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Direção-geral da Administração da Justiça MANUAL PRÁTICO PARA OFICIAIS DE JUSTIÇA PROCESSO DO TRABALHO CFFJ - 2012

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Direção-geral da Administração da Justiça

MANUAL PRÁTICO PARA OFICIAIS DE JUSTIÇA

PROCESSO DO TRABALHO

CFFJ - 2012

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INDICE DE REVISÕES

1.ª Versão Abril 2002 Rui Timóteo

2.ª Versão Novembro 2009 José Cabido

Jorge Constantino

2.ª Versão – 1.ª Revisão Junho 2012 José Cabido

I - NOTA INTRODUTÓRIA

O Decreto-Lei n.º 295/2009, de 13 de outubro1, veio estabelecer um conjunto de

alterações às normas do Código de Processo do Trabalho visando, essencialmente, adequar as

normas processuais laborais ao novo Código do Trabalho, aprovado pela Lei n.º 7/2009, de 12

de fevereiro2.

Tal como é expressamente referido na exposição de motivos, as linhas orientadoras da

revisão do Código de Processo do Trabalho (doravante apenas CPT) passam,

fundamentalmente, pela necessidade de correspondência às novas realidades jurídico-

laborais introduzidas com aquela revisão do Código do Trabalho (CT) e também pela sua

conformação aos princípios orientadores da reforma processual civil, nomeadamente em

matéria de recursos e do processo executivo.

Do ponto de vista das modificações salienta-se as alterações de vocabulário para a

terminologia do CPT ficar compatível com a terminologia usada no Código do Trabalho e no

“Regime Jurídico das Perícias Médico-legais e Forenses”3, nos casos de processos emergentes

de acidente de trabalho e de doença profissional.

1 Objeto de Declaração de retificação n.º 86/2009, de 23 de novembro. 2 Entretanto alvo das seguintes alterações: Declaração de Retificação n.º 21/2009, de 18 de março; Lei n.º 105/2009, de 14 de setembro e Lei n.º 53/2011, de 14 de outubro. 3 Aprovado pelo Dec.Lei n.º 45/2004, de 19 de agosto

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Assim, os termos “entidade patronal”, “processo disciplinar”, “salário”, “exames médicos”

e “grau de desvalorização” são substituídos, respetivamente, por “entidade empregadora” ou

“empregador”, “procedimento disciplinar”, “retribuição”, “perícias médicas” e

“incapacidade”.

ANTIGA TERMINOLOGIA NOVA TERMINOLOGIA

entidade patronal entidade empregadora/empregador

processo disciplinar procedimento disciplinar

salário retribuição

exames médicos perícias médicas

grau de desvalorização grau de incapacidade

As novas regras do processo do trabalho vêm promover a resolução alternativa de litígios e

criam vários processos especiais de natureza urgente, a fim de fomentar a celeridade

processual.

Os procedimentos cautelares de suspensão do despedimento – individual e coletivo – dão

lugar a um só procedimento em que, ao contrário do regime anterior, são admissíveis a

oposição e a apresentação de prova testemunhal.

São Introduzidas disposições que permitem que a inquirição de testemunhas residentes

fora da área da competência do tribunal/juízo do trabalho passa a poder ser realizada por

videoconferência a partir do tribunal da área da sua residência.

Foram criados novos processos especiais, sendo o mais relevante, também de natureza

urgente, a “Ação de Impugnação Judicial da Regularidade e Licitude do Despedimento”.

Com a entrada em vigor do novo CPT, iniciaram também os seus efeitos algumas das

normas do Código do Trabalho, designadamente as que determinam que o processo de

impugnação judicial de despedimento deverá ser apresentado no prazo de 60 dias sobre a

data do seu conhecimento (ao invés do anterior prazo de 12 meses).

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O novo regime do CPT entrou em vigor no dia 1 de janeiro de 2010, aplicando-se apenas às

ações que se iniciaram após essa data.

1. OBJETIVOS

Gostaríamos ainda de deixar expresso que estes textos deverão ser entendidos como um

mero instrumento pessoal de trabalho – que os seus destinatários, os oficiais de justiça,

deverão atualizar sempre que considerem necessário – e que, de modo nenhum, se substituem

nem dispensam a leitura dos diplomas legais aplicáveis e, naturalmente, sem prejuízo de

entendimento diverso dos senhores magistrados4.

2. O NOVO CÓDIGO DE PROCESSO DO TRABALHO

O presente texto tem como base de trabalho o texto de apoio de abril de 2002 tendo sido

revisto e atualizado de acordo com o novo “Código de Processo do Trabalho”.

As alterações introduzidas pelo Dec. Lei n.º 295/2009 serão apenas aplicáveis aos processos

instaurados a partir de 1 de Janeiro de 2010 – pelo que todos os outros continuarão a ser

tramitados de acordo com o antigo CPT, entretanto “revogado”.

3. PRINCÍPIOS GERAIS DO PROCESSO DO TRABALHO

No processo do trabalho vigoram, tal como no processo civil comum, entre outros, os

seguintes princípios:

– O princípio da legalidade – a marcha do processo é fixada na lei e o tribunal aplica a lei

aos fatos;

– O princípio do dispositivo – às partes caberá alegar os fatos que integram a causa de

pedir e aqueles em que se baseiam as exceções – art.º 264.º do CPC;

4 Art.º 161.º, n.º 1 do CPC: “As secretarias judiciais asseguram o expediente, autuação e regular tramitação dos processos pendentes, nos termos estabelecidos na respetiva Lei Orgânica, em conformidade com a lei de processo e na dependência funcional do magistrado competente.”.

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– O princípio do contraditório – iniciando uma das partes certo processo, à outra parte

no litígio deve ser dado conhecimento do que perante o tribunal foi dito e deve ser dada

oportunidade para expor as suas razões; não é lícito ao juiz decidir questões de fato ou

de direito, mesmo que de conhecimento oficioso, sem que previamente haja sido

facultada às partes a possibilidade de sobre elas se pronunciarem, assim se evitando a

prolação de decisões surpresa – art.º 3.º do CPC;

– O princípio da igualdade das partes – o tribunal deve assegurar, ao longo de todo o

processo, um estatuto de igualdade substancial das partes, designadamente no

exercício de faculdades, no uso de meios de defesa e na aplicação de cominações ou de

sanções processuais – art.º 3.º-A do CPC;

– O princípio da limitação dos atos – não é lícito realizar no processo atos inúteis – art.º

137.º do CPC;

– O princípio da economia processual ou da idoneidade técnica – os atos processuais

terão a forma que, nos termos mais simples, melhor corresponda ao fim que visam

atingir – art.º 138.º do CPC;

– O princípio do inquisitório – cumpre ao juiz, sem prejuízo do ónus de impulso

especialmente imposto pela lei às partes, providenciar pelo andamento regular e célere

do processo, promovendo oficiosamente as diligências necessárias ao normal

prosseguimento da ação e recusando o que for impertinente ou meramente dilatório –

art.º 265.º do CPC;

– O princípio da adequação formal – quando a tramitação processual prevista na lei não

se adequar às especificidades da causa, deve o juiz oficiosamente, ouvidas as partes,

determinar a prática dos atos que melhor se ajustem ao fim do processo, bem como as

necessárias adaptações – art.º 265.º-A do CPC;

– O princípio da cooperação – na condução e intervenção no processo, devem os

magistrados, os mandatários judiciais e as próprias partes cooperar entre si – art.º 266.º

do CPC;

– O princípio da estabilidade da instância – citado o réu, a instância deve manter-se a

mesma quanto às pessoas, ao pedido e à causa de pedir, salvas as possibilidades de

modificação consignadas na lei – art.º 268.º do CPC.

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4. DISPOSIÇÕES FUNDAMENTAIS

4.1. ÂMBITO E INTEGRAÇÃO DO CÓDIGO DE PROCESSO DO TRABALHO

O processo do trabalho é regulado pelo “Código de Processo do Trabalho”, como aliás

refere o seu art.º 1.º, n.º 1.

Porém, nos casos omissos (e são muitos), há que recorrer à legislação, à regulamentação

ou aos princípios referidos no n.º 2 daquele artigo e pela ordem hierárquica aí estabelecida.

Assim, como exemplo: se se tratar de caso omisso no CPT que ocorra na área do processo

civil, recorre-se primeiramente ao “Código de Processo Civil” (daqui em diante, apenas CPC);

só se este não prevenir diretamente o referido caso, se recorrerá, então, à regulamentação

dos casos análogos previstos no CPT.

Porém, refere o n.º 3 do art.º 1.º do CPT, que as normas subsidiárias não se aplicam

quando forem incompatíveis com a índole do processo regulado no Código de Processo do

Trabalho.

Mas, afinal, qual é a “índole” do processo laboral?

Vejamos:

Podemos dizer, em linhas gerais, que ao CPT presidem três grandes princípios

orientadores: justiça célere, justiça pacificadora e justiça completa.

– A celeridade é imposta, para além de outros, pelos interesses do próprio trabalhador,

uma vez que frequentemente estão em causa as suas retribuições e, em consequência,

não só o seu sustento como o do seu agregado familiar.

Poderemos referir como exemplo, entre outros, o facto de os prazos estabelecidos no

CPT serem, em regra, mais curtos do que os correspondentes do CPC, assim se

minimizando os efeitos nefastos que compreensivelmente resultariam da demora na

resolução dos conflitos laborais.

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– O princípio da justiça pacificadora é palpável na valorização que o CPT faz da

conciliação como forma de resolução dos conflitos. Pretende-se obter, sempre que

possível, uma composição amigável da lide.

Também a necessidade de preservação da paz laboral e social são determinantes na

consagração deste princípio.

– O princípio da justiça completa, própria da jurisdição laboral, pode extrair-se da

consagração do primado da justiça material sobre a justiça formal, como já referimos

atrás – cfr., neste sentido, os poderes/deveres do juiz consagrados, entre outros, nos

artigos 27.º, 56.º, al. b), 72.º e 74.º todos do CPT, bem como a natureza (oficiosa) de

que se pode revestir a execução baseada em sentença de condenação em quantia

certa a que se refere o art.º 90.º, n.º 2.

Oportunamente, veremos de que modo se concretizam, no CPT, estes três princípios

gerais.

II – DO PROCESSO CIVIL

1. REPRESENTAÇÃO E PATROCÍNIO JUDICIÁRIO PELO MINISTÉRIO PÚBLICO

Cobre-se de grande importância, em processo do trabalho, a intervenção do Ministério

Público (cfr. art.ºs 6.º a 9.º do CPT).

Uma vez que o presente texto de apoio inclui um capítulo próprio dedicado a essa

intervenção (cfr., na sua parte final, “O MINISTÉRIO PÚBLICO NA JURISDIÇÃO LABORAL”), para

aí se remete tudo no que a esta matéria diz respeito.

2. A COMPETÊNCIA

2.1. COMPETÊNCIA EM RAZÃO DA MATÉRIA

Consta exaustivamente dos art.ºs 85.º a 87.º da Lei n.º 3/99, de 13 de Janeiro (Lei de

Organização e Funcionamento dos Tribunais Judiciais, doravante apenas LOFTJ), ou dos art.ºs

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118.º e 119.º da Lei n.º 52/2008, de 28 de Agosto (Nova Lei de Organização e Funcionamento

dos Tribunais Judiciais, doravante apenas NLOFTJ).

2.2. COMPETÊNCIA EM RAZÃO DA HIERARQUIA

Os Tribunais (ou Juízos, na NLOFTJ) do Trabalho podem funcionar como instância de

recurso (art.º 12.º do CPT) – na situação referida no art.ºs 87.º da LOFTJ ou 119.º da NLOFTJ,

segundo os quais compete aos tribunais ou juízos do trabalho “julgar os recursos das decisões

das autoridades administrativas em processos de contraordenação nos domínios laboral e da

segurança social”.

2.3. COMPETÊNCIA TERRITORIAL

Conforme refere o art.º 13.º, n.º 1 do CPT e como regra geral, as ações devem ser

propostas no tribunal do domicílio5 do réu, sendo que as entidades empregadoras ou

seguradoras, bem como as instituições de previdência, consideram-se também domiciliadas

no lugar onde tenham sucursal, agência, filial, delegação ou representação.

Porém, com alguma frequência, esta “regra geral” não é seguida por força do estatuído

nos art.ºs 14.º a 16.º do CPT, como veremos a seguir, em relação às ações emergentes de

contrato de trabalho, bem como às ações emergentes de acidente de trabalho e de doença

profissional e ações emergentes de despedimento coletivo.

Em processo emergente de contrato de trabalho intentado por trabalhador contra a

entidade empregadora é também competente territorialmente o tribunal do lugar da

prestação de trabalho ou do domicílio do autor (art.º 14.º, n.º 1 do CPT). Em caso de

coligação de autores, é competente o tribunal do lugar da prestação de trabalho ou do

domicílio de qualquer deles (art.º 14.º, n.º 2 do CPT). Se o trabalho for prestado em mais de

um lugar, pode a ação ser proposta no tribunal de qualquer desses lugares (art.º 14.º, n.º 3 do

CPT).

5 Domicílio – cfr. art.ºs 82.º e seguintes do Código Civil.

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Note-se que esta liberdade de escolha do tribunal só se verifica caso o trabalhador seja

autor no processo; no caso contrário, em que o autor seja a entidade empregadora, o tribunal

competente será sempre e só o do domicílio do réu (o trabalhador), nos termos do n.º 1 do

art.º 13.º.

Tratando-se de processos emergentes de acidente de trabalho e de doença profissional é

por regra competente o tribunal do lugar onde o acidente ocorreu ou onde o doente trabalhou

pela última vez em serviço suscetível de originar a doença, sendo também competente o

tribunal do domicílio do sinistrado, doente ou beneficiário se ele (ou os seus beneficiários

legais, em caso de morte) o requererem até à fase contenciosa do processo ou se aí for

apresentada a participação (art.º 15.º, n.ºs 1 e 4 do CPT).

Já os processos emergentes de despedimento coletivo, devem ser propostos no tribunal do

lugar onde fica situado o estabelecimento da prestação do trabalho e, no caso de o

despedimento abranger trabalhadores de diversos estabelecimentos será competente o

tribunal do lugar onde se situa o estabelecimento com maior número de trabalhadores

despedidos (art.º 16.º do CPT).

Resulta, pois, dos art.ºs 13.º, 14.º, 15.º e 16.º do CPT que, em processo do trabalho, o(s)

trabalhador(es), bem como o sinistrado, doente ou beneficiário têm à sua disposição um

leque de possibilidades de escolha (no que à localização territorial diz respeito) do tribunal

no qual pretendem que o processo corra seus termos, no sentido de minimizar as naturais

perturbações que as deslocações sempre provocam, quer ao(s) próprio(s) quer às suas

testemunhas.

3. CITAÇÕES E NOTIFICAÇÕES

As citações e notificações em processo do trabalho são reguladas, de uma forma geral,

pelas regras do CPC com algumas especialidades. (art.º 23.º do CPT).

Essas especialidades são apenas as referidas no art.º 24.º (notificação da decisão final) e

no art.º 25.º (citações, notificações e outras diligências em tribunal alheio), pelo que, em

tudo o mais, em matéria de citações e notificações há que recorrer ao CPC.

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Vejamos, com algum pormenor, cada uma destas disposições legais:

– Art.º 24.º do CPT – NOTIFICAÇÃO DA DECISÃO FINAL

A decisão final, em processo laboral, é sempre notificada às partes e aos respetivos

mandatários6, por carta registada (n.º 1), diferentemente do que acontece em processo civil

comum, em que as notificações são feitas apenas na pessoa dos respetivos mandatários

judiciais (art.º 253.º, n.º 1, do CPC).

Se as cartas dirigidas às partes vierem devolvidas, aplicam-se as regras do CPC relativas às

notificações aos mandatários (n.º 3), ou seja, as notificações não deixam de produzir os seus

efeitos pelo facto de o expediente vir devolvido, como refere o n.º 4 do art.º 254.º do CPC.

Resumindo:

Ao notificarmos uma decisão, há que ter em atenção se a mesma é ou não uma decisão

final; em caso afirmativo, há ainda que verificar se há ou não representação ou

patrocínio oficioso.

Ao encontro da prática corrente, a alteração introduzida no n.º 2 não deixa margem

para quaisquer dúvidas7 que, nos casos de representação ou patrocínio oficioso, a

notificação da decisão final ao representado e ao representante é efetuada

simultaneamente – cfr. n.º 2 do artigo em referência, na nova redação dada pelo art.º

1.º do Dec.Lei n.º 295/2009, de 13 de outubro.

Os prazos despoletados pelas notificações contam-se a partir das que tiverem sido

efetuadas aos mandatários, representantes ou patronos oficiosos (n.º 4).

As decisões não finais, face ao silêncio do CPT, são efetuadas nos termos do CPC (cfr.

art.ºs 253.º a 256.º do CPC).

6 Se a parte estiver simultaneamente representada por advogado ou advogado estagiário e por solicitador, as

notificações que devam ser feitas na pessoa do mandatário judicial sê-lo-ão sempre na do solicitador – n.º 3 do

art.º 253.º CPC.

7 Relativamente às regras anteriores.

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– Art.º 25.º do CPT – CITAÇÕES8, NOTIFICAÇÕES E OUTRAS DILIGÊNCIAS EM TRIBUNAL

ALHEIO

Refere-se este artigo às diligências que hajam de ser deprecadas. Podemos distinguir,

para facilidade de raciocínio:

1.º – Deprecar “o quê”; e

2.º – Deprecar “a quem”.

Quanto ao primeiro ponto – deprecar “o quê” – há que diferenciar entre citações e

notificações, por um lado, e outras diligências, pelo outro.

Quanto a estas últimas, há ainda que separar as que, no critério do juiz da causa,

exijam conhecimentos especializados no domínio laboral das que o não exijam.

Quanto ao segundo ponto – deprecar “a quem” – estabelece-se a preferência pelos

tribunais do trabalho, apenas se recorrendo a outros tribunais na falta daqueles. A

determinação do tribunal ao qual devem ser solicitadas as diligências a deprecar

depende do tipo destas, de harmonia com o acima referido.

Concretizando:

1. As citações e notificações que devam ser efetuadas por contacto pessoal através de

funcionário de justiça serão solicitadas ao tribunal (ou juízo) do trabalho em cuja área de

competência territorial tenham de ser efetuadas ou, na falta de tribunal (ou juízo) do

trabalho, ao respetivo tribunal de comarca – art.º 25.º, n.º 1, al.s a) e b).

2. Se se tratar de outras diligências (que não citações ou notificações):

2.1. Se estas não exigirem conhecimentos especializados, serão solicitadas nos

mesmos termos que as citações e notificações;

2.2. Se exigirem conhecimentos especializados, terão necessariamente que ser

solicitadas a um tribunal (ou juízo) do trabalho ou a um tribunal de comarca

com competência laboral; assim, deverão ser solicitadas ao tribunal do trabalho

territorialmente competente (com jurisdição na área) ou, na falta deste, ao

8 Em processo do trabalho, contrariamente ao que acontece no processo civil, a citação depende sempre de prévio despacho judicial.

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tribunal de comarca, que necessariamente terá competência laboral – art.º

25.º, n.º 2, al.s a) e b).

De sublinhar que não compete à secretaria determinar qual o tribunal a deprecar, nem tal

resulta automaticamente da lei. Do corpo do artigo extrai-se, com clareza, que cabe ao juiz

da causa, no seu prudente critério, distinguir as diligências que exijam conhecimentos

especializados daquelas que o não exijam. Assim sendo, será necessário que aquele

magistrado, no despacho em que ordena a remessa de deprecada, refira se a diligência em

causa exige ou não conhecimentos especializados ou indique expressamente qual o tribunal

ao qual aquela deve ser remetida. Só assim a secretaria estará em condições de verificar,

face às leis de organização judiciária (Lei n.º 3/99, de 13 de Janeiro ou Lei n.º 52/2008, de 28

de Agosto), qual o tribunal (ou juízo, respetivamente) a deprecar.

Porém, e como veremos mais adiante, no caso das perícias médicas, tal não é necessário,

uma vez que o CPT estabelece expressamente que aquelas perícias deverão ser deprecadas a

um tribunal com competência em matéria de trabalho (cfr. art.ºs 105.º, n.º 3, in fine, e

139.º, n.º 3 do CPT).

DILIGÊNCIAS A

DEPRECAR

CITAÇÕES,

NOTIFICAÇÕES OU

AFIXAÇÃO DE EDITAIS

OUTRAS

DILIGÊNCIAS

Solicitadas ao tribunal ou juízo do trabalho em cuja

área de competência territorial tiver de ser efectuada

a diligência.

Solicitadas ao tribunal de comarca territorialmente

competente (se não houver tribunal ou juízo do

trabalho)

Diligências que não exijam conhecimentos

especializados (solicitadas nos mesmos termos

que as citações e notificações)

Que exijam

conhecimentos

especializados

Solicitadas ao tribunal ou juízo do trabalho

competente (se o houver)

Solicitadas ao tribunal da comarca (se não

houver tribunal ou juízo do trabalho)

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A. PROCEDIMENTOS CAUTELARES

Antes de mais, vejamos, em traços largos, algumas normas gerais do CPC aplicáveis aos

procedimentos cautelares (também no processo do trabalho):

– Sempre que alguém mostre fundado receio de que outrem cause lesão grave e

dificilmente reparável ao seu direito, pode requerer a providência conservatória ou

antecipatória concretamente adequada a assegurar a efetividade do direito ameaçado

(art.º 381.º, n.º 1 do CPC).

– Os procedimentos cautelares revestem sempre carácter urgente, precedendo os

respetivos atos qualquer outro serviço judicial não urgente (art.º 382.º, n.º 1 do CPC).

– O procedimento cautelar é sempre dependência da causa que tenha por fundamento o

direito acautelado e pode ser instaurado como preliminar ou como incidente de ação

declarativa ou executiva.

– Requerido antes de proposta a ação, é o procedimento apensado a esta, logo que a ação

seja instaurada; e se a ação vier a correr noutro tribunal, para aí será remetido o

apenso, ficando o juiz da ação com exclusiva competência para os termos subsequentes

à remessa (n.ºs 1 e 2 do art.º 383.º do CPC).

Os procedimentos cautelares estão regulados, no CPT, nos artigos 32.º a 47.º.

Antes de entrarmos propriamente na sua tramitação, vejamos de que modo se encontram

“arrumados” naquele Código:

Nele são considerados os seguintes tipos de procedimentos cautelares:

1. Procedimentos cautelares comuns (não especificados) (art.ºs 32.º e 33.º do CPT);

2. Procedimentos cautelares especificados (art.ºs 34.º a 47.º do CPT). Por sua vez, dentro

destes, há que distinguir:

2.1. Os procedimentos cautelares especificados regulados no CPT. São eles:

2.1.1. – Suspensão de despedimento (art.ºs 34.º a 40.º-A do CPT);

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2.1.2. – Proteção da segurança, higiene e saúde no trabalho (art.ºs 44.º a 46.º

do CPT).

2.2. Os procedimentos cautelares especificados regulados no CPC (art.º 47.º do CPT):

2.2.1. – O arresto e, segundo alguns autores,

2.2.2. – O arrolamento9

2.2.3. – O arbitramento de reparação provisória.

PROCEDIMENTOS CAUTELARES COMUNS

No foro laboral é admissível o recurso a procedimentos cautelares não especificados aos

quais se aplica o regime estabelecido no CPC para o procedimento cautelar comum, com

algumas especialidades.

Trata-se, aqui, de procedimentos cautelares não especificados, não regulados no CPT nem

no CPC, mas cuja matéria é específica do foro laboral.

9 Segundo António Santos Abrantes Geraldes, in “Prontuário de Direito do Trabalho”, Atualização n.º 51, pág. 32, o arrolamento está naturalmente excluído dos tribunais do trabalho; essa opinião não é perfilhada por Albino Mendes Baptista que, na nota 3 ao art.º 47.º do seu CPT anotado, defende que aquela providência cautelar é compatível com a natureza do processo laboral.

PROVIDÊNCIAS

CAUTELARES

COMUNS (não especificados)

(art.ºs 32.º e 33.º)

ESPECIFICADOS

Suspensão de despedimento

(art.ºs 34.º a 40.º-A)

Protecção da segurança, higiene e saúde no trabalho

(art.ºs 44.º a 46.º)

Regulados no CPT

Regulados no CPC

Arresto

(art.ºs 406.º a 410.º)

Arrolamento

(art.ºs 421.º a 426.º)

Arbitramento de reparação

provisória

(art.ºs 403.º a 405.º)

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Podem ter como fundamento, por exemplo, e entre outras situações, a modificação do

horário de trabalho, a inadaptação do trabalhador ao posto de trabalho ou a sua transferência

para outro local de trabalho.

Na tramitação destes procedimentos cautelares deverão ser observadas as regras

constantes do artigo 32.º do CPT e subsidiariamente as do CPC.

Recebido o requerimento, que será distribuído na 7.ª Espécie (cfr. art.º 21.º) e sem

prejuízo do cumprimento da legislação sobre custas10, abre-se conclusão ao juiz, que

designará dia para a audiência final.

Até ao início dessa audiência poderá o requerido apresentar oposição, sempre que esta

seja admissível, termos em que e para o que deverá ser expressamente notificado, aquando

da notificação para a audiência final.

A decisão, sucintamente fundamentada, é de imediato ditada para a ata.

Nos casos de admissibilidade de oposição (cfr. art.º 385.º do CPC), deverá também

advertir-se as partes para comparecerem pessoalmente na audiência, na qual se procederá a

tentativa de conciliação ou, em caso de justificada impossibilidade de comparência, fazer-se

representar por mandatário com poderes especiais para confessar, desistir ou transigir o qual,

nestas circunstâncias, deverá previamente informar-se sobre os termos em que o mandante

aceita a conciliação (art.º 32.º, n.º 2 do CPT).

Uma vez que a falta de comparência de qualquer das partes não é motivo de adiamento

(art.º 32.º, n.º 4 do CPT), deverão as mesmas ser disso, de igual modo, expressamente

advertidas no ato da notificação.

2. PROCEDIMENTOS CAUTELARES ESPECIFICADOS

Como vimos, aos procedimentos cautelares especificados é aplicável, nos casos omissos, o

disposto no art.º 32.º do CPT quanto aos procedimentos cautelares comuns (art.º 33.º do

CPT).

10 A matéria sobre custas processuais está tratada em manual específico para o qual se remete a explanação de todas as questões atinentes a custas abordadas por este manual.

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16

2.1. PROCEDIMENTOS CAUTELARES ESPECIFICADOS (Regulados no CPT)

2.1.1. SUSPENSÃO DE DESPEDIMENTO

O(s) trabalhador(es) despedido(s) que queira(m) obter a suspensão do seu despedimento

através desta providência cautelar, deve(m), no prazo de 5 dias úteis11 contados da receção

da comunicação de despedimento, apresentar no competente juízo ou tribunal do trabalho o

respetivo pedido (art.º 386.º do Código do Trabalho).

Distribuído na 7.ª espécie do art.º 21.º do CPT, autuado o requerimento inicial12 e,

conforme o caso, cumpridas que sejam as disposições relativas a custas, abre-se conclusão ao

juiz que, sendo caso disso, além de ordenar a citação do requerido para, querendo, se opor,

designará data para a audiência final, a efetuar no prazo de 15 dias (art.º 34.º, n.º 1 do CPT).

Caso tenha sido invocado despedimento (individual) precedido de procedimento

disciplinar, o juiz ordenará, ainda, a notificação do requerido para, no prazo da oposição,

apresentar o procedimento, o qual será apensado aos autos (art.º 34.º, n.º 2 do CPT).

Por outro lado, se for invocado o despedimento coletivo, a extinção do posto de trabalho

ou o despedimento por inadaptação, o requerido deverá ainda ser notificado para, no mesmo

prazo, juntar aos autos os documentos comprovativos do cumprimento das formalidades

legais (art.º 34, n.º 3 do CPT, ex vi dos art.ºs 359.º e seguintes do Código do Trabalho).

Nessa notificação serão ainda as partes advertidas sobre a obrigatoriedade de comparência

pessoal na audiência final (art.º 36.º, n.º 1 do CPT) e das consequências cominatórias

previstas nos art.ºs 37.º e 38.º, n.º 1 do CPT para o caso de faltarem.

No que diz respeito à prova, as partes podem apresentar qualquer meio de prova

encontrando-se, porém, limitado a três o número de testemunhas a apresentar por cada parte

(art.º 35, n.º 1 do CPT), podendo o juiz, contudo, oficiosamente ou a requerimento

11 Este prazo, sendo de natureza substantiva e não processual, não se suspende durante as férias judiciais – cfr. artigo 144.º, n.º 1 do CPC. 12 Ao propor a correspondente ação especial de impugnação da regularidade e licitude do despedimento fica o requerente da providência dispensado de apresentar o formulário previsto nos artigos 98.º-C e D.

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17

fundamentado de qualquer das partes, determinar a produção de quaisquer provas que

considere indispensáveis à boa decisão da causa (art.º 35.º, n.º 2 do CPT);

Na audiência, de que será lavrada ata, o juiz tenta a conciliação e, se esta se frustrar,

ouve as partes e ordena a produção da prova a que houver lugar, proferindo logo de seguida a

decisão, a não ser que a complexidade da causa o justifique e não tenham decorrido mais de

30 dias a contar da data da entrada do requerimento inicial, caso em que essa decisão poderá

ser proferida no prazo de 8 dias (art.º 36.º, n.ºs 2 e 3 do CPT).

O juiz decretará a suspensão do despedimento nos seguintes casos (art.ºs 37.º, n.º 2, 1.ª

parte, 38.º, n.º 1 e 39.º, n.º 1 do CPT):

– O requerido não compareceu, não justificou a falta no próprio ato, ou não se fez

representar por mandatário com poderes especiais;

– O requerido não apresentou injustificadamente, dentro do prazo da oposição, e

consoante os casos, o procedimento disciplinar ou os documentos comprovativos do

cumprimento das formalidades legais.

– Seja concluído pela provável inexistência de procedimento disciplinar ou pela sua

provável nulidade;

– O tribunal conclua pela probabilidade de inexistência de justa causa;

– Ou, nos casos de despedimento coletivo, pela probabilidade da inobservância das

formalidades legais previstas no art.º 383.º do Código do Trabalho;

A decisão sobre a suspensão do despedimento tem força executiva relativamente às

retribuições em dívida, devendo o empregador, até ao último dia de cada mês subsequente à

decisão, juntar documento comprovativo do seu pagamento (art.º 39.º n.º 2 do CPT).

Qualquer que seja a decisão final, dela cabe sempre recurso, de apelação, para a Relação,

com efeito meramente devolutivo (art.º 40.º, n.ºs 1 e 2, 1.ª parte, do CPT).

Assim sendo e no caso de a decisão decretar a suspensão do despedimento, o fato de a

entidade empregadora recorrer dessa decisão não significa, a priori, que possa vedar ao

trabalhador o acesso ao seu posto de trabalho, recusando-lhe tarefas e a correspondente

retribuição.

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Para que tal seja possível, deverá o recorrente (entidade empregadora), no ato de

interposição do recurso, depositar à ordem do tribunal (por depósito autónomo) a quantia

correspondente a seis meses de retribuição do trabalhador recorrido acrescida das

correspondentes contribuições para a segurança social, assim obtendo o efeito suspensivo do

recurso (art.º 40.º, n.º 2, última parte, do CPT).

Exemplo prático:

Para um trabalhador (do “regime geral”) cuja remuneração mensal seja 1.000,00 ilíquido, o

recorrente deve depositar a importância de 7.425,00 correspondente a 6 x 1.000,00 acrescido de 23,75

% de taxa contributiva (de acordo com a tabela anexa13).

13 In http://www2.seg-social.pt/left.asp?03.03.01

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19

O trabalhador recorrido, por sua vez, pode requerer ao tribunal, por força daquele

depósito, o pagamento da retribuição a que normalmente teria direito, mas só enquanto se

mantiver na situação de desemprego (art.º 40.º, n.º 3 do CPT).

Nesta situação, o tribunal procederá, mensalmente, ao pagamento da retribuição ao

trabalhador, como se da sua entidade empregadora se tratasse, emitindo para a efeito duas

Notas de Depósito Autónomo para Pessoas.

No seguimento do exemplo anterior:

Uma Nota de Depósito Autónomo para Pessoas a favor do trabalhador no montante (considerando o

exemplo acima) de 890,00 (1.000,00 – 11%) e outra a favor do ISS no montante de 347,5014 (1.000,00 X

34,75 %).15

Conforme já vimos, o procedimento cautelar é sempre dependência da causa que tenha

por fundamento o direito acautelado (art.º 383.º, n.º 1 do CPC). No caso em apreço, será

dependência, conforme os casos, e por exemplo, de uma “ação especial de impugnação

judicial da regularidade e licitude do despedimento” ou de uma “ação especial de

impugnação de despedimento coletivo”.

Nestes casos, a ação deverá ser proposta, em regra, dentro de 30 dias contados da data em

que o requerente tenha sido notificado da decisão que decretou a providência, nos termos do

art.º 40.º-A, al. a) do CPT.

O procedimento cautelar também caduca nos restantes casos previstos no CPC – art.º 389.º

– que não sejam incompatíveis com a natureza do processo do trabalho.

Em qualquer dos casos, se assim não acontecer, o procedimento cautelar extingue-se e,

quando decretada, a providência caduca.

Uma vez que, como já vimos também, a suspensão de despedimento deve ser apensada à

respetiva ação de impugnação, logo que esta seja instaurada, poderá pesquisar-se, nos

14 Fazendo referência, além do mais, aos Números de Identificação (NISS) do Trabalhador e da Entidade Empregadora 15 Se se entender considerar o IRS devido pela colocação à disposição do trabalhador deste rendimento (referente à categoria A), na emissão da Nota ao trabalhador, deve proceder-se à retenção do valor do imposto – atendendo às tabelas de retenção na fonte disponíveis em http://info.portaldasfinancas.gov.pt/pt/apoio_contribuinte/tabela_ret_doclib/, para a qual se torna necessário que o trabalhador previamente forneça os dados indispensáveis relativos à sua situação pessoal e familiar (al. a) do n.º 2 do art.º 99.º do CIRS).

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tribunais (ou juízos) do trabalho com dois (ou mais) juízos ou secções de processos, no sentido

de saber quando e a que juízo/secção foi distribuída a referida ação de impugnação, para

efeitos de remessa para apensação.

2.1.2. PROTECÇÃO DA SEGURANÇA, HIGIENE E SAÚDE NO TRABALHO

Sempre que se verificarem os circunstancialismos referidos no n.º 1 do art.º 44.º do CPT16,

podem os trabalhadores, individual ou coletivamente, bem como os seus representantes,

apresentar no tribunal o competente requerimento inicial.

Distribuído na 7.ª espécie, autuado o requerimento e, conforme o caso, cumpridas que

sejam as disposições relativas a custas17, abre-se conclusão ao juiz, que, determinará a

realização das diligências referidas no art.º 45.º do CPT.

Produzidas as provas que forem julgadas necessárias, o juiz decidirá, ordenando, então, as

providências adequadas a prevenir ou afastar o perigo invocado, sem prejuízo da eventual

responsabilidade civil, criminal, ou contraordenacional que ao caso couber -art.º 46.º do CPT.

2.2. PROCEDIMENTOS CAUTELARES ESPECIFICADOS (Regulados no CPC)

Os procedimentos cautelares especificados regulados no CPC que forem aplicáveis ao foro

laboral seguem o regime estabelecido nesse Código - art.º 47.º do CPT.

Poderemos citar, como exemplo, o arresto (art.ºs 406.º a 411.º do CPC) e, na opinião de

alguns autores, o arrolamento (art.ºs 421.º a 427.º do CPC) e o arbitramento de reparação

provisória (art.ºs 403.º a 405.º do CPC).

16 Sempre que as instalações, locais e processos de trabalho se revelem suscetíveis de por em perigo, sério e eminente, a segurança, a higiene ou a saúde dos trabalhadores 17 Quando a providência é requerida pelo organismo sindical parece-nos não ser devida taxa de justiça pelo impulso processual atendendo à isenção subjetiva referida na al. f) do n.º 1 do art.º 4.º do RCP

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NOTA:

Prevê ainda o art.º 410.º, n.º 4 do Código do Trabalho uma

outra providência cautelar – “Providência cautelar de

suspensão de despedimento de trabalhador membro de

estrutura de representação coletiva de trabalhadores”.

Esta providência, que só não será decretada se o tribunal

concluir pela existência de probabilidade séria de verificação de

justa causa, é regulada nos termos previstos no CPT (art.ºs 32.º

e seguintes), com as necessárias adaptações.

B. ESPÉCIES E FORMAS DE PROCESSO

No novo CPT temos apenas o Livro I – “Do processo civil” (art.ºs 2.º a 186.º-J) já que o

Livro II – “Do processo penal” (art.ºs 187.º a 200.º) foi totalmente revogado pelo n.º 2 do

art.º 7.º do Dec.Lei n.º 295/2009, de 13 de outubro (tendo em conta o disposto nos n.ºs 4 e

5 da Declaração de Retificação n.º 86/2009, de 23 de novembro).

Em relação ao processo civil e quanto à espécie, o processo é declarativo ou executivo.

O processo declarativo, por sua vez, pode ser comum ou especial (art.º 48.º do CPT).

1. Diferentemente do que acontece em processo civil comum, em que há três formas de

processo (ordinário, sumário e sumaríssimo – art.º 461.º), o processo declarativo

comum laboral tem uma tramitação única, estabelecida nos art.ºs 54.º e seguintes do

CPT, sendo que nos casos omissos e sem prejuízo do disposto no art.º 1.º do CPT, se

aplicarão subsidiariamente as disposições do CPC relativas ao processo sumário (cfr.

art.ºs 783.º e seguintes) - art.º 49.º, nºs 1 e 2 do CPT.

2. Os processos declarativos especiais (que seguem uma tramitação diferente da do

processo comum, pelo menos durante uma determinada fase do processo), são os

seguintes:

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– Ação de impugnação judicial da regularidade e licitude do despedimento (art.ºs

98.º-B a 98.º-P do CPT);

– Processos emergentes de acidente de trabalho e de doença profissional (art.ºs

99.º a 155.º do CPT);

– Processo de impugnação de despedimento coletivo (art.ºs 156.º a 161.º do CPT);

– Processo do contencioso das instituições de previdência, abono de família,

associações sindicais, associações de empregadores ou comissões de

trabalhadores (art.ºs 162.º a 186.º do CPT);

– Ação de impugnação da confidencialidade de informações ou da recusa da sua

prestação ou da realização de consultas (art.ºs 186.º-A a 186.º-C do CPT);

– Ações relativas à tutela da personalidade do trabalhador (art.ºs 186.º-D a 186.º-F

do CPT); e

– Ações relativas à igualdade e não discriminação em função do sexo (art.ºs 186.º-

G a 186.º-I do CPT).

3. O processo de execução poderá ter por base qualquer dos títulos enunciados no art.º

88.º do CPT.

Há, no entanto, que distinguir duas formas de execução, conforme esta se baseie em

decisão judicial de condenação em quantia certa ou noutro título (art.º 50.º do CPT).

Temos, assim:

– Execução baseada em sentença de condenação em quantia certa, cujos trâmites

estão regulados nos art.ºs 89.º a 96.º do CPT sendo certo que, apenas os n.ºs 1 e 2

do art.º 90.º se mantêm em vigor;

– Execução baseada noutros títulos, à qual se aplicam na íntegra as regras do CPC

relativas ao processo de execução em conformidade com o que dispõe o art.º 98.º-A

do CPT.

4. Em relação ao “processo de contraordenação”, previsto no art.º 186.º-J do CPT,

destina-se a julgar as impugnações das decisões das autoridades administrativas que

apliquem coimas em processo laboral (nos domínios laboral e da segurança social),

referidos nos art.ºs 87.º da LOFTJ ou 119.º da NLOFTJ.

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I – PROCESSO DE DECLARAÇÃO

1. QUESTÕES EMERGENTES DE VISSICITUDES CONTRATUAIS

Geralmente, as vicissitudes contratuais e os direitos que as partes por eles vinculadas

pretendem fazer valer, são dirimidas e apreciadas em ações declarativas intentadas pelos

titulares desses direitos as quais seguem, independentemente do valor da causa, a tramitação

do processo comum estabelecida nos art.ºs 54.º e seguintes do CPT, como já vimos.

Quer isto dizer que, diferentemente do que acontece em processo civil comum, as

alçadas18 dos tribunais da Relação e de 1.ª instância não relevam para efeitos da forma do

processo.

Condicionam, porém, a possibilidade de resposta à contestação e de intervenção do

tribunal coletivo, a admissibilidade de recurso, etc., como veremos oportunamente.

1.1 TENTATIVA DE CONCILIAÇÃO

O legislador, no espírito e na letra do CPT, de algum modo valorizou a tentativa de

conciliação face a uma estrita aplicação do Direito. E isto porque, no campo das relações

individuais de trabalho, estão em causa não só o interesse das partes, mas, também, o

interesse público da ordem e da paz social.

A tentativa de conciliação pode ter lugar obrigatória ou facultativamente nas situações que

veremos a seguir.

1. Tentativa de conciliação obrigatória

O CPT refere, no seu art.º 51.º, n.º 1, que a tentativa de conciliação se realiza

obrigatoriamente quando nele prescrita, o que ocorre em dois momentos distintos:

– Na audiência de partes – art.º 55.º, n.º 2 do CPT; e

18 Alçada é o valor até ao qual um tribunal julga sem admissibilidade de recurso ordinário. Em matéria cível a alçada dos tribunais da Relação é de € 30.000 e a dos tribunais de 1.ª instância (nos quais os tribunais do trabalho se incluem) é de € 5.000 (n.º 1 do art.º 24.º da LOFTJ ou n.º 1 do art.º 31.º da NLOFTJ).

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– Depois de declarada aberta a audiência de discussão e julgamento – art.º 70.º, n.º 1 do

CPT.

2. Tentativa de conciliação facultativa

O CPT é omisso nesta matéria, pelo que há que recorrer subsidiariamente ao CPC.

Assim e nos termos do art.º 509.º, n.º 1 do CPC, pode ter lugar, em qualquer estado do

processo, a diligência de tentativa de conciliação, desde que:

– As partes conjuntamente o requeiram, ou

– O juiz a considere oportuna não podendo, porém, as partes ser convocadas

exclusivamente para esse fim mais do que uma vez.

NOTAS:

1.ª – Apesar de não estar diretamente prescrita no CPT, poderá ainda

haver uma outra oportunidade para tentativa de conciliação; no caso

de o juiz, nos termos do art.º 62.º, n.º 1 do CPT e face à

complexidade da causa, entender dever convocar uma audiência

preliminar.

Se o fizer, à mesma é aplicável o disposto no art.º 508.º-A do CPC,

que estabelece como uma das suas finalidades a realização de

tentativa de conciliação (al. a)).

2.ª – Podem ainda as partes, em conjunto, livremente, por sua

iniciativa e em qualquer estado do processo, requerer a realização de

uma tentativa de conciliação (art.º 509.º, 1 do CPC), bem como

desistir, confessar ou transigir, nos termos previstos no art.º 293.º do

CPC.

Assim, a simples pedido verbal dos interessados, a desistência,

confissão ou transação poderão ser feitas por termo no processo,

tomado pela secretaria (art.º 300.º, nºs 1 e 2 do CPC).

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1.2. REGIME DA TENTATIVA DE CONCILIAÇÃO

A tentativa de conciliação, quer tenha lugar obrigatória, quer facultativamente, é

presidida pelo juiz e destina-se a pôr termo ao litígio mediante acordo equitativo (art.º 51.º,

n.º 2 do CPT).

Esta disposição, semelhante à consagrada no n.º 3 do art.º 509.º do CPC, aponta para uma

intervenção ativa do juiz no sentido de conseguir uma plataforma de entendimento

equilibrada, assim arredando a obtenção de um acordo a “qualquer preço”.

Se a conciliação for obtida, o auto deve conter, pormenorizadamente, os termos do acordo

no que diz respeito a prestações, respetivos prazos e lugares de cumprimento, discriminando

os pedidos abrangidos se houver cumulação de pedidos (art.º 53.º, nºs 1 e 2 do CPT).

Os autos de conciliação assim obtidos são títulos executivos (art.º 88.º, al. b) do CPT) – e

a execução neles fundada corre por apenso ao processo onde a conciliação tiver sido obtida

(art.º 90.º, n.º 3 do CPC) –, sendo competente para os seus termos o juiz do respetivo

processo.

Se a conciliação se frustrar, total ou parcialmente, no auto deverão ficar consignados os

fundamentos que, no entendimento das partes, justificam a persistência do litígio (art.º 53.º,

n.º 3 do CPT).

Esta consignação poderá ter utilidade mais tarde, quer na audiência preliminar (se a ela

houver lugar), quer na audiência de discussão e julgamento, tanto por facilitar um eventual

acordo, como para limitar a matéria a discutir.

A desistência, a confissão ou a transação efetuadas em audiência de conciliação não

carecem de homologação para produzir efeitos de caso julgado (art.º 52.º, n.º 1 do CPT).

É desnecessário o juiz homologar o resultado de uma diligência a que presidiu, limitando-

se a ter em conta o disposto no n.º 2 do art.º 52.º do CPT, ou seja, deverá certificar-se da

capacidade das partes e da legalidade do resultado da conciliação, que expressamente fará

constar do auto.

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Porém, no caso de a desistência, a confissão ou a transacção serem feitas por termo no

processo, tomado pela secretaria (a simples pedido verbal das partes), haverá que abrir

conclusão ao juiz para efeitos de sentença homologatória, nos termos do disposto no n.º 3

do art.º 300.º do CPC.

1.3. ARTICULADOS

Articulados são as peças em que as partes expõem os fundamentos da ação e da defesa e

formulam os pedidos correspondentes. Nas ações, nos seus incidentes e nos procedimentos

cautelares é obrigatória a dedução por artigos dos fatos que interessem à fundamentação do

pedido ou da defesa (art.º 151.º do CPC).

Os articulados, em processo do trabalho, são, em regra, apenas dois: petição inicial e

contestação. Poderá, eventualmente, haver um terceiro articulado – resposta à contestação –,

nas condições que oportunamente veremos.

1.4. DESPACHO LIMINAR

Se não se verificar nenhuma das situações de recusa da petição inicial pela secretaria,

previstas no art.º 474.º do CPC, a petição inicial é autuada como ação de processo comum,

distribuída na 1.ª espécie e, conforme o caso, cumpridas que sejam as disposições relativas a

custas o processo é então concluso ao juiz para despacho liminar.

NOTA:

Não tem aqui aplicação a “regra da oficiosidade das diligências

destinadas à citação” a que se referem os art.ºs 234.º e 479.º do

CPC, uma vez que, não sendo o CPT omisso nessa matéria – cfr.

art.º 54.º, n.º 1 do CPT – não há lugar à aplicação subsidiária do

CPC.

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Porém, uma vez que em processo laboral o Ministério Público

intervém acessoriamente na causa, por força do art.º 9.º do CPT,

há que ter em atenção o disposto no art.º 334.º do CPC,

designadamente o seu n.º 1, que impõe a obrigatoriedade de, logo

que a instância se considere iniciada19 notificar oficiosamente o

Ministério Público da pendência da ação.

De modo diverso do que acontece no processo civil comum, verificando-se, na petição

inicial, deficiências ou obscuridades, o juiz convidará o autor a completá-la ou a esclarecê-la,

sem prejuízo do indeferimento liminar, nos termos do n.º 1 do art.º 234.º-A do CPC (art.º

54.º, n.º 1 do CPT).

Estando a ação em condições de prosseguir, o juiz designa uma audiência de partes, a

realizar no prazo de 15 dias (art.º 54.º, n.º 2 do CPT).

A secretaria notifica o autor e cita o réu para comparecerem pessoalmente ou, em caso de

justificada impossibilidade de comparência, se fazerem representar por mandatário judicial

com poderes especiais para confessar, desistir ou transigir (art.º 54.º, n.º 3 do CPT),

remetendo ao réu duplicado da petição inicial e cópia dos documentos que a acompanhem

(art.º 54.º, n.º 4 do CPT).

Não tendo, ainda, o réu constituído advogado nesta fase do processo, há que adverti-lo

expressamente, aquando da citação, nos termos e para os efeitos do disposto nos nºs 3 e 5 do

art.º 54.º do CPT, com transcrição dos respetivos conteúdos.

Igual procedimento deve ser adotado em relação ao próprio autor, mesmo que tenha

advogado constituído, na notificação que a secretaria necessariamente lhe fará – nos termos

do disposto no n.º 2 do art.º 253.º do CPC – por ser a sua comparência pessoal obrigatória.

Note-se que do n.º 3 do art.º 54.º do CPT resulta que só em caso de justificada

impossibilidade de comparência poderão as partes fazer-se representar por mandatário com

19 A instância inicia-se pela proposição da ação e esta considera-se proposta, intentada ou pendente, logo que seja recebida na secretaria a respetiva petição inicial (art.º 267.º do CPC) – ou na data em que for apresentado o pedido de nomeação de patrono (art.º 33.º, n.º 4 da Lei n.º 34/2004, de 29 de julho, alterada e republicada com a Lei n.º 47/2007, de 28 de Agosto).

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poderes especiais, como já vimos, pelo que a constituição de mandatário com tais poderes,

não as exime, a priori, de comparecerem pessoalmente na audiência de partes.

Se a falta à audiência for, pelo juiz, considerada injustificada, o faltoso fica sujeito às

sanções previstas nos artigos 456.º e seguintes do CPC para a litigância de má-fé, podendo

ser-lhe aplicada uma multa fixada entre 2 UC e 100 UC nos termos do n.º 2 do art.º 27.º do

Regulamento das Custas Processuais.

1.5. AUDIÊNCIA DE PARTES

A audiência de partes é presidida pelo juiz, o qual, ouvidas as partes, procurará conciliá-

las, nos termos e para os efeitos do disposto nos art.ºs 51.º a 53.º do CPT, o que passa pela

busca de uma plataforma de entendimento equitativa, como já vimos atrás, nas referências

feitas à conciliação.

Desta tentativa de conciliação poderá resultar:

1 – Obtenção da conciliação;

2 – Frustração da conciliação.

No primeiro caso, a audiência finda, devendo a secretaria dar o subsequente andamento ao

processo.

No segundo caso, a audiência prossegue devendo o juiz observar o disposto nas al.s a), b) e

c) do art.º 56.º do CPT, ou seja:

a) Ordenar a notificação imediata do réu para contestar no prazo de 10 dias;

b) Determinar a prática dos atos que melhor se ajustem ao fim do processo, bem

como as necessárias adaptações, depois de ouvir as partes presentes20;

c) Fixar a data da audiência final, com observância do disposto no art.º 155.º do CPC.

20 O referido na alínea b) do art.º 56.º do CPT, mais não é do que o exercício do princípio da adequação formal consagrado no art.º 265.º-A do CPC.

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29

Caso o réu tenha já constituído mandatário judicial, a notificação para contestar deverá

ser feita na pessoa deste, nos termos do art.º 253.º, n.º 1, do CPC.

Se não tiver constituído advogado, a notificação será feita ao próprio réu, devendo a

secretaria ter em conta o que dispõe o art.º 235.º do CPC (com as necessárias adaptações),

quanto aos elementos a transmitir obrigatoriamente ao notificando, uma vez que, sendo para

contestar, esta notificação equivale, de certo modo, à citação em processo civil21.

Uma vez que as partes devem comparecer pessoalmente no dia marcado para o julgamento

(art.º 71.º, n.º 1 do CPT) –, deverão ser, também, notificadas para esse efeito, com a

indicação expressa das cominações constantes dos nºs 2, 3 e 4 do referido art.º 71.º.

Uma vez que estes atos ocorrem na audiência de partes, deverão ser relatados no

respetivo auto de conciliação (em caso de acordo) ou auto de tentativa de conciliação (em

caso de frustração, parcial ou total, da conciliação), nos termos do disposto no artigo 53.º

CPT.

Artigo 53.º

Elementos do auto de tentativa de conciliação

1 – O auto de conciliação deve conter pormenorizadamente os

termos do acordo no que diz respeito a prestações, respetivos

prazos e lugares de cumprimento.

2 – Se houver cumulação de pedidos, o acordo discriminará os

pedidos por ele abrangidos.

3 – Frustrando-se, total ou parcialmente, a conciliação, ficam

consignados no respetivo auto os fundamentos que, no

entendimento das partes, justificam a persistência do litígio.

21 As funções da citação e da notificação constam expressamente do art.º 228.º do CPC.

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30

NOTAS:

1.ª – Caso a audiência de partes decorra sem a presença do

mandatário judicial do réu, parece-nos não ser possível, naquele

ato, e como impõe a al. c) do art.º 56.º do CPT, “fixar a data da

audiência final, com observância do disposto no artigo 155.º do

Código de Processo Civil”.

É que o n.º 1 deste artigo do CPC refere que “a fim de prevenir o

risco de sobreposição de datas de diligências a que devam

comparecer os mandatários judiciais, deve o juiz providenciar pela

marcação do dia e hora da sua realização mediante prévio acordo

com aqueles (...)”.

Assim e caso não esteja presente o advogado do réu, não é possível

esse “prévio acordo”, o que pode inviabilizar a fixação da

audiência final nos termos referidos no CPT.

2.ª- Nas causas em que seja sempre admissível recurso,

independentemente do valor (art.º 79.º do CPT), haverá que

advertir o réu da necessidade de patrocínio judiciário, por força

das disposições conjugadas dos art.ºs 32.º, n.º 1, al. b) e 235.º, n.º

2 ambos do CPC.

3.ª- Como já vimos, se, na audiência de partes, se frustrar a

conciliação, deverá o juiz ordenar a notificação do réu para

contestar no prazo de dez dias e fixar a data da audiência final

(art.º 56.º al.s a) e c) do CPT).

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1.6. CONTESTAÇÃO

1.6.1. PRAZO E SUA PRORROGAÇÃO

Como já vimos, o réu dispõe de 10 dias22, contados da notificação, para apresentar a

contestação, cumpridas que sejam as disposições relativas a custas.

Porém e nos termos do disposto no art.º 58.º, esse prazo pode ser dilatado ou prorrogado,

em duas situações:

1.ª – Mostrando-se preenchidos os requisitos dos art.ºs 7.º e 8.º do CPT, o Ministério

Público ao patrocinar um trabalhador – réu na ação –, deverá, dentro do prazo inicial (10 dias)

para oferecimento da contestação, declarar no processo que assumiu esse patrocínio23,

contando-se novamente o prazo para contestar (10 dias) a partir da declaração (art.º 58.º, n.º

1 do CPT).

2.ª – Se, como refere o n.º 5 do art.º 486.º do CPC, a requerimento do réu ou do seu

mandatário judicial, o tribunal considerar que ocorre motivo ponderoso que impeça ou

dificulte anormalmente a organização da defesa, o prazo para apresentação da contestação

pode ser prorrogado, até 10 dias, atingindo, assim, o máximo de 20 dias (art.º 58.º, n.º 2 do

CPT).

Uma vez que a apresentação do requerimento de prorrogação não suspende o prazo já em

curso (trata-se, pois, de ato urgente), deverá a secretaria atuar com a necessária celeridade,

notificando imediatamente ao requerente o despacho que recair sobre aquele requerimento –

como resulta, aliás, do n.º 6 do referido art.º 486.º do CPC – devendo essa notificação ser

feita de acordo com o estabelecido na 2.ª parte do n.º 5 e no n.º 6 do art.º 176.º do CPC.

22 A este prazo é aplicável o disposto nos n.ºs 5 e 6 do art.º 145.º do CPC. 23 Nada impede que o Ministério Público apresente a contestação logo no prazo inicial de 10 dias (se para tal tiver reunido os elementos necessários). Assim sendo, a sua declaração no processo de assunção do patrocínio do réu (a que se refere o n.º 1 do art.º 58.º do CPT) deverá ser entendida como uma faculdade e não uma obrigação.

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32

NOTA:

Afigura-se-nos nada impedir que ao Ministério Público, quando

tenha usado da faculdade prevista no n.º 1 do art.º 58.º, seja

prorrogado o prazo nos termos do n.º 2.

1.6.2. EFEITOS DA REVELIA

Se o réu não contestar, a secretaria abre conclusão ao juiz, para efeitos do disposto no

art.º 57.º do CPT.

Assim, se o juiz considerar que o réu foi regularmente notificado para contestar, ou caso o

mesmo tenha juntado procuração a mandatário judicial, há-de considerar como confessados

os fatos articulados pelo autor e profere logo sentença a julgar a causa conforme for de

direito (art.º 57.º, n.º 1, do CPT).

Predomina, aqui, o princípio do conhecimento do mérito da causa, embora com a

possibilidade de, quando os autos já contenham os necessários elementos ou estes resultem

das diligências eventualmente determinadas pelo juiz (nos termos dos art.ºs 27.º e 56.º, al. b)

do CPT), este poder decidir simplificadamente, mesmo por simples adesão aos argumentos

aduzidos pela(s) parte(s) (art.º 57.º, n.º 2, do CPT), tudo sem prejuízo de poder/dever

condenar em quantidade superior ao pedido ou em objeto diverso dele, nos termos do art.º

74.º do CPT, decorrente do princípio da irrenunciabilidade de certos direitos do trabalhador.

NOTA:

Refere o n.º 1 do art.º 57.º do CPT: “Se o réu não contestar, tendo

sido ou devendo considerar-se regularmente citado na sua própria

pessoa... ”.

Esta redação mantém-se decalcada do n.º 1 do art.º 54.º das

anteriores versões do CPT, com alterações de pormenor.

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33

Parece-nos no entanto que, poderia ter sido aproveitada mais esta

oportunidade para, em vez da palavra “citado” aparecer a palavra

“notificado”, uma vez que é através da figura “notificação”, e não

da figura “citação”, que o réu é instado para contestar.

Assim, antes de aplicar a cominação pela falta de contestação, o

juiz certificar-se-á da regularidade da notificação para contestar,

designadamente se, em relação às partes, dela constavam

expressamente os efeitos da revelia referidos no n.º 1 do art.º 57.º

do CPT.

Não nos parece, também, que seja este o momento próprio para o

juiz se pronunciar sobre a regularidade da citação, como refere a

letra do artigo. Repare-se que a citação (já feita anteriormente),

foi para o réu comparecer na audiência de partes e não para

contestar (cf. art.º 54.º, n.º 2 do CPT). Assim, se aquela citação

não tivesse sido devidamente efetuada, certamente já o juiz teria

tomado posição antes ou durante a audiência de partes e não teria

ordenado a notificação do réu para contestar.

Se o fez é porque considerou que a citação foi regularmente

efetuada e a ação estava em condições de prosseguir.

1.6.3. NOTIFICAÇÃO E RESPOSTA À CONTESTAÇÃO

Decorre do art.º 59.º do CPT que a apresentação da contestação é sempre notificada ao

autor (n.º 1). Havendo lugar a mais do que uma contestação, a notificação só tem lugar

depois de apresentada a última ou de haver decorrido o prazo para o seu oferecimento (n.º

2).

Na sequência de tal notificação – a efetuar pela secretaria (art.º 229.º, n.º 3 CPC) –, o

autor poderá responder à contestação desde que o valor da causa exceda a alçada do tribunal

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34

(€ 5.000)24 e o réu se tenha defendido por exceção25 ou deduzido reconvenção26 (art.º 60.º,

n.º 1 do CPT)27.

O prazo para resposta à matéria da(s) exceção(ões) é de 10 dias, prazo esse que será

alargado para 15 dias se for deduzida reconvenção.

Assim e em regra, após juntar aos autos a contestação, deverá a secretaria:

a) – Notificar oficiosamente o autor da apresentação da contestação tendo em atenção o

disposto no n.º 2 do art.º 59.º do CPT;

b) – Verificar se o valor da causa excede ou não a alçada do tribunal;

2.1 – Se o valor da causa exceder a alçada do tribunal, verificar se o réu se defendeu

por exceção e/ou se deduziu pedido reconvencional;

2.1.1 – Se o réu se defendeu por exceção e não deduziu reconvenção, o

processo aguarda por 10 dias a eventual resposta do autor à matéria da

exceção;

2.1.2 – Se o réu deduziu pedido reconvencional, tenha ou não contestado por

exceção, o processo aguarda por 15 dias.

2.2 – Se o valor da causa não exceder a alçada do tribunal, não poderá o autor

responder à contestação, sem prejuízo do disposto no art.º 526.º do CPC quanto à

notificação de documentos, se forem juntos com a contestação.

24 Cfr. art.ºs 24.º, n.º 1 da LOFTJ ou 31.º, n.º 1 da NLOFTJ. 25 O conceito de “defesa por exceção” consta do art.º 487.º do CPC. Cfr. também, quanto a essa matéria, os art.ºs 493.º e seguintes do CPC. 26 Requisitos da admissibilidade da reconvenção – cfr. art.º 30.º do CPT. 27 Na ação de impugnação de resolução do contrato, afigura-se-nos haver lugar a resposta do autor se o trabalhador corrigir os vícios em que o empregador tiver fundamentado o pedido, nos termos previstos no n.º 4 do art.º 398.º do Código do Trabalho aprovado pela Lei n.º 7/2009, de 12 de Fevereiro.

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NOTA:

Por força do disposto no art.º 488.º do CPC, o réu está obrigado, na

contestação, a especificar separadamente as exceções que deduza,

bem como, nos termos do art.º 501.º n.º 1 do CPC, a identificar

expressamente a reconvenção, a qual deve ser deduzida também

separadamente.

Assim, sendo caso em que a contestação não cumpra estes

requisitos, presumir-se-á que o réu não pretendeu contestar por

exceção nem deduzir reconvenção, pelo que nos parece que não

deverá a secretaria, (salvo melhor entendimento expresso do juiz),

aguardar o prazo de resposta.

Se, mesmo assim e na sequência da notificação da contestação, o

autor apresentar um terceiro articulado (resposta à contestação),

deverá o mesmo ser submetido avulsamente a despacho do juiz,

nos termos do n.º 2 do art.º 166.º do CPC, para este ordenar ou

recusar a sua junção ao processo.

Deste modo se evitarão eventuais atos inúteis, designadamente a

junção indevida e subsequente desentranhamento da resposta à

contestação, caso a mesma não seja admissível.

1.7. SANEAMENTO DO PROCESSO E AUDIÊNCIA PRELIMINAR

Findos os articulados, o juiz profere, sendo caso disso, despacho nos termos e para os

efeitos do art.º 508.º do CPC28, no sentido de suprir eventuais exceções dilatórias e convidar

as partes ao aperfeiçoamento dos articulados, sem prejuízo dos poderes/deveres que lhe

concede o art.º 27.º do CPT (art.º 61.º, n.º 1 do CPT), podendo mesmo julgar logo procedente

28 Repare-se que as epígrafes dos art.ºs 61.º do CPT e 508.º do CPC são iguais: “Suprimento de exceções dilatórias e convite ao aperfeiçoamento dos articulados”.

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alguma exceção dilatória ou nulidade que lhe cumpra conhecer, ou mesmo decidir do mérito

da causa, se se verificarem os circunstancialismos do n.º 2 do referido art.º 61.º do CPT.

Concluídas as diligências referidas no n.º 1 do art.º 61.º do CPT, se a elas houver lugar, ou

logo que findos os articulados, no caso contrário, pode o juiz, se entender que a

complexidade da causa o justifica, convocar uma audiência preliminar para um dos vinte

dias seguintes, sendo-lhe aplicável, com as necessárias adaptações, o disposto no art.º 508.º-

A do CPC (art.º 62.º, n.ºs 1 e 2 do CPT).

No despacho que designar a audiência, o juiz indicará o objeto e finalidade da mesma

(art.º 508.º-A, n.º 3 do CPC).

Na audiência preliminar o juiz poderá, entre outras diligências, realizar tentativa de

conciliação, nos termos e para os efeitos dos art.ºs 51.º a 53.º do CPT (como já vimos atrás) e

proferir despacho saneador (cfr. alíneas a) e d) do n.º 1 do art.º 508.º-A do CPC) –, podendo

abster-se de fixar a base instrutória, sempre que a seleção da matéria de fato controvertida

se revestir de simplicidade, nos termos do n.º 3 do art.º 49.º do CPT.

Havendo lugar a audiência preliminar, fica sem efeito a data designada para a

audiência final depois de frustrada a conciliação na audiência de partes (art.ºs 56.º, al.ª

c) e 62.º, n.º 3 do CPT).

NOTAS:

1.ª – O despacho saneador poderá ser proferido:

Na sequência da audiência preliminar, se o juiz entender convocá-

la face à complexidade da causa – art.º 508.º-A, n.º 1 al. d) do CPC;

ou

Nos termos e para os efeitos do disposto no art.º 510.º do CPC, se

não tiver sido convocada audiência preliminar.

2.ª – A possibilidade, conferida ao juiz, de se abster de fixar a base

instrutória (n.º 3 do art.º 49.º do CPT) bem como de só convocar

uma audiência preliminar quando a complexidade da causa o

justifique (n.º 1 do art.º 62.º), está agora também consagrada no

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n.º 1 do art.º 787.º do CPC, aplicável ao processo comum laboral

por força do n.º 2 do art.º 49.º do CPT.

Parecem-nos, assim, redundantes aquelas disposições do CPT, uma

vez que sempre seriam de aplicar, face ao disposto no art.º 1.º, n.º

1, al. a) do CPT.

1.8. INSTRUÇÃO

A instrução tem por objeto os fatos relevantes para o exame e decisão da causa que devam

considerar-se controvertidos ou necessitados de prova – art.º 513.º do CPC.

NOTA:

No CPT a instrução vem tratada nos artigos 63.º a 67.º, sendo certo

que esses artigos apenas referem especialidades quanto à prova

testemunhal. Assim, no que diz respeito aos outros tipos de prova

(por documentos, por confissão das partes, pericial e por inspeção

judicial) aplicar-se-ão subsidiariamente os artigos 513.º e seguintes

do CPC.

Com os articulados, devem as partes juntar os documentos, apresentar o rol de

testemunhas e requerer quaisquer outras provas (art.º 63.º, n.º 1 do CPT), sem prejuízo da

possibilidade de o rol de testemunhas ser alterado ou aditado até 20 dias antes da data em

que se realize a audiência final; se tal acontecer, a secretaria notificará oficiosamente a

parte contrária para usar, querendo, de igual faculdade no prazo de 5 dias (n.º 2).

Haverá que ter em atenção aqueles prazos, de modo a que não seja ultrapassada a data da

audiência final.

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Cada parte não pode oferecer mais de 10 testemunhas para prova dos fundamentos da

ação, (o autor), e da respetiva defesa, (o réu).

No caso de reconvenção, pode ainda cada parte oferecer mais 10 testemunhas para prova

dela e da respetiva defesa (art.º 64.º, nºs 1 e 2 do CPT).

Porém, sobre cada fato que se propõe provar, não pode a parte produzir mais de três

testemunhas, não se contando as que tenham declarado nada saber (art.º 65.º do CPT).

1.8.1. NOTIFICAÇÃO DAS TESTEMUNHAS

Deverão ser notificadas as testemunhas que residam na área de jurisdição do tribunal,

salvo se o respetivo rol for alterado ou aditado nos termos do n.º 2 do art.º 63.º, ou a parte se

comprometer a apresentá-las (art.º 66.º).

Diferentemente do que acontece no processo civil comum, em que para efeitos de

notificação das testemunhas releva o limite geográfico da comarca ou a respetiva ilha (no

caso das Regiões Autónomas) – cfr. art.º 623.º, n.º 1 do CPC –, em processo do trabalho é à

área de jurisdição do tribunal que se deve atender.

As áreas de jurisdição dos tribunais do trabalho estão definidas no Mapa VI anexo ao

Decreto-Lei n.º 186-A/99, de 31 de maio (que regulamentou a Lei de Organização e

Funcionamento do Tribunais Judiciais) e as dos juízos do trabalho das novas comarcas piloto

constam do Decreto-Lei n.º 25/2009, de 25 de janeiro (que regulamenta a Lei n.º 52/2008, de

28 de agosto).

As testemunhas residentes fora da área de jurisdição do tribunal serão inquiridas na

própria audiência presencialmente ou por teleconferência a partir do tribunal da comarca da

área da sua residência, salvo se as partes, aquando do seu oferecimento, declararem que se

comprometem a apresentá-las.

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De sublinhar, ainda, que nos tribunais sedeados nas áreas metropolitanas de Lisboa e do

Porto29, não existirá inquirição por teleconferência quando a testemunha a inquirir resida na

respetiva circunscrição, devendo a mesma ser notificada para comparecer (n.º 3 do art.º

67.º).

Em resumo:

1. Não serão notificadas nem ouvidas por teleconferência as testemunhas que as partes

declararem ou se comprometerem a apresentar.

2. Quanto às outras:

2.1. Deverão ser notificadas, independentemente de despacho, as testemunhas

residentes na área de competência do tribunal.

2.2. As restantes testemunhas serão ouvidas por teleconferência.

NOTA:

Como proceder num tribunal que, não sendo do trabalho, tem

competência laboral?

Qual a área que releva, nesse tribunal, para efeito de notificação

das testemunhas? A sua área de jurisdição – a comarca – de acordo

com o art.º 66.º do CPT, ou a área do respetivo círculo judicial ou

ilha, nos termos do n.º 1 do art.º 623.º do CPC ?

Parece-nos que, ao redigir o referido art.º 66.º do CPT, o legislador

teve em mente apenas os tribunais do trabalho, cuja área de

jurisdição coincide, tendencialmente, com a do respetivo círculo

judicial, pelo que, no caso dos tribunais de comarca com

29 A Grande Área Metropolitana de LISBOA integra os seguintes municípios: Alcochete, Almada, Amadora, Barreiro,

Cascais, Lisboa, Loures, Mafra, Moita, Montijo, Odivelas, Oeiras, Palmela, Sesimbra, Setúbal, Seixal, Sintra e Vila Franca de

Xira.

Note-se que a Grande Área Metropolitana de Lisboa engloba os três municípios que, agora, integram a nova comarca

de Grande Lisboa-Noroeste (Amadora, Mafra e Sintra) (cfr. Decreto-Lei n.º 25/2009, de 26 de janeiro).

Da Grande Área Metropolitana do PORTO fazem parte os seguintes municípios: Arouca, Espinho, Gondomar, Maia,

Matosinhos, Porto, Póvoa de Varzim, Santa Maria da Feira, Santo Tirso, S. João da Madeira, Trofa, Valongo, Vila do Conde e

Vila Nova de Gaia (cfr. Lei n.º 10/2003, de 13 de maio).

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competência laboral, deverá proceder-se de acordo com o disposto

no CPC, ou seja, haverá que notificar as testemunhas residentes no

círculo judicial ou, no caso das regiões autónomas, na respetiva

ilha.

No caso dos juízos do trabalho das novas comarcas piloto

considerar-se-ão as competências territoriais de cada um deles:

- Alentejo Litoral - Juízo Misto do Trabalho e de Família e Menores

de Sines, competente para toda a comarca;

- Baixo Vouga - Juízo do Trabalho de Aveiro competente para os

municípios de Albergaria-a-Velha, Aveiro, Estarreja, Ílhavo,

Murtosa, Ovar, Sever do Vouga e Vagos, e

Juízo do Trabalho de Águeda, competente para os

municípios de Águeda, Anadia e Oliveira do Bairro);

- Grande Lisboa Litoral - Juízo do Trabalho de Sintra, competente

para toda a comarca.

Vejamos, agora, qual o momento oportuno para efetuar as notificações das testemunhas:

Sendo os respetivos róis apresentados com os articulados, como já vimos, nada impede que

aquelas notificações sejam feitas logo após a apresentação da contestação, uma vez que,

nessa altura, já se conhece a data da audiência final, fixada que foi na audiência de partes,

conforme o disposto na alínea c) do art.º 56.º do CPT.

Porém, essa data não é necessariamente a definitiva, uma vez que, nos termos do n.º 3 do

art.º 62.º do CPT, ela ficará sem efeito se o juiz entender convocar uma audiência preliminar.

Poderá nem sequer ter lugar a audiência de discussão e julgamento, no caso de o réu não

contestar ou as partes entretanto se conciliarem.

Terá, pois, de se considerar prejudicado o referido art.º 66.º, nessa matéria, aplicando-se

o art.º 623.º do CPC, na redação dada pelos Dec-Leis n.ºs 180/96, de 25 de setembro,

183/2000, de 10 de agosto, Lei n.º 30- D/2000, de 20 de dezembro, Dec.Lei n.º 38/2003, de 8

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de março e Lei n.º 52/2008, de 28 de agosto (este último diploma relativo às novas comarcas

piloto).

Assim e no sentido de se evitar a eventual prática de atos inúteis, parece-nos boa prática

que a notificação das testemunhas ocorra somente quando a data da audiência final já

não puder ser alterada, o que acontece depois de ultrapassadas a fase de saneamento do

processo e da audiência preliminar a que se referem os art.ºs 61.º e 62.º do CPT.

Sobre a remuneração devida às testemunhas aconselha-se a consulta o manual de custas

respetivo.

1.9. DISCUSSÃO E JULGAMENTO

A data da audiência final, como já vimos, é fixada na audiência de partes, depois de

frustrada a tentativa de conciliação que obrigatoriamente teve lugar (vd. art.º 56.º, al. c) do

CPT).

Porém e como já vimos também, se o juiz, face à complexidade da causa, convocar

posteriormente uma audiência preliminar, poderá ser marcada uma nova data nessa audiência

(art.º 62.º, nºs 1 e 2 do CPT e 508.º-A, n.º 2, al. b) do CPC), ficando sem efeito a data

anteriormente designada (n.º 3 do art.º 62.º do CPT).

Refere o n.º 1 do art.º 71.º do CPT que tanto o autor como o réu devem comparecer

pessoalmente no dia marcado para o julgamento. Acresce que a audiência inicia-se com a

tentativa de conciliação das partes, conforme dispõe o n.º 1 do art.º 70.º do CPT.

Assim sendo e por força do disposto no n.º 2 do art.º 253.º do CPC, além de serem

notificados os mandatários, deverão também as próprias partes ser notificadas por aviso

expedido por correio registado, com indicação da data, do local e do fim da sua comparência,

com expressas advertências para as cominações estabelecidas nos nºs 2, 3 e 4 do art.º 71.º do

CPT, sob pena de o juiz as não poder aplicar.

A discussão e julgamento da causa incumbem, em princípio, ao juiz singular – art.º 68.º,

n.º 1 do CPT –, podendo, no entanto, realizar-se perante o tribunal coletivo se se verificarem

cumulativamente as seguintes condições:

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42

– O valor da causa seja superior à alçada da Relação;

– Até 20 dias antes da data fixada para a audiência de julgamento, ou na audiência

preliminar, se a ela houver lugar, ambas as partes tenham requerido a intervenção do

tribunal coletivo e desde que nenhuma tenha requerido a gravação da audiência – art.º

68.º, nºs 3 e 4 do CPT.

A gravação da audiência pode ser requerida por qualquer das partes até 20 dias antes da

data fixada para a audiência de julgamento ou ser determinada oficiosamente pelo tribunal,

desde que a decisão admita recurso ordinário30 – art.º 68.º, nºs 2 e 4 do CPT.

Em processo do trabalho e nas causas referidas nas al.s a), b), e), f), g) e q) dos art.ºs 85.º

da Lei n.º 3/99 ou 118.º da Lei n.º 52/2008, de 28 de agosto (que definem a competência dos

tribunais do trabalho em matéria cível), se intervier o tribunal coletivo, será o mesmo

constituído por três juízes de carreira e dois juízes sociais (art.ºs 88.º, n.º 1 da Lei n.º 3/99 ou

120.º, n.º 1 da Lei n.º 52/2008).

No que diz respeito à designação, intervenção e nomeação dos juízes sociais, cfr. nºs 2 e 3

do art.º 67.º e n.ºs 2 e 3 do art.º 88.º da Lei n.º 3/99 (LOFTJ) ou n.ºs 4 e 5 do art.º 75.º e 2 e

3 do art.º 120.º da Lei n.º 52/2008 (NLOFTJ) e Dec.Lei n.º 156/78, de 30 de julho,

designadamente os art.ºs 11.º a 23.º (este diploma estabelece o regime jurídico dos juízes

sociais).

De notar que os juízes sociais, na audiência de discussão e julgamento, intervêm na

decisão da matéria de facto votando em primeiro lugar, isto é, antes dos juízes de carreira.

Se houver que intervir o tribunal coletivo e o juiz entender que a complexidade da causa o

justifica, ordenará que, antes da audiência de discussão e julgamento, o processo vá com

vista, por três dias, a cada um dos juízes de carreira adjuntos – art.º 69.º, n.º 1 do CPT.

A audiência de discussão e julgamento será sempre iniciada com a tentativa de conciliação

das partes – art.º 70.º, n.º 1 do CPT, quer decorra perante o juiz singular quer perante o

tribunal coletivo. Essa tentativa de conciliação respeitará os termos dos art.ºs 51.º a 53.º do

CPT. De qualquer forma, se a tentativa de conciliação se frustrar o resultado será registado

na respetiva ata.

30 Cfr. Art.ºs 79.º e 79.º-A do CPT – decisões que admitem recurso.

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De sublinhar que, em processo do trabalho, desde que esteja constituído o tribunal, a

audiência só poderá ser adiada, e por uma vez, se houver acordo das partes e fundamento

legal – art.º 70.º, n.º 4 do CPT.

Quer isto dizer que não basta apenas, para que a audiência seja adiada, verificar-se algum

dos circunstancialismos previstos nas al.s b) e c) do n.º 1 do art.º 651.º do CPC,

designadamente a falta de algum dos advogados ou de alguma pessoa que tenha sido

convocada, sendo necessário, além disso, que as partes estejam de acordo quanto ao

adiamento.

Quanto a outras formalidades da audiência, designadamente discussão e julgamento da

matéria de facto, veja-se o art.º 72.º do CPT.

De realçar que, em processo do trabalho e diferentemente do que acontece no processo

civil comum, as alegações são apenas orais, não podendo cada advogado exceder uma hora e

não havendo lugar a réplica. Essas alegações incidem tanto sobre a matéria de fato como

sobre a matéria de direito.

Não se faz, pois, distinção entre debates sobre a matéria de fato, por um lado, e discussão

do aspeto jurídico da causa, pelo outro, não havendo assim que aplicar, em processo do

trabalho, o disposto nos art.ºs 652.º, n.º 3, al. e), 653.º, n.º 5 e 657.º, todos do CPC.

1.10. SENTENÇA

Diz-se sentença o ato pelo qual o juiz decide a causa principal ou algum incidente que

apresente a estrutura de uma causa – art.º 156.º, n.º 2 do CPC.

A sentença deverá ser proferida no prazo de 20 dias, podendo ser imediatamente lavrada

por escrito ou ditada para a ata, se a simplicidade das questões de direito o justificar (art.º

73.º, nºs 1 e 2 do CPT).

Note-se que, havendo intervenção do tribunal coletivo, a matéria de fato é decidida por

meio de acórdão (no qual intervêm também os juízes sociais, como já vimos), sendo a

sentença proferida pelo juiz presidente.

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Em processo do trabalho, se se verificarem os condicionalismos constantes do art.º 74.º do

CPT, pode o juiz condenar em quantidade superior ao pedido ou em objeto diverso dele, o

que lhe é em absoluto vedado em processo civil comum, pelos artigos 661.º, n.º 1 e 668.º, n.º

1 al. e) do CPC, como já vimos atrás.

É esta uma das disposições do CPT em que é mais notória a preocupação do legislador em

privilegiar a justiça material em detrimento da justiça formal.

Se a sentença condenar na reintegração do trabalhador no seu posto de trabalho, tal fato

deve ser comprovado no processo mediante a junção do documento que demonstre o reinício

do pagamento da retribuição – art.º 74.º-A do CPT.

Se, por outro lado, transitada em julgado essa decisão sem que seja demonstrado nos

autos, o trabalhador pode requerer, também, a aplicação duma sanção pecuniária

compulsória à entidade empregadora, nos termos previstos nos termos do disposto no art.º

933.º do CPC.

NOTA:

Diversamente do que acontece no processo civil comum, o

legislador manifesta, no processo do trabalho, alguma preocupação

com o conteúdo da sentença e com o seu cumprimento.

É que está muitas vezes em causa a subsistência do trabalhador e

do seu agregado familiar que lhe advém do recebimento da

retribuição e é certo que a ordem jurídica violada só é reposta

quando a sentença é cumprida e não quando é proferida.

Nesse sentido o CPT “mexe” com os intervenientes no processo.

Por exemplo:

Com o juiz, ao criar-lhe o dever de, em certas circunstâncias e

como já vimos, condenar em quantidade superior ao pedido ou em

objeto diverso dele (art.º 74.º do CPT) – e de, sempre que possível,

fixar em quantia certa, na sentença condenatória, a importância

devida (art.º 75.º, n.º 1 do CPT), assim se evitando a liquidação em

execução de sentença;

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1.11. RECURSOS

1.11.1. ESPÉCIES DE RECURSOS

Não existe, no processo do trabalho, qualquer particularidade quanto às espécies ou

modalidades de recursos, havendo que recorrer, nessa matéria, ao CPC.

Os tribunais do trabalho são, como já vimos, tribunais judiciais de 1.ª instância, embora de

competência especializada – art.ºs 85.º a 88.º da Lei n.º 3/99 (LOFTJ) ou 72.º a 75.º e 118.º da

Lei n.º 52/2008 (NLOFTJ) – pelo que as decisões neles proferidas podem ser impugnadas por

meio de recursos ordinários (art.º 676.º, n.º 1 do CPC).

Tal como no processo civil comum, também, em processo do trabalho, os recursos se

classificam como ordinários ou extraordinários, conforme a decisão impugnada tenha ou não

transitado em julgado31.

São ordinários a apelação e a revista e extraordinários o recurso para uniformização de

jurisprudência e a revisão (art.º 676.º, n.º 2 do CPC).

1.11.2. DECISÕES QUE ADMITEM RECURSO

Para que o recurso ordinário seja admissível, há que ter em conta os seguintes requisitos:

– O valor da causa

“Só é admissível recurso ordinário nas causas de valor superior à alçada do tribunal de

que se recorre” (art.º 678.º, 1.ª parte, do CPC);

– A sucumbência

“Independentemente do valor da causa, só é admissível recurso desde que a decisão

impugnada seja desfavorável para o recorrente em valor superior a metade da alçada

do tribunal de que se recorre” (art.º 678.º, 2.ª parte, do CPC).

31 A noção de trânsito em julgado consta art.º do 677.º do CPC: A decisão considera-se passada ou transitada em julgado, logo que não seja suscetível de recurso ordinário, ou de reclamação nos termos dos artigos 82.º ex vi dos art.ºs 668.º e 669.ºdo CPC.

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NOTA:

A SUCUMBÊNCIA E O SEU REGIME:

Numa determinada ação, em que o autor formulou um pedido de €

40.000,00, o réu foi condenado a pagar-lhe € 37.000,00.

Quem pode recorrer desta decisão32 e até que instância? (Se, na

referida ação, a admissibilidade de recurso estiver condicionada

apenas ao valor).

Vejamos:

Em matéria cível, a alçada dos Tribunais da Relação é de € 30.000

e a dos tribunais de 1.ª instância é de € 5.000 – art.ºs 24.º, n.º 1 da

Lei n.º 3/99 ou 31.º, n.º 1 da Lei n.º 52/2008.

Assim, o réu, para o qual a decisão foi desfavorável em €

37.000,00, poderá recorrer até ao Supremo Tribunal de Justiça

(caso não seja alterada, na Relação, a decisão da 1.ª instância).

O autor, para o qual a decisão foi desfavorável em € 3.000,00

(sucumbência) poderá recorrer para o Tribunal da Relação, uma

vez que essa sucumbência é superior a metade da alçada do

Tribunal do Trabalho (1/2 de € 5.000 = € 2.500); mas já não poderá

recorrer para o Supremo Tribunal de Justiça, por a sucumbência ser

inferior a metade da alçada do Tribunal da Relação (1/2 de €

30.000 = € 15.000).

Mas, não só o valor da causa e a sucumbência relevam para a admissibilidade ou não do

recurso. Por vezes, é a qualidade do processo no qual foi proferida a decisão que determina

essa admissibilidade, como refere o art.º 79.º do CPT: “Sem prejuízo do disposto no art.º

32 Os recursos só podem ser interpostos por quem sendo parte principal na causa, tenha ficado vencido – n.º 1 do art.º 680.º do CPC. Se ambas as partes ficarem vencidas, cada uma delas terá de recorrer se quiser obter a reforma da decisão na parte que lhe seja desfavorável podendo o recurso, nesse caso, ser independente ou subordinado – n.º 1 do art.º 682.º do CPC.

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678.º do CPC, e independentemente do valor da causa e da sucumbência, é sempre

admissível recurso para a Relação:

a) Nas ações em que esteja em causa a determinação da categoria profissional, o

despedimento do trabalhador, a sua reintegração na empresa e a validade ou

subsistência do contrato de trabalho;

b) Nos processos emergentes de acidente de trabalho ou de doença profissional;

c) Nos processos do contencioso das instituições de previdência, abono de família e

associações sindicais33”.

Outros casos há em que é sempre admissível recurso, independentemente do valor da

causa, como, por exemplo,

– da decisão final proferida em procedimento cautelar de suspensão de despedimento

(art.º 40.º, 1 do CPT),

- no processo especial de impugnação judicial de decisão disciplinar (art.º 172.º, n.º 3 do

CPT),

- no processo especial de anulação e interpretação de convenções coletivas de trabalho

(art.º 185.º, n.º 2 do CPT),

- no processo especial de impugnação da confidencialidade de informações ou da recusa

da sua prestação ou da realização de consultas (art.º 186.º-C, n.º 3 do CPT),

– do despacho que confirme o não recebimento da petição inicial pela secretaria (art.º

475.º, n.º 2 do CPC) e

– do despacho de indeferimento liminar da petição inicial (art.º 234.º-A do CPC),

- da decisão que condene a parte como litigante de má fé (art.º 456.º do CPC).

33 E, diremos, na esteira de Abílio Neto, “das associações de empregadores ou comissões de trabalhadores”, considerando o novo título dado ao capítulo IV do CPT.

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1.11.3. PRAZOS DE INTERPOSIÇÃO

O prazo para a interposição do recurso de apelação ou de revista é de 20 dias (art.º 80.º

n.º 1 do CPT), embora, nos casos previstos nos n.ºs 2 e 4 do art.º 79.º-A do CPT (para a

apelação) e n.ºs 2 e 4 do art.º 721.º do CPC (para a revista), o prazo previsto para a

interposição de recurso é de apenas 10 dias – art.º 80.º, n.º 2 do CPT.

20 dias [+ 10 dias] * 10 dias [+ 10 dias] *

- Apelação da decisão que

ponha termo ao processo e

- Revista no processo do

trabalho que tenha por objeto

acórdão da Relação que tenha

incidido sobre a decisão final

(art.º 80.º, n.º 1 CPT)

- Apelação (art.º 79.º-A, n.ºs 2 e

4 CPT) e

- Revista (art.º 721.º, n.ºs 2 e 4

CPC)

Das demais decisões proferidas

tanto na 1.ª instância como no

tribunal da Relação

(art.º 80.º, n.º 2 do CPT)

* Se o recurso tiver por objeto a reapreciação da prova gravada o

prazo definido por defeito é acrescido de 10 dias – art.º 80.º, n.º 3

CPT.

Tais prazos contam-se, em regra, a partir da notificação da decisão34; porém, tratando-se

de despachos ou sentenças orais, reproduzidos em ata ou auto (cfr. n.º 2 do art.º 73.º do

CPT), os prazos correm a partir do dia em que as decisões foram proferidas, se a parte esteve

presente ou foi notificada para assistir ao ato (art.º 685.º, n.º 3 conjugado com o art.º 255.º

do CPC).

Havendo recurso subordinado (cfr. art.º 682.º do CPC), deve ser interposto no mesmo

prazo das contra-alegações do recorrido (art.º 81.º, n.º 4 do CPT).

34 Não esquecer o que foi dito relativamente ao disposto no art.º 24.º do CPT.

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1.11.4. INTERPOSIÇÃO DOS RECURSOS

O requerimento de interposição do recurso deve conter as respetivas alegações (art.º 81.º,

n.º 1 do CPT), entendendo a jurisprudência dominante que, caso aquele requerimento as não

contenha nem delas venha acompanhado, poderão ser apresentadas até ao termo do prazo de

interposição do recurso.

Assim sendo, quando o requerimento de interposição de recurso não contiver as alegações,

a secretaria, à cautela, deverá aguardar o decurso do prazo.

Apresentado o requerimento de interposição de recurso, satisfeitas que estejam as

disposições relativas a custas, no seguimento do entendimento há muito perfilhado pelo CFFJ,

que competirá à secretaria35, independentemente da demonstração da notificação entre

advogados, notificar imediata e oficiosamente a parte contrária para contra-alegar, em prazo

igual ao da interposição do recurso (cfr. art.º 81.º, n.º 2 do CPT).

NOTA:

Têm surgido ultimamente, no entanto, algumas vozes que

entendem que este normativo está agora prejudicado pela nova

figura da notificação entre mandatários, prevista nos art.ºs 229.º-A

e 260.º-A do CPC, com as alterações introduzidas pelos Dec-Leis

n.ºs 324/2003 e 303/2007 de 27 de dezembro e 24 de agosto,

respetivamente.

Decorrido o prazo para a apresentação das alegações do recorrido, o processo vai concluso

ao juiz para despacho sobre ambos os requerimentos, ordenando, se for o caso, a respetiva

subida (n.º 1 do art.º 82.º do CPT).

35 Sem prejuízo de entendimento diverso perfilhado pelo respetivo magistrado.

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NOTA:

Sem prejuízo do regime do acesso ao direito e aos tribunais, na

interposição de recurso há lugar ao prévio pagamento de taxa de

justiça, devendo o recorrente entregar o respetivo documento

comprovativo no momento da apresentação do recurso (art.º 447.º-

A, n.º 1 do CPC e art.º 14.º, n.º 1 do RCP).

1.11.4.1. RETENÇÃO DO RECURSO

Quanto à decisão de mandar subir ou não o recurso, veja-se o art.º 82.º do CPT.

De modo diverso daquele que o processo civil comum estabelece na matéria (cfr. art.º

688.º do CPC), em processo do trabalho, corre nos próprios autos a reclamação dum despacho

que não mandou subir um recurso que deveria subir imediatamente.

Apresentada a reclamação no prazo de 10 dias (art.º 688.º, n.º 1 do CPC) e verificada que

estejam as normas atinentes às custas processuais, abre-se conclusão ao juiz.

Se o juiz deferir a reclamação, mandará subir o recurso; se a indeferir, mandará ouvir a

parte contrária (no prazo de 10 dias – art.º 153.º do CPC), salvo se tiver sido impugnada

unicamente a admissibilidade do recurso, caso em que o processo subirá ao Tribunal da

Relação, para decisão do relator no prazo de cinco dias.

Se, pelo Relator a quem for distribuído o processo, for decidida a admissibilidade ou

tempestividade do recurso, seguirá o mesmo os trâmites normais (sem voltar à 1.ª instância).

Este regime é substancialmente mais simples do que o estabelecido nos art.ºs 688.º e 689.º

do Código de Processo Civil, não havendo que abrir qualquer apenso, como já vimos, pelo que

não há também lugar à passagem de certidões de quaisquer peças, dado que o processo sobe

por inteiro.

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1.11.5. EFEITO DOS RECURSOS

A apelação, em processo do trabalho, tem efeito meramente devolutivo, sem necessidade

de declaração, ou seja e contrariamente ao que acontece geralmente em processo civil

comum ordinário, não suspende a exequibilidade da decisão recorrida podendo a mesmo

produzir efeitos.

O apelante poderá, contudo, obter o efeito suspensivo se, no requerimento de interposição

do recurso requerer a prestação de caução da importância em que foi condenado, por meio

de depósito efetivo (na CGD !) ou por meio de fiança bancária ou seguro-caução (art.º 83.º,

n.º 2 do CPT).

Este incidente de prestação de caução é processado nos próprios autos (art.º 83.º, n.º 5

do CPT).

Assim, se for requerida a prestação de caução e, conforme o caso, cumpridas que sejam as

disposições relativas a custas, deverá a secretaria, de imediato, abrir conclusão ao juiz a fim

de ser proferido despacho para verificar se a decisão admite caução, se o valor proposto

envolve toda a quantia em que foi condenado e fixar prazo para a prestação de caução, que

não deve exceder 10 dias, nos termos do n.º 2 do art.º 83.º do CPT, despacho este que será

oficiosamente notificado ao recorrente e ao recorrido.

De salientar, ainda, que este incidente é urgente por força do disposto no n.º 2 do art.º

990.º do CPC.

Se a prestação da caução ou a falta dela der causa a demora excedente a 10 dias, será

ordenada a extração de traslado para servir de base ao processamento do incidente,

prosseguindo a apelação os seus termos.

O referido traslado compreende, apenas, além da sentença, as peças que, por serem

consideradas indispensáveis, forem designadas por despacho (art.ºs 693.º e 693.º –A do CPC).

Se a caução não for prestada (ou for julgada inidónea), a sentença poderá ser desde logo

executada, apesar de ter sido interposto recurso (art.º 83.º, n.º 4, 2.ª parte).

É desejável que a secretaria proceda, em simultâneo, às diligências atinentes quer ao

recurso quer ao incidente de prestação de caução, de tal modo que, quando abrir conclusão

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ao juiz para admissão do recurso, tenha já transitado em julgado a decisão proferida sobre a

caução oferecida. Só assim poderá o juiz fixar o efeito do recurso.

A apelação terá também efeito suspensivo nos casos previstos nas alíneas b) a e) do n.º 3

do art.º 692.º do CPC e nos demais casos previstos na lei – art.º 83.º, n.º 3 do CPT.

Tem também efeito suspensivo nos seguintes casos:

- da decisão proferida na ação especial de impugnação de estatutos, deliberações de

assembleias gerais ou atos eleitorais (art.º 167.º do CPT);

- da decisão de mérito proferida na ação especial de anulação e interpretação de

convenções coletivas de trabalho (art.º 185.º, n.º 3 do CPT);

- da decisão proferida na ação especial de impugnação da confidencialidade de

informações ou da recusa da sua prestação ou da realização de consultas (art.º 186.º-C, n.º 3

do CPT); e

- da decisão que decrete a suspensão do despedimento quando for prestada caução pelo

recorrente (art.º 40.º, n.º 2 do CPT).

Alerta-se para a conveniência da leitura atenta das disposições legais bem como do texto

de apoio “Recursos em Processo Civil” emanado pelo CFFJ.

II – PROCESSO DE EXECUÇÃO

Dizem-se ações executivas aquelas em que o autor requer as providências adequadas à

reparação efetiva do seu direito violado – art.º 4.º, n.º 3 do CPC.

1. TÍTULO EXECUTIVO

Toda a execução tem por base um título, pelo qual se determina o fim e os limites da ação

executiva (art.º 45.º, n.º 1 do CPC).

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Como títulos executivos36, em processo do trabalho, temos, em geral, todos aqueles a que

o CPC ou lei especial atribuam força executiva e, como especialidade, os autos de conciliação

(art.º 88.º, al. b) do CPT).

São também títulos executivos as decisões proferidas nos procedimentos cautelares de

suspensão de despedimento (art.ºs 39.º, nºs 2 e 3 do CPT).

Constitui também título executivo a decisão, proferida pela entidade administrativa,

condenatória de aplicação de coima que não se mostre liquidada no prazo legal (art.º 26.º da

Lei n.º 107/2009, de 14 de setembro).

Como já vimos atrás, o CPT prevê duas formas para o processo executivo (v. art.º 50.º do

CPT):

– Execução baseada em sentença de condenação em quantia certa (art.ºs 89.º a 96.º

do CPT, sendo certo que apenas o art.º 90.º se encontra em vigor); e

– Execução baseada em outros títulos (art.º 97.º do CPT, atualmente expressamente

revogado).

Quer isto dizer que o valor não é elemento determinativo da forma do processo, apenas se

atendendo à natureza do título executivo.

1.1. EXECUÇÃO BASEADA EM SENTENÇA DE CONDENAÇÃO EM QUANTIA CERTA

Dispõe o art.º 98.º-A do CPT37 que em tudo o que não se encontrar especialmente regulado

no título dedicado ao processo executivo aplicam-se as correspondentes regras do CPC.

Antes do mais convém, sobre esta matéria, salientar uma especificidade do processo do

trabalho: se se tratar de direitos irrenunciáveis ou indisponíveis, o autor dispõe do prazo de

30 dias após o trânsito em julgado da sentença de condenação em quantia certa, prorrogável

pelo juiz, para iniciar a execução do título executivo (n.º 1 do art.º 90.º do CPT).

36 Espécies de títulos executivos, em processo civil comum – cfr. art.º 46.º do CPC. 37 Aditado pelo art.º 2.º do Decreto-Lei n.º 295/2009, de 13 de Outubro.

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Se assim não proceder e se dentro do aludido prazo não tiver sido junto aos autos

documento comprovativo da extinção da dívida, o tribunal, oficiosamente, ordena o início

da ação executiva, em que caberá ao oficial de justiça praticar os atos de agente de

execução (n.º 2 do referido art.º 90.º).

Face a este normativo impõe-se considerar as seguintes possibilidades:

A – O autor nada faz;

B – O autor, no prazo de 30 dias, dá início à instância executiva;

C – O autor requer a prorrogação deste prazo.

Se se verificar a situação referida em C , o respetivo requerimento é junto ao processo e

abre-se conclusão ao juiz, de cujo despacho será o autor logo notificado.

Verificando-se a situação referida em B , o respetivo requerimento é autuado por apenso,

considerando-se iniciada a execução.

No caso referido em A , há que distinguir se se trata de direitos renunciáveis ou

irrenunciáveis:

1 – Tratando-se de direitos renunciáveis, o processo é mandado arquivar;

2 – Tratando-se de direitos irrenunciáveis, o tribunal, substitui-se à parte, não tendo a

inércia do autor-credor qualquer influência na dinâmica da ação executiva que,

perante o seu silêncio, ordenará a instauração oficiosa do processo executivo

(parece-nos que pode ser ponderada a instauração do processo executivo face à

possibilidade de existirem bens penhoráveis pertencentes ao executado).

Afigura-se-nos que, neste caso, não haverá lugar a pagamento de taxa de justiça, por

não haver impulso processual da parte.

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3– Estando em causa simultaneamente direitos renunciáveis e direitos irrenunciáveis,

procede-se como o referido no ponto “2”.

NOTA:

Não é da competência da secretaria aferir se os direitos que

emergem da sentença de condenação são ou não irrenunciáveis.

Assim, no caso de o autor-credor ficar inerte durante os 30 dias

posteriores ao trânsito em julgado da sentença pode pôr-se a

seguinte questão:

- como deverá proceder a secretaria, findo o respetivo prazo?

Sem prejuízo de entendimento diverso por parte dos Srs.

Magistrados, parece-nos que poderá ser aberta “Vista” ao

Ministério Público, atenta a sua especial posição no decurso do

processo laboral. A partir do momento em que se entenda que os

direitos em causa são irrenunciáveis, haverá lugar a despacho

judicial ordenando a instauração oficiosa da execução.

1.1.1. TERMOS POSTERIORES

No que diz respeito aos termos subsequentes à instauração deste tipo de ação executiva,

há que aplicar plenamente as correspondentes disposições do CPC38 uma vez que, nesta

matéria, o CPT não só é totalmente omisso como também o art.º 98.º-A faz expressa remissão

para o CPC.

Assim, será de toda a conveniência a leitura atenta dessas disposições legais bem como do

texto de apoio do CFFJ sobre “Ação Executiva”.

38 Art.ºs 811.º e segs. do CPC.

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1.2. EXECUÇÃO BASEADA NOUTROS TÍTULOS

Às execuções baseadas em título diverso de sentença de condenação em quantia certa

(cfr. art.º 45.º n.º 2 do CPC) – aplicam-se, consoante o fim, as normas do processo comum de

execução39 para:

– Pagamento de quantia certa (art.ºs 811.º e seguintes do CPC);

– Entrega de coisa certa (art.ºs 827.º e 928.º e seguintes do CPC); ou

– Prestação de facto (art.ºs 828.º, 829.º e 933.º e seguintes do CPC).

1.3. EXECUÇÃO POR CUSTAS, MULTAS E OUTRAS QUANTIAS

As execuções por custas, multas e outras quantias seguem a tramitação prevista nos artigos

35.º e 36.º do Regulamento das Custas Processuais, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 34/2008, de

26 de fevereiro, seguindo, no mais, o percurso da ação executiva com processo comum (cfr.

art.ºs 1.º CPT e 466.º, n.ºs 1 e 3, 463.º, n.º 1, e 801.º e segs., todos do CPC).

1.4. EXECUÇÃO POR FALTA DE PAGAMENTO DE COIMA APLICADA POR ENTIDADE

ADMINISTRATIVA

As execuções por falta de pagamento de coima seguem a tramitação prevista nos artigos

88.º e seguintes do Regime Geral das Contraordenações ex vi do art.º 26.º da Lei n.º

107/2009, de 14 de setembro, seguindo, no mais, à semelhança da execução por custas, o

percurso da ação executiva com processo comum (cfr. art.ºs 1.º CPT e 466.º, n.ºs 1 e 3, 463.º,

n.º 1, e 801.º e segs., todos do CPC).

As coimas têm o destino previsto no art.º 566.º do CT, ou seja, 50 % do seu montante

reverte para a Autoridade para as Condições do Trabalho (ACT) ou Instituto da Segurança

Social, IP (ISS, IP), nos termos das condições referidas no n.º 1 do art.º 2.º da Lei n.º

107/2009, e os restantes 50 % revertem para o Fundo de Acidentes de Trabalho (FAT) nos

39 Vd. Regras próprias e manual da ação executiva.

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casos de coima aplicada em matéria de segurança e saúde no trabalho ou mais 35 % para o

ISS,IP e 15 % para o Orçamento do Estado relativamente a outro tipo de coimas.

O produto das coimas resultantes da violação das normas sobre acidentes de trabalho

reverte em 60 % para o Orçamento do Estado e 40 % para o Fundo de Acidentes de Trabalho

(FAT).

No tocante às coimas cobradas pelos tribunais, importa salientar que 10% do respetivo

valor reverte a favor do Instituto de Gestão Financeira e de Infra-Estruturas da Justiça,

I.P., nos termos do disposto nos art.ºs 17.º do Decreto-Lei n.º 34/2008, de 26 de fevereiro, e

al.ª j) do n.º 1 do art.º 36.º da Portaria n.º 419-A/2009, de 17 de abril.

1.5. REGIME SUBSIDIÁRIO

Artigo 466.º CPC

Disposições reguladoras

1 - São subsidiariamente aplicáveis ao processo comum de

execução, com as necessárias adaptações, as disposições

reguladoras do processo de declaração que se mostrem

compatíveis com a natureza da ação executiva.

2 - À execução para entrega de coisa certa e para prestação de

facto são aplicáveis, na parte em que o puderem ser, as

disposições relativas à execução para pagamento de quantia

certa.

3 - Às execuções especiais aplicam-se subsidiariamente as

disposições do processo comum.

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2. EXCLUSÃO DA RECLAMAÇÃO DE CRÉDITOS

O art.º 98.º do CPT exclui, no seu n.º 1, a reclamação de créditos nas execuções para

pagamento de quantia certa, baseadas em qualquer título, em que:

– O seu valor não exceda a alçada do tribunal de 1.ª instância (€ 5.000,00);

– A penhora recaia sobre bens móveis ou direitos que não tenham sido dados como

penhor, com exceção do estabelecimento comercial.

No entanto, o n.º 2 da referida disposição legal estabelece duas exceções ao princípio

consagrado no n.º 1; por um lado, são excetuados os créditos que gozem de direito de

retenção sobre os bens penhorados, desde que esse direito seja invocado pelo seu titular no

ato da penhora e, por outro, também são ressalvados os créditos que sobre os mesmos bens

gozem de garantia real e que hajam sido registados antes ou depois do registo da penhora.

Assim, os credores com garantia real com registo anterior ao da penhora serão citados para

reclamarem os seus créditos (art.º 98.º, n.º 3 do CPT).

Os credores que registem a garantia real posteriormente ao registo da penhora poderão

reclamar o seu crédito, independentemente de citação, no prazo de 15 dias a contar da

junção aos autos da certidão dos direitos ónus ou encargos inscritos (art.º 98.º, n.º 4 do CPT).

ESPÉCIES E FORMAS

DE

PROCESSO

DECLARATIVO

EXECUTIVO

Acção de impugnação judicial de regularidade e licitude

de despedimento - art.ºs 98.º-B a 98.º-P

Processos emergentes de acidente de trabalho e de

doença profissional - art.ºs 99.º a 155.º

Processo de impugnação de despedimento colectivo -

art.ºs 156.º a 161.º

Processo do contencioso das insti tuições de

previdência, abono de família, associações sindicais,

associações de empregadores ou comissão de

trabalhadores - art.ºs 162.º a 186.º

Impugnação da confidencialidade de informações ou da

recusa da sua prestação ou da realização de consultas

- art.ºs 186.º-A a 186.º-F

Igualdade e não discriminação em função do sexo -

art.ºs 186.º-G a 186.º-I

Sem prejuízo das especificidades consagradas nos art.ºs

88.º, 90.º e 98.º CPT, aplicam-se as regras do CPC

relativas ao processo de execução - cfr. art.ºs 98.º-A do CPC,

46.º, 465.º, 466.º, 801.º e segs. CPC.

COMUM - art.ºs 51.º e seguintes

ESPECIAL

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III – PROCESSOS ESPECIAIS

1. AÇÃO DE IMPUGNAÇÃO JUDICIAL DA REGULARIDADE E LICITUDE DO DESPEDIMENTO

Uma das principais alterações processuais trazidas ao CPT pelo Decreto-Lei n.º 295/2009

traduz-se na criação de um novo processo especial, de natureza urgente, que admite

sempre recurso ordinário para a Relação. Referimo-nos, concretamente, à ação de

impugnação judicial da regularidade e licitude do despedimento, cujo regime se encontra

agora previsto nos art.ºs 98.º-B a 98.º-P aditados ao CPT pelo Decreto-Lei n.º 295/2009, de

13 de outubro.

Esta ação aplica-se a situações de despedimento individual por facto imputável ao

trabalhador ou por extinção do posto de trabalho ou por inadaptação (respetivamente, art.ºs

382.º, 384.º e 385.º do Código do Trabalho).

O trabalhador que pretenda opor-se ao despedimento fá-lo-á mediante a apresentação de

requerimento em formulário eletrónico ou em suporte de papel40, na secretaria do juízo ou

do tribunal do trabalho competente, o que deverá ocorrer num prazo não superior a 60 dias

contados a partir da receção da comunicação escrita41 de despedimento ou, se posterior, da

data da cessação do contrato em conformidade com o disposto no art.º 387.º do Código do

Trabalho.

40 Cujo modelo foi aprovado pela Portaria conjunta dos membros do governo responsáveis pelas áreas da justiça e do trabalho n.º 1460-C/2009, de 31 de dezembro. 41 No preâmbulo do DL 295/2009 anuncia-se a criação duma ação declarativa de condenação com processo especial para impugnação judicial da regularidade e licitude do despedimento, sempre que seja comunicada por escrito ao trabalhador a decisão de despedimento individual. No mesmo sentido, o n.º 1 do artigo 98.º-C configura o início do processo especial, “nos termos do artigo 387.º do CT, no caso em que seja comunicada por escrito ao trabalhador a decisão de despedimento …”. Estes dados levam-nos a concluir que nos casos em que a comunicação do despedimento for feita verbalmente esta ação especial não constitui o meio impugnatório apropriado, mas sim a ação declarativa com processo comum. E se assim for reconhecido em ação indevidamente proposta, o juiz, nos termos do n.º 3 do artigo 98.º-I, abstém-se de conhecer do pedido, absolve da instância o empregador, e informa o trabalhador do prazo de que dispõe para intentar a ação com processo comum.

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Artigo 387.º (CT)

Apreciação judicial do despedimento

1 - A regularidade e licitude do despedimento só pode ser apreciada

por tribunal judicial.

2 - O trabalhador pode opor-se ao despedimento, mediante

apresentação de requerimento em formulário próprio, junto do

tribunal competente, no prazo de 60 dias, contados a partir da

receção da comunicação de despedimento ou da data de cessação do

contrato, se posterior, exceto no caso previsto no artigo seguinte.

3 - Na ação de apreciação judicial do despedimento, o empregador

apenas pode invocar factos e fundamentos constantes de decisão de

despedimento comunicada ao trabalhador.

4 - Em casos de apreciação judicial de despedimento por facto

imputável ao trabalhador, sem prejuízo da apreciação de vícios

formais, o tribunal deve sempre pronunciar-se sobre a verificação e

procedência dos fundamentos invocados para despedimento.

Se, previamente à ação, o trabalhador interpuser providência cautelar de suspensão

preventiva do despedimento, nos termos dos art.ºs 34.º e seguintes do CPT, da qual conste a

pretensão de impugnação judicial da regularidade e licitude do despedimento, o trabalhador

fica dispensado da apresentação do referido formulário (art.º 98.º-C, n.º 2 do CPT).

Cabe à secretaria recusar o recebimento do formulário se:

– Não constar do modelo obrigatório aprovado pela Portaria n.º 1460-C/2009, de 31 de

dezembro;

– Não contiver a identificação das partes;

– Não se fizer acompanhar da decisão de despedimento; ou

– Não se encontrar assinado.

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Taxa de justiça

Será que a apresentação do formulário pressupõe a autoliquidação prévia da taxa de

justiça pelo impulso processual?

Inclinamo-nos a responder pela negativa.

Desenvolvamos o nosso entendimento sempre sem seguranças e com dúvidas.

Considerando que:

1. Apenas a falta dos requisitos constantes das alíneas a) a d) do artigo 98.º-E implicam a

recusa do requerimento, ou seja:

a) Não apresentação do formulário no modelo aprovado pela Portaria n.º 1460-

C/2009;

b) Omissão na identificação das partes;

c) Não junção da decisão de despedimento;

d) Falta de assinatura.

2. Não constar do modelo do formulário aprovado qualquer menção ou espaço para

referenciar o valor do processo e o pagamento por autoliquidação da taxa de justiça;

3. O facto de a audiência de partes dever ter lugar no prazo muito limitado de 15 dias

após a receção desse requerimento;

4. A existência de norma específica – o art.º 98.º-P – que consagra o regime de custas,

elemento que não se verifica em qualquer outra espécie de processo laboral;

5. Esta norma, cuja epígrafe é “Valor da causa”, particulariza a aplicação da alínea e) do

n.º 1 do art.º 12.º do RCP, apenas para efeitos de pagamento de custas;

6. O facto de, nas circunstâncias referidas no n.º 2 do art.º 98.º-C, ou seja, quando haja

previamente sido apresentada providência cautelar de suspensão preventiva do

despedimento em cujo requerimento inicial conste que o trabalhador requer a

impugnação judicial da regularidade e licitude do despedimento fica dispensado da

apresentação do requerimento em formulário.

Tudo posto e salvo melhor opinião, parece-nos que, sem prejuízo das normas reguladoras

do regime de custas constantes do RCP e do CPC, a entrega do requerimento em formulário

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não pressupõe que a mesma seja acompanhada do documento comprovativo do pagamento da

respetiva taxa de justiça.

Ou seja, em jeito de conclusão, pensamos que o legislador pretendeu criar uma forma

expedita de resolução do litígio possibilitando que as partes, mediadas pelo juiz, procedam

voluntariamente à composição do litígio, pelo que não determina, nem mesmo parece admitir

que, para esse efeito, se imponha ao trabalhador o pagamento da taxa de justiça aquando da

apresentação em tribunal do formulário.

O processo será, então, concluso ao juiz para despacho liminar.

NOTA:

Mais uma vez, não tem aqui aplicação a “regra da oficiosidade das

diligências destinadas à citação” a que se referem os art.ºs 234.º e

479.º do CPC, uma vez que, não sendo o CPT omisso nessa matéria

– cfr. art.º 98.º-F, n.º 1 do CPT – não há lugar à aplicação

subsidiária do CPC.

Porém, como já foi referido, em processo laboral o Ministério

Público intervém acessoriamente na causa, por força do art.º 9.º do

CPT, havendo que ter em conta, também aqui, o disposto no art.º

334.º do CPC, designadamente o seu n.º 1, que impõe a notificação

oficiosa do Ministério Público da pendência da ação, logo que a

instância se considere iniciada.

Estando a ação em condições de prosseguir, o juiz designa uma audiência de partes, a

realizar no prazo de 15 dias.

Em cumprimento do despacho, a secretaria notifica o trabalhador e cita o empregador

para comparecerem pessoalmente ou, em caso de justificada impossibilidade de

comparência, se fazerem representar por mandatário judicial com poderes especiais para

confessar, desistir ou transigir (art.º 98.º-F, n.º 3 do CPT), remetendo à entidade

empregadora cópias do formulário e da decisão do despedimento apresentados pelo

trabalhador que a acompanhem por força do disposto no art.º 228.º do CPC, devendo-se, além

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do mais, advertir expressamente o empregador para a cominação ínsita no n.º 2 do art.º 98.º-

G.

Igual procedimento deverá ser adoptado em relação à notificação do próprio trabalhador,

mesmo que tenha advogado constituído, na notificação que a secretaria necessariamente lhe

fará – nos termos do disposto no n.º 2 do art.º 253.º do CPC – por ser a sua comparência

pessoal obrigatória.

Note-se que do n.º 2 do art.º 98.º-F do CPT resulta que só em caso de justificada

impossibilidade de comparência poderão as partes fazer-se representar por mandatário com

poderes especiais, como já vimos, pelo que a constituição de mandatário com aqueles

poderes não as desobriga, a priori, de comparecer pessoalmente na audiência de partes.

Se a falta à audiência for, pelo juiz, considerada injustificada, o faltoso fica sujeito às

sanções previstas no art.º 456.º e seguintes do CPC para a litigância de má-fé, podendo ser-

lhe aplicada uma multa, normalmente fixada entre 2 e 100 UC, nos termos do n.º 2 do art.º

27.º do Regulamento das Custas Processuais.

Se o empregador não comparecer, nem se fizer representar, tendo sido ou devendo

considerar-se regularmente citado, o juiz, para além de fixar a data para a realização da

audiência final, ordena a sua notificação para apresentar articulado para motivar o

despedimento, juntar o procedimento disciplinar ou os documentos comprovativos do

cumprimento das formalidades legais exigidas bem como para apresentar o rol de

testemunhas e requerer qualquer outro tipo de provas.

Por outro lado, se o trabalhador não comparecer, nem se fizer representar, tem o prazo

de 10 dias subsequentes à data da audiência de partes para justificar a sua falta.

Caso assim não proceda, o juiz determinará a absolvição do empregador no pedido.

Sendo considerada justificada a falta do trabalhador, o juiz designará nova data para a

realização da audiência de partes (art.º 98.º-H, n.º 2 do CPT).

Se o trabalhador, tendo sido ou devendo considerar-se regularmente notificado, não

comparecer, nem se fizer representar, na data marcada para a segunda audiência de

partes, cuja falta seja considerada:

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– Justificada: o juiz ordena a notificação do empregador para apresentar articulado para

motivar o despedimento, juntar o procedimento disciplinar ou os documentos

comprovativos do cumprimento das formalidades legais exigidas, apresentar o rol de

testemunhas e requerer qualquer outro tipo de provas fixando a data para audiência

final.

– Injustificada: o juiz determina a absolvição do empregador no pedido.

A audiência de partes será presidida pelo juiz o qual, depois de o empregador expor

sucintamente os fundamentos de fato que motivam o despedimento, o trabalhador tem a

possibilidade de responder, após o que o juiz procurará conciliar as partes, nos termos e para

os efeitos dos art.ºs 52.º e 53.º do CPT, o que passa, naturalmente, pela busca de uma

plataforma de entendimento equitativa, como já vimos atrás ao falar da conciliação.

Desta tentativa de conciliação poderá resultar:

1 – A conciliação;

2 – Frustração da conciliação.

No primeiro caso a audiência finda, devendo a secretaria dar o subsequente andamento ao

processo.

No segundo caso a audiência prossegue, devendo o juiz observar o disposto nas alíneas a) e

b) do n.º 4 do art.º 98.º-I do CPT, ou seja:

– Ordenar a notificação imediata do empregador para, no prazo de 15 dias, apresentar

articulado com os fatos que serviram de base ao despedimento, juntando para o efeito

o procedimento disciplinar ou os documentos comprovativos das formalidades exigidas,

bem como o requerimento probatório.

– Fixar a data da audiência final.

Assim, se o empregador não chegar a acordo com o trabalhador, fica com o ónus de

alegação dos fatos através de um articulado específico para o efeito, ao invés do regime

anterior segundo o qual tal ónus incumbia ao trabalhador por via de uma petição inicial.

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Este articulado, a que se refere o art.º 98.º-J, para motivar o despedimento caso seja

apresentado deve ser acompanhado do procedimento disciplinar ou dos documentos

comprovativos do cumprimento das formalidades exigidas pelo Código do Trabalho, rol de

testemunhas ou requerimento de quaisquer outras provas – cfr. Al. a) do n.º 4 do art.º 98.º-I,

bem como da taxa de justiça correspondente ao impulso processual.

O trabalhador, por seu turno, caso pretenda opor-se, fá-lo-á através duma contestação

que, à luz das “anteriores” regras processuais, caberia ao empregador (art.º 98.º-L).

Desta feita, apresentado o articulado (com características análogas às da petição inicial)

por parte do empregador, no qual deve apresentar ou requerer a produção de prova, o

trabalhador será notificado para no prazo de 15 dias contestar, querendo (art.º 98.º-L do

CPT), devendo ser advertido de que na falta de contestação, tendo sido ou devendo

considerar-se regularmente notificado na sua própria pessoa, ou tendo, dentro do mesmo

prazo, juntado aos autos procuração a mandatário judicial, consideram-se confessados os

fatos articulados pelo empregador sendo de imediato proferida sentença a julgar a causa

conforme for de direito.

O trabalhador deverá ser ainda advertido quanto à possibilidade de, na contestação,

deduzir pedido reconvencional nos termos do n.º 2 do art.º 274.º do CPC, e de,

independentemente do valor da ação, peticionar créditos emergentes do contrato de trabalho

e ainda apresentar ou requerer a produção de prova.

Neste ponto vale o que já foi dito aquando da ação comum: em processo laboral afirma-se

o princípio do conhecimento do mérito da causa, embora com a possibilidade de, quando os

autos já contenham os necessários elementos ou estes resultem dos meios de prova juntos aos

autos, o juiz pode decidir simplificadamente, mesmo por simples adesão aos argumentos da

ou das partes.

O trabalhador, na contestação, pode defender-se por exceção. Da apresentação da

contestação é oficiosamente notificada a entidade empregadora para, querendo, deduzir

resposta no prazo de:

10 dias à matéria da(s) exceção(s)

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15 dias se tiver sido deduzida reconvenção, independentemente da defesa por

exceção.

Assim e em regra, após juntar aos autos a contestação, deverá a secretaria:

1 – Notificar a entidade empregadora da apresentação da contestação, tendo em

atenção o disposto no n.º 2 do art.º 59.º do CPT;

2 – Verificar se o valor da causa excede ou não a alçada do tribunal;

2.1 – Se o valor da causa exceder a alçada do tribunal, verificar se o

trabalhador se defendeu por exceção e/ou se deduziu pedido reconvencional;

2.1.1 – Se o trabalhador se defendeu por exceção e não deduziu

reconvenção, o processo aguarda por 10 dias a eventual resposta do

empregador à matéria da exceção;

2.1.2 – Se o trabalhador deduziu pedido reconvencional, tenha ou não

contestado por exceção, o processo aguarda por 15 dias.

2.2 – Se o valor da causa não exceder a alçada do tribunal, não poderá o autor

responder à contestação, sem prejuízo do disposto no art.º 526.º do CPC quanto

à notificação de documentos, se forem juntos com a contestação.

O empregador pode, no prazo de 10 dias, responder à contestação se o trabalhador usar

da faculdade prevista no n.º 4 do art.º 398.º do Código do Trabalho ou, independentemente

de ter sido, ou não, deduzida exceção e/ou reconvenção, só serão admitidos articulados

supervenientes nos termos do disposto no art.º 506.º. do CPC (art.º 98.º-L, n.º 4 ex vi do art.º

60.º, nºs 2 e 3 do CPT);

A improcedência da ação e a absolvição do trabalhador da instância não obstam à

apreciação do pedido reconvencional regularmente deduzido, salvo quando este seja

dependente do pedido formulado pelo empregador (art.º 274.º, n.º 6 do CPC).

Findos os articulados, o juiz profere, sendo caso disso, despacho nos termos e para os

efeitos do art.º 508.º do CPC, no sentido de suprir eventuais exceções dilatórias e convidar as

partes ao aperfeiçoamento dos articulados, sem prejuízo dos poderes/deveres que lhe

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concede o art.º 27.º do CPT (art.º 61.º, n.º 1 do CPT), podendo mesmo julgar logo procedente

alguma exceção dilatória ou nulidade que lhe cumpra conhecer, ou mesmo decidir do mérito

da causa, se se verificarem os circunstancialismos do n.º 2 do referido art.º 61.º do CPT.

Concluídas as diligências referidas no n.º 1 do art.º 61.º do CPT, se a elas houver lugar, ou

logo que findos os articulados, no caso contrário, pode o juiz, se entender que a

complexidade da causa o justifica, convocar uma audiência preliminar (art.º 62.º, n.º 1 do

CPT), que, a ter lugar, deverá realizar-se no prazo de 20 dias, sendo-lhe aplicável, com as

necessárias adaptações, o disposto no art.º 508.º-A do CPC.

Note-se que, por força do n.º 3 do art.º 508.º-A do CPC, o juiz indicará, no despacho que

marca a audiência preliminar, o objeto e a finalidade desta.

Na audiência preliminar poderá o juiz, entre outras diligências, realizar tentativa de

conciliação, nos termos e para os efeitos dos art.ºs 51.º a 53.º do CPT (como já vimos atrás) e

proferir despacho saneador (cfr. alíneas a) e d) do n.º 1 do art.º 508.º-A do CPC) –, podendo

abster-se de fixar a base instrutória, sempre que a seleção da matéria de facto controvertida

se revestir de simplicidade, nos termos do n.º 3 do art.º 49.º do CPT.

Tendo sido invocado o despedimento precedido de procedimento disciplinar, o juiz

pronunciar-se-á sobre a verificação e procedência dos fundamentos invocados para o

despedimento, sem prejuízo da apreciação dos respetivos vícios formais – art.º 387.º, n.º 4 do

CT.

Havendo lugar a audiência preliminar, fica sem efeito a data anteriormente designada

para a audiência final (art.º 62.º, n.º 3 do CPT).

NOTAS:

1.ª – O despacho saneador poderá ser proferido:

na sequência da audiência preliminar, se o juiz entender convocá-

la face à complexidade da causa – art.º 508.º-A, n.º 1 al. d) do CPC;

ou

nos termos e para os efeitos do disposto no art.º 510.º do CPC, se

não tiver sido convocada audiência preliminar.

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68

2.ª – A possibilidade, conferida ao juiz, de se abster de fixar a base

instrutória (n.º 3 do art.º 49.º do CPT) bem como de só convocar

uma audiência preliminar quando a complexidade da causa o

justifique (n.º 1 do art.º 62.º), está agora, também, consagrada no

n.º 1 do art.º 787.º do CPC, aplicável ao processo comum laboral

por força do n.º 2 do art.º 49.º do CPT.

Proferida a sentença, se for declarada a ilicitude do despedimento, o juiz determinará

que o pagamento das retribuições devidas ao trabalhador após o decurso de 12 meses desde a

apresentação do formulário eletrónico até à notificação da decisão de 1.ª instância seja

efetuado pela entidade competente da área da segurança social (entidade esta que irá

suceder, nos termos do art.º 12.º, n.º 4, al.ª o) do diploma preambular que aprova o Código

do Trabalho, ao “Fundo de Garantia Salarial” instituído pelo Decreto-Lei n.º 219/99, de 15 de

Junho) que, para o efeito, deverá ser notificada da referida decisão, bem como da eventual

decisão de interposição de recurso e da que sobre este recair.

2. PROCESSOS EMERGENTES DE ACIDENTE DE TRABALHO E DE DOENÇA PROFISSIONAL

2.1. CONSIDERAÇÕES GERAIS

Os processos emergentes de acidente de trabalho e de doença profissional são processos

declarativos especiais42, regulados pelo CPT e que correm termos nos tribunais ou juízos do

trabalho, ou, na falta destes, nos tribunais de comarca com competência laboral.

Compete aos tribunais do trabalho conhecer, em matéria cível, das questões

emergentes de acidentes de trabalho e doenças profissionais, conforme refere os art.ºs

85.º, al. c) da Lei n.º 3/99 (LOFTJ) ou 118.º al. c) da Lei n.º 52/2008 (NLOFTJ).

Há que recorrer também, além do CPT e, entre outros diplomas legais, aos seguintes:

– Lei n.º 98/2009, de 4 de setembro (regulamenta o regime de reparação de acidentes

de trabalho e de doenças profissionais, incluindo a reabilitação e reintegração

profissionais).

42 Cfr. Art.º 48.º, n.ºs 2 e 3 do CPT.

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– Decreto-Lei n.º 159/99, de 11 de maio, com as alterações introduzidas pelo art.º 12.º

do Dec.Lei n.º 382-A/99, de 22 de setembro, (regulamenta o seguro obrigatório de

acidentes de trabalho para os trabalhadores independentes);

– Decreto-Lei n.º 142/99, de 30 de abril, com as alterações introduzidas pelo art.º 16.º

do Dec.Lei n.º 382-A/99, de 22 de setembro e pelos art.ºs 1.º, 3.º e 6.º do Dec.Lei n.º

185/2007, de 10 de maio (que criou o Fundo de Acidentes de Trabalho (FAT); e

– Portaria n.º 11/2000, de 13 de janeiro, que aprovou as bases técnicas e as tabelas

práticas aplicáveis ao cálculo do capital de remição das pensões de acidente de

trabalho e aos valores do seu caucionamento.

Dentro dos processos especiais emergentes de acidente de trabalho e de doença

profissional há que distinguir os seguintes:

Processos para efetivação de direitos resultantes de acidente de trabalho - (art.ºs

99.º a 150.º do CPT);

Processos para declaração de extinção de direitos resultantes de acidente de

trabalho – (art.ºs 151.º a 153.º do CPT);

Processos para efetivação de direitos de terceiros conexos com acidente de

trabalho – (art.º 154.º do CPT); e

Processos para efetivação de direitos resultantes de doença profissional - (art.º

155.º do CPT).

De sublinhar que, nos termos do disposto nos n.ºs 2 e 3 do art.º 26.º do CPT, os processos

de acidente de trabalho e de doença profissional têm natureza urgente e, em princípio,

correm oficiosamente, iniciando-se a instância com o recebimento da participação.

Pela natureza urgente, pode entender-se que devem ter prioridade em relação aos outros

processos – dentro dos limites da legalidade e não perdendo de vista uma eficaz gestão do

conjunto de todos os processos;

Correm oficiosamente, porque não dependem da iniciativa ou impulso das partes, após a

participação do acidente a tribunal, pelo menos durante uma fase do processo – a

conciliatória, como veremos oportunamente.

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Em processos de acidente de trabalho e de doença profissional – porventura de maneira

mais flagrante do que nos restantes processos laborais – o princípio dispositivo, consagrado no

art.º 264.º, n.º 1 do CPC e segundo o qual incumbe às partes alegar os fatos que integram a

causa de pedir e aqueles em que se baseiam as exceções, encontra-se fortemente mitigado,

dado o carácter de interesse e ordem pública de que se revestem as leis de proteção ao

trabalhador.

Daí o facto de as ações desta natureza correrem oficiosamente, como vimos, não estando a

iniciativa e o impulso processuais condicionados pela vontade das partes.

O conceito de acidente de trabalho é-nos fornecido pelos art.ºs 8.º e 9.º da Lei n.º

98/2009, de 4 de setembro, a seguir transcritos:

Artigo 8.º

Conceito

1 — É acidente de trabalho aquele que se verifique no local e no

tempo de trabalho e produza directa ou indirectamente lesão

corporal, perturbação funcional ou doença de que resulte redução na

capacidade de trabalho ou de ganho ou a morte.

2 — Para efeitos do presente capítulo, entende -se por:

a) «Local de trabalho» todo o lugar em que o trabalhador se

encontra ou deva dirigir -se em virtude do seu trabalho e em que

esteja, directa ou indirectamente, sujeito ao controlo do

empregador;

b) «Tempo de trabalho além do período normal de trabalho » o

que precede o seu início, em actos de preparação ou com ele

relacionados, e o que se lhe segue, em actos também com ele

relacionados, e ainda as interrupções normais ou forçosas de

trabalho.

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Artigo 9.º

Extensão do conceito

1 — Considera -se também acidente de trabalho o ocorrido:

a) No trajecto de ida para o local de trabalho ou de regresso

deste, nos termos referidos no número seguinte;

b) Na execução de serviços espontaneamente prestados e de que

possa resultar proveito económico para o empregador;

c) No local de trabalho e fora deste, quando no exercício do

direito de reunião ou de actividade de representante dos

trabalhadores, nos termos previstos no Código do Trabalho;

d) No local de trabalho, quando em frequência de curso de

formação profissional ou, fora do local de trabalho, quando exista

autorização expressa do empregador para tal frequência;

e) No local de pagamento da retribuição, enquanto o trabalhador

aí permanecer para tal efeito;

f) No local onde o trabalhador deva receber qualquer forma de

assistência ou tratamento em virtude de anterior acidente e

enquanto aí permanecer para esse efeito;

g) Em actividade de procura de emprego durante o crédito de

horas para tal concedido por lei aos trabalhadores com processo

de cessação do contrato de trabalho em curso;

h) Fora do local ou tempo de trabalho, quando verificado na

execução de serviços determinados pelo empregador ou por ele

consentidos.

2 — A alínea a) do número anterior compreende o acidente de

trabalho que se verifique nos trajectos normalmente utilizados e

durante o período de tempo habitualmente gasto pelo trabalhador:

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a) Entre qualquer dos seus locais de trabalho, no caso de ter mais

de um emprego;

b) Entre a sua residência habitual ou ocasional e as instalações

que constituem o seu local de trabalho;

c) Entre qualquer dos locais referidos na alínea precedente e o

local do pagamento da retribuição;

d) Entre qualquer dos locais referidos na alínea b) e o local onde

ao trabalhador deva ser prestada qualquer forma de assistência

ou tratamento por virtude de anterior acidente;

e) Entre o local de trabalho e o local da refeição;

f) Entre o local onde por determinação do empregador presta

qualquer serviço relacionado com o seu trabalho e as instalações

que constituem o seu local de trabalho habitual ou a sua

residência habitual ou ocasional.

3 — Não deixa de se considerar acidente de trabalho o que ocorrer

quando o trajecto normal tenha sofrido interrupções ou desvios

determinados pela satisfação de necessidades atendíveis do

trabalhador, bem como por motivo de força maior ou por caso

fortuito.

4 — No caso previsto na alínea a) do n.º 2, é responsável pelo

acidente o empregador para cujo local de trabalho o trabalhador se

dirige.

São partes43 (intervenientes) em processo emergentes de acidente de trabalho o sinistrado

e a entidade responsável, sendo esta a entidade à qual é imputável a responsabilidade pela

sua reparação e demais encargos, bem como pela manutenção no posto de trabalho (art.º 7

da Lei n.º 98/2009).

43 Em bom rigor, na fase conciliatória do processo emergente de acidente de trabalho não existem verdadeiramente “partes”, dado que, nesta fase, não há litígio nem formulação de qualquer pedido.

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Na generalidade dos casos, esta entidade é uma seguradora, uma vez que, nos termos do

art.º 283.º n.º 5 da Lei n.º 7/2009 (Código do Trabalho), as entidades empregadoras são

obrigadas a transferir a responsabilidade emergente de acidentes de trabalho e doenças

profissionais para entidades legalmente autorizadas a realizar este seguro (empresas de

seguros).

O seguro de acidentes de trabalho é obrigatório, sem prejuízo de essa obrigatoriedade não

abranger a administração central, local e as demais entidades públicas, na medida em que os

respetivos funcionários se acham abrangidos pelo regime de acidentes em serviço previsto no

Decreto-Lei n.º 503/99, de 20 de novembro.

Se não houver seguro ou se este for insuficiente, será naturalmente chamada a intervir a

entidade empregadora (art.º 7.º, da Lei n.º 98/2009).

2.2. PARTICIPAÇÃO DO ACIDENTE

Como já vimos, a instância, em processo de acidente de trabalho, inicia-se com o

recebimento da participação (art.º 26.º, n.º 4 do CPT), que, por sua vez, serve de base à

fase conciliatória do processo (art.º 99.º, n.º 1 do CPT).

A participação do acidente de trabalho vem regulada na Secção IX da Lei n.º 98/2009, de 4

de setembro (art.ºs 86.º a 92.º).

Por não caber aqui uma referência exaustiva a todas as situações previstas naquele

diploma legal, apenas abordaremos as mais comuns.

De um modo geral, poderemos dizer que a participação do acidente de trabalho a

tribunal deverá ser feita, por escrito, no prazo de oito dias44.

Vejamos em que moldes:

Incumbe à entidade empregadora apresentar a participação quando não tiver transferido

para uma seguradora a responsabilidade por acidentes de trabalho, contando-se o prazo de 8

44 Nos termos do disposto no art.º 180.º da Lei n.º 98/2009, de 4 de setembro, os prazos fixados neste diploma legal contam-se, no que toca aos acidentes de trabalho, nos termos previstos no CPC e no que toca às doenças profissionais, nos termos do Código do Procedimento Administrativo.

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dias a partir da data do acidente ou do seu conhecimento (art.º 88.º, n.ºs 1 e 2 da Lei n.º

98/2009).

Caso contrário, ou seja, se a entidade empregadora houver transferido para uma empresa

de seguros a responsabilidade por acidentes de trabalho e se do acidente resultou

incapacidade permanente, incumbe à seguradora apresentar a participação, contando-se o

referido prazo de oito dias a partir da data da alta clínica45 (art.º 90.º, n.º 1 da Lei n.º

98/2009).

A seguradora deverá participar o acidente também no prazo de 8 dias, a contar da sua

verificação, todos os casos de incapacidade temporária que, consecutiva e conjuntamente,

ultrapassem os doze meses (art.º 90.º, n.º 3 da Lei n.º 98/2009).

Porém, se do acidente resultou a morte do sinistrado, a participação deve ser feita

imediatamente após o seu conhecimento, por correio eletrónico, telecópia ou outra via com o

mesmo efeito de registo escrito de mensagens, quer pela entidade empregadora (se a

responsabilidade não se encontrava transferida), quer pela empresa de seguros (no caso

contrário), sem prejuízo da participação por escrito no prazo de 8 dias a contar do

falecimento.

A ofensa do ónus da participação nas condições legalmente previstas, constitui

contraordenação grave, nos termos do art.º 171.º, n.º 3 da Lei n.º 98/2009.

2.3. FASE CONCILIATÓRIA

O processo de acidente de trabalho poderá desenrolar-se em duas fases: a conciliatória e a

contenciosa.

45 O n.º 3 do art.º 35.º da Lei n.º 98/2009 define alta clínica como a “situação em que a lesão desapareceu totalmente ou se apresenta como insuscetível de modificação com terapêutica adequada”.

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FASES DO PROCESSO

CONCILIATÓRIA (1) CONTENCIOSA (2)

Inicia-se sempre por uma fase conciliatória dirigida pelo Ministério Público e tem por

base a participação do acidente (art.º 99.º, n.º 1 do CPT).

Só se as partes não chegarem a acordo se poderá iniciar a fase contenciosa, presidida pelo

juiz.

NOTA:

Sendo a fase conciliatória do processo de acidente de trabalho

dirigida pelo Ministério Público, parece, sem prejuízo de outro

entendimento, que serão os oficiais de justiça daquela carreira a

proceder às diligências a que houver lugar naquela fase do processo

e que sejam da competência da secretaria, sem prejuízo do dever a

que estão obrigados todos os oficiais de justiça de colaborar na

normalização do serviço, independentemente do lugar que ocupam

e da carreira a que pertencem – cfr. art.º 66.º, n.º 2, al. b) do

Estatuto dos Funcionários de Justiça.

Na fase conciliatória pretende-se tão-somente uma composição amigável da lide mediante

a definição, por acordo, dos direitos e obrigações que a cada parte assistem.

Não há, nesta fase processual, um litígio propriamente dito, nem formulação de qualquer

pedido, como vimos já em anterior nota de rodapé.

Compreende-se, assim, que o juiz dela se mantenha relativamente arredado, não tendo

uma intervenção sistemática.

No entanto, só o juiz poderá homologar ou não o acordo celebrado na fase conciliatória,

sendo a única entidade com competência para aplicar as multas por falta de comparência a

que se refere o art.º 136.º do CPT, conhecer de qualquer exceção suscitada no decurso desta

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fase (v.g. incompetência territorial – art.º 15.º do CPT) ou proferir qualquer despacho que

ponha termo ao processo.

2.3.1 DISTRIBUIÇÃO E AUTUAÇÃO – INÍCIO DO PROCESSO

A participação de acidente de trabalho que, como já vimos, dá início à fase conciliatória

do processo de acidente de trabalho, é um papel sujeito a distribuição, por importar começo

de causa (art.º 211.º, n.º 1, alínea a) do CPC).

É distribuída à secção de processos, onde deverá ser autuada na Espécie 3.ª do art.º 21.º

do CPT, registando-se como qualquer outro processo cível.

Porém, as participações e demais papéis que se destinam a servir de base a processos

emergentes de acidente de trabalho ou de doença profissional, deverão obrigatoriamente ser

apresentados ao Ministério Público que, em caso de urgência, ordenará as diligências

convenientes, com precedência da distribuição (art.º 22.º do CPT).

Quando a participação a tribunal seja feita por uma empresa de seguros (a situação

mais comum) – deve ser acompanhada de:

– Toda a documentação clínica e nosológica46 disponível;

– Cópia da apólice e seus adicionais em vigor;

– Declaração de remunerações do mês anterior ao do acidente;

– Nota discriminativa das incapacidades e internamentos e

– Cópia dos documentos comprovativos das indemnizações pagas desde o acidente (art.º

99.º, n.º 2 do CPT) –, a fim de habilitar os intervenientes a tomar posição na tentativa

de conciliação que oportunamente terá lugar.

Nos processos de acidente de trabalho, na fase conciliatória, não há lugar ao pagamento

de taxas de justiça, uma vez que é oficioso o impulso processual (art.º 26.º, n.º 2 do CPT e

art.º 4.º, n,º 1, alínea a) do RCP).

46 Nosologia – parte da medicina que trata das doenças em geral.

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Assim, logo que autuada a participação e documentos que a acompanhem, abre-se

imediatamente “conclusão” ao Ministério Público, uma vez que é este magistrado que

dirige a fase conciliatória do processo de acidente de trabalho, como já vimos (art.º 99.º, n.º

1 do CPT).

Na sequência da “conclusão” atrás referida, o Ministério Público procede às diligências a

que se referem os art.ºs 100.º a 102.º do CPT, tendo em atenção as seguintes situações:

1 – Se do acidente resultou a morte do sinistrado (art.º 100.º do CPT):

O Ministério Público diligenciará no sentido de requisitar a autópsia ou o respetivo

relatório, se o entender necessário;

Ordenará ainda as diligências indispensáveis à determinação dos beneficiários legais do

sinistrado47, requisitando às competentes conservatórias certidão de óbito daquele,

bem como certidões comprovativas do parentesco dos beneficiários com a vítima.

1.1. Se não forem encontrados beneficiários legais, será ordenada a citação

edital, através da afixação de editais e da publicação de anúncios, nos termos

do art.º 100.º, n.º 4 (1.ª parte) do CPT e dos art.ºs 233.º n.º 6, 251.º e 252.º do

CPC.

Se, mesmo assim, nenhum beneficiário legal comparecer, o processo será

arquivado provisoriamente durante um ano48, sem prejuízo da sua reabertura

se, nesse prazo, comparecer algum titular (art.º 100.º, n.º 4, 2.ª parte, e n.º 5

do CPT).

Decorrido esse prazo de um ano e não tendo comparecido qualquer titular, é

devida ao Fundo de Acidentes de Trabalho (FAT) uma importância igual ao

triplo da retribuição anual do sinistrado, salvo se tiver havido remição (art.º 63

da Lei n.º 98/2009).

Para a efetivação desse direito terá o processo de ser reaberto, por força do n.º

6 do art.º 100.º do CPT.

47 Os beneficiários legais são os familiares referidos no art.º 57.º, n.º 1 da Lei n.º 98/2009. 48 Tratando-se de um arquivamento provisório, não deverá o processo ser remetido para o arquivo, mas mantido na secretaria.

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1.2. Havendo beneficiários, o Ministério Público designa data para tentativa de

conciliação.

2 – Se do acidente resultou uma incapacidade permanente –(art.º 101.º do CPT):

O Ministério Público designa logo dia para realização de perícia médica seguida de

tentativa de conciliação.

3- Se o sinistrado se encontrar numa das situações previstas no art.º 102.º do CPT

(o que, na prática, não é muito frequente):

O Ministério Público ordenará a realização de perícia médica, seguida de tentativa de

conciliação, nos termos do art.º 108.º do CPT, no sentido de se conseguir um acordo

provisório.

Com a notificação para a tentativa de conciliação é entregue cópia da participação aos

convocados que não forem participantes – em regra o sinistrado (art.º 103.º do CPT).

NOTAS:

1 – Referem, entre outros, os art.ºs 100.º, nºs 2 e 3 e 101.º, n.º 2 do

CPT, a possibilidade de, espontaneamente, as partes juntarem aos

autos um acordo extrajudicial.

Tal possibilidade tem tido, no dia-a-dia, tão pouca tradução

prática, que não justifica que dela nos ocupemos nestas linhas.

2 – Uma vez que no decorrer do processo não poucas vezes se

mostra necessária a certidão de nascimento do sinistrado, será de

toda a conveniência a sua requisição à conservatória competente,

logo que para tal haja elementos nos autos, independentemente de

despacho nesse sentido do magistrado.

Deverão ser requisitadas duas certidões, destinando-se uma ao

processo e a outra a ser remetida ao Instituto de Seguros de

Portugal no caso de, posteriormente, haver lugar ao cumprimento

do disposto no art.º 137.º do CPT.

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3 – Previamente à perícia médica (que veremos a seguir) deverá

mostrar-se junto ao processo o “Inquérito Profissional” a que se

refere a instrução n.º 13 al.ª a) da Tabela Nacional de

Incapacidades (TNI), aprovada pelo Decreto-Lei n.º 352/2007, de 23

de outubro.

4 – Durante a fase conciliatória, o Ministério Público, se assim o

entender e nos termos indicados nas al.ªs a), b), c) e d) do n.º 2 do

art.º 104.º do CPT, poderá requisitar aos serviços da entidade com

competência inspetiva em matéria laboral – a Autoridade para as

Condições no Trabalho (ACT), instituída pelo Dec.Lei n.º 326-

A/2007, de 28 de setembro, alterado pela Portaria n.º 229/2009,

de 14 de setembro, a realização de inquérito urgente e sumário

sobre as circunstâncias em que ocorreu o acidente.

2.3.2. PERÍCIA MÉDICA

Através da perícia médica pretende-se definir a situação clínica do sinistrado, resultante

do acidente de trabalho de que foi vítima, atribuindo-lhe uma incapacidade, de modo a

qualificar e quantificar o seu grau de incapacidade para o trabalho.

Esse grau de incapacidade será atribuído por um médico perito das delegações ou dos

gabinetes médico-legais do Instituto Nacional de Medicina Legal sendo expresso em

coeficientes determinados em função do disposto na Tabela Nacional de Incapacidades por

Acidentes de Trabalho e Doenças Profissionais (T.N.I.), aprovada pelo Dec.-Lei n.º 352/2007,

de 23 de outubro (cfr. art.ºs 20.º e 21.º da Lei n.º 98/2009, de 4 de setembro).

A Tabela Nacional de Incapacidades (TNI) tem por objetivo fornecer as bases de avaliação

do prejuízo funcional em consequência de acidente de trabalho e doença profissional, com

perda da capacidade de ganho.

A cada situação de prejuízo funcional corresponde um coeficiente, expresso em

percentagem e determinados em função da natureza e gravidade da lesão, do estado geral do

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sinistrado, da sua idade e profissão, bem como da maior ou menor capacidade funcional

residual para o exercício de outra profissão compatível e das demais circunstâncias que

possam influir na sua capacidade de trabalho ou de ganho (art.º 21.º, n.º 1 da Lei n.º

98/2009).

Poderá variar entre 0,00% (situação em que o sinistrado é considerado curado sem

qualquer incapacidade) e 100% (incapacidade absoluta para todo e qualquer trabalho).

A incapacidade para o trabalho, quanto à natureza, poderá ser permanente ou temporária;

Por sua vez, tanto as incapacidades permanente como a temporária poderão ser

absolutas (100%) – ou parciais (entre 0,00% e 99,99%);

A incapacidade permanente pode ser parcial ou absoluta e, nesta, haverá ainda que

distinguir se é para todo e qualquer trabalho ou apenas para o trabalho habitual (artigo 19.º

da Lei n.º 98/2009).

Ilustrando esta última situação, poderemos referir, como exemplo, o caso de um pianista

profissional que tenha sofrido um acidente de trabalho de que lhe resultou amputação de um

dedo de uma das mãos. Embora tenha uma capacidade funcional residual para o exercício de

outra profissão, o certo é que, para o exercício da profissão de pianista, a sua incapacidade é

absoluta.

Os requisitos e formalismo da perícia médica vêm referidos nos art.ºs 105.º e 106.º do

CPT.

O n.º 1 do art.º 105.º do CPT refere que o local e a comparência para a realização da

perícia médica são definidos nos termos da lei que estabelece o regime jurídico da realização

das perícias médico-legais e forenses49.

De salientar que, por força do disposto na parte final do n.º 3 do art.º 105.º do CPT, entre

tribunais sedeados nas áreas metropolitanas de Lisboa e do Porto não poderá haver lugar à

expedição de deprecada para realização de perícia médica.

49 Cfr. Decreto-Lei n.º 11/98, de 24 de janeiro que estabeleceu o regime jurídico da organização médico-legal e o âmbito material e territorial de atuação dos serviços médico-legais e a Lei n.º 45/2004, de 19 de agosto que estabelece o regime jurídico das perícias médico-legais e forenses.

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A perícia médica é secreta, pelo que a ela não poderão assistir nem representantes da

empresa de seguros ou da entidade empregadora nem mesmo advogados constituídos, se os

houver.

O resultado da perícia é expresso em relatório pericial elaborado em ficha apropriada

como dispõe o ponto 8 das Instruções Gerais da TNI aprovada pelo Decreto-Lei n.º 352/2007,

de 23 de outubro, devendo o perito observar o disposto no n.º 1 do art.º 106.º do CPT e

fundamentar todas as suas conclusões.

Assim, o perito médico indicará na ficha o resultado da sua observação e do interrogatório

do sinistrado e, em face desses elementos e dos constantes do processo, fará a descrição das

lesões, indicando a natureza da incapacidade e o grau de incapacidade correspondente, ainda

que temporário ou provisório, se necessário.

O resultado da perícia, qualquer que ele seja, deverá ser logo oficiosamente notificado

ao sinistrado e às pessoas convocadas para a tentativa de conciliação (art.º 105.º, n.º 4, 2.ª

parte).

Como resultados possíveis da primeira perícia médica, temos, esquematicamente:

A – INCAPACIDADE TEMPORÁRIA

B – INCAPACIDADE PROVISÓRIA

C – INCAPACIDADE PERMANENTE

Vejamos a situação A – INCAPACIDADE TEMPORÁRIA:

O perito médico quantifica a incapacidade do sinistrado, mas atribui-lhe a natureza de

temporária, por entender que a sua situação clínica não está ainda estabilizada; indicará

também a duração presumível dessa incapacidade.

Haverá em seguida lugar a uma tentativa de conciliação (nos termos que veremos mais

adiante) – no sentido de obter um acordo temporário que consagre a indemnização a que o

sinistrado tem direito enquanto se mantiver com aquela incapacidade temporária (art.º 110.º,

n.º 1 do CPT).

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Findo esse período de tempo, terá o sinistrado de ser submetido a nova(s) perícia(s)

médica(s) até que a sua situação clínica estabilize e possa ser traduzida, pois, por uma

incapacidade permanente.

Vejamos agora a situação B – INCAPACIDADE PROVISÓRIA:

O perito pode reconhecer que, por si só, não lhe é possível definir com rigor a situação do

sinistrado, necessitando, para esse efeito de (art.ºs 105.º, n.º 3 e 106.º, nºs 1 e 2) :

– Elementos auxiliares de diagnóstico (clínicos, laboratoriais ou radiológicos);

– Conhecimento de alguma especialidade clínica.

Fixa, então, ao sinistrado um grau de incapacidade provisória e solicita a realização dos

exames médicos que o habilitem a fixar-lhe, mais tarde, um grau de incapacidade de

natureza permanente –(art.º 106.º, n.º 2 do CPT).

Junto ao processo a respetiva ficha de perícia médica, abre-se conclusão ao Ministério

Público, que ordenará a realização dos exames solicitados, os quais serão requisitados nos

termos do n.º 3 do art.º 105.º do CPT.

De realçar que, entre tribunais sedeados nas áreas metropolitanas de Lisboa ou do Porto

não há lugar à expedição de cartas precatórias.

Obtidos os elementos necessários (local, data e custo dos exames – disso se lançando

informação no processo) – haverá que notificar o sinistrado para comparecer no local e data

designados.

A responsabilidade com os encargos destas diligências será suportado pela entidade

responsável, habitualmente a empresa de seguros, que para tal deverá efetuar o(s)

respetivo(s) depósito(s) (cfr. art.ºs 17.º, n.º 8 do RCP).

Juntos ao processo os relatórios médicos referentes aos exames ou pareceres solicitados,

abre-se conclusão ao Ministério Público que designará data para nova perícia médica, seguido

de tentativa de conciliação.

Vejamos, por último, a situação C - INCAPACIDADE PERMANENTE:

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Se o perito atribuir ao sinistrado uma incapacidade permanente, tal significa que, em seu

entender, a situação clínica daquele está já estabilizada e é quantificável nos termos da TNI.

Note-se que esta incapacidade permanente pode ser nula (0,00%), o que equivale dizer que

o sinistrado se encontra curado sem qualquer incapacidade.

Estamos, pois, em condições de efetuar, entre o sinistrado e a entidade responsável, uma

tentativa de conciliação.

Verifica-se do exposto que, no caso de, na primeira perícia médica, ter sido atribuído ao

sinistrado uma incapacidade temporária ou provisória, haverá lugar a perícias posteriores, até

que essa incapacidade revista o caráter permanente ou que o sinistrado seja dado como

curado sem qualquer incapacidade.

O disposto quanto à perícia médica é aplicável, com as necessárias adaptações, à

apreciação da existência de doença física ou mental dos beneficiários legais suscetível de

afetar sensivelmente a sua capacidade de trabalho, nos termos e para os efeitos do

estabelecido no art.º 107.º do CPT.

2.3.3. TENTATIVA DE CONCILIAÇÃO

Em processo emergente de acidente de trabalho, a tentativa de conciliação50 é uma peça

de capital importância, uma vez que é nela que têm que ficar inequivocamente consignados

todos os elementos indispensáveis à atribuição ou não de uma indemnização ou pensão ao

sinistrado (ou aos seus beneficiários legais, em caso de morte).

A tentativa de conciliação é presidida pelo Ministério Público e a ela são chamados,

além do sinistrado ou dos seus beneficiários legais (em caso de morte), as entidades

empregadoras ou seguradoras, conforme os elementos constantes da participação (art.º

108.º, n.º 1 do CPT).

50 Sendo o processo de acidente de trabalho um processo especial, não há que aplicar a esta tentativa de conciliação o disposto nos art.ºs 51.º a 53.º do CPT.

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Na tentativa de conciliação, o Ministério Público promoverá o acordo final de harmonia

com os direitos consignados na legislação em vigor - tomando por base os elementos

fornecidos pelo processo, designadamente o resultado da perícia médica e as circunstâncias

que possam influir na capacidade geral de ganho do sinistrado (art.º 109.º do CPT), embora

tal acordo possa revestir-se de natureza provisória ou temporária (art.º 100.º),

nomeadamente, nas situações previstas no n.º 1 do art.º 102.º 51.

Se das declarações prestadas na tentativa de conciliação resultar a necessidade de

convocação de outras entidades, o Ministério Público marcará para nova tentativa de

conciliação num dos 15 dias seguintes (art.º 108.º, n.º 2 do CPT), com intervenção dessas

entidades que, para o efeito, serão notificadas.

Os presentes deverão também e de imediato ser notificados da nova data, fazendo-se

constar esse fato do auto – art.º 260.º CPC.

Ilustrando esta situação, podemos referir o caso, relativamente frequente, de o sinistrado

declarar uma retribuição superior à que a seguradora indica, havendo necessidade de se

chamar o empregador, que intervirá na tentativa de conciliação, a fim de se poderem

determinar as respetivas responsabilidades (cfr. art.º 79.º, n.º 5 da Lei n.º 98/2009).

Não comparecendo a entidade responsável, tomar-se-ão declarações ao sinistrado (ou

beneficiários legais), nos termos do n.º 4 do art.º 108.º do CPT, designando logo o Ministério

Público dia para nova tentativa de conciliação.

A não comparência da entidade responsável nessa nova data, pode conduzir à aceitação

dos fatos declarados pelo sinistrado.

Tais fatos presumem-se verdadeiros, até prova em contrário, se a entidade responsável

faltar pela segunda vez, injustificadamente, ou se não for conhecido o seu paradeiro (art.º

108.º, n.º 5 do CPT).

51 Se o sinistrado ainda não estiver curado quando for recebida a participação e estiver sem tratamento adequado

ou sem receber a indemnização devida por incapacidade temporária, o Ministério Público solicita perícia médica, seguida de tentativa de conciliação, nos termos do artigo 108.º; o mesmo se observa no caso de o sinistrado se não conformar com a alta, a natureza da incapacidade ou o grau de desvalorização por incapacidade temporária que lhe tenha sido atribuído, ou ainda se esta se prolongar por mais de 12 meses. – n.º 1 do art.º 102.º CPT.

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Nos casos atrás identificados é dispensada a tentativa de conciliação, assim como o é

quando for junto aos autos um acordo extrajudicial (cfr. art.º 114.º).

NOTA:

De sublinhar que, à semelhança do que acontece com as perícias

médicas, entre tribunais sedeados nas áreas metropolitanas de

Lisboa e do Porto não há lugar a deprecada para realização da

tentativa de conciliação (art.º 108.º, n.º 6 do CPT)52.

Nos casos em que haja lugar à sua expedição, não deverá a mesma

ser devolvida sem que esteja homologado o acordo eventualmente

obtido, uma vez que a sua homologação cabe ao juiz do tribunal

deprecado (art.º 114.º, n.º 3 do CPT).

Note-se que em processo de acidente de trabalho estamos, em regra, face a direitos

indisponíveis, relativamente aos quais é ineficaz a vontade das partes. É que têm carácter de

interesse e ordem pública as normas relativas a acidentes de trabalho, estabelecidas com

vista à proteção dos trabalhadores.

Como exemplo, dir-se-á não ser possível efetuar uma conciliação com base num salário

inferior ao que tiver sido apurado nos autos, ainda que com o consentimento do sinistrado.

Neste sentido e sobre a nulidade dos atos contrários à lei, veja-se o n.º 11 do art.º 71.º da

Lei n.º 98/2009.

52 A Grande Área Metropolitana de LISBOA integra os seguintes municípios: Alcochete, Almada,

Amadora, Barreiro, Cascais, Lisboa, Loures, Mafra, Moita, Montijo, Odivelas, Oeiras, Palmela,

Sesimbra, Setúbal, Seixal, Sintra e Vila Franca de Xira.

Note-se que da Grande Área Metropolitana de Lisboa fazem parte os municípios de Amadora,

Mafra e Sintra que, atualmente, integram a nova comarca de Grande Lisboa-Noroeste

(Amadora, Mafra e Sintra) - cfr. Decreto-Lei n.º 25/2009, de 26 de janeiro.

Da Grande Área Metropolitana do PORTO fazem parte os seguintes municípios: Arouca, Espinho,

Gondomar, Maia, Matosinhos, Porto, Póvoa de Varzim, Santa Maria da Feira, Santo Tirso, S. João da

Madeira, Trofa, Valongo, Vila do Conde e Vila Nova de Gaia (cfr. Lei n.º 10/2003, de 13 de maio).

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O conteúdo dos autos de tentativa de conciliação vem referido nos art.ºs 111.º e 112.º

do CPT (“Conteúdo dos autos de acordo” e “Conteúdo dos autos na falta de acordo”,

respetivamente).

Da leitura cuidada destes dois artigos retira-se a conclusão de que o legislador é mais

exigente com o conteúdo dos autos de tentativa de conciliação quando esta se frustra do que

quando ela é obtida.

É que, estando os intervenientes obrigados a tomar posição sobre os fatos constantes do

n.º 1 do art.º 112.º – fazendo-se constar do auto expressamente se houve ou não acordo

quanto a cada um deles –, fica facilitada a subsequente tramitação da fase contenciosa do

processo, uma vez que nela só se discutirão os fatos sobre os quais não tenha havido acordo e

que estão, pois, devidamente identificados.

De um modo geral, poder-se-á dizer que, em audiência de tentativa de conciliação, terão

as partes necessariamente que tomar posição sobre os seguintes factos:

A – Existência e caracterização do acidente

Definir se o sinistrado sofreu um acidente e se o mesmo poderá ser

caracterizado como de trabalho (quanto ao conceito e caracterização do

acidente, vejam-se os art.ºs 8.º, 9.º e 10.º da Lei n.º 98/2009);

B – Nexo causal entre a lesão e o acidente

Definir se as lesões que estão em causa são consequência daquele acidente;

C – Retribuição do sinistrado

Definir qual a retribuição auferida pelo sinistrado, nos termos do art.º 71.º da

Lei n.º 98/2009, em especial os seus n.ºs 2 e 3;

D – Entidade responsável

Definir qual a entidade (ou entidades) à qual é imputável a responsabilidade

pelo acidente ou sua reparação;

E – Grau e natureza da incapacidade

Foram atribuídos pelo perito na ficha de perícia médica.

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Efetuada a perícia médica e realizada a tentativa de conciliação, pode acontecer que:

1 – As partes não chegaram a acordo

Se as partes não se conciliaram (hipótese 1):

No auto são consignados os fatos sobre os quais houve ou não

acordo, com referência expressa a cada um dos acima referidos

(art.º 112.º, n.º 1 do CPT) – ou seja, cada parte terá de

pronunciar-se sobre todos e cada um deles.

Assim, na fase contenciosa, que se seguirá, se a ela houver lugar

(veja-se a situação prevista no art.º 116.º do CPT) – só se

discutirão as questões acerca das quais não foi obtido acordo na

fase conciliatória, como já vimos.

As outras não serão objeto de discussão, considerando-se

assentes – (cfr. art.º 131.º, n.º 1, al. c) do CPT).

2 – As partes chegaram a acordo

Se as partes se conciliaram (hipótese 2), há que distinguir:

A conciliação foi efetuada tendo como base um grau de

incapacidade de natureza permanente – o acordo celebrado tem

caráter definitivo;

A conciliação foi efetuada tendo como base uma incapacidade de

natureza temporária ou provisória – o acordo assim obtido tem

também validade temporária ou provisória (art.º 110.,º n.º 1 do

CPT), nele se fixando uma indemnização ao sinistrado, pelo

período de tempo correspondente.

Findo esse período, será o sinistrado submetido a nova perícia

médica.

Como já vimos atrás, sempre que na primeira perícia médica for atribuída ao sinistrado

uma incapacidade temporária ou provisória, haverá lugar a novos exames com vista à

obtenção de outros elementos clínicos ou auxiliares de diagnostico, até que essa incapacidade

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revista o caráter de permanente ou que o sinistrado seja dado como curado sem

incapacidade.

Só assim se poderá fixar a pensão definitiva a que ele eventualmente tenha direito.

Nesses exames subsequentes, uma de duas situações pode ocorrer:

2.1 – Ser alterado o grau de incapacidade fixado na perícia anterior, mas manter-se

a sua natureza (temporária ou provisória) (art.º 110.º, n.º 1 do CPT).

Uma vez que o grau de incapacidade é um dos elementos decisivos no cálculo da

indemnização, esta terá de acompanhar, nos seus reajustamentos, as oscilações que o

grau de incapacidade for acusando.

Porém, na sequência desta nova perícia médica não é necessário efetuar nova

tentativa de conciliação. Bastará o Ministério Público, através de despacho, retificar,

na proporção, as indemnizações já fixadas no acordo que se seguiu à primeira perícia

médica. (É o caso, por exemplo, de um sinistrado que estava a receber uma

indemnização diária de € 5,00, calculada com base numa I.T.P. de 20% e ao qual, em

perícia ulterior, foi atribuída uma incapacidade de 10%. Teria direito a uma

indemnização diária de € 2,50).

As retificações consideram-se como fazendo parte do acordo anteriormente celebrado

– (art.º 110.º, n.º 1, “in fine” do CPT) e deverão ser notificadas aos intervenientes.

2.2 – Ser atribuída à incapacidade a natureza de permanente ou o sinistrado ser

dado como curado sem incapacidade (art.º 110.º, n.º 2 do CPT).

Neste caso terá de realizar-se nova tentativa de conciliação, no sentido de averiguar

se as obrigações da entidade responsável para com o sinistrado estão satisfeitas e

obter um novo acordo para o futuro, agora definitivo, tendo em conta a nova realidade

no que à incapacidade se refere.

Desse acordo constará a pensão anual e vitalícia a que o sinistrado tenha direito.

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2.3.4. HOMOLOGAÇÃO DO ACORDO

O acordo celebrado na fase conciliatória do processo de acidente de trabalho carece, por

si só, de força vinculativa definitiva, pelo que sobre ele terá sempre de recair um despacho

homologatório do magistrado judicial.

Isto aplica-se tanto ao acordo temporário ou provisório como ao definitivo.

Tenha-se porém em atenção a situação prevista no art.º 115.º, n.º 3 do CPT: o acordo,

apesar de não homologado, produz efeitos até à homologação do que o vier a substituir ou, na

falta deste, até à decisão final.

Prescreve o art.º 114.º, n.º 1 do CPT que, realizado o acordo, é imediatamente

submetido ao juiz, que o homologa por simples despacho exarado no próprio auto e seus

duplicados, se verificar a sua conformidade com os elementos fornecidos pelo processo e com

as normas legais, regulamentares ou convencionais.

Repare-se que a redação do n.º 1 do art.º 114.º do CPT, ao estabelecer que o juiz

homologará o acordo no original do auto de conciliação e nos seus duplicados, pressupõe

necessariamente que desses duplicados se faça entrega aos intervenientes na tentativa de

conciliação, designadamente e, em regra, o sinistrado e a entidade responsável, juntamente

com a respetiva notificação.

Terá de entender-se o advérbio “imediatamente” no sentido corrente do mesmo, não se

aplicando aqui o disposto no art.º 166.º, n.º 1, do CPC, que concede o prazo de cinco dias

para o expediente da secretaria.

Atente-se, neste sentido, também, à “natureza urgente” dos processos emergentes de

acidente de trabalho, a que se refere o art.º 26.º, n.º 1, do CPT, como já vimos atrás.

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Seria redundante, pois, a notificação da homologação.

NOTA:

No caso de atribuição de uma pensão (não obrigatoriamente

remível), para além dos duplicados para entrega aos

intervenientes na tentativa de conciliação, deverá ainda a

secretaria, em rigor, submeter à homologação do juiz um outro

duplicado, para ser remetido oportunamente ao Instituto de

Seguros de Portugal aquando do cumprimento do n.º 1 do art.º

137.º do CPT. Porém e como veremos adiante nos comentários

àquele artigo, a remessa de simples fotocópia do auto, com a

homologação do juiz, tem-se mostrado suficiente.

Resumindo o que atrás se disse e agora sob outra perspetiva, vejamos as situações que

podem resultar da tentativa de conciliação:

1 – Os interessados chegam a acordo, e o juiz homologa-o:

Entrega-se a cada parte um duplicado do auto, no qual o juiz homologou o acordo. O

processo segue depois os seus termos normais;

2 – Os interessados chegam a acordo, mas o juiz não o homologa:

Notificam-se as partes da não homologação e o Ministério Público, se considerar

possível a remoção dos obstáculos à homologação, tenta a celebração de novo acordo

para substituir aquele cuja homologação foi recusada (art.º 115.º, n.º 2 do CPT);

3 – Os interessados não chegam a acordo:

Termina a fase conciliatória, aguardando os autos por 20 dias a petição inicial ou o

requerimento a que se refere o art.º 117.º, n.º 1 do CPT e que darão início à fase

contenciosa.

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TENTATIVA DE CONCILIAÇÃO

- Presidida pelo MP

- Presenças:

- sinistrado ou legal beneficiário em caso de morte

- entidade responsável (empregador e/ou seguradora)

No dia designado

o MP verifica a

necessidade de

convocar outras

entidades?

Marcada

nova data,

sendo

convocados os

presentes e as

novas entidades

No dia designado

falta a entidade

responsável?

SIM NÃO

São tomadas

declarações ao

sinistrado ou legal

beneficiário e é

designada nova

data

Se na nova data a

entidade

responsável volta a

faltar ou é

desconhecido o seu

paradeiro é

dispensada a

tentativa de

conciliação,

seguindo-se a fase

contenciosa

SIM

Há acordo?

Auto de acordo

(art.º 111.º)

Juiz

homologa?

FASE

CONTENCIOSA

(art.ºs 117.º e ss)

Fim

art.º 115.º/1

Auto de tentativa

de conciliação

(art.º 112.º)

NÃO

SIM NÃO

Resultado da

tentativa de

conciliação

Não há acordo

Há acordo

Incapacidade permanente (acordo definitivo)

Incapacidade temporária

(acordo provisório)

Exames médicos

Fase contenciosa ou sentença nos termos do art.º 116.º CPT

Incapacidade temporária

- Indemnização rectificada por despacho

- Exames médicos

Incapacidade permanente

- Tentativa de conciliação

- Acordo definitivo

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2.4. FASE CONTENCIOSA

2.4.1. INÍCIO DA FASE CONTENCIOSA

Se não houver acordo quanto a um ou mais dos fatos referidos no n.º 1 do art.º 112.º do

CPT, poderá ter lugar a fase contenciosa53, presidida pelo juiz, a qual corre nos autos em que

se processou a fase conciliatória (art.º 117.º, n.º 3 do CPT).

Há duas formas distintas de dar início à fase contenciosa, as quais vêm referidas no art.º

117.º, n.º 1, do CPT:

– 1. Através de petição inicial, apresentada pelo autor-sinistrado (doente ou respetivos

beneficiários), se a discordância for quanto a qualquer ou quaisquer das questões

referidas no art.º 112.º, n.º 1 do CPT, desde que não apenas a da incapacidade, ainda

que em simultâneo com esta.

– 2. Através de requerimento para realização de perícia por junta médica,

apresentado pela parte discordante, se a discordância for apenas quanto à questão da

incapacidade atribuída pelo perito na perícia médica realizada na fase conciliatória do

processo (cfr. art.º 138.º, n.º 2 do CPT).

NOTA:

No 1.º caso só não há lugar ao pagamento de taxa de justiça pelo

impulso processual, se o autor/sinistrado ou seus beneficiários

legais, estiverem isentos de custas no pressuposto que

preenchem os requisitos do art.º 4.º, n.º 1, alínea h) do RCP).

No 2.º caso haverá apenas pagamento às remunerações devidas

aos peritos médicos tal como refere o n.º 7 do art.º 17.º do RCP

que será suportado pela entidade legalmente responsável pelo

acidente (normalmente, a seguradora) nos termos do n.º 8 do

53 O disposto nos art.ºs 117.º e seguintes do CPT (para a fase contenciosa do processo emergente de acidente de trabalho), é também aplicável, com as necessárias adaptações, aos casos de doença profissional em que o doente discorde da decisão do Centro Nacional de Protecção contra os Riscos Profissionais (CNPRP), a funcionar atualmente no Instituto da Segurança Social, IP, por força do Despacho n.º 8057/2009, de 20 de março – art.º 155.º do CPT.

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art.º 17.º do RCP em função da notificação para esse efeito

referida no n.º 1 do art.º 20.º do RCP.

Em qualquer dos casos, o Ministério Público, sem prejuízo do disposto nos art.ºs 8.º e 9.º

do CPT, assume o patrocínio do sinistrado ou dos seus beneficiários legais, apresentando,

no prazo de 20 dias a contar da data da tentativa de conciliação, a petição inicial ou o

requerimento para perícia por junta médica a que se referem, respetivamente, as alíneas a) e

b) do n.º 1 do art.º 117.º do CPT (art.º 119.º. n.º 1 do CPT).

Do exposto resulta que, se a discordância for apenas quanto à questão da incapacidade,

qualquer das partes pode vir, com um simples requerimento, pedir a realização de uma

perícia por junta médica.

Já se a divergência for quanto a qualquer outra questão, ainda que em simultâneo com a

da incapacidade e qualquer que seja a parte discordante, é sempre e só ao autor-sinistrado

que compete, através de uma petição inicial, formular o pedido.

Se houver divergência quanto à questão da incapacidade e, simultaneamente, quanto a

qualquer outra(s) das referidas no art.º 112.º n.º 1 do CPT (vg. a retribuição do sinistrado, a

determinação da entidade responsável, etc.), a perícia por junta médica será requerida pelo

autor na petição inicial ou pelo réu na contestação (art.ºs 138.º, n.º 1 e 129.º, n.º 1, al. a) do

CPT).

No caso acima referido no ponto 1, se a petição inicial não for apresentada no prazo de 20

dias após a tentativa de conciliação ou no decurso da sua prorrogação (art.º 119.º, nºs 1 e 2

do CPT), o processo é concluso ao juiz para declarar suspensa a instância até que o

Ministério Público, ou o mandatário constituído, se o houver, apresente a referida petição

(art.º 119.º, n.º 4 do CPT).

De sublinhar, porém, que em processo emergente de acidente de trabalho em que foi

suspensa a instância nos termos do art.º 119.º, n.º 4 do CPT, mesmo que não seja apresentada

petição inicial no prazo de um ano a contar da notificação do despacho que decretou a

suspensão, não há lugar à interrupção da instância.

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Não é aplicável, nestes casos, o disposto no art.º 285.º do CPC, incompatível com o curso

oficioso destes processos e com os direitos irrenunciáveis que com eles se pretende fazer

valer (cfr. art.º 1.º, n.º 3 do CPT).

No caso referido no ponto 2 (em que a discordância se limita à questão da incapacidade) –,

se a parte não apresentar o requerimento para realização de perícia por junta médica no

prazo de 20 dias, o juiz fixa o valor da causa (cfr. art.º 120.º do CPT) e profere decisão

sobre o mérito, fixando a natureza e grau de incapacidade do sinistrado, observando o

disposto no n.º 3 do art.º 73.º do CPT (art.º 138.º, n.º 2 do CPT).

Vejamos agora o caso em que, além da incapacidade, há outras questões a decidir:

Nestas situações, poderá o processo desdobrar-se em duas partes, conforme dispõem os

art.ºs 118.º, 126.º, n.º 1, 131.º n.º 1, al. e) e 132.º, n.º 1, todos do CPT:

A – Processo principal, em que se decidem todas as questões, salvo a da fixação da

incapacidade para o trabalho (art.º 126.º, n.º 1 do CPT);

B – Apenso para fixação de incapacidade, em que se discutirá apenas esta questão (art.º

132.º, n.º 1 do CPT).

Neste apenso serão feitas todas as diligências necessárias à definição da situação

clínica do sinistrado e consequente qualificação e quantificação da sua incapacidade

para o trabalho, que passam necessariamente pela realização de uma perícia por

junta médica.

Pretende-se, com a abertura deste apenso, uma maior eficácia na tramitação

processual. É que, apesar de serem tratadas em simultâneo, são diferentes as

questões a decidir.

Assim, tudo o que disser respeito à determinação da incapacidade (perícia por junta

médica, eventuais pareceres especializados, etc.) terá lugar no apenso, correndo no

processo principal todas as outras questões.

De sublinhar que o processo principal e o apenso deverão ser tramitados simultaneamente

e de modo a que, quando no primeiro houver lugar à prolação de sentença final, já no

segundo tenha sido proferida decisão a fixar a natureza e grau de incapacidade (art.º 140.º,

n.º 2 do CPT).

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Só assim o juiz poderá integrar na sentença (a proferir no processo principal) a parte

decisória do apenso (art.º 135.º do CPT).

Resumindo:

• Se a fixação da incapacidade for a única questão a decidir, a sua tramitação será

desenvolvida nos autos em que se processou a fase conciliatória, pelo que não haverá

lugar à abertura de apenso;

• Se, para além da determinação da incapacidade, houver outras questões a decidir,

aquela correrá por apenso e estas no processo principal;

• Se não estiver em discussão a questão da incapacidade, não haverá lugar a

desdobramento do processo, uma vez que todas as outras questões correm sempre, em

princípio, nos autos em que se processou a fase conciliatória.

A abertura do apenso não é oficiosa, sendo ordenada pelo juiz no despacho saneador –

(art.º 131.º, n.º 1 al. e) do CPT).

Note-se que o juiz pode, se entender conveniente, ordenar que corra em separado

qualquer outro incidente; se o não fizer, este corre nos autos a que respeitar (art.º 132.º, n.º

2 do CPT). Pode, ainda, sempre que a simultaneidade na movimentação do processo principal

e seu apenso se mostre incompatível com a apensação, determinar a sua desapensação (n.ºs 2

e 3 do art.º 132.º do CPT).

2.4.1. PROCESSO PRINCIPAL

Junta a petição inicial aos autos54 abre-se conclusão ao juiz que, se entender que a ação

está em condições de prosseguir, ordena a citação do réu55 para contestar no prazo de 15 dias

54 Como já vimos, nesta situação só não há lugar ao pagamento, pelo autor/sinistrado ou seus beneficiários legais, de taxa de justiça se, preenchendo os requisitos do art.º 4.º, n.º 1, al. h) do RCP, estiver(em) isento(s) de custas. 55 Face à omissão do CPT, pode pôr-se a questão de saber se esta citação deverá ser promovida oficiosamente pela secretaria, nos termos do CPC, ou se deverá ser ordenada pelo juiz, de modo análogo ao que acontece para a ação de processo comum no CPT. É esta última a posição correta, uma vez que, sendo o caso omisso no CPT e não estando diretamente prevenido no CPC, haverá que recorrer à regulamentação dos casos análogos previstos no CPT (cfr. art.º 1.º, n.º 2 al.s a) e b) do CPT).

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a contar da citação, ou da última citação, havendo vários réus, sendo-lhe entregue duplicado

da petição inicial (art.º 128.º do CPT).

Na contestação pode o réu requerer a realização de uma perícia por junta médica, como já

vimos, se discordar da incapacidade atribuída pelo perito médico singular na fase

conciliatória (art.º 129.º, n.º 1 al. a) do CPT)56.

Pode ainda imputar a outra entidade a responsabilidade pelas consequências do acidente

e, em face desta situação, o juiz ordenará a citação dessa entidade para contestar, também

no prazo de 15 dias (art.º 129.º, n.º 1 al. b) do CPT).

Se estiver em causa a determinação da entidade responsável, ao autor e a cada um dos

réus é entregue cópia da contestação dos outros réus, podendo cada um responder no prazo

de cinco dias, mas apenas sobre aquela questão (art.º 129.º, n.º 3 do CPT).

NOTA:

O disposto no n.º 3 do art.º 129.º do CPT, ao permitir a

existência de um terceiro articulado (resposta à contestação)

– abre uma exceção ao princípio geral de que, em processo

especial emergente de acidente de trabalho, apenas existirão

dois articulados: petição inicial e contestação.

Porém, convém sublinhar que este terceiro articulado só

poderá ter lugar quando, havendo pluralidade de entidades

responsáveis (cfr. art.º 127.º do CPT) – estiver em causa a

determinação da(s) mesma(s).

Se forem citados vários réus e algum contestar, essa contestação aproveita a todos (art.º

129.º n.º 2 do CPT), pelo que a ação prosseguirá quanto a todos eles, quer tenham contestado

quer não.

56 Caso em que fica responsável pelo pagamento das remunerações devidas aos peritos médicos tal como refere o n.º 7 do art.º 17.º do RCP em função da notificação para esse efeito referida no n.º 1 do art.º 20.º do RCP.

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Na falta de contestação do réu (ou de todos os réus, sendo mais do que um) seguem-se,

com as necessárias adaptações, os termos previstos no art.º 57.º do CPT, que estabelece os

efeitos da revelia para a ação de processo comum (art.º 130.º do CPT).

Assim, se o réu não contestar, tendo sido ou devendo considerar-se regularmente citado na

sua própria pessoa, ou tendo juntado procuração a mandatário judicial no prazo da

contestação, consideram-se confessados os fatos articulados pelo autor e é logo proferida

sentença a julgar a causa conforme for de direito – efeito cominatório semipleno.

Poderá também o juiz, tal como acontece na ação de processo comum, condenar em

quantidade superior ao pedido ou em objeto diverso dele, se se verificarem os

circunstancialismos referidos no art.º 74.º do CPT.

Junta a contestação aos autos57 o processo é concluso ao juiz para, no prazo de 15 dias,

proferir despacho saneador, nos termos e para os efeitos do n.º 1 do art.º 131.º do CPT.

Há sempre lugar a despacho saneador em processo emergente de acidente de trabalho,

qualquer que seja o valor da causa.

Seguir-se-ão, depois, os termos do processo declarativo comum regulados nos art.ºs 63.º e

seguintes do CPT, com algumas especialidades (art.º 131.º, n.º 2 do CPT), designadamente no

que se refere ao rol de testemunhas, que pode ser apresentado no prazo de 10 dias a contar

da notificação do despacho saneador (art.º 133.º do CPT).

2.4.3. FIXAÇÃO DE INCAPACIDADE PARA O TRABALHO NA PERÍCIA POR JUNTA

MÉDICA

Se houver discordância entre as partes quanto à questão da incapacidade atribuída ao

sinistrado pelo perito médico na perícia realizada na fase conciliatória do processo, haverá

lugar a realização de perícia por junta médica, se esta for requerida por qualquer das partes.

57 Diferentemente do que acontece em relação ao autor/sinistrado ou seus beneficiários legais, normalmente não há, quanto ao(s) réu(s), qualquer isenção subjetiva de custas, pelo que haverá lugar ao pagamento, por este(s), de taxas de justiça (sem prejuízo do beneficio do regime do apoio judiciário).

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A perícia por junta médica é presidida pelo juiz, sendo constituída por três peritos

médicos: um pelo tribunal, outro pelo sinistrado e outro pela entidade responsável (art.º

139.º, n.º 1 do CPT).

Se a perícia médica efetuada na fase conciliatória tiver exigido pareceres especializados,

na perícia por junta médica intervirão, pelo menos, dois médicos das mesmas especialidades

(art.º 139.º, n.º 2 do CPT), sob pena de poder ser arguida, pelo sinistrado e até ao termo

dessa perícia, a nulidade desta (vd. art.º 205.º, n.º 1, 1.ª parte, do CPC).

Se não for possível constituir a junta médica na área do tribunal, o que pode acontecer

apenas nos tribunais situados fora das áreas metropolitanas de Lisboa e do Porto, poderá a

perícia por junta médica ser deprecada ao tribunal com competência em matéria de trabalho

mais próximo da residência da parte, onde essa junta possa constituir-se.

Porém, e à semelhança das situações referidas nos art.ºs 105.º, n.º 3 (realização de

perícias médicas) e 108.º, n.º 6 (notificação para perícia médica e tentativa de conciliação),

entre tribunais sedeados nas áreas metropolitanas de Lisboa e do Porto não haverá lugar à

expedição de deprecada (art.º 139.º, n.º 3 do CPT).

A nomeação dos peritos apresentados pelas partes é feita imediatamente antes da

diligência.

Sempre que possível deverá o juiz nomear peritos dos serviços médico-legais que não

tenham intervindo na fase conciliatória (art.º 139.º, n.º 4 do CPT).

Os peritos das partes devem ser apresentados até ao início da diligência; se o não forem, o

tribunal nomeia-os oficiosamente – (art.º 139.º, n.º 5 do CPT).

No dia-a-dia dos tribunais do trabalho é muito frequente o recurso a esta disposição legal,

dado que, apesar de o sinistrado, aquando da notificação, ser advertido para apresentar o seu

perito, muitas vezes o não faz, por dificuldades de vária ordem em conseguir a comparência

de um perito da sua confiança.

Se assim acontecer, o juiz, imediatamente antes da junta médica, nomeia oficiosamente,

como perito do sinistrado, um outro perito médico que se encontre presente.

Finda a perícia por junta médica, o processo vai concluso ao juiz, (que obviamente não

está vinculado ao resultado da perícia), e que poderá, se assim o entender, determinar a

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realização de novas perícias e pareceres complementares ou requisitar os pareceres técnicos

que considere necessários à rigorosa definição da situação clínica do sinistrado (art.º 139.º,

n.º 7 do CPT).

Proferirá então decisão, havendo que distinguir se a fixação da incapacidade teve ou não

lugar no apenso, nos termos dos nºs 1 e 2 do art.º 140.º do CPT.

De realçar que, no caso de a decisão ter sido proferida no apenso, só pode ser impugnada

no recurso a interpor da decisão final, sem prejuízo de, do ato (perícia por junta médica)

poder ser arguido de nulidade, nos termos gerais previstos no CPC.

NOTA:

Diferentemente do que acontece com a perícia médica por

perito singular na fase conciliatória (cfr. o art.º 105.º n.º 4,

in fine, do CPT), no caso da perícia por junta médica na fase

contenciosa não há que notificar logo as partes do seu

resultado.

Apenas se notificarão, oportunamente, da decisão proferida

pelo juiz.

2.5. DOCUMENTOS A ENVIAR AO INSTITUTO DE SEGUROS DE PORTUGAL

Art.º 137.º DO CPT

Uma vez que, frequentemente, há lugar ao cumprimento do disposto no artigo 137.º CPT,

deixam-se aqui algumas notas.

Sempre que, em processo emergente de acidente de trabalho ou de doença profissional,

haja lugar ao pagamento de uma pensão, as entidades responsáveis pelo seu pagamento estão

obrigadas a prestar caução ou constituir reserva matemática, assim se garantindo que o

beneficiário da pensão irá, efetivamente, recebê-la, independentemente do que vier a

suceder ao responsável.

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Salvo se o empregador responsável celebrar com uma seguradora um contrato específico

de seguro de pensões, a caução deverá ser prestada, no tribunal, pelas entidades

empregadoras que, total ou parcialmente, não tenham transferido para uma empresa de

seguros a sua responsabilidade emergente de acidentes de trabalho (art.º 84.º da Lei n.º

98/2009).

A reserva matemática será constituída, junto do Instituto de Seguros de Portugal

(I.S.P.), pelas empresas de seguros.

Assim, quando deva ser prestada caução ou constituída reserva matemática, a secretaria

remeterá ao I.S.P.58 cópia do auto de conciliação, devidamente homologado, ou da

decisão que condene no pagamento da pensão, bem como as certidões necessárias,

nomeadamente de nascimento do sinistrado e/ou dos beneficiários legais em caso de

morte, a fim de habilitar aquele Instituto a proceder ao cálculo dos montantes das cauções

e/ou das reservas matemáticas a que haja lugar (art.ºs 137.º, n.º 1 do CPT e 85.º da Lei n.º

98/2009).

As reservas matemáticas são prestadas diretamente pelas empresas de seguros junto do

ISP, não tendo aí o tribunal qualquer intervenção, posteriormente à remessa dos elementos

acima referidos.

Se houver lugar à prestação de caução por parte da entidade empregadora, o I.S.P., na

sequência do recebimento dos elementos referidos no art.º 137.º, n.º 1 do CPT, informará o

tribunal do montante daquela, uma vez que, nos termos do art.º 85.º, n.º 1 da Lei n.º

98/2009, lhe compete determinar o valor dos caucionamentos das pensões quando não exista

ou seja insuficiente o seguro das responsabilidades das entidades empregadoras.

Os caucionamentos, à ordem do juiz, podem ser feitos por depósito de numerário,

títulos da dívida pública, por afetação ou hipoteca de imóveis ou por garantia bancária

(cfr. art.º 84.º, n.ºs 2 e 3 da Lei n.º 98/2009).

58 Instituto de Seguros de Portugal – Avenida da República, 76, 1600-205 Lisboa

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O respectivo incidente de prestação de caução corre nos próprios autos.

Por sua vez, sempre que a obrigação do pagamento da pensão vier a cessar ou for

modificada, a secretaria deverá enviar ao I.S.P. cópia da respetiva decisão e das peças

processuais ou certidões que a fundamentem (art.º 137.º, n.º 2 do CPT).

A título de exemplo, referem-se algumas situações que implicam o cumprimento do n.º 2

do art.º 137.º do CPT:

• Quando, por decisão proferida no incidente de caducidade, for declarado

caduco o direito à pensão;

• Quando, na sequência de perícia médica de revisão, for alterada a

incapacidade de que o sinistrado era portador e, consequentemente, a pensão

anual que vinha recebendo;

• Quando a pensão anual que vinha sendo paga for total ou parcialmente remida.

Note-se que só há lugar ao cumprimento do n.º 2 do art.º 137.º do CPT caso,

anteriormente, tenha sido cumprido o seu n.º 1.

NOTA:

O art.º 3.º, n.º 1 al. b) do Dec.-Lei n.º 142/99, de 30 de abril

com as alterações introduzidas pelo Dec.Lei n.º 185/2007, de

10 de maio, que criou o Fundo de Acidentes de Trabalho

(FAT), estabelece, como uma das receitas deste fundo, “uma

percentagem a suportar pelas empresas de seguros sobre o

valor correspondente ao capital de remição das pensões em

pagamento à data de 31 de dezembro de cada ano, bem

como sobre o valor da provisão matemática das prestações

suplementares por assistência de terceira pessoa, em

pagamento à data de 31 de dezembro de cada ano” .

Assim sendo e uma vez que o FAT funciona junto do Instituto

de Seguros de Portugal, a quem compete a sua gestão

técnica e financeira, para que este Instituto possa exercer

um controlo sobre as suas receitas, terá que ter

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conhecimento de todas as pensões em pagamento. Essa

informação é-lhe transmitida, pelo tribunal, em cada

processo, através do cumprimento do n.º 1 do art.º 137.º do

CPT.

Para o efeito, haverá que dar cumprimento àquela disposição

legal sempre que for atribuída uma pensão (não

obrigatoriamente remível) (n.º 1), ou sempre que a

obrigação de pagamento de pensão cessar ou for modificada

(n.º 2).

3. PROCESSO PARA A EFECTIVAÇÃO DE DIREITOS RESULTANTES DE DOENÇA PROFISSIONAL

No caso de doença profissional59, o equivalente à fase conciliatória do processo não corre

no tribunal, mas sim na entidade com competências na área da proteção contra os riscos

profissionais que será o Instituto da Segurança Social, IP já que este organismo sucedeu ao

Centro Nacional de Protecção contra os Riscos Profissionais (CNPRP)60.

A avaliação, graduação e reparação das doenças profissionais é, então, da exclusiva

responsabilidade dessa entidade, nos termos do art.º 96.º da Lei n.º 98/2009.

Só no caso de “na fase conciliatória do processo” os intervenientes não chegarem a acordo

é que haverá lugar a um processo judicial.

Assim, as normas dos artigos 117.º e seguintes do CPT (fase contenciosa do processo de

acidente de trabalho) aplicam-se, com as necessárias adaptações, aos casos de doença

profissional em que o doente discorde da decisão da referida entidade administrativa

(aplicando-se, com adaptações, tudo o que vimos dizendo nas últimas páginas).

59 O regime da doença profissional encontra-se previsto nos art.ºs 93.º a 153.º da Lei n.º 98/2009. 60 O Centro Nacional de Protecção contra os Riscos Profissionais, I. P., foi extinto pelo n.º 3 do art.º 36.º do Decreto-Lei n.º 211/2006, de 27 de outubro, sendo as suas atribuições de natureza técnico-normativa integradas na Direcção-Geral da Segurança Social, as suas atribuições de natureza operacional integradas no Instituto da Segurança Social, I. P., e as atribuições relativas à gestão dos fundos obrigatórios integradas no Instituto de Gestão Financeira da Segurança Social, I. P. – cfr. al.ª f) do referido artigo.

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Nesses casos, o tribunal requisita o processo organizado naquela instituição, que é

apensado ao processo judicial entretanto instaurado por impulso do doente e será devolvido a

final (art.º 155.º do CPT).

Sobre este assunto conferir, também, o Capítulo III da Lei n.º 98/2009.

4. INCIDENTES TÍPICOS DO PROCESSO DE ACIDENTE DE TRABALHO

Os incidentes mais frequentes nesta espécie de processo são os seguintes:

– Incidente de revisão da incapacidade ou da pensão;

– Incidente de remição da pensão;

– Incidente de caducidade do direito a pensão; e

– Incidente de atualização da pensão.

Vejamos, em linhas gerais, cada um deles.

4.1. INCIDENTE DE REVISÃO DA INCAPACIDADE OU DA PENSÃO

Se se verificar modificação da capacidade de trabalho ou de ganho do sinistrado face a

alteração das lesões resultantes do acidente ou da doença, a prestação pode ser alterada ou

extinta de harmonia com a modificação verificada.

Poderá ser requerida, por qualquer das partes, uma vez em cada ano civil (art.º 70.º da Lei

n.º 98/2009).

À semelhança do que acontece com o requerimento para perícia por junta médica referido

no n.º 2 do art.º 117.º do CPT, o requerimento em que é requerida a revisão deve ser

fundamentado ou vir acompanhado de quesitos (art.º 145.º, n.º 2 do CPT), aplicando-se as

mesmas regras de custas relativas ao pagamento das remunerações dos peritos que já

falámos.

Junto o requerimento, que é dirigido ao juiz, este designa dia para perícia médica

(art.º 145.º, n.º 1 do CPT).

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Esta perícia médica segue, com as necessárias adaptações, o estabelecido no art.º 105.º do

CPT para a perícia médica na fase conciliatória.

Finda a perícia, o seu resultado é logo notificado ao sinistrado ou doente e à entidade

responsável pela reparação dos danos resultantes do acidente (art.º 145.º, n.º 4 do CPT).

Qualquer das partes que se não conforme com o resultado da perícia médica pode, no

prazo de 10 dias e através de simples requerimento (que deve ser fundamentado ou vir

acompanhado de quesitos), requerer ao juiz a realização de perícia por junta médica, sem

prejuízo de, se nenhuma das partes o requerer, ser a mesma ordenada por aquele magistrado

(art.º 145.º, n.º 5 do CPT).

A ter lugar, a perícia por junta médica seguirá a tramitação e formalidades constantes

do art.º 139.º do CPT, que já atrás vimos.

Logo que, na sequência da perícia (ou perícias), a situação clínica do sinistrado ou doente

esteja definida, o juiz decide o incidente, mantendo, aumentando ou reduzindo a pensão, ou

declarando extinta a obrigação de a pagar, de acordo com a nova incapacidade atribuída

(art.º 145.º, n.º 6 do CPT).

Note-se que, no incidente de revisão, a única questão que está em causa é a da

incapacidade, encontrando-se todas as outras fixadas, sendo, então, insuscetíveis de

alteração.

São, pois, irrelevantes as eventuais modificações entretanto ocorridas no salário do

sinistrado ou doente, desde a data da fixação da pensão.

Se o resultado do incidente de revisão se traduzir numa alteração da incapacidade

anteriormente fixada, deverá:

– atualizar-se a pensão resultante dessa nova incapacidade nos mesmos termos em que

eventualmente o tenha sido a pensão original, e

– dar-se cumprimento, mais uma vez, ao disposto no n.º 2 do art.º 137.º do CPT, dado

que a obrigação do pagamento da pensão foi modificada.

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Em princípio, o incidente de revisão corre nos próprios autos.

Porém, deveremos distinguir as seguintes situações:

– Se a fixação da incapacidade, que se revê, correu já anteriormente no apenso previsto

na alínea b) do art.º 118.º do CPT, é nesse apenso que correrá o incidente de revisão

(art.º 145.º, n.º 7 do CPT);

– Se, em caso de morte, se tratar de revisão da pensão de beneficiário legal com

fundamento em agravamento ou superveniência de doença física ou mental que afete a

sua capacidade de ganho, o incidente correrá por apenso ao processo a que disser

respeito (art.º 147.º, n.º 1 do CPT).

Nos casos em que, sendo responsável uma seguradora, o acidente não tenha sido por esta

participado a tribunal por o sinistrado ter sido considerado curado sem incapacidade, poderá

este, mais tarde, suscitar o incidente de revisão (art.º 145.º, n.º 8 do CPT).

NOTA:

Se do acidente não resultar a morte ou incapacidade

permanente ou, em caso de incapacidade temporária, esta

não ultrapassar os 12 meses, as empresas de seguros não

estão obrigadas a participar o acidente a tribunal (art.º 90.º,

n.º 1 “a contrario” e n.º 3 da Lei n.º 98/2009), casos em que

não haverá qualquer processo.

Contudo, o empregador que não tiver transferido a responsabilidade por acidentes de

trabalho para uma seguradora está sempre obrigado a participá-lo ao tribunal no prazo de

oito dias, a contar da data do acidente ou da data em que do mesmo teve conhecimento,

participação que deverá ser feita por escrito, devendo enviá-la por correio eletrónico ou por

telecópia se do acidente tiver resultado a morte do trabalhador (art.º 88.º da Lei n.º

98/2009).

A questão da discussão da responsabilidade do agravamento é, na prática, pouco

frequente.

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Assim, remete-se, nessa matéria e sem mais considerações, para o art.º 146.º do CPT.

4.2. INCIDENTE DE REMIÇÃO DA PENSÃO

Poderemos definir remição como a transformação de uma obrigação duradoura e periódica

em instantânea de prestação unitária, ou seja, a substituição do pagamento, em prestações

mensais61, de uma pensão anual e vitalícia pelo pagamento, por uma só vez, de uma

determinada quantia, assim se convertendo a pensão em capital.

Note-se que a remição não prejudica, entre outros, o direito de o sinistrado requerer a

revisão da prestação (art.º 77.º da Lei n.º 98/2009).

4.2.1. CONDIÇÕES DE REMIÇÃO

O art.º 75.º da Lei n.º 98/2009, de 4 de Setembro, consagra as condições da

obrigatoriedade / possibilidade de remição a dois fatores:

– O valor da pensão anual;

– O grau de incapacidade.

Em síntese:

A – São obrigatoriamente remíveis as pensões anuais e vitalícias devidas a sinistrados

ou beneficiários que preencham as seguintes condições:

a) O grau de incapacidade permanente parcial inferior a 30 %.

b) O valor da pensão anual não seja superior a seis vezes o valor da retribuição

mínima mensal garantida em vigor no dia seguinte à data da alta (para 201262: €

485,00 x 6 = € 2.910,00); ou, em caso de morte do sinistrado,

61 Pagamento das prestações – cfr. art.º 72.º da Lei n.º 98/2009. 62 O atual valor da RMMG é de 485,00 €, pois mantém-se o valor de 2011 que, apesar de na lei fazer menção à intenção de subir para o montante de 500,00 €, tal não aconteceu (Dec.Lei n.º 143/2010 de 31 de dezembro).

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c) O valor da pensão anual devida ao(s) beneficiário(s) legal não seja superior a seis

vezes o valor da retribuição mínima mensal garantida em vigor no dia seguinte à

data da morte;

B – Poderão ser parcialmente remidas as pensões anuais e vitalícias que, não sendo

obrigatoriamente remíveis, preencham, cumulativamente, as seguintes condições (art.º

75.º, n.º 2, da Lei n.º 98/2009):

a) A remição seja requerida pelo sinistrado ou pelos beneficiários legais;

b) Correspondam a incapacidade igual ou superior a 30%, ou por morte;

c) A pensão anual sobrante (a parte não remível da pensão) não seja inferior a seis

vezes o valor da retribuição mínima mensal garantida em vigor à data da

autorização da remição (como já vimos, em 2012, € 485,00 x 6 = € 2.910,00);

d) O capital de remição não seja superior ao montante que resultaria da remição de

uma pensão daquele sinistrado se calculada com base numa incapacidade de 30%.

Em todo o caso, porém, está vedada a possibilidade de remição de qualquer pensão por

parte de beneficiário legal que sofra de deficiência ou doença crónica que lhe reduza

definitivamente a sua capacidade geral de ganho em mais de 75 % (art.º 75.º, n.º 4 da Lei n.º

98/2009).

E, tratando-se de acidente de trabalho sofrido por trabalhador estrangeiro, a pensão

anual e vitalícia pode, por acordo entre a entidade responsável e o beneficiário da pensão,

ser remida em capital desde que este opte por deixar definitivamente o nosso País (art.º 75.º,

n.º 3 da Lei n.º 98/2009).

E, resulta também que, deixou de ser possível a remição de qualquer pensão anual

vitalícia devida a sinistrado (ou beneficiário legal) cuja incapacidade permanente parcial

sendo superior a 30 % o valor da respetiva pensão anual seja inferior e seis vezes o valor da

retribuição mínima mensal garantida, bem como a que, sendo a IPP inferior a 30 %, o valor da

pensão anual seja superior a seis vezes o valor da retribuição mínima mensal garantida.

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4.2.2. TRAMITAÇÃO DO INCIDENTE DE REMIÇÃO

A tramitação deste incidente, que corre nos próprios autos, está estabelecida nos art.ºs

148.º a 150.º do CPT.

1. Remição facultativa (pensões parcialmente remíveis)

Se a pensão anual e vitalícia for parcialmente remível (ver ponto “B” das “condições de

remição”), logo que requerida a remição, e verificado que esteja as disposições relativas a

custas, o juiz, ouvidos o Ministério Público e a parte não requerente63 e efetuadas as

diligências sumárias que entender necessárias, decide por despacho fundamentado, admitindo

ou recusando a remição – (art.º 148.º, n.º 1 do CPT).

Admitida a remição, a secretaria procede ao cálculo do capital que o pensionista tiver

direito a receber (art.º 148.º, n.º 3 do CPT).

Em seguida, o processo vai ao Ministério Público, que, após verificar o cálculo, ordena as

diligências necessárias à entrega do capital (art.º 148.º, n.º 4 do CPT), designando uma data

para o efeito.

Do despacho do Ministério Público deverá a secretaria notificar os intervenientes –

pensionista e entidade responsável pelo pagamento (ou entidades).

Na data designada procede-se à entrega do capital de remição, a qual é feita por termo

nos autos, sob a presidência do Ministério Público (art.º 150.º do CPT).

2. Remição obrigatória

Se a pensão for obrigatoriamente remível64 (ver ponto “A” das “condições de remição”,

conforme determina o art.º 149.º, observar-se-ão o disposto nos n.ºs 3 e 4 do art.º 148.º do

63 A audição do Ministério Público e da parte não requerente deverão ser feitas oficiosamente pela secretaria (sem prejuízo de orientação em contrário do respetivo magistrado). Assim, junto o requerimento, a secretaria notificará a parte não requerente para, no prazo de 10 dias, dizer o que tiver por conveniente, abrindo, de imediato, “Vista” ao Ministério Público. Findo o prazo, deverão os autos ser conclusos ao juiz. 64 Este incidente é objetivamente isento de custas nos termos do n.º 2 do art.º 4.º do RCP.

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CPT, ou seja, logo que a mesma esteja fixada65, a secretaria procede ao cálculo do capital de

remição, após o que o processo vai ao Ministério Público, à semelhança do que vimos acima

para a remição facultativa.

A indemnização em capital é calculada por aplicação das bases técnicas do capital da

remição, bem como das respetivas tabelas práticas aprovadas por Decreto-Lei (art.º 76.º, n.º

2 da Lei n.º 98/2009).

Enquanto não for aprovado este diploma, mantém-se em vigor a Portaria n. 11/2000, de 13

de janeiro.

4.3. INCIDENTE DE CADUCIDADE DO DIREITO A PENSÃO

Este incidente, previsto no art.º 152.º do CPT66, corre por apenso ao processo a que diz

respeito (art.º 153.º do CPT) – e pode ter como fundamentos, a morte do sinistrado ou dos

seus beneficiários legais, segundas núpcias ou união de facto ou a ultrapassagem dos limites

de idade fixados nos art.ºs 57.º e seguintes da Lei n.º 98/2009.

O requerimento, dirigido ao juiz, é apresentado pela entidade responsável pelo pagamento

da pensão e deve vir acompanhado de todos os elementos necessários a habilitar aquele

magistrado a decidir o incidente, designadamente certidões de óbito, de casamento ou de

nascimento dos filhos, sem prejuízo de o mesmo ordenar as diligências que entender

convenientes, designadamente a audição da parte contrária e do Ministério Público (art.º

152.º, n.ºs 2, 2.ª parte e 3 do CPT).

65 A pensão poderá ser fixada: 1 – No auto de conciliação, devidamente homologado, caso tenha havido acordo na fase conciliatória (cfr. art.º 114.º do CPT); 2 – Na decisão ou sentença final proferidas pelo juiz, na fase contenciosa – cfr. art.ºs 140.º, nºs 1 e 2 e 135.º do CPT (Cfr., também, art.º 116.º do CPT). Haverá, porém, nestes casos que aguardar o trânsito em julgado, para que a secretaria possa proceder ao cálculo. Assim e uma vez que a taxa depende da idade, para a elaboração do respetivo cálculo são necessários os seguintes elementos: pensão anual, idade do sinistrado e taxa correspondente. 66 O incidente de caducidade do direito a pensões integra (juntamente com as ações para declaração de prescrição ou de suspensão de direito a pensões e para declaração de perda de direito a indemnizações), a secção do CPT na qual são tratados os processos para declaração de extinção de direitos resultantes de acidente de trabalho.

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Há aqui lugar ao pagamento de taxa de justiça, autoliquidada – cfr. art.ºs 7.º, n.º 4, 13.º e

14.º do RCP e art.ºs 8.º e 17.º e seguintes da Portaria n.º 419-A/2009, de 17 de Abril).

Se a caducidade da pensão for requerida devido à morte do sinistrado, o processo vai com

vista ao Ministério Público que, se assim o entender, averiguará se a morte foi consequência

da lesão (art.º 152.º n.º 2, 1.ª parte, do CPT).

Apesar de o requerimento vir dirigido ao juiz, parece-nos que nada impede que de

imediato a secretaria abra “vista” ao Ministério Público, para aqueles efeitos.

Face à documentação junta aos autos e ao resultado de eventuais diligências efetuadas, o

juiz decide o incidente, declarando ou não caduco o direito à pensão (art.º 152.º, n.º 3 do

CPT).

4.4. INCIDENTE DE ATUALIZAÇAO DA PENSÃO

Este incidente tem lugar sempre que, em acidente de trabalho, tenha sido atribuída uma

pensão resultante de incapacidade igual ou superior a 30%, ou por morte (art.º 1.º, n.º 1, al.

c) i) ex vi do art.º 6.º ambos do Decreto-Lei n.º 142/99, de 30 de abril, com as alterações

introduzidas pelo Decreto-Lei n.º 185/2007, de 10 de maio, que criou o Fundo de Acidentes

de Trabalho (FAT))67.

Os valores das pensões de acidentes de trabalho são anualmente atualizados por portaria a

publicar nos termos definidos pelo art.º 6.º, n.º 4 do Decreto-Lei n.º 142/99, de 30 de abril,

com as alterações introduzidas pelo Decreto-Lei n.º 185/2007, de 10 de maio68. Para 2012

vigora a Portaria n.º 122/2012, de 17 de maio, que procede à atualização anual das pensões

de acidente de trabalho.

Esta atualização será automática e imediata caso a responsabilidade pelo pagamento da

pensão esteja a cargo de uma empresa de seguros ou do FAT, devendo ser feita a

67 Apesar dessa construção legal temos presente que, ao contrário do que acontecia anteriormente, existem pensões resultantes de incapacidades inferiores a 30 % que, não podendo ser remidas, deverão ter de ser atualizadas. 68 Para o ano de 2012 a atualização das pensões de acidente de trabalho foram atualizadas para o valor resultante da aplicação da percentagem de aumento de 3,6 %.

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correspondente comunicação ao tribunal do trabalho e competindo ao Ministério Público.

promover eventuais retificações.

Será promovida oficiosamente pelo Ministério Público se a responsabilidade recair

sobre outras entidades (art.º 8.º do Decreto-Lei n.º 142/99, com as alterações introduzidas

pelo Decreto-Lei n.º 185/2007, de 10 de maio).

De notar que as entidades empregadoras que tenham prestado inicialmente caução, por

não existir ou ser insuficiente a transferência de responsabilidade, deverão por sua vez

atualizar essa caução (art.º 7.º do Decreto-Lei n.º 142/99, com as alterações introduzidas

pelo Decreto-Lei n.º 185/2007, de 10 de maio).

Assim, logo que definido pelo Ministério Público o montante da pensão atualizada,

deverá a secretaria dar cumprimento ao disposto no n.º 2 do art.º 137.º do CPT, a fim de

que o ISP possa determinar o valor do caucionamento (reforço do caucionamento), nos termos

do n.º 6 do art.º 84.º da Lei n.º 98/2009), dele informando o tribunal, que procederá às

diligências subsequentes.

5. OUTROS PROCESSOS ESPECIAIS

No Código de Processo do Trabalho além dos processos especiais que já vimos (“Ação de

impugnação judicial da regularidade e licitude do despedimento” e “Processo emergente de

acidente de trabalho e de doença profissional”), estão ainda previstos os seguintes processos

especiais, que apenas abordaremos sumariamente, com remessa para as respetivas

disposições do CPT, uma vez que, por enquanto, não são muito frequentes:

– Processo de impugnação de despedimento coletivo – artigos 156.º a 161.º do CPT;

– Processo do contencioso das instituições de previdência, abono de família, associações

sindicais, associações de empregadores ou comissões de trabalhadores – art.ºs 162.º a

186.º do CPT;

– Ação de impugnação da confidencialidade de informações ou da recusa da sua

prestação ou da realização de consultas – art.ºs 186.º-A a 186.º-C do CPT – Este

processo tem natureza urgente;

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– Ação para tutela da personalidade do trabalhador – art.ºs 186.º-D a 186.º-F do CPT –

Este processo tem natureza urgente;

– Ação relativa à igualdade e não discriminação em função do sexo – art.ºs 186.º-G a

186.º-I do CPT.;

5.1. PROCESSO DE IMPUGNAÇÃO DE DESPEDIMENTO COLECTIVO

A noção de despedimento coletivo é-nos dada pelo art.º 359.º, n.º 1 do Código do

Trabalho: “Considera-se despedimento colectivo a cessação de contratos de trabalho

promovida pelo empregador e operada simultânea e sucessivamente no período de três

meses, abrangendo, pelo menos, dois ou cinco trabalhadores conforme se trate,

respectivamente de microempresa ou de pequena empresa, por um lado, ou de média ou

grande empresa por outro …”.

Tendo dado entrada e sido distribuído na 5.ª espécie (art.º 21.º do CPT), depois de

observadas as disposições referentes ao RCP, o réu – empregador – é citado para no prazo

de 15 dias contestar.

Na contestação deve juntar os documentos comprovativos do cumprimento das

formalidades previstas nos art.ºs 360.º a 366.º do Código do Trabalho, bem como requerer o

chamamento para a intervenção dos trabalhadores que, não sendo autores na ação, tenham

também sido abrangidos pelo despedimento.

Este chamamento será decidido pelo juiz sem audição do(s) autor(es).

Logo que haja conhecimento da existência de mais ações sobre o mesmo despedimento é

oficiosamente ordenada a sua apensação à que foi instaurada em primeiro lugar.

Seguidamente se o(s) autor(es) haja(m) formulado pedido de declaração de improcedência

dos fundamentos invocados para o despedimento, o juiz nomeará assessor(es) qualificado(s)

na matéria que irá(ão) elaborar relatório.

Junto o relatório aos autos será convocada uma audiência preliminar nos termos do

disposto no art.º 508.º-A do CPC a que se seguirá, sendo caso disso, audiência de discussão e

julgamento com observâncias das regras relativas ao processo comum.

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5.2. PROCESSO DO CONTENCIOSO DE INSTITUIÇÕES DE PREVIDENCIA, ABONO DE

FAMÍLIA, ASSOCIAÇÕES SINDICAIS, ASSOCIAÇÕES DE EMPREGADORES OU

COMISSÕES DE TRABALHADORES

Estes processos especiais, salvo algumas especialidades constantes dos art.ºs 163.º e

seguintes do CPT, seguem os termos do processo comum, apesar de neles não haver lugar à

realização de audiência preliminar.

São distribuídos na 8.ª espécie e podem ser de cinco tipos:

– Destinado à convocação de assembleias gerais, cujo regime especifico se encontra

previsto no art.º 163.º do CPT ;

– Destinado à impugnação de estatutos, deliberações de assembleias gerais ou atos

eleitorais, previsto nos art.ºs 164.º a 169.º do CPT;

– Destinado à impugnação judicial de decisão disciplinar, previsto nos art.ºs 170.º a 172.º

do CPT;

– Destinado à liquidação e partilha dos bens das instituições de previdência, de

associações sindicais, de associações de empregadores ou de comissões de

trabalhadores, previsto nos art.ºs 173.º a 182.º do CPT, estes com a característica

especial de que, nos termos da al. d) do n.º 2 do art.º 4.º do RCP se encontram isentos

de custas; e

– Ação de anulação e interpretação de cláusulas de convenções coletivas de trabalho,

com regime previsto nos art.ºs 183.º a 186.º do CPT.

5.3 AÇÃO DE IMPUGNAÇÃO DA CONFIDENCIALIDADE DE INFORMAÇÕES OU DA

RECUSA DA SUA PRESTAÇÃO OU DA REALIZAÇÃO DE CONSULTAS

No caso de pretender a impugnação da confidencialidade de informações ou da recusa da

sua prestação ou ainda da realização de consultas, o autor, na petição inicial, alega os

fundamentos do seu pedido indicando os pontos de fato que interessa averiguar requerendo as

providências que repute convenientes, podendo requerer que, em caso de condenação, seja

fixada uma sanção pecuniária compulsória.

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São devidas taxas pelo impulso processual.

Este processo tem a natureza urgente69 e o réu é citado para contestar no prazo de 15

dias.

Findos os articulados o juiz conhece de imediato o pedido salvo se entender que se

justifica proceder a diligências complementares de prova, caso em que ordenará a realização

das que repute convenientes.

A sentença determina as informações que devem ser prestadas e o respetivo prazo.

A sentença é apenas suscetível de recurso para o Tribunal da Relação e tem efeito

suspensivo.

5.4. ACÇÃO PARA TUTELA DA PERSONALIDADE DO TRABALHADOR.

No sentido de evitar a consumação de qualquer violação dos seus direitos de personalidade

ou atenuar os efeitos da ofensa já praticada, pode o trabalhador formular ao tribunal pedido

de providências, contra o autor da ameaça ou ofensa bem como contra o respetivo

empregador.

Sendo um processo de natureza urgente70, os requeridos serão citados para contestar no

prazo de 10 dias.

Haja ou não contestação, o juiz decidirá após a apreciação das provas produzidas.

5.5 ACÇÃO RELATIVA À IGUALDADE E NÃO DISCRIMINAÇÃO EM FUNÇÃO DO SEXO

Nos termos do disposto nos art.ºs 30.º e 31.º do Código do Trabalho, o/a trabalhador/a ou

candidato/a a emprego do setor privado ou público tem direito a igualdade de oportunidades

69 Se bem que os atos apenas serão praticados em férias judiciais quando, em despacho fundamentado, for determinado pelo juiz (n.º 2 do art.º 26.º do CPT). 70 Idem.

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e de tratamento no que se refere ao acesso ao emprego, à formação e promoção ou carreira

profissionais e às condições de trabalho, não podendo ser privilegiado/a, beneficiado/a,

prejudicado/a, privado/a de qualquer direito ou isento/a de qualquer dever em razão,

nomeadamente, de ascendência, idade, sexo, orientação sexual, estado civil, situação

familiar, situação económica, instrução, origem ou condição social, património genético,

capacidade de trabalho reduzida, deficiência, doença crónica, nacionalidade, origem étnica

ou raça, território de origem, língua, religião, convicções políticas ou ideológicas e filiação

sindical, devendo o Estado promover a igualdade de acesso a tais direitos.

Assim esta espécie de processo visa salvaguardar esses direitos.

Este processo tem natureza urgente71.

São aqui aplicáveis as disposições correspondentes do processo comum com as

especificações constantes dos art.ºs 186.º-H e 186.º-I.

A comunicação da decisão final para efeitos de registo deve ser feita à “Comissão para a

Igualdade no Trabalho e no Emprego”, abreviadamente designada por “CITE”, com sede na

Rua Viriato, n.º 7 – 1.º, 2.º e 3.º andares, 1050-233 LISBOA.

5.6 O PEDIDO DE DECLARAÇÃO JUDICIAL DE NULIDADE DE DISPOSIÇÃO EM SEDE

DE CONVENÇÃO COLECTIVA

Intentada pelo M.ºP.º ao abrigo do disposto no art.º 479.º do Código do Trabalho seguirá os

tramites da ação de anulação e interpretação de cláusulas de convenções coletivas de

trabalho previstas nos art.ºs 183.º a 186.º do CPT.

71 Idem

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IV – DA IMPUGNAÇÃO DE DECISÕES DE AUTORIDADES ADMINISTRATIVAS - O PROCESSO DE CONTRAORDENAÇÃO

Duas das marcas deixadas pelo Decreto-Lei n.º 295/2009 no Código de Processo do

Trabalho foram, por um lado, o aditamento, no Livro I, do Título VII – Processo de

Contraordenação, e por outro, a completa revogação das disposições relativas ao processo

penal contravencional que preenchiam o Livro II – Do Processo Penal, de harmonia com a

conversão das infrações laborais e respetivas sanções em direito de mera ordenação social,

agora reguladas no Código do Trabalho (art.ºs 548.º a 566.º).

Constitui contraordenação laboral o facto típico, ilícito e censurável que

consubstancie a violação de uma norma que consagre direitos ou imponha deveres a

qualquer sujeito no âmbito de relação laboral e que seja punível com coima – art.º 548.º

CT.

A coima é aplicada pela entidade administrativa competente, podendo haver lugar à

aplicação simultânea de sanções acessórias (art.º 21.º RGCO) e, nos casos de reduzida

gravidade, de admoestação judicial.

Segundo Figueiredo Dias, “no direito das contraordenações … estão em causa

advertências sociais, sanções ordenativas ou coimas que, ainda quando possam igualmente

dizer-se “administrativas”, não constituem penas mas medidas sancionatórias de carácter não

penal.” [Direito e Justiça, vol. IV, pg. 24]

Para Mário Gomes Dias, “o processo de contraordenação constitui uma realidade sui

generis que representa um meio termo [um tertium genus] entre o tradicional processo

administrativo sancionador e o tradicional processo criminal” - Contra-Ordenações - Notas e

Comentários, Escola Superior de Polícia, pg.133.

Resulta do art.º 549.º CT, que o regime jurídico das contraordenações laborais é

regulado pelo Código do Trabalho e, subsidiariamente, pelo regime geral das

contraordenações (RGCO) aprovado pelo Decreto-Lei n.º 433/82, de 27 de outubro, com as

alterações introduzidas pelos Decretos-Leis n.ºs 356/89, de 17 de outubro, 244/95, de 14 de

setembro, e 323/2001, de 17 de dezembro e pela Lei n.º 109/2001, de 24 de dezembro.

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Resulta do artigo 186.º-J do CPT, aditado pelo Decreto-Lei n.º 295/2009, que as

impugnações de decisões de autoridades administrativas seguem o regime processual,

instituído pela Lei n.º 107/2009, de 14 de setembro, aplicável às contraordenações laborais

e de segurança social, que iremos abordar em seguida.

À semelhança do CT, o art.º 60.º desta Lei faz apelo à aplicação subsidiária das

disposições compatíveis do RGCO, sendo as lacunas supridas com recurso às disposições

adequadas do Código de Processo Penal (art.º 41.º RGCO).

São da Lei n.º 107/2009 as disposições a seguir

referidas sem menção de origem.

O processo de contraordenação comporta duas fases:

1 - Administrativa;

2 - Judicial.

1 - A Fase Administrativa (em síntese)

Compete às entidades administrativas adiante identificadas instaurar e processar as

contraordenações laborais e de segurança social, aplicar as coimas e sanções acessórias (art.º

2.º), salvo quando o mesmo ilícito constituir simultaneamente crime e contraordenação, caso

em que o processamento da contraordenação competirá à autoridade judiciária competente

para o respetivo processo criminal (cfr. art.ºs 20.º e 38.º a 40.º, 56.º e 57.º do RGCO).

Assim, nesta fase, o procedimento contraordenacional compete:

- À Autoridade para as Condições do Trabalho (ACT), quando se tratar de

contraordenações em matéria laboral; ou

- Ao Instituto da Segurança Social, I.P. (ISS, I.P.), quando em causa estiverem

contraordenações no âmbito do sistema de segurança social.

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- Ao Instituto de Seguros de Portugal (ISP), se estiver em causa procedimento de

contraordenações relativas ao regime previsto nos art.ºs 548.º a 565.º do CT (art.º 167.º da

Lei n.º 98/2009).

Instaurado o processo com base em auto de notícia, participação ou auto de infração

(art.ºs 13.º a 15.º) e concluída a instrução, a autoridade administrativa porá fim ao processo,

arquivando-o (art.º 54.º, n.º 2 RGCO) ou decidindo pela aplicação da coima e eventualmente

sanções acessórias (art.º 25.º).

Além da aplicação da coima, e eventualmente das sanções acessórias, a decisão

condenatória fixará as custas relativas a esta fase administrativa, não havendo lugar a

condenação em taxa de justiça (cfr. art.ºs 59.º e 60.º da Lei e 93.º, n.º 1 do RGCO).

A decisão condenatória em coima é suscetível de impugnação judicial72, através da

qual tem início a fase judicial (art.º 32.º).

A decisão condenatória (definitiva) tem a natureza de título executivo (art.º 26.º),

incumbindo ao Ministério Público promover a respetiva execução (art.º 89.º, n.º 3 RGCO),

agindo em nome próprio e na prossecução de um interesse público que lhe está confiado por

lei.73

72 Podem ser igualmente objeto de impugnação judicial outras decisões, despachos e medidas tomadas pelas autoridades administrativas no decurso do processo de contraordenação, antes da decisão final – cfr. art.º 55.º RGCO. 73 Cfr., entre outros, Acs. TRC de 05 e 12/01/2005 http://www.dgsi.pt/jtrc.nsf/c3fb530030ea1c61802568d9005cd5bb/cf4069fce761c12680256f9c0053c9d2?OpenDocument http://www.dgsi.pt/jtrc.nsf/0/6d412dbe36a7fdb380256f9c00565a4f?OpenDocument

FASE ADMINISTRATIVA

Auto de notícia

Instrução Decisão

Arquivamento (fim) Participação

Auto de infracção Condenação em

coima

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2 - A Fase Judicial

A apresentação da impugnação judicial dá início à fase judicial do processo de

contraordenação.

2.1 A impugnação judicial é:

a) Dirigida ao tribunal (ou juízo) do trabalho em cuja área de jurisdição territorial se

tiver verificado a contraordenação (art.ºs 33.º, n.º 1 e 34.º).

NOTA

Competência material dos tribunais e juízos do trabalho

Os tribunais do trabalho são competentes para julgarem os

recursos das decisões das autoridades administrativas em

processos de contraordenação nos domínios laboral e da

segurança social – art.º 87.º da Lei n.º 3/99, de 3 de Janeiro

Os juízos do trabalho das novas comarcas-piloto são

materialmente competentes para julgarem os recursos das

decisões das autoridades administrativas em processos de

contraordenação nos domínios laboral e da segurança social.

– art.º 119.º da Lei 52/2008, de 28/08.

b) Apresentada na autoridade administrativa que tiver proferido a decisão74, no

prazo de 20 dias a contar da notificação da decisão ao arguido (art.º 33.º), notificação que

se efetua por meio de carta registada, com aviso de receção.

74 Como em processo penal, também em processo contra-ordenacional vale como data da apresentação da impugnação judicial a da efetivação do registo postal da remessa do respetivo requerimento à autoridade administrativa que tiver aplicado a coima - artigos 41.º, n.º 1, do Decreto-Lei n.º 433/82, de 27 de Outubro, 4.º do Código de Processo Penal e 150.º, n.º 1, do Código de Processo Civil e Assento do Supremo Tribunal de Justiça n.º 2/2000, de 7 de Fevereiro – Assento STJ n.º 1/2001 de 8/Março, publicado no DR 93 – Série I-A – de 20/04/2001. [sublinhado nosso]

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120

Data em que o arguido se tem por notificado

Art

igo 8

Hipóteses Data da notificação

Arguido assina AR Data da assinatura do AR

Arguido recusa-se a receber a

carta/notificação

Data da recusa assinalada no

sobrescrito pelo distribuidor

postal Arguido recusa-se a assinar o AR

Terceiro assina AR 3.º dia útil após a assinatura

O advogado ou defensor do arguido deverá ser notificado e o prazo para impugnação

contar-se-á a partir desta notificação (art.º 47.º, n.º 2 RGCO). Por outro lado, havendo várias

pessoas a notificar, o prazo contar-se-á da notificação efetuada em último lugar (art.º 47.º,

n.º 4 RGCO).

Muito embora o prazo atrás referido tenha natureza administrativa (e não judicial, dado

que o processo ainda se encontra na fase administrativa), a sua “contagem” obedece ao

disposto nos artigos 104.º do Código de Processo Penal e 144.º do Código de Processo Civil. Ou

seja, o prazo é contínuo, nunca se suspende nas férias judiciais e se terminar em dia em que

os serviços da entidade administrativa estiverem encerrados (sábado, domingo, feriado ou

tolerância de ponto) o seu termo transfere-se para o primeiro dia útil seguinte (cfr. art.º 6.º

da Lei).

c) Deve conter alegações, conclusões e indicação dos meios de prova (art.º 33.º, n.º

1), podendo ser arroladas até ao máximo de duas testemunhas por cada infração, salvo

quando se tratar de três ou mais infrações a que seja aplicável uma coima única, caso em que

poderão ser arroladas até ao máximo de cinco testemunhas por todas as infracções (art.º 47.º,

n.ºs 3 e 4).

d) Distribuída na espécie 13.ª do artigo 21.º do CPT.75

75 A espécie 12.ª destina-se aos outros processos especiais previstos no Título VI do Livro I do CPT que não se enquadrem nas espécies anteriores.

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121

2.2 Apresentada a impugnação judicial, a autoridade administrativa dispõe de dez dias

para enviá-la ao Ministério Público, acompanhada de alegações, se assim entender, podendo

ainda, até ao envio, revogar, total ou parcialmente a decisão impugnada.

2.3 Recebida a impugnação da autoridade administrativa, o Ministério Público faz

apresentar os autos ao juiz76, com indicação dos elementos de prova (os limites de

testemunhas são iguais aos estabelecidos para o arguido – art.º 47.º, n.ºs 3 e 4), valendo este

ato como acusação, do qual faz parte integrante a decisão impugnada (art.º 37.º).

O Ministério Público pode retirar a acusação, a todo o tempo e até à sentença em

primeira instância ou à decisão final prevista no n.º 2 do artigo 39.º, desde que o faça com o

acordo do arguido e da autoridade administrativa (art.º 41.º).

2.5 Feito o processo concluso, o juiz

rejeita a impugnação por meio de despacho suscetível de recurso

ordinário – art.º 38.º; ou

admite a impugnação e, se não considerar necessária a audiência

de julgamento, decide a questão por meio de despacho se o arguido,

o Ministério Público e o assistente (constituído, como já foi referido,

nos termos do art.º 23.º), não se opuserem. Neste despacho, o juiz

pode ordenar o arquivamento, decretar a absolvição do arguido,

manter ou alterar a condenação decidida na fase administrativa –

art.º 39.º (77).

admite a impugnação e designa data para audiência de

julgamento – art.º 40.º.

Qualquer dos despachos atrás mencionados é suscetível de recurso ordinário a interpor

no prazo de 20 dias, nos termos do artigo 50.º.

Mais adiante, abordaremos a tramitação dos recursos ordinários.

76 Em 21/03/2007, a autoridade administrativa determinou a remessa dos autos ao Ministério Público, os quais deram entrada, na Procuradoria da República de Vila Nova de Famalicão, em 29/03/2007, e no Tribunal da mesma comarca, no dia seguinte, sendo distribuídos, como recurso de impugnação judicial, ao x.º juízo criminal, do Tribunal Judicial de Vila Nova de Famalicão, com o n.º ../07.5TBVNF – extracto do relatório do Ac. TRPorto n.º 6294/07 de 06/02/2008 http://www.trp.pt/jurisprudenciacrime/crime07_6294.html. 77 Se a infração tiver natureza criminal o processo de contraordenação é convertido em processo criminal, implicando essa conversão na interrupção da instância contraordenacional e na consequente instauração de inquérito (cfr. art.º 76.º RGCO).

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122

O despacho de rejeição bem como o que decide liminarmente a questão são:

►Notificados a:

Arguido;

Defensor ou advogado constituído;

Ministério Público78;

Assistente (associação sindical) constituído na fase administrativa, nos termos

previstos no artigo 23.º79;

Advogado do assistente (cfr. art.º 70.º do Cód. Proc. Penal).

►Comunicados à entidade administrativa independentemente do trânsito em julgado

(art.º 45.º, n.º 3).

78 Na sequência da notificação do despacho de arquivamento, absolvição, ou alteração da condenação, o Ministério Público pode solicitar à autoridade administrativa que se pronuncie por escrito, no prazo de cinco dias, no sentido de equacionar a interposição de recurso – art.º 45.º, n.º 2. 79 Pela constituição de assistente na fase administrativa não é devida taxa de justiça, sendo-lhe aplicáveis o disposto nos artigos 69.º e 70.º do Código de Processo Penal.

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Face à remissão feita pelo artigo 60.º da Lei para o n.º 1 do artigo 41.º do RGCO, as

comunicações dos atos e as convocatórias obedecem, nesta fase judicial, à disciplina dos

artigos 111.º e seguintes do Código de Processo Penal80.

Assim, sendo notificados o arguido e o defensor, o prazo para o ato processual

subsequente conta-se da notificação efetuada em último lugar, observando-se a mesma regra

quanto à notificação do assistente (se houver) e do seu advogado (art.º 113.º, n.º 9 CPP).

Taxa de Justiça

Pela impugnação da decisão administrativa condenatória em coima e sanção acessória é

devida taxa de justiça autoliquidada, no montante de 1 UC, somente nos casos em que não

tiver sido “paga” a coima81.

A autoliquidação efetua-se no prazo de 10 dias a contar da notificação82 ao

arguido/impugnante do despacho de admissão ou rejeição (cfr. art.º 38.º e 39.º), podendo o

juiz, a final, agravar a taxa de justiça até 5 UC, com base na tabela III anexa ao RCP,

atendendo à gravidade do ilícito – cfr. art.º 8.º, n.º 7 do RCP.

Não se mostrando paga a taxa de justiça no prazo atrás referido, deverá a secretaria

abrir conclusão ao juiz com tal informação.

Audiência de julgamento

O despacho que designar dia e hora para realização da audiência de julgamento é

notificado ao Ministério Público, ao assistente (se o houver) e mandatário, ao arguido e ao seu

defensor, bem como às testemunhas arroladas pelos sujeitos processuais, notificações estas

que são efetuadas segundo as regras prescritas no Código de Processo Penal83.

Na mesma ocasião, o tribunal comunica à autoridade administrativa a data da audiência

a fim de nela participar, querendo (art.º 45.º, n.º 1).

80 Cfr. textos de apoio de Processo Penal, do Centro de Formação de Funcionários de Justiça. 81 Afigura-se-nos ser devida taxa de justiça nos casos em que o impugnante caucionar o valor da coima e das custas do processo relativas à fase administrativa nos termos previstos nos n.ºs 2 e 3 do art.º 35.º, pois a coima não se encontra efetivamente paga. 82 Nesta notificação deverá ser indicado expressamente ao arguido o prazo e os modos de pagamento da taxa de justiça – n.º 8 do art.º 8.º do RCP. 83 Cfr. textos de apoio deste CFFJ sobre processo penal.

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124

Por via de regra, o arguido só é obrigado a comparecer à audiência se o juiz o

determinar no despacho de marcação da audiência. Ou seja, o regime regra é de não

obrigatoriedade de comparência (art.º 42.º), o que não afasta, em qualquer circunstância, a

imperatividade de notificação do despacho de marcação de julgamento, com a informação

acrescida, no caso de não se encontrar representado por defensor, quanto à possibilidade de

poder fazer-se representar por advogado (art.ºs 42.º, n.º 1 desta Lei e 62.º, n.º 1 do CPP) ou

de requerer a nomeação de defensor ao abrigo do regime de apoio judiciário.

Estando obrigado a comparecer, o arguido ficará sujeito às consequências emergentes

da falta injustificada previstas nos artigos 116.º e 117.º do Código de Processo Penal, sendo

que a sua ausência, sem se fazer representar por advogado, só implica o adiamento da

audiência se o tribunal considerar necessária a sua presença com vista ao apuramento da

verdade material (art.º 68.º, n.º 2 RGCO). Procedendo-se a julgamento, tomar-se-ão em conta

as declarações que houverem sido colhidas na fase administrativa do processo ou, no caso de

ele nunca se ter pronunciado sobre a matéria dos autos, não obstante a possibilidade

oportunamente concedida para o efeito, consignar-se-á o facto em ata (cfr. art.ºs 42 e 43.º).

Do CPP

Artigo 116.º

Falta injustificada de comparecimento

1 - Em caso de falta injustificada de comparecimento de pessoa

regularmente convocada ou notificada, no dia, hora e local

designados, o juiz condena o faltoso ao pagamento de uma soma

entre 2 UC e 10 UC.84

2 - Sem prejuízo do disposto no número anterior, o juiz pode

ordenar, oficiosamente ou a requerimento, a detenção de quem

tiver faltado injustificadamente pelo tempo indispensável à

realização da diligência e, bem assim, condenar o faltoso ao

pagamento das despesas ocasionadas pela sua não comparência,

nomeadamente das relacionadas com notificações, expediente e

deslocação de pessoas. Tratando-se do arguido, pode ainda ser-lhe

84 Valor da UC em 2012 = € 102,00.

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125

aplicada medida de prisão preventiva, se esta for legalmente

admissível.

3 - Se a falta for cometida pelo Ministério Público ou por

advogado constituído ou nomeado no processo, dela é dado

conhecimento, respectivamente, ao superior hierárquico ou à

Ordem dos Advogados.

4 - É correspondentemente aplicável o disposto no n.º 5 do artigo

68.º.

Artigo 117.º

Justificação da falta de comparecimento

1 - Considera-se justificada a falta motivada por facto não

imputável ao faltoso que o impeça de comparecer no acto

processual para que foi convocado ou notificado.

2 - A impossibilidade de comparecimento deve ser comunicada

com cinco dias de antecedência, se for previsível, e no dia e hora

designados para a prática do acto, se for imprevisível. Da

comunicação consta, sob pena de não justificação da falta, a

indicação do respectivo motivo, do local onde o faltoso pode ser

encontrado e da duração previsível do impedimento.

3 - Os elementos de prova da impossibilidade de comparecimento

devem ser apresentados com a comunicação referida no número

anterior, salvo tratando-se de impedimento imprevisível

comunicado no próprio dia e hora, caso em que, por motivo

justificado, podem ser apresentados até ao 3.º dia útil seguinte.

Não podem ser indicadas mais de três testemunhas.

4 - Se for alegada doença, o faltoso apresenta atestado médico

especificando a impossibilidade ou grave inconveniência no

comparecimento e o tempo provável de duração do impedimento.

A autoridade judiciária pode ordenar o comparecimento do

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126

médico que subscreveu o atestado e fazer verificar por outro

médico a veracidade da alegação da doença.

5 - Se for impossível obter atestado médico, é admissível qualquer

outro meio de prova.

6 - Havendo impossibilidade de comparecimento, mas não de

prestação de declarações ou de depoimento, esta realizar-se-á no

dia, hora e local que a autoridade judiciária designar, ouvido o

médico assistente, se necessário.

7 - A falsidade da justificação é punida, consoante os casos, nos

termos dos artigos 260.º e 360.º do Código Penal.

8 - O disposto nos números anteriores no que se refere aos

elementos exigíveis de prova não se aplica aos advogados,

podendo a autoridade judiciária comunicar as faltas injustificadas

ao organismo disciplinar da respectiva Ordem.

O Ministério Público deve estar presente na audiência de julgamento (art.º 44.º).

A comparência da autoridade administrativa é facultativa (art.º 45.º, n.º 1).

Esta fase judicial pode terminar quer por retirada da acusação pelo Ministério Público

(com o acordo do arguido e da autoridade administrativa), quer por retirada da impugnação

judicial pelo arguido, em ambos os casos até à decisão final, com ou sem audiência de

julgamento (sentença ou despacho final previsto no n.º 2 do art.º 39.º), com a particularidade

de a retirada da impugnação judicial pelo arguido carecer do acordo do Ministério Público se

ocorrer após o início da audiência de julgamento (art.ºs 41.º e 46.º).

A audiência de julgamento em 1.ª instância rege-se, com as necessárias adaptações,

pelas disposições adrede do Decreto-Lei n.º 17/91, de 10 de janeiro, subsidiariamente

complementadas pelas correspondentes normas do Código de Processo Penal relativas ao

processo comum (cfr. art.º 13.º, n.º 7 do citado decreto-lei).

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Do Decreto-Lei n.º 17/91, de 10 de Janeiro

Artigo 13.º

Formalidades da audiência

1 - …

2 - …

3 - No início da audiência, o tribunal avisa, sob pena de nulidade,

quem tiver legitimidade para recorrer da sentença de que pode

requerer a documentação dos actos de audiência, a efectuar por

súmula.

4 - Se tiver sido requerida documentação dos actos de audiência, a

acusação e a contestação, quando verbalmente apresentadas, são

registadas na acta.

5 - Finda a produção da prova, a palavra é concedida, por uma só vez,

ao Ministério Público e ao defensor, os quais podem usar dela por um

máximo de 30 minutos, improrrogáveis.

6 - A sentença pode ser proferida verbalmente e ditada para acta.

7 - São subsidiariamente aplicáveis ao julgamento as disposições do

Código de Processo Penal relativas ao julgamento em processo

comum85.

A ata da audiência

Considerando, de forma adaptada, o disposto no artigo 362.º do CPP, a ata 86 da

audiência de julgamento deve conter, nomeadamente, os seguintes elementos:

O lugar, a data e a hora de abertura e de encerramento da audiência e das sessões

que a compuseram;

Os nomes do juiz e do representante do Ministério Público;

A identificação do arguido, defensor, assistente e mandatário;

85 As regras da audiência de julgamento em processo comum são ditadas pelos artigos 321.º e seguintes do Código de Processo Penal. 86 Cfr., a propósito, os artigos 92.º, n.º 1, 94.º, 95.º, 97.º a 101.º e 118.º a 120.º do CPP e o texto de apoio do CFFJ.

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A identificação das testemunhas e de outros intervenientes (eventualmente peritos,

consultores técnicos, intérpretes) e a indicação de todas as provas produzidas e ou

examinadas em audiência;

A decisão de exclusão ou restrição de publicidade, nos termos do art.º 321.º;

Os requerimentos, decisões e quaisquer outras indicações que, por força da lei, dela

devam constar;

A assinatura do juiz e do oficial de justiça que a lavrar.

A sentença

A sentença pode ser proferida verbalmente e ditada para a ata, conforme previsto no

n.º 6 do art.º 13.º do Decreto-Lei n.º 17/91, de 10 de janeiro, considerando-se dela

notificados os sujeitos processuais presentes ou que devessem estar presentes à audiência –

cfr. art.º 372º, n.º 4 do CPP.

A sentença é imediatamente comunicada à autoridade administrativa (se não tiver

estado presente na leitura), independentemente do trânsito em julgado – art.º 45.º, n.º 3).

O arguido ausente considera-se notificado da sentença lida ou ditada na presença do seu

defensor nomeado ou constituído (art.º 373.º, n.º 3). Caso contrário, impõe-se a sua

notificação pessoal (cfr. art.º 50.º, n.º 1 – parte final).

Logo após a leitura, o juiz procede ao depósito da sentença na secretaria e o secretário

de justiça (ou quem legalmente o substituir) subscreve a declaração de depósito, apondo-lhe,

em seguida, a data e a assinatura (legível), entregando cópias gratuitas87 aos sujeitos

processuais que lhas solicitarem - art.º 372.º, n.º 5 do CPP.

Esta declaração é importante porque é a partir do depósito que se inicia a contagem do

prazo para interposição de recurso (art.º 411.º, n.º 1-b)), momento a partir do qual os

sujeitos processuais passam a ter à inteira disposição todos os elementos necessários que lhes

permitam equacionar a eventual interposição de recurso.

87 Ofício-circular n.º 10-DGAJ, de 5/5/2000.

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Recurso ordinário

Para além das situações previstas nos n.ºs 2 e 3 do art.º 49.º da Lei n.º 107/2009, são

admitidos recursos para o Tribunal da Relação quando:

For aplicada ao arguido uma coima superior a 25 UC ou valor equivalente;

A condenação do arguido abranger sanções acessórias;

O arguido for absolvido o processo arquivado em casos em que a autoridade

administrativa competente tenha aplicado uma coima superior a 25 UC ou valor

equivalente, ou em que tal coima tenha sido reclamada pelo Ministério Público;

A impugnação judicial for rejeitada; e

O tribunal tenha decidido por despacho não obstante o recorrente se ter oposto nos

termos do n.º 2 do art.º 39.º.

O recurso segue a tramitação dos recursos interpostos em processo penal88, deve ser

interposto no prazo de 20 dias (art.º 50.º) a contar da sentença ou do despacho (sem

prejuízo da data do depósito com atrás se referiu), ou da sua notificação, caso a decisão

tenha sido proferida na ausência do arguido e do defensor.

Sendo o recurso interposto em audiência por simples declaração em ata, a motivação

deve ser apresentada no prazo de 20 dias a contar da data da interposição – art.º 411.º, n.ºs

2 e 3 do CPP.

Prescrição da coima (art.ºs 55.º/57.º)

A prescrição da coima, que tem por efeito a sua extinção, ocorre cinco anos após o

caráter definitivo da decisão da entidade administrativa ou o trânsito em julgado da decisão

judicial condenatória.

Porém, há que ter em consideração a possibilidade de ocorrer a suspensão ou a

interrupção da prescrição.

Assim, a prescrição da coima suspende-se durante o tempo em que:

88 Sobre a tramitação do recurso ordinário em processo penal, sugere-se a consulta dos textos de apoio do CFFJ.

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- por imperativo legal, a execução da coima não puder começar ou prosseguir;

- a execução da coima estiver interrompida;

- estiver em curso um plano de pagamento em prestações.

Por outro lado, a prescrição da coima interrompe-se com a sua execução.

O prazo de prescrição decorrido até à suspensão da prescrição não é inutilizado, pelo

que, terminado o efeito suspensivo, retoma-se a contagem do prazo anteriormente decorrido.

Pelo contrário, havendo interrupção, o prazo já decorrido é inutilizado, dando lugar à

contagem de um novo prazo.

Resumo:

Revogação Rejeição

Impugnação Envio ao MP Acusação Despacho decisório

Alegações Marcação audiência de julgamento Audiência de julgamento Sentença

Recurso

ordinário

(Relação)

Decisão

final

FASE JUDICIAL

Possibilidade de retirada da impugnação (arguido)

Possibilidade de retirada da acusação (MP)

Regime de custas

Em conformidade com o que dispõe o art.º 59.º da Lei n.º 107/2009, são aplicáveis, com

as devidas adaptações, as disposições do Regulamento das Custas Processuais sempre que

dela não resulte o contrário.

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V – O MINISTÉRIO PÚBLICO NA JURISDIÇÃO LABORAL

O art.º 1.º do Estatuto do Ministério Público (Lei n.º 60/98, de 27 de agosto), com a

epígrafe “Definição”, refere que “O Ministério Público representa o Estado, defende os

interesses que a lei determinar, participa na execução da política criminal definida pelos

órgãos de soberania, exerce a acção penal orientada pelo princípio da legalidade e defende a

legalidade democrática, nos termos da Constituição, do presente Estatuto e da lei.”.

Cabe ao M.ºP.º, a quem se encontra atribuída legitimidade ativa para a propositura das

respetivas ações (art.º 5.º-A do CPT) –, proceder à apreciação fundamentada sobre a

legalidade da constituição da comissão de trabalhadores ou da comissão coordenadora, dos

seus estatutos ou das suas alterações. Para esse efeito, o serviço competente do ministério

responsável pela área laboral, remete ao magistrado do M.ºP.º da área da sede da empresa ou

da sede da comissão coordenadora, no prazo de oito dias posteriores à publicação dos

referidos estatutos ou alterações (art.º 439.º do Código do Trabalho).

Nos mesmos termos, mas dentro do prazo de 30 dias posteriores à publicação e após ter

procedido a uma apreciação fundamentada da legalidade das suas disposições em matéria de

igualdade e não discriminação, caso subsistam dúvidas, a mesma entidade remeterá ao M.ºP.º

junto do tribunal competente para apreciação.

Como se constata, na jurisdição laboral, a intervenção do Ministério Público tem diversas

vertentes.

Talvez seja nesta jurisdição que o Ministério Público tenha a intervenção mais rica e

variada.

Inclusivamente, pode intervir no mesmo processo sucessiva ou até simultaneamente no

desempenho de vários papéis, tais como:

– Representante

– Patrono

– Parte

– Órgão auxiliar de justiça

sem prejuízo da sua intervenção como parte acessória.

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1. O MINISTÉRIO PÚBLICO COMO REPRESENTANTE

Como representante, compete ao Ministério Público, nos termos do art.º 6.º do CPT,

representar o Estado e as demais pessoas e entidades previstas na lei, designadamente as

regiões autónomas e as autarquias locais (vd. art.º 5.º do Estatuto do Ministério Público).

Se qualquer destas pessoas ou entidades tiver necessidade de recorrer a juízo, como

autora, a ação respetiva pode ser proposta, em seu nome, pelo Ministério Público; se, em

qualquer momento, alguma destas entidades for demandada como ré, pode requerer, após a

citação, que o Ministério Público a represente.

Sendo o Ministério Público, como já vimos, um órgão do Estado, terá de ser citado para a

ação logo de início (naturalmente quando o Estado figurar como réu);

Sendo réu não o Estado, mas qualquer outra pessoa coletiva, a citação desta terá de ser

feita originariamente, não na pessoa do Ministério Público, mas na do representante legal

daquela. Compete-lhe depois, a ela, como titular do direito de ação, constituir advogado ou

requerer a intervenção do Ministério Público.

Em qualquer das situações previstas no art.º 6.º do CPT, o agente do Ministério Público

(competente para assegurar a representação) será aquele que estiver a exercer funções junto

do tribunal que for territorialmente competente para a ação.

A representação (do Ministério Público) cessa logo que seja constituído mandatário

judicial, passando então aquele magistrado a intervir como parte acessória, nos termos do

art.º 9.º do CPT.

2. O MINISTÉRIO PÚBLICO COMO PATRONO

Nos termos do art.º 7.º do CPT, o Ministério Público, sem prejuízo do regime de acesso ao

direito e aos tribunais, quando a lei o determine ou as partes o solicitem, exerce o patrocínio:

a) Dos trabalhadores e seus familiares;

b) Dos hospitais e das instituições de assistência, nas ações referidas na alínea d) do art.º

118.º da Lei n.º 52/2008, de 28/08 (Nova Lei de Organização e Funcionamento do

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Tribunais Judiciais), e correspondentes execuções, desde que não possuam serviços de

contencioso;

c) Das pessoas que, por determinação do tribunal, houverem prestado os serviços ou

efetuado os fornecimentos a que se refere a alínea d) do art.º 118.º da Lei n.º 52/2008.

Tanto nas ações declarativas, com processo comum, emergentes de contrato individual de

trabalho, como na fase contenciosa das ações declarativas, com processo especial,

emergentes de acidente de trabalho ou de doença profissional (art.º 119.º, n.º 1 do CPT) –

compete ao Ministério Público assumir o patrocínio do sinistrado, do doente ou seus

beneficiários legais.

Ao direito amplo de patrocínio que o art.º 7.º do CPT consagra, opõe o art.º 8.º uma

restrição: o Ministério Público nuns casos deve e, noutros, pode recusar o patrocínio.

• Deve recusar o patrocínio, quando considerar as pretensões infundadas ou

manifestamente injustas;

• Pode recusar o patrocínio quando constate que o autor tem a possibilidade de se

socorrer dos serviços do contencioso da associação sindical que o represente.

Por um lado, é vedado ao Ministério Público patrocinar pretensões que saiba contrárias ao

direito ou carecidas de razão; por outro lado, sempre que o trabalhador tenha a possibilidade

de fazer intervir os serviços do contencioso da associação sindical que o represente, não se

justificaria a obrigatoriedade da intervenção do Ministério Público que, aliás, se processaria

com prejuízo de outras funções que lhe estão cometidas.

Assim, a intervenção do Ministério Público a favor do trabalhador somente se compreende

e se justifica nos casos em que este se encontre em risco efetivo de não poder fazer valer o

seu direito em juízo, ou de apenas o poder fazer valer de forma deficiente.

Se, por exemplo, um trabalhador não está sindicalizado – porque nunca se inscreveu num

sindicato ou porque dele se retirou – e pretende recorrer a juízo ou em juízo se encontra já,

assiste-lhe o direito, nos termos do art.º 7.º do CPT, de ver a sua pretensão patrocinada pelo

Ministério Público.

No caso de recusar o seu patrocínio, deve o Ministério Público notificar imediatamente o

interessado dessa decisão, da qual devem constar os fundamentos que a determinaram.

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O interessado que não se conforme com essa decisão, poderá reclamar, no prazo de 15

dias, para o superior hierárquico do magistrado do Ministério Público que a proferiu, tendo-se

em atenção que, entre a notificação do despacho que recusou o patrocínio e a notificação da

decisão que incidir sobre a reclamação, os prazos de propositura da ação e de prescrição se

suspendem (art.º 8.º, nºs 2 e 3 do CPT).

Tal como vimos anteriormente, também o patrocínio oficioso do Ministério Público cessa

logo que seja constituído mandatário judicial, sem prejuízo da intervenção acessória devida,

nos termos do art.º 9.º do CPT.

3. O MINISTÉRIO PÚBLICO COMO “PARTE”

O Ministério Público atua como “parte” na prossecução judiciária de certos interesses

públicos (v.g. legalidade, constitucionalidade, efetivação das decisões dos tribunais, custas,

etc.).

Diz-se que atua como “parte” porque a sua alusçãi8tuação na prossecução desses

interesses é em nome próprio e não em representação do Estado ou de qualquer outra

entidade.

Nas execuções por custas, por coima e, eventualmente na execução de sentença

condenatória em quantia certa, em processo laboral (art.º 90.º, n.º 2 do CPT) – o Ministério

Público atua como “parte”, ou seja, tal como se fosse o verdadeiro exequente.

Nesta última, no entanto, tal qualidade só lhe advirá apenas se estiverem em causa

direitos irrenunciáveis. É que, neste caso, além dos interesses do trabalhador, estão também

envolvidos interesses de natureza e ordem pública, cabendo, parece-nos, ao Ministério

Público assegurar a sua defesa.

Ambas as execuções têm curso oficioso, competindo ao Ministério Público e/ou ao tribunal

a iniciativa oficiosa e o impulso processual.

Na execução de sentença prevista e regulada no art.ºs 89.º e seguintes do CPT, o Ministério

Público, caso assim entenda, só assumirá o impulso processual (atuando em nome próprio e

no interesse do trabalhador) se, tratando-se de direitos irrenunciáveis, este ficar “quedo e

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mudo” a seguir aos 30 dias a contar do trânsito em julgado da sentença de condenação em

quantia certa.

Se o trabalhador, pelo contrário, instaurar ele próprio a execução e lhe der o devido

impulso até final, o Ministério Público limitar-se-á a fiscalizar a legalidade dos atos,

funcionando neste caso como parte acessória.

4. O MINISTÉRIO PÚBLICO COMO ÓRGÃO AUXILIAR DE JUSTIÇA

O Ministério Público intervém em várias situações, não como patrono, “parte” ou

representante, mas como órgão de justiça em sentido estrito.

Na jurisdição laboral, nos processos especiais emergentes de acidente de trabalho, na fase

conciliatória, cabe ao Ministério Público a administração direta da justiça, embora sem

poderes jurisdicionais (v.g. não pode homologar o acordo, aplicar multas às partes ou a

qualquer outro interveniente no processo nem proferir despachos que ponham termo à ação).

Aqueles processos, como já vimos, iniciam-se por uma fase conciliatória, dirigida pelo

Ministério Público (art.º 99.º, n.º1 do CPT).

Com esta fase processual, como o próprio nome indica, pretende-se tão-somente uma

composição amigável da lide mediante a definição, por acordo, dos direitos e obrigações que

a cada uma das partes assiste. Daí que se aceite que o juiz se mantenha alheio a esta fase

processual.

Assim, na fase conciliatória, o Ministério Público atua, administrando diretamente a

justiça, como se fosse juiz.

Porém, se se frustrar a conciliação, logo que a ação entre na fase contenciosa, ao juiz

caberá a orientação e direção ulterior do processo.

É que, então, já não se trata apenas de conciliar, mas de julgar.

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5. O MINISTÉRIO PÚBLICO COMO PARTE ACESSÓRIA

O Ministério Público intervém nos processos acessoriamente nas situações referidas no n.º 4

do art.º 5.º do Estatuto do Ministério Público.

Refere o art.º 6.º, n.º 1, daquele Estatuto que, “quando intervém acessoriamente, o

Ministério Público zela pelos interesses que lhe estão confiados, promovendo o que tiver por

conveniente”.

Segundo o n.º 2 da mesma disposição legal “os termos da intervenção são os previstos na

lei de processo” (v.g. art.ºs 9.º do CPT, 200.º e 334.º do CPC).

Cabe ao Ministério Público, nos processos de natureza laboral, mesmo naqueles em que

não intervém como representante ou como patrono, fiscalizar a legalidade e assegurar a

defesa dos interesses de natureza e ordem públicas, intervindo, nessas situações, como parte

acessória.

Neste sentido também, veja-se o art.º 334.º do CPC que, no seu n.º 3, diz expressamente

que “o Ministério Público é notificado para todos os atos e diligências, bem como de todas as

decisões proferidas no processo, nos mesmos termos em que o devam ser as partes na causa,

tendo legitimidade para recorrer quando o considere necessário à defesa do interesse público

ou dos interesses da parte assistida”.

6. CONFLITOS DE REPRESENTAÇÃO E CASOS DE MERA CONFLUÊNCIA DE PAPÉIS DO

MINISTÉRIO PÚBLICO

Verificam-se, com alguma frequência, situações de verdadeiro conflito de interesses, em

que ao Ministério Público cabe, em princípio, assumir ambos os interesses processualmente

em confronto.

Cita-se, como exemplo, o caso em que o Ministério Público, nos termos do art.º 7.º do CPT,

deva patrocinar um trabalhador, autor num processo e no qual, simultaneamente, o próprio

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Estado figura como réu – cabe também ao Ministério Público a representação deste, nos

termos do art.º 6.º do CPT.

Nesta situação, aplicar-se-á o disposto no art.º 69.º do Estatuto do Ministério Público, ou

seja, solicita-se à Ordem dos Advogados a indicação de um advogado que será nomeado, pelo

juiz, defensor oficioso do trabalhador.

Diferentemente, pode verificar-se no mesmo processo, ou em certo ato processual, uma

confluência (ou cumulação) de vários papéis a serem, em princípio, assumidos pelo Ministério

Público, sem que a relação entre esses papéis seja identificável com a oposição de interesses

que caracteriza um litígio.

Nestas situações, há lugar à aplicação do disposto no art.º 65.º do Estatuto do Ministério

Público, ou seja, cabe ao substituto do magistrado do Ministério Público assumir a

representação do Estado, da instituição de previdência ou do próprio trabalhador

impossibilitado de comparecer.

Por exemplo, quando uma entidade que o Ministério Público deva representar, nos termos

do art.º 6.º do CPT, for parte interessada num processo especial emergente de acidente de

trabalho, na fase conciliatória, (dirigida pelo Ministério Público), deve chamar-se o substituto

legal deste para representar aquela entidade.

O mesmo sucederá no caso previsto no n.º 3 do art.º 108.º do CPT, quando o sinistrado

estiver ausente em parte incerta ou em casos justificados de manifesta dificuldade de

comparência à tentativa de conciliação.

Aquele sinistrado será então representado pelo substituto legal do magistrado do Ministério

Público que preside à diligência.

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Índice

INDICE DE REVISÕES ................................................................................................ 2

NOTA INTRODUTÓRIA .............................................................................................. 2

1. OBJETIVOS ........................................................................................................ 4

2. O NOVO CÓDIGO DE PROCESSO DO TRABALHO ............................................................. 4

3. PRINCÍPIOS GERAIS DO PROCESSO DO TRABALHO .......................................................... 4

4. DISPOSIÇÕES FUNDAMENTAIS .................................................................................. 6

4.1. ÂMBITO E INTEGRAÇÃO DO CÓDIGO DE PROCESSO DO TRABALHO ................................... 6

II – DO PROCESSO CIVIL .................................................................................................. 7

1. REPRESENTAÇÃO E PATROCÍNIO JUDICIÁRIO PELO MINISTÉRIO PÚBLICO ........................... 7

2. A COMPETÊNCIA ............................................................................................... 7

3. CITAÇÕES E NOTIFICAÇÕES .................................................................................... 9

A. PROCEDIMENTOS CAUTELARES .................................................................................. 13

1. PROCEDIMENTOS CAUTELARES COMUNS .................................................................... 13

2. PROCEDIMENTOS CAUTELARES ESPECIFICADOS ............................................................ 15

B. ESPÉCIES E FORMAS DE PROCESSO ............................................................................. 21

I – PROCESSO DE DECLARAÇÃO ..................................................................................... 23

1. QUESTÕES EMERGENTES DE VISSICITUDES CONTRATUAIS ............................................... 23

II – PROCESSO DE EXECUÇÃO ........................................................................................ 52

1. TÍTULO EXECUTIVO ............................................................................................. 52

1.1. EXECUÇÃO BASEADA EM SENTENÇA DE CONDENAÇÃO EM QUANTIA CERTA ................... 53

1. ACÇÃO DE IMPUGNAÇÃO JUDICIAL DA REGULARIDADE E LICITUDE DO DESPEDIMENTO .......... 59

2. PROCESSOS EMERGENTES DE ACIDENTE DE TRABALHO E DE DOENÇA PROFISSIONAL ............ 68

3. PROCESSO PARA A EFECTIVAÇÃO DE DIREITOS RESULTANTES DE DOENÇA PROFISSIONAL ....... 102

4. INCIDENTES TÍPICOS DO PROCESSO DE ACIDENTE DE TRABALHO ...................................... 103

5. OUTROS PROCESSOS ESPECIAIS .............................................................................. 111

1. O MINISTÉRIO PÚBLICO COMO REPRESENTANTE .......................................................... 132

2. O MINISTÉRIO PÚBLICO COMO PATRONO .................................................................. 132

3. O MINISTÉRIO PÚBLICO COMO “PARTE” ................................................................... 134

4. O MINISTÉRIO PÚBLICO COMO ÓRGÃO AUXILIAR DE JUSTIÇA .......................................... 135

5. O MINISTÉRIO PÚBLICO COMO PARTE ACESSÓRIA ........................................................ 136

6. CONFLITOS DE REPRESENTAÇÃO E CASOS DE MERA CONFLUÊNCIA DE PAPÉIS DO MINISTÉRIO

PÚBLICO ............................................................................................................ 136

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Direção-Geral da Administração da Justiça

Centro de Formação dos Funcionários de Justiça

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Coleção “Textos de Apoio”

Autor:

Centro de Formação de Funcionários de Justiça

Titulo:

Manual Prático para Oficiais de Justiça – Processo do Trabalho

Coordenação técnico-pedagógica:

José Cabido

Coleção pedagógica:

Centro de Formação de Funcionários de Justiça

1.ª edição

Junho de 2012