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1 Manual de Acompanhamento Ferramenta de Competitividade para Inovações Sociais (versão preliminar) Filipe Santos Carlos Azevedo Este projeto foi desenvolvido por uma equipa de investigação do INSEAD e está inserido no projeto MIES – Mapa de Inovação e Empreendedorismo Social – cofinanciado pelo Compete/QREN e pelas Fundação Calouste Gulbenkian e Fundação EDP A ferramenta de competitividade pode ser preenchida online e o manual de apoio à implementação pode ser descarregado em http://www.mies.pt Versão: Janeiro de 2015

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 Manual  de  Acompanhamento    

Ferramenta  de  Competitividade  para  Inovações  Sociais  

(versão  preliminar)    

Filipe  Santos  Carlos  Azevedo  

 Este  projeto  foi  desenvolvido  por  uma  equipa  de  investigação  do  INSEAD  e  está  inserido  no  projeto  MIES  –  Mapa  de  Inovação  e  Empreendedorismo  Social  –  co-­‐financiado  pelo  Compete/QREN  e  pelas  Fundação  Calouste  Gulbenkian  e  Fundação  EDP  

 A  ferramenta  de  competitividade  pode  ser  preenchida  online  e  o  manual  de  apoio  à  implementação  pode  ser  descarregado  em  http://www.mies.pt  Versão:  Janeiro  de  2015    

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Nota  Introdutória    

Este  manual  garante  a  quem  acompanha   iniciativas  de  Empreendedorismo  Social  os   instrumentos  necessários  para  a  construção  de  planos  de  desenvolvimento  após  a  

utilização  da  ferramenta  de  competitividade.  

O  manual  de  acompanhamento  continua  a  assentar  no  seguinte  modelo:  

 

Fonte:  Santos  e  Azevedo  (2014)  

Figura  1:  Modelo  de  competitividade  para  Iniciativas  de  Empreendedorismo  Social  

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Pretende-­‐se   que,   a   partir   dos   resultados   obtidos,   se   construa   um   plano   de   desenvolvimento   customizado   que   permita   a  melhoria   do  modelo   de   negócio   da   solução  

apresentada  pelo  empreendedor  social,  tentando  assegurar  que  a  iniciativa  atinja  todo  o  seu  potencial  de  criação  de  valor  para  a  sociedade.  

 

Esperamos  que  seja  útil!  

 

Pela  equipa  de  investigação  do  INSEAD,  

Filipe  Santos  e  Carlos  Azevedo  

   

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Índice    

Nota  Introdutória  ...................................................................................................................................................................................................................................................  2  

1.1.  Como  desenvolver  uma  iniciativa  capaz  de  criar  valor  para  a  sociedade?  ..........................................................................................................................  5  

1.2.  Como  construir  um  caminho  estratégico  de  melhoria  de  uma  solução?  ..............................................................................................................................  7  

3.  Utilização  da  ferramenta  pelos  vários  segmentos-­‐alvo  ...................................................................................................................................................................  8  

3.1.  Empreendedor  Social:  Ferramenta  de  autoavaliação  ...................................................................................................................................................................  8  

3.2.  Investidor  Social:  Ferramenta  de  avaliação  ....................................................................................................................................................................................  22  

3.3.  Mentor/acelerador:  Ferramenta  de  capacitação  .........................................................................................................................................................................  24  

   

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1.1.  Como  desenvolver  uma  iniciativa  capaz  de  criar  valor  para  a  sociedade?    

O  Empreendedor  Social  é  um  visionário  que  deteta  oportunidades  em  falhas  de  mercado  e  de  governo,  constrói  soluções  inovadoras  para  problemas  sociais  importantes  e  

negligenciados  e  fá-­‐lo  com  a  motivação  de  quem  quer  transformar  o  mundo!    

A  forma  como  pensa  e  age  está  na  base  do  modelo  conceptual  que  foi  apresentado  e  que  deu  origem  à  ferramenta  de  avaliação  do  potencial  de  criação  de  valor  para  a  

sociedade.  O  esquema  que  se  apresenta  de  seguida  é  uma  representação  visual  de  como  a  ferramenta  pode  ser  utilizada  por  um  potencial  empreendedor  social,  ou  seja,  

um  indivíduo  inconformado  com  um  problema  da  sociedade  e  que  investe  toda  a  sua  energia  na  construção  de  uma  solução  capaz  de  o  resolver  de  uma  forma  sistémica.  

Um  empreendedor  social  que  tenha  a  motivação  certa  deve  procurar  a  sua  oportunidade.  Para  o  efeito,  e  em  primeiro  lugar,  deve  tentar  perceber  qual  a  sua  paixão  ou  o  

problema  com  que  mais  se   identifica  e  qual  a  sua   importância  e  o  grau  de  negligência.  Este  exercício   implica  que  o  Empreendedor  Social  seja  capaz  de  estudar  as  suas  

causas   e   efeitos,   assim   como   escolher   a   causa   que   pretende   atacar   e   identificar   a   solução   alternativa   dominante   e   as   razões   que   levam   à   persistência   do   problema  

identificado  (isto  significa  estar  focado  na  parte  1  do  esquema).  Nesta  fase  o  potencial  Empreendedor  Social  deve  estar  totalmente  focado  no  estudo  do  problema  para  

perceber  de  que  forma  poderá  gerar  mais  valor  para  a  sociedade.  

 

O   estudo   profundo   do   problema   é   o   primeiro   passo   para   a   construção   de   uma   solução   capaz   de   gerar   valor   para  

sociedade.  

 

Numa  segunda  fase,  o  empreendedor  social  deve  identificar  o  segmento-­‐alvo  com  que  pretende  trabalhar  e  para  o  qual  pretende  desenhar  uma  solução.  Este  segundo  

exercício   decorre   do   primeiro   na   medida   em   que   este   segmento-­‐alvo   deve   ser   aquele   que   mais   sofre   com   as   consequências   do   problema.   Este   exercício   permitirá  

identificar  os  potenciais  ganhos  e,  consequentemente,  a  proposta  de  valor  que  lhe  poderá  ser  feita  (parte  2  do  esquema).  Embora  muitas  vezes  o  empreendedor  social  seja  

inicialmente  motivado  por  ajudar  o  segmento-­‐alvo,  perceber  qual  o  problema  e  as  causas  que  afligem  esse  segmento-­‐alvo  é  essencial  para  se  conseguir  desenvolver  uma  

solução  eficaz.    

  6  

 

A  proposta  de  valor  para  o  segmento-­‐alvo  deve  refletir  os  ganhos  diretos  que  uma  potencial  solução  deverá  gerar.  

 

Posteriormente,  é  importante  que  o  empreendedor  social  comece  a  desenhar  a  solução  baseada  na  proposta  de  valor  construída  a  partir  do  estudo  profundo  do  problema.  

Este  exercício  deverá  respeitar  os  vários  critérios  que  estão  desenvolvidos  nos  pontos  anteriores  sobretudo  no  que  diz  respeito  às  dimensões  solução  e  transformação  da  

sociedade  (parte  3  do  esquema).  

 

A  solução  deve  ser  construída  a  partir  da  proposta  de  valor  para  o  segmento-­‐alvo.  

 

Na  sequência  do  desenho  da  solução  é  importante  aperfeiçoar  o  modelo  económico,  isto  é,  a  forma  como  a  solução  se  sustentará.  Para  o  efeito,  o  primeiro  exercício  passa  

por  definir  quem  são  os  Stakeholders-­‐chave,  que  tipo  de  ganhos  diretos  e  indiretos  podem  ter,  se  percepcionam  estes  benefícios  e  se  estão  disponíveis  para  pagar  por  eles  

(parte   4   do   esquema).   O  modelo   económico   adoptado   deve   estar   baseado   nos   três   critérios   apresentados:   (1)   recursos   utilizados;   (2)   capacidade   de   pagamento   do  

segmento-­‐alvo;  (3)  capacidade  de  internalização  do  impacto  pelos  restantes  Stakeholders-­‐chave  (parte  5  do  esquema).  

 

O  modelo  económico  deve  permitir  a  sustentabilidade  da  solução.  

 

Este   é   um   caminho   possível   para   a   construção   de   uma   iniciativa   com   elevado   potencial   de   criação   de   valor   para   a   sociedade.   Não   existe   um   caminho   único  mas   a  

ferramenta  permite  apontar  alguns  capazes  de  apoiar  potenciais  empreendedores  sociais  apaixonados  e  cheios  de  energia  no  processo  de  construção  de  uma  boa  solução!  

 

 

 

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1.2.  Como  construir  um  caminho  estratégico  de  melhoria  de  uma  solução?    Para  além  de  permitir  o  desenvolvimento  de  iniciativas  de  raiz,  a  ferramenta  permite  uma  reflexão  profunda  sobre  iniciativas  de  empreendedorismo  social  existentes  e  já  

implementadas.  Esta  ferramenta  permite  ao  empreendedor  social  construir  o  caminho  de  melhoria  para  a  sua  iniciativa  em  função  das  dimensões  identificadas  no  modelo  

que  propomos.  A  ferramenta  permite  dois  tipos  de  apoio  à  monitorização  do  potencial  de  criação  de  valor  para  a  sociedade  de  uma  iniciativa  de  empreendedorismo  social:    

 

(1)  a  construção  de  um  caminho  de  reflexão  sobre  a  iniciativa  de  acordo  com  o  que  está  resumido  no  esquema  o  que  permite  avaliar  o  potencial  de  criação  de  valor  da  

iniciativa   por   blocos.   Será   que   o   problema   identificado   é   verdadeiramente   importante   e   negligenciado?   Será   que   a   solução   está   a  maximizar   os   benefícios   diretos   e  

indiretos   de   uma   forma   sustentável?   Será   que   a   solução,   dado   o   problema,   o   segmento-­‐alvo   e   os   Stakeholders-­‐chave,   tem   condições   para   ser   escalada   e/ou  

institucionalizada  no  sistema  da  sociedade?  

 (2)  a  monitorização  do  potencial  de  criação  de  valor  ao  longo  do  tempo  e  a  comparação  com  o  potencial  de  criação  de  valor  para  a  sociedade  gerado  por  outras  iniciativas  

de  empreendedorismo  social.  

 

   

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3.  Utilização  da  ferramenta  pelos  vários  segmentos-­‐alvo    

3.1.  Empreendedor  Social:  Ferramenta  de  autoavaliação    

Um  dos  principais  objetivos  da  ferramenta  de  avaliação  da  competitividade  passa  por  apoiar  os  empreendedores  sociais  no  processo  de  gerar,  aumentar  e/ou  reforçar  o  

potencial  de  criação  de  valor  para  a  sociedade  da  sua  iniciativa.  Para  o  efeito,  os  resultados  decorrentes  da  aplicação  do  questionário  em  anexo  permitirão  perceber  quais  

as  forças  e  as  fraquezas  da  iniciativa,  assim  como  qual  o  caminho  crítico  de  melhoria.  Esta  ferramenta  permite  que  os  empreendedores  desafiem  o  seu  próprio  modelo  e  

reposicionem  a  sua  iniciativa.  

 

a)  Problema  

 

O   processo   de   criação   de   valor   para   a   sociedade   depende   substancialmente   da   correta   identificação   do   problema   central.   Para   o   efeito,   é   fundamental   que   o  

empreendedor   social   seja   capaz  de:   (1)   Conhecer  profundamente  o  problema   central   identificado  quanto   à   sua   abrangência,   assim   como  as   suas   causas   e   efeitos;   (2)  

definir  o  segmento-­‐alvo  para  o  qual  pretende  gerar  valor  diretamente;  (3)  Identificar  a  causa  do  problema  que  pretende  atacar  por  ser  aquela  que  está  a  gerar  diretamente  

o   problema   central   identificado;   (4)   Identificar   as   soluções   alternativas   que   existem   para   a   resolução   desse   problema,   qual   a  mais   dominante   e   que   possa   servir   de  

comparação.  Este  exercício  é  particularmente  importante  porque  permite  ao  empreendedor  social  perceber  porque  é  que  a  solução  alternativa  dominante  está  a  falhar  do  

ponto  de  vista  da  eficácia  e  da  eficiência  ou  se,  pelo  contrário,  esta  solução  está  a  criar  valor  para  a   sociedade  e  o   respetivo  potencial  de  criação  de  valor  merece  ser  

reforçado  tendo  em  vista  a  sua  escalabilidade  e  institucionalização.  

 

O  processo  que  se  propõe  nesta  ferramenta  implica  abertura  à  aprendizagem  contínua  e  à  redefinição  do  problema,  assim  como  disponibilidade  para  uma  investigação  

profunda  e  rigorosa  sobre  o  problema  central  que  apaixona  o  empreendedor  social.  Este  processo  é  comum  ao  trajeto  de  muitos  empreendedores  sociais.  

  9  

 

 

 

A  aplicação  desta  ferramenta  permite  ao  empreendedor  social  definir  o  melhor  ângulo  de   intervenção  sobre  o  problema  que  definiu,  assim  como  perceber  que  espaço  

deve  ocupar  de  forma  a  contribuir  para  a  resolução  do  problema  central  identificado  e,  por  essa  razão,  gerar  maior  valor  para  a  sociedade.  

 

A  redefinição  do  problema  no  Grameen  Bank  

 

Muhammad  Yunus,  o  fundador  do  Grameen  Bank,  regressou  ao  Bangladesh  depois  de  vários  anos  a  estudar  e  ensinar  no  exterior  num  período  em  que  o  país  tinha  

acabado  de  se  autodeterminar  e  passar  por  uma  guerra  e  várias  catástrofes  naturais.  Nessa  altura,  Yunus  confrontou-­‐se  com  um  problema  particularmente  dramático  

na  sociedade  do  Bangladesh  –  a  pobreza  extrema  que  originava  a  fome  e  a  morte.  A  incapacidade  da  sociedade  do  país,  a  sua  débil  estrutura  económica  e  social  e  a  sua  

recente  independência  tornaram  este  problema  simultaneamente  importante  e  negligenciado.  A  primeira  tentativa  do  Yunus  para  resolver  este  problema  passou  pelo  

desenvolvimento  de  um  programa  cujo  objetivo  era  aumentar  a  produtividade  agrícola  através  da  melhoria  dos  sistemas  de  irrigação.  A  solução  desenvolvida  levou  a  

um  efetivo  aumento  da  produtividade  e  os  proprietários  agrícolas  e  os  agricultores  conseguiram  tirar  partido  imediato  da  iniciativa.  Todavia,  esta  solução  não  estava  a  

gerar  benefícios  para  as  pessoas  que  sofriam  com  a  pobreza  extrema.  Na  verdade,  o  aumento  dos  rácios  da  produtividade  não  estava  a  contribuir  para  a  resolução  do  

problema  central  identificado.    

Esta  foi  a  altura  em  que  Yunus  resolveu  ir  à  causa  principal  do  problema  depois  de  passar  muito  tempo  a  estudar  o  problema  e  a  falar  com  as  pessoas  que  sofriam  com  

este  problema.  Yunus  percebeu  que  a  causa  da  pobreza  extrema  e  da  fome  não  era  a  produtividade  agrícola  mas  a  dependência  de  agiotas   locais  que  emprestavam  

dinheiro  a  taxas  de  juro  incomportáveis  e  que,  por  essa  via,  escravizavam  os  seus  devedores.  

 

In  Yunus,  M.  (2008).  Criar  Um  Mundo  Sem  Pobreza  –  O  Negócio  Social  e  o  Futuro  do  Capitalismo.  Difel  

  10  

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

   

Field  Lessons!  

1.  A  maioria  das  iniciativas  é  despoletada  por  um  problema  central  detetado  por  um  empreendedor  social.  Todavia,  em  muitos  casos  o  foco  inicial  da  iniciativa  é  sobre  

os  efeitos  e  não  sobre  as  causas  ou,  pelo  menos,  sobre  as  causas  que  mais  contribuem  para  a  existência  do  problema;  

 

2.  É  muito  importante  conhecer  profundamente  o  problema  central   identificado.  Para  o  efeito,  é  relevante  fazer  um  levantamento   rigoroso  e  fundamentado  sobre  

todas  as  dimensões  do  problema,  nomeadamente  a  sua  extensão,  gravidade  e  impacto  negativo;  

 

3.  A  tendência  dos  empreendedores  sociais  é  a  de  montar  a  solução  antes  de  procurar  conhecer  melhor  as  soluções  já  existentes  e  a  forma  como  procuram  combater  o  

problema  central.  Esta  informação  permite  ao  empreendedor  social  não  só  mapear  todas  as  soluções  existentes  como  perceber  qual  o  espaço  que  existe  para  montar  

ou  desenvolver  uma  iniciativa,  assim  como  qual  a  proposta  de  valor  que  pode  criar  para  gerar  valor  para  a  sociedade;  

 

4.  A  resposta  às  questões  apresentadas  na  ferramenta  deve  resultar  de  um  processo  de  investigação  que  implique,  sempre  que  possível,  investidas  ao  terreno.    

  11  

b)  Solução  

 

O  modelo  de  negócio  da  solução  proposta  pelo  empreendedor  social  tem  um  papel  crucial  no  processo  de  criação  de  valor  para  a  sociedade.    

Em   primeiro   lugar   porque   a   solução   deve   ser   capaz   de   gerar   impacto   direto   e   indireto   (spillovers)   no   segmento-­‐alvo   e   noutros   Stakeholders-­‐chave.   Adicionalmente   a  

solução  deve  capacitar  o  próprio  segmento-­‐alvo  para  que  este  se  aproprie  dela  e  possa  resolver  os  seus  próprios  problemas  gerando,  sempre  que  possível,  efeitos  noutros  

agentes.  

Paralelamente  a  solução  deve  ser  sustentável  do  ponto  de  vista  económico  o  que  implica  pensar  nas  várias  dimensões  do  modelo  de  negócio  –  eficiência  nas  operações,  

geração   de   fluxos   de   rendimento   e   utilização   de   recursos   abundantes,   assim   como   do   segmento-­‐alvo   e   de   outros   Stakeholders-­‐chave   que   estejam   alinhados   e   que  

identifiquem  o  impacto  gerado.  Todos  estes  aspectos  são  importantes  no  processo  de  construção  ou  afinação  do  modelo  económico  da  solução  no  sentido  de  perceber  

qual  o  caminho  crítico  para  a  sustentabilidade  na  criação  de  valor  para  a  sociedade.  

 

  12  

 

As  iniciativas  de  Empreendedorismo  Social  geram  impacto  que,  muitas  vezes,  não  é  percepcionado  no  curto-­‐prazo.  Deste  ponto  de  vista,  o  modelo  económico  não  é  fácil  

de  montar  porque  os  mecanismos  de  mercado  nem  sempre   funcionam,  pelo  menos,  diretamente.  Nesta  perspetiva,  é   fundamental  que  o  empreendedor   social   reflita  

sobre  o  processo  de  criação  do  modelo  económico.  

 

 

 

 

 

 

 

 

O  modelo  de  negócio  da  Apopo  

 

A   Apopo   procura   identificar   e   desativar  minas   terrestres   através   da   utilização   de   ratos   africanos   treinados   para   o   efeito.   Existem  milhares   de  minas   terrestres   no  

Mundo   cujo   custo   unitário   de   implementação   é   de   $3   e   de   desativação   de   $1000.   O  modelo   de   negócio   da   Apopo   gera   benefícios   diretos   para   o   segmento-­‐alvo  

potencialmente  afetado  diretamente  pelas  minas  terrestres  e   indiretos  para  os  proprietários  dos  terrenos  que  poderão  utilizá-­‐los,  por  exemplo,  para   fins  agrícolas.  

Adicionalmente,  a  solução  utiliza  recursos  endógenos  e  abundantes  localmente  –  os  ratos  africanos  –  e  gera  fluxos  de  rendimentos  através  da  prestação  de  serviços  de  

capacitação  dos  agentes  locais  tornando-­‐os  aptos  para  replicar  a  solução  e  independentes  de  ajuda  externa  neste  processo.  Este  conjunto  de  fatores  tem  contribuído  

para  tornar  a  solução  sustentável  e  com  impacto.  

 

In    

  13  

 

 

 

 

 

 

 

Um  modelo  económico  sustentável  para  a  solução  proposta  pode  recorrer  a  vários  mecanismos  alternativos.  Em  muitos  casos,  os  mecanismos  de  mercado  não  funcionam  

suficientemente  bem  para   sustentar   a   solução   (inability-­‐to-­‐pay   ou  unwilligness-­‐to-­‐pay   do   segmento-­‐alvo),   noutras   funcionam  e   garantem  o   funcionamento  da   solução  

direta  ou  indiretamente  e  há  ainda  modelos  que  recorrem  a  vários  mecanismos  complementares.  Os  principais  estão  mecanismos  estão  identificados  na  caixa  seguinte.  

 

Field  Lessons!  

  14  

 

Existem  vários  fatores  essenciais  para  o  posicionamento  ou  reposicionamento  das  soluções.  Este  manual  e  a  ferramenta  que  lhe  está  subjacente  permite  avaliar  as  suas  

forças  fraquezas  e  necessidades  de  capacitação.  Por  exemplo,  uma  iniciativa  deve  perceber  o  seu  posicionamento  atual,  como  pode  evoluir  para  criar  mais  valor  para  a  

sociedade  e  como  pode  construir  o  caminho  crítico  para   lá  chegar  em  termos  de  formação,  revisão  do  modelo  de  negócio,  envolver  outros  Stakeholders  e/ou  procurar  

operações  de  capacitação  do  segmento-­‐alvo,  assim  como  algumas  pistas  práticas  que  resultaram  de  experiências  concretas  de  iniciativas  de  empreendedorismo  social.  

 

 

 

(1)  utilização  de  mecanismos  de  mercado,  sobretudo  se  os  fluxos  de  rendimento  puderem  ser  gerados  diretamente  através  da  prestação  de  serviços  ao  segmento-­‐alvo    

-­‐  como  no  Caso  Nuru  Energy  –  ou  indiretamente  se  o  cliente-­‐alvo  não  for  o  segmento-­‐alvo    -­‐  como  no  caso  Coloradd;  

 

(2)   utilização   de   recursos   abundantes,   livres,   acessíveis   e/ou   endógenos   –   como   na   Associação  Mundo   a   Sorrir   que   utiliza  médicos   dentistas   voluntários   para   a  

prestação   de   cuidados   de   saúde   oral   praticamente   gratuitos   a   pessoas   com  baixos   rendimentos   ou   a   Apopo   que   utiliza   ratos   africanos   para   a   detecção   de  minas  

terrestres;  

 

(3)   prestação   de   serviços   a   um   público-­‐alvo   sem   capacidade   de   pagamento   ou   incapaz   de   percepcionar   o   respetivo   benefício   mas   onde   existe   um   ou   mais  

stakeholders-­‐chave  que  estão  alinhados  com  a  iniciativa  e  dispostos  a  pagar  pelo  impacto  gerado  –  como  no  caso  da  Escolinha  de  Rugby  da  Galiza  que  recebe  donativos  

corporativos  e  particulares  para  sustentar  a  sua  atividade;  

 

(4)  englobamento  de  várias  características  identificados  anteriormente  –  a  Cais  Recicla  utiliza  desperdício  industrial  para  a  produção  de  Merchandising  que  escoa  no  

mercado,  empregando  pessoas  em  situação  de  desemprego  de   longo  duração  no  processo  e  assentando  a  sua  ação  num  conjunto  de  Stakeholders-­‐chave  alinhados  

com  a  missão  do  projeto.  

  15  

 

 

 

 

               

1.  Monetização  do  modelo  de  negócio  e  estrutura  de  custos    

Atividades-­‐chave  

Recurso  necessário  

Tipo  de  custo  (Financeiro  ou  

não  financeiro)  

Custo  unitário    

a)    (€/un)  

Nº  Unidades  

b)  

Total  a)  x  b)  

           

           

           

Total   A  

   

Exercício  

  16  

2.  Fluxos  de  rendimento    

Produtos/  Serviços  

Preço/Un.  a)  

Vendas  (unidades)  

b)  

Total  c)  =  a)xb)  

       

       

       

Total   B  

                           

  17  

a)  Qual  a  percentagem  do  custo  da  solução  que  está  previsto  ser  contribuição  do  segmento-­‐alvo?              b)  Qual  o  nível  da  disponibilidade  dos  restantes  Stakeholders-­‐chave  para  pagarem  pelos  

benefícios  gerados  pela  solução  em  percentagem  do  respetivo  custo?                c)  Qual  o  nível  da  disponibilidade  dos  restantes  Stakeholders-­‐chave  (Clientes  finais  que  não  são  o  Segmento-­‐alvo)  para  pagarem  pelos  produtos  e/ou  serviços  disponibilizados  no  mercado  pela  solução  em  percentagem  do  respetivo  custo?                      

 

   

%  

 

   

%  

 

   

%  

Valor  =  B/A  em  a)  se  quem  paga  pela  solução  é  diretamente  o  segmento-­‐alvo  e  em  c)  se  quem  paga  pela  solução  é  um  cliente  que  não  é  o  segmento-­‐alvo  da  solução.  Nota:  pode  existir  um  modelo  que  use  um  misto  entre  a)  e  b)  

Valor  =  pagamento  pelos  benefícios  gerados  pela  solução/Custos  financeiros  

  18  

 

3.  Construção  do  modelo  económico        

Se  a)  >  100%    

Modelo  económico  baseado  nos  mecanismos  de  mercado  onde  o  segmento-­‐alvo  é,  simultaneamente,  o  cliente-­‐alvo;  

 

Se  a)  +  c)  >  100%    

Modelo  económico  baseado  nos  mecanismos  de  mercado  onde  o  segmento-­‐alvo  não  é  o  cliente  ou,  pelo  menos,  não  é  o  único  cliente-­‐alvo;  

 

Se  a)  +  c)  <  100%    

Modelo  económico  alternativo  não  baseado  nos  mecanismos  de  mercado  

-­‐ Necessidade  de  sustentar  os  recursos  não  financeiros  através  da  utilização  de  recursos  abundantes  e  acessíveis  

-­‐ Necessidade  de  envolver  os  Stakeholders-­‐chave  na  sustentabilidade  da  solução  através  do  pagamento  do  impacto  gerado  

 

Se  a)  +  b)  +  c)  >  100%    Solução  sustentável!  

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Se  a)  +  b)  +  c)  <  100%    

Solução  não  é  sustentável  logo  repensar  o  modelo  económico!  

   

  20  

 

c)  Transformação  da  Sociedade  

 

O  empreendedor  social  deve  ser  capaz  de  escalar  e  institucionalizar  a  sua  solução.    

Para  o  efeito,  existem  várias  dimensões  que  deve  ter  em  conta  no  processo  de  reposicionamento  e  aumento  da  competitividade  da  sua  iniciativa.  

 

 

O  exemplo  do  Grameen  bank  e  do  seu  empreendedor  geram  aprendizagens  importantes  que  não  devem  ser  ignoradas  por  quem  quer  aumentar  o  seu  potencial  de  criação  

de   valor.   A   utilização   da   ferramenta   que   aqui   se   apresenta   pode   servir   para  mitigar   riscos   associados   aos   processos   de   crescimento   e   disseminação   porque   alerta   os  

empreendedores  sociais  para  várias  dimensões  críticas.  

 

 

Grameen  Bank  

 

Muhammad  Yunus  testou,  pelo  menos,  uma  solução  antes  de  encontrar  aquela  que  comportava  o  maior  potencial  de  criação  de  valor  par  a  sociedade.  Depois  deste  

exercício,   Yunus   foi   adequando   a   sua   solução   às   necessidades   efetivas   do   segmento-­‐alvo   e   restantes   Stakeholders-­‐chave   tendo   sempre   em   vista   a   resolução   do  

problema   negligenciado   e   importante   que   detetou.  Numa   primeira   fase,   procurou   perceber   qual   a  melhor   forma   de   conceder   os  microempréstimos,   depois   criou  

soluções  complementares  que  permitiram  acompanhar  as   várias  dimensões  (pessoais,  profissionais,  etc.)  capazes  de   influenciar  o  sucesso  da   sua   iniciativa   junto  do  

público-­‐alvo  e,  finalmente,  encontrou  a  melhor  forma  de  a  institucionalizar  e  disseminar  através  da  criação  da  Grameen  Trust.  

 

In  Yunus,  M.  (2008).  Criar  um  Mundo  sem  pobreza.  O  negócio  social  e  o  futuro  do  capitalismo.  Difel  

  21  

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

   

Field  Lessons!  

(1)   Uma   solução   deve   ser   testada,   afinada   e   validada   antes   de   ser   disseminada.   Apesar   das   pressões   que   podem   existir   para   o   crescimento   de   uma   solução,   é  

fundamental  que  este  processo  seja  bem  preparado;  

(2)  Uma  solução  capaz  de  criar  valor  para  a  sociedade  deve  ser  simplificada  para  que  possa  ser  incorporada  pelo  sistema  e,  por  essa  via,  institucionalizada.  Na  maior  

parte  das  vezes,  a  tendência  é  para  a  criação  de  sistemas  complexos  e  que  resolvam  várias  dimensões  do  problema.  A  falta  de  foco  compromete,  na  maioria  dos  casos,  

a  disseminação  alargada;  

(3)   Uma  solução   deve   ser   sempre   comparada   com   uma   solução   alternativa   dominante.   Este  exercício  permite  ao  empreendedor   social  perceber  porque  é  que   o  

problema  identificado  continua  a  ser  negligenciado,  porque  é  que  a  solução  alternativa  dominante  não  é  eficaz  e/ou  ineficiente  e  aprender  com  isso.  

  22  

3.2.  Investidor  Social:  Ferramenta  de  avaliação    

Os  investidores  sociais  procuram  iniciativas  capazes  de  gerar  esse  valor,  no  entanto  nem  sempre  existem  as  ferramentas  e  os  modelos  necessários  para  avaliar  o  respetivo  

potencial   de   criação  de   valor.   Esta   ferramenta  não   tem  como  objetivo   avaliar   o   impacto   gerado  pelas   iniciativas  de  empreendedorismo   social  mas  o   seu  potencial   de  

impacto.    

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

  23  

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Nesta  perspetiva,  esta  ferramenta  é  útil  para:  

(1)   Garantir   que   os   investidores   sejam   capazes   de   perceber   quais   são   as   iniciativas   com  maior   potencial   de   criação   de   valor   para   a   sociedade,   quais   são   as   suas  

necessidades  de   capacitação  para  que  possam  aumentar  o   seu  potencial  de   criação  de  valor  e,   finalmente,   tomar  decisões   informadas  de   investimento  em   termos  de  

capacitação,  de  afetação  de  recursos  ou  de  apoio  à  alavancagem  e/ou  ao  crescimento  e  disseminação;  

(2)  Os  investidores  que  participem  em  júris  de  avaliação  de  iniciativas  de  Empreendedorismo  Social  na  medida  em  que  passam  a  ter  a  possibilidade  de,  de  uma  forma  

intuitiva,  estruturada  e  racional,  contribuir  para  uma  discussão  inteligente  e  informada  sobre  as  várias  iniciativas;  

(3)  Ser  aplicada  em  concursos  e/ou  linhas  de  financiamento  para   iniciativas  de  Empreendedorismo  Social  porque  (a)  permite  alinhar  os  vários  investidores  sociais  com  

este  tipo  de  perfil  de  investimento;  (b)  pode  ser  utilizada  como  formulário  de  candidatura,  ter  uma  função  pedagógica  no  preenchimento  na  medida  em  que  faz  com  que  

os  vários  candidatos  reflitam  sobre  o  seu  projeto  de  uma  forma  profunda,  necessariamente  coerente  e   lógica,  e  dá  indicadores  objetivos  para  a  respetiva  avaliação  por  

parte  dos  investidores  sociais.    

   

Investidores  Sociais  

  24  

3.3.  Mentor/acelerador:  Ferramenta  de  capacitação    

Existem  várias  organizações  e  agentes  de  ecossistema  cuja  missão  é,  sobretudo,  contribuir  para  aumentar  o  potencial  de  criação  de  valor  de  iniciativas  de  

empreendedorismo  social.  Este  tipo  de  funções  é  assumido  por  incubadoras,  aceleradoras,  mentores  e  organizações  de  capacity-­‐building.Estes  agentes  e  organizações  

tipicamente  estabelecem  planos  de  evolução  e  milestones  para  as  iniciativas  cuja  monitorização  carece  de  instrumentos  e  ferramentas  adequadas.    

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Esta  ferramenta  pretende  gerar  valor  para  este  público-­‐alvo.  Para  o  efeito,  garante:  

(1)  Um  racional  robusto  para  a  criação  de  um  caminho  crítico  de  melhoria  e  aumento  da  competitividade  de  iniciativas  de  empreendedorismo  social.  Este  exercício  

pode  ser  feito  de  forma  customizada  e  em  função  dos  outputs  gerados  depois  de  aplicado  o  questionário  em  anexo;  

 

 

 

 

 

Agentes  de  capacitação!  

  25  

   

(2)  Uma  monitorização  e  acompanhamento  regulares  às  iniciativas  de  Empreendedorismo  Social  no  que  diz  respeito  a:  (a)  comparação  entre  iniciativas  e  o  respetivo  

potencial  de  criação  de  valor;  (b)  comparação  entre  o  potencial  de  criação  de  valor  atual  e  futuro  (por  exemplo,  depois  da  iniciativa  passar  por  um  plano  específico  de  

melhoria).  

 

Exemplo:  

 

 

 

 

 

 

 

 

 

0  1  2  3  4  

2.  Importância  

3.  Negligência  

5.  Spillovers  

6.  Sustentabilidade  

7.  Escalabilidade  

8.  Institucionalizaçã

o  

0  1  2  3  4  

2.  Importância  

3.  Negligência  

5.  Spillovers  

6.  Sustentabilidade  

7.  Escalabilidade  

8.  Institucionalização