regiatildeo semiaacuterida do estado de Pernambuco (Nordeste 23

do Brasil) por meio do acesso ao conhecimento dos agricultores quanto as praacuteticas de menejo 24

para tentar quais quais fatores podem estar relacionados a geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da diversidade 25

local Com os resultados da anaacutelise de redes verificamos uma alta diversidade de 26

etnovariedades cultivadas e a sua composiccedilatildeo eacute determinada pelas preferecircncias e 27

comportamentos individuais dos agricultores que foram provavelmente os mecanismos 28

27

responsaacuteveis pelo surgimento da estrutura aninhada observada na anaacutelise rede Esse padratildeo 29

aninhado contribui na conservaccedilatildeo das etnovariedades mais comuns mas tambeacutem pode resultar 30

em perda daquelas de menor frequecircncia ao longo do tempo 31

Palavras-Chave Agricultura tradicional Agricultura de sequeiro Agrobiodiversidade 32

Etnobiologia Plantas alimentiacutecias 33

34

Introduccedilatildeo 35

Historicamente as populaccedilotildees humanas foram acumulando conhecimentos sobre 36

praacuteticas da agricultura desenvolvendo teacutecnicas adaptadas ao meio natural e assim foram 37

domesticando uma grande variedade de cultivos alimentares para garantirem a sua 38

sobrevivecircncia (Balleacute 2006 Clement et al 2010) Essa interaccedilatildeo pessoas-plantas por meio do 39

cultivo e manejo das espeacutecies vegetais considerando tanto os aspectos sociais quanto naturais 40

dos sistemas dinacircmicos eacute uma importante ferramenta para o entendimento do conhecimento 41

dos agricultores sobre os agroecossistemas locais ( Alcorn 1995) 42

Aleacutem disso essas interaccedilotildees vem contribuindo com alteraccedilotildees nas populaccedilotildees vegetais 43

por meio da seleccedilatildeo artificial Essas alteraccedilotildees resultaram em mudanccedilas na estrutura geneacutetica 44

dessas populaccedilotildees que satildeo determinadas geralmente pela seleccedilatildeo de caracteriacutesticas fenotiacutepicas 45

fisioloacutegicas eou econocircmicas das plantas refletidas em classificaccedilotildees e nomenclaturas 46

especiacuteficas baseadas em percepccedilotildees individuais (Carmona amp Casas 2005) 47

Muitos pesquisadores tentam explicar o papel dos agricultores de pequena escala na 48

seleccedilatildeo classificaccedilatildeo e manutenccedilatildeo da agrobiodiversidade local em roccedilas tradicionalmente 49

manejas em regiotildees uacutemidas (Emperaire amp Peroni 2007 Emperaire amp Eloy 2008 Marchetti et 50

al 2013) Essas roccedila satildeo aacutereas de cultivo caracterizadas por conter uma alta diversidade 51

intraespeciacutefica de espeacutecies (Martins 2005) Dentre elas a Manihot esculenta Crantz 52

28

(mandioca) Euphorbiaceae em sua diversidade de etnovariedades eacute a espeacutecie mais importante 53

sob ponto de vista econocircmico e de subsistecircncia para as populaccedilotildees locais e mais cultivada 54

devido a sua grande adaptabilidade ambiental e baixos custos de gestatildeo (Elias et al 2001) 55

A alta diversidade da mandioca nessas aacutereas pode ser atribuiacuteda agrave possibilidade de 56

introduccedilatildeo de novas variedades via reproduccedilatildeo sexuada associada a ecologia da espeacutecie Esse 57

mecanismo permite o fluxo gecircnico entre as variedades de mandioca cultivadas do mesmo local 58

e entre estas com variedades de locais vizinhos (Pujol et al 2007) Outro mecanismo que 59

favorece essa diversidade eacute agrave circulaccedilatildeo de material propagativo por meio redes sociais de troca 60

variedades entre os agricultores (Pujol et al 2005 Emperaire amp Peroni 2007 Clement et al 61

2010) Esse mecanismo de troca eacute fundamental para o estabelecimento de interaccedilotildees entre as 62

diferentes aacutereas de roccedila promovendo oportunidade de seleccedilatildeo e cruzamento entre os diferentes 63

conjuntos de variedades aleacutem de permitir que este conjunto seja conservado (Emperaire amp Eloy 64

2008) 65

Diante desse cenaacuterio podemos observar que a agrobiodiversidade local natildeo eacute fruto 66

apenas de fatores naturais mas eacute tambeacutem influenciada pelas caracteriacutesticas culturais e 67

socioeconocircmica das populaccedilotildees locais refletidas especialmente no conhecimento e manejo 68

local Nesse sentido o presente estudo visa investigar as interaccedilotildees entre agricultores 69

tradicionais de comunidades rurais estabelecidas na regiatildeo semiaacuterida de Pernambuco 70

O objetivo geral eacute compreender os processos envolvidos na dinacircmica da diversidade 71

agriacutecola por meio do acesso ao conhecimento dos agricultores quanto as praacuteticas de menejo e 72

entender quais quais fatores podem estar relacionados a geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da diversidade 73

local Para esse estudo a mandioca foi escolhida como modelo devida agrave sua importacircncia 74

econocircmica e de subsistecircncia para comunidades locais Os objetivos especiacuteficos foram (i) 75

caracterizar o manejo da agricultura de sequeiro bem como analisar se os paracircmetros 76

socioeconocircmicos influenciam na diversidade local (ii) registrar as etnovariedades atualmente 77

29

cultivadas e identificar os diferentes criteacuterios morfoloacutegicos utilizados pelos agricultores para a 78

seleccedilatildeo e classificaccedilatildeo das etnovariedadese (iii) descrever a estrutura da rede de interaccedilatildeo entre 79

os agricultores e a diversidade de etnovariedades de mandioca cultivadas para tentar entender 80

como essas relaccedilotildees podem influenciar na manutenccedilatildeo ou perda da diversidade local 81

Material e meacutetodos 82

Aacutereas de estudo 83

Amostramos sete comunidades rurais estabelecidas na regiatildeo semiaacuterida de 84

Pernambuco Nordeste do Brasil Uma das comunidades (Caratildeo) pertence ao Municiacutepio de 85

Altinho (ldquo8deg 29rsquo 10rdquo S e 36deg 03rsquo 49rdquo W) e as demais (Satildeo Joseacute do Bola Brejo velho 86

Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima Lajedo Dantas e Aracuatilde) ao Municiacutepio de 87

Panelas (8 deg 39 48 S e 36 deg 01 23 W) (Fig 2) 88

O modelo agriacutecola adotado na regiatildeo segue o sistema tradicional de sequeiro4 e todas 89

as comunidades em estudo possuem histoacuterico de cultivo de mandioca (M esculenta) As aacutereas 90

de cultivo satildeo estabelecidas por unidade familiar e as atividades satildeo realizadas em sua maioria 91

por homens tendo cada agricultor cerca de um a dois hectares de aacuterea para plantio Aleacutem da 92

mandioca os cultivos mais utilizados na comunidades satildeo milho (Zea mays) e feijatildeo (Phaseolus 93

sp) 94

Para os membros das comunidades a produccedilatildeo da farinha de mandioca (Fig 3) eacute uma 95

das atividades agriacutecolas mais importantes tanto pelo seu papel na dieta alimentar quanto pela 96

importacircncia social e econocircmica 97

Caracteriacutesticas das comunidades do estudo 98

A comunidade do Caratildeo localiza-se sob domiacutenio de Caatinga caracterizado por climas 99

quentes e secos com regimes escassos de chuvas correspondente ao tipo BSrsquoh segundo a 100

4 Eacute o cultivo praticado sem irrigaccedilatildeo em regiotildees onde a pluviosidade eacute diminuta

30

classificaccedilatildeo climaacutetica de Koumlppen A vegetaccedilatildeo eacute composto por espeacutecies perenes que 101

conseguem sobreviver mesmo em periacuteodos de seca e espeacutecies anuais que aparecem apenas em 102

periacuteodos com chuva (Cruz et al 2013) 103

De acordo os dados de precipitaccedilatildeo do Laboratoacuterio de Anaacutelise e Processamento de 104

Imagens de Sateacutelites (LAPIS) no ano de 2012 foi registrada a menor meacutedia anual de 105

precipitaccedilatildeo dos uacuteltimos 10 anos para essa regiatildeo (3784 mm) Essa realidade ambiental quando 106

comparada com estudo realizado por de Sieber e colaboradores (2011) na mesma comunidade 107

observa-se que houve uma diminuiccedilatildeo considerada das praacuteticas agriacutecolas realizadas pelos 108

membros da comunidade culminando em uma seacuterie de prejuiacutezos aos agricultores como a perda 109

de plantaccedilotildees e animais Essa perda de produtividade afetou a estrutura econocircmica da 110

comunidade uma vez que a principal fonte de subsistecircncia das famiacutelias eacute a agricultura 111

Associada as atividades agriacutecolas os moradores complementam a dieta e a renda 112

familiar com a venda dos excedentes da produccedilatildeo em feiras-livres ou centros comerciais da 113

regiatildeo (Cruz et al 2013) E com a pecuaacuteria de pequena escala bovina caprina e com avicultura 114

No entanto a diminuiccedilatildeo da forragem natural e cultivada causada pela escassez de chuvas 115

associada aos elevados custos envolvidos na compra de raccedilatildeo levou muitos animais agrave morte 116

(Fig 4) 117

No Municiacutepio de Altinho a comunidade do Caratildeo foi inicialmente escolhida devido ao 118

reconhecimento preacutevio do registro de agricultores realizado em estudos desenvolvidos pelo 119

nosso grupo de pesquisa facilitando assim o acesso agraves informaccedilotildees necessaacuterias para o 120

desenvolvimento da pesquisa 121

As comunidades Aracuatilde Brejo Velho Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima 122

Lajedo Dandas e Satildeo Joseacute do Bola amostradas no estudo pertencem ao Municiacutepio de Panelas 123

que se limita ao Norte com o Municiacutepio de Altinho Essas comunidades estatildeo localizadas em 124

31

no domiacutenio morfoclimaacutetico de Caatinga O clima eacute do tipo semiaacuterido Bsrsquoh segundo a 125

classificaccedilatildeo climaacutetica de Koumleppen 126

A maior parte dos membros dessas comunidades assim como no Caratildeo tecircm como 127

principal fonte de subsistecircncia a agricultura de sequeiro principalmente o cultivo da mandioca 128

(Fig 5) Como renda extra a pecuaacuteria de pequeno porte com criaccedilatildeo bovina caprina e 129

avicultura sendo os excedentes dos alimentos produzidos vendidos em feiras locais ou para 130

escolas 131

As atividades agriacutecolas entre as comunidades tambeacutem foram duramente afetadas pela 132

seca na regiatildeo nos uacuteltimos anos A escassez de chuvas desestimulou o plantio a produccedilatildeo de 133

mandioca foi fortemente comprometida e a colheita foi adiada devido ao subdesenvolvimento 134

das raiacutezes gerando impactos econocircmicos para os membros das comunidades 135

As comunidades amostradas neste muniacutecipio foram escolhidas em funccedilatildeo das 136

indicaccedilotildees dos agricultores entrevistados a princiacutepio na comunidade do Caratildeo que reportaram 137

manter viacutenculos sociais com os agricultores do municiacutepio vizinho 138

Coleta de dados 139

Acessamos as comunidades com a ajuda de um liacuteder comunitaacuterio (Alexandre O 140

Nascimento) em companhia de outros pesquisadores que desenvolviam pesquisas na regiatildeo 141

Previamente as entrevistas todos objetivos e procedimentos para a realizaccedilatildeo da pesquisa foram 142

apresentados aos entrevistados e todos que aceitaram participar foram convidados a assinar um 143

Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) de acordo com a Resoluccedilatildeo 46612 do 144

Conselho Nacional de Sauacutede concordando com a realizaccedilatildeo das entrevistas e avaliaccedilotildees 145

morfoloacutegicas em campo O presente trabalho foi submetido ao Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa da 146

Universidade de Pernambuco (UPE) 147

32

Em todas as comunidades o meacutetodo de acesso ao informante foi o mesmo a partir do 148

primeiro contato com um informante-chave identificamos outros potenciais agricultores 149

seguindo a teacutecnica de ldquobola de neverdquo (Albuquerque et al 2014a) Esse meacutetodo consistiu na 150

amostragem intencional dos participantes e nesse particular os agricultores chefes de famiacutelia 151

(ge 18 anos) da regiatildeo que declararam cultivar mandioca (M esculenta) em suas roccedilas 152

Reunimos informaccedilotildees socioeconocircmicas desses agricultores tais como nome idade gecircnero 153

escolaridade renda experiecircncia na agricultura e tamanho da aacuterea de cultivo para tentar 154

identificar se esses paracircmetros socioeconocircmicos tecircm uma relaccedilatildeo com a agrobiodiversidade 155

local 156

Em seguida conduzimos entrevistas semiestruturadas (Albuquerque et al 2014b) com 157

o objetivo de caracterizar o modo de vida dos agricultores o manejo da agricultura bem como 158

obter dados sobre o conhecimento uso e caracterizaccedilatildeo das etnovariedades de mandioca 159

5cultivadas Aleacutem disso neste momento tambeacutem aplicamos a teacutecnica da lista livre 160

(Albuquerque et al 2014b) a fim de registrar as variedades de mandioca atualmente cultivadas 161

pelos agricultores e identificar as de maior importacircncia local Apoacutes as entrevistas realizamos 162

visitas aos roccedilados para o registro fotograacutefico georreferenciamento das roccedilas e caracterizaccedilatildeo 163

morfoloacutegica das variedades cultivadas 164

Entrevistamos 50 agricultores no total distribuiacutedos nas sete comunidades Caratildeo (3) 165

Satildeo Joseacute do Bola (10) Brejo velho (7) Japaranduba de Baixo (7) Japaranduba de Cima (8) 166

Lajedo Dantas (9) e Aracuatilde (6) Destes 10 satildeo mulheres e 40 homens com idade variando entre 167

31 e 82 anos A maioria dos entrevistados natildeo apresentava instruccedilatildeo formal (46) mais da 168

metade eram aposentados (56) e os demais apresentaram renda inferior a um salaacuterio miacutenimo 169

5 Entende-se por etnovariedade de mandioca o conjunto de variedades intraespeciacuteficas de mandioca (M esculenta)

reconhecidas pelos agricultores por nomenclatura popular local (Peroni 2004)

33

O tempo meacutedio de experiecircncia na agricultura foi de 40 anos Cada agricultor possui entre um e 170

dois roccedilados (aacuterea de plantio) com aproximadamente um a dois hectares 171

Redes de interaccedilatildeo social 172

Confeccionamos a rede que descreve as interaccedilotildees entre os agricultores e as 173

etnovariedades cultivadas a partir de uma matriz de incidecircncia R (presenccedilaausecircncia) onde nas 174

linhas estavam as etnovariedades de mandioca cultivadas (j) e nas colunas os agricultores locais 175

(i) O elemento Rij dessa matriz foi 1 (um) no caso de a etnovariedade j ser cultivada pelo 176

agricultor i caso contraacuterio seria atribuiacutedo 0 (zero) As interaccedilotildees entre os agricultores e as 177

etnovariedades foram descritas em dois modos (Pires et al 2011) onde os ldquonoacutesrdquo da esquerda 178

representam os agricultores que foram vinculados aos ldquonoacutesrdquo da direita representados pelas 179

etnovariedades citadas durante as entrevistas Esses ldquonoacutesrdquo seriam o espelho das decisotildees dos 180

agricultores em manter um determinado conjunto local de etnovariedades em suas roccedilas 181

Avaliamos a estrutura da rede que conecta os agricultores agraves etnovariedades cultivadas 182

a partir de trecircs cenaacuterios hipoteacuteticos (Fig 6) segundo Cachevia et al (2014) No primeiro se os 183

agricultores apresentassem diferentes graus de seletividade para a utilizaccedilatildeo de suas 184

etnovariedades a estrutura seria aninhada (Fig 6a) Isso significa que alguns agricultores 185

cultivam vaacuterias etnovariedades enquanto que outros cultivam o subconjunto mais 186

disponiacutevelcomum dessas etnovariedades Em segundo lugar se a rede apresentasse uma 187

estrutura modular (Fig 6b) significaria que os agricultores apresentam semelhanccedila na seleccedilatildeo 188

do recurso ou seja subgrupos de agricultores cultivam subgrupos distintos de etnovariedades 189

regionalmente disponiacuteveiscomuns E o terceiro se os agricultores natildeo apresentassem 190

preferecircncias quanto a seleccedilatildeo das etnovariedades entatildeo a rede apresentaria uma estrutura 191

aleatoacuteria (Fig 6c) 192

O objetivo da anaacutelise de rede nesse estudo foi tentar entender se o conjunto de 193

etnovariedades presentes no local do estudo constituem uma subamostra de um conjunto mais 194

34

amplo no caso de um alto grau de aninhamento ou se a sua composiccedilatildeo eacute determinada por 195

variaacuteveis locais (Ulrich 2008) Onde as conexotildees entre os informantes e as etnovariedades 196

representam as decisotildees dos agricultores de manter um conjunto determinado de variedades de 197

mandioca dentre as comunidades Esta anaacutelise tambeacutem nos permitiu identificar quais os nuacutecleos 198

de etnovariedades que apresentam maior conexatildeo com os diferentes perfis dos agricultores 199

Diversidade fenotiacutepica 200

Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 201

Apoacutes as entrevistas buscamos identificar quais os caracteres morfoloacutegicos considerados 202

mais importantes para a diferenciaccedilatildeo das etnovariedades de mandioca a partir do seguinte 203

questionamento ldquoQuais as diferenccedilas que vocecirc reconhece para separar uma qualidade de 204

mandioca (variedade) de uma outrardquo Assim os agricultores mencionaram quais os criteacuterios 205

mais importantes utilizados para a caracterizaccedilatildeo de suas etnovariedades 206

Compilamos uma listagem dessas caracteriacutesticas baseada nas indicaccedilotildees dos 207

agricultores e a partir delas selecionamos os caracteres morfoloacutegicos mais citados para a 208

caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica ldquoin siturdquo tais como cor da folha (cor da folha desenvolvida) olho 209

(cor do broto foliar) cor do talo (cor do peciacuteolo) maniva (cor externa do caule) embriatildeo 210

(protuberacircncia da cicatriz foliar) cor da entrecasca (coacutertex da raiz) e cor miolo (polpa da raiz) 211

(Tabela 1) O objetivo dessa caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica foi indicar como estaacute distribuiacuteda a 212

variaccedilatildeo fenotiacutepica das etnovariedades de mandioca nas comunidades na regiatildeo semiaacuterida de 213

Pernambuco bem como identificar que caracteriacutesticas satildeo mais importantes para distinguir 214

esses grupos no intuito de tentar entender como os agricultores classificam suas variedades de 215

mandioca 216

Nas sete comunidades para cada etnovariedade citada no roccedilado caracterizamos ldquoin 217

siturdquo trecircs indiviacuteduos de M esculentade de cada uma totalizando 171 indiviacuteduos (Aracuatilde=11 218

35

Caratildeo=4 Satildeo Joseacute do Bola=13 Brejo Velho=16 Japaranduba de Baixo=6 Japaranduba de 219

Cima=3 e Lajedo Dantas=4) Fotografamos e avaliamos todos os indiviacuteduos com base em parte 220

dos descritores morfoloacutegicos seguindo recomendaccedilotildees de Fukuda amp Guevara (1998) e aleacutem 221

disso georreferenciamos todas as aacutereas de roccedila 222

Anaacutelise dos dados 223

Analisamos os dados socioeconocircmicos das entrevistas semiestruturadas por meio de 224

estatiacutestica descritiva para explicar os aspectos da realidade econocircmica e social dos agricultores 225

Para identificar se a diversidade intraespeciacutefica da mandioca cultivada localmente eacute 226

influenciada por paracircmetros socioeconocircmicos utilizamos o coeficiente de correlaccedilatildeo de 227

Spearman (Ple005) (Sokal amp Rohlf 1995) 228

Com base na lista livre das variedades de mandioca cultivadas pelos agricultores 229

calculamos a frequecircncia de citaccedilatildeo o ranking e o iacutendice de saliecircncia com o objetivo de 230

identificar quais as mais importantes ou preferidas para as comunidades O iacutendice de saliecircncia 231

considerou a frequecircncia de citaccedilatildeo e o ranking referente ao posicionamento das variedades 232

dentro das listas livres (Thompson amp Juan 2006) As etnovariedades mais citadas e com maior 233

valor de saliecircncia representam as de maior importacircncia ou preferecircncia para as comunidades 234

Anaacutelise de rede 235

Medimos o grau de aninhamento (NODF) para investigar a estrutura de rede de 236

interaccedilatildeo social dos agricultores em funccedilatildeo das variedades cultivadas As matrizes altamente 237

aninhadas apresentam NODF tendendo a 1 caso contraacuterio tentem a ser 0 238

Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 239

Para o estudo das semelhanccedilas e diferenccedilas fenotiacutepicas entre as variedades de mandioca 240

ldquoin siturdquo realizamos anaacutelises multivariadas para identificar possiacuteveis grupos de variedades que 241

compartilham semelhanccedilas entre si 242

36

A anaacutelise de correspondecircncia muacuteltipla (MCA) permitiu identificar como as variedades 243

de mandioca estatildeo ordenadas em funccedilatildeo dos seus descritores etnobotacircnicos As etnovariedades 244

foram plotadas ao longo um plano cartesiano bi ou tridimensional onde a variaccedilatildeo total eacute 245

explicada pelos dois primeiros eixos Complementar a esta anaacutelise realizamos a anaacutelise de 246

agrupamento hieraacuterquico (Cluster) para identificar como estatildeo agrupadas as etnovariedades de 247

acordo seus descritores Conferimos a consistecircncia do dendrograma com coeficiente de 248

correlaccedilatildeo cofeneacutetica conforme Sneath amp Sokal (1973) que quantifica se a correlaccedilatildeo entre a 249

matriz de distacircncias originais e a matriz de distacircncias cofeneacuteticas eacute representativa Para 250

mensurar as dissimilaridades entre as variedades de mandioca foi utilizada a distacircncia 251

euclidiana e com o meacutetodo de Ward 252

Softwares utilizados 253

Para a anaacutelise da lista livre usamos o software ANTROPAC versatildeo 10 O software 254

ANINHADO 30 (Guimaratildees amp Guimaratildees 2006) foi usado para medir o grau de aninhamento 255

da rede Utilizamos o software estatiacutestico R (R core team 2017) para a anaacutelise de correlaccedilatildeo 256

de Spearman com o pacote corrplot (Wei amp Simko 2013) o desenho da rede que descreve a 257

interaccedilatildeo entre os agricultores e as etnovariedades com o pacote bipartite (Dormann et al 258

2017) E com os pacotes FactoMineR (LEcirc et al 2008) factoextra (Kassambara et al 2016) e 259

vegan (Oksanen et al 2017) foram realizadas as anaacutelises de cluster de correspondecircncia 260

muacuteltipla (MCA) e de correlaccedilatildeo coefeneacutetica respectivamente 261

Resultados 262

As diferentes etnovariedades de mandioca encontradas no estudo suprem a demanda 263

local por alimento enquanto outras atendem agraves preferecircncias individuais ou do comeacutercio As 264

variedades que possuem maior rendimento e a farinha produzida apresenta coloraccedilatildeo branca 265

satildeo as de maior valor comercial para os agricultores devido agraves preferecircncias do mercado Jaacute 266

37

outras variedades que satildeo mais moles e apresentam coloraccedilatildeo amarelada natildeo satildeo empregadas 267

na produccedilatildeo de farinha mas sim consumidas cozidas ou assadas A depender da demanda local 268

os agricultores intencionalmente aumentam ou diminuem a frequecircncia de suas variedades nos 269

roccedilados seja por alguma exigecircncia do comeacutercio ou para consumo familiar 270

Nas comunidades os agricultores separam suas variedades de mandioca em dois grupos 271

como observado em outras comunidades na mata Atlacircntica por Emperaire e Peroni (2007) o 272

das ldquomacaxeirasrdquo que satildeo as variedades exploradas basicamente para o consumo familiar sem 273

processo preacutevio de desintoxicaccedilatildeo cujas raiacutezes satildeo consumidas fritas eou cozidas Sendo 274

utilizadas tambeacutem como complemento na dieta dos animais E o grupo das ldquomandiocasrdquo que 275

satildeo as variedades que necessitam de processo preacutevio de desintoxicaccedilatildeo para o consumo 276

utilizadas comumente para a produccedilatildeo de farinha de mandioca Para os agricultores as 277

ldquomandiocasrdquo possuem maior valor comercial pois apresentam maior rendimento e 278

rentabilidade pois a farinha produzida eacute branca e atende as preferencias do comercio local 279

Aleacutem da farinha outros produtos e subprodutos produzidos dentre os quais foram citados 280

ldquotapioca ou gomardquo ldquobijurdquo ou ldquobolo de mandiocardquo satildeo utilizados para o consumo proacuteprio ou 281

eventual comercializaccedilatildeo 282

Os informantes natildeo possuiacuteam conhecimento sobre a origem dos nomes das variedades 283

de mandioca Quanto a compreensatildeo da geraccedilatildeo da diversidade intraespeciacutefica identificamos 284

que apesar de 66 dos agricultores citarem que conhecem variedades fruto de germinaccedilatildeo de 285

suas sementes nenhum deles utiliza as manivas para o plantio por essas variedades de 286

mandioca ldquovoluntaacuteriasrdquo natildeo apresentarem bom rendimento 287

Observamos que existe uma baixa correlaccedilatildeo entre a diversidade de variedades 288

atualmente cultivadas e as variaacuteveis socioeconocircmicas como no caso do nuacutemero de roccedilados 289

(r=028 Ple005) e do tamanho do roccedilado (r=033 Ple005) (Fig 7) Essa baixa correlaccedilatildeo pode 290

38

ser explicada pelo fato de existirem grupos de agricultores que preferem manter as variedades 291

de maior valor econocircmico e de subsistecircncia mesmo com aacutereas maiores de cultivo 292

Verificamos tambeacutem uma correlaccedilatildeo positiva moderada entre o nuacutemero de variedades 293

conhecidas com o nuacutemero de variedades atualmente cultivadas (r=054 Ple005) Na lista livre 294

foram identificadas 22 etnovariedades de mandioca cultivadas (132 citaccedilotildees no total) sendo 295

oito dessas mais citadas com maiores valores de saliecircncia (entre 047 e 0082) (Tabela 2) As 296

etnovariedades ldquoMacaxeira Rosardquo e ldquoMandioca Isabel de Souzardquo exibiram os maiores valores 297

de saliecircncia 047 e 037 respectivamente Logo essas variedades satildeo as mais conhecidas 298

dentro das comunidades com 66 e 48 das citaccedilotildees respectivamente 299

Dentre as etnovariedades citadas 12 foram idiossincraacuteticas pois apresentaram menor 300

frequecircncia de citaccedilatildeo e menores valores de saliecircncia (entre 0032 e 0006) (Tabela 2) 301

Redes de interaccedilatildeo social 302

A rede apresentou uma estrutura aninhada com grau de aninhamento significativamente 303

superior aos modelos nulos (N=3072 Plt0001) para as comunidades sendo um nuacutecleo de 304

etnovariedades altamente conectado aos agricultores (Fig 8) A estrutura aninhada nos permite 305

inferir que existe um grupo de agricultores que cultiva uma maior diversidade de etnovariedades 306

de mandioca em suas roccedilas enquanto que outro subgrupo que tem menor diversidade cultivam 307

as mais comuns ou disponiacuteveis (Cavechia et al 2014) Isso significa que os agricultores locais 308

mesmo em diferentes comunidades cultivam um nuacutecleo de etnovariedades comum entre eles 309

(n=6 Tabela 2) 310

Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 311

Observamos que a maioria dos indiviacuteduos de mandioca satildeo caracterizados por meio de 312

um conjunto de sete caracteres morfoloacutegicos os quais foram citados pelos agricultores como 313

mais importantes para a caracterizaccedilatildeo de suas variedades Nas visitas aos roccedilados registramos 314

39

as etnovariedades atualmente cultivadas e a tabela 3 fornece a lista completa com as 17 315

etnovariedades de mandioca e o local de registro 316

Por meio da anaacutelise de correspondecircncia muacuteltipla as variedades de mandioca foram 317

ordenadas em funccedilatildeo de seus descritores ao longo do primeiro e segundo eixo correspondentes 318

a 3680 da variacircncia total (Fig 9) 319

As variaacuteveis mais correlacionadas e que agruparam as variedades de mandioca no 320

primeiro eixo foram cor da folha desenvolvida (CFD) (r= 07239 Ple0001) cor do coacutertex da 321

raiz (CDR) (r= 06473 Ple0001) cor do broto foliar (CBF) (r= 06880 Ple0001) cor do peciacuteolo 322

(CDP) (r= 05250 Ple005) cor externa do caule (CEC) (r= 06883 Ple005) cor da polpa da 323

raiz (PDR) (r= 02473 Ple005) Para o segundo eixo as variaacuteveis correlacionadas foram cor 324

da folha desenvolvida (CFD) (r= 07220 Ple0001) cor externa do caule (CEC) (r= 08718 325

Ple0001) e cor do peciacuteolo (CDP) (r= 06927 Ple005) 326

O agrupamento de todas as variedades caracterizadas ldquoin siturdquo gerou uma aacutervore 327

hieraacuterquica (dendrograma) (Fig 9) utilizando a distacircncia euclidiana seguindo o criteacuterio de 328

Ward O dendrograma gerado apresentou um coeficiente de correlaccedilatildeo cofeneacutetica r= 06780 329

indicando que existe consistecircncia com os dados originais no agrupamento quanto agrave 330

classificaccedilatildeo e estrutura de tal forma que as variedades foram agrupadas em oito classes as 331

quais foram explicadas pelas variaacuteveis mais significativas descritas na tabela 4 332

O resultado do agrupamento (utilizada a distacircncia euclidiana e com o meacutetodo de Ward) 333

observamos que as etnovariedades de mandioca caracterizadas ldquoin siturdquo foram agrupadas em 334

dois grandes agrupamentos indicados na Fig 10 pelos retacircngulos em vermelho A partir dessa 335

anaacutelise percebemos que os caracteres morfoloacutegicos selecionados pelos agricultores natildeo foram 336

suficientes para separar as variedades de macaxeira e mandioca pois em ambos os 337

agrupamentos encontramos tanto macaxeiras quanto mandiocas 338

40

As variedades da classe 1 foram identificadas pelos agricultores pela cor do peciacuteolo 339

(CDP) verde A classe 2 agrupou as etnoveriedades caracterizadas pela protuberacircncia da cicatriz 340

foliar (PCF) mais protuberante Esse descritor segundo os agricultores era identificado como 341

ldquoembriatildeordquo A classe 3 consiste apenas da variedade ldquoMandioca Pretonardquo indicada pela presenccedila 342

de cor do peciacuteolo (CDP) vermelho A classe 4 agrupou trecircs variedades caracterizadas pelos 343

agricultores pela presenccedila de cor coacutertex da raiz (CDR) rosa e cor da polpa da raiacutez (PDR) branca 344

identificadas como ldquoMacaxeira vermelhardquo ldquoMacaxeira Rosa Brancardquo ldquoMacaxeira Rosardquo As 345

variedades agrupadas na classe 5 foras as variedades de mandioca caracterizadas pelos 346

agricultores por apresentarem cor do coacutertex (CDR) da raiacutez branca A classe 6 agrupou 347

variedades identificadas pelos agricultores pela cor do broto foliar (CBF) verde A classe 7 348

consiste apenas da variedade ldquoMacaxeira Sementerdquo identificada pelos agricultores pela cor do 349

peciacuteolo (CDP) roxo e protuberacircncia da cicatriz foliar pouco proeminente Essa variedade 350

segundo os agricultores era fruto do nascimento espontacircneo no roccedilado poreacutem eles geralmente 351

natildeo utilizam essas variedades por apresentarem apenas uma raiz pequena e de baixo 352

rendimento Na classe 8 as variedades foram identificadas pelos agricultores pela cor do peciacuteolo 353

(CDP) verde amarelado e protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) pouco proeminente As 354

ldquoMandioca Isabel de Souzardquo ldquoMandioca Isabel trecircs galhosrdquo segundo os agricultores se 355

diferenciavam pelo maior nuacutemero de caules presentes na variedade ldquoIsabel trecircs galhosrdquo 356

Discussatildeo 357

As sete comunidades estudadas manejavam um nuacutemero consideraacutevel de variedades 358

locais A quantidade de etnovariedades registradas eacute proacutexima a encontrada por Bender et al 359

(2009) e Cavechia et al (2014) em comunidades na regiatildeo sul e sudeste por Oler e Amorozo 360

(2017) em uma comunidade tradicional na regiatildeo centro-oeste Poreacutem foi quantitativamente 361

inferior quando comparada a estudos como os de Elias et al (2001) e Kawa et al (2013) em 362

comunidades na regiatildeo amazocircnica pois possuiacuteam uma alta diversidade Essa alta diversidade 363

41

na regiatildeo amazocircnica pode estar relacionada com o fato de que essa regiatildeo eacute o provaacutevel centro 364

de origem da mandioca (M esculenta) (Allem 1994) 365

As etnovariedades registradas neste estudo estatildeo disponiacuteveis para a maioria dos 366

agricultores dessa regiatildeo e esse fator favorece a circulaccedilatildeo das etnovariedades entre as 367

comunidades locais Por isso haacute semelhanccedilas das etnovariedades utilizadas entre os agricultores 368

da mesma comunidade e entre comunidades vizinhas 369

Parte dos agricultores optam por manter uma alta frequecircncia de variedades mais 370

utilizadas enquanto que outros optam por manter etnovariedades de baixa frequecircncia 371

Conforme discutido por Amorozo (2013) os agricultores escolhem seu acervo de acordo com 372

as necessidades e contexto em que vivem A reduccedilatildeo da diversidade de etnoveriedades por 373

exemplo pode ser impulsionada por fatores que simplificam o sistema como a seleccedilatildeo de 374

etnovariedades para a produccedilatildeo de farinha resultando no cultivo de poucas ou ateacute de uma uacutenica 375

etnovariedade (Peroni amp Hanazaki 2002) mesmo em aacutereas maiores 376

377

Redes de interaccedilatildeo social 378

Com as anaacutelises de rede demonstramos que os agricultores de diferentes comunidades 379

em uma mesma regiatildeo efetivamente trocam variedades de mandioca entre si corroborando 380

com estudos realizados por Emperaire amp Eloy (2008) Pautasso et al (2012) e Cavechia et al 381

(2014) Nesses estudos os autores tambeacutem consideram que as trocas de etnovariedades por 382

meio da rede de intercacircmbio entre os agricultores eacute um mecanismo fundamental para a 383

manutenccedilatildeo da diversidade local 384

A visualizaccedilatildeo da rede demonstrou que entre as comunidades os agricultores 385

compartilham um nuacutecleo de etnovariedades mais utilizadas dentre as quais estatildeo as de maior 386

valor econocircmico e de subsistecircncia Essas de maior frequecircncia satildeo aquelas altamente produtivas 387

utilizadas pelos agricultores para atenderem agraves demandas de mercado por farinha e para o 388

consumo proacuteprio (Kawa et al 2013) 389

42

No entanto observamos que existe outro nuacutecleo de etnovariedades menos frequentes 390

Essas etnovariedades raras podem ser resultantes do processo de experimentaccedilatildeo ou 391

preferecircncias individuais dos agricultores Outra possiacutevel razatildeo para a baixa frequecircncia de 392

algumas etnovariedades poderia ser explicada pela variaccedilatildeo da nomenclatura pelos 393

agricultores que segundo Peroni amp Hanazaki (2002) pode ocorrer durante o processo de troca 394

e introduccedilatildeo de novas variedades aos roccedilados Ainda assim natildeo descartamos a hipoacutetese de que 395

essas etnovariedades raras possam ser provenientes do cruzamento entre variedades diferentes 396

cultivadas da mesma roccedilado ou em roccedilas vizinhas De acordo com Martins (2005) essas 397

variedades fruto de germinaccedilatildeo expentacircnea satildeo incorporadas aos roccedilados pelos agricultores 398

pela curiosidade em experimentar novas variedades agraves suas coleccedilotildees 399

Nesse estudo admitimos que optar por etnovariedades raras entre as comunidades 400

estudadas eacute um comportamento adotado por agricultores que manejam uma maior diversidade 401

corroborando com os estudos de Cavechia et al (2014) e Emperaire et al (2016) em regiotildees 402

uacutemidas Para esses autores etnovaridedades de baixa frequecircncia representam um subconjunto 403

das de alta frequecircncia cultivadas por agricultores que manteacutem a maior diversidade em seus 404

roccedilados Sendo assim inferimos que no geral entre as comunidades satildeo os agricultores 405

generalistas aqueles que cultivam maior diversidade os responsaacuteveis por incorporar novas 406

etnovariedades aos roccedilados 407

As decisotildees dos agricultores em manter o acervo direcionado principalmente para 408

atender a demanda de mercado por exemplo podem levar a uma homogeneizaccedilatildeo nas roccedilas 409

colocando em risco a manutenccedilatildeo da diversidade local (Peroni amp Hanazaki 2002) Como 410

discutido por Elias et al (2000) os agricultores que selecionam apenas um nuacutemero reduzido e 411

especiacutefico de variedades mais produtivas tendem a fazer com que as variedades menos 412

frequentes desapareccedilam ao longo do tempo Essa tendecircndia pode influenciar na capacidade de 413

43

resiliecircncia do sistema assim como dos agricultores em lidar com possiacuteveis adversidades 414

ambientais que possam ocorrer 415

Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 416

No geral os agricultores demonstraram uma tendecircncia em classificarseparar suas 417

diferentes etnovariedades de mandioca a partir da combinaccedilatildeo de um conjunto de sete 418

caracteres morfoloacutegicos distintos e de faacutecil percepccedilatildeo os quais natildeo tem relaccedilatildeo com o uso 419

como por exemplo a cores das raiacutezes caule e folhas Logo consideramos que esses caracteres 420

morfoloacutegicos podem ser considerados como uma forma de classificaccedilatildeo pelos agricultores 421

baseada na capacidade percepccedilatildeo das diferenccedilas morfoloacutegicas que cada etnovariedades 422

apresenta (Boster 1985) Estes resultados nos levam a entender que entre os agricultores o 423

conhecimento sobre a diversidade da mandioca estaacute relacionado ao conhecimento de 424

caracteriacutesticas morfoloacutegicas consistentes 425

A existecircncia de alguns fenoacutetipos comuns nos permitiu avaliar a classificaccedilatildeo da 426

consistecircncia da taxonomia popular entre os agricultores Por exemplo as etnovariedades 427

ldquoMaxaceira Rosardquo e ldquoMacaxeira Rosa Brancardquo e ldquoMacaxeira vermelhardquo foram agrupadas no 428

mesmo cluster (C4) por apresentaram fenoacutetipos semelhantes Notamos que os agricultores 429

classificaram essas variedades de acordo com os traccedilos morfoloacutegicos mais relevantes como a 430

cor do coacutertex da raiz rosa e cor branca da polpa O mesmo ocorreu com as etnovariedades 431

ldquoMandioca varudardquo ldquoMandioca campina da granderdquo e ldquoMandioca campinardquo caracterizadas 432

pela presenccedila do peciacuteolo verde agrupadas no cluster (C1) 433

A partir dessas evidecircncias consideramos a hipoacutetese de que as variedades mesmo 434

apresentando caracteriacutesticas morfoloacutegicas muito semelhantes estatildeo sujeitas a variaccedilatildeo 435

nomenclatural durante o processo a incorporaccedilatildeo aos roccedilados pelos agricultores pois a 436

capacidade para distinguir e nomear variedades entre os agricultores da mesma regiatildeo pode 437

variar (Sambatti et al 2001 Elias et al 2001 Mekbib 2007) Consideramos tambeacutem que pode 438

44

existir variaccedilatildeo geneacutetica entre os indiviacuteduos identificados por um mesmo nome ou entatildeo que 439

os agricultores datildeo o mesmo nome para variedades diferentes E esta situaccedilatildeo pode levar a uma 440

superestimaccedilatildeo ou subestimaccedilatildeo da diversidade de mandioca cultiva nas aacutereas de estudo 441

Sabemos que a mandioca eacute propagada vegetativamente pelos agricultores por meio de 442

estacas em sistemas de agricultura tradicional No entanto alguns variedades produzem flores 443

e sementes que germinam e podem originar outras variedades ou outros clones por meio de 444

fecundaccedilatildeo cruzada (Elias et al 2001) Nesse contexto a etnovariedade ldquoMacaxeira Sementerdquo 445

presente no cluster (C7) trata-se de um uacutenico indiviacuteduo amostrado em uma roccedila de um dos 446

agricultores Esta apresentava algumas caracteriacutesticas morfoloacutegicas distintas das demais 447

reconhecidas pelo agricultor como por exemplo a produccedilatildeo de uma raiz uacutenica e 448

consequentemente de baixo rendimento Encontramos apenas um indiviacuteduo dessa 449

etnovariedade e nossa hipoacutetese de que esta poderia ter sido originada da germinaccedilatildeo da 450

semente mesmo quando 100 dos informantes declararam natildeo dar qualquer importacircncia e 451

descartar essas ldquovariedades-voluntaacuteriasrdquo foi confirmada pelo agricultor que afirmou que se 452

tratava de uma variedade nascida da germinaccedilatildeo da semente Esse comportamento vai de 453

encontro ao estudo de Fraser et al (2012) pois apesar dos agricultores reportarem nas 454

entrevistas que conhecem essas ldquovariedades-voluntaacuteriasrdquo nenhum agricultor faz o uso delas 455

Peroni et al (1999) e Agre et al (2016) analisando morfologicamente as variedades 456

locais de mandioca mantidas por agricultores em sistemas agriacutecolas tropicais tambeacutem 457

demonstraram que os agricultores satildeo coerentes quanto a separaccedilatildeo e identificaccedilatildeo de suas 458

etnovariedades a partir da formaccedilatildeo de grupos de coesos quanto a nomenclatura local utilizada 459

No entanto para o melhor entendimento dessa diversidade aleacutem da caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica 460

o uso de anaacutelises complementares como anaacutelise molecular seria importante para tentar 461

identificar se esses grupos representam a mesma variedade com nomes distintos ou se satildeo 462

variedades distintas com o mesmo nome 463

45

Conclusatildeo 464

O estudo demonstrou que no sistema de manejo da mandioca ao niacutevel de roccedila em 465

comunidades localizadas na regiatildeo semiaacuterida de Pernambuco compotildee uma diversidade 466

intrespeciacutefica de mandioca para atender agraves demandas econocircmicas e de subsistecircncia das 467

populaccedilotildees locais 468

Com relaccedilatildeo a anaacutelise de rede demostramos que haacute um nuacutecleo de etnovariedades 469

fortemente conectado aos agricultores e sua composiccedilatildeo eacute direcionada pelas preferecircncias e 470

necessidades individuais dos agricultores que foram os fatores responsaacuteveis pelo surgimento 471

da estrutura aninhada observada na anaacutelise rede entre as comunidades deste estudo E esse 472

padratildeo aninhado observado contribui na conservaccedilatildeo das etnovariedades mais comuns mas 473

tambeacutem pode resultar em perda daquelas de menor frequecircncia ao longo do tempo 474

A caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica ldquoin siturdquo nos permitiram inferir que os agricultores 475

reconhecem as diferentes caracteriacutesticas morfoloacutegicas de suas cultivares e satildeo coerentes na 476

separaccedilatildeo de suas variedades de mandioca e macaxeira Entretanto esses resultados sugerem a 477

realizaccedilatildeo de um estudo em niacutevel de diversidade geneacutetica exploratoacuterio para identificar se as 478

consistecircncias morfoloacutegicas refletem em consistecircncias geneacuteticas elucidando assim as possiacuteveis 479

confusotildees atribuiacutedas aos nomes das etnovariedades de mandioca 480

Agradecimentos 481

Agradecemos ao liacuteder comunitaacuterio Alexandre O Nascimento aos agricultores e 482

agricultoras das comunidades pela acolhida confianccedila e pela gentileza de compartilharem 483

conosco seus conhecimentos e contribuiacuterem com este estudo Especialmente a Arlindo Ferreira 484

Edgar Antocircnio Joseacute Sebastiatildeo Juvenal Oliveira e Janete Alves Ao Laboratoacuterio de Ecologia e 485

Evoluccedilatildeo de Sistemas Socioecoloacutegicos (LEA - UFPE) E agradecemos ao CNPq pelo apoio 486

com a bolsa de estudos do primeiro autor 487

46

Referecircncias bibliograacuteficas 488

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614

51

ANEXOS 615

616

Nome da revista 617

Human Ecology 618

Link de acesso 619

httpsgooglDVLbFj 620

Qualis-CAPES 621

B1 em Biodiversidade 622

623

624

625

626

627

628

629

630

631

632

633

634

635

636

637

638

639

640

641

642

52

Figuras 643

644

645

Fig 1 Partes do processo de fabricaccedilatildeo de farinha de mandioca Onde a raspagem b e c 646

processo de trituraccedilatildeo e d peneiramento Foto registrada em Abril de 2017 por Mirela Santos 647

648

649

650

c

d

b

a

53

651

Fig 2 Mapa de localizaccedilatildeo geograacutefica dos Municiacutepios de Altinho e Panelas e das comunidades 652

estudadas na regiatildeo semiaacuterida do Estado de Pernambuco (Elaborado por SANTOS 2018) 653

54

654

655

656

657

Fig 3 Processo de fabricaccedilatildeo da farinha de mandioca Apoacutes a colheita as raiacutezes satildeo lavadas 658

raspadas e trituradas (a) A massa extraiacuteda eacute prensada e coada Ao sair da prensa a massa 659

peneirada (b) e em seguida eacute torrada (c) em fornos artesanais ou parcialmente mecanizados 660

Imagem registrada em janeiro de 2017 na Comunidade do Caratildeo por Mirela Santos 661

662

663

a

b c

55

664

Fig 4 a Sede da Comunidade do Caratildeo b Agricultor transportando a palma forrageira que eacute 665

um exemplo de estrateacutegia adaptativa para suprir a falta de alimento dos animais devido agrave seca 666

c Feira-livre que acontece na comunidade a cada quinze dias Imagem registrada em julho de 667

2016 na Comunidade do Caratildeo por Mirela Santos 668

669

670

Fig 5 a O agricultor nos explicava as mudanccedilas que vem fazendo em seus roccedilados para se 671

adaptar aos longos periacuteodos de seca b Quando o agricultor nos mostrava as diferentes 672

etnovariedades que mantinha em sua roccedila c Durante a pesquisa nos explicavam como era feita 673

a colheita da mandioca e como selecionavam as manivas para o proacuteximo plantio Foto registrada 674

em abril de 2017 na Comunidade do Brejo Velho por Mirela Santos 675

a

b c

c b

a

56 676

677

Fig 6 Possiacuteveis estruturas de rede que descrevem as interaccedilotildees dos agricultores (losango) 678

ligados as etnovariedades (ciacuterculos) que cultivam Onde a Aninhada b Modular c Aleatoacuteria 679

(Fonte Cavechia et al 2014 com adaptaccedilotildees) 680

681

682

683

684

685

686

687

688

689

690

691

692

693

694

695

696

697

a c b

57

698

699

700

701

702

703

704

705

706

707

Fig 7 Correlaccedilatildeo de Spearman entre a diversidade de etnovariedades de mandiocas conhecidas 708

como cultivadas e variedades atualmente cultivadas por agricultor e as variaacuteveis 709

socioeconocircmicas Onde Nvc= nuacutemero de citadas como cultivadas Nve= nuacutemero de variedades 710

atualmente cultivadas Esc= escolaridade Id= idade Gen= gecircnero Tr= tamanho do roccedilado 711

Exp= experiecircncia na agricultura Sld= renda Nr= nuacutemero de roccedilados Cores distintivas 712

representam correlaccedilotildees significativas (Ple005) 713

714

58

715

Fig 8 Modelo individual de rede de etnovariedades de mandioca citadas (esquerda) por 716

agricultores como cultivadas (direita) nos Municiacutepios de Altinho e Panelas As redes foram 717

desenhadas com o pacote bipartite (Dormann et al 2017) usando o software R (R CORE 718

TEAM 2017) 719

720

59

721

Fig 9 Anaacutelise de Correspondecircncia Muacuteltipla das 17 etnovariedades de mandioca considerando 722

os sete descritores morfoloacutegicos utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo em roccedilas de 723

agricultores tradicionais de sete comunidades no semiaacuterido de Pernambuco 724

725

726

727

728

729

730

731

732

733

734

735

736

737

McCambadinha

McCampina

McCampinaDaGrande

McCampinaRasteira

McCampinaVaruda

McGauba

McIsabelDeSouza

McIsabelTresGalhos

McOlhoDePombo

McOlhoVerde

McPretinha

McPretona

MxBranca

MxRosa

MxRosaBrancaMxRosaVermelha

MxSemente

CFD_Verde_Arroxeado

CFD_Verde_ClaroCFD_Verde_Escuro

CBF_Roxo

CBF_Verde_ArroxeadoCBF_Verde_Claro

CBF_Verde_Escuro

CDP_Verde

CDP_Verde_Amarelado

CDP_Verde_Avermelhado

CDP_Vermelho

CEC_Cinza

CEC_Dourado

CEC_Laranja

CEC_Marrom_Claro

CEC_Marrom_Escuro

CEC_Prateado

CEC_Verde_AmareladoCicatriz_M

Cicatriz_P

PDR_Branco

PDR_Creme

CDR_BrancoCDR_Creme CDR_Rosa

-4

-2

0

2

4

-4 -2 0 2 4

Dim1 (206)

Dim

2 (

162

)

MCA - Biplot

00

10

Hierarchical Clustering

inertia gain

McC

am

pin

aV

aru

da

McC

am

pin

aD

aG

rande

McC

am

pin

a

McG

auba

McP

retin

ha

McP

reto

na

MxR

osaV

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a

MxR

osaB

ranca

MxR

osa

McC

am

pin

aR

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ira

McC

am

badin

ha

McO

lhoV

erd

e

MxB

ranca

MxS

em

ente

McIsabelT

resG

alh

os

McIsabelD

eS

ouza

McO

lhoD

eP

om

bo

00

05

10

15

Hierarchical Classification

Heig

ht

C1 C2 C3 C4 C5 C6 C7 C8

Fig 10 Agrupamento hieraacuterquico das 17 etnovariedades de mandioca caracterizadas de acordo

com os descritores utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo

60

Tabelas 738

739

Tabela 1 Caracteres e estados utilizados pelos agricultores como descritores botacircnicos para 740

caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das etnovariedades de mandioca 741

Caracter Sigla Estados

Folha

Cor da folha desenvolvida CFD 1- verde claro 2- verde escuro 3- verde arroxeado 4- roxo

Cor do broto foliar CBF 1- verde claro 2- verde escuro 3- verde arroxeado 4- roxo

Cor do peciacuteolo CDP 1- verde amarelado 2- verde 3- verde avermelhado 4- roxo

5- vermelho

Caule

Cor externa do caule CEC 1- laranja 2- verde amarelado 3- dourado 4- marrom claro

5- prateado 6- cinza 7- marrom escuro 8- verde

Protuberacircncia da cicatriz foliar PCF 1- pouco proeminente 2- muito proeminente

Raiacutez

Cor da poupa da raiz PDR 1- branco 2- creme

Cor do coacutertex da raiacutez CDR 1- rosa 2- branco 3- creme

742

743

744

745

746

747

748

749

750

751

61

Tabela 2 Lista das 22 etnovariedades de mandiocas citadas (132 citaccedilotildees) como cultivadas nas 752

comunidades pertencentes aos Municiacutepios de Altinho (Caratildeo n=8) e ao Municiacutepio de Panelas 753

(Aracuatilde Satildeo Joseacute do Bola Brejo Velho Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima e Lajeiro 754

Dantas n=21) 755

Etnovariedade Frequecircncia () Ranking Saliecircncia

Macaxeira Rosa 66 179 0472

Mandioca Isabel de Souza 48 179 0372

Mandioca Campina 24 217 0148

Macaxeira Branca 20 210 0134

Macaxeira Rosa branca 18 122 0168

Mandioca Pretona 16 338 0082

Mandioca Cambadinha 12 283 0071

Mandioca Isabel trecircs galhos 10 180 0075

Mandioca Gauacuteba 10 260 0070

Mandioca Pretinha 8 225 0053

Mandioca Peacute de pombo 4 400 0011

Mandioca Olho verde 4 350 0012

Macaxeira Rosinha 4 200 0027

Mandioca Campina varuda 4 200 0032

Mandioca Campina rasteira 4 300 0021

Mandioca Caboquinha 2 500 0007

Macaxeira Rasteira 2 200 0013

Macaxeira Paraacute 2 100 0020

Mandioca Barra ferro 2 300 0007

Mandioca Campina da grande 2 100 0020

Mandioca Olho de pombo 2 300 0010

Mandioca Jasmim 2 600 0006

756

757

758

62

Tabela 3 Lista de 17 etnovariedades atualmente cultivadas nos roccedilados das comunidades em 759

estudo 760

Ca Ar Bo Br Jb Jc Ld

Etnovariedade

Macaxeira Branca x x x x

Macaxeira Rosa

x x x x x x

Macaxeira Rosa Branca x x x x

Macaxeira Rosa Vermelha

x

Macaxeira Semente

x

Mandioca Cambadinha x

x

Mandioca Campina

x

x

x

Mandioca Campina da Grande x

Mandioca Campina Rasteira

x

Mandioca Campina Varuda

x

Mandioca Gauacuteba

x

Mandioca Isabel de Souza

x x x

Mandioca Isabel trecircs Galhos

x

x

Mandioca Olho de Pombo

x

Mandioca Olho Verde

x

Mandioca Pretinha

x

Mandioca Pretona x x x

Comunidades Ca= Caratildeo Ar=Aracuatilde Bo= Satildeo Joseacute do Bola Jb= Japaranduba de Baixo 761

Jc= Japaranduba de Cima Ld= Lajedo Dantas 762

763

764

765

766

767

768

63

Tabela 4 Descriccedilatildeo das classes do agrupamento por meacutetodo de Ward agrupadas pelo conjunto 769

dos descritores mais significativos para a caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das variedades de mandioca 770

Classes Descritores in situ p-valor

C1 Cor do peciacuteolo (CDP) 0016

C2 Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023

C3 Cor do peciacuteolo (CDP) 0012

C4 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0004

Cor da poupa da raiacutez (PDF) 0021

C5 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0003

C6 Cor do broto foliar (CBF) 0002

C7 Cor da folha desenvolvida (CFD) 0004

Cor externa do caule (CEC) 0040

C8 Cor do peciacuteolo (CDP) 0005

Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023

Valores de Ple005 satildeo significativos 771

772

25

VARIACcedilAtildeO INTRAESPECIacuteFICA CONHECIMENTO E MANEJO

LOCAL DE MANDIOCA (Manihot esculenta Crantz) NO SEMIAacuteRIDO DE

PERNAMBUCO NORDESTE DO BRASIL

Artigo submetido ao perioacutedico Human Ecology

Normas para submissatildeo em anexos

26

Variaccedilatildeo intraespeciacutefica conhecimento e manejo local de mandioca 1

(Manihot esculenta Crantz) no semiaacuterido de Pernambuco Nordeste do 2

Brasil 3

Mirela Nataacutelia Santos12 Jhonatan Rafael Zaacuterate-Salazar1 Reginaldo de Carvalho1 amp 4

Ulysses Paulino de Albuquerque2 5

6

1 Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo em Botacircnica Departamento de Biologia Rua Dom Manuel de Medeiros 7

Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) sn Dois Irmatildeos Recife Pernambuco 52171-8

900 Brasil 9

2 Laboratoacuterio de Ecologia e Evoluccedilatildeo de Sistemas Socioecoloacutegicos (LEA) Departamento de Botacircnica 10

Avenida Professor Moraes Rego Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) sn Cidade 11

Universitaacuteria Recife Pernambuco 50670-901 Brasil 12

Resumo 13

Historicamente a espeacutecie Manihot esculenta Crantz (mandioca) eacute uma espeacutecie de grande valor 14

econocircmico e de subsistecircncia para populaccedilotildees em comunidades tradicionais Variedades de 15

mandioca satildeo selecionadas com base nos interesses dos agricultores conduzindo uma evoluccedilatildeo 16

especiacutefica sobre a geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da agrobiodiversidade local Diante disso a mandioca 17

tornou-se espeacutecie-modelo em estudos que buscam compreender como os padrotildees e estrateacutegias 18

adotadas pelas populaccedilotildees humanas influenciam na diversidade intraespeciacutefica local em regiotildees 19

tropicais No entanto os fatores que influenciam a diversidade da mandioca em regiotildees 20

semiaacuteridas ainda natildeo foram bem documentados Nesse sentido objetivo geral do estudo foi 21

compreender os processos envolvidos na dinacircmica da diversidade agriacutecola em sete 22

comunidades tradicionais localizadas na regiatildeo semiaacuterida do estado de Pernambuco (Nordeste 23

do Brasil) por meio do acesso ao conhecimento dos agricultores quanto as praacuteticas de menejo 24

para tentar quais quais fatores podem estar relacionados a geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da diversidade 25

local Com os resultados da anaacutelise de redes verificamos uma alta diversidade de 26

etnovariedades cultivadas e a sua composiccedilatildeo eacute determinada pelas preferecircncias e 27

comportamentos individuais dos agricultores que foram provavelmente os mecanismos 28

27

responsaacuteveis pelo surgimento da estrutura aninhada observada na anaacutelise rede Esse padratildeo 29

aninhado contribui na conservaccedilatildeo das etnovariedades mais comuns mas tambeacutem pode resultar 30

em perda daquelas de menor frequecircncia ao longo do tempo 31

Palavras-Chave Agricultura tradicional Agricultura de sequeiro Agrobiodiversidade 32

Etnobiologia Plantas alimentiacutecias 33

34

Introduccedilatildeo 35

Historicamente as populaccedilotildees humanas foram acumulando conhecimentos sobre 36

praacuteticas da agricultura desenvolvendo teacutecnicas adaptadas ao meio natural e assim foram 37

domesticando uma grande variedade de cultivos alimentares para garantirem a sua 38

sobrevivecircncia (Balleacute 2006 Clement et al 2010) Essa interaccedilatildeo pessoas-plantas por meio do 39

cultivo e manejo das espeacutecies vegetais considerando tanto os aspectos sociais quanto naturais 40

dos sistemas dinacircmicos eacute uma importante ferramenta para o entendimento do conhecimento 41

dos agricultores sobre os agroecossistemas locais ( Alcorn 1995) 42

Aleacutem disso essas interaccedilotildees vem contribuindo com alteraccedilotildees nas populaccedilotildees vegetais 43

por meio da seleccedilatildeo artificial Essas alteraccedilotildees resultaram em mudanccedilas na estrutura geneacutetica 44

dessas populaccedilotildees que satildeo determinadas geralmente pela seleccedilatildeo de caracteriacutesticas fenotiacutepicas 45

fisioloacutegicas eou econocircmicas das plantas refletidas em classificaccedilotildees e nomenclaturas 46

especiacuteficas baseadas em percepccedilotildees individuais (Carmona amp Casas 2005) 47

Muitos pesquisadores tentam explicar o papel dos agricultores de pequena escala na 48

seleccedilatildeo classificaccedilatildeo e manutenccedilatildeo da agrobiodiversidade local em roccedilas tradicionalmente 49

manejas em regiotildees uacutemidas (Emperaire amp Peroni 2007 Emperaire amp Eloy 2008 Marchetti et 50

al 2013) Essas roccedila satildeo aacutereas de cultivo caracterizadas por conter uma alta diversidade 51

intraespeciacutefica de espeacutecies (Martins 2005) Dentre elas a Manihot esculenta Crantz 52

28

(mandioca) Euphorbiaceae em sua diversidade de etnovariedades eacute a espeacutecie mais importante 53

sob ponto de vista econocircmico e de subsistecircncia para as populaccedilotildees locais e mais cultivada 54

devido a sua grande adaptabilidade ambiental e baixos custos de gestatildeo (Elias et al 2001) 55

A alta diversidade da mandioca nessas aacutereas pode ser atribuiacuteda agrave possibilidade de 56

introduccedilatildeo de novas variedades via reproduccedilatildeo sexuada associada a ecologia da espeacutecie Esse 57

mecanismo permite o fluxo gecircnico entre as variedades de mandioca cultivadas do mesmo local 58

e entre estas com variedades de locais vizinhos (Pujol et al 2007) Outro mecanismo que 59

favorece essa diversidade eacute agrave circulaccedilatildeo de material propagativo por meio redes sociais de troca 60

variedades entre os agricultores (Pujol et al 2005 Emperaire amp Peroni 2007 Clement et al 61

2010) Esse mecanismo de troca eacute fundamental para o estabelecimento de interaccedilotildees entre as 62

diferentes aacutereas de roccedila promovendo oportunidade de seleccedilatildeo e cruzamento entre os diferentes 63

conjuntos de variedades aleacutem de permitir que este conjunto seja conservado (Emperaire amp Eloy 64

2008) 65

Diante desse cenaacuterio podemos observar que a agrobiodiversidade local natildeo eacute fruto 66

apenas de fatores naturais mas eacute tambeacutem influenciada pelas caracteriacutesticas culturais e 67

socioeconocircmica das populaccedilotildees locais refletidas especialmente no conhecimento e manejo 68

local Nesse sentido o presente estudo visa investigar as interaccedilotildees entre agricultores 69

tradicionais de comunidades rurais estabelecidas na regiatildeo semiaacuterida de Pernambuco 70

O objetivo geral eacute compreender os processos envolvidos na dinacircmica da diversidade 71

agriacutecola por meio do acesso ao conhecimento dos agricultores quanto as praacuteticas de menejo e 72

entender quais quais fatores podem estar relacionados a geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da diversidade 73

local Para esse estudo a mandioca foi escolhida como modelo devida agrave sua importacircncia 74

econocircmica e de subsistecircncia para comunidades locais Os objetivos especiacuteficos foram (i) 75

caracterizar o manejo da agricultura de sequeiro bem como analisar se os paracircmetros 76

socioeconocircmicos influenciam na diversidade local (ii) registrar as etnovariedades atualmente 77

29

cultivadas e identificar os diferentes criteacuterios morfoloacutegicos utilizados pelos agricultores para a 78

seleccedilatildeo e classificaccedilatildeo das etnovariedadese (iii) descrever a estrutura da rede de interaccedilatildeo entre 79

os agricultores e a diversidade de etnovariedades de mandioca cultivadas para tentar entender 80

como essas relaccedilotildees podem influenciar na manutenccedilatildeo ou perda da diversidade local 81

Material e meacutetodos 82

Aacutereas de estudo 83

Amostramos sete comunidades rurais estabelecidas na regiatildeo semiaacuterida de 84

Pernambuco Nordeste do Brasil Uma das comunidades (Caratildeo) pertence ao Municiacutepio de 85

Altinho (ldquo8deg 29rsquo 10rdquo S e 36deg 03rsquo 49rdquo W) e as demais (Satildeo Joseacute do Bola Brejo velho 86

Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima Lajedo Dantas e Aracuatilde) ao Municiacutepio de 87

Panelas (8 deg 39 48 S e 36 deg 01 23 W) (Fig 2) 88

O modelo agriacutecola adotado na regiatildeo segue o sistema tradicional de sequeiro4 e todas 89

as comunidades em estudo possuem histoacuterico de cultivo de mandioca (M esculenta) As aacutereas 90

de cultivo satildeo estabelecidas por unidade familiar e as atividades satildeo realizadas em sua maioria 91

por homens tendo cada agricultor cerca de um a dois hectares de aacuterea para plantio Aleacutem da 92

mandioca os cultivos mais utilizados na comunidades satildeo milho (Zea mays) e feijatildeo (Phaseolus 93

sp) 94

Para os membros das comunidades a produccedilatildeo da farinha de mandioca (Fig 3) eacute uma 95

das atividades agriacutecolas mais importantes tanto pelo seu papel na dieta alimentar quanto pela 96

importacircncia social e econocircmica 97

Caracteriacutesticas das comunidades do estudo 98

A comunidade do Caratildeo localiza-se sob domiacutenio de Caatinga caracterizado por climas 99

quentes e secos com regimes escassos de chuvas correspondente ao tipo BSrsquoh segundo a 100

4 Eacute o cultivo praticado sem irrigaccedilatildeo em regiotildees onde a pluviosidade eacute diminuta

30

classificaccedilatildeo climaacutetica de Koumlppen A vegetaccedilatildeo eacute composto por espeacutecies perenes que 101

conseguem sobreviver mesmo em periacuteodos de seca e espeacutecies anuais que aparecem apenas em 102

periacuteodos com chuva (Cruz et al 2013) 103

De acordo os dados de precipitaccedilatildeo do Laboratoacuterio de Anaacutelise e Processamento de 104

Imagens de Sateacutelites (LAPIS) no ano de 2012 foi registrada a menor meacutedia anual de 105

precipitaccedilatildeo dos uacuteltimos 10 anos para essa regiatildeo (3784 mm) Essa realidade ambiental quando 106

comparada com estudo realizado por de Sieber e colaboradores (2011) na mesma comunidade 107

observa-se que houve uma diminuiccedilatildeo considerada das praacuteticas agriacutecolas realizadas pelos 108

membros da comunidade culminando em uma seacuterie de prejuiacutezos aos agricultores como a perda 109

de plantaccedilotildees e animais Essa perda de produtividade afetou a estrutura econocircmica da 110

comunidade uma vez que a principal fonte de subsistecircncia das famiacutelias eacute a agricultura 111

Associada as atividades agriacutecolas os moradores complementam a dieta e a renda 112

familiar com a venda dos excedentes da produccedilatildeo em feiras-livres ou centros comerciais da 113

regiatildeo (Cruz et al 2013) E com a pecuaacuteria de pequena escala bovina caprina e com avicultura 114

No entanto a diminuiccedilatildeo da forragem natural e cultivada causada pela escassez de chuvas 115

associada aos elevados custos envolvidos na compra de raccedilatildeo levou muitos animais agrave morte 116

(Fig 4) 117

No Municiacutepio de Altinho a comunidade do Caratildeo foi inicialmente escolhida devido ao 118

reconhecimento preacutevio do registro de agricultores realizado em estudos desenvolvidos pelo 119

nosso grupo de pesquisa facilitando assim o acesso agraves informaccedilotildees necessaacuterias para o 120

desenvolvimento da pesquisa 121

As comunidades Aracuatilde Brejo Velho Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima 122

Lajedo Dandas e Satildeo Joseacute do Bola amostradas no estudo pertencem ao Municiacutepio de Panelas 123

que se limita ao Norte com o Municiacutepio de Altinho Essas comunidades estatildeo localizadas em 124

31

no domiacutenio morfoclimaacutetico de Caatinga O clima eacute do tipo semiaacuterido Bsrsquoh segundo a 125

classificaccedilatildeo climaacutetica de Koumleppen 126

A maior parte dos membros dessas comunidades assim como no Caratildeo tecircm como 127

principal fonte de subsistecircncia a agricultura de sequeiro principalmente o cultivo da mandioca 128

(Fig 5) Como renda extra a pecuaacuteria de pequeno porte com criaccedilatildeo bovina caprina e 129

avicultura sendo os excedentes dos alimentos produzidos vendidos em feiras locais ou para 130

escolas 131

As atividades agriacutecolas entre as comunidades tambeacutem foram duramente afetadas pela 132

seca na regiatildeo nos uacuteltimos anos A escassez de chuvas desestimulou o plantio a produccedilatildeo de 133

mandioca foi fortemente comprometida e a colheita foi adiada devido ao subdesenvolvimento 134

das raiacutezes gerando impactos econocircmicos para os membros das comunidades 135

As comunidades amostradas neste muniacutecipio foram escolhidas em funccedilatildeo das 136

indicaccedilotildees dos agricultores entrevistados a princiacutepio na comunidade do Caratildeo que reportaram 137

manter viacutenculos sociais com os agricultores do municiacutepio vizinho 138

Coleta de dados 139

Acessamos as comunidades com a ajuda de um liacuteder comunitaacuterio (Alexandre O 140

Nascimento) em companhia de outros pesquisadores que desenvolviam pesquisas na regiatildeo 141

Previamente as entrevistas todos objetivos e procedimentos para a realizaccedilatildeo da pesquisa foram 142

apresentados aos entrevistados e todos que aceitaram participar foram convidados a assinar um 143

Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) de acordo com a Resoluccedilatildeo 46612 do 144

Conselho Nacional de Sauacutede concordando com a realizaccedilatildeo das entrevistas e avaliaccedilotildees 145

morfoloacutegicas em campo O presente trabalho foi submetido ao Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa da 146

Universidade de Pernambuco (UPE) 147

32

Em todas as comunidades o meacutetodo de acesso ao informante foi o mesmo a partir do 148

primeiro contato com um informante-chave identificamos outros potenciais agricultores 149

seguindo a teacutecnica de ldquobola de neverdquo (Albuquerque et al 2014a) Esse meacutetodo consistiu na 150

amostragem intencional dos participantes e nesse particular os agricultores chefes de famiacutelia 151

(ge 18 anos) da regiatildeo que declararam cultivar mandioca (M esculenta) em suas roccedilas 152

Reunimos informaccedilotildees socioeconocircmicas desses agricultores tais como nome idade gecircnero 153

escolaridade renda experiecircncia na agricultura e tamanho da aacuterea de cultivo para tentar 154

identificar se esses paracircmetros socioeconocircmicos tecircm uma relaccedilatildeo com a agrobiodiversidade 155

local 156

Em seguida conduzimos entrevistas semiestruturadas (Albuquerque et al 2014b) com 157

o objetivo de caracterizar o modo de vida dos agricultores o manejo da agricultura bem como 158

obter dados sobre o conhecimento uso e caracterizaccedilatildeo das etnovariedades de mandioca 159

5cultivadas Aleacutem disso neste momento tambeacutem aplicamos a teacutecnica da lista livre 160

(Albuquerque et al 2014b) a fim de registrar as variedades de mandioca atualmente cultivadas 161

pelos agricultores e identificar as de maior importacircncia local Apoacutes as entrevistas realizamos 162

visitas aos roccedilados para o registro fotograacutefico georreferenciamento das roccedilas e caracterizaccedilatildeo 163

morfoloacutegica das variedades cultivadas 164

Entrevistamos 50 agricultores no total distribuiacutedos nas sete comunidades Caratildeo (3) 165

Satildeo Joseacute do Bola (10) Brejo velho (7) Japaranduba de Baixo (7) Japaranduba de Cima (8) 166

Lajedo Dantas (9) e Aracuatilde (6) Destes 10 satildeo mulheres e 40 homens com idade variando entre 167

31 e 82 anos A maioria dos entrevistados natildeo apresentava instruccedilatildeo formal (46) mais da 168

metade eram aposentados (56) e os demais apresentaram renda inferior a um salaacuterio miacutenimo 169

5 Entende-se por etnovariedade de mandioca o conjunto de variedades intraespeciacuteficas de mandioca (M esculenta)

reconhecidas pelos agricultores por nomenclatura popular local (Peroni 2004)

33

O tempo meacutedio de experiecircncia na agricultura foi de 40 anos Cada agricultor possui entre um e 170

dois roccedilados (aacuterea de plantio) com aproximadamente um a dois hectares 171

Redes de interaccedilatildeo social 172

Confeccionamos a rede que descreve as interaccedilotildees entre os agricultores e as 173

etnovariedades cultivadas a partir de uma matriz de incidecircncia R (presenccedilaausecircncia) onde nas 174

linhas estavam as etnovariedades de mandioca cultivadas (j) e nas colunas os agricultores locais 175

(i) O elemento Rij dessa matriz foi 1 (um) no caso de a etnovariedade j ser cultivada pelo 176

agricultor i caso contraacuterio seria atribuiacutedo 0 (zero) As interaccedilotildees entre os agricultores e as 177

etnovariedades foram descritas em dois modos (Pires et al 2011) onde os ldquonoacutesrdquo da esquerda 178

representam os agricultores que foram vinculados aos ldquonoacutesrdquo da direita representados pelas 179

etnovariedades citadas durante as entrevistas Esses ldquonoacutesrdquo seriam o espelho das decisotildees dos 180

agricultores em manter um determinado conjunto local de etnovariedades em suas roccedilas 181

Avaliamos a estrutura da rede que conecta os agricultores agraves etnovariedades cultivadas 182

a partir de trecircs cenaacuterios hipoteacuteticos (Fig 6) segundo Cachevia et al (2014) No primeiro se os 183

agricultores apresentassem diferentes graus de seletividade para a utilizaccedilatildeo de suas 184

etnovariedades a estrutura seria aninhada (Fig 6a) Isso significa que alguns agricultores 185

cultivam vaacuterias etnovariedades enquanto que outros cultivam o subconjunto mais 186

disponiacutevelcomum dessas etnovariedades Em segundo lugar se a rede apresentasse uma 187

estrutura modular (Fig 6b) significaria que os agricultores apresentam semelhanccedila na seleccedilatildeo 188

do recurso ou seja subgrupos de agricultores cultivam subgrupos distintos de etnovariedades 189

regionalmente disponiacuteveiscomuns E o terceiro se os agricultores natildeo apresentassem 190

preferecircncias quanto a seleccedilatildeo das etnovariedades entatildeo a rede apresentaria uma estrutura 191

aleatoacuteria (Fig 6c) 192

O objetivo da anaacutelise de rede nesse estudo foi tentar entender se o conjunto de 193

etnovariedades presentes no local do estudo constituem uma subamostra de um conjunto mais 194

34

amplo no caso de um alto grau de aninhamento ou se a sua composiccedilatildeo eacute determinada por 195

variaacuteveis locais (Ulrich 2008) Onde as conexotildees entre os informantes e as etnovariedades 196

representam as decisotildees dos agricultores de manter um conjunto determinado de variedades de 197

mandioca dentre as comunidades Esta anaacutelise tambeacutem nos permitiu identificar quais os nuacutecleos 198

de etnovariedades que apresentam maior conexatildeo com os diferentes perfis dos agricultores 199

Diversidade fenotiacutepica 200

Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 201

Apoacutes as entrevistas buscamos identificar quais os caracteres morfoloacutegicos considerados 202

mais importantes para a diferenciaccedilatildeo das etnovariedades de mandioca a partir do seguinte 203

questionamento ldquoQuais as diferenccedilas que vocecirc reconhece para separar uma qualidade de 204

mandioca (variedade) de uma outrardquo Assim os agricultores mencionaram quais os criteacuterios 205

mais importantes utilizados para a caracterizaccedilatildeo de suas etnovariedades 206

Compilamos uma listagem dessas caracteriacutesticas baseada nas indicaccedilotildees dos 207

agricultores e a partir delas selecionamos os caracteres morfoloacutegicos mais citados para a 208

caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica ldquoin siturdquo tais como cor da folha (cor da folha desenvolvida) olho 209

(cor do broto foliar) cor do talo (cor do peciacuteolo) maniva (cor externa do caule) embriatildeo 210

(protuberacircncia da cicatriz foliar) cor da entrecasca (coacutertex da raiz) e cor miolo (polpa da raiz) 211

(Tabela 1) O objetivo dessa caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica foi indicar como estaacute distribuiacuteda a 212

variaccedilatildeo fenotiacutepica das etnovariedades de mandioca nas comunidades na regiatildeo semiaacuterida de 213

Pernambuco bem como identificar que caracteriacutesticas satildeo mais importantes para distinguir 214

esses grupos no intuito de tentar entender como os agricultores classificam suas variedades de 215

mandioca 216

Nas sete comunidades para cada etnovariedade citada no roccedilado caracterizamos ldquoin 217

siturdquo trecircs indiviacuteduos de M esculentade de cada uma totalizando 171 indiviacuteduos (Aracuatilde=11 218

35

Caratildeo=4 Satildeo Joseacute do Bola=13 Brejo Velho=16 Japaranduba de Baixo=6 Japaranduba de 219

Cima=3 e Lajedo Dantas=4) Fotografamos e avaliamos todos os indiviacuteduos com base em parte 220

dos descritores morfoloacutegicos seguindo recomendaccedilotildees de Fukuda amp Guevara (1998) e aleacutem 221

disso georreferenciamos todas as aacutereas de roccedila 222

Anaacutelise dos dados 223

Analisamos os dados socioeconocircmicos das entrevistas semiestruturadas por meio de 224

estatiacutestica descritiva para explicar os aspectos da realidade econocircmica e social dos agricultores 225

Para identificar se a diversidade intraespeciacutefica da mandioca cultivada localmente eacute 226

influenciada por paracircmetros socioeconocircmicos utilizamos o coeficiente de correlaccedilatildeo de 227

Spearman (Ple005) (Sokal amp Rohlf 1995) 228

Com base na lista livre das variedades de mandioca cultivadas pelos agricultores 229

calculamos a frequecircncia de citaccedilatildeo o ranking e o iacutendice de saliecircncia com o objetivo de 230

identificar quais as mais importantes ou preferidas para as comunidades O iacutendice de saliecircncia 231

considerou a frequecircncia de citaccedilatildeo e o ranking referente ao posicionamento das variedades 232

dentro das listas livres (Thompson amp Juan 2006) As etnovariedades mais citadas e com maior 233

valor de saliecircncia representam as de maior importacircncia ou preferecircncia para as comunidades 234

Anaacutelise de rede 235

Medimos o grau de aninhamento (NODF) para investigar a estrutura de rede de 236

interaccedilatildeo social dos agricultores em funccedilatildeo das variedades cultivadas As matrizes altamente 237

aninhadas apresentam NODF tendendo a 1 caso contraacuterio tentem a ser 0 238

Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 239

Para o estudo das semelhanccedilas e diferenccedilas fenotiacutepicas entre as variedades de mandioca 240

ldquoin siturdquo realizamos anaacutelises multivariadas para identificar possiacuteveis grupos de variedades que 241

compartilham semelhanccedilas entre si 242

36

A anaacutelise de correspondecircncia muacuteltipla (MCA) permitiu identificar como as variedades 243

de mandioca estatildeo ordenadas em funccedilatildeo dos seus descritores etnobotacircnicos As etnovariedades 244

foram plotadas ao longo um plano cartesiano bi ou tridimensional onde a variaccedilatildeo total eacute 245

explicada pelos dois primeiros eixos Complementar a esta anaacutelise realizamos a anaacutelise de 246

agrupamento hieraacuterquico (Cluster) para identificar como estatildeo agrupadas as etnovariedades de 247

acordo seus descritores Conferimos a consistecircncia do dendrograma com coeficiente de 248

correlaccedilatildeo cofeneacutetica conforme Sneath amp Sokal (1973) que quantifica se a correlaccedilatildeo entre a 249

matriz de distacircncias originais e a matriz de distacircncias cofeneacuteticas eacute representativa Para 250

mensurar as dissimilaridades entre as variedades de mandioca foi utilizada a distacircncia 251

euclidiana e com o meacutetodo de Ward 252

Softwares utilizados 253

Para a anaacutelise da lista livre usamos o software ANTROPAC versatildeo 10 O software 254

ANINHADO 30 (Guimaratildees amp Guimaratildees 2006) foi usado para medir o grau de aninhamento 255

da rede Utilizamos o software estatiacutestico R (R core team 2017) para a anaacutelise de correlaccedilatildeo 256

de Spearman com o pacote corrplot (Wei amp Simko 2013) o desenho da rede que descreve a 257

interaccedilatildeo entre os agricultores e as etnovariedades com o pacote bipartite (Dormann et al 258

2017) E com os pacotes FactoMineR (LEcirc et al 2008) factoextra (Kassambara et al 2016) e 259

vegan (Oksanen et al 2017) foram realizadas as anaacutelises de cluster de correspondecircncia 260

muacuteltipla (MCA) e de correlaccedilatildeo coefeneacutetica respectivamente 261

Resultados 262

As diferentes etnovariedades de mandioca encontradas no estudo suprem a demanda 263

local por alimento enquanto outras atendem agraves preferecircncias individuais ou do comeacutercio As 264

variedades que possuem maior rendimento e a farinha produzida apresenta coloraccedilatildeo branca 265

satildeo as de maior valor comercial para os agricultores devido agraves preferecircncias do mercado Jaacute 266

37

outras variedades que satildeo mais moles e apresentam coloraccedilatildeo amarelada natildeo satildeo empregadas 267

na produccedilatildeo de farinha mas sim consumidas cozidas ou assadas A depender da demanda local 268

os agricultores intencionalmente aumentam ou diminuem a frequecircncia de suas variedades nos 269

roccedilados seja por alguma exigecircncia do comeacutercio ou para consumo familiar 270

Nas comunidades os agricultores separam suas variedades de mandioca em dois grupos 271

como observado em outras comunidades na mata Atlacircntica por Emperaire e Peroni (2007) o 272

das ldquomacaxeirasrdquo que satildeo as variedades exploradas basicamente para o consumo familiar sem 273

processo preacutevio de desintoxicaccedilatildeo cujas raiacutezes satildeo consumidas fritas eou cozidas Sendo 274

utilizadas tambeacutem como complemento na dieta dos animais E o grupo das ldquomandiocasrdquo que 275

satildeo as variedades que necessitam de processo preacutevio de desintoxicaccedilatildeo para o consumo 276

utilizadas comumente para a produccedilatildeo de farinha de mandioca Para os agricultores as 277

ldquomandiocasrdquo possuem maior valor comercial pois apresentam maior rendimento e 278

rentabilidade pois a farinha produzida eacute branca e atende as preferencias do comercio local 279

Aleacutem da farinha outros produtos e subprodutos produzidos dentre os quais foram citados 280

ldquotapioca ou gomardquo ldquobijurdquo ou ldquobolo de mandiocardquo satildeo utilizados para o consumo proacuteprio ou 281

eventual comercializaccedilatildeo 282

Os informantes natildeo possuiacuteam conhecimento sobre a origem dos nomes das variedades 283

de mandioca Quanto a compreensatildeo da geraccedilatildeo da diversidade intraespeciacutefica identificamos 284

que apesar de 66 dos agricultores citarem que conhecem variedades fruto de germinaccedilatildeo de 285

suas sementes nenhum deles utiliza as manivas para o plantio por essas variedades de 286

mandioca ldquovoluntaacuteriasrdquo natildeo apresentarem bom rendimento 287

Observamos que existe uma baixa correlaccedilatildeo entre a diversidade de variedades 288

atualmente cultivadas e as variaacuteveis socioeconocircmicas como no caso do nuacutemero de roccedilados 289

(r=028 Ple005) e do tamanho do roccedilado (r=033 Ple005) (Fig 7) Essa baixa correlaccedilatildeo pode 290

38

ser explicada pelo fato de existirem grupos de agricultores que preferem manter as variedades 291

de maior valor econocircmico e de subsistecircncia mesmo com aacutereas maiores de cultivo 292

Verificamos tambeacutem uma correlaccedilatildeo positiva moderada entre o nuacutemero de variedades 293

conhecidas com o nuacutemero de variedades atualmente cultivadas (r=054 Ple005) Na lista livre 294

foram identificadas 22 etnovariedades de mandioca cultivadas (132 citaccedilotildees no total) sendo 295

oito dessas mais citadas com maiores valores de saliecircncia (entre 047 e 0082) (Tabela 2) As 296

etnovariedades ldquoMacaxeira Rosardquo e ldquoMandioca Isabel de Souzardquo exibiram os maiores valores 297

de saliecircncia 047 e 037 respectivamente Logo essas variedades satildeo as mais conhecidas 298

dentro das comunidades com 66 e 48 das citaccedilotildees respectivamente 299

Dentre as etnovariedades citadas 12 foram idiossincraacuteticas pois apresentaram menor 300

frequecircncia de citaccedilatildeo e menores valores de saliecircncia (entre 0032 e 0006) (Tabela 2) 301

Redes de interaccedilatildeo social 302

A rede apresentou uma estrutura aninhada com grau de aninhamento significativamente 303

superior aos modelos nulos (N=3072 Plt0001) para as comunidades sendo um nuacutecleo de 304

etnovariedades altamente conectado aos agricultores (Fig 8) A estrutura aninhada nos permite 305

inferir que existe um grupo de agricultores que cultiva uma maior diversidade de etnovariedades 306

de mandioca em suas roccedilas enquanto que outro subgrupo que tem menor diversidade cultivam 307

as mais comuns ou disponiacuteveis (Cavechia et al 2014) Isso significa que os agricultores locais 308

mesmo em diferentes comunidades cultivam um nuacutecleo de etnovariedades comum entre eles 309

(n=6 Tabela 2) 310

Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 311

Observamos que a maioria dos indiviacuteduos de mandioca satildeo caracterizados por meio de 312

um conjunto de sete caracteres morfoloacutegicos os quais foram citados pelos agricultores como 313

mais importantes para a caracterizaccedilatildeo de suas variedades Nas visitas aos roccedilados registramos 314

39

as etnovariedades atualmente cultivadas e a tabela 3 fornece a lista completa com as 17 315

etnovariedades de mandioca e o local de registro 316

Por meio da anaacutelise de correspondecircncia muacuteltipla as variedades de mandioca foram 317

ordenadas em funccedilatildeo de seus descritores ao longo do primeiro e segundo eixo correspondentes 318

a 3680 da variacircncia total (Fig 9) 319

As variaacuteveis mais correlacionadas e que agruparam as variedades de mandioca no 320

primeiro eixo foram cor da folha desenvolvida (CFD) (r= 07239 Ple0001) cor do coacutertex da 321

raiz (CDR) (r= 06473 Ple0001) cor do broto foliar (CBF) (r= 06880 Ple0001) cor do peciacuteolo 322

(CDP) (r= 05250 Ple005) cor externa do caule (CEC) (r= 06883 Ple005) cor da polpa da 323

raiz (PDR) (r= 02473 Ple005) Para o segundo eixo as variaacuteveis correlacionadas foram cor 324

da folha desenvolvida (CFD) (r= 07220 Ple0001) cor externa do caule (CEC) (r= 08718 325

Ple0001) e cor do peciacuteolo (CDP) (r= 06927 Ple005) 326

O agrupamento de todas as variedades caracterizadas ldquoin siturdquo gerou uma aacutervore 327

hieraacuterquica (dendrograma) (Fig 9) utilizando a distacircncia euclidiana seguindo o criteacuterio de 328

Ward O dendrograma gerado apresentou um coeficiente de correlaccedilatildeo cofeneacutetica r= 06780 329

indicando que existe consistecircncia com os dados originais no agrupamento quanto agrave 330

classificaccedilatildeo e estrutura de tal forma que as variedades foram agrupadas em oito classes as 331

quais foram explicadas pelas variaacuteveis mais significativas descritas na tabela 4 332

O resultado do agrupamento (utilizada a distacircncia euclidiana e com o meacutetodo de Ward) 333

observamos que as etnovariedades de mandioca caracterizadas ldquoin siturdquo foram agrupadas em 334

dois grandes agrupamentos indicados na Fig 10 pelos retacircngulos em vermelho A partir dessa 335

anaacutelise percebemos que os caracteres morfoloacutegicos selecionados pelos agricultores natildeo foram 336

suficientes para separar as variedades de macaxeira e mandioca pois em ambos os 337

agrupamentos encontramos tanto macaxeiras quanto mandiocas 338

40

As variedades da classe 1 foram identificadas pelos agricultores pela cor do peciacuteolo 339

(CDP) verde A classe 2 agrupou as etnoveriedades caracterizadas pela protuberacircncia da cicatriz 340

foliar (PCF) mais protuberante Esse descritor segundo os agricultores era identificado como 341

ldquoembriatildeordquo A classe 3 consiste apenas da variedade ldquoMandioca Pretonardquo indicada pela presenccedila 342

de cor do peciacuteolo (CDP) vermelho A classe 4 agrupou trecircs variedades caracterizadas pelos 343

agricultores pela presenccedila de cor coacutertex da raiz (CDR) rosa e cor da polpa da raiacutez (PDR) branca 344

identificadas como ldquoMacaxeira vermelhardquo ldquoMacaxeira Rosa Brancardquo ldquoMacaxeira Rosardquo As 345

variedades agrupadas na classe 5 foras as variedades de mandioca caracterizadas pelos 346

agricultores por apresentarem cor do coacutertex (CDR) da raiacutez branca A classe 6 agrupou 347

variedades identificadas pelos agricultores pela cor do broto foliar (CBF) verde A classe 7 348

consiste apenas da variedade ldquoMacaxeira Sementerdquo identificada pelos agricultores pela cor do 349

peciacuteolo (CDP) roxo e protuberacircncia da cicatriz foliar pouco proeminente Essa variedade 350

segundo os agricultores era fruto do nascimento espontacircneo no roccedilado poreacutem eles geralmente 351

natildeo utilizam essas variedades por apresentarem apenas uma raiz pequena e de baixo 352

rendimento Na classe 8 as variedades foram identificadas pelos agricultores pela cor do peciacuteolo 353

(CDP) verde amarelado e protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) pouco proeminente As 354

ldquoMandioca Isabel de Souzardquo ldquoMandioca Isabel trecircs galhosrdquo segundo os agricultores se 355

diferenciavam pelo maior nuacutemero de caules presentes na variedade ldquoIsabel trecircs galhosrdquo 356

Discussatildeo 357

As sete comunidades estudadas manejavam um nuacutemero consideraacutevel de variedades 358

locais A quantidade de etnovariedades registradas eacute proacutexima a encontrada por Bender et al 359

(2009) e Cavechia et al (2014) em comunidades na regiatildeo sul e sudeste por Oler e Amorozo 360

(2017) em uma comunidade tradicional na regiatildeo centro-oeste Poreacutem foi quantitativamente 361

inferior quando comparada a estudos como os de Elias et al (2001) e Kawa et al (2013) em 362

comunidades na regiatildeo amazocircnica pois possuiacuteam uma alta diversidade Essa alta diversidade 363

41

na regiatildeo amazocircnica pode estar relacionada com o fato de que essa regiatildeo eacute o provaacutevel centro 364

de origem da mandioca (M esculenta) (Allem 1994) 365

As etnovariedades registradas neste estudo estatildeo disponiacuteveis para a maioria dos 366

agricultores dessa regiatildeo e esse fator favorece a circulaccedilatildeo das etnovariedades entre as 367

comunidades locais Por isso haacute semelhanccedilas das etnovariedades utilizadas entre os agricultores 368

da mesma comunidade e entre comunidades vizinhas 369

Parte dos agricultores optam por manter uma alta frequecircncia de variedades mais 370

utilizadas enquanto que outros optam por manter etnovariedades de baixa frequecircncia 371

Conforme discutido por Amorozo (2013) os agricultores escolhem seu acervo de acordo com 372

as necessidades e contexto em que vivem A reduccedilatildeo da diversidade de etnoveriedades por 373

exemplo pode ser impulsionada por fatores que simplificam o sistema como a seleccedilatildeo de 374

etnovariedades para a produccedilatildeo de farinha resultando no cultivo de poucas ou ateacute de uma uacutenica 375

etnovariedade (Peroni amp Hanazaki 2002) mesmo em aacutereas maiores 376

377

Redes de interaccedilatildeo social 378

Com as anaacutelises de rede demonstramos que os agricultores de diferentes comunidades 379

em uma mesma regiatildeo efetivamente trocam variedades de mandioca entre si corroborando 380

com estudos realizados por Emperaire amp Eloy (2008) Pautasso et al (2012) e Cavechia et al 381

(2014) Nesses estudos os autores tambeacutem consideram que as trocas de etnovariedades por 382

meio da rede de intercacircmbio entre os agricultores eacute um mecanismo fundamental para a 383

manutenccedilatildeo da diversidade local 384

A visualizaccedilatildeo da rede demonstrou que entre as comunidades os agricultores 385

compartilham um nuacutecleo de etnovariedades mais utilizadas dentre as quais estatildeo as de maior 386

valor econocircmico e de subsistecircncia Essas de maior frequecircncia satildeo aquelas altamente produtivas 387

utilizadas pelos agricultores para atenderem agraves demandas de mercado por farinha e para o 388

consumo proacuteprio (Kawa et al 2013) 389

42

No entanto observamos que existe outro nuacutecleo de etnovariedades menos frequentes 390

Essas etnovariedades raras podem ser resultantes do processo de experimentaccedilatildeo ou 391

preferecircncias individuais dos agricultores Outra possiacutevel razatildeo para a baixa frequecircncia de 392

algumas etnovariedades poderia ser explicada pela variaccedilatildeo da nomenclatura pelos 393

agricultores que segundo Peroni amp Hanazaki (2002) pode ocorrer durante o processo de troca 394

e introduccedilatildeo de novas variedades aos roccedilados Ainda assim natildeo descartamos a hipoacutetese de que 395

essas etnovariedades raras possam ser provenientes do cruzamento entre variedades diferentes 396

cultivadas da mesma roccedilado ou em roccedilas vizinhas De acordo com Martins (2005) essas 397

variedades fruto de germinaccedilatildeo expentacircnea satildeo incorporadas aos roccedilados pelos agricultores 398

pela curiosidade em experimentar novas variedades agraves suas coleccedilotildees 399

Nesse estudo admitimos que optar por etnovariedades raras entre as comunidades 400

estudadas eacute um comportamento adotado por agricultores que manejam uma maior diversidade 401

corroborando com os estudos de Cavechia et al (2014) e Emperaire et al (2016) em regiotildees 402

uacutemidas Para esses autores etnovaridedades de baixa frequecircncia representam um subconjunto 403

das de alta frequecircncia cultivadas por agricultores que manteacutem a maior diversidade em seus 404

roccedilados Sendo assim inferimos que no geral entre as comunidades satildeo os agricultores 405

generalistas aqueles que cultivam maior diversidade os responsaacuteveis por incorporar novas 406

etnovariedades aos roccedilados 407

As decisotildees dos agricultores em manter o acervo direcionado principalmente para 408

atender a demanda de mercado por exemplo podem levar a uma homogeneizaccedilatildeo nas roccedilas 409

colocando em risco a manutenccedilatildeo da diversidade local (Peroni amp Hanazaki 2002) Como 410

discutido por Elias et al (2000) os agricultores que selecionam apenas um nuacutemero reduzido e 411

especiacutefico de variedades mais produtivas tendem a fazer com que as variedades menos 412

frequentes desapareccedilam ao longo do tempo Essa tendecircndia pode influenciar na capacidade de 413

43

resiliecircncia do sistema assim como dos agricultores em lidar com possiacuteveis adversidades 414

ambientais que possam ocorrer 415

Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 416

No geral os agricultores demonstraram uma tendecircncia em classificarseparar suas 417

diferentes etnovariedades de mandioca a partir da combinaccedilatildeo de um conjunto de sete 418

caracteres morfoloacutegicos distintos e de faacutecil percepccedilatildeo os quais natildeo tem relaccedilatildeo com o uso 419

como por exemplo a cores das raiacutezes caule e folhas Logo consideramos que esses caracteres 420

morfoloacutegicos podem ser considerados como uma forma de classificaccedilatildeo pelos agricultores 421

baseada na capacidade percepccedilatildeo das diferenccedilas morfoloacutegicas que cada etnovariedades 422

apresenta (Boster 1985) Estes resultados nos levam a entender que entre os agricultores o 423

conhecimento sobre a diversidade da mandioca estaacute relacionado ao conhecimento de 424

caracteriacutesticas morfoloacutegicas consistentes 425

A existecircncia de alguns fenoacutetipos comuns nos permitiu avaliar a classificaccedilatildeo da 426

consistecircncia da taxonomia popular entre os agricultores Por exemplo as etnovariedades 427

ldquoMaxaceira Rosardquo e ldquoMacaxeira Rosa Brancardquo e ldquoMacaxeira vermelhardquo foram agrupadas no 428

mesmo cluster (C4) por apresentaram fenoacutetipos semelhantes Notamos que os agricultores 429

classificaram essas variedades de acordo com os traccedilos morfoloacutegicos mais relevantes como a 430

cor do coacutertex da raiz rosa e cor branca da polpa O mesmo ocorreu com as etnovariedades 431

ldquoMandioca varudardquo ldquoMandioca campina da granderdquo e ldquoMandioca campinardquo caracterizadas 432

pela presenccedila do peciacuteolo verde agrupadas no cluster (C1) 433

A partir dessas evidecircncias consideramos a hipoacutetese de que as variedades mesmo 434

apresentando caracteriacutesticas morfoloacutegicas muito semelhantes estatildeo sujeitas a variaccedilatildeo 435

nomenclatural durante o processo a incorporaccedilatildeo aos roccedilados pelos agricultores pois a 436

capacidade para distinguir e nomear variedades entre os agricultores da mesma regiatildeo pode 437

variar (Sambatti et al 2001 Elias et al 2001 Mekbib 2007) Consideramos tambeacutem que pode 438

44

existir variaccedilatildeo geneacutetica entre os indiviacuteduos identificados por um mesmo nome ou entatildeo que 439

os agricultores datildeo o mesmo nome para variedades diferentes E esta situaccedilatildeo pode levar a uma 440

superestimaccedilatildeo ou subestimaccedilatildeo da diversidade de mandioca cultiva nas aacutereas de estudo 441

Sabemos que a mandioca eacute propagada vegetativamente pelos agricultores por meio de 442

estacas em sistemas de agricultura tradicional No entanto alguns variedades produzem flores 443

e sementes que germinam e podem originar outras variedades ou outros clones por meio de 444

fecundaccedilatildeo cruzada (Elias et al 2001) Nesse contexto a etnovariedade ldquoMacaxeira Sementerdquo 445

presente no cluster (C7) trata-se de um uacutenico indiviacuteduo amostrado em uma roccedila de um dos 446

agricultores Esta apresentava algumas caracteriacutesticas morfoloacutegicas distintas das demais 447

reconhecidas pelo agricultor como por exemplo a produccedilatildeo de uma raiz uacutenica e 448

consequentemente de baixo rendimento Encontramos apenas um indiviacuteduo dessa 449

etnovariedade e nossa hipoacutetese de que esta poderia ter sido originada da germinaccedilatildeo da 450

semente mesmo quando 100 dos informantes declararam natildeo dar qualquer importacircncia e 451

descartar essas ldquovariedades-voluntaacuteriasrdquo foi confirmada pelo agricultor que afirmou que se 452

tratava de uma variedade nascida da germinaccedilatildeo da semente Esse comportamento vai de 453

encontro ao estudo de Fraser et al (2012) pois apesar dos agricultores reportarem nas 454

entrevistas que conhecem essas ldquovariedades-voluntaacuteriasrdquo nenhum agricultor faz o uso delas 455

Peroni et al (1999) e Agre et al (2016) analisando morfologicamente as variedades 456

locais de mandioca mantidas por agricultores em sistemas agriacutecolas tropicais tambeacutem 457

demonstraram que os agricultores satildeo coerentes quanto a separaccedilatildeo e identificaccedilatildeo de suas 458

etnovariedades a partir da formaccedilatildeo de grupos de coesos quanto a nomenclatura local utilizada 459

No entanto para o melhor entendimento dessa diversidade aleacutem da caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica 460

o uso de anaacutelises complementares como anaacutelise molecular seria importante para tentar 461

identificar se esses grupos representam a mesma variedade com nomes distintos ou se satildeo 462

variedades distintas com o mesmo nome 463

45

Conclusatildeo 464

O estudo demonstrou que no sistema de manejo da mandioca ao niacutevel de roccedila em 465

comunidades localizadas na regiatildeo semiaacuterida de Pernambuco compotildee uma diversidade 466

intrespeciacutefica de mandioca para atender agraves demandas econocircmicas e de subsistecircncia das 467

populaccedilotildees locais 468

Com relaccedilatildeo a anaacutelise de rede demostramos que haacute um nuacutecleo de etnovariedades 469

fortemente conectado aos agricultores e sua composiccedilatildeo eacute direcionada pelas preferecircncias e 470

necessidades individuais dos agricultores que foram os fatores responsaacuteveis pelo surgimento 471

da estrutura aninhada observada na anaacutelise rede entre as comunidades deste estudo E esse 472

padratildeo aninhado observado contribui na conservaccedilatildeo das etnovariedades mais comuns mas 473

tambeacutem pode resultar em perda daquelas de menor frequecircncia ao longo do tempo 474

A caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica ldquoin siturdquo nos permitiram inferir que os agricultores 475

reconhecem as diferentes caracteriacutesticas morfoloacutegicas de suas cultivares e satildeo coerentes na 476

separaccedilatildeo de suas variedades de mandioca e macaxeira Entretanto esses resultados sugerem a 477

realizaccedilatildeo de um estudo em niacutevel de diversidade geneacutetica exploratoacuterio para identificar se as 478

consistecircncias morfoloacutegicas refletem em consistecircncias geneacuteticas elucidando assim as possiacuteveis 479

confusotildees atribuiacutedas aos nomes das etnovariedades de mandioca 480

Agradecimentos 481

Agradecemos ao liacuteder comunitaacuterio Alexandre O Nascimento aos agricultores e 482

agricultoras das comunidades pela acolhida confianccedila e pela gentileza de compartilharem 483

conosco seus conhecimentos e contribuiacuterem com este estudo Especialmente a Arlindo Ferreira 484

Edgar Antocircnio Joseacute Sebastiatildeo Juvenal Oliveira e Janete Alves Ao Laboratoacuterio de Ecologia e 485

Evoluccedilatildeo de Sistemas Socioecoloacutegicos (LEA - UFPE) E agradecemos ao CNPq pelo apoio 486

com a bolsa de estudos do primeiro autor 487

46

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Qualis-CAPES 621

B1 em Biodiversidade 622

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642

52

Figuras 643

644

645

Fig 1 Partes do processo de fabricaccedilatildeo de farinha de mandioca Onde a raspagem b e c 646

processo de trituraccedilatildeo e d peneiramento Foto registrada em Abril de 2017 por Mirela Santos 647

648

649

650

c

d

b

a

53

651

Fig 2 Mapa de localizaccedilatildeo geograacutefica dos Municiacutepios de Altinho e Panelas e das comunidades 652

estudadas na regiatildeo semiaacuterida do Estado de Pernambuco (Elaborado por SANTOS 2018) 653

54

654

655

656

657

Fig 3 Processo de fabricaccedilatildeo da farinha de mandioca Apoacutes a colheita as raiacutezes satildeo lavadas 658

raspadas e trituradas (a) A massa extraiacuteda eacute prensada e coada Ao sair da prensa a massa 659

peneirada (b) e em seguida eacute torrada (c) em fornos artesanais ou parcialmente mecanizados 660

Imagem registrada em janeiro de 2017 na Comunidade do Caratildeo por Mirela Santos 661

662

663

a

b c

55

664

Fig 4 a Sede da Comunidade do Caratildeo b Agricultor transportando a palma forrageira que eacute 665

um exemplo de estrateacutegia adaptativa para suprir a falta de alimento dos animais devido agrave seca 666

c Feira-livre que acontece na comunidade a cada quinze dias Imagem registrada em julho de 667

2016 na Comunidade do Caratildeo por Mirela Santos 668

669

670

Fig 5 a O agricultor nos explicava as mudanccedilas que vem fazendo em seus roccedilados para se 671

adaptar aos longos periacuteodos de seca b Quando o agricultor nos mostrava as diferentes 672

etnovariedades que mantinha em sua roccedila c Durante a pesquisa nos explicavam como era feita 673

a colheita da mandioca e como selecionavam as manivas para o proacuteximo plantio Foto registrada 674

em abril de 2017 na Comunidade do Brejo Velho por Mirela Santos 675

a

b c

c b

a

56 676

677

Fig 6 Possiacuteveis estruturas de rede que descrevem as interaccedilotildees dos agricultores (losango) 678

ligados as etnovariedades (ciacuterculos) que cultivam Onde a Aninhada b Modular c Aleatoacuteria 679

(Fonte Cavechia et al 2014 com adaptaccedilotildees) 680

681

682

683

684

685

686

687

688

689

690

691

692

693

694

695

696

697

a c b

57

698

699

700

701

702

703

704

705

706

707

Fig 7 Correlaccedilatildeo de Spearman entre a diversidade de etnovariedades de mandiocas conhecidas 708

como cultivadas e variedades atualmente cultivadas por agricultor e as variaacuteveis 709

socioeconocircmicas Onde Nvc= nuacutemero de citadas como cultivadas Nve= nuacutemero de variedades 710

atualmente cultivadas Esc= escolaridade Id= idade Gen= gecircnero Tr= tamanho do roccedilado 711

Exp= experiecircncia na agricultura Sld= renda Nr= nuacutemero de roccedilados Cores distintivas 712

representam correlaccedilotildees significativas (Ple005) 713

714

58

715

Fig 8 Modelo individual de rede de etnovariedades de mandioca citadas (esquerda) por 716

agricultores como cultivadas (direita) nos Municiacutepios de Altinho e Panelas As redes foram 717

desenhadas com o pacote bipartite (Dormann et al 2017) usando o software R (R CORE 718

TEAM 2017) 719

720

59

721

Fig 9 Anaacutelise de Correspondecircncia Muacuteltipla das 17 etnovariedades de mandioca considerando 722

os sete descritores morfoloacutegicos utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo em roccedilas de 723

agricultores tradicionais de sete comunidades no semiaacuterido de Pernambuco 724

725

726

727

728

729

730

731

732

733

734

735

736

737

McCambadinha

McCampina

McCampinaDaGrande

McCampinaRasteira

McCampinaVaruda

McGauba

McIsabelDeSouza

McIsabelTresGalhos

McOlhoDePombo

McOlhoVerde

McPretinha

McPretona

MxBranca

MxRosa

MxRosaBrancaMxRosaVermelha

MxSemente

CFD_Verde_Arroxeado

CFD_Verde_ClaroCFD_Verde_Escuro

CBF_Roxo

CBF_Verde_ArroxeadoCBF_Verde_Claro

CBF_Verde_Escuro

CDP_Verde

CDP_Verde_Amarelado

CDP_Verde_Avermelhado

CDP_Vermelho

CEC_Cinza

CEC_Dourado

CEC_Laranja

CEC_Marrom_Claro

CEC_Marrom_Escuro

CEC_Prateado

CEC_Verde_AmareladoCicatriz_M

Cicatriz_P

PDR_Branco

PDR_Creme

CDR_BrancoCDR_Creme CDR_Rosa

-4

-2

0

2

4

-4 -2 0 2 4

Dim1 (206)

Dim

2 (

162

)

MCA - Biplot

00

10

Hierarchical Clustering

inertia gain

McC

am

pin

aV

aru

da

McC

am

pin

aD

aG

rande

McC

am

pin

a

McG

auba

McP

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McP

reto

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MxR

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MxR

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MxR

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McC

am

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MxB

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McIsabelT

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McIsabelD

eS

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McO

lhoD

eP

om

bo

00

05

10

15

Hierarchical Classification

Heig

ht

C1 C2 C3 C4 C5 C6 C7 C8

Fig 10 Agrupamento hieraacuterquico das 17 etnovariedades de mandioca caracterizadas de acordo

com os descritores utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo

60

Tabelas 738

739

Tabela 1 Caracteres e estados utilizados pelos agricultores como descritores botacircnicos para 740

caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das etnovariedades de mandioca 741

Caracter Sigla Estados

Folha

Cor da folha desenvolvida CFD 1- verde claro 2- verde escuro 3- verde arroxeado 4- roxo

Cor do broto foliar CBF 1- verde claro 2- verde escuro 3- verde arroxeado 4- roxo

Cor do peciacuteolo CDP 1- verde amarelado 2- verde 3- verde avermelhado 4- roxo

5- vermelho

Caule

Cor externa do caule CEC 1- laranja 2- verde amarelado 3- dourado 4- marrom claro

5- prateado 6- cinza 7- marrom escuro 8- verde

Protuberacircncia da cicatriz foliar PCF 1- pouco proeminente 2- muito proeminente

Raiacutez

Cor da poupa da raiz PDR 1- branco 2- creme

Cor do coacutertex da raiacutez CDR 1- rosa 2- branco 3- creme

742

743

744

745

746

747

748

749

750

751

61

Tabela 2 Lista das 22 etnovariedades de mandiocas citadas (132 citaccedilotildees) como cultivadas nas 752

comunidades pertencentes aos Municiacutepios de Altinho (Caratildeo n=8) e ao Municiacutepio de Panelas 753

(Aracuatilde Satildeo Joseacute do Bola Brejo Velho Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima e Lajeiro 754

Dantas n=21) 755

Etnovariedade Frequecircncia () Ranking Saliecircncia

Macaxeira Rosa 66 179 0472

Mandioca Isabel de Souza 48 179 0372

Mandioca Campina 24 217 0148

Macaxeira Branca 20 210 0134

Macaxeira Rosa branca 18 122 0168

Mandioca Pretona 16 338 0082

Mandioca Cambadinha 12 283 0071

Mandioca Isabel trecircs galhos 10 180 0075

Mandioca Gauacuteba 10 260 0070

Mandioca Pretinha 8 225 0053

Mandioca Peacute de pombo 4 400 0011

Mandioca Olho verde 4 350 0012

Macaxeira Rosinha 4 200 0027

Mandioca Campina varuda 4 200 0032

Mandioca Campina rasteira 4 300 0021

Mandioca Caboquinha 2 500 0007

Macaxeira Rasteira 2 200 0013

Macaxeira Paraacute 2 100 0020

Mandioca Barra ferro 2 300 0007

Mandioca Campina da grande 2 100 0020

Mandioca Olho de pombo 2 300 0010

Mandioca Jasmim 2 600 0006

756

757

758

62

Tabela 3 Lista de 17 etnovariedades atualmente cultivadas nos roccedilados das comunidades em 759

estudo 760

Ca Ar Bo Br Jb Jc Ld

Etnovariedade

Macaxeira Branca x x x x

Macaxeira Rosa

x x x x x x

Macaxeira Rosa Branca x x x x

Macaxeira Rosa Vermelha

x

Macaxeira Semente

x

Mandioca Cambadinha x

x

Mandioca Campina

x

x

x

Mandioca Campina da Grande x

Mandioca Campina Rasteira

x

Mandioca Campina Varuda

x

Mandioca Gauacuteba

x

Mandioca Isabel de Souza

x x x

Mandioca Isabel trecircs Galhos

x

x

Mandioca Olho de Pombo

x

Mandioca Olho Verde

x

Mandioca Pretinha

x

Mandioca Pretona x x x

Comunidades Ca= Caratildeo Ar=Aracuatilde Bo= Satildeo Joseacute do Bola Jb= Japaranduba de Baixo 761

Jc= Japaranduba de Cima Ld= Lajedo Dantas 762

763

764

765

766

767

768

63

Tabela 4 Descriccedilatildeo das classes do agrupamento por meacutetodo de Ward agrupadas pelo conjunto 769

dos descritores mais significativos para a caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das variedades de mandioca 770

Classes Descritores in situ p-valor

C1 Cor do peciacuteolo (CDP) 0016

C2 Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023

C3 Cor do peciacuteolo (CDP) 0012

C4 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0004

Cor da poupa da raiacutez (PDF) 0021

C5 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0003

C6 Cor do broto foliar (CBF) 0002

C7 Cor da folha desenvolvida (CFD) 0004

Cor externa do caule (CEC) 0040

C8 Cor do peciacuteolo (CDP) 0005

Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023

Valores de Ple005 satildeo significativos 771

772

26

Variaccedilatildeo intraespeciacutefica conhecimento e manejo local de mandioca 1

(Manihot esculenta Crantz) no semiaacuterido de Pernambuco Nordeste do 2

Brasil 3

Mirela Nataacutelia Santos12 Jhonatan Rafael Zaacuterate-Salazar1 Reginaldo de Carvalho1 amp 4

Ulysses Paulino de Albuquerque2 5

6

1 Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo em Botacircnica Departamento de Biologia Rua Dom Manuel de Medeiros 7

Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) sn Dois Irmatildeos Recife Pernambuco 52171-8

900 Brasil 9

2 Laboratoacuterio de Ecologia e Evoluccedilatildeo de Sistemas Socioecoloacutegicos (LEA) Departamento de Botacircnica 10

Avenida Professor Moraes Rego Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) sn Cidade 11

Universitaacuteria Recife Pernambuco 50670-901 Brasil 12

Resumo 13

Historicamente a espeacutecie Manihot esculenta Crantz (mandioca) eacute uma espeacutecie de grande valor 14

econocircmico e de subsistecircncia para populaccedilotildees em comunidades tradicionais Variedades de 15

mandioca satildeo selecionadas com base nos interesses dos agricultores conduzindo uma evoluccedilatildeo 16

especiacutefica sobre a geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da agrobiodiversidade local Diante disso a mandioca 17

tornou-se espeacutecie-modelo em estudos que buscam compreender como os padrotildees e estrateacutegias 18

adotadas pelas populaccedilotildees humanas influenciam na diversidade intraespeciacutefica local em regiotildees 19

tropicais No entanto os fatores que influenciam a diversidade da mandioca em regiotildees 20

semiaacuteridas ainda natildeo foram bem documentados Nesse sentido objetivo geral do estudo foi 21

compreender os processos envolvidos na dinacircmica da diversidade agriacutecola em sete 22

comunidades tradicionais localizadas na regiatildeo semiaacuterida do estado de Pernambuco (Nordeste 23

do Brasil) por meio do acesso ao conhecimento dos agricultores quanto as praacuteticas de menejo 24

para tentar quais quais fatores podem estar relacionados a geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da diversidade 25

local Com os resultados da anaacutelise de redes verificamos uma alta diversidade de 26

etnovariedades cultivadas e a sua composiccedilatildeo eacute determinada pelas preferecircncias e 27

comportamentos individuais dos agricultores que foram provavelmente os mecanismos 28

27

responsaacuteveis pelo surgimento da estrutura aninhada observada na anaacutelise rede Esse padratildeo 29

aninhado contribui na conservaccedilatildeo das etnovariedades mais comuns mas tambeacutem pode resultar 30

em perda daquelas de menor frequecircncia ao longo do tempo 31

Palavras-Chave Agricultura tradicional Agricultura de sequeiro Agrobiodiversidade 32

Etnobiologia Plantas alimentiacutecias 33

34

Introduccedilatildeo 35

Historicamente as populaccedilotildees humanas foram acumulando conhecimentos sobre 36

praacuteticas da agricultura desenvolvendo teacutecnicas adaptadas ao meio natural e assim foram 37

domesticando uma grande variedade de cultivos alimentares para garantirem a sua 38

sobrevivecircncia (Balleacute 2006 Clement et al 2010) Essa interaccedilatildeo pessoas-plantas por meio do 39

cultivo e manejo das espeacutecies vegetais considerando tanto os aspectos sociais quanto naturais 40

dos sistemas dinacircmicos eacute uma importante ferramenta para o entendimento do conhecimento 41

dos agricultores sobre os agroecossistemas locais ( Alcorn 1995) 42

Aleacutem disso essas interaccedilotildees vem contribuindo com alteraccedilotildees nas populaccedilotildees vegetais 43

por meio da seleccedilatildeo artificial Essas alteraccedilotildees resultaram em mudanccedilas na estrutura geneacutetica 44

dessas populaccedilotildees que satildeo determinadas geralmente pela seleccedilatildeo de caracteriacutesticas fenotiacutepicas 45

fisioloacutegicas eou econocircmicas das plantas refletidas em classificaccedilotildees e nomenclaturas 46

especiacuteficas baseadas em percepccedilotildees individuais (Carmona amp Casas 2005) 47

Muitos pesquisadores tentam explicar o papel dos agricultores de pequena escala na 48

seleccedilatildeo classificaccedilatildeo e manutenccedilatildeo da agrobiodiversidade local em roccedilas tradicionalmente 49

manejas em regiotildees uacutemidas (Emperaire amp Peroni 2007 Emperaire amp Eloy 2008 Marchetti et 50

al 2013) Essas roccedila satildeo aacutereas de cultivo caracterizadas por conter uma alta diversidade 51

intraespeciacutefica de espeacutecies (Martins 2005) Dentre elas a Manihot esculenta Crantz 52

28

(mandioca) Euphorbiaceae em sua diversidade de etnovariedades eacute a espeacutecie mais importante 53

sob ponto de vista econocircmico e de subsistecircncia para as populaccedilotildees locais e mais cultivada 54

devido a sua grande adaptabilidade ambiental e baixos custos de gestatildeo (Elias et al 2001) 55

A alta diversidade da mandioca nessas aacutereas pode ser atribuiacuteda agrave possibilidade de 56

introduccedilatildeo de novas variedades via reproduccedilatildeo sexuada associada a ecologia da espeacutecie Esse 57

mecanismo permite o fluxo gecircnico entre as variedades de mandioca cultivadas do mesmo local 58

e entre estas com variedades de locais vizinhos (Pujol et al 2007) Outro mecanismo que 59

favorece essa diversidade eacute agrave circulaccedilatildeo de material propagativo por meio redes sociais de troca 60

variedades entre os agricultores (Pujol et al 2005 Emperaire amp Peroni 2007 Clement et al 61

2010) Esse mecanismo de troca eacute fundamental para o estabelecimento de interaccedilotildees entre as 62

diferentes aacutereas de roccedila promovendo oportunidade de seleccedilatildeo e cruzamento entre os diferentes 63

conjuntos de variedades aleacutem de permitir que este conjunto seja conservado (Emperaire amp Eloy 64

2008) 65

Diante desse cenaacuterio podemos observar que a agrobiodiversidade local natildeo eacute fruto 66

apenas de fatores naturais mas eacute tambeacutem influenciada pelas caracteriacutesticas culturais e 67

socioeconocircmica das populaccedilotildees locais refletidas especialmente no conhecimento e manejo 68

local Nesse sentido o presente estudo visa investigar as interaccedilotildees entre agricultores 69

tradicionais de comunidades rurais estabelecidas na regiatildeo semiaacuterida de Pernambuco 70

O objetivo geral eacute compreender os processos envolvidos na dinacircmica da diversidade 71

agriacutecola por meio do acesso ao conhecimento dos agricultores quanto as praacuteticas de menejo e 72

entender quais quais fatores podem estar relacionados a geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da diversidade 73

local Para esse estudo a mandioca foi escolhida como modelo devida agrave sua importacircncia 74

econocircmica e de subsistecircncia para comunidades locais Os objetivos especiacuteficos foram (i) 75

caracterizar o manejo da agricultura de sequeiro bem como analisar se os paracircmetros 76

socioeconocircmicos influenciam na diversidade local (ii) registrar as etnovariedades atualmente 77

29

cultivadas e identificar os diferentes criteacuterios morfoloacutegicos utilizados pelos agricultores para a 78

seleccedilatildeo e classificaccedilatildeo das etnovariedadese (iii) descrever a estrutura da rede de interaccedilatildeo entre 79

os agricultores e a diversidade de etnovariedades de mandioca cultivadas para tentar entender 80

como essas relaccedilotildees podem influenciar na manutenccedilatildeo ou perda da diversidade local 81

Material e meacutetodos 82

Aacutereas de estudo 83

Amostramos sete comunidades rurais estabelecidas na regiatildeo semiaacuterida de 84

Pernambuco Nordeste do Brasil Uma das comunidades (Caratildeo) pertence ao Municiacutepio de 85

Altinho (ldquo8deg 29rsquo 10rdquo S e 36deg 03rsquo 49rdquo W) e as demais (Satildeo Joseacute do Bola Brejo velho 86

Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima Lajedo Dantas e Aracuatilde) ao Municiacutepio de 87

Panelas (8 deg 39 48 S e 36 deg 01 23 W) (Fig 2) 88

O modelo agriacutecola adotado na regiatildeo segue o sistema tradicional de sequeiro4 e todas 89

as comunidades em estudo possuem histoacuterico de cultivo de mandioca (M esculenta) As aacutereas 90

de cultivo satildeo estabelecidas por unidade familiar e as atividades satildeo realizadas em sua maioria 91

por homens tendo cada agricultor cerca de um a dois hectares de aacuterea para plantio Aleacutem da 92

mandioca os cultivos mais utilizados na comunidades satildeo milho (Zea mays) e feijatildeo (Phaseolus 93

sp) 94

Para os membros das comunidades a produccedilatildeo da farinha de mandioca (Fig 3) eacute uma 95

das atividades agriacutecolas mais importantes tanto pelo seu papel na dieta alimentar quanto pela 96

importacircncia social e econocircmica 97

Caracteriacutesticas das comunidades do estudo 98

A comunidade do Caratildeo localiza-se sob domiacutenio de Caatinga caracterizado por climas 99

quentes e secos com regimes escassos de chuvas correspondente ao tipo BSrsquoh segundo a 100

4 Eacute o cultivo praticado sem irrigaccedilatildeo em regiotildees onde a pluviosidade eacute diminuta

30

classificaccedilatildeo climaacutetica de Koumlppen A vegetaccedilatildeo eacute composto por espeacutecies perenes que 101

conseguem sobreviver mesmo em periacuteodos de seca e espeacutecies anuais que aparecem apenas em 102

periacuteodos com chuva (Cruz et al 2013) 103

De acordo os dados de precipitaccedilatildeo do Laboratoacuterio de Anaacutelise e Processamento de 104

Imagens de Sateacutelites (LAPIS) no ano de 2012 foi registrada a menor meacutedia anual de 105

precipitaccedilatildeo dos uacuteltimos 10 anos para essa regiatildeo (3784 mm) Essa realidade ambiental quando 106

comparada com estudo realizado por de Sieber e colaboradores (2011) na mesma comunidade 107

observa-se que houve uma diminuiccedilatildeo considerada das praacuteticas agriacutecolas realizadas pelos 108

membros da comunidade culminando em uma seacuterie de prejuiacutezos aos agricultores como a perda 109

de plantaccedilotildees e animais Essa perda de produtividade afetou a estrutura econocircmica da 110

comunidade uma vez que a principal fonte de subsistecircncia das famiacutelias eacute a agricultura 111

Associada as atividades agriacutecolas os moradores complementam a dieta e a renda 112

familiar com a venda dos excedentes da produccedilatildeo em feiras-livres ou centros comerciais da 113

regiatildeo (Cruz et al 2013) E com a pecuaacuteria de pequena escala bovina caprina e com avicultura 114

No entanto a diminuiccedilatildeo da forragem natural e cultivada causada pela escassez de chuvas 115

associada aos elevados custos envolvidos na compra de raccedilatildeo levou muitos animais agrave morte 116

(Fig 4) 117

No Municiacutepio de Altinho a comunidade do Caratildeo foi inicialmente escolhida devido ao 118

reconhecimento preacutevio do registro de agricultores realizado em estudos desenvolvidos pelo 119

nosso grupo de pesquisa facilitando assim o acesso agraves informaccedilotildees necessaacuterias para o 120

desenvolvimento da pesquisa 121

As comunidades Aracuatilde Brejo Velho Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima 122

Lajedo Dandas e Satildeo Joseacute do Bola amostradas no estudo pertencem ao Municiacutepio de Panelas 123

que se limita ao Norte com o Municiacutepio de Altinho Essas comunidades estatildeo localizadas em 124

31

no domiacutenio morfoclimaacutetico de Caatinga O clima eacute do tipo semiaacuterido Bsrsquoh segundo a 125

classificaccedilatildeo climaacutetica de Koumleppen 126

A maior parte dos membros dessas comunidades assim como no Caratildeo tecircm como 127

principal fonte de subsistecircncia a agricultura de sequeiro principalmente o cultivo da mandioca 128

(Fig 5) Como renda extra a pecuaacuteria de pequeno porte com criaccedilatildeo bovina caprina e 129

avicultura sendo os excedentes dos alimentos produzidos vendidos em feiras locais ou para 130

escolas 131

As atividades agriacutecolas entre as comunidades tambeacutem foram duramente afetadas pela 132

seca na regiatildeo nos uacuteltimos anos A escassez de chuvas desestimulou o plantio a produccedilatildeo de 133

mandioca foi fortemente comprometida e a colheita foi adiada devido ao subdesenvolvimento 134

das raiacutezes gerando impactos econocircmicos para os membros das comunidades 135

As comunidades amostradas neste muniacutecipio foram escolhidas em funccedilatildeo das 136

indicaccedilotildees dos agricultores entrevistados a princiacutepio na comunidade do Caratildeo que reportaram 137

manter viacutenculos sociais com os agricultores do municiacutepio vizinho 138

Coleta de dados 139

Acessamos as comunidades com a ajuda de um liacuteder comunitaacuterio (Alexandre O 140

Nascimento) em companhia de outros pesquisadores que desenvolviam pesquisas na regiatildeo 141

Previamente as entrevistas todos objetivos e procedimentos para a realizaccedilatildeo da pesquisa foram 142

apresentados aos entrevistados e todos que aceitaram participar foram convidados a assinar um 143

Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) de acordo com a Resoluccedilatildeo 46612 do 144

Conselho Nacional de Sauacutede concordando com a realizaccedilatildeo das entrevistas e avaliaccedilotildees 145

morfoloacutegicas em campo O presente trabalho foi submetido ao Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa da 146

Universidade de Pernambuco (UPE) 147

32

Em todas as comunidades o meacutetodo de acesso ao informante foi o mesmo a partir do 148

primeiro contato com um informante-chave identificamos outros potenciais agricultores 149

seguindo a teacutecnica de ldquobola de neverdquo (Albuquerque et al 2014a) Esse meacutetodo consistiu na 150

amostragem intencional dos participantes e nesse particular os agricultores chefes de famiacutelia 151

(ge 18 anos) da regiatildeo que declararam cultivar mandioca (M esculenta) em suas roccedilas 152

Reunimos informaccedilotildees socioeconocircmicas desses agricultores tais como nome idade gecircnero 153

escolaridade renda experiecircncia na agricultura e tamanho da aacuterea de cultivo para tentar 154

identificar se esses paracircmetros socioeconocircmicos tecircm uma relaccedilatildeo com a agrobiodiversidade 155

local 156

Em seguida conduzimos entrevistas semiestruturadas (Albuquerque et al 2014b) com 157

o objetivo de caracterizar o modo de vida dos agricultores o manejo da agricultura bem como 158

obter dados sobre o conhecimento uso e caracterizaccedilatildeo das etnovariedades de mandioca 159

5cultivadas Aleacutem disso neste momento tambeacutem aplicamos a teacutecnica da lista livre 160

(Albuquerque et al 2014b) a fim de registrar as variedades de mandioca atualmente cultivadas 161

pelos agricultores e identificar as de maior importacircncia local Apoacutes as entrevistas realizamos 162

visitas aos roccedilados para o registro fotograacutefico georreferenciamento das roccedilas e caracterizaccedilatildeo 163

morfoloacutegica das variedades cultivadas 164

Entrevistamos 50 agricultores no total distribuiacutedos nas sete comunidades Caratildeo (3) 165

Satildeo Joseacute do Bola (10) Brejo velho (7) Japaranduba de Baixo (7) Japaranduba de Cima (8) 166

Lajedo Dantas (9) e Aracuatilde (6) Destes 10 satildeo mulheres e 40 homens com idade variando entre 167

31 e 82 anos A maioria dos entrevistados natildeo apresentava instruccedilatildeo formal (46) mais da 168

metade eram aposentados (56) e os demais apresentaram renda inferior a um salaacuterio miacutenimo 169

5 Entende-se por etnovariedade de mandioca o conjunto de variedades intraespeciacuteficas de mandioca (M esculenta)

reconhecidas pelos agricultores por nomenclatura popular local (Peroni 2004)

33

O tempo meacutedio de experiecircncia na agricultura foi de 40 anos Cada agricultor possui entre um e 170

dois roccedilados (aacuterea de plantio) com aproximadamente um a dois hectares 171

Redes de interaccedilatildeo social 172

Confeccionamos a rede que descreve as interaccedilotildees entre os agricultores e as 173

etnovariedades cultivadas a partir de uma matriz de incidecircncia R (presenccedilaausecircncia) onde nas 174

linhas estavam as etnovariedades de mandioca cultivadas (j) e nas colunas os agricultores locais 175

(i) O elemento Rij dessa matriz foi 1 (um) no caso de a etnovariedade j ser cultivada pelo 176

agricultor i caso contraacuterio seria atribuiacutedo 0 (zero) As interaccedilotildees entre os agricultores e as 177

etnovariedades foram descritas em dois modos (Pires et al 2011) onde os ldquonoacutesrdquo da esquerda 178

representam os agricultores que foram vinculados aos ldquonoacutesrdquo da direita representados pelas 179

etnovariedades citadas durante as entrevistas Esses ldquonoacutesrdquo seriam o espelho das decisotildees dos 180

agricultores em manter um determinado conjunto local de etnovariedades em suas roccedilas 181

Avaliamos a estrutura da rede que conecta os agricultores agraves etnovariedades cultivadas 182

a partir de trecircs cenaacuterios hipoteacuteticos (Fig 6) segundo Cachevia et al (2014) No primeiro se os 183

agricultores apresentassem diferentes graus de seletividade para a utilizaccedilatildeo de suas 184

etnovariedades a estrutura seria aninhada (Fig 6a) Isso significa que alguns agricultores 185

cultivam vaacuterias etnovariedades enquanto que outros cultivam o subconjunto mais 186

disponiacutevelcomum dessas etnovariedades Em segundo lugar se a rede apresentasse uma 187

estrutura modular (Fig 6b) significaria que os agricultores apresentam semelhanccedila na seleccedilatildeo 188

do recurso ou seja subgrupos de agricultores cultivam subgrupos distintos de etnovariedades 189

regionalmente disponiacuteveiscomuns E o terceiro se os agricultores natildeo apresentassem 190

preferecircncias quanto a seleccedilatildeo das etnovariedades entatildeo a rede apresentaria uma estrutura 191

aleatoacuteria (Fig 6c) 192

O objetivo da anaacutelise de rede nesse estudo foi tentar entender se o conjunto de 193

etnovariedades presentes no local do estudo constituem uma subamostra de um conjunto mais 194

34

amplo no caso de um alto grau de aninhamento ou se a sua composiccedilatildeo eacute determinada por 195

variaacuteveis locais (Ulrich 2008) Onde as conexotildees entre os informantes e as etnovariedades 196

representam as decisotildees dos agricultores de manter um conjunto determinado de variedades de 197

mandioca dentre as comunidades Esta anaacutelise tambeacutem nos permitiu identificar quais os nuacutecleos 198

de etnovariedades que apresentam maior conexatildeo com os diferentes perfis dos agricultores 199

Diversidade fenotiacutepica 200

Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 201

Apoacutes as entrevistas buscamos identificar quais os caracteres morfoloacutegicos considerados 202

mais importantes para a diferenciaccedilatildeo das etnovariedades de mandioca a partir do seguinte 203

questionamento ldquoQuais as diferenccedilas que vocecirc reconhece para separar uma qualidade de 204

mandioca (variedade) de uma outrardquo Assim os agricultores mencionaram quais os criteacuterios 205

mais importantes utilizados para a caracterizaccedilatildeo de suas etnovariedades 206

Compilamos uma listagem dessas caracteriacutesticas baseada nas indicaccedilotildees dos 207

agricultores e a partir delas selecionamos os caracteres morfoloacutegicos mais citados para a 208

caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica ldquoin siturdquo tais como cor da folha (cor da folha desenvolvida) olho 209

(cor do broto foliar) cor do talo (cor do peciacuteolo) maniva (cor externa do caule) embriatildeo 210

(protuberacircncia da cicatriz foliar) cor da entrecasca (coacutertex da raiz) e cor miolo (polpa da raiz) 211

(Tabela 1) O objetivo dessa caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica foi indicar como estaacute distribuiacuteda a 212

variaccedilatildeo fenotiacutepica das etnovariedades de mandioca nas comunidades na regiatildeo semiaacuterida de 213

Pernambuco bem como identificar que caracteriacutesticas satildeo mais importantes para distinguir 214

esses grupos no intuito de tentar entender como os agricultores classificam suas variedades de 215

mandioca 216

Nas sete comunidades para cada etnovariedade citada no roccedilado caracterizamos ldquoin 217

siturdquo trecircs indiviacuteduos de M esculentade de cada uma totalizando 171 indiviacuteduos (Aracuatilde=11 218

35

Caratildeo=4 Satildeo Joseacute do Bola=13 Brejo Velho=16 Japaranduba de Baixo=6 Japaranduba de 219

Cima=3 e Lajedo Dantas=4) Fotografamos e avaliamos todos os indiviacuteduos com base em parte 220

dos descritores morfoloacutegicos seguindo recomendaccedilotildees de Fukuda amp Guevara (1998) e aleacutem 221

disso georreferenciamos todas as aacutereas de roccedila 222

Anaacutelise dos dados 223

Analisamos os dados socioeconocircmicos das entrevistas semiestruturadas por meio de 224

estatiacutestica descritiva para explicar os aspectos da realidade econocircmica e social dos agricultores 225

Para identificar se a diversidade intraespeciacutefica da mandioca cultivada localmente eacute 226

influenciada por paracircmetros socioeconocircmicos utilizamos o coeficiente de correlaccedilatildeo de 227

Spearman (Ple005) (Sokal amp Rohlf 1995) 228

Com base na lista livre das variedades de mandioca cultivadas pelos agricultores 229

calculamos a frequecircncia de citaccedilatildeo o ranking e o iacutendice de saliecircncia com o objetivo de 230

identificar quais as mais importantes ou preferidas para as comunidades O iacutendice de saliecircncia 231

considerou a frequecircncia de citaccedilatildeo e o ranking referente ao posicionamento das variedades 232

dentro das listas livres (Thompson amp Juan 2006) As etnovariedades mais citadas e com maior 233

valor de saliecircncia representam as de maior importacircncia ou preferecircncia para as comunidades 234

Anaacutelise de rede 235

Medimos o grau de aninhamento (NODF) para investigar a estrutura de rede de 236

interaccedilatildeo social dos agricultores em funccedilatildeo das variedades cultivadas As matrizes altamente 237

aninhadas apresentam NODF tendendo a 1 caso contraacuterio tentem a ser 0 238

Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 239

Para o estudo das semelhanccedilas e diferenccedilas fenotiacutepicas entre as variedades de mandioca 240

ldquoin siturdquo realizamos anaacutelises multivariadas para identificar possiacuteveis grupos de variedades que 241

compartilham semelhanccedilas entre si 242

36

A anaacutelise de correspondecircncia muacuteltipla (MCA) permitiu identificar como as variedades 243

de mandioca estatildeo ordenadas em funccedilatildeo dos seus descritores etnobotacircnicos As etnovariedades 244

foram plotadas ao longo um plano cartesiano bi ou tridimensional onde a variaccedilatildeo total eacute 245

explicada pelos dois primeiros eixos Complementar a esta anaacutelise realizamos a anaacutelise de 246

agrupamento hieraacuterquico (Cluster) para identificar como estatildeo agrupadas as etnovariedades de 247

acordo seus descritores Conferimos a consistecircncia do dendrograma com coeficiente de 248

correlaccedilatildeo cofeneacutetica conforme Sneath amp Sokal (1973) que quantifica se a correlaccedilatildeo entre a 249

matriz de distacircncias originais e a matriz de distacircncias cofeneacuteticas eacute representativa Para 250

mensurar as dissimilaridades entre as variedades de mandioca foi utilizada a distacircncia 251

euclidiana e com o meacutetodo de Ward 252

Softwares utilizados 253

Para a anaacutelise da lista livre usamos o software ANTROPAC versatildeo 10 O software 254

ANINHADO 30 (Guimaratildees amp Guimaratildees 2006) foi usado para medir o grau de aninhamento 255

da rede Utilizamos o software estatiacutestico R (R core team 2017) para a anaacutelise de correlaccedilatildeo 256

de Spearman com o pacote corrplot (Wei amp Simko 2013) o desenho da rede que descreve a 257

interaccedilatildeo entre os agricultores e as etnovariedades com o pacote bipartite (Dormann et al 258

2017) E com os pacotes FactoMineR (LEcirc et al 2008) factoextra (Kassambara et al 2016) e 259

vegan (Oksanen et al 2017) foram realizadas as anaacutelises de cluster de correspondecircncia 260

muacuteltipla (MCA) e de correlaccedilatildeo coefeneacutetica respectivamente 261

Resultados 262

As diferentes etnovariedades de mandioca encontradas no estudo suprem a demanda 263

local por alimento enquanto outras atendem agraves preferecircncias individuais ou do comeacutercio As 264

variedades que possuem maior rendimento e a farinha produzida apresenta coloraccedilatildeo branca 265

satildeo as de maior valor comercial para os agricultores devido agraves preferecircncias do mercado Jaacute 266

37

outras variedades que satildeo mais moles e apresentam coloraccedilatildeo amarelada natildeo satildeo empregadas 267

na produccedilatildeo de farinha mas sim consumidas cozidas ou assadas A depender da demanda local 268

os agricultores intencionalmente aumentam ou diminuem a frequecircncia de suas variedades nos 269

roccedilados seja por alguma exigecircncia do comeacutercio ou para consumo familiar 270

Nas comunidades os agricultores separam suas variedades de mandioca em dois grupos 271

como observado em outras comunidades na mata Atlacircntica por Emperaire e Peroni (2007) o 272

das ldquomacaxeirasrdquo que satildeo as variedades exploradas basicamente para o consumo familiar sem 273

processo preacutevio de desintoxicaccedilatildeo cujas raiacutezes satildeo consumidas fritas eou cozidas Sendo 274

utilizadas tambeacutem como complemento na dieta dos animais E o grupo das ldquomandiocasrdquo que 275

satildeo as variedades que necessitam de processo preacutevio de desintoxicaccedilatildeo para o consumo 276

utilizadas comumente para a produccedilatildeo de farinha de mandioca Para os agricultores as 277

ldquomandiocasrdquo possuem maior valor comercial pois apresentam maior rendimento e 278

rentabilidade pois a farinha produzida eacute branca e atende as preferencias do comercio local 279

Aleacutem da farinha outros produtos e subprodutos produzidos dentre os quais foram citados 280

ldquotapioca ou gomardquo ldquobijurdquo ou ldquobolo de mandiocardquo satildeo utilizados para o consumo proacuteprio ou 281

eventual comercializaccedilatildeo 282

Os informantes natildeo possuiacuteam conhecimento sobre a origem dos nomes das variedades 283

de mandioca Quanto a compreensatildeo da geraccedilatildeo da diversidade intraespeciacutefica identificamos 284

que apesar de 66 dos agricultores citarem que conhecem variedades fruto de germinaccedilatildeo de 285

suas sementes nenhum deles utiliza as manivas para o plantio por essas variedades de 286

mandioca ldquovoluntaacuteriasrdquo natildeo apresentarem bom rendimento 287

Observamos que existe uma baixa correlaccedilatildeo entre a diversidade de variedades 288

atualmente cultivadas e as variaacuteveis socioeconocircmicas como no caso do nuacutemero de roccedilados 289

(r=028 Ple005) e do tamanho do roccedilado (r=033 Ple005) (Fig 7) Essa baixa correlaccedilatildeo pode 290

38

ser explicada pelo fato de existirem grupos de agricultores que preferem manter as variedades 291

de maior valor econocircmico e de subsistecircncia mesmo com aacutereas maiores de cultivo 292

Verificamos tambeacutem uma correlaccedilatildeo positiva moderada entre o nuacutemero de variedades 293

conhecidas com o nuacutemero de variedades atualmente cultivadas (r=054 Ple005) Na lista livre 294

foram identificadas 22 etnovariedades de mandioca cultivadas (132 citaccedilotildees no total) sendo 295

oito dessas mais citadas com maiores valores de saliecircncia (entre 047 e 0082) (Tabela 2) As 296

etnovariedades ldquoMacaxeira Rosardquo e ldquoMandioca Isabel de Souzardquo exibiram os maiores valores 297

de saliecircncia 047 e 037 respectivamente Logo essas variedades satildeo as mais conhecidas 298

dentro das comunidades com 66 e 48 das citaccedilotildees respectivamente 299

Dentre as etnovariedades citadas 12 foram idiossincraacuteticas pois apresentaram menor 300

frequecircncia de citaccedilatildeo e menores valores de saliecircncia (entre 0032 e 0006) (Tabela 2) 301

Redes de interaccedilatildeo social 302

A rede apresentou uma estrutura aninhada com grau de aninhamento significativamente 303

superior aos modelos nulos (N=3072 Plt0001) para as comunidades sendo um nuacutecleo de 304

etnovariedades altamente conectado aos agricultores (Fig 8) A estrutura aninhada nos permite 305

inferir que existe um grupo de agricultores que cultiva uma maior diversidade de etnovariedades 306

de mandioca em suas roccedilas enquanto que outro subgrupo que tem menor diversidade cultivam 307

as mais comuns ou disponiacuteveis (Cavechia et al 2014) Isso significa que os agricultores locais 308

mesmo em diferentes comunidades cultivam um nuacutecleo de etnovariedades comum entre eles 309

(n=6 Tabela 2) 310

Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 311

Observamos que a maioria dos indiviacuteduos de mandioca satildeo caracterizados por meio de 312

um conjunto de sete caracteres morfoloacutegicos os quais foram citados pelos agricultores como 313

mais importantes para a caracterizaccedilatildeo de suas variedades Nas visitas aos roccedilados registramos 314

39

as etnovariedades atualmente cultivadas e a tabela 3 fornece a lista completa com as 17 315

etnovariedades de mandioca e o local de registro 316

Por meio da anaacutelise de correspondecircncia muacuteltipla as variedades de mandioca foram 317

ordenadas em funccedilatildeo de seus descritores ao longo do primeiro e segundo eixo correspondentes 318

a 3680 da variacircncia total (Fig 9) 319

As variaacuteveis mais correlacionadas e que agruparam as variedades de mandioca no 320

primeiro eixo foram cor da folha desenvolvida (CFD) (r= 07239 Ple0001) cor do coacutertex da 321

raiz (CDR) (r= 06473 Ple0001) cor do broto foliar (CBF) (r= 06880 Ple0001) cor do peciacuteolo 322

(CDP) (r= 05250 Ple005) cor externa do caule (CEC) (r= 06883 Ple005) cor da polpa da 323

raiz (PDR) (r= 02473 Ple005) Para o segundo eixo as variaacuteveis correlacionadas foram cor 324

da folha desenvolvida (CFD) (r= 07220 Ple0001) cor externa do caule (CEC) (r= 08718 325

Ple0001) e cor do peciacuteolo (CDP) (r= 06927 Ple005) 326

O agrupamento de todas as variedades caracterizadas ldquoin siturdquo gerou uma aacutervore 327

hieraacuterquica (dendrograma) (Fig 9) utilizando a distacircncia euclidiana seguindo o criteacuterio de 328

Ward O dendrograma gerado apresentou um coeficiente de correlaccedilatildeo cofeneacutetica r= 06780 329

indicando que existe consistecircncia com os dados originais no agrupamento quanto agrave 330

classificaccedilatildeo e estrutura de tal forma que as variedades foram agrupadas em oito classes as 331

quais foram explicadas pelas variaacuteveis mais significativas descritas na tabela 4 332

O resultado do agrupamento (utilizada a distacircncia euclidiana e com o meacutetodo de Ward) 333

observamos que as etnovariedades de mandioca caracterizadas ldquoin siturdquo foram agrupadas em 334

dois grandes agrupamentos indicados na Fig 10 pelos retacircngulos em vermelho A partir dessa 335

anaacutelise percebemos que os caracteres morfoloacutegicos selecionados pelos agricultores natildeo foram 336

suficientes para separar as variedades de macaxeira e mandioca pois em ambos os 337

agrupamentos encontramos tanto macaxeiras quanto mandiocas 338

40

As variedades da classe 1 foram identificadas pelos agricultores pela cor do peciacuteolo 339

(CDP) verde A classe 2 agrupou as etnoveriedades caracterizadas pela protuberacircncia da cicatriz 340

foliar (PCF) mais protuberante Esse descritor segundo os agricultores era identificado como 341

ldquoembriatildeordquo A classe 3 consiste apenas da variedade ldquoMandioca Pretonardquo indicada pela presenccedila 342

de cor do peciacuteolo (CDP) vermelho A classe 4 agrupou trecircs variedades caracterizadas pelos 343

agricultores pela presenccedila de cor coacutertex da raiz (CDR) rosa e cor da polpa da raiacutez (PDR) branca 344

identificadas como ldquoMacaxeira vermelhardquo ldquoMacaxeira Rosa Brancardquo ldquoMacaxeira Rosardquo As 345

variedades agrupadas na classe 5 foras as variedades de mandioca caracterizadas pelos 346

agricultores por apresentarem cor do coacutertex (CDR) da raiacutez branca A classe 6 agrupou 347

variedades identificadas pelos agricultores pela cor do broto foliar (CBF) verde A classe 7 348

consiste apenas da variedade ldquoMacaxeira Sementerdquo identificada pelos agricultores pela cor do 349

peciacuteolo (CDP) roxo e protuberacircncia da cicatriz foliar pouco proeminente Essa variedade 350

segundo os agricultores era fruto do nascimento espontacircneo no roccedilado poreacutem eles geralmente 351

natildeo utilizam essas variedades por apresentarem apenas uma raiz pequena e de baixo 352

rendimento Na classe 8 as variedades foram identificadas pelos agricultores pela cor do peciacuteolo 353

(CDP) verde amarelado e protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) pouco proeminente As 354

ldquoMandioca Isabel de Souzardquo ldquoMandioca Isabel trecircs galhosrdquo segundo os agricultores se 355

diferenciavam pelo maior nuacutemero de caules presentes na variedade ldquoIsabel trecircs galhosrdquo 356

Discussatildeo 357

As sete comunidades estudadas manejavam um nuacutemero consideraacutevel de variedades 358

locais A quantidade de etnovariedades registradas eacute proacutexima a encontrada por Bender et al 359

(2009) e Cavechia et al (2014) em comunidades na regiatildeo sul e sudeste por Oler e Amorozo 360

(2017) em uma comunidade tradicional na regiatildeo centro-oeste Poreacutem foi quantitativamente 361

inferior quando comparada a estudos como os de Elias et al (2001) e Kawa et al (2013) em 362

comunidades na regiatildeo amazocircnica pois possuiacuteam uma alta diversidade Essa alta diversidade 363

41

na regiatildeo amazocircnica pode estar relacionada com o fato de que essa regiatildeo eacute o provaacutevel centro 364

de origem da mandioca (M esculenta) (Allem 1994) 365

As etnovariedades registradas neste estudo estatildeo disponiacuteveis para a maioria dos 366

agricultores dessa regiatildeo e esse fator favorece a circulaccedilatildeo das etnovariedades entre as 367

comunidades locais Por isso haacute semelhanccedilas das etnovariedades utilizadas entre os agricultores 368

da mesma comunidade e entre comunidades vizinhas 369

Parte dos agricultores optam por manter uma alta frequecircncia de variedades mais 370

utilizadas enquanto que outros optam por manter etnovariedades de baixa frequecircncia 371

Conforme discutido por Amorozo (2013) os agricultores escolhem seu acervo de acordo com 372

as necessidades e contexto em que vivem A reduccedilatildeo da diversidade de etnoveriedades por 373

exemplo pode ser impulsionada por fatores que simplificam o sistema como a seleccedilatildeo de 374

etnovariedades para a produccedilatildeo de farinha resultando no cultivo de poucas ou ateacute de uma uacutenica 375

etnovariedade (Peroni amp Hanazaki 2002) mesmo em aacutereas maiores 376

377

Redes de interaccedilatildeo social 378

Com as anaacutelises de rede demonstramos que os agricultores de diferentes comunidades 379

em uma mesma regiatildeo efetivamente trocam variedades de mandioca entre si corroborando 380

com estudos realizados por Emperaire amp Eloy (2008) Pautasso et al (2012) e Cavechia et al 381

(2014) Nesses estudos os autores tambeacutem consideram que as trocas de etnovariedades por 382

meio da rede de intercacircmbio entre os agricultores eacute um mecanismo fundamental para a 383

manutenccedilatildeo da diversidade local 384

A visualizaccedilatildeo da rede demonstrou que entre as comunidades os agricultores 385

compartilham um nuacutecleo de etnovariedades mais utilizadas dentre as quais estatildeo as de maior 386

valor econocircmico e de subsistecircncia Essas de maior frequecircncia satildeo aquelas altamente produtivas 387

utilizadas pelos agricultores para atenderem agraves demandas de mercado por farinha e para o 388

consumo proacuteprio (Kawa et al 2013) 389

42

No entanto observamos que existe outro nuacutecleo de etnovariedades menos frequentes 390

Essas etnovariedades raras podem ser resultantes do processo de experimentaccedilatildeo ou 391

preferecircncias individuais dos agricultores Outra possiacutevel razatildeo para a baixa frequecircncia de 392

algumas etnovariedades poderia ser explicada pela variaccedilatildeo da nomenclatura pelos 393

agricultores que segundo Peroni amp Hanazaki (2002) pode ocorrer durante o processo de troca 394

e introduccedilatildeo de novas variedades aos roccedilados Ainda assim natildeo descartamos a hipoacutetese de que 395

essas etnovariedades raras possam ser provenientes do cruzamento entre variedades diferentes 396

cultivadas da mesma roccedilado ou em roccedilas vizinhas De acordo com Martins (2005) essas 397

variedades fruto de germinaccedilatildeo expentacircnea satildeo incorporadas aos roccedilados pelos agricultores 398

pela curiosidade em experimentar novas variedades agraves suas coleccedilotildees 399

Nesse estudo admitimos que optar por etnovariedades raras entre as comunidades 400

estudadas eacute um comportamento adotado por agricultores que manejam uma maior diversidade 401

corroborando com os estudos de Cavechia et al (2014) e Emperaire et al (2016) em regiotildees 402

uacutemidas Para esses autores etnovaridedades de baixa frequecircncia representam um subconjunto 403

das de alta frequecircncia cultivadas por agricultores que manteacutem a maior diversidade em seus 404

roccedilados Sendo assim inferimos que no geral entre as comunidades satildeo os agricultores 405

generalistas aqueles que cultivam maior diversidade os responsaacuteveis por incorporar novas 406

etnovariedades aos roccedilados 407

As decisotildees dos agricultores em manter o acervo direcionado principalmente para 408

atender a demanda de mercado por exemplo podem levar a uma homogeneizaccedilatildeo nas roccedilas 409

colocando em risco a manutenccedilatildeo da diversidade local (Peroni amp Hanazaki 2002) Como 410

discutido por Elias et al (2000) os agricultores que selecionam apenas um nuacutemero reduzido e 411

especiacutefico de variedades mais produtivas tendem a fazer com que as variedades menos 412

frequentes desapareccedilam ao longo do tempo Essa tendecircndia pode influenciar na capacidade de 413

43

resiliecircncia do sistema assim como dos agricultores em lidar com possiacuteveis adversidades 414

ambientais que possam ocorrer 415

Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 416

No geral os agricultores demonstraram uma tendecircncia em classificarseparar suas 417

diferentes etnovariedades de mandioca a partir da combinaccedilatildeo de um conjunto de sete 418

caracteres morfoloacutegicos distintos e de faacutecil percepccedilatildeo os quais natildeo tem relaccedilatildeo com o uso 419

como por exemplo a cores das raiacutezes caule e folhas Logo consideramos que esses caracteres 420

morfoloacutegicos podem ser considerados como uma forma de classificaccedilatildeo pelos agricultores 421

baseada na capacidade percepccedilatildeo das diferenccedilas morfoloacutegicas que cada etnovariedades 422

apresenta (Boster 1985) Estes resultados nos levam a entender que entre os agricultores o 423

conhecimento sobre a diversidade da mandioca estaacute relacionado ao conhecimento de 424

caracteriacutesticas morfoloacutegicas consistentes 425

A existecircncia de alguns fenoacutetipos comuns nos permitiu avaliar a classificaccedilatildeo da 426

consistecircncia da taxonomia popular entre os agricultores Por exemplo as etnovariedades 427

ldquoMaxaceira Rosardquo e ldquoMacaxeira Rosa Brancardquo e ldquoMacaxeira vermelhardquo foram agrupadas no 428

mesmo cluster (C4) por apresentaram fenoacutetipos semelhantes Notamos que os agricultores 429

classificaram essas variedades de acordo com os traccedilos morfoloacutegicos mais relevantes como a 430

cor do coacutertex da raiz rosa e cor branca da polpa O mesmo ocorreu com as etnovariedades 431

ldquoMandioca varudardquo ldquoMandioca campina da granderdquo e ldquoMandioca campinardquo caracterizadas 432

pela presenccedila do peciacuteolo verde agrupadas no cluster (C1) 433

A partir dessas evidecircncias consideramos a hipoacutetese de que as variedades mesmo 434

apresentando caracteriacutesticas morfoloacutegicas muito semelhantes estatildeo sujeitas a variaccedilatildeo 435

nomenclatural durante o processo a incorporaccedilatildeo aos roccedilados pelos agricultores pois a 436

capacidade para distinguir e nomear variedades entre os agricultores da mesma regiatildeo pode 437

variar (Sambatti et al 2001 Elias et al 2001 Mekbib 2007) Consideramos tambeacutem que pode 438

44

existir variaccedilatildeo geneacutetica entre os indiviacuteduos identificados por um mesmo nome ou entatildeo que 439

os agricultores datildeo o mesmo nome para variedades diferentes E esta situaccedilatildeo pode levar a uma 440

superestimaccedilatildeo ou subestimaccedilatildeo da diversidade de mandioca cultiva nas aacutereas de estudo 441

Sabemos que a mandioca eacute propagada vegetativamente pelos agricultores por meio de 442

estacas em sistemas de agricultura tradicional No entanto alguns variedades produzem flores 443

e sementes que germinam e podem originar outras variedades ou outros clones por meio de 444

fecundaccedilatildeo cruzada (Elias et al 2001) Nesse contexto a etnovariedade ldquoMacaxeira Sementerdquo 445

presente no cluster (C7) trata-se de um uacutenico indiviacuteduo amostrado em uma roccedila de um dos 446

agricultores Esta apresentava algumas caracteriacutesticas morfoloacutegicas distintas das demais 447

reconhecidas pelo agricultor como por exemplo a produccedilatildeo de uma raiz uacutenica e 448

consequentemente de baixo rendimento Encontramos apenas um indiviacuteduo dessa 449

etnovariedade e nossa hipoacutetese de que esta poderia ter sido originada da germinaccedilatildeo da 450

semente mesmo quando 100 dos informantes declararam natildeo dar qualquer importacircncia e 451

descartar essas ldquovariedades-voluntaacuteriasrdquo foi confirmada pelo agricultor que afirmou que se 452

tratava de uma variedade nascida da germinaccedilatildeo da semente Esse comportamento vai de 453

encontro ao estudo de Fraser et al (2012) pois apesar dos agricultores reportarem nas 454

entrevistas que conhecem essas ldquovariedades-voluntaacuteriasrdquo nenhum agricultor faz o uso delas 455

Peroni et al (1999) e Agre et al (2016) analisando morfologicamente as variedades 456

locais de mandioca mantidas por agricultores em sistemas agriacutecolas tropicais tambeacutem 457

demonstraram que os agricultores satildeo coerentes quanto a separaccedilatildeo e identificaccedilatildeo de suas 458

etnovariedades a partir da formaccedilatildeo de grupos de coesos quanto a nomenclatura local utilizada 459

No entanto para o melhor entendimento dessa diversidade aleacutem da caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica 460

o uso de anaacutelises complementares como anaacutelise molecular seria importante para tentar 461

identificar se esses grupos representam a mesma variedade com nomes distintos ou se satildeo 462

variedades distintas com o mesmo nome 463

45

Conclusatildeo 464

O estudo demonstrou que no sistema de manejo da mandioca ao niacutevel de roccedila em 465

comunidades localizadas na regiatildeo semiaacuterida de Pernambuco compotildee uma diversidade 466

intrespeciacutefica de mandioca para atender agraves demandas econocircmicas e de subsistecircncia das 467

populaccedilotildees locais 468

Com relaccedilatildeo a anaacutelise de rede demostramos que haacute um nuacutecleo de etnovariedades 469

fortemente conectado aos agricultores e sua composiccedilatildeo eacute direcionada pelas preferecircncias e 470

necessidades individuais dos agricultores que foram os fatores responsaacuteveis pelo surgimento 471

da estrutura aninhada observada na anaacutelise rede entre as comunidades deste estudo E esse 472

padratildeo aninhado observado contribui na conservaccedilatildeo das etnovariedades mais comuns mas 473

tambeacutem pode resultar em perda daquelas de menor frequecircncia ao longo do tempo 474

A caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica ldquoin siturdquo nos permitiram inferir que os agricultores 475

reconhecem as diferentes caracteriacutesticas morfoloacutegicas de suas cultivares e satildeo coerentes na 476

separaccedilatildeo de suas variedades de mandioca e macaxeira Entretanto esses resultados sugerem a 477

realizaccedilatildeo de um estudo em niacutevel de diversidade geneacutetica exploratoacuterio para identificar se as 478

consistecircncias morfoloacutegicas refletem em consistecircncias geneacuteticas elucidando assim as possiacuteveis 479

confusotildees atribuiacutedas aos nomes das etnovariedades de mandioca 480

Agradecimentos 481

Agradecemos ao liacuteder comunitaacuterio Alexandre O Nascimento aos agricultores e 482

agricultoras das comunidades pela acolhida confianccedila e pela gentileza de compartilharem 483

conosco seus conhecimentos e contribuiacuterem com este estudo Especialmente a Arlindo Ferreira 484

Edgar Antocircnio Joseacute Sebastiatildeo Juvenal Oliveira e Janete Alves Ao Laboratoacuterio de Ecologia e 485

Evoluccedilatildeo de Sistemas Socioecoloacutegicos (LEA - UFPE) E agradecemos ao CNPq pelo apoio 486

com a bolsa de estudos do primeiro autor 487

46

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ANEXOS 615

616

Nome da revista 617

Human Ecology 618

Link de acesso 619

httpsgooglDVLbFj 620

Qualis-CAPES 621

B1 em Biodiversidade 622

623

624

625

626

627

628

629

630

631

632

633

634

635

636

637

638

639

640

641

642

52

Figuras 643

644

645

Fig 1 Partes do processo de fabricaccedilatildeo de farinha de mandioca Onde a raspagem b e c 646

processo de trituraccedilatildeo e d peneiramento Foto registrada em Abril de 2017 por Mirela Santos 647

648

649

650

c

d

b

a

53

651

Fig 2 Mapa de localizaccedilatildeo geograacutefica dos Municiacutepios de Altinho e Panelas e das comunidades 652

estudadas na regiatildeo semiaacuterida do Estado de Pernambuco (Elaborado por SANTOS 2018) 653

54

654

655

656

657

Fig 3 Processo de fabricaccedilatildeo da farinha de mandioca Apoacutes a colheita as raiacutezes satildeo lavadas 658

raspadas e trituradas (a) A massa extraiacuteda eacute prensada e coada Ao sair da prensa a massa 659

peneirada (b) e em seguida eacute torrada (c) em fornos artesanais ou parcialmente mecanizados 660

Imagem registrada em janeiro de 2017 na Comunidade do Caratildeo por Mirela Santos 661

662

663

a

b c

55

664

Fig 4 a Sede da Comunidade do Caratildeo b Agricultor transportando a palma forrageira que eacute 665

um exemplo de estrateacutegia adaptativa para suprir a falta de alimento dos animais devido agrave seca 666

c Feira-livre que acontece na comunidade a cada quinze dias Imagem registrada em julho de 667

2016 na Comunidade do Caratildeo por Mirela Santos 668

669

670

Fig 5 a O agricultor nos explicava as mudanccedilas que vem fazendo em seus roccedilados para se 671

adaptar aos longos periacuteodos de seca b Quando o agricultor nos mostrava as diferentes 672

etnovariedades que mantinha em sua roccedila c Durante a pesquisa nos explicavam como era feita 673

a colheita da mandioca e como selecionavam as manivas para o proacuteximo plantio Foto registrada 674

em abril de 2017 na Comunidade do Brejo Velho por Mirela Santos 675

a

b c

c b

a

56 676

677

Fig 6 Possiacuteveis estruturas de rede que descrevem as interaccedilotildees dos agricultores (losango) 678

ligados as etnovariedades (ciacuterculos) que cultivam Onde a Aninhada b Modular c Aleatoacuteria 679

(Fonte Cavechia et al 2014 com adaptaccedilotildees) 680

681

682

683

684

685

686

687

688

689

690

691

692

693

694

695

696

697

a c b

57

698

699

700

701

702

703

704

705

706

707

Fig 7 Correlaccedilatildeo de Spearman entre a diversidade de etnovariedades de mandiocas conhecidas 708

como cultivadas e variedades atualmente cultivadas por agricultor e as variaacuteveis 709

socioeconocircmicas Onde Nvc= nuacutemero de citadas como cultivadas Nve= nuacutemero de variedades 710

atualmente cultivadas Esc= escolaridade Id= idade Gen= gecircnero Tr= tamanho do roccedilado 711

Exp= experiecircncia na agricultura Sld= renda Nr= nuacutemero de roccedilados Cores distintivas 712

representam correlaccedilotildees significativas (Ple005) 713

714

58

715

Fig 8 Modelo individual de rede de etnovariedades de mandioca citadas (esquerda) por 716

agricultores como cultivadas (direita) nos Municiacutepios de Altinho e Panelas As redes foram 717

desenhadas com o pacote bipartite (Dormann et al 2017) usando o software R (R CORE 718

TEAM 2017) 719

720

59

721

Fig 9 Anaacutelise de Correspondecircncia Muacuteltipla das 17 etnovariedades de mandioca considerando 722

os sete descritores morfoloacutegicos utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo em roccedilas de 723

agricultores tradicionais de sete comunidades no semiaacuterido de Pernambuco 724

725

726

727

728

729

730

731

732

733

734

735

736

737

McCambadinha

McCampina

McCampinaDaGrande

McCampinaRasteira

McCampinaVaruda

McGauba

McIsabelDeSouza

McIsabelTresGalhos

McOlhoDePombo

McOlhoVerde

McPretinha

McPretona

MxBranca

MxRosa

MxRosaBrancaMxRosaVermelha

MxSemente

CFD_Verde_Arroxeado

CFD_Verde_ClaroCFD_Verde_Escuro

CBF_Roxo

CBF_Verde_ArroxeadoCBF_Verde_Claro

CBF_Verde_Escuro

CDP_Verde

CDP_Verde_Amarelado

CDP_Verde_Avermelhado

CDP_Vermelho

CEC_Cinza

CEC_Dourado

CEC_Laranja

CEC_Marrom_Claro

CEC_Marrom_Escuro

CEC_Prateado

CEC_Verde_AmareladoCicatriz_M

Cicatriz_P

PDR_Branco

PDR_Creme

CDR_BrancoCDR_Creme CDR_Rosa

-4

-2

0

2

4

-4 -2 0 2 4

Dim1 (206)

Dim

2 (

162

)

MCA - Biplot

00

10

Hierarchical Clustering

inertia gain

McC

am

pin

aV

aru

da

McC

am

pin

aD

aG

rande

McC

am

pin

a

McG

auba

McP

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ha

McP

reto

na

MxR

osaV

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MxR

osaB

ranca

MxR

osa

McC

am

pin

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ira

McC

am

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ha

McO

lhoV

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e

MxB

ranca

MxS

em

ente

McIsabelT

resG

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McIsabelD

eS

ouza

McO

lhoD

eP

om

bo

00

05

10

15

Hierarchical Classification

Heig

ht

C1 C2 C3 C4 C5 C6 C7 C8

Fig 10 Agrupamento hieraacuterquico das 17 etnovariedades de mandioca caracterizadas de acordo

com os descritores utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo

60

Tabelas 738

739

Tabela 1 Caracteres e estados utilizados pelos agricultores como descritores botacircnicos para 740

caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das etnovariedades de mandioca 741

Caracter Sigla Estados

Folha

Cor da folha desenvolvida CFD 1- verde claro 2- verde escuro 3- verde arroxeado 4- roxo

Cor do broto foliar CBF 1- verde claro 2- verde escuro 3- verde arroxeado 4- roxo

Cor do peciacuteolo CDP 1- verde amarelado 2- verde 3- verde avermelhado 4- roxo

5- vermelho

Caule

Cor externa do caule CEC 1- laranja 2- verde amarelado 3- dourado 4- marrom claro

5- prateado 6- cinza 7- marrom escuro 8- verde

Protuberacircncia da cicatriz foliar PCF 1- pouco proeminente 2- muito proeminente

Raiacutez

Cor da poupa da raiz PDR 1- branco 2- creme

Cor do coacutertex da raiacutez CDR 1- rosa 2- branco 3- creme

742

743

744

745

746

747

748

749

750

751

61

Tabela 2 Lista das 22 etnovariedades de mandiocas citadas (132 citaccedilotildees) como cultivadas nas 752

comunidades pertencentes aos Municiacutepios de Altinho (Caratildeo n=8) e ao Municiacutepio de Panelas 753

(Aracuatilde Satildeo Joseacute do Bola Brejo Velho Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima e Lajeiro 754

Dantas n=21) 755

Etnovariedade Frequecircncia () Ranking Saliecircncia

Macaxeira Rosa 66 179 0472

Mandioca Isabel de Souza 48 179 0372

Mandioca Campina 24 217 0148

Macaxeira Branca 20 210 0134

Macaxeira Rosa branca 18 122 0168

Mandioca Pretona 16 338 0082

Mandioca Cambadinha 12 283 0071

Mandioca Isabel trecircs galhos 10 180 0075

Mandioca Gauacuteba 10 260 0070

Mandioca Pretinha 8 225 0053

Mandioca Peacute de pombo 4 400 0011

Mandioca Olho verde 4 350 0012

Macaxeira Rosinha 4 200 0027

Mandioca Campina varuda 4 200 0032

Mandioca Campina rasteira 4 300 0021

Mandioca Caboquinha 2 500 0007

Macaxeira Rasteira 2 200 0013

Macaxeira Paraacute 2 100 0020

Mandioca Barra ferro 2 300 0007

Mandioca Campina da grande 2 100 0020

Mandioca Olho de pombo 2 300 0010

Mandioca Jasmim 2 600 0006

756

757

758

62

Tabela 3 Lista de 17 etnovariedades atualmente cultivadas nos roccedilados das comunidades em 759

estudo 760

Ca Ar Bo Br Jb Jc Ld

Etnovariedade

Macaxeira Branca x x x x

Macaxeira Rosa

x x x x x x

Macaxeira Rosa Branca x x x x

Macaxeira Rosa Vermelha

x

Macaxeira Semente

x

Mandioca Cambadinha x

x

Mandioca Campina

x

x

x

Mandioca Campina da Grande x

Mandioca Campina Rasteira

x

Mandioca Campina Varuda

x

Mandioca Gauacuteba

x

Mandioca Isabel de Souza

x x x

Mandioca Isabel trecircs Galhos

x

x

Mandioca Olho de Pombo

x

Mandioca Olho Verde

x

Mandioca Pretinha

x

Mandioca Pretona x x x

Comunidades Ca= Caratildeo Ar=Aracuatilde Bo= Satildeo Joseacute do Bola Jb= Japaranduba de Baixo 761

Jc= Japaranduba de Cima Ld= Lajedo Dantas 762

763

764

765

766

767

768

63

Tabela 4 Descriccedilatildeo das classes do agrupamento por meacutetodo de Ward agrupadas pelo conjunto 769

dos descritores mais significativos para a caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das variedades de mandioca 770

Classes Descritores in situ p-valor

C1 Cor do peciacuteolo (CDP) 0016

C2 Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023

C3 Cor do peciacuteolo (CDP) 0012

C4 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0004

Cor da poupa da raiacutez (PDF) 0021

C5 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0003

C6 Cor do broto foliar (CBF) 0002

C7 Cor da folha desenvolvida (CFD) 0004

Cor externa do caule (CEC) 0040

C8 Cor do peciacuteolo (CDP) 0005

Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023

Valores de Ple005 satildeo significativos 771

772

27

responsaacuteveis pelo surgimento da estrutura aninhada observada na anaacutelise rede Esse padratildeo 29

aninhado contribui na conservaccedilatildeo das etnovariedades mais comuns mas tambeacutem pode resultar 30

em perda daquelas de menor frequecircncia ao longo do tempo 31

Palavras-Chave Agricultura tradicional Agricultura de sequeiro Agrobiodiversidade 32

Etnobiologia Plantas alimentiacutecias 33

34

Introduccedilatildeo 35

Historicamente as populaccedilotildees humanas foram acumulando conhecimentos sobre 36

praacuteticas da agricultura desenvolvendo teacutecnicas adaptadas ao meio natural e assim foram 37

domesticando uma grande variedade de cultivos alimentares para garantirem a sua 38

sobrevivecircncia (Balleacute 2006 Clement et al 2010) Essa interaccedilatildeo pessoas-plantas por meio do 39

cultivo e manejo das espeacutecies vegetais considerando tanto os aspectos sociais quanto naturais 40

dos sistemas dinacircmicos eacute uma importante ferramenta para o entendimento do conhecimento 41

dos agricultores sobre os agroecossistemas locais ( Alcorn 1995) 42

Aleacutem disso essas interaccedilotildees vem contribuindo com alteraccedilotildees nas populaccedilotildees vegetais 43

por meio da seleccedilatildeo artificial Essas alteraccedilotildees resultaram em mudanccedilas na estrutura geneacutetica 44

dessas populaccedilotildees que satildeo determinadas geralmente pela seleccedilatildeo de caracteriacutesticas fenotiacutepicas 45

fisioloacutegicas eou econocircmicas das plantas refletidas em classificaccedilotildees e nomenclaturas 46

especiacuteficas baseadas em percepccedilotildees individuais (Carmona amp Casas 2005) 47

Muitos pesquisadores tentam explicar o papel dos agricultores de pequena escala na 48

seleccedilatildeo classificaccedilatildeo e manutenccedilatildeo da agrobiodiversidade local em roccedilas tradicionalmente 49

manejas em regiotildees uacutemidas (Emperaire amp Peroni 2007 Emperaire amp Eloy 2008 Marchetti et 50

al 2013) Essas roccedila satildeo aacutereas de cultivo caracterizadas por conter uma alta diversidade 51

intraespeciacutefica de espeacutecies (Martins 2005) Dentre elas a Manihot esculenta Crantz 52

28

(mandioca) Euphorbiaceae em sua diversidade de etnovariedades eacute a espeacutecie mais importante 53

sob ponto de vista econocircmico e de subsistecircncia para as populaccedilotildees locais e mais cultivada 54

devido a sua grande adaptabilidade ambiental e baixos custos de gestatildeo (Elias et al 2001) 55

A alta diversidade da mandioca nessas aacutereas pode ser atribuiacuteda agrave possibilidade de 56

introduccedilatildeo de novas variedades via reproduccedilatildeo sexuada associada a ecologia da espeacutecie Esse 57

mecanismo permite o fluxo gecircnico entre as variedades de mandioca cultivadas do mesmo local 58

e entre estas com variedades de locais vizinhos (Pujol et al 2007) Outro mecanismo que 59

favorece essa diversidade eacute agrave circulaccedilatildeo de material propagativo por meio redes sociais de troca 60

variedades entre os agricultores (Pujol et al 2005 Emperaire amp Peroni 2007 Clement et al 61

2010) Esse mecanismo de troca eacute fundamental para o estabelecimento de interaccedilotildees entre as 62

diferentes aacutereas de roccedila promovendo oportunidade de seleccedilatildeo e cruzamento entre os diferentes 63

conjuntos de variedades aleacutem de permitir que este conjunto seja conservado (Emperaire amp Eloy 64

2008) 65

Diante desse cenaacuterio podemos observar que a agrobiodiversidade local natildeo eacute fruto 66

apenas de fatores naturais mas eacute tambeacutem influenciada pelas caracteriacutesticas culturais e 67

socioeconocircmica das populaccedilotildees locais refletidas especialmente no conhecimento e manejo 68

local Nesse sentido o presente estudo visa investigar as interaccedilotildees entre agricultores 69

tradicionais de comunidades rurais estabelecidas na regiatildeo semiaacuterida de Pernambuco 70

O objetivo geral eacute compreender os processos envolvidos na dinacircmica da diversidade 71

agriacutecola por meio do acesso ao conhecimento dos agricultores quanto as praacuteticas de menejo e 72

entender quais quais fatores podem estar relacionados a geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da diversidade 73

local Para esse estudo a mandioca foi escolhida como modelo devida agrave sua importacircncia 74

econocircmica e de subsistecircncia para comunidades locais Os objetivos especiacuteficos foram (i) 75

caracterizar o manejo da agricultura de sequeiro bem como analisar se os paracircmetros 76

socioeconocircmicos influenciam na diversidade local (ii) registrar as etnovariedades atualmente 77

29

cultivadas e identificar os diferentes criteacuterios morfoloacutegicos utilizados pelos agricultores para a 78

seleccedilatildeo e classificaccedilatildeo das etnovariedadese (iii) descrever a estrutura da rede de interaccedilatildeo entre 79

os agricultores e a diversidade de etnovariedades de mandioca cultivadas para tentar entender 80

como essas relaccedilotildees podem influenciar na manutenccedilatildeo ou perda da diversidade local 81

Material e meacutetodos 82

Aacutereas de estudo 83

Amostramos sete comunidades rurais estabelecidas na regiatildeo semiaacuterida de 84

Pernambuco Nordeste do Brasil Uma das comunidades (Caratildeo) pertence ao Municiacutepio de 85

Altinho (ldquo8deg 29rsquo 10rdquo S e 36deg 03rsquo 49rdquo W) e as demais (Satildeo Joseacute do Bola Brejo velho 86

Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima Lajedo Dantas e Aracuatilde) ao Municiacutepio de 87

Panelas (8 deg 39 48 S e 36 deg 01 23 W) (Fig 2) 88

O modelo agriacutecola adotado na regiatildeo segue o sistema tradicional de sequeiro4 e todas 89

as comunidades em estudo possuem histoacuterico de cultivo de mandioca (M esculenta) As aacutereas 90

de cultivo satildeo estabelecidas por unidade familiar e as atividades satildeo realizadas em sua maioria 91

por homens tendo cada agricultor cerca de um a dois hectares de aacuterea para plantio Aleacutem da 92

mandioca os cultivos mais utilizados na comunidades satildeo milho (Zea mays) e feijatildeo (Phaseolus 93

sp) 94

Para os membros das comunidades a produccedilatildeo da farinha de mandioca (Fig 3) eacute uma 95

das atividades agriacutecolas mais importantes tanto pelo seu papel na dieta alimentar quanto pela 96

importacircncia social e econocircmica 97

Caracteriacutesticas das comunidades do estudo 98

A comunidade do Caratildeo localiza-se sob domiacutenio de Caatinga caracterizado por climas 99

quentes e secos com regimes escassos de chuvas correspondente ao tipo BSrsquoh segundo a 100

4 Eacute o cultivo praticado sem irrigaccedilatildeo em regiotildees onde a pluviosidade eacute diminuta

30

classificaccedilatildeo climaacutetica de Koumlppen A vegetaccedilatildeo eacute composto por espeacutecies perenes que 101

conseguem sobreviver mesmo em periacuteodos de seca e espeacutecies anuais que aparecem apenas em 102

periacuteodos com chuva (Cruz et al 2013) 103

De acordo os dados de precipitaccedilatildeo do Laboratoacuterio de Anaacutelise e Processamento de 104

Imagens de Sateacutelites (LAPIS) no ano de 2012 foi registrada a menor meacutedia anual de 105

precipitaccedilatildeo dos uacuteltimos 10 anos para essa regiatildeo (3784 mm) Essa realidade ambiental quando 106

comparada com estudo realizado por de Sieber e colaboradores (2011) na mesma comunidade 107

observa-se que houve uma diminuiccedilatildeo considerada das praacuteticas agriacutecolas realizadas pelos 108

membros da comunidade culminando em uma seacuterie de prejuiacutezos aos agricultores como a perda 109

de plantaccedilotildees e animais Essa perda de produtividade afetou a estrutura econocircmica da 110

comunidade uma vez que a principal fonte de subsistecircncia das famiacutelias eacute a agricultura 111

Associada as atividades agriacutecolas os moradores complementam a dieta e a renda 112

familiar com a venda dos excedentes da produccedilatildeo em feiras-livres ou centros comerciais da 113

regiatildeo (Cruz et al 2013) E com a pecuaacuteria de pequena escala bovina caprina e com avicultura 114

No entanto a diminuiccedilatildeo da forragem natural e cultivada causada pela escassez de chuvas 115

associada aos elevados custos envolvidos na compra de raccedilatildeo levou muitos animais agrave morte 116

(Fig 4) 117

No Municiacutepio de Altinho a comunidade do Caratildeo foi inicialmente escolhida devido ao 118

reconhecimento preacutevio do registro de agricultores realizado em estudos desenvolvidos pelo 119

nosso grupo de pesquisa facilitando assim o acesso agraves informaccedilotildees necessaacuterias para o 120

desenvolvimento da pesquisa 121

As comunidades Aracuatilde Brejo Velho Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima 122

Lajedo Dandas e Satildeo Joseacute do Bola amostradas no estudo pertencem ao Municiacutepio de Panelas 123

que se limita ao Norte com o Municiacutepio de Altinho Essas comunidades estatildeo localizadas em 124

31

no domiacutenio morfoclimaacutetico de Caatinga O clima eacute do tipo semiaacuterido Bsrsquoh segundo a 125

classificaccedilatildeo climaacutetica de Koumleppen 126

A maior parte dos membros dessas comunidades assim como no Caratildeo tecircm como 127

principal fonte de subsistecircncia a agricultura de sequeiro principalmente o cultivo da mandioca 128

(Fig 5) Como renda extra a pecuaacuteria de pequeno porte com criaccedilatildeo bovina caprina e 129

avicultura sendo os excedentes dos alimentos produzidos vendidos em feiras locais ou para 130

escolas 131

As atividades agriacutecolas entre as comunidades tambeacutem foram duramente afetadas pela 132

seca na regiatildeo nos uacuteltimos anos A escassez de chuvas desestimulou o plantio a produccedilatildeo de 133

mandioca foi fortemente comprometida e a colheita foi adiada devido ao subdesenvolvimento 134

das raiacutezes gerando impactos econocircmicos para os membros das comunidades 135

As comunidades amostradas neste muniacutecipio foram escolhidas em funccedilatildeo das 136

indicaccedilotildees dos agricultores entrevistados a princiacutepio na comunidade do Caratildeo que reportaram 137

manter viacutenculos sociais com os agricultores do municiacutepio vizinho 138

Coleta de dados 139

Acessamos as comunidades com a ajuda de um liacuteder comunitaacuterio (Alexandre O 140

Nascimento) em companhia de outros pesquisadores que desenvolviam pesquisas na regiatildeo 141

Previamente as entrevistas todos objetivos e procedimentos para a realizaccedilatildeo da pesquisa foram 142

apresentados aos entrevistados e todos que aceitaram participar foram convidados a assinar um 143

Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) de acordo com a Resoluccedilatildeo 46612 do 144

Conselho Nacional de Sauacutede concordando com a realizaccedilatildeo das entrevistas e avaliaccedilotildees 145

morfoloacutegicas em campo O presente trabalho foi submetido ao Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa da 146

Universidade de Pernambuco (UPE) 147

32

Em todas as comunidades o meacutetodo de acesso ao informante foi o mesmo a partir do 148

primeiro contato com um informante-chave identificamos outros potenciais agricultores 149

seguindo a teacutecnica de ldquobola de neverdquo (Albuquerque et al 2014a) Esse meacutetodo consistiu na 150

amostragem intencional dos participantes e nesse particular os agricultores chefes de famiacutelia 151

(ge 18 anos) da regiatildeo que declararam cultivar mandioca (M esculenta) em suas roccedilas 152

Reunimos informaccedilotildees socioeconocircmicas desses agricultores tais como nome idade gecircnero 153

escolaridade renda experiecircncia na agricultura e tamanho da aacuterea de cultivo para tentar 154

identificar se esses paracircmetros socioeconocircmicos tecircm uma relaccedilatildeo com a agrobiodiversidade 155

local 156

Em seguida conduzimos entrevistas semiestruturadas (Albuquerque et al 2014b) com 157

o objetivo de caracterizar o modo de vida dos agricultores o manejo da agricultura bem como 158

obter dados sobre o conhecimento uso e caracterizaccedilatildeo das etnovariedades de mandioca 159

5cultivadas Aleacutem disso neste momento tambeacutem aplicamos a teacutecnica da lista livre 160

(Albuquerque et al 2014b) a fim de registrar as variedades de mandioca atualmente cultivadas 161

pelos agricultores e identificar as de maior importacircncia local Apoacutes as entrevistas realizamos 162

visitas aos roccedilados para o registro fotograacutefico georreferenciamento das roccedilas e caracterizaccedilatildeo 163

morfoloacutegica das variedades cultivadas 164

Entrevistamos 50 agricultores no total distribuiacutedos nas sete comunidades Caratildeo (3) 165

Satildeo Joseacute do Bola (10) Brejo velho (7) Japaranduba de Baixo (7) Japaranduba de Cima (8) 166

Lajedo Dantas (9) e Aracuatilde (6) Destes 10 satildeo mulheres e 40 homens com idade variando entre 167

31 e 82 anos A maioria dos entrevistados natildeo apresentava instruccedilatildeo formal (46) mais da 168

metade eram aposentados (56) e os demais apresentaram renda inferior a um salaacuterio miacutenimo 169

5 Entende-se por etnovariedade de mandioca o conjunto de variedades intraespeciacuteficas de mandioca (M esculenta)

reconhecidas pelos agricultores por nomenclatura popular local (Peroni 2004)

33

O tempo meacutedio de experiecircncia na agricultura foi de 40 anos Cada agricultor possui entre um e 170

dois roccedilados (aacuterea de plantio) com aproximadamente um a dois hectares 171

Redes de interaccedilatildeo social 172

Confeccionamos a rede que descreve as interaccedilotildees entre os agricultores e as 173

etnovariedades cultivadas a partir de uma matriz de incidecircncia R (presenccedilaausecircncia) onde nas 174

linhas estavam as etnovariedades de mandioca cultivadas (j) e nas colunas os agricultores locais 175

(i) O elemento Rij dessa matriz foi 1 (um) no caso de a etnovariedade j ser cultivada pelo 176

agricultor i caso contraacuterio seria atribuiacutedo 0 (zero) As interaccedilotildees entre os agricultores e as 177

etnovariedades foram descritas em dois modos (Pires et al 2011) onde os ldquonoacutesrdquo da esquerda 178

representam os agricultores que foram vinculados aos ldquonoacutesrdquo da direita representados pelas 179

etnovariedades citadas durante as entrevistas Esses ldquonoacutesrdquo seriam o espelho das decisotildees dos 180

agricultores em manter um determinado conjunto local de etnovariedades em suas roccedilas 181

Avaliamos a estrutura da rede que conecta os agricultores agraves etnovariedades cultivadas 182

a partir de trecircs cenaacuterios hipoteacuteticos (Fig 6) segundo Cachevia et al (2014) No primeiro se os 183

agricultores apresentassem diferentes graus de seletividade para a utilizaccedilatildeo de suas 184

etnovariedades a estrutura seria aninhada (Fig 6a) Isso significa que alguns agricultores 185

cultivam vaacuterias etnovariedades enquanto que outros cultivam o subconjunto mais 186

disponiacutevelcomum dessas etnovariedades Em segundo lugar se a rede apresentasse uma 187

estrutura modular (Fig 6b) significaria que os agricultores apresentam semelhanccedila na seleccedilatildeo 188

do recurso ou seja subgrupos de agricultores cultivam subgrupos distintos de etnovariedades 189

regionalmente disponiacuteveiscomuns E o terceiro se os agricultores natildeo apresentassem 190

preferecircncias quanto a seleccedilatildeo das etnovariedades entatildeo a rede apresentaria uma estrutura 191

aleatoacuteria (Fig 6c) 192

O objetivo da anaacutelise de rede nesse estudo foi tentar entender se o conjunto de 193

etnovariedades presentes no local do estudo constituem uma subamostra de um conjunto mais 194

34

amplo no caso de um alto grau de aninhamento ou se a sua composiccedilatildeo eacute determinada por 195

variaacuteveis locais (Ulrich 2008) Onde as conexotildees entre os informantes e as etnovariedades 196

representam as decisotildees dos agricultores de manter um conjunto determinado de variedades de 197

mandioca dentre as comunidades Esta anaacutelise tambeacutem nos permitiu identificar quais os nuacutecleos 198

de etnovariedades que apresentam maior conexatildeo com os diferentes perfis dos agricultores 199

Diversidade fenotiacutepica 200

Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 201

Apoacutes as entrevistas buscamos identificar quais os caracteres morfoloacutegicos considerados 202

mais importantes para a diferenciaccedilatildeo das etnovariedades de mandioca a partir do seguinte 203

questionamento ldquoQuais as diferenccedilas que vocecirc reconhece para separar uma qualidade de 204

mandioca (variedade) de uma outrardquo Assim os agricultores mencionaram quais os criteacuterios 205

mais importantes utilizados para a caracterizaccedilatildeo de suas etnovariedades 206

Compilamos uma listagem dessas caracteriacutesticas baseada nas indicaccedilotildees dos 207

agricultores e a partir delas selecionamos os caracteres morfoloacutegicos mais citados para a 208

caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica ldquoin siturdquo tais como cor da folha (cor da folha desenvolvida) olho 209

(cor do broto foliar) cor do talo (cor do peciacuteolo) maniva (cor externa do caule) embriatildeo 210

(protuberacircncia da cicatriz foliar) cor da entrecasca (coacutertex da raiz) e cor miolo (polpa da raiz) 211

(Tabela 1) O objetivo dessa caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica foi indicar como estaacute distribuiacuteda a 212

variaccedilatildeo fenotiacutepica das etnovariedades de mandioca nas comunidades na regiatildeo semiaacuterida de 213

Pernambuco bem como identificar que caracteriacutesticas satildeo mais importantes para distinguir 214

esses grupos no intuito de tentar entender como os agricultores classificam suas variedades de 215

mandioca 216

Nas sete comunidades para cada etnovariedade citada no roccedilado caracterizamos ldquoin 217

siturdquo trecircs indiviacuteduos de M esculentade de cada uma totalizando 171 indiviacuteduos (Aracuatilde=11 218

35

Caratildeo=4 Satildeo Joseacute do Bola=13 Brejo Velho=16 Japaranduba de Baixo=6 Japaranduba de 219

Cima=3 e Lajedo Dantas=4) Fotografamos e avaliamos todos os indiviacuteduos com base em parte 220

dos descritores morfoloacutegicos seguindo recomendaccedilotildees de Fukuda amp Guevara (1998) e aleacutem 221

disso georreferenciamos todas as aacutereas de roccedila 222

Anaacutelise dos dados 223

Analisamos os dados socioeconocircmicos das entrevistas semiestruturadas por meio de 224

estatiacutestica descritiva para explicar os aspectos da realidade econocircmica e social dos agricultores 225

Para identificar se a diversidade intraespeciacutefica da mandioca cultivada localmente eacute 226

influenciada por paracircmetros socioeconocircmicos utilizamos o coeficiente de correlaccedilatildeo de 227

Spearman (Ple005) (Sokal amp Rohlf 1995) 228

Com base na lista livre das variedades de mandioca cultivadas pelos agricultores 229

calculamos a frequecircncia de citaccedilatildeo o ranking e o iacutendice de saliecircncia com o objetivo de 230

identificar quais as mais importantes ou preferidas para as comunidades O iacutendice de saliecircncia 231

considerou a frequecircncia de citaccedilatildeo e o ranking referente ao posicionamento das variedades 232

dentro das listas livres (Thompson amp Juan 2006) As etnovariedades mais citadas e com maior 233

valor de saliecircncia representam as de maior importacircncia ou preferecircncia para as comunidades 234

Anaacutelise de rede 235

Medimos o grau de aninhamento (NODF) para investigar a estrutura de rede de 236

interaccedilatildeo social dos agricultores em funccedilatildeo das variedades cultivadas As matrizes altamente 237

aninhadas apresentam NODF tendendo a 1 caso contraacuterio tentem a ser 0 238

Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 239

Para o estudo das semelhanccedilas e diferenccedilas fenotiacutepicas entre as variedades de mandioca 240

ldquoin siturdquo realizamos anaacutelises multivariadas para identificar possiacuteveis grupos de variedades que 241

compartilham semelhanccedilas entre si 242

36

A anaacutelise de correspondecircncia muacuteltipla (MCA) permitiu identificar como as variedades 243

de mandioca estatildeo ordenadas em funccedilatildeo dos seus descritores etnobotacircnicos As etnovariedades 244

foram plotadas ao longo um plano cartesiano bi ou tridimensional onde a variaccedilatildeo total eacute 245

explicada pelos dois primeiros eixos Complementar a esta anaacutelise realizamos a anaacutelise de 246

agrupamento hieraacuterquico (Cluster) para identificar como estatildeo agrupadas as etnovariedades de 247

acordo seus descritores Conferimos a consistecircncia do dendrograma com coeficiente de 248

correlaccedilatildeo cofeneacutetica conforme Sneath amp Sokal (1973) que quantifica se a correlaccedilatildeo entre a 249

matriz de distacircncias originais e a matriz de distacircncias cofeneacuteticas eacute representativa Para 250

mensurar as dissimilaridades entre as variedades de mandioca foi utilizada a distacircncia 251

euclidiana e com o meacutetodo de Ward 252

Softwares utilizados 253

Para a anaacutelise da lista livre usamos o software ANTROPAC versatildeo 10 O software 254

ANINHADO 30 (Guimaratildees amp Guimaratildees 2006) foi usado para medir o grau de aninhamento 255

da rede Utilizamos o software estatiacutestico R (R core team 2017) para a anaacutelise de correlaccedilatildeo 256

de Spearman com o pacote corrplot (Wei amp Simko 2013) o desenho da rede que descreve a 257

interaccedilatildeo entre os agricultores e as etnovariedades com o pacote bipartite (Dormann et al 258

2017) E com os pacotes FactoMineR (LEcirc et al 2008) factoextra (Kassambara et al 2016) e 259

vegan (Oksanen et al 2017) foram realizadas as anaacutelises de cluster de correspondecircncia 260

muacuteltipla (MCA) e de correlaccedilatildeo coefeneacutetica respectivamente 261

Resultados 262

As diferentes etnovariedades de mandioca encontradas no estudo suprem a demanda 263

local por alimento enquanto outras atendem agraves preferecircncias individuais ou do comeacutercio As 264

variedades que possuem maior rendimento e a farinha produzida apresenta coloraccedilatildeo branca 265

satildeo as de maior valor comercial para os agricultores devido agraves preferecircncias do mercado Jaacute 266

37

outras variedades que satildeo mais moles e apresentam coloraccedilatildeo amarelada natildeo satildeo empregadas 267

na produccedilatildeo de farinha mas sim consumidas cozidas ou assadas A depender da demanda local 268

os agricultores intencionalmente aumentam ou diminuem a frequecircncia de suas variedades nos 269

roccedilados seja por alguma exigecircncia do comeacutercio ou para consumo familiar 270

Nas comunidades os agricultores separam suas variedades de mandioca em dois grupos 271

como observado em outras comunidades na mata Atlacircntica por Emperaire e Peroni (2007) o 272

das ldquomacaxeirasrdquo que satildeo as variedades exploradas basicamente para o consumo familiar sem 273

processo preacutevio de desintoxicaccedilatildeo cujas raiacutezes satildeo consumidas fritas eou cozidas Sendo 274

utilizadas tambeacutem como complemento na dieta dos animais E o grupo das ldquomandiocasrdquo que 275

satildeo as variedades que necessitam de processo preacutevio de desintoxicaccedilatildeo para o consumo 276

utilizadas comumente para a produccedilatildeo de farinha de mandioca Para os agricultores as 277

ldquomandiocasrdquo possuem maior valor comercial pois apresentam maior rendimento e 278

rentabilidade pois a farinha produzida eacute branca e atende as preferencias do comercio local 279

Aleacutem da farinha outros produtos e subprodutos produzidos dentre os quais foram citados 280

ldquotapioca ou gomardquo ldquobijurdquo ou ldquobolo de mandiocardquo satildeo utilizados para o consumo proacuteprio ou 281

eventual comercializaccedilatildeo 282

Os informantes natildeo possuiacuteam conhecimento sobre a origem dos nomes das variedades 283

de mandioca Quanto a compreensatildeo da geraccedilatildeo da diversidade intraespeciacutefica identificamos 284

que apesar de 66 dos agricultores citarem que conhecem variedades fruto de germinaccedilatildeo de 285

suas sementes nenhum deles utiliza as manivas para o plantio por essas variedades de 286

mandioca ldquovoluntaacuteriasrdquo natildeo apresentarem bom rendimento 287

Observamos que existe uma baixa correlaccedilatildeo entre a diversidade de variedades 288

atualmente cultivadas e as variaacuteveis socioeconocircmicas como no caso do nuacutemero de roccedilados 289

(r=028 Ple005) e do tamanho do roccedilado (r=033 Ple005) (Fig 7) Essa baixa correlaccedilatildeo pode 290

38

ser explicada pelo fato de existirem grupos de agricultores que preferem manter as variedades 291

de maior valor econocircmico e de subsistecircncia mesmo com aacutereas maiores de cultivo 292

Verificamos tambeacutem uma correlaccedilatildeo positiva moderada entre o nuacutemero de variedades 293

conhecidas com o nuacutemero de variedades atualmente cultivadas (r=054 Ple005) Na lista livre 294

foram identificadas 22 etnovariedades de mandioca cultivadas (132 citaccedilotildees no total) sendo 295

oito dessas mais citadas com maiores valores de saliecircncia (entre 047 e 0082) (Tabela 2) As 296

etnovariedades ldquoMacaxeira Rosardquo e ldquoMandioca Isabel de Souzardquo exibiram os maiores valores 297

de saliecircncia 047 e 037 respectivamente Logo essas variedades satildeo as mais conhecidas 298

dentro das comunidades com 66 e 48 das citaccedilotildees respectivamente 299

Dentre as etnovariedades citadas 12 foram idiossincraacuteticas pois apresentaram menor 300

frequecircncia de citaccedilatildeo e menores valores de saliecircncia (entre 0032 e 0006) (Tabela 2) 301

Redes de interaccedilatildeo social 302

A rede apresentou uma estrutura aninhada com grau de aninhamento significativamente 303

superior aos modelos nulos (N=3072 Plt0001) para as comunidades sendo um nuacutecleo de 304

etnovariedades altamente conectado aos agricultores (Fig 8) A estrutura aninhada nos permite 305

inferir que existe um grupo de agricultores que cultiva uma maior diversidade de etnovariedades 306

de mandioca em suas roccedilas enquanto que outro subgrupo que tem menor diversidade cultivam 307

as mais comuns ou disponiacuteveis (Cavechia et al 2014) Isso significa que os agricultores locais 308

mesmo em diferentes comunidades cultivam um nuacutecleo de etnovariedades comum entre eles 309

(n=6 Tabela 2) 310

Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 311

Observamos que a maioria dos indiviacuteduos de mandioca satildeo caracterizados por meio de 312

um conjunto de sete caracteres morfoloacutegicos os quais foram citados pelos agricultores como 313

mais importantes para a caracterizaccedilatildeo de suas variedades Nas visitas aos roccedilados registramos 314

39

as etnovariedades atualmente cultivadas e a tabela 3 fornece a lista completa com as 17 315

etnovariedades de mandioca e o local de registro 316

Por meio da anaacutelise de correspondecircncia muacuteltipla as variedades de mandioca foram 317

ordenadas em funccedilatildeo de seus descritores ao longo do primeiro e segundo eixo correspondentes 318

a 3680 da variacircncia total (Fig 9) 319

As variaacuteveis mais correlacionadas e que agruparam as variedades de mandioca no 320

primeiro eixo foram cor da folha desenvolvida (CFD) (r= 07239 Ple0001) cor do coacutertex da 321

raiz (CDR) (r= 06473 Ple0001) cor do broto foliar (CBF) (r= 06880 Ple0001) cor do peciacuteolo 322

(CDP) (r= 05250 Ple005) cor externa do caule (CEC) (r= 06883 Ple005) cor da polpa da 323

raiz (PDR) (r= 02473 Ple005) Para o segundo eixo as variaacuteveis correlacionadas foram cor 324

da folha desenvolvida (CFD) (r= 07220 Ple0001) cor externa do caule (CEC) (r= 08718 325

Ple0001) e cor do peciacuteolo (CDP) (r= 06927 Ple005) 326

O agrupamento de todas as variedades caracterizadas ldquoin siturdquo gerou uma aacutervore 327

hieraacuterquica (dendrograma) (Fig 9) utilizando a distacircncia euclidiana seguindo o criteacuterio de 328

Ward O dendrograma gerado apresentou um coeficiente de correlaccedilatildeo cofeneacutetica r= 06780 329

indicando que existe consistecircncia com os dados originais no agrupamento quanto agrave 330

classificaccedilatildeo e estrutura de tal forma que as variedades foram agrupadas em oito classes as 331

quais foram explicadas pelas variaacuteveis mais significativas descritas na tabela 4 332

O resultado do agrupamento (utilizada a distacircncia euclidiana e com o meacutetodo de Ward) 333

observamos que as etnovariedades de mandioca caracterizadas ldquoin siturdquo foram agrupadas em 334

dois grandes agrupamentos indicados na Fig 10 pelos retacircngulos em vermelho A partir dessa 335

anaacutelise percebemos que os caracteres morfoloacutegicos selecionados pelos agricultores natildeo foram 336

suficientes para separar as variedades de macaxeira e mandioca pois em ambos os 337

agrupamentos encontramos tanto macaxeiras quanto mandiocas 338

40

As variedades da classe 1 foram identificadas pelos agricultores pela cor do peciacuteolo 339

(CDP) verde A classe 2 agrupou as etnoveriedades caracterizadas pela protuberacircncia da cicatriz 340

foliar (PCF) mais protuberante Esse descritor segundo os agricultores era identificado como 341

ldquoembriatildeordquo A classe 3 consiste apenas da variedade ldquoMandioca Pretonardquo indicada pela presenccedila 342

de cor do peciacuteolo (CDP) vermelho A classe 4 agrupou trecircs variedades caracterizadas pelos 343

agricultores pela presenccedila de cor coacutertex da raiz (CDR) rosa e cor da polpa da raiacutez (PDR) branca 344

identificadas como ldquoMacaxeira vermelhardquo ldquoMacaxeira Rosa Brancardquo ldquoMacaxeira Rosardquo As 345

variedades agrupadas na classe 5 foras as variedades de mandioca caracterizadas pelos 346

agricultores por apresentarem cor do coacutertex (CDR) da raiacutez branca A classe 6 agrupou 347

variedades identificadas pelos agricultores pela cor do broto foliar (CBF) verde A classe 7 348

consiste apenas da variedade ldquoMacaxeira Sementerdquo identificada pelos agricultores pela cor do 349

peciacuteolo (CDP) roxo e protuberacircncia da cicatriz foliar pouco proeminente Essa variedade 350

segundo os agricultores era fruto do nascimento espontacircneo no roccedilado poreacutem eles geralmente 351

natildeo utilizam essas variedades por apresentarem apenas uma raiz pequena e de baixo 352

rendimento Na classe 8 as variedades foram identificadas pelos agricultores pela cor do peciacuteolo 353

(CDP) verde amarelado e protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) pouco proeminente As 354

ldquoMandioca Isabel de Souzardquo ldquoMandioca Isabel trecircs galhosrdquo segundo os agricultores se 355

diferenciavam pelo maior nuacutemero de caules presentes na variedade ldquoIsabel trecircs galhosrdquo 356

Discussatildeo 357

As sete comunidades estudadas manejavam um nuacutemero consideraacutevel de variedades 358

locais A quantidade de etnovariedades registradas eacute proacutexima a encontrada por Bender et al 359

(2009) e Cavechia et al (2014) em comunidades na regiatildeo sul e sudeste por Oler e Amorozo 360

(2017) em uma comunidade tradicional na regiatildeo centro-oeste Poreacutem foi quantitativamente 361

inferior quando comparada a estudos como os de Elias et al (2001) e Kawa et al (2013) em 362

comunidades na regiatildeo amazocircnica pois possuiacuteam uma alta diversidade Essa alta diversidade 363

41

na regiatildeo amazocircnica pode estar relacionada com o fato de que essa regiatildeo eacute o provaacutevel centro 364

de origem da mandioca (M esculenta) (Allem 1994) 365

As etnovariedades registradas neste estudo estatildeo disponiacuteveis para a maioria dos 366

agricultores dessa regiatildeo e esse fator favorece a circulaccedilatildeo das etnovariedades entre as 367

comunidades locais Por isso haacute semelhanccedilas das etnovariedades utilizadas entre os agricultores 368

da mesma comunidade e entre comunidades vizinhas 369

Parte dos agricultores optam por manter uma alta frequecircncia de variedades mais 370

utilizadas enquanto que outros optam por manter etnovariedades de baixa frequecircncia 371

Conforme discutido por Amorozo (2013) os agricultores escolhem seu acervo de acordo com 372

as necessidades e contexto em que vivem A reduccedilatildeo da diversidade de etnoveriedades por 373

exemplo pode ser impulsionada por fatores que simplificam o sistema como a seleccedilatildeo de 374

etnovariedades para a produccedilatildeo de farinha resultando no cultivo de poucas ou ateacute de uma uacutenica 375

etnovariedade (Peroni amp Hanazaki 2002) mesmo em aacutereas maiores 376

377

Redes de interaccedilatildeo social 378

Com as anaacutelises de rede demonstramos que os agricultores de diferentes comunidades 379

em uma mesma regiatildeo efetivamente trocam variedades de mandioca entre si corroborando 380

com estudos realizados por Emperaire amp Eloy (2008) Pautasso et al (2012) e Cavechia et al 381

(2014) Nesses estudos os autores tambeacutem consideram que as trocas de etnovariedades por 382

meio da rede de intercacircmbio entre os agricultores eacute um mecanismo fundamental para a 383

manutenccedilatildeo da diversidade local 384

A visualizaccedilatildeo da rede demonstrou que entre as comunidades os agricultores 385

compartilham um nuacutecleo de etnovariedades mais utilizadas dentre as quais estatildeo as de maior 386

valor econocircmico e de subsistecircncia Essas de maior frequecircncia satildeo aquelas altamente produtivas 387

utilizadas pelos agricultores para atenderem agraves demandas de mercado por farinha e para o 388

consumo proacuteprio (Kawa et al 2013) 389

42

No entanto observamos que existe outro nuacutecleo de etnovariedades menos frequentes 390

Essas etnovariedades raras podem ser resultantes do processo de experimentaccedilatildeo ou 391

preferecircncias individuais dos agricultores Outra possiacutevel razatildeo para a baixa frequecircncia de 392

algumas etnovariedades poderia ser explicada pela variaccedilatildeo da nomenclatura pelos 393

agricultores que segundo Peroni amp Hanazaki (2002) pode ocorrer durante o processo de troca 394

e introduccedilatildeo de novas variedades aos roccedilados Ainda assim natildeo descartamos a hipoacutetese de que 395

essas etnovariedades raras possam ser provenientes do cruzamento entre variedades diferentes 396

cultivadas da mesma roccedilado ou em roccedilas vizinhas De acordo com Martins (2005) essas 397

variedades fruto de germinaccedilatildeo expentacircnea satildeo incorporadas aos roccedilados pelos agricultores 398

pela curiosidade em experimentar novas variedades agraves suas coleccedilotildees 399

Nesse estudo admitimos que optar por etnovariedades raras entre as comunidades 400

estudadas eacute um comportamento adotado por agricultores que manejam uma maior diversidade 401

corroborando com os estudos de Cavechia et al (2014) e Emperaire et al (2016) em regiotildees 402

uacutemidas Para esses autores etnovaridedades de baixa frequecircncia representam um subconjunto 403

das de alta frequecircncia cultivadas por agricultores que manteacutem a maior diversidade em seus 404

roccedilados Sendo assim inferimos que no geral entre as comunidades satildeo os agricultores 405

generalistas aqueles que cultivam maior diversidade os responsaacuteveis por incorporar novas 406

etnovariedades aos roccedilados 407

As decisotildees dos agricultores em manter o acervo direcionado principalmente para 408

atender a demanda de mercado por exemplo podem levar a uma homogeneizaccedilatildeo nas roccedilas 409

colocando em risco a manutenccedilatildeo da diversidade local (Peroni amp Hanazaki 2002) Como 410

discutido por Elias et al (2000) os agricultores que selecionam apenas um nuacutemero reduzido e 411

especiacutefico de variedades mais produtivas tendem a fazer com que as variedades menos 412

frequentes desapareccedilam ao longo do tempo Essa tendecircndia pode influenciar na capacidade de 413

43

resiliecircncia do sistema assim como dos agricultores em lidar com possiacuteveis adversidades 414

ambientais que possam ocorrer 415

Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 416

No geral os agricultores demonstraram uma tendecircncia em classificarseparar suas 417

diferentes etnovariedades de mandioca a partir da combinaccedilatildeo de um conjunto de sete 418

caracteres morfoloacutegicos distintos e de faacutecil percepccedilatildeo os quais natildeo tem relaccedilatildeo com o uso 419

como por exemplo a cores das raiacutezes caule e folhas Logo consideramos que esses caracteres 420

morfoloacutegicos podem ser considerados como uma forma de classificaccedilatildeo pelos agricultores 421

baseada na capacidade percepccedilatildeo das diferenccedilas morfoloacutegicas que cada etnovariedades 422

apresenta (Boster 1985) Estes resultados nos levam a entender que entre os agricultores o 423

conhecimento sobre a diversidade da mandioca estaacute relacionado ao conhecimento de 424

caracteriacutesticas morfoloacutegicas consistentes 425

A existecircncia de alguns fenoacutetipos comuns nos permitiu avaliar a classificaccedilatildeo da 426

consistecircncia da taxonomia popular entre os agricultores Por exemplo as etnovariedades 427

ldquoMaxaceira Rosardquo e ldquoMacaxeira Rosa Brancardquo e ldquoMacaxeira vermelhardquo foram agrupadas no 428

mesmo cluster (C4) por apresentaram fenoacutetipos semelhantes Notamos que os agricultores 429

classificaram essas variedades de acordo com os traccedilos morfoloacutegicos mais relevantes como a 430

cor do coacutertex da raiz rosa e cor branca da polpa O mesmo ocorreu com as etnovariedades 431

ldquoMandioca varudardquo ldquoMandioca campina da granderdquo e ldquoMandioca campinardquo caracterizadas 432

pela presenccedila do peciacuteolo verde agrupadas no cluster (C1) 433

A partir dessas evidecircncias consideramos a hipoacutetese de que as variedades mesmo 434

apresentando caracteriacutesticas morfoloacutegicas muito semelhantes estatildeo sujeitas a variaccedilatildeo 435

nomenclatural durante o processo a incorporaccedilatildeo aos roccedilados pelos agricultores pois a 436

capacidade para distinguir e nomear variedades entre os agricultores da mesma regiatildeo pode 437

variar (Sambatti et al 2001 Elias et al 2001 Mekbib 2007) Consideramos tambeacutem que pode 438

44

existir variaccedilatildeo geneacutetica entre os indiviacuteduos identificados por um mesmo nome ou entatildeo que 439

os agricultores datildeo o mesmo nome para variedades diferentes E esta situaccedilatildeo pode levar a uma 440

superestimaccedilatildeo ou subestimaccedilatildeo da diversidade de mandioca cultiva nas aacutereas de estudo 441

Sabemos que a mandioca eacute propagada vegetativamente pelos agricultores por meio de 442

estacas em sistemas de agricultura tradicional No entanto alguns variedades produzem flores 443

e sementes que germinam e podem originar outras variedades ou outros clones por meio de 444

fecundaccedilatildeo cruzada (Elias et al 2001) Nesse contexto a etnovariedade ldquoMacaxeira Sementerdquo 445

presente no cluster (C7) trata-se de um uacutenico indiviacuteduo amostrado em uma roccedila de um dos 446

agricultores Esta apresentava algumas caracteriacutesticas morfoloacutegicas distintas das demais 447

reconhecidas pelo agricultor como por exemplo a produccedilatildeo de uma raiz uacutenica e 448

consequentemente de baixo rendimento Encontramos apenas um indiviacuteduo dessa 449

etnovariedade e nossa hipoacutetese de que esta poderia ter sido originada da germinaccedilatildeo da 450

semente mesmo quando 100 dos informantes declararam natildeo dar qualquer importacircncia e 451

descartar essas ldquovariedades-voluntaacuteriasrdquo foi confirmada pelo agricultor que afirmou que se 452

tratava de uma variedade nascida da germinaccedilatildeo da semente Esse comportamento vai de 453

encontro ao estudo de Fraser et al (2012) pois apesar dos agricultores reportarem nas 454

entrevistas que conhecem essas ldquovariedades-voluntaacuteriasrdquo nenhum agricultor faz o uso delas 455

Peroni et al (1999) e Agre et al (2016) analisando morfologicamente as variedades 456

locais de mandioca mantidas por agricultores em sistemas agriacutecolas tropicais tambeacutem 457

demonstraram que os agricultores satildeo coerentes quanto a separaccedilatildeo e identificaccedilatildeo de suas 458

etnovariedades a partir da formaccedilatildeo de grupos de coesos quanto a nomenclatura local utilizada 459

No entanto para o melhor entendimento dessa diversidade aleacutem da caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica 460

o uso de anaacutelises complementares como anaacutelise molecular seria importante para tentar 461

identificar se esses grupos representam a mesma variedade com nomes distintos ou se satildeo 462

variedades distintas com o mesmo nome 463

45

Conclusatildeo 464

O estudo demonstrou que no sistema de manejo da mandioca ao niacutevel de roccedila em 465

comunidades localizadas na regiatildeo semiaacuterida de Pernambuco compotildee uma diversidade 466

intrespeciacutefica de mandioca para atender agraves demandas econocircmicas e de subsistecircncia das 467

populaccedilotildees locais 468

Com relaccedilatildeo a anaacutelise de rede demostramos que haacute um nuacutecleo de etnovariedades 469

fortemente conectado aos agricultores e sua composiccedilatildeo eacute direcionada pelas preferecircncias e 470

necessidades individuais dos agricultores que foram os fatores responsaacuteveis pelo surgimento 471

da estrutura aninhada observada na anaacutelise rede entre as comunidades deste estudo E esse 472

padratildeo aninhado observado contribui na conservaccedilatildeo das etnovariedades mais comuns mas 473

tambeacutem pode resultar em perda daquelas de menor frequecircncia ao longo do tempo 474

A caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica ldquoin siturdquo nos permitiram inferir que os agricultores 475

reconhecem as diferentes caracteriacutesticas morfoloacutegicas de suas cultivares e satildeo coerentes na 476

separaccedilatildeo de suas variedades de mandioca e macaxeira Entretanto esses resultados sugerem a 477

realizaccedilatildeo de um estudo em niacutevel de diversidade geneacutetica exploratoacuterio para identificar se as 478

consistecircncias morfoloacutegicas refletem em consistecircncias geneacuteticas elucidando assim as possiacuteveis 479

confusotildees atribuiacutedas aos nomes das etnovariedades de mandioca 480

Agradecimentos 481

Agradecemos ao liacuteder comunitaacuterio Alexandre O Nascimento aos agricultores e 482

agricultoras das comunidades pela acolhida confianccedila e pela gentileza de compartilharem 483

conosco seus conhecimentos e contribuiacuterem com este estudo Especialmente a Arlindo Ferreira 484

Edgar Antocircnio Joseacute Sebastiatildeo Juvenal Oliveira e Janete Alves Ao Laboratoacuterio de Ecologia e 485

Evoluccedilatildeo de Sistemas Socioecoloacutegicos (LEA - UFPE) E agradecemos ao CNPq pelo apoio 486

com a bolsa de estudos do primeiro autor 487

46

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Link de acesso 619

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Qualis-CAPES 621

B1 em Biodiversidade 622

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52

Figuras 643

644

645

Fig 1 Partes do processo de fabricaccedilatildeo de farinha de mandioca Onde a raspagem b e c 646

processo de trituraccedilatildeo e d peneiramento Foto registrada em Abril de 2017 por Mirela Santos 647

648

649

650

c

d

b

a

53

651

Fig 2 Mapa de localizaccedilatildeo geograacutefica dos Municiacutepios de Altinho e Panelas e das comunidades 652

estudadas na regiatildeo semiaacuterida do Estado de Pernambuco (Elaborado por SANTOS 2018) 653

54

654

655

656

657

Fig 3 Processo de fabricaccedilatildeo da farinha de mandioca Apoacutes a colheita as raiacutezes satildeo lavadas 658

raspadas e trituradas (a) A massa extraiacuteda eacute prensada e coada Ao sair da prensa a massa 659

peneirada (b) e em seguida eacute torrada (c) em fornos artesanais ou parcialmente mecanizados 660

Imagem registrada em janeiro de 2017 na Comunidade do Caratildeo por Mirela Santos 661

662

663

a

b c

55

664

Fig 4 a Sede da Comunidade do Caratildeo b Agricultor transportando a palma forrageira que eacute 665

um exemplo de estrateacutegia adaptativa para suprir a falta de alimento dos animais devido agrave seca 666

c Feira-livre que acontece na comunidade a cada quinze dias Imagem registrada em julho de 667

2016 na Comunidade do Caratildeo por Mirela Santos 668

669

670

Fig 5 a O agricultor nos explicava as mudanccedilas que vem fazendo em seus roccedilados para se 671

adaptar aos longos periacuteodos de seca b Quando o agricultor nos mostrava as diferentes 672

etnovariedades que mantinha em sua roccedila c Durante a pesquisa nos explicavam como era feita 673

a colheita da mandioca e como selecionavam as manivas para o proacuteximo plantio Foto registrada 674

em abril de 2017 na Comunidade do Brejo Velho por Mirela Santos 675

a

b c

c b

a

56 676

677

Fig 6 Possiacuteveis estruturas de rede que descrevem as interaccedilotildees dos agricultores (losango) 678

ligados as etnovariedades (ciacuterculos) que cultivam Onde a Aninhada b Modular c Aleatoacuteria 679

(Fonte Cavechia et al 2014 com adaptaccedilotildees) 680

681

682

683

684

685

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a c b

57

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706

707

Fig 7 Correlaccedilatildeo de Spearman entre a diversidade de etnovariedades de mandiocas conhecidas 708

como cultivadas e variedades atualmente cultivadas por agricultor e as variaacuteveis 709

socioeconocircmicas Onde Nvc= nuacutemero de citadas como cultivadas Nve= nuacutemero de variedades 710

atualmente cultivadas Esc= escolaridade Id= idade Gen= gecircnero Tr= tamanho do roccedilado 711

Exp= experiecircncia na agricultura Sld= renda Nr= nuacutemero de roccedilados Cores distintivas 712

representam correlaccedilotildees significativas (Ple005) 713

714

58

715

Fig 8 Modelo individual de rede de etnovariedades de mandioca citadas (esquerda) por 716

agricultores como cultivadas (direita) nos Municiacutepios de Altinho e Panelas As redes foram 717

desenhadas com o pacote bipartite (Dormann et al 2017) usando o software R (R CORE 718

TEAM 2017) 719

720

59

721

Fig 9 Anaacutelise de Correspondecircncia Muacuteltipla das 17 etnovariedades de mandioca considerando 722

os sete descritores morfoloacutegicos utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo em roccedilas de 723

agricultores tradicionais de sete comunidades no semiaacuterido de Pernambuco 724

725

726

727

728

729

730

731

732

733

734

735

736

737

McCambadinha

McCampina

McCampinaDaGrande

McCampinaRasteira

McCampinaVaruda

McGauba

McIsabelDeSouza

McIsabelTresGalhos

McOlhoDePombo

McOlhoVerde

McPretinha

McPretona

MxBranca

MxRosa

MxRosaBrancaMxRosaVermelha

MxSemente

CFD_Verde_Arroxeado

CFD_Verde_ClaroCFD_Verde_Escuro

CBF_Roxo

CBF_Verde_ArroxeadoCBF_Verde_Claro

CBF_Verde_Escuro

CDP_Verde

CDP_Verde_Amarelado

CDP_Verde_Avermelhado

CDP_Vermelho

CEC_Cinza

CEC_Dourado

CEC_Laranja

CEC_Marrom_Claro

CEC_Marrom_Escuro

CEC_Prateado

CEC_Verde_AmareladoCicatriz_M

Cicatriz_P

PDR_Branco

PDR_Creme

CDR_BrancoCDR_Creme CDR_Rosa

-4

-2

0

2

4

-4 -2 0 2 4

Dim1 (206)

Dim

2 (

162

)

MCA - Biplot

00

10

Hierarchical Clustering

inertia gain

McC

am

pin

aV

aru

da

McC

am

pin

aD

aG

rande

McC

am

pin

a

McG

auba

McP

retin

ha

McP

reto

na

MxR

osaV

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MxR

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ranca

MxR

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McC

am

pin

aR

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ira

McC

am

badin

ha

McO

lhoV

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e

MxB

ranca

MxS

em

ente

McIsabelT

resG

alh

os

McIsabelD

eS

ouza

McO

lhoD

eP

om

bo

00

05

10

15

Hierarchical Classification

Heig

ht

C1 C2 C3 C4 C5 C6 C7 C8

Fig 10 Agrupamento hieraacuterquico das 17 etnovariedades de mandioca caracterizadas de acordo

com os descritores utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo

60

Tabelas 738

739

Tabela 1 Caracteres e estados utilizados pelos agricultores como descritores botacircnicos para 740

caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das etnovariedades de mandioca 741

Caracter Sigla Estados

Folha

Cor da folha desenvolvida CFD 1- verde claro 2- verde escuro 3- verde arroxeado 4- roxo

Cor do broto foliar CBF 1- verde claro 2- verde escuro 3- verde arroxeado 4- roxo

Cor do peciacuteolo CDP 1- verde amarelado 2- verde 3- verde avermelhado 4- roxo

5- vermelho

Caule

Cor externa do caule CEC 1- laranja 2- verde amarelado 3- dourado 4- marrom claro

5- prateado 6- cinza 7- marrom escuro 8- verde

Protuberacircncia da cicatriz foliar PCF 1- pouco proeminente 2- muito proeminente

Raiacutez

Cor da poupa da raiz PDR 1- branco 2- creme

Cor do coacutertex da raiacutez CDR 1- rosa 2- branco 3- creme

742

743

744

745

746

747

748

749

750

751

61

Tabela 2 Lista das 22 etnovariedades de mandiocas citadas (132 citaccedilotildees) como cultivadas nas 752

comunidades pertencentes aos Municiacutepios de Altinho (Caratildeo n=8) e ao Municiacutepio de Panelas 753

(Aracuatilde Satildeo Joseacute do Bola Brejo Velho Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima e Lajeiro 754

Dantas n=21) 755

Etnovariedade Frequecircncia () Ranking Saliecircncia

Macaxeira Rosa 66 179 0472

Mandioca Isabel de Souza 48 179 0372

Mandioca Campina 24 217 0148

Macaxeira Branca 20 210 0134

Macaxeira Rosa branca 18 122 0168

Mandioca Pretona 16 338 0082

Mandioca Cambadinha 12 283 0071

Mandioca Isabel trecircs galhos 10 180 0075

Mandioca Gauacuteba 10 260 0070

Mandioca Pretinha 8 225 0053

Mandioca Peacute de pombo 4 400 0011

Mandioca Olho verde 4 350 0012

Macaxeira Rosinha 4 200 0027

Mandioca Campina varuda 4 200 0032

Mandioca Campina rasteira 4 300 0021

Mandioca Caboquinha 2 500 0007

Macaxeira Rasteira 2 200 0013

Macaxeira Paraacute 2 100 0020

Mandioca Barra ferro 2 300 0007

Mandioca Campina da grande 2 100 0020

Mandioca Olho de pombo 2 300 0010

Mandioca Jasmim 2 600 0006

756

757

758

62

Tabela 3 Lista de 17 etnovariedades atualmente cultivadas nos roccedilados das comunidades em 759

estudo 760

Ca Ar Bo Br Jb Jc Ld

Etnovariedade

Macaxeira Branca x x x x

Macaxeira Rosa

x x x x x x

Macaxeira Rosa Branca x x x x

Macaxeira Rosa Vermelha

x

Macaxeira Semente

x

Mandioca Cambadinha x

x

Mandioca Campina

x

x

x

Mandioca Campina da Grande x

Mandioca Campina Rasteira

x

Mandioca Campina Varuda

x

Mandioca Gauacuteba

x

Mandioca Isabel de Souza

x x x

Mandioca Isabel trecircs Galhos

x

x

Mandioca Olho de Pombo

x

Mandioca Olho Verde

x

Mandioca Pretinha

x

Mandioca Pretona x x x

Comunidades Ca= Caratildeo Ar=Aracuatilde Bo= Satildeo Joseacute do Bola Jb= Japaranduba de Baixo 761

Jc= Japaranduba de Cima Ld= Lajedo Dantas 762

763

764

765

766

767

768

63

Tabela 4 Descriccedilatildeo das classes do agrupamento por meacutetodo de Ward agrupadas pelo conjunto 769

dos descritores mais significativos para a caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das variedades de mandioca 770

Classes Descritores in situ p-valor

C1 Cor do peciacuteolo (CDP) 0016

C2 Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023

C3 Cor do peciacuteolo (CDP) 0012

C4 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0004

Cor da poupa da raiacutez (PDF) 0021

C5 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0003

C6 Cor do broto foliar (CBF) 0002

C7 Cor da folha desenvolvida (CFD) 0004

Cor externa do caule (CEC) 0040

C8 Cor do peciacuteolo (CDP) 0005

Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023

Valores de Ple005 satildeo significativos 771

772

28

(mandioca) Euphorbiaceae em sua diversidade de etnovariedades eacute a espeacutecie mais importante 53

sob ponto de vista econocircmico e de subsistecircncia para as populaccedilotildees locais e mais cultivada 54

devido a sua grande adaptabilidade ambiental e baixos custos de gestatildeo (Elias et al 2001) 55

A alta diversidade da mandioca nessas aacutereas pode ser atribuiacuteda agrave possibilidade de 56

introduccedilatildeo de novas variedades via reproduccedilatildeo sexuada associada a ecologia da espeacutecie Esse 57

mecanismo permite o fluxo gecircnico entre as variedades de mandioca cultivadas do mesmo local 58

e entre estas com variedades de locais vizinhos (Pujol et al 2007) Outro mecanismo que 59

favorece essa diversidade eacute agrave circulaccedilatildeo de material propagativo por meio redes sociais de troca 60

variedades entre os agricultores (Pujol et al 2005 Emperaire amp Peroni 2007 Clement et al 61

2010) Esse mecanismo de troca eacute fundamental para o estabelecimento de interaccedilotildees entre as 62

diferentes aacutereas de roccedila promovendo oportunidade de seleccedilatildeo e cruzamento entre os diferentes 63

conjuntos de variedades aleacutem de permitir que este conjunto seja conservado (Emperaire amp Eloy 64

2008) 65

Diante desse cenaacuterio podemos observar que a agrobiodiversidade local natildeo eacute fruto 66

apenas de fatores naturais mas eacute tambeacutem influenciada pelas caracteriacutesticas culturais e 67

socioeconocircmica das populaccedilotildees locais refletidas especialmente no conhecimento e manejo 68

local Nesse sentido o presente estudo visa investigar as interaccedilotildees entre agricultores 69

tradicionais de comunidades rurais estabelecidas na regiatildeo semiaacuterida de Pernambuco 70

O objetivo geral eacute compreender os processos envolvidos na dinacircmica da diversidade 71

agriacutecola por meio do acesso ao conhecimento dos agricultores quanto as praacuteticas de menejo e 72

entender quais quais fatores podem estar relacionados a geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da diversidade 73

local Para esse estudo a mandioca foi escolhida como modelo devida agrave sua importacircncia 74

econocircmica e de subsistecircncia para comunidades locais Os objetivos especiacuteficos foram (i) 75

caracterizar o manejo da agricultura de sequeiro bem como analisar se os paracircmetros 76

socioeconocircmicos influenciam na diversidade local (ii) registrar as etnovariedades atualmente 77

29

cultivadas e identificar os diferentes criteacuterios morfoloacutegicos utilizados pelos agricultores para a 78

seleccedilatildeo e classificaccedilatildeo das etnovariedadese (iii) descrever a estrutura da rede de interaccedilatildeo entre 79

os agricultores e a diversidade de etnovariedades de mandioca cultivadas para tentar entender 80

como essas relaccedilotildees podem influenciar na manutenccedilatildeo ou perda da diversidade local 81

Material e meacutetodos 82

Aacutereas de estudo 83

Amostramos sete comunidades rurais estabelecidas na regiatildeo semiaacuterida de 84

Pernambuco Nordeste do Brasil Uma das comunidades (Caratildeo) pertence ao Municiacutepio de 85

Altinho (ldquo8deg 29rsquo 10rdquo S e 36deg 03rsquo 49rdquo W) e as demais (Satildeo Joseacute do Bola Brejo velho 86

Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima Lajedo Dantas e Aracuatilde) ao Municiacutepio de 87

Panelas (8 deg 39 48 S e 36 deg 01 23 W) (Fig 2) 88

O modelo agriacutecola adotado na regiatildeo segue o sistema tradicional de sequeiro4 e todas 89

as comunidades em estudo possuem histoacuterico de cultivo de mandioca (M esculenta) As aacutereas 90

de cultivo satildeo estabelecidas por unidade familiar e as atividades satildeo realizadas em sua maioria 91

por homens tendo cada agricultor cerca de um a dois hectares de aacuterea para plantio Aleacutem da 92

mandioca os cultivos mais utilizados na comunidades satildeo milho (Zea mays) e feijatildeo (Phaseolus 93

sp) 94

Para os membros das comunidades a produccedilatildeo da farinha de mandioca (Fig 3) eacute uma 95

das atividades agriacutecolas mais importantes tanto pelo seu papel na dieta alimentar quanto pela 96

importacircncia social e econocircmica 97

Caracteriacutesticas das comunidades do estudo 98

A comunidade do Caratildeo localiza-se sob domiacutenio de Caatinga caracterizado por climas 99

quentes e secos com regimes escassos de chuvas correspondente ao tipo BSrsquoh segundo a 100

4 Eacute o cultivo praticado sem irrigaccedilatildeo em regiotildees onde a pluviosidade eacute diminuta

30

classificaccedilatildeo climaacutetica de Koumlppen A vegetaccedilatildeo eacute composto por espeacutecies perenes que 101

conseguem sobreviver mesmo em periacuteodos de seca e espeacutecies anuais que aparecem apenas em 102

periacuteodos com chuva (Cruz et al 2013) 103

De acordo os dados de precipitaccedilatildeo do Laboratoacuterio de Anaacutelise e Processamento de 104

Imagens de Sateacutelites (LAPIS) no ano de 2012 foi registrada a menor meacutedia anual de 105

precipitaccedilatildeo dos uacuteltimos 10 anos para essa regiatildeo (3784 mm) Essa realidade ambiental quando 106

comparada com estudo realizado por de Sieber e colaboradores (2011) na mesma comunidade 107

observa-se que houve uma diminuiccedilatildeo considerada das praacuteticas agriacutecolas realizadas pelos 108

membros da comunidade culminando em uma seacuterie de prejuiacutezos aos agricultores como a perda 109

de plantaccedilotildees e animais Essa perda de produtividade afetou a estrutura econocircmica da 110

comunidade uma vez que a principal fonte de subsistecircncia das famiacutelias eacute a agricultura 111

Associada as atividades agriacutecolas os moradores complementam a dieta e a renda 112

familiar com a venda dos excedentes da produccedilatildeo em feiras-livres ou centros comerciais da 113

regiatildeo (Cruz et al 2013) E com a pecuaacuteria de pequena escala bovina caprina e com avicultura 114

No entanto a diminuiccedilatildeo da forragem natural e cultivada causada pela escassez de chuvas 115

associada aos elevados custos envolvidos na compra de raccedilatildeo levou muitos animais agrave morte 116

(Fig 4) 117

No Municiacutepio de Altinho a comunidade do Caratildeo foi inicialmente escolhida devido ao 118

reconhecimento preacutevio do registro de agricultores realizado em estudos desenvolvidos pelo 119

nosso grupo de pesquisa facilitando assim o acesso agraves informaccedilotildees necessaacuterias para o 120

desenvolvimento da pesquisa 121

As comunidades Aracuatilde Brejo Velho Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima 122

Lajedo Dandas e Satildeo Joseacute do Bola amostradas no estudo pertencem ao Municiacutepio de Panelas 123

que se limita ao Norte com o Municiacutepio de Altinho Essas comunidades estatildeo localizadas em 124

31

no domiacutenio morfoclimaacutetico de Caatinga O clima eacute do tipo semiaacuterido Bsrsquoh segundo a 125

classificaccedilatildeo climaacutetica de Koumleppen 126

A maior parte dos membros dessas comunidades assim como no Caratildeo tecircm como 127

principal fonte de subsistecircncia a agricultura de sequeiro principalmente o cultivo da mandioca 128

(Fig 5) Como renda extra a pecuaacuteria de pequeno porte com criaccedilatildeo bovina caprina e 129

avicultura sendo os excedentes dos alimentos produzidos vendidos em feiras locais ou para 130

escolas 131

As atividades agriacutecolas entre as comunidades tambeacutem foram duramente afetadas pela 132

seca na regiatildeo nos uacuteltimos anos A escassez de chuvas desestimulou o plantio a produccedilatildeo de 133

mandioca foi fortemente comprometida e a colheita foi adiada devido ao subdesenvolvimento 134

das raiacutezes gerando impactos econocircmicos para os membros das comunidades 135

As comunidades amostradas neste muniacutecipio foram escolhidas em funccedilatildeo das 136

indicaccedilotildees dos agricultores entrevistados a princiacutepio na comunidade do Caratildeo que reportaram 137

manter viacutenculos sociais com os agricultores do municiacutepio vizinho 138

Coleta de dados 139

Acessamos as comunidades com a ajuda de um liacuteder comunitaacuterio (Alexandre O 140

Nascimento) em companhia de outros pesquisadores que desenvolviam pesquisas na regiatildeo 141

Previamente as entrevistas todos objetivos e procedimentos para a realizaccedilatildeo da pesquisa foram 142

apresentados aos entrevistados e todos que aceitaram participar foram convidados a assinar um 143

Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) de acordo com a Resoluccedilatildeo 46612 do 144

Conselho Nacional de Sauacutede concordando com a realizaccedilatildeo das entrevistas e avaliaccedilotildees 145

morfoloacutegicas em campo O presente trabalho foi submetido ao Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa da 146

Universidade de Pernambuco (UPE) 147

32

Em todas as comunidades o meacutetodo de acesso ao informante foi o mesmo a partir do 148

primeiro contato com um informante-chave identificamos outros potenciais agricultores 149

seguindo a teacutecnica de ldquobola de neverdquo (Albuquerque et al 2014a) Esse meacutetodo consistiu na 150

amostragem intencional dos participantes e nesse particular os agricultores chefes de famiacutelia 151

(ge 18 anos) da regiatildeo que declararam cultivar mandioca (M esculenta) em suas roccedilas 152

Reunimos informaccedilotildees socioeconocircmicas desses agricultores tais como nome idade gecircnero 153

escolaridade renda experiecircncia na agricultura e tamanho da aacuterea de cultivo para tentar 154

identificar se esses paracircmetros socioeconocircmicos tecircm uma relaccedilatildeo com a agrobiodiversidade 155

local 156

Em seguida conduzimos entrevistas semiestruturadas (Albuquerque et al 2014b) com 157

o objetivo de caracterizar o modo de vida dos agricultores o manejo da agricultura bem como 158

obter dados sobre o conhecimento uso e caracterizaccedilatildeo das etnovariedades de mandioca 159

5cultivadas Aleacutem disso neste momento tambeacutem aplicamos a teacutecnica da lista livre 160

(Albuquerque et al 2014b) a fim de registrar as variedades de mandioca atualmente cultivadas 161

pelos agricultores e identificar as de maior importacircncia local Apoacutes as entrevistas realizamos 162

visitas aos roccedilados para o registro fotograacutefico georreferenciamento das roccedilas e caracterizaccedilatildeo 163

morfoloacutegica das variedades cultivadas 164

Entrevistamos 50 agricultores no total distribuiacutedos nas sete comunidades Caratildeo (3) 165

Satildeo Joseacute do Bola (10) Brejo velho (7) Japaranduba de Baixo (7) Japaranduba de Cima (8) 166

Lajedo Dantas (9) e Aracuatilde (6) Destes 10 satildeo mulheres e 40 homens com idade variando entre 167

31 e 82 anos A maioria dos entrevistados natildeo apresentava instruccedilatildeo formal (46) mais da 168

metade eram aposentados (56) e os demais apresentaram renda inferior a um salaacuterio miacutenimo 169

5 Entende-se por etnovariedade de mandioca o conjunto de variedades intraespeciacuteficas de mandioca (M esculenta)

reconhecidas pelos agricultores por nomenclatura popular local (Peroni 2004)

33

O tempo meacutedio de experiecircncia na agricultura foi de 40 anos Cada agricultor possui entre um e 170

dois roccedilados (aacuterea de plantio) com aproximadamente um a dois hectares 171

Redes de interaccedilatildeo social 172

Confeccionamos a rede que descreve as interaccedilotildees entre os agricultores e as 173

etnovariedades cultivadas a partir de uma matriz de incidecircncia R (presenccedilaausecircncia) onde nas 174

linhas estavam as etnovariedades de mandioca cultivadas (j) e nas colunas os agricultores locais 175

(i) O elemento Rij dessa matriz foi 1 (um) no caso de a etnovariedade j ser cultivada pelo 176

agricultor i caso contraacuterio seria atribuiacutedo 0 (zero) As interaccedilotildees entre os agricultores e as 177

etnovariedades foram descritas em dois modos (Pires et al 2011) onde os ldquonoacutesrdquo da esquerda 178

representam os agricultores que foram vinculados aos ldquonoacutesrdquo da direita representados pelas 179

etnovariedades citadas durante as entrevistas Esses ldquonoacutesrdquo seriam o espelho das decisotildees dos 180

agricultores em manter um determinado conjunto local de etnovariedades em suas roccedilas 181

Avaliamos a estrutura da rede que conecta os agricultores agraves etnovariedades cultivadas 182

a partir de trecircs cenaacuterios hipoteacuteticos (Fig 6) segundo Cachevia et al (2014) No primeiro se os 183

agricultores apresentassem diferentes graus de seletividade para a utilizaccedilatildeo de suas 184

etnovariedades a estrutura seria aninhada (Fig 6a) Isso significa que alguns agricultores 185

cultivam vaacuterias etnovariedades enquanto que outros cultivam o subconjunto mais 186

disponiacutevelcomum dessas etnovariedades Em segundo lugar se a rede apresentasse uma 187

estrutura modular (Fig 6b) significaria que os agricultores apresentam semelhanccedila na seleccedilatildeo 188

do recurso ou seja subgrupos de agricultores cultivam subgrupos distintos de etnovariedades 189

regionalmente disponiacuteveiscomuns E o terceiro se os agricultores natildeo apresentassem 190

preferecircncias quanto a seleccedilatildeo das etnovariedades entatildeo a rede apresentaria uma estrutura 191

aleatoacuteria (Fig 6c) 192

O objetivo da anaacutelise de rede nesse estudo foi tentar entender se o conjunto de 193

etnovariedades presentes no local do estudo constituem uma subamostra de um conjunto mais 194

34

amplo no caso de um alto grau de aninhamento ou se a sua composiccedilatildeo eacute determinada por 195

variaacuteveis locais (Ulrich 2008) Onde as conexotildees entre os informantes e as etnovariedades 196

representam as decisotildees dos agricultores de manter um conjunto determinado de variedades de 197

mandioca dentre as comunidades Esta anaacutelise tambeacutem nos permitiu identificar quais os nuacutecleos 198

de etnovariedades que apresentam maior conexatildeo com os diferentes perfis dos agricultores 199

Diversidade fenotiacutepica 200

Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 201

Apoacutes as entrevistas buscamos identificar quais os caracteres morfoloacutegicos considerados 202

mais importantes para a diferenciaccedilatildeo das etnovariedades de mandioca a partir do seguinte 203

questionamento ldquoQuais as diferenccedilas que vocecirc reconhece para separar uma qualidade de 204

mandioca (variedade) de uma outrardquo Assim os agricultores mencionaram quais os criteacuterios 205

mais importantes utilizados para a caracterizaccedilatildeo de suas etnovariedades 206

Compilamos uma listagem dessas caracteriacutesticas baseada nas indicaccedilotildees dos 207

agricultores e a partir delas selecionamos os caracteres morfoloacutegicos mais citados para a 208

caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica ldquoin siturdquo tais como cor da folha (cor da folha desenvolvida) olho 209

(cor do broto foliar) cor do talo (cor do peciacuteolo) maniva (cor externa do caule) embriatildeo 210

(protuberacircncia da cicatriz foliar) cor da entrecasca (coacutertex da raiz) e cor miolo (polpa da raiz) 211

(Tabela 1) O objetivo dessa caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica foi indicar como estaacute distribuiacuteda a 212

variaccedilatildeo fenotiacutepica das etnovariedades de mandioca nas comunidades na regiatildeo semiaacuterida de 213

Pernambuco bem como identificar que caracteriacutesticas satildeo mais importantes para distinguir 214

esses grupos no intuito de tentar entender como os agricultores classificam suas variedades de 215

mandioca 216

Nas sete comunidades para cada etnovariedade citada no roccedilado caracterizamos ldquoin 217

siturdquo trecircs indiviacuteduos de M esculentade de cada uma totalizando 171 indiviacuteduos (Aracuatilde=11 218

35

Caratildeo=4 Satildeo Joseacute do Bola=13 Brejo Velho=16 Japaranduba de Baixo=6 Japaranduba de 219

Cima=3 e Lajedo Dantas=4) Fotografamos e avaliamos todos os indiviacuteduos com base em parte 220

dos descritores morfoloacutegicos seguindo recomendaccedilotildees de Fukuda amp Guevara (1998) e aleacutem 221

disso georreferenciamos todas as aacutereas de roccedila 222

Anaacutelise dos dados 223

Analisamos os dados socioeconocircmicos das entrevistas semiestruturadas por meio de 224

estatiacutestica descritiva para explicar os aspectos da realidade econocircmica e social dos agricultores 225

Para identificar se a diversidade intraespeciacutefica da mandioca cultivada localmente eacute 226

influenciada por paracircmetros socioeconocircmicos utilizamos o coeficiente de correlaccedilatildeo de 227

Spearman (Ple005) (Sokal amp Rohlf 1995) 228

Com base na lista livre das variedades de mandioca cultivadas pelos agricultores 229

calculamos a frequecircncia de citaccedilatildeo o ranking e o iacutendice de saliecircncia com o objetivo de 230

identificar quais as mais importantes ou preferidas para as comunidades O iacutendice de saliecircncia 231

considerou a frequecircncia de citaccedilatildeo e o ranking referente ao posicionamento das variedades 232

dentro das listas livres (Thompson amp Juan 2006) As etnovariedades mais citadas e com maior 233

valor de saliecircncia representam as de maior importacircncia ou preferecircncia para as comunidades 234

Anaacutelise de rede 235

Medimos o grau de aninhamento (NODF) para investigar a estrutura de rede de 236

interaccedilatildeo social dos agricultores em funccedilatildeo das variedades cultivadas As matrizes altamente 237

aninhadas apresentam NODF tendendo a 1 caso contraacuterio tentem a ser 0 238

Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 239

Para o estudo das semelhanccedilas e diferenccedilas fenotiacutepicas entre as variedades de mandioca 240

ldquoin siturdquo realizamos anaacutelises multivariadas para identificar possiacuteveis grupos de variedades que 241

compartilham semelhanccedilas entre si 242

36

A anaacutelise de correspondecircncia muacuteltipla (MCA) permitiu identificar como as variedades 243

de mandioca estatildeo ordenadas em funccedilatildeo dos seus descritores etnobotacircnicos As etnovariedades 244

foram plotadas ao longo um plano cartesiano bi ou tridimensional onde a variaccedilatildeo total eacute 245

explicada pelos dois primeiros eixos Complementar a esta anaacutelise realizamos a anaacutelise de 246

agrupamento hieraacuterquico (Cluster) para identificar como estatildeo agrupadas as etnovariedades de 247

acordo seus descritores Conferimos a consistecircncia do dendrograma com coeficiente de 248

correlaccedilatildeo cofeneacutetica conforme Sneath amp Sokal (1973) que quantifica se a correlaccedilatildeo entre a 249

matriz de distacircncias originais e a matriz de distacircncias cofeneacuteticas eacute representativa Para 250

mensurar as dissimilaridades entre as variedades de mandioca foi utilizada a distacircncia 251

euclidiana e com o meacutetodo de Ward 252

Softwares utilizados 253

Para a anaacutelise da lista livre usamos o software ANTROPAC versatildeo 10 O software 254

ANINHADO 30 (Guimaratildees amp Guimaratildees 2006) foi usado para medir o grau de aninhamento 255

da rede Utilizamos o software estatiacutestico R (R core team 2017) para a anaacutelise de correlaccedilatildeo 256

de Spearman com o pacote corrplot (Wei amp Simko 2013) o desenho da rede que descreve a 257

interaccedilatildeo entre os agricultores e as etnovariedades com o pacote bipartite (Dormann et al 258

2017) E com os pacotes FactoMineR (LEcirc et al 2008) factoextra (Kassambara et al 2016) e 259

vegan (Oksanen et al 2017) foram realizadas as anaacutelises de cluster de correspondecircncia 260

muacuteltipla (MCA) e de correlaccedilatildeo coefeneacutetica respectivamente 261

Resultados 262

As diferentes etnovariedades de mandioca encontradas no estudo suprem a demanda 263

local por alimento enquanto outras atendem agraves preferecircncias individuais ou do comeacutercio As 264

variedades que possuem maior rendimento e a farinha produzida apresenta coloraccedilatildeo branca 265

satildeo as de maior valor comercial para os agricultores devido agraves preferecircncias do mercado Jaacute 266

37

outras variedades que satildeo mais moles e apresentam coloraccedilatildeo amarelada natildeo satildeo empregadas 267

na produccedilatildeo de farinha mas sim consumidas cozidas ou assadas A depender da demanda local 268

os agricultores intencionalmente aumentam ou diminuem a frequecircncia de suas variedades nos 269

roccedilados seja por alguma exigecircncia do comeacutercio ou para consumo familiar 270

Nas comunidades os agricultores separam suas variedades de mandioca em dois grupos 271

como observado em outras comunidades na mata Atlacircntica por Emperaire e Peroni (2007) o 272

das ldquomacaxeirasrdquo que satildeo as variedades exploradas basicamente para o consumo familiar sem 273

processo preacutevio de desintoxicaccedilatildeo cujas raiacutezes satildeo consumidas fritas eou cozidas Sendo 274

utilizadas tambeacutem como complemento na dieta dos animais E o grupo das ldquomandiocasrdquo que 275

satildeo as variedades que necessitam de processo preacutevio de desintoxicaccedilatildeo para o consumo 276

utilizadas comumente para a produccedilatildeo de farinha de mandioca Para os agricultores as 277

ldquomandiocasrdquo possuem maior valor comercial pois apresentam maior rendimento e 278

rentabilidade pois a farinha produzida eacute branca e atende as preferencias do comercio local 279

Aleacutem da farinha outros produtos e subprodutos produzidos dentre os quais foram citados 280

ldquotapioca ou gomardquo ldquobijurdquo ou ldquobolo de mandiocardquo satildeo utilizados para o consumo proacuteprio ou 281

eventual comercializaccedilatildeo 282

Os informantes natildeo possuiacuteam conhecimento sobre a origem dos nomes das variedades 283

de mandioca Quanto a compreensatildeo da geraccedilatildeo da diversidade intraespeciacutefica identificamos 284

que apesar de 66 dos agricultores citarem que conhecem variedades fruto de germinaccedilatildeo de 285

suas sementes nenhum deles utiliza as manivas para o plantio por essas variedades de 286

mandioca ldquovoluntaacuteriasrdquo natildeo apresentarem bom rendimento 287

Observamos que existe uma baixa correlaccedilatildeo entre a diversidade de variedades 288

atualmente cultivadas e as variaacuteveis socioeconocircmicas como no caso do nuacutemero de roccedilados 289

(r=028 Ple005) e do tamanho do roccedilado (r=033 Ple005) (Fig 7) Essa baixa correlaccedilatildeo pode 290

38

ser explicada pelo fato de existirem grupos de agricultores que preferem manter as variedades 291

de maior valor econocircmico e de subsistecircncia mesmo com aacutereas maiores de cultivo 292

Verificamos tambeacutem uma correlaccedilatildeo positiva moderada entre o nuacutemero de variedades 293

conhecidas com o nuacutemero de variedades atualmente cultivadas (r=054 Ple005) Na lista livre 294

foram identificadas 22 etnovariedades de mandioca cultivadas (132 citaccedilotildees no total) sendo 295

oito dessas mais citadas com maiores valores de saliecircncia (entre 047 e 0082) (Tabela 2) As 296

etnovariedades ldquoMacaxeira Rosardquo e ldquoMandioca Isabel de Souzardquo exibiram os maiores valores 297

de saliecircncia 047 e 037 respectivamente Logo essas variedades satildeo as mais conhecidas 298

dentro das comunidades com 66 e 48 das citaccedilotildees respectivamente 299

Dentre as etnovariedades citadas 12 foram idiossincraacuteticas pois apresentaram menor 300

frequecircncia de citaccedilatildeo e menores valores de saliecircncia (entre 0032 e 0006) (Tabela 2) 301

Redes de interaccedilatildeo social 302

A rede apresentou uma estrutura aninhada com grau de aninhamento significativamente 303

superior aos modelos nulos (N=3072 Plt0001) para as comunidades sendo um nuacutecleo de 304

etnovariedades altamente conectado aos agricultores (Fig 8) A estrutura aninhada nos permite 305

inferir que existe um grupo de agricultores que cultiva uma maior diversidade de etnovariedades 306

de mandioca em suas roccedilas enquanto que outro subgrupo que tem menor diversidade cultivam 307

as mais comuns ou disponiacuteveis (Cavechia et al 2014) Isso significa que os agricultores locais 308

mesmo em diferentes comunidades cultivam um nuacutecleo de etnovariedades comum entre eles 309

(n=6 Tabela 2) 310

Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 311

Observamos que a maioria dos indiviacuteduos de mandioca satildeo caracterizados por meio de 312

um conjunto de sete caracteres morfoloacutegicos os quais foram citados pelos agricultores como 313

mais importantes para a caracterizaccedilatildeo de suas variedades Nas visitas aos roccedilados registramos 314

39

as etnovariedades atualmente cultivadas e a tabela 3 fornece a lista completa com as 17 315

etnovariedades de mandioca e o local de registro 316

Por meio da anaacutelise de correspondecircncia muacuteltipla as variedades de mandioca foram 317

ordenadas em funccedilatildeo de seus descritores ao longo do primeiro e segundo eixo correspondentes 318

a 3680 da variacircncia total (Fig 9) 319

As variaacuteveis mais correlacionadas e que agruparam as variedades de mandioca no 320

primeiro eixo foram cor da folha desenvolvida (CFD) (r= 07239 Ple0001) cor do coacutertex da 321

raiz (CDR) (r= 06473 Ple0001) cor do broto foliar (CBF) (r= 06880 Ple0001) cor do peciacuteolo 322

(CDP) (r= 05250 Ple005) cor externa do caule (CEC) (r= 06883 Ple005) cor da polpa da 323

raiz (PDR) (r= 02473 Ple005) Para o segundo eixo as variaacuteveis correlacionadas foram cor 324

da folha desenvolvida (CFD) (r= 07220 Ple0001) cor externa do caule (CEC) (r= 08718 325

Ple0001) e cor do peciacuteolo (CDP) (r= 06927 Ple005) 326

O agrupamento de todas as variedades caracterizadas ldquoin siturdquo gerou uma aacutervore 327

hieraacuterquica (dendrograma) (Fig 9) utilizando a distacircncia euclidiana seguindo o criteacuterio de 328

Ward O dendrograma gerado apresentou um coeficiente de correlaccedilatildeo cofeneacutetica r= 06780 329

indicando que existe consistecircncia com os dados originais no agrupamento quanto agrave 330

classificaccedilatildeo e estrutura de tal forma que as variedades foram agrupadas em oito classes as 331

quais foram explicadas pelas variaacuteveis mais significativas descritas na tabela 4 332

O resultado do agrupamento (utilizada a distacircncia euclidiana e com o meacutetodo de Ward) 333

observamos que as etnovariedades de mandioca caracterizadas ldquoin siturdquo foram agrupadas em 334

dois grandes agrupamentos indicados na Fig 10 pelos retacircngulos em vermelho A partir dessa 335

anaacutelise percebemos que os caracteres morfoloacutegicos selecionados pelos agricultores natildeo foram 336

suficientes para separar as variedades de macaxeira e mandioca pois em ambos os 337

agrupamentos encontramos tanto macaxeiras quanto mandiocas 338

40

As variedades da classe 1 foram identificadas pelos agricultores pela cor do peciacuteolo 339

(CDP) verde A classe 2 agrupou as etnoveriedades caracterizadas pela protuberacircncia da cicatriz 340

foliar (PCF) mais protuberante Esse descritor segundo os agricultores era identificado como 341

ldquoembriatildeordquo A classe 3 consiste apenas da variedade ldquoMandioca Pretonardquo indicada pela presenccedila 342

de cor do peciacuteolo (CDP) vermelho A classe 4 agrupou trecircs variedades caracterizadas pelos 343

agricultores pela presenccedila de cor coacutertex da raiz (CDR) rosa e cor da polpa da raiacutez (PDR) branca 344

identificadas como ldquoMacaxeira vermelhardquo ldquoMacaxeira Rosa Brancardquo ldquoMacaxeira Rosardquo As 345

variedades agrupadas na classe 5 foras as variedades de mandioca caracterizadas pelos 346

agricultores por apresentarem cor do coacutertex (CDR) da raiacutez branca A classe 6 agrupou 347

variedades identificadas pelos agricultores pela cor do broto foliar (CBF) verde A classe 7 348

consiste apenas da variedade ldquoMacaxeira Sementerdquo identificada pelos agricultores pela cor do 349

peciacuteolo (CDP) roxo e protuberacircncia da cicatriz foliar pouco proeminente Essa variedade 350

segundo os agricultores era fruto do nascimento espontacircneo no roccedilado poreacutem eles geralmente 351

natildeo utilizam essas variedades por apresentarem apenas uma raiz pequena e de baixo 352

rendimento Na classe 8 as variedades foram identificadas pelos agricultores pela cor do peciacuteolo 353

(CDP) verde amarelado e protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) pouco proeminente As 354

ldquoMandioca Isabel de Souzardquo ldquoMandioca Isabel trecircs galhosrdquo segundo os agricultores se 355

diferenciavam pelo maior nuacutemero de caules presentes na variedade ldquoIsabel trecircs galhosrdquo 356

Discussatildeo 357

As sete comunidades estudadas manejavam um nuacutemero consideraacutevel de variedades 358

locais A quantidade de etnovariedades registradas eacute proacutexima a encontrada por Bender et al 359

(2009) e Cavechia et al (2014) em comunidades na regiatildeo sul e sudeste por Oler e Amorozo 360

(2017) em uma comunidade tradicional na regiatildeo centro-oeste Poreacutem foi quantitativamente 361

inferior quando comparada a estudos como os de Elias et al (2001) e Kawa et al (2013) em 362

comunidades na regiatildeo amazocircnica pois possuiacuteam uma alta diversidade Essa alta diversidade 363

41

na regiatildeo amazocircnica pode estar relacionada com o fato de que essa regiatildeo eacute o provaacutevel centro 364

de origem da mandioca (M esculenta) (Allem 1994) 365

As etnovariedades registradas neste estudo estatildeo disponiacuteveis para a maioria dos 366

agricultores dessa regiatildeo e esse fator favorece a circulaccedilatildeo das etnovariedades entre as 367

comunidades locais Por isso haacute semelhanccedilas das etnovariedades utilizadas entre os agricultores 368

da mesma comunidade e entre comunidades vizinhas 369

Parte dos agricultores optam por manter uma alta frequecircncia de variedades mais 370

utilizadas enquanto que outros optam por manter etnovariedades de baixa frequecircncia 371

Conforme discutido por Amorozo (2013) os agricultores escolhem seu acervo de acordo com 372

as necessidades e contexto em que vivem A reduccedilatildeo da diversidade de etnoveriedades por 373

exemplo pode ser impulsionada por fatores que simplificam o sistema como a seleccedilatildeo de 374

etnovariedades para a produccedilatildeo de farinha resultando no cultivo de poucas ou ateacute de uma uacutenica 375

etnovariedade (Peroni amp Hanazaki 2002) mesmo em aacutereas maiores 376

377

Redes de interaccedilatildeo social 378

Com as anaacutelises de rede demonstramos que os agricultores de diferentes comunidades 379

em uma mesma regiatildeo efetivamente trocam variedades de mandioca entre si corroborando 380

com estudos realizados por Emperaire amp Eloy (2008) Pautasso et al (2012) e Cavechia et al 381

(2014) Nesses estudos os autores tambeacutem consideram que as trocas de etnovariedades por 382

meio da rede de intercacircmbio entre os agricultores eacute um mecanismo fundamental para a 383

manutenccedilatildeo da diversidade local 384

A visualizaccedilatildeo da rede demonstrou que entre as comunidades os agricultores 385

compartilham um nuacutecleo de etnovariedades mais utilizadas dentre as quais estatildeo as de maior 386

valor econocircmico e de subsistecircncia Essas de maior frequecircncia satildeo aquelas altamente produtivas 387

utilizadas pelos agricultores para atenderem agraves demandas de mercado por farinha e para o 388

consumo proacuteprio (Kawa et al 2013) 389

42

No entanto observamos que existe outro nuacutecleo de etnovariedades menos frequentes 390

Essas etnovariedades raras podem ser resultantes do processo de experimentaccedilatildeo ou 391

preferecircncias individuais dos agricultores Outra possiacutevel razatildeo para a baixa frequecircncia de 392

algumas etnovariedades poderia ser explicada pela variaccedilatildeo da nomenclatura pelos 393

agricultores que segundo Peroni amp Hanazaki (2002) pode ocorrer durante o processo de troca 394

e introduccedilatildeo de novas variedades aos roccedilados Ainda assim natildeo descartamos a hipoacutetese de que 395

essas etnovariedades raras possam ser provenientes do cruzamento entre variedades diferentes 396

cultivadas da mesma roccedilado ou em roccedilas vizinhas De acordo com Martins (2005) essas 397

variedades fruto de germinaccedilatildeo expentacircnea satildeo incorporadas aos roccedilados pelos agricultores 398

pela curiosidade em experimentar novas variedades agraves suas coleccedilotildees 399

Nesse estudo admitimos que optar por etnovariedades raras entre as comunidades 400

estudadas eacute um comportamento adotado por agricultores que manejam uma maior diversidade 401

corroborando com os estudos de Cavechia et al (2014) e Emperaire et al (2016) em regiotildees 402

uacutemidas Para esses autores etnovaridedades de baixa frequecircncia representam um subconjunto 403

das de alta frequecircncia cultivadas por agricultores que manteacutem a maior diversidade em seus 404

roccedilados Sendo assim inferimos que no geral entre as comunidades satildeo os agricultores 405

generalistas aqueles que cultivam maior diversidade os responsaacuteveis por incorporar novas 406

etnovariedades aos roccedilados 407

As decisotildees dos agricultores em manter o acervo direcionado principalmente para 408

atender a demanda de mercado por exemplo podem levar a uma homogeneizaccedilatildeo nas roccedilas 409

colocando em risco a manutenccedilatildeo da diversidade local (Peroni amp Hanazaki 2002) Como 410

discutido por Elias et al (2000) os agricultores que selecionam apenas um nuacutemero reduzido e 411

especiacutefico de variedades mais produtivas tendem a fazer com que as variedades menos 412

frequentes desapareccedilam ao longo do tempo Essa tendecircndia pode influenciar na capacidade de 413

43

resiliecircncia do sistema assim como dos agricultores em lidar com possiacuteveis adversidades 414

ambientais que possam ocorrer 415

Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 416

No geral os agricultores demonstraram uma tendecircncia em classificarseparar suas 417

diferentes etnovariedades de mandioca a partir da combinaccedilatildeo de um conjunto de sete 418

caracteres morfoloacutegicos distintos e de faacutecil percepccedilatildeo os quais natildeo tem relaccedilatildeo com o uso 419

como por exemplo a cores das raiacutezes caule e folhas Logo consideramos que esses caracteres 420

morfoloacutegicos podem ser considerados como uma forma de classificaccedilatildeo pelos agricultores 421

baseada na capacidade percepccedilatildeo das diferenccedilas morfoloacutegicas que cada etnovariedades 422

apresenta (Boster 1985) Estes resultados nos levam a entender que entre os agricultores o 423

conhecimento sobre a diversidade da mandioca estaacute relacionado ao conhecimento de 424

caracteriacutesticas morfoloacutegicas consistentes 425

A existecircncia de alguns fenoacutetipos comuns nos permitiu avaliar a classificaccedilatildeo da 426

consistecircncia da taxonomia popular entre os agricultores Por exemplo as etnovariedades 427

ldquoMaxaceira Rosardquo e ldquoMacaxeira Rosa Brancardquo e ldquoMacaxeira vermelhardquo foram agrupadas no 428

mesmo cluster (C4) por apresentaram fenoacutetipos semelhantes Notamos que os agricultores 429

classificaram essas variedades de acordo com os traccedilos morfoloacutegicos mais relevantes como a 430

cor do coacutertex da raiz rosa e cor branca da polpa O mesmo ocorreu com as etnovariedades 431

ldquoMandioca varudardquo ldquoMandioca campina da granderdquo e ldquoMandioca campinardquo caracterizadas 432

pela presenccedila do peciacuteolo verde agrupadas no cluster (C1) 433

A partir dessas evidecircncias consideramos a hipoacutetese de que as variedades mesmo 434

apresentando caracteriacutesticas morfoloacutegicas muito semelhantes estatildeo sujeitas a variaccedilatildeo 435

nomenclatural durante o processo a incorporaccedilatildeo aos roccedilados pelos agricultores pois a 436

capacidade para distinguir e nomear variedades entre os agricultores da mesma regiatildeo pode 437

variar (Sambatti et al 2001 Elias et al 2001 Mekbib 2007) Consideramos tambeacutem que pode 438

44

existir variaccedilatildeo geneacutetica entre os indiviacuteduos identificados por um mesmo nome ou entatildeo que 439

os agricultores datildeo o mesmo nome para variedades diferentes E esta situaccedilatildeo pode levar a uma 440

superestimaccedilatildeo ou subestimaccedilatildeo da diversidade de mandioca cultiva nas aacutereas de estudo 441

Sabemos que a mandioca eacute propagada vegetativamente pelos agricultores por meio de 442

estacas em sistemas de agricultura tradicional No entanto alguns variedades produzem flores 443

e sementes que germinam e podem originar outras variedades ou outros clones por meio de 444

fecundaccedilatildeo cruzada (Elias et al 2001) Nesse contexto a etnovariedade ldquoMacaxeira Sementerdquo 445

presente no cluster (C7) trata-se de um uacutenico indiviacuteduo amostrado em uma roccedila de um dos 446

agricultores Esta apresentava algumas caracteriacutesticas morfoloacutegicas distintas das demais 447

reconhecidas pelo agricultor como por exemplo a produccedilatildeo de uma raiz uacutenica e 448

consequentemente de baixo rendimento Encontramos apenas um indiviacuteduo dessa 449

etnovariedade e nossa hipoacutetese de que esta poderia ter sido originada da germinaccedilatildeo da 450

semente mesmo quando 100 dos informantes declararam natildeo dar qualquer importacircncia e 451

descartar essas ldquovariedades-voluntaacuteriasrdquo foi confirmada pelo agricultor que afirmou que se 452

tratava de uma variedade nascida da germinaccedilatildeo da semente Esse comportamento vai de 453

encontro ao estudo de Fraser et al (2012) pois apesar dos agricultores reportarem nas 454

entrevistas que conhecem essas ldquovariedades-voluntaacuteriasrdquo nenhum agricultor faz o uso delas 455

Peroni et al (1999) e Agre et al (2016) analisando morfologicamente as variedades 456

locais de mandioca mantidas por agricultores em sistemas agriacutecolas tropicais tambeacutem 457

demonstraram que os agricultores satildeo coerentes quanto a separaccedilatildeo e identificaccedilatildeo de suas 458

etnovariedades a partir da formaccedilatildeo de grupos de coesos quanto a nomenclatura local utilizada 459

No entanto para o melhor entendimento dessa diversidade aleacutem da caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica 460

o uso de anaacutelises complementares como anaacutelise molecular seria importante para tentar 461

identificar se esses grupos representam a mesma variedade com nomes distintos ou se satildeo 462

variedades distintas com o mesmo nome 463

45

Conclusatildeo 464

O estudo demonstrou que no sistema de manejo da mandioca ao niacutevel de roccedila em 465

comunidades localizadas na regiatildeo semiaacuterida de Pernambuco compotildee uma diversidade 466

intrespeciacutefica de mandioca para atender agraves demandas econocircmicas e de subsistecircncia das 467

populaccedilotildees locais 468

Com relaccedilatildeo a anaacutelise de rede demostramos que haacute um nuacutecleo de etnovariedades 469

fortemente conectado aos agricultores e sua composiccedilatildeo eacute direcionada pelas preferecircncias e 470

necessidades individuais dos agricultores que foram os fatores responsaacuteveis pelo surgimento 471

da estrutura aninhada observada na anaacutelise rede entre as comunidades deste estudo E esse 472

padratildeo aninhado observado contribui na conservaccedilatildeo das etnovariedades mais comuns mas 473

tambeacutem pode resultar em perda daquelas de menor frequecircncia ao longo do tempo 474

A caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica ldquoin siturdquo nos permitiram inferir que os agricultores 475

reconhecem as diferentes caracteriacutesticas morfoloacutegicas de suas cultivares e satildeo coerentes na 476

separaccedilatildeo de suas variedades de mandioca e macaxeira Entretanto esses resultados sugerem a 477

realizaccedilatildeo de um estudo em niacutevel de diversidade geneacutetica exploratoacuterio para identificar se as 478

consistecircncias morfoloacutegicas refletem em consistecircncias geneacuteticas elucidando assim as possiacuteveis 479

confusotildees atribuiacutedas aos nomes das etnovariedades de mandioca 480

Agradecimentos 481

Agradecemos ao liacuteder comunitaacuterio Alexandre O Nascimento aos agricultores e 482

agricultoras das comunidades pela acolhida confianccedila e pela gentileza de compartilharem 483

conosco seus conhecimentos e contribuiacuterem com este estudo Especialmente a Arlindo Ferreira 484

Edgar Antocircnio Joseacute Sebastiatildeo Juvenal Oliveira e Janete Alves Ao Laboratoacuterio de Ecologia e 485

Evoluccedilatildeo de Sistemas Socioecoloacutegicos (LEA - UFPE) E agradecemos ao CNPq pelo apoio 486

com a bolsa de estudos do primeiro autor 487

46

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Guimaraes Jr P R amp Guimaraes P (2006) Improving the analyses of nestedness for large 549

sets of matrices Environmental Modelling amp Software 21(10) 1512ndash1513 550

Hanazaki N Zank S Pinto M C Kumagai L Cavechia L A amp Peroni N (2012) 551

Etnobotacircnica nos Areais da Ribanceira de Imbituba Compreendendo a biodiversidade 552

vegetal manejada para subsidiar a criaccedilatildeo de uma reserva de desenvolvimento sustentaacutevel 553

Biodivers Bras 2 50ndash64 554

Kassambara A amp Mundt F (2016) Factoextra extract and visualize the results of 555

multivariate data analyses R Package Version 1(3) 556

Kawa N C McCarty C amp Clement C R (2013) Manioc varietal diversity social networks 557

and distribution constraints in rural Amazonia Current Anthropology 54(6) 764ndash770 558

Lecirc S Josse J Husson F amp others (2008) FactoMineR an R package for multivariate 559

analysis Journal of Statistical Software 25(1) 1ndash18 560

Lima D Steward A amp Richers B T (2012) Trocas experimentaccedilotildees e preferecircncias Um 561

estudo sobre a dinacircmica da diversidade da mandioca no meacutedio Solimotildees Amazonas 562

Boletimdo Museu Paraense Emilio GoeldiCiencias Humanas 7(2) 371ndash396 563

httpsdoiorg101590S1981-81222012000200005 564

Marchetti F F Massaro L R de Mello Amorozo M C amp Butturi-Gomes D (2013) 565

Maintenance of manioc diversity by traditional farmers in the State of Mato Grosso 566

Brazil a 20-year comparison Economic Botany 67(4) 313ndash323 567

Martins P S (2005) Dinacircmica evolutiva em roccedilas de caboclos amazocircnicos Estudos 568

Avanccedilados 19(53) 209ndash220 569

Mekbib F (2007) Infra-specific folk taxonomy in sorghum (Sorghum bicolor (L) Moench) in 570

Ethiopia folk nomenclature classification and criteria Journal of Ethnobiology and 571

Ethnomedicine 3(1) 38 572

Mkumbira J Chiwona-Karltun L Lagercrantz U Mahungu N M Saka J Mhone A hellip 573

Rosling H (2003) Classification of cassava into ldquobitterrdquoand ldquocoolrdquoin Malawi From 574

farmersrsquo perception to characterisation by molecular markers Euphytica 132(1) 7ndash22 575

49

Oksanen J Blanchet F G Kindt R Legendre P Minchin P R Orsquohara R B hellip others 576

(2017) Package ldquoveganrdquo Community Ecology Package Version 2(9) 577

Pautasso M Aistara G Barnaud A Caillon S Clouvel P Coomes O T hellip others 578

(2012) Seed exchange networks for agrobiodiversity conservation A review Agronomy 579

for Sustainable Development 33(1) 151ndash175 580

Peroni N amp Hanazaki N (2002) Current and lost diversity of cultivated varieties especially 581

cassava under swidden cultivation systems in the Brazilian Atlantic Forest Agriculture 582

Ecosystems amp Environment 92(2ndash3) 171ndash183 583

Peroni N Martins P S amp Ando A (1999) Diversidade inter-e intra-especiacutefica e uso de 584

anaacutelise multivariada para morfologia da mandioca (Manihot esculenta Crantz) um estudo 585

de caso Inter-and intraspecific diversity and use of multivariate analysis for the 586

morphology of cassava (Manihot esculent Scientia Agricola 56(3) 587ndash595 587

Pinton F amp Emperaire L (2001) Le manioc en Amazonie breacutesilienne diversiteacute varieacutetale et 588

marcheacute Genet Sel Evol 33(1) 491ndash512 589

Pires M M Guimaratildees P R Arauacutejo M S Giaretta A A Costa J C L amp Dos Reis S 590

F (2011) The nested assembly of individual-resource networks Journal of Animal 591

Ecology 80(4) 896ndash903 592

Pujol B Renoux F Elias M Rival L amp Mckey D (2007) The unappreciated ecology of 593

landrace populations Conservation consequences of soil seed banks in Cassava 594

Biological Conservation 136(4) 541ndash551 httpsdoiorg101016jbiocon200612025 595

Sambatti J B M Martins P S amp Ando A (2001) Folk taxonomy and evolutionary 596

dynamics of cassava a case study in Ubatuba Brazil Economic Botany 55(1) 93ndash105 597

Sieber S S Medeiros P M amp Albuquerque U P (2011) Local perception of environmental 598

change in a semi-arid area of Northeast Brazil a new approach for the use of participatory 599

methods at the level of family units Journal of Agricultural and Environmental Ethics 600

24(5) 511ndash531 601

Sneath P H A Sokal R R amp others (1973) Numerical taxonomy The principles and 602

practice of numerical classification 603

Sokal R R amp Rohlf F J (1995) 1995 Biometry WH Freeman San Francisco Sulikowski 604

JA J Kneebone S Elzey P Danley WH Howell and PWC Tsang--2005 The 605

50

Reproductive Cycle of the Thorny Skate Amblyraja Radiata in the Gulf of Maine Fish 606

Bull 103 536ndash543 607

Team R C (2017) R A Language and Environment for Statistical Computing Vienna 608

Austria Retrieved from httpswwwr-projectorg 609

Thompson E C amp Juan Z (2006) Comparative cultural salience Measures using free-list 610

data Field Methods 18(4) 398ndash412 611

Wei T amp Simko V (2013) corrplot Visualization of a correlation matrix R Package Version 612

073 230(231) 11 613

614

51

ANEXOS 615

616

Nome da revista 617

Human Ecology 618

Link de acesso 619

httpsgooglDVLbFj 620

Qualis-CAPES 621

B1 em Biodiversidade 622

623

624

625

626

627

628

629

630

631

632

633

634

635

636

637

638

639

640

641

642

52

Figuras 643

644

645

Fig 1 Partes do processo de fabricaccedilatildeo de farinha de mandioca Onde a raspagem b e c 646

processo de trituraccedilatildeo e d peneiramento Foto registrada em Abril de 2017 por Mirela Santos 647

648

649

650

c

d

b

a

53

651

Fig 2 Mapa de localizaccedilatildeo geograacutefica dos Municiacutepios de Altinho e Panelas e das comunidades 652

estudadas na regiatildeo semiaacuterida do Estado de Pernambuco (Elaborado por SANTOS 2018) 653

54

654

655

656

657

Fig 3 Processo de fabricaccedilatildeo da farinha de mandioca Apoacutes a colheita as raiacutezes satildeo lavadas 658

raspadas e trituradas (a) A massa extraiacuteda eacute prensada e coada Ao sair da prensa a massa 659

peneirada (b) e em seguida eacute torrada (c) em fornos artesanais ou parcialmente mecanizados 660

Imagem registrada em janeiro de 2017 na Comunidade do Caratildeo por Mirela Santos 661

662

663

a

b c

55

664

Fig 4 a Sede da Comunidade do Caratildeo b Agricultor transportando a palma forrageira que eacute 665

um exemplo de estrateacutegia adaptativa para suprir a falta de alimento dos animais devido agrave seca 666

c Feira-livre que acontece na comunidade a cada quinze dias Imagem registrada em julho de 667

2016 na Comunidade do Caratildeo por Mirela Santos 668

669

670

Fig 5 a O agricultor nos explicava as mudanccedilas que vem fazendo em seus roccedilados para se 671

adaptar aos longos periacuteodos de seca b Quando o agricultor nos mostrava as diferentes 672

etnovariedades que mantinha em sua roccedila c Durante a pesquisa nos explicavam como era feita 673

a colheita da mandioca e como selecionavam as manivas para o proacuteximo plantio Foto registrada 674

em abril de 2017 na Comunidade do Brejo Velho por Mirela Santos 675

a

b c

c b

a

56 676

677

Fig 6 Possiacuteveis estruturas de rede que descrevem as interaccedilotildees dos agricultores (losango) 678

ligados as etnovariedades (ciacuterculos) que cultivam Onde a Aninhada b Modular c Aleatoacuteria 679

(Fonte Cavechia et al 2014 com adaptaccedilotildees) 680

681

682

683

684

685

686

687

688

689

690

691

692

693

694

695

696

697

a c b

57

698

699

700

701

702

703

704

705

706

707

Fig 7 Correlaccedilatildeo de Spearman entre a diversidade de etnovariedades de mandiocas conhecidas 708

como cultivadas e variedades atualmente cultivadas por agricultor e as variaacuteveis 709

socioeconocircmicas Onde Nvc= nuacutemero de citadas como cultivadas Nve= nuacutemero de variedades 710

atualmente cultivadas Esc= escolaridade Id= idade Gen= gecircnero Tr= tamanho do roccedilado 711

Exp= experiecircncia na agricultura Sld= renda Nr= nuacutemero de roccedilados Cores distintivas 712

representam correlaccedilotildees significativas (Ple005) 713

714

58

715

Fig 8 Modelo individual de rede de etnovariedades de mandioca citadas (esquerda) por 716

agricultores como cultivadas (direita) nos Municiacutepios de Altinho e Panelas As redes foram 717

desenhadas com o pacote bipartite (Dormann et al 2017) usando o software R (R CORE 718

TEAM 2017) 719

720

59

721

Fig 9 Anaacutelise de Correspondecircncia Muacuteltipla das 17 etnovariedades de mandioca considerando 722

os sete descritores morfoloacutegicos utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo em roccedilas de 723

agricultores tradicionais de sete comunidades no semiaacuterido de Pernambuco 724

725

726

727

728

729

730

731

732

733

734

735

736

737

McCambadinha

McCampina

McCampinaDaGrande

McCampinaRasteira

McCampinaVaruda

McGauba

McIsabelDeSouza

McIsabelTresGalhos

McOlhoDePombo

McOlhoVerde

McPretinha

McPretona

MxBranca

MxRosa

MxRosaBrancaMxRosaVermelha

MxSemente

CFD_Verde_Arroxeado

CFD_Verde_ClaroCFD_Verde_Escuro

CBF_Roxo

CBF_Verde_ArroxeadoCBF_Verde_Claro

CBF_Verde_Escuro

CDP_Verde

CDP_Verde_Amarelado

CDP_Verde_Avermelhado

CDP_Vermelho

CEC_Cinza

CEC_Dourado

CEC_Laranja

CEC_Marrom_Claro

CEC_Marrom_Escuro

CEC_Prateado

CEC_Verde_AmareladoCicatriz_M

Cicatriz_P

PDR_Branco

PDR_Creme

CDR_BrancoCDR_Creme CDR_Rosa

-4

-2

0

2

4

-4 -2 0 2 4

Dim1 (206)

Dim

2 (

162

)

MCA - Biplot

00

10

Hierarchical Clustering

inertia gain

McC

am

pin

aV

aru

da

McC

am

pin

aD

aG

rande

McC

am

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a

McG

auba

McP

retin

ha

McP

reto

na

MxR

osaV

erm

elh

a

MxR

osaB

ranca

MxR

osa

McC

am

pin

aR

aste

ira

McC

am

badin

ha

McO

lhoV

erd

e

MxB

ranca

MxS

em

ente

McIsabelT

resG

alh

os

McIsabelD

eS

ouza

McO

lhoD

eP

om

bo

00

05

10

15

Hierarchical Classification

Heig

ht

C1 C2 C3 C4 C5 C6 C7 C8

Fig 10 Agrupamento hieraacuterquico das 17 etnovariedades de mandioca caracterizadas de acordo

com os descritores utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo

60

Tabelas 738

739

Tabela 1 Caracteres e estados utilizados pelos agricultores como descritores botacircnicos para 740

caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das etnovariedades de mandioca 741

Caracter Sigla Estados

Folha

Cor da folha desenvolvida CFD 1- verde claro 2- verde escuro 3- verde arroxeado 4- roxo

Cor do broto foliar CBF 1- verde claro 2- verde escuro 3- verde arroxeado 4- roxo

Cor do peciacuteolo CDP 1- verde amarelado 2- verde 3- verde avermelhado 4- roxo

5- vermelho

Caule

Cor externa do caule CEC 1- laranja 2- verde amarelado 3- dourado 4- marrom claro

5- prateado 6- cinza 7- marrom escuro 8- verde

Protuberacircncia da cicatriz foliar PCF 1- pouco proeminente 2- muito proeminente

Raiacutez

Cor da poupa da raiz PDR 1- branco 2- creme

Cor do coacutertex da raiacutez CDR 1- rosa 2- branco 3- creme

742

743

744

745

746

747

748

749

750

751

61

Tabela 2 Lista das 22 etnovariedades de mandiocas citadas (132 citaccedilotildees) como cultivadas nas 752

comunidades pertencentes aos Municiacutepios de Altinho (Caratildeo n=8) e ao Municiacutepio de Panelas 753

(Aracuatilde Satildeo Joseacute do Bola Brejo Velho Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima e Lajeiro 754

Dantas n=21) 755

Etnovariedade Frequecircncia () Ranking Saliecircncia

Macaxeira Rosa 66 179 0472

Mandioca Isabel de Souza 48 179 0372

Mandioca Campina 24 217 0148

Macaxeira Branca 20 210 0134

Macaxeira Rosa branca 18 122 0168

Mandioca Pretona 16 338 0082

Mandioca Cambadinha 12 283 0071

Mandioca Isabel trecircs galhos 10 180 0075

Mandioca Gauacuteba 10 260 0070

Mandioca Pretinha 8 225 0053

Mandioca Peacute de pombo 4 400 0011

Mandioca Olho verde 4 350 0012

Macaxeira Rosinha 4 200 0027

Mandioca Campina varuda 4 200 0032

Mandioca Campina rasteira 4 300 0021

Mandioca Caboquinha 2 500 0007

Macaxeira Rasteira 2 200 0013

Macaxeira Paraacute 2 100 0020

Mandioca Barra ferro 2 300 0007

Mandioca Campina da grande 2 100 0020

Mandioca Olho de pombo 2 300 0010

Mandioca Jasmim 2 600 0006

756

757

758

62

Tabela 3 Lista de 17 etnovariedades atualmente cultivadas nos roccedilados das comunidades em 759

estudo 760

Ca Ar Bo Br Jb Jc Ld

Etnovariedade

Macaxeira Branca x x x x

Macaxeira Rosa

x x x x x x

Macaxeira Rosa Branca x x x x

Macaxeira Rosa Vermelha

x

Macaxeira Semente

x

Mandioca Cambadinha x

x

Mandioca Campina

x

x

x

Mandioca Campina da Grande x

Mandioca Campina Rasteira

x

Mandioca Campina Varuda

x

Mandioca Gauacuteba

x

Mandioca Isabel de Souza

x x x

Mandioca Isabel trecircs Galhos

x

x

Mandioca Olho de Pombo

x

Mandioca Olho Verde

x

Mandioca Pretinha

x

Mandioca Pretona x x x

Comunidades Ca= Caratildeo Ar=Aracuatilde Bo= Satildeo Joseacute do Bola Jb= Japaranduba de Baixo 761

Jc= Japaranduba de Cima Ld= Lajedo Dantas 762

763

764

765

766

767

768

63

Tabela 4 Descriccedilatildeo das classes do agrupamento por meacutetodo de Ward agrupadas pelo conjunto 769

dos descritores mais significativos para a caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das variedades de mandioca 770

Classes Descritores in situ p-valor

C1 Cor do peciacuteolo (CDP) 0016

C2 Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023

C3 Cor do peciacuteolo (CDP) 0012

C4 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0004

Cor da poupa da raiacutez (PDF) 0021

C5 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0003

C6 Cor do broto foliar (CBF) 0002

C7 Cor da folha desenvolvida (CFD) 0004

Cor externa do caule (CEC) 0040

C8 Cor do peciacuteolo (CDP) 0005

Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023

Valores de Ple005 satildeo significativos 771

772

29

cultivadas e identificar os diferentes criteacuterios morfoloacutegicos utilizados pelos agricultores para a 78

seleccedilatildeo e classificaccedilatildeo das etnovariedadese (iii) descrever a estrutura da rede de interaccedilatildeo entre 79

os agricultores e a diversidade de etnovariedades de mandioca cultivadas para tentar entender 80

como essas relaccedilotildees podem influenciar na manutenccedilatildeo ou perda da diversidade local 81

Material e meacutetodos 82

Aacutereas de estudo 83

Amostramos sete comunidades rurais estabelecidas na regiatildeo semiaacuterida de 84

Pernambuco Nordeste do Brasil Uma das comunidades (Caratildeo) pertence ao Municiacutepio de 85

Altinho (ldquo8deg 29rsquo 10rdquo S e 36deg 03rsquo 49rdquo W) e as demais (Satildeo Joseacute do Bola Brejo velho 86

Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima Lajedo Dantas e Aracuatilde) ao Municiacutepio de 87

Panelas (8 deg 39 48 S e 36 deg 01 23 W) (Fig 2) 88

O modelo agriacutecola adotado na regiatildeo segue o sistema tradicional de sequeiro4 e todas 89

as comunidades em estudo possuem histoacuterico de cultivo de mandioca (M esculenta) As aacutereas 90

de cultivo satildeo estabelecidas por unidade familiar e as atividades satildeo realizadas em sua maioria 91

por homens tendo cada agricultor cerca de um a dois hectares de aacuterea para plantio Aleacutem da 92

mandioca os cultivos mais utilizados na comunidades satildeo milho (Zea mays) e feijatildeo (Phaseolus 93

sp) 94

Para os membros das comunidades a produccedilatildeo da farinha de mandioca (Fig 3) eacute uma 95

das atividades agriacutecolas mais importantes tanto pelo seu papel na dieta alimentar quanto pela 96

importacircncia social e econocircmica 97

Caracteriacutesticas das comunidades do estudo 98

A comunidade do Caratildeo localiza-se sob domiacutenio de Caatinga caracterizado por climas 99

quentes e secos com regimes escassos de chuvas correspondente ao tipo BSrsquoh segundo a 100

4 Eacute o cultivo praticado sem irrigaccedilatildeo em regiotildees onde a pluviosidade eacute diminuta

30

classificaccedilatildeo climaacutetica de Koumlppen A vegetaccedilatildeo eacute composto por espeacutecies perenes que 101

conseguem sobreviver mesmo em periacuteodos de seca e espeacutecies anuais que aparecem apenas em 102

periacuteodos com chuva (Cruz et al 2013) 103

De acordo os dados de precipitaccedilatildeo do Laboratoacuterio de Anaacutelise e Processamento de 104

Imagens de Sateacutelites (LAPIS) no ano de 2012 foi registrada a menor meacutedia anual de 105

precipitaccedilatildeo dos uacuteltimos 10 anos para essa regiatildeo (3784 mm) Essa realidade ambiental quando 106

comparada com estudo realizado por de Sieber e colaboradores (2011) na mesma comunidade 107

observa-se que houve uma diminuiccedilatildeo considerada das praacuteticas agriacutecolas realizadas pelos 108

membros da comunidade culminando em uma seacuterie de prejuiacutezos aos agricultores como a perda 109

de plantaccedilotildees e animais Essa perda de produtividade afetou a estrutura econocircmica da 110

comunidade uma vez que a principal fonte de subsistecircncia das famiacutelias eacute a agricultura 111

Associada as atividades agriacutecolas os moradores complementam a dieta e a renda 112

familiar com a venda dos excedentes da produccedilatildeo em feiras-livres ou centros comerciais da 113

regiatildeo (Cruz et al 2013) E com a pecuaacuteria de pequena escala bovina caprina e com avicultura 114

No entanto a diminuiccedilatildeo da forragem natural e cultivada causada pela escassez de chuvas 115

associada aos elevados custos envolvidos na compra de raccedilatildeo levou muitos animais agrave morte 116

(Fig 4) 117

No Municiacutepio de Altinho a comunidade do Caratildeo foi inicialmente escolhida devido ao 118

reconhecimento preacutevio do registro de agricultores realizado em estudos desenvolvidos pelo 119

nosso grupo de pesquisa facilitando assim o acesso agraves informaccedilotildees necessaacuterias para o 120

desenvolvimento da pesquisa 121

As comunidades Aracuatilde Brejo Velho Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima 122

Lajedo Dandas e Satildeo Joseacute do Bola amostradas no estudo pertencem ao Municiacutepio de Panelas 123

que se limita ao Norte com o Municiacutepio de Altinho Essas comunidades estatildeo localizadas em 124

31

no domiacutenio morfoclimaacutetico de Caatinga O clima eacute do tipo semiaacuterido Bsrsquoh segundo a 125

classificaccedilatildeo climaacutetica de Koumleppen 126

A maior parte dos membros dessas comunidades assim como no Caratildeo tecircm como 127

principal fonte de subsistecircncia a agricultura de sequeiro principalmente o cultivo da mandioca 128

(Fig 5) Como renda extra a pecuaacuteria de pequeno porte com criaccedilatildeo bovina caprina e 129

avicultura sendo os excedentes dos alimentos produzidos vendidos em feiras locais ou para 130

escolas 131

As atividades agriacutecolas entre as comunidades tambeacutem foram duramente afetadas pela 132

seca na regiatildeo nos uacuteltimos anos A escassez de chuvas desestimulou o plantio a produccedilatildeo de 133

mandioca foi fortemente comprometida e a colheita foi adiada devido ao subdesenvolvimento 134

das raiacutezes gerando impactos econocircmicos para os membros das comunidades 135

As comunidades amostradas neste muniacutecipio foram escolhidas em funccedilatildeo das 136

indicaccedilotildees dos agricultores entrevistados a princiacutepio na comunidade do Caratildeo que reportaram 137

manter viacutenculos sociais com os agricultores do municiacutepio vizinho 138

Coleta de dados 139

Acessamos as comunidades com a ajuda de um liacuteder comunitaacuterio (Alexandre O 140

Nascimento) em companhia de outros pesquisadores que desenvolviam pesquisas na regiatildeo 141

Previamente as entrevistas todos objetivos e procedimentos para a realizaccedilatildeo da pesquisa foram 142

apresentados aos entrevistados e todos que aceitaram participar foram convidados a assinar um 143

Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) de acordo com a Resoluccedilatildeo 46612 do 144

Conselho Nacional de Sauacutede concordando com a realizaccedilatildeo das entrevistas e avaliaccedilotildees 145

morfoloacutegicas em campo O presente trabalho foi submetido ao Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa da 146

Universidade de Pernambuco (UPE) 147

32

Em todas as comunidades o meacutetodo de acesso ao informante foi o mesmo a partir do 148

primeiro contato com um informante-chave identificamos outros potenciais agricultores 149

seguindo a teacutecnica de ldquobola de neverdquo (Albuquerque et al 2014a) Esse meacutetodo consistiu na 150

amostragem intencional dos participantes e nesse particular os agricultores chefes de famiacutelia 151

(ge 18 anos) da regiatildeo que declararam cultivar mandioca (M esculenta) em suas roccedilas 152

Reunimos informaccedilotildees socioeconocircmicas desses agricultores tais como nome idade gecircnero 153

escolaridade renda experiecircncia na agricultura e tamanho da aacuterea de cultivo para tentar 154

identificar se esses paracircmetros socioeconocircmicos tecircm uma relaccedilatildeo com a agrobiodiversidade 155

local 156

Em seguida conduzimos entrevistas semiestruturadas (Albuquerque et al 2014b) com 157

o objetivo de caracterizar o modo de vida dos agricultores o manejo da agricultura bem como 158

obter dados sobre o conhecimento uso e caracterizaccedilatildeo das etnovariedades de mandioca 159

5cultivadas Aleacutem disso neste momento tambeacutem aplicamos a teacutecnica da lista livre 160

(Albuquerque et al 2014b) a fim de registrar as variedades de mandioca atualmente cultivadas 161

pelos agricultores e identificar as de maior importacircncia local Apoacutes as entrevistas realizamos 162

visitas aos roccedilados para o registro fotograacutefico georreferenciamento das roccedilas e caracterizaccedilatildeo 163

morfoloacutegica das variedades cultivadas 164

Entrevistamos 50 agricultores no total distribuiacutedos nas sete comunidades Caratildeo (3) 165

Satildeo Joseacute do Bola (10) Brejo velho (7) Japaranduba de Baixo (7) Japaranduba de Cima (8) 166

Lajedo Dantas (9) e Aracuatilde (6) Destes 10 satildeo mulheres e 40 homens com idade variando entre 167

31 e 82 anos A maioria dos entrevistados natildeo apresentava instruccedilatildeo formal (46) mais da 168

metade eram aposentados (56) e os demais apresentaram renda inferior a um salaacuterio miacutenimo 169

5 Entende-se por etnovariedade de mandioca o conjunto de variedades intraespeciacuteficas de mandioca (M esculenta)

reconhecidas pelos agricultores por nomenclatura popular local (Peroni 2004)

33

O tempo meacutedio de experiecircncia na agricultura foi de 40 anos Cada agricultor possui entre um e 170

dois roccedilados (aacuterea de plantio) com aproximadamente um a dois hectares 171

Redes de interaccedilatildeo social 172

Confeccionamos a rede que descreve as interaccedilotildees entre os agricultores e as 173

etnovariedades cultivadas a partir de uma matriz de incidecircncia R (presenccedilaausecircncia) onde nas 174

linhas estavam as etnovariedades de mandioca cultivadas (j) e nas colunas os agricultores locais 175

(i) O elemento Rij dessa matriz foi 1 (um) no caso de a etnovariedade j ser cultivada pelo 176

agricultor i caso contraacuterio seria atribuiacutedo 0 (zero) As interaccedilotildees entre os agricultores e as 177

etnovariedades foram descritas em dois modos (Pires et al 2011) onde os ldquonoacutesrdquo da esquerda 178

representam os agricultores que foram vinculados aos ldquonoacutesrdquo da direita representados pelas 179

etnovariedades citadas durante as entrevistas Esses ldquonoacutesrdquo seriam o espelho das decisotildees dos 180

agricultores em manter um determinado conjunto local de etnovariedades em suas roccedilas 181

Avaliamos a estrutura da rede que conecta os agricultores agraves etnovariedades cultivadas 182

a partir de trecircs cenaacuterios hipoteacuteticos (Fig 6) segundo Cachevia et al (2014) No primeiro se os 183

agricultores apresentassem diferentes graus de seletividade para a utilizaccedilatildeo de suas 184

etnovariedades a estrutura seria aninhada (Fig 6a) Isso significa que alguns agricultores 185

cultivam vaacuterias etnovariedades enquanto que outros cultivam o subconjunto mais 186

disponiacutevelcomum dessas etnovariedades Em segundo lugar se a rede apresentasse uma 187

estrutura modular (Fig 6b) significaria que os agricultores apresentam semelhanccedila na seleccedilatildeo 188

do recurso ou seja subgrupos de agricultores cultivam subgrupos distintos de etnovariedades 189

regionalmente disponiacuteveiscomuns E o terceiro se os agricultores natildeo apresentassem 190

preferecircncias quanto a seleccedilatildeo das etnovariedades entatildeo a rede apresentaria uma estrutura 191

aleatoacuteria (Fig 6c) 192

O objetivo da anaacutelise de rede nesse estudo foi tentar entender se o conjunto de 193

etnovariedades presentes no local do estudo constituem uma subamostra de um conjunto mais 194

34

amplo no caso de um alto grau de aninhamento ou se a sua composiccedilatildeo eacute determinada por 195

variaacuteveis locais (Ulrich 2008) Onde as conexotildees entre os informantes e as etnovariedades 196

representam as decisotildees dos agricultores de manter um conjunto determinado de variedades de 197

mandioca dentre as comunidades Esta anaacutelise tambeacutem nos permitiu identificar quais os nuacutecleos 198

de etnovariedades que apresentam maior conexatildeo com os diferentes perfis dos agricultores 199

Diversidade fenotiacutepica 200

Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 201

Apoacutes as entrevistas buscamos identificar quais os caracteres morfoloacutegicos considerados 202

mais importantes para a diferenciaccedilatildeo das etnovariedades de mandioca a partir do seguinte 203

questionamento ldquoQuais as diferenccedilas que vocecirc reconhece para separar uma qualidade de 204

mandioca (variedade) de uma outrardquo Assim os agricultores mencionaram quais os criteacuterios 205

mais importantes utilizados para a caracterizaccedilatildeo de suas etnovariedades 206

Compilamos uma listagem dessas caracteriacutesticas baseada nas indicaccedilotildees dos 207

agricultores e a partir delas selecionamos os caracteres morfoloacutegicos mais citados para a 208

caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica ldquoin siturdquo tais como cor da folha (cor da folha desenvolvida) olho 209

(cor do broto foliar) cor do talo (cor do peciacuteolo) maniva (cor externa do caule) embriatildeo 210

(protuberacircncia da cicatriz foliar) cor da entrecasca (coacutertex da raiz) e cor miolo (polpa da raiz) 211

(Tabela 1) O objetivo dessa caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica foi indicar como estaacute distribuiacuteda a 212

variaccedilatildeo fenotiacutepica das etnovariedades de mandioca nas comunidades na regiatildeo semiaacuterida de 213

Pernambuco bem como identificar que caracteriacutesticas satildeo mais importantes para distinguir 214

esses grupos no intuito de tentar entender como os agricultores classificam suas variedades de 215

mandioca 216

Nas sete comunidades para cada etnovariedade citada no roccedilado caracterizamos ldquoin 217

siturdquo trecircs indiviacuteduos de M esculentade de cada uma totalizando 171 indiviacuteduos (Aracuatilde=11 218

35

Caratildeo=4 Satildeo Joseacute do Bola=13 Brejo Velho=16 Japaranduba de Baixo=6 Japaranduba de 219

Cima=3 e Lajedo Dantas=4) Fotografamos e avaliamos todos os indiviacuteduos com base em parte 220

dos descritores morfoloacutegicos seguindo recomendaccedilotildees de Fukuda amp Guevara (1998) e aleacutem 221

disso georreferenciamos todas as aacutereas de roccedila 222

Anaacutelise dos dados 223

Analisamos os dados socioeconocircmicos das entrevistas semiestruturadas por meio de 224

estatiacutestica descritiva para explicar os aspectos da realidade econocircmica e social dos agricultores 225

Para identificar se a diversidade intraespeciacutefica da mandioca cultivada localmente eacute 226

influenciada por paracircmetros socioeconocircmicos utilizamos o coeficiente de correlaccedilatildeo de 227

Spearman (Ple005) (Sokal amp Rohlf 1995) 228

Com base na lista livre das variedades de mandioca cultivadas pelos agricultores 229

calculamos a frequecircncia de citaccedilatildeo o ranking e o iacutendice de saliecircncia com o objetivo de 230

identificar quais as mais importantes ou preferidas para as comunidades O iacutendice de saliecircncia 231

considerou a frequecircncia de citaccedilatildeo e o ranking referente ao posicionamento das variedades 232

dentro das listas livres (Thompson amp Juan 2006) As etnovariedades mais citadas e com maior 233

valor de saliecircncia representam as de maior importacircncia ou preferecircncia para as comunidades 234

Anaacutelise de rede 235

Medimos o grau de aninhamento (NODF) para investigar a estrutura de rede de 236

interaccedilatildeo social dos agricultores em funccedilatildeo das variedades cultivadas As matrizes altamente 237

aninhadas apresentam NODF tendendo a 1 caso contraacuterio tentem a ser 0 238

Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 239

Para o estudo das semelhanccedilas e diferenccedilas fenotiacutepicas entre as variedades de mandioca 240

ldquoin siturdquo realizamos anaacutelises multivariadas para identificar possiacuteveis grupos de variedades que 241

compartilham semelhanccedilas entre si 242

36

A anaacutelise de correspondecircncia muacuteltipla (MCA) permitiu identificar como as variedades 243

de mandioca estatildeo ordenadas em funccedilatildeo dos seus descritores etnobotacircnicos As etnovariedades 244

foram plotadas ao longo um plano cartesiano bi ou tridimensional onde a variaccedilatildeo total eacute 245

explicada pelos dois primeiros eixos Complementar a esta anaacutelise realizamos a anaacutelise de 246

agrupamento hieraacuterquico (Cluster) para identificar como estatildeo agrupadas as etnovariedades de 247

acordo seus descritores Conferimos a consistecircncia do dendrograma com coeficiente de 248

correlaccedilatildeo cofeneacutetica conforme Sneath amp Sokal (1973) que quantifica se a correlaccedilatildeo entre a 249

matriz de distacircncias originais e a matriz de distacircncias cofeneacuteticas eacute representativa Para 250

mensurar as dissimilaridades entre as variedades de mandioca foi utilizada a distacircncia 251

euclidiana e com o meacutetodo de Ward 252

Softwares utilizados 253

Para a anaacutelise da lista livre usamos o software ANTROPAC versatildeo 10 O software 254

ANINHADO 30 (Guimaratildees amp Guimaratildees 2006) foi usado para medir o grau de aninhamento 255

da rede Utilizamos o software estatiacutestico R (R core team 2017) para a anaacutelise de correlaccedilatildeo 256

de Spearman com o pacote corrplot (Wei amp Simko 2013) o desenho da rede que descreve a 257

interaccedilatildeo entre os agricultores e as etnovariedades com o pacote bipartite (Dormann et al 258

2017) E com os pacotes FactoMineR (LEcirc et al 2008) factoextra (Kassambara et al 2016) e 259

vegan (Oksanen et al 2017) foram realizadas as anaacutelises de cluster de correspondecircncia 260

muacuteltipla (MCA) e de correlaccedilatildeo coefeneacutetica respectivamente 261

Resultados 262

As diferentes etnovariedades de mandioca encontradas no estudo suprem a demanda 263

local por alimento enquanto outras atendem agraves preferecircncias individuais ou do comeacutercio As 264

variedades que possuem maior rendimento e a farinha produzida apresenta coloraccedilatildeo branca 265

satildeo as de maior valor comercial para os agricultores devido agraves preferecircncias do mercado Jaacute 266

37

outras variedades que satildeo mais moles e apresentam coloraccedilatildeo amarelada natildeo satildeo empregadas 267

na produccedilatildeo de farinha mas sim consumidas cozidas ou assadas A depender da demanda local 268

os agricultores intencionalmente aumentam ou diminuem a frequecircncia de suas variedades nos 269

roccedilados seja por alguma exigecircncia do comeacutercio ou para consumo familiar 270

Nas comunidades os agricultores separam suas variedades de mandioca em dois grupos 271

como observado em outras comunidades na mata Atlacircntica por Emperaire e Peroni (2007) o 272

das ldquomacaxeirasrdquo que satildeo as variedades exploradas basicamente para o consumo familiar sem 273

processo preacutevio de desintoxicaccedilatildeo cujas raiacutezes satildeo consumidas fritas eou cozidas Sendo 274

utilizadas tambeacutem como complemento na dieta dos animais E o grupo das ldquomandiocasrdquo que 275

satildeo as variedades que necessitam de processo preacutevio de desintoxicaccedilatildeo para o consumo 276

utilizadas comumente para a produccedilatildeo de farinha de mandioca Para os agricultores as 277

ldquomandiocasrdquo possuem maior valor comercial pois apresentam maior rendimento e 278

rentabilidade pois a farinha produzida eacute branca e atende as preferencias do comercio local 279

Aleacutem da farinha outros produtos e subprodutos produzidos dentre os quais foram citados 280

ldquotapioca ou gomardquo ldquobijurdquo ou ldquobolo de mandiocardquo satildeo utilizados para o consumo proacuteprio ou 281

eventual comercializaccedilatildeo 282

Os informantes natildeo possuiacuteam conhecimento sobre a origem dos nomes das variedades 283

de mandioca Quanto a compreensatildeo da geraccedilatildeo da diversidade intraespeciacutefica identificamos 284

que apesar de 66 dos agricultores citarem que conhecem variedades fruto de germinaccedilatildeo de 285

suas sementes nenhum deles utiliza as manivas para o plantio por essas variedades de 286

mandioca ldquovoluntaacuteriasrdquo natildeo apresentarem bom rendimento 287

Observamos que existe uma baixa correlaccedilatildeo entre a diversidade de variedades 288

atualmente cultivadas e as variaacuteveis socioeconocircmicas como no caso do nuacutemero de roccedilados 289

(r=028 Ple005) e do tamanho do roccedilado (r=033 Ple005) (Fig 7) Essa baixa correlaccedilatildeo pode 290

38

ser explicada pelo fato de existirem grupos de agricultores que preferem manter as variedades 291

de maior valor econocircmico e de subsistecircncia mesmo com aacutereas maiores de cultivo 292

Verificamos tambeacutem uma correlaccedilatildeo positiva moderada entre o nuacutemero de variedades 293

conhecidas com o nuacutemero de variedades atualmente cultivadas (r=054 Ple005) Na lista livre 294

foram identificadas 22 etnovariedades de mandioca cultivadas (132 citaccedilotildees no total) sendo 295

oito dessas mais citadas com maiores valores de saliecircncia (entre 047 e 0082) (Tabela 2) As 296

etnovariedades ldquoMacaxeira Rosardquo e ldquoMandioca Isabel de Souzardquo exibiram os maiores valores 297

de saliecircncia 047 e 037 respectivamente Logo essas variedades satildeo as mais conhecidas 298

dentro das comunidades com 66 e 48 das citaccedilotildees respectivamente 299

Dentre as etnovariedades citadas 12 foram idiossincraacuteticas pois apresentaram menor 300

frequecircncia de citaccedilatildeo e menores valores de saliecircncia (entre 0032 e 0006) (Tabela 2) 301

Redes de interaccedilatildeo social 302

A rede apresentou uma estrutura aninhada com grau de aninhamento significativamente 303

superior aos modelos nulos (N=3072 Plt0001) para as comunidades sendo um nuacutecleo de 304

etnovariedades altamente conectado aos agricultores (Fig 8) A estrutura aninhada nos permite 305

inferir que existe um grupo de agricultores que cultiva uma maior diversidade de etnovariedades 306

de mandioca em suas roccedilas enquanto que outro subgrupo que tem menor diversidade cultivam 307

as mais comuns ou disponiacuteveis (Cavechia et al 2014) Isso significa que os agricultores locais 308

mesmo em diferentes comunidades cultivam um nuacutecleo de etnovariedades comum entre eles 309

(n=6 Tabela 2) 310

Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 311

Observamos que a maioria dos indiviacuteduos de mandioca satildeo caracterizados por meio de 312

um conjunto de sete caracteres morfoloacutegicos os quais foram citados pelos agricultores como 313

mais importantes para a caracterizaccedilatildeo de suas variedades Nas visitas aos roccedilados registramos 314

39

as etnovariedades atualmente cultivadas e a tabela 3 fornece a lista completa com as 17 315

etnovariedades de mandioca e o local de registro 316

Por meio da anaacutelise de correspondecircncia muacuteltipla as variedades de mandioca foram 317

ordenadas em funccedilatildeo de seus descritores ao longo do primeiro e segundo eixo correspondentes 318

a 3680 da variacircncia total (Fig 9) 319

As variaacuteveis mais correlacionadas e que agruparam as variedades de mandioca no 320

primeiro eixo foram cor da folha desenvolvida (CFD) (r= 07239 Ple0001) cor do coacutertex da 321

raiz (CDR) (r= 06473 Ple0001) cor do broto foliar (CBF) (r= 06880 Ple0001) cor do peciacuteolo 322

(CDP) (r= 05250 Ple005) cor externa do caule (CEC) (r= 06883 Ple005) cor da polpa da 323

raiz (PDR) (r= 02473 Ple005) Para o segundo eixo as variaacuteveis correlacionadas foram cor 324

da folha desenvolvida (CFD) (r= 07220 Ple0001) cor externa do caule (CEC) (r= 08718 325

Ple0001) e cor do peciacuteolo (CDP) (r= 06927 Ple005) 326

O agrupamento de todas as variedades caracterizadas ldquoin siturdquo gerou uma aacutervore 327

hieraacuterquica (dendrograma) (Fig 9) utilizando a distacircncia euclidiana seguindo o criteacuterio de 328

Ward O dendrograma gerado apresentou um coeficiente de correlaccedilatildeo cofeneacutetica r= 06780 329

indicando que existe consistecircncia com os dados originais no agrupamento quanto agrave 330

classificaccedilatildeo e estrutura de tal forma que as variedades foram agrupadas em oito classes as 331

quais foram explicadas pelas variaacuteveis mais significativas descritas na tabela 4 332

O resultado do agrupamento (utilizada a distacircncia euclidiana e com o meacutetodo de Ward) 333

observamos que as etnovariedades de mandioca caracterizadas ldquoin siturdquo foram agrupadas em 334

dois grandes agrupamentos indicados na Fig 10 pelos retacircngulos em vermelho A partir dessa 335

anaacutelise percebemos que os caracteres morfoloacutegicos selecionados pelos agricultores natildeo foram 336

suficientes para separar as variedades de macaxeira e mandioca pois em ambos os 337

agrupamentos encontramos tanto macaxeiras quanto mandiocas 338

40

As variedades da classe 1 foram identificadas pelos agricultores pela cor do peciacuteolo 339

(CDP) verde A classe 2 agrupou as etnoveriedades caracterizadas pela protuberacircncia da cicatriz 340

foliar (PCF) mais protuberante Esse descritor segundo os agricultores era identificado como 341

ldquoembriatildeordquo A classe 3 consiste apenas da variedade ldquoMandioca Pretonardquo indicada pela presenccedila 342

de cor do peciacuteolo (CDP) vermelho A classe 4 agrupou trecircs variedades caracterizadas pelos 343

agricultores pela presenccedila de cor coacutertex da raiz (CDR) rosa e cor da polpa da raiacutez (PDR) branca 344

identificadas como ldquoMacaxeira vermelhardquo ldquoMacaxeira Rosa Brancardquo ldquoMacaxeira Rosardquo As 345

variedades agrupadas na classe 5 foras as variedades de mandioca caracterizadas pelos 346

agricultores por apresentarem cor do coacutertex (CDR) da raiacutez branca A classe 6 agrupou 347

variedades identificadas pelos agricultores pela cor do broto foliar (CBF) verde A classe 7 348

consiste apenas da variedade ldquoMacaxeira Sementerdquo identificada pelos agricultores pela cor do 349

peciacuteolo (CDP) roxo e protuberacircncia da cicatriz foliar pouco proeminente Essa variedade 350

segundo os agricultores era fruto do nascimento espontacircneo no roccedilado poreacutem eles geralmente 351

natildeo utilizam essas variedades por apresentarem apenas uma raiz pequena e de baixo 352

rendimento Na classe 8 as variedades foram identificadas pelos agricultores pela cor do peciacuteolo 353

(CDP) verde amarelado e protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) pouco proeminente As 354

ldquoMandioca Isabel de Souzardquo ldquoMandioca Isabel trecircs galhosrdquo segundo os agricultores se 355

diferenciavam pelo maior nuacutemero de caules presentes na variedade ldquoIsabel trecircs galhosrdquo 356

Discussatildeo 357

As sete comunidades estudadas manejavam um nuacutemero consideraacutevel de variedades 358

locais A quantidade de etnovariedades registradas eacute proacutexima a encontrada por Bender et al 359

(2009) e Cavechia et al (2014) em comunidades na regiatildeo sul e sudeste por Oler e Amorozo 360

(2017) em uma comunidade tradicional na regiatildeo centro-oeste Poreacutem foi quantitativamente 361

inferior quando comparada a estudos como os de Elias et al (2001) e Kawa et al (2013) em 362

comunidades na regiatildeo amazocircnica pois possuiacuteam uma alta diversidade Essa alta diversidade 363

41

na regiatildeo amazocircnica pode estar relacionada com o fato de que essa regiatildeo eacute o provaacutevel centro 364

de origem da mandioca (M esculenta) (Allem 1994) 365

As etnovariedades registradas neste estudo estatildeo disponiacuteveis para a maioria dos 366

agricultores dessa regiatildeo e esse fator favorece a circulaccedilatildeo das etnovariedades entre as 367

comunidades locais Por isso haacute semelhanccedilas das etnovariedades utilizadas entre os agricultores 368

da mesma comunidade e entre comunidades vizinhas 369

Parte dos agricultores optam por manter uma alta frequecircncia de variedades mais 370

utilizadas enquanto que outros optam por manter etnovariedades de baixa frequecircncia 371

Conforme discutido por Amorozo (2013) os agricultores escolhem seu acervo de acordo com 372

as necessidades e contexto em que vivem A reduccedilatildeo da diversidade de etnoveriedades por 373

exemplo pode ser impulsionada por fatores que simplificam o sistema como a seleccedilatildeo de 374

etnovariedades para a produccedilatildeo de farinha resultando no cultivo de poucas ou ateacute de uma uacutenica 375

etnovariedade (Peroni amp Hanazaki 2002) mesmo em aacutereas maiores 376

377

Redes de interaccedilatildeo social 378

Com as anaacutelises de rede demonstramos que os agricultores de diferentes comunidades 379

em uma mesma regiatildeo efetivamente trocam variedades de mandioca entre si corroborando 380

com estudos realizados por Emperaire amp Eloy (2008) Pautasso et al (2012) e Cavechia et al 381

(2014) Nesses estudos os autores tambeacutem consideram que as trocas de etnovariedades por 382

meio da rede de intercacircmbio entre os agricultores eacute um mecanismo fundamental para a 383

manutenccedilatildeo da diversidade local 384

A visualizaccedilatildeo da rede demonstrou que entre as comunidades os agricultores 385

compartilham um nuacutecleo de etnovariedades mais utilizadas dentre as quais estatildeo as de maior 386

valor econocircmico e de subsistecircncia Essas de maior frequecircncia satildeo aquelas altamente produtivas 387

utilizadas pelos agricultores para atenderem agraves demandas de mercado por farinha e para o 388

consumo proacuteprio (Kawa et al 2013) 389

42

No entanto observamos que existe outro nuacutecleo de etnovariedades menos frequentes 390

Essas etnovariedades raras podem ser resultantes do processo de experimentaccedilatildeo ou 391

preferecircncias individuais dos agricultores Outra possiacutevel razatildeo para a baixa frequecircncia de 392

algumas etnovariedades poderia ser explicada pela variaccedilatildeo da nomenclatura pelos 393

agricultores que segundo Peroni amp Hanazaki (2002) pode ocorrer durante o processo de troca 394

e introduccedilatildeo de novas variedades aos roccedilados Ainda assim natildeo descartamos a hipoacutetese de que 395

essas etnovariedades raras possam ser provenientes do cruzamento entre variedades diferentes 396

cultivadas da mesma roccedilado ou em roccedilas vizinhas De acordo com Martins (2005) essas 397

variedades fruto de germinaccedilatildeo expentacircnea satildeo incorporadas aos roccedilados pelos agricultores 398

pela curiosidade em experimentar novas variedades agraves suas coleccedilotildees 399

Nesse estudo admitimos que optar por etnovariedades raras entre as comunidades 400

estudadas eacute um comportamento adotado por agricultores que manejam uma maior diversidade 401

corroborando com os estudos de Cavechia et al (2014) e Emperaire et al (2016) em regiotildees 402

uacutemidas Para esses autores etnovaridedades de baixa frequecircncia representam um subconjunto 403

das de alta frequecircncia cultivadas por agricultores que manteacutem a maior diversidade em seus 404

roccedilados Sendo assim inferimos que no geral entre as comunidades satildeo os agricultores 405

generalistas aqueles que cultivam maior diversidade os responsaacuteveis por incorporar novas 406

etnovariedades aos roccedilados 407

As decisotildees dos agricultores em manter o acervo direcionado principalmente para 408

atender a demanda de mercado por exemplo podem levar a uma homogeneizaccedilatildeo nas roccedilas 409

colocando em risco a manutenccedilatildeo da diversidade local (Peroni amp Hanazaki 2002) Como 410

discutido por Elias et al (2000) os agricultores que selecionam apenas um nuacutemero reduzido e 411

especiacutefico de variedades mais produtivas tendem a fazer com que as variedades menos 412

frequentes desapareccedilam ao longo do tempo Essa tendecircndia pode influenciar na capacidade de 413

43

resiliecircncia do sistema assim como dos agricultores em lidar com possiacuteveis adversidades 414

ambientais que possam ocorrer 415

Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 416

No geral os agricultores demonstraram uma tendecircncia em classificarseparar suas 417

diferentes etnovariedades de mandioca a partir da combinaccedilatildeo de um conjunto de sete 418

caracteres morfoloacutegicos distintos e de faacutecil percepccedilatildeo os quais natildeo tem relaccedilatildeo com o uso 419

como por exemplo a cores das raiacutezes caule e folhas Logo consideramos que esses caracteres 420

morfoloacutegicos podem ser considerados como uma forma de classificaccedilatildeo pelos agricultores 421

baseada na capacidade percepccedilatildeo das diferenccedilas morfoloacutegicas que cada etnovariedades 422

apresenta (Boster 1985) Estes resultados nos levam a entender que entre os agricultores o 423

conhecimento sobre a diversidade da mandioca estaacute relacionado ao conhecimento de 424

caracteriacutesticas morfoloacutegicas consistentes 425

A existecircncia de alguns fenoacutetipos comuns nos permitiu avaliar a classificaccedilatildeo da 426

consistecircncia da taxonomia popular entre os agricultores Por exemplo as etnovariedades 427

ldquoMaxaceira Rosardquo e ldquoMacaxeira Rosa Brancardquo e ldquoMacaxeira vermelhardquo foram agrupadas no 428

mesmo cluster (C4) por apresentaram fenoacutetipos semelhantes Notamos que os agricultores 429

classificaram essas variedades de acordo com os traccedilos morfoloacutegicos mais relevantes como a 430

cor do coacutertex da raiz rosa e cor branca da polpa O mesmo ocorreu com as etnovariedades 431

ldquoMandioca varudardquo ldquoMandioca campina da granderdquo e ldquoMandioca campinardquo caracterizadas 432

pela presenccedila do peciacuteolo verde agrupadas no cluster (C1) 433

A partir dessas evidecircncias consideramos a hipoacutetese de que as variedades mesmo 434

apresentando caracteriacutesticas morfoloacutegicas muito semelhantes estatildeo sujeitas a variaccedilatildeo 435

nomenclatural durante o processo a incorporaccedilatildeo aos roccedilados pelos agricultores pois a 436

capacidade para distinguir e nomear variedades entre os agricultores da mesma regiatildeo pode 437

variar (Sambatti et al 2001 Elias et al 2001 Mekbib 2007) Consideramos tambeacutem que pode 438

44

existir variaccedilatildeo geneacutetica entre os indiviacuteduos identificados por um mesmo nome ou entatildeo que 439

os agricultores datildeo o mesmo nome para variedades diferentes E esta situaccedilatildeo pode levar a uma 440

superestimaccedilatildeo ou subestimaccedilatildeo da diversidade de mandioca cultiva nas aacutereas de estudo 441

Sabemos que a mandioca eacute propagada vegetativamente pelos agricultores por meio de 442

estacas em sistemas de agricultura tradicional No entanto alguns variedades produzem flores 443

e sementes que germinam e podem originar outras variedades ou outros clones por meio de 444

fecundaccedilatildeo cruzada (Elias et al 2001) Nesse contexto a etnovariedade ldquoMacaxeira Sementerdquo 445

presente no cluster (C7) trata-se de um uacutenico indiviacuteduo amostrado em uma roccedila de um dos 446

agricultores Esta apresentava algumas caracteriacutesticas morfoloacutegicas distintas das demais 447

reconhecidas pelo agricultor como por exemplo a produccedilatildeo de uma raiz uacutenica e 448

consequentemente de baixo rendimento Encontramos apenas um indiviacuteduo dessa 449

etnovariedade e nossa hipoacutetese de que esta poderia ter sido originada da germinaccedilatildeo da 450

semente mesmo quando 100 dos informantes declararam natildeo dar qualquer importacircncia e 451

descartar essas ldquovariedades-voluntaacuteriasrdquo foi confirmada pelo agricultor que afirmou que se 452

tratava de uma variedade nascida da germinaccedilatildeo da semente Esse comportamento vai de 453

encontro ao estudo de Fraser et al (2012) pois apesar dos agricultores reportarem nas 454

entrevistas que conhecem essas ldquovariedades-voluntaacuteriasrdquo nenhum agricultor faz o uso delas 455

Peroni et al (1999) e Agre et al (2016) analisando morfologicamente as variedades 456

locais de mandioca mantidas por agricultores em sistemas agriacutecolas tropicais tambeacutem 457

demonstraram que os agricultores satildeo coerentes quanto a separaccedilatildeo e identificaccedilatildeo de suas 458

etnovariedades a partir da formaccedilatildeo de grupos de coesos quanto a nomenclatura local utilizada 459

No entanto para o melhor entendimento dessa diversidade aleacutem da caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica 460

o uso de anaacutelises complementares como anaacutelise molecular seria importante para tentar 461

identificar se esses grupos representam a mesma variedade com nomes distintos ou se satildeo 462

variedades distintas com o mesmo nome 463

45

Conclusatildeo 464

O estudo demonstrou que no sistema de manejo da mandioca ao niacutevel de roccedila em 465

comunidades localizadas na regiatildeo semiaacuterida de Pernambuco compotildee uma diversidade 466

intrespeciacutefica de mandioca para atender agraves demandas econocircmicas e de subsistecircncia das 467

populaccedilotildees locais 468

Com relaccedilatildeo a anaacutelise de rede demostramos que haacute um nuacutecleo de etnovariedades 469

fortemente conectado aos agricultores e sua composiccedilatildeo eacute direcionada pelas preferecircncias e 470

necessidades individuais dos agricultores que foram os fatores responsaacuteveis pelo surgimento 471

da estrutura aninhada observada na anaacutelise rede entre as comunidades deste estudo E esse 472

padratildeo aninhado observado contribui na conservaccedilatildeo das etnovariedades mais comuns mas 473

tambeacutem pode resultar em perda daquelas de menor frequecircncia ao longo do tempo 474

A caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica ldquoin siturdquo nos permitiram inferir que os agricultores 475

reconhecem as diferentes caracteriacutesticas morfoloacutegicas de suas cultivares e satildeo coerentes na 476

separaccedilatildeo de suas variedades de mandioca e macaxeira Entretanto esses resultados sugerem a 477

realizaccedilatildeo de um estudo em niacutevel de diversidade geneacutetica exploratoacuterio para identificar se as 478

consistecircncias morfoloacutegicas refletem em consistecircncias geneacuteticas elucidando assim as possiacuteveis 479

confusotildees atribuiacutedas aos nomes das etnovariedades de mandioca 480

Agradecimentos 481

Agradecemos ao liacuteder comunitaacuterio Alexandre O Nascimento aos agricultores e 482

agricultoras das comunidades pela acolhida confianccedila e pela gentileza de compartilharem 483

conosco seus conhecimentos e contribuiacuterem com este estudo Especialmente a Arlindo Ferreira 484

Edgar Antocircnio Joseacute Sebastiatildeo Juvenal Oliveira e Janete Alves Ao Laboratoacuterio de Ecologia e 485

Evoluccedilatildeo de Sistemas Socioecoloacutegicos (LEA - UFPE) E agradecemos ao CNPq pelo apoio 486

com a bolsa de estudos do primeiro autor 487

46

Referecircncias bibliograacuteficas 488

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614

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ANEXOS 615

616

Nome da revista 617

Human Ecology 618

Link de acesso 619

httpsgooglDVLbFj 620

Qualis-CAPES 621

B1 em Biodiversidade 622

623

624

625

626

627

628

629

630

631

632

633

634

635

636

637

638

639

640

641

642

52

Figuras 643

644

645

Fig 1 Partes do processo de fabricaccedilatildeo de farinha de mandioca Onde a raspagem b e c 646

processo de trituraccedilatildeo e d peneiramento Foto registrada em Abril de 2017 por Mirela Santos 647

648

649

650

c

d

b

a

53

651

Fig 2 Mapa de localizaccedilatildeo geograacutefica dos Municiacutepios de Altinho e Panelas e das comunidades 652

estudadas na regiatildeo semiaacuterida do Estado de Pernambuco (Elaborado por SANTOS 2018) 653

54

654

655

656

657

Fig 3 Processo de fabricaccedilatildeo da farinha de mandioca Apoacutes a colheita as raiacutezes satildeo lavadas 658

raspadas e trituradas (a) A massa extraiacuteda eacute prensada e coada Ao sair da prensa a massa 659

peneirada (b) e em seguida eacute torrada (c) em fornos artesanais ou parcialmente mecanizados 660

Imagem registrada em janeiro de 2017 na Comunidade do Caratildeo por Mirela Santos 661

662

663

a

b c

55

664

Fig 4 a Sede da Comunidade do Caratildeo b Agricultor transportando a palma forrageira que eacute 665

um exemplo de estrateacutegia adaptativa para suprir a falta de alimento dos animais devido agrave seca 666

c Feira-livre que acontece na comunidade a cada quinze dias Imagem registrada em julho de 667

2016 na Comunidade do Caratildeo por Mirela Santos 668

669

670

Fig 5 a O agricultor nos explicava as mudanccedilas que vem fazendo em seus roccedilados para se 671

adaptar aos longos periacuteodos de seca b Quando o agricultor nos mostrava as diferentes 672

etnovariedades que mantinha em sua roccedila c Durante a pesquisa nos explicavam como era feita 673

a colheita da mandioca e como selecionavam as manivas para o proacuteximo plantio Foto registrada 674

em abril de 2017 na Comunidade do Brejo Velho por Mirela Santos 675

a

b c

c b

a

56 676

677

Fig 6 Possiacuteveis estruturas de rede que descrevem as interaccedilotildees dos agricultores (losango) 678

ligados as etnovariedades (ciacuterculos) que cultivam Onde a Aninhada b Modular c Aleatoacuteria 679

(Fonte Cavechia et al 2014 com adaptaccedilotildees) 680

681

682

683

684

685

686

687

688

689

690

691

692

693

694

695

696

697

a c b

57

698

699

700

701

702

703

704

705

706

707

Fig 7 Correlaccedilatildeo de Spearman entre a diversidade de etnovariedades de mandiocas conhecidas 708

como cultivadas e variedades atualmente cultivadas por agricultor e as variaacuteveis 709

socioeconocircmicas Onde Nvc= nuacutemero de citadas como cultivadas Nve= nuacutemero de variedades 710

atualmente cultivadas Esc= escolaridade Id= idade Gen= gecircnero Tr= tamanho do roccedilado 711

Exp= experiecircncia na agricultura Sld= renda Nr= nuacutemero de roccedilados Cores distintivas 712

representam correlaccedilotildees significativas (Ple005) 713

714

58

715

Fig 8 Modelo individual de rede de etnovariedades de mandioca citadas (esquerda) por 716

agricultores como cultivadas (direita) nos Municiacutepios de Altinho e Panelas As redes foram 717

desenhadas com o pacote bipartite (Dormann et al 2017) usando o software R (R CORE 718

TEAM 2017) 719

720

59

721

Fig 9 Anaacutelise de Correspondecircncia Muacuteltipla das 17 etnovariedades de mandioca considerando 722

os sete descritores morfoloacutegicos utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo em roccedilas de 723

agricultores tradicionais de sete comunidades no semiaacuterido de Pernambuco 724

725

726

727

728

729

730

731

732

733

734

735

736

737

McCambadinha

McCampina

McCampinaDaGrande

McCampinaRasteira

McCampinaVaruda

McGauba

McIsabelDeSouza

McIsabelTresGalhos

McOlhoDePombo

McOlhoVerde

McPretinha

McPretona

MxBranca

MxRosa

MxRosaBrancaMxRosaVermelha

MxSemente

CFD_Verde_Arroxeado

CFD_Verde_ClaroCFD_Verde_Escuro

CBF_Roxo

CBF_Verde_ArroxeadoCBF_Verde_Claro

CBF_Verde_Escuro

CDP_Verde

CDP_Verde_Amarelado

CDP_Verde_Avermelhado

CDP_Vermelho

CEC_Cinza

CEC_Dourado

CEC_Laranja

CEC_Marrom_Claro

CEC_Marrom_Escuro

CEC_Prateado

CEC_Verde_AmareladoCicatriz_M

Cicatriz_P

PDR_Branco

PDR_Creme

CDR_BrancoCDR_Creme CDR_Rosa

-4

-2

0

2

4

-4 -2 0 2 4

Dim1 (206)

Dim

2 (

162

)

MCA - Biplot

00

10

Hierarchical Clustering

inertia gain

McC

am

pin

aV

aru

da

McC

am

pin

aD

aG

rande

McC

am

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a

McG

auba

McP

retin

ha

McP

reto

na

MxR

osaV

erm

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MxR

osaB

ranca

MxR

osa

McC

am

pin

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ira

McC

am

badin

ha

McO

lhoV

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e

MxB

ranca

MxS

em

ente

McIsabelT

resG

alh

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McIsabelD

eS

ouza

McO

lhoD

eP

om

bo

00

05

10

15

Hierarchical Classification

Heig

ht

C1 C2 C3 C4 C5 C6 C7 C8

Fig 10 Agrupamento hieraacuterquico das 17 etnovariedades de mandioca caracterizadas de acordo

com os descritores utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo

60

Tabelas 738

739

Tabela 1 Caracteres e estados utilizados pelos agricultores como descritores botacircnicos para 740

caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das etnovariedades de mandioca 741

Caracter Sigla Estados

Folha

Cor da folha desenvolvida CFD 1- verde claro 2- verde escuro 3- verde arroxeado 4- roxo

Cor do broto foliar CBF 1- verde claro 2- verde escuro 3- verde arroxeado 4- roxo

Cor do peciacuteolo CDP 1- verde amarelado 2- verde 3- verde avermelhado 4- roxo

5- vermelho

Caule

Cor externa do caule CEC 1- laranja 2- verde amarelado 3- dourado 4- marrom claro

5- prateado 6- cinza 7- marrom escuro 8- verde

Protuberacircncia da cicatriz foliar PCF 1- pouco proeminente 2- muito proeminente

Raiacutez

Cor da poupa da raiz PDR 1- branco 2- creme

Cor do coacutertex da raiacutez CDR 1- rosa 2- branco 3- creme

742

743

744

745

746

747

748

749

750

751

61

Tabela 2 Lista das 22 etnovariedades de mandiocas citadas (132 citaccedilotildees) como cultivadas nas 752

comunidades pertencentes aos Municiacutepios de Altinho (Caratildeo n=8) e ao Municiacutepio de Panelas 753

(Aracuatilde Satildeo Joseacute do Bola Brejo Velho Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima e Lajeiro 754

Dantas n=21) 755

Etnovariedade Frequecircncia () Ranking Saliecircncia

Macaxeira Rosa 66 179 0472

Mandioca Isabel de Souza 48 179 0372

Mandioca Campina 24 217 0148

Macaxeira Branca 20 210 0134

Macaxeira Rosa branca 18 122 0168

Mandioca Pretona 16 338 0082

Mandioca Cambadinha 12 283 0071

Mandioca Isabel trecircs galhos 10 180 0075

Mandioca Gauacuteba 10 260 0070

Mandioca Pretinha 8 225 0053

Mandioca Peacute de pombo 4 400 0011

Mandioca Olho verde 4 350 0012

Macaxeira Rosinha 4 200 0027

Mandioca Campina varuda 4 200 0032

Mandioca Campina rasteira 4 300 0021

Mandioca Caboquinha 2 500 0007

Macaxeira Rasteira 2 200 0013

Macaxeira Paraacute 2 100 0020

Mandioca Barra ferro 2 300 0007

Mandioca Campina da grande 2 100 0020

Mandioca Olho de pombo 2 300 0010

Mandioca Jasmim 2 600 0006

756

757

758

62

Tabela 3 Lista de 17 etnovariedades atualmente cultivadas nos roccedilados das comunidades em 759

estudo 760

Ca Ar Bo Br Jb Jc Ld

Etnovariedade

Macaxeira Branca x x x x

Macaxeira Rosa

x x x x x x

Macaxeira Rosa Branca x x x x

Macaxeira Rosa Vermelha

x

Macaxeira Semente

x

Mandioca Cambadinha x

x

Mandioca Campina

x

x

x

Mandioca Campina da Grande x

Mandioca Campina Rasteira

x

Mandioca Campina Varuda

x

Mandioca Gauacuteba

x

Mandioca Isabel de Souza

x x x

Mandioca Isabel trecircs Galhos

x

x

Mandioca Olho de Pombo

x

Mandioca Olho Verde

x

Mandioca Pretinha

x

Mandioca Pretona x x x

Comunidades Ca= Caratildeo Ar=Aracuatilde Bo= Satildeo Joseacute do Bola Jb= Japaranduba de Baixo 761

Jc= Japaranduba de Cima Ld= Lajedo Dantas 762

763

764

765

766

767

768

63

Tabela 4 Descriccedilatildeo das classes do agrupamento por meacutetodo de Ward agrupadas pelo conjunto 769

dos descritores mais significativos para a caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das variedades de mandioca 770

Classes Descritores in situ p-valor

C1 Cor do peciacuteolo (CDP) 0016

C2 Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023

C3 Cor do peciacuteolo (CDP) 0012

C4 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0004

Cor da poupa da raiacutez (PDF) 0021

C5 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0003

C6 Cor do broto foliar (CBF) 0002

C7 Cor da folha desenvolvida (CFD) 0004

Cor externa do caule (CEC) 0040

C8 Cor do peciacuteolo (CDP) 0005

Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023

Valores de Ple005 satildeo significativos 771

772

30

classificaccedilatildeo climaacutetica de Koumlppen A vegetaccedilatildeo eacute composto por espeacutecies perenes que 101

conseguem sobreviver mesmo em periacuteodos de seca e espeacutecies anuais que aparecem apenas em 102

periacuteodos com chuva (Cruz et al 2013) 103

De acordo os dados de precipitaccedilatildeo do Laboratoacuterio de Anaacutelise e Processamento de 104

Imagens de Sateacutelites (LAPIS) no ano de 2012 foi registrada a menor meacutedia anual de 105

precipitaccedilatildeo dos uacuteltimos 10 anos para essa regiatildeo (3784 mm) Essa realidade ambiental quando 106

comparada com estudo realizado por de Sieber e colaboradores (2011) na mesma comunidade 107

observa-se que houve uma diminuiccedilatildeo considerada das praacuteticas agriacutecolas realizadas pelos 108

membros da comunidade culminando em uma seacuterie de prejuiacutezos aos agricultores como a perda 109

de plantaccedilotildees e animais Essa perda de produtividade afetou a estrutura econocircmica da 110

comunidade uma vez que a principal fonte de subsistecircncia das famiacutelias eacute a agricultura 111

Associada as atividades agriacutecolas os moradores complementam a dieta e a renda 112

familiar com a venda dos excedentes da produccedilatildeo em feiras-livres ou centros comerciais da 113

regiatildeo (Cruz et al 2013) E com a pecuaacuteria de pequena escala bovina caprina e com avicultura 114

No entanto a diminuiccedilatildeo da forragem natural e cultivada causada pela escassez de chuvas 115

associada aos elevados custos envolvidos na compra de raccedilatildeo levou muitos animais agrave morte 116

(Fig 4) 117

No Municiacutepio de Altinho a comunidade do Caratildeo foi inicialmente escolhida devido ao 118

reconhecimento preacutevio do registro de agricultores realizado em estudos desenvolvidos pelo 119

nosso grupo de pesquisa facilitando assim o acesso agraves informaccedilotildees necessaacuterias para o 120

desenvolvimento da pesquisa 121

As comunidades Aracuatilde Brejo Velho Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima 122

Lajedo Dandas e Satildeo Joseacute do Bola amostradas no estudo pertencem ao Municiacutepio de Panelas 123

que se limita ao Norte com o Municiacutepio de Altinho Essas comunidades estatildeo localizadas em 124

31

no domiacutenio morfoclimaacutetico de Caatinga O clima eacute do tipo semiaacuterido Bsrsquoh segundo a 125

classificaccedilatildeo climaacutetica de Koumleppen 126

A maior parte dos membros dessas comunidades assim como no Caratildeo tecircm como 127

principal fonte de subsistecircncia a agricultura de sequeiro principalmente o cultivo da mandioca 128

(Fig 5) Como renda extra a pecuaacuteria de pequeno porte com criaccedilatildeo bovina caprina e 129

avicultura sendo os excedentes dos alimentos produzidos vendidos em feiras locais ou para 130

escolas 131

As atividades agriacutecolas entre as comunidades tambeacutem foram duramente afetadas pela 132

seca na regiatildeo nos uacuteltimos anos A escassez de chuvas desestimulou o plantio a produccedilatildeo de 133

mandioca foi fortemente comprometida e a colheita foi adiada devido ao subdesenvolvimento 134

das raiacutezes gerando impactos econocircmicos para os membros das comunidades 135

As comunidades amostradas neste muniacutecipio foram escolhidas em funccedilatildeo das 136

indicaccedilotildees dos agricultores entrevistados a princiacutepio na comunidade do Caratildeo que reportaram 137

manter viacutenculos sociais com os agricultores do municiacutepio vizinho 138

Coleta de dados 139

Acessamos as comunidades com a ajuda de um liacuteder comunitaacuterio (Alexandre O 140

Nascimento) em companhia de outros pesquisadores que desenvolviam pesquisas na regiatildeo 141

Previamente as entrevistas todos objetivos e procedimentos para a realizaccedilatildeo da pesquisa foram 142

apresentados aos entrevistados e todos que aceitaram participar foram convidados a assinar um 143

Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) de acordo com a Resoluccedilatildeo 46612 do 144

Conselho Nacional de Sauacutede concordando com a realizaccedilatildeo das entrevistas e avaliaccedilotildees 145

morfoloacutegicas em campo O presente trabalho foi submetido ao Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa da 146

Universidade de Pernambuco (UPE) 147

32

Em todas as comunidades o meacutetodo de acesso ao informante foi o mesmo a partir do 148

primeiro contato com um informante-chave identificamos outros potenciais agricultores 149

seguindo a teacutecnica de ldquobola de neverdquo (Albuquerque et al 2014a) Esse meacutetodo consistiu na 150

amostragem intencional dos participantes e nesse particular os agricultores chefes de famiacutelia 151

(ge 18 anos) da regiatildeo que declararam cultivar mandioca (M esculenta) em suas roccedilas 152

Reunimos informaccedilotildees socioeconocircmicas desses agricultores tais como nome idade gecircnero 153

escolaridade renda experiecircncia na agricultura e tamanho da aacuterea de cultivo para tentar 154

identificar se esses paracircmetros socioeconocircmicos tecircm uma relaccedilatildeo com a agrobiodiversidade 155

local 156

Em seguida conduzimos entrevistas semiestruturadas (Albuquerque et al 2014b) com 157

o objetivo de caracterizar o modo de vida dos agricultores o manejo da agricultura bem como 158

obter dados sobre o conhecimento uso e caracterizaccedilatildeo das etnovariedades de mandioca 159

5cultivadas Aleacutem disso neste momento tambeacutem aplicamos a teacutecnica da lista livre 160

(Albuquerque et al 2014b) a fim de registrar as variedades de mandioca atualmente cultivadas 161

pelos agricultores e identificar as de maior importacircncia local Apoacutes as entrevistas realizamos 162

visitas aos roccedilados para o registro fotograacutefico georreferenciamento das roccedilas e caracterizaccedilatildeo 163

morfoloacutegica das variedades cultivadas 164

Entrevistamos 50 agricultores no total distribuiacutedos nas sete comunidades Caratildeo (3) 165

Satildeo Joseacute do Bola (10) Brejo velho (7) Japaranduba de Baixo (7) Japaranduba de Cima (8) 166

Lajedo Dantas (9) e Aracuatilde (6) Destes 10 satildeo mulheres e 40 homens com idade variando entre 167

31 e 82 anos A maioria dos entrevistados natildeo apresentava instruccedilatildeo formal (46) mais da 168

metade eram aposentados (56) e os demais apresentaram renda inferior a um salaacuterio miacutenimo 169

5 Entende-se por etnovariedade de mandioca o conjunto de variedades intraespeciacuteficas de mandioca (M esculenta)

reconhecidas pelos agricultores por nomenclatura popular local (Peroni 2004)

33

O tempo meacutedio de experiecircncia na agricultura foi de 40 anos Cada agricultor possui entre um e 170

dois roccedilados (aacuterea de plantio) com aproximadamente um a dois hectares 171

Redes de interaccedilatildeo social 172

Confeccionamos a rede que descreve as interaccedilotildees entre os agricultores e as 173

etnovariedades cultivadas a partir de uma matriz de incidecircncia R (presenccedilaausecircncia) onde nas 174

linhas estavam as etnovariedades de mandioca cultivadas (j) e nas colunas os agricultores locais 175

(i) O elemento Rij dessa matriz foi 1 (um) no caso de a etnovariedade j ser cultivada pelo 176

agricultor i caso contraacuterio seria atribuiacutedo 0 (zero) As interaccedilotildees entre os agricultores e as 177

etnovariedades foram descritas em dois modos (Pires et al 2011) onde os ldquonoacutesrdquo da esquerda 178

representam os agricultores que foram vinculados aos ldquonoacutesrdquo da direita representados pelas 179

etnovariedades citadas durante as entrevistas Esses ldquonoacutesrdquo seriam o espelho das decisotildees dos 180

agricultores em manter um determinado conjunto local de etnovariedades em suas roccedilas 181

Avaliamos a estrutura da rede que conecta os agricultores agraves etnovariedades cultivadas 182

a partir de trecircs cenaacuterios hipoteacuteticos (Fig 6) segundo Cachevia et al (2014) No primeiro se os 183

agricultores apresentassem diferentes graus de seletividade para a utilizaccedilatildeo de suas 184

etnovariedades a estrutura seria aninhada (Fig 6a) Isso significa que alguns agricultores 185

cultivam vaacuterias etnovariedades enquanto que outros cultivam o subconjunto mais 186

disponiacutevelcomum dessas etnovariedades Em segundo lugar se a rede apresentasse uma 187

estrutura modular (Fig 6b) significaria que os agricultores apresentam semelhanccedila na seleccedilatildeo 188

do recurso ou seja subgrupos de agricultores cultivam subgrupos distintos de etnovariedades 189

regionalmente disponiacuteveiscomuns E o terceiro se os agricultores natildeo apresentassem 190

preferecircncias quanto a seleccedilatildeo das etnovariedades entatildeo a rede apresentaria uma estrutura 191

aleatoacuteria (Fig 6c) 192

O objetivo da anaacutelise de rede nesse estudo foi tentar entender se o conjunto de 193

etnovariedades presentes no local do estudo constituem uma subamostra de um conjunto mais 194

34

amplo no caso de um alto grau de aninhamento ou se a sua composiccedilatildeo eacute determinada por 195

variaacuteveis locais (Ulrich 2008) Onde as conexotildees entre os informantes e as etnovariedades 196

representam as decisotildees dos agricultores de manter um conjunto determinado de variedades de 197

mandioca dentre as comunidades Esta anaacutelise tambeacutem nos permitiu identificar quais os nuacutecleos 198

de etnovariedades que apresentam maior conexatildeo com os diferentes perfis dos agricultores 199

Diversidade fenotiacutepica 200

Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 201

Apoacutes as entrevistas buscamos identificar quais os caracteres morfoloacutegicos considerados 202

mais importantes para a diferenciaccedilatildeo das etnovariedades de mandioca a partir do seguinte 203

questionamento ldquoQuais as diferenccedilas que vocecirc reconhece para separar uma qualidade de 204

mandioca (variedade) de uma outrardquo Assim os agricultores mencionaram quais os criteacuterios 205

mais importantes utilizados para a caracterizaccedilatildeo de suas etnovariedades 206

Compilamos uma listagem dessas caracteriacutesticas baseada nas indicaccedilotildees dos 207

agricultores e a partir delas selecionamos os caracteres morfoloacutegicos mais citados para a 208

caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica ldquoin siturdquo tais como cor da folha (cor da folha desenvolvida) olho 209

(cor do broto foliar) cor do talo (cor do peciacuteolo) maniva (cor externa do caule) embriatildeo 210

(protuberacircncia da cicatriz foliar) cor da entrecasca (coacutertex da raiz) e cor miolo (polpa da raiz) 211

(Tabela 1) O objetivo dessa caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica foi indicar como estaacute distribuiacuteda a 212

variaccedilatildeo fenotiacutepica das etnovariedades de mandioca nas comunidades na regiatildeo semiaacuterida de 213

Pernambuco bem como identificar que caracteriacutesticas satildeo mais importantes para distinguir 214

esses grupos no intuito de tentar entender como os agricultores classificam suas variedades de 215

mandioca 216

Nas sete comunidades para cada etnovariedade citada no roccedilado caracterizamos ldquoin 217

siturdquo trecircs indiviacuteduos de M esculentade de cada uma totalizando 171 indiviacuteduos (Aracuatilde=11 218

35

Caratildeo=4 Satildeo Joseacute do Bola=13 Brejo Velho=16 Japaranduba de Baixo=6 Japaranduba de 219

Cima=3 e Lajedo Dantas=4) Fotografamos e avaliamos todos os indiviacuteduos com base em parte 220

dos descritores morfoloacutegicos seguindo recomendaccedilotildees de Fukuda amp Guevara (1998) e aleacutem 221

disso georreferenciamos todas as aacutereas de roccedila 222

Anaacutelise dos dados 223

Analisamos os dados socioeconocircmicos das entrevistas semiestruturadas por meio de 224

estatiacutestica descritiva para explicar os aspectos da realidade econocircmica e social dos agricultores 225

Para identificar se a diversidade intraespeciacutefica da mandioca cultivada localmente eacute 226

influenciada por paracircmetros socioeconocircmicos utilizamos o coeficiente de correlaccedilatildeo de 227

Spearman (Ple005) (Sokal amp Rohlf 1995) 228

Com base na lista livre das variedades de mandioca cultivadas pelos agricultores 229

calculamos a frequecircncia de citaccedilatildeo o ranking e o iacutendice de saliecircncia com o objetivo de 230

identificar quais as mais importantes ou preferidas para as comunidades O iacutendice de saliecircncia 231

considerou a frequecircncia de citaccedilatildeo e o ranking referente ao posicionamento das variedades 232

dentro das listas livres (Thompson amp Juan 2006) As etnovariedades mais citadas e com maior 233

valor de saliecircncia representam as de maior importacircncia ou preferecircncia para as comunidades 234

Anaacutelise de rede 235

Medimos o grau de aninhamento (NODF) para investigar a estrutura de rede de 236

interaccedilatildeo social dos agricultores em funccedilatildeo das variedades cultivadas As matrizes altamente 237

aninhadas apresentam NODF tendendo a 1 caso contraacuterio tentem a ser 0 238

Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 239

Para o estudo das semelhanccedilas e diferenccedilas fenotiacutepicas entre as variedades de mandioca 240

ldquoin siturdquo realizamos anaacutelises multivariadas para identificar possiacuteveis grupos de variedades que 241

compartilham semelhanccedilas entre si 242

36

A anaacutelise de correspondecircncia muacuteltipla (MCA) permitiu identificar como as variedades 243

de mandioca estatildeo ordenadas em funccedilatildeo dos seus descritores etnobotacircnicos As etnovariedades 244

foram plotadas ao longo um plano cartesiano bi ou tridimensional onde a variaccedilatildeo total eacute 245

explicada pelos dois primeiros eixos Complementar a esta anaacutelise realizamos a anaacutelise de 246

agrupamento hieraacuterquico (Cluster) para identificar como estatildeo agrupadas as etnovariedades de 247

acordo seus descritores Conferimos a consistecircncia do dendrograma com coeficiente de 248

correlaccedilatildeo cofeneacutetica conforme Sneath amp Sokal (1973) que quantifica se a correlaccedilatildeo entre a 249

matriz de distacircncias originais e a matriz de distacircncias cofeneacuteticas eacute representativa Para 250

mensurar as dissimilaridades entre as variedades de mandioca foi utilizada a distacircncia 251

euclidiana e com o meacutetodo de Ward 252

Softwares utilizados 253

Para a anaacutelise da lista livre usamos o software ANTROPAC versatildeo 10 O software 254

ANINHADO 30 (Guimaratildees amp Guimaratildees 2006) foi usado para medir o grau de aninhamento 255

da rede Utilizamos o software estatiacutestico R (R core team 2017) para a anaacutelise de correlaccedilatildeo 256

de Spearman com o pacote corrplot (Wei amp Simko 2013) o desenho da rede que descreve a 257

interaccedilatildeo entre os agricultores e as etnovariedades com o pacote bipartite (Dormann et al 258

2017) E com os pacotes FactoMineR (LEcirc et al 2008) factoextra (Kassambara et al 2016) e 259

vegan (Oksanen et al 2017) foram realizadas as anaacutelises de cluster de correspondecircncia 260

muacuteltipla (MCA) e de correlaccedilatildeo coefeneacutetica respectivamente 261

Resultados 262

As diferentes etnovariedades de mandioca encontradas no estudo suprem a demanda 263

local por alimento enquanto outras atendem agraves preferecircncias individuais ou do comeacutercio As 264

variedades que possuem maior rendimento e a farinha produzida apresenta coloraccedilatildeo branca 265

satildeo as de maior valor comercial para os agricultores devido agraves preferecircncias do mercado Jaacute 266

37

outras variedades que satildeo mais moles e apresentam coloraccedilatildeo amarelada natildeo satildeo empregadas 267

na produccedilatildeo de farinha mas sim consumidas cozidas ou assadas A depender da demanda local 268

os agricultores intencionalmente aumentam ou diminuem a frequecircncia de suas variedades nos 269

roccedilados seja por alguma exigecircncia do comeacutercio ou para consumo familiar 270

Nas comunidades os agricultores separam suas variedades de mandioca em dois grupos 271

como observado em outras comunidades na mata Atlacircntica por Emperaire e Peroni (2007) o 272

das ldquomacaxeirasrdquo que satildeo as variedades exploradas basicamente para o consumo familiar sem 273

processo preacutevio de desintoxicaccedilatildeo cujas raiacutezes satildeo consumidas fritas eou cozidas Sendo 274

utilizadas tambeacutem como complemento na dieta dos animais E o grupo das ldquomandiocasrdquo que 275

satildeo as variedades que necessitam de processo preacutevio de desintoxicaccedilatildeo para o consumo 276

utilizadas comumente para a produccedilatildeo de farinha de mandioca Para os agricultores as 277

ldquomandiocasrdquo possuem maior valor comercial pois apresentam maior rendimento e 278

rentabilidade pois a farinha produzida eacute branca e atende as preferencias do comercio local 279

Aleacutem da farinha outros produtos e subprodutos produzidos dentre os quais foram citados 280

ldquotapioca ou gomardquo ldquobijurdquo ou ldquobolo de mandiocardquo satildeo utilizados para o consumo proacuteprio ou 281

eventual comercializaccedilatildeo 282

Os informantes natildeo possuiacuteam conhecimento sobre a origem dos nomes das variedades 283

de mandioca Quanto a compreensatildeo da geraccedilatildeo da diversidade intraespeciacutefica identificamos 284

que apesar de 66 dos agricultores citarem que conhecem variedades fruto de germinaccedilatildeo de 285

suas sementes nenhum deles utiliza as manivas para o plantio por essas variedades de 286

mandioca ldquovoluntaacuteriasrdquo natildeo apresentarem bom rendimento 287

Observamos que existe uma baixa correlaccedilatildeo entre a diversidade de variedades 288

atualmente cultivadas e as variaacuteveis socioeconocircmicas como no caso do nuacutemero de roccedilados 289

(r=028 Ple005) e do tamanho do roccedilado (r=033 Ple005) (Fig 7) Essa baixa correlaccedilatildeo pode 290

38

ser explicada pelo fato de existirem grupos de agricultores que preferem manter as variedades 291

de maior valor econocircmico e de subsistecircncia mesmo com aacutereas maiores de cultivo 292

Verificamos tambeacutem uma correlaccedilatildeo positiva moderada entre o nuacutemero de variedades 293

conhecidas com o nuacutemero de variedades atualmente cultivadas (r=054 Ple005) Na lista livre 294

foram identificadas 22 etnovariedades de mandioca cultivadas (132 citaccedilotildees no total) sendo 295

oito dessas mais citadas com maiores valores de saliecircncia (entre 047 e 0082) (Tabela 2) As 296

etnovariedades ldquoMacaxeira Rosardquo e ldquoMandioca Isabel de Souzardquo exibiram os maiores valores 297

de saliecircncia 047 e 037 respectivamente Logo essas variedades satildeo as mais conhecidas 298

dentro das comunidades com 66 e 48 das citaccedilotildees respectivamente 299

Dentre as etnovariedades citadas 12 foram idiossincraacuteticas pois apresentaram menor 300

frequecircncia de citaccedilatildeo e menores valores de saliecircncia (entre 0032 e 0006) (Tabela 2) 301

Redes de interaccedilatildeo social 302

A rede apresentou uma estrutura aninhada com grau de aninhamento significativamente 303

superior aos modelos nulos (N=3072 Plt0001) para as comunidades sendo um nuacutecleo de 304

etnovariedades altamente conectado aos agricultores (Fig 8) A estrutura aninhada nos permite 305

inferir que existe um grupo de agricultores que cultiva uma maior diversidade de etnovariedades 306

de mandioca em suas roccedilas enquanto que outro subgrupo que tem menor diversidade cultivam 307

as mais comuns ou disponiacuteveis (Cavechia et al 2014) Isso significa que os agricultores locais 308

mesmo em diferentes comunidades cultivam um nuacutecleo de etnovariedades comum entre eles 309

(n=6 Tabela 2) 310

Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 311

Observamos que a maioria dos indiviacuteduos de mandioca satildeo caracterizados por meio de 312

um conjunto de sete caracteres morfoloacutegicos os quais foram citados pelos agricultores como 313

mais importantes para a caracterizaccedilatildeo de suas variedades Nas visitas aos roccedilados registramos 314

39

as etnovariedades atualmente cultivadas e a tabela 3 fornece a lista completa com as 17 315

etnovariedades de mandioca e o local de registro 316

Por meio da anaacutelise de correspondecircncia muacuteltipla as variedades de mandioca foram 317

ordenadas em funccedilatildeo de seus descritores ao longo do primeiro e segundo eixo correspondentes 318

a 3680 da variacircncia total (Fig 9) 319

As variaacuteveis mais correlacionadas e que agruparam as variedades de mandioca no 320

primeiro eixo foram cor da folha desenvolvida (CFD) (r= 07239 Ple0001) cor do coacutertex da 321

raiz (CDR) (r= 06473 Ple0001) cor do broto foliar (CBF) (r= 06880 Ple0001) cor do peciacuteolo 322

(CDP) (r= 05250 Ple005) cor externa do caule (CEC) (r= 06883 Ple005) cor da polpa da 323

raiz (PDR) (r= 02473 Ple005) Para o segundo eixo as variaacuteveis correlacionadas foram cor 324

da folha desenvolvida (CFD) (r= 07220 Ple0001) cor externa do caule (CEC) (r= 08718 325

Ple0001) e cor do peciacuteolo (CDP) (r= 06927 Ple005) 326

O agrupamento de todas as variedades caracterizadas ldquoin siturdquo gerou uma aacutervore 327

hieraacuterquica (dendrograma) (Fig 9) utilizando a distacircncia euclidiana seguindo o criteacuterio de 328

Ward O dendrograma gerado apresentou um coeficiente de correlaccedilatildeo cofeneacutetica r= 06780 329

indicando que existe consistecircncia com os dados originais no agrupamento quanto agrave 330

classificaccedilatildeo e estrutura de tal forma que as variedades foram agrupadas em oito classes as 331

quais foram explicadas pelas variaacuteveis mais significativas descritas na tabela 4 332

O resultado do agrupamento (utilizada a distacircncia euclidiana e com o meacutetodo de Ward) 333

observamos que as etnovariedades de mandioca caracterizadas ldquoin siturdquo foram agrupadas em 334

dois grandes agrupamentos indicados na Fig 10 pelos retacircngulos em vermelho A partir dessa 335

anaacutelise percebemos que os caracteres morfoloacutegicos selecionados pelos agricultores natildeo foram 336

suficientes para separar as variedades de macaxeira e mandioca pois em ambos os 337

agrupamentos encontramos tanto macaxeiras quanto mandiocas 338

40

As variedades da classe 1 foram identificadas pelos agricultores pela cor do peciacuteolo 339

(CDP) verde A classe 2 agrupou as etnoveriedades caracterizadas pela protuberacircncia da cicatriz 340

foliar (PCF) mais protuberante Esse descritor segundo os agricultores era identificado como 341

ldquoembriatildeordquo A classe 3 consiste apenas da variedade ldquoMandioca Pretonardquo indicada pela presenccedila 342

de cor do peciacuteolo (CDP) vermelho A classe 4 agrupou trecircs variedades caracterizadas pelos 343

agricultores pela presenccedila de cor coacutertex da raiz (CDR) rosa e cor da polpa da raiacutez (PDR) branca 344

identificadas como ldquoMacaxeira vermelhardquo ldquoMacaxeira Rosa Brancardquo ldquoMacaxeira Rosardquo As 345

variedades agrupadas na classe 5 foras as variedades de mandioca caracterizadas pelos 346

agricultores por apresentarem cor do coacutertex (CDR) da raiacutez branca A classe 6 agrupou 347

variedades identificadas pelos agricultores pela cor do broto foliar (CBF) verde A classe 7 348

consiste apenas da variedade ldquoMacaxeira Sementerdquo identificada pelos agricultores pela cor do 349

peciacuteolo (CDP) roxo e protuberacircncia da cicatriz foliar pouco proeminente Essa variedade 350

segundo os agricultores era fruto do nascimento espontacircneo no roccedilado poreacutem eles geralmente 351

natildeo utilizam essas variedades por apresentarem apenas uma raiz pequena e de baixo 352

rendimento Na classe 8 as variedades foram identificadas pelos agricultores pela cor do peciacuteolo 353

(CDP) verde amarelado e protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) pouco proeminente As 354

ldquoMandioca Isabel de Souzardquo ldquoMandioca Isabel trecircs galhosrdquo segundo os agricultores se 355

diferenciavam pelo maior nuacutemero de caules presentes na variedade ldquoIsabel trecircs galhosrdquo 356

Discussatildeo 357

As sete comunidades estudadas manejavam um nuacutemero consideraacutevel de variedades 358

locais A quantidade de etnovariedades registradas eacute proacutexima a encontrada por Bender et al 359

(2009) e Cavechia et al (2014) em comunidades na regiatildeo sul e sudeste por Oler e Amorozo 360

(2017) em uma comunidade tradicional na regiatildeo centro-oeste Poreacutem foi quantitativamente 361

inferior quando comparada a estudos como os de Elias et al (2001) e Kawa et al (2013) em 362

comunidades na regiatildeo amazocircnica pois possuiacuteam uma alta diversidade Essa alta diversidade 363

41

na regiatildeo amazocircnica pode estar relacionada com o fato de que essa regiatildeo eacute o provaacutevel centro 364

de origem da mandioca (M esculenta) (Allem 1994) 365

As etnovariedades registradas neste estudo estatildeo disponiacuteveis para a maioria dos 366

agricultores dessa regiatildeo e esse fator favorece a circulaccedilatildeo das etnovariedades entre as 367

comunidades locais Por isso haacute semelhanccedilas das etnovariedades utilizadas entre os agricultores 368

da mesma comunidade e entre comunidades vizinhas 369

Parte dos agricultores optam por manter uma alta frequecircncia de variedades mais 370

utilizadas enquanto que outros optam por manter etnovariedades de baixa frequecircncia 371

Conforme discutido por Amorozo (2013) os agricultores escolhem seu acervo de acordo com 372

as necessidades e contexto em que vivem A reduccedilatildeo da diversidade de etnoveriedades por 373

exemplo pode ser impulsionada por fatores que simplificam o sistema como a seleccedilatildeo de 374

etnovariedades para a produccedilatildeo de farinha resultando no cultivo de poucas ou ateacute de uma uacutenica 375

etnovariedade (Peroni amp Hanazaki 2002) mesmo em aacutereas maiores 376

377

Redes de interaccedilatildeo social 378

Com as anaacutelises de rede demonstramos que os agricultores de diferentes comunidades 379

em uma mesma regiatildeo efetivamente trocam variedades de mandioca entre si corroborando 380

com estudos realizados por Emperaire amp Eloy (2008) Pautasso et al (2012) e Cavechia et al 381

(2014) Nesses estudos os autores tambeacutem consideram que as trocas de etnovariedades por 382

meio da rede de intercacircmbio entre os agricultores eacute um mecanismo fundamental para a 383

manutenccedilatildeo da diversidade local 384

A visualizaccedilatildeo da rede demonstrou que entre as comunidades os agricultores 385

compartilham um nuacutecleo de etnovariedades mais utilizadas dentre as quais estatildeo as de maior 386

valor econocircmico e de subsistecircncia Essas de maior frequecircncia satildeo aquelas altamente produtivas 387

utilizadas pelos agricultores para atenderem agraves demandas de mercado por farinha e para o 388

consumo proacuteprio (Kawa et al 2013) 389

42

No entanto observamos que existe outro nuacutecleo de etnovariedades menos frequentes 390

Essas etnovariedades raras podem ser resultantes do processo de experimentaccedilatildeo ou 391

preferecircncias individuais dos agricultores Outra possiacutevel razatildeo para a baixa frequecircncia de 392

algumas etnovariedades poderia ser explicada pela variaccedilatildeo da nomenclatura pelos 393

agricultores que segundo Peroni amp Hanazaki (2002) pode ocorrer durante o processo de troca 394

e introduccedilatildeo de novas variedades aos roccedilados Ainda assim natildeo descartamos a hipoacutetese de que 395

essas etnovariedades raras possam ser provenientes do cruzamento entre variedades diferentes 396

cultivadas da mesma roccedilado ou em roccedilas vizinhas De acordo com Martins (2005) essas 397

variedades fruto de germinaccedilatildeo expentacircnea satildeo incorporadas aos roccedilados pelos agricultores 398

pela curiosidade em experimentar novas variedades agraves suas coleccedilotildees 399

Nesse estudo admitimos que optar por etnovariedades raras entre as comunidades 400

estudadas eacute um comportamento adotado por agricultores que manejam uma maior diversidade 401

corroborando com os estudos de Cavechia et al (2014) e Emperaire et al (2016) em regiotildees 402

uacutemidas Para esses autores etnovaridedades de baixa frequecircncia representam um subconjunto 403

das de alta frequecircncia cultivadas por agricultores que manteacutem a maior diversidade em seus 404

roccedilados Sendo assim inferimos que no geral entre as comunidades satildeo os agricultores 405

generalistas aqueles que cultivam maior diversidade os responsaacuteveis por incorporar novas 406

etnovariedades aos roccedilados 407

As decisotildees dos agricultores em manter o acervo direcionado principalmente para 408

atender a demanda de mercado por exemplo podem levar a uma homogeneizaccedilatildeo nas roccedilas 409

colocando em risco a manutenccedilatildeo da diversidade local (Peroni amp Hanazaki 2002) Como 410

discutido por Elias et al (2000) os agricultores que selecionam apenas um nuacutemero reduzido e 411

especiacutefico de variedades mais produtivas tendem a fazer com que as variedades menos 412

frequentes desapareccedilam ao longo do tempo Essa tendecircndia pode influenciar na capacidade de 413

43

resiliecircncia do sistema assim como dos agricultores em lidar com possiacuteveis adversidades 414

ambientais que possam ocorrer 415

Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 416

No geral os agricultores demonstraram uma tendecircncia em classificarseparar suas 417

diferentes etnovariedades de mandioca a partir da combinaccedilatildeo de um conjunto de sete 418

caracteres morfoloacutegicos distintos e de faacutecil percepccedilatildeo os quais natildeo tem relaccedilatildeo com o uso 419

como por exemplo a cores das raiacutezes caule e folhas Logo consideramos que esses caracteres 420

morfoloacutegicos podem ser considerados como uma forma de classificaccedilatildeo pelos agricultores 421

baseada na capacidade percepccedilatildeo das diferenccedilas morfoloacutegicas que cada etnovariedades 422

apresenta (Boster 1985) Estes resultados nos levam a entender que entre os agricultores o 423

conhecimento sobre a diversidade da mandioca estaacute relacionado ao conhecimento de 424

caracteriacutesticas morfoloacutegicas consistentes 425

A existecircncia de alguns fenoacutetipos comuns nos permitiu avaliar a classificaccedilatildeo da 426

consistecircncia da taxonomia popular entre os agricultores Por exemplo as etnovariedades 427

ldquoMaxaceira Rosardquo e ldquoMacaxeira Rosa Brancardquo e ldquoMacaxeira vermelhardquo foram agrupadas no 428

mesmo cluster (C4) por apresentaram fenoacutetipos semelhantes Notamos que os agricultores 429

classificaram essas variedades de acordo com os traccedilos morfoloacutegicos mais relevantes como a 430

cor do coacutertex da raiz rosa e cor branca da polpa O mesmo ocorreu com as etnovariedades 431

ldquoMandioca varudardquo ldquoMandioca campina da granderdquo e ldquoMandioca campinardquo caracterizadas 432

pela presenccedila do peciacuteolo verde agrupadas no cluster (C1) 433

A partir dessas evidecircncias consideramos a hipoacutetese de que as variedades mesmo 434

apresentando caracteriacutesticas morfoloacutegicas muito semelhantes estatildeo sujeitas a variaccedilatildeo 435

nomenclatural durante o processo a incorporaccedilatildeo aos roccedilados pelos agricultores pois a 436

capacidade para distinguir e nomear variedades entre os agricultores da mesma regiatildeo pode 437

variar (Sambatti et al 2001 Elias et al 2001 Mekbib 2007) Consideramos tambeacutem que pode 438

44

existir variaccedilatildeo geneacutetica entre os indiviacuteduos identificados por um mesmo nome ou entatildeo que 439

os agricultores datildeo o mesmo nome para variedades diferentes E esta situaccedilatildeo pode levar a uma 440

superestimaccedilatildeo ou subestimaccedilatildeo da diversidade de mandioca cultiva nas aacutereas de estudo 441

Sabemos que a mandioca eacute propagada vegetativamente pelos agricultores por meio de 442

estacas em sistemas de agricultura tradicional No entanto alguns variedades produzem flores 443

e sementes que germinam e podem originar outras variedades ou outros clones por meio de 444

fecundaccedilatildeo cruzada (Elias et al 2001) Nesse contexto a etnovariedade ldquoMacaxeira Sementerdquo 445

presente no cluster (C7) trata-se de um uacutenico indiviacuteduo amostrado em uma roccedila de um dos 446

agricultores Esta apresentava algumas caracteriacutesticas morfoloacutegicas distintas das demais 447

reconhecidas pelo agricultor como por exemplo a produccedilatildeo de uma raiz uacutenica e 448

consequentemente de baixo rendimento Encontramos apenas um indiviacuteduo dessa 449

etnovariedade e nossa hipoacutetese de que esta poderia ter sido originada da germinaccedilatildeo da 450

semente mesmo quando 100 dos informantes declararam natildeo dar qualquer importacircncia e 451

descartar essas ldquovariedades-voluntaacuteriasrdquo foi confirmada pelo agricultor que afirmou que se 452

tratava de uma variedade nascida da germinaccedilatildeo da semente Esse comportamento vai de 453

encontro ao estudo de Fraser et al (2012) pois apesar dos agricultores reportarem nas 454

entrevistas que conhecem essas ldquovariedades-voluntaacuteriasrdquo nenhum agricultor faz o uso delas 455

Peroni et al (1999) e Agre et al (2016) analisando morfologicamente as variedades 456

locais de mandioca mantidas por agricultores em sistemas agriacutecolas tropicais tambeacutem 457

demonstraram que os agricultores satildeo coerentes quanto a separaccedilatildeo e identificaccedilatildeo de suas 458

etnovariedades a partir da formaccedilatildeo de grupos de coesos quanto a nomenclatura local utilizada 459

No entanto para o melhor entendimento dessa diversidade aleacutem da caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica 460

o uso de anaacutelises complementares como anaacutelise molecular seria importante para tentar 461

identificar se esses grupos representam a mesma variedade com nomes distintos ou se satildeo 462

variedades distintas com o mesmo nome 463

45

Conclusatildeo 464

O estudo demonstrou que no sistema de manejo da mandioca ao niacutevel de roccedila em 465

comunidades localizadas na regiatildeo semiaacuterida de Pernambuco compotildee uma diversidade 466

intrespeciacutefica de mandioca para atender agraves demandas econocircmicas e de subsistecircncia das 467

populaccedilotildees locais 468

Com relaccedilatildeo a anaacutelise de rede demostramos que haacute um nuacutecleo de etnovariedades 469

fortemente conectado aos agricultores e sua composiccedilatildeo eacute direcionada pelas preferecircncias e 470

necessidades individuais dos agricultores que foram os fatores responsaacuteveis pelo surgimento 471

da estrutura aninhada observada na anaacutelise rede entre as comunidades deste estudo E esse 472

padratildeo aninhado observado contribui na conservaccedilatildeo das etnovariedades mais comuns mas 473

tambeacutem pode resultar em perda daquelas de menor frequecircncia ao longo do tempo 474

A caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica ldquoin siturdquo nos permitiram inferir que os agricultores 475

reconhecem as diferentes caracteriacutesticas morfoloacutegicas de suas cultivares e satildeo coerentes na 476

separaccedilatildeo de suas variedades de mandioca e macaxeira Entretanto esses resultados sugerem a 477

realizaccedilatildeo de um estudo em niacutevel de diversidade geneacutetica exploratoacuterio para identificar se as 478

consistecircncias morfoloacutegicas refletem em consistecircncias geneacuteticas elucidando assim as possiacuteveis 479

confusotildees atribuiacutedas aos nomes das etnovariedades de mandioca 480

Agradecimentos 481

Agradecemos ao liacuteder comunitaacuterio Alexandre O Nascimento aos agricultores e 482

agricultoras das comunidades pela acolhida confianccedila e pela gentileza de compartilharem 483

conosco seus conhecimentos e contribuiacuterem com este estudo Especialmente a Arlindo Ferreira 484

Edgar Antocircnio Joseacute Sebastiatildeo Juvenal Oliveira e Janete Alves Ao Laboratoacuterio de Ecologia e 485

Evoluccedilatildeo de Sistemas Socioecoloacutegicos (LEA - UFPE) E agradecemos ao CNPq pelo apoio 486

com a bolsa de estudos do primeiro autor 487

46

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614

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ANEXOS 615

616

Nome da revista 617

Human Ecology 618

Link de acesso 619

httpsgooglDVLbFj 620

Qualis-CAPES 621

B1 em Biodiversidade 622

623

624

625

626

627

628

629

630

631

632

633

634

635

636

637

638

639

640

641

642

52

Figuras 643

644

645

Fig 1 Partes do processo de fabricaccedilatildeo de farinha de mandioca Onde a raspagem b e c 646

processo de trituraccedilatildeo e d peneiramento Foto registrada em Abril de 2017 por Mirela Santos 647

648

649

650

c

d

b

a

53

651

Fig 2 Mapa de localizaccedilatildeo geograacutefica dos Municiacutepios de Altinho e Panelas e das comunidades 652

estudadas na regiatildeo semiaacuterida do Estado de Pernambuco (Elaborado por SANTOS 2018) 653

54

654

655

656

657

Fig 3 Processo de fabricaccedilatildeo da farinha de mandioca Apoacutes a colheita as raiacutezes satildeo lavadas 658

raspadas e trituradas (a) A massa extraiacuteda eacute prensada e coada Ao sair da prensa a massa 659

peneirada (b) e em seguida eacute torrada (c) em fornos artesanais ou parcialmente mecanizados 660

Imagem registrada em janeiro de 2017 na Comunidade do Caratildeo por Mirela Santos 661

662

663

a

b c

55

664

Fig 4 a Sede da Comunidade do Caratildeo b Agricultor transportando a palma forrageira que eacute 665

um exemplo de estrateacutegia adaptativa para suprir a falta de alimento dos animais devido agrave seca 666

c Feira-livre que acontece na comunidade a cada quinze dias Imagem registrada em julho de 667

2016 na Comunidade do Caratildeo por Mirela Santos 668

669

670

Fig 5 a O agricultor nos explicava as mudanccedilas que vem fazendo em seus roccedilados para se 671

adaptar aos longos periacuteodos de seca b Quando o agricultor nos mostrava as diferentes 672

etnovariedades que mantinha em sua roccedila c Durante a pesquisa nos explicavam como era feita 673

a colheita da mandioca e como selecionavam as manivas para o proacuteximo plantio Foto registrada 674

em abril de 2017 na Comunidade do Brejo Velho por Mirela Santos 675

a

b c

c b

a

56 676

677

Fig 6 Possiacuteveis estruturas de rede que descrevem as interaccedilotildees dos agricultores (losango) 678

ligados as etnovariedades (ciacuterculos) que cultivam Onde a Aninhada b Modular c Aleatoacuteria 679

(Fonte Cavechia et al 2014 com adaptaccedilotildees) 680

681

682

683

684

685

686

687

688

689

690

691

692

693

694

695

696

697

a c b

57

698

699

700

701

702

703

704

705

706

707

Fig 7 Correlaccedilatildeo de Spearman entre a diversidade de etnovariedades de mandiocas conhecidas 708

como cultivadas e variedades atualmente cultivadas por agricultor e as variaacuteveis 709

socioeconocircmicas Onde Nvc= nuacutemero de citadas como cultivadas Nve= nuacutemero de variedades 710

atualmente cultivadas Esc= escolaridade Id= idade Gen= gecircnero Tr= tamanho do roccedilado 711

Exp= experiecircncia na agricultura Sld= renda Nr= nuacutemero de roccedilados Cores distintivas 712

representam correlaccedilotildees significativas (Ple005) 713

714

58

715

Fig 8 Modelo individual de rede de etnovariedades de mandioca citadas (esquerda) por 716

agricultores como cultivadas (direita) nos Municiacutepios de Altinho e Panelas As redes foram 717

desenhadas com o pacote bipartite (Dormann et al 2017) usando o software R (R CORE 718

TEAM 2017) 719

720

59

721

Fig 9 Anaacutelise de Correspondecircncia Muacuteltipla das 17 etnovariedades de mandioca considerando 722

os sete descritores morfoloacutegicos utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo em roccedilas de 723

agricultores tradicionais de sete comunidades no semiaacuterido de Pernambuco 724

725

726

727

728

729

730

731

732

733

734

735

736

737

McCambadinha

McCampina

McCampinaDaGrande

McCampinaRasteira

McCampinaVaruda

McGauba

McIsabelDeSouza

McIsabelTresGalhos

McOlhoDePombo

McOlhoVerde

McPretinha

McPretona

MxBranca

MxRosa

MxRosaBrancaMxRosaVermelha

MxSemente

CFD_Verde_Arroxeado

CFD_Verde_ClaroCFD_Verde_Escuro

CBF_Roxo

CBF_Verde_ArroxeadoCBF_Verde_Claro

CBF_Verde_Escuro

CDP_Verde

CDP_Verde_Amarelado

CDP_Verde_Avermelhado

CDP_Vermelho

CEC_Cinza

CEC_Dourado

CEC_Laranja

CEC_Marrom_Claro

CEC_Marrom_Escuro

CEC_Prateado

CEC_Verde_AmareladoCicatriz_M

Cicatriz_P

PDR_Branco

PDR_Creme

CDR_BrancoCDR_Creme CDR_Rosa

-4

-2

0

2

4

-4 -2 0 2 4

Dim1 (206)

Dim

2 (

162

)

MCA - Biplot

00

10

Hierarchical Clustering

inertia gain

McC

am

pin

aV

aru

da

McC

am

pin

aD

aG

rande

McC

am

pin

a

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auba

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ranca

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McIsabelT

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McIsabelD

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McO

lhoD

eP

om

bo

00

05

10

15

Hierarchical Classification

Heig

ht

C1 C2 C3 C4 C5 C6 C7 C8

Fig 10 Agrupamento hieraacuterquico das 17 etnovariedades de mandioca caracterizadas de acordo

com os descritores utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo

60

Tabelas 738

739

Tabela 1 Caracteres e estados utilizados pelos agricultores como descritores botacircnicos para 740

caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das etnovariedades de mandioca 741

Caracter Sigla Estados

Folha

Cor da folha desenvolvida CFD 1- verde claro 2- verde escuro 3- verde arroxeado 4- roxo

Cor do broto foliar CBF 1- verde claro 2- verde escuro 3- verde arroxeado 4- roxo

Cor do peciacuteolo CDP 1- verde amarelado 2- verde 3- verde avermelhado 4- roxo

5- vermelho

Caule

Cor externa do caule CEC 1- laranja 2- verde amarelado 3- dourado 4- marrom claro

5- prateado 6- cinza 7- marrom escuro 8- verde

Protuberacircncia da cicatriz foliar PCF 1- pouco proeminente 2- muito proeminente

Raiacutez

Cor da poupa da raiz PDR 1- branco 2- creme

Cor do coacutertex da raiacutez CDR 1- rosa 2- branco 3- creme

742

743

744

745

746

747

748

749

750

751

61

Tabela 2 Lista das 22 etnovariedades de mandiocas citadas (132 citaccedilotildees) como cultivadas nas 752

comunidades pertencentes aos Municiacutepios de Altinho (Caratildeo n=8) e ao Municiacutepio de Panelas 753

(Aracuatilde Satildeo Joseacute do Bola Brejo Velho Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima e Lajeiro 754

Dantas n=21) 755

Etnovariedade Frequecircncia () Ranking Saliecircncia

Macaxeira Rosa 66 179 0472

Mandioca Isabel de Souza 48 179 0372

Mandioca Campina 24 217 0148

Macaxeira Branca 20 210 0134

Macaxeira Rosa branca 18 122 0168

Mandioca Pretona 16 338 0082

Mandioca Cambadinha 12 283 0071

Mandioca Isabel trecircs galhos 10 180 0075

Mandioca Gauacuteba 10 260 0070

Mandioca Pretinha 8 225 0053

Mandioca Peacute de pombo 4 400 0011

Mandioca Olho verde 4 350 0012

Macaxeira Rosinha 4 200 0027

Mandioca Campina varuda 4 200 0032

Mandioca Campina rasteira 4 300 0021

Mandioca Caboquinha 2 500 0007

Macaxeira Rasteira 2 200 0013

Macaxeira Paraacute 2 100 0020

Mandioca Barra ferro 2 300 0007

Mandioca Campina da grande 2 100 0020

Mandioca Olho de pombo 2 300 0010

Mandioca Jasmim 2 600 0006

756

757

758

62

Tabela 3 Lista de 17 etnovariedades atualmente cultivadas nos roccedilados das comunidades em 759

estudo 760

Ca Ar Bo Br Jb Jc Ld

Etnovariedade

Macaxeira Branca x x x x

Macaxeira Rosa

x x x x x x

Macaxeira Rosa Branca x x x x

Macaxeira Rosa Vermelha

x

Macaxeira Semente

x

Mandioca Cambadinha x

x

Mandioca Campina

x

x

x

Mandioca Campina da Grande x

Mandioca Campina Rasteira

x

Mandioca Campina Varuda

x

Mandioca Gauacuteba

x

Mandioca Isabel de Souza

x x x

Mandioca Isabel trecircs Galhos

x

x

Mandioca Olho de Pombo

x

Mandioca Olho Verde

x

Mandioca Pretinha

x

Mandioca Pretona x x x

Comunidades Ca= Caratildeo Ar=Aracuatilde Bo= Satildeo Joseacute do Bola Jb= Japaranduba de Baixo 761

Jc= Japaranduba de Cima Ld= Lajedo Dantas 762

763

764

765

766

767

768

63

Tabela 4 Descriccedilatildeo das classes do agrupamento por meacutetodo de Ward agrupadas pelo conjunto 769

dos descritores mais significativos para a caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das variedades de mandioca 770

Classes Descritores in situ p-valor

C1 Cor do peciacuteolo (CDP) 0016

C2 Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023

C3 Cor do peciacuteolo (CDP) 0012

C4 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0004

Cor da poupa da raiacutez (PDF) 0021

C5 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0003

C6 Cor do broto foliar (CBF) 0002

C7 Cor da folha desenvolvida (CFD) 0004

Cor externa do caule (CEC) 0040

C8 Cor do peciacuteolo (CDP) 0005

Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023

Valores de Ple005 satildeo significativos 771

772

31

no domiacutenio morfoclimaacutetico de Caatinga O clima eacute do tipo semiaacuterido Bsrsquoh segundo a 125

classificaccedilatildeo climaacutetica de Koumleppen 126

A maior parte dos membros dessas comunidades assim como no Caratildeo tecircm como 127

principal fonte de subsistecircncia a agricultura de sequeiro principalmente o cultivo da mandioca 128

(Fig 5) Como renda extra a pecuaacuteria de pequeno porte com criaccedilatildeo bovina caprina e 129

avicultura sendo os excedentes dos alimentos produzidos vendidos em feiras locais ou para 130

escolas 131

As atividades agriacutecolas entre as comunidades tambeacutem foram duramente afetadas pela 132

seca na regiatildeo nos uacuteltimos anos A escassez de chuvas desestimulou o plantio a produccedilatildeo de 133

mandioca foi fortemente comprometida e a colheita foi adiada devido ao subdesenvolvimento 134

das raiacutezes gerando impactos econocircmicos para os membros das comunidades 135

As comunidades amostradas neste muniacutecipio foram escolhidas em funccedilatildeo das 136

indicaccedilotildees dos agricultores entrevistados a princiacutepio na comunidade do Caratildeo que reportaram 137

manter viacutenculos sociais com os agricultores do municiacutepio vizinho 138

Coleta de dados 139

Acessamos as comunidades com a ajuda de um liacuteder comunitaacuterio (Alexandre O 140

Nascimento) em companhia de outros pesquisadores que desenvolviam pesquisas na regiatildeo 141

Previamente as entrevistas todos objetivos e procedimentos para a realizaccedilatildeo da pesquisa foram 142

apresentados aos entrevistados e todos que aceitaram participar foram convidados a assinar um 143

Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) de acordo com a Resoluccedilatildeo 46612 do 144

Conselho Nacional de Sauacutede concordando com a realizaccedilatildeo das entrevistas e avaliaccedilotildees 145

morfoloacutegicas em campo O presente trabalho foi submetido ao Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa da 146

Universidade de Pernambuco (UPE) 147

32

Em todas as comunidades o meacutetodo de acesso ao informante foi o mesmo a partir do 148

primeiro contato com um informante-chave identificamos outros potenciais agricultores 149

seguindo a teacutecnica de ldquobola de neverdquo (Albuquerque et al 2014a) Esse meacutetodo consistiu na 150

amostragem intencional dos participantes e nesse particular os agricultores chefes de famiacutelia 151

(ge 18 anos) da regiatildeo que declararam cultivar mandioca (M esculenta) em suas roccedilas 152

Reunimos informaccedilotildees socioeconocircmicas desses agricultores tais como nome idade gecircnero 153

escolaridade renda experiecircncia na agricultura e tamanho da aacuterea de cultivo para tentar 154

identificar se esses paracircmetros socioeconocircmicos tecircm uma relaccedilatildeo com a agrobiodiversidade 155

local 156

Em seguida conduzimos entrevistas semiestruturadas (Albuquerque et al 2014b) com 157

o objetivo de caracterizar o modo de vida dos agricultores o manejo da agricultura bem como 158

obter dados sobre o conhecimento uso e caracterizaccedilatildeo das etnovariedades de mandioca 159

5cultivadas Aleacutem disso neste momento tambeacutem aplicamos a teacutecnica da lista livre 160

(Albuquerque et al 2014b) a fim de registrar as variedades de mandioca atualmente cultivadas 161

pelos agricultores e identificar as de maior importacircncia local Apoacutes as entrevistas realizamos 162

visitas aos roccedilados para o registro fotograacutefico georreferenciamento das roccedilas e caracterizaccedilatildeo 163

morfoloacutegica das variedades cultivadas 164

Entrevistamos 50 agricultores no total distribuiacutedos nas sete comunidades Caratildeo (3) 165

Satildeo Joseacute do Bola (10) Brejo velho (7) Japaranduba de Baixo (7) Japaranduba de Cima (8) 166

Lajedo Dantas (9) e Aracuatilde (6) Destes 10 satildeo mulheres e 40 homens com idade variando entre 167

31 e 82 anos A maioria dos entrevistados natildeo apresentava instruccedilatildeo formal (46) mais da 168

metade eram aposentados (56) e os demais apresentaram renda inferior a um salaacuterio miacutenimo 169

5 Entende-se por etnovariedade de mandioca o conjunto de variedades intraespeciacuteficas de mandioca (M esculenta)

reconhecidas pelos agricultores por nomenclatura popular local (Peroni 2004)

33

O tempo meacutedio de experiecircncia na agricultura foi de 40 anos Cada agricultor possui entre um e 170

dois roccedilados (aacuterea de plantio) com aproximadamente um a dois hectares 171

Redes de interaccedilatildeo social 172

Confeccionamos a rede que descreve as interaccedilotildees entre os agricultores e as 173

etnovariedades cultivadas a partir de uma matriz de incidecircncia R (presenccedilaausecircncia) onde nas 174

linhas estavam as etnovariedades de mandioca cultivadas (j) e nas colunas os agricultores locais 175

(i) O elemento Rij dessa matriz foi 1 (um) no caso de a etnovariedade j ser cultivada pelo 176

agricultor i caso contraacuterio seria atribuiacutedo 0 (zero) As interaccedilotildees entre os agricultores e as 177

etnovariedades foram descritas em dois modos (Pires et al 2011) onde os ldquonoacutesrdquo da esquerda 178

representam os agricultores que foram vinculados aos ldquonoacutesrdquo da direita representados pelas 179

etnovariedades citadas durante as entrevistas Esses ldquonoacutesrdquo seriam o espelho das decisotildees dos 180

agricultores em manter um determinado conjunto local de etnovariedades em suas roccedilas 181

Avaliamos a estrutura da rede que conecta os agricultores agraves etnovariedades cultivadas 182

a partir de trecircs cenaacuterios hipoteacuteticos (Fig 6) segundo Cachevia et al (2014) No primeiro se os 183

agricultores apresentassem diferentes graus de seletividade para a utilizaccedilatildeo de suas 184

etnovariedades a estrutura seria aninhada (Fig 6a) Isso significa que alguns agricultores 185

cultivam vaacuterias etnovariedades enquanto que outros cultivam o subconjunto mais 186

disponiacutevelcomum dessas etnovariedades Em segundo lugar se a rede apresentasse uma 187

estrutura modular (Fig 6b) significaria que os agricultores apresentam semelhanccedila na seleccedilatildeo 188

do recurso ou seja subgrupos de agricultores cultivam subgrupos distintos de etnovariedades 189

regionalmente disponiacuteveiscomuns E o terceiro se os agricultores natildeo apresentassem 190

preferecircncias quanto a seleccedilatildeo das etnovariedades entatildeo a rede apresentaria uma estrutura 191

aleatoacuteria (Fig 6c) 192

O objetivo da anaacutelise de rede nesse estudo foi tentar entender se o conjunto de 193

etnovariedades presentes no local do estudo constituem uma subamostra de um conjunto mais 194

34

amplo no caso de um alto grau de aninhamento ou se a sua composiccedilatildeo eacute determinada por 195

variaacuteveis locais (Ulrich 2008) Onde as conexotildees entre os informantes e as etnovariedades 196

representam as decisotildees dos agricultores de manter um conjunto determinado de variedades de 197

mandioca dentre as comunidades Esta anaacutelise tambeacutem nos permitiu identificar quais os nuacutecleos 198

de etnovariedades que apresentam maior conexatildeo com os diferentes perfis dos agricultores 199

Diversidade fenotiacutepica 200

Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 201

Apoacutes as entrevistas buscamos identificar quais os caracteres morfoloacutegicos considerados 202

mais importantes para a diferenciaccedilatildeo das etnovariedades de mandioca a partir do seguinte 203

questionamento ldquoQuais as diferenccedilas que vocecirc reconhece para separar uma qualidade de 204

mandioca (variedade) de uma outrardquo Assim os agricultores mencionaram quais os criteacuterios 205

mais importantes utilizados para a caracterizaccedilatildeo de suas etnovariedades 206

Compilamos uma listagem dessas caracteriacutesticas baseada nas indicaccedilotildees dos 207

agricultores e a partir delas selecionamos os caracteres morfoloacutegicos mais citados para a 208

caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica ldquoin siturdquo tais como cor da folha (cor da folha desenvolvida) olho 209

(cor do broto foliar) cor do talo (cor do peciacuteolo) maniva (cor externa do caule) embriatildeo 210

(protuberacircncia da cicatriz foliar) cor da entrecasca (coacutertex da raiz) e cor miolo (polpa da raiz) 211

(Tabela 1) O objetivo dessa caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica foi indicar como estaacute distribuiacuteda a 212

variaccedilatildeo fenotiacutepica das etnovariedades de mandioca nas comunidades na regiatildeo semiaacuterida de 213

Pernambuco bem como identificar que caracteriacutesticas satildeo mais importantes para distinguir 214

esses grupos no intuito de tentar entender como os agricultores classificam suas variedades de 215

mandioca 216

Nas sete comunidades para cada etnovariedade citada no roccedilado caracterizamos ldquoin 217

siturdquo trecircs indiviacuteduos de M esculentade de cada uma totalizando 171 indiviacuteduos (Aracuatilde=11 218

35

Caratildeo=4 Satildeo Joseacute do Bola=13 Brejo Velho=16 Japaranduba de Baixo=6 Japaranduba de 219

Cima=3 e Lajedo Dantas=4) Fotografamos e avaliamos todos os indiviacuteduos com base em parte 220

dos descritores morfoloacutegicos seguindo recomendaccedilotildees de Fukuda amp Guevara (1998) e aleacutem 221

disso georreferenciamos todas as aacutereas de roccedila 222

Anaacutelise dos dados 223

Analisamos os dados socioeconocircmicos das entrevistas semiestruturadas por meio de 224

estatiacutestica descritiva para explicar os aspectos da realidade econocircmica e social dos agricultores 225

Para identificar se a diversidade intraespeciacutefica da mandioca cultivada localmente eacute 226

influenciada por paracircmetros socioeconocircmicos utilizamos o coeficiente de correlaccedilatildeo de 227

Spearman (Ple005) (Sokal amp Rohlf 1995) 228

Com base na lista livre das variedades de mandioca cultivadas pelos agricultores 229

calculamos a frequecircncia de citaccedilatildeo o ranking e o iacutendice de saliecircncia com o objetivo de 230

identificar quais as mais importantes ou preferidas para as comunidades O iacutendice de saliecircncia 231

considerou a frequecircncia de citaccedilatildeo e o ranking referente ao posicionamento das variedades 232

dentro das listas livres (Thompson amp Juan 2006) As etnovariedades mais citadas e com maior 233

valor de saliecircncia representam as de maior importacircncia ou preferecircncia para as comunidades 234

Anaacutelise de rede 235

Medimos o grau de aninhamento (NODF) para investigar a estrutura de rede de 236

interaccedilatildeo social dos agricultores em funccedilatildeo das variedades cultivadas As matrizes altamente 237

aninhadas apresentam NODF tendendo a 1 caso contraacuterio tentem a ser 0 238

Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 239

Para o estudo das semelhanccedilas e diferenccedilas fenotiacutepicas entre as variedades de mandioca 240

ldquoin siturdquo realizamos anaacutelises multivariadas para identificar possiacuteveis grupos de variedades que 241

compartilham semelhanccedilas entre si 242

36

A anaacutelise de correspondecircncia muacuteltipla (MCA) permitiu identificar como as variedades 243

de mandioca estatildeo ordenadas em funccedilatildeo dos seus descritores etnobotacircnicos As etnovariedades 244

foram plotadas ao longo um plano cartesiano bi ou tridimensional onde a variaccedilatildeo total eacute 245

explicada pelos dois primeiros eixos Complementar a esta anaacutelise realizamos a anaacutelise de 246

agrupamento hieraacuterquico (Cluster) para identificar como estatildeo agrupadas as etnovariedades de 247

acordo seus descritores Conferimos a consistecircncia do dendrograma com coeficiente de 248

correlaccedilatildeo cofeneacutetica conforme Sneath amp Sokal (1973) que quantifica se a correlaccedilatildeo entre a 249

matriz de distacircncias originais e a matriz de distacircncias cofeneacuteticas eacute representativa Para 250

mensurar as dissimilaridades entre as variedades de mandioca foi utilizada a distacircncia 251

euclidiana e com o meacutetodo de Ward 252

Softwares utilizados 253

Para a anaacutelise da lista livre usamos o software ANTROPAC versatildeo 10 O software 254

ANINHADO 30 (Guimaratildees amp Guimaratildees 2006) foi usado para medir o grau de aninhamento 255

da rede Utilizamos o software estatiacutestico R (R core team 2017) para a anaacutelise de correlaccedilatildeo 256

de Spearman com o pacote corrplot (Wei amp Simko 2013) o desenho da rede que descreve a 257

interaccedilatildeo entre os agricultores e as etnovariedades com o pacote bipartite (Dormann et al 258

2017) E com os pacotes FactoMineR (LEcirc et al 2008) factoextra (Kassambara et al 2016) e 259

vegan (Oksanen et al 2017) foram realizadas as anaacutelises de cluster de correspondecircncia 260

muacuteltipla (MCA) e de correlaccedilatildeo coefeneacutetica respectivamente 261

Resultados 262

As diferentes etnovariedades de mandioca encontradas no estudo suprem a demanda 263

local por alimento enquanto outras atendem agraves preferecircncias individuais ou do comeacutercio As 264

variedades que possuem maior rendimento e a farinha produzida apresenta coloraccedilatildeo branca 265

satildeo as de maior valor comercial para os agricultores devido agraves preferecircncias do mercado Jaacute 266

37

outras variedades que satildeo mais moles e apresentam coloraccedilatildeo amarelada natildeo satildeo empregadas 267

na produccedilatildeo de farinha mas sim consumidas cozidas ou assadas A depender da demanda local 268

os agricultores intencionalmente aumentam ou diminuem a frequecircncia de suas variedades nos 269

roccedilados seja por alguma exigecircncia do comeacutercio ou para consumo familiar 270

Nas comunidades os agricultores separam suas variedades de mandioca em dois grupos 271

como observado em outras comunidades na mata Atlacircntica por Emperaire e Peroni (2007) o 272

das ldquomacaxeirasrdquo que satildeo as variedades exploradas basicamente para o consumo familiar sem 273

processo preacutevio de desintoxicaccedilatildeo cujas raiacutezes satildeo consumidas fritas eou cozidas Sendo 274

utilizadas tambeacutem como complemento na dieta dos animais E o grupo das ldquomandiocasrdquo que 275

satildeo as variedades que necessitam de processo preacutevio de desintoxicaccedilatildeo para o consumo 276

utilizadas comumente para a produccedilatildeo de farinha de mandioca Para os agricultores as 277

ldquomandiocasrdquo possuem maior valor comercial pois apresentam maior rendimento e 278

rentabilidade pois a farinha produzida eacute branca e atende as preferencias do comercio local 279

Aleacutem da farinha outros produtos e subprodutos produzidos dentre os quais foram citados 280

ldquotapioca ou gomardquo ldquobijurdquo ou ldquobolo de mandiocardquo satildeo utilizados para o consumo proacuteprio ou 281

eventual comercializaccedilatildeo 282

Os informantes natildeo possuiacuteam conhecimento sobre a origem dos nomes das variedades 283

de mandioca Quanto a compreensatildeo da geraccedilatildeo da diversidade intraespeciacutefica identificamos 284

que apesar de 66 dos agricultores citarem que conhecem variedades fruto de germinaccedilatildeo de 285

suas sementes nenhum deles utiliza as manivas para o plantio por essas variedades de 286

mandioca ldquovoluntaacuteriasrdquo natildeo apresentarem bom rendimento 287

Observamos que existe uma baixa correlaccedilatildeo entre a diversidade de variedades 288

atualmente cultivadas e as variaacuteveis socioeconocircmicas como no caso do nuacutemero de roccedilados 289

(r=028 Ple005) e do tamanho do roccedilado (r=033 Ple005) (Fig 7) Essa baixa correlaccedilatildeo pode 290

38

ser explicada pelo fato de existirem grupos de agricultores que preferem manter as variedades 291

de maior valor econocircmico e de subsistecircncia mesmo com aacutereas maiores de cultivo 292

Verificamos tambeacutem uma correlaccedilatildeo positiva moderada entre o nuacutemero de variedades 293

conhecidas com o nuacutemero de variedades atualmente cultivadas (r=054 Ple005) Na lista livre 294

foram identificadas 22 etnovariedades de mandioca cultivadas (132 citaccedilotildees no total) sendo 295

oito dessas mais citadas com maiores valores de saliecircncia (entre 047 e 0082) (Tabela 2) As 296

etnovariedades ldquoMacaxeira Rosardquo e ldquoMandioca Isabel de Souzardquo exibiram os maiores valores 297

de saliecircncia 047 e 037 respectivamente Logo essas variedades satildeo as mais conhecidas 298

dentro das comunidades com 66 e 48 das citaccedilotildees respectivamente 299

Dentre as etnovariedades citadas 12 foram idiossincraacuteticas pois apresentaram menor 300

frequecircncia de citaccedilatildeo e menores valores de saliecircncia (entre 0032 e 0006) (Tabela 2) 301

Redes de interaccedilatildeo social 302

A rede apresentou uma estrutura aninhada com grau de aninhamento significativamente 303

superior aos modelos nulos (N=3072 Plt0001) para as comunidades sendo um nuacutecleo de 304

etnovariedades altamente conectado aos agricultores (Fig 8) A estrutura aninhada nos permite 305

inferir que existe um grupo de agricultores que cultiva uma maior diversidade de etnovariedades 306

de mandioca em suas roccedilas enquanto que outro subgrupo que tem menor diversidade cultivam 307

as mais comuns ou disponiacuteveis (Cavechia et al 2014) Isso significa que os agricultores locais 308

mesmo em diferentes comunidades cultivam um nuacutecleo de etnovariedades comum entre eles 309

(n=6 Tabela 2) 310

Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 311

Observamos que a maioria dos indiviacuteduos de mandioca satildeo caracterizados por meio de 312

um conjunto de sete caracteres morfoloacutegicos os quais foram citados pelos agricultores como 313

mais importantes para a caracterizaccedilatildeo de suas variedades Nas visitas aos roccedilados registramos 314

39

as etnovariedades atualmente cultivadas e a tabela 3 fornece a lista completa com as 17 315

etnovariedades de mandioca e o local de registro 316

Por meio da anaacutelise de correspondecircncia muacuteltipla as variedades de mandioca foram 317

ordenadas em funccedilatildeo de seus descritores ao longo do primeiro e segundo eixo correspondentes 318

a 3680 da variacircncia total (Fig 9) 319

As variaacuteveis mais correlacionadas e que agruparam as variedades de mandioca no 320

primeiro eixo foram cor da folha desenvolvida (CFD) (r= 07239 Ple0001) cor do coacutertex da 321

raiz (CDR) (r= 06473 Ple0001) cor do broto foliar (CBF) (r= 06880 Ple0001) cor do peciacuteolo 322

(CDP) (r= 05250 Ple005) cor externa do caule (CEC) (r= 06883 Ple005) cor da polpa da 323

raiz (PDR) (r= 02473 Ple005) Para o segundo eixo as variaacuteveis correlacionadas foram cor 324

da folha desenvolvida (CFD) (r= 07220 Ple0001) cor externa do caule (CEC) (r= 08718 325

Ple0001) e cor do peciacuteolo (CDP) (r= 06927 Ple005) 326

O agrupamento de todas as variedades caracterizadas ldquoin siturdquo gerou uma aacutervore 327

hieraacuterquica (dendrograma) (Fig 9) utilizando a distacircncia euclidiana seguindo o criteacuterio de 328

Ward O dendrograma gerado apresentou um coeficiente de correlaccedilatildeo cofeneacutetica r= 06780 329

indicando que existe consistecircncia com os dados originais no agrupamento quanto agrave 330

classificaccedilatildeo e estrutura de tal forma que as variedades foram agrupadas em oito classes as 331

quais foram explicadas pelas variaacuteveis mais significativas descritas na tabela 4 332

O resultado do agrupamento (utilizada a distacircncia euclidiana e com o meacutetodo de Ward) 333

observamos que as etnovariedades de mandioca caracterizadas ldquoin siturdquo foram agrupadas em 334

dois grandes agrupamentos indicados na Fig 10 pelos retacircngulos em vermelho A partir dessa 335

anaacutelise percebemos que os caracteres morfoloacutegicos selecionados pelos agricultores natildeo foram 336

suficientes para separar as variedades de macaxeira e mandioca pois em ambos os 337

agrupamentos encontramos tanto macaxeiras quanto mandiocas 338

40

As variedades da classe 1 foram identificadas pelos agricultores pela cor do peciacuteolo 339

(CDP) verde A classe 2 agrupou as etnoveriedades caracterizadas pela protuberacircncia da cicatriz 340

foliar (PCF) mais protuberante Esse descritor segundo os agricultores era identificado como 341

ldquoembriatildeordquo A classe 3 consiste apenas da variedade ldquoMandioca Pretonardquo indicada pela presenccedila 342

de cor do peciacuteolo (CDP) vermelho A classe 4 agrupou trecircs variedades caracterizadas pelos 343

agricultores pela presenccedila de cor coacutertex da raiz (CDR) rosa e cor da polpa da raiacutez (PDR) branca 344

identificadas como ldquoMacaxeira vermelhardquo ldquoMacaxeira Rosa Brancardquo ldquoMacaxeira Rosardquo As 345

variedades agrupadas na classe 5 foras as variedades de mandioca caracterizadas pelos 346

agricultores por apresentarem cor do coacutertex (CDR) da raiacutez branca A classe 6 agrupou 347

variedades identificadas pelos agricultores pela cor do broto foliar (CBF) verde A classe 7 348

consiste apenas da variedade ldquoMacaxeira Sementerdquo identificada pelos agricultores pela cor do 349

peciacuteolo (CDP) roxo e protuberacircncia da cicatriz foliar pouco proeminente Essa variedade 350

segundo os agricultores era fruto do nascimento espontacircneo no roccedilado poreacutem eles geralmente 351

natildeo utilizam essas variedades por apresentarem apenas uma raiz pequena e de baixo 352

rendimento Na classe 8 as variedades foram identificadas pelos agricultores pela cor do peciacuteolo 353

(CDP) verde amarelado e protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) pouco proeminente As 354

ldquoMandioca Isabel de Souzardquo ldquoMandioca Isabel trecircs galhosrdquo segundo os agricultores se 355

diferenciavam pelo maior nuacutemero de caules presentes na variedade ldquoIsabel trecircs galhosrdquo 356

Discussatildeo 357

As sete comunidades estudadas manejavam um nuacutemero consideraacutevel de variedades 358

locais A quantidade de etnovariedades registradas eacute proacutexima a encontrada por Bender et al 359

(2009) e Cavechia et al (2014) em comunidades na regiatildeo sul e sudeste por Oler e Amorozo 360

(2017) em uma comunidade tradicional na regiatildeo centro-oeste Poreacutem foi quantitativamente 361

inferior quando comparada a estudos como os de Elias et al (2001) e Kawa et al (2013) em 362

comunidades na regiatildeo amazocircnica pois possuiacuteam uma alta diversidade Essa alta diversidade 363

41

na regiatildeo amazocircnica pode estar relacionada com o fato de que essa regiatildeo eacute o provaacutevel centro 364

de origem da mandioca (M esculenta) (Allem 1994) 365

As etnovariedades registradas neste estudo estatildeo disponiacuteveis para a maioria dos 366

agricultores dessa regiatildeo e esse fator favorece a circulaccedilatildeo das etnovariedades entre as 367

comunidades locais Por isso haacute semelhanccedilas das etnovariedades utilizadas entre os agricultores 368

da mesma comunidade e entre comunidades vizinhas 369

Parte dos agricultores optam por manter uma alta frequecircncia de variedades mais 370

utilizadas enquanto que outros optam por manter etnovariedades de baixa frequecircncia 371

Conforme discutido por Amorozo (2013) os agricultores escolhem seu acervo de acordo com 372

as necessidades e contexto em que vivem A reduccedilatildeo da diversidade de etnoveriedades por 373

exemplo pode ser impulsionada por fatores que simplificam o sistema como a seleccedilatildeo de 374

etnovariedades para a produccedilatildeo de farinha resultando no cultivo de poucas ou ateacute de uma uacutenica 375

etnovariedade (Peroni amp Hanazaki 2002) mesmo em aacutereas maiores 376

377

Redes de interaccedilatildeo social 378

Com as anaacutelises de rede demonstramos que os agricultores de diferentes comunidades 379

em uma mesma regiatildeo efetivamente trocam variedades de mandioca entre si corroborando 380

com estudos realizados por Emperaire amp Eloy (2008) Pautasso et al (2012) e Cavechia et al 381

(2014) Nesses estudos os autores tambeacutem consideram que as trocas de etnovariedades por 382

meio da rede de intercacircmbio entre os agricultores eacute um mecanismo fundamental para a 383

manutenccedilatildeo da diversidade local 384

A visualizaccedilatildeo da rede demonstrou que entre as comunidades os agricultores 385

compartilham um nuacutecleo de etnovariedades mais utilizadas dentre as quais estatildeo as de maior 386

valor econocircmico e de subsistecircncia Essas de maior frequecircncia satildeo aquelas altamente produtivas 387

utilizadas pelos agricultores para atenderem agraves demandas de mercado por farinha e para o 388

consumo proacuteprio (Kawa et al 2013) 389

42

No entanto observamos que existe outro nuacutecleo de etnovariedades menos frequentes 390

Essas etnovariedades raras podem ser resultantes do processo de experimentaccedilatildeo ou 391

preferecircncias individuais dos agricultores Outra possiacutevel razatildeo para a baixa frequecircncia de 392

algumas etnovariedades poderia ser explicada pela variaccedilatildeo da nomenclatura pelos 393

agricultores que segundo Peroni amp Hanazaki (2002) pode ocorrer durante o processo de troca 394

e introduccedilatildeo de novas variedades aos roccedilados Ainda assim natildeo descartamos a hipoacutetese de que 395

essas etnovariedades raras possam ser provenientes do cruzamento entre variedades diferentes 396

cultivadas da mesma roccedilado ou em roccedilas vizinhas De acordo com Martins (2005) essas 397

variedades fruto de germinaccedilatildeo expentacircnea satildeo incorporadas aos roccedilados pelos agricultores 398

pela curiosidade em experimentar novas variedades agraves suas coleccedilotildees 399

Nesse estudo admitimos que optar por etnovariedades raras entre as comunidades 400

estudadas eacute um comportamento adotado por agricultores que manejam uma maior diversidade 401

corroborando com os estudos de Cavechia et al (2014) e Emperaire et al (2016) em regiotildees 402

uacutemidas Para esses autores etnovaridedades de baixa frequecircncia representam um subconjunto 403

das de alta frequecircncia cultivadas por agricultores que manteacutem a maior diversidade em seus 404

roccedilados Sendo assim inferimos que no geral entre as comunidades satildeo os agricultores 405

generalistas aqueles que cultivam maior diversidade os responsaacuteveis por incorporar novas 406

etnovariedades aos roccedilados 407

As decisotildees dos agricultores em manter o acervo direcionado principalmente para 408

atender a demanda de mercado por exemplo podem levar a uma homogeneizaccedilatildeo nas roccedilas 409

colocando em risco a manutenccedilatildeo da diversidade local (Peroni amp Hanazaki 2002) Como 410

discutido por Elias et al (2000) os agricultores que selecionam apenas um nuacutemero reduzido e 411

especiacutefico de variedades mais produtivas tendem a fazer com que as variedades menos 412

frequentes desapareccedilam ao longo do tempo Essa tendecircndia pode influenciar na capacidade de 413

43

resiliecircncia do sistema assim como dos agricultores em lidar com possiacuteveis adversidades 414

ambientais que possam ocorrer 415

Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 416

No geral os agricultores demonstraram uma tendecircncia em classificarseparar suas 417

diferentes etnovariedades de mandioca a partir da combinaccedilatildeo de um conjunto de sete 418

caracteres morfoloacutegicos distintos e de faacutecil percepccedilatildeo os quais natildeo tem relaccedilatildeo com o uso 419

como por exemplo a cores das raiacutezes caule e folhas Logo consideramos que esses caracteres 420

morfoloacutegicos podem ser considerados como uma forma de classificaccedilatildeo pelos agricultores 421

baseada na capacidade percepccedilatildeo das diferenccedilas morfoloacutegicas que cada etnovariedades 422

apresenta (Boster 1985) Estes resultados nos levam a entender que entre os agricultores o 423

conhecimento sobre a diversidade da mandioca estaacute relacionado ao conhecimento de 424

caracteriacutesticas morfoloacutegicas consistentes 425

A existecircncia de alguns fenoacutetipos comuns nos permitiu avaliar a classificaccedilatildeo da 426

consistecircncia da taxonomia popular entre os agricultores Por exemplo as etnovariedades 427

ldquoMaxaceira Rosardquo e ldquoMacaxeira Rosa Brancardquo e ldquoMacaxeira vermelhardquo foram agrupadas no 428

mesmo cluster (C4) por apresentaram fenoacutetipos semelhantes Notamos que os agricultores 429

classificaram essas variedades de acordo com os traccedilos morfoloacutegicos mais relevantes como a 430

cor do coacutertex da raiz rosa e cor branca da polpa O mesmo ocorreu com as etnovariedades 431

ldquoMandioca varudardquo ldquoMandioca campina da granderdquo e ldquoMandioca campinardquo caracterizadas 432

pela presenccedila do peciacuteolo verde agrupadas no cluster (C1) 433

A partir dessas evidecircncias consideramos a hipoacutetese de que as variedades mesmo 434

apresentando caracteriacutesticas morfoloacutegicas muito semelhantes estatildeo sujeitas a variaccedilatildeo 435

nomenclatural durante o processo a incorporaccedilatildeo aos roccedilados pelos agricultores pois a 436

capacidade para distinguir e nomear variedades entre os agricultores da mesma regiatildeo pode 437

variar (Sambatti et al 2001 Elias et al 2001 Mekbib 2007) Consideramos tambeacutem que pode 438

44

existir variaccedilatildeo geneacutetica entre os indiviacuteduos identificados por um mesmo nome ou entatildeo que 439

os agricultores datildeo o mesmo nome para variedades diferentes E esta situaccedilatildeo pode levar a uma 440

superestimaccedilatildeo ou subestimaccedilatildeo da diversidade de mandioca cultiva nas aacutereas de estudo 441

Sabemos que a mandioca eacute propagada vegetativamente pelos agricultores por meio de 442

estacas em sistemas de agricultura tradicional No entanto alguns variedades produzem flores 443

e sementes que germinam e podem originar outras variedades ou outros clones por meio de 444

fecundaccedilatildeo cruzada (Elias et al 2001) Nesse contexto a etnovariedade ldquoMacaxeira Sementerdquo 445

presente no cluster (C7) trata-se de um uacutenico indiviacuteduo amostrado em uma roccedila de um dos 446

agricultores Esta apresentava algumas caracteriacutesticas morfoloacutegicas distintas das demais 447

reconhecidas pelo agricultor como por exemplo a produccedilatildeo de uma raiz uacutenica e 448

consequentemente de baixo rendimento Encontramos apenas um indiviacuteduo dessa 449

etnovariedade e nossa hipoacutetese de que esta poderia ter sido originada da germinaccedilatildeo da 450

semente mesmo quando 100 dos informantes declararam natildeo dar qualquer importacircncia e 451

descartar essas ldquovariedades-voluntaacuteriasrdquo foi confirmada pelo agricultor que afirmou que se 452

tratava de uma variedade nascida da germinaccedilatildeo da semente Esse comportamento vai de 453

encontro ao estudo de Fraser et al (2012) pois apesar dos agricultores reportarem nas 454

entrevistas que conhecem essas ldquovariedades-voluntaacuteriasrdquo nenhum agricultor faz o uso delas 455

Peroni et al (1999) e Agre et al (2016) analisando morfologicamente as variedades 456

locais de mandioca mantidas por agricultores em sistemas agriacutecolas tropicais tambeacutem 457

demonstraram que os agricultores satildeo coerentes quanto a separaccedilatildeo e identificaccedilatildeo de suas 458

etnovariedades a partir da formaccedilatildeo de grupos de coesos quanto a nomenclatura local utilizada 459

No entanto para o melhor entendimento dessa diversidade aleacutem da caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica 460

o uso de anaacutelises complementares como anaacutelise molecular seria importante para tentar 461

identificar se esses grupos representam a mesma variedade com nomes distintos ou se satildeo 462

variedades distintas com o mesmo nome 463

45

Conclusatildeo 464

O estudo demonstrou que no sistema de manejo da mandioca ao niacutevel de roccedila em 465

comunidades localizadas na regiatildeo semiaacuterida de Pernambuco compotildee uma diversidade 466

intrespeciacutefica de mandioca para atender agraves demandas econocircmicas e de subsistecircncia das 467

populaccedilotildees locais 468

Com relaccedilatildeo a anaacutelise de rede demostramos que haacute um nuacutecleo de etnovariedades 469

fortemente conectado aos agricultores e sua composiccedilatildeo eacute direcionada pelas preferecircncias e 470

necessidades individuais dos agricultores que foram os fatores responsaacuteveis pelo surgimento 471

da estrutura aninhada observada na anaacutelise rede entre as comunidades deste estudo E esse 472

padratildeo aninhado observado contribui na conservaccedilatildeo das etnovariedades mais comuns mas 473

tambeacutem pode resultar em perda daquelas de menor frequecircncia ao longo do tempo 474

A caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica ldquoin siturdquo nos permitiram inferir que os agricultores 475

reconhecem as diferentes caracteriacutesticas morfoloacutegicas de suas cultivares e satildeo coerentes na 476

separaccedilatildeo de suas variedades de mandioca e macaxeira Entretanto esses resultados sugerem a 477

realizaccedilatildeo de um estudo em niacutevel de diversidade geneacutetica exploratoacuterio para identificar se as 478

consistecircncias morfoloacutegicas refletem em consistecircncias geneacuteticas elucidando assim as possiacuteveis 479

confusotildees atribuiacutedas aos nomes das etnovariedades de mandioca 480

Agradecimentos 481

Agradecemos ao liacuteder comunitaacuterio Alexandre O Nascimento aos agricultores e 482

agricultoras das comunidades pela acolhida confianccedila e pela gentileza de compartilharem 483

conosco seus conhecimentos e contribuiacuterem com este estudo Especialmente a Arlindo Ferreira 484

Edgar Antocircnio Joseacute Sebastiatildeo Juvenal Oliveira e Janete Alves Ao Laboratoacuterio de Ecologia e 485

Evoluccedilatildeo de Sistemas Socioecoloacutegicos (LEA - UFPE) E agradecemos ao CNPq pelo apoio 486

com a bolsa de estudos do primeiro autor 487

46

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Nome da revista 617

Human Ecology 618

Link de acesso 619

httpsgooglDVLbFj 620

Qualis-CAPES 621

B1 em Biodiversidade 622

623

624

625

626

627

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642

52

Figuras 643

644

645

Fig 1 Partes do processo de fabricaccedilatildeo de farinha de mandioca Onde a raspagem b e c 646

processo de trituraccedilatildeo e d peneiramento Foto registrada em Abril de 2017 por Mirela Santos 647

648

649

650

c

d

b

a

53

651

Fig 2 Mapa de localizaccedilatildeo geograacutefica dos Municiacutepios de Altinho e Panelas e das comunidades 652

estudadas na regiatildeo semiaacuterida do Estado de Pernambuco (Elaborado por SANTOS 2018) 653

54

654

655

656

657

Fig 3 Processo de fabricaccedilatildeo da farinha de mandioca Apoacutes a colheita as raiacutezes satildeo lavadas 658

raspadas e trituradas (a) A massa extraiacuteda eacute prensada e coada Ao sair da prensa a massa 659

peneirada (b) e em seguida eacute torrada (c) em fornos artesanais ou parcialmente mecanizados 660

Imagem registrada em janeiro de 2017 na Comunidade do Caratildeo por Mirela Santos 661

662

663

a

b c

55

664

Fig 4 a Sede da Comunidade do Caratildeo b Agricultor transportando a palma forrageira que eacute 665

um exemplo de estrateacutegia adaptativa para suprir a falta de alimento dos animais devido agrave seca 666

c Feira-livre que acontece na comunidade a cada quinze dias Imagem registrada em julho de 667

2016 na Comunidade do Caratildeo por Mirela Santos 668

669

670

Fig 5 a O agricultor nos explicava as mudanccedilas que vem fazendo em seus roccedilados para se 671

adaptar aos longos periacuteodos de seca b Quando o agricultor nos mostrava as diferentes 672

etnovariedades que mantinha em sua roccedila c Durante a pesquisa nos explicavam como era feita 673

a colheita da mandioca e como selecionavam as manivas para o proacuteximo plantio Foto registrada 674

em abril de 2017 na Comunidade do Brejo Velho por Mirela Santos 675

a

b c

c b

a

56 676

677

Fig 6 Possiacuteveis estruturas de rede que descrevem as interaccedilotildees dos agricultores (losango) 678

ligados as etnovariedades (ciacuterculos) que cultivam Onde a Aninhada b Modular c Aleatoacuteria 679

(Fonte Cavechia et al 2014 com adaptaccedilotildees) 680

681

682

683

684

685

686

687

688

689

690

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692

693

694

695

696

697

a c b

57

698

699

700

701

702

703

704

705

706

707

Fig 7 Correlaccedilatildeo de Spearman entre a diversidade de etnovariedades de mandiocas conhecidas 708

como cultivadas e variedades atualmente cultivadas por agricultor e as variaacuteveis 709

socioeconocircmicas Onde Nvc= nuacutemero de citadas como cultivadas Nve= nuacutemero de variedades 710

atualmente cultivadas Esc= escolaridade Id= idade Gen= gecircnero Tr= tamanho do roccedilado 711

Exp= experiecircncia na agricultura Sld= renda Nr= nuacutemero de roccedilados Cores distintivas 712

representam correlaccedilotildees significativas (Ple005) 713

714

58

715

Fig 8 Modelo individual de rede de etnovariedades de mandioca citadas (esquerda) por 716

agricultores como cultivadas (direita) nos Municiacutepios de Altinho e Panelas As redes foram 717

desenhadas com o pacote bipartite (Dormann et al 2017) usando o software R (R CORE 718

TEAM 2017) 719

720

59

721

Fig 9 Anaacutelise de Correspondecircncia Muacuteltipla das 17 etnovariedades de mandioca considerando 722

os sete descritores morfoloacutegicos utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo em roccedilas de 723

agricultores tradicionais de sete comunidades no semiaacuterido de Pernambuco 724

725

726

727

728

729

730

731

732

733

734

735

736

737

McCambadinha

McCampina

McCampinaDaGrande

McCampinaRasteira

McCampinaVaruda

McGauba

McIsabelDeSouza

McIsabelTresGalhos

McOlhoDePombo

McOlhoVerde

McPretinha

McPretona

MxBranca

MxRosa

MxRosaBrancaMxRosaVermelha

MxSemente

CFD_Verde_Arroxeado

CFD_Verde_ClaroCFD_Verde_Escuro

CBF_Roxo

CBF_Verde_ArroxeadoCBF_Verde_Claro

CBF_Verde_Escuro

CDP_Verde

CDP_Verde_Amarelado

CDP_Verde_Avermelhado

CDP_Vermelho

CEC_Cinza

CEC_Dourado

CEC_Laranja

CEC_Marrom_Claro

CEC_Marrom_Escuro

CEC_Prateado

CEC_Verde_AmareladoCicatriz_M

Cicatriz_P

PDR_Branco

PDR_Creme

CDR_BrancoCDR_Creme CDR_Rosa

-4

-2

0

2

4

-4 -2 0 2 4

Dim1 (206)

Dim

2 (

162

)

MCA - Biplot

00

10

Hierarchical Clustering

inertia gain

McC

am

pin

aV

aru

da

McC

am

pin

aD

aG

rande

McC

am

pin

a

McG

auba

McP

retin

ha

McP

reto

na

MxR

osaV

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elh

a

MxR

osaB

ranca

MxR

osa

McC

am

pin

aR

aste

ira

McC

am

badin

ha

McO

lhoV

erd

e

MxB

ranca

MxS

em

ente

McIsabelT

resG

alh

os

McIsabelD

eS

ouza

McO

lhoD

eP

om

bo

00

05

10

15

Hierarchical Classification

Heig

ht

C1 C2 C3 C4 C5 C6 C7 C8

Fig 10 Agrupamento hieraacuterquico das 17 etnovariedades de mandioca caracterizadas de acordo

com os descritores utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo

60

Tabelas 738

739

Tabela 1 Caracteres e estados utilizados pelos agricultores como descritores botacircnicos para 740

caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das etnovariedades de mandioca 741

Caracter Sigla Estados

Folha

Cor da folha desenvolvida CFD 1- verde claro 2- verde escuro 3- verde arroxeado 4- roxo

Cor do broto foliar CBF 1- verde claro 2- verde escuro 3- verde arroxeado 4- roxo

Cor do peciacuteolo CDP 1- verde amarelado 2- verde 3- verde avermelhado 4- roxo

5- vermelho

Caule

Cor externa do caule CEC 1- laranja 2- verde amarelado 3- dourado 4- marrom claro

5- prateado 6- cinza 7- marrom escuro 8- verde

Protuberacircncia da cicatriz foliar PCF 1- pouco proeminente 2- muito proeminente

Raiacutez

Cor da poupa da raiz PDR 1- branco 2- creme

Cor do coacutertex da raiacutez CDR 1- rosa 2- branco 3- creme

742

743

744

745

746

747

748

749

750

751

61

Tabela 2 Lista das 22 etnovariedades de mandiocas citadas (132 citaccedilotildees) como cultivadas nas 752

comunidades pertencentes aos Municiacutepios de Altinho (Caratildeo n=8) e ao Municiacutepio de Panelas 753

(Aracuatilde Satildeo Joseacute do Bola Brejo Velho Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima e Lajeiro 754

Dantas n=21) 755

Etnovariedade Frequecircncia () Ranking Saliecircncia

Macaxeira Rosa 66 179 0472

Mandioca Isabel de Souza 48 179 0372

Mandioca Campina 24 217 0148

Macaxeira Branca 20 210 0134

Macaxeira Rosa branca 18 122 0168

Mandioca Pretona 16 338 0082

Mandioca Cambadinha 12 283 0071

Mandioca Isabel trecircs galhos 10 180 0075

Mandioca Gauacuteba 10 260 0070

Mandioca Pretinha 8 225 0053

Mandioca Peacute de pombo 4 400 0011

Mandioca Olho verde 4 350 0012

Macaxeira Rosinha 4 200 0027

Mandioca Campina varuda 4 200 0032

Mandioca Campina rasteira 4 300 0021

Mandioca Caboquinha 2 500 0007

Macaxeira Rasteira 2 200 0013

Macaxeira Paraacute 2 100 0020

Mandioca Barra ferro 2 300 0007

Mandioca Campina da grande 2 100 0020

Mandioca Olho de pombo 2 300 0010

Mandioca Jasmim 2 600 0006

756

757

758

62

Tabela 3 Lista de 17 etnovariedades atualmente cultivadas nos roccedilados das comunidades em 759

estudo 760

Ca Ar Bo Br Jb Jc Ld

Etnovariedade

Macaxeira Branca x x x x

Macaxeira Rosa

x x x x x x

Macaxeira Rosa Branca x x x x

Macaxeira Rosa Vermelha

x

Macaxeira Semente

x

Mandioca Cambadinha x

x

Mandioca Campina

x

x

x

Mandioca Campina da Grande x

Mandioca Campina Rasteira

x

Mandioca Campina Varuda

x

Mandioca Gauacuteba

x

Mandioca Isabel de Souza

x x x

Mandioca Isabel trecircs Galhos

x

x

Mandioca Olho de Pombo

x

Mandioca Olho Verde

x

Mandioca Pretinha

x

Mandioca Pretona x x x

Comunidades Ca= Caratildeo Ar=Aracuatilde Bo= Satildeo Joseacute do Bola Jb= Japaranduba de Baixo 761

Jc= Japaranduba de Cima Ld= Lajedo Dantas 762

763

764

765

766

767

768

63

Tabela 4 Descriccedilatildeo das classes do agrupamento por meacutetodo de Ward agrupadas pelo conjunto 769

dos descritores mais significativos para a caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das variedades de mandioca 770

Classes Descritores in situ p-valor

C1 Cor do peciacuteolo (CDP) 0016

C2 Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023

C3 Cor do peciacuteolo (CDP) 0012

C4 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0004

Cor da poupa da raiacutez (PDF) 0021

C5 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0003

C6 Cor do broto foliar (CBF) 0002

C7 Cor da folha desenvolvida (CFD) 0004

Cor externa do caule (CEC) 0040

C8 Cor do peciacuteolo (CDP) 0005

Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023

Valores de Ple005 satildeo significativos 771

772

32

Em todas as comunidades o meacutetodo de acesso ao informante foi o mesmo a partir do 148

primeiro contato com um informante-chave identificamos outros potenciais agricultores 149

seguindo a teacutecnica de ldquobola de neverdquo (Albuquerque et al 2014a) Esse meacutetodo consistiu na 150

amostragem intencional dos participantes e nesse particular os agricultores chefes de famiacutelia 151

(ge 18 anos) da regiatildeo que declararam cultivar mandioca (M esculenta) em suas roccedilas 152

Reunimos informaccedilotildees socioeconocircmicas desses agricultores tais como nome idade gecircnero 153

escolaridade renda experiecircncia na agricultura e tamanho da aacuterea de cultivo para tentar 154

identificar se esses paracircmetros socioeconocircmicos tecircm uma relaccedilatildeo com a agrobiodiversidade 155

local 156

Em seguida conduzimos entrevistas semiestruturadas (Albuquerque et al 2014b) com 157

o objetivo de caracterizar o modo de vida dos agricultores o manejo da agricultura bem como 158

obter dados sobre o conhecimento uso e caracterizaccedilatildeo das etnovariedades de mandioca 159

5cultivadas Aleacutem disso neste momento tambeacutem aplicamos a teacutecnica da lista livre 160

(Albuquerque et al 2014b) a fim de registrar as variedades de mandioca atualmente cultivadas 161

pelos agricultores e identificar as de maior importacircncia local Apoacutes as entrevistas realizamos 162

visitas aos roccedilados para o registro fotograacutefico georreferenciamento das roccedilas e caracterizaccedilatildeo 163

morfoloacutegica das variedades cultivadas 164

Entrevistamos 50 agricultores no total distribuiacutedos nas sete comunidades Caratildeo (3) 165

Satildeo Joseacute do Bola (10) Brejo velho (7) Japaranduba de Baixo (7) Japaranduba de Cima (8) 166

Lajedo Dantas (9) e Aracuatilde (6) Destes 10 satildeo mulheres e 40 homens com idade variando entre 167

31 e 82 anos A maioria dos entrevistados natildeo apresentava instruccedilatildeo formal (46) mais da 168

metade eram aposentados (56) e os demais apresentaram renda inferior a um salaacuterio miacutenimo 169

5 Entende-se por etnovariedade de mandioca o conjunto de variedades intraespeciacuteficas de mandioca (M esculenta)

reconhecidas pelos agricultores por nomenclatura popular local (Peroni 2004)

33

O tempo meacutedio de experiecircncia na agricultura foi de 40 anos Cada agricultor possui entre um e 170

dois roccedilados (aacuterea de plantio) com aproximadamente um a dois hectares 171

Redes de interaccedilatildeo social 172

Confeccionamos a rede que descreve as interaccedilotildees entre os agricultores e as 173

etnovariedades cultivadas a partir de uma matriz de incidecircncia R (presenccedilaausecircncia) onde nas 174

linhas estavam as etnovariedades de mandioca cultivadas (j) e nas colunas os agricultores locais 175

(i) O elemento Rij dessa matriz foi 1 (um) no caso de a etnovariedade j ser cultivada pelo 176

agricultor i caso contraacuterio seria atribuiacutedo 0 (zero) As interaccedilotildees entre os agricultores e as 177

etnovariedades foram descritas em dois modos (Pires et al 2011) onde os ldquonoacutesrdquo da esquerda 178

representam os agricultores que foram vinculados aos ldquonoacutesrdquo da direita representados pelas 179

etnovariedades citadas durante as entrevistas Esses ldquonoacutesrdquo seriam o espelho das decisotildees dos 180

agricultores em manter um determinado conjunto local de etnovariedades em suas roccedilas 181

Avaliamos a estrutura da rede que conecta os agricultores agraves etnovariedades cultivadas 182

a partir de trecircs cenaacuterios hipoteacuteticos (Fig 6) segundo Cachevia et al (2014) No primeiro se os 183

agricultores apresentassem diferentes graus de seletividade para a utilizaccedilatildeo de suas 184

etnovariedades a estrutura seria aninhada (Fig 6a) Isso significa que alguns agricultores 185

cultivam vaacuterias etnovariedades enquanto que outros cultivam o subconjunto mais 186

disponiacutevelcomum dessas etnovariedades Em segundo lugar se a rede apresentasse uma 187

estrutura modular (Fig 6b) significaria que os agricultores apresentam semelhanccedila na seleccedilatildeo 188

do recurso ou seja subgrupos de agricultores cultivam subgrupos distintos de etnovariedades 189

regionalmente disponiacuteveiscomuns E o terceiro se os agricultores natildeo apresentassem 190

preferecircncias quanto a seleccedilatildeo das etnovariedades entatildeo a rede apresentaria uma estrutura 191

aleatoacuteria (Fig 6c) 192

O objetivo da anaacutelise de rede nesse estudo foi tentar entender se o conjunto de 193

etnovariedades presentes no local do estudo constituem uma subamostra de um conjunto mais 194

34

amplo no caso de um alto grau de aninhamento ou se a sua composiccedilatildeo eacute determinada por 195

variaacuteveis locais (Ulrich 2008) Onde as conexotildees entre os informantes e as etnovariedades 196

representam as decisotildees dos agricultores de manter um conjunto determinado de variedades de 197

mandioca dentre as comunidades Esta anaacutelise tambeacutem nos permitiu identificar quais os nuacutecleos 198

de etnovariedades que apresentam maior conexatildeo com os diferentes perfis dos agricultores 199

Diversidade fenotiacutepica 200

Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 201

Apoacutes as entrevistas buscamos identificar quais os caracteres morfoloacutegicos considerados 202

mais importantes para a diferenciaccedilatildeo das etnovariedades de mandioca a partir do seguinte 203

questionamento ldquoQuais as diferenccedilas que vocecirc reconhece para separar uma qualidade de 204

mandioca (variedade) de uma outrardquo Assim os agricultores mencionaram quais os criteacuterios 205

mais importantes utilizados para a caracterizaccedilatildeo de suas etnovariedades 206

Compilamos uma listagem dessas caracteriacutesticas baseada nas indicaccedilotildees dos 207

agricultores e a partir delas selecionamos os caracteres morfoloacutegicos mais citados para a 208

caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica ldquoin siturdquo tais como cor da folha (cor da folha desenvolvida) olho 209

(cor do broto foliar) cor do talo (cor do peciacuteolo) maniva (cor externa do caule) embriatildeo 210

(protuberacircncia da cicatriz foliar) cor da entrecasca (coacutertex da raiz) e cor miolo (polpa da raiz) 211

(Tabela 1) O objetivo dessa caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica foi indicar como estaacute distribuiacuteda a 212

variaccedilatildeo fenotiacutepica das etnovariedades de mandioca nas comunidades na regiatildeo semiaacuterida de 213

Pernambuco bem como identificar que caracteriacutesticas satildeo mais importantes para distinguir 214

esses grupos no intuito de tentar entender como os agricultores classificam suas variedades de 215

mandioca 216

Nas sete comunidades para cada etnovariedade citada no roccedilado caracterizamos ldquoin 217

siturdquo trecircs indiviacuteduos de M esculentade de cada uma totalizando 171 indiviacuteduos (Aracuatilde=11 218

35

Caratildeo=4 Satildeo Joseacute do Bola=13 Brejo Velho=16 Japaranduba de Baixo=6 Japaranduba de 219

Cima=3 e Lajedo Dantas=4) Fotografamos e avaliamos todos os indiviacuteduos com base em parte 220

dos descritores morfoloacutegicos seguindo recomendaccedilotildees de Fukuda amp Guevara (1998) e aleacutem 221

disso georreferenciamos todas as aacutereas de roccedila 222

Anaacutelise dos dados 223

Analisamos os dados socioeconocircmicos das entrevistas semiestruturadas por meio de 224

estatiacutestica descritiva para explicar os aspectos da realidade econocircmica e social dos agricultores 225

Para identificar se a diversidade intraespeciacutefica da mandioca cultivada localmente eacute 226

influenciada por paracircmetros socioeconocircmicos utilizamos o coeficiente de correlaccedilatildeo de 227

Spearman (Ple005) (Sokal amp Rohlf 1995) 228

Com base na lista livre das variedades de mandioca cultivadas pelos agricultores 229

calculamos a frequecircncia de citaccedilatildeo o ranking e o iacutendice de saliecircncia com o objetivo de 230

identificar quais as mais importantes ou preferidas para as comunidades O iacutendice de saliecircncia 231

considerou a frequecircncia de citaccedilatildeo e o ranking referente ao posicionamento das variedades 232

dentro das listas livres (Thompson amp Juan 2006) As etnovariedades mais citadas e com maior 233

valor de saliecircncia representam as de maior importacircncia ou preferecircncia para as comunidades 234

Anaacutelise de rede 235

Medimos o grau de aninhamento (NODF) para investigar a estrutura de rede de 236

interaccedilatildeo social dos agricultores em funccedilatildeo das variedades cultivadas As matrizes altamente 237

aninhadas apresentam NODF tendendo a 1 caso contraacuterio tentem a ser 0 238

Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 239

Para o estudo das semelhanccedilas e diferenccedilas fenotiacutepicas entre as variedades de mandioca 240

ldquoin siturdquo realizamos anaacutelises multivariadas para identificar possiacuteveis grupos de variedades que 241

compartilham semelhanccedilas entre si 242

36

A anaacutelise de correspondecircncia muacuteltipla (MCA) permitiu identificar como as variedades 243

de mandioca estatildeo ordenadas em funccedilatildeo dos seus descritores etnobotacircnicos As etnovariedades 244

foram plotadas ao longo um plano cartesiano bi ou tridimensional onde a variaccedilatildeo total eacute 245

explicada pelos dois primeiros eixos Complementar a esta anaacutelise realizamos a anaacutelise de 246

agrupamento hieraacuterquico (Cluster) para identificar como estatildeo agrupadas as etnovariedades de 247

acordo seus descritores Conferimos a consistecircncia do dendrograma com coeficiente de 248

correlaccedilatildeo cofeneacutetica conforme Sneath amp Sokal (1973) que quantifica se a correlaccedilatildeo entre a 249

matriz de distacircncias originais e a matriz de distacircncias cofeneacuteticas eacute representativa Para 250

mensurar as dissimilaridades entre as variedades de mandioca foi utilizada a distacircncia 251

euclidiana e com o meacutetodo de Ward 252

Softwares utilizados 253

Para a anaacutelise da lista livre usamos o software ANTROPAC versatildeo 10 O software 254

ANINHADO 30 (Guimaratildees amp Guimaratildees 2006) foi usado para medir o grau de aninhamento 255

da rede Utilizamos o software estatiacutestico R (R core team 2017) para a anaacutelise de correlaccedilatildeo 256

de Spearman com o pacote corrplot (Wei amp Simko 2013) o desenho da rede que descreve a 257

interaccedilatildeo entre os agricultores e as etnovariedades com o pacote bipartite (Dormann et al 258

2017) E com os pacotes FactoMineR (LEcirc et al 2008) factoextra (Kassambara et al 2016) e 259

vegan (Oksanen et al 2017) foram realizadas as anaacutelises de cluster de correspondecircncia 260

muacuteltipla (MCA) e de correlaccedilatildeo coefeneacutetica respectivamente 261

Resultados 262

As diferentes etnovariedades de mandioca encontradas no estudo suprem a demanda 263

local por alimento enquanto outras atendem agraves preferecircncias individuais ou do comeacutercio As 264

variedades que possuem maior rendimento e a farinha produzida apresenta coloraccedilatildeo branca 265

satildeo as de maior valor comercial para os agricultores devido agraves preferecircncias do mercado Jaacute 266

37

outras variedades que satildeo mais moles e apresentam coloraccedilatildeo amarelada natildeo satildeo empregadas 267

na produccedilatildeo de farinha mas sim consumidas cozidas ou assadas A depender da demanda local 268

os agricultores intencionalmente aumentam ou diminuem a frequecircncia de suas variedades nos 269

roccedilados seja por alguma exigecircncia do comeacutercio ou para consumo familiar 270

Nas comunidades os agricultores separam suas variedades de mandioca em dois grupos 271

como observado em outras comunidades na mata Atlacircntica por Emperaire e Peroni (2007) o 272

das ldquomacaxeirasrdquo que satildeo as variedades exploradas basicamente para o consumo familiar sem 273

processo preacutevio de desintoxicaccedilatildeo cujas raiacutezes satildeo consumidas fritas eou cozidas Sendo 274

utilizadas tambeacutem como complemento na dieta dos animais E o grupo das ldquomandiocasrdquo que 275

satildeo as variedades que necessitam de processo preacutevio de desintoxicaccedilatildeo para o consumo 276

utilizadas comumente para a produccedilatildeo de farinha de mandioca Para os agricultores as 277

ldquomandiocasrdquo possuem maior valor comercial pois apresentam maior rendimento e 278

rentabilidade pois a farinha produzida eacute branca e atende as preferencias do comercio local 279

Aleacutem da farinha outros produtos e subprodutos produzidos dentre os quais foram citados 280

ldquotapioca ou gomardquo ldquobijurdquo ou ldquobolo de mandiocardquo satildeo utilizados para o consumo proacuteprio ou 281

eventual comercializaccedilatildeo 282

Os informantes natildeo possuiacuteam conhecimento sobre a origem dos nomes das variedades 283

de mandioca Quanto a compreensatildeo da geraccedilatildeo da diversidade intraespeciacutefica identificamos 284

que apesar de 66 dos agricultores citarem que conhecem variedades fruto de germinaccedilatildeo de 285

suas sementes nenhum deles utiliza as manivas para o plantio por essas variedades de 286

mandioca ldquovoluntaacuteriasrdquo natildeo apresentarem bom rendimento 287

Observamos que existe uma baixa correlaccedilatildeo entre a diversidade de variedades 288

atualmente cultivadas e as variaacuteveis socioeconocircmicas como no caso do nuacutemero de roccedilados 289

(r=028 Ple005) e do tamanho do roccedilado (r=033 Ple005) (Fig 7) Essa baixa correlaccedilatildeo pode 290

38

ser explicada pelo fato de existirem grupos de agricultores que preferem manter as variedades 291

de maior valor econocircmico e de subsistecircncia mesmo com aacutereas maiores de cultivo 292

Verificamos tambeacutem uma correlaccedilatildeo positiva moderada entre o nuacutemero de variedades 293

conhecidas com o nuacutemero de variedades atualmente cultivadas (r=054 Ple005) Na lista livre 294

foram identificadas 22 etnovariedades de mandioca cultivadas (132 citaccedilotildees no total) sendo 295

oito dessas mais citadas com maiores valores de saliecircncia (entre 047 e 0082) (Tabela 2) As 296

etnovariedades ldquoMacaxeira Rosardquo e ldquoMandioca Isabel de Souzardquo exibiram os maiores valores 297

de saliecircncia 047 e 037 respectivamente Logo essas variedades satildeo as mais conhecidas 298

dentro das comunidades com 66 e 48 das citaccedilotildees respectivamente 299

Dentre as etnovariedades citadas 12 foram idiossincraacuteticas pois apresentaram menor 300

frequecircncia de citaccedilatildeo e menores valores de saliecircncia (entre 0032 e 0006) (Tabela 2) 301

Redes de interaccedilatildeo social 302

A rede apresentou uma estrutura aninhada com grau de aninhamento significativamente 303

superior aos modelos nulos (N=3072 Plt0001) para as comunidades sendo um nuacutecleo de 304

etnovariedades altamente conectado aos agricultores (Fig 8) A estrutura aninhada nos permite 305

inferir que existe um grupo de agricultores que cultiva uma maior diversidade de etnovariedades 306

de mandioca em suas roccedilas enquanto que outro subgrupo que tem menor diversidade cultivam 307

as mais comuns ou disponiacuteveis (Cavechia et al 2014) Isso significa que os agricultores locais 308

mesmo em diferentes comunidades cultivam um nuacutecleo de etnovariedades comum entre eles 309

(n=6 Tabela 2) 310

Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 311

Observamos que a maioria dos indiviacuteduos de mandioca satildeo caracterizados por meio de 312

um conjunto de sete caracteres morfoloacutegicos os quais foram citados pelos agricultores como 313

mais importantes para a caracterizaccedilatildeo de suas variedades Nas visitas aos roccedilados registramos 314

39

as etnovariedades atualmente cultivadas e a tabela 3 fornece a lista completa com as 17 315

etnovariedades de mandioca e o local de registro 316

Por meio da anaacutelise de correspondecircncia muacuteltipla as variedades de mandioca foram 317

ordenadas em funccedilatildeo de seus descritores ao longo do primeiro e segundo eixo correspondentes 318

a 3680 da variacircncia total (Fig 9) 319

As variaacuteveis mais correlacionadas e que agruparam as variedades de mandioca no 320

primeiro eixo foram cor da folha desenvolvida (CFD) (r= 07239 Ple0001) cor do coacutertex da 321

raiz (CDR) (r= 06473 Ple0001) cor do broto foliar (CBF) (r= 06880 Ple0001) cor do peciacuteolo 322

(CDP) (r= 05250 Ple005) cor externa do caule (CEC) (r= 06883 Ple005) cor da polpa da 323

raiz (PDR) (r= 02473 Ple005) Para o segundo eixo as variaacuteveis correlacionadas foram cor 324

da folha desenvolvida (CFD) (r= 07220 Ple0001) cor externa do caule (CEC) (r= 08718 325

Ple0001) e cor do peciacuteolo (CDP) (r= 06927 Ple005) 326

O agrupamento de todas as variedades caracterizadas ldquoin siturdquo gerou uma aacutervore 327

hieraacuterquica (dendrograma) (Fig 9) utilizando a distacircncia euclidiana seguindo o criteacuterio de 328

Ward O dendrograma gerado apresentou um coeficiente de correlaccedilatildeo cofeneacutetica r= 06780 329

indicando que existe consistecircncia com os dados originais no agrupamento quanto agrave 330

classificaccedilatildeo e estrutura de tal forma que as variedades foram agrupadas em oito classes as 331

quais foram explicadas pelas variaacuteveis mais significativas descritas na tabela 4 332

O resultado do agrupamento (utilizada a distacircncia euclidiana e com o meacutetodo de Ward) 333

observamos que as etnovariedades de mandioca caracterizadas ldquoin siturdquo foram agrupadas em 334

dois grandes agrupamentos indicados na Fig 10 pelos retacircngulos em vermelho A partir dessa 335

anaacutelise percebemos que os caracteres morfoloacutegicos selecionados pelos agricultores natildeo foram 336

suficientes para separar as variedades de macaxeira e mandioca pois em ambos os 337

agrupamentos encontramos tanto macaxeiras quanto mandiocas 338

40

As variedades da classe 1 foram identificadas pelos agricultores pela cor do peciacuteolo 339

(CDP) verde A classe 2 agrupou as etnoveriedades caracterizadas pela protuberacircncia da cicatriz 340

foliar (PCF) mais protuberante Esse descritor segundo os agricultores era identificado como 341

ldquoembriatildeordquo A classe 3 consiste apenas da variedade ldquoMandioca Pretonardquo indicada pela presenccedila 342

de cor do peciacuteolo (CDP) vermelho A classe 4 agrupou trecircs variedades caracterizadas pelos 343

agricultores pela presenccedila de cor coacutertex da raiz (CDR) rosa e cor da polpa da raiacutez (PDR) branca 344

identificadas como ldquoMacaxeira vermelhardquo ldquoMacaxeira Rosa Brancardquo ldquoMacaxeira Rosardquo As 345

variedades agrupadas na classe 5 foras as variedades de mandioca caracterizadas pelos 346

agricultores por apresentarem cor do coacutertex (CDR) da raiacutez branca A classe 6 agrupou 347

variedades identificadas pelos agricultores pela cor do broto foliar (CBF) verde A classe 7 348

consiste apenas da variedade ldquoMacaxeira Sementerdquo identificada pelos agricultores pela cor do 349

peciacuteolo (CDP) roxo e protuberacircncia da cicatriz foliar pouco proeminente Essa variedade 350

segundo os agricultores era fruto do nascimento espontacircneo no roccedilado poreacutem eles geralmente 351

natildeo utilizam essas variedades por apresentarem apenas uma raiz pequena e de baixo 352

rendimento Na classe 8 as variedades foram identificadas pelos agricultores pela cor do peciacuteolo 353

(CDP) verde amarelado e protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) pouco proeminente As 354

ldquoMandioca Isabel de Souzardquo ldquoMandioca Isabel trecircs galhosrdquo segundo os agricultores se 355

diferenciavam pelo maior nuacutemero de caules presentes na variedade ldquoIsabel trecircs galhosrdquo 356

Discussatildeo 357

As sete comunidades estudadas manejavam um nuacutemero consideraacutevel de variedades 358

locais A quantidade de etnovariedades registradas eacute proacutexima a encontrada por Bender et al 359

(2009) e Cavechia et al (2014) em comunidades na regiatildeo sul e sudeste por Oler e Amorozo 360

(2017) em uma comunidade tradicional na regiatildeo centro-oeste Poreacutem foi quantitativamente 361

inferior quando comparada a estudos como os de Elias et al (2001) e Kawa et al (2013) em 362

comunidades na regiatildeo amazocircnica pois possuiacuteam uma alta diversidade Essa alta diversidade 363

41

na regiatildeo amazocircnica pode estar relacionada com o fato de que essa regiatildeo eacute o provaacutevel centro 364

de origem da mandioca (M esculenta) (Allem 1994) 365

As etnovariedades registradas neste estudo estatildeo disponiacuteveis para a maioria dos 366

agricultores dessa regiatildeo e esse fator favorece a circulaccedilatildeo das etnovariedades entre as 367

comunidades locais Por isso haacute semelhanccedilas das etnovariedades utilizadas entre os agricultores 368

da mesma comunidade e entre comunidades vizinhas 369

Parte dos agricultores optam por manter uma alta frequecircncia de variedades mais 370

utilizadas enquanto que outros optam por manter etnovariedades de baixa frequecircncia 371

Conforme discutido por Amorozo (2013) os agricultores escolhem seu acervo de acordo com 372

as necessidades e contexto em que vivem A reduccedilatildeo da diversidade de etnoveriedades por 373

exemplo pode ser impulsionada por fatores que simplificam o sistema como a seleccedilatildeo de 374

etnovariedades para a produccedilatildeo de farinha resultando no cultivo de poucas ou ateacute de uma uacutenica 375

etnovariedade (Peroni amp Hanazaki 2002) mesmo em aacutereas maiores 376

377

Redes de interaccedilatildeo social 378

Com as anaacutelises de rede demonstramos que os agricultores de diferentes comunidades 379

em uma mesma regiatildeo efetivamente trocam variedades de mandioca entre si corroborando 380

com estudos realizados por Emperaire amp Eloy (2008) Pautasso et al (2012) e Cavechia et al 381

(2014) Nesses estudos os autores tambeacutem consideram que as trocas de etnovariedades por 382

meio da rede de intercacircmbio entre os agricultores eacute um mecanismo fundamental para a 383

manutenccedilatildeo da diversidade local 384

A visualizaccedilatildeo da rede demonstrou que entre as comunidades os agricultores 385

compartilham um nuacutecleo de etnovariedades mais utilizadas dentre as quais estatildeo as de maior 386

valor econocircmico e de subsistecircncia Essas de maior frequecircncia satildeo aquelas altamente produtivas 387

utilizadas pelos agricultores para atenderem agraves demandas de mercado por farinha e para o 388

consumo proacuteprio (Kawa et al 2013) 389

42

No entanto observamos que existe outro nuacutecleo de etnovariedades menos frequentes 390

Essas etnovariedades raras podem ser resultantes do processo de experimentaccedilatildeo ou 391

preferecircncias individuais dos agricultores Outra possiacutevel razatildeo para a baixa frequecircncia de 392

algumas etnovariedades poderia ser explicada pela variaccedilatildeo da nomenclatura pelos 393

agricultores que segundo Peroni amp Hanazaki (2002) pode ocorrer durante o processo de troca 394

e introduccedilatildeo de novas variedades aos roccedilados Ainda assim natildeo descartamos a hipoacutetese de que 395

essas etnovariedades raras possam ser provenientes do cruzamento entre variedades diferentes 396

cultivadas da mesma roccedilado ou em roccedilas vizinhas De acordo com Martins (2005) essas 397

variedades fruto de germinaccedilatildeo expentacircnea satildeo incorporadas aos roccedilados pelos agricultores 398

pela curiosidade em experimentar novas variedades agraves suas coleccedilotildees 399

Nesse estudo admitimos que optar por etnovariedades raras entre as comunidades 400

estudadas eacute um comportamento adotado por agricultores que manejam uma maior diversidade 401

corroborando com os estudos de Cavechia et al (2014) e Emperaire et al (2016) em regiotildees 402

uacutemidas Para esses autores etnovaridedades de baixa frequecircncia representam um subconjunto 403

das de alta frequecircncia cultivadas por agricultores que manteacutem a maior diversidade em seus 404

roccedilados Sendo assim inferimos que no geral entre as comunidades satildeo os agricultores 405

generalistas aqueles que cultivam maior diversidade os responsaacuteveis por incorporar novas 406

etnovariedades aos roccedilados 407

As decisotildees dos agricultores em manter o acervo direcionado principalmente para 408

atender a demanda de mercado por exemplo podem levar a uma homogeneizaccedilatildeo nas roccedilas 409

colocando em risco a manutenccedilatildeo da diversidade local (Peroni amp Hanazaki 2002) Como 410

discutido por Elias et al (2000) os agricultores que selecionam apenas um nuacutemero reduzido e 411

especiacutefico de variedades mais produtivas tendem a fazer com que as variedades menos 412

frequentes desapareccedilam ao longo do tempo Essa tendecircndia pode influenciar na capacidade de 413

43

resiliecircncia do sistema assim como dos agricultores em lidar com possiacuteveis adversidades 414

ambientais que possam ocorrer 415

Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 416

No geral os agricultores demonstraram uma tendecircncia em classificarseparar suas 417

diferentes etnovariedades de mandioca a partir da combinaccedilatildeo de um conjunto de sete 418

caracteres morfoloacutegicos distintos e de faacutecil percepccedilatildeo os quais natildeo tem relaccedilatildeo com o uso 419

como por exemplo a cores das raiacutezes caule e folhas Logo consideramos que esses caracteres 420

morfoloacutegicos podem ser considerados como uma forma de classificaccedilatildeo pelos agricultores 421

baseada na capacidade percepccedilatildeo das diferenccedilas morfoloacutegicas que cada etnovariedades 422

apresenta (Boster 1985) Estes resultados nos levam a entender que entre os agricultores o 423

conhecimento sobre a diversidade da mandioca estaacute relacionado ao conhecimento de 424

caracteriacutesticas morfoloacutegicas consistentes 425

A existecircncia de alguns fenoacutetipos comuns nos permitiu avaliar a classificaccedilatildeo da 426

consistecircncia da taxonomia popular entre os agricultores Por exemplo as etnovariedades 427

ldquoMaxaceira Rosardquo e ldquoMacaxeira Rosa Brancardquo e ldquoMacaxeira vermelhardquo foram agrupadas no 428

mesmo cluster (C4) por apresentaram fenoacutetipos semelhantes Notamos que os agricultores 429

classificaram essas variedades de acordo com os traccedilos morfoloacutegicos mais relevantes como a 430

cor do coacutertex da raiz rosa e cor branca da polpa O mesmo ocorreu com as etnovariedades 431

ldquoMandioca varudardquo ldquoMandioca campina da granderdquo e ldquoMandioca campinardquo caracterizadas 432

pela presenccedila do peciacuteolo verde agrupadas no cluster (C1) 433

A partir dessas evidecircncias consideramos a hipoacutetese de que as variedades mesmo 434

apresentando caracteriacutesticas morfoloacutegicas muito semelhantes estatildeo sujeitas a variaccedilatildeo 435

nomenclatural durante o processo a incorporaccedilatildeo aos roccedilados pelos agricultores pois a 436

capacidade para distinguir e nomear variedades entre os agricultores da mesma regiatildeo pode 437

variar (Sambatti et al 2001 Elias et al 2001 Mekbib 2007) Consideramos tambeacutem que pode 438

44

existir variaccedilatildeo geneacutetica entre os indiviacuteduos identificados por um mesmo nome ou entatildeo que 439

os agricultores datildeo o mesmo nome para variedades diferentes E esta situaccedilatildeo pode levar a uma 440

superestimaccedilatildeo ou subestimaccedilatildeo da diversidade de mandioca cultiva nas aacutereas de estudo 441

Sabemos que a mandioca eacute propagada vegetativamente pelos agricultores por meio de 442

estacas em sistemas de agricultura tradicional No entanto alguns variedades produzem flores 443

e sementes que germinam e podem originar outras variedades ou outros clones por meio de 444

fecundaccedilatildeo cruzada (Elias et al 2001) Nesse contexto a etnovariedade ldquoMacaxeira Sementerdquo 445

presente no cluster (C7) trata-se de um uacutenico indiviacuteduo amostrado em uma roccedila de um dos 446

agricultores Esta apresentava algumas caracteriacutesticas morfoloacutegicas distintas das demais 447

reconhecidas pelo agricultor como por exemplo a produccedilatildeo de uma raiz uacutenica e 448

consequentemente de baixo rendimento Encontramos apenas um indiviacuteduo dessa 449

etnovariedade e nossa hipoacutetese de que esta poderia ter sido originada da germinaccedilatildeo da 450

semente mesmo quando 100 dos informantes declararam natildeo dar qualquer importacircncia e 451

descartar essas ldquovariedades-voluntaacuteriasrdquo foi confirmada pelo agricultor que afirmou que se 452

tratava de uma variedade nascida da germinaccedilatildeo da semente Esse comportamento vai de 453

encontro ao estudo de Fraser et al (2012) pois apesar dos agricultores reportarem nas 454

entrevistas que conhecem essas ldquovariedades-voluntaacuteriasrdquo nenhum agricultor faz o uso delas 455

Peroni et al (1999) e Agre et al (2016) analisando morfologicamente as variedades 456

locais de mandioca mantidas por agricultores em sistemas agriacutecolas tropicais tambeacutem 457

demonstraram que os agricultores satildeo coerentes quanto a separaccedilatildeo e identificaccedilatildeo de suas 458

etnovariedades a partir da formaccedilatildeo de grupos de coesos quanto a nomenclatura local utilizada 459

No entanto para o melhor entendimento dessa diversidade aleacutem da caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica 460

o uso de anaacutelises complementares como anaacutelise molecular seria importante para tentar 461

identificar se esses grupos representam a mesma variedade com nomes distintos ou se satildeo 462

variedades distintas com o mesmo nome 463

45

Conclusatildeo 464

O estudo demonstrou que no sistema de manejo da mandioca ao niacutevel de roccedila em 465

comunidades localizadas na regiatildeo semiaacuterida de Pernambuco compotildee uma diversidade 466

intrespeciacutefica de mandioca para atender agraves demandas econocircmicas e de subsistecircncia das 467

populaccedilotildees locais 468

Com relaccedilatildeo a anaacutelise de rede demostramos que haacute um nuacutecleo de etnovariedades 469

fortemente conectado aos agricultores e sua composiccedilatildeo eacute direcionada pelas preferecircncias e 470

necessidades individuais dos agricultores que foram os fatores responsaacuteveis pelo surgimento 471

da estrutura aninhada observada na anaacutelise rede entre as comunidades deste estudo E esse 472

padratildeo aninhado observado contribui na conservaccedilatildeo das etnovariedades mais comuns mas 473

tambeacutem pode resultar em perda daquelas de menor frequecircncia ao longo do tempo 474

A caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica ldquoin siturdquo nos permitiram inferir que os agricultores 475

reconhecem as diferentes caracteriacutesticas morfoloacutegicas de suas cultivares e satildeo coerentes na 476

separaccedilatildeo de suas variedades de mandioca e macaxeira Entretanto esses resultados sugerem a 477

realizaccedilatildeo de um estudo em niacutevel de diversidade geneacutetica exploratoacuterio para identificar se as 478

consistecircncias morfoloacutegicas refletem em consistecircncias geneacuteticas elucidando assim as possiacuteveis 479

confusotildees atribuiacutedas aos nomes das etnovariedades de mandioca 480

Agradecimentos 481

Agradecemos ao liacuteder comunitaacuterio Alexandre O Nascimento aos agricultores e 482

agricultoras das comunidades pela acolhida confianccedila e pela gentileza de compartilharem 483

conosco seus conhecimentos e contribuiacuterem com este estudo Especialmente a Arlindo Ferreira 484

Edgar Antocircnio Joseacute Sebastiatildeo Juvenal Oliveira e Janete Alves Ao Laboratoacuterio de Ecologia e 485

Evoluccedilatildeo de Sistemas Socioecoloacutegicos (LEA - UFPE) E agradecemos ao CNPq pelo apoio 486

com a bolsa de estudos do primeiro autor 487

46

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Link de acesso 619

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Qualis-CAPES 621

B1 em Biodiversidade 622

623

624

625

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639

640

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642

52

Figuras 643

644

645

Fig 1 Partes do processo de fabricaccedilatildeo de farinha de mandioca Onde a raspagem b e c 646

processo de trituraccedilatildeo e d peneiramento Foto registrada em Abril de 2017 por Mirela Santos 647

648

649

650

c

d

b

a

53

651

Fig 2 Mapa de localizaccedilatildeo geograacutefica dos Municiacutepios de Altinho e Panelas e das comunidades 652

estudadas na regiatildeo semiaacuterida do Estado de Pernambuco (Elaborado por SANTOS 2018) 653

54

654

655

656

657

Fig 3 Processo de fabricaccedilatildeo da farinha de mandioca Apoacutes a colheita as raiacutezes satildeo lavadas 658

raspadas e trituradas (a) A massa extraiacuteda eacute prensada e coada Ao sair da prensa a massa 659

peneirada (b) e em seguida eacute torrada (c) em fornos artesanais ou parcialmente mecanizados 660

Imagem registrada em janeiro de 2017 na Comunidade do Caratildeo por Mirela Santos 661

662

663

a

b c

55

664

Fig 4 a Sede da Comunidade do Caratildeo b Agricultor transportando a palma forrageira que eacute 665

um exemplo de estrateacutegia adaptativa para suprir a falta de alimento dos animais devido agrave seca 666

c Feira-livre que acontece na comunidade a cada quinze dias Imagem registrada em julho de 667

2016 na Comunidade do Caratildeo por Mirela Santos 668

669

670

Fig 5 a O agricultor nos explicava as mudanccedilas que vem fazendo em seus roccedilados para se 671

adaptar aos longos periacuteodos de seca b Quando o agricultor nos mostrava as diferentes 672

etnovariedades que mantinha em sua roccedila c Durante a pesquisa nos explicavam como era feita 673

a colheita da mandioca e como selecionavam as manivas para o proacuteximo plantio Foto registrada 674

em abril de 2017 na Comunidade do Brejo Velho por Mirela Santos 675

a

b c

c b

a

56 676

677

Fig 6 Possiacuteveis estruturas de rede que descrevem as interaccedilotildees dos agricultores (losango) 678

ligados as etnovariedades (ciacuterculos) que cultivam Onde a Aninhada b Modular c Aleatoacuteria 679

(Fonte Cavechia et al 2014 com adaptaccedilotildees) 680

681

682

683

684

685

686

687

688

689

690

691

692

693

694

695

696

697

a c b

57

698

699

700

701

702

703

704

705

706

707

Fig 7 Correlaccedilatildeo de Spearman entre a diversidade de etnovariedades de mandiocas conhecidas 708

como cultivadas e variedades atualmente cultivadas por agricultor e as variaacuteveis 709

socioeconocircmicas Onde Nvc= nuacutemero de citadas como cultivadas Nve= nuacutemero de variedades 710

atualmente cultivadas Esc= escolaridade Id= idade Gen= gecircnero Tr= tamanho do roccedilado 711

Exp= experiecircncia na agricultura Sld= renda Nr= nuacutemero de roccedilados Cores distintivas 712

representam correlaccedilotildees significativas (Ple005) 713

714

58

715

Fig 8 Modelo individual de rede de etnovariedades de mandioca citadas (esquerda) por 716

agricultores como cultivadas (direita) nos Municiacutepios de Altinho e Panelas As redes foram 717

desenhadas com o pacote bipartite (Dormann et al 2017) usando o software R (R CORE 718

TEAM 2017) 719

720

59

721

Fig 9 Anaacutelise de Correspondecircncia Muacuteltipla das 17 etnovariedades de mandioca considerando 722

os sete descritores morfoloacutegicos utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo em roccedilas de 723

agricultores tradicionais de sete comunidades no semiaacuterido de Pernambuco 724

725

726

727

728

729

730

731

732

733

734

735

736

737

McCambadinha

McCampina

McCampinaDaGrande

McCampinaRasteira

McCampinaVaruda

McGauba

McIsabelDeSouza

McIsabelTresGalhos

McOlhoDePombo

McOlhoVerde

McPretinha

McPretona

MxBranca

MxRosa

MxRosaBrancaMxRosaVermelha

MxSemente

CFD_Verde_Arroxeado

CFD_Verde_ClaroCFD_Verde_Escuro

CBF_Roxo

CBF_Verde_ArroxeadoCBF_Verde_Claro

CBF_Verde_Escuro

CDP_Verde

CDP_Verde_Amarelado

CDP_Verde_Avermelhado

CDP_Vermelho

CEC_Cinza

CEC_Dourado

CEC_Laranja

CEC_Marrom_Claro

CEC_Marrom_Escuro

CEC_Prateado

CEC_Verde_AmareladoCicatriz_M

Cicatriz_P

PDR_Branco

PDR_Creme

CDR_BrancoCDR_Creme CDR_Rosa

-4

-2

0

2

4

-4 -2 0 2 4

Dim1 (206)

Dim

2 (

162

)

MCA - Biplot

00

10

Hierarchical Clustering

inertia gain

McC

am

pin

aV

aru

da

McC

am

pin

aD

aG

rande

McC

am

pin

a

McG

auba

McP

retin

ha

McP

reto

na

MxR

osaV

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elh

a

MxR

osaB

ranca

MxR

osa

McC

am

pin

aR

aste

ira

McC

am

badin

ha

McO

lhoV

erd

e

MxB

ranca

MxS

em

ente

McIsabelT

resG

alh

os

McIsabelD

eS

ouza

McO

lhoD

eP

om

bo

00

05

10

15

Hierarchical Classification

Heig

ht

C1 C2 C3 C4 C5 C6 C7 C8

Fig 10 Agrupamento hieraacuterquico das 17 etnovariedades de mandioca caracterizadas de acordo

com os descritores utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo

60

Tabelas 738

739

Tabela 1 Caracteres e estados utilizados pelos agricultores como descritores botacircnicos para 740

caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das etnovariedades de mandioca 741

Caracter Sigla Estados

Folha

Cor da folha desenvolvida CFD 1- verde claro 2- verde escuro 3- verde arroxeado 4- roxo

Cor do broto foliar CBF 1- verde claro 2- verde escuro 3- verde arroxeado 4- roxo

Cor do peciacuteolo CDP 1- verde amarelado 2- verde 3- verde avermelhado 4- roxo

5- vermelho

Caule

Cor externa do caule CEC 1- laranja 2- verde amarelado 3- dourado 4- marrom claro

5- prateado 6- cinza 7- marrom escuro 8- verde

Protuberacircncia da cicatriz foliar PCF 1- pouco proeminente 2- muito proeminente

Raiacutez

Cor da poupa da raiz PDR 1- branco 2- creme

Cor do coacutertex da raiacutez CDR 1- rosa 2- branco 3- creme

742

743

744

745

746

747

748

749

750

751

61

Tabela 2 Lista das 22 etnovariedades de mandiocas citadas (132 citaccedilotildees) como cultivadas nas 752

comunidades pertencentes aos Municiacutepios de Altinho (Caratildeo n=8) e ao Municiacutepio de Panelas 753

(Aracuatilde Satildeo Joseacute do Bola Brejo Velho Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima e Lajeiro 754

Dantas n=21) 755

Etnovariedade Frequecircncia () Ranking Saliecircncia

Macaxeira Rosa 66 179 0472

Mandioca Isabel de Souza 48 179 0372

Mandioca Campina 24 217 0148

Macaxeira Branca 20 210 0134

Macaxeira Rosa branca 18 122 0168

Mandioca Pretona 16 338 0082

Mandioca Cambadinha 12 283 0071

Mandioca Isabel trecircs galhos 10 180 0075

Mandioca Gauacuteba 10 260 0070

Mandioca Pretinha 8 225 0053

Mandioca Peacute de pombo 4 400 0011

Mandioca Olho verde 4 350 0012

Macaxeira Rosinha 4 200 0027

Mandioca Campina varuda 4 200 0032

Mandioca Campina rasteira 4 300 0021

Mandioca Caboquinha 2 500 0007

Macaxeira Rasteira 2 200 0013

Macaxeira Paraacute 2 100 0020

Mandioca Barra ferro 2 300 0007

Mandioca Campina da grande 2 100 0020

Mandioca Olho de pombo 2 300 0010

Mandioca Jasmim 2 600 0006

756

757

758

62

Tabela 3 Lista de 17 etnovariedades atualmente cultivadas nos roccedilados das comunidades em 759

estudo 760

Ca Ar Bo Br Jb Jc Ld

Etnovariedade

Macaxeira Branca x x x x

Macaxeira Rosa

x x x x x x

Macaxeira Rosa Branca x x x x

Macaxeira Rosa Vermelha

x

Macaxeira Semente

x

Mandioca Cambadinha x

x

Mandioca Campina

x

x

x

Mandioca Campina da Grande x

Mandioca Campina Rasteira

x

Mandioca Campina Varuda

x

Mandioca Gauacuteba

x

Mandioca Isabel de Souza

x x x

Mandioca Isabel trecircs Galhos

x

x

Mandioca Olho de Pombo

x

Mandioca Olho Verde

x

Mandioca Pretinha

x

Mandioca Pretona x x x

Comunidades Ca= Caratildeo Ar=Aracuatilde Bo= Satildeo Joseacute do Bola Jb= Japaranduba de Baixo 761

Jc= Japaranduba de Cima Ld= Lajedo Dantas 762

763

764

765

766

767

768

63

Tabela 4 Descriccedilatildeo das classes do agrupamento por meacutetodo de Ward agrupadas pelo conjunto 769

dos descritores mais significativos para a caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das variedades de mandioca 770

Classes Descritores in situ p-valor

C1 Cor do peciacuteolo (CDP) 0016

C2 Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023

C3 Cor do peciacuteolo (CDP) 0012

C4 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0004

Cor da poupa da raiacutez (PDF) 0021

C5 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0003

C6 Cor do broto foliar (CBF) 0002

C7 Cor da folha desenvolvida (CFD) 0004

Cor externa do caule (CEC) 0040

C8 Cor do peciacuteolo (CDP) 0005

Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023

Valores de Ple005 satildeo significativos 771

772

33

O tempo meacutedio de experiecircncia na agricultura foi de 40 anos Cada agricultor possui entre um e 170

dois roccedilados (aacuterea de plantio) com aproximadamente um a dois hectares 171

Redes de interaccedilatildeo social 172

Confeccionamos a rede que descreve as interaccedilotildees entre os agricultores e as 173

etnovariedades cultivadas a partir de uma matriz de incidecircncia R (presenccedilaausecircncia) onde nas 174

linhas estavam as etnovariedades de mandioca cultivadas (j) e nas colunas os agricultores locais 175

(i) O elemento Rij dessa matriz foi 1 (um) no caso de a etnovariedade j ser cultivada pelo 176

agricultor i caso contraacuterio seria atribuiacutedo 0 (zero) As interaccedilotildees entre os agricultores e as 177

etnovariedades foram descritas em dois modos (Pires et al 2011) onde os ldquonoacutesrdquo da esquerda 178

representam os agricultores que foram vinculados aos ldquonoacutesrdquo da direita representados pelas 179

etnovariedades citadas durante as entrevistas Esses ldquonoacutesrdquo seriam o espelho das decisotildees dos 180

agricultores em manter um determinado conjunto local de etnovariedades em suas roccedilas 181

Avaliamos a estrutura da rede que conecta os agricultores agraves etnovariedades cultivadas 182

a partir de trecircs cenaacuterios hipoteacuteticos (Fig 6) segundo Cachevia et al (2014) No primeiro se os 183

agricultores apresentassem diferentes graus de seletividade para a utilizaccedilatildeo de suas 184

etnovariedades a estrutura seria aninhada (Fig 6a) Isso significa que alguns agricultores 185

cultivam vaacuterias etnovariedades enquanto que outros cultivam o subconjunto mais 186

disponiacutevelcomum dessas etnovariedades Em segundo lugar se a rede apresentasse uma 187

estrutura modular (Fig 6b) significaria que os agricultores apresentam semelhanccedila na seleccedilatildeo 188

do recurso ou seja subgrupos de agricultores cultivam subgrupos distintos de etnovariedades 189

regionalmente disponiacuteveiscomuns E o terceiro se os agricultores natildeo apresentassem 190

preferecircncias quanto a seleccedilatildeo das etnovariedades entatildeo a rede apresentaria uma estrutura 191

aleatoacuteria (Fig 6c) 192

O objetivo da anaacutelise de rede nesse estudo foi tentar entender se o conjunto de 193

etnovariedades presentes no local do estudo constituem uma subamostra de um conjunto mais 194

34

amplo no caso de um alto grau de aninhamento ou se a sua composiccedilatildeo eacute determinada por 195

variaacuteveis locais (Ulrich 2008) Onde as conexotildees entre os informantes e as etnovariedades 196

representam as decisotildees dos agricultores de manter um conjunto determinado de variedades de 197

mandioca dentre as comunidades Esta anaacutelise tambeacutem nos permitiu identificar quais os nuacutecleos 198

de etnovariedades que apresentam maior conexatildeo com os diferentes perfis dos agricultores 199

Diversidade fenotiacutepica 200

Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 201

Apoacutes as entrevistas buscamos identificar quais os caracteres morfoloacutegicos considerados 202

mais importantes para a diferenciaccedilatildeo das etnovariedades de mandioca a partir do seguinte 203

questionamento ldquoQuais as diferenccedilas que vocecirc reconhece para separar uma qualidade de 204

mandioca (variedade) de uma outrardquo Assim os agricultores mencionaram quais os criteacuterios 205

mais importantes utilizados para a caracterizaccedilatildeo de suas etnovariedades 206

Compilamos uma listagem dessas caracteriacutesticas baseada nas indicaccedilotildees dos 207

agricultores e a partir delas selecionamos os caracteres morfoloacutegicos mais citados para a 208

caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica ldquoin siturdquo tais como cor da folha (cor da folha desenvolvida) olho 209

(cor do broto foliar) cor do talo (cor do peciacuteolo) maniva (cor externa do caule) embriatildeo 210

(protuberacircncia da cicatriz foliar) cor da entrecasca (coacutertex da raiz) e cor miolo (polpa da raiz) 211

(Tabela 1) O objetivo dessa caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica foi indicar como estaacute distribuiacuteda a 212

variaccedilatildeo fenotiacutepica das etnovariedades de mandioca nas comunidades na regiatildeo semiaacuterida de 213

Pernambuco bem como identificar que caracteriacutesticas satildeo mais importantes para distinguir 214

esses grupos no intuito de tentar entender como os agricultores classificam suas variedades de 215

mandioca 216

Nas sete comunidades para cada etnovariedade citada no roccedilado caracterizamos ldquoin 217

siturdquo trecircs indiviacuteduos de M esculentade de cada uma totalizando 171 indiviacuteduos (Aracuatilde=11 218

35

Caratildeo=4 Satildeo Joseacute do Bola=13 Brejo Velho=16 Japaranduba de Baixo=6 Japaranduba de 219

Cima=3 e Lajedo Dantas=4) Fotografamos e avaliamos todos os indiviacuteduos com base em parte 220

dos descritores morfoloacutegicos seguindo recomendaccedilotildees de Fukuda amp Guevara (1998) e aleacutem 221

disso georreferenciamos todas as aacutereas de roccedila 222

Anaacutelise dos dados 223

Analisamos os dados socioeconocircmicos das entrevistas semiestruturadas por meio de 224

estatiacutestica descritiva para explicar os aspectos da realidade econocircmica e social dos agricultores 225

Para identificar se a diversidade intraespeciacutefica da mandioca cultivada localmente eacute 226

influenciada por paracircmetros socioeconocircmicos utilizamos o coeficiente de correlaccedilatildeo de 227

Spearman (Ple005) (Sokal amp Rohlf 1995) 228

Com base na lista livre das variedades de mandioca cultivadas pelos agricultores 229

calculamos a frequecircncia de citaccedilatildeo o ranking e o iacutendice de saliecircncia com o objetivo de 230

identificar quais as mais importantes ou preferidas para as comunidades O iacutendice de saliecircncia 231

considerou a frequecircncia de citaccedilatildeo e o ranking referente ao posicionamento das variedades 232

dentro das listas livres (Thompson amp Juan 2006) As etnovariedades mais citadas e com maior 233

valor de saliecircncia representam as de maior importacircncia ou preferecircncia para as comunidades 234

Anaacutelise de rede 235

Medimos o grau de aninhamento (NODF) para investigar a estrutura de rede de 236

interaccedilatildeo social dos agricultores em funccedilatildeo das variedades cultivadas As matrizes altamente 237

aninhadas apresentam NODF tendendo a 1 caso contraacuterio tentem a ser 0 238

Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 239

Para o estudo das semelhanccedilas e diferenccedilas fenotiacutepicas entre as variedades de mandioca 240

ldquoin siturdquo realizamos anaacutelises multivariadas para identificar possiacuteveis grupos de variedades que 241

compartilham semelhanccedilas entre si 242

36

A anaacutelise de correspondecircncia muacuteltipla (MCA) permitiu identificar como as variedades 243

de mandioca estatildeo ordenadas em funccedilatildeo dos seus descritores etnobotacircnicos As etnovariedades 244

foram plotadas ao longo um plano cartesiano bi ou tridimensional onde a variaccedilatildeo total eacute 245

explicada pelos dois primeiros eixos Complementar a esta anaacutelise realizamos a anaacutelise de 246

agrupamento hieraacuterquico (Cluster) para identificar como estatildeo agrupadas as etnovariedades de 247

acordo seus descritores Conferimos a consistecircncia do dendrograma com coeficiente de 248

correlaccedilatildeo cofeneacutetica conforme Sneath amp Sokal (1973) que quantifica se a correlaccedilatildeo entre a 249

matriz de distacircncias originais e a matriz de distacircncias cofeneacuteticas eacute representativa Para 250

mensurar as dissimilaridades entre as variedades de mandioca foi utilizada a distacircncia 251

euclidiana e com o meacutetodo de Ward 252

Softwares utilizados 253

Para a anaacutelise da lista livre usamos o software ANTROPAC versatildeo 10 O software 254

ANINHADO 30 (Guimaratildees amp Guimaratildees 2006) foi usado para medir o grau de aninhamento 255

da rede Utilizamos o software estatiacutestico R (R core team 2017) para a anaacutelise de correlaccedilatildeo 256

de Spearman com o pacote corrplot (Wei amp Simko 2013) o desenho da rede que descreve a 257

interaccedilatildeo entre os agricultores e as etnovariedades com o pacote bipartite (Dormann et al 258

2017) E com os pacotes FactoMineR (LEcirc et al 2008) factoextra (Kassambara et al 2016) e 259

vegan (Oksanen et al 2017) foram realizadas as anaacutelises de cluster de correspondecircncia 260

muacuteltipla (MCA) e de correlaccedilatildeo coefeneacutetica respectivamente 261

Resultados 262

As diferentes etnovariedades de mandioca encontradas no estudo suprem a demanda 263

local por alimento enquanto outras atendem agraves preferecircncias individuais ou do comeacutercio As 264

variedades que possuem maior rendimento e a farinha produzida apresenta coloraccedilatildeo branca 265

satildeo as de maior valor comercial para os agricultores devido agraves preferecircncias do mercado Jaacute 266

37

outras variedades que satildeo mais moles e apresentam coloraccedilatildeo amarelada natildeo satildeo empregadas 267

na produccedilatildeo de farinha mas sim consumidas cozidas ou assadas A depender da demanda local 268

os agricultores intencionalmente aumentam ou diminuem a frequecircncia de suas variedades nos 269

roccedilados seja por alguma exigecircncia do comeacutercio ou para consumo familiar 270

Nas comunidades os agricultores separam suas variedades de mandioca em dois grupos 271

como observado em outras comunidades na mata Atlacircntica por Emperaire e Peroni (2007) o 272

das ldquomacaxeirasrdquo que satildeo as variedades exploradas basicamente para o consumo familiar sem 273

processo preacutevio de desintoxicaccedilatildeo cujas raiacutezes satildeo consumidas fritas eou cozidas Sendo 274

utilizadas tambeacutem como complemento na dieta dos animais E o grupo das ldquomandiocasrdquo que 275

satildeo as variedades que necessitam de processo preacutevio de desintoxicaccedilatildeo para o consumo 276

utilizadas comumente para a produccedilatildeo de farinha de mandioca Para os agricultores as 277

ldquomandiocasrdquo possuem maior valor comercial pois apresentam maior rendimento e 278

rentabilidade pois a farinha produzida eacute branca e atende as preferencias do comercio local 279

Aleacutem da farinha outros produtos e subprodutos produzidos dentre os quais foram citados 280

ldquotapioca ou gomardquo ldquobijurdquo ou ldquobolo de mandiocardquo satildeo utilizados para o consumo proacuteprio ou 281

eventual comercializaccedilatildeo 282

Os informantes natildeo possuiacuteam conhecimento sobre a origem dos nomes das variedades 283

de mandioca Quanto a compreensatildeo da geraccedilatildeo da diversidade intraespeciacutefica identificamos 284

que apesar de 66 dos agricultores citarem que conhecem variedades fruto de germinaccedilatildeo de 285

suas sementes nenhum deles utiliza as manivas para o plantio por essas variedades de 286

mandioca ldquovoluntaacuteriasrdquo natildeo apresentarem bom rendimento 287

Observamos que existe uma baixa correlaccedilatildeo entre a diversidade de variedades 288

atualmente cultivadas e as variaacuteveis socioeconocircmicas como no caso do nuacutemero de roccedilados 289

(r=028 Ple005) e do tamanho do roccedilado (r=033 Ple005) (Fig 7) Essa baixa correlaccedilatildeo pode 290

38

ser explicada pelo fato de existirem grupos de agricultores que preferem manter as variedades 291

de maior valor econocircmico e de subsistecircncia mesmo com aacutereas maiores de cultivo 292

Verificamos tambeacutem uma correlaccedilatildeo positiva moderada entre o nuacutemero de variedades 293

conhecidas com o nuacutemero de variedades atualmente cultivadas (r=054 Ple005) Na lista livre 294

foram identificadas 22 etnovariedades de mandioca cultivadas (132 citaccedilotildees no total) sendo 295

oito dessas mais citadas com maiores valores de saliecircncia (entre 047 e 0082) (Tabela 2) As 296

etnovariedades ldquoMacaxeira Rosardquo e ldquoMandioca Isabel de Souzardquo exibiram os maiores valores 297

de saliecircncia 047 e 037 respectivamente Logo essas variedades satildeo as mais conhecidas 298

dentro das comunidades com 66 e 48 das citaccedilotildees respectivamente 299

Dentre as etnovariedades citadas 12 foram idiossincraacuteticas pois apresentaram menor 300

frequecircncia de citaccedilatildeo e menores valores de saliecircncia (entre 0032 e 0006) (Tabela 2) 301

Redes de interaccedilatildeo social 302

A rede apresentou uma estrutura aninhada com grau de aninhamento significativamente 303

superior aos modelos nulos (N=3072 Plt0001) para as comunidades sendo um nuacutecleo de 304

etnovariedades altamente conectado aos agricultores (Fig 8) A estrutura aninhada nos permite 305

inferir que existe um grupo de agricultores que cultiva uma maior diversidade de etnovariedades 306

de mandioca em suas roccedilas enquanto que outro subgrupo que tem menor diversidade cultivam 307

as mais comuns ou disponiacuteveis (Cavechia et al 2014) Isso significa que os agricultores locais 308

mesmo em diferentes comunidades cultivam um nuacutecleo de etnovariedades comum entre eles 309

(n=6 Tabela 2) 310

Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 311

Observamos que a maioria dos indiviacuteduos de mandioca satildeo caracterizados por meio de 312

um conjunto de sete caracteres morfoloacutegicos os quais foram citados pelos agricultores como 313

mais importantes para a caracterizaccedilatildeo de suas variedades Nas visitas aos roccedilados registramos 314

39

as etnovariedades atualmente cultivadas e a tabela 3 fornece a lista completa com as 17 315

etnovariedades de mandioca e o local de registro 316

Por meio da anaacutelise de correspondecircncia muacuteltipla as variedades de mandioca foram 317

ordenadas em funccedilatildeo de seus descritores ao longo do primeiro e segundo eixo correspondentes 318

a 3680 da variacircncia total (Fig 9) 319

As variaacuteveis mais correlacionadas e que agruparam as variedades de mandioca no 320

primeiro eixo foram cor da folha desenvolvida (CFD) (r= 07239 Ple0001) cor do coacutertex da 321

raiz (CDR) (r= 06473 Ple0001) cor do broto foliar (CBF) (r= 06880 Ple0001) cor do peciacuteolo 322

(CDP) (r= 05250 Ple005) cor externa do caule (CEC) (r= 06883 Ple005) cor da polpa da 323

raiz (PDR) (r= 02473 Ple005) Para o segundo eixo as variaacuteveis correlacionadas foram cor 324

da folha desenvolvida (CFD) (r= 07220 Ple0001) cor externa do caule (CEC) (r= 08718 325

Ple0001) e cor do peciacuteolo (CDP) (r= 06927 Ple005) 326

O agrupamento de todas as variedades caracterizadas ldquoin siturdquo gerou uma aacutervore 327

hieraacuterquica (dendrograma) (Fig 9) utilizando a distacircncia euclidiana seguindo o criteacuterio de 328

Ward O dendrograma gerado apresentou um coeficiente de correlaccedilatildeo cofeneacutetica r= 06780 329

indicando que existe consistecircncia com os dados originais no agrupamento quanto agrave 330

classificaccedilatildeo e estrutura de tal forma que as variedades foram agrupadas em oito classes as 331

quais foram explicadas pelas variaacuteveis mais significativas descritas na tabela 4 332

O resultado do agrupamento (utilizada a distacircncia euclidiana e com o meacutetodo de Ward) 333

observamos que as etnovariedades de mandioca caracterizadas ldquoin siturdquo foram agrupadas em 334

dois grandes agrupamentos indicados na Fig 10 pelos retacircngulos em vermelho A partir dessa 335

anaacutelise percebemos que os caracteres morfoloacutegicos selecionados pelos agricultores natildeo foram 336

suficientes para separar as variedades de macaxeira e mandioca pois em ambos os 337

agrupamentos encontramos tanto macaxeiras quanto mandiocas 338

40

As variedades da classe 1 foram identificadas pelos agricultores pela cor do peciacuteolo 339

(CDP) verde A classe 2 agrupou as etnoveriedades caracterizadas pela protuberacircncia da cicatriz 340

foliar (PCF) mais protuberante Esse descritor segundo os agricultores era identificado como 341

ldquoembriatildeordquo A classe 3 consiste apenas da variedade ldquoMandioca Pretonardquo indicada pela presenccedila 342

de cor do peciacuteolo (CDP) vermelho A classe 4 agrupou trecircs variedades caracterizadas pelos 343

agricultores pela presenccedila de cor coacutertex da raiz (CDR) rosa e cor da polpa da raiacutez (PDR) branca 344

identificadas como ldquoMacaxeira vermelhardquo ldquoMacaxeira Rosa Brancardquo ldquoMacaxeira Rosardquo As 345

variedades agrupadas na classe 5 foras as variedades de mandioca caracterizadas pelos 346

agricultores por apresentarem cor do coacutertex (CDR) da raiacutez branca A classe 6 agrupou 347

variedades identificadas pelos agricultores pela cor do broto foliar (CBF) verde A classe 7 348

consiste apenas da variedade ldquoMacaxeira Sementerdquo identificada pelos agricultores pela cor do 349

peciacuteolo (CDP) roxo e protuberacircncia da cicatriz foliar pouco proeminente Essa variedade 350

segundo os agricultores era fruto do nascimento espontacircneo no roccedilado poreacutem eles geralmente 351

natildeo utilizam essas variedades por apresentarem apenas uma raiz pequena e de baixo 352

rendimento Na classe 8 as variedades foram identificadas pelos agricultores pela cor do peciacuteolo 353

(CDP) verde amarelado e protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) pouco proeminente As 354

ldquoMandioca Isabel de Souzardquo ldquoMandioca Isabel trecircs galhosrdquo segundo os agricultores se 355

diferenciavam pelo maior nuacutemero de caules presentes na variedade ldquoIsabel trecircs galhosrdquo 356

Discussatildeo 357

As sete comunidades estudadas manejavam um nuacutemero consideraacutevel de variedades 358

locais A quantidade de etnovariedades registradas eacute proacutexima a encontrada por Bender et al 359

(2009) e Cavechia et al (2014) em comunidades na regiatildeo sul e sudeste por Oler e Amorozo 360

(2017) em uma comunidade tradicional na regiatildeo centro-oeste Poreacutem foi quantitativamente 361

inferior quando comparada a estudos como os de Elias et al (2001) e Kawa et al (2013) em 362

comunidades na regiatildeo amazocircnica pois possuiacuteam uma alta diversidade Essa alta diversidade 363

41

na regiatildeo amazocircnica pode estar relacionada com o fato de que essa regiatildeo eacute o provaacutevel centro 364

de origem da mandioca (M esculenta) (Allem 1994) 365

As etnovariedades registradas neste estudo estatildeo disponiacuteveis para a maioria dos 366

agricultores dessa regiatildeo e esse fator favorece a circulaccedilatildeo das etnovariedades entre as 367

comunidades locais Por isso haacute semelhanccedilas das etnovariedades utilizadas entre os agricultores 368

da mesma comunidade e entre comunidades vizinhas 369

Parte dos agricultores optam por manter uma alta frequecircncia de variedades mais 370

utilizadas enquanto que outros optam por manter etnovariedades de baixa frequecircncia 371

Conforme discutido por Amorozo (2013) os agricultores escolhem seu acervo de acordo com 372

as necessidades e contexto em que vivem A reduccedilatildeo da diversidade de etnoveriedades por 373

exemplo pode ser impulsionada por fatores que simplificam o sistema como a seleccedilatildeo de 374

etnovariedades para a produccedilatildeo de farinha resultando no cultivo de poucas ou ateacute de uma uacutenica 375

etnovariedade (Peroni amp Hanazaki 2002) mesmo em aacutereas maiores 376

377

Redes de interaccedilatildeo social 378

Com as anaacutelises de rede demonstramos que os agricultores de diferentes comunidades 379

em uma mesma regiatildeo efetivamente trocam variedades de mandioca entre si corroborando 380

com estudos realizados por Emperaire amp Eloy (2008) Pautasso et al (2012) e Cavechia et al 381

(2014) Nesses estudos os autores tambeacutem consideram que as trocas de etnovariedades por 382

meio da rede de intercacircmbio entre os agricultores eacute um mecanismo fundamental para a 383

manutenccedilatildeo da diversidade local 384

A visualizaccedilatildeo da rede demonstrou que entre as comunidades os agricultores 385

compartilham um nuacutecleo de etnovariedades mais utilizadas dentre as quais estatildeo as de maior 386

valor econocircmico e de subsistecircncia Essas de maior frequecircncia satildeo aquelas altamente produtivas 387

utilizadas pelos agricultores para atenderem agraves demandas de mercado por farinha e para o 388

consumo proacuteprio (Kawa et al 2013) 389

42

No entanto observamos que existe outro nuacutecleo de etnovariedades menos frequentes 390

Essas etnovariedades raras podem ser resultantes do processo de experimentaccedilatildeo ou 391

preferecircncias individuais dos agricultores Outra possiacutevel razatildeo para a baixa frequecircncia de 392

algumas etnovariedades poderia ser explicada pela variaccedilatildeo da nomenclatura pelos 393

agricultores que segundo Peroni amp Hanazaki (2002) pode ocorrer durante o processo de troca 394

e introduccedilatildeo de novas variedades aos roccedilados Ainda assim natildeo descartamos a hipoacutetese de que 395

essas etnovariedades raras possam ser provenientes do cruzamento entre variedades diferentes 396

cultivadas da mesma roccedilado ou em roccedilas vizinhas De acordo com Martins (2005) essas 397

variedades fruto de germinaccedilatildeo expentacircnea satildeo incorporadas aos roccedilados pelos agricultores 398

pela curiosidade em experimentar novas variedades agraves suas coleccedilotildees 399

Nesse estudo admitimos que optar por etnovariedades raras entre as comunidades 400

estudadas eacute um comportamento adotado por agricultores que manejam uma maior diversidade 401

corroborando com os estudos de Cavechia et al (2014) e Emperaire et al (2016) em regiotildees 402

uacutemidas Para esses autores etnovaridedades de baixa frequecircncia representam um subconjunto 403

das de alta frequecircncia cultivadas por agricultores que manteacutem a maior diversidade em seus 404

roccedilados Sendo assim inferimos que no geral entre as comunidades satildeo os agricultores 405

generalistas aqueles que cultivam maior diversidade os responsaacuteveis por incorporar novas 406

etnovariedades aos roccedilados 407

As decisotildees dos agricultores em manter o acervo direcionado principalmente para 408

atender a demanda de mercado por exemplo podem levar a uma homogeneizaccedilatildeo nas roccedilas 409

colocando em risco a manutenccedilatildeo da diversidade local (Peroni amp Hanazaki 2002) Como 410

discutido por Elias et al (2000) os agricultores que selecionam apenas um nuacutemero reduzido e 411

especiacutefico de variedades mais produtivas tendem a fazer com que as variedades menos 412

frequentes desapareccedilam ao longo do tempo Essa tendecircndia pode influenciar na capacidade de 413

43

resiliecircncia do sistema assim como dos agricultores em lidar com possiacuteveis adversidades 414

ambientais que possam ocorrer 415

Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 416

No geral os agricultores demonstraram uma tendecircncia em classificarseparar suas 417

diferentes etnovariedades de mandioca a partir da combinaccedilatildeo de um conjunto de sete 418

caracteres morfoloacutegicos distintos e de faacutecil percepccedilatildeo os quais natildeo tem relaccedilatildeo com o uso 419

como por exemplo a cores das raiacutezes caule e folhas Logo consideramos que esses caracteres 420

morfoloacutegicos podem ser considerados como uma forma de classificaccedilatildeo pelos agricultores 421

baseada na capacidade percepccedilatildeo das diferenccedilas morfoloacutegicas que cada etnovariedades 422

apresenta (Boster 1985) Estes resultados nos levam a entender que entre os agricultores o 423

conhecimento sobre a diversidade da mandioca estaacute relacionado ao conhecimento de 424

caracteriacutesticas morfoloacutegicas consistentes 425

A existecircncia de alguns fenoacutetipos comuns nos permitiu avaliar a classificaccedilatildeo da 426

consistecircncia da taxonomia popular entre os agricultores Por exemplo as etnovariedades 427

ldquoMaxaceira Rosardquo e ldquoMacaxeira Rosa Brancardquo e ldquoMacaxeira vermelhardquo foram agrupadas no 428

mesmo cluster (C4) por apresentaram fenoacutetipos semelhantes Notamos que os agricultores 429

classificaram essas variedades de acordo com os traccedilos morfoloacutegicos mais relevantes como a 430

cor do coacutertex da raiz rosa e cor branca da polpa O mesmo ocorreu com as etnovariedades 431

ldquoMandioca varudardquo ldquoMandioca campina da granderdquo e ldquoMandioca campinardquo caracterizadas 432

pela presenccedila do peciacuteolo verde agrupadas no cluster (C1) 433

A partir dessas evidecircncias consideramos a hipoacutetese de que as variedades mesmo 434

apresentando caracteriacutesticas morfoloacutegicas muito semelhantes estatildeo sujeitas a variaccedilatildeo 435

nomenclatural durante o processo a incorporaccedilatildeo aos roccedilados pelos agricultores pois a 436

capacidade para distinguir e nomear variedades entre os agricultores da mesma regiatildeo pode 437

variar (Sambatti et al 2001 Elias et al 2001 Mekbib 2007) Consideramos tambeacutem que pode 438

44

existir variaccedilatildeo geneacutetica entre os indiviacuteduos identificados por um mesmo nome ou entatildeo que 439

os agricultores datildeo o mesmo nome para variedades diferentes E esta situaccedilatildeo pode levar a uma 440

superestimaccedilatildeo ou subestimaccedilatildeo da diversidade de mandioca cultiva nas aacutereas de estudo 441

Sabemos que a mandioca eacute propagada vegetativamente pelos agricultores por meio de 442

estacas em sistemas de agricultura tradicional No entanto alguns variedades produzem flores 443

e sementes que germinam e podem originar outras variedades ou outros clones por meio de 444

fecundaccedilatildeo cruzada (Elias et al 2001) Nesse contexto a etnovariedade ldquoMacaxeira Sementerdquo 445

presente no cluster (C7) trata-se de um uacutenico indiviacuteduo amostrado em uma roccedila de um dos 446

agricultores Esta apresentava algumas caracteriacutesticas morfoloacutegicas distintas das demais 447

reconhecidas pelo agricultor como por exemplo a produccedilatildeo de uma raiz uacutenica e 448

consequentemente de baixo rendimento Encontramos apenas um indiviacuteduo dessa 449

etnovariedade e nossa hipoacutetese de que esta poderia ter sido originada da germinaccedilatildeo da 450

semente mesmo quando 100 dos informantes declararam natildeo dar qualquer importacircncia e 451

descartar essas ldquovariedades-voluntaacuteriasrdquo foi confirmada pelo agricultor que afirmou que se 452

tratava de uma variedade nascida da germinaccedilatildeo da semente Esse comportamento vai de 453

encontro ao estudo de Fraser et al (2012) pois apesar dos agricultores reportarem nas 454

entrevistas que conhecem essas ldquovariedades-voluntaacuteriasrdquo nenhum agricultor faz o uso delas 455

Peroni et al (1999) e Agre et al (2016) analisando morfologicamente as variedades 456

locais de mandioca mantidas por agricultores em sistemas agriacutecolas tropicais tambeacutem 457

demonstraram que os agricultores satildeo coerentes quanto a separaccedilatildeo e identificaccedilatildeo de suas 458

etnovariedades a partir da formaccedilatildeo de grupos de coesos quanto a nomenclatura local utilizada 459

No entanto para o melhor entendimento dessa diversidade aleacutem da caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica 460

o uso de anaacutelises complementares como anaacutelise molecular seria importante para tentar 461

identificar se esses grupos representam a mesma variedade com nomes distintos ou se satildeo 462

variedades distintas com o mesmo nome 463

45

Conclusatildeo 464

O estudo demonstrou que no sistema de manejo da mandioca ao niacutevel de roccedila em 465

comunidades localizadas na regiatildeo semiaacuterida de Pernambuco compotildee uma diversidade 466

intrespeciacutefica de mandioca para atender agraves demandas econocircmicas e de subsistecircncia das 467

populaccedilotildees locais 468

Com relaccedilatildeo a anaacutelise de rede demostramos que haacute um nuacutecleo de etnovariedades 469

fortemente conectado aos agricultores e sua composiccedilatildeo eacute direcionada pelas preferecircncias e 470

necessidades individuais dos agricultores que foram os fatores responsaacuteveis pelo surgimento 471

da estrutura aninhada observada na anaacutelise rede entre as comunidades deste estudo E esse 472

padratildeo aninhado observado contribui na conservaccedilatildeo das etnovariedades mais comuns mas 473

tambeacutem pode resultar em perda daquelas de menor frequecircncia ao longo do tempo 474

A caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica ldquoin siturdquo nos permitiram inferir que os agricultores 475

reconhecem as diferentes caracteriacutesticas morfoloacutegicas de suas cultivares e satildeo coerentes na 476

separaccedilatildeo de suas variedades de mandioca e macaxeira Entretanto esses resultados sugerem a 477

realizaccedilatildeo de um estudo em niacutevel de diversidade geneacutetica exploratoacuterio para identificar se as 478

consistecircncias morfoloacutegicas refletem em consistecircncias geneacuteticas elucidando assim as possiacuteveis 479

confusotildees atribuiacutedas aos nomes das etnovariedades de mandioca 480

Agradecimentos 481

Agradecemos ao liacuteder comunitaacuterio Alexandre O Nascimento aos agricultores e 482

agricultoras das comunidades pela acolhida confianccedila e pela gentileza de compartilharem 483

conosco seus conhecimentos e contribuiacuterem com este estudo Especialmente a Arlindo Ferreira 484

Edgar Antocircnio Joseacute Sebastiatildeo Juvenal Oliveira e Janete Alves Ao Laboratoacuterio de Ecologia e 485

Evoluccedilatildeo de Sistemas Socioecoloacutegicos (LEA - UFPE) E agradecemos ao CNPq pelo apoio 486

com a bolsa de estudos do primeiro autor 487

46

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Human Ecology 618

Link de acesso 619

httpsgooglDVLbFj 620

Qualis-CAPES 621

B1 em Biodiversidade 622

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52

Figuras 643

644

645

Fig 1 Partes do processo de fabricaccedilatildeo de farinha de mandioca Onde a raspagem b e c 646

processo de trituraccedilatildeo e d peneiramento Foto registrada em Abril de 2017 por Mirela Santos 647

648

649

650

c

d

b

a

53

651

Fig 2 Mapa de localizaccedilatildeo geograacutefica dos Municiacutepios de Altinho e Panelas e das comunidades 652

estudadas na regiatildeo semiaacuterida do Estado de Pernambuco (Elaborado por SANTOS 2018) 653

54

654

655

656

657

Fig 3 Processo de fabricaccedilatildeo da farinha de mandioca Apoacutes a colheita as raiacutezes satildeo lavadas 658

raspadas e trituradas (a) A massa extraiacuteda eacute prensada e coada Ao sair da prensa a massa 659

peneirada (b) e em seguida eacute torrada (c) em fornos artesanais ou parcialmente mecanizados 660

Imagem registrada em janeiro de 2017 na Comunidade do Caratildeo por Mirela Santos 661

662

663

a

b c

55

664

Fig 4 a Sede da Comunidade do Caratildeo b Agricultor transportando a palma forrageira que eacute 665

um exemplo de estrateacutegia adaptativa para suprir a falta de alimento dos animais devido agrave seca 666

c Feira-livre que acontece na comunidade a cada quinze dias Imagem registrada em julho de 667

2016 na Comunidade do Caratildeo por Mirela Santos 668

669

670

Fig 5 a O agricultor nos explicava as mudanccedilas que vem fazendo em seus roccedilados para se 671

adaptar aos longos periacuteodos de seca b Quando o agricultor nos mostrava as diferentes 672

etnovariedades que mantinha em sua roccedila c Durante a pesquisa nos explicavam como era feita 673

a colheita da mandioca e como selecionavam as manivas para o proacuteximo plantio Foto registrada 674

em abril de 2017 na Comunidade do Brejo Velho por Mirela Santos 675

a

b c

c b

a

56 676

677

Fig 6 Possiacuteveis estruturas de rede que descrevem as interaccedilotildees dos agricultores (losango) 678

ligados as etnovariedades (ciacuterculos) que cultivam Onde a Aninhada b Modular c Aleatoacuteria 679

(Fonte Cavechia et al 2014 com adaptaccedilotildees) 680

681

682

683

684

685

686

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688

689

690

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692

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696

697

a c b

57

698

699

700

701

702

703

704

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706

707

Fig 7 Correlaccedilatildeo de Spearman entre a diversidade de etnovariedades de mandiocas conhecidas 708

como cultivadas e variedades atualmente cultivadas por agricultor e as variaacuteveis 709

socioeconocircmicas Onde Nvc= nuacutemero de citadas como cultivadas Nve= nuacutemero de variedades 710

atualmente cultivadas Esc= escolaridade Id= idade Gen= gecircnero Tr= tamanho do roccedilado 711

Exp= experiecircncia na agricultura Sld= renda Nr= nuacutemero de roccedilados Cores distintivas 712

representam correlaccedilotildees significativas (Ple005) 713

714

58

715

Fig 8 Modelo individual de rede de etnovariedades de mandioca citadas (esquerda) por 716

agricultores como cultivadas (direita) nos Municiacutepios de Altinho e Panelas As redes foram 717

desenhadas com o pacote bipartite (Dormann et al 2017) usando o software R (R CORE 718

TEAM 2017) 719

720

59

721

Fig 9 Anaacutelise de Correspondecircncia Muacuteltipla das 17 etnovariedades de mandioca considerando 722

os sete descritores morfoloacutegicos utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo em roccedilas de 723

agricultores tradicionais de sete comunidades no semiaacuterido de Pernambuco 724

725

726

727

728

729

730

731

732

733

734

735

736

737

McCambadinha

McCampina

McCampinaDaGrande

McCampinaRasteira

McCampinaVaruda

McGauba

McIsabelDeSouza

McIsabelTresGalhos

McOlhoDePombo

McOlhoVerde

McPretinha

McPretona

MxBranca

MxRosa

MxRosaBrancaMxRosaVermelha

MxSemente

CFD_Verde_Arroxeado

CFD_Verde_ClaroCFD_Verde_Escuro

CBF_Roxo

CBF_Verde_ArroxeadoCBF_Verde_Claro

CBF_Verde_Escuro

CDP_Verde

CDP_Verde_Amarelado

CDP_Verde_Avermelhado

CDP_Vermelho

CEC_Cinza

CEC_Dourado

CEC_Laranja

CEC_Marrom_Claro

CEC_Marrom_Escuro

CEC_Prateado

CEC_Verde_AmareladoCicatriz_M

Cicatriz_P

PDR_Branco

PDR_Creme

CDR_BrancoCDR_Creme CDR_Rosa

-4

-2

0

2

4

-4 -2 0 2 4

Dim1 (206)

Dim

2 (

162

)

MCA - Biplot

00

10

Hierarchical Clustering

inertia gain

McC

am

pin

aV

aru

da

McC

am

pin

aD

aG

rande

McC

am

pin

a

McG

auba

McP

retin

ha

McP

reto

na

MxR

osaV

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elh

a

MxR

osaB

ranca

MxR

osa

McC

am

pin

aR

aste

ira

McC

am

badin

ha

McO

lhoV

erd

e

MxB

ranca

MxS

em

ente

McIsabelT

resG

alh

os

McIsabelD

eS

ouza

McO

lhoD

eP

om

bo

00

05

10

15

Hierarchical Classification

Heig

ht

C1 C2 C3 C4 C5 C6 C7 C8

Fig 10 Agrupamento hieraacuterquico das 17 etnovariedades de mandioca caracterizadas de acordo

com os descritores utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo

60

Tabelas 738

739

Tabela 1 Caracteres e estados utilizados pelos agricultores como descritores botacircnicos para 740

caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das etnovariedades de mandioca 741

Caracter Sigla Estados

Folha

Cor da folha desenvolvida CFD 1- verde claro 2- verde escuro 3- verde arroxeado 4- roxo

Cor do broto foliar CBF 1- verde claro 2- verde escuro 3- verde arroxeado 4- roxo

Cor do peciacuteolo CDP 1- verde amarelado 2- verde 3- verde avermelhado 4- roxo

5- vermelho

Caule

Cor externa do caule CEC 1- laranja 2- verde amarelado 3- dourado 4- marrom claro

5- prateado 6- cinza 7- marrom escuro 8- verde

Protuberacircncia da cicatriz foliar PCF 1- pouco proeminente 2- muito proeminente

Raiacutez

Cor da poupa da raiz PDR 1- branco 2- creme

Cor do coacutertex da raiacutez CDR 1- rosa 2- branco 3- creme

742

743

744

745

746

747

748

749

750

751

61

Tabela 2 Lista das 22 etnovariedades de mandiocas citadas (132 citaccedilotildees) como cultivadas nas 752

comunidades pertencentes aos Municiacutepios de Altinho (Caratildeo n=8) e ao Municiacutepio de Panelas 753

(Aracuatilde Satildeo Joseacute do Bola Brejo Velho Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima e Lajeiro 754

Dantas n=21) 755

Etnovariedade Frequecircncia () Ranking Saliecircncia

Macaxeira Rosa 66 179 0472

Mandioca Isabel de Souza 48 179 0372

Mandioca Campina 24 217 0148

Macaxeira Branca 20 210 0134

Macaxeira Rosa branca 18 122 0168

Mandioca Pretona 16 338 0082

Mandioca Cambadinha 12 283 0071

Mandioca Isabel trecircs galhos 10 180 0075

Mandioca Gauacuteba 10 260 0070

Mandioca Pretinha 8 225 0053

Mandioca Peacute de pombo 4 400 0011

Mandioca Olho verde 4 350 0012

Macaxeira Rosinha 4 200 0027

Mandioca Campina varuda 4 200 0032

Mandioca Campina rasteira 4 300 0021

Mandioca Caboquinha 2 500 0007

Macaxeira Rasteira 2 200 0013

Macaxeira Paraacute 2 100 0020

Mandioca Barra ferro 2 300 0007

Mandioca Campina da grande 2 100 0020

Mandioca Olho de pombo 2 300 0010

Mandioca Jasmim 2 600 0006

756

757

758

62

Tabela 3 Lista de 17 etnovariedades atualmente cultivadas nos roccedilados das comunidades em 759

estudo 760

Ca Ar Bo Br Jb Jc Ld

Etnovariedade

Macaxeira Branca x x x x

Macaxeira Rosa

x x x x x x

Macaxeira Rosa Branca x x x x

Macaxeira Rosa Vermelha

x

Macaxeira Semente

x

Mandioca Cambadinha x

x

Mandioca Campina

x

x

x

Mandioca Campina da Grande x

Mandioca Campina Rasteira

x

Mandioca Campina Varuda

x

Mandioca Gauacuteba

x

Mandioca Isabel de Souza

x x x

Mandioca Isabel trecircs Galhos

x

x

Mandioca Olho de Pombo

x

Mandioca Olho Verde

x

Mandioca Pretinha

x

Mandioca Pretona x x x

Comunidades Ca= Caratildeo Ar=Aracuatilde Bo= Satildeo Joseacute do Bola Jb= Japaranduba de Baixo 761

Jc= Japaranduba de Cima Ld= Lajedo Dantas 762

763

764

765

766

767

768

63

Tabela 4 Descriccedilatildeo das classes do agrupamento por meacutetodo de Ward agrupadas pelo conjunto 769

dos descritores mais significativos para a caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das variedades de mandioca 770

Classes Descritores in situ p-valor

C1 Cor do peciacuteolo (CDP) 0016

C2 Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023

C3 Cor do peciacuteolo (CDP) 0012

C4 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0004

Cor da poupa da raiacutez (PDF) 0021

C5 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0003

C6 Cor do broto foliar (CBF) 0002

C7 Cor da folha desenvolvida (CFD) 0004

Cor externa do caule (CEC) 0040

C8 Cor do peciacuteolo (CDP) 0005

Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023

Valores de Ple005 satildeo significativos 771

772

34

amplo no caso de um alto grau de aninhamento ou se a sua composiccedilatildeo eacute determinada por 195

variaacuteveis locais (Ulrich 2008) Onde as conexotildees entre os informantes e as etnovariedades 196

representam as decisotildees dos agricultores de manter um conjunto determinado de variedades de 197

mandioca dentre as comunidades Esta anaacutelise tambeacutem nos permitiu identificar quais os nuacutecleos 198

de etnovariedades que apresentam maior conexatildeo com os diferentes perfis dos agricultores 199

Diversidade fenotiacutepica 200

Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 201

Apoacutes as entrevistas buscamos identificar quais os caracteres morfoloacutegicos considerados 202

mais importantes para a diferenciaccedilatildeo das etnovariedades de mandioca a partir do seguinte 203

questionamento ldquoQuais as diferenccedilas que vocecirc reconhece para separar uma qualidade de 204

mandioca (variedade) de uma outrardquo Assim os agricultores mencionaram quais os criteacuterios 205

mais importantes utilizados para a caracterizaccedilatildeo de suas etnovariedades 206

Compilamos uma listagem dessas caracteriacutesticas baseada nas indicaccedilotildees dos 207

agricultores e a partir delas selecionamos os caracteres morfoloacutegicos mais citados para a 208

caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica ldquoin siturdquo tais como cor da folha (cor da folha desenvolvida) olho 209

(cor do broto foliar) cor do talo (cor do peciacuteolo) maniva (cor externa do caule) embriatildeo 210

(protuberacircncia da cicatriz foliar) cor da entrecasca (coacutertex da raiz) e cor miolo (polpa da raiz) 211

(Tabela 1) O objetivo dessa caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica foi indicar como estaacute distribuiacuteda a 212

variaccedilatildeo fenotiacutepica das etnovariedades de mandioca nas comunidades na regiatildeo semiaacuterida de 213

Pernambuco bem como identificar que caracteriacutesticas satildeo mais importantes para distinguir 214

esses grupos no intuito de tentar entender como os agricultores classificam suas variedades de 215

mandioca 216

Nas sete comunidades para cada etnovariedade citada no roccedilado caracterizamos ldquoin 217

siturdquo trecircs indiviacuteduos de M esculentade de cada uma totalizando 171 indiviacuteduos (Aracuatilde=11 218

35

Caratildeo=4 Satildeo Joseacute do Bola=13 Brejo Velho=16 Japaranduba de Baixo=6 Japaranduba de 219

Cima=3 e Lajedo Dantas=4) Fotografamos e avaliamos todos os indiviacuteduos com base em parte 220

dos descritores morfoloacutegicos seguindo recomendaccedilotildees de Fukuda amp Guevara (1998) e aleacutem 221

disso georreferenciamos todas as aacutereas de roccedila 222

Anaacutelise dos dados 223

Analisamos os dados socioeconocircmicos das entrevistas semiestruturadas por meio de 224

estatiacutestica descritiva para explicar os aspectos da realidade econocircmica e social dos agricultores 225

Para identificar se a diversidade intraespeciacutefica da mandioca cultivada localmente eacute 226

influenciada por paracircmetros socioeconocircmicos utilizamos o coeficiente de correlaccedilatildeo de 227

Spearman (Ple005) (Sokal amp Rohlf 1995) 228

Com base na lista livre das variedades de mandioca cultivadas pelos agricultores 229

calculamos a frequecircncia de citaccedilatildeo o ranking e o iacutendice de saliecircncia com o objetivo de 230

identificar quais as mais importantes ou preferidas para as comunidades O iacutendice de saliecircncia 231

considerou a frequecircncia de citaccedilatildeo e o ranking referente ao posicionamento das variedades 232

dentro das listas livres (Thompson amp Juan 2006) As etnovariedades mais citadas e com maior 233

valor de saliecircncia representam as de maior importacircncia ou preferecircncia para as comunidades 234

Anaacutelise de rede 235

Medimos o grau de aninhamento (NODF) para investigar a estrutura de rede de 236

interaccedilatildeo social dos agricultores em funccedilatildeo das variedades cultivadas As matrizes altamente 237

aninhadas apresentam NODF tendendo a 1 caso contraacuterio tentem a ser 0 238

Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 239

Para o estudo das semelhanccedilas e diferenccedilas fenotiacutepicas entre as variedades de mandioca 240

ldquoin siturdquo realizamos anaacutelises multivariadas para identificar possiacuteveis grupos de variedades que 241

compartilham semelhanccedilas entre si 242

36

A anaacutelise de correspondecircncia muacuteltipla (MCA) permitiu identificar como as variedades 243

de mandioca estatildeo ordenadas em funccedilatildeo dos seus descritores etnobotacircnicos As etnovariedades 244

foram plotadas ao longo um plano cartesiano bi ou tridimensional onde a variaccedilatildeo total eacute 245

explicada pelos dois primeiros eixos Complementar a esta anaacutelise realizamos a anaacutelise de 246

agrupamento hieraacuterquico (Cluster) para identificar como estatildeo agrupadas as etnovariedades de 247

acordo seus descritores Conferimos a consistecircncia do dendrograma com coeficiente de 248

correlaccedilatildeo cofeneacutetica conforme Sneath amp Sokal (1973) que quantifica se a correlaccedilatildeo entre a 249

matriz de distacircncias originais e a matriz de distacircncias cofeneacuteticas eacute representativa Para 250

mensurar as dissimilaridades entre as variedades de mandioca foi utilizada a distacircncia 251

euclidiana e com o meacutetodo de Ward 252

Softwares utilizados 253

Para a anaacutelise da lista livre usamos o software ANTROPAC versatildeo 10 O software 254

ANINHADO 30 (Guimaratildees amp Guimaratildees 2006) foi usado para medir o grau de aninhamento 255

da rede Utilizamos o software estatiacutestico R (R core team 2017) para a anaacutelise de correlaccedilatildeo 256

de Spearman com o pacote corrplot (Wei amp Simko 2013) o desenho da rede que descreve a 257

interaccedilatildeo entre os agricultores e as etnovariedades com o pacote bipartite (Dormann et al 258

2017) E com os pacotes FactoMineR (LEcirc et al 2008) factoextra (Kassambara et al 2016) e 259

vegan (Oksanen et al 2017) foram realizadas as anaacutelises de cluster de correspondecircncia 260

muacuteltipla (MCA) e de correlaccedilatildeo coefeneacutetica respectivamente 261

Resultados 262

As diferentes etnovariedades de mandioca encontradas no estudo suprem a demanda 263

local por alimento enquanto outras atendem agraves preferecircncias individuais ou do comeacutercio As 264

variedades que possuem maior rendimento e a farinha produzida apresenta coloraccedilatildeo branca 265

satildeo as de maior valor comercial para os agricultores devido agraves preferecircncias do mercado Jaacute 266

37

outras variedades que satildeo mais moles e apresentam coloraccedilatildeo amarelada natildeo satildeo empregadas 267

na produccedilatildeo de farinha mas sim consumidas cozidas ou assadas A depender da demanda local 268

os agricultores intencionalmente aumentam ou diminuem a frequecircncia de suas variedades nos 269

roccedilados seja por alguma exigecircncia do comeacutercio ou para consumo familiar 270

Nas comunidades os agricultores separam suas variedades de mandioca em dois grupos 271

como observado em outras comunidades na mata Atlacircntica por Emperaire e Peroni (2007) o 272

das ldquomacaxeirasrdquo que satildeo as variedades exploradas basicamente para o consumo familiar sem 273

processo preacutevio de desintoxicaccedilatildeo cujas raiacutezes satildeo consumidas fritas eou cozidas Sendo 274

utilizadas tambeacutem como complemento na dieta dos animais E o grupo das ldquomandiocasrdquo que 275

satildeo as variedades que necessitam de processo preacutevio de desintoxicaccedilatildeo para o consumo 276

utilizadas comumente para a produccedilatildeo de farinha de mandioca Para os agricultores as 277

ldquomandiocasrdquo possuem maior valor comercial pois apresentam maior rendimento e 278

rentabilidade pois a farinha produzida eacute branca e atende as preferencias do comercio local 279

Aleacutem da farinha outros produtos e subprodutos produzidos dentre os quais foram citados 280

ldquotapioca ou gomardquo ldquobijurdquo ou ldquobolo de mandiocardquo satildeo utilizados para o consumo proacuteprio ou 281

eventual comercializaccedilatildeo 282

Os informantes natildeo possuiacuteam conhecimento sobre a origem dos nomes das variedades 283

de mandioca Quanto a compreensatildeo da geraccedilatildeo da diversidade intraespeciacutefica identificamos 284

que apesar de 66 dos agricultores citarem que conhecem variedades fruto de germinaccedilatildeo de 285

suas sementes nenhum deles utiliza as manivas para o plantio por essas variedades de 286

mandioca ldquovoluntaacuteriasrdquo natildeo apresentarem bom rendimento 287

Observamos que existe uma baixa correlaccedilatildeo entre a diversidade de variedades 288

atualmente cultivadas e as variaacuteveis socioeconocircmicas como no caso do nuacutemero de roccedilados 289

(r=028 Ple005) e do tamanho do roccedilado (r=033 Ple005) (Fig 7) Essa baixa correlaccedilatildeo pode 290

38

ser explicada pelo fato de existirem grupos de agricultores que preferem manter as variedades 291

de maior valor econocircmico e de subsistecircncia mesmo com aacutereas maiores de cultivo 292

Verificamos tambeacutem uma correlaccedilatildeo positiva moderada entre o nuacutemero de variedades 293

conhecidas com o nuacutemero de variedades atualmente cultivadas (r=054 Ple005) Na lista livre 294

foram identificadas 22 etnovariedades de mandioca cultivadas (132 citaccedilotildees no total) sendo 295

oito dessas mais citadas com maiores valores de saliecircncia (entre 047 e 0082) (Tabela 2) As 296

etnovariedades ldquoMacaxeira Rosardquo e ldquoMandioca Isabel de Souzardquo exibiram os maiores valores 297

de saliecircncia 047 e 037 respectivamente Logo essas variedades satildeo as mais conhecidas 298

dentro das comunidades com 66 e 48 das citaccedilotildees respectivamente 299

Dentre as etnovariedades citadas 12 foram idiossincraacuteticas pois apresentaram menor 300

frequecircncia de citaccedilatildeo e menores valores de saliecircncia (entre 0032 e 0006) (Tabela 2) 301

Redes de interaccedilatildeo social 302

A rede apresentou uma estrutura aninhada com grau de aninhamento significativamente 303

superior aos modelos nulos (N=3072 Plt0001) para as comunidades sendo um nuacutecleo de 304

etnovariedades altamente conectado aos agricultores (Fig 8) A estrutura aninhada nos permite 305

inferir que existe um grupo de agricultores que cultiva uma maior diversidade de etnovariedades 306

de mandioca em suas roccedilas enquanto que outro subgrupo que tem menor diversidade cultivam 307

as mais comuns ou disponiacuteveis (Cavechia et al 2014) Isso significa que os agricultores locais 308

mesmo em diferentes comunidades cultivam um nuacutecleo de etnovariedades comum entre eles 309

(n=6 Tabela 2) 310

Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 311

Observamos que a maioria dos indiviacuteduos de mandioca satildeo caracterizados por meio de 312

um conjunto de sete caracteres morfoloacutegicos os quais foram citados pelos agricultores como 313

mais importantes para a caracterizaccedilatildeo de suas variedades Nas visitas aos roccedilados registramos 314

39

as etnovariedades atualmente cultivadas e a tabela 3 fornece a lista completa com as 17 315

etnovariedades de mandioca e o local de registro 316

Por meio da anaacutelise de correspondecircncia muacuteltipla as variedades de mandioca foram 317

ordenadas em funccedilatildeo de seus descritores ao longo do primeiro e segundo eixo correspondentes 318

a 3680 da variacircncia total (Fig 9) 319

As variaacuteveis mais correlacionadas e que agruparam as variedades de mandioca no 320

primeiro eixo foram cor da folha desenvolvida (CFD) (r= 07239 Ple0001) cor do coacutertex da 321

raiz (CDR) (r= 06473 Ple0001) cor do broto foliar (CBF) (r= 06880 Ple0001) cor do peciacuteolo 322

(CDP) (r= 05250 Ple005) cor externa do caule (CEC) (r= 06883 Ple005) cor da polpa da 323

raiz (PDR) (r= 02473 Ple005) Para o segundo eixo as variaacuteveis correlacionadas foram cor 324

da folha desenvolvida (CFD) (r= 07220 Ple0001) cor externa do caule (CEC) (r= 08718 325

Ple0001) e cor do peciacuteolo (CDP) (r= 06927 Ple005) 326

O agrupamento de todas as variedades caracterizadas ldquoin siturdquo gerou uma aacutervore 327

hieraacuterquica (dendrograma) (Fig 9) utilizando a distacircncia euclidiana seguindo o criteacuterio de 328

Ward O dendrograma gerado apresentou um coeficiente de correlaccedilatildeo cofeneacutetica r= 06780 329

indicando que existe consistecircncia com os dados originais no agrupamento quanto agrave 330

classificaccedilatildeo e estrutura de tal forma que as variedades foram agrupadas em oito classes as 331

quais foram explicadas pelas variaacuteveis mais significativas descritas na tabela 4 332

O resultado do agrupamento (utilizada a distacircncia euclidiana e com o meacutetodo de Ward) 333

observamos que as etnovariedades de mandioca caracterizadas ldquoin siturdquo foram agrupadas em 334

dois grandes agrupamentos indicados na Fig 10 pelos retacircngulos em vermelho A partir dessa 335

anaacutelise percebemos que os caracteres morfoloacutegicos selecionados pelos agricultores natildeo foram 336

suficientes para separar as variedades de macaxeira e mandioca pois em ambos os 337

agrupamentos encontramos tanto macaxeiras quanto mandiocas 338

40

As variedades da classe 1 foram identificadas pelos agricultores pela cor do peciacuteolo 339

(CDP) verde A classe 2 agrupou as etnoveriedades caracterizadas pela protuberacircncia da cicatriz 340

foliar (PCF) mais protuberante Esse descritor segundo os agricultores era identificado como 341

ldquoembriatildeordquo A classe 3 consiste apenas da variedade ldquoMandioca Pretonardquo indicada pela presenccedila 342

de cor do peciacuteolo (CDP) vermelho A classe 4 agrupou trecircs variedades caracterizadas pelos 343

agricultores pela presenccedila de cor coacutertex da raiz (CDR) rosa e cor da polpa da raiacutez (PDR) branca 344

identificadas como ldquoMacaxeira vermelhardquo ldquoMacaxeira Rosa Brancardquo ldquoMacaxeira Rosardquo As 345

variedades agrupadas na classe 5 foras as variedades de mandioca caracterizadas pelos 346

agricultores por apresentarem cor do coacutertex (CDR) da raiacutez branca A classe 6 agrupou 347

variedades identificadas pelos agricultores pela cor do broto foliar (CBF) verde A classe 7 348

consiste apenas da variedade ldquoMacaxeira Sementerdquo identificada pelos agricultores pela cor do 349

peciacuteolo (CDP) roxo e protuberacircncia da cicatriz foliar pouco proeminente Essa variedade 350

segundo os agricultores era fruto do nascimento espontacircneo no roccedilado poreacutem eles geralmente 351

natildeo utilizam essas variedades por apresentarem apenas uma raiz pequena e de baixo 352

rendimento Na classe 8 as variedades foram identificadas pelos agricultores pela cor do peciacuteolo 353

(CDP) verde amarelado e protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) pouco proeminente As 354

ldquoMandioca Isabel de Souzardquo ldquoMandioca Isabel trecircs galhosrdquo segundo os agricultores se 355

diferenciavam pelo maior nuacutemero de caules presentes na variedade ldquoIsabel trecircs galhosrdquo 356

Discussatildeo 357

As sete comunidades estudadas manejavam um nuacutemero consideraacutevel de variedades 358

locais A quantidade de etnovariedades registradas eacute proacutexima a encontrada por Bender et al 359

(2009) e Cavechia et al (2014) em comunidades na regiatildeo sul e sudeste por Oler e Amorozo 360

(2017) em uma comunidade tradicional na regiatildeo centro-oeste Poreacutem foi quantitativamente 361

inferior quando comparada a estudos como os de Elias et al (2001) e Kawa et al (2013) em 362

comunidades na regiatildeo amazocircnica pois possuiacuteam uma alta diversidade Essa alta diversidade 363

41

na regiatildeo amazocircnica pode estar relacionada com o fato de que essa regiatildeo eacute o provaacutevel centro 364

de origem da mandioca (M esculenta) (Allem 1994) 365

As etnovariedades registradas neste estudo estatildeo disponiacuteveis para a maioria dos 366

agricultores dessa regiatildeo e esse fator favorece a circulaccedilatildeo das etnovariedades entre as 367

comunidades locais Por isso haacute semelhanccedilas das etnovariedades utilizadas entre os agricultores 368

da mesma comunidade e entre comunidades vizinhas 369

Parte dos agricultores optam por manter uma alta frequecircncia de variedades mais 370

utilizadas enquanto que outros optam por manter etnovariedades de baixa frequecircncia 371

Conforme discutido por Amorozo (2013) os agricultores escolhem seu acervo de acordo com 372

as necessidades e contexto em que vivem A reduccedilatildeo da diversidade de etnoveriedades por 373

exemplo pode ser impulsionada por fatores que simplificam o sistema como a seleccedilatildeo de 374

etnovariedades para a produccedilatildeo de farinha resultando no cultivo de poucas ou ateacute de uma uacutenica 375

etnovariedade (Peroni amp Hanazaki 2002) mesmo em aacutereas maiores 376

377

Redes de interaccedilatildeo social 378

Com as anaacutelises de rede demonstramos que os agricultores de diferentes comunidades 379

em uma mesma regiatildeo efetivamente trocam variedades de mandioca entre si corroborando 380

com estudos realizados por Emperaire amp Eloy (2008) Pautasso et al (2012) e Cavechia et al 381

(2014) Nesses estudos os autores tambeacutem consideram que as trocas de etnovariedades por 382

meio da rede de intercacircmbio entre os agricultores eacute um mecanismo fundamental para a 383

manutenccedilatildeo da diversidade local 384

A visualizaccedilatildeo da rede demonstrou que entre as comunidades os agricultores 385

compartilham um nuacutecleo de etnovariedades mais utilizadas dentre as quais estatildeo as de maior 386

valor econocircmico e de subsistecircncia Essas de maior frequecircncia satildeo aquelas altamente produtivas 387

utilizadas pelos agricultores para atenderem agraves demandas de mercado por farinha e para o 388

consumo proacuteprio (Kawa et al 2013) 389

42

No entanto observamos que existe outro nuacutecleo de etnovariedades menos frequentes 390

Essas etnovariedades raras podem ser resultantes do processo de experimentaccedilatildeo ou 391

preferecircncias individuais dos agricultores Outra possiacutevel razatildeo para a baixa frequecircncia de 392

algumas etnovariedades poderia ser explicada pela variaccedilatildeo da nomenclatura pelos 393

agricultores que segundo Peroni amp Hanazaki (2002) pode ocorrer durante o processo de troca 394

e introduccedilatildeo de novas variedades aos roccedilados Ainda assim natildeo descartamos a hipoacutetese de que 395

essas etnovariedades raras possam ser provenientes do cruzamento entre variedades diferentes 396

cultivadas da mesma roccedilado ou em roccedilas vizinhas De acordo com Martins (2005) essas 397

variedades fruto de germinaccedilatildeo expentacircnea satildeo incorporadas aos roccedilados pelos agricultores 398

pela curiosidade em experimentar novas variedades agraves suas coleccedilotildees 399

Nesse estudo admitimos que optar por etnovariedades raras entre as comunidades 400

estudadas eacute um comportamento adotado por agricultores que manejam uma maior diversidade 401

corroborando com os estudos de Cavechia et al (2014) e Emperaire et al (2016) em regiotildees 402

uacutemidas Para esses autores etnovaridedades de baixa frequecircncia representam um subconjunto 403

das de alta frequecircncia cultivadas por agricultores que manteacutem a maior diversidade em seus 404

roccedilados Sendo assim inferimos que no geral entre as comunidades satildeo os agricultores 405

generalistas aqueles que cultivam maior diversidade os responsaacuteveis por incorporar novas 406

etnovariedades aos roccedilados 407

As decisotildees dos agricultores em manter o acervo direcionado principalmente para 408

atender a demanda de mercado por exemplo podem levar a uma homogeneizaccedilatildeo nas roccedilas 409

colocando em risco a manutenccedilatildeo da diversidade local (Peroni amp Hanazaki 2002) Como 410

discutido por Elias et al (2000) os agricultores que selecionam apenas um nuacutemero reduzido e 411

especiacutefico de variedades mais produtivas tendem a fazer com que as variedades menos 412

frequentes desapareccedilam ao longo do tempo Essa tendecircndia pode influenciar na capacidade de 413

43

resiliecircncia do sistema assim como dos agricultores em lidar com possiacuteveis adversidades 414

ambientais que possam ocorrer 415

Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 416

No geral os agricultores demonstraram uma tendecircncia em classificarseparar suas 417

diferentes etnovariedades de mandioca a partir da combinaccedilatildeo de um conjunto de sete 418

caracteres morfoloacutegicos distintos e de faacutecil percepccedilatildeo os quais natildeo tem relaccedilatildeo com o uso 419

como por exemplo a cores das raiacutezes caule e folhas Logo consideramos que esses caracteres 420

morfoloacutegicos podem ser considerados como uma forma de classificaccedilatildeo pelos agricultores 421

baseada na capacidade percepccedilatildeo das diferenccedilas morfoloacutegicas que cada etnovariedades 422

apresenta (Boster 1985) Estes resultados nos levam a entender que entre os agricultores o 423

conhecimento sobre a diversidade da mandioca estaacute relacionado ao conhecimento de 424

caracteriacutesticas morfoloacutegicas consistentes 425

A existecircncia de alguns fenoacutetipos comuns nos permitiu avaliar a classificaccedilatildeo da 426

consistecircncia da taxonomia popular entre os agricultores Por exemplo as etnovariedades 427

ldquoMaxaceira Rosardquo e ldquoMacaxeira Rosa Brancardquo e ldquoMacaxeira vermelhardquo foram agrupadas no 428

mesmo cluster (C4) por apresentaram fenoacutetipos semelhantes Notamos que os agricultores 429

classificaram essas variedades de acordo com os traccedilos morfoloacutegicos mais relevantes como a 430

cor do coacutertex da raiz rosa e cor branca da polpa O mesmo ocorreu com as etnovariedades 431

ldquoMandioca varudardquo ldquoMandioca campina da granderdquo e ldquoMandioca campinardquo caracterizadas 432

pela presenccedila do peciacuteolo verde agrupadas no cluster (C1) 433

A partir dessas evidecircncias consideramos a hipoacutetese de que as variedades mesmo 434

apresentando caracteriacutesticas morfoloacutegicas muito semelhantes estatildeo sujeitas a variaccedilatildeo 435

nomenclatural durante o processo a incorporaccedilatildeo aos roccedilados pelos agricultores pois a 436

capacidade para distinguir e nomear variedades entre os agricultores da mesma regiatildeo pode 437

variar (Sambatti et al 2001 Elias et al 2001 Mekbib 2007) Consideramos tambeacutem que pode 438

44

existir variaccedilatildeo geneacutetica entre os indiviacuteduos identificados por um mesmo nome ou entatildeo que 439

os agricultores datildeo o mesmo nome para variedades diferentes E esta situaccedilatildeo pode levar a uma 440

superestimaccedilatildeo ou subestimaccedilatildeo da diversidade de mandioca cultiva nas aacutereas de estudo 441

Sabemos que a mandioca eacute propagada vegetativamente pelos agricultores por meio de 442

estacas em sistemas de agricultura tradicional No entanto alguns variedades produzem flores 443

e sementes que germinam e podem originar outras variedades ou outros clones por meio de 444

fecundaccedilatildeo cruzada (Elias et al 2001) Nesse contexto a etnovariedade ldquoMacaxeira Sementerdquo 445

presente no cluster (C7) trata-se de um uacutenico indiviacuteduo amostrado em uma roccedila de um dos 446

agricultores Esta apresentava algumas caracteriacutesticas morfoloacutegicas distintas das demais 447

reconhecidas pelo agricultor como por exemplo a produccedilatildeo de uma raiz uacutenica e 448

consequentemente de baixo rendimento Encontramos apenas um indiviacuteduo dessa 449

etnovariedade e nossa hipoacutetese de que esta poderia ter sido originada da germinaccedilatildeo da 450

semente mesmo quando 100 dos informantes declararam natildeo dar qualquer importacircncia e 451

descartar essas ldquovariedades-voluntaacuteriasrdquo foi confirmada pelo agricultor que afirmou que se 452

tratava de uma variedade nascida da germinaccedilatildeo da semente Esse comportamento vai de 453

encontro ao estudo de Fraser et al (2012) pois apesar dos agricultores reportarem nas 454

entrevistas que conhecem essas ldquovariedades-voluntaacuteriasrdquo nenhum agricultor faz o uso delas 455

Peroni et al (1999) e Agre et al (2016) analisando morfologicamente as variedades 456

locais de mandioca mantidas por agricultores em sistemas agriacutecolas tropicais tambeacutem 457

demonstraram que os agricultores satildeo coerentes quanto a separaccedilatildeo e identificaccedilatildeo de suas 458

etnovariedades a partir da formaccedilatildeo de grupos de coesos quanto a nomenclatura local utilizada 459

No entanto para o melhor entendimento dessa diversidade aleacutem da caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica 460

o uso de anaacutelises complementares como anaacutelise molecular seria importante para tentar 461

identificar se esses grupos representam a mesma variedade com nomes distintos ou se satildeo 462

variedades distintas com o mesmo nome 463

45

Conclusatildeo 464

O estudo demonstrou que no sistema de manejo da mandioca ao niacutevel de roccedila em 465

comunidades localizadas na regiatildeo semiaacuterida de Pernambuco compotildee uma diversidade 466

intrespeciacutefica de mandioca para atender agraves demandas econocircmicas e de subsistecircncia das 467

populaccedilotildees locais 468

Com relaccedilatildeo a anaacutelise de rede demostramos que haacute um nuacutecleo de etnovariedades 469

fortemente conectado aos agricultores e sua composiccedilatildeo eacute direcionada pelas preferecircncias e 470

necessidades individuais dos agricultores que foram os fatores responsaacuteveis pelo surgimento 471

da estrutura aninhada observada na anaacutelise rede entre as comunidades deste estudo E esse 472

padratildeo aninhado observado contribui na conservaccedilatildeo das etnovariedades mais comuns mas 473

tambeacutem pode resultar em perda daquelas de menor frequecircncia ao longo do tempo 474

A caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica ldquoin siturdquo nos permitiram inferir que os agricultores 475

reconhecem as diferentes caracteriacutesticas morfoloacutegicas de suas cultivares e satildeo coerentes na 476

separaccedilatildeo de suas variedades de mandioca e macaxeira Entretanto esses resultados sugerem a 477

realizaccedilatildeo de um estudo em niacutevel de diversidade geneacutetica exploratoacuterio para identificar se as 478

consistecircncias morfoloacutegicas refletem em consistecircncias geneacuteticas elucidando assim as possiacuteveis 479

confusotildees atribuiacutedas aos nomes das etnovariedades de mandioca 480

Agradecimentos 481

Agradecemos ao liacuteder comunitaacuterio Alexandre O Nascimento aos agricultores e 482

agricultoras das comunidades pela acolhida confianccedila e pela gentileza de compartilharem 483

conosco seus conhecimentos e contribuiacuterem com este estudo Especialmente a Arlindo Ferreira 484

Edgar Antocircnio Joseacute Sebastiatildeo Juvenal Oliveira e Janete Alves Ao Laboratoacuterio de Ecologia e 485

Evoluccedilatildeo de Sistemas Socioecoloacutegicos (LEA - UFPE) E agradecemos ao CNPq pelo apoio 486

com a bolsa de estudos do primeiro autor 487

46

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ANEXOS 615

616

Nome da revista 617

Human Ecology 618

Link de acesso 619

httpsgooglDVLbFj 620

Qualis-CAPES 621

B1 em Biodiversidade 622

623

624

625

626

627

628

629

630

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641

642

52

Figuras 643

644

645

Fig 1 Partes do processo de fabricaccedilatildeo de farinha de mandioca Onde a raspagem b e c 646

processo de trituraccedilatildeo e d peneiramento Foto registrada em Abril de 2017 por Mirela Santos 647

648

649

650

c

d

b

a

53

651

Fig 2 Mapa de localizaccedilatildeo geograacutefica dos Municiacutepios de Altinho e Panelas e das comunidades 652

estudadas na regiatildeo semiaacuterida do Estado de Pernambuco (Elaborado por SANTOS 2018) 653

54

654

655

656

657

Fig 3 Processo de fabricaccedilatildeo da farinha de mandioca Apoacutes a colheita as raiacutezes satildeo lavadas 658

raspadas e trituradas (a) A massa extraiacuteda eacute prensada e coada Ao sair da prensa a massa 659

peneirada (b) e em seguida eacute torrada (c) em fornos artesanais ou parcialmente mecanizados 660

Imagem registrada em janeiro de 2017 na Comunidade do Caratildeo por Mirela Santos 661

662

663

a

b c

55

664

Fig 4 a Sede da Comunidade do Caratildeo b Agricultor transportando a palma forrageira que eacute 665

um exemplo de estrateacutegia adaptativa para suprir a falta de alimento dos animais devido agrave seca 666

c Feira-livre que acontece na comunidade a cada quinze dias Imagem registrada em julho de 667

2016 na Comunidade do Caratildeo por Mirela Santos 668

669

670

Fig 5 a O agricultor nos explicava as mudanccedilas que vem fazendo em seus roccedilados para se 671

adaptar aos longos periacuteodos de seca b Quando o agricultor nos mostrava as diferentes 672

etnovariedades que mantinha em sua roccedila c Durante a pesquisa nos explicavam como era feita 673

a colheita da mandioca e como selecionavam as manivas para o proacuteximo plantio Foto registrada 674

em abril de 2017 na Comunidade do Brejo Velho por Mirela Santos 675

a

b c

c b

a

56 676

677

Fig 6 Possiacuteveis estruturas de rede que descrevem as interaccedilotildees dos agricultores (losango) 678

ligados as etnovariedades (ciacuterculos) que cultivam Onde a Aninhada b Modular c Aleatoacuteria 679

(Fonte Cavechia et al 2014 com adaptaccedilotildees) 680

681

682

683

684

685

686

687

688

689

690

691

692

693

694

695

696

697

a c b

57

698

699

700

701

702

703

704

705

706

707

Fig 7 Correlaccedilatildeo de Spearman entre a diversidade de etnovariedades de mandiocas conhecidas 708

como cultivadas e variedades atualmente cultivadas por agricultor e as variaacuteveis 709

socioeconocircmicas Onde Nvc= nuacutemero de citadas como cultivadas Nve= nuacutemero de variedades 710

atualmente cultivadas Esc= escolaridade Id= idade Gen= gecircnero Tr= tamanho do roccedilado 711

Exp= experiecircncia na agricultura Sld= renda Nr= nuacutemero de roccedilados Cores distintivas 712

representam correlaccedilotildees significativas (Ple005) 713

714

58

715

Fig 8 Modelo individual de rede de etnovariedades de mandioca citadas (esquerda) por 716

agricultores como cultivadas (direita) nos Municiacutepios de Altinho e Panelas As redes foram 717

desenhadas com o pacote bipartite (Dormann et al 2017) usando o software R (R CORE 718

TEAM 2017) 719

720

59

721

Fig 9 Anaacutelise de Correspondecircncia Muacuteltipla das 17 etnovariedades de mandioca considerando 722

os sete descritores morfoloacutegicos utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo em roccedilas de 723

agricultores tradicionais de sete comunidades no semiaacuterido de Pernambuco 724

725

726

727

728

729

730

731

732

733

734

735

736

737

McCambadinha

McCampina

McCampinaDaGrande

McCampinaRasteira

McCampinaVaruda

McGauba

McIsabelDeSouza

McIsabelTresGalhos

McOlhoDePombo

McOlhoVerde

McPretinha

McPretona

MxBranca

MxRosa

MxRosaBrancaMxRosaVermelha

MxSemente

CFD_Verde_Arroxeado

CFD_Verde_ClaroCFD_Verde_Escuro

CBF_Roxo

CBF_Verde_ArroxeadoCBF_Verde_Claro

CBF_Verde_Escuro

CDP_Verde

CDP_Verde_Amarelado

CDP_Verde_Avermelhado

CDP_Vermelho

CEC_Cinza

CEC_Dourado

CEC_Laranja

CEC_Marrom_Claro

CEC_Marrom_Escuro

CEC_Prateado

CEC_Verde_AmareladoCicatriz_M

Cicatriz_P

PDR_Branco

PDR_Creme

CDR_BrancoCDR_Creme CDR_Rosa

-4

-2

0

2

4

-4 -2 0 2 4

Dim1 (206)

Dim

2 (

162

)

MCA - Biplot

00

10

Hierarchical Clustering

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McC

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am

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00

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10

15

Hierarchical Classification

Heig

ht

C1 C2 C3 C4 C5 C6 C7 C8

Fig 10 Agrupamento hieraacuterquico das 17 etnovariedades de mandioca caracterizadas de acordo

com os descritores utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo

60

Tabelas 738

739

Tabela 1 Caracteres e estados utilizados pelos agricultores como descritores botacircnicos para 740

caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das etnovariedades de mandioca 741

Caracter Sigla Estados

Folha

Cor da folha desenvolvida CFD 1- verde claro 2- verde escuro 3- verde arroxeado 4- roxo

Cor do broto foliar CBF 1- verde claro 2- verde escuro 3- verde arroxeado 4- roxo

Cor do peciacuteolo CDP 1- verde amarelado 2- verde 3- verde avermelhado 4- roxo

5- vermelho

Caule

Cor externa do caule CEC 1- laranja 2- verde amarelado 3- dourado 4- marrom claro

5- prateado 6- cinza 7- marrom escuro 8- verde

Protuberacircncia da cicatriz foliar PCF 1- pouco proeminente 2- muito proeminente

Raiacutez

Cor da poupa da raiz PDR 1- branco 2- creme

Cor do coacutertex da raiacutez CDR 1- rosa 2- branco 3- creme

742

743

744

745

746

747

748

749

750

751

61

Tabela 2 Lista das 22 etnovariedades de mandiocas citadas (132 citaccedilotildees) como cultivadas nas 752

comunidades pertencentes aos Municiacutepios de Altinho (Caratildeo n=8) e ao Municiacutepio de Panelas 753

(Aracuatilde Satildeo Joseacute do Bola Brejo Velho Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima e Lajeiro 754

Dantas n=21) 755

Etnovariedade Frequecircncia () Ranking Saliecircncia

Macaxeira Rosa 66 179 0472

Mandioca Isabel de Souza 48 179 0372

Mandioca Campina 24 217 0148

Macaxeira Branca 20 210 0134

Macaxeira Rosa branca 18 122 0168

Mandioca Pretona 16 338 0082

Mandioca Cambadinha 12 283 0071

Mandioca Isabel trecircs galhos 10 180 0075

Mandioca Gauacuteba 10 260 0070

Mandioca Pretinha 8 225 0053

Mandioca Peacute de pombo 4 400 0011

Mandioca Olho verde 4 350 0012

Macaxeira Rosinha 4 200 0027

Mandioca Campina varuda 4 200 0032

Mandioca Campina rasteira 4 300 0021

Mandioca Caboquinha 2 500 0007

Macaxeira Rasteira 2 200 0013

Macaxeira Paraacute 2 100 0020

Mandioca Barra ferro 2 300 0007

Mandioca Campina da grande 2 100 0020

Mandioca Olho de pombo 2 300 0010

Mandioca Jasmim 2 600 0006

756

757

758

62

Tabela 3 Lista de 17 etnovariedades atualmente cultivadas nos roccedilados das comunidades em 759

estudo 760

Ca Ar Bo Br Jb Jc Ld

Etnovariedade

Macaxeira Branca x x x x

Macaxeira Rosa

x x x x x x

Macaxeira Rosa Branca x x x x

Macaxeira Rosa Vermelha

x

Macaxeira Semente

x

Mandioca Cambadinha x

x

Mandioca Campina

x

x

x

Mandioca Campina da Grande x

Mandioca Campina Rasteira

x

Mandioca Campina Varuda

x

Mandioca Gauacuteba

x

Mandioca Isabel de Souza

x x x

Mandioca Isabel trecircs Galhos

x

x

Mandioca Olho de Pombo

x

Mandioca Olho Verde

x

Mandioca Pretinha

x

Mandioca Pretona x x x

Comunidades Ca= Caratildeo Ar=Aracuatilde Bo= Satildeo Joseacute do Bola Jb= Japaranduba de Baixo 761

Jc= Japaranduba de Cima Ld= Lajedo Dantas 762

763

764

765

766

767

768

63

Tabela 4 Descriccedilatildeo das classes do agrupamento por meacutetodo de Ward agrupadas pelo conjunto 769

dos descritores mais significativos para a caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das variedades de mandioca 770

Classes Descritores in situ p-valor

C1 Cor do peciacuteolo (CDP) 0016

C2 Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023

C3 Cor do peciacuteolo (CDP) 0012

C4 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0004

Cor da poupa da raiacutez (PDF) 0021

C5 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0003

C6 Cor do broto foliar (CBF) 0002

C7 Cor da folha desenvolvida (CFD) 0004

Cor externa do caule (CEC) 0040

C8 Cor do peciacuteolo (CDP) 0005

Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023

Valores de Ple005 satildeo significativos 771

772

35

Caratildeo=4 Satildeo Joseacute do Bola=13 Brejo Velho=16 Japaranduba de Baixo=6 Japaranduba de 219

Cima=3 e Lajedo Dantas=4) Fotografamos e avaliamos todos os indiviacuteduos com base em parte 220

dos descritores morfoloacutegicos seguindo recomendaccedilotildees de Fukuda amp Guevara (1998) e aleacutem 221

disso georreferenciamos todas as aacutereas de roccedila 222

Anaacutelise dos dados 223

Analisamos os dados socioeconocircmicos das entrevistas semiestruturadas por meio de 224

estatiacutestica descritiva para explicar os aspectos da realidade econocircmica e social dos agricultores 225

Para identificar se a diversidade intraespeciacutefica da mandioca cultivada localmente eacute 226

influenciada por paracircmetros socioeconocircmicos utilizamos o coeficiente de correlaccedilatildeo de 227

Spearman (Ple005) (Sokal amp Rohlf 1995) 228

Com base na lista livre das variedades de mandioca cultivadas pelos agricultores 229

calculamos a frequecircncia de citaccedilatildeo o ranking e o iacutendice de saliecircncia com o objetivo de 230

identificar quais as mais importantes ou preferidas para as comunidades O iacutendice de saliecircncia 231

considerou a frequecircncia de citaccedilatildeo e o ranking referente ao posicionamento das variedades 232

dentro das listas livres (Thompson amp Juan 2006) As etnovariedades mais citadas e com maior 233

valor de saliecircncia representam as de maior importacircncia ou preferecircncia para as comunidades 234

Anaacutelise de rede 235

Medimos o grau de aninhamento (NODF) para investigar a estrutura de rede de 236

interaccedilatildeo social dos agricultores em funccedilatildeo das variedades cultivadas As matrizes altamente 237

aninhadas apresentam NODF tendendo a 1 caso contraacuterio tentem a ser 0 238

Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 239

Para o estudo das semelhanccedilas e diferenccedilas fenotiacutepicas entre as variedades de mandioca 240

ldquoin siturdquo realizamos anaacutelises multivariadas para identificar possiacuteveis grupos de variedades que 241

compartilham semelhanccedilas entre si 242

36

A anaacutelise de correspondecircncia muacuteltipla (MCA) permitiu identificar como as variedades 243

de mandioca estatildeo ordenadas em funccedilatildeo dos seus descritores etnobotacircnicos As etnovariedades 244

foram plotadas ao longo um plano cartesiano bi ou tridimensional onde a variaccedilatildeo total eacute 245

explicada pelos dois primeiros eixos Complementar a esta anaacutelise realizamos a anaacutelise de 246

agrupamento hieraacuterquico (Cluster) para identificar como estatildeo agrupadas as etnovariedades de 247

acordo seus descritores Conferimos a consistecircncia do dendrograma com coeficiente de 248

correlaccedilatildeo cofeneacutetica conforme Sneath amp Sokal (1973) que quantifica se a correlaccedilatildeo entre a 249

matriz de distacircncias originais e a matriz de distacircncias cofeneacuteticas eacute representativa Para 250

mensurar as dissimilaridades entre as variedades de mandioca foi utilizada a distacircncia 251

euclidiana e com o meacutetodo de Ward 252

Softwares utilizados 253

Para a anaacutelise da lista livre usamos o software ANTROPAC versatildeo 10 O software 254

ANINHADO 30 (Guimaratildees amp Guimaratildees 2006) foi usado para medir o grau de aninhamento 255

da rede Utilizamos o software estatiacutestico R (R core team 2017) para a anaacutelise de correlaccedilatildeo 256

de Spearman com o pacote corrplot (Wei amp Simko 2013) o desenho da rede que descreve a 257

interaccedilatildeo entre os agricultores e as etnovariedades com o pacote bipartite (Dormann et al 258

2017) E com os pacotes FactoMineR (LEcirc et al 2008) factoextra (Kassambara et al 2016) e 259

vegan (Oksanen et al 2017) foram realizadas as anaacutelises de cluster de correspondecircncia 260

muacuteltipla (MCA) e de correlaccedilatildeo coefeneacutetica respectivamente 261

Resultados 262

As diferentes etnovariedades de mandioca encontradas no estudo suprem a demanda 263

local por alimento enquanto outras atendem agraves preferecircncias individuais ou do comeacutercio As 264

variedades que possuem maior rendimento e a farinha produzida apresenta coloraccedilatildeo branca 265

satildeo as de maior valor comercial para os agricultores devido agraves preferecircncias do mercado Jaacute 266

37

outras variedades que satildeo mais moles e apresentam coloraccedilatildeo amarelada natildeo satildeo empregadas 267

na produccedilatildeo de farinha mas sim consumidas cozidas ou assadas A depender da demanda local 268

os agricultores intencionalmente aumentam ou diminuem a frequecircncia de suas variedades nos 269

roccedilados seja por alguma exigecircncia do comeacutercio ou para consumo familiar 270

Nas comunidades os agricultores separam suas variedades de mandioca em dois grupos 271

como observado em outras comunidades na mata Atlacircntica por Emperaire e Peroni (2007) o 272

das ldquomacaxeirasrdquo que satildeo as variedades exploradas basicamente para o consumo familiar sem 273

processo preacutevio de desintoxicaccedilatildeo cujas raiacutezes satildeo consumidas fritas eou cozidas Sendo 274

utilizadas tambeacutem como complemento na dieta dos animais E o grupo das ldquomandiocasrdquo que 275

satildeo as variedades que necessitam de processo preacutevio de desintoxicaccedilatildeo para o consumo 276

utilizadas comumente para a produccedilatildeo de farinha de mandioca Para os agricultores as 277

ldquomandiocasrdquo possuem maior valor comercial pois apresentam maior rendimento e 278

rentabilidade pois a farinha produzida eacute branca e atende as preferencias do comercio local 279

Aleacutem da farinha outros produtos e subprodutos produzidos dentre os quais foram citados 280

ldquotapioca ou gomardquo ldquobijurdquo ou ldquobolo de mandiocardquo satildeo utilizados para o consumo proacuteprio ou 281

eventual comercializaccedilatildeo 282

Os informantes natildeo possuiacuteam conhecimento sobre a origem dos nomes das variedades 283

de mandioca Quanto a compreensatildeo da geraccedilatildeo da diversidade intraespeciacutefica identificamos 284

que apesar de 66 dos agricultores citarem que conhecem variedades fruto de germinaccedilatildeo de 285

suas sementes nenhum deles utiliza as manivas para o plantio por essas variedades de 286

mandioca ldquovoluntaacuteriasrdquo natildeo apresentarem bom rendimento 287

Observamos que existe uma baixa correlaccedilatildeo entre a diversidade de variedades 288

atualmente cultivadas e as variaacuteveis socioeconocircmicas como no caso do nuacutemero de roccedilados 289

(r=028 Ple005) e do tamanho do roccedilado (r=033 Ple005) (Fig 7) Essa baixa correlaccedilatildeo pode 290

38

ser explicada pelo fato de existirem grupos de agricultores que preferem manter as variedades 291

de maior valor econocircmico e de subsistecircncia mesmo com aacutereas maiores de cultivo 292

Verificamos tambeacutem uma correlaccedilatildeo positiva moderada entre o nuacutemero de variedades 293

conhecidas com o nuacutemero de variedades atualmente cultivadas (r=054 Ple005) Na lista livre 294

foram identificadas 22 etnovariedades de mandioca cultivadas (132 citaccedilotildees no total) sendo 295

oito dessas mais citadas com maiores valores de saliecircncia (entre 047 e 0082) (Tabela 2) As 296

etnovariedades ldquoMacaxeira Rosardquo e ldquoMandioca Isabel de Souzardquo exibiram os maiores valores 297

de saliecircncia 047 e 037 respectivamente Logo essas variedades satildeo as mais conhecidas 298

dentro das comunidades com 66 e 48 das citaccedilotildees respectivamente 299

Dentre as etnovariedades citadas 12 foram idiossincraacuteticas pois apresentaram menor 300

frequecircncia de citaccedilatildeo e menores valores de saliecircncia (entre 0032 e 0006) (Tabela 2) 301

Redes de interaccedilatildeo social 302

A rede apresentou uma estrutura aninhada com grau de aninhamento significativamente 303

superior aos modelos nulos (N=3072 Plt0001) para as comunidades sendo um nuacutecleo de 304

etnovariedades altamente conectado aos agricultores (Fig 8) A estrutura aninhada nos permite 305

inferir que existe um grupo de agricultores que cultiva uma maior diversidade de etnovariedades 306

de mandioca em suas roccedilas enquanto que outro subgrupo que tem menor diversidade cultivam 307

as mais comuns ou disponiacuteveis (Cavechia et al 2014) Isso significa que os agricultores locais 308

mesmo em diferentes comunidades cultivam um nuacutecleo de etnovariedades comum entre eles 309

(n=6 Tabela 2) 310

Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 311

Observamos que a maioria dos indiviacuteduos de mandioca satildeo caracterizados por meio de 312

um conjunto de sete caracteres morfoloacutegicos os quais foram citados pelos agricultores como 313

mais importantes para a caracterizaccedilatildeo de suas variedades Nas visitas aos roccedilados registramos 314

39

as etnovariedades atualmente cultivadas e a tabela 3 fornece a lista completa com as 17 315

etnovariedades de mandioca e o local de registro 316

Por meio da anaacutelise de correspondecircncia muacuteltipla as variedades de mandioca foram 317

ordenadas em funccedilatildeo de seus descritores ao longo do primeiro e segundo eixo correspondentes 318

a 3680 da variacircncia total (Fig 9) 319

As variaacuteveis mais correlacionadas e que agruparam as variedades de mandioca no 320

primeiro eixo foram cor da folha desenvolvida (CFD) (r= 07239 Ple0001) cor do coacutertex da 321

raiz (CDR) (r= 06473 Ple0001) cor do broto foliar (CBF) (r= 06880 Ple0001) cor do peciacuteolo 322

(CDP) (r= 05250 Ple005) cor externa do caule (CEC) (r= 06883 Ple005) cor da polpa da 323

raiz (PDR) (r= 02473 Ple005) Para o segundo eixo as variaacuteveis correlacionadas foram cor 324

da folha desenvolvida (CFD) (r= 07220 Ple0001) cor externa do caule (CEC) (r= 08718 325

Ple0001) e cor do peciacuteolo (CDP) (r= 06927 Ple005) 326

O agrupamento de todas as variedades caracterizadas ldquoin siturdquo gerou uma aacutervore 327

hieraacuterquica (dendrograma) (Fig 9) utilizando a distacircncia euclidiana seguindo o criteacuterio de 328

Ward O dendrograma gerado apresentou um coeficiente de correlaccedilatildeo cofeneacutetica r= 06780 329

indicando que existe consistecircncia com os dados originais no agrupamento quanto agrave 330

classificaccedilatildeo e estrutura de tal forma que as variedades foram agrupadas em oito classes as 331

quais foram explicadas pelas variaacuteveis mais significativas descritas na tabela 4 332

O resultado do agrupamento (utilizada a distacircncia euclidiana e com o meacutetodo de Ward) 333

observamos que as etnovariedades de mandioca caracterizadas ldquoin siturdquo foram agrupadas em 334

dois grandes agrupamentos indicados na Fig 10 pelos retacircngulos em vermelho A partir dessa 335

anaacutelise percebemos que os caracteres morfoloacutegicos selecionados pelos agricultores natildeo foram 336

suficientes para separar as variedades de macaxeira e mandioca pois em ambos os 337

agrupamentos encontramos tanto macaxeiras quanto mandiocas 338

40

As variedades da classe 1 foram identificadas pelos agricultores pela cor do peciacuteolo 339

(CDP) verde A classe 2 agrupou as etnoveriedades caracterizadas pela protuberacircncia da cicatriz 340

foliar (PCF) mais protuberante Esse descritor segundo os agricultores era identificado como 341

ldquoembriatildeordquo A classe 3 consiste apenas da variedade ldquoMandioca Pretonardquo indicada pela presenccedila 342

de cor do peciacuteolo (CDP) vermelho A classe 4 agrupou trecircs variedades caracterizadas pelos 343

agricultores pela presenccedila de cor coacutertex da raiz (CDR) rosa e cor da polpa da raiacutez (PDR) branca 344

identificadas como ldquoMacaxeira vermelhardquo ldquoMacaxeira Rosa Brancardquo ldquoMacaxeira Rosardquo As 345

variedades agrupadas na classe 5 foras as variedades de mandioca caracterizadas pelos 346

agricultores por apresentarem cor do coacutertex (CDR) da raiacutez branca A classe 6 agrupou 347

variedades identificadas pelos agricultores pela cor do broto foliar (CBF) verde A classe 7 348

consiste apenas da variedade ldquoMacaxeira Sementerdquo identificada pelos agricultores pela cor do 349

peciacuteolo (CDP) roxo e protuberacircncia da cicatriz foliar pouco proeminente Essa variedade 350

segundo os agricultores era fruto do nascimento espontacircneo no roccedilado poreacutem eles geralmente 351

natildeo utilizam essas variedades por apresentarem apenas uma raiz pequena e de baixo 352

rendimento Na classe 8 as variedades foram identificadas pelos agricultores pela cor do peciacuteolo 353

(CDP) verde amarelado e protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) pouco proeminente As 354

ldquoMandioca Isabel de Souzardquo ldquoMandioca Isabel trecircs galhosrdquo segundo os agricultores se 355

diferenciavam pelo maior nuacutemero de caules presentes na variedade ldquoIsabel trecircs galhosrdquo 356

Discussatildeo 357

As sete comunidades estudadas manejavam um nuacutemero consideraacutevel de variedades 358

locais A quantidade de etnovariedades registradas eacute proacutexima a encontrada por Bender et al 359

(2009) e Cavechia et al (2014) em comunidades na regiatildeo sul e sudeste por Oler e Amorozo 360

(2017) em uma comunidade tradicional na regiatildeo centro-oeste Poreacutem foi quantitativamente 361

inferior quando comparada a estudos como os de Elias et al (2001) e Kawa et al (2013) em 362

comunidades na regiatildeo amazocircnica pois possuiacuteam uma alta diversidade Essa alta diversidade 363

41

na regiatildeo amazocircnica pode estar relacionada com o fato de que essa regiatildeo eacute o provaacutevel centro 364

de origem da mandioca (M esculenta) (Allem 1994) 365

As etnovariedades registradas neste estudo estatildeo disponiacuteveis para a maioria dos 366

agricultores dessa regiatildeo e esse fator favorece a circulaccedilatildeo das etnovariedades entre as 367

comunidades locais Por isso haacute semelhanccedilas das etnovariedades utilizadas entre os agricultores 368

da mesma comunidade e entre comunidades vizinhas 369

Parte dos agricultores optam por manter uma alta frequecircncia de variedades mais 370

utilizadas enquanto que outros optam por manter etnovariedades de baixa frequecircncia 371

Conforme discutido por Amorozo (2013) os agricultores escolhem seu acervo de acordo com 372

as necessidades e contexto em que vivem A reduccedilatildeo da diversidade de etnoveriedades por 373

exemplo pode ser impulsionada por fatores que simplificam o sistema como a seleccedilatildeo de 374

etnovariedades para a produccedilatildeo de farinha resultando no cultivo de poucas ou ateacute de uma uacutenica 375

etnovariedade (Peroni amp Hanazaki 2002) mesmo em aacutereas maiores 376

377

Redes de interaccedilatildeo social 378

Com as anaacutelises de rede demonstramos que os agricultores de diferentes comunidades 379

em uma mesma regiatildeo efetivamente trocam variedades de mandioca entre si corroborando 380

com estudos realizados por Emperaire amp Eloy (2008) Pautasso et al (2012) e Cavechia et al 381

(2014) Nesses estudos os autores tambeacutem consideram que as trocas de etnovariedades por 382

meio da rede de intercacircmbio entre os agricultores eacute um mecanismo fundamental para a 383

manutenccedilatildeo da diversidade local 384

A visualizaccedilatildeo da rede demonstrou que entre as comunidades os agricultores 385

compartilham um nuacutecleo de etnovariedades mais utilizadas dentre as quais estatildeo as de maior 386

valor econocircmico e de subsistecircncia Essas de maior frequecircncia satildeo aquelas altamente produtivas 387

utilizadas pelos agricultores para atenderem agraves demandas de mercado por farinha e para o 388

consumo proacuteprio (Kawa et al 2013) 389

42

No entanto observamos que existe outro nuacutecleo de etnovariedades menos frequentes 390

Essas etnovariedades raras podem ser resultantes do processo de experimentaccedilatildeo ou 391

preferecircncias individuais dos agricultores Outra possiacutevel razatildeo para a baixa frequecircncia de 392

algumas etnovariedades poderia ser explicada pela variaccedilatildeo da nomenclatura pelos 393

agricultores que segundo Peroni amp Hanazaki (2002) pode ocorrer durante o processo de troca 394

e introduccedilatildeo de novas variedades aos roccedilados Ainda assim natildeo descartamos a hipoacutetese de que 395

essas etnovariedades raras possam ser provenientes do cruzamento entre variedades diferentes 396

cultivadas da mesma roccedilado ou em roccedilas vizinhas De acordo com Martins (2005) essas 397

variedades fruto de germinaccedilatildeo expentacircnea satildeo incorporadas aos roccedilados pelos agricultores 398

pela curiosidade em experimentar novas variedades agraves suas coleccedilotildees 399

Nesse estudo admitimos que optar por etnovariedades raras entre as comunidades 400

estudadas eacute um comportamento adotado por agricultores que manejam uma maior diversidade 401

corroborando com os estudos de Cavechia et al (2014) e Emperaire et al (2016) em regiotildees 402

uacutemidas Para esses autores etnovaridedades de baixa frequecircncia representam um subconjunto 403

das de alta frequecircncia cultivadas por agricultores que manteacutem a maior diversidade em seus 404

roccedilados Sendo assim inferimos que no geral entre as comunidades satildeo os agricultores 405

generalistas aqueles que cultivam maior diversidade os responsaacuteveis por incorporar novas 406

etnovariedades aos roccedilados 407

As decisotildees dos agricultores em manter o acervo direcionado principalmente para 408

atender a demanda de mercado por exemplo podem levar a uma homogeneizaccedilatildeo nas roccedilas 409

colocando em risco a manutenccedilatildeo da diversidade local (Peroni amp Hanazaki 2002) Como 410

discutido por Elias et al (2000) os agricultores que selecionam apenas um nuacutemero reduzido e 411

especiacutefico de variedades mais produtivas tendem a fazer com que as variedades menos 412

frequentes desapareccedilam ao longo do tempo Essa tendecircndia pode influenciar na capacidade de 413

43

resiliecircncia do sistema assim como dos agricultores em lidar com possiacuteveis adversidades 414

ambientais que possam ocorrer 415

Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 416

No geral os agricultores demonstraram uma tendecircncia em classificarseparar suas 417

diferentes etnovariedades de mandioca a partir da combinaccedilatildeo de um conjunto de sete 418

caracteres morfoloacutegicos distintos e de faacutecil percepccedilatildeo os quais natildeo tem relaccedilatildeo com o uso 419

como por exemplo a cores das raiacutezes caule e folhas Logo consideramos que esses caracteres 420

morfoloacutegicos podem ser considerados como uma forma de classificaccedilatildeo pelos agricultores 421

baseada na capacidade percepccedilatildeo das diferenccedilas morfoloacutegicas que cada etnovariedades 422

apresenta (Boster 1985) Estes resultados nos levam a entender que entre os agricultores o 423

conhecimento sobre a diversidade da mandioca estaacute relacionado ao conhecimento de 424

caracteriacutesticas morfoloacutegicas consistentes 425

A existecircncia de alguns fenoacutetipos comuns nos permitiu avaliar a classificaccedilatildeo da 426

consistecircncia da taxonomia popular entre os agricultores Por exemplo as etnovariedades 427

ldquoMaxaceira Rosardquo e ldquoMacaxeira Rosa Brancardquo e ldquoMacaxeira vermelhardquo foram agrupadas no 428

mesmo cluster (C4) por apresentaram fenoacutetipos semelhantes Notamos que os agricultores 429

classificaram essas variedades de acordo com os traccedilos morfoloacutegicos mais relevantes como a 430

cor do coacutertex da raiz rosa e cor branca da polpa O mesmo ocorreu com as etnovariedades 431

ldquoMandioca varudardquo ldquoMandioca campina da granderdquo e ldquoMandioca campinardquo caracterizadas 432

pela presenccedila do peciacuteolo verde agrupadas no cluster (C1) 433

A partir dessas evidecircncias consideramos a hipoacutetese de que as variedades mesmo 434

apresentando caracteriacutesticas morfoloacutegicas muito semelhantes estatildeo sujeitas a variaccedilatildeo 435

nomenclatural durante o processo a incorporaccedilatildeo aos roccedilados pelos agricultores pois a 436

capacidade para distinguir e nomear variedades entre os agricultores da mesma regiatildeo pode 437

variar (Sambatti et al 2001 Elias et al 2001 Mekbib 2007) Consideramos tambeacutem que pode 438

44

existir variaccedilatildeo geneacutetica entre os indiviacuteduos identificados por um mesmo nome ou entatildeo que 439

os agricultores datildeo o mesmo nome para variedades diferentes E esta situaccedilatildeo pode levar a uma 440

superestimaccedilatildeo ou subestimaccedilatildeo da diversidade de mandioca cultiva nas aacutereas de estudo 441

Sabemos que a mandioca eacute propagada vegetativamente pelos agricultores por meio de 442

estacas em sistemas de agricultura tradicional No entanto alguns variedades produzem flores 443

e sementes que germinam e podem originar outras variedades ou outros clones por meio de 444

fecundaccedilatildeo cruzada (Elias et al 2001) Nesse contexto a etnovariedade ldquoMacaxeira Sementerdquo 445

presente no cluster (C7) trata-se de um uacutenico indiviacuteduo amostrado em uma roccedila de um dos 446

agricultores Esta apresentava algumas caracteriacutesticas morfoloacutegicas distintas das demais 447

reconhecidas pelo agricultor como por exemplo a produccedilatildeo de uma raiz uacutenica e 448

consequentemente de baixo rendimento Encontramos apenas um indiviacuteduo dessa 449

etnovariedade e nossa hipoacutetese de que esta poderia ter sido originada da germinaccedilatildeo da 450

semente mesmo quando 100 dos informantes declararam natildeo dar qualquer importacircncia e 451

descartar essas ldquovariedades-voluntaacuteriasrdquo foi confirmada pelo agricultor que afirmou que se 452

tratava de uma variedade nascida da germinaccedilatildeo da semente Esse comportamento vai de 453

encontro ao estudo de Fraser et al (2012) pois apesar dos agricultores reportarem nas 454

entrevistas que conhecem essas ldquovariedades-voluntaacuteriasrdquo nenhum agricultor faz o uso delas 455

Peroni et al (1999) e Agre et al (2016) analisando morfologicamente as variedades 456

locais de mandioca mantidas por agricultores em sistemas agriacutecolas tropicais tambeacutem 457

demonstraram que os agricultores satildeo coerentes quanto a separaccedilatildeo e identificaccedilatildeo de suas 458

etnovariedades a partir da formaccedilatildeo de grupos de coesos quanto a nomenclatura local utilizada 459

No entanto para o melhor entendimento dessa diversidade aleacutem da caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica 460

o uso de anaacutelises complementares como anaacutelise molecular seria importante para tentar 461

identificar se esses grupos representam a mesma variedade com nomes distintos ou se satildeo 462

variedades distintas com o mesmo nome 463

45

Conclusatildeo 464

O estudo demonstrou que no sistema de manejo da mandioca ao niacutevel de roccedila em 465

comunidades localizadas na regiatildeo semiaacuterida de Pernambuco compotildee uma diversidade 466

intrespeciacutefica de mandioca para atender agraves demandas econocircmicas e de subsistecircncia das 467

populaccedilotildees locais 468

Com relaccedilatildeo a anaacutelise de rede demostramos que haacute um nuacutecleo de etnovariedades 469

fortemente conectado aos agricultores e sua composiccedilatildeo eacute direcionada pelas preferecircncias e 470

necessidades individuais dos agricultores que foram os fatores responsaacuteveis pelo surgimento 471

da estrutura aninhada observada na anaacutelise rede entre as comunidades deste estudo E esse 472

padratildeo aninhado observado contribui na conservaccedilatildeo das etnovariedades mais comuns mas 473

tambeacutem pode resultar em perda daquelas de menor frequecircncia ao longo do tempo 474

A caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica ldquoin siturdquo nos permitiram inferir que os agricultores 475

reconhecem as diferentes caracteriacutesticas morfoloacutegicas de suas cultivares e satildeo coerentes na 476

separaccedilatildeo de suas variedades de mandioca e macaxeira Entretanto esses resultados sugerem a 477

realizaccedilatildeo de um estudo em niacutevel de diversidade geneacutetica exploratoacuterio para identificar se as 478

consistecircncias morfoloacutegicas refletem em consistecircncias geneacuteticas elucidando assim as possiacuteveis 479

confusotildees atribuiacutedas aos nomes das etnovariedades de mandioca 480

Agradecimentos 481

Agradecemos ao liacuteder comunitaacuterio Alexandre O Nascimento aos agricultores e 482

agricultoras das comunidades pela acolhida confianccedila e pela gentileza de compartilharem 483

conosco seus conhecimentos e contribuiacuterem com este estudo Especialmente a Arlindo Ferreira 484

Edgar Antocircnio Joseacute Sebastiatildeo Juvenal Oliveira e Janete Alves Ao Laboratoacuterio de Ecologia e 485

Evoluccedilatildeo de Sistemas Socioecoloacutegicos (LEA - UFPE) E agradecemos ao CNPq pelo apoio 486

com a bolsa de estudos do primeiro autor 487

46

Referecircncias bibliograacuteficas 488

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614

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ANEXOS 615

616

Nome da revista 617

Human Ecology 618

Link de acesso 619

httpsgooglDVLbFj 620

Qualis-CAPES 621

B1 em Biodiversidade 622

623

624

625

626

627

628

629

630

631

632

633

634

635

636

637

638

639

640

641

642

52

Figuras 643

644

645

Fig 1 Partes do processo de fabricaccedilatildeo de farinha de mandioca Onde a raspagem b e c 646

processo de trituraccedilatildeo e d peneiramento Foto registrada em Abril de 2017 por Mirela Santos 647

648

649

650

c

d

b

a

53

651

Fig 2 Mapa de localizaccedilatildeo geograacutefica dos Municiacutepios de Altinho e Panelas e das comunidades 652

estudadas na regiatildeo semiaacuterida do Estado de Pernambuco (Elaborado por SANTOS 2018) 653

54

654

655

656

657

Fig 3 Processo de fabricaccedilatildeo da farinha de mandioca Apoacutes a colheita as raiacutezes satildeo lavadas 658

raspadas e trituradas (a) A massa extraiacuteda eacute prensada e coada Ao sair da prensa a massa 659

peneirada (b) e em seguida eacute torrada (c) em fornos artesanais ou parcialmente mecanizados 660

Imagem registrada em janeiro de 2017 na Comunidade do Caratildeo por Mirela Santos 661

662

663

a

b c

55

664

Fig 4 a Sede da Comunidade do Caratildeo b Agricultor transportando a palma forrageira que eacute 665

um exemplo de estrateacutegia adaptativa para suprir a falta de alimento dos animais devido agrave seca 666

c Feira-livre que acontece na comunidade a cada quinze dias Imagem registrada em julho de 667

2016 na Comunidade do Caratildeo por Mirela Santos 668

669

670

Fig 5 a O agricultor nos explicava as mudanccedilas que vem fazendo em seus roccedilados para se 671

adaptar aos longos periacuteodos de seca b Quando o agricultor nos mostrava as diferentes 672

etnovariedades que mantinha em sua roccedila c Durante a pesquisa nos explicavam como era feita 673

a colheita da mandioca e como selecionavam as manivas para o proacuteximo plantio Foto registrada 674

em abril de 2017 na Comunidade do Brejo Velho por Mirela Santos 675

a

b c

c b

a

56 676

677

Fig 6 Possiacuteveis estruturas de rede que descrevem as interaccedilotildees dos agricultores (losango) 678

ligados as etnovariedades (ciacuterculos) que cultivam Onde a Aninhada b Modular c Aleatoacuteria 679

(Fonte Cavechia et al 2014 com adaptaccedilotildees) 680

681

682

683

684

685

686

687

688

689

690

691

692

693

694

695

696

697

a c b

57

698

699

700

701

702

703

704

705

706

707

Fig 7 Correlaccedilatildeo de Spearman entre a diversidade de etnovariedades de mandiocas conhecidas 708

como cultivadas e variedades atualmente cultivadas por agricultor e as variaacuteveis 709

socioeconocircmicas Onde Nvc= nuacutemero de citadas como cultivadas Nve= nuacutemero de variedades 710

atualmente cultivadas Esc= escolaridade Id= idade Gen= gecircnero Tr= tamanho do roccedilado 711

Exp= experiecircncia na agricultura Sld= renda Nr= nuacutemero de roccedilados Cores distintivas 712

representam correlaccedilotildees significativas (Ple005) 713

714

58

715

Fig 8 Modelo individual de rede de etnovariedades de mandioca citadas (esquerda) por 716

agricultores como cultivadas (direita) nos Municiacutepios de Altinho e Panelas As redes foram 717

desenhadas com o pacote bipartite (Dormann et al 2017) usando o software R (R CORE 718

TEAM 2017) 719

720

59

721

Fig 9 Anaacutelise de Correspondecircncia Muacuteltipla das 17 etnovariedades de mandioca considerando 722

os sete descritores morfoloacutegicos utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo em roccedilas de 723

agricultores tradicionais de sete comunidades no semiaacuterido de Pernambuco 724

725

726

727

728

729

730

731

732

733

734

735

736

737

McCambadinha

McCampina

McCampinaDaGrande

McCampinaRasteira

McCampinaVaruda

McGauba

McIsabelDeSouza

McIsabelTresGalhos

McOlhoDePombo

McOlhoVerde

McPretinha

McPretona

MxBranca

MxRosa

MxRosaBrancaMxRosaVermelha

MxSemente

CFD_Verde_Arroxeado

CFD_Verde_ClaroCFD_Verde_Escuro

CBF_Roxo

CBF_Verde_ArroxeadoCBF_Verde_Claro

CBF_Verde_Escuro

CDP_Verde

CDP_Verde_Amarelado

CDP_Verde_Avermelhado

CDP_Vermelho

CEC_Cinza

CEC_Dourado

CEC_Laranja

CEC_Marrom_Claro

CEC_Marrom_Escuro

CEC_Prateado

CEC_Verde_AmareladoCicatriz_M

Cicatriz_P

PDR_Branco

PDR_Creme

CDR_BrancoCDR_Creme CDR_Rosa

-4

-2

0

2

4

-4 -2 0 2 4

Dim1 (206)

Dim

2 (

162

)

MCA - Biplot

00

10

Hierarchical Clustering

inertia gain

McC

am

pin

aV

aru

da

McC

am

pin

aD

aG

rande

McC

am

pin

a

McG

auba

McP

retin

ha

McP

reto

na

MxR

osaV

erm

elh

a

MxR

osaB

ranca

MxR

osa

McC

am

pin

aR

aste

ira

McC

am

badin

ha

McO

lhoV

erd

e

MxB

ranca

MxS

em

ente

McIsabelT

resG

alh

os

McIsabelD

eS

ouza

McO

lhoD

eP

om

bo

00

05

10

15

Hierarchical Classification

Heig

ht

C1 C2 C3 C4 C5 C6 C7 C8

Fig 10 Agrupamento hieraacuterquico das 17 etnovariedades de mandioca caracterizadas de acordo

com os descritores utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo

60

Tabelas 738

739

Tabela 1 Caracteres e estados utilizados pelos agricultores como descritores botacircnicos para 740

caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das etnovariedades de mandioca 741

Caracter Sigla Estados

Folha

Cor da folha desenvolvida CFD 1- verde claro 2- verde escuro 3- verde arroxeado 4- roxo

Cor do broto foliar CBF 1- verde claro 2- verde escuro 3- verde arroxeado 4- roxo

Cor do peciacuteolo CDP 1- verde amarelado 2- verde 3- verde avermelhado 4- roxo

5- vermelho

Caule

Cor externa do caule CEC 1- laranja 2- verde amarelado 3- dourado 4- marrom claro

5- prateado 6- cinza 7- marrom escuro 8- verde

Protuberacircncia da cicatriz foliar PCF 1- pouco proeminente 2- muito proeminente

Raiacutez

Cor da poupa da raiz PDR 1- branco 2- creme

Cor do coacutertex da raiacutez CDR 1- rosa 2- branco 3- creme

742

743

744

745

746

747

748

749

750

751

61

Tabela 2 Lista das 22 etnovariedades de mandiocas citadas (132 citaccedilotildees) como cultivadas nas 752

comunidades pertencentes aos Municiacutepios de Altinho (Caratildeo n=8) e ao Municiacutepio de Panelas 753

(Aracuatilde Satildeo Joseacute do Bola Brejo Velho Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima e Lajeiro 754

Dantas n=21) 755

Etnovariedade Frequecircncia () Ranking Saliecircncia

Macaxeira Rosa 66 179 0472

Mandioca Isabel de Souza 48 179 0372

Mandioca Campina 24 217 0148

Macaxeira Branca 20 210 0134

Macaxeira Rosa branca 18 122 0168

Mandioca Pretona 16 338 0082

Mandioca Cambadinha 12 283 0071

Mandioca Isabel trecircs galhos 10 180 0075

Mandioca Gauacuteba 10 260 0070

Mandioca Pretinha 8 225 0053

Mandioca Peacute de pombo 4 400 0011

Mandioca Olho verde 4 350 0012

Macaxeira Rosinha 4 200 0027

Mandioca Campina varuda 4 200 0032

Mandioca Campina rasteira 4 300 0021

Mandioca Caboquinha 2 500 0007

Macaxeira Rasteira 2 200 0013

Macaxeira Paraacute 2 100 0020

Mandioca Barra ferro 2 300 0007

Mandioca Campina da grande 2 100 0020

Mandioca Olho de pombo 2 300 0010

Mandioca Jasmim 2 600 0006

756

757

758

62

Tabela 3 Lista de 17 etnovariedades atualmente cultivadas nos roccedilados das comunidades em 759

estudo 760

Ca Ar Bo Br Jb Jc Ld

Etnovariedade

Macaxeira Branca x x x x

Macaxeira Rosa

x x x x x x

Macaxeira Rosa Branca x x x x

Macaxeira Rosa Vermelha

x

Macaxeira Semente

x

Mandioca Cambadinha x

x

Mandioca Campina

x

x

x

Mandioca Campina da Grande x

Mandioca Campina Rasteira

x

Mandioca Campina Varuda

x

Mandioca Gauacuteba

x

Mandioca Isabel de Souza

x x x

Mandioca Isabel trecircs Galhos

x

x

Mandioca Olho de Pombo

x

Mandioca Olho Verde

x

Mandioca Pretinha

x

Mandioca Pretona x x x

Comunidades Ca= Caratildeo Ar=Aracuatilde Bo= Satildeo Joseacute do Bola Jb= Japaranduba de Baixo 761

Jc= Japaranduba de Cima Ld= Lajedo Dantas 762

763

764

765

766

767

768

63

Tabela 4 Descriccedilatildeo das classes do agrupamento por meacutetodo de Ward agrupadas pelo conjunto 769

dos descritores mais significativos para a caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das variedades de mandioca 770

Classes Descritores in situ p-valor

C1 Cor do peciacuteolo (CDP) 0016

C2 Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023

C3 Cor do peciacuteolo (CDP) 0012

C4 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0004

Cor da poupa da raiacutez (PDF) 0021

C5 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0003

C6 Cor do broto foliar (CBF) 0002

C7 Cor da folha desenvolvida (CFD) 0004

Cor externa do caule (CEC) 0040

C8 Cor do peciacuteolo (CDP) 0005

Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023

Valores de Ple005 satildeo significativos 771

772

36

A anaacutelise de correspondecircncia muacuteltipla (MCA) permitiu identificar como as variedades 243

de mandioca estatildeo ordenadas em funccedilatildeo dos seus descritores etnobotacircnicos As etnovariedades 244

foram plotadas ao longo um plano cartesiano bi ou tridimensional onde a variaccedilatildeo total eacute 245

explicada pelos dois primeiros eixos Complementar a esta anaacutelise realizamos a anaacutelise de 246

agrupamento hieraacuterquico (Cluster) para identificar como estatildeo agrupadas as etnovariedades de 247

acordo seus descritores Conferimos a consistecircncia do dendrograma com coeficiente de 248

correlaccedilatildeo cofeneacutetica conforme Sneath amp Sokal (1973) que quantifica se a correlaccedilatildeo entre a 249

matriz de distacircncias originais e a matriz de distacircncias cofeneacuteticas eacute representativa Para 250

mensurar as dissimilaridades entre as variedades de mandioca foi utilizada a distacircncia 251

euclidiana e com o meacutetodo de Ward 252

Softwares utilizados 253

Para a anaacutelise da lista livre usamos o software ANTROPAC versatildeo 10 O software 254

ANINHADO 30 (Guimaratildees amp Guimaratildees 2006) foi usado para medir o grau de aninhamento 255

da rede Utilizamos o software estatiacutestico R (R core team 2017) para a anaacutelise de correlaccedilatildeo 256

de Spearman com o pacote corrplot (Wei amp Simko 2013) o desenho da rede que descreve a 257

interaccedilatildeo entre os agricultores e as etnovariedades com o pacote bipartite (Dormann et al 258

2017) E com os pacotes FactoMineR (LEcirc et al 2008) factoextra (Kassambara et al 2016) e 259

vegan (Oksanen et al 2017) foram realizadas as anaacutelises de cluster de correspondecircncia 260

muacuteltipla (MCA) e de correlaccedilatildeo coefeneacutetica respectivamente 261

Resultados 262

As diferentes etnovariedades de mandioca encontradas no estudo suprem a demanda 263

local por alimento enquanto outras atendem agraves preferecircncias individuais ou do comeacutercio As 264

variedades que possuem maior rendimento e a farinha produzida apresenta coloraccedilatildeo branca 265

satildeo as de maior valor comercial para os agricultores devido agraves preferecircncias do mercado Jaacute 266

37

outras variedades que satildeo mais moles e apresentam coloraccedilatildeo amarelada natildeo satildeo empregadas 267

na produccedilatildeo de farinha mas sim consumidas cozidas ou assadas A depender da demanda local 268

os agricultores intencionalmente aumentam ou diminuem a frequecircncia de suas variedades nos 269

roccedilados seja por alguma exigecircncia do comeacutercio ou para consumo familiar 270

Nas comunidades os agricultores separam suas variedades de mandioca em dois grupos 271

como observado em outras comunidades na mata Atlacircntica por Emperaire e Peroni (2007) o 272

das ldquomacaxeirasrdquo que satildeo as variedades exploradas basicamente para o consumo familiar sem 273

processo preacutevio de desintoxicaccedilatildeo cujas raiacutezes satildeo consumidas fritas eou cozidas Sendo 274

utilizadas tambeacutem como complemento na dieta dos animais E o grupo das ldquomandiocasrdquo que 275

satildeo as variedades que necessitam de processo preacutevio de desintoxicaccedilatildeo para o consumo 276

utilizadas comumente para a produccedilatildeo de farinha de mandioca Para os agricultores as 277

ldquomandiocasrdquo possuem maior valor comercial pois apresentam maior rendimento e 278

rentabilidade pois a farinha produzida eacute branca e atende as preferencias do comercio local 279

Aleacutem da farinha outros produtos e subprodutos produzidos dentre os quais foram citados 280

ldquotapioca ou gomardquo ldquobijurdquo ou ldquobolo de mandiocardquo satildeo utilizados para o consumo proacuteprio ou 281

eventual comercializaccedilatildeo 282

Os informantes natildeo possuiacuteam conhecimento sobre a origem dos nomes das variedades 283

de mandioca Quanto a compreensatildeo da geraccedilatildeo da diversidade intraespeciacutefica identificamos 284

que apesar de 66 dos agricultores citarem que conhecem variedades fruto de germinaccedilatildeo de 285

suas sementes nenhum deles utiliza as manivas para o plantio por essas variedades de 286

mandioca ldquovoluntaacuteriasrdquo natildeo apresentarem bom rendimento 287

Observamos que existe uma baixa correlaccedilatildeo entre a diversidade de variedades 288

atualmente cultivadas e as variaacuteveis socioeconocircmicas como no caso do nuacutemero de roccedilados 289

(r=028 Ple005) e do tamanho do roccedilado (r=033 Ple005) (Fig 7) Essa baixa correlaccedilatildeo pode 290

38

ser explicada pelo fato de existirem grupos de agricultores que preferem manter as variedades 291

de maior valor econocircmico e de subsistecircncia mesmo com aacutereas maiores de cultivo 292

Verificamos tambeacutem uma correlaccedilatildeo positiva moderada entre o nuacutemero de variedades 293

conhecidas com o nuacutemero de variedades atualmente cultivadas (r=054 Ple005) Na lista livre 294

foram identificadas 22 etnovariedades de mandioca cultivadas (132 citaccedilotildees no total) sendo 295

oito dessas mais citadas com maiores valores de saliecircncia (entre 047 e 0082) (Tabela 2) As 296

etnovariedades ldquoMacaxeira Rosardquo e ldquoMandioca Isabel de Souzardquo exibiram os maiores valores 297

de saliecircncia 047 e 037 respectivamente Logo essas variedades satildeo as mais conhecidas 298

dentro das comunidades com 66 e 48 das citaccedilotildees respectivamente 299

Dentre as etnovariedades citadas 12 foram idiossincraacuteticas pois apresentaram menor 300

frequecircncia de citaccedilatildeo e menores valores de saliecircncia (entre 0032 e 0006) (Tabela 2) 301

Redes de interaccedilatildeo social 302

A rede apresentou uma estrutura aninhada com grau de aninhamento significativamente 303

superior aos modelos nulos (N=3072 Plt0001) para as comunidades sendo um nuacutecleo de 304

etnovariedades altamente conectado aos agricultores (Fig 8) A estrutura aninhada nos permite 305

inferir que existe um grupo de agricultores que cultiva uma maior diversidade de etnovariedades 306

de mandioca em suas roccedilas enquanto que outro subgrupo que tem menor diversidade cultivam 307

as mais comuns ou disponiacuteveis (Cavechia et al 2014) Isso significa que os agricultores locais 308

mesmo em diferentes comunidades cultivam um nuacutecleo de etnovariedades comum entre eles 309

(n=6 Tabela 2) 310

Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 311

Observamos que a maioria dos indiviacuteduos de mandioca satildeo caracterizados por meio de 312

um conjunto de sete caracteres morfoloacutegicos os quais foram citados pelos agricultores como 313

mais importantes para a caracterizaccedilatildeo de suas variedades Nas visitas aos roccedilados registramos 314

39

as etnovariedades atualmente cultivadas e a tabela 3 fornece a lista completa com as 17 315

etnovariedades de mandioca e o local de registro 316

Por meio da anaacutelise de correspondecircncia muacuteltipla as variedades de mandioca foram 317

ordenadas em funccedilatildeo de seus descritores ao longo do primeiro e segundo eixo correspondentes 318

a 3680 da variacircncia total (Fig 9) 319

As variaacuteveis mais correlacionadas e que agruparam as variedades de mandioca no 320

primeiro eixo foram cor da folha desenvolvida (CFD) (r= 07239 Ple0001) cor do coacutertex da 321

raiz (CDR) (r= 06473 Ple0001) cor do broto foliar (CBF) (r= 06880 Ple0001) cor do peciacuteolo 322

(CDP) (r= 05250 Ple005) cor externa do caule (CEC) (r= 06883 Ple005) cor da polpa da 323

raiz (PDR) (r= 02473 Ple005) Para o segundo eixo as variaacuteveis correlacionadas foram cor 324

da folha desenvolvida (CFD) (r= 07220 Ple0001) cor externa do caule (CEC) (r= 08718 325

Ple0001) e cor do peciacuteolo (CDP) (r= 06927 Ple005) 326

O agrupamento de todas as variedades caracterizadas ldquoin siturdquo gerou uma aacutervore 327

hieraacuterquica (dendrograma) (Fig 9) utilizando a distacircncia euclidiana seguindo o criteacuterio de 328

Ward O dendrograma gerado apresentou um coeficiente de correlaccedilatildeo cofeneacutetica r= 06780 329

indicando que existe consistecircncia com os dados originais no agrupamento quanto agrave 330

classificaccedilatildeo e estrutura de tal forma que as variedades foram agrupadas em oito classes as 331

quais foram explicadas pelas variaacuteveis mais significativas descritas na tabela 4 332

O resultado do agrupamento (utilizada a distacircncia euclidiana e com o meacutetodo de Ward) 333

observamos que as etnovariedades de mandioca caracterizadas ldquoin siturdquo foram agrupadas em 334

dois grandes agrupamentos indicados na Fig 10 pelos retacircngulos em vermelho A partir dessa 335

anaacutelise percebemos que os caracteres morfoloacutegicos selecionados pelos agricultores natildeo foram 336

suficientes para separar as variedades de macaxeira e mandioca pois em ambos os 337

agrupamentos encontramos tanto macaxeiras quanto mandiocas 338

40

As variedades da classe 1 foram identificadas pelos agricultores pela cor do peciacuteolo 339

(CDP) verde A classe 2 agrupou as etnoveriedades caracterizadas pela protuberacircncia da cicatriz 340

foliar (PCF) mais protuberante Esse descritor segundo os agricultores era identificado como 341

ldquoembriatildeordquo A classe 3 consiste apenas da variedade ldquoMandioca Pretonardquo indicada pela presenccedila 342

de cor do peciacuteolo (CDP) vermelho A classe 4 agrupou trecircs variedades caracterizadas pelos 343

agricultores pela presenccedila de cor coacutertex da raiz (CDR) rosa e cor da polpa da raiacutez (PDR) branca 344

identificadas como ldquoMacaxeira vermelhardquo ldquoMacaxeira Rosa Brancardquo ldquoMacaxeira Rosardquo As 345

variedades agrupadas na classe 5 foras as variedades de mandioca caracterizadas pelos 346

agricultores por apresentarem cor do coacutertex (CDR) da raiacutez branca A classe 6 agrupou 347

variedades identificadas pelos agricultores pela cor do broto foliar (CBF) verde A classe 7 348

consiste apenas da variedade ldquoMacaxeira Sementerdquo identificada pelos agricultores pela cor do 349

peciacuteolo (CDP) roxo e protuberacircncia da cicatriz foliar pouco proeminente Essa variedade 350

segundo os agricultores era fruto do nascimento espontacircneo no roccedilado poreacutem eles geralmente 351

natildeo utilizam essas variedades por apresentarem apenas uma raiz pequena e de baixo 352

rendimento Na classe 8 as variedades foram identificadas pelos agricultores pela cor do peciacuteolo 353

(CDP) verde amarelado e protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) pouco proeminente As 354

ldquoMandioca Isabel de Souzardquo ldquoMandioca Isabel trecircs galhosrdquo segundo os agricultores se 355

diferenciavam pelo maior nuacutemero de caules presentes na variedade ldquoIsabel trecircs galhosrdquo 356

Discussatildeo 357

As sete comunidades estudadas manejavam um nuacutemero consideraacutevel de variedades 358

locais A quantidade de etnovariedades registradas eacute proacutexima a encontrada por Bender et al 359

(2009) e Cavechia et al (2014) em comunidades na regiatildeo sul e sudeste por Oler e Amorozo 360

(2017) em uma comunidade tradicional na regiatildeo centro-oeste Poreacutem foi quantitativamente 361

inferior quando comparada a estudos como os de Elias et al (2001) e Kawa et al (2013) em 362

comunidades na regiatildeo amazocircnica pois possuiacuteam uma alta diversidade Essa alta diversidade 363

41

na regiatildeo amazocircnica pode estar relacionada com o fato de que essa regiatildeo eacute o provaacutevel centro 364

de origem da mandioca (M esculenta) (Allem 1994) 365

As etnovariedades registradas neste estudo estatildeo disponiacuteveis para a maioria dos 366

agricultores dessa regiatildeo e esse fator favorece a circulaccedilatildeo das etnovariedades entre as 367

comunidades locais Por isso haacute semelhanccedilas das etnovariedades utilizadas entre os agricultores 368

da mesma comunidade e entre comunidades vizinhas 369

Parte dos agricultores optam por manter uma alta frequecircncia de variedades mais 370

utilizadas enquanto que outros optam por manter etnovariedades de baixa frequecircncia 371

Conforme discutido por Amorozo (2013) os agricultores escolhem seu acervo de acordo com 372

as necessidades e contexto em que vivem A reduccedilatildeo da diversidade de etnoveriedades por 373

exemplo pode ser impulsionada por fatores que simplificam o sistema como a seleccedilatildeo de 374

etnovariedades para a produccedilatildeo de farinha resultando no cultivo de poucas ou ateacute de uma uacutenica 375

etnovariedade (Peroni amp Hanazaki 2002) mesmo em aacutereas maiores 376

377

Redes de interaccedilatildeo social 378

Com as anaacutelises de rede demonstramos que os agricultores de diferentes comunidades 379

em uma mesma regiatildeo efetivamente trocam variedades de mandioca entre si corroborando 380

com estudos realizados por Emperaire amp Eloy (2008) Pautasso et al (2012) e Cavechia et al 381

(2014) Nesses estudos os autores tambeacutem consideram que as trocas de etnovariedades por 382

meio da rede de intercacircmbio entre os agricultores eacute um mecanismo fundamental para a 383

manutenccedilatildeo da diversidade local 384

A visualizaccedilatildeo da rede demonstrou que entre as comunidades os agricultores 385

compartilham um nuacutecleo de etnovariedades mais utilizadas dentre as quais estatildeo as de maior 386

valor econocircmico e de subsistecircncia Essas de maior frequecircncia satildeo aquelas altamente produtivas 387

utilizadas pelos agricultores para atenderem agraves demandas de mercado por farinha e para o 388

consumo proacuteprio (Kawa et al 2013) 389

42

No entanto observamos que existe outro nuacutecleo de etnovariedades menos frequentes 390

Essas etnovariedades raras podem ser resultantes do processo de experimentaccedilatildeo ou 391

preferecircncias individuais dos agricultores Outra possiacutevel razatildeo para a baixa frequecircncia de 392

algumas etnovariedades poderia ser explicada pela variaccedilatildeo da nomenclatura pelos 393

agricultores que segundo Peroni amp Hanazaki (2002) pode ocorrer durante o processo de troca 394

e introduccedilatildeo de novas variedades aos roccedilados Ainda assim natildeo descartamos a hipoacutetese de que 395

essas etnovariedades raras possam ser provenientes do cruzamento entre variedades diferentes 396

cultivadas da mesma roccedilado ou em roccedilas vizinhas De acordo com Martins (2005) essas 397

variedades fruto de germinaccedilatildeo expentacircnea satildeo incorporadas aos roccedilados pelos agricultores 398

pela curiosidade em experimentar novas variedades agraves suas coleccedilotildees 399

Nesse estudo admitimos que optar por etnovariedades raras entre as comunidades 400

estudadas eacute um comportamento adotado por agricultores que manejam uma maior diversidade 401

corroborando com os estudos de Cavechia et al (2014) e Emperaire et al (2016) em regiotildees 402

uacutemidas Para esses autores etnovaridedades de baixa frequecircncia representam um subconjunto 403

das de alta frequecircncia cultivadas por agricultores que manteacutem a maior diversidade em seus 404

roccedilados Sendo assim inferimos que no geral entre as comunidades satildeo os agricultores 405

generalistas aqueles que cultivam maior diversidade os responsaacuteveis por incorporar novas 406

etnovariedades aos roccedilados 407

As decisotildees dos agricultores em manter o acervo direcionado principalmente para 408

atender a demanda de mercado por exemplo podem levar a uma homogeneizaccedilatildeo nas roccedilas 409

colocando em risco a manutenccedilatildeo da diversidade local (Peroni amp Hanazaki 2002) Como 410

discutido por Elias et al (2000) os agricultores que selecionam apenas um nuacutemero reduzido e 411

especiacutefico de variedades mais produtivas tendem a fazer com que as variedades menos 412

frequentes desapareccedilam ao longo do tempo Essa tendecircndia pode influenciar na capacidade de 413

43

resiliecircncia do sistema assim como dos agricultores em lidar com possiacuteveis adversidades 414

ambientais que possam ocorrer 415

Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 416

No geral os agricultores demonstraram uma tendecircncia em classificarseparar suas 417

diferentes etnovariedades de mandioca a partir da combinaccedilatildeo de um conjunto de sete 418

caracteres morfoloacutegicos distintos e de faacutecil percepccedilatildeo os quais natildeo tem relaccedilatildeo com o uso 419

como por exemplo a cores das raiacutezes caule e folhas Logo consideramos que esses caracteres 420

morfoloacutegicos podem ser considerados como uma forma de classificaccedilatildeo pelos agricultores 421

baseada na capacidade percepccedilatildeo das diferenccedilas morfoloacutegicas que cada etnovariedades 422

apresenta (Boster 1985) Estes resultados nos levam a entender que entre os agricultores o 423

conhecimento sobre a diversidade da mandioca estaacute relacionado ao conhecimento de 424

caracteriacutesticas morfoloacutegicas consistentes 425

A existecircncia de alguns fenoacutetipos comuns nos permitiu avaliar a classificaccedilatildeo da 426

consistecircncia da taxonomia popular entre os agricultores Por exemplo as etnovariedades 427

ldquoMaxaceira Rosardquo e ldquoMacaxeira Rosa Brancardquo e ldquoMacaxeira vermelhardquo foram agrupadas no 428

mesmo cluster (C4) por apresentaram fenoacutetipos semelhantes Notamos que os agricultores 429

classificaram essas variedades de acordo com os traccedilos morfoloacutegicos mais relevantes como a 430

cor do coacutertex da raiz rosa e cor branca da polpa O mesmo ocorreu com as etnovariedades 431

ldquoMandioca varudardquo ldquoMandioca campina da granderdquo e ldquoMandioca campinardquo caracterizadas 432

pela presenccedila do peciacuteolo verde agrupadas no cluster (C1) 433

A partir dessas evidecircncias consideramos a hipoacutetese de que as variedades mesmo 434

apresentando caracteriacutesticas morfoloacutegicas muito semelhantes estatildeo sujeitas a variaccedilatildeo 435

nomenclatural durante o processo a incorporaccedilatildeo aos roccedilados pelos agricultores pois a 436

capacidade para distinguir e nomear variedades entre os agricultores da mesma regiatildeo pode 437

variar (Sambatti et al 2001 Elias et al 2001 Mekbib 2007) Consideramos tambeacutem que pode 438

44

existir variaccedilatildeo geneacutetica entre os indiviacuteduos identificados por um mesmo nome ou entatildeo que 439

os agricultores datildeo o mesmo nome para variedades diferentes E esta situaccedilatildeo pode levar a uma 440

superestimaccedilatildeo ou subestimaccedilatildeo da diversidade de mandioca cultiva nas aacutereas de estudo 441

Sabemos que a mandioca eacute propagada vegetativamente pelos agricultores por meio de 442

estacas em sistemas de agricultura tradicional No entanto alguns variedades produzem flores 443

e sementes que germinam e podem originar outras variedades ou outros clones por meio de 444

fecundaccedilatildeo cruzada (Elias et al 2001) Nesse contexto a etnovariedade ldquoMacaxeira Sementerdquo 445

presente no cluster (C7) trata-se de um uacutenico indiviacuteduo amostrado em uma roccedila de um dos 446

agricultores Esta apresentava algumas caracteriacutesticas morfoloacutegicas distintas das demais 447

reconhecidas pelo agricultor como por exemplo a produccedilatildeo de uma raiz uacutenica e 448

consequentemente de baixo rendimento Encontramos apenas um indiviacuteduo dessa 449

etnovariedade e nossa hipoacutetese de que esta poderia ter sido originada da germinaccedilatildeo da 450

semente mesmo quando 100 dos informantes declararam natildeo dar qualquer importacircncia e 451

descartar essas ldquovariedades-voluntaacuteriasrdquo foi confirmada pelo agricultor que afirmou que se 452

tratava de uma variedade nascida da germinaccedilatildeo da semente Esse comportamento vai de 453

encontro ao estudo de Fraser et al (2012) pois apesar dos agricultores reportarem nas 454

entrevistas que conhecem essas ldquovariedades-voluntaacuteriasrdquo nenhum agricultor faz o uso delas 455

Peroni et al (1999) e Agre et al (2016) analisando morfologicamente as variedades 456

locais de mandioca mantidas por agricultores em sistemas agriacutecolas tropicais tambeacutem 457

demonstraram que os agricultores satildeo coerentes quanto a separaccedilatildeo e identificaccedilatildeo de suas 458

etnovariedades a partir da formaccedilatildeo de grupos de coesos quanto a nomenclatura local utilizada 459

No entanto para o melhor entendimento dessa diversidade aleacutem da caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica 460

o uso de anaacutelises complementares como anaacutelise molecular seria importante para tentar 461

identificar se esses grupos representam a mesma variedade com nomes distintos ou se satildeo 462

variedades distintas com o mesmo nome 463

45

Conclusatildeo 464

O estudo demonstrou que no sistema de manejo da mandioca ao niacutevel de roccedila em 465

comunidades localizadas na regiatildeo semiaacuterida de Pernambuco compotildee uma diversidade 466

intrespeciacutefica de mandioca para atender agraves demandas econocircmicas e de subsistecircncia das 467

populaccedilotildees locais 468

Com relaccedilatildeo a anaacutelise de rede demostramos que haacute um nuacutecleo de etnovariedades 469

fortemente conectado aos agricultores e sua composiccedilatildeo eacute direcionada pelas preferecircncias e 470

necessidades individuais dos agricultores que foram os fatores responsaacuteveis pelo surgimento 471

da estrutura aninhada observada na anaacutelise rede entre as comunidades deste estudo E esse 472

padratildeo aninhado observado contribui na conservaccedilatildeo das etnovariedades mais comuns mas 473

tambeacutem pode resultar em perda daquelas de menor frequecircncia ao longo do tempo 474

A caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica ldquoin siturdquo nos permitiram inferir que os agricultores 475

reconhecem as diferentes caracteriacutesticas morfoloacutegicas de suas cultivares e satildeo coerentes na 476

separaccedilatildeo de suas variedades de mandioca e macaxeira Entretanto esses resultados sugerem a 477

realizaccedilatildeo de um estudo em niacutevel de diversidade geneacutetica exploratoacuterio para identificar se as 478

consistecircncias morfoloacutegicas refletem em consistecircncias geneacuteticas elucidando assim as possiacuteveis 479

confusotildees atribuiacutedas aos nomes das etnovariedades de mandioca 480

Agradecimentos 481

Agradecemos ao liacuteder comunitaacuterio Alexandre O Nascimento aos agricultores e 482

agricultoras das comunidades pela acolhida confianccedila e pela gentileza de compartilharem 483

conosco seus conhecimentos e contribuiacuterem com este estudo Especialmente a Arlindo Ferreira 484

Edgar Antocircnio Joseacute Sebastiatildeo Juvenal Oliveira e Janete Alves Ao Laboratoacuterio de Ecologia e 485

Evoluccedilatildeo de Sistemas Socioecoloacutegicos (LEA - UFPE) E agradecemos ao CNPq pelo apoio 486

com a bolsa de estudos do primeiro autor 487

46

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073 230(231) 11 613

614

51

ANEXOS 615

616

Nome da revista 617

Human Ecology 618

Link de acesso 619

httpsgooglDVLbFj 620

Qualis-CAPES 621

B1 em Biodiversidade 622

623

624

625

626

627

628

629

630

631

632

633

634

635

636

637

638

639

640

641

642

52

Figuras 643

644

645

Fig 1 Partes do processo de fabricaccedilatildeo de farinha de mandioca Onde a raspagem b e c 646

processo de trituraccedilatildeo e d peneiramento Foto registrada em Abril de 2017 por Mirela Santos 647

648

649

650

c

d

b

a

53

651

Fig 2 Mapa de localizaccedilatildeo geograacutefica dos Municiacutepios de Altinho e Panelas e das comunidades 652

estudadas na regiatildeo semiaacuterida do Estado de Pernambuco (Elaborado por SANTOS 2018) 653

54

654

655

656

657

Fig 3 Processo de fabricaccedilatildeo da farinha de mandioca Apoacutes a colheita as raiacutezes satildeo lavadas 658

raspadas e trituradas (a) A massa extraiacuteda eacute prensada e coada Ao sair da prensa a massa 659

peneirada (b) e em seguida eacute torrada (c) em fornos artesanais ou parcialmente mecanizados 660

Imagem registrada em janeiro de 2017 na Comunidade do Caratildeo por Mirela Santos 661

662

663

a

b c

55

664

Fig 4 a Sede da Comunidade do Caratildeo b Agricultor transportando a palma forrageira que eacute 665

um exemplo de estrateacutegia adaptativa para suprir a falta de alimento dos animais devido agrave seca 666

c Feira-livre que acontece na comunidade a cada quinze dias Imagem registrada em julho de 667

2016 na Comunidade do Caratildeo por Mirela Santos 668

669

670

Fig 5 a O agricultor nos explicava as mudanccedilas que vem fazendo em seus roccedilados para se 671

adaptar aos longos periacuteodos de seca b Quando o agricultor nos mostrava as diferentes 672

etnovariedades que mantinha em sua roccedila c Durante a pesquisa nos explicavam como era feita 673

a colheita da mandioca e como selecionavam as manivas para o proacuteximo plantio Foto registrada 674

em abril de 2017 na Comunidade do Brejo Velho por Mirela Santos 675

a

b c

c b

a

56 676

677

Fig 6 Possiacuteveis estruturas de rede que descrevem as interaccedilotildees dos agricultores (losango) 678

ligados as etnovariedades (ciacuterculos) que cultivam Onde a Aninhada b Modular c Aleatoacuteria 679

(Fonte Cavechia et al 2014 com adaptaccedilotildees) 680

681

682

683

684

685

686

687

688

689

690

691

692

693

694

695

696

697

a c b

57

698

699

700

701

702

703

704

705

706

707

Fig 7 Correlaccedilatildeo de Spearman entre a diversidade de etnovariedades de mandiocas conhecidas 708

como cultivadas e variedades atualmente cultivadas por agricultor e as variaacuteveis 709

socioeconocircmicas Onde Nvc= nuacutemero de citadas como cultivadas Nve= nuacutemero de variedades 710

atualmente cultivadas Esc= escolaridade Id= idade Gen= gecircnero Tr= tamanho do roccedilado 711

Exp= experiecircncia na agricultura Sld= renda Nr= nuacutemero de roccedilados Cores distintivas 712

representam correlaccedilotildees significativas (Ple005) 713

714

58

715

Fig 8 Modelo individual de rede de etnovariedades de mandioca citadas (esquerda) por 716

agricultores como cultivadas (direita) nos Municiacutepios de Altinho e Panelas As redes foram 717

desenhadas com o pacote bipartite (Dormann et al 2017) usando o software R (R CORE 718

TEAM 2017) 719

720

59

721

Fig 9 Anaacutelise de Correspondecircncia Muacuteltipla das 17 etnovariedades de mandioca considerando 722

os sete descritores morfoloacutegicos utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo em roccedilas de 723

agricultores tradicionais de sete comunidades no semiaacuterido de Pernambuco 724

725

726

727

728

729

730

731

732

733

734

735

736

737

McCambadinha

McCampina

McCampinaDaGrande

McCampinaRasteira

McCampinaVaruda

McGauba

McIsabelDeSouza

McIsabelTresGalhos

McOlhoDePombo

McOlhoVerde

McPretinha

McPretona

MxBranca

MxRosa

MxRosaBrancaMxRosaVermelha

MxSemente

CFD_Verde_Arroxeado

CFD_Verde_ClaroCFD_Verde_Escuro

CBF_Roxo

CBF_Verde_ArroxeadoCBF_Verde_Claro

CBF_Verde_Escuro

CDP_Verde

CDP_Verde_Amarelado

CDP_Verde_Avermelhado

CDP_Vermelho

CEC_Cinza

CEC_Dourado

CEC_Laranja

CEC_Marrom_Claro

CEC_Marrom_Escuro

CEC_Prateado

CEC_Verde_AmareladoCicatriz_M

Cicatriz_P

PDR_Branco

PDR_Creme

CDR_BrancoCDR_Creme CDR_Rosa

-4

-2

0

2

4

-4 -2 0 2 4

Dim1 (206)

Dim

2 (

162

)

MCA - Biplot

00

10

Hierarchical Clustering

inertia gain

McC

am

pin

aV

aru

da

McC

am

pin

aD

aG

rande

McC

am

pin

a

McG

auba

McP

retin

ha

McP

reto

na

MxR

osaV

erm

elh

a

MxR

osaB

ranca

MxR

osa

McC

am

pin

aR

aste

ira

McC

am

badin

ha

McO

lhoV

erd

e

MxB

ranca

MxS

em

ente

McIsabelT

resG

alh

os

McIsabelD

eS

ouza

McO

lhoD

eP

om

bo

00

05

10

15

Hierarchical Classification

Heig

ht

C1 C2 C3 C4 C5 C6 C7 C8

Fig 10 Agrupamento hieraacuterquico das 17 etnovariedades de mandioca caracterizadas de acordo

com os descritores utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo

60

Tabelas 738

739

Tabela 1 Caracteres e estados utilizados pelos agricultores como descritores botacircnicos para 740

caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das etnovariedades de mandioca 741

Caracter Sigla Estados

Folha

Cor da folha desenvolvida CFD 1- verde claro 2- verde escuro 3- verde arroxeado 4- roxo

Cor do broto foliar CBF 1- verde claro 2- verde escuro 3- verde arroxeado 4- roxo

Cor do peciacuteolo CDP 1- verde amarelado 2- verde 3- verde avermelhado 4- roxo

5- vermelho

Caule

Cor externa do caule CEC 1- laranja 2- verde amarelado 3- dourado 4- marrom claro

5- prateado 6- cinza 7- marrom escuro 8- verde

Protuberacircncia da cicatriz foliar PCF 1- pouco proeminente 2- muito proeminente

Raiacutez

Cor da poupa da raiz PDR 1- branco 2- creme

Cor do coacutertex da raiacutez CDR 1- rosa 2- branco 3- creme

742

743

744

745

746

747

748

749

750

751

61

Tabela 2 Lista das 22 etnovariedades de mandiocas citadas (132 citaccedilotildees) como cultivadas nas 752

comunidades pertencentes aos Municiacutepios de Altinho (Caratildeo n=8) e ao Municiacutepio de Panelas 753

(Aracuatilde Satildeo Joseacute do Bola Brejo Velho Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima e Lajeiro 754

Dantas n=21) 755

Etnovariedade Frequecircncia () Ranking Saliecircncia

Macaxeira Rosa 66 179 0472

Mandioca Isabel de Souza 48 179 0372

Mandioca Campina 24 217 0148

Macaxeira Branca 20 210 0134

Macaxeira Rosa branca 18 122 0168

Mandioca Pretona 16 338 0082

Mandioca Cambadinha 12 283 0071

Mandioca Isabel trecircs galhos 10 180 0075

Mandioca Gauacuteba 10 260 0070

Mandioca Pretinha 8 225 0053

Mandioca Peacute de pombo 4 400 0011

Mandioca Olho verde 4 350 0012

Macaxeira Rosinha 4 200 0027

Mandioca Campina varuda 4 200 0032

Mandioca Campina rasteira 4 300 0021

Mandioca Caboquinha 2 500 0007

Macaxeira Rasteira 2 200 0013

Macaxeira Paraacute 2 100 0020

Mandioca Barra ferro 2 300 0007

Mandioca Campina da grande 2 100 0020

Mandioca Olho de pombo 2 300 0010

Mandioca Jasmim 2 600 0006

756

757

758

62

Tabela 3 Lista de 17 etnovariedades atualmente cultivadas nos roccedilados das comunidades em 759

estudo 760

Ca Ar Bo Br Jb Jc Ld

Etnovariedade

Macaxeira Branca x x x x

Macaxeira Rosa

x x x x x x

Macaxeira Rosa Branca x x x x

Macaxeira Rosa Vermelha

x

Macaxeira Semente

x

Mandioca Cambadinha x

x

Mandioca Campina

x

x

x

Mandioca Campina da Grande x

Mandioca Campina Rasteira

x

Mandioca Campina Varuda

x

Mandioca Gauacuteba

x

Mandioca Isabel de Souza

x x x

Mandioca Isabel trecircs Galhos

x

x

Mandioca Olho de Pombo

x

Mandioca Olho Verde

x

Mandioca Pretinha

x

Mandioca Pretona x x x

Comunidades Ca= Caratildeo Ar=Aracuatilde Bo= Satildeo Joseacute do Bola Jb= Japaranduba de Baixo 761

Jc= Japaranduba de Cima Ld= Lajedo Dantas 762

763

764

765

766

767

768

63

Tabela 4 Descriccedilatildeo das classes do agrupamento por meacutetodo de Ward agrupadas pelo conjunto 769

dos descritores mais significativos para a caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das variedades de mandioca 770

Classes Descritores in situ p-valor

C1 Cor do peciacuteolo (CDP) 0016

C2 Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023

C3 Cor do peciacuteolo (CDP) 0012

C4 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0004

Cor da poupa da raiacutez (PDF) 0021

C5 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0003

C6 Cor do broto foliar (CBF) 0002

C7 Cor da folha desenvolvida (CFD) 0004

Cor externa do caule (CEC) 0040

C8 Cor do peciacuteolo (CDP) 0005

Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023

Valores de Ple005 satildeo significativos 771

772

37

outras variedades que satildeo mais moles e apresentam coloraccedilatildeo amarelada natildeo satildeo empregadas 267

na produccedilatildeo de farinha mas sim consumidas cozidas ou assadas A depender da demanda local 268

os agricultores intencionalmente aumentam ou diminuem a frequecircncia de suas variedades nos 269

roccedilados seja por alguma exigecircncia do comeacutercio ou para consumo familiar 270

Nas comunidades os agricultores separam suas variedades de mandioca em dois grupos 271

como observado em outras comunidades na mata Atlacircntica por Emperaire e Peroni (2007) o 272

das ldquomacaxeirasrdquo que satildeo as variedades exploradas basicamente para o consumo familiar sem 273

processo preacutevio de desintoxicaccedilatildeo cujas raiacutezes satildeo consumidas fritas eou cozidas Sendo 274

utilizadas tambeacutem como complemento na dieta dos animais E o grupo das ldquomandiocasrdquo que 275

satildeo as variedades que necessitam de processo preacutevio de desintoxicaccedilatildeo para o consumo 276

utilizadas comumente para a produccedilatildeo de farinha de mandioca Para os agricultores as 277

ldquomandiocasrdquo possuem maior valor comercial pois apresentam maior rendimento e 278

rentabilidade pois a farinha produzida eacute branca e atende as preferencias do comercio local 279

Aleacutem da farinha outros produtos e subprodutos produzidos dentre os quais foram citados 280

ldquotapioca ou gomardquo ldquobijurdquo ou ldquobolo de mandiocardquo satildeo utilizados para o consumo proacuteprio ou 281

eventual comercializaccedilatildeo 282

Os informantes natildeo possuiacuteam conhecimento sobre a origem dos nomes das variedades 283

de mandioca Quanto a compreensatildeo da geraccedilatildeo da diversidade intraespeciacutefica identificamos 284

que apesar de 66 dos agricultores citarem que conhecem variedades fruto de germinaccedilatildeo de 285

suas sementes nenhum deles utiliza as manivas para o plantio por essas variedades de 286

mandioca ldquovoluntaacuteriasrdquo natildeo apresentarem bom rendimento 287

Observamos que existe uma baixa correlaccedilatildeo entre a diversidade de variedades 288

atualmente cultivadas e as variaacuteveis socioeconocircmicas como no caso do nuacutemero de roccedilados 289

(r=028 Ple005) e do tamanho do roccedilado (r=033 Ple005) (Fig 7) Essa baixa correlaccedilatildeo pode 290

38

ser explicada pelo fato de existirem grupos de agricultores que preferem manter as variedades 291

de maior valor econocircmico e de subsistecircncia mesmo com aacutereas maiores de cultivo 292

Verificamos tambeacutem uma correlaccedilatildeo positiva moderada entre o nuacutemero de variedades 293

conhecidas com o nuacutemero de variedades atualmente cultivadas (r=054 Ple005) Na lista livre 294

foram identificadas 22 etnovariedades de mandioca cultivadas (132 citaccedilotildees no total) sendo 295

oito dessas mais citadas com maiores valores de saliecircncia (entre 047 e 0082) (Tabela 2) As 296

etnovariedades ldquoMacaxeira Rosardquo e ldquoMandioca Isabel de Souzardquo exibiram os maiores valores 297

de saliecircncia 047 e 037 respectivamente Logo essas variedades satildeo as mais conhecidas 298

dentro das comunidades com 66 e 48 das citaccedilotildees respectivamente 299

Dentre as etnovariedades citadas 12 foram idiossincraacuteticas pois apresentaram menor 300

frequecircncia de citaccedilatildeo e menores valores de saliecircncia (entre 0032 e 0006) (Tabela 2) 301

Redes de interaccedilatildeo social 302

A rede apresentou uma estrutura aninhada com grau de aninhamento significativamente 303

superior aos modelos nulos (N=3072 Plt0001) para as comunidades sendo um nuacutecleo de 304

etnovariedades altamente conectado aos agricultores (Fig 8) A estrutura aninhada nos permite 305

inferir que existe um grupo de agricultores que cultiva uma maior diversidade de etnovariedades 306

de mandioca em suas roccedilas enquanto que outro subgrupo que tem menor diversidade cultivam 307

as mais comuns ou disponiacuteveis (Cavechia et al 2014) Isso significa que os agricultores locais 308

mesmo em diferentes comunidades cultivam um nuacutecleo de etnovariedades comum entre eles 309

(n=6 Tabela 2) 310

Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 311

Observamos que a maioria dos indiviacuteduos de mandioca satildeo caracterizados por meio de 312

um conjunto de sete caracteres morfoloacutegicos os quais foram citados pelos agricultores como 313

mais importantes para a caracterizaccedilatildeo de suas variedades Nas visitas aos roccedilados registramos 314

39

as etnovariedades atualmente cultivadas e a tabela 3 fornece a lista completa com as 17 315

etnovariedades de mandioca e o local de registro 316

Por meio da anaacutelise de correspondecircncia muacuteltipla as variedades de mandioca foram 317

ordenadas em funccedilatildeo de seus descritores ao longo do primeiro e segundo eixo correspondentes 318

a 3680 da variacircncia total (Fig 9) 319

As variaacuteveis mais correlacionadas e que agruparam as variedades de mandioca no 320

primeiro eixo foram cor da folha desenvolvida (CFD) (r= 07239 Ple0001) cor do coacutertex da 321

raiz (CDR) (r= 06473 Ple0001) cor do broto foliar (CBF) (r= 06880 Ple0001) cor do peciacuteolo 322

(CDP) (r= 05250 Ple005) cor externa do caule (CEC) (r= 06883 Ple005) cor da polpa da 323

raiz (PDR) (r= 02473 Ple005) Para o segundo eixo as variaacuteveis correlacionadas foram cor 324

da folha desenvolvida (CFD) (r= 07220 Ple0001) cor externa do caule (CEC) (r= 08718 325

Ple0001) e cor do peciacuteolo (CDP) (r= 06927 Ple005) 326

O agrupamento de todas as variedades caracterizadas ldquoin siturdquo gerou uma aacutervore 327

hieraacuterquica (dendrograma) (Fig 9) utilizando a distacircncia euclidiana seguindo o criteacuterio de 328

Ward O dendrograma gerado apresentou um coeficiente de correlaccedilatildeo cofeneacutetica r= 06780 329

indicando que existe consistecircncia com os dados originais no agrupamento quanto agrave 330

classificaccedilatildeo e estrutura de tal forma que as variedades foram agrupadas em oito classes as 331

quais foram explicadas pelas variaacuteveis mais significativas descritas na tabela 4 332

O resultado do agrupamento (utilizada a distacircncia euclidiana e com o meacutetodo de Ward) 333

observamos que as etnovariedades de mandioca caracterizadas ldquoin siturdquo foram agrupadas em 334

dois grandes agrupamentos indicados na Fig 10 pelos retacircngulos em vermelho A partir dessa 335

anaacutelise percebemos que os caracteres morfoloacutegicos selecionados pelos agricultores natildeo foram 336

suficientes para separar as variedades de macaxeira e mandioca pois em ambos os 337

agrupamentos encontramos tanto macaxeiras quanto mandiocas 338

40

As variedades da classe 1 foram identificadas pelos agricultores pela cor do peciacuteolo 339

(CDP) verde A classe 2 agrupou as etnoveriedades caracterizadas pela protuberacircncia da cicatriz 340

foliar (PCF) mais protuberante Esse descritor segundo os agricultores era identificado como 341

ldquoembriatildeordquo A classe 3 consiste apenas da variedade ldquoMandioca Pretonardquo indicada pela presenccedila 342

de cor do peciacuteolo (CDP) vermelho A classe 4 agrupou trecircs variedades caracterizadas pelos 343

agricultores pela presenccedila de cor coacutertex da raiz (CDR) rosa e cor da polpa da raiacutez (PDR) branca 344

identificadas como ldquoMacaxeira vermelhardquo ldquoMacaxeira Rosa Brancardquo ldquoMacaxeira Rosardquo As 345

variedades agrupadas na classe 5 foras as variedades de mandioca caracterizadas pelos 346

agricultores por apresentarem cor do coacutertex (CDR) da raiacutez branca A classe 6 agrupou 347

variedades identificadas pelos agricultores pela cor do broto foliar (CBF) verde A classe 7 348

consiste apenas da variedade ldquoMacaxeira Sementerdquo identificada pelos agricultores pela cor do 349

peciacuteolo (CDP) roxo e protuberacircncia da cicatriz foliar pouco proeminente Essa variedade 350

segundo os agricultores era fruto do nascimento espontacircneo no roccedilado poreacutem eles geralmente 351

natildeo utilizam essas variedades por apresentarem apenas uma raiz pequena e de baixo 352

rendimento Na classe 8 as variedades foram identificadas pelos agricultores pela cor do peciacuteolo 353

(CDP) verde amarelado e protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) pouco proeminente As 354

ldquoMandioca Isabel de Souzardquo ldquoMandioca Isabel trecircs galhosrdquo segundo os agricultores se 355

diferenciavam pelo maior nuacutemero de caules presentes na variedade ldquoIsabel trecircs galhosrdquo 356

Discussatildeo 357

As sete comunidades estudadas manejavam um nuacutemero consideraacutevel de variedades 358

locais A quantidade de etnovariedades registradas eacute proacutexima a encontrada por Bender et al 359

(2009) e Cavechia et al (2014) em comunidades na regiatildeo sul e sudeste por Oler e Amorozo 360

(2017) em uma comunidade tradicional na regiatildeo centro-oeste Poreacutem foi quantitativamente 361

inferior quando comparada a estudos como os de Elias et al (2001) e Kawa et al (2013) em 362

comunidades na regiatildeo amazocircnica pois possuiacuteam uma alta diversidade Essa alta diversidade 363

41

na regiatildeo amazocircnica pode estar relacionada com o fato de que essa regiatildeo eacute o provaacutevel centro 364

de origem da mandioca (M esculenta) (Allem 1994) 365

As etnovariedades registradas neste estudo estatildeo disponiacuteveis para a maioria dos 366

agricultores dessa regiatildeo e esse fator favorece a circulaccedilatildeo das etnovariedades entre as 367

comunidades locais Por isso haacute semelhanccedilas das etnovariedades utilizadas entre os agricultores 368

da mesma comunidade e entre comunidades vizinhas 369

Parte dos agricultores optam por manter uma alta frequecircncia de variedades mais 370

utilizadas enquanto que outros optam por manter etnovariedades de baixa frequecircncia 371

Conforme discutido por Amorozo (2013) os agricultores escolhem seu acervo de acordo com 372

as necessidades e contexto em que vivem A reduccedilatildeo da diversidade de etnoveriedades por 373

exemplo pode ser impulsionada por fatores que simplificam o sistema como a seleccedilatildeo de 374

etnovariedades para a produccedilatildeo de farinha resultando no cultivo de poucas ou ateacute de uma uacutenica 375

etnovariedade (Peroni amp Hanazaki 2002) mesmo em aacutereas maiores 376

377

Redes de interaccedilatildeo social 378

Com as anaacutelises de rede demonstramos que os agricultores de diferentes comunidades 379

em uma mesma regiatildeo efetivamente trocam variedades de mandioca entre si corroborando 380

com estudos realizados por Emperaire amp Eloy (2008) Pautasso et al (2012) e Cavechia et al 381

(2014) Nesses estudos os autores tambeacutem consideram que as trocas de etnovariedades por 382

meio da rede de intercacircmbio entre os agricultores eacute um mecanismo fundamental para a 383

manutenccedilatildeo da diversidade local 384

A visualizaccedilatildeo da rede demonstrou que entre as comunidades os agricultores 385

compartilham um nuacutecleo de etnovariedades mais utilizadas dentre as quais estatildeo as de maior 386

valor econocircmico e de subsistecircncia Essas de maior frequecircncia satildeo aquelas altamente produtivas 387

utilizadas pelos agricultores para atenderem agraves demandas de mercado por farinha e para o 388

consumo proacuteprio (Kawa et al 2013) 389

42

No entanto observamos que existe outro nuacutecleo de etnovariedades menos frequentes 390

Essas etnovariedades raras podem ser resultantes do processo de experimentaccedilatildeo ou 391

preferecircncias individuais dos agricultores Outra possiacutevel razatildeo para a baixa frequecircncia de 392

algumas etnovariedades poderia ser explicada pela variaccedilatildeo da nomenclatura pelos 393

agricultores que segundo Peroni amp Hanazaki (2002) pode ocorrer durante o processo de troca 394

e introduccedilatildeo de novas variedades aos roccedilados Ainda assim natildeo descartamos a hipoacutetese de que 395

essas etnovariedades raras possam ser provenientes do cruzamento entre variedades diferentes 396

cultivadas da mesma roccedilado ou em roccedilas vizinhas De acordo com Martins (2005) essas 397

variedades fruto de germinaccedilatildeo expentacircnea satildeo incorporadas aos roccedilados pelos agricultores 398

pela curiosidade em experimentar novas variedades agraves suas coleccedilotildees 399

Nesse estudo admitimos que optar por etnovariedades raras entre as comunidades 400

estudadas eacute um comportamento adotado por agricultores que manejam uma maior diversidade 401

corroborando com os estudos de Cavechia et al (2014) e Emperaire et al (2016) em regiotildees 402

uacutemidas Para esses autores etnovaridedades de baixa frequecircncia representam um subconjunto 403

das de alta frequecircncia cultivadas por agricultores que manteacutem a maior diversidade em seus 404

roccedilados Sendo assim inferimos que no geral entre as comunidades satildeo os agricultores 405

generalistas aqueles que cultivam maior diversidade os responsaacuteveis por incorporar novas 406

etnovariedades aos roccedilados 407

As decisotildees dos agricultores em manter o acervo direcionado principalmente para 408

atender a demanda de mercado por exemplo podem levar a uma homogeneizaccedilatildeo nas roccedilas 409

colocando em risco a manutenccedilatildeo da diversidade local (Peroni amp Hanazaki 2002) Como 410

discutido por Elias et al (2000) os agricultores que selecionam apenas um nuacutemero reduzido e 411

especiacutefico de variedades mais produtivas tendem a fazer com que as variedades menos 412

frequentes desapareccedilam ao longo do tempo Essa tendecircndia pode influenciar na capacidade de 413

43

resiliecircncia do sistema assim como dos agricultores em lidar com possiacuteveis adversidades 414

ambientais que possam ocorrer 415

Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 416

No geral os agricultores demonstraram uma tendecircncia em classificarseparar suas 417

diferentes etnovariedades de mandioca a partir da combinaccedilatildeo de um conjunto de sete 418

caracteres morfoloacutegicos distintos e de faacutecil percepccedilatildeo os quais natildeo tem relaccedilatildeo com o uso 419

como por exemplo a cores das raiacutezes caule e folhas Logo consideramos que esses caracteres 420

morfoloacutegicos podem ser considerados como uma forma de classificaccedilatildeo pelos agricultores 421

baseada na capacidade percepccedilatildeo das diferenccedilas morfoloacutegicas que cada etnovariedades 422

apresenta (Boster 1985) Estes resultados nos levam a entender que entre os agricultores o 423

conhecimento sobre a diversidade da mandioca estaacute relacionado ao conhecimento de 424

caracteriacutesticas morfoloacutegicas consistentes 425

A existecircncia de alguns fenoacutetipos comuns nos permitiu avaliar a classificaccedilatildeo da 426

consistecircncia da taxonomia popular entre os agricultores Por exemplo as etnovariedades 427

ldquoMaxaceira Rosardquo e ldquoMacaxeira Rosa Brancardquo e ldquoMacaxeira vermelhardquo foram agrupadas no 428

mesmo cluster (C4) por apresentaram fenoacutetipos semelhantes Notamos que os agricultores 429

classificaram essas variedades de acordo com os traccedilos morfoloacutegicos mais relevantes como a 430

cor do coacutertex da raiz rosa e cor branca da polpa O mesmo ocorreu com as etnovariedades 431

ldquoMandioca varudardquo ldquoMandioca campina da granderdquo e ldquoMandioca campinardquo caracterizadas 432

pela presenccedila do peciacuteolo verde agrupadas no cluster (C1) 433

A partir dessas evidecircncias consideramos a hipoacutetese de que as variedades mesmo 434

apresentando caracteriacutesticas morfoloacutegicas muito semelhantes estatildeo sujeitas a variaccedilatildeo 435

nomenclatural durante o processo a incorporaccedilatildeo aos roccedilados pelos agricultores pois a 436

capacidade para distinguir e nomear variedades entre os agricultores da mesma regiatildeo pode 437

variar (Sambatti et al 2001 Elias et al 2001 Mekbib 2007) Consideramos tambeacutem que pode 438

44

existir variaccedilatildeo geneacutetica entre os indiviacuteduos identificados por um mesmo nome ou entatildeo que 439

os agricultores datildeo o mesmo nome para variedades diferentes E esta situaccedilatildeo pode levar a uma 440

superestimaccedilatildeo ou subestimaccedilatildeo da diversidade de mandioca cultiva nas aacutereas de estudo 441

Sabemos que a mandioca eacute propagada vegetativamente pelos agricultores por meio de 442

estacas em sistemas de agricultura tradicional No entanto alguns variedades produzem flores 443

e sementes que germinam e podem originar outras variedades ou outros clones por meio de 444

fecundaccedilatildeo cruzada (Elias et al 2001) Nesse contexto a etnovariedade ldquoMacaxeira Sementerdquo 445

presente no cluster (C7) trata-se de um uacutenico indiviacuteduo amostrado em uma roccedila de um dos 446

agricultores Esta apresentava algumas caracteriacutesticas morfoloacutegicas distintas das demais 447

reconhecidas pelo agricultor como por exemplo a produccedilatildeo de uma raiz uacutenica e 448

consequentemente de baixo rendimento Encontramos apenas um indiviacuteduo dessa 449

etnovariedade e nossa hipoacutetese de que esta poderia ter sido originada da germinaccedilatildeo da 450

semente mesmo quando 100 dos informantes declararam natildeo dar qualquer importacircncia e 451

descartar essas ldquovariedades-voluntaacuteriasrdquo foi confirmada pelo agricultor que afirmou que se 452

tratava de uma variedade nascida da germinaccedilatildeo da semente Esse comportamento vai de 453

encontro ao estudo de Fraser et al (2012) pois apesar dos agricultores reportarem nas 454

entrevistas que conhecem essas ldquovariedades-voluntaacuteriasrdquo nenhum agricultor faz o uso delas 455

Peroni et al (1999) e Agre et al (2016) analisando morfologicamente as variedades 456

locais de mandioca mantidas por agricultores em sistemas agriacutecolas tropicais tambeacutem 457

demonstraram que os agricultores satildeo coerentes quanto a separaccedilatildeo e identificaccedilatildeo de suas 458

etnovariedades a partir da formaccedilatildeo de grupos de coesos quanto a nomenclatura local utilizada 459

No entanto para o melhor entendimento dessa diversidade aleacutem da caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica 460

o uso de anaacutelises complementares como anaacutelise molecular seria importante para tentar 461

identificar se esses grupos representam a mesma variedade com nomes distintos ou se satildeo 462

variedades distintas com o mesmo nome 463

45

Conclusatildeo 464

O estudo demonstrou que no sistema de manejo da mandioca ao niacutevel de roccedila em 465

comunidades localizadas na regiatildeo semiaacuterida de Pernambuco compotildee uma diversidade 466

intrespeciacutefica de mandioca para atender agraves demandas econocircmicas e de subsistecircncia das 467

populaccedilotildees locais 468

Com relaccedilatildeo a anaacutelise de rede demostramos que haacute um nuacutecleo de etnovariedades 469

fortemente conectado aos agricultores e sua composiccedilatildeo eacute direcionada pelas preferecircncias e 470

necessidades individuais dos agricultores que foram os fatores responsaacuteveis pelo surgimento 471

da estrutura aninhada observada na anaacutelise rede entre as comunidades deste estudo E esse 472

padratildeo aninhado observado contribui na conservaccedilatildeo das etnovariedades mais comuns mas 473

tambeacutem pode resultar em perda daquelas de menor frequecircncia ao longo do tempo 474

A caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica ldquoin siturdquo nos permitiram inferir que os agricultores 475

reconhecem as diferentes caracteriacutesticas morfoloacutegicas de suas cultivares e satildeo coerentes na 476

separaccedilatildeo de suas variedades de mandioca e macaxeira Entretanto esses resultados sugerem a 477

realizaccedilatildeo de um estudo em niacutevel de diversidade geneacutetica exploratoacuterio para identificar se as 478

consistecircncias morfoloacutegicas refletem em consistecircncias geneacuteticas elucidando assim as possiacuteveis 479

confusotildees atribuiacutedas aos nomes das etnovariedades de mandioca 480

Agradecimentos 481

Agradecemos ao liacuteder comunitaacuterio Alexandre O Nascimento aos agricultores e 482

agricultoras das comunidades pela acolhida confianccedila e pela gentileza de compartilharem 483

conosco seus conhecimentos e contribuiacuterem com este estudo Especialmente a Arlindo Ferreira 484

Edgar Antocircnio Joseacute Sebastiatildeo Juvenal Oliveira e Janete Alves Ao Laboratoacuterio de Ecologia e 485

Evoluccedilatildeo de Sistemas Socioecoloacutegicos (LEA - UFPE) E agradecemos ao CNPq pelo apoio 486

com a bolsa de estudos do primeiro autor 487

46

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Link de acesso 619

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Qualis-CAPES 621

B1 em Biodiversidade 622

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52

Figuras 643

644

645

Fig 1 Partes do processo de fabricaccedilatildeo de farinha de mandioca Onde a raspagem b e c 646

processo de trituraccedilatildeo e d peneiramento Foto registrada em Abril de 2017 por Mirela Santos 647

648

649

650

c

d

b

a

53

651

Fig 2 Mapa de localizaccedilatildeo geograacutefica dos Municiacutepios de Altinho e Panelas e das comunidades 652

estudadas na regiatildeo semiaacuterida do Estado de Pernambuco (Elaborado por SANTOS 2018) 653

54

654

655

656

657

Fig 3 Processo de fabricaccedilatildeo da farinha de mandioca Apoacutes a colheita as raiacutezes satildeo lavadas 658

raspadas e trituradas (a) A massa extraiacuteda eacute prensada e coada Ao sair da prensa a massa 659

peneirada (b) e em seguida eacute torrada (c) em fornos artesanais ou parcialmente mecanizados 660

Imagem registrada em janeiro de 2017 na Comunidade do Caratildeo por Mirela Santos 661

662

663

a

b c

55

664

Fig 4 a Sede da Comunidade do Caratildeo b Agricultor transportando a palma forrageira que eacute 665

um exemplo de estrateacutegia adaptativa para suprir a falta de alimento dos animais devido agrave seca 666

c Feira-livre que acontece na comunidade a cada quinze dias Imagem registrada em julho de 667

2016 na Comunidade do Caratildeo por Mirela Santos 668

669

670

Fig 5 a O agricultor nos explicava as mudanccedilas que vem fazendo em seus roccedilados para se 671

adaptar aos longos periacuteodos de seca b Quando o agricultor nos mostrava as diferentes 672

etnovariedades que mantinha em sua roccedila c Durante a pesquisa nos explicavam como era feita 673

a colheita da mandioca e como selecionavam as manivas para o proacuteximo plantio Foto registrada 674

em abril de 2017 na Comunidade do Brejo Velho por Mirela Santos 675

a

b c

c b

a

56 676

677

Fig 6 Possiacuteveis estruturas de rede que descrevem as interaccedilotildees dos agricultores (losango) 678

ligados as etnovariedades (ciacuterculos) que cultivam Onde a Aninhada b Modular c Aleatoacuteria 679

(Fonte Cavechia et al 2014 com adaptaccedilotildees) 680

681

682

683

684

685

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691

692

693

694

695

696

697

a c b

57

698

699

700

701

702

703

704

705

706

707

Fig 7 Correlaccedilatildeo de Spearman entre a diversidade de etnovariedades de mandiocas conhecidas 708

como cultivadas e variedades atualmente cultivadas por agricultor e as variaacuteveis 709

socioeconocircmicas Onde Nvc= nuacutemero de citadas como cultivadas Nve= nuacutemero de variedades 710

atualmente cultivadas Esc= escolaridade Id= idade Gen= gecircnero Tr= tamanho do roccedilado 711

Exp= experiecircncia na agricultura Sld= renda Nr= nuacutemero de roccedilados Cores distintivas 712

representam correlaccedilotildees significativas (Ple005) 713

714

58

715

Fig 8 Modelo individual de rede de etnovariedades de mandioca citadas (esquerda) por 716

agricultores como cultivadas (direita) nos Municiacutepios de Altinho e Panelas As redes foram 717

desenhadas com o pacote bipartite (Dormann et al 2017) usando o software R (R CORE 718

TEAM 2017) 719

720

59

721

Fig 9 Anaacutelise de Correspondecircncia Muacuteltipla das 17 etnovariedades de mandioca considerando 722

os sete descritores morfoloacutegicos utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo em roccedilas de 723

agricultores tradicionais de sete comunidades no semiaacuterido de Pernambuco 724

725

726

727

728

729

730

731

732

733

734

735

736

737

McCambadinha

McCampina

McCampinaDaGrande

McCampinaRasteira

McCampinaVaruda

McGauba

McIsabelDeSouza

McIsabelTresGalhos

McOlhoDePombo

McOlhoVerde

McPretinha

McPretona

MxBranca

MxRosa

MxRosaBrancaMxRosaVermelha

MxSemente

CFD_Verde_Arroxeado

CFD_Verde_ClaroCFD_Verde_Escuro

CBF_Roxo

CBF_Verde_ArroxeadoCBF_Verde_Claro

CBF_Verde_Escuro

CDP_Verde

CDP_Verde_Amarelado

CDP_Verde_Avermelhado

CDP_Vermelho

CEC_Cinza

CEC_Dourado

CEC_Laranja

CEC_Marrom_Claro

CEC_Marrom_Escuro

CEC_Prateado

CEC_Verde_AmareladoCicatriz_M

Cicatriz_P

PDR_Branco

PDR_Creme

CDR_BrancoCDR_Creme CDR_Rosa

-4

-2

0

2

4

-4 -2 0 2 4

Dim1 (206)

Dim

2 (

162

)

MCA - Biplot

00

10

Hierarchical Clustering

inertia gain

McC

am

pin

aV

aru

da

McC

am

pin

aD

aG

rande

McC

am

pin

a

McG

auba

McP

retin

ha

McP

reto

na

MxR

osaV

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MxR

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ranca

MxR

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McC

am

pin

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McC

am

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ha

McO

lhoV

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e

MxB

ranca

MxS

em

ente

McIsabelT

resG

alh

os

McIsabelD

eS

ouza

McO

lhoD

eP

om

bo

00

05

10

15

Hierarchical Classification

Heig

ht

C1 C2 C3 C4 C5 C6 C7 C8

Fig 10 Agrupamento hieraacuterquico das 17 etnovariedades de mandioca caracterizadas de acordo

com os descritores utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo

60

Tabelas 738

739

Tabela 1 Caracteres e estados utilizados pelos agricultores como descritores botacircnicos para 740

caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das etnovariedades de mandioca 741

Caracter Sigla Estados

Folha

Cor da folha desenvolvida CFD 1- verde claro 2- verde escuro 3- verde arroxeado 4- roxo

Cor do broto foliar CBF 1- verde claro 2- verde escuro 3- verde arroxeado 4- roxo

Cor do peciacuteolo CDP 1- verde amarelado 2- verde 3- verde avermelhado 4- roxo

5- vermelho

Caule

Cor externa do caule CEC 1- laranja 2- verde amarelado 3- dourado 4- marrom claro

5- prateado 6- cinza 7- marrom escuro 8- verde

Protuberacircncia da cicatriz foliar PCF 1- pouco proeminente 2- muito proeminente

Raiacutez

Cor da poupa da raiz PDR 1- branco 2- creme

Cor do coacutertex da raiacutez CDR 1- rosa 2- branco 3- creme

742

743

744

745

746

747

748

749

750

751

61

Tabela 2 Lista das 22 etnovariedades de mandiocas citadas (132 citaccedilotildees) como cultivadas nas 752

comunidades pertencentes aos Municiacutepios de Altinho (Caratildeo n=8) e ao Municiacutepio de Panelas 753

(Aracuatilde Satildeo Joseacute do Bola Brejo Velho Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima e Lajeiro 754

Dantas n=21) 755

Etnovariedade Frequecircncia () Ranking Saliecircncia

Macaxeira Rosa 66 179 0472

Mandioca Isabel de Souza 48 179 0372

Mandioca Campina 24 217 0148

Macaxeira Branca 20 210 0134

Macaxeira Rosa branca 18 122 0168

Mandioca Pretona 16 338 0082

Mandioca Cambadinha 12 283 0071

Mandioca Isabel trecircs galhos 10 180 0075

Mandioca Gauacuteba 10 260 0070

Mandioca Pretinha 8 225 0053

Mandioca Peacute de pombo 4 400 0011

Mandioca Olho verde 4 350 0012

Macaxeira Rosinha 4 200 0027

Mandioca Campina varuda 4 200 0032

Mandioca Campina rasteira 4 300 0021

Mandioca Caboquinha 2 500 0007

Macaxeira Rasteira 2 200 0013

Macaxeira Paraacute 2 100 0020

Mandioca Barra ferro 2 300 0007

Mandioca Campina da grande 2 100 0020

Mandioca Olho de pombo 2 300 0010

Mandioca Jasmim 2 600 0006

756

757

758

62

Tabela 3 Lista de 17 etnovariedades atualmente cultivadas nos roccedilados das comunidades em 759

estudo 760

Ca Ar Bo Br Jb Jc Ld

Etnovariedade

Macaxeira Branca x x x x

Macaxeira Rosa

x x x x x x

Macaxeira Rosa Branca x x x x

Macaxeira Rosa Vermelha

x

Macaxeira Semente

x

Mandioca Cambadinha x

x

Mandioca Campina

x

x

x

Mandioca Campina da Grande x

Mandioca Campina Rasteira

x

Mandioca Campina Varuda

x

Mandioca Gauacuteba

x

Mandioca Isabel de Souza

x x x

Mandioca Isabel trecircs Galhos

x

x

Mandioca Olho de Pombo

x

Mandioca Olho Verde

x

Mandioca Pretinha

x

Mandioca Pretona x x x

Comunidades Ca= Caratildeo Ar=Aracuatilde Bo= Satildeo Joseacute do Bola Jb= Japaranduba de Baixo 761

Jc= Japaranduba de Cima Ld= Lajedo Dantas 762

763

764

765

766

767

768

63

Tabela 4 Descriccedilatildeo das classes do agrupamento por meacutetodo de Ward agrupadas pelo conjunto 769

dos descritores mais significativos para a caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das variedades de mandioca 770

Classes Descritores in situ p-valor

C1 Cor do peciacuteolo (CDP) 0016

C2 Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023

C3 Cor do peciacuteolo (CDP) 0012

C4 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0004

Cor da poupa da raiacutez (PDF) 0021

C5 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0003

C6 Cor do broto foliar (CBF) 0002

C7 Cor da folha desenvolvida (CFD) 0004

Cor externa do caule (CEC) 0040

C8 Cor do peciacuteolo (CDP) 0005

Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023

Valores de Ple005 satildeo significativos 771

772

38

ser explicada pelo fato de existirem grupos de agricultores que preferem manter as variedades 291

de maior valor econocircmico e de subsistecircncia mesmo com aacutereas maiores de cultivo 292

Verificamos tambeacutem uma correlaccedilatildeo positiva moderada entre o nuacutemero de variedades 293

conhecidas com o nuacutemero de variedades atualmente cultivadas (r=054 Ple005) Na lista livre 294

foram identificadas 22 etnovariedades de mandioca cultivadas (132 citaccedilotildees no total) sendo 295

oito dessas mais citadas com maiores valores de saliecircncia (entre 047 e 0082) (Tabela 2) As 296

etnovariedades ldquoMacaxeira Rosardquo e ldquoMandioca Isabel de Souzardquo exibiram os maiores valores 297

de saliecircncia 047 e 037 respectivamente Logo essas variedades satildeo as mais conhecidas 298

dentro das comunidades com 66 e 48 das citaccedilotildees respectivamente 299

Dentre as etnovariedades citadas 12 foram idiossincraacuteticas pois apresentaram menor 300

frequecircncia de citaccedilatildeo e menores valores de saliecircncia (entre 0032 e 0006) (Tabela 2) 301

Redes de interaccedilatildeo social 302

A rede apresentou uma estrutura aninhada com grau de aninhamento significativamente 303

superior aos modelos nulos (N=3072 Plt0001) para as comunidades sendo um nuacutecleo de 304

etnovariedades altamente conectado aos agricultores (Fig 8) A estrutura aninhada nos permite 305

inferir que existe um grupo de agricultores que cultiva uma maior diversidade de etnovariedades 306

de mandioca em suas roccedilas enquanto que outro subgrupo que tem menor diversidade cultivam 307

as mais comuns ou disponiacuteveis (Cavechia et al 2014) Isso significa que os agricultores locais 308

mesmo em diferentes comunidades cultivam um nuacutecleo de etnovariedades comum entre eles 309

(n=6 Tabela 2) 310

Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 311

Observamos que a maioria dos indiviacuteduos de mandioca satildeo caracterizados por meio de 312

um conjunto de sete caracteres morfoloacutegicos os quais foram citados pelos agricultores como 313

mais importantes para a caracterizaccedilatildeo de suas variedades Nas visitas aos roccedilados registramos 314

39

as etnovariedades atualmente cultivadas e a tabela 3 fornece a lista completa com as 17 315

etnovariedades de mandioca e o local de registro 316

Por meio da anaacutelise de correspondecircncia muacuteltipla as variedades de mandioca foram 317

ordenadas em funccedilatildeo de seus descritores ao longo do primeiro e segundo eixo correspondentes 318

a 3680 da variacircncia total (Fig 9) 319

As variaacuteveis mais correlacionadas e que agruparam as variedades de mandioca no 320

primeiro eixo foram cor da folha desenvolvida (CFD) (r= 07239 Ple0001) cor do coacutertex da 321

raiz (CDR) (r= 06473 Ple0001) cor do broto foliar (CBF) (r= 06880 Ple0001) cor do peciacuteolo 322

(CDP) (r= 05250 Ple005) cor externa do caule (CEC) (r= 06883 Ple005) cor da polpa da 323

raiz (PDR) (r= 02473 Ple005) Para o segundo eixo as variaacuteveis correlacionadas foram cor 324

da folha desenvolvida (CFD) (r= 07220 Ple0001) cor externa do caule (CEC) (r= 08718 325

Ple0001) e cor do peciacuteolo (CDP) (r= 06927 Ple005) 326

O agrupamento de todas as variedades caracterizadas ldquoin siturdquo gerou uma aacutervore 327

hieraacuterquica (dendrograma) (Fig 9) utilizando a distacircncia euclidiana seguindo o criteacuterio de 328

Ward O dendrograma gerado apresentou um coeficiente de correlaccedilatildeo cofeneacutetica r= 06780 329

indicando que existe consistecircncia com os dados originais no agrupamento quanto agrave 330

classificaccedilatildeo e estrutura de tal forma que as variedades foram agrupadas em oito classes as 331

quais foram explicadas pelas variaacuteveis mais significativas descritas na tabela 4 332

O resultado do agrupamento (utilizada a distacircncia euclidiana e com o meacutetodo de Ward) 333

observamos que as etnovariedades de mandioca caracterizadas ldquoin siturdquo foram agrupadas em 334

dois grandes agrupamentos indicados na Fig 10 pelos retacircngulos em vermelho A partir dessa 335

anaacutelise percebemos que os caracteres morfoloacutegicos selecionados pelos agricultores natildeo foram 336

suficientes para separar as variedades de macaxeira e mandioca pois em ambos os 337

agrupamentos encontramos tanto macaxeiras quanto mandiocas 338

40

As variedades da classe 1 foram identificadas pelos agricultores pela cor do peciacuteolo 339

(CDP) verde A classe 2 agrupou as etnoveriedades caracterizadas pela protuberacircncia da cicatriz 340

foliar (PCF) mais protuberante Esse descritor segundo os agricultores era identificado como 341

ldquoembriatildeordquo A classe 3 consiste apenas da variedade ldquoMandioca Pretonardquo indicada pela presenccedila 342

de cor do peciacuteolo (CDP) vermelho A classe 4 agrupou trecircs variedades caracterizadas pelos 343

agricultores pela presenccedila de cor coacutertex da raiz (CDR) rosa e cor da polpa da raiacutez (PDR) branca 344

identificadas como ldquoMacaxeira vermelhardquo ldquoMacaxeira Rosa Brancardquo ldquoMacaxeira Rosardquo As 345

variedades agrupadas na classe 5 foras as variedades de mandioca caracterizadas pelos 346

agricultores por apresentarem cor do coacutertex (CDR) da raiacutez branca A classe 6 agrupou 347

variedades identificadas pelos agricultores pela cor do broto foliar (CBF) verde A classe 7 348

consiste apenas da variedade ldquoMacaxeira Sementerdquo identificada pelos agricultores pela cor do 349

peciacuteolo (CDP) roxo e protuberacircncia da cicatriz foliar pouco proeminente Essa variedade 350

segundo os agricultores era fruto do nascimento espontacircneo no roccedilado poreacutem eles geralmente 351

natildeo utilizam essas variedades por apresentarem apenas uma raiz pequena e de baixo 352

rendimento Na classe 8 as variedades foram identificadas pelos agricultores pela cor do peciacuteolo 353

(CDP) verde amarelado e protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) pouco proeminente As 354

ldquoMandioca Isabel de Souzardquo ldquoMandioca Isabel trecircs galhosrdquo segundo os agricultores se 355

diferenciavam pelo maior nuacutemero de caules presentes na variedade ldquoIsabel trecircs galhosrdquo 356

Discussatildeo 357

As sete comunidades estudadas manejavam um nuacutemero consideraacutevel de variedades 358

locais A quantidade de etnovariedades registradas eacute proacutexima a encontrada por Bender et al 359

(2009) e Cavechia et al (2014) em comunidades na regiatildeo sul e sudeste por Oler e Amorozo 360

(2017) em uma comunidade tradicional na regiatildeo centro-oeste Poreacutem foi quantitativamente 361

inferior quando comparada a estudos como os de Elias et al (2001) e Kawa et al (2013) em 362

comunidades na regiatildeo amazocircnica pois possuiacuteam uma alta diversidade Essa alta diversidade 363

41

na regiatildeo amazocircnica pode estar relacionada com o fato de que essa regiatildeo eacute o provaacutevel centro 364

de origem da mandioca (M esculenta) (Allem 1994) 365

As etnovariedades registradas neste estudo estatildeo disponiacuteveis para a maioria dos 366

agricultores dessa regiatildeo e esse fator favorece a circulaccedilatildeo das etnovariedades entre as 367

comunidades locais Por isso haacute semelhanccedilas das etnovariedades utilizadas entre os agricultores 368

da mesma comunidade e entre comunidades vizinhas 369

Parte dos agricultores optam por manter uma alta frequecircncia de variedades mais 370

utilizadas enquanto que outros optam por manter etnovariedades de baixa frequecircncia 371

Conforme discutido por Amorozo (2013) os agricultores escolhem seu acervo de acordo com 372

as necessidades e contexto em que vivem A reduccedilatildeo da diversidade de etnoveriedades por 373

exemplo pode ser impulsionada por fatores que simplificam o sistema como a seleccedilatildeo de 374

etnovariedades para a produccedilatildeo de farinha resultando no cultivo de poucas ou ateacute de uma uacutenica 375

etnovariedade (Peroni amp Hanazaki 2002) mesmo em aacutereas maiores 376

377

Redes de interaccedilatildeo social 378

Com as anaacutelises de rede demonstramos que os agricultores de diferentes comunidades 379

em uma mesma regiatildeo efetivamente trocam variedades de mandioca entre si corroborando 380

com estudos realizados por Emperaire amp Eloy (2008) Pautasso et al (2012) e Cavechia et al 381

(2014) Nesses estudos os autores tambeacutem consideram que as trocas de etnovariedades por 382

meio da rede de intercacircmbio entre os agricultores eacute um mecanismo fundamental para a 383

manutenccedilatildeo da diversidade local 384

A visualizaccedilatildeo da rede demonstrou que entre as comunidades os agricultores 385

compartilham um nuacutecleo de etnovariedades mais utilizadas dentre as quais estatildeo as de maior 386

valor econocircmico e de subsistecircncia Essas de maior frequecircncia satildeo aquelas altamente produtivas 387

utilizadas pelos agricultores para atenderem agraves demandas de mercado por farinha e para o 388

consumo proacuteprio (Kawa et al 2013) 389

42

No entanto observamos que existe outro nuacutecleo de etnovariedades menos frequentes 390

Essas etnovariedades raras podem ser resultantes do processo de experimentaccedilatildeo ou 391

preferecircncias individuais dos agricultores Outra possiacutevel razatildeo para a baixa frequecircncia de 392

algumas etnovariedades poderia ser explicada pela variaccedilatildeo da nomenclatura pelos 393

agricultores que segundo Peroni amp Hanazaki (2002) pode ocorrer durante o processo de troca 394

e introduccedilatildeo de novas variedades aos roccedilados Ainda assim natildeo descartamos a hipoacutetese de que 395

essas etnovariedades raras possam ser provenientes do cruzamento entre variedades diferentes 396

cultivadas da mesma roccedilado ou em roccedilas vizinhas De acordo com Martins (2005) essas 397

variedades fruto de germinaccedilatildeo expentacircnea satildeo incorporadas aos roccedilados pelos agricultores 398

pela curiosidade em experimentar novas variedades agraves suas coleccedilotildees 399

Nesse estudo admitimos que optar por etnovariedades raras entre as comunidades 400

estudadas eacute um comportamento adotado por agricultores que manejam uma maior diversidade 401

corroborando com os estudos de Cavechia et al (2014) e Emperaire et al (2016) em regiotildees 402

uacutemidas Para esses autores etnovaridedades de baixa frequecircncia representam um subconjunto 403

das de alta frequecircncia cultivadas por agricultores que manteacutem a maior diversidade em seus 404

roccedilados Sendo assim inferimos que no geral entre as comunidades satildeo os agricultores 405

generalistas aqueles que cultivam maior diversidade os responsaacuteveis por incorporar novas 406

etnovariedades aos roccedilados 407

As decisotildees dos agricultores em manter o acervo direcionado principalmente para 408

atender a demanda de mercado por exemplo podem levar a uma homogeneizaccedilatildeo nas roccedilas 409

colocando em risco a manutenccedilatildeo da diversidade local (Peroni amp Hanazaki 2002) Como 410

discutido por Elias et al (2000) os agricultores que selecionam apenas um nuacutemero reduzido e 411

especiacutefico de variedades mais produtivas tendem a fazer com que as variedades menos 412

frequentes desapareccedilam ao longo do tempo Essa tendecircndia pode influenciar na capacidade de 413

43

resiliecircncia do sistema assim como dos agricultores em lidar com possiacuteveis adversidades 414

ambientais que possam ocorrer 415

Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 416

No geral os agricultores demonstraram uma tendecircncia em classificarseparar suas 417

diferentes etnovariedades de mandioca a partir da combinaccedilatildeo de um conjunto de sete 418

caracteres morfoloacutegicos distintos e de faacutecil percepccedilatildeo os quais natildeo tem relaccedilatildeo com o uso 419

como por exemplo a cores das raiacutezes caule e folhas Logo consideramos que esses caracteres 420

morfoloacutegicos podem ser considerados como uma forma de classificaccedilatildeo pelos agricultores 421

baseada na capacidade percepccedilatildeo das diferenccedilas morfoloacutegicas que cada etnovariedades 422

apresenta (Boster 1985) Estes resultados nos levam a entender que entre os agricultores o 423

conhecimento sobre a diversidade da mandioca estaacute relacionado ao conhecimento de 424

caracteriacutesticas morfoloacutegicas consistentes 425

A existecircncia de alguns fenoacutetipos comuns nos permitiu avaliar a classificaccedilatildeo da 426

consistecircncia da taxonomia popular entre os agricultores Por exemplo as etnovariedades 427

ldquoMaxaceira Rosardquo e ldquoMacaxeira Rosa Brancardquo e ldquoMacaxeira vermelhardquo foram agrupadas no 428

mesmo cluster (C4) por apresentaram fenoacutetipos semelhantes Notamos que os agricultores 429

classificaram essas variedades de acordo com os traccedilos morfoloacutegicos mais relevantes como a 430

cor do coacutertex da raiz rosa e cor branca da polpa O mesmo ocorreu com as etnovariedades 431

ldquoMandioca varudardquo ldquoMandioca campina da granderdquo e ldquoMandioca campinardquo caracterizadas 432

pela presenccedila do peciacuteolo verde agrupadas no cluster (C1) 433

A partir dessas evidecircncias consideramos a hipoacutetese de que as variedades mesmo 434

apresentando caracteriacutesticas morfoloacutegicas muito semelhantes estatildeo sujeitas a variaccedilatildeo 435

nomenclatural durante o processo a incorporaccedilatildeo aos roccedilados pelos agricultores pois a 436

capacidade para distinguir e nomear variedades entre os agricultores da mesma regiatildeo pode 437

variar (Sambatti et al 2001 Elias et al 2001 Mekbib 2007) Consideramos tambeacutem que pode 438

44

existir variaccedilatildeo geneacutetica entre os indiviacuteduos identificados por um mesmo nome ou entatildeo que 439

os agricultores datildeo o mesmo nome para variedades diferentes E esta situaccedilatildeo pode levar a uma 440

superestimaccedilatildeo ou subestimaccedilatildeo da diversidade de mandioca cultiva nas aacutereas de estudo 441

Sabemos que a mandioca eacute propagada vegetativamente pelos agricultores por meio de 442

estacas em sistemas de agricultura tradicional No entanto alguns variedades produzem flores 443

e sementes que germinam e podem originar outras variedades ou outros clones por meio de 444

fecundaccedilatildeo cruzada (Elias et al 2001) Nesse contexto a etnovariedade ldquoMacaxeira Sementerdquo 445

presente no cluster (C7) trata-se de um uacutenico indiviacuteduo amostrado em uma roccedila de um dos 446

agricultores Esta apresentava algumas caracteriacutesticas morfoloacutegicas distintas das demais 447

reconhecidas pelo agricultor como por exemplo a produccedilatildeo de uma raiz uacutenica e 448

consequentemente de baixo rendimento Encontramos apenas um indiviacuteduo dessa 449

etnovariedade e nossa hipoacutetese de que esta poderia ter sido originada da germinaccedilatildeo da 450

semente mesmo quando 100 dos informantes declararam natildeo dar qualquer importacircncia e 451

descartar essas ldquovariedades-voluntaacuteriasrdquo foi confirmada pelo agricultor que afirmou que se 452

tratava de uma variedade nascida da germinaccedilatildeo da semente Esse comportamento vai de 453

encontro ao estudo de Fraser et al (2012) pois apesar dos agricultores reportarem nas 454

entrevistas que conhecem essas ldquovariedades-voluntaacuteriasrdquo nenhum agricultor faz o uso delas 455

Peroni et al (1999) e Agre et al (2016) analisando morfologicamente as variedades 456

locais de mandioca mantidas por agricultores em sistemas agriacutecolas tropicais tambeacutem 457

demonstraram que os agricultores satildeo coerentes quanto a separaccedilatildeo e identificaccedilatildeo de suas 458

etnovariedades a partir da formaccedilatildeo de grupos de coesos quanto a nomenclatura local utilizada 459

No entanto para o melhor entendimento dessa diversidade aleacutem da caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica 460

o uso de anaacutelises complementares como anaacutelise molecular seria importante para tentar 461

identificar se esses grupos representam a mesma variedade com nomes distintos ou se satildeo 462

variedades distintas com o mesmo nome 463

45

Conclusatildeo 464

O estudo demonstrou que no sistema de manejo da mandioca ao niacutevel de roccedila em 465

comunidades localizadas na regiatildeo semiaacuterida de Pernambuco compotildee uma diversidade 466

intrespeciacutefica de mandioca para atender agraves demandas econocircmicas e de subsistecircncia das 467

populaccedilotildees locais 468

Com relaccedilatildeo a anaacutelise de rede demostramos que haacute um nuacutecleo de etnovariedades 469

fortemente conectado aos agricultores e sua composiccedilatildeo eacute direcionada pelas preferecircncias e 470

necessidades individuais dos agricultores que foram os fatores responsaacuteveis pelo surgimento 471

da estrutura aninhada observada na anaacutelise rede entre as comunidades deste estudo E esse 472

padratildeo aninhado observado contribui na conservaccedilatildeo das etnovariedades mais comuns mas 473

tambeacutem pode resultar em perda daquelas de menor frequecircncia ao longo do tempo 474

A caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica ldquoin siturdquo nos permitiram inferir que os agricultores 475

reconhecem as diferentes caracteriacutesticas morfoloacutegicas de suas cultivares e satildeo coerentes na 476

separaccedilatildeo de suas variedades de mandioca e macaxeira Entretanto esses resultados sugerem a 477

realizaccedilatildeo de um estudo em niacutevel de diversidade geneacutetica exploratoacuterio para identificar se as 478

consistecircncias morfoloacutegicas refletem em consistecircncias geneacuteticas elucidando assim as possiacuteveis 479

confusotildees atribuiacutedas aos nomes das etnovariedades de mandioca 480

Agradecimentos 481

Agradecemos ao liacuteder comunitaacuterio Alexandre O Nascimento aos agricultores e 482

agricultoras das comunidades pela acolhida confianccedila e pela gentileza de compartilharem 483

conosco seus conhecimentos e contribuiacuterem com este estudo Especialmente a Arlindo Ferreira 484

Edgar Antocircnio Joseacute Sebastiatildeo Juvenal Oliveira e Janete Alves Ao Laboratoacuterio de Ecologia e 485

Evoluccedilatildeo de Sistemas Socioecoloacutegicos (LEA - UFPE) E agradecemos ao CNPq pelo apoio 486

com a bolsa de estudos do primeiro autor 487

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ANEXOS 615

616

Nome da revista 617

Human Ecology 618

Link de acesso 619

httpsgooglDVLbFj 620

Qualis-CAPES 621

B1 em Biodiversidade 622

623

624

625

626

627

628

629

630

631

632

633

634

635

636

637

638

639

640

641

642

52

Figuras 643

644

645

Fig 1 Partes do processo de fabricaccedilatildeo de farinha de mandioca Onde a raspagem b e c 646

processo de trituraccedilatildeo e d peneiramento Foto registrada em Abril de 2017 por Mirela Santos 647

648

649

650

c

d

b

a

53

651

Fig 2 Mapa de localizaccedilatildeo geograacutefica dos Municiacutepios de Altinho e Panelas e das comunidades 652

estudadas na regiatildeo semiaacuterida do Estado de Pernambuco (Elaborado por SANTOS 2018) 653

54

654

655

656

657

Fig 3 Processo de fabricaccedilatildeo da farinha de mandioca Apoacutes a colheita as raiacutezes satildeo lavadas 658

raspadas e trituradas (a) A massa extraiacuteda eacute prensada e coada Ao sair da prensa a massa 659

peneirada (b) e em seguida eacute torrada (c) em fornos artesanais ou parcialmente mecanizados 660

Imagem registrada em janeiro de 2017 na Comunidade do Caratildeo por Mirela Santos 661

662

663

a

b c

55

664

Fig 4 a Sede da Comunidade do Caratildeo b Agricultor transportando a palma forrageira que eacute 665

um exemplo de estrateacutegia adaptativa para suprir a falta de alimento dos animais devido agrave seca 666

c Feira-livre que acontece na comunidade a cada quinze dias Imagem registrada em julho de 667

2016 na Comunidade do Caratildeo por Mirela Santos 668

669

670

Fig 5 a O agricultor nos explicava as mudanccedilas que vem fazendo em seus roccedilados para se 671

adaptar aos longos periacuteodos de seca b Quando o agricultor nos mostrava as diferentes 672

etnovariedades que mantinha em sua roccedila c Durante a pesquisa nos explicavam como era feita 673

a colheita da mandioca e como selecionavam as manivas para o proacuteximo plantio Foto registrada 674

em abril de 2017 na Comunidade do Brejo Velho por Mirela Santos 675

a

b c

c b

a

56 676

677

Fig 6 Possiacuteveis estruturas de rede que descrevem as interaccedilotildees dos agricultores (losango) 678

ligados as etnovariedades (ciacuterculos) que cultivam Onde a Aninhada b Modular c Aleatoacuteria 679

(Fonte Cavechia et al 2014 com adaptaccedilotildees) 680

681

682

683

684

685

686

687

688

689

690

691

692

693

694

695

696

697

a c b

57

698

699

700

701

702

703

704

705

706

707

Fig 7 Correlaccedilatildeo de Spearman entre a diversidade de etnovariedades de mandiocas conhecidas 708

como cultivadas e variedades atualmente cultivadas por agricultor e as variaacuteveis 709

socioeconocircmicas Onde Nvc= nuacutemero de citadas como cultivadas Nve= nuacutemero de variedades 710

atualmente cultivadas Esc= escolaridade Id= idade Gen= gecircnero Tr= tamanho do roccedilado 711

Exp= experiecircncia na agricultura Sld= renda Nr= nuacutemero de roccedilados Cores distintivas 712

representam correlaccedilotildees significativas (Ple005) 713

714

58

715

Fig 8 Modelo individual de rede de etnovariedades de mandioca citadas (esquerda) por 716

agricultores como cultivadas (direita) nos Municiacutepios de Altinho e Panelas As redes foram 717

desenhadas com o pacote bipartite (Dormann et al 2017) usando o software R (R CORE 718

TEAM 2017) 719

720

59

721

Fig 9 Anaacutelise de Correspondecircncia Muacuteltipla das 17 etnovariedades de mandioca considerando 722

os sete descritores morfoloacutegicos utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo em roccedilas de 723

agricultores tradicionais de sete comunidades no semiaacuterido de Pernambuco 724

725

726

727

728

729

730

731

732

733

734

735

736

737

McCambadinha

McCampina

McCampinaDaGrande

McCampinaRasteira

McCampinaVaruda

McGauba

McIsabelDeSouza

McIsabelTresGalhos

McOlhoDePombo

McOlhoVerde

McPretinha

McPretona

MxBranca

MxRosa

MxRosaBrancaMxRosaVermelha

MxSemente

CFD_Verde_Arroxeado

CFD_Verde_ClaroCFD_Verde_Escuro

CBF_Roxo

CBF_Verde_ArroxeadoCBF_Verde_Claro

CBF_Verde_Escuro

CDP_Verde

CDP_Verde_Amarelado

CDP_Verde_Avermelhado

CDP_Vermelho

CEC_Cinza

CEC_Dourado

CEC_Laranja

CEC_Marrom_Claro

CEC_Marrom_Escuro

CEC_Prateado

CEC_Verde_AmareladoCicatriz_M

Cicatriz_P

PDR_Branco

PDR_Creme

CDR_BrancoCDR_Creme CDR_Rosa

-4

-2

0

2

4

-4 -2 0 2 4

Dim1 (206)

Dim

2 (

162

)

MCA - Biplot

00

10

Hierarchical Clustering

inertia gain

McC

am

pin

aV

aru

da

McC

am

pin

aD

aG

rande

McC

am

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a

McG

auba

McP

retin

ha

McP

reto

na

MxR

osaV

erm

elh

a

MxR

osaB

ranca

MxR

osa

McC

am

pin

aR

aste

ira

McC

am

badin

ha

McO

lhoV

erd

e

MxB

ranca

MxS

em

ente

McIsabelT

resG

alh

os

McIsabelD

eS

ouza

McO

lhoD

eP

om

bo

00

05

10

15

Hierarchical Classification

Heig

ht

C1 C2 C3 C4 C5 C6 C7 C8

Fig 10 Agrupamento hieraacuterquico das 17 etnovariedades de mandioca caracterizadas de acordo

com os descritores utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo

60

Tabelas 738

739

Tabela 1 Caracteres e estados utilizados pelos agricultores como descritores botacircnicos para 740

caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das etnovariedades de mandioca 741

Caracter Sigla Estados

Folha

Cor da folha desenvolvida CFD 1- verde claro 2- verde escuro 3- verde arroxeado 4- roxo

Cor do broto foliar CBF 1- verde claro 2- verde escuro 3- verde arroxeado 4- roxo

Cor do peciacuteolo CDP 1- verde amarelado 2- verde 3- verde avermelhado 4- roxo

5- vermelho

Caule

Cor externa do caule CEC 1- laranja 2- verde amarelado 3- dourado 4- marrom claro

5- prateado 6- cinza 7- marrom escuro 8- verde

Protuberacircncia da cicatriz foliar PCF 1- pouco proeminente 2- muito proeminente

Raiacutez

Cor da poupa da raiz PDR 1- branco 2- creme

Cor do coacutertex da raiacutez CDR 1- rosa 2- branco 3- creme

742

743

744

745

746

747

748

749

750

751

61

Tabela 2 Lista das 22 etnovariedades de mandiocas citadas (132 citaccedilotildees) como cultivadas nas 752

comunidades pertencentes aos Municiacutepios de Altinho (Caratildeo n=8) e ao Municiacutepio de Panelas 753

(Aracuatilde Satildeo Joseacute do Bola Brejo Velho Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima e Lajeiro 754

Dantas n=21) 755

Etnovariedade Frequecircncia () Ranking Saliecircncia

Macaxeira Rosa 66 179 0472

Mandioca Isabel de Souza 48 179 0372

Mandioca Campina 24 217 0148

Macaxeira Branca 20 210 0134

Macaxeira Rosa branca 18 122 0168

Mandioca Pretona 16 338 0082

Mandioca Cambadinha 12 283 0071

Mandioca Isabel trecircs galhos 10 180 0075

Mandioca Gauacuteba 10 260 0070

Mandioca Pretinha 8 225 0053

Mandioca Peacute de pombo 4 400 0011

Mandioca Olho verde 4 350 0012

Macaxeira Rosinha 4 200 0027

Mandioca Campina varuda 4 200 0032

Mandioca Campina rasteira 4 300 0021

Mandioca Caboquinha 2 500 0007

Macaxeira Rasteira 2 200 0013

Macaxeira Paraacute 2 100 0020

Mandioca Barra ferro 2 300 0007

Mandioca Campina da grande 2 100 0020

Mandioca Olho de pombo 2 300 0010

Mandioca Jasmim 2 600 0006

756

757

758

62

Tabela 3 Lista de 17 etnovariedades atualmente cultivadas nos roccedilados das comunidades em 759

estudo 760

Ca Ar Bo Br Jb Jc Ld

Etnovariedade

Macaxeira Branca x x x x

Macaxeira Rosa

x x x x x x

Macaxeira Rosa Branca x x x x

Macaxeira Rosa Vermelha

x

Macaxeira Semente

x

Mandioca Cambadinha x

x

Mandioca Campina

x

x

x

Mandioca Campina da Grande x

Mandioca Campina Rasteira

x

Mandioca Campina Varuda

x

Mandioca Gauacuteba

x

Mandioca Isabel de Souza

x x x

Mandioca Isabel trecircs Galhos

x

x

Mandioca Olho de Pombo

x

Mandioca Olho Verde

x

Mandioca Pretinha

x

Mandioca Pretona x x x

Comunidades Ca= Caratildeo Ar=Aracuatilde Bo= Satildeo Joseacute do Bola Jb= Japaranduba de Baixo 761

Jc= Japaranduba de Cima Ld= Lajedo Dantas 762

763

764

765

766

767

768

63

Tabela 4 Descriccedilatildeo das classes do agrupamento por meacutetodo de Ward agrupadas pelo conjunto 769

dos descritores mais significativos para a caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das variedades de mandioca 770

Classes Descritores in situ p-valor

C1 Cor do peciacuteolo (CDP) 0016

C2 Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023

C3 Cor do peciacuteolo (CDP) 0012

C4 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0004

Cor da poupa da raiacutez (PDF) 0021

C5 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0003

C6 Cor do broto foliar (CBF) 0002

C7 Cor da folha desenvolvida (CFD) 0004

Cor externa do caule (CEC) 0040

C8 Cor do peciacuteolo (CDP) 0005

Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023

Valores de Ple005 satildeo significativos 771

772

39

as etnovariedades atualmente cultivadas e a tabela 3 fornece a lista completa com as 17 315

etnovariedades de mandioca e o local de registro 316

Por meio da anaacutelise de correspondecircncia muacuteltipla as variedades de mandioca foram 317

ordenadas em funccedilatildeo de seus descritores ao longo do primeiro e segundo eixo correspondentes 318

a 3680 da variacircncia total (Fig 9) 319

As variaacuteveis mais correlacionadas e que agruparam as variedades de mandioca no 320

primeiro eixo foram cor da folha desenvolvida (CFD) (r= 07239 Ple0001) cor do coacutertex da 321

raiz (CDR) (r= 06473 Ple0001) cor do broto foliar (CBF) (r= 06880 Ple0001) cor do peciacuteolo 322

(CDP) (r= 05250 Ple005) cor externa do caule (CEC) (r= 06883 Ple005) cor da polpa da 323

raiz (PDR) (r= 02473 Ple005) Para o segundo eixo as variaacuteveis correlacionadas foram cor 324

da folha desenvolvida (CFD) (r= 07220 Ple0001) cor externa do caule (CEC) (r= 08718 325

Ple0001) e cor do peciacuteolo (CDP) (r= 06927 Ple005) 326

O agrupamento de todas as variedades caracterizadas ldquoin siturdquo gerou uma aacutervore 327

hieraacuterquica (dendrograma) (Fig 9) utilizando a distacircncia euclidiana seguindo o criteacuterio de 328

Ward O dendrograma gerado apresentou um coeficiente de correlaccedilatildeo cofeneacutetica r= 06780 329

indicando que existe consistecircncia com os dados originais no agrupamento quanto agrave 330

classificaccedilatildeo e estrutura de tal forma que as variedades foram agrupadas em oito classes as 331

quais foram explicadas pelas variaacuteveis mais significativas descritas na tabela 4 332

O resultado do agrupamento (utilizada a distacircncia euclidiana e com o meacutetodo de Ward) 333

observamos que as etnovariedades de mandioca caracterizadas ldquoin siturdquo foram agrupadas em 334

dois grandes agrupamentos indicados na Fig 10 pelos retacircngulos em vermelho A partir dessa 335

anaacutelise percebemos que os caracteres morfoloacutegicos selecionados pelos agricultores natildeo foram 336

suficientes para separar as variedades de macaxeira e mandioca pois em ambos os 337

agrupamentos encontramos tanto macaxeiras quanto mandiocas 338

40

As variedades da classe 1 foram identificadas pelos agricultores pela cor do peciacuteolo 339

(CDP) verde A classe 2 agrupou as etnoveriedades caracterizadas pela protuberacircncia da cicatriz 340

foliar (PCF) mais protuberante Esse descritor segundo os agricultores era identificado como 341

ldquoembriatildeordquo A classe 3 consiste apenas da variedade ldquoMandioca Pretonardquo indicada pela presenccedila 342

de cor do peciacuteolo (CDP) vermelho A classe 4 agrupou trecircs variedades caracterizadas pelos 343

agricultores pela presenccedila de cor coacutertex da raiz (CDR) rosa e cor da polpa da raiacutez (PDR) branca 344

identificadas como ldquoMacaxeira vermelhardquo ldquoMacaxeira Rosa Brancardquo ldquoMacaxeira Rosardquo As 345

variedades agrupadas na classe 5 foras as variedades de mandioca caracterizadas pelos 346

agricultores por apresentarem cor do coacutertex (CDR) da raiacutez branca A classe 6 agrupou 347

variedades identificadas pelos agricultores pela cor do broto foliar (CBF) verde A classe 7 348

consiste apenas da variedade ldquoMacaxeira Sementerdquo identificada pelos agricultores pela cor do 349

peciacuteolo (CDP) roxo e protuberacircncia da cicatriz foliar pouco proeminente Essa variedade 350

segundo os agricultores era fruto do nascimento espontacircneo no roccedilado poreacutem eles geralmente 351

natildeo utilizam essas variedades por apresentarem apenas uma raiz pequena e de baixo 352

rendimento Na classe 8 as variedades foram identificadas pelos agricultores pela cor do peciacuteolo 353

(CDP) verde amarelado e protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) pouco proeminente As 354

ldquoMandioca Isabel de Souzardquo ldquoMandioca Isabel trecircs galhosrdquo segundo os agricultores se 355

diferenciavam pelo maior nuacutemero de caules presentes na variedade ldquoIsabel trecircs galhosrdquo 356

Discussatildeo 357

As sete comunidades estudadas manejavam um nuacutemero consideraacutevel de variedades 358

locais A quantidade de etnovariedades registradas eacute proacutexima a encontrada por Bender et al 359

(2009) e Cavechia et al (2014) em comunidades na regiatildeo sul e sudeste por Oler e Amorozo 360

(2017) em uma comunidade tradicional na regiatildeo centro-oeste Poreacutem foi quantitativamente 361

inferior quando comparada a estudos como os de Elias et al (2001) e Kawa et al (2013) em 362

comunidades na regiatildeo amazocircnica pois possuiacuteam uma alta diversidade Essa alta diversidade 363

41

na regiatildeo amazocircnica pode estar relacionada com o fato de que essa regiatildeo eacute o provaacutevel centro 364

de origem da mandioca (M esculenta) (Allem 1994) 365

As etnovariedades registradas neste estudo estatildeo disponiacuteveis para a maioria dos 366

agricultores dessa regiatildeo e esse fator favorece a circulaccedilatildeo das etnovariedades entre as 367

comunidades locais Por isso haacute semelhanccedilas das etnovariedades utilizadas entre os agricultores 368

da mesma comunidade e entre comunidades vizinhas 369

Parte dos agricultores optam por manter uma alta frequecircncia de variedades mais 370

utilizadas enquanto que outros optam por manter etnovariedades de baixa frequecircncia 371

Conforme discutido por Amorozo (2013) os agricultores escolhem seu acervo de acordo com 372

as necessidades e contexto em que vivem A reduccedilatildeo da diversidade de etnoveriedades por 373

exemplo pode ser impulsionada por fatores que simplificam o sistema como a seleccedilatildeo de 374

etnovariedades para a produccedilatildeo de farinha resultando no cultivo de poucas ou ateacute de uma uacutenica 375

etnovariedade (Peroni amp Hanazaki 2002) mesmo em aacutereas maiores 376

377

Redes de interaccedilatildeo social 378

Com as anaacutelises de rede demonstramos que os agricultores de diferentes comunidades 379

em uma mesma regiatildeo efetivamente trocam variedades de mandioca entre si corroborando 380

com estudos realizados por Emperaire amp Eloy (2008) Pautasso et al (2012) e Cavechia et al 381

(2014) Nesses estudos os autores tambeacutem consideram que as trocas de etnovariedades por 382

meio da rede de intercacircmbio entre os agricultores eacute um mecanismo fundamental para a 383

manutenccedilatildeo da diversidade local 384

A visualizaccedilatildeo da rede demonstrou que entre as comunidades os agricultores 385

compartilham um nuacutecleo de etnovariedades mais utilizadas dentre as quais estatildeo as de maior 386

valor econocircmico e de subsistecircncia Essas de maior frequecircncia satildeo aquelas altamente produtivas 387

utilizadas pelos agricultores para atenderem agraves demandas de mercado por farinha e para o 388

consumo proacuteprio (Kawa et al 2013) 389

42

No entanto observamos que existe outro nuacutecleo de etnovariedades menos frequentes 390

Essas etnovariedades raras podem ser resultantes do processo de experimentaccedilatildeo ou 391

preferecircncias individuais dos agricultores Outra possiacutevel razatildeo para a baixa frequecircncia de 392

algumas etnovariedades poderia ser explicada pela variaccedilatildeo da nomenclatura pelos 393

agricultores que segundo Peroni amp Hanazaki (2002) pode ocorrer durante o processo de troca 394

e introduccedilatildeo de novas variedades aos roccedilados Ainda assim natildeo descartamos a hipoacutetese de que 395

essas etnovariedades raras possam ser provenientes do cruzamento entre variedades diferentes 396

cultivadas da mesma roccedilado ou em roccedilas vizinhas De acordo com Martins (2005) essas 397

variedades fruto de germinaccedilatildeo expentacircnea satildeo incorporadas aos roccedilados pelos agricultores 398

pela curiosidade em experimentar novas variedades agraves suas coleccedilotildees 399

Nesse estudo admitimos que optar por etnovariedades raras entre as comunidades 400

estudadas eacute um comportamento adotado por agricultores que manejam uma maior diversidade 401

corroborando com os estudos de Cavechia et al (2014) e Emperaire et al (2016) em regiotildees 402

uacutemidas Para esses autores etnovaridedades de baixa frequecircncia representam um subconjunto 403

das de alta frequecircncia cultivadas por agricultores que manteacutem a maior diversidade em seus 404

roccedilados Sendo assim inferimos que no geral entre as comunidades satildeo os agricultores 405

generalistas aqueles que cultivam maior diversidade os responsaacuteveis por incorporar novas 406

etnovariedades aos roccedilados 407

As decisotildees dos agricultores em manter o acervo direcionado principalmente para 408

atender a demanda de mercado por exemplo podem levar a uma homogeneizaccedilatildeo nas roccedilas 409

colocando em risco a manutenccedilatildeo da diversidade local (Peroni amp Hanazaki 2002) Como 410

discutido por Elias et al (2000) os agricultores que selecionam apenas um nuacutemero reduzido e 411

especiacutefico de variedades mais produtivas tendem a fazer com que as variedades menos 412

frequentes desapareccedilam ao longo do tempo Essa tendecircndia pode influenciar na capacidade de 413

43

resiliecircncia do sistema assim como dos agricultores em lidar com possiacuteveis adversidades 414

ambientais que possam ocorrer 415

Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 416

No geral os agricultores demonstraram uma tendecircncia em classificarseparar suas 417

diferentes etnovariedades de mandioca a partir da combinaccedilatildeo de um conjunto de sete 418

caracteres morfoloacutegicos distintos e de faacutecil percepccedilatildeo os quais natildeo tem relaccedilatildeo com o uso 419

como por exemplo a cores das raiacutezes caule e folhas Logo consideramos que esses caracteres 420

morfoloacutegicos podem ser considerados como uma forma de classificaccedilatildeo pelos agricultores 421

baseada na capacidade percepccedilatildeo das diferenccedilas morfoloacutegicas que cada etnovariedades 422

apresenta (Boster 1985) Estes resultados nos levam a entender que entre os agricultores o 423

conhecimento sobre a diversidade da mandioca estaacute relacionado ao conhecimento de 424

caracteriacutesticas morfoloacutegicas consistentes 425

A existecircncia de alguns fenoacutetipos comuns nos permitiu avaliar a classificaccedilatildeo da 426

consistecircncia da taxonomia popular entre os agricultores Por exemplo as etnovariedades 427

ldquoMaxaceira Rosardquo e ldquoMacaxeira Rosa Brancardquo e ldquoMacaxeira vermelhardquo foram agrupadas no 428

mesmo cluster (C4) por apresentaram fenoacutetipos semelhantes Notamos que os agricultores 429

classificaram essas variedades de acordo com os traccedilos morfoloacutegicos mais relevantes como a 430

cor do coacutertex da raiz rosa e cor branca da polpa O mesmo ocorreu com as etnovariedades 431

ldquoMandioca varudardquo ldquoMandioca campina da granderdquo e ldquoMandioca campinardquo caracterizadas 432

pela presenccedila do peciacuteolo verde agrupadas no cluster (C1) 433

A partir dessas evidecircncias consideramos a hipoacutetese de que as variedades mesmo 434

apresentando caracteriacutesticas morfoloacutegicas muito semelhantes estatildeo sujeitas a variaccedilatildeo 435

nomenclatural durante o processo a incorporaccedilatildeo aos roccedilados pelos agricultores pois a 436

capacidade para distinguir e nomear variedades entre os agricultores da mesma regiatildeo pode 437

variar (Sambatti et al 2001 Elias et al 2001 Mekbib 2007) Consideramos tambeacutem que pode 438

44

existir variaccedilatildeo geneacutetica entre os indiviacuteduos identificados por um mesmo nome ou entatildeo que 439

os agricultores datildeo o mesmo nome para variedades diferentes E esta situaccedilatildeo pode levar a uma 440

superestimaccedilatildeo ou subestimaccedilatildeo da diversidade de mandioca cultiva nas aacutereas de estudo 441

Sabemos que a mandioca eacute propagada vegetativamente pelos agricultores por meio de 442

estacas em sistemas de agricultura tradicional No entanto alguns variedades produzem flores 443

e sementes que germinam e podem originar outras variedades ou outros clones por meio de 444

fecundaccedilatildeo cruzada (Elias et al 2001) Nesse contexto a etnovariedade ldquoMacaxeira Sementerdquo 445

presente no cluster (C7) trata-se de um uacutenico indiviacuteduo amostrado em uma roccedila de um dos 446

agricultores Esta apresentava algumas caracteriacutesticas morfoloacutegicas distintas das demais 447

reconhecidas pelo agricultor como por exemplo a produccedilatildeo de uma raiz uacutenica e 448

consequentemente de baixo rendimento Encontramos apenas um indiviacuteduo dessa 449

etnovariedade e nossa hipoacutetese de que esta poderia ter sido originada da germinaccedilatildeo da 450

semente mesmo quando 100 dos informantes declararam natildeo dar qualquer importacircncia e 451

descartar essas ldquovariedades-voluntaacuteriasrdquo foi confirmada pelo agricultor que afirmou que se 452

tratava de uma variedade nascida da germinaccedilatildeo da semente Esse comportamento vai de 453

encontro ao estudo de Fraser et al (2012) pois apesar dos agricultores reportarem nas 454

entrevistas que conhecem essas ldquovariedades-voluntaacuteriasrdquo nenhum agricultor faz o uso delas 455

Peroni et al (1999) e Agre et al (2016) analisando morfologicamente as variedades 456

locais de mandioca mantidas por agricultores em sistemas agriacutecolas tropicais tambeacutem 457

demonstraram que os agricultores satildeo coerentes quanto a separaccedilatildeo e identificaccedilatildeo de suas 458

etnovariedades a partir da formaccedilatildeo de grupos de coesos quanto a nomenclatura local utilizada 459

No entanto para o melhor entendimento dessa diversidade aleacutem da caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica 460

o uso de anaacutelises complementares como anaacutelise molecular seria importante para tentar 461

identificar se esses grupos representam a mesma variedade com nomes distintos ou se satildeo 462

variedades distintas com o mesmo nome 463

45

Conclusatildeo 464

O estudo demonstrou que no sistema de manejo da mandioca ao niacutevel de roccedila em 465

comunidades localizadas na regiatildeo semiaacuterida de Pernambuco compotildee uma diversidade 466

intrespeciacutefica de mandioca para atender agraves demandas econocircmicas e de subsistecircncia das 467

populaccedilotildees locais 468

Com relaccedilatildeo a anaacutelise de rede demostramos que haacute um nuacutecleo de etnovariedades 469

fortemente conectado aos agricultores e sua composiccedilatildeo eacute direcionada pelas preferecircncias e 470

necessidades individuais dos agricultores que foram os fatores responsaacuteveis pelo surgimento 471

da estrutura aninhada observada na anaacutelise rede entre as comunidades deste estudo E esse 472

padratildeo aninhado observado contribui na conservaccedilatildeo das etnovariedades mais comuns mas 473

tambeacutem pode resultar em perda daquelas de menor frequecircncia ao longo do tempo 474

A caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica ldquoin siturdquo nos permitiram inferir que os agricultores 475

reconhecem as diferentes caracteriacutesticas morfoloacutegicas de suas cultivares e satildeo coerentes na 476

separaccedilatildeo de suas variedades de mandioca e macaxeira Entretanto esses resultados sugerem a 477

realizaccedilatildeo de um estudo em niacutevel de diversidade geneacutetica exploratoacuterio para identificar se as 478

consistecircncias morfoloacutegicas refletem em consistecircncias geneacuteticas elucidando assim as possiacuteveis 479

confusotildees atribuiacutedas aos nomes das etnovariedades de mandioca 480

Agradecimentos 481

Agradecemos ao liacuteder comunitaacuterio Alexandre O Nascimento aos agricultores e 482

agricultoras das comunidades pela acolhida confianccedila e pela gentileza de compartilharem 483

conosco seus conhecimentos e contribuiacuterem com este estudo Especialmente a Arlindo Ferreira 484

Edgar Antocircnio Joseacute Sebastiatildeo Juvenal Oliveira e Janete Alves Ao Laboratoacuterio de Ecologia e 485

Evoluccedilatildeo de Sistemas Socioecoloacutegicos (LEA - UFPE) E agradecemos ao CNPq pelo apoio 486

com a bolsa de estudos do primeiro autor 487

46

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Qualis-CAPES 621

B1 em Biodiversidade 622

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625

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639

640

641

642

52

Figuras 643

644

645

Fig 1 Partes do processo de fabricaccedilatildeo de farinha de mandioca Onde a raspagem b e c 646

processo de trituraccedilatildeo e d peneiramento Foto registrada em Abril de 2017 por Mirela Santos 647

648

649

650

c

d

b

a

53

651

Fig 2 Mapa de localizaccedilatildeo geograacutefica dos Municiacutepios de Altinho e Panelas e das comunidades 652

estudadas na regiatildeo semiaacuterida do Estado de Pernambuco (Elaborado por SANTOS 2018) 653

54

654

655

656

657

Fig 3 Processo de fabricaccedilatildeo da farinha de mandioca Apoacutes a colheita as raiacutezes satildeo lavadas 658

raspadas e trituradas (a) A massa extraiacuteda eacute prensada e coada Ao sair da prensa a massa 659

peneirada (b) e em seguida eacute torrada (c) em fornos artesanais ou parcialmente mecanizados 660

Imagem registrada em janeiro de 2017 na Comunidade do Caratildeo por Mirela Santos 661

662

663

a

b c

55

664

Fig 4 a Sede da Comunidade do Caratildeo b Agricultor transportando a palma forrageira que eacute 665

um exemplo de estrateacutegia adaptativa para suprir a falta de alimento dos animais devido agrave seca 666

c Feira-livre que acontece na comunidade a cada quinze dias Imagem registrada em julho de 667

2016 na Comunidade do Caratildeo por Mirela Santos 668

669

670

Fig 5 a O agricultor nos explicava as mudanccedilas que vem fazendo em seus roccedilados para se 671

adaptar aos longos periacuteodos de seca b Quando o agricultor nos mostrava as diferentes 672

etnovariedades que mantinha em sua roccedila c Durante a pesquisa nos explicavam como era feita 673

a colheita da mandioca e como selecionavam as manivas para o proacuteximo plantio Foto registrada 674

em abril de 2017 na Comunidade do Brejo Velho por Mirela Santos 675

a

b c

c b

a

56 676

677

Fig 6 Possiacuteveis estruturas de rede que descrevem as interaccedilotildees dos agricultores (losango) 678

ligados as etnovariedades (ciacuterculos) que cultivam Onde a Aninhada b Modular c Aleatoacuteria 679

(Fonte Cavechia et al 2014 com adaptaccedilotildees) 680

681

682

683

684

685

686

687

688

689

690

691

692

693

694

695

696

697

a c b

57

698

699

700

701

702

703

704

705

706

707

Fig 7 Correlaccedilatildeo de Spearman entre a diversidade de etnovariedades de mandiocas conhecidas 708

como cultivadas e variedades atualmente cultivadas por agricultor e as variaacuteveis 709

socioeconocircmicas Onde Nvc= nuacutemero de citadas como cultivadas Nve= nuacutemero de variedades 710

atualmente cultivadas Esc= escolaridade Id= idade Gen= gecircnero Tr= tamanho do roccedilado 711

Exp= experiecircncia na agricultura Sld= renda Nr= nuacutemero de roccedilados Cores distintivas 712

representam correlaccedilotildees significativas (Ple005) 713

714

58

715

Fig 8 Modelo individual de rede de etnovariedades de mandioca citadas (esquerda) por 716

agricultores como cultivadas (direita) nos Municiacutepios de Altinho e Panelas As redes foram 717

desenhadas com o pacote bipartite (Dormann et al 2017) usando o software R (R CORE 718

TEAM 2017) 719

720

59

721

Fig 9 Anaacutelise de Correspondecircncia Muacuteltipla das 17 etnovariedades de mandioca considerando 722

os sete descritores morfoloacutegicos utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo em roccedilas de 723

agricultores tradicionais de sete comunidades no semiaacuterido de Pernambuco 724

725

726

727

728

729

730

731

732

733

734

735

736

737

McCambadinha

McCampina

McCampinaDaGrande

McCampinaRasteira

McCampinaVaruda

McGauba

McIsabelDeSouza

McIsabelTresGalhos

McOlhoDePombo

McOlhoVerde

McPretinha

McPretona

MxBranca

MxRosa

MxRosaBrancaMxRosaVermelha

MxSemente

CFD_Verde_Arroxeado

CFD_Verde_ClaroCFD_Verde_Escuro

CBF_Roxo

CBF_Verde_ArroxeadoCBF_Verde_Claro

CBF_Verde_Escuro

CDP_Verde

CDP_Verde_Amarelado

CDP_Verde_Avermelhado

CDP_Vermelho

CEC_Cinza

CEC_Dourado

CEC_Laranja

CEC_Marrom_Claro

CEC_Marrom_Escuro

CEC_Prateado

CEC_Verde_AmareladoCicatriz_M

Cicatriz_P

PDR_Branco

PDR_Creme

CDR_BrancoCDR_Creme CDR_Rosa

-4

-2

0

2

4

-4 -2 0 2 4

Dim1 (206)

Dim

2 (

162

)

MCA - Biplot

00

10

Hierarchical Clustering

inertia gain

McC

am

pin

aV

aru

da

McC

am

pin

aD

aG

rande

McC

am

pin

a

McG

auba

McP

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ha

McP

reto

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MxR

osaV

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em

ente

McIsabelT

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alh

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McIsabelD

eS

ouza

McO

lhoD

eP

om

bo

00

05

10

15

Hierarchical Classification

Heig

ht

C1 C2 C3 C4 C5 C6 C7 C8

Fig 10 Agrupamento hieraacuterquico das 17 etnovariedades de mandioca caracterizadas de acordo

com os descritores utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo

60

Tabelas 738

739

Tabela 1 Caracteres e estados utilizados pelos agricultores como descritores botacircnicos para 740

caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das etnovariedades de mandioca 741

Caracter Sigla Estados

Folha

Cor da folha desenvolvida CFD 1- verde claro 2- verde escuro 3- verde arroxeado 4- roxo

Cor do broto foliar CBF 1- verde claro 2- verde escuro 3- verde arroxeado 4- roxo

Cor do peciacuteolo CDP 1- verde amarelado 2- verde 3- verde avermelhado 4- roxo

5- vermelho

Caule

Cor externa do caule CEC 1- laranja 2- verde amarelado 3- dourado 4- marrom claro

5- prateado 6- cinza 7- marrom escuro 8- verde

Protuberacircncia da cicatriz foliar PCF 1- pouco proeminente 2- muito proeminente

Raiacutez

Cor da poupa da raiz PDR 1- branco 2- creme

Cor do coacutertex da raiacutez CDR 1- rosa 2- branco 3- creme

742

743

744

745

746

747

748

749

750

751

61

Tabela 2 Lista das 22 etnovariedades de mandiocas citadas (132 citaccedilotildees) como cultivadas nas 752

comunidades pertencentes aos Municiacutepios de Altinho (Caratildeo n=8) e ao Municiacutepio de Panelas 753

(Aracuatilde Satildeo Joseacute do Bola Brejo Velho Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima e Lajeiro 754

Dantas n=21) 755

Etnovariedade Frequecircncia () Ranking Saliecircncia

Macaxeira Rosa 66 179 0472

Mandioca Isabel de Souza 48 179 0372

Mandioca Campina 24 217 0148

Macaxeira Branca 20 210 0134

Macaxeira Rosa branca 18 122 0168

Mandioca Pretona 16 338 0082

Mandioca Cambadinha 12 283 0071

Mandioca Isabel trecircs galhos 10 180 0075

Mandioca Gauacuteba 10 260 0070

Mandioca Pretinha 8 225 0053

Mandioca Peacute de pombo 4 400 0011

Mandioca Olho verde 4 350 0012

Macaxeira Rosinha 4 200 0027

Mandioca Campina varuda 4 200 0032

Mandioca Campina rasteira 4 300 0021

Mandioca Caboquinha 2 500 0007

Macaxeira Rasteira 2 200 0013

Macaxeira Paraacute 2 100 0020

Mandioca Barra ferro 2 300 0007

Mandioca Campina da grande 2 100 0020

Mandioca Olho de pombo 2 300 0010

Mandioca Jasmim 2 600 0006

756

757

758

62

Tabela 3 Lista de 17 etnovariedades atualmente cultivadas nos roccedilados das comunidades em 759

estudo 760

Ca Ar Bo Br Jb Jc Ld

Etnovariedade

Macaxeira Branca x x x x

Macaxeira Rosa

x x x x x x

Macaxeira Rosa Branca x x x x

Macaxeira Rosa Vermelha

x

Macaxeira Semente

x

Mandioca Cambadinha x

x

Mandioca Campina

x

x

x

Mandioca Campina da Grande x

Mandioca Campina Rasteira

x

Mandioca Campina Varuda

x

Mandioca Gauacuteba

x

Mandioca Isabel de Souza

x x x

Mandioca Isabel trecircs Galhos

x

x

Mandioca Olho de Pombo

x

Mandioca Olho Verde

x

Mandioca Pretinha

x

Mandioca Pretona x x x

Comunidades Ca= Caratildeo Ar=Aracuatilde Bo= Satildeo Joseacute do Bola Jb= Japaranduba de Baixo 761

Jc= Japaranduba de Cima Ld= Lajedo Dantas 762

763

764

765

766

767

768

63

Tabela 4 Descriccedilatildeo das classes do agrupamento por meacutetodo de Ward agrupadas pelo conjunto 769

dos descritores mais significativos para a caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das variedades de mandioca 770

Classes Descritores in situ p-valor

C1 Cor do peciacuteolo (CDP) 0016

C2 Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023

C3 Cor do peciacuteolo (CDP) 0012

C4 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0004

Cor da poupa da raiacutez (PDF) 0021

C5 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0003

C6 Cor do broto foliar (CBF) 0002

C7 Cor da folha desenvolvida (CFD) 0004

Cor externa do caule (CEC) 0040

C8 Cor do peciacuteolo (CDP) 0005

Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023

Valores de Ple005 satildeo significativos 771

772

40

As variedades da classe 1 foram identificadas pelos agricultores pela cor do peciacuteolo 339

(CDP) verde A classe 2 agrupou as etnoveriedades caracterizadas pela protuberacircncia da cicatriz 340

foliar (PCF) mais protuberante Esse descritor segundo os agricultores era identificado como 341

ldquoembriatildeordquo A classe 3 consiste apenas da variedade ldquoMandioca Pretonardquo indicada pela presenccedila 342

de cor do peciacuteolo (CDP) vermelho A classe 4 agrupou trecircs variedades caracterizadas pelos 343

agricultores pela presenccedila de cor coacutertex da raiz (CDR) rosa e cor da polpa da raiacutez (PDR) branca 344

identificadas como ldquoMacaxeira vermelhardquo ldquoMacaxeira Rosa Brancardquo ldquoMacaxeira Rosardquo As 345

variedades agrupadas na classe 5 foras as variedades de mandioca caracterizadas pelos 346

agricultores por apresentarem cor do coacutertex (CDR) da raiacutez branca A classe 6 agrupou 347

variedades identificadas pelos agricultores pela cor do broto foliar (CBF) verde A classe 7 348

consiste apenas da variedade ldquoMacaxeira Sementerdquo identificada pelos agricultores pela cor do 349

peciacuteolo (CDP) roxo e protuberacircncia da cicatriz foliar pouco proeminente Essa variedade 350

segundo os agricultores era fruto do nascimento espontacircneo no roccedilado poreacutem eles geralmente 351

natildeo utilizam essas variedades por apresentarem apenas uma raiz pequena e de baixo 352

rendimento Na classe 8 as variedades foram identificadas pelos agricultores pela cor do peciacuteolo 353

(CDP) verde amarelado e protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) pouco proeminente As 354

ldquoMandioca Isabel de Souzardquo ldquoMandioca Isabel trecircs galhosrdquo segundo os agricultores se 355

diferenciavam pelo maior nuacutemero de caules presentes na variedade ldquoIsabel trecircs galhosrdquo 356

Discussatildeo 357

As sete comunidades estudadas manejavam um nuacutemero consideraacutevel de variedades 358

locais A quantidade de etnovariedades registradas eacute proacutexima a encontrada por Bender et al 359

(2009) e Cavechia et al (2014) em comunidades na regiatildeo sul e sudeste por Oler e Amorozo 360

(2017) em uma comunidade tradicional na regiatildeo centro-oeste Poreacutem foi quantitativamente 361

inferior quando comparada a estudos como os de Elias et al (2001) e Kawa et al (2013) em 362

comunidades na regiatildeo amazocircnica pois possuiacuteam uma alta diversidade Essa alta diversidade 363

41

na regiatildeo amazocircnica pode estar relacionada com o fato de que essa regiatildeo eacute o provaacutevel centro 364

de origem da mandioca (M esculenta) (Allem 1994) 365

As etnovariedades registradas neste estudo estatildeo disponiacuteveis para a maioria dos 366

agricultores dessa regiatildeo e esse fator favorece a circulaccedilatildeo das etnovariedades entre as 367

comunidades locais Por isso haacute semelhanccedilas das etnovariedades utilizadas entre os agricultores 368

da mesma comunidade e entre comunidades vizinhas 369

Parte dos agricultores optam por manter uma alta frequecircncia de variedades mais 370

utilizadas enquanto que outros optam por manter etnovariedades de baixa frequecircncia 371

Conforme discutido por Amorozo (2013) os agricultores escolhem seu acervo de acordo com 372

as necessidades e contexto em que vivem A reduccedilatildeo da diversidade de etnoveriedades por 373

exemplo pode ser impulsionada por fatores que simplificam o sistema como a seleccedilatildeo de 374

etnovariedades para a produccedilatildeo de farinha resultando no cultivo de poucas ou ateacute de uma uacutenica 375

etnovariedade (Peroni amp Hanazaki 2002) mesmo em aacutereas maiores 376

377

Redes de interaccedilatildeo social 378

Com as anaacutelises de rede demonstramos que os agricultores de diferentes comunidades 379

em uma mesma regiatildeo efetivamente trocam variedades de mandioca entre si corroborando 380

com estudos realizados por Emperaire amp Eloy (2008) Pautasso et al (2012) e Cavechia et al 381

(2014) Nesses estudos os autores tambeacutem consideram que as trocas de etnovariedades por 382

meio da rede de intercacircmbio entre os agricultores eacute um mecanismo fundamental para a 383

manutenccedilatildeo da diversidade local 384

A visualizaccedilatildeo da rede demonstrou que entre as comunidades os agricultores 385

compartilham um nuacutecleo de etnovariedades mais utilizadas dentre as quais estatildeo as de maior 386

valor econocircmico e de subsistecircncia Essas de maior frequecircncia satildeo aquelas altamente produtivas 387

utilizadas pelos agricultores para atenderem agraves demandas de mercado por farinha e para o 388

consumo proacuteprio (Kawa et al 2013) 389

42

No entanto observamos que existe outro nuacutecleo de etnovariedades menos frequentes 390

Essas etnovariedades raras podem ser resultantes do processo de experimentaccedilatildeo ou 391

preferecircncias individuais dos agricultores Outra possiacutevel razatildeo para a baixa frequecircncia de 392

algumas etnovariedades poderia ser explicada pela variaccedilatildeo da nomenclatura pelos 393

agricultores que segundo Peroni amp Hanazaki (2002) pode ocorrer durante o processo de troca 394

e introduccedilatildeo de novas variedades aos roccedilados Ainda assim natildeo descartamos a hipoacutetese de que 395

essas etnovariedades raras possam ser provenientes do cruzamento entre variedades diferentes 396

cultivadas da mesma roccedilado ou em roccedilas vizinhas De acordo com Martins (2005) essas 397

variedades fruto de germinaccedilatildeo expentacircnea satildeo incorporadas aos roccedilados pelos agricultores 398

pela curiosidade em experimentar novas variedades agraves suas coleccedilotildees 399

Nesse estudo admitimos que optar por etnovariedades raras entre as comunidades 400

estudadas eacute um comportamento adotado por agricultores que manejam uma maior diversidade 401

corroborando com os estudos de Cavechia et al (2014) e Emperaire et al (2016) em regiotildees 402

uacutemidas Para esses autores etnovaridedades de baixa frequecircncia representam um subconjunto 403

das de alta frequecircncia cultivadas por agricultores que manteacutem a maior diversidade em seus 404

roccedilados Sendo assim inferimos que no geral entre as comunidades satildeo os agricultores 405

generalistas aqueles que cultivam maior diversidade os responsaacuteveis por incorporar novas 406

etnovariedades aos roccedilados 407

As decisotildees dos agricultores em manter o acervo direcionado principalmente para 408

atender a demanda de mercado por exemplo podem levar a uma homogeneizaccedilatildeo nas roccedilas 409

colocando em risco a manutenccedilatildeo da diversidade local (Peroni amp Hanazaki 2002) Como 410

discutido por Elias et al (2000) os agricultores que selecionam apenas um nuacutemero reduzido e 411

especiacutefico de variedades mais produtivas tendem a fazer com que as variedades menos 412

frequentes desapareccedilam ao longo do tempo Essa tendecircndia pode influenciar na capacidade de 413

43

resiliecircncia do sistema assim como dos agricultores em lidar com possiacuteveis adversidades 414

ambientais que possam ocorrer 415

Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 416

No geral os agricultores demonstraram uma tendecircncia em classificarseparar suas 417

diferentes etnovariedades de mandioca a partir da combinaccedilatildeo de um conjunto de sete 418

caracteres morfoloacutegicos distintos e de faacutecil percepccedilatildeo os quais natildeo tem relaccedilatildeo com o uso 419

como por exemplo a cores das raiacutezes caule e folhas Logo consideramos que esses caracteres 420

morfoloacutegicos podem ser considerados como uma forma de classificaccedilatildeo pelos agricultores 421

baseada na capacidade percepccedilatildeo das diferenccedilas morfoloacutegicas que cada etnovariedades 422

apresenta (Boster 1985) Estes resultados nos levam a entender que entre os agricultores o 423

conhecimento sobre a diversidade da mandioca estaacute relacionado ao conhecimento de 424

caracteriacutesticas morfoloacutegicas consistentes 425

A existecircncia de alguns fenoacutetipos comuns nos permitiu avaliar a classificaccedilatildeo da 426

consistecircncia da taxonomia popular entre os agricultores Por exemplo as etnovariedades 427

ldquoMaxaceira Rosardquo e ldquoMacaxeira Rosa Brancardquo e ldquoMacaxeira vermelhardquo foram agrupadas no 428

mesmo cluster (C4) por apresentaram fenoacutetipos semelhantes Notamos que os agricultores 429

classificaram essas variedades de acordo com os traccedilos morfoloacutegicos mais relevantes como a 430

cor do coacutertex da raiz rosa e cor branca da polpa O mesmo ocorreu com as etnovariedades 431

ldquoMandioca varudardquo ldquoMandioca campina da granderdquo e ldquoMandioca campinardquo caracterizadas 432

pela presenccedila do peciacuteolo verde agrupadas no cluster (C1) 433

A partir dessas evidecircncias consideramos a hipoacutetese de que as variedades mesmo 434

apresentando caracteriacutesticas morfoloacutegicas muito semelhantes estatildeo sujeitas a variaccedilatildeo 435

nomenclatural durante o processo a incorporaccedilatildeo aos roccedilados pelos agricultores pois a 436

capacidade para distinguir e nomear variedades entre os agricultores da mesma regiatildeo pode 437

variar (Sambatti et al 2001 Elias et al 2001 Mekbib 2007) Consideramos tambeacutem que pode 438

44

existir variaccedilatildeo geneacutetica entre os indiviacuteduos identificados por um mesmo nome ou entatildeo que 439

os agricultores datildeo o mesmo nome para variedades diferentes E esta situaccedilatildeo pode levar a uma 440

superestimaccedilatildeo ou subestimaccedilatildeo da diversidade de mandioca cultiva nas aacutereas de estudo 441

Sabemos que a mandioca eacute propagada vegetativamente pelos agricultores por meio de 442

estacas em sistemas de agricultura tradicional No entanto alguns variedades produzem flores 443

e sementes que germinam e podem originar outras variedades ou outros clones por meio de 444

fecundaccedilatildeo cruzada (Elias et al 2001) Nesse contexto a etnovariedade ldquoMacaxeira Sementerdquo 445

presente no cluster (C7) trata-se de um uacutenico indiviacuteduo amostrado em uma roccedila de um dos 446

agricultores Esta apresentava algumas caracteriacutesticas morfoloacutegicas distintas das demais 447

reconhecidas pelo agricultor como por exemplo a produccedilatildeo de uma raiz uacutenica e 448

consequentemente de baixo rendimento Encontramos apenas um indiviacuteduo dessa 449

etnovariedade e nossa hipoacutetese de que esta poderia ter sido originada da germinaccedilatildeo da 450

semente mesmo quando 100 dos informantes declararam natildeo dar qualquer importacircncia e 451

descartar essas ldquovariedades-voluntaacuteriasrdquo foi confirmada pelo agricultor que afirmou que se 452

tratava de uma variedade nascida da germinaccedilatildeo da semente Esse comportamento vai de 453

encontro ao estudo de Fraser et al (2012) pois apesar dos agricultores reportarem nas 454

entrevistas que conhecem essas ldquovariedades-voluntaacuteriasrdquo nenhum agricultor faz o uso delas 455

Peroni et al (1999) e Agre et al (2016) analisando morfologicamente as variedades 456

locais de mandioca mantidas por agricultores em sistemas agriacutecolas tropicais tambeacutem 457

demonstraram que os agricultores satildeo coerentes quanto a separaccedilatildeo e identificaccedilatildeo de suas 458

etnovariedades a partir da formaccedilatildeo de grupos de coesos quanto a nomenclatura local utilizada 459

No entanto para o melhor entendimento dessa diversidade aleacutem da caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica 460

o uso de anaacutelises complementares como anaacutelise molecular seria importante para tentar 461

identificar se esses grupos representam a mesma variedade com nomes distintos ou se satildeo 462

variedades distintas com o mesmo nome 463

45

Conclusatildeo 464

O estudo demonstrou que no sistema de manejo da mandioca ao niacutevel de roccedila em 465

comunidades localizadas na regiatildeo semiaacuterida de Pernambuco compotildee uma diversidade 466

intrespeciacutefica de mandioca para atender agraves demandas econocircmicas e de subsistecircncia das 467

populaccedilotildees locais 468

Com relaccedilatildeo a anaacutelise de rede demostramos que haacute um nuacutecleo de etnovariedades 469

fortemente conectado aos agricultores e sua composiccedilatildeo eacute direcionada pelas preferecircncias e 470

necessidades individuais dos agricultores que foram os fatores responsaacuteveis pelo surgimento 471

da estrutura aninhada observada na anaacutelise rede entre as comunidades deste estudo E esse 472

padratildeo aninhado observado contribui na conservaccedilatildeo das etnovariedades mais comuns mas 473

tambeacutem pode resultar em perda daquelas de menor frequecircncia ao longo do tempo 474

A caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica ldquoin siturdquo nos permitiram inferir que os agricultores 475

reconhecem as diferentes caracteriacutesticas morfoloacutegicas de suas cultivares e satildeo coerentes na 476

separaccedilatildeo de suas variedades de mandioca e macaxeira Entretanto esses resultados sugerem a 477

realizaccedilatildeo de um estudo em niacutevel de diversidade geneacutetica exploratoacuterio para identificar se as 478

consistecircncias morfoloacutegicas refletem em consistecircncias geneacuteticas elucidando assim as possiacuteveis 479

confusotildees atribuiacutedas aos nomes das etnovariedades de mandioca 480

Agradecimentos 481

Agradecemos ao liacuteder comunitaacuterio Alexandre O Nascimento aos agricultores e 482

agricultoras das comunidades pela acolhida confianccedila e pela gentileza de compartilharem 483

conosco seus conhecimentos e contribuiacuterem com este estudo Especialmente a Arlindo Ferreira 484

Edgar Antocircnio Joseacute Sebastiatildeo Juvenal Oliveira e Janete Alves Ao Laboratoacuterio de Ecologia e 485

Evoluccedilatildeo de Sistemas Socioecoloacutegicos (LEA - UFPE) E agradecemos ao CNPq pelo apoio 486

com a bolsa de estudos do primeiro autor 487

46

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073 230(231) 11 613

614

51

ANEXOS 615

616

Nome da revista 617

Human Ecology 618

Link de acesso 619

httpsgooglDVLbFj 620

Qualis-CAPES 621

B1 em Biodiversidade 622

623

624

625

626

627

628

629

630

631

632

633

634

635

636

637

638

639

640

641

642

52

Figuras 643

644

645

Fig 1 Partes do processo de fabricaccedilatildeo de farinha de mandioca Onde a raspagem b e c 646

processo de trituraccedilatildeo e d peneiramento Foto registrada em Abril de 2017 por Mirela Santos 647

648

649

650

c

d

b

a

53

651

Fig 2 Mapa de localizaccedilatildeo geograacutefica dos Municiacutepios de Altinho e Panelas e das comunidades 652

estudadas na regiatildeo semiaacuterida do Estado de Pernambuco (Elaborado por SANTOS 2018) 653

54

654

655

656

657

Fig 3 Processo de fabricaccedilatildeo da farinha de mandioca Apoacutes a colheita as raiacutezes satildeo lavadas 658

raspadas e trituradas (a) A massa extraiacuteda eacute prensada e coada Ao sair da prensa a massa 659

peneirada (b) e em seguida eacute torrada (c) em fornos artesanais ou parcialmente mecanizados 660

Imagem registrada em janeiro de 2017 na Comunidade do Caratildeo por Mirela Santos 661

662

663

a

b c

55

664

Fig 4 a Sede da Comunidade do Caratildeo b Agricultor transportando a palma forrageira que eacute 665

um exemplo de estrateacutegia adaptativa para suprir a falta de alimento dos animais devido agrave seca 666

c Feira-livre que acontece na comunidade a cada quinze dias Imagem registrada em julho de 667

2016 na Comunidade do Caratildeo por Mirela Santos 668

669

670

Fig 5 a O agricultor nos explicava as mudanccedilas que vem fazendo em seus roccedilados para se 671

adaptar aos longos periacuteodos de seca b Quando o agricultor nos mostrava as diferentes 672

etnovariedades que mantinha em sua roccedila c Durante a pesquisa nos explicavam como era feita 673

a colheita da mandioca e como selecionavam as manivas para o proacuteximo plantio Foto registrada 674

em abril de 2017 na Comunidade do Brejo Velho por Mirela Santos 675

a

b c

c b

a

56 676

677

Fig 6 Possiacuteveis estruturas de rede que descrevem as interaccedilotildees dos agricultores (losango) 678

ligados as etnovariedades (ciacuterculos) que cultivam Onde a Aninhada b Modular c Aleatoacuteria 679

(Fonte Cavechia et al 2014 com adaptaccedilotildees) 680

681

682

683

684

685

686

687

688

689

690

691

692

693

694

695

696

697

a c b

57

698

699

700

701

702

703

704

705

706

707

Fig 7 Correlaccedilatildeo de Spearman entre a diversidade de etnovariedades de mandiocas conhecidas 708

como cultivadas e variedades atualmente cultivadas por agricultor e as variaacuteveis 709

socioeconocircmicas Onde Nvc= nuacutemero de citadas como cultivadas Nve= nuacutemero de variedades 710

atualmente cultivadas Esc= escolaridade Id= idade Gen= gecircnero Tr= tamanho do roccedilado 711

Exp= experiecircncia na agricultura Sld= renda Nr= nuacutemero de roccedilados Cores distintivas 712

representam correlaccedilotildees significativas (Ple005) 713

714

58

715

Fig 8 Modelo individual de rede de etnovariedades de mandioca citadas (esquerda) por 716

agricultores como cultivadas (direita) nos Municiacutepios de Altinho e Panelas As redes foram 717

desenhadas com o pacote bipartite (Dormann et al 2017) usando o software R (R CORE 718

TEAM 2017) 719

720

59

721

Fig 9 Anaacutelise de Correspondecircncia Muacuteltipla das 17 etnovariedades de mandioca considerando 722

os sete descritores morfoloacutegicos utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo em roccedilas de 723

agricultores tradicionais de sete comunidades no semiaacuterido de Pernambuco 724

725

726

727

728

729

730

731

732

733

734

735

736

737

McCambadinha

McCampina

McCampinaDaGrande

McCampinaRasteira

McCampinaVaruda

McGauba

McIsabelDeSouza

McIsabelTresGalhos

McOlhoDePombo

McOlhoVerde

McPretinha

McPretona

MxBranca

MxRosa

MxRosaBrancaMxRosaVermelha

MxSemente

CFD_Verde_Arroxeado

CFD_Verde_ClaroCFD_Verde_Escuro

CBF_Roxo

CBF_Verde_ArroxeadoCBF_Verde_Claro

CBF_Verde_Escuro

CDP_Verde

CDP_Verde_Amarelado

CDP_Verde_Avermelhado

CDP_Vermelho

CEC_Cinza

CEC_Dourado

CEC_Laranja

CEC_Marrom_Claro

CEC_Marrom_Escuro

CEC_Prateado

CEC_Verde_AmareladoCicatriz_M

Cicatriz_P

PDR_Branco

PDR_Creme

CDR_BrancoCDR_Creme CDR_Rosa

-4

-2

0

2

4

-4 -2 0 2 4

Dim1 (206)

Dim

2 (

162

)

MCA - Biplot

00

10

Hierarchical Clustering

inertia gain

McC

am

pin

aV

aru

da

McC

am

pin

aD

aG

rande

McC

am

pin

a

McG

auba

McP

retin

ha

McP

reto

na

MxR

osaV

erm

elh

a

MxR

osaB

ranca

MxR

osa

McC

am

pin

aR

aste

ira

McC

am

badin

ha

McO

lhoV

erd

e

MxB

ranca

MxS

em

ente

McIsabelT

resG

alh

os

McIsabelD

eS

ouza

McO

lhoD

eP

om

bo

00

05

10

15

Hierarchical Classification

Heig

ht

C1 C2 C3 C4 C5 C6 C7 C8

Fig 10 Agrupamento hieraacuterquico das 17 etnovariedades de mandioca caracterizadas de acordo

com os descritores utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo

60

Tabelas 738

739

Tabela 1 Caracteres e estados utilizados pelos agricultores como descritores botacircnicos para 740

caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das etnovariedades de mandioca 741

Caracter Sigla Estados

Folha

Cor da folha desenvolvida CFD 1- verde claro 2- verde escuro 3- verde arroxeado 4- roxo

Cor do broto foliar CBF 1- verde claro 2- verde escuro 3- verde arroxeado 4- roxo

Cor do peciacuteolo CDP 1- verde amarelado 2- verde 3- verde avermelhado 4- roxo

5- vermelho

Caule

Cor externa do caule CEC 1- laranja 2- verde amarelado 3- dourado 4- marrom claro

5- prateado 6- cinza 7- marrom escuro 8- verde

Protuberacircncia da cicatriz foliar PCF 1- pouco proeminente 2- muito proeminente

Raiacutez

Cor da poupa da raiz PDR 1- branco 2- creme

Cor do coacutertex da raiacutez CDR 1- rosa 2- branco 3- creme

742

743

744

745

746

747

748

749

750

751

61

Tabela 2 Lista das 22 etnovariedades de mandiocas citadas (132 citaccedilotildees) como cultivadas nas 752

comunidades pertencentes aos Municiacutepios de Altinho (Caratildeo n=8) e ao Municiacutepio de Panelas 753

(Aracuatilde Satildeo Joseacute do Bola Brejo Velho Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima e Lajeiro 754

Dantas n=21) 755

Etnovariedade Frequecircncia () Ranking Saliecircncia

Macaxeira Rosa 66 179 0472

Mandioca Isabel de Souza 48 179 0372

Mandioca Campina 24 217 0148

Macaxeira Branca 20 210 0134

Macaxeira Rosa branca 18 122 0168

Mandioca Pretona 16 338 0082

Mandioca Cambadinha 12 283 0071

Mandioca Isabel trecircs galhos 10 180 0075

Mandioca Gauacuteba 10 260 0070

Mandioca Pretinha 8 225 0053

Mandioca Peacute de pombo 4 400 0011

Mandioca Olho verde 4 350 0012

Macaxeira Rosinha 4 200 0027

Mandioca Campina varuda 4 200 0032

Mandioca Campina rasteira 4 300 0021

Mandioca Caboquinha 2 500 0007

Macaxeira Rasteira 2 200 0013

Macaxeira Paraacute 2 100 0020

Mandioca Barra ferro 2 300 0007

Mandioca Campina da grande 2 100 0020

Mandioca Olho de pombo 2 300 0010

Mandioca Jasmim 2 600 0006

756

757

758

62

Tabela 3 Lista de 17 etnovariedades atualmente cultivadas nos roccedilados das comunidades em 759

estudo 760

Ca Ar Bo Br Jb Jc Ld

Etnovariedade

Macaxeira Branca x x x x

Macaxeira Rosa

x x x x x x

Macaxeira Rosa Branca x x x x

Macaxeira Rosa Vermelha

x

Macaxeira Semente

x

Mandioca Cambadinha x

x

Mandioca Campina

x

x

x

Mandioca Campina da Grande x

Mandioca Campina Rasteira

x

Mandioca Campina Varuda

x

Mandioca Gauacuteba

x

Mandioca Isabel de Souza

x x x

Mandioca Isabel trecircs Galhos

x

x

Mandioca Olho de Pombo

x

Mandioca Olho Verde

x

Mandioca Pretinha

x

Mandioca Pretona x x x

Comunidades Ca= Caratildeo Ar=Aracuatilde Bo= Satildeo Joseacute do Bola Jb= Japaranduba de Baixo 761

Jc= Japaranduba de Cima Ld= Lajedo Dantas 762

763

764

765

766

767

768

63

Tabela 4 Descriccedilatildeo das classes do agrupamento por meacutetodo de Ward agrupadas pelo conjunto 769

dos descritores mais significativos para a caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das variedades de mandioca 770

Classes Descritores in situ p-valor

C1 Cor do peciacuteolo (CDP) 0016

C2 Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023

C3 Cor do peciacuteolo (CDP) 0012

C4 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0004

Cor da poupa da raiacutez (PDF) 0021

C5 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0003

C6 Cor do broto foliar (CBF) 0002

C7 Cor da folha desenvolvida (CFD) 0004

Cor externa do caule (CEC) 0040

C8 Cor do peciacuteolo (CDP) 0005

Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023

Valores de Ple005 satildeo significativos 771

772

41

na regiatildeo amazocircnica pode estar relacionada com o fato de que essa regiatildeo eacute o provaacutevel centro 364

de origem da mandioca (M esculenta) (Allem 1994) 365

As etnovariedades registradas neste estudo estatildeo disponiacuteveis para a maioria dos 366

agricultores dessa regiatildeo e esse fator favorece a circulaccedilatildeo das etnovariedades entre as 367

comunidades locais Por isso haacute semelhanccedilas das etnovariedades utilizadas entre os agricultores 368

da mesma comunidade e entre comunidades vizinhas 369

Parte dos agricultores optam por manter uma alta frequecircncia de variedades mais 370

utilizadas enquanto que outros optam por manter etnovariedades de baixa frequecircncia 371

Conforme discutido por Amorozo (2013) os agricultores escolhem seu acervo de acordo com 372

as necessidades e contexto em que vivem A reduccedilatildeo da diversidade de etnoveriedades por 373

exemplo pode ser impulsionada por fatores que simplificam o sistema como a seleccedilatildeo de 374

etnovariedades para a produccedilatildeo de farinha resultando no cultivo de poucas ou ateacute de uma uacutenica 375

etnovariedade (Peroni amp Hanazaki 2002) mesmo em aacutereas maiores 376

377

Redes de interaccedilatildeo social 378

Com as anaacutelises de rede demonstramos que os agricultores de diferentes comunidades 379

em uma mesma regiatildeo efetivamente trocam variedades de mandioca entre si corroborando 380

com estudos realizados por Emperaire amp Eloy (2008) Pautasso et al (2012) e Cavechia et al 381

(2014) Nesses estudos os autores tambeacutem consideram que as trocas de etnovariedades por 382

meio da rede de intercacircmbio entre os agricultores eacute um mecanismo fundamental para a 383

manutenccedilatildeo da diversidade local 384

A visualizaccedilatildeo da rede demonstrou que entre as comunidades os agricultores 385

compartilham um nuacutecleo de etnovariedades mais utilizadas dentre as quais estatildeo as de maior 386

valor econocircmico e de subsistecircncia Essas de maior frequecircncia satildeo aquelas altamente produtivas 387

utilizadas pelos agricultores para atenderem agraves demandas de mercado por farinha e para o 388

consumo proacuteprio (Kawa et al 2013) 389

42

No entanto observamos que existe outro nuacutecleo de etnovariedades menos frequentes 390

Essas etnovariedades raras podem ser resultantes do processo de experimentaccedilatildeo ou 391

preferecircncias individuais dos agricultores Outra possiacutevel razatildeo para a baixa frequecircncia de 392

algumas etnovariedades poderia ser explicada pela variaccedilatildeo da nomenclatura pelos 393

agricultores que segundo Peroni amp Hanazaki (2002) pode ocorrer durante o processo de troca 394

e introduccedilatildeo de novas variedades aos roccedilados Ainda assim natildeo descartamos a hipoacutetese de que 395

essas etnovariedades raras possam ser provenientes do cruzamento entre variedades diferentes 396

cultivadas da mesma roccedilado ou em roccedilas vizinhas De acordo com Martins (2005) essas 397

variedades fruto de germinaccedilatildeo expentacircnea satildeo incorporadas aos roccedilados pelos agricultores 398

pela curiosidade em experimentar novas variedades agraves suas coleccedilotildees 399

Nesse estudo admitimos que optar por etnovariedades raras entre as comunidades 400

estudadas eacute um comportamento adotado por agricultores que manejam uma maior diversidade 401

corroborando com os estudos de Cavechia et al (2014) e Emperaire et al (2016) em regiotildees 402

uacutemidas Para esses autores etnovaridedades de baixa frequecircncia representam um subconjunto 403

das de alta frequecircncia cultivadas por agricultores que manteacutem a maior diversidade em seus 404

roccedilados Sendo assim inferimos que no geral entre as comunidades satildeo os agricultores 405

generalistas aqueles que cultivam maior diversidade os responsaacuteveis por incorporar novas 406

etnovariedades aos roccedilados 407

As decisotildees dos agricultores em manter o acervo direcionado principalmente para 408

atender a demanda de mercado por exemplo podem levar a uma homogeneizaccedilatildeo nas roccedilas 409

colocando em risco a manutenccedilatildeo da diversidade local (Peroni amp Hanazaki 2002) Como 410

discutido por Elias et al (2000) os agricultores que selecionam apenas um nuacutemero reduzido e 411

especiacutefico de variedades mais produtivas tendem a fazer com que as variedades menos 412

frequentes desapareccedilam ao longo do tempo Essa tendecircndia pode influenciar na capacidade de 413

43

resiliecircncia do sistema assim como dos agricultores em lidar com possiacuteveis adversidades 414

ambientais que possam ocorrer 415

Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 416

No geral os agricultores demonstraram uma tendecircncia em classificarseparar suas 417

diferentes etnovariedades de mandioca a partir da combinaccedilatildeo de um conjunto de sete 418

caracteres morfoloacutegicos distintos e de faacutecil percepccedilatildeo os quais natildeo tem relaccedilatildeo com o uso 419

como por exemplo a cores das raiacutezes caule e folhas Logo consideramos que esses caracteres 420

morfoloacutegicos podem ser considerados como uma forma de classificaccedilatildeo pelos agricultores 421

baseada na capacidade percepccedilatildeo das diferenccedilas morfoloacutegicas que cada etnovariedades 422

apresenta (Boster 1985) Estes resultados nos levam a entender que entre os agricultores o 423

conhecimento sobre a diversidade da mandioca estaacute relacionado ao conhecimento de 424

caracteriacutesticas morfoloacutegicas consistentes 425

A existecircncia de alguns fenoacutetipos comuns nos permitiu avaliar a classificaccedilatildeo da 426

consistecircncia da taxonomia popular entre os agricultores Por exemplo as etnovariedades 427

ldquoMaxaceira Rosardquo e ldquoMacaxeira Rosa Brancardquo e ldquoMacaxeira vermelhardquo foram agrupadas no 428

mesmo cluster (C4) por apresentaram fenoacutetipos semelhantes Notamos que os agricultores 429

classificaram essas variedades de acordo com os traccedilos morfoloacutegicos mais relevantes como a 430

cor do coacutertex da raiz rosa e cor branca da polpa O mesmo ocorreu com as etnovariedades 431

ldquoMandioca varudardquo ldquoMandioca campina da granderdquo e ldquoMandioca campinardquo caracterizadas 432

pela presenccedila do peciacuteolo verde agrupadas no cluster (C1) 433

A partir dessas evidecircncias consideramos a hipoacutetese de que as variedades mesmo 434

apresentando caracteriacutesticas morfoloacutegicas muito semelhantes estatildeo sujeitas a variaccedilatildeo 435

nomenclatural durante o processo a incorporaccedilatildeo aos roccedilados pelos agricultores pois a 436

capacidade para distinguir e nomear variedades entre os agricultores da mesma regiatildeo pode 437

variar (Sambatti et al 2001 Elias et al 2001 Mekbib 2007) Consideramos tambeacutem que pode 438

44

existir variaccedilatildeo geneacutetica entre os indiviacuteduos identificados por um mesmo nome ou entatildeo que 439

os agricultores datildeo o mesmo nome para variedades diferentes E esta situaccedilatildeo pode levar a uma 440

superestimaccedilatildeo ou subestimaccedilatildeo da diversidade de mandioca cultiva nas aacutereas de estudo 441

Sabemos que a mandioca eacute propagada vegetativamente pelos agricultores por meio de 442

estacas em sistemas de agricultura tradicional No entanto alguns variedades produzem flores 443

e sementes que germinam e podem originar outras variedades ou outros clones por meio de 444

fecundaccedilatildeo cruzada (Elias et al 2001) Nesse contexto a etnovariedade ldquoMacaxeira Sementerdquo 445

presente no cluster (C7) trata-se de um uacutenico indiviacuteduo amostrado em uma roccedila de um dos 446

agricultores Esta apresentava algumas caracteriacutesticas morfoloacutegicas distintas das demais 447

reconhecidas pelo agricultor como por exemplo a produccedilatildeo de uma raiz uacutenica e 448

consequentemente de baixo rendimento Encontramos apenas um indiviacuteduo dessa 449

etnovariedade e nossa hipoacutetese de que esta poderia ter sido originada da germinaccedilatildeo da 450

semente mesmo quando 100 dos informantes declararam natildeo dar qualquer importacircncia e 451

descartar essas ldquovariedades-voluntaacuteriasrdquo foi confirmada pelo agricultor que afirmou que se 452

tratava de uma variedade nascida da germinaccedilatildeo da semente Esse comportamento vai de 453

encontro ao estudo de Fraser et al (2012) pois apesar dos agricultores reportarem nas 454

entrevistas que conhecem essas ldquovariedades-voluntaacuteriasrdquo nenhum agricultor faz o uso delas 455

Peroni et al (1999) e Agre et al (2016) analisando morfologicamente as variedades 456

locais de mandioca mantidas por agricultores em sistemas agriacutecolas tropicais tambeacutem 457

demonstraram que os agricultores satildeo coerentes quanto a separaccedilatildeo e identificaccedilatildeo de suas 458

etnovariedades a partir da formaccedilatildeo de grupos de coesos quanto a nomenclatura local utilizada 459

No entanto para o melhor entendimento dessa diversidade aleacutem da caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica 460

o uso de anaacutelises complementares como anaacutelise molecular seria importante para tentar 461

identificar se esses grupos representam a mesma variedade com nomes distintos ou se satildeo 462

variedades distintas com o mesmo nome 463

45

Conclusatildeo 464

O estudo demonstrou que no sistema de manejo da mandioca ao niacutevel de roccedila em 465

comunidades localizadas na regiatildeo semiaacuterida de Pernambuco compotildee uma diversidade 466

intrespeciacutefica de mandioca para atender agraves demandas econocircmicas e de subsistecircncia das 467

populaccedilotildees locais 468

Com relaccedilatildeo a anaacutelise de rede demostramos que haacute um nuacutecleo de etnovariedades 469

fortemente conectado aos agricultores e sua composiccedilatildeo eacute direcionada pelas preferecircncias e 470

necessidades individuais dos agricultores que foram os fatores responsaacuteveis pelo surgimento 471

da estrutura aninhada observada na anaacutelise rede entre as comunidades deste estudo E esse 472

padratildeo aninhado observado contribui na conservaccedilatildeo das etnovariedades mais comuns mas 473

tambeacutem pode resultar em perda daquelas de menor frequecircncia ao longo do tempo 474

A caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica ldquoin siturdquo nos permitiram inferir que os agricultores 475

reconhecem as diferentes caracteriacutesticas morfoloacutegicas de suas cultivares e satildeo coerentes na 476

separaccedilatildeo de suas variedades de mandioca e macaxeira Entretanto esses resultados sugerem a 477

realizaccedilatildeo de um estudo em niacutevel de diversidade geneacutetica exploratoacuterio para identificar se as 478

consistecircncias morfoloacutegicas refletem em consistecircncias geneacuteticas elucidando assim as possiacuteveis 479

confusotildees atribuiacutedas aos nomes das etnovariedades de mandioca 480

Agradecimentos 481

Agradecemos ao liacuteder comunitaacuterio Alexandre O Nascimento aos agricultores e 482

agricultoras das comunidades pela acolhida confianccedila e pela gentileza de compartilharem 483

conosco seus conhecimentos e contribuiacuterem com este estudo Especialmente a Arlindo Ferreira 484

Edgar Antocircnio Joseacute Sebastiatildeo Juvenal Oliveira e Janete Alves Ao Laboratoacuterio de Ecologia e 485

Evoluccedilatildeo de Sistemas Socioecoloacutegicos (LEA - UFPE) E agradecemos ao CNPq pelo apoio 486

com a bolsa de estudos do primeiro autor 487

46

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ANEXOS 615

616

Nome da revista 617

Human Ecology 618

Link de acesso 619

httpsgooglDVLbFj 620

Qualis-CAPES 621

B1 em Biodiversidade 622

623

624

625

626

627

628

629

630

631

632

633

634

635

636

637

638

639

640

641

642

52

Figuras 643

644

645

Fig 1 Partes do processo de fabricaccedilatildeo de farinha de mandioca Onde a raspagem b e c 646

processo de trituraccedilatildeo e d peneiramento Foto registrada em Abril de 2017 por Mirela Santos 647

648

649

650

c

d

b

a

53

651

Fig 2 Mapa de localizaccedilatildeo geograacutefica dos Municiacutepios de Altinho e Panelas e das comunidades 652

estudadas na regiatildeo semiaacuterida do Estado de Pernambuco (Elaborado por SANTOS 2018) 653

54

654

655

656

657

Fig 3 Processo de fabricaccedilatildeo da farinha de mandioca Apoacutes a colheita as raiacutezes satildeo lavadas 658

raspadas e trituradas (a) A massa extraiacuteda eacute prensada e coada Ao sair da prensa a massa 659

peneirada (b) e em seguida eacute torrada (c) em fornos artesanais ou parcialmente mecanizados 660

Imagem registrada em janeiro de 2017 na Comunidade do Caratildeo por Mirela Santos 661

662

663

a

b c

55

664

Fig 4 a Sede da Comunidade do Caratildeo b Agricultor transportando a palma forrageira que eacute 665

um exemplo de estrateacutegia adaptativa para suprir a falta de alimento dos animais devido agrave seca 666

c Feira-livre que acontece na comunidade a cada quinze dias Imagem registrada em julho de 667

2016 na Comunidade do Caratildeo por Mirela Santos 668

669

670

Fig 5 a O agricultor nos explicava as mudanccedilas que vem fazendo em seus roccedilados para se 671

adaptar aos longos periacuteodos de seca b Quando o agricultor nos mostrava as diferentes 672

etnovariedades que mantinha em sua roccedila c Durante a pesquisa nos explicavam como era feita 673

a colheita da mandioca e como selecionavam as manivas para o proacuteximo plantio Foto registrada 674

em abril de 2017 na Comunidade do Brejo Velho por Mirela Santos 675

a

b c

c b

a

56 676

677

Fig 6 Possiacuteveis estruturas de rede que descrevem as interaccedilotildees dos agricultores (losango) 678

ligados as etnovariedades (ciacuterculos) que cultivam Onde a Aninhada b Modular c Aleatoacuteria 679

(Fonte Cavechia et al 2014 com adaptaccedilotildees) 680

681

682

683

684

685

686

687

688

689

690

691

692

693

694

695

696

697

a c b

57

698

699

700

701

702

703

704

705

706

707

Fig 7 Correlaccedilatildeo de Spearman entre a diversidade de etnovariedades de mandiocas conhecidas 708

como cultivadas e variedades atualmente cultivadas por agricultor e as variaacuteveis 709

socioeconocircmicas Onde Nvc= nuacutemero de citadas como cultivadas Nve= nuacutemero de variedades 710

atualmente cultivadas Esc= escolaridade Id= idade Gen= gecircnero Tr= tamanho do roccedilado 711

Exp= experiecircncia na agricultura Sld= renda Nr= nuacutemero de roccedilados Cores distintivas 712

representam correlaccedilotildees significativas (Ple005) 713

714

58

715

Fig 8 Modelo individual de rede de etnovariedades de mandioca citadas (esquerda) por 716

agricultores como cultivadas (direita) nos Municiacutepios de Altinho e Panelas As redes foram 717

desenhadas com o pacote bipartite (Dormann et al 2017) usando o software R (R CORE 718

TEAM 2017) 719

720

59

721

Fig 9 Anaacutelise de Correspondecircncia Muacuteltipla das 17 etnovariedades de mandioca considerando 722

os sete descritores morfoloacutegicos utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo em roccedilas de 723

agricultores tradicionais de sete comunidades no semiaacuterido de Pernambuco 724

725

726

727

728

729

730

731

732

733

734

735

736

737

McCambadinha

McCampina

McCampinaDaGrande

McCampinaRasteira

McCampinaVaruda

McGauba

McIsabelDeSouza

McIsabelTresGalhos

McOlhoDePombo

McOlhoVerde

McPretinha

McPretona

MxBranca

MxRosa

MxRosaBrancaMxRosaVermelha

MxSemente

CFD_Verde_Arroxeado

CFD_Verde_ClaroCFD_Verde_Escuro

CBF_Roxo

CBF_Verde_ArroxeadoCBF_Verde_Claro

CBF_Verde_Escuro

CDP_Verde

CDP_Verde_Amarelado

CDP_Verde_Avermelhado

CDP_Vermelho

CEC_Cinza

CEC_Dourado

CEC_Laranja

CEC_Marrom_Claro

CEC_Marrom_Escuro

CEC_Prateado

CEC_Verde_AmareladoCicatriz_M

Cicatriz_P

PDR_Branco

PDR_Creme

CDR_BrancoCDR_Creme CDR_Rosa

-4

-2

0

2

4

-4 -2 0 2 4

Dim1 (206)

Dim

2 (

162

)

MCA - Biplot

00

10

Hierarchical Clustering

inertia gain

McC

am

pin

aV

aru

da

McC

am

pin

aD

aG

rande

McC

am

pin

a

McG

auba

McP

retin

ha

McP

reto

na

MxR

osaV

erm

elh

a

MxR

osaB

ranca

MxR

osa

McC

am

pin

aR

aste

ira

McC

am

badin

ha

McO

lhoV

erd

e

MxB

ranca

MxS

em

ente

McIsabelT

resG

alh

os

McIsabelD

eS

ouza

McO

lhoD

eP

om

bo

00

05

10

15

Hierarchical Classification

Heig

ht

C1 C2 C3 C4 C5 C6 C7 C8

Fig 10 Agrupamento hieraacuterquico das 17 etnovariedades de mandioca caracterizadas de acordo

com os descritores utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo

60

Tabelas 738

739

Tabela 1 Caracteres e estados utilizados pelos agricultores como descritores botacircnicos para 740

caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das etnovariedades de mandioca 741

Caracter Sigla Estados

Folha

Cor da folha desenvolvida CFD 1- verde claro 2- verde escuro 3- verde arroxeado 4- roxo

Cor do broto foliar CBF 1- verde claro 2- verde escuro 3- verde arroxeado 4- roxo

Cor do peciacuteolo CDP 1- verde amarelado 2- verde 3- verde avermelhado 4- roxo

5- vermelho

Caule

Cor externa do caule CEC 1- laranja 2- verde amarelado 3- dourado 4- marrom claro

5- prateado 6- cinza 7- marrom escuro 8- verde

Protuberacircncia da cicatriz foliar PCF 1- pouco proeminente 2- muito proeminente

Raiacutez

Cor da poupa da raiz PDR 1- branco 2- creme

Cor do coacutertex da raiacutez CDR 1- rosa 2- branco 3- creme

742

743

744

745

746

747

748

749

750

751

61

Tabela 2 Lista das 22 etnovariedades de mandiocas citadas (132 citaccedilotildees) como cultivadas nas 752

comunidades pertencentes aos Municiacutepios de Altinho (Caratildeo n=8) e ao Municiacutepio de Panelas 753

(Aracuatilde Satildeo Joseacute do Bola Brejo Velho Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima e Lajeiro 754

Dantas n=21) 755

Etnovariedade Frequecircncia () Ranking Saliecircncia

Macaxeira Rosa 66 179 0472

Mandioca Isabel de Souza 48 179 0372

Mandioca Campina 24 217 0148

Macaxeira Branca 20 210 0134

Macaxeira Rosa branca 18 122 0168

Mandioca Pretona 16 338 0082

Mandioca Cambadinha 12 283 0071

Mandioca Isabel trecircs galhos 10 180 0075

Mandioca Gauacuteba 10 260 0070

Mandioca Pretinha 8 225 0053

Mandioca Peacute de pombo 4 400 0011

Mandioca Olho verde 4 350 0012

Macaxeira Rosinha 4 200 0027

Mandioca Campina varuda 4 200 0032

Mandioca Campina rasteira 4 300 0021

Mandioca Caboquinha 2 500 0007

Macaxeira Rasteira 2 200 0013

Macaxeira Paraacute 2 100 0020

Mandioca Barra ferro 2 300 0007

Mandioca Campina da grande 2 100 0020

Mandioca Olho de pombo 2 300 0010

Mandioca Jasmim 2 600 0006

756

757

758

62

Tabela 3 Lista de 17 etnovariedades atualmente cultivadas nos roccedilados das comunidades em 759

estudo 760

Ca Ar Bo Br Jb Jc Ld

Etnovariedade

Macaxeira Branca x x x x

Macaxeira Rosa

x x x x x x

Macaxeira Rosa Branca x x x x

Macaxeira Rosa Vermelha

x

Macaxeira Semente

x

Mandioca Cambadinha x

x

Mandioca Campina

x

x

x

Mandioca Campina da Grande x

Mandioca Campina Rasteira

x

Mandioca Campina Varuda

x

Mandioca Gauacuteba

x

Mandioca Isabel de Souza

x x x

Mandioca Isabel trecircs Galhos

x

x

Mandioca Olho de Pombo

x

Mandioca Olho Verde

x

Mandioca Pretinha

x

Mandioca Pretona x x x

Comunidades Ca= Caratildeo Ar=Aracuatilde Bo= Satildeo Joseacute do Bola Jb= Japaranduba de Baixo 761

Jc= Japaranduba de Cima Ld= Lajedo Dantas 762

763

764

765

766

767

768

63

Tabela 4 Descriccedilatildeo das classes do agrupamento por meacutetodo de Ward agrupadas pelo conjunto 769

dos descritores mais significativos para a caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das variedades de mandioca 770

Classes Descritores in situ p-valor

C1 Cor do peciacuteolo (CDP) 0016

C2 Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023

C3 Cor do peciacuteolo (CDP) 0012

C4 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0004

Cor da poupa da raiacutez (PDF) 0021

C5 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0003

C6 Cor do broto foliar (CBF) 0002

C7 Cor da folha desenvolvida (CFD) 0004

Cor externa do caule (CEC) 0040

C8 Cor do peciacuteolo (CDP) 0005

Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023

Valores de Ple005 satildeo significativos 771

772

42

No entanto observamos que existe outro nuacutecleo de etnovariedades menos frequentes 390

Essas etnovariedades raras podem ser resultantes do processo de experimentaccedilatildeo ou 391

preferecircncias individuais dos agricultores Outra possiacutevel razatildeo para a baixa frequecircncia de 392

algumas etnovariedades poderia ser explicada pela variaccedilatildeo da nomenclatura pelos 393

agricultores que segundo Peroni amp Hanazaki (2002) pode ocorrer durante o processo de troca 394

e introduccedilatildeo de novas variedades aos roccedilados Ainda assim natildeo descartamos a hipoacutetese de que 395

essas etnovariedades raras possam ser provenientes do cruzamento entre variedades diferentes 396

cultivadas da mesma roccedilado ou em roccedilas vizinhas De acordo com Martins (2005) essas 397

variedades fruto de germinaccedilatildeo expentacircnea satildeo incorporadas aos roccedilados pelos agricultores 398

pela curiosidade em experimentar novas variedades agraves suas coleccedilotildees 399

Nesse estudo admitimos que optar por etnovariedades raras entre as comunidades 400

estudadas eacute um comportamento adotado por agricultores que manejam uma maior diversidade 401

corroborando com os estudos de Cavechia et al (2014) e Emperaire et al (2016) em regiotildees 402

uacutemidas Para esses autores etnovaridedades de baixa frequecircncia representam um subconjunto 403

das de alta frequecircncia cultivadas por agricultores que manteacutem a maior diversidade em seus 404

roccedilados Sendo assim inferimos que no geral entre as comunidades satildeo os agricultores 405

generalistas aqueles que cultivam maior diversidade os responsaacuteveis por incorporar novas 406

etnovariedades aos roccedilados 407

As decisotildees dos agricultores em manter o acervo direcionado principalmente para 408

atender a demanda de mercado por exemplo podem levar a uma homogeneizaccedilatildeo nas roccedilas 409

colocando em risco a manutenccedilatildeo da diversidade local (Peroni amp Hanazaki 2002) Como 410

discutido por Elias et al (2000) os agricultores que selecionam apenas um nuacutemero reduzido e 411

especiacutefico de variedades mais produtivas tendem a fazer com que as variedades menos 412

frequentes desapareccedilam ao longo do tempo Essa tendecircndia pode influenciar na capacidade de 413

43

resiliecircncia do sistema assim como dos agricultores em lidar com possiacuteveis adversidades 414

ambientais que possam ocorrer 415

Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 416

No geral os agricultores demonstraram uma tendecircncia em classificarseparar suas 417

diferentes etnovariedades de mandioca a partir da combinaccedilatildeo de um conjunto de sete 418

caracteres morfoloacutegicos distintos e de faacutecil percepccedilatildeo os quais natildeo tem relaccedilatildeo com o uso 419

como por exemplo a cores das raiacutezes caule e folhas Logo consideramos que esses caracteres 420

morfoloacutegicos podem ser considerados como uma forma de classificaccedilatildeo pelos agricultores 421

baseada na capacidade percepccedilatildeo das diferenccedilas morfoloacutegicas que cada etnovariedades 422

apresenta (Boster 1985) Estes resultados nos levam a entender que entre os agricultores o 423

conhecimento sobre a diversidade da mandioca estaacute relacionado ao conhecimento de 424

caracteriacutesticas morfoloacutegicas consistentes 425

A existecircncia de alguns fenoacutetipos comuns nos permitiu avaliar a classificaccedilatildeo da 426

consistecircncia da taxonomia popular entre os agricultores Por exemplo as etnovariedades 427

ldquoMaxaceira Rosardquo e ldquoMacaxeira Rosa Brancardquo e ldquoMacaxeira vermelhardquo foram agrupadas no 428

mesmo cluster (C4) por apresentaram fenoacutetipos semelhantes Notamos que os agricultores 429

classificaram essas variedades de acordo com os traccedilos morfoloacutegicos mais relevantes como a 430

cor do coacutertex da raiz rosa e cor branca da polpa O mesmo ocorreu com as etnovariedades 431

ldquoMandioca varudardquo ldquoMandioca campina da granderdquo e ldquoMandioca campinardquo caracterizadas 432

pela presenccedila do peciacuteolo verde agrupadas no cluster (C1) 433

A partir dessas evidecircncias consideramos a hipoacutetese de que as variedades mesmo 434

apresentando caracteriacutesticas morfoloacutegicas muito semelhantes estatildeo sujeitas a variaccedilatildeo 435

nomenclatural durante o processo a incorporaccedilatildeo aos roccedilados pelos agricultores pois a 436

capacidade para distinguir e nomear variedades entre os agricultores da mesma regiatildeo pode 437

variar (Sambatti et al 2001 Elias et al 2001 Mekbib 2007) Consideramos tambeacutem que pode 438

44

existir variaccedilatildeo geneacutetica entre os indiviacuteduos identificados por um mesmo nome ou entatildeo que 439

os agricultores datildeo o mesmo nome para variedades diferentes E esta situaccedilatildeo pode levar a uma 440

superestimaccedilatildeo ou subestimaccedilatildeo da diversidade de mandioca cultiva nas aacutereas de estudo 441

Sabemos que a mandioca eacute propagada vegetativamente pelos agricultores por meio de 442

estacas em sistemas de agricultura tradicional No entanto alguns variedades produzem flores 443

e sementes que germinam e podem originar outras variedades ou outros clones por meio de 444

fecundaccedilatildeo cruzada (Elias et al 2001) Nesse contexto a etnovariedade ldquoMacaxeira Sementerdquo 445

presente no cluster (C7) trata-se de um uacutenico indiviacuteduo amostrado em uma roccedila de um dos 446

agricultores Esta apresentava algumas caracteriacutesticas morfoloacutegicas distintas das demais 447

reconhecidas pelo agricultor como por exemplo a produccedilatildeo de uma raiz uacutenica e 448

consequentemente de baixo rendimento Encontramos apenas um indiviacuteduo dessa 449

etnovariedade e nossa hipoacutetese de que esta poderia ter sido originada da germinaccedilatildeo da 450

semente mesmo quando 100 dos informantes declararam natildeo dar qualquer importacircncia e 451

descartar essas ldquovariedades-voluntaacuteriasrdquo foi confirmada pelo agricultor que afirmou que se 452

tratava de uma variedade nascida da germinaccedilatildeo da semente Esse comportamento vai de 453

encontro ao estudo de Fraser et al (2012) pois apesar dos agricultores reportarem nas 454

entrevistas que conhecem essas ldquovariedades-voluntaacuteriasrdquo nenhum agricultor faz o uso delas 455

Peroni et al (1999) e Agre et al (2016) analisando morfologicamente as variedades 456

locais de mandioca mantidas por agricultores em sistemas agriacutecolas tropicais tambeacutem 457

demonstraram que os agricultores satildeo coerentes quanto a separaccedilatildeo e identificaccedilatildeo de suas 458

etnovariedades a partir da formaccedilatildeo de grupos de coesos quanto a nomenclatura local utilizada 459

No entanto para o melhor entendimento dessa diversidade aleacutem da caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica 460

o uso de anaacutelises complementares como anaacutelise molecular seria importante para tentar 461

identificar se esses grupos representam a mesma variedade com nomes distintos ou se satildeo 462

variedades distintas com o mesmo nome 463

45

Conclusatildeo 464

O estudo demonstrou que no sistema de manejo da mandioca ao niacutevel de roccedila em 465

comunidades localizadas na regiatildeo semiaacuterida de Pernambuco compotildee uma diversidade 466

intrespeciacutefica de mandioca para atender agraves demandas econocircmicas e de subsistecircncia das 467

populaccedilotildees locais 468

Com relaccedilatildeo a anaacutelise de rede demostramos que haacute um nuacutecleo de etnovariedades 469

fortemente conectado aos agricultores e sua composiccedilatildeo eacute direcionada pelas preferecircncias e 470

necessidades individuais dos agricultores que foram os fatores responsaacuteveis pelo surgimento 471

da estrutura aninhada observada na anaacutelise rede entre as comunidades deste estudo E esse 472

padratildeo aninhado observado contribui na conservaccedilatildeo das etnovariedades mais comuns mas 473

tambeacutem pode resultar em perda daquelas de menor frequecircncia ao longo do tempo 474

A caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica ldquoin siturdquo nos permitiram inferir que os agricultores 475

reconhecem as diferentes caracteriacutesticas morfoloacutegicas de suas cultivares e satildeo coerentes na 476

separaccedilatildeo de suas variedades de mandioca e macaxeira Entretanto esses resultados sugerem a 477

realizaccedilatildeo de um estudo em niacutevel de diversidade geneacutetica exploratoacuterio para identificar se as 478

consistecircncias morfoloacutegicas refletem em consistecircncias geneacuteticas elucidando assim as possiacuteveis 479

confusotildees atribuiacutedas aos nomes das etnovariedades de mandioca 480

Agradecimentos 481

Agradecemos ao liacuteder comunitaacuterio Alexandre O Nascimento aos agricultores e 482

agricultoras das comunidades pela acolhida confianccedila e pela gentileza de compartilharem 483

conosco seus conhecimentos e contribuiacuterem com este estudo Especialmente a Arlindo Ferreira 484

Edgar Antocircnio Joseacute Sebastiatildeo Juvenal Oliveira e Janete Alves Ao Laboratoacuterio de Ecologia e 485

Evoluccedilatildeo de Sistemas Socioecoloacutegicos (LEA - UFPE) E agradecemos ao CNPq pelo apoio 486

com a bolsa de estudos do primeiro autor 487

46

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ANEXOS 615

616

Nome da revista 617

Human Ecology 618

Link de acesso 619

httpsgooglDVLbFj 620

Qualis-CAPES 621

B1 em Biodiversidade 622

623

624

625

626

627

628

629

630

631

632

633

634

635

636

637

638

639

640

641

642

52

Figuras 643

644

645

Fig 1 Partes do processo de fabricaccedilatildeo de farinha de mandioca Onde a raspagem b e c 646

processo de trituraccedilatildeo e d peneiramento Foto registrada em Abril de 2017 por Mirela Santos 647

648

649

650

c

d

b

a

53

651

Fig 2 Mapa de localizaccedilatildeo geograacutefica dos Municiacutepios de Altinho e Panelas e das comunidades 652

estudadas na regiatildeo semiaacuterida do Estado de Pernambuco (Elaborado por SANTOS 2018) 653

54

654

655

656

657

Fig 3 Processo de fabricaccedilatildeo da farinha de mandioca Apoacutes a colheita as raiacutezes satildeo lavadas 658

raspadas e trituradas (a) A massa extraiacuteda eacute prensada e coada Ao sair da prensa a massa 659

peneirada (b) e em seguida eacute torrada (c) em fornos artesanais ou parcialmente mecanizados 660

Imagem registrada em janeiro de 2017 na Comunidade do Caratildeo por Mirela Santos 661

662

663

a

b c

55

664

Fig 4 a Sede da Comunidade do Caratildeo b Agricultor transportando a palma forrageira que eacute 665

um exemplo de estrateacutegia adaptativa para suprir a falta de alimento dos animais devido agrave seca 666

c Feira-livre que acontece na comunidade a cada quinze dias Imagem registrada em julho de 667

2016 na Comunidade do Caratildeo por Mirela Santos 668

669

670

Fig 5 a O agricultor nos explicava as mudanccedilas que vem fazendo em seus roccedilados para se 671

adaptar aos longos periacuteodos de seca b Quando o agricultor nos mostrava as diferentes 672

etnovariedades que mantinha em sua roccedila c Durante a pesquisa nos explicavam como era feita 673

a colheita da mandioca e como selecionavam as manivas para o proacuteximo plantio Foto registrada 674

em abril de 2017 na Comunidade do Brejo Velho por Mirela Santos 675

a

b c

c b

a

56 676

677

Fig 6 Possiacuteveis estruturas de rede que descrevem as interaccedilotildees dos agricultores (losango) 678

ligados as etnovariedades (ciacuterculos) que cultivam Onde a Aninhada b Modular c Aleatoacuteria 679

(Fonte Cavechia et al 2014 com adaptaccedilotildees) 680

681

682

683

684

685

686

687

688

689

690

691

692

693

694

695

696

697

a c b

57

698

699

700

701

702

703

704

705

706

707

Fig 7 Correlaccedilatildeo de Spearman entre a diversidade de etnovariedades de mandiocas conhecidas 708

como cultivadas e variedades atualmente cultivadas por agricultor e as variaacuteveis 709

socioeconocircmicas Onde Nvc= nuacutemero de citadas como cultivadas Nve= nuacutemero de variedades 710

atualmente cultivadas Esc= escolaridade Id= idade Gen= gecircnero Tr= tamanho do roccedilado 711

Exp= experiecircncia na agricultura Sld= renda Nr= nuacutemero de roccedilados Cores distintivas 712

representam correlaccedilotildees significativas (Ple005) 713

714

58

715

Fig 8 Modelo individual de rede de etnovariedades de mandioca citadas (esquerda) por 716

agricultores como cultivadas (direita) nos Municiacutepios de Altinho e Panelas As redes foram 717

desenhadas com o pacote bipartite (Dormann et al 2017) usando o software R (R CORE 718

TEAM 2017) 719

720

59

721

Fig 9 Anaacutelise de Correspondecircncia Muacuteltipla das 17 etnovariedades de mandioca considerando 722

os sete descritores morfoloacutegicos utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo em roccedilas de 723

agricultores tradicionais de sete comunidades no semiaacuterido de Pernambuco 724

725

726

727

728

729

730

731

732

733

734

735

736

737

McCambadinha

McCampina

McCampinaDaGrande

McCampinaRasteira

McCampinaVaruda

McGauba

McIsabelDeSouza

McIsabelTresGalhos

McOlhoDePombo

McOlhoVerde

McPretinha

McPretona

MxBranca

MxRosa

MxRosaBrancaMxRosaVermelha

MxSemente

CFD_Verde_Arroxeado

CFD_Verde_ClaroCFD_Verde_Escuro

CBF_Roxo

CBF_Verde_ArroxeadoCBF_Verde_Claro

CBF_Verde_Escuro

CDP_Verde

CDP_Verde_Amarelado

CDP_Verde_Avermelhado

CDP_Vermelho

CEC_Cinza

CEC_Dourado

CEC_Laranja

CEC_Marrom_Claro

CEC_Marrom_Escuro

CEC_Prateado

CEC_Verde_AmareladoCicatriz_M

Cicatriz_P

PDR_Branco

PDR_Creme

CDR_BrancoCDR_Creme CDR_Rosa

-4

-2

0

2

4

-4 -2 0 2 4

Dim1 (206)

Dim

2 (

162

)

MCA - Biplot

00

10

Hierarchical Clustering

inertia gain

McC

am

pin

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da

McC

am

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aD

aG

rande

McC

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bo

00

05

10

15

Hierarchical Classification

Heig

ht

C1 C2 C3 C4 C5 C6 C7 C8

Fig 10 Agrupamento hieraacuterquico das 17 etnovariedades de mandioca caracterizadas de acordo

com os descritores utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo

60

Tabelas 738

739

Tabela 1 Caracteres e estados utilizados pelos agricultores como descritores botacircnicos para 740

caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das etnovariedades de mandioca 741

Caracter Sigla Estados

Folha

Cor da folha desenvolvida CFD 1- verde claro 2- verde escuro 3- verde arroxeado 4- roxo

Cor do broto foliar CBF 1- verde claro 2- verde escuro 3- verde arroxeado 4- roxo

Cor do peciacuteolo CDP 1- verde amarelado 2- verde 3- verde avermelhado 4- roxo

5- vermelho

Caule

Cor externa do caule CEC 1- laranja 2- verde amarelado 3- dourado 4- marrom claro

5- prateado 6- cinza 7- marrom escuro 8- verde

Protuberacircncia da cicatriz foliar PCF 1- pouco proeminente 2- muito proeminente

Raiacutez

Cor da poupa da raiz PDR 1- branco 2- creme

Cor do coacutertex da raiacutez CDR 1- rosa 2- branco 3- creme

742

743

744

745

746

747

748

749

750

751

61

Tabela 2 Lista das 22 etnovariedades de mandiocas citadas (132 citaccedilotildees) como cultivadas nas 752

comunidades pertencentes aos Municiacutepios de Altinho (Caratildeo n=8) e ao Municiacutepio de Panelas 753

(Aracuatilde Satildeo Joseacute do Bola Brejo Velho Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima e Lajeiro 754

Dantas n=21) 755

Etnovariedade Frequecircncia () Ranking Saliecircncia

Macaxeira Rosa 66 179 0472

Mandioca Isabel de Souza 48 179 0372

Mandioca Campina 24 217 0148

Macaxeira Branca 20 210 0134

Macaxeira Rosa branca 18 122 0168

Mandioca Pretona 16 338 0082

Mandioca Cambadinha 12 283 0071

Mandioca Isabel trecircs galhos 10 180 0075

Mandioca Gauacuteba 10 260 0070

Mandioca Pretinha 8 225 0053

Mandioca Peacute de pombo 4 400 0011

Mandioca Olho verde 4 350 0012

Macaxeira Rosinha 4 200 0027

Mandioca Campina varuda 4 200 0032

Mandioca Campina rasteira 4 300 0021

Mandioca Caboquinha 2 500 0007

Macaxeira Rasteira 2 200 0013

Macaxeira Paraacute 2 100 0020

Mandioca Barra ferro 2 300 0007

Mandioca Campina da grande 2 100 0020

Mandioca Olho de pombo 2 300 0010

Mandioca Jasmim 2 600 0006

756

757

758

62

Tabela 3 Lista de 17 etnovariedades atualmente cultivadas nos roccedilados das comunidades em 759

estudo 760

Ca Ar Bo Br Jb Jc Ld

Etnovariedade

Macaxeira Branca x x x x

Macaxeira Rosa

x x x x x x

Macaxeira Rosa Branca x x x x

Macaxeira Rosa Vermelha

x

Macaxeira Semente

x

Mandioca Cambadinha x

x

Mandioca Campina

x

x

x

Mandioca Campina da Grande x

Mandioca Campina Rasteira

x

Mandioca Campina Varuda

x

Mandioca Gauacuteba

x

Mandioca Isabel de Souza

x x x

Mandioca Isabel trecircs Galhos

x

x

Mandioca Olho de Pombo

x

Mandioca Olho Verde

x

Mandioca Pretinha

x

Mandioca Pretona x x x

Comunidades Ca= Caratildeo Ar=Aracuatilde Bo= Satildeo Joseacute do Bola Jb= Japaranduba de Baixo 761

Jc= Japaranduba de Cima Ld= Lajedo Dantas 762

763

764

765

766

767

768

63

Tabela 4 Descriccedilatildeo das classes do agrupamento por meacutetodo de Ward agrupadas pelo conjunto 769

dos descritores mais significativos para a caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das variedades de mandioca 770

Classes Descritores in situ p-valor

C1 Cor do peciacuteolo (CDP) 0016

C2 Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023

C3 Cor do peciacuteolo (CDP) 0012

C4 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0004

Cor da poupa da raiacutez (PDF) 0021

C5 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0003

C6 Cor do broto foliar (CBF) 0002

C7 Cor da folha desenvolvida (CFD) 0004

Cor externa do caule (CEC) 0040

C8 Cor do peciacuteolo (CDP) 0005

Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023

Valores de Ple005 satildeo significativos 771

772

43

resiliecircncia do sistema assim como dos agricultores em lidar com possiacuteveis adversidades 414

ambientais que possam ocorrer 415

Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 416

No geral os agricultores demonstraram uma tendecircncia em classificarseparar suas 417

diferentes etnovariedades de mandioca a partir da combinaccedilatildeo de um conjunto de sete 418

caracteres morfoloacutegicos distintos e de faacutecil percepccedilatildeo os quais natildeo tem relaccedilatildeo com o uso 419

como por exemplo a cores das raiacutezes caule e folhas Logo consideramos que esses caracteres 420

morfoloacutegicos podem ser considerados como uma forma de classificaccedilatildeo pelos agricultores 421

baseada na capacidade percepccedilatildeo das diferenccedilas morfoloacutegicas que cada etnovariedades 422

apresenta (Boster 1985) Estes resultados nos levam a entender que entre os agricultores o 423

conhecimento sobre a diversidade da mandioca estaacute relacionado ao conhecimento de 424

caracteriacutesticas morfoloacutegicas consistentes 425

A existecircncia de alguns fenoacutetipos comuns nos permitiu avaliar a classificaccedilatildeo da 426

consistecircncia da taxonomia popular entre os agricultores Por exemplo as etnovariedades 427

ldquoMaxaceira Rosardquo e ldquoMacaxeira Rosa Brancardquo e ldquoMacaxeira vermelhardquo foram agrupadas no 428

mesmo cluster (C4) por apresentaram fenoacutetipos semelhantes Notamos que os agricultores 429

classificaram essas variedades de acordo com os traccedilos morfoloacutegicos mais relevantes como a 430

cor do coacutertex da raiz rosa e cor branca da polpa O mesmo ocorreu com as etnovariedades 431

ldquoMandioca varudardquo ldquoMandioca campina da granderdquo e ldquoMandioca campinardquo caracterizadas 432

pela presenccedila do peciacuteolo verde agrupadas no cluster (C1) 433

A partir dessas evidecircncias consideramos a hipoacutetese de que as variedades mesmo 434

apresentando caracteriacutesticas morfoloacutegicas muito semelhantes estatildeo sujeitas a variaccedilatildeo 435

nomenclatural durante o processo a incorporaccedilatildeo aos roccedilados pelos agricultores pois a 436

capacidade para distinguir e nomear variedades entre os agricultores da mesma regiatildeo pode 437

variar (Sambatti et al 2001 Elias et al 2001 Mekbib 2007) Consideramos tambeacutem que pode 438

44

existir variaccedilatildeo geneacutetica entre os indiviacuteduos identificados por um mesmo nome ou entatildeo que 439

os agricultores datildeo o mesmo nome para variedades diferentes E esta situaccedilatildeo pode levar a uma 440

superestimaccedilatildeo ou subestimaccedilatildeo da diversidade de mandioca cultiva nas aacutereas de estudo 441

Sabemos que a mandioca eacute propagada vegetativamente pelos agricultores por meio de 442

estacas em sistemas de agricultura tradicional No entanto alguns variedades produzem flores 443

e sementes que germinam e podem originar outras variedades ou outros clones por meio de 444

fecundaccedilatildeo cruzada (Elias et al 2001) Nesse contexto a etnovariedade ldquoMacaxeira Sementerdquo 445

presente no cluster (C7) trata-se de um uacutenico indiviacuteduo amostrado em uma roccedila de um dos 446

agricultores Esta apresentava algumas caracteriacutesticas morfoloacutegicas distintas das demais 447

reconhecidas pelo agricultor como por exemplo a produccedilatildeo de uma raiz uacutenica e 448

consequentemente de baixo rendimento Encontramos apenas um indiviacuteduo dessa 449

etnovariedade e nossa hipoacutetese de que esta poderia ter sido originada da germinaccedilatildeo da 450

semente mesmo quando 100 dos informantes declararam natildeo dar qualquer importacircncia e 451

descartar essas ldquovariedades-voluntaacuteriasrdquo foi confirmada pelo agricultor que afirmou que se 452

tratava de uma variedade nascida da germinaccedilatildeo da semente Esse comportamento vai de 453

encontro ao estudo de Fraser et al (2012) pois apesar dos agricultores reportarem nas 454

entrevistas que conhecem essas ldquovariedades-voluntaacuteriasrdquo nenhum agricultor faz o uso delas 455

Peroni et al (1999) e Agre et al (2016) analisando morfologicamente as variedades 456

locais de mandioca mantidas por agricultores em sistemas agriacutecolas tropicais tambeacutem 457

demonstraram que os agricultores satildeo coerentes quanto a separaccedilatildeo e identificaccedilatildeo de suas 458

etnovariedades a partir da formaccedilatildeo de grupos de coesos quanto a nomenclatura local utilizada 459

No entanto para o melhor entendimento dessa diversidade aleacutem da caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica 460

o uso de anaacutelises complementares como anaacutelise molecular seria importante para tentar 461

identificar se esses grupos representam a mesma variedade com nomes distintos ou se satildeo 462

variedades distintas com o mesmo nome 463

45

Conclusatildeo 464

O estudo demonstrou que no sistema de manejo da mandioca ao niacutevel de roccedila em 465

comunidades localizadas na regiatildeo semiaacuterida de Pernambuco compotildee uma diversidade 466

intrespeciacutefica de mandioca para atender agraves demandas econocircmicas e de subsistecircncia das 467

populaccedilotildees locais 468

Com relaccedilatildeo a anaacutelise de rede demostramos que haacute um nuacutecleo de etnovariedades 469

fortemente conectado aos agricultores e sua composiccedilatildeo eacute direcionada pelas preferecircncias e 470

necessidades individuais dos agricultores que foram os fatores responsaacuteveis pelo surgimento 471

da estrutura aninhada observada na anaacutelise rede entre as comunidades deste estudo E esse 472

padratildeo aninhado observado contribui na conservaccedilatildeo das etnovariedades mais comuns mas 473

tambeacutem pode resultar em perda daquelas de menor frequecircncia ao longo do tempo 474

A caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica ldquoin siturdquo nos permitiram inferir que os agricultores 475

reconhecem as diferentes caracteriacutesticas morfoloacutegicas de suas cultivares e satildeo coerentes na 476

separaccedilatildeo de suas variedades de mandioca e macaxeira Entretanto esses resultados sugerem a 477

realizaccedilatildeo de um estudo em niacutevel de diversidade geneacutetica exploratoacuterio para identificar se as 478

consistecircncias morfoloacutegicas refletem em consistecircncias geneacuteticas elucidando assim as possiacuteveis 479

confusotildees atribuiacutedas aos nomes das etnovariedades de mandioca 480

Agradecimentos 481

Agradecemos ao liacuteder comunitaacuterio Alexandre O Nascimento aos agricultores e 482

agricultoras das comunidades pela acolhida confianccedila e pela gentileza de compartilharem 483

conosco seus conhecimentos e contribuiacuterem com este estudo Especialmente a Arlindo Ferreira 484

Edgar Antocircnio Joseacute Sebastiatildeo Juvenal Oliveira e Janete Alves Ao Laboratoacuterio de Ecologia e 485

Evoluccedilatildeo de Sistemas Socioecoloacutegicos (LEA - UFPE) E agradecemos ao CNPq pelo apoio 486

com a bolsa de estudos do primeiro autor 487

46

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ANEXOS 615

616

Nome da revista 617

Human Ecology 618

Link de acesso 619

httpsgooglDVLbFj 620

Qualis-CAPES 621

B1 em Biodiversidade 622

623

624

625

626

627

628

629

630

631

632

633

634

635

636

637

638

639

640

641

642

52

Figuras 643

644

645

Fig 1 Partes do processo de fabricaccedilatildeo de farinha de mandioca Onde a raspagem b e c 646

processo de trituraccedilatildeo e d peneiramento Foto registrada em Abril de 2017 por Mirela Santos 647

648

649

650

c

d

b

a

53

651

Fig 2 Mapa de localizaccedilatildeo geograacutefica dos Municiacutepios de Altinho e Panelas e das comunidades 652

estudadas na regiatildeo semiaacuterida do Estado de Pernambuco (Elaborado por SANTOS 2018) 653

54

654

655

656

657

Fig 3 Processo de fabricaccedilatildeo da farinha de mandioca Apoacutes a colheita as raiacutezes satildeo lavadas 658

raspadas e trituradas (a) A massa extraiacuteda eacute prensada e coada Ao sair da prensa a massa 659

peneirada (b) e em seguida eacute torrada (c) em fornos artesanais ou parcialmente mecanizados 660

Imagem registrada em janeiro de 2017 na Comunidade do Caratildeo por Mirela Santos 661

662

663

a

b c

55

664

Fig 4 a Sede da Comunidade do Caratildeo b Agricultor transportando a palma forrageira que eacute 665

um exemplo de estrateacutegia adaptativa para suprir a falta de alimento dos animais devido agrave seca 666

c Feira-livre que acontece na comunidade a cada quinze dias Imagem registrada em julho de 667

2016 na Comunidade do Caratildeo por Mirela Santos 668

669

670

Fig 5 a O agricultor nos explicava as mudanccedilas que vem fazendo em seus roccedilados para se 671

adaptar aos longos periacuteodos de seca b Quando o agricultor nos mostrava as diferentes 672

etnovariedades que mantinha em sua roccedila c Durante a pesquisa nos explicavam como era feita 673

a colheita da mandioca e como selecionavam as manivas para o proacuteximo plantio Foto registrada 674

em abril de 2017 na Comunidade do Brejo Velho por Mirela Santos 675

a

b c

c b

a

56 676

677

Fig 6 Possiacuteveis estruturas de rede que descrevem as interaccedilotildees dos agricultores (losango) 678

ligados as etnovariedades (ciacuterculos) que cultivam Onde a Aninhada b Modular c Aleatoacuteria 679

(Fonte Cavechia et al 2014 com adaptaccedilotildees) 680

681

682

683

684

685

686

687

688

689

690

691

692

693

694

695

696

697

a c b

57

698

699

700

701

702

703

704

705

706

707

Fig 7 Correlaccedilatildeo de Spearman entre a diversidade de etnovariedades de mandiocas conhecidas 708

como cultivadas e variedades atualmente cultivadas por agricultor e as variaacuteveis 709

socioeconocircmicas Onde Nvc= nuacutemero de citadas como cultivadas Nve= nuacutemero de variedades 710

atualmente cultivadas Esc= escolaridade Id= idade Gen= gecircnero Tr= tamanho do roccedilado 711

Exp= experiecircncia na agricultura Sld= renda Nr= nuacutemero de roccedilados Cores distintivas 712

representam correlaccedilotildees significativas (Ple005) 713

714

58

715

Fig 8 Modelo individual de rede de etnovariedades de mandioca citadas (esquerda) por 716

agricultores como cultivadas (direita) nos Municiacutepios de Altinho e Panelas As redes foram 717

desenhadas com o pacote bipartite (Dormann et al 2017) usando o software R (R CORE 718

TEAM 2017) 719

720

59

721

Fig 9 Anaacutelise de Correspondecircncia Muacuteltipla das 17 etnovariedades de mandioca considerando 722

os sete descritores morfoloacutegicos utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo em roccedilas de 723

agricultores tradicionais de sete comunidades no semiaacuterido de Pernambuco 724

725

726

727

728

729

730

731

732

733

734

735

736

737

McCambadinha

McCampina

McCampinaDaGrande

McCampinaRasteira

McCampinaVaruda

McGauba

McIsabelDeSouza

McIsabelTresGalhos

McOlhoDePombo

McOlhoVerde

McPretinha

McPretona

MxBranca

MxRosa

MxRosaBrancaMxRosaVermelha

MxSemente

CFD_Verde_Arroxeado

CFD_Verde_ClaroCFD_Verde_Escuro

CBF_Roxo

CBF_Verde_ArroxeadoCBF_Verde_Claro

CBF_Verde_Escuro

CDP_Verde

CDP_Verde_Amarelado

CDP_Verde_Avermelhado

CDP_Vermelho

CEC_Cinza

CEC_Dourado

CEC_Laranja

CEC_Marrom_Claro

CEC_Marrom_Escuro

CEC_Prateado

CEC_Verde_AmareladoCicatriz_M

Cicatriz_P

PDR_Branco

PDR_Creme

CDR_BrancoCDR_Creme CDR_Rosa

-4

-2

0

2

4

-4 -2 0 2 4

Dim1 (206)

Dim

2 (

162

)

MCA - Biplot

00

10

Hierarchical Clustering

inertia gain

McC

am

pin

aV

aru

da

McC

am

pin

aD

aG

rande

McC

am

pin

a

McG

auba

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MxR

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e

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ente

McIsabelT

resG

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McIsabelD

eS

ouza

McO

lhoD

eP

om

bo

00

05

10

15

Hierarchical Classification

Heig

ht

C1 C2 C3 C4 C5 C6 C7 C8

Fig 10 Agrupamento hieraacuterquico das 17 etnovariedades de mandioca caracterizadas de acordo

com os descritores utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo

60

Tabelas 738

739

Tabela 1 Caracteres e estados utilizados pelos agricultores como descritores botacircnicos para 740

caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das etnovariedades de mandioca 741

Caracter Sigla Estados

Folha

Cor da folha desenvolvida CFD 1- verde claro 2- verde escuro 3- verde arroxeado 4- roxo

Cor do broto foliar CBF 1- verde claro 2- verde escuro 3- verde arroxeado 4- roxo

Cor do peciacuteolo CDP 1- verde amarelado 2- verde 3- verde avermelhado 4- roxo

5- vermelho

Caule

Cor externa do caule CEC 1- laranja 2- verde amarelado 3- dourado 4- marrom claro

5- prateado 6- cinza 7- marrom escuro 8- verde

Protuberacircncia da cicatriz foliar PCF 1- pouco proeminente 2- muito proeminente

Raiacutez

Cor da poupa da raiz PDR 1- branco 2- creme

Cor do coacutertex da raiacutez CDR 1- rosa 2- branco 3- creme

742

743

744

745

746

747

748

749

750

751

61

Tabela 2 Lista das 22 etnovariedades de mandiocas citadas (132 citaccedilotildees) como cultivadas nas 752

comunidades pertencentes aos Municiacutepios de Altinho (Caratildeo n=8) e ao Municiacutepio de Panelas 753

(Aracuatilde Satildeo Joseacute do Bola Brejo Velho Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima e Lajeiro 754

Dantas n=21) 755

Etnovariedade Frequecircncia () Ranking Saliecircncia

Macaxeira Rosa 66 179 0472

Mandioca Isabel de Souza 48 179 0372

Mandioca Campina 24 217 0148

Macaxeira Branca 20 210 0134

Macaxeira Rosa branca 18 122 0168

Mandioca Pretona 16 338 0082

Mandioca Cambadinha 12 283 0071

Mandioca Isabel trecircs galhos 10 180 0075

Mandioca Gauacuteba 10 260 0070

Mandioca Pretinha 8 225 0053

Mandioca Peacute de pombo 4 400 0011

Mandioca Olho verde 4 350 0012

Macaxeira Rosinha 4 200 0027

Mandioca Campina varuda 4 200 0032

Mandioca Campina rasteira 4 300 0021

Mandioca Caboquinha 2 500 0007

Macaxeira Rasteira 2 200 0013

Macaxeira Paraacute 2 100 0020

Mandioca Barra ferro 2 300 0007

Mandioca Campina da grande 2 100 0020

Mandioca Olho de pombo 2 300 0010

Mandioca Jasmim 2 600 0006

756

757

758

62

Tabela 3 Lista de 17 etnovariedades atualmente cultivadas nos roccedilados das comunidades em 759

estudo 760

Ca Ar Bo Br Jb Jc Ld

Etnovariedade

Macaxeira Branca x x x x

Macaxeira Rosa

x x x x x x

Macaxeira Rosa Branca x x x x

Macaxeira Rosa Vermelha

x

Macaxeira Semente

x

Mandioca Cambadinha x

x

Mandioca Campina

x

x

x

Mandioca Campina da Grande x

Mandioca Campina Rasteira

x

Mandioca Campina Varuda

x

Mandioca Gauacuteba

x

Mandioca Isabel de Souza

x x x

Mandioca Isabel trecircs Galhos

x

x

Mandioca Olho de Pombo

x

Mandioca Olho Verde

x

Mandioca Pretinha

x

Mandioca Pretona x x x

Comunidades Ca= Caratildeo Ar=Aracuatilde Bo= Satildeo Joseacute do Bola Jb= Japaranduba de Baixo 761

Jc= Japaranduba de Cima Ld= Lajedo Dantas 762

763

764

765

766

767

768

63

Tabela 4 Descriccedilatildeo das classes do agrupamento por meacutetodo de Ward agrupadas pelo conjunto 769

dos descritores mais significativos para a caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das variedades de mandioca 770

Classes Descritores in situ p-valor

C1 Cor do peciacuteolo (CDP) 0016

C2 Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023

C3 Cor do peciacuteolo (CDP) 0012

C4 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0004

Cor da poupa da raiacutez (PDF) 0021

C5 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0003

C6 Cor do broto foliar (CBF) 0002

C7 Cor da folha desenvolvida (CFD) 0004

Cor externa do caule (CEC) 0040

C8 Cor do peciacuteolo (CDP) 0005

Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023

Valores de Ple005 satildeo significativos 771

772

44

existir variaccedilatildeo geneacutetica entre os indiviacuteduos identificados por um mesmo nome ou entatildeo que 439

os agricultores datildeo o mesmo nome para variedades diferentes E esta situaccedilatildeo pode levar a uma 440

superestimaccedilatildeo ou subestimaccedilatildeo da diversidade de mandioca cultiva nas aacutereas de estudo 441

Sabemos que a mandioca eacute propagada vegetativamente pelos agricultores por meio de 442

estacas em sistemas de agricultura tradicional No entanto alguns variedades produzem flores 443

e sementes que germinam e podem originar outras variedades ou outros clones por meio de 444

fecundaccedilatildeo cruzada (Elias et al 2001) Nesse contexto a etnovariedade ldquoMacaxeira Sementerdquo 445

presente no cluster (C7) trata-se de um uacutenico indiviacuteduo amostrado em uma roccedila de um dos 446

agricultores Esta apresentava algumas caracteriacutesticas morfoloacutegicas distintas das demais 447

reconhecidas pelo agricultor como por exemplo a produccedilatildeo de uma raiz uacutenica e 448

consequentemente de baixo rendimento Encontramos apenas um indiviacuteduo dessa 449

etnovariedade e nossa hipoacutetese de que esta poderia ter sido originada da germinaccedilatildeo da 450

semente mesmo quando 100 dos informantes declararam natildeo dar qualquer importacircncia e 451

descartar essas ldquovariedades-voluntaacuteriasrdquo foi confirmada pelo agricultor que afirmou que se 452

tratava de uma variedade nascida da germinaccedilatildeo da semente Esse comportamento vai de 453

encontro ao estudo de Fraser et al (2012) pois apesar dos agricultores reportarem nas 454

entrevistas que conhecem essas ldquovariedades-voluntaacuteriasrdquo nenhum agricultor faz o uso delas 455

Peroni et al (1999) e Agre et al (2016) analisando morfologicamente as variedades 456

locais de mandioca mantidas por agricultores em sistemas agriacutecolas tropicais tambeacutem 457

demonstraram que os agricultores satildeo coerentes quanto a separaccedilatildeo e identificaccedilatildeo de suas 458

etnovariedades a partir da formaccedilatildeo de grupos de coesos quanto a nomenclatura local utilizada 459

No entanto para o melhor entendimento dessa diversidade aleacutem da caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica 460

o uso de anaacutelises complementares como anaacutelise molecular seria importante para tentar 461

identificar se esses grupos representam a mesma variedade com nomes distintos ou se satildeo 462

variedades distintas com o mesmo nome 463

45

Conclusatildeo 464

O estudo demonstrou que no sistema de manejo da mandioca ao niacutevel de roccedila em 465

comunidades localizadas na regiatildeo semiaacuterida de Pernambuco compotildee uma diversidade 466

intrespeciacutefica de mandioca para atender agraves demandas econocircmicas e de subsistecircncia das 467

populaccedilotildees locais 468

Com relaccedilatildeo a anaacutelise de rede demostramos que haacute um nuacutecleo de etnovariedades 469

fortemente conectado aos agricultores e sua composiccedilatildeo eacute direcionada pelas preferecircncias e 470

necessidades individuais dos agricultores que foram os fatores responsaacuteveis pelo surgimento 471

da estrutura aninhada observada na anaacutelise rede entre as comunidades deste estudo E esse 472

padratildeo aninhado observado contribui na conservaccedilatildeo das etnovariedades mais comuns mas 473

tambeacutem pode resultar em perda daquelas de menor frequecircncia ao longo do tempo 474

A caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica ldquoin siturdquo nos permitiram inferir que os agricultores 475

reconhecem as diferentes caracteriacutesticas morfoloacutegicas de suas cultivares e satildeo coerentes na 476

separaccedilatildeo de suas variedades de mandioca e macaxeira Entretanto esses resultados sugerem a 477

realizaccedilatildeo de um estudo em niacutevel de diversidade geneacutetica exploratoacuterio para identificar se as 478

consistecircncias morfoloacutegicas refletem em consistecircncias geneacuteticas elucidando assim as possiacuteveis 479

confusotildees atribuiacutedas aos nomes das etnovariedades de mandioca 480

Agradecimentos 481

Agradecemos ao liacuteder comunitaacuterio Alexandre O Nascimento aos agricultores e 482

agricultoras das comunidades pela acolhida confianccedila e pela gentileza de compartilharem 483

conosco seus conhecimentos e contribuiacuterem com este estudo Especialmente a Arlindo Ferreira 484

Edgar Antocircnio Joseacute Sebastiatildeo Juvenal Oliveira e Janete Alves Ao Laboratoacuterio de Ecologia e 485

Evoluccedilatildeo de Sistemas Socioecoloacutegicos (LEA - UFPE) E agradecemos ao CNPq pelo apoio 486

com a bolsa de estudos do primeiro autor 487

46

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Nome da revista 617

Human Ecology 618

Link de acesso 619

httpsgooglDVLbFj 620

Qualis-CAPES 621

B1 em Biodiversidade 622

623

624

625

626

627

628

629

630

631

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634

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636

637

638

639

640

641

642

52

Figuras 643

644

645

Fig 1 Partes do processo de fabricaccedilatildeo de farinha de mandioca Onde a raspagem b e c 646

processo de trituraccedilatildeo e d peneiramento Foto registrada em Abril de 2017 por Mirela Santos 647

648

649

650

c

d

b

a

53

651

Fig 2 Mapa de localizaccedilatildeo geograacutefica dos Municiacutepios de Altinho e Panelas e das comunidades 652

estudadas na regiatildeo semiaacuterida do Estado de Pernambuco (Elaborado por SANTOS 2018) 653

54

654

655

656

657

Fig 3 Processo de fabricaccedilatildeo da farinha de mandioca Apoacutes a colheita as raiacutezes satildeo lavadas 658

raspadas e trituradas (a) A massa extraiacuteda eacute prensada e coada Ao sair da prensa a massa 659

peneirada (b) e em seguida eacute torrada (c) em fornos artesanais ou parcialmente mecanizados 660

Imagem registrada em janeiro de 2017 na Comunidade do Caratildeo por Mirela Santos 661

662

663

a

b c

55

664

Fig 4 a Sede da Comunidade do Caratildeo b Agricultor transportando a palma forrageira que eacute 665

um exemplo de estrateacutegia adaptativa para suprir a falta de alimento dos animais devido agrave seca 666

c Feira-livre que acontece na comunidade a cada quinze dias Imagem registrada em julho de 667

2016 na Comunidade do Caratildeo por Mirela Santos 668

669

670

Fig 5 a O agricultor nos explicava as mudanccedilas que vem fazendo em seus roccedilados para se 671

adaptar aos longos periacuteodos de seca b Quando o agricultor nos mostrava as diferentes 672

etnovariedades que mantinha em sua roccedila c Durante a pesquisa nos explicavam como era feita 673

a colheita da mandioca e como selecionavam as manivas para o proacuteximo plantio Foto registrada 674

em abril de 2017 na Comunidade do Brejo Velho por Mirela Santos 675

a

b c

c b

a

56 676

677

Fig 6 Possiacuteveis estruturas de rede que descrevem as interaccedilotildees dos agricultores (losango) 678

ligados as etnovariedades (ciacuterculos) que cultivam Onde a Aninhada b Modular c Aleatoacuteria 679

(Fonte Cavechia et al 2014 com adaptaccedilotildees) 680

681

682

683

684

685

686

687

688

689

690

691

692

693

694

695

696

697

a c b

57

698

699

700

701

702

703

704

705

706

707

Fig 7 Correlaccedilatildeo de Spearman entre a diversidade de etnovariedades de mandiocas conhecidas 708

como cultivadas e variedades atualmente cultivadas por agricultor e as variaacuteveis 709

socioeconocircmicas Onde Nvc= nuacutemero de citadas como cultivadas Nve= nuacutemero de variedades 710

atualmente cultivadas Esc= escolaridade Id= idade Gen= gecircnero Tr= tamanho do roccedilado 711

Exp= experiecircncia na agricultura Sld= renda Nr= nuacutemero de roccedilados Cores distintivas 712

representam correlaccedilotildees significativas (Ple005) 713

714

58

715

Fig 8 Modelo individual de rede de etnovariedades de mandioca citadas (esquerda) por 716

agricultores como cultivadas (direita) nos Municiacutepios de Altinho e Panelas As redes foram 717

desenhadas com o pacote bipartite (Dormann et al 2017) usando o software R (R CORE 718

TEAM 2017) 719

720

59

721

Fig 9 Anaacutelise de Correspondecircncia Muacuteltipla das 17 etnovariedades de mandioca considerando 722

os sete descritores morfoloacutegicos utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo em roccedilas de 723

agricultores tradicionais de sete comunidades no semiaacuterido de Pernambuco 724

725

726

727

728

729

730

731

732

733

734

735

736

737

McCambadinha

McCampina

McCampinaDaGrande

McCampinaRasteira

McCampinaVaruda

McGauba

McIsabelDeSouza

McIsabelTresGalhos

McOlhoDePombo

McOlhoVerde

McPretinha

McPretona

MxBranca

MxRosa

MxRosaBrancaMxRosaVermelha

MxSemente

CFD_Verde_Arroxeado

CFD_Verde_ClaroCFD_Verde_Escuro

CBF_Roxo

CBF_Verde_ArroxeadoCBF_Verde_Claro

CBF_Verde_Escuro

CDP_Verde

CDP_Verde_Amarelado

CDP_Verde_Avermelhado

CDP_Vermelho

CEC_Cinza

CEC_Dourado

CEC_Laranja

CEC_Marrom_Claro

CEC_Marrom_Escuro

CEC_Prateado

CEC_Verde_AmareladoCicatriz_M

Cicatriz_P

PDR_Branco

PDR_Creme

CDR_BrancoCDR_Creme CDR_Rosa

-4

-2

0

2

4

-4 -2 0 2 4

Dim1 (206)

Dim

2 (

162

)

MCA - Biplot

00

10

Hierarchical Clustering

inertia gain

McC

am

pin

aV

aru

da

McC

am

pin

aD

aG

rande

McC

am

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a

McG

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MxR

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am

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e

MxB

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McIsabelT

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alh

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McIsabelD

eS

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McO

lhoD

eP

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bo

00

05

10

15

Hierarchical Classification

Heig

ht

C1 C2 C3 C4 C5 C6 C7 C8

Fig 10 Agrupamento hieraacuterquico das 17 etnovariedades de mandioca caracterizadas de acordo

com os descritores utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo

60

Tabelas 738

739

Tabela 1 Caracteres e estados utilizados pelos agricultores como descritores botacircnicos para 740

caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das etnovariedades de mandioca 741

Caracter Sigla Estados

Folha

Cor da folha desenvolvida CFD 1- verde claro 2- verde escuro 3- verde arroxeado 4- roxo

Cor do broto foliar CBF 1- verde claro 2- verde escuro 3- verde arroxeado 4- roxo

Cor do peciacuteolo CDP 1- verde amarelado 2- verde 3- verde avermelhado 4- roxo

5- vermelho

Caule

Cor externa do caule CEC 1- laranja 2- verde amarelado 3- dourado 4- marrom claro

5- prateado 6- cinza 7- marrom escuro 8- verde

Protuberacircncia da cicatriz foliar PCF 1- pouco proeminente 2- muito proeminente

Raiacutez

Cor da poupa da raiz PDR 1- branco 2- creme

Cor do coacutertex da raiacutez CDR 1- rosa 2- branco 3- creme

742

743

744

745

746

747

748

749

750

751

61

Tabela 2 Lista das 22 etnovariedades de mandiocas citadas (132 citaccedilotildees) como cultivadas nas 752

comunidades pertencentes aos Municiacutepios de Altinho (Caratildeo n=8) e ao Municiacutepio de Panelas 753

(Aracuatilde Satildeo Joseacute do Bola Brejo Velho Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima e Lajeiro 754

Dantas n=21) 755

Etnovariedade Frequecircncia () Ranking Saliecircncia

Macaxeira Rosa 66 179 0472

Mandioca Isabel de Souza 48 179 0372

Mandioca Campina 24 217 0148

Macaxeira Branca 20 210 0134

Macaxeira Rosa branca 18 122 0168

Mandioca Pretona 16 338 0082

Mandioca Cambadinha 12 283 0071

Mandioca Isabel trecircs galhos 10 180 0075

Mandioca Gauacuteba 10 260 0070

Mandioca Pretinha 8 225 0053

Mandioca Peacute de pombo 4 400 0011

Mandioca Olho verde 4 350 0012

Macaxeira Rosinha 4 200 0027

Mandioca Campina varuda 4 200 0032

Mandioca Campina rasteira 4 300 0021

Mandioca Caboquinha 2 500 0007

Macaxeira Rasteira 2 200 0013

Macaxeira Paraacute 2 100 0020

Mandioca Barra ferro 2 300 0007

Mandioca Campina da grande 2 100 0020

Mandioca Olho de pombo 2 300 0010

Mandioca Jasmim 2 600 0006

756

757

758

62

Tabela 3 Lista de 17 etnovariedades atualmente cultivadas nos roccedilados das comunidades em 759

estudo 760

Ca Ar Bo Br Jb Jc Ld

Etnovariedade

Macaxeira Branca x x x x

Macaxeira Rosa

x x x x x x

Macaxeira Rosa Branca x x x x

Macaxeira Rosa Vermelha

x

Macaxeira Semente

x

Mandioca Cambadinha x

x

Mandioca Campina

x

x

x

Mandioca Campina da Grande x

Mandioca Campina Rasteira

x

Mandioca Campina Varuda

x

Mandioca Gauacuteba

x

Mandioca Isabel de Souza

x x x

Mandioca Isabel trecircs Galhos

x

x

Mandioca Olho de Pombo

x

Mandioca Olho Verde

x

Mandioca Pretinha

x

Mandioca Pretona x x x

Comunidades Ca= Caratildeo Ar=Aracuatilde Bo= Satildeo Joseacute do Bola Jb= Japaranduba de Baixo 761

Jc= Japaranduba de Cima Ld= Lajedo Dantas 762

763

764

765

766

767

768

63

Tabela 4 Descriccedilatildeo das classes do agrupamento por meacutetodo de Ward agrupadas pelo conjunto 769

dos descritores mais significativos para a caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das variedades de mandioca 770

Classes Descritores in situ p-valor

C1 Cor do peciacuteolo (CDP) 0016

C2 Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023

C3 Cor do peciacuteolo (CDP) 0012

C4 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0004

Cor da poupa da raiacutez (PDF) 0021

C5 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0003

C6 Cor do broto foliar (CBF) 0002

C7 Cor da folha desenvolvida (CFD) 0004

Cor externa do caule (CEC) 0040

C8 Cor do peciacuteolo (CDP) 0005

Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023

Valores de Ple005 satildeo significativos 771

772

45

Conclusatildeo 464

O estudo demonstrou que no sistema de manejo da mandioca ao niacutevel de roccedila em 465

comunidades localizadas na regiatildeo semiaacuterida de Pernambuco compotildee uma diversidade 466

intrespeciacutefica de mandioca para atender agraves demandas econocircmicas e de subsistecircncia das 467

populaccedilotildees locais 468

Com relaccedilatildeo a anaacutelise de rede demostramos que haacute um nuacutecleo de etnovariedades 469

fortemente conectado aos agricultores e sua composiccedilatildeo eacute direcionada pelas preferecircncias e 470

necessidades individuais dos agricultores que foram os fatores responsaacuteveis pelo surgimento 471

da estrutura aninhada observada na anaacutelise rede entre as comunidades deste estudo E esse 472

padratildeo aninhado observado contribui na conservaccedilatildeo das etnovariedades mais comuns mas 473

tambeacutem pode resultar em perda daquelas de menor frequecircncia ao longo do tempo 474

A caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica ldquoin siturdquo nos permitiram inferir que os agricultores 475

reconhecem as diferentes caracteriacutesticas morfoloacutegicas de suas cultivares e satildeo coerentes na 476

separaccedilatildeo de suas variedades de mandioca e macaxeira Entretanto esses resultados sugerem a 477

realizaccedilatildeo de um estudo em niacutevel de diversidade geneacutetica exploratoacuterio para identificar se as 478

consistecircncias morfoloacutegicas refletem em consistecircncias geneacuteticas elucidando assim as possiacuteveis 479

confusotildees atribuiacutedas aos nomes das etnovariedades de mandioca 480

Agradecimentos 481

Agradecemos ao liacuteder comunitaacuterio Alexandre O Nascimento aos agricultores e 482

agricultoras das comunidades pela acolhida confianccedila e pela gentileza de compartilharem 483

conosco seus conhecimentos e contribuiacuterem com este estudo Especialmente a Arlindo Ferreira 484

Edgar Antocircnio Joseacute Sebastiatildeo Juvenal Oliveira e Janete Alves Ao Laboratoacuterio de Ecologia e 485

Evoluccedilatildeo de Sistemas Socioecoloacutegicos (LEA - UFPE) E agradecemos ao CNPq pelo apoio 486

com a bolsa de estudos do primeiro autor 487

46

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614

51

ANEXOS 615

616

Nome da revista 617

Human Ecology 618

Link de acesso 619

httpsgooglDVLbFj 620

Qualis-CAPES 621

B1 em Biodiversidade 622

623

624

625

626

627

628

629

630

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636

637

638

639

640

641

642

52

Figuras 643

644

645

Fig 1 Partes do processo de fabricaccedilatildeo de farinha de mandioca Onde a raspagem b e c 646

processo de trituraccedilatildeo e d peneiramento Foto registrada em Abril de 2017 por Mirela Santos 647

648

649

650

c

d

b

a

53

651

Fig 2 Mapa de localizaccedilatildeo geograacutefica dos Municiacutepios de Altinho e Panelas e das comunidades 652

estudadas na regiatildeo semiaacuterida do Estado de Pernambuco (Elaborado por SANTOS 2018) 653

54

654

655

656

657

Fig 3 Processo de fabricaccedilatildeo da farinha de mandioca Apoacutes a colheita as raiacutezes satildeo lavadas 658

raspadas e trituradas (a) A massa extraiacuteda eacute prensada e coada Ao sair da prensa a massa 659

peneirada (b) e em seguida eacute torrada (c) em fornos artesanais ou parcialmente mecanizados 660

Imagem registrada em janeiro de 2017 na Comunidade do Caratildeo por Mirela Santos 661

662

663

a

b c

55

664

Fig 4 a Sede da Comunidade do Caratildeo b Agricultor transportando a palma forrageira que eacute 665

um exemplo de estrateacutegia adaptativa para suprir a falta de alimento dos animais devido agrave seca 666

c Feira-livre que acontece na comunidade a cada quinze dias Imagem registrada em julho de 667

2016 na Comunidade do Caratildeo por Mirela Santos 668

669

670

Fig 5 a O agricultor nos explicava as mudanccedilas que vem fazendo em seus roccedilados para se 671

adaptar aos longos periacuteodos de seca b Quando o agricultor nos mostrava as diferentes 672

etnovariedades que mantinha em sua roccedila c Durante a pesquisa nos explicavam como era feita 673

a colheita da mandioca e como selecionavam as manivas para o proacuteximo plantio Foto registrada 674

em abril de 2017 na Comunidade do Brejo Velho por Mirela Santos 675

a

b c

c b

a

56 676

677

Fig 6 Possiacuteveis estruturas de rede que descrevem as interaccedilotildees dos agricultores (losango) 678

ligados as etnovariedades (ciacuterculos) que cultivam Onde a Aninhada b Modular c Aleatoacuteria 679

(Fonte Cavechia et al 2014 com adaptaccedilotildees) 680

681

682

683

684

685

686

687

688

689

690

691

692

693

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695

696

697

a c b

57

698

699

700

701

702

703

704

705

706

707

Fig 7 Correlaccedilatildeo de Spearman entre a diversidade de etnovariedades de mandiocas conhecidas 708

como cultivadas e variedades atualmente cultivadas por agricultor e as variaacuteveis 709

socioeconocircmicas Onde Nvc= nuacutemero de citadas como cultivadas Nve= nuacutemero de variedades 710

atualmente cultivadas Esc= escolaridade Id= idade Gen= gecircnero Tr= tamanho do roccedilado 711

Exp= experiecircncia na agricultura Sld= renda Nr= nuacutemero de roccedilados Cores distintivas 712

representam correlaccedilotildees significativas (Ple005) 713

714

58

715

Fig 8 Modelo individual de rede de etnovariedades de mandioca citadas (esquerda) por 716

agricultores como cultivadas (direita) nos Municiacutepios de Altinho e Panelas As redes foram 717

desenhadas com o pacote bipartite (Dormann et al 2017) usando o software R (R CORE 718

TEAM 2017) 719

720

59

721

Fig 9 Anaacutelise de Correspondecircncia Muacuteltipla das 17 etnovariedades de mandioca considerando 722

os sete descritores morfoloacutegicos utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo em roccedilas de 723

agricultores tradicionais de sete comunidades no semiaacuterido de Pernambuco 724

725

726

727

728

729

730

731

732

733

734

735

736

737

McCambadinha

McCampina

McCampinaDaGrande

McCampinaRasteira

McCampinaVaruda

McGauba

McIsabelDeSouza

McIsabelTresGalhos

McOlhoDePombo

McOlhoVerde

McPretinha

McPretona

MxBranca

MxRosa

MxRosaBrancaMxRosaVermelha

MxSemente

CFD_Verde_Arroxeado

CFD_Verde_ClaroCFD_Verde_Escuro

CBF_Roxo

CBF_Verde_ArroxeadoCBF_Verde_Claro

CBF_Verde_Escuro

CDP_Verde

CDP_Verde_Amarelado

CDP_Verde_Avermelhado

CDP_Vermelho

CEC_Cinza

CEC_Dourado

CEC_Laranja

CEC_Marrom_Claro

CEC_Marrom_Escuro

CEC_Prateado

CEC_Verde_AmareladoCicatriz_M

Cicatriz_P

PDR_Branco

PDR_Creme

CDR_BrancoCDR_Creme CDR_Rosa

-4

-2

0

2

4

-4 -2 0 2 4

Dim1 (206)

Dim

2 (

162

)

MCA - Biplot

00

10

Hierarchical Clustering

inertia gain

McC

am

pin

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am

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00

05

10

15

Hierarchical Classification

Heig

ht

C1 C2 C3 C4 C5 C6 C7 C8

Fig 10 Agrupamento hieraacuterquico das 17 etnovariedades de mandioca caracterizadas de acordo

com os descritores utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo

60

Tabelas 738

739

Tabela 1 Caracteres e estados utilizados pelos agricultores como descritores botacircnicos para 740

caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das etnovariedades de mandioca 741

Caracter Sigla Estados

Folha

Cor da folha desenvolvida CFD 1- verde claro 2- verde escuro 3- verde arroxeado 4- roxo

Cor do broto foliar CBF 1- verde claro 2- verde escuro 3- verde arroxeado 4- roxo

Cor do peciacuteolo CDP 1- verde amarelado 2- verde 3- verde avermelhado 4- roxo

5- vermelho

Caule

Cor externa do caule CEC 1- laranja 2- verde amarelado 3- dourado 4- marrom claro

5- prateado 6- cinza 7- marrom escuro 8- verde

Protuberacircncia da cicatriz foliar PCF 1- pouco proeminente 2- muito proeminente

Raiacutez

Cor da poupa da raiz PDR 1- branco 2- creme

Cor do coacutertex da raiacutez CDR 1- rosa 2- branco 3- creme

742

743

744

745

746

747

748

749

750

751

61

Tabela 2 Lista das 22 etnovariedades de mandiocas citadas (132 citaccedilotildees) como cultivadas nas 752

comunidades pertencentes aos Municiacutepios de Altinho (Caratildeo n=8) e ao Municiacutepio de Panelas 753

(Aracuatilde Satildeo Joseacute do Bola Brejo Velho Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima e Lajeiro 754

Dantas n=21) 755

Etnovariedade Frequecircncia () Ranking Saliecircncia

Macaxeira Rosa 66 179 0472

Mandioca Isabel de Souza 48 179 0372

Mandioca Campina 24 217 0148

Macaxeira Branca 20 210 0134

Macaxeira Rosa branca 18 122 0168

Mandioca Pretona 16 338 0082

Mandioca Cambadinha 12 283 0071

Mandioca Isabel trecircs galhos 10 180 0075

Mandioca Gauacuteba 10 260 0070

Mandioca Pretinha 8 225 0053

Mandioca Peacute de pombo 4 400 0011

Mandioca Olho verde 4 350 0012

Macaxeira Rosinha 4 200 0027

Mandioca Campina varuda 4 200 0032

Mandioca Campina rasteira 4 300 0021

Mandioca Caboquinha 2 500 0007

Macaxeira Rasteira 2 200 0013

Macaxeira Paraacute 2 100 0020

Mandioca Barra ferro 2 300 0007

Mandioca Campina da grande 2 100 0020

Mandioca Olho de pombo 2 300 0010

Mandioca Jasmim 2 600 0006

756

757

758

62

Tabela 3 Lista de 17 etnovariedades atualmente cultivadas nos roccedilados das comunidades em 759

estudo 760

Ca Ar Bo Br Jb Jc Ld

Etnovariedade

Macaxeira Branca x x x x

Macaxeira Rosa

x x x x x x

Macaxeira Rosa Branca x x x x

Macaxeira Rosa Vermelha

x

Macaxeira Semente

x

Mandioca Cambadinha x

x

Mandioca Campina

x

x

x

Mandioca Campina da Grande x

Mandioca Campina Rasteira

x

Mandioca Campina Varuda

x

Mandioca Gauacuteba

x

Mandioca Isabel de Souza

x x x

Mandioca Isabel trecircs Galhos

x

x

Mandioca Olho de Pombo

x

Mandioca Olho Verde

x

Mandioca Pretinha

x

Mandioca Pretona x x x

Comunidades Ca= Caratildeo Ar=Aracuatilde Bo= Satildeo Joseacute do Bola Jb= Japaranduba de Baixo 761

Jc= Japaranduba de Cima Ld= Lajedo Dantas 762

763

764

765

766

767

768

63

Tabela 4 Descriccedilatildeo das classes do agrupamento por meacutetodo de Ward agrupadas pelo conjunto 769

dos descritores mais significativos para a caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das variedades de mandioca 770

Classes Descritores in situ p-valor

C1 Cor do peciacuteolo (CDP) 0016

C2 Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023

C3 Cor do peciacuteolo (CDP) 0012

C4 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0004

Cor da poupa da raiacutez (PDF) 0021

C5 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0003

C6 Cor do broto foliar (CBF) 0002

C7 Cor da folha desenvolvida (CFD) 0004

Cor externa do caule (CEC) 0040

C8 Cor do peciacuteolo (CDP) 0005

Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023

Valores de Ple005 satildeo significativos 771

772

46

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614

51

ANEXOS 615

616

Nome da revista 617

Human Ecology 618

Link de acesso 619

httpsgooglDVLbFj 620

Qualis-CAPES 621

B1 em Biodiversidade 622

623

624

625

626

627

628

629

630

631

632

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634

635

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637

638

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640

641

642

52

Figuras 643

644

645

Fig 1 Partes do processo de fabricaccedilatildeo de farinha de mandioca Onde a raspagem b e c 646

processo de trituraccedilatildeo e d peneiramento Foto registrada em Abril de 2017 por Mirela Santos 647

648

649

650

c

d

b

a

53

651

Fig 2 Mapa de localizaccedilatildeo geograacutefica dos Municiacutepios de Altinho e Panelas e das comunidades 652

estudadas na regiatildeo semiaacuterida do Estado de Pernambuco (Elaborado por SANTOS 2018) 653

54

654

655

656

657

Fig 3 Processo de fabricaccedilatildeo da farinha de mandioca Apoacutes a colheita as raiacutezes satildeo lavadas 658

raspadas e trituradas (a) A massa extraiacuteda eacute prensada e coada Ao sair da prensa a massa 659

peneirada (b) e em seguida eacute torrada (c) em fornos artesanais ou parcialmente mecanizados 660

Imagem registrada em janeiro de 2017 na Comunidade do Caratildeo por Mirela Santos 661

662

663

a

b c

55

664

Fig 4 a Sede da Comunidade do Caratildeo b Agricultor transportando a palma forrageira que eacute 665

um exemplo de estrateacutegia adaptativa para suprir a falta de alimento dos animais devido agrave seca 666

c Feira-livre que acontece na comunidade a cada quinze dias Imagem registrada em julho de 667

2016 na Comunidade do Caratildeo por Mirela Santos 668

669

670

Fig 5 a O agricultor nos explicava as mudanccedilas que vem fazendo em seus roccedilados para se 671

adaptar aos longos periacuteodos de seca b Quando o agricultor nos mostrava as diferentes 672

etnovariedades que mantinha em sua roccedila c Durante a pesquisa nos explicavam como era feita 673

a colheita da mandioca e como selecionavam as manivas para o proacuteximo plantio Foto registrada 674

em abril de 2017 na Comunidade do Brejo Velho por Mirela Santos 675

a

b c

c b

a

56 676

677

Fig 6 Possiacuteveis estruturas de rede que descrevem as interaccedilotildees dos agricultores (losango) 678

ligados as etnovariedades (ciacuterculos) que cultivam Onde a Aninhada b Modular c Aleatoacuteria 679

(Fonte Cavechia et al 2014 com adaptaccedilotildees) 680

681

682

683

684

685

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a c b

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Fig 7 Correlaccedilatildeo de Spearman entre a diversidade de etnovariedades de mandiocas conhecidas 708

como cultivadas e variedades atualmente cultivadas por agricultor e as variaacuteveis 709

socioeconocircmicas Onde Nvc= nuacutemero de citadas como cultivadas Nve= nuacutemero de variedades 710

atualmente cultivadas Esc= escolaridade Id= idade Gen= gecircnero Tr= tamanho do roccedilado 711

Exp= experiecircncia na agricultura Sld= renda Nr= nuacutemero de roccedilados Cores distintivas 712

representam correlaccedilotildees significativas (Ple005) 713

714

58

715

Fig 8 Modelo individual de rede de etnovariedades de mandioca citadas (esquerda) por 716

agricultores como cultivadas (direita) nos Municiacutepios de Altinho e Panelas As redes foram 717

desenhadas com o pacote bipartite (Dormann et al 2017) usando o software R (R CORE 718

TEAM 2017) 719

720

59

721

Fig 9 Anaacutelise de Correspondecircncia Muacuteltipla das 17 etnovariedades de mandioca considerando 722

os sete descritores morfoloacutegicos utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo em roccedilas de 723

agricultores tradicionais de sete comunidades no semiaacuterido de Pernambuco 724

725

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McCambadinha

McCampina

McCampinaDaGrande

McCampinaRasteira

McCampinaVaruda

McGauba

McIsabelDeSouza

McIsabelTresGalhos

McOlhoDePombo

McOlhoVerde

McPretinha

McPretona

MxBranca

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MxRosaBrancaMxRosaVermelha

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CFD_Verde_Arroxeado

CFD_Verde_ClaroCFD_Verde_Escuro

CBF_Roxo

CBF_Verde_ArroxeadoCBF_Verde_Claro

CBF_Verde_Escuro

CDP_Verde

CDP_Verde_Amarelado

CDP_Verde_Avermelhado

CDP_Vermelho

CEC_Cinza

CEC_Dourado

CEC_Laranja

CEC_Marrom_Claro

CEC_Marrom_Escuro

CEC_Prateado

CEC_Verde_AmareladoCicatriz_M

Cicatriz_P

PDR_Branco

PDR_Creme

CDR_BrancoCDR_Creme CDR_Rosa

-4

-2

0

2

4

-4 -2 0 2 4

Dim1 (206)

Dim

2 (

162

)

MCA - Biplot

00

10

Hierarchical Clustering

inertia gain

McC

am

pin

aV

aru

da

McC

am

pin

aD

aG

rande

McC

am

pin

a

McG

auba

McP

retin

ha

McP

reto

na

MxR

osaV

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MxR

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ranca

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em

ente

McIsabelT

resG

alh

os

McIsabelD

eS

ouza

McO

lhoD

eP

om

bo

00

05

10

15

Hierarchical Classification

Heig

ht

C1 C2 C3 C4 C5 C6 C7 C8

Fig 10 Agrupamento hieraacuterquico das 17 etnovariedades de mandioca caracterizadas de acordo

com os descritores utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo

60

Tabelas 738

739

Tabela 1 Caracteres e estados utilizados pelos agricultores como descritores botacircnicos para 740

caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das etnovariedades de mandioca 741

Caracter Sigla Estados

Folha

Cor da folha desenvolvida CFD 1- verde claro 2- verde escuro 3- verde arroxeado 4- roxo

Cor do broto foliar CBF 1- verde claro 2- verde escuro 3- verde arroxeado 4- roxo

Cor do peciacuteolo CDP 1- verde amarelado 2- verde 3- verde avermelhado 4- roxo

5- vermelho

Caule

Cor externa do caule CEC 1- laranja 2- verde amarelado 3- dourado 4- marrom claro

5- prateado 6- cinza 7- marrom escuro 8- verde

Protuberacircncia da cicatriz foliar PCF 1- pouco proeminente 2- muito proeminente

Raiacutez

Cor da poupa da raiz PDR 1- branco 2- creme

Cor do coacutertex da raiacutez CDR 1- rosa 2- branco 3- creme

742

743

744

745

746

747

748

749

750

751

61

Tabela 2 Lista das 22 etnovariedades de mandiocas citadas (132 citaccedilotildees) como cultivadas nas 752

comunidades pertencentes aos Municiacutepios de Altinho (Caratildeo n=8) e ao Municiacutepio de Panelas 753

(Aracuatilde Satildeo Joseacute do Bola Brejo Velho Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima e Lajeiro 754

Dantas n=21) 755

Etnovariedade Frequecircncia () Ranking Saliecircncia

Macaxeira Rosa 66 179 0472

Mandioca Isabel de Souza 48 179 0372

Mandioca Campina 24 217 0148

Macaxeira Branca 20 210 0134

Macaxeira Rosa branca 18 122 0168

Mandioca Pretona 16 338 0082

Mandioca Cambadinha 12 283 0071

Mandioca Isabel trecircs galhos 10 180 0075

Mandioca Gauacuteba 10 260 0070

Mandioca Pretinha 8 225 0053

Mandioca Peacute de pombo 4 400 0011

Mandioca Olho verde 4 350 0012

Macaxeira Rosinha 4 200 0027

Mandioca Campina varuda 4 200 0032

Mandioca Campina rasteira 4 300 0021

Mandioca Caboquinha 2 500 0007

Macaxeira Rasteira 2 200 0013

Macaxeira Paraacute 2 100 0020

Mandioca Barra ferro 2 300 0007

Mandioca Campina da grande 2 100 0020

Mandioca Olho de pombo 2 300 0010

Mandioca Jasmim 2 600 0006

756

757

758

62

Tabela 3 Lista de 17 etnovariedades atualmente cultivadas nos roccedilados das comunidades em 759

estudo 760

Ca Ar Bo Br Jb Jc Ld

Etnovariedade

Macaxeira Branca x x x x

Macaxeira Rosa

x x x x x x

Macaxeira Rosa Branca x x x x

Macaxeira Rosa Vermelha

x

Macaxeira Semente

x

Mandioca Cambadinha x

x

Mandioca Campina

x

x

x

Mandioca Campina da Grande x

Mandioca Campina Rasteira

x

Mandioca Campina Varuda

x

Mandioca Gauacuteba

x

Mandioca Isabel de Souza

x x x

Mandioca Isabel trecircs Galhos

x

x

Mandioca Olho de Pombo

x

Mandioca Olho Verde

x

Mandioca Pretinha

x

Mandioca Pretona x x x

Comunidades Ca= Caratildeo Ar=Aracuatilde Bo= Satildeo Joseacute do Bola Jb= Japaranduba de Baixo 761

Jc= Japaranduba de Cima Ld= Lajedo Dantas 762

763

764

765

766

767

768

63

Tabela 4 Descriccedilatildeo das classes do agrupamento por meacutetodo de Ward agrupadas pelo conjunto 769

dos descritores mais significativos para a caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das variedades de mandioca 770

Classes Descritores in situ p-valor

C1 Cor do peciacuteolo (CDP) 0016

C2 Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023

C3 Cor do peciacuteolo (CDP) 0012

C4 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0004

Cor da poupa da raiacutez (PDF) 0021

C5 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0003

C6 Cor do broto foliar (CBF) 0002

C7 Cor da folha desenvolvida (CFD) 0004

Cor externa do caule (CEC) 0040

C8 Cor do peciacuteolo (CDP) 0005

Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023

Valores de Ple005 satildeo significativos 771

772

47

Cavechia L A Cantor M Begossi A amp Peroni N (2014) Resource-use patterns in 516

swidden farming communities implications for the resilience of cassava diversity Human 517

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Clement C R de Cristo-Arauacutejo M Coppens DrsquoEeckenbrugge G Alves Pereira A amp 519

Picanccedilo-Rodrigues D (2010) Origin and domestication of native Amazonian crops 520

Diversity 2(1) 72ndash106 521

Cruz M P Peroni N amp Albuquerque U P (2013) Knowledge use and management of 522

native wild edible plants from a seasonal dry forest (NE Brazil) Journal of Ethnobiology 523

and Ethnomedicine 9(1) 79 524

Delecirctre M McKey D B amp Hodkinson T R (2011) Marriage exchanges seed exchanges 525

and the dynamics of manioc diversity Proceedings of the National Academy of Sciences 526

of the United States of America 108(45) 18249ndash54 527

httpsdoiorg101073pnas1106259108 528

Dormann C F Fruend J amp Gruber B (2017) Visualising Bipartite Networks and 529

Calculating Some (Ecological) Indices 2nd edn R packages 530

Elias M Penet L Vindry P McKey D Panaud O amp Robert T (2001) Unmanaged 531

sexual reproduction and the dynamics of genetic diversity of a vegetatively propagated 532

crop plant cassava (Manihot esculenta Crantz) in a traditional farming system Molecular 533

Ecology 10(8) 1895ndash1907 534

Emperaire L amp Eloy L (2008) A cidade um foco de diversidade agriacutecola no Rio Negro 535

(Amazonas Brasil) Boletim Do Museu Paraense Emiacutelio Goeldi Ciecircncias Humanas 3(2) 536

195ndash211 537

Emperaire L Eloy L amp Seixas A C (2016) Redes e observatoacuterios da agrobiodiversidade 538

como e para quem Uma abordagem exploratoacuteria na regiatildeo de Cruzeiro do Sul Acre 539

Boletim Do Museu Paraense Emrsquoilio Goeldi Ciecircncias Humanas 11(1) 159ndash192 540

Emperaire L amp Peroni N (2007) Traditional management of agrobiodiversity in Brazil a 541

case study of manioc Human Ecology 35(6) 761ndash768 542

Fraser J A Alves-Pereira A Junqueira A B Peroni N amp Clement C R (2012) 543

Convergent adaptations bitter manioc cultivation systems in fertile anthropogenic dark 544

earths and floodplain soils in Central Amazonia PLoS One 7(8) e43636 545

48

Fukuda W M G amp Guevara C L (1998) Descritores morfoloacutegicos e agronocircmicos para a 546

caracterizaccedilatildeo de mandioca (Manihot esculenta Crantz) Embrapa Mandioca E 547

Fruticultura-Documentos (INFOTECA-E) 548

Guimaraes Jr P R amp Guimaraes P (2006) Improving the analyses of nestedness for large 549

sets of matrices Environmental Modelling amp Software 21(10) 1512ndash1513 550

Hanazaki N Zank S Pinto M C Kumagai L Cavechia L A amp Peroni N (2012) 551

Etnobotacircnica nos Areais da Ribanceira de Imbituba Compreendendo a biodiversidade 552

vegetal manejada para subsidiar a criaccedilatildeo de uma reserva de desenvolvimento sustentaacutevel 553

Biodivers Bras 2 50ndash64 554

Kassambara A amp Mundt F (2016) Factoextra extract and visualize the results of 555

multivariate data analyses R Package Version 1(3) 556

Kawa N C McCarty C amp Clement C R (2013) Manioc varietal diversity social networks 557

and distribution constraints in rural Amazonia Current Anthropology 54(6) 764ndash770 558

Lecirc S Josse J Husson F amp others (2008) FactoMineR an R package for multivariate 559

analysis Journal of Statistical Software 25(1) 1ndash18 560

Lima D Steward A amp Richers B T (2012) Trocas experimentaccedilotildees e preferecircncias Um 561

estudo sobre a dinacircmica da diversidade da mandioca no meacutedio Solimotildees Amazonas 562

Boletimdo Museu Paraense Emilio GoeldiCiencias Humanas 7(2) 371ndash396 563

httpsdoiorg101590S1981-81222012000200005 564

Marchetti F F Massaro L R de Mello Amorozo M C amp Butturi-Gomes D (2013) 565

Maintenance of manioc diversity by traditional farmers in the State of Mato Grosso 566

Brazil a 20-year comparison Economic Botany 67(4) 313ndash323 567

Martins P S (2005) Dinacircmica evolutiva em roccedilas de caboclos amazocircnicos Estudos 568

Avanccedilados 19(53) 209ndash220 569

Mekbib F (2007) Infra-specific folk taxonomy in sorghum (Sorghum bicolor (L) Moench) in 570

Ethiopia folk nomenclature classification and criteria Journal of Ethnobiology and 571

Ethnomedicine 3(1) 38 572

Mkumbira J Chiwona-Karltun L Lagercrantz U Mahungu N M Saka J Mhone A hellip 573

Rosling H (2003) Classification of cassava into ldquobitterrdquoand ldquocoolrdquoin Malawi From 574

farmersrsquo perception to characterisation by molecular markers Euphytica 132(1) 7ndash22 575

49

Oksanen J Blanchet F G Kindt R Legendre P Minchin P R Orsquohara R B hellip others 576

(2017) Package ldquoveganrdquo Community Ecology Package Version 2(9) 577

Pautasso M Aistara G Barnaud A Caillon S Clouvel P Coomes O T hellip others 578

(2012) Seed exchange networks for agrobiodiversity conservation A review Agronomy 579

for Sustainable Development 33(1) 151ndash175 580

Peroni N amp Hanazaki N (2002) Current and lost diversity of cultivated varieties especially 581

cassava under swidden cultivation systems in the Brazilian Atlantic Forest Agriculture 582

Ecosystems amp Environment 92(2ndash3) 171ndash183 583

Peroni N Martins P S amp Ando A (1999) Diversidade inter-e intra-especiacutefica e uso de 584

anaacutelise multivariada para morfologia da mandioca (Manihot esculenta Crantz) um estudo 585

de caso Inter-and intraspecific diversity and use of multivariate analysis for the 586

morphology of cassava (Manihot esculent Scientia Agricola 56(3) 587ndash595 587

Pinton F amp Emperaire L (2001) Le manioc en Amazonie breacutesilienne diversiteacute varieacutetale et 588

marcheacute Genet Sel Evol 33(1) 491ndash512 589

Pires M M Guimaratildees P R Arauacutejo M S Giaretta A A Costa J C L amp Dos Reis S 590

F (2011) The nested assembly of individual-resource networks Journal of Animal 591

Ecology 80(4) 896ndash903 592

Pujol B Renoux F Elias M Rival L amp Mckey D (2007) The unappreciated ecology of 593

landrace populations Conservation consequences of soil seed banks in Cassava 594

Biological Conservation 136(4) 541ndash551 httpsdoiorg101016jbiocon200612025 595

Sambatti J B M Martins P S amp Ando A (2001) Folk taxonomy and evolutionary 596

dynamics of cassava a case study in Ubatuba Brazil Economic Botany 55(1) 93ndash105 597

Sieber S S Medeiros P M amp Albuquerque U P (2011) Local perception of environmental 598

change in a semi-arid area of Northeast Brazil a new approach for the use of participatory 599

methods at the level of family units Journal of Agricultural and Environmental Ethics 600

24(5) 511ndash531 601

Sneath P H A Sokal R R amp others (1973) Numerical taxonomy The principles and 602

practice of numerical classification 603

Sokal R R amp Rohlf F J (1995) 1995 Biometry WH Freeman San Francisco Sulikowski 604

JA J Kneebone S Elzey P Danley WH Howell and PWC Tsang--2005 The 605

50

Reproductive Cycle of the Thorny Skate Amblyraja Radiata in the Gulf of Maine Fish 606

Bull 103 536ndash543 607

Team R C (2017) R A Language and Environment for Statistical Computing Vienna 608

Austria Retrieved from httpswwwr-projectorg 609

Thompson E C amp Juan Z (2006) Comparative cultural salience Measures using free-list 610

data Field Methods 18(4) 398ndash412 611

Wei T amp Simko V (2013) corrplot Visualization of a correlation matrix R Package Version 612

073 230(231) 11 613

614

51

ANEXOS 615

616

Nome da revista 617

Human Ecology 618

Link de acesso 619

httpsgooglDVLbFj 620

Qualis-CAPES 621

B1 em Biodiversidade 622

623

624

625

626

627

628

629

630

631

632

633

634

635

636

637

638

639

640

641

642

52

Figuras 643

644

645

Fig 1 Partes do processo de fabricaccedilatildeo de farinha de mandioca Onde a raspagem b e c 646

processo de trituraccedilatildeo e d peneiramento Foto registrada em Abril de 2017 por Mirela Santos 647

648

649

650

c

d

b

a

53

651

Fig 2 Mapa de localizaccedilatildeo geograacutefica dos Municiacutepios de Altinho e Panelas e das comunidades 652

estudadas na regiatildeo semiaacuterida do Estado de Pernambuco (Elaborado por SANTOS 2018) 653

54

654

655

656

657

Fig 3 Processo de fabricaccedilatildeo da farinha de mandioca Apoacutes a colheita as raiacutezes satildeo lavadas 658

raspadas e trituradas (a) A massa extraiacuteda eacute prensada e coada Ao sair da prensa a massa 659

peneirada (b) e em seguida eacute torrada (c) em fornos artesanais ou parcialmente mecanizados 660

Imagem registrada em janeiro de 2017 na Comunidade do Caratildeo por Mirela Santos 661

662

663

a

b c

55

664

Fig 4 a Sede da Comunidade do Caratildeo b Agricultor transportando a palma forrageira que eacute 665

um exemplo de estrateacutegia adaptativa para suprir a falta de alimento dos animais devido agrave seca 666

c Feira-livre que acontece na comunidade a cada quinze dias Imagem registrada em julho de 667

2016 na Comunidade do Caratildeo por Mirela Santos 668

669

670

Fig 5 a O agricultor nos explicava as mudanccedilas que vem fazendo em seus roccedilados para se 671

adaptar aos longos periacuteodos de seca b Quando o agricultor nos mostrava as diferentes 672

etnovariedades que mantinha em sua roccedila c Durante a pesquisa nos explicavam como era feita 673

a colheita da mandioca e como selecionavam as manivas para o proacuteximo plantio Foto registrada 674

em abril de 2017 na Comunidade do Brejo Velho por Mirela Santos 675

a

b c

c b

a

56 676

677

Fig 6 Possiacuteveis estruturas de rede que descrevem as interaccedilotildees dos agricultores (losango) 678

ligados as etnovariedades (ciacuterculos) que cultivam Onde a Aninhada b Modular c Aleatoacuteria 679

(Fonte Cavechia et al 2014 com adaptaccedilotildees) 680

681

682

683

684

685

686

687

688

689

690

691

692

693

694

695

696

697

a c b

57

698

699

700

701

702

703

704

705

706

707

Fig 7 Correlaccedilatildeo de Spearman entre a diversidade de etnovariedades de mandiocas conhecidas 708

como cultivadas e variedades atualmente cultivadas por agricultor e as variaacuteveis 709

socioeconocircmicas Onde Nvc= nuacutemero de citadas como cultivadas Nve= nuacutemero de variedades 710

atualmente cultivadas Esc= escolaridade Id= idade Gen= gecircnero Tr= tamanho do roccedilado 711

Exp= experiecircncia na agricultura Sld= renda Nr= nuacutemero de roccedilados Cores distintivas 712

representam correlaccedilotildees significativas (Ple005) 713

714

58

715

Fig 8 Modelo individual de rede de etnovariedades de mandioca citadas (esquerda) por 716

agricultores como cultivadas (direita) nos Municiacutepios de Altinho e Panelas As redes foram 717

desenhadas com o pacote bipartite (Dormann et al 2017) usando o software R (R CORE 718

TEAM 2017) 719

720

59

721

Fig 9 Anaacutelise de Correspondecircncia Muacuteltipla das 17 etnovariedades de mandioca considerando 722

os sete descritores morfoloacutegicos utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo em roccedilas de 723

agricultores tradicionais de sete comunidades no semiaacuterido de Pernambuco 724

725

726

727

728

729

730

731

732

733

734

735

736

737

McCambadinha

McCampina

McCampinaDaGrande

McCampinaRasteira

McCampinaVaruda

McGauba

McIsabelDeSouza

McIsabelTresGalhos

McOlhoDePombo

McOlhoVerde

McPretinha

McPretona

MxBranca

MxRosa

MxRosaBrancaMxRosaVermelha

MxSemente

CFD_Verde_Arroxeado

CFD_Verde_ClaroCFD_Verde_Escuro

CBF_Roxo

CBF_Verde_ArroxeadoCBF_Verde_Claro

CBF_Verde_Escuro

CDP_Verde

CDP_Verde_Amarelado

CDP_Verde_Avermelhado

CDP_Vermelho

CEC_Cinza

CEC_Dourado

CEC_Laranja

CEC_Marrom_Claro

CEC_Marrom_Escuro

CEC_Prateado

CEC_Verde_AmareladoCicatriz_M

Cicatriz_P

PDR_Branco

PDR_Creme

CDR_BrancoCDR_Creme CDR_Rosa

-4

-2

0

2

4

-4 -2 0 2 4

Dim1 (206)

Dim

2 (

162

)

MCA - Biplot

00

10

Hierarchical Clustering

inertia gain

McC

am

pin

aV

aru

da

McC

am

pin

aD

aG

rande

McC

am

pin

a

McG

auba

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resG

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McIsabelD

eS

ouza

McO

lhoD

eP

om

bo

00

05

10

15

Hierarchical Classification

Heig

ht

C1 C2 C3 C4 C5 C6 C7 C8

Fig 10 Agrupamento hieraacuterquico das 17 etnovariedades de mandioca caracterizadas de acordo

com os descritores utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo

60

Tabelas 738

739

Tabela 1 Caracteres e estados utilizados pelos agricultores como descritores botacircnicos para 740

caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das etnovariedades de mandioca 741

Caracter Sigla Estados

Folha

Cor da folha desenvolvida CFD 1- verde claro 2- verde escuro 3- verde arroxeado 4- roxo

Cor do broto foliar CBF 1- verde claro 2- verde escuro 3- verde arroxeado 4- roxo

Cor do peciacuteolo CDP 1- verde amarelado 2- verde 3- verde avermelhado 4- roxo

5- vermelho

Caule

Cor externa do caule CEC 1- laranja 2- verde amarelado 3- dourado 4- marrom claro

5- prateado 6- cinza 7- marrom escuro 8- verde

Protuberacircncia da cicatriz foliar PCF 1- pouco proeminente 2- muito proeminente

Raiacutez

Cor da poupa da raiz PDR 1- branco 2- creme

Cor do coacutertex da raiacutez CDR 1- rosa 2- branco 3- creme

742

743

744

745

746

747

748

749

750

751

61

Tabela 2 Lista das 22 etnovariedades de mandiocas citadas (132 citaccedilotildees) como cultivadas nas 752

comunidades pertencentes aos Municiacutepios de Altinho (Caratildeo n=8) e ao Municiacutepio de Panelas 753

(Aracuatilde Satildeo Joseacute do Bola Brejo Velho Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima e Lajeiro 754

Dantas n=21) 755

Etnovariedade Frequecircncia () Ranking Saliecircncia

Macaxeira Rosa 66 179 0472

Mandioca Isabel de Souza 48 179 0372

Mandioca Campina 24 217 0148

Macaxeira Branca 20 210 0134

Macaxeira Rosa branca 18 122 0168

Mandioca Pretona 16 338 0082

Mandioca Cambadinha 12 283 0071

Mandioca Isabel trecircs galhos 10 180 0075

Mandioca Gauacuteba 10 260 0070

Mandioca Pretinha 8 225 0053

Mandioca Peacute de pombo 4 400 0011

Mandioca Olho verde 4 350 0012

Macaxeira Rosinha 4 200 0027

Mandioca Campina varuda 4 200 0032

Mandioca Campina rasteira 4 300 0021

Mandioca Caboquinha 2 500 0007

Macaxeira Rasteira 2 200 0013

Macaxeira Paraacute 2 100 0020

Mandioca Barra ferro 2 300 0007

Mandioca Campina da grande 2 100 0020

Mandioca Olho de pombo 2 300 0010

Mandioca Jasmim 2 600 0006

756

757

758

62

Tabela 3 Lista de 17 etnovariedades atualmente cultivadas nos roccedilados das comunidades em 759

estudo 760

Ca Ar Bo Br Jb Jc Ld

Etnovariedade

Macaxeira Branca x x x x

Macaxeira Rosa

x x x x x x

Macaxeira Rosa Branca x x x x

Macaxeira Rosa Vermelha

x

Macaxeira Semente

x

Mandioca Cambadinha x

x

Mandioca Campina

x

x

x

Mandioca Campina da Grande x

Mandioca Campina Rasteira

x

Mandioca Campina Varuda

x

Mandioca Gauacuteba

x

Mandioca Isabel de Souza

x x x

Mandioca Isabel trecircs Galhos

x

x

Mandioca Olho de Pombo

x

Mandioca Olho Verde

x

Mandioca Pretinha

x

Mandioca Pretona x x x

Comunidades Ca= Caratildeo Ar=Aracuatilde Bo= Satildeo Joseacute do Bola Jb= Japaranduba de Baixo 761

Jc= Japaranduba de Cima Ld= Lajedo Dantas 762

763

764

765

766

767

768

63

Tabela 4 Descriccedilatildeo das classes do agrupamento por meacutetodo de Ward agrupadas pelo conjunto 769

dos descritores mais significativos para a caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das variedades de mandioca 770

Classes Descritores in situ p-valor

C1 Cor do peciacuteolo (CDP) 0016

C2 Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023

C3 Cor do peciacuteolo (CDP) 0012

C4 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0004

Cor da poupa da raiacutez (PDF) 0021

C5 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0003

C6 Cor do broto foliar (CBF) 0002

C7 Cor da folha desenvolvida (CFD) 0004

Cor externa do caule (CEC) 0040

C8 Cor do peciacuteolo (CDP) 0005

Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023

Valores de Ple005 satildeo significativos 771

772

48

Fukuda W M G amp Guevara C L (1998) Descritores morfoloacutegicos e agronocircmicos para a 546

caracterizaccedilatildeo de mandioca (Manihot esculenta Crantz) Embrapa Mandioca E 547

Fruticultura-Documentos (INFOTECA-E) 548

Guimaraes Jr P R amp Guimaraes P (2006) Improving the analyses of nestedness for large 549

sets of matrices Environmental Modelling amp Software 21(10) 1512ndash1513 550

Hanazaki N Zank S Pinto M C Kumagai L Cavechia L A amp Peroni N (2012) 551

Etnobotacircnica nos Areais da Ribanceira de Imbituba Compreendendo a biodiversidade 552

vegetal manejada para subsidiar a criaccedilatildeo de uma reserva de desenvolvimento sustentaacutevel 553

Biodivers Bras 2 50ndash64 554

Kassambara A amp Mundt F (2016) Factoextra extract and visualize the results of 555

multivariate data analyses R Package Version 1(3) 556

Kawa N C McCarty C amp Clement C R (2013) Manioc varietal diversity social networks 557

and distribution constraints in rural Amazonia Current Anthropology 54(6) 764ndash770 558

Lecirc S Josse J Husson F amp others (2008) FactoMineR an R package for multivariate 559

analysis Journal of Statistical Software 25(1) 1ndash18 560

Lima D Steward A amp Richers B T (2012) Trocas experimentaccedilotildees e preferecircncias Um 561

estudo sobre a dinacircmica da diversidade da mandioca no meacutedio Solimotildees Amazonas 562

Boletimdo Museu Paraense Emilio GoeldiCiencias Humanas 7(2) 371ndash396 563

httpsdoiorg101590S1981-81222012000200005 564

Marchetti F F Massaro L R de Mello Amorozo M C amp Butturi-Gomes D (2013) 565

Maintenance of manioc diversity by traditional farmers in the State of Mato Grosso 566

Brazil a 20-year comparison Economic Botany 67(4) 313ndash323 567

Martins P S (2005) Dinacircmica evolutiva em roccedilas de caboclos amazocircnicos Estudos 568

Avanccedilados 19(53) 209ndash220 569

Mekbib F (2007) Infra-specific folk taxonomy in sorghum (Sorghum bicolor (L) Moench) in 570

Ethiopia folk nomenclature classification and criteria Journal of Ethnobiology and 571

Ethnomedicine 3(1) 38 572

Mkumbira J Chiwona-Karltun L Lagercrantz U Mahungu N M Saka J Mhone A hellip 573

Rosling H (2003) Classification of cassava into ldquobitterrdquoand ldquocoolrdquoin Malawi From 574

farmersrsquo perception to characterisation by molecular markers Euphytica 132(1) 7ndash22 575

49

Oksanen J Blanchet F G Kindt R Legendre P Minchin P R Orsquohara R B hellip others 576

(2017) Package ldquoveganrdquo Community Ecology Package Version 2(9) 577

Pautasso M Aistara G Barnaud A Caillon S Clouvel P Coomes O T hellip others 578

(2012) Seed exchange networks for agrobiodiversity conservation A review Agronomy 579

for Sustainable Development 33(1) 151ndash175 580

Peroni N amp Hanazaki N (2002) Current and lost diversity of cultivated varieties especially 581

cassava under swidden cultivation systems in the Brazilian Atlantic Forest Agriculture 582

Ecosystems amp Environment 92(2ndash3) 171ndash183 583

Peroni N Martins P S amp Ando A (1999) Diversidade inter-e intra-especiacutefica e uso de 584

anaacutelise multivariada para morfologia da mandioca (Manihot esculenta Crantz) um estudo 585

de caso Inter-and intraspecific diversity and use of multivariate analysis for the 586

morphology of cassava (Manihot esculent Scientia Agricola 56(3) 587ndash595 587

Pinton F amp Emperaire L (2001) Le manioc en Amazonie breacutesilienne diversiteacute varieacutetale et 588

marcheacute Genet Sel Evol 33(1) 491ndash512 589

Pires M M Guimaratildees P R Arauacutejo M S Giaretta A A Costa J C L amp Dos Reis S 590

F (2011) The nested assembly of individual-resource networks Journal of Animal 591

Ecology 80(4) 896ndash903 592

Pujol B Renoux F Elias M Rival L amp Mckey D (2007) The unappreciated ecology of 593

landrace populations Conservation consequences of soil seed banks in Cassava 594

Biological Conservation 136(4) 541ndash551 httpsdoiorg101016jbiocon200612025 595

Sambatti J B M Martins P S amp Ando A (2001) Folk taxonomy and evolutionary 596

dynamics of cassava a case study in Ubatuba Brazil Economic Botany 55(1) 93ndash105 597

Sieber S S Medeiros P M amp Albuquerque U P (2011) Local perception of environmental 598

change in a semi-arid area of Northeast Brazil a new approach for the use of participatory 599

methods at the level of family units Journal of Agricultural and Environmental Ethics 600

24(5) 511ndash531 601

Sneath P H A Sokal R R amp others (1973) Numerical taxonomy The principles and 602

practice of numerical classification 603

Sokal R R amp Rohlf F J (1995) 1995 Biometry WH Freeman San Francisco Sulikowski 604

JA J Kneebone S Elzey P Danley WH Howell and PWC Tsang--2005 The 605

50

Reproductive Cycle of the Thorny Skate Amblyraja Radiata in the Gulf of Maine Fish 606

Bull 103 536ndash543 607

Team R C (2017) R A Language and Environment for Statistical Computing Vienna 608

Austria Retrieved from httpswwwr-projectorg 609

Thompson E C amp Juan Z (2006) Comparative cultural salience Measures using free-list 610

data Field Methods 18(4) 398ndash412 611

Wei T amp Simko V (2013) corrplot Visualization of a correlation matrix R Package Version 612

073 230(231) 11 613

614

51

ANEXOS 615

616

Nome da revista 617

Human Ecology 618

Link de acesso 619

httpsgooglDVLbFj 620

Qualis-CAPES 621

B1 em Biodiversidade 622

623

624

625

626

627

628

629

630

631

632

633

634

635

636

637

638

639

640

641

642

52

Figuras 643

644

645

Fig 1 Partes do processo de fabricaccedilatildeo de farinha de mandioca Onde a raspagem b e c 646

processo de trituraccedilatildeo e d peneiramento Foto registrada em Abril de 2017 por Mirela Santos 647

648

649

650

c

d

b

a

53

651

Fig 2 Mapa de localizaccedilatildeo geograacutefica dos Municiacutepios de Altinho e Panelas e das comunidades 652

estudadas na regiatildeo semiaacuterida do Estado de Pernambuco (Elaborado por SANTOS 2018) 653

54

654

655

656

657

Fig 3 Processo de fabricaccedilatildeo da farinha de mandioca Apoacutes a colheita as raiacutezes satildeo lavadas 658

raspadas e trituradas (a) A massa extraiacuteda eacute prensada e coada Ao sair da prensa a massa 659

peneirada (b) e em seguida eacute torrada (c) em fornos artesanais ou parcialmente mecanizados 660

Imagem registrada em janeiro de 2017 na Comunidade do Caratildeo por Mirela Santos 661

662

663

a

b c

55

664

Fig 4 a Sede da Comunidade do Caratildeo b Agricultor transportando a palma forrageira que eacute 665

um exemplo de estrateacutegia adaptativa para suprir a falta de alimento dos animais devido agrave seca 666

c Feira-livre que acontece na comunidade a cada quinze dias Imagem registrada em julho de 667

2016 na Comunidade do Caratildeo por Mirela Santos 668

669

670

Fig 5 a O agricultor nos explicava as mudanccedilas que vem fazendo em seus roccedilados para se 671

adaptar aos longos periacuteodos de seca b Quando o agricultor nos mostrava as diferentes 672

etnovariedades que mantinha em sua roccedila c Durante a pesquisa nos explicavam como era feita 673

a colheita da mandioca e como selecionavam as manivas para o proacuteximo plantio Foto registrada 674

em abril de 2017 na Comunidade do Brejo Velho por Mirela Santos 675

a

b c

c b

a

56 676

677

Fig 6 Possiacuteveis estruturas de rede que descrevem as interaccedilotildees dos agricultores (losango) 678

ligados as etnovariedades (ciacuterculos) que cultivam Onde a Aninhada b Modular c Aleatoacuteria 679

(Fonte Cavechia et al 2014 com adaptaccedilotildees) 680

681

682

683

684

685

686

687

688

689

690

691

692

693

694

695

696

697

a c b

57

698

699

700

701

702

703

704

705

706

707

Fig 7 Correlaccedilatildeo de Spearman entre a diversidade de etnovariedades de mandiocas conhecidas 708

como cultivadas e variedades atualmente cultivadas por agricultor e as variaacuteveis 709

socioeconocircmicas Onde Nvc= nuacutemero de citadas como cultivadas Nve= nuacutemero de variedades 710

atualmente cultivadas Esc= escolaridade Id= idade Gen= gecircnero Tr= tamanho do roccedilado 711

Exp= experiecircncia na agricultura Sld= renda Nr= nuacutemero de roccedilados Cores distintivas 712

representam correlaccedilotildees significativas (Ple005) 713

714

58

715

Fig 8 Modelo individual de rede de etnovariedades de mandioca citadas (esquerda) por 716

agricultores como cultivadas (direita) nos Municiacutepios de Altinho e Panelas As redes foram 717

desenhadas com o pacote bipartite (Dormann et al 2017) usando o software R (R CORE 718

TEAM 2017) 719

720

59

721

Fig 9 Anaacutelise de Correspondecircncia Muacuteltipla das 17 etnovariedades de mandioca considerando 722

os sete descritores morfoloacutegicos utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo em roccedilas de 723

agricultores tradicionais de sete comunidades no semiaacuterido de Pernambuco 724

725

726

727

728

729

730

731

732

733

734

735

736

737

McCambadinha

McCampina

McCampinaDaGrande

McCampinaRasteira

McCampinaVaruda

McGauba

McIsabelDeSouza

McIsabelTresGalhos

McOlhoDePombo

McOlhoVerde

McPretinha

McPretona

MxBranca

MxRosa

MxRosaBrancaMxRosaVermelha

MxSemente

CFD_Verde_Arroxeado

CFD_Verde_ClaroCFD_Verde_Escuro

CBF_Roxo

CBF_Verde_ArroxeadoCBF_Verde_Claro

CBF_Verde_Escuro

CDP_Verde

CDP_Verde_Amarelado

CDP_Verde_Avermelhado

CDP_Vermelho

CEC_Cinza

CEC_Dourado

CEC_Laranja

CEC_Marrom_Claro

CEC_Marrom_Escuro

CEC_Prateado

CEC_Verde_AmareladoCicatriz_M

Cicatriz_P

PDR_Branco

PDR_Creme

CDR_BrancoCDR_Creme CDR_Rosa

-4

-2

0

2

4

-4 -2 0 2 4

Dim1 (206)

Dim

2 (

162

)

MCA - Biplot

00

10

Hierarchical Clustering

inertia gain

McC

am

pin

aV

aru

da

McC

am

pin

aD

aG

rande

McC

am

pin

a

McG

auba

McP

retin

ha

McP

reto

na

MxR

osaV

erm

elh

a

MxR

osaB

ranca

MxR

osa

McC

am

pin

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ira

McC

am

badin

ha

McO

lhoV

erd

e

MxB

ranca

MxS

em

ente

McIsabelT

resG

alh

os

McIsabelD

eS

ouza

McO

lhoD

eP

om

bo

00

05

10

15

Hierarchical Classification

Heig

ht

C1 C2 C3 C4 C5 C6 C7 C8

Fig 10 Agrupamento hieraacuterquico das 17 etnovariedades de mandioca caracterizadas de acordo

com os descritores utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo

60

Tabelas 738

739

Tabela 1 Caracteres e estados utilizados pelos agricultores como descritores botacircnicos para 740

caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das etnovariedades de mandioca 741

Caracter Sigla Estados

Folha

Cor da folha desenvolvida CFD 1- verde claro 2- verde escuro 3- verde arroxeado 4- roxo

Cor do broto foliar CBF 1- verde claro 2- verde escuro 3- verde arroxeado 4- roxo

Cor do peciacuteolo CDP 1- verde amarelado 2- verde 3- verde avermelhado 4- roxo

5- vermelho

Caule

Cor externa do caule CEC 1- laranja 2- verde amarelado 3- dourado 4- marrom claro

5- prateado 6- cinza 7- marrom escuro 8- verde

Protuberacircncia da cicatriz foliar PCF 1- pouco proeminente 2- muito proeminente

Raiacutez

Cor da poupa da raiz PDR 1- branco 2- creme

Cor do coacutertex da raiacutez CDR 1- rosa 2- branco 3- creme

742

743

744

745

746

747

748

749

750

751

61

Tabela 2 Lista das 22 etnovariedades de mandiocas citadas (132 citaccedilotildees) como cultivadas nas 752

comunidades pertencentes aos Municiacutepios de Altinho (Caratildeo n=8) e ao Municiacutepio de Panelas 753

(Aracuatilde Satildeo Joseacute do Bola Brejo Velho Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima e Lajeiro 754

Dantas n=21) 755

Etnovariedade Frequecircncia () Ranking Saliecircncia

Macaxeira Rosa 66 179 0472

Mandioca Isabel de Souza 48 179 0372

Mandioca Campina 24 217 0148

Macaxeira Branca 20 210 0134

Macaxeira Rosa branca 18 122 0168

Mandioca Pretona 16 338 0082

Mandioca Cambadinha 12 283 0071

Mandioca Isabel trecircs galhos 10 180 0075

Mandioca Gauacuteba 10 260 0070

Mandioca Pretinha 8 225 0053

Mandioca Peacute de pombo 4 400 0011

Mandioca Olho verde 4 350 0012

Macaxeira Rosinha 4 200 0027

Mandioca Campina varuda 4 200 0032

Mandioca Campina rasteira 4 300 0021

Mandioca Caboquinha 2 500 0007

Macaxeira Rasteira 2 200 0013

Macaxeira Paraacute 2 100 0020

Mandioca Barra ferro 2 300 0007

Mandioca Campina da grande 2 100 0020

Mandioca Olho de pombo 2 300 0010

Mandioca Jasmim 2 600 0006

756

757

758

62

Tabela 3 Lista de 17 etnovariedades atualmente cultivadas nos roccedilados das comunidades em 759

estudo 760

Ca Ar Bo Br Jb Jc Ld

Etnovariedade

Macaxeira Branca x x x x

Macaxeira Rosa

x x x x x x

Macaxeira Rosa Branca x x x x

Macaxeira Rosa Vermelha

x

Macaxeira Semente

x

Mandioca Cambadinha x

x

Mandioca Campina

x

x

x

Mandioca Campina da Grande x

Mandioca Campina Rasteira

x

Mandioca Campina Varuda

x

Mandioca Gauacuteba

x

Mandioca Isabel de Souza

x x x

Mandioca Isabel trecircs Galhos

x

x

Mandioca Olho de Pombo

x

Mandioca Olho Verde

x

Mandioca Pretinha

x

Mandioca Pretona x x x

Comunidades Ca= Caratildeo Ar=Aracuatilde Bo= Satildeo Joseacute do Bola Jb= Japaranduba de Baixo 761

Jc= Japaranduba de Cima Ld= Lajedo Dantas 762

763

764

765

766

767

768

63

Tabela 4 Descriccedilatildeo das classes do agrupamento por meacutetodo de Ward agrupadas pelo conjunto 769

dos descritores mais significativos para a caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das variedades de mandioca 770

Classes Descritores in situ p-valor

C1 Cor do peciacuteolo (CDP) 0016

C2 Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023

C3 Cor do peciacuteolo (CDP) 0012

C4 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0004

Cor da poupa da raiacutez (PDF) 0021

C5 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0003

C6 Cor do broto foliar (CBF) 0002

C7 Cor da folha desenvolvida (CFD) 0004

Cor externa do caule (CEC) 0040

C8 Cor do peciacuteolo (CDP) 0005

Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023

Valores de Ple005 satildeo significativos 771

772

49

Oksanen J Blanchet F G Kindt R Legendre P Minchin P R Orsquohara R B hellip others 576

(2017) Package ldquoveganrdquo Community Ecology Package Version 2(9) 577

Pautasso M Aistara G Barnaud A Caillon S Clouvel P Coomes O T hellip others 578

(2012) Seed exchange networks for agrobiodiversity conservation A review Agronomy 579

for Sustainable Development 33(1) 151ndash175 580

Peroni N amp Hanazaki N (2002) Current and lost diversity of cultivated varieties especially 581

cassava under swidden cultivation systems in the Brazilian Atlantic Forest Agriculture 582

Ecosystems amp Environment 92(2ndash3) 171ndash183 583

Peroni N Martins P S amp Ando A (1999) Diversidade inter-e intra-especiacutefica e uso de 584

anaacutelise multivariada para morfologia da mandioca (Manihot esculenta Crantz) um estudo 585

de caso Inter-and intraspecific diversity and use of multivariate analysis for the 586

morphology of cassava (Manihot esculent Scientia Agricola 56(3) 587ndash595 587

Pinton F amp Emperaire L (2001) Le manioc en Amazonie breacutesilienne diversiteacute varieacutetale et 588

marcheacute Genet Sel Evol 33(1) 491ndash512 589

Pires M M Guimaratildees P R Arauacutejo M S Giaretta A A Costa J C L amp Dos Reis S 590

F (2011) The nested assembly of individual-resource networks Journal of Animal 591

Ecology 80(4) 896ndash903 592

Pujol B Renoux F Elias M Rival L amp Mckey D (2007) The unappreciated ecology of 593

landrace populations Conservation consequences of soil seed banks in Cassava 594

Biological Conservation 136(4) 541ndash551 httpsdoiorg101016jbiocon200612025 595

Sambatti J B M Martins P S amp Ando A (2001) Folk taxonomy and evolutionary 596

dynamics of cassava a case study in Ubatuba Brazil Economic Botany 55(1) 93ndash105 597

Sieber S S Medeiros P M amp Albuquerque U P (2011) Local perception of environmental 598

change in a semi-arid area of Northeast Brazil a new approach for the use of participatory 599

methods at the level of family units Journal of Agricultural and Environmental Ethics 600

24(5) 511ndash531 601

Sneath P H A Sokal R R amp others (1973) Numerical taxonomy The principles and 602

practice of numerical classification 603

Sokal R R amp Rohlf F J (1995) 1995 Biometry WH Freeman San Francisco Sulikowski 604

JA J Kneebone S Elzey P Danley WH Howell and PWC Tsang--2005 The 605

50

Reproductive Cycle of the Thorny Skate Amblyraja Radiata in the Gulf of Maine Fish 606

Bull 103 536ndash543 607

Team R C (2017) R A Language and Environment for Statistical Computing Vienna 608

Austria Retrieved from httpswwwr-projectorg 609

Thompson E C amp Juan Z (2006) Comparative cultural salience Measures using free-list 610

data Field Methods 18(4) 398ndash412 611

Wei T amp Simko V (2013) corrplot Visualization of a correlation matrix R Package Version 612

073 230(231) 11 613

614

51

ANEXOS 615

616

Nome da revista 617

Human Ecology 618

Link de acesso 619

httpsgooglDVLbFj 620

Qualis-CAPES 621

B1 em Biodiversidade 622

623

624

625

626

627

628

629

630

631

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638

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Figuras 643

644

645

Fig 1 Partes do processo de fabricaccedilatildeo de farinha de mandioca Onde a raspagem b e c 646

processo de trituraccedilatildeo e d peneiramento Foto registrada em Abril de 2017 por Mirela Santos 647

648

649

650

c

d

b

a

53

651

Fig 2 Mapa de localizaccedilatildeo geograacutefica dos Municiacutepios de Altinho e Panelas e das comunidades 652

estudadas na regiatildeo semiaacuterida do Estado de Pernambuco (Elaborado por SANTOS 2018) 653

54

654

655

656

657

Fig 3 Processo de fabricaccedilatildeo da farinha de mandioca Apoacutes a colheita as raiacutezes satildeo lavadas 658

raspadas e trituradas (a) A massa extraiacuteda eacute prensada e coada Ao sair da prensa a massa 659

peneirada (b) e em seguida eacute torrada (c) em fornos artesanais ou parcialmente mecanizados 660

Imagem registrada em janeiro de 2017 na Comunidade do Caratildeo por Mirela Santos 661

662

663

a

b c

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664

Fig 4 a Sede da Comunidade do Caratildeo b Agricultor transportando a palma forrageira que eacute 665

um exemplo de estrateacutegia adaptativa para suprir a falta de alimento dos animais devido agrave seca 666

c Feira-livre que acontece na comunidade a cada quinze dias Imagem registrada em julho de 667

2016 na Comunidade do Caratildeo por Mirela Santos 668

669

670

Fig 5 a O agricultor nos explicava as mudanccedilas que vem fazendo em seus roccedilados para se 671

adaptar aos longos periacuteodos de seca b Quando o agricultor nos mostrava as diferentes 672

etnovariedades que mantinha em sua roccedila c Durante a pesquisa nos explicavam como era feita 673

a colheita da mandioca e como selecionavam as manivas para o proacuteximo plantio Foto registrada 674

em abril de 2017 na Comunidade do Brejo Velho por Mirela Santos 675

a

b c

c b

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677

Fig 6 Possiacuteveis estruturas de rede que descrevem as interaccedilotildees dos agricultores (losango) 678

ligados as etnovariedades (ciacuterculos) que cultivam Onde a Aninhada b Modular c Aleatoacuteria 679

(Fonte Cavechia et al 2014 com adaptaccedilotildees) 680

681

682

683

684

685

686

687

688

689

690

691

692

693

694

695

696

697

a c b

57

698

699

700

701

702

703

704

705

706

707

Fig 7 Correlaccedilatildeo de Spearman entre a diversidade de etnovariedades de mandiocas conhecidas 708

como cultivadas e variedades atualmente cultivadas por agricultor e as variaacuteveis 709

socioeconocircmicas Onde Nvc= nuacutemero de citadas como cultivadas Nve= nuacutemero de variedades 710

atualmente cultivadas Esc= escolaridade Id= idade Gen= gecircnero Tr= tamanho do roccedilado 711

Exp= experiecircncia na agricultura Sld= renda Nr= nuacutemero de roccedilados Cores distintivas 712

representam correlaccedilotildees significativas (Ple005) 713

714

58

715

Fig 8 Modelo individual de rede de etnovariedades de mandioca citadas (esquerda) por 716

agricultores como cultivadas (direita) nos Municiacutepios de Altinho e Panelas As redes foram 717

desenhadas com o pacote bipartite (Dormann et al 2017) usando o software R (R CORE 718

TEAM 2017) 719

720

59

721

Fig 9 Anaacutelise de Correspondecircncia Muacuteltipla das 17 etnovariedades de mandioca considerando 722

os sete descritores morfoloacutegicos utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo em roccedilas de 723

agricultores tradicionais de sete comunidades no semiaacuterido de Pernambuco 724

725

726

727

728

729

730

731

732

733

734

735

736

737

McCambadinha

McCampina

McCampinaDaGrande

McCampinaRasteira

McCampinaVaruda

McGauba

McIsabelDeSouza

McIsabelTresGalhos

McOlhoDePombo

McOlhoVerde

McPretinha

McPretona

MxBranca

MxRosa

MxRosaBrancaMxRosaVermelha

MxSemente

CFD_Verde_Arroxeado

CFD_Verde_ClaroCFD_Verde_Escuro

CBF_Roxo

CBF_Verde_ArroxeadoCBF_Verde_Claro

CBF_Verde_Escuro

CDP_Verde

CDP_Verde_Amarelado

CDP_Verde_Avermelhado

CDP_Vermelho

CEC_Cinza

CEC_Dourado

CEC_Laranja

CEC_Marrom_Claro

CEC_Marrom_Escuro

CEC_Prateado

CEC_Verde_AmareladoCicatriz_M

Cicatriz_P

PDR_Branco

PDR_Creme

CDR_BrancoCDR_Creme CDR_Rosa

-4

-2

0

2

4

-4 -2 0 2 4

Dim1 (206)

Dim

2 (

162

)

MCA - Biplot

00

10

Hierarchical Clustering

inertia gain

McC

am

pin

aV

aru

da

McC

am

pin

aD

aG

rande

McC

am

pin

a

McG

auba

McP

retin

ha

McP

reto

na

MxR

osaV

erm

elh

a

MxR

osaB

ranca

MxR

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McC

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pin

aR

aste

ira

McC

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badin

ha

McO

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erd

e

MxB

ranca

MxS

em

ente

McIsabelT

resG

alh

os

McIsabelD

eS

ouza

McO

lhoD

eP

om

bo

00

05

10

15

Hierarchical Classification

Heig

ht

C1 C2 C3 C4 C5 C6 C7 C8

Fig 10 Agrupamento hieraacuterquico das 17 etnovariedades de mandioca caracterizadas de acordo

com os descritores utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo

60

Tabelas 738

739

Tabela 1 Caracteres e estados utilizados pelos agricultores como descritores botacircnicos para 740

caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das etnovariedades de mandioca 741

Caracter Sigla Estados

Folha

Cor da folha desenvolvida CFD 1- verde claro 2- verde escuro 3- verde arroxeado 4- roxo

Cor do broto foliar CBF 1- verde claro 2- verde escuro 3- verde arroxeado 4- roxo

Cor do peciacuteolo CDP 1- verde amarelado 2- verde 3- verde avermelhado 4- roxo

5- vermelho

Caule

Cor externa do caule CEC 1- laranja 2- verde amarelado 3- dourado 4- marrom claro

5- prateado 6- cinza 7- marrom escuro 8- verde

Protuberacircncia da cicatriz foliar PCF 1- pouco proeminente 2- muito proeminente

Raiacutez

Cor da poupa da raiz PDR 1- branco 2- creme

Cor do coacutertex da raiacutez CDR 1- rosa 2- branco 3- creme

742

743

744

745

746

747

748

749

750

751

61

Tabela 2 Lista das 22 etnovariedades de mandiocas citadas (132 citaccedilotildees) como cultivadas nas 752

comunidades pertencentes aos Municiacutepios de Altinho (Caratildeo n=8) e ao Municiacutepio de Panelas 753

(Aracuatilde Satildeo Joseacute do Bola Brejo Velho Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima e Lajeiro 754

Dantas n=21) 755

Etnovariedade Frequecircncia () Ranking Saliecircncia

Macaxeira Rosa 66 179 0472

Mandioca Isabel de Souza 48 179 0372

Mandioca Campina 24 217 0148

Macaxeira Branca 20 210 0134

Macaxeira Rosa branca 18 122 0168

Mandioca Pretona 16 338 0082

Mandioca Cambadinha 12 283 0071

Mandioca Isabel trecircs galhos 10 180 0075

Mandioca Gauacuteba 10 260 0070

Mandioca Pretinha 8 225 0053

Mandioca Peacute de pombo 4 400 0011

Mandioca Olho verde 4 350 0012

Macaxeira Rosinha 4 200 0027

Mandioca Campina varuda 4 200 0032

Mandioca Campina rasteira 4 300 0021

Mandioca Caboquinha 2 500 0007

Macaxeira Rasteira 2 200 0013

Macaxeira Paraacute 2 100 0020

Mandioca Barra ferro 2 300 0007

Mandioca Campina da grande 2 100 0020

Mandioca Olho de pombo 2 300 0010

Mandioca Jasmim 2 600 0006

756

757

758

62

Tabela 3 Lista de 17 etnovariedades atualmente cultivadas nos roccedilados das comunidades em 759

estudo 760

Ca Ar Bo Br Jb Jc Ld

Etnovariedade

Macaxeira Branca x x x x

Macaxeira Rosa

x x x x x x

Macaxeira Rosa Branca x x x x

Macaxeira Rosa Vermelha

x

Macaxeira Semente

x

Mandioca Cambadinha x

x

Mandioca Campina

x

x

x

Mandioca Campina da Grande x

Mandioca Campina Rasteira

x

Mandioca Campina Varuda

x

Mandioca Gauacuteba

x

Mandioca Isabel de Souza

x x x

Mandioca Isabel trecircs Galhos

x

x

Mandioca Olho de Pombo

x

Mandioca Olho Verde

x

Mandioca Pretinha

x

Mandioca Pretona x x x

Comunidades Ca= Caratildeo Ar=Aracuatilde Bo= Satildeo Joseacute do Bola Jb= Japaranduba de Baixo 761

Jc= Japaranduba de Cima Ld= Lajedo Dantas 762

763

764

765

766

767

768

63

Tabela 4 Descriccedilatildeo das classes do agrupamento por meacutetodo de Ward agrupadas pelo conjunto 769

dos descritores mais significativos para a caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das variedades de mandioca 770

Classes Descritores in situ p-valor

C1 Cor do peciacuteolo (CDP) 0016

C2 Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023

C3 Cor do peciacuteolo (CDP) 0012

C4 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0004

Cor da poupa da raiacutez (PDF) 0021

C5 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0003

C6 Cor do broto foliar (CBF) 0002

C7 Cor da folha desenvolvida (CFD) 0004

Cor externa do caule (CEC) 0040

C8 Cor do peciacuteolo (CDP) 0005

Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023

Valores de Ple005 satildeo significativos 771

772

50

Reproductive Cycle of the Thorny Skate Amblyraja Radiata in the Gulf of Maine Fish 606

Bull 103 536ndash543 607

Team R C (2017) R A Language and Environment for Statistical Computing Vienna 608

Austria Retrieved from httpswwwr-projectorg 609

Thompson E C amp Juan Z (2006) Comparative cultural salience Measures using free-list 610

data Field Methods 18(4) 398ndash412 611

Wei T amp Simko V (2013) corrplot Visualization of a correlation matrix R Package Version 612

073 230(231) 11 613

614

51

ANEXOS 615

616

Nome da revista 617

Human Ecology 618

Link de acesso 619

httpsgooglDVLbFj 620

Qualis-CAPES 621

B1 em Biodiversidade 622

623

624

625

626

627

628

629

630

631

632

633

634

635

636

637

638

639

640

641

642

52

Figuras 643

644

645

Fig 1 Partes do processo de fabricaccedilatildeo de farinha de mandioca Onde a raspagem b e c 646

processo de trituraccedilatildeo e d peneiramento Foto registrada em Abril de 2017 por Mirela Santos 647

648

649

650

c

d

b

a

53

651

Fig 2 Mapa de localizaccedilatildeo geograacutefica dos Municiacutepios de Altinho e Panelas e das comunidades 652

estudadas na regiatildeo semiaacuterida do Estado de Pernambuco (Elaborado por SANTOS 2018) 653

54

654

655

656

657

Fig 3 Processo de fabricaccedilatildeo da farinha de mandioca Apoacutes a colheita as raiacutezes satildeo lavadas 658

raspadas e trituradas (a) A massa extraiacuteda eacute prensada e coada Ao sair da prensa a massa 659

peneirada (b) e em seguida eacute torrada (c) em fornos artesanais ou parcialmente mecanizados 660

Imagem registrada em janeiro de 2017 na Comunidade do Caratildeo por Mirela Santos 661

662

663

a

b c

55

664

Fig 4 a Sede da Comunidade do Caratildeo b Agricultor transportando a palma forrageira que eacute 665

um exemplo de estrateacutegia adaptativa para suprir a falta de alimento dos animais devido agrave seca 666

c Feira-livre que acontece na comunidade a cada quinze dias Imagem registrada em julho de 667

2016 na Comunidade do Caratildeo por Mirela Santos 668

669

670

Fig 5 a O agricultor nos explicava as mudanccedilas que vem fazendo em seus roccedilados para se 671

adaptar aos longos periacuteodos de seca b Quando o agricultor nos mostrava as diferentes 672

etnovariedades que mantinha em sua roccedila c Durante a pesquisa nos explicavam como era feita 673

a colheita da mandioca e como selecionavam as manivas para o proacuteximo plantio Foto registrada 674

em abril de 2017 na Comunidade do Brejo Velho por Mirela Santos 675

a

b c

c b

a

56 676

677

Fig 6 Possiacuteveis estruturas de rede que descrevem as interaccedilotildees dos agricultores (losango) 678

ligados as etnovariedades (ciacuterculos) que cultivam Onde a Aninhada b Modular c Aleatoacuteria 679

(Fonte Cavechia et al 2014 com adaptaccedilotildees) 680

681

682

683

684

685

686

687

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a c b

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703

704

705

706

707

Fig 7 Correlaccedilatildeo de Spearman entre a diversidade de etnovariedades de mandiocas conhecidas 708

como cultivadas e variedades atualmente cultivadas por agricultor e as variaacuteveis 709

socioeconocircmicas Onde Nvc= nuacutemero de citadas como cultivadas Nve= nuacutemero de variedades 710

atualmente cultivadas Esc= escolaridade Id= idade Gen= gecircnero Tr= tamanho do roccedilado 711

Exp= experiecircncia na agricultura Sld= renda Nr= nuacutemero de roccedilados Cores distintivas 712

representam correlaccedilotildees significativas (Ple005) 713

714

58

715

Fig 8 Modelo individual de rede de etnovariedades de mandioca citadas (esquerda) por 716

agricultores como cultivadas (direita) nos Municiacutepios de Altinho e Panelas As redes foram 717

desenhadas com o pacote bipartite (Dormann et al 2017) usando o software R (R CORE 718

TEAM 2017) 719

720

59

721

Fig 9 Anaacutelise de Correspondecircncia Muacuteltipla das 17 etnovariedades de mandioca considerando 722

os sete descritores morfoloacutegicos utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo em roccedilas de 723

agricultores tradicionais de sete comunidades no semiaacuterido de Pernambuco 724

725

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McCambadinha

McCampina

McCampinaDaGrande

McCampinaRasteira

McCampinaVaruda

McGauba

McIsabelDeSouza

McIsabelTresGalhos

McOlhoDePombo

McOlhoVerde

McPretinha

McPretona

MxBranca

MxRosa

MxRosaBrancaMxRosaVermelha

MxSemente

CFD_Verde_Arroxeado

CFD_Verde_ClaroCFD_Verde_Escuro

CBF_Roxo

CBF_Verde_ArroxeadoCBF_Verde_Claro

CBF_Verde_Escuro

CDP_Verde

CDP_Verde_Amarelado

CDP_Verde_Avermelhado

CDP_Vermelho

CEC_Cinza

CEC_Dourado

CEC_Laranja

CEC_Marrom_Claro

CEC_Marrom_Escuro

CEC_Prateado

CEC_Verde_AmareladoCicatriz_M

Cicatriz_P

PDR_Branco

PDR_Creme

CDR_BrancoCDR_Creme CDR_Rosa

-4

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2

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Dim1 (206)

Dim

2 (

162

)

MCA - Biplot

00

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Hierarchical Clustering

inertia gain

McC

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McIsabelT

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McO

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bo

00

05

10

15

Hierarchical Classification

Heig

ht

C1 C2 C3 C4 C5 C6 C7 C8

Fig 10 Agrupamento hieraacuterquico das 17 etnovariedades de mandioca caracterizadas de acordo

com os descritores utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo

60

Tabelas 738

739

Tabela 1 Caracteres e estados utilizados pelos agricultores como descritores botacircnicos para 740

caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das etnovariedades de mandioca 741

Caracter Sigla Estados

Folha

Cor da folha desenvolvida CFD 1- verde claro 2- verde escuro 3- verde arroxeado 4- roxo

Cor do broto foliar CBF 1- verde claro 2- verde escuro 3- verde arroxeado 4- roxo

Cor do peciacuteolo CDP 1- verde amarelado 2- verde 3- verde avermelhado 4- roxo

5- vermelho

Caule

Cor externa do caule CEC 1- laranja 2- verde amarelado 3- dourado 4- marrom claro

5- prateado 6- cinza 7- marrom escuro 8- verde

Protuberacircncia da cicatriz foliar PCF 1- pouco proeminente 2- muito proeminente

Raiacutez

Cor da poupa da raiz PDR 1- branco 2- creme

Cor do coacutertex da raiacutez CDR 1- rosa 2- branco 3- creme

742

743

744

745

746

747

748

749

750

751

61

Tabela 2 Lista das 22 etnovariedades de mandiocas citadas (132 citaccedilotildees) como cultivadas nas 752

comunidades pertencentes aos Municiacutepios de Altinho (Caratildeo n=8) e ao Municiacutepio de Panelas 753

(Aracuatilde Satildeo Joseacute do Bola Brejo Velho Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima e Lajeiro 754

Dantas n=21) 755

Etnovariedade Frequecircncia () Ranking Saliecircncia

Macaxeira Rosa 66 179 0472

Mandioca Isabel de Souza 48 179 0372

Mandioca Campina 24 217 0148

Macaxeira Branca 20 210 0134

Macaxeira Rosa branca 18 122 0168

Mandioca Pretona 16 338 0082

Mandioca Cambadinha 12 283 0071

Mandioca Isabel trecircs galhos 10 180 0075

Mandioca Gauacuteba 10 260 0070

Mandioca Pretinha 8 225 0053

Mandioca Peacute de pombo 4 400 0011

Mandioca Olho verde 4 350 0012

Macaxeira Rosinha 4 200 0027

Mandioca Campina varuda 4 200 0032

Mandioca Campina rasteira 4 300 0021

Mandioca Caboquinha 2 500 0007

Macaxeira Rasteira 2 200 0013

Macaxeira Paraacute 2 100 0020

Mandioca Barra ferro 2 300 0007

Mandioca Campina da grande 2 100 0020

Mandioca Olho de pombo 2 300 0010

Mandioca Jasmim 2 600 0006

756

757

758

62

Tabela 3 Lista de 17 etnovariedades atualmente cultivadas nos roccedilados das comunidades em 759

estudo 760

Ca Ar Bo Br Jb Jc Ld

Etnovariedade

Macaxeira Branca x x x x

Macaxeira Rosa

x x x x x x

Macaxeira Rosa Branca x x x x

Macaxeira Rosa Vermelha

x

Macaxeira Semente

x

Mandioca Cambadinha x

x

Mandioca Campina

x

x

x

Mandioca Campina da Grande x

Mandioca Campina Rasteira

x

Mandioca Campina Varuda

x

Mandioca Gauacuteba

x

Mandioca Isabel de Souza

x x x

Mandioca Isabel trecircs Galhos

x

x

Mandioca Olho de Pombo

x

Mandioca Olho Verde

x

Mandioca Pretinha

x

Mandioca Pretona x x x

Comunidades Ca= Caratildeo Ar=Aracuatilde Bo= Satildeo Joseacute do Bola Jb= Japaranduba de Baixo 761

Jc= Japaranduba de Cima Ld= Lajedo Dantas 762

763

764

765

766

767

768

63

Tabela 4 Descriccedilatildeo das classes do agrupamento por meacutetodo de Ward agrupadas pelo conjunto 769

dos descritores mais significativos para a caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das variedades de mandioca 770

Classes Descritores in situ p-valor

C1 Cor do peciacuteolo (CDP) 0016

C2 Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023

C3 Cor do peciacuteolo (CDP) 0012

C4 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0004

Cor da poupa da raiacutez (PDF) 0021

C5 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0003

C6 Cor do broto foliar (CBF) 0002

C7 Cor da folha desenvolvida (CFD) 0004

Cor externa do caule (CEC) 0040

C8 Cor do peciacuteolo (CDP) 0005

Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023

Valores de Ple005 satildeo significativos 771

772

51

ANEXOS 615

616

Nome da revista 617

Human Ecology 618

Link de acesso 619

httpsgooglDVLbFj 620

Qualis-CAPES 621

B1 em Biodiversidade 622

623

624

625

626

627

628

629

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641

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Figuras 643

644

645

Fig 1 Partes do processo de fabricaccedilatildeo de farinha de mandioca Onde a raspagem b e c 646

processo de trituraccedilatildeo e d peneiramento Foto registrada em Abril de 2017 por Mirela Santos 647

648

649

650

c

d

b

a

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Fig 2 Mapa de localizaccedilatildeo geograacutefica dos Municiacutepios de Altinho e Panelas e das comunidades 652

estudadas na regiatildeo semiaacuterida do Estado de Pernambuco (Elaborado por SANTOS 2018) 653

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Fig 3 Processo de fabricaccedilatildeo da farinha de mandioca Apoacutes a colheita as raiacutezes satildeo lavadas 658

raspadas e trituradas (a) A massa extraiacuteda eacute prensada e coada Ao sair da prensa a massa 659

peneirada (b) e em seguida eacute torrada (c) em fornos artesanais ou parcialmente mecanizados 660

Imagem registrada em janeiro de 2017 na Comunidade do Caratildeo por Mirela Santos 661

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Fig 4 a Sede da Comunidade do Caratildeo b Agricultor transportando a palma forrageira que eacute 665

um exemplo de estrateacutegia adaptativa para suprir a falta de alimento dos animais devido agrave seca 666

c Feira-livre que acontece na comunidade a cada quinze dias Imagem registrada em julho de 667

2016 na Comunidade do Caratildeo por Mirela Santos 668

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670

Fig 5 a O agricultor nos explicava as mudanccedilas que vem fazendo em seus roccedilados para se 671

adaptar aos longos periacuteodos de seca b Quando o agricultor nos mostrava as diferentes 672

etnovariedades que mantinha em sua roccedila c Durante a pesquisa nos explicavam como era feita 673

a colheita da mandioca e como selecionavam as manivas para o proacuteximo plantio Foto registrada 674

em abril de 2017 na Comunidade do Brejo Velho por Mirela Santos 675

a

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c b

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677

Fig 6 Possiacuteveis estruturas de rede que descrevem as interaccedilotildees dos agricultores (losango) 678

ligados as etnovariedades (ciacuterculos) que cultivam Onde a Aninhada b Modular c Aleatoacuteria 679

(Fonte Cavechia et al 2014 com adaptaccedilotildees) 680

681

682

683

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701

702

703

704

705

706

707

Fig 7 Correlaccedilatildeo de Spearman entre a diversidade de etnovariedades de mandiocas conhecidas 708

como cultivadas e variedades atualmente cultivadas por agricultor e as variaacuteveis 709

socioeconocircmicas Onde Nvc= nuacutemero de citadas como cultivadas Nve= nuacutemero de variedades 710

atualmente cultivadas Esc= escolaridade Id= idade Gen= gecircnero Tr= tamanho do roccedilado 711

Exp= experiecircncia na agricultura Sld= renda Nr= nuacutemero de roccedilados Cores distintivas 712

representam correlaccedilotildees significativas (Ple005) 713

714

58

715

Fig 8 Modelo individual de rede de etnovariedades de mandioca citadas (esquerda) por 716

agricultores como cultivadas (direita) nos Municiacutepios de Altinho e Panelas As redes foram 717

desenhadas com o pacote bipartite (Dormann et al 2017) usando o software R (R CORE 718

TEAM 2017) 719

720

59

721

Fig 9 Anaacutelise de Correspondecircncia Muacuteltipla das 17 etnovariedades de mandioca considerando 722

os sete descritores morfoloacutegicos utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo em roccedilas de 723

agricultores tradicionais de sete comunidades no semiaacuterido de Pernambuco 724

725

726

727

728

729

730

731

732

733

734

735

736

737

McCambadinha

McCampina

McCampinaDaGrande

McCampinaRasteira

McCampinaVaruda

McGauba

McIsabelDeSouza

McIsabelTresGalhos

McOlhoDePombo

McOlhoVerde

McPretinha

McPretona

MxBranca

MxRosa

MxRosaBrancaMxRosaVermelha

MxSemente

CFD_Verde_Arroxeado

CFD_Verde_ClaroCFD_Verde_Escuro

CBF_Roxo

CBF_Verde_ArroxeadoCBF_Verde_Claro

CBF_Verde_Escuro

CDP_Verde

CDP_Verde_Amarelado

CDP_Verde_Avermelhado

CDP_Vermelho

CEC_Cinza

CEC_Dourado

CEC_Laranja

CEC_Marrom_Claro

CEC_Marrom_Escuro

CEC_Prateado

CEC_Verde_AmareladoCicatriz_M

Cicatriz_P

PDR_Branco

PDR_Creme

CDR_BrancoCDR_Creme CDR_Rosa

-4

-2

0

2

4

-4 -2 0 2 4

Dim1 (206)

Dim

2 (

162

)

MCA - Biplot

00

10

Hierarchical Clustering

inertia gain

McC

am

pin

aV

aru

da

McC

am

pin

aD

aG

rande

McC

am

pin

a

McG

auba

McP

retin

ha

McP

reto

na

MxR

osaV

erm

elh

a

MxR

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ranca

MxR

osa

McC

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aste

ira

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badin

ha

McO

lhoV

erd

e

MxB

ranca

MxS

em

ente

McIsabelT

resG

alh

os

McIsabelD

eS

ouza

McO

lhoD

eP

om

bo

00

05

10

15

Hierarchical Classification

Heig

ht

C1 C2 C3 C4 C5 C6 C7 C8

Fig 10 Agrupamento hieraacuterquico das 17 etnovariedades de mandioca caracterizadas de acordo

com os descritores utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo

60

Tabelas 738

739

Tabela 1 Caracteres e estados utilizados pelos agricultores como descritores botacircnicos para 740

caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das etnovariedades de mandioca 741

Caracter Sigla Estados

Folha

Cor da folha desenvolvida CFD 1- verde claro 2- verde escuro 3- verde arroxeado 4- roxo

Cor do broto foliar CBF 1- verde claro 2- verde escuro 3- verde arroxeado 4- roxo

Cor do peciacuteolo CDP 1- verde amarelado 2- verde 3- verde avermelhado 4- roxo

5- vermelho

Caule

Cor externa do caule CEC 1- laranja 2- verde amarelado 3- dourado 4- marrom claro

5- prateado 6- cinza 7- marrom escuro 8- verde

Protuberacircncia da cicatriz foliar PCF 1- pouco proeminente 2- muito proeminente

Raiacutez

Cor da poupa da raiz PDR 1- branco 2- creme

Cor do coacutertex da raiacutez CDR 1- rosa 2- branco 3- creme

742

743

744

745

746

747

748

749

750

751

61

Tabela 2 Lista das 22 etnovariedades de mandiocas citadas (132 citaccedilotildees) como cultivadas nas 752

comunidades pertencentes aos Municiacutepios de Altinho (Caratildeo n=8) e ao Municiacutepio de Panelas 753

(Aracuatilde Satildeo Joseacute do Bola Brejo Velho Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima e Lajeiro 754

Dantas n=21) 755

Etnovariedade Frequecircncia () Ranking Saliecircncia

Macaxeira Rosa 66 179 0472

Mandioca Isabel de Souza 48 179 0372

Mandioca Campina 24 217 0148

Macaxeira Branca 20 210 0134

Macaxeira Rosa branca 18 122 0168

Mandioca Pretona 16 338 0082

Mandioca Cambadinha 12 283 0071

Mandioca Isabel trecircs galhos 10 180 0075

Mandioca Gauacuteba 10 260 0070

Mandioca Pretinha 8 225 0053

Mandioca Peacute de pombo 4 400 0011

Mandioca Olho verde 4 350 0012

Macaxeira Rosinha 4 200 0027

Mandioca Campina varuda 4 200 0032

Mandioca Campina rasteira 4 300 0021

Mandioca Caboquinha 2 500 0007

Macaxeira Rasteira 2 200 0013

Macaxeira Paraacute 2 100 0020

Mandioca Barra ferro 2 300 0007

Mandioca Campina da grande 2 100 0020

Mandioca Olho de pombo 2 300 0010

Mandioca Jasmim 2 600 0006

756

757

758

62

Tabela 3 Lista de 17 etnovariedades atualmente cultivadas nos roccedilados das comunidades em 759

estudo 760

Ca Ar Bo Br Jb Jc Ld

Etnovariedade

Macaxeira Branca x x x x

Macaxeira Rosa

x x x x x x

Macaxeira Rosa Branca x x x x

Macaxeira Rosa Vermelha

x

Macaxeira Semente

x

Mandioca Cambadinha x

x

Mandioca Campina

x

x

x

Mandioca Campina da Grande x

Mandioca Campina Rasteira

x

Mandioca Campina Varuda

x

Mandioca Gauacuteba

x

Mandioca Isabel de Souza

x x x

Mandioca Isabel trecircs Galhos

x

x

Mandioca Olho de Pombo

x

Mandioca Olho Verde

x

Mandioca Pretinha

x

Mandioca Pretona x x x

Comunidades Ca= Caratildeo Ar=Aracuatilde Bo= Satildeo Joseacute do Bola Jb= Japaranduba de Baixo 761

Jc= Japaranduba de Cima Ld= Lajedo Dantas 762

763

764

765

766

767

768

63

Tabela 4 Descriccedilatildeo das classes do agrupamento por meacutetodo de Ward agrupadas pelo conjunto 769

dos descritores mais significativos para a caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das variedades de mandioca 770

Classes Descritores in situ p-valor

C1 Cor do peciacuteolo (CDP) 0016

C2 Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023

C3 Cor do peciacuteolo (CDP) 0012

C4 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0004

Cor da poupa da raiacutez (PDF) 0021

C5 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0003

C6 Cor do broto foliar (CBF) 0002

C7 Cor da folha desenvolvida (CFD) 0004

Cor externa do caule (CEC) 0040

C8 Cor do peciacuteolo (CDP) 0005

Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023

Valores de Ple005 satildeo significativos 771

772

52

Figuras 643

644

645

Fig 1 Partes do processo de fabricaccedilatildeo de farinha de mandioca Onde a raspagem b e c 646

processo de trituraccedilatildeo e d peneiramento Foto registrada em Abril de 2017 por Mirela Santos 647

648

649

650

c

d

b

a

53

651

Fig 2 Mapa de localizaccedilatildeo geograacutefica dos Municiacutepios de Altinho e Panelas e das comunidades 652

estudadas na regiatildeo semiaacuterida do Estado de Pernambuco (Elaborado por SANTOS 2018) 653

54

654

655

656

657

Fig 3 Processo de fabricaccedilatildeo da farinha de mandioca Apoacutes a colheita as raiacutezes satildeo lavadas 658

raspadas e trituradas (a) A massa extraiacuteda eacute prensada e coada Ao sair da prensa a massa 659

peneirada (b) e em seguida eacute torrada (c) em fornos artesanais ou parcialmente mecanizados 660

Imagem registrada em janeiro de 2017 na Comunidade do Caratildeo por Mirela Santos 661

662

663

a

b c

55

664

Fig 4 a Sede da Comunidade do Caratildeo b Agricultor transportando a palma forrageira que eacute 665

um exemplo de estrateacutegia adaptativa para suprir a falta de alimento dos animais devido agrave seca 666

c Feira-livre que acontece na comunidade a cada quinze dias Imagem registrada em julho de 667

2016 na Comunidade do Caratildeo por Mirela Santos 668

669

670

Fig 5 a O agricultor nos explicava as mudanccedilas que vem fazendo em seus roccedilados para se 671

adaptar aos longos periacuteodos de seca b Quando o agricultor nos mostrava as diferentes 672

etnovariedades que mantinha em sua roccedila c Durante a pesquisa nos explicavam como era feita 673

a colheita da mandioca e como selecionavam as manivas para o proacuteximo plantio Foto registrada 674

em abril de 2017 na Comunidade do Brejo Velho por Mirela Santos 675

a

b c

c b

a

56 676

677

Fig 6 Possiacuteveis estruturas de rede que descrevem as interaccedilotildees dos agricultores (losango) 678

ligados as etnovariedades (ciacuterculos) que cultivam Onde a Aninhada b Modular c Aleatoacuteria 679

(Fonte Cavechia et al 2014 com adaptaccedilotildees) 680

681

682

683

684

685

686

687

688

689

690

691

692

693

694

695

696

697

a c b

57

698

699

700

701

702

703

704

705

706

707

Fig 7 Correlaccedilatildeo de Spearman entre a diversidade de etnovariedades de mandiocas conhecidas 708

como cultivadas e variedades atualmente cultivadas por agricultor e as variaacuteveis 709

socioeconocircmicas Onde Nvc= nuacutemero de citadas como cultivadas Nve= nuacutemero de variedades 710

atualmente cultivadas Esc= escolaridade Id= idade Gen= gecircnero Tr= tamanho do roccedilado 711

Exp= experiecircncia na agricultura Sld= renda Nr= nuacutemero de roccedilados Cores distintivas 712

representam correlaccedilotildees significativas (Ple005) 713

714

58

715

Fig 8 Modelo individual de rede de etnovariedades de mandioca citadas (esquerda) por 716

agricultores como cultivadas (direita) nos Municiacutepios de Altinho e Panelas As redes foram 717

desenhadas com o pacote bipartite (Dormann et al 2017) usando o software R (R CORE 718

TEAM 2017) 719

720

59

721

Fig 9 Anaacutelise de Correspondecircncia Muacuteltipla das 17 etnovariedades de mandioca considerando 722

os sete descritores morfoloacutegicos utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo em roccedilas de 723

agricultores tradicionais de sete comunidades no semiaacuterido de Pernambuco 724

725

726

727

728

729

730

731

732

733

734

735

736

737

McCambadinha

McCampina

McCampinaDaGrande

McCampinaRasteira

McCampinaVaruda

McGauba

McIsabelDeSouza

McIsabelTresGalhos

McOlhoDePombo

McOlhoVerde

McPretinha

McPretona

MxBranca

MxRosa

MxRosaBrancaMxRosaVermelha

MxSemente

CFD_Verde_Arroxeado

CFD_Verde_ClaroCFD_Verde_Escuro

CBF_Roxo

CBF_Verde_ArroxeadoCBF_Verde_Claro

CBF_Verde_Escuro

CDP_Verde

CDP_Verde_Amarelado

CDP_Verde_Avermelhado

CDP_Vermelho

CEC_Cinza

CEC_Dourado

CEC_Laranja

CEC_Marrom_Claro

CEC_Marrom_Escuro

CEC_Prateado

CEC_Verde_AmareladoCicatriz_M

Cicatriz_P

PDR_Branco

PDR_Creme

CDR_BrancoCDR_Creme CDR_Rosa

-4

-2

0

2

4

-4 -2 0 2 4

Dim1 (206)

Dim

2 (

162

)

MCA - Biplot

00

10

Hierarchical Clustering

inertia gain

McC

am

pin

aV

aru

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aD

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00

05

10

15

Hierarchical Classification

Heig

ht

C1 C2 C3 C4 C5 C6 C7 C8

Fig 10 Agrupamento hieraacuterquico das 17 etnovariedades de mandioca caracterizadas de acordo

com os descritores utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo

60

Tabelas 738

739

Tabela 1 Caracteres e estados utilizados pelos agricultores como descritores botacircnicos para 740

caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das etnovariedades de mandioca 741

Caracter Sigla Estados

Folha

Cor da folha desenvolvida CFD 1- verde claro 2- verde escuro 3- verde arroxeado 4- roxo

Cor do broto foliar CBF 1- verde claro 2- verde escuro 3- verde arroxeado 4- roxo

Cor do peciacuteolo CDP 1- verde amarelado 2- verde 3- verde avermelhado 4- roxo

5- vermelho

Caule

Cor externa do caule CEC 1- laranja 2- verde amarelado 3- dourado 4- marrom claro

5- prateado 6- cinza 7- marrom escuro 8- verde

Protuberacircncia da cicatriz foliar PCF 1- pouco proeminente 2- muito proeminente

Raiacutez

Cor da poupa da raiz PDR 1- branco 2- creme

Cor do coacutertex da raiacutez CDR 1- rosa 2- branco 3- creme

742

743

744

745

746

747

748

749

750

751

61

Tabela 2 Lista das 22 etnovariedades de mandiocas citadas (132 citaccedilotildees) como cultivadas nas 752

comunidades pertencentes aos Municiacutepios de Altinho (Caratildeo n=8) e ao Municiacutepio de Panelas 753

(Aracuatilde Satildeo Joseacute do Bola Brejo Velho Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima e Lajeiro 754

Dantas n=21) 755

Etnovariedade Frequecircncia () Ranking Saliecircncia

Macaxeira Rosa 66 179 0472

Mandioca Isabel de Souza 48 179 0372

Mandioca Campina 24 217 0148

Macaxeira Branca 20 210 0134

Macaxeira Rosa branca 18 122 0168

Mandioca Pretona 16 338 0082

Mandioca Cambadinha 12 283 0071

Mandioca Isabel trecircs galhos 10 180 0075

Mandioca Gauacuteba 10 260 0070

Mandioca Pretinha 8 225 0053

Mandioca Peacute de pombo 4 400 0011

Mandioca Olho verde 4 350 0012

Macaxeira Rosinha 4 200 0027

Mandioca Campina varuda 4 200 0032

Mandioca Campina rasteira 4 300 0021

Mandioca Caboquinha 2 500 0007

Macaxeira Rasteira 2 200 0013

Macaxeira Paraacute 2 100 0020

Mandioca Barra ferro 2 300 0007

Mandioca Campina da grande 2 100 0020

Mandioca Olho de pombo 2 300 0010

Mandioca Jasmim 2 600 0006

756

757

758

62

Tabela 3 Lista de 17 etnovariedades atualmente cultivadas nos roccedilados das comunidades em 759

estudo 760

Ca Ar Bo Br Jb Jc Ld

Etnovariedade

Macaxeira Branca x x x x

Macaxeira Rosa

x x x x x x

Macaxeira Rosa Branca x x x x

Macaxeira Rosa Vermelha

x

Macaxeira Semente

x

Mandioca Cambadinha x

x

Mandioca Campina

x

x

x

Mandioca Campina da Grande x

Mandioca Campina Rasteira

x

Mandioca Campina Varuda

x

Mandioca Gauacuteba

x

Mandioca Isabel de Souza

x x x

Mandioca Isabel trecircs Galhos

x

x

Mandioca Olho de Pombo

x

Mandioca Olho Verde

x

Mandioca Pretinha

x

Mandioca Pretona x x x

Comunidades Ca= Caratildeo Ar=Aracuatilde Bo= Satildeo Joseacute do Bola Jb= Japaranduba de Baixo 761

Jc= Japaranduba de Cima Ld= Lajedo Dantas 762

763

764

765

766

767

768

63

Tabela 4 Descriccedilatildeo das classes do agrupamento por meacutetodo de Ward agrupadas pelo conjunto 769

dos descritores mais significativos para a caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das variedades de mandioca 770

Classes Descritores in situ p-valor

C1 Cor do peciacuteolo (CDP) 0016

C2 Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023

C3 Cor do peciacuteolo (CDP) 0012

C4 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0004

Cor da poupa da raiacutez (PDF) 0021

C5 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0003

C6 Cor do broto foliar (CBF) 0002

C7 Cor da folha desenvolvida (CFD) 0004

Cor externa do caule (CEC) 0040

C8 Cor do peciacuteolo (CDP) 0005

Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023

Valores de Ple005 satildeo significativos 771

772

53

651

Fig 2 Mapa de localizaccedilatildeo geograacutefica dos Municiacutepios de Altinho e Panelas e das comunidades 652

estudadas na regiatildeo semiaacuterida do Estado de Pernambuco (Elaborado por SANTOS 2018) 653

54

654

655

656

657

Fig 3 Processo de fabricaccedilatildeo da farinha de mandioca Apoacutes a colheita as raiacutezes satildeo lavadas 658

raspadas e trituradas (a) A massa extraiacuteda eacute prensada e coada Ao sair da prensa a massa 659

peneirada (b) e em seguida eacute torrada (c) em fornos artesanais ou parcialmente mecanizados 660

Imagem registrada em janeiro de 2017 na Comunidade do Caratildeo por Mirela Santos 661

662

663

a

b c

55

664

Fig 4 a Sede da Comunidade do Caratildeo b Agricultor transportando a palma forrageira que eacute 665

um exemplo de estrateacutegia adaptativa para suprir a falta de alimento dos animais devido agrave seca 666

c Feira-livre que acontece na comunidade a cada quinze dias Imagem registrada em julho de 667

2016 na Comunidade do Caratildeo por Mirela Santos 668

669

670

Fig 5 a O agricultor nos explicava as mudanccedilas que vem fazendo em seus roccedilados para se 671

adaptar aos longos periacuteodos de seca b Quando o agricultor nos mostrava as diferentes 672

etnovariedades que mantinha em sua roccedila c Durante a pesquisa nos explicavam como era feita 673

a colheita da mandioca e como selecionavam as manivas para o proacuteximo plantio Foto registrada 674

em abril de 2017 na Comunidade do Brejo Velho por Mirela Santos 675

a

b c

c b

a

56 676

677

Fig 6 Possiacuteveis estruturas de rede que descrevem as interaccedilotildees dos agricultores (losango) 678

ligados as etnovariedades (ciacuterculos) que cultivam Onde a Aninhada b Modular c Aleatoacuteria 679

(Fonte Cavechia et al 2014 com adaptaccedilotildees) 680

681

682

683

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a c b

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698

699

700

701

702

703

704

705

706

707

Fig 7 Correlaccedilatildeo de Spearman entre a diversidade de etnovariedades de mandiocas conhecidas 708

como cultivadas e variedades atualmente cultivadas por agricultor e as variaacuteveis 709

socioeconocircmicas Onde Nvc= nuacutemero de citadas como cultivadas Nve= nuacutemero de variedades 710

atualmente cultivadas Esc= escolaridade Id= idade Gen= gecircnero Tr= tamanho do roccedilado 711

Exp= experiecircncia na agricultura Sld= renda Nr= nuacutemero de roccedilados Cores distintivas 712

representam correlaccedilotildees significativas (Ple005) 713

714

58

715

Fig 8 Modelo individual de rede de etnovariedades de mandioca citadas (esquerda) por 716

agricultores como cultivadas (direita) nos Municiacutepios de Altinho e Panelas As redes foram 717

desenhadas com o pacote bipartite (Dormann et al 2017) usando o software R (R CORE 718

TEAM 2017) 719

720

59

721

Fig 9 Anaacutelise de Correspondecircncia Muacuteltipla das 17 etnovariedades de mandioca considerando 722

os sete descritores morfoloacutegicos utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo em roccedilas de 723

agricultores tradicionais de sete comunidades no semiaacuterido de Pernambuco 724

725

726

727

728

729

730

731

732

733

734

735

736

737

McCambadinha

McCampina

McCampinaDaGrande

McCampinaRasteira

McCampinaVaruda

McGauba

McIsabelDeSouza

McIsabelTresGalhos

McOlhoDePombo

McOlhoVerde

McPretinha

McPretona

MxBranca

MxRosa

MxRosaBrancaMxRosaVermelha

MxSemente

CFD_Verde_Arroxeado

CFD_Verde_ClaroCFD_Verde_Escuro

CBF_Roxo

CBF_Verde_ArroxeadoCBF_Verde_Claro

CBF_Verde_Escuro

CDP_Verde

CDP_Verde_Amarelado

CDP_Verde_Avermelhado

CDP_Vermelho

CEC_Cinza

CEC_Dourado

CEC_Laranja

CEC_Marrom_Claro

CEC_Marrom_Escuro

CEC_Prateado

CEC_Verde_AmareladoCicatriz_M

Cicatriz_P

PDR_Branco

PDR_Creme

CDR_BrancoCDR_Creme CDR_Rosa

-4

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0

2

4

-4 -2 0 2 4

Dim1 (206)

Dim

2 (

162

)

MCA - Biplot

00

10

Hierarchical Clustering

inertia gain

McC

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erm

elh

a

MxR

osaB

ranca

MxR

osa

McC

am

pin

aR

aste

ira

McC

am

badin

ha

McO

lhoV

erd

e

MxB

ranca

MxS

em

ente

McIsabelT

resG

alh

os

McIsabelD

eS

ouza

McO

lhoD

eP

om

bo

00

05

10

15

Hierarchical Classification

Heig

ht

C1 C2 C3 C4 C5 C6 C7 C8

Fig 10 Agrupamento hieraacuterquico das 17 etnovariedades de mandioca caracterizadas de acordo

com os descritores utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo

60

Tabelas 738

739

Tabela 1 Caracteres e estados utilizados pelos agricultores como descritores botacircnicos para 740

caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das etnovariedades de mandioca 741

Caracter Sigla Estados

Folha

Cor da folha desenvolvida CFD 1- verde claro 2- verde escuro 3- verde arroxeado 4- roxo

Cor do broto foliar CBF 1- verde claro 2- verde escuro 3- verde arroxeado 4- roxo

Cor do peciacuteolo CDP 1- verde amarelado 2- verde 3- verde avermelhado 4- roxo

5- vermelho

Caule

Cor externa do caule CEC 1- laranja 2- verde amarelado 3- dourado 4- marrom claro

5- prateado 6- cinza 7- marrom escuro 8- verde

Protuberacircncia da cicatriz foliar PCF 1- pouco proeminente 2- muito proeminente

Raiacutez

Cor da poupa da raiz PDR 1- branco 2- creme

Cor do coacutertex da raiacutez CDR 1- rosa 2- branco 3- creme

742

743

744

745

746

747

748

749

750

751

61

Tabela 2 Lista das 22 etnovariedades de mandiocas citadas (132 citaccedilotildees) como cultivadas nas 752

comunidades pertencentes aos Municiacutepios de Altinho (Caratildeo n=8) e ao Municiacutepio de Panelas 753

(Aracuatilde Satildeo Joseacute do Bola Brejo Velho Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima e Lajeiro 754

Dantas n=21) 755

Etnovariedade Frequecircncia () Ranking Saliecircncia

Macaxeira Rosa 66 179 0472

Mandioca Isabel de Souza 48 179 0372

Mandioca Campina 24 217 0148

Macaxeira Branca 20 210 0134

Macaxeira Rosa branca 18 122 0168

Mandioca Pretona 16 338 0082

Mandioca Cambadinha 12 283 0071

Mandioca Isabel trecircs galhos 10 180 0075

Mandioca Gauacuteba 10 260 0070

Mandioca Pretinha 8 225 0053

Mandioca Peacute de pombo 4 400 0011

Mandioca Olho verde 4 350 0012

Macaxeira Rosinha 4 200 0027

Mandioca Campina varuda 4 200 0032

Mandioca Campina rasteira 4 300 0021

Mandioca Caboquinha 2 500 0007

Macaxeira Rasteira 2 200 0013

Macaxeira Paraacute 2 100 0020

Mandioca Barra ferro 2 300 0007

Mandioca Campina da grande 2 100 0020

Mandioca Olho de pombo 2 300 0010

Mandioca Jasmim 2 600 0006

756

757

758

62

Tabela 3 Lista de 17 etnovariedades atualmente cultivadas nos roccedilados das comunidades em 759

estudo 760

Ca Ar Bo Br Jb Jc Ld

Etnovariedade

Macaxeira Branca x x x x

Macaxeira Rosa

x x x x x x

Macaxeira Rosa Branca x x x x

Macaxeira Rosa Vermelha

x

Macaxeira Semente

x

Mandioca Cambadinha x

x

Mandioca Campina

x

x

x

Mandioca Campina da Grande x

Mandioca Campina Rasteira

x

Mandioca Campina Varuda

x

Mandioca Gauacuteba

x

Mandioca Isabel de Souza

x x x

Mandioca Isabel trecircs Galhos

x

x

Mandioca Olho de Pombo

x

Mandioca Olho Verde

x

Mandioca Pretinha

x

Mandioca Pretona x x x

Comunidades Ca= Caratildeo Ar=Aracuatilde Bo= Satildeo Joseacute do Bola Jb= Japaranduba de Baixo 761

Jc= Japaranduba de Cima Ld= Lajedo Dantas 762

763

764

765

766

767

768

63

Tabela 4 Descriccedilatildeo das classes do agrupamento por meacutetodo de Ward agrupadas pelo conjunto 769

dos descritores mais significativos para a caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das variedades de mandioca 770

Classes Descritores in situ p-valor

C1 Cor do peciacuteolo (CDP) 0016

C2 Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023

C3 Cor do peciacuteolo (CDP) 0012

C4 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0004

Cor da poupa da raiacutez (PDF) 0021

C5 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0003

C6 Cor do broto foliar (CBF) 0002

C7 Cor da folha desenvolvida (CFD) 0004

Cor externa do caule (CEC) 0040

C8 Cor do peciacuteolo (CDP) 0005

Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023

Valores de Ple005 satildeo significativos 771

772

54

654

655

656

657

Fig 3 Processo de fabricaccedilatildeo da farinha de mandioca Apoacutes a colheita as raiacutezes satildeo lavadas 658

raspadas e trituradas (a) A massa extraiacuteda eacute prensada e coada Ao sair da prensa a massa 659

peneirada (b) e em seguida eacute torrada (c) em fornos artesanais ou parcialmente mecanizados 660

Imagem registrada em janeiro de 2017 na Comunidade do Caratildeo por Mirela Santos 661

662

663

a

b c

55

664

Fig 4 a Sede da Comunidade do Caratildeo b Agricultor transportando a palma forrageira que eacute 665

um exemplo de estrateacutegia adaptativa para suprir a falta de alimento dos animais devido agrave seca 666

c Feira-livre que acontece na comunidade a cada quinze dias Imagem registrada em julho de 667

2016 na Comunidade do Caratildeo por Mirela Santos 668

669

670

Fig 5 a O agricultor nos explicava as mudanccedilas que vem fazendo em seus roccedilados para se 671

adaptar aos longos periacuteodos de seca b Quando o agricultor nos mostrava as diferentes 672

etnovariedades que mantinha em sua roccedila c Durante a pesquisa nos explicavam como era feita 673

a colheita da mandioca e como selecionavam as manivas para o proacuteximo plantio Foto registrada 674

em abril de 2017 na Comunidade do Brejo Velho por Mirela Santos 675

a

b c

c b

a

56 676

677

Fig 6 Possiacuteveis estruturas de rede que descrevem as interaccedilotildees dos agricultores (losango) 678

ligados as etnovariedades (ciacuterculos) que cultivam Onde a Aninhada b Modular c Aleatoacuteria 679

(Fonte Cavechia et al 2014 com adaptaccedilotildees) 680

681

682

683

684

685

686

687

688

689

690

691

692

693

694

695

696

697

a c b

57

698

699

700

701

702

703

704

705

706

707

Fig 7 Correlaccedilatildeo de Spearman entre a diversidade de etnovariedades de mandiocas conhecidas 708

como cultivadas e variedades atualmente cultivadas por agricultor e as variaacuteveis 709

socioeconocircmicas Onde Nvc= nuacutemero de citadas como cultivadas Nve= nuacutemero de variedades 710

atualmente cultivadas Esc= escolaridade Id= idade Gen= gecircnero Tr= tamanho do roccedilado 711

Exp= experiecircncia na agricultura Sld= renda Nr= nuacutemero de roccedilados Cores distintivas 712

representam correlaccedilotildees significativas (Ple005) 713

714

58

715

Fig 8 Modelo individual de rede de etnovariedades de mandioca citadas (esquerda) por 716

agricultores como cultivadas (direita) nos Municiacutepios de Altinho e Panelas As redes foram 717

desenhadas com o pacote bipartite (Dormann et al 2017) usando o software R (R CORE 718

TEAM 2017) 719

720

59

721

Fig 9 Anaacutelise de Correspondecircncia Muacuteltipla das 17 etnovariedades de mandioca considerando 722

os sete descritores morfoloacutegicos utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo em roccedilas de 723

agricultores tradicionais de sete comunidades no semiaacuterido de Pernambuco 724

725

726

727

728

729

730

731

732

733

734

735

736

737

McCambadinha

McCampina

McCampinaDaGrande

McCampinaRasteira

McCampinaVaruda

McGauba

McIsabelDeSouza

McIsabelTresGalhos

McOlhoDePombo

McOlhoVerde

McPretinha

McPretona

MxBranca

MxRosa

MxRosaBrancaMxRosaVermelha

MxSemente

CFD_Verde_Arroxeado

CFD_Verde_ClaroCFD_Verde_Escuro

CBF_Roxo

CBF_Verde_ArroxeadoCBF_Verde_Claro

CBF_Verde_Escuro

CDP_Verde

CDP_Verde_Amarelado

CDP_Verde_Avermelhado

CDP_Vermelho

CEC_Cinza

CEC_Dourado

CEC_Laranja

CEC_Marrom_Claro

CEC_Marrom_Escuro

CEC_Prateado

CEC_Verde_AmareladoCicatriz_M

Cicatriz_P

PDR_Branco

PDR_Creme

CDR_BrancoCDR_Creme CDR_Rosa

-4

-2

0

2

4

-4 -2 0 2 4

Dim1 (206)

Dim

2 (

162

)

MCA - Biplot

00

10

Hierarchical Clustering

inertia gain

McC

am

pin

aV

aru

da

McC

am

pin

aD

aG

rande

McC

am

pin

a

McG

auba

McP

retin

ha

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MxR

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McIsabelT

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eP

om

bo

00

05

10

15

Hierarchical Classification

Heig

ht

C1 C2 C3 C4 C5 C6 C7 C8

Fig 10 Agrupamento hieraacuterquico das 17 etnovariedades de mandioca caracterizadas de acordo

com os descritores utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo

60

Tabelas 738

739

Tabela 1 Caracteres e estados utilizados pelos agricultores como descritores botacircnicos para 740

caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das etnovariedades de mandioca 741

Caracter Sigla Estados

Folha

Cor da folha desenvolvida CFD 1- verde claro 2- verde escuro 3- verde arroxeado 4- roxo

Cor do broto foliar CBF 1- verde claro 2- verde escuro 3- verde arroxeado 4- roxo

Cor do peciacuteolo CDP 1- verde amarelado 2- verde 3- verde avermelhado 4- roxo

5- vermelho

Caule

Cor externa do caule CEC 1- laranja 2- verde amarelado 3- dourado 4- marrom claro

5- prateado 6- cinza 7- marrom escuro 8- verde

Protuberacircncia da cicatriz foliar PCF 1- pouco proeminente 2- muito proeminente

Raiacutez

Cor da poupa da raiz PDR 1- branco 2- creme

Cor do coacutertex da raiacutez CDR 1- rosa 2- branco 3- creme

742

743

744

745

746

747

748

749

750

751

61

Tabela 2 Lista das 22 etnovariedades de mandiocas citadas (132 citaccedilotildees) como cultivadas nas 752

comunidades pertencentes aos Municiacutepios de Altinho (Caratildeo n=8) e ao Municiacutepio de Panelas 753

(Aracuatilde Satildeo Joseacute do Bola Brejo Velho Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima e Lajeiro 754

Dantas n=21) 755

Etnovariedade Frequecircncia () Ranking Saliecircncia

Macaxeira Rosa 66 179 0472

Mandioca Isabel de Souza 48 179 0372

Mandioca Campina 24 217 0148

Macaxeira Branca 20 210 0134

Macaxeira Rosa branca 18 122 0168

Mandioca Pretona 16 338 0082

Mandioca Cambadinha 12 283 0071

Mandioca Isabel trecircs galhos 10 180 0075

Mandioca Gauacuteba 10 260 0070

Mandioca Pretinha 8 225 0053

Mandioca Peacute de pombo 4 400 0011

Mandioca Olho verde 4 350 0012

Macaxeira Rosinha 4 200 0027

Mandioca Campina varuda 4 200 0032

Mandioca Campina rasteira 4 300 0021

Mandioca Caboquinha 2 500 0007

Macaxeira Rasteira 2 200 0013

Macaxeira Paraacute 2 100 0020

Mandioca Barra ferro 2 300 0007

Mandioca Campina da grande 2 100 0020

Mandioca Olho de pombo 2 300 0010

Mandioca Jasmim 2 600 0006

756

757

758

62

Tabela 3 Lista de 17 etnovariedades atualmente cultivadas nos roccedilados das comunidades em 759

estudo 760

Ca Ar Bo Br Jb Jc Ld

Etnovariedade

Macaxeira Branca x x x x

Macaxeira Rosa

x x x x x x

Macaxeira Rosa Branca x x x x

Macaxeira Rosa Vermelha

x

Macaxeira Semente

x

Mandioca Cambadinha x

x

Mandioca Campina

x

x

x

Mandioca Campina da Grande x

Mandioca Campina Rasteira

x

Mandioca Campina Varuda

x

Mandioca Gauacuteba

x

Mandioca Isabel de Souza

x x x

Mandioca Isabel trecircs Galhos

x

x

Mandioca Olho de Pombo

x

Mandioca Olho Verde

x

Mandioca Pretinha

x

Mandioca Pretona x x x

Comunidades Ca= Caratildeo Ar=Aracuatilde Bo= Satildeo Joseacute do Bola Jb= Japaranduba de Baixo 761

Jc= Japaranduba de Cima Ld= Lajedo Dantas 762

763

764

765

766

767

768

63

Tabela 4 Descriccedilatildeo das classes do agrupamento por meacutetodo de Ward agrupadas pelo conjunto 769

dos descritores mais significativos para a caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das variedades de mandioca 770

Classes Descritores in situ p-valor

C1 Cor do peciacuteolo (CDP) 0016

C2 Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023

C3 Cor do peciacuteolo (CDP) 0012

C4 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0004

Cor da poupa da raiacutez (PDF) 0021

C5 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0003

C6 Cor do broto foliar (CBF) 0002

C7 Cor da folha desenvolvida (CFD) 0004

Cor externa do caule (CEC) 0040

C8 Cor do peciacuteolo (CDP) 0005

Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023

Valores de Ple005 satildeo significativos 771

772

55

664

Fig 4 a Sede da Comunidade do Caratildeo b Agricultor transportando a palma forrageira que eacute 665

um exemplo de estrateacutegia adaptativa para suprir a falta de alimento dos animais devido agrave seca 666

c Feira-livre que acontece na comunidade a cada quinze dias Imagem registrada em julho de 667

2016 na Comunidade do Caratildeo por Mirela Santos 668

669

670

Fig 5 a O agricultor nos explicava as mudanccedilas que vem fazendo em seus roccedilados para se 671

adaptar aos longos periacuteodos de seca b Quando o agricultor nos mostrava as diferentes 672

etnovariedades que mantinha em sua roccedila c Durante a pesquisa nos explicavam como era feita 673

a colheita da mandioca e como selecionavam as manivas para o proacuteximo plantio Foto registrada 674

em abril de 2017 na Comunidade do Brejo Velho por Mirela Santos 675

a

b c

c b

a

56 676

677

Fig 6 Possiacuteveis estruturas de rede que descrevem as interaccedilotildees dos agricultores (losango) 678

ligados as etnovariedades (ciacuterculos) que cultivam Onde a Aninhada b Modular c Aleatoacuteria 679

(Fonte Cavechia et al 2014 com adaptaccedilotildees) 680

681

682

683

684

685

686

687

688

689

690

691

692

693

694

695

696

697

a c b

57

698

699

700

701

702

703

704

705

706

707

Fig 7 Correlaccedilatildeo de Spearman entre a diversidade de etnovariedades de mandiocas conhecidas 708

como cultivadas e variedades atualmente cultivadas por agricultor e as variaacuteveis 709

socioeconocircmicas Onde Nvc= nuacutemero de citadas como cultivadas Nve= nuacutemero de variedades 710

atualmente cultivadas Esc= escolaridade Id= idade Gen= gecircnero Tr= tamanho do roccedilado 711

Exp= experiecircncia na agricultura Sld= renda Nr= nuacutemero de roccedilados Cores distintivas 712

representam correlaccedilotildees significativas (Ple005) 713

714

58

715

Fig 8 Modelo individual de rede de etnovariedades de mandioca citadas (esquerda) por 716

agricultores como cultivadas (direita) nos Municiacutepios de Altinho e Panelas As redes foram 717

desenhadas com o pacote bipartite (Dormann et al 2017) usando o software R (R CORE 718

TEAM 2017) 719

720

59

721

Fig 9 Anaacutelise de Correspondecircncia Muacuteltipla das 17 etnovariedades de mandioca considerando 722

os sete descritores morfoloacutegicos utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo em roccedilas de 723

agricultores tradicionais de sete comunidades no semiaacuterido de Pernambuco 724

725

726

727

728

729

730

731

732

733

734

735

736

737

McCambadinha

McCampina

McCampinaDaGrande

McCampinaRasteira

McCampinaVaruda

McGauba

McIsabelDeSouza

McIsabelTresGalhos

McOlhoDePombo

McOlhoVerde

McPretinha

McPretona

MxBranca

MxRosa

MxRosaBrancaMxRosaVermelha

MxSemente

CFD_Verde_Arroxeado

CFD_Verde_ClaroCFD_Verde_Escuro

CBF_Roxo

CBF_Verde_ArroxeadoCBF_Verde_Claro

CBF_Verde_Escuro

CDP_Verde

CDP_Verde_Amarelado

CDP_Verde_Avermelhado

CDP_Vermelho

CEC_Cinza

CEC_Dourado

CEC_Laranja

CEC_Marrom_Claro

CEC_Marrom_Escuro

CEC_Prateado

CEC_Verde_AmareladoCicatriz_M

Cicatriz_P

PDR_Branco

PDR_Creme

CDR_BrancoCDR_Creme CDR_Rosa

-4

-2

0

2

4

-4 -2 0 2 4

Dim1 (206)

Dim

2 (

162

)

MCA - Biplot

00

10

Hierarchical Clustering

inertia gain

McC

am

pin

aV

aru

da

McC

am

pin

aD

aG

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McC

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a

McG

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McP

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ranca

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McIsabelT

resG

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eS

ouza

McO

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bo

00

05

10

15

Hierarchical Classification

Heig

ht

C1 C2 C3 C4 C5 C6 C7 C8

Fig 10 Agrupamento hieraacuterquico das 17 etnovariedades de mandioca caracterizadas de acordo

com os descritores utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo

60

Tabelas 738

739

Tabela 1 Caracteres e estados utilizados pelos agricultores como descritores botacircnicos para 740

caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das etnovariedades de mandioca 741

Caracter Sigla Estados

Folha

Cor da folha desenvolvida CFD 1- verde claro 2- verde escuro 3- verde arroxeado 4- roxo

Cor do broto foliar CBF 1- verde claro 2- verde escuro 3- verde arroxeado 4- roxo

Cor do peciacuteolo CDP 1- verde amarelado 2- verde 3- verde avermelhado 4- roxo

5- vermelho

Caule

Cor externa do caule CEC 1- laranja 2- verde amarelado 3- dourado 4- marrom claro

5- prateado 6- cinza 7- marrom escuro 8- verde

Protuberacircncia da cicatriz foliar PCF 1- pouco proeminente 2- muito proeminente

Raiacutez

Cor da poupa da raiz PDR 1- branco 2- creme

Cor do coacutertex da raiacutez CDR 1- rosa 2- branco 3- creme

742

743

744

745

746

747

748

749

750

751

61

Tabela 2 Lista das 22 etnovariedades de mandiocas citadas (132 citaccedilotildees) como cultivadas nas 752

comunidades pertencentes aos Municiacutepios de Altinho (Caratildeo n=8) e ao Municiacutepio de Panelas 753

(Aracuatilde Satildeo Joseacute do Bola Brejo Velho Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima e Lajeiro 754

Dantas n=21) 755

Etnovariedade Frequecircncia () Ranking Saliecircncia

Macaxeira Rosa 66 179 0472

Mandioca Isabel de Souza 48 179 0372

Mandioca Campina 24 217 0148

Macaxeira Branca 20 210 0134

Macaxeira Rosa branca 18 122 0168

Mandioca Pretona 16 338 0082

Mandioca Cambadinha 12 283 0071

Mandioca Isabel trecircs galhos 10 180 0075

Mandioca Gauacuteba 10 260 0070

Mandioca Pretinha 8 225 0053

Mandioca Peacute de pombo 4 400 0011

Mandioca Olho verde 4 350 0012

Macaxeira Rosinha 4 200 0027

Mandioca Campina varuda 4 200 0032

Mandioca Campina rasteira 4 300 0021

Mandioca Caboquinha 2 500 0007

Macaxeira Rasteira 2 200 0013

Macaxeira Paraacute 2 100 0020

Mandioca Barra ferro 2 300 0007

Mandioca Campina da grande 2 100 0020

Mandioca Olho de pombo 2 300 0010

Mandioca Jasmim 2 600 0006

756

757

758

62

Tabela 3 Lista de 17 etnovariedades atualmente cultivadas nos roccedilados das comunidades em 759

estudo 760

Ca Ar Bo Br Jb Jc Ld

Etnovariedade

Macaxeira Branca x x x x

Macaxeira Rosa

x x x x x x

Macaxeira Rosa Branca x x x x

Macaxeira Rosa Vermelha

x

Macaxeira Semente

x

Mandioca Cambadinha x

x

Mandioca Campina

x

x

x

Mandioca Campina da Grande x

Mandioca Campina Rasteira

x

Mandioca Campina Varuda

x

Mandioca Gauacuteba

x

Mandioca Isabel de Souza

x x x

Mandioca Isabel trecircs Galhos

x

x

Mandioca Olho de Pombo

x

Mandioca Olho Verde

x

Mandioca Pretinha

x

Mandioca Pretona x x x

Comunidades Ca= Caratildeo Ar=Aracuatilde Bo= Satildeo Joseacute do Bola Jb= Japaranduba de Baixo 761

Jc= Japaranduba de Cima Ld= Lajedo Dantas 762

763

764

765

766

767

768

63

Tabela 4 Descriccedilatildeo das classes do agrupamento por meacutetodo de Ward agrupadas pelo conjunto 769

dos descritores mais significativos para a caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das variedades de mandioca 770

Classes Descritores in situ p-valor

C1 Cor do peciacuteolo (CDP) 0016

C2 Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023

C3 Cor do peciacuteolo (CDP) 0012

C4 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0004

Cor da poupa da raiacutez (PDF) 0021

C5 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0003

C6 Cor do broto foliar (CBF) 0002

C7 Cor da folha desenvolvida (CFD) 0004

Cor externa do caule (CEC) 0040

C8 Cor do peciacuteolo (CDP) 0005

Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023

Valores de Ple005 satildeo significativos 771

772

56 676

677

Fig 6 Possiacuteveis estruturas de rede que descrevem as interaccedilotildees dos agricultores (losango) 678

ligados as etnovariedades (ciacuterculos) que cultivam Onde a Aninhada b Modular c Aleatoacuteria 679

(Fonte Cavechia et al 2014 com adaptaccedilotildees) 680

681

682

683

684

685

686

687

688

689

690

691

692

693

694

695

696

697

a c b

57

698

699

700

701

702

703

704

705

706

707

Fig 7 Correlaccedilatildeo de Spearman entre a diversidade de etnovariedades de mandiocas conhecidas 708

como cultivadas e variedades atualmente cultivadas por agricultor e as variaacuteveis 709

socioeconocircmicas Onde Nvc= nuacutemero de citadas como cultivadas Nve= nuacutemero de variedades 710

atualmente cultivadas Esc= escolaridade Id= idade Gen= gecircnero Tr= tamanho do roccedilado 711

Exp= experiecircncia na agricultura Sld= renda Nr= nuacutemero de roccedilados Cores distintivas 712

representam correlaccedilotildees significativas (Ple005) 713

714

58

715

Fig 8 Modelo individual de rede de etnovariedades de mandioca citadas (esquerda) por 716

agricultores como cultivadas (direita) nos Municiacutepios de Altinho e Panelas As redes foram 717

desenhadas com o pacote bipartite (Dormann et al 2017) usando o software R (R CORE 718

TEAM 2017) 719

720

59

721

Fig 9 Anaacutelise de Correspondecircncia Muacuteltipla das 17 etnovariedades de mandioca considerando 722

os sete descritores morfoloacutegicos utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo em roccedilas de 723

agricultores tradicionais de sete comunidades no semiaacuterido de Pernambuco 724

725

726

727

728

729

730

731

732

733

734

735

736

737

McCambadinha

McCampina

McCampinaDaGrande

McCampinaRasteira

McCampinaVaruda

McGauba

McIsabelDeSouza

McIsabelTresGalhos

McOlhoDePombo

McOlhoVerde

McPretinha

McPretona

MxBranca

MxRosa

MxRosaBrancaMxRosaVermelha

MxSemente

CFD_Verde_Arroxeado

CFD_Verde_ClaroCFD_Verde_Escuro

CBF_Roxo

CBF_Verde_ArroxeadoCBF_Verde_Claro

CBF_Verde_Escuro

CDP_Verde

CDP_Verde_Amarelado

CDP_Verde_Avermelhado

CDP_Vermelho

CEC_Cinza

CEC_Dourado

CEC_Laranja

CEC_Marrom_Claro

CEC_Marrom_Escuro

CEC_Prateado

CEC_Verde_AmareladoCicatriz_M

Cicatriz_P

PDR_Branco

PDR_Creme

CDR_BrancoCDR_Creme CDR_Rosa

-4

-2

0

2

4

-4 -2 0 2 4

Dim1 (206)

Dim

2 (

162

)

MCA - Biplot

00

10

Hierarchical Clustering

inertia gain

McC

am

pin

aV

aru

da

McC

am

pin

aD

aG

rande

McC

am

pin

a

McG

auba

McP

retin

ha

McP

reto

na

MxR

osaV

erm

elh

a

MxR

osaB

ranca

MxR

osa

McC

am

pin

aR

aste

ira

McC

am

badin

ha

McO

lhoV

erd

e

MxB

ranca

MxS

em

ente

McIsabelT

resG

alh

os

McIsabelD

eS

ouza

McO

lhoD

eP

om

bo

00

05

10

15

Hierarchical Classification

Heig

ht

C1 C2 C3 C4 C5 C6 C7 C8

Fig 10 Agrupamento hieraacuterquico das 17 etnovariedades de mandioca caracterizadas de acordo

com os descritores utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo

60

Tabelas 738

739

Tabela 1 Caracteres e estados utilizados pelos agricultores como descritores botacircnicos para 740

caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das etnovariedades de mandioca 741

Caracter Sigla Estados

Folha

Cor da folha desenvolvida CFD 1- verde claro 2- verde escuro 3- verde arroxeado 4- roxo

Cor do broto foliar CBF 1- verde claro 2- verde escuro 3- verde arroxeado 4- roxo

Cor do peciacuteolo CDP 1- verde amarelado 2- verde 3- verde avermelhado 4- roxo

5- vermelho

Caule

Cor externa do caule CEC 1- laranja 2- verde amarelado 3- dourado 4- marrom claro

5- prateado 6- cinza 7- marrom escuro 8- verde

Protuberacircncia da cicatriz foliar PCF 1- pouco proeminente 2- muito proeminente

Raiacutez

Cor da poupa da raiz PDR 1- branco 2- creme

Cor do coacutertex da raiacutez CDR 1- rosa 2- branco 3- creme

742

743

744

745

746

747

748

749

750

751

61

Tabela 2 Lista das 22 etnovariedades de mandiocas citadas (132 citaccedilotildees) como cultivadas nas 752

comunidades pertencentes aos Municiacutepios de Altinho (Caratildeo n=8) e ao Municiacutepio de Panelas 753

(Aracuatilde Satildeo Joseacute do Bola Brejo Velho Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima e Lajeiro 754

Dantas n=21) 755

Etnovariedade Frequecircncia () Ranking Saliecircncia

Macaxeira Rosa 66 179 0472

Mandioca Isabel de Souza 48 179 0372

Mandioca Campina 24 217 0148

Macaxeira Branca 20 210 0134

Macaxeira Rosa branca 18 122 0168

Mandioca Pretona 16 338 0082

Mandioca Cambadinha 12 283 0071

Mandioca Isabel trecircs galhos 10 180 0075

Mandioca Gauacuteba 10 260 0070

Mandioca Pretinha 8 225 0053

Mandioca Peacute de pombo 4 400 0011

Mandioca Olho verde 4 350 0012

Macaxeira Rosinha 4 200 0027

Mandioca Campina varuda 4 200 0032

Mandioca Campina rasteira 4 300 0021

Mandioca Caboquinha 2 500 0007

Macaxeira Rasteira 2 200 0013

Macaxeira Paraacute 2 100 0020

Mandioca Barra ferro 2 300 0007

Mandioca Campina da grande 2 100 0020

Mandioca Olho de pombo 2 300 0010

Mandioca Jasmim 2 600 0006

756

757

758

62

Tabela 3 Lista de 17 etnovariedades atualmente cultivadas nos roccedilados das comunidades em 759

estudo 760

Ca Ar Bo Br Jb Jc Ld

Etnovariedade

Macaxeira Branca x x x x

Macaxeira Rosa

x x x x x x

Macaxeira Rosa Branca x x x x

Macaxeira Rosa Vermelha

x

Macaxeira Semente

x

Mandioca Cambadinha x

x

Mandioca Campina

x

x

x

Mandioca Campina da Grande x

Mandioca Campina Rasteira

x

Mandioca Campina Varuda

x

Mandioca Gauacuteba

x

Mandioca Isabel de Souza

x x x

Mandioca Isabel trecircs Galhos

x

x

Mandioca Olho de Pombo

x

Mandioca Olho Verde

x

Mandioca Pretinha

x

Mandioca Pretona x x x

Comunidades Ca= Caratildeo Ar=Aracuatilde Bo= Satildeo Joseacute do Bola Jb= Japaranduba de Baixo 761

Jc= Japaranduba de Cima Ld= Lajedo Dantas 762

763

764

765

766

767

768

63

Tabela 4 Descriccedilatildeo das classes do agrupamento por meacutetodo de Ward agrupadas pelo conjunto 769

dos descritores mais significativos para a caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das variedades de mandioca 770

Classes Descritores in situ p-valor

C1 Cor do peciacuteolo (CDP) 0016

C2 Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023

C3 Cor do peciacuteolo (CDP) 0012

C4 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0004

Cor da poupa da raiacutez (PDF) 0021

C5 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0003

C6 Cor do broto foliar (CBF) 0002

C7 Cor da folha desenvolvida (CFD) 0004

Cor externa do caule (CEC) 0040

C8 Cor do peciacuteolo (CDP) 0005

Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023

Valores de Ple005 satildeo significativos 771

772

57

698

699

700

701

702

703

704

705

706

707

Fig 7 Correlaccedilatildeo de Spearman entre a diversidade de etnovariedades de mandiocas conhecidas 708

como cultivadas e variedades atualmente cultivadas por agricultor e as variaacuteveis 709

socioeconocircmicas Onde Nvc= nuacutemero de citadas como cultivadas Nve= nuacutemero de variedades 710

atualmente cultivadas Esc= escolaridade Id= idade Gen= gecircnero Tr= tamanho do roccedilado 711

Exp= experiecircncia na agricultura Sld= renda Nr= nuacutemero de roccedilados Cores distintivas 712

representam correlaccedilotildees significativas (Ple005) 713

714

58

715

Fig 8 Modelo individual de rede de etnovariedades de mandioca citadas (esquerda) por 716

agricultores como cultivadas (direita) nos Municiacutepios de Altinho e Panelas As redes foram 717

desenhadas com o pacote bipartite (Dormann et al 2017) usando o software R (R CORE 718

TEAM 2017) 719

720

59

721

Fig 9 Anaacutelise de Correspondecircncia Muacuteltipla das 17 etnovariedades de mandioca considerando 722

os sete descritores morfoloacutegicos utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo em roccedilas de 723

agricultores tradicionais de sete comunidades no semiaacuterido de Pernambuco 724

725

726

727

728

729

730

731

732

733

734

735

736

737

McCambadinha

McCampina

McCampinaDaGrande

McCampinaRasteira

McCampinaVaruda

McGauba

McIsabelDeSouza

McIsabelTresGalhos

McOlhoDePombo

McOlhoVerde

McPretinha

McPretona

MxBranca

MxRosa

MxRosaBrancaMxRosaVermelha

MxSemente

CFD_Verde_Arroxeado

CFD_Verde_ClaroCFD_Verde_Escuro

CBF_Roxo

CBF_Verde_ArroxeadoCBF_Verde_Claro

CBF_Verde_Escuro

CDP_Verde

CDP_Verde_Amarelado

CDP_Verde_Avermelhado

CDP_Vermelho

CEC_Cinza

CEC_Dourado

CEC_Laranja

CEC_Marrom_Claro

CEC_Marrom_Escuro

CEC_Prateado

CEC_Verde_AmareladoCicatriz_M

Cicatriz_P

PDR_Branco

PDR_Creme

CDR_BrancoCDR_Creme CDR_Rosa

-4

-2

0

2

4

-4 -2 0 2 4

Dim1 (206)

Dim

2 (

162

)

MCA - Biplot

00

10

Hierarchical Clustering

inertia gain

McC

am

pin

aV

aru

da

McC

am

pin

aD

aG

rande

McC

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McG

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McO

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em

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McIsabelT

resG

alh

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McIsabelD

eS

ouza

McO

lhoD

eP

om

bo

00

05

10

15

Hierarchical Classification

Heig

ht

C1 C2 C3 C4 C5 C6 C7 C8

Fig 10 Agrupamento hieraacuterquico das 17 etnovariedades de mandioca caracterizadas de acordo

com os descritores utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo

60

Tabelas 738

739

Tabela 1 Caracteres e estados utilizados pelos agricultores como descritores botacircnicos para 740

caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das etnovariedades de mandioca 741

Caracter Sigla Estados

Folha

Cor da folha desenvolvida CFD 1- verde claro 2- verde escuro 3- verde arroxeado 4- roxo

Cor do broto foliar CBF 1- verde claro 2- verde escuro 3- verde arroxeado 4- roxo

Cor do peciacuteolo CDP 1- verde amarelado 2- verde 3- verde avermelhado 4- roxo

5- vermelho

Caule

Cor externa do caule CEC 1- laranja 2- verde amarelado 3- dourado 4- marrom claro

5- prateado 6- cinza 7- marrom escuro 8- verde

Protuberacircncia da cicatriz foliar PCF 1- pouco proeminente 2- muito proeminente

Raiacutez

Cor da poupa da raiz PDR 1- branco 2- creme

Cor do coacutertex da raiacutez CDR 1- rosa 2- branco 3- creme

742

743

744

745

746

747

748

749

750

751

61

Tabela 2 Lista das 22 etnovariedades de mandiocas citadas (132 citaccedilotildees) como cultivadas nas 752

comunidades pertencentes aos Municiacutepios de Altinho (Caratildeo n=8) e ao Municiacutepio de Panelas 753

(Aracuatilde Satildeo Joseacute do Bola Brejo Velho Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima e Lajeiro 754

Dantas n=21) 755

Etnovariedade Frequecircncia () Ranking Saliecircncia

Macaxeira Rosa 66 179 0472

Mandioca Isabel de Souza 48 179 0372

Mandioca Campina 24 217 0148

Macaxeira Branca 20 210 0134

Macaxeira Rosa branca 18 122 0168

Mandioca Pretona 16 338 0082

Mandioca Cambadinha 12 283 0071

Mandioca Isabel trecircs galhos 10 180 0075

Mandioca Gauacuteba 10 260 0070

Mandioca Pretinha 8 225 0053

Mandioca Peacute de pombo 4 400 0011

Mandioca Olho verde 4 350 0012

Macaxeira Rosinha 4 200 0027

Mandioca Campina varuda 4 200 0032

Mandioca Campina rasteira 4 300 0021

Mandioca Caboquinha 2 500 0007

Macaxeira Rasteira 2 200 0013

Macaxeira Paraacute 2 100 0020

Mandioca Barra ferro 2 300 0007

Mandioca Campina da grande 2 100 0020

Mandioca Olho de pombo 2 300 0010

Mandioca Jasmim 2 600 0006

756

757

758

62

Tabela 3 Lista de 17 etnovariedades atualmente cultivadas nos roccedilados das comunidades em 759

estudo 760

Ca Ar Bo Br Jb Jc Ld

Etnovariedade

Macaxeira Branca x x x x

Macaxeira Rosa

x x x x x x

Macaxeira Rosa Branca x x x x

Macaxeira Rosa Vermelha

x

Macaxeira Semente

x

Mandioca Cambadinha x

x

Mandioca Campina

x

x

x

Mandioca Campina da Grande x

Mandioca Campina Rasteira

x

Mandioca Campina Varuda

x

Mandioca Gauacuteba

x

Mandioca Isabel de Souza

x x x

Mandioca Isabel trecircs Galhos

x

x

Mandioca Olho de Pombo

x

Mandioca Olho Verde

x

Mandioca Pretinha

x

Mandioca Pretona x x x

Comunidades Ca= Caratildeo Ar=Aracuatilde Bo= Satildeo Joseacute do Bola Jb= Japaranduba de Baixo 761

Jc= Japaranduba de Cima Ld= Lajedo Dantas 762

763

764

765

766

767

768

63

Tabela 4 Descriccedilatildeo das classes do agrupamento por meacutetodo de Ward agrupadas pelo conjunto 769

dos descritores mais significativos para a caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das variedades de mandioca 770

Classes Descritores in situ p-valor

C1 Cor do peciacuteolo (CDP) 0016

C2 Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023

C3 Cor do peciacuteolo (CDP) 0012

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Cor da poupa da raiacutez (PDF) 0021

C5 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0003

C6 Cor do broto foliar (CBF) 0002

C7 Cor da folha desenvolvida (CFD) 0004

Cor externa do caule (CEC) 0040

C8 Cor do peciacuteolo (CDP) 0005

Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023

Valores de Ple005 satildeo significativos 771

772

58

715

Fig 8 Modelo individual de rede de etnovariedades de mandioca citadas (esquerda) por 716

agricultores como cultivadas (direita) nos Municiacutepios de Altinho e Panelas As redes foram 717

desenhadas com o pacote bipartite (Dormann et al 2017) usando o software R (R CORE 718

TEAM 2017) 719

720

59

721

Fig 9 Anaacutelise de Correspondecircncia Muacuteltipla das 17 etnovariedades de mandioca considerando 722

os sete descritores morfoloacutegicos utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo em roccedilas de 723

agricultores tradicionais de sete comunidades no semiaacuterido de Pernambuco 724

725

726

727

728

729

730

731

732

733

734

735

736

737

McCambadinha

McCampina

McCampinaDaGrande

McCampinaRasteira

McCampinaVaruda

McGauba

McIsabelDeSouza

McIsabelTresGalhos

McOlhoDePombo

McOlhoVerde

McPretinha

McPretona

MxBranca

MxRosa

MxRosaBrancaMxRosaVermelha

MxSemente

CFD_Verde_Arroxeado

CFD_Verde_ClaroCFD_Verde_Escuro

CBF_Roxo

CBF_Verde_ArroxeadoCBF_Verde_Claro

CBF_Verde_Escuro

CDP_Verde

CDP_Verde_Amarelado

CDP_Verde_Avermelhado

CDP_Vermelho

CEC_Cinza

CEC_Dourado

CEC_Laranja

CEC_Marrom_Claro

CEC_Marrom_Escuro

CEC_Prateado

CEC_Verde_AmareladoCicatriz_M

Cicatriz_P

PDR_Branco

PDR_Creme

CDR_BrancoCDR_Creme CDR_Rosa

-4

-2

0

2

4

-4 -2 0 2 4

Dim1 (206)

Dim

2 (

162

)

MCA - Biplot

00

10

Hierarchical Clustering

inertia gain

McC

am

pin

aV

aru

da

McC

am

pin

aD

aG

rande

McC

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a

McG

auba

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MxR

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ranca

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McO

lhoV

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MxB

ranca

MxS

em

ente

McIsabelT

resG

alh

os

McIsabelD

eS

ouza

McO

lhoD

eP

om

bo

00

05

10

15

Hierarchical Classification

Heig

ht

C1 C2 C3 C4 C5 C6 C7 C8

Fig 10 Agrupamento hieraacuterquico das 17 etnovariedades de mandioca caracterizadas de acordo

com os descritores utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo

60

Tabelas 738

739

Tabela 1 Caracteres e estados utilizados pelos agricultores como descritores botacircnicos para 740

caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das etnovariedades de mandioca 741

Caracter Sigla Estados

Folha

Cor da folha desenvolvida CFD 1- verde claro 2- verde escuro 3- verde arroxeado 4- roxo

Cor do broto foliar CBF 1- verde claro 2- verde escuro 3- verde arroxeado 4- roxo

Cor do peciacuteolo CDP 1- verde amarelado 2- verde 3- verde avermelhado 4- roxo

5- vermelho

Caule

Cor externa do caule CEC 1- laranja 2- verde amarelado 3- dourado 4- marrom claro

5- prateado 6- cinza 7- marrom escuro 8- verde

Protuberacircncia da cicatriz foliar PCF 1- pouco proeminente 2- muito proeminente

Raiacutez

Cor da poupa da raiz PDR 1- branco 2- creme

Cor do coacutertex da raiacutez CDR 1- rosa 2- branco 3- creme

742

743

744

745

746

747

748

749

750

751

61

Tabela 2 Lista das 22 etnovariedades de mandiocas citadas (132 citaccedilotildees) como cultivadas nas 752

comunidades pertencentes aos Municiacutepios de Altinho (Caratildeo n=8) e ao Municiacutepio de Panelas 753

(Aracuatilde Satildeo Joseacute do Bola Brejo Velho Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima e Lajeiro 754

Dantas n=21) 755

Etnovariedade Frequecircncia () Ranking Saliecircncia

Macaxeira Rosa 66 179 0472

Mandioca Isabel de Souza 48 179 0372

Mandioca Campina 24 217 0148

Macaxeira Branca 20 210 0134

Macaxeira Rosa branca 18 122 0168

Mandioca Pretona 16 338 0082

Mandioca Cambadinha 12 283 0071

Mandioca Isabel trecircs galhos 10 180 0075

Mandioca Gauacuteba 10 260 0070

Mandioca Pretinha 8 225 0053

Mandioca Peacute de pombo 4 400 0011

Mandioca Olho verde 4 350 0012

Macaxeira Rosinha 4 200 0027

Mandioca Campina varuda 4 200 0032

Mandioca Campina rasteira 4 300 0021

Mandioca Caboquinha 2 500 0007

Macaxeira Rasteira 2 200 0013

Macaxeira Paraacute 2 100 0020

Mandioca Barra ferro 2 300 0007

Mandioca Campina da grande 2 100 0020

Mandioca Olho de pombo 2 300 0010

Mandioca Jasmim 2 600 0006

756

757

758

62

Tabela 3 Lista de 17 etnovariedades atualmente cultivadas nos roccedilados das comunidades em 759

estudo 760

Ca Ar Bo Br Jb Jc Ld

Etnovariedade

Macaxeira Branca x x x x

Macaxeira Rosa

x x x x x x

Macaxeira Rosa Branca x x x x

Macaxeira Rosa Vermelha

x

Macaxeira Semente

x

Mandioca Cambadinha x

x

Mandioca Campina

x

x

x

Mandioca Campina da Grande x

Mandioca Campina Rasteira

x

Mandioca Campina Varuda

x

Mandioca Gauacuteba

x

Mandioca Isabel de Souza

x x x

Mandioca Isabel trecircs Galhos

x

x

Mandioca Olho de Pombo

x

Mandioca Olho Verde

x

Mandioca Pretinha

x

Mandioca Pretona x x x

Comunidades Ca= Caratildeo Ar=Aracuatilde Bo= Satildeo Joseacute do Bola Jb= Japaranduba de Baixo 761

Jc= Japaranduba de Cima Ld= Lajedo Dantas 762

763

764

765

766

767

768

63

Tabela 4 Descriccedilatildeo das classes do agrupamento por meacutetodo de Ward agrupadas pelo conjunto 769

dos descritores mais significativos para a caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das variedades de mandioca 770

Classes Descritores in situ p-valor

C1 Cor do peciacuteolo (CDP) 0016

C2 Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023

C3 Cor do peciacuteolo (CDP) 0012

C4 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0004

Cor da poupa da raiacutez (PDF) 0021

C5 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0003

C6 Cor do broto foliar (CBF) 0002

C7 Cor da folha desenvolvida (CFD) 0004

Cor externa do caule (CEC) 0040

C8 Cor do peciacuteolo (CDP) 0005

Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023

Valores de Ple005 satildeo significativos 771

772

59

721

Fig 9 Anaacutelise de Correspondecircncia Muacuteltipla das 17 etnovariedades de mandioca considerando 722

os sete descritores morfoloacutegicos utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo em roccedilas de 723

agricultores tradicionais de sete comunidades no semiaacuterido de Pernambuco 724

725

726

727

728

729

730

731

732

733

734

735

736

737

McCambadinha

McCampina

McCampinaDaGrande

McCampinaRasteira

McCampinaVaruda

McGauba

McIsabelDeSouza

McIsabelTresGalhos

McOlhoDePombo

McOlhoVerde

McPretinha

McPretona

MxBranca

MxRosa

MxRosaBrancaMxRosaVermelha

MxSemente

CFD_Verde_Arroxeado

CFD_Verde_ClaroCFD_Verde_Escuro

CBF_Roxo

CBF_Verde_ArroxeadoCBF_Verde_Claro

CBF_Verde_Escuro

CDP_Verde

CDP_Verde_Amarelado

CDP_Verde_Avermelhado

CDP_Vermelho

CEC_Cinza

CEC_Dourado

CEC_Laranja

CEC_Marrom_Claro

CEC_Marrom_Escuro

CEC_Prateado

CEC_Verde_AmareladoCicatriz_M

Cicatriz_P

PDR_Branco

PDR_Creme

CDR_BrancoCDR_Creme CDR_Rosa

-4

-2

0

2

4

-4 -2 0 2 4

Dim1 (206)

Dim

2 (

162

)

MCA - Biplot

00

10

Hierarchical Clustering

inertia gain

McC

am

pin

aV

aru

da

McC

am

pin

aD

aG

rande

McC

am

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a

McG

auba

McP

retin

ha

McP

reto

na

MxR

osaV

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elh

a

MxR

osaB

ranca

MxR

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McC

am

pin

aR

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ira

McC

am

badin

ha

McO

lhoV

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e

MxB

ranca

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em

ente

McIsabelT

resG

alh

os

McIsabelD

eS

ouza

McO

lhoD

eP

om

bo

00

05

10

15

Hierarchical Classification

Heig

ht

C1 C2 C3 C4 C5 C6 C7 C8

Fig 10 Agrupamento hieraacuterquico das 17 etnovariedades de mandioca caracterizadas de acordo

com os descritores utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo

60

Tabelas 738

739

Tabela 1 Caracteres e estados utilizados pelos agricultores como descritores botacircnicos para 740

caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das etnovariedades de mandioca 741

Caracter Sigla Estados

Folha

Cor da folha desenvolvida CFD 1- verde claro 2- verde escuro 3- verde arroxeado 4- roxo

Cor do broto foliar CBF 1- verde claro 2- verde escuro 3- verde arroxeado 4- roxo

Cor do peciacuteolo CDP 1- verde amarelado 2- verde 3- verde avermelhado 4- roxo

5- vermelho

Caule

Cor externa do caule CEC 1- laranja 2- verde amarelado 3- dourado 4- marrom claro

5- prateado 6- cinza 7- marrom escuro 8- verde

Protuberacircncia da cicatriz foliar PCF 1- pouco proeminente 2- muito proeminente

Raiacutez

Cor da poupa da raiz PDR 1- branco 2- creme

Cor do coacutertex da raiacutez CDR 1- rosa 2- branco 3- creme

742

743

744

745

746

747

748

749

750

751

61

Tabela 2 Lista das 22 etnovariedades de mandiocas citadas (132 citaccedilotildees) como cultivadas nas 752

comunidades pertencentes aos Municiacutepios de Altinho (Caratildeo n=8) e ao Municiacutepio de Panelas 753

(Aracuatilde Satildeo Joseacute do Bola Brejo Velho Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima e Lajeiro 754

Dantas n=21) 755

Etnovariedade Frequecircncia () Ranking Saliecircncia

Macaxeira Rosa 66 179 0472

Mandioca Isabel de Souza 48 179 0372

Mandioca Campina 24 217 0148

Macaxeira Branca 20 210 0134

Macaxeira Rosa branca 18 122 0168

Mandioca Pretona 16 338 0082

Mandioca Cambadinha 12 283 0071

Mandioca Isabel trecircs galhos 10 180 0075

Mandioca Gauacuteba 10 260 0070

Mandioca Pretinha 8 225 0053

Mandioca Peacute de pombo 4 400 0011

Mandioca Olho verde 4 350 0012

Macaxeira Rosinha 4 200 0027

Mandioca Campina varuda 4 200 0032

Mandioca Campina rasteira 4 300 0021

Mandioca Caboquinha 2 500 0007

Macaxeira Rasteira 2 200 0013

Macaxeira Paraacute 2 100 0020

Mandioca Barra ferro 2 300 0007

Mandioca Campina da grande 2 100 0020

Mandioca Olho de pombo 2 300 0010

Mandioca Jasmim 2 600 0006

756

757

758

62

Tabela 3 Lista de 17 etnovariedades atualmente cultivadas nos roccedilados das comunidades em 759

estudo 760

Ca Ar Bo Br Jb Jc Ld

Etnovariedade

Macaxeira Branca x x x x

Macaxeira Rosa

x x x x x x

Macaxeira Rosa Branca x x x x

Macaxeira Rosa Vermelha

x

Macaxeira Semente

x

Mandioca Cambadinha x

x

Mandioca Campina

x

x

x

Mandioca Campina da Grande x

Mandioca Campina Rasteira

x

Mandioca Campina Varuda

x

Mandioca Gauacuteba

x

Mandioca Isabel de Souza

x x x

Mandioca Isabel trecircs Galhos

x

x

Mandioca Olho de Pombo

x

Mandioca Olho Verde

x

Mandioca Pretinha

x

Mandioca Pretona x x x

Comunidades Ca= Caratildeo Ar=Aracuatilde Bo= Satildeo Joseacute do Bola Jb= Japaranduba de Baixo 761

Jc= Japaranduba de Cima Ld= Lajedo Dantas 762

763

764

765

766

767

768

63

Tabela 4 Descriccedilatildeo das classes do agrupamento por meacutetodo de Ward agrupadas pelo conjunto 769

dos descritores mais significativos para a caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das variedades de mandioca 770

Classes Descritores in situ p-valor

C1 Cor do peciacuteolo (CDP) 0016

C2 Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023

C3 Cor do peciacuteolo (CDP) 0012

C4 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0004

Cor da poupa da raiacutez (PDF) 0021

C5 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0003

C6 Cor do broto foliar (CBF) 0002

C7 Cor da folha desenvolvida (CFD) 0004

Cor externa do caule (CEC) 0040

C8 Cor do peciacuteolo (CDP) 0005

Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023

Valores de Ple005 satildeo significativos 771

772

60

Tabelas 738

739

Tabela 1 Caracteres e estados utilizados pelos agricultores como descritores botacircnicos para 740

caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das etnovariedades de mandioca 741

Caracter Sigla Estados

Folha

Cor da folha desenvolvida CFD 1- verde claro 2- verde escuro 3- verde arroxeado 4- roxo

Cor do broto foliar CBF 1- verde claro 2- verde escuro 3- verde arroxeado 4- roxo

Cor do peciacuteolo CDP 1- verde amarelado 2- verde 3- verde avermelhado 4- roxo

5- vermelho

Caule

Cor externa do caule CEC 1- laranja 2- verde amarelado 3- dourado 4- marrom claro

5- prateado 6- cinza 7- marrom escuro 8- verde

Protuberacircncia da cicatriz foliar PCF 1- pouco proeminente 2- muito proeminente

Raiacutez

Cor da poupa da raiz PDR 1- branco 2- creme

Cor do coacutertex da raiacutez CDR 1- rosa 2- branco 3- creme

742

743

744

745

746

747

748

749

750

751

61

Tabela 2 Lista das 22 etnovariedades de mandiocas citadas (132 citaccedilotildees) como cultivadas nas 752

comunidades pertencentes aos Municiacutepios de Altinho (Caratildeo n=8) e ao Municiacutepio de Panelas 753

(Aracuatilde Satildeo Joseacute do Bola Brejo Velho Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima e Lajeiro 754

Dantas n=21) 755

Etnovariedade Frequecircncia () Ranking Saliecircncia

Macaxeira Rosa 66 179 0472

Mandioca Isabel de Souza 48 179 0372

Mandioca Campina 24 217 0148

Macaxeira Branca 20 210 0134

Macaxeira Rosa branca 18 122 0168

Mandioca Pretona 16 338 0082

Mandioca Cambadinha 12 283 0071

Mandioca Isabel trecircs galhos 10 180 0075

Mandioca Gauacuteba 10 260 0070

Mandioca Pretinha 8 225 0053

Mandioca Peacute de pombo 4 400 0011

Mandioca Olho verde 4 350 0012

Macaxeira Rosinha 4 200 0027

Mandioca Campina varuda 4 200 0032

Mandioca Campina rasteira 4 300 0021

Mandioca Caboquinha 2 500 0007

Macaxeira Rasteira 2 200 0013

Macaxeira Paraacute 2 100 0020

Mandioca Barra ferro 2 300 0007

Mandioca Campina da grande 2 100 0020

Mandioca Olho de pombo 2 300 0010

Mandioca Jasmim 2 600 0006

756

757

758

62

Tabela 3 Lista de 17 etnovariedades atualmente cultivadas nos roccedilados das comunidades em 759

estudo 760

Ca Ar Bo Br Jb Jc Ld

Etnovariedade

Macaxeira Branca x x x x

Macaxeira Rosa

x x x x x x

Macaxeira Rosa Branca x x x x

Macaxeira Rosa Vermelha

x

Macaxeira Semente

x

Mandioca Cambadinha x

x

Mandioca Campina

x

x

x

Mandioca Campina da Grande x

Mandioca Campina Rasteira

x

Mandioca Campina Varuda

x

Mandioca Gauacuteba

x

Mandioca Isabel de Souza

x x x

Mandioca Isabel trecircs Galhos

x

x

Mandioca Olho de Pombo

x

Mandioca Olho Verde

x

Mandioca Pretinha

x

Mandioca Pretona x x x

Comunidades Ca= Caratildeo Ar=Aracuatilde Bo= Satildeo Joseacute do Bola Jb= Japaranduba de Baixo 761

Jc= Japaranduba de Cima Ld= Lajedo Dantas 762

763

764

765

766

767

768

63

Tabela 4 Descriccedilatildeo das classes do agrupamento por meacutetodo de Ward agrupadas pelo conjunto 769

dos descritores mais significativos para a caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das variedades de mandioca 770

Classes Descritores in situ p-valor

C1 Cor do peciacuteolo (CDP) 0016

C2 Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023

C3 Cor do peciacuteolo (CDP) 0012

C4 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0004

Cor da poupa da raiacutez (PDF) 0021

C5 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0003

C6 Cor do broto foliar (CBF) 0002

C7 Cor da folha desenvolvida (CFD) 0004

Cor externa do caule (CEC) 0040

C8 Cor do peciacuteolo (CDP) 0005

Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023

Valores de Ple005 satildeo significativos 771

772

61

Tabela 2 Lista das 22 etnovariedades de mandiocas citadas (132 citaccedilotildees) como cultivadas nas 752

comunidades pertencentes aos Municiacutepios de Altinho (Caratildeo n=8) e ao Municiacutepio de Panelas 753

(Aracuatilde Satildeo Joseacute do Bola Brejo Velho Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima e Lajeiro 754

Dantas n=21) 755

Etnovariedade Frequecircncia () Ranking Saliecircncia

Macaxeira Rosa 66 179 0472

Mandioca Isabel de Souza 48 179 0372

Mandioca Campina 24 217 0148

Macaxeira Branca 20 210 0134

Macaxeira Rosa branca 18 122 0168

Mandioca Pretona 16 338 0082

Mandioca Cambadinha 12 283 0071

Mandioca Isabel trecircs galhos 10 180 0075

Mandioca Gauacuteba 10 260 0070

Mandioca Pretinha 8 225 0053

Mandioca Peacute de pombo 4 400 0011

Mandioca Olho verde 4 350 0012

Macaxeira Rosinha 4 200 0027

Mandioca Campina varuda 4 200 0032

Mandioca Campina rasteira 4 300 0021

Mandioca Caboquinha 2 500 0007

Macaxeira Rasteira 2 200 0013

Macaxeira Paraacute 2 100 0020

Mandioca Barra ferro 2 300 0007

Mandioca Campina da grande 2 100 0020

Mandioca Olho de pombo 2 300 0010

Mandioca Jasmim 2 600 0006

756

757

758

62

Tabela 3 Lista de 17 etnovariedades atualmente cultivadas nos roccedilados das comunidades em 759

estudo 760

Ca Ar Bo Br Jb Jc Ld

Etnovariedade

Macaxeira Branca x x x x

Macaxeira Rosa

x x x x x x

Macaxeira Rosa Branca x x x x

Macaxeira Rosa Vermelha

x

Macaxeira Semente

x

Mandioca Cambadinha x

x

Mandioca Campina

x

x

x

Mandioca Campina da Grande x

Mandioca Campina Rasteira

x

Mandioca Campina Varuda

x

Mandioca Gauacuteba

x

Mandioca Isabel de Souza

x x x

Mandioca Isabel trecircs Galhos

x

x

Mandioca Olho de Pombo

x

Mandioca Olho Verde

x

Mandioca Pretinha

x

Mandioca Pretona x x x

Comunidades Ca= Caratildeo Ar=Aracuatilde Bo= Satildeo Joseacute do Bola Jb= Japaranduba de Baixo 761

Jc= Japaranduba de Cima Ld= Lajedo Dantas 762

763

764

765

766

767

768

63

Tabela 4 Descriccedilatildeo das classes do agrupamento por meacutetodo de Ward agrupadas pelo conjunto 769

dos descritores mais significativos para a caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das variedades de mandioca 770

Classes Descritores in situ p-valor

C1 Cor do peciacuteolo (CDP) 0016

C2 Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023

C3 Cor do peciacuteolo (CDP) 0012

C4 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0004

Cor da poupa da raiacutez (PDF) 0021

C5 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0003

C6 Cor do broto foliar (CBF) 0002

C7 Cor da folha desenvolvida (CFD) 0004

Cor externa do caule (CEC) 0040

C8 Cor do peciacuteolo (CDP) 0005

Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023

Valores de Ple005 satildeo significativos 771

772

62

Tabela 3 Lista de 17 etnovariedades atualmente cultivadas nos roccedilados das comunidades em 759

estudo 760

Ca Ar Bo Br Jb Jc Ld

Etnovariedade

Macaxeira Branca x x x x

Macaxeira Rosa

x x x x x x

Macaxeira Rosa Branca x x x x

Macaxeira Rosa Vermelha

x

Macaxeira Semente

x

Mandioca Cambadinha x

x

Mandioca Campina

x

x

x

Mandioca Campina da Grande x

Mandioca Campina Rasteira

x

Mandioca Campina Varuda

x

Mandioca Gauacuteba

x

Mandioca Isabel de Souza

x x x

Mandioca Isabel trecircs Galhos

x

x

Mandioca Olho de Pombo

x

Mandioca Olho Verde

x

Mandioca Pretinha

x

Mandioca Pretona x x x

Comunidades Ca= Caratildeo Ar=Aracuatilde Bo= Satildeo Joseacute do Bola Jb= Japaranduba de Baixo 761

Jc= Japaranduba de Cima Ld= Lajedo Dantas 762

763

764

765

766

767

768

63

Tabela 4 Descriccedilatildeo das classes do agrupamento por meacutetodo de Ward agrupadas pelo conjunto 769

dos descritores mais significativos para a caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das variedades de mandioca 770

Classes Descritores in situ p-valor

C1 Cor do peciacuteolo (CDP) 0016

C2 Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023

C3 Cor do peciacuteolo (CDP) 0012

C4 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0004

Cor da poupa da raiacutez (PDF) 0021

C5 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0003

C6 Cor do broto foliar (CBF) 0002

C7 Cor da folha desenvolvida (CFD) 0004

Cor externa do caule (CEC) 0040

C8 Cor do peciacuteolo (CDP) 0005

Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023

Valores de Ple005 satildeo significativos 771

772

63

Tabela 4 Descriccedilatildeo das classes do agrupamento por meacutetodo de Ward agrupadas pelo conjunto 769

dos descritores mais significativos para a caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das variedades de mandioca 770

Classes Descritores in situ p-valor

C1 Cor do peciacuteolo (CDP) 0016

C2 Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023

C3 Cor do peciacuteolo (CDP) 0012

C4 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0004

Cor da poupa da raiacutez (PDF) 0021

C5 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0003

C6 Cor do broto foliar (CBF) 0002

C7 Cor da folha desenvolvida (CFD) 0004

Cor externa do caule (CEC) 0040

C8 Cor do peciacuteolo (CDP) 0005

Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023

Valores de Ple005 satildeo significativos 771

772