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VIGILÂNCIA SANITÁRIA E ESCOLA parceiros na construção da cidadania EXEMPLAR PARA PROFESSORES Agência Nacional de Vigilância Sanitária 2008

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Manual VISA nas escolas

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  • VIGILNCIA SANITRIA E ESCOLA parceiros na construo da cidadania

    EXEMPLAR PARA PROFESSORES

    Agncia Nacional de Vigilncia Sanitria 2008

  • FICHA CATALOGRFICA

    Brasil. Agncia Nacional de Vigilncia Sanitria.Vigilncia Sanitria e Escola: parceiros na construo da cidadania/ Agncia Nacional de Vigilncia Sanitria. Braslia: Anvisa, 2008.108 p.ISBN 978-85-88233-34-8

  • Copyright 2008. Ministrio da Sade. Agncia Nacional de Vigilncia Sanitria (Anvisa). permitida a reproduo desta obra, desde que citada a fonte.

    DIRETOR-PRESIDENTE. Dirceu Raposo de Mello

    DIRETORES. Maria Ceclia Martins Brito Jos Agenor lvares da Silva Agnelo Santos Queiroz Filho

    CHEFE DE GABINETE. Aldima Mendes

    Gerncia de Monitoramento de Fiscalizao de Propaganda, de Publicidade, de Promoo e de Informao de Produtos Sujeitos Vigilncia Sanitria

    GERENTE. Maria Jos Fagundes Delgado

    REDAO. Alice Alves de Souza Paula Simes de Oliveira Rosaura Hexsel

    COLABORADORES. Claudia Passos Guimares Fernanda Horne da Cruz Itamar de Falco Junior Kelly Dias Botelho Kobausk Frana Felix Lorilei de Ftima Wzorek Paulo Cesar Ferreira Maia Renata de Arajo Ferreira Rodrigo Veloso Taveira Caroline Bruggemann Katia R. Torres

    Assessoria de Divulgao e Comunicao Institucional

    ASSESSORA-CHEFE. Martha Nazar Santos Corra

    PROJETO GRFICO E DIAGRAMAO. Radiola Design & Publicidade

    ILUSTRAES. Victor Irigonh / Radiola Design & Publicidade

    1 EDIO. Tiragem: 2.500 exemplares

    www.anvisa.gov.br

  • APRESENTAO

    Vigilncia sanitria & escola: parceiros na construo da cidadania uma publicao destinada aos professores das escolas participantes do Projeto Educanvisa, uma iniciativa da Agncia Nacional de Vigilncia Sanitria (Anvisa) em parceria com o Conselho Federal Gestor do Fundo de Direitos Difusos, do Ministrio da Justia (CFDD/MJ), desenvolvido com o objetivo de promover aes e estratgias em educao e comunicao em sade para formar cidados mais conscientes quanto aos assuntos referentes vigilncia sanitria.

    O texto, apresentado em linguagem simples e acessvel, lana mo de alguns conceitos prprios do campo da sade, em especial da vigilncia sanitria, com o objetivo de estimular e fortalecer a participao da comunidade escolar na construo dos processos de melhoria das condies de vida e sade das populaes. No decorrer da leitura, os professores podero se aproximar de temas de relevncia para a sade coletiva, presentes no dia-a-dia, como a construo do conceito de sade, a promoo e a educao em sade, a histria

    e a atuao da vigilncia sanitria, os medicamentos e o seu uso racional, a importncia da alimentao saudvel, o papel da publicidade/propaganda no mundo atual, e os riscos das propagandas de medicamentos e alimentos no desenvolvimento de hbitos de vida no saudveis como o uso inadequado de medicamentos, os riscos da automedicao e a influncia da publicidade/propaganda no consumo inadequado de produtos farmacuticos e na aquisio de alimentos no-saudveis, que, no raro, podem ser prejudiciais sade.

    O material foi desenvolvido com o intuito de discutir, de forma mais aprofundada, as temticas abordadas no Projeto, funcionando como um referencial terico para a construo das atividades em sala de aula e na comunidade.

    O conhecimento e a avaliao crtica, promovidos pela ao educativa, podem ser os passos iniciais para a adoo de modos de vida mais saudveis em busca da qualidade de vida. E educar em sade no deve ser uma tarefa exclusiva do professor, mas de toda a comunidade escolar. Entendemos que no adianta saber algo; preciso transformar o conhecimento adquirido em ao.

    TRANSFORMAR AGIR!

    Dirceu Raposo de MelloDiretor-presidente

  • CAPTULO 1: Sade e educao: direito de todos

    Sade: conceitos e perspectivas 8Constituio cidad 10Sistema nico de Sade 11Promoo da sade 14

    Educao 16Educao na escola 17

    Educao & sade 18

    SNTESE DO CAPTULO 1 21

    CAPTULO 2: Vigilncia sanitria

    A era sanitria no Brasil 27D. Pedro I e o grito de independncia do Brasil 28

    Brasil, uma nao republicana 29O sculo XX e a sade pblica brasileira 30

    Mudanas e novos desafios 32Anvisa assume as aes de vigilncia sanitria no pas 34

    SNTESE DO CAPTULO 2 35

    CAPTULO 3: Medicamentos e o seu uso racional

    Remdio versus medicamento 38Fique atento s plantas medicinais 38Finalidades do uso de medicamentos 40Forma farmacutica e via de administrao 41

    Medicamentos tambm possuem nomes 43Medicamentos de referncia, genricos e similares 44Embalagem do medicamento 46Classificao de venda dos medicamentos 47

    Entendendo a bula de medicamentos 48Cuidados com os medicamentos 50Cuidados na hora de descartar os medicamentos 52Uso racional de medicamentos 52Posologia 53Automedicao 54O consumo abusivo de medicamentos pelos jovens 55

    SNTESE DO CAPTULO 3 57

  • CAPTULO 5: Propaganda e consumo

    Em foco: a propaganda 80Publicidade e propaganda 81O fortalecimento da propaganda 82Propaganda como processo econmico e social 83A linguagem da propaganda 84Propaganda promocional e institucional 85Propaganda enganosa e propaganda abusiva 85Pblico-alvo: crianas? 86

    Propaganda de medicamentos 87O poder da propaganda de medicamentos 88

    Caminhos para a persuaso 90Propaganda ideal versus propaganda real 92

    Controle da propaganda de medicamentos 92Propaganda de alimentos 95Propaganda versus obesidade infanto-juvenil 96

    Propagandas enganosas e abusivas 98Aleitamento materno e propaganda 98Regulamentao da propaganda

    de alimentos 99A monitorao da propaganda no Brasil 100Como denunciar 100

    SNTESE DO CAPTULO 5 101

    CAPTULO 4: Alimentao saudvel

    Os alimentos e suas funes 60O consumo em excesso de acares, gorduras e sdio 63

    Praticando uma alimentao saudvel 64Dez passos para uma alimentao saudvel 66

    Rotulagem nutricional 68Alimento seguro 71

    Doenas transmitidas por alimentos 72Preveno e controle dos alimentos 72

    Como lavar as mos corretamente 75Acione a vigilncia sanitria 75

    Alimentao saudvel e atividade fsica 76

    SNTESE DO CAPTULO 4 79

    BIBLIOGRAFIA 102

  • captulo 1SADE E EDUCAO:

    DIREITO DE TODOS

    Sade: conceitos e perspectivas

    A preocupao com a sade no algo recente, pelo contrrio, ela vem desde a antigidade e se mantm at os dias de hoje. No entanto, os enfoques e os conceitos foram sendo revistos e transformados ao longo do tempo. Afinal, falar sobre sade no algo simples, direto, e, principalmente, delimitado. Pelo contrrio, um tema abrangente, que est sempre em discusso e construo. Mas, afinal, o que sade?

    Etimologicamente, sade deriva do termo salus, que, no latim, quer dizer o atributo principal dos inteiros, intactos, ntegros. Desse mesmo termo, deriva o radical salvus, que conotava a superao de ameaas integridade fsica dos sujeitos (ALMEIDA FILHO, 2000). Como se pode ver, nesses casos, sade remete idia de totalidade, de fora.

    Ao percorrermos a Histria, identificamos o processo de transformao nas vises e conceitos sobre sade. Na Idade Mdia, por exemplo, a sade baseava-se no entendimento que as doenas eram transmitidas pelo ar contaminado, pela decomposio das matrias orgnicas e pelas guas sujas e estagnadas, contaminando as pessoas pelos poros do corpo. Ou seja, dependia apenas dos fatores ambientais como o ar, o clima, a terra e as guas.

  • 9Com o advento da medicina moderna, a sade passou a ser considerada a mera ausncia de doenas fsicas e/ou mentais, estando relacionada dimenso puramente biolgica da pessoa. De acordo com esse ponto de vista, denominado de biomdico, a doena estaria relacionada a questes e condies abstratas, independentes de fatores ambientais, sociais e/ou psicolgicos. Ter sade era equivalente a no estar doente, dependendo somente do bom funcionamento do corpo. Tal posicionamento levou os servios de sade a adotarem uma postura de tratamento com foco apenas na dimenso curativa - tratando as doenas eles estariam produzindo sade.

    Em 1948, ano em que foi criada, a Organizao Mundial de Sade (OMS) formulou um conceito de sade que, ainda hoje, suscita discusso: "Sade o mais completo bem-estar fsico, mental e social, e no apenas a ausncia de enfermidade". certo dizer que este conceito rompeu com a viso tradicional, vez que extrapolou a questo fsica e determinou que fossem consideradas, tambm, as dimenses mental e social. No entanto, h controvrsia com essa definio, considerando que o conceito muito mais abrangente; o que o torna pouco prtico, pouco operacional, afirmaria Moacir Scliar, mdico e escritor, em seu artigo O idioma da sade.

    Apesar de o avano considervel, o conceito sofreu inmeras crticas, sendo considerado utpico. Afinal, como alcanar o estado de completo bem-estar? Ou ainda, como definir um estado de completo bem-estar? Em estado de completo bem-estar estaria o indivduo que possui todas as suas necessidades (fsicas, psicolgicas e sociais) integralmente satisfeitas, o que no condiz com a condio do ser humano, que , por natureza, insatisfeito (S JNIOR, 2004).

    Nas ltimas dcadas, o modelo biomdico passou a ser criticado, defendendo-se a idia de que o processo sade-doena no se restringe aos aspectos meramente biolgicos ou orgnicos. Pelo contrrio, abrange tambm outras dimenses sociais, culturais, ecolgicas, psicolgicas, econmicas, religiosas.

    A partir de novos entendimentos que foram sendo discutidos e construdos, chegou-se concluso de que o estado de sade de uma populao, comunidade, municpio ou pas no depende apenas do indivduo, mas da sua relao com o meio ambiente, do seu modo de vida, da sua cultura, assim como das condies econmicas e sociais. Inicia-se uma abordagem mais integralista em relao ao processo sade-doena, superando a concepo anterior, centrada apenas no controle da enfermidade.

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    Relacionado com a qualidade de vida, o conceito atual de sade transcende as questes biolgicas e valoriza o modo de vida, o acesso a servios pblicos de sade, a educao, o trabalho, o transporte, o lazer, a alimentao, o saneamento bsico, entre outros. A sade deixa de ser a mera ausncia de doena e passa a levar em conta a diversidade, alm de ser entendida como um valor coletivo, diretamente ligado s condies socioeconmicas da populao.

    Desta forma, no h como qualificar um indivduo ou populao como completamente saudvel ou doente. Todos possuem condies de sade/doena, dependendo da realidade e do contexto onde cada um est inserido.

    Constituio cidad

    A sade no Brasil considerada direito de todos e dever do Estado. o que est exposto na Constituio Federal de 1988. Antes dela, somente os trabalhadores com carteira assinada e suas famlias tinham garantido o direito aos servios pblicos de sade, a outra parcela da populao era atendida como um favor prestado pelo Estado, que no era obrigado a isso. Com o processo de redemocratizao do pas, ocorre a insero da sade como direito de todos e dever do Estado e a assistncia mdica deixa de ser o nico componente determinante para a promoo da sade.

    A Constituio Federal de 1988, em sua Seo II, artigo 196, define:

    A sade um direito de todos e dever do Estado, garantido mediante polticas sociais e econmicas que visem reduo do risco de doena e de outros agravos e ao acesso universal e igualitrio s aes e servios para sua promoo, proteo e recuperao (BRASIL, 1988).

    Alm da garantia do acesso universal e no discriminatrio da populao aos servios de sade, h a preocupao em formular e instituir polticas pblicas de outras reas que influenciam diretamente na qualidade de vida do cidado e, portanto, na sua sade.

    A Lei Orgnica da Sade (Lei n 8.080/90) estabelece o conjunto de aes que devem ser seguidas por instituies pblicas federais, estaduais e municipais, e traz em seu texto:

    Artigo 2 A sade um direito fundamental do ser humano, devendo o Estado prover as condies indispensveis ao seu pleno exerccio.2 O dever do Estado no exclui o das pessoas, da famlia, das empresas e da sociedade.

    Artigo 3 A sade tem como fatores determinantes e condicionantes, entre outros, a alimentao, a moradia, o saneamento bsico, o meio ambiente, o trabalho, a renda, a educao, o transporte, o lazer e o acesso aos bens e servios essenciais; os nveis de sade da populao expressam a organizao social e econmica do Pas.

    A legislao ratifica a responsabilidade do Estado no sentido de prover polticas pblicas em todas as reas, visando promoo da sade da populao, assim como estende a responsabilidade com a sade ao indivduo, s famlias e sociedade.

    A pessoa passa a ser chamada para o cuidado consigo mesma e tambm para o cuidado com a sua comunidade. O cidado comea a intervir no processo de promoo da sade por meio da organizao e participao em escolas, associaes de bairro, de classe, empresas e conselhos participativos, exercendo o papel de interventor e transformador de sua realidade. Ao governo cabe a articulao entre todas as suas instncias, com o setor privado e com a sociedade civil.

    So considerados requisitos e condies para a sade:

    PAZ EDUCAO HABITAO ALIMENTAO

    RENDA ECOSSISTEMA ESTVELRECURSOS SUSTENTVEIS

    JUSTIA SOCIAL EQIDADE

    Fonte: OMS, 1986

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    captulo 1 SA

    DE E EDUCA

    O: DIREITO DE TODOS

    Possivelmente, em diversas situaes do dia-a-dia, voc j deve ter ouvido o termo Sistema nico de Sade ou, simplesmente, SUS. A maioria das pessoas associa o nome imediatamente a hospitais pblicos, e de preferncia lotados, mas o SUS muito mais abrangente e, em que pesem todas as dificuldades, consiste em um marco na histria do Pas.

    O SUS representa uma verdadeira conquista da sociedade brasileira, fruto de um longo processo de luta e mobilizao sociais que, desde os anos 1970, envolve profissionais de sade, lideranas polticas, movimentos populares, usurios, gestores, intelectuais, sindicalistas e militantes dos mais diversos movimentos sociais. Foi criado a partir da Constituio Federal de 1988 e determina uma profunda reforma no Pas: a sade como direito, a ser garantido pelos princpios da Universalidade, Integralidade, Eqidade, Descentralizao e Participao Social.

    Como o prprio nome diz, o SUS um sistema, pois formado por instituies das trs esferas de governo Unio, estados e municpios e pelo setor privado, com o qual so feitos contratos e convnios para a realizao de servios e aes. Sua funo promover e proteger a sade, garantindo ateno qualificada e contnua aos indivduos e s coletividades, assegurando a cidadania e o fortalecimento da democracia.

    Dizemos que o SUS nico, pelo fato de ter a mesma filosofia de atuao em todo o territrio nacional e por ser organizado de forma a obedecer mesma lgica. um sistema pblico, ou seja, destinado toda a sociedade e financiado com recursos arrecadados por meio dos impostos pagos pela populao. As suas caractersticas principais so:

    UNIVERSALIDADE, pois deve atender a todos, sem distino, de acordo com suas necessidades, e sem cobrar nada pelo atendimento.

    INTEGRALIDADE, porque a sade da pessoa no pode ser dividida, deve ser tratada como um todo. Por isso, as aes de sade devem estar voltadas tanto para o indivduo quanto para a comunidade; e tanto para a preveno quanto para o tratamento, sempre respeitando a dignidade humana.

    EQIDADE, vez que deve oferecer os recursos de sade de acordo com as necessidades de cada um, ou seja, dar mais para quem mais precisa.

    DESCENTRALIZAO, deixando o poder de deciso para os responsveis pela execuo das aes. O SUS tem um gestor nico em cada esfera de governo. Por exemplo, a Secretaria Municipal de Sade tem que ser responsvel por todos os servios localizados na cidade.

    REGIONALIZAO, considerando que nem todos os municpios possuem capacidade instalada para atender a

    Sistema nico de Sade: uma conquista de todos os brasileiros

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    governo, tm como funo coordenar e planejar o SUS, respeitando a normatizao federal e o planejamento estadual. Caso o municpio no possua todos os servios de sade, ele pode estabelecer parcerias com outros municpios para garantir o atendimento pleno de sua populao.

    No se pode esquecer que a vigilncia sanitria tambm faz parte do SUS, sendo a Anvisa um de seus representantes com os outros integrantes do Sistema Nacional de Vigilncia Sanitria (SNVS).

    Aps conhecer um pouco mais sobre o SUS, talvez fique a impresso de que ele a salvao para todos os problemas na rea da sade. Mas importante lembrar que a sade da populao depende do empenho de outras instncias, alm do SUS, sendo necessrio o investimento em polticas econmicas e sociais, capazes de garantir a melhoria das condies de vida e sade das populaes, tais como: emprego, salrio, moradia, alimentao, educao, lazer e transporte, por exemplo.

    todas as demandas e a todo tipo de problemas de sade.

    RACIONALIDADE, pois o SUS deve se organizar para oferecer aes e servios que estejam de acordo com as necessidades da populao e com os problemas de sade mais freqentes em cada regio.

    EFICCIA E EFICINCIA, prestando servios de qualidade e apresentando solues quando as pessoas o procuram ou quando h um problema de sade pblica. Deve ainda utilizar tcnicas mais adequadas, conforme a realidade local e a disponibilidade de recursos, eliminando o desperdcio e fazendo com que os recursos pblicos sejam aplicados da melhor maneira possvel.

    PARTICIPAO POPULAR, assegurando o direito de participao a todos os segmentos envolvidos governos, prestadores de servios, profissionais de sade e, principalmente, os usurios dos servios.

    CONTROLE SOCIAL, que significa a maneira como a sociedade fiscaliza a qualidade dos servios oferecidos pelo Estado. Os principais instrumentos para exercer esse controle social so os Conselhos e as Conferncias de Sade.

    No SUS, no existe hierarquia entre a Unio, os estados e os municpios, mas h competncias para cada um deles. Os entes federados negociam e entram em acordo sobre aes, servios, organizao do atendimento e outras relaes dentro do sistema pblico de sade. A gesto federal realizada por meio do Ministrio da Sade, que o principal financiador da rede pblica de sade. responsvel por formular polticas nacionais de sade, mas no realiza as aes. Nesse caso, depende de seus parceiros (estados, municpios, ONGs, fundaes, empresas, entre outros). Alm disso, tambm tem por funo planejar, criar normas, avaliar e utilizar instrumentos para o controle do SUS.

    Nos estados, a gesto realizada por meio das secretarias de sade, que atuam como parceiras do Ministrio da Sade na aplicao de polticas nacionais, alm de formularem suas prprias polticas de sade. So responsveis pela coordenao e planejamento do SUS no mbito estadual, e tambm pela organizao do atendimento sade em seu territrio.

    Os municpios, por sua vez, so considerados os principais responsveis pela sade da populao local, assumindo integralmente a gesto das aes e servios de sade oferecidos em sua rea de abrangncia. Assim como na gesto estadual, eles tambm possuem secretarias especficas para a gesto da sade e atuam como parceiros e formuladores de polticas de sade. Nesta esfera de

    O SUS est presente no dia-a-dia de todos os brasileiros. Do simples atendimento ambulato-rial a ser considerado o maior sistema pblico de transplantes do mundo, o SUS tem se man-tido ora avanando, reunindo inmeras expe-rincias de sucesso muitas delas consideradas de referncia internacional , ora enfrentando desafios de um projeto a concluir, considerando suas limitaes oramentrias.

    Mesmo assim, o SUS vai muito alm da ateno sade, investindo em pesquisa e produo de novas tecnologias e conhecimentos, participan-do na produo de insumos, medicamentos e imunobiolgicos e, tambm, desenvolvendo tecnologias de ponta. Alm disso, existe ainda um SUS quase invisvel, mas que faz parte do co-tidiano de todos, no s prevenindo doenas e epidemias, como tambm garantindo a qualida-de da gua, dos alimentos e medicamentos que consumimos, das condies em que trabalhamos e de inmeros outros aspectos de nossas vidas.

    Fonte: BRASIL, 2006.

    SUS: 20 anos a servio da sade

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    captulo 1 SA

    DE E EDUCA

    O: DIREITO DE TODOS

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    Promoo da sade

    No h como negar, as dificuldades no que se refere sade so muitas, desde o atendimento nos servios de sade at problemas advindos do ritmo de vida moderno, como o estresse, o sedentarismo, a obesidade e a depresso. Fica a sensao de que est cada vez mais difcil conquistar ou manter uma vida saudvel. Quais seriam as possveis solues para isso?

    Nas ltimas dcadas, em contraposio ao modelo biomdico, iniciou-se uma discusso sobre como criar mecanismos para enfrentar os diversos problemas de sade que afetam as populaes e o seu entorno. Uma das estratgias identificadas foi a promoo da sade termo polissmico que admite variadas interpretaes, mas com uma mesma direo: a qualidade de vida das pessoas.

    A promoo da sade extrapola o campo especfico da assistncia mdico-curativa, baseando-se na concepo de que todos os cidados devem ter igual acesso aos recursos que possibilitem a melhoria das condies de vida e sade de todos: educao, habitao e meio ambiente adequados, emprego e renda, informao, lazer e cultura, saneamento, alimentao, segurana, participao social e servios de sade. Para isso, busca fomentar mudanas em trs nveis: assistncia sade, gesto local de polticas pblicas

    e proteo e desenvolvimento social para todos, constituindo-se em um processo social e poltico.

    Em 1986, foi realizada, no Canad, a 1 Conferncia Internacional sobre promoo da sade. Desse encontro resultou uma carta de intenes, chamada Carta de Ottawa, um dos documentos fundadores da promoo da sade, que define: A promoo da sade o processo de capacitao das pessoas e da comunidade para atuar na melhoria de sua qualidade de vida e sade, incluindo uma maior participao no controle sobre os determinantes da sade. Detalhando mais o conceito acima, a promoo da sade considerada como

    um conjunto de atividades, processos e recursos, de ordem institucional, governamental ou da cidadania, orientados a propiciar a melhoria das condies de bem-estar e acesso a bens e servios sociais, que favoream o desenvolvimento de conhecimentos, atitudes e comportamentos favorveis ao cuidado da sade e o desenvolvimento de estratgias que permitam populao maior controle sobre sua sade e suas condies de vida, em nveis individual e coletivo (GUTIERREZ, 1996).

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    captulo 1 SA

    DE E EDUCA

    O: DIREITO DE TODOS

    Na Carta de Ottawa so definidos cinco campos de ao para promover a sade das populaes:

    Elaborao de polticas pblicas, colocando a sade na agenda de prioridades dos polticos e dirigentes em todos os nveis e setores.

    Criao de ambiente favorvel proteo da sade, aliando a sade s outras questes sociais, como trabalho e meio ambiente.

    Fortalecimento de aes comunitrias.

    Desenvolvimento de habilidades pessoais, por meio da divulgao de informao, educao para a sade e intensificao das habilidades vitais.

    Reorientao de servios de sade, compartilhando a responsabilidade entre todos os atores envolvidos indivduos, governo, comunidade, parceiros , para desenvolver um sistema de sade de nvel elevado.

    Ao desenvolver estratgias de promoo da sade importante seguir alguns princpios norteadores (WHO, 1998):

    Adotar uma viso holstica da sade, integrando as dimenses fsica, mental, social e espiritual.

    Desenvolver aes intersetoriais, visando alcanar melhores resultados, alm de proporcionar uma racionalizao de recursos.

    Trabalhar com o empoderamento dos indivduos e das comunidades, capacitando-os para desenvolver um controle maior sobre os fatores pessoais, socioeconmicos e ambientais que afetam a sua sade. Nesse caso, as comunidades passam a ser responsveis pela definio e eleio de seus problemas e necessidades prioritrias.

    Estimular a participao social, envolvendo todos os atores diretamente interessados no processo de eleio de prioridades, tomada de decises, implementao e avaliao das iniciativas.

    Eliminar as diferenas desnecessrias, evitveis e injustas que restringem as oportunidades para se atingir o direito de bem-estar, alcanando a eqidade.

    Desenvolver aes estratgicas, envolvendo diferentes disciplinas e combinando mtodos e abordagens variadas, incluindo o desenvolvimento de polticas, mudanas organizacionais, desenvolvimento comunitrio, questes legislativas, educacionais e do mbito da comunicao.

    Gerar iniciativas que estejam de acordo com o princpio do desenvolvimento sustentvel, garantindo um processo contnuo e duradouro.

    Para promover sade deve-se ter em mente que cada pessoa, assim como cada comunidade, nica, com suas prprias necessidades, desejos, aspiraes, potencialidades, formas de pensar e de sentir. fundamental considerar, respeitar e valorizar a experincia de vida e os conhecimentos de cada um, alm de estimular as pessoas a pensarem sobre sua prpria realidade, de seu prprio jeito, evitando adotar uma postura nica e rgida na busca de solues, afinal, existem diferentes formas de explicar e lidar com cada situao.

    No momento de desenvolver estratgias e programas na rea da promoo da sade, deve-se levar em conta as necessidades locais, as possibilidades de cada pas e regio e as especificidades sociais, culturais e econmicas.

    A disseminao de contedos informativos e educativos so as bases para a tomada de deciso e, portanto, componentes importantes da promoo da sade. Por isso a necessidade da participao da escola no processo de construo de uma vida mais saudvel, na busca por qualidade de vida.

    Operacionalizar a promoo da sade requer a co-operao entre os diferentes setores envolvidos e a articulao de suas aes: legislao, sistema tribu-trio e medidas fiscais, educao, habitao, servio social, cuidados primrios em sade, trabalho, ali-mentao, lazer, agricultura, transporte, planeja-mento urbano entre outras coisas. Neste sentido, cabe destacar a responsabilidade do governo, tanto em nvel local como nacional, de atuar de maneira a garantir que as condies totais, que esto alm dos indivduos ou grupos, sejam favorveis sade.

    Fonte: OMS, 1984

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    Educao

    O ritmo acelerado do crescimento econmico e tecnolgico, caracterstico dos dias atuais, tem gerado inmeras demandas em todos os setores da sociedade. Tal desenvolvimento acarretou melhora significativa na qualidade de vida das pessoas, mas, em contrapartida, como no acessvel a todos, causou uma considervel disparidade social.

    Eis, portanto, o grande desafio enfrentado pelas polticas pblicas atuais: Como fazer com que as conquistas e os avanos tecnolgicos possam beneficiar a todos, sem exceo?

    A educao um elemento fundamental para a superao desse desafio. O vocbulo em questo deriva do latim educare (e/ou do cognato educere), o prefixo e significa para fora e ducere guiar, conduzir. Ento, literalmente, educao pode ser definida como a atividade de conduzir para fora. Jos Carlos Libneo, pedagogo, defensor da Pedagogia Crtica Social dos Contedos afirma que educar conduzir de um estado para outro, modificar numa certa direo... (LIBNEO, 1987).

    Em relao s necessidades individuais, a educao visa: o desenvolvimento harmnico do corpo e do esprito; o desenvolvimento emocional, assim como da capacidade criativa e do esprito de iniciativa; a formao de uma postura crtica, da esttica, da tica e da moral; alm da assimilao dos valores e tcnicas fundamentais da cultura a que pertence o educando.

    No plano das necessidades sociais, os objetivos da educao so: a conservao e a transmisso cultural; o desenvolvimento do senso de responsabilidade social; a instrumentalizao para que o educando participe conscientemente das transformaes e do progresso social; a formao poltica e econmica para o exerccio pleno da cidadania, das parcerias e da solidariedade; e, sobretudo, a integrao social.

    Ela pode ocorrer no mbito da famlia, do trabalho, do grupo de amigos, da comunidade, da igreja, entre outros.

    A educao reconhecida pela Constituio Federal de 1998, em seu artigo 6, como um direito social, definida como o processo pelo qual o ser humano adquire conhecimento, desenvolve sua capacidade intelectual, sensibilidade afetiva e suas habilidades psicomotoras. Confunde-se com o prprio processo de humanizao, quando capacita o indivduo de forma que este seja capaz de estabelecer cdigos de comportamento para agir conforme princpios e valores seus e de sua comunidade, podendo alter-los quando julgar necessrio.

    A educao um direito humano bsico e elemento-chave para a realizao de mudanas polticas, econmicas e sociais, devendo ser acessvel durante toda a vida e baseada nos princpios de igualdade.

    A educao, direito de todos e dever do Estado e da famlia, ser promovida e incentivada com a cola-

    borao da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exerccio da cidadania e sua qualificao para o trabalho.

    Fonte: CF, 1988, artigo 205

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    captulo 1 SA

    DE E EDUCA

    O: DIREITO DE TODOS

    Educao na escola

    Por intermdio da educao escolar so construdos os conceitos e apropriados os conhecimentos que podero promover a autonomia e a emancipao do educando, em direo ao seu crescimento social. Atualmente, essencial para a sobrevivncia e o alcance do bem-estar de uma comunidade e tem se consolidado como uma via extremamente eficaz no combate excluso social.

    Nesse sentido, a funo da escola deixou de ser meramente reprodutora. A simples transmisso de contedos formais, visando capacitao para a insero no mercado de trabalho deixou de ser objetivo principal dos planejamentos de ensino. Alm do currculo composto pelas disciplinas tradicionais, prope-se a insero de temas transversais, vinculados ao cotidiano da populao, como tica, meio ambiente, consumo, sade, entre outros. O foco a socializao do indivduo, criando um ambiente prprio para a discusso e a participao, de modo a preparar a pessoa para atuar na sociedade como partcipe da construo de sua prpria histria, em busca do exerccio da cidadania plena.

    Isso configura um cenrio em que o processo de aprendizagem se torna to importante quanto

    o ensino. O objetivo principal que o aluno aprenda, fundamentalmente, pela experincia, pelo que descobre por si mesmo. O professor, em oposio escola tradicional, visto como um facilitador no processo de busca do conhecimento. Ele o organizador e coordenador das situaes de aprendizagem, adaptando suas aes s caractersticas individuais dos alunos, para que este desenvolva suas capacidades e habilidades intelectuais (BRASIL, 1998).

    Para tanto, a escola precisa, em seu Projeto Poltico Pedaggico, promover aes voltadas para a formao, a integrao social e o exerccio da cidadania, tornando-se um espao privilegiado onde so discutidas diversas estratgias que envolvem tanto o estabelecimento de ensino quanto o desenvolvimento do seu entorno, visando qualidade de vida de toda a sociedade.

    O sujeito que passa por um processo educativo, possivelmente estar mais preparado para a defesa dos seus direitos econmicos, sociais e culturais. Assim, qualquer ao que pretenda melhorar as condies de vida das populaes, em especial as menos favorecidas, tem maior chance de sucesso, se contar com a participao da comunidade escolar.

    O artigo 2 da Lei de Diretrizes e Bases da Educao Nacional (LDB) diz que: A educao, dever da famlia e do Estado, inspirada nos princpios da liberdade e nos ideais de solida-riedade humana, tem por finalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exerccio da cidadania e sua qualifica-o para o trabalho. Nesse sentido, o Minis-trio da Educao e do Desporto instituiu o documento Parmetros Curriculares Nacionais que, no seu volume Temas Transversais, afirma que a educao para a cidadania requer que questes sociais sejam apresentadas para a aprendizagem e a reflexo dos alunos, buscan-do um tratamento didtico que contemple sua

    complexidade e sua dinmica, dando-lhes a mesma importncia das reas convencionais. E que a for-mao de cidados exige uma prtica educacional voltada para a compreenso da realidade social e dos direitos e responsabilidade em relao vida pessoal, coletiva e ambiental.

    A LDB proporciona as condies para essa pr-tica quando estabelece que Os currculos do en-sino fundamental e mdio devem ter uma base nacional comum, a ser complementada, em cada sistema de ensino e estabelecimento escolar, por uma parte diversificada, exigida pelas caractersti-cas regionais e locais da sociedade, da cultura, da economia e da clientela.

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    Portanto, um grande desafio se coloca na tentativa de que a educao voltada para a sade nas escolas transforme atitudes e hbitos de vida no-saudveis, no s do indivduo, mas de toda a comunidade.

    No processo de construo de uma condio saudvel de vida, a escola desempenha papel fundamental, por ser uma das principais responsveis pela formao do indivduo, construindo conhecimentos, relaes e aes que fortaleam a participao das pessoas nessa construo.

    Dessa perspectiva, importante que a escola realize aes integradas com os diversos atores da sociedade. O professor deve estar atento e aberto s novas formas de ver o mundo, buscando enfrentar e superar seus antigos valores e preconceitos. Deve se manter atualizado, com leituras variadas, conhecimento ampliado, tentando se adaptar da melhor maneira possvel aos novos padres ou no-padres estabelecidos pela sociedade.

    Quando o assunto sade, o objetivo final a mudana de hbitos e atitudes que possam colocar em risco a sade do indivduo e da comunidade, pela adoo de modos de vida mais saudveis. No basta apenas adquirir conhecimento, preciso tambm pensar em formas de transformar esse conhecimento em ao. Um exemplo bem atual: de que adianta saber que a gua parada atrai o mosquito da dengue, e manter pneus velhos no jardim de casa?

    essencial que a comunidade escolar se sinta motivada a refletir sobre o significado de sade e de qualidade de vida, discutindo sobre as causas e possveis solues para os problemas existentes na escola e na comunidade.

    Educao & sade

    Para atender s necessidades sociais, polticas e econmicas das comunidades locais, o Ministrio da Educao prope, nos Parmetros Curriculares Nacionais (PCNs), o trabalho com os temas transversais. Segundo o documento, a transversalidade pressupe um tratamento integrado das reas e um compromisso das relaes interpessoais e sociais escolares com as questes que esto envolvidas nos temas, a fim de que haja uma coerncia entre os valores experimentados na vivncia que a escola propicia aos alunos e o contato intelectual com tais valores (BRASIL, 1998).

    Os PCNs constituem o documento base de orientao para que estados e municpios elaborem suas propostas curriculares e reconheam a importncia de a escola incluir e trabalhar em seus projetos poltico-pedaggicos temas como tica, Meio Ambiente, Orientao Sexual, Sade, Pluralidade Cultural, Trabalho e Consumo, em resposta s demandas da sociedade.

    Os Parmetros Curriculares Nacionais foram elaborados procurando, de um lado, respeitar diversidades regionais, culturais, polticas existentes no pas e, de outro, considerar a necessidade de construir referncias nacionais comuns ao processo educativo em todas as regies brasileiras. Com isso, pretende-se criar condies, nas escolas, que permitam aos nossos jovens ter acesso ao conjunto de conhecimentos socialmente elaborados e reconhecidos como necessrios ao exerccio da cidadania (BRASIL,1998).

    Como conseqncia da preocupao com a formao geral do aluno, a insero da sade como tema transversal justifica-se pelo fato de que esta um aspecto de crucial importncia para a melhoria das condies de vida. evidente a correlao entre o acesso educao e a melhora dos nveis de sade e bem-estar de uma populao.

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    captulo 1 SA

    DE E EDUCA

    O: DIREITO DE TODOS

    Nos ltimos anos, o tema sade vem merecendo um enfoque diferente. Anteriormente, a abordagem do tema na escola era limitado a transmitir informaes a respeito da anatomia e funcionamento do corpo humano como este acometido por doenas, como essas se manifestam, seus sintomas e formas de profilaxia , hbitos alimentares e de higiene como formas de preveno de enfermidades e obteno do bem-estar. No entanto, esses contedos no tm sido suficientes para as mudanas de atitudes necessrias melhoria das condies de vida e sade das comunidades.

    Os PCNs prevem que a sade, como um tema transversal, deve ser abordada a partir de atividades que articulam questes gerais (das vivncias cotidianas dos alunos, do contexto brasileiro etc.) e contedos de diferentes reas, ampliando dessa forma a perspectiva de abordagem e criando pontes entre conhecimentos escolares e a realidade dos alunos e suas famlias (BRASIL, 1998).

    Segundo a Organizao Pan-Americana de Sade (OPAS), a promoo da sade no ambiente escolar deve basear-se em uma viso integral e multidisciplinar do ser humano, considerando as pessoas em seu

    contexto familiar, comunitrio, social e ambiental. As aes de promoo devem desenvolver conhecimentos, habilidades e destrezas para o autocuidado com a sade e a preveno das condutas de risco em todas as oportunidades educativas; bem como fomentar uma anlise sobre os valores, as condutas, condies sociais e os estilos de vida dos prprios sujeitos envolvidos (PELICIONI & TORRES, 1999).

    A partir da leitura dos PCNs possvel selecionar, entre os objetivos do Ensino Fundamental, os seguintes tpicos que ilustram bem a mudana esperada na forma de trabalho da escola e que vm ao encontro dos objetivos da educao para a sade. Segundo o documento, o aluno deve ser capaz de:

    perceber-se integrante, dependente e agente transformador do ambiente, identificando seus elementos e as interaes entre eles, contribuindo ativamente para a melhoria do meio ambiente;

    conhecer o prprio corpo e dele cuidar, valorizando e adotando hbitos saudveis como um dos aspectos bsicos da qualidade de vida e agindo com responsabilidade em relao sua sade e sade coletiva;

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    questionar a realidade formulando problemas e tratando de resolv-los, utilizando para isso o pensamento lgico, a criatividade, a intuio, a capacidade de anlise crtica, selecionando procedimentos e verificando sua adequao (BRASIL,1998).

    importante que a escola construa com o aluno a cultura de que a sade envolve a pessoa nas suas dimenses orgnica, ambiental, psquica e sociocultural, fazendo-o refletir sobre os problemas e as necessidades da comunidade e enfatizando que imprescindvel a ao, a prtica, suscitando novas formas de pensar e agir para mudar as condies de vida que favorecem a instalao de doenas.

    Como tema transversal, a sade deve ser enfocada em todas as disciplinas, resguardando a cada uma a sua viso especfica, sem destoar do todo. No um trabalho fcil, envolve planejamento, entendimento do contexto e entrosamento de toda a equipe escolar. Outras pessoas da comunidade familiares, amigos, voluntrios, profissionais de sade, entre outros precisam estar envolvidos no processo, promovendo discusses sobre os problemas e contradies existentes na busca de solues coletivas.

    Todos passam a ser responsveis pela sua sade e a sade do outro, por intermdio de aes integradas de preveno, de cura e de promoo da sade. O foco no se concentra apenas na sade do aluno, possui a mesma importncia a sade do professor, funcionrios, profissionais de sade, administradores, pais e comunidade. Para tanto, necessrio concentrar esforos num planejamento comum, participativo, levando em conta o cotidiano e a realidade local.

    Nesse novo processo a sociedade se posiciona de forma mais participativa e comprometida com sua qualidade de vida. E o professor pea fundamental, pois vai depender da ao dele a motivao de seu aluno. Professores e alunos, juntos, podem: detectar os problemas da

    comunidade que impedem uma vida saudvel e identificar quais deles dependem da ao imediata dos cidados ou esto sujeitos a uma interveno do governo local; evidenciar as principais situaes-problema; buscar informaes; pesquisar materiais de ajuda; e fomentar e orientar a discusso na formulao de estratgias para definir aes que contribuam para a melhoria das condies de vida da sua comunidade.

    Por outro lado, seria interessante contar com a cooperao de um profissional de sade, o qual poder oferecer suporte tcnico confivel na eleio de temas que so relevantes para a localidade, j que ele tem uma viso diferente, e complementar, do profissional de educao.

    Na escola, muitas atividades podem ser desencadeadas envolvendo a comunidade escolar, tais como: aulas interdisciplinares, visitas s comunidades, palestras, estudos, seminrios, mostras, peas teatrais, entre outras. Alm do estabelecimento de parcerias junto aos conselhos de sade locais e outras instituies pblicas ou privadas de interesse.

    medida que se produzem conhecimentos, h a necessidade de dissemin-los, tanto interna quanto externamente. Alguns meios podem ser utilizados, como: flderes, histrias em quadrinhos, cartilhas, murais, revistas, vdeos, CDs, jogos, fotografias e outros.

    O material produzido dever refletir a realidade da comunidade, de forma que os indivduos se reconheam nele e o tomem como base para o questionamento, promovendo mudanas de atitudes e hbitos, em direo adoo de modos de vida saudveis. Dessa maneira, necessrio criar uma memria dessas atividades, registrando a evoluo no nvel de vida da populao local, a qual servir, tambm, para possveis correes no projeto poltico-pedaggico da escola ou no planejamento do municpio.

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    O conceito de sade tem sido revisto e transformado ao longo do tempo. Atualmente, adota-se um enfoque mais integralista, sendo considerados requisitos e condies para a sade: paz, educao, trabalho, transporte, moradia, lazer, alimentao, saneamento bsico, renda, justia social, eqidade, entre outros.

    A sade no Brasil considerada direito de todos e dever do Estado. Mas, a responsabilidade tambm deve ser estendida ao indivduo, s famlias e sociedade.

    O SUS foi criado a partir da Constituio Federal de 1988 e determina uma profunda reforma no Pas: a sade como direito, a ser garantido pelos princpios da universalidade, integralidade, eqidade, descentralizao e participao social.

    A promoo da sade o processo de capacitao das pessoas e da comunidade para atuar na melhoria de sua qualidade de vida e sade, incluindo uma maior participao no controle sobre os determinantes da sade (Carta de Ottawa, 1986).

    Para promover sade fundamental considerar, respeitar e valorizar a experincia de vida e os

    conhecimentos de cada um, alm de estimular as pessoas a pensarem sobre sua prpria realidade, de seu prprio jeito, evitando adotar uma postura nica e rgida na busca de solues.

    No processo de construo de uma condio saudvel de vida, a escola desempenha papel fundamental, por ser responsvel pela formao do indivduo, construindo conhecimentos, relaes e aes que fortaleam a participao das pessoas nessa construo.

    A escola precisa promover aes voltadas para a formao, a integrao social e o exerccio da cidadania, discutindo estratgias que envolvam tanto a comunidade escolar quanto o seu entorno.

    A promoo da sade no ambiente escolar deve basear-se em uma viso integral e multidisciplinar do ser humano, considerando os contextos familiar, comunitrio, social e ambiental.

    Quando o assunto sade, o objetivo final a mudana de hbitos e atitudes por meio da adoo de modos de vida mais saudveis. preciso transformar o conhecimento em ao.

    SNTESE DO CAPTULO 1

  • Normalmente quando se fala em vigilncia sanitria uma das associaes mais comuns a lembrana de um agente estadual ou municipal fechando um estabelecimento como aougue, farmcia, restaurante ou padaria devido s condies precrias de higiene, venda de produtos falsificados ou com data de validade vencida, entre outras coisas. No entanto, a atuao da vigilncia sanitria abrange muitas outras atividades alm da interdio de estabelecimentos que oferecem produtos ou servios que possam colocar em risco a sade da populao. Por isso, a importncia de se compreender um pouco mais sobre essa face da Sade Pblica, que desde pocas imemoriais busca encontrar caminhos para prevenir danos ou diminuir riscos provocados por problemas sanitrios, desenvolvendo aes de proteo sade dos cidados.

    Em termos histricos, as aes de vigilncia sanitria esto presentes desde o advento da civilizao. O controle sobre o exerccio da medicina, do meio ambiente, dos medicamentos e dos alimentos j faziam parte da rotina dos antigos, assim como a criao de leis e normas com o intuito de disciplinar a vida em sociedade.

    captulo 2 VIGILNCIASANITRIA

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    Achados arqueolgicos, por exemplo, demonstram que no sculo XVI a.C. o homem j possua habilidade para preparar drogas, e lhes delimitar prazos de validade. Os alimentos, e at mesmo os perfumes, tambm eram alvo de preocupaes. Com o mundo moderno, diversas transformaes aconteceram, especialmente com o desenvolvimento da cincia e da tecnologia, construindo novas bases para a ampliao das prticas sanitrias em geral (ROZENFELD, 2000).

    Desde ento, a vigilncia sanitria se mantm em constante expanso, podendo at mesmo ser considerada quase que uma entidade onipresente no cotidiano das pessoas, atuando muitas vezes de forma silenciosa ou despercebida, mas no menos importante.

    No dia-a-dia, as pessoas se deparam consumindo inmeros produtos e utilizando diversos servios que necessitam de critrios de segurana, para evitar ameaas sade de todos. E exatamente para dar garantia de segurana e de qualidade aos produtos e servios sob sua responsabilidade que a vigilncia sanitria trabalha, desenvolvendo atividades que abrigam todos os segmentos do mercado direta ou indiretamente relacionados sade.

    Alimentos, medicamentos, cosmticos, saneantes - como produtos de limpeza e higiene, inseticidas, raticidas e cloro -, equipamentos para diagnstico e tratamento de doenas, servios mdicos e hospitalares, e propaganda so algumas das reas nas quais a vigilncia sanitria atua, dentre muitas outras. O principal objetivo evitar a comercializao ou oferta de produtos inadequados, que possam acarretar qualquer tipo de risco sade dos brasileiros.

    Conceitualmente, conforme estabelecido pela Lei Orgnica da Sade (Lei n 8.080, de 19 de setem-bro de 1990), a vigilncia sanitria definida como um conjunto de aes capaz de eliminar, diminuir, ou prevenir riscos sade e de intervir nos proble-mas sanitrios decorrentes do meio ambiente, da produo e circulao de bens e da prestao de servios de interesse da sade.

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    Como forma de concretizar suas aes, a vigilncia sanitria se utiliza de uma srie de ferramentas, tais como:

    Estabelecer normas e regulamentos, com o objetivo de disciplinar os diversos segmentos do mercado que estejam sujeitos vigilncia sanitria. Geralmente, essas regras estipulam questes de suma importncia para prevenir riscos sade. Por exemplo, quais as informaes que uma propaganda de medicamentos obrigatoriamente deve trazer, e quais so aquelas consideradas enganosas e abusivas; para quais pblicos determinados tipos de medicamentos podem ser anunciados; qual o tipo de embalagem que deve ser usada para a boa conservao de determinado produto; quais as informaes que devem estar presentes nos rtulos de alimentos para guiar o consumidor no momento da compra; quais as orientaes que devem constar na bula de um medicamento e a necessidade da adequao da linguagem para o pblico especfico (leigos e profissionais de sade); como deve ser o processo de produo na indstria, visando padronizar procedimentos, para garantir a qualidade do produto final, entre outros.

    Monitorar a propaganda de produtos sujeitos vigilncia sanitria, com o objetivo de proteger a populao contra informaes que possam enganar, confundir ou induzir ao consumo inadequado de determinados produtos, especialmente medicamentos.

    Conceder ou cancelar registro de produtos e autorizaes de funcionamento de empresas, indicando se o produto ou servio atende ou no s normas e aos padres sanitrios vigentes.

    Fiscalizar os estabelecimentos e aplicar multas sempre que identificar alguma inadequao ou irregularidade.

    Atuar em portos, aeroportos e fronteiras, de modo a evitar a propagao de agentes causadores de doenas e a doena entrasse no pas, foram realizadas diversas aes de vigilncia sanitria, dentre elas a monitorao de todos os passageiros que chegavam em territrio nacional vindos das regies afetadas.

    No Brasil, as atividades de vigilncia sanitria so de responsabilidade do Sistema Nacional de Vigilncia

    Sanitria (SNVS), que coordenado pela Anvisa, rgo vinculado ao Ministrio da Sade. Integram esse sistema as vigilncias do Distrito Federal, dos Estados e dos Municpios, alm de outros rgos de apoio tcnico e os Conselhos de Sade. O SNVS parte do SUS e atua de maneira integrada e descentralizada em todo o territrio nacional, tendo a responsabilidade compartilhada entre as trs esferas de governo: Unio, Estados e Municpios.

    Vale ressaltar, no h relao de subordinao entre os entes federativos. O que existe a definio de competncias e de responsabilidades para cada instncia. Estados e municpios so autnomos em sua atuao.

    No mbito federal, a Anvisa presta cooperao tcnica e financeira, acompanha e coordena a execuo de aes sanitrias em todo o pas, alm de promover parcerias e estabelecer normas gerais. No entanto, a legislao nacional pode ser complementada por leis estaduais e municipais, de forma a atender s prioridades locais. Os rgos municipais de vigilncia sanitria so, acima de tudo, referncia para a populao, que deve recorrer primeiramente a eles para esclarecer dvidas ou denunciar irregularidades.

    A Agncia tambm responsvel pelo controle sanitrio de portos, aeroportos, fronteiras e recintos alfandegados, de servios de sade e de produtos (medicamentos, cosmticos, saneantes, alimentos, derivados do tabaco, produtos mdicos, sangue e hemoderivados, entre outros). Controla os ambientes, os processos, os insumos e as tecnologias a eles relacionados e realiza o monitoramento de preos de medicamentos. D anuncia prvia no processo de concesso de patentes de produtos e processos farmacuticos pelo Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) e faz a fiscalizao da propaganda de produtos sujeitos ao regime de vigilncia sanitria (BRASIL, 2005).

    No dia-a-dia, as pessoas tendem a confundir o papel a ser desempenhado pelos integrantes do SNVS. Por exemplo, h registro de inmeros casos de denncias feitas Anvisa a respeito de restaurantes em condies de higiene inadequadas, solicitando que a Agncia fiscalize e interdite o local. Porm, as aes de natureza

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    captulo 2 VIGILN

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    local so de responsabilidade do rgo mais prximo do cidado, normalmente a Vigilncia Sanitria municipal. Portanto, a esta instncia que o cidado deve recorrer, prioritariamente, em caso de esclarecimento de dvidas ou denncia de irregularidades. A Anvisa atua somente nas questes de mbito nacional.

    Seja exercendo seu papel regulador, seja coordenando o Sistema Nacional de Vigilncia Sanitria, a Anvisa busca desenvolver aes com o objetivo de promover a cidadania, atuando em conjunto com as Vigilncias Sanitrias estaduais e municipais e em parceria com as entidades da sociedade civil organizada (BRASIL, 2005).

    A vigilncia sanitria uma rea de atuao muito vasta, que tem como funo intervir em todas as etapas e processos das atividades direta ou indiretamente

    relacionadas sade, desde a produo at o uso de produtos e servios, assim como nas conseqncias destes para o meio ambiente. Em funo de seu desempenho, cada vez mais abrangente, vem sendo reconhecida pela comunidade - que tem se conscientizado de sua importncia -, assim como pelas entidades de defesa do consumidor, que a valorizam como uma prtica capaz de promover e proteger a sade da populao, sendo considerada um forte instrumento para a melhoria da qualidade de vida.

    Dessa forma, a informao sobre as atividades de vigilncia sanitria devem ser divulgadas, de modo a permitir que os cidados possam tomar decises conscientes, exercendo o efetivo controle e participao social.

    Apesar de as aes de vigilncia sanitria serem de competncia exclusiva do Estado, pela sua natureza

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    PARTICIPAO SOCIALA participao social a forma mais concreta de ci-dadania. Um exemplo de participao efetiva e his-trica foi a mobilizao social da dcada de 1980, que culminou com a criao do Sistema nico de Sade e a institucionalizao da sade como um di-reito de todos os cidados e um dever do Estado.

    A segurana sanitria, a qualidade de vida e a sa-de fazem parte das preocupaes cotidianas dos ci-dados. Desde a sua criao, a Anvisa procura criar espaos voltados para a ampliao da transparn-cia de sua gesto, acolhendo os questionamentos, opinies e demandas populares, com a preocupa-o de favorecer o equilbrio entre os diversos inte-resses e de efetivar o debate. Nessa linha de atua-o, destacam-se as cmaras setoriais e as cmaras tcnicas - espaos que propiciam a participao social na avaliao e na formulao de polticas, diretrizes e estratgias relativas regulao sanit-ria. Outra importante instncia de participao da comunidade o Conselho Consultivo, cuja funo formular estratgias e controlar a execuo das polticas associadas atuao da Anvisa.

    Fonte: BRASIL, 2008.

    CONTROLE SOCIALCom a promulgao da Constituio Federal de 1988, adotou-se no Brasil uma perspectiva de democracia representativa e participativa, in-corporando a atuao da comunidade na ges-to das polticas pblicas. Diversos mecanismos dessa nova prtica vm sendo implementados, a exemplo das consultas e audincias pblicas, cmaras setoriais e ouvidoria, utilizadas pela Anvisa para permitir a participao da socieda-de no planejamento, monitoramento e acom-panhamento das polticas pblicas implanta-das no campo da Vigilncia Sanitria brasileira e na avaliao de seus resultados. A Agncia valoriza a integrao do elemento social como componente da grande esfera pblica, convi-dando a sociedade a participar da construo de polticas pblicas e de prticas que promo-vam a vigilncia sanitria.

    O controle social deve ser exercido no convvio dirio, por meio da relao social com a coisa pblica, pois a cidadania um processo cont-nuo que ganha fora quando, por exemplo, uma queixa deixa de ser individual para se tornar um dever de ser manifestada socialmente, junto aos canais institudos para esse registro, como ouvi-dorias, conferncias e conselhos de sade. A Ou-vidoria da Anvisa um espao de participao social no mbito do Sistema Nacional de Vigiln-cia Sanitria e contribui para a cidadania.

    Fonte: BRASIL,2008.

    de interveno reguladora, suas questes so de responsabilidade pblica, especialmente em funo de sua capacidade transformadora da qualidade dos produtos, dos processos e das relaes sociais, ultrapassando a esfera governamental. Sua natureza exige uma ao interdisciplinar e interinstitucional, e a mediao de setores da sociedade por meio de canais de participao constitudos. Incluem o dever dos cidados, trabalhadores de sade, produtores e prestadores de servios pblicos e privados. Tal posicionamento reflete a proposta de instaurao de nova cultura no Brasil, reforando comportamentos educativos e incentivando a criao de formas de organizao da sociedade civil, voltadas para sua prpria defesa, e a explicitao de uma responsabilidade compartilhada.

    Para se compreender um pouco mais sobre o caminho da Vigilncia Sanitria no Brasil, segue uma contextualizao histrica, que abrange desde a chegada da Famlia Real ao pas, at a criao da Anvisa, em 1999.

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    A chegada da Famlia Real marca o incio da era sanitria no pas. A comitiva zarpou de Portugal ao final de 1807, em novembro, para o exlio no Brasil. Foram quase dois meses de viagem pelo Oceano Atlntico, at a esquadra aportar em Salvador, no dia 22 de janeiro de 1808. Talvez nem a comitiva real tenha imaginado que o momento do de-sembarque marcaria uma nova era, de muitas e grandes transformaes, inclusive nas questes relacionadas sade pblica, na Histria do Brasil.

    O ato de abertura dos portos brasileiros s naes amigas, por exemplo, no dia 28 de janeiro daquele mesmo ano, assinado por D. Joo VI, considerado o momento em que a vigilncia sani-tria finalmente se estabeleceu no pas. Ali, iniciava-se uma das aes at hoje assumi-das pela vigilncia sanitria: o controle dos navios, das tripulaes e dos passagei-ros que chegavam s terras brasileiras. Nessas embarca-es, muitas doenas eram trazidas de outros lugares do mundo. Ainda em Sal-vador, o rei criou a Escola de Medicina e Cirurgia da Bahia. Esses dois eventos passam a vincular o nome de D.Joo VI Histria da Sade Pblica no Brasil.

    Ao final de fevereiro, a Famlia Real rumou para a nova capital, o Rio de Ja-neiro. Um total de 50 esqua-dras, com aproximadamente 15 mil nobres, aportaram no cais da baa da Guanabara. O Rio, poca uma cidade colonial nos moldes das construes europias, era uma cidade pobre e exalava maus cheiros no ar.

    A populao carioca, que vivia a expectativa de conhecer a Famlia Real afinal, a nobreza passaria a viver naquela cidade surpreendeu-se com a feira do casal D.Joo e D.Carlota , com a loucura de D. Maria I; e, tambm, com as cabeas raspadas

    das cortess, por conta de um surto de piolhos ocorrido na viagem de 64 dias, pelo Oceano Atlntico.

    O Rio de Janeiro, com 100 mil habitantes, era uma cidade rodeada de pntanos, morros e florestas. As casas eram

    baixas, pequenas e escuras, sem nenhum conforto, dispostas ao longo de ruas muito estreitas.

    Os escravos representavam mais que um tero da populao. Eram os que mais andavam pelas ruas, praas, lavouras, portos, matas e morros, em constantes e variadas atividades, dentre elas a de carregar barris de fezes e lixo, que eram despejados no mar.

    O prncipe-regente, preocupado com a freqncia de doenas

    e com a falta de higiene na cidade, ordenou que

    algumas medidas fossem tomadas para sanar esses problemas, tais como: a drenagem dos pntanos e o alargamento das ruas; a criao da Escola Anatmica, Cirrgica e Mdica; e a

    criao de laboratrios: um farmacutico e um de qumica.

    Passados dois anos foi institudo o Regimento da Provedoria, que estabelecia normas mais rgidas de controle sanitrio nas reas da alimentao, dos portos e das boticas, regulando, tambm, o exerccio da medicina e da farmcia.

    Ironicamente, o homem ao qual a sade pblica tanto deve, foi, ele prprio, o maior exemplo da falta de higiene. Segundo Neil Macaulay,

    historiador norte-americano, D. Joo VI era conhecido por usar as suas roupas at que estas, literalmente, apodrecessem em seu corpo. Alm disso, dizia-se que o rei nunca na vida tomara um banho completo com gua e sabo. Nada to difcil de imaginar, considerando que D. Joo sofria de muitas doenas de pele. A mesma mo que coava as comiches, em qualquer parte do corpo e na presena de quem quer que fosse, era oferecida para ser beijada pelos sditos.

    A era sanitria no Brasil

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    A histria conta que D. Pedro I, filho varo mais velho do rei, ao contrrio do pai, mostrava-se sem medo da gua. Ele amava o mar, a vida livre, a bomia, a msica e, sobretudo, amava o Brasil, apesar de ter nascido em Portugal ele tinha dez anos, quando chegou ao pas, com a Famlia Real.

    Na ocasio do anncio da Independncia do Brasil, por D. Pedro I, em 7 de setembro de 1822, o pas ainda se mantinha como uma monarquia escravocrata. A rea da sade pblica era uma grande preocupao. O pas vivia um momento em que constantes epidemias surgiam e se alastravam.

    Em 1824, com a nova Constituio, foram criadas as Cmaras Municipais para assumirem as questes de higiene pblica locais. Insatisfeitos com a atuao das Cmaras, um grupo de mdicos criou, em 1829, a Sociedade de Medicina e Cirurgia do Rio de Janeiro alegando incompetncia daqueles rgos que no conseguiam fazer o controle sanitrio no pas. Porm, as epidemias eram constantes, os problemas de sade se agravavam e estavam longe de uma soluo.

    D. Pedro I e o grito de independncia do Brasil

    Nas quatro ltimas dcadas do sculo XIX o pas passou por muitas transformaes: o caf era o principal produto de exportao; um grande nmero de imigrantes europeus apor-tava por aqui; o movimento abolicionista che-gava ao final e o Brasil, ao lado da Argentina e Uruguai, travava uma guerra com o Paraguai, a qual durou cinco anos (1864-70).

    De 1834 a 1836 o Brasil conheceu doenas graves como a varola, a gripe, a febre tifide e o sarampo, que ainda no tinham cura.

    Para o combate febre amarela, que ressurgiu em 1849 (a primeira epidemia da doena foi em 1599), foi criada a Comisso Central de Sade Pblica, transformando-se, em seguida, em Junta Central de Higiene Pblica. A partir da, estabeleceu-se uma nova organizao da vigilncia sanitria que se manteria at o final do sculo XIX.

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    Brasil, uma nao republicana

    O imperador D. Pedro II (1840-1889) foi deposto por um grupo de militares do Exrcito brasileiro, chefiado pelo marechal Deodoro da Fonseca. Com a Proclamao da Repblica, instalava-se um governo autoritrio. Porm, para a sade pblica essa nova ordem foi positiva, porque permitiu um maior controle sobre as questes da vigilncia sanitria.

    So Paulo liderou a busca por autonomia e ins-tituiu uma sade pblica estadual, passando a ser referncia nessa rea. A Inspetoria de Higiene da Provncia de So Paulo transformou-se no Servio Sani-trio do Estado de So Paulo, que administrava uma rede de instituies criadas com dinheiro pblico, incluindo laboratrios, institutos de vacina, hospital de isolamento e servios de desinfec-o, que vistoriavam as casas sob suspeita de contaminao.

    Ao final do sculo XIX, So Paulo estabelecia como prioridade o combate febre amare-la. O Brasil era conheci-do no exterior como o tmulo dos estrangeiros. Essa m fama significa-va risco, prejudicando principalmente, o complexo cafeeiro, a vinda de es-trangeiros e o comrcio internacional.

    A conselho de um famoso cientista francs, Louis Pasteur, o governo criou, no ano de 1892, o Laboratrio de Bacteriologia. O laboratrio contava com uma equipe de grandes nomes da cincia que, uma vez reunidos, tinham a misso de combater as doenas que ameaavam a nao. Nesse laboratrio comeou a produo do soro antiofdico; em So Paulo, por exemplo, morriam cinco mil pessoas, por

    ano, vtimas das picadas de cobras. O Laboratrio de Bacteriologia, dirigido por Adolfo Lutz, tornou-

    se mais amplo e melhor equipado. Para reforar a equipe, Lutz contratou, em 1895, o cientista Vital Brasil, que trabalhara na fabricao do soro antiofdico, em Paris.

    Quatro anos depois, o pas teve que enfrentar a peste bubnica, uma doena

    provocada pela picada de pulgas, abrigadas no plo de ratos. Cientistas

    como Emlio Ribas, diretor do Servio Sanitrio, Adolfo Lutz, Vital Brasil

    e Oswaldo Cruz recm chegado do Instituto Pasteur, de Paris , se uniram para combater a molstia. O governo, ento, investiu em equipamentos para o laboratrio produzir o soro antipestoso.

    A sade pblica ganhou grande impulso. Enquanto

    em So Paulo era criada a Fundao do Instituto Butant, para a produo do soro; no Rio, em Manguinhos, foi criado

    o Instituto Soroterpico Federal, assumido por Oswaldo Cruz, ento, com 28 anos.

  • 30

    Com a entrada do sculo XX, uma nova etapa iniciava-se na sade pblica. Um nome sobressaa e marcava a histria da vigilncia em sade: Oswaldo Cruz.

    Rodrigues Alves, governador de So Paulo por duas vezes, foi um poltico preocupado com a rea da sade em seu estado. Quando assumiu a Presidncia da Repblica, em 1902, reurbanizou a capital, Rio de Janeiro, modernizou o porto e saneou a cidade.

    Em 1903, Oswaldo Cruz foi indicado para assumir a Diretoria Geral da Sade, com a tarefa de erradicar trs doenas epidmicas: a febre amarela, a peste bubnica e a varola. Foi ele o responsvel pelo surgimento das chamadas brigadas de mata-mosquitos, as quais percorriam as ruas e as casas do Rio, borrifando inseticida para eliminar o mosquito da febre amarela. A luta contra a peste bubnica corria paralela. Em setembro de 1905, Oswaldo Cruz partiu para uma expedio de 111 dias, percorrendo 30 portos brasileiros, de Norte a Sul do pas, para fazer a vigilncia sanitria. Comearam, ento, as expedies cientficas ao interior do pas.

    Os mtodos higienistas de Oswaldo Cruz foram alvo de muitas crticas. Todavia, o projeto sanitarista do

    mdico deu certo. No Rio, no ano de 1906, a febre amarela foi considerada extinta.

    Em 1908, Oswaldo Cruz deixou o cargo que ocupava na Diretoria Geral de Sade Pblica, permanecendo apenas como diretor do Instituto que levava o seu nome. No ano seguinte, Carlos Chagas, outro importante cientista da equipe de Oswaldo Cruz, descobriu o agente causador da Doena de Chagas, o trypanosoma cruzi. No perodo de 1911 a 1913 o Instituto Oswaldo Cruz promoveu diversas expedies ao interior do Brasil. Essas viagens de pesquisa permitiram traar um quadro da situao de sade dos brasileiros e possibilitaram um maior controle das doenas e das epidemias no pas. O cargo de diretor-geral do Instituto Oswaldo Cruz, foi assumido por Carlos Chagas, aps a morte de Oswaldo Cruz, em 1917.

    A Liga Pr-Saneamento do Brasil, criada por iniciativa de um grupo de intelectuais nacionalistas, em 1918, que se opunham ao sistema de vigilncia sanitria que exclua o homem do campo em suas aes tornou-se um marco na histria da sade brasileira.

    O sculo XX e a sade pblica brasileira

    alastrava-se no Rio, fazendo um nmero sete vezes Entre os anos de 1901 a 1907 a peste branca

    maior de vtimas do que a febre amarela, no mesmo perodo.

  • 31

    captulo 2 VIGILN

    CIA SA

    NIT

    RIA

    Oswaldo Cruz, em 1902, criou a profis-so de compradores de ratos fun-cionrios pblicos que saiam s ruas pagando pelos ratos que a populao

    apanhava. Porm, a iniciativa no deu certo. Alguns desonestos criavam ratos para ven-der ao governo. Essas medidas foram muito

    criticadas pela populao e se tornaram motivo de deboche, por muito tempo.

    COMPRADORES DE RATOS

    A vacina contra a varola tornou-se obrigatria. O governo, muitas vezes, usava a fora para fazer cumprir a lei. Nesse ano, 1904, surgiu um gran-de movimento de revolta popular a chamada Revolta da Vacina. Isso levou o presidente a re-

    vogar, no incio de 1905, a lei que tornava a vacina obrigatria.

    A REVOLTA DA VACINA

    entre os pobres. O governo, na ocasio, tratou A tuberculose fazia mais vtimas nas favelas,

    o problema com descaso.

  • 32

    Mudanas e novos desafios

    Na dcada de 20, a rea da sade exigia mudanas na conduo de seus processos e precisava de uma reforma. A criao do Departamento Nacional de Sade Pblica (DNSP), por exemplo, em substituio Diretoria Geral de Sade Pblica, assumia a responsabilidade dos servios sanitrios terrestres, martimos e fluviais e os servios de profilaxia rural. O sistema de vigilncia sanitria, embora eficaz, era centralizador e autoritrio, surgindo da muitas crticas.

    Nos anos 30, a sade pblica enfrentou uma fase de desmobilizao, perda de poder e de prestgio.

    O Ministrio da Sade foi criado, em 1953, no Rio de Janeiro. Porm, as aes de sade ainda estavam dispersas em vrios outros rgos. Nessa dcada o foco de ateno era a malria, a doena de Chagas, a peste bubnica e a febre amarela.

    O Cdigo Nacional de Sade, institudo em 1961, ainda no governo de Juscelino Kubitscheck, definiu um controle maior sobre as doenas no Brasil e deu ateno s questes do saneamento.

    Mas o grande marco para a sade pblica foi a realizao da 3 Conferncia Nacional de Sade, no Rio de Janeiro, em 1963. O assunto em pauta foi a reorganizao dos servios de sade e a municipalizao do setor.

    Cinco anos depois da Conferncia, iniciou-se a Reforma Administrativa Federal que possibilitou a retomada da Poltica Nacional de Sade idia abandonada por seis anos sob a responsabilidade do Ministrio da Sade.

    Ao final da dcada de 60 a legislao sanitria passou por uma fase de reviso, com a criao

    de leis e decretos que vigoram at hoje.

    O Brasil continuou enfrentando desafios na rea da sade de sua populao. So Paulo e o Rio de Janeiro foram atingidos por uma epidemia de meningite de grandes propores, em 1971. O governo federal promoveu uma campanha nacional de vacinao contra a doena, que s foi debelada em 1975.

    Ao final dos anos 70, o Ministrio da Sade passou por uma reestruturao e foi criada a Secretaria Nacional de Vigilncia Sanitria (SNVS). Nessa poca, a vigilncia sanitria era definida como um conjunto de medidas que visam elaborar, controlar a aplicao e fiscalizar o cumprimento de normas e padres de interesse sanitrio relativo a portos, aeroportos e fronteiras, medicamentos, cosmticos, alimentos, saneantes e bens, respeitada a legislao pertinente, bem como o exerccio profissional relacionado com a sade.

    Com a organizao do SUS, a Lei n 8.080, em complemento definio de vigilncia sanitria, afirma que abrangncia desta:

    I o controle de bens de consumo que, direta ou indiretamente, se relacionem com a sade, compreendidas todas as etapas e processos, da produo ao consumo;

    II o controle da prestao de servios que se relacionam direta ou indiretamente com a sade.

    Percebe-se claramente que a definio anterior Lei n 8.080 adotava um posicionamento de carter

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    captulo 2 VIGILN

    CIA SA

    NIT

    RIA

    COMO DENUNCIAREm caso de denncias referentes a problemas sani-trios, deve-se procurar o Centro de Vigilncia Sa-nitria Municipal, por ser o responsvel pela aes locais. Se no houver um centro municipal, pode-se recorrer ao estadual, mas se ao fizer isso a pessoa encontrar dificuldades, pode entrar em contato com a Secretaria Municipal ou Estadual de Sade, que a responsvel por coordenar as aes em vi-gilncia sanitria nos estados e municpios.

    burocrtico e normativo, enquanto a verso proposta com a Lei Orgnica, introduziu o conceito de risco e conferiu um aspecto mais completo ao conjunto das aes de vigilncia sanitria, situando-as na esfera da produo. E assim, harmoniza-se melhor com o papel do Estado hodierno, em sua funo reguladora da produo econmica, do mercado e do consumo, em benefcio da sade humana (ROZENFELD, 2000). Tendo em vista as mudanas no conceito de sade - advindas principalmente do movimento pela Reforma Sanitria -, a vigilncia sanitria tem sua importncia ampliada, tornando-se um instrumento imprescindvel na proteo da sade da populao. Passa a ter o poder de interferir em todos os fatores considerados determinantes da sade e mantm as suas caractersticas derivadas do poder de polcia fiscalizao, licenciamento e punio -, mas evolui ao exercer funes de normatizao e educao, estabelecendo uma nova relao com o Estado e a sociedade, sempre com o objetivo de proteger e promover a sade da populao, defendendo o direito vida e cidadania.

    A vigilncia sanitria uma prtica coletiva e cada cidado tem um papel fundamental na fiscalizao e na denncia ao rgo de vigilncia sanitria municipal sempre que entender que as normas sanitrias foram descumpridas.

  • 34

    Anvisa assume as aes de vigilncia sanitria no pas

    Criada em 26 de janeiro de 1999 pela Lei n 9.782, a Agncia Nacional de Vigilncia Sanitria tem como finalidade institucional promover a proteo da sade da populao, por meio do controle sanitrio da produo e da comercializao de produtos e servios submetidos vigilncia sanitria, inclusive dos ambientes, dos processos, dos insumos e das tecnologias a eles relacionados, bem como o controle de portos, aeroportos e fronteiras. Alm disso, a Agncia mantm parceria com o Ministrio das Relaes Exteriores e as instituies estrangeiras para tratar de assuntos internacionais, na rea de vigilncia sanitria.

    A Anvisa uma autarquia sob regime especial, com independncia administrativa, autonomia financeira e estabilidade de seus dirigentes. Tem sede em Braslia, mas est presente em todo o territrio nacional por meio das coordenaes de portos, aeroportos, fronteiras e recintos alfandegados, reas em que exerce diretamente atividades de fiscalizao e tambm de controle sanitrio.

    Para cumprir sua misso de eliminar, diminuir ou prevenir riscos sade da populao, a Vigilncia Sanitria deve garantir a sua participao nas instncias formais de controle social e, ao mesmo tempo, estabelecer parceria com a sociedade, de forma que todos possam conhecer as normas sanitrias e exigir seu cumprimento.

    A Anvisa vem planejando suas aes de forma a identificar os principais problemas sanitrios que acometem a populao, delineando, em conjunto com os seus parceiros, aes capazes de enfrentar e de superar problemas em todo o pas, solidificando o processo de descentralizao. Com isso, tem contribudo para tornar a vigilncia sanitria uma fora autnoma, independente e atuante.

  • 35

    A chegada da Famlia Real marca o incio da era sanitria no pas. O ato de abertura dos portos brasileiros s naes amigas considerado o momento em que a vigilncia sanitria finalmente se estabeleceu no pas.

    Durante o Imprio, o Brasil enfrentou diversas epidemias e problemas de sade pblica. Com a Repblica, a sade pblica ganhou grande impulso, obtendo-se maior controle sobre as questes de vigilncia sanitria.

    O Ministrio da Sade foi criado, em 1953, no Rio de Janeiro. Porm, as aes de sade ainda estavam dispersas em vrios outros rgos. Ao final dos anos 70, o Ministrio passou por uma reestruturao e foi criada a Secretaria Nacional de Vigilncia Sanitria (SNVS).

    A vigilncia sanitria definida como um conjunto de aes capaz de eliminar, diminuir, ou prevenir riscos sade e de intervir nos problemas sanitrios decorrentes do meio ambiente, da produo e circulao de bens e da prestao de servios de interesse da sade.

    As atividades de vigilncia sanitria so de responsabilidade do Sistema Nacional de Vigilncia Sanitria (SNVS), que coordenado pela Anvisa. Integram esse sistema as vigilncias do Distrito Federal, dos Estados e dos Municpios, alm de outros rgos de apoio tcnico e os Conselhos de Sade.

    A Anvisa tem como finalidade institucional promover e proteger a sade da populao, por meio do controle sanitrio da produo e da comercializao de produtos e servios submetidos vigilncia sanitria, inclusive dos ambientes, dos processos, dos insumos e das tecnologias a eles relacionados, bem como o controle de portos, aeroportos e fronteiras.

    A Agncia mantm parceria com o Ministrio das Relaes Exteriores e as instituies estrangeiras para tratar de assuntos internacionais, na rea de vigilncia sanitria.

    SNTESE DO CAPTULO 2

  • Dia aps dia, os avanos tecnolgicos vm transformando a vida das pessoas em seus mais variados aspectos, e a sade no ficou de fora dessa realidade. O progresso da cincia e das pesquisas tem possibilitado uma srie de avanos e inovaes: novas cirurgias e transplantes de rgos; tratamentos e equipamentos mdicos de alta tecnologia; exames laboratoriais mais detalhados e, principalmente, novos medicamentos.

    O uso de medicamentos, alis, parece cada vez mais fazer parte da rotina da populao mundial, tornando-se um verdadeiro hbito na vida de muitas pessoas. Na crena de que se no fizer bem tambm no far mal ou de que um verdadeiro 'santo enlatado', com poder milagroso, os medicamentos se tornaram um tipo de soluo para todos os problemas, adquirindo um poder muito maior do que realmente possuem.

    captulo 3 MEDICAMENTOS E

    O SEU USO RACIONAL

  • 37

    importante ficar alerta para o fato de que esse um pensamento totalmente equivocado. Mesmo quando utilizados de forma correta, os medicamentos apresentam diversos riscos, como as reaes adversas e a possibilidade de interaes com outros medicamentos e alimentos, alm de serem contra-indicados em diversas situaes. Esses riscos so potencializados quando o medicamento utilizado de forma incorreta, sem orientao adequada, exigindo algumas vezes a interrupo do tratamento e at mesmo a hospitalizao do paciente.

    Dentre os inmeros problemas de sade pblica enfrentados pela sociedade, um dos mais srios o uso inadequado de medicamentos, que pode ter conseqncias srias para a sade coletiva, como o problema da resistncia microbiana - situao observada em funo do uso excessivo de antibiticos. Alm disso, os medicamentos

    so uma das principais causas de intoxicao no pas. Levantamento realizado pelo Sistema Nacional de Informaes Txico-Farmacolgicas (Sinitox) revelou que, apenas no ano de 2006, dos 107.958 casos de intoxicao humana por agente txico registrados no pas, mais de 30% foram ocasionados por medicamentos, sendo esses produtos a segunda principal causa de bitos nesta categoria. Aproximadamente 23 pessoas se intoxicam por minuto por medicamentos no Brasil.

    Percebe-se, portanto, um quadro preocupante, no qual cada vez mais molda-se uma sociedade que busca resolver todos os seus problemas com o uso de medicamentos, sendo tal comportamento visto como uma atividade rotineira e necessria. Diante disso, fundamental informar, educar e alertar as pessoas sobre o verdadeiro papel desses produtos na sade, assim como sobre os riscos e os cuidados que se deve ter na sua utilizao, promovendo o seu consumo de forma consciente e racional.

  • 38

    Remdio versus medicamento

    No dia-a-dia, muito comum notar pessoas ou meios de comunicao utilizando a palavra remdio como sinnimo de medicamento. No entanto, elas no significam a mesma coisa. A idia de remdio est associada a todo

    e qualquer tipo de cuidado utilizado para curar ou aliviar doenas, sintomas, desconforto e mal-estar. J os medicamentos

    so produtos farmacuticos, tambm utilizados como remdio, elaborados com a finalidade de diagnosticar, prevenir, curar doenas ou aliviar

    seus sintomas, sendo produzidos com rigoroso controle tcnico para atender as especificaes

    determinadas pelo rgo regulador.

    Remdio um termo amplo, aplicado a todos os recursos teraputicos para combater doenas ou sintomas: banho quente ou massagem para diminuir as tenses; chazinho caseiro e repouso em caso de resfriado; hbitos alimentares saudveis e prtica de atividades fsicas para evitar o desenvolvimento de doenas crnicas no-transmissveis; medicamentos para curar

    doenas, entre outros. Assim, um preparado caseiro com plantas medicinais pode ser um

    remdio, mas ainda no um medicamento; para isso, deve atender uma srie de exigncias do Ministrio da Sade, visando garantir a segurana dos consumidores. (SCHENKEL, 2004)

    Como se pode ver, todo o medicamento um remdio, mas nem todo remdio um medicamento.

    Fique atento s plantas medicinais

    Os chs caseiros, por exemplo, so um dos remdios mais conhecidos e utilizados pela populao. Quem nunca recebeu um chazinho da mame ou da vov durante uma gripe ou um resfriado? Pois bem, ao contrrio do que a maioria das pessoas pensa, as plantas medicinais utilizadas nos chs tambm podem ser prejudiciais sade. Alm do princpio ativo - que responsvel pela ao teraputica -, a mesma planta contm diversas outras substncias. possvel que algumas delas, em virtude de suas caractersticas e quando associadas a fatores individuais, induzam a reaes alrgicas, e possibilitem a interao com outros medicamentos, causando danos a sade. preciso ter cautela ao usar chs caseiros. Abaixo esto alguns cuidados que devem ser tomados:

    Informar ao mdico sobre a utilizao de plantas medicinais.

    Utilizar somente plantas conhecidas.

    Prestar bastante ateno no estado das plantas, evitando usar aquelas que estejam murchas, mofadas ou velhas.

    Colher as plantas em tempo seco e aps a evaporao do orvalho.

    No colher plantas na beira de lagos, rios, estradas, fossas sanitrias e lugares poludos.

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    captulo 3 MEDICA

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    PLANTAS MEDICINAIS E FITOTERPICOSPlanta medicinal e fitoterpicos no significam a mesma coisa. A planta medicinal uma espcie vegetal cultivada ou no, utilizada com prop-sito de prevenir, curar ou aliviar sintomas e/ou doenas. J o fitoterpico um produto obtido de planta medicinal, ou de seus derivados, ex-ceto substncias isoladas, com finalidade de pre-venir, curar ou aliviar sintomas e/ou doenas. Ex.: tinturas, xaropes, comprimidos, entre outros.

    Tanto para plantas medicinais de uso tradicio-nal, como para medicamentos fitoterpicos, devem ser garantidas qualidade, eficcia e segurana, pelos respectivos mtodos de com-provao. Qualquer reao desagradvel que acontea durante o uso de plantas medicinais ou fitoterpicos deve ser informada ao mdico ou outro profissional de sade.

    Preparar e consumir no mesmo dia os remdios caseiros a base de plantas medicinais.

    Consumir na dose (quantidade) e indicao corretas.

    Saber em qual horrio deve-se tomar o remdio, se em jejum ou aps as refeies.

    Evitar o uso contnuo ou o uso abusivo de chs caseiros.

    No ingerir chs sem consentimento mdico em caso de gravidez.

    FITOTERPICOS REGISTRADOS Para saber se um fitoterpico tem registro na Anvisa, deve-se verificar na embalagem o nmero de inscri-o do medicamento no Ministrio da Sade. Deve haver a sigla MS, seguida de um nmero contendo 9 ou 13 dgitos, iniciado sempre por 1. H a possibilida-de de buscar o registro do produto no site da Anvisa, consultando o link:http://www7.anvisa.gov.br/data-visa/Consulta_Produto/consulta_medicamento.asp. Ao encontrar um produto sendo vendido como fi-toterpico que no tenha registro na Anvisa, a Vigi-lncia Sanitria municipal ou estadual deve ser avi-sada. Para denncias diretamente Anvisa, enviar mensagem para o e-mail: [email protected].

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    de sade da pessoa. Por isso, importante consultar um mdico, afinal, ele a pessoa capacitada para identificar o problema e buscar a melhor soluo.

    PARA FINS DE DIAGNSTICO: Quando o paciente necessita realizar certos exames, como alguns tipos de tomografia computadorizada, necessrio utilizar um meio de contraste para uma melhor visualizao de determinadas partes do corpo. Nesse caso, o meio de contraste um medicamento para fins de diagnstico, pois auxilia na deteco de doenas, na formao de um diagnstico sobre determinado problema. Alm de auxiliar o diagnstico, tais medicamentos tambm servem para avaliar o funcionamento de rgos. Neste grupo esto os contrastes radiolgicos (renal, heptico, digestivo, entre outros), meios auxiliares para o diagnstico oftalmolgico e outros diagnsticos.

    Os medicamentos apresentam diversas caractersticas e funes, podendo ser classificados de acordo com as seguintes finalidades: finalidade de prevenir, de curar, de aliviar sintomas, ou de diagnosticar doenas. Tecnicamente, tais finalidades so definidas, respectivamente, como profiltica, curativa, paliativa ou para fins de diagnstico. A seguir, so apresentadas cada uma delas:

    PROFILTICA: todos os anos, duran-te determinada poca, assistimos aos anncios da Campanha de Vacinao, promovida pelo Ministrio da Sade e re-presentada pelo famoso Z Gotinha. O ob-jetivo desse tipo de campanha divulgar a importncia da vacinao para preveno de determinadas doenas, como a polio-melite. As vacinas podem ser classificadas como medicamentos com finalidade pro-filtica, uma vez que so utilizadas com o objetivo de prevenir doenas.

    CURATIVA: muitas vezes, quando nos sentimos mal e procuramos um mdico, possivelmente estamos com alguma doen-a. Aps realizar o diagnstico e confirmar a existncia da patologia, normalmente o m-dico prescreve determinado medicamento com o objetivo de curar definitivamente o paciente. Este um exemplo de um medicamento com finalidade curativa, pois responsvel pela eliminao das causas de determinada enfermidade, assim como pela correo de uma funo corporal deficiente. Um exemplo muito comum de medicamento com essa finalidade o antibitico, o qual age no combate de infeces provocadas por bactrias.

    PALIATIVA: Quando torcemos o p, o mdico prescreve um analgsico, para o alvio da dor, j que o prprio organismo se encarrega da cura da torso. O analgsico servir apenas para aliviar o sintoma, agindo como um paliativo at que o problema esteja totalmente resolvido, ou seja, curado. Os medicamentos com finalidade paliativa so aqueles que servem para eliminar sintomas, e no curar doenas. Juntamente com os analgsicos podemos citar os medicamentos que atuam contra febre, nuseas e vmito.

    Vale alertar, o uso desse tipo de medicamento exige cuidado e ateno, pois, ao aliviar os sintomas, ele pode mascarar a doena, dando a falsa impresso de que o problema foi solucionado, e acabar agravando o estado

    Finalidades do uso de medicamentos

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    captulo 3 MEDICA

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    Forma farmacutica e via de administrao

    Os medicamentos se apresentam sob diferentes formas fsicas para possibilitar o seu uso pelo paciente. So as chamadas formas farmacuticas. Os princpios ativos dos medicamentos se encontram na forma ps ou cristais, semelhante ao sal de cozinha, sendo invivel a sua administrao sem uma preparao, tendo em vista a dificul-dade em controlar a dosagem corre-ta. Alm disso, eles normalmente apresentam um gosto extrema-mente ruim. Para facilitar a admi-nistrao do princpio ativo e obter o melhor efeito teraputico, so utili-zadas as formas farmacuticas.

    Em alguns casos, as formas farmacuticas servem para facilitar a administrao de medicamentos por pacientes de faixas etrias diferentes ou em condies especiais. Para uma criana, por exemplo, mais fcil engolir gotas em um pouco de gua do que engolir um comprimido.

    As formas farmacuticas podem ser classificadas em slidas, lquidas, semi-slidas e gasosas, sendo que cada uma delas se relaciona via de administrao que vai ser utilizada.

    Nenhum medicamento deve ser triturado, diludo, mastigado, partido, retirado da cpsula, misturado

    com alimentos, lquidos ou outro medicamento, a no ser que seja por recomendao do mdico ou dentista. impor-tante que o paciente siga rigorosamente a via de administra-o indicada pelo mdico ou odontlogo, alm de sempre ler a bula do medicamento.

    A via de administrao a maneira como o medicamento entra em contato com o organismo, sua porta de entrada, podendo ser via oral, retal, intravenosa, tpica, vaginal, nasal, dentre outras. Cada via indicada para uma situao especfica, e apresenta vantagens e desvantagens. Uma injeo, por exemplo, sempre incmoda e muitas vezes dolorosa, mas possui um efeito mais rpido.

  • 42

    Alguns medicamentos so absorvidos pelas mucosas:

    VIA NASAL

    VIA OFTLMICA

    VIA AURICULAR

    VIA VAGINAL

    VIA RETAL

    absorvidos pelo nariz, por exemplo, spray e gotas.

    so absorvidos por intermdio dos olhos, como colrios e pomadas.

    acessam o organismo pelo ouvido.

    so introduzidos no organismo pela vagina, por exemplo, cremes e pomadas, vulos e comprimidos vaginais.

    so inseridos pelo reto, como os supositrios.

    VIA ORAL

    VIA CUTNEA

    VIA PARENTAL

    VIA SUBLINGUAL

    o medicamento entra em contato com o organismo pela boca, e absorvido no estmago ou intestino. So exemplos os comprimidos, cpsulas, pastilhas, drgeas, ps, xaropes, suspenso.

    o medicamento entra em contato com o organismo atravs da pele. Os exemplos so as pomadas, cremes, loes, adesivos, aerossis.

    o medicamento no precisa passar pelo sistema digestivo para chegar ao sangue, so introduzidos diretamente no sistema circulatrio, como os medicamentos injetveis (intramuscular, intradrmica, subcutnea, intravenosa, endovenosa).

    o medicamento absorvido diretamente na boca, no sendo necessrio passar pelo siste-ma digestivo para chegar at a corrente sangunea. So comprimidos a serem colocados embaixo da lngua, e se diferem da via de administrao oral. Por exemplo, medicamentos para controle da presso arterial.

    Logo abaixo esto os tipos de via de administrao e suas respectivas formas farmacuticas:

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    captulo 3 MEDICA

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    Na hora de usar um medicamento, muitas pesso-as ficam em dvida quanto ao modo correto de utilizar algumas formas farmacuticas. Normal-mente tais informaes devem ser transmitidas pelo prprio prescritor, assim como pelo farma-cutico, no momento da entrega do medicamen-to. No entanto, algumas dicas so importantes, para que a pessoa fique atenta no momento de usar um medicamento:

    Os comprimidos, cpsulas e drgeas devem ser tomados com