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ANEXOS Contributos da Consulta Pública Grupo de Trabalho para a Avaliação da Situação da Prestação de Cuidados de Saúde Mental e das Necessidades na Área da Saúde Mental Despacho n.º 3250/2014, de 27 de fevereiro Março de 2015

Março de 2015 - Secretaria Geral - Início · Casa de Saúde S. João de Deus – Barcelos ... enviesa números e dados de produção, em comportamentos aditivos e dependências,

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ANEXOS

Contributos da Consulta Pública

Grupo de Trabalho para a Avaliação da Situação da Prestação de

Cuidados de Saúde Mental e das Necessidades na Área da Saúde Mental

Despacho n.º 3250/2014, de 27 de fevereiro

Março de 2015

16 de fevereiro de 2015

Nota Introdutória

Em cumprimento do despacho nº 3250/2014, de 27 de fevereiro, do Secretário de Estado Adjunto do Ministro

da Saúde foi elaborado o Relatório para a Avaliação da Situação da Prestação de Cuidados de Saúde Mental e

das Necessidades na Área da Saúde Mental cuja primeira versão, concluída em junho de 2014, foi objeto de

consulta pública entre 1 de agosto e 30 de setembro de 2014.

Consta neste anexo a versão completa dos vários contributos da consulta pública.

Índice

Instituto das Irmãs Hospitaleiras do Sagrado Coração de Jesus

Casa de Saúde S. João de Deus – Barcelos

Casa de Saúde do Telhal:

Instituto Nacional para a Reabilitação, I.P.

Associação Portuguesa de Psiquiatria da Infância e da Adolescência

UD-Centro das Taipas

Centro Hospitalar São João

CRI Lisboa Ocidental

Maria Ana Matias e Teresa Reis

Paula Lucena Particular

Marta Morais Pratas

Hospital Pediátrico de Coimbra

Unidade de Alcoologia de Coimbra

Casa de Saúde S. José

Agência Piaget para o Desenvolvimento

Emídio Abrantes

Centro de Apoio, Tratamento e Recuperação, IPSS

APATRIS 21

Instituto S. João de Deus

Unidade de Alcoologia de Lisboa

Marta Isabel Marreiros Patrocínio e Costa e Carlos Alberto Quaresma da Costa

Rute Cláudia Ferreira Gomes

Sociedade Portuguesa de Alcoologia

Margarida Gonçalves Neto

Hospital Garcia de Orta

De: Presidente Instituto [[email protected]]

Enviado: domingo, 31 de Agosto de 2014 22:36

Para: saudemental; [email protected] Cc: 'Conselheira Prov'

Assunto:

Exmos. Srs

Junto se envia o parecer do Instituto das Irmãs Hospitaleiras do Sagrado Coração de Jesus

relativamente aos Documentos em discussão.

Com os melhores cumprimentos,

Ir. Maria do Sameiro, hsc

De: Vitor Duarte [[email protected]]

Enviado: quarta-feira, 27 de Agosto de 2014 11:13

Para: saudemental Cc: Isabel Braganca

Assunto: Avaliação da Situação da Prestação de Cuidados de Saúde Mental - Casa de Saúde S. João de Deus - Barcelos

Exmos. Senhores Em anexo, a participação na consulta pública da Casa de Saúde S. João de Deus - Barcelos. Com os melhores cumprimentos,

Vítor Duarte | Secretário de Direção Instituto S. João de Deus | Casa de Saúde S. João de Deus - Barcelos Av.ª Paulo Felisberto, nº 205 | 4750-783 Vila Boa - Barcelos telf: 927 402 318 | 253 808 210 | fax: 253 808 216

Antes de imprimir este e-mail pense bem se tem mesmo que o fazer. Há cada vez menos árvores

A Casa de Saúde S. João de Deus – Barcelos, centro assistencial do

Instituto S. João de Deus, tem assumido ao longo dos seus 86 anos de

existência um papel fundamental na área da saúde mental.

Ouvido o seu conselho de direção, particularmente a direção clínica,

cumpre-me partilhar a posição institucional sobre o importante

documento ora produzido:

A Casa de Saúde S. João de Deus – Barcelos está e estará disponível

para fazer parte do movimento de reforma imperativo;

A evidência do papel que este estabelecimento tem assumido nas

respostas de reabilitação psicossocial, nomeadamente a nível

comunitário – Unidades Residenciais (Experiencias Piloto de 2010) e

de Apoio Domiciliário;

A decisão de no imediato garantir uma resposta no Concelho de

Barcelos com a tipologia de Unidade Sócio Ocupacional;

A abertura de uma Unidade Residencial (equiparada a unidade de

treino de autonomia) destinada ao sexo feminino.

Reiteramos a nossa vontade/ disponibilidade de continuar a colaborar

com o Sector Publico à semelhança do que o percurso desta instituição

tem demonstrado.

Com os melhores cumprimentos,

Isabel Costa Bragança

Diretora

[email protected] www.isjd.pt/cssjd.barcelos/ Tel: +351 253 808 210 Fax: +351 253 808 214 / 9

Antes de imprimir este e-mail pense bem se tem mesmo que o fazer. Há cada vez menos árvores.

De: Sara Monteiro [[email protected]]

Enviado: quarta-feira, 27 de Agosto de 2014 16:57

Para: saudemental Assunto: RE: Avaliação da Situação da Prestação de Cuidados de Saúde Mental

Boa tarde Exmo.(s) Senhor(es), Venho por este meio, em nome da Direcção da Casa de Saúde do Telhal, remeter em anexo a nossa avaliação e comentários ao relatório de Grupo de trabalho por vós elaborado. Sem outro assunto de momento,

Sara Monteiro

Diretora Casa de Saúde do Telhal Tel. 961 854 308

Análise e considerações da Casa de Saúde do Telhal:

Relatório Grupo de Trabalho para a Avaliação da Situação da Prestação de Cuidados de Saúde Mental e das Necessidades na área da Saúde Mental

e Rede de Referenciação Psiquiatria e Saúde Mental

A Casa de Saúde do Telhal (CST) é um Estabelecimento Hospitalar/Centro assistencial que faz

parte da IPSS Instituto São João de Deus (ISJD).

Após análise ‘’Relatório do Grupo de Trabalho para a Avaliação da Situação da Prestação de

Cuidados de Saúde Mental e das Necessidades na área da Saúde Mental’’, a CST partindo do

seu enquadramento geo-demográfico e no âmbito loco-regional e contexto nacional emite as

seguintes reflexões e interpelações:

A CST em face dos seus Serviços/Valências de internamento e Ambulatório:

Agudos/Subagudos, Alcoologia, Longo Internamento, Gerontopsiquiatria, Reabilitação

Psicossocial, Área de Dia e Consulta Externa tem capacidade/disponibilidade para dar

resposta a Valências não analisadas no relatório nomeadamente, reabilitação na doença

psicótica grave, demências e/ou outra patologia psiquiátrica do Idoso, deficiência mental

no adulto com duplo diagnóstico e a outros grupos especialmente vulneráveis.

A CST responde de forma supletiva e/ou complementar às necessidades de cuidados em

Saúde Mental e Alcoologia aos utentes que os procuram e às Regiões de

Saúde/Hospitais/Serviços que os solicitam, nomeadamente, entre outras, à ARS de Lisboa

e Vale do Tejo e às mais carenciadas do Alentejo e Algarve (ver págs. 40 e 41 do Relatório).

A CST realça o fato de ser o Centro Assistencial do sector social com maior número de

consultas realizadas ( 4176 – 2012; 4020 – 2013). Consultas nomeadamente de Psiquiatria,

Gerontopsiquiatria, Pedopsiquiatria, Alcoologia, Psicologia, Neuropsicologia e Neurologia.

Como tal aponta-se erro na página 17 quanto às Consultas onde se diz que “não existem

respostas do SS para a realização de Consultas no âmbito da Saúde Mental”, o que é falso.

Essa afirmação decorrerá de eventual não revisão do Relatório – as Consultas estão

explicitamente referidas: pág. 6 (nº de horas semanais); pág. 9 (Tabela 1); pág. 39 (Tabela

39); pág. 50 (anexo A5).

A CST é, juntamente com o centro hospitalar do Conde Ferreira, o único Centro do Sector

Social com utentes e sessões registados em Hospital de Dia/Área de dia.

A CST realça o fato de ser o Centro Assistencial do sector social com maior número de

lugares /camas em Unidades de Reabilitação Psicossocial, sendo que o sector social tem o

maior número de respostas de reabilitação - 67% para 33% no sector público.

Os serviços de Reabilitação Psicossocial da CST estão Certificados com Certificação de

Qualidade pelo referencial europeu EQUASS Assurance.

A CST questiona o facto da Unidade de Alcoologia não estar descrita no Relatório. Esta

omissão compromete a utilização da capacidade instalada, enviesa números e dados de

produção, em comportamentos aditivos e dependências, necessários à caracterização da

realidade e à consequente organização e articulação das respectivas Redes de

Referenciação. Esta Unidade foi sempre incluída nas diferentes redes alcoológicas e está

representada no Fórum Nacional do Álcool, sendo a única em Portugal com certificação de

Qualidade pelo referencial europeu EQUASS.

Esta Valência/Unidade realizou 1010 consultas em 2013 e internou 198 Utentes com

patologia ligada ao Álcool.

A CST questiona as consequências das mudanças das regras de referenciação (Circular nº.

10/2014/DPS emanada pela ACSS) e reforça a necessidade de estar explicitamente

contemplada na rede de referenciação de psiquiatria e saúde mental. Com esta mudança

de referenciação, estão comprometidas a acessibilidade, a equidade, a proximidade, a

complementaridade, a continuidade de cuidados e o princípio de livre escolha dos utentes.

Até Janeiro, o utente para eventual internamento na CST, vinha referenciado pelo

Psiquiatra ou Médico de Família (sempre após avaliação psiquiátrica). Tendo indicação

para internamento, este acontecia com suporte de credencial via respectivo Centro de

Saúde.

O procedimento actual obriga aos seguintes passos: exemplificando com a Alcoologia; para

os doentes da Consulta Externa de Psiquiatria subjacente aos outros serviços/valências, o

processo é semelhante:

- O doente vem à consulta (CST) – de motu próprio, ou através do Médico de Família, ou de

uma Equipa de Tratamento (Psiquiatria);

- É avaliado na consulta e se tem indicação para internamento;

- Tem de voltar ao Médico de Família, que o referencia para o sistema Alert, porque o doente

necessita ainda, de ir ao serviço de psiquiatria da sua área, para obter um documento com a

concordância de um psiquiatra (que pode não conhecer o doente);

- Tem de ser obtida a confirmação do Hospital da Amadora, através do serviço de Psiquiatria

do Hospital (que é nosso pagador);

- Eventualmente poderá ou não ser então internado (neste processo foi visto por 4 Psiquiatras

e 1 Médico de Família), o que implica meses até ao internamento, comprometendo a

acessibilidade, a continuidade e a qualidade de cuidados.

Por este motivo, os serviços/valências especializados da Casa de Saúde do Telhal não utilizam a

sua capacidade instalada e vários utentes ficam sem tratamento e sem resposta no SNS.

Mais se acrescenta, pelo absurdo, que os utentes/munícipes do Concelho de Sintra que não

correspondem à área de influencia do Hospital Amadora/Sintra e que ao longo dos anos e,

actualmente, escolhem ser seguidos na CST não podem continuar a ser seguidos/internados na

CST e terão de ir à urgência do Hospital de S. José e/ou via consulta correspondente ao

Hospital Júlio de Matos (meses de espera) para serem internados nesse Hospital, o que deixa

indignados os utentes e famílias destruindo os princípios de : proximidade, acessibilidade,

equidade, continuidade de cuidados e a livre escolha.

A situação resultante da mudança da entidade pagadora necessita de procedimentos

estipulados e formalizados nas suas datas com a previsibilidade necessária para que a CST

possa continuar a honrar os seus compromissos com os utentes, famílias, colaboradores e

fornecedores.

O acesso dos doentes ao tratamento, está assim dificultado/bloqueado/impedido por razões

absurdas e indignas devidas ao tipo de procedimentos.

Este sistema de referenciação só poderia funcionar se na prática estivesse de tal maneira

agilizado e formalizado na sua complementaridade (entre Sector Público e Social) e que não

comprometesse os princípios já evocados, o que não acontece.

Sendo ainda, à luz da Ética das políticas da saúde e da situação de crise actual, existindo mais

necessidades e procura de cuidados de saúde mental, a contenção de custos estará garantida

pela não duplicação de equipamentos/recursos, utilizando/rentabilizando os nossos (Casa de

Saúde do Telhal- Instituto S. João de Deus) já implantados no terreno.

A DIRETORA

Dra. Sara Monteiro Brígida

De: Conselho Nacional de Saúde Mental [[email protected]] Enviado: terça-feira, 2 de Setembro de 2014 12:34 Para: saudemental Cc: DGS - Alvaro Carvalho Assunto: FW: Avaliação da Situação da Prestação de Cuidados de Saúde Mental ________________________________ De: INR [[email protected]] Enviado: terça-feira, 2 de Setembro de 2014 11:21 Para: Conselho Nacional de Saúde Mental Assunto: Avaliação da Situação da Prestação de Cuidados de Saúde Mental Nº 4680/UIFD/GID/2014 Exmos. Membros do Conselho Nacional de Saúde Mental O Instituto Nacional para a Reabilitação, I.P., agradece a divulgação do Relatório de avaliação da situação da prestação de cuidados de saúde mental. Considera este Instituto, que no âmbito da sua missão, o presente relatório se reveste da maior importância para o planeamento e melhoria dos cuidados prestados, pelo que não temos nada a acrescentar. Contudo, tendo em conta o complexo desafio que um trabalho desta natureza acarreta, identifica este Instituto um conjunto de indicadores que julgamos pertinentes e que gostaríamos de ver contemplados em futuros relatórios: * Indicadores de consumo de serviços da medicina holística (medicina natural e complementar) por perturbação mental, idade, sexo, grupo socioeconómico e região * Indicadores de consumo de serviços de internamento, em ambulatório, em reabilitação psicossocial por perturbação mental, sexo, idade, grupo socioeconómico e distrito * Indicadores de consumo de serviços de internamento, em ambulatório, em reabilitação psicossocial por perturbação mental, sexo, idade, grupo socioeconómico e distrito * Indicadores de consumo de serviços de internamento, em ambulatório, em reabilitação psicossocial, sexo, idade, grupo socioeconómico e distrito das pessoas com deficiência intelectual, por doenças decorrentes do processo de envelhecimento * Indicadores de consumo de serviços de internamento, em ambulatório, em reabilitação psicossocial, sexo, idade, grupo socioeconómico e distrito das pessoas em processo de envelhecimento, sem deficiência * Indicadores de consumo de serviços de internamento, em ambulatório, em reabilitação psicossocial, sexo, idade, grupo socioeconómico e distrito das pessoas com deficiência com co morbilidade. Sugere-se, complementarmente, uma análise de custo-benefício do investimento-ganhos em saúde em medicina preventiva comunitária/medicina curativa em saúde mental, cujos resultados serão de considerar na definição de prioridades ao nível da promoção da saúde. Com os melhores cumprimentos,

O Conselho Diretivo do Instituto Nacional para a Reabilitação, I.P. [cid:[email protected]] Av. Conde de Valbom, 63 | 1069-178 Lisboa Tel: 217 929 500 | Fax: 217 929 596 Email: [email protected]<mailto:[email protected]> www.inr.pt<http://www.inr.pt/>

De: Teresa Goldschmidt [[email protected]]

Enviado: terça-feira, 30 de Setembro de 2014 7:26

Para: saudemental Assunto: Comentário ao Relatório para a Avaliação da Situação da Prestação de Cuidados de

Saúde Mental e das Necessidades na Área da Saúde Mental

Comentário ao Relatório do Grupo de Trabalho para a Avaliação da Situação da Prestação de Cuidados de Saúde Mental e das Necessidades na Área da Saúde Mental

O presente Relatório apresenta ampla informação sobre a situação de prestação de cuidados de Saúde Mental e levantamento das necessidades nesta área, e correspondeu seguramente a um trabalho extenso e detalhado. Este comentário visa chamar a atenção para alguns aspectos no âmbito da Psiquiatria da Infância e da Adolescência, que constitui uma área muito carenciada, em especial no Alentejo, Algarve e Centro Interior, e sugere a rectificação de alguns números e rácios indicados, como abaixo se discrimina. Assim sendo, no Sumário Executivo, quando se refere a escassez de recursos humanos em termos de

psiquiatras da infância e adolescência, deverá, na nossa opinião, ser realçada a situação de carência extrema do Alentejo e Algarve, onde apenas existe um recurso em Beja, um em Évora e um em Faro. No ponto 5, Necessidade de Recursos Humanos, os números apontados para as necessidades de

psiquiatras da infância e da adolescência referem um rácio de 1:66 000, valor que neste momento já não se encontra actualizado, e que ainda assim não está bem contabilizado, dado que se referia à população geral, e não à população com idade inferior a 18 anos. O rácio a utilizar deverá ser 1:12.000 na população com idade < 18 anos, tal como está indicado no Documento Técnico de Suporte à Rede de Referenciação de Psiquiatria da Infância e da Adolescência de 2011 (que se encontra disponível no site da ACSS). Os dados desde Documento Técnico deveriam também constituir o suporte da Tabela A24 - Rácios constantes das Redes de Referenciação em vigor. O actual Relatório utiliza dados da Rede de

Referenciação de 2004, apesar de no caso da Psiquiatria da Infância e da Adolescência ter sido publicada uma nova Rede de Referenciação Hospitalar em 2011, acompanhada de um documento técnico. Os valores indicados para a necessidade de internamento pedopsiquiátrico em Portugal apontam para 7,1 camas / 100.000 habitantes com idade inferior a 18 anos. Na Tabela 21, identificam-se incorreções, algumas das quais se indicam a título de exemplo: em 2013 o

CHLN tinha 3 psiquiatras da infância e adolescência, e não 1; o Hospital Garcia da Orta tinha 4 psiquiatras da infância e Adolescência, mas vem referido como não tendo nenhum; o Centro Hospitalar do Algarve não tinha (nem tem) internos nesta especialidade. Teresa Goldschmidt Presidente da APPIA - Associação Portuguesa de Psiquiatria da Infância e da Adolescência 30 de Setembro de 2014

De: Cristina Gago | Unidade Desabituação Centro das Taipas [[email protected]

saude.pt]

Enviado: terça-feira, 30 de Setembro de 2014 19:33 Para: saudemental

Assunto: Comentário da UD-Centro das Taipas ao Relatório do Grupo de Trabalho

COMENTÁRIOS DA EQUIPA DA UD-CENTRO DAS TAIPAS AO RELATÓRIO DO

GRUPO DE TRABALHO EM DISCUSSÃO

O Grupo de trabalho salienta, a partir da análise efectuada, que ficou comprovada a

“validade do modelo de respostas integradas em Portugal para o tratamento dos

comportamentos aditivos e dependências, avaliado por entidades externas e que

colocou Portugal num lugar cimeiro a nível internacional nesta matéria, sendo, pois

desejável a manutenção desta abordagem… a preservação deste modelo, com a sua

abordagem específica.” (sic, pág.7)

Parece-nos que os méritos reconhecidos ao modelo integrado não são coerentes com

as conclusões do documento, uma vez que:

- Não se fez um estudo da realidade actual, nomeadamente das unidades de

internamento (UD e UA) e não se pode pensar o modelo de integração sem que as

estruturas tenham intervenção no terreno;

- A integração das Unidades de Desabituação nos hospitais gerais não está justificada

pelo GT. Separar as UD dos CRI é desintegrar. O modelo é integrado não apenas

porque há CRIs, mas porque também há UDs, o que exige um serviço vertical que

permite uma coerência de actuação em todo o país.

Porque as UD tratam quadros de privação de substâncias psicoactivas/álcool,

constituindo esta a sua particular especialização, não nos parece que, quer nos

hospitais gerais, quer nos hospitais psiquiátricos haja ganhos assistenciais para os

doentes.

Relembramos que o início da intervenção nesta problemática, ocorreu nos anos 80 no

hospital Santa Maria, pela impossibilidade de uma resposta adequada e eficaz que

deu origem à criação deste modelo integrado.

Com a extinção do IDT e consequente criação do SICAD e integração das unidades

locais na ARS, verificou-se, de imediato, o comprometimento da articulação

interinstitucional e consequentemente uma diminuição da sua qualidade interventiva e

respostas eficazes.

- Quanto às Comunidades Terapêuticas que se destinam ao tratamento de utentes

quando o tratamento ambulatório se revela insuficiente, estas não podem ser

consideradas unidades de cuidados continuados, mas sim de cuidados de longa

duração especializada, tendo em conta a definição da OMS do que são cuidados

continuados – “Long- term care inclui actividades destinadas a pessoas que não têm

capacidade para auto-cuidado a longo prazo, prestadas por cuidadores ….” Nesta

definição ficam de fora serviços abrangidos pelas definições anteriores dado que, para

a OMS, “Long-term care não inclui prevenção, tratamento de doença crónica ou

reabilitação”, que é precisamente o trabalho que as CT fazem com os utentes com

esta problemática. Assim, podemos concluir que não faz qualquer sentido desarticular

as CT do projecto integrado.

As restrições de área de referenciação às unidades de desabituação e às CT não se

adequam às características desta população que, em muitas situações precisam de

um afastamento físico quer do meio envolvente, quer da própria família, para não falar

de situações disciplinares/experiências negativas numa CT, tão habituais nesta

população e mesmo da adequação do modelo terapeutico da CT a cada utente.

Consideramos fundamental que se mantenham critérios e métodos de seguimento e

tratamento uniformes, que permitam a mobilidade geográfica dos utentes em função

das suas necessidades.

A equipa da UD – Centro das Taipas

De: Antonio Roma Torres [[email protected]]

Enviado: quinta-feira, 28 de Agosto de 2014 13:22

Para: saudemental Cc: [email protected]; [email protected]; 'Margarida Tavares'; 'Patricia

Rocha'; 'Conselho Nacional de Saúde Mental'; DGS - Alvaro Carvalho Assunto: COMENTÁRIO SOBRE O RELATÓRIO DO GRUPO DE TRABALHO PARA A AVALIAÇÃO

DA SITUAÇÃO DA PRESTAÇÃO DE CUIDADOS DE SAÚDE MENTAL E DAS NECESSIDADES NA

ÁREA DA SAÚDE MENTAL

Em resposta ao relatório do grupo de trabalho colocado para consulta pública venho no melhor espírito de colaboração trazer o contributo constante abaixo no corpo do mail e em ficheiro Word anexo. Ao dispor para qualquer esclarecimento, com os melhores cumprimentos António Roma Torres

COMENTÁRIO SOBRE O RELATÓRIO DO GRUPO DE TRABALHO PARA A AVALIAÇÃO DA

SITUAÇÃO DA PRESTAÇÃO DE CUIDADOS DE SAÚDE MENTAL E DAS NECESSIDADES NA ÁREA

DA SAÚDE MENTAL

Deve aplaudir-se em primeiro lugar a constituição de um grupo de trabalho cujo objecto é a

Saúde Mental depois de um tempo de pouca atenção dada ao tema embora paradoxalmente

num período correspondente ao Programa Nacional de Saúde Mental - PNSM (2007-2016),

iniciado pelo governo anterior e prosseguido pelo actual, mas em qualquer dos casos com

pouca energia e escassas decisões destinadas verdadeiramente a alterar uma área médica em

que, segundo o diagnóstico generalizado, não podemos ainda considerar satisfatórios os

dispositivos de resposta até agora concretizados.

No entanto o relatório faz principalmente um levantamento descritivo e estatístico sendo

pouco claro nas propostas em relação aos diferentes pontos considerados no Despacho que

criou o Grupo de Trabalho:

1. Lugares disponíveis de cuidados continuados em SM e número de camas para

internamento

a) a legislação actual, embora ainda não posta em prática, ao contrário do

anterior despacho nº 407/98, possibilita que o Sector Público (SP) ofereça

respostas em termos de cuidados continuados que possam estabelecer uma

boa articulação no atendimento de situações psiquiátricas de evolução

continuada e portanto não se demitindo da responsabilidade orientadora da

reforma dos cuidados de Saúde Mental própria dos serviços públicos;

i. o relatório não colheu no entanto informação sobre os Serviços Locais

de Saúde Mental (SLSM) que reúnem condições de abrir respostas

deste tipo no curto prazo que terão a vantagem de influenciar a

alteração dos cuidados disponíveis à população no Sector Social (SS), e

mesmo no Sector Privado, de acordo com o PNSM (cuidados de

proximidade e alternativos a institucionalização em dispositivos de

grande dimensão e mais despersonalizantes);

ii. o relatório não clarificou a distinção entre internamento de

estabilização de crise (agudos) e internamento de longa duração

quanto às camas do SS;

iii. o relatório não deu atenção à necessidade de operacionalizar no SP o

financiamento destas respostas de acordo com as Portarias nº

149/2011 e 183/2011;

b) ao considerar globalmente as respostas tipo internamento está a favorecer-se

uma atitude segregacionista e estigmatizante do cidadão com problemas de

Saúde Mental (vulgar na expressão leiga “estás a precisar de internamento”);

i. o relatório não identificou as camas de internamento agudo

(estabilização de crise), nas carências e assimetrias em relação a

cuidados de proximidade (SLSM que ainda as não possuem não

havendo portanto uma resposta de continuidade entre o internamento

e o ambulatório – ver quadro A17 – doentes saídos - : na ARS Norte há

4 SLSM sem internamento, a que se deve acrescer o CHP uma vez que

os doentes saídos, aí considerados, são exclusivamente de Psiquiatria

da Infância e Adolescência);

ii. do mesmo modo o relatório não assinala a dimensão excessiva de

internamentos de agudos em instituições “tipo hospital psiquiátrico”

respondendo a uma área vasta demais, com concentração de recursos

humanos que podiam ser redireccionados para os respectivos SLSM,

situação aliás que é comum ao internamento de doentes agudos no SS;

iii. haveria ainda a necessidade de estabelecer a modalidade e o

formato(hospitalar ou residencial) de estruturas de internamento

programado para tratamento de patologias específicas (perturbações

do comportamento alimentar, perturbações borderline da

personalidade, alcoolismo, toxicodependência, etc), diferenciando-o do

Internamento de Estabilização de Crise, fundamental para se

considerar a proposta de integração das Unidades de Desabituação e

de Alcoologia nos Hospitais Gerais, de outra forma completamente

extemporânea.

2. Análise dos tempos de espera

a) as respostas tipo ambulatório foram consideradas em termos de cuidados

indiferenciados (Psiquiatria Geral) e os tempos de espera definidos apenas

pelo acesso a consultas, não tendo em conta o tempo de espera ,ou até a real

ausência de resposta, na inserção em estruturas de reabilitação ou

residenciais, em respostas de psicoterapias em termos de indicações para

patologias específicas, individuais ou em grupo, em abordagens

multifamiliares psico-educativas, etc. tomando-se ilusoriamente os 91 dias de

média de tempo de espera pelo primeiro atendimento como um indicador

global de resposta satisfatória do SNS na área da Saúde Mental;

i. o relatório não tentou identificar os dispositivos de resposta para

Psicoses iniciais, Perturbações Borderline, Perturbações do Espectro

Obsessivo , Perturbações do Comportamento Alimentar, Perturbações

de Stress Pós-Traumático, etc. nas diferentes instituições e quais as

possibilidades de referenciação regional para casos mais complexos

destas patologias;

3. Avaliação das necessidades existentes nos cuidados ambulatórios, camas de

internamento e lugares de reabilitação

a) identifica-se uma contradição entre a conclusão que “o SP é responsável pelo

atendimento da maioria dos episódios assistenciais, excepção feita ao número

de doentes (?) e de dias de internamento de longa duração” (pg. 7) e a

constatação que “68% das respostas de internamento pertencem ao sector

social” (pg. 17), parecendo indiciar uma resposta maioritária de internamentos

de longa duração que deveria ser olhada criticamente à luz dos princípios do

PNSM;

4. Avaliação de produção no SNS considerados os grupos profissionais envolvidos

a) não foram identificados os recursos humanos considerados os diferentes

grupos profissionais no âmbito do ex-IDT;

5. Avaliação das necessidades de recursos humanos

a) os ratios definidos (1995 – DGS), retomados na rede de referenciação (2004 –

DGS) são anteriores ao PNSM (2007), e mesmo na formulação original à

própria Lei de Saúde Mental (1998);

i. o relatório não avaliou as necessidades em recursos humanos numa

estratégia de implementação no terreno das orientações do PNSM;

6. Calendário de integração dos CRI nos ACeS

a) a lógica da inclusão da Saúde Mental e dos Comportamentos Aditivos e

Dependências no objecto do mesmo grupo de trabalho só pode ser a da

evidência do benefício de um tratamento conjunto das duas áreas, sem

obviamente deixar de lado o sucesso da resposta na área da

toxicodependência e a experiência adquirida nas respostas a nível técnico;

b) a extinção do IDT e a sua reconversão só pode ter justificação na real alteração

epidemiológica da situação da toxicodependência que é hoje um fenómeno

com menor dimensão que nos anos 80 e portanto com menor pressão de

procura;

c) um alargamento de “nichos de mercado” como a inclusão das dependências

não químicas (jogo patológico, exercício ou sexo compulsivo, perturbações do

controle dos impulsos) ou a definição de um “modelo de dependência”

aplicada a outras alterações de comportamento, não só não é cientificamente

sustentável como não se dirige a uma racionalização dos recursos ou a uma

verdadeira competência técnica sustentada;

d) por outro lado alguns recursos tipo comunidade terapêutica, hoje com uma

taxa de ocupação menor e aceitando muitos casos de co-morbilidade

psiquiátrica, poderiam ser reconvertidos em estruturas residenciais de

cuidados continuados de Saúde Mental;

e) tudo isso acaba por sustentar uma atitude imobilista e de resistência à

mudança expressa na conclusão que “sendo formalmente possível essa sua

integração o contexto actual não recomenda essa integração tornando-a

inoportuna” (pg. 37), aparentemente frustrando um dos objectivos específicos

do Despacho constitutivo do grupo de trabalho;

i. o relatório não avaliou a real percentagem de situações de

dependência sem co-morbilidade psiquiátrica (psicoses ou neuroses)à

qual se aplicaria melhor o modelo de saúde pública que ainda parece

dominante na formulação do pensamento científico a este respeito;

ii. o relatório não identificou a população com perturbações psiquiátricas

major que continua a ser atendida nas estruturas dos CAD por história

de consumos associados;

iii. o relatório não avaliou de uma forma distinta as actividades de

prevenção na área dos CA,D de iniciativas terapêuticas a facultar a

uma população em risco (terapia familiar, consultas de adolescentes,

etc.), o que deve ser definido como actividade clínica na área da Saúde

Mental e portanto da competência dos SLSM);

7. Capacidade não utilizada do Sector Social

a) o levantamento das resposta do Sector Social considera internamento

independente da duração não identificando como objectivo os cuidados

continuados de Saúde Mental tipificados em lei e não distinguindo lugares

residenciais para diferentes graus de reabilitação e podendo mesmo incluir

internamentos de situações de estabilização em crise (agudas) por períodos

superiores a 30 dias e eventualmente sem necessidade;

b) numa perspectiva mais dinâmica de uma reforma dos Serviços de Saúde

Mental, tanto no SP como no SS, seria bom avaliar a disponibilidade do SS para

adaptar as estruturas existentes tipo hospital psiquiátrico a soluções

residenciais modulares e localizadas em termos de proximidade de cuidados

definida no PNSM.

Em relação ao anexo (Rede de Referenciação Psiquiatria e Saúde Mental) há a comentar o

seguinte:

1. A concepção original (porque não constante de qualquer documento anterior)

“Retaguarda Internamento” não deveria constar da Arquitectura delineada, como

nenhum dos outros dispositivos de resposta (retaguardas?) inerentes aos próprios

Serviços Locais de Saúde de Saúde Mental;

2. Idem para a Área Administrativa que, aliás, estranhamente não está contemplada na

“Infância e Adolescência”;

3. Por outro lado o Decreto-Lei nº 304/2009 (art. 11º e 12º) prevê apenas Serviços Locais

de Saúde Mental, nele estando incluídas as estruturas da Infância e Adolescência,

mesmo quando tenham a designação de Departamentos ou Serviços, não se

percebendo assim a designação agora (também original) de um Serviço Local de Saúde

Mental da Infância e Adolescência;

4. A referenciação de última linha deve ser o SLSM (quando tiver todas as suas

estruturas, nomeadamente internamento), não devendo persistir-se na concepção de

Hospital Psiquiátrico como última linha dos cuidados de Saúde Mental que não está,

aliás, de acordo com o PNSM;

5. A referenciação deveria incluir aquilo que o PNSM designa como Serviços Regionais de

Saúde Mental (SRSM), e sobre os quais não tem sido produzido o pensamento

científico necessário para a implementação de estruturas que substituam os hospitais

psiquiátricos de acordo com a Resolução do Conselho de Ministros nº 49/2008, 1.4

(Plano Nacional de Saúde Mental) que recomenda “a transição de hospitais

psiquiátricos para uma rede de serviços com base na comunidade”;

6. Neste contexto deveriam definir-se desde já, com base na experiência reconhecida, as

unidades para o tratamento para perturbações do comportamento alimentar, em

hospitais gerais a determinar nas regiões de Lisboa, Centro e Norte (Resolução dos

Conselho de Ministros nº 49/2008, 1.3), o que estava previsto para 2008 no Plano de

Actividades do PNSM.

Proposta de prioridades

Apesar das insuficiências do relatório atrás expostas, que praticamente percorrem todos os

pontos do despacho constitutivo do grupo de trabalho, é possível identificar propostas de

prioridades de intervenção imediata, nomeadamente:

1. Anulação do “travão” à implementação do Decreto-Lei nº 22/2011 (Cuidados

Continuados em Saúde Mental) que constitui o seu art.31º – ou dispensando a

constituição de experiências piloto ou criando regras que permitam aos Hospitais

através dos SLSM candidatar-se à sua constituição (repare-se que apenas em 2011 o

despacho nº 8677/2011 definiu experiências piloto, mesmo assim muito

insuficientemente executadas);

2. Designação imediata desde já das Equipas Coordenadoras Regionais e Locais de Saúde

Mental , previstas na Portaria 149/2011, como elementos dinamizadores deste

processo de constituição dos cuidados continuados em saúde mental;

3. Criação num prazo breve de “Internamento de Estabilização de Crise” (doentes

agudos) em todos os SLSM que o não tenham;

4. Articulação faseada até uma transferência plena dos CRI dos DICADs, das ARSs, com

pouca vocação para os integrar de forma operacional, para os SLSM que mostrem

disponibilidade e capacidade para os receber, sem prejuízo da sua autonomia técnica e

experiência acumulada, e no âmbito dos quais se deve delinear a sua articulação com

os Cuidados Primários, de acordo, aliás, com o Decreto-Lei nº 304/2009;

5. Definição de estruturas a criar de âmbito regional (SRSM) estudando a melhor forma

de as operacionalizar (eventualmente nos Hospitais Centrais que se possam

candidatar, à semelhança das outras especialidades médicas, e não tornando-os

dependentes das anteriores estruturas dos hospitais psiquiátricos, sem prejuízo do

adequado aproveitamento dos equipamentos e recursos humanos a eles afectos, na

linha do que foi feito já na região Centro).

Ao dispor para qualquer posterior colaboração

António Roma Torres

Director da Clínica de Psiquiatria e Saúde Mental

Centro Hospitalar São João

Patrícia Rocha

Vogal Gestora da Clínica de Psiquiatria e Saúde Mental

Centro Hospitalar São João

De: José Padua | CRI Lisboa Oriental [[email protected]]

Enviado: quinta-feira, 28 de Agosto de 2014 17:41

Para: saudemental Assunto: comentários ao Relatório do Grupo de Trabalho em discussão pública

ver página 38 As unidades de Desabituação não tratam apenas os quadros de privação de drogas e/ou álcool, a sua mais importante função (a meu ver ) é a estabilização em doentes de duplo diagnóstico - Doença Mental e Abuso de Substancias, é esta a sua particular especialização e não vejo que isto possa ser feito em camas de hospitais gerais nem em enfermatrias de psiquiatria. E também são necessárias para a indução de tratamentos de manutenção com opiódes em casos dificeis e com comorbilidade somática, bem como para a cessação desses tratamentos em casos dificeis. As unidades de Desabituação e as Comunidades Terapeuticas nunca tiveram restrições de área de refenciação, sempre receberam utentes de todo o país e das regiões autónomas e considero que é muito importante que assim continue para que utentes que tiveram problemas disciplinares numa das unidades ( ou que tiveram más experiencias) possam recorrer a uma unidade noutra região (para não falar de utentes que tenham um familiar internado numa unidade possam recorrer a outra). ver pág 75 Ao calendarizar as melhorias da articulação e harmonização dos CRI com os ACeS parece-me que as acções agrupadas no item "melhorar o acesso através da maior capilaridade" seriam as prioritárias. ver pág 37 Concordo com as premissas e a conclusão que não é oportuna a integração dos CRI com os ACeS. è fundamente que os CRI de todo o país mantenham uma uniformidade de critérios e métodos de seguimento e tratamento pois é isso que permite a mobilidade geográfica dos utentes em função das oportunidades de trabalho e dos apoios familiares, A base de dados única a nível nacional (SIM) tem tido uma ferramenta preciosa e indispensável José Pádua Psiquiatra CRI Lisboa Ocidental

De: Teresa Reis [[email protected]]

Enviado: domingo, 31 de Agosto de 2014 21:56

Para: saudemental Cc: Maria Ana Matias

Assunto: Comentários ao relatório do Grupo de Trabalho

Ex.mo/a Sr/a,

Em resposta ao pedido de participação pública para o envio de comentários ao relatório realizado pelo grupo de trabalho no âmbito da avaliação da situação da prestação de cuidados de saúde mental e das necessidades na área da saúde mental, segue em anexo documento de resposta.

Para qualquer comentário adicional ou necessidade de contactar as autoras seguem abaixo os mails:

Maria Ana Matias: [email protected]

Teresa Reis

[email protected]

com os melhores cumprimentos

Teresa Reis

Comentários  ao  Relatório  Grupo  de  Trabalho  para  a  Avaliação  da  Situação  da  Prestação  de  Cuidados  de  Saúde  Mental  e  das  Necessidades  na  Área  da  

Saúde  Mental  Maria  Ana  Matias  

Teresa  Reis    

• A   informação  apresentada  ao   longo  do   relatório,  nomeadamente  no  que  diz  respeito  à  capacidade  disponível  e  a  produção  do  Serviço  Nacional  de  Saúde,   não   apresenta   os   dados   para   alguns   hospitais.   O   facto   de   o  Relatório   não   distinguir   entre   a   falta   de   informação   e   a   inexistência   de  serviços   por   parte   de   alguns   hospitais   pode   levar   o   leitor   a   análises  erróneas   (exemplo:   Tabela   1,   Guarda).   Neste   sentido,   pensamos   que   o  Relatório  deveria  distinguir  tanto  nas  tabelas  como  em  texto  o  que  é  falta  de   informação   da   não   existência   de   serviços   em   alguns   hospitais.  Adicionalmente,  o  Relatório  deveria  também  mencionar  o  impacto  que  a  informação  não  fornecida  tem  nas  conclusões.    

• O   relatório   não   é   claro   quanto   à   definição   de   cuidados   continuados   em  saúde   mental   nem   quais   são   as   diferentes   componentes/serviços   que  constituem  esses  cuidados:  

o Avaliação   das   necessidades   existentes   (página   17),   Serviços  domiciliários:    

§ O   Relatório   deveria   mencionar   no   que   consiste   os   6%  referentes   à   comunidade   (equipas   multidisciplinares?  equipas  de  enfermagem?).    

§ Se   apenas   6%  dos   cuidados   domiciliários   são   referentes   à  comunidade   isso   significa   que   os   restantes   94%   destes  serviços   são   assegurados   em   contexto   hospitalar?   Nesse  caso   os   cuidados   comunitários   prestados   por   equipas   de  psiquiatria   provenientes   dos   hospitais   são   considerados  como  assegurados  no  contexto  hospitalar  e  não  no  contexto  da  comunidade?      

o Avaliação   das   necessidades   existentes   (página   17),   Hospital   de  dia:    

§ Os  6%  das  respostas  dadas  em  comunidade  significam  que  essa  resposta  está   localizada  fora  de  um  recinto  hospitalar  ou   que   é   assegurada   por   equipas   comunitárias   que   não  fazem  parte  desse  contexto  hospitalar?    

 o Apesar   de   ser   um   documento   técnico,   o   relatório   deverá  

apresentar   algumas   definições   dos   serviços   prestados   bem   como  estes  são  oferecidos.    

• Tabela  18  (página  22):  importante  a  definição  de  consultas  e  visitas  em  serviço   domiciliário.   Adicionalmente,   os   dados   deverão   ser   revistos,  nomeadamente  no  que  diz  respeito  à  ARS  Algarve.  

• Na  página  23  é  apresentada  a  percentagem  de  episódios  de  Saúde  Mental  no   total   de   episódios.   Este   valor   merece   uma   análise   cuidadosa   e  interpretação   contextualizada,   uma   vez   que   apesar   de   não   ser   uma  percentagem   muito   expressiva,   este   valor   não   reflecte   o   ónus   social   e  económico  que  as  doenças  mentais  graves  tem  associado.      

• Dada  a  importância  dos  dados  fornecidos  no  Relatório,  valeria  a  pena  ter  sido  feito  um  paralelismo  com  a  listagem  e  acções  propostas  no  Relatório  da  Comissão  para  a  Reestruturação  dos  Serviços  de  Saúde  Mental   (Abril  2007).  Essa  análise  comparativa  e  crítica,  apesar  de  não  estar  definido  no  âmbito  do  despacho  nº3250/14,   teria  permitido  avaliar  as  necessidades  existentes   ao   nível   da   prestação   de   cuidados:   não   só   ao   nível   do  ambulatório   como   de   internamento   e   de   reabilitação   psicossocial   das  pessoas  com  doença  mental  grave.  

   

De: Paula Lucena [[email protected]]

Enviado: sábado, 30 de Agosto de 2014 22:14

Para: saudemental Assunto: Considerações sobre Relatório do Grupo de Trabalho

Exmos Senhores,

Gostaria de deixar algumas considerações após leitura do documento que se encontra

em discussão pública.

Relatório do Grupo de Trabalho para a Avaliação da Situação da Prestação de

Cuidados de Saúde Mental e das Necessidades na Área da Saúde Mental - PDF -

26,3 Mb

Na década de 60 do século passado surgem as primeiras respostas institucionais no seio

dos hospitais psiquiátricos portugueses( Hospital Magalhães Lemos, Hospital Sobral

Cid e Hospital Júlio de Matos). Estes embriões organizativos serão posteriormente

autonomizados no quadro do SNS em 1988 com a criação dos Centros Regionais de

Alcoologia e o reconhecimento do consumo de álcool como um problema de Saúde

Pública, necessitando de uma resposta articulada a nível nacional.

Integrar novamente as unidades de tratamento/internamento para doentes

alcoólicos nos hospitais psiquiátricos não estamos a retroceder no tempo, com tudo

o que isso implica?

O Alcoolismo e os problemas relacionados com o álcool, devem ter uma

abordagem holística.

Os internamentos nas Unidades de Alcoologia fazem parte de uma cadeia de

tratamentos que se inicia com uma abordagem em ambulatório e tem continuidade no

programa de pós alta.

Como fica esta articulação se o ambulatório (consultas médicas /Gestor de caso)

ficar a pertencer a outro serviço? É óbvio que não vai ser possível estabelecer esta articulação e a continuidade de

cuidados, de forma realista e segura para o doente/família.

No quadro de de criação da Rede de Referenciação/Articulação no âmbito dos

comportamentos aditivos e das dependências (DLnº50/2013) as Unidades de Alcoologia

encontram-se definidas como uma estrutura de nível de intervenção II/III, ou seja: onde

fica a especificidade/especialidade do tratamento destes doentes?

Paula Lucena

De: Marta Morais Pratas [[email protected]]

Enviado: quinta-feira, 28 de Agosto de 2014 11:26

Para: saudemental Assunto: consulta pública relatório realizado pelo grupo de trabalho

Para discussão Pública,

Venho por este meio dar o meu contributo na discussão pública de um assunto tão

sensível, como o que levou à elaboração do relatório em causa.

Em 1967 é criado o Serviço de Recuperação de Alcoólicos do Centro de António Flores,

na dependência do Hospital Júlio de Matos, com apoios financeiros da Gulbenkian para

tratamento de Síndrome de dependência alcoólica.

Foi importante com toda a certeza a fundamentação teórica feita pelos Dr. Pompeu e Dr.

Pistachini Galvão (na altura a trabalhar no Hospital Júlio de Matos), por sentirem que os

doentes com dependência de álcool apresentam sintomas e factores de desenvolvimento da

doença um tanto diferentes dos utentes com diagnóstico de doença mental clássica.

Os objetivos iniciais eram:

- Prevenção e tratamento das doenças ligadas ao consumo abusivo de substâncias com teor

alcoólico;

- Reabilitação de indivíduos;

- Coordenação de actividades de combate ao alcoolismo;

- Ensino e investigação na área de alcoologia.

Sendo certo que na fase activa de consumos, muitos destes alcoólicos apresentavam

comportamentos muito similares a algumas perturbações de personalidade e diagnósticos

do foro da doença mental, também era certo que após a cessação de consumos,

desapareciam estes comportamentos, sendo possível um adequado funcionamento de cada

paciente, não necessitando de qualquer supervisão do foro psiquiátrico, por conseguirem

uma consubstanciada recuperação e reinserção socio-familiar-laboral.

Atendendo às dimensões dos Problemas Ligados ao Álcool e a forma como afetam a

população, em Portugal, o Governo criou em 1988 os Centros Regionais de Alcoologia, o

Centro de Alcoologia do Porto - CRAP, o Centro de Alcoologia de Coimbra - CRAC, e o Centro de

Alcoologia de Lisboa – CRAL.

Em 1995 Decreto–lei nº 269/95, de 19 de Outubro é atribuída autonomia administrativa e

financeira aos centros regionais de alcoologia, dado o impacto desta problemática.

Segundo o Decreto-Lei nº 318/2000 de 14 de Dezembro o Centro Regional de Alcoologia de

Lisboa passa a designar-se como Centro Regional de Alcoologia do Sul (CRAS), O Centro Regional

de Alcoologia do Porto, o Centro Regional de Alcoologia de Coimbra e o Centro Regional de

Alcoologia de lisboa, passam a designar-se CRAN (NORTE), CRAC (centro) e CRAS (Sul), não

deixando a missão do desenvolvimento de metodologia de abordagem à prevenção,

tratamento e recuperação de dependência do álcool.

Em 2007, o Instituto de Droga e Toxicodependência (IDT) absorveu as atribuições dos Centros

Regionais de Alcoologia do Centro, Norte e Sul passando a dominar-se IDT, I.P. assim, o antigo

CRAS, Centro Regional de Alcoologia do Sul, passou a designar-se por Unidade de Alcoologia.

Em 2012 a área do tratamento das dependências passa para a tutela da Administração

Regional de Saúde (ARSLVT) da qual depende atualmente a Unidade de Alcoologia de

Lisboa.

Desde sempre se percebeu que a recuperação de um alcoólico/adicto e a respectiva

Reinserção Familiar, Laboral e Social, passa Pela promoção e elaboração de um

Projecto de Reinserção antes mesmo do tratamento, seja em ambulatório seja em

internamento.

Desta maneira considera-se essencial uma ligação estreita e cabal entre as consultas

externas, o internamento e o retomar dos utentes ao ambulatório, com um forte

componente de trabalho psicoterapêutico, tanto a nível individual como sistémico, no

que se refere à família ou a mediadores sociais.

O doente alcoólico/adicto, desde há muitos anos é visto como alguém responsável pela

sua recuperação, procurando dar passos consistentes em prol de uma mudança de estilo

de vida. Prova disso são os que se mantém em recuperação apenas com o recurso a

Alcoólicos Anónimos, por ex, através de um trabalho muito cognitvo comportamental,

pela assunção dos danos provocados pela doença e promoção de mudança

comportamental.

Neste sentido e após esta breve resenha histórica surgem-me algumas questões que

muito gostaria de partilhar com o GT:

1) A junção da problemática do Alcoolismo e das dependências no geral, com

ou sem recursos a substâncias químicas, com a área da saúde mental poderá

manter a essência de cada área de intervenção, atendendo não só ao caminho

socio familiar percorrido pelos utentes, até ao diagnóstico de dependência e à

sua reinserção?

2) Como se procederá a ligação estreita, com eficácia, porque de um

continuum se trata, entre consultas externas e internamento, estando estas

realidades separadas?

3) Não será um retrocesso, que remonta a 1967, colocar esta área de

intervenção junto da saúde mental propriamente dita?

Pegando na análise SWOT que consta no documento elaborado pelo GT:

Em relação aos pontos fracos:

- “Dispersão de meios e recursos e sua subalternização” – Poderá estar em causa o

Modelo de tratamento de internamento, sendo o grande motor do trabalho

psicoterapêutico, tanto a nível individual, como familiar, como comunitário?

- Quando falamos em estigma… Não estaremos a criar um “gueto” ao juntar “personas

non gratas” como alcoólicos, adictos e doentes psiquiátricos?

- “Não resulta qualquer conclusão no sentido de maior eficiência Financeira”. Seria

interessante perceber não só a eficiência, bem como a eficácia não só do ponto de vista

financeiro, bem como do ponto de vista as taxas de sucesso e respectiva reinserção.

Em relação às Oportunidades:

Uma das oportunidades ventiladas prende-se com o “Reforço da condição das

dependências de substâncias psicoativas e de álcool como parte integrante das

perturbações na esfera da saúde mental”, era em relação a este ponto que me

questionava no início desta missiva. O que terá levado uma equipa do então Hospital

Júlio de Matos a promover a construção de um espaço físico autónomo para tratamento

de alcoólicos, separando-os da psiquiatria?

Apesar do Alcoolismo ser referidos no DSM, tratar-se-á apenas de uma doença com

compromissos psiquiátricos? E o que dizer quando os doentes alcoólicos entram em

recuperação e não apresentam quaisquer sintomas de comorbilidade?

Atendendo a que:

- Os Problema Ligados ao álcool não se cingem ao tratamento em internamento;

- Nem todos os alcoólicos apresentam comorbilidade psiquiátrica;

- Estão diagnosticadas 60 doenças tratadas em hospitais gerais consequência do

consumo excessivo de álcool;

Resta-me a dúvida sobre em que hospital se deveriam inserir estas Unidade de

Alcoologia? Que articulação seria mais profícua?

Outra oportunidade na análise SWOT do GT prende-se com a criação de uma Unidade

Funcional para evitar dispersão de Serviços. Mas não terá cada serviço os seus objectos

de trabalho específicos? Pergunto qual então qual o objectivo na unificação das

dependências para agora separar-se o seu âmago – ambulatório/internamento, num

continuum de tratamento?

Obrigada pela atenção dispensada, neste pensar alto.

--

Marta Morais Pratas

Terapeuta Tratamento utente com Síndrome de Dependência Alcoólica

De: José Garrido [[email protected]]

Enviado: terça-feira, 5 de Agosto de 2014 17:37

Para: saudemental Cc: 'Ana Rosete'

Assunto: Contributo do Serviço de Pedopsiquiatria do CHUC

Exmos Srs,

Na sequência da consulta pública do relatório realizado pelo grupo de trabalho para avaliação da situação da prestação de cuidados de saúde mental e das necessidades na área da saúde

mental, a decorrer até ao próximo dia 31 de agosto de 2014, venho informar alguns dados

atualizados sobre necessidades em Pedopsiquiatria na Zona Centro e no Serviço de

Pedopsiquiatria do CHUC, no Hospital Pediátrico de Coimbra. Envio em anexo o contributo do Serviço de Pedopsiquiatria do CHUC ao relatório colocado em discussão pública. Melhores cumprimentos, José Alberto Borges Garrido Gomes de

Carvalho

(Director do Serviço de Pedopsiquiatria do CHUC)

(Disponível em Relatório de Avaliação da Situação da Prestação de Cuidados de Saúde

Mental

http://www.portaldasaude.pt/portal/conteudos/a+saude+em+portugal/politica+da+saude

/discussao/Saude+Mental.htm),

Serviço de Pedopsiquiatria do CHUC

Hospital Pediátrico de Coimbra

Avenida Afonso Romão 3000-602 COIMBRA

Dados atualizados sobre necessidades em Pedopsiquiatria na Zona Centro e no Serviço de Pedopsiquiatria do CHUC Hospital Pediátrico de Coimbra (Contributo do Serviço de

Pedopsiquiatria do CHUC ao relatório do grupo de trabalho sobre avaliação da situação da prestação de cuidados de saúde mental, colocado em discussão pública a 1/8/2014):

I – Necessidade de mais médicos e criação de Internamento no CHUC:

Desde a abertura do novo Hospital Pediátrico de Coimbra, com um serviço de Urgência aberto à população pediátrica até aos 18 anos, o número de situações agudas e urgentes com necessidade de cuidados de saúde na área da Pedopsiquiatria aumentou drasticamente, o que já era de esperar, pois a maioria das situações urgentes ou com necessidade de internamento pedopsiquiátrico, acontece em idades acima dos 12 anos. Para além da abertura do novo HP, também a situação de crise socioeconómica que atravessamos, com casos de carência económica, desemprego, futuro incerto com frequente necessidade de emigração dos pais e inevitável separação dos filhos, tem contribuído decisivamente para um aumento na psicopatologia e comportamentos de risco nas famílias, o que leva também a um aumento dos problemas de saúde mental na infância e adolescência. Este facto é comprovado pelo aumento anual continuado, do número de pedidos de consulta e vindas à urgência por motivos de saúde mental em mais de 30%, desde 2011 (ver quadro anexo):

Aumento % anual do nº de Consultas: > + 33% > + 36% Jan.-Julho

2011 2012 2013 2014

Primeiras Consultas 793 912 1252 921

Seguimentos 3238 4330 6109 5230

Consultas Internas no H.Ped. 193 378 302 209

TOTAIS ANUAIS 4224 5620 7663 6350 Nunca é demais recordar que o suicídio é a segunda causa de morte na adolescência, e na Urgência do HPC, os comportamentos auto lesivos foram a segunda causa de vinda à urgência em adolescentes, desde a sua abertura. Os números são no entanto inferiores às reais necessidades, pois muitas situações não apenas de Coimbra, mas também dos restantes Serviços Distritais de Pedopsiquiatria da Zona Centro, são seguidas em consulta externa (de forma incorreta), e não são enviadas para internamento em Coimbra pela inexistência do mesmo, ou ainda pela recusa dos familiares em aceitar um internamento num Serviço de Psiquiatria de Adultos, ou no Porto ou em Lisboa. Embora a taxa de suicídio na adolescência não pareça estar a aumentar a nível nacional, os comportamentos auto lesivos, em especial as intoxicações com medicamentos têm aumentado significativamente nos últimos dois anos (30.000 no último ano, 60% das quais em adolescentes), o que aliás motivou a recente iniciativa da DGS de aumentar as ações de prevenção do suicídio em várias escolas do país. Obviamente que para terem sucesso, os casos de risco identificados nessas ações de prevenção necessitam ter serviços de saúde mental que possam dar resposta aos casos mais graves que o necessitem. A realidade é que não existe nenhum Internamento ou Serviço de Urgência Pedopsiquiátrica a funcionar na Zona Centro, pelo que as crianças e adolescentes com essa necessidade, são internadas em serviços de Adultos, ou são incorretamente seguidas em consulta externa, com riscos para a saúde que os profissionais têm de assumir por ausência de alternativa.

A partir do momento em que o novo Hospital Pediátrico de Coimbra presta cuidados de saúde diferenciados a toda a população da Zona Centro com idade até aos 17 anos, incluindo o Serviço de Urgência, parece-me altamente discriminatório para os utentes que dele necessitem não existirem instalações para internamento pedopsiquiátrico, apesar da elevada prevalência que este tipo de patologia tem nestas idades (como já referi anteriormente). Ou seja, qualquer doente que recorrer ao Serviço de Urgência do HP com necessidade de internamento tem resposta…a menos que se trate de doença mental, (como se os utentes ou as famílias pudessem escolher as doenças do filhos!!!). Saliento ainda que as situações que requerem internamento, não se limitam a casos de doença mental, mas também a situações psicossociais agudas, como conflitos familiares graves com risco de maus tratos continuados, ou de crianças retiradas à família que aguardam vaga em centros de acolhimento, ou ainda em situações indicadas por outros profissionais de saúde ou CPCJ, com suspeitas de abusos psicológicos, físicos ou sexuais. Também em termos de direitos humanos, vários direitos da criança estão a ser a regularmente violados no Hospital Pediátrico de Coimbra. A Carta dos direitos da Criança Hospitalizada ratificada pelo nosso país em 1991, confirma a necessidade de uma proteção especial aos Direitos da Criança Hospitalizada, sendo referidos especificamente os seguintes aspetos: - Artº 6º - As crianças não devem ser admitidas em serviços de adultos. - Artº 7º - O hospital deve oferecer às crianças um ambiente que corresponda às suas necessidades físicas,

afectivas e educativas, quer no aspecto do equipamento, quer no do pessoal e da segurança.

- Artº 8º - A equipa de saúde deve ter a formação adequada para responder às necessidades psicológicas e emocionais das crianças e famílias.

- Artº 9º - A equipa de saúde deve estar organizada de modo a assegurar a continuidade dos cuidados que

são prestados a cada criança.

II - Alguns dados epidemiológicos: - População pediátrica (até aos 18 anos) residente na zona da ARS Centro, superior a 300.000 habitantes. - Prevalência de doença ou de necessidade de cuidados diferenciados em saúde mental infanto-juvenil de 20%,

sendo mais frequentes as Perturbações do Humor, as Perturbações de Ansiedade e do Comportamento (incluindo Perturbação de Hiperactividade e Défice de Atenção, e os Abuso de Substâncias), com incidências variáveis em função da idade e do sexo.

- ARS Zona Centro tem 61200 habitantes com necessidade de cuidados de Saúde Mental Infanto-juvenil. - Destes 61200, estima-se que mais de 1 em cada 1000, necessite anualmente de internamento em Pedopsiquiatria. - Ratio de camas mínimo, para internamento em Pedopsiquiatria de 3/100.000 habitantes com menos de 18 anos. - O Nº de camas aconselhado para internamento em Pedopsiquiatria na Zona Centro é de 8 a 10 camas. - Ratio de Pedopsiquiatras aconselhado de 1 Pedopsiquiatra / 12000 habitantes com menos de 18 anos. - Taxa de ocupação desejável de 85%, de forma a poder dar resposta aos pedidos urgentes, sendo previsível um

tempo médio de internamento de 21 dias.

População com idade pediátrica (censo de 2011) e necessidades de médicos Pedopsiquiatras em 2014:

Hospital População Pediátrica pertencente à ARSC *

(é diferente da população distrital)

Nº de Pedopsiq. em Agosto / 2014

Nº mínimo adequado de Pedop.(1/12.000 habitantes

com idade pediátrica < 18 A.) Défice

Coimbra ** 72.972 5 9 4

Figueira da Foz 14.841 0 1 1

Aveiro * 48.029 2 4 2

Leiria 63.620 2 4 2

Viseu * 48.232 2 4 2

Guarda 26.109 0 1 1

Castelo Branco 18.178 0 1 1

Covilhã (C.da Beira) 14.741 1 1 0

TOTAL ARS Centro 306722 12 25 13

(*) - Alguns Distritos têm concelhos que pertencem a outras ARS, pelo que a população pertencente à ARSC é inferior à da soma dos distritos (vários concelhos dos distritos de Aveiro e Viseu, referenciam para ARS Norte).

(**) – Vários concelhos dos distritos de Aveiro, Leiria e Viseu, referenciam os doentes para Coimbra (Anadia, Mealhada, Alvaiázere, Ansião, Figueiró dos Vinhos, Pedrógão Grande, Castanheira de Pêra, Mortágua), pelo que na prática a população assistida em Coimbra em consulta externa é superior, à do distrito (cerca de 100.000 com idade pediátrica, incluindo o concelho da Figueira da Foz).

III - Especificidades do Serviço de Pedopsiquiatria do CHUC, que explicam a necessidade de,

como serviço central, ter nº de médicos superior a 1/12000 habitantes

A – Criação de uma Urgência e um Internamento Regionais de Pedopsiquiatria – para situações clínicas de Psicose, Tentativas de Suicídio, Perturbações do Comportamento Alimentar, depressões graves e situações de somatização ou ansiedade, refratárias ao tratamento em ambulatório. B - Idoneidade formativa para os médicos internos de Pedopsiquiatria, estágios parcelares de internos de Psiquiatria de Adultos (6 meses de duração), e estágios opcionais de internos de pediatria e do ano comum. C – Consultas Diferenciadas a nível regional: Perturbações do Comportamento Alimentar e Unidade de Primeira

Infância.

D – Equipa de Pedopsiquiatria de Ligação para articulação com Serviços diferenciados de Pediatria Ambulatória,

Oncologia, Endocrinologia, Consulta de Crianças de Risco do HP, e apoio ao internamento no HP.

E - Articulação com os Cuidados de Saúde Primários para consultoria, formação, supervisão, e referenciação mais rigorosa, e para a formação em saúde mental comunitária a todos os médicos internos de Pedopsiquiatria.

F – Pedopsiquiatria Forense e articulação com Tribunais: cerca de 20 Perícias Médico-Legais realizadas por ano nos

últimos 3 anos, várias deslocações a Tribunal para prestar declarações como perito ou apenas como testemunha, e resposta a inúmeros pedidos de relatório e consultas.

G – Articulação com outras estruturas da comunidade: Reinserção Social, CPCJ, Segurança Social, Instituições e

Centros de Acolhimento para Crianças e Jovens em risco sem suporte familiar, Serviços de Toxicodependência, e colaboração em programas de prevenção primária e secundária de abuso infantil, “Bullying”, violência, etc.

Coimbra, 5 de Agosto de 2014

José Alberto Borges Garrido Gomes de Carvalho

(Director do Serviço de Pedopsiquiatria do CHUC)

De: Ana Feijão [[email protected]]

Enviado: domingo, 31 de Agosto de 2014 21:41

Para: saudemental Assunto: Contributo para a discussão pública do Relatório do GT para a Saúde Mental

Exmos Senhores

Junto envio a minha contribuição para a discussão pública do Relatório do Grupo de Trabalho para a Avaliação da Prestação de Cuidados de Saúde Mental e das Necessidades na Área da Saúde Mental

Ana Maria Feijão Neves da Silva Gomes

Coordenadora da Unidade de Alcoologia de Coimbra

Comentário ao Relatório do Grupo de Trabalho para a Avaliação da Prestação de Cuidados de Saúde Mental e das Necessidades na Área da Saúde Mental, em discussão pública O Relatório do Grupo de Trabalho para a Avaliação da Prestação de Cuidados de Saúde Mental e das Necessidades na Área da Saúde Mental surge em resposta ao Despacho nº 3250!4 de 19 de Fevereiro, que, no que respeita às estruturas que se ocupam da problemática dos comportamentos aditivos diz:

f) Estudar a forma de proceder e propor um calendario para a integracao dos Centros de Resposta Integrados (CRI) na estrutura dos ACES e das Unidades de Alcoologia e das Unidades de Desabituacao em instituicoes hospitalares;

Sendo eu a responsável da Unidade de Alcoologia de Coimbra, da ARS Centro, penso ser minha obrigação pronunciar-me sobre o mesmo uma vez que ele foi posto em discussão pública Não posso no entanto fazê-lo sem começar por manifestar a estranheza de todos os profissionais da área dos comportamentos aditivos desde logo com a publicação de dois Despachos aparentemente contraditórios em Fevereiro de 2014. O Despacho nº 3250/2014 cria o grupo de trabalho que irá estudar a forma de proceder e propor um calendário para a integracao…das Unidades de Alcoologia e das Unidades de Desabituacao em instituições hospitalares, assumindo que o grupo de trabalho vai estudar o como e o quando de um facto decidido. Este Despacho tem a data de 19 de Fevereiro mas só é publicado no Diário da república em 27 de fevereiro. Entretanto a 21 de Fevereiro é publicado no D.R um Despacho de 21 de fevereiro que diz: “ …o Decreto -Lei n° 22/2012, de 30 de janeiro, veio determinar que as ARS,IP sucedem, de acordo com a respetiva área geográfica de intervenção, nas atribuições do IDT,IP no domínio do licenciamento das unidades privadas prestadoras de cuidados de saúde na área das toxicodependências e da execução dos programas de intervenção local, do património e dos recursos humanos afetos às delegações regionais. Neste contexto, tornou -se necessário proceder à alteração da organização interna das ARS,IP, alterando os respetivos estatutos, de

modo a definir o modelo das unidades funcionais que asseguram as novas atribuições das ARS,IP em matéria de intervenção nos comportamentos aditivos e dependências. Assim, as ARS,IP integram aquelas unidades de intervenção local, salvaguardando as suas funções essenciais, reforçando a capacidade de intervenção e da disponibilidade dos meios necessários, explorando sinergias e maximizando a integração de esforços. Nestes termos, atendendo às especificidades da área de atuação destas unidades, e verificando-se a necessidade de assegurar a integração das unidades de intervenção local nas ARS,IP sem afetar a prestação de cuidados de saúde aos utentes, quer daquelas unidades, quer das demais unidades e serviços que integram as ARS,IP, ...” Ou seja, dois dias antes de elaborar e publicar o Despacho que integra nas ARSs as Unidades locais de intervenção anteriormente integradas no IDT, o Secretário de Estado elabora um Despacho que cria um grupo de trabalho para estudar como e quando estas unidades vão ser integradas em serviços hospitalares. E este primeiro Despacho é publicado 6 dias depois do segundo ser publicado. Esta situação criou compreensivelmente alguma confusão e apreensão nos profissionais da área, uma vez que simultaneamente se formaliza e organiza a integração das Unidades na estrutura das ARSs e ao mesmo tempo anuncia-se a integração de algumas delas na saúde Mental sendo que o grupo de trabalho apenas deverá estudar e propor a forma e a calendarização. As sucessivas integrações com extinção de serviços e reestruturações múltiplas não contribuem para a estabilidade, a produtividade e a qualidade dos serviços. A integração das Unidades nas ARSs decorreu durante dois anos até tudo estar organizado e funcionante e no mesmo momento em que se formaliza a conclusão desse processo anunciar nova integração é, no mínimo, desestabilizador. Ultrapassada essa fase com a possibilidade de haver uma inadequação da compatibilidade da linguagem entre os dois despachos, vejamos o que diz o grupo de trabalho no que a estas Unidades de Intervenção local provenientes do IDT diz respeito. Os CRIs deverão na perspectiva do grupo de trabalho continuar integrados nos ACEs. O grupo considera que aos CRIs compete a execução de

programas de intervenção local no que respeita à prevenção de comportamentos aditivos e dependências, bem como a prestação de cuidados integrados e globais a utentes com comportamentos aditivos, dependência de substâncias psicoactivas lícitas ou ilícitas, segundo as modalidades terapêuticas mais adequadas em regime ambulatório, com vista ao tratamento, redução de riscos, minimização de danos e reinserção e à sua referenciação e defende que devem continuar integrados nos ACEs. Não se considera que a permanência dos CRIs com todas estas funções nos ACEs invalide a premissa de que a condição das dependências seja parte integrante das perturbações na esfera da saúde mental. O facto de muitas gravidezes serem seguidas nos Cuidados de Saúde Primários e de se propor os partos no domicílio com apoio de enfermeiros não faz ninguém pôr em causa que a gravidez e o parto são da área da Obstetrícia, ou o facto de muitos diabéticos serem seguidos nos CSP não faz ninguém pensar que a Diabetes não é uma doença da área da Endocrinologia e o mesmo para as epilepsias e a Neurologia, etc. A integração e a globalidade de cuidados, mandatórias nesta área, a complexidade dos programas e intervenções, até mesmo a multidisciplinaridade das equipas, não têm sido apanágio de muitos serviços da área da saúde Mental. Mas têm uma longa história bem consolidada nos serviços que se têm ocupado dos comportamentos aditivos e dependências. Diz o grupo de trabalho que há oportunidade de melhorar o processo de integração assistencial com medidas que podem ser adoptadas, sem custos acrescidos e em beneficio da harmonização da prestação de cuidados de saúde de pessoas com comportamentos aditivos e dependências, nomeadamente a existência de uma estrutura de coordenação regional, uma multiplicidade de respostas na comunidade, a definição de uma estratégia regional para os CAD, a articulação com parceiros, a integração no SNS e a rentabilização de recursos. O espantoso é que tudo isto é proposto no segundo Despacho 2976/2014, o segundo Despacho que saiu antes do primeiro e de algum modo foi isso que demorou 2 anos mas está praticamente feito na ARS Centro, faltando agora consolidar e aperfeiçoar, adequar recursos humanos, etc.! Talvez fosse de propor que se estudasse o processo tal

como decorreu no Centro e se pudesse estender esse modelo ao resto das estruturas do País. Diz o Relatório logo a seguir que “situacao diversa será a das estruturas que incluam prestação de cuidados de internamento, seja de situações no âmbito da Alcoologia, seja das substâncias psicoactivas, lícita ou ilícitas. Estas estruturas devem articular-se com os CRIs, inseridos na respectiva rede de referenciação mas deverão funcionar, tendencialmente em hospitais gerais, podendo, no entanto, estar localizadas em estabelecimentos hospitalares especializados em Psiquiatria, num e noutro caso constituindo unidades especializadas, tecnicamente autónomas.” O argumento de que se trata de unidades que prestam cuidados em internamento deve ter em conta que as Unidades de Alcoologia prestam cuidados em internamento e em ambulatório. O programa terapêutico da Unidade de Alcoologia de Coimbra consiste num período inicial de internamento seguido de um período de terapia em ambulatório. É essencial para o sucesso do programa que seja basicamente a mesma equipa a acompanhar todo o processo de tratamento da cada doente. É importante para o sucesso do programa terapêutico o facto de todos os doentes internados e em consulta terem a mesma doença, sem estigmas, sem medos, com aceitação e respeito por parte dos profissionais e preservação da sua dignidade. Se há um estigma para os dependentes de substâncias há também um estigma para as doenças mentais. O consumo de álcool é um consumo muito integrado socialmente e as pessoas que adoecem pelo excesso de consumo não querem muitas vezes ser identificadas como sofrendo de uma doença psiquiátrica. O beneficio do convívio próximo com doentes dos serviços de psiquiatria será tão somente o de poder desmistificar junto deles a doença mental... mas não me parece que seja prioritário considerá-los alvo desse processo de aceitação e desmistificação, não na altura do seu próprio tratamento. Recebemos muito frequentemente doentes que que passaram por serviços de psiquiatria e que não receberam um tratamento especializado. É de resto isso que o Relatório frisa bem quando diz que devem estas estruturas manter a autonomia técnica. Então o argumento para funcionarem em serviços hospitalares seria a possível contribuição e colaboração de outros serviços hospitalares no tratamento destes doentes. Esse argumento fica prejudicado quando se diz que poderão

funcionar em hospitais psiquiátricos... que também não dispõem dessas equipas e serviços complementares. As unidades especializadas foram criadas exactamente porque no que diz respeito aos doentes alcoólicos (e na altura não se colocava ainda com a mesma premência a dependência de outras substâncias) se reconheceu a necessidade de providenciar um tratamento específico, adequado, dirigido a estes doentes, que ocupavam muitas camas dos serviços de Psiquiatria e a quem não era prestado o tratamento adequado. Voltar atrás 50 anos voltando a instalar as unidades especializadas de tratamento de pessoas com Problemas ligados ao álcool em serviços hospitalares gerais ou de psiquiatria, com o argumento de que é importante demonstrar que as dependências e os comportamentos aditivos são da área da saúde Mental parece-me falacioso e parece-me um claro retrocesso. Claro que são da área da saúde Mental. E da área da Neurobiologia, e da área da Hepatologia, e de tantas outras. Da área da Saúde Pública pela enorme dimensão do problema em Portugal e na Europa para não falarmos do nível global. E devem estas unidades ter uma relação privilegiada com os Cuidados de saúde primários pela dimensão de saúde pública do problema e pela capacidade e importância da intervenção dos Médicos de família nestas situações. Por se tratar, e falo agora ainda de álcool, de um abuso com imensas consequências orgânicas, as Unidades de Alcoologia têm nos seus mapas de pessoal Médicos com a especialidade de Medicina Geral e Familiar. Estes são fundamentais para acompanharem os doentes nos aspectos orgânicos, para fazerem uma articulação eficaz e produtiva com os Médicos de família, e para colaborarem activamente na sua formação – quer colaborando nos internatos de especialidade quer fazendo cursos, supervisão e orientação de equipas locais. Em situações de comorbilidade mais graves, exigindo respostas hospitalares muito especializadas existe a rede de referenciação/articulação que, essa sim, é urgente que funcione adequadamente. Na análise SWOT que o Grupo de Trabalho faz da Integração das Unidades, nomeadamente de Alcoologia, nas Unidades Hospitalares ressalta que esta poderia aumentar a acessibilidade e a proximidade dos utentes, mas analisando todos os dados existentes verifica-se que no caso

da Unidade de Alcoologia de Coimbra as respostas são atempadas, adequadas, os tempos de espera são bons, e não existe um problema identificado no Relatório para os servicos de Psiquiatria que é “Os tempos de espera para consulta, mormente após a alta de um episódio de internamento, facilitam os reinternamentos, obstaculizando as probabilidades de recuperação de padrões de vida compatíveis com a dignidade da pessoa portadora de doenca mental”. Na Unidade de Alcoologia de Coimbra os doentes têm as consultas marcadas no internamento, estas são periódicas e regulares e portanto não se põe a questão. O programa é um todo e funciona como tal. A Unidade de Alcoologia de Coimbra tem uma equipa especializada e multidisciplinar que trabalha em equipa para tratar de forma integrada as várias vertentes ligadas às dependências. No entanto, aquilo que considero mais significativo é que o grupo: considera pontos fracos

“nao resulta qualquer conclusao no sentido de maior eficacia financeira”, (é de resto, muito fácil demonstrar que o custo cama/dia de internamento é significativamente mais baixo na Unidade de Alcoologia que num serviço hospitalar)

e a dispersão de meios e recursos e a sua subalternização

e considera ameaças:

Não pode concluir-se que esta integração trará ganhos assistenciais”

a potenciação da dispersão de recursos A integração destas Unidades nos serviços de saúde Mental não pode ser motivada por razões tão mesquinhas como o de se saber quem é o dono da quinta. O relatório do Grupo de Trabalho parece-me muito sério neste aspecto. Em conclusão diria que:

Após a conclusão e a formalização do processo de integração das Unidades nas ARS s e sem que esteja concluída a reestruturação dos serviços de Psiquiatria e muito menos uma harmonização da Saúde

Mental, este não me parece o momento para se calendarizar a integração destas Unidades naqueles serviços

As Unidades especializadas, embora integradas num futuro mais alargado, na área da saúde Mental, deverão ter assegurados não só a autonomia técnica, (expressão vaga e pouco clarificadora), mas a sua identidade e o reconhecimento de que se trata de uma área particular dentro da Saúde Mental com grande especificidade, e interdisciplinaridade ainda maior que outras áreas da saúde Mental.

Considero que deve efectivamente haver uma harmonização a nível nacional, pese embora o mérito reconhecido pelo Grupo de trabalho de estratégias regionais para os CAD, mas que esta pode ser feita estudando-se os casos de sucesso existentes e tentando perceber porque funcionam e como alargar esse modelo a outros serviços. Penso que seria uma boa prática que evitaria mais precipitações com todos os danos muitas vezes irreversíveis daí resultantes. Coimbra, 31 de Agosto de 2014 Ana Maria Feijão Neves da Silva Gomes Coordenadora e Directora Clinica da Unidade de Alcoologia de Coimbra CP nº 25332 da OM

De: André Pereira [[email protected]]

Enviado: sexta-feira, 29 de Agosto de 2014 17:06

Para: saudemental Cc: Luis Daniel Sousa Fernandes; Vitor Lameiras; [email protected]

Assunto: Contributos do Instituto S. João de Deus - Casa de Saúde S. José

Boa tarde:

Conforme solicitado, somos a enviar as nossas conclusões/propostas à análise

do "Relatório do Grupo de Trabalho para a Avaliação da Situação da Prestação de

Cuidados de Saúde Mental e das Necessidades na Área da Saúde Mental".

Parece-nos premente salientar que enquanto Centro Assistencial do Instituto S. João de

Deus, fundado a 11 de novembro de 1977, e com atividade nos cuidados de saúde

mental há mais de cem anos, através dos vários centros assistenciais dispersos pelo

continente e ilhas, causa-nos uma certa admiração o facto de continuarmos a não fazer

parte da rede de referenciação de psiquiatra de adultos.

Relativamente ao défice de respostas em algumas áreas que abrangem, tanto o Setor

Público como o Setor Social, parece-nos oportuno a manifestação da nossa

disponibilidade no desenvolvimento e criação de respostas nas seguintes áreas de

intervenção:

. Consultas de ambulatório;

. Estruturação de um serviço de apoio domiciliário para a saúde mental no distrito de

Viana do Castelo, na área de abrangência dos concelhos de Caminha e Viana do

Castelo, aproveitando as sinergias decorrentes da posição resultante da nossa presença

na área dos Cuidados Continuados Integrados no concelho de Caminha, através da

unidade de longa duração e manutenção da Gelfa;

. Criação de respostas na área da pedopsiquiatria:

. Aposta na criação de uma estruturas de Reabilitação Psicossocial, nomeadamente

através de um Fórum Sócio Ocupacional.

Desde já manifestamos a nossa disponibilidade para qualquer eventual esclarecimento.

Sem mais de momento, despeço-me com os nossos mais sinceros cumprimentos,

P´la Direção da Casa de Saúde S. José

De: Marta Pinto [[email protected]]

Enviado: sexta-feira, 29 de Agosto de 2014 21:53

Para: saudemental Cc: Soraia Teles; Maria Oliveira

Assunto: contributos para a discussão pública da avaliação da situação saúde mental

Boa noite,

Seguem em anexo comentários a propósito do "relatório do grupo de trabalho para a

avaliação da situação de prestação de cuidados de saúde mental e das necessidades da

área da saúde mental". Estes comentários integram-se na discussão pública do referido

documento cujo prazo termina a 31 de agosto.

Agradeço, em nome da equipa, a atenção dispensada.

--

Marta Pinto PhD, Psychologist, Researcher Head of the Research Department PhD, Psicóloga, Investigadora Coordenadora do Departamento de Investigação ·····························································

APDES | Agência Piaget para o Desenvolvimento Arcozelo, Vila Nova de Gaia - Portugal T. +351·227·531·106/7 | M. +351·912·443·655 map | website | facebook | linkedin | twitter | youtube A APDES é reconhecida como ONGD pelo Camões I.P.. APDES is acknowledged as NGDO by the Camões Institute

Comentários ao relatório do grupo de trabalho para a Avaliação da Situação da Prestação de

Cuidados de Saúde Mental e das Necessidades na Área da Saúde Mental

Agosto de 2014

Através do Despacho nº 3250/14 de 19 de fevereiro de 2014, foi criado um grupo de trabalho

com a incumbência de avaliar a situação da prestação de cuidados em saúde mental e as

necessidades nessa área. No mesmo despacho é feita a integração dos comportamentos

aditivos no âmbito dos cuidados integrados em saúde mental. A Agência Piaget para o

Desenvolvimento - APDES, na qualidade de ONGD que desenvolve a sua ação em torno de

vários fenómenos, em particular o do uso de drogas e que milita pelo envolvimento da

sociedade civil no desenho das políticas públicas, considera ser sua obrigação a emissão de

comentários a propósito desse documento. Assim, aproveitando o momento de consulta

pública que agora decorre, a APDES vem por este meio expor algumas considerações a

propósito do reenquadramento que tem vindo a ser feito do fenómeno Droga nas políticas

públicas nacionais. É de salientar que os elementos avançados para a discussão radicam em

anos de experiência interventiva junto dos utilizadores problemáticos e recreativos de diversas

drogas (como a heroína ou a cocaína, mas também das chamadas “novas drogas”), em

diversos meios (nas ruas das margens socio-espaciais de várias cidades, mas também em

festivais de Verão ou em contextos de diversão noturna) e na discussão destas temáticas em

redes nacionais e internacionais de ação e de investigação.

Um primeiro comentário dirige-se ao próprio despacho nº3250/14 de 19 de fevereiro de 2014.

Este vem institucionalizar uma vontade política de diluição da resposta aos comportamentos

aditivos que foi sendo desenhada em Portugal ao longo das últimas três décadas. Os seus

contornos assentam num processo de aperfeiçoamento e especialização que permitiram a

criação de serviços de qualidade, integração e complementaridade assinaláveis. De facto, o

agora extinto Instituto da Droga e da Toxicodependência (IDT) foi o resultado de anos de

esforço de adaptação ao fenómeno das dependências e sua evolução e constituía, por isso

mesmo, uma resposta adaptada, especializada e compreensiva. Evidentemente, havia ainda

muito para fazer no sentido do seu aperfeiçoamento, mas o seu desmantelamento

corresponde à perda de todo um capital do saber-fazer construído no quotidiano da

convivência com o fenómeno das dependências. A autonomia desse organismo traduzia, não

só a sua especificidade, como a complexidade com que as respostas nesta área devem ser

moldadas. O sucesso do “Modelo Português” apontado no contexto internacional não será,

com certeza, alheio a esse nível de autonomia, de especialização e de integração territorial que

permitiu uma abordagem realmente compreensiva do problema.

A par disso, o enquadramento do uso de drogas na esfera da saúde mental está longe de ser

consensual. A toxicodependência, tal como a conhecemos hoje, é um fenómeno recente na

história da humanidade, apesar do consumo de drogas ser uma constante antropológica. Por

outras palavras, o Homem sempre usou substâncias psicoativas, mas só no século XIX é que o

abuso massivo se instalou. Isto impõe uma verdade sociológica: o problema das drogas tem na

sua raiz uma complexa combinação de fatores biopsicossociais na qual as condicionantes

associadas à dimensão social assumem um papel de relevo. A sua classificação como uma

questão de saúde mental é redutora e perigosa, somando às condições sociológicas de

produção do fenómeno o estigma como fator de agravamento da condição do sujeito. Esse

estigma está profundamente conectado com a marginalização e esta contribui

significativamente para o aumento dos riscos associados ao uso de drogas e que ameaçam a

saúde pública (por exemplo, o risco de contágio de infeções como o VIH, as hepatites víricas ou

a tuberculose; ou o risco de morte por overdose). Além disso, como já está cientificamente

estabelecido, a esmagadora maioria dos sujeitos que contacta com drogas, lícitas ou ilícitas,

não desenvolve consumos abusivos, pelo que perspetivar o uso dessas substâncias como uma

perturbação da conduta significa ignorar uma parte considerável da população e que beneficia

de intervenções especializadas, nomeadamente de redução de riscos, dificilmente

enquadráveis na área da saúde mental.

Dito isto, passaremos a tecer alguns comentários a propósito do relatório em questão. Em

primeiro lugar, há uma observação transversal a todo o documento que se impõe: mais do que

um relatório de avaliação, trata-se de um relatório de monitorização, que se limita a

apresentar um quadro descritivo de alguns indicadores interessantes, sem os abordar de

forma crítica e interpretativa ou sem dar os elementos suficientes para que o leitor possa

proceder a esse trabalho analítico. Por exemplo, quando, na página 28, se apresentam os

números relativos às pessoas que frequentaram grupos socioterapêuticos, seria necessário

perceber quais os benefícios associados e a qualidade desses serviços. Por si mesma, esta

informação não tem valor. O mesmo pode ser dito relativamente aos outros indicadores, como

o da integração profissional das pessoas sem emprego. Quais os moldes dessa integração? Em

que medida trouxe benefícios ao sujeito? Para se considerar, tecnicamente, este um trabalho

de verdadeira avaliação seriam necessários mais dados, interpretações a propósito desses

dados e, ainda, outro tipo de dados, nomeadamente os que derivassem de uma auscultação

dos beneficiários destas respostas. Eles são os atores mais importantes no processo avaliativo.

Com vista a um conhecimento realmente frutífero para a melhoria do funcionamento do

dispositivo da saúde mental é imprescindível investir na realização de uma avaliação noutro

formato.

Impõem-se ainda comentários mais específicos decorrentes de uma leitura de pormenor do

relatório. Parece, apesar da escassez de dados que pode enviesar o ponto de vista do leitor, ter

havido progressos a assinalar, mas também há dados preocupantes como o facto de mais de

metade das pessoas com necessidades de habitação permanecerem sem uma solução. O

relatório aponta com clareza essas fragilidades, pelo que não nos alongaremos nelas.

Estamos de acordo com as reflexões feitas a propósitos dos Centros de Respostas Integradas

(CRI) e que defendem a manutenção, no essencial, do modelo interventivo que tem vigorado.

No entanto, ainda assim, defendemos um reforço da aposta nas medidas de redução de riscos

que traduza na prática o discurso político da sua importância. As evidências científicas

mostram a sua eficácia e a sua valiosa relação custo-benefício, pelo que é necessário conferir-

lhe, em definitivo, um estatuto autónomo no seio das respostas ao uso de drogas, em

particular do tratamento e da prevenção, dos quais se distingue claramente quer do ponto de

vista do enquadramento teórico que lhe subjaz, da abordagem no terreno e das estratégias

interventivas utilizadas. Complementaridade distingue-se em absoluto da sobreposição.

De: Emidio Abrantes [[email protected]]

Enviado: terça-feira, 30 de Setembro de 2014 23:11

Para: saudemental Assunto: Contributos

Boa noite,

Apenas um breve comentário:

-Ficamos com duvidas sobre o futuro das Comunidades Terapeuticas (CT) publicas,

embora se faça a ligação para os cuidados continuados, mas não é esclarecedor - a

minha opinião é que as CT são instrumentos essenciais e uma mais valia, representando

na maioria dos casos uma boa prática na intervenção com individuos com CAD, deve

manter-se e não confundir com uma resposta também essencial que são os cuidados

continuados de longa duração.

- Relativamente aos CRI entende-se que se deve manter a sua "especifidade" e também

se constata a sua "inoportunidade" para integração nos ACES - concordo inteiramente

com o exposto no relatório - só não se percebe porquê o calendário para a sua

integração.

- Tenho duvidas e acredito que seja um retrocesso na intervenção com doentes

alcoolicos se as unidades de alcoologia integrarem a rede de hospitais, iremos

seguramente criar um estigma nesta população tão dificil de tratar.

Obrigado pela atenção dispensada

Emídio Abrantes

De: Hilson Cunha Filho [[email protected]]

Enviado: segunda-feira, 25 de Agosto de 2014 12:17

Para: saudemental Assunto: Fwd: Discussão pública - dependências

Exmos Senhores, Respondendo a solicitação do Ministério da Saúde que coloca em consulta pública, até ao próximo dia 31 de agosto de 2014, o relatório realizado pelo grupo de trabalho constituído nos termos do despacho n.º 3250/2014, de 27 de fevereiro, nomeadamente no que se refere aos problemas associados ao álcool e drogas a serem integrados na saúde mental, abaixo enunciamos alguns tópicos que nos chamam atenção e que gostaríamos de por a vossa consideração. Pelo que se pode constatar da leitura dos documentos apresentados no relatório, enquanto os serviços na área do álcool e drogas associados aos CSP e à Comunidade permanecem ligados as ARS (não se replicando a nível das ACES por enquanto), os Cuidados Especializados, como os de desintoxicação e tratamentos médicos associados podem ser integrados nos Hospitais Psiquiátricos ( que nos últimos anos foram agregados e reduzidos na sua dimensão). Antes de qualquer outra questão a integração proposta, com a separação estrutural dos serviços entre primários e especializados, com a direcção feita por organismos dispares em nada irá favorecer ou facilitar às necessidades da rede de cuidados e da ligação rápida entre os diversos níveis de cuidados nesta área, o que irá implicar um enorme esforço de todos os que prestam ou dirigem os serviços para que tal venha a se concretizar nos próximos anos. Não acreditamos que o momento actual seja propício a isso. Em relação aos serviços associados aos CSP, não havendo lugar a uma disseminação dos serviços, maior proximidade à população ou ganhos de saúde, o que vai ocorrer é a simples integração das antigas Direcções Regionais do IDT nas ARS, ficando os diversos serviços sem uma coordenação forte e autonomia que permitam uma maior eficácia e eficiência e perdendo destaque como prioridade de saúde (o que é grave quando se junta às drogas os problemas ligados ao álcool e outras adicções). As abordagens destes serviços podem ser classificadas de forma similar as dos serviços de Saúde Mental (SM), mas as suas especificidades não são as mesmas. Seria mas adequado que a SM viesse a criar um modelo a partir do plano original criado há poucos anos mas não executado ainda, usufruindo da experiência e inovação criada pelos serviços do antigo IDT que forma integrados nas ARS, e não o contrário... portanto o paradigma desta proposta parece se encontrar invertido a princípio, cedendo a sua lógica à teoria, mais do que às boas práticas e evidências cientificas concretas encontradas nos serviços de saúde. É de destacar também que o esforço necessário para integrar as problemáticas do álcool, drogas ou saúde mental reside nos próprios CSP e na sua capacitação para dar resposta, assistir, encaminhar, monitorizar e acompanhar os utentes. acreditamos que este deveria ser o foco da mudança quando se discute esse problema.

Em relação aos cuidados especializados, destinado predominantemente a tratar os indivíduos com perturbações devido ao uso de substâncias (álcool e outras drogas), é algo surpreendente que os mesmos dirigentes que há algum tempo se mostravam pouco concordantes com a anexação aos dos serviços para tratamento do álcool aos serviços para tratamento de drogas, alegando que tal aumentaria o estigma associado ao problema e afastaria os potenciais utentes dos serviços de alcoologia, agora possam recomendar que esses serviços de saúde ligados ao álcool e drogas possam estar fisicamente associados aos serviços psiquiátricos. Acreditamos que tal mudança aumentaria ainda mais o estigma das perturbações em causa e de forma bilateral: os utentes com problemas de álcool (e outras drogas ou comportamentos adictivos) se sentiriam pouco à vontade de aceder a serviços psiquiátricos e os utentes dos serviços psiquiátricos e suas famílias iriam estigmatizar os utentes supostamente com comportamentos "delinquentes" e "de risco" e que usam drogas ou álcool. Outro aspecto a considerar é o da redução dos Hospitais Psiquiátricos, dos serviços de internamento e dos tempos de internamento prestados, com consequente diminuição dos recursos humano , físicos e materiais disponíveis. Em prol de uma assistência na comunidade, esta reestruturação tem gerado um vazio na prestação de cuidados especializados: menos internamentos com menor oferta de serviços e cuidados e ausência ou insipiência de cuidados em ambulatório, na comunidade ou cuidados continuados (com maior parte das respostas oriundas do sector social e com apoios da segurança social). Esta mudança ainda em curso e a incerteza do seu desenvolvimento adequado às necessidades da população e a capacidade de resposta do sistema não é propício a integração de outros serviços que autonomamente funcionam bem e de forma coordenada, oferecendo uma resposta adequada à população assistida. Além do mais pareceu-nos no mínimo duvidosa a integração das Comunidades Terapêuticas de longa duração (e outros Centros de Tratamento de curta e média duração), não aos serviços de saúde, mas antes à segurança social, o que pode dar a perder todo o esforço dos últimos anos em prover uma resposta eficaz e de alto nível científico e técnico aqueles com problemas de drogas e álcool. Toda sabemos que o caminho que leva a uma prestação mais voltada a assistência e menos aos cuidados de saúde pode levar a uma solução paliativa mais do que a uma solução definitiva ou consistente que permita a reabilitação psicossocial e reinserção dos indivíduos. As evidências científicas dos últimos anos demonstram que em outros países que aplicaram a mesma política de SM, com as mesmas deficiências na prestação dos cuidados na comunidade, houve um aumento da criminalidade associada à doença mental e do encarceramento de doentes mentais nas prisões (que assim não recebemos cuidados de saúde devidos, como já acontece no sistema prisional em Portugal). Pensamos por fim que este assunto deveria ser melhor discutido, não apenas como uma mudança burocrática e racionalizante da estrutura de serviços do SNS, mas com a colaboração activa dos idealizadores das redes de alcoologia de toxicodependência que já estavam em vigor e levada aos órgãos representativos do sector como é o caso do Fórum Nacional Álcool e Saúde ou do Conselho Nacional da Droga e da Toxicodependência, não bastando para tal uma consulta pública limitada no tempo e

na sua possibilidade de introduzir mudanças na reforma dos serviços e cuidados em discussão. De qualquer forma, esclarecemos que não somos contrários a integração dos serviços agora em causa na estrutura do SNS. Pensamos que tal processo poderá no futuro trazer grandes benefícios a todos os envolvidos e à problemática, bem como permitir uma melhor e maior assistência à saúde da população. Esperamos que as argumentações iniciadas aqui sejam vistas como um contributo construtivo e pragmático a abordagem do assunto em causa, que promovam algum eco e reflexão junto tanto do grupo de trabalho como dos responsáveis do Ministério da Saúde. Assim, colocamo-nos a vossa disposição para qualquer missiva que possa ser útil. com os melhores cumprimentos, Hilson Cunha Filho e-mail: [email protected] telem: 919363195 PRESIDENTE DA DIRECÇÃO CATR - Centro de Apoio, Tratamento e Recuperação, IPSS https://www.facebook.com/catripss Membro fundador do Fórum Nacional Álcool e Saúde (FNAS) Membro fundador da Confederação Portuguesa de Prevenção do Tabagismo (COPPT) INVESTIGADOR Cesnova - Centro de Estudos de Sociologia da Universidade Nova de Lisboa Faculdade de Ciências Sociais e Humanas - UNL DOUTORANDO Ciências da Vida, Saúde Pública Faculdade de Ciências Médicas - UNL

De: Direcao Apatris21 [[email protected]]

Enviado: sexta-feira, 22 de Agosto de 2014 0:53

Para: saudemental Cc: [email protected]; [email protected]; [email protected]

Assunto: discussão publica prestação de cuidados de saude mental- contributo da Apatris21

Ao Responsável pelo grupo de trabalho pela prestação de Cuidados da Saúde Mental Como presidente de uma IPSS no Algarve – APATRIS 21 (IPSS com fins de saúde e de utilidade publica) dirijo-me a V. Excelências no âmbito da discussão publica da prestação dos Cuidados de Saúde Mental e do objectivo do despacho 3250/2014 de “identificar a capacidade não utilizada do sector social de forma a providenciar serviços e a colmatar falhas do sector publico…….”. A Apatris21 tinha um acordo de colaboração com a ARS do Algarve que foi cessado em Abril deste ano. Depois de algumas reuniões com o Presidente desta ARS, Dr Moura Reis, em que foi feita uma exposição pormenorizada do trabalho efectuado por esta instituição, foi sugerido à direcção da Apatris21 dirigir-se a V. Excelência. A Apatris21 –Associação de portadores de Trissomia 21 do Algarve- tem dirigido o seu trabalho para os cidadãos com Trissomia 21 e outras causas de deficit intelectual, tendo capacidade para dar resposta a partir dos 5-6 anos. Também numa dessas reuniões com os dirigentes da ARS foi-nos transmitido que a assistência à deficiência intelectual é uma área com falta de resposta na nossa região. Nesse sentido, com a equipa que temos fizemos uma proposta de intervenção para estas pessoas em que incluímos como áreas de intervenção terapia de fala, psicologia educacional, técnica de reabilitação psicomotora, psicologia clinica e social e apresentámos á ARS do Algarve. Como não obtivemos resposta essa proposta foi enviada para Suas Excelências o Ministro da Saúde, o Ministro do Trabalho, do Emprego e da Segurança Social, bem como para a Comissão para a Saúde Mental e Instituto de Segurança Social. Estas pessoas com perturbação do deficit intelectual, onde estão incluídos Sindrome de Down, Doenças do espectro do autismo, Sindrome X-Fragil, e outras causas de deficiência mental ligeira sem diagnóstico, não sendo doentes mentais tem muitas vezes perturbações do comportamento que, para além de terapias de intervenção, necessitam de tratamento médico como se se tratasse de doença mental, inclusive, podendo ter uma doença mental associada. Nesta discussão publica a direcção desta instituição gostaria de saber onde enquadrar estes cidadãos a nível de saúde mental. A direcção da Apatris21 dirige-se a V. Excelencias, no sentido de complementar os serviços existentes e integrar uma colaboração com o programa para a Saúde Mental na região do Algarve, este será o nosso contributo. Para saber mais acerca da Apatris21 pode consultar: www.apatris21.org ou o Facebook Se achar necessário contactar a Apatris21 pode fazer para este e-mail ou poderá usar o meu pessoal: [email protected] ou TM 962863605( para a semana a instituição terá uma semana de férias ); estou disponível para algum esclarecimento adicional. Com os meus cumprimentos Maria Augusta Pereira Presidente da direção

De: Vitor Lameiras [[email protected]]

Enviado: sexta-feira, 29 de Agosto de 2014 23:03

Para: saudemental Cc: 'Secretaria Provincial OHSJD'; [email protected]; [email protected];

[email protected] Assunto: Envio de comentário institucional ao Relatório de Avaliação da Situação da Prestação

de Cuidados de Saúde Mental

Ex.mos(as) Srs (as) Conforme previsto na consulta pública, somos a enviar análise/comentário institucional ao "Relatório do Grupo de Trabalho para a Avaliação da Situação da Prestação de Cuidados de Saúde Mental e das Necessidades na Área da Saúde Mental". Atenciosamente Ir. Vítor Lameiras Presidente da Direcção do ISJD Provincial da Provincia Portuguesa da OHSJD ------------------------------------------------------------

Rua São Tomás de Aquino, 20 - 1600-871 Lisboa - Portugal Tel. (+351 217 213 300 I Fax. (+351) 217 213 353 www.isjd.pt [Responsabilidade limitada] Este e-mail, incluindo os seus anexos, contém informação pessoal e/ou confidencial e é para o uso exclusivo do destinatário a quem é dirigido. Por favor notifique-nos de imediato se este e-mail lhe foi endereçado por erro. Qualquer difusão, reprodução, publicitação a terceiros ou outra utilização não autorizada do conteúdo deste e-mail é proibida. This e-mail (including its attachments) contains personal and/or confidential information and is only intended for the addressee(s) named above. Please notify us immediately if you are not the intended recipient. Any unauthorized reproduction, dissemination, disclosure or other use of the contents of this e-mail is forbidden. Antes de imprimir este e-mail pense bem se tem mesmo que o fazer. Há cada vez menos árvores. Please consider the environment before printing this email.

Análise e considerações do Instituto de S. João de Deus:

Relatório Grupo de Trabalho para a Avaliação da Situação da Prestação de Cuidados de

Saúde Mental e das Necessidades na área da Saúde Mental

e

Rede de Referenciação Psiquiatria e Saúde Mental

O Instituto S. João de Deus (ISJD) da Província Portuguesa da Ordem Hospitaleira

de S. João de Deus é uma IPSS que rege juridicamente e faz a gestão de 9 Estabelecimentos

Hospitalares/Centros Assistenciais dos quais 6 têm como domínios de intervenção a

Psiquiatria e saúde Mental, incluindo reabilitação Psicossocial e Alcoologia. Estes 6 Centros

são: Casa de Saúde do Telhal – Mem Martins; Casa de Saúde S. João de Deus – Barcelos;

Casa de Saúde S. José – Areias de Vilar; Casa de Saúde S. João de Deus – Funchal; Casa de

Saúde S. Miguel – Ponta Delgada; Casa de Saúde S, Rafael – Angra do Heroísmo.

O ISJD, após análise do Relatório “Avaliação da Situação da Prestação de Cuidados

de Saúde Mental e das Necessidades na área da Saúde Mental” e da “Rede de Referenciação

Psiquiatria e Saúde Mental”, para além das considerações com enfoque loco regional

efetuadas pelos respetivos Centros, faz de âmbito nacional, geral e específico, as seguintes

considerações:

1. Regista a dimensão da capacidade de internamento instalada do Setor Social (SS) –

68% - com predomínio dos Institutos Hospitaleiros, excluindo-se o Centro Hospitalar

do Conde de Ferreira.

2. Repara na reduzida capacidade não utilizada, a nível do internamento (2,51%), tendo

em conta as altas taxas de ocupação, o que decorre da resposta à necessidade de

cuidados e da consequente procura dos serviços/unidades/valências dos Institutos,

nomeadamente: Internamento de Agudos e/ou Subagudos, Longo Internamento (falta

de suporte familiar e de outras estruturas para situações clínicas graves e de longa

evolução), Gerontopsiquiatria/Psicogeriatria, Reabilitação Psicossocial e Alcoologia.

3. Realça a importância das respostas de Reabilitação Psicossocial dos Institutos

Hospitaleiros (67%) – correspondentes a 307 lugares/camas para 152 lugares/camas

no Setor Público (SP) – incluindo e acrescentando lugares no âmbito do Despacho

Conj. 407/98. Para além de Unidades Residenciais, salientam-se as respostas do ISJD

em registo Área de Dia/Hospital de Dia (Casa de Saúde do Telhal) e Apoio

Domiciliário (Casa de Saúde S. João de Deus – Barcelos).

Ao nível das respostas de Reabilitação Psicossocial será fundamental a utilização da

capacidade não utilizada do ISJD numa articulação complementar e/ou supletiva com

o SP, no âmbito de um Sistema Nacional de Saúde eficaz e eficiente.

4. Considera o registo complementar e/ou supletivo com o SNS como pilar organizativo

preconizado para dar resposta a outras necessidades identificadas onde o ISJD se

proponha com serviços e valências baseados na intenção concreta e na experiência

adquirida – ex: respostas para demências e/ou outra patologia psiquiátrica do idoso;

deficiência mental no adulto com duplo diagnóstico; reabilitação na doença psicótica

grave; alcoolismo e/ou outras dependências; crianças e adolescentes em risco; outros

grupos especialmente vulneráveis.

5. Repara que o relatório não avalia nem propõe tipologias de serviços diversificados e

especializados para necessidades específicas identificadas e/ou a identificar,

nomeadamente: demências, duplo diagnóstico na deficiência, perturbações da

personalidade com alterações graves do comportamento, novos psicóticos graves

resistentes à terapêutica e outros grupos especialmente vulneráveis. De facto, como

o inquérito ao SS não questionou acerca da existência de Estruturas para estas

valências, a respectiva capacidade instalada não foi analisada, sendo a possibilidade

desta oferta, que responde à procura, uma mais-valia do ISJD no panorama da saúde

mental.

6. Questiona o referido na página 17 quanto às Consultas onde se diz que “não existem

respostas do SS para a realização de Consultas no âmbito da Saúde Mental”, o que é

falso. Essa afirmação decorrerá de erro e de não revisão do Relatório – as Consultas

estão explicitamente referidas: pág. 6 (nº de horas semanais); pág. 9 (Tabela 1); pág.

39 (Tabela 39); pág. 50 (anexo A5).

7. Questiona na pág. 46 o título do Anexo “A2 – Lista das Instituições do SS

analisadas”; deveria ter como título: “A2 – Lista das Instituições do SS

contempladas/integradas na RRHPSM” – em conformidade com a pág. 45 (Anexo

A1). Só a integração dos Institutos Hospitaleiros na RRHPSM corresponde à

realidade e responde às necessidades nos serviços e valências que lhe são próprios.

8. Questiona o facto da Unidade de Alcoologia (Casa de Saúde do Telhal) não estar

descrita no Relatório. Esta omissão compromete a utilização da capacidade instalada,

enviesa números e dados de produção, em comportamentos aditivos e dependências,

necessários à caracterização da realidade e à consequente organização e articulação

das respetivas Redes de Referenciação. Esta Unidade foi sempre incluída nas

diferentes redes alcoológicas e está representada no Fórum Nacional do Álcool,

sendo a única em Portugal com certificação de Qualidade pelo referencial europeu

EQUASS.

9. Apresenta, o ISJD, disponibilidade para, ao nível da ARS Alentejo (zona carenciada),

implementar serviços/valências que correspondam às necessidades identificadas,

nomeadamente de Reabilitação Psicossocial no enquadramento dos CCISM ou

noutro enquadramento considerado indicado, rentabilizando e adaptando estrutura

existente em Montemor-o-Novo, propriedade do ISJD.

10. Reforça o registo complementar e/ou supletivo como modelo de articulação entre SP

e SS e respetiva base para a arquitetura da Rede de Referenciação, traduzindo o que

na realidade acontece, sustentado na evidência e que é realista e adequado que

continue a acontecer. Como exemplos refere-se que a Casa de Saúde de S. João de

Deus de Barcelos dá resposta com internamentos e outras intervenções (Ex. abrindo

no curto prazo Unidade Sócio Ocupacional), nomeadamente ao Hospital de Braga e

ao Hospital de Viana do Castelo; a Casa de Saúde do Telhal dá resposta às

necessidades de cuidados em Saúde Mental e Alcoologia aos utentes que os procuram

e às Regiões de Saúde/Hospitais/Serviços que os solicitam, nomeadamente, entre

outras, à ARS de Lisboa e Vale do Tejo e às mais carenciadas do Alentejo e Algarve

(ver págs. 40 e 41 do Relatório). Este modelo de articulação está definido na Circular

Informativa da ACSS (nº 10 de 30/03/2014) sobre as normas de referenciação,

tentando garantir a acessibilidade, proximidade e continuidade de cuidados, para

além de ser necessário promover a equidade e o direito de escolha. O Relatório e a

Rede de Referenciação não devem contradizer as normas de referenciação e

articulação da ACSS.

11. Salienta, no entanto, em algumas Regiões - ex. Lisboa, que os bloqueios resultantes

das novas regras de referenciação (desconhecimento e falta de articulação entre

Entidades Referenciadora, Pagadora com a Prestadora), condicionam limitações na

agilidade das respostas e impedimentos no acesso aos cuidados, assim como

constrangimentos de ordem financeira por falta de procedimentos devidamente

formalizados e instituídos de forma atempada. Estas limitações aumentam os tempos

de espera, levam à não utilização da capacidade de internamento instalada, assim

como à não utilização da capacidade instalada em serviços/unidades/valências

específicos e especializados nomeadamente reabilitação psicossocial,

gerontopsiquiatria e alcoologia. Ficam, desta forma, comprometidos princípios

fundamentais tais como acessibilidade, proximidade e continuidade de cuidados,

equidade e direito de escolha.

12. Acentua que só a inclusão do ISJD na Rede de Referenciação Psiquiatria e Saúde

Mental corresponderá à tradução da realidade e respeitará a verdade dos factos

(números, serviços/valências e circuitos de encaminhamento/referenciação –

conforme apresentado no Relatório e em conformidade com o que acontece no

terreno). Só deste modo a Plataforma de Referenciação será realista e não utópica,

revelando “boa fé” na sua concetualização, sistematização e operacionalização,

especificando, na sua arquitetura, os serviços e valências que são próprios ao ISJD –

só desta forma a arquitetura da Rede de Referenciação procurará corresponder ao

Plano Nacional de Saúde Mental 2007-2016 (que contempla os Institutos no ponto

10 da Resolução do Conselho de Ministros nº 49/2008). Estes Serviços e esta

articulação são necessários ao Sistema/Serviço Nacional de Saúde em registo de

complementaridade e/ou supletivo evitando duplicação de equipamentos e recursos,

permitindo racionalização cuidada de custos e gastos de acordo com a ética atual das

políticas de saúde.

13. Refere que as conceções ideológicas das políticas de Saúde Mental e os preconceitos

antropológico-filosóficos não podem nem devem prevalecer sobre a ética na prática,

para que não fiquem comprometidos os princípios, os interesses legítimos dos

utentes, a sustentabilidade do Sistema de Saúde, os ganhos em saúde Mental e a

qualidade de cuidados.

Mais se acrescenta e relembra que o ISJD, membro do Conselho Nacional de Saúde Mental,

é uma Instituição certificada com Certificação de Qualidade pelo referencial europeu

EQUASS nos seus Serviços/Unidades de: Reabilitação Psicossocial, Alcoologia e Cuidados

Continuados.

É Instituição/Entidade formadora certificada pela DEGERT, nomeadamente, entre outras,

nas áreas de Terapia e Reabilitação, Enfermagem, Desenvolvimento Pessoal, Filosofia e

Ética

É Instituição agraciada pelo Ministério da Saúde, em 2012, com a Medalha de Ouro de

Serviços Distintos

Por último, e mais uma vez e como sempre fez, o ISJD, apresenta a sua disponibilidade para

ser ouvido e para regular, de forma atualizada, a sua relação com o Ministério da Saúde /

SNS como previsto e estabelecido na Resolução do Conselho de Ministros nº 49/2008 (Plano

Nacional de Saúde Mental – ponto 10) * e no despacho 3250/2014 **

Com os melhores cumprimentos,

O Presidente do ISJD

Vítor Manuel Lameiras Monteiro, oh

* “… - As ordens religiosas têm representado, no conjunto do sistema prestador de cuidados de saúde

mental em Portugal, uma parte muito significativa das respostas disponíveis. A sua articulação com os serviços

do SNS está regulada por um acordo que vigora há mais de duas décadas e que deve ser atualizado.

Proceder-se-á, assim, a uma revisão daquele acordo, tendo em conta a legislação que enquadre os

acordos com o setor social, nomeadamente o diploma que regulamente as respostas diferenciadas de cuidados

continuados integrados de saúde mental, visando encontrar uma fórmula que se revele justa na retribuição dos

serviços prestados, diferenciando mais claramente os cuidados na doença aguda dos de longa duração (cuidados

continuados) e que torne mais claras as relações de cooperação assistencial, definindo regras de referenciação

entre os serviços públicos e os estabelecimentos dependentes dos institutos das ordens religiosas.”

“…São igualmente criadas condições para que estas instituições se possam integrar no processo de

reconfiguração do modelo assistencial, garantindo-lhes o acesso aos programas de desinstitucionalização que

venham a ser desenvolvidos.”

** “…Representando o setor social e as ordens religiosas uma parte muito significativa das respostas

disponíveis no conjunto do sistema prestador de cuidados de saúde mental em Portugal, importa reforçar a sua

articulação com as estruturas do Serviço Nacional de Saúde.”

“…2 - … g) Identificar a capacidade não utilizada do setor social, incluindo das ordens religiosas, e

definir as áreas e os tipos de colaborações que interessará estabelecer com o SNS, de forma a providenciar

serviços e colmatar falhas do setor público, nomeadamente, por tempos de espera demasiadamente longos ou

carências de lotação e de atendimento em ambulatório”

De: Alfredo Frade | Unidade de Alcoologia de Lisboa [[email protected]]

Enviado: segunda-feira, 22 de Setembro de 2014 12:12

Para: saudemental Assunto: Posição da Unidade de Alcoologia de Lisboa sobre o Relatório do Grupo de Trabalho,

em discussão pública

POSIÇÃO DA UNIDADE DE ALCOOLOGIA DE LISBOA SOBRE O RELATÓRIO DO GRUPO DE TRABALHO PARA A” AVALIAÇÃO DA SITUAÇÃO DA PRESTAÇÃO DE CUIDADOS DE SAÚDE MENTAL e das NECESSIDADES NA ÁREA DA SAÚDE MENTAL”” A PROPÓSITO DO DESPACHO 3250/4 DE 19/2/2014 A DATA DO RELATÓRIO É DE JUNHO 2014 COMENTÁRIO 1 No âmbito do despacho 3250/4 de 19/2/2014 e do relatório posterior pedido ao Grupo de Trabalho nomeado para o efeito, vem a Unidade de Alcoologia de Lisboa, utilizando o período de discussão pública obrigatório por lei e após consulta aos seus técnicos, tomar posição sobre este documento. O despacho do Sr. Secretário de Estado da Saúde, Dr. Leal da Costa, de 19/2/2014, determina que as estruturas de tratamento de doentes dependentes de álcool e outras drogas, atualmente inseridas das Administrações Regionais de Saúde, sejam agora integradas nos ACES deslocando as Unidades de Desabituação e as de Alcoologia para os serviços hospitalares. De relembrar que a extinção do IDT, onde estavam estas estruturas e a sua posterior integração nas ARS, já foi tomada por este governo de que este Secretário da Saúde faz parte. Quer dizer, no espaço de 3 anos, a mesma tutela reformula uma decisão tomada antes, pressupõe-se, com ponderação e justificação acrescidas. Por outro lado, tal despacho é omisso, entre outras coisas, sobre as Comunidades Terapêuticas, poderosa arma no tratamento e reinserção desses doentes em que existem protocolos, há muito formalizados, com IPSS e restante sector social, importantíssimo na assistência a este tipo de doentes. Tal decisão do Sr. Secretário de Estado da Saúde não se baseia em nenhuma auscultação a utentes e a técnicos no terreno e fundamentalmente não se alicerça em nenhum balanço da integração nas ARS nestes últimos 3 anos que justifique a presente alteração organizacional. Ou seja, não se percebe o porquê desta alteração, o porquê de ser diferente para umas e outras estruturas e o porquê de ser agora. Do mesmo modo, como não há nenhuma crítica, que teria de ser autocrítica, sobre a decisão anterior, também não se percebe porque é que ela é tomada. Aos ziguezagues que já vem de governos anteriores acrescenta-se agora uma má decisão. COMENTÁRIO 2 O Grupo de Trabalho que é chamado a pronunciar-se, acaba por tomar como boas essas decisões OU, PELO MENOS, INICIA A ARGUMENTAÇÂO A PARTIR DELAS, apenas fazendo “correções” e não indo ao fundo da questão. Ou seja, permite-se opinar sobre as Comunidades Terapêuticas, por exemplo, o que faz bem, mas nada diz sobre outras opções possíveis para o

sector. Percebemos que não era isso o que o Sr. Secretário de Estado solicitava, mas não ficava mal outra abertura de espírito e algum sentido crítico. Vejamos só alguns limites desta opção do Grupo de Trabalho. No resultado final, e para abreviar, o Grupo de Trabalho NÃO ACEITA, e bem, que os CRI passem para os ACES, mantendo-se nas ARS, argumentando com o perigo da “desintegração da resposta assistencial” mas, contraditoriamente, ACEITA situação diversa para as Unidades de Desabituação e de Alcoologia que passarão a “funcionar em estabelecimentos especializados de psiquiatria … tendencialmente em hospitais gerais”(ponto 6.2 pág.37). Ou seja, o perigo que existe para as primeiras estruturas não existe para as segundas? Acaba por ser uma decisão salomónica que é mais estratégica do que de técnica. Porquê separar unidades que funcionam há anos em conjunto com resultados globalmente bons, no caso das UD desde o tempo do SPTT e do IDT e no caso das UA desde 2007? Por que não ficarem todas nas ARS como atualmente, com alguns ajustamentos indispensáveis (melhor ligação à psiquiatria, por exemplo)? Ou passarem todas para a saúde mental? Não houve coragem para o fazer? Será porque o peso das ARS no Grupo de Trabalho impôs a rejeição dos internamentos por desconforto e dificuldades na sua gestão? Mas, por outro lado, a saúde mental, presente no Grupo de Trabalho, aceita apenas fazer “desintoxicações”, o que é altamente redutor e empobrecedor, enviando depois os doentes para tratamento noutros serviços, mesmo sabendo-se que já existem equipas de alcoologia com os respetivos ambulatórios em vários hospitais? Ou mantém-se o velho estigma na saúde mental de não querer doentes toxicodependentes (exceto “controlados” nos internamentos) o que em parte justificou, nos anos 90, a criação, não técnica mais uma vez, mas política, de estruturas específicas (SPTT e IDT depois)? Contudo, é preciso realçar o enorme esforço do Grupo de Trabalho no levantamento das estruturas do terreno, na elencagem dos recursos existentes e na valorização do papel das Comunidades Terapêuticas e do sector social. Só isso vale uma grande saudação e o reconhecimento pelo trabalho produzido. PROPOSTAS Vamos então ao que nos interessa mais enquanto Unidade de Alcoologia para poder apoiar e tratar os doentes que em nós confiam há 48 anos e que devem ser o único motivo para alterar o que está mal. Este serviço está disponível para as mudanças tendo no seu histórico essa adaptação e flexibilidade. Já fomos Centro António Flores ligados ao Hospital Júlio de Matos, a partir da fundação em 1966. Já fomos Centro Regional de Alcoologia com autonomia técnica e financeira a partir de 1988. Já fomos IDT a partir de 2007, com a extinção dos Centros Regionais de Alcoologia, e agora estamos na ARSLVT a partir de 2011, devido à extinção do IDT. Portanto, não recebemos lições sobre resiliência à mudança, tão só somos resilientes a mudanças não explicadas e não sustentadas em balanços do que está para trás. PROPOSTA 1 Não concordando embora com a separação de serviços agora proposta pelo Sr. Secretário de Estado, e aceite pelo Grupo de Trabalho, trabalhemos então na nossa integração na saúde

mental e nos serviços de psiquiatria porque essa é a decisão política de quem foi eleito e que como funcionários públicos temos de cumprir. A primeira questão que se põe prende-se com a omissão do Grupo de Trabalho sobre o nosso ambulatório deixando em aberto a possibilidade de ser disperso ou integrado noutro serviço da ARS (se vingar a opinião do Grupo de Trabalho) ou mesmo num ACES (se vingar a opinião do Dr. Leal da Costa). De facto, a junção do ambulatório na mesma unidade orgânica, permite a melhor otimização do trabalho, agilização nos processos de internamento se for caso disso, melhor ligação com o sector social (nomeadamente na região de Lisboa com a Santa Casa da Misericórdia), melhor ligação às Comunidades Terapêuticas antes e depois do internamento, em doentes cada vez mais frágeis e depauperados fisicamente. Estamos a (re)admitir doentes cada vez mais debilitados, porque deixaram de se tratar ou com falta de dinheiro para medicação ou porque não têm posses para o transporte e ambulâncias. Muitos deles faltam às consultas aparecendo mais à frente em pior estado físico e mental. Não se dificulte mais esta ligação pondo doentes a circular entre várias unidades e eventualmente a “perderem-se” no caminho. Por outro lado não vemos que seja contraditório haver ambulatório destes doentes nos serviços de psiquiatria, que já os possuem aliás, como são exemplos a UTRA no CHPL e a equipa de etilo-risco no HSM para só citar dois serviços com quem temos uma relação mais próxima. Seria muito estimulante para nós podermo-nos coordenar melhor com esses colegas. Uma saúde mental que apenas faça “desintoxicações” seria, noutra visão do assunto, um brutal recuo no que já conseguimos na área da alcoologia. Nisso não podemos estar mais de acordo e subscrevemos a preocupação do Grupo de Trabalho com “a melhoria da integração assistencial” (ponto 6.2 pág. 37). Como tal, PROPOMOS QUE O NOSSO AMBULATÓRIO SEJA CONSIDERADO PARTE INTEGRANTE do novo mapa da saúde mental em Portugal, não sendo separado da restante unidade funcional - Unidade de Alcoologia de Lisboa - que se prevê transferir da ARSLVT para a Psiquiatria. PROPOSTA 2 O que parece essencial e nos interessa salvaguardar é a ligação ao SNS que parece estar assegurada, quer através da rede de referenciação que ajudámos a construir e que felizmente não foi deitada fora, sendo uma unidade de referência na área da alcoologia para as outras equipas e mantendo o serviço de porta aberta com acesso direto dos doentes. A recente ligação aos centros de saúde nas áreas clínicas, a qual se acrescentou à já existente com os CRI, deve manter-se e estamos interessados em desenvolvê-la sendo uma boa mais valia para a própria saúde mental. Como tal, PROPOMOS QUE A UAL SE MANTENHA NA REDE EXISTENTE COMO NÍVEL 3 COM LIGAÇÃO AOS CUIDADOS PRIMÁRIOS, AOS CRIS E À SAÚDE MENTAL E CONTINUE COM ACESSO DIRETO DOS UTENTES. PROPOSTA 3 Na área da formação tivemos avanços significativos nomeadamente na recente ligação aos Cuidados de Saúde Primários. Vamos no 18º Curso de Alcoologia que, com uma periodicidade anual, respondeu à solicitação dos serviços do ex-IDT primeiro e agora, 2 vezes por ano, dos serviços da ARSLVT estando integrada numa rede europeia de formação (POPH). Tal experiência pode ser transportada para a saúde mental e ser continuada com os anteriores

parceiros da rede de referenciação que não queremos perder. Estamos disponíveis para a centralizar se assim for entendido do lado da nova tutela. Do mesmo modo, continuamos a receber estagiários das várias áreas do saber (médicos, enfermeiros, psicólogos, assistentes sociais) e certamente seria útil participar também na formação do internato de psiquiatria do CHPL, bem como continuar a receber médicos internos dessa área e da pedopsiquiatria. Como tal, PROPOMOS MANTER A FORMAÇÃO DOS PARCEIROS DA REDE DE REFERENCIAÇÃO BEM COMO ALARGÁ-LA À SAÚDE MENTAL E À PSIQUIATRIA. PROPOSTA 4 A área da prevenção em adolescentes e jovens é recente na nossa atividade enquanto unidade. Durante os últimos 2 anos tivemos progressos nesta área e percebemos que para esta faixa etária, particularmente em relação aos consumos de substâncias psicoativas, as respostas existentes são francamente deficitárias. Em Lisboa formámos uma equipa de prevenção conjuntamente com a UD Centro das Taipas dirigida à prevenção seletiva. A par disso foi construído um projeto de intervenção indicada – Na Corda Bamba. Como tal, PROPOMOS PARTILHAR ESTE NÍVEL DE INTERVENÇÕES OFERECENDO UMA MAIS- VALIA DE COMPLEMENTARIDADE À SAÚDE MENTAL. CONCLUSÕES Tomada esta decisão de nos integrar na saúde mental e esperando que ela se faça respeitando a história, o conhecimento e o saber acumulados nesta área, aguardamos que sejam tidas em conta as propostas que fazemos, estando disponíveis para esta etapa, com o entusiasmo e a resiliência que caracterizam esta equipa. Aguardamos ansiosamente a resposta do GRUPO DE TRABALHO e estamos preparados para mais este desafio que queremos transformar numa oportunidade. Pela Unidade de Alcoologia de Lisboa Alfredo Frade Diretor

Adenda aos dados desta Unidade, em falta no Relatório do Grupo de Trabalho (pág. 31) TABELA 31 - Internamentos nas Unidades de Alcoologia

UA LISBOA

2012 2013 Lotação praticada a) 25 25 Nº de Dias de internamento 7.613 7.865 Taxa de Ocupação 90% 87,7%

Nº utentes a 1 de janeiro 21 19 Admissões no ano 290 304 Total utentes em UA 311 323 Saídos 292 304 Utentes a 31 de dezembro 19 19

Alfredo Frade Director Unidade de Alcoologia

De: Marta Isabel Marreiros Patrocínio e Costa [[email protected]]

Enviado: domingo, 31 de Agosto de 2014 22:08

Para: saudemental Assunto: Pronuncia no âmbito de consulta pública

Exmos. Srs.

No âmbito da consulta pública promovida pelo ministério da Saúde, no Portal da Saúde,

sobre o Relatório do Grupo de Trabalho para a Avaliação da Prestação de Cuidados de

Saúde Mental e das Necessidades na área da Saúde Mental (Despacho n.º 3250/14, de

27 de Fevereiro), queiram aceitar a pronúncia em anexo, na sua vertente específica das

Unidades de Alcoologia.

Com os melhores cumprimentos

Exmos. Srs.

No âmbito da consulta pública promovida pelo ministério da Saúde, no Portal da Saúde,

sobre o Relatório do Grupo de Trabalho para a Avaliação da Prestação de Cuidados de

Saúde Mental e das Necessidades na área da Saúde Mental (Despacho n.º 3250/14, de

27 de Fevereiro), cumpre-nos pronunciar, na sua vertente específica das Unidades de

Alcoologia, o seguinte:

1. Os ora pronunciantes detêm competências na área da alcoologia, do tratamento

de doentes alcoólicos, e de investigação em alcoologia, com diversos trabalhos

publicados e apresentados a nível nacional e internacional e prémios de

investigação obtidos,

2. Sendo nesta qualidade que se pronunciam.

3. O relatório não faz uma análise detalhada dos prós e contras da integração das

Unidades de Alcoologia em Unidades Hospitalares, até porque estava mandatada

para “Estudar a forma de proceder e propor um calendário para a integração dos

Centros de Resposta Integrados (CRI) na estrutura dos ACES e das Unidades de

Alcoologia e das Unidades de Desabituação em instituições hospitalares”,

4. Mas tem o mérito de, na sua última página, apresentar uma síntese Pontos

fortes/Pontos Fracos e Oportunidades/Ameaças a esta integração,

5. Ainda que não fundamentada, sendo, consequentemente, opiniões,

6. Ainda que tenham por detrás um conjunto de conhecimentos que não é de

desprezar.

7. Assim, partimos de uma “ordem” institucional que, com a devida vénia, nos

parece ser uma deliberação política que carece de fundamentação técnica e

económica,

8. Já que, após busca exaustiva, não se encontrou nenhum estudo nacional que

suporte tal decisão a nível técnico e económico,

9. Sendo que, a nível internacional, são encontrados ambos os modelos,

10. Sem que uns se sobreponham a outros.

11. Assim, entendemos que a “ordem” enunciada no n.º 3, deveria ser suspensa até

serem efetuados estudos que comprovem ou não a sua validade técnico/política.

12. Sob pena de se destruir em meses o valor acrescentado que se criou ao longo de

dezenas de anos,

13. Com implicações graves para o tratamento de dezenas de milhares de doentes

alcoólicos.

14. Senão vejamos,

15. Os modelos de funcionamento das Unidades de alcoologia, na senda dos Centros

Regionais de Alcoologia têm tido resultados terapêuticos incontestáveis, com

custos baixíssimos,

16. Que numa análise puramente económica, se pode dizer que tem sido lucrativa

para o país,

17. Sendo que os custos do seu funcionamento têm sido infinitamente menores que

os custos económicos e familiares que foram retirados do erário público,

18. Por diminuição das taxas de absentismo, de criminalidade, de morbilidade e

mortalidade, de acidentes de trabalho e rodoviários, etc., etc.,

19. Isto sem contar com o aumento da produtividade dos doentes tratados, e das suas

famílias, por diminuição do stress familiar associado à carga emocional de se

lidar diariamente com um adito ao álcool.

20. Então para quê mudar? Para quê mexer em algo que funciona bem, sem qualquer

garantia técnica e económica que vai funcionar melhor ou de modo mais

económico?

21. Atualmente, as Unidades de alcoologia funcionam com tratamento em

ambulatório e com internamento,

22. Articulando-se perfeitamente.

23. Com uma integração, o que vai acontecer a esta articulação?

24. Não podemos esquecer que uma administração hospitalar gere uma Unidade de

internamento e de consultas numa lógica de interesse institucional, e não numa

lógica de interesse individual,

25. Assim, o tratamento de alcoólicos em Portugal, passará a ter uma lógica de

interesse e subordinação que as instituições hospitalares lhe quiserem dar

(dentro das restantes áreas e especialidades hospitalares) e não o interesse que o

tratamento do alcoolismo ainda necessita.

26. Por outro lado, integrar as Unidades de Alcoologia nos hospitais psiquiátricos

que, pelas indicações do Plano Nacional de Saúde Mental, deverão extinguir-se

a curto/médio prazo, é estar a efetuar uma integração com uma agenda já

carregada de problemas,

27. Por a curto/médio prazo terem de sofrer nova integração.

28. Por outro lado, nos hospitais psiquiátricos subsistem unidades de alcoologia, que

terão tendência de ter uma atitude antropófaga em relação às Unidades de

Alcoologia integradas, com a sua consequente subalternização e diminuição da

capacidade produtiva,

29. Quer em camas, quer em número de consultas,

30. Com consequente aumento do fantasma da saúde portuguesa, que é o aumento

dos tempos de espera, para consultas e tratamentos,

31. Sem resolução dos problemas indicados no 2.º §, da página 38, do referido

relatório, nas especialidades médicas,

32. E sem qualquer valor acrescentado, na especialidade de psiquiatria, já que as

Unidades de Alcoologia têm nos seus quadros, psiquiatras e enfermeiros com

formação geral em psiquiatria.

33. Aliás, tais problemas estão devidamente assinalados nos “pontos fracos” e

“ameaças”, a páginas 76, do referido Relatório.

34. O seu modelo de funcionamento das Unidades de alcoologia, pode e deve ser

melhorado,

35. No entanto, isso não deve passar pela sua destruição, enquanto unidades com

autonomia técnica.

36. Estas podem e devem continuar a manter a sua autonomia técnica, integradas

num novo modelo de gestão de contratualização,

37. Que, com as devidas adaptações, poderia seguir o modelo de contratualização do

tipo das USF.

38. Este modelo de contratualização, e seguindo bons exemplos, poderia ser

completado com a criação de uma instituição nacional, do tipo do National

Institute on Alcohol Abuse and Alcoholism.

39. Este modelo, baseado na contratualização, viria a aumentar a motivação dos

profissionais de saúde envolvidos, com consequente aumento da produtividade e

diminuição dos custos, assim como uma melhor articulação com os restantes

cuidados hospitalares.

40. Será que as centenas de milhares de Portugueses, que apresentam problemas de

álcool, não merecem continuar a ter bons modelos de intervenção e tratamento,

com uma ampla autonomia técnica?

41. Será que se vem agora reescrever o Plano Nacional de Saúde Mental?

Marta Isabel Marreiros Patrocínio e Costa, Enfermeira Especialista em Enfermagem de

Saúde Mental e Psiquiátrica, Mestre em Terapias Comportamentais e Cognitivas,

Enfermeira Responsável da Unidade de Alcoologia de Lisboa.

Carlos Alberto Quaresma da Costa, Enfermeiro Especialista em Enfermagem de Saúde

Mental e Psiquiátrica, Mestre em Terapias Comportamentais e Cognitivas, Diplomado

em Estudos Avançados no Doutoramento em Neuropsicologia Clínica da Universidade

de Salamanca, Enfermeiro Chefe do Centro Hospitalar Psiquiátrico de Lisboa.

De: Rute Gomes [[email protected]]

Enviado: terça-feira, 30 de Setembro de 2014 20:27

Para: saudemental Assunto: Propostas e Comentários ao Relatório do Grupo de Trabalho para a Avaliação da

Situação da Prestação de Cuidados de Saúde Mental e das Necessidades na Área da Saúde Mental

Exmo. Grupo de Trabalho para a Avaliação da Situação da Prestação de Cuidados de

Saúde Mental e das Necessidades na Área da Saúde Mental,

Apresento em anexo carta com Propostas e Comentários ao Relatório apresentado pelo

Grupo de Trabalho para a Avaliação da Situação da Prestação de Cuidados de Saúde

Mental e das Necessidades na Área da Saúde Mental (Despacho n.º 3250/14 de 19 de

Fevereiro de 2014).

Com os melhores cumprimentos.

Lisboa, 30 de Setembro de 2014.

Rute Cláudia Ferreira Gomes

(Técnica Superior de Saúde - Área de Psicologia)

Rute Cláudia Ferreira Gomes

Técnica Superior de Saúde

(Área da Psicologia Clínica)

U. D. Centro das Taipas

Ao grupo de trabalho para avaliação da

situação da prestação de cuidados de saúde

mental e das necessidades na Área da Saúde

Mental criado por despacho ministerial nº

3250/14 de 19 de Fevereiro.

Assunto: Comentários e Propostas em relação ao Relatório de prestação de cuidados de

saúde mental e das necessidades na Área da Saúde Mental

Eu, Rute Cláudia Ferreira Gomes, Técnica Superior de Saúde na Área da Psicologia

Clínica, laboro na área dos comportamentos aditivos e dependências há

aproximadamente 23 anos.

É todo o manancial de aprendizagem ao longo do tempo no contexto supra referido,

bem como, a leitura atenta da Vossa proposta que, me leva a sentir necessidade de

contribuir neste momento de discussão pública com algumas considerações que coloco

humildemente à consideração deste grupo de trabalho.

Permitam-me iniciar com uma saudação ao empenho e à grandiosidade da vossa tarefa.

Assim, da cuidada análise do relatório produzido pelo grupo de trabalho supra

mencionado, gostaria que me fossem esclarecidos alguns tópicos, cuja ambiguidade me

parece latente no referido relatório:

As estruturas que incluem prestação de cuidados de internamento são “ Unidade de

Alcoologia” e a “Unidade de Desabituação das Taipas”. Segundo a Vossa apreciação,

ambas devem constar da rede de referenciação. No entanto, o grupo de trabalho

considera que as duas valências devem funcionar em estabelecimentos em que estejam

garantidos todos os requisitos de eficiência, nomeadamente, no que respeita ao apoio e

responsabilidades técnicas.

Considero que esta Vossa afirmação questiona de forma indirecta a qualidade dos

serviços prestados por estas unidades, com pessoal bastante qualificado e que existem

há mais de 20 anos. Lembro que ao longo deste tempo, são muitos os profissionais de

saúde que laboram neste contexto que têm vindo a aperfeiçoar/adquirir mais

conhecimentos, garantindo assim, uma melhor e mais eficaz resposta, com maior

qualidade e rapidez, que muito provavelmente, poderão não ter sido avaliadas da forma

mais correcta por este grupo de trabalho (até porque, verifica-se uma ausência de dados

relativos aos internamentos, realizados na UA Lisboa e UD Taipas entre 2012 e 2013,

por exemplo) e porque, na verdade, não foram integrados neste grupo, profissionais do

terreno de cada uma das respectivas áreas.

A proposta agora efectuada de integração das unidades de internamento em hospitais

gerais, irá muito provavelmente conduzir a uma maior clivagem, por certo maior que

aquela que passou a existir com a extinção do antigo/extinto IDT. I.P.

Parece-me também que, fica no ar a dúvida sobre a Vossa sugestão quanto ao que fazer

com as unidades de desabituação que funcionem com ambulatório, como é o caso da

Unidade de Desabituação das Taipas e de Alcoologia. Permitam-me dizer-vos que não é

claro se a vossa proposta é manter estas unidades no Centro Hospitalar ou fragmenta-las

entre Hospitais Centrais / Centro hospitalar psiquiátrico e ARSLVT/ CRI. Tal

ambiguidade carece também de aclaração.

Quanto à preservação do modelo e da sua abordagem especifica, que é vista como um

ponto forte, será muito provavelmente, devastada com consequências previsíveis no

aumento do tempo de espera dos doentes para um internamento, na ausência de técnicos

qualificados, na perda de articulação que actualmente existe entre o ambulatório e o

internamento e as respectivas equipas.

A extinção do IDT separou um organismo que durante anos formou e especializou

técnicos, tendo contribuído para uma resposta nacional estruturada neste domínio com

resultados que já foram reconhecidos internacionalmente. Se me permitem, esta nova

proposta de separação, pode muito provavelmente transformar-se num grave erro com

repercussões técnicas e sociais.

Assim, sou apologista de uma reestruturação da área dos comportamentos aditivos e

dependências, mas com uma concentração em “estrutura única” de carácter nacional e,

obviamente integrada num só organismo do Ministério da Saúde, que comporte as

diferentes áreas de intervenção: ambulatório, unidades de desabituação, comunidades

terapêuticas, prevenção, tratamento, reinserção social, investigação e relações

internacionais, mantendo assim uma resposta especializada de qualidade, de rapidez e

de unicidade numa área tão complexa.

Certa da Vossa melhor atenção, apresento os meus melhores cumprimentos.

De: Augusto Pinto [[email protected]]

Enviado: sexta-feira, 29 de Agosto de 2014 0:20

Para: saudemental Assunto: Relatório do Grupo de Trabalho de Saúde Mental - Contributos da Sociedade

Portuguesa de Alcoologia

Ex.mos Senhores

No âmbito da discussão pública do Relatório do Grupo de Trabalho de Avaliação da

Situação da Prestação dos Cuidados de Saúde Mental, a Sociedade Portuguesa de

Alcoologia (SPA), envia (em anexo) para os fins tidos por convenientes o Memorando

oportunamente elaborado e divulgado, relativamente à problemática do Álcool em

Portugal.

Com os melhores cumprimentos

Pela SPA

Augusto Pinto - Presidente

Memorando SPA

A Doença Alcoólica e os Problemas Ligados ao Álcool mantêm elevada prevalência em

Portugal, conforme vem sendo sucessivamente confirmado por investigadores e dados

nacionais e europeus, de que destacamos alguns dos mais recentes documentos publicados –

“Inquérito Nacional de Saúde 2005/2006”; “O Consumos de Bebidas Alcoólicas em Portugal,

Prevalências e Padrões de Consumo 2001-2007” – Casimiro Balsas; “Estudo sobre o Consumo

de Álcool, Tabaco e Droga, em alunos do ensino público - E.C.A.T.D. 2011”; “Report: Alcohol in

Europe -2006” – Comunidade Europeia; “Resoluções da Assembleia Médica Mundial – Maio

2010”; “The Global Status Report on Alcohol and Health 2011” – O.M.S.; “European School

Survey Project on Alcohol and other Drugs – E.S.P.A.D. 2011”.

Pese embora a importância económica da produção, comercialização e distribuição de bebidas

alcoólicas, a alcoolização geral da população portuguesa está, directa ou indirectamente,

relacionada com patologias orgânicas e psiquiátricas graves, suicídios e homicídios,

sinistralidade rodoviária, violência doméstica, acidentes de trabalho, incapacidades laborais,

reformas precoces, perdas de anos de vida, perturbações conjugais, familiares e relacionais,

entre outros, representando, segundo os últimos dados disponíveis, em custos directos e

indirectos, cerca de 0,8% do PIB, ou seja, 434 milhões de Euros (1995) – “ Os Custos

Económicos do Consumo de Álcool em Portugal” – Teresa Esquerdo – Dissertação de

Doutoramento apresentada na Conferência de Abertura das XX Jornadas Portuguesas de

Alcoologia – “Economia e Álcool” - Porto, 14 de Junho de 2012.

A história da evolução dos serviços de saúde que, desde os anos 60, têm vindo a protagonizar

a responsabilidade desta problemática (dos pioneiros Serviços de Tratamento, integrados em

Hospitais Psiquiátricos, passando pelos Centros de Recuperação de Alcoólicos, inicialmente

apenas com autonomia técnica e posteriormente também administrativa e financeira, a que se

seguiu, na sequência de recomendações e do projecto tutelado pela O.M.S. “Community

Response to Alcohol Related Problems in Portugal”, a criação, em 1988, dos Centros

Regionais de Alcoologia (C.R.A.s), com responsabilidades não só no tratamento dos doentes

dependentes do álcool mas também em termos da prevenção, investigação, formação e

articulação com diversos serviços e estruturas – Decreto-lei 41/88, de 21 de Novembro,

posteriormente extintos – Decreto-lei 212/2006, de 27 de Outubro, e integrados no Instituto

da Droga e da Toxicodependência (I.D.T.) – Decreto-lei 221/2007, de 29 de Maio, acabando

transformados em Unidades de Alcoologia (U.A.s), com concentração das respectivas

competências na vertente do tratamento – Despacho normativo n.º 51/2008, de 1 de Outubro

– art.º 6.º, sem prejuízo de se reconhecer que a extinção do I.D.T. e a criação do Serviço de

Intervenção nos Comportamentos Aditivos e Dependências (S.I.C.A.D.) – Decreto-lei 124/2011,

de 2011, seguida da integração nas Administrações Regionais de Saúde (A.R.S.s) - Decreto-lei

17/2012, de 26 de Janeiro, parece abrir uma nova e mais alargada perspectiva de intervenção

ao referir-se, no respectivo preâmbulo, “…a componente de operacionalização das

intervenções é centrada no âmbito das A.R.S.s, I.P….”, confirmando na Lei orgânica das A.R.S.s -

Decreto-lei 22/2012, de 30 de Janeiro, artº 3º- e), ser sua missão e atribuições “…assegurar a

execução dos programas de intervenção local com vista à redução do consumo de substâncias

psicoactivas, prevenção dos comportamentos aditivos e diminuição das dependências…”), é

bem reveladora da diversidade de perspectivas com que, ao longo dos anos, os responsáveis

pela definição de estratégias para este específico sector da saúde têm encarado a

problemática em apreço.

Reconhecida, pelo próprio I.D.T., a importância dos Problemas do Álcool no âmbito mais geral

dos Comportamentos Aditivos e Dependências (vidé Plano Nacional para a Redução dos

Problemas Ligados ao Álcool 2010-2012), com a integração nas A.R.S.s efectivamente a

vigorar a partir de 1 de Janeiro de 2013 e muito recentemente (re)confirmada através do

Despacho n.º 2976/2014, de 21 de Fevereiro, encontramo-nos, pois, no que respeita à

Alcoologia, numa promissora oportunidade única, ou mesmo num derradeiro momento

crucial e urgente para uma (re)definição, em termos práticos e operacionais das estratégias,

prioridades, e respostas que o Estado, através do Ministério da Saúde, e dos seus

competentes serviços e técnicos, quererá implementar, no terreno, relativamente a este grave

problema de Saúde Pública.

Assim, a Sociedade Portuguesa de Alcoologia (S.P.A.), enquanto sociedade científica e na

prossecução dos seus objectivos estatutários, atenta às dificuldades e realidades actuais,

acompanhando atentamente a reorganização dos serviços já em curso, considera ser sua

obrigação alertar, sugerir e recomendar que, em termos práticos e efectivos:

1. Seja respeitada a identidade e a experiência das equipas de tratamento de doentes

alcoólicos, suas especificidades e conhecimentos, a integrar em novos modelos

organizativos (exCRACs/UAs/???).

2. Seja ponderada a nomeação, para os lugares de responsabilidade/coordenação nesta

área, de personalidades com reconhecida competência e experiência em Alcoologia.

3. Seja reforçada a articulação interna entre as várias estruturas de saúde inseridas na

área de intervenção das A.R.S.´s (agrupamentos de centros de saúde, unidades

hospitalares e de saúde familiar, serviços de saúde pública, etc).

4. Sejam progressivamente reactivadas e reorganizadas respostas locais (algumas já

anteriormente existentes, de que são exemplo, entre outras, as Consultas de

Alcoologia nos Centros de Saúde implementadas na Região Centro pelo antigo CRA de

Coimbra).

5. Sejam dinamizadas formas de articulação/cooperação efectiva com as estruturas que

se ocupam mais especificamente das drogas ilícitas (ETs /antigos CATs) (o que, apesar

da integração no I.D.T. e durante 6 anos, em termos práticos, nunca foi perceptível

nem estimulada).

6. Sejam reforçadas formas de cooperação externa (já existente muitas vezes em termos

quer protocolares, quer informais) com outras estruturas e instituições ligadas à

Justiça, Trabalho, Educação, Autarquias, Segurança Social (tais como, Tribunais,

Comissões de Protecção de Crianças e Jovens em Risco, Empresas, Universidades,

Gabinetes de Acção Social, etc).

7. Seja efectivamente colocada em prática a rede alcoológica e apoiadas todas as formas

formais e informais de cooperação e articulação entre os vários elementos envolvidos.

8. Sejam implementados programas de formação não só em termos do ensino pré e pós

graduado nas áreas da saúde mas também para professores e educadores,

trabalhadores sociais, magistrados, etc.

9. Sejam apoiadas e estimuladas iniciativas e instrumentos relativos à prevenção (nas

suas várias vertentes e populações alvo).

10. Seja preparado, definido e estabelecido um modelo organizativo comum, a nível

nacional, específico para a Alcoologia, que partindo da experiência, conhecimentos,

contactos e parcerias anteriores, respeitando algumas especificidades locais e

regionais, possa dar resposta aos problemas referidos e inverter as tendências

conhecidas.

A S.P.A., com o seu percurso de mais de 25 anos de atenção aos Problemas do Álcool em

Portugal, alicerçada nos mais recentes conhecimentos e recomendações internacionais,

manter-se-á particularmente interessada e atenta à evolução da situação actual e disponível

para a cooperação que se entender útil e necessária, tendo sempre presentes os superiores

interesses dos doentes, das suas famílias e da população em geral.

Março de 2014

A Direcção da SPA

De: Margarida Neto [[email protected]]

Enviado: terça-feira, 12 de Agosto de 2014 0:03

Para: saudemental Assunto: Relatório e rede de referenciação

Gostaria de participar na discussão pública deste relatório, exprimindo a minha opinião. O meu nome é Margarida Gonçalves Neto, sou Psiquiatra na Casa de Saúde do Telhal e coordenadora da unidade de Alcoologia. Numa apreciação global sobre o relatório, gostaria de valorizar a importância da descrição da capacidade instalada no sector público e no sector social. O relatório descreve a produção ao nível dos dois sectores, mas não detalha a diversidade da prestação dos cuidados de saúde mental, pelo que ficam por explicar/descrever/propor, eventuais áreas de parceria e complementaridade entre os dois sectores. Esta é, na minha opinião, a fragilidade maior do relatório. No que diz respeito à situação que melhor conheço, da Casa de Saúde do Telhal, foram-nos colocadas perguntas muito limitantes – apenas números sobre internamento, reabilitação e ambulatório. Ficaram por descrever, as diferentes tipologias disponíveis: - Unidades de longa evolução; Unidades de reabilitação (valências residenciais intrainstitucionais e comunitárias e valências ocupacionais e profissionais); Unidade de Psicogeriatria. - Unidade de Agudos/Intermédios de Psiquiatria – 20 camas - Unidade de agudos de Alcoologia – 23 camas. - Consulta Externa – Consultas de Alcoologia, Psiquiatria, Gerontopsiquiatria, Pedopsiquiatria, Neurologia, Neuropsicologia, Psicologia, Clínica Geral, Oftalmologia, Medicina e Próteses dentárias (4020 consultas em 2013, com 856 novas consultas). Os dados referentes à consulta Externa são importantes, porque revelam que a procura externa da Casa de Saúde é diversificada e necessária, sobretudo na região em que está implantada. Na pág. 17 do relatório, certamente por lapso, é referido que “não existem respostas do sector social para a realização de consultas no âmbito da saúde mental”. Este erro deverá ser corrigido. Refiro-me agora à omissão da existência da Unidade de Alcoologia da Casa de Saúde do Telhal. Ela não é descrita no capítulo da produção do sector social e não é descrita na produção em Comportamentos Aditivos e Dependências. A unidade existe desde 1968. Foi das primeiras unidades de alcoologia do país. Tem um internamento de 23 camas comparticipadas pelo SNS.

Tem características de Unidade de Alcoologia (conforme caracterização do SICAD). Aceita e trata doentes com comorbilidade. Foi sempre incluída nas diferentes redes alcoológicas. Está representada no Forum Nacional do Alcool. Em 2013 admitiu 198 doentes com diagnóstico de Perturbação Mental induzida por Alcool. Realizou 1010 consultas de ambulatório. Os doentes vêm da comunidade, de motu próprio ou por indicação de vários serviços. Tem uma equipe multidisciplinar com 2 Psiquiatras, um clínico Geral, 2 psicólogos, 1 assistente social, 1 terapeuta ocupacional, equipe de enfermagem. Tem um programa de 4 semanas para desabituação e recuperação. Tem em curso um trabalho de investigação em neuropsicologia em parceria com a universidade Lusófona. É a única unidade de Alcoologia com certificação de Qualidade nos procedimentos e resultados clínicos, pela EQASS. A omissão da unidade de Alcoologia, no presente relatório, dificulta ou mesmo impossibilita, a referenciação pelos cuidados primários, pelos serviços de psiquiatria ou pela rede dos comportamentos aditivos. A dependência do Alcool é um problema muito grave em Portugal. O tratamento depende da motivação para a mudança, pelo que as unidades ou serviços de tratamento, devem ser próximas e de fácil acesso, para doentes e suas famílias. A implementação do” programa de gestão de doentes mentais internados no sector social”, dificultou o acesso dos doentes de alcoologia à Casa de Saúde do Telhal. Com esperança, pensámos que o grupo de trabalho, por incluir o SICAD, reconheceria a necessidade de incluir com clareza, a nossa unidade de 23 camas, na região de Lisboa. (estas camas, repito, são comparticipadas pelo SNS) Ao longo dos últimos anos, temos aumentado o número de internamentos e consultas, através de um trabalho de articulação com os médicos de família e muitas equipes de tratamento. Esse trabalho está agora posto em causa, já que os doentes necessitam agora, de autorização/concordância de um serviço local de psiquiatria, de difícil acesso e morosidade no atendimento de primeira vez. Os médicos de família ficam agora mais distantes do processo de internamento na unidade. Na zona em que nos integramos (Sintra), passou a ser impossível internar os doentes da área do CHPL, que não autoriza nenhum internamento. Muitas vezes, são doentes seguidos pela consulta externa, com relação estabelecida com a casa e com o médico que o segue. Esta situação tem de ser revista, a bem do tratamento, facilidade no acesso, seguimento. A proposta é simples e de fácil concretização.

Trata-se de recolocar a unidade, dentro da rede de referenciação dos Comportamentos Aditivos, como uma unidade da rede que pertence ao sector social. E facilitar o processo de referenciação. Resta-me uma apreciação global do relatório. É de valorizar a descrição da capacidade instalada do sector público e do sector social (ainda que essa descrição deva ser aprofundada). O relatório falha por não apresentar caminhos de trabalho conjunto, ao nível da complementaridade de serviços. O relatório não desenha e não referencia a desejável articulação, a evolução de outras respostas, nomeadamente a expansão dos cuidados psicogeriatricos, da infância e da adolescência. A arquitectura das redes de referenciação hospitalar é, em todas as regiões, exclusivamente pública. Ela deveria ser uma plataforma entre o sector público e social. No fundo, a aposta deveria ser a da constituição de uma plataforma ao serviço do doente, em que seja claro e transparente quem faz o quê, em que situações, o que cada um pode dar, fazer, complementar, articular, evoluir, inovar. É possível uma parceria mais aberta e mais dinâmica entre o sector público e o sector social. Capaz de ir ao encontro das necessidades e das escolhas dos doentes e suas famílias. Lisboa, 12/8/14 Margarida Gonçalves Neto

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De: Pedro Luis Goncalves Pedro Pires [[email protected]]

Enviado: sexta-feira, 22 de Agosto de 2014 13:40

Para: saudemental Cc: Anselmo Costa; Marlene Ferreira Gonçalves; [email protected]

Assunto: Relatório Saúde Mental - Comentário

Exmos. Srs,

em primeiro lugar manifesto a minha satisfação pelo aprofundamento na avaliação da situação atual da prestação de cuidados na área da saúde mental em Portugal. O melhor conhecimento

possível da realidade nacional nesta área é absolutamente necessário para reforçar o cumprimento do plano nacional de saúde mental e das redes de referenciação hospitalar para a

psiquiatria e psiquiatria da infância e adolescência. Como psiquiatra da infância e da adolescência e coordenador da Unidade de Psiquiatria da

Infância e da Adolescência do Hospital Garcia de Orta (H.G.O.) pretendo dar a minha

contribuição para o relatório final, tecendo os seguintes comentários: 1. Sobre a Unidade de Psiquiatria da Infância e Adolescência do H.G.O.

- p. 66, por lapso não foram identificados os médicos pedopsiquiatras do HGO, o que é incongruente com a casuística que a Unidade apresenta e que vem espelhada noutros quadros.

Assim, existem 4 médicos pedopsiquiatras no HGO, os quais perfazem um total de 150 horas

semanais; - p. 68, não estão incluídos os 4 psicólogos existentes na unidade de psiquiatria da

infância e adolescência.

2. Sobre a Psiquiatria da Infância e da Adolescência - p. 17, necessidades existentes - consultas. Penso ser importante reforçar a inexistência de

pedopsiquiatras em algumas regiões do país, nomeadamente na beira - baixa, litoral

alentejano, barlavento algarvio. Para além de existirem muitas regiões do país só com um pedopsiquiatra. Portanto, uma grande assimetria na prestação de cuidados;

- p.17, necessidades existentes - internamento. É importante referir a situação da psiquiatria da infância e adolescência, em que existem apenas 20 camas de internamento no setor público

e apenas no norte (Porto) e sul (Lisboa) do país;

- p. 34, distribuição de médicos de pedopsiquiatria por regiões de saúde. Na ARS do Algarve, não existem médicos internos de pedopsiquiatria. Os cálculos do número de médicos por

habitante, não podem ser feitos incluíndo os médicos internos. Como se sabe estes médicos exercem medicina tutelada, i.e., não possuem autonomia para a sua prática clínica.

Aliás, as recomendações internacionais para o cálculo do número de médicos por habitantes

referem-se sempre aos médicos especialistas, a recomendação de 1 médico pedopsiquiatra por 12.000 habitantes com menos de 18 anos diz respeito aos médicos especialistas. Penso que

importa corrigir este ponto sob pena de se transmitir a ideia de que o número de médicos pedopsiquiatras é suficiente para a população portuguesa. Aliás, este relatório espelha bem as

necessidades nacionais de médicos pedopsiquiatras no quadro A25; - p. 71, carências estimadas. Ao agregar os dados da psiquiatria de adultos e da infância e

adolescência, parece-me que se fica com uma ideia errada sobre as carências existentes em

relação aos técnicos não médicos para a infância e adolescência. Por exemplo, do quadro parece-me que se infere que existem enfermeiros e psicólogos a mais para a população.

No que se refere à psiquiatria da infância e adolescência, tal não corresponde de todo à realidade. Debatemo-nos constantemente pela necessidade do reforço das equipas de saúde

mental infantil com técnicos de várias áreas de conhecimento.

Faço votos para que o trabalho desenvolvido por este grupo seja continuado e com tradução

efetiva na melhoria da prestação de cuidados em saúde mental à população portuguesa.

Com os melhores cumprimentos,

Dr. Pedro Pires

Coordenador da Unidade de Psiquiatria da Infância e Adolescência Hospital Garcia de Orta

Anexos do Relatório do Grupo de Trabalho para a Avaliação da Situação da Prestação de Cuidados de Saúde Mental e das Necessidades na Área da Saúde Mental Março de 2015

Av. João Crisóstomo, nº 11 | 1000-177 Lisboa

Telefone: 21 792 55 00 | Fax: 21 792 55 33