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MANUAL DE MELHORES PRÁTICAS PARA O …...Rui Barbosa da Rocha, Salvador Silva, Sandro Sáfadi, Sebastião Alves, Sérgio Pamplona, Sônia Elias Rigueira, Suzana Sperry, Tasso de Azevedo,

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MANUAL DE MELHORES PRÁTICAS PARA O ECOTURISMO – TURISMO SUSTENTÁVEL

Atividades na natureza

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APRESENTAÇÃO

ORGANIZADOR Roberto M. F. Mourão • PRODUÇÃO EXECUTIVA Lindamara Soares • ESTAGIÁRIO Luiz de Melo F. Castro Neto

PROJETO GRÁFICO Imaginatto Design e Marketing • ILUSTRAÇÕES José Carlos Braga • REVISÃO AnaCris Bittencourt e Marcelo Bessa • FOTO DA CAPA Roberto M. F. Mourão

CONSELHO DELIBERATIVO

Roberto Leme Klabin • Presidente

Cláudio Benedito Valladares Pádua • Vice-presidente

MEMBROS VOGAIS

Acadêmico

Benjamin Gilbert • Fundação Oswaldo Cruz

José Augusto Cabral • Consultor

Paulo Eugenio Oliveira • UFU

Ambientalista

Garo Batmanian • WWF/Brasil

Ibsen de Gusmão Câmara • FBCN

Jean Marc von der Weid • AS-PTA

Nurit Bensusan • ISA

Empresarial

José Luiz Magalhães Neto • Grupo Belgo Mineira

Roberto Konder Bornhausen • Unibanco

Roberto Leme Klabin • RK Hotéis e Turismo Ltda

Roberto Paulo Cezar de Andrade • Brascan

Governamental

João Paulo Capobianco • MMA

MEMBROS SUPLENTES

Acadêmico

Cláudio Valladares Pádua • UnB

Keith Spalding Brown Junior • Unicamp

Paulo Nogueira Neto • USP

Roberto Brandão Cavalcanti • UnB

Ambientalista

Clóvis Borges • SPVS

Jean-Pierre Leroy • Fase

José Adalberto Veríssimo • Imazon

Mª Dores V. C. Melo • Soc. Nordestina de Ecologia

Empresarial

Edgar Gleich • Consultor

Guilherme Peirão Leal • Natura Cosméticos

Juscelino Martins • Martins Comércio & Serviço Distribuição S.A.

Maria Mercedes von Lachmann • Grupo Lachmann

Governamental

Paulo Kageyama • MMA

Ronaldo Weigand Junior • MMA

SECRETARIA EXECUTIVA

Pedro Leitão • Secretário Geral

FUNBIOFundo Brasileiro para a BiodiversidadeLargo do Ibam 01, 6º andarHumaitá - Rio de Janeiro, RJ - 22.271-020(21) 2123-5300www.funbio.org.br

SECRETARIA EXECUTIVA

Maria Clara Soares • Coordenadora de programas Funbio

Roberto M. F. Mourão • Diretor técnico programa MPE | Ecobrasil

CONSULTORES

Ariane Janer • Ecobrasil | Bromélia

Marcos Borges • Ecobrasil | Grupo Nativa

COMITÊ TÉCNICO

Ariane Janer • Ecobrasil | Bromélia

Jeane Capelli Pen • Rain Forest Alliance

Marcos M. Borges • Ecobrasil | Grupo Nativa

Mário Mantovani • SOS Mata Atlântica

Oliver Hillel • U. N. Environment Program

Rogério Dias • Cerrado Ecoturismo

Sônia Rigueira • Terra Brasilis

Werner Kornexl • Banco Mundial

EQUIPE TÉCNICA

Luciana Martins • Gerente de programa

Maria Aparecida Arguelho • Coordenadora de campo

Marcos Amend • Coordenador de campo

Valéria Braga • Coordenadora técnica

Michele Ferreira • Assistente de programa

APOIO

Marcus Vinícius C. Pires • Assistente administrativo

Estagiários

Bárbara Nunes, Daniel Soares , Flávia Bichara

Mensageiro

Claudio Silvino

Corpo técnico - Autores e instrutores

Ana Cláudia Lima e Alves, Ana Elisa Brina, Ana Maria Saens Forte,

Ariane Janér, Armando Cypriano Pires, Carlos Alberto Mesquita,

Cláudia de Sousa, Dante Buzzetti, Equipe Tamar, Evandro Ayer,

Fábio de Jesus, Fábio Ferreira, Fábio França Araújo,

Fábio Vieira Martinelli, Fernanda Messias, Gerson Scheufler,

Humberto Pires, Jean Dubois, Jeane Capelli Pen, Leonardo Vianna,

Liana Sá, Lucila Egydio, Luiz Gustavo Barbosa, Marcelo Oliveira,

Marcelo Skaf, Márcia Gomide, Maria Aparecida Arguelho,

Mª das Graças Poncio, Maria Clara Soares, Márcio Viana,

Marcos Martins Borges, Marcos Nalom, Paul Dale, Paulo Bidegain,

Paulo Boute, Paulo D’Ávila, Pedro Bezerra, Renato de Jesus,

Roberto M.F. Mourão, Rogério Dias, Rogério Zouein,

Rui Barbosa da Rocha, Salvador Silva, Sandro Sáfadi,

Sebastião Alves, Sérgio Pamplona, Sônia Elias Rigueira,

Suzana Sperry, Tasso de Azevedo, Waldir Joel de Andrade

Ecobrasil | MPEMelhores Práticas para o EcoturismoRua Visconde de Pirajá 572, 2º andarIpanema - Rio de Janeiro, RJ - 22.410-002Tel: (21) 2512-8882www.ecobrasil.org.brwww.mpe.org.br

M294 Manual de melhores práticas para o ecoturismo /

Organizador: Roberto M. F. Mourão. - Rio de

Janeiro: FUNBIO; Instituto ECOBRASIL,

Programa MPE, 2004.

58p. : il ; 21 cm

1. Ecoturismo – Manual. I. Título.

CDD: 338.47

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ESTE MANUAL É UM DOS PRODUTOS DO PROGRAMA “MELHORES PRÁTICAS

PARA O ECOTURISMO”, PROMOVIDO PELO

EM PARCERIA COM

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APOIO

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Montcamp Equipamentos Wöllner Outdoors

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Fundo Brasileiro para a Biodiversidade

(Funbio) é uma organização não-governa-

mental, criada em outubro de 1995, cuja

missão é apoiar ações estratégicas de conservação e

uso sustentável da biodiversidade no Brasil. Com esse

fim, o Funbio capta e gere recursos financeiros, esti-

mulando o desenvolvimento de iniciativas ambien-

tais e economicamente sustentáveis. Sua atuação é

pautada na Convenção da Diversidade Biológica,

acordo internacional assinado durante a Rio 92.

O Funbio é dirigido por um conselho delibera-

tivo, formado por lideranças dos segmentos ambi-

entalista, empresarial, acadêmico e governamental.

É operado por um comitê executivo, seis comissões

técnicas e uma secretaria executiva que conta com

profissionais de diferentes áreas.

Ao longo de oito anos de trabalho, o Funbio

apoiou mais de 60 iniciativas nas áreas de conser-

vação, agrobiodiversidade, manejo florestal não-

madeireiro, manejo florestal madeireiro, manejo

de recursos pesqueiros, ecoturismo e Agenda 21

local, totalizando um desembolso de aproximada-

mente US$ 7,1 milhões até o ano de 2003. Seu pú-

blico-alvo é o setor produtivo brasileiro, bem como

organizações não-governamentais e associações

comunitárias comprometidas com o desenvolvi-

mento sustentável, além das comunidades locais

beneficiárias de suas ações.

O ecoturismo começou a ser investigado como

área potencial de trabalho para o Funbio em 1999,

dentro do Programa de Estudos Estratégicos.

A pesquisa constatou carência na área de capacita-

ção de profissionais que atuam em empreendimen-

tos de ecoturismo.

A resposta a esse problema foi o desenvolvi-

mento do Programa MPE, com o objetivo de defi-

nir um conjunto de “melhores práticas” que sir-

vam de referência para projetos de ecoturismo no

Brasil. Este manual que você tem em mãos é um

dos frutos desse trabalho.

Pedro Leitão

Secretário Executivo

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APRESENTAÇÃO

O conceito de sustentabilidade, proposto pela Co-

missão Brutland no informe “Nosso futuro co-

mum” (1987), despertou um intenso processo de

discussão. Diferentes interpretações vêm sendo for-

muladas desde então, trazendo visões de mundo

por vezes conflitantes e bastante diversas. Uma

contribuição inequívoca trazida pelo conceito de

sustentabilidade foi o reconhecimento da neces-

sidade de integrar a dimensão ambiental ao con-

ceito de desenvolvimento. A Rio 92 trouxe o de-

safio de estabelecer uma série de acordos volta-

dos a enfrentar a destruição do planeta, bem como

de integrar a participação dos cidadãos como fa-

tor fundamental para o alcance do desenvolvimen-

to em bases sustentáveis.

O reconhecimento da finitude dos recursos

naturais do planeta trouxe à tona uma questão

fundamental. Se os recursos são limitados, que

valores, deveres e obrigações devem regular a dis-

tribuição e o acesso aos recursos disponíveis?

Considerando que os países ricos, com menos de

20% da população mundial, consomem 80% dos

recursos mundiais, enquanto os países mais po-

bres consomem apenas 2% dos recursos, falar em

sustentabilidade nos conduz à necessidade de

repensar o modelo de desenvolvimento em cur-

so, que vem gerando não apenas um padrão de

produção e de consumo excludente do ponto de

vista social, como também insustentável do pon-

to de vista ambiental.

Após 12 anos da Rio 92, apesar de não se re-

gistrarem avanços significativos no enfrentamen-

to das questões estruturais de eqüidade socioam-

biental essenciais para garantir a sustentabilidade

do desenvolvimento, verifica-se o nascimento de

um sem-número de novas organizações, propos-

tas e iniciativas voltadas para a conservação e o

uso sustentável de recursos naturais, que buscam

conciliar o desenvolvimento econômico com a

justiça social e a sustentabilidade ambiental.

Desenvolvimento sustentável

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Neste contexto, situam-se os esforços para o

desenvolvimento de um modelo de turismo soci-

almente responsável. O turismo sustentável utili-

za o patrimônio natural e cultural, incentiva sua

conservação e busca a formação de uma consciên-

cia ambientalista, promovendo o bem-estar das

populações envolvidas. Por esse motivo, vem des-

pontando como importante aliado na conserva-

ção do meio ambiente e como alternativa econô-

mica que estimula a inclusão social. O Brasil é um

país extremamente rico em recursos e em belezas

naturais, possui entre 15% e 20% da biodiversida-

de e 13% da água doce do mundo e abriga enor-

me diversidade cultural. O aproveitamento desse

potencial por meio do desenvolvimento de estra-

tégias que fortaleçam o turismo participativo, so-

lidário e sustentável é, sem dúvida, uma grande

oportunidade para o país.

Maria Clara Couto SoaresCoordenadora de Programas Funbio

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A idéia básica é que, à medida que o Pro-

grama MPE seja implementado, ajustado e ree-

ditado com práticas propostas aplicadas no cam-

po e avaliadas, o manual também seja ajustado

e acrescido, sempre buscando melhorar as prá-

ticas anteriormente estabelecidas. A disponibi-

lização dos tópicos e subtópicos será feita de

forma gradativa, e o manual será ajustado me-

diante sugestões e críticas, até mesmo com dis-

tribuição em meio eletrônico.

Aos autores dos temas foi solicitado que se

limitassem a textos teóricos condensados entre cin-

co e dez páginas, sem, contudo, prejudicar o con-

teúdo. A condensação sugerida, a princípio, pode

até ser considerada negativa, mas seu objetivo é

estimular o público leitor a se concentrar no que

for mais essencial dentro do assunto, abstraindo-

se do que for supérfluo ou secundário. Nesse sen-

O Manual MPE foi criado com o objetivo inicial

de ser utilizado nos cursos de capacitação dos

monitores MPE, em suas consultas e complemen-

tação de conhecimentos, e também de servir como

material didático para os envolvidos, local e regi-

onalmente, com os projetos conveniados.

Porém, em virtude da carência de publicações

sobre ecoturismo e desenvolvimento sustentável,

abordados de forma prática e sucinta no Brasil, o

comitê gestor do Programa MPE decidiu produzir

e disponibilizar o conjunto a um público mais am-

plo, atendendo a uma necessidade das demais pes-

soas interessadas pelos temas abordados.

Este manual pretende ser uma ferramenta di-

nâmica, com flexibilidade para incorporar suges-

tões e críticas, conforme os avanços do Programa

MPE, recebendo informações dos trabalhos de cam-

po, por meio do sistema de monitoramento.

Manual de Melhores Práticas para o Ecoturismo (MPE)

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tido, tal decisão pode ser encarada de forma posi-

tiva, visando oferecer ao público o melhor apro-

veitamento possível.

Formato

O Manual MPE é composto de: Módulos Temáti-

cos, subdivididos em Seções, Tópicos e Subtópi-

cos. Na composição dos Tópicos (Texto teórico), de

acordo com o tema que está sendo tratado, po-

dem vir a fazer parte como subtópicos: Caixa de

ferramentas, Estudo de caso, Anexo técnico, Glos-

sário e Referências bibliográficas.

Desejamos a você uma boa leitura e um aproveita-

mento prático melhor ainda.

Roberto M. F. MourãoOrganizador do Manual MPE

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Atividades na natureza

1. Observação da natureza

1.1 Observação de flora . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14por Ana Elisa Brina

• Caixa de ferramentas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23

1.2 Observação de fauna . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24por Rogério Dias

• Caixa de ferramentas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32

• Anexo técnico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34

• Glossário . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36

• Referências bibliográficas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37

1.3 Observação de aves . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38por Roberto M. F. Mourão

• Caixa de ferramentas 1 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43

• Caixa de ferramentas 2 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 50

• Caixa de ferramentas 3 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 52

• Caixa de ferramentas 4 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 53

• Estudo de caso 1 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 54

• Estudo de caso 2 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 57

• Anexo técnico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 58

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Manual de Melhores Práticas para o Ecoturismo – Turismo Sustentável | Atividades na natureza

1. OBSERVAÇÃO DA NATUREZA

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www.mpefunbio.org.br - Incentivamos a cópia, reprodução e divulgação do conteúdo. Favor mencionar a fonte.

D ificilmente, encontra-se um ambiente natural desprovido

de um exemplar de flora. Neste artigo, é explicado ao público

como a observação de flora se constitui em atividade simples,

dinâmica e diversificada. Contrariando o senso comum, a au-

tora mostra que a flora não é importante apenas para cientis-

tas e biólogos. Mas pode se tornar um forte atrativo turístico

e ser fonte de muitas descobertas para o ecoturista.

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OBSERVAÇÃO DE FLORA

ANA ELISA BRINA1.1

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• 15Manual MPE – Ecobrasil | Atividades na natureza | Observação da natureza | Observação de flora, Ana Elisa Brina

A caatinga, um bioma tipicamente brasileiro, apresentagrande variedade de paisagens, relativa riqueza biológicae endemismo

O Pantanal ostenta um mosaico de ecossistemasterrestres, aquáticos e semi-aquáticos, interdependentesem maior ou menor grau

A observação de flora é fácil e pode ser feita demuitas maneiras. Pode-se aprender sobre a floraolhando uma paisagem do alto de um morro e, aomesmo tempo, colhendo uma pequena amostra deuma folha minúscula para olhar sua superfície como auxílio de uma lupa. Cada paisagem tem suas pe-culiaridades e seus detalhes. Cada local visitadoapresenta sinais de como era originalmente e decomo ficou depois de sofrer alterações resultantesda ação do ser humano.

Dos ambientes mais naturais até os mais mo-dificados pelo ser humano, dificilmente se encon-tra algum que seja desprovido de um exemplarda flora. E onde existir uma só plantinha, pormenor que seja, há o que se observar nela. A im-portância das plantas é bastante conhecida (fon-te de oxigênio, madeira, fibras, alimentos para afauna e para o ser humano, remédios, ciclo daágua, equilíbrio climático).

A Botânica é a ciência que estuda os vegetais etem vários ramos: taxonomia (classificação dos ve-getais); morfologia (estudo de sua forma externa);

anatomia (forma interna, estudada ao microscópio);fisiologia (crescimento, fotossíntese, reproduçãoetc.). Mas a flora não é importante apenas para oscientistas. Se bem interpretada, ela pode se tornarum grande atrativo turístico e ser fonte de muitasdescobertas e prazer para o ecoturista.

Apesar de o Brasil ser um país riquíssimo emdiversidade de ambientes e espécies de plantas, es-sas são pouco conhecidas e valorizadas internamen-te. São inúmeras as espécies madeireiras, frutífe-ras, ornamentais e medicinais, mas infelizmente co-nhecemos poucas. A falta de conhecimento sobre anossa flora tem nos levado a subestimar o valor denossa cobertura vegetal nativa.

Biomas como o cerrado e a caatinga possuemalta biodiversidade, mas por causa da aparência tor-ta e seca são menosprezados e substituídos por es-pécies exóticas, como o eucalipto e a soja, de ma-neira arrasadora. Se soubéssemos utilizar, de for-ma sustentável, todo o potencial alimentício, medi-cinal e ornamental de nossa flora nativa, obtería-mos um lucro muito maior do que nessas monocul-turas e ainda resguardaríamos nosso maior tesou-ro: a biodiversidade.

Plantas, indicadores do ambiente

Algumas plantas indicam o tipo de ambiente porserem encontradas apenas em determinadas con-dições de solo, clima ou temperatura. Há tambémespécies que indicam a boa qualidade do ar, comoos liquens. Nas cidades, por exemplo, é fácil perce-ber a ausência desses organismos em locais muitopoluídos. Ainda nas cidades, há espécies de plantascapazes de crescer em locais muito pisoteados ouquentes, como calçadas.

A vegetação que cobre uma área é o reflexodas condições locais de temperatura, umidade, lu-minosidade e o tipo de solo. Cada tipo de vegeta-ção tem suas características próprias. Para ver asdiferenças, é preciso olhar de cima a baixo (solo,camadas de plantas, altura da cobertura da vege-tação) e em profundidade (o que há por trás doque está à minha frente?).

Quando se observa um morro, a vegetação quecobre o seu topo certamente é diferente da que cobreo vale abaixo dele, onde passa um córrego. Todas essasmudanças refletem a composição do solo, o espaçodisponível para as raízes se desenvolverem, a facilida-de de obterem água, assim como a intensidade dosraios solares e dos ventos que atingem as folhas.

Cada bioma brasileiro tem condições de climae de solo que favorecem o crescimento de um con-junto típico de plantas. Ao visitar regiões de caatin-ga, por exemplo, podem-se ver plantas muito bemadaptadas ao ambiente seco: em geral são arbus-tos esgalhados, plantas com folhas pequenas (quesignificam menor área de perda de água pela

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• 16Manual MPE – Ecobrasil | Atividades na natureza | Observação da natureza | Observação de flora, Ana Elisa Brina

A Mata Atlântica pode ser vista como um mosaicodiversificado de ecossistemas, apresentando estruturase composições florísticas diferenciadas, em função dediferenças de solo, relevo e características climáticas

Conhecida como “pinheiro-do-paraná”, a araucáriapertence a uma família nativa do Hemisfério Sul. Ospinheirais de araucária não são homogêneos como asflorestas européias: a árvore aparece misturada a muitasoutras plantas

Evitar a contaminação do ecossistema aquático, mantera integridade das margens dos rios e contribuir para amanutenção da temperatura da água são apenas algumasdas funções da mata ciliar

transpiração), espinhosas (os espinhos são folhasreduzidas) ou plantas suculentas (que armazenamágua como os cactos).

Quando se está viajando pelo pantanal, po-dem-se ver desde extensas áreas alagadas cheiasde plantas aquáticas até matas secas (que perdemsuas folhas na estação seca) sobre alguns morros.O pantanal, sendo uma região de transição entrediferentes biomas, apresenta um conjunto de es-pécies muito variado.

Na região da Mata Atlântica, o clima favore-ce o crescimento de florestas onde grandes árvo-res são cobertas de bromélias – plantas típicas delocais muito úmidos. Ao longo da faixa litorânea,onde os rios chegam ao mar, podem-se observaros mangues, onde poucas espécies de árvores, comgrandes raízes aéreas, conseguem sobreviver nalama. Há também a vegetação das dunas, ondecrescem plantas rastejantes que auxiliam na fixa-ção da areia, e das restingas, vegetação densa comarbustos e cactos.

No Sul do país, as araucárias são indicadorasdas florestas sujeitas ao clima frio. Já no clima quen-te e úmido da Amazônia está a floresta com árvo-res enormes que crescem sobre solos rasos e po-bres. Muitas espécies de árvores amazônicas têmgrandes raízes que auxiliam em sua sustentação.São comuns também entre as plantas amazônicasas folhas grandes e com o ápice pontudo – que fun-ciona como goteira para escorrer a água que secondensa em sua superfície.

É muito interessante que o ecoturista procu-re conhecer um pouco da história da vegetaçãoque observa. Por exemplo, se olhássemos um mapada vegetação brasileira no passado, veríamos mui-tas interligações entre as florestas; hoje existemapenas restos dessas ligações, às vezes através dematas que acompanham as margens de algunsrios. Essas, chamadas de matas ciliares, protegemas margens dos rios evitando a erosão, fornecemalimento para a fauna aquática e servem de cor-

redor para a passagem de espécies da fauna ter-restre. Por esses motivos, as matas ciliares sãoprotegidas por lei na forma de Área de Preserva-ção Permanente, conforme o Artigo 2o do CódigoFlorestal Brasileiro (Lei No 4.771 de 15 de setem-bro de 1965).

No Planalto Central brasileiro, na região doscerrados, onde os solos são pobres, a seca prolon-gada e os incêndios freqüentes, crescem árvorespequenas e tortuosas, com cascas grossas e folhasespessas. Quanto mais pobre o solo do cerrado emais freqüentes são os incêndios, menos árvoreshá, e a vegetação é formada principalmente porum tapete de ervas.

Nessa região, existem dezenas de tipos de ve-getação formando um verdadeiro mosaico de altabiodiversidade e com muito endemismo. Calcula-seque mais de 40% das plantas lenhosas do cerradosão endêmicas. Atualmente, mais de 50% do cer-rado, que ocupava 23% do território brasileiro, foisubstituído por áreas cultivadas.

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• 17Manual MPE – Ecobrasil | Atividades na natureza | Observação da natureza | Observação de flora, Ana Elisa Brina

Os campos rupestres ocorrem no alto das serras,geralmente em altitudes superiores a mil metros, compredomínio do extrato herbáceo (gramíneas e mescladode subarbustos e arbustos pequenos)

Em virtude de sua alta diversidade e de acele-rado ritmo de ocupação, o cerrado é consideradoum dos 25 biomas prioritários para a conservaçãoda biodiversidade do planeta.

No topo de montanhas na região dos cerrados,podem-se observar os campos rupestres, uma vegeta-ção composta por ervas e arbustos que cresce em solospedregosos e entre as rochas. Existe nesse local umaenorme riqueza de plantas, a maioria pequenas, comfolhas miúdas e bem próximas umas das outras.

Outros locais rochosos que apresentam flora cu-riosa estão nas regiões de afloramentos calcários,onde se formam cavernas. Sobre os paredões decalcário, as plantas às vezes lembram a vegetação dacaatinga, já que existem muitos cactos e várias plan-tas ficam sem folhas na época mais seca do ano. Exis-tem também árvores, como as gameleiras, que de-senvolvem extensas raízes que parecem escorrer so-bre as rochas. Já dentro das cavernas, a ausência deluz impede o desenvolvimento de espécies da flora e,portanto, não há plantas para serem observadas.

E quem pensa que a vegetação fica estática paraser olhada ou utilizada de alguma forma, deve estaratento: o que se vê em um dado momento é apenasuma fase dentro de um processo ao longo do tem-po. Cada planta observada pode estar em uma fasediferente do seu ciclo de vida – que vai desde a ger-minação da semente, o crescimento da planta, a pro-dução de flores e frutos até a dispersão das semen-tes e novamente a sua germinação, garantindo areprodução da espécie.

A cobertura vegetal como um todo também pas-sa por fases. Isso pode ser claramente compreendidoquando se observam áreas de vegetação em regene-ração: em áreas abandonadas onde a vegetação ori-ginal foi retirada, podem-se observar as primeirasplantas capazes de crescer sobre os solos expostos –são as chamadas plantas pioneiras. Com o tempo, amelhoria da qualidade do solo pelo acúmulo de ma-terial vegetal em decomposição e o seu sombreamen-to pelas plantas pioneiras, outras espécies vão se ins-talando, e aos poucos vai se formando uma vegeta-

ção mais rica e parecida com a original. Alguns ani-mais, atraídos pelas plantas, vão trazendo sementesde outras espécies da flora e assim auxiliam nesseprocesso, chamado de sucessão natural.

Diversidade na flora

Observando as plantas, principalmente em um paístropical como o Brasil, podem-se identificar diver-sas manifestações externas da diversidade biológi-ca: é enorme a variedade de cheiros, cores, textu-ras e formas. Isso para não dizer das variações in-ternas que, embora não vejamos, devem ser lem-bradas: a presença de óleos, cristais, amido e ou-tras substâncias de reserva dentro das células, as-sim como de tecidos fibrosos que dão resistência esustentação ao corpo da planta.

Em cada tipo de planta, a organização internadas camadas de células é diferente, variando entreas herbáceas, arbustivas, arbóreas, epífitas, parasi-tas, aquáticas. Plantas herbáceas são mais moles,

O cerrado típico é constituído por árvores relativamentebaixas (até 20 metros), esparsas, disseminadas em meioa arbustos, subarbustos e uma vegetação baixa consti-tuída, em geral, por gramíneas

As bromélias pertencem à família botânica Bromeliaceaee são exclusivas do continente americano, havendosomente uma espécie, dentre mais de 3 mil existentes,que habita a costa ocidental da África

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pois não precisam de sustentação para crescer. Já asgrandes árvores têm tecidos fortes, fibrosos e rígi-dos – a madeira – para sustentar seu crescimentoem altura. Os tipos de madeiras são também os maisdiversos, e muitas árvores podem ser reconhecidasno campo pelos desenhos de sua casca, a forma dasrachaduras do tronco e a cor da madeira por fora epor dentro das rachaduras.

Existem plantas que crescem apoiando-se emoutras, como os cipós e trepadeiras. Já as epífitasusam outras plantas como suporte, como as orquí-deas e as bromélias que vivem sobre a casca dasárvores. Não se pode confundir epífitas com parasi-tas, essas últimas são espécies que crescem sugandoa seiva da planta suporte, podendo até matá-las,como no caso da erva-de-passarinho.

Nos lagos e rios, cada espécie de planta aquáti-ca tem sua preferência de local para crescer: umasenraizando no solo das margens encharcadas, ou-tras flutuando na superfície da água e algumas pre-ferem viver submersas.

Entre a grande diversidade de plantas encon-tram-se aquelas que contêm substâncias venenosase urticantes, assim como as que têm partes comestí-veis (raízes, palmitos, folhas e frutos) ou podem serutilizadas como fonte de água potável (como algunscipós). Em campo, deve-se ter atenção, pois, quandonão se conhecem bem as espécies, é possível confun-di-las. Melhor mesmo é estar acompanhado de al-guém que as conheça bem, seja um nativo do lugarou algum especialista em botânica.

Em uma mata, as camadas de vegetação são cha-madas de estratos. A primeira camada é a que reco-bre o solo, sendo formada de material vegetal emdecomposição ou serrapilheira, que é muito impor-tante, pois se incorpora ao solo servindo de fonte denutrientes utilizados para o crescimento da vegeta-ção. Entre as espécies responsáveis pela decomposi-ção de troncos caídos no solo estão os cogumelos.

Depois vêm as camadas de ervas, de arbustos,de árvores baixas e, por fim, das árvores maioresque formam o teto ou dossel da mata. Há cientis-tas que utilizam técnicas de alpinismo para subiraté essa camada e estudam as formas de vida quese desenvolvem lá. Crescer em uma certa camadada vegetação, ou a certa profundidade, significaque a espécie está mais acostumada a receber cer-ta quantidade de luz – pois há plantas típicas desombra e típicas de sol.

Ao se observar a flora em detalhes, percebe-seque nem tudo no verde é verde: existem flores des-de as mais ínfimas, discretas e esverdeadas até asmais coloridas e atraentes. Mesmo as folhas apre-sentam muitos tons diferentes de verde ou podemser mais amareladas e até avermelhadas. Há famí-lias de plantas que se caracterizam por um determi-nado cheiro, como no caso da família da mangueira

e da aroeira, com folhas com forte odor de mangaverde. Já a família da quaresmeira tem folhas comnervuras típicas, acompanhando suas bordas.

Plantas em partes

Ao se caminhar em uma trilha em um ambientenatural, além da observação da flora em seu con-junto, pode-se deparar com pequenos detalhes in-teressantes de plantas ou mesmo partes delas.

As flores que se apresentam variam em for-ma, cor e tamanho. Algumas são isoladas, outrasformam conjuntos ou inflorescências. Algumas têmpétalas separadas, outras têm pétalas juntas; umassão simétricas, outras não. As flores são a partemais importante usada pelos especialistas para aidentificação das espécies.

Os frutos podem ser secos, carnosos, grandes,pequenos, com apenas uma ou muitas sementes. Al-guns se abrem sozinhos ao amadurecerem, outros não.As sementes também apresentam inúmeras variações.

Observar folhas é a forma mais simples de seconstatar a diversidade da flora brasileira. A enor-me variedade se traduz em folhas que podem sersimples ou compostas; ter diferentes tipos denervuras (únicas, paralelas, em forma de pena ou depalma da mão); diferentes consistências (carnosas,suculentas, coriáceas, membranáceas); diferentestipos de superfície (sem pêlos, pilosas, lisas, rugo-sas); formas (agulha, coração, triângulo, espada, lan-ça, seta, ovaladas); tipos de borda (lisa, serreada,inteira ou dividida, denteada, ondulada); tipos debase e ponta (mais ou menos agudas); e de disposi-ção no caule (folhas presas uma a uma no caule deforma intercalada, folhas opostas duas a duas, vári-as folhas saindo de um mesmo ponto).

A serrapilheira é uma camada superficial de solos sobfloresta, consistindo de restos de vegetação como folhas,ramos, caules e cascas de frutos, em diferentes estádiosde decomposição – um “húmus da terra”

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Esquema de planta

Frutos e sementes

Os caules também variam entre eretos,rastejantes, trepadores, além dos caules subter-râneos que não vemos diretamente. Da mesmaforma, as raízes, em geral escondidas sob a terra,às vezes tornam-se visíveis: raízes aéreas, supor-te, tabulares, aquáticas flutuantes.

Flora e as estações do ano

Um mesmo lugar, se visitado em diferentes épo-cas do ano, pode oferecer experiências bem dife-rentes. A cada estação, podem-se encontrar, porexemplo, diferentes espécies em floração ou comfrutos maduros. Isso é mais nítido nas regiões ondehá uma estação seca bem definida e menos nítidoem locais sempre úmidos, como a Amazônia.

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Folhas

Na época chuvosa, é mais comum encontrarfrutos carnosos (suculentos), que se mantêm ape-titosos por mais tempo na época de fartura deágua (pois na estação seca murchariam logo).

Durante a estação seca, muitas plantas secam(como alguns capins) ou perdem folhas (árvores earbustos). Em geral, a estação seca coincide com aépoca de mais vento. Nessa ocasião, é possível ob-servar sementes e frutos secos voando com o vento.Isso acontece principalmente em espécies arbóreascom copas altas, nas quais o efeito do vento é maior.

No fim da estação seca, com a perda de fo-lhas das árvores das camadas de cima de umamata, entra mais luz nas camadas de baixo, per-mitindo o brotamento de espécies que aí vivem.Como isso ocorre logo antes do início das chuvas,as plantas que brotam conseguem sobreviver du-rante a próxima estação.

Na transição da época seca para a chuvosa, éfácil observar muitas espécies de plantas rebrotando.Existem plantas cujas folhas novas apresentam co-loração diferente daquela típica da espécie.

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Para dar um efeito camuflado ao ninho, o joão-graveto (Phacellodomus rufifrons) utiliza aprópria rama da árvore

É também a época de maior número de plan-tas em floração, coincidindo com a época de maioratividade de animais que as visitam. É, portanto,uma boa época para se fazer observações.

Interações flora–fauna

Essa é uma das características mais interessantesde se observar na natureza. As plantas e os ani-mais dependem uns dos outros para a sobrevivên-cia. As evidências disso não são apenas curiosas, mas,às vezes, muito belas. A importância da flora paraos animais silvestres é enorme, como fonte de ali-mento, local de abrigo e fonte de material e localpara a confecção de ninhos e tocas.

Algumas das interações mais importantes en-tre plantas e animais são a polinização (transportedos grãos de pólen de uma flor para outra paraque ocorra a fecundação e, posteriormente, a for-mação dos frutos), a dispersão (transporte das se-mentes para brotarem em outro lugar, espalhan-do, assim, a espécie) e a herbivoria (utilização dasplantas como alimento pelos animais).

Ao longo do tempo, muitas interações foramse fortalecendo, a ponto de determinadas espéci-es de plantas se tornarem praticamente depen-dentes de certos animais para sua reprodução. É ocaso de flores que são tão parecidas com a fêmeade certos insetos que o inseto macho as visita paraacasalar-se e, assim, se suja de grãos de pólen que

acaba levando para ou-tras flores.

Não é incomum verflores sendo visitadaspor insetos e beija-flo-res; frutos ou sementessendo transportadospor animais ou pelovento; ou um animal sealimentando de algumaparte de uma planta.Um binóculo pode sermuito útil para observaresses eventos a umacerta distância. Masmesmo quando não seobserva diretamente, épossível imaginar comoisso ocorre naturalmen-te, ao se deter nos de-talhes das plantas.

Flores polinizadas pelo vento em geral são pe-quenas, esverdeadas, muito numerosas; aquelaspolinizadas por insetos em geral têm cores claras,como a aroeirinha. Entre as flores polinizadas poraves, são comuns as de cores chamativas, como overmelho; em geral, essas flores contêm muitonéctar, como no brinco-de-princesa. Já nas floresvisitadas por morcegos, a cor não importa tanto,já que a visão não é o forte desses animais; porémo cheiro, a fartura de alimento disponível (néctar)e a posição das flores nas copas podem facilitar oacesso desses animais – é o que ocorre na dedalei-ra, árvore do cerrado.

Quando se trata da dispersão de sementes, háaquelas que são dispersas por animais e que geral-mente têm pêlos ou espinhos que fazem com queelas se fixem no corpo dos animais que as transpor-tam para longe da planta-mãe. Outras são comes-tíveis e, assim, são transportadas dentro do tubodigestivo de animais, que depois as defecam emoutro lugar, onde acabam brotando.

Já as sementes transportadas pelo vento sãoleves, com pêlos ou abas que funcionam como asas.Sementes que se dispersam na água em geral sãoflutuantes e impermeáveis. Há ainda as espéciesnas quais os frutos se abrem ao amadurecer, dei-xando cair as sementes ou mesmo lançando-as deforma explosiva.

A herbivoria é a forma de interação na qualanimais se alimentam de plantas ou parte delas.Como existem muitos animais predadores de plan-tas, entre elas existem também muitos mecanismosde defesa contra animais. Alguns exemplos fáceisde se observar na natureza são as espécies com fo-lhas jovens, de coloração diferente como se fossemtóxicas ou menos apetitosas (como no pau-de-óleo),

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Beija-flor

e aquelas que têm nectários (pequenas glândulasprodutoras de néctar) fora das flores, os quais atra-em formigas, que, por sua vez, protegem a plantado ataque de outros herbívoros (como na embaú-ba). Há ainda formas de proteção menos visíveis(observáveis apenas com lupa ou microscópio)como pêlos na superfície das folhas que dificultamo acesso de insetos herbívoros e ainda a presençade cristais nas células das folhas, tornando-as maisdifíceis de comer.

Por causa do grande número de interaçõesexistentes, a eliminação da vegetação pode tercomo conseqüência a eliminação de várias espéciesanimais que dependem delas.

Plantas e comunidades tradicionais

A interação entre o ser humano e a vegetaçãosempre existiu. Os usos das plantas são inúmeros:fonte de madeira, alimentos e temperos, remédi-os e cosméticos, produtos aromáticos, corantes,

fibras têxteis, cortiças, taninos, gomas e resinas,óleos e gorduras; plantas ornamentais, usadas paraconfecção de artesanato e melíferas.

Assim, ao se visitar uma região, é interessanteconversar com moradores locais para ver sua rela-ção com os recursos naturais, seu conhecimento so-bre a flora, a importância desta em seu cotidiano.

Muitas vezes, os nomes populares dados àsplantas expressam com clareza suas característi-cas, seu uso ou sua importância para as pessoas.Algumas vezes, um mesmo nome popular é dadoa várias espécies, como no caso do ipê, emboraexistam vários tipos dessa árvore. Por isso, é im-portante conhecer os nomes científicos das espé-cies, que são escritos em latim.

Polinização

Muitas comunidades tradicionais têm formassaudáveis ou sustentáveis de utilização dos recur-sos, ou seja, usam-nos sem deixar que acabem. Issose baseia em seu conhecimento das plantas, poissabem qual é a melhor época para extrair certosrecursos e quais são a forma e a quantidade razo-áveis para não prejudicar a planta em questão.Muitas atividades econômicas são responsáveispela alteração e mesmo pela destruição da flora:carvoaria, agricultura, pecuária, mineração, hidre-létricas, turismo excessivo, coletas predatórias.

Recentemente, a exploração excessiva de re-cursos naturais visando a sua comercialização temse tornado prejudicial (a exemplo da coleta desempre-vivas nos campos rupestres, bromélias naMata Atlântica, madeiras na Amazônia, frutos esementes secas ornamentais nos cerrados).

Assim, observadores de flora devem ao mes-mo tempo ser curiosos e respeitosos com esse pa-trimônio, a coleta de plantas, principalmente plan-tas inteiras, evitando o pisoteio fora de trilhas e,sempre que possível, plantando mudas de espéci-es nativas e atrativas para a fauna silvestre (ad-quiridas em viveiros).

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Equipamentos

Os principais atributos para a observação da florasão criatividade, um olhar curioso e muito respeitopor cada elemento observado.

Ao visitar ambientes naturais, é interessanteque o ecoturista esteja acompanhado do mapa daregião que está percorrendo, para relacionar a vari-ação da flora que vê ao vivo com a região do paísem que está e a posição do local de observação emrelação aos morros, rios etc.

Especialistas em botânica usam equipamentomuito simples em suas coletas de material para pes-quisa: podão ou tesoura de poda para coletar amos-tras que colocam em prensas, entre folhas de jornal,para que não murchem, e levam para o laboratórioonde secam em estufa com temperatura adequada.

As plantas desidratadas, identificadas e catalo-gadas são, assim, mantidas em herbários ou cole-ções de referência. Porém, essa prática deve ser res-trita a pesquisadores, já que a coleta indiscriminadade plantas pode levar algumas à extinção e, por-tanto, sua penalização é prevista em leis.

Horários de observaçãoDurante todo o período de luz do dia é possível ob-servar a flora. É claro que, dependendo da distânciaa ser percorrida, é necessário calcular o horário deretorno para não ser pego de surpresa pelo crepús-culo. De acordo com o ambiente a ser visitado, al-guns horários são mais confortáveis. Por exemplo, aose visitar uma mata, é preferível fazê-lo em horáriosde maior insolação para que a visibilidade seja me-lhor, já que o ambiente é muito sombreado. Ao sepercorrer ambientes abertos como campos em altosde serras, é melhor fazê-lo no início da manhã oudepois do meio da tarde, quando o calor é menor.

Excepcionalmente, há o que se observar no pe-ríodo noturno. No caso de se querer observar plan-tas visitadas por morcegos, por exemplo, a opção éesperar o início da noite.

Pequenas experimentações

Especialmente quando se faz excursões em grupos– ou atividades de troca de experiência sobre obser-vações feitas em campo – pode ser interessante fa-zer registros de campo ou experimentos como:

• mapas ou esquemas do trajeto percorrido;

• desenhos dos cenários observados;

• impressões de texturas de folhas e troncos (co-locando um papel sobre sua superfície e ras-pando por cima com um giz de cera);

• cortes em pequenas amostras de tecidos vege-tais para observação com lupa ou microscópio(corta-se uma folha bem fininha, usando umpedacinho de isopor para firmá-la e coloca-seem uma lâmina – só para o caso de trabalhosescolares, quando se dispõe de um microscópio);

• extração de pigmentos vegetais (amassandopedacinhos de material vegetal de diferen-tes colorações com um pouco de álcool – sópara o caso de trabalhos escolares, quandose dispõe de um laboratório);

• confecção de álbum de registros e observações.

Alguns equipamentospodem a judar naobservação e no registrode alguns detalhes:

• mapa do local visitado;

• bússola;

• lupa de mão;

• binóculo;

• máquina fotográfica;

• bloco de anotações/caderno dedesenho;

• lápis, lápis de cera;

• sacos plásticos;

• roupas confortáveis, bota, chapéu,capa de chuva.

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www.mpefunbio.org.br - Incentivamos a cópia, reprodução e divulgação do conteúdo. Favor mencionar a fonte.

A qui, o leitor terá oportunidade de conhecer mais detalhada-

mente os motivos que levam a observação de fauna ser uma ati-

vidade fundamental em todo o planeta. Segundo o autor, o Pan-

tanal brasileiro está entre as melhores regiões para isso, especial-

mente na época da seca, quando os animais se concentram nas

margens de rios e lagos. O texto aborda as várias etapas que com-

põem a ciência da observação e valoriza a ética como forma de

evitar a destruição das populações de animais silvestres.

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OBSERVAÇÃO DE FAUNA

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A anta é o maior mamífero brasileiro, vive até 35 anos, podendo atingir 2m decomprimento e pesar até 300 Kg. Tem hábitos noturnos, sua visão é fraca, mas aaudição e o olfato são muito apurados

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Desde os primórdios da humanidade, a observaçãode fauna é uma importante atividade, seja para aobtenção de alimento ou simplesmente pelo pra-zer de contemplar os animais. Durante milhares deanos, o ser humano foi um caçador. O instinto caça-dor ainda hoje está fortemente presente em nós.Basta verificar o grande número de caçadores epescadores existentes.

Essas atividades não são necessariamenteconflitantes com a conservação da natureza, desdeque sejam desenvolvidas em bases sustentáveis. Po-demos analisar o exemplo estadunidense, onde aindústria da caça e da pesca acompanhou a evolu-ção do movimento conservacionista, gerando caça-dores conscientes e recursos financeiros imensos –revertidos em boa parte para ações de proteção epesquisa da fauna. Para tanto, foi necessário inves-tir em pesquisa e criar sistemas de licenciamento efiscalização eficientes, além de trabalhar com aconsciência e a ética dos caçadores e pescadores,verdadeiros amantes da natureza que, hoje, sabemrespeitar as regras e os limites.

A maior parte do Brasil ainda não possui condi-ções adequadas para implantar um programa decaça controlada. A falta de conhecimento sobre afauna e a fragilidade do sistema de fiscalização emonitoramento ambiental não permitem um con-trole adequado das populações de animais silves-tres e da caça. A fim de deter a exploração descon-trolada da fauna silvestre no Brasil, em 1967, a caçafoi proibida em todo o território nacional (Lei deProteção à Fauna no 5.197), sendo considerada cri-me inafiançável. No entanto, “a exploração da faunaterrestre e aquática para subsistência tem papel fun-damental na manutenção de comunidades huma-nas em locais isolados” (Lourival & Fonseca, 1997).

Recentemente, a fauna silvestre passou a ter umoutro valor econômico, o de atrativo turístico. Em vir-tude do crescimento da degradação ambiental emtodo o planeta, muitos passaram a caçar animais ape-nas com binóculos, filmadoras e máquinas fotográfi-cas. Conhecer os animais e seus hábitos é uma ativi-dade estimulante e intrigante. Com o fortalecimentodo movimento ambientalista, um número crescentede estudiosos e amantes da natureza passou a seinteressar pela fauna silvestre. O ecoturista, experi-ente ou iniciante, aprecia a observação de fauna deuma maneira geral, particularmente quando obtémmaiores informações sobre os animais observados.

No século passado, desenvolveram-se no conti-nente africano os safáris de caça – que, com o tempo,se transformaram em safáris fotográficos. Os gran-des mamíferos africanos ganharam fama mundial, emilhares de turistas vão anualmente à África paraver esses animais. Em nenhum ou-tro lugar do planeta avistam-segrandes mamíferos com tanta fa-cilidade, mas outros grupos de ani-mais se destacam em diferentespaisagens e também se tornaramgrandes atrativos.

Em países com mais tradiçãona conservação da natureza, comoEstados Unidos, Canadá, Inglater-ra, França e Alemanha, existem mi-lhares de observadores de aves queanualmente elaboram listas parti-culares de espécies avistadas. Essesegmento é um importante públi-co para o ecoturismo, particular-mente para países tropicais de gran-de biodiversidade como o Brasil.

Pequenos e importantes

Uma das melhores regiões para a observação defauna no Brasil é o Pantanal, especialmente naépoca da seca quando os animais se concentramnas margens dos rios e lagos. Todos os ecossiste-mas ou biomas brasileiros possuem faunariquíssima, mas, para uma exploração turística, épreciso saber valorizar os grupos mais abundan-tes e evidentes como os insetos, as aves e os rép-teis. Os mamíferos de grande e médio porte sãode difícil observação no Brasil, seja pela escassez,pelo comportamento arisco, pelos hábitos notur-nos ou pela vegetação fechada.

A observação direta desses animais requer lo-cais bem preservados, além de habilidades e equi-pamentos específicos. Os mamíferos mais comumen-te avistados no Brasil são alguns primatas, alguns

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roedores (capivara, cutia e ouriço) e os morcegos.Aqueles que pretendem promover a observação defauna devem inicialmente aprender sobre os ani-mais mais evidentes, a fim de valorizar esse impor-tante atrativo ecoturístico. A observação de ani-mais raros ou endêmicos (que só existem em locaisrestritos) é uma atividade que valoriza qualquerproduto ecoturístico, no entanto requer mais co-nhecimento e responsabilidade.

Ciência da observação

a. Ética

Para que o turismo não colabore com a destruiçãodas populações de animais silvestres é preciso éti-ca na sua observação. Ética se refere a uma condu-ta ou postura correta do ser humano.

É fundamental ter respeito pelos animais quese pretende observar, evitando perturbá-los. Umanimal sensível pode abandonar seu ninho e, atémesmo, deixar de freqüentar um local, caso se sin-ta ameaçado pela presença do homem. Ninhos efilhotes nunca devem ser tocados ou perturbados.Não se deve aproximar demais dos animais nemprovocar uma revoada apenas para conseguir umafotografia. Isso seria antiético e contra os princí-pios do ecoturismo.

b. Ambientes e horários

Para se obter sucesso na observação de animais éimportante compreender que existem horários e lo-cais adequados para essa atividade. Alguns animais,como a maioria das aves, são mais ativos no início eno fim do dia; outros, como a maioria dos répteis,são mais ativos nos horários mais quentes; já os ma-míferos são mais ativos no crepúsculo e à noite.

Alguns animais só são encontrados nas matas,outros nos campos e muitos são encontrados na tran-sição de ambientes diferentes (ecótono). Quantomais opções de ambientes e horários diferentes,maior será a quantidade de espécies possíveis deserem observadas.

De maneira geral, devemos procurar os ani-mais em locais de alimentação, abrigo e reprodu-ção. Flores e frutos são atrativos importantes paraa fauna, e o conhecimento de plantas que estãoflorescendo ou frutificando será de grande valiana detecção de animais silvestres. Fontes de águatambém são locais muito visitados pelos animais,especialmente na época da seca.

c. Observação direta

A melhor maneira de se observar a fauna é a direta,isto é, utilizando nossa visão, audição e olfato paradetectar e apreciar os animais. Para facilitar e me-lhorar a visualização, é importante o uso de binócu-los. Hoje, é fácil obter modelos leves e possantes apreços razoáveis. Uma lupa também é útil no campopara observar pequenos animais, como os insetos.

A visualização pode ser diurna ou noturna. Dedia, é importante o uso de roupas discretas e até ouso de esconderijos para conseguir uma aproximaçãomaior dos animais. Esses esconderijos ou blinds po-dem ser pré-fabricados ou improvisados com panos,plásticos, galhos e folhas. Devem-se evitar cheiros for-tes (perfume, sabonete, repelente e combustível) paranão espantar os animais que se pretende observar, par-ticularmente os mamíferos. Cheiro forte pode tam-bém provocar ataques de abelhas e vespas. Uma es-tratégia utilizada para se aproximar de animais quepossuem bom olfato é caminhar contra o vento, evi-tando que percebam a presença humana a distância.

Outro detalhe importante é evitar conversa e ba-rulho, pois a maioria dos animais possui ótima audi-ção. Muitos animais detectam a presença de outro pelomovimento. Deve-se caminhar lentamente, especial-mente na aproximação de algum animal, e evitar mo-vimentos bruscos. Sendo detectado pelo animal, deve-se ficar imóvel até que ele prossiga na sua atividade.

d. Audição e olfato

Além da visão, deve-se procurar aprimorar outrossentidos que podem auxiliar na detecção de animais.Animais territoriais costumam marcar seu territóriocom excrementos, urina ou secreções que podemser detectados e até identificados pelo olfato. O usoda audição é muito importante, pois o simples esta-lo de um graveto pode nos revelar a localização deum animal. No caso das aves, o conhecimento de seuscantos é um dos principais trunfos utilizados porornitólogos e observadores de aves para localizar e

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identificar as diferentes espécies. Outros animaistambém emitem vocalizações para se comunicar. Porexemplo, onças-pintadas e lobos guarás podem serdetectados por seus urros.

Geralmente essas vocalizações são mais freqüen-tes na época de acasalamento. Algumas vocalizaçõespodem confundir e até assustar uma pessoa inexpe-riente, como no caso do bugio, um macaco que emi-te um urro tão forte que parece mesmo uma fera.

e. Transportes

A melhor maneira de se observar a fauna é a pé,particularmente nas trilhas. No entanto, existem si-tuações em que um meio de transporte pode facili-tar a visualização de animais.

A utilização de embarcações, especialmente assilenciosas canoas, permite a exploração de ambi-entes ribeirinhos onde a fauna costuma se concen-trar. Em ambientes abertos, o uso de cavalos podefacilitar a localização de animais silvestres que jáestão acostumados com a presença de eqüinos ebovinos. A maior altura do cavalo melhora o campode visão, além de despreocupar a pessoa quanto aochão em que está pisando.

Em locais abertos, cortados por estradas, a uti-lização de veículos motorizados pode ser uma boaopção, permitindo percorrer grandes distâncias. Ge-ralmente, esses veículos possuem assentos fixadosem carroceria aberta lateralmente e com coberturapara proteger do sol ou chuva.

f. Torres e passarelas

Algumas estruturas podem facilitar a observação deanimais silvestres, permitindo a aproximação a lo-cais de difícil acesso. Torres, passarelas suspensas eequipamentos de escalada permitem a observação

das copas das árvores, onde se concentra grandeparte da atividade animal nas florestas. Passarelasou decks permitem o acesso a locais alagadiços,como mangues, veredas, igapós e florestas inunda-das. Essas estruturas podem revelar toda a beleza eriqueza desses ambientes, valorizando-os como atra-tivos turísticos. No entanto, o planejamento e a ins-talação desses equipamentos deve ser feita por pes-soal qualificado, garantindo segurança e evitandograndes impactos. Atenção especial precisa ser dadaaos materiais utilizados e às dimensões dos equipa-mentos, a fim de evitar a poluição visual de estrutu-ras artificiais e fora de proporções.

g. Observação noturna

Alguns animais possuem olhos adaptados para a vi-são noturna e, por causa da sua constituição, refle-tem a luz. Esse fator permite uma localização rápi-da e eficaz. Com o uso de uma lanterna possanteou de um farol manual conhecido como cilibim,pode-se localizar com relativa facilidade jacarés,capivaras, veados, raposas, lobos guarás, além deaves noturnas, como corujas e curiangos.

Recomenda-se utilizar filtro vermelho no cilibime evitar barulho para diminuir a perturbação aosanimais. A utilização desse equipamento é mais efi-caz embarcado, a cavalo ou em carroceria de cami-nhonete. Deve-se mover o facho de luz lentamentepara todos os lados a procura de pequenos pontosbrilhantes, reflexos dos olhos. Uma vez detectados,utilizam-se binóculos para visualizar o animal. Comalguma experiência, aprende-se a distinguir os ani-mais pelas características do reflexo dos olhos (cor,altura e espaçamento). Um olho geralmente repre-senta uma ave olhando de lado. Olhos grandes ealtos geralmente são de veados ou lobos guarás.

h. Observação indireta

Os animais deixam diversos sinais diferentes: rastros,excrementos, pêlos, escamas, fuçados, arranhões,tocas, camas, ninhos e restos alimentares. Com aprática, aprende-se onde e quando procurar poresses vestígios. A identificação do animal e a leiturado que pode ter ocorrido a partir dos sinais encon-trados já é uma tarefa mais difícil. Para isso, é mui-to importante o uso de guias de identificação desinais, os quais infelizmente são escassos no Brasil.Becker e Dalponti (1991) elaboraram o guia Rastrosde mamíferos silvestres brasileiros.

Na Europa e na América do Norte, existem diver-sos guias de campo de excelente qualidade, uma dasséries mais conhecidas é a The Peterson field guideseries. Devem-se fazer coleções locais de pêlos,excrementos e moldes de pegadas para que sirvam dematerial de referência para estudos e exposições.

As amostras coletadas precisam ser etiqueta-das com informações sobre procedência, data ecoletor. Pêlos e excrementos têm de ser secos eguardados com naftalina para evitar o apodreci-mento. Trata-se de um trabalho lento, porém bas-tante útil para aqueles que pretendem se aprofun-dar na arte de identificação de sinais.

A procura

Procure inicialmente por trilhas de animais, onde avegetação foi pisoteada, ou na beira de rios ecórregos. São bons locais para se encontrar rastrose excrementos. Procure também em trilhas de gadoou ainda em estradas de terra. Solos macios comolama ou fofos, como pó de terra ou areia fina, sãomelhores para encontrar rastos. Solos duros, comoterra batida e areia grossa molhada, dificilmente

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registrarão pegadas. Pêlos podem ser encontradosem cercas de arame farpado, fuçados e camas, lo-cais amassados na vegetação.

Dê especial atenção às encruzilhadas e passa-gens naturais (travessia de córregos, desfiladeiros,matas de galeria etc.). Procure principalmente emlocais onde sejam prováveis fontes de água e ali-mento, por exemplo embaixo de plantas que este-jam florescendo ou frutificando.

Pela manhã bem cedo (orvalho) ou após uma chu-va são os melhores horários para procurar rastros. Osolo úmido favorece a impressão de pegadas e a vege-tação molhada revela trilhas recém-percorridas.

Atração de animais silvestres

Existem diversas técnicas para atrair animais. Umimitador experiente ou o uso de apitos e gravaçõespode obter resposta e confirmar a presença de ani-mais. Sagüis ou micos, por exemplo, podem ser facil-mente atraídos pela imitação de seu chamado: umlongo e agudo assobio. Uma das maneiras mais uti-lizadas para atrair animais é a ceva com alimentosvariados colocados em comedouros.

Essa prática, com certeza, trará resultados acurto prazo. Porém, os animais podem ficar de-pendentes da nova fonte de alimento, mudando

de comportamento e até aumentan-do a população. Se, por algum moti-vo, o alimento não estiver mais dis-ponível, pode causar desnutrição emorte de animais. As cevas tambémpodem ser fontes de contaminaçãoe doenças.

É bastante conhecido o caso dobebedor de beija-flor que costuma cri-ar fungos que podem matar essasaves. Recomenda-se, portanto, o en-riquecimento de ambientes por meiodo cultivo de plantas nativas produ-toras de néctar, frutos e sementes.Para tanto, é necessário estudar oshábitos alimentares da fauna que sedeseja atrair e, então, partir para umprograma de adensamento das espé-cies mais apreciadas.

Em locais ou épocas secas, a ins-talação de um chafariz ou uma pe-quena banheira será um grande atra-tivo para os animais, particularmen-

te para as aves. A limpeza freqüente desses locaisé fundamental para evitar contaminações e doen-ças. Outra forma de atrair animais é a instalaçãode abrigos, poleiros e suportes para ninhos.

Em ambientes perturbados, existe uma carên-cia de bons locais de abrigo e nidificação. Em al-guns casos, existe até carência de poleiros, e a insta-lação desses em áreas desmatadas poderá favore-cer o retorno de gaviões para o local.

Manejo e criação

Essas são atividades potencialmente importantespara o Brasil, sob os aspectos econômico, ambientale social. O manejo pode recuperar as populações deanimais silvestres, por meio de monitoramento, pro-teção e recuperação das populações e do enriqueci-mento de hábitat. É baseado em estudos da biolo-gia das populações animais e do manejo da caça, afim de determinar formas e controle da produtivi-dade das populações animais.

Paralelamente, os projetos de criação podem ali-viar as pressões sobre as populações silvestres e geraremprego e renda por meio da produção e comerciali-zação de uma série de produtos de alto valor comerci-al: carne, peles, penas, óleos e animais de estimação.

Sob o aspecto ambiental, uma parcela dos ani-mais criados pode e deve ser destinada a progra-mas de reintrodução para a recuperação das po-pulações silvestres. A exemplo de outros países,como os Estados Unidos, essas atividades podemalavancar a indústria da gastronomia, do ecoturis-mo, da caça e da pesca.

O aproveitamento sustentável dos recursosanimais é parte da definição de manejo de vida sil-vestre (Pádua & Bodmer, 1997).

Pela manhã, bem cedo ou após uma chuva são os melhores horários paraprocurar rastros

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O que observar

a. Biodiversidade

A diversidade de seres vivos é, hoje, um dos te-mas de maior importância para ambientalistas eecoturistas. Trata-se da variedade de genótipos,espécies, populações, comunidades, ecossistemas,e processos ecológicos existentes em uma deter-minada região. O Brasil é o país de maior mega-diversidade do planeta.

A diversidade brasileira é a maior entre to-das em plantas superiores, peixes de água doce emamíferos; a segunda em anfíbios; a terceira emaves; e a quinta em répteis. São 55 mil espéciesde vegetais ou 22% do total do planeta; 524 ma-míferos (dos quais 131 endêmicos); 517 anfíbios(294 endêmicos); 1.622 aves (191 endêmicas); e 468répteis (172 endêmicos) – além de 3 mil espéciesde peixes de água doce e entre 10 milhões e 15milhões de insetos (MMA, 1998).

A enorme biodiversidade brasileira é um atra-tivo ecoturístico ainda não explorado adequada-mente. A maioria dos brasileiros, incluindo opera-dores turísticos, conhece pouco sobre a nossa faunae, por isso, não sabe identificá-la e valorizá-la.

b. Nomenclatura

Existe uma grande confusão quando vamos nome-ar algum animal. Nomes comuns ou vulgares sãoutilizados pela população em geral. Nomes científi-cos são utilizados por pesquisadores e estudiosos.

Uma mesma espécie possui diferentes nomescomuns, dependendo da região (por exemplo,mico, sagüi e soim são nomes diferentes para umúnico primata). E, às vezes, um único nome comumé utilizado para espécies diferentes. Para agravar

a situação, cada língua possuidiferentes nomes comuns quenormalmente não têm nenhumarelação com os nomes comuns origi-nais. Para acabar com essa confusãoe facilitar a comunicação entre estudi-osos, criou-se o nome científico.

Essa nomenclatura faz parte de umsistema universal de classificação queagrupa os seres vivos em diferentes ní-veis de parentesco: reino, filo, classe, or-dem, família, gênero e espécie. O loboguará, por exemplo, pertence ao rei-no Animal, filo Cordado (subfilo Ver-tebrado), classe Mamífero, ordemCarnívora, família Canidae, gêneroChrysocyon e espécie brachyurus. Onome científico é composto pelos dois últi-mos (nesse caso, Chrysocyon brachyurus). O ramoda biologia que estuda a classificação dos seres vi-vos é a taxonomia.

c. Relações intra-específicas entre a mesma espécie

Essas relações podem ser harmônicas (cooperação)ou desarmônicas (competição). A cooperação équando todos se beneficiam da relação, por exem-plo, os animais que vivem em grupos para aumen-tar a segurança ou melhorar as chances de captu-ras. Os melhores exemplos de cooperação são associedades de formigas, cupins e abelhas. A com-petição ocorre quando existe disputa por alimen-to, espaço ou parceiro.

Um bom exemplo de competição pode ser encon-trado nos comportamentos de delimitação de territóri-os, presentes em muitas espécies de aves e mamíferos.

d. Relações interespecíficasentre espécies diferentes

Essas relações podem ser harmônicas (mutualismoe comensalismo) ou desarmônicas (competição,predatismo e parasitismo). No mutualismo, ambasas partes obtêm benefícios com a associação. Umbom exemplo é o caso do cupim e do protozoárioque habita seu intestino e digere a celulose.

Outro exemplo importante são os liquens – for-mados pelas associações entre algas e fungos. Osfungos retêm e fornecem umidade, enquanto asalgas produzem excessos de matéria orgânica pormeio da fotossíntese. Já no comensalismo, apenasuma das partes obtém benefícios. Por exemplo, asplantas epífitas (bromélias e orquídeas) crescem so-bre outras plantas maiores sem prejudicá-las.

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A competição entre espécies diferentes ocorrequando há disputa por alimento ou espaço. O preda-tismo ocorre quando uma das partes mata a outra parase alimentar. Trata-se de um importante fator deregulação das populações de predadores e presas.

Finalmente, no parasitismo uma das partes sebeneficia, enquanto a outra é prejudicada na rela-ção. É o caso dos carrapatos e dos vermes que sealimentam de seus hospedeiros, sem necessariamen-te matá-los, mas causando prejuízo a sua saúde.

e. Relações entre animais e vegetais

As plantas produzem alimento para os animais.Raízes, troncos, galhos, folhas, frutos, sementes,seiva, pólen e néctar constituem a base da alimen-tação de muitos animais.

Os animais, por sua vez, desempenham papelfundamental na reprodução e distribuição da maio-ria das plantas. A polinização de muitas flores de-pende da ação de insetos (principalmente abelhas),aves (particularmente beija-flores) e até morcegos.

Uma vez polinizada, a flor fecundada se transformaem fruto e semente, que, por sua vez, serão consu-midos por muitos animais. Nesse processo, os ani-mais transportam as sementes para outras áreas,dispersando ou espalhando os descendentes das plan-tas originais. Portanto, a extinção de animais podecausar o desaparecimento de plantas que depen-dam deles para sua reprodução e dispersão.

f. Cadeia alimentar

Os vegetais são organismos produtores: transformamenergia solar em matéria orgânica por meio da fotos-síntese. Os animais são consumidores, obtendo suaenergia pela ingestão de plantas e de outros animais.Os fungos e bactérias são os principais decompositores,organismos que decompõem a matéria orgânica.

g. Dieta

• Herbívoros: alimentam-se de ervas.

• Carnívoros: alimentam-se de outros animais.

• Frugívoros: alimentam-se de frutas.

• Insetívoros: alimentam-se de insetos.

• Onívoros: possuem alimentação variada.

h. Horários de atividade

Animais mais ativos durante o dia são diurnos, os maisativos à noite são noturnos, e aqueles mais ativos noamanhecer e no entardecer são crepusculares.

i. Modos de vida

• Terrestres: vivem em terreno seco, andam no chão.

• Aquáticos: vivem dentro d’água.

• Semi-aquático: passam boa parte da vida naágua, mas também saem dela.

• Arborícolas: vivem nas árvores.

• Volantes: animais voadores.

j. Reprodução

• Vivíparos: são os animais que parem filhos.

• Ovíparos: são aqueles que botam ovos.

• Ovovivíparos: são os animais cujos ovos se de-senvolvem e eclodem dentro das mães.

A maioria dos animais possui época de repro-dução relacionada à estação climática. Locais de re-produção costumam ser ótimos para observar ani-mais. No entanto, devemos ficar atentos para evi-tar excesso de pessoas, barulho e aproximação ex-cessiva. O abandono de ninhos e filhotes é um sérioimpacto que pode ser causado pelo turismo irres-ponsável. Além disso, alguns animais ficam agressi-vos quando estão procriando. Portanto, deve-semanter distância para evitar acidentes.

k. Migração

Trata-se da movimentação de animais de uma re-gião para outra, geralmente por motivo climáti-co ou alimentar. Espécies migratórias estão pre-sentes somente em determinadas épocas, aumen-tando o índice de biodiversidade local. As migra-ções são particularmente comuns nas aves, nor-malmente relacionadas ao ciclo reprodutivo. NoBrasil, recebemos diversas espécies no início daestação das chuvas, quando a abundância de in-setos e frutos serve de alimento para as novasgerações de aves.

l. Preferências de hábitats

Cada espécie possui preferência por determinadohábitat ou ambiente.

• Silvícolas: vivem nas matas.

• Campestres: preferem campos.

A ariranha é uma espécie de lontra, distinguindo-se destapelo porte maior. Pode atingir até 2,20 metros decomprimento. As fêmeas, de menor porte, chegam a pesar26 kg, enquanto os machos 34 kg

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Existem ainda os animais que exploram dife-rentes ambientes, aumentando sua oferta de ali-mento e abrigo. A fim de localizar animais, é pre-ciso conhecer suas preferências para otimizar oesforço de procura.

m. Sucessão ecológica

É a evolução das comunidades biológicas ao longodo tempo, resultando em uma comunidade estável.A sucessão inicia com as espécies pioneiras, evoluicom a chegada de espécies secundárias e terminaquando a comunidade clímax é formada. Com opassar do tempo, a sucessão ecológica caracteriza-se pelo aumento do número de tipos de organis-mos, da biomassa, da diversidade de espécies e daestabilidade das comunidades.

As espécies pioneiras ou “colonizadoras” são asprimeiras a ocupar uma área perturbada, suportamcondições adversas (solo pobre e sol forte) e possu-em crescimento acelerado.

As espécies secundárias necessitam de melho-res condições para se desenvolver, possuem de-senvolvimento mais lento, porém maior que as pi-oneiras. As espécies tardias ou “clímax” são as úl-timas a se estabelecerem, necessitam de condiçõesótimas para se desenvolverem, geralmente pos-suem desenvolvimento lento, porém têm um lon-go ciclo de vida.

n. Espécies típicas

São comuns e caracterizam a fauna de determi-nado local.

o. Espécies endêmicas

São exclusivas de determinado local, não ocorremem outros lugares. Devem ter atenção especial porserem geralmente raras.

p. Espécies ameaçadas

São aquelas que correm risco de extinção.

q. Extinção

Infelizmente, o potencial de observação de animaisno Brasil vem declinando rapidamente em virtudeda diminuição das populações silvestres. Osambientalistas têm focalizado sua atenção sobre amá conservação da natureza nos trópicos, lamentan-do a perda da cobertura vegetal, utilizando a vege-tação como o conjunto de espécies. No entanto, apresença de árvores não garante a presença da fauna.

Kent Redford, no artigo “A floresta vazia”(1997), alerta sobre o desaparecimento da fauna emáreas aparentemente bem preservadas. Além dos

desmatamentos e a perda completa de hábitat, asatividades humanas, como caça e comércio de ani-mais, têm causado a drástica diminuição das popu-lações de animais silvestres. A preservação da vege-tação dos ecossistemas tropicais, a longo prazo, nãoserá possível se a sua fauna não for preservada.

Existem vários tipos de extinção: global, locale ecológica. A primeira, obviamente, é a mais gra-ve por ser absoluta e irreversível. A segunda, aextinção local, nos indica o desaparecimento de de-terminada espécie numa região. A terceira, aextinção ecológica, costuma ser desprezada, masseus efeitos são desastrosos. Extinção ecológica édefinida como “a redução de uma espécie a níveltão baixo que, embora continue presente na co-munidade, ela não mais interage significativamen-te com outras espécies” (Estes et al., 1989).

Devemos lembrar, por exemplo, da importân-cia dos animais predadores para o equilíbrio ecoló-gico. Eles ajudam a conter os níveis populacionaisde suas presas e colaboram no processo de seleçãonatural. A extinção de animais pode causar o desa-parecimento de plantas que dependem desses ani-mais para os processos de polinização e dispersão.

Veja nos Anexos I e II resumo dos principais pro-blemas que estão afetando a fauna brasileira e re-comendações para melhor protegê-la.

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Equipamentos

Roupas adequadas: confortáveis, discretas, mangascompridas, capa de chuva, chapéu, botas, pernei-ras, lupa, pinça, binóculos, cilibim, máquina foto-gráfica, filmadora, apitos, kit para moldes de ras-tos, régua, bloco de anotações, lápis, sacos plásticospara coletar pêlos e excrementos, placa de acrílicoe caneta à prova d’água para copiar pegadas, guiasde identificação, repelente, água e alimentos leves.

Cuidado com acidentes

Existem algumas regras básicas para evitar aci-dentes com animais silvestres. Primeiramente, ouso de vestimentas e calçados adequados. Calçae mangas de camisa compridas podem evitar amaioria das picadas de insetos, principalmentedas muitas espécies de moscas e mosquitos(pernilongo, borrachudo, mutuca, pólvora oumaruim etc.). Para evitar acidentes, deve-se olharbem antes de colocar a mão na vegetação, cutu-car e mover objetos antes de apanhá-los no chãoe não colocar a mão dentro de buracos ou em-baixo de troncos caídos. O uso de repelentes tam-bém pode ser recomendado em locais com mui-tos mosquitos. Porém, seu odor pode espantaranimais ariscos que se pretende observar, princi-palmente mamíferos.

Veja adiante como preparar um repelente na-tural. Outros insetos que podem causar um enve-nenamento são taturanas (lagartas de fogo), ves-pas, algumas abelhas e formigas. Outros artrópodesque possuem veneno são aranhas, escorpiões e la-craias. Acidentes com esses animais são mais raros,porém mais graves.

Um animal bastante irritante e que pode acabarcom uma expedição são os carrapatos, particularmen-te os pequenos micuins. Esses aracnídeos (parentes dearanhas) ficam na vegetação à espera de um hospe-deiro. Os micuins são mais abundantes na época daseca e em locais onde existem cavalos. Como são mui-tos pequenos, é difícil de serem detectados e catados.Costumam causar muitas picadas, especialmente se avítima for dormir sem remover todos os carrapatos.Existe nas farmácias um sabonete-repelente (Escabim)que retira os carrapatos com eficiência, ou até mesmosabonete para cachorro serve. Em locais onde não exis-te trilha limpa – isto é, caminha-se sem ver o solo –,recomenda-se o uso de botas de cano alto ou pernei-ras de couro para evitar picadas de cobra.

É importante notar que a maioria dos aciden-tes com cobras acontece ao pisar no animal ou mui-to próximo dele. Como muitas cobras possuem co-loração camuflada, é comum não detectar sua pre-sença. Em caso de picada, deve-se levar a vítimaimediatamente a um hospital para tomar soro. Aaplicação do soro precisa ser feita por pessoal qua-lificado, pois pode causar reação alérgica. Em rioscom leitos arenosos, existe o risco de se pisar noesporão de uma arraia. No mar, é relativamentecomum acidentes com água-viva e caravela.

Conheça no capítulo de primeiros-socorrosmais detalhes sobre o que fazer em caso de aci-dentes com animais.

Para aliviar a dor e a coceira das picadas, uti-lizam-se vários produtos: gelo ou água gelada, sa-bão, cebola, Vick, xilocaína e anti-histamínicos(prometazina – creme Fenergan). Os dois últimospodem causar reações e devem ser evitados. Emcaso de choque anafilático, quando a vítima podesufocar, deve-se levá-la imediatamente a um hos-pital para aplicação de adrenalina. Em locais re-motos recomenda-se o treinamento de pessoal(paramédicos, enfermeiros ou socorristas) paraaplicação de adrenalina.

Repelentes naturais

Um bom repelente natural pode ser fabricado comcapim-cidreira, citronela ou capim-limão. A citronela,substância que repele insetos, pode ser extraída deduas formas. Uma delas constitui em colocar folhaspicadas num vidro com álcool por alguns dias. Essemétodo fornece o extrato alcoólico que pode ser uti-lizado na pele, porém tinge a pele e a roupa com umacoloração verde. O uso do álcool também pode resse-car a pele e causar irritações em algumas pessoas. Amelhor forma, portanto, é aquecer as folhas dentrode óleo mineral em banho-maria por alguns minutos.O óleo absorve a citronela e não agride a pele. Osíndios brasileiros costumam passar óleo vegetal(babaçu, pequi, urucum) na pele para evitar picadasde insetos. No entanto, o tingimento nesses casos éainda mais intenso.

Moldes de pegadas

A maneira mais fácil de fazer moldes é com o usode uma placa de vidro ou acrílico e uma caneta àprova d’água. Basta colocar a placa de vidro sobre a

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pegada e copiá-la, depois se faz uma fotocópia domaterial. No entanto, a maneira mais interessantee precisa de se fazer um molde de pegada é com ouso de gesso em pó. Basta levar para o campo: 1litro de água, 1 quilo de gesso, um pequeno recipi-ente e algumas tiras plásticas que podem ser re-cortadas de vasilhames tipo PET.

Ao encontrar uma pegada, deve-se remover ciscose gravetos, circundar a pegada com as tiras plásticas,dissolver um pouco do gesso na água e derramar amistura. É preciso colocar alguns gravetos dentro domolde, enquanto o gesso estiver molhado, para au-mentar a sua resistência. Após alguns minutos, o mol-de negativo da pegada estará pronto. Turistas e estu-dantes adoram ver o resultado. Deve-se, então, iden-tificar o molde, etiquetá-lo e embrulhá-lo em papelamassado para evitar choques. Pode-se fazer o moldepositivo a partir do negativo. Nesse caso, recomenda-se untar o molde negativo com óleo e utilizar parafi-na derretida para fazer o molde positivo.

Armadilha fotográfica

Trata-se de equipamento mui-to interessante para se verificarquais animais estão presentesnuma área. Existem no merca-do externo equipamentos sofis-ticados que possuem sensorcom raios infravermelhos. Pode-se também montar um equipa-mento caseiro: basta uma câma-ra fotográfica, de preferência dotipo Polaróide. O flash deve ser de magnésio (aqueleem cubos, descartável, que explode e queima), poisnão precisa de pilha nem ficar ligado.

Além da máquina, necessita-se de um tripé, umaargola pequena, um pedaço de 30 centímetros dearame duro e um pedaço de linha. Com o arame,fabrica-se uma pequena alavanca que apertará obotão da máquina. Fixe-a no tripé ou apoio seme-lhante. Amarre uma extremidade da linha na ala-vanca, passe-a na argola instalada no tripé e a outraextremidade numa árvore ou estaca do outro ladoda trilha ou próximo a um local de alimentação oufonte d’água. Quando o animal tropeçar na linha, aalavanca será puxada para baixo e o botão da máqui-na, disparado. No início pode parecer difícil, mas coma prática é possível conseguir bons resultados. Turis-tas adoram ver as fotos no dia seguinte.

Indicadores

a. Listas

Listas mensais e anuais de espécies podem fornecerinformações sobre o aumento ou diminuição do nú-mero de espécies, extinções e migrações. Registros deavistamentos, atropelamentos e sinais encontradosdevem ser feito em fichas com mapas, anotando-se:coletor, data, local, ambiente, horário, clima, ativida-de, nidificação. É importante também fornecer aosturistas a oportunidade de registrar seus avistamentos.É muito interessante e útil fazer coleções de moldesde rastros, excrementos, pêlos, peles e ossos. Além defornecer dados importantes para estudos, esses mate-riais podem ser expostos aos turistas.

b. Atropelamentos

A quantidade de animais atropelados em rodoviaspode ser um bom indicador da abundância de ani-mais silvestres. A coleta desses animais e o registro

dos atropelamentos podem fornecer boa base dedados para estudos da fauna. Um dos resultadosque pode e deve ser revertido em benefício dafauna é a localização de corredores – locais demaior índice de atropelamento e que devem rece-ber equipamentos (placas, redutores de velocida-de e túneis) para diminuir o impacto.

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Problemas que afetama fauna brasileira

1. Perda de hábitat e fragmentação causadaspor desmatamentos.

2. Ocupação agrícola acelerada e desordenada.

3. Existência de poucas áreas protegidas (unida-des de conservação).

4. Falta de conhecimento científico sobre as po-pulações de animais silvestres.

5. Manejo inadequado do fogo (alta freqüên-cia, época imprópria e queima de paisagenssensíveis, principalmente as matas e os ambi-entes rupestres).

6. Perda de hábitat de matas secas por exploração decalcário utilizado na fabricação de cimento e na cor-reção do pH. de solos ácidos para a agricultura.

7. Perda de hábitat dos ambientes rupestres pelaextração de afloramentos rochosos, utilizadosem projetos de paisagismos.

8. Perda de hábitat pela construção de barragens(inundação de grandes áreas).

9. Fragmentação de hábitat e atropelamentospela construção de estradas.

10. Falta de sinalização adequada, redutores develocidade e túneis de travessia nas estradaspara evitar atropelamentos.

11. Especulação imobiliária, ocupação desordena-da, invasão de áreas de preservação.

12. Contaminação por pesticidas.

13. Introdução de espécies exógenas (gato, cachor-ro, gato, capins africanos).

14. Caça ilegal e descontrolada.

15. Captura e comércio ilegal de animais vivos.

16.Impactos do turismo (especulação imobiliá-ria, pisoteio, coletas de plantas, poluição so-nora e lixo).

Como proteger a fauna

1. Dar incentivos fiscais aos proprietários ruraisque seguirem a legislação ambiental – Áreasde Preservação Permanente (APPs), ReservaLegal (Resp. Legal) – e dar um selo de qualida-de ambiental aos seus produtos.

2. Estimular a criação de RPPNs.

3. Adotar o Imposto sobre Circulação de Mer-cadorias e Serviços (ICMS) ecológico em âm-bito estadual.

4. Fomentar a pesquisa científica (priorizar estu-dos sobre populações, ecologia e manejo deespécies nativas com potencial econômico).

5. Incrementar a fiscalização (aumentar quadrode fiscais do Ibama, das agências ambientaisdos estados e municípios e/ou fazer parceri-as com outras forças policiais e mesmo asForças Armadas).

6. Criar sistema de monitoramento e controleambiental em âmbito municipal, por meio deimagens de satélite e levantamentos in locojunto com instituições e comunidades locais.

7. Fortalecer os Conselhos Estaduais e Municipaisde Defesa do Meio Ambiente (Condemas).

8. Multar proprietários que não respeitarem as APPs.

9. Produzir e disponibilizar material didático so-bre a fauna e a flora (diversidade, beleza, im-portância no equilíbrio ecológico e valor eco-nômico), como uma série de cartazes com ilus-trações e textos, para distribuir às escolas.

10. Iniciar estudo sobre a viabilidade da caça e dapesca esportivas controladas.

11. Fomentar a criação de animais silvestres para finscomerciais e para a reintrodução na natureza.

12.Criar programas de pesquisa, monitoramen-to e captura de animais domésticos em uni-dades de conservação (UCs) em parceria comsecretarias de saúde e/ou departamentos dezoonoses.

13. Implantar centros regionais de recepção e tria-gem de animais silvestres apreendidos pelaPolícia Florestal ou doados por particulares.

14.Estimular e monitorar a instalação de vivei-ros particulares de animais silvestres para re-ceber o excedente de zoológicos e dos cen-tros de triagem.

15. Instalar redutores de velocidade e sinalizaçãoalertando a travessia de animais silvestres, es-pecialmente nos trechos onde as estradas cor-tam os cursos d’água (corredores naturais defauna) e nas proximidades das UCs.

16.Proibir retirada, comercialização, geralmen-te para fins de paisagismo, de blocos de ro-chas soltos na superfície de ambientes rupes-tres, por serem abrigos para pequenos ani-mais e epífitas.

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17.Difundir técnicas de agricultura orgânica (cur-va de nível, compostagem, adubação verde,plantio direto) visando à diminuição de ferti-lizantes e pesticidas.

18. Rever exigências de utilização de fertilizantes epesticidas no seguro de quebra de safra nos fi-nanciamentos de projetos agrícolas.

19. Rever incentivos dados para grandes projetos demonoculturas, particularmente em áreas virgens.

20. Exigir a preservação de faixas contíguas de paisa-gens naturais, além das áreas de preservação per-manente nos grandes projetos de monoculturas.

21. Estabelecer o tamanho máximo de talhões outerreno para culturas, evitando o desmatamen-to completo de grandes áreas.

22. Desestimular a abertura de novas áreas paracultivo.

23.Incentivar a melhoria e utilização de áreas jáabertas.

24. Estimular o aproveitamento racional e susten-tável de produtos nativos (plantas frutíferas,medicinais e ornamentais).

25.Estimular a criação de grandes, médias e pe-quenas UCs.

26. Criar UCs em corredores naturais – serras e vales.

27.Criar UCs em regiões de solo bom e em matasmesofíticas.

28. Estimular atividades sustentáveis como o eco-turismo.

29.Criar mecanismo de controle – legislação ecertificação – para minimizar os impactos doturismo.

30. Estimular a comunidade a mover ações civispúblicas nas promotorias de justiça.

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• 36Manual MPE – Ecobrasil | Atividades na natureza | Observação da natureza | Observação de fauna, Rogério Dias

Biosfera: toda a região ao redor do globo terrestreque reúne condições para manter a vida.

Bioma: conjunto de ambientes naturais que com-partilha espécies e processos.

Biomassa: quantidade de matéria orgânica.

Meio ambiente: totalidade dos seres vivos e o lo-cal onde habitam, incluindo o conjunto de elemen-tos bióticos e abióticos que os cercam (vegetação,solo, ar, água, rochas).

População: organismos de uma mesma espécie quehabitam uma certa área.

Comunidade biológica: conjunto de popula-ções de espécies diferentes que compartilha omesmo território.

Condições ambientais: fatores físicos (relevo,altitude, latitude, temperatura, luminosidade,ventos, umidade) e químicos (composição mine-ral da água e do solo).

Ecologia: estudo das inter-relações entre os seresvivos e o ambiente físico.

Ecossistema: conjunto formado pela comunidadebiológica (componente biótico) e as condiçõesambientais (componente abiótico). Pode ser umaquário, um lago ou um oceano.

Fitofisionomia: aspecto da vegetação de um lu-gar, determinado tipo de vegetação, paisagem ouambiente natural.

Recursos naturais: tudo o que encontramos nanatureza e que potencialmente pode ser utilizado.Os recursos naturais podem ser renováveis (vegetale animal) e não-renováveis (mineral).

Uso sustentável 1 – Sistema Nacional de Unida-des de Conservação (Snuc): exploração do ambi-ente de maneira a garantir a perenidade dos recursosambientais renováveis e dos processos ecológicos,mantendo a biodiversidade e os demais atributos eco-lógicos, de forma social e economicamente viável.

Uso sustentável 2: utilização racional dos recur-sos naturais, de modo a se obter um bom rendi-mento, permitindo sua renovação e garantindo oequilíbrio ecológico.

Sociedade sustentável: aquela que permanecenos limites de capacidade de suporte do meio am-biente. Uma sociedade sustentável vive em harmo-nia, dentro dos seguintes princípios (MEC, 1997):

1. melhorar a qualidade de vida humana;

2. respeitar e cuidar da comunidade dos seres vivos;

3. conservar a vitalidade e a diversidade do planeta;

4. minimizar o esgotamento de recursos não-renováveis;

5. permanecer nos limites de capacidade de su-porte do planeta;

6. modificar atitudes e práticas pessoais;

7. permitir que as comunidades cuidem de seupróprio ambiente;

8. gerar estruturas regionais e nacionais para aintegração de desenvolvimento e conservação;

9. constituir alianças locais, regionais e globais.

Capacidade de suporte: quantidade máxima derecursos (folhas, frutos, flores, madeira ou ani-mais) que possam ser retirados ou produzidos demaneira que o ambiente consiga suportar, man-tendo sua capacidade de reprodução perpétua eo equilíbrio ecológico.

Necessidades vitais: os seres vivos necessitamde ar, água, alimento e abrigo (limpos ou puros)para sobreviver.

Equilíbrio ecológico: manutenção das relações ouprocessos entre seres vivos e fatores abióticos; ma-nutenção das populações em níveis ideais; manu-tenção ou até aumento da biodiversidade; e manu-tenção dos ciclos da água e dos nutrientes. O equilí-brio ecológico não é estático, e sim dinâmico.

Manejo ambiental: todo e qualquer procedimentoque visa conservar a biodiversidade e os ecossistemas.

Recuperação ambiental: restituição de um ecos-sistema ou de uma população silvestre degradada.

Recursos naturais renováveis: podem manterindefinidamente sua capacidade de produção,desde que adequadamente explorados (plantase animais, solo).

Recursos naturais não-renováveis: ao contrá-rio, esgotam-se depois de certo tempo de explora-ção (petróleo, pedras).

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Manual MPE – Ecobrasil | Atividades na natureza | Observação da natureza | Observação de fauna, Rogério Dias

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www.mpefunbio.org.br - Incentivamos a cópia, reprodução e divulgação do conteúdo. Favor mencionar a fonte.

O s observadores de aves representam o maior grupo de obser-

vação da vida silvestre do planeta. Neste texto, você vai receber

informações gerais e específicas para desenvolver a atividade de

maneira segura e sustentável. São abordados temas como: histó-

rico da observação de aves no Brasil e no mundo; materiais neces-

sários à realização da atividade; condições mercadológicas. O au-

tor enfatiza a interessante parceria entre o observador profissio-

nal e o amador. A atividade pode beneficiar economicamente as

comunidades locais/regionais.

OBSERVAÇÃO DE AVES

ROBERTO M. F. MOURÃO1.3

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O tuiuiú ou jabiru tem uma envergadura de 2,5 m quandoadulto. É considerada a ave símbolo do Pantanal. Nidificade agosto a setembro sobre árvores altas, como a piúva.O macho e a fêmea se revezam na incubação e noscuidados com os filhotes. É uma ave que realiza movi-mentos migratórios

Manual MPE – Ecobrasil | Atividades na natureza | Observação da natureza | Observação de aves, Roberto M. F. Mourão

Robe

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rão

O interesse de Charles Darwin pelas aves

era tão grande que, segundo dizem, certa

vez ele perguntou: “por que todos os

cavalheiros ingleses não se dedicam à

ornitologia?”2

1 JACQUEMOT, A; FILION, F. L. The economic significance of

birds in Canada. The Value of Birds Tech. Pub, n. 6. by A. W. e

F. L. Filion. International Council for Bird Preservation,

Cambridge, UK, 1987, p. 15-21.

2 BARNETT, Lincoln. The Wildlife Society. Bethesda, US, 1960, p.

207-210.

Observar aves é uma atividade que existe há bas-tante tempo. Antes do século XIV, o interesse porhistória natural, em especial pelas aves, tinha setornado popular na Inglaterra, chegando mais tar-de aos Estados Unidos. Na Inglaterra, o interesse pelaornitologia começou no fim do século XVIII, mas erauma atividade aristocrata, praticada por proprietá-rios rurais em suas terras. Durante anos, observaraves era uma atividade solitária.

Um livro que muito influenciou a atividade foiNatural History of Selborne, escrito e publicado em1789 por Gilbert White, religioso de Hampshire, In-glaterra. O autor foi pioneiro em escrever cuidado-sas notas de campo das suas observações de aves,

anotando e divulgando importantes marcas deidentificação. O objetivo de sua publicação era, emsuas próprias palavras, “uma humilde tentativa depromover uma investigação mais minuciosa em his-tória natural, na vida e na comunicação de animais”,e nisso ele foi extremamente bem-sucedido.

A era da observação organizada de aves nosEstados Unidos começou em 1873, quando a NuttallOrnithological Club – primeira organização estadu-nidense dedicada à observação e ao estudo de aves– foi criada em Boston por dois jovens ornitólogos:William Brewster e Henry Henshaw.1

Pioneirismo em viagens

Viagens organizadas para atender a interesses es-peciais (special interest travels) foram moda pormuito tempo na Europa: observação de flora efauna, visitas a castelos, museus, viagens gastronô-micas. Porém, a observação de aves teve seu iníciona década de 1940, nos Estados Unidos, quandoJohn Baker, então presidente da National AudubonSociety, ficou preocupado com o dilema de algumasespécies ameaçadas da Flórida (snail kites, sandhillcranes e crested caracaras).

Era difícil motivar a população para a proteçãodessas aves em virtude do impacto econômico dacaça aos patos selvagens para a hotelaria local, con-siderando que os observadores de aves naquelestempos ainda não eram representativos.

A National Audubon Society se movimentou nosentido de motivar a observação de tais espécies. Aidéia funcionou. Os hotéis às margens do LagoOkeechobee logo ficaram repletos de observadoresde aves que se inscreveram para excursões conduzidaspor guias especializados e guardas-parques.

Observação estadunidense

A atividade de observar aves nos Estados Unidospode ser dividida em quatro períodos:

1. quando Willian Brewster e seus colegas organi-zaram observações;

2. quando a National Audubon Society populari-zou a observação de aves e difundiu critériosde proteção para esses animais (na virada doséculo XX);

3. a partir da produção do guia de aves, iniciadoem 1934 por Roger Tory Peterson, fazendo comque o número de observadores subisse paramilhões; e

4. atualmente, quando a facilidade das comunica-ções e das viagens permite que observadoresde aves viajem ao redor do planeta à procurade aves interessantes e raras.

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Red-crowned cranes (Grus japonesis)

Principais indutores de fluxoPara considerarmos um destino confiável e de quali-dade para observação de aves, abaixo seguem osprincipais indutores de fluxos de observadores.

1. Aves interessantes (good birds)

2. Informações• Guias de campo;

• listas de aves atualizadas, contendo informa-ções sobre sazonalidade e diversidade doshábitats visitáveis;

• guias especializados, bilíngües, apoiados porguias locais (mateiros), capazes de identificaras aves comuns, endêmicas, especiais e raras.

3. Condições de acesso a hábitats

4. Infra-estrutura e facilidades

• Alimentos, bebidas, hospedagem etc;

• sanitários, abrigos sombreados e protegidos deinsetos etc.

5. Preços razoáveis (compatíveis com a qualidadedo destino)

Mercado crescente e promissor

Atualmente, os observadores de aves – birders oubirdwatchers – tornaram-se o maior grupo de obser-vadores da vida silvestre do planeta e é o grupo quemais cresce setorialmente no mundo. Trata-se de ati-vidade que se resume em “colecionar avistagem” deaves. Porém, em nenhuma das ciências relacionadascom a natureza, a linha que separa o amador do pro-fissional (ornitólogo) é tão tênue. Esse fato faz comque o guia ou tour leader seja uma peça fundamen-tal desse rentável segmento turístico.

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A observação e o reconhecimento das espécies de aves podem ser feitos emgrande parte pela simples visualização e escuta. O equipamento maisusado é o binóculo, permitindo observar a ave de perto, assim como suascaracterísticas: plumagem, forma do bico, pés etc

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Simultaneamente, o conhecimento das comu-nidades locais/regionais complementa os conheci-mentos do guia especialista, numa parceria profí-cua e necessária, gerando postos de trabalho emregiões remotas e carentes por alternativas eco-nômicas. O observador amador e o profissional,com freqüência, trocam informações e conheci-mento. É essa cumplicidade ou fraternidade cres-cente que faz com que os destinos ricos em diver-sidade de avifauna se tornem atrativos para ob-servadores amadores.

Observadores autênticos ou birders, como pre-ferem ser chamados, são bem conhecidos por su-portar qualquer sofrimento para “somar” mais umaave às suas listas de avistagem (conhecida comolifer, expressão originada das listas de avistagemem inglês, life list).

Segundo Hector Cevallos-Lascuráin, viagenspara observação de aves são vistas atualmente comoum segmento turístico bem definido, às vezes con-siderado ou confundido com ecoturismo, consistin-do em pessoas visitando áreas naturais poucoimpactadas ou degradadas com o objetivo de ob-servar e colecionar aves em seus hábitats originais.

A atividade, se adequadamente desenvolvida,além de fomentar benefícios econômicos significa-tivos para comunidades locais/regionais, pode serimportante ferramenta de proteção e conservaçãodo ambiente natural.

Pelo mundo

Atualmente, existem centenas de agências e ope-radores promovendo viagens para observação deaves a praticamente todos os cantos do planeta, amaioria baseada nos Estados Unidos, no Canadá e

na Inglaterra. Estima-se que a Inglaterratenha mais de 1 milhão de observadoresde aves, mercado controlado por opera-dores e emissores, baseados em Londres.

África do Sul, Alemanha, Austrália,Espanha, França, Japão e Holanda mos-tram sinais do aumento de observado-res, além de alguns modestos aumentosdos interessados em países como Argen-tina, Equador, México e Malásia.

Diárias de programas para obser-vação de aves – sem contar a passagemaérea – custam por pessoa, em média,US$ 190 na Austrália, US$ 130 no Equa-dor, US$ 185 no Quênia e US$ 300 naAntártica e Ilhas Falkland.

Em Nebraska, Estados Unidos, oitosemanas de temporada de observaçãoda migração de sandhill cranes (Gruscanadensis) na primavera despejam cer-ca de US$ 60 milhões na economia local.

Atividade rentável

Por ser uma das atividades de turismo relacionadas pelanatureza com maior taxa de crescimento,3 não se temdúvida de que observar aves é uma atividade rentável.

Vale comentar que a caminhada (hiking,trekking), uma das atividades ao ar livre mais po-pulares mundialmente, não envolve guias e con-dutores com profundos conhecimentos científicose técnicos, como a observação de aves, nem su-planta o crescimento desta. Outro fato que se deve

destacar é que caça e pesca, atividades popularesnos Estados Unidos, têm diminuído enquantobirdwatching tem aumentado.

É difícil definir o quanto é rentável a atividadepela diversidade de padrões de serviços disponíveis.Varia daqueles de grupos de amigos e/ou amado-res que se reúnem informalmente em clubes de ob-servação – cujos custos se limitam a despesas detransporte compartido, alimentação e ingressos –

3 Pesquisa realizada entre 1994 e 1995 pela Georgia University, Estados Unidos, sobre atividades recreacionais ao ar livre, apontou que a

observação de aves se expandiu, no período, 150% e foi a atividade recreacional que mais cresceu no país.

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até luxuosos passeios e cruzeiros em navios de pe-queno porte, oferecidos por especialistas embirdwatching4 ou natural history tours.5

Por outro lado, em geral, rentabilidade e volu-me de clientes é segredo comercial de agentes eoperadores. Mas se pode ter uma idéia da variaçãoda margem estabelecida (markup) – que vai de ummínimo de 10% a 50%, podendo chegar ao clientecom o dobro do custo operacional (net price).

Esse desvio padrão no estabelecimento de mar-gens de lucro é influenciado por diversos fatores,tais como: perfil e número de pessoas no grupo;destino; categoria de alimentação e hospedagem;período do ano; tradição e experiência (e qualida-de) dos operadores etc.

Benefícios para comunidades

No Brasil, são raros os estudos relativos a bene-fícios do ecoturismo ou do turismo relacionado coma natureza para comunidades locais/regionais.

O efeito multiplicador dos gastos de ecoturistasgera receitas, que geram lucros, pagam salários, au-mentam o dinheiro em circulação e aquecem a eco-nomia local. Em alguns casos, pode ter um efeito mul-tiplicador de 5:1. Por exemplo, quando uma comuni-dade, além de prestar serviços turísticos (condução devisitantes, transporte, hospedagem etc), produz e for-nece alimentos para um hotel de selva ou pousada.

Nos Estados Unidos, muitas das áreas adequa-das à observação de fauna encontram-se na zonarural, sobretudo no entorno dos parques nacionais e

de áreas protegidas. Porém, a maioria dos benefíci-os da observação para comunidades ainda é desco-nhecida e merece ser estudada e mensurada.

Impactos negativos

Os eventuais impactos decorrentes da observaçãode aves em áreas protegidas, públicas ou priva-das, são os mesmos considerados quando analisa-mos outras atividades relativas a uso público – ter-restres e aquáticas.

Atualmente, é reconhecido que o manejo deáreas protegidas não pode se resumir ao conheci-mento de seus ecossistemas naturais. Os funcionári-os de áreas protegidas precisam de equipamentos,infra-estrutura e capacidade administrativa paramaximizar o prazer da visitação e, ao mesmo tem-po, minimizar eventuais impactos negativos.

Nesse aspecto, deve-se considerar que, além deos grupos de observadores de vida silvestre seremem geral pequenos (de 6 a 12 pessoas), compostospor pessoas com maior conhecimento e melhor com-portamento e conduzidos por guias experientes, aprópria atividade só acontece quando boas práticasestão sendo atendidas, permitindo ao grupo maischances de avistagem.

4 Por exemplo: Field Guides, Victor Emanuel Nature Tours, Wings etc.

5 Por exemplo: Lindbladt Special Expeditions, International

Expeditions etc.

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Exemplo de roteiro para identificação○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Observar e identificarA melhor forma de iniciar-se na atividade de ob-servar aves é com alguém mais experiente, quepode ser amador ou guia especializado. Em ge-ral, o observador principiante fica admirado coma habilidade dos mais experientes, que, rapida-mente, classificam e identificam aves.

Além da prática, que conta bastante, o ob-servador experiente, ao se deparar com uma aveque não conhece, procede a uma série de passosrelacionados com as características, hábitat, loca-lização e comportamento, visando classificar eidentificar a ave ou as aves em foco.

Identificar aves nada mais é do que, por meioda observação criteriosa, descobrir a família e aespécie a que pertencem – isso é a grande recom-pensa do “colecionador de avistagens”.

Que ave é aquela ?

Na realidade, a habilidade e a rapidez com que seconsegue classificar e identificar aves devem-se aofato de que o observador experiente sabe o queobservar, sobretudo comparando as característi-cas da ave em observação com outras de seu co-nhecimento, associando diversos elementos.

1. Tamanho (maior ou menor que um pardal,

galinha, gaivota, urubu etc.)

2. Forma, aspecto ou silhueta (corpo, pernas, cau-

da, asas, bico etc.)

3. Cores (geral, predominante, da cabeça, do pei-

to, das asas, riscas etc.)

4. Vocalização (alarme, chamado, territorial, can-

to, dueto, coro etc.)

5. Vôo (planado, batendo asas, direto ou furtivo,

curto ou longo etc.)

6. Hábitat (mata aberta ou fechada, praia,

restinga, manguezal, rochas etc.)

7. Comportamento (alimentar, pouso – chão/

galhos, solitária, em grupo etc.)

Guia de campo

A partir do reconhecimento e da comparação dos

elementos necessários à identificação, no fundo de

seu quintal ou no campo, de posse de uma cader-neta para anotações, a olho nu ou com binóculo, a

identificação final se faz com a ajuda de um guia

de campo que contém fotos ou desenhos das espé-cies da fauna classificadas como “aves” por:

• ordens (columbiformes, falconiformes,galiformes, tinamiformes etc.);

• famílias (columbídeos, falconídeos, cracídeos,tinamídeos etc.);

• espécies e subespécies (juriti, acauã, jacutin-ga, macucos etc.).

Em que hábitat, bioma ou ecossistema ela está?

Qual a estação do ano?

Qual seu tamanho?

Qual sua forma ou silhueta?

Como são seus pés e suas pernas?

Como é seu bico?

Quais suas cores e marcas especiais?

Quais as características de pouso/vôo?

Qual seu comportamento?

Como é sua vocalização?

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• 44Manual MPE – Ecobrasil | Atividades na natureza | Observação da natureza | Observação de aves, Roberto M. F. Mourão

Identificando questões○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Forma

Outro aspecto importante é a forma ou a silhueta da ave.

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Tamanho

É fundamental compararmos a ave que esta-mos identificando com outras que conhecemos,por exemplo, perguntando:

• a ave é maior ou menor que um pardalou uma pomba ?

• a ave é maior ou menor que um urubuou uma águia ?

• quanto ela é maior ou menor ?

Questões:

• Qual o formato do corpo da ave ?

• O corpo é esbelto ou robusto ?

• É longo ou curto, é afilado ou largo ?

• Suas pernas são longas ou curtas ?

• Seus dedos são de que forma ?

• Seu bico é reto ou curto ?

• Fino ou grosso ?

• De qual cor ?

Ornated hawk eagle(Spizaetus ornatus)

American Jacanan(Jacana spinosa)

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• 45Manual MPE – Ecobrasil | Atividades na natureza | Observação da natureza | Observação de aves, Roberto M. F. Mourão

Morfologia ou “topografia” das aves○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

1- Pescoço (Neck)

2- Bochecha (Cheek)

3- Nuca (Nape)

4- Anel periocular (Eye-ring)

5- Testa (Forehead)

6- Freio (Lore)

7- Mento (Chin)

8- Garganta (Throat)

9- Peito (Breast)

10- Curva da asa (Bend of wing)

11- Barriga (Belly)

12- Coxa / tibia (Thigh / tibia)

13- Tarso / canela (Tarsus)

14- Dedo (Toe)

15- Rabo (Tail)

16- Sobrecu (Rump)

17- Costas / manto (Back / mantle)

1

2345

6

7

8

9

10

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12

13

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15

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• 46Manual MPE – Ecobrasil | Atividades na natureza | Observação da natureza | Observação de aves, Roberto M. F. Mourão

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

1

2

3

4

5

67

11

8

10

9

1- Margem da asa (Edge of wing)

2- Curva da asa (Bend of wing)

3- Bastarda (Alula)

4- Pequenas coberteiras (Lesser coverts)

5- Grandes coberteiras (Greater coverts)

6- Primárias (Primaries)

7- Secundárias (Secondaries)

8- Coberteiras inferiores da cauda (Under tail coverts)

9- Cauda (Tail)

10- Coberteiras superiores da cauda (Upper tail coverts)

11- Dorso (Back)

Cores e padrões

A plumagem é, provavelmente, a mais importante característica das aves, tanto serve para chamar a atenção(espécie, sexo etc.) como é uma técnica para sobrevivência ou caça (mimetismo, camuflagem etc.).

• Qual a cor predominante da plumagem?• A ave tem manchas ou partes de cores diferentes nas penas? Onde?• Há partes de seu corpo (peito, costas, cabeça etc.) com manchas ou raias relevantes?• A ave tem partes nuas ou peladas, qual a cor?

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• 47Manual MPE – Ecobrasil | Atividades na natureza | Observação da natureza | Observação de aves, Roberto M. F. Mourão

Cabeça – cores, marcas e faixas

A cabeça é um importante ponto para análise na identificação.Cores, faixas e marcas devem ser observadas e comparadas para a correta identificação.

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

1- Faixa lateral do vértice (Lateral crown stripe)

2- Faixa superciliar (Superciliary stripe)

3- Faixa transocular (Eye stripe)

4- Anel periocular (Orbital ring)

5- Crista (Crest)

6- Fronte (Forehead)

7- Freio (Lore)

8- Faixa malar (Malar stripe)

9- Paixa do mento (Gular stripe)

10- Vértice (Crown)

11- Fronte / testa (Forehead)

12- Bico / mandíbula superior (Upper beak / mandible)

13- Comissura (Cutting edge)

14- Bico / mandíbula inferior (Lower beak / mandible)

15- Cume da maxila (Culmen)

16- Mento (Chin)

17- Ouvido (Ear)

18- Narina (Nostril)

19- Ponta do bico (beak)

20- Garganta (Throat)

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• 48Manual MPE – Ecobrasil | Atividades na natureza | Observação da natureza | Observação de aves, Roberto M. F. Mourão

Ilustração do vôo de caça de predadores – águias e gaviões/acipitrídeos

Ilustração dos vôos de alimentação de flycacthers/tiranídeos (bem-te-vis, papa-moscas etc.)

Hábitat

A maioria dos pássaros prefere um hábitat específico para alimentar, aninhar, acasalar ou mesmo descansar,quando em rota migratória. Na atividade de observar aves, conhecer as características de aninhamento ou depermanência de famílias e espécies ajuda bastante na identificação.

Características de vôo

Outra forma de identificação de aves são suas ca-racterísticas de vôo. As famílias e espécies têm ca-racterísticas similares e, uma vez conhecida uma fa-mília, podemos nos “aproximar” de sua identifica-ção perguntando:

• a ave voa só ou aos pares? Em bandos dispersosou em formação?

• Quando voa, a ave o faz numa trajetória dire-ta e ondulada ou planando?

Hábitats Espécies

Exemplos Nome comum Nome científico

Alagados Biguá Phalacrocorax olivaceus

Martim-pescador-grande Ceryle torquata

Socozinho Ardeola striata

Campos Garça-branca-pequena Egretta thula

Gavião-carijó Buteo magnirostris

Saíra-diamante Tangara velia cyanomelaena

Florestas Saíra Dacnis cayana

Tucano-de-bico-verde Ramphastos dicolorus

Pica-pau-anão-barrado Picumnus cirrhatus

Litoral Atobá Sula leucogaster

Batuira-de-coleira Charadrius collaris

Maçarico-pintado Actites macularia

Urbano Bem-te-vi Pitangus sulphuratus

Tico-tico Zonotrichia capensis

Urubu Coragyps atratus

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Nomes científicos de aves – ilustrações○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Manual MPE – Ecobrasil | Atividades na natureza | Observação da natureza | Observação de aves, Roberto M. F. Mourão

Nome em inglês: White-shouldered-fire-eye

Nome científico: Pyriglena leucoptera

Grego: pyríglenos = de olhos inflamáveis

Grego: leukopteras = de asa brancas

Nome em inglês: Vermilion Flycatcher

Nome científico: Pyrocephalus rubinus

Grego: pur = fogo, vermelho

Grego: kephale = cabeça

Latim: ruber = vermelho

Nomes de aves

Primeiramente, devemos considerar que “ave” éa terminologia correta para os seres emplumados,genérico para as diversas espécies da avifauna. Ouso de “pássaros” ou “passarinhos” como genéri-co é considerado cientificamente errado para sereferir a aves passeriformes, como andorinhas,bem-te-vis, curiós, joões-de-barro, entre outras.

Os nomes comuns variam de região para re-gião, sobretudo em se tratando de um país dedimensões continentais como o Brasil, onde osnomes são dados pelos habitantes de determi-nada região (índios, ribeirinhos, caiçaras etc.) emfunção das características mais aparentes ou re-levantes da ave (cor, canto, local, hábitat, com-portamento etc.).

A nomenclatura é um assunto complicado, queprovoca debates até mesmo entre especialistas eornitólogos, e só se acalmam os ânimos quando areferência se faz em latim ou grego, línguas usa-das para dar nomes a espécies da flora e da fauna,para se poder ter uma referência universal.

O nome científico em geral é formado porpares de nomes (às vezes, há três) cujos signifi-cados – do grego ou latim – são decorrentes dascaracterísticas da ave (hábitos, forma, cores, can-to etc.). Mas também podem incluir o nome dequem a identificou primeiro ou uma homena-gem a alguém.

Nome comum Nome científico Motivos do nome

Martim-pescador-grande Ceryle torquata Atividade e tamanho

Garça-branca-pequena Egretta thula Cor e tamanho

Gavião-carijó Buteo magnirostris Padrão de plumagem

Tucano-de-bico-verde Ramphastos dicolorus Cor do bico

Pica-pau-anão-barrado Picumnus cirrhatus Tamanho e cor

Batuira-de-coleira Charadrius collaris Marca ao redor do pescoço

Bem-te-vi Pitangus sulphuratus Canto

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• 50Manual MPE – Ecobrasil | Atividades na natureza | Observação da natureza | Observação de aves, Roberto M. F. Mourão

Normas de conduta

Como norma geral, todos os que gostam de aves ede observá-las devem sempre respeitar a vida sil-vestre e o meio ambiente. Em qualquer situação deconflito entre a fauna e os interesses dos observa-dores, o bem-estar das aves e o respeito por seushábitats devem ser prioridade.

As normas a seguir sugeridas não são apenaspara a observação de aves, mas também para as ati-vidades a serem desenvolvidas no meio ambientenatural, aplicando-se nas áreas naturais e/ou prote-gidas nos meios urbano e rural.

Na trilha

• Evite aventurar-se sozinho.

• Evite formar grupos numerosos.

• Evite cortar ou quebrar ramos e arbustos.

• Não abandone a trilha original, fazendo “atalhos”.

• Ao caminhar, só observe e procure fazê-lo silen-ciosamente.

• Ao pedir informações ou fazer comentários, falebaixo, sussurrando.

Flora e fauna

• Respeite a fauna e a flora locais e não interfira nelas.

• Não conte a estranhos a localização de espé-cies frágeis.

• Não colete flores e plantas e não quebre ramose galhos de árvores.

• Não toque ou destrua ninhos, tocas, abrigos ouesconderijos de animais.

• Não colete ou use lenha, mesmo seca, pois elafaz parte do ecossistema.

• Se encontrar animais, observe-os a distância,durante o menor tempo possível.

Frutos e produtos silvestres

• Tenha como norma nada coletar.

• Só colha frutos e produtos silvestres quandoautorizado.

• Se permitido, coma ou experimente frutas sil-vestres no local.

Mananciais e corpos d’água (rios, lagos etc.)

• Mantenha as fontes e os cursos d’água limpos.

• Ao se banhar ou ao se refrescar, evite utilizarsabonete e xampu.

• Se necessário, utilize sabonete ou xampubiodegradáveis e neutros.

Lixo

• Não deixe marcas de sua passagem ou estada.

• Não deixe lixo. Enterre o lixo orgânico ebiodegradável.

• Sempre que possível, colete lixo deixado poroutras pessoas.

• Se não for possível coletar lixo de outros, infor-me aos guardas.

• Traga-o de volta e disponha-o adequadamen-te em embalagens não-degradáveis.

Lembranças

• Não leve “recordações” naturais de sua excursão.

• Para recordações, leve nada mais que fotografias.

• Deixe nada mais que pegadas.

• Pensando bem, é melhor nem deixar pegadas...

Ao fotografar

• Não interfira em hábitats.

• Não capture ou encarcere animais para os fo-tografar.

• Use luz natural. Evite sempre que puder o usode flash.

• O bem-estar dos animais é sempre mais impor-tante que uma foto.

• Não use iscas. Animais não devem ter fontesalternativas de alimento.

• Não deixe pistas de ninhos ou lugares de abri-go de animal para predadores.

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• 51Manual MPE – Ecobrasil | Atividades na natureza | Observação da natureza | Observação de aves, Roberto M. F. Mourão

Animais domésticos

• Nunca leve animais domésticos, especialmentecães e gatos, ao observar animais silvestres, pormais mansos e sob controle que possam parecer.

Observação de aves em grupos(amadores ou profissionais)Promova o bem-estar das avese seu ambiente natural

• Apóie e fomente a proteção e a con-servação de hábitats.

• Não utilize práticas de atração de avespara fotografar, filmar ou gravar.

• Limite o tempo de interação ao ob-servar, fotografar, gravar ou filmar aves.

• Não realize observação em áreas conside-radas frágeis, utilizadas por aves para alimen-tação, descanso, acasalamento e/ou procriação.

• Em hábitats onde é possível a observação, per-maneça nas trilhas e estradas utilizando, sempreque possível, camuflagem natural ou artificial.

• Ninhais, áreas e locais de ocorrência de espéciesraras ou ameaçadas de extinção, quando locali-zados, devem ser comunicados preliminarmen-te somente a autoridades e/ou pesquisadores.

Caso seja possível a visitação, ocorrendo den-tro de limites aceitáveis de capacidade de carga,antes de anunciar a presença de espécies raras ouameaçadas de extinção, proceda à avaliação do po-tencial impacto negativo ao hábitat (ninhais, áreasde alimentação e/ou descanso etc.) ou de estresseda comunidade de aves somente facilitando ou in-duzindo fluxos de observadores, caso haja autori-zação para visitas e o acesso possa ser controlado.

Legislação, normas e direitos de terceiros

• Não promova a observação em áreas públicase/ou privadas sem a autorização necessáriados responsáveis pela administração e/ou mo-nitoramento.

• Mantenha bom relacionamento com outros queigualmente têm o direito à observação, ajus-tando o tempo de interação de seu grupo.

• Dê exemplo comportamental perante outros,sobretudo quando se tratar de amadores inde-pendentes ou menos experientes.

• Quando autorizado e seguro, ao utilizar for-mas permitidas e de mínimo impacto para aatração de aves e observação (por exemplo, aoutilizar equipamento sonoro de pios e cantos),tenha o cuidado de não expor os animais a pre-dadores naturais.

Observando em grupo

• Dê exemplo de comportamento.

• Siga as orientações do guia ou de observado-res mais experientes.

• Respeite os interesses, os direitos e as habilida-des de outros observadores.

• Em caso de testemunhar mau comportamentoou falta de ética de outros observadores, ava-lie a situação e intervenha, caso julgue pruden-te, ou comunique a guias ou autoridades.

Normas para agentes e operadores

• Tome conhecimento das normas locais aplicá-veis para a observação e as informe aos com-ponentes do grupo (por exemplo, proibição deuso de gravadores e playbacks).

• Assegure-se de que os participantes de gruposde observação tenham conhecimento da éticae das práticas, relembrando sempre as normase condutas.

• Observe os limites de número de observado-res na trilha ou na área de observação consi-derando outros grupos.

• Mantenha grupos em tamanhos dentro dos li-mites permitidos de forma a que eventuais im-pactos sejam mínimos e mitigáveis.

• Tenha sempre em conta que o bem-estar dasaves e de outros animais silvestres, assim comoa integridade de hábitats, é mais importanteque os interesses dos grupos de observadoresamadores (clubes, associações etc.) ou comer-ciais (agências, operadoras).

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1 É importante estabelecer taxas razoáveis para amadores e mesmo para profissionais, pois as melhorias

implementadas em unidades de conservação para a observação de animais silvestres podem induzir maiores fluxos

de usuários (respeitando-se a capacidade de carga).

Manual MPE – Ecobrasil | Atividades na natureza | Observação da natureza | Observação de aves, Roberto M. F. Mourão

NRC

S/U

SDA

Abrigos camuflados (blinds)

Uma importante infra-estrutura ou equipamento,dependendo de sua dimensão ou material constru-tivo, são os abrigos (ou blinds, em inglês).

Como podemos notar, abrigos e camuflagenspodem ser usados tanto para permitir observar, gra-var, fotografar ou filmar, sem que as aves, natural-

mente dotadas de excelente visão, se espantem,como, sobretudo, para diminuir o estresse dainteração observador-aves.

Sob o ponto de vista de gerar renda com aobservação de aves em áreas protegidas, a cobrançade taxa ou o aluguel de camuflagens para foto-grafar ou filmar desses pontos privilegiados podemser uma alternativa.1

Camuflagens (blinds pessoais)

Bastante utilizadas por ornitólogos, pesquisadorescinegrafistas e fotógrafos profissionais, as camu-flagens individuais ou para grupos podem ser umafonte de renda se disponibilizadas para aluguel em

unidades de conservação.

Placas ilustrativas/informativas

A observação pode ser feita apartir de mirantes ou passa-relas, com mínima perturba-ção da fauna. A fixação deplacas ilustradas com as espé-cies de maior chance deavistagem é um procedimen-to que auxilia a informação ea educação, aumentando oprazer da visita.

As placas de sinalização informativas servem para educaros visitantes

Abrigos camuflados para observação de aves são excelentes pontos para avistagem,com a vantagem de não causar estresse nos animais

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NRC

S/U

SDA

Camuflagens pessoais permitem que observadores de avesse aproximem mais dos animais

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• 53Manual MPE – Ecobrasil | Atividades na natureza | Observação da natureza | Observação de aves, Roberto M. F. Mourão

Matriz de análise da potencialidade de destinos para a observação de aves (sugestão)○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

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Pontuação/variação 40 0-3 0-3 0-4 0-4 0-3 0-4 0-4 0-5 0-4 0-3 0-3

Área 1

Área 2

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• 54Manual MPE – Ecobrasil | Atividades na natureza | Observação da natureza | Observação de aves, Roberto M. F. Mourão

1 As informações deste documento são de Mike Link, em viagem ao Amapá, a convite do Grupo Nativa, por ocasião da análise de viabilidade

do ecoturismo em reservas extrativistas, promovida pelo Conselho Nacional para o Desenvolvimento das Populações Tradicionais (CNPT/Ibama).

Perfil dos observadores de aves –National Audubon Society1

Em novembro de 1997, o especialista ebirdwatching guide Mike Link e sua esposa, a jor-nalista Kate Crowley, da National Audubon Society– uma das maiores e mais tradicionais organiza-ções não-governamentais relacionadas com prote-ção e observação de vida silvestre do planeta – es-tiveram no Brasil analisando a possibilidade de pro-mover o país como destino de observação de avespara seus associados. Na oportunidade, foram es-tabelecidos o perfil do cliente padrão Audubon evários pré-requisitos visando ao desenvolvimentode produtos para atender às expectativas de seusassociados e de sua clientela.

Binômio cliente-produto

No desenvolvimento de produtos, sobretudo os espe-cializados, saber o perfil do cliente, que pode mudarde operador para operador, é fundamental para ha-ver mais chances de sucesso na promoção e venda.

Interesses especiais/temas

• Geral: observação de aves e vida silvestre em geral.

• Adultos: também aspectos culturais.

Duração média dos passeios

• Mínimo: nove dias – máximo: 16 dias.

• Dez a 14 dias, sendo um dia/acesso e um dia/retorno.

• Incluir viagens de extensão em função da(s)cidades(s)-acesso envolvida(s).

Faixa etária dos grupos

• 20% abaixo de 40 anos (em geral universitários).

• 70% entre 40 e 70 anos (graduados, profissio-nais liberais).

• 10% acima de 70 anos.

Promoção/fluxos

• Considerar um ano para divulgação.

• Considerar um ano para desenvolver produtos/adequação infra-estruturas.

Condições básicas (sine qua non)

• Pontualidade, segurança, higiene e conforto.

Composição do grupo

• 8 a 15 Pax + gratuidade tour leader ou tourconductor.

• Padrão: 15 Pax = nove solteiros + três duplos(casal/dois solteiros).

• Incluir sempre transfers, refeições, atividades.

• Apresentar tarifas net per Pax em acomodaçãocompartida (double/twin).

• Apresentar tarifa “suplemento solteiro” (singlesupplement).

• É possível haver grupos maiores com logísticaespecial.

• Considerar guias auxiliares locais e/ou espe-cializados.

• Prever brindes (camisetas, bonés, artesanato etc.).

Orçamento/composição de preços net e balcão

(Hipótese de programa de 12 dias e 11 noites)

• Grupos normais

US$ 2.200 a 3 mil por Pax em acomodaçãodupla (double).

• Grupos especiais

Mais de US$ 3 mil (raros, luxuosos e com viajan-tes exigentes).

Recomendações

Hospedagem

• Informar com antecedência locais de hospeda-gem/pernoites.

• Evitar chegar a novos locais de hospedagemapós anoitecer.

• Intercalar hospedagens confortáveis com me-nos confortáveis.

• Preferível pernoite em camas e colchonetes deboa qualidade.

• Pernoite em redes para jovens e adultos emredes com mosquiteiros.

• Evitar pernoite em redes para terceira idade.

• Prever local para banhos com privacidade e se-gurança (trapiches e flutuantes).

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• 55Manual MPE – Ecobrasil | Atividades na natureza | Observação da natureza | Observação de aves, Roberto M. F. Mourão

Logística

• Fornecer informações “pré-partida” (pre-departure information).

• Desenhar programas com um máximo de trêsdestinos para um passeio de 12 a 15 dias.

• Apresentar programação dia-a-dia e, se possí-vel, com horários ou durações.

• Procurar manter a pontualidade nas ativida-des e etapas programadas.

• Anexar mapas e/ou croquis da localização daregião e dos roteiros locais.

• Prever dia de descanso entre dias com etapasdifíceis ou longas.

• Sempre pensar na privacidade dos clientes (ba-nhos, refeições, pernoite).

• Prever o início das atividades bem cedo (5 ho-ras/6 horas), recomeçando mais tarde (15 ho-ras/16 horas), evitando atividades entre 12 ho-ras e 14 horas, se o dia estiver quente.

• Em jornadas longas, fazer intervalo de des-canso, em local sombreado, entre 11 horas e14 horas, sempre que possível armando redespara descanso.

• Informar sobre seguro-acidente, bagagem e/ouequipamentos.

• Prever kits de primeiros-socorros, “kit esqueci-dos” (filtro solar, chapéu etc.).

• Prever rádio para contato intragrupos (barco-base, barco-barco etc.).

• Saber como é o atendimento em emergênciasregionais (hospitais, táxi aéreo etc).

• Saber como contatar regionalmente defesa ci-vil, polícia, guarda-florestal etc.

• Manter o interesse do gru-po com “pontos altos” (porexemplo, revoadas ao pôr-do-sol).

• Explicar, via “folha de infor-mações” (fact-sheets), a ra-zão de visitas ou contatoscom comunidades locais,sempre deixando claro, nocontexto, o motivo.

• Evitar excessivo contato co-munitário, deixando o clien-te optar pelo momento epela duração de contato, res-guardando a privacidade declientes e comunidades.

• Evitar forçar o cliente a visi-tar locais ou instalações quenão estiverem relacionados com o interesseprincipal (por exemplo, visitar fábrica de pal-mitos, caso não esteja no contexto da visita).

Alimentação

• Usar água engarrafada de fontes confiáveis.

• Tomar cuidado com a água usada na prepara-ção e lavagem de alimentos.

• Utilizar alimentos frescos e de boa qualidade.

• Ter à disposição filtros de água portáteis ecomprimidos tipo Puritabs.

• Informar, com antecedência, locais e horáriosde refeições.

• Oferecer aos estrangeiros vegetais e frutas,de preferência sem descascar ou cortar, dei-xando que eles mesmos o façam.

• Considerar que muitos estrangeiros são ve-getarianos.

• Dar mais atenção à qualidade que à diversi-dade ou à quantidade de pratos.

• Levar lanches e/ou frutas para etapas longasou atividades demoradas.

• Sugerir que os visitantes consumam comidasregionais pouco condimentadas.

• No preparo de carnes, dar preferência a assa-dos ou grelhados.

• Evitar tempero excessivo e alimentos fortes(pimenta, dendê, feijoada).

• Evitar refogados ou cozidos e, sobretudo, co-midas regionais exóticas.

• Sempre que possível, mostrar área de prepa-ro de alimentos.

A observação de aves é um nicho de praticantes de bom poder aquisitivo que, apesarde todo o sacrifício para observar, demanda uma infra-estrutura de qualidade queofereça segurança, higiene, conforto e privacidade

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• 56Manual MPE – Ecobrasil | Atividades na natureza | Observação da natureza | Observação de aves, Roberto M. F. Mourão

• Esmerar na higiene dos locais de preparo e nalavagem de utensílios.

Transporte (aquático e terrestre)

• Prever trapiches/atracadouros seguros paraembarque e desembarque.

• Se possível, utilizar embarcações com duplamotorização, rádio e coletes.

• Levar água à vontade e petiscos (chocolates, bis-coitos etc.).

• Transporte/traslados até duas horas: embarca-ções podem ser descobertas.

• Transporte (viagens) com mais de duas horas:devem ser cobertas.

• Prever barcos/voadeiras com assentos acolcho-ados e com encosto para deslocamentos comduração superior a 30 minutos.

• Ao definir equipamentos, lembrar que norte-americanos e europeus têm biótipo grande.Assim, sempre que possível, é importante pre-ver transporte em veículos e embarcações comcapacidade maior que o tamanho do grupo.

• Considerar transporte para bagagens com es-paços extras para equipamento (câmaras e len-tes, lunetas, tripés etc.).

• Prever (silenciosos) motores elétricos de apoiopara aproximação de áreas de alimentação,descanso, nidificação, pernoite de aves etc.

• Evitar alternância excessiva (ambiente natural/ar condicionado e vice-versa).

Sugestão de embarcação (voadeira), dotadacom bancos com encosto, para deslocamento de gru-pos de observadores, com dimensões, motorização

e perfil de casco adequados ao tipo de navegação aser realizada – mar, lagos e lagoas, rios, igarapés,canais em manguezais etc.

É importante ter disponibilidade de (silenciosos)motores elétricos para aproximação de áreas de ali-mentação, nidificação, pernoite de aves etc.

Pode-se pensar também em equipamentos,mais modestos e baratos. Porém, deve-se ressaltara necessidade de instalar encostos nos bancos quan-do os programas envolverem percursos de mais de30 minutos de duração.

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• 57Manual MPE – Ecobrasil | Atividades na natureza | Observação da natureza | Observação de aves, Roberto M. F. Mourão

Catálogo Wings 2000○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Com mais de 120 programas em seu catá-logo editado anualmente, a operadora es-pecializada Wings, uma das maiores e maisconceituadas, apresenta seus produtosconforme ilustrado ao lado.

1. Região ou local da observação deaves.

2. Descritivo breve das características dodestino: região, acesso, clima, vegeta-ção, topografia etc.

3. Informações sobre as aves-destaque(flag species) e as de mais chances deavistagem.

4. Detalhes sobre hospedagem, alimen-tação e outras atividades.

5. Descritivo das atividades do dia-a-diada observação de aves.

6. Freqüência e período do programano ano.

7. Guias/tour leaders.

8. Preços por pessoa em acomodaçãocompartida, valor do suplemento paraacomodação individual (singleoccupancy supplement) e período deaplicação do preço.

9. Ilustração de espécie-bandeira ou des-taque (especial).

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• 58Manual MPE – Ecobrasil | Atividades na natureza | Observação da natureza | Observação de aves, Roberto M. F. Mourão

Lista de aves para uso no Brasil

Com o objetivo de atender ao mercado internacio-nal, assim como ao nacional, segue abaixo sugestãode lista para observação de aves para uso em desti-nos brasileiros. A lista leva em conta que as infor-mações serão disponibilizadas aos observadores tan-to por guias de aves internacionais (tour leaders)ou guias de aves brasileiros (às vezes, atuando comoguias-auxiliares) como pelo conhecimento regional,ou seja, comunitários atuando como mateiros. Éimportante ter em conta que uma boa lista de avesleva anos para ser realizada, com pelo menos duasobservações anuais (períodos seco e chuvoso).

Um artifício que pode vir a ser uma fonte derenda é a realização de “festivais de aves”, que,quando oficialmente efetuados, com orientação deassociações e clubes, induzem participantes e “legi-timam” listas de avistagem e destinos.

Atenção:as estações se referem ao Hemisfério Sul

Abundant - common species that is numerousAbundante - espécies comuns e numerosas

Common - certain to be seen or heard in suitable habitatComum - certeza de avistagem ou ouvir no hábitat

Uncommon - present, but not certain to be seenIncomum - presente, mas sem garantia de avistagem

Occasional - Seen only a few times during a seasonOcasional - possível avistagem algumas vezes na estação

Legend/Legenda

Spring (Sep-Nov) / Primavera (Set-Nov)Summer (Dec-Feb) / Verão (Dez-Fev)Fall (Mar-May) / Outono (Mar-Mai)Winter (Jun-Aug) / Inverno (Jun-Ago)

Rare - seen at intervals of 2 to 5 yearsRaro - avistagem em intervalos de dois a cinco anos

Species that nests in the refugeEspécies que nidificam no refúgio

Species that is threatened or endangered in the areaEspécies ameaçadas de extinção na região

DucksBlack-bellied Whistling Duck Dendrocygna autumalis Marreca, marrecoBrazilian Duck Amazonetta brasiliensis MarrequinhaMuscovy Duck Cairina moschata Pato

Hawks and EaglesBlack-collared Hawk Busarellus nigricolis Gavião-balaioHarpy Eagle Harpia harpya Gavião-realSwallow-tailed Kite Elanoides forficatus Gavião-tesoura

FalconsBat Falcon Falco rufigularis MorcegueiroLaughing Hawk Herpetotheres cachinnans Acauã

HeronsBoat-billed Heron Cochearius cochlearius ArapapáCapped Heron Pilherodius pileatus Garça-morenaChestnut-bellied Heron Agamia agami Socó-azul

KingfishersRinged Kingfisher Ceryle torquata Ariramba-grande

NightjarsBand-tailed Nightjar Nyctiprogne leucopyga BacurauSand-colored Nighthawk Chordeiles rupestris Bacurau-da-praia

VulturesKing Vulture Sarcoramphus papa Urubu-reiTurkey Vulture Cathartes aura Urubu-cabeça-vermelha

CuckoosLittle Cuckoo Piaya minuta Ticuã-pequeno

# English common name Scientific name Local common name Sp / P S / V F / O W / INome comum em inglês Nome científico Nome comum local 09-11 12-02 03-05 06-08

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