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Manual de Ecoeficiência para o Sector Agroalimentar

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TíTulo ‘Manual de Ecoeficiência para o Sector Agroalimentar’ produzido no âmbito do projecto ECODEEP, referência COMPETE – SIAC nº 18643

designAna Sofia Mil-Homens Luís Pinto Magda Barata

Todos os direitos reservados. Esta publicação não pode ser, total ou parcialmente, reimpressa, reproduzida ou utilizada quer por meios electrónicos, mecânicos ou outros, sem a autorização por escrito do editor.

Esta publicação foi escrita e revista de acordo com as normas vigentes no novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa.

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ÍndiceIntrodução 5

Contexto 7Objectivos deste Manual 7

Diagnóstico do Sector Agroalimentar 8

A Avaliação de Ciclo de Vida (ACV) 10

Dados de Avaliação de Ciclo de Vida 13Fileira das Carnes 15

ACV do Frango 17

ACV da Carne de Bovino 33

Fileira do LeiTe e Derivados 57ACV do Leite de Vaca Cru 63

ACV do Leite UHT 73

ACV do Iogurte 79

ACV do Queijo 85

Fileira do Pescado 91ACV da Sardinha 93

ACV da Sardinha Fresca 95

ACV da Sardinha Congelada 99

ACV da Sardinha em Conserva 103

Fileira da FruTa e Derivados 109 ACV do Azeite 111

ACV da Pêra Rocha 119

Bibliografia 131

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Introdução Este manual nasce do trabalho realizado no âmbito do projeto de ECODEEP – Desenvolvi-mento de ferramentas de ecoeficiência para o sector agroalimentar.

O projeto ECODEEP foi desenvolvido em parceria pelo Instituto Politécnico de Coimbra, pela Universidade de Aveiro, pelo Instituto Politécnico de Castelo Branco, pela ADAI, pela Univer-sidade de Trás-os-Montes e Alto Douto e pelo Instituto Politécnico de Bragança, no âmbito do financiamento do programa COMPETE (referência COMPETE - SIAC - AAC 1/SIAC/2011 - Projeto 18643).

O projeto ECODEEP procurou estabelecer uma plataforma de apoio à implementação de um conjunto de ferramentas de análise dos sistemas produtivos do sector agroalimentar, assen-tes na análise de fluxos de materiais (Material Flow Analysis), que possam ser usadas pelas diferentes empresas do sector, para as tornar mais eco-eficientes e competitivas.

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ContextoObjectivos deste Manual

Pretende-se com este trabalho contribuir para o aumento da competitividade, da gestão e da ecoeficiência do sector agroalimentar a nível nacional, através da preparação de ferramentas especificamente direcionadas para a análise da performance da fileira agroalimentar numa perspectiva de eco-gestão e ecoeficiência, de forma a melhorar a sua competitividade.

Procura-se assim preparar um conjunto de ferramentas que possam ser usadas pelas diferen-tes empresas, permitindo-lhes ter uma maior compreensão dos seus processos produtivos, das suas ineficiências e das melhores opções para as ultrapassar. Foi essencial neste projeto a definição de uma metodologia de auditoria energética e do consumo de matérias-primas ao longo dos processos produtivos, de forma a encontrar e solucionar ineficiências no sistema, bem como a criação de um sistema de gestão de informação que sirva de base à gestão am-biental e energética, que possa ser disseminado pelas empresas.

As ferramentas desenvolvidas especificamente para algumas das fileiras agroindustriais mais relevantes basearam-se na Avaliação do Ciclo de Vida (ACV), as Auditorias Ambientais, Au-ditorias Energéticas e a Pegada Ecológica. Estas ferramentas possibilitam a implementação de estratégias de Ecologia Industrial para o sector, nomeadamente o desenvolvimento de estratégias de complementaridade entre as diferentes empresas do sector agroalimentar e destas com outras empresas da região de forma a identificar e promover complementarida-des e sinergias.

Os objectivos para os quais se pretende contribuir são os de uma melhoria do desempenho ambiental e uma melhoria significativa da competitividade através de uma redução dos con-sumos de energia e matérias-primas por unidade de produto, bem como uma redução da produção de resíduos.

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Estes podem ser conseguidos a partir de:

• Identificação do potencial para a implementação de redes e bolsas de coprodutos e resíduos, etc., contribuindo para o fecho dos seus ciclos num contexto de sistemas de ecologia industrial.

• Melhoria da logística integrada de fluxos de matérias primas, coprodutos e resíduos,• Uso colectivo de infraestruturas e serviços,• Eco-design de embalagens e melhoria da ecoeficiência do seu ciclo de vida,• Desenvolvimento de ferramentas de apoio à decisão baseadas na integração de me-

todologias de avaliação ambiental e económica com a análise multicritério, • Uso combinado de transporte de pessoas e bens.

Diagnóstico do Sector Agroalimentar

Da análise do sector agroalimentar e da sua predisposição para a inovação e a ecoeficiência resulta o diagnóstico SWOT (Strengths – Weaknesses – Opportunities – Threats1) apenso e que fundamentou a necessidade de desenvolver atividades específicas que contribuam a vários níveis para a melhoria da competitividade e da eficiência das unidades produtivas do sector agroalimentar, o que se refletirá no controlo sobre o processo de produção, na quali-dade dos produtos, na capacidade de os rastear e na optimização dos factores de produção e consequentemente na redução dos consumos por unidade de produção, na melhoria do valor acrescentado dos produtos e na competitividade em geral.

Pontos fortes

• O Sector agroindustrial possui uma elevada diversidade de produtos de qualidade e excelência, designadamente no leite e lacticínios; vinho e vinha; azeite; cereais; pei-xe; carne; e horto-fruti-floricultura.

• Possui atividades herdeiras de saberes e competências técnicas desenvolvidas ao lon-go dos séculos, que têm vindo a modernizar-se e a melhorar a sua competitividade, quer no plano nacional, quer internacional, num processo de ajustamento à concor-rência nos mercados e aos desafios da globalização.

• Relevância das atividades agroindustriais, com uma importância claramente superior à média nacional (VAB, remunerações, emprego e Formação Bruta de Capital Fixo.

• A qualidade dos produtos está patente na aplicação da Indicação Geográfica Protegi-da (IGP) e da Denominação de Origem Protegida (DOP), em produtos agroindustriais tradicionais.

• Existem sinergias potenciais entre os produtos, a gastronomia e o turismo cultural.• Ligação das atividades do cluster agroindustrial com a matriz sociocultural do terri-

tório, fundamental para a manutenção do modelo de desenvolvimento dos espaços

1 aqui traduzido para o português como Pontos fortes – Pontos fracos – Oportunidades - Ameaças

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rurais de baixa densidade, sendo por isso também determinantes para o ordenamen-to do território.

• Existência de forte suporte institucional – conferido por centros de investigação e de transferência de tecnologia e pelas instituições de ensino superior – possibilitando a transferência de conhecimento e I&D.

• Existência de empresas e outras entidades com capital de experiência no domínio do marketing e com elevada capacidade concorrencial.

Pontos fracos

• Existe uma dificuldade generalizada de penetração organizada nos mercados nacio-nais e internacionais,

• Os níveis de cooperação empresarial e com as organizações associativas e institui-ções de I&D são reduzidos.

• Algumas empresas são geridas de forma familiar, por empresários com baixas quali-ficações e com défices organizacionais e de gestão.

• Lentidão na introdução de inovação tecnológica nos processos produtivos e nos ser-viços associados ao cluster do Agroalimentar.

• Pequena dimensão da propriedade e em muitos casos da produção.• Localização das atividades em áreas rurais, com baixa densidade populacional onde é

difícil o recrutamento de mão-de-obra e de técnicos qualificados.• Dificuldade de capitalizar a origem geográfica dos produtos• Muitos dos sectores alimentares escoam produtos de menor grau de transformação,

sofisticação e valor acrescentado, constatando-se um aumento de importações de produtos de maior valor acrescentado.

• Enquadramento regulamentar da atividade, nomeadamente a nível de segurança na agricultura e pecuária.

• Pouca informação sobre as estratégias e soluções de ecoeficiência aplicadas às em-presas, ausência de percepção do papel da ecoeficiência na competitividade e baixa apetência para a implementação de estratégias e soluções eco-eficientes.

Oportunidades

• Tendências de comportamento dos consumidores nos mercados europeus e mun-diais, que apontam claramente para a valorização do factor qualitativo, da sustenta-bilidade ecológica dos processos produtivos e dos produtos, e para uma maior sele-tividade na escolha, relacionada com a crescente preocupação por uma alimentação saudável, que se reflete na procura de alimentos biológicos e de alimentos funcionais.

• Desenvolvimento, a nível comunitário, de um sistema europeu de proteção e valori-zação de produtos tradicionais de excelência.

• Existência de um conjunto de equipas de I&D a nível nacional que trabalham na área da ecoeficiência e da optimização dos recursos através da aplicação de ferramentas

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como os Sistemas de Gestão Ambiental, as Análises de Ciclo de Vida, a Pegada da água e do carbono, as auditorias ambientais, e outras.

Ameaças

• Sector agroindustrial particularmente sensível à liberalização e globalização dos mercados.

• Concorrência internacional cada vez mais forte e competitiva.• Sector agroindustrial em constante expansão, com rápida evolução tecnológica, o

que exige uma constante atualização e formação dos quadros técnicos.• A ecoeficiência é cada vez mais um requisito para penetrar alguns dos mercados in-

ternacionais mais apelativos pelo seu poder de compra. Fruir de produtos com um baixos impactos ambientais e qualidade extra é fundamental para as classes mais es-clarecidas dos países mais desenvolvidos.

A Avaliação de Ciclo de Vida (ACV)

A Avaliação de Ciclo de Vida (ACV) é uma ferramenta de gestão ambiental que permite uma análise integrada dos aspectos ambientais e dos impactes potenciais associados a um produ-to ao longo do seu ciclo de vida, ou seja, desde a aquisição de matérias primas até à produção, utilização e deposição (“do berço ao túmulo”).

A ACV é uma importante ferramenta na avaliação da sustentabilidade da indústria agroali-mentar, na medida em que, por um lado, fornece um conhecimento alargado acerca da ativi-dade total do sector e, por outro lado, baseia-se na avaliação simultânea de vários aspectos ambientais (consumo de recursos e energia, emissões para o ar, a água e o solo) e correspon-dentes impactes no ambiente. A ACV permite assim uma abordagem global das questões ambientais de modo a que as intervenções nos processos produtivos não se limitem a uma transferência de problemas ambientais.

A ACV permite a identificação de oportunidades de melhoria ao longo de toda a cadeia pro-dutiva, e consequentemente, serve de base ao estabelecimento de prioridades no que respei-ta a investimentos que visem uma melhoria do desempenho ambiental e da sustentabilidade industrial.

A ACV é um instrumento utilizado no processo de tomada de decisão, nomeadamente na identificação dos processos e tecnologias críticos, do ponto de vista ambiental, e na análise comparativa entre processos e tecnologias alternativas, constituindo-se como um fator de competitividade.

De entre as aplicações mais comuns podemos salientar, entre outras, o desenvolvimento e melhoramento de produtos, a reformulação da estratégia interna das empresas, o marke-

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ting (por exemplo, através da declaração ambiental do produto) e a gestão de efluentes ou resíduos.

A utilização de indicadores para a avaliação da sustentabilidade dos sectores agroalimen-tares tem vindo a sofrer um incremento. O estabelecimento de metas a atingir por um país, região ou até por uma exploração ou por uma indústria agroalimentar, para cada um desses indicadores, é importante para que se possa avaliar o seu desempenho em matéria de sus-tentabilidade.

O sector agroalimentar é caracterizado pela associação de diferentes processos que estão intimamente relacionados (exploração agrícola, indústria de transformação, embalagem, transportes e distribuição do produto), dado que a qualidade de produto final está altamente dependente da combinação ideal entre os mesmos.

A identificação dos processos chave em relação ao desempenho ambiental do sistema pro-dutivo é um contributo significativo dos estudos de ACV, na medida em que contribui para uma melhor visualização do sistema no seu todo e para a clarificação da importância e do tipo de medidas de melhoria do desempenho a adoptar. A longo prazo estas medidas podem contribuir para a definição das Melhores Tecnologias Disponíveis no sector.

Atualmente, começa a tornar-se clara a necessidade de complementar as diversas políticas dos produtos, considerando todo o seu ciclo de vida. Isto deverá permitir que os impactes ambientais ao longo do ciclo de vida sejam abordados de uma forma integrada e não sejam simplesmente deslocados de uma parte do ciclo de vida para outra. Significa também que se procura sanar os impactes ambientais no momento do ciclo de vida em que há mais proba-bilidade de reduzir os impactes ambientais globais e a utilização de recursos, de uma forma economicamente eficiente.

Presentemente, é um facto reconhecido que a abordagem PIP (Política Integrada do Pro-duto), que tem vindo a ser gradualmente desenvolvida ao longo da última década, pode ser uma forma muito eficaz de encarar a dimensão ambiental dos produtos. Um dos principais princípios em que se baseia essa abordagem é o conceito de ciclo de vida, que procura redu-zir impactes ambientais acumulados de um produto, desde o “nascimento até à cova”. Ao fazê-lo, procura também impedir que as várias partes do ciclo de vida sejam consideradas de uma forma que leve simplesmente a que os encargos ambientais sejam transferidos de uma parte para outra. Ao abordar todo o ciclo de vida do produto de uma forma integrada, a PIP também promove a coerência das políticas, dando origem a medidas tendentes a reduzir os impactos ambientais no momento do ciclo de vida em que essas medidas têm mais proba-bilidade de contribuir eficazmente para a redução do impacto ambiental e de representar economias de custos para as empresas e a sociedade.

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Dados de Avaliação de Ciclo de Vida

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Fileira das Carnes

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ACV do FrangoPor Sara Belo, Ana Cláudia Dias, Luís Arroja

Objetivo: avaliar os impactes ambientais po-tenciais associados à produção de carne de frango em Portugal.

Unidade Funcional: 1 frango (1,2 kg) inteiro e embalado, à saída do matadouro.

Sistema de produto e fronteiras do sistema

As fronteiras do sistema de produto foram consideradas numa perspetiva do berço-à-porta do matadouro (“cradle-to-gate”). Na Figura 1 é apresentado o digrama representativo da ca-deia produtiva de frango e das fronteiras do sistema sob análise. O sistema é dividido em 3 subsistemas principais: produção de alimentos concentrado (SC) na fábrica; produção de frango de aviário (SFA) e abate do frango e embalamento (SM), no matadouro.

Produção de pinto do dia

Matérias-primas

Frango embaladoTransportes

Frango vivo

Fábrica de concentrados

Material para camas

Biomassa (lascas de madeira)

Eletricidade

AviárioMatadouro

Fuelóleo

Eletricidade

Fronteiras do sistema

Embalagens (PEBD e poliestireno)

SM: Abate do frango e embalamento

SC: Produção de alimentos concentrados

Receção dos pintos do diaAbate dos animais

Embalamento do frango

Produção de calor

Crescimento e engorda

Gestão das camas em  m de uso

Tratamento águas residuais Tratamento águas residuais

Eletricidade Gasóleo

Produção de agentes de limpeza

Produção de vacinas

T

T

T

T

T

T

SFA: Produção de de frango de aviário

Figura 1 - Diagrama representativo dos sistemas produtivos

associados ao ciclo de vida da carne de frango

Subsistema produção de alimentos concentrados (SC): Este subsistema envolve todas as ati-vidades relacionadas com a produção da alimentação dos frangos. A produção de alimentos

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concentrados envolve a produção de diferentes matérias-primas (principalmente cereais: milho, trigo, bagaço e óleo de soja) que são armazenados em diferentes silos. Primeiro as matérias-primas são sujeitas ao processo de moagem onde se verifica uma redução do seu tamanho, seguindo-se a sua dosagem, pesagem e mistura das diferentes matérias-primas. Em seguida, o produto é granulado utilizando o vapor produzido nas caldeiras e é armazena-do em silos ou sacos a granel para ser entregue à porta do aviário. Os fungicidas são também necessários para manter as condições de desinfeção, sendo a sua produção também incluída dentro das fronteiras do sistema. Contudo, outras matérias-primas, tais como concentrado de proteínas e fosfato monocálcico, foram excluídas do sistema de produto por falta de in-formação. Na produção de alimentos, é consumida uma grande quantidade de água da rede pública para atividades de limpeza e de produção de vapor. As águas residuais produzidas são tratadas numa ETAR e o seu tratamento foi incluído como parte do processo de produção de alimentação. Na ETAR as águas residuais são submetidas a um pré-tratamento, homo-geneização e decantação. As águas geradas na produção de vapor podem conter resíduos de fuelóleo e que por essa razão devem passar por uma dupla decantação antes de serem enviadas para a ETAR.

Subsistema produção de frango de aviário (SFA): este subsistema engloba todas as ativi-dades desenvolvidas na exploração avícola (aviário) relacionadas com a produção animal. O processo inicia-se na receção dos pintos do dia à porta do aviário. Depois são sujeitos a um período de 34 dias de engorda, sendo alimentados durante esse período com um rácio de 85 g de comida por dia e frango. Os frangos são alojados em camas de aves compostas normalmente por uma mistura de serrim, cascas e aparas de madeira. A produção destes materiais não foi considerada dentro das fronteiras do sistema, uma vez que são resíduos de outros processos industriais. Durante o período de crescimento são administrados vacinas e antibióticos. A produção e uso destes produtos farmacêuticos foram excluídos da avaliação por falta de informação.

As atividades de limpeza no aviário envolvem não só água mas também químicos. A produ-ção destes agentes de limpeza (detergentes e desinfetantes) não foi considerada dentro da fronteira do sistema.

Subsistema Abate do frango e embalamento (SM): Este subsistema considera todo o proces-so que decorre no matadouro. Este inicia-se pela receção dos frangos para abate, seguida do abate dos frangos com choque elétrico, escalda e remoção das penas e vísceras. Depois os frangos limpos são enviados para um túnel de arrefecimento e classificados por peso, e de seguida embalados. A produção dos materiais de embalagem e a sua distribuição no mata-douro foram consideradas dentro das fronteiras do sistema.

Os resíduos orgânicos deste subsistema como penas, cabeças, pés e vísceras são enviados para um tanque com um separador de líquidos e sólidos. Os resíduos líquidos com alto teor de matéria orgânica são enviados para a ETAR, enquanto os resíduos sólidos ficam armaze-nados. O destino da maioria destes resíduos sólidos é a produção de alimentos para animais. Estas atividades de tratamento dos subprodutos resultantes do matadouro foram excluídas das fronteiras do sistema.

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No matadouro é utilizada uma grande de água da rede pública para diferentes atividades (limpeza e produção). Mais uma vez a produção dos agentes de limpeza utilizados foi consi-derada fora das fronteiras do sistema, por falta de dados. As águas residuais produzidas são tratadas na ETAR do matadouro.

É importante mencionar que no desenvolvimento deste estudo não foi incluída a pro-dução/manutenção de bens de capital, tais como veículos, maquinaria, equipamentos, instalações, etc.

Alocação

Em estudos de ACV de processos multifuncionais é muitas vezes necessário recorrer à alo-cação, sendo que a seleção do critério usado poderá ter fortes efeitos nos resultados. Neste estudo, não foi necessário proceder a alocação. No aviário (SFA) o único produto é o frango industrial. Os resíduos resultantes das camas e estrume não produzem nenhuma receita para os produtores e a sua eliminação tem de ser paga.

Em relação ao matadouro (SM), o principal produto é o frango industrial embalado, pronto para consumo. Os resíduos orgânicos produzidos no matadouro são geralmente processados para a produção de alimentos para animais. Contudo, em Portugal este tipo de resíduos não tem valor comercial apesar da sua utilização como matéria-prima de alimentação animal.

Metodologia de Avaliação de Impactes (AIA)

Entre as etapas definidas na fase de análise de inventário de ciclo de vida (AICV) da metodo-logia de ACV, apenas a etapa de classificação e caracterização foram realizadas neste estudo. As etapas de normalização e ponderação não foram efetuadas, dado que estas são opcionais e não forneceriam informação robusta adicional para os objetivos estabelecidos neste estu-do. A quantificação e Avaliação dos Impactes Ambientais (AIA) foi obtida segundo os fatores de caracterização admitidos na metodologia de avaliação de impactes midpoint ReCiPe 2008 (Goedkopp et al., 2009), sendo selecionadas as seguintes categorias de impacte ambiental: alterações climáticas (AC), eutrofização de água doce (EAD), eutrofização marinha (EM) e acidificação terrestre (AT). O software GaBi 6,0 foi utilizado para a implementação computa-cional dos inventários (PE International, 2014).

AIA e interpretação dos resultados

A Tabela 1 apresenta o desempenho ambiental da produção de frango para as categorias de impacte selecionadas, expressa pela unidade funcional.

Pela análise da Figura 2, verifica-se que a produção de alimentos concentrados (SC) é o sub-sistema dominante em todas as categorias de impacte avaliadas, cuja contribuição relativa varia entre 78,5% e 99,7%.

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Categoria de impacte ambiental

Alterações climáticas (AC) kg CO2 Equivalente 2,481

0,955

0,036

0,018

g P Equivalente

kg N Equivalente

kg SO2 Equivalente

Eutrofização de água doce (EAD)

Eutrofização marinha (EM)

Acidificação Terrestre (AT)

Unidade Valor

Tabela 1 - Resultados da avaliação de impactes associados

ao sistema de produção de frango, expressos pela UF

Os restantes subsistemas (SFA e SM) tem uma importância claramente menor, contudo, para as categorias de impacte AC e AT, estes subsistemas tem alguma relevância. A produção de frango de aviário (SFA) representa uma contribuição de 14,5 e 6,1% e o abate e embalamento do frango (SM) uma contribuição de 7,0% e 3,5%, respetivamente para as referidas catego-rias. Nas restantes categorias estes subsistemas não têm uma contribuição relevante.

100%90%80%70%60%50%40%30%20%10%

0%Alterações climáticas

Eutrofização de água doce

Eutrofização marinha

Acidificação terrestre

Produção de alimentos concentrados (SC)Abate de frango e embalamento (SM)Produção de frango de aviário (SFA)

Figura 2 - Contribuição relativa (em %) dos subsistemas

envolvidos no ciclo de vida da produção de carne de frango

Produção de alimentos concentrados

Da analise da produção de alimentos concentrados (SC) (Figura 3), pode constatar-se que a produção dos produtos agrícolas constituintes dos concentrados (óleo de soja, milho, tri-go e bagaço de soja) são os processos com maior contribuição para os impactes ambientais analisados, especialmente nas categorias de eutrofização de água doce e marinha, onde a contribuição dos produtos agrícolas é muito próxima da totalidade do impacte (99,77% e 99,9%, respetivamente). Esta elevada contribuição é associada à utilização de fertilizantes nas culturas agrícolas destes produtos. O óleo de soja é o componente da alimentação com maior contribuição em todas as categorias.

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100%90%80%70%60%50%40%30%20%10%

0%Alterações climáticas

Eutrofização de água doce

Eutrofização marinha

Acidificação terrestre

Bagaço de sojaFungicidasEmissões da fábrica

TrigoElectricidadeTransportes

MilhoFuelóleo

Óleo de sojaÁgua

Figura 3 - Contribuição relativa (em %) dos processos / atividades

envolvidos no subsistema de produção de alimentos compostos

Produção animal (aviário)

Pela análise mais detalhada do SFA, apresentada na Figura 4, verifica-se que emissões do aviário, que envolvem principalmente as emissões de NH3, N2O e CH4, principalmente resul-tantes da gestão das camas dos animais (maneio, armazenamento e aplicação nos solos) são as emissões que mais contribuem para o impacte total.

100%90%80%70%60%50%40%30%20%10%

0%Alterações climáticas

Eutrofização de água doce

Eutrofização marinha

Acidificação terrestre

Electricidade

Transportes

GasóleoÁguaEmissões de aviário

Figura 4 - Contribuição relativa (em %) dos processos / actividades

envolvidos no subsistema de produção de frango de aviário (SFA)

Estas emissões são dominantes nas categorias de impacte AC, EM e AT, contribuindo com 83,3%, 82,0% e 79,7%, respetivamente. Na categoria EAD o processo dominante é a produ-ção de água, que contribui com 95,8%. A produção de eletricidade que é consumida no aviá-rio também mostrou ter uma contribuição importante para as categorias AC e AT, represen-tado 11,4% e 17,8% do impacte, respetivamente. Os restantes processos incluídos (produção

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de gasóleo e transportes) mostraram não ser importantes, dados que a sua contribuição não excede os 3% do impacte total em nenhumas das categorias analisadas.

Abate dos animais (matadouro)

A contribuição do SM não é muito relevante comparando com o impacte total resultante da produção de frango inteiro e embalado. Contudo, analisando este subsistema com maior pormenor (Figura 5), verifica-se que o consumo de eletricidade, a produção de materiais de embalagem e as emissões diretas do matadouro são os processos que mais contribuem para os impactes decorrentes deste subsistema.

As emissões geradas diretamente no matadouro, nomeadamente as emissões de P e CQO presentes no efluente gerado (emitido para a água), têm uma importante contribuição para a EM (82,5%). Por outro lado, os poluentes emitidos para a atmosfera no matadouro, também representam uma importante contribuição, nomeadamente para as categorias AC (32,0%) e AT (23,0%). Estas emissões resultam da combustão de fuelóleo para a produção do calor necessário ao processo, designadamente na escada dos animais após o abate.

O consumo eletricidade no matadouro é elevado, sendo a maquinaria de operação, refrigera-ção, iluminação, ventilação e operação ETAR, as atividades mais consumidoras.

À exceção da categoria EAD, a produção de eletricidade é um hotspot em todas as catego-rias analisadas, contribuindo entre 28,0% (nas AC) e 34,7% (na AT). A produção dos materiais de embalagem (EPS e PEBD) apresenta uma contribuição que varia entre 4,9% (na EAD) e 29,4% (nas AC), dependendo da categoria de impacte.

100%90%80%70%60%50%40%30%20%10%

0%Alterações climáticas

Eutrofização de água doce

Eutrofização marinha

Acidificação terrestre

Material de embalagem (EPS)Água

Material de embalagem (LPDE)Emissões do matadouro

ElectricidadeTransportes

Fuelóleo

Figura 5 - Contribuição relativa (em %) dos processos / atividades

envolvidos no subsistema de abate e embalagem do frango (SM)

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Os resultados obtidos permitem não só obter a estimativa do perfil ambiental por frango embalado (1,2 kg de peso de carcaça), como também identificar os hotspots ambientais da cadeia de produção.

Os processos de produção dos alimentos concentrados fornecidos aos animais foram identi-ficados como os principais contribuintes para o impacte ambiental da carne de frango. Con-tudo, na exploração avícola, as emissões diretas da exploração, essencialmente associadas à gestão das camas dos animais também foram identificadas como hotspot deste sistema. No que diz respeito ao processo de abate e embalamento do frango, cuja contribuição é expres-sivamente menor, a produção de materiais de embalagem e de energia são os processos que mais contribuem para o desempenho do perfil ambiental da carne de frango.

O o estabelecimento de mecanismos adequados para reduzir as emissões de NH3 para a at-mosfera, a utilização das camas dos frangos como fertilizante orgânico e alterações na com-posição da alimentação das aves poderão ajudar a reduzir os impactos ambientais da pro-dução de frango. Deste modo, devem ser realizadas mais pesquisas que abordem e testem estas potenciais melhorias.

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ACV da Carne de Porco Por Sara Belo, Ana Cláudia Dias, Luís Arroja, Luís Pinto de

Andrade, João Rodrigues, António Dinis Ferreira, Rosário Costa

Objetivo: avaliar os impactes ambientais potenciais associados à produção de carne de porco em Portugal.

Unidade Funcional: 1 kg de carne de porco (peso de carcaça) à saída do matadouro

Sistema de produto e fronteiras do sistema

As fronteiras do sistema de produto foram consideradas numa perspetiva do berço-ao-por-tão (“cradle-to-gate”). Assim, todos os processos e atividades envolvidos no ciclo de vida da produção de carne de porco foram considerados até ao abate dos suínos e processamento da carne na forma de carcaça inteira de porco. Desta forma, as restastes atividades e processos, tais como embalamento da carne, armazenamento, distribuição, venda a retalho, consumo e destino final foram excluídas das fronteiras do sistema. A Figura 6 apresenta o digrama representativo dos subsistemas analisados e fronteiras do estudo.

As elevadas taxas de consumo de carne de porco têm levado a alterações nos sistemas de produção, passando de sistemas tradicionais a sistemas intensivos industriais. Desta forma, tem sido conseguida uma elevada eficiência na produção, no entanto está geralmente asso-ciada a elevadas cargas ambientais. Neste sentido, este estudo foi baseado na produção de suínos em sistema intensivo.

A cadeia produtiva da produção de carne de porco (ver Figura 6) foi dividida em três subsis-temas principais: produção de alimentos compostos (SC); produção animal (SS) e abate de suínos - matadouro (SM). A produção animal geralmente envolve 4 fases ou estágios: a fase de cobrição e gestação, a fase de maternidade (que inclui o parto e a lactação), a fase de cria e crescimento, e a fase de recria e engorda.

O subsistema produção de alimentos compostos (SC) envolve todas as atividades relacio-nadas com a produção da alimentação dos suínos. A alimentação é importada de indústrias de alimentação animal, localizadas em Portugal a uma distância aproximada de 400 km da exploração suína analisada. Dependendo da fase de vida ou fisiológica dos animais são mi-nistradas diferentes dietas apropriadas à fase em que se encontram. Os alimentos concen-trados são compostos por variados ingredientes, principalmente cereais, tais como milho, cevada, trigo e soja, mas também outros componentes, nomeadamente gordura animal e

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premix, que inclui minerais, vitaminas e aminoácidos. A Tabela 2 apresenta a composição da alimentação suína (em %) para as diferentes fases de vida dos suínos, designadamente para as porcas reprodutoras em gestação e lactação, varrascos adultos, suínos em desmame e suínos em engorda.

SC: Produção de alimentos concentrados SM: Abate de suínos

SS: Produção de suinos

Exploração suinícola

Matérias-primas Eletricidade

EletricidadeGás

natural

Agentes de limpeza

SuinosEletricidade

Criação

MaternidadeRecria

Acabamento

Gestão de chorume

Fronteiras do sistema

TransportesT

Abate dos animais

Produção de calor

Tratamento águas residuais

Carne de porco (carcaça inteira)

Matadouro

Fábrica de concentrados

T

T

T

T

Figura 6 - Diagrama representativo dos sistemas produtivos

associados ao ciclo de vida da carne de porco

Composição dos Alimentos Concentrados (%)

Porcas reprodutoras (gestação)

Porcas reprodutoras (lactação)

Varrascos(adultos)

Suinos(desmame)

Suinos(engorda)

a (farinha de peixe e bolacha)b Premix (mistura de minerais, vitaminas e aminoácidos)

milho 43,1 28,2 28,2 27,0 50,0

cevada 5,0 30,1 30,0 21,5 3,0

trigo 15,0 6,4 6,4 17,5 17,7

óleo de soja 0,0 0,0 0,0 1,5 0,0

gordura animal 0,7 0,0 0,0 0,0 0,9

sêmea de trigo 13,6 7,0 7,0 0,0 0,0

soja 5,0 13,5 13,4 20,5 19,4

girassol 7,5 4,0 4,0 0,0 2,2

colza 5,5 3,0 3,0 0,0 3,0

melaço de cana de açucar 1,0 1,0 1,0 0,0 1,0

outros a 0,0 0,0 0,0 7,5 0,0

premix b 3,7 6,9 7,1 4,5 2,9

Tabela 2 - Composição de alimentos concentrados usados

para as diferentes fases de vida (porcas reprodutoras,

varrascos, suínos desmamados e em engorda)

A produção da maioria dos componentes da alimentação concentrada foi considerada dentro das fronteiras do sistema, exceto a farinha de peixe e bolacha e o premix, pela falta de dados. Neste sentido, foram consideradas as atividades agrícolas para a sua produção, incluindo a

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produção de gasóleo usado pela maquinaria agrícola e as emissões da combustão associa-das, a produção e aplicação de agro-químicos (fertilizantes, pesticidas, herbicidas, etc.), as atividades de transporte e outros recursos.

O subsistema produção de suínos (SS) engloba todas as atividades desenvolvidas na explora-ção suína, considerando todos os suínos em diferentes fases de vida (as porcas reprodutoras, os varrascos adultos, os suínos desmamados e os suínos em engorda), incluindo a gestão e armazenamento do chorume e a sua aplicação no solo agrícola.

Os animais são alojados em instalações fechadas e separados em áreas específicas, com con-dições apropriadas dependendo da fase de vida. Na fase de cobrição e gestação, as porcas reprodutoras são inseminadas artificialmente e permanecem alojadas numa área apropriada durante o período de gestação. As explorações estão atualmente a passar por um processo de transformação, em que, após o diagnóstico de gravidez as porcas são alojadas em grupo. Antes da data prevista de parto, as porcas são transferidas para local próprio (área de ma-ternidade), onde permanecem até ao desmame dos leitões. Nesta área existem várias salas com jaulas de parto, cada jaula para cada porca e a sua ninhada. Em média nascem cerca de 13 leitões em cada ninhada, dos quais, em média, 12,4 nascem vivos e 11,7 sobrevivem até ao desmame. Os leitões são desmamados cerca de 28 dias após o nascimento, altura em que as porcas reprodutoras regressam para a área de cobrição e gestação e recomeçam o ciclo de novo. Os leitões desmamados são criados numa área separada, em sistema de baterias, onde são mantidos em pequenos grupos de 21 leitões por compartimento. Por fim, após 45 dias de vida os suínos são movidos para o último alojamento (área de recria/engorda) onde são engordados até atingirem um peso óptimo para envio para abate. Os suínos engordados são abatidos com uma idade média de 180 dias e um peso aproximado de 105 kg.

Todo o sistema de produção de suínos envolve consumo de energia. A eletricidade é consu-mida em todas as áreas de alojamento (gestação, maternidade, cria e engorda) em processos de iluminação e alimentação. Na área de maternidade e cria é ainda consumida eletricidade em sistemas de aquecimento (lâmpadas Infra Vermelhas) e ventilação mecânica (termoven-tilador), respetivamente.

As áreas de alojamento são limpas manualmente duas vezes por semana, com exceção da área de cria, apenas limpa após a saída de cada grupo de animais (uma vez por ciclo). Na área da maternidade é usada uma pá de arrasto para as atividades de limpeza e nas restan-tes áreas um sistema baseado em água com pressão. Deste modo, os dejetos dos animais são maioritariamente manuseados na forma de chorume. Este é drenado por gravidade e recolhido em local apropriado. Este é submetido a tanificação e separação sólido-líquido, sendo posteriormente armazenado em lagoas de sedimentação. Periodicamente o chorume é transportado em tratores com cisterna até explorações agrícolas existentes nas mediações na exploração suína (num raio de 5 km) e espalhado nos solos.

Subsistema abate de suínos (SM): Este subsistema considera os processos no matadouro, que incluem a receção dos suínos engordados, o seu abate e processamento para a produ-

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ção de carcaça inteira de porco. Neste subsistema os principais aspetos ambientais estão associados a elevados consumos de calor, eletricidade e água. Foi assumido que os suínos são transportados 200 km da exploração suína até ao matadouro, por via rodoviária. Nes-te matadouro, os suínos são abatidos com um peso aproximado de 105 kg, resultando um peso de carcaça de 81,9 kg. Assim, resultam do processo subprodutos animais, tais como vísceras, ossos, sangue, entre outros, cujo destino depende do risco de perigosidade que lhe é associado. O destino da maioria destes subprodutos resultantes do processo de abate são destinados à produção de farinhas para a alimentação de animais ou para incineração. Estas atividades de tratamento dos subprodutos resultantes do matadouro foram excluídas das fronteiras do sistema. No matadouro existe um pré-tratamento de águas residuais, onde os efluentes resultantes das atividades do matadouro são tratados.

Alocação

Em estudos de ACV de processos multifuncionais é muitas vezes necessário recorrer à alo-cação, sendo que a seleção do critério usado poderá ter fortes efeitos nos resultados. Neste estudo, não foi necessário proceder a alocação. Na exploração suína (SS) o único produto é o suíno engordado para abate. Como já mencionado anteriormente, o chorume da exploração suína é usado como fertilizante orgânico em solos agrícolas, em substituição de fertilizantes minerais. A gestão do chorume, o armazenamento, a distribuição e os processos de espa-lhamento nos solos são tidos em consideração, bem como a produção dos correspondentes fertilizantes minerais evitados. As cargas ambientais derivadas da gestão do chorume fo-ram consideradas dentro dos limites das fronteiras e atribuídas aos suínos, apesar de este ser aplicado em solos de outras explorações. Além disso, os impactes associados à aplicação de fertilizantes minerais nos solos também foram deduzidos ao subsistema. Em relação ao matadouro (SM), o principal produto é a carne de porco (carcaça inteira) pronta para entrega aos mercados finais. Relativamente aos subprodutos animais de ambos os subsistemas foi considerado fora dos limites do sistema a sua posterior valorização, para produção de calor (incineração) e de alimentos concentrados para animais.

Metodologia de Avaliação de Impactes

Entre os passos definidos na avaliação de impactes de ciclo de vida da metodologia de ACV normalizada (ISO 14040, 2006), apenas a classificação e normalização foram considerados neste estudo.

Os sistemas de produção animal (neste caso, produção de suínos) envolve emissões para o ambiente e o consumo de recursos (água, combustíveis fosseis, etc.). Os efeitos ambientais dessas emissões e consumo de recursos podem ser demonstrados ao nível de diferentes ca-tegorias de impacte, nomeadamente, alterações climáticas, eutrofização de água doce, eu-trofização marinha e acidificação terrestre, consideravelmente afetadas pelas emissões de CO2, CH4, NH3 e N2O.

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AIA e interpretação dos resultados

A Tabela 3 apresenta o desempenho ambiental da produção de carne de porco para as ca-tegorias de impacte selecionadas. A Figura 7 mostra a contribuição de cada subsistema no impacte ambiental total da produção de carne de porco, para cada categoria de impacte considerada. Assim, pode ser identificado o subsistema responsável pela maior contribui-ção das cargas ambientais. De acordo com os resultados, o subsistema relacionado com a produção dos alimentos compostos (SC) é a principal origem das cargas ambientais, quando comparadas as categorias analisadas neste estudo. A produção animal (SS) é um fator im-portante para a categoria alterações climáticas, com uma contribuição de 12% no impacte total do produto.

Categoria de impacte

Alterações climáticas (AC) kg CO2 Equivalente 3,335

0,001

0,041

0,023

g P Equivalente

kg N Equivalente

kg SO2 Equivalente

Eutrofização de água doce (EAD)

Eutrofização marinha (EM)

Acidificação Terrestre (AT)

Unidade Valor

Tabela 3 - Resultados da avaliação de impactes por kg de

carne (peso de carcaça) associada ao sistema de produção

de carne de porco industrial (sistema intensivo)

Produção de alimentos compostos (SC)Produção animal (SS)Abate e processamento (SM)

100%90%80%70%60%50%40%30%20%10%

0%Alterações climáticas

Eutrofização de água doce

Eutrofização marinha

Acidificação terrestre

Figura 7 - Contribuição relativa (em %) dos subsistemas

envolvidos no ciclo de vida da produção de carne de porco

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Produção de alimentos compostos

No subsistema SC (Figura 8), a produção dos componentes alimentares, no seu conjunto, foi identificada como o maior contribuinte para todas as categorias. A produção destes compo-nentes envolve não só as atividades agrícolas relacionadas com a produção de soja, cevada, trigo, cana-de-açúcar, colza e girassol, mas também o seu processamento para produção de açúcar ou óleo, assim como o processamento para a produção de gordura animal. Foram identificados 4 ingredientes como hotspots ambientais: soja (óleo e farelos), milho, trigo e cevada. A produção destes ingredientes apresenta uma contribuição para o impacte ambien-tal da produção de alimentos compostos, que varia de 8% a 9%, dependendo da categoria de impacte.

A produção de energia elétrica e as atividades de transporte relacionadas com o abasteci-mento dos componentes da alimentação, desde o local de produção até à fábrica de produ-ção dos alimentos compostos, foram considerados, no entanto representam contribuições muito pequenas para o perfil ambiental do SC, exceto nas categorias alterações climáti-cas e acidificação terrestre, onde as atividades de transportes contribuem com 4% e 12%, respetivamente.

100%90%80%70%60%50%40%30%20%10%

0%Alterações climáticas

Eutrofização de água doce

Eutrofização marinha

Acidificação terrestre

TransportesSêmea de trigoCevada

ColzaGordura animalÓleo de soja

GirassolMelaço de cana de açucarSoja

TrigoMilhoElectricidade

Figura 8 - Contribuição relativa (em %) dos processos/atividades

envolvidos no subsistema de produção de alimentos compostos (SC)

Produção Animal (exploração suína)

A Figura 9 apresenta as contribuições dos processos/atividades considerados, no perfil am-biental do SS, para cada categoria de impacte avaliada. Pela sua análise, verifica-se que o SS é um importante fator que influencia a categoria de impacte alterações climáticas e acidifi-cação terrestre em 1% e 5%, respetivamente. As contribuições para as Alterações Climáticas são principalmente relacionadas com as emissões ocorridas na exploração (maioritariamente CH4) derivadas da fermentação entérica, assim como da gestão, armazenamento e aplicação do chorume.

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Pode também observa-se pela Figura 9 que as emissões resultantes da gestão e armazena-mento do chorume, incluindo também as emissões de CH4 provenientes da fermentação entérica, tais como N2O, NH3, NOx e CH4 contribuem negativamente para as categorias al-terações climáticas, eutrofização marinha e acidificação terrestre, com uma contribuição de 1%, 3% e 7%, respetivamente.

A aplicação do chorume no solo envolve não só as emissões resultantes da aplicação de cho-rume no solo, como também as emissões decorrentes da produção e combustão de gasóleo utilizado pela maquinaria agrícola no espalhamento do chorume e seu no transporte, desde a exploração suína até aos solos onde é aplicado. A contribuição deste processo é importante em todas as categorias analisadas, com uma contribuição que varia entre % e 6%, dependen-do da categoria. Como anteriormente mencionado, a utilização do chorume como fertilizan-te orgânico nos solos agrícolas evita a produção de quantidades específicas dos minerais N, P e K em que são baseados os fertilizantes. Essa produção evitada de fertilizantes minerais, como mostra a Figura 9, é responsável por cargas ambientais positivas (créditos ambientais), contribuindo para a redução das cargas ambientais.

Produção de eletricidadeGestão e armazenamento do chorumeFertilizantes minerais evitados

Consumo de águaAplicação de chorume no solo

100%90%80%70%60%50%40%30%20%10%

0%

Alterações climáticas

Eutrofização de água doce

Eutrofização marinha

Acidificação terrestre

Figura 9 - Contribuição relativa (em %) dos processos/

atividades envolvidos no subsistema de produção animal

Abate dos animais (matadouro)

Este subsistema, relacionado com as atividades de abate no matadouro, representa contri-buições pouco significantes em todas as categorias sob avaliação (Figura 10). As contribui-ções mais elevadas contribuem com 2% e 1% para impacte ambiental total da carne de por-co, nas categorias alterações climáticas e acidificação terrestre, respetivamente.

As necessidades de eletricidade no matadouro são um fator de importância neste subsis-tema, com contribuições que variam entre 3% e 61% para as categorias analisadas. As ati-vidades de transporte (transporte dos suínos desde a exploração suína até ao matadouro) são também bastante notáveis (devido ao consumo de gasóleo e emissões resultantes da

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combustão) em todas as categorias de impacte analisadas. O consumo de água da rede é importante para a categoria eutrofização de água doce, com uma contribuição de 5%, as-sim como a produção de agentes de limpeza, com uma contribuição relativamente menor (10%). A água residual produzida no matadouro é enviada para uma estação de tratamento de águas residuais, cujas operações foram consideradas dentro das fronteiras do sistema. No entanto, este processo apresenta baixas contribuições no impacte total do sistema avaliado. Por fim, a produção de calor em caldeiras, utilizando gás natural como combustível, apre-senta igualmente uma contribuição pouco importante para o perfil ambiental das atividades relacionadas com o matadouro (inferiores a 5%).

Transportes Prod.agentes de limpezaProd. e combustão gás naturalTratamento de efluentes

Consumo de água Produção de eletricidade

100%90%80%70%60%50%40%30%20%10%

0%Alterações climáticas

Eutrofização de água doce

Eutrofização marinha

Acidificação terrestre

Figura 10 - Contribuição relativa (em %) dos processos/

atividades envolvidos no subsistema de abate de animais

As atividades relacionadas com a produção de alimentos compostos para suínos foram iden-tificados como o principal contribuinte para todas as categorias de impacto analisadas, devi-do aos consumos de combustíveis fósseis em máquinas agrícolas, bem como a produção de agrotóxicos e a sua aplicação. As atividades envolvidas na exploração suína representam a segunda maior influencia, enquanto as atividades relacionadas com o matadouro apresen-tam um efeito muito pouco importante. Na exploração suína a gestão do chorume produzido (maneio, armazenamento e aplicação em solos agrícolas) são os principais responsáveis pe-los impactes ambientais.

Os resultados deste estudo estão em linha com os outros estudos reportados na literatura, o que indica que as práticas portuguesas são representativas para as estratégias europeias. As elevadas cargas ambientais resultantes da produção de alimentos compostos para a sui-nicultura destacam a necessidade de mais estratégias de mitigação focados na sua redução.

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ACV da Carne de Bovino

Sara Belo, Ana Cláudia Dias, Luís Arroja,

Manuel Feliciano, Fernando Sousa, José

Carlos Almeida, Henrique Trindade

Objetivo: avaliar os potenciais impactes ambientais associados à produção de carne bovina produzida em explorações portuguesas, identificar as fases ou processos com maior contri-buição para o perfil ambiental do produto e possíveis oportunidades de melhoria face aos resultados obtidos.

Unidade Funcional: 1 kg de carne bovina (peso de carcaça) à porta do matadouro.

Sistema produto e fronteiras do sistema

A ACV elaborada avalia quatro cenários para a produção de carne de novilho, que consideram alguns dos sistemas de produção mais característicos de Portugal, e se diferenciam, nomea-damente, pela tipologia dos sistemas de produção, modos de produção, bem como na ges-tão da alimentação (qualidade e tipologia de alimentos).

São avaliados neste projeto os seguintes cenários:

• Cenário A (CA) – Criação de vitelos em sistema extensivo (SC_Ext) seguido da recria e engorda em sistema extensivo (SE_Ext) e o abate dos animais no matadouro (SM).

• Cenário B (CB) - Criação de vitelos em sistema extensivo (SC_Ext) seguido da recria e engorda em sistema intensivo (SE_Int1) e o abate dos animais no matadouro (SM).

• Cenário C (CC) – Criação de vitelos em sistema extensivo, em modo de produção bio-lógico (SC_Ext_Bio) seguido da recria e engorda em sistema intensivo (SE-Int2).

• Cenário D (CD) - Criação de vitelos em sistema semi-intensivo (SC_SI) seguido do abate dos animais no matadouro (SM), à idade de desmame.

Cenário A

O sistema de produção extensiva caracteriza-se pelo aproveitamento de recursos naturais, designadamente pela utilização de raças bovinas autóctones e pastagens naturais em gran-des áreas de terreno. Este tipo de sistema apresenta baixo encabeçamento e os animais têm ritmos reprodutivos mais baixos, sendo a produtividade mais baixa consequência do menor

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controlo animal e alimentar. Todavia, os produtos deste tipo de sistemas têm uma valoriza-ção acrescida resultado da importância das questões ambientais e de sustentabilidade cada vez mais tidas em consideração.

O diagrama representativo dos sistemas produtivos incluídos nas fronteiras do sistema de produção de carne de novilho no CA é apresentado na Figura 11. Este sistema é dividido em 3 subsistemas.

Criação de vitelos em sistema extensivo (SC_Ext): Este subsistema envolve todos os proces-sos associados à criação de vitelos em sistema extensivo, nomeadamente relacionados com a produção dos alimentos, (pasto, concentrados e forragens/silagens), maneio dos animais e emissões da exploração. São incluídos todos os animais reprodutores da exploração, os vite-los desde o nascimento ao seu desmame, bem como a recria se substituição necessária para a manutenção do efetivo reprodutor.

Os animais encontram-se permanentemente em pastoreio, alimentando-se em pastagens naturais e de algumas forragens semeadas destinadas ao pastoreio direto. Contudo, sendo esta alimentação em grande parte do ano muito desequilibrada, os animais são devidamente acompanhados e são-lhes fornecidas suplementações (alimentos concentrados) adaptadas à fase de vida de cada animal, quer ao nível da quantidade fornecida, quer ao nível do valor nu-tritivo. Esta suplementação permite que os animais reprodutores melhorarem a sua condição corporal e consequentemente os índices produtivos e reprodutivos. Os animais jovens tam-bém suplementados obtêm crescimentos mais precoces, permitindo, no caso dos animais destinados à substituição dos reprodutores, entrarem à reprodução mais cedo e nos animais destinados ao abate atingir as condições necessárias, com menos idade, maior peso e melho-res carcaças. Os vitelos são desmamados quando estes atingem os seis meses, podendo este período ser alargado conforme a época do ano, condição corporal das mães, desenvolvimen-to dos próprios vitelos e condições climáticas.

Os alimentos concentrados fornecidos aos animais são compostos por variados ingredien-tes, principalmente grãos de cereais e (óleo) proteaginosas, tais como milho, cevada, trigo, girassol e soja, mas também outros componentes, nomeadamente aditivos, compostos por minerais, vitaminas, aminoácidos, entre outros. Foram considerados dentro das fronteiras do sistema os processos de produção de todos os ingredientes, à exceção das matérias-primas alfarroba, e alguns aditivos, designadamente, fosfato bicálcico e premix. Estes processos não foram considerados por falta de informação sofre a sua produção. Porém, importa realçar que representam, em termos mássicos, menos de 8% da composição de cada concentrado.

Recria e engorda de novilhos em sistema extensivo (SE_Ext): Este subsistema considera a recria dos vitelos macho desde o desmame até aproximadamente aos 20-21 meses de idade, quando atingem um peso de 620 kg e são prontos para serem abatidos. Os animais estão em pastoreio permanente durante esta fase, depositando a urina e fezes no pasto. Os novilhos recriados alimentam-se de pasto mas são adicionalmente alimentados com concentrados,

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silagens e palha. No que diz respeito aos alimentos concentrados aplica-se a informação for-necida para o SC_Ext.

Vacas de refugo e vitelas ao desmame

Recria de novilhas de substituição

Deposição direta das fezes e urina

durante a pastagem dos animais

Matérias-primas

Eletricidade Nafta

Vitelos

Pastos

Deposição direta das fezes e urina durante

a pastagem dos animais

Pastos

Fertilizantes

Gasóleo

Fertilizantes

Gasóleo

Água

Água

Água

Sangria

Esfola

Separação dos membros e cabeça

Matérias da categoria 1 e 2 (incineração)

Matérias da categoria 3

(transformação de subprodutos

animais)

Gás natural

Palha (trigo)

Palha (trigo)

Recia/engorda dos vitelos

Vitelos de corte

(6 meses; 220kg pv)

Vacas e touros

Feno silagem (Avex)

Feno de

aveiaFabricação dos concentrados

Concentrados

Matérias-primas

Eletricidade

Eletricidade

Eletricidade AtordoamentoEvisceração

Refrigeração

Produção de calor

Carne de novilho(carcaça inteira 353kg pc)

Carne de outras espécies

Novilho para abate (17 meses; 620kg pv)

Tratamento de águas residuais

Limpeza e preparação �nal

Pesticida

Luvas (latex)

Nafta

Fabricação dos concentrados

Concentrados

Unidade animal

Unidade animal

SC_Ext: Criação de vitelos em sistema extensivo

SE_Ext: Recria e engorda em sistema extensivo

SM: Abate dos animaisMatadouro

Fron

teira

s do

sis

tem

a

Agen

tes

quím

icos

TransportesT

T

T T T

T

T

T

T

T

T

T

T

T

Figura 11 - Diagrama representativo dos sistemas produtivos

associados ao ciclo de vida da carne de novilho, considerados no CA

Abate dos animais (SM): Este subsistema engloba as atividades desenvolvidas no matadouro desde a receção dos animais vivos até à expedição da carne (carcaça) do matadouro. O pro-cesso de abate inicia-se na receção dos animais no matadouro, que são estabulados e sujei-tos a inspeção sanitária. Os animais conformes seguem para a linha de abate, onde é feito o atordoamento e logo de seguida a sangria. O sangue resultante é submetido a um processo de cozedura e enviado para incineração com as restantes matérias da categoria 12. Após esta etapa segue-se à separação dos membros e da cabeça e o corte externo, seguindo-se a esfo-la, a evisceração e separação das fressuras. De seguida é feita a limpeza e preparação final, com a utilização de água. Em todas estas etapas são produzidos subprodutos animais não

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destinados a consumo humano, cuja categoria (1, 2 ou 3) e respetivos destinos são definidos por regulamentos europeus2 3. As carcaças tornam a ser inspecionadas e as consideradas conformes são cortadas em duas metades e marcadas, quanto à sua salubridade e peso. Fi-nalmente as carcaças são enviadas para o túnel de arrefecimento rápido, seguindo para a câmara de refrigeração, onde permanecem até à expedição do matadouro. As instalações e equipamentos do matadouro são limpos manualmente e diariamente com detergentes, desinfetantes e água com pressão.

Tendo em consideração o processo acima descrito, neste subsistema foram incluídos os pro-cessos de produção de água da rede e de energia (eletricidade e combustíveis), requeridos para o processo de abate. A produção de agentes químicos de limpeza e de desinfeção foram excluídos do sistema, por falta de informação sobre a sua produção. O transporte dos quími-cos desde o fornecedor até à unidade de abate foi incluído nas fronteiras do sistema. De igual modo foi considerado o transporte dos animais desde as explorações onde são produzidos até ao matadouro, bem como o transporte dos subprodutos não destinados a consumo hu-mano (materiais de categoria 1, 2 e 3), do matadouro até aos respectivos destinos (centros de incineração ou transformação). Por fim, foi ainda incluído nas fronteiras do sistema o tra-tamento das águas residuais geradas no processo e as emissões atmosféricas decorrentes da queima de combustíveis para a produção de calor.

Cenário B

A aplicação de um sistema de produção intensivo numa exploração pecuária tem como prin-cipal interesse a criação rápida e lucrativa do produto final. Para isso recorrem-se a sistemas em feedlot, em que os animais se encontram confinados.

Em Portugal, é comum a produção de novilhos em sistemas intensivos por duas vias: a engor-da de vitelos provenientes de explorações de vacas aleitantes e a recria e acabamento de vi-telos provenientes de explorações leiteiras, nas quais estes não são o produto principal, mas podem representar uma parte relevante do rendimento global das explorações. Contudo, a nível nacional cerca ¾ da recria intensiva de novilhos provém de explorações orientadas para a produção de carne.

Neste sentido, o sistema produto deste cenário (CB), ilustrado na Figura 12, é dividido em três subsistemas: a criação de vitelos até ao desmame (aproximadamente 6 meses) em sistema extensivo (SC_Ext), seguindo da recria e acabamento dos vitelos machos em regime inten-sivo (SE_Int1), numa exploração distinta, situada a aproximadamente 300 km de distância e por fim o abate dos animais (SM). Os subsistemas SC-Ext e SM são descritos no CA, uma vez que são comuns em ambos os cenários.

Recria e engorda em sistema intensivo (SE_Int1): Este subsistema incluí todos os processos necessários à recria e engorda dos vitelos desmamados, desde que saem da exploração onde são produzidos (incluindo o transporte dos animais entre explorações) até à saída da explo-

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ração de recria e engorda, prontos para abate. O subsistema é dividido em 3 processos (con-centrados, silagens e unidade animal), descritos abaixo.

Concentrados: Este processo envolve todas as atividades relacionadas com a produção dos alimentos concentrados fornecidos aos animais. Nesta fase, os novilhos são alimentados com concentrados apropriados ao crescimento e acabamento (um período mais curto antes do abate). Os alimentos concentrados são compostos por variados ingredientes, principal-mente gramíneas e (óleo) proteaginosas, tais como milho, cana de açúcar, colza, e soja (nas formas de grão, melaço, bagaço ou cascas) mas também outros componentes, nomeada-mente aditivos, compostos por minerais, vitaminas, aminoácidos, entre outros. Foram consi-derados dentro das fronteiras do sistema os processos de produção de todos os ingredientes, à exceção de alguns aditivos, designadamente, sabões cálcicos, bicarbonato de sódio, fosfa-to, nutrinova 824 novilhos 0,4 e levucell sc 2. Estes processos não foram considerados devido à falta de informação acerca da sua produção. Porém, importa realçar que representam, em termos mássicos, aproximadamente 4% da composição de cada concentrado.

SE_Int: Recria e engorda em sistema intensivo

SC_Ext: Criação de vitelos em sistema extensivo

Matérias-primas GasóleoSilagem Sementes

Água

Fertilizantes e pesticidas

Eletricidade Eletricidade

EstrumeUnidade animalAgentes de limpeza

Cultivo das culturas

Espalhamento do estrume nos terrenos

agrícolas

Vacas de refugo e vitelas ao desmame

Carne (carcaças inteiras) de

outras espécies

Gestão do estrume (estábulo e

armazenamento)Recria/engorda

dos vitelos

Nafta

Palha

Água

Fabricação dos concentrados

Concentrados

Vitelos de corte

(6 meses; 220kg pv)

Novilho para abate (21 meses; 800kg pv)

Carne de novilho(carcaça inteira 456 kg pc)

SM: Abate dos animais

T T

Fronteiras do sistema

T T T

T

T

T

T

Figura 12 - Diagrama representativo dos sistemas produtivos

associados ao ciclo de vida da carne de novilho, considerados no CB

O processo de produção de concentrados é realizado pela cooperativa a que a exploração está associada e inclui a receção e armazenamento dos ingredientes, a moagem e mistura destes, a transformação em granulado, a secagem e o armazenamento.

Silagens: Este subsistema inclui todas as operações de produção da silagem utilizada na ali-mentação dos animais. Durante o ano, os produtores da exploração de bovinos fazem duas culturas, cuja colheita conservam na forma de silagem. Na Primavera cultivam o milho forra-gem (Zea mays L.), seguido de forragem de azevém (Lolium multiflorum) no Outono/Inverno. No caso do milho forragem, atingem-se produções na ordem das 65 t por hectare de matéria

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verde (33% Matéria Seca (MS)) e nas forragens de azevém produzem cerca de 35 t por hectare de matéria verde (2% MS).

Aos processos de produção de silagem estão associadas as operações de preparação do solo, que incluem o espalhamento do estrume como fertilizante orgânico (recolhido nas nitreiras da exploração e transportado em tratores com reboque até aos terrenos agrícolas). Adicio-nalmente são também aplicados fertilizantes minerais azotados, de fundo ou cobertura. É efetuada a sementeira, a aplicação de herbicidas e rega, a colheita, ensilagem, transporte até ao silo, distribuição e calcamento da silagem. Na cultura de Outono/Inverno não é realizada a aplicação de herbicida, nem necessária a irrigação, considerando que a precipitação é sufi-ciente para as necessidades da cultura.

Unidade animal: Este subsistema engloba atividades desenvolvidas na exploração de recria e engorda de novilhos, que incluem o maneio dos bovinos e a gestão do estrume (estábulo e armazenamento).

Os vitelos entram na fase de recria e acabamento após o desmame (aproximadamente aos 6 meses de vida, com um peso médio de 220 kg), onde permanecem durante aproximada-mente 15 meses, sendo enviados para abate ao atingirem 800 kg. Durante este período os novilhos encontram-se confinados, sendo alimentados com forragens conservadas (fenos e silagens) e alimentos concentrados Existe uma produção significativa de estrume (fezes, uri-na e camas) nas instalações em que os animais se encontram que é recolhido periodicamente com trator e carregador frontal e transportado até uma nitreira situada nas imediações das instalações. O estrume permanece na nitreira, sendo aplicado em Abril e Setembro nas cultu-ras forrageiras produzidas para a alimentação dos animais, como fertilizante orgânico.

Cenário C

O Modo de Produção Biológico (MPB) é uma forma de produção ecológica focada no cum-primento dos princípios do equilíbrio natural, e portanto em garantir a sustentabilidade. O objetivo principal do MPB é otimizar a produção e não a maximização da produção.

A pecuária biológica é uma atividade de produção animal que se insere numa atividade agro-pecuária da unidade de produção, como parte integrante da agricultura biológica.

Este é um dos sectores da produção agroalimentar que tem vindo a ganhar uma notoriedade crescente a nível global, e nomeadamente em Portugal. Este crescimento deve-se às cres-centes preocupações ambientais, bem-estar animal, condições de trabalho dos tratadores e da qualidade e segurança alimentar, facto que faz da produção animal em modo biológico uma atividade que ganha cada vez mais seguidores da parte dos consumidores, assim como dos produtores. Contudo, tendo em consideração as condicionantes implícitas a este tipo de produção, não é comum em Portugal efetuar a recria de vitelos em MPB. Deste modo, neste cenário é avaliado um sistema de produção extensivo de vitelos em MPB, seguido de uma recria/acabamento de alguns dos vitelos em modo de produção convencional.

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O sistema produto deste cenário (CC), ilustrado na Figura 13, é dividido em três subsistemas: criação de vitelos em sistema extensivo, em MPB (SC_Ext_Bio) seguido da recria e engorda em sistema intensivo (SE-Int2) e por fim o abate dos animais (SM). O subsistema SM é descri-to no CA, uma vez que é comum em todos os cenários analisados.

Vacas de refugo e vitelas ao desmame (abate em

matadouro)

Recria de novilhas de substituição

Recria/engorda dos vitelos

Gestão do estrume(estábulo e

armazenamento)

Espalhamento do estrume nos terrenos

agrícolas

Deposição direta das fezes e urina

durante a pastagem dos animais

Matérias-primas

Eletricidade Nafta

Vitelos

Pastos

Estrume

Fertilizantes

Gasóleo

Água

Feno Silvagem Palha

Vacas e touros

Fabricação dos concentrados

Concentrados

Unidade animal

Unidade animal

SC_Ext: Criação de vitelos em sistema extensivo, em modo produção biológico

T

T T

T

Vitelos de corte

(6 meses; 220kg pv)

Matérias-primas

Eletricidade Nafta

Fabricação dos concentrados

Concentrados

SE_Ext: Recria e engorda em sistema extensivo

T

T

Água GasóleoPalha

Carne (carcaças inteiras) de

outras espécies

Novilho para abate (8 meses; 250kg pv)

Carne de novilho(carcaça inteira

142,5 kg pc)

SM: Abate dos animaisT

Fron

teira

s do

sis

tem

a

TransportesT

Figura 13 - Diagrama representativo dos sistemas produtivos

associados ao ciclo de vida da carne de novilho, considerados no CC

Criação de vitelos em sistema extensivo, produção em modo biológico (SC_Ext_Bio): Este subsistema envolve todos os processos associados à criação de vitelos em sistema extensi-vo, produzidos em modo biológico, nomeadamente relacionados com a produção dos ali-mentos (pasto, concentrados e forragens), maneios dos animais e emissões da exploração. São incluídos todos os animais reprodutores da exploração, os vitelos desde o nascimen-to ao seu desmame, bem como a recria se substituição necessária para a manutenção do efetivo reprodutor.

As vacas encontram-se em pastoreio o ano inteiro. O desmame dos vitelos ocorre entre os 6 e 8 meses de idade, dependendo do mês de nascimento e, especialmente da dispo-nibilidade de pastagem durante o ano. Os vitelos que seguem para a recria e engorda são desmamados mais cedo, por volta dos 5/6 meses, enquanto os vitelos abatidos ao desma-me, são desmamados mais tarde, aproximadamente aos 8 meses. Realça-se que o modo de produção do efetivo de substituição segue o MPB no que respeita a práticas de maneio

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alimentar / sanitário. As novilhas recriadas para substituição juntam-se às vacas adultas aos 16/18 meses de idade.

A alimentação, neste modo de produção, destina-se a assegurar uma produção de qualidade. Assim, sendo desejável que a exploração seja sustentável, os alimentos deveriam ser prefe-rencialmente produzidos na própria exploração e segundo o Modo de Produção Biológico. Contudo, caso este requisito não possa ser cumprido, é permitida a incorporação de alimen-tos em fase de conversão ou até produzidos fora da exploração desde que se respeite as dis-posições do regulamento do modo de produção biológico. No presente estudo é analisada uma exploração produz na própria exploração grande parte dos alimentos para os animais, nomeadamente a pastagem (prado permanente de regadio à base de trevo subterrâneo coberto de azinho) e alimentos forrageiros (feno silagem) ou adquire alimentos produzidos localmente, noutras explorações próximas (designadamente palha). Adicionalmente os ani-mais são também suplementados com alimentos concentrados que cumprem os requisitos do regulamento do modo de produção biológico, e de acordo com o plano de gestão da ex-ploração, para que se possa tirar o melhor partido dos recursos disponíveis.

As vacas em pastoreio permanente são também alimentadas com palha e feno silagem nos meses julho/agosto e novembro e nos meses de julho a setembro, em alternativa ao feno silagem é-lhes fornecido 2,5 kg por dia e animal de alimento concentrado (tacos).

Os vitelos são suplementados a partir dos 4 meses até ao desmame com 0,5 a 1,5 Kg de ali-mento por·dia e·animal de alimento concentrado. De 12 em 12 dias fornece aos animais dois polos de feno silagem e 5 fardos de palha. As novilhas de substituição são exclusivamente alimentadas com pasto natural.

Os prados são fertilizados com fertilizante azotado (26,5% de P2O5), aceite para a agricultu-ra biológica, com 100 Kg por hectare e ano. Neste âmbito, são considerados dentro das fron-teiras do sistema os processos de produção de alimentos concentrados, feno silagem, palha, fertilizante usado nos prados, gasóleo consumido na gestão da exploração (nomeadamente na distribuição dos alimentos, maneio animal, fertilização, entre outros) e água.

Os alimentos concentrados fornecidos aos animais são compostos por variados ingredientes, principalmente grãos de cereais e (óleo) proteaginosas, tais como milho, cevada, trigo, giras-sol, luzerna e soja, mas também outros componentes, nomeadamente polpa de citrinos e outros aditivos, compostos por minerais, vitaminas, aminoácidos, entre outros. Foram consi-derados dentro das fronteiras do sistema os processos de produção de todos os ingredientes, à exceção das matérias-primas polpa de citrinos, e alguns aditivos, designadamente, fosfato bicálcico, sepiolita e premix. Estes processos não foram considerados por falta de informação sofre a sua produção.

Porém, importa realçar que, em termos mássicos, os processos excluídos representam me-nos de 7% da composição de cada concentrado.

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Recria e engorda em sistema intensivo (SE-Int2): Este subsistema incluí todos os processos necessários à recria e engorda dos vitelos desmamados (apenas machos), desde o desmame até à saída da exploração de recria e engorda, para o matadouro, incluindo a produção dos alimentos, o maneio dos bovinos e a gestão do estrume (estábulo e armazenamento) e sua aplicação nos solos.

A recria e acabamento dos vitelos macho ocorre entre o desmame e a venda para abate (aos 240 dias de vida). Os animais recriados são produzidos em modo convencional e os animais são mantidos em estabulação livre. Enquanto estão estabulados os animais são alimentados com palha de trigo e suplementados com concentrados. A palha de trigo é produzida em explorações locais e adquirida pelo produtor bovino. Esta é fornecida aos animais de dois em dois dias, estimando-se um consumo de 340 kg por ciclo de produção. Diariamente são alimentados com 4,5 kg de concentrado·animal-1·dia-1.

O estrume, que se mistura com a palha caída dos comedouros e água da chuva é recolhido com um trator com frontal (com capacidade aproximada para 0,5 a 0,7 toneladas, dependen-do do estado sólido/liquido do estrume) e armazenado numa estrumeira a céu aberto, situa-da a cerca de 100m do estábulo. O estrume depois de curtido é dado a vizinhos e também se utiliza como fertilizante da vinha do proprietário.

Os alimentos concentrados fornecidos aos animais são compostos por variados ingredientes, principalmente grãos de cereais e (óleo) proteaginosas, tais como milho, cevada, trigo, giras-sol, luzerna e soja, mas também outros componentes, nomeadamente polpa de citrinos e ou-tros aditivos, compostos por minerais, vitaminas, aminoácidos, entre outros. Foram conside-rados dentro das fronteiras do sistema os processos de produção de todos os ingredientes, à exceção das matérias-primas polpa de citrinos, e alguns aditivos, designadamente, sepiolita. Estes processos não foram considerados por falta de informação sofre a sua produção. Po-rém, importa realçar que, em termos mássicos, os processos excluídos representam menos de 7% da composição do concentrado.

Cenário D

As explorações da Região Norte e do Litoral Centro, só recriam as fêmeas de substituição, sendo as restantes abatidas ao desmame. Nestas regiões, os partos ocorrem durante todo o ano pese embora se observe uma maior ocorrência de partos na Primavera. As vacas re-colhem todos os dias ao alojamento onde permanece o vitelo até à idade de desmame. No Inverno, na Região Norte interior de montanha, é comum as vacas permanecerem estabula-das por dois a três meses (Janeiro, Fevereiro e Março), sendo que no período restante do ano, saem a pastorear todos os dias.

Neste cenário é avaliada a produção semi-intensiva de novilhos, em que os vitelos, criados até ao desmame, se encontram sempre estabulados no viteleiro e os animais reprodutores, assim como os de substituição, se encontram semi-estabulados e em pastoreio 9 a 10 me-ses por ano. Na Figura 14 estão representados os processos incluídos nas fronteiras deste

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sistema, sendo este dividido nos subsistemas: Criação de vitelos em sistema semi-intensivo (SC_SI) e abate dos animais no matadouro (SM). Este último subsistema é apenas descrito no CA, dado ser comum em todos os cenários.

Criação de vitelos em sistema semi-intensivo (SC_SI): Este subsistema abrange as ativida-des desenvolvidas na exploração de criação de vitelos em sistema semi-intensivo, designa-damente o maneio alimentar dos animais e a produção dos alimentos, a gestão do estrume (estábulo e armazenamento) e as emissões que ocorrem na exploração. São incluídos todos os animais reprodutores da exploração, os vitelos desde o nascimento ao seu desmame, bem como a recria se substituição necessária para a manutenção do efetivo reprodutor.

Matérias-primas

Eletricidade Eletricidade

Estábulo e viteleiro

Gestão do estrume

(estábulo e armazenamento)

Gasóleo

Água

PastoUnidade animalEstrume

Água

Agentes de limpexa

Cultivo das culturas

Fertilizantes e pesticidas

Sementes

Nafta

Palha

Fabricação dos concentrados

Concentrados Silagens

T

T

T

TT

Deposição direta das fezes e urina durante a pastagem dos animais

Espalhamento do estrume nos terrenos agrícolas

Novilho para abate (8,5 meses; 325kg pv)

Vacas de refugo

Carne (carcaças inteiras) de

outras espécies

Carne de novilho(carcaça inteira 184,3 kg pc)

SM: Abate dos animaisT

Fronteiras do sistema

SC_SI: Criação de vitelos em sistema semi-intensivo

TransportesT

Figura 14 - Diagrama representativo dos sistemas produtivos

associados ao ciclo de vida da carne de novilho, considerados no CD

As vacas, o touro e o novilho pastoreiam de Abril a Novembro/Dezembro e nos meses de Agosto a Outubro são suplementados com forragem. As novilhas também pastoreiam, mas são mantidas separadas das vacas até aos 18 meses, altura em que são cobertas para que os partos ocorram a idade média de 27 meses. Diariamente distribui nas manjedouras dos aos animais feno de pastagem natural e aveia. Toda a aveia fornecida aos animais é produzida na própria exploração, bem como a maioria do feno de pastagem fornecido (cerca de 75%). O restante feno de lameiro é produzido em explorações vizinhas. Todos os animais, à excep-ção das vacas são suplementados com alimentos concentrados. Os concentrados são forne-cidos aos touros e novilhos diariamente, às novilhas são fornecidos apenas entre os 16 e 18 meses de idade (altura em que são cobertas pelo touro), e aos vitelos desde os 2 meses de idade até ao abate.

No estábulo e viteleiro é usada palha de centeio nas camas dos animais, sendo esta produzida na exploração. No verão as vacas, o touro e o novilho não consomem palha nas camas. Nas restantes estações, e em particular no Inverno, as vacas gastam mais porque estão muito tempo estabuladas. A cama é refeita diariamente aos vitelos e o estrume produzido (camas,

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fezes e urina) é retirado entre o outono e final do inverno (4 a 5 vezes por ano). Neste período as camas são acumuladas sendo colocada cama nas vacas com intervalos de 1 a três dias dependendo da estação e tempo de permanência das vacas no estábulo. Quando é retirado o estrume, antes de repor as camas é feita uma lavagem e utilizado como agente de limpeza a creolina. O estrume é retirado com trator com carregador frontal e transportado até à nitrei-ra, onde permanece até ser utilizado para adubação de fundo em culturas agrícolas. Aproxi-madamente 20% do estrume armazenado e aplicado em explorações agrícolas vizinhas, sen-do o restante aplicado nas culturas da própria exploração, usadas para alimentar os animais.

Alocação

A aplicação de ACV a sistemas agrícolas é complexa devido à sua multifuncionalidade, isto é, do processo produtivo resultam não só o produto principal, como também coprodutos. E neste caso, da produção de carne de bovino, resultam necessariamente vitelos, novilhas e vacas de refugo. Não sendo possível expandir o sistema, recorreu-se à alocação para repar-tir os impactes ambientais pelos diversos co-produtos. Neste sentido, foi utilizado o critério económico, baseado nos valores de mercado dos diferentes tipos de animais que saem dos subsistemas de criação.

No que diz respeito ao processo de abate dos animais (SM) no matadouro, foi de igual modo necessário recorrer à alocação, dado que os centros de abate analisados recebem maiori-tariamente bovinos, mas também outros animais, nomeadamente pequenos ruminantes e suínos. Neste sentido, foi aplicado o mesmo critério (alocação económica) para distribuir os impactes ambientais entre as diferentes espécies, considerando o peso dos animais (peso de carcaça) e respetivo preço à saída do matadouro. Os preços das carcaças, considerados neste estudo, foram fornecidos pelos matadouros inquiridos.

Os fatores de alocação utilizados nos diferentes cenários analisados são apresentados na ta-bela 6.8, sendo os preços utilizados, retirados das cotações da bolsa de bovinos (GPP/MAM, 2014) no que diz respeito aos subsistemas de criação de vitelos e obtidos diretamente por inquérito nos matadouros avaliados.

Metodologia de ACV

Entre as etapas definidas na fase de análise de inventário de ciclo de vida (AICV) da metodo-logia de ACV, apenas a etapa de classificação e caracterização foram realizadas neste estudo. As etapas de normalização e ponderação não foram efetuadas, dado que estas são opcionais e não forneceriam informação robusta adicional para os objetivos estabelecidos neste estu-do. A quantificação dos impactes ambientais foi obtida segundo os fatores de caracterização admitidos na metodologia de avaliação de impactes midpoint ReCiPe 2008 (Goedkopp et al., 2009), sendo selecionadas as seguintes categorias de impacte ambiental: alterações climáti-cas (AC), eutrofização de água doce (EAD), eutrofização marinha (EM) e acidificação terrestre (AT). O software GaBi 6,0 foi utilizado para a implementação computacional dos inventários (PE International, 2014).

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Análise de inventário de ciclo de vida

A informação de primeiro plano (“foreground data”) do ICV da produção de carne de bovino foi baseada em dados reais recolhidos em explorações de produção de vitelos e de engorda de bovinos e em centros de abate (matadouros). Os sistemas e modos de produção das ex-plorações sob avaliação são variados, mas típicos em Portugal, tendo sido portanto conside-rados vários cenários para a produção de carne de bovinos, nomeadamente carne de vitela, vitelão, novilho e vaca.

Os dados de inventário considerados nos diferentes cenários, são divididos em diversas tabelas, as quais dizem respeito à produção de alimentos concentrados e de silagens, aos subsistemas de criação e subsistemas de engorda incluídos em cada cenário, bem como ao subsistema de abate dos animais no matadouro. É apenas apresentado uma tabela de inven-tário para este último subsistema (abate dos animais), uma vez que o subsistema é comum a todos os cenários.

No que diz respeito aos dados dos inventários da produção dos alimentos concentrados, as composições das misturas foram definidas por especialistas em nutrição animal e forneci-das pelas respetivas explorações inquiridas para cada cenário. Excecionalmente no SC_SI do CD, na falta de informação sobre a composição da alimentação concentrada fornecida aos animais, foi considerada a mesma composição da alimentação concentrada fornecida aos animais do SC_Ext_conv do CA (o concentrado C2 e C3). O consumo de energia (eletricidade e nafta) e água incluídos no processo de produção dos concentrados foram obtidos a partir de Castanheira et al. (2010). Os processos de produção das matérias-primas foram obtidos da base de dados ecoinvent (Althaus et al., 2009) e os processos de produção de eletricidade e nafta da base de dados do GaBi (PE International, 2014).

Os dados de inventário da produção da silagem de milho e azevém, consumida no SC_SI do CB, são dados primários, recolhidos por inquérito à exploração bovina e completados por es-pecialistas em produção bovina. O consumo de gasóleo, usado pela maquinaria agrícola nas diversas operações agrícolas inerentes à produção de silagem (milho e azevém) foi calculado pela estimativa de tempo de utilização de cada equipamento em cada operação e o respeti-vo consumo médio de gasóleo. Na falta de dados primários para os restantes processos de produção de alimentos forrageiros (palha, feno silagem, etc), consumidos nos vários subsis-temas de produção de vitelos e engorda de novilhos, são usados dados da base de dados do GaBi (PE International, 2014) e ecoinvent (Althaus et al., 2009).

No que concerne aos dados de inventário dos subsistemas criação de vitelos e engorda de no-vilhos, são maioritariamente usados dados primários. Os fluxos de entrada são dados obtidos por inquérito às explorações, nomeadamente os consumos dos diferentes tipos de alimentos, de camas, de água, de fertilizantes e de energia, assim como a produtividade das respetivas explorações (produção de vitelos, novilhos, vacas de refugo, etc.). As emissões correspon-dem às emissões resultantes da queima de combustíveis fósseis (gasóleo), da fermentação

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entérica, gestão do estrume e gestão dos solos. Estas emissões foram calculadas com base fórmulas de cálculo e fatores de emissão do “IPCC Guidelines for National Greenhouse Gas In-ventories” (IPCC, 2006) e do “EMEP/EEA air pollutant emission inventory guidebook” (EMEP/EEA, 2013), sempre que possível adaptando às condições de Portugal.

A determinação da quantidade de dejetos produzidos nas explorações, na forma de estrume, assim como o seu teor em azoto (Ntotal), pentóxido de fósforo (P2O5) e óxido de potássio (K2O), foram calculados com base nas tabelas apresentadas na Portaria nº 259/2012,de 28 de agosto. As emissões de metano (CH4) foram calculadas de acordo com o Tier 2 do IPCC, e as restantes com o Tier 1, à exceção das emissões de fosfatos (PO43-) baseadas modelos de emissão propostos por Nemecek (2007).

Uma quantidade significativa das emissões de metano (CH4) que ocorrem nas explorações resulta da fermentação entérica, um processo biológico que ocorre no rúmen das vacas. Con-tudo, são também emitidas quantidades significativas de outros poluentes, que decorrem da gestão dos estrumes e chorumes gerados pelos animais, tanto dos estábulos como da nitrei-ra onde são armazenados, e após a sua aplicação no solo nas culturas agrícolas ou nos pastos, no caso de os animais depositarem diretamente as fezes e urina no solo durante o pastoreio. Parte do azoto existente nos estrume, tanto nas fezes como na urina, é emitido na forma de óxido nitroso (N2O). As emissões diretas de N2O ocorrem quando o N presente no estrume é nitrificado ou desnitrificado, enquanto as emissões indiretas de N2O resultam das perdas de N volatilizado sob a forma de amoníaco (NH3) ou lixiviado sob a forma de nitrato (NO3-). En-quanto os dejetos permanecem nos estábulos, assim como durante o seu armazenamento, também ocorrem perdas na forma de CH4.

Como já mencionado, os dejetos produzidos nas explorações em que os animais se encon-tram permanentemente ou por algum período de tempo estabulados são aplicados em solos agrícolas, como fertilizante orgânico. Os dejetos produzidos são aplicados nas áreas de culti-vo de alimentos forrageiros existente nas explorações bovinas. Contudo, nem sempre as ex-plorações produzem os alimentos forrageiros fornecidos aos animais e quando produzem, de uma forma geral as explorações não têm capacidade de incorporação suficiente do estrume nos solos. Isto é, é excedentária a quantidade de estrume produzido relativamente às neces-sidades de aplicação ao solo para a fertilização racional das culturas. Na prática, os dejetos excedentários são aplicados noutras culturas não relacionadas com a unidade de produção bovina. Por este facto, as emissões provenientes do espalhamento do estrume nas culturas forrageiras foram consideradas nos respectivos subsistemas e as emissões decorrentes da aplicação do estrume excedentário no solo, foram considerados no subsistema de produção animal. No que diz respeito às emissões provenientes da gestão dos solos das culturas forra-geiras e dos pastos, foram ainda consideradas as emissões para o ar e água consequentes da aplicação de fertilizantes sintéticos, nomeadamente emissões diretas e indiretas de N2O e NH3 para o ar e NO3- e fosfato PO43- para água.

Por fim, a tabela de inventário do subsistema abate de animais no matadouro (SM), comum em todos os cenários, foi compilada com dados primários obtidos de dois centros de aba-

45

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te muito semelhantes (matadouro 1 e 2). Os dados fornecidos incluem, como entradas do processo, a quantidade de animais vivos (bovinos, pequenos ruminantes e suínos) recepcio-nados, o consumo de água, de energia (eletricidade e combustíveis) e de agentes químicos (detergentes, desinfectantes e pesticidas). Como saídas do matadouro, foram fornecidos o peso dos animais (peso de carcaça), a quantidade de subprodutos animais não destinados a consumo humano, diferençados por categorias. O caudal de águas residuais geradas no processo considerou-se igual ao consumo de água durante o processo de abate. As emissões atmosféricas apresentadas representam as emissões resultantes da queima de combustíveis para a produção de calor. Estas emissões foram calculadas com base fórmulas de cálculo e fa-tores de emissão do “IPCC Guidelines for National Greenhouse Gas Inventories” (IPCC, 2006) e do “EMEP/EEA air pollutant emission inventory guidebook” (EMEP/EEA, 2013). Na tabela 6.13 é apresentado o perfil dos transportes associados ao SM, cuja informação primária foi obtida por inquérito.

AIA e interpretação dos resultados

Nesta secção são apresentados e discutidos os resultados da avaliação de impacte da produ-ção de carne de bovino, para as categorias selecionadas. As tabelas e gráficos apresentados nas subsecções seguintes ilustram desempenho ambiental da produção de carne de bovino em cada cenário, evidenciando a contribuição absoluta e relativa de cada um dos subsiste-mas e processos envolvidos nos sistemas de produto analisados.

Cenário A

A Tabela 4 apresenta o desempenho ambiental da produção de carne de novilho, considera-do no cenário A, para as categorias de impacte selecionadas. Pela Figura 15, que apresenta a contribuição relativa de cada subsistema, pode identificar-se a criação de vitelos (SC_Ext) como o subsistema responsável pela maior contribuição das cargas ambientais em todas as categorias analisadas (variando entre 37% e 56%), à exceção da categoria EM, para a qual a recria e engorda de novilhos (SE_Ext) contribui com aproximadamente 83% das cargas am-bientais. O abate dos animais (SM) apenas apresenta uma contribuição notória para a ca-tegoria EAD, representando para esta categoria aproximadamente 12% dos impactes, não excedendo nas restantes % do impacte total.

Categoria de impacte

Alterações climáticas (AC) kg CO2 Equivalente 10,5

0,493

8,48

0,056

g P Equivalente

kg N Equivalente

kg SO2 Equivalente

Eutrofização de água doce (EAD)

Eutrofização marinha (EM)

Acidificação Terrestre (AT)

Unidade SC_EXT

9,19

0,680

43,35

0,041

SE_EXT

0,829

0,153

0,474

0,002

SM

20,597

1,327

52,309

0,099

Total

Tabela 4 - Resultados da avaliação de impactes por kg de carne (peso

de carcaça) associada ao sistema de produção de carne de bovino (CA)

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Analisando mais detalhadamente cada subsistema (ver Figura 16 e Figura 17), verifica-se que os hotspots da produção animal nas explorações (SC_Ext e SE_Ext) são a produção de ali-mentos concentrados, a fermentação entérica emitida pelos animais e a gestão dos solos. A contribuição da produção dos alimentos concentrados varia entre 5% e 97% para o SC_Ext e entre 30% e 94% para o SE_Ext. Esta contribuição deve-se essencialmente à utilização de fertilizantes na produção dos produtos agrícolas usados como matérias-primas dos concen-trados. A fermentação entérica (CH4 entérico) contribui aproximadamente com 50% dos im-pactes na categoria AC em ambos os subsistemas.

Criação de vitelos em sistema extensivo (SC_Ext)Recria e engorda de novilhos em sistema extensivo (SC_Ext)Abate dos animais (SM)

100%90%80%70%60%50%40%30%20%10%

0%Alterações climáticas

Eutrofização de água doce

Eutrofização marinha

Acidificação terrestre

Figura 15 - Contribuição relativa (em %) dos subsistemas

envolvidos no ciclo de vida da produção de carne de bovino (CA)

No que concerne às contribuições da gestão dos solos, cujas emissões resultam da deposição direta das fezes e urina dos animais durante o pastoreio, bem como da aplicação de fertili-zantes sintéticos nos pastos, observa-se uma contribuição que varia entre 22% e 85% para o SC_Ext e entre 2% e 51% para o SE_Ext.

Na quantificação dos impactes ambientais resultantes do subsistema abate dos animais (SM) foram considerados dados de dois centros de abate, bastante idênticos tanto ao nível de pro-cesso como ao nível de escala de produção. A Tabela 5 apresenta os resultados do impacte ambiental do processo de abate dos animais, expresso pela unidade funcional (1 kg pc de carne de bovino). No cálculo do impacte ambiental do ciclo de vida da carne de bovino, apre-sentado anteriormente foi considerado o valor médio dos dois matadouros analisados.

As Figura 18 e Figura 19 apresentam a contribuição dos processos envolvido no subsistema abate dos animais (SM) para o matadouro 1 e 2, respetivamente. Pelas análises destas figuras verifica-se que a maiores diferenças, em termos de contribuição relativa, estão associadas à emissão de gases com efeito de estufa resultantes da produção de calor, sendo a contribuição menor no matadouro 1 que consome pellets, que no matadouro 2 que consome gás natural. Pode também observa-se uma diferença notória no impacte dos transportes considerados no subsistema, essencialmente o transporte dos animais vivos até ao matadouro. Nos dois matadouros em análise, a contribuição dos transportes é dominante em todas as categorias

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ambientais, à exceção da categoria EM, para a qual o tratamento das águas residuais geradas no processo de abate é dominante.

100%90%80%70%60%50%40%30%20%10%

0%Alterações climáticas

Eutrofização de água doce

Eutrofização marinha

Acidificação terrestre

Alim. concentradosMaquinária agrícola

Feno silagemFermentação entérica e gestão de estrume

Palha de trigoGestão do solo (pasto)

FertilizantesTransportes

Figura 16 - Contribuição relativa (em %) dos processos

envolvidos no subsistema SC_Ext do CA e CB

100%90%80%70%60%50%40%30%20%10%

0%Alterações climáticas

Eutrofização de água doce

Eutrofização marinha

Acidificação terrestre

Alim. concentradosElectricidade

Palha de trigoFermentação entérica e gestão de estrume

FertilizantesGestão do solo (pasto)

Maq. agrícolaTransportes

Figura 17 - Contribuição relativa (em %) dos processos

envolvidos no subsistema SE_Ext do CA

Categoria de impacte

Alterações climáticas (AC) kg CO2 Equivalente 0,934

0,204

0,531

0,003

g P Equivalente

kg N Equivalente

kg SO2 Equivalente

Eutrofização de água doce (EAD)

Eutrofização marinha (EM)

Acidificação Terrestre (AT)

Unidade Matadouro 1

0,725

0,103

0,417

0,002

Matadouro 2

0,829

0,153

0,474

0,002

Média

Tabela 5 - Resultados da avaliação de impactes por kg de carne

de bovino (peso de carcaça) associado ao subsistema SM

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100%90%80%70%60%50%40%30%20%10%

0%Alterações climáticas

Eutrofização de água doce

Eutrofização marinha

Acidificação terrestre

TransportesProdução de calor (pellets)Electricidade

Tratamento de águas residuaisÁgua

Figura 18 - Contribuição relativa (em %) dos processos

envolvidos no subsistema SM, no matadouro 1

100%90%80%70%60%50%40%30%20%10%

0%Alterações climáticas

Eutrofização de água doce

Eutrofização marinha

Acidificação terrestre

TransportesProd. de calor (gás natural)

Trat. Águas ResiduaisÁgua

Pesticidas Luvas (latex)

Figura 19 - Contribuição relativa (em %) dos processos

envolvidos no subsistema SM, no matadouro 2

Cenário B

Os resultados da avaliação de impactes da produção de 1 kg de carne de novilho (peso de carcaça), pelo sistema do cenário B, são apresentados na Tabela 6 e as contribuições rela-tivas dos subsistemas considerados, na Figura 20. De acordo com as contribuições repor-tadas nesta figura, a recria e engorda de novilhos em sistema intensivo (SE_Int1) é o sub-sistema mais importante no impacte total da carne, variando entre 41% e 87%. Contudo o subsistema de criação de vitelos também apresenta uma contribuição notória, em particular na categoria AC (55%). O subsistema abate dos animais (SM) apresenta uma contribuição reduzida (menor que 8%).

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Categoria de impacte

Alterações climáticas (AC) kg CO2 Equivalente 10,6

0,493

8,48

0,056

g P Equivalente

kg N Equivalente

kg SO2 Equivalente

Eutrofização de água doce (EAD)

Eutrofização marinha (EM)

Acidificação Terrestre (AT)

Unidade SC_EXT

7,83

1,26

62,8

0,115

SE_INT1

0,829

0,153

0,474

0,002

SM

19,26

1,91

71,79

0,17

Total

Tabela 6 - Resultados da avaliação de impactes por

kg de carne de bovino (peso de carcaça) associada ao

sistema de produção de carne de bovino (CB)

100%90%80%70%60%50%40%30%20%10%

0%Alterações climáticas

Eutrofização de água doce

Eutrofização marinha

Acidificação terrestre

Criação de vitelos em sistema extensivo (SC_Ext)Recria e engorda em sistema intensivo (SE_Int1)Abate dos animais (SM)

Figura 20 - Contribuição relativa (em %) dos subsistemas

envolvidos no ciclo de vida da produção de carne de bovino (CB)

Uma vez que os subsistemas SC_Ext e SM são comuns ao cenário A, nesta subseção é apenas analisado com maior detalhe o subsistema SE_Int1, apresentado na Figura 21. Pela análise da figura, observa-se que os processos que mais contribuem para o impacte ambiental da recria e engorda de novilhos são a produção da alimentação (alimentos concentrados e si-lagem de milho) e a fermentação entérica e gestão do chorume. Estes três processos juntos dominam o impacte total deste subsistema, sendo responsáveis por 92% a 95% do impacte total, dependendo da categoria de impacte. O impacte ambiental resultante da produção de alimentos concentrados é dominante nas categorias de impacte AT, EAD e ME, contribuindo aproximadamente com 53%, 60% e 76% para o impacte total, respetivamente. Em todas as categorias de impacte, esta contribuição deve-se essencialmente à aplicação de fertilizantes que originam a libertação de N2O, NOx e NH3 para a atmosfera e a escorrência e lixiviação de PO4

3- e NO3- para as massas de água, bem como devido aos consumos de combustíveis fósseis em máquinas agrícolas. Na produção de silagem de milho, cuja contribuição varia en-tre 13% e 35%, além desta mesma razão, acrescem as emissões decorrentes da aplicação de estrume, produzido na exploração bovina, nos solos das culturas de milho. A fermentação en-térica e gestão do chorume (estábulo e armazenamento) apresenta uma contribuição notória nas categorias AC (29%), essencialmente devido às emissões de CH4 entérico, seguido das

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emissões de N2O libertado no estábulo e durante o armazenamento do estrume. O NH3 liber-tado do estrume também apresenta uma contribuição importante para a categoria AT (32%).

100%90%80%70%60%50%40%30%20%10%

0%Alterações climáticas

Eutrofização de água doce

Eutrofização marinha

Acidificação terrestre

Alim. concentradosGestão dos solos (apl. de estrume no solo)

Agentes químicosSilagem de azevémSilagem de milho

TransportesFermentação entérica e gestão do estrume

Electricidade

Figura 21 - Contribuição relativa (em %) dos subsistemas

envolvidos no subsistema SE_Intl no CB

Cenário C

A Tabela 7 apresenta o desempenho ambiental da produção de carne de novilho, considerado no cenário C, para as categorias de impacte selecionadas.

Categoria de impacte

Alterações climáticas (AC) kg CO2 Equivalente 13,9

0,730

5,145

0,066

g P Equivalente

kg N Equivalente

kg SO2 Equivalente

Eutrofização de água doce (EAD)

Eutrofização marinha (EM)

Acidificação Terrestre (AT)

Unidade SC_EXT_Blo

4,51

0,487

71,8

0,056

SE_INT2

0,829

0,153

0,474

0,002

SM

19,280

1,371

77,463

0,124

Total

Tabela 7 - Resultados da avaliação de impactes por

kg de carne de bovino (peso de carcaça) associada ao

sistema de produção de carne de bovino (CC)

Pela análise da Figura 22, verifica-se que a criação de vitelos (SC_EXT_Bio) é o subsistema do-minante em todas as categorias de impacte avaliadas (variando entre 53% e 72%), à exceção da EM (7%), seguida da contribuição da recria e engorda dos vitelos desmamados (SE_Int2), cuja contribuição para o impacte total varia entre 23% e 93%. O subsistema SM, tal como nos cenários analisados anteriormente, apresenta uma contribuição pouco importante em ralação ao impacte total da produção de carne de bovino.

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100%90%80%70%60%50%40%30%20%10%

0%Alterações climáticas

Eutrofização de água doce

Eutrofização marinha

Acidificação terrestre

Alim. concentradosGestão dos solos (apl. de estrume no solo)

Agentes químicosSilagem de azevémSilagem de milho

TransportesFermentação entérica e gestão do estrume

Electricidade

Figura 22 - Contribuição relativa (em %) dos subsistemas

envolvidos no ciclo de vida da produção de carne de bovino (CC)

As contribuições dos processos envolvidos no subsistema de criação de vitelos em sistema extensivo e modo de produção biológico (SC_EXT_Bio), apresentadas na Figura 23, mostram que a produção dos alimentos concentrados, a fermentação entérica emitida pelos animais e a gestão dos solos do pasto, isto é, as emissões decorrentes da deposição das fezes e urina durante o pastoreio, bem como as emissões resultantes da aplicação de fertilizantes nos pas-tos, representam uma grande influência no impacte ambiental deste subsistema. Na catego-ria AC, a fermentação entérica é responsável por quase metade (aproximadamente 46%) dos impactes, seguido da gestão dos solos (pasto), responsável por aproximadamente 37% do impacte, devido às emissões de N2O para a atmosfera. A gestão dos solos do pasto também representa uma contribuição notória para a categoria AT (88%), principalmente devido às emissões de NH3 para a atmosfera; bem como para a categoria EAD, resultado da lixiviação e escorrências de PO4

3-, consequência da deposição das fezes e aplicação de fertilizantes fos-fatados nos solos. A produção de alimentos concentrados contribui significativamente para as categorias EAD e EM (27% e 64%), devido às emissões para as massas de água, essencial-mente consequentes da utilização de fertilizantes azotados e fosfatados nas culturas agríco-las das matérias-primas dos alimentos concentrados.

Dos processos envolvidos no subsistema recria e engorda em sistema intensivo (SE-Int2), cuja contribuição se encontra apresentada na Figura 24, observa-se que a produção de ali-mentos concentrados é dominante nas categorias AC, EAD e EM, contribuído com 47%, 89% e 86% para o impacte total, respetivamente. Esta contribuição deve-se essencialmente à pro-dução e aplicação de fertilizantes nas culturas agrícolas dos componentes da alimentação concentrada, mas também aos consumos de combustíveis fósseis em máquinas agrícolas nessas culturas. De destacar a importância da fermentação entérica e gestão do estrume (no estábulo e durante o armazenamento), que contribui com aproximadamente 63% e 36% para as categorias AT e AC, respetivamente.

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Alim. concentradaMaq. agrícola

Feno silagem Fermentação entérica e gestão do estrume

Palha (trigo)Gestão de solos (pasto)

Fertilizantes Transportes

100%90%80%70%60%50%40%30%20%10%

0%Alterações climáticas

Eutrofização de água doce

Eutrofização marinha

Acidificação terrestre

Figura 23 - Contribuição relativa (em %) dos subsistemas

envolvidos no subsistema SC_Ext_Bio no CC

Alim. concentradaMaq. agrícola

Feno silagem Fermentação entérica e gestão do estrume

Palha (trigo)Gestão de solos (pasto)

Fertilizantes Transportes

100%90%80%70%60%50%40%30%20%10%

0%Alterações climáticas

Eutrofização de água doce

Eutrofização marinha

Acidificação terrestre

Figura 24 - Contribuição relativa (em %) dos subsistemas

envolvidos no subsistema SE_Int2 no CC

Cenário D

A Tabela 8 apresenta o desempenho ambiental da produção de carne de novilho, considera-do no cenário D, para as categorias de impacte selecionadas. Pela Figura 25, que apresenta a contribuição relativa de cada subsistema, pode identificar-se a criação de vitelos (SC_Ext) como subsistema dominante, já que a sua contribuição é superior a 96% em todas as cate-gorias analisadas.

Pela Figura 26, pode observar-se que que a produção de alimentos para os animais, (tanto ali-mentos concentrados como forrageiros), as emissões da fermentação entérica e as emissões decorrentes da deposição dos dejetos e urina nos pastos e da aplicação do estrume produzido nos estábulos em solos agrícolas são os processos que apresentam maior responsabilidade

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pelo impacte ambiental deste subsistema. Na categoria AC, o CH4 e N2O emitido na fermen-tação entérica e na gestão do estrume no estábulo são responsáveis por aproximadamente metade dos impactes desta categoria, seguido das emissões N2O decorrentes da deposição das fezes e urina no pasto (aproximadamente 13%) e das emissões resultantes da produção de alimentos concentrados. Nas categorias EAD e EM, a produção de alimentos forrageiros domina os impactes destas categorias (79% e 60%, respetivamente), principalmente devi-do à produção e aplicação de fertilizantes nos solos das culturas. Finalmente na categoria AT, a gestão dos solos (pastos e outros solos agrícolas onde é depositado o estrume) são os processos que mais contribuem para o impacte desta categoria, essencialmente devido às emissões de NH3.

Categoria de impacte

Alterações climáticas (AC) kg CO2 Equivalente 21,4

3,78

50,7

0,120

g P Equivalente

kg N Equivalente

kg SO2 Equivalente

Eutrofização de água doce (EAD)

Eutrofização marinha (EM)

Acidificação Terrestre (AT)

Unidade SC_SI

0,829

0,153

0,474

0,002

SM

22,2

3,93

51,2

0,122

Total

Tabela 8 - Resultados da avaliação de impactes por

kg de carne de bovino (peso de carcaça) associada ao

sistema de produção de carne de bovino (CD)

100%90%80%70%60%50%40%30%20%10%

0%Alterações climáticas

Eutrofização de água doce

Eutrofização marinha

Acidificação terrestre

Criação de vitelos em sistema-intensivo (SC_SI)Abate dos animais (SM)

Figura 25 - Contribuição relativa (em %) dos subsistemas

envolvidos no ciclo de vida da produção de carne de bovino (CD)

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100%90%80%70%60%50%40%30%20%10%

0%Alterações climáticas

Eutrofização de água doce

Eutrofização marinha

Acidificação terrestre

Alim. concentradaFertilizantesFerm. entéria e gestão do estrume

Feno (aveia)ElectricidadeGestão de solos(pasto)

Forragem (sorgo)ÁguaGestão de solos (aplicação de estrume)

Feno (pasto natural)Maq. agrícolaTransportes

Figura 26 - Contribuição relativa (em %) dos subsistemas

envolvidos no subsistema SC_Ext_Bio no CD

1.1

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Fileira do Leite e Derivados

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Por Luís Arroja, Sara Belo, Ana Cláudia Dias, Henrique Trindade, José Almeida, Luís Pinto de Andrade

A nível nacional, a fileira dos lacticínios também tem um papel bastante significativo no sec-tor da produção agroalimentar, apresentando uma importância relativa e uma dinâmica pró-xima daquela que se verifica na UE. Em 2013, o sector do leite representou 11,3% da produção agrícola nacional (763,2M€) e cerca de 27,7% da produção animal (INE, 2014). Na produção leiteira, destaca-se a produção de leite de vaca, cerca de 94,7%, sendo o restante de ovelha (3,7%) e cabra (1,6%) (INE, 2014). A indústria dos lacticínios, no ano 2012 representou 13,5% do valor de vendas das indústrias alimentares em Portugal.

Produção de Leite Cru

Apesar da produção de leite de vaca ser um dos sectores da atividade agrícola que mais evo-lução tem sentido nos últimos anos, o valor anual de produção tem-se mantido relativamente estável. Este facto resulta do aumento de produtividade do sector, em grande parte devido ao investimento em tecnologia e ao melhoramento genético do efetivo leiteiro em compen-sação da redução do número de vacas leiteiras.

Segundo os últimos dados do INE (2014), em 2013, a produção de leite foi de 1.894 milhões de litros, menos 4,4% face ao ano anterior. Particularmente na produção de leite de vaca, registou-se uma redução de 4,5%, que poderá ter ocorrido pelas condições climatéricas des-favoráveis registadas no verão (onda de calor) e ao elevado preço dos fatores de produção, nomeadamente concentrados para animais (INE, 2014). A produção de leite de ovelha (69,7 milhões de litros) e de cabra (29,8 milhões de litros) registaram um decréscimo menos acen-tuado de 2,4% e 3,0%, respetivamente.

Produção de Lacticínios

A atividade da Industria dos Lacticínios foca-se na produção de alimentos baseados no leite ou derivados deste, sendo portanto o leite cru o seu ponto de partida, seguido da sua trans-formação numa grande variedade de produtos. Estes vão desde o leite pasteurizado à man-teiga, queijos, iogurte, gelados e sobremesas geladas, ou produtos condensados ou em pó, como o leite ou o soro. Contudo, entre a panóplia de bens produzidos, em termos de estrutu-ra produtiva, o sector do leite assenta sobretudo na oferta de produtos de baixo valor acres-centado unitário, designadamente os produtos lácteos frescos, onde o leite de consumo (na sua maioria UHT) assume um papel de destaque, seguido a enorme distância pelos iogurtes, queijos e outros leites acidificados (INE, 2014).

Descrição do sistema de produção leiteira do NW

O sector de produção leiteira do NW continental concentra-se nas sub-regiões costeiras do Entre Douro e Minho (EDM) e da Beira Litoral (BL). Estas sub-regiões são densamente po-voadas e a terra é um recurso escasso e caro. A floresta ocupa cerca de um terço da área total do território. Nas áreas ocupadas por culturas aráveis, os solos são de textura franco-arenosa

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derivados de granito, profundos (> 1m), bem drenados e com declive inferior a 5%. A altitude varia entre os 10 e os 100m e a precipitação anual entre os 1.200 e os 1.700 milímetros, com 80% desse valor total a ocorrer entre outubro e abril.

Nas últimas décadas, foi desenvolvido na região um sistema de pecuária leiteira intensiva do tipo “zero-grazing”, com base em duas culturas forrageiras anuais para produção de silagem: milho e uma cultura de inverno que consiste em azevém anual ou uma mistura de cereais com azevém anual. Estas culturas permitem alcançar rendimentos anuais de forragem elevados, tipicamente 20-24 t MS por hectare no milho, mais 7-9 t MS por hectare na cultura de inver-no. As vacas são alimentadas com uma dieta em mistura completa e mantidas estabuladas todo o ano, geralmente em sistema livre com cubículos. O elevado potencial produtivo de forragem e a utilização de até 3,5 t de alimentos concentrados por vaca leiteira permitem taxas de encabeçamento de 4 a 7 cabeças normais (CN) por hectare (incluindo o efetivo de substituição). A taxa de substituição das vacas é muito elevada, atingindo em muitas explo-rações valores superiores a 30%.

O principal método de manuseamento das dejeções é na forma líquida - como chorume, e na maioria dos casos, este efluente animal é armazenado diretamente em fossas sob o pavimen-to do estábulo; poucas explorações têm fossa exterior. A capacidade de armazenamento de chorume varia entre 2 e 6 meses. A aplicação de chorume ao solo é feita, maioritariamente, duas vezes por ano, pouco antes da sementeira de cada cultura (maio e setembro / outubro), embora tenha vindo a aumentar de frequência nos últimos anos, através da realização de uma terceira aplicação na cultura de inverno em fevereiro (em cobertura). Adicionalmente ao chorume aplicado, muitas vezes, as culturas recebem ainda fertilizantes minerais em níveis que podem representar um consumo anual extra de 100-200 kg N por hectare e 100 kg de P2O5 por hectare, apesar de estes valores estarem a diminuir em consequência de campanhas de aconselhamento e de recomendações técnicas de fertilização mais restritivas (de Roest et al, 2008). Portanto, este sistema de cultivo pode gerar nas explorações mais intensivas gran-des perdas de N, especialmente por lixiviação de nitrato (Trindade et al., 1997). Em compara-ção com outras regiões europeias, o tamanho médio das explorações leiteiras especializadas na região é muito pequena (cerca de 174 t de leite / exploração em 2007) (Cardoso e Pimentel, 2008) e a superfície de área agrícola das explorações está dividida em vários blocos separa-dos, fatores que constituem os principais entraves ao desenvolvimento de pastagens e de sis-temas de produção mais extensivos. Há falta de dados regionalizados, mas, considerando-se os valores globais para Portugal, estão a ocorrer mudanças muito rápidas nas características estruturais das explorações. Entre 1993/4 e 2009/10, o número de explorações leiteiras foi re-duzido em mais de 85%. Entre 2005/06 e 2009/10, apenas se verificou o aumento do número de explorações que produzem mais de 400 toneladas de leite por ano e na classe de menos de 20 toneladas de leite por ano foi observada uma redução de 60% no número de produtores; como consequência, 50% da produção de leite Português é assegurada por apenas 10% das explorações leiteiras (FENALAC, 2011). Entre 1999 e 2009, o número médio de vacas leiteiras por exploração aumentou na região de EDM e BL, respetivamente de 11 para 34 e de 7 para 15 animais (INE, 2011). Em 2005, o valor médio estimado de produção de leite por vaca na região de EDM foi de cerca de 7400 kg por ano, enquanto na região do BL estava abaixo de 6000 kg

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por ano números que revelam a existência de diferenças de capacidade técnica dos produto-res na condução das culturas forrageiras e gestão dos animais, com a consequente diferença nas condições ambientais. Nas explorações bem geridas e tecnicamente mais avançadas, a produtividade das vacas está frequentemente acima de 9000 kg de leite por ano. A pro-dução de leite em modo de produção biológico está limitada apenas a algumas explorações (inferior a 10).

ACV da Produção de Leite e Derivados

O ciclo de vida dos produtos lácteos (Figura 27) é composto, de uma forma geral, por quatro fases: a montante existe a produção primária (composta por explorações agrícolas que ob-têm o leite cru); numa fase intermédia, a transformação (constituída por unidades empresa-riais que transformam o leite cru nos diversos tipos de lacticínios) e a distribuição (composta pelos retalhistas que vendem os produtos lácteos aos consumidores); a jusante o consumo dos produtos (que inclui a permanência dos produtos na casa dos consumidores e o respetivo destino final). No entanto, tendo por base os objetivos principais deste projeto foram excluí-das das fronteiras dos sistemas as fases de distribuição e consumo.

Recursos naturais, matérias primas e energias

Fabrico de produtos lácteos: indústrias

Produção de leite: explorações leiteiras

(SEL)

Distribuição e retalho dos produtos lácteos

Produtos e subprodutosEmissões para o ar, água e solo

SFL: Fábrica de leite UHT

SFI: Fábrica de iogurtes

SFQ: Fábrica de queijos

Consumo dos produtos lácteos

Fron

teira

s do

sis

tem

a

T T T

TransportesT

Figura 27 - Ciclo de vida dos produtos lácteos

e fronteiras dos sistemas em estudo

Neste contexto, a ACV dos produtos lácteos sob avaliação é dividida em subsistemas e apre-sentada no presente relatório em diferentes subcapítulos: produção de leite de vaca cru - sub-sistema exploração leiteira (SEL), que é comum na produção de todos os produtos lácteos; produção de leite UHT - subsistema fábrica de leite (SFL); produção de iogurte - subsistema fábrica de iogurte (SFI) e produção de queijo - subsistema fábrica de queijo (SFQ).

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ACV do Leite de Vaca Cru

Objectivo: avaliar os potenciais impac-tes ambientais associados à produção de leite de vaca em explorações leitei-ras portuguesas, identificar as fases ou processos com maior contribuição para o seu perfil ambiental e identificar pos-síveis oportunidades de melhoria face aos resultados obtidos.

Unidade Funcional: 1 kg de leite cru.

Descrição do sistema produtivo e fronteiras do sistema

Foi considerada uma abordagem do berço-ao-portão da exploração leiteira (cradle-to-gate), sendo contabilizados todos os fluxos mássicos e energéticos ambientalmente relevantes envolvidos na produção de leite cru até à saída do leite da exploração para as indústrias de transformação.

Este estudo foi baseado no sistema produtivo característico das explorações leiteiras de Por-tugal continental (NW) e refere-se portanto a um sistema em regime intensivo, onde as vacas permanecem estabuladas (estabulação tipo livre com cubículos). Neste tipo de explorações, um dos principais objetivos foca-se na maximização da produção de leite, em simultâneo com a eficiente utilização dos alimentos ingeridos, considerando que as vacas ingerem quan-tidades importantes de forragens (em geral conservadas), outros alimentos fibrosos e ali-mentos concentrados (Fonseca, 2007).

Neste sentido, o subsistema da produção de leite cru, (Figura 28), foi dividido em três subsis-temas principais: produção de alimentos concentrados (S1); produção de silagens de milho e azevém (S2); e produção animal (S3).

Produção de alimentos concentrados (S1): Este subsistema envolve todas as atividades rela-cionadas com a produção dos alimentos concentrados fornecidos aos animais.

Dependendo da fase de vida ou fisiológica dos animais, são fornecidas diferentes dietas apro-priadas à fase em que se encontram (vitelas, novilhas, vacas). Os alimentos concentrados são compostos por variados ingredientes, principalmente grãos de cereais e (óleo) protea-ginosas, tais como milho, colza, trigo, girassol e soja, mas também outros componentes,

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nomeadamente aditivos, compostos por minerais, vitaminas, aminoácidos, entre outros. Foram considerados dentro das fronteiras do sistema os processos de produção de todos os ingredientes, à exceção da matéria-prima polpa de citrinos, e alguns aditivos, designada-mente, exal, sabões cálcicos, bicarbonato de cálcio, premix, DIN 8023 e lucta 37780z. Estes processos não foram considerados por falta de informação sofre a sua produção. Porém, im-porta realçar que representam, em termos mássicos, menos de 10% da composição de cada concentrado.

Fronteiras do sistema

T

T T

TT

TT

T

Produção matérias-primas Produção fertilizantes

Produção de gasóleo

Produção de gasóleo

Produção de Palha

Produção de agentes de limpeza

Produção de eletricidade

Produção de eletricidade

Produção eletricidade

Produção de nafta

S1: Produção de alimentos concentrados

Emissões para o ar, água e solo

5232

10

10

42

427 mil toneladas

Leite cruNovilhas(para o matadouro)

Vitelos de carne(para criação e engorda)

Vacas de refugo(para matadouro)

Vacas mortas (para destruição)

S2: Produção de silagem de milho e azevém

S3: Produção Animal

Maternidade

130 Vacas leiteiras

52 Bezerros 52 Novilhas

52 Bezerros Recria de substituição

Ordenha

SEL: Exploração leiteira

TransportesT

Chorume

Figura 28 - Fronteiras do sistema de produção de

leite de vaca cru - Exploração Leiteira (SEL)

O processo de produção de concentrados é realizado pela cooperativa a que a exploração leiteira está associada e inclui a receção e armazenamento dos ingredientes, a moagem e mistura destes, a transformação em pellets, a secagem e o armazenamento.

Produção de silagens de milho e azevém (S2): Este subsistema inclui todas as operações de produção da silagem utilizada na alimentação dos animais. Durante o ano, os produtores de leite fazem duas culturas, cuja colheita conservam na forma de silagem.

Na Primavera cultivam o milho forragem (Zea mays L.), seguido de forragem de azevém (Lo-lium multiflorum) no Outono/Inverno. No caso do milho forragem, atingem-se produções na ordem das 65 t por hectare de matéria verde (33% Matéria Seca (MS)) e nas forragens de azevém produzem cerca de 35 t por hectare de matéria verde (2% MS).

Aos processos de produção de silagem estão associadas as operações de preparação do solo, que incluem o espalhamento do chorume (recolhido nas fossas da exploração leiteira e trans-

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portado em cisternas até aos terrenos agrícolas), como fertilizante orgânico. Adicionalmente são também aplicados fertilizantes minerais azotados, de fundo ou cobertura. É efetuada a sementeira, a aplicação de herbicidas e rega, a colheita, ensilagem, transporte até ao silo, distribuição e calcamento da silagem. Na cultura de Outono/Inverno não é realizada a aplica-ção de herbicida, nem é necessária a irrigação, considerando que a precipitação é suficiente para as necessidades da cultura.

Produção animal (S3): Este subsistema engloba as restantes atividades desenvolvidas na ex-ploração leiteira, que incluem o maneio dos bovinos existentes na exploração, nas diferentes fases de vida (vacas em lactação, vacas secas e novilhas de substituição). É também conside-rada a gestão e armazenamento dos dejetos e a sua aplicação no solo agrícola.

O subsistema animal pode ser é divido por quatro secções: o estábulo, onde as vacas leiteiras (em lactação e secas) se encontram alojadas; a seção da maternidade, onde as vacas artifi-cialmente inseminadas permanecem durante o parto e maternidade; a seção de ordenha, constituída por salas de ordenha e sala de armazenamento e refrigeração do leite, e a seção de recria de substituição, na qual são recriadas as novilhas que irão substituir as vacas leiteiras em fim de produção.

Na exploração tipo considerada existem 130 vacas leiteiras e ocorrem aproximadamente 104 nascimentos efetivos. Após o nascimento dos bezerros, estes permanecem durante um cur-to período de tempo junto das mães (2-3 dias), sendo posteriormente separados em seções distintas. Ao atingirem um mês de idade, as crias fêmeas, aproximadamente metade dos be-zerros nascidos (52 fêmeas), são transferidas para a secção recria de substituição e recriadas para substituir as vacas em fim de produção. As restantes crias (52 machos) são vendidas a outras explorações. As novilhas são recriadas até ao primeiro parto, por volta dos 24 meses de vida, após o qual se juntam às restantes vacas leiteiras. Algumas das novilhas (aproxima-damente 10) são preteridas, por motivos de lesão, falta de aptidão leiteira ou outros motivos, e vendidas para abate. Estimou-se que estas vitelas são vendidas com aproximadamente um ano. A taxa de substituição das vacas leiteiras é de 32,3%. Das vacas substituídas, considerou-se que cerca de 10 morrem e 32 são vendidas para abate como vacas de refugo.

As vacas leiteiras são alimentadas diariamente com 8 kg de concentrado, 30 kg de silagem de milho, 2,5 kg de silagem de azevém e 3 kg de palha. As vitelas recriadas para substituição das vacas em fim de produção são alimentadas com produto substituto de leite durante aproxi-madamente 70 dias. A produção do substituto de leite não foi considerada dentro das fron-teiras do sistema por falta de informação acerca do processo de produção, e pelas quantida-des consumidas também não serem significativas. Após o desmame e até aos 15 meses são alimentadas diariamente com 2 kg de concentrado e 6 e 5kg de silagem de milho e azevém, respetivamente. Após os 15 meses são alimentadas diariamente com 2,5 kg de concentrado, 30 kg de silagem de azevém e 2 kg de palha.

A produtividade de leite por animal na exploração é de 9.000 kg de leite por animal, isto é, o volume total de leite recolhido na exploração anualmente, dividido pelo número total de

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vacas (em produção e secas). A ordenha é feita duas vezes por dia, através de máquinas au-tomatizadas elétricas, que direcionam o leite para tanques de refrigeração e armazenagem. Após cada ordenha procede-se à lavagem e desinfeção dos equipamentos de ordenha, tan-ques e superfícies com detergente desinfetante clorado. Em cada animal é feita uma desinfe-ção pré e pós ordenha, com desinfetantes iodados.

Na exploração leiteira são produzidos principalmente três tipos de efluentes: o estrume reco-lhido do estábulo, o chorume proveniente do estábulo e as águas residuais das lavagens das salas de ordenha. Em geral estes dois últimos efluentes são armazenados conjuntamente na fossa. Os chorumes são constituídos por uma mistura de fezes, urina e água, com quantida-des reduzidas de material da cama dos animais (cerca de 10% de matéria seca). Os estrumes são constituídos pelas fezes, urina e quantidades significativas de material utilizado para a cama dos animais (cerca de 25% matéria seca) (Bicudo e Ribeiro, 1996). As características destes efluentes dependem do tipo de instalação, nomeadamente do tipo de material utili-zado para a cama dos animais, do processo de remoção das instalações, das quantidades de água utilizadas nas operações de lavagem e da dieta alimentar (Trindade, 1997). Na maioria das explorações leiteiras portuguesas, assim como na exploração analisada, os efluentes são recolhidos na forma de chorume. As vacas leiteiras são alojadas em edifícios naturalmente ventilados, com piso ripado ou sólido, em que a urina e as fezes permanecem por um período de algumas horas a vários dias. O chorume é recolhido e armazenado em fossas de retenção por um período que não ultrapassa os 4 a 6 meses e aplicado sem qualquer tratamento aos solos agrícolas, como fertilizante orgânico.

Alocação

A aplicação de ACV a sistemas agrícolas é complexa devido à sua multifuncionalidade, isto é, do processo produtivo resultam não só o produto principal, como também existem nor-malmente coprodutos. A produção de leite numa exploração leiteira é um clássico exemplo de um processo multifuncional, do qual resultam leite cru e animais destinados a matadouro (carne bovina). Neste estudo optou-se pela aplicação de uma alocação baseada em critérios económicos para efetuar a distribuição dos impactes ambientais entre cada coproduto do sistema. Foram considerados os preços médios de mercado dos produtos (leite cru e carne) para o ano 2013. Como resultado desta partição de impactes associada ao valor económico dos produtos, 93,2% do impacte ambiental total do sistema foi atribuído ao leite e os restan-tes 6,8% alocados à carne.

Metodologia de avaliação de impactes

Entre as etapas definidas na fase de análise de inventário de ciclo de vida (AICV) da meto-dologia de ACV, apenas a etapa de classificação e caracterização foram realizadas neste estudo. As etapas de normalização e ponderação não foram efetuadas, dado que estas são opcionais e não forneceriam informação robusta adicional para os objetivos estabelecidos neste estudo. A quantificação dos impactes ambientais foi obtida segundo os fatores de ca-racterização admitidos na metodologia de avaliação de impactes midpoint ReCiPe 2008, sen-

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do selecionadas as seguintes categorias de impacte ambiental: alterações climáticas (AC), eutrofização de água doce (EAD), eutrofização marinha (EM) e acidificação terrestre (AT). O software GaBi 6,0 foi utilizado para a implementação computacional dos inventários (PE International, 2014).

Análise de Inventário de Ciclo de Vida

A informação de primeiro plano (foreground data) do ICV da produção de leite cru foi baseada em dados reais recolhidos numa exploração leiteira portuguesa, cujo sistema de produção é típico em Portugal continental.

Relativamente aos dados de inventário da produção dos alimentos concentrados (S1), as composições das misturas foram definidas por especialistas em nutrição animal e fornecidas pela exploração inquirida. O consumo de energia (eletricidade e nafta) e água incluídos no processo de produção dos concentrados foram obtidos a partir de Castanheira et al. (2010). Os processos de produção das matérias-primas foram obtidos da base de dados ecoinvent (Althaus et al., 2009) e os processos de produção de eletricidade e nafta da base de dados do GaBi (PE International, 2014).

O consumo de gasóleo, usado pela maquinaria agrícola nas diversas operações agrícolas ine-rentes à produção de silagem foi calculado pela estimativa de tempo de utilização de cada equipamento em cada operação e o respetivo consumo médio de gasóleo. Estes consumos incluem, para além das operações efetuadas nos terrenos de cultivo, a recolha do chorume e o seu transporte desde a exploração até aos terrenos agrícolas onde é feito o espalhamento, bem como o transporte das silagens colhidas nos terrenos agrícolas até aos silos da explo-ração. A definição das operações agrícolas e a descrição das características das maquinarias usadas foram recolhidas na exploração avaliada, o tempo de utilização das máquinas em cada operação foi definida por especialistas em culturas forrageiras; o consumo médio de gasóleo de cada maquinaria obtido a partir de Albino (2009).

No que concerne aos dados de inventário do subsistema de produção animal (S3), todos os dados incluídos nos fluxos de entrada são dados primários obtidos por inquérito. A produção de palha, agentes de limpeza e de energia, foram obtidos através das bases de dados ecoin-vent (Althaus et al., 2009) e GaBi (PE International, 2014).

Quanto aos fluxos de saída do inventário S3, os produtos do sistema - leite cru e carne (na forma de vitelos, novilhas ou vacas de refugo) - são dados primários, obtidos por inquérito. A determinação da quantidade de dejetos produzidos na exploração, na forma de estrume e chorume, assim como o seu teor em azoto (Ntotal), pentóxido de fósforo (P2O5) e óxido de potássio (K2O), foram calculados com base na tabela apresentada no anexo V da Portaria nº 259/2012,de 28 de agosto. De acordo com esta portaria, aos valores apresentados como teores de azoto total no chorume (Nt) são deduzidos 15%, correspondente à percentagem de perdas de azoto no estábulo e armazenamento dos dejetos. Com base nesta informação foi

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calculada a quantidade de azoto excretado (NEX) pelos animais nos dejetos, e também uti-lizada para os cálculos das emissões provenientes da gestão dos dejetos e aplicação no solo.

As emissões resultam da queima de combustíveis fósseis (gasóleo), da fermentação entérica, gestão do chorume e gestão dos solos. Estas emissões foram calculadas com base fórmulas de cálculo e fatores de emissão do “IPCC Guidelines for National Greenhouse Gas Invento-ries” (IPCC, 2006) e do “EMEP/EEA air pollutant emission inventory guidebook” (EMEP/EEA, 2013), sempre que possível adaptando às condições de Portugal. As emissões de metano (CH4) foram calculadas de acordo com o Tier 2 do IPCC, e as restantes com o Tier 1, à exceção dos fatores de emissão utilizados no cálculo das emissões de fosfatos (PO43-). Os fatores de emissão de PO43- foram obtidas de Thyo e Wenzel (2007), considerando para a silagem de milho e azevém a emissão de 0,02 e 0,054 kg PO4

3-/ kg de P aplicado no solo (na forma de fertilizante mineral ou chorume), respetivamente. Na emissão de PO4

3- considerada S3 foi utilizado a médias dos fatores usados nas silagens.

Uma quantidade significativa das emissões de metano (CH4) que ocorrem na exploração lei-teira, consideradas em S3, resulta da fermentação entérica, um processo biológico que ocor-re no rúmen das vacas. Contudo, são também emitidas quantidades significativas de outros poluentes, que decorrem da gestão dos estrumes e chorumes gerados pelos animais, tanto dos estábulos como da fossa onde são armazenados, e após a sua aplicação no solo.

Parte do azoto existente no chorume, tanto nas fezes como na urina, é emitido na forma de óxido nitroso (N2O). As emissões diretas de N2O ocorrem quando o N presente no chorume é nitrificado ou desnitrificado, enquanto as emissões indirectas de N2O resultam das perdas de N volatilizado sob a forma de amoníaco (NH3) ou lixiviado sob a forma de nitrato (NO3

-). En-quanto os dejetos permanecem nos estábulos, assim como durante o seu armazenamento, também ocorrem perdas na forma de CH4.

Todos os dejetos produzidos na exploração são aplicados em solos agrícolas, como fertilizan-te orgânico. No entanto, quando analisada a capacidade de incorporação de azoto no solo, tendo em consideração a totalidade de estrume e chorume produzido na exploração e a área de cultivo necessária para a produção de silagem de milho e azevém requerida para alimentar os animais, verifica-se que a exploração não tem capacidade de incorporação suficiente dos efluentes nos solos. Isto é, é excedentária a quantidade de efluentes produzidos relativamen-te às necessidades de aplicação ao solo para a fertilização racional das culturas. Na prática, os dejetos excedentários são aplicados noutras culturas não relacionadas com a exploração leiteira, nem com a produção de leite. Por este facto, as emissões provenientes do espalha-mento do chorume nas silagens de milho e azevém (S2) foram consideradas nos respetivos subsistemas e as emissões decorrentes da aplicação do estrume e chorume excedentário no solo, foram considerados no subsistema de produção animal (S3).

No que diz respeito à produção de silagens de milho e azevém (S2) e às emissões provenien-tes da gestão dos solos, foram ainda consideradas as emissões para o ar e água consequentes da aplicação de fertilizantes sintéticos, nomeadamente emissões diretas e indiretas de N2O

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e NH3 para o ar, e NO3- e fosfato PO4

3- para água. Os processos de transporte foram obti-dos através da base de dados GaBi (PE International, 2014). Neste estudo não foi incluída a produção/manutenção de bens de capital, tais como veículos, maquinaria, equipamentos, instalações, etc.

AIA e interpretação dos resultados

A Tabela 9 apresenta o desempenho ambiental da produção de leite cru para as categorias de impacte selecionadas, expressa pela unidade funcional.

Categoria de impacte

Alterações climáticas (AC) kg CO 2 Equivalente 1,093

0,1184

0,0116

0,0283

g P Equivalente

kg N Equivalente

kg SO 2 Equivalente

Eutrofização de água doce (EAD)

Eutrofização marinha (EM)

Acidificação Terrestre (AT)

Unidade Valor

Tabela 9 - Resultados da avaliação de impactes associados

ao sistema de produção de leite - Subsistema de Exploração

Leiteira (SEL), expressos por 1 kg de leite cru

A contribuição relativa dos processos considerados para o impacte ambiental total da produ-ção de leite, para cada categoria de impacte analisada, é mostrada na Figura 29. De acordo com os resultados, os dois processos ou fases responsáveis pela maioria dos impactes am-bientais ao longo do ciclo de vida do leite (até à porta da exploração) são as atividades de produção animal e a produção de concentrados.

Alterações Climáticas

Na categoria de impacte Alterações Climáticas, para a produção de 1kg de leite cru são emitidos 1,09kg CO2 equivalentes, dos quais aproximadamente 58% resultam da produção animal (S3), 27% da produção de concentrados (S1) e 1% da produção de silagem (milho e azevém) (S2).

A contribuição da produção animal (S3) deve-se principalmente às emissões de N2O e CH4 resultantes da gestão do chorume (emitidos dos estábulos e fossa de armazenamento) que contribuem para as emissões deste subsistema (S3) com aproximadamente 74% e 13%, res-petivamente, seguido das emissões de CO2 consequentes da combustão de gasóleo na cal-deira, que contribuem com cerca de 11%.

Na produção dos alimentos concentrados (S1), a produção dos diferentes produtos agríco-las foi identificada como principal contribuinte deste subsistema. A sua produção envolve não só as atividades agrícolas relacionadas com a produção de milho, trigo, girassol, soja,

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palmiste, cana-de-açúcar e colza, mas também o seu processamento para produção de sê-mea, bagaço ou melaço. Entre os produtos agrícolas considerados, foram identificados qua-tro como hotspots ambientais: bagaço de soja, bagaço de colza, girassol e milho. Das emis-sões de GEE resultantes deste subsistema (S1), 48% são na forma de CO2 e 36% na forma de N2O. As emissões de CO2 devem-se principalmente ao consumo de combustíveis fósseis pela maquinaria usada nas operações agrícolas, no transporte dos produtos agrícolas e na produ-ção de energia para a mistura dos diferentes componentes e fabricação dos concentrados. As emissões de N2O são fundamentalmente emitidas pela produção e aplicação de fertilizantes nos solos agrícolas. De referir que 84% do impacte resultante da produção dos alimentos concentrados, estão associados à alimentação das vacas leiteiras e 16% à alimentação da recria de substituição.

100%90%80%70%60%50%40%30%20%10%

0%Alterações climáticas

Eutrofização de água doce

Eutrofização marinha

Acidificação terrestre

Prod. animalProd. silagem de milhoTransportesProd. eletricidade

Prod. de águaProd. alimentos concentradosProd. silagem de azevém

Prod. palha

Prod. gasóleo (para caldeira)Prod. agentes de limpeza

Figura 29 - Contribuição relativa (em %) dos processos

envolvidos no processo de produção de leite cru

Na produção de silagens de milho e azevém (S2), a silagem de milho representa uma maior contribuição para o impacte ambiental total da produção de leite cru, do que a silagem de azevém (aproximadamente 8% e 2%, respetivamente). Contudo, em ambos os processos, os principais gases emitidos são N2O (emitido devido à produção e aplicação de fertilizante azo-tado - nitrato de amónia, bem como a aplicação do chorume no solo agrícola) e o CO2 (emiti-do como resultado da combustão de gasóleo usado pela maquinaria agrícola nos processos inerentes à produção de silagens e na produção de fertilizante azotado). Apenas na silagem de milho, as emissões de CO2 também são originadas pela produção de eletricidade, consu-mida na rega da cultura. Os restantes processos considerados, nomeadamente a produção de energia elétrica e combustíveis, palha e agentes de limpeza, assim como as atividades de transporte, mostram não ter uma contribuição importante, sendo responsáveis, no seu todo, por apenas 6,6% das emissões de gases com efeito de estufas resultantes da produção de leite cru.

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Eutrofização de Água Doce

A Eutrofização de Água Doce resultante da produção de 1kg de leite cru é de 0,118g de P equi-valente. Os processos que mais contribuem para esta categoria são a produção de alimentos concentrados (S1) com 46%, seguido da produção de silagens (cerca de 33%) e da produção animal (cerca de 18%). Estas emissões são devidas à emissão de fosfatos para a água conse-quentes da produção e aplicação de fertilizantes minerais sintéticos e fertilizantes orgânicos (estrume e chorume) nos solos das culturas agrícolas, tanto dos cultivos dos componentes dos alimentos concentrados, tais como milho, trigo, girassol, soja, colza, entre outros, como no cultivo das forragens para produção de silagens. Na produção animal, estão igualmente consideradas as emissões da aplicação do estrume e chorume excedente; deste modo a con-tribuição desta fase em 18% deve-se às emissões de fosfato consequentes do espalhamento do estrume e chorume nos solos. Os restantes processos não contribuem de forma signifi-cativa para esta categoria. A produção de palha contribui com aproximadamente 3% e os restantes processos contribuem com menos de 0,2%.

Eutrofização Marinha

Ao nível da categoria Eutrofização Marinha são emitidos no total 0,0112kg de N equivalente, dos quais aproximadamente 30% são emitidos na exploração leiteira, do processo produção animal (S3), devido às emissões de NO3

- e NH3 oriundas da gestão do chorume. No entanto, as emissões decorrentes da produção de alimentos concentrados (S1) e da produção de sila-gens de milho e azevém (S2) representam uma contribuição ainda maior para esta categoria, de aproximadamente 47% e 33%, respetivamente, que resulta principalmente das emissões de NH3 e NO3

- consequentes dos processos de aplicação de fertilizante sintético e orgânico nos solos de cultivo. Os restantes processos considerados não contribuem de forma signifi-cativa para esta categoria. A produção de palha contribui com 4% e os restantes processos mostram ter uma importância quase nula (menos de 0,1%).

Acidificação Terrestre

A acidificação terrestre consequente da produção de 1 kg de leite cru é de 0,0276 kg de SO2 equivalente, dos quais cerca de 78% são atribuídos à produção animal (S3), principalmente devido às emissões de NH3 decorrentes da volatilização de N contido no chorume. A produ-ção de silagens de milho e azevém (S2) e a produção de alimentos concentrados (S1) também contribuem para a acidificação terrestre total com aproximadamente 13% e 7% respetiva-mente, devido essencialmente às emissões NH3 da volatilização do N contido no chorume e fertilizantes sintéticos aplicados nos solos de cultivo. As emissões de NO2, NOx e SO2 que resultam principalmente da combustão de gasóleo pelas maquinarias agrícolas usadas nas operações necessárias ao cultivo agrícola têm menores contribuições para esta categoria.

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Oportunidades de melhoria

Considerando o típico sistema de produção de leite em Portugal, os resultados de ACV obti-dos neste estudo e os elementos/processos chave identificados, as possíveis/potenciais opor-tunidades de melhoria para o desempenho ambiental do produto (leite de vaca cru) são as seguintes:

• · Formulação de dietas alimentares que sejam simultaneamente apropriadas ao de-sempenho dos animais e minimizem os respetivos impactos ambientais associados à produção dos seus componentes. Devem ser tidos em consideração fatores tais como, os impactes de produção de cada componente da mistura, possíveis compo-nentes alternativos, a sua origem e o impacte associado ao transporte;

• · Redução de efetivos animais de substituição e aumento da produtividade por vaca leiteira;

• · Criação de novas soluções no desenho e conceção das instalações pecuárias, que reduzam as emissões de poluentes, nomeadamente a volatilização do amoníaco e lixiviação de nitratos;

• · Realização de pré-tratamento do chorume por processos físicos e químicos, que minimizem as emissões decorrentes do chorume no armazenamento e após a sua aplicação nos solos agrícolas;

• · Utilização integrada eficiente do chorume e da fertilização mineral das culturas; • · Novas metodologias e métodos de aplicação de chorume nos solos que minimizem

a emissão de poluentes.

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ACV do Leite UHT Objetivo: avaliar os potenciais impactes ambientais resultantes da produção de lei-te ultrapasteurizado (UHT - Ultra High Tem-perature) em Portugal, produzido com leite cru português, e identificar os elementos ou processos inerentes à produção de leite UHT que representam uma maior contri-buição para a carga ambiental do produto.

Unidade Funcional: 1 kg ECM de leite UHT embalado, à saída da fábrica de lacticínios. A uni-dade ECM (energy corrected milk – energia de leite corrigido) é um fator de correção utilizado pela indústria de lacticínios, bem como na maioria dos estudos elaborados neste âmbito. De acordo com as recomendações de alimentação e tabelas de nutrientes para ruminantes, a quantidade de ECM é estimada a partir da quantidade e qualidade de leite cru produzido (ALP, 2006):

ECM (kg/dia) = leite cru (kg/dia) x [0,038 x teor de gordura (g/kg) + 0,024 x teor de proteína (g/kg) + 0,017 x teor de lactose (g/kg)] / 3,14

Neste estudo, o volume de leite cru recebido na fábrica de leite UHT foi convertido a 1 kg de ECM com base em 4% de gordura, 3,4% de proteína e 4,7% de lactose.

Descrição do sistema produtivo e fronteiras do sistema

Este estudo foi elaborado numa perspetiva do berço-à-porta da fábrica de lacticínios (“cra-dle-to-gate”). As fronteiras do sistema e os processos incluídos na produção de leite UHT são esquematicamente ilustrados na Figura 30. Como pode ser observado na figura, o sistema produtivo é dividido em dois subsistemas: o subsistema exploração leiteira (SEL) - associado à produção de leite cru, e o subsistema fábrica de Leite UHT (SFL) – associado à indústria de produção de leite UHT.

Exploração leiteira (SEL): Este subsistema envolve o processo produtivo de leite de vaca, a principal matéria-prima requerida na fábrica de leite UHT.

Fábrica de leite UHT (SFL): Este subsistema envolve todas as atividades relacionadas com a transformação do leite cru em leite UHT na fábrica de lacticínios. O leite cru é tratado por um processo térmico, que permite preservar o leite líquido, aumentando a sua durabilidade

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para consumo. Se o leite for embalado sob condições assépticas ele pode ser armazenado à temperatura ambiente durante meses. O processo de transformação do leite tem como matéria-prima o leite cru, transportado diariamente de explorações leiteiras. O leite cru é transportado em camiões cisterna com sistema refrigerador, sendo que após cada transporte o veículo é sempre lavado com água e agentes de limpeza. Após a receção do leite, este é submetido a uma operação de termização ou pré-aquecimento, que consiste no aquecimen-to num permutador de placas, durante alguns segundos, para a destruição da maior parte da carga microbiana.

Produção de agentes de limpeza

Produção de embalagens

Produção de eletricidade

Produção de água

SEL: Exploração

leiteira

Clari�cação, separação e normalização

Arrefecimento

Parteurização, desgasei�cação e homogenização

Arrefecimento

Embalamento

Tratamento de águas residuais

Leite UHT

Manteiga e natas

Armazenamento e refrigeração

Armazenamento e refrigeração

Termização

Recepção do leite

SFL: Fábrica de leite UHT

Leite cru

Fronteiras do sistema

T

T

T

TransportesT

Figura 30 - Fronteiras do sistema e fluxograma

do processo de produção de leite UHT

Posteriormente, o leite é de novo arrefecido e armazenado em cisternas refrigeradoras. De seguida, o leite é clarificado (remoção das partículas em suspensão no leite); seguindo-se a separação (remoção da nata do leite); e a normalização (operação de ajuste do teor de gordu-ra do leite, que depende do tipo de produto pretendido: leite magro (> 0,3%), leite meio gor-do (> 1,6%), leite gordo (> 3,5%). Os processos de clarificação e separação são realizados num centrifugador. A gordura excedente, resultante destas etapas, é usada como subproduto, para a produção de manteiga e natas para consumo. Posteriormente o leite é sujeito a uma desgaseificação e homogeneização, com o objetivo de libertar o ar ou os gases e desagregar

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glóbulos de gordura. Depois de devidamente homogeneizado, ocorre a pasteurização, uma operação fundamental no processo de tratamento do leite, que consiste no seu tratamento térmico deste para destruição dos microorganismos indesejados e preservação da sua quali-dade, sucedendo-se o arrefecimento e armazenagem (Castanheira, 2008). Após esta fase de processo, o leite é processado diferenciadamente, dependendo do produto final pretendido. O leite transformado em leite UHT simples é sujeito a um pré-aquecimento, desgasificação e homogeneização, seguindo-se a ultrapasteurização e imediatamente arrefecimento. Por seu lado, o leite achocolatado, sofre adicionalmente os processos de formulação, que inclui mis-tura de ingredientes, pré-aquecimento, homogeneização e arrefecimento. Nestes processos de aquecimento e arrefecimento rápidos existe um sistema regenerativo com aproveitamen-to do calor do leite (já pasteurizado e que necessita de ser arrefecido) no aquecimento do leite que necessita ainda de ser pasteurizado (INETI, 2001). Por fim, o leite pode ser emba-lado. O embalamento é feito por enchimento a frio, seguindo-se a grupagem, paletização, armazenamento à temperatura ambiente e expedição. As embalagens são de sistema Tetra Pak e o sistema de embalamento asséptico.

Considerando o processo produtivo do leite UHT acima descrito, foram incluídos dentro das fronteiras do sistema a produção e consumo de energia elétrica e térmica usada pela indús-tria no processamento do leite, a produção e transporte das matérias-primas, dos materiais de embalagem e dos agentes de limpeza, e o pré-tratamento das águas residuais resultantes das linhas de produção. A produção de bens capitais foi excluída deste estudo, assim como o tratamento dos resíduos de material de embalagem, dado que, sendo estes destinados a reciclagem, serão utilizados como matérias-primas de outros processos e portanto não acar-retam impacte ambiental.

Alocação

A indústria de produtos lácteos analisada para a elaboração do presente estudo representa um sistema multifuncional, do qual são produzidos diferentes tipos de leite UHT, nomeada-mente leite simples (magro, meio gordo e gordo) e leite achocolatado, mas também mantei-ga e natas (UHT e pasteurizadas). No entanto, não foi possível identificar os fluxos mássicos e energéticos correspondentes a cada linha de produto. Consequentemente, também não foi possível subdividir o sistema e portanto, foi considerado como uma caixa negra (black box), com três co-produtos principais: leite UHT (simples e achocolatado), natas e manteiga. Por outro lado, não sendo exequível efetuar uma expansão do sistema, devido à falta de dados, foi necessário recorrer à alocação para proceder à partição das cargas ambientais entre o produto e os subprodutos natas e manteiga. O método de alocação usado foi baseado no critério mássico, segundo o qual 86,41% das cargas ambientais são alocadas ao leite UHT, 8,84% alocadas às natas e 1,75% à manteiga.

Análise de inventário de ciclo de vida

Os dados de primeiro plano do sistema produtivo são maioritariamente dados primários, re-colhidos através de inquéritos. Quando não foi possível obter dados reais, foram recolhidos

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dados de inventário de literatura, através da base de dados ecoinvent (Althaus et al., 2009) e GaBi (PE international, 2014) ou de artigos científicos.

Os dados de inventário alusivos a este subsistema foram obtidos numa indústria de lacticí-nios, cujo produto principal é o leite UHT. Esta indústria é representativa ao nível da produção de leite UHT em Portugal (14% em 2013) e garante utilizar as melhores técnicas disponíveis. Como matérias-primas, esta fábrica utiliza leite cru exclusivamente português. A informa-ção recolhida na indústria para o desenvolvimento do inventário incluiu o consumo anual de energia, designadamente eletricidade e fuelóleo, o consumo da matéria-prima leite cru, de materiais de embalagem, água e agentes de limpeza. De igual modo foram obtidas as quantidades anuais de produção de lacticínios (leite UHT, natas e manteiga), dos resíduos de embalagem e a caracterização dos efluentes líquidos gerados à saída da fábrica. As emissões para o ar indicadas na tabela de inventário são resultantes da combustão do fuelóleo usado em caldeiras para produção de calor. Estas foram calculadas com base nos fatores de emissão (Tier 1) apresentados no “IPCC Guidelines for National Greenhouse Gas Inventories” de 2006 e no “EMEP/EEA air pollutant emission inventory guidebook” de 2013.

Quanto aos dados de segundo plano, nomeadamente os dados de inventário associados aos processos de produção de agentes de limpeza, combustíveis, materiais de embalagem e ele-tricidade, foram obtidos através das bases de dados ecoinvent (Althaus et al., 2009) e GaBi (PE International, 2014). Foi considerado um camião comum para o transporte de leite cru e não um camião cisterna refrigerado, devido à ausência de dado de informação para o inven-tário do processo de transporte em cisterna refrigerada.

AIA e interpretação dos resultados

Os resultados da etapa de caracterização da Avaliação de Ciclo de Vida da produção de 1 kg ECM de leite UHT, à porta da fábrica de lacticínios são apresentados na Tabela 10.

Categoria de impacte

Alterações climáticas (AC) kg CO 2 Equivalente 2,329

0,1743

0,0114

0,0434

g P Equivalente

kg N Equivalente

kg SO 2 Equivalente

Eutrofização de água doce (EAD)

Eutrofização marinha (EM)

Acidificação Terrestre (AT)

Unidade Valor

Tabela 10 - Resultados da avaliação de impactes associados ao

sistema de produção de leite UHT, expressos por 1kg ECM

As contribuições relativas dos processos considerados no sistema para cada categoria de im-pacte são mostradas na Figura 31. Pela análise da figura pode concluir-se que a produção do leite cru é a principal origem das cargas ambientais associadas à produção de leite UHT, sen-

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do que a sua contribuição para o impacte total varia entre 42% e 92%, dependendo da cate-goria de impacte. Os poluentes que mais contribuem para o impacte ambiental da produção de leite cru e as suas origens são discutidos anteriormente. Assim, a análise e resultados mais detalhada para o subsistema fábrica de leite UHT, é descrita nas subseções seguintes, para cada categoria ambiental.

100%90%80%70%60%50%40%30%20%10%

0%Alterações climáticas

Eutrofização de água doce

Eutrofização marinha

Acidificação terrestre

Produção de leite crúProdução de eletricidadeFábrica de leite UHTProdução de agentes de limpeza

Produção de embalagensProdução de fuelóleoTransportesProdução de água

Figura 31 - Contribuição relativa (em %) dos processos

envolvidos no processo de produção de leite UHT

Alterações Climáticas

As emissões correspondentes à categoria Alterações Climáticas, resultantes da produção de 1 kg ECM de leite UHT são quantificadas em 2,329 kg de CO2 equivalente, das quais aproxi-madamente 65% são oriundas da produção de leite cru, o principal responsável pelas emis-sões de gases com efeito de estufa (GEE). A contribuição das emissões diretas da fábrica para o impacte ambiental corresponde a aproximadamente 24% e são maioritariamente devidas à emissão de CO2, pelo consumo de energia térmica obtida pela queima de fuelóleo em cal-deiras. Com emissões relativamente mais baixas, as atividades de transportes, a produção de materiais de embalagem e a produção de eletricidade da rede contribuem respetivamente com 4%, 3% e 3%.

Eutrofização de água doce

Na categoria Eutrofização de Água Doce o impacte ambiental total é de 0,1743 g de P equi-valente. A produção de leite cru é o processo chave ao nível dos impactes ambientais da produção de leite UHT, sendo responsável, nesta categoria, por aproximadamente 62% dos impactes. Contudo, existem outros processos cuja contribuição é também importante, no-meadamente as emissões diretas da fábrica de leite UHT, que contribuem com aproximada-mente 13%, a produção de materiais de embalagem (cerca de 12%) e a produção de agentes de limpeza (cerca de 10%). Das emissões diretas da fábrica, a eutrofização de água doce é essencialmente provocada pelas emissões de P para a água, contido nos efluentes à saída da

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fábrica. As cargas ambientais associadas à produção de embalagens e agentes de limpeza são de igual modo causadas pela emissão de P e PO4

3- para a água.

Eutrofização marinha

Ao nível da Eutrofização Marinha, a produção de 1 kg ECM de leite UHT emite 0,0114 kg N equivalente, sendo aproximadamente 92% destas emissões resultantes da produção de leite cru. Além deste processo, destaca-se, com uma importância bastante menor, as emissões ocorridas na fábrica de leite UHT (cerca de 7%), devido às emissões de N para a água, prove-nientes do pré-tratamento dos efluentes resultantes do processo produtivo.

Acidificação terrestre

Da produção de 1 kg ECM de leite UHT resultam 0,0434 kg SO2 equivalente. Destas emissões acidificantes, aproximadamente 89% e 9% provém da produção de leite cru e das atividades decorrentes na fábrica de leite UHT, respetivamente. Deste modo, a contribuição dos restan-tes processos para o impacte ambiental total é muito baixa. As emissões diretas da fábrica de lacticínios são maioritariamente causadas pela emissão de SO2, que resulta da queima de combustível, neste caso fuelóleo, utilizado em caldeiras para produção de calor. Neste processo é também emitido NOX, mas a sua influência no resultado é relativamente menor.

Oportunidades de melhoria

De acordo com os resultados obtidos neste estudo é indiscutível que a produção de leite cru é o processo chave dos impactes ambientais da produção de lacticínios, neste caso do leite UHT. Contudo, são também encontradas possíveis oportunidades de melhoria, não relacio-nadas com o leite cru, que poderão ser estudadas e analisadas a fim de minimizar os impactes ambientais associados ao leite UHT. Neste sentido, são apresentadas as seguintes propostas:

• Uso de combustíveis alternativos nos sistemas de aquecimento (produção de calor);• Soluções alternativas de utilização dos efluentes como subprodutos.

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ACV do IogurteObjetivo: avaliar os potenciais impactes ambientais da produção de iogurte em Portugal, produzido com leite de vaca por-tuguês.

Unidade Funcional: 1 kg de iogurte à saída da fábrica de lacticínios.

Descrição do sistema produtivo e fronteiras do sistema

O perfil ambiental do iogurte foi elaborado numa perspetiva do berço-ao-portão da fábrica de lacticínios (“cradle-to-gate”). Na Figura 32 encontram-se esquematizadas as fronteiras do sistema e os processos incluídos no sistema de produto, que foi subdividido em dois subsiste-mas: o subsistema exploração leiteira (SEL) - associado à produção de leite cru, e o subsiste-ma fábrica de iogurte (SFI) – associado à indústria de produção de iogurte.

Exploração Leiteira (SEL): este subsistema engloba o processo de produção de leite de vaca, a principal matéria-prima requerida na fábrica de iogurtes. A informação mais detalhada acerca deste subsistema e respetiva ACV foi apresentada previamente.

Fábrica de iogurte (SFI): este subsistema inclui todo o processo de produção de iogurte na fá-brica até à expedição do produto. O processo dentro da fábrica inicia-se na secção de recep-ção de leite cru, diariamente transportado em camiões cisterna refrigerados, de explorações leiteiras portuguesas até à fábrica de lacticínios, onde é armazenado refrigerado. De referir, que as cisternas que transportam o leite são devidamente lavadas com água e agentes de limpeza, após cada viagem. Para além do leite, são rececionadas outras matérias-primas, nomeadamente, açúcar, leite em pó, proteínas lácteas, aromas, concentrados de fruta, entre outras. Antes do processo de transformação do leite em iogurte, o leite é selecionado quanto a padrões de qualidade e submetido a várias operações de pré-tratamento, nomeadamente tratamento térmico e desnatação, de onde resultam leite desnatado, nata e leite concentra-do. Seguidamente decorre a normalização, onde o leite desnatado, a nata, o leite concen-trado, o açúcar, o leite em pó e os concentrados são misturados em diferentes proporções, dependendo do tipo de produto final que se pretende produzir, resultando deste processo um produto intermédio denominado de leitada. A leitada é depois encaminhada para outra secção, sendo dividida para a preparação de iogurtes batidos e sólidos. Cada leitada é homo-geneizada, pasteurizada e arrefecida à temperatura de inoculação. Após o pré-tratamento, a leitada segue para as linhas do iogurte, cujos processos desenvolvidos diferem consoante os produtos pretendidos. De um modo geral, podem classificar-se os iogurtes como sólidos

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(incubados e arrefecidos na embalagem); batidos (incubados em tanques e arrefecidos antes de colocados em embalagem); e líquidos (a coalhada fica líquida antes do embalamento).

Armazenamento refrigerado

Pasteurização e/ou homogenização ou esterilização

Produção de energia térmicaTratamento de águas residuais

SFI: Fábrica de iogurteLeite cru

Iogurte líquidoIogurte batidoIogurte sólido

Iogurte Natas inteiras

Mistura

Arrefecimento

ArrefecimentoEmbalamento

EmbalamentoEmbalamento

Incubação Incubação

Incubação

Adição de aromas

Adição de aromas

InoculaçãoDesnatação, homogenização e pasteurizaçãoPré-tratamento

Produção de eletricidade

Produção de Agentes de limpeza

Produção de gás natural

Produção de embalagensProdução de

aditivos: leite em pó; açúcar

SEL: Exploração leiteira

Aditivos: Aromas; Preparados de frutas

TransportesT

Fronteiras do sistema

T T T T T

Armazenamento refrigeradoArmazenamento refrigerado

Armazenamento refrigerado

Figura 32 - Fronteiras dos sistema e fluxograma

do processo de produção de iogurte

No que respeita aos iogurtes sólidos, os aditivos são adicionados continuamente ao caudal de leitada (aquecida e injetada com fermento) antes da máquina de enchimento. Após o en-chimento da embalagem, estas são transportadas para uma estufa onde se dá a incubação. Posteriormente os iogurtes seguem para uma câmara, onde são arrefecidos e depois armaze-nados no frio até à sua expedição. No caso dos iogurtes batidos, a incubação das culturas de bactérias (fermento) é feita antes do embalamento, em tanques isotérmicos de maturação com medidores de pH. Após atingir o pH ideal, a mistura é arrefecida e ao mesmo tempo, é sujeita a agitação. A introdução de aditivos ocorre aquando da sua transferência para as máquinas de enchimento, sendo a mistura feita de forma contínua, bombeando iogurte e aditivos através de um misturador colocado imediatamente antes da linha do enchimento. Após o enchimento, as embalagens passam por um túnel de arrefecimento e são enviadas para as câmaras de refrigeração, onde permanecem até à sua expedição. Relativamente aos iogurtes líquidos, estes podem ser preparados de diversas formas, dependendo do produto

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final pretendido. Por fim, os produtos obtidos são encaminhados para expedição, para o res-petivo operador logístico.

Tendo em consideração a cadeia produtiva acima descrita, foram incluídos dentro das fron-teiras os fluxos de entrada e saída ambientalmente relevantes para a produção de iogurte. Neste sentido, como entradas mássicas foram incluídas a produção de leite cru, a principal matéria-prima do iogurte, a produção de outros aditivos, tais como leite em pó e açúcar, bem como a produção de agentes de limpeza e de materiais de embalagem. A produção de ou-tros aditivos também adicionados ao iogurte durante o seu processamento, nomeadamente aromas e preparados de fruta, foi excluída das fronteiras do sistema devido à carência de dados de inventário. De referir que foram contabilizados os transportes de todos os mate-riais referidos, desde o local de fabricação até à industria de iogurtes. Em relação aos fluxos energéticos foi contabilizada a produção de combustíveis fosseis e de energia elétrica consu-midos na indústria. Os processos de pré-tratamento dos efluentes gerados na indústria foram tidos em consideração. A produção de bens capitais foi excluída deste estudo, assim como os tratamentos dos resíduos de material de embalagem, dado que, sendo estes destinados a reciclagem, serão utilizados como matérias-primas de outros processos e portanto não acar-retam impacte ambiental.

Alocação

A indústria de lacticínios sob avaliação representa um típico sistema multifuncional que pro-duz uma grande variedade de iogurtes (dos quais se destacam os iogurtes sólidos, batidos e líquidos), mas também produz natas, como subproduto do processo, que são enviadas para indústrias alimentares. Tendo em consideração que este estudo é focado na ACV do iogurte, seria uma opção interessante efetuar a partição das cargas ambientais do fluxo total de io-gurte entre os diferentes tipos de iogurtes produzidos.

No entanto, não foi possível identificar os fluxos mássicos e energéticos correspondentes a cada linha de produto, e portanto devido a esta limitação os resultados do presente estudo não podem ser usados para identificar opções de melhoria nas linhas de produção. Assim, no presente estudo, a produção dos diferentes tipos de iogurtes foi avaliada como um todo, considerando o sistema de produto como uma caixa negra (black box), do qual apenas dois produtos principais foram considerados: o iogurte e as natas. Neste contexto, foi necessário a aplicação de critérios de alocação que permitam uma adequada atribuição dos impactes ambientais ao produto avaliado. Considerando o sistema de produto específico, optou-se pelo critério mássico para distribuir as cargas ambientais entre o iogurte (produto) e as natas (subproduto), em todos os fluxos do sistema, à exceção dos fluxos mássicos associados aos materiais de embalagens e aos aditivos usados, uma vez que estes não são utilizados para a produção das natas.

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Análise de Inventário de ciclo de vida

A informação de primeiro plano (foreground data) do ICV do iogurte foi baseada em dados específicos de uma indústria de lacticínios localizada em Portugal, cuja produção é represen-tativa da produção nacional de iogurtes e que utiliza um número significativo de tecnologias e práticas de gestão consideradas como as melhores práticas disponíveis.

AIA e interpretação dos resultados

Os resultados da etapa de caracterização são apresentados na Tabela 11, para cada categoria de impacte selecionada, expressos em função da unidade funcional adotada no estudo (1 kg de iogurte à porta da fábrica de lacticínios).

Categoria de impacte

Alterações climáticas (AC) kg CO 2 Equivalente 1,551

0,1046

0,0087

0,0320

g P Equivalente

kg N Equivalente

kg SO 2 Equivalente

Eutrofização de água doce (EAD)

Eutrofização marinha (EM)

Acidificação Terrestre (AT)

Unidade Valor

Tabela 11 - Resultados da avaliação de impactes associados ao

sistema de produção de iogurtes, expressos por 1 kg de iogurte

A Figura 33 mostra a contribuição relativa dos principais processos envolvidos em todo o ciclo de vida da produção de iogurte, por categoria de impacte ambiental, permitindo identificar os hotspots do sistema sob avaliação.

100%90%80%70%60%50%40%30%20%10%

0%Alterações climáticas

Eutrofização de água doce

Eutrofização marinha

Acidificação terrestre

Produção de leite crúProdução de açúcarProdução de eletricidadeFábrica de iogurte

Produção de leite em póProdução de materiais de embalagemProdução de gás natural (para caldeiras)Transportes

Figura 33 - Contribuição relativa (em %) dos processos

envolvidos no processo de produção de iogurte

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Como pode ser observado na figura, a produção de leite cru é o processo que apresenta maior contribuição no impacte ambiental total de todas as categorias de impacte analisadas. Assim, para identificar os hotspots da produção de iogurte é importante analisar e interpretar os resultados da avaliação de impacte ambiental e as contribuições relativas dos processos envolvidos no subsistema exploração leiteira (SEL), que foram previamente descritos. De acordo com a figura atrás referida, para além da produção de leite cru, são também iden-tificados como os principais hotspots ambientais as emissões que ocorrem na fábrica de iogurtes, a produção de embalagens, a produção de energia e a produção de leite em pó. Uma análise de resultados mais detalhada, para cada categoria ambiental, é descrita nas subseções seguintes.

Alterações Climáticas

As alterações climáticas resultantes da produção de 1 kg de iogurte são 1,551 kg CO2 equiva-lente. Destas emissões, 69% resultam da produção de leite cru na exploração leiteira, 10% da produção de materiais de embalagem e 9% das emissões da produção de leite em pó. A contribuição da produção de embalagens é devida à utilização de embalagens de PEAD, PP e PCV. Estes plásticos são materiais não renováveis que requerem combustíveis fosseis e elevados consumos energéticos para o seu fabrico.

Outros materiais, tais como as caixas de cartão, os rótulos de papel, as tampas de PET e as paletes apresentam uma menor influencia. Relativamente à produção de leite em pó, é importante salientar que o impacte resultante da sua produção provém 90% da produção da sua matéria-prima, o leite cru.

Eutrofização de Água Doce

Os resultados deste estudo indicam que a produção de 1 kg de iogurte emite 0,1046 g de P equivalente, das quais 71% resultam dos processos de produção de leite cru e leite em pó (63% do leite cru e 8% do leite em pó). Para o impacte total, as emissões diretas da fábrica de iogurtes também revelam uma contribuição importante, em cerca de 15%, devidos à elevada carga orgânica dos efluentes líquidos gerados e consequente às emissões de P para a água. A produção de materiais de embalagem é também representativa do impacte, contribuindo em 9% para esta categoria devido a emissões de PO4

3- e P para a água.

Eutrofização Marinha

A eutrofização marinha causada pela produção de 1 kg de iogurte é de 0,0087 kg de N equi-valente, sendo que os processos de produção de leite cru e leite em pó, no seu conjunto, são responsáveis por 96% destas emissões. Desta forma, os restantes fases e processos indicam não ter uma contribuição relevante no impacte ambiental do produto.

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Acidificação Terrestre

Como resultado da produção de 1 kg de iogurte são emitidos 0,0320 kg de SO2 equivalente. Similarmente ao que se verifica na categoria Eutrofização Marinha, os processos de produ-ção de leite cru e leite em pó, no seu conjunto, contribuem com 96% das emissões, sendo os restantes processos pouco importantes para esta categoria.

Oportunidades de melhoria

A produção de leite cru é o processo chave dos impactes ambientais da produção de lacti-cínios, neste caso do iogurte. Contudo, deverão ser estudadas e analisadas possíveis opor-tunidades de melhoria, não relacionadas com o leite cru, que possam minimizar os impac-tes ambientais associados à produção de iogurte. Neste sentido, são descritas as seguintes propostas:

• Uso de combustíveis alternativos nos sistemas de aquecimento (produção de calor); • Soluções alternativas de utilização dos efluentes como subprodutos; • Otimização das embalagens (nomeadamente na utilização de matérias primas alter-

nativas e desenvolvimento de novas embalagens).

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ACV do Queijo Objetivo: é identificar e quantificar os po-tenciais impactes ambientais resultantes da produção de queijo em Portugal, feito com leite de vaca português. Adicional-mente pretende-se identificar os proces-sos mais críticos ao nível ambiental e pro-por possíveis oportunidades de melhoria.

Unidade funcional: 1 kg de queijo curado (tipo flamengo) à saída da fábrica de lacticínios.

Descrição do sistema produtivo e fronteiras do sistema

O fluxograma ilustrado na Figura 34 demonstra esquematicamente as fronteiras do sistema considerado, bem como o fluxograma do processo de produção de queijo curado na fábrica de lacticínios. Tal como nos restantes produtos lácteos avaliados, a ACV foi elaborada segun-do uma abordagem do berço-à-porta da indústria de lacticínios (“cradle-to-gate”). Assim, o sistema de produção de queijo foi dividido em dois subsistemas: o subsistema exploração leiteira (SEL) - associado à produção de leite cru, e o subsistema fábrica de queijo (SFQ) – as-sociado à indústria de produção de queijo.

Exploração Leiteira (SEL): tratado previamente.

Fábrica de queijo (SFQ): este subsistema considera o processo de produção de queijo matu-rado na indústria de lacticínios e incluí todos fluxos mássicos e energéticos relevantes para o processo. O processo produtivo de queijo é baseado na coagulação de caseína do leite ou das proteínas do soro, sendo que o produto final depende da composição, do manuseamento e da cultura de inoculação. O queijo curado é obtido através dos processos de coagulação, dessoração do leite, operações de moldagem, para dar forma ao queijo, e cura.

Os processos envolvidos neste subsistema iniciam-se aquando da receção do leite cru, que é transportado diariamente de explorações leiteiras em cisternas refrigeradas. Após cada viagem as cisternas são lavadas com água e agentes de limpeza e o leite é armazenado em tanques também refrigerados na fábrica.

O processo de transformação propriamente dito, inicia-se com um pré-tratamento do leite, que é sujeito a diferentes processos, designadamente a filtração (para remoção das partícu-las grosseiras e impurezas eventualmente presentes), o tratamento térmico, e a normaliza-ção (que consiste na operação de separação e ajuste do teor de gordura do leite). A normali-

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zação é uma fase importante no fabrico do queijo, pois os queijos são classificados de acordo com o seu conteúdo em gordura numa base seca. O produto intermédio resultante dos pro-cessos descritos anteriormente segue para o processo de pasteurização, com o objetivo de destruir os microrganismos patogénicos. Após os pré tratamentos, o leite é encaminhado para as cubas, onde se dá a operação de coagulação da caseína do leite, a partir do qual se obtém um produto sólido intermédio vulgarmente designado por coalhada. Esta operação é realizada pela adição ao leite, de um fermento ou cultura inicial de bactérias, ao que se denomina coalho. Após a sua adição, o leite é deixado em repouso o tempo necessário para que a coagulação ocorra.

Fronteiras do sistema

Produção de aditivos: Fermento, cultura inicial de bactérias, entre outros

SEL: Ecploração leiteira Produção de fuelóleo

Tratamento Coagulação e modelagem Salga e cura

SFQ: Fábrica de queijo

Leite cru

Produção de agentes de limpeza

Produção de eletricidadeProdução de empalagens

Produção de leite em pó

Queijo curado

Soro líquido

Soro em pó

Produção de energia térmica

Tratamento de águas residuais

Embalagem

Expedição

Embalagem

Salga

Maturação e cura

Queijo CuradoSoro em pó

Coagulação e corte da coalhada

Desidratação

Prensagem mecânica

Pré-prensagem e moldagem

Pasteurização

Termização

Clari�cação

Recepção do leite cru

Armazenamento refrigerado

TransportesT

T T T T T

Figura 34 - Fronteiras do sistema e fluxograma

do processo de produção do queijo

Após a remoção do soro (dessoramento), a coalhada pode ser transferida diretamente para os moldes/formas, nomeadamente nos queijos granulares; ou prensada previamente e cor-tada antes de moldada, nomeadamente nos queijos prato; ou ainda moída para o fabrico de queijo ralado. Depois de desmoldados, procede-se à salga, que não funciona apenas como condimento, mas também com a finalidade de remover a humidade através do efeito osmó-tico. Para tal, podem ser usadas diversas técnicas, designadamente pulverização ou imersão em salmoura. No final, o queijo é submetido a diversos estágios de cura, em câmaras com condições adequadas de humidade e temperatura, durante tempo variável, em função do tipo de cura pretendido. Depois deste período, os queijos são enviados para a secção de aca-bamento ou para a secção de fatiamento e por fim embalados, paletizados e armazenados na câmara de expedição. O soro, resultante da etapa de dessoramento, é submetido a um pro-cesso de desidratação, originando soro em pó. Este é embalado e vendido como subproduto.

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Tendo em consideração todo o processo produtivo descrito, foram incluídos dentro das fron-teiras do sistema a produção e o transporte das matérias-primas, materiais de embalagem, agentes de limpeza e energia (térmica e elétrica). No entanto, foi excluída a produção dos aditivos requeridos na produção de queijo, como por exemplo fermento e cultura inicial de bactérias, devido à falta de dados de inventário. O tratamento dos efluentes gerados na linha de produção de queijo foi também incluído no sistema, assim como o tratamento/destino final dos resíduos de materiais de embalagem. De realçar que não foi considerada a produção/ma-nutenção de bens de capital, tais como veículos, maquinaria, equipamentos, instalações, etc.

Alocação

No estudo da ACV do queijo, tal como no dos outros lacticínios avaliados, não foi possível identificar os fluxos mássicos e energéticos correspondentes a cada linha de produto. Con-sequentemente, e pelas mesmas razões, o sistema foi modelado como uma caixa negra, re-correndo-se à alocação para a partição dos impactes ambientais entre o produto (queijo) e o subproduto (soro de leite em pó). O critério de alocação utilizado diferiu do critério usado na avaliação dos outros lacticínios analisados. Neste estudo optou-se pelo critério económico, baseado no preço médio de mercado dos coprodutos, devido à disparidade de preços entre ambos. Os preços de primeira venda considerados para o cálculo foram 4€/kg e 0,6 €/kg, para o queijo e soro de leite em pó, respetivamente

Análise de inventário de ciclo de vida

Na recolha de dados de inventário foi dada preferência a dados primários. Contudo, na au-sência deste tipo de dados foram usados valores da literatura e de bases de dados.

A informação de primeiro plano (foreground data) do inventário do subsistema fábrica de queijo (SFQ), inventariada na tabela 4.16 em função da unidade funcional (1 kg de queijo curado), foi baseada em dados específicos de uma indústria de lacticínios localizada em Por-tugal, que produz queijo curado, tipo flamengo. Neste sentido, para a sua elaboração foram recolhidos dados médios anuais do consumo de matérias-primas, materiais de embalagem, agentes de limpeza, energia térmica e elétrica, e igualmente quantificados os principais resí-duos gerados na fábrica: resíduos de embalagens e efluentes.

Uma vez que a indústria produz a sua própria energia térmica, emite CO2, SO2, NOX, entre outras emissões, decorrentes da queima de combustíveis nas caldeiras. Estas emissões fo-ram calculadas através dos fatores de emissão (Tier 1) indicados no “IPCC Guidelines for Na-tional Greenhouse Gas Inventories” de 2006 e do “EMEP/EEA air pollutant emission inventory guidebook” de 2013. As emissões para água provêm dos efluentes líquidos, após tratamento, à saída da fábrica.

Os dados de inventário de segundo plano (background data), tais como os processos de pro-dução aditivos, agentes de limpeza, eletricidade, combustíveis fosseis e materiais de emba-lagem, bem como de tratamento dos resíduos e efluentes, foram obtidos das bases de dados

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ecoinvent (Althaus et al., 2009) e GaBi (PE International, 2014) ou recursos bibliográficos. Os dados de inventário do processo de produção de leite em pó (leite com baixo teor de água) foram obtidos de Nielsen et al. (2003). Os processos considerados nos transportes foram ob-tidos da base de dados GaBi (PE International, 2014).

AIA e interpretação dos resultados

Na Tabela 12 são apresentados os resultados da avaliação de ciclo de vida do queijo curado, expressos em função da unidade funcional adotada no estudo (1 kg de queijo curado). A con-tribuição relativa de cada elemento ou processo do sistema para o impacte total da produção de queijo, por categoria, é graficamente indicada na Figura 35. Pela sua análise pode concluir-se que à exceção da categoria Eutrofização de Água Doce os processos de produção de leite cru e leite em pó são identificados como os principais hotspots ambientais da produção de queijo. Além destes processos, identificam-se como pontos críticos as emissões diretas que ocorrem na indústria de queijo.

Categoria de impacte

Alterações climáticas (AC) kg CO 2 Equivalente 7,487

0,0016

0,0497

0,1831

g P Equivalente

kg N Equivalente

kg SO 2 Equivalente

Eutrofização de água doce (EAD)

Eutrofização marinha (EM)

Acidificação Terrestre (AT)

Unidade Valor

Tabela 12 - Resultados da avaliação de impactes associados ao

sistema de produção de queijo, expressos por 1 kg de queijo curado

100%90%80%70%60%50%40%30%20%10%

0%Alterações climáticas

Eutrofização de água doce

Eutrofização marinha

Acidificação terrestre

Prod. fuelóleo (para caldeiras) Prod. leite crúProd. leite em póProd. agentes de limpeza

Tratamento de resíduos Prod. eletricidadeProd. de água

TransportesTransportes

Prod. materiais de embalagem

Fábrica de queijo

Figura 35 - Contribuição relativa (em %) dos processos

envolvidos no processo de produção de queijo

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Alterações Climáticas

A produção de 1 kg de queijo curado é responsável pela emissão de 7,487 kg de CO2 equiva-lente. Os processos que representam uma maior contribuição para este impacte são a produ-ção de leite cru (aproximadamente 70%), seguido da produção de leite em pó (cerca de 11%) e a produção de eletricidade (aproximadamente 4%). Como já mencionado na análise de re-sultados da produção de iogurte, cerca de 90 % das emissões de GEE resultantes da produção de leite em pó, devem-se à produção de leite cru, a sua principal matéria-prima. Os restantes processos contabilizados neste sistema não apresentam uma contribuição relevante.

Eutrofização de Água Doce

Da produção de 1 kg de queijo curado resulta a emissão de 0,0016 g de P equivalente. Nesta categoria, as emissões diretas da fábrica de queijo representam aproximadamente 60% das emissões, devido às emissões de P para a água, proveniente dos efluentes líquidos gerados durante o processo. Outras contribuições também importantes para esta categoria são a produção de leite cru, de agentes de limpeza e leite em pó, que contribuem com 27%, 5% e 4%, respetivamente. As emissões associadas à produção de agentes de limpeza devem-se à emissão de P e PO43- para a água.

Eutrofização Marinha

A eutrofização marinha resultante deste estudo é de 0,0497 kg de N equivalente, sendo esta causada, quase na sua totalidade, pela produção de leite (aproximadamente 85% das emis-sões são devidas à produção de leite cru e 10% à produção de leite em pó). As emissões dire-tas da fábrica de queijo, que representam cerca de 4% da eutrofização marinha, resultam da geração de efluentes líquidos, sendo emitido N e NO3

- para a água.

Acidificação Terrestre

A acidificação terrestre resultante da produção de 1 kg de queijo é de 0,1831 kg de SO2, para a qual contribuem maioritariamente os processos de produção de leite cru e leite em pó (apro-ximadamente 95%, no seu conjunto). As emissões diretas da fábrica de queijo, que represen-tam cerca de 3% da acidificação terrestre, resultam da emissão de SO2 e NOX, da queima de combustíveis fosseis consumido para produção de energia térmica.

Oportunidades de melhoria De acordo com os resultados obtidos neste estudo é indiscutível que a produção de leite cru é o processo chave dos impactes ambientais da produção de lacticínios, neste caso do queijo. Contudo, deverão ser estudadas e analisadas possíveis oportunidades de melhoria, não rela-cionadas com a produção primária de leite, que possam minimizar os impactes ambientais associados à produção de queijo. Neste sentido, são descritas as seguintes propostas:

• Uso de combustíveis alternativos nos sistemas de aquecimento (produção de calor); • Soluções alternativas de utilização do soro e sorelho como subprodutos.

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Fileira do Pescado

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ACV da SardinhaPor Luís Arroja, Sara Belo, Ana Cláudia Dias

A fileira do pescado, integrando a captura, transformação e comercialização do pescado re-presenta para Portugal uma especial importância. A abundância de peixe e a sua qualida-de, a extensão da linha de costa e a tradicional propensão para as artes de pesca, aliadas à simplicidade da técnica, criaram em Portugal condições ímpares para o desenvolvimento de atividades de pesca e estabelecimento da indústria conserveira (Castro e Melo, 2010). Esta atividade constitui uma importante fonte de subsistência, em especial para as comunidades ribeirinhas, muitas delas quase totalmente dependentes da pesca e atividades relacionadas (MADRP-DGPA, 2006). Neste sentido, esta fileira tem vindo a evidenciar-se como um impor-tante motor da economia mas também do desenvolvimento social e cultural do país.

Sendo Portugal um país com fortes tradições marítimas, estas refletem-se na sua gastrono-mia, tornando Portugal, o país da União Europeia com o consumo per capita de pescado mais elevado. Dados anunciados em 2014, referentes ao ano 2012, revelam o consumo per capita de 57 kg por habitante e ano em Portugal, face à média europeia de 22 kg de pescado (FAO, 2014). Este valor, que representa em Portugal um consumo individual de cerca de 160g de pescado por dia, corresponde a mais de 3% do total da dieta proteica animal diária por habi-tante (MADRP-DGPA, 2006). Contudo, a produção nacional de pescado manifesta-se insufi-ciente face ao valor consumido pela população portuguesa (apenas permite satisfazer uma procura per capita de 23 Kg/ano) (MADRP-DGPA, 2006). Assim, para cobrir as necessidades, Portugal recorre à importação de mais de 300.000 toneladas de pescado por ano.

As principais áreas de pesca em Portugal continental localizam-se na zona costeira, essen-cialmente até às 6 milhas, onde a frota local opera quase exclusivamente. Os principais re-cursos explorados são fundamentalmente pequenos pelágicos como a sardinha, o carapau e a cavala, mas os mais importantes em termos económicos são os demersais como o polvo, a pescada, a gamba e o choco (DGRM, 2014).

A atividade de pesca é responsável por gerar impactes ambientais e socioeconómicos signifi-cativos. Por esse facto, tem-se verificado uma crescente procura de informações ambientais sobre o sector do pescado, por diferentes partes interessadas das cadeias de abastecimento, designadamente autoridades, consumidores, associações de pesca, indústrias de processa-mento de produtos da fileira do pescado, entre outros (Vázquez Rowe et al., 2010). No âm-bito deste estudo, a sardinha foi a espécie avaliada (Figura 36), devido à sua importância no contexto nacional.

Para que o produto chegue ao consumidor final, a sardinha fresca é submetida, a duas etapas: a captura e descarga no porto onde decorre a primeira venda em leilão e por fim venda por parte dos retalhistas ao consumidor final. No caso da sardinha processada, após a primeira venda em lota, esta pode ser enviada para um entreposto frigorífico, onde é congelada e

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armazenada por um período de tempo e posteriormente vendida a retalhistas ou indústrias transformadoras de pescado, ou enviada fresca diretamente da lota para as indústrias trans-formadoras

Fronteiras do sistema

SP: PESCA

SAC: ARMAZENAMENTO E CONGELAMENTO

VENDA E REVENDA

UTILIZAÇÃO

FIM DE VIDA

Sardinha fresca

Sardinha congelada

Farinha de peixe

Sardinha em conserva

SPC: PROCESSAMENTO (CONSERVAS)

STS: TRANSFORMAÇÃO DE SUBPRODUTOS

Figura 36 - Diagrama representativo dos sistemas produtivos

associados ao ciclo de vida dos produtos sardinha fresca,

sardinha congelada e sardinha em conserva

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ACV da Sardinha FrescaPor Luís Arroja, Sara Belo, Ana Cláudia Dias

Objetivo: Identificar e avaliar os potenciais impactes ambientais associados à produção de sardinha fresca, capturada pela frota portuguesa nas águas costeiras nacional.

Unidade Funcional (UF) 1 kg de sardinha inteira à porta do porto de desembarque.

Descrição do sistema produtivo e fronteiras do sistema

A figura 37 mostra o sistema de produto, denominado de pesca (SP), onde são apresentados sequencialmente os processos incluídos nas fronteiras do sistema da sardinha fresca, sendo considerada uma análise desde o berço até ao portão do porto de desembarque (“cradle-to-gate”). Assim, o sistema é subdividido em dois subsistemas, sendo incluídos os fluxos associa-dos às operações desenvolvidas na captura do pescado no mar e às operações de desembar-que do pescado no porto, até este ser vendido na lota (primeira venda).

Fronteiras do sistema

Gasóleo

SP: PESCA

Gasóleo Peixe rejeitado

Farinhas de peixe

Sardinha fresca

Redes de

pesca e

Tinta anti-

incrustante

Óleo lubri�cante

Pescado capturado

OPERAÇÕES DE

CAPTURA DE

SARDINHA

(ARTE DE CERCO)TRANSFORMAÇÃO

DE SUBPRODUTOS

DE ORIGEM

ANIMALOPERAÇÕES DE

DESEMBARQUE NO

PORTO

Gelo

Água

Cabazes

Figura 37 - Diagrama representativo dos subsistemas produtivos

associados ao sistema de produção da sardinha fresca

Operações de captura de sardinha: A atividade de pesca é habitualmente realizada perto do porto, em curtas viagens (diárias), onde as redes são lançadas uma ou duas vezes, geralmen-

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te de madrugada. Cada viagem inclui geralmente as seguintes 4 fases/atividades: navega-ção, pesquisa, pesca e descanso. Na primeira fase – navegação – a embarcação desloca-se do porto de partida em direção à zona de pesca. A frota de cerco (constituída por traineiras) está autorizada para exercer a atividade a uma distância compreendida entre 1/4 de milha e 1 milha da linha da costa, a profundidades superiores a 20 m. Segue-se a fase de pesquisa, na qual a embarcação procura a sardinha, com a ajuda de meios electrónicos. Assim que é descoberta, inicia-se a terceira fase, a pesca, que consiste na realização do lance de pesca. Durante o lance, as embarcações cercadoras usam geralmente uma pequena embarcação auxiliar, a chalandra ou chata. Esta pequena embarcação é colocada na água e inicia a ma-nobra do cerco, enquanto a outra extremidade fica na traineira. Durante este processo rea-liza-se a viragem do cabo da retenida para fechar a rede pela sua parte inferior e o peixe é capturado. Posteriormente procede-se à alagem da rede, isto é, operação em que a captura é içada, e por último, ao transbordo, que consiste na passagem da captura para bordo e acon-dicionamento em contentores isotérmicos (dornas) com gelo. O gelo utilizado para refrigerar o pescado é produzido ACV da sardinha numa fábrica de gelo situada junto ao porto. A quarta fase é a de paragem para descanso, que compreende o período em que a embarcação está com a máquina parada, normalmente à deriva, à espera de melhores condições de pesca, ou para regressar ao porto de desembarque. Finalmente decorre mais uma vez a navegação, para regresso ao porto e desembarque.

Operações no porto de desembarque: Durante o desembarque, dá-se o transbordo da captu-ra, dos contentores isotérmicos para cabazes de plástico estandardizados, com capacidade para 22,5 kg de peixe. Durante esta operação é também feita uma triagem, para separação das capturas acessórias e do peixe com tamanho inapropriado (no caso da sardinha, tama-nhos inferiores a 11 cm), sendo este posteriormente rejeitado.

O pescado rejeitado é enviado para industrias especializadas em transformação de subpro-dutos de origem animal, que transformam estes resíduos orgânicos em produtos, nomeada-mente em farinhas que servem de matéria-prima na aquicultura. Durante as operações de descarga, são usados empilhadores que transportam os cabazes em paletes e encaminham-nos para a lota (amostra) ou para o veículo do comerciante. Na lota efetua-se a primeira ven-da do pescado, por amostragem, em sistema de leilão decrescente, onde o peixe é vendido fresco, para outros comerciantes, nomeadamente para a indústria da conserva. Quando o peixe não atinge o preço estipulado, segue para um entreposto, para congelação. Por fim são lavados os cabazes e as instalações do porto de desembarque e lota, com água da rede.

Considerando os processos descritos, foram incluídos no sistema sob avaliação, o consumo de gasóleo, quer no transporte marítimo quer na lota, de óleo lubrificante utilizado nas em-barcações, de gelo usado para refrigerar o pescado durante a viagem, bem como de cabazes plásticos usados no transporte do pescado no porto. O consumo de água no porto e lota não foi considerado por falta de informação.

Os bens de capital, nomeadamente o barco, motor, equipamentos electrónicos e redes de pesca não foram incluídos neste estudo.

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Alocação

O sistema em estudo é um sistema multifuncional do qual resultam a sardinha como produ-to e o peixe rejeitado (espécies não alvo e/ou sem condições para consumo humano) como subproduto, que se destina à transformação em farinhas para consumo animal. Todavia, após a análise dos resultados da aplicação de dois critérios de alocação (mássica e económica), optou-se por alocar a totalidade dos impactes ambientais à sardinha para consumo humano, uma vez que esta representa a quase totalidade das capturas. Em relação à captura total, em 2011, a captura de peixes rejeitados (destinados à produção de farinhas de peixe) representou 2,1% e 0,1% em termos mássicos e económicos, respetivamente, e em 2012 representou 1,% e 0,08%, respetivamente.

Metodologia de avaliação de impactes

A quantificação dos impactes ambientais foi obtida segundo os fatores de caracterização ad-mitidos na metodologia de avaliação de impactes midpoint ReCiPe 2008 (Goedkoop et al., 2009), sendo selecionadas as seguintes categorias de impacte ambiental: alterações climáti-cas (AC), eutrofização de água doce (EAD), eutrofização marinha (EM) e acidificação terrestre (AT). O software GaBi 6,0 foi utilizado para a implementação computacional dos inventários (PE International, 2014).

AIA e interpretação dos resultados

O desempenho ambiental da produção de sardinha fresca, expresso pela unidade funcional (1 kg de sardinha inteira à porta do porto de desembarque), é apresentado na Tabela 9. Nesta tabela pode observar-se que os resultados variam, por exemplo para a categoria AC, entre 0,260 e 0,383 kg CO2 equivalente, que representa um aumento de 47,% em 2012 em relação a 2011. Em todas as categorias analisadas é verificado um aumento do impacte, comparando estes anos. Estas diferenças estão diretamente relacionadas com a intensidade de gasóleo na captura da sardinha, dado que a quantidade de gasóleo consumido por sardinha capturada apresenta uma variação importante no período considerado. A média anual de gasóleo con-sumido por kg de sardinha desembarcada no porto foi de 0,08 kg em 2011 e 0,11 kg em 2012.

Categoria de impacte

Alterações climáticas (AC) kg CO2 Equivalente 0,260

0,008

0,239

3,739

g P Equivalente

kg N Equivalente

kg SO2 Equivalente

Eutrofização de água doce (EAD)

Eutrofização marinha (EM)

Acidificação Terrestre (AT)

Unidade 2011

0,383

0,011

0,248

4,014

2012

+ 47,4%

+ 45,1%

+ 4,0 %

+ 7,4 %

Variação

Tabela 13 - Resultados da avaliação de impactes associados ao sistema de

produção de sardinha fresca - Subsistema Pesca (SP), expressos pela UF

97

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De acordo com a representação gráfica dos resultados obtidos (Figura 38a), as operações de captura da sardinha apresentam uma grande contribuição em todas as categorias de impac-te, para ambos os anos, representando mais que 97% do impacte total. Desta forma, apenas as operações de captura foram analisadas em maior detalhe (Figura 38b), sendo verificado que os resultados são bastante similares em ambos os anos, em termos da contribuição rela-tiva de cada processo. A produção de gasóleo e as emissões associadas à sua combustão são os processos responsáveis pela maior contribuição no impacte total. As emissões resultan-tes da queima de gasóleo durante a pesca representam a maior contribuição para todas as categorias analisadas (variando entre 84% e 96% do impacte total), à exceção da categoria EAD, para a qual a produção de gasóleo é responsável por aproximadamente 10% do impacte total. A contribuição dos restantes processos, nomeadamente a produção de gelo e de óleo lubrificante, representam no seu conjunto menos de 1% em todas as categorias.

Figura 38 - Contribuição relativa: a) dos subsistemas

de operações de captura e de desembarque no porto,

envolvidos na pesca da sardinha; b) dos processos/atividades

envolvidos nas operações de captura da sardinha

98

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ACV da Sardinha

CongeladaPor Luís Arroja, Sara Belo,

Ana Cláudia Dias

Objetivo: Identificar e avaliar os potenciais impactes ambientais associados à produção de sardinha congelada, capturada pela frota portuguesa nas águas costeiras nacional.

Unidade Funcional: UF de 1 kg de sardinha congelada, à porta do entreposto frigorífico.

Descrição do sistema produtivo e fronteiras do sistema

O sistema de produto (Figura 39) inclui todas as fases de ciclo de vida da sardinha congelada até à porta do entreposto frigorífico (“cradle-to-gate”), imediatamente antes do produto ser transportado para as distribuidoras ou outras indústrias para ser processada, sendo dividido em dois subsistemas principais: pesca (Sp) e congelação e armazenamento (SCA).

SP:

PESCA

SAC: ARMAZENAMENTO E CONGELAMENTO

CONGELAÇÃO

Sardinha congelada

Subprodutos para farinha

Agentes de limpeza

Sardinha

fresca

Embalagens (sacos de PEAD e caixas de cartão)

Água Electicidade

Gás refrigerante (NH3)

ARMAZENAGEM

NO FRIO

Fronteiras do sistema

Figura 39 - Diagrama representativo dos subsistemas produtivos

associados ao sistema de produção da sardinha congelada

Subsistema Pesca (SP): Este subsistema inclui as operações de captura e descarga da sar-dinha no porto, cuja descrição e respetiva ACV foi anteriormente apresentada Na análise à produção de sardinha fresca.

99

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Subsistema congelação e armazenamento (SCA): Este subsistema engloba o processo de congelamento da sardinha e o seu armazenamento no frio no entreposto e considera todas as entradas e saídas ambientalmente relevantes associadas ao processo.

As sardinhas são transportadas diretamente da lota para o entreposto frigorífico. Após a re-ceção das sardinhas na unidade industrial, estas são colocadas em dornas com água e gelo, seguindo para o alimentador do tapete que as conduzirá ao túnel de congelação, onde estão durante alguns minutos a temperaturas negativas. Quando saem do túnel, as sardinhas são passadas por água, processo denominado por vidragem, no qual se cria uma película de gelo na sardinha, alargando assim o seu prazo para consumo. De seguida são acondicionadas em embalagens apropriadas e armazenadas em câmaras frigoríficas que armazenam o pescado a temperaturas negativas. O peixe é embalado dentro de um saco de plástico transparente, de polietileno de baixa densidade (PEBD) e colocado numa caixa de cartão, com capacidade para 10 kg de peixe congelado. O período de armazenamento do peixe nas câmaras frigorífi-cas até à sua expedição é em média de 4 meses.

Foram considerados como aspetos ambientais relevantes neste subsistema, os consumos de energia, tanto no processo de congelação, como no processo de armazenagem do peixe, assim como de água da rede e de embalagens para o produto final. A utilização de gás re-frigerante é também considerada, uma vez que indesejavelmente ocorrem sempre fugas, prejudiciais ao ambiente.

Alocação

O subsistema de congelação e armazenamento da sardinha, à semelhança do subsistema da pesca, é multifuncional resultando a sardinha como produto e o peixe rejeitado (sem condi-ções para consumo humano, peixe partido, etc.) como subproduto, que se destina à trans-formação em farinhas para consumo animal. Pelos mesmos motivos apresentados na secção relativa à sardinha fresca, a totalidade dos impactes foi alocada à sardinha congelada, dado que esta representa a quase totalidade da sardinha que entra no entreposto (98,%).

AIA e interpretação dos resultados

Os resultados da etapa de caracterização da Avaliação de Ciclo de Vida de 1 kg de sardinha congelada à porta do entreposto frigorífico são quantificados na Tabela 10 e as contribuições dos subsistemas incluídos no sistema de produto (SP e SCA) apresentadas na Figura 40. Pela análise destes resultados, pode verificar-se que o subsistema de produção de sardinha fresca (SP) é o que mais contribui para o impacte total, variando entre 49 e 9%, considerando todas as categorias e anos analisados. O aumento do impacte total da produção de sardinha conge-lada, entre o ano 2011 e 2012 deve-se portanto ao impacte resultante do SP.

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Categoria de impacte

Alterações climáticas (AC) kg CO2 Equivalente 0,537

0,009

0,308

5,72

g P Equivalente

kg N Equivalente

kg SO2 Equivalente

Eutrofização de água doce (EAD)

Eutrofização marinha (EM)

Acidificação Terrestre (AT)

Unidade 2011

0,662

0,013

0,318

6,00

2012

Tabela 14 - Resultados da avaliação de impactes associados

ao sistema de produção de sardinha congelada

Figura 40 - Contribuição relativa dos subsistemas Pesca

(SP) e Congelamento e Armazenamento (SCA)

Pela análise da Figura 41, que apresenta a contribuição relativa dos processos/atividades in-cluídos no subsistema congelamento e armazenamento da sardinha, pode verificar-se que em todas as categorias analisadas, a produção de eletricidade é o processo que mais contri-bui para o impacte total (variando entre 64% e 100%), à exceção da categoria EAD, na qual a produção de água da rede é o maior contribuinte (cerca de 85%). De realçar a importância da contribuição das emissões de NH3 da fábrica, resultantes das fugas deste gás refrigerante, que contribuem com aproximadamente 32% e 35% da carga ambiental total nas categorias AM e AT, respetivamente. As contribuições dos processos de produção das embalagens mos-tram não ser importantes.

101

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Figura 41 - Contribuição relativa dos processos/atividades

incluídos no subsistema de congelamento e armazenamento

102

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ACV da Sardinha em

Conserva Por Luís Arroja, Sara Belo, Ana Cláudia Dias

Objetivo: identificar os aspetos ambientais mais relevantes na produção de conservas de sar-dinha em azeite e em óleo de girassol, fabricadas em Portugal; avaliar os respetivos poten-ciais impactes ambientais; e propor oportunidades de melhoria no desempenho ambiental do respetivo processo.

Unidade Funcional: 1 kg (peso líquido) de sardinha em conserva em lata de alumínio à porta da indústria conserveira. Considerou-se a produção de latas de conserva com a capacidade para 125 g de produto (peso líquido), que inclui 90 g de sardinha (peso escorrido) e 35 g de conservante (azeite ou óleo de girassol).

Descrição do sistema produtivo e fronteiras do sistema

A Figura 42 demonstra esquematicamente as fases de ciclo de vida da produção de sardinha em conserva e os processos incluídos no sistema de produto considerado na avaliação do perfil ambiental. Foi assumida uma análise desde o berço até à porta da fábrica conserveira (“cradle-to-gate”), sendo por isso o sistema dividido em dois subsistemas principais: pesca (SP) e processamento (SPC).

Subsistema processamento (SPC): Este subsistema engloba todos os fluxos de entradas e saídas ambientalmente relevantes associados ao processo produtivo de conservas na indús-tria transformadora, desde a receção das sardinhas frescas até expedição das conservas, in-cluindo o transporte das matérias-primas.

A sardinha recepcionada na unidade fabril é armazenada numa câmara de conservação de frescos. No processo de laboração as sardinhas são manualmente desencabeçadas e colo-cadas numa grelha, sendo depois levadas a cozer em fornos próprios. Após a cozedura pas-sam por um período de descanso para arrefecimento, normalmente de um dia para o outro. Após esse período, estas são novamente aparadas e colocadas nas latas de alumínio, onde vão receber os respetivos molhos e temperos (por exemplo, óleo de girassol ou azeite, sal), seguindo-se a cravação. Assim que as embalagens são seladas hermeticamente (cravadas)

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caem por gravidade num transportador que as conduz a uma lavadora/recuperadora de óleo e posteriormente para os carros de esterilização. Estes carros, depois de cheios, são coloca-dos em autoclaves, onde se efetua a esterilização do produto. A esterilização é o tratamento térmico que tem por objetivo tornar as conservas estáveis à temperatura ambiente durante largos períodos de tempo. Durante a esterilização, as latas são submetidas a uma pressão e temperaturas elevadas, durante um período prolongado, seguindo-se o arrefecimento rápi-do das latas. Por fim, procede-se ao embalamento final e expedição.

Fronteiras do sistema

SP: PESCA

SPC: PROCESSAMENTO (CONSERVAS)

Recepção da sardinha

Resíduos de peixe

Farinhas de peixe

TRANSFORMAÇÃO DE

SUBPRODUTOS DE

ORIGEM ANIMAL

Conserva de sardinha (em azeite ou óleo de

girassol)

Descabeçamento e evisceração

Adição de conservante e temperos

Esterilização

Embalamento �nal

Cravação

Cozimento

Eletricidade

Agentes de limpeza

Sardinha

fresca

Embalagens de alumínio

Sal e outros temperos

Azeite ou óleo de girassol

Nafta

Embalagens de cartão, �lme

plástico, paletes

Descanso (arrefecimento)

Embalamento

Figura 42 - Diagrama representativo dos subsistemas produtivos

associados ao sistema de produção da sardinha em conserva

Os principais aspetos ambientais associados às atividades de processamento de peixe incluí-do neste subsistema são o consumo de energia e a produção efluentes e resíduos sólidos com elevado teor orgânico, assim como o consumo de conservantes (por exemplo azeite) e de embalagens primárias, secundárias e terciárias.

O elevado consumo de energia está relacionado com a tecnologia de processamento, no-meadamente, no forno de cozimento, equipamento de esterilização e cravagem. No sistema de produto sob análise, à exceção da autoclave para esterilização das conservas, que utiliza nafta como combustível, é utilizada eletricidade em todos os processos.

Durante o processamento da sardinha cerca de 20% da matéria-prima (sardinha fresca) é desperdiçada (nomeadamente as cabeças e as vísceras, peixes partidos ou não apropriados à conserva), sendo estes resíduos orgânicos destinados a industrias especializadas para trans-formação de subprodutos, geralmente em farinhas de peixe ou óleo de peixe.

104

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O consumo de óleo de girassol ou de azeite usado na conserva de sardinha é também incluído no sistema.

As embalagens primárias consideradas são latas de alumínio do tipo ¼ club (as mais produ-zidas), cujo peso médio é de 18 g e embalam 125 g de produto. Como embalagens primárias são ainda usadas cartonetes a envolver a embalagem de alumínio, cujo peso é aproximada-mente 9 g. Para facilitar a expedição e o transporte dos produtos são utilizadas, como em-balagens secundárias e terciárias, caixas de cartão, paletes e filme estirável. A produção de todas estas tipologias de embalagem foi considerada neste estudo.

A produção de água da rede e consequentemente as águas residuais, tratadas em ETAR mu-nicipal, assim como os agentes de limpeza usados na indústria para a lavagem e desinfecção dos equipamentos e instalações, foram excluídos das fronteiras do sistema pela falta de da-dos. Os bens de capital, nomeadamente as infraestruturas e equipamentos/máquinas tam-bém não foram incluídos.

Alocação

Similarmente aos subsistemas anteriormente descritos no presente relatório, o sistema de produto da sardinha em conserva é multifuncional, pois os desperdícios de peixe resultantes do processo podem ser considerados subproduto, uma vez que, são usados como matéria-prima em indústrias de transformação de subprodutos de origem animal. No entanto, uma vez que estes desperdícios não representam valor económico para a indústria de pescado, o subsequente processo de transformação é excluído das fronteiras do sistema e os impactes ambientais são alocados na totalidade à sardinha em conserva.

AIA e interpretação dos resultados

Os resultados da Avaliação de Ciclo de Vida da sardinha em conserva são apresentados na Tabela 11, quantificados em função da unidade funcional adotada no estudo - 1 kg de sardi-nha em conserva (peso líquido) à porta da indústria conserveira. Os resultados absolutos são apresentados para a sardinha em conserva de azeite e em conserva de óleo, produzida com sardinha capturada em 2011 e em 2012. Da análise destes resultados pode constatar-se que o impacte ambiental da sardinha em conserva, por exemplo para a categoria CC, varia entre 1,72 e 1,99 kg de CO2 equivalente por kg de sardinha em conserva. Pode concluir-se que as maiores variações nos resultados obtidos devem-se mais ao conservante utilizado do que ao ano de captura da sardinha, pelo que o impacte ambiental da conserva em azeite apresenta valores mais elevados em todas as categorias analisadas, à exceção da EAD. De salientar que nas categorias de impacte EM e AT o impacte ambiental da sardinha em conserva em azeite é mais do dobro do impacte da conserva em óleo de girassol. Em contrapartida, na categoria EAD o impacte da conserva em azeite é aproximadamente 2% mais reduzido. É o subsistema que mais contribui para o impacte total do produto, em todas as categorias analisadas, va-riando entre 57% e 99% (Figura 43).

105

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Categoria de impacte

Alterações climáticas (AC) kg CO2 Equivalente 1,88

0,499

9,77

18,04

g P Equivalente

kg N Equivalente

kg SO2 Equivalente

Eutrofização de água doce (EAD)

Eutrofização marinha (EM)

Acidificação Terrestre (AT)

Unidade Conserva em azeite

Conserva em óleo

de girassol

Conserva em azeite

Conserva em óleo

de girassol

2011

1,72

0,616

3,61

8,16

1,99

0,502

9,78

18,3

1,84

0,619

3,62

8,40

2012

Tabela 15 - Resultados da avaliação de impactes associados ao

sistema de produção de sardinha em conserva, expressos pela UF

Figura 43 - Contribuição relativa dos subsistemas

Pesca (SP) e Processamento (SPC)

Uma análise mais pormenorizada do SPC e a contribuição dos processos/atividades associa-dos a este subsistema (Figura 44) permite concluir que a produção de latas de alumínio e de conservantes, quer de azeite, quer de óleo de girassol, são dominantes no impacte ambiental resultante deste subsistema (SPC).

106

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Figura 44 - Contribuição relativa (em %) dos processos/

atividades incluídos no subsistema de processamento de

sardinha em conserva (SPC) de: a) azeite; b) óleo de girassol

Na categoria AC, a produção de embalagens alumínio é o que mais contribui para o impacte total, variando entre 42% e 46%, dependendo do conservante usado. Esta contribuição re-sulta das elevadas necessidades energéticas requeridas para a extração das matérias-primas e transformação do produto (alumínio). Noutros estudos de ACV de peixe e mariscos em con-serva, são obtidos resultados similares.

As segundas maiores contribuições são a produção de conservante, 3% no caso do azeite e 29% no caso do óleo de girassol, seguindo-se a produção de cartonetes, a produção de nafta e as emissões da indústria (combustão da nafta), cujas cargas ambientais de cada processo representam uma contribuição relativamente menor (6%).

À exceção da categoria EM, nas restantes categorias analisadas as contribuições de cada pro-cesso/atividade seguem a mesma tendência. Na EM mais de % dos impactes tem origem na produção do conservante utilizado.

A elevada importância dos conservantes (azeite ou óleo de girassol) nas categorias analisa-das deve-se principalmente às fases de cultivo e colheita. Durante os cultivos são aplicados vários fertilizantes e pesticidas e são realizadas muitas operações mecanicamente, nomea-damente o semeio, irrigação, aplicação de fertilizantes, colheita, entre outros, que requerem energia, contribuindo assim para emissões para a água e solo.

1.2

107

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Fileira da Fruta e Derivados

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ACV do Azeite Por Filipa Figueiredo, Filipe Maia, Érica

Castanheira, José Alberto Pereira,

Elsa Ramalhosa, António Ramos,

Artur Gonçalves, Filipe Rodrigues,

Pedro Marques, Paulo Gomes, Fátima

Peres, João Carneiro, António Dinis

Ferreira; Luís Pinto de Andrade,

Manuel Feliciano e Fausto Freire

O ciclo de vida do azeite compreende várias etapas com intervenientes altamente especializados: o cultivo do olival (produção), o processamento da azeitona (transformação), a distribuição do azeite, o uso e, ainda a recolha da

embalagem, seguida de deposição em aterro ou reciclagem (Figura 45).

Figura 45 - Etapas do ciclo de vida do Azeite

Quanto à produção, em Portugal predomina o sistema tradicional, conduzido em sequeiro. A olivicultura tradicional envolve essencialmente cinco atividades – a fertilização, a proteção de culturas, a colheita, a poda e o transporte da azeitona para o lagar. As mobilizações do solo são cada vez menos requentes, mas continuam a ser importantes no controlo das infes-tantes. Os olivais em sebe de média e alta densidade, com rega e fertirrigação, têm surgido sobretudo na região alentejana.

111

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Os dois primeiros processos efetuam-se, de um modo geral, com recurso a equipamento me-cânico, como pulverizadores ou espalhadores, acoplados a um trator. A colheita decorre após a maturação do fruto, podendo ser manual, ou mecânica, envolvendo sobretudo o uso de vi-bradores à volta do tronco da árvore, com chapéu invertido. A colheita mecânica tem sofrido um crescimento elevado e tem sido uma boa resposta à falta de mão-de-obra. Estima-se que este processo seja responsável por cerca de 60% do total dos custos de produção. Nas podas tal como nos restantes processos, existe um esforço no sentido da mecanização da operação. O transporte da azeitona até ao lagar é, em muitos casos, efetuado pelo agricultor, usando para o efeito reboques acoplados ao trator ou veículos ligeiros de mercadorias.

Quanto ao processamento da azeitona, após a sua receção no lagar procede-se à limpeza, lavagem e pesagem. De seguida passa para a etapa da extração, começando pela moenda do fruto, seguida pela batedura da pasta e terminando na extração do azeite. A extração tem vindo a sofrer melhorias tecnológicas nas últimas décadas, destacando-se a substituição dos sistemas tradicionais de prensas por linhas contínuas de extração por centrifugação de massas, primeiro em três fases, e mais recentemente em duas fases. Este último sistema foi inicialmente também designado de linha ecológica, por não produzir águas residuais (águas ruças) e consequentemente, reduzir a incidência ambiental associada à produção destas (são incorporadas no bagaço produzido). Nos sistemas de três fases, as águas ruças, associada a um maior consumo de água, constituem uma fase líquida separada da parte sólida, devendo ser armazenada e tratada em lagoas aeróbias.

Após a extração, o azeite é armazenado, e, depois da realização de análises de qualidade, pode ser embalado, se estiver conforme as categorias “Azeite Virgem Extra” e “Azeite Vir-gem” (próprias para consumo direto), ou vendidas para as refinarias com o objetivo de ser refinado, dando origem ao azeite refinado que pelo loteamento com “Azeite Virgem” origina a categoria comercial de “Azeite – contém a mistura de azeite refinado com azeite virgem”.

No que respeita à distribuição, à semelhança de outros produtos, envolve plataformas logísti-cas para a comercialização do produto no ponto de consumo, através das grandes superfícies e através de mercados tradicionais de venda a retalho.

Definição do objetivo e âmbito

O Ciclo de vida inclui o cultivo da azeitona (Figura 46), extração do azeite (lagar de centrifuga-ção de duas e três fases e lagar de prensas), embalagem, tratamento de águas ruças (lagoas aeróbias), secagem do bagaço e extração do óleo de bagaço de azeitona. A unidade funcional considerada foi um litro de azeite embalado à porta do lagar, tendo-se considerado a garrafa de vidro como embalagem, por ser a mais utilizada para a comercialização do azeite).

No modelo e inventário consideraram-se as emissões decorrentes da fertilização (NH3, NOx, N2O, P, PO4

3-) das operações agrícolas, do tratamento das águas ruças em lagoas aeróbias e do transporte da azeitona do olival para o lagar. As emissões relativas à produção das entra-das no cultivo, extração e embalamento (e.g. fertilizantes, energia, garrafa de vidro) foram

112

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também consideradas. Relativamente ao balanço de carbono biogénico específico do azeite, considerou-se que este é nulo, pois o carbono biogénico armazenado na azeitona é libertado no final da vida.

Os sistemas agroindustriais são recorrentemente sistemas multifuncionais, pois produzem mais do que um produto. Neste caso, temos a produção do azeite, produz-se caroço (nal-guns produtores) e bagaço, que é habitualmente valorizado através da produção de óleo de bagaço de azeitona e bagaço extratado. Os caroços (quando separados) são secos e usados como combustível em caldeiras. No modelo desenvolvido da atribuição de impactes ambien-tais entre o produto principal (azeite) e os sub(co) produtos foi efetuada considerando uma alocação económica.

Figura 46 - Ciclo de vida do Azeite

Nos lagares de prensas e de centrifugação de 3 fases, obtêm-se separadamente o bagaço (com um teor de humidade na ordem dos 35% e 55% respetivamente) e as águas ruças (o tratamento das lagoas aeróbias é o mais comum). No lagar de centrifugação de duas fases obtêm-se conjuntamente o bagaço (humidade na ordem dos 80%) e as águas ruças. Em am-bos os casos, os dois tipos de bagaço são encaminhados para as fábricas extratoras de óleo de bagaço de azeitona. Os lagares que separam o caroço da azeitona consomem uma parte as caldeiras se aquecimento, sendo o excedente vendido. As folhas são encaminhadas para alimentação animal.

O Bagaço é transportado para a fábrica de extração de óleo de bagaço de azeitona, sendo sujeito a uma secagem prévia, mais intensa para o bagaço de azeitona de duas fases do que

113

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para o de três fases. O processo de extração de óleo é idêntico para os dois tipos de bagaço, sendo necessária uma quantidade de bagaço proveniente de lagares de centrifugação de 2 fases 2,5 vezes superior à proveniente de lagares de centrifugação de 3 fases para se obter a mesma quantidade de óleo. O bagaço dos lagares de centrifugação de duas fases apresenta também consumos energéticos superiores para a mesma quantidade de óleo extraída (devi-do ao processo de secagem e à sua humidade elevada). A quantidade de hexano consumido é a mesma, dado que aquando da extração ambos os bagaços já se encontram secos. Importa ainda referir o consumo interno de bagaço extratado para a produção de calor, que é superior para o óleo produzido com bagaço proveniente de lagares de centrifugação de 2 fases (ver Tabela 12 e Tabela 13).

Entradas

Centrifugação de 3 fases

3F2010

3F2011

2Fa2010

2Fa2011

2Fb2012

2Fc2012

2Fd2012

P2012

Centrifugação de 2 fases

Prensas

Saídas

Azeitona (Kg) 4,7 4,95 4,65 5,7 6,76 6,25 6,9 7,35

Electricidade (Kwh) 0,22 0,23 0,14 0,17 0,34 0,25 0,31 0,13

Água (L) 4,69 4,95 0,29 0,19 1,35 1,2 1,24 1,84

Azeite (L) 1 1 1 1 1 1 1 1

Bagaço (kg) 3,08 2,9 3,25 3,94 5,75 3,38 3,7 3,65

Propano (Kg) 0,01 0,02 0,02

Gasóleo (L) 0,001

Folhas (Kg) 0,25 0,26 0,14 0,17 0,15

Águas ruças (L) 4,69 4,95 0,25 0,16 4,31

Caroço azeitona (Kg) 0,28 0,47 0,72

Tabela 16 - Principais dados de entrada e saída

na extração de Azeite (por litro)

O método de avaliação de impactes ambientais utilizado foi o ReCIPe (Goedkoop et al., 2008), tendo sido consideradas quatro categorias de impacte ambiental: alterações climáticas (AC), acidificação Terrestre (AT), eutrofização marinha (EM) e eutrofização de água doce (EAD). Os resultados são apresentados através de uma média ponderada dos diferentes tipos de olival. Tendo sido usada uma média ponderada por sistema de extração (lagar de centrifugação de duas fases, se três fases e de prensas).

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Entradas

Bagaço de azeitona

Centrifugaçãode 3 fases

Centrifugaçãode 2 fases

Unidades

Origem do bagaço: tipo de lagar

Saídas

Electricidade (KWh) 78 95 95

Gasóleo (L) 20 50 50

Hexano (Kg) 1,1 1,1 1,1

Bagaço Extratado (t) 0,6 1,1 1,1

Bagaço Extratado (t) 8,6 7,35 7,35

Óleo de bagaço de azeitona (t) 1 1 1

humidade 80 % (t) 41 41

humidade 55 % (t) 16

Tabela 17 - Principais dados de entrada na extração de óleo de

bagaço de azeitona (por tonelada de óleo de bagaço de azeitona)

AIA e interpretação dos resultados

A Figura 47 apresenta os impactes ambientais por litro de azeite (alocação económica), por fase de ciclo de vida e para as diferentes tipologias de lagar analisadas. O cultivo é a fase do ciclo de vida que mais contribui para os impactes ambientais, representando entre 70% (Alterações Climáticas – 3 fases) e 99% (Eutrofização Marinha – 2 fases) dos impactes para todas as categorias.

Tal deve-se em grande parte à elevada quantidade de azeitona necessária para produ-zir um litro de aceite, o que é uma característica inerente ao processo industrial de ob-tenção do produto (são necessárias entre 5 a 7kg, ou mesmo mais, de azeitona para obter um litro de azeite.

O processo de embalagem apresenta uma contribuição entre 6% (Acidificação Terrestre – Prensa) e 17% (Alterações Climáticas – 3 fases) para as categorias de impacte AC, AT e EAD. A fase de extração de azeite tem algum significado para as categorias AC e EAD, representando entre 3% e 6% dos impactes ambientais nestas categorias (dividas essencialmente ao con-sumo de eletricidade e propano). O tratamento de águas ruças contribui entre % e 7% para os impactes ambientais nas categorias AC e EM, pois, em muitos casos as lagoas aeróbias encontram-se a operar a níveis próximos da capacidade máxima, não sendo suficientemente arejadas (podendo existir emissão de CH4).

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Figura 47 - AICV do sistema de produção de

azeite (por Unidade Funcional = 1L)

A Figura 48 apresenta as principais contribuições dos processos associados ao cultivo, nas quatro categorias de impacte ambiental. A produção e utilização de fertilizantes representa entre 64% e 98% dos impactes de Alteações Climáticas e Eutrofização Marinha totais, res-petivamente na fase de cultivo. Os consumos de energia (gasóleo, gasolina e eletricidade) apresentam uma elevada contribuição para as categorias Alteações Climáticas e Eutrofiza-ção de Água Doce (26% e 18% respetivamente). Na categoria Eutrofização de Água Doce a produção de pesticidas representa 19% dos impactes totais, aproximadamente a mesma contribuição dos consumos de energia.

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Figura 48 - AICV do cultivo da azeitona

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ACV da Pêra RochaPor Pedro Pereira, António Ferreira,

Justina Franco e Isabel Andrade

Este estudo foi realizado em duas explora-ções agrícolas que pertencem a dois sócios de uma central fruteira que foi também usada neste estudo. A exploração A produz peras, maçãs e ameixas e tem uma área de cerca de 62ha de pomares, dos quais 47ha são de pera rocha. A exploração B tem uma área total de 7ha apenas de pera rocha.

Ambas as explorações cumprem as seguintes certificações:

Certificações ao nível das explorações agrícolas:

• GlobalGAP desde 2003• Tesco Nurture desde 2005• Fair WorkingConditions desde 2009• CPS (Clube de produtores Sonae) desde 2005• Pêra Rocha do Oeste DOP desde 2001• Maçã de Alcobaça IGP desde 2004

Os processos de cultivo são idênticos nas duas explorações, e são descritos detalhadamente para uma melhor compreensão do processo produtivo.

O processo de cultivo da pêra rocha está dividido em vários estados fenológicos:

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• Repouso vegetativo• Abrolhamento• Floração / Maturação• Colheita • Pós colheita

Operações executadas no processo produtivo

Fertilização (solo)

Nesta operação, as formas utilizadas para adubar são o espalhamento no solo, aplicação foliar através de pulveriza ou através da mistura de adubos na rega. Algumas destas ações podem ser efetuadas manualmente ou através de máquinas, com o objetivo de ajudar a for-talecer as árvores e futuramente os frutos que resultarão da produção.

A adubação também é feita para manter os parâmetros nutricionais do solo e da planta, e pode ser feita através de adubos de matéria orgânica (estrumes) ou de minerais.

A matéria orgânica tem a capacidade de reter duas a três vezes mais o volume da água (que é fornecida para as árvores e para a vida de toda a flora e fauna presente no solo), sendo usada de forma racional e conforme as carências do solo.

Poda

Na poda é retirada alguma lenha das árvores, para que haja uma condução das árvores e para permitir a entrada de luz que resulta no aumento da produtividade.

A poda é uma técnica utilizada para modificar o crescimento natural das árvores, de forma a obter um equilíbrio entre a vegetação e a frutificação.

As ramificações utilizadas são simples, radiais e bem guarnecidas de órgãos de frutificação até ao eixo vertical, de modo a que a luz solar e os próprios tratamentos fitossanitários con-sigam penetrar melhor no interior das árvores e a carga de frutos fica uniformemente distri-buída por toda a pernada.

A poda é também utilizada para modificar o vigor da planta, para esta produzir mais e tam-bém para que consiga ter frutos com melhores características organolépticas. É utilizada ainda para conduzir a árvore a uma forma desejada, mantê-la com um porte conveniente ao seu trato e maneio, entre outros mais objetivos. É utilizado o equipamento recomendado (tesoura, serrote, tesourão de poda) para que não se corram riscos e quando há uma mu-dança de pomar este material é sempre desinfetado para que não haja perigo de ocorrerem contaminações através de árvores que estejam doentes.

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Manutenção do solo

A fase da manutenção do solo é geralmente realizada depois da poda, para que toda a lenha que é retirada seja triturada. Serve também para cortar a erva com o objetivo de diminuir as pragas que se podem infiltrar. Esta manutenção é realizada através de um corta mato que é introduzido no trator.

Pulverizas

Esta fase é a mais delicada, e os tratamentos têm de ser bem geridos. Desde a implementa-ção em Portugal da proteção/produção integrada foram estabelecidos critérios da seleção das substâncias ativas e respetivos produtos fitofarmacêuticos, com base em aspetos toxico-lógicos e ambientais das substâncias ativas, o que se traduziu na utilização em proteção/pro-dução integrada de produtos com base em substâncias com menor toxidade para o Homem e para o ambiente.

Não podem ser utilizados produtos não homologados para cultura e as doses recomendadas têm que ser escrupulosamente cumpridas. São os tratamentos que vão evitar as doenças, bem como danos futuros nos frutos e na própria árvore.

É preciso ter sempre em atenção a água utilizada, que nos casos estudados provem de furo, e também a seleção dos produtos fitofarmacêuticos, de acordo com as necessidades. É sem-pre controlado o pH em todas as caldas, com o objetivo de não ficar muito ácido, para não queimar as árvores.

Rega/Adubação

A rega tem como objetivo o fornecimento eficiente de água para assegurar que a vegetação se mantenha viva e em bom estado de conservação, garantindo assim a sua eficiência pro-dutiva. É necessário que a água seja fornecida em quantidade e qualidade necessária às suas necessidades hídricas.

A rega inicia-se quando os dados de campo, indicam essa necessidade. A “gota a gota” é a rega utilizada nas explorações analisadas, e deve ser iniciada antes que a humidade do solo atinja limite críticos.

Nesta mesma etapa pode ser feita uma adubação através do sistema de rega, colocando o adubo na água. O adubo será ministrado pela mangueira que apresenta gotejadores, satisfa-zendo desta forma as necessidades hídricas e nutricionais.

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Mondas

A monda é a retirada de alguns frutos realizada de forma manual, e é uma operação que per-mite regularizar o calibre dos frutos e evitar a alternância da produção. É realizada no mês de Junho, altura em que a árvore se prepara para a produção. O facto de serem retirados frutos também contribui para o crescimento e melhor qualidade da pera, nomeadamente o brix, pois os frutos em desenvolvimento competem entre si pelos hidratos de carbono produzidos nas folhas.

Num ano que as árvores apresentem um número elevado de vingamentos, se não for feita uma monda eficaz o calibre acaba por ser reduzido na produção. Se existirem poucos vinga-mentos, nem sempre é necessário fazer a monda.

Reduzindo a carga de frutos através da monda estamos a incrementar a razão folha/fruto e a diminuir a competição entre os frutos, favorecendo os calibres.

Um dos principais órgãos de frutificação na cultivação de pera rocha é o esporão, o que faz com que a monda de frutos seja obrigatória para que haja uma redução de alternância.

Colheita

Esta é sempre realizada em Agosto e/ou Setembro. A data de início da colheita é determina-da pelos técnicos de campo, de acordo com os índices de maturação.

A colheita tem de ser realizada na data adequada, uma vez que se for antecipada pode des-valorizar a qualidade dos frutos, devido à menor coloração da sua epiderme, propriedades organolépticas inferiores, e também maior perda de peso durante a sua conservação. Se a colheita for tardia, embora favoreça algumas características dos frutos, como a coloração e qualidades orfanológicas, vai implicar maiores perdas de consistência durante a sua con-servação, resultando também num período mais curto de conservação, ficando o fruto mais sensível às manipulações.

Na colheita colaboram inúmeros trabalhadores, com ou sem experiência, e por isso, antes de se iniciar o processo é feita uma pequena formação de boas práticas, para que durante o pro-cedimento não ocorram erros que possam pôr em risco a saúde dos consumidores. Sempre que os trabalhadores saem do local de trabalho, antes de regressar ao mesmo são instruídos a lavar as mãos nas instalações. A forma como a pera é colhida é importante para que não apresente danos (sem pé, tocada), e as peras consideradas estragadas são de imediato re-tiradas pelos trabalhadores. Os paloxes são revistos antes de aí se colocarem as peras, para evitar algumas contaminações com lixo do campo. Todo o processo é muito cuidadoso, para garantir que a fruta chega nas melhores condições à fruteira.

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Transporte da fruta

Nesta etapa a fruta, depois de já estar colhida e com os paloxes já cheios, é carregada com um porta-paletes engatado no trator e colocada em cima de um reboque que vai efetuar o transporte até à Fruteira. O reboque é sempre lavado e desinfetado, para que não haja perigo de contaminação da fruta com resíduos que possam estar na sua superfície.

Quando a fruta chega à fruteira passa por uma balança para que haja um controlo dos quilos que foram colhidos. De seguida é feito um controlo de qualidade (dureza, açucares, defeitos e doenças) através de uma seleção de amostras ao acaso. A fruta é então descarregada e armazenada na fruteira.

O transporte da pera é efetuado no mesmo dia da colheita, de modo a evitar uma evolução rápida da maturação dos frutos.

Todos os processos acima descritos estão representados no fluxograma do processo produti-vo, com as respetivas entradas e saídas mássicas (Figura 49).

Processo produtivo na central fruteira

Na central fruteira, as peras são recepcionadas e devidamente identificadas. Posteriormen-te, uma parte da fruta recepcionada receberá um tratamento pós-colheita que ajuda à sua conservação. A fruta que não recebe tratamento pós-colheita irá ser consumida nos quatro meses seguintes à colheita. A fruta tratada só é consumida a partir do quarto mês de con-servação, dado que tem de cumprir um intervalo de segurança para poder ser consumida. A conservação é feita em câmaras de atmosfera controlada onde os níveis de oxigénio são reduzidos com o intuito de atrasar a maturação da pera.

Depois de armazenada a pera vai ser transportada, calibrada e escolhida. Consoante as ne-cessidades, pode ser embalada ou outra vez transportada e armazenada, mas agora dividida por calibres. Este processo é executado para criar um stock de calibres, de forma a responder mais eficientemente às necessidades do mercado.

O processo de embalamento é o que envolve mais mão-de-obra, mais matérias-primas, sen-do o mais difícil de executar, uma vez que cada cliente pretende um tipo de embalamento diferente. No final de cada linha de embalamento existem vários colaboradores a colocar as caixas em paletas, que posteriormente vão ser cintadas e etiquetadas. Depois de embaladas e paletizadas, as peras são armazenadas na câmara frigorífica da expedição e posteriormente carregadas e transportadas até ao cliente.

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fertilizantes embalagemgases de efeito de estufa

risco de poluição do solo e de linhasde água super�ciais e subterrâneas

gases de efeito de estufarisco de poluição do solo e de linhasde água super�ciais e subterrâneas

gases de efeito de estufarisco de poluição do solo e de linhasde água super�ciais e subterrâneas

gases de efeito de estufa

gases de efeito de estufa

peras estragadas

gases de efeito de estufaembalagem

risco de poluição do solo e de linhasde água super�ciais e subterrâneas

gases de efeito de estufaembalagem

risco de poluição do solo e de linhasde água superciais e subterrâneas

gases de efeito de estufa2. Poda

3. Manutenção do solo

4. Pulverização

5. Rega / Adubação

6. Aplicação de herbicida

7. Monda

8. Outros meios de luta

9. Colheita

10. Transporte até à central

1. Fertilizaçãocombustível

mão-de-obra

combustível

mão-de-obra

combustível

mão-de-obra

combustível

mão-de-obra

combustível

mão-de-obra

combustível

mão-de-obra

combustível

mão-de-obra

mão-de-obra

combustível

vasilhamemão-de-obra

mão-de-obra

electricidade

H2O

H2O

H2O

electricidade

electricidade

herbicida

fertilizantes

tofármacos

risco de poluição do solo e de linhasde água superciais e subterrâneas

Para a central fruteira

Figura 49 - Fluxograma do processo produtivo da Pera Rocha

Todo este processo no pique da campanha envolve cerca de 150 colaboradores diretos, sendo que se pode dizer que o sector tem cada vez mais importância para a região, pois cria empre-go e riqueza.

Todo o processo descrito é apresentado com mais pormenor na Figura 50.

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Do campo

Ameixas, pêras, nectarinas e maçãs

Pêras – Venda

depois de Dezembro

1. Recepção 1.a – Recepção e

tratamento do produto devolvido

2. Tratamento pós -

colheita

3. Conservação

4. Lavagem e

calibragem

5. Embalamento

6. Paletização e Pesagem

7. Arrefecimento na câmara de

expedição

8. Expedição

Produtos frutícolas C/ alegações (DOP,

IGP,GG,TN,CPC) e S/ alegações

Água e produtos de tratamento pós -

colheita

Fruta podre

Água Potável

Resíduos líquidos e embalagens

Quando aplicável

Resíduos Material de Embalamento

Produto devolvido Excedentes de

produção

Destruição

PCC1

Ar comprimido (Embalamento Sacos)

Fruta indústria

Águas residuais

Folhas e terra

Conforme? Não

9. Armazenamento dos materiais de

embalagem/ acondicionamento

(temperatura ambiente)

STOP

8. Recepção dos materiais de embalagem/

acondicionamento

Sim

Smartfresh

Figura 50 - Fluxograma do processo produtivo

da Pera Rocha na Central Fruteira

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Receção

• Receção da fruta vinda do campo trazida pelos fornecedores de fruta até à central fruteira.

• A fruta chega em caixas de plástico “de campo” ou em paloxes de plástico.• A fruta é pesada e recebe uma etiqueta de identificação (código do fornecedor e da

parcela de proveniência da fruta).• É feito o controlo de qualidade (dureza, açúcares, defeitos e doenças) através da se-

leção de amostras ao acaso.• Nesta fase a fruta é encaminhada para conservação.• Nesta fase, se forem detetadas não-conformidades, é acionado o procedimento de

produto não-conforme.

Tratamento pós-colheita

• A fruta que apresenta um estado de maturação menos avançado tem uma capacida-de de conservação maior. Este processo só se aplica às peras.

• A fruta passa por um duche em Drencher e é aspergida por uma mistura de produtos homologados e água.

• O tratamento pós-colheita é efetuado através de doseador, o qual é anti escaldão e cicatrizante.

• Os resíduos líquidos resultantes desta fase são encaminhados para um tanque situa-do em zona contígua à central.

Conservação

• A fruta que apresenta um estado de maturação mais avançado é armazenada em câmaras de atmosfera normal de modo a que seja comercializada mais cedo.

• A fruta banhada no Drencher é armazenada em câmaras de atmosfera controlada, que pode ficar armazenada durante 6 meses.

• É feito um registo de entrada da fruta nas câmaras para facilitar a gestão do stock.

Lavagem e Calibragem

• A fruta é retirada das câmaras e vai diretamente para o calibrador.• No calibrador a fruta é despejada num tanque com água.• O sistema de tratamento de água inclui desinfeção contínua da água, por meio de

uma bomba doseadora automática e um sensor de cloro, que verifica continuamente os níveis de cloro (para determinar se é necessário ou não adicionar mais cloro na

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água que está a passar no sistema). Este processo está descrito no procedimento de cloragem da água.

• À saída do tanque são selecionadas as frutas podres e com defeitos muito grandes de modo a que não avancem mais no calibrador e contaminem o resto do equipamento. Outras saídas são folhas e terra.

• A fruta é separada em calibre e paletizada novamente em caixas de plástico e identi-ficada (código do barras).

• A fruta pode ir diretamente para o embalamento, ou volta para as câmaras de refrige-ração ou para expedição, caso seja vendida a granel.

• Nesta fase pode haver perda da rastreabilidade (alegações e s/alegações) se não fo-rem devidamente abatidas as etiquetas com a identificação dos lotes.

Embalamento

• A fruta já calibrada vai ser embalada em embalagens específicas para cada encomenda.• A fruta é embalada nas bancadas pelas embaladoras. • A fruta embalada pode ser embalada em diferentes modalidades:

• Diretamente das linhas do calibrador para a embalagem final (caixa, cuvete com tampa ou saco);

• Diretamente do calibrador para a linha de embalamento e de seguida para a em-balagem final (caixa, cuvete com tampa ou saco);

• Em cuvetes sem tampa e ainda poderá passar pela máquina de colocar rede nas cuvetes, situada no armazém 1;

• Diretamente das linhas do calibrador para a linha automática de sacos; • Na linha automática de sacos alimentada com fruta pré-calibrada;• Embalamento direto das caixas de campo para a embalagem final, com calibra-

gem manual, nas bancadas de embalamento.• A fruta embalada, depois de pesada, vai diretamente para a câmara de expedição.• Nesta fase saem como resíduos embalagens danificadas e/ou com defeito, fruta

podre e fruta que já não poderá ser comercializada, chamada de fruta de indústria. • O controlo da qualidade de cada encomenda é feito nesta fase.• Nesta fase, se forem detetadas não-conformidades, é acionado o procedimento

de produto não-conforme. Paletização e Pesagem

• As caixas com fruta embalada são dispostas nas paletes, de acordo com as especifi-cações dos clientes.

• As caixas são rotuladas. • As paletes são cintadas e enviadas para a câmara de expedição. • Nesta fase pode haver contaminações, por ser uma zona sensível, e perda da rastrea-

bilidade (alegações e s/alegações) se não forem devidamente identificadas.

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Arrefecimento na câmara de expedição

• A fruta fica na câmara de expedição, com ambiente refrigerado de 0 a 2ºC, até ser expedida.

• Nesta fase, se forem detetadas não-conformidades em produto devolvido pelo clien-te, é feito um registo de produto devolvido, para posterior reavaliação pelo controlo da qualidade. Nesta reavaliação poderá decidir-se se a fruta é re-embalada ou se é rejeitada como produto não-conforme.

Expedição

• A fruta fica na câmara de expedição, com ambiente refrigerado de 0 a 2ºC, até ser expedida.

• Nesta fase, se forem detetadas não-conformidades em produto devolvido pelo clien-te, de acordo com o que está definido no Procedimento de produto não-conforme, a fruta é rejeitada. Em relação a outras razões, seguirá o percurso definido também no procedimento de produto não-conforme.

• Nesta fase pode haver contaminações (alegações e s/alegações), por ser uma zona sensível.

Receção das embalagens e material de embalamento

• As embalagens e os materiais de embalamento são rececionados pelos empilhadores e são verificadas pelo responsável de armazém.

• Segue conforme o Procedimento das embalagens e material de embalamento.

Armazenagem das embalagens e material de embalamento

• As embalagens de cartão são colocadas no armazém do cartão.• Forma-se as caixas em função das necessidades no embalamento, em função das es-

pecificações para cada cliente e regista-se os lotes a trabalhar no dia.• O material de embalamento armazena-se no piso superior na zona do material de

embalamento.• Retira-se o material do embalamento em função das necessidades no processo de

embalamento e regista-se o material que saí do piso superior.• Nesta fase pode perder-se a rastreabilidade das embalagens e material de embala-

mento.

AIA e interpretação dos resultados

O indicador escolhido foi o eco-indicador 95, uma vez que este indicador tem a capacida-de de quantificar os kg de CO2 consumidos nos processos executados na exploração. Possui nove parâmetros de impacte ambiental: Gases com efeito de estufa; Destruição da camada

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de ozono, Acidificação, Eutrofização, Metais pesados, Cancerígenos, Smog de verão, Smog de inverno e Consumo de recursos energéticos (ver Figura 51).

Quanto às classes de impactes ambientais, a central fruteira apresenta o maior impacte no que respeita ao consumo de energia, sendo por isso a fase do ciclo de vida em que qualquer racionalização do consumo pode resultar em melhorias significativas no desempenho. A fer-tilização e a rega são dois processos com elevados impactes ambientais, representando no caso da rega, mais de 35% da eutrofização (dado que são ministrados fertilizantes na rega) e cerca de 31% na acidificação e na emissão de CO2.

As substâncias cancerígenas são o resultado da atividade da fruteira, muito opor causa da energia consumida, e fazem destacar as pulverizações, que regra geral possuem menos de 10% de todos os indicadores de impactes ambientais e que neste caso em particular repre-sentam 10,7%. Também a fertilização e a rega apresentam valores elevados.

Figura 51 - AICV da Pêra Rocha

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