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CIRCULAR SOBRE CONTAS ANUAIS março de 2018

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CIRCULAR SOBRE CONTAS ANUAIS

março de 2018

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ÍNDICE

1. ASPETOS GERAIS 6

1.1. LEGISLAÇÃO APLICÁVEL 6

1.2. DIVULGAÇÃO DOS DOCUMENTOS DE PRESTAÇÃO DE

CONTAS 8

1.3. ASSEMBLEIA GERAL ANUAL 11

1.4. DIVULGAÇÃO DOS RESULTADOS E INFORMAÇÃO

PRIVILEGIADA 16

2. ASPETOS ESPECÍFICOS 18

2.1. DATA DE PAGAMENTO DOS DIVIDENDOS 18

2.2. INFORMAÇÃO SOBRE AÇÕES PRÓPRIAS 18

2.3. PARTICIPAÇÕES QUALIFICADAS 19

2.4. OPERAÇÕES DE DIRIGENTES 20

2.5. NORMAS INTERNACIONAIS DE RELATO FINANCEIRO

(IFRS) 21

2.6. DIVULGAÇÃO DE INFORMAÇÕES NÃO FINANCEIRAS E

DE INFORMAÇÕES SOBRE A DIVERSIDADE 59

2.7. REPRESENTAÇÃO EQUILIBRADA NOS ÓRGÃOS DE

ADMINISTRAÇÃO E FISCALIZAÇÃO 61

2.8. SUSPENSÃO DA NEGOCIAÇÃO 62

2.9. SANÇÕES 62

2.10. ARTIGO 35.º DO CÓDIGO DAS SOCIEDADES

COMERCIAIS 62

2.11. GOVERNO DAS SOCIEDADES 63

3. ANEXOS 67

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O ano de 2017 ficou marcado por várias alterações no panorama legislativo e regulatório, melhor

detalhadas no presente Anexo.

I. De entre elas merecem destaque, pela sua relevância:

i. O Decreto-Lei n.º 89/2017, de 28 de julho, sobre a divulgação de informações não financeiras e

de informações sobre a diversidade por grandes empresas e grupos, em resultado da

transposição da Diretiva 2014/95/UE do Parlamento Europeu e do Conselho, de 22 de outubro

de 2014, que impõe às empresas-mãe de um grande grupo e às grandes empresas que sejam

entidades de interesse público o dever de incluir no seu relatório de gestão ou num relatório

separado, uma demonstração não financeira que permita uma compreensão da evolução, do

desempenho, da posição e do impacto das suas atividades, referentes, no mínimo, às questões

ambientais, sociais e relativas aos trabalhadores, ao respeito dos direitos humanos, ao combate

à corrupção e às tentativas de suborno (ver ponto 2.6 do Anexo, pp. 59 a 61);

ii. A Lei n.º 62/2017, de 1 de agosto, que estabeleceu o regime da representação equilibrada entre

mulheres e homens nos órgãos de administração e de fiscalização das entidades do setor público

empresarial e das empresas cotadas em bolsa (ver ponto 1.3.3 in fine e 2.7 do Anexo, pp. 61 a

62); e

iii. O protocolo celebrado entre a CMVM e o Instituto Português de Corporate Governance (“IPCG”),

onde se estabeleceram os princípios de cooperação entre ambas as entidades no quadro da

entrada em vigor do novo Código de Corporate Governance do IPCG, a partir de janeiro de 2018,

em substituição do Código da CMVM de 2013, tendo em vista o processo de transição para um

modelo de autorregulação do regime recomendatório do governo das sociedades (ver ponto 2.11

do Anexo, pp. 63 e seguintes).

II. Recordamos que, nos termos do art. 3.º/2 da Lei n.º 148/2015, de 9 de setembro, a maioria dos membros

do órgão de fiscalização das entidades de interesse público, incluindo o seu presidente, deve ser

considerada independente, nos termos do artigo 414.º/5 do Código das Sociedades Comerciais (“CSC”),

sendo também aplicável aos membros desse órgão o regime de incompatibilidades previsto no art. 414.º-A

CSC. Assim, e numa lógica de prevenção da deteção de eventuais situações suscetíveis de colidir com

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aquele regime de independências e incompatibilidades, sugere-se que os questionários remetidos em

anexo ao anexo desta Circular sejam preenchidos pelos membros propostos para desempenhar aquelas

funções, em momento prévio à divulgação da proposta de eleição.

Também aos membros da mesa da assembleia geral das sociedades emitentes de valores mobiliários

admitidos à negociação em mercado regulamentado são aplicáveis os requisitos de independência e

incompatibilidades (artigos 414.º/5 e 414.º-A/1, ex vi art. 374.º-A CSC), pelo que se sugere a utilização do

mesmo procedimento de deteção prévia de eventuais situações de desconformidade com aquele regime.

Para este efeito, solicita-se desde já que os questionários devidamente preenchidos, juntamente com a

informação curricular relevante, sejam remetidos a esta Comissão nos 2 dias úteis seguintes à divulgação

da convocatória de assembleia geral eletiva de novos membros de órgãos sociais.

III. Em relação à atividade de supervisão de informação financeira desenvolvida pela CMVM, que se

encontra enquadrada pelas guidelines de enforcement da ESMA (“ESMA Guidelines on enforcement of

financial information”), destacam-se os seguintes desenvolvimentos ocorridos em 2017 (descritos com

maior detalhe no ponto 2.5 do Anexo, pp. 21 a 59):

A publicação pela ESMA em 27 de outubro de 2017 de um Public Statement1 (“European common

enforcement priorities for 2017 IFRS financial statements” – “ECEP”), com o objetivo de promover a

aplicação consistente das IFRS, nos termos das guidelines de enforcement. No statement constam as

matérias identificadas pela ESMA, em conjunto com os supervisores europeus nacionais, que os emitentes

e os seus auditores deverão ter em especial consideração aquando da preparação e auditoria,

respetivamente, das demonstrações financeiras respeitantes ao exercício de 2017:

• Divulgação do impacto esperado da implementação de novas normas relevantes no período inicial

da sua aplicação (IFRS 9 – Instrumentos financeiros, IFRS 15 – Rédito de contratos com clientes e

IFRS 16 - Locações);

• Questões específicas sobre reconhecimento, mensuração e divulgações no âmbito da IFRS 3 –

Concentrações de atividades empresariais; e

• Temas específicos da IAS 7 – Demonstrações dos fluxos de caixa.

A divulgação ao mercado do relatório anual de atividade de supervisão de informação financeira referente

a 2016 pela ESMA (“ESMA Report on Enforcement and Regulatory Activities of Accounting Enforcers in

1http://www.cmvm.pt/pt/Cooperacao/esma/DocumentosESMACESR/Documents/European_common_enforcement_priorities_2017.pdf

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2016”2), que consiste numa panorâmica global das atividades relativas à supervisão e supervisão de

informação financeira levadas a cabo durante 2016, a nível europeu e local ( i) inclui informação estatística

sobre o enforcement de informação financeira, como sejam o número, o âmbito (ilimitado ou focalizado) e

tipo (ex-ante e ex-post) das análises efetuadas, bem como a natureza das ações de enforcement (reemissão

das demonstrações financeiras, nota corretiva e correção nas demonstrações financeiras futuras); ii)

avaliação do cumprimento das prioridades europeias comuns de supervisão de informação financeira

definidas para 2015)

A publicação de duas compilações de decisões (“20th Extract from the EECS’s Database of Enforcement”3

e “21st Extract from the EECS’s Database of Enforcement”4) tomadas pelos supervisores de informação

financeira, que foram submetidas na base de dados do grupo European Enforcers Coordination Sessions

(EECS), cuja divulgação é entendida, pelas autoridades competentes como sendo relevante

(nomeadamente por se tratarem de questões contabilísticas complexas, devido à existência de divergência

na prática ou à aplicação incompleta das normas). Estas publicações visam informar os participantes do

mercado, nomeadamente emitentes e auditores, sobre os tratamentos contabilísticos que os supervisores

consideram conformes com as IFRS, com vista a uma aplicação consistente das mesmas no EEE.

2 http://www.cmvm.pt/pt/Cooperacao/esma/DocumentosESMACESR/Documents/esma32-51-382_report_on_enforcement_activities_2016.pdf.

3 http://www.cmvm.pt/pt/Cooperacao/esma/DocumentosESMACESR/Documents/esma32-63-

200_20th_extract_from_the_eecss_database_of_enforcement.pdf. 4http://www.cmvm.pt/pt/Cooperacao/esma/DocumentosESMACESR/Documents/21st_extract_from_the_eecss_d

atabase_of_enforcement_06.11.2017.pdf.

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1. ASPETOS GERAIS

1.1. LEGISLAÇÃO APLICÁVEL

A legislação nacional aplicável aos emitentes aos quais se dirige o presente Anexo inclui, para além do

respetivo normativo contabilístico e do Código das Sociedades Comerciais (“CSC”), o Código dos

Valores Mobiliários (“Cód.VM”, a que se referem as normas mencionadas sem expressa menção em

contrário), em conjugação com os Regulamentos da CMVM n.º 5/2008, n.º 4/2013 (que revogou o

Regulamento da CMVM n.º 1/2010), n.º 11/2005 e n.º 6/2002 (com as alterações introduzidas pelo

Regulamento da CMVM n.º 4/2004), bem como a Instrução n.º 1/2010.

Em paralelo, verifica-se igualmente aplicável um conjunto de instrumentos legislativos de natureza

comunitária, alguns dos quais diretamente aplicáveis no ordenamento jurídico português,

independentemente de qualquer ato de transposição. De entre estes destacam-se a legislação aplicável

ao regime de abuso de mercado, transparência, direitos dos acionistas, prospetos, divulgação de

informação financeira e não financeira, entre outros.

Cumpre recordar que, em junho de 2016, foi publicada no sítio de Internet da CMVM uma Nota sobre a

entrada em vigor do Regulamento do Abuso de Mercado - Regulamento (UE) n.º 596/2014 (“MAR”), do

Parlamento Europeu e do Conselho, de 16 de abril de 2014, a partir de 3 de julho de 2016, tendo sido

disponibilizados os modelos de reporte para a notificação e divulgação pública de operações pelas

pessoas com responsabilidades de gestão e pessoas estreitamente relacionadas com elas, bem como

para a atualização da lista e secção de pessoas com acesso a informação privilegiada (disponíveis em

http://www.cmvm.pt/pt/AreadoInvestidor/Informa%C3%A7%C3%A3oInvestidor/reg_abuso_mercado/Pag

es/mar.aspx).

Como particularidades deste regime destacam-se o alargamento do âmbito de aplicação do regime do

abuso de mercado quer aos emitentes de valores mobiliários admitidos à negociação em mercado

regulamentado, quer aos emitentes de instrumentos financeiros ainda que exclusivamente

negociados em sistema de negociação multilateral (MTF) ou num sistema de negociação

organizada (OTF), ou para os quais tenha sido efetuado um pedido de admissão à negociação num MTF

(artigo 2.º MAR).

Do elenco de matérias a que estes emitentes e instrumentos passam a estar sujeitos, salienta-se:

(i) A sujeição aos requisitos de divulgação pública de informação privilegiada (artigo 17.º

MAR), os quais se aplicam aos emitentes que solicitaram ou aprovaram a admissão dos seus

instrumentos financeiros à negociação num mercado regulamentado de um Estado-Membro ou,

caso se trate de instrumentos negociados exclusivamente num MTF ou OTF, e aos emitentes que

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aprovaram a admissão dos seus instrumentos financeiros à negociação num MTF ou OTF ou

solicitaram a admissão à negociação dos seus instrumentos financeiros num MTF num Estado-

Membro;

(ii) O dever de elaboração de uma lista de pessoas com acesso a informação privilegiada e

reforço de deveres de comunicação de pessoas com acesso a informação privilegiada (artigo 18.º

MAR e Regulamento de Execução (UE) n.º 2016/347 da Comissão, com o respetivo modelo);

(iii) Os procedimentos de recurso ao regime de diferimento de divulgação de informação

privilegiada e publicação subsequente (artigo 17.º, n.º 4 do MAR), e o regime específico

alternativo para o diferimento da divulgação por emitentes que sejam instituições financeiras

(com fundamento na preservação da estabilidade do sistema financeiro e em circunstâncias

excecionais), este último sujeito a aprovação pela autoridade de supervisão (nos termos do artigo

17.º, n.ºs 5 e 6 do MAR, do Regulamento de Execução (EU) 2016/1055 da Comissão, de 29 de

junho de 2016 e das orientações relativas à aplicação do Regulamento sobre Abuso de Mercado –

Diferimento na divulgação de informação privilegiada ESMA 2016/1478 PT);

(iv) A aplicação dos requisitos e comunicação de operações de dirigentes, designadamente aos

instrumentos e operações objeto de notificação e divulgação à autoridade competente, prazos

para notificação, forma de cálculo da isenção para operações até € 5.000 (artigo 19.º MAR) e

modelo harmonizado de comunicação e divulgação de operações de dirigentes (Regulamento de

Execução (UE) n.º 2016/523 da Comissão).

Noutro contexto, chama-se a atenção dos emitentes de valores mobiliários admitidos à negociação em

mercado regulamentado para a necessidade de, nos termos do Regulamento Delegado (EU) 2016/1437

da Comissão, de 19 de maio, obterem e utilizarem um Identificador Único dos Emitentes (denominado

código LEI (Legal Entity Identifier)), na identificação da informação regulamentar que todos os emitentes

são obrigados a divulgar nos termos da Diretiva da Transparência entretanto parcialmente transposta

(Decreto-Lei n.º 22/2016, de 3 de junho), permitindo o seu acesso ao nível da União Europeia.

Este dever será aplicável a partir de 1 de janeiro de 2018, alertando-se os emitentes que ainda não

possuam este código para a necessidade da sua obtenção, sendo em Portugal a entidade habilitada para

a atribuição do mesmo o IRN – Instituto dos Registos e do Notariado.

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1.2. DIVULGAÇÃO DOS DOCUMENTOS DE PRESTAÇÃO DE CONTAS

1.2.1. Momentos e locais da divulgação

Os documentos de prestação de contas (individuais e consolidados) devem ser divulgados no prazo de

quatro meses a contar da data de encerramento do exercício económico a que dizem respeito, ainda que

não tenham sido submetidos a aprovação em assembleia geral (art. 245.º/1 Cód.VM). Assim, os emitentes

cujo exercício termine a 31 de dezembro devem divulgar os documentos de prestação de contas até ao

próximo dia 30 de abril.

Os documentos de prestação de contas devem ainda ser divulgados aos acionistas juntamente com as

demais informações preparatórias da assembleia geral anual, com pelo menos 15 dias de antecedência

(21 dias, no caso das sociedades emitentes de ações admitidas à negociação em mercado

regulamentado) [arts. 70.º/2, 289.º/1/e) e 4 CSC; arts. 21.º-B/1 e 21.º-C/2 Cód.VM; norma n.º 9 da

Instrução da CMVM n.º 1/2010].

Esta informação deve ser divulgada [arts. 21.º-C/1, 244.º/4 e 7, 367.º Cód.VM]:

(i) na sede da sociedade;

(ii) no seu sítio da Internet; e

(iii) no Sistema de Difusão de Informação (SDI).

Os emitentes deverão proceder à divulgação dos documentos de prestação de contas anuais no SDI através da extranet da

CMVM, utilizando para o efeito um ficheiro único em formato pdf, que deverá ser disponibilizado no módulo “Prestação de

Contas/ Contas Anuais”.

O nome do ficheiro não pode conter espaços, acentuações ou algum dos seguintes carateres ()/;\*?’!.%&$#“” e deverá

obedecer às orientações transmitidas pela CMVM, ou seja, “«nome da entidade» - Exercício de 2014”, incluindo apenas o

primeiro nome da entidade (norma n.º 5 da Instrução da CMVM n.º 1/2010).

O envio de informação para divulgação através de correio eletrónico só é permitido em situações excecionais, como em caso

de falha temporária da extranet. A situação deve ser sanada de imediato pelo emitente, sem prejuízo do apuramento de

responsabilidades pelo incumprimento das normas aplicáveis (normas n.ºs 7, 8 e 21 da Instrução da CMVM n.º 1/2010).

Os documentos de prestação de contas deverão permanecer à disposição do público, no sítio de Internet

do emitente, durante pelo menos 10 anos [art. 245.º/1 Cód.VM], por força da transposição para a ordem

jurídica interna da Diretiva da Transparência revista (vd. art. 4.º, n.º 1 da referida diretiva).

Todas as restantes informações que os emitentes sejam obrigados a tornar públicas deverão ser

disponibilizadas no sítio de Internet do emitente e aí mantidas durante, pelo menos, um ano [arts. 244.º/7

e 8 e 21º-C/2 Cód.VM], salvo outro prazo especialmente previsto.

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1.2.2. Elementos a divulgar

Devem ser divulgados os seguintes documentos de prestação de contas5:

(i) Demonstrações financeiras e respetivos anexos [art. 245.º/1/a) CódVM; arts. 65.º-66.º-A

CSC], devendo estes incluir, tanto no caso das contas individuais como consolidadas:

(a) Informação sobre a natureza e o objetivo comercial das operações não incluídas no

balanço [arts. 66.º-A/1/a) e 508.º-F/1/a) CSC]; e

(b) Informação sobre os honorários do Revisor Oficial de Contas (“ROC”) respeitantes à

revisão legal de contas anuais, a outros serviços de garantia de fiabilidade, a

consultoria fiscal, e a outros serviços que não sejam de revisão ou auditoria [arts.

66.º-A/1/b) e 508.º-F/1/b) CSC];

(ii) Relatório de gestão [art. 245.º/1/a) Cód.VM; arts. 65.º - 66.º-B CSC], incluindo,

designadamente:

(a) A proposta de aplicação de resultados devidamente fundamentada [art. 66.º/5/f)

CSC]; e

(b) No caso do relatório consolidado de gestão, a descrição dos principais elementos do

sistema de controlo interno e de gestão de riscos do grupo relativamente ao processo

de elaboração das contas consolidadas [art. 508.º-C/5/f) e 8 CSC]6;

(iii) Declaração dos responsáveis da sociedade sobre a conformidade da informação financeira

apresentada com as normas contabilísticas aplicáveis [art. 245.º/1/c) Cód.VM; arts. 420.º/6,

423.º-F/2 e 441.º/2 CSC];

(iv) Anexos ao relatório de gestão [arts. 447.º e 448.º CSC];

(v) Listagem de todas as transações realizadas no semestre respeitantes a ações do emitente

ou instrumentos financeiros com elas relacionados, efetuadas pelos dirigentes do emitente,

5 Cfr. arts 65.º a 66.º-A, 70.º, 420.º/6, 423.º-F/2 e 441.º/2 e 508.º-A a 508.º-F CSC; arts. 245.º/1 e 2 e 245.º-A

Cód.VM; art. 8.º/1 Regulamento CMVM n.º 5/2008; Regulamento CMVM n.º 6/2002; Regulamento n.º 1606/2002 do

Parlamento Europeu e do Conselho; e Decreto-Lei n.º 158/2009, de 13 de julho, que aprova o Sistema de

Normalização Contabilística e revoga o Plano Oficial de Contabilidade.

6 No caso das sociedades que apresentem um único relatório, esta informação deve ser incluída na secção do

relatório sobre o governo das sociedades que contém a informação prevista na al. m) do n.º1 do art. 245.º-A Cód.VM

[cfr. art. 508.º-C/8 CSC].

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de sociedade que domine o emitente e pelas pessoas estreitamente relacionadas com

aqueles [art. 14.º/6 e 7 Regulamento CMVM n.º 5/2008];

(vi) Certificação legal das contas emitida pelo revisor oficial de contas da sociedade que deve

incluir, entre outros elementos, parecer sobre a concordância do relatório de gestão com as

contas do exercício [arts. 245.º/1/a) Cód.VM e 451.º/3/e), 4 e 5 CSC]7;

(vii) Relatório de auditoria elaborado por auditor [art. 245.º/1/b) Cód.VM];

(viii) Parecer do órgão de fiscalização que deve incluir, entre outros elementos, a declaração

subscrita por cada um dos seus membros sobre a conformidade da informação financeira

apresentada [art.245.º/1/c) Cód.VM] e exprimir a sua concordância ou não com o relatório

de gestão e com as contas do exercício [art. 8.º/1/a) Regulamento CMVM n.º 5/2008 e

arts. 420.º/1/g) e 6, 423.º-F/2 e 441.º/2 CSC];

(ix) Lista dos titulares de participações qualificadas, com indicação do número de ações detidas

e percentagem de direitos de voto correspondentes, calculada nos termos do art. 20.º

Cód.VM [art. 8.º/1/b) Regulamento CMVM n.º 5/2008];

(x) No caso das sociedades emitentes de ações admitidas à negociação em mercado

regulamentado situado ou a funcionar em Portugal e sujeitas à lei pessoal portuguesa, um

Relatório do Governo Societário [Regulamento CMVM n.º 4/2013, art. 245.º-A Cód.VM e

arts. 420.º/5, 423.º-F/2 e 441.º/2 CSC, incluindo a informação prevista no artigo 3.º da Lei n.º

28/2009, de 19 de junho (vide pontos 1.3.7 e 2.11 infra)];

(xi) Caso sejam preenchidos os requisitos previstos no art. 66.º-B/1 e 508.º-G/1 CSC a

Demonstração não financeira;

(xii) No caso das sociedades emitentes de outros valores mobiliários admitidos à negociação em

mercado regulamentado situado ou a funcionar em Portugal, deve ser divulgada a

informação referida no art. 245.º-A/6.

7 Conforme referido na pág. 15 do presente Anexo, a CLC e o Relatório de auditoria poderão consubstanciar um

só documento.

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1.2.3. Envio à CMVM

Os documentos de prestação de contas anuais devem ser enviados à CMVM logo que sejam colocados à

disposição dos acionistas [art. 245.º/6 Cód.VM], preferencialmente através de correio eletrónico em ficheiro

pdf, para o endereço [email protected]. [norma n.º 9 da Instrução da CMVM n.º 1/2010]

Deverão ainda ser remetidos à CMVM, mediante correio eletrónico ou em suporte de papel, os relatórios

de auditoria elaborados e as certificações legais de contas, devidamente assinados.

1.3. ASSEMBLEIA GERAL ANUAL

1.3.1. Apreciação dos documentos de prestação de contas

Os documentos de prestação de contas devem ser apresentados e apreciados pela assembleia geral:

(i) No prazo de 3 meses a contar da data de encerramento do exercício anual, ou

(ii) No prazo de 5 meses, a contar da mesma data, quando se trate de sociedades obrigadas a

apresentar contas consolidadas ou que apliquem o método da equivalência patrimonial

[arts. 65.º/5 e 376.º CSC].

Não obstante, os emitentes com valores mobiliários admitidos à negociação em mercado regulamentado devem divulgar tais

documentos ao público no prazo de 4 meses a contar do encerramento do exercício [art. 245.º/1 Cód.VM].

Deve ser imediatamente divulgada ao público a deliberação da assembleia geral relativa aos documentos

de prestação de contas e à aplicação de resultados [arts. 249.º/2/g) Cód.VM e art. 8.º/3 Regulamento

CMVM n.º 5/2008].

1.3.2. Alterações aos documentos de prestação de contas

Caso sejam introduzidas alterações aos documentos de prestação de contas apresentados como proposta

para aprovação pela assembleia geral, antes ou na sequência da respetiva aprovação, o órgão de

administração do emitente deve elaborar uma nota explicativa sobre essas alterações, que deverá ser

imediatamente divulgada ao mercado.

i)

1.3.3. Convocatória da assembleia geral

A convocatória da assembleia geral das sociedades abertas, nomeadamente para efeitos da aprovação

do relatório e contas anuais, deve ser divulgada com 21 dias de antecedência [art. 21.º-B Cód.VM].

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12 | CMVM | CIRCULAR SOBRE CONTAS ANUAIS | 2018-03-12

No caso dos emitentes de ações admitidas à negociação em mercado regulamentado, as informações preparatórias da

assembleia geral devem ser divulgadas juntamente com a respetiva convocatória [arts. 21.º-B/1, 21.º-C/2 e 249.º/2/a)

Cód.VM].

As demais sociedades devem divulgar as informações preparatórias da assembleia geral com 15 dias de antecedência

[art. 289.º/1 CSC].

A convocatória deve mencionar que os documentos de prestação de contas se encontram à disposição

dos acionistas, para consulta, na sede da sociedade, bem como no seu sítio de Internet e no SDI da CMVM

[art. 21.º-B/2/d) Cód.VM].

O presidente da mesa da assembleia geral deverá ser alertado para este facto, para proceder em conformidade.

Para além dos elementos previstos no art. 377.º/5 CSC, a convocatória deverá conter, pelo menos

[art. 21.º-B/2 Cód.VM]:

(i) No caso de sociedade emitente de ações admitidas à negociação em mercado regulamentado,

informação sobre os procedimentos de participação na assembleia geral, incluindo a data de

registo e a menção de que apenas quem seja acionista nessa data tem o direito de participar e

votar na assembleia geral;

(ii) Informação sobre o procedimento a respeitar pelos acionistas para o exercício dos direitos de

inclusão de assuntos na ordem do dia, de apresentação de propostas de deliberação e de

informação em assembleia geral, incluindo os prazos para o respetivo exercício;

(iii) Informação sobre o procedimento a respeitar pelos acionistas para a sua representação em

assembleia geral, mencionando a existência e o local onde é disponibilizado o formulário do

documento de representação, ou incluindo esse formulário;

(iv) O local e a forma como podem ser obtidos o texto integral dos documentos e as propostas de

deliberação a apresentar à assembleia geral.

A convocatória e as respetivas propostas de deliberação (bem como eventuais anexos, como seja o caso

dos curricula dos membros propostos para integrar os órgãos sociais) podem ser divulgadas no SDI da

CMVM sob a forma de documento único, contendo preferencialmente um índice remissivo para os vários

pontos constantes desse documento que permitam um fácil e rápido acesso por parte dos destinatários

da informação em causa. Dessa forma, evita-se a necessidade de publicação de cada um dos elementos

informativos, de forma autónoma e individualizada, antes se concentrando num único documento os vários

elementos informativos. Sendo necessária a sua atualização por qualquer motivo (gralha, apresentação

de novas propostas ou pedido de inclusão de novos pontos, por exemplo), pode proceder-se à

republicação do documento único, contanto que se identifique claramente os aspetos modificados ou

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13 | CMVM | CIRCULAR SOBRE CONTAS ANUAIS | 2018-03-12

alterados face à versão anterior.

A assembleia geral de um emitente que seja uma instituição de crédito ou sociedade financeira pode

deliberar, por maioria qualificada de dois terços dos votos validamente expressos, a alteração dos

estatutos para prever um período mais curto que os 21 dias estabelecidos pelo art. 21.º-B/1, mas não

inferior a 10 dias após a data da convocatória. Para o efeito, é necessário que sejam cumpridas as

seguintes condições: a) a convocação se destine exclusivamente a deliberar sobre um aumento de capital;

b) estejam preenchidos os requisitos previstos no art. 141.º do RGICSF para a aplicação de uma medida

de intervenção corretiva; c) o aumento de capital seja necessário para evitar que fiquem preenchidos os

requisitos previstos no art. 145.º-E/2 do RGICSF para a aplicação de uma medida de resolução.

Nestes casos o prazo previsto no n.º 2 do artigo 23.º-B é reduzido para três dias após a publicação da

convocatória, sendo o prazo máximo previsto no n.º 3 do artigo 23.º-B reduzido para cinco dias antes da

realização da assembleia, independentemente da forma usada para a sua convocação [art. 21.º-B/4 e 5

introduzido pela Lei n.º 23-A/2015, de 26 de março].

Tratando-se de assembleia geral eletiva de novos membros de órgãos sociais, recordamos que, nos

termos do art. 3.º/2 da Lei n.º 148/2015, de 9 de setembro, a maioria dos membros do órgão de fiscalização

das entidades de interesse público, incluindo o seu presidente, deve ser considerada independente, nos

termos do artigo 414.º/5 do CSC. Os membros desse órgão estão ainda sujeitos ao regime de

incompatibilidades previsto no art. 414.º-A CSC (aplicável aos membros das comissões de auditoria nos

termos do art. 423.º-B/3 CSC, aos membros do conselho geral e de supervisão nos termos do art. 434.º/4

CSC e aos membros da comissão para as matérias financeiras nos termos do art. 444.º/3 CSC). Assim, e

numa lógica de prevenção da deteção de eventuais situações suscetíveis de colidir com aquele regime de

independências e incompatibilidades, sugere-se que os questionários remetidos em anexo ao presente

documento sejam preenchidos pelos membros propostos para desempenhar aquelas funções, em

momento prévio à divulgação da proposta de eleição.

Também aos membros da mesa da assembleia geral das sociedades emitentes de valores mobiliários

admitidos à negociação em mercado regulamentado são aplicáveis os requisitos de independência e

incompatibilidades (artigos 414.º/5 e 414.º-A/1, ex vi art. 374.º-A CSC), pelo que se sugere a utilização do

mesmo procedimento de deteção prévia de eventuais situações de desconformidade com aquele regime.

Por fim, e no que respeita às assembleias gerais eletivas de sociedades com ações admitidas à

negociação em mercado regulamentado, chama-se ainda a atenção para o facto de, nos termos da Lei

n.º 62/2017, de 1 de agosto (“Lei 62/2017”), dever ser respeitada, para cada órgão de administração e de

fiscalização cuja assembleia eletiva ocorra depois de 1 de janeiro de 2018, uma proporção de pessoas de

cada sexo não inferior a 20%. Para as assembleias gerais eletivas posteriores a 1 de janeiro de 2020,

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14 | CMVM | CIRCULAR SOBRE CONTAS ANUAIS | 2018-03-12

aquela proporção passará a ser de 33,3 % (art. 5.º/1 Lei 62/2017). Para mais desenvolvimentos sobre

este novo regime veja-se o ponto 2.7 infra.

1.3.4. Informação preparatória da assembleia geral

Além dos elementos previstos no art. 289.º/1 CSC, as sociedades emitentes de ações admitidas à

negociação em mercado regulamentado devem facultar aos seus acionistas, na sede da sociedade e no

respetivo sítio de Internet, para além da convocatória e na data da divulgação desta, os seguintes

elementos [art. 21.º-C/1 Cód.VM]:

(i) O número total de ações e de direitos de voto na data da divulgação da convocatória, incluindo os

totais separados para cada categoria de ações, quando aplicável;

(ii) Os formulários dos documentos de representação e de voto por correspondência, caso este não

seja proibido pelo contrato de sociedade;

(iii) Outros documentos a apresentar à assembleia geral.

1.3.5. Adiamento ou não aprovação dos documentos de prestação de contas

O adiamento da deliberação relativa à aprovação dos documentos de prestação de contas ou a não

aprovação daqueles pela assembleia geral [art. 249.º/2/g) Cód.VM] deve ser imediatamente comunicado

à CMVM e ao mercado, através do SDI, sendo indicada a data prevista para a sua ocorrência, se

conhecida.

1.3.6. Participação na assembleia geral

Nas sociedades emitentes de ações admitidas à negociação em mercado regulamentado vigora o sistema

da data de registo (record date), pelo que tem direito a participar na assembleia geral e aí discutir e votar

quem, às 0 horas (GMT) do 5.º dia de negociação anterior ao da reunião, for titular de ações que lhe

confiram, segundo a lei e o contrato de sociedade, pelo menos um voto [art. 23.º-C/1 Cód.VM].

O exercício destes direitos não é prejudicado pela transmissão das ações em momento posterior à data

de registo, ainda que quem proceda entretanto à sua alienação deva comunicá-lo imediatamente ao

presidente da mesa da assembleia geral e à CMVM [art. 23.º-C/2 e 7 Cód.VM].

Quem pretenda participar na assembleia geral de uma sociedade emitente de ações admitidas à

negociação em mercado regulamentado deve declará-lo, por escrito, ao presidente da mesa da

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15 | CMVM | CIRCULAR SOBRE CONTAS ANUAIS | 2018-03-12

assembleia geral e ao intermediário financeiro onde a conta de registo individualizado esteja aberta até à

véspera da data de registo podendo, para o efeito, utilizar o correio eletrónico [art. 23.º-C/3 Cód.VM].

O intermediário financeiro, que seja informado da intenção do seu cliente em participar na assembleia

geral, envia ao presidente da mesa da assembleia geral, até ao fim do dia da data de registo, informação

sobre o número de ações registadas em nome do seu cliente, com referência à data de registo, podendo,

para o efeito, utilizar o correio eletrónico [art. 23.º-C/4 Cód.VM].

A propósito destas regras de participação em assembleia geral e com vista ao esclarecimento de eventuais dúvidas

resultantes da sua aplicação prática, a CMVM divulgou um conjunto de recomendações.

1.3.7. Política de remuneração e remuneração auferida

As sociedades emitentes de valores mobiliários admitidos à negociação em mercado regulamentado

devem submeter anualmente à aprovação da assembleia geral uma declaração sobre a política de

remuneração dos membros dos respetivos órgãos de administração e de fiscalização [Lei n.º 28/2009, de

19 de junho].

Esta declaração deve conter, designadamente, informação relativa [art. 2.º/3 Lei n.º 28/2009]:

(i) aos mecanismos que permitam o alinhamento dos interesses dos membros do órgão de

administração com os interesses da sociedade;

(ii) aos critérios de definição da componente variável da remuneração;

(iii) à existência de planos de atribuição de ações ou de opções de aquisição de ações por parte de

membros dos órgãos de administração e de fiscalização;

(iv) à possibilidade do pagamento da componente variável da remuneração, se existir, ter lugar, no

todo ou em parte, após o apuramento das contas de exercício correspondentes a todo o mandato;

(v) aos mecanismos de limitação da remuneração variável, no caso dos resultados evidenciarem uma

deterioração relevante do desempenho da empresa no último exercício apurado ou quando esta

seja expectável no exercício em curso.

Depois de aprovada, a referida política de remuneração, bem como o montante anual da remuneração

auferida pelos membros dos órgãos de administração e de fiscalização (de forma agregada e individual)

devem ser divulgados nos documentos anuais de prestação de contas (no caso dos emitentes de ações

admitidas à negociação, no Relatório do Governo Societário) [art. 3.º Lei n.º 28/2009].

Relativamente às instituições de crédito, importa ainda considerar as disposições relevantes do Regime

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16 | CMVM | CIRCULAR SOBRE CONTAS ANUAIS | 2018-03-12

Geral das Instituições de Crédito e Sociedades Financeiras (“RGICSF”), aprovado pelo Decreto-Lei n.º

298/92, de 31 de dezembro, na redação que lhe foi dada pelo Decreto-Lei n.º 157/2014, de 24 de outubro,

relativas às políticas, estrutura e composição das remunerações, em particular da sua componente

variável8.

1.4. DIVULGAÇÃO DOS RESULTADOS E INFORMAÇÃO PRIVILEGIADA

A divulgação de resultados deve ser sempre precedida da publicação de um comunicado de informação

privilegiada, no sítio da Internet do emitente e no SDI da CMVM, uma vez que a mesma constitui

informação suscetível de influenciar de maneira sensível a cotação dos valores mobiliários [art. 248.º-A

Cód.VM].

A apresentação de resultados a analistas, à comunicação social ou a grupos particulares de investidores

ou a sua inclusão em documentos colocados à disposição dos acionistas, deve ser precedida da

publicação de um comunicado de informação privilegiada, para salvaguardar o princípio de igualdade de

tratamento dos titulares de valores mobiliários [art. 15.º Cód.VM].

Os comunicados de informação privilegiada devem ser imediatamente remetidos à CMVM, através da

extranet, de acordo com a norma n.º 7 da Instrução da CMVM n.º 1/2010, sendo apenas possível a sua

divulgação por outros meios, nomeadamente através de conferências de imprensa, após a sua divulgação

no SDI.

Antes da divulgação dos comunicados, as sociedades devem assegurar o segredo relativamente ao

conteúdo dos mesmos. No caso da ocorrência de fugas de informação relativamente ao comunicado a

divulgar, a sua difusão deve ser antecipada com urgência, sem prejuízo de eventual apuramento de

responsabilidade decorrente da quebra de confidencialidade.

O funcionamento automático da extranet não prejudica os especiais cuidados que a divulgação de

informação privilegiada deve merecer por parte dos emitentes, podendo a mesma ocorrer a qualquer hora.

Caso a divulgação de informação privilegiada ocorra antes da abertura da sessão de bolsa, a CMVM

recomenda que esta seja efetuada com um período mínimo de antecedência (período indicativo de 30

minutos) de modo a que as ofertas existentes no sistema de negociação possam ser alteradas, caso os

investidores entendam conveniente. Do mesmo modo, no caso da divulgação de informação privilegiada

após o encerramento da sessão – nomeadamente a respeitante aos resultados –, deve tomar-se em

8 Nos termos definidos pelo artigo 3.º do RGICSF.

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17 | CMVM | CIRCULAR SOBRE CONTAS ANUAIS | 2018-03-12

consideração que o período extraordinário de negociação após o encerramento da sessão termina às

16h40m.

A divulgação de todos os comunicados (incluindo os de informação privilegiada) ocorre imediata e

automaticamente desde que os mesmos sejam enviados pelos emitentes via extranet [normas n.ºs 7 e 8

da Instrução da CMVM n.º 1/2010]. No caso de não ser possível o recurso a este meio, a CMVM deve ser

informada de imediato, devendo o comunicado ser remetido, excecionalmente, por correio eletrónico (para

[email protected]) ou por fax, devendo ser guardado segredo até ao momento da sua

divulgação.

No que respeita ao conteúdo dos comunicados de informação privilegiada, relembramos que a informação

divulgada deverá ser suficiente para que o investidor possa utilizar essa mesma informação para basear,

no todo ou em parte, as suas decisões de investimento (art. 248.º/2 Cód.VM). Para o efeito, a informação

divulgada terá de cumprir os critérios de qualidade constantes do artigo 7.º do Código dos Valores

Mobiliários – completude, veracidade, atualidade, clareza, objetividade e licitude –, facultando, assim, ao

investidor, os elementos que lhe permitam formar um juízo de prognose e posicionar-se em conformidade

(adquirindo, mantendo ou alienando os valores mobiliários detidos). De acordo com o tipo de transações

em causa – por exemplo, aquisições, alienações e fusões –, tal poderá implicar, nomeadamente, a

divulgação dos valores da transação e o impacto da mesma (nomeadamente, nas vendas, informação

sobre as mais/menos valias, sobre a necessidade de registar eventuais imparidades), sem a inclusão das

quais o investidor não se pode considerar munido da informação mínima indispensável à correta formação

das suas decisões de investimento.

Realçam-se neste âmbito, as orientações sobre indicadores alternativos de desempenho publicadas

pela ESMA em outubro de 20159, cuja aplicação é obrigatória para informação regulamentada

publicada pelos emitentes a partir de 3 de julho de 2016, bem como as recomendações do Committee

of European Securities Regulators (CESR), com a referência CESR/05-178b, de outubro de 2005, sobre

a utilização pelas sociedades cotadas de indicadores de performance alternativos nos seus relatórios

financeiros10. Destaque ainda para as Perguntas e Respostas publicadas pela ESMA em 27 de janeiro de

2017, sobre as orientações respeitantes aos indicadores alternativos de desempenho acessíveis em

https://www.esma.europa.eu/sites/default/files/library/qas_for_esma_guidelines_on_apms.pdf.

9 Este documento pode ser consultado em https://www.esma.europa.eu/databases-library/esma-

library?ref=2015/1415.

10 Este documento pode ser consultado em

https://www.esma.europa.eu/sites/default/files/library/2015/11/05_178b.pdf.

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18 | CMVM | CIRCULAR SOBRE CONTAS ANUAIS | 2018-03-12

2. ASPETOS ESPECÍFICOS

2.1. DATA DE PAGAMENTO DOS DIVIDENDOS

A data de pagamento de dividendos deverá ser divulgada ao mercado através de um comunicado de

informação privilegiada logo que a mesma seja conhecida [cfr. recomendações do CESR com a referência

CESR/06-562b11, art. 249.º/2/b) Cód.VM e art. 7.º/3 Regulamento CMVM n.º 5/2008].

Esta informação é particularmente importante para os emitentes de ações que integram o índice PSI 20,

dadas as implicações nos contratos de derivados negociados não só em Portugal, mas também noutros

países.

Os emitentes deverão ainda incluir esta data no calendário semestral de eventos divulgado no seu sítio

da Internet [ponto 63 do Anexo I ao Regulamento CMVM n.º 4/2013].

2.2. INFORMAÇÃO SOBRE AÇÕES PRÓPRIAS

O relatório de gestão é um documento que acompanha as demonstrações financeiras e os respetivos

anexos, devendo incluir a informação exigida pelo artigo 66.º CSC, para as contas individuais, e artigo

508.º-C CSC, para as contas consolidadas. Entre esta informação destaca-se agora a respeitante a

transações sobre ações próprias [arts. 66.º/5/d), 324.º/2 e 508.º-C/5/d) CSC], devendo ser divulgados:

(i) o número de ações próprias adquiridas ou alienadas no período em causa;

(ii) os motivos desses atos e o respetivo preço;

(iii) o número de ações próprias detidas no final do exercício.

Consideram-se ações próprias da sociedade dominante as ações adquiridas ou detidas por uma

sociedade dependente, direta ou indiretamente daquela, nos termos do artigo 486.º CSC

[art. 325.º-A/1 CSC]. Assim sendo, a informação a prestar no âmbito do relatório de gestão deve incluir

expressamente as transações sobre valores mobiliários próprios e o respetivo saldo final, ainda que

aquelas tenham sido realizadas por sociedades dependentes, indicando expressamente tal facto.

11 Disponíveis em https://www.esma.europa.eu/sites/default/files/library/2015/11/06_562b.pdf.

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19 | CMVM | CIRCULAR SOBRE CONTAS ANUAIS | 2018-03-12

A referida informação deverá ser identificada separadamente de qualquer outro montante que seja contabilisticamente

considerado como ações próprias, designadamente de outras situações resultantes da aplicação da IAS 32 e IAS 39,

devendo ser divulgadas de forma clara as respetivas quantidades, distinguindo-se as quantidades de umas e de outras.

A fim de beneficiarem da isenção das proibições relativas ao abuso de mercado, as operações sobre ações próprias

efetuadas no âmbito de programas de recompra e a negociação de valores mobiliários ou instrumentos associados para

efeitos da estabilização de valores mobiliários devem cumprir os requisitos e as condições previstos no Regulamento (UE)

n.º 596/2014 (Regulamento do Abuso de Mercado) e no Regulamento Delegado (UE) 2016/1052 da Comissão de 8 de março

de 2016.

A realização de transações de ações próprias está sujeita aos deveres de comunicação e divulgação

estabelecidos nos arts. 11.º a 13.º Regulamento CMVM n.º 5/2008, bem como do art. 249.º/2/f) Cód.VM.

A comunicação à CMVM das transações de ações próprias do emitente deverá ser efetuada via extranet

[normas 19 e 20 da Instrução da CMVM n.º 1/2010].

A divulgação através do SDI deverá ocorrer quando a posição final perfaça, ultrapasse ou desça abaixo

de 1% do capital social ou sucessivos múltiplos, e/ou quando as aquisições/alienações efetuadas na

mesma sessão de mercado regulamentado perfaçam ou ultrapassem 5% do volume negociado nessa

sessão [art. 11.º Regulamento CMVM n.º 5/2008].

2.3. PARTICIPAÇÕES QUALIFICADAS

A informação relativa a participações qualificadas deve ser completa, verdadeira, atual, clara, objetiva e

lícita.

Os emitentes devem indicar as participações diretas e as participações que, não decorrendo da titularidade

direta, sejam imputáveis a cada um dos acionistas da sociedade, nos termos do art. 20.º/1 Cód.VM.

A informação apresentada deve permitir distinguir claramente as participações diretas das participações

indiretas, nos termos do art. 20.º/1 Cód.VM. Deve ser indicado expressamente o número de ações detidas

e a percentagem de direitos de voto imputados a cada um dos participantes.

A comunicação de participações qualificadas deve identificar toda a cadeia de entidades a quem a

participação qualificada é imputada nos termos do art. 20.º/1 Cód.VM, independentemente da lei a que se

encontrem sujeitas [art. 16.º/4/a) Cód.VM].

Para o cálculo de direitos de voto, são consideradas todas as ações com direito de voto, ainda que o seu

exercício esteja suspenso, como ocorre com as ações próprias [art. 16.º/3/b) Cód.VM].

Recomenda-se que a comunicação de participações qualificadas seja feita de acordo com o formulário

adotado pela ESMA, ainda que não seja obrigatório. Este formulário encontra-se disponível no SDI em

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http://web3.cmvm.pt/sdi/emitentes/FORM_PQ_esma-2015-1597.pdf

O quadro apresentado em seguida exemplifica o modo como a informação respeitante à detenção de

participações qualificadas poderá ser incluída nos documentos de prestação de contas dos emitentes,

sem prejuízo da utilização por parte dos mesmos de outras formas de apresentação, desde que seja

assegurado um grau de informação, no mínimo, igual ao sugerido. O emitente deverá indicar, para cada

um dos factos geradores de imputação, a respetiva alínea ou alíneas do art. 20.º/1 Cód.VM de onde a

mesma resulta:

Acionista X

(pessoa singular ou coletiva)

N.º de ações

% Capital

social com

direito de voto

Diretamente xxx %

Através da sociedade Y (dominada pelo acionista X) xxx %

Através do membro do órgão de administração da sociedade Y xxx %

Através da sociedade Z dominada por um membro W do órgão

de administração da sociedade Y xxx %

Outra eventual imputação (indicando a sua fonte) xxx %

Total imputável xxx %

Note-se que com a entrada em vigor do Decreto-Lei n.º 22/2016, de 3 de junho, que transpôs parcialmente

a Diretiva da Transparência, quando a ultrapassagem dos limiares relevantes resultar da detenção de

instrumentos financeiros, nos termos as alíneas e) ou i) do art. 20.º, o participante deve discriminar o

número e a percentagem de direitos de voto imputáveis por tipo de instrumento financeiro e consoante

tenham liquidação física ou financeira [art. 16.º/5/d) Cód.VM].

2.4. OPERAÇÕES DE DIRIGENTES

Os emitentes de ações admitidas à negociação em mercado regulamentado devem divulgar, juntamente

com os documentos de prestação de contas anuais, a informação remetida pelos dirigentes, por

sociedades que dominem o emitente e por pessoas estreitamente relacionadas com aqueles, sobre todas

as transações efetuadas sobre ações do emitente ou instrumentos financeiros com elas relacionados

[art. 14.º/6 e 7 Regulamento CMVM n.º 5/2008].

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21 | CMVM | CIRCULAR SOBRE CONTAS ANUAIS | 2018-03-12

Os emitentes devem informar por escrito os dirigentes, bem como as pessoas com eles estreitamente

relacionadas, que sobre eles impende o dever de enviar ao emitente a listagem de todas as transações

efetuadas [art. 15.º/3 Regulamento CMVM n.º 5/2008].

O Regulamento de Execução (UE) 2016/523 da Comissão de 10 de março de 2016, veio estabelecer

regras de uniformização no que respeita ao formato e modelo da comunicação e divulgação pública das

operações de dirigentes, pelo que desde 3 de julho de 2016 os emitentes devem utilizar o modelo

constante do anexo ao referido Regulamento, aquando da divulgação de transações dos seus dirigentes,

(disponível em

http://www.cmvm.pt/pt/AreadoInvestidor/Informa%C3%A7%C3%A3oInvestidor/reg_abuso_mercado/Doc

uments/Modelo_reporte_operacoes_de_dirigentes.pdf).

Substantivamente nesta matéria, refira-se que o Regulamento do Abuso de Mercado [art. 19.º/3] impõe

agora um período durante o qual a realização de operações por dirigentes, por conta própria ou por conta

de terceiros, direta ou indiretamente, relacionadas com ações ou instrumentos de dívida, não deve ocorrer

no período que abarca os 30 dias de calendário anteriores ao anúncio de relatório financeiro intercalar ou

anual (closed period). As operações durante o período de negociação limitada podem ser autorizadas pelo

emitente em circunstâncias excecionais, que requeiram alienações imediatas (v.g. para cumprimento de

planos de aquisição de instrumentos financeiros para trabalhadores). Importa também ter em

consideração as Q&A emitidas pela ESMA no âmbito do MAR a propósito destas operações (cfr. a versão

de 14 de dezembro de 2017, disponível em https://www.esma.europa.eu/sites/default/files/library/esma70-

145-111_qa_on_mar.pdf ).

2.5. NORMAS INTERNACIONAIS DE RELATO FINANCEIRO (IFRS)

A informação financeira sujeita à supervisão da CMVM inclui as demonstrações financeiras relativas a

emitentes com valores mobiliários admitidos à negociação em mercado regulamentado sujeitos ao dever

de divulgação, a informação financeira incluída em prospetos aprovados pela CMVM e a informação

financeira divulgada em comunicados de informação privilegiada.

A atividade de supervisão de informação financeira desenvolvida pela CMVM encontra-se regulada pelas

guidelines de enforcement da ESMA (“ESMA Guidelines on enforcement of financial information”), que

definem os objetivos de enforcement e o seu âmbito, as características das autoridades nacionais

competentes responsáveis pelo enforcement de informação financeira (“enforcers”) no Espaço Económico

Europeu (EEE), bem como os princípios comuns que devem ser seguidos no processo de enforcement,

nomeadamente no que respeita aos métodos de seleção, aos procedimentos de análise, às ações de

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enforcement e à coordenação europeia. Estas guidelines entraram em vigor em 29 de dezembro de 2014,

podendo ser consultadas em: www.esma.europa.eu/sites/default/files/library/2015/11/2014-esma-

1293en.pdf.

Atendendo ao resultado das análises realizadas à informação financeira dos emitentes e às exigências

estabelecidas nas IFRS relativamente à informação financeira consolidada divulgada pelos mesmos, a

CMVM salienta neste ponto algumas disposições das referidas normas que devem merecer uma atenção

especial por parte dos emitentes aquando da preparação dos seus documentos de prestação de contas,

por forma a assegurar a qualidade da informação a divulgar ao mercado e a proteção dos investidores.

No seguimento da prática adotada em anos anteriores, em 27 de outubro de 2017, a ESMA publicou um

Public Statement (“European common enforcement priorities for 2017 IFRS financial statements” –

“ECEP”), com o objetivo de promover a aplicação consistente das IFRS, nos termos das guidelines de

enforcement. No statement constam as matérias identificadas pela ESMA, em conjunto com os enforcers

europeus nacionais, que os emitentes e os seus auditores deverão ter em consideração aquando da

preparação e auditoria, respetivamente, das demonstrações financeiras respeitantes ao exercício de 2017:

• Divulgação do impacto esperado da implementação de novas normas relevantes no período

inicial da sua aplicação (IFRS 9 – Instrumentos financeiros, IFRS 15 – Rédito de contratos com

clientes e IFRS 16 - Locações);

• Questões específicas sobre reconhecimento, mensuração e divulgações no âmbito da IFRS 3 –

Concentrações de atividades empresariais; e

• Temas específicos da IAS 7 – Demonstrações dos fluxos de caixa.

O Public Statement sobre as ECEP para as demonstrações financeiras de 2017 encontra-se disponível

para consulta em:

http://www.cmvm.pt/pt/Cooperacao/esma/DocumentosESMACESR/Documents/European_common_enf

orcement_priorities_2017.pdf.

A ESMA, juntamente com os enforcers europeus nacionais, irá monitorizar e avaliar a aplicação das

prioridades definidas para 2017, sendo estas consideradas pelos enforcers nas revisões das

demonstrações financeiras de emitentes realizadas no âmbito das suas atividades de enforcement, que,

não obstante, continuarão a focar-se nas questões materiais das demonstrações financeiras. A ESMA irá

reportar os findings detetados pelos enforcers aquando da avaliação da eficácia das prioridades no seu

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relatório de atividades de enforcement relativo a 2017. O relatório anual de atividade de enforcement

referente a 2016 divulgado pela ESMA (“ESMA Report on Enforcement and Regulatory Activities of

Accounting Enforcers in 2016”) pode ser consultado em:

http://www.cmvm.pt/pt/Cooperacao/esma/DocumentosESMACESR/Documents/esma32-51-

382_report_on_enforcement_activities_2016.pdf.

Adicionalmente, a ESMA continua a salientar a relevância das ECEP dos anos anteriores, pelo que os

enforcers continuarão a avaliá-las no âmbito das suas atividades de enforcement, nomeadamente a

apresentação da performance financeira e a divulgação dos riscos e impactos que a decisão do Reino

Unido em deixar a União Europeia possa ter na sua atividade (ECEP 2016). O reconhecimento e

mensuração dos ativos por impostos diferidos de acordo com a IAS 12, poderá constituir uma matéria

sobre a qual os emitentes devam divulgar as principais fontes de risco e incertezas, cujo desfecho poderá

depender do resultado das negociações do Brexit.

Relativamente às outras componentes dos relatórios financeiros anuais, a ESMA destaca no referido

Public Statement, os requisitos respeitantes à divulgação de informação não financeira e sobre a

diversidade, aplicáveis pela primeira vez ao exercício de 2017. A ESMA considera que os emitentes

deverão cumprir com os referidos requisitos de forma a facultar informação útil para os utilizadores dos

relatórios financeiros, pelo que as orientações da Comissão Europeia12 publicadas no Jornal Oficial da

União Europeia de 5 de julho de 2017, que contêm a descrição de uma metodologia para relato da

informação não financeira, poderão ajudar os emitentes a responder às novas exigências neste âmbito.

A ESMA relembra ainda que as Diretivas da Contabilidade e Transparência exigem que o relatório de

gestão inclua uma análise da performance e situação financeira do emitente, devendo ser descritos os

principais riscos e incertezas a que o mesmo se encontra exposto. Esta análise deverá ser adequada à

dimensão e complexidade do emitente, incluindo, sempre que julgado necessário, referências e

explicações adicionais de itens reportados nas demonstrações financeiras.

Adicionalmente, caso os emitentes incluam medidas alternativas de desempenho (APMs) nos seus

relatórios financeiros anuais, a ESMA incita os mesmos a cumprirem os princípios das orientações

(guidelines) sobre as APMs13 por si emitidas. Os emitentes deverão avaliar se as APMs divulgadas

asseguram uma análise adequada do desenvolvimento e performance da sua atividade, podendo

12 Acessíveis em http://eur-lex.europa.eu/legal-content/PT/TXT/PDF/?uri=CELEX:52017XC0705(01)&from=EN.

13 http://www.cmvm.pt/pt/Cooperacao/esma/DocumentosESMACESR/Documents/2015-esma-1415pt.pdf.

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24 | CMVM | CIRCULAR SOBRE CONTAS ANUAIS | 2018-03-12

consultar as questões frequentes publicadas pela ESMA sobre este tema14.

Relembramos que as APMs estabelecem princípios sobre a apresentação de medidas de desempenho

não definidos ou especificados no normativo contabilístico aplicável, nomeadamente a definição, cálculo,

apresentação e comparabilidade, que devem ser respeitados pelos emitentes. Embora as orientações da

ESMA não sejam aplicáveis às demonstrações financeiras, o seu objetivo é assegurar a utilidade e a

transparência dos APMs incluídos nos prospetos, relatórios de gestão e divulgações ao mercado. A

aplicação das orientações para medidas divulgadas fora das demonstrações financeiras garante que a

apresentação destas medidas seja coerente com a informação incluída nas demonstrações financeiras. A

aplicação das orientações constitui uma oportunidade para os emitentes reavaliarem se todas as APMs

utilizadas são úteis e relevantes.

A ESMA publica regularmente (normalmente duas vezes por ano) compilações de decisões tomadas pelos

enforcers de informação financeira, que foram submetidas na base de dados do grupo European Enforcers

Coordination Sessions (EECS), cuja divulgação é entendida, pelas autoridades competentes presentes

nas reuniões do referido grupo com responsabilidades na área de supervisão e enforcement da informação

financeira, representativas dos 28 Estados-Membros da União Europeia e 2 países do Espaço Económico

Europeu (EEE), como sendo relevante (nomeadamente por se tratarem de questões contabilísticas

complexas, devido à existência de divergência na prática ou à aplicação incompleta das normas). Estas

publicações visam informar os participantes do mercado, nomeadamente emitentes e auditores, sobre os

tratamentos contabilísticos que os enforcers consideram conformes com as IFRS, com vista a uma

aplicação consistente das mesmas no EEE. Em 2017 foram divulgadas as seguintes compilações:

• “20th Extract from the EECS’s Database of Enforcement”:

http://www.cmvm.pt/pt/Cooperacao/esma/DocumentosESMACESR/Documents/esma32-63-

200_20th_extract_from_the_eecss_database_of_enforcement.pdf.

• “21st Extract from the EECS’s Database of Enforcement”:

http://www.cmvm.pt/pt/Cooperacao/esma/DocumentosESMACESR/Documents/21st_extract_fro

m_the_eecss_database_of_enforcement_06.11.2017.pdf.

Para facilidade de consulta das compilações de decisões, a ESMA divulga no seu site uma lista de

decisões constantes da base de dados do EECS, identificando a decisão, as normas envolvidas, o

14 Disponíveis em http://www.cmvm.pt/pt/Cooperacao/esma/DocumentosESMACESR/Documents/esma32-51-

370_qas_on_esma_guidelines_on_apms.pdf.

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exercício a que se reporta a decisão e o número da compilação em que foi divulgada a decisão, sendo a

última versão com referência a 31 de outubro de 2017 (“List of decisions published in the Extracts from the

EECS’s Database of Enforcement”): https://www.esma.europa.eu/sites/default/files/library/esma32-63-

365_list_of_enforcement_decisions.pdf.

Os emitentes deverão ainda tomar em consideração as indicações incluídas no Public Statment

(“Improving the quality of disclosures in the financial statements”) publicado pela ESMA em outubro de

2015 com vista a assegurar a melhoria da qualidade da informação divulgada nas demonstrações

financeiras, quer em termos quantitativos quer qualitativos. Neste documento são identificados

determinados princípios que a informação divulgada deverá cumprir, como sejam: i) ser entity-specific e

não conter linguagem genérica; ii) ser divulgada informação que é relevante para a entidade, ou seja, que

é necessária para a compreensão da posição e da performance financeira e que poderá influenciar as

decisões dos investidores; iii) a entidade deverá avaliar a informação a divulgar e o nível de detalhe à luz

do conceito de materialidade constante nas IFRS; iv) promover a “readability” das demonstrações

financeiras, devendo a linguagem utilizada ser clara e concisa, assegurando que toda a informação

relevante é divulgada; v) garantir a consistência da informação no relatório anual. Este documento pode

ser consultado em: https://www.esma.europa.eu/sites/default/files/library/2015/11/2015-esma-

1609_esma_public_statement_-_improving_disclosures.pdf.

Divulgação do impacto esperado da implementação de novas normas relevantes no período inicial da sua

aplicação

A ESMA salienta a importância da qualidade da implementação das novas normas emitidas pelo IASB

cuja aplicação ainda não é obrigatória, bem como a comunicação do impacto esperado nas

demonstrações financeiras no período inicial da sua aplicação, tal como exigido pela IAS 8. Este requisito

assume particular relevância no caso da IFRS 9 – Instrumentos Financeiros e da IFRS 15 – Rédito de

contratos com clientes, que serão de aplicação obrigatória a partir de 1 de janeiro de 2018, e da IFRS 16

que deverá ser aplicada nos exercícios que comecem em ou após 1 de janeiro de 201915.

Em 2016, a ESMA publicou dois statements autónomos sobre a implementação da IFRS 916 e IFRS 1517,

15 Nos termos do Regulamento (UE) 2017/1986 da Comissão de 31 de outubro de 2017.

16 Acessível em https://www.esma.europa.eu/sites/default/files/library/2016-1563_public_statement-

issues_on_implementation_of_ifrs_9.pdf.

17 Disponível em https://www.esma.europa.eu/sites/default/files/library/2016-1148_public_statement_ifrs_15.pdf.

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que deverão ser tomados em consideração na preparação das demonstrações financeiras de 2017.

Em 2017, a ESMA conduziu um exercício de fact-finding às demonstrações financeiras de 2016 e do

primeiro semestre de 2017 publicadas pelos emitentes, por forma a avaliar a informação que estes

disponibilizaram aos utilizadores sobre os impactos da implementação da IFRS 9 e da IFRS 15. A ESMA

identificou divulgações qualitativas sobre a implementação das novas normas, mas a especificidade da

informação divulgada foi muito diversa. A ESMA esperava um nível superior de divulgações quantitativas

sobre o impacto das novas normas, facto que poderá refletir diferentes estágios de implementação das

normas e a consequente falta de confiança na precisão da informação disponível, mas também poderá

indiciar um nível reduzido de transparência sobre a implementação e os impactos esperados pouco antes

do dever de aplicação da IFRS 9 e IFRS 15.

A ESMA espera que sejam divulgados os impactos quantitativos e qualitativos sobre a aplicação das novas

normas, em conformidade com o parágrafo 30 da IAS 8. Adicionalmente, e dado que as demonstrações

financeiras de 2017 serão divulgadas após a data de aplicação obrigatória da IFRS 9 e IFRS 15 (e da

IFRS 16, se adotada antecipadamente), é esperado que os emitentes tenham completado

substancialmente a sua análise de implementação e que os impactos esperados da aplicação inicial das

novas normas sejam conhecidos ou razoavelmente estimáveis aquando da preparação das

demonstrações financeiras de 2017, sendo objeto de divulgação.

A informação a divulgar deve ser suficientemente desagregada e abranger: (i) as escolhas de políticas

contabilísticas que a entidade espera vir a adotar, incluindo as respeitantes às disposições transitórias e

aos expedientes práticos; e (ii) o valor e a natureza dos impactos esperados em comparação com os

valores anteriormente reconhecidos. Nos casos em que os impactos para os emitentes sejam

significativos, a ESMA incita os emitentes a facultar informação que permita a atualização dos modelos

utilizados por analistas e outros utilizadores.

A ESMA sublinha ainda que a IAS 8.31 incita os emitentes a divulgarem a natureza da alteração eminente

na política contabilística, recomendando que nesta situação, prestem informação específica para a

entidade, sobre as alterações introduzidas pela nova norma e, quando permitido pela norma, que opções

específicas foram adotadas pela entidade.

A ESMA incluiu num anexo ao seu statement de 27 de outubro de 2017, recomendações detalhadas

respeitantes a cada uma das normas e, no caso da IFRS 9, considerações específicas para diversos tipos

de entidades, encorajando ainda os emitentes a acompanharem as discussões do IASB e do IFRS

Interpretations Committee (IFRS IC) relativamente a questões de implementação destas novas normas.

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IFRS 9 – Instrumentos Financeiros

A IFRS 918 substitui grande parte da IAS 39 Instrumentos Financeiros: Reconhecimento e Mensuração e

contém um novo modelo de imparidade com base em perdas esperadas (ECL – Expected credit losses).

A norma também inclui novo guidance sobre a classificação e mensuração de ativos financeiros e introduz

orientações sobre o risco de crédito da própria entidade considerado no cálculo do justo valor de um

passivo ao justo valor através de lucros ou prejuízos. Também inclui novo guidance relativo à contabilidade

de cobertura de exposições individuais.

A ESMA relembra os emitentes dos requisitos introduzidos pela IFRS 9 relativamente à modificação

substancial de um passivo financeiro que não resulta num desreconhecimento19. Dado que o tratamento

contabilístico preconizado pela IFRS 9 é distinto do tratamento predominantemente adotado no âmbito da

IAS 39, a ESMA considera que, em casos materiais, os emitentes devem divulgar separadamente uma

explicação da alteração da política contabilística e do seu impacto na contabilização de passivos

financeiros existentes em 31 de dezembro de 2017, que tenham sido modificados anteriormente à luz da

IAS 39.

No que respeita aos emitentes corporate, a ESMA espera que os mesmos divulguem informação,

descritiva e quantitativa, sobre a implementação da IFRS 9 que seja proporcional à importância dos

instrumentos financeiros no seu negócio. A ESMA destaca a necessidade de avaliar o impacto dos

requisitos de imparidade sobre as contas a receber, nomeadamente aquando da análise da ocorrência de

um aumento significativo do risco de crédito. É ainda esperado que os emitentes divulguem informação

sobre o efeito da aplicação do novo modelo de contabilidade de cobertura, que permita compreender de

que forma a entidade espera alterar o uso da contabilidade de cobertura, o seu alinhamento com os seus

objetivos e políticas de gestão do risco e o impacto esperado nas demonstrações financeiras.

Relativamente às instituições de crédito, a ESMA espera que as divulgações constantes das

demonstrações financeiras de 2017 sejam suficientemente detalhadas, isto é, que mostrem

separadamente, o impacto quantitativo da classificação e mensuração, da imparidade e da contabilidade

de cobertura, sendo explicados os principais fatores subjacentes aos impactos mais significativos. Se a

entidade decidir aplicar antecipadamente os requisitos sobre a apresentação de ganhos e perdas dos

18 Adotada através do Regulamento (UE) 2016/2067 da Comissão de 22 de novembro de 2016, publicado no Jornal

Oficial da Comissão Europeia em 29 de novembro de 2016.

19 A aplicação do disposto no parágrafo B5.4.6. resulta no recálculo do custo amortizado do passivo financeiro,

através do desconto dos fluxos de caixa contratuais estimados à taxa de juro efetiva original do instrumento financeiro

e no reconhecimento de qualquer ajustamento para o custo amortizado do passivo financeiro nos resultados, como

rendimento ou despesa, à data da modificação ou troca.

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28 | CMVM | CIRCULAR SOBRE CONTAS ANUAIS | 2018-03-12

passivos financeiros designados como ao justo valor através de resultados como permitido pelo parágrafo

7.1.2. da IFRS 9, deverão ser divulgados os seus impactos quantitativos (IAS 8.28).

A ESMA incita os emitentes que sejam instituições de crédito, quando relevante, a divulgarem o impacto

no rácio de capital fully loaded e, na medida em que seja aplicável, no rácio de capital calculado utilizando

o transitional relief.

A ESMA espera que nas demonstrações financeiras de 2017, sejam divulgados os julgamentos efetuados

pelas instituições de crédito nas áreas essenciais da norma, como sejam os subjacentes à definição do

modelo de negócio, à análise das “vendas” que se esperam sejam consistentes com os seus modelos de

deter a fim de recolher, à avaliação do aumento significativo do risco de crédito, da definição de

incumprimento e da incorporação de estimativas futuras no modelo de perdas de crédito esperadas. Neste

âmbito, a ESMA indica ainda que, de acordo com o parágrafo B5.5.9 da IFRS 9, a avaliação do aumento

significativo do risco de crédito é relativa e a utilização de limiares (triggers) absolutos não deverá estender

o uso da isenção aplicável aos instrumentos financeiros com um baixo risco de crédito.

A ESMA salienta ainda as divulgações adicionais introduzidas pela nova norma, nomeadamente as

constantes da IFRS 7 respeitantes a créditos com imparidade e a contabilidade de cobertura.

Adicionalmente, a ESMA insta os emitentes com valores materiais de empréstimos com imparidade, a

analisar cuidadosamente e de forma crítica, se as suas estimativas de fluxos de caixa futuros de créditos

em incumprimento (NPL) e dos respetivos colaterais (se relevantes) são realísticas e não enviesadas e

que alterações deverão ser efetuadas às mesmas para que sejam adequadas face ao modelo de perdas

de crédito esperadas da IFRS 9 (como sejam a incorporação de parâmetros de estimativas futuras,

renegociação e re-defaults).

IFRS 15 – Rédito de contratos com clientes

A IFRS 1520 irá substituir a IAS 18 – Rédito, a IAS 11 - Contratos de Construção e as interpretações a

estas associadas, introduzindo novos princípios sobre quando e como reconhecer a receita, bem como

novos requisitos de apresentação e divulgação. Embora para alguns tipos de transações os impactos

desta nova norma possam ser reduzidos, para outros, são esperadas alterações significativas no momento

do reconhecimento da receita e no seu valor, bem como nos julgamentos subjacentes à escolha da política

contabilística a adotar (IFRS 15.123), como é o caso dos contratos a longo prazo e das combinações de

20 Adotada através do Regulamento (UE) 2016/1905 da Comissão de 22 de setembro de 2016, publicado no Jornal

Oficial da Comissão Europeia em 29 de outubro de 2016.

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29 | CMVM | CIRCULAR SOBRE CONTAS ANUAIS | 2018-03-12

contratos (multi-elements arrangements).

Os requisitos dos parágrafos 22 a 30 da IFRS 15 respeitantes à identificação das obrigações de

desempenho poderão originar a desagregação dos contratos e a identificação de modelos de

reconhecimento da receita distintos dos aplicados atualmente pelos emitentes. A ESMA salienta neste

âmbito, que a aplicação do disposto nos parágrafos B48 a B51 da norma será essencial para avaliar se

as comissões iniciais não reembolsáveis estão ou não relacionadas com a transferência de bens ou

serviços prometidos e de que forma o resultado dessa avaliação poderá afetar o reconhecimento temporal

da receita quando comparado com a prática atual.

A ESMA destaca ainda que, em virtude da aplicação do método para a mensuração do progresso da

entidade no sentido do cumprimento total de uma obrigação de desempenho de um contrato, poderão

ocorrer alterações nos modelos de reconhecimento da receita, pelo que os emitentes deverão considerar

o preconizado no parágrafo B15 da IFRS 15, por forma a assegurar que um método com base nas saídas

abrange todos os trabalhos em curso e produtos acabados controlados pelo cliente à data de reporte,

proporcionando uma representação fiel do desempenho da entidade.

A ESMA relembra os emitentes que, o guidance da IFRS 15 (parágrafos B34 a B38) sobre a distinção

entre mandante e mandatário tem por base uma noção de “controlo” distinta do conceito atual de

transferência de “riscos e vantagens” estabelecido na IAS 18, que poderá afetar o valor e o momento do

reconhecimento da receita.

Poderão ainda advir impactos significativos da aplicação dos parágrafos 50 a 53, 56 e 57 da IFRS 15

relativamente à determinação do preço de transação, dado que aqueles exigem que a entidade reconheça

o valor estimado das retribuições variáveis prometidas nos contratos (aspeto que não constava do

guidance da IAS 18), mas apenas na medida em que seja extremamente provável que uma reversão

significativa no montante do rédito cumulativo reconhecido não ocorra quando a incerteza associada à

retribuição variável for subsequentemente resolvida, pelo que será necessário o julgamento do

management. Ainda neste âmbito, o valor da receita reconhecida poderá ainda depender da existência de

uma componente de financiamento significativa no contrato, cuja identificação deve ser efetuada à luz da

IFRS 15.61 e 62, pelo que a ESMA incentiva os emitentes a avaliar a existência de uma componente de

financiamento nos diversos tipos de contratos que emite, dado que essa componente poderá tornar-se

relevante em resposta a acréscimos futuros nas taxas de juro.

A IFRS 15 introduz ainda guidance específico no parágrafo B58 para determinar se a promessa de uma

entidade relativa à concessão de uma licença proporciona ao cliente um direito de acesso à propriedade

intelectual da entidade ou um direito de utilização da propriedade intelectual da entidade.

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Nos parágrafos 91 e 95 da IFRS 15 é apresentado um novo guidance para o tratamento dos custos do

contrato, que deverão ser capitalizados em determinadas circunstâncias. Os emitentes devem contudo ter

em atenção que, em conformidade com o parágrafo 96, o parágrafo 91 não se aplica aos custos incorridos

no cumprimento de um contrato com um cliente que se inserem no âmbito de outra norma (como sejam a

IAS 2 – Inventários, IAS 16 – Ativos fixos tangíveis e IAS 38 – Ativos intangíveis, por exemplo custos de

formação).

Salienta-se por último, a importância da divulgação de informação específica e relevante para a entidade

dos impactos esperados resultantes da aplicação da IFRS 15, bem como da necessidade de garantir a

implementação consistente da IFRS 9 e da IFRS 15 num mesmo grupo.

IFRS 16 – Locações

A IFRS 1621 irá substituir os requisitos da IAS 17 – Locações e as interpretações associadas à mesma,

sendo aplicável ao primeiro exercício financeiro que se inicie em ou após 1 de janeiro de 2019. É permitida

a sua aplicação antecipada às entidades que apliquem a IFRS 15 à data de aplicação inicial desta norma.

A ESMA espera que os emitentes que adotem antecipadamente a IFRS 16, apresentem nas

demonstrações financeiras anuais de 2017 informação quantitativa e qualitativa sobre os impactos

significativos esperados decorrentes da aplicação da nova norma, de forma a proporcionar informação

relevante para os utilizadores das demonstrações financeiras. Neste âmbito, a ESMA recomenda que os

emitentes facultem informação sobre o método de transição que decidiram adotar e a forma como esperam

que os julgamentos relevantes efetuados para aplicar os novos requisitos virá a afetar a contabilização

das locações (por exemplo, no caso da avaliação efetuada por um locatário sobre a certeza razoável de

exercer uma opção de prorrogação da locação ou de não exercer uma opção de rescisão da locação, nos

termos do parágrafo 19).

A ESMA realça ainda que, a partir do momento da aplicação da IFRS 16, o emitente terá que efetuar as

divulgações exigidas pelo Apêndice C sobre a aplicação inicial. Nos casos em que a entidade opte pela

expediente prático em termos de transição (simplified transition approach), deve apresentar uma

explicação para qualquer diferença entre: i) os compromissos relativos a locações operacionais,

divulgados nos termos da IAS 17 no final do período de relato anual imediatamente anterior à data de

aplicação inicial, descontados segundo a taxa incremental de financiamento à data de aplicação inicial e

ii) os passivos por locação reconhecidos na demonstração da posição financeira à data de aplicação

21 Adotada através do Regulamento (UE) 2017/1987 de 31 de outubro de 2017.

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31 | CMVM | CIRCULAR SOBRE CONTAS ANUAIS | 2018-03-12

inicial, conforme exigido pelo parágrafo C12.b). Neste caso, a informação comparativa não deve ser

reexpressa (IFRS 16. C7).

2.5.1. IAS 1 – Apresentação de demonstrações financeiras

Nos termos da IAS 1.16, a entidade não pode declarar o cumprimento das IFRS a não ser que cumpra

com todos os requisitos previstos nas mesmas, incluindo os deveres de divulgação de informação no

anexo às contas.

As demonstrações financeiras devem apresentar apropriadamente a posição financeira, o desempenho

financeiro e os fluxos de caixa de uma entidade. A apresentação apropriada exige a representação

fidedigna dos efeitos das transações, outros acontecimentos e condições de acordo com as definições e

critérios de reconhecimento para ativos, passivos, rendimentos e gastos estabelecidos na Estrutura

Conceptual. Presume-se que a aplicação das IFRS, com divulgação adicional quando necessária, resulta

em demonstrações financeiras que alcançam uma apresentação apropriada (IAS 1.15).

Segundo o parágrafo 17 da IAS 1 uma entidade consegue, em praticamente todas as circunstâncias, fazer

uma apresentação apropriada através do cumprimento das IFRS aplicáveis, sendo para tal necessário que

(a) selecione e aplique políticas contabilísticas de acordo com a IAS 8 - Políticas Contabilísticas, Alterações

nas Estimativas Contabilísticas e Erros, sendo que esta estabelece uma hierarquia de orientações que a

gerência deverá considerar aquando da ausência de uma IFRS que se aplique especificamente a um item;

(b) apresente informação, incluindo políticas contabilísticas, de uma forma que proporcione informação

relevante, fiável, comparável e compreensível; e (c) proporcione divulgações adicionais quando o

cumprimento dos requisitos específicos contidos nas IFRS é insuficiente para permitir que os utentes

compreendam o impacto de determinadas transações, outros acontecimentos e condições sobre a posição

financeira e o desempenho financeiro da entidade.

Tal é reiterado no parágrafo 8 da IAS 8, segundo o qual as IFRS estabelecem políticas contabilísticas que

o IASB concluiu resultarem em demonstrações financeiras contendo informação relevante e fiável sobre

as transações, outros acontecimentos e condições a que se aplicam. Não é necessária a aplicação dessas

políticas quando o seu efeito for imaterial. No entanto, não é apropriado fazer, ou deixar por corrigir,

afastamentos imateriais das IFRS para alcançar uma determinada apresentação da posição financeira,

desempenho financeiro ou fluxos de caixa de uma entidade.

Uma entidade não pode retificar políticas contabilísticas não apropriadas, nem através da divulgação das

políticas contabilísticas usadas, nem através de notas ou material explicativo (IAS 1.18).

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As notas às demonstrações financeiras devem apresentar informação acerca das bases de preparação

das demonstrações financeiras (por exemplo, custo histórico, custo corrente, valor realizável líquido, justo

valor ou quantia recuperável) e das políticas contabilísticas efetivamente usadas pelo emitente e

proporcionar informação que não esteja apresentada noutros pontos das demonstrações financeiras, mas

que seja relevante para uma compreensão de qualquer uma delas (IAS 1.112).

A descrição das políticas contabilísticas deve adaptar-se ao contexto onde cada entidade se insere,

devendo ser evitada a divulgação de descrições estandardizadas que não são relevantes e/ou suficientes

para aferir a aplicação das políticas contabilísticas face à realidade do emitente.

Ao decidir se uma determinada política contabilística deve ou não ser divulgada, a gerência avalia se a

divulgação ajudará os utentes a compreender de que forma as transações, outros acontecimentos e

condições estão refletidos no desempenho financeiro e na posição financeira relatados (IAS 1.119).

Uma política contabilística pode ser significativa devido à natureza das operações da entidade mesmo que

as quantias de períodos anteriores e correntes não sejam materiais. É também apropriado divulgar cada

política contabilística significativa que não seja especificamente exigida pelas IFRS, mas que a entidade

seleciona e aplica de acordo com a IAS 8 (IAS 1.121).

De acordo com os parágrafos 122 e 125 da IAS 1, o emitente deve divulgar (i) nas notas apropriadas, os

julgamentos efetuados pela gerência aquando da aplicação das políticas contabilísticas adotadas pela

entidade que têm um efeito mais significativo nos montantes reconhecidos nas demonstrações financeiras

e (ii) os principais pressupostos respeitantes ao futuro e outras fontes de incerteza das estimativas à data

do fim do período de reporte, que apresentam um risco significativo de conduzir a um ajustamento material

nos valores de ativos e passivos durante o próximo ano financeiro. A entidade deverá divulgar informação

sobre a natureza e a quantia escriturada desses ativos e passivos no fim do período de relato.

Uma entidade apresenta as divulgações referidas no parágrafo 125 de uma forma que ajude os utentes

de demonstrações financeiras a compreender os juízos de valor que a gerência faz acerca do futuro e

sobre outras fontes da incerteza das estimativas. A natureza e extensão da informação proporcionada

variam de acordo com a natureza do pressuposto e outras circunstâncias. Exemplos de tipos de divulgação

que uma entidade faz incluem, nomeadamente, a natureza do pressuposto ou outra incerteza das

estimativas e a sensibilidade de quantias escrituradas aos métodos, pressupostos e estimativas

subjacentes ao respetivo cálculo, incluindo as razões para essa sensibilidade (IAS 1.129).

No entanto, outras normas podem exigir a divulgação de alguns dos pressupostos que de outra forma

seriam exigidos nos termos do parágrafo 125. Por exemplo, a IAS 37 exige a divulgação, em

circunstâncias especificas, dos principais pressupostos respeitantes a acontecimentos futuros que afetem

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classes de provisões. A IFRS 13 - Mensuração pelo Justo Valor exige a divulgação de pressupostos

significativos (incluindo a(s) técnica(s) de avaliação e dados), que a entidade utiliza para mensurar o justo

valor dos ativos e passivos que são escriturados pelo justo valor (IAS 1.133).

Os emitentes deverão ter particular atenção na aplicação dos requisitos das IFRS e adaptar a informação

e o nível de detalhe da informação divulgada sobre os riscos a que estão significativamente expostos,

tendo em conta a alteração nas condições dos mercados financeiros, nomeadamente: (i) redução

acentuada das taxas de juro de referência e dos preços de commodities; (ii) depreciação significativa de

taxas de câmbio e (iii) deterioração das condições macroeconómicas de alguns países, que em

determinados casos levaram à adoção de obstáculos à livre circulação de capitais.

É expectável que o ambiente de taxas de juro na Europa (baixas ou mesmo negativas, nomeadamente

em obrigações do tesouro ou em obrigações de alta qualidade de sociedades para maturidades mais

reduzidas) tenha impacto, não só na dívida e no capital, mas também nos inputs utilizados nas técnicas

de avaliação, que deverão ser ajustados quando o emitente determinar as taxas de juro utilizadas na

preparação das demonstrações financeiras em diversas áreas, nomeadamente: (i) na mensuração de

ativos e passivos, nomeadamente na mensuração do justo valor de ativos e passivos financeiros e não

financeiros (IFRS 13); (ii) na determinação do valor recuperável nos testes de imparidade de ativos não

correntes (IAS 36.55); (iii) no cálculo do valor atual de provisões de longo prazo (IAS 37.47) e (iv) no

apuramento das responsabilidades com plano de pensões de benefícios definidos (IAS 19.83).

Adicionalmente, a IAS 36.134 e a IAS 19.144 e 145 exigem a divulgação da taxa de desconto utilizada e

a realização de análises de sensibilidade para pressupostos significativos (ex. taxas de desconto). A IAS

37 não estabelece estes requisitos informativos, no entanto considera-se útil que os emitentes divulguem

informação semelhante (ex. provisão para desmantelamento).

Quando os emitentes alteram os pressupostos utilizados, neste caso a taxa de juro, ou a forma como os

mesmos são determinados, tal deverá ser divulgado, bem como a justificação para essa alteração. Os

emitentes deverão considerar o contexto económico quando avaliam a existência ou não de alterações

razoavelmente possíveis nos pressupostos.

As divulgações relativas ao risco de mercado exigidas pela IFRS 7.40 e 41 devem ser detalhadas

relativamente à exposição ao risco de taxa de juro na análise de sensibilidade.

Uma vez que algumas indústrias, e, consequentemente, emitentes, estão muito expostos aos preços de

commodities (ex. petróleo, gás), é expectável que a variação significativa desses preços influencie a sua

performance e valorização de ativos. Quando relevante, as entidades, devem divulgar o impacto

decorrente dessa exposição ao risco do preço de commodities nas demonstrações financeiras por forma

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a explicar, por exemplo o cancelamento e adiamento de projetos. Devem ainda divulgar os preços das

commodities quando estes são um pressuposto chave na mensuração de ativos e a análise de

sensibilidade a variações desse pressuposto.

Um passivo deve ser considerado como corrente quando a entidade espera que o mesmo seja liquidado

durante o seu ciclo operacional normal, quando detém o passivo essencialmente para finalidades de

negociação, quando está previsto que seja liquidado até 12 meses após o período de relato, ou ainda

quando a entidade não tiver um direito incondicional de diferir a liquidação do passivo durante pelo menos

12 meses após o período de relato. Os passivos remanescentes devem ser classificados como não

correntes (IAS 1.69). Destacam-se neste âmbito, os contratos de financiamento que preveem que o não

cumprimento de determinadas condições, “covenants”, (ex. cláusulas de mudança de controlo ou

condicionalismos financeiros, por via da imposição de limites em determinados rácios, nomeadamente de

autonomia financeira), tornam imediatamente exigível a totalidade do valor em dívida, ou nos quais se

suscita a possibilidade do credor exigir, sob sua discricionariedade, o reembolso antecipado do valor total

em dívida. Caso existam condições desta natureza, a entidade terá que proceder à sua divulgação

(nomeadamente quanto aos rácios, indicando a fórmula e o limite aplicável ou margem de segurança) no

âmbito da informação exigida pela IFRS 7.31 sobre os riscos de liquidez a que se encontra exposta, bem

como as consequências que poderão advir para a entidade e para os diversos stakeholders, caso os

condicionalismos não sejam cumpridos ou se preveja que possam não ser cumpridos.

A entidade deverá divulgar informação que permita avaliar os seus objetivos, políticas e processos para

gerir o capital, devendo facultar informação qualitativa, que explicite o que é gerido como capital e a forma

como os seus objetivos são atingidos (IAS 1.134 e 135).

Nos termos da IAS 1.38, o emitente deverá apresentar informações comparativas para a informação

narrativa e descritiva, se a mesma for relevante para a compreensão das demonstrações financeiras do

período corrente.

Apresentação de informação não exigida especificamente pelas IFRS, nas demonstrações financeiras

As IFRS permitem a inclusão de informação adicional nas demonstrações financeiras que não a exigida

especificamente pelas IFRS, mas esta terá que cumprir com os princípios genéricos constantes da IAS 1.

Se as entidades incluírem nas demonstrações medidas de desempenho não definidas nas IFRS, deverão

assegurar que essas medidas são calculadas e apresentadas de modo não enviesado, não removendo

ou omitindo apenas aspetos ou itens negativos do seu desempenho.

Em conformidade com a IAS 1.99, uma entidade deve apresentar uma análise dos gastos reconhecidos

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nos lucros ou prejuízos usando uma classificação baseada na sua natureza ou na sua função dentro da

entidade, consoante aquela que proporcionar informação que seja fiável e mais relevante. Uma entidade

que classifique os gastos por função deve divulgar informação adicional sobre a natureza dos gastos (IAS

1.104).

Rubricas, títulos e subtotais

De acordo com os parágrafos 55 e 85 da IAS 1, uma entidade deve apresentar rubricas, títulos e subtotais

adicionais nas demonstrações que apresentam os resultados e o outro rendimento integral quando essa

apresentação for relevante para uma compreensão da posição financeira ou do desempenho financeiro

da entidade. Quando o fizer, a entidade deve assegurar que esses subtotais: (a) incluem linhas de itens

constituídos por montantes reconhecidos e mensurados em conformidade com as IFRS; (b) são

apresentados e classificados de forma a que as linhas de itens que constituem o subtotal sejam claras e

compreensíveis; (c) são consistentes entre períodos; e (d) não são apresentados com maior proeminência

do que os subtotais e totais exigidos nas IFRS para a demonstração da posição financeira ou para as

demonstrações dos resultados e outro rendimento integral.

Alguns emitentes incluem indicadores como "lucro (ou resultado) operacional" na demonstração dos

resultados ou outro rendimento integral. Embora não exista uma definição do indicador nas IFRS, nos

parágrafos 85A e parágrafo 17 da IAS 1, são destacados os princípios sobre a relevância e a adequada

apresentação das informações divulgadas. Medidas como o lucro operacional devem ser claras,

compreensíveis e refletir o seu conteúdo, tal como explicado no parágrafo BC56 da IAS 1. Considera-se

enganadora a exclusão dos itens de natureza operacional (ex. impactos de uma combinação de negócios

ou write-downs de inventários) dos resultados das atividades operacionais, ainda que seja uma prática da

indústria. Quando um julgamento significativo for exigido na apresentação de itens materiais (ex.

imparidade de investimentos contabilizados ao MEP), os emitentes são encorajados a divulgar esses

julgamentos.

Os emitentes não devem apresentar itens de rendimentos ou de gastos como itens extraordinários (IAS

1.87) e as definições utilizadas devem ser compreensíveis. Por exemplo, itens que afetaram períodos

passados e/ou se espera que afetem períodos futuros raramente podem ser designados ou apresentados

como itens não-recorrentes, como a maioria dos custos de reestruturação ou perdas por imparidade.

Os elementos significativos das demonstrações financeiras primárias devem ser referenciados para as

notas, bem como facultados detalhes sobre itens materiais, em conformidade com os parágrafos 113 e 97

da IAS 1, respetivamente. Por último, de acordo com a IAS 1.30A, uma entidade não deve reduzir a

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compreensibilidade das suas demonstrações financeiras dissimulando a informação material com

informações imateriais ou agregando itens materiais que tenham diferentes naturezas ou funções.

Movimentos no Outro Rendimento Integral

Alguns itens do rendimento integral serão reclassificados para resultados enquanto outros não o serão. A

IAS 1.106A exige que as entidades apresentem, no mapa de movimentos dos capitais próprios ou nas

notas, uma análise do outro rendimento integral por item. Quando o outro rendimento integral é material

para um item específico, os emitentes são encorajados a apresentar informação mais detalhada.

No IFRS IC têm ocorrido discussões sobre a aplicação dos parágrafos 52A, 52B, 58 e 61A da IAS 12 -

Impostos sobre o Rendimento na apresentação do imposto respeitante a pagamentos de imposto

respeitantes a instrumentos financeiros classificados como equity, ou seja, tem sido discutido se esses

efeitos do imposto devem ser apresentados diretamente em capital próprio ou em resultados. Na reunião

de junho de 2016, o IASB decidiu tentativamente propor alterações à IAS 12 para clarificar que a

apresentação dos requisitos da IAS 12.52B se aplica a todos os pagamentos referentes a instrumentos

financeiros classificados como equity que são distribuições de lucros. Os emitentes potencialmente

afetados de forma material por este assunto, são encorajados a divulgar separadamente o montante do

imposto sobre o rendimento relacionado com estes instrumentos financeiros já reconhecido nas suas

demonstrações financeiras.

2.5.2. IAS 8 – Políticas contabilísticas, alterações nas estimativas contabilísticas e erros

De acordo com o disposto na IAS 8.29, sempre que existam alterações voluntárias de políticas, a entidade

deverá divulgar (i) a natureza da alteração na política contabilística; (ii) as razões pelas quais a aplicação

da nova política contabilística proporciona informação fiável e mais relevante; (iii) a quantia do ajustamento

para o período corrente e cada período anterior apresentado; (iv) a quantia do ajustamento relacionado

com períodos anteriores aos apresentados; e (v) se a aplicação retrospetiva for impraticável para um

período anterior em particular, ou para períodos anteriores aos apresentados, as circunstâncias que

levaram à existência dessa condição e uma descrição de como e desde quando a política contabilística

tem sido aplicada.

Se a entidade identificar erros relativos a exercícios anteriores, deve aplicar o estabelecido na IAS 8.41 a

48 e divulgar a informação exigida pelo parágrafo 49: (a) a natureza do erro de um período anterior;( b)

para cada período anterior apresentado, a quantia da correção; (c) a quantia da correção no início do

período anterior mais antigo apresentado; e (d) se a reexpressão retrospetiva for impraticável para um

período anterior em particular, as circunstâncias que levaram à existência dessa condição e uma descrição

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37 | CMVM | CIRCULAR SOBRE CONTAS ANUAIS | 2018-03-12

de como e desde quando o erro foi corrigido.

A entidade deverá ainda prestar a informação requerida pela IAS 1.106(b), procedendo à divulgação para

cada componente de capital próprio, dos efeitos da aplicação retrospetiva de uma alteração de política

contabilística ou da reexpressão retrospetiva reconhecidos de acordo com a IAS 8, tal como reforçado

pelo parágrafo 110 da mesma norma, segundo o qual “O parágrafo 106(b) exige a divulgação na

demonstração de alterações no capital próprio do ajustamento total para cada componente do capital

próprio resultante de alterações nas políticas contabilísticas e, separadamente, de correções de erros.

Estes ajustamentos são divulgados para cada período anterior e no início do período”.

Na ausência de uma norma específica aplicável a uma determinada transação, a entidade deve aplicar o

guidance constante nos parágrafos 10 a 12 da IAS 8, nomeadamente cumprir a hierarquia das fontes e

divulgar os julgamentos relevantes efetuados pela gerência no desenvolvimento e na aplicação de uma

política contabilística, indicando de que forma a aplicação dessa política resulta em informação que seja

fiável e relevante para a tomada de decisões económicas por parte dos utentes.

A entidade deverá proporcionar aos investidores um conhecimento completo das opções seguidas,

assegurando a compreensão e transparência da posição financeira e dos resultados das operações e

fluxos de caixa.

A informação financeira deverá ser adaptada à realidade da entidade, devendo o emitente divulgar

informação relevante, assegurando a sua clareza e completude e a sua consistência com outros

elementos do relatório e contas, nomeadamente o relatório de gestão.

2.5.3. IAS 12 – Impostos sobre o rendimento

A crise financeira, seguida de um período de crescimento económico lento, conduziu à degradação da

performance financeira dos emitentes, que poderá ter resultado na obtenção de perdas fiscais ou na

existência de diferenças temporárias dedutíveis. Neste âmbito, salienta-se o definido nos parágrafos 29 e

34 da IAS 12, que limitam o reconhecimento de ativos por impostos diferidos na medida em que seja

provável que venham a estar disponíveis lucros tributáveis futuros, que permitam a utilização das

diferenças temporárias dedutíveis ou perdas fiscais. Em conformidade com o parágrafo 35 da IAS 12, a

existência de prejuízos fiscais não utilizados é um forte indício de que lucros futuros tributáveis podem não

estar disponíveis, pelo que um histórico de prejuízos fiscais não utilizados recentes, condiciona o

reconhecimento de impostos diferidos à existência de provas convincentes de que é provável a existência

de lucros fiscais futuros suficientes, contra os quais os prejuízos fiscais não utilizados possam ser

utilizados pela entidade.

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38 | CMVM | CIRCULAR SOBRE CONTAS ANUAIS | 2018-03-12

Desta forma, deverá ser dada especial atenção aos critérios estabelecidos na IAS 12.36 aquando da

avaliação da probabilidade de que estará disponível lucro tributável contra o qual perdas fiscais não

usadas ou créditos fiscais não usados possam ser utilizados e à necessidade de ser revista no fim de cada

período de relato a quantia escriturada de um ativo por impostos diferidos, nos termos do parágrafo 56.

Salienta-se neste âmbito, as emendas introduzidas pelo Regulamento (UE) 2017/1989 da Comissão de 6

de novembro de 2017, que é de aplicação obrigatória aos exercícios com início em ou após 1 de janeiro

de 2017. Nos termos do parágrafo 27A, quando uma entidade avalia se virão a estar disponíveis lucros

tributáveis contra os quais possa utilizar uma diferença temporária dedutível, deve considerar se a

legislação fiscal prevê restrições relativamente às fontes dos lucros tributáveis contra os quais pode

efetuar deduções aquando da reversão dessa diferença temporária dedutível. Se a legislação fiscal não

estabelecer quaisquer restrições, a entidade avalia uma diferença temporária dedutível em conjunto com

todas as suas outras diferenças temporárias dedutíveis. No entanto, se a legislação fiscal limitar a

utilização de prejuízos por forma a apenas serem dedutíveis contra o rendimento de um tipo específico,

uma diferença temporária dedutível é avaliada apenas em conjunto com as outras diferenças temporárias

dedutíveis do tipo adequado.

Por outro lado, o novo parágrafo 29A preconiza que, a estimativa dos lucros tributáveis prováveis futuros

pode incluir a recuperação de alguns dos ativos de uma entidade por um valor superior à sua quantia

escriturada, se existirem elementos suficientes que indiciem a probabilidade de a entidade o conseguir

concretizar. Por exemplo, quando um ativo é mensurado pelo justo valor, a entidade deve avaliar se

existem elementos suficientes que permitam concluir que é provável que a entidade recupere o ativo a um

valor superior ao da sua quantia escriturada.

Os emitentes devem divulgar os pressupostos significativos utilizados nos business plans, que suportam

os lucros tributáveis futuros esperados pela entidade, uma vez que os prejuízos fiscais podem ser

utilizados durante um período de tempo longo e os business plans que suportam a existência futura de

lucro tributável baseiam-se em pressupostos muito julgamentais.

As entidades devem desagregar as divulgações com base nas características das perdas fiscais,

nomeadamente tendo em conta os seus períodos de utilização e jurisdição.

É relevante para os utilizadores da informação financeira a divulgação por parte da entidade do período

considerado para avaliar a recuperação dos impostos diferidos ativos, dos julgamentos realizados na

determinação desse período, bem como do montante de prejuízos fiscais para os quais a entidade

reconheceu ativos por impostos diferidos, comparando com o total de prejuízos fiscais disponíveis para

cada entidade (com valores materiais).

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O emitente deverá assegurar o cumprimento das exigências de divulgação de informação do parágrafo

82 da IAS 12, segundo o qual uma entidade deve divulgar a quantia do ativo diferido e a natureza das

provas que suportam o seu reconhecimento, quando: a) a utilização do ativo por impostos diferidos

depende de lucros tributáveis futuros superiores aos lucros provenientes da reversão de diferenças

temporárias tributáveis existentes; e b) a entidade tiver apurado um prejuízo quer no período corrente,

quer no período precedente, na jurisdição fiscal com a qual se relaciona o ativo por impostos diferidos.

A entidade deverá divulgar as suas políticas contabilísticas relacionadas com posições fiscais incertas no

que respeita ao reconhecimento e mensuração do imposto sobre o rendimento considerando o disposto

na IAS 12.46, em conformidade com a IAS 1.117 e 122.

As entidades deverão ainda cumprir o disposto na IAS 12.47, nos termos da qual os ativos e passivos por

impostos diferidos devem ser mensurados pelas taxas fiscais que se espera que sejam de aplicar no

período quando seja realizado o ativo ou seja liquidado o passivo, com base nas taxas fiscais (e leis

fiscais) que tenham sido decretadas ou substantivamente decretadas à data do balanço.

2.5.4. IAS 16 – Ativos fixos tangíveis / IAS 40 – Propriedades de investimento

Se os itens do ativo fixo tangível forem expressos por quantias revalorizadas, a entidade terá que divulgar,

para além da informação exigida pela IFRS 13, (i) a data efetiva da reavaliação, (ii) o envolvimento ou não

de um avaliador independente, (iii) para cada classe de ativo fixo tangível revalorizada, a quantia

escriturada que teria sido reconhecida se os ativos tivessem sido reconhecidos de acordo com o modelo

de custo; e (iv) o excedente de revalorização, indicando a alteração no período e quaisquer restrições na

distribuição do saldo aos acionistas (IAS 16.77.a), b), e) e f)).

Nos casos em que a entidade adotou o modelo de revalorização para a mensuração subsequente de itens

do seu ativo fixo tangível cujo justo valor pode ser determinado de forma fiável, os bens devem ser

escriturados pelo seu justo valor à data da revalorização, deduzido de depreciações acumuladas e perdas

por imparidade acumuladas subsequentes (IAS 16.31).

As revalorizações devem ser efetuadas com regularidade suficiente, por forma a assegurar que o valor

escriturado não difere materialmente daquele que seria determinado através do uso do justo valor no fim

do período de relato (IAS 16.31). A IAS 16.34 permite que a frequência das revalorizações dos ativos se

situe entre três e cinco anos, mas unicamente nos casos em que as variações no justo valor dos ativos

são insignificantes. A gerência deverá assegurar, através de evidência objetiva, o cumprimento da

presente condição.

Relativamente às propriedades de investimento, a IAS 40.75(e) exige a indicação de até que ponto o justo

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40 | CMVM | CIRCULAR SOBRE CONTAS ANUAIS | 2018-03-12

valor das mesmas se baseia na avaliação de um avaliador independente. Se não tiver sido efetuada tal

valorização esse facto deve ser divulgado.

Estabelece ainda a IAS 40.40 que, ao determinar o justo valor em conformidade com a IFRS 13, a entidade

deve assegurar que o justo valor reflete, entre outras coisas, os rendimentos provenientes de

arrendamentos em curso e outros pressupostos que os participantes de mercado utilizariam para atribuir

um valor às propriedades de investimento nas condições atuais de mercado.

Os pressupostos devem ser quantificados, permitindo aos utentes das demonstrações financeiras

acompanhar a sua evolução face a potenciais alterações nos respetivos mercados.

Devem ser divulgados os julgamentos efetuados pela gerência relativamente à evolução do mercado

imobiliário (IAS 1.117 e 125), indicando explicitamente que condições foram consideradas como

“condições de mercado”.

O Regulamento (UE) 2015/2231 da Comissão de 2 de dezembro de 2015 aprovou emendas à IAS 16 -

Ativos fixos tangíveis e à IAS 38 – Ativos intangíveis com vista à clarificação dos métodos de depreciação

e amortização aceitáveis. Por forma a evitar práticas divergentes, estas emendas vieram clarificar se é

adequado recorrer a métodos baseados nas receitas para calcular a depreciação ou amortização de um

ativo.

2.5.5. IAS 19 – Benefícios dos empregados

Em conformidade com os parágrafos 75 a 98 da IAS 19, os pressupostos atuariais utilizados pela entidade

devem ser as melhores estimativas das variáveis que determinarão o custo da entidade proporcionar

benefícios pós-emprego aos seus empregados, devendo como tal as entidades ter em consideração as

características da população em causa e utilizar pressupostos financeiros apropriados. Estes devem

basear-se nas expectativas de mercado, no fim do período de relato, relativamente ao período em que as

obrigações deverão ser liquidadas (IAS 19.80).

Os pressupostos atuariais deverão ser consistentes com os utilizados em exercícios anteriores, devendo

a entidade explicar de forma clara e completa as alterações ocorridas nos mesmos face ao período de

reporte anterior, justificando os desvios atuariais registados no período. Neste âmbito, torna-se essencial

a descrição dos julgamentos efetuados pela gerência aquando da avaliação das responsabilidades da

entidade com benefícios pós-emprego.

A entidade deverá divulgar toda a informação exigida pelos parágrafos 135 a 144 da IAS 19,

nomeadamente os principais pressupostos atuariais utilizados à data do balanço (IAS 19.144 e 76). Os

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41 | CMVM | CIRCULAR SOBRE CONTAS ANUAIS | 2018-03-12

pressupostos atuariais, financeiros e demográficos, incluem entre outros: (i) a taxa de desconto; (ii) os

níveis de benefícios e os ordenados futuros; (iii) no caso de benefícios médicos, os custos médicos futuros;

(iv) a mortalidade; (v) as taxas de rotação, de incapacidade e de reforma antecipada dos empregados e

(vi) as taxas de utilização dos planos médicos.

A entidade deverá indicar se as taxas utilizadas para descontar as responsabilidades com benefícios pós-

emprego foram determinadas por referência a obrigações corporate de elevada qualidade (IAS 19.83) e

facultar informação sobre a fonte, os fatores e os julgamentos subjacentes ao apuramento da taxa de

desconto. Chama-se neste âmbito a atenção para o atual ambiente de taxas de juro na Europa,

caracterizado por taxas muito reduzidas ou mesmo negativas para certos instrumentos financeiros,

nomeadamente obrigações de dívida pública e obrigações corporate de elevada qualidade, nas

maturidades de curto prazo.

Nos termos da IAS 19.142, uma entidade deve desagregar o justo valor dos ativos do plano em classes

que distingam a natureza e os riscos de tais ativos, apresentando separadamente para cada classe de

ativos do plano, os ativos que têm um preço de mercado cotado num mercado ativo (conforme definido

na IFRS 13) e os que não têm. Tendo presente o parágrafo 136 respeitante ao nível de divulgação, uma

entidade poderá efetuar a distinção, designadamente, entre: (a) caixa e equivalentes de caixa; (b)

instrumentos de capital; (c) instrumentos de dívida; (d) imóveis; (e) instrumentos derivados; (f) fundos de

investimento; (g) títulos garantidos por ativos; e (h) dívida estruturada.

A entidade deve ainda divulgar o justo valor dos instrumentos representativos do seu capital próprio que

detém como ativos do plano, bem como o justo valor de imóveis ocupados pela entidade ou outros ativos

por si utilizados (IAS 19.143).

Os emitentes deverão ainda considerar as emendas à IAS 19 – Benefícios dos empregados, que visaram

simplificar e clarificar a contabilização das contribuições dos empregados ou de terceiros associadas a

planos de benefícios definidos, introduzidas pelo Regulamento (UE) 2015/29.

2.5.6. IAS 24 – Divulgação de partes relacionadas

O objetivo desta norma é “assegurar que as demonstrações financeiras de uma entidade contenham as

divulgações necessárias para chamar a atenção para a possibilidade de que a sua posição financeira e

lucros ou prejuízos possam ter sido afetados pela existência de partes relacionadas e por transacções e

saldos pendentes, incluindo compromissos, com tais partes”.

Nos termos da IAS 24.18, se uma entidade tiver realizado transações com partes relacionadas durante os

períodos abrangidos pelas demonstrações financeiras, deve divulgar a natureza do relacionamento com

essas partes, bem como informação sobre as transações e saldos pendentes, incluindo compromissos,

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necessária para a compreensão do potencial efeito desse relacionamento nas demonstrações financeiras

por parte dos utilizadores das mesmas. Para possibilitar essa avaliação, as transações com partes

relacionadas e o respetivo relacionamento deverão ser divulgados.

As divulgações exigidas pelo parágrafo 18 devem ser efetuadas separadamente por cada uma das

seguintes categorias: (a) a empresa-mãe; (b) entidades com controlo conjunto ou influência significativa

sobre a entidade; (c) subsidiárias; (d) associadas; (e) empreendimentos conjuntos nos quais a entidade

seja um empreendedor conjunto; (f) pessoal-chave da gerência da entidade ou da respetiva entidade-mãe;

e (g) outras partes relacionadas (IAS 24.19).

De acordo com a IAS 24.17 a entidade deverá divulgar a remuneração do pessoal chave da gerência,

sendo este um conceito mais amplo que o conceito de membros dos órgãos sociais subjacente ao relatório

do governo das sociedades, estando em linha com o conceito previsto no artigo 19.º do MAR. A informação

a divulgar compreende, não só o valor total daquelas remunerações, mas o valor individual para cada uma

das seguintes categorias: (i) benefícios de empregados de curto prazo, (ii) benefícios pós-emprego, (iii)

outros benefícios de longo prazo, (iv) benefícios de cessação de emprego e (v) pagamentos com base em

ações. As divulgações abrangem as quantias agregadas apresentadas na demonstração da posição

financeira e na demonstração do rendimento integral, devendo ser incluídas as responsabilidades com

benefícios de reforma que respeitam ao pessoal chave da gerência.

A divulgação da informação respeitante a remunerações exigida pela IAS 24 não prejudica outras

divulgações exigíveis por lei ou regulamento, designadamente a informação contida no relatório do

governo das sociedades.

De salientar que a IAS 1.14 indica expressamente que, relatórios ou informações divulgadas pela entidade

fora do conjunto completo de demonstrações financeiras (caso do relatório sobre o governo da sociedade)

estão fora do âmbito das IFRS.

2.5.7. IAS 32/ IAS 39/ IFRS 7 – Instrumentos financeiros

A entidade deverá divulgar informação que permita aos utilizadores das demonstrações financeiras avaliar

a natureza e a extensão dos riscos resultantes de instrumentos financeiros aos quais se encontra exposta,

nomeadamente o risco de crédito, o risco de liquidez e o risco de mercado (IFRS 7.31 e seguintes).

A entidade deverá tomar particular atenção aos referidos elementos e prestar informação completa e

devidamente desagregada sobre as exposições materiais aos diversos riscos, mediante a divulgação de

informação quantitativa e qualitativa relevante acerca da natureza das exposições, elementos

relacionados com a avaliação dos instrumentos financeiros e análises de concentração das exposições a

riscos relevantes.

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Também os artigos 66.º e 508.º-C do CSC exigem que seja incluída no relatório de gestão informação

acerca da exposição da entidade aos diferentes riscos, sendo contudo, a IFRS 7 mais exigente, obrigando

à divulgação de informação quantitativa.

No que respeita à exposição da entidade ao risco de crédito, importa salientar a exigência decorrente do

parágrafo 36 e seguintes da IFRS 7 - Instrumentos Financeiros: Divulgações, de divulgação de informação

sobre a exposição máxima, sobre os colaterais detidos, sobre a qualidade de crédito dos ativos financeiros

que não estejam vencidos nem em imparidade, bem como a divulgação de uma análise de antiguidade

dos ativos financeiros vencidos mas que não se encontram em imparidade e dos fatores considerados na

determinação da imparidade (caso aplicável) dos instrumentos financeiros.

Nos termos da IFRS 7.39, as divulgações relativas ao risco de liquidez devem ser efetuadas

separadamente para os passivos financeiros derivados e não derivados. As entidades devem divulgar

uma análise da maturidade dos passivos financeiros, apresentando informação sobre a maturidade

contratual restante e uma descrição da forma como o risco de liquidez é gerido. A informação a divulgar

por cada emitente deverá ser adequada ao seu perfil de risco, permitindo aos utilizadores das

demonstrações financeiras conhecer a sua exposição ao risco de liquidez e as necessidades de funding

da entidade, bem como a sua evolução ao longo do tempo (IFRS 7.B11 e B11E).

A entidade deve ainda divulgar as situações de renegociação de condições ou de possíveis

incumprimentos de contas a pagar que ocorreram durante o período de reporte, ou de quaisquer outras

condições que tenham sido incumpridas à data do período de relato e que possam suscitar uma

aceleração no pagamento dos respetivos empréstimos (IFRS 7.18 e 19).

Tendo em consideração a relevância do crédito concedido em incumprimento, as entidades financeiras

deverão divulgar informação qualitativa e quantitativa sobre as forbearence practices seguidas no

exercício de 2017, aquando da renegociação de empréstimos e na avaliação das imparidades desses

empréstimos22.

No que respeita ao risco de mercado, e tal com já referido anteriormente, salienta-se a exigência de

realização de análises de sensibilidade para cada tipo de risco de mercado a que a entidade está exposta

à data de relato, que permitam aferir a forma como os lucros ou prejuízos e o capital próprio teriam sido

afetados por alterações na variável de risco relevante que fossem razoavelmente possíveis àquela data,

bem como os métodos e pressupostos utlizados na realização da análise, justificando eventuais alterações

22 De salientar neste âmbito o statement publicado pela ESMA em 20 de dezembro de 2012, que se encontra

disponível em https://www.esma.europa.eu/system/files_force/library/2015/11/2012-853.pdf?download=1.

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face ao período anterior (IFRS 7.40 e seguintes).

No que se refere ao justo valor, as entidades devem cumprir na íntegra as exigências estabelecidas por

esta norma, nomeadamente pelos parágrafos 25 a 30 da IFRS 7, devendo ainda dar especial atenção ao

estabelecido na IFRS 13, nomeadamente quanto à hierarquia do justo valor e à divulgação dos

pressupostos subjacentes ao apuramento do justo valor de cada classe de ativos e passivos financeiros,

caso os mesmos se enquadrem nos níveis 2 e 3 da referida hierarquia.

Quanto aos instrumentos financeiros derivados, e independentemente de os mesmos não cumprirem os

requisitos para a contabilização de cobertura, a entidade deverá divulgar as contrapartes, os ativos

subjacentes e os valores nocionais, as datas de abertura e de vencimento, para além dos respetivos justos

valores, apresentando esta informação separadamente para os derivados registados de acordo com a

contabilidade de cobertura preconizada na IAS 39, por tipo de cobertura, e para os restantes derivados,

informação que é considerada útil para os utentes das demonstrações financeiras. As fontes da

informação subjacente aos pressupostos utilizados na determinação do justo valor, bem como a indicação

dos casos em que as avaliações foram efetuadas pelas contrapartes, constituem igualmente informação

relevante a ser prestada (IFRS 7 e IFRS 13).

Relativamente à transferência de ativos financeiros, a entidade deve divulgar informação que permita aos

utilizadores das demonstrações financeiras (i) compreender a relação entre os ativos financeiros

transferidos não desreconhecidos na sua totalidade e os passivos associados; e (ii) avaliar a natureza do

envolvimento continuado da entidade nos ativos financeiros desreconhecidos e os riscos a eles

associados (IFRS 7.42B). Devem igualmente ser indicadas as condições em que foi considerado que a

entidade mantém um envolvimento continuado num ativo financeiro transferido, atendendo ao

estabelecido na IFRS 7.42C.

Distinção entre instrumentos de capital e passivos financeiros

O princípio genérico que permite distinguir passivos de instrumentos de capital emitidos pela entidade é o

facto de a mesma ter um direito incondicional de evitar entregar dinheiro ou outro ativo financeiro para

liquidar a obrigação contratual. Se o emitente não tem esse direito, o contrato qualifica-se em parte ou na

totalidade como um passivo.

Neste âmbito, cláusulas de liquidação contingente dão origem a passivos, exceto se se aplicar uma das

condições definidas no parágrafo 25 da IAS 32, sendo necessária uma análise mais abrangente das

cláusulas dos contratos subjacentes, aquando da classificação dos instrumentos financeiros de acordo

com os parágrafos 15 e 16 da IAS 32.

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Além disso, a compulsão económica, que ocorre quando uma entidade tem uma motivação económica,

mas não uma obrigação contratual, para tomar uma decisão de pagamento específica (ex. pagamento de

juros, dividendos ou reembolso de capital), não cria por si só um passivo financeiro. Neste contexto, os

emitentes devem divulgar informação sobre os instrumentos financeiros contabilizados como capital

próprio que contêm uma compulsão económica para a entidade fazer pagamentos.

Da mesma forma, os emitentes devem estar cientes de certas complexidades que surgem aquando do

pagamento de responsabilidades com os seus próprios instrumentos de capital. Dependendo se o critério

fixo-por-fixo constante no parágrafo 22 da IAS 32 for cumprido, o contrato pode qualificar-se como capital

próprio, ativo ou passivo financeiro. O IFRS IC observou na final agenda decision em janeiro de 2010 que

existe diversidade na prática, em alguns casos envolvendo a aplicação do referido critério.

Além disso, se o IFRS IC rejeita determinada questão sobre dívida ou equity devido à falta de orientação

e/ou clareza na norma, os emitentes devem assegurar que a política contabilística aplicada quando

avaliam se um instrumento se qualifica como sendo representativo de dívida ou capital próprio é usada de

forma consistente para transações semelhantes (parágrafo 13 da IAS 8). A divulgação da política

contabilística e dos julgamentos feitos pela gerência é exigida de acordo com o parágrafo 117(b) e 122 da

IAS 1, respetivamente. Neste contexto, deverá existir transparência na divulgação das principais

características desses instrumentos.

O parágrafo 17 da IFRS 7 exige a divulgação de informação nas notas explicativas às demonstrações

financeiras, quando a entidade tenha emitido um instrumento financeiro que contenha tanto um passivo

como uma componente de capital próprio, e o instrumento tiver múltiplos derivados embutidos cujos

valores sejam interdependentes (ex. um instrumento de dívida convertível).

Os emitentes são encorajados a apresentar rubricas adicionais na demonstração da posição financeira ou

na demonstração do rendimento integral, se os montantes de instrumentos financeiros forem materiais.

Adicionalmente, uma apresentação que desagregue todos os fluxos relacionados com outros instrumentos

de capital na demonstração dos fluxos de caixa, bem como a divulgação nas notas das distribuições

efetuadas aos detentores daqueles instrumentos, permitirá aos utilizadores uma identificação fácil

daqueles itens.

Imparidade de instrumentos financeiros

A entidade deve avaliar no fim de cada período de relato se existe, ou não, qualquer evidência objetiva de

que um ativo financeiro esteja em imparidade (IAS 39.58 e 59), considerando toda a informação disponível

à data de reporte e divulgar os julgamentos relacionados com o reconhecimento de imparidade.

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Sublinha-se neste âmbito o entendimento do IFRS IC, exposto no IFRIC Update de janeiro de 2015

(http://media.ifrs.org/2015/IFRIC/January/IFRIC-Update-January-2015.pdf), quanto ao tratamento do

resultado proveniente de taxas de juro negativas, segundo o qual, se o efeito das taxas de juro associadas

a um ativo financeiro não cumprir a definição de rédito previsto pela IAS 18, representando um exfluxo de

benefícios económicos, então o fluxo deverá ser considerado e classificado como despesa. O IFRS IC

sublinha a importância da prestação de informação adicional, sobre o impacto destes valores, caso

relevantes, nos termos dos parágrafos 85 e 112(c) da IAS 1.

Em especial para os instrumentos de capital próprio classificados como “disponíveis para venda”, o

parágrafo 61 da IAS 39 estabelece que “a prova objetiva de imparidade para um investimento num

instrumento de capital próprio inclui informação acerca de alterações significativas com um efeito adverso

que tenham tido lugar no ambiente tecnológico, de mercado, económico ou legal no qual o emissor opere,

e indica que o custo do investimento no instrumento de capital próprio pode não ser recuperado”,

especificando ainda que “Um declínio significativo ou prolongado no justo valor de um investimento num

instrumento de capital próprio abaixo do seu custo também constitui prova objetiva de imparidade”

(sublinhado nosso).

Embora omissas quanto ao que se entende por um declínio significativo ou prolongado, que constitui um

dos critérios através dos quais se avalia se um ativo financeiro se encontra em imparidade, as IFRS são

bastante claras quanto ao facto de se exigir apenas que exista prova objetiva de imparidade. Neste caso,

não se afere subsequentemente a recuperabilidade dos fluxos de caixa, devendo a entidade reconhecer

de imediato em resultados o diferencial negativo apurado (IAS 39.67).

O IFRIC veio reiterar esta leitura da norma, tendo publicado no IFRIC Update de julho de 2009 uma

decisão definitiva sobre esta matéria, que pode ser consultada em: http://www.ifrs.org/Updates/IFRIC-

Updates/2009/Documents/IFRIC0907.pdf.

Salienta-se que o período temporal considerado para efeitos do critério relativo à “quebra prolongada”,

deve contar-se desde o momento em que o justo valor passe a ser inferior ao custo. Uma vez reconhecida

imparidade, qualquer redução posterior ocorrida no justo valor conduzirá a um reforço da perda por

imparidade já reconhecida.

2.5.8. IAS 36 – Imparidade de ativos não financeiros

Considerando que os ativos dos emitentes poderão continuar a gerar fluxos de caixa inferiores ao

estimado aquando da sua aquisição, a imparidade dos ativos não financeiros permanece uma área

relevante. Também neste âmbito, os emitentes deverão tomar em devida consideração o atual ambiente

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de taxas de juro na Europa aquando da mensuração dos ativos não financeiros.

A entidade deve basear as projeções de fluxos de caixa em pressupostos razoáveis e suportáveis que

representem a melhor estimativa da gerência sobre as condições económicas que existirão durante a vida

útil remanescente do ativo (IAS 36.33(a)).

A identificação das Unidades Geradoras de Caixa (UGC) a que um grupo de ativos pertence para efeitos

de teste de imparidade deve ter em consideração o guidance dos parágrafos 67 a 73 da IAS 36, onde uma

UGC é definida como o grupo mais pequeno de ativos que gera influxos de caixa em larga medida de

forma independente dos influxos gerados por outro conjunto de ativos. A imputação do goodwill a UGCs

é efetuada nos termos dos parágrafos 80 a 87, devendo (i) representar o nível mais baixo no seio da

entidade segundo o qual o goodwill é monitorizado para finalidades de gestão interna; e (ii) não ser maior

do que um segmento operacional conforme definido pelo parágrafo 5 da IFRS 8 - Segmentos Operacionais

antes da agregação.

Salienta-se que, independentemente da existência ou não de qualquer indicação de imparidade, o

emitente deverá testar anualmente a imparidade de um ativo intangível com uma vida útil indefinida ou um

ativo intangível ainda não disponível para uso, bem como a imparidade do goodwill (IAS 36.10).

Nos termos do parágrafo 132 da IAS 36, uma entidade é encorajada a divulgar os pressupostos usados

para determinar a quantia recuperável de ativos (unidades geradoras de caixa) durante o período.

Contudo, o parágrafo 134 exige a divulgação de informação acerca das estimativas usadas para mensurar

a quantia recuperável de uma unidade geradora de caixa quando o goodwill ou um ativo intangível com

uma vida útil indefinida for incluído na quantia escriturada dessa unidade. A entidade deverá divulgar os

pressupostos-chave utilizados nos cálculo das projeções de fluxos de caixa, e não somente a taxa de

desconto e a taxa de crescimento utilizada na perpetuidade (IAS 36.134(d)(i)).

Os pressupostos e métodos utilizados na avaliação da imparidade do goodwill devem ser

consistentemente aplicados ao longo dos exercícios, devendo ser justificadas quaisquer alterações.

Realça-se a necessidade de divulgação de análises de sensibilidade para cada pressuposto significativo,

bem como para os casos em que a assunção de pressupostos diferentes dos utilizados pela gerência,

mas razoavelmente possíveis, pudessem conduzir ao reconhecimento de imparidades para os ativos

intangíveis com uma vida útil indefinida e o goodwill (IAS 36.134(f)), bem como para os restantes ativos

fixos tangíveis e ativos intangíveis (IAS 1.125 a 129).

Assim sendo, nas situações em que o valor recuperável seja relativamente próximo do valor escriturado -

ainda que o ativo não esteja em imparidade -, a entidade deverá elaborar e divulgar uma análise de

sensibilidade, que demonstre o efeito que uma variação razoavelmente possível nos pressupostos fizesse

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com que a quantia escriturada excedesse a sua quantia recuperável. Nas situações em que a entidade

tenha reconhecido imparidade, deverá também realizar e divulgar uma análise de sensibilidade dos

pressupostos utilizados e os respetivos impactos no valor recuperável, tendo em consideração a aferição

da possibilidade da recuperação ou reforço da referida imparidade. Nestas situações, deverão ser também

divulgados os valores atribuídos aos pressupostos chave.

Alerta-se para a necessidade de cumprir plenamente com os requisitos de divulgação do parágrafo 130

da IAS 36 para cada perda material por imparidade em ativos tangíveis, intangíveis e goodwill reconhecida

ou revertida durante o período, nomeadamente, (i) informação relevante e específica dos factos e

circunstâncias que conduziram ao registo das perdas por imparidade, identificando os pressupostos chave

que contribuíram para a redução dos cash flows e a justificação para a revisão negativa dos mesmos; (ii)

a identificação da UGC; (iii) a quantia recuperável da UGC e (iv) a taxa de desconto. Caso alguma desta

informação não seja aplicável deverá divulgar esse facto e os motivos para tal.

2.5.9. IAS 37 – Provisões, passivos contingentes e ativos contingentes

O parágrafo 85 da IAS 37 estabelece que a entidade deve divulgar, para cada classe de provisão: (i) uma

descrição da natureza da obrigação e do momento em que são esperados exfluxos de benefícios

económicos futuros, (ii) qualquer incerteza acerca do montante ou momento da ocorrência dos exfluxos

futuros, devendo ainda a entidade divulgar os principais pressupostos considerados relativamente a

acontecimentos futuros e (iii) a quantia de qualquer reembolso esperado, indicando a quantia de qualquer

ativo que tenha sido reconhecido tendo por base essa expectativa.

A informação deverá ser divulgada de forma desagregada, apresentando em classes distintas de

provisões as consequências financeiras de riscos que são de naturezas diferentes.

Ainda neste âmbito, a IAS 12.88 estabelece que uma entidade deve divulgar quaisquer passivos

contingentes e ativos contingentes relacionados com impostos de acordo com a IAS 37.

2.5.10. IFRS 3 – Concentrações de atividades empresariais

Nas ações de enforcement recentes, a ESMA verificou que continuam a ser relevantes algumas questões

associadas à aplicação da IFRS 3, que haviam sido reportadas no relatório publicado pela ESMA em

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201423 na sequência da revisão então efetuada sobre a aplicação desta norma. No seu statement de 27

de outubro, a ESMA chama a atenção dos emitentes para os seguintes aspetos da aplicação da IFRS 3:

(a) ativos intangíveis, devendo os emitentes assegurar a consistência entre os pressupostos

utilizados na mensuração do justo valor para efeitos de purchase price allocation e os

pressupostos subjacentes aos testes de imparidade e à determinação da vida útil para efeitos de

amortização. As entidades deverão ainda atender ao critério da separabilidade definido no

parágrafo B33 na análise dos ativos intangíveis, divulgando os julgamentos significativos

subjacentes à decisão tomada sobre a necessidade de separação dos ativos;

(b) ajustamentos ao justo valor durante o período de mensuração: de acordo com a IFRS 3.B67,

quando a contabilização inicial de uma concentração de atividades empresariais não estiver

concluída no final do período de relato, a entidade deverá divulgar esse facto, bem como os

valores provisórios dos ativos, passivos, interesses que não controlam ou itens de retribuição. O

emitente deve também indicar a justificação para a não conclusão da contabilização inicial da

concentração, bem como a natureza e o valor de quaisquer ajustamentos durante o período de

mensuração reconhecidos durante o período de relato;

(c) compras a baixo preço, destacando-se o estabelecido nos parágrafos 36 e B64(n), no âmbito dos

quais os emitentes são encorajados a divulgar a forma como os ativos e os passivos foram

reavaliados (IFRS 3.36), indicando, se aplicável, que o ganho resulta da aplicação das isenções

estabelecidas na IFRS 3 sobre a mensuração de itens específicos;

(d) oferta pública de aquisição obrigatória e concentrações de atividades empresariais sob controlo

comum: a IFRS 3 não abrange as transações desta natureza, pelo que a ESMA espera que, até

que o IASB se pronuncie sobre o tratamento contabilístico destas transações, os emitentes

apliquem de forma consistente a política contabilística adotada de acordo com os parágrafos 10 a

12 da IAS 8, devendo divulgar a mesma em conformidade com os parágrafos 117, 121 e 122 da

IAS 1;

(e) pagamentos contingentes, devendo os emitentes atender ao estabelecido nos parágrafos B54 e

B55 da IFRS 3 aquando da avaliação da natureza dos acordos para pagamentos contingentes

aos empregados ou acionistas vendedores; e

(f) divulgações sobre o justo valor: a ESMA relembra os emitentes, como indicado no relatório por si

23 “Review on the application of accounting requirements for business combinations in IFRS financial statements”,

publicado em 16 de junho de 2014.

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50 | CMVM | CIRCULAR SOBRE CONTAS ANUAIS | 2018-03-12

emitido em 12 de julho de 2017, sobre o estudo efetuado à aplicação da IFRS 1324, que os

requisitos de divulgação desta norma sobre mensurações não recorrentes de justo valor,

abrangem apenas as mensurações subsequentes ao reconhecimento inicial, pelo que não se

aplicam aos ativos e passivos reconhecidos ao justo valor numa concentração de atividades.

Contudo, a informação sobre as metodologias e pressupostos utilizados na avaliação dos ativos,

passivos e interesses que não controlam materiais, adquiridos numa concentração de negócios é

importante para os investidores, pelo que a mesma deverá ser facultada à luz do preconizado nos

parágrafos 125 a 129 da IAS 1, não sendo suficiente a referência à utilização de avaliações

externas.

2.5.11. IFRS 8 – Segmentos operacionais

Nos termos da IFRS 8.5, os segmentos operacionais deverão ser uma componente de uma entidade:

(a) que desenvolve atividades de negócio de que pode obter réditos e incorrer em gastos (incluindo

réditos e gastos relacionados com transações com outros componentes da mesma entidade);

(b) cujos resultados operacionais são regularmente revistos pelo principal responsável pela tomada

de decisões operacionais da entidade para efeitos da tomada de decisões sobre a imputação de

recursos ao segmento e da avaliação do seu desempenho; e

(c) relativamente à qual esteja disponível informação financeira distinta.

Note-se que a definição de “principal responsável pela tomada de decisões operacionais”, identifica uma

função e não necessariamente um gerente ou administrador (IFRS 8.7). Deste modo, o conselho de

administração não será, obrigatoriamente, o principal responsável pela tomada de decisões operacionais.

De salientar que, no âmbito da análise de reporte por segmentos, os orçamentos utilizados internamente

pela entidade vinculam a mesma, devendo ser coerentes com as estimativas de fluxos de caixa utilizadas

na mensuração de ativos e testes à imparidade dos mesmos.

De facto, a IFRS 8 exige a divulgação de informação "através dos olhos da gestão". Embora não seja

exigido pelas IFRS, espera-se que a informação apresentada no relato por segmentos e a incluída nos

comunicados de imprensa, relatórios de gestão ou apresentações de analistas seja consistente em termos

24 “Review of Fair Value Measurement in the IFRS financial statements”, disponível em

https://www.esma.europa.eu/press-news/esma-news/esma-reviews-application-ifrs-13-%E2%80%93-fair-value-

measurement-requirements.

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de segmentos apresentados e medidas de desempenho divulgadas.

O parágrafo 22(aa) da IFRS 8 exige a divulgação dos julgamentos efetuados pela gerência aquando da

aplicação do critério de agregação (definido no parágrafo 12), salientando-se ainda o disposto nos

parágrafos 21(c) e 28 no que concerne à reconciliação da informação por segmentos.

2.5.12. IFRS 10 – Demonstrações financeiras consolidadas / IFRS 12 – Divulgação de interesses

noutras entidades

A IFRS 10 define um modelo de consolidação único, que identifica a relação de controlo como base para

a consolidação de todos os tipos de entidades e estabelece a forma de aplicação do princípio do controlo

para concluir se um investidor controla uma investida e deve, portanto, consolidar essa investida.

De acordo com o parágrafo 7 da IFRS 10, um investidor controla uma investida se, e apenas se tiver,

cumulativamente: (a) poder sobre a investida; (b) exposição ou direitos a resultados variáveis por via do

seu relacionamento com a investida; (c) capacidade de usar o seu poder sobre a investida para afetar o

valor dos resultados para os investidores, encontrando-se explicitado nos parágrafos 8 a 18 os fatores a

tomar em consideração aquando da verificação de cada uma das condições.

O guia de aplicação desta norma inclui inúmeros exemplos, contendo indicadores e fatores que uma

entidade deverá tomar em consideração aquando da avaliação sobre se controla, ou não controla, uma

determinada investida.

Ainda neste âmbito, segundo a IFRS 12.7(a), uma entidade deve divulgar informação sobre os

julgamentos e pressupostos significativos nos quais se baseou (e sobre as alterações a esses julgamentos

e pressupostos) para determinar que exerce controlo sobre a outra entidade. As entidades que alterem a

decisão de consolidar ou não uma investida, deverão divulgar os motivos para a reavaliação da relação

com a investida, os pressupostos utilizados e julgamentos efetuados, bem como os fatores específicos da

participada que se revelaram decisivos para a avaliação efetuada.

Nos termos da IFRS 12.10, a entidade deverá divulgar informação que permita aos utentes das suas

demonstrações financeiras consolidadas compreender o interesse que os interesses que não controlam

detêm sobre as atividades e os fluxos de caixa do grupo, nomeadamente a informação exigida pelos

parágrafos 12 e B10 desta norma. A entidade terá que determinar que subsidiárias têm interesses que

não controlam considerados materiais, devendo avaliar de forma cuidada a informação financeira a

divulgar sobre as referidas subsidiárias, por forma a assegurar o cumprimento dos objetivos do parágrafo

10. A alocação desses interesses minoritários aos segmentos operacionais (se aplicável) constitui também

informação útil para os utilizadores da informação financeira.

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52 | CMVM | CIRCULAR SOBRE CONTAS ANUAIS | 2018-03-12

Por forma a dar cumprimento à IFRS 12.13, a entidade deverá divulgar: (a) as restrições significativas

(nomeadamente legais, contratuais ou regulamentares) à sua capacidade para aceder a ou usar ativos e

liquidar passivos do grupo (ex. transferência de dinheiro ou pagamento de dividendos). A este propósito

salienta-se igualmente, o disposto na IAS 7.48, que exige a divulgação por parte da entidade, juntamente

com um comentário da gerência, da quantia dos saldos significativos de caixa e seus equivalentes detidos

pela entidade que não estejam disponíveis para uso do grupo. Estão nestas circunstâncias, por exemplo,

saldos de caixa e seus equivalentes detidos por uma subsidiária que opere num país onde se apliquem

controlos sobre trocas monetárias ou outras restrições legais quando os saldos não estejam disponíveis

para uso geral pela empresa-mãe ou outras subsidiárias. Contudo, a ESMA salienta no statement

publicado em 27 de outubro de 2017, que estas não são as únicas circunstâncias em que a caixa e seus

equivalentes não estão disponíveis para uso do grupo; (b) a natureza e a medida em que os direitos de

proteção dos interesses que não controlam podem restringir significativamente a capacidade da entidade

para aceder a ou usar ativos e liquidar passivos do grupo; e (c) as quantias escrituradas nas

demonstrações financeiras consolidadas dos ativos e passivos abrangidos por essas restrições.

Para além dos aspetos anteriormente referidos, é de assinalar a necessidade de a entidade divulgar

informação que permita aos utentes das suas demonstrações financeiras: (a) compreender a natureza e

a extensão dos seus interesses em entidades estruturadas consolidadas e não consolidadas; e (b) avaliar

a natureza e as alterações nos riscos associados aos seus interesses em entidades estruturadas

consolidadas e não consolidadas (IFRS 12.24).

Em 23 de setembro 2016, foi publicado no Jornal Oficial da Comissão Europeia, o Regulamento (UE)

2016/1703 que aprovou emendas à IFRS 10 - Demonstrações Financeiras Consolidadas, IFRS 12 -

Divulgação de Interesses Noutras Entidades e à IAS 28 - Investimentos em Associadas e

Empreendimentos Conjuntos, que clarificaram os requisitos aplicáveis aquando da contabilização das

entidades de investimento e estabeleceram uma isenção em circunstâncias particulares.

2.5.13. IFRS 11 – Acordos conjuntos / IFRS 12 – Divulgação de interesses noutras entidades

A IFRS 11 define princípios para o relato financeiro a adotar pelas partes envolvidas em acordos conjuntos

sendo que, de acordo com o parágrafo 5, um acordo conjunto é um acordo no qual (a) as partes estão

vinculadas por um acordo contratual e (b) o acordo contratual confere a duas ou mais dessas partes o

controlo conjunto do acordo, devendo ser utilizada a definição de controlo da IFRS 10.

O controlo conjunto consiste na partilha contratualmente acordada do controlo sobre um acordo, que só

existe quando as decisões sobre as atividades relevantes requerem o consentimento unânime das partes

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53 | CMVM | CIRCULAR SOBRE CONTAS ANUAIS | 2018-03-12

que partilham o controlo (IFRS 11.7). Em conformidade com a IFRS 11.12, uma entidade terá de aplicar

o seu julgamento ao apreciar se todas as partes, ou um grupo das partes, detêm o controlo conjunto de

um acordo, devendo efetuar essa apreciação tendo em consideração todos os factos e circunstâncias, em

conformidade com o guidance dos parágrafos B5 a B11.

Nos termos da IFRS 11.15 e 16, um acordo conjunto pode ser (i) uma operação conjunta, quando as

partes que detêm o controlo conjunto do acordo têm direitos sobre os ativos e obrigações pelos passivos

relacionados com esse acordo ou (ii) um empreendimento conjunto, quando as partes que detêm o

controlo conjunto do acordo têm direitos sobre os ativos líquidos do acordo.

A entidade deverá aplicar o seu julgamento para determinar se um acordo conjunto é uma operação

conjunta ou um empreendimento conjunto, devendo para isso tomar em consideração os direitos e as

obrigações decorrentes do acordo. Uma entidade analisa os seus direitos e obrigações tendo em

consideração a estrutura e a forma legal do acordo, os termos acordados pelas partes no acordo contratual

e, quando relevantes, outros factos e circunstâncias (IFRS 11.17).

Na avaliação dos “outros factos e circunstâncias” deverão apenas ser considerados os que originem

direitos sobre os ativos e obrigações sobre os passivos que sejam enforceable. Por exemplo, as práticas

do passado, a intenção das partes ou necessidades relacionadas com a atividade, não são suficientes

para criar direitos sobre os ativos e obrigações sobre os passivos. Para que um acordo conjunto seja

classificado como operação conjunta as partes têm, na substância, que ter direitos diretos nos ativos e

obrigações diretas nos passivos, pelo que deverá ser dada atenção pela entidade ao estabelecido na IFRS

11.B12 a B33.

Salienta-se neste âmbito, a IFRS 12.7(b) e 8(c), segundo a qual uma entidade deve divulgar informação

sobre os julgamentos e pressupostos significativos nos quais se baseou (e sobre as alterações a esses

julgamentos e pressupostos) para determinar (i) que exerce o controlo conjunto sobre um acordo ou que

tem uma influência significativa sobre outra entidade; e (ii) o tipo de acordo conjunto, quando o acordo

estiver estruturado através de um veículo separado.

A IFRS 12.20 exige ainda a divulgação de informação pela entidade que permita aos utilizadores das suas

demonstrações financeiras avaliar a natureza, extensão e efeitos financeiros dos seus interesses em

acordos conjuntos (de acordo com os parágrafos 21 e 22), bem como a natureza e as alterações nos

riscos associados a interesses em empreendimentos conjuntos (em conformidade com o parágrafo 23).

Destaca-se, neste último caso, a necessidade de divulgar, para cada empreendimento conjunto que seja

material, um resumo da informação financeira sobre o empreendimento conjunto, conforme requerido

pelos parágrafos B12 e B13, devendo o emitente avaliar que informação (quantitativa e qualitativa) deverá

ser facultada por forma a cumprir os objetivos definidos na IFRS 12.20. Considera-se útil divulgar os

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segmentos operacionais aos quais os empreendimentos conjuntos se encontram alocados.

Em conformidade com o parágrafo 22(a) da IFRS 12, uma entidade deve também divulgar nomeadamente

a natureza e a extensão de quaisquer restrições significativas (por exemplo resultantes de acordos de

empréstimo, requisitos regulamentares ou disposições contratuais entre investidores com controlo

conjunto ou influência significativa sobre um empreendimento conjunto ou uma associada) à capacidade

dos empreendimentos conjuntos ou associadas para transferirem fundos para a entidade sob a forma de

dividendos em dinheiro ou para reembolsarem empréstimos ou adiantamentos feitos pela entidade.

Adicionalmente, nos termos da IFRS 12.23, uma entidade deve divulgar: (a) os compromissos que tenha

relativamente aos seus empreendimentos conjuntos, em separado da quantia de outros compromissos,

como especificado nos parágrafos B18 a B20; e (b) em conformidade com a IAS 37, a menos que a

probabilidade de perdas seja remota, os passivos contingentes incorridos relativamente aos seus

interesses em empreendimentos conjuntos ou associadas (incluindo a sua parte nos passivos

contingentes incorridos em conjunto com outros investidores com controlo conjunto ou com influência

significativa sobre os empreendimentos conjuntos ou associadas), em separado da quantia

correspondente a outros passivos contingentes.

A entidade deverá reavaliar em cada data de reporte, a natureza dos acordos conjuntos de que é parte,

tendo em consideração os direitos e as obrigações decorrentes dos mesmos.

Por último, destaca-se que de acordo com o parágrafo 21A da IFRS 11, quando uma entidade adquire um

interesse numa operação conjunta cuja atividade constitui uma atividade empresarial na aceção da IFRS

3, deve aplicar, de forma proporcional à sua parte segundo o parágrafo 20 da mesma norma, todos os

princípios de contabilização das concentrações de atividades empresariais definidos na IFRS 3 e noutras

IFRS, que não entrem em conflito com esta IFRS, devendo apresentar as informações nelas exigidas em

relação às concentrações de atividades empresariais.

2.5.14. IFRS 13 – Mensuração pelo justo valor

A IFRS 13 é aplicável, não só a instrumentos financeiros, mas também a outros ativos, passivos e

instrumentos de capital próprio, cujos princípios de mensuração se encontrem definidos em outras normas

que não na IAS 39.

Em conformidade com a IFRS 13.24, o justo valor é o preço que seria recebido pela venda de um ativo ou

pago pela transferência de um passivo numa transação ordenada no mercado principal (ou mais

vantajoso) à data da mensuração, nas condições vigentes de mercado (ou seja, um preço de saída),

independentemente de esse preço ser diretamente observável ou estimado com recurso a outra técnica

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55 | CMVM | CIRCULAR SOBRE CONTAS ANUAIS | 2018-03-12

de avaliação.

Esta norma define o justo valor como sendo o “preço de saída” na perspetiva dos participantes de mercado

que detêm o ativo ou o passivo à data da mensuração (IFRS 13.2). Deste modo, as intenções de uma

entidade ao manter um ativo ou ao liquidar ou de outra forma cumprir uma responsabilidade não são

relevantes na mensuração do justo valor (IFRS 13.3).

Em conformidade com a IFRS 13.B2, a entidade deverá determinar todos os elementos elencados em

seguida quando efetuar uma mensuração pelo justo valor: a) o ativo ou passivo específico sujeito a

mensuração (de forma consistente com a sua unidade de conta); b) no caso de um ativo não-financeiro,

o pressuposto de avaliação apropriado para a mensuração (de forma consistente com a sua maior e

melhor utilização); c) o mercado principal (ou mais vantajoso) para o ativo ou passivo em causa; e d) as

técnicas de avaliação apropriadas à mensuração.

De acordo com o disposto no parágrafo 11, ao mensurar o justo valor uma entidade deve ter em conta as

características do ativo ou passivo que os participantes no mercado teriam em consideração ao apreçar o

ativo ou passivo à data da mensuração, incluindo tais características, por exemplo: a) o estado e a

localização do ativo; e b) as restrições, se existirem, sobre a venda ou utilização do ativo.

Em conformidade com o parágrafo 34 da IFRS 13 o justo valor é determinado assumindo que um passivo

financeiro ou não-financeiro ou um instrumento de capital próprio de uma entidade, é transferido para um

participante no mercado à data da mensuração. É pois pressuposto que, à data da mensuração, (i) o

passivo não será liquidado junto da contraparte, nem extinto, e que (ii) o instrumento de capital próprio

não será cancelado ou extinto de outro modo.

Segundo a IFRS 13.42, o justo valor de um passivo reflete o efeito do risco de desempenho, que inclui,

entre outros possíveis componentes, o risco de crédito da própria entidade, como definido pela IFRS 7.

Destaca-se ainda a necessidade do reconhecimento apropriado do risco de contraparte aquando da

determinação do justo valor dos instrumentos financeiros e da divulgação da respetiva informação.

A entidade deve utilizar técnicas de avaliação apropriadas às circunstâncias e para as quais existam dados

suficientes para mensurar o justo valor, maximizando a utilização de dados relevantes observáveis e

minimizando a utilização de dados não observáveis (IFRS 13.61).

A IFRS 13 estabelece uma hierarquia do justo valor (também aplicável aos ativos e passivos não

financeiros), semelhante à definida na IFRS 7 para os ativos financeiros, que classifica em três níveis os

dados a utilizar nas técnicas de mensuração pelo justo valor. A hierarquia do justo valor atribui prioridade

máxima aos preços cotados (não ajustados) de ativos ou passivos idênticos em mercados ativos (dados

de nível 1) e prioridade mínima aos dados não observáveis (dados de nível 3) (IFRS 13.72). Os dados de

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nível 2 são dados distintos dos preços cotados incluídos no nível 1, direta ou indiretamente observáveis

para o ativo ou passivo (IFRS 13.81).

Uma entidade deve divulgar informação que auxilie os utentes das suas demonstrações financeiras a

avaliar os dois elementos seguintes: (a) no caso de ativos e passivos mensurados pelo justo valor de

forma recorrente ou não recorrente na demonstração da posição financeira após o reconhecimento inicial,

as técnicas de avaliação e dados utilizados para desenvolver essas mensurações; e (b) no caso de

mensurações pelo justo valor regulares utilizando dados não observáveis significativos (nível 3), o efeito

das mensurações sobre os resultados ou sobre o outro rendimento integral do período (IFRS 13.91).

Em conformidade com o parágrafo 93, uma entidade deve divulgar, nomeadamente a seguinte informação

em relação a cada classe de ativos e passivos mensurados pelo justo valor na demonstração da posição

financeira após o reconhecimento inicial: (i) no caso de mensurações pelo justo valor recorrentes e não

recorrentes, o nível da hierarquia do justo valor em que todas as mensurações pelo justo valor são

categorizadas; (ii) no caso de mensurações pelo justo valor recorrentes e não recorrentes categorizadas

no nível 2 e no nível 3 da hierarquia do justo valor, uma descrição das técnicas de avaliação e dos dados

utilizados na mensuração pelo justo valor, bem como os motivos para alterações que tenham ocorrido nas

mesmas. Relativamente a mensurações de justo valor classificadas no nível 3 da hierarquia do justo valor,

a entidade deve fornecer informação quantitativa sobre os dados não observáveis significativos utilizados

na mensuração, divulgar uma reconciliação entre os saldos iniciais e finais do justo valor, descrever os

processos de avaliação utilizados pela entidade e divulgar uma descrição narrativa da sensibilidade da

mensuração pelo justo valor a alterações em dados não observáveis, caso uma alteração desses dados

possa resultar numa variação significativa no justo valor apurado; e (iii) quando a maior e melhor utilização

de um ativo não financeiro difere da sua utilização atual, o emitente deverá divulgar esse facto e o motivo

que o justifica (IFRS 13.93(i), bem como os julgamentos utilizados pela gerência para aferir a maior e

melhor utilização do ativo (IAS 1.122 e 125).

Quanto ao justo valor de ativos e passivos, as entidades podem utilizar preços cotados fornecidos por

terceiros desde que tenham concluído que estes são determinados de acordo com os requisitos da IFRS

13 (IFRS 13.B45). Relativamente à respetiva classificação na hierarquia de justo valor, prevista nos

parágrafos 72 a 90 desta norma, chama-se a atenção para a decisão do IFRS IC, referida no IFRS Update

de janeiro de 2015, que indica que a classificação destes preços na hierarquia de justo valor dependerá

da avaliação dos elementos utilizados por terceiros na sua determinação. Desta forma, o justo valor de

um ativo ou passivo fornecido por terceiros apenas poderá ser classificado como sendo de nível 1, caso

tenha sido determinado com base em preços cotados (não ajustados) de ativos e passivos idênticos em

mercados ativos aos quais a entidade tenha acesso à data de mensuração.

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De salientar ainda que, nos termos da IFRS 13.70, se um ativo ou um passivo mensurado pelo justo valor

tiver um preço de compra e um preço de venda, na mensuração pelo justo valor deve ser utilizado o preço

compreendido no intervalo entre a cotação de compra e a cotação de venda que seja mais representativo

do justo valor nas circunstâncias, independentemente da posição desse dado na hierarquia do justo valor.

A utilização de preços de compra para os ativos, e de preços de venda para os passivos, é permitida, mas

não é exigida.

2.5.15. Demonstração dos Fluxos de Caixa

A demonstração de fluxos de caixa revela-se essencial para a análise e compreensão da performance da

entidade, permitindo avaliar a sua capacidade de geração e utilização de caixa, bem como de contratação

de novos financiamentos. Assim sendo, os emitentes devem assegurar a consistência nas classificações

utilizadas em todos os seus mapas financeiros, efetuando referências para as notas relevantes do anexo.

Em conformidade com o parágrafo 6 da IAS 7, as atividades operacionais são as principais atividades

produtoras de rédito da entidade e outras atividades que não sejam de investimento ou de financiamento.

Deste modo, os fluxos de caixa decorrentes de atividades ou transações fora do âmbito normal de

atividade da entidade (fluxos não usuais) deverão ser considerados como fluxos de atividades

operacionais, exceto se cumprirem os requisitos de um fluxo financeiro ou de investimento.

Adicionalmente, os fluxos resultantes da obtenção ou perda de controlo sobre uma subsidiária ou um

negócio deverão ser divulgados separadamente e classificados como fluxos de atividades de investimento

(IAS 7.39).

Nos casos em que a classificação dos fluxos de caixa envolve um maior grau de julgamento da gestão e

quando os valores são materiais, as entidades deverão divulgar informação sobre a classificação de cada

item e uma explicação para a mesma na descrição das políticas contabilísticas, assegurando a

consistência entre os períodos de relato financeiro.

A ESMA chama a atenção dos emitentes para a aplicação pela primeira vez, aos períodos anuais com

início em ou após 1 de janeiro de 2017, do parágrafo 44A da IAS 725, que exige a divulgação de informação

que permita aos utentes das demonstrações financeiras analisar as alterações em passivos resultantes

de atividades de financiamento, incluindo as resultantes de fluxos de caixa bem como as que não têm

contrapartida de caixa.

25 Emendas à IAS 7 adotadas através do Regulamento (UE) 2017/1990 da Comissão de 6 de novembro de 2017.

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Salienta-se ainda a importância de serem apresentados detalhes das alterações significativas que possam

ter ocorrido nas rubricas de working capital face ao período anterior, bem como explicações para as

mesmas, devendo ser dada também especial atenção a eventuais operações de “reverse factoring”

realizadas, nomeadamente quanto ao seu reconhecimento na demonstração da posição financeira e na

classificação dos fluxos de caixa decorrentes das mesmas.

Destaca-se também a necessidade de a entidade avaliar todas as condições definidas na IAS 7.6 sobre a

definição de caixa e equivalentes de caixa para todos os tipos de instrumentos financeiros, incluindo

depósitos, não devendo estes ser classificados como caixa e equivalentes se o risco de alteração do seu

valor for significativo. Para que um investimento possa ser classificado como um equivalente de caixa

deverá ser prontamente convertível num montante de caixa conhecido, salientando-se neste âmbito os

overdrafts (nomeadamente aos que sejam reembolsáveis à ordem) e os saldos resultantes de cash pool

facilities.

2.5.16. Normas e emendas endossadas pela Comissão Europeia (de aplicação não obrigatória em

2017)

Conforme referido anteriormente, a IFRS 9 – Instrumentos Financeiros e a IFRS 15 – Rédito de contratos

com clientes, endossadas pela União Europeia em 2016, serão de aplicação obrigatória a partir dos

exercícios anuais com início em ou após 1 de janeiro de 2018.

Em 9 de novembro de 2017, foi publicado no Jornal Oficial da Comissão Europeia, o Regulamento (UE)

2017/1986 da Comissão de 31 de outubro de 2017, que adota a IFRS 16 – Locações, que deverá ser

aplicada nos exercícios que comecem em ou após 1 de janeiro de 2019 e que, conforme também já

mencionado anteriormente, visa melhorar o relato financeiro sobre os contratos de locação.

Foram ainda publicados no Jornal Oficial da Comissão Europeia, em 9 de novembro de 2017:

(i) o Regulamento (UE) 2017/1987 da Comissão de 31 de outubro de 2017, que adota um conjunto

de clarificações respeitantes aos requisitos da IFRS 15, tendo sido emendados e adicionados

parágrafos constantes do guia de aplicação da norma, por forma a ajudar as entidades a aplicar a

mesma;

(ii) o Regulamento (UE) 2017/1988 da Comissão de 3 de novembro de 2017, que estabelece

emendas à IFRS 4 – Contratos de seguro, estabelecendo determinadas condições que deverão

ser preenchidas, para que o setor segurador de um conglomerado financeiro possa diferir a

aplicação da IFRS 9 até 1 de janeiro de 2021;

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(iii) o Regulamento (UE) 2017/1989 da Comissão de 6 de novembro de 2017, que emenda a IAS 12 –

Impostos sobre o rendimento, clarificando a forma como são contabilizados os ativos por impostos

diferidos relacionados com instrumentos de dívida mensurados pelo justo valor; e

(iv) o Regulamento (UE) 2017/1990 da Comissão de 6 de novembro de 2017, que emenda a IAS 7 –

Demonstrações dos fluxos de caixa, por forma a melhorar as informações prestadas aos utentes

das demonstrações financeiras relativas às alterações em passivos decorrentes de atividades de

financiamento.

As emendas à IAS 7 e à IAS 12 são de aplicação obrigatória nos exercícios que comecem em ou após1

de janeiro de 2017.

Já as disposições normativas dos Regulamentos (UE) 2017/1987 e 2017/1988 são de aplicação

obrigatória nos exercícios que comecem em ou após 1 de janeiro de 2018.

Sendo permitida a aplicação antecipada das normas e emendas referidas anteriormente, se uma entidade

decidir fazê-lo, deve assegurar o cumprimento do disposto nos parágrafos 30 e 31 da IAS 8, nos termos

dos quais, quando uma entidade não tiver aplicado uma nova norma ou interpretação que tenha sido

emitida mas que ainda não esteja em vigor, mesmo que ainda não tenha sido endossada pela União

Europeia, a entidade deve divulgar esse facto e informação conhecida ou razoavelmente calculável, que

seja relevante para avaliar o possível impacto que a aplicação da nova norma ou interpretação irá ter nas

demonstrações financeiras da entidade no período da aplicação inicial.

Chama-se mais uma vez a atenção para o facto de a aplicação de alguns requisitos das novas normas

poderem resultar em alterações significativas face às normas atuais, sendo eventualmente afetados o

reconhecimento, a mensuração e a apresentação dos ativos, passivos, proveitos, custos e fluxos de caixa.

Os emitentes deverão tomar as medidas necessárias à implementação destas normas, devendo descrever

nas suas demonstrações financeiras, o grau de progresso na implementação dos novos requisitos e os

principais efeitos esperados, nomeadamente o impacto que as novas normas deverão ter nas políticas

contabilísticas adotadas pela entidade.

2.6. DIVULGAÇÃO DE INFORMAÇÕES NÃO FINANCEIRAS E DE INFORMAÇÕES SOBRE A

DIVERSIDADE

Em 15 de novembro de 2014, foi publicada a Diretiva 2014/95/UE do Parlamento Europeu e do Conselho,

de 22 de outubro de 2014, que alterou a Diretiva 2013/34/UE no que se refere à divulgação de

informações não financeiras e de informações sobre a diversidade por parte de certas grandes

empresas e grupos.

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60 | CMVM | CIRCULAR SOBRE CONTAS ANUAIS | 2018-03-12

Esta Diretiva foi transposta para o ordenamento jurídico nacional através do Decreto-lei n.º 89/2017, de

27 de julho, que alterou o artigo 245.º-A do Cód VM.

As empresas-mãe de um grande grupo e as grandes empresas que sejam entidades de interesse público

que, à data de encerramento do seu balanço, excedam um número médio de 500 trabalhadores durante

o exercício anual, devem incluir no seu relatório de gestão ou num relatório separado, uma demonstração

não financeira que contenha informação que permita uma compreensão da evolução, do desempenho, da

posição e do impacto das suas atividades, referentes, no mínimo, às questões ambientais, sociais e

relativas aos trabalhadores, ao respeito dos direitos humanos, ao combate à corrupção e às tentativas de

suborno (artigos 66.º-B/1 e 2 e 508.º-G/1 e 2 do CSC).

Caso uma empresa não aplique políticas em relação a uma ou mais questões, a demonstração não

financeira deve apresentar uma explicação clara e fundamentada para esse facto (art. 66.º-B/3 e 508.º-

G/3 do CSC).

Para cumprimento deste regime, as empresas podem recorrer a sistemas nacionais, da União Europeia

ou internacionais, devendo nesse caso ser especificado o sistema utilizado (art. 66.º-B/6 e 508.º-G/6 do

CSC).

A demonstração de informação não financeira, constante do relatório de gestão ou de um relatório

separado com essa informação, deve ainda ser sujeita à aprovação do órgão competente para apreciar

as contas da sociedade, a assembleia geral (art. 65.º/1 do CSC).

Deverá ainda ser descrita a política de diversidade aplicada pela sociedade relativamente aos seus órgãos

de administração e de fiscalização, nomeadamente em termos de idade, sexo, habilitações e antecedentes

profissionais, os objetivos dessa política de diversidade, a forma como foi aplicada e os resultados no

período de referência (artigo 245.º-A, n.º 1, alínea r)). Em caso de não aplicação desta política, o relatório

sobre a estrutura e as práticas de governo societário deve conter uma explicação para esse facto (artigo

245.º-A, n.º 2).

O revisor oficial de contas da empresa deve atestar se o relatório de gestão anual inclui a demonstração

não financeira ou se a mesma foi apresentada num relatório separado, bem como a política de diversidade

aplicada pela empresa (artigo 451.º, n.º 6 do CSC).

As disposições legais estabelecidas no Decreto-lei 89/2017, de 28 de julho, são aplicáveis aos exercícios

com início em ou após 1 de janeiro de 2017.

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61 | CMVM | CIRCULAR SOBRE CONTAS ANUAIS | 2018-03-12

Por último, cumpre salientar a publicação pela Comissão Europeia de Orientações não vinculativas26 que

exemplificam a natureza da informação que deverá ser apresentada em cada temática, os sistemas de

relato que as empresas podem optar por utilizar, bem como os indicadores-chave de desempenho a

apresentar.

2.7. REPRESENTAÇÃO EQUILIBRADA NOS ÓRGÃOS DE ADMINISTRAÇÃO E FISCALIZAÇÃO

A Lei n.º 62/2017, de 1 de agosto (“Regime da representação equilibrada entre mulheres e homens nos

órgãos de administração e de fiscalização das entidades do setor público empresarial e das empresas

cotadas em bolsa”), veio exigir que os órgãos sociais dos emitentes de ações admitidas à negociação em

mercado regulamentado passem progressivamente a ter uma composição equilibrada em termos de

género, de acordo com um sistema de quotas: para cada órgão de administração e de fiscalização cuja

assembleia geral eletiva ocorra depois de 1 de janeiro de 2018, exige-se uma proporção de pessoas do

sexo sub-representado não inferior a 20%, fasquia que se eleva para 33,3% no que respeita às

assembleias gerais eletivas posteriores a 1 de janeiro de 2020 (art. 5.º/1 Lei n.º 62/2017).

Para além disso, esta lei vem ainda exigir aos referidos emitentes a elaboração de planos anuais para a

igualdade, que devem ser divulgados no respetivo sítio na Internet e enviados à Comissão para a

Cidadania e a Igualdade de Género e à Comissão para a Igualdade no Trabalho e no Emprego (art. 7.º/1

e 3 da Lei 62/2017), bem como a comunicação à Comissão para a Cidadania e a Igualdade de Género de

qualquer alteração à composição dos respetivos órgãos de administração e de fiscalização, no prazo de

10 dias (art. 8.º/3 da Lei 62/2017).

Em caso de incumprimento do regime acima descrito pelas empresas com ações admitidas à negociação

em mercado regulamentado, a Lei 62/2017 prevê que a CMVM declare o incumprimento e o caráter

provisório do ato de designação, dispondo os emitentes de um prazo de 90 dias para proceder à

respetiva regularização (art. 6.º/1/b) da Lei 62/2017).

Caso se mantenha o incumprimento no termo do prazo referido, será aplicável ao emitente em causa uma

repreensão registada, sendo a mesma publicada integralmente num registo público, disponibilizado para

o efeito nos sítios na Internet da Comissão para a Cidadania e a Igualdade de Género, da Comissão para

a Igualdade no Trabalho e no Emprego e da Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (art. 6.º/3 Lei

62/2017).

26 http://ec.europa.eu/transparency/regdoc/rep/3/2017/PT/C-2017-4234-F1-PT-MAIN-PART-1.PDF.

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Em caso de manutenção do incumprimento por empresa com ações admitidas à negociação em mercado

regulamentado, por período superior a 360 dias a contar da data da repreensão, será aplicável uma

sanção pecuniária compulsória, em montante não superior ao total de um mês de remunerações do

respetivo órgão de administração ou de fiscalização, por cada semestre de incumprimento (art. 6.º/4 Lei

62/2017).

Aspetos pontuais relacionados com este regime estão pendentes de aprovação de regulamentação27, a

qual se espera que possa vir a ser publicada muito brevemente.

2.8. SUSPENSÃO DA NEGOCIAÇÃO

A suspensão da negociação dos valores mobiliários em mercado regulamentado não exonera a entidade,

durante o período da suspensão, de assegurar o cumprimento das obrigações de informação previstas

nos arts. 244.º e seguintes do Cód.VM [art. 215.º/3 Cód.VM].

2.9. SANÇÕES

A violação dos deveres de aprovação, envio e publicação de informação financeira está sujeita a coimas

que podem atingir €5.000.000 [arts. 388.º, 389.º, 394.º e 400.º Cód.VM]. O mesmo Código prevê ainda

sanções acessórias, de entre as quais se destaca a publicação da sanção aplicada pela prática da

contraordenação [art. 404.º Cód.VM].

2.10. ARTIGO 35.º DO CÓDIGO DAS SOCIEDADES COMERCIAIS

Sempre que resulte das contas do exercício ou das contas intercalares, ou ainda sempre que existam

fundadas razões para admitir que esteja perdido metade do capital social, os administradores da

sociedade devem de imediato requerer a convocação de uma assembleia geral para informar os acionistas

sobre esta situação, de modo que possam tomar as medidas julgadas convenientes, devendo pelo menos

as seguintes medidas, constar da convocatória da AG [art. 35.º CSC]:

i) a dissolução da sociedade;

27 Por exemplo o modo de comunicação dos planos anuais para a igualdade à Comissão para a Cidadania e a Igualdade de Género e à Comissão para a Igualdade no Trabalho e no Emprego e comunicação à Comissão para a Cidadania e a Igualdade de Género de qualquer alteração à composição dos respetivos órgãos de administração e de fiscalização.

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63 | CMVM | CIRCULAR SOBRE CONTAS ANUAIS | 2018-03-12

ii) a redução do capital social para montante não inferior ao capital próprio da sociedade;

iii) a realização de aumento de capital.

A mesma informação deve ser expressamente mencionada em qualquer ato externo da sociedade

enquanto subsistir a perda de capital, nos termos do art. 35.º CSC [art. 171.º/2 CSC].

A Administração deve ainda informar imediatamente a CMVM e o mercado de qualquer decisão relativa à

apresentação em assembleia geral das propostas a que se refere o art. 35.º CSC, enquanto informação

privilegiada, tal como estabelecido no art. 248.º CVM. O comunicado a divulgar pode assumir a forma da

própria convocatória da assembleia geral e deve incluir as medidas indicadas para sanar a situação.

2.11. GOVERNO DAS SOCIEDADES

2.11.1. Regulamento e Código de Governo das Sociedades da CMVM (2013)

O Relatório de Governo Societário deve ser elaborado de acordo com o Regulamento da CMVM n.º

4/2013, que entrou em vigor a 1 de janeiro de 2014 (art. 4.º do Regulamento). Juntamente com este

Regulamento foi publicado o Código de Governo das Sociedades da CMVM 2013, em vigor até 31 de

dezembro de 2017.

Este Regulamento confere a opção entre a aplicação do Código de Governo das Sociedades da CMVM

2013 ou um código de governo societário emitido por entidade vocacionada para o efeito. A opção pelo

código emitido pela CMVM ou por um outro código deve ser justificada no relatório (art. 2.º do

Regulamento), devendo os emitentes assumir a responsabilidade de fazerem eles próprios um juízo sobre

se os diferentes códigos disponíveis asseguram um nível de proteção dos interesses dos acionistas e de

transparência do governo societário adequados.

Como tal, as práticas de governo em vigor nos exercícios iniciados em 2017 devem ser reportadas por

referência aos Códigos de governo em vigor até 31 de dezembro de 2017.

Cumpre esclarecer que, na sequência da celebração de um protocolo entre a CMVM e o IPCG28, onde se

estabeleceram os princípios de cooperação entre ambas as entidades, entrou em vigor o novo Código de

Corporate Governance do IPCG, a 1 de janeiro de 2018, em substituição do Código da CMVM.

28 Protocolo disponível em http://www.cmvm.pt/pt/Comunicados/Comunicados/Pages/20171013z.aspx?v=. O novo

código do IPCG pode ser consultado em

http://www.cgov.pt/index.php?option=com_content&task=view&id=1193&Itemid=21.

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A CMVM irá a breve trecho prestar mais informação aos emitentes acerca do novo enquadramento da

supervisão do governo societário.

2.11.2. Relatório de Governo Societário

O Regulamento da CMVM n.º 4/2013 assenta no dever de elaboração pelas sociedades de um “Relatório

de Governo Societário”, previsto no art. 245.º-A Cód.VM, cujo conteúdo se divide entre a prestação de

informação sobre as práticas de governo adotadas pela empresa (primeira parte), onde constam todas as

informações cuja prestação é obrigatória, seja por imposição legal, seja por imposição regulamentar, e

uma apreciação da sociedade quanto às recomendações contidas no código de governo das sociedades

a que tenha decidido sujeitar-se (segunda parte), subordinada à regra comply or explain.

Só os emitentes de ações admitidas à negociação em mercado regulamentado situado ou a funcionar em

Portugal, e sujeitos a lei pessoal portuguesa, estão obrigados a apresentar um tal relatório29 que:

(i) Deve incluir informação detalhada sobre a estrutura e as práticas de governo societário, de acordo

com a ordem e sistematização prevista no Regulamento e respetivo anexo, incluindo os

elementos mencionados no art. 245.º-A Cód.VM, bem como quaisquer elementos informativos

complementares e todas as demais informações que sejam relevantes para a compreensão do

modelo e práticas de governo adotadas [art. 245.º-A/2 Cód.VM; art. 1.º/1 do Regulamento; Parte I

do Modelo de Relatório de Governo Societário];

(ii) Deve incluir também [art. 245.º-A/1/n) ou o) Cód.VM; art. 1.º/2 e 3 do Regulamento; Parte II do

Modelo de Relatório de Governo Societário]:

(a) Identificação do código de governo das sociedades adotado;

(b) Apreciação da sociedade quanto ao cumprimento das recomendações previstas no mesmo;

(c) Explicação efetiva, justificada e fundamentada da razão do não cumprimento das

recomendações previstas no código adotado, em termos que demonstrem a adequação da

solução alternativa instituída aos princípios de bom governo das sociedades e que

permitam uma valoração dessas razões em termos que a tornem a conduta da sociedade

materialmente equivalente ao cumprimento da recomendação [tendo particularmente em

29 Não obstante, os emitentes de valores mobiliários distintos de ações admitidos à negociação em mercado

regulamentado situado ou a funcionar em Portugal devem divulgar anualmente a informação referida nas alíneas c),

d), f), h), i) e m) do art. 245.º-A/1 (art. 245.º-A/4 Cód.VM).

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consideração a Recomendação da Comissão 2014/208/UE, de 9 de abril de 2014, sobre a

qualidade da informação relativa à governação das sociedades];

(iii) Deve ser divulgado:

(a) Em capítulo do relatório anual de gestão especialmente elaborado para o efeito ou em

anexo a este [art. 245.º-A/1 Cód.VM e art. 1.º/1 do Regulamento]; e

(b) Em módulo autónomo do SDI, via extranet, em simultâneo com as publicações obrigatórias

das contas anuais [Norma n.º 12 da Instrução 1/2010].

Note-se que, entre outros aspetos, o Regulamento define os critérios de aferição da independência dos

administradores não executivos [ponto 18.1 da Parte I do Modelo de Relatório de Governo Societário].

Considerando que o relatório de governo societário é composto por duas partes distintas, cumpre salientar

que, no que respeita à primeira parte, a informação exigível em decorrência do art. 1.º/4 do Regulamento

da CMVM n.º 4/2013 – onde se determina que «[p]ara efeitos do disposto nos números anteriores o

relatório de governo societário inclui os elementos e obedece ao modelo constante do Anexo I do presente

regulamento que dele faz parte integrante.» – é de prestação obrigatória.

A exigibilidade de cumprimento da regra ‘comply or explain’ está reservada para a apreciação que a

sociedade faça relativamente às recomendações previstas no código de governo da sociedade que venha

a ser adotado, a incluir na segunda parte do referido relatório. Aí se exige que sejam identificadas e

devidamente demonstradas as recomendações cumpridas e não cumpridas, neste caso explicando, de

modo efetivo e fundamentado, a razão do não cumprimento, em termos que demonstrem a adequação da

solução alternativa instituída pela sociedade com os princípios de bom governo e que permitam uma

valoração dessas razões em termos que a tornem materialmente equivalente ao cumprimento da

recomendação (art. 1.º/3 do Regulamento da CMVM n.º 4/2013).

Em qualquer circunstância, deve ser assegurada a conformidade da informação prestada com os

requisitos de completude, veracidade, atualidade, clareza, objetividade e licitude, previstos no art. 7.º

Cód.VM.

Assim, a não prestação de informação obrigatória, a prestação de informação que não cumpra os

requisitos do art. 7.º Cód.VM, ou o incumprimento da regra legal e regulamentar de especificar as

eventuais partes do código de governo de que a sociedade diverge e as razões da divergência (art. 245.º-

A/o Cód.VM e Anexo I, Parte II, n.º 2 do Regulamento da CMVM n.º 4/2013) é suscetível de sancionamento

contraordenacional, nos termos gerais previstos no Código dos Valores Mobiliários.

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2.11.3. Fiscalização do cumprimento

Tanto o órgão de fiscalização interna da sociedade (conselho fiscal, comissão de auditoria ou conselho

geral e de supervisão) como o revisor oficial de contas devem atestar se o Relatório de Governo Societário

inclui os elementos previstos no art. 245.º-A [arts. 420.º/5, 423.º-F/2, 441.º/2 e 451.º/4 e 5 CSC]. O revisor

deve ainda incluir, no seu parecer sobre a concordância do relatório de gestão com as contas do exercício,

as matérias referidas nas als. c), d), f), h), i) e m) do art. 245.º-A/1 Cód.VM [art. 451.º/4 e 5 CSC; Circular

N.º 17/11 OROC].

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3. ANEXOS

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Anexo I

Avaliação dos requisitos de independência30

Identifique o membro e o respetivo órgão a que se referem os dados deste

questionário:_________________________________________________________________________

1. É titular de participação qualificada igual ou superior a 2% do capital social da sociedade?

_____________________________________________________________________________

2. Foi reeleito por mais de dois mandatos, seguidos ou intercalados? Em caso afirmativo

especificar os mandatos.

_____________________________________________________________________________

3. Atua em nome ou por conta31 de titular de participação qualificada igual ou superior a 2% do

capital social da sociedade? Em caso afirmativo identificar o titular da participação qualificada.

_____________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________

4. O conselho de administração, ou algum dos seus membros, tem conhecimento de que o

membro do órgão de fiscalização/membro da mesa da assembleia geral [riscar o que não

interessa] esteja, de algum modo, associado a um qualquer grupo de interesses específico na

sociedade ou se encontra em alguma circunstância suscetível de afetar a sua isenção de análise

ou de decisão32? Em caso afirmativo especificar.

_____________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________

30 Devem ser indicados quaisquer factos pertinentes para apreciação da CMVM ainda que o conselho de administração tenha

dúvidas sobre a recondução dos factos às consequências descritas.

31 A título de exemplo, deve ser reportada a existência atual ou passada de qualquer relação de mandato com ou sem

representação entre o membro do órgão social e qualquer titular de participação qualificada ou qualquer pessoa singular ou coletiva

que atue por conta dele ou que lhe preste qualquer dos serviços referidos na nota seguinte.

32 A título de exemplo, deve ser reportada, entre outro tipo de relações, a existência atual ou passada de vínculo laboral, de

consultoria, designadamente económica, financeira ou jurídica ou de qualquer outro tipo de prestação de serviços, mediação,

agência, representação comercial ou franquia entre, por um lado, o membro do órgão social e, por outro, qualquer acionista titular

de participação qualificada ou qualquer pessoa singular ou coletiva que atue por conta ou no interesse desse titular ou lhe preste

serviços referidos nesta nota

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_____________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

5. O conselho de administração, ou algum dos seus membros, tem conhecimento de qualquer

outro facto que, de algum modo, afete ou possa afetar a independência do membro do órgão de

fiscalização/membro da mesa da assembleia geral [riscar o que não interessa] a que se refere o

presente questionário? Em caso afirmativo, especificar.

_____________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________

Anexo II

Avaliação do regime de incompatibilidades

Identifique o membro e o respetivo órgão a que se referem os dados deste

questionário:_________________________________________________________________________

1. É membro de órgão de administração da

sociedade?______________________________________________________________________

2. É membro de órgão de administração de sociedade que se encontre em relação de grupo ou de

domínio com a sociedade? Em caso afirmativo identificar a(s) sociedade(s) em causa.

________________________________________________________________________________

________________________________________________________________________________

3. Exerce funções de administração ou de fiscalização em cinco ou mais sociedades33?

________________________________________________________________________________

________________________________________________________________________________

4. É sócio de sociedade em nome coletivo que se encontre em relação de domínio ou de grupo com a

sociedade?______________________________________________________________________

33 Não se consideram para este efeito as sociedades de advogados, as sociedades de revisores oficiais de contas e os revisores

oficiais de contas.

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5. É revisor oficial de contas em relação ao qual se verifique incompatibilidade prevista na respetiva

legislação?_______________________________________________________________________

6. É interdito, inabilitado, insolvente, falido ou condenado a pena que implique a inibição, ainda que

temporária, do exercício de funções públicas?

________________________________________________________________________________

7. Exerce funções em empresa concorrente, atua em representação ou por conta de empresa

concorrente ou, de qualquer outro modo, está vinculado a interesses de empresa concorrente? Em

caso afirmativo, especificar.

________________________________________________________________________________

________________________________________________________________________________

________________________________________________________________________________

________________________________________________________________________________

8. Presta serviços, de modo direto ou indireto, ou mantém relação comercial com relevo com a sociedade

ou com sociedade que com esta se encontre em relação de domínio ou de grupo? Em caso afirmativo,

especificar.

_________________________________________________________________________________

_________________________________________________________________________________

_________________________________________________________________________________

_________________________________________________________________________________

9. É beneficiário de alguma vantagem particular da sociedade? Em caso afirmativo, especificar.

_________________________________________________________________________________

_________________________________________________________________________________

_________________________________________________________________________________

_________________________________________________________________________________

10. É cônjuge, parente, afim na linha reta ou até ao 3º grau, inclusive, na linha colateral, de pessoa que

se encontre em alguma das situações referidas acima nos números 1, 2, 4, 7 e 9 ou cônjuge de

pessoa abrangida pela situação indicada no número 8?

________________________________________________________________________________

________________________________________________________________________________

________________________________________________________________________________