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MANUAL DE SANEAMENTO E PROTEO AMBIENTAL PARA OS MUNICPIOSMUNICPIO E MEIO AMBIENTE

REALIZAO: Fundao Estadual do Meio Ambiente FEAM Diretoria de Atividades de Infra-estrutura - DIRAI Assessoria de Planejamento e Coordenao - APC

3 edio revista e atualizada julho/2002

Autores Denise Marlia Bruschi (Engenheira Sanitarista) Maurcio Andrs Ribeiro (Arquiteto) Mnica Campolina Diniz Peixoto (Arquiteta Urbanista) Rita de Cssia Soares Santos (Engenheira Ambiental) Roberto Messias Franco (Gegrafo)

Colaboradores Superintendncia de Planejamento e Controle/Centro de Informatizao/ SECT - Secretaria de Estado de Cincia e Tecnologia Assessoria de Comunicao / FEAM Diviso de Documentao e Informao DIINF/FEAM Assessoria Jurdica / FEAM - Joaquim Martins da Silva Diviso de Avaliao e Planejamento Ambiental/FEAM - Regina Maia Guimares Diviso de Qualidade das guas - Jos Eduardo Nunes de Queiroz e Vnia Lcia Souza Figueiredo (3 edio) Reviso de Texto (1 edio) Clarinda Maria Guerra Estagirio (1 edio) Hilarion Hoffmeister Vasques /FEAM Digitao (1 edio) Elisngela Pereira Guimares /FEAM Neila Oliveira Jardim Almeida Ilustrao (1 edio) Carlos Alberto Mafra Alvarenga Programao Visual e Impresso SEGRAC (31) 3411-7077 - B.Hte/MG - 1 e 2 edies) GRFICA E EDITORA SIGMA LTDA. (31) 3476-6566 - B. Hte./MG - (3 edio) Ficha Catalogrfica M966 2001 Municpio e meio ambiente / Denise Marlia Bruschi; Maurcio Andrs Ribeiro; Mnica Campolina Diniz Peixoto; Rita de Cssia Soares Santos; Roberto Messias Franco. --3.ed. - Belo Horizonte: FEAM, 2002. 114 p.; (Manual de saneamento e proteo ambiental para os municpios; v.1) 1. Municipalizao I. Bruschi, Denise M. II. Ribeiro, Maurcio Andrs III. Santos, Rita de C. Soares IV. Peixoto, Mnica C. Diniz V. Franco, Roberto Messias. CDU: 32:504

APRESENTAO DO VOLUMECompatibilizar meio ambiente e desenvolvimento tem como objetivos satisfazer as necessidades bsicas, elevar o nvel de vida das comunidades, obter ecossistemas protegidos e construir um futuro com equidade social e eficincia econmica. Tais metas requerem o compromisso dos governos locais para efetivar este novo modelo que caracteriza o desafio da transio para o prximo milnio. Tambm a descentralizao poltico-administrativa da gesto ambiental, pressupe a participao efetiva dos municpios. Com esta reedio, a Fundao Estadual do Meio Ambiente-FEAM, contribui para fortalecer os governos municipais, ampliando sua capacitao nas polticas ambientais, voltadas para o desenvolvimento sustentvel. O Captulo 1 aborda conceitos bsicos, a interao economia-meio ambiente e a estrutura federativa do sistema ambiental. Esse Captulo apresenta a Agenda 21 Local, como instrumento de desenvolvimento e cooperao ambiental, do necessrio envolvimento dos governos locais e da ampla participao pblica para o xito de sua implementao. A municipalizao da poltica ambiental detalhada no Captulo 2, em que se aborda o papel do municpio no gerenciamento ambiental, as relaes entre a comunidade e o meio ambiente, e a estruturao do Sistema Municipal de Gesto Ambiental. No captulo 3 apresentam-se alguns instrumentos de gesto ambiental que podem ser utilizados pelos governos locais para implementar uma poltica ambiental ampla e com resultados concretos. O Captulo 4 trata da estruturao do municpio para a gesto ambiental, abordando o planejamento estratgico e o treinamento de equipes locais. Em anexo, apresentam-se modelos de projeto de lei como sugestes teis para que os municpios abordem questes de seu interesse direto. Esta publicao, revista e atualizada em 1998, incorpora as transformaes legais e institucionais que ocorreram no perodo que decorreu desde a sua primeira edio em 1995.

Fundao Estadual do Meio Ambiente - FEAM

SUMRIO1. 1.1 1.2 1.3 1.4 1.5 1.6 1.7 1.8 INTRODUO ............................................................................. 9 Agenda 21 e Autoridades Locais ................................................... 11 Crescimento Econmico e Meio Ambiente ................................. 13 Relaes Federativas na Gesto Ambiental .................................. 16 A Autonomia Municipal na Constituio Federal ............................ 19 A Lei de Crimes Ambientais ........................................................... 20 O Sistema Nacional de Meio Ambiente SISNAMA ........................ 20 O Sistema Estadual de Meio Ambiente - SISEMA .......................... 22 Conceitos Bsicos ........................................................................ 25

2. MUNICIPALIZAO DA POLTICA AMBIENTAL .............................. 31 2.1 Ao Local, Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentvel ......... 31 2.2 Espao Urbano e Meio Ambiente .................................................. 33 2.3 Planejamento Ambiental Integrado ............................................... 37 2.4 Sistema de Gesto Ambiental Local .............................................. 40 2.4.1 Conselho Municipal de Desenvolvimento Ambiental ................... 41 2.4.2 rgo Executivo Municipal ............................................................ 43 3. INSTRUMENTOS DE GESTO AMBIENTAL ..................................... 45 3.1 Descrio dos Instrumentos de Gesto ......................................... 47 3.1.1 Legislao Ambiental e Urbanstica .............................................. 47 3.1.2 Avaliao de Impacto Ambiental - AIA .......................................... 53 3.1.3 Licenciamento Ambiental .............................................................. 54 3.1.4 Fiscalizao Ambiental ................................................................. 56 3.1.5 Zoneamento Ambiental ................................................................. 57 3.1.6 Educao, Extenso e Comunicao Ambiental ........................... 58 3.1.7 Gerenciamento de Bacias Hidrogrficas ....................................... 58 3.1.8 ICMS Ecolgico ............................................................................ 61 3.2. Uso Combinado dos Instrumentos de Gesto ............................... 62

4. 4.1 4.2 4.3 4.4 4.4.1 4.4.2 4.4.3 4.4.4 4.4.5 4.4.6 4.4.7 4.4.8

ESTRUTURANDO O MUNICPIO PARA A GESTO AMBIENTAL ................................................................ 63 Princpios e Conceitos .................................................................. 63 Planejamento Estratgico ............................................................. 64 Capacitao e Treinamento de Quadros Tcnicos ........................ 64 Problemas Especiais .................................................................... 66 Extrao de Areia e outros Materiais de Construo ................... 66 Garimpo ........................................................................................ 67 Saneamento Bsico ...................................................................... 68 Conservao de Solos .................................................................. 69 Atividades de Impacto Local e de Pequeno Potencial Poluidor ...... 70 Loteamentos ................................................................................. 70 Lanamento de leos e Graxas em Recursos Hdricos ................. 71 Uso de Agrotxicos ....................................................................... 72

5. BIBLIOGRAFIA .................................................................................. 75 ANEXOS ................................................................................................. 79 Anexo 1 - Agenda 21/Captulo 28 ........................................................... 79 Anexo 2 - Minuta de Lei para Criao de Conselho Municipal de Meio Ambiente .................................................................. 82 Anexo 3 - Minuta de Lei de Criao do rgo Executivo Municipal de Meio Ambiente ................................................... 87 Anexo 4 - Minuta de Lei de Criao e de Decreto de Zoneamento de rea de Proteo Ambiental Municipal ............................... 90 Anexo 5 - Deliberao Normativa Copam N 029, de 9 de Setembro de 1998 e Minuta-Padro de Convnio ................................... 97 Anexo 6 - Licenas Ambientais: Etapas e Procedimentos .....................105 Anexo 7 - Classificao das guas quanto Qualidade ........................ 112 Anexo 8 - Quem Quem no Meio Ambiente .......................................... 113

1. INTRODUO

O meio ambiente redefine a economia, a sociedade e a poltica. O conceito de desenvolvimento sustentvel integra a dimenso ambiental ao desenvolvimento scio-econmico, neste final de sculo como expresso contempornea da noo de progresso. A busca de solues para os problemas ambientais tornou-se uma prioridade no Brasil e no mundo. Organismos financeiros internacionais consideram a ateno para com o meio ambiente, um critrio bsico na implementao de seus programas. O modelo de desenvolvimento brasileiro acelerou o processo de urbanizao, ocasionando rpida concentrao de renda e de populao, o que sobrecarregou a estrutura das cidades, elevando os ndices de pobreza e agravando os problemas ambientais. O municpio local privilegiado para o tratamento dos problemas ambientais que afetam diretamente a qualidade de vida e que se manifestam no territrio municipal, tornando efetivamente possveis a participao popular e a democratizao da questo ambiental. Cada cidade deve se interessar pela manuteno de sua qualidade de vida e pela qualidade ambiental, essa forma de riqueza que a natureza oferece gratuitamente. Do ponto de vista da cincia ambiental, as cidades so ecossistemas modificados pela ao humana, que rompem os equilbrios preexistentes, provocam poluio e a necessidade de se dispor os resduos da produo e do consumo em escala distinta dos ecossistemas naturais. O gerenciamento do meio ambiente significa a implementao de aes articuladas que resultam da conscientizao, mudana de hbitos e comportamentos.

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Os meios para tal gesto vo da escolha inteligente dos sistemas de servios pblicos penalizao por disposio inadequada dos poluentes gerados nos estabelecimentos industriais, passando pela edio de leis e normas claras, simples e abrangentes sobre controle de poluio, ocupao e parcelamento do solo urbano; criao de espaos territoriais especialmente protegidos; campanhas de coleta seletiva e reciclagem de lixo; mudana de prticas da Administrao Pblica; democratizao das instituies; assimilao e gerao de informao; fomento formao da conscincia ambiental. Imprescindvel, neste processo, a estruturao de polticas municipais de meio ambiente, para que os governos locais encontrem, em conjunto com a comunidade, caminhos saudveis para seu crescimento, superando o discurso tradicional de progresso a qualquer preo, questionando o desperdcio e estabelecendo relao equilibrada com o meio ambiente. A ao poltica para reverter o quadro de degradao ambiental depende da participao da sociedade. A descentralizao das aes ambientais, pressupe a adoo de polticas municipais de meio ambiente e a estruturao de sistemas locais de gesto que compatibilizem o desenvolvimento com a proteo dos recursos naturais. Os municpios assumem, dessa forma, o papel que lhes cabe na implementao da poltica ambiental global. no municpio que vm se manifestar os grandes problemas ambientais, agravados pelo ritmo da urbanizao. No nvel da administrao local, a participao popular e a to necessria democratizao so efetivamente possveis, ou podem progredir com rapidez. necessrio assumir a urgncia da ao. Ao que demanda criatividade, deciso poltica e ampliao dos mecanismos de participao da comunidade para atender s suas necessidades bsicas, proteger os recursos naturais e incluir consideraes ambientais nas decises relativas ao desenvolvimento municipal. Adotar um novo posicionamento frente questo exige passar de uma abordagem pontual para uma abordagem sistmica, baseada em aes integradas e participao comunitria.

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1.1. Agenda 21 e Autoridades LocaisA Conferncia das Naes Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento Rio 92, ao adotar a Agenda 21 como um programa para o prximo sculo, reconheceu formalmente, a necessidade de mobilizar atores no nvel global, regional e local para a promoo do uso sustentvel de recursos naturais e abordar o processo de desenvolvimento sob o enfoque da sustentabilidade. A Agenda 21, adotada por 178 pases, destaca-se como o mais importante protocolo da Rio 92, constitudo por 40 captulos estruturados em quatro sees, referentes aos seguintes temas: (1) Aspectos Econmicos e Sociais do desenvolvimento e suas relaes com os problemas ambientais; (2) Conservao e Administrao de Recursos para o Desenvolvimento, abordando os temas ligados proteo da atmosfera, dos ecossistemas terrestres e aquticos, e gesto de resduos dos processos produtivos: (3) Estabelecimento do Papel dos Grandes Grupos Sociais contendo anlise e sugestes sobre a forma de participao da sociedade (mulheres, ONG's, trabalhadores, cientistas, etc.) no processo de desenvolvimento sustentvel, e (4) Meios de Implementao da Agenda, abordando os recursos financeiros, o conhecimento cientfico, a formao de conscincia e a disseminao das informaes, num quadro de cooperao internacional. Para o sucesso das aes em prol desse novo modelo de desenvolvimento, o captulo 28, Iniciativas das Autoridades Locais em Apoio Agenda 21 (Anexo 1), sugere s lideranas municipais atuarem como facilitadoras da implementao das Agendas 21 Locais, convocando a sociedade civil organizada e os empresrios para, juntamente com o setor pblico, estabelecerem proposta de planejamento estratgico e aes participativas que promovam a sociedade sustentvel. Torna-se necessrio, portanto, elaborar Agendas 21 municipais, adaptando as propostas do documento da ONU realidade particular de cada municpio e regio. A Agenda 21 Local deve priorizar a melhoria da situao ambiental e social das reas urbanas e rurais, por meio de solues viveis. A preservao histrico-cultural e ambiental deve

1 A Conferncia das Naes Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento Rio 92 aprovou, oficialmente, 5 documentos: a Declarao do Rio sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, Princpios para o Manejo e Conservao de Florestas, Agenda 21, Conveno sobre Diversidade Biolgica e Conveno sobre a Mudana do Clima.

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corresponder ao conceito de cidades que promovam o uso sustentvel de recursos. A Agenda 21 Local como proponente de projetos de desenvolvimento sustentvel, pode ser tambm instrumento para captao de recursos.

Qual o papel dos administradores municipais na implementao da Agenda 21 Local? Os administradores municipais devem incentivar o desenvolvimento sustentvel de forma participativa e descentralizada, buscando alternativas que permitam o atendimento de suas necessidades econmicas, sociais e ambientais, por exemplo: Reduo de energia nos prdios pblicos; Incentivo reciclagem de papel e outros materiais; Incentivo `a otimizao do uso de energia e materiais junto ao setor privado; Utilizao de produtos menos prejudiciais ao meio ambiente; Avaliao e fiscalizao de impactos ambientais das iniciativas pblicas ou privadas em seu territrio; Treinamento das equipes locais para o planejamento participativo; Poltica de compras ambientalmente adequada; Investimentos no Saneamento Ambiental (Fonte: 21 Perguntas e Respostas: Agenda 21, 1996) Um mtodo prtico para uso da Agenda 21 consiste em reler criticamente os planos e metas prioritrias existentes, tomando como referncia sua perspectiva, e introduzir os novos elementos oferecidos pela Agenda global, que aprimorem os planos de ao e que promovam sua ecologizao. Desta forma, o desenvolvimento local passa a ser parte integrante de um todo sintonizado com propostas voltadas para melhor qualidade de vida e do ambiente. Seu uso descentralizado, em cada setor e rgo da administrao, sua anlise e estudo, so ponto de partida eficaz para que, ao longo do tempo, noes e propostas ali contidas sejam internalizadas, com os devidos ajustes, em cada contexto local. A Agenda 21 pode ser elaborada tambm na escala microrregional, orientando planos de desenvolvimento de conjuntos de municpios e regies. Ela pode ser internalizada em cada poltica pblica setorial, da agricultura aos recursos hdricos, da cultura sade. Pode ser o elemento catalizador para estimular o associativismo municipal e elevar o nvel na priorizao de investimentos, nos oramentos participativos, para alm das demandas pontuais locais, voltando-as para estratgias coletivas mais amplas. 12Manual de Saneamento e Proteo Ambiental para os Municpios

Portanto, a Agenda 21 Local constitui instrumento de planejamento estratgico, no qual a sociedade, gradativamente, identifica e realiza metas que podem ser revistas e aperfeioadas, tendo em vista que trata-se de um processo dinmico a mdio e longo prazos. caminho para a construo de um planejamento participativo, de forma gradual e negociada, cuja meta um novo paradigma scio-econmico e ambiental, no qual a comunidade, conselhos municipais, o setor produtivo, e o poder executivo do municpio estabelecem um compromisso com a sustentabilidade local. Especificamente, a Agenda 21 Brasileira, coordenada pela Comisso de Polticas de Desenvolvimento Sustentvel (CPDS / Ministrio do Meio Ambiente-MMA), convocou os diversos setores da sociedade, para a discusso de seis temas preferenciais, dentre os quais, destaca-se a temtica referente s Cidades Sustentveis, considerada uma abordagem relevante para a poltica sustentvel nacional. Este tema, visou a mobilizao dos dirigentes municipais e da comunidade local, para a incorporao ambiental no planejamento urbano e para a adoo de estratgias ecolgicas na construo das cidades.

1.2. Crescimento Econmico e Meio AmbienteO crescimento econmico caracterizado pela intensa explorao dos recursos naturais, afeta severamente as capacidades de regenerao e absoro desses recursos. Tem ocorrido o processo de desinvestimento do capital natural, que significa o esgotamento de recursos naturais no renovveis, o uso inadequado de recursos naturais renovveis - como energia e gua - e impactos ambientais de todo tipo (poluio, doenas, dentre outros.). A gerao de produtos e servios mostrada nas estatsticas de desenvolvimento, leva a avaliao equivocada de riqueza social, a qual ignora os custos ambientais embutidos nas grandezas de produo econmica. Por exemplo, quanto mais rpido uma cidade derrubar sua floresta, esgotar seus aqferos, explorar seu banco pesqueiro e exaurir seu depsito mineral, tanto mais elevados parecero seu produto bruto e sua renda municipal, e to mais positivamente se considera que a economia local esteja se desenvolvendo. Entretanto, o aumento econmico representa um custo real, fsico, tendo em vista que decorre do uso sempre crescente da natureza, tornado possvel tanto pela extrao de matria e de recursos naturais, quanto pelo uso da energia.

2 No contexto da Agenda 21 Brasileira, foram identificados seis temas preferenciais: Agricultura Sustentvel, Cidades Sustentveis, Infra-estrutura e Integrao Regional, Gesto dos Recursos Naturais, Reduo das Desigualdades Sociais e Cincia e Tecnologia para o Desenvolvimento Sustentvel. A contribuio do Estado de Minas Gerais para a Agenda 21 Brasileira, sob a coordenao da Secretaria de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentvel-SEMAD, buscou privilegiar uma abordagem multissetorial da realidade estadual, entendendo que a Agenda 21 no um documento de governo, mas um produto de consenso entre os diversos setores sociais.

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As cincias sociais, especialmente a economia em sua viso tradicional, no consideram as interaes que existem entre os alicerces ecolgicos e as atividades de produzir e consumir, que representam a essncia de qualquer sistema econmico. Uma viso distinta da cincia econmica tradicional est sendo denominada economia ecolgica (ou eco-economia), uma abordagem multidisciplinar que leva em conta princpios e leis da natureza, e que constitui uma cincia de fato, para entendimento e gesto da sustentabilidade. A economia ecolgica baseia-se no princpio de que devem ser praticadas na economia regras que conduzam a uma mxima eficincia e a um mnimo de perdas nas transformaes produtivas, entendendo tambm que a economia est sujeita ao princpio de Balano de Matria e Energia que estabelece que tudo que retirado do meio ambiente retorna ao mesmo, seja como produto para consumo ou seja como dejeto (Figura 1). Em uma perspectiva econmico-ecolgica e buscando analisar a Figura 1, basicamente, pode-se entender que o uso do meio ambiente ocorre em trs nveis: meio ambiente como fornecedor de recursos, cedendo os recursos naturais - matria prima e energia para a produo. meio ambiente como fornecedor de bens e servios, que so entendidos como recursos intangveis, tais como a paisagem e o patrimnio cultural; meio ambiente como assimilador de dejetos (a matria e a energia que o processo transformou podem voltar produo por meio de reciclagem).

3 O esgotamento dos recursos naturais percebido aps o perodo da revoluo industrial, decorrente das alteraes positivas e negativas no ambiente e evidenciando o limite de suporte dos ecossistemas tem sugerido a interao entre economia e meio ambiente, ou seja, a maneira pela qual nos apropriamos dos recursos naturais pode provocar impactos no ambiente que, de acordo com a sua qualidade, podem reverter negativamente na apropriao desses recursos, gerando externalidades, ou seja perdas com a contaminao ambiental (Bellia, 1996).

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Balano de Matria e Energia SISTEMA ECONMICOPRODUO CONSUMO

RECICLAGEM

MEIO AMBIENTE ASSIMILADOR DE DEJETOS

MEIO AMBIENTE PROVEDOR DE RECURSOS MATERIAIS E ENERGTICOS

MEIO AMBIENTE PROVEDOR DE BENS E SERVIOS

MEIO AMBIENTEFigura 1 (Fonte: adaptao de Pearce et all, 1995)

Portanto, o meio ambiente no um setor da vida, da sociedade, da economia. Ele a dimenso que est presente em todas as atividades proporcionando, como fonte supridora, recursos - matria e energia - para transformao, e recebendo como fossa de dejetos, todo o lixo - matria e energia degradadas - em que se convertem os produtos, aps utilizao. importante entender que na nova viso da economia no se pode tratar a natureza parte, conferindo-lhe importncia secundria. Neste conceito, a extrao de recursos e o lanamento de dejetos no podem sobrecarregar ou interferir nos ciclos naturais. O meio ambiente deve ser visto, essencialmente, como uma condio primria das atividades humanas, de seu progresso e de sua sustentabilidade.

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1.3. Relaes Federativas na Gesto AmbientalO federalismo no Brasil (Figura 2) assume contornos historicamente relacionados com os movimentos de transformao da economia e da sociedade. Diferentemente de outros pases que se tornaram federativos a partir de unidades menores - estados, cidades - o Brasil faz o caminho inverso, j que a descentralizao -- ou o poder local -- vem se consolidando gradativamente. O conceito de federalismo envolve noes como descentralizao polticoadministrativa e democratizao da gesto pblica. A Constituio Federal de 1988 representa, sob esse ponto de vista, um marco importante, por incluir fortes princpios descentralizadores, inclusive na poltica ambiental. O texto constitucional define competncias concorrentes, proporcionando ampla margem de responsabilidade aos Municpios que dela desejarem fazer uso. Um dos temas centrais num pas federativo so as atribuies e responsabilidades que devem ser assumidas pela Unio, pelos Estados e Municpios. Especificamente, as relaes entre escalas de governo na gesto ambiental baseiam-se em alguns princpios essenciais. O primeiro o princpio da cooperao ou solidariedade: independente da circunstncia partidria ou poltica conjuntural, a cooperao entre distintos nveis de governo evita custos que oneram os empreendedores e agiliza os prazos para que as questes sejam resolvidas. O segundo princpio para a ao ambiental federativa o da subsidiariedade - pelo qual tudo que puder ser realizado pelo nvel local com competncia e economia, no deve ser atribudo ao nvel estadual e federal e assim por diante. Na distribuio de competncias entre nvel municipal, estadual, federal, e supranacional, quando a ao no puder ser feita de forma econmica e eficiente num nvel decisrio, preciso elev-la para o nvel imediatamente superior. Abaixo do poder local, h nveis de ao como os condomnios e associaes de moradores, que podem resolver sem a interferncia do poder pblico os conflitos que afetam aquela micro-comunidade. No nvel bsico de ao encontra-se o indivduo, que com seu comportamento e valores pode agir positiva ou negativamente em relao ao ambiente. O princpio da subsidiariedade permite encontrar as solues das questes o mais prximo possvel do local em que so geradas, evitando a burocratizao, o nus econmico e a sobrecarga administrativa dos rgos de atuao mais ampla. No campo da gesto ambiental, ocorrem eventualmente sobreposies de competncias e indefinies legais que levam superposio de decises diferentes sobre um mesmo tema, tomadas em nveis distintos do poder pblico.

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Os rgos das esferas superiores da administrao e do poder poltico s deveriam intervir numa questo de menor amplitude, quando houvessem se esgotado todas as possibilidades de soluo pela administrao local, ou quando houvesse manifesta omisso ou impercia dos rgos da unidade federativa em que tenha ocorrido. Inversamente, os governos locais tm todo o direito de serem mais rigorosos e mais exigentes que os Estados no controle das atividades que se instalam em seu territrio; por sua vez, os Estados podem ser mais rigorosos que a Unio, em relao a empreendimentos ou atividades que afetem as populaes locais, sempre que isso for de seu interesse. Nas disputas de competncias e atribuies legais entre entidades hierarquicamente diferentes, compete ao Poder Judicirio a arbitragem entre decises distintas, definindo com clareza a atribuio de implementar decises como, por exemplo, as referentes ao licenciamento ambiental. No Estado federado, cabem ao Governo Central, aos Estados-membros e aos Municpios competncias, responsabilidades e atribuies legais quanto poltica e gesto ambiental. O princpio da autonomia valoriza a liberdade e discernimento individual ou local, garantindo o mximo de autonomia e o mnimo de dependncia para a realizao de aes de interesse local. Esse princpio relaciona-se com a proximidade fsica e espacial, e quando aplicado na disposio de resduos, postula que eles devem ser dispostos prximos ao local de gerao, evitando-se sua exportao e transporte. O princpio da responsabilidade compartilhada define que a misso de zelar pelos bens comuns cabe a todos e a cada um, de acordo com suas competncias e atribuies e ao seu dever de cuidar do patrimnio coletivo, inclusive no auto-interesse. Organizar de forma econmica e eficaz as atribuies e responsabilidades ajuda a reduzir custos e prazos e faz com que o controle ambiental no seja um nus pesado no caminho do desenvolvimento sustentvel. A cooperao entre nveis de governo admite a supletividade, nos casos em que haja omisso, prazos no cumpridos, incompetncia do nvel responsvel. O municpio no pode ser mais permissivo em termos de prazos para adequao dos empreendedores aos padres ambientais, do que o estado ou o governo federal. Pode ser mais restritivo, se assim o interessar. Da mesma forma, pode ser rigoroso na definio de padres, e at mesmo banir ou no permitir, caso no esteja receptivo instalao de determinados tipos de atividades em seu territrio. meta desejvel a implantao efetiva de uma gesto ambiental capilarizada, com a participao de toda a sociedade, em que cada um exerce sua parcela de responsabilidade, condio bsica para alcanar a melhoria das condies ambientais.

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A Federao Brasileira REGIES E ESTADOS N DE MUNICPIOS

REGIO NORTE Acre ......................................................................................... 22 Amazonas ............................................................................... 61 Amap ..................................................................................... 16 Rondnia ................................................................................. 52 Roraima ................................................................................... 15 Par ......................................................................................... 122 SUB TOTAL ............................................................................. 288 REGIO NORDESTE Maranho ................................................................................ 123 Piau ........................................................................................ 399 Cear ....................................................................................... 184 Rio Grande do Norte ............................................................... 160 Paraba .................................................................................... 220 Pernambuco ............................................................................ 184 Alagoas ................................................................................... 101 Sergipe .................................................................................... 75 Bahia ....................................................................................... 414 SUB TOTAL ............................................................................. 860 REGIO SUL Paran ..................................................................................... 399 Rio Grande do Sul ................................................................... 467 Santa Catarina ......................................................................... 293 SUB TOTAL ............................................................................. 1159 REGIO SUDESTE Espirito Santo .......................................................................... 76 Minas Gerais ........................................................................... 853 Rio de Janeiro ......................................................................... 91 So Paulo ................................................................................ 623 SUB TOTAL ............................................................................. 1643 REGIO CENTRO OESTE Gois ....................................................................................... 241 Mato Grosso ............................................................................ 126 Mato Grosso do Sul ................................................................. 77 Tocantins ................................................................................. 137 SUB TOTAL ............................................................................. 581 TOTAL ..................................................................................... 5531

Figura 2 - O Federalismo no Brasil

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1.4. A Autonomia Municipal na ConstituioA Constituio de 1988 inovou no cenrio brasileiro na rea do Direito Ambiental, abrindo novos espaos para as aes de proteo ao meio ambiente e, no que se refere aos direitos e garantias individuais, organizao do Estado, tributao, e ainda ordem econmica e social no Pas. A autonomia municipal, definida pelos artigos 18, 29 e 30 da Constituio, esclarece, genericamente, o poder do Municpio em gerir seus prprios negcios. Tem por base a capacidade municipal de auto-organizao e de auto-governo, empregando aes normativas, elaborando sua prpria legislao nas reas de sua competncia exclusiva e suplementar e, implementando uma administrao prpria, especialmente para manter e prestar os servios de interesse local. Com essa viso da autonomia, organizao e governo, o texto constitucional define as competncias municipais e a forma como se distribuem as diversas competncias das unidades federadas. O art. 30 relaciona as competncias normativas que cabem unicamente ao municpio, entre as quais merecem destaque: a) b) c) legislar sobre assuntos de interesse local; suplementar a legislao federal e estadual, no que couber; promover, no que couber, adequado ordenamento territorial, mediante planejamento e controle do uso, do parcelamento e da ocupao do solo urbano.

O art. 225, por sua vez, enuncia o direito comum a todos de usufrurem do meio ambiente ecologicamente equilibrado, considerado bem de uso comum, essencial sadia qualidade de vida. atribudo ao Poder Pblico e coletividade o dever de defend-lo e preserv-lo. Esses artigos e outros do texto constitucional brasileiro abrem a possibilidade de o municpio legislar sobre meio ambiente, suplementando a legislao federal e estadual, e ainda, de atuar de maneira inovadora. A partir de 1988, inaugurou-se nova etapa na afirmao das competncias dos municpios, o que exige de seus polticos, tcnicos e cidados, maior e melhor conhecimento das leis ambientais e dos temas de que elas tratam. O municpio, nesse contexto jurdico-constitucional, alcanou novo estgio na Federao, j que lhe foram conferidas mais obrigaes e competncias.

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A Constituio Estadual de Minas Gerais, publicada em 21 de setembro de 1989, veio, por sua vez, consolidar os princpios estabelecidos na Constituio da Repblica. A Constituio de Minas, em seu Captulo IV, atribuiu autonomia poltica, administrativa e financeira ao Municpio, tendo-lhe delegado competncias como por exemplo legislar sobre a preservao dos recursos naturais em carter regulamentar, observadas as peculiaridades dos interesses locais e as normas gerais da Unio e as suplementares do Estado, desde que no seja menos restritivo que o Estado e a Unio.

1.5. A Lei de Crimes AmbientaisEm fevereiro de 1998 foi publicada a Lei n. 9.605, denominada coloquialmente como "Lei de Crimes Ambientais", que dispe sobre as sanes penais e administrativas derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente. Desse texto legal, cabe destacar os seguintes artigos: Art. 2 - Quem, de qualquer forma, concorre para a prtica dos crimes previstos nesta Lei, incide nas penas a estes cominadas, na medida da sua culpabilidade, bem como o diretor, o administrador, o membro de conselho e de rgo tcnico, o auditor, o gerente, o preposto ou mandatrio de pessoa jurdica, que, sabendo da conduta criminosa de outrem, deixar de impedir a sua prtica, quando podia agir para evit-la. Art. 3 - As pessoas jurdicas sero responsabilizadas administrativa, civil e penalmente conforme o disposto nesta Lei, nos casos em que a infrao seja cometida por deciso de seu representante legal ou contratual, ou seu rgo colegiado, no interesse ou benefcio da sua entidade. Pargrafo nico. A responsabilidade das pessoas jurdicas no exclui a das pessoas fsicas, autoras, co-autoras ou partcipes do mesmo fato. Art. 4 - Poder ser desconsiderada a pessoa jurdica sempre que sua personalidade for obstculo ao ressarcimento de prejuzos causados qualidade do meio ambiente. A lei foi regulamentada pelo Decreto n 3.179, publicado no Dirio Oficial da Unio em 22/09/1999, que dispe, basicamente, sobre a especificao das sanes aplicveis s condutas e atividades lesivas ao meio ambiente.

1.6. O Sistema Nacional do Meio Ambiente-SISNAMAEm 1981, a Lei n 6938 estabeleceu a Poltica Nacional do Meio Ambiente e seus fins e mecanismos de aplicao, constituindo o Sistema Nacional do Meio Ambiente - SISNAMA e o Conselho Nacional do Meio Ambiente 20Manual de Saneamento e Proteo Ambiental para os Municpios

CONAMA. O CONAMA um rgo colegiado, com poder deliberativo sobre os problemas ambientais cujos impactos extrapolem os territrios estaduais e, compe-se de representantes dos rgos ambientais de todos os Estados, de entidades de classe e organizaes no-governamentais. Aos rgos e entidades que compem o SISNAMA, foram atribudas as seguintes funes: a) aos rgos federais, cabe coordenar e emitir normas para a aplicao da legislao ambiental em todo o Pas. b) aos rgos estaduais, so atribudas competncias para o licenciamento preventivo e corretivo das atividades potencialmente poluidoras ou degradadoras do meio ambiente; a fiscalizao e punio pelo descumprimento das determinaes legais; e o estmulo ao crescimento da conscincia e da educao ambiental. c) aos Municpios, a legislao federal sugere a criao dos Conselhos Municipais de Desenvolvimento Ambiental - CODEMAS, que devem contar com um apoio executivo das Prefeituras. Esses Conselhos tm como funo atuar suplementarmente ao Conselho Estadual, determinando, sobretudo, o controle ambiental de atividades de impacto local, e das demais mediante instrumento legal firmado com o Estado, promovendo a participao comunitria, a educao e a conscientizao ambiental.SISTEMA NACIONAL DE MEIO AMBIENTE - SISNAMAMBITO RGO FEDERAL CONAMA CONSELHO CMARAS PERMANENTES CMARAS TEMPORRIAS SECRETARIA EXECUTIVA AGNCIA AMBIENTAL MMA IBAMA ESTADUAL MUNICIPAL

COPAM CERH 7 CMARAS ESPECIALIZADAS SEMAD FEAM IEF IGAM

COMAM* Conselhos Municipais**

EXECUTIVOS MUNICIPAIS DE MEIO AMBIENTE

RGO SUPERIOR

MINISTRIO DO SECRETARIA DE MEIO AMBIENTE, SECRETARIAS ESTADO DO MEIO DOS RECURSOS MUNICIPAIS DE AMBIENTE E HDRICOS E DA MEIO AMBIENTE DESENVOLVIMENTO AMAZNIA SUSTENTVEL - SEMAD LEGAL - MMA

Figura 3 - Sistema Nacional do Meio Ambiente - SISNAMA * COMAM - Conselho Municipal de Meio Ambiente de Belo Horizonte ** Conselho Municipal de Meio Ambiente

Municpio e Meio Ambiente

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1.7. O Sistema Estadual do Meio Ambiente - SISEMAO Sistema de Meio Ambiente do Estado de Minas Gerais, coordenado pela Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentvel SEMAD composto por dois Conselhos: Conselho Estadual de Poltica Ambiental COPAM e Conselho Estadual de Recursos Hdricos CERH; e por vinculao de trs rgos: Fundao Estadual do Meio Ambiente FEAM, Instituto Estadual de Florestas IEF; e Instituto Mineiro de Gesto das guas IGAM. Cabe SEMAD formular e coordenar a poltica estadual de proteo do meio ambiente e de gerenciamento dos recursos hdricos, alm de proceder articulao das polticas de gesto dos recursos ambientais, assegurando o desenvolvimento do Estado, sob a tica da sustentabilidade. No sentido de tornar a questo ambiental permevel s decises gerais do Estado a Secretaria participa de vrios rgos colegiados mineiros. O COPAM, rgo normativo, colegiado, consultivo e deliberativo, subordinado Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentvel SEMAD, foi reestruturado pela Lei n 12.585/97 e Decreto Estadual n 39.490/98 em sua organizao, passando a ser constitudo por um Plenrio e 07 (sete) Cmaras especializadas: Cmara de Poltica Ambiental; Cmara de Atividades Industriais; Cmara de Atividades Minerrias; Cmara de Atividades de Infra - Estrutura; Cmara de Atividades Agrossilvopastoris; Cmara de Proteo da Biodiversidade; e Cmara de Recursos Hdricos. As Cmaras especializadas so rgos deliberativos e normativos, encarregados de analisar e compatibilizar planos, projetos e atividades de proteo ambiental com as normas que regem as questes ambientais a elas afetas. A Secretaria Executiva, coordenada pelo Secretrio adjunto da SEMAD o rgo de suporte da Presidncia do COPAM, do Plenrio e da Cmara de Poltica Ambiental. O apoio e assessoramento s demais Cmaras Especializadas prestado pela FEAM s Cmaras de Atividades Industriais, de Atividades Minerrias e de Atividades de Infra-Estrutura; pelo IEF, s Cmaras de Proteo da Biodiversidade e de Atividades Agrossilvopastoris; e pelo IGAM, Cmara de Recursos Hdricos. A FEAM responsvel por propor e executar a poltica de proteo, conservao e melhoria do meio ambiente no que concerne preveno e correo da poluio ou da degradao ambiental provocada por atividade poluidora, fiscalizando o cumprimento da legislao, aplicando

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Manual de Saneamento e Proteo Ambiental para os Municpios

sanes, quando necessrio, bem como promover e realizar estudos e pesquisas sobre a poluio, qualidade do ar, da gua e do solo. de sua competncia, tambm, desenvolver atividades informativas e educativas visando facilitar, por parte da sociedade, a compreenso dos problemas ambientais e, ainda, apoiar os municpios na implantao e desenvolvimento de sistemas de gesto destinados a prevenir e avaliar proposies para corrigir a poluio ou degradao ambiental local. A FEAM atua junto ao COPAM, como rgo seccional de apoio, nas matrias relacionadas preservao e controle ambiental das atividades industriais, minerrias e de infra-estrutura, com vistas melhoria da qualidade ambiental. Cabe FEAM atuar diretamente junto aos empreendimentos de significativo impacto ambiental de mbito regional, e cada vez mais, promover a capacitao das administraes municipais para o controle dos empreendimentos de impacto local, por meio do licenciamento e fiscalizao ambiental. O IEF responsvel pela coordenao e execuo das Polticas Florestais (Lei 10.561, de 21/12/91) e de Pesca (Lei 12.265, de 24/07/96) e atua como rgo seccional de apoio ao COPAM, no tocante s atividades agrcolas, pecurias e florestais. Cabe ao IEF a proteo da biodiversidade, o desenvolvimento florestal sustentvel, o monitoramento e controle da cobertura florestal e uso do solo, o controle da pesca e aquicultura, fiscalizando e controlando a explorao florestal e a proteo dos recursos naturais renovveis do Estado. Est presente em todo o Estado de Minas Gerais com 14 Escritrios Regionais em operao, 140 Escritrios locais e viveiros de produo de mudas, que fornecem mudas, insumos e assistncia tcnica aos municpios. Trs projetos do IEF tm relevncia especial para os municpios: o de Proteo e Recomposio de Matas Ciliares e de Topos de Morros; o de Reflorestamento de Pequenas e Mdias Propriedades Rurais, e o recentemente lanado - "Mudas Brasil". O primeiro visa a proteo dos rios, crregos, lagos e de nascentes; o segundo, evitar os estragos causados pela eroso nas encostas dos morros e favorecer a infiltrao das guas de chuvas no solo, prevenindo a formao de enxurradas e a ocorrncia de enchentes; e o terceiro tem como objetivo implantar bosques de espcies nativas em todo o Estado, atravs de aes conjuntas com prefeitos, vereadores, empresrios e produtores rurais. Os municpios podem obter, no IEF, mapas com registro de sua cobertura florestal na escala de 1:100.000, que orientam e facilitam o controle da explorao florestal, desmatamentos e queimadas em todo o Estado. Em Minas Gerais, o rgo responsvel pela gesto dos recursos hdricos estaduais o IGAM Instituto Mineiro de Gesto das guas, autarquia vinculada Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentvel SEMAD. A gesto das guas federais exercida pelaMunicpio e Meio Ambiente

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Secretaria de Recursos Hdricos SRH, do Ministrio do Meio Ambiente, dos Recursos Hdricos e da Amaznia Legal MMA. Conforme princpios da Lei 9.433, de 08/01/97, que instituiu a Poltica Nacional de Recursos Hdricos, a gua um bem finito, vulnervel e de valor econmico. Sua gesto deve visar a utilizao mltipla e ser realizada de forma descentralizada e participativa, considerando-se a bacia hidrogrfica como unidade de planejamento e de gesto dos recursos hdricos. Cabe ao IGAM prestar apoio operacional Poltica Estadual de Recursos Hdricos, promover e executar estudos e projetos de conservao da quantidade e da qualidade das guas, apoiar e incentivar a mobilizao social para a gesto compartilhada das guas. Os Comits de Bacias Hidrogrficas, cuja criao e implantao coordenada pelo IGAM, como integrantes dos Sistemas Nacional e Estadual de Gerenciamento de Recursos Hdricos, so instncias colegiadas e normativas, compostas pelo poder pblico, por usurios e por representantes da sociedade civil organizada, responsveis por efetivar a gesto descentralizada e participativa. O modelo de gesto ambiental preconizado pela Lei n 6.938/81, democrtico e participativo, prope a atuao do CONAMA, com ampla composio e poder deliberativo, endossado pela Constituio Federal de 1988, essencialmente descentralizador, pois estabelece competncias concorrentes aos rgos estaduais e, em certa extenso, aos rgos municipais, estimulando a cooperao dos trs nveis de governo, para que sejam atingidos os objetivos da legislao ambiental. Com base nessa orientao, diversos Municpios mineiros implantaram seus Conselhos Municipais de Desenvolvimento Ambiental e promulgaram leis criando secretarias de meio ambiente, ou dispem de departamentos ou diretorias em outras secretarias - de obras, desenvolvimento urbano, agricultura ou sade, por exemplo.

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Manual de Saneamento e Proteo Ambiental para os Municpios

Sistema Estadual de Meio Ambiente - SISEMA/Minas Gerais 1998

GOVERNADOR

SECRETARIA DE ESTADO DO MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO SUSTENTVEL

rgos executivos vinculados

FEAM

IEF

IGAM

rgos Subordinados/ Colegiados

Conselho Estadual de Poltica Ambiental - COPAM 7 Cmaras Especializadas

Conselho Estadual de Recursos Hdricos - CERH -

rgos Estaduais Associados

Ncleos de Meio Ambiente nas Secretarias integrantes do COPAM (Planejamento, Agricultura, Cultura, Minas e Energia, Sade, Educao, Transportes e Obras Pblicas, Indstria e Comrcio)

Polcia Militar de Minas Gerais - PMMG Cia Florestal - 10

rgos Municipais

Secretarias / Departamentos Municipais de Meio Ambiente Conselhos Municipais de Desenvolvimento Ambiental

Figura 4 - Sistema Estadual de Meio Ambiente - SISEMA / Minas Gerais

1.8. Conceitos BsicosRecursos Naturais Os recursos naturais so, usualmente, classificados como renovveis ou no renovveis. A caracterstica fundamental dos recursos renovveis a sua reprodutividade ao longo do tempo. Entre eles esto os bens vivos (animais, vegetais), a energia, a gua (que apresenta ciclos hidrolgicos relativamente contnuos - evaporao, transporte, precipitao, etc.). Os recursos no renovveis se caracterizam pela impossibilidade de retorn-los situao (fsica, qumica, geogrfica, etc) anterior a sua utilizao pelos seres humanos. Podem ser exemplificados, essencialmente, pelos recursos minerais (ferro, petrleo, alumnio, areia, cascalho, etc), cujas jazidas se esgotam com a lavra continuada.

Municpio e Meio Ambiente

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Meio Ambiente Existem diversas definies de meio ambiente, tanto de cunho acadmico quanto legal. As mais recentes refletem a viso holstica, que associa no apenas os fatores fsicos e biolgicos, mas tambm os aspectos sociais, econmicos e culturais que interagem em um ambiente. A Lei que estabelece a Poltica Nacional de Meio Ambiente - Lei n.. 6938, de 31/08/81, define meio ambiente como o conjunto de condies, leis, influncias e interaes de ordem fsica, qumica e biolgica que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas. Poluio Ambiental A mesma Lei, n.. 6938/81, definiu poluio como a degradao da qualidade ambiental entendida como a alterao adversa das caractersticas de meio ambiente resulta de atividades que direta ou indiretamente: a) prejudiquem a sade, a segurana e o bem- estar da populao; b) criem condies adversas s atividades sociais e econmicas; c) afetem desfavoravelmente a biota; d) afetem as condies estticas ou sanitrias do meio ambiente; e) lancem matrias ou energia em desacordo com os padres ambientais estabelecidos. Acrescente-se o conceito de poluidor, adotado na Poltica Nacional de Meio Ambiente - Lei n. 6938/81: a pessoa fsica ou jurdica, de direito pblico ou privado, responsvel, direta ou indiretamente, por atividade causadora de degradao ambiental. A esse respeito, observe-se o princpio da responsabilidade objetiva, consagrado no pargrafo 1. do artigo 14 da mesma Lei: Sem obstar da aplicao das penalidades previstas neste artigo, o poluidor obrigado, independentemente da existncia de culpa, a indenizar ou reparar os danos causados ao meio ambiente e a terceiros, afetados por sua atividade. O Ministrio Pblico da Unio e dos Estados ter legitimidade para propor ao de responsabilidade civil e criminal, por danos causados ao meio ambiente. Desenvolvimento Sustentvel A fundamentao do desenvolvimento sustentvel baseia-se em trs vertentes principais: crescimento econmico, equidade social e equilbrio ecolgico. Prope a compatibilizao dos investimentos financeiros, da explorao dos recursos naturais e das rotas de desenvolvimento tecnolgico. O marco deste conceito o Relatrio Nosso Futuro Comum, de 1987, que prope o desenvolvimento sustentvel como aquele que atende s necessidades do presente sem, entretanto, comprometer a capacidade 26

Manual de Saneamento e Proteo Ambiental para os Municpios

das futuras geraes de satisfazerem as suas prprias necessidades. Subentende-se nessa descrio, dois outros conceitos bsicos: conceito de necessidades; refere-se transformao dos recursos e da sociedade, para satisfazer as necessidades e as aspiraes humanas. Uma sociedade sustentvel aquela que busca o uso adequado dos recursos esgotveis, fundamentada em forte apoio de educao, equidade e cidadania, esperando que todos satisfaam suas necessidades bsicas de alimentao, abrigo, vesturio, sade, emprego, etc.e possam concretizar suas aspiraes a uma condio de vida melhor; A noo das limitaes que o estgio da tecnologia e da organizao social impem, impedindo de atender s necessidades presentes e futuras. Sob a tica da sustentabilidade o progresso entendido por maior riqueza, benefcio social eqitativo e equilbrio ecolgico. Cidade Sustentvel A discusso sobre cidades sustentveis, ocorreu a partir da Conferncia das Naes Unidas para o Meio Ambiente e Desenvolvimento (Rio 92) e da II Conferncia das Naes Unidas sobre Assentamentos Humanos (Habitat II, Istambul, 1996), abordando a necessidade de ambientalizar polticas urbanas e de compatibilizar localmente, o desenvolvimento scioeconmico, propondo que as iniciativas de sustentabilidade para uma cidade, implicam prioritariamente, nas seguintes estratgias: I - Proteo da paisagem natural, o reaproveitamento do patrimnio histrico existente e a atenuao da urbanizao; a integrao com as condies climticas locais e regionais. II - Promoo do saneamento e da sade, garantindo a qualidade da gua, o tratamento adequado do esgoto e da disposio final do lixo urbano. III - Uso de transportes coletivos e no poluentes, implicando em substituio dos transportes individuais a base de combustvel fssil, a priorizao ao transporte coletivo e a criao de ciclovias. IV - Proteo e conservao dos mananciais, das guas e da mata ciliar. V - Utilizao de fontes renovveis e alternativas de energia, visando aproveitar a energia solar, a captao elica, a biomassa e a energia hidreltrica de forma sustentvel. VI - Conservao de energia, implicando na reduo de desperdcios nas atividades econmicas e nas residncias, na gerao de produtos menos intensivos em energia e mais durveis, na reduo, reutilizao e reciclagem de rejeitos e no aumento da eficincia energtica.Municpio e Meio Ambiente

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Gesto Ambiental Os recursos ambientais e naturais so finitos e devem ser objeto de gesto (administrao), de forma a estabelecer condicionantes para tornar o desenvolvimento sustentvel, ou seja, manter o meio ambiente saudvel para atender s geraes atuais e futuras. A Gesto Ambiental engloba a formulao da poltica de meio ambiente e sua implementao por meio de regulaes fortalecidas por monitoramento apropriado e pela aplicao de procedimentos jurdicos. So atores sociais envolvidos na gesto ambiental, entre outros: Conselho Ambiental rgo Executivo Ambiental - Federal, Estadual, Municipal Ministrio Pblico Legislativo Judicirio Comunidade afetada/cliente Consumidores Federaes, sindicatos e associaes patronais e empresariais Empreendedor/proponente Empregador/trabalhadores Consultor profissional/empresa de consultoria ONG's, entidades ambientalistas da sociedade civil Imprensa Monitoramento Instrumento que consiste no acompanhamento, atravs da medio de indicadores, dos principais meios poluidores ambientais, permitindo averiguar tanto o grau poluidor e de qualidade ambiental , quanto subsidiar a implementao de medidas que permitam o seu controle. O monitoramento ambiental oferece informaes que visam minimizar os riscos e evitar acidentes ambientais. Com as informaes levantadas no monitoramento, so avaliadas medidas corretivas para modificar ou ajustar as tcnicas em uso, afim de se evitar impactos ambientais. As normas e padres para emisses de poluentes na atmosfera so estabelecidas na Deliberao Normativa COPAM N 11, de 16/12/86. Custos Ambientais De acordo com as consideraes de Leal (1986) os custos dos danos ambientais podem ser classificados em diretos ou indiretos. Os custos diretos so aqueles que se referem aos danos gerados pela presena de agentes negativos sobre alguma funo ambiental, fazendo com que esta 28Manual de Saneamento e Proteo Ambiental para os Municpios

perca, total ou parcialmente, seu valor de uso (por exemplo contaminao da gua, rudos excessivos, etc). Tais custos se referem a danos em funes ambientais especficas. Os custos indiretos so associados a prejuzos para o multiuso ou para o uso alternativo do meio ambiente e dos recursos naturais (por exemplo: a contaminao da gua pode impossibilitar seu uso para recreao, a explorao inadequada de florestas pode contribuir para eroso, enchentes, desertificaes, etc).

Municpio e Meio Ambiente

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2. MUNICIPALIZAO DA POLTICA AMBIENTAL

2.1. AO LOCAL, MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO SUSTENTVELA Poltica Municipal de Meio Ambiente tem por objetivo promover a melhoria da qualidade de vida, implementando aes locais que possibilitem a utilizao consciente dos recursos naturais e a reduo de rejeitos e desperdcios. Considerando os textos constitucionais e a necessidade de ter como referncia a diversidade e especificidade das realidades locais, a poltica municipal de meio ambiente deve fundamentar-se em alguns princpios bsicos: internalizar o meio ambiente como bem pblico; garantir o acesso informao e participao da comunidade nas questes que afetam a sua qualidade de vida; compatibilizar o desenvolvimento econmico e social com a proteo dos recursos naturais; ter compromisso com a qualidade de vida da populao. O diagnstico ambiental do municpio deve orientar o dilogo com os setores envolvidos, definindo aes necessrias correo dos problemas levantados e buscando priorizar medidas tais como o controle de empreendimentos e loteamentos, tratamento de esgotos, a reciclagem de resduos, os programas especiais para a pobreza crtica, alm de opes pelo transporte coletivo e arborizao de ruas.Municpio e Meio Ambiente

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A participao dos municpios no sistema de gesto ambiental exige que os governos locais se fortaleam como instncias de deciso e planejamento, capacitando-se para desenvolverem polticas prprias e adotarem procedimentos ambientalmente corretos. Para tanto, precisam ajustar a sua estrutura administrativa, as normas tributrias, a estrutura do poder local, o processo de desenvolvimento e as suas relaes institucionais e jurdicas. papel do municpio constituir-se em frum permanente de discusso da questo ambiental em nvel local, buscando, em conjunto com os diversos setores e foras envolvidas, definir polticas prprias para a proteo do seu meio ambiente e para o desenvolvimento sustentvel. Cabe Unio e ao Estado apoiar e subsidiar tecnicamente as aes municipais, inserindoas no contexto federativo. Sob o ponto de vista da sustentabilidade, ao planejar o desenvolvimento em seu territrio, os municpios devem considerar simultaneamente cinco aspectos: - social - entendido como o processo de desenvolvimento voltado para uma nova concepo de crescimento, com melhor distribuio de renda; - econmico - representado pela alocao e gesto mais eficientes dos recursos pblicos; - ambiental - adequada utilizao dos recursos naturais, que tem por base a reduo do volume de resduos e dos nveis de poluio, a pesquisa e implantao de tecnologias de produo limpas e a definio das regras para proteo ambiental; - espacial - significando equilibrar as relaes entre os espaos rural e urbano atravs de uma melhor distribuio de usos do solo, evitando a concentrao espacial das atividades econmicas e a destruio de ecossistemas, e tambm promovendo o manejo adequado dos projetos agrcolas; - cultural - com vistas ao respeito s tradies culturais das populaes urbana e rural, valorizando cada espao e cada cultura. Cada municpio um espao territorial nico, resultante das inter-relaes e conflitos entre as foras sociais que ali atuam. A poltica ambiental voltada para o desenvolvimento sustentvel deve considerar a diversidade dos quadros natural, cultural, scio-poltico e histrico de cada municpio. A quem recorrer quando h problemas ambientais? A prefeitura e diversos rgos municipais, estaduais e federais, afetos questo, constituem canais que podem ser acionados. As Curadorias do Meio Ambiente, a imprensa, as organizaes no governamentais so aliados potenciais da 32Manual de Saneamento e Proteo Ambiental para os Municpios

municipalizao da poltica ambiental. A instituio das Curadorias do Meio Ambiente, a partir da vigncia da Lei n 7347, em 1985, consagra a possibilidade de interveno nas questes ambientais pelo Ministrio Pblico Federal ou Estadual. Trata-se de notvel transformao, que coloca o Brasil como um dos pases pioneiros nessa nova funo do Ministrio Pblico, que extrapolou a sua rea tradicional de atuao - a criminal - para postular direitos sociais, difusos e coletivos, na rea civil. A Constituio Federal de 1988, por fim, associa o Ministrio Pblico s atividades de proteo do meio ambiente, atravs do inqurito civil e da ao civil pblica definidos no seu Art. 129, item III. As Promotorias de Meio Ambiente so de importncia fundamental para o exerccio da cidadania em termos ambientais. A disseminao de comportamentos e hbitos ecolgicos na comunidade no pode prescindir do papel da imprensa. Grande parte das pessoas somente se informa sobre problemas ambientais por meio da TV, dos jornais e do rdio. Alm de expor denncias, a imprensa - escrita e falada tem amplo potencial, ainda pouco utilizado, de expandir a conscincia ecolgica. A imprensa local estimula a formao da conscincia e gerar aes no mbito do governo. As organizaes no-governamentais - ONG's - do substncia democracia participativa, envolvendo os vrios segmentos da sociedade no desenvolvimento de projetos e aes, que fortalecem a poltica ambiental local. H entidades dessa natureza em condies de prestar cooperao crtica aos governos locais na rea de meio ambiente.

2.2. ESPAO URBANO E MEIO AMBIENTEA gesto urbana deve-se fundamentar no conceito de desenvolvimento sustentvel, pressupondo a adoo da dimenso ambiental em todas as unidades da administrao local. Significa, tambm, descentralizar a gesto ambiental com o envolvimento das administraes regionais, unidades de vizinhana, e do nvel domstico. Internalizar esse conceito na administrao pblica implica em mudanas na cultura organizacional, nas relaes do governo com a sociedade civil e com as reas econmica e empresarial. Pressupe, ainda, a reduo de desperdcios e significa zelar pelo interesse dos contribuintes, evitando que recursos pblicos sejam gastos em obras suprfluas, ou em reparao de danos ambientais que so de responsabilidade do agente poluidor. O planejamento urbano no qual so incorporadas solues ecolgicas instrumento necessrio para que as cidades ofeream melhor qualidade de vida. Sob esse aspecto, o plano diretor e a legislao urbanstica contribuem para a estruturao das cidades, no sentido de promover aMunicpio e Meio Ambiente

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conservao dos recursos naturais e a reduo de desperdcios, buscando a integrao das cidades ao seu contexto natural. Com a publicao da Lei Federal n 10.257, em 10 de julho de 2001, denominada Estatuto da Cidade, foram regulamentados os artigos 182 e 183 da Constituio Federal de 1988, reiterando a necessidade de tratar de forma integrada questes urbanas, ambientais, polticas e tributrias mediadas por mecanismos de gesto participativa, condio fundamental para uma gesto urbana eficiente e comprometida com a boa qualidade de vida da populao. Nesse sentido, o Estatuto da Cidade retoma os princpios constitucionais da funo social da propriedade e do bem-estar pblico, e defende o equilbrio ambiental para garantia da sustentabilidade urbana. Merecem destaque as seguintes diretrizes do Estatuto da Cidade: o direito terra urbana, moradia, ao saneamento ambiental, infraestrutura urbana e aos equipamentos comunitrios. Alm disso, defende a complementaridade rural e urbana e o respeito capacidade de suporte ambiental, social e econmica dos municpios. A adoo do Estatuto da Cidade como instrumento de gesto urbana pelos municpios um importante passo para alcanar o objetivo de garantir a justia social, o crescimento econmico e a qualidade ambiental em seu territrio. Para realizar a gesto ambiental preventiva, importante proteger legalmente reas de interesse ambiental e cultural; preservar o uso coletivo de reas com potencial paisagstico; facilitar a preservao de vegetao e de reas frgeis ou sujeitas a riscos de deslizamentos ou inundaes. Melhorias do ambiente urbano podem ser alcanadas atravs do fortalecimento das administraes municipais, do estmulo participao e do apoio a lideranas comunitrias e da implementao de projetos para o desenvolvimento sustentvel. As questes ambientais urbanas so vrias, devendo-se destacar algumas por sua importncia: a) Poluio atmosfrica - lanamentos de compostos qumicos no ar poluem a atmosfera, destacando-se entre eles o do monxido de carbono (CO), produzido pela frota de veculos que circulam nas cidades. A poluio do ar causa inmeros e variados efeitos sobre a sade, e suas principais fontes so a circulao de veculos e a atividade industrial. A Deliberao Normativa do COPAM N 011/86, estabelece normas e padres para emisso de poluentes na atmosfera.

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Manual de Saneamento e Proteo Ambiental para os Municpios

b) Poluio sonora - um dos tipos de poluio mais freqentes no ambiente urbano, gerada principalmente por atividades noturnas, industriais e comerciais, e pelos meios de transporte. Causa incmodo e danos sade fsica e mental da populao (ver Erro! Indicador no definido. A Poluio Sonora Urbana no Trabalho e na Sade). c) Poluio acidental - pode ser provocada em vrias circunstncias. H, por exemplo, o transporte de produtos perigosos, j que esses so transportados nas cidades, aumentando o risco da poluio acidental. Explosivos, gases, lquidos inflamveis, substncias oxidantes, txicas, infectantes e irritantes, alm das corrosivas, so algumas das classes de produtos perigosos cujo manejo, transporte e acondicionamento dispem de legislao especfica. d) Transporte, circulao e trnsito - esto entre as principais fontes de poluio sonora e do ar, oriunda dos veculos particulares, do transporte coletivo e de cargas comuns e perigosas. O uso preferencial do transporte coletivo ao individual, ou a utilizao de veculos nopoluentes, como as bicicletas, para os percursos mais curtos, so medidas que ajudam a reduzir os efeitos ambientais negativos no meio urbano. Outro fator que influencia as condies ambientais a qualidade do combustvel utilizado pela frota de veculos. Se este contm muito chumbo ou enxofre, agrava a poluio do ar. Acrescentese, ainda, que a prpria construo das obras virias causa impactos ao meio ambiente. O conjunto desses vrios aspectos coloca o transporte como relevante fator de poluio ambiental nas grandes cidades. Programas de meio ambiente e de inspeo de veculos quanto segurana so importantes para o controle da qualidade do ar e para a reduo de acidentes e congestionamentos urbanos. No planejamento e na operao do sistema de transporte e trnsito necessrio incluir o parmetro ambiental, levando-se em conta o custo/benefcio que possvel obter. e) Saneamento bsico e ambiental - os recursos hdricos que correm em reas urbanas sofrem aes poluidoras variadas, que afetam os sistemas de abastecimento de gua e de drenagem pluvial. O processo de urbanizao exige movimentao de terra - aterros e desaterros que freqentemente provocam assoreamento nos fundos dos vales, em lagoas e represas, aumentando o risco de ocorrncia de inundaes e ainda obstruo da drenagem urbana. Em muitas cidades, os fundos de vales foram urbanizados com a construo de avenidas sanitrias, sem que fosse considerado o regime natural de cheias, ou mesmo, que se buscasse uma reintegrao e valorizaco do curso d'gua como recurso hdrico paisagstico para a comunidade local. Por outro lado, nos perodos de chuvas crticas aumenta a ocorrncia de acidentes, como os deslizamentos de encostas em decorrncia do ndice elevado de impermeabilizao do solo e da ocupao inadequada de terrenos.Municpio e Meio Ambiente

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Outro problema bsico de saneamento diz respeito ao lixo e limpeza urbana. A disposio final nos lixes a cu aberto fator de degradao ambiental e de proliferao de vetores e doenas, a eliminao de depsitos clandestinos de lixo benfica para a sade pblica e a prtica da coleta seletiva reduz o volume de resduos lanados nos aterros sanitrios, ampliando sua vida til. f) reas verdes e arborizao urbana - as reas verdes urbanas desempenham papel importante para a qualidade ambiental das cidades: amortecem rudos, embelezam o ambiente, protegem contra ventilao ou insolao excessivas, alterando o microclima local, abrigam a fauna, ajudam no controle da eroso, melhoram a qualidade do ar, protegem mananciais de gua, alm de proporcionarem recreao, lazer e descanso. Vrios tipos de reas verdes podem ser criados ou planejados nas cidades: reas de proteo paisagstica, parques urbanos, reas de proteo de mananciais; praas e jardins todos importantes espaos de convvio social e proteo ambiental. A arborizao urbana deve ser realizada de acordo com o clima e as caractersticas do logradouro pblico, adotando-se as tcnicas adequadas de plantio e poda, para evitar os costumeiros conflitos com as redes eltrica, de abastecimento de gua e de esgotamento sanitrio, alm da destruio da pavimentao. O controle do corte de rvores nas reas urbanas, especialmente em decorrncia da realizao de obras pblicas ou privadas, deve compatibilizar a necessidade de supresso com a de manuteno da vegetao, atravs de reposies em reas pr - determinadas. Os instrumentos educativos so de importncia fundamental para minimizar as agresses, no s arborizao, quanto ao meio ambiente como um todo. g) Parcelamento do solo urbano o parcelamento do solo urbano uma atividade que tem sido responsvel pelo comprometimento da qualidade ambiental e da segurana e qualidade de vida da populao. So conhecidos os casos de desabamentos de moradias, enchentes, assoreamento e poluio de cursos d' gua, destruio de cobertura vegetal nativa, desenvolvimento de processos erosivos, dificuldades de acesso a servios, equipamentos e infra-estrutura urbana bsica. O Municpio tem papel fundamental no controle ambiental do parcelamento do solo, pois essa uma atividade tradicionalmente vinculada a administrao pblica local. A aprovao de loteamentos e desmembramentos realizada pela maior parte dos Municpios sem considerar seus impactos potenciais sobre o meio ambiente. Alm disso importante ressaltar que, freqentemente, a administrao municipal tem que assumir os custos 36Manual de Saneamento e Proteo Ambiental para os Municpios

de implantao de infra - estrutura urbana bsica nos loteamentos , visando a melhoria da qualidade de vida de seus moradores. A Lei Federal n 6.766/79 regulamentou o parcelamento do solo urbano e definiu a competncia municipal para disciplinar e fiscalizar a atividade e teve alguns dispositivos alterados pela Lei Federal n 9.765/99. Alguns municpios elaboraram e aprovaram leis de parcelamento prprias, adaptando a legislao federal vigente s peculiaridades locais. h) Postos de Combustveis - a Resoluo CONAMA no. 273, publicada em 8 de janeiro de 2.001, estabelece a obrigatoriedade de licenciamento ambiental para atividades de armazenamento e comrcio varejista de combustveis lquidos derivados de petrleo, lcool carburante e gs natural veicular, e fixa prazo para o cadastramento dos estabelecimentos em operao e dos novos empreendimentos. A FEAM, responsvel pela aplicao da referida resoluo no Estado de Minas Gerais, desenvolveu procedimentos de coletas das informaes necessrias para o cadastramento dos Postos e Sistemas Retalhistas de Combustveis, totalmente informatizado, com acesso pela internet . Posteriormente ao cadastramento inicial, os empreendimentos sero licenciados por regio geogrfica.

2.3. PLANEJAMENTO AMBIENTAL INTEGRADOSo necessrios esforos em todos os nveis de governo, com a participao dos diversos segmentos da sociedade, para eliminar superposies de atribuies e competncias. Vrias so as formas de integrao possveis para um planejamento e controle ambiental desejveis, como se descreve a seguir. . Integrao Interinstitucional A integrao interinstitucional implica no envolvimento e participao das vrias esferas de governo que detm o poder de deciso. Uma vez que a atuao governamental na poltica de meio ambiente feita suplementarmente ou complementarmente, fundamental a integrao do municpio com rgos da administrao federal e estadual. Essa integrao permite esclarecer sobre competncias, informar sobre reas de atuao e desenvolver atividades conjuntas. Vrias regies do Estado de Minas possuem representaes regionais de rgos como o IBAMA, IEF, a EMATER, FNS e das Secretarias de Estado. Alm de constiturem fonte de informao para os Municpios, as representaes regionais desses orgos podem subsidiar tecnicamente a elaborao de programas

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municipais de gesto ambiental e a capacitao e treinamento de pessoal, promover cursos de capacitao de professores, etc, integrando-se s administraes municipais para colaborar na mobilizao da comunidade na busca de solues de problemas locais. A formalizao de um pacto federativo que defina com clareza as atribuies dos vrios rgos um procedimento desejvel. . Integrao Intrainstitucional A integrao intrainstitucional diz respeito corresponsabilidade dos diversos setores da administrao municipal na implementao da poltica municipal de meio ambiente, para definio conjunta de estratgias, prioridades e projetos municipais de desenvolvimento. Vrios setores devero ser envolvidos, por exemplo, na aprovao de um projeto de parcelamento do solo: 1) o setor de planejamento, para avaliar a sua compatibilizao com as normas de uso e ocupao do solo e com as diretrizes do plano diretor de desenvolvimento; 2) a rea de meio ambiente para avaliar os impactos da implantao do loteamento sobre os recursos naturais e definir os requisitos para a preveno e/ou recuperao dos eventuais impactos; 3) o setor de obras, responsvel pela aprovao do projeto, que de posse dos pareceres dos demais setores envolvidos, autoriza a sua execuo e fiscaliza as obras, nos termos aprovados. As aes conjuntas das equipes de meio ambiente e de educao devem integrar programas permanentes de trabalho, que envolvam a rede de ensino, de modo a incluir os temas ambientais nas diversas disciplinas que compem o currculo da educao formal. A capacitao dos quadros da Prefeitura, assim como a sua orientao tcnica, tambm constituem atividades fundamentais, especialmente quando so abordados temas crticos como as competncias municipais, o saneamento bsico, a gesto colegiada e participativa, a arborizao e as reas verdes e o licenciamento ambiental integrado aos demais tipos de licenciamento exercidos pelas prefeituras, como por exemplo os alvars de localizao, licena de construo e alvar de funcionamento. . Integrao Intermunicipal Na integrao intermunicipal, pressupe-se que a ao conjunta de vrios municpios facilita o acesso a financiamentos e recursos para a implantao de projetos de desenvolvimento, e viabiliza maior capacitao e treinamento de equipes locais. Esse tipo de integrao geralmente ocorre quando h interesses comuns a um grupo de municpios, que podem se reunir em associaes microrregionais ou consrcios intermunicipais voltados, por exemplo, para o gerenciamento integrado de bacias 38Manual de Saneamento e Proteo Ambiental para os Municpios

hidrogrficas, a criao de reas de conservao e o desenvolvimento de projetos tursticos, de disposio final de resduos e de aterros sanitrios, dentre outros. O consrcio intermunicipal uma associao de municpios que pretende, atravs da ao conjunta de seus participantes, alcanar objetivos comuns e viabilizar recursos financeiros para a sua realizao. Organizada em um processo suprapartidrio, a integrao municipal via consrcio esbarra algumas vezes na tradio poltica reinante de que as demandas municipais so atendidas de acordo com o relacionamento do poder local com as instncias polticas estadual e federal. Num tempo de recursos escassos, essa prtica vem sendo questionada, e vrios consrcios formados, ou em formao, demonstram que a integrao em torno de questes comuns a uma regio ou grupo de municpios pode contribuir na implementao de medidas de conservao e recuperao dos recursos naturais. As Associaes Microrregionais de Municpios desempenham papel decisivo na articulao intermunicipal e interinstitucional, contribuindo para o fortalecimento dos mecanismos de gesto local, ao promover a cooperao tcnica, jurdica e administrativa necessrias sua consolidao. Nos casos em que o municpio incapaz de estruturar seu prprio sistema de gesto ambiental, o apoio constituio de associaes microrregionais ou de consrcios intermunicipais um caminho promissor. Especificamente, as Associaes Microrregionais de Municpios objetivam ampliar e fortalecer a capacidade econmica, social, poltica e administrativa dos Municpios, que a integram, prestando-lhes assistncia tcnica e apoio (Estatuto das Associaes Microrregionais de Municpios, 1992). Os municpios podem recorrer s respectivas Associaes Microrregionais para cooperar na preservao dos seus recursos naturais renovveis, bem como para participar de estudos e pesquisas sobre as potencialidades locais e elaboraes de planos, programas e projetos relacionados com educao, sade pblica, assistncia social, habitao, servios urbanos, transportes, comunicao, eletrificao, saneamento bsico e obras pblicas em geral. Ainda, o Estatuto das Associaes Microrregionais prev: a cooperao e assessoramento s Cmaras de Vereadores dos Municpios, assistindolhes tecnicamente, sempre que necessrio, ou quando para isto forem solicitadas; o estmulo e promoo do intercmbio tcnico, jurdico, organizacional, administrativo e gerencial com vistas evoluo institucional dos Municpios associados. O Governo do Estado de Minas instituiu, por meio da Lei n 11.962, de 3010-95, 25 Regies Administrativas, em cuja estrutura orgnica previu-se a criao de coordenadorias de Desenvolvimento Socio-Econmico eMunicpio e Meio Ambiente

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Ambiental. A publicao da Lei Estadual 12.581, de 18-7-97, em seu Art. 19 define que as aes descentralizadas da SEMAD, observadas as diretrizes fixadas pela Secretaria, sero desenvolvidas por intermdio de unidades regionais existentes na estrutura administrativa do Poder Executivo, em articulao com o IGAM, a FEAM e o IEF, at a definitiva implantao das Regies Administrativas previstas no art. 11 da Lei n 11.962, de 30-10-95.

2.4. SISTEMA DE GESTO AMBIENTAL LOCALGerir administrar, governar. Gerir uma bacia hidrogrfica, uma rea de preservao ambiental ou unidade de conservao, ou mesmo uma cidade, tomada como ecossistema, administr-las de forma a evitar a sua deteriorao, conservando suas caractersticas desejveis e aprimorando as que necessitam de melhorias. Os municpios tm recebido, nos ltimos anos, responsabilidade crescente na gesto do meio ambiente. Observa-se o incentivo participao municipal nas aes de controle ambiental, na fiscalizao, no licenciamento de atividades industriais, na rea da educao ambiental e na manuteno de reas verdes. Para implementar o sistema de gesto ambiental no mbito do municpio, preciso que a Prefeitura disponha de uma equipe tcnica permanente e capacitada e amplie a participao da comunidade atravs da criao de um conselho. fundamental que cada municpio crie condies prprias para reunir informaes. Os municpios que no contam com recursos financeiros para contratar estudos ou realiz-los com os seus prprios tcnicos podem se apoiar, alternativamente, nas instituies de ensino da regio. Preferencialmente, devem buscar as Universidades, para que estas prestem colaborao na organizao de dados ambientais e na realizao de pesquisas necessrias gesto da cidade. Os Sistemas de Gesto Ambiental so compostos por rgos normativos e deliberativos, e rgos executivos cuja atuao embasada em instrumentos especficos de gerenciamento do ambiente. So trs, portanto, os componentes desses sistemas: 1 - rgos executivos, que promovem o tratamento dos temas e preparam os processos a serem deliberados no mbito do colegiado competente. As secretarias, divises e setores municipais de meio ambiente, so rgos executivos que do apoio aos conselhos de meio ambiente; 2 - rgo colegiado, com participao do governo, da sociedade civil e de

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setores empresarias e polticos locais, ou seja, das partes interessadas nas questes do meio ambiente. Os Conselhos Municipais de Desenvolvimento Ambiental; e 3 - Instrumentos de gesto, so os meios legais ou jurdicos, administrativos e educacionais por meio dos quais se implementa a poltica local de meio ambiente. Podem ser instrumentos corretivos e preventivos. 2.4.1. Conselho Municipal de Meio ambiente O Conselho Municipal de Meio Ambiente fundamental para estimular a gesto ambiental participativa. A criao e funcionamento do conselho, fortalece e aperfeioa o sistema de gerenciamento ambiental no municpio, ao garantir a participao da sociedade nas questes ambientais, em busca da melhoria da qualidade de vida e da democratizao do processo decisrio. Constitui ainda instncia pedaggica de educao para a cidadania e para o aprendizado do convvio harmnico entre setores da sociedade com interesses divergentes. O Conselho Municipal de Meio Ambiente um rgo colegiado, consultivo e de assessoramento ao executivo municipal, e deliberativo no mbito de sua competncia. Para cumprir seus objetivos e realizar suas atribuies sugere-se em sua constituio uma composio paritria formada por representantes do setor pblico e da sociedade civil organizada, tais como : secretarias municipais de sade, educao, meio ambiente, obras, planejamento; cmara de vereadores, sindicatos, entidades ambientalistas, associaes de bairros e de profissionais, classe empresarial , entidades de pesquisa e extenso. O Ministrio Pblico pode estar representado no Conselho , embora seja mais conveniente que se mantenha como instncia independente de atuao, abrindo oportunidade para a implementao de aes civis pblicas desvinculadas das deliberaes dos Conselhos Municipais. No entanto, a criao do Conselho Municipal de Meio Ambiente dever ser precedida da organizao e consolidao de um setor especfico de controle ambiental no executivo municipal uma vez que o conselho no tem funo executiva. Como instncia colegiada compete a ele fiscalizar o cumprimento da poltica ambiental do municpio atravs da concesso de licenas ambientais para atividades potencialmente poluidoras, definio de aplicao de penalidades, aprovao da utilizao dos recursos de fundo municipal de meio ambiente. Caso o municpio decida estabelecer ndices de qualidade ambiental mais restritivos na implementao de sua poltica ambiental, o Conselho pode propor a adequao de leis, normas, padres e diretrizes federais e estaduais s suas caractersticas e demandas.

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Os Conselhos Municipais de Meio Ambiente, s vezes denominados CODEMA, adquiriram ao longo do tempo caractersticas diferenciadas, em funo das especificidades e da avaliao crtica sobre sua eficincia. Enquanto muitos se fortaleceram como instrumentos de poltica ambiental, outros extinguiram-se ou deixaram de atuar, por falta de compromisso com os seus objetivos ou por no terem se consolidado instncia ambiental participativa, perdendo conseqentemente, o apoio da comunidade local. Por outro lado, outros conselhos desvincularam-se da administrao municipal e se envolveram predominantemente com a comunidade, passando a atuar como organizaes no-governamentais. Os Conselhos instalados e em funcionamento tm possibilitado progressos significativos na poltica de meio ambiente, consolidando assim o princpio constitucional da autonomia municipal. Uma vez que a questo ambiental envolve interesses divergentes e conflitos potenciais, o Conselho constitui o frum adequado para a discusso e o encaminhamento das aes poltico-administrativas necessrias ao planejamento, controle e educao ambiental, para alcanar a garantia da boa qualidade de vida da populao. A competncia municipal na gesto ambiental foi explicitada na Constituio de 1988, quando estabelece que competncia comum da Unio, dos Estados , do Distrito Federal e dos Municpios proteger o meio ambiente e combater a poluio em qualquer de suas formas. Em Minas Gerais a competncia no controle ambiental do seu sistema de gesto ambiental. Aos municpios cabe atuar em questes de impacto local ou no controle de atividades de potencial impacto poluidor no listadas na Deliberao COPAM n. 001/90. Quando os impactos ambientais extrapolam o territrio do municpio-sede do empreendimento, competncia do rgo estadual articular os municpios envolvidos para adoo dos procedimentos de controle necessrios. A Deliberao COPAM n.029/98, que trata da municipalizao da gesto ambiental, mediante o estabelecimento de um convnio com o Estado, tem como requisitos entre outros a existncia do setor de meio ambiente no executivo municipal e a existncia do Conselho Municipal de Meio Ambiente. A lei de criao do Conselho Municipal de Meio Ambiente deve ser elaborada pelo executivo municipal, com a participao de representantes da comunidade. O texto deve explicitar os objetivos, competncias, atribuies e a composio do Conselho. Como sugesto apresentada minuta da lei de criao do Conselho no Anexo 2. Aprovada a lei pelo Legislativo Municipal, cabe ao executivo nomear os conselheiros e seus respectivos suplentes, representantes das entidades e 42Manual de Saneamento e Proteo Ambiental para os Municpios

rgos que o compem. Uma vez empossados, os membros discutem e aprovam o Regimento Interno do rgo, que definir a estrutura adequada ao seu funcionamento, visando cumprir as atribuies expressas na lei de criao do Conselho. Como rgo superior de deliberao sobre a poltica municipal de meio ambiente, o Conselho analisa de forma integrada os problemas ocasionados pelo uso inadequado de recursos naturais, os projetos que possam provocar impactos ambientais, a criao de unidades de conservao, entre outros. O fortalecimento da relao do Conselho com a sociedade civil visa promover a participao da comunidade na definio de aes para a proteo ambiental, conduzindo a discusso de problemas que afetem a qualidade de vida da populao local. Para ampliar a participao da comunidade, h que se implementar aes voltadas para a mobilizao da populao, que, tendo acesso s informaes necessrias, saber dos seus direitos e deveres e ser, portanto, agente co-responsvel pela qualidade ambiental do lugar onde vive. O executivo municipal deve subsidiar tecnicamente a atuao do Conselho e ainda promover a aplicao dos atos legislativos emitidos e fornecer a infra-estrutura necessria instalao da Secretaria Executiva que tem como atribuio dar suporte administrativo ao seu funcionamento. Escalas de Gesto AmbientalMBITO CONSELHO SECRETARIA EXECUTIVA

Municipal

Conselho Municipal de Meio Ambiente

rgo Executivo

Regional

Comit de Bacia

Agncia de Bacia

Estadual (MG)

COPAM/CERH

FEAM/IEF/IGAM/SEMAD

Federal (Brasil)

CONAMA

IBAMA/MMA

Figura 5 - Escalas de Gesto Ambiental

2.4.2. rgo Executivo Municipal

Para que o Municpio formule e implemente uma Poltica Municipal de Meio Ambiente consistente, necessrio haver uma base institucional formada no s pelo rgo Executivo Municipal de Meio Ambiente (Anexo 3), como tambm por um Conselho Municipal de Meio Ambiente.Municpio e Meio Ambiente

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O suporte tcnico - administrativo fornecido pelo executivo municipal ao Conselho dado por uma unidade que integra a estrutura organizacional da Prefeitura. Pode ser a Secretaria Municipal de Meio Ambiente ou mesmo uma Diviso ou Departamento que exera atividades como a elaborao de estudos ambientais, proposio de normas, fiscalizao, orientao e anlise ambiental de empreendimentos potencialmente degradadores instalados ou que venham a se instalar no municpio, e ainda, fomentar a participao dos grupos sociais no processo decisrio. A composio de equipe tcnica do executivo municipal de meio ambiente, deve ser estabelecida em lei que crie os cargos e determine a realizao de concursos pblicos para a admisso de profissionais habilitados de diversas reas de conhecimento, previamente identificadas de acordo com as caractersticas locais. Assim, por exemplo, um municpio com problemas de poluio devido ao uso inadequado de agrotxicos vai agregar sua equipe um profissional da rea de agronomia; um municpio minerador demandar tcnicos com formao em geologia e/ou engenharia de minas. O trabalho da equipe tcnica pode ser complementado pela contratao de servios de terceiros, para demandas especficas, tais como pareceres e laudos tcnicos, ou pela parceria com instituies de ensino e pesquisa Cabe ao executivo municipal coordenar a poltica municipal de meio ambiente, implementando as aes previstas e fiscalizando o cumprimento da legislao em vigor, com destaque para o que estabelece a Lei Orgnica Municipal. Tem ainda como atribuies realizar o diagnstico ambiental do municpio, propor o Plano Diretor de Meio Ambiente e legislao complementar, realizar o zoneamento ambiental do municpio, garantir a participao das foras sociais no processo decisrio, e tambm exercer o controle e a fiscalizao ambiental, objetivando criar condies para o desenvolvimento sustentvel do municpio. O rgo executivo municipal submete deliberao do Conselho as propostas de normatizao, procedimentos e diretrizes para o gerenciamento ambiental municipal, assim como os pareceres tcnicos que subsidiaro o licenciamento de atividades potencialmente degradadoras do meio ambiente de impacto local, subsidiando tecnicamente suas decises. Viabilizar financeiramente a gesto ambiental local pr-requisito para o fortalecimento dessa poltica. Entre as vrias fontes de recursos, o Fundo Municipal de Meio Ambiente, a ser criado por lei especfica, congrega recursos advindos do licenciamento ambiental, do pagamento de multas, entre outras, que so alocados na implementao de projetos e programas ambientais, mediante consulta prvia e aprovao do Conselho Municipal de Meio Ambiente.

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Manual de Saneamento e Proteo Ambiental para os Municpios

3. INTRUMENTOS DE GESTO AMBIENTAL

Para implementar o seu trabalho, o gestor ambiental dispe de instrumentos preventivos, proativos ou de reparao e correo de danos. Alguns deles, como a fiscalizao e o licenciamento, j so implementados h algum tempo. Outros, como o monitoramento ambiental, enquadramento de cursos d'gua, e os instrumentos econmicos, so de aplicao mais recente. A Poltica Nacional de Meio Ambiente prev uma srie de aes para atender aos objetivos estabelecidos, em especial: o planejamento e a fiscalizao do uso dos recursos naturais; incentivos produo e instalao de equipamentos e a criao e absoro de tecnologia, voltados para a melhoria da qualidade ambiental; educao ambiental em todos os nveis de ensino, inclusive a educao da comunidade, para possibilitar a sua participao ativa na defesa do meio ambiente; incentivo ao estudo e pesquisa de tecnologias orientadas para o uso sustentvel e a proteo dos recursos naturais. So instrumentos bsicos da Poltica Nacional do Meio Ambiente: a Avaliao de Impacto Ambiental (AIA); o Licenciamento Ambiental de atividades potencialmente poluidoras; o Zoneamento Ecolgico-Econmico.

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Em Minas Gerais, as instituies integrantes do Sistema Estadual de Meio Ambiente - SEMAD, FEAM, IEF e IGAM -, os Conselhos estaduais e municipais - COPAM, CERH e CODEMA, os comits de bacias, consrcios intermunicipais, as prefeituras, bem como as instituies de pesquisa e os empreendedores privados, aplicam instrumentos especficos de gesto ambiental. A Figura 6 relaciona os principais tipos de instrumentos de gesto ambiental e do desenvolvimento sustentvel.

Instrumentos de Gesto Ambiental e Desenvolvimento Sustentveis TIPODISSOCIATIVO

INSTRUMENTO Conflito Violento Solues autoritrias Fiscalizao e coero Penalizao, multas Interdies Licenciamento corretivo Auditoria Avaliao de impactos ambientais Avaliao de opes tecnolgicas Licenciamento Outorga e concesso de uso da gua Monitoramento Gesto de bacia hidrogrfica Planejamento Zoneamento ambiental, agroecolgico, ecolgico-econmico e urbanstico Enquadramento e classificao de rios Regulao, normatizao Pesquisa Educao / desenvolvimento de recursos humanos Comunicao Extenso Taxas de uso para esgoto e tratamento Taxas sobre produtos Taxas sobre emisso e fundos Sistemas de restituio e depsitos Incentivos ao cumprimento de padres Licenas negociveis Cobranas pelo uso de recursos Compensaes financeiras, royalties Cobranas variveis Seguros ambientais

REPR