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Manejo de pragas no milho de segunda safra: Com ou sem a utilização de Milho Bt Simone M Mendes\ J M Waquil 2 , Ivenio R Oliveira' e Paulo A Viana 4 Figura 1. Adulto do percevejo Barriga-Verde. 'Simone M. Mendes, Embrapa Milho e Sorgo, Sete Lagoas, MG, [email protected] 2Jose Magid Waquil - Professor UFSJ, Campus Sete Lagoas MG 'Ivenio Rubens de Oliveira, Embrapa Milho e Sorgo 4Paulo A Viana - Embrapa Milho e Sorgo São três as principais preo- cupações com o manejo de pra- gas no milho de segunda safra, popularmente denominada de "safrinha": o percevejo Barriga- Verde (Dichelops melacanthus), a Cigarrinha-do-milho (Dalhulus maidis) e a Lagarta-do-cartucho (Spodoptera frugiperda). Primeiro é necessário diferenciar o cultivo de milho de segunda safra, que é a maior safra de milho no Brasil, daquele milho que ainda é culti- vado na primeira safra. Estamos _ falando do plantio que ocorre logo após a colheita da soja. Atu- almente, com o manejo de plan- tas daninhas baseado na combi- nação de herbicidas e sementes RR, é comum a sobrevivência de plantas de milho RR (voluntário ou tiguera) que cresce em meio Edição 168- plantiodireto.com.br à soja. Este milho tiguera tem sido fator importante para a ma- nutenção de pragas que atacam o milho no plantio subsequente. Outra questão é que os perceve- jos têm sido pragas importantes em várias regiões produtoras de soja. Um destes percevejos, o Barriga-Verde (D. melacanthus) (Figura 1) que ocorre no final do ciclo da soja e infesta a cultura do milho semeado em seguida a colheita. Os percevejos torna- ram-se praga importante para o milho devido ao seu potencial de perdas provocadas pela redução de estande da cultura. Entendido o cenário, os per- cevejos Barriga-verde, são o pri- meiro grupo de pragas que os produtores de milhb de segunda safra devem se preocupar. Tra-

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Page 1: Manejo de pragas no milho de segunda safra: Com …...Manejo de pragas no milho de segunda safra: Com ou sem a utilização de Milho Bt Simone M Mendes\ J MWaquil2, Ivenio R Oliveira'e

Manejo de pragas no milho desegunda safra: Com ou sem autilização de Milho BtSimone M Mendes\ J M Waquil2, Ivenio ROliveira' e Paulo A Viana4

Figura 1. Adulto do percevejo Barriga-Verde.

'Simone M. Mendes, Embrapa Milho e Sorgo,Sete Lagoas, MG,[email protected]

2Jose Magid Waquil - Professor UFSJ,Campus Sete Lagoas MG

'Ivenio Rubens de Oliveira, Embrapa Milhoe Sorgo

4Paulo A Viana - Embrapa Milho e Sorgo

São três as principais preo-cupações com o manejo de pra-gas no milho de segunda safra,popularmente denominada de"safrinha": o percevejo Barriga-Verde (Dichelops melacanthus), aCigarrinha-do-milho (Dalhulusmaidis) e a Lagarta-do-cartucho(Spodoptera frugiperda). Primeiroé necessário diferenciar o cultivode milho de segunda safra, que éa maior safra de milho no Brasil,daquele milho que ainda é culti-vado na primeira safra. Estamos

_ falando do plantio que ocorrelogo após a colheita da soja. Atu-almente, com o manejo de plan-tas daninhas baseado na combi-nação de herbicidas e sementesRR,é comum a sobrevivência deplantas de milho RR (voluntárioou tiguera) que cresce em meio

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à soja. Este milho tiguera temsido fator importante para a ma-nutenção de pragas que atacamo milho no plantio subsequente.Outra questão é que os perceve-jos têm sido pragas importantesem várias regiões produtorasde soja. Um destes percevejos,o Barriga-Verde (D. melacanthus)(Figura 1) que ocorre no final dociclo da soja e infesta a culturado milho semeado em seguidaa colheita. Os percevejos torna-ram-se praga importante para omilho devido ao seu potencial deperdas provocadas pela reduçãode estande da cultura.

Entendido o cenário, os per-cevejos Barriga-verde, são o pri-meiro grupo de pragas que osprodutores de milhb de segundasafra devem se preocupar. Tra-

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Figura 2. Injurias causadas pelaalimentação do percevejo Barriga-Verdeem plântulas de milho

ta-se de um inseto-praga cadavez mais comum em lavourasde soja. Com a colheita da sojae plantio do milho, esta pragapassa a se alimentar das plântu-Ias de milho, momento em queinjeta, nos tecidos da planta,uma "enzima" que facilita suaalimentação. Acontece que essaenzima é tóxica para as plantas

Figura 3. Cigarrinha Dalbulus maidis emplantas de milho.

que ainda são muito pequenas.Por isso, o problema maior, D.melacanthus é percebido em la-vouras até aos 21 dias.

Como principal injuria cau-sada pela alimentação dos per-cevejos vamos encontrar nalavoura plantas encharutadas,que acabam suprimidas e con-tribuem para reduzir o estande

(Figura 2). A partir desse perí-odo inicial as plantas de milhocrescem e, as substâncias excre-tadas por D. melacanthus passama não mais atrapalhar o seu de-senvolvimento. Assim, MUITOCUIDADOcom percevejos até 21dias.

O produtor também deveestar atento à ocorrência da

,PRINCIPAIS ESTRATEGIAS DE MANEJO (Barriga-Verde)

Tratamento de sementes com inseticidas químicos sistêmicos;

Escolha correta do híbrido de milho a ser utilizando, pois existem diferenças entre os híbridos nasuscetibilidade ao ataque de D. melacanthus;

Monitoramento periódico das lavouras, considerando o nível de controle (NC) para a tomada de decisãode controlar ou não a praga (NC = 1percevejo em média para dez plantas);

Havendo necessidade (NC>l percevejo) de pulverização complementar, escolher produtos registrados(Agrofit,2019).

plantiodireto.com.br - Edição 168

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cigarrinha-do-milho (D. maidis)(Figura 3) nas lavouras de mi-lho. Trata-se de um inseto vetorde fitopatógenos causadores dedoenças em milho, as quais têmsido fonte de preocupação nasúltimas safras. Este inseto podetransmitir três patógenos im-portantes para a lavoura do mi-lho em função de seu potencialde causarem prejuízos: dois mo-licutes (classe Mollicutes-ReinoBacteria), que são um espiro-

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Figura 4. Lagarta-da-Cartucho do milho Spodopterajrugiperda em plantas de milho.

plasma (Spiroplasma kunkelü) eum fitoplasma (Maize bushy stunt)e o vírus Rayado fino. Todos es-ses patógenos causam doençassistêmicas, ou seja, dificultamou impedem a passagem de foto-assimilados pela planta, que ficacom o crescimento reduzido. Osmolicutes causam dois tipos deenfezamentos: enfezamento-pá-lido (causada por espiroplasma)e enfezamento-vermelho (causa-da por fitoplasma). A ocorrência

desses patógenos no país vemcausando grandes prejuízos aosprodutores de milho na safrinha,pois ainda não se tem métodoprático para se identificar a pre-sença desses fitopatógenos naslavouras.

Assim, D. maidis é apenas ovetor dos patógenos e o mane-jo deve ter atenção tanto para oinseto, como para os patógenos.Um dos principais fatores liga-dos a este manejo relaciona-se

,

PRINCIPAIS ESTRATEGIASDE MANEJO (Cigarrinha)

Tratamento de sementes com inseticidas químicossistêmicos e monitoramento até V6;

Uso de cultivares mais resistentes ou tolerantes aospatógenos;

Controle do milho da tiguera nas áreas para evitar que hajaalimento para O. maidis;

• Reduzir a janela de plantio de milho na rsqlão .

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.ao fato de que a cigarrinha-do-milho, até onde se sabe, viverexclusivamente em plantas demilho. Sendo assim, como osprodutores têm encontradogrande dificuldade de controlaro milho voluntario (tiguera) nasoja, estes insetos tem encon-trado formas para se manter emultiplicar no campo por um pe-ríodo maior de tempo e quandochega a hora do plantio do milhode segunda safra, a cigarrinhajá está em altas densidades nasáreas de plantio e passa, ime-diatamente, a infestar as plantasde milho. Também há de se con-siderar que a transmissão dospatógenos ocorre nos primeirosestádios de desenvolvimento dasplantas e os sintomas das doen-ças, sobretudo dos molicutes sãovisíveis tardiamente. Por isso éimportante a adoção de medidaspreventivas de controle.

A lagarta-do-cartucho (5.frugiperdai (Figura 4), ainda é omaior problema relacionado aomanejo de pragas em lavourasde milho no Brasil, seja na pri-meira ou na segunda safra. Ela éa praga-chave do milho em todaAmérica do Sul, causando danostambém em lavouras de soja,sorgo, arroz e algodão. Esse in-seto-praga tem se tornado, cadavez mais importante devido seupotencial adaptativo aos hos-pedeiros e métodos de controlecomo o uso de planta Bt e contro-le químico.

A lagarta-do-cartucho-do-milho se alimenta em várias es-pécies de plantas. Essa polifagiafaz com que esse inseto perma-neça no agroecossistema safraapós safra, se alimentando deplantas como braquiaria, milhe-to e outras mais de 100 espéciesde plantas que são relacionadascomo hospedeiras. Esse inseto-praga passa, em média, 15 diasna fase de lagarta e em torno de10 dias na fase de pupa, que pas-sa no solo. Em torno de 25 a 30dias completam o ciclo e as ma-

riposas novamente ovipositamnas plantas.

Um dos grandes desafiospara o manejo dessa espécie emlavouras de milho é que muitasvezes, ocorrem gerações sobre-postas, sendo possível encon-trar em um mesmo cartucho demilho lagartas em diferentes es-tádios de desenvolvimento. Noentanto, as medidas de controleestão sempre focadas nas lagar-tas menores e dificilmente sãoeficientes para as lagartas aci-ma de 1,5 em, Assim, manter omonitoramento periódico é umaestratégia fundamental para atomada de decisão, em contro-lar ou não a praga. O monitora-mento deve iniciar logo após aemergência das plantas, poisembora a tecnologia Bt e o tra-tamento de sementes pode darcerta proteção nas duas primei-ras semanas, a ocorrência de la-gartas maiores sobreviventes naárea, podem não ser controladasdesde os estádios de desenvolvi-mento iniciais das plantas.

Estratégias para o MIP (Ma-nejo Integrado de Pragas) sem-pre estarão disponíveis paraauxiliar o produtor a enfrentardesafios com estes insetos-pragano campo. Monitorar as lavourasperiodicamente sempre será oinicio para a tomada de decisãocorreta e estar atuando dentrodas boas praticas agricolas rela-tivas ao manejo de pragas!

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PRINCIPAIS ESTRATÉGIASDE MANEJO (Lagarta-Do-Cartucho)

o uso da tecnologia Bt ainda é uma das principais estratégias para o manejo da Lagarta-do-cartucho no país. A eficiência no controle não é a mesma para as diferentes tecnologias e regiõesprodutoras de milho. Isso porque essa espécie tem uma grande variabilidade genética e a seleçãode populações mais adaptada à paisagem e ao manejo é muito rápida. Assim, antes de comprar asemente vale a pena conferir a eficiência dos eventos Bt para cada região. É bom lembrar que parao controle de lagartas existem cinco proteínas Bt disponibilizadas em diferentes híbridos. Embora aquebra da resistência já esteja registrada para três dessas proteínas, pelo menos a Vip3a continuaproduzindo ótimos resultados. Desta forma, não se pode pensar em adotar a tecnologia Bt comoestratégia exclusiva de MIP. Portanto, mesmo com o uso dessa tecnologia é importante manter omonitoramento periódico e adotar medidas de controle assim que os níveis de ação recomendadospara cada tecnologia seja atingido. Outras medidas como o controle químico, podem ser necessárias.Também se ressalta a que: o plantio da área de refúgio com milho não Bt em pelo menos 10% daárea cultivada deixou de ser uma recomendação e foi instituído em todo território nacional com aINSTRUÇÃONORMATlVANº 59, DE19DEDEZEMBRODE2018;

De maneira geral recomenda-se o controle químico com uso de inseticidas para controle daslagartas na segunda safra quando a infestação atingir um NC em torno de 20% das plantas comnota acima de 3 na escala de Davis, que significa folhas raspadas e início de folhas furadas;

Para o monitoramento é importante visar plantas até V8-V9, vistoriando sempre as folhas docartucho da planta, pois é onde as lagartas em atividade se alimentam. Quando a nota de injuria é até3 significa que as lagartas ainda estão pequenas e o controle será mais efetivo. Existem registradosno MAPA 202 produtos para o controle da lagarta-do-cartucho (Agrofit, 2019). A escolha deve,certamente, ser baseada na eficiência, classe toxicologia e baixo impacto aos inimigos naturais.

Uso de controle biológico: dentre os 202 produtos registrados junto ao MAPApara o controle de S.frugiperda em milho, existem produtos de biológicos, como bioinseticidas à base de Bl e baculovíruse inimigos naturais comercializados, como é o caso da vespinha Trichogramma, um parasitoidede ovos dessa lagarta. Nesse caso é necessário estar bem atento aos cuidados de utilização.Para o controle biológico, o momento certo da aplicação é fundamental. Por exemplo, o uso deTrichogramma deve ser feito quando as capturas de machos de S. frugiperda nas armadilhas deferomônio indicarem até três adultos/armadilha. Isso porque é necessário focar na fase de ovos.Isto vale também para os bioinseticidas, que não tem efeito de Knock down, ou seja, as lagartas nãomorrem imediatamente, mas paralisam a alimentação em até dois dias depois de infectadas porbactérias ou vírus.

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