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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO DE TECNOLOGIA E GEOCIÊNCIAS DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA CIVIL Marcelo de Andrade Pitanga ANÁLISE TÉRMICA DE VIGAS MISTAS AÇO-CONCRETO EM SITUAÇÃO DE INCÊNDIO Dissertação de Mestrado Orientador: Prof. Dr. Romilde Almeida de Oliveira Recife, agosto de 2004.

Marcelo de Andrade Pitanga - UFPE · 2019-10-25 · V RESUMO Pitanga, Marcelo de Andrade. Análise térmica de vigas mistas aço-concreto em situação de incêndio.Recife, 2004

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO

CENTRO DE TECNOLOGIA E GEOCIÊNCIAS

DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO

EM ENGENHARIA CIVIL

Marcelo de Andrade Pitanga

ANÁLISE TÉRMICA DE VIGAS MISTAS AÇO-CONCRETO EM SITUAÇÃO DE INCÊNDIO

Dissertação de Mestrado

Orientador: Prof. Dr. Romilde Almeida de Oliveira

Recife, agosto de 2004.

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Universidade Federal de Pernambuco

Marcelo de Andrade Pitanga

ANÁLISE TÉRMICA DE VIGAS MISTAS

AÇO-CONCRETO EM SITUAÇÃO DE INCÊNDIO

Dissertação de Mestrado

Recife, agosto de 2004

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil da Universidade Federal de Pernambuco como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Engenharia Civil, modalidade Estruturas.

Orientador: Prof. Romilde Almeida de Oliveira

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P681a Pitanga, Marcelo de Andrade. Análise térmica de vigas mistas aço-concreto em

situação de incêndio / Marcelo de Andrade Pitanga. – Recife : O Autor, 2004.

xvii, 152 folhas. : il. ; fig., graf., tab.

Dissertação (mestrado) – Universidade Federal de Pernambuco. CTG. Engenharia Civil, 2004.

Inclui bibliografia.

1. Engenharia civil - Estruturas. 2. Vigas mistas – Aço-concreto. 3. Engenharia civil – Estruturas – Análise térmica. 4. Estruturas em situação de incêndio. I. Título.

UFPE 624.1 CDD(21.ed.) BCTG/2004-07

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II

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III

À minha querida mãe Analucia de Andrade Pitanga, esteja onde estiver, a quem dedico este trabalho,

por tudo que fez por mim em vida.

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IV

AGRADECIMENTOS

À meu pai Hélio da Costa Pitanga e à minha irmã Danielle de Andrade

Pitanga, não só por compreenderem minha interminável ausência, mas também

por perceberem que este era mais um acontecimento importante na minha vida.

Ao meu orientador Prof. Romilde Almeida pelo estímulo, entusiasmo e

parceria, sem os quais este trabalho não poderia ter sido realizado.

Ao amigo Roubier Muniz de Souza pelo companheirismo durante todos

esses anos de nossa convivência social e acadêmica.

Aos novos e velhos amigos, sem citar nomes, que caminharam comigo

neste período de intensa dedicação e renúncias.

Aos professores do Departamento de Engenharia Civil da UFPE, em

especial àqueles que fazem parte do Programa de Pós-Graduação em Estruturas,

os quais tenho profundo respeito e admiração.

À UFPE – Universidade Federal de Pernambuco, instituição de ensino

superior que tanto me orgulho de fazer parte.

À CAPES – Fundação Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de

Nível Superior, pelo apoio financeiro concedido.

E a todos aqueles que de uma forma ou de outra contribuíram para

realização deste trabalho.

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V

RESUMO

Pitanga, Marcelo de Andrade. Análise térmica de vigas mistas aço-concreto em

situação de incêndio. Recife, 2004. 150p. Dissertação de Mestrado –

Departamento de Engenharia Civil, Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).

A estabilidade estrutural dos edifícios em situação de incêndio é diretamente

dependente da resistência mecânica de seus elementos estruturais que, por sua

vez, dependem da temperatura que estarão sujeitos durante o incêndio. Os

elementos estruturais quando expostos aos gases quentes do incêndio perdem

resistência e rigidez devido à degeneração das propriedades físicas de seus

materiais constituintes. A temperatura atingida por um elemento estrutural durante

o incêndio é objeto da análise térmica. Este trabalho tem por objetivo realizar a

análise térmica de vigas mistas aço-concreto em situação de incêndio através do

programa comercial ANSYS – baseado no Método dos Elementos Finitos (MEF),

e também por meio do método simplificado de dimensionamento recomendado

pelas normas brasileiras de segurança estrutural contra incêndio. Como resultado

da análise térmica, observa-se o desenvolvimento e a distribuição do campo de

temperaturas na seção transversal mista, a eficiência do material de proteção

passiva contra incêndio e a importância do fator de forma (massividade) da seção.

Da mesma forma, faz-se uma análise comparativa entre os resultados obtidos pelo

método simplificado e pelo método avançado (MEF), e, por fim, é investigada a

resistência à flexão da viga mista exposta ao fogo, principalmente, destacando a

proteção passiva parcial, cujo emprego como isolante térmico, é uma alternativa à

redução de custos, mas que precisa ser utilizada com senso crítico.

Palavras-chave: Estruturas de aço em situação de incêndio; Análise térmica;

Vigas mistas aço-concreto; Método dos Elementos Finitos; Proteção passiva

estrutural.

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VI

ABSTRACT

Pitanga, Marcelo de Andrade. Thermal analysis of composite steel-concrete

beams in fire situation. Recife, 2004. 150. MSc. Dissertation – Department of

Civil Engineering, Federal University of Pernambuco (UFPE).

The structural stability of buildings in fire situation depends on the mechanical

resistance of its structural elements. The structural elements when exposed to the

hot gases lose resistance and rigidity due the degeneration of the physical

properties of its constituent materials. The temperature reached for a structural

member during the fire is the objective of the thermal analysis. The aim of this

work is to carry out the thermal analysis of composite steel-concrete beams in fire

situation through the commercial program ANSYS – based in the Finite Element

Method (FEM), and also by the simplified method of calculation recommended

for Brazilian codes . As the result of the thermal analysis, it can be observed the

development and the distribution of the field of temperature at the composite cross

section, the efficiency of the passive fire protection and the importance of the

section factor for the structural member. In the same way, it is verified the

agreement between the results that had been obtained by the simplified method

and by the numerical method (FEM). Finally, the mechanical behavior of the

composite beam exposed to the fire is investigated, mainly, detaching the partial

passive fire protection, whose thermal use as isolating, is an alternative to the

reduction of costs, but that it needs to be used with critical sense.

Keywords: Steel structures in fire situation; Thermal analysis; Composite steel-

concrete beams; Finite Element Method; Structural passive protection.

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VII

SUMÁRIO

RESUMO............................................................................................................. V ABSTRACT .......................................................................................................VI

LISTA DE FIGURAS........................................................................................IX

LISTA DE TABELAS.....................................................................................XII

LISTA DE SÍMBOLOS ................................................................................ XIII

1 INTRODUÇÃO ........................................................................................... 1

1.1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS ............................................................... 1 1.2 OBJETIVOS E JUSTIFICATIVA .......................................................... 4 1.3 ESTRUTURA DA DISSERTAÇÃO ...................................................... 6 1.4 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA................................................................ 7

2 SEGURANÇA CONTRA INCÊNDIO EM EDIFÍCIOS....................... 10

2.1 INTRODUÇÃO..................................................................................... 10 2.2 A CIÊNCIA DO FOGO ........................................................................ 11 2.3 O INCÊNDIO EM UM AMBIENTE COMPARTIMENTADO .......... 13 2.4 RISCOS ASSOCIADOS AO INCÊNDIO COMPARTIMENTADO ..15 2.5 O EDIFÍCIO SEGURO ......................................................................... 15 2.6 RESISTÊNCIA AO FOGO DOS ELEMENTOS ESTRUTURAIS ..... 18 2.7 PROPRIEDADES DOS MATERIAIS.................................................. 19

2.7.1 PROPRIEDADES MECÂNICAS................................................. 19 2.7.2 PROPRIEDADES TÉRMICAS .................................................... 23

2.8 PROTEÇÃO PASSIVA CONTRA INCÊNDIO................................... 27 2.8.1 PROTEÇÕES CLÁSSICAS.......................................................... 28 2.8.2 ARGAMASSAS PROJETADAS.................................................. 28 2.8.3 MATERIAIS PRÉ-FABRICADOS .............................................. 30 2.8.4 TINTAS INTUMESCENTES ....................................................... 31

3 O MÉTODO SIMPLIFICADO DE DIMENSIONAMENTO DE

VIGAS MISTAS AÇO-CONCRETO...................................................... 32

3.1 INTRODUÇÃO..................................................................................... 32 3.2 CAPACIDADE RESISTENTE............................................................. 32 3.3 MODELO REPRESENTATIVO DO INCÊNDIO ............................... 34

3.3.1 INCÊNDIO-PADRÃO .................................................................. 34 3.3.2 TEMPO REQUERIDO DE RESISTÊNCIA AO FOGO (TRRF) 36

3.4 O MÉTODO SIMPLIFICADO DE ANÁLISE TÉRMICA.................. 37 3.4.1 FATOR DE MASSIVIDADE ....................................................... 37 3.4.2 ELEMENTOS ESTRUTURAIS SEM PROTEÇÃO TÉRMICA.39 3.4.3 ELEMENTOS ESTRUTURAIS COM PROTEÇÃO TÉRMICA 41

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VIII

3.4.4 O CASO PARTICULAR DA VIGA MISTA ............................... 45 3.5 O MÉTODO SIMPLIFICADO DE ANÁLISE ESTRUTURAL.......... 47

3.5.1 CRITÉRIOS DE CÁLCULO ........................................................ 47 3.5.2 CONECTOR DE CISALHAMENTO........................................... 50 3.5.3 MOMENTO FLETOR RESISTENTE DE CÁLCULO................ 54

3.6 VERIFICAÇÃO DA SEGURANÇA ESTRUTURAL ......................... 60 4 O MÉTODO DOS ELEMENTOS FINITOS NA ANÁLISE DE

TRANSFERÊNCIA DE CALOR............................................................. 62

4.1 INTRODUÇÃO..................................................................................... 62 4.2 TRANSFERÊNCIA DE CALOR.......................................................... 62

4.2.1 CONDUÇÃO ................................................................................ 63 4.2.2 CONVECÇÃO .............................................................................. 66 4.2.3 RADIAÇÃO .................................................................................. 68 4.2.4 A EQUAÇÃO DE DIFUSÃO DE CALOR .................................. 74 4.2.5 CONDIÇÕES INICIAL E DE CONTORNO ............................... 77

4.3 MÉTODO DOS ELEMENTOS FINITOS............................................ 79 4.3.1 O MODELO FÍSICO DA TRANSFERÊNCIA DE CALOR ....... 80 4.3.2 FORMULAÇÃO VARIACIONAL FRACA ................................ 82 4.3.3 O MODELO SEMIDISCRETO DOS ELEMENTOS FINITOS..86 4.3.4 A APROXIMAÇÃO TEMPORAL............................................... 94

5 APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS DA ANÁLISE TÉRMICA

DE VIGAS MISTAS EM SITUAÇÃO DE INCÊNDIO ........................ 98

5.1 INTRODUÇÃO..................................................................................... 98 5.2 COMPORTAMENTO TÉRMICO OBSERVADO ............................ 101 5.3 VIGAS MISTAS SEM MATERIAL DE PROTEÇÃO TÉRMICA... 107 5.4 A EFICIÊNCIA DA PROTEÇÃO PASSIVA .................................... 116 5.5 ANÁLISE COMPARATIVA.............................................................. 123 5.6 COMPORTAMENTO TERMO-MECÂNICO ................................... 127

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS.................................................................. 133

6.1 INTRODUÇÃO................................................................................... 133 6.2 CONCLUSÕES................................................................................... 134 6.3 SUGESTÕES ...................................................................................... 137 6.4 RECOMENDAÇÃO PARA TRABALHOS FUTUROS ................... 137

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................... 139

APÊNDICE A .................................................................................................. 146

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IX

LISTA DE FIGURAS

Figura 1.1 – Viga mista com fôrma de aço incorporada ......................................... 1 Figura 1.2 – Imagens de incêndios em edifícios no Brasil...................................... 2 Figura 1.3 – One Meridian Plaza na Filadélfia após o incêndio em 1991............... 3 Figura 1.4 – Aspecto do escoramento da laje do 11° pavimento após o incêndio. . 3 Figura 2.1 – O triângulo do fogo ........................................................................... 12 Figura 2.2 – Principais produtos da combustão associados ao triângulo do fogo .13 Figura 2.3 – Evolução do incêndio em um ambiente compartimentado ............... 14 Figura 2.4 – Diagrama tensão-deformação de um aço-carbono típico sob altas

temperaturas ...................................................................................... 20 Figura 2.5 – Condutividade térmica do aço em função da temperatura ................ 23 Figura 2.6 – Condutividade térmica do concreto normal em função da

temperatura. ....................................................................................... 24 Figura 2.7 – Calor específico do aço em função da temperatura. ......................... 25 Figura 2.8 – Calor específico do concreto normal em função da temperatura. ..... 26 Figura 2.9 – Revestimentos típicos de vigas mistas: (a) Tipo contorno; (b) Tipo

caixa................................................................................................... 27 Figura 2.10 – Enclausuramento em concreto dos pilares de aço........................... 28 Figura 2.11 – Argamassa projetada: (a) Ambiente revestido pela argamassa; (b)

Esquema da aplicação por jateamento direto .................................. 29 Figura 2.12 – Materiais pré-fabricados: (a) Manta de fibra cerâmica; (b) Esquema

da fixação das placas ....................................................................... 30 Figura 2.13 – Formação da espuma rígida nas tintas intumescentes..................... 31 Figura 2.14 – Exemplos de dois edifícios urbanos revestidos pelo sistema

intumescente. ................................................................................... 31 Figura 3.1 – Fluxograma para o cálculo da capacidade resistente de uma estrutura

exposta ao incêndio compartimentado .............................................. 33 Figura 3.2 – Curva temperatura-tempo do incêndio-padrão ................................. 35 Figura 3.3 – Incêndio real x incêndio-padrão........................................................ 35 Figura 3.4 – Balanço energético na peça de aço sem proteção térmica ................ 39 Figura 3.5 – Balanço energético na peça de aço com proteção térmica................ 42 Figura 3.6 – Divisão em partes da seção transversal mista ................................... 45 Figura 3.7 – Dimensões da seção transversal da laje mista................................... 47 Figura 3.8 – Diagramas tensão-deformação: (a) concreto em compressão; (b) aço

comum com patamar de escoamento................................................. 49 Figura 3.9 – Limite de resistência para viga mista com interação completa......... 49 Figura 3.10 – Lajes com fôrma de aço incorporada .............................................. 52 Figura 3.11 – Configuração de equilíbrio estático na seção mista ........................ 54 Figura 3.12 – Distribuição de tensões em temperatura elevada para interação

completa: (a) linha neutra plástica na alma; (b) linha neutra plástica na mesa superior; (c) linha neutra plástica na laje de concreto ....... 55

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X

Figura 4.1 – Experimento de condução de calor em um bastão cilíndrico............ 63 Figura 4.2 – Convenção de sinal para condução de calor unidimensional num

sólido de comprimento L................................................................... 65 Figura 4.3 – Fluxo térmico normal a uma isoterma .............................................. 65 Figura 4.4 – Transferência de calor por convecção a partir da superfície da placa

aquecida............................................................................................. 66 Figura 4.5 – Convenção de sinal para transferência de calor por convecção........ 68 Figura 4.6 – Processos de absorção, reflexão e transmissão associados a um meio

semitransparente ................................................................................ 69 Figura 4.7 – Volume de controle diferencial dx.A em um meio contínuo e isótropo

........................................................................................................... 75 Figura 4.8 – Balanço de energia para superfície de controle em x=0 ................... 78 Figura 4.9 – Região sólida de domínio arbitrário Ω limitada pela fronteira Γ ...... 80 Figura 4.10 – Condições de contorno do problema de valor inicial...................... 82 Figura 4.11 – Aproximação linear via Método dos Resíduos Ponderados............ 86 Figura 4.12 – Exemplos de elementos finitos bidimensionais .............................. 87 Figura 4.13 – Partição do domínio em intervalos uniformes ................................ 87 Figura 4.14 – Funções de interpolação do tipo “pirâmide”................................... 88 Figura 4.15 – Resultado da aplicação do MEF: (a) Representação das funções de

base globais; (b) Aproximação linear da função u trecho a trecho .89 Figura 4.16 – Subdivisão do domínio em elementos finitos ................................. 89 Figura 5.1 – Modelo proposto para modelagem numérica da viga mista em

situação de incêndio .......................................................................... 99 Figura 5.2 – Elemento finito PLANE35 utilizado na análise térmica ................. 100 Figura 5.3 – Casos estudados: (a) Viga mista com laje de concreto maciça;

(b)Viga mista com fôrma de aço incorporada ................................. 101 Figura 5.4 – Campo de temperaturas para viga mista com laje de concreto maciça

após um tempo de duração do incêndio de: (a) 30 min; (b) 60 min; (c) 90 min e (d) 120 min. ...................................................................... 102

Figura 5.5 –Distribuição das temperaturas (°C) na viga mista com laje de concreto maciça para os TRRF de 30, 60, 90 e 120 minutos ......................... 103

Figura 5.6 – Campo de temperaturas para viga mista com fôrma de aço incorporada após um tempo de duração do incêndio de: (a) 30 min; (b) 60 min; (c) 90 min e (d) 120 min............................................... 104

Figura 5.7 – Distribuição das temperaturas (°C) na viga mista com fôrma de aço incorporada para os TRRF de 30, 60, 90 e 120 minutos ................. 105

Figura 5.8 – Condução do calor no interior da viga mista com fôrma de aço incorporada ...................................................................................... 106

Figura 5.9 – Pontos e seções escolhidas para obtenção dos resultados numéricos......................................................................................................... 107

Figura 5.10 – Casos estudados: (a) Perfil pequeno; (b)Perfil médio e (c)Perfil grande ............................................................................................ 108

Figura 5.11 – Desenvolvimento da temperatura na alma da viga mista segundo o TRRF de 60 minutos ..................................................................... 109

Figura 5.12 – Desenvolvimento da temperatura na alma e mesas superior e inferior para os três perfis metálicos.............................................. 110

Figura 5.13 – Seção típica da laje de concreto .................................................... 111

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XI

Figura 5.14 – Perfil revestido com material de proteção térmica do tipo:(a) contorno e (b) caixa. ...................................................................... 116

Figura 5.15 – Temperatura no perfil VS 400x58 durante o tempo de exposição ao incêndio. ........................................................................................ 118

Figura 5.16 – Campo de temperaturas segundo o TRRF de 60 minutos para o perfil sem e com proteção térmica................................................. 120

Figura 5.17 – Temperatura no perfil com proteção tipo caixa para o TRRF de 120 minutos. ......................................................................................... 121

Figura 5.18 - Temperatura no perfil com proteção tipo caixa para o TRRF de 120 minutos sem levar em conta a presença do ar na cavidade da caixa....................................................................................................... 122

Figura 5.19 – Pontos escolhidos para obtenção dos resultados numéricos ......... 123 Figura 5.20 – Curvas temperatura-tempo do método simplificado e do método

avançado de cálculo para o perfil sem proteção ............................ 124 Figura 5.21 – Curvas temperatura-tempo do método simplificado e do método

avançado de cálculo para o perfil com proteção do tipo contorno 125 Figura 5.22 – Curvas temperatura-tempo do método simplificado e do método

avançado de cálculo para o perfil com proteção do tipo caixa...... 126 Figura 5.23 – Características geométricas dos casos estudados: (a) viga com

proteção total e (b) viga com proteção parcial .............................. 127 Figura 5.24 – Localização da seção e dos pontos para obtenção dos resultados

numéricos ...................................................................................... 128 Figura 5.25 –Mapa de cores segundo o TRRF de 40 minutos ............................ 129 Figura 5.26 – Desenvolvimento da temperatura na mesa inferior da viga mista

durante o tempo de duração do incêndio ....................................... 130 Figura 5.27 – Gráfico momento versus tempo da viga mista durante o tempo de

exposição ao incêndio.................................................................... 131

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XII

LISTA DE TABELAS

Tabela 2.1 – Medidas de proteção contra incêndio: aspectos fundamentais a serem

considerados no projeto arquitetônicos de edifícios.......................... 17 Tabela 2.2 – Fatores de redução para o limite de escoamento e módulo de

elasticidade do aço estrutural............................................................. 20 Tabela 2.3 – Fator de redução da resistência característica à compressão para o

concreto de densidade normal ........................................................... 22 Tabela 3.1 – TRRF (min) segundo o Método Tabular .......................................... 36 Tabela 3.2 – Fator de massividade para vigas mistas............................................ 38 Tabela 3.3 – Aquecimento no perfil de aço, sem proteção térmica, durante os

primeiros 10 minutos de exposição ao fogo ...................................... 41 Tabela 3.4 – Aquecimento no perfil de aço, com proteção térmica do tipo

contorno, durante os primeiros 10 minutos de exposição ao fogo .... 44 Tabela 3.5 – Variação da temperatura ao longo da altura da laje de concreto ...... 46 Tabela 5.1 – Condições inicial e de contorno para a viga mista com e sem material

de proteção térmica............................................................................ 99 Tabela 5.2 – Temperatura (°C) no conector e na mesa superior dos casos

estudados ao longo do tempo de duração do incêndio .................... 106 Tabela 5.3 – Temperatura da alma (°C) em função do fator de massividade dos

perfis de aço para o TRRF máximo de 30 minutos. ........................ 109 Tabela 5.4 – Variação da temperatura na altura da laje de concreto para o perfil

VS 250x25 ....................................................................................... 110 Tabela 5.5 – Variação da temperatura na altura da laje de concreto para o perfil

VS 450x59 ....................................................................................... 111 Tabela 5.6 – Variação da temperatura na altura da laje de concreto para o perfil

VS 650x144 ..................................................................................... 112 Tabela 5.7 – Seção crítica na laje de concreto..................................................... 115 Tabela 5.8 – Comparação dos valores de temperatura entre o método avançado

(MEF) e o método simplificado de cálculo (NBR) ......................... 115 Tabela 5.9 – Propriedades do aço e do concreto ................................................. 117 Tabela 5.10 – Características do revestimento de proteção térmica.................... 117 Tabela 5.11 – Propriedades do ar no interior da cavidade da proteção tipo caixa

....................................................................................................... 117 Tabela 5.12 – Temperatura na alma do perfil metálico para os três casos

analisados, segundo os TRRF de 30, 60, 90 e 120 minutos .......... 119 Tabela 5.13 – Temperatura no perfil com proteção tipo caixa durante o tempo de

duração do incêndio desprezando-se a existência do ar no interior da cavidade......................................................................................... 122

Tabela 5.14 – Temperatura nas fatias (°C) e a temperatura uniforme (θc) na seção crítica da laje ao longo do tempo de duração do incêndio............. 130

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XIII

LISTA DE SÍMBOLOS

LETRAS DO ALFABETO ROMANO

a Espessura comprimida da laje de concreto

A Área da seção transversal do elemento estrutural

Acs Área da seção transversal do conector

(Afy)fi,a Resultante máxima das tensões de tração na viga de aço

(Afck)fi,c Resultante máxima das tensões de compressão na laje de concreto

b Largura efetiva da laje de concreto

c Calor específico

ca Calor específico do aço

cc Calor específico do concreto de densidade normal

cm Calor específico do material de proteção contra incêndio

Cfi Resultante das tensões de compressão no concreto

C`fi Resultante das tensões de compressão na viga de aço

Cred Fator de redução para resistência nominal do Stud Bolt para o caso

de lajes com fôrma de aço incorporada, cujas nervuras estejam

dispostas perpendicularmente à viga de aço

ej Espessura das n fatias da laje de concreto

E Número de subdivisões do domínio Ω em elementos finitos

E Módulo de elasticidade do aço à temperatura ambiente

E Fluxo de calor emitido por uma superfície real

Eac Termo relacionado ao acúmulo de energia no interior do volume de

controle

Ec Módulo de elasticidade do concreto de densidade normal (20°C)

Ec,θ Módulo de elasticidade do concreto de densidade normal sob altas

temperaturas

Ec,Es Termos relativos à entrada e saída de energia

Eg Termo de geração de energia

En Poder emissivo de um corpo negro

Eθ Módulo de elasticidade do aço a uma determinada temperatura

fck Resistência característica à compressão do concreto à 20 °C

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XIV

fck,θ Resistência característica à compressão do concreto a uma

determinada temperatura

fy Limite de escoamento do aço à temperatura ambiente (20°C)

fy,θ Limite de escoamento do aço a uma determinada temperatura

fu Limite de resistência à tração do aço

F Fator de massividade ou de forma da seção

Fc Força resultante das tensões de compressão

Fi-j Fator de forma da radiação

FG Valor nominal da ação permanente

FQ Valor nominal das ações variáveis devido às cargas acidentais

FQ,exc Valor representativo da ação excepcional (ação térmica)

Ft Força resultante das tensões de tração

G Taxa pela qual todas radiações térmicas incidem sobre uma área

unitária da superfície é conhecida como irradiação

h Altura da seção de aço

hc Coeficiente de transferência de calor por convecção

hcs Comprimento do conector de cisalhamento após soldagem

hef Altura efetiva da laje de concreto

hr Coeficiente de transferência de calor por radiação

i Número da iteração requerida para se atingir a convergência da

solução no passo do tempo n+1

J Radiosidade definida como a taxa pela qual a radiação térmica

deixa determinada superfície por unidade de área

K Matriz de condutividade térmica

Kc,θ Fator de redução para resistência característica à compressão do

concreto

KE,θ Fator de redução para o módulo de elasticidade do aço

Ky,θ Fator de redução para o limite de escoamento do aço

Ktg Matriz tangente ou jacobiana

M Matriz de capacidade térmica

Mfi,n Momento fletor resistente nominal em situação de incêndio

Mfi,Rd Momento fletor resistente de cálculo em situação de incêndio

n Número do passo do tempo

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XV

ncs Número de conectores por nervura sobre a viga

ne Número de pontos nodais do elemento finito

nx,ny Co-senos diretores do vetor normal unitário exterior a um isoterma

N Vetor interpolador da variável de campo mais conhecido como

função de base ou de forma

NT Vetor transposto interpolador da variável de campo mais conhecido como função de base ou de forma

q Vetor do fluxo de calor

qconv Fluxo de calor por convecção

qn Fluxo de calor na direção n (derivada direcional)

qn Resistência nominal do Stud Bolt totalmente embutido em laje

maciça de concreto

qfi,n Resistência nominal do Stud Bolt, em situação do incêndio,

totalmente embutido em laje maciça de concreto

qrad Fluxo de calor por radiação

qx Fluxo de calor por condução

q”x Taxa de condução de calor

Q Fonte interna de geração de calor

Qfi,n Somatório das resistências nominais individuais em situação de

incêndio dos conectores de cisalhamento situados entre a seção de

momento máximo e a seção de momento nulo

R Resíduo ou vetor desbalanceado, representa quão o sistema não-

linear transiente está fora de equilíbrio

Rfi,d Esforço resistente de cálculo em situação de incêndio

Sfi,d Esforço solicitante de cálculo em situação de incêndio obtido

através das combinações de ações últimas excepcionais

t Instante de tempo

tw Espessura da alma da seção de aço

Tfi Resultante das tensões de tração na viga de aço

u Perímetro exposto ao fogo do elemento estrutural

um Perímetro efetivo do material isolante exposto ao fogo

W Função peso ou de ponderação

yp Distância da linha neutra plástica até a face superior da viga de aço

z Braço de alavanca

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XVI

LETRAS DO ALFABETO GREGO

α Parâmetro transiente que indica a estabilidade do sistema

α Propriedade radiante conhecida como absortividade

β Propriedade radiante conhecida como refletividade

γg Coeficiente de ponderação para ações permanentes

Γ Superfície de contorno fechada

∆t Intervalo de tempo

∆x Comprimento do bastão cilíndrico

∆θ Diferença de temperatura

∆θa Variação da temperatura do aço durante um intervalo de tempo ∆t

∆θg Variação da temperatura dos gases quentes durante o intervalo de

tempo ∆t

ε Propriedade radiante conhecida como emissividade

εres Emissividade resultante

θ Temperatura

θa Temperatura do aço estrutural

θc Temperatura do concreto de densidade normal

θc,j Temperatura nas n fatias da laje de concreto

θc Variação uniforme de temperatura ao longo da altura da laje de

concreto

θe Vetor das temperaturas nodais desconhecidas

θfluido Temperatura de um fluido genérico

θg Temperatura dos gases quentes no compartimento em chamas

θi Temperatura da mesa inferior e alma da viga de aço

θo Temperatura dos gases quentes no instante t = 0 (20°C)

θsup Temperatura da superfície da placa aquecida

θs Temperatura da mesa superior da viga de aço

λ Condutividade térmica

λa Condutividade térmica do aço

λc Condutividade térmica do concreto de densidade normal

λfluido Constante de condutividade térmica do fluido

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XVII

λm Condutividade térmica do material de proteção contra incêndio

ρ Massa específica

ρa Massa específica do aço

ρc Massa específica do concreto de densidade normal

ρm Massa específica do material de proteção contra incêndio

σ Constante de Stefan-Boltzman

τ Propriedade radiante conhecida como transmissividade

ϕ Fluxo de calor por unidade de área

ϕconv Componente do fluxo de calor devido à convecção

ϕrad Componente do fluxo de calor devido à radiação

ψT Vetor transposto que denota a variação virtual nodal da temperatura

no elemento finito

Ω Domínio da região sólida

φfi,a Coeficiente de resistência do aço para o estado limite último em

situação de incêndio

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1 INTRODUÇÃO

1.1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS

Na maioria dos paises desenvolvidos as estruturas de aço são sempre uma

opção considerada por arquitetos, engenheiros e construtores para os mais variado

tipos de construções, em especial, os prédios urbanos como os edifícios de

escritórios e de apartamentos, residências, habitações populares, supermercados,

shopping centers, etc.

De um modo geral, devido à presença invariável de lajes de concreto no

sistema de piso, um edifício estruturado em aço é na maioria das vezes um sistema

híbrido, ou seja, é um sistema que mistura soluções utilizando mais de um

material construtivo. Denomina-se sistema misto aço-concreto, o sistema híbrido

no qual um perfil de aço (laminado, dobrado ou soldado) trabalha em conjunto

com o concreto formando um pilar misto, uma viga mista, uma laje mista ou uma

ligação mista (QUEIROZ et al., 2001).

Constituídas de um perfil metálico suportando uma laje de concreto, ou

mista, apoiada na mesa superior e a ela ligada por meio de conectores, as vigas

mistas aço-concreto têm sido o sistema de piso misto mais utilizado em edifícios

de aço dada a sua facilidade de construção e redução de peso da obra. A Figura

1.1 ilustra esse tipo de sistema de piso utilizado em edifícios urbanos.

Figura 1.1 – Viga mista com fôrma de aço incorporada

[ref. http://www.metform.com.br].

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2

Entretanto, ao se projetar edifícios em aço, é preciso ter conhecimento do

seu desempenho estrutural quando da ocorrência de um incêndio. Isto porque as

propriedades mecânicas dos materiais empregados na construção civil, como o

aço e o concreto, debilitam-se progressivamente com o aumento da temperatura, o

que pode acarretar o colapso prematuro de um elemento estrutural (viga mista, por

exemplo) e ligação (FAKURY, 1999).

Devido ao seu grande poder destrutivo, até hoje são lembradas grandes

perdas humanas e materiais decorrentes de incêndios catastróficos. A Figura 1.2

ilustra algumas dessas tragédias ocorridas em edifícios no Brasil.

(a) (b)

(c) (d)

Figura 1.2 – Imagens de incêndios em edifícios no Brasil: (a) Joelma (1977)

[ref. http://www.bombeirosemergencia.com.br/joelma.htm]; (b) Barão de Mauá (1981)

[ref. http://www.terra.com.br/noticias/historia/dez_11.htm]; (c) CESP (1987)

[ref. http://www.lmc.ep.usp.br/people/valdir]; (d) Prédio da Eletrobrás (2004)

[ref. http://www.cb.ce.gov.br/html/noticias_incendio_riodejaneiro.html].

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3

No intuito de mostrar a debilidade das propriedades mecânicas dos

materiais construtivos sob altas temperaturas, logo abaixo, duas figuras ilustram

compartimentos típicos de edifícios depois da ocorrência de um incêndio. A

Figura 1.3 mostra um compartimento de um prédio sinistrado nos EUA. Tanto as

vigas como a laje sofreram deformações excessivas em virtude das altas

temperaturas a que estavam sujeitas durante o incêndio.

Figura 1.3 – One Meridian Plaza na Filadélfia após o incêndio em 1991

(GEWAIN et al., 2003).

Já a Figura 1.4, ilustra o caso de um incêndio ocorrido em um prédio de

concreto armado, destinado ao uso residencial e comercial, localizado na cidade

de Porto Alegre, RS. Segundo KLEIN et al. (2000), a laje do 11° pavimento

sofreu deformações excessivas, o qual foi observado um afundamento de piso de

16 cm.

Figura 1.4 – Aspecto do escoramento da laje do 11° pavimento após o incêndio

ocorrido (KLEIN et al., 2000).

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Nos EUA, Canadá, Japão e Europa, a preocupação com a segurança contra

incêndio em edifícios se fez presente há muitas décadas. Em 1953, a revista

L’ossature Metalique já publicava um longo artigo que tratava da proteção de

estruturas metálicas por envolvimento em concreto, e divulgava o uso, na época,

de proteções à base de gesso e vermiculita (ANDRADE, 2003).

No Brasil, somente em 1995, a ABNT – Associação Brasileira de Normas

Técnicas, que é o Fórum Nacional de Normalização, num trabalho conjunto com a

ABCEM – Associação Brasileira dos Construtores de Estruturas Metálicas, criou

um grupo de trabalho que tinha o objetivo de elaborar textos-base de normas que

se aplicassem à segurança contra incêndio das estruturas. Como resultado,

encontram-se atualmente aprovadas e publicadas as seguintes normas técnicas:

a) NBR 14323 (1999) – Dimensionamento de estruturas de aço de edifícios em

situação de incêndio – Procedimento, cujo objetivo é fixar condições exigíveis

para o dimensionamento em situação de incêndio de elementos estruturais de aço,

de elementos estruturais mistos aço-concreto (vigas mistas, pilares mistos e lajes

mistas) e de ligações executadas com parafusos ou soldas.

b) NBR 14432 (2000) – Exigências de resistência ao fogo de elementos

construtivos de edificações – Procedimento, cujo objetivo é estabelecer condições

a serem atendidas pelos elementos estruturais e de compartimentação que

integram os edifícios para que, em situação de incêndio, seja evitado o colapso

estrutural.

1.2 OBJETIVOS E JUSTIFICATIVA

Em virtude dos numerosos casos de incêndios ocorridos em edifícios no

Brasil nas últimas décadas, e por ser um assunto relativamente recente no meio

técnico, era natural desenvolver pesquisas relacionadas com a segurança de

edifícios em situação de incêndio. Apesar de já haver um número razoável de

trabalhos publicados, poucos pesquisadores têm trabalhado de maneira

contundente sobre o tema.

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Alguns encontros entre profissionais e demais interessados na área de

segurança contra incêndio vêm sendo promovidos, especialmente, a partir do final

da década de 90 e começo do novo milênio, como os Seminários Internacionais –

“O Uso das Estruturas Metálicas na Construção Civil”, ocorridos em Belo

Horizonte, MG; as Jornadas Sul-americanas de Engenharia Estrutural, cuja última

edição ocorreu em Mendonza, Argentina (2004); e os Congressos Internacionais

da Construção Metálica (CICOM) em São Paulo.

O autor julga que esses encontros e demais trabalhos que já foram e vêm

sendo realizados, são fundamentais para o desenvolvimento tecnológico da área

de segurança contra incêndio em edifícios no Brasil, sendo este, o principal fator

de motivação à realização deste trabalho.

Naquilo que concerne ao projeto estrutural de edifícios, a segurança dos

elementos estruturais e subestruturas perante o fogo deve ser observada. Isto

porque a estabilidade estrutural dos edifícios em situação de incêndio é

diretamente dependente da resistência mecânica de seus elementos estruturais que,

por sua vez, dependem da temperatura que estarão sujeitos durante o incêndio

(COSTA, 2001).

Como a temperatura atingida por um elemento estrutural durante o

incêndio é objeto da análise térmica, este trabalho tem por objetivo realizar a

análise térmica de vigas mistas aço-concreto em situação de incêndio, através do

programa comercial ANSYS – baseado no Método dos Elementos Finitos, e

também por meio do método simplificado de cálculo proposto pelas normas

brasileiras citadas na seção anterior.

Procede-se à análise térmica para diversos tipos de seção mista e diferentes

situações em que pode se encontrar no ambiente em chamas, ou seja, sem

revestimento e com revestimento térmico dos tipos contorno e caixa. Como

resultado da análise térmica, observa-se o desenvolvimento e a distribuição do

campo de temperaturas na seção transversal mista, a eficiência do material de

proteção passiva contra incêndio e a importância do fator de forma (massividade)

da seção. Faz-se também uma análise comparativa entre os resultados obtidos pelo

método analítico (NBR 14323) e pelo método numérico (MEF), e, por fim, é

investigada a capacidade resistente a momento fletor da viga mista exposta ao

fogo, principalmente, destacando a proteção passiva parcial, cujo emprego como

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isolante térmico, é uma alternativa à redução de custos, mas que precisa ser

utilizada com senso crítico.

1.3 ESTRUTURA DA DISSERTAÇÃO

A dissertação foi desenvolvida didaticamente ao longo de seis capítulos. O

primeiro capítulo tratou das considerações iniciais, dos objetivos, da justificativa,

e a seguir, na seção 1.4, apresentará uma breve descrição dos antecedentes

históricos das estruturas de aço e mista sob altas temperaturas e em situação de

incêndio.

O segundo capítulo tratará de importantes aspectos relacionados aos

edifícios de aço em situação de incêndio, como da reação físico-química que

produz o fogo, evolução do incêndio em um compartimento típico, sistema global

de segurança contra incêndio, resistência ao fogo dos elementos estruturais,

propriedades dos materiais construtivos sob altas temperaturas e proteção passiva

estrutural contra incêndio.

O terceiro capítulo tratará do método simplificado de dimensionamento de

vigas mistas aço-concreto, recomendado pelas normas brasileiras citadas na seção

1.1, destacando tanto a análise térmica como também a estrutural.

O quarto capítulo tratará do Método dos Elementos Finitos (MEF) na

análise de transferência de calor, principalmente, para o caso de estruturas em

situação de incêndio (método avançado de análise térmica).

O quinto capítulo irá apresentar os resultados numéricos da análise térmica

obtidos a partir da utilização do ANSYS, como também, os resultados analíticos

provenientes do método simplificado de dimensionamento.

E, finalmente, o sexto capítulo discutirá as conclusões referentes ao

capítulo anterior, e também irá sugerir e recomendar trabalhos futuros.

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1.4 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

Sem a pretensão de esgotar todo assunto sobre o tema, até porque

inúmeras pesquisas já foram e vêm sendo realizadas até os dias de hoje, será

tratado aqui, de maneira breve e não exaustiva, alguns estudos relacionados sobre

estruturas de aço e mista sob altas temperaturas e em situação de incêndio.

Os primeiros trabalhos sobre elementos de aço em altas temperaturas

surgiram a partir do final da década de sessenta. WITTEVEEN (1967) estimou a

temperatura de colapso das vigas através da análise plástica, onde a tensão de

escoamento do aço variava com a temperatura. MARCHANT (1972) desenvolveu

um método, através de um modelo perfeitamente elasto-plástico, que incluía a

degradação do módulo de elasticidade e da tensão de escoamento do aço,

admitindo a variação da temperatura na seção transversal da viga. Também

KNIGHT (1972) realizou análises em vigas considerando o modelo elasto-plástico

perfeito, em função da temperatura, e ressaltou os efeitos que a restrição a livre

expansão térmica causava à temperatura de falha da viga. OSSENBRUGGEN et

al. (1973) apresentaram um método de análise de colunas de aço com

carregamento axial sujeitas a diferentes temperaturas, tanto na seção transversal

como também ao longo do comprimento, baseado no desenvolvimento de

fórmulas simples para o cálculo da tensão de flambagem sob altas temperaturas.

CHENG & MAK (1975) desenvolveram um programa baseado no Método dos

Elementos Finitos que incluía o efeito da fluência do aço e a variação da

temperatura na direção de um dos eixos principais da seção transversal. KRUPPA

(1979) desenvolveu um método analítico simplificado para determinar a

temperatura crítica em estruturas de aço. Esse método baseava-se no

comportamento elasto-plástico perfeito, onde uma distribuição uniforme de

temperatura era considerada em toda subestrutura, fossem vigas ou pilares.

Já na década de 80, IDING & BRESLER (1981) desenvolveram um

programa computacional, chamado FASBUSH, que modelava não só o elemento

estrutural como também o pórtico de aço e o sistema de piso. Baseado no Método

dos Elementos Finitos, o programa incorporava curvas de tensão-deformação do

aço e a variação das propriedades físicas e da temperatura dos membros que eram

modelados. JAIN & RAO (1983) conceberam o primeiro programa de elementos

finitos para análise de pórticos planos sob altas temperaturas que incorporava a

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não-linearidade geométrica. Já BABA & NAGURA (1985) também incluíram, em

suas análises via Método dos Elementos Finitos, a não-linearidade física do

material sob altas temperaturas, que se mostrou ser indispensável ao estudo. EL-

ZANATY & MURRAY (1983) desenvolveram um programa baseado em

elementos finitos, chamado INSTAF, que visava estudar o comportamento

bidimensional dos pórticos de aço, onde mais tarde SHARPLES (1987) adaptou o

mesmo programa à análise de pilares sujeitos a gradientes térmicos ao longo de

sua seção transversal e carregamentos excêntricos. OLAWALE (1988)

desenvolveu um método para análise de colunas perfeitamente isoladas em

incêndio. Essas análises foram baseadas na teoria das pequenas deformações

considerando-se tensões residuais, cargas excêntricas e flambagem local.

No começo da década de 90, BURGESS et al. (1990) elaboraram um

procedimento numérico, que analisava seções transversais de vigas metálicas,

considerando que as propriedades térmicas e mecânicas do aço variavam com a

não-linearidade da temperatura ao longo da seção transversal. LIE & ALMAND

(1990) introduziram um estudo baseado no Método das Diferenças Finitas em

pilares metálicos, com proteção térmica, a fim de determinar sua resistência ao

fogo. Prosseguindo esse estudo, LIE & IRWIN (1993) ampliaram o modelo

matemático baseado no Método das Diferenças Finitas para que se pudesse

predizer a resistência ao fogo de pilares de concreto armado de seção retangular.

LIE (1994) adaptou e ampliou o mesmo modelo para verificar a resistência ao

fogo de pilares de seção circular mista preenchida com concreto armado. POH &

BENNETTS (1995a; 1995b) desenvolveram um método numérico para analisar o

comportamento mecânico de elementos estruturais como vigas e colunas sob altas

temperaturas. Esse método difere dos outros devido ao processo iterativo para

obter a solução do problema. Ele considerava às cargas nominais, grau de

restrição dos apoios, variação da temperatura ao longo da seção transversal e

comprimento, não-linearidades físicas e geométricas e permitia o uso de qualquer

tipo de seção transversal. SAKUMOTO et al. (1992; 1994), SAKUMOTO &

SAITO (1995), SAKUMOTO et al. (1996) e SAKUMOTO (1999), avaliaram o

comportamento mecânico de elementos estruturais isolados, como pilares e vigas,

constituídos de aço resistente ao fogo, inclusive o aço inoxidável, definidos

conforme a composição química e processo de fabricação. Verificou-se que os

aços resistentes ao fogo, analisados experimentalmente e numericamente,

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forneciam melhor desempenho estrutural sob incêndio quando comparados com o

aço estrutural convencional. WANG (1998) apresentou resultados experimentais e

numéricos propondo um novo modelo que tinha a finalidade de reduzir o custo da

proteção térmica em vigas mistas. É o que ele se referiu como vigas mistas

protegidas parcialmente, ou seja, vigas que possuem proteção térmica apenas na

mesa inferior e em uma pequena fração da alma do perfil metálico.

Ao final do século 20 e início do século 21, CLARET (2000) analisou

vigas mistas com proteção parcial em situação de incêndio por meio de um

programa baseado no Método dos Elementos Finitos, chamado VULCAN, onde

verificou que as vigas mistas tinham uma resistência ao incêndio-padrão da ordem

de 21 minutos quando sem proteção térmica, e de pelos uma hora quando

protegidas parcialmente. SILVA & CALMON (2000), CALMON et al (2000a;

2000b), desenvolveram um programa para análise térmica de estruturas em

situação de incêndio, baseado no Método dos Elementos Finitos, cuja

implementação computacional incorporava a técnica de programação orientada a

objetos. SPÍNDOLA & FAKURY (2002), baseados nos trabalhos desenvolvidos

por BAILEY & MOORE (2000a; 2000b), NEWMAN et al. (2000) e BAILEY

(2001), concluíram que, no dimensionamento de pisos de edifícios em situação de

incêndio, quando se considera o trabalho conjunto de vigas e laje, permite-se que

as vigas secundárias possam ficar sem proteção. Tal fato se deve a habilidade da

laje mista de suportar as ações das vigas secundárias que falham no incêndio e

transferi-las para as vigas principais ainda resistentes da estrutura do piso

(comportamento de membrana). WONG & GHOJEL (2003) analisaram as

formulações de transferência de calor em relação aos membros de aço protegidos

termicamente, o qual verificaram que para certos tipos de materiais isolantes, as

temperaturas calculadas através do Eurocódigo diferiam substancialmente

daquelas calculadas por meio de soluções exatas analíticas.

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2 SEGURANÇA CONTRA INCÊNDIO EM EDIFÍCIOS

2.1 INTRODUÇÃO

Os edifícios urbanos atuais, graças ao desenvolvimento tecnológico,

trazem consigo grandes riscos à ocorrência de incêndios que outrora não existiam.

Podemos citar, por exemplo, a incorporação acentuada de materiais combustíveis

trazidos ao interior do edifício e o número crescente de instalações e

equipamentos de serviço. Além disso, grandes áreas sem compartimentação e o

emprego de fachadas envidraçadas, aumentam as chances do incêndio torna-se

ainda mais destrutivo.

A ocorrência de um incêndio em uma edificação expõe seus usuários a

grande risco de vida e, em geral, causa grande perdas patrimoniais decorrentes da

destruição dos materiais construtivos e dos bens nela alojados. A segurança contra

incêndio surge como um importante aspecto a ser observado no projeto de

edifícios. Desta maneira, deve-se identificar quais os objetivos dessa segurança,

observar quais os requisitos funcionais que o edifício deve atender para a

consecução desses objetivos e, então, decidir sobre as medidas de prevenção e

combate ao fogo que serão tomadas. A resistência ao fogo das estruturas aparece

como uma dessas medidas de proteção contra o fogo, pois ela é uma forma de

precaução quanto a um possível colapso estrutural.

Materiais de construção como o aço e o concreto quando sujeitos a altas

temperaturas do incêndio apresentam variações em suas propriedades mecânicas e

térmicas, o que pode provocar a incapacidade do elemento estrutural de resistir às

ações aplicadas. O meio mais comum de proteger o membro estrutural quanto ao

aumento excessivo da temperatura é através da proteção passiva estrutural.

Este capítulo, portanto, tratará destes importantes aspectos que precisam

ser considerados no projeto de segurança contra incêndio dos edifícios urbanos,

principalmente, aqueles estruturados em aço.

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2.2 A CIÊNCIA DO FOGO

O fogo é conhecido da humanidade desde a pré-história. Há milhões de

anos atrás, foram encontrados vestígios em cavernas do uso do fogo pelo homem

primitivo. Nos dias de hoje, o fogo está presente tanto num simples acender de um

fósforo como também no processo de fabricação do aço nos altos-fornos das

usinas siderúrgicas.

Entretanto, o homem percebeu que o fogo poderia tornar-se uma ameaça

em potencial, ou seja, a partir do momento que ele fugisse de seu controle,

fatalmente perdas humanas e materiais viriam a acontecer. Chama-se incêndio, a

ocasião em que o fogo encontra-se generalizado, isto é, o fogo encontra-se fora de

controle e se alastra rapidamente com grande intensidade (FERREIRA, 1999).

Segundo GOMES (1998), fogo ou incêndio é o produto da combustão de

um material – que contém basicamente os elementos químicos Carbono,

Hidrogênio e Enxofre, provocada por uma fonte de calor (ou de ignição), que

ocorre na presença do oxigênio (comburente).

A combustão é uma reação química de oxidação bastante complexa,

envolvendo um processo de decomposição, ou degradação, do material pelo efeito

do calor. Esta decomposição é conhecida pelo nome de pirólise. A seguir, uma

breve descrição dos elementos que participam da reação química de combustão.

• Combustível – é toda substância susceptível à combustão, capaz de queimar

uma vez iniciada a reação. Pode ser sólida (madeira, algodão, papel, plástico),

líquida (gasolina, óleo diesel) e gasosa (magnésio, potássio, zinco);

• Comburente – são todos os elementos químicos capazes de alimentar o

processo de combustão, dentre os quais, o oxigênio se destaca como o mais

importante, por ser o comburente obtido de forma natural no ar atmosférico que

respiramos, o qual é composto por 78% de nitrogênio, 21% de oxigênio e 1% de

outros gases;

• Fontes de ignição – a reação química só ocorrerá inicialmente entre os dois

reagentes se houver um agente que promova a ignição (partida inicial) do

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processo de combustão. As fontes de ignição mais comuns são as superfícies

aquecidas, as agulhas, as centelhas e as chamas.

A pirólise tem início quando o material combustível entra em contato com

uma fonte de ignição. Em primeiro lugar é atacada a superfície do material, e há o

desprendimento vagaroso de gases e liberação de calor. Em seguida, após ser

alcançada a temperatura de ignição, que é um pouco superior à temperatura

ambiente, a pirólise passa a se desenvolver rapidamente, só que, absorvendo calor

também. A partir daí, o corpo começa a queimar integralmente e os gases

desprendidos também entram em processo de combustão. A combustão se

manterá caso o balanço de aproveitamento do calor seja positivo, ou seja, se mais

calor estiver sendo aproveitado pelo corpo do que perdido para o ambiente.

A Figura 2.1 mostra o triângulo do fogo que é uma forma simplificada de

representar o fenômeno físico-químico em questão.

Figura 2.1 – O triângulo do fogo.

O tetraedro do fogo, que é uma outra maneira didática de representar a

reação de combustão, complementa o triângulo do fogo com um outro elemento

de suma importância, a reação em cadeia. Como foi visto anteriormente, a

combustão é uma reação que se processa em cadeia, isto é, após a partida inicial

(ignição) é mantida pelo calor gerado durante o próprio processamento da reação.

A seguir, uma breve descrição dos principais produtos da combustão e

seus efeitos à vida humana. E na Figura 2.2, estão representados os principais

produtos da combustão associados ao triângulo do fogo.

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• Gases (CO2, SO2, HCL e outros gases tóxicos); • Transmissão de calor; • Chamas (provocam queimaduras na pele); • Fumaça (a maior causa de morte nos incêndios, pois prejudica a visibilidade dificultando a fuga e provoca também a asfixia).

Figura 2.2 – Principais produtos da combustão associados ao triângulo do fogo

(SHIRAISHI, 2002).

2.3 O INCÊNDIO EM UM AMBIENTE COMPARTIMENTADO

Tipicamente um incêndio em um edifício residencial, comercial, ou

institucional tem origem em um simples compartimento. Este compartimento

pode ser o quarto de uma casa, o escritório de um prédio comercial, ou a sala de

aula de um edifício institucional. Geralmente, ele é retangular em sua forma e

dispõe de uma razoável área construída. O compartimento também possui janelas

e portas que dão acesso aos ambientes internos e externos à edificação.

Conforme GEWAIN et al. (2003), a evolução do incêndio em um

compartimento é caracterizada por quatro fases: a fase inicial, ou incipiente, a fase

de crescimento, a fase do incêndio completamente desenvolvido, ou de

inflamação generalizada, e a fase de resfriamento, ou de extinção. A Figura 2.3

mostra a evolução típica do incêndio em um ambiente compartimentado.

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14

Figura 2.3 – Evolução do incêndio em um ambiente compartimentado.

A primeira fase corresponde ao estágio da ignição incipiente, onde existe a

possibilidade do aparecimento de um foco de incêndio através da interação entre

os materiais combustíveis e as fontes de ignição presentes no interior do edifício.

Uma vez que o material combustível está em contato com a fonte de ignição, é

iniciada a reação química de combustão.

Na fase de crescimento, em um primeiro momento, o incêndio está restrito

a um foco, representado pelo primeiro material ignizado. O ambiente sofrerá uma

elevação gradual da temperatura, e a fumaça e os gases quentes – que são

produtos da combustão, serão acumulados no teto. Uma vez mantida a combustão

e caso haja a oxigenação do compartimento através de comunicações (portas,

janelas, etc) com o interior e exterior, o fogo irá progredir intensamente, e através

de mecanismos de transmissão de calor, poderá ocorrer sua propagação para os

materiais combustíveis que estejam nas adjacências, provocando o surgimento de

novos focos de incêndio.

Caso o incêndio continue a crescer e alcance temperaturas suficientemente

altas – algo em torno de 600°C, ele poderá atingir o instante de inflamação

generalizada ou flashover, que representa a transição entre a fase de crescimento

do incêndio e a fase do incêndio completamente desenvolvido. A partir daí, a

temperatura e o calor são tão intensos dentro do compartimento que todas as

superfícies estarão queimando, liberando grande quantidade de fumaça e gases

quentes. O fogo, então, atingirá rapidamente sua máxima severidade.

Quando praticamente 70% do material combustível presente no

compartimento foi consumido, tem-se o início da fase do resfriamento do

incêndio.

flashover igniç ão

resfriamento incêndio completamentedesenvolvido

crescimento incipiente

temperatura

tempo

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2.4 RISCOS ASSOCIADOS AO INCÊNDIO COMPARTIMENTADO

Para MITIDIERI & IOSHIMOTO (1998), existem cinco categorias de

riscos associadas ao incêndio compartimentado. O risco de início de incêndio é

caracterizado quando existe a probabilidade de surgimento de um foco de

incêndio através da interação entre as fontes de ignição e os materiais

combustíveis trazidos ao interior do edifício, ou entre os materiais combustíveis

que fazem parte do sistema construtivo do edifício.

A possibilidade de o incêndio passar de sua fase inicial para o instante do

flashover, é que define o risco de crescimento do incêndio. Neste instante,

havendo a presença de comunicações internas entre os ambientes, o fogo se

alastrará rapidamente para os demais compartimentos, e com mais severidade do

que no compartimento de origem. Em caso de janelas ou aberturas existentes na

fachada do edifício, os gases quentes, fumaça e calor serão emitidos às edificações

vizinhas. A propagação do fogo do ambiente de origem para os demais ambientes

e edifícios adjacentes, caracteriza o risco de propagação do incêndio.

Uma vez que os produtos oriundos do incêndio (fumaça, chamas, gases

tóxicos e o calor) provocam lesões aos usuários do edifício e as pessoas que

participam do combate e controle do fogo, tem-se, então, o risco á vida humana.

O risco à propriedade está presente desde o instante do surgimento do

primeiro foco do incêndio até a sua possível propagação para os ambientes

internos e prédios vizinhos ao edifício.

2.5 O EDIFÍCIO SEGURO

Para que um edifício seja seguro contra incêndio, é preciso saber quais os

objetivos dessa segurança e que estratégias deverão ser tomadas. As ações

adotadas para se alcançar um nível de segurança adequado em um edifício

correspondem àquelas requeridas pelo sistema global de segurança contra

incêndio, que é particular a cada edifício.

Considerando-se que a segurança está relacionada à probabilidade de

ocorrência dos riscos associados ao incêndio, um edifício poderá ser considerado

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seguro contra incêndio, quando for concebido de modo a atender a certos

requisitos funcionais que visam minimizar, principalmente, os riscos à vida

humana e à propriedade. Os requisitos funcionais que visam garantir níveis

adequados de segurança contra incêndios em edifícios são (BERTO, 1991):

a) “precaução contra o início do incêndio;

b) limitação do crescimento do incêndio;

c) extinção inicial do incêndio;

d) limitação da propagação do incêndio;

e) evacuação segura do edifício;

f) precaução contra a propagação do incêndio entre edifícios;

g) precaução contra o colapso estrutural;

h) rapidez, eficiência e segurança das operações relativas ao combate e resgate”.

Definidos os requisitos funcionais, que são particularmente os objetivos da

segurança contra incêndio no que concerne à proteção à vida e à propriedade, é

preciso planejar ações com vista à consecução desses objetivos. Estas ações são

traduzidas em um conjunto de meios ativos e passivos de proteção contra o fogo.

A NBR 14432 classifica os meios ativos como aqueles que reagem

ativamente em resposta aos estímulos provocados pelo fogo. É composto

basicamente pelas instalações prediais de proteção contra incêndio como os

sistemas de alarme contra o calor ou chamas, chuveiros automáticos ou sprinklers,

brigada contra incêndio, corpo de bombeiros, entre outros.

Ainda segundo esta norma, os meios passivos são aqueles incorporados ao

sistema construtivo do edifício cujo intuito é assegurar a estabilidade estrutural e

não estabelecer condições propícias ao crescimento e propagação do fogo,

reagindo passivamente ao desenvolvimento do incêndio. É o caso, por exemplo,

das saídas de emergências, resistência ao fogo dos elementos estruturais, paredes

corta-fogo e a compartimentação.

Vale ressaltar que tão importante quanto os meios de proteção contra o

fogo já instalado no edifício, é a prevenção, ou seja, seriam aquelas medidas

destinadas a prevenir a ocorrência do início de incêndio.

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A Tabela 2.1 identifica as principais medidas de prevenção e combate ao

fogo relativas aos requisitos funcionais do sistema global de segurança contra

incêndio.

Tabela 2.1 – Medidas de proteção contra incêndio: aspectos fundamentais a serem considerados no projeto arquitetônicos de edifícios (BERTO, 1991).

Elementos

Principais medidas de prevenção e combate ao fogo

Precaução contra o início

do incêndio

- conscientização do usuário à prevenção do incêndio - distanciamento entre as fontes de calor e os materiais combustíveis - correto dimensionamento e execução de instalações de serviço - manutenção preventiva e corretiva de instalações de serviço

Limitação do crescimento do incêndio

-controle da quantidade de materiais combustíveis incorporados aos elementos construtivos e os trazidos ao interior do edifício -controle das características de reação ao fogo materiais que serão incorporados aos elementos construtivos

Extinção inicial do incêndio

- provisão de equipamentos portáteis de combate, hidrantes e mangotinhos, chuveiros automáticos, alarmes, sinalização de emergência - elaboração de planos e treinamento dos usuários para efetuar o combate inicial ao incêndio

Evacuação segura do edifício

- provisão de rotas de fugas seguras, sinalização de emergência, iluminação de emergência, sistema de comunicação de emergência - manutenção preventiva e corretiva dos equipamentos destinados a garantir a evacuação seguro do edifício

Limitação da propagação do

incêndio

- compartimentação vertical e horizontal - manutenção preventiva e corretiva dos equipamentos destinados a compor a compartimentação vertical e horizontal

Precaução contra a

propagação do incêndio entre

edifícios

- distanciamento seguro entre edifícios - controle das características de reação ao fogo dos materiais incorporados aos elementos construtivos (na fachada do edifício) - controle da disposição de materiais combustíveis nas proximidades das fachadas do edifício

Precaução contra o colapso

estrutural

- resistência ao fogo dos elementos estruturais - resistência ao fogo da fachada do edifício

Rapidez, eficiência e

segurança das operações de

combate e resgate

- provisão de meios de acesso aos equipamentos de combate às proximidades do edifício - provisão de equipamentos portáteis de combate - provisão de meios de acesso seguros da brigada ao interior do edifício - provisão de sistema de controle de movimento da fumaça - manutenção preventiva e corretiva dos equipamentos destinados ao combate e disposição na entrada do edifício de informações úteis

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2.6 RESISTÊNCIA AO FOGO DOS ELEMENTOS ESTRUTURAIS

A precaução contra o colapso estrutural é uma das medidas de proteção

que têm por objetivo garantir níveis adequados de segurança contra incêndio em

edifícios (Tabela 2.1). E a resistência ao fogo dos materiais construtivos é um dos

meios passivos de proteção contra incêndio apropriado para este fim.

A NBR 14432 define resistência ao fogo, como a capacidade de um

elemento estrutural de resistir à ação do fogo por um determinado período de

tempo, mantendo sua integridade estrutural. Conceito análogo é mencionado na

NBR 14323, isto é, ela recomenda que os elementos estruturais e suas ligações,

com ou sem proteção contra incêndio, sejam estáveis e resistentes aos esforços

solicitantes em temperatura elevada, a fim de evitar o colapso da estrutura em um

tempo inferior ao previsto pela NBR 14432.

Ainda segundo a NBR 14323, o dimensionamento de um membro

estrutural em situação de incêndio pode ser feito através de ensaios ou por meio

de métodos analíticos de cálculo ou ainda por uma combinação de ensaios e

métodos analíticos.

No dimensionamento por meio de ensaios a resistência ao fogo das

estruturas com ou sem proteção contra incêndio, pode ser determinada através de

resultados de ensaios realizados em laboratório nacional ou estrangeiro, de acordo

com a NBR 5628 (1980) ou qualquer outra norma de especificação nacional ou

estrangeira.

No dimensionamento por meio de métodos analíticos de cálculo pode ser

usado o método simplificado ou o método avançado de dimensionamento. O

primeiro caso será discutido mais adiante neste trabalho. Já o último caso, deve

proporcionar uma análise realística da estrutura e do cenário do incêndio, a fim de

levar a uma aproximação confiável do comportamento dos componentes da

estrutura em situação de incêndio.

A análise térmica deve ser baseada em princípios reconhecidos e hipóteses

da teoria de transferência de calor, e deve considerar a variação das propriedades

térmicas dos materiais com a temperatura conforme bibliografia especializada.

A análise estrutural deve ser baseada em princípios reconhecidos e

hipóteses da mecânica dos sólidos, e quando relevante devem ser considerados os

efeitos das tensões e deformações induzidas termicamente, variações das

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propriedades do material em função da temperatura, imperfeições geométricas e

as não-linearidades físicas e geométricas.

2.7 PROPRIEDADES DOS MATERIAIS

No dimensionamento por meio de métodos analíticos é preciso levar em

consideração as propriedades físicas do aço e do concreto sob altas temperaturas,

pois a exemplo de outros materiais, debilitam-se progressivamente com o aumento

da temperatura. Conseqüentemente, pode ocorrer o colapso de um elemento

estrutural como resultado de sua incapacidade de resistir às ações aplicadas. Em

decorrência deste fato, as propriedades mecânicas (resistência mecânica e massa

específica) e térmicas (condutividade térmica e calor específico) sofrem alterações

em função da temperatura que o material construtivo poderá alcançar no

compartimento em chamas.

2.7.1 PROPRIEDADES MECÂNICAS

Nas aplicações estruturais, uma característica importante, no que concerne

ao dimensionamento das estruturas, é o diagrama tensão-deformação do material,

visto que, a partir do diagrama é possível determinar a capacidade resistente do

membro estrutural, seja na hipótese elástica ou plástica (NBR 8800, 1986).

Segundo PFEIL (2000), no caso do aço estrutural, temperaturas superiores

a 100°C reduzem sua resistência ao escoamento fy e ruptura fu, bem como seu

módulo de elasticidade E, e também tendem a eliminar o patamar de escoamento

bem definido, tornando o diagrama tensão-deformação arredondado.

Adiante, a Figura 2.4 mostra a redução do limite de escoamento, em

função da temperatura, para um aço-carbono típico que possui resistência ao

escoamento de 275 N/mm2 a temperatura ambiente (20°C).

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Figura 2.4 – Diagrama tensão-deformação de um aço-carbono típico sob altas

temperaturas (COSTA, 2001).

A Tabela 2.2 fornece os fatores de redução, relativos aos valores a 20°C,

para o limite de escoamento e módulo de elasticidade dos aços estruturais,

normalmente utilizados na prática (laminados à quente), conforme a NBR 14323.

Tabela 2.2 – Fatores de redução para o limite de escoamento e módulo de elasticidade do aço estrutural.

Temperatura

do aço estrutural

θa (°C)

Fator de redução para o

limite de escoamento

Ky,θ

Fator de redução para o

módulo de elasticidade

KE,θ

20 1.000 1.0000

100 1.000 1.0000

200 1.000 0.9000

300 1.000 0.8000

400 1.000 0.7000

500 0.780 0.6000

600 0.470 0.3100

700 0.230 0.1300

800 0.110 0.0900

900 0.060 0.0675

1000 0.040 0.0450

1100 0.020 0.0225

1200 0.000 0.0000

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21

EEK

ffK

E

yyy

θθ

θθ

=

=

,

,,

Onde:

(2.1)

(2.2)

Sendo:

fy,θ o limite de escoamento do aço a uma determinada temperatura θa (°C); fy o limite de escoamento do aço a temperatura ambiente (20°C); Eθ o módulo de elasticidade do aço a uma determinada temperatura θa (°C); E o módulo de elasticidade do aço a temperatura ambiente (20°C).

No concreto, quando este é aquecido, a água livre em seu interior se

vaporiza a partir de 150°C e exerce uma pressão de dentro para fora, o que pode

provocar o lascamento, ou spalling, de suas camadas superficiais. Isto causa a

retração da pasta de cimento hidratada gerando tensões internas, pois o agregado e

o aço estão sujeitos a expansão térmica. A partir daí, o concreto encontra-se

fissurado perdendo resistência e rigidez (RIGBERTH, 2000).

O módulo de elasticidade do concreto normal sob altas temperaturas pode

ser determinado da seguinte maneira (NBR 14323):

ckccc fkE ⋅⋅⋅= θθ ρ ,5.1

, 42 (2.3)

onde ρc é a massa específica do concreto normal em quilonewton por metro

cúbico. Na expressão anterior, o fck deverá ser dado em megapascal, fazendo com

que o Ec,θ seja fornecido também em megapascal.

A Tabela 2.3, a seguir, fornece o fator de redução da resistência

característica à compressão do concreto de densidade normal, relativa à

temperatura de 20°C, conforme a NBR 14323.

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Tabela 2.3 – Fator de redução da resistência característica à compressão para o

concreto de densidade normal. Temperatura

do

concreto normal

θc (°C)

Fator de redução para

resistência característica à

compressão do concreto

Kc,θ

20 1.000

100 0.950

200 0.900

300 0.850

400 0.750

500 0.600

600 0.450

700 0.300

800 0.150

900 0.080

1000 0.040

1100 0.010

1200 0.000

Onde:

ckckc ffK θθ ,, = (2.4)

Sendo:

fck,θ a resistência característica à compressão do concreto a temperatura θc (°C);

fck a resistência característica à compressão do concreto a 20°C.

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Segundo a NBR 14323, a massa específica, que é uma outra propriedade

mecânica do material, pode ser considerada independente da temperatura, e vale

para o aço:

ρa = 7850 kg/m3 (2.5)

E para o concreto normal:

ρc = 2400 kg/m3 (2.6)

2.7.2 PROPRIEDADES TÉRMICAS

Condutividade térmica é um parâmetro que indica a rapidez com que o

calor é conduzido no interior de um dado material. Para o aço, a NBR 14323

estabelece a dependência da condutividade térmica em relação à temperatura

(Figura 2.5).

0 200 400 600 800 1000 12000

10

20

30

40

50

temperatura (°C)

cond

utiv

idad

e té

rmic

a (W

/m.°C

)

Figura 2.5 – Condutividade térmica do aço em função da temperatura.

Assim, a condutividade térmica do aço, λa, em Watt por metro e por graus

Celsius, pode ser determinada da seguinte maneira:

- para 20°C ≤ θa < 800°C

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aa θλ ⋅⋅−= −21033.354

- para 800°C ≤ θa ≤ 1200°C

3.27=aλ (2.7)

onde θa é a temperatura do aço em graus Celsius.

O projeto de revisão da NBR 14323 (NBR 14323, 200X) estabelece que a

condutividade térmica do concreto normal também é dependente da temperatura

(Figura 2.6). Assim, a condutividade térmica do concreto normal, λc, em Watt por

metro e por grau Celsius, pode ser determinada da seguinte forma:

- para 20°C ≤ θc ≤ 1200°C

2

120012.0

12024.02

⋅+⋅−= cc

cθθ

λ (2.8)

onde θc é a temperatura do concreto em grau Celsius.

0 200 400 600 800 1000 12000

0.5

1

1.5

2

temperatura (°C)

cond

utiv

idad

e té

rmic

a (W

/m.°C

)

Figura 2.6 – Condutividade térmica do concreto normal em função da

temperatura.

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Calor Específico é a quantidade de calor necessária para elevar de 1°C

uma unidade de massa de um dado material. A NBR 14323 estabelece a

dependência do calor específico em relação à temperatura (Figura 2.7). O calor

específico do aço, ca, em Joule por kilograma e por grau Celsius, pode ser

determinado da seguinte maneira:

- para 20°C ≤ θa < 600°C 36231 1022.21069.11073.7425 aaaac θθθ ⋅⋅+⋅⋅−⋅⋅+= −−−

- para 600°C ≤ θa < 735°C

aac

θ−+=

73813002666

- para 735°C ≤ θa < 900°C

73117820545

−+=

aac

θ

- para 900°C ≤ θa < 1200°C

Cca °= 650 (2.9)

0 200 400 600 800 1000 12000

1000

2000

3000

4000

5000

temperatura (°C)

calo

r esp

ecífi

co (J

/kg.

°C)

Figura 2.7 – Calor específico do aço em função da temperatura.

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A NBR 14323 (200X) estabelece que o calor específico do concreto

normal também é dependente da temperatura (Figura 2.8). Assim, o calor

específico do concreto normal, cc, em joule por kilograma e por grau Celsius,

pode ser determinado da seguinte forma:

- para 20°C ≤ θc ≤ 1200°C

2

1204

12080900

⋅−⋅+= cc

ccθθ

(2.10)

0 200 400 600 800 1000 1200400

600

800

1000

1200

1400

temperatura (°C)

calo

r esp

ecífi

co (J

/kg.

°C)

Figura 2.8 – Calor específico do concreto normal em função da temperatura.

A umidade causa um pico na curva da figura acima entre 100 e 200°C,

devido à vaporização da água contida no interior do concreto. Então, caso se

pretenda levar em conta este efeito, a NBR 14323 (200X) recomenda os seguintes

valores de pico em função da umidade do concreto:

( )Ckg

Jcc

°

=.2750

1875* para umidade

%4%2

do peso do concreto (2.11)

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2.8 PROTEÇÃO PASSIVA CONTRA INCÊNDIO

A solução mais freqüentemente usada para evitar o aumento excessivo da

temperatura nos elementos estruturais de aço em situação de incêndio, é o

emprego dos materiais isolantes térmicos. Segundo FAKURY (1999), esses

materiais utilizados como meios de proteção passiva contra incêndio, devem:

• ser bons isolantes térmicos sob temperaturas elevadas, para assegurar a

diminuição do acesso do calor ao aço;

• manter-se íntegros durante a evolução do incêndio, sem apresentar fissuras.

Quanto à morfologia, os revestimentos podem ser classificados em tipo

contorno ou tipo caixa. A Figura 2.9 ilustra, para o caso da viga mista, estes dois

tipos de revestimentos. E quanto ao material constituinte, podemos ter:

• Proteções clássicas;

• Argamassas projetadas;

• Materiais pré-fabricados;

• Tintas intumescentes.

(a) (b)

Figura 2.9 – Revestimentos típicos de vigas mistas: (a) Tipo contorno; (b) Tipo caixa.

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2.8.1 PROTEÇÕES CLÁSSICAS

Inicialmente, a proteção das estruturas de aço era feita através de materiais

já usados na construção civil e de técnica simples, como a execução de alvenarias

contornando os pilares ou o enclausuramento (envolvimento) de vigas e pilares

em concreto. A Figura 2.10 demonstra um desses sistemas tradicionais de

proteção térmica.

Figura 2.10 – Enclausuramento em concreto dos pilares de aço

[ref. http://www.corusconstruction.com/legacy/fire/images/fireres_section4.pdf].

2.8.2 ARGAMASSAS PROJETADAS

São argamassas constituídas basicamente por agregados e aglomerantes,

aplicadas por jateamento direto sobre a superfície do aço. O resultado da aplicação

é uma superfície rugosa, de acabamento rústico semelhante a um chapisco grosso,

mais apropriada para elementos acima de forros ou ambientes menos exigentes.

Devem trabalhar monoliticamente com a estrutura, acompanhando seus

movimentos, sem ocorrência de fissuras ou desprendimento.

A seguir, uma breve descrição de algumas argamassas projetadas

encontradas no mercado brasileiro.

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• Argamassa projetada “cimentitious” – é um produto com alto conteúdo de

aglomerantes, constituído basicamente de gesso (aproximadamente 80%), cimento

Portland (aproximadamente 2%), resinas acrílicas e materiais inertes, como

poliestireno expandido e celulose;

• Fibra projetada – é constituída por agregados, fibras minerais e aglomerantes.

Basicamente, as fibras são obtidas a partir de escória de alto-forno ou de rochas

basálticas;

• Argamassa à base de vermiculita – é uma argamassa de agregado leve à base

de vermiculita, que pertence ao grupo dos minerais micáceos, que são silicatos

hidratados de composição variada, originados da alteração das micas, com ponto

de fusão em torno de 1370°C. Pode ser aplicada por jateamento ou por processos

manuais com o uso de espátulas.

(a) (b)

Figura 2.11 – Argamassa projetada: (a) Ambiente revestido pela argamassa; (b) Esquema da aplicação por jateamento direto

[ref. http://www.wallcolor.com.br].

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30

2.8.3 MATERIAIS PRÉ-FABRICADOS

São elementos rígidos ou flexíveis, geralmente compostos de materiais

fibrosos ou vermiculita ou gesso ou combinação desses materiais, fixados à

estrutura metálica por meio de pinos ou perfis leves de aço. O painel é mantido,

geralmente, visível em estruturas, proporcionando diversas possibilidades de

acabamento.

A seguir, uma breve descrição de elementos pré-fabricados encontrados no

mercado brasileiro.

• Placas de gesso acartonado – são elementos rígidos, constituídos de fibra de

vidro, e, em alguns casos, de vermiculita;

• Placas de lã de rocha – são elementos rígidos, cuja matéria-prima básica

utilizada na confecção dessas placas é o basalto;

• Mantas – são elementos flexíveis, constituídos de fibras cerâmicas ou lã de

rocha ou qualquer outro material fibroso.

(a) (b)

Figura 2.12 – Materiais pré-fabricados: (a) Manta de fibra cerâmica [ref. http://www.corusconstruction.com/legacy/fire/images/fireres_section4.pdf ];

(b) Esquema da fixação das placas [ref. http://www.rockfibras.com.br].

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31

2.8.4 TINTAS INTUMESCENTES

São tintas especiais constituídas por polímeros com pigmentos

intumescentes, cuja película fina a partir de 200°C, intumesce (aumenta de

volume), formando uma espuma rígida que protege eficientemente o aço contra o

fogo, como pode ser observado na Figura 2.13.

Figura 2.13 – Formação da espuma rígida nas tintas intumescentes

[ref. http://www.wallcolor.com.br].

O sistema intumescente é constituído basicamente pelo primer epoxídico,

de alto desempenho, pela pintura intumescente, que oferece a característica

intumescente, e pela tinta de acabamento, que proporciona efeito decorativo na

cor especificada pelo usuário.

É aplicado na superfície do aço por meio de pincel, rolo ou spray. A

superfície do aço deve estar devidamente livre de substâncias estranhas, como

carepas de laminação e ferrugens. O sistema intumescente oferece uma aparência

estética final muito boa, e pode ser utilizado nos ambientes mais exigentes. A

Figura 2.14 apresenta dois exemplos de edifícios urbanos revestidos pelo sistema

intumescente.

Figura 2.14 – Exemplos de dois edifícios urbanos revestidos pelo sistema intumescente [ref. http://www.wallcolor.com.br].

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3 O MÉTODO SIMPLIFICADO DE DIMENSIONAMENTO DE VIGAS MISTAS AÇO-CONCRETO

3.1 INTRODUÇÃO

O capítulo anterior tratou de alguns aspectos importantes sobre prédios

estruturados em aço quando em situação de incêndio. Foi visto que a resistência

ao fogo dos elementos estruturais era um dos meios passivos de proteção contra

incêndio que deveria ser levado em conta no projeto de edifícios. E tal como

discutido, o método simplificado de cálculo era uma das alternativas disponíveis

para se obter a resistência ao fogo de um elemento estrutural.

Este capítulo tratará do dimensionamento de vigas mistas aço-concreto em

situação de incêndio pelo método simplificado de cálculo proposto pela norma

NBR 14323. Em primeiro lugar, será observado qual é o procedimento geral de

cálculo utilizado para se determinar à capacidade resistente da estrutura em

situação de incêndio. A partir daí, será desenvolvido o modelo representativo do

incêndio, que corresponde à idealização do cenário do incêndio, depois o modelo

de análise térmica, que corresponde à etapa da transferência de calor entre os

gases quentes e a estrutura, e, por fim, será desenvolvido o modelo de análise

estrutural (resistência à flexão das vigas mistas simplesmente apoiadas). No final

do capítulo, também será verificada as condições de segurança que o elemento

estrutural deve atender quando em situação de incêndio.

3.2 CAPACIDADE RESISTENTE

O processo de cálculo da capacidade resistente em situação de incêndio de

um membro estrutural genérico é mostrado no fluxograma da Figura 3.1 e consiste

em três componentes básicos:

• Modelo do incêndio;

• Análise térmica;

• Análise estrutural.

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33

Figura 3.1 – Fluxograma para o cálculo da capacidade resistente de uma

estrutura exposta ao incêndio compartimentado.

O modelo do incêndio tenta reproduzir o cenário do incêndio por meio de

curvas temperatura-tempo, tal como descrito na seção 2.3. Para LU &

MAKELAINEN (2003), quando se trata da resistência ao fogo das estruturas, a

fase de pré-flashover é geralmente negligenciada, muito embora, seja um estágio

crítico para vida humana, pois há liberação de gases tóxicos e a temperatura no

compartimento pode alcançar 100°C ou mais. Em termos de análise estrutural, a

fase mais significativa é a do pós-flashover, que corresponde ao pior estágio da

evolução do incêndio no compartimento, pois o incêndio encontra-se totalmente

desenvolvido.

A análise térmica corresponde à etapa da transferência de calor entre os

gases quentes do incêndio e o membro estrutural. A estrutura absorve calor e sofre

uma elevação de temperatura. Entretanto, a taxa com que o calor é absorvido pela

estrutura depende de sua geometria (fator de massividade) e propriedades

térmicas.

A análise estrutural procura determinar a capacidade resistente da estrutura

em função da temperatura alcançada pelo membro estrutural. O esforço resistente

(momento fletor, esforço normal, etc) é calculado de acordo com o estado limite

último considerado em situação de incêndio. Nesta etapa, é preciso levar em

consideração a redução da resistência e da rigidez da estrutura em virtude da

degeneração das propriedades mecânicas sob altas temperaturas de seus materiais

constituintes.

Análise térmica

Análise estrutural

Modelo do incêndio

Capacidade resistente

Cenário do

incêndio

Exposição aos gases quentes do incêndio

Transferência de calor

Propriedades térmicas

Propriedades mecânicas

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34

3.3 MODELO REPRESENTATIVO DO INCÊNDIO

3.3.1 INCÊNDIO-PADRÃO

Foi visto que o objetivo do modelo de incêndio é reproduzir o cenário do

incêndio, determinando a evolução da temperatura do ar (gases quentes) no

compartimento em chamas. E uma das formas de fazê-lo, é por meio das

chamadas curvas temperatura-tempo do incêndio. Chamam-se curvas nominais

de temperatura-tempo, o conjunto de curvas que têm o propósito de tornar

reproduzíveis os ensaios de resistência ao fogo, em fornos laboratoriais, dos

elementos estruturais. E o incêndio-padrão representa uma dessas curvas

nominais.

Um exemplo típico de um ensaio padronizado em elementos estruturais é o

tradicionalmente usado no Reino Unido e Europa. Segundo ROBINSON (2001),

vigas isoladas e simplesmente apoiadas são testadas em fornos de laboratórios

respeitando-se a curva temperatura-tempo do incêndio-padrão prevista na norma

ISO 834 (1994). A resistência ao fogo é alcançada normalmente entre 15 e 25

minutos do ensaio, pois é quando a flecha no centro da viga ultrapassa o valor

limite de L/30, sendo L o vão do membro estrutural. Nestas condições, a

temperatura da viga encontra-se entre 550 e 700°C, sendo considerada,

convencionalmente, no meio técnico, como a “temperatura crítica” do ensaio

padronizado para as vigas simplesmente apoiadas sem material de proteção

térmica.

A International Organization for Standartization por meio da norma ISO

834, como também a NBR 14432, recomenda o uso da seguinte expressão para

determinação da curva temperatura-tempo do incêndio-padrão:

( )18log3450 +⋅⋅+= tθθg (3.1)

sendo θ g a temperatura dos gases no ambiente em chamas (°C), θ 0 a temperatura

dos gases no instante t = 0, geralmente admitida 20°C, e t é o tempo em minutos.

A seguir, a Figura 3.2 mostra a representação gráfica da curva do incêndio-padrão.

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35

0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 110 1200

100

200

300

400

500

600

700

800

900

1000

1100

tempo [min]

tem

prat

ura[

°C]

1100

0

θ NBR t( )

1200 t

Figura 3.2 – Curva temperatura-tempo do incêndio-padrão.

A característica principal desta curva é a de possuir apenas um ramo

ascendente, admitindo-se que a temperatura dos gases seja sempre crescente com

o tempo. É importante salientar que o incêndio-padrão não representa um incêndio

real, todavia, por simplicidade, é comum utilizar-se à curva-padrão no meio

técnico com a finalidade de fornecer parâmetros de projeto.

A Figura 3.3 confronta a curva padronizada com a de um incêndio real.

Como pode ser observado, o incêndio na curva-padrão é modelado a partir do

instante de flashover.

Figura 3.3 – Incêndio real x incêndio-padrão (VARGAS & SILVA, 2003).

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3.3.2 TEMPO REQUERIDO DE RESISTÊNCIA AO FOGO (TRRF)

É corrente em códigos e normas nacionais e estrangeiras exigir-se que a

resistência ao fogo das estruturas seja determinada em função de um determinado

instante de tempo associado à curva-padrão. Esse tempo, segundo a NBR 14432, é

o Tempo Requerido de Resistência ao Fogo (TRRF), ou seja, é o tempo mínimo

que um elemento construtivo deve resistir ao fogo quando sujeito ao incêndio-

padrão. Ele é determinado por meio de métodos padronizados em normas e

regulamentos, função da dimensão e do tipo de utilização do edifício.

O método padronizado, conhecido como Método Tabular, é o

recomendado pela NBR 14432, o qual é obtido de forma empírica, sem caráter

científico, baseado na experiência de profissionais envolvidos no combate e

prevenção ao fogo. A Tabela 3.1 apresenta um pequeno resumo das

recomendações exigidas pela respectiva norma brasileira para determinação do

TRRF em função da ocupação e utilização da edificação.

Tabela 3.1 – TRRF (min) segundo o Método Tabular (VARGAS & SILVA, 2003).

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3.4 MÉTODO SIMPLIFICADO DE ANÁLISE TÉRMICA

Este método é aplicável aos elementos estruturais de aço sem e com

material de proteção térmica, situados no interior da edificação, totalmente

imersos no compartimento em chamas, considerando-se fluxo de calor

unidimensional e distribuição de temperatura uniforme no membro estrutural.

Estruturas pertencentes aos elementos de vedação do compartimento em chamas

ou as estruturas externas à edificação, a favor da segurança, também poderão ser

calculadas por este método.

3.4.1 FATOR DE MASSIVIDADE

O aumento da temperatura no elemento estrutural em situação de incêndio

é proporcional ao seu fator de massividade, que é definido pela relação entre a

área exposta ao fogo e o volume aquecido da peça aço. Para barras prismáticas, o

fator de massividade pode ser expresso da seguinte maneira (NBR 14323):

AuF = (3.2)

Onde:

u é o perímetro exposto ao fogo do elemento estrutural;

A é a área da seção transversal do elemento estrutural.

Se o perfil de aço for protegido por material isolante térmico, o perímetro

exposto ao fogo passa a ser um, que representa o perímetro efetivo do material

isolante exposto ao fogo.

O fator de massividade, também chamado fator de forma da seção, pode

ser interpretado como um índice que avalia a velocidade de aquecimento de um

elemento estrutural quando exposto ao fogo. Isto significa que para perfis de

mesma área ou massa específica linear (kg/m), aquele com menor perímetro

exposto ao fogo, irá aquecer-se mais lentamente do que os demais. Analogamente,

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entre os perfis com mesmo perímetro exposto ao fogo, aquele com maior área ou

massa (kg/m), irá aquecer-se mais lentamente que os outros. A Tabela 3.2

demonstra o fator de massividade para o caso específico da viga mista sem e com

material de proteção térmica, conforme a NBR 14323.

Tabela 3.2 – Fator de massividade para vigas mistas. Situação Descrição Fator de massividade

Seção aberta

exposta ao incêndio por

três lados sem material

de proteção passiva

ltransversaseçãodaáreafogoaoexpostoperímetro

Seção com proteção

do tipo contorno,

de espessura uniforme

exposta ao incêndio por

três lados

açodepeçadaáreabaçodoperímetro −

Seção com proteção

do tipo caixa, de

espessura uniforme

exposta ao incêndio por

três lados

açodepeçadaárea2cbc2d 21 +++

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39

3.4.2 ELEMENTOS ESTRUTURAIS SEM PROTEÇÃO TÉRMICA

A diferença de temperatura entre os gases quentes do incêndio e o perfil de

aço gera um fluxo de calor que, por convecção e radiação, é transferido à estrutura

(ação térmica) provocando um aumento progressivo de temperatura.

A elevação de temperatura ∆θa, ao longo do tempo de exposição ao

incêndio, pode ser determinada através do balanço energético envolvendo o calor

emitido pelo fogo e o calor absorvido pela peça de aço como mostra a Figura 3.4.

Aqui, de modo simpificado, a condução não é levada em conta, pois a temperatura

é considerada uniforme na seção transversal do elemento estrutural.

Figura 3.4 – Balanço energético na peça de aço sem proteção térmica.

A energia que chega à peça de aço, Ee, é decorrente dos mecanismos de

transmissão de calor de convecção e radiação. A convecção é um importante fator

no transporte ascendente de fumaça e gases quentes ao teto do compartimento em

chamas e também para fora deste através de comunicações internas e externas.

A parcela de energia, ou taxa de transferência calor, devida à convecção

pode ser obtida da seguinte maneira (ver seção 4.2.2):

aconvconv Aqq" ⋅= (3.3)

onde Aa é a área exposta ao fogo do material sem proteção térmica, e qconv é o

fluxo de calor por convecção (W/m2), isto é:

Ee

Eac

θg

θa

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( )agcconv θθhq −⋅= (3.4)

onde hc é o coeficiente de transferência de calor por convecção (W/m2.°C), θg é a

temperatura (°C) dos gases quentes do incêndio (expressão 3.1), e θa é a

temperatura (°C) do aço exposto ao fogo.

A radiação é o principal mecanismo de transmissão de calor das chamas

aos materiais combustíveis, dos gases quentes aos materiais construtivos e de um

edifício em chamas a um outro circunvizinho. A parcela de energia, ou taxa de

transferência calor, devida à radiação pode ser obtida da seguinte maneira (ver

seção 4.2.3):

aradrad Aqq" ⋅= (3.5)

O fluxo de calor por radiação, qrad, em Watt por metro quadrado, pode ser

calculado como:

( ) ( )[ ]44 273273 +−+⋅⋅= agresrad θθεσq (3.6)

onde εres é a emissividade resultante entre os gases quentes e a peça de aço, e σ é a

constante de Stefan-Boltzmann e vale 5,67.10-8 W/m2.K4.

Por outro lado, a energia que é absorvida (acumulada) pela peça de aço,

Eac, pode ser calculada da seguinte maneira (ver seção 4.2.4):

t∆∆θcρVE aaaac ⋅⋅⋅= (3.7)

onde V é o volume aquecido, ρa é a massa específica e ca é o calor específico do

elemento estrutural de aço.

Do balanço energético mostrado na Figura 3.4, chega-se a seguinte

expressão:

( ) t∆∆θcρVAqq aaaaradconv ⋅⋅⋅=⋅+ (3.8)

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41

Definindo aqui, o fator de massividade como VAF a= , a elevação

uniforme de temperatura na peça de aço ∆θa , é obtida da seguinte maneira a partir

da expressão 3.8:

( ) t∆qqρc

F∆θ radconvaa

a ⋅+⋅⋅

= (3.9)

A expressão 3.9 corresponde à da NBR 14323, onde hc é igual a 25

W/m2.°C, εres é igual a 0.5, e ∆t é o intervalo de tempo em segundo, e não pode

ser tomado maior que 25000/F e preferencialmente menor ou igual a 5 segundos.

A Tabela 3.3 demonstra a aplicação da expressão anterior para os

primeiros 10 minutos de exposição ao fogo. Neste exemplo, foi utilizado um perfil

de aço com fator de massividade igual a 149 m-1, que tinha as seguintes

propriedades térmicas: ρa = 7850 kg/m3, ca = 600 J/kg.°C. O intervalo de tempo

adotado foi de 120 s.

Tabela 3.3 – Aquecimento no perfil de aço, sem proteção térmica, durante os primeiros 10 minutos de exposição ao fogo.

Tempo

(s)

θg

(°C)

qconv

(W/m2)

qrad

(W/m2)

∆θa

(°C)

θa

(°C)

0 20 0 0 0 20

120 445 10613 7305 68 88

240 544 11397 12143 89 177

360 603 10644 15537 99 277

480 645 9217 17584 102 379

600 678 7498 18123 97 476

3.4.3 ELEMENTOS ESTRUTURAIS COM PROTEÇÃO TÉRMICA

Nos elementos estruturais protegidos, o calor que é transferido à peça de

aço depende fundamentalmente das propriedades do material de proteção contra

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incêndio, como a condutividade térmica, calor específico, massa específica e

também da espessura do revestimento.

Assim, a elevação da temperatura ∆θa, ao longo do tempo de exposição ao

incêndio, pode ser determinada através do balanço energético envolvendo o calor

conduzido através do material isolante e o calor absorvido pela peça de aço e pelo

material de proteção térmica como mostra a Figura 3.5. Aqui, o fluxo de calor por

convecção e radiação não é levado em conta, pois se admite que a temperatura na

superfície externa do material de proteção é igual a dos gases quentes do incêndio.

Figura 3.5 – Balanço energético na peça de aço com proteção térmica.

O calor conduzido através do material, Ec,m, pode ser determinado da

seguinte maneira (ver seção 4.2.1):

( ) ( )m

am,extmm

mmmmc t

θθAλ

∆x∆θAλE

−⋅⋅=⋅⋅=, (3.10)

onde λm é a condutividade térmica, tm é a espessura, Am é a área exposta ao fogo,

∆θm é a variação de temperatura (°C) e θm,ext é a temperatura (°C) na face exposta

ao fogo do material de proteção térmica.

Do balanço energético mostrado na Figura 3.5, chega-se a seguinte

expressão:

( )t∆

∆θcρtAt∆

∆θcρVt

θθAλ m

mmmma

aam

am,extmm ⋅⋅⋅⋅+⋅⋅⋅=

−⋅⋅ (3.11)

x

θm,ext tm

Eac,a Eac,m

Ec,m

θg

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43

Isolando t∆∆θa , a expressão acima resulta em:

( )t∆

∆θcρV

cρtAtcρVθθAλ

t∆∆θ m

aa

mmmm

maa

am,extmma ⋅⋅⋅

⋅⋅⋅−

⋅⋅⋅−⋅⋅

= (3.12)

Definindo aqui, o fator de massividade como VAF m= , obtém-se:

( )t∆

∆θcρ

cρtFtcρθθλF

t∆∆θ m

aa

mmm

maa

am,extma ⋅⋅

⋅⋅⋅−

⋅⋅−⋅⋅

= (3.13)

Uma vez que, aammm cctF ⋅⋅⋅⋅= ρρξ , chega-se a:

( )t∆

∆θξtcρθθλF

t∆∆θ m

maa

am,extma ⋅−⋅⋅

−⋅⋅= (3.14)

Admitindo-se as seguintes simplificações (SILVA, 2002),

gextm θθ ≅, (3.15)

e

( ) ( ) ( ) ( )t∆∆θ∆θ

t∆∆θ∆θ

t∆∆θ agam,extm +

⋅=+

⋅= 21

21 , (3.16)

a expressão 3.14 resulta em:

( )t∆

∆θξt∆

∆θξ

tcρθθλF

t∆∆θ ag

maa

agma

⋅⋅−

⋅⋅−

⋅⋅

−⋅⋅=

22 (3.17)

Após algumas operações algébricas e lembrando que 12

12 +

=+ ξξξ , chega-se a:

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44

( )g

maa

agma ∆θ

ξ

t∆ξtcρ

θθλF∆θ ⋅

+

−⋅

+⋅⋅⋅

−⋅⋅=

121

21 (3.18)

A expressão acima, resulta na clássica equação desenvolvida por

PETTERSSON et al. (1976) ao se admitir que 0α1 ≅ (SILVA, 2002). A NBR

14323, no entanto, recomenda o uso da seguinte expressão para a elevação

uniforme de temperatura na peça de aço revestida com material isolante térmico:

( )01

3110 ≥⋅

−−⋅

+⋅⋅⋅

−⋅⋅= g

ξ

maa

agma ∆θe∆t

ξtcρ

θθλF∆θ (3.19)

onde ∆t é o intervalo de tempo em segundo, e não pode ser tomado maior que

25000/F e preferencialmente menor ou igual a 30 segundos.

A Tabela 3.4 demonstra a aplicação da expressão anterior durante os

primeiros 10 minutos de exposição ao fogo. Neste exemplo, foi utilizado um perfil

de aço com fator de massividade igual a 149 m-1, e com proteção térmica do tipo

contorno. Adotou-se para o aço: ρa = 7850 kg/m3, ca = 600 J/kg.°C; e para o

material isolante: λm = 0.15 W/m.°C, cm = 1100 J/kg.°C, ρm = 350 kg/m3, tm =

0.015 m. O intervalo de tempo adotado foi de 120 s.

Tabela 3.4 – Aquecimento no perfil de aço, com proteção térmica do tipo contorno, durante os primeiros 10 minutos de exposição ao fogo.

Tempo (s)

θg (°C)

∆θg (°C)

(θg - θa) (°C)

∆θa (°C)

θa (°C)

0 20 0 0 0 20

120 445 425 425 7 27

240 544 99 517 17 44

360 603 59 559 19 63

480 645 42 583 20 83

600 678 33 595 21 104

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45

3.4.4 O CASO PARTICULAR DA VIGA MISTA

Quando a viga mista não é protegida por material de proteção contra

incêndio ou possui proteção passiva do tipo contorno, a determinação da

temperatura pode ser considerada como não-uniforme ao longo da altura do perfil.

A seção transversal é então dividida em três partes: mesa superior, alma e

mesa inferior (Figura 3.6). Considera-se que não há transferência de calor entre as

partes e nem entre a mesa superior e a laje de concreto. A temperatura na seção

transversal do aço deve ser determinada, conforme as expressões 3.9 e 3.19, para

cada parte e cada uma com seu respectivo fator de massividade, definido da

seguinte maneira:

- para mesa inferior e alma: ( ) ( )fifififi tbtb ⋅+⋅2

- para mesa superior:

sobreposta por laje maciça: ( ) ( )fsfsfsfs tbtb ⋅⋅+ 2

sobreposta por laje com fôrma de aço: ( ) ( )fsfsfsfs tbtb ⋅+⋅2

Figura 3.6 – Divisão em partes da seção transversal mista (NBR 14323, 1999).

Na flexão, as deformações de cisalhamento no plano da laje, fazem com

que as seções não mais permaneçam planas, provocando a variação das tensões

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46

normais ao longo da largura da mesa de concreto (efeito de Shear Lag). A tensão

de compressão é maior imediatamente sobre a viga metálica, decrescendo à

medida que se afasta da mesma (QUEIROZ et al., 2001). Então, conforme a NBR

8800 (1986), determina-se uma largura colaborante efetiva, b, para a mesa de

concreto (Figura 3.6).

No método simplificado de cálculo, considera-se que a mesa de concreto

possui variação uniforme de temperatura ao longo da largura efetiva, todavia, ao

longo da altura (espessura da laje), considera-se que a variação da temperatura é

não-uniforme, e pode ser obtida da Tabela 3.5 dividindo-se a laje em um máximo

de 14 fatias.

Tabela 3.5 – Variação da temperatura ao longo da altura da laje de concreto (NBR 14323, 1999).

Contudo, de modo simplificado, pode-se considerar como uniforme a

variação de temperatura na espessura da laje de concreto, e igual a:

∑=

⋅⋅=n

jjjc

efc e

h 1,

1 θθ (3.20)

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onde n é o número de fatias, θc,j e ej representam, respectivamente, a temperatura

e a espessura das n fatias da laje. A altura efetiva, hef , vale:

- para lajes maciças: cef th =

- para lajes com fôrma de aço incorporada: 31

2121 2 ll

llhhhef ++

⋅+=

sendo h1, h2, l1,l2 e l3 as dimensões da laje definidas na Figura 3.7.

Figura 3.7 – Dimensões da seção transversal da laje mista (NBR 14323, 1999).

3.5 O MÉTODO SIMPLIFICADO DE ANÁLISE ESTRUTURAL

Este método é aplicável às vigas mistas simplesmente apoiadas, que

tiverem sido projetadas a temperatura ambiente de acordo com a NBR 8800, e

possuam o perfil de aço com seção transversal em forma de “I”. As lajes podem

ser maciças ou com fôrma de aço incorporada, cuja ligação na interface aço-

concreto seja feita por meio de conectores do tipo pino com cabeça (stud bolt). A

interação na interface aço-concreto deve ser completa e o concreto deve possuir

densidade normal.

3.5.1 CRITÉRIOS DE CÁLCULO

As mais simples e econômicas ligações de apoio de vigas, como as

cantoneiras ou chapas simples, têm pouca rigidez à flexão, sendo mais

conveniente assumir que as vigas construídas com este tipo de ligação sejam

consideradas como simplesmente apoiadas (QUEIROZ et al., 2001).

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Segundo JONHSON (1994), as vigas simplesmente apoiadas (biapoiadas)

possuem as seguintes vantagens em relação àquelas calculadas como contínuas:

• Normalmente, apenas uma pequena parte da alma fica sujeita à compressão e a

mesa comprimida é travada pela laje, assim, a resistência da viga não é limitada

pela flambagem do perfil de aço, global ou local;

• Os momentos transmitidos aos pilares são baixos ou quase nulos;

• A fissuração do concreto é menor, já que está sujeito à tração apenas nos

apoios (devido à tendência de continuidade);

• A análise estrutural e o dimensionamento são rápidos e simples.

A resistência à flexão das vigas mistas biapoiadas, independente de

estarem ou não em situação de incêndio, envolve a avaliação de seu desempenho

considerando-se os seguintes estados limites:

• Plastificação da seção;

• Flambagem local da seção de aço;

• Flambagem lateral;

• Resistência ao corte dos conectores de cisalhamento.

Ensaios realizados à temperatura ambiente mostram que a capacidade real

a momento da viga mista submetida ao momento fletor positivo (vigas

biapoiadas) pode ser calculada satisfatoriamente considerando que a seção

metálica esteja totalmente escoada e a laje de concreto esteja sob tensão constante

de 0.85fck em toda sua espessura e largura efetiva. Neste caso, admiti-se a

distribuição plástica de tensões na seção transversal mista (VIEST et al., 1997). O

fator de 0.85 leva em consideração a redução da resistência do concreto sob

cargas de longa duração em relação àquela obtida em ensaios rápidos.

Os diagramas tensão-deformação do aço e do concreto são mostrados na

Figura 3.8, adiante, juntamente com os diagramas simplificados (rígido-plásticos),

que são utilizados para cálculos de vigas mistas quando se admite a distribuição

plástica de tensões na seção transversal mista.

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(a) (b)

Figura 3.8 – Diagramas tensão-deformação: (a) concreto em compressão; (b) aço comum com patamar de escoamento (PFEIL, 2000).

Segundo PFEIL (2000), denomina-se interação completa a condição de

funcionamento da viga mista em que não ocorre deslizamento na interface aço-

concreto. A rigidez à flexão é devida ao trabalho conjunto da laje e da viga

metálica. Neste caso, a capacidade resistente a momento é determinada pela

plastificação do concreto ou da seção de aço, e não pela resistência ao corte dos

conectores de cisalhamento, isto é, o aumento no numero de conectores não

produz acréscimo de resistência à flexão.

No entanto, para que seja atendida a condição de interação completa é

necessário que a quantidade mínima de conectores e sua disposição ao longo da

viga estejam em conformidade com a NBR 8800 (ver detalhes mais adiante). A

Figura 3.9 mostra as tensões normais desenvolvidas na seção transversal mista

considerando-se a interação completa. Pode-se observar a utilização dos

diagramas rígido-plásticos para representar as tensões de compressão no concreto

e de tração no aço. No caso da laje, é desprezada a resistência do concreto à

tração.

Figura 3.9 – Limite de resistência para viga mista com interação completa.

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Entretanto, para que se atinja o momento fletor de plastificação é preciso

que a seção mista não venha sofrer nenhum tipo de flambagem antes, seja ela

local ou lateral. Conforme a NBR 8800, o perfil que atende a especificação acima

é chamado compacto e pertence à Classe 1 ou à Classe 2.

Em se tratando das vigas mistas biapoiadas, a presença da laje de concreto

em contato com a mesa superior da viga mista impede que esta possa sofrer

flambagem local ou mesmo flambagem lateral com torção. Como a mesa inferior

está tracionada, a condição limite para a distribuição plástica de tensões na seção

transversal é, portanto, a da alma da viga, cuja relação largura/espessura deve

atender a seguinte recomendação da NBR 14323 (200X):

yw fE,

th

⋅≤ 763 (3.21)

onde h é altura e tw é a espessura da alma, E é o módulo de elasticidade e fy é o

limite de escoamento do aço à temperatura ambiente.

3.5.2 CONECTOR DE CISALHAMENTO

Os conectores de cisalhamento são dispositivos mecânicos destinados a

garantir o trabalho conjunto da viga de aço com a laje de concreto. O conector

absorve os esforços cisalhantes horizontais que se desenvolvem na direção

longitudinal da interface aço-concreto, impedindo a separação física desses

componentes.

Segundo a NBR 8800, a resistência nominal de um conector de

cisalhamento do tipo pino com cabeça (stud bolt), totalmente embutido em laje

maciça de concreto, é dada pelo menor dos dois valores abaixo:

⋅⋅⋅≤

ucs

cckcsn

fAEfA

q5.0

(3.22)

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Onde:

fck é a resistência característica à compressão do concreto;

Acs é a área da seção transversal do conector;

fu é o limite de resistência à tração do aço do conector;

Ec é o módulo de elasticidade do concreto.

No caso de lajes com fôrma de aço incorporada, cujas nervuras estejam

dispostas perpendicularmente à viga de aço (Figura 3.9), a resistência nominal é

igual a da expressão 3.22, só que, multiplicada por um fator de redução, Cred, dado

por:

11850≤

−⋅

⋅=

F

cs

F

F

csred h

hhb

n.C (3.23)

Sendo:

hcs o comprimento do pino após soldagem, não sendo tomado com valor superior

a hF + 75 mm;

ncs o número de conectores por nervura, sobre a viga, não sendo necessário

considerá-lo maior que 3;

bF a largura média da mísula ou da nervura situada sobre a viga;

hF a altura das nervuras da fôrma de aço.

A seguir, a Figura 3.10 mostra as disposições construtivas em lajes de

concreto com fôrma de aço incorporada segundo a NBR 14323.

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52

Figura 3.10 – Lajes com fôrma de aço incorporada.

No caso das vigas mistas em situação de incêndio, algumas alterações

precisam ser feitas na expressão 3.22, de modo que a resistência nominal do stud

bolt seja, agora, dada por:

⋅⋅⋅

⋅⋅⋅⋅⋅≤

θ

θθ

,

,,,

5.0

yreducs

cckccsrednfi KCfA

EfKACq (3.24)

Onde:

Kc,θ é o fator de redução para resistência característica à compressão do concreto

de densidade normal (Tabela 2.3) , considerado para uma temperatura equivalente

a 40% da temperatura da mesa superior da viga de aço;

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Ec,θ é o módulo de elasticidade do concreto (expressão 2.4) para uma temperatura

equivalente a 40% da temperatura da mesa superior da viga de aço;

Ky,θ é o fator de redução para o limite de escoamento do aço (Tabela 2.2),

considerado para uma temperatura equivalente a 80% da temperatura da mesa

superior da viga de aço.

Para uma viga simplesmente apoiada sob carga uniformemente distribuída,

os conectores próximos ao apoio são mais solicitados. Aumentando-se a carga, a

viga aproxima-se de seu momento resistente com plastificação progressiva da

seção do meio do vão.

Nesse processo de formação da rótula plástica, há a redistribuição dos

esforços cisalhantes horizontais próximos do meio do vão. Entretanto, desde que

possuam ductilidade, os conectores nos extremos da viga, uma vez atingida sua

resistência, se deformam e transferem uma parcela maior de esforço aos

conectores intermediários. Sendo assim, os conectores podem ser uniformemente

distribuídos entre os pontos de momento máximo e momento nulo (PFEIL, 2000).

Nas vigas com seção de aço compacta com interação completa, o número

de conectores entre os pontos de momento máximo e momento nulo é

determinado em função da resistência da viga e não das cargas atuantes. Logo,

para viga mista em situação de incêndio, tem-se duas alternativas (ver seção

3.5.3):

- Linha neutra plástica na seção de aço: nfi

cfick

qAf

n,

,)(≥

- Linha neutra plástica na laje de concreto: nfi

afiy

qAf

n,

,)(≥

onde n é o número de conectores, qfi,n é a resistência nominal do stud bolt, (Afck)fi,c

é a resultante máxima das tensões de compressão na laje de concreto, e (Afy)fi,a é a

resultante máxima das tensões de tração na viga de aço em situação de incêndio.

O espaçamento mínimo entre os conectores do tipo pino com cabeça deve

ser seis vezes maior que o diâmetro do pino na direção do eixo do perfil e quatro

vezes maior na direção perpendicular; e o espaçamento máximo deve ser oito

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vezes maior que a espessura total da laje ou 800 mm, o que for menor (NBR

8800).

3.5.3 MOMENTO FLETOR RESISTENTE DE CÁLCULO

Correntemente, o cálculo do momento resistente é baseado na

configuração de equilíbrio estático da seção mista (Figura 3.11), isto é:

zFzFM tcres ⋅=⋅= (3.25)

onde Fc e Ft representam, respectivamente, as forças resultantes das tensões de

compressão e tração, e z é o braço de alavanca. A posição da linha neutra plástica

é obtida a partir do equilíbrio de forças na seção:

∑ =∴= dc FFF 0 (3.26)

A resultante das tensões de tração pode ser obtida multiplicando-se a área

da seção de aço que está tracionada por fy. E da mesma forma, a resultante das

tensões de compressão pode ser obtida multiplicando-se a área da seção de

concreto que está comprimida pelo fator 0.85fck.

Figura 3.11 – Configuração de equilíbrio estático na seção mista.

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Em situação de incêndio, os coeficientes de minoração das resistências do

aço e do concreto são iguais a unidade, portanto, as resultantes de compressão e

de tração podem ser calculadas em valores absolutos.

Da configuração de equilíbrio estático, três situações diferentes podem ser

encontradas para o posicionamento da linha neutra plástica (LNP) na seção mista

como mostra a Figura 3.12, onde:

Cfi é a resultante das tensões de compressão no concreto;

Tfi é a resultante das tensões de tração na viga de aço;

C`fi é a resultante das tensões de compressão na viga de aço;

yp é à distância da linha neutra plástica até a face superior da viga de aço;

a é a espessura comprimida da laje de concreto;

b, tc, d, bfi, bfs, h, tfi, tfs, tw e hF representam grandezas geométricas da viga mista.

Figura 3.12 – Distribuição de tensões em temperatura elevada para interação completa: (a) linha neutra plástica na alma; (b) linha neutra plástica na mesa

superior; (c) linha neutra plástica na laje de concreto.

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Considerando-se o caso limite em que a LNP encontra-se na interface

entre a laje de concreto e a mesa superior da peça de aço, o valor da resultante à

tração na seção de aço é máxima e vale:

( ) ( ) ( )[ ] yfsfssy,θwfifiiy,θfi,ay ftbKthtbKAf ⋅⋅⋅+⋅+⋅⋅= (3.27)

onde (Afy)fi,a é a resultante máxima das tensões de tração na viga de aço; Ky,θ i e

Ky,θ s são os fatores de redução do limite de escoamento do aço (Tabela 2.2) em

função das temperaturas θ i e θ s, sendo que, estas representam, respectivamente,

as temperaturas da mesa inferior e alma e da mesa superior da viga de aço, e

podem ser obtidas conforme a seção 3.4.4. O valor da resultante à compressão na

laje também é máxima e vale:

( ) cckcfi,cck tbfK.Af ⋅⋅⋅⋅= θ,850 (3.28)

onde (Afck)fi,c é a resultante máxima das tensões de compressão na laje de

concreto; Kc,θ é o fator de redução da resistência característica à compressão do

concreto (Tabela 2.3) em função da temperatura atingida pela laje (expressão

3.20) e fck é a resistência característica do concreto à compressão. Do equilíbrio

das forças na seção, conclui-se que:

• Se ( ) ( )afiycfick AfAf

,, ≥ → a linha neutra estará na laje de concreto;

• Se ( ) ( )afiycfick AfAf

,, < → a linha neutra estará na seção de aço.

Para o primeiro caso, quando a LNP encontra-se na laje de concreto tem-se que:

( )fi,ayfi AfT = (3.29)

abfk.C ckc,θfi ⋅⋅⋅⋅= 850 (3.30)

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57

E do equilíbrio entre Tfi e Cfi (Figura 3.12c):

( )c

ckc,θ

fi,ayt

bfK.

Afa ≤

⋅⋅⋅=

850 (3.31)

Tomando-se os momentos em relação a LNP, e do somatório dos

momentos de cada área de interesse da seção mista, chega-se a seguinte expressão

para o momento fletor resistente nominal:

( ) ( )

( )

−++⋅⋅⋅⋅+

+

+++⋅⋅+

+−++⋅⋅⋅⋅=

2

22

,

,

atthtbfK

ahthtthat

thdtbfKM

fscFfsfsysy

cFfswfi

cFfifiyiyfi,n

θ

θ

... (3.32)

Para o segundo caso em que a LNP encontra-se na seção de aço,

distinguem-se duas situações:

• Linha neutra plástica na mesa superior (Figura 3.12b);

• Linha neutra plástica na alma (Figura 3.12a).

Considerando-se o caso limite em que a LNP encontra-se na interface

entre a mesa superior e alma na seção de aço, a resultante das tensões de

compressão na viga de aço é obtida da seguinte maneira:

( ) ( )[ ] yfsfssy,θfi ftbkC` ⋅⋅⋅=lim

(3.33)

onde (C´fi)lim é a resultante das tensões de compressão na viga de aço para o caso

limite em questão. Da condição de equilíbrio de forças na seção:

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( ) ( ) ( )limlim fifi,ayfififi C`AfTC`C −==+

(condição limite)

( ) ( )fi,ayfifi AfC`C =⋅+

lim2 (3.34)

Em que:

( ) fi,cckfi AfC = (3.35)

No caso em que a condição limite seja ( ) ( )afiyfifi AfCC

,lim`2 >⋅+ ; a

linha neutra se situará na mesa superior, e do equilíbrio entre Cfi, C`fi e Tfi (Figura

3.12b):

( )yfssy,θ

fi,dfi,ayp fbK

CAfy

⋅⋅

−⋅=

21 (3.36)

Onde:

( )[ ] ypfssy,θfi fybkC` ⋅⋅⋅= (3.37)

( ) fifi,ayfi C`AfT −= (3.38)

Tomando-se os momentos em relação a LNP, e do somatório dos

momentos de cada área de interesse da seção mista, chega-se a seguinte expressão

para o momento fletor resistente nominal:

( )

( ) ( )

−+⋅⋅+

−−⋅⋅⋅⋅+

+

−+⋅⋅⋅+

++⋅=

pfswpfi

fifiyiy,θ

pfspfsysy,θ

cFpfifi,n

yththyt

dtbfK

ytybfKthyCM

22

22

22

... (3.39)

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No caso em que a condição limite seja ( ) ( )afiyfifi AfCC

,lim`2 <⋅+ ; a linha

neutra se situará na alma, e do equilíbrio entre Cfi, C`fi e Tfi (Figura 3.12a):

( )[ ]ywiy,θ

fi,dyfsfssy,θwfswfifiiy,θp ftK

CftbKttthtbKy

⋅⋅−⋅⋅⋅−⋅⋅+⋅+⋅⋅

⋅=2

21 (3.40)

Onde:

( ) ( ) ( )[ ] ywfspiy,θfsfssy,θfi fttyktbkC` ⋅⋅−⋅+⋅⋅= (3.41)

( ) fifi,ayfi C`AfT −= (3.42)

Tomando-se os momentos em relação a LNP, e do somatório dos

momentos de cada área de interesse da seção mista, chega-se a seguinte expressão

para o momento fletor resistente nominal:

( ) ( )

−−⋅⋅+

+−+−⋅⋅⋅+

+

−⋅⋅⋅⋅+

++⋅=

pfi

fififspfsp

wyiy,θ

fspfsfsysy,θ

cFpfifi,n

yt

dtbtyhty

tfK

tytbfKthyCM

22

2222

... (3.43)

O momento fletor resistente de cálculo das vigas mistas em situação de

incêndio, considerando-se os estados limites previstos na seção 3.5.1, pode ser

determinado da seguinte maneira:

fi,nfi,afi,Rd MφM ⋅= (3.44)

Onde:

φfi,a é o coeficiente de resistência do aço para o estado limite último em situação

de incêndio, e igual a 1.0;

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Mfi,n é o momento fletor resistente nominal previsto para cada situação em que se

encontrar a LNP na seção transversal mista (ver expressões 3.32, 3.39 e 3.43).

3.6 VERIFICAÇÃO DA SEGURANÇA ESTRUTURAL

A segurança estrutural em situação de incêndio, seja visando a proteção à

vida ou tendo em vista a proteção patrimonial, deve ser verificada de modo que se

evite o colapso da estrutura. Ela é verificada através da comparação das

resistências de cálculo com os esforços solicitantes de cálculo, determinados a

partir das combinações últimas de ações para situação de incêndio. As condições

de segurança do membro estrutural podem ser expressas da seguinte maneira:

fi,dfi,d RS ≤ (3.45)

Onde:

Sfi,d é o esforço solicitante de cálculo em situação de incêndio, obtido através das

combinações de ações últimas excepcionais;

Rfi,d é o esforço resistente de cálculo em situação de incêndio.

As combinações de ações para os estados limites últimos em situação de

incêndio devem ser aceitas como combinações últimas excepcionais, visto que,

considera-se que as ações têm duração extremamente curta e baixa probabilidade

de ocorrência durante a vida útil da edificação, sendo assim, tratadas como ações

excepcionais (SILVA, 2001).

Só para exemplificar, a NBR 14323, que teve por base a NBR 8681

(1984), recomenda o uso da expressão 3.46 para combinação última excepcional

de ações, válida em locais em que há predominância de pesos de equipamentos

que permaneçam fixos por longos períodos de tempo, ou de elevadas

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61

concentrações de pessoas (por exemplo, edificações comerciais, de escritório e de

acesso público):

∑=

⋅++⋅n

iQQ,excGigi F.FFγ

1

40 (3.46)

Em que:

FG é o valor nominal da ação permanente;

FQ,exc é o valor representativo da ação excepcional (ação térmica);

FQ é o valor nominal das ações variáveis devido às cargas acidentais;

γg é o coeficiente de ponderação para ações permanentes de valor:

• 1,1 para ação permanente desfavorável de pequena variabilidade;

• 1,2 para ação permanente desfavorável de grande variabilidade;

• 1,0 para ação permanente favorável de pequena variabilidade;

• 0,9 para ação permanente favorável de grande variabilidade.

Segundo SILVA (2001), o efeito da ação térmica é levado em conta por

meio dos coeficientes de redução Ky,θ, Kc,θ, KE,θ e, eventualmente, pelas

solicitações provenientes de restrições às deformações térmicas. Entretanto, é

permitido desprezar os efeitos das deformações térmicas axiais quando se utilizar

o modelo do incêndio padrão.

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4 O MÉTODO DOS ELEMENTOS FINITOS NA ANÁLISE DE TRANSFERÊNCIA DE CALOR

4.1 INTRODUÇÃO

O capítulo anterior tratou do método simplificado de dimensionamento de

vigas mistas em situação de incêndio, tanto do ponto de vista térmico como

também do estrutural. Naquilo que se refere à análise térmica, o método

simplificado é fundamentado na hipótese do fluxo de calor unidimensional no

membro estrutural. E no caso das vigas mistas, supõe-se também que não há

transferência de calor entre as partes da seção transversal mista (laje de concreto,

alma e mesas superior e inferior). Para melhor compreensão do problema da ação

térmica em vigas mistas, será apresentado neste capítulo, o método avançado de

análise térmica, que é baseado em princípios reconhecidos da teoria da

transferência de calor, cuja solução da equação de difusão de calor será requerida

através do Método dos Elementos Finitos (MEF).

4.2 TRANSFERÊNCIA DE CALOR

Transferência de calor pode ser definida como a transmissão de energia de

uma região para outra como o resultado da diferença de temperaturas entre elas. A

entidade em trânsito, chamada calor, não pode ser medida ou observada

diretamente, mas os efeitos que ela produz são susceptíveis de observação e

medição, é o caso, por exemplo, da temperatura dos corpos que pode ser medida

por meio de termômetros. O ramo da ciência que trata da relação entre o calor e as

outras formas de energia é a Termodinâmica. Ela pode ser utilizada para calcular a

quantidade de energia necessária para que um sistema passe de um estado inicial

para um estado final de equilíbrio térmico, todavia, não pode precisar o tempo

transcorrido para estabelecer o equilíbrio e nem a temperatura do sistema em um

instante de tempo anterior ao equilíbrio. A transferência de calor, no entanto, pode

ser aplicada para este fim.

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63

4.2.1 CONDUÇÃO

Condução é a transferência de energia (calor) de partículas mais

energéticas para partículas de menor energia em um meio seja ele sólido ou

fluido. Nos gases, o mecanismo da condução de calor pode ser explicado através

da teoria cinética dos gases. As moléculas, em seu movimento aleatório e

contínuo, colidem umas com as outras, trocando energia e quantidade de

movimento. As moléculas mais rápidas, que estão na região de altas temperaturas,

colidem com as mais lentas, transmitindo para estas, parte de seu conteúdo

energético e assim por diante. Nos líquidos, o mecanismo de condução de calor é

qualitativamente semelhante ao dos gases.

Nos sólidos, o calor é conduzido através de dois processos: migração dos

elétrons livres e vibração do retículo cristalino. Nos sólidos metálicos, como os

elétrons livres transportam carga elétrica, podem também transportar energia de

uma região de alta temperatura para uma região de baixa temperatura, como no

caso dos gases. É por isso que bons condutores elétricos também são bons

condutores térmicos. Nos sólidos não-metálicos como quase não há migração de

elétrons livres a condução se dá, principalmente, pela vibração do arranjo reticular

(KREITH & BOHN, 2003).

Considere o experimento realizado em um bastão cilíndrico de material

conhecido, que possui as faces superior e inferior isoladas termicamente, e as

outras duas restantes mantidas a diferentes temperaturas, com θ1 > θ2 como

ilustrado na Figura 4.1.

Figura 4.1 – Experimento de condução de calor em um bastão cilíndrico.

x

q”x

∆x

∆θ = θ1 > θ2

θ1, A θ2, A

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64

Sabe-se do experimento, que calor é transferido por condução na direção

positiva do eixo x, ou seja, da face esquerda de maior temperatura para a face

direita de menor temperatura. A taxa de condução de calor na barra é diretamente

proporcional à área de sua seção transversal A, e também à diferença de

temperatura ∆θ, porém, inversamente proporcional ao seu comprimento ∆x. Ao se

trocar o material do bastão, a proporcionalidade acima permanece válida,

entretanto, a taxa de condução não é mais a mesma, sugerindo, então, que a

relação de proporcionalidade entre as grandezas também é influenciada pelo

material utilizado no experimento.

A lei matemática que descreve o comportamento global observado, no que

concerne à taxa de condução de calor q”x , em Watts, através do bastão, pode ser

expressa da seguinte maneira:

∆x∆θAλq" xx ⋅⋅−= (4.1)

A expressão acima é a Lei de Fourier em homenagem ao cientista francês,

Joseph Fourier, sendo λx a constante de condutividade térmica (W/m.°C).

Levando-se a expressão 4.1 ao limite, ou seja, 0→∆x , tem-se agora para a taxa

de condução de calor:

dxdθAλq" xx ⋅⋅−= (4.2)

O fluxo de calor por condução qx (W/m2) é definido como a transferência

de calor na direção x por unidade de área perpendicular à direção da transferência,

isto é:

dxdθλq xx ⋅−= (4.3)

O sinal de menos nas expressões anteriores é uma conseqüência do fato de

que o calor é transmitido no sentido da diminuição da temperatura. E neste

sentido, o gradiente de temperatura dθ /dx é negativo, como pode ser visto na

Figura 4.2 em seguida.

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65

Figura 4.2 – Convenção de sinal para condução de calor unidimensional num

sólido de comprimento L.

Na expressão 4.3, o fluxo de calor foi definido apenas para uma direção

particular do espaço. Entretanto, o fluxo térmico é uma grandeza vetorial cuja

direção será sempre normal a uma superfície de temperatura constante, conhecida

como isoterma. Em problemas bidimensionais, a temperatura é função de duas

coordenadas do espaço e do tempo [θ = θ(x,y,t)]. Generalizando, o fluxo térmico

em um meio anisotrópico e bidimensional, pode ser expresso da seguinte forma,

em coordenadas cartesianas:

∂∂

⋅+⋅∂∂

⋅−=∂∂

⋅−= yyxxnn nyθλn

xθλ

nθλq (4.4)

onde qn é o fluxo de calor (W/m2) na direção n, sendo nx e ny os co-senos diretores

do vetor normal unitário exterior ao isoterma como mostra a Figura 4.3.

Figura 4.3 – Fluxo térmico normal a uma isoterma.

L

qx (+) = (-) [ (-) dθ / dx ]

(-) dθ / dx

qx

y

θ(x)

x

n

j , ny

qn

i , nx

isoterma

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66

4.2.2 CONVECÇÃO

É sabido que uma placa de metal aquecida irá resfriar-se mais rapidamente

quando for colocada em frente a um ventilador do que se deixada apenas em

contato com o ar parado. Intuitivamente, é esta a noção do modo de transferência

de calor por convecção, que deve ser ampliada a fim de fornecer uma tratamento

analítico mais adequado para o problema.

A transferência de calor por convecção, como a que ocorre entre a placa e

o fluido do exemplo acima, abrange dois mecanismos: a transferência de energia

devido à ação molecular (nível microscópico) e a transferência de energia devido

ao movimento global, ou macroscópico, do fluido (INCROPERA & DEWITT,

1998).

Considere uma placa aquecida cuja temperatura em sua superfície é θsup, e

que θfluido é à temperatura do fluido que escoa paralelamente a ela como ilustrado

na Figura 4.4.

Figura 4.4 – Transferência de calor por convecção a partir da superfície da placa

aquecida.

Da mecânica dos fluidos, sabe-se que a velocidade do fluido é zero na

superfície da placa e aumenta até o valor Uoo à medida que se afasta da mesma.

Como o fluido não está se movendo na interface entre os dois materiais, calor é

transferido naquele local apenas por condução (ação molecular). A troca de calor

entre a superfície aquecida da placa e o fluido, em Watt por metro quadrado, pode

ser calculada a partir da expressão 4.3 da seguinte maneira:

qconv

Uoo

y

θ(y)

θfluido

θsup

0=∂∂

yyθ

fluxo do fluido

y = 0

u(y) Perfil de velocidade

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67

0=∂∂

⋅−= yfluidoconv yθλq (4.5)

onde λfluido é a constante de condutividade térmica do fluido e ∂θ /∂y representa o

gradiente térmico junto à superfície da placa. O gradiente térmico depende da

rapidez com que o calor é retirado da camada do fluido, ou seja, depende do

escoamento ou movimento global do fluido, onde velocidades mais altas

produzirão gradientes térmicos mais elevados [KREITH & BOHN (2003) e

HOLMAN (1983)]. A condução é predominante na região próxima à superfície da

placa, enquanto que, nas regiões mais distantes da superfície, é o movimento

global do fluido que prevalece.

O mecanismo da troca de calor por convecção é classificado pela natureza

do escoamento do fluido. A convecção é chamada forçada, quando o escoamento

é causado por meios externos (caso do ventilador que resfria a placa aquecida) e

natural, quando o escoamento é causado por forças de empuxo (caso da placa

aquecida deixada à temperatura ambiente). Neste último caso, a camada de ar

diretamente em contato com a superfície torna-se mais leve (menos densa) do que

a do ar circunvizinho, de modo que, forças de empuxo induzem um movimento

vertical ascendente do ar aquecido que é substituído pelo influxo da camada do ar

circunvizinho mais frio.

Independentemente do mecanismo de troca de calor, o fluxo de calor por

convecção entre uma superfície e um fluido pode ser determinado pela Lei do

Resfriamento de Newton, em homenagem ao cientista inglês Isaac Newton, da

seguinte maneira:

( )supθθhq fluidocconv −⋅= (4.6)

sendo qconv o fluxo de calor por convecção (W/m2), hc o coeficiente de

transferência de calor por convecção (W/m2.°C), e θfluido e θsup representam,

respectivamente, as temperaturas do fluido e da superfície da placa. Por

convenção, o fluxo térmico será considerado positivo se o calor é transferido para

superfície (θfluido > θsup) de acordo com a Figura 4.5 adiante.

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68

Figura 4.5 – Convenção de sinal para transferência de calor por convecção.

Da combinação entre as expressões 4.5 e 4.6, tem-se para o coeficiente de

transferência de calor por convecção:

( )sup

0

θθyθλ

hfluido

yfluidoc −

∂∂⋅−= = (4.7)

Percebe-se que o coeficiente de transferência de calor por convecção

depende das propriedades físicas do fluido, bem como de sua velocidade de

escoamento e da diferença de temperatura entre o fluido e a superfície.

4.2.3 RADIAÇÃO

Radiação térmica é a energia emitida por toda matéria que se encontra a

uma temperatura não-nula, independente do estado físico seja ele sólido, líquido

ou gasoso. Enquanto que a transmissão de calor (energia) por condução ou

convecção necessita de um meio sólido ou fluido, a radiação não requer meio

material para se propagar, pois é transportada através de ondas eletromagnéticas.

Um corpo negro é uma superfície ideal que possui as seguintes

propriedades:

1) Absorve toda energia incidente sobre ele;

2) Nenhuma superfície pode emitir mais energia do que um corpo negro;

3) O corpo negro é um emissor difuso, ou seja, emite energia em todas as direções

do espaço.

θsup

fluido

qconv θfluido θfluido > θsup

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69

O poder emissivo de um corpo negro, En, é definido como a taxa pela qual

energia é liberada por unidade de área (W/m2), ou seja:

4supθσEn ⋅= (4.8)

onde σ (= 5,67.10-8 W/m2.K4) é a constante de Stefan-Boltzman, e θsup é a

temperatura absoluta (K) da superfície do corpo. A expressão 4.8 é mais

conhecida como a Lei de Stefan-Boltzman em homenagem aos dois cientistas

austríacos: J. Stefan e L. Boltzman. Entretanto, o fluxo de calor emitido por uma

superfície real, E, é menor do que aquele emitido por um corpo negro a uma

mesma temperatura, ou seja:

nEεθσεE ⋅=⋅⋅= 4sup (4.9)

onde ε é a uma propriedade radiante da matéria conhecida como emissividade (0 <

ε < 1). A radiação térmica também pode incidir sobre uma superfície a partir de

sua vizinhança oriunda de uma fonte especial como o Sol ou de outras superfícies

também. A taxa pela qual todas radiações térmicas incidem sobre uma área

unitária da superfície é conhecida como irradiação. Como mostra a Figura 4.6, a

irradiação, G, pode ser decomposta em outras três componentes, a saber:

otransmissãabsorçãoreflexão GGGG ++= (4.10)

Figura 4.6 – Processos de absorção, reflexão e transmissão associados a um

meio semitransparente.

Absorção ( Gabsorção )

Irradiação (G)

Transmissão ( Gtransmissão )

Reflexão ( Greflexão )

Radiação emissiva ( E )

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70

Dividindo-se a expressão 4.10 pela irradiação G, tem-se que:

GG

GG

GG

GG otransmissãabsorçãoreflexão ++=

ταβ ++=1 (4.11)

onde β, α e τ representam propriedades radiantes da matéria e são conhecidas,

respectivamente, como refletividade, absortividade e transmissividade.

Uma relação importante entre ε e α pode ser obtida a partir da Lei de

Kirchhoff, a qual afirma que a emissividade monocromática (relativa a um certo

comprimento de onda) é igual a absortividade monocromática para qualquer

superfície (PLANCK, 1959). Contudo, para os corpos ditos “cinzentos”, a

emissividade e a absortividade independem do comprimento de onda (KREITH &

BOHN, 2003), onde conclui-se que αε = . Para uma superfície cinzenta e opaca (τ

= 0), permite-se escrever a seguinte identidade a partir da expressão 4.11:

εαβ −=−= 11 (4.12)

A radiação que deixa uma certa superfície pode ser tratada de uma forma

mais conveniente em termos da radiosidade, J, definida como a taxa pela qual a

radiação térmica deixa determinada superfície por unidade de área (W/m2).

Assim, reportando-se a Figura 4.6 e expressão 4.11, a radiosidade para uma

superfície cinzenta e opaca pode ser determinada da seguinte maneira:

( ) GεEεGβEεJ nn ⋅−+⋅=⋅+⋅= 1 (4.13)

Uma outra característica importante da radiação é a fração da energia

térmica que deixa uma superfície e é interceptada por outra e vice-versa. A fração

da radiação difusa que deixa uma superfície Ai e alcança a superfície Aj é

conhecida como fator de forma da radiação, Fi-j, onde o primeiro subscrito indica

a superfície da qual emana a radiação, enquanto que, o segundo indica a superfície

receptora da radiação.

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71

Será admitido aqui que a troca de energia radiante se dá entre superfícies

cinzentas, opacas e difusas, cujas propriedades radiantes sejam uniformes ao

longo de cada superfície de interesse.

Assim, segundo INCROPERA & DEWITT (1998), a taxa de transferência

de calor por radiação entre duas superfícies Ai e Aj (gases quentes e a viga mista,

por exemplo), deve ser igual à energia líquida que deixa a superfície i, qi, que

deve ser igual à energia líquida que chega a superfície j, qj, que também deve ser

igual à troca de energia líquida entre as duas superfícies, qi j, isto é:

jiji qqq =−= (4.14)

A energia líquida que deixa a superfície Ai é a diferença entre a

radiosidade e a irradiação, e reportando-se a expressão 4.13, chega-se a:

( ) ( )[ ]iiiniiiiiii GGεEεAGJAq −⋅−+⋅⋅=−⋅= 1 (4.15)

Contudo, é preciso eliminar o valor da irradiação na expressão acima. E,

mais uma vez, reportando-se a expressão 4.13, Gi pode ser determinado em

função de Ji, Eni e ε. Assim, substituindo-se o valor da irradiação na expressão

4.15, e após algumas operações algébricas, fica-se com:

( )ii

i

inii

AεεJEq

⋅−−

=1

(4.16)

E da mesma forma para energia líquida que chega a superfície Aj:

( )jj

j

njjj

AεεEJ

q

⋅−−

=−1

(4.17)

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72

A energia que deixa a superfície Ai e atinge a superfície Aj, vale:

ji-ii FAJ ⋅⋅ (4.18)

E reciprocamente para energia que deixa a superfície Aj e atinge a superfície Ai:

ij-jj FAJ ⋅⋅ (4.19)

Logo, a troca de energia líquida entre as duas superfícies é obtida da seguinte

maneira:

ij-jjji-iiji FAJFAJq ⋅⋅−⋅⋅= (4.20)

Mas como da Lei de Reciprocidade ijjjii FAFA −− ⋅=⋅ (HOLMAN, 1983), e após

algumas operações algébricas, a expressão acima resulta em:

jii

jiji

FA

JJq

−⋅

−=

1 (4.21)

Reportando-se a expressão 4.14, tem-se agora que:

( ) ( )jii

ji

jj

j

njj

ii

i

ini

FA

JJ

AεεEJ

AεεJE

−⋅

−=

⋅−−

=

⋅−−

111 (4.22)

Fazendo-se uso de uma das propriedades das proporções, a taxa de transferência

de calor por radiação entre as duas superfícies é determinada da seguinte maneira:

( ) ( ) ( ) ( )jiijj

j

ii

i

njni

jiijj

j

ii

i

jinjjinirad

FAAεε

Aεε

EE

FAAεε

Aεε

JJEJJEq"

−− ⋅+

⋅−

+⋅

−=

⋅+

⋅−

+⋅−

−+−+−=

111111

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73

( ) ( ) ( )44

1111

ji

jiijj

j

ii

irad θθσ

FAAεε

Aεε

q" −⋅⋅

⋅+

⋅−

+⋅−

=

(4.23)

Segundo WONG & GHOJEL (2003), no caso de estruturas em situação de

incêndio, a hipótese de cálculo adotada é aquela que corresponde à troca de

energia radiante entre dois planos infinitos paralelos, onde Ai e Aj são iguais e o

fator de forma de radiação é igual à unidade. Dessa maneira, a partir da expressão

4.23, chega-se a:

( )44

1111

11

ji

jii

rad θθσ

εεA

q" −⋅⋅

−+= (4.24)

Dividindo-se por Ai a expressão acima, resulta em:

( )44jiresrad θθσεq −⋅⋅= (4.25)

onde qrad (=q”rad/Ai) é o fluxo de calor por radiação (W/m2) e εres é a emissividade

resultante entre as duas superfícies. Reescrevendo-se a expressão 4.25, de modo a

torná-la semelhante à expressão 4.6 (fluxo de calor por convecção), fica-se com:

( )jirrad θθhq −⋅= (4.26)

Onde:

( ) ( )jijiresr θθθθσεh +⋅+⋅⋅= 22 (4.27)

−+=

1111

ji

res

εε

ε (4.28)

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74

sendo hr o coeficiente de transferência de calor por radiação (W/m2.K), e θi e θj

são, respectivamente, as temperaturas nas superfícies i e j em graus Kelvin.

4.2.4 A EQUAÇÃO DE DIFUSÃO DE CALOR

Considere o que estabelece a primeira lei da termodinâmica: “A taxa com

que a energia térmica entra em um volume de controle, mais à taxa com que a

energia térmica é gerada no interior do volume de controle, menos a taxa com que

a energia térmica deixa o volume de controle, deve ser igual à taxa de aumento da

energia armazenada no interior do volume de controle em um determinado

instante de tempo”. Traduzindo a primeira lei em uma expressão matemática:

acgse EEEE =−+ (4.29)

Onde:

Ee e Es são os termos relativos à entrada e saída de energia e estão relacionados

com fenômenos que ocorrem na superfície de controle, como é o caso dos

mecanismos de transferência de calor por condução, convecção e radiação.

Eg é o termo da geração de energia e está associado à conversão de uma fonte de

energia qualquer (química, elétrica, etc) em energia térmica. É um fenômeno

relacionado ao interior do volume de controle sendo proporcional à magnitude do

mesmo.

Eac é o temo relacionado ao acúmulo de energia no interior do volume de controle

(fenômeno volumétrico). Portanto, se um material sólido sofre um aumento

líquido de energia armazenada, a tendência é sua temperatura aumentar no

transcorrer do tempo.

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75

Seja um meio contínuo cujas propriedades físicas independem da

orientação no espaço (isotropia). Partindo-se do pressuposto que a temperatura no

material é somente função da coordenada x e do tempo t, na presença de um

gradiente de temperatura, haverá transferência de calor por condução através do

volume de controle diferencial (dx.A) como mostra a Figura 4.7.

Figura 4.7 – Volume de controle diferencial dx.A em um meio contínuo e

isótropo.

Na figura acima q”x representa a taxa de condução de calor que chega ao volume

de controle, enquanto que, q”x+dx representa a taxa de condução de calor que deixa

o volume de controle. Reportando-se a expressão 4.2, estas quantidades de energia

podem ser expressas da seguinte maneira (HOLMAN, 1983):

(4.30)

No interior do volume de controle pode haver também, como já foi visto, um

termo associado à geração de energia térmica, assim:

AdxQEg ⋅⋅= (4.31)

q”x+dx q”x

dx

Eg Eac

y

x

A

∂∂

⋅∂∂

+∂∂

⋅−=∂∂

⋅⋅−=

∂∂

⋅⋅−=

++ dxxθλ

xθλA

xθAλq"

xθAλq"

dxxdxx

x

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76

onde Q é a taxa pela qual a energia térmica é gerada por unidade de volume. Além

disso, pode também ocorrer a variação da energia interna do material, ou seja:

AdxtθcρEac ⋅⋅

∂∂

⋅⋅= (4.32)

onde ρ e c são, respectivamente, a massa específica e o calor específico do meio e

∂θ/∂t é a taxa da variação no tempo da energia térmica por unidade de volume.

Da primeira lei da termodinâmica, tem-se o seguinte balanço energético

para o volume de controle diferencial (Figura 4.7):

Adxtθcρ)(q"AdxQq" dxxx ⋅⋅

∂∂

⋅⋅=−⋅⋅+ + (4.33)

Substituindo-se as expressões 4.30 em 4.33, e após algumas operações algébricas,

deduz-se a seguinte expressão:

tθcρQ

xθλ

x ∂∂

⋅⋅=+

∂∂

⋅∂∂ (4.34)

A expressão acima se aplica somente ao fluxo de calor unidimensional,

pois ela foi derivada sob a suposição de que a distribuição da temperatura era

unidimensional. Considerando-se agora que a temperatura é função das

coordenadas x e y e também do tempo, ou seja, θ = θ(x,y,t), a expressão 4.34 pode

ser expandida da seguinte maneira:

tθcρQ

yθλ

yxθλ

x ∂∂

⋅⋅=+

∂∂

⋅∂∂

+

∂∂

⋅∂∂ (4.35)

A expressão 4.35 é a forma geral em coordenadas cartesianas da equação

de difusão do calor, ou simplesmente equação do calor. A partir dela pode-se

obter a distribuição de temperatura em um meio contínuo bidimensional e

isotrópico (λx = λy) em função do tempo.

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77

Os problemas de transferência de calor são classificados de acordo com as

variáveis que influenciam a temperatura. Se esta for dependente do tempo, a

análise térmica é dita não-estacionária ou transiente (expressão 4.35). Quando a

temperatura for independente do tempo, a análise térmica é dita permanente ou

estacionária. Nesta condição, a equação do calor assume a seguinte forma:

0=+

∂∂

⋅∂∂

+

∂∂

⋅∂∂ Q

yθλ

yxθλ

x (4.36)

4.2.5 CONDIÇÕES INICIAL E DE CONTORNO

Muitos problemas de transferência de calor que acontecem na prática da

engenharia são dependentes do tempo. Tal como descrito na seção anterior,

problemas assim são chamados de não-estacionários ou transientes, e decorrem de

mudanças nas condições da fronteira do sistema.

Um caso típico que ocorre em processos industriais é o resfriamento do

lingote de metal quente, retirado do forno e exposto a uma corrente de ar frio. No

processo de resfriamento, calor é perdido por convecção e radiação da superfície

do lingote para a vizinhança. No interior da peça, através da condução, a

temperatura de cada ponto decrescerá com o passar do tempo, até que a condição

de regime estacionário (equilíbrio térmico) seja atingida. Este fenômeno físico é

traduzido por uma expressão matemática através da equação do calor.

A solução da equação, entretanto, depende das condições do sistema em

um determinado instante inicial como também das condições de contorno

impostas na fronteira do mesmo. As condições de contorno podem tomar

diferentes formas, e segundo INCROPERA & DEWITT (1998), três são os tipos

de situações físicas que podem ser encontradas na fronteira do sólido em

processos de transferência de calor:

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78

1) Condição de Contorno de Dirichlet

É comumente chamada de condição de contorno de primeira espécie. A

temperatura é prescrita na superfície de contorno de interesse. Ela pode ser

constante ou uma função das coordenadas do espaço e/ou do tempo.

2) Condição de Contorno de Newmann

É conhecida como condição de contorno de segunda espécie. Aqui, o

fluxo de calor é que é especificado na superfície de contorno de interesse. Ele

também pode ser constante, ou uma função das coordenadas do espaço e/ou do

tempo. Se o fluxo de calor for igual a zero, a superfície de contorno é chamada

perfeitamente isolada ou adiabática.

3) Condição de Contorno de Robin

É também chamada como condição de contorno mista, ou de terceira

espécie. Descreve a existência na fronteira do sólido de um aquecimento (ou

resfriamento) por convecção e/ou radiação. É obtida por meio de um balanço de

energia na superfície de contorno de interesse (Figura 4.8).

Figura 4.8 – Balanço de energia para superfície de controle em x=0.

Para superfície de controle da figura acima, tem-se o seguinte balanço

energético (primeira lei da termodinâmica):

θ(0, t)

θ(x,t)qn

θfluido , h x

qcon

qrad superfície

de controle

θfluido > θ(0,t)

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79

radconvn qqq += (4.37)

Substituindo-se as expressões 4.4, 4.6 e 4.25 na expressão acima, chega-se a:

( )[ ] ( )[ ],tθθh,tθθhxθλ fluidorfluidocxx 000 −⋅+−⋅=

∂∂

⋅− = (4.38)

onde hc é o coeficiente de transferência de calor por convecção, hr é o coeficiente

de transferência de calor por radiação, θfluido é a temperatura do fluido que escoa

paralelamente à superfície de controle, e θ(0,t) é a temperatura do sólido em x = 0

para um instante de tempo t qualquer.

4.3 MÉTODO DOS ELEMENTOS FINITOS

Diversos problemas com importância para Engenharia podem ser descritos

em termos de equações que envolvem derivadas parciais, como é o caso da

transferência de calor em corpos sólidos. Os métodos para resolver a equação 4.35

incluem o uso de procedimentos analíticos, gráficos e numéricos.

O procedimento analítico envolve a elaboração de uma solução exata,

entretanto, embora várias técnicas estejam disponíveis para solução da equação,

elas envolvem, com freqüência, séries e funções matemáticas complicadas, que só

podem ser obtidas para um conjunto restrito de geometrias e condições de

contorno mais simples.

Enquanto que o método analítico fornece resultados exatos para qualquer

ponto do meio, os métodos gráfico e numérico geram resultados aproximados para

alguns pontos discretos do meio. Contudo, o método numérico além de se adaptar

bem a geometrias e condições de contorno complexas, ele pode apresentar

resultados bastante precisos. E entre os métodos numéricos, o Método dos

Elementos Finitos (FEM) vem se desenvolvendo muito nas últimas décadas, e

ganhou importância destacada na resolução de problemas matriciais complexos da

engenharia estrutural.

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80

O MEF é uma importante ferramenta computacional que resolve

problemas descritos por equações diferenciais parciais, cujo domínio de interesse

pode ser representado como uma montagem de subdomínios chamados elementos

finitos (NIKISHKOV, 2001). A função requerida para solução da equação

diferencial é interpolada, mediante funções de aproximação, sobre cada elemento

finito.

Correntemente, o termo MEF significa o resultado da combinação da

subdivisão de um certo domínio em elementos finitos e um dos métodos

variacionais de cálculo (SHII, 1984). Assim, o termo Método dos Elementos

Finitos de Galerkin, significa a combinação do Método de Galerkin – que é um

caso particular do Método dos Resíduos Ponderados, e a interpolação polinomial

trecho a trecho sobre cada elemento finito.

4.3.1 O MODELO FÍSICO DA TRANSFERÊNCIA DE CALOR

Seja um sólido qualquer, cujo domínio Ω é limitado pela superfície de

contorno fechada Γ como mostra a Figura 4.9.

Figura 4.9 – Região sólida de domínio arbitrário Ω limitada pela fronteira Γ.

A equação do calor, em sua forma mais geral, é expressa da seguinte

maneira:

tθcρQ

yθλ

yxθλ

x ∂∂

⋅⋅=+

∂∂

⋅∂∂

+

∂∂

⋅∂∂ (4.39)

x

y

Γ

Ω

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81

Admita que não haja fonte interna de geração de calor (Q = 0), e que as

propriedades térmicas do meio contínuo, como a condutividade térmica e o calor

específico, sejam dependentes da variável de campo que é a temperatura. Logo, a

equação do calor pode ser reescrita assim:

( ) 0=∂∂

⋅−

∂∂

⋅∂∂

+

∂∂

⋅∂∂

tθθcρ

yθλ(θ)

yxθλ(θ)

x (4.40)

onde θ é a temperatura, ρ é massa específica, c é o calor específico e λ é a

condutividade térmica do sólido. Em problemas transientes é necessário

especificar um campo de temperaturas para o sólido em um certo instante de

tempo, que se admite como ponto de partida para análise (condição inicial), isto é:

(x)θθ 0= em x = (x,y) ∈ Ω , t = 0 (4.41)

onde θ0(x) representa o campo de temperaturas do sólido em t = 0, que é o instante

de tempo inicial. Como mostra a Figura 4.10, em seguida, as seguintes condições

de contorno podem ser especificadas em Γ:

a) Temperatura prescrita

( )x,tθθ s= para x = (x,y) em Γ4 , t > 0 (4.42)

b) Fluxo de calor prescrito

( ) ( ) sgrgcn qθθhθθhq +−+−= para x = (x,y) em nqΓ , t > 0 (4.43)

Na expressão acima, θg representa a temperatura dos gases quentes do

ambiente em chamas (expressão 3.1), θ é a temperatura na porção do contorno Γ

de interesse, e qn é a derivada direcional do fluxo de calor na direção n.

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82

Figura 4.10 – Condições de contorno do problema de valor inicial.

Como o sólido absorve calor a partir de sua vizinhança, então, da inspeção

da expressão 4.4, a derivada direcional do fluxo de calor

yxn nyθλ(θ)n

xθλ(θ)q ⋅

∂∂

⋅+⋅∂∂

⋅= (4.44)

é uma quantidade positiva, pois se considera aqui que a temperatura aumenta da

superfície para o interior do sólido, ou seja, o gradiente térmico é positivo no

sentido da absorção de calor pelo corpo.

4.3.2 FORMULAÇÃO VARIACIONAL FRACA

O que se pretende descobrir é a função θ = θ(x,y,t) que satisfaça a equação

do calor (expressão 4.35) quando sujeita às condições inicial e de contorno

descritas na seção anterior. Problemas deste tipo são geralmente conhecidos como

problemas de valor inicial, cuja solução requerida precisa ser válida em todo

domínio espaço-tempo.

Entretanto, segundo ZIENKIEWICZ & MORGAN (1983), é mais

conveniente utilizar a técnica da discretização parcial, ou seja, primeiro resolve-se

o problema de valor de contorno (aproximação espacial), e em seguida o

problema dependente do tempo (aproximação temporal). Assim, considerando

apenas o domínio espacial, caso θ fosse a solução exata válida para todo domínio

Ω, o resíduo R = RΩ deveria ser zero em qualquer lugar do mesmo, ou seja:

y

x

Γ2 : qn = hr (θg – θ)

Γ1 : qn = hc (θg – θ)Γ3 : qn = qs

Γ4 : θ = θs

Ω

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83

( ) 0=∂∂

⋅⋅−

∂∂

⋅∂∂

+

∂∂

⋅∂∂

=tθθcρ

yθλ(θ)

yxθλ(θ)

xRΩ (4.45)

Todavia, como nos problemas reais da engenharia não é este o caso, uma

solução aproximada é requerida, fazendo com que o resíduo seja diferente de zero

em Ω. Entretanto, o Método dos Resíduos Ponderados procura anular este

resíduo, através do uso de uma função peso ou de ponderação w = w(x,y). A idéia

básica do método consiste em buscar uma função de aproximação para θ que além

de satisfazer as condições de contorno essenciais (temperatura prescrita), torne

zero no sentido da “média” a seguinte formulação integral (HECKE & MARCHI,

2002):

∫ =⋅Ω

0dΩΩRw (4.46)

sendo válida para toda função de ponderação, w = w(x,y), que satisfaça algumas

condições tais como ser suficientemente suave, no sentido que as operações de

integração e diferenciação tenham sentido, e ser nula nos contornos que possuam

valores impostos ou prescritos para variável de campo (solução homogênea).

A escolha da função de ponderação leva a vários métodos de aproximação.

Em um destes métodos, conhecido como o Método de Galerkin, a função de

ponderação é escolhida a partir das mesmas funções de base usadas para construir

θ. Propõem-se, então, as seguintes funções de base para aproximação de θ e w:

i

n

1iinn2211 αNNαNαNαθ ∑

=

=+++≅ K (4.47)

i

n

1iinn2211 βNNβNβNβw ∑

=

=+++≅ K (4.48)

onde Ni, i = 1 até n, representa as funções de base, linearmente independentes

entre si, e que geralmente são polinômios conhecidos em x e y. Os parâmetros αi e

βi são coeficientes ajustáveis, independentes de x e y, e inicialmente

desconhecidos. Substituindo-se a expressão 4.45 em 4.46, chega-se a:

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84

( )∫ =

∂∂

⋅⋅⋅−

∂∂

⋅∂∂

+

∂∂

⋅∂∂

⋅Ω

0dΩtθθcρw

yθλ(θ)

yxθλ(θ)

xw (4.49)

Da inspeção da expressão acima, percebe-se que é necessário que a função

que aproxima variável de campo tenha grau de continuidade C2, isto é, as

derivadas de segunda ordem precisam ser contínuas neste campo. É desejável

“relaxar” esta restrição, e para tal, é preciso aplicar a integração por partes em

relação à derivada parcial de 2° ordem fazendo-se uso do Teorema de Green-

Gauss. Primeiramente, considerando que x

F∂∂

⋅=θθλ )(1 e

yθλ(θ)F

∂∂

⋅=2 , a

expressão 4.49 pode ser reescrita da seguinte maneira:

( )∫ ∫ =

∂∂

⋅⋅⋅−

∂∂

⋅+∂∂

⋅Ω Ω

21 0dΩdΩtθθcρw

yFw

xFw (4.50)

Observando-se a seguinte identidade para quaisquer funções diferenciáveis w(x,y)

e F(x,y) em relação a x (o mesmo vale para y), tem-se que:

( ) ( ) FxwFw

xxFwF

xw

xFwFw

x⋅

∂∂

−⋅∂∂

=∂∂

⋅∴⋅∂∂

+∂∂

⋅=⋅∂∂ (4.51)

Reescrevendo a expressão 4.50 a partir da expressão acima, fica-se com:

( ) ( ) ( )∫ ∫ =

∂∂

⋅⋅⋅−

⋅∂∂

−⋅∂∂

+⋅∂∂

−⋅∂∂

Ω Ω2211 0dΩdΩ

tθθcρwF

ywFw

yF

xwFw

x (4.52)

O Teorema da Divergência pode ser utilizado para converter uma

integração sobre uma superfície em uma integração sobre sua fronteira. Então,

examinando a expressão acima, o teorema estabelece que (REDDY &

GARTLING, 1994):

( ) ( ) ∫∫ ⋅⋅=

∂∂

Γ1

Ω1 dΓdΩ xnFwFw

x (4.53a)

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85

( ) ( ) ∫∫ ⋅⋅=

⋅∂∂

Γ2

Ω2 dΓdΩ ynFwFw

y (4.53b)

Substituindo-se as expressões derivadas do Teorema de Green-Gauss, e após

algumas operações algébricas, a expressão 4.52 resulta em:

( ) ∫

∂∂

+∂∂

⋅=∫ ∫

∂∂

⋅⋅+

∂∂

∂∂

+∂∂

∂∂

ΓdΓ

Ω ΩdΩdΩ yn

yθλ(θ)xn

xθλ(θ)w

tθθcρw

ywλ(θ)

xwλ(θ)

... (4.54)

O termo do lado direito da igualdade da expressão acima que está entre

colchetes é a derivada direcional do fluxo de calor (expressão 4.44), logo:

( ) ∫∫ ∫ ⋅=

∂∂

⋅⋅⋅+

∂∂

∂∂

+∂∂

∂∂

ΓΩ Ω

dΓdΩdΩ nqwtθθcρw

ywλ(θ)

xwλ(θ) (4.55)

A expressão acima é com freqüência chamada de forma fraca da equação

diferencial original (expressão 4.49), pois a exigência agora é que apenas a

derivada parcial de 1° ordem em relação à temperatura seja contínua. Todavia, o

mesmo requerimento vale agora também para função de ponderação. Em

problemas não-transientes ou estacionários, o Método dos Resíduos Ponderados

(Galerkin) aplicado à expressão 4.55, conduz a um sistema de equações algébricas

cuja solução proporciona a determinação dos coeficientes αi definidos na

expressão 4.47.

Apenas para ilustrar o resultado da aplicação do método, a Figura 4.11

mostra um exemplo de uma função u = u(x) aproximada linearmente através de

uaprox = α1 + α2.x, onde é possível verificar que o erro da aproximação (resíduo) é

distribuído de maneira ponderada, de modo que se tenha um erro médio ao longo

de todo domínio Ω.

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86

Figura 4.11 – Aproximação linear via Método dos Resíduos Ponderados.

4.3.3 O MODELO SEMIDISCRETO DOS ELEMENTOS FINITOS

Na seção anterior, verificou-se que o Método dos Resíduos Ponderados

poderia ser utilizado para resolver numericamente equações que envolvem

derivadas parciais (como o caso da transferência de calor em corpos sólidos, por

exemplo). Entretanto, a função que aproximava θ estava definida por uma única

expressão válida para todo domínio Ω.

Um outro modo para resolver o problema, consiste em dividir o domínio

em um número finito de subdomínios não sobrepostos, e então construir a

aproximação para θ trecho a trecho sobre cada subdomínio (ZIENKIEWICZ &

MORGAN, 1983). Esta é a idéia básica do Método dos Elementos Finitos (MEF),

ou seja, é a discretização de um certo domínio contínuo em um número finito de

elementos, interligados por pontos nodais, de formas geométricas relativamente

simples, chamados elementos finitos, onde a função incógnita do problema é agora

aproximada em cada subdomínio (elemento finito).

Os elementos finitos variam em sua forma, número de pontos nodais,

número de graus de liberdade e funções de interpolação. Em análises

bidimensionais, o mais comum é a utilização de elementos triangulares e

quadrangulares (retangulares, trapezoidais, etc) como mostra a Figura 4.12.

Ω

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87

Figura 4.12 – Exemplos de elementos finitos bidimensionais.

Os polinômios são muito utilizados como funções de interpolação devido a

sua fácil integração e diferenciação. De um modo geral, a definição do grau do

polinômio está associado ao número de pontos nodais conhecidos. Caso o

elemento finito tenha, por exemplo, nós somente nos vértices do elemento, o grau

do polinômio que interpola a variável de campo é de 1° ordem, isto porque a

interpolação linear define de forma única à reta que passa pelos respectivos pontos

nodais (ALVES FILHO, 2000).

Apenas para exemplificar a motivação do MEF, considere a aproximação

da função u = u(x) (seção 4.3.2). Será proposto uma partição do domínio Ω em

intervalos uniformes como mostra a Figura 4.13.

Figura 4.13 – Partição do domínio em intervalos uniformes.

As funções de base são geradas através do uso de funções simples lineares

por partes, elemento a elemento, sobre toda a malha de elementos finitos. Além

disso, as funções de base são escolhidas de maneira que os parâmetros αi

(expressão 4.47) sejam os valores da solução aproximada nos respectivos pontos

Ω1 Ω2 Ω3 Ω4

Nó típico

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88

nodais. Se as coordenadas dos nós são denotadas por xi, as funções de base Ni(x)

são definidas para cada nó i (= 1,2,3,4,5), de modo que:

≥≤

≤≤−

≤≤−

=

+−

++

−−

1i1i

1ii1i

i1i1i

i

xxexxpara0

xxxparah

xx

xxxparahxx

(x)N

A Figura 4.14 mostra a representação gráfica das funções de base

discutidas acima, também chamadas de funções pirâmide.

Figura 4.14 – Funções de interpolação do tipo “pirâmide”.

Supondo-se que os valores aproximados da função, u = u(x), nos nós

1,2,3,4,5 sejam, respectivamente, u1, u2, u3, u4, u5, então, tem-se que:

( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( )xNuxNuxNuxNuxNuxNuu 55443322

5

1i11iiaprox ++++=⋅= ∑

=

A Figura 4.15 mostra o resultado da aplicação do MEF para o problema

em questão. Pode-se perceber que o requerimento de continuidade na

aproximação linear trecho a trecho é garantida na interface dos elementos ao se

considerar que os parâmetros αi assumem os valores da solução aproximada nos

respectivos pontos nodais.

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89

(a)

(b)

Figura 4.15 – Resultado da aplicação do MEF: (a) Representação das funções de base globais; (b) Aproximação linear da função u trecho a trecho.

Retornando ao problema de valor inicial, considere agora que o corpo

sólido seja subdividido em elementos finitos como mostra a Figura 4.16. Aqui, o

domínio típico de um elemento finito será denotado por Ωe e seu contorno por Γe.

Figura 4.16 – Subdivisão do domínio em elementos finitos (KRUGER, 2001).

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90

Segundo REDDY & GARTLING (1994), a aproximação da variável de

campo no elemento finito pode ser feita considerando-se primeiro à aproximação

espacial e depois à temporal, logo, reportando-se a expressão 4.47, tem-se que:

[ ]∑=

⋅=⋅≅ne

1j

ene

e2

e1

ne21ejj

e

θ

θ

θ

NNN(t)θy)(x,Nt)y,(x,θM

K (4.56)

E em notação matricial:

eθNt)y,(x,θe ⋅≅ (4.57)

onde N é vetor (1 x ne) interpolador da variável de campo, mais conhecido como

função de base ou de forma, θe é o vetor (ne x 1) das temperaturas nodais

desconhecidas, e ne é o número de pontos nodais do elemento finito. O mesmo

requerimento para aproximar a variável de campo vale também para a função de

ponderação, logo:

[ ]∑=

⋅=⋅≅ne

1j

e3

e2

e1

ne21ejj

ψ

ψ

ψ

NNNψy)(x,Ny)w(x,M

K (4.58)

E em notação matricial:

TT Nψy)w(x, ⋅≅ (4.59)

onde (*)T denota o transposto de um vetor, NT é vetor (ne x 1) interpolador da

variável de campo, mais conhecido como função de base ou de forma, ψT é o

vetor (1 x ne) que denota a variação virtual nodal da temperatura no elemento

finito. A expressão 4.55 (forma fraca da equação do calor) quando reescrita para

um elemento finito típico, resulta em:

( ) ∫∫ ∫ ⋅=

∂∂

⋅⋅⋅+

∂∂

∂∂

+∂∂

∂∂

ee e Γ

ee

Ω Ω

e dΓdΩdΩ n

eee

qwtθθcρw

ywλ(θ)

xwλ(θ)

... (4.60)

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91

Em um primeiro momento, apenas o lado esquerdo da igualdade da

expressão anterior será examinado. Assim, tem-se a seguinte formulação integral:

( ) ( ) e

Ω

e

Ω

dΩdΩee∫∫

∂∂

⋅⋅⋅+

∂∂∂∂

∂∂

∂∂

tθθcρw

yθxθ

yw

xwθλ

e

e

e

(4.61)

Reportando-se a expressão 4.56, tem-se que:

[ ] e

ene

e

ne

ne

e

e

θBθ

θ

yN

yN

yN

xN

xN

xN

yθxθ

⋅=

∂∂

∂∂

∂∂

∂∂

∂∂

∂∂

=

∂∂∂∂

M

L

L 1

21

21

(4.62)

E da mesma forma para expressão 4.58:

[ ]TT Bψyw

xw

⋅=

∂∂

∂∂ (4.63)

Uma vez que ee θNt)y,(x,θ ⋅≅ (expressão 4.57), obtém-se:

⋅=∂

∂⋅=

∂∂ e

ee

θNtθN

tθ (4.64)

Substituindo-se as expressões 4.62, 4.63 e 4.64 em 4.61, e após algumas

operações algébricas, chega-se a:

( ) [ ] [ ] [ ] [ ] ∫ ∫ ⋅⋅⋅+

⋅⋅⋅⋅•

e eΩ Ω

eTTeTT dΩdΩ ee θBBλ(θ)ψθNNθcρψ

( )[ ] ( )[ ] eecond

ee θθKψθθMψ ⋅+

⋅=•

ee ΩTΩT (4.65)

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92

A integral de linha do lado direito da igualdade (expressão 4.60) pode ser

decomposta do seguinte modo (ver expressão 4.43):

( )[ ] ( )[ ] ( )∫∫∫ ∫ ⋅+−⋅⋅+−⋅⋅=⋅e3

e2

e e1 ΓΓΓ Γ

edΓ dsqwdsθθhwdsθθhwqw se

gre

gcn

... (4.66) onde ds representa um comprimento de arco infinitesimal ao longo do contorno Γe

do elemento finito. O objetivo agora é decompor a expressão 4.66 em relação a

cada porção do contorno Γe de interesse. Então, da inspeção das expressões 4.57 e

4.59, tem-se que:

( )[ ] [ ] [ ] [ ] eTc

Tgc

egc θdsNNhψdsNθhψθθhw ⋅⋅⋅−⋅⋅=−⋅⋅ ∫∫∫

e1

e1

e1 Γ

T

Γ

T

Γ

e1dΓ

[ ] econvconv θKψqψ ⋅−=

e1

e1 ΓTΓT (4.67)

( )[ ] [ ] [ ] [ ] eTr

Tgr

egr θdsNNhψdsNθhψθθhw ⋅⋅⋅−⋅⋅=−⋅⋅ ∫∫∫

e2

e2

e2 Γ

T

Γ

T

Γ

e2dΓ

( ) ( )[ ] eerad

erad θθKψθqψ ⋅−=

e2

e2 ΓTΓT (4.68)

( ) [ ] e3

e3

e3

ΓT

Γ

TT

Γ

e3dΓ sss qψdsNqψqw =⋅=⋅ ∫∫ (4.69)

Uma vez que o lado direito (expressão 4.65) e o lado esquerdo (expressões

4.67, 4.68 e 4.69) da igualdade foram decompostos, a expressão 4.60 pode ser

reescrita na seguinte forma matricial:

( ) ( ) ( ) ( )

+

+

=⋅

+++

• e3

e2

e1

e2

e1

ee ΓΓΓT

ΓΓΩT

ΩT

se

radconvee

radconve

condee qθqqψθθKKθKψθθMψ

( )[ ]

⋅=•eeeT θθMψ + ( )[ ] eee θθKψ ⋅T = ( ) ee θqψT (4.70)

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93

Somando-se as contribuições de cada elemento finito de domínio Ωe de

modo que se tenha a solução para todo domínio Ω:

[ ] [ ] ∑ ∑ ∑= = =

=⋅+

⋅E

1e

E

1e

E

1e

TTT )()()( eeeeeeee θqψθθKψθθMψ

( ) ( ) ( )θqΨθθKΨθθMΨ ⋅=⋅⋅+⋅⋅=•

TTT (4.71)

A expressão anterior deve ser satisfeita para qualquer vetor Ψ T, desde que,

ψ i seja nulo nos contornos, ou nós, que possuam valores impostos ou prescritos

para variável de campo (solução homogênea). Este procedimento corresponde a

eliminar as linhas e colunas relacionadas aos nós que satisfaçam a condição acima

(CHANDRUPATTA & BELEGUNDU, 1997). Para ilustrar a idéia, considere o

seguinte sistema de equações algébricas, resultante da análise térmica linear em

regime permanente:

⋅=

⋅⋅

N

2

1

T

N

2

1

T

NNN2N1

2N2221

1N1211

T

q

qq

Ψ

θ

θθ

Ψ

KKK

KKKKKK

ΨMM

K

M

K

K

(4.72)

Considerando, hipoteticamente, que θ1 = A1 (temperatura prescrita), a

variação virtual da temperatura é nula no respectivo ponto nodal, ou seja, ψ1 = 0.

Escolhendo o vetor da variação virtual da temperatura como Ψ = [0, 1, 0, ..., 0]T,

Ψ = [0, 0, 1, ..., 0]T, ...... , Ψ = [0, 0, 0, ..., 1]T, e substituindo cada um destes no

sistema original em 4.72, fica-se com:

⋅−

⋅−⋅−

=

1N1N

2313

1212

N

3

2

NNN3N2

3N3332

2N2322

AKq

AKqAKq

θ

θθ

KKK

KKKKKK

MM

K

M

K

K

(4.73)

onde se percebe que a linha e a coluna correspondentes ao nó com temperatura

prescrita foram excluídas do sistema original. Isto posto, apenas para tornar mais

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94

elegante a apresentação do MEF, a expressão 4.71 pode ser reescrita da seguinte

maneira:

( ) ( ) ( )θqθθKθθM =⋅+⋅•

(4.74)

As expressões 4.71 e 4.74 representam um sistema de equações

diferenciais de primeira ordem em relação ao tempo, onde E é o número de

subdivisões do domínio Ω em elementos finitos, M é a matriz de capacidade

térmica, K é a matriz de condutividade térmica, e q é o vetor do fluxo de calor.

Para o problema específico da transferência de calor entre os gases quentes

e a viga mista, a matriz de condutividade térmica, K, como também o vetor de

fluxo de calor, q, são dependentes da temperatura e também do tempo, pois,

ambos, possuem o termo do coeficiente de transferência de calor por radiação, hr,

em suas formulações. Ao término desta etapa, o modelo do MEF é chamado

“semidiscreto”, porque apenas a aproximação espacial foi formulada.

4.3.4 A APROXIMAÇÃO TEMPORAL

Na última etapa, conhecida como aproximação temporal, a solução da

expressão 4.74 é alcançada mediante o emprego do método da integração direta,

onde as equações diferenciais de primeira ordem em relação ao tempo são

representadas por meio de diferenças finitas no intervalo de tempo considerado

(POLIVKA & WILSON, 1976). Este procedimento começa por dividir o intervalo

de integração de interesse (0 ≤ t ≤ tfinal) em um número de segmentos discretos

denotados por ∆t (= tn+1 – tn), onde n corresponde ao número do passo do tempo.

Fazendo-se uso da aproximação por diferenças finitas à esquerda para o

instante de tempo “n+1” (ZIENKIEWICZ & MORGAN, 1983):

( )∆t∆θ

∆tθθ

tθ nn

n =−

=∂∂ +

+

1

1 (4.75)

Avaliando-se a expressão 4.74 no instante de tempo “n+1”, e usando-se a

definição acima, chega-se a:

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95

( ) ( ) ( ) ( )11111 ++++ =⋅+⋅⋅ nnnn θqθθK∆θθM∆t

(4.76)

A expressão anterior pode ser generalizada em relação a outros tipos de

diferenças finitas, a qual produzirá o seguinte algoritmo quando avaliada no

instante de tempo ta (REDDY & GARTILING, 1994):

( ) ( ) ( ) ( ) ( ) naanaa θθKαθqθθKα∆θθM∆t

⋅⋅−−=⋅⋅+⋅⋅ + 11 1 (4.77)

Em que:

( ) 11 +⋅+⋅−= nna θαθαθ (4.78)

onde α (0 ≤ α ≤ 1) representa um parâmetro transiente que indica a estabilidade

do sistema. E para diferentes valores do parâmetro transiente, tem-se os seguintes

métodos de aproximação temporal:

α = 0 – Método Explícito (condicionalmente estável);

α = 1/2 – Método de Crank-Nicolson (incondicionalmente estável);

α = 2/3 – Método de Galerkin (incondicionalmente estável);

α = 1 – Método Implícito (incondicionalmente estável).

Quando α < ½ o sistema é estável apenas para certas restrições impostas

ao passo do tempo (critério de estabilidade). O Método Implícito corresponde ao

caso da expressão 4.76, que é incondicionalmente estável seja qual for o

incremento de tempo utilizado na análise. Como θθθ ∆+=+ nn 1 (expressão 4.75),

e após algumas operações algébricas a partir da expressão 4.76, chega-se a:

( ) ( ) ( ) ( ) nnnnn θθKθq∆θθKθM∆t

⋅−=⋅

+⋅ ++++ 11111 (4.79)

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96

A expressão acima inclui não-linearidades cuja solução requer processos

iterativos de cálculo a cada passo do tempo (BATHE, 1996). Os métodos de

iteração mais largamente utilizados na análise dos elementos finitos são os

baseados na técnica clássica de Newton-Raphson. Reescrevendo a expressão 4.79

de maneira mais conveniente à aplicação do método:

( )[ ] ( ) 11

11

+−

+− =⋅ n

iinitg θR∆θθK (4.80)

Em que:

( )[ ] ( ) ( )

+⋅= +++

−1

11

11

11 n

i-ni-

nitg θKθM

∆tθK (4.81)

e

( ) ( ) ( ) ni-

ni-

ni-

ni θθKθqθR 1

11

11

11 ⋅−= +++

− (4.82)

Onde:

n+1 representa o número do passo do tempo;

i representa o número da iteração requerida para se atingir a convergência da

solução no passo do tempo n+1;

( )[ ]11+

−nitg θK é a matriz tangente ou Jacobiana;

( ) 11+

−niθR é o resíduo ou vetor desbalanceado, e representa quão o sistema não-

linear transiente está fora de equilíbrio.

A convergência é obtida quando o vetor residual resultar menor do que

uma tolerância pré-definida para a i-ésima iteração no passo de tempo n+1.

Basicamente, o algoritmo do método iterativo de Newton-Raphson consiste em:

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97

(1) Assumir o valor inicial n0θ , que de início corresponde ao vetor que

representa a condição inicial, e posteriormente corresponderá ao vetor resultante

das iterações de um passo de tempo anterior;

(2) Calcular as matrizes M, K e o vetor q, no passo de tempo “n+1”, através do

vetor “predictor” 11+−

niθ , que corresponde a solução da expressão 4.77 quando α

for igual a zero (Método Explícito), isto é:

( ) ( ) ( ) ( ) ni

ni

ni

ni

ni

ni

ni θθKθq∆tθθMθθM 11111

111 −−−−−+

−− ⋅−⋅+⋅=⋅ (4.83)

(3) Determinar a matriz tangente e o vetor residual para 11+−

niθ fazendo-se uso das

expressões 4.81 e 4.82;

(4) Calcular i∆θ , a partir da expressão 4.80, por meio de métodos diretos ou

indiretos de solução de sistemas de equações algébricas, lembrando-se de eliminar

as linhas e colunas que correspondem as condições de contorno de Dirichlet;

(5) Somar i∆θ e 11+

−niθ de modo a obter a próxima aproximação, ou seja:

ini

ni ∆θθθ += +

−+ 1

11 (4.84)

Os passos (3) à (5) são repetidos até obter-se a convergência requerida no

passo de tempo “n+1”. Segundo BATHE (1996), quando a matriz tangente é

atualizada a cada iteração, o método iterativo é chamado de Newton-Raphson

Completo. Quando a atualização é feita com menor freqüência, isto é, geralmente

na primeira ou segunda iteração, o método iterativo é chamado de Newton-

Raphson Modificado. No método de Newton-Raphson de Rigidez Inicial, a matriz

Jacobiana é atualizada quando da ocorrência de mudanças nas características

iniciais do sistema.

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5 APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS DA ANÁLISE TÉRMICA DE VIGAS MISTAS EM SITUAÇÃO DE INCÊNDIO

5.1 INTRODUÇÃO

O software comercial ANSYS é um programa baseado no Método dos

Elementos Finitos que resolve numericamente uma grande variedade de

problemas mecânicos, tais como: estruturais (estáticos/dinâmicos), transferência

de calor, escoamento de fluidos, acústicos e eletromagnéticos. No que concerne à

transferência de calor, ele resolve problemas multidimensionais de difusão de

calor com as mais severas não-linearidades e com os mais diversos tipos de

condições de contorno.

Em linhas gerais, o programa ANSYS segue aquilo que foi discutido no

capítulo anterior, sendo, portanto, o programa numérico utilizado no presente

capítulo para realizar a análise térmica transiente não-linear de vigas mistas em

situação de incêndio.

5.2 HIPÓTESES DE CÁLCULO

Em se tratando do método avançado de análise térmica, é preciso

considerar algumas hipóteses de cálculo antes da análise propriamente dita.

Admite-se que o elemento estrutural encontra-se totalmente imerso nas chamas do

compartimento e que a elevação da temperatura dos gases quentes respeita a curva

temperatura-tempo do incêndio-padrão (expressão 3.1). É o chamado “lado

exposto ao fogo”, onde se localiza a viga de aço e a parte inferior da laje de

concreto. Na parte superior da laje, chamado “lado não exposto ao fogo”,

considera-se que não há incêndio, e que o ar encontra-se à temperatura ambiente

(convecção natural).

Logo adiante, a Tabela 5.1 traz um resumo das condições inicial e de

contorno adotadas neste trabalho. O coeficiente de transferência de calor por

convecção do lado não exposto ao fogo segue o que foi descrito em KRUPPA &

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99

ZHAO (1995) e recomendado pelo Eurocódigo, isto é, no caso de elementos

pertencentes à vedação (a laje de concreto é considerada como elemento de

compartimentação horizontal) pode-se usar o valor especificado na tabela, como

também, desprezar os efeitos da transferência de calor por radiação. Os demais

valores seguem o recomendado pela NBR 14323 (capítulo 3).

Tabela 5.1 – Condições inicial e de contorno para a viga mista com e sem material de proteção térmica.

Coeficiente de transferência de calor por convecção do lado não exposto ao fogo (W/m2.°C)

9

Emissividade resultante entre os gases quentes e o perfil de aço (também vale para o caso da proteção passiva)

0.5

Coeficiente de transferência de calor por convecção do lado exposto ao fogo (W/m2.°C)

25

Temperatura inicial (°C) 20

A Figura 5.1 representa o modelo físico proposto para análise térmica.

Nela se observa duas situações físicas distintas à que está sujeita a superfície de

contorno da viga mista, ou seja, o lado que está, e o outro que não, exposto ao

fogo.

Figura 5.1 – Modelo proposto para modelagem numérica da viga mista em

situação de incêndio.

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100

5.3 IMPLEMENTACÃO COMPUTACIONAL

O elemento utilizado foi o PLANE35, que é um elemento finito triangular

quadrático composto por seis pontos nodais, como mostra a Figura 5.2, o qual se

encontra na biblioteca de elementos do programa ANSYS, sendo muito utilizado

em problemas bidimensionais de transferência de calor.

Figura 5.2 – Elemento finito PLANE35 utilizado na análise térmica.

A função de interpolação quadrática para o elemento PLANE35 é dada

por:

As funções de forma são expressas em termos da área ou das coordenadas

naturais, Li, que estão relacionadas pela condição auxiliar L1 + L2 + L3 = 1, ou

seja, existem apenas duas coordenadas de área independentes.

θ =

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101

5.3 COMPORTAMENTO TÉRMICO OBSERVADO

Esta seção tem como objetivo descrever o comportamento térmico

genérico em situação de incêndio da viga mista sem proteção térmica com laje

maciça de concreto e também com fôrma de aço incorporada, cuja ligação na

interface aço-concreto é feita através do “Stud Bolt”. Para isso utilizou-se o perfil

metálico VS 300x28. A Figura 5.3 apresenta as dimensões (mm) e geometria das

vigas mistas submetidas à análise térmica não-linear transiente.

(a)

(b)

Figura 5.3 – Casos estudados: (a) Viga mista com laje de concreto maciça; (b)Viga mista com fôrma de aço incorporada.

As propriedades do aço foram aquelas recomendadas pela NBR 14323

(1999) – ver expressões 2.5, 2.7 e 2.9. Já para o concreto, foram utilizadas as

propriedades térmicas descritas pelas expressões 2.8 e 2.10 [NBR 14323 (200X)],

e para a massa específica foi utilizada a expressão 2.6. Já o incremento de tempo

adotado foi de 30 segundos.

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102

A Figura 5.4 apresenta o campo de temperaturas durante o tempo de

duração do incêndio de 30, 60, 90 e 120 minutos, para a viga mista com laje de

concreto maciça.

(a) (b)

(c) (d)

Figura 5.4 – Campo de temperaturas para viga mista com laje de concreto maciça após um tempo de duração do incêndio de: (a) 30 min; (b) 60 min;

(c) 90 min e (d) 120 min.

As cores variam do azul ao vermelho, representando, respectivamente, as

baixas e as altas temperaturas. Nota-se que o campo de temperaturas na laje de

concreto é uniforme ao longo da largura efetiva, exceto na região que contém o

conector, o qual se percebe uma zona de perturbação das isotermas devido à

diferença de condutividade térmica entre o aço e o concreto. A temperatura

mínima ocorre na superfície da laje que não está exposta ao fogo, enquanto que, a

máxima ocorre na alma do perfil metálico, mais precisamente no centro de

gravidade da seção mista.

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103

Logo abaixo, a Figura 5.5 está representando a distribuição das

temperaturas na viga mista segundo os TRRF de 30, 60, 90 e 120 minutos.

Figura 5.5 –Distribuição das temperaturas (°C) na viga mista com laje de concreto maciça para os TRRF de 30, 60, 90 e 120 minutos.

Adiante, a Figura 5.6 apresenta o campo de temperaturas durante o tempo

de duração do incêndio de 30, 60, 90 e 120 minutos, para a viga mista com fôrma

de aço incorporada.

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104

(a) (b)

(c) (d)

Figura 5.6 – Campo de temperaturas para viga mista com fôrma de aço incorporada após um tempo de duração do incêndio de: (a) 30 min; (b) 60 min;

(c) 90 min e (d) 120 min.

Percebe-se que as superfícies de igual temperatura (isotermas) apresentam

um padrão diferente do que o da viga mista com laje maciça. Na laje mista o

campo de temperaturas não é mais uniforme ao longo da largura efetiva da laje,

ele varia quando há mudanças na geometria da fôrma e na presença do conector

de cisalhamento.

Pelo fato de existir peculiaridades inerentes ao Steel Deck, a NBR 14323

(1999), em seu ANEXO C, dispõe sobre o caso específico das lajes mistas em

situação de incêndio.

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105

A Figura 5.7 demonstra a distribuição das temperaturas na viga com fôrma

de aço incorporada para os TRRF de 30, 60, 90 e 120 minutos.

Figura 5.7 – Distribuição das temperaturas (°C) na viga mista com fôrma de aço

incorporada para os TRRF de 30, 60, 90 e 120 minutos.

O campo de temperaturas no perfil metálico foi omitido, pois é

rigorosamente o mesmo que o da viga mista com laje de concreto maciça.

A seguir, a Figura 5.8 mostra de que forma o calor é conduzido no interior

da viga mista com fôrma de aço incorporada. A resultante vetorial do fluxo

térmico é representada por uma pequena seta vermelha que aponta na direção da

diminuição de temperatura.

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106

Figura 5.8 – Condução do calor no interior da viga mista com fôrma de aço

incorporada.

A Tabela 5.2 traz os valores da temperatura no conector e na mesa superior

para os dois casos estudados. A temperatura no Stud Bolt corresponde a do ponto

médio (centróide) representado nas figuras 5.5 e 5.7. Nota-se que a temperatura no

Stud Bolt é praticamente a mesma para os dois casos, variando de 60% a 80% em

relação à temperatura da mesa superior do perfil metálico.

Tabela 5.2 – Temperatura (°C) no conector e na mesa superior dos casos estudados ao longo do tempo de duração do incêndio.

Temperatura (°C)

Laje maciça Steel Deck

Tempo

(minutos) Conector Mesa superior Conector Mesa superior

30 382,505 634,104 406,168 634,104

60 596,730 841,007 639,569 841,007

90 722,696 940,503 776,660 940,503

120 814,712 1001,49 874,327 1001,49

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107

5.4 VIGAS MISTAS SEM MATERIAL DE PROTEÇÃO TÉRMICA

Os objetivos desta seção são dois: no perfil metálico, observar o

aquecimento da peça de aço em função do fator de massividade da seção, e

examinar o desenvolvimento da temperatura durante o tempo de exposição ao

incêndio em relação a cada uma das partes da seção de aço (mesa superior, alma e

mesa inferior); e na laje de concreto maciça, verificar qual é a seção crítica e

comparar os resultados obtidos com os da NBR 14323.

Foram analisadas três vigas mistas sem material de proteção térmica, cujos

perfis metálicos representavam diferentes tipos de tamanho: pequeno (VS

250x25), médio (VS 450x59) e grande (VS 650x144). A laje de concreto possuía

espessura de 10 cm e largura efetiva de 100 cm. A Figura 5.9 mostra os pontos e

as seções escolhidas para obtenção dos resultados numéricos. Os pontos (1), (2) e

(3), correspondem, respectivamente, a temperatura na mesa inferior, alma e mesa

superior.

Figura 5.9 – Pontos e seções escolhidas para obtenção dos resultados numéricos.

As propriedades físicas do aço e do concreto foram as mesmas da seção

anterior. O incremento de tempo adotado foi de 30 segundos. As dimensões (mm)

e geometria dos casos analisados estão representadas na Figura 5.10, logo em

seguida.

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108

(a)

(b)

(c)

Figura 5.10 – Casos estudados: (a) Perfil pequeno; (b)Perfil médio e (c)Perfil

grande.

A seguir, a Figura 5.11 apresenta o desenvolvimento da temperatura na

alma da viga mista para o TRRF máximo de 60 minutos. Percebe-se que o perfil

de menor massa (kg/m) e maior fator de massividade, é aquecido mais

rapidamente nos primeiros 30 minutos de duração do incêndio, seguido pelo

médio e depois o grande. Após 30 minutos, a resposta térmica é praticamente a

mesma para os três casos.

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109

0

200

400

600

800

1000

1200

0 10 20 30 40 50 60

tempo (min)

tem

pera

tura

(°C

)

VS 250x25 VS 450x59 VS 650x144

Figura 5.11 – Desenvolvimento da temperatura na alma da viga mista segundo o TRRF de 60 minutos.

A Tabela 5.3 traz a temperatura alcançada pela alma, para o TRRF

máximo de 30 minutos, em função do fator de massividade de cada perfil

metálico.

Tabela 5.3 – Temperatura da alma (°C) em função do fator de massividade dos perfis de aço para o TRRF máximo de 30 minutos.

Temperatura (°C)

Fator de massividade (m-1)

Tempo

(minutos) 301 (VS 250x25)

214 (VS 450x59)

115 (VS 650x144)

5 419,68 375,626 333,072

10 621,664 598,496 567,279

15 707,300 695,603 679,093

20 763,623 756,358 745,149

25 803,803 799,763 793,459

30 834,309 831,811 828,178

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110

A Figura 5.12 mostra o desenvolvimento da temperatura em relação a cada

uma das partes da seção de aço, ao longo do tempo de duração do incêndio, para

os três perfis de aço analisados.

0

100

200

300

400

500

600

700

800

900

0 5 10 15 20 25 30

tempo (min)

tem

pera

tura

(°C

)

Mesa inferior Alma Mesa superior

(a) VS 250x25

0

100

200

300

400

500

600

700

800

900

0 5 10 15 20 25 30

tempo (min)

tem

pera

tura

(°C

)

Mesa inferior Alma Mesa superior

(b) VS 450x59

0

100

200

300

400

500

600

700

800

900

0 5 10 15 20 25 30

tempo (min)

tem

pera

tura

(°C

)

Mesa inferior Alma Mesa superior

(c) VS 650x144

Figura 5.12 – Desenvolvimento da temperatura na alma e mesas superior e inferior para os três perfis metálicos.

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111

Conforme a figura anterior, no perfil pequeno, a curva que representa a

temperatura da alma praticamente coincide com a da mesa inferior, e na medida

que a seção vai se tornando menos compacta, ou mais esbelta (Figura 5.10), a uma

ligeira diferença entre as duas, que fica mais evidente no perfil de maior porte.

Ainda de acordo com a mesma figura, observa-se também que a inclinação das

curvas é menos pronunciada à medida que a seção de aço torna-se mais pesada e

com menor fator de massividade.

No caso da laje de concreto, a Figura 5.13 mostra os pontos escolhidos

para obtenção dos resultados numéricos em relação a cada seção típica da laje (ver

Figura 5.9).

Figura 5.13 – Seção típica da laje de concreto.

As tabelas a seguir apresentam valores de temperatura para cada seção

típica da laje em relação aos pontos e fatias da Figura 5.13. A temperatura nos

pontos foi obtida através da análise térmica dos perfis descritos anteriormente. A

temperatura em cada fatia, corresponde à média entre os pontos inferior e superior

da mesma. A variação de temperatura uniforme na laje de concreto, θc, foi

determinada por meio da expressão 3.20, que nada mais é do que a média

ponderada das n fatias distribuídas ao longo da altura de cada seção típica da laje.

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Tabela 5.4 – Variação da temperatura na altura da laje de concreto para o perfil VS 250x25. Tempo Temperatura nos pontos escolhidos (°C) (min) 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11

30 701,833 489,376 348,045 250,212 181,265 132,437 98,0231 74,301 58,7337 49,6205 45,9111 60 873,006 677,413 531,833 421,864 337,743 273,291 224,299 187,682 161,429 144,043 134,495 90 955,385 782,304 644,632 535,761 449,747 381,61 328,109 286,629 255,401 232,974 218,272 120 1009,48 854,356 725,337 620,429 535,24 466,362 410,875 366,582 331,89 305,412 286,1

Tempo Temperatura nas fatias (°C) θc

(min) 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 (°C) 30 596 419 299 216 157 115 86 67 54 48 206 60 775 605 477 380 306 249 206 175 153 139 346 90 869 713 590 493 416 355 307 271 244 226 448 120 932 790 673 578 501 439 389 349 319 296 526

Seção Típica 1 Tempo Temperatura nos pontos escolhidos (°C) (min) 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11

30 693,412 492,7 354,421 257,002 187,526 137,842 102,538 78,0149 61,8117 52,2625 48,3307 60 859,492 674,519 533,197 425,043 341,62 277,344 228,279 191,483 165,016 147,423 137,684 90 944,311 778,149 643,715 536,567 451,501 383,875 330,618 289,23 257,989 235,483 220,649 120 1000,71 850,668 724,009 620,425 536,008 467,593 412,371 368,205 333,554 307,046 287,642

Temperatura nas fatias (°C) Tempo (min) 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

θc (°C)

30 593 424 306 222 163 120 90 70 57 50 209 60 767 604 479 383 309 253 210 178 156 143 348 90 861 711 590 494 418 357 310 274 247 228 449 120 926 787 672 578 502 440 390 351 320 297 526

Seção Típica 2

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Tabela 5.5 – Variação da temperatura na altura da laje de concreto para o perfil VS 450x59. Tempo Temperatura nos pontos escolhidos (°C) (min) 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11

30 674,242 468,788 331,97 237,717 171,594 125,006 92,3404 69,9496 55,333 46,8217 43,3891 60 861,259 666,169 521,125 412,026 328,894 265,374 217,215 181,31 155,641 138,708 129,498 90 949,006 775,746 637,799 528,918 443,061 375,18 321,992 280,847 249,956 227,855 213,474 120 1004,8 849,722 720,362 615,299 530,114 461,315 405,966 361,878 327,416 301,193 282,172

Tempo Temperatura nas fatias (°C) θc

(min) 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 (°C) 30 572 400 285 205 148 109 81 63 51 45 196 60 764 594 467 370 297 241 199 168 147 134 338 90 862 707 583 486 409 349 301 265 239 221 442 120 927 785 668 573 496 434 384 345 314 292 522

Seção Típica 1 Tempo Temperatura nos pontos escolhidos (°C) (min) 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11

30 693,421 492,717 354,443 257,025 187,547 137,859 102,551 78,0236 61,8175 52,2665 48,3341 60 859,493 674,518 533,192 425,033 341,606 277,327 228,259 191,46 164,992 147,399 137,662 90 944,305 778,128 643,68 536,52 451,445 383,811 330,55 289,158 257,916 235,411 220,581 120 1000,7 850,633 723,952 620,35 535,92 467,495 412,267 368,098 333,447 306,942 287,544

Tempo Temperatura nas fatias (°C) θc

(min) 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 (°C) 30 593 424 306 222 163 120 90 70 57 50 210 60 767 604 479 383 309 253 210 178 156 143 348 90 861 711 590 494 418 357 310 274 247 228 449 120 926 787 672 578 502 440 390 351 320 297 526

Seção Típica 2

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Tabela 5.6 – Variação da temperatura na altura da laje de concreto para o perfil VS 650x144. Tempo Temperatura nos pontos escolhidos (°C) (min) 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11

30 577,318 399,673 281,533 200,69 144,432 105,106 77,8171 59,3102 47,356 40,4681 37,7382 60 804,622 617,866 480,814 378,289 300,631 241,551 196,826 163,64 140,005 124,532 116,288 90 923,074 748,661 611,401 504,148 420,122 354,122 302,677 263,146 233,634 212,705 199,325 120 987,188 831,483 701,932 597,051 512,48 444,449 389,907 346,74 313,181 287,869 269,785

Tempo Temperatura nas fatias (°C) θc

(min) 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 (°C) 30 488 341 241 173 125 91 69 53 44 39 166 60 711 549 430 339 271 219 180 152 132 120 310 90 836 680 558 462 387 328 283 248 223 206 421 120 909 767 649 555 478 417 368 330 301 279 505

Seção Típica 1 Tempo Temperatura nos pontos escolhidos (°C) (min) 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11

30 693,41 492,65 354,306 256,862 187,395 137,734 102,456 77,9549 61,7683 52,2294 48,3018 60 859,471 674,46 533,111 424,938 341,501 277,216 228,145 191,346 164,879 147,289 137,557 90 944,283 778,053 643,568 536,38 451,283 383,634 330,362 288,965 257,723 235,223 220,402 120 1000,67 850,537 723,8 620,157 535,698 467,251 412,008 367,834 333,183 306,686 287,303

Tempo Temperatura nas fatias (°C) θc

(min) 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 (°C) 30 593 423 306 222 163 120 90 70 57 50 209 60 767 604 479 383 309 253 210 178 156 142 348 90 861 711 590 494 417 357 310 273 246 228 449 120 926 787 672 578 501 440 390 351 320 297 526

Seção Típica 2

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115

A Tabela 5.7 apresenta a variação de temperatura uniforme θc nas seções

da laje de concreto, obtida a partir das tabelas anteriores. As maiores temperaturas

estão localizadas na seção 2 – chamada “seção crítica”, que se encontra numa

posição mais distante do eixo de simetria vertical da viga mista. Uma outra

observação importante é que na seção 2, as temperaturas são as mesmas, seja qual

for o perfil. Observa-se também, que na seção 1, as maiores temperaturas

pertencem novamente ao perfil de maior fator de massividade.

Tabela 5.7 – Temperatura uniforme nas seções da laje de concreto. θc (°C)

Seção 1 Seção 2

Tempo

(min) VS

250x25

VS

450x59

VS

650x144

VS

250x25

VS

450x59

VS

650x144

30 206 196 166 209 210 209

60 346 338 310 348 348 348

90 448 442 421 449 449 449

120 526 522 505 526 526 526

Na Tabela 5.8 estão representados os valores da temperatura uniforme na

laje de concreto para seção 2 e os recomendados pela NBR (14323,1999), que

foram determinados a partir da Tabela 3.5 (capítulo 3).

Tabela 5.8 – Comparação dos valores de temperatura entre os métodos: avançado (MEF) e simplificado de cálculo (NBR).

θc (°C) Tempo (minutos) NBR MEF

30 190 209 60 296 348 90 361 449 120 407 526

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116

5.5 A EFICIÊNCIA DA PROTEÇÃO PASSIVA

Esta seção tem como objetivo avaliar o desempenho da viga mista

revestida com material isolante térmico, e verificar qual dos dois tipos de proteção

passiva, contorno ou caixa, é o mais eficiente para retardar o acesso do calor ao

aço.

Três casos foram analisados via Método dos Elementos Finitos (MEF): o

perfil sem proteção, o perfil com proteção do tipo contorno e o perfil com

proteção do tipo caixa. O perfil utilizado foi o VS 400x58. A Figura 5.14

apresenta as dimensões (mm) e a geometria do perfil revestido. O incremento de

tempo adotado foi de 20 segundos.

(a)

(b)

Figura 5.14 – Perfil revestido com material de proteção térmica do tipo:

(a) contorno e (b) caixa.

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117

A Tabela 5.9, logo abaixo, mostra as propriedades do aço e do concreto

utilizadas na análise térmica transiente.

Tabela 5.9 – Propriedades do aço e do concreto.

Propriedades Aço Concreto

Massa específica (kg/m3) 7850 2400

Calor específico (J/kg.°C) 600 1000

Condutividade térmica (W/m.°C) 45 0.90

As propriedades e a espessura do material isolante estão representadas na

Tabela 5.10. Já para o caso da proteção tipo caixa, embora seja difícil prever qual

o mecanismo de transmissão de calor que predomina no interior da cavidade, será

considerado aqui, apenas a condução conforme a Tabela 5.11 (HOLMAN, 1983).

Tabela 5.10 – Características do revestimento de proteção térmica.

Espessura (mm) 15

Calor específico (J/kg.°C) 1100

Condutividade térmica (W/m.°C) 0.15

Massa específica (kg/m3) 350

Tabela 5.11 – Propriedades do ar no interior da cavidade da proteção tipo caixa.

Temperatura (°C)

Propriedades 20 270 520 720 1000

ρ (kg/m3) 1,18 0,64 0,44 0,35 0,27

c (J/kg.°C) 1006 1039 1098 1142 1197

λ (W/m.°C) 0,026 0,044 0,058 0,068 0,083

A seguir, a Figura 5.15 mostra o desenvolvimento da temperatura durante

o tempo de duração do incêndio em relação às partes constituintes da seção de

aço. Os pontos escolhidos para obtenção dos resultados foram os centróides da

mesa superior, mesa inferior e alma.

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118

0100200300400500600700800900

10001100

0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 110 120

tempo (min)

tem

pera

tura

(°C

)

sem proteção com proteção tipo contorno com proteção tipo caixa

(a)Mesa inferior

0100200300400500600700800900

10001100

0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 110 120

tempo (min)

tem

pera

tura

(°C

)

sem proteção com proteção tipo contorno com proteção tipo caixa

(b)Alma

0100200300400500600700800900

10001100

0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 110 120

tempo (min)

tem

pera

tura

(°C

)

sem proteção com proteção tipo contorno com proteção tipo caixa

(c)Mesa superior

Figura 5.15 – Temperatura no perfil VS 400x58 durante o tempo de exposição ao incêndio.

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119

Da inspeção da figura anterior, pode-se observar a diminuição da

temperatura quando o perfil metálico é revestido pelo material isolante, sendo

mais significativa quando o perfil possui proteção do tipo caixa. Apenas para

exemplificar, a Tabela 5.12 mostra valores de temperatura na alma da seção de

aço sem proteção, com proteção tipo contorno e com proteção tipo caixa para os

TRRF de 30, 60, 90 e 120 minutos.

Tabela 5.12 – Temperatura na alma do perfil metálico para os três casos analisados, segundo os TRRF de 30, 60, 90 e 120 minutos.

Temperatura (°C) TRRF (minutos) Sem proteção Com proteção

tipo contorno Com proteção

tipo caixa 30 834 406 62 60 942 644 161 90 1004 781 268 120 1048 871 366

Para o TRRF de 60 minutos, a Figura 5.16, logo a seguir, demonstra o

campo de temperaturas obtido através da análise térmica transiente. Percebe-se

que praticamente não houve variação de temperatura ao longo da largura efetiva

da laje de concreto, a não ser na região imediatamente sobreposta ao flange

superior da seção de aço, no caso do perfil revestido pelo material de proteção

térmica. Entretanto, nesta região, onde se situa o conector de cisalhamento, não há

grandes variações térmicas ao longo da altura da laje.

No que concerne à seção de aço, observa-se como o material isolante

contribuiu para retardar o aumento da temperatura. No perfil desprotegido a faixa

de variação da temperatura encontra-se entre o amarelo e laranja, já no perfil

revestido com material de proteção tipo contorno, a faixa de variação da

temperatura encontra-se entre o azul e o verde e, por fim, no perfil revestido com

material de proteção do tipo caixa, a faixa de variação da temperatura está entre o

azul claro e o azul escuro.

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120

(a)Perfil sem proteção

(b)Perfil com proteção tipo contorno

(c)Perfil com proteção tipo caixa

Figura 5.16 – Campo de temperaturas segundo o TRRF de 60 minutos para o perfil sem e com proteção térmica.

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121

A Figura 5.17 apresenta o campo de temperaturas do perfil com proteção

tipo caixa para o TRRF de 120 minutos. Mesmo para um tempo de duração do

incêndio longo, a variação máxima de temperatura situa-se entre 550 e 650 °C,

que corresponde à faixa verde localizada no flange inferior do perfil. A presença

dos materiais isolantes contribuiu com grande eficiência para retardar o efeito do

calor na peça de aço.

Figura 5.17 – Temperatura no perfil com proteção tipo caixa para o TRRF de

120 minutos.

A NBR 14323 despreza a existência do ar no interior da cavidade e admite

uma distribuição uniforme de temperatura ao longo da seção de aço. Para esse

caso hipotético, a Tabela 5.13, adiante, apresenta os resultados obtidos do

programa ANSYS para o perfil com proteção tipo caixa segundo os TRRF de 30,

60, 90 e 120 minutos.

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122

Tabela 5.13 – Temperatura no perfil com proteção tipo caixa durante o tempo de duração do incêndio desprezando-se a existência do ar no interior da cavidade.

Temperatura (°C) TRRF ( minutos ) Mesa inferior Alma Mesa superior

30 167 40 42 60 323 113 88 90 450 202 140 120 554 289 195

Da inspeção da Tabela 5.12, nota-se para o caso específico da alma, que os

valores obtidos são semelhantes aos da Tabela 5.13, porém, considerando-se o ar,

os resultados são mais conservadores.

A Figura 5.18 apresenta o campo de temperaturas do perfil VS 400x58

com proteção tipo caixa sem levar em conta a presença do ar no interior da

cavidade segundo o TRRF de 120 minutos. Nota-se a semelhança com o mapa de

cores da Figura 5.17.

Figura 5.18 - Temperatura no perfil com proteção tipo caixa para o TRRF de

120 minutos sem levar em conta a presença do ar na cavidade da caixa.

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123

5.6 ANÁLISE COMPARATIVA

O objetivo desta seção é comparar os resultados obtidos pelo método de

cálculo avançado (ANSYS) com os do método simplificado (NBR, 1999). E para

tal, foram analisados três casos: o perfil sem proteção térmica (VS 650x144), o

perfil com proteção do tipo contorno (VS 400x58) e o perfil com proteção do tipo

caixa (VS 400x58).

Procedeu-se à análise térmica via MEF para o primeiro caso, onde as

características geométricas da viga mista encontram-se na Figura 5.10c e as

propriedades dos materiais na Tabela 5.9. Nos demais casos, a análise térmica foi

a mesma descrita na seção anterior. O incremento de tempo adotado foi de 20

segundos. Os pontos escolhidos para obtenção dos resultados numéricos

encontram-se na Figura 5.19. Os pontos (1), (2) e (3), correspondem,

respectivamente, a temperatura da mesa inferior, alma e mesa superior. Os

resultados da análise térmica via norma brasileira foram obtidos tal como descrito

no capítulo 3.

Figura 5.19 – Pontos escolhidos para obtenção dos resultados numéricos.

Na Figura 5.20, em seguida, estão representadas as curvas temperatura-

tempo do método simplificado e do método avançado de cálculo, em relação às

partes da viga de aço (mesa inferior, alma e mesa superior), para o caso do perfil

sem proteção térmica.

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124

0100200300400500600700800900

10001100

0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 110 120

tempo (min)

tem

pera

tura

(°C

)

ANSYS NBR 14323

(Mesa inferior)

0100200300400500600700800900

100011001200

0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 110 120

tempo (min)

tem

pera

tura

(°C

)

ANSYS NBR 14323

(Alma)

0100200300400500600700800900

10001100

0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 110 120

tempo (min)

tem

pera

tura

(°C

)

ANSYS NBR 14323

(Mesa superior)

Figura 5.20 – Curvas temperatura-tempo do método simplificado e do método avançado de cálculo para o perfil sem proteção.

Na Figura 5.21, em seguida, estão representadas as curvas temperatura-

tempo do método simplificado e do método avançado de cálculo, em relação às

partes da viga de aço, para o caso do perfil com proteção do tipo contorno.

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125

0

100

200

300

400

500

600

700

800

900

1000

0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 110 120

tempo (min)

tem

pera

tura

(°C

)

ANSYS NBR 14323

(Mesa inferior)

0

100

200

300

400

500

600

700

800

900

1000

0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 110 120

tempo (°C)

tem

pera

tura

(°C

)

ANSYS NBR 14323

(Alma)

0

100

200

300

400

500

600

700

800

900

1000

0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 110 120

tempo (min)

tem

pera

tura

(°C

)

ANSYS NBR 14323

(Mesa superior)

Figura 5.21 – Curvas temperatura-tempo do método simplificado e do método

avançado de cálculo para o perfil com proteção do tipo contorno.

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126

Na Figura 5.22 estão representadas as curvas temperatura-tempo do

método simplificado e do método avançado de cálculo, em relação às partes da

viga de aço, para o caso do perfil com proteção do tipo caixa.

0

100

200

300

400

500

600

700

800

900

1000

0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 110 120

tempo (min)

tem

pera

tura

(°C

)

ANSYS NBR 14323

(Mesa inferior)

0

100

200

300

400

500

600

700

800

900

0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 110 120

tempo (min)

tem

pera

tura

(°C

)

ANSYS NBR 14323

(Alma)

0

100

200

300

400

500

600

700

800

900

0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 110 120

tempo (min)

tem

pera

tura

(°C

)

ANSYS NBR 14323

(Mesa superior)

Figura 5.22 – Curvas temperatura-tempo do método simplificado e do método avançado de cálculo para o perfil com proteção do tipo caixa.

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127

5.7 COMPORTAMENTO TERMO-MECÂNICO

Em se tratando do desempenho estrutural da viga composta, um dos

fatores mais importantes, no que concerne ao seu dimensionamento, é a sua

capacidade resistente ao momento fletor positivo, principalmente, nos casos em

que é calculada como simplesmente apoiada. Assim, esta seção tem como objetivo

investigar o comportamento mecânico das vigas mistas, a partir do método

avançado de análise térmica.

O estudo foi realizado em duas etapas: a primeira representava análise

térmica e a segunda a análise estrutural. Foram estudados três casos: perfil sem

proteção, perfil com proteção total e o perfil com proteção parcial. A Figura 5.23

apresenta as dimensões (mm) e a geometria dos casos estudados.

(a)

(b)

Figura 5.23 – Características geométricas dos casos estudados: (a) viga com proteção total e (b) viga com proteção parcial.

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128

Entende-se como proteção total, o revestimento térmico do tipo contorno

que envolve toda a seção metálica. Segundo WANG (1997), vigas mistas

protegidas parcialmente são aquelas onde apenas a mesa inferior e uma fração da

alma da seção de aço estão protegidas termicamente contra o fogo. Na viga com

proteção parcial (Figura 5.23b), o valor de 60 mm corresponde a 15% da altura

(400 mm) do perfil.

No que concerne à análise térmica, em se tratando do perfil de aço, os

pontos que representavam os centróides da mesa superior, alma e mesa inferior

foram escolhidos para obtenção dos resultados numéricos. Na laje de concreto foi

escolhida a seção crítica investigada na seção 5.3, a qual foi dividida em cinco

fatias iguais de 20 mm. A Figura 5.24 ilustra o que foi discutido acima. As

propriedades dos materiais foram as mesmas da seção 5.4 (Tabelas 5.9 e 5.10). O

incremento de tempo adotado foi de 60 segundos.

Figura 5.24 – Localização da seção e dos pontos para obtenção dos resultados

numéricos.

Na Figura 5.25, a seguir, estão representados os campos de temperaturas

de cada caso estudado para um tempo de duração do incêndio de 40 minutos. Na

situação de proteção parcial, percebe-se que a mesa inferior e a fração da alma que

estão protegidos apresentam um campo de temperaturas semelhante ao do perfil

com proteção total, enquanto que, nas regiões que não estão protegidas, o campo

de temperaturas assemelha-se ao do perfil sem proteção.

seção crítica

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129

(Perfil sem proteção)

(Perfil com proteção parcial)

(Perfil com proteção total)

Figura 5.25 –Mapa de cores segundo o TRRF de 40 minutos.

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130

A Figura 5.26 apresenta o desenvolvimento da temperatura na mesa

inferior para os três casos estudados.

0

200

400

600

800

1000

1200

0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 110 120

Tempo(min)

Tem

p(°C

)

SEM PROTEÇÃO PROTEÇÃO PARCIAL PROTEÇÃO TOTAL

Figura 5.26 – Desenvolvimento da temperatura na mesa inferior da viga mista durante o tempo de duração do incêndio.

A Tabela 5.14 mostra os resultados numéricos para seção crítica da laje de

concreto. Os valores da temperatura são os mesmos para os três casos. Tanto a

temperatura nas fatias como a temperatura uniforme, θc, foram determinados

conforme a seção 5.3.

Tabela 5.14 – Temperatura nas fatias (°C) e a temperatura uniforme (θc) na seção crítica da laje ao longo do tempo de duração do incêndio.

FATIAS (mm) TEMPO (minutos) 0-20 20-40 40-60 60-80 80-100

θc (°C)

10 278 71 26 21 20 83 20 436 165 58 28 21 141 30 539 252 104 45 27 193 40 613 325 154 71 39 240 50 669 386 202 101 57 283 60 714 439 248 134 80 323 70 752 484 290 168 106 360 80 784 524 329 201 133 394 90 812 559 366 234 160 426 100 837 591 400 266 188 456 110 859 621 431 297 215 485 120 880 648 461 326 241 511

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131

Concluída a primeira etapa, a etapa seguinte era a que correspondia a

análise estrutural. Foi desenvolvido um programa para calcular à resistência ao

momento fletor positivo de vigas mistas em situação de incêndio. O software

comercial utilizado foi o MATHCAD.

O modelo adotado foi o de uma viga mista simplesmente apoiada,

pertencente a um edifício comercial. O perfil de aço tinha limite de escoamento de

250 MPa, enquanto que, à resistência característica do concreto à compressão era

de 18 MPa. Foram utilizados 21 conectores do tipo pino com cabeça (Stud Bolt)

de diâmetro 19 mm, cujo aço tinha limite de resistência à ruptura de 415 MPa. Os

conectores estavam devidamente espaçados entre a seção central (de momento

máximo) e do apoio (de momento nulo) como recomenda a NBR 8800, de modo

que se tivesse satisfeita a condição de interação completa. Os demais dados

necessários à análise estrutural encontram-se no APÊNDICE A, que faz a

demonstração do cálculo da capacidade resistente a momento, em situação de

incêndio, da viga mista com proteção parcial. O modelo estrutural seguiu aquilo

que foi discutido no capítulo 3.

Uma vez procedidas todas as análises, a Figura 5.27 apresenta a

distribuição do momento fletor positivo ao longo do tempo de duração do

incêndio para os três casos estudados. O momento fletor no tempo inicial (t = 0)

corresponde ao do dimensionamento a temperatura ambiente (20 °C).

0

50

100

150

200

250

300

350

400

450

0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 110 120

tempo (min)

mom

ento

(KN

.m)

sem proteção proteção parcial proteção total

Figura 5.27 – Gráfico momento versus tempo da viga mista durante o tempo de exposição ao incêndio.

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132

Da inspeção da figura anterior, percebe-se como a resistência à flexão da

viga diminui com o passar do tempo do incêndio. Nota-se que o perfil com

proteção total, naturalmente, é o de melhor desempenho estrutural seguido pelo

perfil com proteção parcial e depois o perfil desprotegido.

Como a mesa inferior responde por uma parcela importante do momento

fletor resistente, no caso específico do perfil com proteção parcial, seu isolamento

térmico foi necessário para garantir uma maior resistência quando comparada

àquela do perfil totalmente desprotegido, pelo menos até os primeiros trinta

minutos de duração do incêndio.

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6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

6.1 INTRODUÇÃO

No capítulo anterior foram apresentados os resultados numéricos do estudo

das vigas mistas em situação de incêndio. Basicamente, procurou-se realizar a

análise térmica transiente linear, e também a não-linear, através do software

comercial ANSYS. Procedeu-se também a análise simplificada da NBR 14323.

Na seção 5.1 foram discutidas as hipóteses de cálculo, como o modelo

físico e as condições inicial e de contorno presentes na análise.

A implementação computacional foi tratada na seção 5.2, que descreveu o

elemento finito e as funções de interpolação utilizadas na análise.

Na seção 5.3 foi investigado o comportamento térmico do perfil VS

300x28 com laje maciça e também com fôrma de aço incorporada, interligados

com o Stud Bolt, que procurou generalizar o comportamento da viga mista sem

proteção térmica perante o fogo.

Na seção 5.4 procedeu-se a análise térmica em três perfis de tamanhos

distintos, os quais estavam sem proteção térmica, com o objetivo de examinar o

comportamento da viga de aço e da laje de concreto maciça expostos ao incêndio.

Na seção 5.5, a utilização da proteção passiva contra incêndio foi

abordada. A análise térmica foi realizada para o perfil VS 400x58 sem proteção

térmica e com proteção térmica dos tipos contorno e caixa.

Na seção 5.6, os métodos avançado e simplificado de cálculo foram

comparados e, finalmente, na seção 5.7 foi discutido o comportamento termo-

mecânico das vigas mistas, com e sem proteção térmica, a partir do acoplamento

entre o método avançado de análise térmica e o método simplificado de análise

estrutural.

De posse dos resultados numéricos, que foram apresentados na forma de

gráficos e tabelas, esta seção tratará das considerações finais, onde serão debatidas

as conclusões alusivas ao capítulo anterior e, em seguida, as sugestões e

recomendação para trabalhos futuros.

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134

6.2 CONCLUSÕES

Antes da conclusão propriamente dita, é preciso tecer alguns comentários

sobre as hipóteses de cálculo. A suposição de que os gases quentes no

compartimento em chamas respeitavam a curva do incêndio-padrão é uma

hipótese aceitável que precisa ser utilizada com senso crítico, pois ela não

representa o comportamento real do incêndio. Todavia, não só no Brasil como na

maioria dos países do mundo, ela ainda hoje é bastante utilizada, principalmente,

para auferir a resistência dos elementos estruturais sob altas temperaturas.

A outra hipótese que tratava da superfície superior da laje (lado que não

está exposto ao fogo), é razoável desde que o edifício reúna condições mínimas de

segurança contra o incêndio, como paredes corta-fogo, compartimentação vertical

e horizontal, chuveiros automáticos (Sprinklers) e etc, de modo a evitar a

propagação das chamas para outros ambientes.

A presença da laje de concreto, ou mista, sobreposta ao perfil de aço gerou

um gradiente térmico entre as mesas superior e inferior. Como não estava

totalmente exposta ao incêndio devido à presença da laje, a mesa superior

alcançou temperaturas menores do que a mesa inferior, a qual estava exposta ao

incêndio por todos os lados. Já a alma, além de possuir a maior temperatura na

seção mista, apresentou uma distribuição não-uniforme de temperatura, onde as

temperaturas aumentavam da mesa inferior para o centróide e diminuíam, a partir

deste, em direção à mesa superior.

Na laje maciça de concreto, e da mesma forma para a laje mista, também

ocorreu à presença de um forte gradiente térmico ao longo da altura (espessura),

devido à diferença de temperatura entre o lado que estava, e o outro que não,

exposto ao fogo.

O fator de massividade é um item importante no dimensionamento de

elementos estruturais em situação de incêndio, pois ele dirá qual perfil irá

aquecer-se mais rapidamente para um determinado tempo duração do incêndio

(TRRF). O método avançado comprovou o fato após a análise três perfis

metálicos de tamanhos distintos. Aquele com maior fator de massividade

esquentou mais rapidamente que os demais, durante os primeiros trinta minutos de

exposição ao fogo. Portanto, quando do dimensionamento da viga mista,

recomenda-se à escolha de perfis com menor fator de massividade.

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135

Uma outra observação importante é que quanto menor for a massa

específica linear (kg/m) e mais compacto for o perfil, existirá à tendência de uma

distribuição mais uniforme da temperatura na seção transversal de aço, ou seja, a

temperatura em todo perfil se aproximará da temperatura alcançada pela alma.

A laje de concreto desempenha papel importante quanto ao

comportamento estrutural da viga mista, pois ela contribui com parcela

significativa do momento resistente de cálculo. Admitindo-se à hipótese da

condição de contorno de convecção natural, verificou-se que os valores

encontrados para distribuição uniforme de temperatura ao longo da altura da laje

eram por demais diferentes, visto que, a temperatura determinada pelo MEF, para

um TRRF de 120 minutos, por exemplo, chegou a ser 30% maior que a da norma

brasileira (Tabela 5.8). É importante dizer que o gradiente térmico ao longo da

altura da laje de concreto é diferente para cada situação física a que estiver sujeita

a parte superior da laje, todavia, qualquer que seja a situação física, o campo de

temperaturas no perfil metálico não sofrerá modificação.

O material empregado na proteção passiva contra incêndio retardou a

velocidade do aquecimento da viga mista. Além disso, ele também protegeu a laje

de concreto na região imediatamente acima do flange superior. Este fato é

importante porque caso um conector de cisalhamento fosse instalado ali, ele

atingiria temperaturas menores do que se fosse instalado em um perfil sem

proteção. A proteção térmica do tipo caixa se mostrou mais eficiente do que a do

tipo contorno, porque além do material empregado como isolante térmico, existia

à presença do ar no interior da cavidade da caixa. Foi observado também, que a

temperatura não é uniforme ao longo da seção metálica, principalmente, na região

da mesa inferior que se encontrava em contato direto com a proteção passiva do

tipo caixa, a qual apresentou as maiores temperaturas da seção.

Em se tratando da análise comparativa entre os métodos, para o caso da

viga mista sem proteção e com proteção térmica do tipo contorno, a melhor

concordância de resultados ocorreu em relação à mesa inferior. Na alma pôde ser

observado uma divergência de resultados não muito acentuada, mas que existiu

porque a NBR 14323 recomenda que a temperatura da alma seja igual a da mesa

inferior (hipótese aceitável em perfis de altura moderada), e também pela escolha

do centróide como ponto representativo da temperatura na alma, isto é, ali, a favor

da segurança, representava a máxima temperatura alcançada pela alma. A mesa

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136

superior também apresentou divergência de resultados, que se explica pelo fato da

NBR 14323 não levar em consideração a presença da laje de concreto sobreposta

ao perfil, portanto, não há troca de calor na interface aço-concreto.

A maior discrepância de resultados ocorreu para a viga mista com proteção

do tipo caixa. A NBR 14323 não leva em consideração a presença do ar no

interior da cavidade e admite uma distribuição de temperatura uniforme na peça

de aço. Por outro lado, como foi dito anteriormente, existem três mecanismos de

transmissão de calor que ocorrem concomitantemente em fluidos, principalmente,

no estado gasoso. Neste trabalho, conforme HOLMAN (1983), procurou-se adotar

apenas o mecanismo da condução de calor em detrimento aos demais. Todavia, a

favor da segurança, os resultados do método simplificado se mostraram mais

conservadores que os do método de cálculo avançado.

De acordo com a análise termo-mecânica, a capacidade resistente a

momento da viga mista biapoiada sem proteção térmica cai para 5% em relação a

da mesma viga a temperatura ambiente, para um tempo de duração do incêndio de

60 minutos. Sendo assim, o ideal seria proteger todas as vigas contra o fogo,

entretanto, o custo inerente a esse processo construtivo é por demais caro.

Segundo CLARET (2000), estima-se que no Brasil o custo com a

proteção passiva estrutural esteja entre 5% e 25% do custo total da obra. Partindo-

se da hipótese de que é preciso revestir as vigas com proteção total, uma

alternativa seria a utilização da proteção parcial. Neste caso, a espessura requerida

do material de revestimento térmico, para garantir o mesmo nível de capacidade

resistente a momento, deveria ser de duas a três vezes maior que a espessura da

proteção total (WANG, 1998).

Para situações cujo custo do material empregado na proteção total e parcial

seja similar, justifica-se o uso da proteção parcial porque o custo com a instalação

do material é bem menor do que o da proteção total. Contudo, o emprego da

proteção parcial é aceitável como uma alternativa para redução de custos, desde

que, utilizada com cuidado, pois o ideal é a proteção térmica total, seja do tipo

contorno, seja do tipo caixa.

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137

6.3 SUGESTÕES

Como sugestões, de modo a dar prosseguimento ao estudo que foi aqui

realizado, e baseado no atual estágio de desenvolvimento tecnológico da área de

segurança contra incêndio em edifícios, sugere-se:

• Dar continuidade à análise térmica das vigas mistas, através do método

avançado de cálculo, utilizando-se as curvas parametrizadas do Eurocódigo

(incêndio natural), e comparar os resultados obtidos com os da curva padronizada

(incêndio-padrão);

• Realizar análise térmica em sistemas de lajes mistas por meio do método

avançado de cálculo, e associar esses resultados aos do método de

dimensionamento simplificado proposto pela NBR 14323;

• Realizar análise térmica e estrutural acopladas, via método avançado de

cálculo, de vigas mistas em situação de incêndio, e daí tirar conclusões sobre as

ações que provavelmente causariam o colapso do elemento estrutural.

6.4 RECOMENDAÇÃO PARA TRABALHOS FUTUROS

Vários países no mundo têm investido em programas de testes de incêndio

reais em edifícios, para conhecer corretamente o comportamento de suas

estruturas e propor critérios de cálculo mais realísticos do que os convencionais.

Entre janeiro de 1995 e julho de 1996, foi desenvolvido um programa de

ensaios de incêndio nos laboratórios Building Research Establishment´s

Cardington do Reino Unido. Os testes foram realizados em um edifício típico de

escritório do Reino Unido, construído especificamente para este fim. O edifício

ensaiado tinha oito pavimentos, área construída por andar de 945 m2 e uma altura

de 33 m. As vigas eram mistas com fôrma de aço incorporada e consideradas na

análise como simplesmente apoiadas.

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138

Os Ensaios de Cardington comprovaram que a verdadeira resistência ao

fogo está associada à estrutura como um todo, pois se deveria levar em

consideração a interação entre os elementos estruturais, seus vínculos e a

transmissão de carga entre eles. Apenas para exemplificar, um dos ensaios de

Cardington tinha a intenção de investigar o comportamento da viga de piso sujeita

à ação mista da laje e do perfil de aço e a restrição na conexão viga/coluna. Como

resultado, o colapso da viga simplesmente apoiada, que ocorre em ensaios

padronizados, não ocorreu para a estrutura mista ensaiada, apesar da viga ter

alcançado a temperatura de 900 °C.

Segundo ROBINSON (2001), a partir dos Ensaios de Cardington, a

tendência mundial é envolver no projeto de resistência ao fogo toda estrutura e

não mais elementos estruturais individuais. Portanto, como recomendação,

propõe-se que sejam desenvolvidos trabalhos que sigam essa diretriz mundial, de

maneira que venham a contribuir para o avanço do atual estágio de

desenvolvimento tecnológico da área de segurança contra incêndio em edifícios.

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141

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APÊNDICE A

MOMENTO FLETOR RESISTENTE DE CÁLCULO EM SITUAÇÃO DE

INCÊNDIO DA VIGA MISTA PROTEGIDA PARCIALMENTE

AÇO: CARACTERÍSTICAS GEOMÉTRICAS: bfi 200:= mm largura da M.inferior bfs 200:= mm largura da M. superior tfi 9.5:= mm espessura da M. inferior tfs 9.5:= mm espessura da M. superior tw 6.3:= mm espessura da alma d 400:= mm altura h 381= mm altura entre as mesas PROPRIEDADES MECÂNICAS: fy 250:= MPa limite de escoamento do aço ASTM A36 CURVA DO FATOR DE REDUÇÃO DO LIMITE DE ESCOAMENTO: (Temperatura do aço) (Redução para o limite de escoamento do aço)

θa0

012

3

45

67

8

910

1112

20100200

300

400500

600700

800

9001000

11001200

:= ka0

01

23

4

5

67

8

9

10

1112

11

11

1

0.78

0.470.23

0.11

0.06

0.04

0.020

:=

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147

Ajustamento de curvas via Interpolação Linear ky θ( ) linterp θa ka, θ,( ):= (função de ajuste dos pontos)

0 200 400 600 800 1000 12000

0.25

0.5

0.75

1

ky θ( )

θ

CONCRETO: CARACTERÍSTICAS GEOMÉTRICAS: b 1500:= mm largura efetiva da laje de concreto tc 100:= mm espessura da laje de concreto PROPRIEDADES MECÂNICAS: fckn 18:= MPa resistência característica à compressão do concreto γc 24:= KN/m3 peso específico do concreto CURVA DO FATOR DE REDUÇÃO DA RESISTÊNCIA À COMPRESSÃO DO CONCRETO:

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(Temperatura do concreto) (Redução para resistência à compressão do concreto) Ajustamento de curvas via Método da Spline: kcn θ( ) linterp θc kc, θ,( ):= (função de ajuste dos pontos)

0 200 400 600 800 1000 12000

0.25

0.5

0.75

1

kcn θ( )

θ

CONECTOR DE CISALHAMENTO - STUD BOLT: Dsc 19:= mm diâmetro nominal Asc 283.529= mm2 área da seção transversal fu 415:= MPa limite de resistência à tração n 21:= quantidade de conectores entre as seções de momento máximo e nulo

θc0

012

3

45

6

7

89

10

1112

20100200

300

400500

600

700

800900

1000

11001200

:= kc0

01

2

3

4

5

6

7

89

10

11

12

10.95

0.9

0.85

0.75

0.6

0.45

0.3

0.150.08

0.04

0.01

0

:=

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149

TEMPERATURA NA SEÇÃO TRANSVERSAL DA VIGA DE AÇO:

(M. inferior) (Alma) (M. superior) obs: os valores da temperatura variam de 0 até 12, que representam os TRRF de 0 à 120 minutos. TEMPERATURA UNIFORME NA LAJE DE CONCRETO: Obs: os valores da temperatura variam de 0 até 12, que representam os TRRF de 0 à 120 minutos.

θw0

01

2

3

4

5

6

7

8

9

10

11

12

20601

764

833

879

914

943

966

986

1004

1020

1035

1048

:=θb0

01

2

3

4

5

6

7

8

9

10

11

12

20143

315

460

579

674

751

813

862

903

937

965

989

:= θt0

01

2

3

4

5

6

7

8

9

10

11

12

20329

573

708

788

841

880

912

938

960

980

997

1013

:=

θcon0

01

2

3

4

5

6

7

8

9

10

11

12

2083

141

193

240

283

323

360

394

426

456

485

511

:=

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VERIFICAÇÃO QUANTO A INTERLIGAÇÃO NA INTERFACE AÇO-CONCRETO: Ec θ( ) 42 γc

1.5⋅ kcn θ( ) fckn⋅⋅:= (Módulo de Elasticidade do concreto)

qfiRd1 θ( ) 0.5 Asc⋅ kcn θ( ) fckn⋅ Ec θ( )⋅⋅ 10 3−

⋅:= (Resistência mecânica do Sutd Bolt) qfiRd2 θ( ) Asc ky θ( )⋅ fu⋅ 10 3−

⋅:= INTERAÇÃO

Cfid 0.85 kcn θconi( )⋅ fckn⋅ b⋅ tc⋅ 10 3−⋅←

Afyfia ky θbi( ) bfi⋅ tfi⋅ ky θwi( ) h⋅ tw⋅+ ky θti( ) bfs⋅ tfs⋅+( ) fy⋅ 10 3−⋅←

AUX0 qfiRd1 θti 0.40⋅( )←

AUX1 qfiRd2 θti 0.80⋅( )←

QfiRd if AUX0 AUX1> AUX1, AUX0,( ) n⋅←

ni " COMPLETA"← QfiRd Afyfia≥if

ni " PARCIAL"← otherwise

Cfid Afyfia≥if

ni " COMPLETA"← QfiRd Cfid≥if

ni " PARCIAL"← otherwise

Cfid Afyfia<if

i 0 12..∈for

n

:=

INTERAÇÃO

001

23

45

67

89

1011

12

" COMPLETA"" COMPLETA"

" COMPLETA"" COMPLETA"

" COMPLETA"" COMPLETA"

" COMPLETA"" COMPLETA"

" COMPLETA"" COMPLETA"

" COMPLETA"" COMPLETA"

" COMPLETA"

=

obs: os valores de 0 até 12 representam os TRRF de 0 à 120 minutos.

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151

MOMENTO FLETOR RESISTENTE DE CÁLCULO:

MfiRd

Cfid 0.85kcn θconi( )⋅ fckn⋅ b⋅ tc⋅ 10 3−⋅←

Afyfia ky θbi( ) bfi⋅ tfi⋅ ky θwi( ) h⋅ tw⋅+ ky θti( ) bfs⋅ tfs⋅+( ) fy⋅ 10 3−⋅←

aAfyfia 103

0.85kcn θconi( )⋅ fckn⋅ b⋅←

Mfii fy ky θbi( )⋅ bfi tfi⋅ d tc+( )tfi a+( )

2−

⋅ fy ky θwi( )⋅ h tw⋅ tfs tc+h a−( )

2+

⋅+

fy ky θti( )⋅ bfs tfs⋅ tctfs a−( )

2+

⋅+

...←

Cfid Afyfia≥if

AUX0 Cfid ky θti( ) bfs⋅ tfs⋅ fy⋅ 10 3−⋅+←

AUX1 ky θbi( ) bfi⋅ tfi⋅ fy⋅ ky θwi( ) h⋅ tw⋅ fy⋅+( ) 10 3−⋅←

yp 0.5Afyfia Cfid−( )

ky θti( ) bfs⋅ fy⋅ 10 3−⋅⋅←

Mfii Cfid yptc2

+

⋅ ky θti( ) fy⋅ bfs⋅yp2 tfs yp−( )2

+ 2

⋅+

ky θbi( ) fy⋅ bfi tfi⋅ d yp−tfi2

⋅ ky θwi( ) fy⋅ h tw⋅ tfs yp−h2

+

⋅++

...←

AUX0 AUX1≥if

ypky θbi( ) bfi⋅ tfi⋅ ky θwi( ) h⋅ tw⋅+ ky θwi( ) 2⋅ tfs⋅ tw⋅+ ky θti( ) bfs⋅ tfs⋅−( )( ) fy⋅ Cfid 103

⋅−

2 ky θwi( )⋅ tw⋅ fy⋅←

Mfii Cfid yptc2

+

⋅ ky θti( ) fy⋅ bfs⋅ tfs⋅ yptfs2

⋅+ ky θbi( ) fy⋅ bfi⋅ tfi⋅ d yp−tfi2

⋅+

ky θwi( ) fy⋅ tw 0.5⋅ yp tfs−( )2⋅ h yp− tfs+( )2+ ⋅+

...←

AUX0 AUX1<if

Cfid Afyfia<if

MfiRdi Mfii 10 6−⋅←

i 0 12..∈for

MfiRd

:=

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152

MfiRd

0

01

2

3

4

5

6

7

8

9

10

11

12

413335

274

224

142

82

52

35

29

23

21

19

17

= KN x m

obs: os valores para o momento fletor positivo de cálculo variam de 0 até 12, que representam os TRRF de 0 à 120 minutos.