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MARCELA CECI DOHMS
Videogravação de consulta como instrumento docente para ensino da comunicação
clínica na atenção primária à saúde
Tese apresentada à Faculdade de
Medicina da Universidade de São Paulo
para obtenção do título de Doutor em
Ciências
Programa de Ciências Médicas
Área de Concentração: Educação e Saúde
Orientadora: Profa. Dra Iolanda de
Fátima Lopes Calvo Tibério
(Versão corrigida. Resolução CoPGr 6018/11, de 13 de outubro de 2011. A versão original está
disponível na Biblioteca da FMUSP)
São Paulo
2018
Nome: DOHMS, Marcela
Título: Videogravação de consulta como instrumento docente para ensino da
comunicação clínica na Atenção Primária à Saúde.
Tese apresentada à Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo para
obtenção do título de Doutora em Ciências Médicas.
Aprovado em:
Banca Examinadora
Prof. Dr.___________________________________________________
Instituição: ______________________________________________
Julgamento:_____________________________________________
Profa . Dra.______________________________________________
Instituição:______________________________________________
Julgamento:_____________________________________________
Prof.Dr.________________________________________________
Instituição:______________________________________________
Julgamento:_____________________________________________
AGRADECIMENTO
Agradeço principalmente a todos os residentes e preceptores do Programa Integrado de
Residência em Medicina de Família de Curitiba que participaram da pesquisa, em
especial à Carol, Diogo e Filipak.
Agradeço aos alunos que atuaram como paciente simulado, em especial aos alunos
Marcelo, Gabriela, Vitória, Paulo Henrique e Jaqueline.
Algumas pessoas me apoiaram muito durante o período do doutorado e por quem tenho
muita gratidão: Joseane e Francisco Mouzinho, Izabel Coelho, Carlos Cardoso e Elaine
Rossi.
Agradeço à coordenação e preceptores do Programa de Residência em Medicina de
Família da Secretaria de Saúde do Rio de Janeiro pela participação na fase 2 da
pesquisa.
Agradeço imensamente à minha orientadora Profa. Iolanda Calvo Tibério, pela
orientação atenciosa e afetuosa, com feedback sempre construtivo e motivador.
Um agradecimento especial ao Dr Josep Maria Bosch Fontcuberta, do Grupo de
Comunicação da Sociedade Catalana de Medicina de Família, que foi que primeiro me
apresentou o PBI em Barcelona e por todo seu apoio. E também ao Prof. Carlos
Collares, da Universidade de Maastricht, pelas contribuições na tese e artigos
Agradeço à banca de qualificação pelas contribuições, em especial ao Prof. Gustavo
Gusso pelo apoio e troca de ideias durante a pesquisa. Agradeço também à Profa.
Suelly Grosseman, pela parceria e apoio desde o mestrado, e à Aline Rossi pela revisão
final.
Aos grandes amigos Otto, Ronaldo, Angélica, Lys, Juliana, Leisiane, Paulo Edu, Lucio,
Sil e Ivo por todo o apoio. Ao Paulo Poli pelo apoio no início do doutorado. À Dra
Vera Drehmer pela parceria nos grupos de PBI e por todo seu afeto.
E agradeço à minha família, Claudia, Jubal, Michel, Noemy, Emeric e Jennifer,
essenciais na minha vida, que me apoiaram desde sempre em tudo que puderam. Um
agradecimento especial ao meu pai, que além de todo o apoio, ajudou na revisão e
impressão e à minha mãe por todo o apoio logístico.
Agradeço ao Emeric, pela paciência nas minhas ausências e pelo suporte fundamental
para a finalização da tese.
RESUMO
Dohms MC. Videogravação de consulta como instrumento docente para ensino da
comunicação clínica na atenção primária à saúde [tese]. São Paulo: Faculdade de
Medicina, Universidade de São Paulo; 2018.
Atualmente o vídeo tem sido considerado por alguns autores o padrão-ouro para ensino
de habilidades de comunicação e o vídeo feedback (VF) tem se mostrado eficaz no
treinamento de habilidades em várias áreas profissionais. Entretanto, há poucos estudos
sobre os efeitos das diferentes metodologias de VF. Este estudo propõe explorar as
potencialidades, desafios e efeitos do VF de filmagem de consultas em contexto real, para
uma avaliação formativa em habilidades de comunicação, com médicos residentes, em
um programa de Atenção Primária. Foi conduzido um estudo pré e pós teste com um
grupo controle. A intervenção constituiu-se de sessões de revisão do vídeo em pequenos
grupos, na metodologia de entrevista baseada em problemas, com feedback por colegas
(peer-feedback) e com um facilitador. Os 54 (cinquenta e quatro) médicos residentes
responderam questionários quantitativos e qualitativos e dois avaliadores externos
analisaram em vídeo, randomicamente e às cegas, cerca de 200 (duzentas) performances
dos residentes com pacientes-simulados, antes e após a intervenção. Para análise dos
dados foi usado ANOVA two-way de medidas repetidas e para análise qualitativa foi
usado análise temática de Braun e Clarke. A metodologia de VF utilizada para avaliação
formativa mostrou ser bem avaliada pelos participantes e com potencial de gerar mudança
de atitudes no entrevistador. Na análise qualitativa, as principais potencialidades
identificadas na metodologia foram autopercepção e o feedback por pares, e as principais
mudanças na prática clínica foram a melhora da comunicação não-verbal, mudanças de
comportamento, abordagem mais centrada no paciente e incorporação de prática
reflexiva. Houve aumento de escores, entre os tempos, relacionados à decisão
compartilhada, aviso de alerta de comunicação de má notícia e disposição para apoio ao
paciente. Os desafios foram a dificuldade do facilitador em conectar o vídeo feedback
com o referencial teórico e o estresse inicial para gravar-se e assistir-se em vídeo.
Observamos que a análise qualitativa dos dados revelou mais informações sobre os efeitos
nos participantes que a análise quantitativa. Os dados observados nos resultados
qualitativos não tiveram o mesmo impacto nos resultados quantitativos. Devido à
dificuldade observada em encontrar instrumentos adequados e validados para avaliar
habilidades de comunicação, foi realizada em uma etapa posterior, a tradução e adaptação
transcultural para o português falado no Brasil do instrumento Calgary-Cambridge
Observation Guide (CCOG), com análise psicométrica. Concluímos que há uma
dificuldade nos questionários em mensurar competências atitudinais e aspectos mais
subjetivos de comunicação. Sugere-se mais estudos com aprofundamento na definição de
parâmetros dos itens subjetivos de avaliação, conforme as competências exigidas para
cada fase da formação médica. Concluímos também que para uma metodologia de VF
efetiva é importante estimular a autoavaliação com uma prática reflexiva, feedback por
pares focado em reforço positivo na busca de estratégias, além de um facilitador
cuidadoso em relação a psicologia do aprendiz, com habilidade de conectar o feedback
com uma teoria de comunicação abordada previamente. A versão brasileira do CCOG
mostrou confiabilidades aceitáveis nos indicadores psicométricos, incluindo no modelo
multifacetas de Rasch e assim, um instrumento adequado para auxiliar no ensino e
avaliação de habilidades de comunicação no Brasil.
Descritores: educação médica; relação médico-paciente; comunicação em saúde;
avaliação educacional; atenção primária à saúde; gravação em vídeo.
ABSTRACT
Dohms MC. Video recording of consultations used as an instrument to teach clinical
communication in primary care. [thesis]. São Paulo: "Faculdade de Medicina,
Universidade de São Paulo"; 2018
Currently, video recordings of medical consultations have become the standard teaching
approach to communication skills, and video feedback has shown to be effective in skills
training in many professional areas. However, researches on the effects of different video-
based feedback methodologies remains scarce. This study proposes to explore the
potentials, challenges, and effects of video-based feedback methodology in real contexts
for the formative assessment of communication skills of medical residents in a primary
health care program. We conducted a pre/post study with a control group. The
intervention was video feedback sessions with peer-feedback. Before and after the
intervention, medical residents 54 (fifty four) answered quantitative and qualitative
questionnaires and two raters blind assessed about 200(two hundred) video-recorded
clinical examinations with simulated patients, who also scored the performances. For the
data analysis, we used ANOVA two-way and for the qualitative analysis, we used the
Braun and Clarke framework for thematic analysis. This video feedback methodology
showed to be a well-accepted formative assessment. The main potentialities identified
were self-perception and peer-feedback. The main effects in the residents’ medical
practice was a better patient-centered approach, with increased scores mainly in good
listening, decision-sharing, and patient support. Improvements were reported in non-
verbal communication, behavior changes, and incorporation of reflective practices. Some
of the challenges were the difficulty of the coordinator to link the video feedback with
theoretical references and the initial stress to record and watch oneself in video. During
the study, we did not find adequate and validated instruments to assess communication
skills, and so in stage 2 we developed the translation and transcultural adaptation to
Brazilian Portuguese of the Calgary-Cambridge Observation Guide (CCOG). This study
did not find instruments that completely answered the assessment necessities regarding
training in clinical communication. Further researches about assessment tools are thus
required, as discussion about competence parameters in subjective items in assessment.
The qualitative analysis revealed more information about the effects in communication
skills than the quantitate analysis. We observed that there is a difficulty in questionnaires
assessing attitudinal competences and subjective aspects in communication. We conclude
that for an effective video-based feedback it becomes important to promote self-
evaluation alongside reflective practices, peer-feedback focused in positive reinforcement
and pursuing strategies, and a supervisor attentive to the leaner’s psychology and able to
relate the feedback with a well-defined communication theory. The Brazilian CCOG
version showed acceptable reliability in the Rasch model indicators and could be part of
a systematic assessment of communication skills in Brazil.
Descriptors: medical education; doctor-patient relationship; communication health;
primary health care; educational evaluation; video recording.
Listas de Figuras
Figura 1 – Roda do Currículo de Comunicação .....................................................30
Figura 2 – Descrição da pirâmide de Miller.............................................................35
Figura 3 – Critério do Royal College of Physician...................................................36
Figura 4 – Tarefas da consulta de Neighbour..........................................................37
Figura 5 – Escala de avaliação de consulta de Pendleton.......................................38
Figura 6 – Escala PPOS traduzida...........................................................................40
Figura 7 – Autoavaliação de Pendleton....................................................................41
Figura 8 – Informações ao solicitar consentimento................................................51
Figura 9 – Guia para revisão efetiva de videogravações..........................................52
Figura 10- O Método de Visualização Global...........................................................54
Figura 11 - Resumo do Procedimento de Coleta de Dados…………………..........71
Listas de Tabelas
Tabela 1 - Fases de análise temática de Braun e Clarke...........................................77
Tabela 2 – Resumo da metodologia da etapa 2..........................................................80
Tabela 3 - Estatísticas Descritivas do questionário CARE.......................................82
Tabela 4 – Resultados questionário CARE................................................................83
Tabela 5 - Estatísticas Descritivas da escala Jefferson .............................................85
Tabela 6 – Resultados de efeitos da Escala Jefferson ...............................................86
Tabela 7 - Estatísticas Descritivas do Questionário PPACP (Percepção da Pessoa
quanto ao Atendimento Centrado na Pessoa) ...........................................................90
Tabela 8 – Resultados de efeitos do Questionário PPACP (Percepção da Pessoa
quanto ao Atendimento Centrado na Pessoa) ...........................................................91
Tabela 9 - Estatísticas Descritivas do Questionário- Checklist A – baseado no
CCOG............................................................................................................................93
Tabela 10 – Resultados de efeitos do Questionário- Checklist A – baseado no
CCOG.............................................................................................................................94
Tabela 11 - Estatísticas Descritivas do Questionário- Checklist B – baseado no
protocolo SPIKES..........................................................................................................96
Tabela 12 – Resultados de efeitos do Questionário- Checklist B – baseado no
protocolo SPIKES..........................................................................................................97
Tabela 13 – Agrupamentos das sentenças em unidades temáticas.........................100
Tabela 14 –Temas de consultas em vídeo que mais provocaram mudanças na prática
diária................................................................................................................106
Tabela 15 – Resultado dos domnios nas diferentes Estações...................................108
Tabela 16 - Tabela Indicadores pelo modelo multifacetado de Rasch...................110
Tabela 17 - Coeficientes alfa de Cronbach considerando-se todas as perguntas do
bloco..............................................................................................................................110
Tabela 18 - Coeficientes de correlação intraclasse (ICC) para cada domínio (em
porcentagem)................................................................................................................112
Tabela 19 - Resultado dos domínios nas diferentes Estações..................................112
Tabela 20 - Coeficientes de confiabilidade no modelo de multifacetas de Rasch..113
Tabela 21 - Índices de bondade de ajuste ao modelo multifacetado de Rasch.......113
Listas de Quadros
Quadro 1: - Avaliação do papel de facilitador (ou monitor) de uma sessão formativa
através do comentário de vídeogravações...............................................65
Quadro 2 - Resumo dos instrumentos usados nas estações de OSCE: ..................73
Quadro 3 - Abertura da Consulta.............................................................................115
Listas de Gráficos
Gráfico 1 - Gráficos do perfil da Questão 2..............................................................84
Gráfico 2 - Gráficos de perfil da Questão 10:...........................................................85
Gráfico 3 - Gráficos de perfil da Questão 5...............................................................89
Gráfico 4 - Gráficos de perfil do Somatório de questões..........................................90
Gráfico 5 - Gráficos de perfil da Questão 9...............................................................93
Gráfico 6 - Gráficos de perfil da Questão 4...............................................................98
Gráfico 7 - Gráficos de perfil da Questão 14.............................................................99
Gráfico 8 – Dispersão das confiabilidades individuais...........................................114
Lista de Abreviaturas e Siglas
ABIM American Board of Internal Medicine.
APS Atenção Primária à Saúde.
CCOG
CFI
Calgary-Cambridge Observation Guide
Comparative Fit Index, Índice de Ajuste Comparativo.
ESF Estratégia Saúde da Família
MVG Método de Visualização Global
PBI Problem Based Interviewing
PPACP Percepção da Pessoa quanto ao Atendimento Centrado na Pessoa
PPOS Patient-practitioner orientation scale
RMSEA Root Mean Square Error of Approximation, Raiz Quadrada Média do
Erro de Aproximação.
TLI Tucker-Lewis Index, Índice de Tucker-Lewis.
WRMR Weighted Root Mean Square Residual, Raiz Quadrada Média Residual
ponderada.
Sumário
1. Introdução.................................................................................................................18
1.1 O ensino de comunicação clínica na formação médica.......................................18
1.1.1 Por que ensinar comunicação clínica? ..........................................................20
1.1.2 O que ensinar?.................................................................................................26
1.1.2.1 Consensos e recomendações sobre comunicação no ensino médico.....29
1.1.3 Como ensinar? .............................................................................................33
1.1.4 Como avaliar? ..............................................................................................34
1.1.4.1 Avaliação tipo OSCE (Objective Structured Clinical Examination)......41
1.2 O uso do vídeo feedback como instrumento docente de comunicação
clínica..........................................................................................................................42
1.2.1 Histórico e panorama atual...................................................................42
1.2.2 Vantagens e desvantagens do vídeo........................................................44
1.2.3 O vídeo feedback como parte de um programa
educativo.....................................................................................................................46
1.2.4 Recursos necessários................................................................................47
1.3 Como fazer vídeo feedback?...............................................................................48
1.3.1 O preparo da videogravação de consultas.......................................................48
1.3.1.1 Que tipo de consultas gravar?................................................................48
1.3.1.2 Termo de consentimento.......................................................................50
1.3.2 A sessão de vídeo feedback.............................................................................52
1.3.2.1 Recomendações gerais para sessões de vídeo feedback........................52
1.3.2.2 Métodos de revisão e análise do vídeo..................................................53
1.3.2.2.1 Método de Visualização Global....................................................53
1.3.2.2.2 PBI.................................................................................................55
1.3.3 O feedback ......................................................................................................56
1.3.3.1 Princípios do feedback de Pendleton.....................................................56
1.3.3.2 Princípios para um feedback ALOBA...................................................57
1.3.3.3 Desenvolvimento de uma sessão de vídeo na metodologia PBI e com
feedback ALOBA..............................................................................................60
1.3.3.4 O papel do facilitador da sessão..................................................64
2 Objetivos....................................................................................................................67
3 Casuística e Métodos.................................................................................................68
3.1 Aspectos éticos..........................................................................................................68
3.2 Desenho, cenário e participantes..............................................................................68
3.3 A intervenção – Sessões de vídeo feedback de consulta médica.............................72
3.4 Instrumentos de Coleta das Informações..................................................................73
3.4.1 Escala de avaliação de Empatia - Consultation and Relational Empathy
(CARE)..........................................................................................................74
3.4.2 Escala Jefferson de Empatia..........................................................................75
3.4.3 Questionário PPACP (Percepção da Pessoa quanto ao Atendimento Centrado
na Pessoa) para o médico...............................................................................75
3.5 Análise dos dados ....................................................................................................76
3.6 Metodologia da Etapa 2 ...........................................................................................78
4. Resultados..................................................................................................................82
4.1 Resultados da Etapa 1................................................................................................82
4.1.1 Resultados quantitativos ...............................................................................82
4.1.2 Resultados qualitativos .................................................................................99
4.2 Resultados da Etapa 2.............................................................................................108
4.2.1 Estatísticas descritivas das perguntas, coeficientes Alfa de Cronbach e
coeficiente de correlação intraclasse:........................................................................108
4.2.2 Análise da correlação entre os domínios...............................................112
4.2.3 Análise pelo modelo multifacetado de Rasch............................................113
5 Discussão..................................................................................................................117
5.1 Discussão etapa 1.....................................................................................................117
5.1.1 Discussão dos resultados quantitativos.......................................................117
5.2 Discussão etapa 2.....................................................................................................130
6 Conclusão..................................................................................................................134
6.1 Conclusão etapa 1 ...................................................................................................135
6.2 Conclusão Etapa 2 ..................................................................................................136
Referências...................................................................................................................137
Apêndices......................................................................................................................149
Apêndice A – Estação de avaliação prática tipo OSCE................................................150
Apêndice B – Questionários para avaliação dos vídeos das estações OSCE...............151
Apêndice C – Questionário da pesquisa para médicos residentes após as sessões de
PBI:...........................................................................................................................153
Apêndice D - Termo de Consentimento para a pesquisa Etapa 1.................................154
Apêndice E – Consentimento informado para autorização de registro em vídeo da
entrevista médica .....................................................................................................157
Apêndice F - Termo de consentimento para a pesquisa etapa 2....................................158
Apêndice G - Comunicação por e-mail com os autores do instrumento da etapa 2
solicitando permissão para validação e verificando se outro pesquisador já havia
validado o questionário no Brasil.............................................................................160
Anexos...........................................................................................................................162
Anexo A – Escalas e questionários de autopreenchimento pelos médicos residentes nas
estações OSCE..........................................................................................................162
Anexo B – Escalas respondida pelo paciente simulado................................................164
Anexo C - Guia calgary-cambridge resumido original em inglês.................................166
Anexo D - Parecer Consubstanciado do CEP /Curitiba................................................168
Anexo E – Parecer Consubstanciado do CEP /RJ.........................................................171
Anexo F - Parecer Consubstanciado do CEP /SP..........................................................176
18
1 INTRODUÇÃO
1.1 O ensino de comunicação clínica na formação médica
Na sua pesquisa qualitativa de mestrado, a pesquisadora concluiu que as
principais potencialidades no ensino de habilidades de comunicação encontradas nas
escolas médicas estudadas (Brasil, Espanha e Holanda) foram a aprendizagem por
modelos, treinamento com pacientes simulados e o uso da videogravação, sendo a
Atenção Primária à Saúde (APS) um ambiente privilegiado desse ensino (DOHMS,
2011). Nesta pesquisa de doutorado, dando continuação aos resultados encontrados em
sua pesquisa anterior, busca-se investigar sobre o uso do vídeo feedback para avaliação
formativa de habilidades de comunicação, utilizando consultas reais, com revisão e
análise do vídeo em grupo com colegas, na metodologia de Entrevista Baseada em
Problemas (Problem Based Interviewing- PBI).
Partimos do pressuposto que a comunicação faz parte de todos os processos
de interação de um profissional de saúde, em diferentes contextos e diferentes culturas e
que é um instrumento que deve fazer parte das ferramentas essenciais na formação médica
(KURTZ; SILVERMAN; DRAPER, 2005). A comunicação tem o poder de causar dano
como um bisturi com as palavras ou de ampliar a escuta como um estetoscópio. E sem
saber como usá-la adequadamente não é possível ser um bom médico.
A origem da palavra “comunicação” vem do latim communicare, e tem o
sentido de “compartilhar, participação em comum” (CLÈRIES, 2006). A comunicação
em saúde é um termo bem abrangente, que inclui a comunicação individual com os
pacientes, seus familiares, com os colegas de profissão, com colegas de outras profissões,
envolvendo tanto a comunicação escrita como a comunicação oral em diálogos
presenciais ou por telefone. Abrange ainda a comunicação em apresentações em
conferências profissionais e até a comunicação com a mídia (VON FRAGSTEIN et al,
2008).
O termo comunicação clínica se refere principalmente à comunicação entre
profissional de saúde e paciente. Neste estudo, o foco será a comunicação na relação
médico-paciente que ocorre no contexto da entrevista clínica durante uma consulta, que
é o ato central da Medicina. Assim, os termos comunicação clínica e comunicação
19
médico-paciente serão usados nesse estudo para se referir ao compartilhamento de
informações e emoções que ocorrem nesta interação médico-paciente, englobando os
conhecimentos, habilidades e atitudes necessárias para uma comunicação médica efetiva,
tanto na graduação, pós-graduação e educação permanente.
Habilidades de comunicação é um termo menos amplo, e que vem sendo cada
vez mais usado na literatura, se refere às aptidões necessárias para um aprendiz
desenvolver uma boa comunicação dentro de um currículo formal. Do dicionário a
palavra Habilidade: "1. Qualidade daquele que é hábil; 2. Capacidade, inteligência; 3.
Destreza; 4. Astúcia; 5. Aptidão" (AURÉLIO, 2011). Foi escolhido usar a palavra
“paciente”, por ser historicamente o mais comum e aceito entre os profissionais
(CLÈRIES, 2006), mas com a concepção de um ser ativo e não passivo, como a palavra
pode subentender. Este termo foi preferido a outros que vêm sendo utilizados, como
“usuário” ou “cliente”, porque estes podem trazem a noção de consumidor de serviços e
esse estudo quer se referir ao sujeito da relação (ENTRALGO, 2003).
Alguns dicionários definem relacionamento como: ter comunhão, envolver-
se com alguém ao ponto de compartilhar experiências, é aprender com o outro
(AURÉLIO, 2011). Como em qualquer relacionamento humano, todos têm a tarefa de
tentar compreender o outro e buscar ser compreendidos. E mais que compartilhar,
comunicar-se é também arriscar. Somente compartilha quem se dispõe a arriscar-se.
Começar a saber algo do outro é, em primeiro lugar, colocar em dúvida o que já se sabe
ou o que se crê saber por terceiras pessoas e processar por si mesmo a informação. É estar
aberto à surpresa (BORRELL-CARRIÓ, 2012).
Esse estudo pretende olhar para o ensino da comunicação clínica, englobando
o estudo de conhecimentos, habilidades e atitudes necessárias ao processo de ensino-
aprendizagem para uma comunicação efetiva na formação médica, com atenção especial
ao contexto da Atenção Primária à Saúde. E dentro do ensino da comunicação clínica,
esse estudo focará a atenção para o uso de um instrumento relativamente ainda pouco
utilizado, mas considerado por alguns autores como o “padrão-ouro de ensino de
comunicação”, que é o vídeo (KURTZ; SILVERMAN; DRAPER, 2005; HAMMOUD et
al, 2012). No contexto do ensino na pós-graduação, modalidade Residência Médica, na
Atenção Primária à Saúde, será investigado em especial o uso de feedback em grupo, de
videogravações de consultas com pacientes reais, na metodologia PBI (Problem Based
Interviewing).
20
1.1.1 Por que ensinar comunicação clínica na formação médica
Apesar da grande importância da comunicação com os pacientes, ainda é
muito comum os médicos priorizarem o conhecimento técnico-científico de doenças em
relação ao conhecimento de competências comunicacionais. Diante de doenças graves ou
quando se salva vidas, o distanciamento na relação pode parecer um detalhe pouco
significativo. O médico humanista é visto, muitas vezes, como menos eficiente
(MARTINS; KIRA, 2004).
O panorama atual observado nos estudos em relação à comunicação clínica é
de que, apesar do aumento de tecnologia, há uma insatisfação grande tanto por parte dos
pacientes e dos médicos. Os pacientes insatisfeitos com seus médicos e os médicos
frustrados em relação a sua profissão (MCWHINNEY, 1989). É o que Schraiber (2008)
chama de crise atual dos vínculos de confiança, a partir de seu estudo com médicos
brasileiros. A comunicação médico-paciente atualmente é como um “diálogo de surdos”,
os dois falam, mas não se ouvem (SCHRAIBER, 2008).
Em geral há uma relação assimétrica entre médicos e pacientes, em que o
médico detém um corpo de conhecimentos do qual o paciente geralmente é excluído
(CAPRARA; RODRIGUES, 2004). A partir da grande insatisfação dos pacientes, muitos
pesquisadores se aprofundaram no tema para tentar entender melhor essa problemática.
Ao analisar entrevistas clínicas, foram observados vários problemas na comunicação
médico-paciente.
A dificuldade de os médicos ouvirem seus pacientes é tanta, que pesquisas
mediram que 65% dos pacientes são interrompidos pelos médicos, em média, em 15 a 20
segundos após início da explicação do motivo de consulta. E observou-se que quando o
paciente não é interrompido, em geral o paciente para de falar sozinho em torno de dois
minutos. E que quando o paciente consegue falar sem ser interrompido, aumenta a
probabilidade que ele revele os seus medos e preocupações (BECKMAN; FRANKEL,
1984; RABINOWITZ, 2004). Vários autores reforçam a importância do valor simbólico
do primeiro minuto da entrevista sem interrupção. Os primeiros minutos são cruciais para
reconhecer e demonstrar que o paciente é o centro do ato clínico, e não papéis ou a tela
do computador (BORRELL-CARRIÓ, 2012).
Pode-se observar que há também uma grande dificuldade relacionada ao
entendimento dos motivos de consulta do paciente. Em um estudo, verificou-se que 54%
das queixas dos pacientes não são detectadas pelos profissionais e que em 50% das
21
consultas, profissionais e pacientes não estão de acordo sobre o motivo principal da
consulta (KURTZ; SILVERMAN; DRAPER, 2005). Nas pesquisas foi constatado que o
paciente era desencorajado a falar sobre suas preocupações, expectativas e sua percepção
sobre o adoecimento. Suas crenças e o impacto social, emocional e físico que a doença
acarretava em sua vida também não eram levados em consideração (MAGUIRE;
FAIRBAIRN; FLETCHER, 1986).
As pesquisas com revisão de processo por erro médico verificaram que o
principal motivo de abertura de processos, em média 70%, deve-se a conflitos na
comunicação entre médicos e pacientes e não por problemas de competência clínica.
Esses dados confirmam a importância do tema da comunicação clínica para os médicos e
para a sociedade. (PENDLETON et al, 2011; LEVINSON et al, 1997). De nada adianta
uma consulta onde o médico fez um excelente diagnóstico, um tratamento baseado nas
últimas evidências científicas e solicitou exames de alta tecnologia, se o paciente não
confiar no médico ele não fará os exames, não seguirá o tratamento, e ainda irá procurar
outro profissional. E se houver dificuldades maiores na comunicação e entendimento, o
paciente pode comunicar a seus amigos e familiares sobre a insatisfação em relação ao
médico e algumas vezes até mesmo levar essas queixas para órgãos de ouvidoria e
processos (KURTZ; SILVERMAN; DRAPER, 2005).
Em um estudo observacional em três municípios baianos com participação de
20 médicos, cada profissional teve, em média, vinte consultas observadas e gravadas em
áudio. Na maioria das consultas, observou-se que não havia explicação adequada do
diagnóstico, sem esclarecimento do problema ao paciente e sem decisão compartilhada
da conduta. O estudo relata, ainda, que quando a queixa continha um fator psicossocial
relevante, este não era incorporado à sua investigação e compreensão, o que foi observado
em todos os médicos (FRANCO; BASTO; ALVES, 2005).
Os médicos com aperfeiçoamento em comunicação conseguem orientar
melhor seus pacientes e assim, apresentam pacientes que manejam melhor seus
medicamentos e consequentemente, com melhores resultados de tratamento (LLOYD;
BOR, 2009). Um médico com uma boa relação com seus pacientes e bom comunicador é
mais seguro. Estudos observaram que ele comete menos erros clínicos e há menos queixas
por má prática. Por tudo isso e por apresentarem melhores relações de trabalho em equipe,
há aumento de satisfação no trabalho, diminuição do estresse e isso está relacionado à
prevenção de Burnout (STEWART et al, 2010; KURTZ; SILVERMAN; DRAPER,
2005).
22
A síndrome de Burnout, ou síndrome do esgotamento profissional é cada vez
mais comum entre os médicos. Há sensação de esgotamento físico e emocional que se
reflete em atitudes negativas, que pode levar a afastamentos do trabalho, agressividade,
ansiedade e depressão (MASLACH; JACKSON, 1981). Um profissional mais seguro e
tranquilo, poderá também evitar a medicalização. Através da construção de um bom
vínculo de confiança, o paciente pode entender e aceitar mais facilmente a prevenção
quaternária (NORMAN, TESSER, 2010; JAMOULLE, 2010).
Outros estudos demonstraram também que os profissionais que apresentam
uma abordagem centrada no paciente, ao invés de na enfermidade, tiveram pacientes com
resultados de saúde mais positivos comparada aos modelos tradicionais de abordagem.
Nesse caso, os pacientes apresentavam diminuição da utilização dos serviços de saúde,
aumento de satisfação, menos queixas por má-prática, melhora da aderência aos
tratamentos, redução de preocupações, melhora da saúde mental, redução de sintomas e
melhora da recuperação de problemas recorrentes (STEWART et al, 2010).
A abordagem das preocupações do paciente influencia fortemente o resultado
da consulta. Em um estudo em que foram analisadas 716 consultas que envolviam a
queixa de dor de garganta, observou-se que os pacientes que melhoraram mais
rapidamente, foram aqueles que tiveram suas preocupações mais bem abordadas pelos
médicos (LITTLE et al, 2001). Aumentar o envolvimento do paciente na consulta, desde
o processo diagnóstico até as decisões a respeito do manejo do problema de saúde, afetam
o resultado da consulta (PENDLETON et al 2011).
Vários autores vêm discutindo a importância da comunicação na prática
médica e da necessidade de maior atenção e aperfeiçoamento no que alguns chamam de
“Arte da Medicina”. Arte, talvez, porque se refere aos aspectos subjetivos das relações
humanas, que se contrapõem ao campo mais palpável da objetividade científica.
Entretanto, quando nos referimos aos aspectos relacionais subjetivos apenas como “arte”,
parece que se vincula à sorte de ter ou não um “dom” para as relações. Certamente que
há muito de arte no que ocorre nas relações médico-paciente, mas é importante enfatizar
que não apenas arte, e sim muito de conhecimento científico, como uma tecnologia das
relações, e prática de habilidades que podem ser aperfeiçoadas com técnicas e práticas.
Essa tecnologia do conhecimento das relações é chamada por alguns autores de
“tecnologia leve” ou “tecnologia leve-dura”, que seria a produção das relações entre dois
sujeitos, em contraposição à tecnologia-dura, baseadas em equipamentos (MERHY;
FRANCO, 2003).
23
A Medicina pode ser entendida como Arte também no sentido de Artesão, de
um profissional aprender uma habilidade manual especializada na sua prática. Por outro
lado, é preciso cuidar para não reduzirmos a comunicação clínica a uma atividade
meramente técnica instrumental de prática de habilidades e minimizar demais a
subjetividade humana que existe em cada médico, em cada paciente e em cada relação
entre eles. O profissional não pode estar mais interessado nas técnicas que deve realizar
e enfermidades do que nas pessoas, que não são apenas “portadoras de doenças”
(BORRELL-CARRIÓ, 2012). As estratégias de ensino podem ajudar a que cada
profissional conheça melhor suas próprias zonas de irritabilidade nas relações
interpessoais. Entretanto, não adianta apenas técnicas, pois na ausência de um real
interesse pelos problemas de uma determinada pessoa, o mais provável é que, por
exemplo, uma empatia verbal pareça um ato mecânico incapaz de tocar o paciente
(BORRELL-CARRIÓ, 2012).
O tema da comunicação médico paciente já era discutido desde a Grécia
Antiga. Os gregos já diziam que antes da ajuda técnica, a relação entre médico e doente
deve ser amigável (ENTRALGO, 2003). Lain Entralgo, um médico, historiador, escritor
e filósofo espanhol, enfatizava a importância do olhar, da palavra, do silêncio e do contato
manual. Para comunicar-se com seu paciente, o médico olha, fala, escuta, coloca suas
mãos e emprega os mais diversos instrumentos exploratórios e terapêuticos
(ENTRALGO, 2003). Hipócrates afirmava que o médico deve ter 3 saberes: 1. Conhecer
a doença, 2. Para isso, saber quem é a pessoa que está doente, 3. Saber porque o remédio
atua curando a enfermidade (ENTRALGO, 2003).
Em Corpus hippocraticum, para o médico conquistar a confiança do doente
deve:
“Vestir-se com limpeza e se perfumará discretamente, ser honesto e regular em
sua vida, humanitário em seu trato, sem chegar a ser jocoso e sem deixar de
ser justo, evitará a excessiva austeridade, se encontrará sempre dono de si.
Deve ser sério sem rebuscamento, pronto na resposta, difícil na contradição,
penetrante e conversador nas concórdias, moderado com todos e silencioso na
turbulência....” (ENTRALGO, 2003)1.
O bom médico seria aquele que apresenta uma “simpatia vital”, que é
acolhedor, que faz com que as pessoas sintam-se confortáveis e à vontade. Além disso,
com boa capacidade de observação comparativa, boa imaginação e disposição constante
para praticar o benefício (ENTRALGO, 2003). Platão também já afirmava que a arte de
1Tradução nossa.
24
curar só chega à perfeição individualizando o diagnóstico e o tratamento do paciente. Os
recursos para isso seriam observar, olhar, conversar, conhecer a história de vida, fazer-se
compreender e ser compreendido (ENTRALGO, 2003).
Entralgo (2003) entende que em toda consulta é preciso que o médico possa
responder à três questões em relação aos motivos do paciente: Por que o paciente resolveu
procurar ajuda médica pelo que lhe ocorre? Como o paciente chegou a sentir-se doente?
Como o paciente respondeu ao fato de sentir-se doente? Além disso, três questões
relacionadas aos motivos do médico: Como o médico se sente e realiza sua condição de
médico? Como é o médico como pessoa? E como o médico se sente frente ao paciente
que vai atender? (ENTRALGO, 2003). Essas questões demonstram a grande importância
de uma boa relação médico-paciente e são geralmente pouco discutidas na Educação
Médica. Os grandes médicos de todos os tempos tinham em comum um grande interesse
e perspicácia na observação das emoções humanas. Por exemplo, Wilian Osler, que era
médico e filósofo, além de historiador e escritor canadense, conhecido como um dos
médicos mais influentes da sua época, em torno da década de 1890, demonstrava grande
preocupação com o humanismo na Medicina (LIBRARY AND ARCHIVES CANADA,
2011).
Apesar da interação médico-paciente ser atividade essencial do trabalho
médico, ainda é pouco valorizada na formação médica e mal avaliada pelos pacientes. As
pesquisas mostram que a insatisfação maior dos pacientes em relação aos médicos se
refere às dificuldades de comunicação médico-paciente (KURTZ; SILVERMAN;
DRAPER, 2005). Os modelos e métodos convencionais na educação médica tradicional
têm demonstrado não preparar adequadamente para os desafios diários da vida
profissional (MCWHINNEY, 1989) e as escolas médicas parecem estar cegas ou míopes
frente aos problemas atuais referentes à relação médico-paciente (ENTRALGO, 2003).
Muito médicos apresentam grande incapacidade de desenvolver relações
empáticas e demonstram frieza e distanciamento nas suas relações com os pacientes,
talvez aprendido no currículo oculto na sua formação ou como um mecanismo de defesa
por não saber lidar com seus próprios sentimentos de medos e angústias diante do
sofrimento dos pacientes. Frequentemente os médicos não se aproximam
emocionalmente do paciente para não sofrer. Muitas vezes se isolam, podendo até perder
a capacidade de lidar com suas emoções e conflitos (MARTINS; KIRA; 2004).
Um estudo de coorte de 2004 a 2008, com 229 alunos, ilustra bem essa
afirmação. Foi aplicado um questionário de empatia, a escala Jefferson de empatia, em
25
estudantes desde o primeiro ao último ano em uma escola médica nos Estados Unidos.
Observou-se que os escores de empatia foram diminuindo entre 73% dos estudantes ao
longo do curso e aumentando o que eles chamaram de escores de cinismo. Ou seja, os
alunos entraram na universidade melhor do que saíram em relação à capacidade empática.
O maior declínio foi entre os homens. Nesse estudo os escores mais altos de empatia
ocorreram entre alunos que buscavam especialidades orientadas para pessoas (medicina
de família, clínica médica, pediatria, gineco-obstetrícia) comparada com especialidades
orientadas para tecnologia (anestesiologia, patologia, radiologia, cirurgia, ortopedia
cirúrgica). Observou-se também que os que iniciaram com baixos escores perderam mais
empatia comparados com os que começaram com escores mais altos. As hipóteses
explicativas para isso estão relacionadas à falsa ideia de que empatia não tem importância
no ensino para a prática médica. A Educação Médica atual tem dado pouca ênfase a esse
tema e os modelos de comportamento e atitudes que os alunos observam nos professores
e médicos como currículo oculto, transmitem ensinamentos de distanciamento afetivo e
podem levar à interpretação de que o envolvimento interpessoal no cuidado do paciente
deve ser evitado (HOJAT et al, 2009).
Apesar dos principais estudos no tema da comunicação clínica serem de fora
do Brasil, podemos correlacionar com a realidade brasileira, pois as deficiências
encontradas na formação médica nos estudos brasileiros são semelhantes às encontradas
na literatura internacional, principalmente de que os alunos são pouco capacitados para
obtenção de dados sociais e psicológicos nas entrevistas médicas (MAGUIRE, 1976;
BALLESTER, 2009; BALLESTER et al, 2011).
A qualidade da entrevista e da relação médico-paciente está muito relacionada
às habilidades do profissional para conhecer e manejar o processo de comunicação
(BORRELL-CARRIÓ, 2012). Consequentemente, para melhorar a comunicação clínica
atual, é preciso mudanças na formação médica, com apropriação de tecnologias
específicas, devido a sua alta complexidade (TURINI et al, 2008). Para isso, as
habilidades comunicacionais não devem ser consideradas complementares nem opcionais
e sim centrais para uma comunicação efetiva em saúde (DENT; HARDEN, 2009).
26
1.1.2 O que ensinar?
Os médicos, em geral, têm grande dificuldade para compreender os aspectos
mais subjetivos do ser humano. Acostumados a ouvir e palpar, tendem a não acreditar em
nada que não possa ser tocado ou percebido pelos órgãos sensoriais (BALINT, 2005).
Uma boa comunicação médico-paciente reflete no paciente tanto na
satisfação da consulta, como em melhora da adesão ao tratamento. Observou-se quando
os médicos conseguiam ouvir mais, permitiam que o paciente fizesse perguntas e
entendiam as suas expectativas em relação à consulta, os pacientes apresentavam melhora
das taxas de adesão. (PENDLETON et al, 2011). Saber usar técnicas de comunicação
adequadas, como entrevista motivacional, para tomada de decisão compartilhada e
motivar o paciente para mudanças, diminui as resistências e melhora as chances de um
paciente modificar um estilo de vida ou comportamento (ROLLNICK et al, 2009;
MILLER; ROLLNICK, 2001).
Vários estudos concluíram que há correlações positivas entre satisfação do
paciente e alguns aspectos do comportamento do médico. As principais características
observadas foram: fornecer mais informações, expressar sentimentos afetuosos e cortesia,
utilizar o humor, escutar mais, facilitar para o paciente falar, abordar preocupações e
expressar apoio, confirmar, parafrasear e mostrar entendimento e preocupação
(PENDLETON et al, 2011).
Pouco se ensina também sobre comunicação não-verbal e a arte de saber
ouvir, com uma escuta ativa e qualificada. Pouco se discute sobre a importância dos
silêncios e os alunos e médicos tendem a se sentir ansiosos diante do silêncio dos
pacientes em momentos de relatos de situações com alto conteúdo emocional. Borrell-
Carrió enfatiza a importância de sentir-se confortável com os silêncios (BORRELL-
CARRIÓ, 2012).
A maioria dos recursos de comunicação não-verbal são pouco discutidos no
currículo formal aos estudantes de medicina, o que deixa esse aprendizado baseado na
escolha de exemplos médicos. O contato visual é um exemplo, que pode se relacionar
muito com vínculos de confiança com o paciente. Outro recurso ainda é o toque, que
quando usado de maneira adequada, no momento adequado, pode ajudar na conexão
empática na relação médico-paciente. Interessante observar a correlação de satisfação do
paciente com a utilização do humor pelo médico, pois é um recurso raramente discutido
na formação médica. Há benefícios também para o médico que desenvolve uma
27
comunicação efetiva. Permitir que o paciente faça perguntas, aumenta a captação de
informação entendida, consequentemente, facilita a obtenção de informações com mais
facilidade e qualidade, o que leva a um diagnóstico mais preciso (especialmente em
relação a problemas com um elemento psicológico) (KURTZ; SILVERMAN; DRAPER,
2005).
Em um estudo com mais de 2000 entrevistas em atenção primária, observou-
se que a maioria dos profissionais de saúde tendiam para um estilo “centrado no
entrevistador”. Identificou-se que o paciente não podia expressar todas as suas
preocupações porque o entrevistador controlava a cada momento o que desejava que o
paciente lhe dissesse (BYRNE; LONG, 1976).
Carl Rogers, psicólogo, observou as relações entre psicólogos e seus
pacientes, estudou os fundamentos da abordagem centrada na pessoa. Concluiu em seus
estudos que a base da relação terapêutica é o “senso de comunicação” alcançado na
relação empática, onde o profissional precisa ser sensitivo aos significados dos
sentimentos que fluem na outra pessoa a cada momento (ROGERS, 1979).
Levenstein, médico sul-africano, em 1982, foi questionado por uma estudante
de medicina a respeito da sua técnica de relação médico-paciente, que era muito diferente
da que ela conhecia do hospital. Buscando responder à estudante e entender melhor esse
tema, ele gravou 1000 consultas próprias, buscando perceber quais intervenções eram
efetivas e não efetivas. Percebeu que quando ouvia os medos e expectativas dos pacientes,
tinha intervenções mais efetivas. A partir de então, procurou-se desenvolver um método
que pudesse ser praticado pelos médicos. Desenvolveu assim a abordagem da “Medicina
centrada na pessoa”, como foi traduzida no Brasil (STEWART et al, 2010).
O modelo foi pensado no contexto da Medicina de Família, mas pode ser
aplicável para todas as disciplinas da medicina e outras profissões da saúde. Esse modelo
apresenta 4 componentes em um método clínico que envolvem abordar a exploração da
experiência da doença, a compreensão da pessoa como um todo em seu contexto pessoal,
familiar comunitário e social, a busca de um plano comum e o fortalecimento da relação
médico-paciente. Propõe uma relação em que o profissional de saúde promove uma
relação de cooperação e busca abordar as preocupações do paciente, suas ideias sobre o
que lhe ocorre, levando em conta as expectativas e experiências pessoais e culturais da
vivência da enfermidade, utilizando o conceito de illness (STEWART et al, 2017;
KLEINMAN, 1988).
28
Michel Balint, psicanalista inglês, que analisou um grupo de médicos de
Atenção Primária discutindo suas relações médico-paciente por um longo tempo nas
décadas de 50 e 60 procurou estudar “o uso da compreensão de forma que ela tenha efeito
terapêutico”. Seu estudo baseia-se nas próprias experiências do seu grupo, no que chamou
de “a coragem da nossa própria estupidez”. Identificou que a “droga” mais usada em
medicina, é a “substância médico”. E assim, buscou estudar sua farmacologia,
descrevendo então certos processos da relação médico-paciente, como seus efeitos
colaterais indesejáveis e inconscientes da substância chamada “médico” que, segundo o
autor, podem provocar sofrimento desnecessário e irritação tanto no paciente quanto no
seu médico. Seus estudos mostraram a importância da capacidade empática e intuitiva do
médico (BALINT, 2005).
A Medical School Objectives Projects of the Association da American
Medical College inclui as habilidades interpessoais e empatia entre os objetivos
educacionais da graduação médica (HOJAT et al, 2009). Karl Rogers (1980) foi quem
possivelmente iniciou o uso do termo empatia. Mais do que apenas o conceito de “se
colocar no lugar do outro”, como geralmente ensinado nas escolas médicas, empatia seria,
além do entendimento da perspectiva do paciente, a capacidade de comunicar esse
entendimento, com a intenção de ajudar a aliviar a dor e o sofrimento (HOJAT et al,
2009). Quando um paciente conta algo difícil na consulta, muitas vezes o médico pouco
pode fazer para solucionar diretamente o problema. Entretanto, Borrell-Carrió lembra que
sempre é possível uma empatia solidária expressada por um olhar ou um gesto, mesmo
na pior das situações (BORRELL-CARRIÓ, 2012).
Atualmente, alguns autores têm preferido usar o termo “ressonância” no lugar
de empatia. Para isso, é preciso o conhecimento das próprias emoções e experiências
pessoais do médico (ou outro profissional da saúde) como base para o entendimento das
percepções das sensações de adoecer do outro, chamado pelo termo illness (STEWART
et al, 2017; KLEINMAN, 1988; HOJAT et al, 2009). Só podemos entender o outro
investindo na nossa própria experiência no processo de entendimento (BAARTS;
TULINIUS; REVENTLOW, 2000).
1.1.2.1 Consensos e recomendações sobre comunicação no ensino
médico
29
Para melhor definir as recomendações para o ensino de comunicação, foram
realizadas pesquisas de intervenção com médicos, pacientes e acadêmicos para avaliar os
componentes associados à melhor qualidade da relação e sua efetividade. A partir da
década de 90, começou a elaboração de consensos e diretrizes para o ensino de
habilidades de comunicação nas escolas médicas, que incluem além da interação com o
paciente, também as interações entre colegas e outros profissionais envolvidos no cuidado
(STEWART et al, 2010; MAKOUL et al, 2001; SIMPSON et al, 1991).
Desde 1995, o Comitê de Acreditação em Educação Médica dos EUA
(Liaison Committee on Medical Education) e o Comitê de Acreditação das Escolas
Médicas Canadenses (Committee on Acreditation of Canadian Medical Schools)
adotaram a importante resolução de que “as habilidades de comunicação são
fundamentais para a educação e o funcionamento eficiente dos médicos” e que “deve
haver instrução e avaliação específicas destas habilidades, já que estão relacionadas a
responsabilidades médicas, incluindo comunicação com pacientes, famílias, colegas e
outros profissionais de saúde” (ASSOCIATION OF AMERICAN MEDICAL
COLLEGES, 1998).
As recomendações internacionais dos currículos de comunicação para o
ensino médico orientam que sua inclusão no currículo formal ocorra de forma sistemática,
integrada durante toda a formação médica (SIMPSON et al, 1991; MAKOUL, 2001; VON
FRAGSTEIN et al, 2008). Desde 2001, as diretrizes curriculares brasileiras para os cursos
de Medicina já vêm orientando uma ênfase no desenvolvimento da habilidade de
comunicação adequada com os pacientes e na capacidade reflexiva e compreensão ética,
psicológica e humanística da relação médico-paciente (BRASIL, 2001). Há a
recomendação de ensino no artigo 5º. da Seção I, parágrafo VII: “comunicação, por meio
de linguagem verbal e não verbal, com usuários, familiares, comunidades e membros das
equipes profissionais, com empatia, sensibilidade e interesse, preservando a
confidencialidade, a compreensão, a autonomia e a segurança da pessoa sob cuidado;” e
no parágrafo IX: “cuidado centrado na pessoa sob cuidado, na família e na comunidade,
no qual prevaleça o trabalho interprofissional, em equipe, com o desenvolvimento de
relação horizontal, compartilhada, respeitando-se as necessidades e desejos da pessoa sob
cuidado, família e comunidade” (BRASIL, 2014).
Um dos consensos sobre currículo de comunicação mais abrangentes é o
consenso de 33 escolas médicas do Reino Unido (VON FRAGSTEIN et al, 2008).
Recomenda-se um currículo de comunicação que seja ensinado em todas as etapas da
30
formação, planejado de forma a oferecer oportunidades ao aprendiz para revisão,
refinamento e construção de habilidades com grau crescente de complexidade e de forma
integrada às outras disciplinas e situações clínicas práticas (PENDLETON et al, 2011).
Abaixo está a figura 1, que resume as recomendações desse consenso:
Figura 1 - Roda do Currículo de Comunicação
Fonte: último Consenso de escolas médicas no Reino Unido (VON FRAGSTEIN et al, 2008).
A chamada “Roda do Currículo de Comunicação”, tenta sistematizar as
recomendações do Consenso de escolas médicas no Reino Unido, tem como eixo central
o valor respeito pelos outros e destaca a importância do embasamento teórico (VON
FRAGSTEIN et al, 2008). Ao redor desse eixo, há as tarefas da comunicação na consulta,
que é uma maneira didática de dividir habilidades de acordo com as fases da entrevista
(início da consulta, obtenção de informações, construção da relação, estruturação,
fechamento, explicação e plano), que se assemelham às recomendações do guia Calgary-
Cambridge Guide to Medical Interview (KURTZ; SILVERMAN; DRAPER, 2005).
31
Recomenda-se que os estudantes estejam preparados para se comunicar em
situações de maior dificuldade como: comunicação de más notícias, lidar com o paciente
nervoso ou agressivo e comunicação em situações de emergência. Além disso,
recomenda-se preparar o aprendiz de comunicação para saber abordar temas específicos
como morte, sexo, abuso, aconselhamento sobre mudança de estilo de vida, lidar com
reclamações e erros médicos, entre outros temas mais complexos e que merecem maior
atenção no ensino (VON FRAGSTEIN et al, 2008).
Além desses aspectos, recomenda-se que o estudante saiba lidar com a
incerteza, lidar com prognóstico incerto, comunicar-se com pacientes que geram
insegurança, como o paciente experto, o paciente bem-informado sobre sua doença e
explicar sobre sintomas médicos inexplicáveis. Além disso, saber lidar com suas próprias
emoções é fundamental (VON FRAGSTEIN et al, 2008). Todas essas habilidades
comunicacionais desenvolvem-se tanto na comunicação oral e escrita, pessoalmente, por
telefone e em apresentações em conferências (VON FRAGSTEIN et al, 2008).
Os guias recomendam ainda atenção para abordagem em relação às
diversidades culturais e pessoais, comunicando-se com pacientes de diferentes idiomas e
culturas e com suas deficiências (mental, auditiva, visual, de aprendizagem...). Para
desenvolver essa competência cultural, é preciso entender os valores e modelos
explicativos dos pacientes (KLEINMAN, 1980; 1988).
O Guia Calgary-Cambride Guide Communication Process Skills organiza as
ações consideradas importantes por fases da entrevista clínica e que se relacionam com
melhora do processo comunicativo, de maneira concreta, concisa e em formato acessível.
Vem sendo usado por mais de 25 anos como característica central de um currículo de
comunicação na graduação da University of Calgary Faculty of Medicine no Canadá e
mais recentemente também nos programas de residência médica e educação continuada
(KURTZ; SILVERMAN; DRAPER, 2005).
As tarefas recomendadas pelo guia seriam divididas em 5 fases (KURTZ,
SILVERMAN; KURTZ; DRAPER, 1996): 1. Início da consulta; 2. Obtenção de
informações; 3. Construção da relação; 4. Explicação e plano; 5. Fechamento. Por
exemplo, em relação à primeira tarefa, os médicos devem buscar a identificação dos
problemas de saúde prioritários para aquela consulta, abordar a agenda do paciente, que
idealmente deve ser negociada entre o médico e o paciente antes do início da exploração
dos problemas, pois a identificação precoce da agenda do paciente influencia o resultado
final da consulta (SILVERMAN; KURTZ; DRAPER, 1996; KURTZ et al. 2005).
32
Após a versão apresentada em 1998, com 71 itens, foram feitas muitas
melhorias e detalhamentos, principalmente em relação à seção de tomada de decisão
compartilhada (KURTZ; SILVERMAN; DRAPER, 2005). Enfatiza-se que não é
necessário usar os 71 itens em cada encontro, que as habilidades que serão necessárias
dependem da situação e dos resultados específicos que o médico e paciente desejam
atingir (KURTZ; SILVERMAN; DRAPER, 2005). Ele é mais útil como guia para
avaliação formativa do que somativa, por ser um instrumento longo. No Brasil ainda é
pouco usado e não há validação publicada.
Tem sido usado em pesquisas para avaliar se cursos de treinamento de
comunicação melhoram as competências comunicativas. Por exemplo, um estudo com
estudantes do terceiro ano de uma escola médica alemã com 32 estudantes escolhidos
aleatoriamente, foram analisados antes do curso e depois através do Calgary-Cambridge
Observation Guide (CCOG) para avaliar se houve melhora nas habilidades de coletar a
história médica do paciente. Os autores observaram que houve melhora na média dos
itens do instrumento, principalmente nas estudantes mulheres. E concluíram que os
aspectos “técnicos” de comunicação podem ser melhor ensinados que as habilidades
emocionais (SIMMENROTH-NAYDA et al, 2012).
Uma versão resumida do instrumento, com 28 itens, derivado do Calgary-
Cambridge Process Guide é apropriado para avaliar qualquer entrevista, em um formato
de avaliações em relação à habilidade de tirar a história, associado a um checklist de
conteúdo relacionado ao caso, para avaliações tipo OSCE com pacientes-simulados
(KURTZ; SILVERMAN; DRAPER, 2005). Devido à maior utilidade prática na avaliação
e falta de validação no Brasil, em uma etapa 2 desse estudo, foi realizada a tradução e
adaptação transcultural para o português falado no Brasil do Guia de observação Calgary-
Cambridge Observation Guide (CCOG).
BORRELL-CARRIÓ (2012) sugere como guia de discussão com estudantes
de graduação a abordagem e discussão de exemplos práticos: o profissional irônico, o
profissional culpabilizador e a do médico frio. Sugere que é conveniente se basear em
situações-problemas, que podem ser introduzidas por um vídeo, o mais próximo possível
da realidade do discente. O ideal seriam sessões com grupos pequenos (até 25 pessoas),
de no máximo 3 horas, com um tutor acessível e assertivo, que conduza de forma
participativa e prática.
Apesar dos consensos e diretrizes, poucas escolas hoje no Brasil contemplam
no currículo formal, de forma sistematizada, essas recomendações a respeito do ensino
33
da comunicação clínica. Estudos mostram que mesmo as escolas médicas brasileiras que
passaram por reforma curricular ainda precisam aumentar e aprofundar o ensino na área
de comunicação clínica (STOCK, 2009). Um próximo passo seria a elaboração de um
consenso brasileiro em relação a um currículo específico de comunicação para as escolas
médicas no país, que já está em fase de elaboração por um grupo relacionado à Associação
Brasileira de Educação Médica (ABEM), coordenado por Suely Grosseman.
1.1.3 Como ensinar?
O ensino de comunicação clínica é muito mais complexo que habilidades
procedimentais e deve ser ensinada com o mesmo rigor que uma habilidade clínica. Isso
envolve abordar aspectos mais subjetivos, como nossos próprios sentimentos e dos
outros, geralmente evitado no ensino de áreas técnicas e cognitivas (KUTZ et al, 2005).
O ensino de comunicação clínica tem sido considerado uma parte essencial do currículo
médico na graduação em países desenvolvidos nos últimos vinte anos (KURTZ;
SILVERMAN; DRAPER, 2005).
Há décadas vem se pesquisando a respeito da melhor maneira de ensinar esses
conhecimentos de habilidades comunicativas na formação médica. Todas as estratégias
metodológicas devem buscar a reflexão da prática individual e o desenvolvimento do
autoconhecimento. É preciso um ensino com questões geradoras de reflexão
(THISTLETHWAITE; MORRIS, 2006).
Epstein usa a metáfora de que o clínico é como um instrumento musical, que
deve ser constantemente afinado para que faça boa música. Ou seja, mesmo um bom
instrumento vai desafinando com o tempo. Para “manter a afinação”, é necessário que os
aprendizes tenham oportunidade de revisar o aprendizado prévio e aperfeiçoar seus
conhecimentos, habilidades e atitudes de comunicação em situações com grau crescente
de complexidade e desafios, já que as habilidades são facilmente esquecidas se não
mantidas na prática (EPSTEIN, 1999).
Além disso, muitos estudos demonstram as deficiências do modelo de
aprendizagem tradicional. Para ensinar diferente, é preciso metodologias e recursos
diferentes. Quando se propõe um caminho diferente de ser médico, o processo educativo
requer um caminho diferente para ensinar (STEWART et al, 2010). Observação, feedback
a gravação em áudio e vídeo de performances tem sido indicado como métodos e recursos
34
importantes para melhorar as habilidades dos estudantes (CARROLL; MONROE, 1979;
SIMPSON et al, 1991). A maioria das escolas médicas usa uma combinação de ensino
em pequenos grupos, dramatizações com pacientes simulados e feedback com gravações
em vídeo (PENDLETON et al, 2011).
Há evidências que métodos de ensino experimentais são necessários para o
ensino de habilidades de comunicação em Medicina. O uso de vídeo tem sido descrito
como um método de ensino experimental. É considerado um recurso potencialmente
desafiador e ameaçador ao mesmo tempo, pela pouca quantidade de pesquisa e de práticas
sobre o tema (KURTZ; SILVERMAN; DRAPER, 2005).
As pesquisas têm destacado cada vez mais o uso do vídeo para ensino de
habilidades de comunicação. O aprendizado pode ocorrer por auto-observação e por
observação de um professor ou em grupo. É de grande utilidade para o ensino de
comunicação ser capaz de ver a si mesmo o que e como exatamente está sua performance
e como é possível melhorar (KURTZ; SILVERMAN; DRAPER, 2005).
1.1.4 Como avaliar?
Se é preciso ensinar diferente, é preciso também avaliar de maneira diferente. Em
relação a avaliação do ensino de comunicação, a grande maioria das escolas médicas usa
os mesmos métodos há décadas, que já se mostraram pouco efetivos. Há a necessidade
de mais instrumentos para avaliação estruturada e feedback de comunicação clínica
integrados de forma sistemática no currículo (STEWART et al, 2010, HOOK;
PFEIFFER, 2016).
De acordo com diretrizes internacionais, as escolas médicas não têm apenas a
oportunidade, mas sim a responsabilidade de ensinar e avaliar as habilidades de
comunicação. Além da necessidade de maior desenvolvimento de habilidades
comunicacionais, espaço no currículo, é preciso estímulo à reflexão a respeito das
experiências vivenciadas pelos alunos (GROSSEMAN; STOLL, 2008; STOCK, 2009).
Embora nas últimas décadas muitos métodos tenham sido desenvolvidos e
utilizados na avaliação da formação médica, a maioria deles ainda foca em habilidades
da esfera cognitiva, que são essenciais, mas insuficientes para avaliar competência
clínica. Para realizar o processo de avaliação de forma adequada, é necessário
inicialmente definir competências profissionais. As competências clínicas fundamentais
35
envolvem a tomada da história clínica, a realização de exame clínico, a interpretação dos
achados no raciocínio clínico e, principalmente, a interação e comunicação apropriada
com o paciente (EPSTEIN; HUNDERT, 2002).
Considerando a importância da aquisição de competências e o modo como
estas podem ser adquiridas, Miller (1990) descreveu uma pirâmide que exemplifica o
processo de aquisição de conhecimentos:
Figura 2 - Descrição da pirâmide de Miller
Fonte: Miller, 1990; Crues, 2016
A recente ênfase da pirâmide de Miller na formação da identidade
profissional na avaliação do profissionalismo trouxe questionamentos sobre o “fazer”
como último nível da pirâmide. Acreditando que um indicador mais confiável do
comportamento profissional é a incorporação de valores e atitudes do profissional, foi
proposto que um quinto e último nível no topo da pirâmide: “Ser”. Este nível reflete um
componente de identidade profissional para guiar os métodos de avaliação atuais
(CRUESS, 2016).
Nas avaliações convencionais escritas é possível definir se o educando sabe
e se sabe como fazer. No entanto, para uma avaliação completa deve ser avaliado também
como o educando faz e a avaliação de suas atitudes. Para isso, é necessário utilizar
36
metodologias de avaliação de habilidades clínicas, como o OSCE – Organized Structured
Clinical Examination e o vídeo.
O Royal College of Physicians, no Reino Unido, por exemplo, exige a
consulta centrada no paciente e inclui as habilidades de comunicação nos exames
profissionais, usando os seguintes critérios (PENDLETON et al, 2011).
Figura 3.
Critérios do Royal College of Physician.
1. 1. Habilidades de comunicação – condução da entrevista
a. Apresenta-se ao paciente e explica seu papel de forma clara
b. Acorda o objetivo da entrevista com o paciente
c. Deixa o paciente à vontade e estabelece uma boa relação
d. Explora as preocupações, sentimentos e expectativas do paciente – demonstrando
empatia, respeito e atitude de não-julgamento.
e. Prioriza problemas e redireciona a entrevista sensivelmente
2. Habilidade de comunicação – exploração e negociação do problema
a. Estilo de questões apropriado – geralmente questões abertas para fechadas com o
progresso da entrevista.
b. Oferece explicações claras (sem jargões) que o paciente entende
c. Acorda um curso claro de ações
d. Resume e checa o entendimento do paciente
e. Conclui a entrevista apropriadamente
2. Ética e lei:
a. Na relação do cenário clínico, demonstra conhecimento dos princípios éticos e legais
importantes e atitudes apropriadas na tomada de decisões
b. Conhecimento dos princípios éticos
c. Entendimento dos limites legais aplicáveis ao caso
d. Demonstra raciocínio adequado e apropriado ao caso.
Fonte: PENDLETON et al, 2011
Obs: Esses critérios não foram ainda validados no Brasil.
Em seu livro Inner Consultation, Neighbour aborda a importância da conexão com
os pacientes em como desenvolver um estilo de consulta eficaz e intuitivo, ao mesmo
tempo chamando a atenção para aspectos pouco abordados em outros modelos, como em
relação ao manejo da incerteza e ao autocuidado do médico para manejar o estresse da
prática clínica (NEIGHBOUR, 1987).
Figura 4 -Tarefas da consulta de Neighbour
1. Conexão com o paciente
2. Resumo do seu entendimento dos problemas do paciente
3. Compartilhamento de decisões e manejo
4. Rede de segurança para manejo da incerteza e evitar desfechos inesperados
37
5. Autocuidado do médico para manejar o estresse da prática clínica
Fonte: NEIGHBOUR, 1987.
Outra escala que pode ser útil é de avaliação de consulta de Pendleton. É uma
escala de avaliação que tem por base as tarefas da consulta e cada individual de cada
tarefa é classificada separadamente. A escala é distribuída na forma de afirmativas
opostas ligadas pelas letras (a), (b), (c). É solicitado para marcar qual letra representa
quanto se concorda com as afirmações opostas. Por exemplo: se concorda com a
afirmação da coluna esquerda, marca (a), se com a esquerda (c) e se em parte com as duas
(b) (PENDLETON et al, 2011). Há a vantagem de poder expressar grandes variações de
opiniões, porém por outro lado, um avaliador pode sempre usar o ponto médio e nunca se
comprometer em uma opinião (PENDLETON et al, 2011). A escala pode ser preenchida
tanto pelo estudante e pelo tutor e depois comparada e assim discutir os pontos de
divergência. Uma dificuldade é a necessidade do consenso e esclarecimento do que
significa “adequadamente” ou “inadequadamente” para cada afirmação, pois senão pode
haver muita diferença nas avaliações.
38
Figura 5 - Escala de avaliação de consulta de Pendleton
Tarefa 1: Entender as razões que o paciente veio à consulta, incluindo o problema e a
perspectiva do paciente:
A. O problema do paciente:
Natureza e história definida
adequadamente
(a) (b) (c) Natureza e história definida
inadequadamente.
Etiologia definida adequadamente Etiologia definida inadequadamente
Efeitos definidos adequadamente Efeitos definidos inadequadamente
B. A perspectiva do paciente
Aspectos sociais e pessoais
definidos adequadamente
Aspectos sociais e pessoais definidos
inadequadamente
Ideias e crenças sobre saúde
definidas adequadamente
Ideias e crenças sobre saúde definidas
inadequadamente
Ideias sobre o problema, suas
causas e seu manejo definidas
adequadamente
Ideias sobre o problema, suas causas e
seu manejo definidas inadequadamente
Preocupações a respeito do
problema e suas implicações
definidas adequadamente
Preocupações a respeito do problema e
suas implicações definidas
inadequadamente
Expectativas pelas informações,
envolvimento e cuidado definidas
adequadamente
Expectativas pelas informações,
envolvimento e cuidado definidas
inadequadamente Tarefa 2. Levar em conta a perspectiva do paciente, realizar um entendimento compartilhado:
Entendimento compartilhado a
respeito do problema foi realizado
adequadamente e apropriadamente
(a) (b) (c) Entendimento compartilhado a
respeito do problema foi realizado
inadequadamente e
inapropriadamente.
Entendimento compartilhado a
respeito da evidência e opções para
manejo foi realizado adequadamente
e apropriadamente
Entendimento compartilhado a
respeito da evidência e opções para
manejo foi realizado
inadequadamente e
inapropriadamente Tarefa 3. Possibilitar que o paciente escolha uma ação apropriada para cada problema:
Opções e implicações consideradas
adequadamente e apropriadamente
(a) (b) (c) Opções e implicações consideradas
inadequadamente e inapropriadamente
Maior parte das ações escolhidas
adequadamente e apropriadamente
Maior parte das ações escolhidas
inadequadamente e inapropriadamente Tarefa 4: Possibilitar que o paciente maneje o problema:
Habilidade do paciente para tomar
ações apropriadas foi discutido
adequadamente
(a) (b) (c) Habilidade do paciente para tomar
ações apropriadas foi discutido
inadequadamente
Médico e paciente concordam com
as ações e responsabilidades
adequadamente
Médico e paciente concordam com as
ações e responsabilidades
inadequadamente
Objetivos, monitoramento e
seguimentos foram acordados
adequadamente
Objetivos, monitoramento e
seguimentos foram acordados
inadequadamente Tarefa 5: Considerar outros problemas
Problemas ainda não apresentados
foram considerados adequadamente
(a) (b) (c) Problemas ainda não apresentados
foram considerados inadequadamente
Problemas frequentes foram
considerados adequadamente
Problemas frequentes foram
considerados inadequadamente
Fatores de risco foram considerados
adequadamente
Fatores de risco foram considerados
inadequadamente Fonte: Pendleton, 2007
39
Outra escala de avaliação é a Escala Patient-Practitioner Orientation Scale
(PPOS). Essa é uma escala para avaliar se o atendimento é mais centrado no paciente ou
na doença. É composta por 18 itens, em uma escala Lickert de 1 a 6, variando entre 1
(centrado no médico e na doença) e 6 (centrado no paciente). A escala se refere à
capacidade de compartilhar decisões (subescala poder) e à abordagem dos aspectos de
vida e sentimentos do paciente no processo de adoecer (subescala cuidado).
A escala de PPOS pode ser utilizada para medir atitudes de pacientes e médicos a
respeito da relação médico-paciente (RIBEIRO; AMARAL, 2008). Tem sido usada em
algumas pesquisas brasileiras associada a um questionário socio-demográfico. Em
pesquisa realizada em uma universidade pública do Brasil foi observada relação
significativa do escore total PPOS com renda familiar, com escore mais baixo para os
estudantes que informaram renda familiar mais elevada, dado este não observado neste
estudo realizado em uma universidade privada, em que 64% dos estudantes informaram
renda familiar acima de 20 salários mínimos (PEIXOTO, 2009). Ainda, em relação ao
gênero, verificou-se que as mulheres apresentaram escore da subescala de poder superior
ao dos homens, sendo os escores da subescala de cuidado semelhante (PEIXOTO, 2009).
A seguir as perguntas da escala PPOS traduzida (PEIXOTO, 2009):
40
Figura 6 - Escala PPOS traduzida
1- Cabe ao médico decidir o que será conversado durante a consulta.
2- A atenção à saúde mais impessoal nos dias atuais é um pequeno preço a pagar pelos
avanços alcançados pela medicina.
3- A parte mais importante da consulta médica padrão é o exame físico.
4- Frequentemente, é melhor para o paciente que ele não tenha uma explicação
detalhada sobre sua condição clínica.
5- O paciente deve confiar no conhecimento do seu médico e não buscar informações
sobre suas condições de saúde por conta própria.
6- Quando o médico faz muitas perguntas sobre os aspectos psicossociais da vida do
paciente isto é intromissão em problemas pessoais
7- Se o médico é realmente bom de diagnóstico e tratamento, a forma como ele se
relaciona com o paciente não é tão importante.
8- Muitos pacientes mesmo quando não estão aprendendo nada novo, continuam a fazer
perguntas
9- O paciente deve ser tratado como parceiro do médico, igual em poder e importância.
10- O paciente busca, geralmente, mais tranquilização que informações sobre sua saúde.
11- Um médico cuja primeira estratégia na consulta é mostrar-se acessível e receptivo
não terá muito sucesso.
12- Se o paciente discorda de seu médico, é sinal que o médico não tem o respeito e a
confiança do paciente.
13- Um tratamento não pode dar certo se estiver em conflito com os hábitos e valores do
paciente.
14- A maioria dos pacientes prefere permanecer no consultório médico o menor tempo
possível.
15- O paciente deve saber que o médico é quem está no comando.
16- Não é muito importante conhecer as características culturais e psicossociais do
paciente para tratá-lo.
17- O bom-humor é um ingrediente fundamental para que o médico trate o paciente
18- Quando o paciente busca informação médica por conta própria, isto geralmente
mais confunde que ajuda. Fonte: Peixoto, 2009
Outra forma de avaliação é com os pacientes. Essa é a melhor maneira de
avaliar a respeito de muitas áreas cruciais da prática. Um artigo de revisão sistemática de
instrumentos e métodos de feedback de avaliação pelo paciente com feedback individual
concluiu que deve-se continuar com avaliações com as experiência dos pacientes e tentar
entender mais sobre o que representam. Além disso, conclui-se que é preciso mais
pesquisas sobre validade, confiabilidade e padronização (EVANS et al, 2007).
Existem alguns questionários validados e publicados sobre feedback de
paciente após a consulta, como o “Ask the Patient” (Pergunte ao paciente) do College of
Health, “General Practice Assessment Survey” (Pesquisa sobre Avaliação da Clínica
Geral) (GRECO et al, 1998) e o “`Patient Enablement Instrument” (Instrumento de
Empoderamento do Paciente) (HOWIE et al., 1998). Esses instrumentos são de fácil
41
acesso e fácil uso e é possível fazer pesquisas comparando com os escores publicados
(PENDLETON et al, 2011).
Ainda uma outra forma de avaliação é a autoavaliação. Pendleton sugere 10
questões para o próprio médico ou estudante se fazer após as consultas. A ideia seria que
o médico produzisse um breve diário de reflexões a respeito de suas emoções vivenciadas
(PENDLETON et al, 2011)
Figura 7
Autoavaliação de Pendleton
1. Eu sei significantemente mais a respeito dos pacientes que antes da consulta?
2. Eu descobri o que preocupa os pacientes?
3. Eu ouvi?
4. Eu explorei suas agendas, crenças e expectativas?
5. Eu fiz um diagnóstico de trabalho aceitável?
6. Eu usei o que eles pensavam quando comecei a explicação?
7. Eu compartilhei as opções de investigação ou tratamento?
8. Eu envolvi os pacientes na tomada de decisões?
9. Eu tentei checar se os pacientes realmente entenderam?
10. Eu fui facilitador? Fonte: Pendleton, 2007
Neste estudo escolhemos usar as escalas de atendimento centrado na pessoa
preenchidos pelo médico e paciente e para avaliar empatia, a escala CARE e a escala
Jefferson de empatia, que serão discutidas no item Materiais e Métodos.
1.1.4.1 Avaliação tipo OSCE (Objective Structured Clinical Examination)
Para uma avaliação prática estruturada de habilidades e atitudes, o OSCE é
uma metodologia de avaliação válida, fidedigna, acurada, flexível e de alto impacto
educacional (TIBÉRIO et al, 2012). Desde 1975, quando esta técnica foi descrita por
Harden, vem sendo cada vez mais utilizada em vários países e para avaliar vários tipos
de situações clínicas (TRONCON et al., 1996; WILKINSON et al. 2003). Nesse processo
de avaliação, os participantes percorrem várias “estações”, onde irão realizar diferentes
tarefas clínicas. Em cada uma dessas estações, o desempenho do examinado é observado
por um observador direto ou por vídeo para avaliar o domínio das habilidades clínicas
selecionadas.
42
Avaliação tipo OSCE é muito útil no ensino de comunicação clínica, pois
permite avaliar competências clínicas associadas à comunicação em situações
padronizadas e diversificadas (TIBÉRIO et al, 2012). O OSCE pode ser associado à
gravação em vídeo e é muito potente quando o estudante tem a possibilidade de receber
um feedback de um tutor assistindo ao seu desempenho em uma consulta gravada (DENT;
HARDEN, 2009). Esta metodologia vem sendo bem avaliada pelos estudantes, por ser
uma experiência de aprendizado mais ativa (HARDEN et al, 2000; ELMAN et al, 2004).
É possível também o feedback não apenas aos examinandos, mas também aos educadores
(EPSTEIN, HUNDERT, 2002).
Alguns estudos afirmam que 4 a 7 observações podem produzir
confiabilidade suficiente na avaliação de habilidades clínica para determinar “aprovação-
reprovação”. Entretanto é preciso um treinamento por parte do professor para detectar
erros. O American Board of Internal Medicine (ABIM) encontrou deficiências nos
avaliadores. Foi demonstrado que avaliadores falharam em até 68% em detectar erros
cometidos no desempenho de um residente em gravação de vídeo e professores sentem-
se desconfortáveis em admitir suas limitações na detecção de deficiências em habilidades
clínicas (HOLMBOE et al, 2008).
Em relação às desvantagens do OSCE descritas: pode haver uma
fragmentação da avaliação; custos (relativo); tempo de preparo da atividade e de
treinamento da equipe; número de pessoas participantes do processo; necessidade do
envolvimento da instituição (TIBÉRIO et al, 2012).
1.2 Uso do vídeo feedback para ensino e avaliação formativa em comunicação
clínica
1.2.1 Histórico e panorama atual
A videogravação tem sido usada para ensino e desenvolvimento profissional
desde 1951 (GINSHRG, 1956) e programas educativos usando vídeo feedback para
estudar mais profundamente o comportamento profissional desde a década de 60
(ALLEN, 1966). Há registro de primeiras entrevistas de consulta filmadas em vídeo em
Amsterdam, no ano 1954, com fins de pesquisa. Posteriormente, seu uso foi difundido,
43
principalmente no Reino Unido onde foi desenvolvida a metodologia de Entrevista
Baseada em Problemas (Problem Based Interviewing- PBI) (LESSER, 1985).
Na Espanha há uma longa experiência em seu uso, iniciando-se de maneira
pontual no ano 1986, e generalizando seu uso após a difusão da metodologia de Problem
Based Interviewing (PBI). Desde o ano 2006 a filmagem de entrevistas tem sido
obrigatória para os residentes de terceiro ano de Medicina de Família na maioria das
Unidades Docentes de Espanha, constituindo uma das tarefas do Portfólio Formativo
(BORRELL-CARRIÓ; DOHMS; FONTCUBERTA, 2012).
No início da década de 80, o uso de gravações em vídeo de consultas reais com
objetivo de aprendizagem era uma novidade. Atualmente é uma técnica aceita pela
maioria dos médicos na Atenção primária e cada vez mais sendo reconhecida sua
importância também nas demais disciplinas médicas (PENDLETON et al, 2011). Para
ampliar esta oferta formativa, por exemplo, na Espanha há uma organização de muitos
cursos periódicos de capacitação em coordenação de filmagens de entrevista. Trata-se de
cursos-oficina de 20 horas de formação em que se reproduzem os passos necessários para
filmar e comentar com o discente as gravações, com especial ênfase nas dificuldades do
feedback (BORRELL-CARRIÓ, 2012).
No Brasil, em 2010, através da Associação Catarinense de Medicina de Família e
Comunidade, um grupo de médicos de família iniciaram pioneiramente no país sessões
mensais de análise de filmagem de suas consultas na metodologia PBI (Problem Based
Interviewing), baseados na vivência da autora com a experiência do Grupo de
Comunicação em Saúde da SEMFYC (Sociedade Espanhola de Medicina de Família e
Comunidade), de Barcelona (BORRELL-CARRIÓ; DOHMS; FONTCUBERTA, 2012).
A partir de então, com o apoio da Sociedade Brasileira de Medicina de Família e
Comunidade, foram promovidos cursos e oficinas em congressos e eventos com o
objetivo de divulgar a técnica e formar mais grupos de análise de consultas nessa
metodologia no país. Sabe-se que há grupos atuantes em Programas de Residência em
Medicina de Família e Comunidade da Universidade de São Paulo (USP), coordenados
por Gustavo Gusso, e também nos Programas de Residências de Medicina de Família
integrados que ocorrem na Secretaria Municipal de Saúde de Curitiba e do Rio de Janeiro.
O relato dos participantes é que as sessões mudam sua prática por estimular a capacidade
de “ver-se atuar” nas consultas posteriores aos encontros, promovendo uma prática mais
reflexiva e com a sensação de melhoria nas próprias habilidades de comunicação na
relação clínica (BORRELL-CARRIÓ; DOHMS; FONTCUBERTA, 2012).
44
Há poucas experiências publicadas com uso de vídeo no Brasil e não há ainda
uma sistematização para todas as universidades (BALLESTER, 2009; DE MARCO et al,
2010). Um exemplo do uso de filmagem na Residência Médica no Brasil: Ballester em
seu estudo, analisou filmagens de consulta de residentes de Pediatria, no início e no final
do estágio ambulatorial, buscando analisar se o modelo de temas adotado permitia ao
residente, após um ano de estágio, conduzir uma consulta com a inclusão da perspectiva
dos pais. Observou que a maioria dos residentes explorou precocemente a primeira queixa
referida pelos pais, assumindo-a como principal, sem explorar outras queixas, além de
não realizar decisão compartilhada do plano terapêutico. Observou também que os
residentes conversam pouco com as crianças, não explicavam o exame físico. Concluiu
que os residentes realizam consultas sem a inclusão da perspectiva dos pais e, portanto,
sem atender aos pressupostos do modelo centrado no paciente (BALLESTER, 2009).
1.2.2 Vantagens e desvantagens
O vídeo é como um espelho que reflete as habilidades de comunicação do
entrevistador. Na visão de alguns autores, o vídeo representa o padrão-ouro no ensino de
habilidades de comunicação, por possibilitar a visualização de aspectos de comunicação
verbal e não-verbal, apesar de ainda ser considerado uma metodologia experimental
(KURTZ; SILVERMAN; DRAPER, 2005). É uma técnica ainda pouco utilizada no
Brasil, mas de grande potencial. Vídeos de consultas reais, gravados previamente, têm
se tornado a abordagem padrão no treinamento de médicos residentes em Atenção
Primária no Reino Unido e esse método tem sido muito recomendado (KURTZ;
SILVERMAN; DRAPER, 2005).
Os estudos têm mostrado superioridade evidente nos profissionais treinados
com a técnica de “vídeo-feedback interativa” no aspecto de comunicação, em relação à
técnica convencional de ensino. Vários trabalhos posteriores têm confirmado a
importância dessa técnica para o sucesso no ensino das habilidades de comunicação
(ROTER et al, 2004; MAGUIRE et al,1986; GASK, 1991).
Um estudo mostrou que estudantes de graduação demonstraram obtenção de
informações três vezes mais relevantes e precisa após um teste de entrevistas que aqueles
que receberam treinamento apenas no método tradicional de habilidades de anamnese
(RUTTHER; MAGUIRE, 1976). Em outra pesquisa, estudantes de graduação foram
45
randomizados em 4 grupos para um programa de treinamento de entrevista clínica. Houve
aplicação de diferentes técnicas de ensino, desde somente a tradicional até com gravação
em vídeos ou áudio, com ou sem tutor assistindo juntos, e com feedback por um tutor.
Em todos os grupos que receberam feedback de um tutor mostraram ganhos
significativos, mas somente o grupo que recebeu o benefício do vídeo e com um feedback
em grupo demonstrou ganhos significativos nas suas habilidades de comunicação
(MAGUIRE et al,1978).
O feedback baseado em vídeo tem muitas vantagens comparando com o
feedback com observação direta, porque facilita a análise da comunicação não-verbal, a
avaliação das necessidades de aprendizagem, possibilita revisar posteriormente e quantas
vezes seja necessário, estimula a autoavaliação e reflexão e envolve os participantes de
maneira mais ativa na solução dos seus problemas (HARGIE; MORROW, 1986;
BECKMAN; FRANCKEL, 1994; ASAN; MONTAGNE, 2014; HENRY; FORMAN;
FELTERS, 2011; PERRON et al, 2017)
Permite também rever aspectos que merecem mais atenção e possibilita uma
análise mais detalhada da entrevista. (WETSBERG; JASON, 1994). O vídeo oferece a
possibilidade de os alunos revisarem, refinarem e construírem habilidades enquanto
simultaneamente adicionam novas habilidades em grau crescente de complexidade, como
preconizado pelas diretrizes e consensos nacionais e internacionais (VON FRAGSTEIN
et al, 2008). Além disso, gravar em vídeo causa menos interferência na consulta do que
se estiver alguém observando diretamente dentro do consultório (PENDLETON et al,
2011).
A análise de gravações em vídeo pode facilitar o feedback para prevenir mal-
entendidos ou entendimentos equivocados a respeito do que realmente ocorreu na
consulta, pois estamos falando de fatos concretos e que podem ser visualizados, não
apenas opiniões subjetivas (KURTZ; SILVERMAN; DRAPER, 2005). O próprio vídeo
por si só já é didático pela experiência pessoal de ver-se atuando. As filmagens permitem
aos alunos a oportunidade de reverem seus comportamentos e atitudes, possibilitando a
discussão do significado de cada postura assumida (SUCUPIRA, 2007). Quando o
aprendiz pode observar-se e ouvir a si mesmo, isso facilita o entendimento a respeito das
suas potencialidades e fraquezas e uma autoavaliação mais precisa. A autorreflexão
durante as sessões parece ser uma maneira efetiva de aperfeiçoamento das competências
comunicacionais e atitudinais (EECKHOUT et al, 2016; KALISH et al, 2011).
46
Inicialmente as pessoas podem se sentir assustadas e apreensivas com a ideia de
serem observadas em vídeo (HARGIE; MORROW, 1986). Depois que iniciam as
gravações, a tendência é que esqueçam a câmera após os primeiros minutos de filmagem
e isso aumenta quanto mais vezes são filmados. O desconforto que pode ser causado aos
discentes precisa ser manejado cuidadosamente com uma boa condução de grupo
(KURTZ; SILVERMAN; DRAPER, 2005). É necessário um ambiente seguro e criar um
clima de confiança pelo coordenador das sessões, para evitar possíveis constrangimentos.
Apesar dessas potenciais dificuldades, a gravação em vídeo continua a ferramenta mais
valiosa para programas de ensino de comunicação. Estas dificuldades precisam ser
superadas pelos benefícios aos aprendizes e professores (KURTZ; SILVERMAN;
DRAPER, 2005).
1.2.3 O vídeo feedback como parte de um programa educativo
Todas essas possibilidades metodológicas com uso de vídeo para ensino de
habilidades de comunicação podem ser usadas tanto para cenário de ensino como em
avaliações. Em relação a qual grupo de participantes o vídeo feedback é mais efetivo,
alguns estudos mostraram um melhor progresso nos estudantes de graduação que nos de
pós-graduação (BAKER; DANIELS; GREELEY, 1990), mas uma metanálise não
encontrou diferenças entre os grupos (HILL; LENT, 2006). Outra metanálise concluiu
que os efeitos não eram menores em participantes mais experientes, como pensado
anteriormente (FUKKINK; TRIENEKENS; KRAMER, 2011).
Algumas pesquisas concluíram que o vídeo feedback sozinho é menos efetivo
que uma associação de instruções adicionais. Assim, é importante que seja feita uma
conexão teórica durante o feedback e que o discente tenha mais oportunidades de praticar,
como com um role-play e prática posterior no seu cenário real (HOSFORD; MILLS,
1983; HARGIE; MORROW, 1986; HATTIE; TIMPERLEY, 2007). Muitas escolas
mesclam as possibilidades, de acordo com os recursos disponíveis. Em países como Reino
Unido e Holanda, a maioria das escolas médicas uma combinação de ensino em pequenos
grupos, dramatizações com pacientes simulados e feedback com gravações em vídeo, de
maneira sistemática no currículo e apresentando resultados satisfatórios (PENDLETON
et al, 2011).
47
Em relação aos programas de treinamentos com vídeo feedback, em uma
metanálise encontrou-se uma média de duração de 10 semanas, a maioria sem um
seguimento posterior pelos preceptores locais.
Em revisão sobre formatos de treinamento de habilidades de comunicação em
serviço contendo vídeo feedback, recomenda-se que o programa contenha os seguintes
passos:
1. Instrução: definir e explicar as habilidades específicas a serem
trabalhadas.
2. Modelagem: mostrar as habilidades desejadas.
3. Prática: o aprendiz tentar colocar em prática as habilidades.
4. Vídeo feedback: principal dimensão para promover uma mudança na
prática do aprendiz.
FONTE: BORG et al,1970; FUKKINK; TRIENEKENS; KRAMER, 2011
1.2.4 Recursos necessários
Em relação aos recursos para um programa de treinamento educativo com vídeos,
em geral acredita-se que esse é um recurso didático caro, por precisar de câmeras e caixas
de som e que isso pode ser um limitante. Felizmente, o avanço da tecnologia tornou os
aparelhos cada vez mais baratos (KURTZ; SILVERMAN; DRAPER, 2005). Certamente
a aquisição e manutenção de equipamentos para gravação de vídeo e caixas de som para
a instituição podem trazer a necessidade de mais recursos financeiros em comparação
com métodos tradicionais. Entretanto, na prática pode-se observar que com recursos mais
econômicos e de uso diário, como câmeras de celulares próprios, pode-se fazer excelentes
videogravações como instrumento docente. A tecnologia evoluiu dos gravadores de fita
analógicos para gravadores digitais, facilitando muito o uso dessa técnica com boa
qualidade técnica (PENDLETON et al, 2011).
Muitas vezes, mais importante que uma câmera sofisticada é uma caixa de
som de boa qualidade, para permitir uma escuta adequada do volume do áudio da
gravação. Além do cuidado com o som, para assistir o vídeo não é necessário mais que
os recursos audiovisuais geralmente já utilizados nas salas de ensino, como os aparelhos
de Datashow.
48
O uso da tecnologia de vídeo exige maior preparação e cuidados específicos.
É preciso um preparo prévio e cuidados éticos, principalmente quando usado para
filmagem de pacientes reais. No caso de filmagem de simulações, os laboratórios de
habilidades, câmeras fixas facilitam muito (KURTZ; SILVERMAN; DRAPER, 2005).
1.3 Como fazer vídeo feedback?
1.3.1 O preparo da videogravação de consultas
1.3.1.1 Que tipos de consultas filmar?
A demonstração de competências práticas através de videogravação pode ser
de várias maneiras, com encenação/ role-play, com pacientes simulados ou com pacientes
reais. A filmagem pode ser associada à simulação de entrevistas com pacientes-
simulados, durante atividades didáticas de treinamento de uma tarefa específica em
pequenos grupos ou em momentos individuais de avaliação formativa ou somativa, e em
avaliações estruturadas como o OSCE.
Muitas universidades contam com um laboratório de habilidades médicas,
chamados “Laboratório de Comunicação”, onde há salas específicas para simulação e
sistema de captação de imagem e vídeo acoplados ou não, que favoreçam a evolução das
capacidades de comunicação, antecedendo a prática das entrevistas com as pessoas. As
salas-espelho são outra excelente opção para além de acompanhar a performance do aluno
sem interferir fisicamente no espaço da sala, pode-se filmar e rever posteriormente
dificuldades em um feedback individualizado ou em grupo.
A filmagem de encenações é um recurso muito interessante e sem grandes
custos. Traz a vantagem de não necessitar de pessoas externas e causar menos
interferência que uma pessoa na sala observando a consulta. Os alunos podem encenar o
papel do paciente e do médico numa consulta simulada e ainda ver suas atuações no vídeo.
Vivenciar o papel de paciente pode ser uma introdução muito útil quando os estudantes
são incapazes de explorar a perspectiva do paciente. Além disso, estar no papel do
paciente, médico e observador pode contribuir para consciência do aluno sobre suas
próprias necessidades de ensino (DENT; HARDEN, 2009).
49
A filmagem da encenação tem a vantagem de ser mais simples e de menos
estresse para estudantes de graduação, principalmente do início do curso que ainda têm
pouca experiência com entrevistas. Além disso, poupa os pacientes de entrevistas
possivelmente mais longas e de maiores dificuldades. Com o vídeo, é possível parar a
gravação da consulta em partes e refazer a encenação no mesmo momento da dificuldade
observada, na tentativa de buscar diferentes abordagens para encontrar diferentes
soluções para vários temas de comunicação. Tem a desvantagem de não ser tão realística.
As encenações de consultas ganham mais qualidade e mais poder realístico
quando realizadas com pacientes-simulados, que são pessoas geralmente externas ao
grupo, que recebem previamente um roteiro estruturado e orientações para atuação. Esses
roteiros podem ser criados usando membros da equipe de professores, pessoas voluntárias
ou atores profissionais. É muito útil usar pacientes simulados padronizados, que são
pessoas treinadas que representam casos previamente elaborados por uma equipe de
tutores e que repetem um mesmo caso e mesmas reações para todos os estudantes, o que
facilita muito a comparação e avaliação (KURTZ; SILVERMAN; DRAPER, 2005).
As simulações gravadas em vídeo podem ser ainda mais úteis e potentes
quando o aprendiz encontra-se com o paciente simulado sozinho e recebe um feedback
do próprio paciente simulado logo após o seu desempenho, que chama-se de paciente
simulado instrutor, ou quando recebe um feedback de um tutor após assistir ao seu
desempenho de uma consulta gravada (DENT; HARDEN, 2009).
Outra possibilidade em relação ao tipo de participantes é o uso de pacientes
reais. Uma alternativa é convidar pacientes para participar de cursos de comunicação com
a proposta de ajudar os aprendizes. Nesse caso pode-se convidar pacientes selecionados
para auxiliar em role-play e feedbacks focados em comunicação (KURTZ;
SILVERMAN; DRAPER, 2005).
A técnica de análise de consultas por videogravação, mesmo com pacientes
reais, já se definiu com boa aceitação pelos médicos e pacientes e tem sido cada vez mais
usadas por exames educacionais e profissionais (PENDLETON et al, 2011). O realismo
que os pacientes reais trazem à entrevista é um fator muito importante, comparado ao
treinamento com pacientes-simulados (KURTZ; SILVERMAN; DRAPER, 2005).
Algumas escolas médicas têm parceria com programas comunitários de
pacientes voluntários para contarem suas histórias e darem feedback de comunicação.
Uma possível desvantagem é que às vezes os pacientes podem querer ajudar tanto os
estudantes que podem ter dificuldade de fazer críticas construtivas. Outra dificuldade é
50
que os pacientes reais terão dificuldade de repetir da mesma maneira muitas vezes para
estudantes diferentes, já que não são atores. Além disso, apenas determinados grupos de
pacientes poderão participar, por exemplo, pessoas com tempo livre durante o dia,
geralmente aposentados, ou grupo de pacientes crônicos ou pacientes internados estáveis
(KURTZ; SILVERMAN; DRAPER, 2005)
Em relação a quando gravar uma consulta, o ideal é que a gravação ocorra próxima
à data da sessão de vídeo feedback. Não há um limite de tempo de duração. Em uma
metanálise, a média de tempo da gravação do vídeo foi de cerca de 1 semana antes da
sessão e com duração de 20 minutos (FUKKINK; TRIENEKENS; KRAMER, 2011).
Entende-se que toda consulta apresenta aspectos de comunicação que podem ser
analisados (BORRELL-CARRIÓ, DOHMS, FONTCUBERTA, 2012).
1.3.1.2 Termo de Consentimento
O uso de consentimento informado é de essencial importância na educação
médica onde pacientes reais são convidados a participar, principalmente quando serão
feitas filmagens. É necessário um consentimento realmente informado e que o paciente
tenha mesmo a oportunidade de sentir-se livre para recusar-se a participar e mudar de
ideia durante ou após a consulta (KURTZ; SILVERMAN; DRAPER, 2005). A maioria
das pessoas atendidas aceita que sua consulta seja gravada. O pedido de gravação deve
ser formulado com assertividade e flexibilidade autorização (BORRELL-CARRIÓ;
DOHMS; FONTCUBERTA, 2012).
É essencial dar ao paciente a possibilidade de ele mudar de ideia após a
gravação (General Medical Council, 1995). No item Apêndice há um modelo de termo
de consentimento para gravações de consultas em vídeo. É recomendável realizar
algumas vezes exercícios de role-play com o médico residente, em que ele explica e
solicita ao paciente a assinatura do termo de autorização (BORRELL-CARRIÓ;
DOHMS; FONTCUBERTA, 2012).
Abaixo algumas informações importantes de serem transmitidas ao paciente
ao solicitar seu consentimento.
Figura 8 - Informações ao solicitar consentimento
Porque se registrará a consulta: finalidade clara. Não para avaliar o paciente.
O que será registrado.
51
Quem verá o registro.
Quem será o responsável por guardar o registro.
Quando se destruirá o registro.
Sua decisão não afetará o trato que receberá na consulta.
Que pode renunciar a qualquer momento a filmagem, que será apagada imediatamente.
Que em nenhum caso o registro será utilizado para outras finalidades (se deveria pedir
outra vez o consentimento).
Fonte: BORRELL-CARRIÓ; DOHMS; FONTCUBERTA, 2012
Estudos sobre a perspectiva do paciente em relação a ser filmado são
divergentes. Em um estudo foi encontrado uma taxa de recusa de apenas 16% (MARTIN;
MARTIN, 1984), em outros menos de 10% de recusas ((BORRELL-CARRIÓ; DOHMS;
FONTCUBERTA, 2012), enquanto outro mostrou uma taxa média de aceitação do
paciente de apenas 6% (SERVANT, MATHESON, 1986). Em um estudo menos da
metade dos pacientes disseram que poderiam se sentir sob pressão para participar, outro
estudo mostrou não haver diferença no índice de satisfação de pacientes que foram
filmados ou não (KURTZ; SILVERMAN; DRAPER, 2005).
Deve-se ter claramente uma preocupação em relação a possibilidade de os
pacientes se sentirem coagidos a ter suas consultas gravadas em vídeo para agradar ao
médico e por medo de terem seu cuidado prejudicado (KURTZ; SILVERMAN;
DRAPER, 2005). Quando recepcionistas pedem autorização ao invés do médico, pode
haver redução da impressão de coerção, mas essas pessoas precisam ser bem treinadas na
tarefa de garantir que os pacientes tenham uma escolha livre e certifiquem-se de que o
médico não se importará se o paciente preferir não ter sua consulta gravada em vídeo
(KURTZ; SILVERMAN; DRAPER, 2005).
1.3.2 A sessão de vídeo feedback
1.3.2.1 Recomendações gerais para sessões de vídeo feedback
Inicialmente é importante conhecer as recomendações para abordagem de ensino
e aprendizagem de Pendleton:
52
1. Fazer o ensino ser centrado no aprendiz.
2. Escolher métodos adequados à mensagem.
3. Pregar que faz.
4. Integrar aprendizagem e prática
5. Estabelecer uma cultura de aprendizagem. (PENDLETON et al,
2011)
Em 1993 Steinert já publicava um artigo com 12 dicas para vídeo feedback:
Figura 9 – Guia para revisão efetiva de videogravações
Durante a revisão do vídeo:
1. Considere os muitos usos de revisões de vídeo em dar feedback de desempenho
clínico e cuidadosamente determine seus próprios objetivos no uso deste método
de ensino.
2. Trabalhe para dominar os temas mais comumente encontrados.
3. Assegure-se de haver um consentimento informado.
4. Escolha o melhor formato para ensino e prepare o estudante para revisão do
vídeo.
5. Ajude o aluno a desenvolver o plano de trabalho.
6. Crie um ambiente de apoio e discuta as reações do estudante no vídeo.
7. Determine como a sessão irá se desenvolver.
8. Solicite uma breve descrição do que será visto na videogravação.
9. Reveja as partes selecionadas do vídeo.
10. Siga os princípios do feedback efetivo.
11. Foque na discussão.
12. Resuma e avalie a revisão.
Fonte: STEINERT, 1993 (tradução nossa).
A possibilidade de compartilhar a autopercepção como com um pequeno
grupo em que se confia é um aspecto muito importante da análise da consulta e o uso do
vídeo torna isso mais fácil, detalhado e objetivo (KURTZ; SILVERMAN; DRAPER,
2005). A revisão do vídeo por pares (colegas) é mais benéfica do que um feedback
tradicional no aperfeiçoamento das habilidades de comunicação do discente
(EECKHOUT et al, 2016; KALISH et al, 2011) e é muito recomendada porque o
feedback é mais efetivo para otimizar performance quando há associação de
autoavaliação, feedback externo e feedback por pares (PELGRIM et al, 2013).
É preciso atenção em relação a uma possível assimetria que pode ocorrer
quando o grupo não é uniforme e há estudantes e professores ou preceptores na mesma
sessão. Esta assimetria pode dar a impressão de algo como um “tribunal” que julga o
53
desempenho dos residentes, algo que seria contraproducente e contrário à proposta
formativa e de reforço positivo. Para evitar esse possível feedback negativo não
construtivo, nessa situação de assimetria de membros, seria adequado que alguns
profissionais da equipe do programa (professores ou preceptores) se prestassem também
a trazer entrevistas suas para feedback em sessões anteriores a dos residentes
(BORRELL-CARRIÓ; DOHMS; FONTCUBERTA, 2012).
1.3.2.2 Métodos de revisão e análise do vídeo
Pode-se treinar com o vídeo determinados micro comportamentos em
habilidades específicas ou habilidades mais holísticas (FUKKINK; TRIENEKENS;
KRAMER, 2011). Em relação a como visualizar o vídeo focando nas habilidades, há
basicamente 2 metodologias de revisão e análise da videogravação de consulta: a
Entrevista Baseada em Problemas (PBI) e o Método de Visualização Global (MVG).
Pode-se ainda assistir apenas fragmentos de maior dificuldade escolhidos previamente
pelo entrevistador para um feedback breve ou assistir o vídeo através de programas de
computador que possibilitam edições com codificações para feedback (FUKKINK;
TRIENEKENS; KRAMER, 2011).
1.3.2.2.1 Método de Visualização Global (MVG)
Esse método consiste em visualizar a totalidade ou a maior parte da entrevista para
capturar os objetivos dos protagonistas e as estratégias que foram usadas para dar resposta
às demandas do paciente, assim como o resultado final da entrevista. O MVG tem a
vantagem de que se valoriza a entrevista em suas grandes linhas estratégicas, eixo
emocional e eixo cognitivo-comportamental, em uma “macroanálise”.
Este enfoque é particularmente útil para que os participantes analisem as intenções
de fundo do paciente e também nas suas próprias, e saibam planejar os encontros
percebendo desde o início “o que se pretende deles”, isso é, o enquadre (ou agenda) das
entrevistas. Este enfoque geral vai desenvolver neles um sentido estratégico (BORRELL-
CARRIÓ; DOHMS; FONTCUBERTA, 2012).
As instruções para revisão do vídeo no Método de Visualização Global:
54
Figura 10- O Método de Visualização Global
INSTRUÇÕES:
1) Avalie em primeiro lugar o tom emocional do encontro
TOM EMOCIONAL DO PROFISSIONAL: análise principalmente da entonação de voz, interesse por
captar a atenção do paciente, presença de sorrisos e outros marcadores de cordialidade:
QUALIDADES DE SUPERFÍCIE: CORDIALIDADE.
QUALIDADES PROFUNDAS: PROATIVIDADE (*), ASSERTIVIDADE…
(*) Entendendo por isso: resposta aos objetivos emocionais do paciente com bom-humor; capacidade de
dar um tom otimista, inclusive na presença de um paciente pessimista; não responder com hostilidade
ao paciente hostil, manter nosso tom.
2) Identifique a (s) modalidade (s) de entrevista que foram ativadas. Avalie as tarefas mais
importantes e seu cumprimento. Se várias modalidades foram ativadas, avalie separadamente.
CLASSIFICAÇÃO POR MODALIDADES: Pontue cada item com “SIM / NÃO”.
ENTREVISTA SEMIOLÓGICA: presença de um ou mais sintoma(s) ou sinais, quando é solicitada uma
orientação diagnóstica.
1. Houve uma boa delimitação do motivo de consulta.
2. Foi delimitado o mapa de demandas e queixas, se o paciente é complexo.
3. Foi delimitado a natureza do problema principal: *como, *quando e *onde das enfermidades.
4. Foram averiguados os fatores ou sintomas associados.
5. Foram averiguadas ideias, preocupações ou expectativas do paciente.
6. Foi realizado o salto psicossocial, se procede.
7. Foram delimitados outros problemas que merecem seguimento.
ENTREVISTA OPERATIVA: profissional e paciente têm claro o conteúdo da entrevista: controle de
um determinado adoecimento, aplicação de uma técnica, etc.
1. Em todo momento, profissional e paciente sabem do que estão falando.
2. Foram realizadas a maior parte de tarefas protocoladas (segundo o protocolo de cada entidade
abordada).
3. Houve uma boa gestão do tempo.
ENTREVISTA DE ESCUTA E ACOMODAÇÃO: escutar para que o paciente se compreenda e aceite.
1. O entrevistador permite que o paciente fale sem interrupções e pede clarificações.
2. O entrevistador não se precipita em dar conselhos.
3. Os sentimentos do paciente foram aflorados, (sinalizações, escuta, empatia…).
4. O entrevistador sugere outras maneiras de ver a realidade, ou outras maneiras de enfocar a resolução
dos problemas (refraiming).
ENTREVISTA PSICOEDUCATIVA E DE INTEGRAÇÃO: o profissional procede a dar um sentido
biográfico aos sintomas, e/o procede a dar conselhos para obter uma melhor adaptação.
1. O entrevistador situa as demandas e queixas em um contexto de história de vida e as normaliza
/legitima, se procede.
2. O entrevistador respeita as defesas do paciente para entrar no psicológico, sem forçar o ritmo.
3. O entrevistador estimula a melhorar a qualidade de vida mostrando como outras pessoas em situação
semelhante conseguiram.
ENTREVISTA INFORMATIVO-PRESCRITIVA: o profissional informa e/ou prescreve alguns
conselhos. Pode ser a segunda parte de qualquer das modalidades anteriores. Em ocasiões deriva de uma
tarefa persuasiva e/ou de negociação, que consideraremos na seguinte modalidade.
1. Frases curtas e claras sem termos médicos, (ou se usa, clarifica seu significado).
2. Uso de exemplificação com racionalidade da medida terapêutica
3. As dúvidas do paciente foram atendidas, dando espaço para expressão do seu ponto de vista.
4. Os conselhos foram detalhados e/ou fornecido instruções por escrito.
55
ENTREVISTA PERSUASIVO-NEGOCIADORA: o paciente nos pede de maneira explícita ou
implícita uma prestação de saúde, ou nos solicita que ajudemos a modificar determinados hábitos.
1. O entrevistador detecta uma expectativa do paciente que não estava no seu plano de entrevista, e
determina que o paciente não ficará satisfeito a menos que a tal expectativa seja persuadida ou negociada,
(por exemplo, fazer uma receita, uma RNM, encaminhamento a outro centro…).
2. O entrevistador em lugar de justificar suas opções permite ao paciente que expresse suas expectativas
ou pedidos ou crenças.
3. O entrevistador tenta reconverter crenças e/ou explicar seu ponto de vista.
4. Chega-se a um acordo ou desacordo, (parênteses, duplo pacto, atribuição intencional ou real,
negação…).
5. Em caso de negação o profissional clarifica o papel que tem assumido e oferece seus serviços no
futuro.
ENTREVISTA DE MUDANÇA DE HÁBITOS, (ENTREVISTA MOTIVACIONAL)
1. O grau de compromisso ou a predisposição com a mudança do paciente foram determinados.
2. O entrevistador se mostrou respeitoso com as crenças do paciente mas, por sua vez, firme em suas
convicções de que é necessário modificar.
3. Foi aplicada uma estratégia de aconselhamento diretivo: “o melhor para sua saúde seria…”
4. Foi aplicada uma estratégia não diretiva: “se continuar assim, como vê seu futuro?”
5. O paciente foi agendado para um seguimento posterior, marcando objetivos intermediários, se
pertinente.
QUESTÃO FINAL: Pelo conteúdo observado... o profissional teria tido que ativar algum outro tipo de
modalidade de entrevista?
NOTA: Em uma mesma entrevista podem surgir várias modalidades. Por exemplo, é muito normal que
de uma entrevista semiológica passemos a uma prescritiva na fase de resolução. Ou que de uma
semiológica passemos a uma modalidade de escuta, para talvez entrar em uma entrevista psicoeducativa.
Nestes casos, classificaremos cada uma das seções que correspondam.
Fonte: BORRELL-CARRIÓ F. Entrevista Clínica. 2012.
1.3.2.2.2 Entrevista Baseada em Problemas – Problem Based
Interviewing (PBI)
Essa metodologia de revisão de vídeo para feedback é o foco principal deste
estudo. Foi baseada no modelo de Lesser (LESSER, 1981) e nos princípios de feedback
construtivo de Pendleton e no feedback ALOBA (Agenda-Led Outcome-Based Analysis)
com análise baseada em resultados e guiada pela agenda (demanda) do aprendiz
(PENDLETON et al, 2011; SILVERMAN; KURTZ; DRAPER, 1996). É recomendável
que se desenvolva em grupos de até 15 pessoas (SEMFYC, 2010). Pede-se o
compromisso que todos do grupo participem trazendo seus vídeos de consulta
(BORRELL-CARRIÓ; DOHMS; FONTCUBERTA, 2012).
O objetivo da revisão do vídeo pela metodologia PBI em sua versão clássica,
serve para sensibilizar os participantes nos pequenos detalhes da comunicação verbal e
não-verbal (SEMFYC, 2010). A diferença com o Método de visualização global (MVG),
é que, neste, o objetivo é sensibilizar os participantes a respeito das estratégias globais de
acordo com as intenções dos protagonistas (SEMFYC, 2010). O PBI, diferentemente,
56
consiste em visualizar partes importantes da entrevista, convidando o entrevistador a
expressar em que sentido surpreende o diálogo observado, que tipo de conteúdos são
percebidos, e que predições podem ser estabelecidas. A partir destes comentários podem
ser sugeridas melhores estratégias emocionais e cognitivo-comportamentais para
enfrentar situações parecidas.
O PBI é uma estratégia de microanálise, de detalhes de comunicação, onde
predomina o processo acima dos conteúdos. O PBI se adapta muito bem às suas
necessidades formativas específicas de cada grupo, e é menos normativo que o MVG.
Ainda que perdendo aspectos de estratégia global, os primeiros minutos de entrevista
costumam bastar para que os participantes deduzam os propósitos que cada protagonista
tem na entrevista, ou seja, os objetivos ou a agenda que o paciente e o entrevistador
trazem.
Pode ser conveniente combinar a metodologia de PBI com a de MVG. Isto
pode realizar-se em qualquer momento, por exemplo, visualizando os primeiros minutos
de entrevista como PBI, e na segunda parte da sessão visualiza-se o resto do vídeo com
MVG.
1.3.3 O feedback
1.3.3.1 Princípios de feedback construtivo de Pendleton
Pendleton et al (2011) foram um dos primeiros e importantes autores que
conseguiu organizar princípios para um feedback construtivo. Os princípios de feedback
que podem ser resumidos em (PENDLETON et al, 2011):
1. Engajar e envolver o aprendiz, elencando suas preocupações e objetivos e
chegue a um acordo para prosseguir.
2. Apresentar a fundamentação lógica para as tarefas da consulta e negocie sua
aceitação em relação à experiência da prática do próprio aprendiz.
3. Observar e descrever a consulta e identifique quando há tentativa de realizar
uma tarefa específica.
4. Avaliar até que ponto cada tarefa foi realizada em uma consulta.
5. Fornecer feedback construtivo. Identifique como as tarefas foram realizadas
e as razões porque qualquer das tarefas não foi completamente realizada, e veja
como isso pode ser melhorado.
6. Desenvolver a autoconsciência. Ajude o aprendiz a avaliar sua própria
efetividade e a identificar os pensamentos e sentimentos que teve durante a
consulta.
57
7. Escolher estratégias de aprendizagem apropriadas. Chegue a um acordo
quanto às necessidades futuras de aprendizagem e ao método mais apropriado
para aprendê-las.
8. Experimentar e praticar. Encoraje o aprendiz a colocar em prática as
mudanças propostas tanto em ambientes protegidos quanto com seus pacientes.
(PENDLETON et al, 2011)
As regras de Pendleton para feedback, publicadas pela primeira vez em 1984,
em que sugere que deve-se encorajar o aprendiz a falar primeiro, considerar o que foi bem
feito (iniciar por feedback positivo) e preferencialmente fazer recomendações ao invés de
apontar fraquezas (PENDLETON et al, 2011). Ao permitir que o entrevistador sempre
fale primeiro quando o vídeo é parado, possibilita-se que o discente dê primeiro o
feedback e faça uma autoavaliação das cenas vistas.
Para realizar um feedback construtivo, recomenda-se focar mais na descrição
do que na avaliação (PENDLETON et al, 2011). Por exemplo, em lugar de comentar: “eu
tentaria fazer com que o paciente não divagasse tanto e se concentrasse no tema”,
procurava-se estimular que os participantes verbalizassem exatamente as palavras que
utilizariam. No exemplo: “eu teria dito ao paciente: eu queria que me explicasse como é
a dor” (BORRELL-CARRIÓ; DOHMS; FONTCUBERTA, 2012).
Essas regras foram pensadas inicialmente para se contrapor à norma antiga
das escolas médicas de ensinar pela humilhação (PENDLETON et al, 2011) e, talvez por
isso, hoje ainda parece algo tão inovador para muitos docentes. Um feedback bem-
intencionado, detalhado e descritivo, observações de aprendizes com revisões através de
gravações em vídeo e áudio são os ingredientes essenciais do aprendizado experimental
de habilidades de comunicação (KURTZ; SILVERMAN; DRAPER, 2005).
1.3.3.2 O feedback ALOBA (Agenda-Led Outcome-Based Analysis)
Há algumas críticas em relação às regras do feedback de Pendleton, como de
que há muita rigidez, como a de que o feedback positivo deve sempre vir antes, o que
poderia forçar um discurso artificial inicialmente e de que o estudante não é ativamente
envolvido em alcançar seu objetivo, apenas recebendo sugestões (KURTZ;
SILVERMAN; DRAPER, 2005).
Silverman e colaboradores, buscaram equilibrar as desvantagens das regras
de Pendleton com a abordagem ALOBA, que foi elaborada pensando no feedback para
58
pequenos grupos ou individual (KURTZ; SILVERMAN; DRAPER, 2005.
SILVERMAN; KURTZ; DRAPER, 1996). A metodologia do feedback ALOBA foi
construída baseada na própria agenda (motivos, intenções) do estudante, colocando o
entrevistador que trouxe o vídeo no centro do processo e ativamente envolvido na análise
da entrevista, permitindo que identifiquem seus problemas individuais no contexto dos
seus resultados desejados para o paciente e para si mesmo na consulta (SILVERMAN;
KURTZ; DRAPER, 1996).
Nesta abordagem um dos princípios é identificar no que o aprendiz quer ajuda
e a discussão é então direcionada para atingir o objetivo do entrevistador, estimulando a
autoavaliação e oportunisticamente introduzindo a agenda do facilitador e a discussão de
novas teorias e conceitos. Ao invés do grupo dar inicialmente sempre um feedback
positivo, propõe-se que o próprio entrevistador inicie com uma autoavaliação. O objetivo
é empoderar o estudante e reduzir as suas defesas enquanto permite uma oportunidade
para melhoria nas suas habilidades (PENDLETON et al, 2011; CHOWDHURY; KALU,
2004).
O feedback baseado no vídeo é mais efetivo se específico e focado na
comunicação efetiva e quando conectado com as instruções teóricas de um modelo de
comunicação desejado (FUKKINK; TRIENEKENS; KRAMER, 2011; BORG et al,
1970, THELEN; LASOSKI, 1980). Atualmente os estudos não sugerem mais usar o vídeo
para autoconfrontação, porque um feedback negativo pode destruir a autoconfiança e não
é efetivo. O modelo de reforço positivo é pedagogicamente mais recomendável
(HATTIE, TIMPERLEY 2007; KLUGER; DENISI, 1996; DOWRICK, 1983;
HOSFORD, 1983; BANDURA, 1969).
Abaixo os princípios do feedback ALOBA (Agenda-Led Outcome-Based
Analysis):
1) Inicie com a agenda do
médico
Pergunte que problemas o médico experenciou e
que ajuda ele gostaria do grupo.
2) Sempre olhe para os
resultados que você
está tentando atingir.
Pensando sobre seus objetivos e como poderia
alcançá-los estimulado a resolução de problemas –
efetividade na comunicação depende do que você
está tentando atingir.
3) Estimule a
autoavaliação e a
Sempre permita que o médico possa dar sugestões
antes do compartilhamento de ideias do grupo.
59
autoresolução de
problemas inicialmente
4) Envolva o grupo todo
na resolução dos
problemas
O grupo deveria trabalhar junto para encontrar
soluções não apenas para ajudar o médico como
também para ajudar a si mesmos em situações
similares.
5) Use feedback descritivo
para encorajar uma
abordagem de não
julgamento.
O feedback descritivo assegura que os comentários
sejam específicos e não de julgamento e previne
generalização vaga.
6) Proporcione um
feedback balanceado.
Cada membro do grupo deveria assegurar que
fornecerão um balanço no feedback do que foi
trabalhado bem e o que não funcionou tão bem:
isto apoia o estudante e maximiza o aprendizado –
nós aprendemos tanto pela análise do por que
funcionou como por que não funcionou.
7) Faça sugestões e dê
alternativas.
Faça sugestões ao invés de comentários
prescritivos e devolva as reflexões para o médico
fazer suas considerações a respeito.
8) Ensaie sugestões Ensaie e pratique sugestões através de role play –
na aprendizagem de qualquer habilidade é preciso
observação, feedback e ensaio para uma mudança
efetiva.
9) Seja bem intencionado,
apreciador e seja
suportivo.
É responsabilidade do grupo ser respeitoso e
sensível uns aos outros.
10) Valorize o vídeo como
um presente de
material bruto para o
grupo.
O vídeo proporciona um material bruto que todo o
grupo pode explorar os aspectos de comunicação.
Os membros do grupo podem aprender tanto
quanto o entrevistador e devem estar preparados
para fazer e praticar sugestões – o entrevistador
não deve ser o centro constante de atenção.
11) Aproveite as
oportunidades para
introduzir exercícios de
ensino e evidências de
pesquisa.
Os facilitadores devem aproveitar as
oportunidades para introduzir exercícios de ensino
e evidências de pesquisa para ajudar a delinear os
princípios de comunicação e iluminar o
aprendizado para o grupo como um todo.
12) Estruture e resuma o
aprendizado para
Os facilitadores devem resumir a sessão e
assegurar que o grupo desenvolveu suas
60
alcançar um objetivo
final construtivo.
habilidades individuais dentro de um quadro
conceitual global.
Fonte: Silverman, Draper and Kurtz: Education for General Practice vol 7 e 8, pag 279-378,
1996 (tradução nossa).
1.3.3.3 Desenvolvimento de uma sessão na metodologia PBI com
feedback ALOBA (Agenda-Led Outcome-Based Analysis)
Inicialmente, o coordenador solicita ao entrevistador que trouxe o vídeo que
fica uma breve introdução em relação ao contexto em que a entrevista foi filmada, a
respeito do paciente e como se sentiu ao gravar-se em vídeo (SEMFYC, 2010). Por
exemplo: se era uma consulta agendada ou de demanda espontânea, se já havia atendido
o paciente antes ou não e se sim, como era sua relação com o paciente. A seguir, o
coordenador busca fazer a definição da agenda da sessão junto com o aprendiz, pedindo
para que o entrevistador explicite sua demanda, ou seja, quais foram suas dificuldades e
em quais elementos deseja centrar-se, e assim chegam a um acordo sobre quais aspectos
seriam focados para o feedback (SEMFYC, 2010).
Na sequência o coordenador relembra ao grupo a metodologia e recorda as
normas de participação em relação a “Regra dos 3 C” usada na condução (BORRELL-
CARRIÓ; DOHMS; FONTCUBERTA, 2012):
a) C de Comunicação – Os comentários devem referir-se a elementos de
comunicação da entrevista.
b) C de Crítica construtiva – os comentários devem ser feitos de maneira
construtiva, iniciando com um feedback positivo, a partir de fatos, sem juízos de valor e
oferecendo estratégias concretas que considera que possam ser eficazes para a dificuldade
apresentada.
c) C de Controle – que quando o vídeo é parado temos que permitir que quem
trouxe o vídeo sempre fale primeiro e o entrevistador tem o controle de parar, adiantar ou
voltar o vídeo a qualquer momento.
No o método clássico de PBI, a visualização do vídeo é feita desde o início,
como se o grupo estivesse fazendo a consulta junto com quem trouxe o vídeo, e a qualquer
momento, se algum aspecto importante de comunicação chamar a atenção de alguém, a
61
videogravação é parada. Geralmente o vídeo é pausado antes dos 2 minutos inicias
(SEMFYC, 2010). O grupo assiste à consulta como se eles mesmos estivessem
conduzindo a entrevista, pausando o vídeo com frequência cada vez que alguém percebe
um sinal ou uma “pista”. Quando o vídeo é parado o coordenador convida o entrevistador
a verbalizar sua auto-imagem e o que observou na interação, com análise de micro-
habilidades, e microanálise de microcomportamentos, prestando atenção em cada palavra
exatamente falada, assim como na comunicação não-verbal (GASK, 1998; BORRELL-
CARRIÓ; DOHMS; FONTCUBERTA, 2012).
Na dinâmica da análise da gravação, primeiro sempre fala o entrevistador,
fazendo sua autoavaliação, explicitando como se sentiu e quais foram suas dificuldades.
Depois o coordenador e o grupo assinalam os aspectos positivos. Só depois recomenda-
se apontar o que poderia ser feito de outra forma, através de alternativas concretas, como
“Às vezes nessa situação ajuda...”.
O papel do grupo formado geralmente por pares (colegas) é dar um feedback
efetivo com critérios relacionados às habilidades de comunicação e ajudar a encontrar
alternativas para os comportamentos menos efetivos observados (HATTIE;
TIMPERLEY, 2007). Nesse caso, por exemplo, há a possibilidade de fazer um role-play
associado, porque é muito recomendável que algum membro do grupo se coloque na
perspectiva do paciente para dar o feedback e esteja preparado para fazer um role-play no
papel do paciente. É especialmente útil associar o role-play quando considera-se
necessário ensaiar técnicas sobre o que foi discutido. Poderia ser solicitado a algum
participante mostrar como faria diferente e com que palavras exatamente diria (SEMFYC,
2010).
Pode-se também associar princípios da técnica desenvolvida por Norman
Kagan em 1969, chamada Inter-Personal Process Recall (IPPR), onde o coordenador
convida o entrevistador a lembrar-se do que estava pensando ou sentindo em cada estágio
da entrevista gravada. Nessa técnica, o objetivo é o coordenador fazer perguntas para
promover a reflexão e não para ensinar comportamentos, buscando desenvolver a
autoconsciência do aprendiz e estabelecer maior controle sobre seus sentimentos
(PENDLETON et al, 2011).
Nas sessões de vídeo feedback, procura-se evitar tentar encontrar uma
explicação para tudo, entendendo a importância de cultivar o que BORRELL-CARRIÓ
chama de “ponto de perplexidade”, quando reconhecemos que há incerteza ou falta de
conhecimentos e tolera-se a ambivalência e “o não saber”, que é um dos grandes valores
62
cultivados neste tipo de sessões (BORRELL-CARRIÓ; DOHMS; FONTCUBERTA,
2012).
1.3.3.4 O papel do facilitador ou coordenador
O papel mais recomendado de um facilitador de sessões de vídeo feedback é
além de coordenar a sequência do processo e as falas do grupo, facilitar que o participante
observe sua autoimagem, faça sua autoavaliação e estimule que o grupo dê um reforço
positivo para os comportamentos observados, além de estimular que o próprio
entrevistador encontre, sozinho e com a ajuda do grupo, estratégias para melhorar suas
dificuldades (DOWRICK, 1983; HOSFORD; MILLS, 1983; BANDURA, 1969).
É importante que o facilitador da sessão relembre que o objetivo é que as
habilidades de comunicação com o paciente podem ser adquiridas e melhoradas, e que
para isso temos que desenvolver um sentido de crítica e autocrítica construtiva. “Não há
entrevistador, por melhor que seja, que não tenha aspectos a melhorar” (BORRELL-
CARRIÓ; DOHMS; FONTCUBERTA, 2012).
É essencial que o facilitador saiba usar as regras de feedback de Pendleton e
os princípios do feedback ALOBA, com critérios claros de avaliação, senão o feedback
pode ser incompleto. Além disso, se as regras são usadas como leis ou dogmas, acabam
criando uma artificialidade ao feedback, prejudicando a aprendizagem (PENDLETON et
al, 2011).
Um dos objetivos prioritários das sessões de vídeo feedback é que seja
lembrado como uma experiência enormemente positiva. Não será assim quando alguém
do grupo acusa de maneira grosseira ou impositiva a atuação do profissional. Alguns
comentários podem estar carregados de boas intenções, mas podem prejudicar a auto
estima de quem as recebe (BORRELL-CARRIÓ; DOHMS; FONTCUBERTA, 2012). O
coordenador deve estar atento a isso e deve interromper de maneira educada, mas firme,
por exemplo:
Te agradeço muito o comentário, mas sempre temos que fazer o esforço de dar
um feedback positivo, ou seja, não fazer tanto juízos de valor e sim dizer o que
nós nesta mesma situação faríamos ou diríamos ao paciente... em seu caso,
qual seria a frase que você responderia ao paciente? (BORRELL-CARRIÓ;
DOHMS; FONTCUBERTA, 2012).
63
Se o discente começar a apresentar resistência ou se mostra desconfortável, é
importante explicar a intenção da pergunta ou comentário. Recomenda-se também que o
coordenador faça um resumo ao aprendiz sobre o que tem sido falado até o momento
(SEMFYC, 2010). É importante que o coordenador perceba que algumas pessoas não são
capazes de dinamizar com suficiente agilidade o progresso de um grupo e têm dificuldade
em permitir a participação dos outros ou ainda, desejam controlar a opinião do grupo e
maneje essas situações com naturalidade (BORRELL-CARRIÓ; DOHMS;
FONTCUBERTA, GUSSO, LOPES, 2012). Além disso, o coordenador deve abordar os
preconceitos do grupo quando identificá-los. Por exemplo: “os pacientes imigrantes
abusam do sistema de saúde”. O facilitador, quando perceber isso, enfatizará e pedirá ao
grupo que evite estereótipos e supere estes preconceitos (BORRELL-CARRIÓ; DOHMS;
FONTCUBERTA, 2012).
Um papel importante do facilitador é ir pontuando as técnicas de
comunicação que surgem no vídeo e deve ajustar-se ao tempo programado. As sessões
deste tipo levantam paixões e facilmente se alongam até o esgotamento. Deve-se evitar
isso, mas também não se deve encerrar a sessão com sensação de inacabado e com um
“gosto amargo na boca” de quem trouxe a gravação. Neste caso, permitiríamos que a
sessão se prolongue uns minutos mais (BORRELL-CARRIÓ; DOHMS;
FONTCUBERTA, 2012).
Recomenda-se estimular que os próprios discentes descubram e pontuem as
técnicas de comunicação durante as sessões. Para isso, o facilitador da sessão procura
fazer perguntas que vão do geral para o específico, para tentar fazer com que cada
participante perceba uma determinada situação ao invés de explicitá-la diretamente
(SEMFYC, 2010). Por exemplo, se o facilitador deseja que que o grupo observe uma pista
não verbal de alto conteúdo emocional do paciente, pode fazer perguntas como: “Por que
pensa que o vídeo foi parado? Notou se ocorre algo nesse momento? Notou algo na voz
do paciente? Percebeu como mudou a voz do paciente ao falar de sua esposa? Em que
consistiu essa mudança? ”. Se apesar de tudo o discente não conseguir identificar a
dificuldade, o coordenador ou algum membro do grupo pode indicar ou realizar uma
demonstração de como faria na situação discutida (SEMFYC, 2010).
Para encerrar, facilitador deve agradecer a todos os participantes o esforço
realizado, e de maneira muito especial aos profissionais que trouxeram suas gravações.
Também fará um resumo do que o grupo aprendeu, e as dúvidas que suscitaram e aspectos
abertos a reflexão (BORRELL-CARRIÓ; DOHMS; FONTCUBERTA, 2012).
64
Abaixo um guia para avaliação do facilitador de sessões de PBI:
65
Quadro 1 - Avaliação do papel de facilitador (ou coordenador) de uma sessão formativa
através do comentário de videogravações.
Sessão nº…………
Marcar com um círculo a frase que melhor reflete a conduta do facilitador desta sessão de aprendizagem.
Avaliar cada item de: 1 (nada de acordo) a 5 (muito de acordo)
1-Agenda da sessão: 1 2 3 4 5
* O monitor tenta acordar uma agenda prévia para a sessão, com base nos problemas do profissional e/o
do grupo (indaga preocupações, crenças, expectativas...) em relação à entrevista.
2- Clarifica as normas de participação: 1 2 3 4 5
* O monitor recorda as normas da sessão e relativas aos conteúdos, ao controle e às críticas (Os três
“C”).
3- Ensino baseado em fatos 1 2 3 4 5
* Quando a gravação é parada, trabalha-se sobre algum aspecto observado.
4- O vídeo é parado com a frequência adequada 1 2 3 4 5
* Se aparecem elementos comunicativos novos e ninguém do grupo solicita parar a gravação, o monitor
é quem o faz.
5- Utilização de metodologia ativa 1 2 3 4 5
* O monitor facilita que os profissionais descubram as estratégias e as técnicas adequadas.
6- Consideração aos sentimentos do profissional 1 2 3 4 5
*O monitor se interessa pelos sentimentos do profissional (a respeito de que sentimentos o paciente lhe
desperta na entrevista, como os apresenta na sessão). Os comentários sobre seu comportamento verbal
e não verbal estão incluídos.
7- São comentados o que é apresentado de forma adequada
1 2 3 4 5
*O monitor ressalta aquelas coisas que o profissional faz bem
8- São solicitadas alternativas 1 2 3 4 5
*O monitor solicita ao profissional e ao grupo que expressem outras formas de atuação (perguntas,
técnicas ou outras estratégias) que se poderiam ter sido utilizado em um momento determinado.
9- Se proporcionam alternativas 1 2 3 4 5
*O monitor proporciona outras formas que poderia ser realizada uma pergunta ou técnica, mas sempre
depois do grupo trazer as suas.
10. Ensaia alternativas 1 2 3 4 5
*O monitor solicita ao profissional e ao grupo que coloquem em prática (a modo de role-play) as formas
alternativas de atuação que foram sugeridas.
11. Manejo do grupo adequadamente 1 2 3 4 5
* O monitor permitiu e solicitou a participação dos membros do grupo nos momentos oportunos e de
uma forma adequada durante a sessão.
12. Foi dado nome às técnicas 1 2 3 4 5
*Cada vez que surge uma técnica ou estratégia com um nome reconhecido, o monitor proporciona
informação teórica relevante.
13. Encerra a sessão com um comentário global 1 2 3 4 5
*O monitor realiza um resumo final da sessão, ligando com as agendas trabalhadas, quando procede.
Avaliação global da monitoria 1 2 3 4 5
Comentários e/ou sugestões
Data:…………………/……………/ Avaliador Fonte: BORRELL-CARRIÓ; DOHMS; FONTCUBERTA, 2012
Alguns aspetos que os facilitadores destas sessões devem evitar, seriam os
seguintes (BORRELL-CARRIÓ; DOHMS; FONTCUBERTA, 2012):
– Parar a gravação em poucos segundos, sem permitir que os participantes
percebam a natureza da comunicação que está se estabelecendo. (Os detalhes
não nos deixam ver o bosque).
– Não perguntar ao participante que traz a videogravação como se sentiu, o que
faria diferente, etc.
66
– Não proteger o participante que trouxe sua gravação dos comentários
agressivos do grupo.
– O grupo se fixa nos detalhes superficiais da entrevista e o moderador não
detecta que deveria reenfocar a análise. (BORRELL-CARRIÓ; DOHMS;
FONTCUBERTA, 2012)
67
2 Objetivos
Objetivo geral
1. Analisar o uso de videogravação de consulta como instrumento docente para
ensino da comunicação clínica com médicos residentes em um programa de
Atenção Primária (APS).
Objetivos específicos
1. Avaliar os efeitos de uma intervenção educativa de sessões de vídeo feedback de
consultas reais, em grupo, na metodologia de Entrevista Baseada em Problemas
(PBI - Problem Based Interviewing), para avaliação formativa de habilidades de
comunicação, através de:
a) Utilização de uma metodologia de avaliação clínica com estações simuladas
padronizadas tipo OSCE, comparando antes e após essas sessões, com avaliação
por 2 avaliadores externos.
b) Utilização de questionários validados de avaliação de empatia e atendimento
centrado na pessoa, preenchidos pelo próprio residente e pelo paciente simulado.
2. Avaliar as potencialidades e desafios das sessões de vídeo feedback e mudanças
na prática clínica do residente, através de questionário semiestruturado para análise
qualitativa.
3. Tradução e adaptação transcultural para o português falado no Brasil do
instrumento Calgary-Cambridge Observation Guide (CCOG) (Etapa 2).
68
3. Casuística e Métodos
3.1 Aspectos éticos
O projeto de pesquisa foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa com
Seres Humanos da Secretaria Municipal de Saúde de Curitiba (CAAE:
340214147.0000.0101), e também pelo Comitê de Ética da Universidade de São Paulo
(CAAE 5927167.0000.0065), disponíveis no item Anexos. Um Termo de Consentimento
Livre e Esclarecido (ver Apêndice D) informando os objetivos, método, riscos e
implicações, foi apresentado e preenchido pelos participantes da pesquisa. Em relação à
divulgação dos dados da pesquisa, os nomes dos participantes serão alterados de modo a
preservar a identidade das pessoas.
Cabe ressaltar que há um “potencial conflito de interesse” de uma das
pesquisadoras em relação a essa pesquisa e ao trabalho de campo, por exercer por um
período a Coordenação dos Programas de Residência Médica (até 2015) e por ser
professora e coordenadora das sessões de videogravação de consulta na metodologia PBI
com os residentes. Entretanto, foram adotados procedimentos para minimizar os possíveis
riscos de vieses que poderiam surgir, conforme descrito previamente no detalhamento da
pesquisa de campo e análise de dados. Para tentar minimizar a possível interferência no
aceite em participar da pesquisa, os questionários foram entregues e recolhidos por outra
professora que não participa da pesquisa.
Como benefício ao grupo controle, foram realizadas sessões de
videogravação na metodologia PBI para os interessados do grupo que não participaram
das sessões de PBI durante a pesquisa. Todos os recursos decorrentes da pesquisa foram
custeados pela própria pesquisadora e não houve qualquer tipo de remuneração aos
participantes. Os resultados farão parte de futuras publicações científicas e serão
divulgados em forma de artigo, independentemente dos resultados.
3.2 Desenho, cenário e participantes
Foi conduzido um estudo experimental com pré-teste, intervenção e pós-teste com
um grupo controle, para avaliar os efeitos de uma intervenção educativa nas habilidades
de comunicação de médicos residentes de um programa de Atenção Primária. A
69
intervenção educativa proposta foi a realização de sessões de vídeo feedback, utilizando
consultas reais, com revisão do vídeo na metodologia de Entrevista Baseada em
Problemas (Problem Based Interviewing- PBI), com feedback por pares (colegas
residentes) em pequenos grupos para avaliação formativa em habilidades de
comunicação.
Todos os 61 médicos residentes do primeiro ano de 3 turmas (de 2014 a 2016) de
um Programa Integrado de Residência em Medicina de Família com atuação de estágio
na Secretaria de Saúde de Curitiba foram convidados a participar. Todos aceitaram e 54
participaram de todas as etapas da pesquisa, sendo 17 homens e 37 mulheres. Os
residentes foram divididos aleatoriamente em grupos de 12 a 15 participantes de um
programa educativo de vídeo feedback e foram identificados com letras e números de
forma também aleatória.
A coleta de dados foi realizada antes e após a intervenção, através de uma análise
em vídeo da performance dos residentes em estações tipo OSCE (Objective Structured
Clinical Examination) com 2 estações clínicas antes e 2 após a intervenção, com 4
cenários de situações comuns da APS, com duração de 7 minutos. Além disso, havia mais
1 estação de autopreenchimento de 2 questionários (empatia e percepção do atendimento
centrado na pessoa) pré e pós-intervenção.
Os pacientes simulados também preencheram questionário avaliativo após cada
estação da avaliação prática. Esses pacientes simulados eram alunos de graduação de
Medicina, que recebiam um roteiro do caso a ser dramatizado e havia uma reunião prévia
em que se discutia o roteiro para que os pacientes-simulados tivessem reações
semelhantes, para atuarem como pacientes simulados padronizados em estações que se
repetiam em paralelo ou em tempos diferentes. Procurava-se alunos que não tivessem tido
contato ou algum tipo de relacionamento afetivo com os médicos residentes. Nessa
reunião prévia discutia-se também com os alunos que fariam o papel de paciente simulado
a respeito dos questionários que eles preencheriam logo após o término de cada estação
para cada médico residente com o objetivo de uniformizar as avaliações.
As estações ocorreram em duas unidades de saúde do município de Curitiba,
utilizando cenários reais, semelhantes à prática de atendimento dos médicos residentes,
apenas com pacientes simulados e com tempo delimitado de 7 minutos para cada estação.
Os médicos residentes recebiam para leitura um resumo do caso que iriam atender, junto
com a tarefa focada e direcionada para determinada parte da entrevista e o tempo
disponível para a realização a tarefa. Para as estações antes da intervenção foram
70
elaborados um caso de abordagem de cefaleia envolvendo aspectos biopsicossociais e um
caso de comunicação de notícia difícil (resultado de HIV reagente). Após a intervenção
havia estações com um caso de um paciente hipertenso descompensado envolvendo
necessidade de mudança de estilo de vida e outro caso de comunicação de notícias difíceis
(resultado de endoscopia mostrando adenocarcinoma gástrico). Os casos utilizados nas
estações podem ser visualizados no item Apêndice.
As performances dos médicos residentes nas estações de avaliação prática
tipo OSCE foram filmadas e analisadas posteriormente por dois avaliadores externos
treinados para avaliar aspectos de comunicação clínica do questionário. Foi feito um teste
piloto com os avaliadores, analisando algumas consultas filmadas e discutindo as
diferenças de respostas entre os avaliadores e detalhando cada item do questionário, para
que tivessem uma homogeneidade nas avaliações. Foi escolhido utilizar avaliadores
externos para maior confiabilidade ao processo avaliativo e minimizar os possíveis vieses
que podem surgir devido a uma das pesquisadoras ser “sujeito implicado” na pesquisa e
ter “potencial conflito de interesse”, por ser professora e coordenadora das sessões de
vídeo feedback na metodologia estudada e também Coordenadora de um dos Programas
de Residência Médica em Medicina de Família e Comunidade. Os avaliadores externos
não tinham nenhuma relação com os residentes e analisaram os vídeos sem conhecimento
de qual grupo cada residente pertencia (se do grupo intervenção ou não) e se os vídeos
haviam sido realizados antes ou após a intervenção. Cada avaliador externo analisou cerca
de 200 vídeos de consulta.
71
Figura 11 - Resumo do Procedimento de Coleta de Dados: População (54 residentes)
Pré-intervenção
Avaliação prática tipo OSCE para o grupo todo
2 estações práticas + 1 estação com escalas de auto-preenchimento
+ Paciente simulado
Escala de avaliação por Autopreenchimento
Avaliador externo (por vídeo)
Grupo Intervenção (31 residentes) Grupo Controle (23 residentes)
Sessões de Videofeedack (PBI) aulas teórico-práticas
+ aulas teórico-práticas
Pós –intervenção
Avaliação prática tipo OSCE para os 2 grupos
2 estações práticas + 1 estação com escalas de autopreenchimento
+ Paciente simulado
Escala de avaliação por Autopreenchimento
Avaliador externo (por vídeo)
+ Questionário semiestruturado para o grupo que participou das sessões de PBI
Fonte: o autor
Para complementar um entendimento além da avaliação da performance e dos
resultados das escalas numéricas, buscou-se proporcionar um aprofundamento dos
pensamentos e reflexões dos médicos residentes a respeito da intervenção educativa
investigada, buscando entender suas percepções sobre o método e como a intervenção
72
impactou seu aprendizado na comunicação clínica. Também buscou-se avaliar se houve
mudanças na sua prática. Ao final das sessões de videofeedback foi aplicado um
questionário semiestruturado a respeito das percepções subjetivas da participação.
O estudo exploratório qualitativo, segundo Minayo, permite uma abordagem
subjetiva, trabalha com mensagens, com a vivência, com a experiência, com a
cotidianidade, para compreender e explicar a dinâmica das relações sociais, que por sua
vez são depositários de crença, valores, atitudes e hábitos (MINAYO,1994).
Para a determinação do referencial teórico foi realizada uma pesquisa
bibliográfica nos últimos 20 anos (1997-2017) utilizando os bancos de dados MEDLINE
e LILACS. Foram citados apenas os artigos mais relevantes e que se relacionavam
diretamente ao tema da pesquisa, além de livros textos clássicos em função do número
limitado de artigos sobre o tema. Na busca foram utilizados os seguintes descritores:
relações médico-paciente, comunicação em saúde, comunicação médico-paciente,
comunicação clínica, educação médica, habilidades de comunicação, vídeo, videotape e
feedback.
3.3 A intervenção – Sessões de vídeo feedback de consulta médica
A intervenção foi um programa educativo com sessões de vídeo feedback com
objetivo de avaliação formativa. Foram utilizadas consultas médicas reais, com revisão
do vídeo em grupo, com feedback por pares (colegas), com método de revisão e análise
de vídeo com Entrevista Baseada em Problemas, que neste estudo chamaremos pela sigla
em inglês, PBI (Problem Based Interviewing), por ser o termo consagrado na prática.
Os participantes das sessões foram: o entrevistador, pelo menos um
coordenador/facilitador da sessão e um grupo de colegas (residentes), em grupos
pequenos de 12 a 15 médicos residentes. O programa de treinamento levou em torno de
12 semanas, com cada sessão com duração de 60 a 90 minutos. Não houve limite no
tamanho do vídeo gravado previamente. A média de tempo dos vídeos apresentados foi
de cerca de 20 minutos. Para facilitar a autoavaliação e reflexão prática recomendou-se
que a consulta fosse gravada próxima à sessão (em torno de no máximo 15 dias antes).
O entrevistador poderia gravar um vídeo com uma dificuldade específica ou
de um paciente difícil para discutir ou filmar um dia todo de consulta e depois selecionar
a que teve mais dificuldade ou ainda escolher alguma ao acaso. Recomendava-se que na
73
filmagem fosse possível visualizar tanto o entrevistador como o paciente, para que
pudesse ser analisada a comunicação não-verbal de ambos. Recomendava-se que o
entrevistador refletisse inicialmente sobre quais aspectos gostaria de receber o feedback
do grupo.
Cada médico residente apresentou uma consulta filmada previamente em contexto
de prática real e recebeu um feedback na metodologia ALOBA pelo coordenador da
sessão e por seus pares (médicos residentes), com revisão e análise do vídeo na
metodologia PBI. Os aspectos do desenvolvimento das sessões nessas metodologias
foram descritos detalhadamente no item Introdução.
3.4 Instrumentos de Coleta das Informações
Foram escolhidas escalas validadas e/ou publicadas e consideradas relevantes
em literatura de referência do tema. Ao todo, foram utilizados 8 instrumentos de
avaliação, buscando contemplar os vários ângulos de avaliação. Todas as escalas e
questionários já publicados utilizados estão apresentados no item “Anexos” e os
questionários criados para analisar a experiência após a sessão de PBI e pelos avaliadores
externos está no item “Apêndice”.
Quadro 2- Resumo dos instrumentos usados nas estações de OSCE:
1) Para autopreenchimento pelo médico residente:
1. Escala Jefferson de Empatia (anexo A).
2. Questionário PPACP (Percepção da Pessoa quanto ao Atendimento
Centrado na Pessoa) para o médico (anexo A).
3. Questionário após participação as sessões de videogravação de consulta
na metodologia PBI (apêndice C).
2) Para preenchimento pelo paciente simulado padronizado após atendimento nas
estações:
4. Escala CARE de empatia para pacientes (anexo B)
5. Questionário PPACP (Percepção da Pessoa quanto ao Atendimento
Centrado na Pessoa) para paciente (anexo B)
74
2 Para preenchimento pelos avaliadores externos:
Questionários baseados no CCOG (apêndice B)
7. Questionário A (apêndice B)
8. Questionário B – específico para caso de comunicação de notícias difíceis
(apêndice B).
Foram criados questionários quando não se encontrou na literatura um
instrumento que, na avaliação das pesquisadoras, correspondesse completamente às
expectativas relacionadas às informações que se desejava pesquisar. Foi criado então um
questionário semiestruturado para a análise qualitativa do residente após participação das
sessões de PBI.
Os questionários para os avaliadores externos foram criados em uma das fases
finais da pesquisa, pela dificuldade de encontrar um instrumento adequado e foi baseado
no CCOG e no protocolo SPIKES para comunicação de má notícia.
3.4.1 Escala de avaliação de Empatia - Consultation and Relational Empathy
(CARE)
Esta é uma escala para medida de empatia simples preenchida por pacientes
e que vem sendo muito utilizada no exterior (MERCER et al, 2004). Foi desenvolvida na
Escócia e validada para atendimento ambulatorial de Atenção Primária. Existe a versão
validada dessa escala no Brasil. Apesar do estudo de validação ter ocorrido com uma
amostra pequena (12 pacientes voluntários), o estudo de validação conclui que a versão
brasileira é de fácil compreensão e com evidências aceitáveis de validade e consistência
interna. O estudo de validação no Brasil concluiu também que as medidas de empatia
autorreferidas pelos médicos tendem a não se correlacionar com as percepções dos
pacientes. O valor mediano da escala CARE nos 12 pacientes brasileiros foi próximo do
escore observado nos 23 pacientes atendidos por médicos do sistema público de saúde
escocês no estudo original da escala (SCARPELLINI; CAPELLATO; SILVA, 2014).
A escala apresenta 10 itens com explicações adicionais em linguagem
coloquial para facilitar o entendimento do paciente que irá avaliar as perguntas a respeito
do atendimento do médico. A resposta do paciente avaliador pode variar em escala de 5
75
pontos entre ruim, regular, bom, excelente e não se aplica. Os valores dos itens individuais
são somados fornecendo escore final entre 10 e 50. Quando houver a opção por “Não se
aplica” ou faltar dados, eles podem ser substituídos pela média dos demais valores
obtidos. Questionários faltando mais de dois itens ou com mais do que duas respostas
“Não se aplica” devem ser desconsiderados (SCARPELLINI; CAPELLATO; SILVA,
2014).
3.4.2 Escala Jefferson de Empatia
Essa escala foi elaborada por membros do Jefferson Medical College em 2001 e
foi o primeiro instrumento de avaliação de empatia voltado para a Medicina (HOJAT et
al, 2001). Foi escolhida a versão S para estudantes por ser a escala validada, que é
composta por 20 perguntas, com análise da empatia sob a ótica cognitiva, respondidas
pelo médico residente em uma escala Likert de “discordo totalmente” até “concordo
totalmente”, através do somatório de valores que podem variar de 20 a 140 pontos. Não
há uma definição de um ponto de corte para considerar empatia adequada ou suficiente
(PARO et al, 2012).
3.4.3 Questionário de Percepção da Pessoa quanto ao Atendimento
Centrado na Pessoa (PPACP)
Esse questionário foi desenvolvido por Henbest e Stewart a partir de um
estudo sobre a comunicação na prática da Medicina de Família, buscando medidas de
percepção quanto ao método centrado na pessoa (STEWART et al, 2010). As duas versões
foram usadas em projeto-piloto para especialistas no Canadá, fazendo parte de um
programa de manutenção de competência do Royal College of Physicians and Surgeons
(STEWART et al, 2010).
O questionário apresentava 14 itens inicialmente, mas no final da década de
90 por pressões para uma versão mais curta, o questionário passou para 9 itens em duas
versões: uma para a pessoa atendida e outra para o médico. O coeficiente alfa de Cronbach
para o questionário respondido pelo paciente é 0,8 (n=85) e para o médico 0,79 (n=117)
(STEWART et al, 2010). Os questionários são codificados por pontos e quanto maior o
76
escore, maior a percepção positiva e usado para dar feedback ao médico em avaliações
formativas. O médico pode observar em qual aspecto do atendimento centrado na pessoa
precisa melhorar. Além disso, pode-se ver o nível de concordância entre avaliações da
pessoa e do médico em cada item (STEWART et al, 2010).
3.5 Análise dos dados
Na análise dos dados quantitativos, o conjunto das informações coletadas foi
transferido para uma base de dados específica criada por dupla digitação, com validação
e checagem da consistência do banco de dados obtido. Foram utilizados o programa
EXCEL, e na análise dos mesmos o pacote Sigma Plot e Sigma Stat 3.0 e, SPSS para
Windows, 10.0. Para análise dos dados quantitativos foi usado análise de variância
(ANOVA) two way de medidas repetidas, comparando os grupos entre si e na variação
do tempo antes e após a intervenção. Por essa abordagem estatística avalia-se as
diferenças entre as variáveis categóricas e examina as diferenças observadas nas médias
dos grupos (baseado em suas variâncias esperadas) e as variâncias não explicadas devido
ao acaso. As amostras foram consideradas independentes e com uma homogeneidade das
variâncias entre os grupos. Um nível de significância de 5% foi assumido para todas as
hipóteses testadas. Foi utilizado distribuição de Fisher-Snedecor, conhecida como F, que
verificou a igualdade de variâncias. As amostras foram consideradas independentes e com
uma homogeneidade das variâncias entre os grupos (VIEIRA, 2006).
Na análise dos dados qualitativos, estimulou-se nos questionários que os
residentes trouxessem narrativas sobre sua experiência de aprendizado nas sessões de
vídeo feedback. A narrativa pode ser percebida como uma mediação entre estrutura e
acontecimento, que pode ser “densificada” em modos de pensar (BURKE, 1992). A
coleta de dados foi complementada com informações em diário de campo da
pesquisadora.
Foram analisados os questionários de toda a amostra de residentes que aceitaram
participar da pesquisa. Apenas 5 dos 61 residentes não responderam aos questionários por
falta no dia de entrega do instrumento. A amostra escolhida para apresentação nos
resultados foi determinada por saturação ou recorrência dos dados, isto é, aquele
momento no qual novos sujeitos não acrescentam dados novos (FONTANELLA; RICAS;
TURATO, 2008).
77
Para análise qualitativa foi usada a análise temática de Braun e Clarke (2006),
seguindo as seis fases sugeridas pelas autoras:
Tabela 1 - Fases de análise temática de Braun e Clarke:
1. Familiarização dos dados: Transcrição dos dados, leitura e releitura dos dados,
apontamento de ideias iniciais;
2. Geração de códigos iniciais: Codificação das características interessantes dos
dados de forma sistemática em todo o conjunto de dados, e coleta de dados relevantes
para cada código;
3. Busca de temas: Agrupamento de códigos em temas potenciais, reunindo
todos os dados relevantes para cada tema potencial;
4. Revisão de temas: Verificação se os temas funcionam em relação aos extratos
codificados e ao conjunto de dados inteiro, com elaboração de um "mapa" temático da
análise;
5. Definição e nomeação de temas: Nova análise para refinar as especificidades
de cada tema, gerando definições e nomes claros para cada tema.
6. Produção do relatório acadêmico da análise: Seleção de exemplos vívidos
e convincentes do extrato, análise final dos extratos selecionados, relação entre análise,
questão da pesquisa e literatura
Fonte: Braun e Clarke, 2006.
A codificação dos dados foi realizada manualmente dando igual atenção a cada
item, identificando aspectos interessantes nos segmentos de dados com padrões repetidos
potenciais de temas em todo o conjunto. Todos os extratos reais foram codificados e
posteriormente agrupados em conjuntos dentro de cada código. O processo de codificação
buscou ser profundo, inclusivo e abrangente. Inicialmente a codificação foi direcionada
pelos dados e posteriormente dirigida pelas questões teóricas relevantes surgidas no
aprofundamento teórico. Foram usadas representações visuais para ajudar na
classificação dos diferentes códigos em temas e subtemas.
A seguir, foi realizada uma revisão com releitura do conjunto de dados e
refinamento e reagrupamento dos temas até chegar a um mapa temático satisfatório. Os
temas e subtemas foram sendo formadas por agrupamento de semelhanças de temas e
ideias, ao mesmo tempo que se revisitava o referencial teórico, que levava a novos
reagrupamentos. A cada revisita ao referencial teórico novos reagrupamentos eram feitos,
78
até se chegar a 3 grandes temas principais, que estão descritos nos resultados. O processo
de categorização realizado pela pesquisadora principal foi revisto e validado pela outra
pesquisadora, buscando uma validação entre pares. Na análise, buscou-se posicionar-se
ativamente no processo de pesquisa e de forma consistente com a posição epistemológica,
considerando que “A análise do material ... é uma criação artística autoconsciente pelo
pesquisador, e deve ser construída para convencer o leitor da plausibilidade de um
argumento" (FOSTER; PARKER, 1995).
3.6 Metodologia da Etapa 2
Durante a etapa 1 deste estudo observou-se a dificuldade de encontrar
instrumentos adequados e validados para avaliar habilidades de comunicação e a partir
dessa necessidade foi iniciada numa etapa 2 a tradução e adaptação transcultural para o
português falado no Brasil do Guia Calgary-Cambridge Observation Guide (CCOG).
Esse projeto de pesquisa foi aprovado pelo Comitê de Ética da Secretaria
Municipal de Saúde do Rio de Janeiro (CAAE: 57387816.7.0000.5279), disponível no
item Anexo E. Um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (Apêndice F) com
explicação sobre a pesquisa foi apresentado e preenchido pelos sujeitos da pesquisa nessa
etapa, que foram 35 médicos preceptores do Programa de Residência Médica em
Medicina de Família e Comunidade da Secretaria de Saúde do Rio de Janeiro que
aceitaram participar do estudo.
Inicialmente foi realizado contato por correio eletrônico com a autora principal do
guia, a Profa Dra Suzanne Kurtz, e confirmado que não havia ainda pesquisa de validação
do instrumento no Brasil. A autora confirmou a informação também com o presidente da
Associação Europeia de Comunicação em Saúde (apêndice G).
Para adaptação cultural seguiu-se as normas metodológicas recomendadas por
pesquisas, passando pelas seguintes etapas: tradução; síntese; retro - tradução; revisão por
um comitê; e pré-teste. A primeira fase foi a tradução do instrumento do inglês para o
português falado no Brasil. Para este fim, dois tradutores bilíngues com língua materna o
português fizeram duas traduções independentes.
Após as traduções, o instrumento foi enviado para um Comitê de Especialistas de
6 médicos com experiência de ensino com habilidades de comunicação para validação de
79
conteúdo e das diferenças nas duas traduções. Cada membro do comitê respondeu ao
questionário sobre cada item da tradução de forma online pelo googleform e deu
sugestões. Posteriormente, houve consolidação de todas as versões do instrumento e
indicação de quais as características que deveriam ser consideradas na versão para pré-
teste. Após atingido um consenso foram consideradas as equivalências semântica,
idiomática, experimental e conceitual. Após todas as sugestões feitas, uma versão pré-
teste foi elaborada. O instrumento então foi aplicado para os sujeitos da pesquisa, 35
médicos preceptores do Programa de Residência Médica em Medicina de Família e
Comunidade da Secretaria de Saúde do Rio de Janeiro que aceitaram participar do estudo.
Esse programa foi escolhido por ser o maior programa de residência em atenção primária
no Brasil.
Inicialmente todos os participantes receberam instruções sobre o preenchimento e
discutiram dúvidas sobre todos os itens do questionário. Posteriormente, todos assistiram
ao mesmo tempo aos 5 vídeos de entrevistas de 5 médicos- residentes de uma mesma
estação de OSCE com paciente simulado. Cada vídeo apresentava no máximo 7 minutos
de duração. Em seguida responderam ao questionário CCOG, de 28 itens, para cada vídeo,
com 3 possibilidades de resposta para cada um dos itens: “SIM/BOM”, PARCIAL (SIM,
MAS...)” e “NÃO”. Se os avaliadores não conseguiam avaliar o item por algum motivo,
por exemplo, se não era possível visualizar ou ouvir, eram orientados a deixar o item em
branco.
Após o preenchimento e entrega dos questionários houve discussão com relação
ao entendimento das palavras de cada item e sobre às dificuldades no preenchimento das
respostas. Foram anotadas as sugestões de alteração dos itens e posteriormente discutido
entre os autores para modificações na versão final.
Tabela 2 – Resumo da metodologia da Etapa 2:
1. Comunicação por email com autora principal do instrumento CGOC solicitando
permissão para validação e verificando se outro pesquisador já havia validado o
questionário no Brasil.
2. Aprovação Comitê de Ética e Pesquisa.
3. Tradução; síntese; retro – tradução.
4. Revisão por comitê de especialista.
80
5. Aplicação do questionário em português por preceptores do programa de Medicina de
Família da Secretaria de Saúde do Rio de Janeiro, analisando 5 vídeos de consultas
gravados previamente.
6. Discussão sobre os termos do questionário com os preceptores.
7. Análise estatística dos dados.
Fonte: Autor 2018.
Para avaliar a confiabilidade interavaliador, para cada domínio do questionário,
foi estimado o coeficiente de correlação intraclasse (ICC). Para avaliação da consistência
interna de cada domínio foi estimado o coeficiente alfa de Cronbach. Dentro de cada
domínio, para avaliação do grau de importância de cada uma das perguntas, o coeficiente
alfa de Cronbach foi estimado com a exclusão de cada pergunta. A avaliação da
correlação entre os domínios do questionário foi feita estimando-se o coeficiente de
correlação de Spearman e testando-se a sua significância. Valores de p<0,05 indicaram
significância estatística. Os dados foram analisados com o programa computacional IBM
SPSS Statistics v.20.
Para fornecer evidências adicionais no suporte à validação da interpretação dos
escores, os dados foram também analisados usando o modelo de multifacetas de Rasch
(MFRM – Many Facet Rasch Modeling), desenvolvido por Linacre (LINACRE, 2011).
Neste modelo de análise da qualidade psicométrica do instrumento é possível analisar
como múltiplas variáveis podem ter uma influência simultânea nos scores e permite
estimar um examinador completamente neutro e fornecer um “fair score” estimado
(BOND; FOX, 2012).
O modelo MFRM tem sido cada vez mais utilizado para analisar a qualidade das
avaliações com itens de respostas por permitir a inclusão de outras variáveis importantes
e que podem ser geradoras de vieses nos processos avaliativos, como características
pessoais dos avaliadores, suas tendências e diferenças de critérios de severidade ou de
entendimento. (TOFFOLI, 2015). Quando se observa a adequação ao modelo MFRM,
significa que foram atingidas as medidas de invariância. Isso implica que as medições das
pessoas não foram influenciadas por itens particulares e as medições dos itens não foram
influenciadas pelas pessoas em particular por quem foram medidas (RASCH 1980). Por
exemplo, uma pessoa mais hábil pode ter sempre mais chance de sucesso em um item que
uma pessoa menos hábil e há mais chances de as pessoas terem mais sucesso em itens
mais fáceis. O modelo tenta fazer uma calibração dos itens independente das pessoas
81
(ENGELHARD 2011). Os dados foram analisados com o software FACETAS, versão
3.71.4.
82
4. RESULTADOS
Os resultados serão apresentados pelas etapas do estudo (1 e 2) e divididos pelos
instrumentos de avaliação.
4.1 Resultados da Etapa 1
Abaixo o resumo dos dados dos questionários pela análise de variância (ANOVA)
two way de medidas repetidas. Apresentaremos as estatísticas descritivas de cada grupo
antes (T1 – tempo 1) e após a intervenção (T2 – tempo 2), os resultados de efeito entre
sujeitos (comparativo entre os tempos) e os resultados de efeitos dentre sujeitos
(comparativo entre os grupos) e os gráficos das questões em que houve uma diferença
significativa.
4.1.1 Resultados quantitativos
a) Resultados do questionário CARE de empatia para pacientes:
Tabela 3 - Estatísticas Descritivas do questionário CARE
Ques
tões Grupo controle Grupo intervenção
Média
Desvio
Padrão
N Média
Desvio
Padrão
N
T1 T2 T1 T2 T1 T2 T1 T2
1 3,82 4,36 ,982 ,809 11 4,06 4,19 ,680 ,911 16
2 4,00 4,27 ,775 ,786 11 3,75 4,5 ,775 ,816 16
3 4,18 4,27 ,874 ,786 11 4,00 4,50 ,730 ,816 16
4 3,82 3,73 1,079 1,104 11 3,13 3,75 1,088 1,291 16
5 3,82 3,82 1,401 ,874 11
3,44 3,75 ,892 ,931 16
6 4,00 3,82 1,095 ,874 11 3,44 4,13 ,964 ,885 16
7 4,00 3,73 ,775 1,009 11 3,63 3,94 ,719 ,854 16
8 3,82 3,82 1,168 ,982 11 3,50 4,25 1,211 ,931 16
9 3,91 3,82 ,944 ,874 11 3,69 3,94 1,078 ,854 16
10 4,09 3,45 1,044 1,128 11 3,40 4,13 1,242 ,834 15
T1: tempo 1 - pré-exposição/ T2: tempo 2 - pós-exposição
Fonte: dados brutos
83
Tabela 4 – Resultados questionário CARE
Questões
Como foi o
médico em:
Comparativo entre os tempos Comparativo entre os grupos
F Sig (p) Eta parcial
quadrado
(N2)
F Sig (p) Eta
parcial
quadrado
(N2)
1. Deixar você
à vontade
Tempo 1,647 ,211 ,062 Intercepto 1651,906 ,000 ,985
Tempo/
Grupo ,648 ,429 ,025 Grupo ,028 ,867 ,001
2. Deixar
você contar
sua “história”
Tempo 4,139 ,053 ,142 Intercepto 2100,338 ,000 ,988
Tempo/
Grupo ,901 ,351 ,035 Grupo ,004 ,950 ,000
3. Realmente
ouvir
Tempo 1,391 ,249 ,053 Intercepto 2061,170 ,000 ,988
Tempo/
Grupo ,667 ,422 ,026 Grupo ,015 ,904 ,001
4. Estar
interessado
em sua pessoa
como um todo
Tempo ,536 ,471 ,021 Intercepto 729,132 ,000 ,967
Tempo/
Grupo ,964 ,336 ,037 Grupo 1,576 ,221 ,059
5. Entender
plenamente
suas
preocupações
Tempo ,268 ,609 ,011 Intercepto 796,093 ,000 ,970
Tempo/
Grupo ,268 ,609 ,011 Grupo ,730 ,401 ,028
6. Mostrar
cuidado e
compaixão
Tempo ,661 ,424 ,026 Intercepto 1398,114 ,000 ,982
Tempo/
Grupo 1,953 ,175 ,072 Grupo ,386 ,540 ,015
7. Ser positivo
Tempo ,006 ,938 ,000 Intercepto 1354,834 ,000 ,982
Tempo/
Grupo 1,341 ,258 ,051 Grupo ,157 ,695 ,006
8. Explicar as
coisas
claramente
Tempo 1,667 ,209 ,063 Intercepto 626,852 ,000 ,962
Tempo/
Grupo 1,667 ,209 ,063 Grupo ,034 ,855 ,001
9. Ajudar
você a manter
o controle
Tempo ,090 ,767 ,004 Intercepto 874,289 ,000 ,972
Tempo/
Grupo ,413 ,527 ,016 Grupo ,039 ,845 ,002
10. Planejar
junto com
você o que
será feito
Tempo ,027 ,871 ,001 Intercepto 613,351 ,000 ,962
Tempo/
Grupo 5,343 ,030 ,182 Grupo ,000 ,984 ,000
Fonte: dados brutos
O teste ANOVA two way de medidas repetidas mostrou diferenças significativas
nas questões 2 e 10.
84
Na questão 2 (Deixar você contar sua “história”), o ANOVA de medidas repetidas
em teste de efeito entre sujeitos foi significativo na diferença entre os tempos (gl=1, F=
4,139, p=0,053) com uma magnitude de efeito grande (n2=0,142) e a diferença entre os
grupos não foi significativa.
Na questão 10 (Planejar junto com você o que será feito), o ANOVA de medidas
repetidas em teste de efeito entre sujeitos foi significativo na diferença entre os tempos
(gl=1, F= 5,343, p=0,03) com uma magnitude de efeito grande (n2=0,182) e a diferença
entre os grupos não foi significativa.
Gráfico 1 - Gráficos do perfil da Questão 2:
Pode-se observar nos gráficos o aumento dos escores do grupo intervenção no tempo.
85
Gráfico 2 - Gráficos de perfil da Questão 10:
Observa-se o aumento mais significativo dos escores do grupo intervenção no tempo na
questão 10.
b) Resultados do questionário Escala Jefferson de Empatia
Tabela 5 - Estatísticas Descritivas da Escala Jefferson
Questões Grupo controle Grupo intervenção Média
Desvio
Padrão
N Média
Desvio
Padrão
N
T1 T2 T1 T2 T1 T2 T1 T2
1 1,28 1,06 ,958 ,236 18 1,30 1,33 1,171 1,177 27
2 6,89 6,89 ,323 ,323 18 6,93 6,81 ,385 ,483 27
86
3 3,83 3,28 1,823 1,776 18 3,58 3,58 1,172 1,362 26
4 6,67 6,67 ,594 ,594 18 6,27 6,65 1,116 ,892 26
5 5,89 6,22 1,278 1,060 18 5,33 6,15 1,494 ,949 27
6 3,28 3,06 2,296 1,798 18 3,22 3,30 1,826 1,836 27
7 1,39 1,44 1,420 1,423 18 1,35 1,54 1,198 1,392 26
8 1,28 1,11 ,461 ,323 18 1,35 1,35 1,198 ,745 26
9 6,06 6,17 1,392 1,249 18 6,07 6,37 1,517 ,839 27
10 6,33 6,39 1,188 ,979 18 6,15 6,48 1,460 ,849 27
11 1,22 1,11 ,732 ,323 18 1,11 1,44 ,424 1,013 27
12 1,28 1,11 ,826 ,323 18 1,37 1,48 ,884 1,369 27
13 6,76 6,71 ,562 ,470 17 6,52 6,74 ,802 ,526 27
14 1,44 1,00 1,199 ,000 18 1,37 1,15 1,214 ,456 27
15 6,39 5,72 1,092 1,904 18 6,31 5,81 ,884 1,939 26
16 6,22 6,89 1,629 ,323 18 6,65 6,65 ,485 ,846 26
17 5,17 5,78 1,823 1,927 18 5,88 6,04 1,107 1,371 26
18 3,33 2,89 1,534 1,779 18 2,93 2,67 1,542 1,593 27
19 1,22 1,28 ,548 ,669 18 1,26 1,41 ,813 1,118 27
20 6,76 6,53 ,562 ,874 17 6,42 6,88 1,653 ,326 26
Somatório 82,33 80,94 6,259 5,439 18 80,26 83,63 6,383 3,894 27
T1: tempo 1 - pré-exposição/ T2: tempo 2 - pós-exposição
Fonte: dados brutos
Tabela 6 – Resultados de efeitos da Escala Jefferson
Questões
Comparativo entre os tempos Comparativo entre os grupos
F Sig (p) Eta
parcial
quadrado
(N2)
F Sig (p) Eta
parcial
quadrado
(N2)
1. A compreensão dos
médicos em relação
aos sentimentos dos seus pacientes e
familiares não tem
influência no
tratamento clínico ou cirúrgico.
Tempo ,173 ,680 ,004 Intercepto 135,696 ,000 ,759
Tempo/
Grupo ,339 ,563 ,008 Grupo ,484 ,491 ,011
2. Os pacientes sentem-se melhor
quando os médicos
compreendem os seus
sentimentos.
Tempo ,391 ,535 ,009 Intercepto 28600,129 ,000 ,998
Tempo/
Grupo ,391 ,535 ,009 Grupo ,052 ,821 ,001
3. É difícil para um
médico ver as coisas na perspectiva dos
pacientes.
Tempo 1,430 ,239 ,033 Intercepto 318,780 ,000 ,884
Tempo/
Grupo 1,430 ,239 ,033 Grupo ,003 ,958 ,000
4. Compreender a
linguagem não verbal
é tão importante
quanto compreender a linguagem verbal nas
Tempo 1,646 ,207 ,038 Intercepto 3587,503 ,000 ,988
Tempo/
Grupo 1,646 ,207 ,038 Grupo ,876 ,355 ,020
87
relações médico-
paciente.
5. O senso de humor
de um médico
contribui para
resultados clínicos melhores.
Tempo 8,993 ,004 ,173 Intercepto 1371,164 ,000 ,970
Tempo/
Grupo
1,582 ,215 ,035 Grupo ,977 ,329 ,022
6. Considerando que
as pessoas são
diferentes, é difícil ver as coisas na
perspectiva dos
pacientes.
Tempo ,092 ,763 ,002 Intercepto 145,622 ,000 ,772
Tempo/
Grupo ,367 ,548 ,008 Grupo ,030 ,863 ,001
7. Prestar atenção às
emoções dos
pacientes não influencia o resultado
dos tratamentos.
Tempo ,179 ,674 ,004 Intercepto 95,366 ,000 ,694
Tempo/
Grupo
,055 ,816 ,001 Grupo ,008 ,931 ,000
8. A atenção às experiências pessoais
dos pacientes não
influencia o resultado
dos tratamentos.
Tempo ,246 ,623 ,006 Intercepto 192,821 ,000 ,821
Tempo/
Grupo ,246 ,623 ,006 Grupo ,688 ,412 ,016
9. Os médicos
deveriam tentar colocar-se no lugar de
seus pacientes quando
estão cuidando deles.
Tempo ,924 ,342 ,021 Intercepto 1473,380 ,000 ,972
Tempo/
Grupo ,191 ,664 ,004 Grupo ,120 ,731 ,003
10. Os pacientes
valorizam a
compreensão que o médico tem dos seus
sentimentos, o que é
terapêutico por si
próprio.
Tempo ,772 ,384 ,018 Intercepto 2164,333 ,000 ,981
Tempo/
Grupo ,394 ,534 ,009 Grupo ,029 ,866 ,001
11. As doenças dos
pacientes só podem ser curadas por meio
de tratamentos
médicos ou
cirúrgicos, assim, os laços emocionais
estabelecidos entre
médicos e seus
pacientes não têm influência
significativa no
tratamento.
Tempo ,890 ,351 ,020 Intercepto 189,200 ,000 ,815
Tempo/
Grupo 3,559 ,066 ,076 Grupo ,391 ,535 ,009
12. Fazer perguntas
aos pacientes sob reo
que se passa na sua vida privada não
ajuda na compreensão
das suas queixas
físicas.
Tempo ,035 ,853 ,001 Intercepto 103,124 ,000 ,706
Tempo/
Grupo ,870 ,356 ,020 Grupo ,805 ,375 ,018
13. Os médicos deviam tentar
compreender o que se
passa na cabeça dos
seus pacientes, prestando mais
atenção aos sinais não
verbais e linguagem
corporal.
Tempo ,749 ,392 ,018 Intercepto 6334,252 ,000 ,993
Tempo/
Grupo 2,217 ,144 ,050 Grupo ,396 ,533 ,009
Tempo 3,270 ,078 ,071 Intercepto 156,297 ,000 ,784
88
14. Eu acredito que as
emoções não têm
qualquer participação
no tratamento das doenças.
Tempo/
Grupo
,363 ,550 ,008 Grupo ,035 ,853 ,001
15. A empatia é uma habilidade terapêutica
sem a qual o sucesso
do médico é limitado.
Tempo 3,003 ,090 ,067 Intercepto 1391,457 ,000 ,971
Tempo/
Grupo
,061 ,806 ,001 Grupo ,000 ,995 ,000
16. A compreensão
dos médicos acerca
do estado emocional
dos seus pacientes e familiares é um
componente
importante da relação
médico-paciente.
Tempo 3,008 ,090 ,067 Intercepto 4139,807 ,000 ,990
Tempo/
Grupo 3,008 ,090 ,067 Grupo ,229 ,635 ,005
17. Os médicos
deveriam tentar pensar como os seus
pacientes para
prestarem melhores
cuidados.
Tempo 1,724 ,196 ,039 Intercepto 962,163 ,000 ,958
Tempo/
Grupo
,616 ,437 ,014 Grupo 1,762 ,192 ,040
18. Os médicos não
deveriam se deixar influenciar pela
existência de fortes
relações pessoais com os seus pacientes e as
famílias.
Tempo 1,989 ,166 ,044 Intercepto 197,862 ,000 ,821
Tempo/
Grupo ,138 ,712 ,003 Grupo ,562 ,458 ,013
19. Não aprecio
literatura não médica
ou outras formas de
arte.
Tempo ,368 ,547 ,008 Intercepto 170,992 ,000 ,799
Tempo/
Grupo ,076 ,784 ,002 Grupo ,178 ,675 ,004
20. Eu acredito que a
empatia é um fator
terapêutico importante no
tratamento médico.
Tempo ,310 ,581 ,008 Intercepto 2785,485 ,000 ,985
Tempo/
Grupo 2,944 ,094 ,067 Grupo ,001 ,979 ,000
Somatório Tempo ,952 ,335 ,022 Intercepto 14926,220 ,000 ,997
Tempo/
Grupo 5,494 ,024 ,113 Grupo ,052 ,821 ,001
Fonte: dados brutos
O teste ANOVA two way de medidas repetidas mostrou diferenças significativas
nas questões 5 e no somatório de questões.
Na questão 5 (O senso de humor de um médico contribui para resultados clínicos
melhores), o ANOVA de medidas repetidas em teste de efeito entre sujeitos foi
significativo na diferença entre os tempos (gl=1, F= 8,993, p=0,04) com uma magnitude
de efeito grande (n2=0,173) e a diferença entre os grupos não foi significativa.
No somatório das questões, o ANOVA de medidas repetidas em teste de efeito
entre sujeitos foi significativo na diferença entre os tempos (gl=1, F= 5,494, p=0,024)
89
com uma magnitude de efeito grande (n2=0,113) e a diferença entre os grupos não foi
significativa.
Gráfico 3 - Gráficos de perfil da Questão 5:
Observa-se no gráfico que o grupo intervenção inicia com média mais baixa e tem
um crescimento maior que o controle.
90
Gráfico 4 - Gráficos de perfil do Somatório de questões:
Pode-se observar no gráfico o grande crescimento do somatório de médias do grupo
intervenção.
c) Resultados do Questionário PPACP (Percepção da Pessoa quanto ao
Atendimento Centrado na Pessoa)
Tabela 7 - Estatísticas Descritivas do Questionário PPACP (Percepção da Pessoa
quanto ao Atendimento Centrado na Pessoa)
Questões Grupo controle Grupo intervenção
91
Média
Desvio
Padrão
N Média
Desvio
Padrão
N
T1 T2 T1 T2 T1 T2 T1 T2
1 Especialista* 2,79 2,74 ,535 ,653 19 2,81 2,81 ,634 ,491 26
1 Pessoa** 3,41 3,65 ,712 ,492 17 3,10 3,15 ,788 ,745 20
2 Especialista 2,45 2,65 ,686 ,671 20 2,65 2,50 ,629 ,648 26
2 Pessoa 3,29 3,41 ,588 ,507 17 3,45 3,05 ,686 ,826 20
3 Especialista 2,90 2,80 ,718 ,696 20 2,65 2,65 ,629 ,745 26
3 Pessoa 3,12 3,41 ,857 ,507 17 3,05 3,20 ,826 ,696 20
4 Especialista 2,74 2,63 ,653 ,597 19 2,88 2,69 ,516 ,618 26
4 Pessoa 3,24 3,35 ,562 ,493 17 3,15 2,95 ,745 ,826 20
5 Especialista 2,20 1,75 ,768 ,550 20 2,00 1,77 ,632 ,652 26
5 Pessoa 2,47 3,24 1,179 ,752 17 2,50 2,80 ,889 1,056 20
6 Especialista 2,30 2,40 ,470 ,503 20 2,31 2,46 ,679 ,582 26
6 Pessoa 3,19 3,50 ,655 ,632 16 3,20 3,00 ,616 ,918 20
7 Especialista 1,74 1,95 ,806 ,705 19 1,92 2,08 ,909 ,862 25
7 Pessoa 2,88 3,35 ,928 ,862 17 2,70 2,90 ,733 1,119 20
8 Especialista 2,60 2,45 ,681 ,605 20 2,62 2,81 ,637 ,694 26
8 Pessoa 3,24 3,53 ,752 ,514 17 3,20 3,35 ,894 ,671 20
9 Especialista 1,90 2,00 ,788 ,725 20 2,31 2,23 ,838 ,710 26
9 Pessoa 3,12 3,47 ,857 ,874 17 2,70 3,30 ,923 ,979 20
Somatório
Especialista
25,6
0
21,3
5
3,979 3,911 20 27,12 21,96 3,514 3,904 26
Somatória
Pessoa
32,24 30,94 5,551 3,716 17 32,05 27,70 5,817 6,383 20
T1: tempo 1 - pré-exposição/ T2: tempo 2 - pós-exposição
Fonte: dados brutos
*Especialista – respondido pelos médicos residentes.
**Pessoa – respondido pelo paciente simulado.
Tabela 8 – Resultados de efeitos do Questionário PPACP (Percepção da Pessoa quanto
ao Atendimento Centrado na Pessoa)
Questões
Comparativo entre os tempos Comparativo entre os grupos
F Sig (p) Eta parcial
quadrado
(N2)
F Sig (p) Eta
parcial
quadrado
(N2)
1. Até que ponto
o problema
principal foi
discutido hoje?
Tempo ,604 ,439 ,008 Intercepto 2546,904 ,000 ,970
Tempo/
Grupo
,196 ,659 ,003 Grupo 2,207 ,141 ,028
92
2. Qual a
satisfação
quanto á
discussão do problema?
Tempo ,571 ,452 ,007 Intercepto 2210,154 ,000 ,965
Tempo/
Grupo
7,768 ,007 ,090 Grupo ,093 ,761 ,001
3. Até que ponto
foi escutado o
que o paciente
tinha a dizer?
Tempo ,880 ,351 ,011 Intercepto 2103,316 ,000 ,964
Tempo/
Grupo
,014 ,905 ,000 Grupo 1,677 ,199 ,021
4. Como foi explicado o
problema?
Tempo 1,316 ,255 ,017 Intercepto 2635,595 ,000 ,971
Tempo/
Grupo
1,493 ,225 ,019 Grupo ,369 ,545 ,005
5. Até que ponto
paciente e
médico
discutiram o papel de cada
um?
Tempo ,696 ,407 ,009 Intercepto 1120,595 ,000 ,934
Tempo/
Grupo
,284 ,595 ,004 Grupo 1,100 ,297 ,014
6. Como foi
explicado o
tratamento?
Tempo 1,308 ,256 ,016 Intercepto 2168,722 ,000 ,965
Tempo/
Grupo
2,050 ,156 ,026 Grupo ,759 ,386 ,010
7. Como foi analisado se o
tratamento seria
possível de ser
realizado?
Tempo 5,455 ,022 ,066 Intercepto 910,390 ,000 ,922
Tempo/
Grupo
,519 ,473 ,007 Grupo ,244 ,623 ,003
8. Quão bem o médico entendeu
o paciente?
Tempo 1,870 ,175 ,023 Intercepto 2281,759 ,000 ,967
Tempo/
Grupo
,310 ,579 ,004 Grupo ,101 ,751 ,001
9. Até que ponto
o médico
discutiu questões pessoais ou
familiares que
podem afetar a
saúde do paciente?
Tempo 5,132 ,026 ,061 Intercepto 1209,472 ,000 ,939
Tempo/
Grupo
,027 ,871 ,000 Grupo ,007 ,934 ,000
Somatório Tempo 62,396 ,000 ,441 Intercepto 3574,207 ,000 ,978
Tempo/
Grupo
4,321 ,041 ,052 Grupo ,126 ,724 ,002
Fonte: dados brutos
Na questão 9 (Até que ponto o médico discutiu questões pessoais ou familiares
que podem afetar a saúde do paciente?), o ANOVA two way de medidas repetidas em
teste de efeito entre sujeitos foi significativo na diferença entre os tempos (gl=1, F= 5,132,
p=0,026) com uma magnitude de efeito moderada (n2=0,061) e a diferença entre os
grupos não foi significativa.
93
Gráfico 5 - Gráficos de perfil da Questão 9:
Observa-se no gráfico que o grupo intervenção e controle iniciam iguais nos tempos,
mas o grupo intervenção sobe mais no gráfico.
d) Resultados do Questionário- Checklist A – baseado no CCOG
Tabela 9 - Estatísticas Descritivas do Questionário- Checklist A – baseado no CCOG
Quest
ões
Grupo controle Grupo intervenção Média
Desvio
Padrão
N Média
Desvio
Padrão
N
T1 T2 T1 T2 T1 T2 T1 T2
1 ,53 ,20 ,900 ,551 30 ,51 ,37 ,870 ,767 41
94
2 ,86 1,28 ,990 ,944 36 ,73 1,25 ,931 ,968 52
3 1,85 1,94 ,500 ,239 34 1,92 2,00 ,396 ,000 50
4 ,69 ,56 ,931 ,878 32 1,18 ,54 ,983 ,885 50
5 1,31 1,06 ,965 1,014 32 1,47 1,06 ,868 1,008 49
6 1,29 ,79 ,955 ,977 24 1,35 ,82 ,884 ,968 34
7 ,60 1,10 ,932 ,995 30 ,60 1,18 ,889 ,960 45
8 1,04 ,57 ,999 ,879 28 1,25 ,57 ,943 ,873 44
9 1,88 1,97 ,485 ,174 33 1,96 1,94 ,283 ,314 50
10 1,31 1,92 ,855 ,277 13 1,60 1,80 ,707 ,577 25
11 ,39 ,32 ,761 ,702 31 ,35 ,52 ,706 ,809 46
12 1,76 ,96 ,663 ,978 25 1,90 1,00 ,441 ,987 40
13 1,85 2,00 ,508 ,000 33 1,82 1,98 ,565 ,143 49
14 1,94 1,88 ,354 ,492 32 1,96 1,91 ,204 ,408 47
15 ,94 ,59 1,029 ,939 17 ,93 ,52 ,997 ,893 27
16 ,95 ,95 1,026 1,026 19 1,38 ,54 ,941 ,905 26
17 ,20 1,30 ,632 ,949 10 ,57 1,86 ,938 ,535 14
Soma
tório 17,00 16,28 5,586 6,300 36 19,06 16,65 5,058 5,587 52
T1: tempo 1 - pré-exposição/ T2: tempo 2 - pós-exposição
Fonte: dados brutos
Tabela 10– Resultados de efeitos do Questionário- Checklist A – baseado no CCOG
Questões
Como foi o médico
em:
Comparativo entre os tempos Comparativo entre os grupos
F Sig (p) Eta
parcial
quadrado
(N2)
F Sig (p) Eta
parcial
quadrado
(N2)
1. Confirma lista de
problemas/prevençã
o de demanda
aditiva.
Tempo 5,311 ,024 ,071 Intercepto 25,810 ,000 ,272
Tempo/
Grupo
,807 ,372 ,012 Grupo ,208 ,650 ,003
2. Muda
adequadamente das
perguntas abertas
para as fechadas.
Tempo 11,80
6
,001 ,121 Intercepto 173,180 ,000 ,668
Tempo/
Grupo
,142 ,707 ,002 Grupo ,255 ,615 ,003
3. Escuta
atentamente/ deixa
falar sem
interromper.
Tempo 2,861 ,095 ,034 Intercepto 5133,074 ,000 ,984
Tempo/
Grupo
,007 ,934 ,000 Grupo 1,367 ,246 ,016
4. Aborda as ideias
do paciente quanto
à causa.
Tempo 8,228 ,005 ,093 Intercepto 84,953 ,000 ,515
Tempo/
Grupo
3,729 ,057 ,045 Grupo 2,127 ,149 ,026
Tempo 5,528 ,021 ,065 Intercepto 214,335 ,000 ,731
95
5. Explora as
preocupações do
paciente
relacionadas aos
problemas.
Tempo/
Grupo
,319 ,574 ,004 Grupo ,216 ,644 ,003
6. Encoraja o
paciente a expressar
suas emoções.
Tempo 10,37
5
,002 ,156 Intercepto 120,367 ,000 ,682
Tempo/
Grupo
,008 ,927 ,000 Grupo ,058 ,811 ,001
7. Aborda
preocupações
relacionadas ao
trabalho.
Tempo 13,57
0
,000 ,157 Intercepto 108,796 ,000 ,598
Tempo/
Grupo
,071 ,791 ,001 Grupo ,054 ,816 ,001
8. Aborda
preocupações
relacionadas à
família.
Tempo 20,56
4
,000 ,227 Intercepto 87,167 ,000 ,555
Tempo/
Grupo
,741 ,392 ,010 Grupo ,331 ,567 ,005
9. Demonstra
comportamento
não-verbal
adequado.
Tempo ,591 ,444 ,007 Intercepto 4660,848 ,000 ,983
Tempo/
Grupo
1,445 ,233 ,018 Grupo ,206 ,651 ,003
10. A leitura ou
escrita não interfere
com a
comunicação.
Tempo 8,871 ,005 ,198 Intercepto 372,848 ,000 ,912
Tempo/
Grupo
2,302 ,138 ,060 Grupo ,243 ,625 ,007
11. Empatiza com e
apoia o paciente.
Tempo ,176 ,676 ,002 Intercepto 47,063 ,000 ,386
Tempo/
Grupo
,836 ,364 ,011 Grupo ,482 ,489 ,006
12. Aborda possível
relação do sintoma
com o contexto
estressante.
Tempo 37,05
1
,000 ,370 Intercepto 370,433 ,000 ,855
Tempo/
Grupo
,128 ,721 ,002 Grupo ,380 ,540 ,006
13. Explicação de
fácil entendimento
(sem linguagem
técnica).
Tempo 6,269 ,014 ,073 Intercepto 3809,159 ,000 ,979
Tempo/
Grupo
,009 ,926 ,000 Grupo ,180 ,672 ,002
14. Orientações no
final da consulta
(não na fase de
coleta de
informações)
Tempo 1,173 ,282 ,015 Intercepto 3079,889 ,000 ,976
Tempo/
Grupo
,042 ,838 ,001 Grupo ,187 ,667 ,002
15. Encoraja o
paciente a discutir
mais alguma
pergunta.
Tempo 3,074 ,087 ,068 Intercepto 53,151 ,000 ,559
Tempo/
Grupo
,016 ,901 ,000 Grupo ,043 ,836 ,001
16. Coloca-se à
disposição para
retorno/apoio.
Tempo 4,605 ,038 ,097 Intercepto 78,511 ,000 ,646
Tempo/
Grupo
4,605 ,038 ,097 Grupo ,004 ,948 ,000
Tempo 33,57
2
,000 ,604 Intercepto 62,034 ,000 ,738
96
17. Considera a
opinião do paciente
sobre o plano.
Tempo/
Grupo
,203 ,656 ,009 Grupo 3,466 ,076 ,136
Somatório Tempo 3,231 ,076 ,036 Intercepto 1667,467 ,000 ,951
Tempo/
Grupo
,935 ,336 ,011 Grupo 2,075 ,153 ,024
Fonte: dados brutos
Não houve diferença significativa entre os grupos e entre os grupos pelo teste ANOVA
de medidas repetidas.
e) Resultados do Questionário- Checklist B – baseado no protocolo SPIKES
Tabela 11 - Estatísticas Descritivas do Questionário- Checklist B – baseado no protocolo
SPIKES
Questões Grupo controle Grupo intervenção Média
Desvio
Padrão
N Média
Desvio
Padrão
N
T1 T2 T1 T2 T1 T2 T1 T2
1 ,93 1,21 1,016 ,995 28 ,88 1,07 1,005 1,010 41
2 1,83 2,00 ,531 ,000 30 1,93 1,98 ,327 ,147 46
3 ,50 1,07 ,861 1,015 30 ,67 ,86 ,922 1,000 49
4 ,42 ,74 ,807 ,965 31 ,36 1,30 ,693 ,931 50
5 1,03 1,26 ,912 ,965 31 1,04 1,17 ,955 ,963 47
6 1,03 1,03 1,016 ,982 31 ,93 1,11 ,986 ,982 45
7 1,10 ,97 1,012 1,016 31 1,00 1,35 ,966 ,924 46
8 ,48 1,06 ,811 ,964 31 ,31 1,16 ,701 ,976 45
9 1,84 1,87 ,523 ,428 31 2,00 1,94 ,000 ,245 48
10 1,93 1,93 ,267 ,267 14 1,83 1,83 ,388 ,388 23
11 ,31 ,34 ,660 ,670 29 ,61 ,25 ,868 ,651 44
12 1,80 1,70 ,610 ,651 30 1,88 1,77 ,393 ,592 48
13 1,44 1,48 ,917 ,823 25 1,31 1,18 ,950 ,970 39
14 1,41 1,44 ,931 ,847 27 1,64 1,79 ,778 ,615 39
T1: tempo 1 - pré-exposição/ T2: tempo 2 - pós-exposição
Fonte: dados brutos
97
Tabela 12 – Resultados de efeitos do Questionário- Checklist B – baseado no protocolo
SPIKES
Questões
Comparativo entre os tempos Comparativo entre os grupos
F Sig (p) Eta
parcial
quadrado
(N2)
F Sig (p) Eta
parcial
quadrado
(N2)
1. Muda
adequadamente
das perguntas
abertas para as
fechadas.
Tempo 3,063 ,085 ,044 Intercepto 99,740 ,000 ,598
Tempo/
Grupo
,109 ,743 ,002 Grupo ,219 ,642 ,003
2. Escuta
atentamente/
deixa falar sem
interromper.
Tempo 4,214 ,044 ,054 Intercepto 5834,758 ,000 ,987
Tempo/
Grupo
1,448 ,233 ,019 Grupo ,618 ,434 ,008
3. Aborda as
ideias do paciente
quanto à causa.
Tempo 7,420 ,008 ,088 Intercepto 80,112 ,000 ,510
Tempo/
Grupo
1,933 ,168 ,024 Grupo ,011 ,917 ,000
4. Alerta que irá
comunicar algo
importante (sinal
de aviso).
Tempo 20,848 ,000 ,209 Intercepto 108,002 ,000 ,578
Tempo/
Grupo
4,985 ,028 ,059 Grupo 3,375 ,070 ,041
5. Explora as
preocupações do
paciente
relacionadas aos
problemas.
Tempo 1,470 ,229 ,019 Intercepto 186,616 ,000 ,711
Tempo/
Grupo
,113 ,737 ,001 Grupo ,055 ,815 ,001
6. Encoraja o
paciente a
expressar suas
emoções.
Tempo ,334 ,565 ,004 Intercepto 141,751 ,000 ,657
Tempo/
Grupo
,334 ,565 ,004 Grupo ,003 ,954 ,000
7. Deixa tempo
para o paciente
expressar suas
emoções.
Tempo ,640 ,426 ,008 Intercepto 149,975 ,000 ,667
Tempo/
Grupo
3,039 ,085 ,039 Grupo ,618 ,434 ,008
8. Aborda rede de
apoio familiar.
Tempo 26,663 ,000 ,265 Intercepto 103,868 ,000 ,584
Tempo/
Grupo
,914 ,342 ,012 Grupo ,076 ,783 ,001
9. Demonstra
comportamento
não-verbal
adequado.
Tempo ,096 ,757 ,001 Intercepto 4417,502 ,000 ,983
Tempo/
Grupo
,945 ,334 ,012 Grupo 3,921 ,051 ,048
10. A leitura ou
escrita não
interfere com a
comunicação.
Tempo ,000 1,00
0
,000 Intercepto 1328,214 ,000 ,974
Tempo/
Grupo
,000 1,00
0
,000 Grupo ,990 ,327 ,027
11. Empatiza com
e apoia o
paciente.
Tempo 2,273 ,136 ,031 Intercepto 31,208 ,000 ,305
Tempo/
Grupo
3,326 ,072 ,045 Grupo ,588 ,446 ,008
Tempo 1,354 ,248 ,018 Intercepto 1419,303 ,000 ,949
98
12. Explicação de
fácil
entendimento
(sem linguagem
técnica).
Tempo/
Grupo
,001 ,981 ,000 Grupo ,591 ,444 ,008
13. Encoraja o
paciente a discutir
mais alguma
pergunta.
Tempo ,076 ,784 ,001 Intercepto 238,925 ,000 ,794
Tempo/
Grupo
,275 ,602 ,004 Grupo 1,531 ,221 ,024
14. Coloca-se à
disposição para
retorno/apoio.
Tempo ,531 ,469 ,008 Intercepto 464,034 ,000 ,879
Tempo/
Grupo
,199 ,657 ,003 Grupo 4,004 ,050 ,059
Somatório Tempo 17,274 ,000 ,176 Intercepto 884,141 ,000 ,916
Tempo/
Grupo
,096 ,758 ,001 Grupo ,017 ,898 ,000
Fonte: dados brutos
Gráfico 6 - Gráficos de perfil da Questão 4:
Observamos o grupo intervenção crescendo com o tempo mais que o grupo controle.
99
Gráfico 7 - Gráficos de perfil da Questão 14:
Na questão 4 (Sinal de aviso de que irá comunicar algo importante), o ANOVA
de medidas repetidas em teste de efeito entre sujeitos foi significativo na diferença entre
os tempos (gl=1, F= 4,995, p=0,028) com uma magnitude de efeito baixa (n2=0,059) e a
diferença entre os grupos não foi significativa.
Na questão 14 (Coloca-se à disposição para retorno/apoio), o ANOVA de medidas
repetidas em teste de efeito entre grupos foi significativo na diferença entre os tempos e
grupos (gl=1, F= 4,0004, p=0,050) com uma magnitude de efeito baixa (n2=0,059) e a
diferença entre os grupos não foi significativa.
Observa-se no gráfico o maior crescimento do grupo intervenção no tempo que o grupo
controle.
100
4.1.2 Resultados qualitativos
O questionário semiestruturado para análise qualitativa utilizado estimulou a
narrativa a respeito da experiência de participar dos grupos de vídeo feedback e
percepções sobre os efeitos e mudanças na sua prática clínica.
Como descrito previamente na seção Metodologia, através da análise
temática, as sentenças escritas pelos médicos residentes foram transcritas, codificadas,
agrupadas e reagrupadas em temas e subtemas, conforme o referencial teórico era
revisitado.
As sentenças foram agrupadas em 3 grandes unidades temáticas em relação
às percepções dos participantes, conforme quadro abaixo:
1) O Programa Educativo
2) A sessão de vídeo feedback
3) Os efeitos na prática clínica
Tabela 13 – Agrupamentos das sentenças em unidades temáticas:
1) O PROGRAMA EDUCATIVO
Geral Parece que isso revoluciona a consulta! (2.2)
Inovador para a educação médica (2.8).
São sessões bastante reveladoras (3.25).
Excelente “visitar” os consultórios dos colegas e avaliar práticas
de todos (3.16).
Adorei! (2.5)
Metodologia das
sessões
As sessões são muito interativas, aprendemos com a experiência
dos outros e com as nossas também (1.12).
Desestresssante, motivador e ajuda a resolver consultas difíceis
(1.8).
Interessante abordar a postura médica ao invés da conduta clínica
(2.1).
Utilidade Acrescentam bastante na nossa formação profissional (1.6).
É ótimo observar-se, perceber-se na consulta, de forma que só é
possível com o PBI (2.11).
Acho uma ferramenta importante de auto avaliação e crítica para
profissionais com visão conjunta dos colegas para suporte e
avaliação construtiva para prática médica (2.3).
Ótima oportunidade de avaliar a importância da comunicação
não-verbal e o conhecimento de métodos para melhorar a
consulta (2.6).
Conhecimento fundamental que teria me poupado muita dor de
cabeça se eu tivesse tido acesso antes. Vai de encontro às minhas
101
profundas necessidades. Mostrou-me formas de agir que me
nortearão nos próximos passos (3.21).
Achei muito interessante, realmente modifica a postura em
consultório (1.2).
Pude perceber o quão complexo é uma consulta médica e quanto
posso melhorar (3.13).
Sugestões O programa poderia ser expandido por mais tempo (2.10).
2) A SESSÃO DE VIDEO FEEDBACK
POTENCIALIDADES
2.1 Autopercepção
Autoavaliação As sessões propiciam auto avaliações e nos ajudam a perceber
como está sua consulta, nossos pontos de potencialidade e
vulnerabilidade (2.15).
Ajuda a se auto avaliar e melhorar sua postura como
profissional e a relação médico-paciente (2.9).
São interessantes no sentido de avaliar quanto ao desempenho
na consulta e relação médico-paciente (2.14)
As sessões mostram detalhes importante que na correria da
nossa rotina não percebemos, mas que são fundamentais para a
relação médico-paciente (3.9).
Autoconsciência É muito difícil ter a auto percepção da própria consulta. Na
gravação é possível ver nossas limitações e pontos fortes (1.1)
Permitiu autoconhecimento para melhoria da execução da
profissão médica (1.7).
Autoconhecimento sobre métodos de comunicação eficaz (2.7).
As sessões me ajudaram bastante a me perceber, a mudar
minha maneira de atender (3.15)
Nas gravações percebemos detalhes que não ficam evidentes só
pela prática diária (2.18).
A gente acha que o paciente entendeu, mas aí percebe que não
(3. 2).
2.2 Aprendizado com o vídeo dos colegas
Aprender com a
consulta do outro
Os erros dos outros e próprios ajudam a ver a consulta de
forma diferente e provocar mudanças na nossa prática (1.3).
As situações de todos os casos trazem algum aprendizado.
Conseguimos ver nos colegas as falhas que nós mesmos
cometemos, atentando assim para nossas posturas e atitudes
(2.11).
Ajuda a se perceber melhor e a me enxergar nas situações
vivenciadas pelos colegas (1.3)
Percebi como interrompemos rápido os pacientes e que na maioria das consultas que vimos até os primeiros 5 minutos já
haviam informações suficientes para manejar a consulta (1.3).
Aprendi com o vídeo dos colegas a falar menos (3.7).
Observamos situações em que a organização da consulta estava
mal estruturada (2.14).
Através de condutas realizadas pelos colegas pude me inspirar
(3.7).
102
Perceber que a
dificuldade é
comum a outros
Entendi que muitos dos problemas que me ocorrem na verdade
são problemas comuns a outros médicos (1.8).
Gostei de observar consultas de outras pessoas e ver que muitas
vezes apresentam as mesmas dificuldades (2.3).
Tive mais segurança durante as consultas percebendo que todos
nós médicos enfrentamos as mesmas dificuldades (3.5).
2.3 Feedback por pares/colegas
Opinião dos colegas Prática interessante mesmo que apenas para filmar e assistir
sozinho e ainda mais interessante tera opinião dos outros
(1.5).
As contribuições dos colegas e sugestões são muito úteis
(2.18).
Feedback positivo Percebi que nem sempre as nossas próprias percepções são as
mesmas para quem está assistindo, como por exemplo,
criticamos uma atitude nossa e os nossos colegas elogiam
(2.15).
Ninguém nunca me disse o que eu fazia bem (3.5).
Feedback
construtivo
Eu tinha medo de ser sabatinada, mas todos se apoiam e dão
uma visão mais solidária “já passei por isso, é difícil
mesmo...”, não é para criticar (3.6).
Aprender a dar
feedback empático
A gente aprende a dar feedback, a se colocar no lugar de
quem trouxe o vídeo (3.8).
Troca de
experiências
Grande aprendizado e troca de experiências (2.13).
Tento seguir alguns conselhos dados a mim ou a meus
colegas durante as sessões (1.6).
DESAFIOS Poderia ter mais correlação teórica com os vídeos (3.7).
3) Efeitos na prática clínica
3.1 Comunicação em geral
Melhora na
comunicação
Os erros dos outros e próprios ajudam a ver a consulta de
forma diferente e provocar mudanças na nossa prática (3.3).
Durantes as consultas diariamente lembro do meu PBI e do
PBI de colegas (1.1).
As sessões me ajudaram bastante a mudar minha maneira de
atender (1.6).
Melhor comunicação com o paciente (3.1).
Aprimoramento na comunicação clínica durante os
atendimentos. Passei a buscar melhorar a comunicação e
compreender a importância dela dentro da pratica médica
(2.8).
Vínculo Melhor vínculo com o paciente (3.6).
Maior vínculo do paciente com médico e equipe (2.13).
Relação médico-
paciente
Permite avaliar tanto os aspectos clínicos de uma consulta
médica, quanto a prática da relação médico-paciente (1.1).
Houve mudanças na construção de uma boa relação médico-
paciente e estabelecer melhores formas de comunicação (2.9).
Perguntas abertas Abordagem de queixas de forma aberta (1.3).
Comecei a fazer mais perguntas abertas, dando abertura ao
paciente (2.15).
103
Linguagem Comecei a ter maior atenção ao vocabulário usado com o
paciente, procurando falar em termos mais simples (3.8).
Apresentação Maior cuidado na apresentação, na comunicação (3.2). Contratransferência Passei a identificar reações de contratransferência dentro das
consultas, antes não percebidas, e por isso ter visão mais
imparcial na avaliação dos pacientes e suas queixas (2.8).
Comunicação não-verbal
Observação das
reações dos
pacientes
Fiquei mais focada nas reações não-verbais que o paciente
expressa (1.1).
Melhor avaliação das reações dos pacientes às nossas atitudes
(2.14).
Afastei-me um pouco mais do computador (3.21).
Dar mais atenção ao que o paciente pode estar pensando
sobre o que significa um gesto, um tom de voz e um tipo de
palavra (1.5).
Passei a fazer maior contato visual (2.6, 3.7).
Comecei a observar posturas e gestos dos pacientes e o que
ele está dizendo, mesmo sem falar (2.15).
Passei a sentar mais de frente para o paciente, olhar nos olhos,
observar mãos e pés, demonstrar cordialidade (1.5).
Estou começando a perceber melhor a comunicação não
verbal dos pacientes (2.10, 1.3).
Autoconhecimento sobre linguagem não-falada (2.7).
Postura Comecei a ficar mais consciente da minha postura e
comunicação (2.18).
Passei a tentar a passar mais confiança para o paciente,
mantendo uma postura mais segura (1.7).
O PBI muda a postura, a forma de explicar, a linguagem
(3.2).
Aprendi a arrumar minha postura corporal (3.7).
Melhorei minha postura (2.7).
Passei a perceber melhor minha postura perante o paciente.
(2.5, 2.11).
Paralinguagem Passei a dizer menos diminutivos (2.15).
Passei a evitar falar “né?” (1.7).
Reparei através da gravação que falava muitas vezes a
expressão “tá” e não estou falando mais (2.3).
Aparência/
Julgamento
Aprendi a não julgar pela aparência do paciente (no meu
próprio vídeo apresentado, a paciente estava com fisionomia
fechada e séria e acabou “se soltando” e contando seus
problemas (3.20).
Silêncio Maior atenção para o silêncio e como não ficar ansiosa
durante minutos de silêncio quando você tenta registrar
consulta e realizar prescrições (2.3).
Não deixar muito tempo sem falar nada enquanto paciente
espera eu fazer algo (1.8).
Mudança de comportamento
Comportamento Fiquei mais calma e mais atenta (1.8).
Desarmei-me (3. 21).
104
3.2 Abordagem centrada na pessoa
Medicina centrada
na pessoa
Fiquei mais focada no paciente e nas reações não-verbais que
ele expressa (1.1).
Aprendi a falar menos, deixar o paciente falar mais e focar
mais na queixa do paciente (3.5).
Os vídeos dos colegas me levaram a centrar mais minhas
consultas na pessoa do que na doença (3.2).
O caso que apresentei também me lembro todos os dias no
consultório que por vezes o paciente precisa que se preste
atenção nele e na sua “doença” (1.1).
Escuta Ensinou a uma escuta mais focada na pessoa (2.7).
Aprendi a ouvir mais e ter mais paciência (1.12).
Aprender a ouvir o paciente nos primeiros 2 minutos (0.5).
Me ajudou a desenvolver mais escuta qualificada (1.1).
Passei a ouvir mais o paciente (2.15).
Interrupção Fiquei mais consciente com algumas questões, como as
interrupções que fazemos com o paciente. (3.3).
Passei a interromper menos os pacientes. Deixar o paciente
falar sem interromper (2.3, 2.5, 2.10, 2.15).
Passei a deixar o paciente falar durante os dois minutos
iniciais, sem interrompe-lo (2.11, 2.1, 2.9).
Empatia Me ajudou a desenvolver mais empatia (1.1).
Melhorei a empatia com o paciente (2.10).
Prevenção de
demandas aditivas
para delimitação
dos motivos de
consulta
Adotei a prática de esgotar as demandas antes de entrar em
cada uma (1.1).
Melhorei a prevenir demanda aditiva com perguntas como:
mais alguma coisa? (2.10)
Comecei a fazer mais prevenção de demanda aditiva (2.6).
Agenda do paciente Descobrir a demanda do paciente, busco o real motivo da
consulta (2.7, 3.21).
Passei a sempre perguntar quais as necessidades do paciente
(2.9).
Me preocupo mais com a demanda do paciente do que a do
médico, as preocupações que o levaram à consulta e com a
diferença entre queixa e demanda (2.3).
Aprendi a focar mais na queixa principal (3.5).
Melhor entendimento das queixas do paciente (1.6).
Ajuda a tentar descobrir o real motivo da consulta (3.1).
Aprendi quando usar interrupção que me permita
compreender qual é a verdadeira demanda do paciente (2.18).
Procuro valorizar mais a agenda do paciente (2.14, 2.18).
Houve mudanças na condução da consulta e na avaliação das
necessidades do paciente (2.9).
Mudanças na forma de abordar os pacientes, melhor
compreensão sobre demandas em consultas de Medicina de
Família e Comunidade (2.8).
Avaliar a agenda do paciente sem conflitos com a minha
agenda (2.8).
105
Passei a deixar os pacientes mais à vontade para trazerem as
próprias demandas (2.7).
Agenda oculta Com a análise do vídeo de consulta do colega tal, aprendi a
abordar mais a agenda oculta do paciente (1.12).
Observamos situações em que a agenda do paciente
permaneceu oculta por bastante tempo, interferindo
negativamente no manejo do quadro (2.14).
Buscar queixas ocultas dentro de queixas cotidianas (2.8).
Priorização de
queixas
Tentar não abordar todas as queixas dos pacientes, tentar ver
o que mais lhe incomoda (3.15).
Aprendi a procurar ajudar o paciente em suas queixas mais
importantes, racionalizando o tempo de consulta (2.13).
Outra mudança foi adquirir confiança para falar para o
paciente que abordaremos algumas daquelas queixas em uma
próxima consulta (2.3).
Expectativas do
paciente
Procuro conhecer mais as expectativas do paciente (1.1).
Preocupações do
paciente
Passei a perguntar ao paciente mais quais as agonias/medos
em relação ao seu problema (2.7).
Passei a ter maior consideração das angústias e preocupações
do paciente em relação à queixa (2.6).
Percepção do
paciente
Aprendi a tentar ver e o que o paciente pensa sobre o seu
quadro (3.8).
Melhorei em entender a preocupação do paciente,
principalmente em queixas que não são tão graves, mas que o
paciente refere (2.10).
Perguntar mais a percepção com relação à doença e suas
relações (2.9).
Interesse do
paciente
Aprendi a trazer mais facilmente o interesse do paciente para
a consulta (2.7).
Abordagem
social/contexto
Melhora da abordagem biopsicossocial (3.3).
Procurar mais entender o contexto do paciente (2.9).
Orientações/
explicações ao
paciente
Outra situação que vi em vários vídeos e me levou a mudança
é a questão de respeitar a sequência da entrevista, deixando as
orientações para o final da consulta e não fazer durante as
outras etapas (2.18).
Passei a enfatizar mais o tratamento prescrito principalmente
com idoso devido a dificuldade de compreensão (2.13).
Passei a ter menos repetições da minha fala. Maior atenção
para repetições de recomendações finais e orientações de
prescrição (2.3).
Também estou seguindo melhor a ordem da consulta,
deixando para explicar no final e não na anamnese (2.3).
Comecei a prestar mais atenção na forma de comunicar
condutas aos pacientes (2.1).
Decisão
compartilhada
Me vi bastante na forma da colega atender e passei a incluir o
paciente na construção do plano de ação (3.24).
Organização da consulta
Gestão do Tempo Melhor otimização do tempo (3.16).
106
Como se organizar dentro do tempo de consulta. (3.15).
Melhorei bastante em relação a minha principal dificuldade
que era o controle do tempo quando o paciente era
poliqueixoso, por exemplo, fazendo interrupções que me
permitam compreender qual é a verdadeira demanda do
paciente (2.18).
Passei a me preocupar mais com o tempo da consulta (2.15).
Procuro manejar melhor o tempo de consulta (2.14).
Ajudou no controle do tempo de consulta (2.10, 2.3).
Observamos situações em que muito tempo foi dispendido em
aspectos do paciente que não eram tão fundamentais no
quadro clínico (2.14).
Controle da
consulta
Melhor direcionamento da consulta (3.9).
Melhorei a organização das consultas (1.7, 2.7, 2.14).
Registro Melhorei a qualidade dos meus registros e minhas consultas
em geral (1.2).
Melhor organização do registro SOAP e elaboração de uma
lista de problemas em todas as consultas (3. 17).
Ambiência Melhorei o aspecto da minha sala para torna-la mais
agradável, mais aconchegante (1.1, 3.21).
Mudei algumas coisas na disposição do consultório (1.6, 3.4).
Incorporação da prática reflexiva
Aumento da
reflexão na prática
Gostei porque as sessões me ajudaram na prática clínica a
reparar algumas dificuldades em consultas que nem sempre
entendia o porquê de ser uma consulta difícil (2.3).
Procurei me observar mais (1.8).
Procuro ser mais autocrítico comigo durante as consultas.
Consigo perceber melhor minhas dificuldades (1.3).
Comecei a me perceber melhor durante as consultas, a me
“soltar” mais (1.6, 3.6).
A gente aprende a se prestar mais atenção (2.2).
Comecei a refletir mais sobre minha pratica diária (2.18). Fonte: autor (2018)
Tabela 14 –Temas de consultas em vídeo que mais provocaram mudanças na prática
diária:
Casos/ Temas que mais provocaram mudanças na prática diária:
Geral Todas as sessões foram produtivas a respeito do tempo
de escuta, discussão sobre formas de conduzir consulta
e leitura corporal do médico e do paciente (2.1).
Comunicação de notícias
difíceis
Como contar uma notícia triste para o paciente (3.1).
Demanda aditiva e
agenda oculta
Paciente que à princípio foi para entrega de resultado de
exame, mas que desejava também realizar exame de
rastreamento (2.6).
107
Demanda por exames
desnecessários
Como explicar a não necessidade de exames (1.7).
Comunicação não-verbal Maneiras de expressão corporal visualizada em várias
consultas dos colegas em adota-las ou não (2.3).
No meu vídeo eu percebi que eu deixava a minha
maleta médica em cima da mesa, parecendo uma
“barreira” entre eu e o paciente (1.6).
Interrupção na consulta Observar colegas de saúde que interrompem a consulta
(1.1, 3.11).
A questão de o paciente atender telefone durante a
consulta (2.9).
Quando e como
interromper um paciente
prolixo
O caso de uma residente em que a paciente dominou o
ritmo da consulta foi muito marcante para mim, pois eu
também tinha dificuldade em reconhecer quando
interromper o paciente e recentemente consegui
conduzir de forma muito tranquila uma consulta em que
o paciente precisou ser redirecionado para os motivos
da consulta (1.1).
Casos de como conduzir situação em que você deve
interromper uma consulta devido a fala extensa do
paciente (2.3).
Pacientes poliqueixosos Como solucionar uma consulta com paciente
poliqueixoso (3.9).
Abordagem do paciente com muitas queixas (1.4).
Com a análise do vídeo da minha consulta aprendi a
lidar com as várias queixas do paciente (1.12).
Vídeo de uma paciente poliqueixosa que queria muito
fazer determinado exame: aprimorei minhas táticas para
negociar assuntos difíceis com pacientes intransigentes.
(1.9).
Situações de impasse
com o paciente
Melhor resolutividade em situações de impasse e
dificuldade com o paciente (1.6).
Abordagem de Angústias
e preocupações/ Agenda
oculta
A paciente com queixa de vômitos e que depois revelou
medo que fosse um AVC (3.4).
Plano conjunto O meu próprio vídeo foi o que mais me fez repensar a
prática de dar condutas autoritárias. Hoje pratico o
plano conjunto (3.16). Fonte: autor (2018)
108
4.2 Resultados da Etapa 2
Os resultados serão apresentados conforme o tipo de análise psicométrica.
4.2.1 Estatísticas descritivas, coeficientes Alfa de Cronbach e coeficiente de
correlação intraclasse:
Inicialmente, na tabela abaixo são apresentadas, para cada vídeo e para cada pergunta do
questionário, os percentuais de acordo com as opções de resposta.
Tabela 15 - Estatísticas descritivas de respostas dos itens do questionário CCOG com
os percentuais de acordo com as opções de resposta.
Vídeo analisado
Item do questionário Resposta dos
avaliadores
1 2 3 4 5
1. Cumprimenta o paciente.
Não 0 76 74 6 18
Sim, mas... 17 21 7 9 12
Sim 83 31 19 85 69
2. Apresenta-se e menciona a sua
função.
Não 83 94 96 94 100
Sim, mas... 11 6 4 6 0
Sim 6 0 0 0 0
3. Demonstra respeito.
Não 0 13 3 0 6
Sim, mas... 57 77 6 23 42
Sim 43 9 91 77 52
4. Confirma os motivos de
consulta.
Não 27 50 21 40 22
Sim, mas... 48 37 29 40 53
Sim 24 13 50 20 25
5. Negocia a agenda (motivos de
consulta).
Não 57 92 48 75 63
Sim, mas... 36 8 24 21 18
Sim 7 0 28 4 18
6. Encoraja o paciente a contar sua
história.
Não 26 42 0 9 10
Sim, mas... 47 37 24 29 48
Sim 27 21 76 62 42
7. Muda apropriadamente de
questões abertas para fechadas.
Não 53 76 15 53 42
Sim, mas... 30 15 37 29 52
Sim 17 9 47 18 6
8. Escuta atentamente. Não 20 41 3 3 9
Sim, mas... 48 50 12 44 56 Sim 31 9 85 53 34
9. Facilita respostas verbais e não
verbais do paciente.
Não 35 83 0 38 36
Sim, mas... 35 17 33 38 61
Sim 29 0 67 24 3
10. Utiliza perguntas e
comentários facilmente
compreensíveis.
Não 3 12 0 9 10
Sim, mas... 21 39 9 61 50
Sim 76 49 91 30 40
Não 10 22 7 39 22
109
11. Esclarece as declarações do
paciente.
Sim, mas... 45 61 36 50 55
Sim 45 16 57 11 22
12. Define cronologia dos
problemas.
Não 43 50 17 37 21
Sim, mas... 29 32 27 33 27
Sim 28 18 56 30 52
13. Determina e reconhece as
ideias do paciente sobre a causa do
problema.
Não 23 12 12 52 10
Sim, mas... 17 72 24 33 51
Sim 60 16 64 15 39
14. Explora as preocupações do
paciente sobre o problema.
Não 6 13 15 47 12
Sim, mas... 17 56 21 37 41
Sim 77 31 64 16 47
15. Estimula que o paciente
verbalize como se sente.
Não 42 65 28 81 52
Sim, mas... 23 31 28 19 28
Sim 35 4 44 0 20
16. Percebe e responde às pistas
verbais e não-verbais.
Não 43 78 42 79 42
Sim, mas... 48 22 35 21 42
Sim 9 0 23 0 16
17. Resume ao final de uma linha
específica de investigação.
Não 32 62 31 50 39
Sim, mas... 36 31 31 28 42
Sim 32 7 38 22 19
18. Progride usando frases de
transição entre os tópicos.
Não 46 68 38 70 58
Sim, mas... 36 28 23 23 32
Sim 18 28 39 7 10
19. Estrutura uma sequência
lógica.
Não 9 29 21 73 27
Sim, mas... 32 32 21 12 52
Sim 59 39 58 15 21
20. Usa o tempo de maneira
eficiente.
Não 0 21 6 61 41
Sim, mas... 20 46 23 29 24
Sim 80 32 71 10 35
21. Demonstra comportamento
não verbal apropriado.
Não 38 70 3 38 35
Sim, mas... 32 18 18 31 55
Sim 55 12 79 31 10
22. Se lê ou escreve, isto não
interfere com o
diálogo/comunicação.
Não 8 80 4 70 58
Sim, mas... 23 1 11 18 24
Sim 69 7 85 12 18
23. Não demonstra preconceito ou
julgamento.
Não 11 4 0 11 19
Sim, mas... 21 29 11 26 23
Sim 68 67 89 63 58
24. Demonstra empatia e apoio ao
paciente.
Não 3 24 6 17 16
Sim, mas... 43 65 45 62 68
Sim 54 10 49 21 16
25. Demonstra confiança. Não 3 25 0 49 28
Sim, mas... 38 53 15 27 53
Sim 59 22 85 24 19
26. Encoraja o paciente a discutir
mais algum ponto adicional.
Não 40 50 78 33 52
Sim, mas... 24 28 19 37 29
Sim 36 22 3 30 19
27. Encerra a consulta com um
breve resumo.
Não 47 63 35 24 27
Sim, mas... 27 25 24 46 30
Sim 26 12 41 30 43
110
28. Pactua com o paciente os
próximos passos.
Não 41 55 12 23 16
Sim, mas... 28 35 36 42 34
Sim 31 10 52 35 50
Observamos que o item que apresentou maior concordância entre os avaliadores
foi o item 23 (“Não faz juízo de valor”) e os que houveram menos concordância foram o
4 (“Identifica e confirma a lista de problemas”), 12 (“Estabelece datas”) e 28 (“Pactua
com o paciente os próximos passos”). Em muitos itens observa-se que houve percentual
parecido entre o “sim” e “sim, mas…”.
Na tabela abaixo, apresentamos o coeficiente Alfa de Cronbach geral,
considerando-se todas as perguntas do questionário:
Tabela 16 - Índices do Alfa de Cronbach geral para cada vídeo analisado.
Vídeo
analisado
Alfa de
Cronbach
geral
Residente 1 0,88
Residente 2 0,84
Residente 3 0,89
Residente 4 0,87
Residente 5 0,83
Obs: A estação em todos os vídeos era o mesmo caso com paciente-simulado, que
envolvia mudança de estilo de vida de um hipertenso.
O coeficiente alfa de Cronbach analisa a homogeneidade dos itens medindo a
confiabilidade de um questionário a partir da consistência interna dos itens. O valor varia
de 0 a 1 sendo zero a ausência total de consistência interna e 1 a consistência perfeita. É
considerado aceitável um coeficiente acima de 0,7 (STREINER, 2003). Observamos que
o índice foi alto em todos os vídeos. Estimamos também o coeficiente alfa de Cronbach
para cada bloco de questões (domínios), considerando-se todas as perguntas do bloco e,
também, considerando-se a exclusão de cada uma das perguntas do bloco:
Tabela 17 - Coeficientes alfa de Cronbach considerando-se todas as perguntas do bloco
e, também, considerando-se a exclusão de cada uma das perguntas do bloco.
Vídeo analisado
111
Fonte: dados brutos (2018)
Podemos observar que as perguntas que mais aumentariam a confiabilidade se
retiradas em pelo menos 2 vídeos foram: 1 (Cumprimenta o paciente), 8 (Escuta
atentamente), 11 (Esclarece as declarações do paciente), 16 (Percebe e responde às pistas
verbais e não-verbais), 20 (Usa o tempo de maneira eficiente.), 22 (Se lê ou escreve, isto
Residente 1
(n=28)
2
(n=23)
3
(n=24)
4
(n=23)
5
(n=21)
ABERTURA DA CONSULTA
Todas as perguntas 0,45 0,09 0,57 0,52 0,23
Sem a pergunta 1 0,47 0 0,49 0,50 0,51
Sem a pergunta 2 0,53 0,05 0,56 0,48 0,24
Sem a pergunta 3 0,25 0 0,53 0,53 0,20
Sem a pergunta 4 0,27 0,28 0,53 0,32 0
Sem a pergunta 5 0,33 0,16 0,44 0,40 0
EXPLORAÇÃO DE PROBLEMAS
Todas as perguntas 0,82 0,42 0,60 0,74 0,67
Sem a pergunta 6 0,78 0,23 0,48 0,72 0,66
Sem a pergunta 7 0,80 0,37 0,57 0,67 0,60
Sem a pergunta 8 0,79 0,23 0,64 0,68 0,68
Sem a pergunta 9 0,75 0,41 0,55 0,74 0,56
Sem a pergunta 10 0,81 0,39 0,64 0,64 0,66
Sem a pergunta 11 0,81 0,47 0,42 0,72 0,69
Sem a pergunta 12 0,82 0,49 0,53 0,74 0,60
AVALIAÇÃO DO QUADRO DE REPRESENTAÇÕES DO DOENTE
Todas as perguntas 0,75 0,69 0,83 0,65 0,76
Sem a pergunta 13 0,55 0,66 0,77 0,40 0,74
Sem a pergunta 14 0,74 0,67 0,79 0,60 0,64
Sem a pergunta 15 0,73 0,51 0,71 0,53 0,64
Sem a pergunta 16 0,70 0,65 0,86 0,70 0,76
ESTRUTURAÇÃO DA CONSULTA
Todas as perguntas 0,48 0,58 0,82 0,59 0,61
Sem a pergunta 17 0,33 0,53 0,76 0,40 0,54
Sem a pergunta 18 0,11 0,42 0,77 0,49 0,60
Sem a pergunta 19 0,34 0,27 0,75 0,63 0,45
Sem a pergunta 20 0,64 0,71 0,80 0,53 0,55
CONSTRUÇÃO DA RELAÇÃO
Todas as perguntas 0,78 0,84 0,84 0,64 0,58
Sem a pergunta 21 0,70 0,79 0,73 0,49 0,43
Sem a pergunta 22 0,80 0,81 0,79 0,66 0,59
Sem a pergunta 23 0,76 0,83 0,81 0,58 0,55
Sem a pergunta 24 0,74 0,80 0,81 0,65 0,52
Sem a pergunta 25 0,71 0,77 0,87 0,48 0,54
ENCERRAMENTO DA CONSULTA
Todas as perguntas 0,29 0,61 0,47 0,67 0,67
Sem a pergunta 26 0,44 0,56 0,55 0,86 0,52
Sem a pergunta 27 0,28 0,55 0,21 0,35 0,57
Sem a pergunta 28 0 0,43 0,24 0,43 0,62
112
não interfere com o diálogo/comunicação) e 26 (Encoraja o paciente a discutir mais algum
ponto adicional).
Outra medida de confiabilidade, é o coeficiente de correlação intraclasse (ICC),
que é uma estimativa de fração da variabilidade total de medidas devido às variações entre
os indivíduos. Quanto mais próximo de 1 ou 100%, mais reprodutível é o questionário e
menor a variabilidade intra-observadores. Na tabela abaixo foram estimados os ICC para
cada domínio do questionário:
Tabela 18 - Coeficientes de correlação intraclasse (ICC) para cada domínio (em
porcentagem).
Domínio Tema ICC
1 Iniciando a consulta. 36,2 %
2 Exploração dos problemas. 45,8 %
3 Compreendendo a perspectiva do paciente. 27,7 %
4 Estruturando a consulta. 32,1 %
5 Construindo a relação. 45,3 %
6 Encerrando a consulta. 6,8 %
Os domínios com melhor ICC foram o 2 (Exploração de problemas) e o 3
(Avaliação do quadro de representações do doente) e o pior foi o 6 (Encerramento da
consulta).
4.2.2 Análise da correlação entre os domínios
Outro coeficiente importante para validação de um questionário é o coeficiente de
correlação de Spearman (r), que avalia a intensidade de relação entre domínios. Quanto
mais alto e próxima a, significa que observações têm classificações mais semelhantes
entre as 2 variáveis. Realizou-se uma análise considerando-se a soma dos pontos de cada
domínio em cada estação. Na análise de cada vídeo, foram incluídos os dados de
avaliadores que tiveram avaliação completa em todas as perguntas do domínio. Para cada
dois domínios analisados, testou-se a hipótese nula de que não existe correlação entre
eles, versus a hipótese alternativa de que existe correlação. Na tabela abaixo são
apresentados os coeficientes de correlação de Spearman estimados (r) e os valores de p
dos testes estatísticos.
Tabela 19 - Resultado dos domínios nas diferentes Estações.
113
Domíni
os
Estação 1 Estação 2 Estação 3 Estação 4 Estação 5
R Valor
de p R
Valor
de p r
Valor
de p R
Valor
de p r
Valor
de p
d1 x d2 0,68 0,001 0,03 0,900 0,44 0,128 0,59 0,017 0,64 0,014
d1 x d3 0,38 0,131 -0,06 0,828 0,39 0,100 0,41 0,085 0,15 0,567
d1 x d4 0,35 0,142 0,24 0,345 0,32 0,210 0,77 0,000 0,39 0,115
d1 x d5 0,46 0,063 0,15 0,558 0,06 0,813 0,53 0,019 0,60 0,011
d1 x d6 0,27 0,186 0,00 0,995 0,09 0,700 0,24 0,280 0,08 0,735
d2 x d3 0,52 0,072 0,40 0,092 0,39 0,135 0,29 0,280 0,78 0,001
d2 x d4 0,53 0,033 0,39 0,107 0,33 0,248 0,55 0,022 0,37 0,140
d2 x d5 0,69 0,004 0,78 0,000 0,07 0,777 0,81 0,000 0,36 0,186
d2 x d6 0,50 0,020 -0,20 0,368 0,48 0,042 0,22 0,356 -0,13 0,614
d3 x d4 0,65 0,005 0,38 0,168 0,22 0,416 0,71 0,001 0,43 0,065
d3 x d5 0,30 0,335 0,78 0,000 0,46 0,070 0,22 0,370 0,40 0,100
d3 x d6 0,12 0,640 0,14 0,555 0,12 0,616 0,03 0,907 0,00 0,995
d4 x d5 0,15 0,579 0,45 0,079 0,36 0,169 0,43 0,072 0,32 0,154
d4 x d6 -0,14 0,533 0,48 0,028 0,55 0,012 0,23 0,299 0,42 0,041
d5 x d6 0,25 0,323 -0,10 0,660 0,46 0,042 0,06 0,792 0,07 0,769
r: coeficiente de correlação de Spearman
4.2.3 Análise fatorial confirmatória e modelo multifacetado de Rasch.
A seguir, apresentamos a análise fatorial confirmatória, baseada na teoria de
resposta ao item multidimensional e pelo modelo multifacetado de Rasch.
Tabela 20 - Coeficientes de confiabilidade no modelo de multifacetas de Rasch:
Faceta Coeficiente de confiabilidade
Avaliadores 0,90
Estações 0,99
Itens 0,98
Tabela 21 - Índices de bondade de ajuste ao modelo multifacetado de Rasch.
Medidas de ajuste para o modelo
Modelo χ 2/df CFI TLI RMSEA WRMR
Fit 1,92 0,90 0,84 0,068 1,21
114
O índice representado pela fração χ 2/df apresenta um valor adequado, já que o
limiar desejável é abaixo de 2,0 (ULLMAN, 2001). O CFI, que é o índice de ajuste
comparativo ou de comparação do ajuste de Bentler, corresponde ao melhor ajuste do
modelo dos dados quando as variáveis são independentes. O seu valor está no limite, pois
é aceitável acima de 0,9 (HU; BENTLER, 1999). Quando se exclui o item 1 e 2 ele sobre
para 0,91. O TLI, que é o Índice de Tucker-Lewis varia de 0 a 1, sendo que 1 refere-se ao
ajuste perfeito. Seu valor também está no limite, e é desejável também acima de 0,9
(BROWNE; CUDEK, 1998). O TLI também sobe se excluídos os itens 1 e 2, para 0,9. O
RMSEA, que é a Raiz do Erro Quadrático Médio de Aproximação reflete a diferença
média entre a covariância observada e a do modelo, e apresentou um valor dentro do
limiar desejável, que é de até 0,08 (BROWNE; CUDEK, 1998). O índice WRMR, que é
a raiz quadrada média residual, ficou um pouco acima do limite desejável de 1,0 (HU;
BENTLER, 1999).
Gráfico 8 - Estimativas de precisão individual de acordo com o modelo multifacetado de
Rasch.
Podemos observar que quanto mais próximo com a linha, maior é a correlação
entre as variáveis e quanto mais próximo a 1, maior é a confiabilidade.
115
4.2.4 Resultado final da versão brasileira
Apresentamos abaixo os itens em que os participantes sentiram dificuldades na
interpretação e em que foram sugeridas alterações após a aplicação do instrumento:
4. Identifica e confirma lista de problemas - suprimido a palavra “identifica”.
9. Facilita respostas verbais e não verbais do paciente – dificuldade na interpretação e
definição de parâmetros, mas sem sugestão melhor.
12. Estabelece datas – foi alterado para: Define cronologia dos problemas.
15. Encoraja a expressão de emoções – foi alterado para: Estimula que o paciente
verbalize como se sente.
16. Capta/responde a pistas verbais ou não-verbais – foi alterado para: percebe e responde
às pistas verbais e não-verbais.
18. Progride usando sentenças de transição – Progride usando frases de transição entre os
tópicos.
20. Faz gestão do tempo – foi alterado para: Usa o tempo de maneira eficiente.
23. Não faz juízo de valor – foi alterado para: Não demonstra preconceito ou julgamento.
25. Demonstra confiança - dificuldade na interpretação e definição de parâmetros, mas
sem sugestão de mudança.
Abaixo, apresentamos a versão final da versão brasileira do CCOG:
Quadro 3 - Versão final da versão brasileira do CCOG:
Estação Identidade do
Estudante
Avaliação de habilidades clínicas
GUIA OBSERVACIONAL CALGARY-CAMBRIDGE
(versão resumida para avaliação de habilidades comunicacionais)
INICIANDO A CONSULTA
Não
(0) Sim,
mas
(1)
Sim
(2)
1. Cumprimenta o paciente.
2. Apresenta-se e menciona a sua função.
3. Demonstra respeito.
4. Confirma os motivos de consulta.
116
5. Negocia a agenda (motivos de consulta).
OBTENDO INFORMAÇÕES Exploração dos problemas
6. Encoraja o paciente a contar sua história.
7. Muda apropriadamente de questões abertas para fechadas.
8. Escuta atentamente.
9. Facilita respostas verbais e não verbais do paciente.
10. Utiliza perguntas e comentários facilmente compreensíveis.
11. Esclarece as declarações do paciente.
12. Define cronologia dos problemas. Compreendendo a perspectiva do paciente
13. Determina e reconhece as ideias do paciente sobre a causa do
problema.
14. Explora as preocupações do paciente sobre o problema.
15. Estimula que o paciente verbalize como se sente.
16. Percebe e responde às pistas verbais e não-verbais.
Estruturando a consulta
17. Resume ao final de uma linha específica de investigação.
18. Progride usando frases de transição entre os tópicos.
19. Estrutura uma sequência lógica.
20. Usa o tempo de maneira eficiente. Construindo a relação
21. Demonstra comportamento não verbal apropriado.
22. Se lê ou escreve, isto não interfere com o
diálogo/comunicação.
23. Não demonstra preconceito ou julgamento.
24. Demonstra empatia e apoio ao paciente.
25. Demonstra confiança. ENCERRANDO A CONSULTA
26. Encoraja o paciente a discutir mais algum ponto adicional.
27. Encerra a consulta com um breve resumo.
28. Pactua com o paciente os próximos passos.
117
5 DISCUSSÃO
5.1 Discussão etapa 1
Aprofundaremos a discussão dividindo a análise dos resultados em
quantitativos e qualitativos.
5.1.1 Discussão dos resultados quantitativos
Os questionários buscaram mensurar os efeitos da seguinte intervenção: programa
educativo, com sessões de vídeo feedback em grupo, de consultas reais, na metodologia
de entrevista baseada por problemas (em inglês PBI) para uma melhora da comunicação
clínica. Para isso, foram analisados os efeitos sob o ponto de vista do paciente simulado,
de um observador externo e de autoavaliação, através de questionários com escala
Lickert.
Na escala CARE, que é uma avaliação de empatia sob o ponto de vista dos
pacientes, os grupos ao iniciarem o estudo não apresentavam diferenças. Após a
intervenção foi possível mensurar com essa escala apenas uma melhora significativa m
relação ao tmepo no item referente à decisão compartilhada, em planejar junto o plano
terapêutico. Esse item talvez seja um dos mais objetivos e fáceis de o médico comunicar
ao paciente e ele compreender. O paciente simulado avaliou que na percepção dele,
sentiu-se mais envolvido nas decisões (na medida do quanto gostaria de estar envolvido),
sem ignorar os seus pontos de vista, como descrito no instrumento.
Os demais itens envolvem aspectos mais subjetivos e complexos, em relação aos
sentimentos tanto do entrevistador como do paciente simulado, como a percepção de se
sentir ouvido, de se sentir à vontade, de sentir que o entrevistador está interessado nele,
de perceber o entrevistador como positivo, de sentir o cuidado e compaixão do outro e
de se sentir compreendido. Nota-se aqui que a escala avalia a percepção de sentimentos
do paciente em relação à habilidade do entrevistador em comunicar emoções. É quase
uma “régua de medir sentimentos”.
Na Escala Jefferson de Empatia, que busca mensurar escores de empatia de
maneira autorreferida, pelo grau de concordância com determinadas frases, os dois grupos
ao iniciarem o estudo também não apresentavam diferenças. Notou-se aumento de escores
em relação ao tempo na questão referente ao item de que o senso de humor do médico
contribui para resultados clínicos melhores no grupo intervenção. O humor como recurso
118
de comunicação foi trabalhado nas sessões de vídeo feedback. É uma ferramenta de
comunicação muito importante que lentamente tem sido reconhecido seu papel
terapêutico na APS e é pouco trabalhado no currículo formal (BLACK, 1984; WENDER,
1996; GANETH-CATARIVAS, 2005). Entretanto, essa escala não possibilitou mensurar
os demais achados relacionados à percepção de melhora da empatia dos participantes
relatados nos resultados de análise qualitativa.
Em relação ao questionário de Percepção quanto ao Atendimento Centrado na
Pessoa (PPACP), que eram preenchidos com as mesmas perguntas tanto pelo paciente
simulado como pelo médico residente, observou-se que os dois grupos ao iniciarem o
estudo também não apresentavam diferenças. Após a intervenção esse questionário
possibilitou mensurar apenas uma discreta melhora no tempo na percepção de abordagem
dos aspectos familiares. Estes instrumentos de medida de percepção do atendimento
centrado na pessoa talvez sejam de maior utilidade para feedback individual do que para
fins de comparação e avaliação somativa de impacto de incorporação de habilidades de
comunicação. Por exemplo, mostrar a cada médico sobre a concordância entre suas
respostas e a dos pacientes pode ser muito útil (STEWART et al, 2010), e sugere-se mais
pesquisas neste tema. Além disso, sugerimos usá-lo para casos de menor complexidade,
não para comunicação de notícias difíceis por exemplo como foi usado. Também, melhor
se com uma menor variação de pacientes-simulados padronizados avaliadores, para
melhor uniformidade de avaliação.
Em relação aos questionários para avaliação de vídeos, preenchidos por 2
observadores externos e que foram elaborados baseados no CCOG resumido e um
adaptado para más notícias incorporando aspectos do protocolo SPIKES, observou-se que
os dois grupos tiveram as mesmas variações de diminuição de escores em itens
relacionados a abordagem dos aspectos do trabalho e do contexto, mas sem diferença
entre os grupos. É preciso considerar que o segundo caso, de mudança de estilo de vida,
realizado após a intervenção, envolvia menos questões relativas a necessidade de
abordagem desses itens de trabalho e contexto, o que pode ter interferido negativamente
nos escores.
O questionário adaptado para comunicação de más notícias, que representa uma
situação de comunicação de maior complexidade, mostrou que houve aumento de escores
nos mesmos itens nos dois grupos e no somatório geral, mas que houve um aumento, em
relação ao tempo, apenas no grupo intervenção no item que descreve sobre usar sinal de
aviso para alertar que irá comunicar algo importante. Esse item faz parte das
119
recomendações do protocolo SPIKES (BUCKMAN, 1984) e houve também uma
diferença significativa entre os grupos, no item referente ao médico residente colocar-se
à disposição para apoio e retorno, porém com magnitude de efeito baixa e a diferença não
foi significativa entre os grupos no tempo.
As diferenças encontradas decorreram do efeito tempo e não foi possível atribuir
exclusivamente à intervenção. Devemos considerar que provavelmente os preceptores
tiveram um impacto positivo nos dois grupos na formação dos residentes nos aspectos
relacionados à comunicação. Provavelmente ocorreu o chamado “efeito-teto”, em que o
grupo controle ao iniciar o estudo já era muito bom e há mais dificuldade de mostrar a
diferença do bom para o ótimo do que do ruim para o bom.
Na avaliação das estações filmadas e analisadas pelos observadores externos, uma
possível limitação do estudo foi o baixo número de estações e apenas dois tempos de
avaliações, com quatro (4) estações, sendo 2 antes e 2 depois. Apesar da análise de um
grande número de vídeos, aproximadamente 200 vídeos de consulta no presente estudo,
recomenda-se um número maior de estações e uma análise mais longitudinal para uma
avaliação mais confiável, o que dificulta a execução de uma pesquisa desse tipo,
principalmente considerando os recursos necessários. Além disso, apesar de semelhantes
no tema, as estações apresentavam casos e situações diferentes, o que pode ter causado
diferenças na avaliação.
É preciso considerar ainda, que o processo de mudança da comunicação clínica é
progressivo e lento, e que os instrumentos foram aplicados logo após as sessões e talvez
seja necessário mais tempo para que os aprendizes incorporem os novos conhecimentos
na prática e sejam capazes de demonstrar esse impacto em testes quantitativos. Além
disso, a variação entre avaliadores, assim como de pacientes simulados, também pode ter
prejudicado as pontuações. É importante considerar também que uma limitação foi o
número da amostra baixo e assim, a probabilidade de erro tipo II neste teste é alta, ou
seja, têm-se um alto risco de "falsos negativos" e de assumirmos que não há diferença
quando na verdade ela existe.
A habilidade de comunicação envolve a habilidade de comunicar sentimentos para
compreender o outro e fazer com que ele se sinta compreendido. A habilidade de empatia,
por exemplo, foi analisada por questionário preenchido pelo paciente, por avaliador
externo e pelo próprio residente. O objetivo era avaliar se os participantes ficaram mais
empáticos após as sessões de vídeo feedback. A dificuldade em obter dados de
mensuração dessa habilidade na pesquisa levantou vários questionamentos. Se
120
analisamos o conceito de empatia, que é uma conexão invisível que vai se construindo
gradativamente entre o entrevistador e o paciente, será que esses questionários são mesmo
capazes de mensurar uma melhora? Será que um avaliador externo é mesmo capaz de
avaliar essa conexão e os sentimentos do médico e do paciente? A comunicação não-
verbal pode nos comunicar muito sobre os sentimentos e interesses do entrevistador e
paciente, mas é de interpretação complexa e subjetiva.
A empatia tem um componente emocional (sentir) e um cognitivo (pensar). Nos
questionários avaliamos apenas o aspecto cognitivo. O que queremos dos médicos: que
sintam empatia ou que pensem “Agora vou ser empático” e que comuniquem uma frase
técnica? Certamente queremos que sintam e que sejam capazes de comunicar esse
sentimento. Há frases técnicas que podem ser aprendidas e ditas na entrevista, mas sem
necessariamente o profissional ter sentido empatia. Não queremos que o entrevistador
apenas repita as frases que esperamos ouvir para terem bons escores no preenchimento
de questionários e checklists, sem sentir de fato. Então como objetivar e mensurar
sentimentos, que é o que esses questionários se propõem? Essas são boas questões para
estudo.
Para uma conexão afetiva entre duas pessoas, uma precisa encontrar algo em
comum na outra e vice-versa, algo que sintam que há uma ressonância de pensamentos,
emoções ou interesses. Para cada um encontrar o que de si pode ser comum ao outro, é
preciso um processo de autoconhecimento. Na relação médico-paciente para haver uma
boa conexão o médico precisa conhecer bem a si mesmo, seus próprios sentimentos e
seus processos transferenciais para saber que características da sua maneira de ser podem
facilitar a conexão com o outro sem gerar resistências e fazer sentido para o paciente. Por
isso, deveria fazer parte da formação médica o conhecimento dos próprios sentimentos
do médico em formação, que é em parte o que os grupos Balint possibilitam (BRANDÃO,
2000; BRANCO et al, 2012).
Deve ser considerado que há também muitos aspectos relatados na percepção dos
participantes que são de difícil mensuração, que estão relacionados principalmente ao
recente elemento incorporado na pirâmide de Miller, o “ser”, componente de identidade
profissional (CRUES, 2016) e que precisa de melhores instrumentos de avaliação
quantitativa e que parece fazer mais sentido que seja de avaliação do paciente, pois como
um avaliador externo pode mensurar se o paciente se sentiu entendido e apoiado?
Por exemplo, em uma situação em que um paciente verbaliza a preocupação de
que sua dor esteja relacionada com um possível câncer e o entrevistador responde
121
“Compreendo sua preocupação”, mas o paciente pode não ter se sentido compreendido
por apenas esta frase e o avaliador julgar que sim, ou o contrário. Outro exemplo, é como
avaliar que o entrevistador demonstra interesse no paciente. Cada um tem uma percepção
diferente, que envolve a interpretação de várias frases e de comunicação não verbal. É
preciso considerar a grande variação individual de expectativas e exigências dos pacientes
às respostas dos entrevistadores.
Ainda em relação às possíveis justificativas de porque as escalas quantitativas não
evidenciaram os resultados encontrados na avaliação qualitativa, é importante
considerarmos que quando objetivamos as medidas, podem haver falhas em revelar reais
diferenças. Nem tudo que se mede realmente importa, e nem tudo que importa pode ser
realmente medido. Van der Vleuten (2010) ressalta que a noção de objetividade não é
sinônimo de confiabilidade. Uma diferença que realmente importa em um estudo pode
não ser possível de ser mostrada em uma categoria ordinal de uma escala tipo Likert.
Testes chamados subjetivos podem ser confiáveis e testes objetivos não confiáveis.
Ao tentarmos objetivar numericamente ao máximo as avaliações de habilidades
de comunicação, corremos o riso de perder a avaliação das subjetividades. Dessa forma,
uma possibilidade para conseguirmos evidenciar melhor os resultados encontrados na
análise qualitativa, seria ter associado uma avaliação subjetiva e uma avaliação global.
Estudos mostram que em uma avaliação tipo OSCE, a confiabilidade parece depender
menos da objetividade e padronização do que da amostra e dos avaliadores. As escalas de
avaliação global mostraram discriminar melhor entre os diferentes níveis de expertise
(ROTHMAN; BLACKMORE; DAUPHINEE, 1997; HODGES, 1999). Van der Vleuten
e colaboradores enfatizam a importância desses estudos em justificarem a confiança no
julgamento humano expert e indicam que esse tipo de julgamento é muito importante nas
modernas definições de competência e que por isso não temos motivos para banir os
julgamentos holísticos e subjetivos do nosso repertório de avaliações. Inclusive,
recomendam e justificam o retorno da avaliação individual no ambiente clínico, que foi
abandonado em muitas escolas com a introdução do OSCE (VAN DER VLEUTEN,
2010).
Outra limitação neste estudo é que o objetivo não foi focar na efetividade das
variáveis metodológicas de um programa de treinamento. Os estudos recentes não têm
conseguido apresentar certezas sobre quais variáveis estão relacionadas a uma melhor
efetividade no vídeo feedback (FUKKINK; TRIENEKENS; KRAMER, 2011;
HARGIE; MORROW, 1986; HOSFORD; MILLS, 1983). Em uma meta-análise foram
122
encontradas mais diferenças estatísticas na influência do vídeo feedback no
comportamento verbal que não-verbal, mais impacto nas habilidades de recepção do
paciente do que nas habilidades de construção da relação e mais nas habilidades macro
que nas micro habilidades (FUKKINK; TRIENEKENS; KRAMER, 2011).
Outra consideração em relação aos resultados é que o principal objetivo do vídeo
feedback é uma avaliação formativa e não somativa. Tentamos medir uma avaliação
formativa com instrumentos somativos.
Além disso, sugere-se mais estudos que utilizem questionários que abordem
também outras habilidades, como os registros clínicos e gestão do tempo. Apesar de
abordarmos a avaliação da consulta na visão do paciente simulado, sugere-se também
complementar a abordagem do impacto das sessões de vídeo feedback nesta metodologia
sobre outros pontos de vista, como dos preceptores, equipe e pacientes reais (MOONEN-
VAN LOON et al, 2015, TEN CATE; SARGEANT, 2011).
Sugere-se também mais estudos com métodos qualitativos relacionados ao tema e
investimentos em ensaios clínicos multicêntricos sobre o ensino de habilidades de
comunicação e seu impacto, explorando outras ferramentas de avaliação, as metodologias
de ensino de vídeo feedback e como avaliar o impacto dos programas de treinamento nas
competências atitudinais.
5.1.2 Discussão dos resultados qualitativos
Os resultados encontrados na análise qualitativa serão discutidos por unidades
temáticas e subtemas, conforme agrupamento realizado pela análise temática.
a) O Programa Educativo
Em relação a avaliação geral do programa educativo de vídeo feedback,
inserido no módulo de Comunicação Clínica na grade curricular, as sessões de vídeo
feedback foram avaliadas positivamente por 100% dos participantes. Na percepção de
todos os participantes, as sessões foram úteis para o aprimoramento da comunicação
clínica, confirmando os benefícios encontradas na literatura. A grande maioria enfatizou
a importância do programa educativo na sua formação. Alguns destacaram o caráter
inovador da metodologia de vídeo feedback na Educação Médica, que ainda tem sido
123
considerado uma prática experimental na literatura (KURTZ; SILVERMAN; DRAPER,
2005). Os residentes avaliaram positivamente o fato de um espaço privilegiado com foco
na discussão na comunicação clínica. Provavelmente por haver poucas oportunidades de
discussões sobre a relação médico-paciente e a grande maioria das discussões em sua
formação se restringirem a discussão de diagnóstico e condutas clínicas, ou talvez por
insegurança dos preceptores e professores em abordar temas que envolvem comunicação
clínica. “Interessante abordar a postura médica ao invés da conduta clínica” (2.1).
Foi também percebido como positivo pelos residentes o caráter ativo da
metodologia, de sessões interativas. Vários residentes valorizaram o clima agradável e
leve das sessões e perceberam o caráter impactante na prática: “Parece que isso
revoluciona a consulta! ” (2.2). Houve percepções de que participar das sessões de vídeo
feedback foi “desestressante” e motivador. Essas percepções confirmam a importância da
metodologia ativa e centrada nas necessidades dos discentes e de uma boa condução de
grupos para manter o clima agradável e de confiança no grupo (BORRELL-CARRIÓ,
2012; PENDLETON et al, 2011)
No geral, os residentes perceberam que através das sessões de vídeo feedback
de suas consultas filmadas reconheceram a complexidade de uma consulta médica e da
relação médico-paciente: “Pude perceber o quão complexo é uma consulta médica e
quanto posso melhorar” (3.13). Através do vídeo feedback em grupo relataram que
adquiriram novos conhecimentos e técnicas para uma comunicação efetiva que antes
desconheciam e perceberam o quanto esse aprendizado pode melhorar nas suas práticas
médicas, principalmente em consultas difíceis.
Os temas considerados de consultas mais difíceis e mais úteis para o
aprendizado foram os temas geralmente considerados de maior complexidade na
literatura (VON FRAGSTEIN et al, 2008), como comunicação de más notícias, paciente
com múltiplas queixas, paciente agressivo, paciente que não concorda com a conduta do
médico ou com má adesão, além dos que envolviam aspectos de saúde mental.
Em relação aos desafios percebidos na participação do programa educativo,
apenas 2 residentes relataram que não gostam se ser filmados, mas que gostaram de
assistir ao vídeo de consultas dos colegas. Importante ressaltar que nenhum relatou
sentimento negativo durante as sessões, confirmando os dados da literatura de que a
técnica é bem aceita pela maioria dos médicos na APS e em outras áreas (PENDLETON
et al, 2011).
124
Houve a sugestão de maior tempo do programa educativo, com mais sessões
de vídeo feedback e mais correlação teórica com os vídeos durante as sessões. Isso
evidencia um desafio relacionado à habilidade do facilitador ou coordenador da sessão
em fazer a conexão do feedback com o referencial teórico e também faz repensar a
necessidade da inserção do vídeo feedback em um programa educativo com uma base
teórica mais estruturada. Como enfatizado no referencial teórico, em revisão sobre
formatos de treinamento de habilidades de comunicação em serviço contendo vídeo
feedback, recomenda-se que o programa contenha as seguintes fases: 1. Instrução (definir
e explicar as habilidades específicas a serem trabalhadas); 2. Modelagem: mostrar as
habilidades desejadas; 3. Prática: o aprendiz tentar colocar em prática as habilidades; 4.
Vídeo feedback: principal dimensão para promover uma mudança na prática do aprendiz
(BORG et al, 1970; FUKKINK; TRIENEKENS; KRAMER, 2011).
Uma maior ênfase nas fases anteriores à filmagem e vídeo feedback, que seria a
instrução e modelagem, poderia ter facilitado ao grupo e ao coordenador das sessões a
correlação com a fundamentação teórica. No programa avaliado no estudo, a fase 1
(Instrução) poderia ter sido mais estruturada e não houve a fase 2 (Modelagem), que são
sugestões de melhoria para o programa. Além disso, o facilitador parece ter um papel
fundamental para o sucesso do programa educativo. Um aprofundamento teórico em
comunicação clínica e bom conhecimento nos aspectos-chave da metodologia de
coordenação das sessões de vídeo feedback deve fazer parte do planejamento do
programa educativo. Por isso é fundamental o treinamento de facilitadores na
metodologia. Entretanto, infelizmente não há muitas ofertas de treinamento atualmente
no Brasil.
Ainda em relação ao programa educativo, para uma boa consolidação das
habilidades trabalhadas no programa, seria importante uma continuação do feedback de
comunicação clínica no seu ambiente de prática pelos seus preceptores locais. Para isso
seria necessária uma melhor formação dos preceptores locais em feedback de habilidades
de comunicação.
b) A sessão de vídeo feedback
As sessões foram vistas como uma ferramenta importante de auto avaliação
e autoconsciência de limitações e potencialidades que os residentes não conseguiam
125
perceber sozinhos antes. Através das filmagens puderam atentar-se a detalhes nos vídeos
que causaram reflexão crítica da sua própria prática. “Nas gravações percebemos detalhes
que não ficam evidentes só pela prática diária” (2.18). Essa percepção confirma a
capacidade do vídeo em rever aspectos da entrevista que merecem mais atenção e análise
detalhada (KURTZ; SILVERMAN; DRAPER, 2005).
Os residentes destacaram que as sessões foram o único espaço na sua
formação onde puderam perceber a si mesmos na relação médico-paciente, ao assistirem-
se de um ângulo externo: “É ótimo observar-se, perceber-se na consulta, de forma que
só é possível com o PBI” (2.11). Relatam dificuldade de perceberem sozinhos aspectos
que só visualizaram nos vídeos: “É muito difícil ter a auto percepção da própria consulta.
Na gravação é possível ver nossas limitações e pontos fortes” (1.1), confirmando dados
da literatura de que o vídeo possibilita aos entrevistadores a “olharem a si mesmos de
longe” e com reflexão, como em uma pintura realística de suas próprias habilidades
(FUKKINK; TRIENEKENS; KRAMER, 2011; HARGIE; SAUNDERS; DICKSON,
1983).
Muitos participantes destacaram a importância da possibilidade de avaliar a
sua própria comunicação não-verbal, aspecto difícil de ser trabalhado sem o uso do vídeo
(KURTZ; SILVERMAN; DRAPER, 2005). Foi comentado que assistir à sua própria
filmagem de consulta já é revelador, mas que percebem que é ainda mais interessante a
oportunidade de poder ter a opinião dos colegas (peer-feedback) e de um facilitador com
expertise no tema, confirmando a afirmação de que o uso de gravação de consultas em
vídeo para guiar feedback oferece mais vantagens do que apenas a observação da
filmagem pelo próprio entrevistador. (HARGIE; MORROW, 1986; PREMI, 1991;
WESTBERG; JASON, 1994).
Além do estímulo a autoavaliação assistindo aos seus próprios vídeos, foi
relatado pelos residentes como de grande aprendizado assistir ao vídeo dos demais
membros do grupo, pois aprendiam com as dificuldades e exemplos que observavam no
vídeo dos colegas. Foi relatado que ao assistirem a consulta do colega, se viam nas
situações vivenciadas e se identificavam com as dificuldades, o que causava reflexão. “As
sessões ajudam a se perceber melhor e a me enxergar nas situações vivenciadas pelos
colegas” (1.3).
Há muitos estudos mostrando os benefícios da aprendizagem em grupos
pequenos. Um estudo comparando o ensino médico tradicional com métodos
experimentais mostrou maior ganho na aquisição das habilidades de obtenção da história
126
clínica nos grupos de trabalho pequenos (KURTZ; SILVERMAN; DRAPER, 2005).
Observou-se também que os resultados obtidos no ensino ombro-a-ombro também foram
alcançados em grupos pequenos (ROE, 1980).
Os residentes valorizaram a troca de experiência entre os membros do grupo
e a possibilidade de observar a consulta dos demais membros do grupo, como se
entrassem virtualmente no consultório de cada um dos colegas e ficassem acompanhando
a consulta. Algumas vezes era usado a expressão “Hoje vamos ‘entrar’ no consultório de
quem? ”. O feedback pelo grupo foi avaliado como útil e que contribuiu para buscarem
seguir as novas estratégias sugeridas pelos colegas, percepção coerente com os estudos
que mostram que a revisão do vídeo por pares, o chamado peer-feedback, tem se mostrado
mais benéfica que o feedback tradicional nas habilidades de comunicação (EECKHOUT
et al, 2016; KALISH et al, 2011; KURTZ; SILVERMAN; DRAPER, 2005)
Os participantes relataram que muitas vezes faziam uma autoavaliação ruim
de suas práticas e através do feedback do grupo, conseguiam perceber aspectos positivos,
com consequente melhoria da autoestima. Pode-se perceber nessas situações a
importância do feedback com reforço positivo, que geralmente é pouco fornecido durante
a formação médica. “Ninguém nunca me disse o que eu fazia bem” (2.2).
Foi relatado que o estresse inicial por receber um feedback negativo foi
diminuído após perceberem o apoio do grupo, através de comentários empáticos e de um
feedback construtivo, como nesse exemplo: “Eu tinha medo de ser sabatinada, mas todos
se apoiam e dão uma visão mais solidária ‘já passei por isso, é difícil mesmo...’, não é
para criticar” (3.2). Foi destacada a importância do suporte do grupo e de uma avaliação
construtiva, como é preconizado em um feedback efetivo (PENDLETON et al, 2011).
Por fim, os residentes relatam que o método PBI possibilita também aprender
a dar um feedback empático, algo que não é abordado na grande maioria das escolas
médicas. Ao praticar colocar-se no lugar do entrevistador sentiram a importância do
cuidado ao dar e receber um feedback: “A gente aprende a dar feedback, se colocar no
lugar de quem trouxe o vídeo” (3.2). O feedback do grupo é importante para o processo
de aprendizagem de todos, porque o grupo aprende como fornecer um feedback mais
específico. Quando os estudantes avaliam os outros, desenvolvem suas habilidades de um
melhor entendimento dos critérios de performance (HULSMAN; VAN DER VLOODT,
2015; DRIESSEN; VAN TARTWIJK; DORNAN, 2008) e uma melhor sensação ao
receber feedbacks (KRUIDERING-HALL; O´SULLIVAN; CHOU, 2009).
127
c) Mudanças na prática clínica
No questionário utilizado, foi estimulado que os residentes relatassem
mudanças que ocorreram na sua prática clínica desde o início da participação do programa
educativo através das perguntas: “Houve mudanças na sua prática clínica após começar a
participar das sessões de PBI? Quais?” e “Exemplifique situações de casos apresentados
e discutidos nas sessões que lhe provocaram mudanças na prática diária” (apêndice C).
Foi interessante observar que as reflexões não ficaram apenas no campo
teórico e que a metodologia possibilitou a elaboração de estratégias práticas que já foram
sendo implementadas por iniciativa dos próprios residentes durante o processo de ensino-
aprendizagem das sessões. Esses efeitos de mudança na prática clínica estão de acordo
com as recomendações para ensino-aprendizagem de Pendleton, que recomenda integrar
aprendizagem e prática e o encorajamento do aprendiz a colocar em prática as mudanças
propostas (PENDLETON et al, 2011).
A maioria das mudanças relatada foi relacionada a uma abordagem mais
centrada no paciente que na doença que se relacionam com as recomendações do método
clínico centrado na pessoa (STEWART et al, 2010). Como exemplo disso, citaram que a
partir das sessões de vídeo feedback passaram a perceber como interrompiam muito os
pacientes. E observaram que, se permitido, o paciente fala as informações principais nos
primeiros minutos e assim passaram a valorizar os minutos iniciais de uma consulta para
permitir que o paciente se expresse sem interrupções. Observavam a questão do tempo de
fala do médico e do paciente e a importância de consultas não centralizadas na fala do
médico. “Passei a interromper menos o paciente e deixar ele falar” (2.14).
Afirmaram também que passaram a ter mais contato visual com o paciente,
demonstrando que o foco da atenção é o paciente e não o computador ou papéis. “Afastei-
me um pouco mais do computador” (3.21). Além disso, foi relatado também percepções
de melhora na empatia. Ainda dentro dessa perspectiva, relataram que passaram a
procurar entender mais o contexto da pessoa que atendem e a fazerem uma melhor
abordagem biopsicossocial. Foi relatado que passaram a abordar mais sobre a percepção
dos pacientes quanto à sua doença, que seria o illness dentro do método clínico centrado
na pessoa e o entendimento dos modelos explicativos dos pacientes (KURTZ;
SILVERMAN; DRAPER, 2005; KLEINMAN, 1988).
Os residentes comentaram que perceberam que após as sessões passaram a
ter um foco maior nas demandas do paciente e nas suas reações verbais e não-verbais,
128
focando assim mais na chamada “agenda” (motivos de consulta) do paciente, do que na
do médico ((KURTZ; SILVERMAN; DRAPER, 2005): “Me preocupo mais com a
demanda do paciente do que a do médico, as preocupações que o levaram à consulta e
com a diferença entre queixa e demanda” (2.3).
Foram percebidas mudanças em relação à comunicação não-verbal, com
maior observação de suas próprias reações não verbais suas próprias e dos pacientes. Foi
relatado que diminuíram expressões desagradáveis de paralinguagem, como né” e “tá”.
Perceberam também a importância de julgar menos os pacientes pela aparência inicial.
Ainda dentro dos aspectos relacionados à comunicação não-verbal, foi relatado que
passaram a se sentirem mais confortáveis com os silêncios e evitar os chamados silêncios
longos disfuncionais (BORRELL-CARRIÓ, 2012).
Passaram também a valorizar a comunicação não-verbal da sala do
consultório, chamada ambiência. Alguns modificaram a ambiência do seu local de
trabalho, alterando disposição da mesa e outros colocaram objetos procurando que a sala
transmita maior sensação de acolhimento e conforto “Melhorei o aspecto da minha sala
para torna-la mais agradável, mais aconchegante” (1.1).
Em relação às fases da entrevista, os residentes relataram muitas mudanças
na fase inicial e de coleta de informações devido às sessões de vídeo feedback.
Informaram que passaram a ter maior cuidado com a apresentação inicial e maior
preocupação em iniciar a entrevista com perguntas abertas, o que possibilita mais abertura
ao paciente e assim permitindo que ele traga informações de maior qualidade (KURTZ;
SILVERMAN; DRAPER, 2005). Além disso, observaram que as sessões de vídeo
feedback estimularam uma melhor abordagem da chamada “agenda oculta” (motivos de
consulta ocultos) dos pacientes (KURTZ; SILVERMAN; DRAPER, 2005), que não
costumavam abordar com frequência. Perceberam que passaram a perguntar mais sobre
as preocupações e angústias do paciente. “Com a análise do vídeo de consulta do colega
X, aprendi a abordar mais a agenda oculta do paciente” (1.12).
Ao mesmo tempo relataram que passaram a se sentir mais seguros para
reenquadrar a entrevista (BORRELL-CARRIÓ, 2012) e priorizar as queixas,
principalmente com pacientes poliqueixosos, que foi uma dificuldade relatada por alguns,
como nesse exemplo: “Adquiri confiança para falar para o paciente que abordaríamos
algumas daquelas queixas em uma próxima consulta ” (2.3).
Foram percebidas também mudanças importantes na entrevista na fase de
explicação e plano relacionadas a participar das sessões de vídeo feedback na
129
metodologia PBI. Relataram maior preocupação com a maneira de explicar o plano e de
adaptar a linguagem ao paciente, evitando termos técnicos. Passaram a confirmar com o
paciente o entendimento das explicações, principalmente para idosos, a evitar repetições
desnecessárias nas explicações e que passaram a tentar incluir mais o paciente no plano
de conduta, buscando o que a literatura chama de tomada de decisão compartilhada
(KURTZ; SILVERMAN; DRAPER, 2005; STEWART et al, 2017): “O meu próprio
vídeo foi o que mais me fez repensar a prática de dar condutas autoritárias. Hoje pratico
o plano conjunto” (3.16); “Me vi bastante na forma da colega atender e passei a incluir
o paciente na construção do plano de ação” (3.24).
Além disso, perceberam também a dificuldade de organização da consulta em
muitos vídeos e assim passaram a refletir sobre como melhorar esse aspecto e puderam
também observar novas estratégias de organização nas consultas dos colegas. Foram
observados relatos de percepção na melhora da organização geral da consulta, desde a
condução até o registro. Foi observado percepção de maior incorporação do registro
orientado por problemas (WEED, 1968) e melhor qualidade de registro e organização das
informações do atendimento. Provavelmente por consequência da melhor organização da
consulta e de um foco na demanda do paciente, muitos residentes comentaram que
perceberam que passaram a ter melhor habilidade de gestão do tempo. “O tempo é o
recurso mais valioso do médico” e que precisa ser otimizado (BORRELL-CARRIÓ,
2012; STEWART et al, 2010). Esse é tema geralmente pouco abordado nas escolas
médicas.
Outra vantagem relatada em relação às sessões de vídeo feedback, é que ao
perceberem que suas dificuldades não são apenas suas, que são comuns a demais
membros do grupo, os residentes relataram que isso causa diminuição da sensação de
insegurança na relação médico-paciente, comum e esperado por serem residentes de
primeiro ano e estarem iniciando sua vida profissional. Ainda como percepção de
mudanças importantes, foi relatado que as sessões de vídeo feedback estimularam
a incorporação da prática reflexiva no cotidiano das ações de saúde, como podemos
observar nestas frases: "A gente aprende a se prestar mais atenção" (2.2); "Comecei a
refletir mais sobre minha prática diária" (2.18); “Parece que agora fico me vendo de
fora" (3.3).
Na percepção dos residentes, a prática reflexiva levou a mudanças no
comportamento e sentimentos do médico em relação ao paciente, deixando-os menos
reativos com os pacientes e mais tranquilos: “Desarmei-me” (3.21). Essas percepções e
130
reflexões confirmam que o vídeo é um bom recurso para possibilitar que os estudantes
revejam suas posturas e comportamentos (SUCUPIRA, 2007).
Estas habilidades de comunicação que os residentes relataram ter adquirido
através da participação das sessões de vídeo feedback, assim como a capacidade reflexiva,
estão de acordo com as diretrizes curriculares nacionais e internacionais (BRASIL, 2014;
SBMFC/ABEM, 2010; VON FRAGSTEIN et al, 2008;) e com as tarefas organizadas no
CCOG e nas tarefas de consulta de Pendleton (KURTZ; SILVERMAN; DRAPER, 2005;
PENDELTON et al, 2011) para uma comunicação médico-paciente efetiva. Além disso,
confirmam os achados prévios de Linda Gask, que desde a década de 90 vem usando esta
técnica para capacitar médicos generalistas em habilidades de entrevista envolvendo
saúde mental e suas conclusões sobre a importância de maior expansão da metodologia
(GASK, 1991; 1992; 1998).
As percepções relacionadas à autoavaliação e ao feedback por pares são
aspectos que têm mostrado efetividade no treinamento de habilidades de comunicação
(HULSMAN; VAN DER VLOODT, 2015). O feedback e a autoavaliação estão
relacionadas com a prática reflexiva, um paradigma na educação moderna. A prática
reflexiva é essencial e precisa ser integrada na educação médica formal porque é
necessário um treinamento específico para esse aprendizado (SCHON, 1983;
DRIESSEN; VAN TARTWIJK; DORNAN, 2008; DRIESSEN et al, 2012).
5.2 Discussão da Etapa 2
A análise do processo de adaptação cultural do questionário CCOG, já validado
no exterior, demonstrou bons resultados. O valor de alfa de Cronbach para todas os vídeos
em conjunto foi acima de 0,80, atendendo a preferência estabelecida por Streiner (2003),
que sugere que os valores do coeficiente estejam entre 0,80 e 0,90, indicando que a versão
brasileira exibe consistência interna e confiabilidade aceitáveis.
Os itens 1 (Cumprimenta o paciente) e 2 (Apresenta-se e menciona a sua função)
do instrumento, apresentaram na análise fatorial confirmatória carregamentos negativos,
o que sugere que eles não estão medindo adequadamente o construto pretendido. A
análise mostra que 0% da variância desses dois itens pode ser explicada pelo construto
pretendido como 100% ruído ou outro construto não-pretendido. O coeficiente de
determinação (R²), que nos diz quanto de variância de uma variável é explicada pela outra
131
variável (no caso item verso construto) também teve valor baixo (zero). Isso pode ser
explicado por ser uma estação simulada e pela gravação iniciar dentro do consultório,
entretanto alguns médicos residentes cumprimentavam o paciente antes de entrar no
consultório e começar a filmagem, interferindo assim na análise. Como os avaliadores
eram orientados a deixar em branco se não era possível avaliar a tarefa, esses itens iniciais
de abertura da consulta foram o que tiveram maior preenchimento em branco.
Ao refazer o mesmo tipo de análise sem os itens 1 e 2, observa-se uma melhora
no ajuste ao modelo. Os índices de ajuste dos dados observados em relação ao modelo
teórico proposto, juntamente com a melhora significativa do ajuste obtido com o modelo
em comparação a um modelo unidimensional, são evidências de validade baseadas na
estrutura interna do instrumento. Assim sugere-se que para avaliar os itens 1 e 2, o início
da consulta seja dentro do ambiente avaliado para que seja possível observar o
entrevistador cumprimentando e apresentando-se ao paciente.
O item que teve maior concordância entre os avaliadores em quase todos foi de
que o residente não demonstrou julgamento, que é algo que parece haver maior clareza
de parâmetro e que os residentes são bastante treinados para não fazer. Entre os itens com
maior discordância de respostas entre os avaliadores está um item que apresentam 2
tarefas: “identifica e confirma a lista de problemas”. Talvez o fato de ter duas tarefas no
mesmo item tenha interferido na diferença de respostas. Por isso sugerimos alterar para
apenas “confirma a lista de problemas”, já que para confirmar a lista o estudante ou
residente já deve ter identificado anteriormente.
Houve bastante discordância de resposta na tarefa que estava escrita como
“Estabelece datas”, que após o preenchimento os avaliadores sugeriram alteração na
redação. Provavelmente a diferença nas respostas ocorreu pela dificuldade de
entendimento e por isso modificamos na versão final. O último item do questionário, que
se refere a importante habilidade de realizar decisão compartilhada também apresentou
grande discordância de respostas, provavelmente porque realizar uma pactuação completa
com o paciente envolve uma complexidade de diálogos e negociações que talvez precisam
de melhor definição dos parâmetros exigidos para cada nível. Houve um coeficiente de
correlação intraclasse baixo no domínio “Encerrando a consulta”, provavelmente por
dificuldade de mesmo entendimento em relação à tomada de decisão compartilhada no
item “Pactua com o paciente os próximos passos”. A palavra “pactuar” pode dar margem
a diferentes interpretações em relação ao grau considerado satisfatório de participação do
paciente na tomada de decisão habilidade.
132
Há outros itens que são de interpretação mais subjetiva e que também causaram
maior diferença na avaliação. Os avaliadores apresentaram dificuldade na definição de
parâmetros nos itens de avaliação atitudinal menos objetivos ou técnicos, como
“Demonstra respeito/ Demonstra confiança/ Demonstra empatia”. Talvez porque são
itens que necessitam aprofundamento na definição de parâmetros entre os avaliadores,
conforme os objetivos de aprendizagem para cada fase da formação médica. Também,
porque são tarefas complexas de difícil julgamento como observador externo, que tenta
mensurar sentimentos do entrevistador e do paciente e que para uma avaliação totalmente
real precisaríamos saber a opinião do paciente, por exemplo se o paciente sentiu confiança
no entrevistador ou se sentiu que o entrevistador foi empático.
Esses itens em especial devem ser discutidos entre o grupo de avaliadores para
definir o que será considerado satisfatório ou insatisfatório e o parcialmente satisfatório.
Observamos que quando um item não era realizado, os avaliadores tiveram mais
facilidade de avaliar como “Não”, mas quando os residentes realizavam a tarefa, os
avaliadores ficavam em dúvida em escolher entre “SIM” e o “SIM, MAS...”,
demonstrando que é preciso definir melhor o que é uma tarefa realizada total ou
parcialmente.
Essas dificuldades podem ter interferido em alguns coeficientes de confiabilidade
e validade do instrumento. Entretanto, outro estudo de validação da escala na Alemanha
apresentou coeficientes de correlação intra-classe semelhantes, variando entre 0,05 e
0,57. Neste estudo, os autores sugeriram deletar o item “Negocia a agenda” ao usa o
questionário com estudantes no início do curso e deixar para usar apenas mais para o final
do curso, quando eles já teriam a capacidade de abordar múltiplos temas e realizar outros
procedimentos além de apenas coletar a história do paciente. Além disso, também
atribuíram as dificuldades de confiabilidade da escala no estudo devido a necessidade de
maior instrução e definição de parâmetros entre os avaliadores antes da aplicação
(SIMMENROTH-NAYDA et al, 2014).
Além disso, as dificuldades apresentadas no julgamento dos itens podem
prejudicar uma avaliação somativa final. Tem sido discutido cada vez mais a associação
do julgamento por itens a um julgamento holístico subjetivo (INAYAH et al, 2016).
Alguns estudos compararam as propriedades psicométricas de checklists e escalas de
avaliação global em OSCEs avaliados por experts mostraram uma confiabilidade maior
entre estações e melhor validade que os checklists (HODGES et al, 1997; 1999;
MALAU-ADULI et al, 2012). Este instrumento prevê na versão original uma avaliação
133
global sem valor de nota entre “SATISFATÓRIO”, “SATISFATÓRIO, MAS…” e
“INSATISFATÓRIO”, que não foi usado no estudo, mas recomendamos que seja
utilizado regularmente associado ao uso do questionário.
O instrumento pode ser usado tanto para avaliação formativa como somativa,
mas devido ás dificuldades já discutidas no julgamento dos itens mais subjetivos, talvez
o CGOC tenha mais benefícios para uma avaliação formativa do que somativa. É
importante ressaltar que sempre que possível deve ser associado um feedback narrativo
construtivo e detalhado à avaliação somativa, já que os estudantes preferem feedback do
que notas e que a eficácia dos feedbacks reflexivos é alta (VAN DER VLEUTEN et al,
2015).
Apesar das dificuldades observadas, os coeficientes de confiabilidade no modelo
de multifacetas de Rasch foram excelentes em todas as facetas, sendo que variam de 0 a
1 e quanto maior, menor o risco de falsos positivos ou negativos e assim menor o erro de
medida, demonstrando que o instrumento apresenta confiabilidade aceitáveis para
reprodutibilidade em outros contextos.
Uma limitação deste estudo é que os avaliadores, apesar de todos experientes
como preceptores, tinham formações diferentes em avaliação de habilidades de
comunicação. Além disso, apesar de termos tido cerca de 170 instrumentos preenchidos,
uma amostra maior poderia fornecer mais informações. Outra limitação é que não foi
possível fazer uma segunda avaliação para confirmar a confiabilidade de avaliação entre
cada avaliador. Além disso, também poderia ter sido associado e/ou comparada a
avaliação pelos preceptores com a avaliação por outros pontos de vista, como colegas,
equipe e pacientes, já que a avaliação por múltiplas fontes e em diferentes ocasiões nos
Programas de Residências Médica têm demonstrado serem bons avaliadores de
competências atitudinais e tarefas complexas (MOONEN-VAN LOON et al, 2015, TEN
CATE; SARGEANT, 2011).
Apesar de o estudo ter sido feito com médicos residentes, acreditamos que o
instrumento pode ser usado com estudantes de graduação também, como já demonstrado
em outros estudos, com adaptações e uniformização dos parâmetros dos itens conforme
o ano e objetivos de aprendizagem (SIMMENROTH-NAYDA et al, 2014).
Destacamos que foi muito importante a discussão com o grupo de avaliadores
sobre cada palavra do questionário e o posterior uso na prática para constante melhoria,
que deve continuar sofrendo ajustes com o feedback do seu uso.
134
6 - CONCLUSÕES
6.1 Conclusão etapa 1
A escala CARE de empatia mostrou apenas um efeito de melhora no tempo na
tomada de decisão de compartilhada. O questionário de percepção quanto ao atendimento
centrado na pessoa, preenchido pelo médico e paciente simulado possibilitou a
observação apenas de uma diferença significativa no tempo, na melhora na abordagem de
questões pessoais ou familiares que podem afetar a saúde do paciente O questionário
preenchido por observadores externos, baseado no guia Calgary-Cambridge Observation
Guide (CCOG) não mostrou diferenças significativas. O questionário adaptado para
comunicação de más notícias mostrou que houve melhora nos mesmos itens nos dois
grupos, mas que houve aumento de escores em relação ao tempo apenas no grupo
intervenção no item sobre usar sinal de aviso para alertar que irá comunicar uma notícia
difícil.
Na análise qualitativa foi perguntado especificamente sobre os efeitos percebidos
na prática focados na intervenção educativa, enquanto as diferenças encontradas nos
resultados quantitativos estavam relacionadas ao tempo e não podem ser atribuídos
apenas à intervenção educativa. A melhora no tempo está provavelmente relacionada aos
aspectos trabalhados pelos residentes com seus preceptores locais durante a supervisão
nos estágios na Atenção Primária.
Na análise qualitativa, as principais potencialidades identificadas na metodologia
foram autopercepção e o feedback por pares, e as principais mudanças na prática clínica
foram percepção de uma abordagem mais centrada no paciente, com melhora da
comunicação não-verbal, melhora do registro, melhor organização da consulta, melhora
do tempo, melhora das habilidades de dar feedback ao colega, mudanças de
comportamento, e incorporação de prática reflexiva. Os desafios foram a dificuldade do
facilitador em conectar o vídeo feedback com o referencial teórico e o estresse inicial para
gravar-se e assistir-se em vídeo.
Observamos que a análise qualitativa dos dados revelou mais informações sobre
os efeitos nos participantes que a análise quantitativa. Os dados observados nos resultados
qualitativos não tiveram o mesmo impacto nos resultados quantitativos. Concluímos que
há uma dificuldade nos questionários em mensurar competências atitudinais e aspectos
mais subjetivos de comunicação. Assim, concluímos que o ensino e a avaliação da
135
comunicação não podem ser totalmente técnicos, objetivos e numéricos, pois há uma
grande parte subjetiva, individual e intuitiva. O que podemos medir nos questionários são
os efeitos da comunicação no paciente e o seu componente cognitivo.
Sugere-se mais estudos sobre as metodologias de vídeo feedback com
aprofundamento na definição de parâmetros dos itens subjetivos de avaliação, conforme
as competências exigidas para cada fase da formação médica. Sugere-se também
considerar a complementação de avaliações de habilidades de comunicação com
julgamentos holísticos e escalas globais para contemplar as subjetividades inerentes ao
processo.
O estudo confirma que métodos de ensino experimentais são necessários para
aperfeiçoar o ensino de habilidades de comunicação e que a introdução desta ferramenta
na formação dos residentes foi bem recebida e com potencial de mudança de atitudes e
condutas do entrevistador. O vídeo feedback na metodologia estudada mostrou a
possibilidade de abordar os aspectos fundamentais para uma comunicação efetiva de
forma motivadora e centrada no educando, através das potencialidades apontadas pela
revisão de literatura e relatadas pelos residentes: estímulo à autopercepção, feedback por
pares com reforço positivo, auxiliando na busca de estratégias para as dificuldades
percebidas, além da incorporação de uma reflexão crítica na prática clínica.
Concluímos que o uso de videogravação como instrumento docente é uma
ferramenta valiosa de avaliação formativa para programas de ensino de comunicação,
com possibilidade de desenvolvimento de autoconsciência e de implementação de
mudanças na prática clínica, conforme já vem apontando a literatura, por isso, sugerimos
que metodologias de vídeo feedback seja efetivamente incorporadas na formação médica
nos programas de graduação e pós-graduação.
O uso do vídeo feedback no ensino de comunicação clínica, assim como outras
opções metodológicas de ensino que envolvem abordagem de subjetividades, podem
evocar sentimentos profundos, devendo ser usada em um ambiente com suporte e com
um facilitador cuidadoso em relação a psicologia do aprendiz, com habilidade de conectar
o feedback com uma teoria de comunicação abordada previamente. Por isso, sugerimos
que ocorra uma maior capacitação de formadores nesta metodologia de vídeo feedback
no Brasil.
136
6.2 Conclusão Etapa 2
Os indicadores de confiabilidade do modelo de Rasch mostraram uma boa
estimativa da reprodutibilidade, da estabilidade desses avaliadores caso precisassem
avaliar as mesmas pessoas em outro momento. A versão brasileira da versão resumida do
CCOG demonstrou confiabilidade aceitáveis para uso na avaliação de habilidades de
comunicação. Pode ser um instrumento adequado para ser incorporado na avaliação
sistemática de habilidades de comunicação no Brasil, como já utilizado em outros países.
A validade de um instrumento é um processo contínuo (SHEPARD, 1983;
STREINER; GEOFFREY; CAIRNEY, 2014), assim, recomendamos que os itens da
escala sejam continuamente reavaliados com o seu uso para uma melhoria constante e
destacamos a importância da homogeneização de parâmetros de avaliação entre os
avaliadores sobre cada item antes da aplicação da escala, com clareza dos objetivos de
aprendizagem exigidos para cada nível de formação, principalmente em relação aos itens
de avaliação atitudinal menos objetivos, como demonstração de respeito, confiança e
empatia.
Sugere-se também considerar associar uma avaliação global para um julgamento
holístico subjetivo e associar a escala a um feedback narrativo detalhado, já que a validade
consequencial parece ser maior na avaliação formativa (HATTIE; TIMPERLEY, 2007).
Além disso, sugere-se também complementar a avaliação de habilidades comunicacionais
considerando outras fontes e pontos de vista, como o paciente, colegas e equipe. Sugere-
se mais pesquisas sobre instrumentos de avaliação das competências atitudinais, com
aprofundamento na definição de parâmetros dos itens subjetivos conforme os objetivos
de aprendizagem de cada fase da formação médica.
137
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APÊNDICES
APÊNDICE A – ESTAÇÃO DE AVALIAÇÃO PRÁTICA TIPO OSCE
ESTAÇÕES PRÉ-INTERVENÇÃO:
ESTAÇÃO 1
CENÁRIO: Você é o médico(a) de uma unidade básica de saúde e Ana de 30 anos de
idade, procurou a unidade hoje para consulta agendada..
Você está em atendimento da paciente Ana, 25 anos, que procurou seu médico de
família por queixa de cefaleia há 2 meses. Paciente faz uso de Paracetamol 500mg a
cada 6 horas, sem melhora. Sem comorbidades. A paciente comenta que a cefaleia teve
início desde que o marido pediu divórcio. Você já realizou a anamnese e o exame físico.
Não percebeu nenhum sinal de gravidade ou alerta ou nenhuma alteração neurológica.
Tarefa: Explicar sua impressão diagnóstica e plano para a paciente.
Tempo: 7 min
ESTAÇÃO 2
CENÁRIO: Você é o médico(a) de uma unidade básica de saúde e Júlio de 27 anos de
idade, vem para uma consulta de retorno.
Tarefa: Leia o resumo do prontuário e em seguida verifique o resultado dos exames que
o paciente trouxe, explicando-lhe qual é o diagnóstico, conduta e esclarecendo as suas
dúvidas.
Tempo: 7 min
PRONTUÁRIO:
Julio (a), 27 anos, solteiro (a), garçom (garçonete), veio para fazer um check-up e
porque está com medo de ter adquirido alguma doença porque tem relações
sexuais frequentemente sem preservativo. Não consulta com frequência, não tem
nenhum problema de saúde crônico.
EXAME CLÍNICO: sem alterações.
CONDUTA: solicitadas sorologias e retorno em 1 mês.
Resultado de exames:
Anti-HIV: não reagente
HbsAg: não reagente
VDRL: não reagente
Anti-HCV: não reagente
150
ESTAÇÕES PÓS INTERVENÇÃO
ESTAÇÃO 1
CENÁRIO: Você está em atendimento de Luis/Luisa, 36 anos, que acompanha por
Hipertensão Arterial Sistêmica. Relata que vem apresentando picos de PA elevada com
frequência. Relata fazer uso correto da medicação e relaciona os picos de PA a períodos
de estresse e ansiedade. Relata dificuldades com sua chefia no trabalho. Além disso,
está com sobrepeso, é sedentária/o e não faz controle da ingestão de sal e gorduras na
alimentação. Tabagista de 1 carteira de cigarros por dia há 5 anos.
Você já realizou a anamnese e exame físico sem alterações.
PA hoje: 160/90mmHg.
Tarefa: Faça orientações sobre mudança de estilo de vida para a/o paciente.
Tempo: 7 min
ESTAÇÃO 2
CENÁRIO: Você vai atender Joana/João, 35 anos, que está retornando ao seu médico
de família para trazer resultado de uma Endoscopia Digestiva Alta que você solicitou na
consulta anterior por queixa de epigastralgia. Você lê o exame e no laudo mostra
resultado de neoplasia: Adenocarcinoma gástrico.
Tarefa: Comunique o paciente sobre o resultado.
Tempo: 7 min
151
APÊNDICE B – QUESTIONÁRIOS PARA AVALIAÇÃO DOS VÍDEOS DAS
ESTAÇÕES POR AVALIADOR EXTERNO
2.1 CHECKLIST A BASEADO NO CCOG
INICIANDO A CONSULTA
Sim
(1)
Não
(2)
Par
cial
(3)
NA
(4)
1. Confirma lista de problemas/ prevenção de demanda aditiva
OBSTENDO INFORMAÇÕES
Exploração de problemas
2. Muda adequadamente das perguntas abertas para as fechadas.
3. Escuta atentamente/ deixa falar sem interromper
Entendendo o ponto de vista do paciente
4. Aborda as ideias do paciente quanto à causa.
5. Explora as preocupações do paciente relacionadas aos problemas.
6. Encoraja o paciente a expressar as suas emoções.
7. Aborda preocupações relacionadas ao trabalho
8. Aborda preocupações relacionadas à família
Construindo o relacionamento
9. Demonstra comportamento não-verbal adequado.
10. A leitura ou escrita não interfere com a comunicação.
11Empatiza com e apoia o paciente.
Encerrando a consulta
12. Aborda possível relação do sintoma com o contexto estressante
13. Explicaçãode fácil entendimento (sem linguagem técnica)
14. Orientações no final da consulta (não na fase coleta informações)
15. Encoraja o paciente a discutir mais algum/pergunta se tem dúvida
16. Coloca-se à disposição para retorno/apoio
17. Considera a opinião do paciente sobre o plano
*NA: Não aplicável nesta consulta
152
CHECKLIST B PARA COMUNICAÇÃO DE MÁS NOTÍCIAS BASEADO NO
PROTOCOLO SPIKES
INICIANDO A CONSULTA
Sim
(1) Não
(2) NA
(3)
OBSTENDO INFORMAÇÕES
Exploração de problemas
1. Muda adequadamente das perguntas abertas para as fechadas.
2. Escuta atentamente/ deixa falar sem interromper
Entendendo o ponto de vista do paciente
3. Aborda as expectativas sobre o exame/o que já sabe
4. Alerta que irá comunicar algo importante (sinal de aviso)
5. Explora as preocupações do paciente relacionadas aoresultado
6. Encoraja o paciente a expressar as suas emoções.
7. Deixa tempo para o paciente expressar suas emoções
8. Aborda rede de apoio familiar
Construindo o relacionamento
9. Demonstra comportamento não-verbal adequado.
10. A leitura ou escrita não interfere com a comunicação (contato visual)
11Empatiza com e apoia o paciente.
Encerrando a consulta
12. Explicaçãode fácil entendimento (sem linguagem técnica)
13. Encoraja o paciente a discutir mais algum tema/pergunta se dúvida
14. Coloca-se à disposição para retorno/apoio
15. Considera a opinião do paciente sobre o plano
*NA: Não aplicável nesta consulta
153
APÊNDICE C - Questionário qualitativo para médicos residentes após as sessões de
vídeo feedback:
Nome:____________________________________________________________
Idade: Sexo: F ( ) M ( )
Ano de término da graduação:_____
Formações Adicionais: _______________________________________________
Participou de quantas sessões de PBI?____________________________
Questões:
1. Quais são as suas percepções sobre as sessões de PBI?
2. Houve mudanças na sua prática clínica após começar a participar das sessões de PBI?
Quais?
3. Exemplifique situações de casos apresentados e discutidos nas sessões que lhe
provocaram mudanças na prática diária.
154
APÊNDICE D - Termo de Consentimento para a pesquisa Etapa 1
Informações sobre a pesquisa
Estou desenvolvendo a pesquisa “Vídeogravação de consulta como
instrumento docente para ensino da comunicação clínica na Atenção Primária à
Saúde”, com o objetivo de analisar a melhora na comunicação clínica através de sessões
de videogravação de consulta aplicados em médicos residentes do primeiro ano.
Você está sendo convidado a participar desse estudo. Um grupo dos participantes
participará de sessões de videogravação com feedback na metodologia PBI
(ProblemBased Interview), além das aulas teórico-práticas curriculares.
Será solicitado o preenchimento de questionários de auto-preenchimento e
participação em consultas simuladas nas estações da avaliação prática tipo OSCE
(ObjectiveStructuredClinicalExamination) antes e após as sessões de videogravação. As
consultas simuladas nas estações serão gravadas para posterior análise.
A sua participação não trará riscos ou desconfortos, pois a identidade dos
participantes não será divulgada, sendo totalmente preservada. Se houver dúvida em
relação ao estudo ou caso não queira mais fazer parte do estudo, basta entrar em contato
comigo.
Os resultados serão publicados na forma de artigo científico.
Espera-se que este estudo contribua para o aprimoramento do ensino da
comunicação médico-paciente na Atenção Primária à Saúde.
Sua participação é voluntária e sua recusa não comprometerá o seu curso de
residência. Enfatizamos que a não participação no estudo não acarretará em nenhum tipo
155
de prejuízo ou punição em relação ao seu Programa de Residência Médica, portanto sinta-
se totalmente livre para a decisão.
Consentimento pós-informação
Eu,................................................, fui esclarecido (a) sobre a pesquisa Vídeogravação de
consulta como instrumento docente para ensino da comunicação clínica na Atenção
Primária à Saúde”, realizada pelas pesquisadoras Marcela Dohms e ProfaDra Iolanda
Calvo Tibério, e concordo em participar da realização da pesquisa.
Curitiba, ...... de ................... de .......
Assinatura: ..........................................
RG: .....................................................
Contatos:
Iolanda: [email protected]
Marcela: [email protected], F: 9535-2533
156
APÊNDICE E
Consentimento informado para autorização de registro em vídeo da entrevista
médica
Eu, ___________________________________________________________
Declaro que o/a Dr./a _________________________ me informou que:
1. A consulta médica de hoje será registrada na forma de videogravação.
2. A finalidade do registro é unicamente a aprendizagem do profissional e pesquisa sobre
comunicação em saúde entitulada “Vídeogravação de consulta como instrumento docente
para ensino da comunicação clínica na Atenção Primária à Saúde”, sob responsabilidade
das pesquisadoras Marcela Dohms e Iolanda Calvo, e em nenhum caso será utilizado para
outras finalidade.
3. O profissional que me atende (Dr./a ) poderá analisar o registro com outros
profissionais com a finalidade de melhorar suas habilidades comunicativas e utilizar as
informações dessa consulta para publicação em revista científica, mantendo o sigilo
quanto á identificação de dados pessoais.
4. Somente será gravada a conversa, não o exame físico.
5. O material registrado formará parte de um arquivo do grupo de pesquisadores sobre o
tema da comunicação em saúde, que será guardado em sigilo sob responsabilidade dos
pesquisadores.
6. Poderei manifestar a qualquer momento desejo de revogar esta autorização e assim o
material será destruído.
7. Posso negar a gravação em vídeo e isso não interferirá no atendimento, que se realizará
como o habitual.
Qualquer dúvida entrar em contato com a pesquisadora Marcela Dohms pelo email
Fui esclarecido e autorizo o registro em vídeo da consulta médica.
------------------------------------------------
Curitiba, de de 2016 .
157
APÊNDICE F - TERMO DE CONSENTIMENTO PARA A PESQUISA ETAPA 2
Informações sobre a pesquisa
Estou desenvolvendo a pesquisa “Validação do guia de entrevista clínica
Calgary-Cambridge resumido”. Este projeto tem por objetivo analisar se o instrumento
tem validade no Brasil, considerando sua adaptação cultural para uso no ensino-
aprendizagem de entrevista clínica e comunicação médico-paciente.
O(a) Sr(a) está sendo convidado a participar desse estudo. Será solicitado o
preenchimento de questionários com 28 itens que leva cerca de 2 minutos para ser
respondido integralmente após análise de vídeos de consulta simulada. O(a) Sr(a) será
solicitado (a) a analisar com este questionário 6 vídeos com duração de no máximo 7min.
Os riscos referentes aos procedimentos que serão realizados neste estudo são
relacionados a algum possível constrangimento durante preenchimento do questionário
ou em discussão de dúvidas a respeito do instrumento. Não serão publicados dados ou
informações que possibilitem sua identificação.
Será oferecido como benefício o treinamento e padronização do uso do guia
Calgary-Cambridge resumido entre os preceptores do Programa de Residência em
Medicina de Família e Comunidade da Secretaria de Saúde do Rio de Janeiro, e assim
possível aperfeiçoamento da avaliação dos residentes. Embora não haja nenhuma garantia
de que o(a) Sr(a) terá benefícios com este estudo, as informações que o(a) Sr(a) fornecer
serão úteis para (especificar) podendo beneficiar outros indivíduos.
Sua participação no estudo não implicará em custos adicionais. O(a) Sr(a) não terá
qualquer despesa com a realização dos procedimentos previstos neste estudo, que serão
custeados pela própria pesquisadora. Também não haverá nenhuma forma de pagamento
pela sua participação. Sua participação é voluntária e sua recusa não comprometerá sua
função como preceptor.
Os resultados serão publicados na forma de artigo científico.
Espera-se que este estudo contribua para o aprimoramento do ensino da
comunicação médico-paciente.
Se houver dúvida em relação ao estudo ou caso não queira mais fazer parte do
estudo, basta entrar em contato comigo.
Caso surja alguma dúvida quanto à ética do estudo, o(a) Sr.(a) deverá se reportar
ao Comitê de Ética em Pesquisas envolvendo seres humanos – subordinado ao Conselho
Nacional de Ética em Pesquisa, órgão do Ministério da Saúde, através de solicitação ao
representante de pesquisa, que estará sob contato permanente, ou contactando o Comitê
de Ética em Pesquisa desta instituição, no telefone (21) 2215-1485. É assegurado o
completo sigilo de sua identidade quanto a sua participação neste estudo, incluindo a
eventualidade da apresentação dos resultados deste estudo em congressos e periódicos
científicos.
158
Consentimento pós-informação
Eu fui completamente esclarecido (a) sobre a pesquisa “Validação do guia de
entrevista clínica Calgary-Cambridge resumido” pela pesquisadora Marcela Dohms,
de acordo com sua natureza, propósito e duração.
Eu pude questioná-la sobre todos os aspectos do estudo. Além disto, ela me
entregou uma cópia da folha de informações para os participantes, a qual li, compreendi
e me deu plena liberdade para decidir acerca da minha espontânea participação nesta
pesquisa.
Diante do exposto nos parágrafos anteriores eu, firmado abaixo,
................................................................(primeiro nome e sobrenome), residente à
.........................................................................(endereço) concordo em participar deste
estudo realizado pelas pesquisadoras Marcela Dohms e ProfaDra Iolanda Calvo Tibério,
e concordo em participar da realização da pesquisa, sem patrocinador. Estou ciente que
sou livre para sair do estudo a qualquer momento, se assim desejar.
Minha identidade jamais será publicada. Os dados colhidos poderão ser
examinados por pessoas envolvidas no estudo com autorização delegada pelas
pesquisadoras.
Estou recebendo uma cópia assinada deste Termo.
Pesquisadora: Nome: _________________________________________
Data: __________________________________________
Assinatura: _____________________________________
Participante: Nome: _________________________________________
Data: __________________________________________
Assinatura: _____________________________________
Rio de Janeiro, ...... de ................... de 2016.
Contatos:
Marcela Dohms: [email protected], F: (41) 9535-2533
Iolanda Calvo: [email protected]: (11) 97629-1785
Comitê de Ética em Pesquisa desta instituição, telefone (21) 2215-1485 e-mail: [email protected] / [email protected]
159
APÊNDICE G
Comunicação por email com os autores do instrumento da etapa 2 solicitando
permissão para validação e verificando se outro pesquisador já havia validado o
questionário no Brasil.
160
161
ANEXOS
ANEXO A – ESCALAS E QUESTIONÁRIOS DE AUTO-PREENCHIMENTO
PELOS MÉDICOS RESIDENTES NAS ESTAÇÕES:
A.1.Escala Jefferson de Empatia Médica:
162
A.2 QUESTIONÁRIO PPACP (PERCEPÇÃO DA PESSOA QUANTO AO
ATENDIMENTO CENTRADO NA PESSOA) PARA O MÉDICO:
163
ANEXO B – ESCALAS RESPONDIDA PELO PACIENTE SIMULADO
B.1 Escala CARE de Empatia para o paciente simulado padronizado:
164
B.2 Questionário PPACP (Percepção da Pessoa quanto ao Atendimento Centrado
na Pessoa) para o paciente simulado padronizado:
165
166
ANEXO C - GUIA OBSERVACIONAL CALGARY-CAMBRIDGE (CCOG)
RESUMIDO ORIGINAL EM INGLÊS
Digitalização do questionário da página 336 no livro Teaching and Learning
Communication Skills in Medicine de Suzanne Kurtz, Janathan Silverman e Juliet
Draper, Radclife, secunda edicação, 2005
167
ANEXO D – PARECER CONSUBSTANCIADO DA COMISSÃO DE ÉTICA E
PESQUISA DA PREFEITURA MUNICIPAL DE CURITIBA
168
169
170
ANEXO E - PARECER CONSUBSTANCIADO DA COMISSÃO DE ÉTICA E
PESQUISA DA SECRETARIA MUNICIPAL DO RIO DE JANEIRO
171
172
173
174
175
ANEXO F - PARECER CONSUBSTANCIADO DA COMISSÃO DE ÉTICA E
PESQUISA DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
176