Manual Roedores

Embed Size (px)

Citation preview

FUNASA

VIGILNCIA EPIDEMIOLGICA

Manual de Controle de Roedores

Presidente da Repblica Fernando Henrique Cardoso Ministro da Sade Barjas Negri Presidente da Fundao Nacional de Sade Mauro Ricardo Machado Costa Diretor-Executivo George Hermann Rodolfo Tormin Diretor do Centro Nacional de Epidemiologia Jarbas Barbosa da Silva Jnior Diretor do Departamento de Sade Indgena Ubiratan Pedrosa Moreira Diretor do Departamento de Engenharia de Sade Pblica Sadi Coutinho Filho Diretor do Departamento de Administrao Celso Tadeu de Azevedo Silveira Diretor do Departamento de Planejamento e Desenvolvimento Institucional Antnio Leopoldo Frota Magalhes

Manual de Controle de Roedores

Braslia, dezembro de 2002

2002. Ministrio da Sade. Fundao Nacional de Sade permitida a reproduo parcial ou total desta obra, desde que citada a fonte.

Editor: Assessoria de Comunicao e Educao em Sade/Ascom/FUNASA Ncleo de Editorao e Mdias de Rede Setor de Autarquias Sul, Quadra 4, Bl. N, Sala 517 70.070-040 Braslia/DF

Distribuio e Informao: Centro Nacional de Epidemiologia Coordenao-geral de vigilncia epidemiolgica Coordenao de vigilncia das doenas transmitidas por vetores e antropozoonoses SAS - Quadra 4 - Bloco N - 7 Andar - Sala 709 Telefone: 0xx (61) 226-9075 - 3146332 70.070-040 - Braslia/DF.

Tiragem: 10.000 exemplares Impresso no Brasil/Printed in Brazil

Brasil. Fundao Nacional de Sade. Manual de controle de roedores. - Braslia: Ministrio da Sade, Fundao Nacional de Sade, 2002. 132p.: il. 1. Roedores - preveno e controle. 2. Vigilncia epidemiolgica. 3 zoonose. I. Ttulo.

Apresentao

A presena do roedor em reas urbanas e rurais gera agravos econmicos e sanitrios de relevncia ao homem. O roedor participa da cadeia epidemiolgica de pelo menos trinta doenas transmitidas ao homem. Leptospirose, peste e as hantaviroses so doenas de importncia epidemiolgica no Brasil por eles transmitidas. Ocorrem, em mdia, cerca de 3.200 casos de Leptospirose humana no pas anualmente, com letalidade em torno de 12%. J os casos de Sndrome Pulmonar por Hantavrus vm ocorrendo no pas desde 1993, com alta letalidade tendo o roedor silvestre como reservatrio. O Centro Nacional de Epidemiologia (Cenepi) da Fundao Nacional de Sade (FUNASA) disponibiliza este Manual de Controle de Roedores aos profissionais e tcnicos que atuam na vigilncia epidemiolgica e ambiental de doenas transmitidas por roedores, especialmente dos Centros de Controle de Zoonoses, visando fornecer subsdios para o planejamento, a operacionalizao e avaliao de programas de controle de roedores nos municpios brasileiros. A importncia da participao e o envolvimento da populao pela educao em sade tambm so abordados neste manual, alm de oferecer noes de manejo ambiental para a efetividade das aes propostas.

IntroduoHistoricamente, a fixao do homem terra, gerando excedentes alimentares a partir do advento da agricultura, e o desenvolvimento dos povoados, cidades at as megalpoles, criaram condies ideais ligao comensal dos roedores com o homem, originando um processo de sinantropia1. Esta sinantropia dos roedores e a precariedade dos processos de urbanizao, com problemas crescentes de disposio de resduos slidos, drenagem adequada de guas pluviais e de construo e tratamento de esgotos, exigem a integrao das aes da municipalidade e da comunidade como mecanismo bsico para a implantao de um programa de controle de roedores capaz de resultados consistentes. Um manual de controle de roedores deve basear-se na constatao simples e objetiva de que a proliferao destes animais ocorre porque o homem, e a sociedade como est organizada, fornecem, de forma abundante, o que os roedores necessitam para sobreviver: alimento, gua e abrigo proporcionando conseqentemente, um desequilbrio populacional destes animais gerando prejuzos econmicos e a transmisso de graves doenas ao homem e aos animais domsticos ou de criao.Foto 1 - Ambiente propcio instalao de roedores, com gua, abrigo e alimentos disponveis

Foto cedida por Nyrad Menzen.

A populao deve ser a principal parceira em um programa de controle de roedores. Dever receber, portanto, de forma organizada e continuada, as informaes sobre procedimentos e atitudes que inviabilizem a livre proliferao de roedores em seus domiclios e peridomiclios e dos resultados obtidos pelo programa. A forma mais inadequada e onerosa de combater roedores a realizao de campanhas de desratizao em perodos crticos, s pela aplicao de raticidas. A determinao da rea de controle dever privilegiar sempre a implantao do sistema como um todo, evitando a pulverizao de recursos que impedir a consolidao dos resultados a serem alcanados. As aes estratgicas para o controle de roedores podem envolver: a) A comunidade, a populao, as instituies governamentais e particulares que atuam direta ou indiretamente na rea de zoonoses e meio ambiente, devem participar desde o incio do processo de implantao, execuo at a avaliao das aes de controle de roedores. b) A sociedade civil organizada - diversos problemas sanitrios ultrapassam a esfera de ao do setor sade, demandando aes entre o setor sade e outros setores do governo (hospitais, laboratrios, centros de vigilncia epidemiolgica, secretarias de sade, centros de zoonoses, IBGE), entidades privadas, sociedades organizadas (sindicatos, associaes, conselhos, igrejas, movimentos da sociedade civil, ONGs), prefeituras, secretaria de obras do municpio ou regio, urbanismo, planejamento ou similares, autoridades que detm o poder decisrio nas organizaes ou capacidade de influir nas decises, alm dos mais diversos segmentos da sociedade, que atuam direta ou indiretamente na rea de zoonoses e meio ambiente na busca de melhores condies ambientais, de sade e vida.1. Sinantropia - relao homem/animal.

c) Os meios de comunicao - imprescindvel identificar e buscar as fontes oficiais e no oficiais de informao e divulgao. A produo e a disponibilizao dos conhecimentos, a criao de um canal de acesso das informaes de forma simplificada para serem assimiladas e apropriadas, tanto pelos que lideram as polticas pblicas como pela populao, tm enorme importncia para que possam agir no sentido da reduo dos riscos de adoecer, na boa gesto ambiental e na formao da conscincia pblica. necessrio, ento, estabelecer um programa permanente de controle de roedores a partir de um diagnstico da ocorrncia de doenas, prejuzos econmicos e incmodos na rea geogrfica considerada. A organizao do programa dever basear-se nas caractersticas da rea-alvo e no levantamento correto de dados, que permitiro definir a metodologia mais adequada para sua implantao em carter permanente. Representa, pois, um grande desafio para a administrao do controle de roedores, a busca das parcerias relevantes, considerando que diversos problemas sanitrios ultrapassam a esfera de ao do setor sade. Esta parceria de fundamental importncia na escolha da rea, no diagnstico, no controle de roedores, na educao em sade e ambiental, na execuo de medidas de combate, nos instrumentos de avaliao. Estes serviro como prognstico e embasamento para o poder pblico investir na reduo sistemtica dos ndices de infestao murina e, conseqentemente, dos prejuzos gerados pelo roedor. Os profissionais precisam estar capacitados para identificar o problema, definir e redefinir necessidades, adaptar estratgias locais, realizar um planejamento participativo, levando em conta as diferenas em seus sistemas locais, culturais, econmicos, e desta forma, selecionando tecnologias pertinentes, avaliando o processo e os efeitos das intervenes planejadas. As aes que visam a proteger a populao eliminando os roedores das reas identificadas devem ser o alvo para a educao em sade, pela utilizao de uma metodologia que vise a participao, a reflexo, o debate para a autotransformao das pessoas, voltadas para a conquista, o compromisso e a manuteno do direito ao ambiente ecologicamente equilibrado. Desta forma, o presente manual dispe de informaes tcnicas visando uniformizao de aes, atendendo demanda dos profissionais que atuem em controle de roedores, a fim de que realizem aes eficazes, diminuindo, assim, o risco de transmisso de zoonoses ao homem por roedores.

SumrioCaptulo 1 - Biologia e comportamento de roedores sinantrpicos .............................. 11 1.1. Classificao dos roedores .............................................................................. 11 1.1.1. Classificao quanto espcie ............................................................. 12 1.1.2. Classificao quanto ao grupo etrio .................................................... 14 1.1.3. Classificao quanto aos tipos de vida .................................................. 15 1.2. Roedores Sinantrpicos comensais .................................................................. 17 1.2.1. Ratazana - Rattus norvegicus ................................................................. 17 1.2.2. Rato de telhado - Rattus rattus .............................................................. 18 1.2.3. Camundongo - Mus musculus ............................................................... 19 1.3. Roedores Sinantrpicos no comensais (silvestres) .......................................... 22 1.3.1. Comportamento e principais caractersticas dos roedores sinantrpicos no comensais mais comuns no Brasil ............................. 22 1.3.1.1. Akodon spp ........................................................................... 23 1.3.1.2. Bolomys spp .......................................................................... 24 1.3.1.3. Calomys spp .......................................................................... 25 1.3.1.4. Cavia spp .............................................................................. 26 1.3.1.5. Delomys spp.......................................................................... 27 1.3.1.6. Echimys spp .......................................................................... 28 1.3.1.7. Euryzygomatomys spp ........................................................... 29 1.3.1.8. Galea spp ............................................................................. 29 1.3.1.9. Holochilus spp ....................................................................... 30 1.3.1.10. Juliomys spp .......................................................................... 31 1.3.1.11. Kerodon spp .......................................................................... 32 1.3.1.12. Nectomys spp ........................................................................ 33 1.3.1.13. Oligoryzomys spp .................................................................. 34 1.3.1.14. Oryzomys spp ....................................................................... 35 1.3.1.15. Oxymycterus spp ................................................................... 36 1.3.1.16. Proechimys spp ..................................................................... 37 1.3.1.17. Rhipidomys spp ..................................................................... 37 1.3.1.18. Thaptomys spp ...................................................................... 38 1.3.1.19. Trichomys spp ........................................................................ 39 1.3.1.20. Trinomys spp ......................................................................... 40 1.3.1.21. Wiedomys spp ....................................................................... 41 1.3.1.22. Wilfredomys spp .................................................................... 42 Captulo 2 - Diagnstico de situao do problema roedor ............................................ 49 2.1. Como diagnosticar o problema roedor ............................................................. 49 2.2. Identificao e caracterizao do municpio ...................................................... 49 2.3. Levantamento dos problemas causados por roedores populao e economia do municpio .............................................................................. 49 2.3.1. Denncias da populao/meios de comunicao .................................... 50 2.3.2. Ocorrncia de leptospirose e outros agravos sade causados por roedores .......................................................................... 50 2.3.3. Ocorrncia de prejuzos econmicos ...................................................... 50 2.4. Levantamento do ndice de infestao predial - busca ativa .............................. 52 2.4.1. Definio da rea ................................................................................. 52 2.4.2. Metodologia de amostragem para o levantamento de ndice .................. 52 2.4.3. Como selecionar uma amostra aleatria utilizando-se uma tabela de nmeros aleatrios ........................................................ 53

2.5. Inspeo ......................................................................................................... 55 2.6. Organizao e apresentao dos dados levantados.......................................... 55 2.6.1. Diagnstico da situao de roedores na rea ......................................... 55 2.6.2. Discusso e concluso ........................................................................... 55 2.6.3. Indicao de solues ........................................................................... 55 2.7. A quem apresentar o relatrio ......................................................................... 56 Captulo 3.Elaborao de um programa de controle de roedores ................................ 57 3.1. Como elaborar um programa .......................................................................... 57 3.2. Caracterizao da rea.................................................................................... 58 3.2.1. Dados demogrficos ............................................................................. 58 3.2.2. Dados geogrficos e pluviomtricos ...................................................... 58 3.2.3. Condies socioeconmicas, saneamento e habitao .......................... 59 3.2.4. Levantamento de dados de agravos transmitidos pelos roedores.......... 60 3.3. Recursos humanos .......................................................................................... 61 3.3.1. Gerencial ............................................................................................. 61 3.3.2. Operacional ......................................................................................... 61 3.4. Recursos Materiais .......................................................................................... 62 3.4.1. Locomoo ........................................................................................... 62 3.4.2. Uniformes ............................................................................................ 62 3.4.3. Equipamentos/utenslios ....................................................................... 63 3.4.4. Raticidas ............................................................................................... 64 3.4.5. Espao fsico ......................................................................................... 64 3.5. Metodologia ................................................................................................... 64 3.6. Monitoramento e avaliao ............................................................................ 65 3.6.1. Censo por consumo .............................................................................. 65 3.6.2. Avaliao por contagem de tocas.......................................................... 66 3.6.3. Levantamento do ndice de infestao de reas controladas ................. 66 Captulo 4. Metodologia de controle ........................................................................... 67 4.1. Manejo Integrado de roedores urbanos .......................................................... 67 4.1.1. Inspeo ............................................................................................... 68 4.1.2. Identificao ......................................................................................... 68 4.1.3. Medidas preventivas e corretivas (anti-ratizao) .................................. 69 4.1.4. Desratizao ........................................................................................ 73 4.1.5. Avaliao e monitoramento .................................................................. 73 4.2. O efeito bumerangue ..................................................................................... 73 4.3. Tcnicas de controle........................................................................................ 76 4.3.1. Mtodos mecnicos e fsicos ................................................................. 76 4.3.1.1. Armadilhas ........................................................................... 76 4.3.1.2. Ultra-som ............................................................................. 78 4.3.1.3. Aparelhos eletromagnticos .................................................. 78 4.3.2. Controle biolgico ................................................................................ 78 4.3.3. Controle qumico (raticidas) .................................................................. 79 4.3.3.1. Raticidas agudos ................................................................... 79 4.3.3.2. Raticidas crnicos .................................................................. 80 4.3.3.3. Formulaes ......................................................................... 82 4.3.3.4. Equipamentos ....................................................................... 84 4.3.3.5. Tcnicas de aplicao dos raticidas ....................................... 85 4.4. A resistncia ................................................................................................... 86 4.5. Medidas de segurana no uso de raticidas ...................................................... 87 4.5.1. Sobre o meio ambiente ........................................................................ 87

4.5.2. Sobre os operadores ............................................................................. 87 4.6. Toxicidade dos raticidas anticoagulantes ......................................................... 88 4.7. Legislao ...................................................................................................... 89 Captulo 5. A operacionalizao do programa ............................................................ 91 5.1. Estratgias de trabalho .................................................................................... 91 5.1.1. Atendimento de denncias ................................................................... 91 5.1.2. reas de risco ....................................................................................... 92 5.1.3. Controle permanente ........................................................................... 93 5.2. Diviso da rea do programa de controle ....................................................... 93 5.3. Cadastramento ............................................................................................... 94 5.4. Operaes de campo ...................................................................................... 94 5.4.1. Medidas preventivas ............................................................................. 95 5.4.2. Tratamento ........................................................................................... 100 5.4.3. Avaliao ............................................................................................. 100 Captulo 6. Treinamento para pessoal de campo ......................................................... 101 6.1. Parte terica .................................................................................................... 101 6.1.1. Noes bsicas sobre biologia e comportamento de roedores ............... 101 6.1.2. Noes sobre medidas preventivas ....................................................... 101 6.1.3. Etapas para a implantao de um programa de controle na comunidade .................................................................. 102 6.1.4. Aes educativas .................................................................................. 103 6.1.5. Medidas de controle ambiental ............................................................. 103 6.2. Parte prtica ................................................................................................... 104 6.2.1. Treinamento do pessoal junto populao ........................................... 104 6.2.2. Treinamento do pessoal para inspeo e cadastramento ....................... 104 6.2.3. Levantamento de dados ........................................................................ 104 6.2.4. Tratamento qumico das reas afetadas ................................................ 108 6.2.5. Biossegurana ...................................................................................... 108 Anexos 1 - Tabela de nmeros aleatrios ................................................................................ 109 2 - Fichas de atividade de controle de roedores .......................................................... 116 3 - Medidas preventivas no controle de roedores ........................................................ 121 Referncias Bibliogrficas ........................................................................................... 125

Captulo 1 Biologia e comportamento de roedores sinantrpicos1.1. Classificao dos roedoresOs roedores pertencem ordem Rodentia, cujo nome deriva da palavra latina rodere que significa roer. A principal caracterstica que os une a presena de dentes incisivos proeminentes que crescem continuamente.Foto 2 - Dentes incisivos de crescimento contnuo de roedor

Fonte: Centro Mdico Nacional Audiovisual do Servio de Sade Pblica dos EUA e OPAS.

Existem cerca de 2.000 espcies de roedores no mundo, representando ao redor de 40% de todas as espcies de mamferos existentes. Os roedores vivem em qualquer ambiente terrestre que lhes d condies de sobrevivncia. Apresentam extraordinria variedade de adaptao ecolgica, suportando os climas mais frios e os mais trridos, nas regies de maior revestimento florstico e nas mais estreis; suportam grandes altitudes e em cada regio podem mostrar um grande nmero de adaptaes fisiolgicas. Algumas espcies so consideradas sinantrpicas por associarem-se ao homem em virtude de terem seus ambientes prejudicados pela ao do prprio homem. Neste manual as diversas espcies de roedores esto separadas em Roedores Sinantrpicos Comensais, isto , aqueles que dependem unicamente do ambiente do homem e Sinantrpicos no Comensais ou Silvestres, ainda no inteiramente dependentes do ambiente antrpico2 .2. Ambiente antrpico - ambiente modificado pelo homem.

FUNASA - dezembro/2002 - pg. 11

No meio urbano e rural com atividades econmicas predominam as espcies sinantrpicas comensais e algumas espcies silvestres que podem, ocasionalmente, invadir as habitaes humanas. Os roedores so classificados quanto espcie, sexo (macho ou fmea), grupo etrio e modos de vida. 1.1.1. Classificao quanto espcie Esta classificao se baseia nas caractersticas morfolgicas externas e na dentio, alm de tcnicas bioqumicas e mais recentemente tm sido desenvolvidas tcnicas de DNA , pela Reao da Polimerase em Cadeia (PCR). Para se identificar um roedor deve-se observar o seguinte: Dentio: os roedores no possuem dentes caninos, ficando um espao entre os incisivos e molares denominado distema3. Os incisivos no tm razes e esto sempre crescendo a partir de uma polpa persistente. Os incisivos tm esmalte apenas na superfcie anterior e s a dentina, mais mole, na parte posterior, que se desgasta mais rapidamente conferindo a estes dentes a forma peculiar de bisel, que favorece o hbito de roer.Foto 3 - Crnio de Rattus norvegicus visto de cima e lateral mostrando dentio

Foto cedida por Alzira Almeida.

A dentio ou o conjunto dos dentes dos roedores, pode ser representada pela seguinte frmula dentria que indica o nmero e o tipo de todos os dentes dos maxilares superior e inferior:

I: 1/1, C: 0/0, P: 2/1, M: 3/3 x 2 = 22 dentes permanentes. I: incisivo: C: canino; P: pr-molar; M: molar

Pelo exame da composio da frmula dentria pode-se verificar se o animal pertence, ou no, ordem dos roedores. Caso afirmativo, determina-se a subordem a que pertence, e por certos detalhes dos dentes pode-se chegar determinao da famlia e dos gneros.3. Distema - espao entre os dentes incisivos e molares.

FUNASA - dezembro/2002 - pg. 12

Crnio: a estrutura dos ossos do crnio difere entre os diversos gneros, de maneira que a sua observao constitui o meio mais efetivo para determinao do gnero a que pertence o roedor. Para isso necessrio preparar o crnio de maneira adequada, o que implica previamente na morte do animal. Cauda: a presena ou ausncia da cauda permite distinguir entre as famlias de uma subordem, e o comprimento e o seu aspecto (cnica ou afilada, pilosa ou nua, anis visveis ou no, distribuio dos plos quando presentes, tipo e colorao dos plos) ajudam a distinguir os diferentes gneros e/ou at as espcies. Patas: o comprimento das patas em relao ao tamanho do animal, a presena ou ausncia de plos, o tipo e a distribuio dos plos quando presentes, a presena ou ausncia de membranas interdigitais, nmero de calos e cor das patas, constituem detalhes que ajudam a reconhecer o gnero a que pertence o animal.Foto 4 - Mensurao de p posterior

Foto cedida por Alzira de Almeida.

Unhas: a presena ou ausncia das unhas, seu comprimento e forma tambm servem para reconhecer os gneros. Orelhas: o comprimento das orelhas e a presena ou ausncia de plos, tambm constituem caractersticas de certos gneros.Foto 5 - Mensurao de orelha interna

Foto cedida por Alzira de Almeida.

FUNASA - dezembro/2002 - pg. 13

Plos: a pelagem do animal uma importante caracterstica que ajuda a reconhecer a espcie, dependendo dos seguintes aspectos: Tipo de plo: macio, spero, duro-espinhoso Comprimento dos plos: longos, curtos Cor dos plos: em relao cor da pelagem, devem ser observadas as diferenas de colorao entre as partes do corpo do animal. A colorao dos plos pode ser uniforme por todo o corpo ou contrastante entre a parte dorsal e ventral e pode apresentar gradaes que resultam na formao de manchas ou listras de localizao especiais. Medidas externas: comumente costuma-se tomar as seguintes medidas: comprimento da cabea e do corpo, comprimento da cauda, comprimento da orelha (parte interna da orelha esquerda), comprimento do p (posterior esquerdo) e peso corporal. Este conjunto de medidas varia entre os gneros e algumas espcies do mesmo gnero, constituindo, portanto, outro importante aspecto a ser observado para a identificao dos roedores. Entretanto, imprescindvel levar em considerao a idade do animal (animais subadultos apresentam medidas inferiores s dos adultos) e, no caso das fmeas, se esto gestantes ou no (fmeas gestantes apresentam peso mais elevado). Os roedores desenvolvem-se rapidamente, de maneira que, do segundo ao terceiro ms de vida, algumas das suas medidas externas atingem as dimenses mximas. Isto acontece principalmente com as orelhas e os ps. O comprimento das orelhas, dos ps e das caudas so bastante uniformes entre os exemplares adultos da mesma espcie; entretanto o peso corporal varia grandemente entre os adultos da mesma espcie.Foto 6 - Mensurao de cabea e corpo de roedor

Foto cedida por Alzira de Almeida.

1.1.2. Classificao quanto ao grupo etrio Usualmente os roedores so reunidos nos seguintes grupos: (JJ) Jovem: animal recm-desmamado, at cerca de um ms de vida. (JA) Subadulto: entre dois e trs meses de vida. (AA) Adulto: animal em plena capacidade reprodutiva, o que ocorre em geral em torno do terceiro ms de vida. Os roedores adultos caracterizam-se pelos seguintes aspectos: as fmeas apresentam orifcio vaginal aberto, tetas bem desenvolvidas e podem estar prenhes ou amamentando. Os machos apresentam testculos bem desenvolvidos, localizados no saco escrotal. Com o envelhecimento, os dentes (molares) do animal vo se desgastando e perdendo suas caractersticas.

FUNASA - dezembro/2002 - pg. 14

Foto 7 - Ninhada de roedores jovens

Foto cedida por Minekazu Matsuo.

1.1.3. Classificao quanto aos tipos de vida Arborcolas: possuem ps curtos com unhas curvas e caudas longas e tufosas que favorecem o deslocamento pelos troncos e folhas das rvores. Possuem olhos grandes e pelos tcteis que permitem reflexos rpidos. Aqucolas: possuem cauda longa e escamosa, pelagem que no se deixa embeber pela gua, possuem membranas interdigitais ou pelos hirtos4 nas mos e nos ps, que se prolongam em forma de franja entre os dedos e facilitam a propulso na gua. A disposio das narinas, olhos e orelhas especial e favorece os hbitos aquticos.Foto 8 - P de Nectomys sp com calos plantares

Foto cedida por Alzira de Almeida.

4. Hirtos - retesados.

FUNASA - dezembro/2002 - pg. 15

Foto 9 - Pata de Nectomys sp com membranas interdigitais

Fotos cedidas por Alzira de Almeida.

Galercolas: vivem em galerias construdas sob a vegetao herbcea, entre o emaranhado de folhas cadas e razes finas, nas matas, capoeiras, campos cultivados, etc. Possuem cauda curta, pelagem densa, orelhas muito curtas, olhos minsculos, crnio forte e achatado, incisivos muito desenvolvidos, patas fortes com unhas alongadas e fossoras, isto , que servem para cavar. Rupcolas: o formato dos ps proporciona segurana de deslocamento pelas pedreiras e permite escalar rvores. Arvcolas: possuem ps longos, saltatrios, so capazes de subir em pequenos arbustos e saltar e correr com agilidade.Foto 10 - Exemplar de Oryzomys sp como exemplo de roedor arvcola

Foto cedida por Alzira de Almeida.

Terrcolas: so animais velozes na corrida e saltam com muita facilidade. Em virtude dessas diferenas de hbitos, as espcies de roedores esto associadas a determinados tipos de vegetao, solo, etc, resultando numa distribuio caracterstica que tem grande influncia em diversos aspectos, principalmente no tocante ao controle.

FUNASA - dezembro/2002 - pg. 16

1.2. Roedores sinantrpicos comensaisOs ratos e os camundongos, pertencem subordem Sciurognathi, famlia Muridae, subfamlia Murinae; so considerados sinantrpicos por associarem-se ao homem em virtude de terem seus ambientes prejudicados pela ao do prprio homem. Das espcies sinantrpicas comensais, a ratazana (Rattus norvegicus), o rato de telhado (Rattus rattus), e o camundongo (Mus musculus), so particularmente importantes por terem distribuio cosmopolita e por serem responsveis pela maior parte dos prejuzos econmicos e sanitrios causados ao homem. No quadro 1 encontram-se informaes acerca da biologia, comportamento e morfologia dessas trs espcies comensais. 1.2.1. Ratazana - Rattus norvegicus A ratazana, tambm conhecida como rato de esgoto, rato marrom, rato da Noruega, gabiru, etc., a espcie mais comum na faixa litornea brasileira. Vive em colnias cujo tamanho depende da disponibilidade de abrigo e alimento no territrio habitado, podendo atingir um grande nmero de indivduos em situaes de abundncia alimentar. uma espcie de hbito fossorial5, seu abrigo preferencial fica abaixo do nvel do solo. Com o auxlio de suas patas e dentes, as ratazanas cavam ativamente tocas e/ou ninheiras no cho, formando galerias que causam danos s estruturas locais. Encontram-se facilmente em galerias de esgotos e guas pluviais, caixas subterrneas de telefone, eletricidade, etc. Podem, tambm, construir ninhos no interior de estruturas, em locais pouco movimentados, prximos s fontes de gua e alimentos. Embora possam percorrer grandes distncias em caso de necessidade, os indivduos desta espcie tm raio de ao (territrio) relativamente curto, raramente ultrapassando os 50 metros. Na rea delimitada por feromnios constroem seus ninhos, onde se alimentam, procuram e defendem seus parceiros sexuais. Este territrio ativamente defendido de intrusos que so expulsos por indivduos dominantes da colnia.Foto 11 - Exemplar de Rattus norvegicus

Foto cedida por Alzira de Almeida.

Costumam apresentar marcada neofobia, isto , desconfiana a novos objetos e/ou alimentos colocados no seu territrio. Este comportamento varia de populao para populao e de indivduo para indivduo, sendo mais acentuado naqueles locais onde h pouco movimento de pessoas e objetos. Nestes locais, o controle mais lento e difcil de ser atingido, em virtude da averso inicial dos indivduos s iscas, porta-iscas e armadilhas colocadas no ambiente. J nos locais onde haja movimento contnuo de pessoas, objetos e mercadorias, a neofobia menos acentuada ou inexistente e os novos alimentos (iscas) e objetos (armadilhas) so imediatamente visitados, tornando-se, desta forma, mais fcil o seu controle.5. Fossorial- hbito de cavar.

FUNASA - dezembro/2002 - pg. 17

A disperso das ratazanas pode se dar passivamente, quando indivduos so transportados em caminhes, navios, trens, no interior de contineres, etc., ou ativamente, quando o indivduo deixa sua colnia em busca de outro local para abrigo. As razes que levam um indivduo a esta situao so bastante diversas, mas certo que a reduo da disponibilidade de alimento e abrigos por alteraes ambientais so fatores importantes na disperso dos roedores. Outra presso importante que provoca a disperso o excesso populacional. O processo de urbanizao desenfreada e sem planejamento da maioria das cidades de mdio e grande porte do Brasil tm favorecido o crescimento da populao e a disperso das ratazanas. Fatores como a expanso de favelas e loteamentos clandestinos sem redes de esgoto e principalmente com coleta de lixo inadequada ou insuficiente, certamente tm propiciado o aumento desta espcie. Epidemias de leptospirose ocorrem geralmente nos ambientes degradados, no deixando de ocorrer, no entanto, em reas adequadamente urbanizadas. So cada vez mais comuns casos de mordeduras por ratazanas ou toxi-infeces causadas por ingesto de alimentos contaminados pelos roedores. Outro fator a ser ressaltado o freqente envenenamento acidental por raticidas e outras substncias txicas utilizadas inadequadamente pela populao em geral no controle de roedores. 1.2.2. Rato de telhado - Rattus rattus O rato de telhado, tambm conhecido como rato preto, rato de forro, rato de paiol, rato de silo ou rato de navio o roedor comensal predominante na maior parte do interior do Brasil, sendo comum nas propriedades rurais e pequenas e mdias cidades do interior.Foto 12 - Exemplar de Rattus rattus

Foto cedida por Alzira de Almeida.

Alm das diferenas morfolgicas, os ratos de telhado apresentam hbitos, comportamentos e hbitat bastante distintos da ratazana. Por ser uma espcie arvcola, os ratos de telhado ainda cultivam o hbito de viver usualmente nas superfcies altas das construes, em forros, telhados e stos onde constroem seus ninhos, descendo ao solo em busca de alimento e gua. Vivem em colnias de indivduos com laos parentais, cujo tamanho depende dos recursos existentes no ambiente. Seu raio de ao tende a ser maior que o da ratazana, devido sua habilidade em escalar superfcies verticais e facilidade com que anda sobre fios, cabos e galhos de rvores. Sua disperso em zonas urbanas tem sido facilitada pelas caractersticas de verticalizao das grandes cidades aliadas aos modelos de construo e decorao dos modernos prdios de escritrios: forros falsos e galerias tcnicas para passagem de fios e cabos permitem o abrigo e a movimentao vertical e horizontal desta espcie. Em algumas cidades brasileiras, como o Rio de Janeiro e So Paulo, a presena do Rattus Rattus cada vez mais comum e predominante em bairros onde anteriormente a ratazana dominava, possivelmente pelo fato dos programas serem direcionados ao controle desta espcie.FUNASA - dezembro/2002 - pg. 18

O papel do Rattus rattus na transmisso de doenas como a leptospirose ainda pouco conhecido, mas seu hbito intradomiciliar permite um contato mais estreito com o homem. Sendo assim, necessrio que o potencial desta espcie como transmissora de doenas seja melhor estudado, para que a necessidade de controle da espcie seja fundamentada tambm sob o ponto de vista sanitrio. 1.2.3. Camundongo - Mus musculus O camundongo, tambm conhecido por mondongo, catita, rato caseiro, rato de gaveta, rato de botica, muricha e ainda por outras denominaes regionais, a espcie que atinge maior nvel de disperso, sendo encontrado praticamente em todas as regies geogrficas e climticas do planeta. originria das estepes da sia Central, regio onde se acredita, tenha se desenvolvido inicialmente a agricultura. Neste perodo, os camundongos tornaram-se comensais do homem ao invadirem os locais onde os cereais colhidos eram estocados. Sua associao com o homem , portanto, bastante antiga, sendo a habitao humana compartilhada com esses roedores h alguns milhares de anos. So animais de pequeno porte que raramente ultrapassam 25 g de peso e 18 cm de comprimento (incluindo a cauda); dessa forma, so transportados passivamente para o interior das residncias, tornando-se importantes pragas intradomiciliares. Uma vez em seu interior, podem permanecer longo perodo sem serem notados, sendo sua existncia detectada quando a infestao j estiver estabelecida. Seu raio de ao pequeno, raramente ultrapassando os 3 m. Camundongos costumam fazer seus ninhos no fundo de gavetas e armrios pouco utilizados, no interior de estufas de foges e em quintais onde so criados animais domsticos. Neste ltimo caso, podem cavar pequenas ninheiras no solo, semelhantes s das ratazanas, podendo formar numerosos complexos de galerias onde houver grande oferta de alimentos.Foto 13 - Um exemplar de Mus musculus

Foto cedida por Alzira de Almeida.

So onvoros como a ratazana e o rato de telhado, ou seja, alimentam-se de todo tipo de alimento, embora demonstrem preferncia pelo consumo de gros e cereais. So animais curiosos e possuem o hbito de explorar ativa e minuciosamente o ambiente em que vivem (nefilos), no apresentando o comportamento de neofobia, caracterstico dos ratos de telhado e ratazanas. Podem penetrar em 20 a 30 locais por noite em busca de alimento, trazendo srios problemas de contaminao de alimentos em despensas e depsitos em geral, alm de dificultar o seu controle por raticidas. Apesar dos riscos que a sua presena pode trazer nas habitaes humanas, os camundongos nem sempre so tidos como nocivos sendo at tolerados por grande parte da populao. Alm disso, h poucas informaes sobre a real incidncia desta espcie no Brasil, no havendo dados confiveis a respeito de sua distribuio, disperso e seu papel na transmisso de doenas.

FUNASA - dezembro/2002 - pg. 19

FUNASA - dezembro/2002 - pg. 20

Figura 1- Espcies de roedores sinantrpicos comensais de importncia mdica

Rato Noruegus

Fonte: Manual Prtico de Controle de Roedores/Constncio de Carvalho Neto.

Quadro 1 - Caractersticas e comportamento das principais espcies de roedores sinantrpicos comensais

Comportamento e CaractersticasPeso Corpo Comprimento corpo+Cabea Cauda Orelhas

Ratazana Rattus norvegicus150 g a 600 g. Robusto 22 cm

Rato de telhado Rattus rattus100 g a 350 g. Esguio 20 cm

Camundongo Mus musculus10 g a 21 g. Esguio 9 cm

16 cm a 25 cm Relativamente pequenas, normalmente meio enterradas no plo: 20 mm a 23 mm Rombudo Em forma de cpsula com extremidades rombudas Tocas e galerias no subsolo, beira de crregos, lixes, interior de instalaes, mais comumente fora do domiclio

19 cm a 25 cm Grandes e proeminentes, finas, sem plos: 25 mm a 28 mm Afilado Fusiformes

7 cm a 11 cm Proeminentes, grandes para o tamanho do animal: 10 mm

Focinho Fezes

Afilado Em forma de bastonetes

Hbitat

Forros, stos, paiis, silos e armazns; podem viver em rvores, mais comuns no interior do domiclio.

No interior de mveis, despensas, armrios, geralmente no interior do domiclio

Habilidades fsicas

Hbil nadador Cava tocas no solo Cerca de 50 m Onvoro, prefere gros, carnes, ovos e frutas. Apresentam neofobia marcada em locais pouco movimentados. Junto ao solo, prximos das paredes, sob forma de manchas de gordura Formam trilhas no solo causando o desgaste da vegetao. Presena de pegadas, fezes e plos. 22 a 24 dias 8 a 12 7 a 12 28 dias 60 a 90 dias

Hbil escalador Raramente cava tocas Cerca de 60 m Onvoro, preferncia por legumes, frutas e gros Apresentam marcada neofobia

Hbil escalador Pode cavar tocas Cerca de 3 m a 5 m Onvoro, preferncia por gros e sementes Possuem hbito exploratrio (neofilia).

Raio de ao Alimentao

Neofobia

Trilhas

Manchas de gordura junto ao madeirame de telhados, tubos e cabos. Presena de plos e fezes

So de difcil visualizao, mas podem ser observadas manchas de gordura junto aos rodaps, paredes e orifcios por onde passam

Gestao Ninhadas/Ano Filhotes/Ninhada Idade de desmame Idade de maturidade sexual Vida mdia

20 a 22 dias 4a8 7 a 12 28 dias 60 a 75 dias

19 a 21 dias 5a6 3a8 25 dias 42 a 45 dias

24 meses

18 meses

12 meses

FUNASA - dezembro/2002 - pg. 21

1.3. Roedores sinantrpicos no comensais (silvestres)Caracterizam-se por formarem colnias no ambiente silvestre longe do contato com o homem, contudo em funo das modificaes ambientais decorrentes dos processos de urbanizao e de transformao de ecossistemas naturais em reas de plantio a diviso em silvestres, sinantrpicos comensais e no comensais no permanente; visto que, pela escassez de alimentos, os roedores acabam expandindo suas colnias por entre e ao redor das plantaes e instalaes no peridomiclio, como tulhas e silos, e no prprio domiclio em busca de alimentos; este fato amplia o contato do homem e roedor silvestre. Algumas espcies, hoje, apresentam populaes com elevado grau de sinantropia. Nestas situaes grande o risco de transferncia de agentes infecciosos dessas espcies para os roedores estritamente comensais. Muitas delas so reservatrios naturais de doenas, como a peste, tularemia, sodoquiose, leishmaniose, doena de Chagas, esquistossomose, febres hemorrgicas, hantaviroses e outras. Estas espcies mantm e fazem circular os agentes infecciosos, por longo perodo de tempo e, ao entrarem em contato com roedores comensais de zonas rurais, podem a eles transferir esses agentes, de forma direta ou por insetos vetores. Quando esse intercmbio ocorre, observamse surtos epizoticos e epidmicos destas zoonoses. Entre esses, a espcie Bolomys lasiurus (=Zygondontomys lasiurus pixuna) desempenha importante papel no ciclo epidemiolgico da peste, destacando-se na epizootizao da peste no nordeste do Brasil. um roedor silvestre muito prolfero e se desenvolve com relativa facilidade em quase todos os focos de peste. extremamente sensvel infeco sendo a espcie mais importante de sua famlia em termos epidemiolgicos, em virtude de sua densidade populacional, suscetibilidade infeco e proximidade do homem. Entretanto, outras espcies de roedores tambm so responsveis pela ocorrncia da enfermidade na regio, incluindo espcies de roedores sinantrpicos comensais. No Brasil, a peste bubnica silvestre endmica na zona rural, em algumas regies incluindo os estados de Alagoas, Bahia, Cear, Minas Gerais, Paraba, Pernambuco, Rio de Janeiro e Rio Grande do Norte. Em relao aos casos humanos de Sndrome Pulmonar por Hantavrus ocorridos no Brasil desde 1993 at o momento, os estudos realizados sugerem os roedores Akodon cursor (rato da mata), Oligoryzomys nigripes (ratinho do arroz) e o Bolomys lasiurus (rato do capim) como possveis reservatrios de hantavrus no pas (vide Manual de Vigilncia e Controle de Hantavrus do Ministrio da Sade). Os roedores sinantrpicos no comensais mais comuns no Brasil esto relacionados nos quadros 2 e 3. O quadro 4 mostra os prejuzos gerados na agricultura pelos roedores. 1.3.1. Comportamento e principais caractersticas dos roedores sinantrpicos no comensais mais comuns no brasil A taxonomia, ecologia e a distribuio geogrfica dos pequenos roedores brasileiros ainda necessitam de estudos, a cada dia surgem novos gneros e espcies identificados pelos aspectos morfolgicos e filogenticos, que por sua vez, esto baseados na grande diversidade de hbitats existentes no Brasil. Por isso, torna-se difcil a tarefa de definir a distribuio geogrfica dos roedores do Brasil. A literatura sobre a ecologia desses animais demonstra que h alteraes morfolgicas, fisiolgicas e comportamentais, pela sua adaptao ao hbitat freqentado. importante ento esclarecer que, a melhor forma para se caracterizar a distribuio geogrfica dos roedores seria correlacionando-os com os principais complexos ecolgicos da vegetao brasileira, que so apresentados abaixo, considerando em cada uma delas suas particularidades. A distribuio que ora apresenta-se representa uma sntese de manuscritos de pesquisadores e colecionadores desses pequenos mamferos, alm de relatrios de trabalhos de campo desenvolvidos por Instituies encarregadas de controle de agravos relacionados com os roedores.

FUNASA - dezembro/2002 - pg. 22

Mapa 1 - Complexos ecolgicos da vegetao brasileira

Fonte: tica, 2000. Trabalhando com mapas. Ed. tica. So Paulo.

1.3.1.1. Akodon sppFoto 14 - Exemplar de Akodon spp

Foto cedida por Alzira de Almeida.

Nome popular: rato-do-cho. Caractersticas morfolgicas: plos longos e macios, de colorao escura no dorso; ventre mais claro lavado de amarelo sujo; os olhos so pequenos, redondos e encravados nas rbitas sem o crculo castanho ao redor dos olhos como os Bolomys. A cauda curta, pilosa, com anis visveis, mais fina do que a dos Bolomys; patas escuras e delgadas, calos proeminentes. O peso corporal dos adultos varia de 25 g a 58 g; o comprimento da cabea e corpo juntos varia de 105 mm a 125 mm; a cauda mede 85 mm a102 mm; o p posterior 22 mm a 25 mm e a orelha 15 mm a 18 mm. Comportamento: so muito comuns nas matas e terras cultivadas do pas. Vivem geralmente em galerias constitudas quase que totalmente de camadas de folhas em decomposio que se depositam sobre razes tabulares. Possuem hbitos noturnos, entretanto tambm podem ser encontrados durante o dia.FUNASA - dezembro/2002 - pg. 23

Reproduo: o nmero de filhotes por gestao varia de 1-6 e mdia de 3. Espcies Principais: A. cursor, A. arviculoides e A. montensis.Mapa 2 - Distribuio geogrfica do gnero Akodon no Brasil

Akodon

1.3.1.2. Bolomys sppFoto 15 - Exemplar de Bolomys spp

Fotos cedidas por Alzira de Almeida.

Nome popular: pixuna, calunga, caxexo, rato-do-capim. Caractersticas morfolgicas: plos curtos, ligeiramente speros e de colorao castanho acinzentado no dorso; parte ventral esbranquiada; plos claros formando um crculo castanho em redor dos olhos; cauda curta, pilosa, mais escura na parte dorsal e esbranquiada na parte ventral. O peso corporal dos adultos varia de 26 g a 64 g; o comprimento da cabea e corpo juntos varia de 86 mm a 124 mm; a cauda mede 65 mm a 94 mm; o p posterior 20 mm a 24 mm e a orelha 12 mm a 15 mm. Comportamento: suas populaes so normalmente formadas por pequeno nmero de indivduos com capacidade de multiplicao rpida.

FUNASA - dezembro/2002 - pg. 24

Reproduo: a reproduo do B. lasiurus ocorre durante o ano todo, principalmente nos meses de abril a junho. O nmero de crias por gestao de 1 a 11 e mdia de 4. Espcie Principal: B. lasiurusMapa 3 - Distribuio geogrfica do gnero Bolomys no Brasil

Bolomys

1.3.1.3. Calomys sppFoto 16 - Exemplar de Calomys spp

Foto cedida por Alzira de Almeida.

Nome popular: rato-de-algodo. Caractersticas morfolgicas: pelagem curta, macia, de colorao castanho claro na parte dorsal, parte ventral branca, as vezes avermelhada; forma delicada; cauda curta; ps delgados; calos nus e em nmero de 5 ou 6. O peso corporal dos adultos varia de 12 g a 39 g; o comprimento da cabea e corpo juntos varia de 70 mm a 110 mm; a cauda mede 60 mm a 80 mm; o p posterior 15 mm a 20 mm e a orelha 13 mm a 17 mm. Reproduo: o nmero de filhotes por gestao de 1 a 10 e mdia de 4 a 5. Espcies Principais: C. callosus, C. bimaculatus, C. leucodactylus e C. tener.FUNASA - dezembro/2002 - pg. 25

Mapa 4 - Distribuio geogrfica do gnero Calomys no Brasil

Calomys

1.3.1.4. Cavia sppFoto 17 - Exemplar de Cavia aperea aperea

Foto cedida por Raimundo Wilson de Carvalho.

Nome popular: pre, porquinho-da-ndia. Caractersticas morfolgicas: sem cauda; pelagem densa com uma das camadas de plos de forma de seta; mos com quatro dedos, ps com trs, ambos munidos de unhas cortantes; incisivos brancos. O peso corporal dos adultos varia de 800 g a 1200 g; o comprimento da cabea e corpo juntos varia de 190 mm a 290 mm; o p posterior mede 42 mm a 52 mm. Comportamento: possuem hbitos diurnos, so encontrados em capinzais, margens de brejos, crregos e rios. Reproduo: procriam duas vezes ao ano, parindo um ou dois filhotes por gestao. Espcies principais: C. aperea - superfcie dorsal amarelada agrisalhada de preto; superfcie ventral amarelada com o peito acinzentado. C. porcellus (Porquinho-da-ndia) - superfcie dorsal amarelo cor-de-barro e a superfcie ventral amarelo pardo; admite-se que esta a forma selvagem da cobaia domstica, que se supe fosse j animal domstico entre os indgenas da Amrica do Sul.FUNASA - dezembro/2002 - pg. 26

Mapa 5 - Distribuio geogrfica do gnero Cavia no Brasil

Cavia

1.3.1.5. Delomys sppFoto 18 - Exemplar de Delomys spp

Foto cedida por Raimundo Wilson de Carvalho.

Nome popular: rato-do-mato. Caractersticas morfolgicas: superfcie dorsal agrisalhada de acinzentado e dourado, acentuando-se nos lados do corpo; superfcie ventral branca tendendo ao dourado. O peso corporal dos adultos varia de 25 g a 35 g; o comprimento da cabea e corpo juntos varia de 95 mm a 135 mm; a cauda mede 111 mm a 181 mm; o p posterior 27 mm a 29 mm. Comportamento: possuem hbitos terrestres formando seus ninhos sob folhas que caem das rvores. Reproduo: a procriao comea em agosto parecendo estender-se at fevereiro, embora se possam encontrar animais em reproduo ainda no ms de abril. Espcies principais: D. sublineatus encontrada em florestas tropicais, em particular em reservas secundrias; em altitude mxima de 1.600 metros, entre o Rio de Janeiro e Esprito Santo. D. dorsalis encontrada em baixas altitudes, em vegetao primria, entre o Paran e o Rio de Janeiro.

FUNASA - dezembro/2002 - pg. 27

Mapa 6 - Distribuio geogrfica da espcie Delomys no Brasil

Delomys

1.3.1.6. Echimys spp Nome popular: rato-rabudo, rato-vermelho, rato-coandu, rato-de-espinho. Caractersticas morfolgicas: roedor grande, cauda de comprimento menor ou maior do que o da cabea e corpo reunidos, escassa ou densamente revestida de plos; ps pequenos e largos; orelhas pequenas e largas; de colorao cinza claro, apresentam uma faixa branca que vai se estreitando em direo aos olhos, focinho e fronte ferruginosos. O peso corporal dos adultos varia de 180 g a 250 g; o comprimento da cabea e corpo juntos varia de 192 g a 200 mm; a cauda mede 195 mm a 330 mm; o p posterior 30 mm a 33 mm e a orelha 11 mm a 20 mm. Comportamento: hbito noturno e arvcola; geralmente solitrios. Espcies mais comuns: E. pictus e E. spinosus.Mapa 7 - Distribuio geogrfica do gnero Echimys no Brasil

Echimys

FUNASA - dezembro/2002 - pg. 28

1.3.1.7. Euryzygomatomys spp Nome popular: guiara-do-rio. Caractersticas morfolgicas: superfcie dorsal negro ferruginoso, mais escuro nos lados da cabea, pescoo e corpo; superfcie ventral branco puro, exceto na garganta e jgulo6 que ferruginoso plido; cauda curta escurecida, com esparsos plos rgidos muito curtos. O peso corporal dos adultos varia de 35 g a 50 g; o comprimento da cabea e corpo juntos varia de 190 mm a 262 mm; a cauda mede 58 mm a 75 mm; o p posterior 35 mm a 37 mm. Comportamento: prefere as capoeiras ralas e os capinzais com gua prxima; apesar do nome a guiara-do-rio no tem hbitos aquticos. Reproduo: a procriao ocorre provavelmente em novembro; nmero de filhotes no superior a trs por gestao. Espcie principal: E. guiaraMapa 8 - Distribuio geogrfica do gnero Euryzygomatomys no Brasil

Euryzygomatomys

1.3.1.8. Galea sppFoto 19 - Exemplar de Galea spp

Foto cedida por Alzira de Almeida.

6. Jgulo- pescoo.FUNASA - dezembro/2002 - pg. 29

Nome popular: pre. Caractersticas morfolgicas: sem cauda; muito semelhante a Cavia, de que se distingue especialmente pela estrutura e cor dentria cujos incisivos so brancos enquanto que nas gleas so amarelos. O peso corporal dos adultos varia de 200 g a 357 g; o comprimento da cabea e corpo juntos varia de 220 mm a 285 mm; o p posterior mede 42 mm a 50 mm e a orelha 19 mm a 30 mm. Reproduo: produzem geralmente um a dois filhotes duas vezes por ano. Espcies principais: G. spixii possui superfcie dorsal escura, acinzentado e superfcie ventral branca; manchas infra-oculares e ps-auriculares brancas. Encontram-se nos capinzais entremeados com pedras, escondem-se em locas, cercas de pedra e cupinzeiros. G. wellsi comum nos terrenos ribeirinhos.Mapa 9 - Distribuio do gnero Galea no Brasil

Galea

1.3.1.9. Holochilus spp Nome popular: rato-de-cana, rato-capivara. Caractersticas morfolgicas: pelagem espessa, macia e de colorao ruiva, mais escura na linha mediana do dorso; lados mais claros; ventre esbranquiado, lavado de amarelo escuro; dedos providos de membranas interdigitais; focinho obtuso; orelhas pequenas; cauda longa, escamosa, finamente pilosa; ps posteriores longos. O peso corporal dos adultos varia de 92 g a 159 g; o comprimento da cabea e corpo juntos varia de 143 mm a 185 mm; a cauda mede 133 mm a 150 mm; o p posterior 33 mm a 43 mm e a orelha 14 mm a 18 mm. Comportamento: possui hbitos noturnos, mas podem ser vistos de dia, alimentando-se em plantaes tais como soja, couve-flor, arroz e cana-de-acar. So solitrios, formando seus ninhos geralmente em ocos de pau, fendas em bambus, na cana-de-acar e cavam no solo tocas de aspecto oval de at 30 cm de profundidade e ou extenso. Espcies principais: H. brasiliensis e H. sciurus.

FUNASA - dezembro/2002 - pg. 30

Mapa 10 - Distribuio do gnero Holochilus no Brasil

Holochilus

1.3.1.10. Juliomys spp Caractersticas morfolgicas: gnero recentemente separado do Wilfredomys por caractersticas morfolgicas de crnio e pelo caritipo. Apresenta pelagem curta e tem tamanho pequeno, assemelhando-se ao Oligoryzomys, porm um pouco maior; possui a cauda um pouco mais curta que a cabea e o corpo juntos, orelhas maiores e ps menores. Colorao ocre tendendo ao amarelo com o abdome bicolor sobressaindo a colorao creme e nariz avermelhado como o Wilfredomys. Comportamento: considerado silvestre sendo pouco frequentador de peridomiclio. Espcie: Juliomys pictipes.Mapa 11 - Distribuio geogrfica do Juliomys sp

Juliomys

FUNASA - dezembro/2002 - pg. 31

1.3.1.11. Kerodon sppFoto 20 - Exemplar de Kerodon spp

Foto cedida por Moacir Franco e Marlon Feij.

Nome popular: moc. Caractersticas morfolgicas: sem cauda, superfcie dorsal cinzento claro, agrisalhado com preto e branco, parte posterior das coxas castanho-ferrugem; superfcie ventral branca; unhas adaptadas para vida rupestre de cor amarelo ocre. O peso corporal dos adultos varia de 650 g a 1000 g; o comprimento da cabea e corpo juntos varia de 335 mm a 360 mm; o p posterior mede 62 mm a 70 mm e a orelha 24 mm a 30 mm. Comportamento: os mocs costumam sair ao entardecer para se alimentar, comem brotos de rvores que conseguem escalar com grande facilidade; formam colnias em terrenos pedregosos, aproveitando cavernas naturais ou cavidades entre as pedras ou por baixo delas e nos troncos das quixabeiras (Bumelia sartorum). A carne dos mocs muito apreciada pelos sertanejos e por isto, suas colnias so protegidas pelos proprietrios das terras onde esto localizadas, que reservam os animais para consumo prprio. Sua pele poder ser usada para o fabrico de artefatos diversos. Estudos vm sendo realizados no nordeste do pas sobre seus aspectos reprodutivos, nutricionais e condies sanitrias para sua criao em cativeiro. Reproduo: procriam ao longo de todo ano e produzem um a dois filhotes por gestao. Espcie principal: Kerodon rupestrisMapa 12 - Distribuio geogrfica do gnero Kerodon no Brasil

Kerodon

FUNASA - dezembro/2002 - pg. 32

1.3.1.12. Nectomys sppFoto 21 - Exemplar de Nectomys spp

Foto cedida por Alzira de Almeida.

Nome popular: rato-dgua ou guiara. Caractersticas morfolgicas: pelagem espssa e macia, cinza ou castanha, mais escura no dorso e mais clara nos lados; superfcie ventral branco acinzentado; cauda longa e escamosa, finamente pilosa com plos maiores e mais rgidos na face inferior; dedos parcialmente membranosos; unhas dos ps muito maiores do que as das mos; palmas e solas nuas. O peso corporal dos adultos cerca de 246 g; o comprimento da cabea e corpo juntos varia de 186 mm a 195 mm; a cauda mede 214 mm a 243 mm; o p posterior 48 mm e a orelha 20 mm a 21 mm. Comportamento: possuem hbitos noturnos e semi-aquticos; so encontrados em florestas tropicais, matas densas e plantaes; formam ninhos no cho em razes de rvores e troncos. Reproduo: a procriao ocorre duas a trs vezes por ano com mdia de cinco crias por gestao. Espcie principal: N. squamipes encontra-se comumente nas matas ou terrenos cultivados onde se encontre gua, geralmente em crregos ou brejos.Mapa 13 - Distribuio geogrfica do gnero Nectomys no Brasil

Nectomys

FUNASA - dezembro/2002 - pg. 33

1.3.1.13. Oligoryzomys sppFoto 22 - Exemplar de Oligoryzomys spp

Foto cedida por Cibele Rodrigues Bonvcino.

Nome popular: rato-de-fava ou rato-de-cacau. Caractersticas morfolgicas: anteriormente pertencente ao gnero Oryzomys, este novo gnero inclui mais de 10 espcies, todas muito parecidas o que dificulta a distino entre elas no campo. A pelagem alaranjada-escura, tracejada por numerosos plos negros; mais amarelado nos lados do corpo; superfcie ventral branco-acinzentada com tonalidades canela. O peso corporal dos adultos varia de 14 g a 35 g; o comprimento da cabea e corpo juntos varia de 83 mm a 110 mm; a cauda mede 112 mm a 140 mm; o p posterior 22 mm a 26 mm e a orelha 13 mm a 26 mm. Comportamento: so arvcolas, entretanto constroem seus ninhos em amontoados de folhas, pequenos buracos no solo e at mesmo tocos secos cados ao cho, nas matas e nos campos. So encontrados em culturas de milho, arroz e cacau. Reproduo: a procriao ocorre durante todo o ano, produzindo dois a quatro filhotes por gestao. Espcies principais: O. microtis e O. nigripes (sinonmia Oryzomys eliurus)Mapa 14 - Distribuio geogrfica do Olygoryzomys no Brasil

Olygoryzomys

FUNASA - dezembro/2002 - pg. 34

1.3.1.14. Oryzomys sppFoto 23 - Exemplar de Oryzomys spp

Foto cedida por Cibele Rodrigues Bonvcino.

Nome popular: rato-vermelho, rato-de-cana. Caractersticas morfolgicas: este gnero est representado no Brasil por cerca de 20 espcies, difceis de serem identificadas. Uma das principais espcies, O. subflavus (rato vermelho), considerada na atualidade um complexo de vrias espcies. Possuem pelagem curta e spera, colorao varivel entre o castanho amarelado, canela e ferruginoso; superfcie ventral marfim; cauda escassamente pilosa, branca ou esbranquiada inferiormente acompanhando a cor da superfcie abdominal, pelo menos na sua base; membros anteriores pequenos e posteriores maiores. O peso corporal dos adultos varia de 38 g a 106 g; o comprimento da cabea e corpo juntos varia de 112 mm a 160 mm; a cauda mede 130 mm a 190 mm; o p posterior 29 mm a 36 mm e a orelha 18 mm a 24 mm. Comportamento: vivem nas matas e nos campos e tambm por entre culturas, onde aps alimentar-se sobem em rvores e descansam; quando molestados fogem aos saltos; fazem seus ninhos com amontoados de folhas nas rvores, mas tambm se aproveitam de ocos de troncos secos. So solitrios e saem somente noite. Geralmente predominam na fauna de pequenos roedores da mata, atacam cultivos de arroz causando grandes perdas. Reproduo: O. subflavus procria durante todos os meses do ano produzindo de um a oito filhotes por gestao. Espcies principais: O. subflavus, O. capito, O. intermedius e O. angoya.Mapa 15 - Distribuio geogrfica no gnero Oryzomys no Brasil

Oryzomys

FUNASA - dezembro/2002 - pg. 35

1.3.1.15. Oxymycterus sppFoto 24 - Exemplar de Oxymycterus spp

Foto cedida por Raimundo Wilson de Carvalho.

Nome popular: rato-porco. Caractersticas morfolgicas: pelagem longa e muito macia; cauda curta e moderadamente pilosa com anis escamosos bem ntidos; focinho longo e mvel, utilizado para cavar em busca de alimentos (aneldeos e insetos); mos fortes e providas de unhas longas e encurvadas. O peso corporal dos adultos varia de 48 g a 88 g; o comprimento da cabea e corpo juntos varia de 130 mm a 155 mm; a cauda mede 100 mm a 115 mm; o p posterior 24 mm a 30 mm e a orelha 17 mm a 20 mm. Comportamento: hbitos fossoriais; so ativos durante o dia e noite; espoliam plantaes, principalmente de milho e arroz; escondem-se geralmente sob folhas cadas debaixo de pedras ou em troncos ocos. Reproduo: a procriao inicia-se em agosto, indo at maro, podendo ocorrer duas paries por ano, em outubro e maro. O nmero de crias de dois a trs. Espcies principais: O.angularis, O. hispidus, O. judex e O. quaestor. O quaestor abundante nas culturas, capoeiras e campos da Serra do Mar.Mapa 16 - Distribuio geogrfica do gnero Oxymicterus no Brasil

Oxymicterus

FUNASA - dezembro/2002 - pg. 36

1.3.1.16. Proechimys spp Nome popular: rato-de-espinho. Caractersticas morfolgicas: pelagem achatada e lanceolada uniformemente distribuda por todo o corpo; superfcie dorsal dourada ou canela, mais escura na linha mediana; superfcie ventral branca com invases na parte interna das coxas de dourado; cauda curta ou ligeiramente maior que o comprimento da cabea e o corpo juntos, com plos rgidos, por vezes com ponta em forma de pincel e branca. O comprimento da cabea e corpo juntos varia de 175 mm a 299 mm; a cauda mede 121 mm a 218 mm; o p posterior 37 mm a 55 mm. Comportamento: vivem em florestas geralmente na proximidade de gua, utilizando como abrigo e local de nidificao, cavidades sob pedras, tocos de rvores ou massas de razes e folhas; so solitrios e a alimentao variada: fungos, folhas, razes, sementes e at insetos. Reproduo: produzem um a cinco filhotes, em mdia dois, duas vezes no ano principalmente de novembro a maro. Espcies principais: P. simonsi e P. amphichoricus.Mapa 17 - Distribuio geogrfica do Proechimys spp. no Brasil

Proechimys

1.3.1.17. Rhipidomys spp Nome popular: rato-de-rvore, rato-de-algodo, rato-sarap. Caractersticas morfolgicas: superfcie dorsal amarelo escuro, mais escuro nos lados do corpo e alto da cabea; abdmen branco mesclado de amarelo; cauda provida de pincel terminal curto. O peso corporal dos adultos varia de 62 g a 95 g; o comprimento da cabea e corpo juntos varia de 134 mm a 150 mm; a cauda mede 160 mm a 185 mm; o p posterior 25 mm a 27 mm e a orelha 17 mm a 27 mm. Comportamento: so arvcolas, de hbitos noturnos, solitrios e formam ninhos nas rvores e sob pedras, povoando todas as altitudes das florestas, campos; invadem no s as plantaes, como tambm residncias rurais em busca de alimentos. Reproduo: procriam no perodo de outubro a dezembro, produzindo dois a cinco filhotes por gestao, na regio de Terespolis, na Serra dos rgos. Espcie principal: R. mastacalis. R.gardneri e R.leucodactylus.

FUNASA - dezembro/2002 - pg. 37

Mapa 18 - Distribuio geogrfica do gnero Rhipidomys no Brasil

Rhipidomys

1.3.1.18. Thaptomys sppFoto 25 - Exemplar de Thaptomys nigrita

Foto cedida por Cibele Rodrigues Bonvicino.

Caractersticas morfolgicas: Forma modificada para vida subterrnea. Pelagem veludosa e curta. Olhos muito pequenos. Cauda relativamente curta e escassamente pilosa em sua poro terminal. Mos com unhas desenvolvidas. Reproduo: o nmero de crias varia de dois a cinco. De dezembro a maio, encontram-se muitos exemplares jovens. Comportamento: vivem em amplas galerias naturais entre camadas de folhas na mata e peridomiclio. Espcie: T. nigrita, T. subterraneus.

FUNASA - dezembro/2002 - pg. 38

Mapa 19 - Distribuio geogrfica do Thaptomys spp

Thaptomys

1.3.1.19. Trichomys sppFoto 26 - Exemplar de Trichomys spp

Foto cedida por Alzira de Almeida.

Nome popular: punar, rato-rabudo. Caractersticas morfolgicas: pelagem macia, densa, no muito alta; superfcie dorsal cinza escuro e ventral branca; cauda muito frgil e quebra-se facilmente na base. A pele muito delicada e rasga facilmente, por isto no se pode usar pina na manipulao desses animais. O peso corporal dos adultos varia de 107 g a 308 g; o comprimento da cabea e corpo juntos varia de 143 mm a 228 mm; a cauda mede 130 mm a 210 mm; o p posterior 36 mm a 45 mm e a orelha 19 mm a 26 mm. Comportamento: vivem em ambientes rochosos onde constroem ninhos permanentes ou em plantaes de algodo; muito procurados pelos caadores que os abatem para comer. Reproduo: um a seis filhotes por gestao, mdia trs. Espcie principal: T. apereoides.

FUNASA - dezembro/2002 - pg. 39

Mapa 20 - Distribuio geogrfica do gnero Trichomys no Brasil

Trichomys

1.3.1.20. Trinomys spp Caractersticas morfolgicas: Semelhante ao Proechimys, pelagem da superfcie dorsal em forma de arestas lanceolares ou clavadas. Cauda maior que cabea e corpo juntos, podendo apresentar extremidade de colorao branca. Apresenta colorao canela na linha mediana dorsal. Superfcie dorsal tendendo colorao branca. Crnio pequeno. Comportamento: T. iheringi comum em mata costeira (Mata Atlntica), onde freqentam at mesmo domiclios em busca de alimentos. Espcies principais: T. iheringi, T.dimidiatus e T.albispinus.Mapa 21 - Distribuio geogrfica do Trinomys spp

Trinomys

FUNASA - dezembro/2002 - pg. 40

1.3.1.21. Wiedomys sppFoto 27 - Exemplar de Wiedomys spp

Foto cedida por Alzira de Almeida.

Nome popular: bico-de-lacre, rato-de-avels, rato-de-palmatria. Caractersticas morfolgicas: pelagem cinzento amarelada no dorso e ruiva nas ancas, focinho, orelhas e regio ocular, ventre branco puro. O peso corporal dos adultos varia de 35 g a 65 g, o comprimento da cabea e corpo juntos varia de 110 mm a 125 mm, a cauda mede 170 mm a 184 mm, o p posterior 24 mm a 29 mm e a orelha 16 mm a 20 mm. Comportamento :So exmios saltadores; formam ninhos em touceiras de capim, sob pedras, em pequenos arbustos densos, em velhos ninhos de pssaros e ocos de pau e mais comumente em cupins ocados. Reproduo: ocorre no ms de agosto, produzindo um a seis filhotes por gestao. Espcie principal W. pyrrhorinos.Mapa 22 - Distribuio geogrfica do gnero Wiedomys no Brasil

Wiedomys

FUNASA - dezembro/2002 - pg. 41

1.3.1.22. Wilfredomys sppFoto 28 - Exemplar de Wilfredomys sp

Foto cedida por Cibele Rodrigues Bonvcino.

Nome popular: biquinho-de-lacre. Caractersticas morfolgicas: Superfcie dorsal cinzento agrisalhada. Superfcie ventral branca, exceto no ventre que branco lavado de fulvo. Muito prximo do Wiedomys e Juliomys. Encontrado somente na Mata Atlntica, entre Santa Catarina e o sul da Bahia. chamado de biquinho-de-lacre devido ao tom rseo de seu focinho. Espcie: W. oenax.Mapa 23 - Distribuio geogrfica do Wilfredomys spp

Wilfredomys

Outros gneros so encontrados no Brasil, porm no to freqentes quanto os descritos anteriormente. Ressalte-se os gneros: Makalata, Nelomys, Phaenomys, Scapteromys e Thalpomys.

FUNASA - dezembro/2002 - pg. 42

Mapas 24 a 28 - Distribuio geogrfica de outros gneros no Brasil

Makalata

Nelomys

Phaenomys

FUNASA - dezembro/2002 - pg. 43

Scapteromys

Thalpomys

FUNASA - dezembro/2002 - pg. 44

Quadro 2 - Principais doenas transmitidas por roedores ao homem e animais domsticos

Doena

Agente CausalModo de TransmissoMordedura, inalao de poeira contaminada, alimentos contaminados M. musculus Aerossis contaminados por fezes, saliva, sangue, urina de roedores infectados Contato direto do homem com fezes, saliva, sangue, urina de roedores infectados Mordedura

Hospedeiro

Coriomeningite linfoctica

Arenavrus

Viroses

Hantavirose

Hantavrus

Akodon, Bolomys, Oligoryzomys, Rattus norvegicus (Seoul) Calomys, Kerodon , Oryzomys

Febres hemorrgicas

Vrus Junin, Machupo, Guanarito

Febre por mordedura do rato (Sodoku) Ingesto de alimentos contaminados por fezes de roedores Contato com gua, solo ou alimentos contaminados pela urina de roedores Picada de pulgas infectadas: Xenopsylla cheopis, Polygenis spp, Pulex spp. Fezes de pulgas (Xenopsylla cheopis ) contaminadas Ingesto de leite contaminado, manipulao de produtos contaminados Abrases da pele, manipulao de produtos contaminados Contato com esporos dos fungos existentes em locais infestados por roedores Picada de triatomdeo Ingesto de carne mal cozida, contato com animais infectados

Spirillum minus Streptobacillus moniliformis

Rattus norvegicus, Rattus rattus, Mus musculus

Salmonelose

S.typhimurium S.enteritidis S.dublin

Rattus norvegicus, Rattus rattus, Mus musculus Rattus norvegicus, Rattus rattus, Mus musculus

Leptospirose

Leptospira interrogans

Bacterioses Rattus, Bolomys, Meriones, Mastomys, Cynomys, Bandicota Rattus rattus, Rattus norvegicus Rattus norvegicus

Peste

Yersinia pestis

Tifo murino

Rickettsia typhi

Brucelose

Brucella abortus

Erisipela bolhosa

Erysipelothrix rhusiopathiae

Rattus norvegicus, Mus musculus Rattus norvegicus, Rattus rattus, Mus musculus

Micoses

Micose

Emmonia crescens

Doena de Chagas

Trypanossoma cruzi

Rattus rattus, Cavia aperea, Akodon, Oryzomys Rattus rattus, Rattus norvegicus, Roedores silvestres Rattus norvegicus, Rattus rattus, Mus musculus

Toxoplasmose

Toxoplasma gondii

Verminose

Parasitoses

Capillaria heptica, Hymenolepis diminuta Hymenolepis nana

Alimentos contaminados por fezes. Ingesto de roedores contaminados (ces, gatos, porcos) Ingesto de carne de porco mal cozida Penetrao de cercrias pela pele

Triquinose

Trichinella spirallis

Rattus norvegicus Holochilus,Oxymycterus Nectomys, R. norvegicus, Rattus rattus Ingesto de frutos e legumes crus contaminados Sigmodon, Oryzomys, Proechimys, Bolomys, R. norvegicus, R. rattus

Esquistossomose

Schistossoma mansoni

FUNASA - dezembro/2002 - pg. 45

Angiostrongilase abdominal

Angiostrongillus costaricensis

* Roedores e pulgas variam nos diferentes focos do mundo.

Quadro 3 - Principais roedores do Brasil envolvidos na transmisso de doenas ou prejuzos econmicosGneroRattus norvegicus rattus ratazana, rato-de-esgoto, rato-marrom, rato-da-noruega, gabiru rato-negro, rato-de-telhado, rato-de-rabo-de-couro, rato-de-forro, rato-de-silo, rato-de-navio catita, camundongo, rato-de-gaveta, rato-de-botica, muricha rato-de-cho pixuna, calunga, caxexo, rato-de-capim rato-de-algodo rato-do-mato rato-de-cana, rato-capivara rato-espinhoso rato dgua, guiara rato dgua, guiara rato de fava, rato de cacau rato vermelho, rato de cana rato porco rato-do-mato-ferruginoso rato-do-mato-vermelho rato de rvore, rato de algodo, rato sarap

Subordem

Famlia

Espcie

Nome vulgar

Sciurognathi

Muridae (Subfamlia: Murinae)

FUNASA - dezembro/2002 - pg. 46Mus Akodon Blarinomys Bolomys Calomys musculus arviculoides, cursor, montensis breviceps lasiurus bimaculatus, callosus, leucodactilus, tener dorsalis, sublineatus sciurus, brasiliensis spinosus, guianae squamipes Delomys Graomys Holochilus Microxus Neacomys Nectomys Neomys Oecomys Oligoryzomys Oryzomys Oxymycterus Phaenomys Rhagomys Reithrodontomys Rhipidomys Scapteromys Thalpomys Wiedomys Cavia Galea Kerodon aperea, porcelus spixii, wellsi rupestris bicolor, concolor microtis, nigripes capito, intermedius, subflavus, angoya Angularis, judex, hispidus e quaestor ferruginosus rufescens physodes mastacalis tumidus lasiotis, cerradensis pyrrhorinus pre pre moc bico de lacre, rato de aveloz, rato de palmatria tor, rato-do-bambu rato de espinho, coandu, rato rabudo, rato vermelho guiara do rio rato-da-taquara, rato-do-bambu rato-de-topete, rato das rvores longicaudatus apereoides rato de espinho punar, rato rabudo Carterodon Clyomys Dactylomys Echymys Euryzigomatomys Isothrix Kannabateomys Lonchothrix Proechimys Trichomys sulcidens laticeps boliviensis, brasiliensis spinosas, pictus guiara paurus, bistriata amblionyx emiliae

Subfamlia: Sigmodontinae)

Hystricognathi

Caviidae (sem cauda)

Echimydae (com cauda)

Quadro 4 - Prejuzos gerados pelos roedores na agricultura CulturaArroz

Perdas (%)10 a 30

Gneros envolvidosRattus Holochillus Oryzomys Rattus Holochilus Oryzomys Rattus Holochilus Oryzomys Akodon Proechimys Rattus Rattus Rattus Holochilus Oryzomys Agouti Rattus Oryzomys Nectomys Rattus Rhipidomys Akodon Oryzomys Holochilus

Cana-de-acar

2

Trigo

10 a 15

Coco

Desconhecido

Feijo Hortifrutigranjeiros

Desconhecido At 70% em alguns casos

Caf

Desconhecido

Cacau

At 25%

Algodo

12

FUNASA - dezembro/2002 - pg. 47

Captulo 2 Diagnstico de situao do problema roedor2.1. Como diagnosticar o problema roedorA escassez de recursos existentes na maioria dos municpios brasileiros exige justificativas muito bem fundamentadas, a fim de que as autoridades locais sejam sensibilizadas para a necessidade da implantao de um programa de controle de roedores. Um diagnstico detalhado do problema roedores dever ser feito, apresentando-se as razes que justifiquem o investimento necessrio implantao do referido programa. Para tal importante que os seguintes passos sejam seguidos:

2.2. Identificao e caracterizao do municpioAs informaes sobre as condies geogrficas, climticas e de infra-estrutura bsica da localidade a ser trabalhada devero ser consideradas para se caracterizar a rea-problema. Para maiores informaes, consultar Captulo 3, item 3.1.1.

2.3. Levantamento dos problemas causados por roedores populao e economia do municpioFoto 29 - Perda de 60% da produo de arroz do estado de Sergipe, devido ao ataque de roedores em arrozal

Foto cedida por Maria de Lourdes N.S.Arsky.

Foto 30 - Prejuzos causados por roedores em plantao de milho

Foto cedida por Jovito Gonalves Dias Filho.

FUNASA - dezembro/2002 - pg. 49

O programa de controle de roedores de um determinado municpio deve estar fundamentado em dados que mostrem s autoridades da regio, os prejuzos econmicos e sanitrios causados pela proliferao desses animais. Nos municpios de pequeno porte, estes dados nem sempre so de fcil obteno, sendo necessrio a reunio do maior nmero de informaes possvel, a fim de oferecer suporte a uma proposta de implantao de um programa. Devem ser levantados os seguintes itens: 2.3.1. Denncias da populao/meios de comunicao Altos ndices de infestao levam a populao a buscar meios para enfrentar o problema. Quando no existe no municpio nenhum rgo que atenda demanda da populao, esta geralmente recorre aos rgos de comunicao e associaes de moradores. Portanto, estas instituies devem ser estimuladas a manter informaes organizadas e disponveis para quem necessitar. O aumento do nmero de denncias sobre a presena de roedores pode ser um bom indicador da necessidade de implantao de um programa de controle. 2.3.2. Ocorrncia de leptospirose e outros agravos sade causados por roedores Surtos epidmicos de Leptospirose humana, bem como atendimentos efetivados nas unidades de sade podem servir como justificativa relevante para implantao de um programa, principalmente se estes agravos se tornarem constantes e em nmero crescente.Foto 31 - Criana mordida no brao por roedor

Foto cedida por Nlio Batista Moraes.

Casos de mordeduras por ratos em pessoas so mais comuns do que se pensa, e podem ter como fonte de informaes, as unidades de sade, conforme citado a seguir no item 3.2.4. 2.3.3. Ocorrncia de prejuzos econmicos Os prejuzos econmicos causados pelos roedores s plantaes, no transporte e estocagem de alimentos so de difcil quantificao e exigem mtodos de avaliao sofisticados e caros. As denncias de pecuaristas, lojistas, agricultores ou representantes de associaes comerciais podem indiretamente indicar o nvel de infestao numa localidade, podendo justificar ou no, a tomada de deciso para acionar medidas de controle.

FUNASA - dezembro/2002 - pg. 50

Foto 32 - Destruio de laranjas por roedores

Foto cedida por Eloy Yanes Martin.

Foto 33 - Estocagem inadequada de espigas de milho

Foto cedida por Eloy Yanes Martin.

FUNASA - dezembro/2002 - pg. 51

2.4. Levantamento do ndice de infestao predial - busca ativaA inspeo de reas residenciais e comerciais em busca de vestgios da presena de roedores a melhor maneira de reunir dados quantitativos sobre o seu grau de infestao em uma determinada localidade.Foto 34 - Inspeo de rea residencial para controle de roedores

Foto cedida por Nyrad Menzen.

No levantamento do ndice de infestao predial, as seguintes etapas devem ser seguidas: 2.4.1.Definio da rea a rea operacional de um programa. Pode ser todo o municpio, um distrito ou mesmo um bairro. Todas as informaes relativas aos itens anteriores j devem estar levantadas e colocadas no mapa. 2.4.2. Metodologia de amostragem para o levantamento de ndice No h necessidade de inspeo de todos os imveis da rea alvo para se calcular o ndice de infestao. Pode-se utilizar mtodo de amostragem aleatria, que reduz significativamente a mo-de-obra necessria ao levantamento, conforme descrio abaixo: a. Mapeamento de toda rea-alvo com a numerao de todos os quarteires existentes na mesma. O nmero mdio de imveis por quarteiro tambm deve ser calculado. b. O nmero de imveis a serem inspecionados pode ser obtido utilizando-se a seguinte tabela:

Se a rea contm 10.000 ou mais imveis Entre 3.000 e 10.000 imveis Menos de 3.000 imveisFonte: Urban rat surveys- H.Davis, A Casta Ang. G.Schatz CDC, Atlanta, 1977.

O nmero mnimo de imveis a ser inspecionado 500 450 435

FUNASA - dezembro/2002 - pg. 52

Exemplo: c. Suponha que a rea alvo contenha 9.000 imveis (427 quarteires). Ser preciso inspecionar 450 imveis para que a amostra seja representativa, conforme tabela acima. d. Se o nmero mdio de imveis por quarteiro na rea alvo for 20, ento ser preciso inspecionar, no mnimo 23 quarteires para atingir o nmero exigido. e. Esses 23 quarteires devem ser selecionados, utilizando-se uma tabela de nmeros aleatrios (vide anexos) onde, para cada um dos 23 quarteires, caber um nmero especfico. Geralmente os mapas utilizados para controle de doenas da Fundao Nacional de Sade apresentam os quarteires j numerados. f. Todos os imveis includos nos quarteires selecionados devem ser inspecionados ainda que sejam necessrias vrias visitas para que se efetue sua inspeo. 2.4.3. Como selecionar uma amostra aleatria utilizando-se uma tabela de nmeros aleatrios Uma tabela de nmeros aleatrios feita de modo que todos os nmeros 0,1,2,.......,9 apaream com a mesma freqncia. Combinando-se os nmeros em pares temos nmeros de 00 a 99. Combinando-os em trs, temos nmeros de 000 a 999 e assim sucessivamente. De volta ao exemplo, queremos selecionar aleatoriamente 23 quarteires de um total de 427 existentes em nossa rea alvo. Como 427 um nmero com trs algarismos devemos usar trs colunas de nossa tabela. Selecione um ponto aleatoriamente da tabela (com os olhos fechados, escorregue um dedo sobre uma pgina da tabela aleatria e pare). Se esse nmero for menor ou igual a 427, este ter sido o primeiro quarteiro selecionado. Se o nmero selecionado for maior que 427, ignore-o (lembre-se que a rea alvo s possui 427 quarteires) e v com o dedo coluna abaixo anotando todos os nmeros encontrados abaixo de 427 at atingir os 23 quarteires desejados. O exemplo seguinte facilitar sua compreenso. Suponha que seu dedo parou no nmero formado pelas colunas verticais 25, 26 e 27 da linha horizontal 28 da terceira pgina da tabela. Este nmero 724( descartado por ser superior a 427, assim como o nmero 766). Continuando coluna abaixo encontra-se o nmero 081. O quarteiro 081 dever ser o primeiro escolhido. Seguindo-se coluna abaixo, encontramos os nmeros 361, 373, 061, 164, 224, 118, 300, 009, 140, 038, 401, 225, 328, 005, 184, 117, 376, 114, 192, 157, 107 e 021. Estes so os 23 quarteires necessrios e assim, j tendo a amostra definida, podemos dar incio fase de inspeo. Para entender o exemplo, siga os procedimentos j relacionados na tabela a seguir:

FUNASA - dezembro/2002 - pg. 53

Colunas 1 a 42 ( coluna 1= alg.8, coluna 2-alg.4, coluna 3=alg.5, etc.)84 27 30 12 96 76 05 30 27 05 25 19 33 71 63 21 88 58 76 79 06 86 78 10 93 31 63 47 57 16 60 03 82 28 35 17 61 44 10 08 36 26 22 96 44 74 01 08 55 17 53 21 73 66 16 36 05 14 62 60 12 62 84 74 35 62 69 61 92 96 72 90 58 78 90 96 92 44 19 48 21 91 68 89 40 20 20 86 14 80 27 80 29 08 86 29 38 56 36 90 07 10 12 12 29 71 57 10 13 70 61 01 82 44 68 39 53 68 45 06 71 77 02 70 46 11 88 66 61 20 37 23 15 21 06 97 78 36 01 34 20 31 95 63 87 60 31 07 90 40 73 40 12 77 97 44 69 87 35 30 23 36 41 79 46 41 15 81 67 97 16 91 60 01 45 28 30 11 27 83 89 47 68 40 74 02 34 42 03 79 83 76 70 16 81 82 10 07 25 17 27 91 56 34 65 66 49 44 87 09 18 51 77 19 68 04 19 51 33 19 06 28 17 96 45 03 01 50 20 79 35 06 17 17 56 87 62 67 38 55 94 17 08 03 87 95 48 56 32 27 60 65 32 21 04 28 65 68 27 70 93 69 52 68 82 65 35 79 37 82 76 77 04 34 05 27 66 48 64 15 99 80 48 60 69 24 65 17 82 73 81 16 71 89 27 54 50 01 12 47 41 83 59 90 35 34 38 93 67 72 94 40 23 33 54 65 37 09 52 99 32 94 73 01 13 64 63 77 16 39 32 03 71 16 36 88 10 07 06 28 82 18 19 29 28 73 95 68 23 41 39 05 81 91 80 66 13 45 96 17 72 21 06 49 20 11 98 00 59 85 02 72 07 71 90 78 21 38 61 99 71 05 08 51 44 33 76 76 17 16 49 15 99 12 94 44 86 47 38 92 13 27 41 08 24 06 73 99 51 91 33 02 39 94 38 11 21 85 25 52 43 78 06 93 74 67 40 16 69 35 24 72 19 37 53 73 56 23 09 70 05 24 90 20 95 84 97 54 28 42 23 44 25 08 09 06 85 12 09 89 64 90 96 89 57 74 84 87 79 83 14 71 01 00 21 25 84 43 17 51 35 57 66 07 69 77 11 89 88 08 05 70 89 67 50 25 75 91 97 02 85 83 49 55 80 22 33 19 71 09 63 25 98 24 53 73 68 28 76 71 55 08 38 55 67 58 67 90 45 91 07 62 81 87 91 15 42 80 28 88 15 10 22 50 35 29 60 08 94 50 20 08 30 09 15 28 78 13 98 61 24 04 37 14 40 86 57 72 14 87 87 08 23 88 26 03 16 11 11 44 20 56 15 68 95 37 93 48 82 65 50 52 50 67 14 17 78 33 23 35 21 09 15 72 76 08 36 37 06 53 16 22 11 87 94 30 00 56 61 14 72 45 71 03 14 82 68 35 72 48 83 36 90 28 67 55 21 36 39 99 37 07 91 63 94 16 81 64 86 21 71 49 69 17 11 30 11 33 41 47 84 67 89 04 96 54 37 04 42 39 73 86 01 25 41 69 33 42 28 31 05 90 01 35 84 30 45 01 57 69 17 76 93 05 14 63 94 92 57 08 63 47 07 21 44 28 29 68 57 23 31 08 73 18 49 04 27 53 18 83 05 72 56 77 36 97 58 84 35 08 88 45 62 07 14 73 98 83 78 67 68 31 23 87 76 37 99 82 99 91 03 54 04 69 28 41 82 88 92 47 23 76 16 16 46 57 67 49 90 38 59 97 15 56 65 62 82 54 39 06 61 68 06 17 26 42 78 16 47 84 72 60 64 41 16 05 13 18 38 19 13 78 74 47 26 51 37 83 56 55 56 36 54 93 00 17 06 95 49 47 56 48 33 56 12 12 75 44 15 37 26 87 51 98 84 38 90 72 44 07 81 45 51 15 41 12 98 22 15 74 08 79 27 86 17 50 69 22 58 07 23 53 88 92 17 88 07 93 70 29 08 49 32 17 35 26 99 54 50 59 67 38 65 96 08 39 08 98 03 23 81 99 51 12 32 54 12 21 09 53 31 85 43 41 83 02 79 91 60 90 45 45 39 38 25 57 98 16 58 08 39 55 76 19 09 04 27 46 24 99 61 77 44 38 03 24 10 67 18 14 60 80 58 17 75 99 35 38 87 87 74 58 38 39 59 18 02 02 19 37 80 91 44 77 28 55 59 24 49 36 60 75 15 07 18 86 18 15 11 81 34 96 73 26 01 23 27 29 08 28 67 85 27 06 89 84 56 60 18 88 91 61 38 16 71 66 99 63

Linha28

FUNASA - dezembro/2002 - pg. 54

2.5. InspeoUma vez selecionados os quarteires e imveis a serem inspecionados, estes devero receber a visita de um agente de controle de zoonoses que dever: a. Informar o objetivo da visita ao morador ou responsvel pelo imvel a ser inspecionado; b. Inspecionar todo o imvel buscando vestgios da presena de roedores. A inspeo dever incluir o sistema de esgotos, despensas, quintais, rea de criao de animais, depsitos, stos, pores e toda e qualquer instalao que possa servir de abrigo para roedores; c. Anotar em formulrio prprio (em anexo) as informaes referentes ao imvel e acerca de sua positividade ou no quanto presena de roedores. A fase de inspeo se encerra, quando todos os imveis includos na amostra j tenham sido vistoriados. Os dados ento acumulados devero ser utilizados na elaborao do relatrio a ser apresentado s autoridades locais.

2.6. Organizao e apresentao dos dados levantadosPara sensibilizar as autoridades quanto necessidade de implantao de um programa de controle de roedores, necessrio que o relatrio final contenha informaes relevantes tomada de deciso. Portanto, um bom relatrio dever ser subdividido em trs partes principais: 2.6.1. Diagnstico da situao de roedores na rea Os dados quantitativos de infestao, reclamaes na imprensa e agravos causados por roedores podem ser resumidos em tabelas ou grficos, que permitam fornecer um diagnstico da situao do municpio no momento de sua elaborao. A avaliao contnua destes dados permitir acompanhar sua evoluo ao longo do tempo, facilitando a tomada de deciso por parte das autoridades. No exemplo abaixo, embora o nmero de imveis existentes por bairro seja bastante diferente, no existem grandes diferenas no nmero de quarteires selecionados nem no nmero de imveis efetivamente inspecionados, enquanto que a infestao predial tambm varia bastante de bairro a bairro. Exemplo:Rio de Janeiro/RJ Bairro So Cristovo Zona Ponturia Jacarepagu Imveis existentes 11.485 7.189 55.718 Quarteires selecionados 26 24 27 Imveis inspecionados 583 693 523 Infestao predial 11,3 8,3 17,4 reclamaes Ano 64 95 315

2.6.2. Discusso e concluso Nesta segunda etapa do relatrio, o tcnico responsvel pela elaborao do diagnstico, dever confrontar dados de identificao e caracterizao do municpio (principalmente infra-estrutura urbana e condies socioeconmicas) com dados de infestao, procurando sempre correlacionar causa e efeito. De modo geral, estas correlaes so diretamente proporcionais ao grau de infestao e inversamente proporcionais s condies de saneamento da rea. A partir da discusso dessas correlaes, dever ser emitido parecer conclusivo sobre a necessidade ou no de implantao de um programa de controle. 2.6.3. Indicao de solues A implantao de um programa de controle de roedores deve ser acompanhada de medidas de saneamento bsico. Numa localidade onde no haja coleta de lixo, no h justificativa para implementao imediata do controle de roedores sem antes implant-la, salvo as situaes de risco sade pblica.FUNASA - dezembro/2002 - pg. 55

Neste caso, o relatrio deve conter e indicar as aes pontuais a serem executadas independentemente da implantao do programa e que possam, direta ou indiretamente interferir em sua soluo.

2.7. A quem apresentar o relatrioO relatrio dever ser encaminhado s autoridades do poder executivo municipal, prefeito e/ou secretrio municipal de sade. Cpias tambm devem ser encaminhadas Cmara de vereadores e s entidades representativas da sociedade civil que possam, de alguma forma, influenciar o poder executivo na tomada de deciso para implantao do programa.

FUNASA - dezembro/2002 - pg. 56

Captulo 3 Elaborao de um programa de controle de roedores3.1. Como elaborar um programaUm programa de controle de roedores deve ter como base o diagnstico do municpio ou parte dele quanto prevalncia das espcies existentes, grau de incidncia de doenas por eles transmitidas, assim como as condies socioeconmicas e sanitrias da cidade em questo.(Consultar captulo 2).Foto 35 - Esgoto a cu aberto em rea de risco de leptospirose

Foto cedida por Nyrad Menzen e Minekazu Matsuo.

O objetivo primordial a reduo no nmero de agravos sade, bem como, nos prejuzos econmicos que certamente causam:- queda na oferta de alimentos, severos danos s estruturas e materiais em virtude do hbito de roer, assim como, altos custos mdicos no tratamento de doentes, quando da ocorrncia de doenas transmitidas por roedores nas comunidades.Foto 36 - Alimentos rodos, gerando prejuzos econmicos e sanitrios populao

Foto cedida por Neide Ortncio Garcia e Nyrad Menzen

Para que se possa dar incio ao programa deve-se dispor de algumas informaes que serviro de base a esta proposta:

FUNASA - dezembro/2002 - pg. 57

3.2. Caracterizao da rea3.2.1. Dados demogrficos Populao urbana e rural. Taxa de crescimento da populao. Densidade demogrfica.Foto 37 - Populao de rea urbana

Foto cedida por Nyrad Menzen.

3.2.2. Dados geogrficos e pluviomtricos Extenso territorial total ou da rea proposta para o controle rea urbana e rural, nmero de distritos, nmero de bairros e nmero de imveis. Bacia hidrogrfica para avaliao de reas inundveis (se existirem), considerando-se a veiculao hdrica da leptospirose; ndices pluviomtricos para identificao dos meses de ocorrncia de maior volume de chuvas, o que determinar o direcionamento das aes do programa e o dimensionamento do raticida a ser empregado, de acordo com sua aplicao;Foto 38 - rea de risco de leptospirose ps-enchente

Foto cedida por Minekazu Matsuo.

FUNASA - dezembro/2002 - pg. 58

Topografia da regio rea