Manual de Orientacoes Para Concepcao de Projetos Agroindustriais

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  • MANUAL DE ORIENTAES PARA CONCEPO DE PROJETOS AGROINDUSTRIAIS DA AGRICULTURA

    FAMILIAR

    Elaborao:

    Leomar Luiz Prezotto Pedro Antnio Bavaresco

    Joo Batista da Silva

    Braslia, maro de 2005

  • 3NDICE

    1. INTRODUO----------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 4

    2. PROCESSO DE CONCEPO DO PROJETO------------------------------------------------------------------------- 5 ETAPA 1. PROCEDIMENTOS PRELIMINARES------------------------------------------------------------------------------------ 6

    a) Articulao do apoio institucional -------------------------------------------------------------------------------------- 6 b) Constituio da equipe tcnica ------------------------------------------------------------------------------------------ 8

    ETAPA 2. SENSIBILIZAO DOS AGRICULTORES E FORMALIZAO DAS AGROINDSTRIAS------------------------------ 8 a) Sensibilizao dos agricultores ------------------------------------------------------------------------------------------ 8 b. Formalizao jurdica das agroindstrias ----------------------------------------------------------------------------- 9

    b.1. Formalizao das agroindstrias individuais---------------------------------------------------------------------- 9 b.2. Formalizao das agroindstrias grupais -------------------------------------------------------------------------10

    b.2.1. Sociedade Empresarial-----------------------------------------------------------------------------------------10 b.2.2. Cooperativa------------------------------------------------------------------------------------------------------11 b.2.3. Associao-------------------------------------------------------------------------------------------------------11 b.2.4. Condomnio -----------------------------------------------------------------------------------------------------12 b.2.5. Organizao de rede de agroindstria------------------------------------------------------------------------13

    b.3. Princpios e problemas mais freqentes em formas associativas ----------------------------------------------15 ETAPA 3. REUNIES EM PEQUENAS COMUNIDADES -------------------------------------------------------------------------17 ETAPA 4. REUNIES COM CADA GRUPO DE AGRICULTORES OU AGRICULTOR INDIVIDUAL------------------------------19 ETAPA 5. SISTEMATIZAO DA PRIMEIRA VERSO DO PROJETO DE AGROINDSTRIA -----------------------------------23 ETAPA 6. APRESENTAO DA PRIMEIRA VERSO DO PROJETO AO(S) AGRICULTOR(ES)---------------------------------24 ETAPA 7. ELABORAO DA VERSO FINAL DO PROJETO--------------------------------------------------------------------24 ETAPA 8. APRESENTAO DA VERSO FINAL DO PROJETO AO(S) AGRICULTOR(ES) E AO AGENTE FINANCEIRO ------25

    ANEXO I: FLUXOGRAMA DAS ETAPAS DO PROCESSO DE CONCEPO DO PROJETO AGROINDUSTRIAL------------------------------------------------------------------------------------------------------------26

  • 41. INTRODUO Este Manual faz parte das aes previstas no Programa de Agroindustrializao da

    Produo dos Agricultores Familiares (Programa de Agroindstria da SAF/MDA),

    especialmente da Linha de Ao Capacitao de Multiplicadores, Elaborao de

    Manuais Tcnicos e Documentos Orientadores.

    Neste documento no se adentra nas orientaes especficas de elaborao de projeto

    agroindustrial (roteiro, software e instrumentos de consistncia de viabilidade tcnica e

    econmica), visto que o Programa de Agroindstria da SAF/MDA disponibilizar um

    manual especfico para esta temtica.

    Ele contm orientaes metodolgicas que podero auxiliar no trabalho de

    sensibilizao e organizao de agricultores e instituies, bem como na concepo de

    projetos agroindustriais ligados a agricultura familiar. No se trata de um documento

    acabado, mas sim de algumas sugestes iniciais que devem ser complementadas

    pelos parceiros locais, de acordo com suas realidades.

    A elaborao de um projeto para a implantao de uma agroindstria, em consonncia

    com o Programa de Agroindstria da SAF/MDA, dentro de uma viso de

    desenvolvimento sustentvel e de viabilidade econmica, envolve um conjunto de

    aes complexas. Isto porque, alm do planejamento do setor secundrio (a

    agroindstria propriamente dita), requer, tambm, a anlise, o planejamento e a

    implementao de uma base produtiva primria, devidamente organizada, cujo objetivo

    o de atender s necessidades da agroindstria quanto ao tipo, a qualidade e a

    quantidade de matria-prima a ser processada. Alm disso, h a necessidade do

    planejamento e da implementao de um conjunto de servios de apoio ao

    gerenciamento e comercializao.

    Para que a agroindstria consiga resultados positivos necessrio que as produes,

    primria e agroindustrial, e a comercializao estejam ordenadas e sintonizadas.

    indispensvel, portanto, o planejamento e a execuo de etapas preparatrias que

    antecedem a elaborao dos projetos, alm de promover a sensibilizao para o apoio

    das instituies como os municpios, as unidades da federao Ufs, os movimentos

    sociais e outras, para participarem conjuntamente do desenvolvimento dessa atividade.

    H necessidade de se criar um aparato institucional para desenvolver aes de infra-

    estrutura e apoio aos projetos, onde essas instituies devem contribuir

  • 5disponibilizando os recursos materiais, humanos, financeiros e polticas pblicas

    especficas.

    Assim, para que se elabore um projeto de agroindstria necessrio que as

    instituies municpios, Ufs, movimentos sociais e outras, representadas sob forma

    de consrcios, associaes, pactos ou outras formas associativas, garantam o apoio

    institucional e executam um conjunto de etapas preparatrias consideradas essenciais

    concepo e implementao das agroindstrias.

    2. PROCESSO DE CONCEPO DO PROJETO A concepo de um projeto de agroindstria para agricultores familiares, deve ser

    compreendida como um processo, composto de vrias etapas. Estas etapas so:

    Procedimentos preliminares; Sensibilizao dos agricultores e formalizao das

    agroindstrias; Reunies em pequenas comunidades; Reunies com cada grupo de

    agricultores ou agricultor individual; Sistematizao da primeira verso do projeto de

    agroindstria; Apresentao da primeira verso do projeto ao(s) agricultor(es);

    Elaborao da verso final do projeto; e, por ltimo, Apresentao do projeto ao(s)

    agricultor(es) e ao agente financeiro.

    Durante o processo de elaborao, outras atividades devem ser desenvolvidas em

    paralelo ou simultaneamente, como, por exemplo, o estudo de mercado. importante

    observar que no se trata de etapas separadas e rgidas. Ao contrrio, muitas dessas

    etapas andam juntas e articuladas, onde no necessariamente se conclui uma etapa

    para depois iniciar a prxima.

    Outro aspecto a ser destacado a participao dos agricultores na elaborao do

    projeto. Parte-se do princpio de que a elaborao de um projeto de agroindstria, para

    agricultores familiares, deve representar muito mais do que a elaborao de um

    produto final (um relatrio), apenas com o objetivo de obteno de emprstimo

    bancrio. importante fazer desse processo de concepo, tambm um espao de

    formao/capacitao para os agricultores familiares. necessrio promover a

    participao dos agricultores em todas as etapas do processo de concepo.

    Em uma metodologia participativa e capacitadora, muitas vezes exige-se um pouco

    mais de tempo para que os agricultores possam acompanhar, compreender, discutir, sugerir e decidir sobre o seu projeto. Nesse processo os agricultores familiares, que so os donos do projeto, devem ter a compreenso de todo o processo e uma

    participao ativa e incisiva no seu rumo.

  • 6Para que esse processo seja participativo e formador/capacitador, necessariamente,

    deve-se prever espaos de discusso entre os integrantes da equipe tcnica e os

    agricultores. Sobre as decises finais, que cabem aos donos do projeto, os agricultores

    familiares, elas devem ser tomadas a partir do conhecimento das principais

    informaes que se relacionam direta e indiretamente ao projeto e, tambm, s

    principais conseqncias, favorveis ou desfavorveis, geradas a partir dele.

    Compreende-se, enfim, que um projeto no se resume a elaborao de um relatrio, ou

    dos clculos de viabilidade econmica, mas de um conjunto de aes, em especial,

    aquelas de discusso com os agricultores. Tem-se, portanto, como princpio geral, que

    o processo de concepo do projeto deve ser participativo e formativo/capacitador. Isto

    fundamental para a tomada de deciso sobre os rumos do projeto, para que haja

    coerncia na implantao da agroindstria e para um bom gerenciamento aps a sua

    implantao.

    A seguir sero apresentadas cada uma das etapas do processo de concepo do

    projeto (conforme fluxograma das etapas de concepo no anexo I).

    Etapa 1. Procedimentos preliminares O primeiro passo nesta etapa identificar o tipo de demanda do(s) agricultor(es) e o

    contexto em que est inserida. Esta identificao necessria para compreenso de

    qual estgio cada demanda se encontra e a partir de qual etapa deve-se iniciar o

    processo de concepo de cada projeto agroindustrial. Assim, possvel aparecer,

    nesse momento, realidade onde os agricultores ainda no estejam sensibilizados,

    sendo que, neste caso, o trabalho deve iniciar pela etapa de sensibilizao (etapa 2).

    Quando aparecer demanda de projeto grupal ou vrios projetos, individuais ou grupais,

    em que o(s) agricultor(es) j esteja(m) sensibilizado(s), o trabalho deve iniciar pela

    etapa 3. Quando se tratar de demanda de projeto de uma agroindstria individual, de uma famlia apenas, deve-se passar para a etapa 4. Outra situao quando j existe a agroindstria e que seja necessrio um projeto apenas para captao de recursos

    para capital de giro ou para a ampliao/adequao da unidade, neste caso o trabalho

    tambm deve ser iniciado na etapa 4.

    a) Articulao do apoio institucional O apoio institucional fundamental para o incio das atividades, pois as instituies

    pblicas e privadas serviro de respaldo tcnico e poltico para que se cumpra, com

  • 7eficincia, as etapas subseqentes. Esses apoios correspondem, por exemplo, ao

    abastecimento de energia eltrica e de gua s agroindstrias; construo e

    manuteno das estradas; estrutura de comunicao; adequao das legislaes

    sanitria; aos incentivos fiscal e tributria etc; ao acesso ao mercado institucional e ao

    crdito; ao apoio a estruturao de rede de agroindstrias; ao cadastro de

    agroindstrias existentes; disponibilizao e manuteno dos tcnicos que devero

    compor a equipe tcnica para a concepo do projeto e do estudo de mercado e para a

    assistncia tcnica aps a implantao.

    A formalizao do apoio institucional tem mais importncia quando tratar-se de

    demanda de vrios projetos agroindustriais, individuais ou grupais.

    Quando tratar-se de apenas uma unidade agroindustrial, individual ou grupal,

    importante que o tcnico e/ou agente de desenvolvimento busque o apoio das

    instituies pblicas para a implantao do projeto.

    A iniciativa de elaborar um ou vrios projetos para uma famlia ou um conjunto de

    famlias, pode partir de um agricultor; de uma organizao de agricultores, formal ou

    informal (sindicato, associao etc); de uma organizao no governamental ONG;

    ou de algum rgo pblico local (prefeitura municipal, tcnicos da Ater etc). Quando

    existir potencial para o surgimento de vrias agroindstrias numa determinada

    microrregio ou municpio, cabe a instituio que tomou a iniciativa articular uma

    primeira reunio, entre todas as organizaes (governamentais e no-governamentais)

    que potencialmente podem se envolver no projeto.

    Para o caso de mais de um projeto, individuais ou grupais, no primeiro encontro

    discute-se a importncia, as possibilidades, a disposio em participar e o papel de

    cada organizao no processo de concepo e a abrangncia do projeto (municpios,

    comunidades). Deve ser formada uma base operacional que se responsabilizar pela

    busca do apoio institucional em todas as etapas de concepo do projeto. Esse apoio

    institucional ser caracterizado pela formao de um frum das organizaes e de uma equipe tcnica. O frum ter a misso de coordenar todo o processo e a equipe tcnica, junto com os agricultores, a de elaborar os projetos. Esta equipe pode ser

    formada por membros cedidos por essas instituies participantes, estejam elas

    atuando nas esferas federal, estadual ou municipal, pblicas ou privadas.

    Portanto, importante que as instituies que participaro do projeto de agroindstria,

    de forma direta ou indireta, estejam conscientizadas da necessidade de suas

    contrapartidas, seja apoiando com recursos humanos e materiais, seja legislando de

  • 8forma a que contribua com o xito dos futuros empreendimentos. Quando for

    pertinente, pode-se formalizar as decises tomadas pelas organizaes participantes

    em uma espcie de carta compromisso das instituies. Na medida que surgirem dificuldades/problemas, de qualquer ordem, cabe ao frum das organizaes a

    responsabilidade primeira de buscar as solues necessrias.

    b) Constituio da equipe tcnica A concepo de projeto(s) agroindustrial(is), do ponto de vista ideal, deveria contar com

    o trabalho de uma equipe tcnica interdisciplinar. Na prtica, porm, muitas vezes o

    tcnico/agente de desenvolvimento se encontra isolado. Quando esta situao ocorrer,

    sugere-se que o tcnico tente suprir essa carncia, buscando todos os apoios tcnicos

    possveis, seja em sua instituio seja em outras existentes na sua localidade.

    Para o caso de contar com uma equipe tcnica para trabalhar na concepo do projeto

    agroindustrial, necessrio definir claramente os papis e as responsabilidades de

    cada um de seus componentes, a partir do perfil e da funo que ocupam em suas

    instituies de origem. importante ter profissionais que entendam de produo

    primria, animal e vegetal, de processamento de alimentos, de economia, de marketing

    e comercializao, de plantas das instalaes e de tratamentos de efluentes etc. Isso

    no implica, entretanto, que cada tcnico ir elaborar uma parte do projeto

    separadamente. Pelo contrrio, todos devem participar/compreender todas as partes

    do projeto, aproveitando os conhecimentos, as experincias e as habilidades de cada

    um, ou seja, deve ser um trabalho interdisciplinar.

    Uma vez constituda a equipe tcnica, esta dever passar por um processo de

    capacitao, devido complexidade desse tipo de projeto, associativos ou no e,

    tambm, ao tipo de agroindstria. Esta capacitao pode compreender tanto os

    aspectos prticos de elaborao do projeto, tericos sobre a concepo de

    agroindstria e desenvolvimento, de organizao de agricultores familiares, quanto

    metodolgicos, em especial para a discusso com os agricultores familiares.

    Etapa 2. Sensibilizao dos agricultores e formalizao das agroindstrias

    a) Sensibilizao dos agricultores Esta etapa deve ser iniciada quando se tratar de uma demanda de projeto grupal ou

    vrios projetos, individuais ou grupais, de agricultores com potencial para a atividade

  • 9agroindustrial, mas que ainda no estejam sensibilizados para tal.

    O objetivo desse momento sensibilizar e mobilizar os agricultores para se

    organizarem com o propsito de participarem do projeto de agroindustrializao. O

    espao de sensibilizao, mobilizao e organizao, entretanto, no se encerra em

    um evento, devendo continuar nas demais etapas da concepo de projetos

    agroindustriais.

    Para iniciar esse processo de sensibilizao e organizao, fundamental apresentar

    aos agricultores que potencialmente podem vir a se inserir na atividade a importncia

    social e econmica da agroindustrializao, como, por exemplo, a gerao de postos

    de trabalho e de renda, a agregao de valor e a elevao do valor de venda dos

    produtos e outros (usar os perfis agroindustriais como apoio).

    Durante o processo de sensibilizao importante esclarecer, tambm, o que se

    entende por agroindstria de agricultores familiares, o pblico que pode fazer parte do

    projeto, os requisitos/condies para participar, as possibilidades de financiamento etc.

    Esta etapa poder ocorrer por meio de visitas, seminrios e reunies. importante a

    participao da instituies de apoio nessa etapa de sensibilizao, especialmente nos

    eventos de maior abrangncia, os quais podero ser coordenados pelo frum das

    organizaes.

    Se os agricultores manifestarem interesse, deve-se acertar os prximos passos para a

    seqncia dos trabalhos de sensibilizao e organizao e de concepo do projeto

    agroindustrial. Se for possvel, pode ser feito, tambm, um primeiro levantamento das

    comunidades interessadas em participar, para dar seqncia ao trabalho,

    desencadeando na concepo do projeto.

    b. Formalizao jurdica das agroindstrias

    Neste Manual trata-se da formalizao das formas associativas, sendo que os demais

    aspectos da legalizao das agroindstrias sero tratados em outros manuais

    especficos, conforme previsto no Programa de Agroindstria da SAF/MDA.

    b.1. Formalizao das agroindstrias individuais Agroindstrias individuais so aquelas constitudas por apenas uma famlia de

    agricultor. Neste caso, a sua formalizao jurdica ser por meio da Empresa Individual.

    A formalizao poder, tambm, ser como pessoa fsica nas Ufs onde permitida a

    comercializao de produtos industrializados com Nota de Produtor Rural-NPR.

  • 10b.2. Formalizao das agroindstrias grupais A agroindstria grupal uma sociedade constituda por mais de uma famlia de

    agricultor familiar.

    Para a formalizao jurdica da forma associativa, existem vrias opes, como

    associao, condomnio, cooperativa e sociedade empresarial. A escolha de uma delas

    uma deciso importante a ser tomada pelos agricultores. Nesse momento, deve-se

    levar em conta principalmente os seguintes aspectos: a) econmicos, como a forma e

    os canais de comercializao e a carga de tributos que cada forma jurdica e cada

    produto esto sujeitos; b) os aspectos scio-organizativos, como o nmero de

    associados no empreendimento, a participao de cada um na vida da agroindstria e

    a gesto social, onde as pessoas proprietrias so o centro do processo e

    responsveis pelas decises a serem tomadas democraticamente; e c) as implicaes

    da legislao previdenciria.

    As possibilidades de organizao e legalizao de uma forma associativa, sero

    explicitadas a seguir.

    b.2.1. Sociedade Empresarial A Sociedade Empresarial um tipo de pessoa jurdica de direito privado, regulado pelo

    Novo Cdigo Civil - NCC1, que tem por objetivo a explorao de atividades comerciais.

    A Sociedade Empresarial, de acordo com sua receita bruta anual, pode ser enquadrada

    como uma Microempresa ME, uma Empresa de Pequeno Porte EPP ou uma

    empresa de grande porte.

    Este tipo de sociedade constitudo por cotas, distribudas entre os scios, conforme o

    capital que cada um aportar. So sociedades de capital. Conseqentemente cada scio

    ter direito a voto de acordo com a quantidade de cotas que possui na empresa. O

    lucro, por sua vez, distribudo de acordo com a participao de cada um no capital.

    Este tipo de figura jurdica segue todas as normas estabelecidas pelo Cdigo

    Comercial e demais normas sobre tributao das empresas.

    No caso dos agricultores familiares, quando associados uma ME ou uma EPP,

    perdem o direito de segurados especiais do INSS2, passando a ter de recolher a sua

    contribuio Seguridade Social, bem como a se aposentar, conforme as normas

    prprias para a condio de empresrio. 1 Criado pela Lei n 10.406, em vigor a partir de 11 de janeiro de 2003. 2 Est em discusso um Projeto de Lei que visa garantir a permanncia do direito aos agricultores familiares condio de seguridade especial do INSS.

  • 11

    b.2.2. Cooperativa A Cooperativa, tambm identificada como Sociedade Simples pelo Novo Cdigo Civil,

    definida como sociedade civil, de pessoas, com forma e natureza jurdica prprias, no

    sujeita a falncia. Esse tipo de sociedade regulamentada pela Lei n 5.764, de 16 de

    dezembro de 1971.

    A Cooperativa constituda para prestar servios aos cooperados. Embora no tenha

    natureza comercial, pode praticar atos de comrcio. Neste caso, as disposies do

    Cdigo Comercial brasileiro se aplicam a esta forma jurdica. A Cooperativa poder

    adotar, como objetivo, conforme os art. 4 e 5 da Lei n 5.764, de 16 de dezembro de

    1971, qualquer tipo de servio, operao ou atividade. Esses objetivos sero definidos

    em seu Contrato Social e devem ser direcionados a prestar servios aos seus

    cooperados.

    O registro da Cooperativa deve ocorrer no Cartrio de Registro Civil de Pessoas

    Jurdicas, diferentemente das sociedades empresariais que ocorre na Junta Comercial.

    O principal instrumento para registro o Contrato Social. Estas so mudanas

    introduzidas pelo Novo Cdigo Civil, ao contrrio do que determinavam o Antigo Cdigo

    Civil e a Lei 5.674, onde constavam o Estatuto Social e registro em Junta Comercial.

    A adeso voluntria e, segundo a Lei 5.764, o nmero mnimo para a constituio da

    cooperativa de 20 cooperados. O Novo Cdigo Cvil, entretanto, determina que o

    nmero mnimo aquele suficiente para compor uma diretoria, ou seja, pressupem-se

    a partir de 8 ou 9 pessoas. Porm h necessidade que isto seja regulamentado. Na

    Cooperativa, cada cooperado tem direito a um voto, independente do nmero de cotas-

    parte. O retorno das sobras lquidas do exerccio ao cooperado proporcional s suas

    operaes realizadas com a sociedade, salvo deliberao em contrrio da Assemblia

    Geral.

    b.2.3. Associao A Associao, segundo o Novo Cdigo Civil, constituda por pessoas organizadas

    com fins no econmicos. Nela, vrios indivduos podem se organizar para defesa de

    seus interesses, por exemplo. No pode, portanto, desenvolver atividades comerciais,

    pois sairia de sua finalidade, passando a ser considerada uma Sociedade Empresarial,

    mesmo tendo sido registrada como Associao.

    A Associao, no Novo Cdigo Civil, compreende todas as antigas sociedades sem fins

  • 12lucrativos, com exceo da cooperativa.

    A Associao tem existncia distinta em relao aos seus membros. O patrimnio dos

    scios no atingido pelas dvidas contradas pela Associao e esta tem patrimnio

    distinto da de seus membros (salvo disposio legal em contrrio). O objetivo da

    Associao definido no seu estatuto social, onde fica caracterizada a finalidade da

    sociedade, ou seja, o motivo para o qual criada. Esse motivo pode ser de carter

    social, filantrpico, cientfico e cultural.

    Nos ltimos anos, contudo, tem surgido associaes de produtores rurais, que se

    diferenciam um pouco deste carter originalmente concebido pelo Cdigo Civil. Estas

    Associaes tm por objetivo principalmente a industrializao e a comercializao dos

    seus produtos. Esses produtos, para serem comercializados, necessitam de nota fiscal,

    e a associao, em princpio, no tem autorizao para usar este tipo de nota.

    Entretanto, em algumas Unidades da Federao - UFs, a Secretaria da Fazenda tem

    permitido que esse tipo de sociedade desenvolva a comercializao.

    Antes de um grupo de agricultores se decidir por esse tipo de pessoa jurdica

    recomendvel uma consulta junto Secretaria da Fazenda das UFs, para assegurar-se

    de que a associao poder comercializar legalmente seus produtos. Relembrando que

    no caso de comercializar seus produtos, a associao ser considerada uma

    Sociedade Empresarial e seguir as normas mercantis estabelecidas pelo Cdigo

    Comercial, sendo necessrio, inclusive, recolher os tributos sobre a renda. Para

    manter-se imune aos tributos a associao no poder remunerar seus dirigentes, no

    distribuir as sobras aos associados, elas devem ser aplicadas conforme os seus

    objetivos e em territrio nacional. Alm disso, os agricultores passam a se enquadrar

    perante a Previdncia Social como empresrios, perdendo a condio de Segurados

    Especiais.

    Esse tipo de sociedade no pode ter lucros, somente sobras. Estas sobras devem ser

    reaplicadas na prpria associao, de acordo com seus objetivos, no podendo ser

    distribudas entre os seus associados.

    b.2.4. Condomnio O Condomnio regulado pelo Cdigo Civil Brasileiro e deve ser registrado em

    Cartrio. O funcionamento da sociedade garantido pelo seu Contrato de Conveno

    (que equivale ao Estatuto Social na Associao) e demais documentos, conforme

  • 13deciso do grupo. No h necessidade de registros no CNPJ/MF, Inscrio Estadual,

    Junta Comercial ou Livros Fiscais e Contbeis Legais. O Condomnio se caracteriza

    como uma sociedade de fato e no de direito. Ou seja, trata-se de forma legalmente

    constituda que se presta apenas para garantir a posse, o uso e a sucesso de bens.

    Tem-se, desta forma, que por meio do condomnio no possvel a comercializao

    dos produtos. Caso esta organizao realize a comercializao, com o uso da Nota

    Fiscal, ela passa a ser considerada uma Sociedade Empresarial, devendo obedecer s

    normas comerciais e de tributos de acordo com os Cdigos Comercial e Tributrio,

    respectivamente.

    Em Santa Catarina, vrias agroindstrias de pequenos grupos de agricultores

    familiares tem sido legalizadas em forma de condomnio (e de associao). Estes

    condomnios, no entanto, no realizam a comercializao. Para realizar o ato comercial

    foram constitudas rede de agroindstrias, com a criao de cooperativas

    microrregionais, que tem a funo de prestar esse e outros servios aos condomnios,

    conforme descrio no item a seguir.

    b.2.5. Organizao de rede de agroindstria A rede de agroindstrias vem se tornando uma alternativa de organizao para as

    pequenas unidades. Isto significa que vrias agroindstrias, individuais e/ou coletivas,

    se articulam com outras, para que juntas possam resolver problemas, os quais,

    individualmente, seriam de difcil superao. Com isso, as pequenas agroindstrias, ao

    invs de concorrerem entre si, formam uma espcie de bloco, em torno de uma

    Unidade Central de Apoio Gerencial. O principal objetivo desta Unidade Central, que

    representa mais uma forma de organizao dos agricultores familiares, prestar um

    conjunto de servios s agroindstrias. Ou seja, o apoio tcnico, com tcnicos

    contratados ou de rgos pblicos, na produo da matria-prima, na industrializao e

    no planejamento e gesto. A rede de agroindstrias pode representar, ainda, uma

    forma de mediao com rgos governamentais em relao s polticas e servios

    pblicos, com o mercado e com os fornecedores. um instrumento, tambm, para

    facilitar o transporte dos produtos e para gerir a qualidade e a apresentao dos

    alimentos.

    Essa organizao das pequenas agroindstrias uma forma de aumentar o seu poder

    de interveno e permanncia no mercado formal. Atravs da rede as pequenas

    agroindstrias conseguem oferecer uma "cesta" com vrios tipos de produtos, em

  • 14escala compatvel, e negoci-la em condies mais favorveis junto aos mercados

    local e regional e em mdias e grandes redes de varejistas e atacadistas.

    A importncia est em obter a formalizao jurdica/tributria dos empreendimentos,

    sem perder a condio de agricultor familiar junto a Previdncia Social, que representa

    entrave de difcil soluo s pequenas agroindstrias.

    As pequenas agroindstrias, nessa estratgia organizacional, podero se legalizar sob

    as formas de condomnio ou de associao, ou mesmo como pessoa fsica, enquanto

    que a Unidade Central de Apoio Gerencial poder ser legalizada na forma de

    Cooperativa. A estrutura fsica da cooperativa pode ser a mnima possvel, se

    aproximando de um modelo organizacional virtual, que busca o mximo de mediao e

    prestao de servios s agroindstrias.

    Na cooperativa, Unidade Central, que pode ter abrangncia microrregional (vrios

    municpios prximos), so cooperados todos os agricultores proprietrios das

    pequenas agroindstrias, individuais ou coletivas. Cada agroindstria uma parceira

    da cooperativa microrregional e legalmente pode ser compreendida como uma filial da

    mesma. A cooperativa pode fornecer a nota fiscal para fazer a comercializao da

    produo de cada agroindstria. A seguir descrevemos um modelo organizacional de

    rede de agroindstrias:

    Fluxograma de rede de agroindstrias

    1 AF: agricultor(a) familiar.

    Unidade Central de Apoio Gerencial - Cooperativa

    Mercado

    Agroindstria individual pessoa fsicaAgroindstria coletiva associao ou condomnio

    AF AFAF AF

  • 15

    b.3. Princpios e problemas mais freqentes em formas associativas Antes de iniciar a constituio de uma forma associativa, o grupo de pessoas

    interessado deve refletir sobre o seu objetivo: porque a organizao? Qual a sua

    finalidade? Etc.

    Uma forma associativa deve ser criada na perspectiva de ser um instrumento para

    facilitar o grupo a alcanar seus objetivos, como, por exemplo, criar oportunidade de

    trabalho, gerar renda e melhorar as suas condies de vida. A organizao por si s

    no resultar em melhorias aos associados, mas poder ser um instrumento que

    ajudar a melhorar a vida de cada um. Portanto, a sociedade deve nascer de

    necessidades concretas.

    A organizao deve ser criada a partir do olhar do grupo de pessoas envolvidas, para

    atender os interesses e os objetivos comuns dos associados. Esses objetivos comuns

    devem ser resultado da conjugao dos interesses de cada um que compe o grupo.

    Os grupos de associativismo devem ser constitudos com a idia de cooperao em um

    processo de construo permanente, numa continuidade de aes em busca de

    sustentabilidade, persistindo ao longo do tempo, enquanto for pertinente a esse

    desenvolvimento. A sociedade, legalizada com qualquer que seja o tipo de figura

    jurdica (cooperativa, associao, condomnio, empresa), deve ser constituda baseada

    em princpios que possam garantir o bom funcionamento, como a seguir:

    - liberdade individual de adeso - cada pessoa deve decidir sobre a sua participao ou

    no na sociedade por sua prpria vontade, sem nenhum tipo de interferncia externa;

    - participao e democracia - o funcionamento da sociedade deve se dar com a

    participao de cada cooperado nas decises, na gesto etc, garantindo a democracia

    entre os envolvidos. Os cooperados devem acompanhar, compreender, discutir,

    sugerir, decidir e ter acesso s informaes sobre tudo o que se relaciona com a

    organizao.

    - transparncia nas aes e na gesto - todas as informaes sobre tudo o que

    acontece na sociedade deve ser transmitido a todas as pessoas. A direo tem o dever

    de facilitar o fluxo das informaes e os demais associados, por sua vez, devem buscar

    se informar;

    - regras bem definidas por todos os participantes - as leis da organizao como o

    estatuto, o contrato e o regimento interno, devem ser constitudas com a participao

  • 16de todos. Essas leis devem determinar em detalhes como deve funcionar a

    organizao. Todos, portanto, devem decidir e estar cientes das regras.

    - planejamento das atividades - todo o funcionamento e as atividades devem ser bem

    planejados para alcanar os objetivos propostos;

    - formao e capacitao deve ser constante em todas as reas - gesto, produo,

    tecnologias, envolvendo todos os cooperados.

    - a organizao do grupo deve ser orientada para que o resultado econmico beneficie

    diretamente os associados. No Brasil, tivemos muitos exemplos de cooperativas que

    cresceram e construram grandes estrutura e patrimnio, ao mesmo tempo, assistiu-se

    os pequenos agricultores cooperados no usufruindo os resultados. O importante que

    a razo de criar a organizao seja transferir benefcios e capitalizar os associados. Ou

    seja, deve incorporar a idia de que a cooperao por si s no garante o sucesso do

    empreendimento, mas que poder, se bem conduzida, ser um instrumento de

    desenvolvimento das pessoas cooperadas.

    Percebe-se, ao longo dos anos, que a constituio de grupos menores, tem viabilizado

    uma maior gesto social e maior capitalizao dos agricultores. Tendo em vista que em

    pequenas formas associativas os agricultores familiares tem maior participao nas

    decises, ao contrrio do que tem ocorrido na maioria das grandes cooperativas.

    importante que o grupo, antes de se constituir, visite outras experincias similares a

    que desejam implementar. Isso poder ajudar a evitar erros, ampliar acertos e novas

    possibilidades e caminhos para melhor desempenho da forma associativa.

    Dentre os tipos de problemas que podem ocorrer com maior freqncia em uma forma

    associativa podemos destacar:

    - esprito individualista de alguns cooperados, sobrepondo os objetivos da forma

    associativa;

    - desconfiana, desconhecimento e desinformao entre os associados;

    - relao de dependncia da organizao com pessoas externas;

    - falta de participao dos associados, de democracia interna e de transparncia nas

    aes da forma associativa;

    - criao de regras inadequadas aos objetivos do grupo;

    - inexistncia de quadro tcnico prprio ou de assistncia tcnica;

    - pouca formao/capacitao dos associados para o desenvolvimento das atividades,

  • 17da gesto etc;

    - falta de planejamento para a execuo das atividades;

    - resultados econmicos negativos.

    Etapa 3. Reunies em pequenas comunidades Esta etapa deve ser realizada apenas para o caso de demanda de projeto grupal ou

    vrios projetos, individuais ou grupais, em que o(s) agricultor(es) j esteja(m)

    sensibilizado(s). Lembre-se que em caso de demanda onde j existe a agroindstria e

    que seja necessrio um projeto apenas para captao de recursos para capital de giro

    ou para a ampliao/adequao da unidade, neste caso o trabalho deve ser iniciado na

    etapa 4. Da mesma forma, quando se tratar de demanda de projeto de uma agroindstria individual, de uma famlia apenas, deve-se passar para a etapa 4. Nesta etapa sugere-se que a equipe tcnica busque identificar as comunidades

    interessadas, a partir da sensibilizao e organizao dos agricultores, e marcar a

    primeira reunio nesses locais (se ainda no estiver agendada). A reunio em pequenas comunidades deve envolver todos os agricultores existentes (de um vilarejo) e que decidiram entrar na atividade agroindustrial. So trs os objetivos

    principais desta etapa, como a seguir.

    a) O primeiro objetivo se refere necessidade de dar seqncia sensibilizao e

    organizao dos agricultores, se ainda for necessrio, disponibilizando mais

    informaes detalhadas sobre a atividade de agroindustrializao e, principalmente,

    esclarecer as dvidas que possam surgir. Nesse momento, importante deixar claro

    ao(s) interessado(s), quem pode fazer parte do projeto, os requisitos que devem ser

    cumpridos para participar, o nvel de organizao necessrio quando for o caso de

    grupo agricultores e as alternativas de financiamento.

    Para bem cumprir este objetivo, a ttulo de sugesto, a equipe tcnica poder usar,

    como apoio, um lbum seriado que contenha tambm alguns desenhos/ilustraes

    sobre o tema do encontro. Poder, ainda, deixar na comunidade algum tipo de material

    escrito sobre a temtica (manual, cartilha, apostila etc), para que o(s) agricultor(es)

    possa(m) ler e refletir sobre o assunto. O uso de algum exemplo de agroindstria ou

    mesmo de um Perfil Agroindustrial pode tambm auxiliar nessa discusso.

    b) O segundo objetivo dessa reunio identificar o(s) agricultor(es) interessado(s), em

    grupo ou individualmente. Nesse momento possvel que apaream tanto grupos j

  • 18formados, quanto pessoas interessadas mas sem nenhuma noo de com quem

    poderiam se associar, por exemplo.

    No primeiro caso, grupo j constitudo, o trabalho deve ser retomado de acordo com a

    etapa 4.

    No caso de um grupo novo, de acordo com o que foi apresentado nos itens anteriores

    sobre cooperao, importante considerar os fatores que interferem nas relaes das

    pessoas dentro de um grupo associativo, como, por exemplo, a sua participao

    anterior em outras experincias de cooperao e na atividade proposta, a existncia de

    grau de parentesco, a religiosidade e a etnia predominante.

    Sugere-se que a equipe tcnica auxilie os agricultores na reflexo para comporem o

    grupo, contando, inclusive, com o apoio de outros profissionais especializados em

    cooperao, bem como na legalizao de formas associativas. A equipe tcnica dever

    compreender bem a realidade de cada grupo e oferecer informaes suficientes para

    que, tanto em uma situao quanto em outra, se possa dar seqncia ao trabalho,

    estimulando a participao de todos.

    Observao: caso surgir nesse momento a demanda de um agricultor individual recomenda-se agendar uma nova reunio com toda a sua famlia para dar andamento

    na elaborao do seu projeto, conforme a etapa 4.

    c) O terceiro objetivo iniciar uma coleta de informaes para a elaborao de uma

    carta consulta (essa coleta de informaes pode ser concludo na etapa 4). A carta consulta necessria quando se tratar de vrios projetos de agroindstrias, individuais

    ou grupais. Nesta carta deve-se fazer uma previso inicial dos projetos, destacando o

    nmero de agroindstrias e de agricultores envolvidos, os tipos e a quantidade de

    produtos, o oramento inicial de investimento e outros itens. Embora seja adequado

    buscar informaes o mais prximo possvel da realidade, entende-se que ainda no

    o momento de obter dados exatos e permanentes. Ao contrrio, durante o processo de

    elaborao do projeto muitas informaes iniciais podem sofrer alteraes. A carta

    consulta servir como referncia s organizaes envolvidas nos projetos para

    estabelecer o primeiro contato com o agente financeiro e com outras instituies

    externas.

    O prximo passo ser as reunies com cada grupo de agricultores organizados ou

    agricultores individuais sensibilizados.

  • 19Etapa 4. Reunies com cada grupo de agricultores ou agricultor individual A partir da sensibilizao e identificao dos grupos de agricultores ou agricultor

    individual interessado, dar-se- inicio discusso do projeto especfico de cada um

    deles (grupo por grupo ou agricultor por agricultor).

    No caso de projeto grupal necessrio recuperar as experincias dos agricultores em

    associativismo e os aspectos culturais e sociais mais relevantes, positivos ou

    negativos, bem como analisar sua situao econmica e produtiva, destacando suas

    principais atividades e a relao destas com o tipo de agroindstria que desejam

    implantar.

    A quantidade de reunies necessrias em cada um depender da sua realidade,

    podendo variar de duas a seis ou at mais. O importante no queimar etapas que

    possam ser decisivas para o prosseguimento do projeto, em etapas posteriores. No

    basta, apenas, a equipe coletar algumas informaes e elaborar um bom projeto sem a

    participao e a compreenso do(s) agricultor(es). A falta de participao do(s)

    agricultor(es) nesta etapa poder implicar em dificuldades futuras, na implantao e na

    gesto do empreendimento.

    Entende-se que, em um processo participativo e formativo, nesse momento de

    discusso que se d de fato a elaborao, ocorrendo posteriormente apenas etapas de

    sistematizao do projeto, resultado deste momento de reflexo do(s) agricultor(es)

    com os tcnicos.

    Podem aparecer nesse momento algumas dvidas sobre a atividade de

    agroindustrializao. O recomendvel que a equipe tcnica perceba a situao do

    grupo ou do agricultor individual e a necessidade de detalhar melhor algum tipo de

    informao.

    A equipe tcnica dever atuar como facilitadora para que a idia inicial de projeto, que

    um dos objetivos da primeira reunio dessa etapa com os interessados, surja do(s)

    prprio(s) agricultor(es) envolvido(s). O ideal a construo de uma proposta de

    agroindstria baseada na vivncia e no conhecimento do agricultor. Se, ao contrrio,

    partirmos de um conjunto (bombardeio) de informaes externas, tcnicas e de

    legalidade, poderia atropelar o aprendizado do(s) agricultor(es), ou, ainda, acabar

    excluindo alguns deles.

    Algumas perguntas bsicas podero ser trabalhadas na primeira reunio com o(s)

    agricultor(es), como, por exemplo, que tipo de agroindstria querem implantar ou quais

  • 20os produtos desejam industrializar, quanto de matria prima podem produzir em cada

    ano, qual a expectativa do(s) agricultor(es) em relao aos resultados (nvel de renda

    etc), onde pretendem vender os produtos e quem sero os scios da agroindstria no

    caso de projeto grupal. Mesmo que a equipe tcnica no faa perguntas diretas ao(s)

    agricultor(es), importante anotar todas as informaes que possam aparecer durante

    a discusso, sobre a qualidade da matria prima e sobre a forma de produo primria

    (individual ou coletiva), por exemplo.

    Nessa primeira reunio do grupo de agricultores ou com o agricultor individual

    interessado no recomendvel buscar todas as respostas detalhadamente, nem

    cerc-las por muitas informaes tcnicas (externas sua realidade), que poderiam

    ocasionar uma certa limitao ou inibio aos agricultores.

    A segunda reunio com cada um dos grupos de agricultores ou com o agricultor

    individual tem como objetivo fazer uma coleta de dados e informaes dos

    interessados e de suas propriedades, alm de trabalhar melhor as questes que

    ficaram pendentes no encontro anterior. No incio desta reunio sugere-se que a

    equipe tcnica apresente alguns cartazes com uma sntese da reunio anterior (idia inicial de projeto). Aps, para coletar os dados de uma maneira mais ordenada, sugere-se o uso de formulrio especfico.

    Nesse momento, ainda, a equipe tcnica deve ter a preocupao de ir agregando

    informaes tcnicas idia inicial dos agricultores. Isto possibilitar, aos poucos, uma

    certa moldurao, ou seja, dar consistncia tcnica ao projeto, o que poder facilitar o

    processo de maturao, sem perder, no entanto, a idia original dos agricultores.

    Na terceira reunio com o grupo de agricultores ou com o agricultor individual a equipe

    tcnica procurar encaminhar a discusso com o objetivo de fechar o projeto da

    agroindstria. Deve-se trabalhar, ento, uma concepo preliminar de todo o projeto.

    Para isso, com base no que foi discutido anteriormente e na idia inicial do projeto

    sugerida pelo(s) agricultor(es), a equipe dever apresentar, logo no incio, alguns

    possveis resultados. Para cada mudana que a equipe tcnica propuser, dever ser

    mostrada a justificativa tcnica (positiva ou negativa), para que o(s) agricultor(es)

    possam compreender as alteraes, amadurecer e ter referncias consistentes para a

    tomada de deciso.

    A deciso, entretanto, dever ser tomada apenas quando os agricultores (em grupo ou

    individual) se sentirem seguros. Portanto, essa deciso poder ocorrer na terceira

  • 21reunio, ou em outras subsequentes. Para essa apresentao a equipe tcnica

    poder preparar antecipadamente alguns cartazes, ou outro material que auxilie a

    compreenso do(s) agricultor(es) e que possam permanecer com eles aps a reunio.

    Deve-se ter o cuidado de levantar junto ao(s) agricultor(es) aquelas informaes que

    ainda esto faltando para a sistematizao final do projeto como, por exemplo, o tipo e

    a quantidade de recursos prprios disponveis, o limite mximo de financiamento

    aceitvel pelo(s) interessado(s) e a disponibilidade de mo-de-obra.

    Entre uma e outra rodada de reunies com o(s) agricultor(es) a equipe tcnica dever

    sistematizar os resultados do encontro anterior e preparar as informaes/subsdios

    para serem apresentados no incio do prximo.

    Deve-se, tambm, discutir com os agricultores a necessidade dos registros junto ao

    servio de inspeo sanitria e ao rgo ambiental. Sobre o servio de inspeo

    sanitria, a equipe tcnica dever esclarecer ao(s) agricultor(es) as opes existentes:

    Servio de Inspeo Federal (SIF), ou servio de inspeo estadual (SIE), ou servio

    de inspeo municipal (SIM), para os produtos de origem animal e para os de origem

    vegetal a Vigilncia Sanitria ou Servio de Inspeo Vegetal/MAPA, demonstrando as

    vantagens e as implicaes de cada uma. Um bom lbum seriado poder facilitar este

    tipo de discusso com o(s) agricultor(es). Poder, ainda, ser elaborado um pequeno

    folheto sobre este tema, para ser distribudo aos agricultores.

    Dois outros aspectos devem ser considerados ainda nessa etapa de concepo do

    projeto, que podem ocorrer em paralelo s reunies com cada grupo de agricultores ou

    agricultor individual, de acordo com cada caso. Um deles se refere formalizao

    jurdica da agroindstria, conforme apresentamos anteriormente. Para essa discusso,

    caso exista demanda de mais de um projeto de agroindstria na regio, pode ser

    organizada um ou mais seminrios com os agricultores dos projetos de agroindstria

    que esto prximos, sobre organizao de agricultores e formalizao jurdica de

    agroindstrias. Nesses encontros deve-se oferecer informaes aos participantes

    sobre as principais alternativas de figuras jurdicas para a formalizao das

    agroindstrias. Sugere-se esclarecer as diferenas existentes entre as formas jurdicas,

    destacando as vantagens e desvantagens de cada uma e suas implicaes.

    A deciso sobre a melhor forma de legalizao jurdica das agroindstrias deve ocorrer

    quando os agricultores se sentirem esclarecidos em relao a cada uma das

    possibilidades jurdicas. A fundao da organizao, no caso dos grupos novos, poder

  • 22ocorrer durante o processo de concepo do projeto. J a sua formalizao, ou seja,

    os devidos registros depende da realidade de cada um, podendo ser feita, at mesmo,

    aps a sinalizao positiva da disponibilidade dos recursos para investimento

    (financiamento).

    O outro aspecto refere-se necessidade de a equipe tcnica buscar outras

    informaes locais/regionais que subsidiaro a elaborao do projeto como, por

    exemplo, a situao geogrfica da regio em relao aos mercados consumidores e a

    disponibilidade de infra-estrutura.

    Em relao situao geogrfica e infra-estrutura, a equipe dever encontrar a

    melhor forma e local para implantar a agroindstria. Deve-se considerar fatores como o

    mercado consumidor; a infra-estrutura pblica e privada de apoio produo primria,

    ao processamento e distribuio; alm da disponibilidade de energia eltrica, gua,

    estradas, meios de comunicao e outros; quantificando e qualificando os itens.

    Paralelamente ao trabalho de campo, recomenda-se, tambm, realizar o estudo de

    mercado. Este estudo deve se constituir em informaes/subsdios relevantes

    elaborao do projeto, para avaliar a sua viabilidade e, em especial, para definir os

    espaos e as estratgias de ocupao do mercado. Esse estudo de mercado poder

    ser desenvolvido pela equipe tcnica, ou mesmo por uma instituio ou um profissional

    especializado.

    Por fim, a definio dos tipos de produtos a serem industrializados em cada

    agroindstria dever ser resultante do cruzamento das condies edafo-climticas, com

    o estudo de mercado, com a disponibilidade de Infra-estrutura bsica, com tecnologia

    disponvel (e adequada) e com a idia inicial do(s) agricultor(es). Isto dever ser

    debatido exaustivamente com o(s) agricultor(es), em tantas reunies quantas forem

    necessrias.

    O importante nesta etapa considerar que o agricultor familiar o centro da ateno e

    a sua realidade o ponto de partida do projeto. Essa realidade compreende a sua

    unidade de produo, a constituio de sua famlia, suas aptides, atividades, culturas,

    crenas, expectativas e necessidades.

    A figura a seguir modela a maneira de se implementar esta etapa:

  • 23

    Figura 1 Ilustrao de macro-componentes que subsidiam a identificao das oportunidades de negcio pelos agricultores familiares. A congruncia dos fatores ilustrados na Figura 1 resulta num processo de formao

    dos agricultores e de acesso s informaes necessrias para a tomada de decises. A

    partir de seu contexto e de sua idia de projeto ampliada a viso da futura

    agroindstria, com informaes dos macro-componentes, obtidos com o apoio da

    equipe tcnica.

    Pretende-se, ao levantar as informaes regionais, obter um nmero mximo de dados,

    os quais sero auxiliares na deciso sobre como identificar as oportunidades de

    negcio e escolher aqueles em que os agricultores familiares iro investir, para

    posteriormente planejar a implantao do projeto agroindustrial. As informaes

    regionais devero conter: a) produo primria por produto; b) agroindstrias

    existentes; d) caractersticas da estrutura fundiria; e) mapeamento da situao

    geogrfica; f) mapeamento da infra-estrutura de base, econmica e social; g) condies

    edafo-climticas; e h) base tecnolgica disponvel. Esses dados permitiro relacionar:

    1) os produtos de maior potencial para serem includos no estudo de mercado; e 2) os

    produtos dos agricultores familiares identificados como passveis de industrializao.

    Etapa 5. Sistematizao da primeira verso do projeto de agroindstria Aps a etapa de discusso com o(s) agricultor(es) e de levantamento das informaes

    locais/regionais, a equipe tcnica dever priorizar a sistematizao da primeira verso

    do projeto da agroindstria. Nesse momento o trabalho deve se concentrar no escritrio

    e deve representar uma sistematizao do que foi debatido e definido pelo(s)

    Mercado

    Infra-estrutura bsica

    Condies edafo-climticas

    Tecnologia

    Agricultor familiar e sua realidade (idia inicial do

    projeto)

  • 24agricultor(es) na etapa 4.

    Para esta etapa a equipe tcnica dever contar, alm das informaes descritas no

    item anterior, com o apoio de vrias outras como, por exemplo, sobre mercado;

    tecnologias de industrializao; rendimentos de cada produto aps o processamento

    (coeficientes tcnicos); oramentos de instalaes, equipamentos e custos dos

    registros necessrios (inspeo sanitria, licena ambiental, vigilncia sanitria). Para

    isso possvel buscar subsdios nos perfis agroindustriais e outras fontes. Outras

    providncias devero ser encaminhadas pela equipe tcnica como, por exemplo, a

    discusso dos modelos de plantas com o servio de inspeo sanitria e com o rgo

    ambiental.

    Etapa 6. Apresentao da primeira verso do projeto ao(s) agricultor(es) Aps a elaborao do projeto da agroindstria, necessrio fazer a apresentao e

    debater com o(s) respectivo(s) agricultor(es) (em grupo ou individual). Este um

    espao importante para o(s) agricultor(es) conhecerem os resultados do (seu) projeto e

    sugerirem algumas alteraes, caso sejam necessrias.

    No caso do projeto no apresentar viabilidade econmica, dever ser discutido com

    o(s) agricultor(es) um conjunto de alternativas para torn-lo vivel como, por exemplo,

    as possibilidades de mudanas da escala de produo ou dos tipos de produtos.

    Quando houver indicao de mudanas ou de ajustes (e feito estas alteraes), a

    equipe tcnica dever apresentar a nova verso do projeto ao(s) agricultor(es).

    Para esta etapa, apropriado a equipe contar com o auxlio de cartazes para a

    apresentao, detalhando todos as informaes do projeto, como os indicadores

    econmicos e sociais e todas as suas implicaes, positivas e desfavorveis. Uma

    cpia desses resultados dever ficar com o(s) agricultor(es) no final da reunio.

    Etapa 7. Elaborao da verso final do projeto Aps a apresentao dos resultados do projeto ao(s) agricultor(es), devero ser feitas

    as devidas alteraes, de acordo com as decises do(s) proprietrio(s). A partir dessas

    definies a equipe tcnica dever elaborar (sistematizar) a verso final do projeto.

  • 25 Etapa 8. Apresentao da verso final do projeto ao(s) agricultor(es) e ao agente financeiro Aps a elaborao da verso final do projeto, este dever ser apresentado ao(s)

    agricultor(es) envolvido(s) e s organizaes parceiras. Na seqncia, dever ser

    encaminhado ao agente financeiro para buscar o financiamento, ou iniciar a construo

    da agroindstria no caso de utilizao de recursos prprios.

    Por fim, esta pode ser considerada uma ltima etapa do processo de concepo do

    projeto. Entende-se, entretanto, que mesmo aps intenso processo de discusso com

    o(s) agricultor(es), de estudos e de elaborao, o projeto poder, ainda, necessitar de

    novas correes ou ajustes. Isto se faz necessrio dada a complexidade deste tipo de

    projeto e a prpria dinmica da agricultura familiar, que implica em um processo

    contnuo e permanente de planejamento.

  • 26

    ANEXO I: FLUXOGRAMA DAS ETAPAS DO PROCESSO DE CONCEPO DO PROJETO AGROINDUSTRIAL

    Etapa 1. Procedimentos preliminares: (apoio institucional; constituio da equipe tcnica)

    Etapa 3. Reunies em pequenas comunidades:

    (detalhamento da atividada agroindustrial; identificao e mapeamento dos

    agricultores interessados; coleta de informaes preliminares)

    Elaborao da carta consulta

    Etapa 4. Reunies em cada grupo de agricultores ou agricultor individual:

    (idia inicial do projeto; coleta de informaes; discusso sobre registros e formas de organizao/legalizao dos

    empreendimentos; discusso do projeto)

    Seminrios sobre

    organizao de agricultores e legalizao de agroindstria

    Etapa 5. Sistematizao da primeira verso do projeto

    Etapa 6. Apresentao da primeira verso do projeto ao(s) agricultor(es): resultados

    sociais, econmicos e implicaes

    ETAPA 7. ELABORAO DA VERSO FINAL

    Etapa 8. Apresentao do projeto ao(s) agricultores e ao agente financeiro

    Elaborao do estudo de mercado

    Apresentao da carta

    consulta ao agente

    financeiro

    Elaborao da carta compromisso das

    instituies

    Capacitao da equipe tcnica Etapa 2. Sensibilizao dos agricultores e formalizao das

    agroindstrias