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0 Universidade Federal da Paraíba Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes Pós-Graduação em Neurociência Cognitiva e Comportamento Émille Burity Dias MARCOS DESENVOLVIMENTAIS DAS FUNÇÕES EXECUTIVAS NA INFÂNCIA JOÃO PESSOA - PB 2019

MARCOS DESENVOLVIMENTAIS DAS FUNÇÕES EXECUTIVAS NA …

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Page 1: MARCOS DESENVOLVIMENTAIS DAS FUNÇÕES EXECUTIVAS NA …

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Universidade Federal da Paraíba

Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes

Pós-Graduação em Neurociência Cognitiva e Comportamento

Émille Burity Dias

MARCOS DESENVOLVIMENTAIS DAS FUNÇÕES EXECUTIVAS

NA INFÂNCIA

JOÃO PESSOA - PB

2019

Page 2: MARCOS DESENVOLVIMENTAIS DAS FUNÇÕES EXECUTIVAS NA …

1

Émille Burity Dias

MARCOS DESENVOLVIMENTAIS DAS FUNÇÕES EXECUTIVAS

NA INFÂNCIA

Tese de doutorado apresentada ao programa de Pós-

Graduação em Neurociência Cognitiva e

Comportamento, da Universidade Federal da

Paraíba, para obtenção do título de doutor.

Orientadora: Profa Dra Carla Alexandra da Silva

Moita Minervino

Linha de Pesquisa: Psicobiologia: processos

psicológicos básicos e neuropsicologia

JOÃO PESSOA

2019

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D541m Dias, Émille Burity. Marcos desenvolvimentais das funções executivas na infância / Émille Burity Dias. - João Pessoa, 2019. 110 f. : il.

Orientação: Carla Alexandra da Silva Moita Minervino. Tese (Doutorado) - UFPB/CCHLA.

1. funções executivas. 2. memória de trabalho. 3. controle inibitório. 4. flexibilidade cognitiva. 5. desenvolvimento. I. Minervino, Carla Alexandra da Silva Moita. II. Título.

UFPB/BC

Catalogação na publicação

Seção de Catalogação e Classificação

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FOLHA DE APROVAÇÃO DE BANCA

Autor (a): Émille Burity Dias

Título: Marcos desenvolvimentais das funções executivas

Tese de doutorado apresentado ao programa de Pós-Graduação em Neurociência Cognitiva e Comportamento, da Universidade Federal da Paraíba, como requisito obrigatório para obtenção do título de doutor.

Aprovado em: João Pessoa, 27 de setembro de 2019.

Banca Examinadora

Dra. Carla Alexandra da S. Moita Minervino Universidade Federal da Paraíba Presidente e Orientadora

Dra. Mirian Graciela da Silva Stiebbe Salvadori Universidade Federal da Paraíba Examinador Interno

Dra. Marine Raquel Diniz da Rosa Universidade Federal da Paraíba Examinador Interno

Dra. Thereza Sophia Jácome Pires Universidade Federal da Paraíba Examinador externo

Dra. Monilly Ramos Araujo Melo Universidade Federal de Campina Grande Examinador Externo

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4

Dedico este trabalho aos pequenos que movem minha vida:

Benício e Laura.

Page 6: MARCOS DESENVOLVIMENTAIS DAS FUNÇÕES EXECUTIVAS NA …

5

AGRADECIMENTOS

Os exemplos da minha vida sempre me ensinaram que toda grande conquista é

baseada em muito trabalho, dedicação e renúncia. Não existe conquista fácil, para chegar

onde se almeja muitas barreiras precisarão ser derrubadas, mas para isso é necessária uma

rede de apoio. Minha imensa gratidão a minha rede de apoio, que me permitiu ultrapassar

as barreiras e alcançar meus objetivos.

Inicialmente agradeço à Deus, que em sua infinita bondade nunca me deixou

desamparada. Sempre colocou no meu caminho as pessoas certas.

Agradeço à minha família: Ayron, por toda palavra de motivação, pelo suporte

com as crianças, pela compreensão nos meus momentos de ausência. Agradeço a Benício

e Laura por se comportarem muito bem na minha ausência, por me dar carinho e amor

nos meus retornos, e por serem a minha maior força.

Obrigada a todos (meus pais, minha sogra, Maria) que cuidaram, alimentaram,

ninaram, amaram e que foram um pouco mãe de meus filhos enquanto eu realizava o

doutorado.

Agradeço imensamente à professora Carla Minervino, meu maior exemplo e

inspiração. Sou grata por ter acompanhado e orientado minha carreira acadêmica desde a

graduação; por ter me incentivado; por ter me aconselhado; por não desistir do meu

potencial. Agradeço por toda compreensão, pela amizade, pelas broncas, e principalmente

pela paciência para comigo.

Agradeço às professoras doutoras que compuseram a banca examinadora: Profa

Marine, Profa Mirian, Profa Thereza e Profa Monilly. Minha eterna admiração e gratidão

pela colaboração, por cada colocação, pela serenidade e calma neste momento de tensão

e muito aprendizado.

Agradeço ao programa de Pós-Graduação em Neurociência Cognitiva e

Comportamento, na pessoa do coordenador professor doutor Flávio e do secretário

Arthur, pela disponibilidade, pronto atendimento, educação e bom manejo nas questões

burocráticas acadêmicas.

Agradeço aos professores do PPGNEC que tanto contribuíram para a minha

aprendizagem, compartilhando com os alunos o seu conhecimento.

Agradeço aos meus colegas de curso, que tornaram essa caminhada mais

divertida, mais amena, dividindo as aflições e tensões.

Page 7: MARCOS DESENVOLVIMENTAIS DAS FUNÇÕES EXECUTIVAS NA …

6

Agradeço imensamente aos meus irmãos do Núcleo de Estudos em Saúde Mental,

Educação e Psicometria (NESMEP), principalmente Andry, Fellipi, Faheyna e Victor por

compartilharem comigo os seus saberes, momentos de descontração, risadas divertidas,

sonhos e realizações.

Agradeço à CAPES pelo fomento, que me permitiu seguir com exclusividade para

execução desta tese.

Agradeço a todos os pais e todas as crianças que deram o seu consentimento para

a participação neste trabalho, e que foram de grande valia para que eu pudesse executá-

lo.

Page 8: MARCOS DESENVOLVIMENTAIS DAS FUNÇÕES EXECUTIVAS NA …

7

“Não se volte, se a meta for as estrelas.”

Leonardo da Vinci

Page 9: MARCOS DESENVOLVIMENTAIS DAS FUNÇÕES EXECUTIVAS NA …

8

SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO .................................................................................................................... 14

1 CAPÍTULO 1: Considerações teóricas sobre funções executivas na infância ........ 16

2 CAPÍTULO 2: Desenvolvimento das funções executivas na infância ....................... 38

3 CAPÍTULO 3: Análise multidimensional das funções executivas na infância ................ 69

4 CAPÍTULO 4: Conclusão geral ............................................................................................ 91

REFERÊNCIAS ........................................................................................................................ 95

ANEXOS

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9

Lista de tabelas

Tabela 1. Modelos explicativos das funções executivas...................................................23

Tabela 2. Distribuição de matrículas por ano escolar no município de João Pessoa, PB

por tipo de escola..............................................................................................................43

Tabela 3. Caracterização da amostra................................................................................45

Tabela 4. Método estatístico utilizado para cada objetivo traçado.................................50

Tabela 5. Estatística descritiva (médias e desvios-padrão) dos grupos de idade (7 a 11

anos).................................................................................................................................51

Tabela 6. Estatística inferencial (MANOVA) da diferença entre os desempenhos dos

grupos de idade................................................................................................................52

Tabela 7. Estatística descritiva (médias e desvios-padrão) dos grupos de sexo...............52

Tabela 8. Estatística inferencial (teste t) da diferença entre os desempenhos dos grupos

de sexo.............................................................................................................................53

Tabela 9. Estatística descritiva (médias e desvios-padrão) dos grupos ano escolar..........53

Tabela 10. Estatística inferencial (MANOVA) da diferença entre os desempenhos dos

grupos de ano escolar.......................................................................................................54

Tabela 11. Estatísticas descritivas da amostra geral.........................................................54

Tabela 12. Dados sumarizados da análise de regressão múltipla para memória de

trabalho............................................................................................................................56

Tabela 13. Coeficientes de análise de regressão para memória de trabalho....................57

Tabela 14. Dados sumarizados da análise de regressão múltipla para flexibilidade

cognitiva..........................................................................................................................57

Tabela 15. Coeficientes de análise de regressão para memória de trabalho......................58

Tabela 16 Dados sumarizados da análise de regressão múltipla para inibição................59

Tabela 17 Coeficientes de análise de regressão para inibição.........................................59

Tabela 18. Modelos estruturais das funções executivas a serem testados (MT: memória

de trabalho, CI: controle inibitório, FC: flexibilidade cognitiva).....................................73

Tabela 19. Distribuição de matrículas por ano escolar no município de João Pessoa, PB

por tipo de escola..............................................................................................................74

Tabela 20. Caracterização da amostra..............................................................................76

Tabela 21. Estatística descritiva (médias e desvios-padrão) dos grupos de idade (7 a 11

anos).................................................................................................................................81

Tabela 22. Índices de análise fatorial confirmatória para amostra geral.........................83

Page 11: MARCOS DESENVOLVIMENTAIS DAS FUNÇÕES EXECUTIVAS NA …

10

Lista de Figuras

Figura 1. Modelo de memória de trabalho de Baddeley, 2000........................................28

Figura 2. Relação entre as variáveis que mensuram as funções executivas.....................55

Figura 3: Modelo Unifatorial...........................................................................................83

Figura 4: Modelo bifatorial FC e CI + MT......................................................................84

Figura 5: Modelo bifatorial CI e FC + MT......................................................................84

Figura 6: Modelo bifatorial MT e FC +CI.......................................................................84

Figura 7: Modelo trifatorial..............................................................................................84

Figura 8: Modelo Fator Geral...........................................................................................85

Page 12: MARCOS DESENVOLVIMENTAIS DAS FUNÇÕES EXECUTIVAS NA …

11

Lista de Abreviaturas e Siglas

FEs = funções executivas

CI = inibição ou controle inibitório

MT = memória de trabalho

FC = flexibilidade cognitiva

FDT = teste do cinco dígitos

Page 13: MARCOS DESENVOLVIMENTAIS DAS FUNÇÕES EXECUTIVAS NA …

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RESUMO

O presente trabalho trata das funções executivas (memória de trabalho, controle inibitório

e flexibilidade cognitiva) na infância, e tem como objetivo principal analisar o

desenvolvimento das funções executivas. Este trabalho foi organizado em três partes, a

saber: 1) Considerações teóricas sobre o tema; 2) Desempenho das FEs nos grupos de

idade; 3) Análise da estrutura de desenvolvimento das FEs. A amostra foi composta por

120 crianças de ambos os sexos, entre 7 e 11 anos, com idade média de 8,96 anos (dp =

1,42). Sendo 47,5% do sexo masculino. As crianças foram distribuídas em cinco grupos,

correspondentes a suas idades, cada grupo com em média 20 crianças. Foram utilizados

os seguintes instrumentos: questionário sociodemográfico, matrizes progressivas de

Raven, teste de atenção por cancelamento, dígitos ordem direta e indireta, teste de cinco

dígitos, teste de trilhas, stroop versão Victória. Foi utilizado o software SPSS para efetuar

as análises descritivas (médias, desvios-padrão, frequências, porcentagens) e análise

inferencial: teste de correlação de Pearson, Manova, Teste t, e regressão múltipla.

Também foi utilizado o Rstudio para execução de análise fatorial confirmatória. Como

resultados principais destaca-se que as crianças mais velhas e de anos escolares mais

avançados apresentam melhores índices de funções executivas. Sendo a variável que

melhor explica o desempenho em funções executivas o ano escolar e a capacidade de

atenção seletiva. Entre 7 e 11 anos observa-se estrutura de desenvolvimento bifatorial.

PALAVRAS-CHAVE: funções executivas, memória de trabalho, controle inibitório,

flexibilidade cognitiva, desenvolvimento, infância, análise fatorial confirmatória

Page 14: MARCOS DESENVOLVIMENTAIS DAS FUNÇÕES EXECUTIVAS NA …

13

ABSTRACT

This paper deals with executive functions (working memory, inhibitory control and

cognitive flexibility) in childhood, and its main objective is to analyze the development

of executive functions. This paper was organized in three parts, as follows: 1) Theoretical

considerations on the subject; 2) Performance of EFs in age groups; 3) Analysis of the

development structure of SFs. One sample consisted of 120 children of both sexes,

between 7 and 11 years old, with an average age of 8.96 years (sd = 1.42). Being 47.5%

male. As children were divided into five groups, corresponding to their ages, each group

with an average of 20 children. The following instruments were used: somiodemographic

questionnaire, Raven progressive matrices, cancellation attention test, direct and indirect

order digits, five-digit test, trail test and victorious version. SPSS software was used to

perform descriptive analyzes (means, standard deviations, frequencies, percentages) and

inferential analyzes: Pearson's correlation test, Manova, t-test and dynamic regression. It

was also used or Rstudio to perform confirmatory factor analysis. As the main results are

displayed as older children and older years present the best rates of executive functions.

Being a variable that best explains the performance in executive functions or school year

and the capacity of selective attention. Between 7 and 11 years, a bifactorial

developmental structure is observed.

KEYWORDS: executive functions, working memory, inhibitory control, cognitive

flexibility, development, childhood, confirmatory factor analysis.

Page 15: MARCOS DESENVOLVIMENTAIS DAS FUNÇÕES EXECUTIVAS NA …

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APRESENTAÇÃO

Este estudo teve como finalidade investigar o desenvolvimento das funções

executivas durante a infância. Sabe-se que as funções executivas é um termo que abrange

um conjunto de outras habilidades cognitivas, e devido a sua multidimensionalidade ela

é considerada como sendo bastante complexa. Dentre as habilidades, ou componentes,

que compõem as funções executivas, estão: memória de trabalho, controle inibitório e

flexibilidade cognitiva. Estas são consideradas funções executivas básicas, e

desenvolvem-se primeiro para dar suporte às funções executivas complexas, que são:

raciocínio, planejamento, organização, tomada de decisão, dentre outras. Esses

componentes atuam de forma harmoniosa com a finalidade de alcançar um determinado

objetivo.

Estudos acerca das funções executivas tem sido de grande interesse na área da

neurospsicologia. No entanto, observa-se, na literatura, grande foco em amostras de pré-

escolares e clínicas (como TDAH, TEA). Estudos que considerem uma amostra típica são

escassos. Este fator associado ao fato de que há uma variedade de métodos e técnicas que

avaliam as funções executivas na infância contribuem para um intenso debate sobre o

tema. Além de refletir em diversas incongruências na literatura, tanto sobre suas

definições, habilidades que a compõem, quanto ao seu desenvolvimento.

Diversos estudos indicam que há uma progressão das funções executivas no

decorrer da idade. Ou seja, as funções executivas melhoram com o avançar da idade. Mas

questões acerca da sua estrutura componencial durante a infância ainda não é um acordo

na literatura. Estudos como o de Hugues et al (2009) levantam evidências sobre estrutura

unifatoral entre 4 e 6 anos, tornando-se bifatorial a partir dos 7 anos. Enquanto que St

Clair Thompson et al. (2006) e Brydges et al. (2014) afirmam uma estrutura bifatorial a

partir dos 9 anos. Nota-se que há uma progressão de estrutura durante a infância, sendo

esta inicialmente unifatorial e tornando-se multifatorial na idade adulta.

Diante o exposto, esta tese pretende contribuir para as discussões sobre as funções

executivas no desenvolvimento típico infantil, buscando entender sua organização

estrutural. Sendo assim, foram avaliadas 120 crianças com desenvolvimento típico, de

ambos os sexos, estudantes de escolas públicas e com idades entre 7 e 11 anos.

Deste modo, o presente trabalho está disposto em quatro capítulos. No primeiro

capítulo será apresentada considerações teóricas sobre as funções executivas, na intenção

de introduzir o leitor a temática estudada. No capítulo 2 serão apresentadas evidências

Page 16: MARCOS DESENVOLVIMENTAIS DAS FUNÇÕES EXECUTIVAS NA …

15

acerca do desenvolvimento dos componentes das funções executivas (memória de

trabalho, controle inibitório e flexibilidade cognitiva) com o objetivo de apontar

diferenças entre idade, sexo e ano escolar. Assim como a relação entre os componentes

das funções executivas e quais variáveis (idade, ano escolar, inteligência, atenção) melhor

contribuem para o seu desempenho. O terceiro capítulo trará dados acerca do

desenvolvimento estrutural das funções executivas na infância. E por fim, o último

capítulo fará uma síntese dos dados apresentados, e as principais implicações para a

ciência e sociedade. Ao término da tese será possível verificar todas as referências

utilizadas e alguns instrumentos utilizados.

Vale ressaltar que os capítulos 1, 2, e 3 foram escritos em formato de artigo. Sendo

assim, o leitor pode iniciar esta tese a partir do capítulo que desejar.

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16

CAPÍTULO 1.

CONSIDERAÇÕES TEÓRICAS SOBRE FUNÇÕES EXECUTIVAS NA

INFÂNCIA

Page 18: MARCOS DESENVOLVIMENTAIS DAS FUNÇÕES EXECUTIVAS NA …

17

RESUMO

Dias, Émille Burity. (2019). Considerações teóricas sobre funções executivas na infância.

In: Marcos desenvolvimentais das funções executivas na infância. Tese de Doutorado,

Centro de ciências humanas, letras e artes, Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa.

As funções executivas (FEs) podem ser consideradas como habilidades ou processos

cognitivos que colaboram para identificar metas, planejar e executar tarefas com a

finalidade de conquistar um objetivo. A literatura a respeito das FEs está em ascensão,

pois o tema é de interesse significativo da neuropsicologia cognitiva, em uma revisão

Baggeta & Alexander (2016) constataram 1400 estudos entre 2000 e 2013. Diante a

relevância da temática em questão este estudo tem por objetivo explicitar, apresentar e

introduzir teoricamente o tema funções executivas na infância, numa revisão da literatura

concisa. Deste modo, abordará considerações essenciais sobre: 1. Definições das funções

executivas; 2. Neuropsicologia das funções executivas; 3. Modelos de funções

executivas; 4. Modelos na infância; Modelo de Diamond; e 5. Estudos na infância.

PALAVRAS-CHAVE: funções executivas, memória de trabalho, controle inibitório,

flexibilidade cognitiva, infância

Page 19: MARCOS DESENVOLVIMENTAIS DAS FUNÇÕES EXECUTIVAS NA …

18

ABSTRACT

Dias, Émille Burity. (2019). Theoretical considerations about executive functions in

childhood. In: Developmental milestones of executive functions in childhood. PhD

Thesis, Center for Humanities, Letters and Arts, Federal University of Paraíba, João

Pessoa.

Executive functions (FEs) can be used as cognitive skills or processes that collaborate to

identify goals, plan and perform tasks in order to achieve a goal. The literature on FE is

on the rise, as the topic is of significant interest to cognitive neuropsychology, in a review

by Baggeta & Alexander (2016) after 1400 studies between 2000 and 2013. Given the

relevance of the subject in question, this study has as its The objective is to explain,

present, present theoretically or the theme executive functions in childhood, in a concise

review. This mode addresses considerations about: 1. Executive function settings; 2.

Neuropsychology of executive functions; 3. Models of executive functions; 4. Models in

childhood; Diamond model; and 5. Studies in childhood.

KEYWORDS: executive functions, working memory, inhibitory control, cognitive

flexibility, childhood.

Page 20: MARCOS DESENVOLVIMENTAIS DAS FUNÇÕES EXECUTIVAS NA …

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INTRODUÇÃO

O estudo acerca das funções executivas tem sido de grande interesse na área da

neuropsicologia cognitiva. Numa extensiva pesquisa na base de dados Psycinfo, Baggeta

& Alexander (2016) constataram 181 estudos sobre a temática em 2013; 1400 estudos

entre 2000 e 2013. Os autores catalogaram cerca de 25 diferentes atributos para as funções

executivas, sendo o mais comum: processo cognitivo de alta ordem. Segundo os autores,

esta variedade de atributos que a literatura menciona confunde, de certo modo, as

definições de funções executivas, culminando na falta de consenso sobre o construto.

Logo, ressalta-se que cerca de oitenta e três referências definem as funções executivas,

sendo os mais citados: Miyake et al (2000) e Friedman & Miyake (2012).

Ademais, não há consenso a respeito dos componentes e processos subjacentes às

funções executivas. Lista-se cerca de trinta e nove diferentes componentes e/ou

processos, sendo os mais comuns mencionados, respectivamente: controle inibitório,

memória de trabalho e flexibilidade cognitiva. Considerando esta variedade, entra-se no

seguinte consenso: o construto das funções executivas é multidimensional. Isto quer dizer

que, este construto é composto por inúmeras habilidades (Elsinger, 1996).

Em revisão (Baggeta & Alexander, 2016), enumera-se quarenta e oito modelos de

funções executivas, sendo os mais citados: Miyake et al (2000), e Diamond (2006, 2013).

Diversos estudos (Hughes et al., 2009; Huizinga, et al., 2006; Brydges, et al., 2014; Shing,

et al, 2010; Xu, et al, 2013) relatam que as funções executivas têm estrutura multifatorial.

Mas alguns pesquisadores postulam que é um construto inicialmente, unitário e com o

avançar do desenvolvimento torna-se multidimensional (Miller, et al, 2012). Entende-se

o desenvolvimento das funções executivas como sendo lento e progressivo,

provavelmente por estar associado a mielinização tardia do córtex pré-frontal, que tem

seu inicio pós-natal, estabelece-se na idade adulta e declina na velhice (Diamond, 2013).

No mais, salienta-se que o funcionamento executivo influencia diversas áreas da

vida do ser humano, como exemplo: aprendizagem, ajustamento e funcionamento do

indivíduo de maneira apropriada a regras e demandas em distintos contextos

(relacionamentos, profissionais, acadêmicos, saúde mental e física, dentre outros),

justificando a importância de seu estudo, e crescente investigação sobre a temática.

No Brasil, as pesquisas sobre esta temática estão sempre coadjuvantes ao estudo

das funções cognitivas gerais, sendo os estudos, na maioria das vezes, com amostras

clínicas (Pureza, et al. 2013).

Page 21: MARCOS DESENVOLVIMENTAIS DAS FUNÇÕES EXECUTIVAS NA …

20

Diante o que fora exposto, este artigo tem o objetivo de explicitar, apresentar,

introduzir teoricamente o tema funções executivas na infância, numa revisão integrativa.

Deste modo, abordará considerações sobre: 1. Definições das funções executivas; 2.

Neuropsicologia das funções executivas; 3. Modelos de funções executivas; 4. Modelos

na infância; Modelo de Diamond; e 5. Estudos na infância.

Definição de funções executivas

As funções executivas (FEs) podem ser consideradas como habilidades,

operações, processos ou capacidades cognitivas que possibilitam ao sujeito identificar

metas, planejar e executar tarefas com a finalidade de conquistar um objetivo (Cypel,

2006; Malloy-Diniz, Paula, Loschiavo-Alvares, Fuentes & Leite, 2010; Cosenza &

Guerra, 2011).

As FEs oportunizam à pessoa produzir o melhor comportamento para situações

sociais, regulá-lo com êxito, de forma autônoma e deliberada (Barros & Hazin, 2013).

Em razão de sua característica autorreguladora, podem ser comparadas a um diretor

executivo de uma empresa – que comanda e fiscaliza setores; bem como ao maestro de

uma orquestra – que coordena e harmoniza diversos instrumentos. As FEs são

consideradas como um processo cognitivo que abrange controle comportamental e

prepara as pessoas para diversas situações. Elas possibilitam comportamento flexível para

mudanças fornecendo as respostas coerentes e suaves (Zelazo, et al. 1997).

Para Diamond (2013) as FEs também podem ser chamadas de controle executivo

e controle cognitivo e se referem ao conjunto de processos mentais top-down, necessário

quando você precisa se concentrar e prestar atenção. As FEs são requisitadas quando

comportamentos automáticos, instintivos ou intuitivos seriam imprudentes, insuficientes

ou impossíveis (Espy 2004).

Usar as FEs requer esforço, visto que é mais fácil continuar fazendo o que tem se

tem feito do que mudar. Deste modo as habilidades integradas e coordenadas pelas FEs

são requisitadas e úteis em novas ações - possibilitando o controle do comportamento -,

e não rotineiras – ou seja, quando o processamento automático não é suficientemente

adequado (Seabra, Reppold, Dias & Pedron, 2014). Sendo assim, as FEs tem uma

importante função adaptativa (Goldberg, 2002).

Esta função adaptativa das FEs torna-se comprometida quando há situações de

estresse (Liston et al. 2009), tristeza, (Hirt et al. 2008), solidão (Tun et al. 2012), privação

de sono (Barnes et al. 2012), ou problemas na aptidão física (Best 2010).

Page 22: MARCOS DESENVOLVIMENTAIS DAS FUNÇÕES EXECUTIVAS NA …

21

Neuropsicologia das funções executivas

As funções executivas apresentam desenvolvimento gradual, com

amadurecimento consoante ao desenvolvimento ontogenético. Nota-se que na infância as

funções executivas não estão plenamente desenvolvidas, e modificam-se

significativamente até o fim da adolescência. Esta mudança acontece graças a uma

característica plástica do cérebro, denominada neuroplasticidade, ou seja, a capacidade

que o sistema nervoso tem de se alterar em termos de função ou estrutura como resposta

às influências ambientais externas ou internas. A neuroplasticidade envolve, portanto,

processos como ramificação de dendritos, formação e eliminação de sinapses (Cosenza

& Guerra, 2011).

Com o avançar da idade observa-se significativa melhoria das FEs. Os principais

saltos no desenvolvimento das FEs ocorrem em três momentos:

(1) do nascimento aos 2 anos;

(2) entre sete e nove anos;

(3) entre 16 e 19 anos (Capovilla, et al, 2004).

Na idade adulta as FEs se estabilizam e então, na velhice inicia seu declínio natural

(Seabra & Dias, 2012; Malloy-Diniz, Sedo, Fuentes & Leite, 2008). Deste modo, o

desenvolvimento das FEs pode ser caracterizado por uma curva em forma de U invertido.

O desenvolvimento tardio das funções executivas é comumente associado a

maturação maturação prolongada do córtex pré-frontal (Zelazzo, Craik & Booth, 2004).

No desenvolvimento intrauterino o cortéx pré frontal - área cerebral responsável pelas

funções executivas - inicia seu desenvolvimento. No entanto, é, somente após o

nascimento que as conexões do sistema nervoso se amadurecem. O córtex pré-frontal

(CPF), especialmente, é a última região a completar seu amadurecimento. Os neurônios

do CPF têm dendritos mais densos (Elston, Benavides-Piccione & DeFelipe, 2001),

permitindo assim, melhor processamento das informações, inclusive a níveis mais

complexos (Roth & Dicke, 2005). Observa-se um desenvolvimento progressivo referente

ao processo de mielinização, proliferação neuronal e sinaptogênese do CPF (O’Hare &

Sowell, 2008).

Considera-se que o lobo frontal, especificamente o córtex pré-frontal - região

filogeneticamente mais moderna do cérebro humano, que compreende as regiões do lobo

frontal anteriores ao córtex motor primário - está diretamente relacionada as FE, sendo

dividida funcionalmente em três diferentes áreas (Cypel, 2006; Mourão Junior & Melo,

2011; Fuster, 1994).:

Page 23: MARCOS DESENVOLVIMENTAIS DAS FUNÇÕES EXECUTIVAS NA …

22

1. Orbitofrontal ou ventromedial: responsável pelas emoções e seleção de objetos;

2. Dorsolateral: participa na avaliação e organização de conceitos, memória de

trabalho, organização e expressão de atividades voluntárias;

3. Frontomedial ou giro do cíngulo: interfere na motivação, volição, interesse e

atenção sustentada.

O córtex pré-frontal é ativado sempre que há a necessidade do indivíduo aprender

coisas novas. Logo, para atividades automatizadas, onde não é necessário raciocínio nem

resolução de problemas, o recrutamento das funções executivas torna-se pouco necessário

(Diamond, 2013).

Fatores de desenvolvimento do sistema nervoso contribuem significativamente

para o bom funcionamento das FEs. Mas, fatores ecológicos são igualmente importantes

na contribuição deste bom funcionamento, visto que é necessário um ambiente que

estimule tais habilidades, proporcione um bom estado de saúde e nutricional, nível

socioeconômico, escolaridade dos pais (Stelzer, Cervigini, Martino & 2011).

Modelos de funções executivas

Existem inúmeros modelos que explicam as funções executivas. No entanto, a

maioria se refere ao funcionamento executivo em adultos.

Apesar de não ter utilizado o termo funções executivas, Luria (1973) pode ser

considerado um dos pioneiros no estudo do funcionamento executivo. A partir de suas

investigações neuropsicológicas, elaborou o modelo de funcionamento cerebral por

sistemas. Nesta perspectiva postulou que o cérebro seria decomposto em três unidades

hierárquicas, associadas a regiões neuroanatômicas específicas. As unidades funcionais

do cérebro atuariam de modo conjunto em favor da regulação do comportamento (Luria,

1973).

Para Luria (1966), a primeira unidade funcional seria a responsável pelas reações

fisiológicas básicas, que garantiriam a sobrevivência como batimentos cardíacos e vigília.

Tais funções seriam possíveis graças a regiões cerebrais subcorticais, como o tronco

encefálico. A segunda unidade funcional garantiria a recepção, análise e armazenamento

de informações advindas dos sentidos (visuais, auditivas e táteis). Subjancente a segunda

unidade estariam as regiões posteriores do cérebro, como os lobos parietais, occipitais e

temporais.

Por fim, a terceira unidade diz respeito à funções mais complexas e executivas.

Esta unidade se encarregaria de regular, monitorar e programar a atividade mental, sendo

Page 24: MARCOS DESENVOLVIMENTAIS DAS FUNÇÕES EXECUTIVAS NA …

23

o lobo frontal a região cerebral que oportunizaria estas funções. Nota-se que a atribuição

da terceira unidade é compatível com habilidades executivas de planejamento,

autorregulação e monitoramento. Habilidades estas, que atualmente são associadas às

funções executivas.

Outro modelo teórico das FEs que se classifica como construto único é a hipótese

do marcador somático, concebido por Damásio (1994). Para este estudioso a escolha

racional é guiada por marcadores somáticos. Em outras palavras: a tomada de decisão

seria orientada por reações emocionais. Quando se toma uma decisão, o resultado produz

uma reação emocional que se bem estabelecida ocorrerá antes das próximas escolhas. Em

síntese, a emoção influencia a tomada de decisão.

A hipótese do marcador somático faz associação entre o córtex órbito frontal, giro

do cíngulo anterior e amígdala, a partir da averiguação de pacientes com lesões no córtex

pré-frontal ventromedial, que apresentam déficits na capacidade de decidir, e na sua

função social, sem agravo cognitivo aparente.

O modelo teórico das FEs proposto por Lezak e colaboradores (2004)

compreendia que o funcionamento executivo consistia em quatro componentes, a saber:

(1) Volição: que trata da capacidade de envolver-se em comportamento intencional,

formular objetivo, iniciar atividades, dedicar-se a uma tarefa por longo período de tempo

e estar motivado. (2) Planejamento: se refere a habilidade de identificar e organizar as

etapas necessárias para atingir um objetivo. Habilidade de memorizar, controlar impulsos

e sustentar atenção. (3) Comportamento com propósito: programar atividades com

coerência com o objetivo que se pretende alcançar. Iniciar e manter-se numa atividade,

flexibilizar o seu curso, inibir comportamentos inadequados. (4) Desempenho efetivo: se

refere às habilidades essenciais para volição, planejamento e comportamento em

constante automonitoramento. Foi Lezak em 1982, o primeiro a utilizar o termo funções

executivas. Até então tem-se Luria utilizando termos como: planejamento,

monitoramento e regulação.

De acordo com Miyake (2000) as funções executivas são compostas por

componentes/fatores. Através de análise fatorial, Miyake (2000,2012) estabelece que as

funções executivas são compostas por fatores independentes como memória de trabalho,

flexibilidade cognitiva e inibição, que se correlacionariam moderadamente. E também

por um fator geral que coordenaria esses fatores tornando ativo o objetivo da tarefa.

Page 25: MARCOS DESENVOLVIMENTAIS DAS FUNÇÕES EXECUTIVAS NA …

24

Os modelos de Lezak e Miyake são bem definidos para adultos. Os modelos de

funções executivas na infância, consideram aspectos desenvolvimentais das funções

executivas.

Modelos na infância

No que se refere a infância, pode-se pontuar duas vertentes que explicam o

desenvolvimento das funções executivas:

1) Os estudos que postulam que as FEs são uma estrutura unificada (Munakata,

2001; Posner e Rothbart, 2007; Zelazo & Frye, 1998; Zelazo & Muller, 2002);

2) Os estudos que postulam que as FEs como uma estrutura de componentes

dissociados (Diamond, 2006 e 2013); e

O modelo postulado por Munakata (2001, 2005) compreende que as funções

executivas apresentam natureza unitária na primeira infância. A regulação do

comportamento é possível em virtude da inter-relação entre representações latente e ativa.

As representações latentes se referem aos hábitos e armazenamento na memória de longo

prazo que se expande, de modo gradual, durante todo o desenvolvimento pós natal. A

representação ativa seriam as funções cognitivas atenção e memória de trabalho; esta

representação apresenta um desenvolvimento lento e progressivo durante toda a infância.

As representações ativa e latente funcionam de forma interativa, mas havendo divergência

entre elas, a representação ativa é preponderante à latente.

Diamond, 2013 propõe que a memória de trabalho (MT), controle inibitório (CI), e

flexibilidade cognitiva (FC) são componentes dissociados e com diferentes trajetórias de

desenvolvimento. Esses componentes seguem uma curva de desenvolvimento com

períodos de pico que acontecem depois da metade do primeiro ano de vida e entre 3 e 6

anos de idade (Diamond, 2001).

Senn, Espy & Kaufmann (2004) usando path analises da relação entre FEs básicas e

complexas concluem que escores de MT e CI são correlatos. Ao passo que FC não se

correlaciona com outros escores. O que indica que as FEs se constituem como um

construto com estrutura de componentes dissociados mas mutuamente relacionados.

Page 26: MARCOS DESENVOLVIMENTAIS DAS FUNÇÕES EXECUTIVAS NA …

25

Modelo de desenvolvimento das funções executivas de Diamond

O modelo de desenvolvimento de Diamond (2013, 2014), entende as funções

executivas como conjunto de processos mentais top-down. Essas funções são habilidades

essenciais para vários aspectos da vida como manejo da saúde física e mental, sucesso na

escola e na vida, e desenvolvimento cognitivo, social e psicológico.

Compõem as funções executivas, três núcleos de funções executivas (Lehto et al.

2003, Miyake et al. 2000):

Inibição (CI): controle inibitório, incluindo autocontrole (inibição

comportamental) e controle de interferências (atenção seletiva e inibição

cognitiva);

Memória de trabalho (MT);

Flexibilidade cognitiva (FC): também chamada de mudança de cenário,

flexibilidade mental ou mudança mental intimamente ligada à criatividade.

Os componentes principais das funções executivas (inibição, MT, FC) são fatores

dissociados, porém, relacionados. A partir destes núcleos, desenvolvem-se funções

executivas de ordem superior como raciocínio, resolução de problemas e planejamento.

a) Inibição

A inibição refere-se à habilidade de controlar a atenção, comportamento, pensamentos

e / ou emoções para invalidar uma predisposição preponderante (interna ou atração

externa) e, então, inibi-la, fazendo o que é mais apropriado ou necessário no momento. A

inibição é importante, pois sem ela o sujeito ficaria em favor de impulsos, hábitos antigos

(condicionados) e / ou estímulos no ambiente. Deste modo, a inibição permite que o

sujeito mude e que escolha reações e comportamentos ao invés de agir por impulso ou

instinto. A inibição envolve: autocontrole e inibição de interferências - inibição cognitiva

e atenção seletiva (Diamond, 2013).

Inibição de atenção: refere-se ao controle da interferência a nível da percepção. A

atenção seletiva é primordial para tal controle, pois ela filtra os distratores e seleciona os

estímulos alvo. A inibição da atenção pode ser voluntária, ou seja, é possível que se

escolha deliberadamente qual estímulo inibir, dependendo do seu objetivo (Theeuwes

2010).

Inibição cognitiva: refere-se ao controle de interferências mentais, atuando na

supressão de representações mentais prepotentes como aprendizagens, pensamentos,

memórias, inclusive o esquecimento intencional (Anderson & Levy, 2009). Usualmente,

Page 27: MARCOS DESENVOLVIMENTAIS DAS FUNÇÕES EXECUTIVAS NA …

26

a inibição cognitiva auxilia e da suporte à memória de trabalho, tendendo a se

relacionarem fortemente.

Autocontrole: abrange o controle sobre o comportamento, e regulação emocional.

Refere-se ao controle de impulsos (ex: controlar a vontade de comer doces quando se está

de dieta). Compreende manter condutas socialmente corretas (ex: não furar a fila). Além

disso, diz respeito a ter disciplina para permanecer e completar uma tarefa, independente

de distrações. Está relacionado com o aspecto final do autocontrole - atrasar a recompensa

(Mischel et al. 1989) - forçar-se a esquecer de um prazer imediato por uma recompensa

maior a longo prazo. Sem disciplina e capacidade de adiar a recompensa, é impossível

completar uma tarefa complexa e longa (ex: escrever uma tese).

b) Memória de trabalho (MT)

A primeira descrição sobre memória de trabalho foi realizada por Baddeley e Hitch

(1974) e independente do conceito de funções executivas. Estudos (Diamond, 2013,;

Huizinga, et al, 2006; Miyake, et al, 2000; Miyake & Friedman, 2012) tem firmemente

associado a memória de trabalho como um componente das funções executivas.

A memória de trabalho está relacionada com a competência de reter e manipular a

informação num determinado período de tempo (Diamond, 2006, 2013). Este

componente tem por principal função prestar auxílio à atenção seletiva e assim, favorecer

a representação mental da informação. A principal característica da memória de trabalho

é seu armazenamento temporário, que dura o tempo necessário para que a informação

seja manipulada durante o processamento de determinada tarefa (Baddeley, 2007).

A MT é base para realização de operações matemáticas, reorganização de lista de

tarefas, reorganização de planejamentos (atualização de novas informações, considerar

novas alternativas, relacionar ideias), raciocínio lógico, criatividade (pois envolve a

combinação de elementos a partir de novas perspectivas), conhecimento conceitual,

tomada de decisões (pois considera eventos passados, objetivos para planos (Diamond,

2013). A MT pode ser classificada em dois tipos a depender do conteúdo informação:

MT verbal: auditiva

MT não-verbal: visuo-espacial

O modelo explicativo da MT mais utilizado é o de Baddeley e Hitch (1994) que fora

atualizado (Baddeley, 2000) e conjectura que pode-se observar o controle executivo na

memória de trabalho através do seu principal componente chamado executivo central que

funciona recrutando e gerenciando outros sistemas (alça fonológica e alça visuoespacial)

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27

durante a execução de tarefas. É sua função acessar a informação, manipulá-la, modifica-

la e integrá-la a elementos da memória de longo prazo. Como também, analisar as

informações advindas de imputs sensoriais, seleção de informações mais relevantes, filtro

de informações que serão armazenadas e resgatas pela memória de longo prazo de acordo

com a necessidade (Baddeley, 2002, 2007).

A alça fonológica permite que informações linguísticas, como os sons da linguagem

sejam armazenados temporariamente concomitante ao desenvolvimento de uma tarefa

cognitiva. A alça visuoespacial permite a manutenção temporária de letras do alfabeto,

bem como diversos outros símbolo na cognição.

O buffer ou retentor episódico coopera para que dados fonológicos e visuoespaciais

sejam integrados, principalmente para formar a semântica das informações. Gera uma

representação em um sistema de armazenamento temporário até que a informação seja

utilizada (Baddeley , 2007; ver figura 1).

Figura 1. Modelo de memória de trabalho de Baddeley, 2000

c) Flexibilidade cognitiva (FC):

A flexibilidade cognitiva envolve diversos aspectos como (Diamond, 2013):

Mudança de perspectiva espacial: analisar um objeto/espaço/situação por novo

ângulo. Por exemplo: um determinado objeto muda caso seja visualizado por um ângulo

diferente?

Mudança de perspectiva interpessoal: Por exemplo: tentar compreender o ponto de

vista de outra pessoa. Para alterar a perspectiva é necessário inibir a perspectiva anterior

e ativar na MT elementos da nova perspectiva. E é por tal motivo que considerando os

componentes básicos das FEs, a flexibilidade cognitiva é mais complexa e desenvolve-se

após a MT e inibição (Davidson et al. 2006, Garon et al. 2008).

Page 29: MARCOS DESENVOLVIMENTAIS DAS FUNÇÕES EXECUTIVAS NA …

28

Mudança de perspectiva de pensamento: refere-se a mudança da forma como se pensa

sobre algo (“pensar fora da caixa”). Por exemplo: optar por uma nova forma de resolução

de um determinado problema, tendo em vista que a resolução anterior não está sendo

eficaz.

Ajuste de planos: envolve ser flexível o suficiente para se ajustar às prioridades,

admitir erros, e aproveitar oportunidades repentinas e vantajosas. Por exemplo: quando

se tem um planejamento em mente, e de repente surge uma oportunidade que o obriga a

modificar o planejamento.

Criatividade: usar a seu favor ideias inovadoras para uma situação, não ser monótono.

Por exemplo: utilizar novas estratégias de aprendizagem quando não se compreende um

determinado assunto.

Em suma, a flexibilidade cognitiva é o oposto de rigidez cognitiva, é a habilidade

de se adaptar as mudanças do ambiente. Possibilita ao sujeito lidar com situações novas,

sem se apegar a padrões comportamentais (Seabra, et al, 2012).

As habilidades de MT, CI, FC são consideradas como funções executivas básicas.

Estas funções dão suporte para o posterior desenvolvimento de funções mais complexas

como: raciocínio, planejamento, tomada de decisão. Espera-se que ao término da

adolescência já se tenha desenvolvido as funções executivas básicas (Diamond, 2006).

Desenvolvimento das funções executivas: estudos na infância

A pesquisa e teorização sobre as FEs na infância tem sido desproporcionalmente

focada em crianças em idade pré-escolar (Best et al 2009). Diversos estudos (Leon, et al.,

2018; Brydges et al., 2014; Xu et al., 2013; Hughes et al., 2009, dentre outros) trazem

considerações sobre o desenvolvimento das funções executivas durante a infância. Sabe-

se que existem diferenças na estrutura dos componentes das funções executivas durante

a infância. No entanto, não há consenso entre os estudos sobre o modelo estrutural que

predomina para cada idade.

Os modelos estruturais das funções executivas podem ser (Xu, et al., 2013):

Um único fator: três fatores (MT, CI, FC) indistinguíveis;

De dois fatores:

o CI e FC indistinguíveis e MT distinta

o FC e MT indistinguíveis e CI distinto

o CI e MT indistinguíveis e FC distinto

Três fatores distintos mas correlatos (MT, CI, FC).

Page 30: MARCOS DESENVOLVIMENTAIS DAS FUNÇÕES EXECUTIVAS NA …

29

Em um estudo longitudinal (Brydges, et al, 2014) com crianças (n=135) de 8 a 10

anos observaram diferenças estruturais nos períodos de teste (T1 = 8,3 anos e T2 = 10,3

anos). As análises evidenciaram para uma estrutura unifatorial em T1. Já aos 10,3 anos

foi revelado um modelo bifatorial MT e CI+FC; ou seja, inibição e flexibilidade cognitiva

eram indistinguíveis, enquanto que a memória de trabalho era distinta. Além disso, a

estrutura unifatorial observada em T1 fora parcialmente preditiva para os dois fatores

observados em T2.

Noutro estudo (Xu, et al, 2013), foi analisada uma grande amostra de crianças e

adolescentes Japonesas (N=457) entre 7 e 15 anos, separados em três grupos por idade

(G1 = 7-9 anos; G2= 10-12 anos e G3= 13-15 anos). Os resultados deste estudo indicaram

uma progressão de desenvolvimento das funções executivas (modelo unifatorial ao três

fatores). Especificamente, o modelo unifatorial foi observado no G1 e G2. Notou-se o

modelo de três fatores para o G3. Diante essas evidências, foi considerada a hipótese de

que as funções executivas desenvolvem-se a partir de uma capacidade geral relativamente

unificada para habilidades cognitivas diferenciadas e específicas com o decorrer do

desenvolvimento infantil.

Com o objetivo de investigar sobre a organização das funções executivas em

crianças da Finlândia, Letho et al. (2003) utilizaram como ferramenta a análise fatorial

exploratória em dados de uma amostra de crianças com idade entre 8 e 13 anos (N=108;

m=10,5 anos; dp=1,3anos). Concluiram que a memória de trabalho e a flexibilidade

cognitiva apresentam correlação moderada durante o avançar da idade. Além disso, a

melhor estrutura para as funções executivas nesta faixa etária seria o modelo de três

fatores, semelhante aos achados de Miyake. Logo, as funções executivas apresentariam

um fator geral, mas seriam diversificadas, sugerindo que os fatores são separados mas

relacionados. Para este estudo os modelos unifatorial e bifatorial não apresentaram bons

índices.

De acordo com Brydges, et al. (2012), que investigaram 215 crianças da Australia

entre 7 anos e 9 anos e 11 meses (m= 8,4 anos dp=1,1anos), a estrutura das funções

executivas não se altera nesta faixa etária. Após análise fatorial confirmatória, chegou-se

à conclusão de que até os 9 anos e 11 meses a estrutura é unifatorial. As crianças mais

velhas (9 anos) obtiveram melhor desempenho nos testes que avaliaram as funções

executivas.

As FEs básicas facilitam a resolução de problemas complexos na escola. Numa

investigação (Jacobson & Pianta, 2007) sobre relações entre o funcionamento da escola

Page 31: MARCOS DESENVOLVIMENTAIS DAS FUNÇÕES EXECUTIVAS NA …

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e FEs; e as relações preditivas entre os dois, nota-se que associações entre FEs e

desempenho acadêmico são significativas, embora geralmente moderadas, e,

notadamente, persistem até o sexto ano ou talvez até mais tarde (Jarvis & Gathercole,

2003).

St. Clair-Thompson e Gathercole (2006) encontraram uma associação entre bom

desempenho em matemática, MT e inibição em crianças de 11 e 12 anos de idade. Os

autores sugerem que as crianças que têm dificuldade em manter informações pertinentes

na MT, ignorando informações irrelevantes e mudando de uma estratégia para outra têm

dificuldade em usar e avaliar estratégias para resolver problemas de matemática.

Diferentes atividades acadêmicas (por exemplo, matemática, leitura e escrita)

parecem envolver diferentes combinações de componentes das FEs. As tentativas de

descobrir a causalidade entre as FEs e o funcionamento da escola foram inconclusivas

(Best et al, 2009). Uma vez que essas relações sejam esclarecidas, intervenções podem

ser desenvolvidas para reforçar os domínios FEs específicos subjacentes a cada

habilidade acadêmica (Fischer & Daley, 2007).

Conforme revisão (Best, et al, 2009) nota-se melhora contínua de todos os

componentes provavelmente até a adolescência, bem como trajetórias de

desenvolvimento um pouco diferentes para cada componente. Embora as formas

rudimentares de cada domínio FEs possam surgir cedo na vida, elas não só se tornam

totalmente funcionais muito mais tarde. Então, durante o envelhecimento, declínios

específicos para FEs surgem.

Em estudo (Brocki & Bohlin, 2004) investigou-se a dimensionalidade

(desinibição, memória de trabalho e fluência) do desenvolvimento do funcionamento

executivo. Em estudo transversal com 92 crianças de 6 a 13 anos (divididas em quatro

grupos). Concluíram, a partir de suas análises que duas estruturas: inibição e memória de

trabalho são prevalentes na faixa etária estudada.

Outra perspectiva (Huizinga, et al. 2006) avaliou as FEs de crianças entre 7 e 11

anos, adolescentes de 15 anos, e jovens adultos com 21 anos. A conclusão principal foi

que nessas faixas etárias predomina estrutura bifatorial das FEs (MT e FC), sendo este

achado consistente com os de Miyake, et al. 2009).

Em contrapartida, ao analisar o desempenho de pré-escolares em FEs, Senn et al

(2004) conclui que MT e CI são medidas correlacionadas, e que FC não se correlaciona

com nenhuma outra medida. Na infância as FEs são dissociadas, mas os componentes são

inter-relacionados em um certo grau.

Page 32: MARCOS DESENVOLVIMENTAIS DAS FUNÇÕES EXECUTIVAS NA …

31

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Em suma, diante da significativa falta de consenso sobre o construto das funções

executivas, pode-se definir, de modo geral, como um conjunto de habilidades cognitivas

que atuam de forma colaborativa para atingir um determinado objetivo. Deste modo, ele

é considerado multidimensional. As habilidades cognitivas mais mencionadas pelos

estudos na infância são: memória de trabalho, controle inibitório e flexibilidade cognitiva.

Ressalta-se, ainda, a importância das funções executivas para diversas áreas da vida,

como acadêmica, profissional, saúde física e mental. Logo, torna-se um construto de

importante relevância para estudos. Principalmente, quando se trata da investigação

acerca de seu desenvolvimento. Conclusões sobre o desenvolvimento das funções

executivas são bastante controversas. Autores (Best et al 2009; Martin & Failows, 2010)

sinalizam que o maior motivo da falta de consenso seria devido à variedade de tarefas e

métodos. Sendo assim, é espera-se a execução de estudos que tenham a intenção de

contribuir para elucidar sobre questões do desenvolvimento da estrutura das funções

executivas em crianças.

Page 33: MARCOS DESENVOLVIMENTAIS DAS FUNÇÕES EXECUTIVAS NA …

32

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Page 37: MARCOS DESENVOLVIMENTAIS DAS FUNÇÕES EXECUTIVAS NA …

36

Zelazo, P. D., Müller, U., Frye, D., Marcovitch, S., Argitis, G., Boseovski, J., ... &

Carlson, S. M. (2003). The development of executive function in early

childhood. Monographs of the society for research in child development, i-151.

Page 38: MARCOS DESENVOLVIMENTAIS DAS FUNÇÕES EXECUTIVAS NA …

37

CAPÍTULO 2

DESENVOLVIMENTO DAS FUNÇÕES EXECUTIVAS NA INFÂNCIA

Page 39: MARCOS DESENVOLVIMENTAIS DAS FUNÇÕES EXECUTIVAS NA …

38

RESUMO

Dias, Émille Burity. (2019). Desenvolvimento das funções executivas. In: Marcos

desenvolvimentais das funções executivas na infância. Tese de Doutorado, Centro de

ciências humanas, letras e artes, Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa.

O presente trabalho trata das funções executivas (memória de trabalho, controle inibitório

e flexibilidade cognitiva) na infância, e tem como objetivo principal analisar o

desenvolvimento das funções executivas. Especificamente este trabalho pretende: 1)

Verificar a correlação entre FEs e idade, desempenho no teste de inteligência e atenção;

2) Comparar o desempenho das FEs nos grupos de idade, sexo e ano escolar; 3) Avaliar

o efeito preditivo da idade, ano escolar e inteligência sobre desempenho das FEs.

Participaram deste estudo: 120 crianças de ambos os sexos, entre 7 e 11 anos, com idade

média de 8,96 anos (dp = 1,42). Sendo 47,5% do sexo masculino. As crianças foram

distribuídas em cinco grupos, correspondentes a suas idades, cada grupo com em média

20 crianças. Foram utilizados os seguintes instrumentos: questionário sóciodemográfico,

matrizes progressivas de Raven, teste de atenção por cancelamento, dígitos ordem direta

e indireta, teste de cinco dígitos, teste de trilhas, stroop versão victória. Foi utilizado o

software SPSS para efetuar as análises descritivas (médias, desvios-padrão, frequências,

porcentagens) e análise inferencial: teste de correlação de Pearson, Manova, Teste t, e

regressão múltipla. Como resultados principais destaca-se que as crianças mais velhas e

de anos escolares mais avançados apresentam melhores índices de funções executivas.

significativa diferença de desempenho em funções executivas entre os grupos de idade e

ano escolar. Sendo a variável que melhor explica o desempenho em funções executivas o

ano escolar e a capacidade de atenção seletiva. Os componentes das funções executivas

estão relacionados de moderadamente.

PALAVRAS-CHAVE: funções executivas, memória de trabalho, controle inibitório,

flexibilidade cognitiva, desenvolvimento, infância

Page 40: MARCOS DESENVOLVIMENTAIS DAS FUNÇÕES EXECUTIVAS NA …

39

ABSTRACT

Dias, Émille Burity. (2019). Development of executive functions. In: Developmental

milestones of executive functions in childhood. PhD Thesis, Center for Humanities,

Letters and Arts, Federal University of Paraíba, João Pessoa.

This paper deals with executive functions (working memory, inhibitory control and

cognitive flexibility) in childhood, and its main objective is to analyze the development

of executive functions. Specifically, this paper aims to: 1) Verify the correlation between

EFs and age, intelligence and attention test performance; 2) Compare the performance of

the EFs in the age, sex and school year groups; 3) Evaluate the predictive effect of age,

school year and intelligence on the performance of EFs. Participated in this study: 120

children of both sexes, between 7 and 11 years old, with an average age of 8.96 years (sd

= 1.42). Being 47.5% male. The children were divided into five groups, corresponding to

their ages, each group with an average of 20 children. The following instruments were

used: sociodemographic questionnaire, Raven progressive matrices, cancellation

attention test, direct and indirect order digits, five-digit test, trail test, stroop winning

version. SPSS software was used to perform descriptive analyzes (means, standard

deviations, frequencies, percentages) and inferential analysis: Pearson's correlation test,

Manova, t-test, and multiple regression. As main results, it is noteworthy that older

children and those with more advanced school years have better rates of executive

functions. Significant difference in performance in executive functions between age and

school year groups. Being the variable that best explains the performance in executive

functions the school year and the capacity of selective attention. The components of

executive functions are moderately related.

KEYWORDS: executive functions, working memory, inhibitory control, cognitive

flexibility, development, childhood.

Page 41: MARCOS DESENVOLVIMENTAIS DAS FUNÇÕES EXECUTIVAS NA …

40

INTRODUÇÃO

Pode-se definir funções executivas como um termo “guarda-chuva”, tendo em

vista que abrange diferentes processos cognitivos que cooperam para o controle do

pensamento e comportamento com intencionalidade a atingir um objetivo (Zelazo &

Carlson, 2012). É concordância que existem três componentes básicos das funções

executivas: controle inibitório, memória de trabalho e flexibilidade cognitiva (Lehto et al.

2003; Miyake et al. 2000; Diamond, 2006).

O controle inibitório é a capacidade de controlar a atenção, pensamentos,

comportamento e emoções, inibindo estímulos preponderantes externos. É a capacidade

é usar a atenção a atenção seletiva para focar e escolher opções de modo não impulsivo.

A memória de trabalho se refere a capacidade de manter a informação na mente e

manipulá-la por um curto período de tempo. A flexibilidade cognitiva refere-se à

habilidade de mudar de perspectiva para resolver um problema, ajustar-se a demandas,

regras ou prioridades (Diamond, 2013). Outras habilidades mais complexas, também

compõem as funções executivas como planejamento, processamento da informação,

monitoramento de múltiplas tarefas e ações (Dixon et al. 2010, Pureza, 2013).

Devido à complexidade, multidimensionalidade e alto nível de interação com

outras habilidades cognitivas, as FEs têm sido o foco de inúmeros estudos na

neuropsicologia (Pureza, et al. 2013, Viola & Grassi-Oliveira, 2012; Willcutt et al. 2005).

No entanto, observa-se que há uma menor atenção para a análise do desenvolvimento das

FEs em crianças saudáveis (Pureza et al. 2013), sendo o maioria dos estudos conduzidos

em amostras clínicas (Anderson et al. 2010; Johnstone et al. 2007) ou pré-escolares (Blair

et al. 2005; Liebermann et al. 2007).

Sabe-se que o desenvolvimento das FEs é bastante complexo e depende da maturação

das regiões cerebrais frontais, além da sua intercomunicação com outras áreas corticais,

bem como outras estruturas (hipocampo, cerebelo e glanglio basal) (García-Molina et al.

2009; Matute et al. 2008).

Existem três perspectivas que explanam o desenvolvimento das funções

executivas durante a infância, a saber:

Perspectiva 1: Estudos (Munakata, 2001; Posner e Rothbart, 2007; Zelazo & Frye,

1998; Zelazo & Muller, 2002) que confirmam que as FEs são uma única estrutura; há os

estudiosos;

Perspectiva 2: Os estudos (Diamond, 2006 e 2013) que postulam as FEs como uma

estrutura de componentes dissociados;

Page 42: MARCOS DESENVOLVIMENTAIS DAS FUNÇÕES EXECUTIVAS NA …

41

Perspectiva 3: estudos (Huizinga, Dolan, Van der Molen, 2006; Lehto, et al. 2003)

que afirmam que as FEs apresentam uma estrutura unitária, mas com componentes

parcialmente dissociados.

De acordo com Davidson et al (2006) durante os cinco primeiros anos observa-se

desenvolvimento parcial das FEs, sendo identificados três componentes: memória de

trabalho, flexibilidade e inibição. No entanto, a evolução das FEs aparenta ser

progressiva, visto que ao término da adolescência todos os componentes estão

completamente desenvolvidos (Diamond, 2006; Hughes & Graham, 2008; Huizinga, et

al. 2006). Outra característica do desenvolvimento das FEs é o aspecto assimétrico, tendo

em vista que cada componente tem sua própria trajetória de desenvolvimento (Diamond,

2013).

Em estudo com 90 escolares entre 6 e 12 anos Pureza et al (2013) ressalta a

significante influência dos anos escolares para o desempenho das FEs, sendo assim

quanto maior a escolaridade melhor é o desempenho nas tarefas que mensuram FEs. Além

disso observou-se que a flexibilidade cognitiva atinge seu ápice entre 11 e 12 anos de

idade, e a memória de trabalho atinge seu pico entre 6 e 8 anos.

Num estudo correlacional (Towse & Maclachlan, 1999) com 42 escolares entre 8 e

11 anos, analisando a relação entre idade, tempo e acurácia na tarefa, observou-se que as

crianças mais novas (aproximadamente 6 anos) apresentam mais dificuldades nas tarefas

que demandam memória de trabalho do que os mais velhos.

Em estudo com 92 crianças, entre 6 e 13 anos, Brocki & Bohlin (2004)

constataram que fatores biológicos e demográficos influenciam o desempenho das FEs,

havendo significativa diferença no decorrer do desenvolvimento. Bem como observa-se

forte relação entre os componentes inibição e memória de trabalho.

Outros estudos (Davidson et al. 2006; Molina et al. 2009; Huizinga et al. 2006)

concordam que os componentes apresentam desenvolvimento distintos com base na

idade, sendo que o mais significativo desenvolvimento acontece entre o inicio e final da

infância.

Deste modo, o objetivo geral é analisar o desenvolvimento das funções executivas

na infância. Especificamente objetiva-se: 1. Verificar a correlação entre funções

executivas (memória de trabalho, controle inibitório, flexibilidade cognitiva), idade, ano

escolar, inteligência e atenção; 2. Comparar o desempenho das funções executivas

(memória de trabalho, controle inibitório, flexibilidade cognitiva) nos grupos de idade,

Page 43: MARCOS DESENVOLVIMENTAIS DAS FUNÇÕES EXECUTIVAS NA …

42

sexo e ano escolar; 3. Avaliar o efeito preditivo de variáveis idade, atenção, inteligência

e ano escolar sobre desempenho das funções executivas.

MÉTODO

Este estudo apresenta delineamento de levantamento onde analisará a diferença

de desempenho dos componentes das funções executivas e tem como variáveis de

interesse: memória de trabalho, flexibilidade cognitiva e inibição; idade. Variáveis de

controle: sexo, QI, atenção.

População e local do estudo

A população deste estudo é constituída por estudantes do ensino fundamental,

matriculados em escolas públicas municipais e particulares de João Pessoa, nos anos

escolares iniciais (1º ao 6º), de ambos os sexos.

Conforme o Instituto nacional de estudos e pesquisas educacionais (INEP, 2017),

no município de João Pessoa – PB, foram matriculadas, em 94 escolas públicas

municipais, cerca de 26.972 indivíduos. Nas 170 escolas particulares foram matriculadas

cerca de 25.156 alunos. Totalizando 52.130 crianças matriculadas entre o 1º e 6º ano (

tabela 2).

Tabela 2 Distribuição de matrículas por ano escolar no município de João Pessoa, PB por tipo de escola. Tipo de escola

Ano escolar Pública Particular

% do total

3.563

13,2

4.627

% do total

3.707

13,7

4.297

% do total

4.914

18,2

4.281

% do total

4.660

17,3

4.126

% do total

4.546

16,8

4.027

Page 44: MARCOS DESENVOLVIMENTAIS DAS FUNÇÕES EXECUTIVAS NA …

43

% do total

5.582

20,7

3.800

Total

% total

26.972

100

25.158

A pesquisa foi executada nas escolas públicas da cidade de João Pessoa – PB. Em

ambiente a parte da sala de aula, estruturado com cadeiras, mesa, ventilação e iluminação

adequada.

Amostra

A amostra da pesquisa foi selecionada conforme a técnica de amostragem por

conveniência. O tamanho da amostra foi escolhido de acordo com as indicações de

estudos anteriores. Abaixo estão listados os critérios de elegibilidade da amostra:

Crianças entre 7 e 11 anos e 11 meses;

Ambos os sexos;

Regularmente matriculados;

Assíduos;

sem déficits sensoriais ou físicos não corrigidos;

que não apresente distorção série-idade;

sem laudos neurológicos;

sem indicações de transtornos de aprendizagem;

sem indicações de sintomas de TDAH;

com escore dentro do esperado nos testes de inteligência e atenção.

No total foram avaliadas 178 crianças. No entanto, apenas 120 crianças se

encaixaram nos critérios de elegibilidade. Sendo assim, a amostra contou com 120

crianças, que foram divididas em cinco grupos de idade (7 a 11 anos), a média de idade

foi 8,96 anos (dp = 1,42). Todos estudantes assíduos da rede municipal de ensino da

cidade de João Pessoa – PB

Page 45: MARCOS DESENVOLVIMENTAIS DAS FUNÇÕES EXECUTIVAS NA …

44

Tabela 3. Caracterização da amostra

Idade f %

7 26 21,7

8 23 19,2

9 24 20

10 24 20

11 23 19,2

Sexo f %

Feminino 63 52,5

Masculino 57 47,5

Ano Escolar f %

1 7 5,8

2 25 20,8

3 18 15

4 28 23,3

5 21 17,5

6 21 17,5

Instrumentos

Questionário sócio demográfico: Questionário de fácil aplicação, com questões

objetivas de múltipla escolha, de fácil e rápido manejo. Contemplou questões que

possibilitaram caracterizar os participantes, quanto a idade, sexo, dificuldades de

aprendizagem, sintomas para TDAH, além de determinar seu nível socioeconômico. As

questões referentes aos dados sócio demográficos foram aplicadas junto a secretaria da

instituição, enquanto que as questões referente à aprendizagem e TDAH foram aplicadas

com os professores.

Matrizes Progressivas Coloridas de Raven – Escala Especial (MPCR): Aplicada a

faixa etária de 5 a 11 anos. Constituída por três séries de 12 itens: A, Ab e B. Os itens são

distribuídos em ordem crescente de dificuldade, onde a série posterior é mais difícil que

a anterior. Cada série é iniciada com itens fáceis, objetivando introduzir o individuo a um

novo tipo de raciocínio, que será exigido nos itens seguintes. Todos os itens consistem

por uma matriz ou desenho com uma parte em falta, abaixo do mesmo apresenta-se seis

Page 46: MARCOS DESENVOLVIMENTAIS DAS FUNÇÕES EXECUTIVAS NA …

45

alternativas distintas, sendo que apenas uma completa o espaço em branco. O individuo

precisa escolher uma das seis alternativas. A intenção do MPCR é analisar um dos

componentes do fator “g”, a capacidade edutiva relacionada à formação de novos insights

criativos e construto superior (Bandeira, et al, 2004).

Teste de atenção por cancelamento (TAC): Consiste em três matrizes impressas

com diferentes tipos de estímulos. A tarefa é assinalar (cancelar) todos os estímulos iguais

ao estímulo-alvo previamente determinado. A primeira parte do teste avalia atenção

seletiva e consiste em uma prova de cancelamento de figuras numa matriz impressa com

seis tipos de estímulos (cículo, quadrado, triângulo, cruz, estrela e retângulo), num total

de 300 figuras, dispostas de modo aleatório, onde a figura – alvo é indicada na parte

superior da folha.

A segunda parte avalia atenção seletiva num maior grau de dificuldade. A tarefa

é semelhante a primeira parte, no entanto, o estímulo-alvo composto por figuras duplas.

Nesta segunda etapa o individuo deve buscar um par de figuras geométricas. A terceira

parte avalia atenção seletiva com demanda de alternância, sendo necessário mudar o foco

de atenção a cada linha. Pois, o estímulo-alvo muda a cada linha, devendo ser considerada

como alvo a primeira figura de cada linha. O tempo máximo de execução para em cada

parte da tarefa pe de um minuto.

Para cada parte do TAC são computados três escores diferentes, a saber: (1)

número total de acertos – número de estímulos-alvo corretamente cancelados; (2) número

de erros – número de estímulos não alvo incorretamente cancelados; e (3) número de

ausências – número de estímulos alvo que não foram cancelados. Além disso há a

possibilidade de computar o escore total, ou seja, a soma de cada escore obtido em cada

parte do TAC. O teste pode ser aplicado de modo coletivo (Godoy, 2012).

Dígitos ordem direta e inversa: Este teste será retirado do WISC-IV quarta

edição da Escala de Inteligência para Crianças de David Wechsler, que tem por objetivo

avaliar a capacidade intelectual de crianças e adolescentes (6 a 16 anos). Este instrumento

é composto por 15 subtestes. Para esta pesquisa será utilizado o subteste memória de

dígitos na ordem direta e inversa. A ordem direta mede a memória auditiva sequencial. A

memória de dígitos na ordem inversa avalia a capacidade da memória de trabalho. O teste

fornece duas sequências numéricas, de 2 a 8 sequências de dígitos, para cada subteste de

memória (ordem direta e inversa). Será atribuído 0 ponto se o examinando errar ambas as

sequências, 1 ponto se responder corretamente uma das sequências e 2 pontos se acertar

ambas as sequências. Os escores para ordem direta e inversa são somados separadamente.

Page 47: MARCOS DESENVOLVIMENTAIS DAS FUNÇÕES EXECUTIVAS NA …

46

O escore máximo para o subteste na ordem direta é 16 pontos e 16 pontos para a ordem

inversa, somando ao total 32 pontos.

Teste de Cinco Dígitos: (Five Digits Test – FDT, Sedó, 2014) tem objetivo de

avaliar a velocidade do processamento, atenção e funções executivas (controle inibitório

e flexibilidade cognitiva). Trata-se de um instrumento não verbal, de aplicação individual,

que contempla a faixa etária de 6 a 92 anos de idade.

O FDT é uma tarefa numérica dividida em quatro etapas: leitura, contagem,

escolha e alternância. Em suma, as duas primeiras etapas do FDT envolvem

processamento atencional automático e velocidade do processamento. A terceira e quarta

etapa demanda processamento atencional controlado e fluidez verbal, envolvendo

funções executivas (controle inibitório e flexibilidade cognitiva). Para análise do

instrumento computa-se o tempo de reação da tarefa, erros cometidos, bem como os

escores de interferência (subtração do tempo de leitura, do tempo de escolha, e este do

tempo de alternância, dando origem aos escores de inibição e flexibilidade cognitiva)

(Oliveira et al., 2014).

Teste de trilhas (TT): O teste de trilhas parte A e B, avalia a atenção alternada e a

flexibilidade cognitiva. O teste é composto por duas partes. A parte A é composta por

duas folhas, uma para letras e outra para números. Ambas as folhas apresentam 12 letras

ou 12 números de A a M e de 1 a 12), dispostos aleatoriamente. O examinando deve ligar

as letras em ordem alfabética e os números em ordem crescente. A parte B, consiste em

letras e números randomicamente dispostos na folha. O examinando deve ligar os itens

em sequências alfabética e numérica. O instrumento computa 3 escores: (1) corresponde

a sequência, (2) corresponde às conexões e (3) escore total que corresponde à soma dos

outros dois (Montiel & Seabra, 2012).

Stroop versão victória: tem por objetivo avaliar o controle inibitório. É composto

por composto por 3 cartões, tamanho 12 cm x 20 cm (altura x largura), todos com 24

estímulos, nas cores verde, azul, vermelho ou amarelo. Os estímulos ficam dispostos em

4 colunas, com intervalo de 1,5 cm entre elas, e 6 linhas, intervalo de 1 cm (Ribeiro,

2011).

É composto por três cartões com retângulos impressos em cores padrão: verde,

vermelho, azul e amarelo. No primeiro cartão são apresentados retângulos nas cores

verde, azul, vermelho e amarelo. No segundo há palavras “cada, nada, nunca, tudo”

impressas nas cores verde, vermelho, azul e amarelo. O último cartão é composto por

nomes das cores “amarelo, verde, vermelho, azul” impressos em cores diferentes (ex:

Page 48: MARCOS DESENVOLVIMENTAIS DAS FUNÇÕES EXECUTIVAS NA …

47

“amarelo”, impresso em azul). A instrução para todos os cartões é a mesma, a criança

deve nomear rapidamente as cores. No primeiro e segundo cartão a criança deve nomear

rapidamente as cores dos retângulos e das palavras. No terceiro cartão, onde é observado

o efeito Stroop, a criança deve nomear as cores em que as palavras foram impressas, e

inibir a resposta prepotente de ler o nome das cores.

Durante toda a aplicação se registra o tempo de resposta cada cartão apresentado.

Calcula-se o efeito de interferência subtraindo o tempo de resposta do terceiro cartão pelo

tempo de resposta do segundo cartão (STRAUSS et al., 2006)

Instrumento Habilidade avaliada

Questionário sócio demográfico Dados sociais (idade, nível

socioeconômico, escolaridade)

Rastreio para transtornos de

aprendizagem e TDAH

Matrizes progressivas de Raven Inteligência

Teste de atenção por cancelamento

(TAC)

Atenção seletiva

Dígitos (ou digit span) (Wisc –IV) Memória de trabalho

Teste de cinco dígitos (FDT) Inibição e Flexiblidade

Trilhas Flexiblidade

Stroop versão Victória Inibição

Quadro 1. Sumário dos instrumentos utilizados

Procedimentos éticos

Os procedimentos éticos foram baseados nas diretrizes da resolução nº 466/12 do

Conselho Nacional de Saúde/MS e suas Complementares, outorgada em 13 de Junho de

2013. Com finalidade de assegurar os direitos e deveres que dizem respeito à comunidade

científica, ao(s) sujeito(s) da pesquisa e ao Estado, e a Resolução/UFPB/CONSEPE.

Vale salientar que este estudo faz parte de um projeto de pesquisa “guarda-chuva”,

intitulado Funções Executivas na Infância, que foi apreciado e aprovado pelo comitê de

ética do Centro de Ciências Médicas da Universidade Federal da Paraíba sob número de

CAAE 12234619.7.0000.8069.

Page 49: MARCOS DESENVOLVIMENTAIS DAS FUNÇÕES EXECUTIVAS NA …

48

Além da permissão do comitê de ética e da anuência dos diretores das escolas

públicas, foi solicitado aos pais prévia autorização para participação dos seus filhos,

através da assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). As

crianças que aceitaram fazer parte do estudo, por meio de assinatura do Termo de

Assentimento (TA), tiveram seus nomes substituídos por nomes fictícios, de maneira que

não houve constrangimento para os sujeitos amostrais envolvidos na pesquisa.

Esta estudo apresentou riscos de fadiga, cansaço e desmotivação para os seus

participantes. Mas que foram amenizados com a divisão da coleta de dados em três etapas

e com intervalo de pelo menos 24 horas entre cada etapa. Ressalta-se que, todas as

crianças participaram do estudo de modo voluntário, sendo assim não existiu nenhum tipo

de premiação ou pagamento em troca dos dados que foram coletados.

As crianças foram instruídas que poderiam desistir a qualquer tempo de sua

participação na pesquisa, bem como os responsáveis poderiam desistir de ceder os dados

já coletados. Caso ocorresse qualquer desistência, os dados coletados referentes ao(s)

desistente(s) não seriam utilizados nas análises estatísticas e, consequentemente nas

futuras publicações científicas.

Procedimentos de coleta de dados

Os dados foram coletados em escolas públicas municipais da cidade de João

Pessoa (PB) após a assinatura do termo de consentimento livre e esclarecido (TCLE),

pelos responsáveis dos alunos. Também foi solicitada a assinatura do termo de

assentimento (TA), pelos próprios estudantes consentindo a sua participação nesta

pesquisa. A bateria de avaliação foi dividida em três etapas, a saber: (1) questionário sócio

demográfico; (2) avaliação da atenção e inteligência e; (3) avaliação das funções

executivas.

Na primeira etapa foi preenchido, pela pesquisadora responsável, junto a

administração da escola o questionário sociodemográfico. Na segunda etapa, foram

aplicados os testes que avaliam atenção e inteligência: matrizes coloridas de Raven e

TAC. Na terceira etapa foram aplicados os instrumentos que avaliam as funções

executivas.

Cada etapa durou cerca de 40 minutos. A segunda e terceira etapa foram realizadas

em ambiente a parte da sala de aula, de forma individualizada. Entre a segunda e terceira

Page 50: MARCOS DESENVOLVIMENTAIS DAS FUNÇÕES EXECUTIVAS NA …

49

etapa houve um intervalo de 24 horas, para evitar efeitos de fadiga por parte dos

participantes.

Foram treinadas para aplicação três pesquisadoras. Tendo em vista que os

instrumentos utilizados eram em versão “lápis e papel” todo o material (folhas de

resposta, lápis comum, borracha) foram disponibilizados pelos aplicadores.

Procedimentos de análise de dados

As análises foram realizadas com o auxílio do pacote estatístico Statistical

Package for the Social Sciences – SPSS (versão 21.0 para Windows). Para atender aos

objetivos foram efetuadas análises estatísticas descritivas: aferição de frequência

absoluta, porcentagens, médias, desvios padrão. Foi utilizada a seguinte estatística

inferencial (tabela 4):

1. Teste de correlação de Pearson: será possível determinar a direção do

relacionamento entre as variáveis – se positivos ou negativos; e a

magnitude do relacionamento sendo: +- 0.1 a +- 0.3 fraca; 0.4 a 0.6

moderada e 0.7 a 0.9 forte.

2. MANOVA: através deste teste será possível analisar diferenças entre os

grupos de crianças no desempenho em memória de trabalho, flexibilidade

cognitiva e controle inibitório;

3. Regressão múltipla: analisar o modo que as variáveis explicativas

combinadas estão relacionadas com a variável de critério (efeitos

cumulativos) e como cada variável preditora está relacionada a de critério

(efeitos separados), separadamente. Será utilizado o método de entrada de

variáveis explicativas por blocos, chamado setpwise.

Tabela 4. Método estatístico utilizado para cada objetivo traçado

Objetivo Método estatístico

Verificar a relação entre os

componentes das FEs; idade; ano

escolar, atenção e inteligência

Correlação de Pearson

Comparar o desempenho das FEs nos

grupos de idade, ano escolar e sexo

MANOVA e teste t

Page 51: MARCOS DESENVOLVIMENTAIS DAS FUNÇÕES EXECUTIVAS NA …

50

Avaliar o efeito preditivo da idade,

sexo, ano escolar, atenção,

inteligência

Regressão múltipla

RESULTADOS

Este estudo tem por objetivo analisar o desenvolvimento das funções executivas

na infância. Deste modo, os resultados serão apresentados brevemente em três etapas:

1.análise do desempenho em funções executivas por grupos de idade; 2. Análise da

relação entre as variáveis estudadas; e 3. Análise do efeito preditivo de variáveis como

idade, ano escolar, inteligência e atenção sobre o desempenho das funções executivas.

Comparação do desempenho das FEs nos grupos de idade, ano escolar e sexo

Tabela 5. Estatística descritiva (médias e desvios-padrão) dos grupos de idade (7 a 11

anos)

Grupos de idade Atenção Raven Trilhas Stroop* Dígitos Inibição* Flexibilidade*

7 anos Média 47,7 19,4 7,5 10,7 10,5 58,9 76,8

DP 11,427 4,149 3,711 12,382 2,249 23,555 20,774

8 anos Média 61,4 22,6 9,9 14,4 10,8 44,7 57,8

DP 14,190 4,639 3,642 10,162 2,367 13,538 19,798

9 anos Média 70,0 25,3 13,5 9,0 12,4 34,5 45,3

DP 16,999 4,029 3,977 5,517 2,062 9,736 15,262

10 anos Média 74,4 25,6 13,3 11,7 12,33 38,9 40,7

DP 10,746 3,358 3,609 6,537 2,278 22,115 17,035

11 anos Média 80,0 26,5 15,4 11,9 13,5 32,4 40,0

Dp 11,763 3,502 4,283 7,144 2,041 11,377 14,147

*Variável mensurada em tempo de reação (segundos)

Ressalta-se que as crianças mais velhas, do grupo de 11 anos, apresentam escores

maiores e melhores do que as crianças mais novas (7,8,9,e 10 anos) nas variáveis: atenção,

inteligência e digit span – que mensura a memória de trabalho. No que se refere as

variáveis que mensuram flexibilidade cognitiva, observa-se que as crianças de 11 anos

Page 52: MARCOS DESENVOLVIMENTAIS DAS FUNÇÕES EXECUTIVAS NA …

51

apresentam melhores índices na variável Trilhas, e menor tempo de reação na variável

Flexibilidade. Condizente as variáveis que mensuram controle inibitório, pontua-se que

na variável Stroop as crianças de 9 anos obtiveram melhores tempos de reação. Dado

controverso a variável Inibição, observa-se que as crianças mais velhas apresentam

melhores e menores tempos de reação, enquanto que as mais novas apresentam maior

tempo de reação na tarefa (tabela 5).

Tabela 6. Estatística inferencial (MANOVA) da diferença entre os desempenhos dos

grupos de idade

Variáveis F GL p

Atenção 22,52 P<0,01

Raven 13,38 P<0,01

Trilhas 16,61 P<0,01

Stroop 1,21 p> 0,05

Dígitos 7,83 P<0,01

Inibição 9,51 P<0,01

Flexibilidade 18,94 P<0,01

As análises demonstram que existe uma diferença multivariada entre os grupos de

idade F (28, 394) = 5,09; p<0,001 ʎ de Wilks = 0,32. Nota-se (tabela 6) que há diferença

entre os grupos de idade para todas as variáveis estudadas, exceto para a variável Stroop,

que mensura controle inibitório.

Tabela 7. Estatística descritiva (médias e desvios-padrão) dos grupos de sexo

Sexo Atenção Raven Trilhas Stroop* Dígitos Inibição* Flexibilidade*

Feminino Média 65,67 23,40 12,05 12,06 11,59 40,97 53,33

DP 17,27 4,49 4,81 9,19 2,60 15,17 19,79

Masculino Média 67,14 24,30 11,72 10,95 12,25 43,72 52,25

DP 17,51 4,94 4,72 8,46 2,23 23,52 25,05

Observa-se que para os escores de atenção, Raven, dígitos, inibição e flexibilidade

os meninos obtiveram melhores médias (tabela 7). No entanto, estas diferenças não são

estatisticamente significativas (tabela 8).

Page 53: MARCOS DESENVOLVIMENTAIS DAS FUNÇÕES EXECUTIVAS NA …

52

Tabela 8. Estatística inferencial (teste t) da diferença entre os desempenhos dos grupos

de sexo

Variáveis t p

Atenção 0,11 0,74

Raven

Trilhas 0,26 0,87

Stroop 0,18 0,66

Dígitos 2,10 0,15

Inibição (FDT) 2,98 0,08

Flexibilidade (FDT) 3,97 0,07

Observa-se (tabela 9) que as crianças matriculadas nos anos escolares mais

avançados (5º e 6º ano) apresentam melhores escores em todas as variáveis analisadas:

atenção, inteligência, flexibilidade cognitiva, inibição e memória de trabalho. Vale

salientar que para a variável Stroop, que avalia inibição, as crianças do 5º ano obtiveram

melhores médias.

Tabela 9. Estatística descritiva (médias e desvios-padrão) dos grupos ano escolar

Ano Escolar Atenção Raven Trilhas Stroop* Dígitos Inibição* Flexibilidade*

1º ano Média 45,57 18,00 6,29 14,29 9,86 59,29 79,29

DP 4,03 3,74 2,62 21,19 2,61 26,44 16,35

2o ano Média 51,76 20,92 8,32 11,48 10,72 56,24 73,72

DP 14,09 4,62 3,70 9,29 1,99 21,40 23,06

3o ano Média 59,72 22,67 10,17 12,50 10,39 44,39 57,56

DP 14,64 5,07 3,85 9,56 1,88 13,48 16,86

4o ano Média 71,25 25,04 13,68 11,00 12,39 40,00 46,86

DP 14,57 3,92 3,67 6,67 1,98 19,52 15,01

5o ano Média 75,81 26,00 13,62 9,86 12,81 31,52 34,86

Dp 11,75 3,42 3,96 5,38 2,50 11,28 12,14

6o ano Média 80,43 26,43 15,38 12,24 13,71 31,95 40,95

Dp 12,01 3,21 4,38 7,18 2,05 11,33 14,61

*Variável mensurada em tempo de reação (segundos)

Page 54: MARCOS DESENVOLVIMENTAIS DAS FUNÇÕES EXECUTIVAS NA …

53

Tabela 10. Estatística inferencial (MANOVA) da diferença entre os desempenhos dos

grupos de ano escolar

Variáveis F GL p

Atenção 18,16 4, 120 ,000

Raven 9,10 4, 120 ,000

Trilhas 13,51 4, 120 ,000

Stroop 0,36 4, 120 ,870

Dígitos 8,83 4, 120 ,000

Inibição 7,97 4, 120 ,000

Flexibilidade 18,90 4, 120 ,000

As análises demonstram que existe uma diferença multivariada entre os grupos de

idade F(7,35) = 4,05; p<0,001 ʎ de Wilks = 0,32. Nota-se (tabela 10) que há diferença

entre os grupos de idade para todas as variáveis estudadas, exceto para a variável Stroop,

que mensura controle inibitório.

Relação entre as variáveis estudadas

Tabela 11. Estatísticas descritivas da amostra geral

Variável Média Dp Mínimo Máximo

Raven 23,8 4,7 14 33

Atenção 66,3 17,3 26 108

Trilhas 11,8 4,7 4 24

Flexibilidade* 52,8 22,3 18 118

Inibição* 42,2 19,5 15 124

Stroop* 11,5 4,8 1 61

Digit span 11,9 2,4 5 19

*Variável mensurada em tempo de reação (segundos)

Diante as análises de correlação, nota-se que todas as variáveis estudadas se

associam em algum grau, exceto o escore no teste de stroop.

As variáveis idade e ano escolar apresentam uma correlação positiva forte e

significativa (r= +0.95; p<0,001). Idade e atenção (r= +0,64; p<0,001), inteligência (r=

+0,53; p<0,001), digit span (r= +0,44; p<0,001) e trilhas (r= +0,58; p<0,001) apresentam

correlação positiva moderada e significativa. A idade apresentou relação com as medidas

Page 55: MARCOS DESENVOLVIMENTAIS DAS FUNÇÕES EXECUTIVAS NA …

54

de inibição (r= -0,44; p<0,001) e flexibilidade (r= -0,58; p<0,001) negativa, porém

moderada e significativa.

A inteligência, mensurada pelo escore de Raven, apresentou relação positiva,

moderada e significativa com as variáveis trilhas (r= 0,50; p<0,001) e digit span (r= 0,50;

p<0,001). Pontua-se relação negativa, significativa e moderada com variáveis inibição

(r= - 0,46; p<0,001) e flexibilidade (r= - 0,55; p<0,001).

Figura 2. Relação entre as variáveis que mensuram as funções executivas

Referente a relação entre os componentes das funções executivas, assinala-se que

todos os componentes estão relacionados em algum grau, exceto a variável stroop, que

mensura controle inibitório (ver figura 2).

Observa-se que as medidas que avaliam flexibilidade cognitiva (trilhas e

flexibilidade) estabelecem correlação com a medida inibição de forma significativa e

moderada. Enquanto que a variável que mensura memória de trabalho está correlacionada

com as demais variáveis num grau mais fraco apesar de estatisticamente significativo

(Figura 2).

-.46

Trilhas

Flexibilidade

FDT

Inibição

FDT

dígitos

stroop

-.54

-.24

.74

- .33

.49

Page 56: MARCOS DESENVOLVIMENTAIS DAS FUNÇÕES EXECUTIVAS NA …

55

Avaliar o efeito preditivo da idade, ano escolar, atenção, inteligência

As variáveis preditoras explicam significativamente a memória de trabalho (tabela

12), a idade 19%, a inteligência 20%, o ano escolar 26% . Nota-se que as variáveis o ano

escolar (F(4,119)=14,882; p<0,001) exercem maior influência sobre a habilidade de

memória de trabalho. Todas as variáveis juntas explicam cerca de 30% da memória de

trabalho.

Tabela 12. Dados sumarizados da análise de regressão múltipla para memória de trabalho

Variáveis preditoras Memória de trabalho

R² (ajustado) R²(modificado)

1. Idade 0,19 0,19**

2. Inteligência 0,21 0,19**

3. Ano escolar 0,27 0,25**

4. Atenção 0,28 0,25**

A associação entre memória de trabalho e as variáveis explicativas é moderada.

Tanto ano escolar quanto atenção estão positivamente correlacionadas com a memória de

trabalho. O coeficiente de regressão do ano escolar foi de 1,31 (t = 3,08; p=0,003). Os

coeficientes de padronizados indicam que o ano escolar (0,82) é a variável que melhor

explica a habilidade de memória de trabalho (tabela 13).

Page 57: MARCOS DESENVOLVIMENTAIS DAS FUNÇÕES EXECUTIVAS NA …

56

Tabela 13. Coeficientes de análise de regressão para memória de trabalho

Memória de trabalho

Modelos B EP B β

Constante

1 idade 0,76 0,14 0,44**

Constante

2 Idade 0,63 0,16 0,37**

QI 0,07 0,05 0,13

Constante

3 Idade -0,76 0,45 -0,45

QI 0,06 0,04 0,12

Ano Escolar 1,38 0,42 0,86**

Constante

4 Idade -0,78 0,45 -0,45

QI 0,05 0,05 0,09

Ano escolar 1,31 0,42 0,82**

Atenção 0,01 0,01 0,09

As variáveis preditoras explicam significativamente a flexibilidade cognitiva

(tabela 14), a idade 32%, a inteligência 234%, o ano escolar 40% e a atenção 45%. Nota-

se que a variável atenção (F(4,119)=25,892; p<0,001) exerce maior influência sobre a

habilidade de flexibilidade cognitiva. Todas as variáveis juntas explicam cerca de 50%

da variável critério.

Tabela 14. Dados sumarizados da análise de regressão múltipla para flexibilidade

cognitiva

Variáveis preditoras Flexibilidade cognitiva (FDT)

R² (ajustado) R²(modificado)

1. Idade 0,33 0,32**

2. Inteligência 0,35 0,34**

3. Ano escolar 0,41 0,40**

4. Atenção 0,47 0,45**

Page 58: MARCOS DESENVOLVIMENTAIS DAS FUNÇÕES EXECUTIVAS NA …

57

A associação entre flexibilidade cognitiva e as variáveis explicativas é moderada.

A variável atenção e ano escolar estão negativamente correlacionadas com a flexibilidade

cognitiva. O coeficiente de regressão de atenção foi de -0,44 (t = 3,630; p<0,001). Os

coeficientes de padronizados indicam que a atenção (-0,34) é a variável que melhor

explica a habilidade de flexibilidade cognitiva (tabela 15).

Tabela 15. Coeficientes de análise de regressão para flexibilidade cognitiva

Flexibilidade cognitiva (FDT)

Modelos B EP B β

Constante

1 idade

-9,04

1,17

-0,57**

Constante

2 Idade

Qi

-7,75

-0,73

1,37

0,41

-0,49**

-0,15

Constante

3 Idade

Qi

Ano escolar

4,59

-0,68

-12,12

3,75

-0,39

-3,45

0,29

-0,14

-0,83**

Constante

4 Idade

Qi

Ano escolar

Atenção

5,05

-0,19

-10,00

-0,44

3,57

0,40

3,34

0,12

0,32

-0,04

-0,68**

-0,34**

As variáveis preditoras explicam significativamente a inibição (tabela 16), a idade

18%, a inteligência 26%, o ano escolar 30%, a atenção 35%. Nota-se que as variáveis o

ano escolar (F(4,119)=27,267; p<0,001) e atenção (F(4,119)=25, 892; p<0,001) exercem

maior influência sobre a habilidade de inibição. Todas as variáveis juntas explicam cerca

de 40% da inibição (tabela 16).

Page 59: MARCOS DESENVOLVIMENTAIS DAS FUNÇÕES EXECUTIVAS NA …

58

Tabela 16 Dados sumarizados da análise de regressão múltipla para inibição

Variáveis preditoras Inibição (FDT)

R² (ajustado) R²(modificado)

1. Idade 0,19 0,18**

2. Inteligência 0,27 0,26**

3. Ano escolar 0,32 0,30**

4. Atenção 0,37 0,35**

A associação entre inibição e as variáveis explicativas é moderada. Todas as

variáveis preditoras estão negativamente correlacionadas a variável inibição. O

coeficiente de regressão do ano escolar foi de -8,16 (t = 2.568; p=0,001). Os coeficientes

de padronizados indicam que o ano escolar (3,18) é a variável que melhor explica a

habilidade de inibição (tabela 17).

Tabela 17 Coeficientes de análise de regressão para inibição

Inibição (FDT)

Modelos B EP B β

Constante

1 idade

-6,00

1,132

-0,43**

Constante

2 Idade

Qi

-6,00

1,132

-0,43**

Constante

3 Idade

Qi

Ano escolar

6,46

-1,34

-9,86

3,522

0,373

3,241

0,47

-0,32**

-0,77**

Constante

4 Idade

Qi

Ano escolar

Atenção

6,83

-0,95

-8,16

-0,35

3,40

0,38

3,18

0,11

0,49

-0,23*

-0,64**

-0,31**

Page 60: MARCOS DESENVOLVIMENTAIS DAS FUNÇÕES EXECUTIVAS NA …

59

DISCUSSÃO

Os dados serão discutidos em blocos, para facilitar a compreensão do leitor. Estes

blocos corresponderão aos componentes das funções executivas: controle inibitório,

memória de trabalho e flexibilidade cognitiva.

Controle inibitório

O controle inibitório se refere à capacidade de suprimir uma reposta dominante,

automático ou prepotente, envolve controle de interferência, esquecimento direcionado,

controle emocional, e controle motor (Nigg, 2000).

No presente estudo o controle inibitório foi avaliado através de dois testes: Stroop

versão victória e a medida de inibição do FDT. Sumariamente, observou-se que as

crianças de nove anos, do 5º ano e do sexo masculino obtiveram melhores escores no teste

Stroop. Controverso aos resultados obtidos na medida de inibição do FDT, onde foi

constatado que as crianças mais velhas (11 anos) obtiveram melhores resultados do que

as crianças mais novas. Além disso, notou-se que crianças do 6º ano também obtiveram

melhores tempos de reação, assim como os participantes do sexo masculino.

Ressalta-se que que para os grupos de sexo (masculino e feminino) não foram

averiguadas diferenças estatísticas, tanto para Stroop como para medida de inibição do

FDT, assim como em Wright & Diamond (2014). Destaca-se que para as medidas do

Stroop não foram averiguadas diferenças estaticamente significativas para idade ou ano

escolar. Diferente da medida de inibição do FDT, onde foram averiguadas diferenças

significativas para idade e ano escolar. Estes dados sinalizam para um provável

desenvolvimento do controle inibitório entre 7 e 11 anos, haja vista que o desempenho de

crianças de 7 anos é diferente do desempenho de crianças de 11 anos, além do mais

sinaliza para não distinção de desempenhos entre o sexo feminino e masculino. É

importante frisar, a importância da escolaridade, visto que as crianças matriculadas em

séries mais avançadas apresentaram melhores respostas do que aquelas crianças

matriculadas no início do ciclo.

Com relação aos dados obtidos pelo teste de Stroop, questiona-se os motivos pelos

quais eles não condizem aos resultados obtidos na medida de inibição do FDT. Vale

salientar, que há uma diferença importante entre os dois testes: o stroop é formado por

palavras, enquanto que o FDT é formado por números. Todas as crianças avaliadas foram

oriundas de escolas públicas, e apesar de terem sido sinalizadas como sem dificuldades

de aprendizagem por seus professores, nota-se dificuldade para automatizar a leitura,

Page 61: MARCOS DESENVOLVIMENTAIS DAS FUNÇÕES EXECUTIVAS NA …

60

provavelmente, devido a falhas do sistema de ensino. Logo, observou-se que crianças de

séries mais avançadas apresentam desempenhos mais consistentes no teste de stroop.

Outro ponto de destaque, refere-se a relação entre as variáveis que mensuram o

controle inibitório e as demais variáveis que mensuram as funções executivas. Este dado

corrobora com outros estudos (St Clair-Thompson, et al. 2006). O desempenho do teste

de Stroop não se correlaciona com nenhuma outra variável analisada. Divergente da

medida de inibição do FDT que apresentou correlação com todas as variáveis, exceto a

de Stroop.

Observa-se que a medida que a idade avança, a escolaridade progride, o nível

atencional e escore de QI aumentam, o controle inibitório apresenta bons índices de

desempenho. Ademais, nota-se que o controle inibitório apresenta relação moderada com

a flexibilidade cognitiva, enquanto que com a memória de trabalho a relação é fraca, mas

´todas significativas.

A inteligência, atenção, idade e o ano escolar contribuem de modo importante para

o desempenho em controle inibitório. No entanto, destas citadas, a que melhor prevê o

desempenho é o ano escolar.

Alguns estudos apontam para uma melhoria do controle inibitório durante a

primeira infância em tarefas de Stroop Dia / Noite, O jogo de punho e dedo de Luria e a

tarefa A-not-B (Carlson & Moses, 2001; Hughes, 1998; Sabbagh, Xu, Carlson, Moses e

Lee, 2006).

Outro estudos constataram que durante a adolescência e idade adulta jovem não

há melhorias significativas (Romine & Reynolds, 2005). Contudo, Huizinga et al. (2006)

encontraram contínua melhora do desempenho em inibição no Flanker Test até os 15 anos

de idade e Tarefa do tipo Stroop até os 21 anos. Estes dados sugerem que há uma

maturação gradual da inibição cognitiva na adolescência e até no início idade adulta

(Leon-Carrion, Garcia-Orza e Perez-Santamaria, 2004).

Observa-se que as mudanças principais com relação ao desempenho de tarefas do

controle inibitório entre a pré-escola e a idade adulta é a capacidade de velocidade e

precisão. Por exemplo, Klimkeit, Mattingley, Sheppard, Farrow e Bradshaw (2004)

descobriram que crianças de 8 anos cometeram mais erros por desatenção, impulsividade

e distração - situação sugestiva de inibição imatura, do que as crianças de 10 e 12 anos

de idade, tais dados são correspondentes ao do presente estudo. O mesmo dado pode ser

observado em Pureza et al. (2013) que avaliou crianças entre 6 e 12 anos, e concluiu que

crianças mais velhas apresentam uma progressiva melhoria.

Page 62: MARCOS DESENVOLVIMENTAIS DAS FUNÇÕES EXECUTIVAS NA …

61

Salienta-se para o fato de que as melhoras no desempenho em controle inibitório

estão associadas ao refinamento na atividade cerebral do córtex pré-frontal (Liston et al.,

2006; Bell & Wolfe, 2007).

Memória de trabalho

A habilidade de memória de trabalho refere-se a manter um conjunto de

informações na memória e manipulá-la por um breve período de tempo (Diamond, 2013).

No presente estudo a memória de trabalho foi mensurada pelo teste de dígitos ordem

direta e inversa.

Observou-se que o desempenho no teste de dígitos melhorou com o avançar da

idade, crianças de 11 anos obtiveram melhores escores do que as crianças de 7 anos.

Destaca-se que as diferenças entre o desempenho são evidentes entre 7 e 9 anos. Em

estudo Cordeiro et al (2019) com crianças entre 5 e 11 anos, observa-se melhoria da

memória de trabalho em progressão à idade. Em estudo com crianças entre 4 e 15 anos

Gothercole et al. (2004) observaram aumento linear no desempenho de baterias que

avaliam a memória de trabalho, constatando estabilidade no desempenho aos 11 anos.

Alguns estudos (Nelson et al. 2012) afirmam que a capacidade de memória

desenvolve-se desde tenra idade. Bebês entre 9 e 12 meses são capazes de atualizar

informações na sua memória de trabalho (Bell & Cuevas, 2012). A capacidade de

manipulação mental, característica da memória de trabalho é lenta e progressiva de acordo

com o desenvolvimento (Cowan et al. 2011).

Salienta-se que não há variância entre os sexos feminino e masculino, apesar dos

meninos apresentarem melhores médias de acertos, o mesmo pode ser verificado em

Barros et al. (2016) e Alansori & Saliman (2012).

Referente ao ano escolar verifica-se que com o progredir dos anos escolares a

habilidade de memória de trabalho melhora significativamente. Ressalta-se para o fato de

que o ano escolar tem maior efeito preditivo do bom desempenho em memória de

trabalho, do que a idade, no estudo de Cordeiro et al (2019) certifica o mesmo achado.

Estudos de neuroimagem (Scherf, Sweeney e Luna, 2006) indicam que há

mudanças contínuas na ativação cerebral associada a memória de trabalho na infância,

com relação a localização e quantidade. Em crianças, observa-se ativação de áreas pré-

motoras como cerebelo lateral e regiões ventromediais como tálamo e gânglios da base.

Com o avançar da idade observa-se diminuição quantitativa destas áreas, e ativação de

regiões frontais, como a região dorsolateral direita, e cíngulo anterior.

Page 63: MARCOS DESENVOLVIMENTAIS DAS FUNÇÕES EXECUTIVAS NA …

62

A memória de trabalho apresentou relação com os demais componentes das

funções executivas (controle inibitório e flexibilidade cognitiva) apesar de caracterizar-

se como uma relação fraca. Também se observa relação moderada e significativa da

memória de trabalho com a capacidade de atenção.

Alguns estudos demonstraram que melhorias na MT podem apoiar-se na

capacidade de atenção seletiva (Stedron, et al. 2005; Awh & Jonides, 2001; Kuo et al.

2012). Provavelmente porque a habilidade de atenção e de MT se valem do mesmo

circuito de ativação cerebral.

Flexibilidade Cognitiva

O componente flexibilidade cognitiva é o mais complexo, e refere-se a capacidade

de alternar estados mentais, regras ou tarefas (Miyake, et al. 2000). Destaca-se a

necessidade de processos de inibição e memória de trabalho para que a flexibilidade

cognitiva aconteça. Logo, a capacidade para inibir seria ativada previamente a capacidade

de alternância, evitando assim erros perseverantes (ou seja, manter-se numa mesma regra)

(Anderson, 2002). Logo subentende –se haver uma forte relação entre estes componentes.

Além da inibição, as tarefas que avaliam flexibilidade demandam memória de trabalho,

solicitando manutenção e atualização de informações. No presente estudo, foi constatado

uma relação moderada entre MT e FC. Em estudo anterior com crianças pré-escolares

(Dias & Minervino, 2016) não foi verificado relação entre os componentes MT e FC.

Provavelmente, devido as diferenças na estrutura das FEs no decorrer da idade.

Nota-se a relação entre CI e FC e destaca-se que para que haja um bom

desempenho em flexibilidade cognitiva é necessário que crianças obtenham êxito na

capacidade de inibição (Garon et al. 2008).

Salienta-se que a habilidade de atenção e o ano escolar influenciam de forma

significativa o desempenho em FC. Este dado sugere que não apenas a idade produz efeito

sobre o desenvolvimento das FEs mas também outros fatores biológicos e sociais.

Observou-se no presente estudo que crianças mais velhas, ou seja, com 11 anos

apresentam melhores níveis de FC do que as crianças mais novas. Esta evidência

corrobora com a literatura (Anderson, 2002; Cepeda, Kramer e Gonzales de Sather, 2001;

Crone, 2007; Crone et al. 2006; Garon et al., 2008; Somsen, 2007). Mas crianças mais

novas também são capazes de mudar com sucesso entre dois conjuntos de respostas

simples (Rennie, Bull, & Diamond, 2004).

Page 64: MARCOS DESENVOLVIMENTAIS DAS FUNÇÕES EXECUTIVAS NA …

63

Huizinga et al. (2006) investigaram a flexibilidade cognitiva através de três tarefas

computadorizadas de modo geral observou-se que adolescentes de 15 anos tem um

desempenho semelhante ao de jovens adultos, e estes apresentam significativa diferença

para crianças entre 7 e 11 anos. Igualmente, outros estudos (Towse & Maclachlan, 1999;

Davidson et al. 2006) encontraram melhora a partir dos 4 anos de idade até a adolescência.

É interessante pontuar que estes estudos encontraram diferentes trajetórias de

desenvolvimento (com relação ao tempo de reação e precisão de acerto) para esta

habilidade. Enfatizando a falta de consenso na literatura para o desenvolvimento das FEs.

Alguns estudos de neuroimagem apresentam que há atividade neural em várias

regiões do córtex pré-frontal e em outros locais à medida que a flexibilidade se

desenvolve. Rubia et al. (2006) relataram aumento da ativação nas regiões cinguladas

frontal, parietal e posterior inferior.

Considerações Finais

O presente trabalho teve como objetivo principal analisar o desenvolvimento das

funções executivas (memória de trabalho, controle inibitório e flexibilidade cognitiva)

durante a infância. Logo, foram avaliadas crianças entre sete e onze anos de idade.

Constatou-se que há melhoria de desempenho, nos três componentes das funções

executivas, com a progressão da idade. Sendo assim, verificou-se que crianças de 11 anos

apresentam melhor funcionamento executivo do que as crianças mais novas. O mesmo

observa-se para crianças matriculadas em anos mais avançados. Então, as crianças que

pertencem ao 6º ano têm melhores médias em MT, CI e FC do que aquelas dos anos

iniciais. Neste estudo não foram constatadas evidências para a diferença de desempenho

entre meninos e meninas. Além disso, MT, CI, FC estão correlacionadas num grau de

magnitude moderado. Além de estarem inter-relacionadas, observa-se que há relação das

FEs com a inteligência e a capacidade de atenção. Apesar da idade ser um fator preditivo

importante para as FEs, destaca-se que o ano escolar tem maior efeito sobre as FEs.

.

Page 65: MARCOS DESENVOLVIMENTAIS DAS FUNÇÕES EXECUTIVAS NA …

64

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68

CAPÍTULO 3

ANÁLISE MULTIDIMENSIONAL DAS FUNÇÕES EXECUTIVAS

NA INFÂNCIA

Page 70: MARCOS DESENVOLVIMENTAIS DAS FUNÇÕES EXECUTIVAS NA …

69

RESUMO

Dias, Émille Burity. (2019). Análise multidimensional das funções executivas na

infância. In: Marcos desenvolvimentais das funções executivas na infância. Tese de

Doutorado, Centro de ciências humanas, letras e artes, Universidade Federal da Paraíba,

João Pessoa.

Funções executivas é um termo que abrange diversos componentes, dentre eles estão os

mais básicos: memória de trabalho, controle inibitório e flexibilidade cognitiva. O

objetivo deste estudo é analisar a organização estrutural das funções executivas (CI, MT,

FC) na infância. Parte-se da hipótese de que no início da infância as funções executivas

apresentam uma estrutura unifatorial. Com o avançar do desenvolvimento infantil, a

organização das funções executivas se modifica para uma estrutura bifatorial, ao término

da adolescência a estrutura modifica-se para trifatorial. Participaram deste estudo: 120

crianças de ambos os sexos, entre 7 e 11 anos, com idade média de 8,96 anos (dp = 1,42).

Sendo 47,5% do sexo masculino. As crianças foram distribuídas em cinco grupos,

correspondentes a suas idades, cada grupo com em média 20 crianças. Foram utilizados

os seguintes instrumentos: questionário sóciodemográfico, matrizes progressivas de

Raven, teste de atenção por cancelamento, dígitos ordem direta e indireta, teste de cinco

dígitos, teste de trilhas, stroop versão victória. Foi utilizado o software SPSS para efetuar

as análises descritivas (médias, desvios-padrão, frequências, porcentagens) e análise

inferencial: Manova. Foi utilizado o RStudio para realizar da análise confirmatória

exploratória (AFC). Como resultados principais destaca-se que as crianças mais velhas

apresentam melhores índices de funções executivas. Começa-se a perceber diferenças de

desempenho a partir dos 8 anos. Para a amostra o modelo estrutural de melhor índice foi

bifatorial.

PALAVRAS-CHAVE: funções executivas, memória de trabalho, controle inibitório,

flexibilidade cognitiva, desenvolvimento, análise fatorial confirmatória

Page 71: MARCOS DESENVOLVIMENTAIS DAS FUNÇÕES EXECUTIVAS NA …

70

ABSTRACT

Dias, Émille Burity. (2019). Multidimensional analysis of executive functions in

childhood. In: Developmental milestones of executive functions in childhood. PhD

Thesis, Center for Humanities, Letters and Arts, Federal University of Paraíba, João

Pessoa.

Executive functions is a term that covers several components, among which the most

basic are: working memory, inhibitory control and cognitive flexibility. The aim of this

study is to analyze the organization of executive functions (CI, MT, FC) in childhood. It

starts from the hypothesis that in early childhood executive functions will have a one-

factor structure. With or advancing in child development, an organization of executive

functions will change to a two-factor structure, by the end of adolescence the modified to

three-factor structure. Participated in this study: 120 children of both sexes, between 7

and 11 years old, with an average age of 8.96 years (sd = 1.42). Being 47.5% male. As

children were divided into five groups, corresponding to their ages, each group with an

average of 20 children. The following instruments were used: somiodemographic

questionnaire, Raven progressive matrices, cancellation attention test, direct and indirect

order digits, five-digit test, trail test and victorious version. SPSS software was used to

perform descriptive analyzes (media, standard deviations, frequencies, percentages) and

inferential analyzes: Manova. We used either the RStudio to perform exploratory

confirmatory analysis (CFA). As the main results are displayed as older children have the

best rates of executive functions. You start to notice performance differences from the

age of 8. For a sample or structural model of the best index, it was bifactorial.

KEYWORDS: executive functions, working memory, inhibitory control, cognitive

flexibility, development, confirmatory factor analysis.

Page 72: MARCOS DESENVOLVIMENTAIS DAS FUNÇÕES EXECUTIVAS NA …

71

INTRODUÇÃO

O termo funções executivas (FEs) refere-se ao conjunto de processos mentais

complexos que são primordiais para o sucesso em várias áreas da vida como: manejo da

saúde, desempenho acadêmico, desenvolvimento sócio cognitivo (Diamond, 2013).

Os componentes básicos das FEs são: controle inibitório ou inibição (CI);

memória de trabalho (MT) e flexibilidade cognitiva (FC) (Lehto et al. 2003, Miyake et

al. 2000; Diamond, 2013). A inibição diz respeito ao autocontrole comportamental,

controle de interferências externas (atenção seletiva) e internas (cognitiva). A memória

de trabalho refere-se a capacidade de reter e manipular a informação num determinado

período de tempo. A flexibilidade cognitiva remete-se a capacidade de mudança, alternar

regras, tarefas.

Inúmeros estudos (Leon, et al., 2018; Brydges et al., 2014; Xu et al., 2013; Hughes

et al., 2009, dentre outros) apresentam evidências acerca da estruturação das funções

executivas durante a infância. Percebe-se que há diferenças na estrutura dos componentes

das funções executivas durante a infância. No entanto, não há consenso entre os estudos

sobre o modelo estrutural que predomina para cada idade.

Alguns modelos estruturais já foram analisados (Xu, et al., 2013):

Um único fator: três fatores (MT, CI, FC) indistinguíveis;

De dois fatores:

o CI e FC indistinguíveis e MT distinta

o FC e MT indistinguíveis e CI distinto

o CI e MT indistinguíveis e FC distinto

Três fatores distintos mas correlatos (MT, CI, FC).

Os estudos que analisaram esta questão acerca das FEs não convergem para um

consenso, as evidências são variadas, e nota-se algumas diferenças significativas. De

acordo com Hughes et al (2009), crianças entre 4 e 6 anos apresentam estrutura de

funções executivas unifatorial, ou seja, não são distintas e sim indistinguíveis. A partir

dos sete anos a memória de trabalho e a flexibilidade cognitiva se distinguem, e tal

distinção persiste até a idade adulta (Huizinga, et al, 2006), apresentando assim uma

estrutura bifatorial. Em contrapartida, para St Clair Thompson (2006) e Brydges, et al

(2014), afirmam que a estrutura bifatorial ocorre aos nove anos, sendo distinguíveis os

fatores inibição e memória de trabalho. Observa-se que há progressão de estrutura de

fatores conforme o avançar da idade, havendo a evidência de uma estrutura unifatorial até

os nove anos.

Page 73: MARCOS DESENVOLVIMENTAIS DAS FUNÇÕES EXECUTIVAS NA …

72

Estudos (Shing, et al, 2010; Xu, et al, 2013; Pureza, et al, 2013) concluem que a

estrutura das funções executivas muda de forma gradual no decorrer do desenvolvimento.

Sendo assim, este estudo parte da hipótese que no início da infância as funções

executivas apresentam uma estrutura unifatorial, provavelmente esta organização

permaneça até os nove anos de idade. Com o avançar do desenvolvimento infantil, a

organização das funções executivas se modifica para uma estrutura bifatorial. Espera-se

que na faixa etária correspondente ao final da adolescência a estrutura das funções

executivas seja organizada de forma multifatorial. Deste modo, o objetivo principal deste

trabalho é analisar a organização estrutural das funções executivas (CI, MT, FC) entre

sete e onze anos de idade.

MÉTODO

Este projeto apresenta delineamento fatorial, onde analisará a

organização/estrutura dos fatores das funções executivas (tabela 3).

Tabela 18. Modelos estruturais das funções executivas a serem testados (MT:

memória de trabalho, CI: controle inibitório, FC: flexibilidade cognitiva).

Modelos estruturais das funções executivas (Xu, et al, 2013)

1. Três fatores tores Três componentes distintos, mas correlatos

2. Único fator

Três componentes sem distinção.

Dois fatores

3. Fator 1:MT

Fator 2: CI + FC

MT distinta; CI e FC não se diferenciam

4. Fator 1: CI

Fator 2: MT FC

CI distinto; FC e MT não se diferenciam

5. Fator 1: FC

Fator 2: CI+MT

FC distinto, CI e MT não se diferenciam

Este projeto irá considerar como variáveis de interesse: memória de trabalho,

flexibilidade cognitiva e inibição; idade. Variáveis de controle: sexo, tipo de escola, ano

escolar, nível socioeconômico, escolaridade dos pais.

Page 74: MARCOS DESENVOLVIMENTAIS DAS FUNÇÕES EXECUTIVAS NA …

73

POPULAÇÃO E LOCAL DO ESTUDO

A população deste estudo será constituída por estudantes do ensino fundamental,

matriculados em escolas públicas municipais e particulares de João Pessoa, nos anos

escolares iniciais (1º ao 6º), de ambos os sexos.

Conforme o Instituto nacional de estudos e pesquisas educacionais (INEP, 2017),

no município de João Pessoa – PB, foram matriculadas, em 94 escolas públicas

municipais, cerca de 26.972 indivíduos. Nas 170 escolas particulares foram matriculadas

cerca de 25.156 alunos. Totalizando 52.130 crianças matriculadas entre o 1º e 6º ano (

tabela 2).

Tabela 19. Distribuição de matrículas por ano escolar no município de João Pessoa, PB por tipo de escola. Tipo de escola

Ano escolar Pública Particular

% do total

3.563

13,2

4.627

% do total

3.707

13,7

4.297

% do total

4.914

18,2

4.281

% do total

4.660

17,3

4.126

% do total

4.546

16,8

4.027

% do total

5.582

20,7

3.800

Total

% total

26.972

100

25.158

A pesquisa foi executada nas escolas públicas e particulares da cidade de João

Pessoa – PB. Em ambiente a parte da sala de aula, estruturado com cadeiras, mesa,

ventilação e iluminação adequada.

Page 75: MARCOS DESENVOLVIMENTAIS DAS FUNÇÕES EXECUTIVAS NA …

74

Amostra

A amostra da pesquisa será selecionada conforme a técnica de amostragem por

conveniência. O tamanho da amostra fora escolhido de acordo com as indicações de

Comrey & Lee (1992), que classificam pelo menos 200 participantes como razoáveis.

Serão critérios de elegibilidade da amostra:

Crianças entre 7 e 11 anos e 11 meses;

Ambos os sexos;

Regularmente matriculados;

Assíduos;

com déficits sensoriais ou físicos não corrigidos;

que não apresente distorção série-idade;

sem laudos neurológicos;

transtornos de aprendizagem;

sintomas de TDAH;

escore abaixo do esperado nos testes de inteligência e atenção.

A amostra contou com 120 crianças, que foram divididas em cinco grupos de

idade (7 a 11 anos), a média de idade foi 8,96 anos (dp = 1,42). Todos estudantes assíduos

da rede municipal de ensino da cidade de João Pessoa – PB

Page 76: MARCOS DESENVOLVIMENTAIS DAS FUNÇÕES EXECUTIVAS NA …

75

Tabela 20. Caracterização da amostra

Idade f %

7 26 21,7

8 23 19,2

9 24 20

10 24 20

11 23 19,2

Sexo f %

Feminino 63 52,5

Masculino 57 47,5

Ano Escolar f %

1 7 5,8

2 25 20,8

3 18 15

4 28 23,3

5 21 17,5

6 21 17,5

Instrumentos

Questionário sócio demográfico: Questionário de fácil aplicação, com questões

objetivas de múltipla escolha, de fácil e rápido manejo. Conterá questões que

possibilitarão caracterizar os participantes, quanto a idade, sexo, dificuldades de

aprendizagem, sintomas para TDAH, além de determinar seu nível socioeconômico.

Matrizes Progressivas Coloridas de Raven – Escala Especial (MPCR): Aplicada a

faixa etária de 5 a 11 anos. Constituída por três séries de 12 itens: A, Ab e B. Os itens são

distribuídos em ordem crescente de dificuldade, onde a série posterior é mais difícil que

a anterior. Cada série é iniciada com itens fáceis, objetivando introduzir o individuo a um

novo tipo de raciocínio, que será exigido nos itens seguintes. Todos os itens consistem

por uma matriz ou desenho com uma parte em falta, abaixo do mesmo apresenta-se seis

alternativas distintas, sendo que apenas uma completa o espaço em branco. O individuo

precisa escolher uma das seis alternativas. A intenção do MPCR é analisar um dos

Page 77: MARCOS DESENVOLVIMENTAIS DAS FUNÇÕES EXECUTIVAS NA …

76

componentes do fator “g”, a capacidade edutiva relacionada à formação de novos insights

criativos e construto superior (Bandeira, et al, 2004).

Teste de atenção por cancelamento (TAC): Consiste em três matrizes impressas

com diferentes tipos de estímulos. A tarefa é assinalar (cancelar) todos os estímulos iguais

ao estímulo-alvo previamente determinado. A primeira parte do teste avalia atenção

seletiva e consiste em uma prova de cancelamento de figuras numa matriz impressa com

seis tipos de estímulos (cículo, quadrado, triângulo, cruz, estrela e retângulo), num total

de 300 figuras, dispostas de modo aleatório, onde a figura – alvo é indicada na parte

superior da folha.

A segunda parte avalia atenção seletiva num maior grau de dificuldade. A tarefa

é semelhante a primeira parte, no entanto, o estímulo-alvo composto por figuras duplas.

Nesta segunda etapa o individuo deve buscar um par de figuras geométricas. A terceira

parte avalia atenção seletiva com demanda de alternância, sendo necessário mudar o foco

de atenção a cada linha. Pois, o estímulo-alvo muda a cada linha, devendo ser considerada

como alvo a primeira figura de cada linha. O tempo máximo de execução para em cada

parte da tarefa pe de um minuto.

Para cada parte do TAC são computados três escores diferentes, a saber: (1)

número total de acertos – número de estímulos-alvo corretamente cancelados; (2) número

de erros – número de estímulos não alvo incorretamente cancelados; e (3) número de

ausências – número de estímulos alvo que não foram cancelados. Além disso há a

possibilidade de computar o escore total, ou seja, a soma de cada escore obtido em cada

parte do TAC. O teste pode ser aplicado de modo coletivo (Godoy, 2012).

Dígitos ordem direta e inversa: Este teste será retirado do WISC-IV quarta

edição da Escala de Inteligência para Crianças de David Wechsler, que tem por objetivo

avaliar a capacidade intelectual de crianças e adolescentes (6 a 16 anos). Este instrumento

é composto por 15 subtestes. Para esta pesquisa será utilizado o subteste memória de

dígitos na ordem direta e inversa. A ordem direta mede a memória auditiva sequencial. A

memória de dígitos na ordem inversa avalia a capacidade da memória de trabalho. O teste

fornece duas sequências numéricas, de 2 a 8 sequências de dígitos, para cada subteste de

memória (ordem direta e inversa). Será atribuído 0 ponto se o examinando errar ambas as

sequências, 1 ponto se responder corretamente uma das sequências e 2 pontos se acertar

ambas as sequências. Os escores para ordem direta e inversa são somados separadamente.

O escore máximo para o subteste na ordem direta é 16 pontos e 16 pontos para a ordem

inversa, somando ao total 32 pontos.

Page 78: MARCOS DESENVOLVIMENTAIS DAS FUNÇÕES EXECUTIVAS NA …

77

Teste de Cinco Dígitos: (Five Digits Test – FDT, Sedó, 2014) tem objetivo de

avaliar a velocidade do processamento, atenção e funções executivas (controle inibitório

e flexibilidade cognitiva). Trata-se de um instrumento não verbal, de aplicação individual,

que contempla a faixa etária de 6 a 92 anos de idade.

O FDT é uma tarefa numérica dividida em quatro etapas: leitura, contagem,

escolha e alternância. Em suma, as duas primeiras etapas do FDT envolvem

processamento atencional automático e velocidade do processamento. A terceira e quarta

etapa demanda processamento atencional controlado e fluidez verbal, envolvendo

funções executivas (controle inibitório e flexibilidade cognitiva). Para análise do

instrumento computa-se o tempo de reação da tarefa, erros cometidos, bem como os

escores de interferência (subtração do tempo de leitura, do tempo de escolha, e este do

tempo de alternância, dando origem aos escores de inibição e flexibilidade cognitiva)

(Oliveira et al., 2014).

Teste de trilhas (TT): O teste de trilhas parte A e B, avalia a atenção alternada e a

flexibilidade cognitiva. O teste é composto por duas partes. A parte A é composta por

duas folhas, uma para letras e outra para números. Ambas as folhas apresentam 12 letras

ou 12 números de A a M e de 1 a 12), dispostos aleatoriamente. O examinando deve ligar

as letras em ordem alfabética e os números em ordem crescente. A parte B, consiste em

letras e números randomicamente dispostos na folha. O examinando deve ligar os itens

em sequências alfabética e numérica. O instrumento computa 3 escores: (1) corresponde

a sequência, (2) corresponde às conexões e (3) escore total que corresponde à soma dos

outros dois (Montiel & Seabra, 2012).

Stroop versão victória: tem por objetivo avaliar o controle inibitório. É composto

por composto por 3 cartões, tamanho 12 cm x 20 cm (altura x largura), todos com 24

estímulos, nas cores verde, azul, vermelho ou amarelo. Os estímulos ficam dispostos em

4 colunas, com intervalo de 1,5 cm entre elas, e 6 linhas, intervalo de 1 cm (Ribeiro,

2011).

É composto por três cartões com retângulos impressos em cores padrão: verde,

vermelho, azul e amarelo. No primeiro cartão são apresentados retângulos nas cores

verde, azul, vermelho e amarelo. No segundo há palavras “cada, nada, nunca, tudo”

impressas nas cores verde, vermelho, azul e amarelo. O último cartão é composto por

nomes das cores “amarelo, verde, vermelho, azul” impressos em cores diferentes (ex:

“amarelo”, impresso em azul). A instrução para todos os cartões é a mesma, a criança

deve nomear rapidamente as cores. No primeiro e segundo cartão a criança deve nomear

Page 79: MARCOS DESENVOLVIMENTAIS DAS FUNÇÕES EXECUTIVAS NA …

78

rapidamente as cores dos retângulos e das palavras. No terceiro cartão, onde é observado

o efeito Stroop, a criança deve nomear as cores em que as palavras foram impressas, e

inibir a resposta prepotente de ler o nome das cores.

Durante toda a aplicação se registra o tempo de resposta cada cartão apresentado.

Calcula-se o efeito de interferência subtraindo o tempo de resposta do terceiro cartão pelo

tempo de resposta do segundo cartão (STRAUSS et al., 2006)

Procedimentos de coleta de dados

Os dados foram coletados em escolas públicas municipais da cidade de João

Pessoa (PB) após a assinatura do termo de consentimento livre e esclarecido (TCLE),

pelos responsáveis dos alunos. Também foi solicitada a assinatura do termo de

assentimento (TA), pelos próprios estudantes consentindo a sua participação nesta

pesquisa. A bateria de avaliação foi dividida em três etapas, a saber: (1) questionário sócio

demográfico; (2) avaliação da atenção e inteligência e; (3) avaliação das funções

executivas.

Na primeira etapa foi preenchido, pela pesquisadora responsável, junto a

administração da escola o questionário sociodemográfico. Na segunda etapa, foram

aplicados os testes que avaliam atenção e inteligência: matrizes coloridas de Raven e

TAC. Na terceira etapa foram aplicados os instrumentos que avaliam as funções

executivas.

Cada etapa durou cerca de 40 minutos. A segunda e terceira etapa foram realizadas

em ambiente a parte da sala de aula, de forma individualizada. Entre a segunda e terceira

etapa houve um intervalo de 24 horas, para evitar efeitos de fadiga por parte dos

participantes.

Foram treinadas para aplicação três pesquisadoras. Tendo em vista que os

instrumentos utilizados eram em versão “lápis e papel” todo o material (folhas de

resposta, lápis comum, borracha) foram disponibilizados pelos aplicadores.

Page 80: MARCOS DESENVOLVIMENTAIS DAS FUNÇÕES EXECUTIVAS NA …

79

Procedimentos de análise de dados

As análises foram realizadas com o auxílio do pacote estatístico Statistical

Package for the Social Sciences – SPSS (versão 21.0 para Windows) e o Rstudio. Para

atender aos objetivos foram efetuadas análises estatísticas descritivas: aferição de

frequência absoluta, porcentagens, médias, desvios padrão. Foi utilizada a seguinte

estatística inferencial além da Manova para diferenças de médias e post hoc de bonferroni:

1. Modelagem de equação estrutural (MEE): que permite testar modelos

teóricos da relação das variáveis latentes (MT, CI, FC) – modelos

estruturais. Esta testagem foi realizada através da análise confirmatória

exploratória (CFA).

- Índices de ajuste da CFA:

Qui-quadrado (X²): índice de ajuste absoluto que indica a discrepância

entre o modelo S e o modelo Ʃ.

Qui quadrado dividido pelos graus de liberdade (X²/df): índice de ajuste

absoluto que considera os graus de liberdade devido a sensibilidade do qui

quadrado

Erro quadrático médio de aproximação (RMSEA): índice de ajuste

absoluto que mostra a qualidade de ajuste de covariância da amostra e do

modelo à matriz de covariância

Comparative fit index (CIF): índice de ajuste comparativo, um ajuste

incremental, que mostra se e em que medida a qualidade do ajustamento

do modelo modelo S e o modelo Ʃ

Os modelos serão considerados de bom ajuste quando: X² apresentar p >

0.05; X²/df entre 1 e 3; RMSEA < 0.06; CFI >=0.90.

Procedimentos éticos

Os procedimentos éticos foram baseados nas diretrizes da resolução nº 466/12 do

Conselho Nacional de Saúde/MS e suas Complementares, outorgada em 13 de Junho de

2013. Com finalidade de assegurar os direitos e deveres que dizem respeito à comunidade

científica, ao(s) sujeito(s) da pesquisa e ao Estado, e a Resolução/UFPB/CONSEPE.

Vale salientar que este estudo faz parte de um projeto de pesquisa “guarda-chuva”,

intitulado Funções Executivas na Infância, que foi apreciado e aprovado pelo comitê de

Page 81: MARCOS DESENVOLVIMENTAIS DAS FUNÇÕES EXECUTIVAS NA …

80

ética do Centro de Ciências Médicas da Universidade Federal da Paraíba sob número de

CAAE 12234619.7.0000.8069.

Além da permissão do comitê de ética e da anuência dos diretores das escolas

públicas, foi solicitado aos pais prévia autorização para participação dos seus filhos,

através da assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). As

crianças que aceitaram fazer parte do estudo, por meio de assinatura do Termo de

Assentimento (TA), tiveram seus nomes substituídos por nomes fictícios, de maneira que

não houve constrangimento para os sujeitos amostrais envolvidos na pesquisa.

Esta estudo apresentou riscos de fadiga, cansaço e desmotivação para os seus

participantes. Mas que foram amenizados com a divisão da coleta de dados em três etapas

e com intervalo de pelo menos 24 horas entre cada etapa. Ressalta-se que, todas as

crianças participaram do estudo de modo voluntário, sendo assim não existiu nenhum tipo

de premiação ou pagamento em troca dos dados que foram coletados.

As crianças foram instruídas que poderiam desistir a qualquer tempo de sua

participação na pesquisa, bem como os responsáveis poderiam desistir de ceder os dados

já coletados. Caso ocorresse qualquer desistência, os dados coletados referentes ao(s)

desistente(s) não seriam utilizados nas análises estatísticas e, consequentemente nas

futuras publicações científicas.

RESULTADOS

Tabela 21. Estatística descritiva (médias e desvios-padrão) dos grupos de idade (7 a 11

anos)

7 anos 8 anos 9 anos 10 anos 11 anos Manova

Tarefas M(DP) M(DP) M(DP) M(DP) M(DP) F P

Trilhas 7,5 (3,71)

9,9 (3,64) 13,5

(3,64)

13,3

(3,60)

15,4

(4,28)

13,51 <0,001

Flexibilidade

Fdt*

76,8

(20,77)

57,8

(19,79)

45,3

(15,26)

40,7

(17,03)

40,0

(14,14)

18,90 <0,001

Stroop* 10,7

(12,38)

14,4

(10,16)

9,0

(5,51)

11,7

(6,53)

11,9

(7,14)

0,36 0,87

Inibição*

FDT

58,9

(23,55)

44,7

(13,53)

34,5

(9,73)

38,9

(22,11)

32,4

(11,37)

7,97 <0,001

Page 82: MARCOS DESENVOLVIMENTAIS DAS FUNÇÕES EXECUTIVAS NA …

81

Dígitos 10,5

(2,24)

10,8

(2,36)

12,4

(2,06)

12,33

(2,27)

13,5

(2,04)

8,83 <0,001

*Variável mensurada em tempo de reação (segundos)

As análises descritivas não apresentam diferenças a nível significativo para o

gênero. Logo, entende-se que o desempenho de meninas e meninas nas tarefas que

mensuraram FEs não foram diferentes.

No entanto, nota-se (tabela 21) que há diferenças entre desempenhos no progredir

da idade. Estas diferenças são estatisticamente significativas. Análises de post hoc

Bonferroni indicam que para tarefa de Trilhas as diferenças de desempenho começam a

surgir entre 8 e 9 anos. Sendo assim não os desempenhos não são significativamente

diferente entre 7 e 8; 10 e 11 anos. A medida de flexibilidade do FDT apresenta

evidências diferentes: observa-se diferença significativa entre 7 e 8 anos. Nos demais

pares de grupos não há diferenças significativas.

As análises post hoc revelaram que não há diferenças entre os pares de grupos

para a tarefa de stroop. Nem mesmo entre os grupos de idade extremos (7 e 11 anos).

Divergente do que é observado na medida de controle inibitório do FDT, onde evidencia-

se diferenças significativas a a partir dos 8 anos. O teste de dígitos não apresenta

diferenças de desempenho a partir dos 9 anos.

Análise fatorial confirmatória (AFC)

As análises fatoriais confirmatórias foram realizadas no programa RStudio por

meio do pacote lavaan. Utilizou-se o método Maximum Likelihood (ML) para estimação

dos índices de qualidade de ajuste.

A AFC foi realizada para avaliar se a estrutura fatorial do desempenho em funções

executivas nos grupos foi a mesma. Com base na literatura foram estabelecidos os

melhores modelos para a amotra como um todo (7 a 11 anos).

Os resultados evidenciaram que o melhor ajuste foi o modelo bifatorial controle

inibitório e flexibilidade cognitiva (tabela 22), sugerindo que as funções executivas tem

como estrutura um primeiro fator: flexibilidade cognitiva; e um segundo fator: controle

inibitório e memória de trabalho são indistinguíveis.

Page 83: MARCOS DESENVOLVIMENTAIS DAS FUNÇÕES EXECUTIVAS NA …

82

A comparação de modelos revelou que além do modelo bifatorial (CI e FC) o

modelo fator geral também apresentou melhores índices de ajuste. Este dado indica que

subjacente a estrutura das FEs há um fator geral.

Nesta situação deve-se utilizar o principio da parcimônia e optar pelo modelo mais

simples, com CFI menor. Sendo assim, o modelo fatorial com melhores índices

explicativos para esta amostra seria bifatorial.

Tabela 22. Índices de análise fatorial confirmatória para amostra geral

Modelos X² gl GFI CFI RMSEA (IC 90%) SRMR

Unifatorial 18,81 5 0,94 0,92 0,152 (0,08- 0,22) 0,07

Trifatorial 15,72 3 0,95 0,92 0,188 (0,10-0,25) 0,06

Fator Geral 15,28 0 0,95 0,93 0,000 0,05

FC e CI + MT 16,14 4 0,95 0,91 0,159 (0,08 – 0,24) 0,06

CI e FC + MT 18,75 4 0,94 0,91 0,175 (0,10-0,25) 0,07

MT e FC +CI 18,81 5 0,94 0,92 0,152 (0,08- 0,22) 0,07

As Figuras de todos os modelos com as respectivas cargas fatoriais são

apresentadas a seguir.

Figura 3: Modelo Unifatorial

Page 84: MARCOS DESENVOLVIMENTAIS DAS FUNÇÕES EXECUTIVAS NA …

83

Figura 4: Modelo bifatorial FC e CI + MT

Figura 5: Modelo bifatorial CI e FC + MT

Figura 6: Modelo bifatorial MT e FC +CI

Figura 7: Modelo trifatorial

Page 85: MARCOS DESENVOLVIMENTAIS DAS FUNÇÕES EXECUTIVAS NA …

84

Figura 8: Modelo Fator Geral

Em seguida, para avaliar se o modelo o modelo bifatorial era aplicável a cada

grupo de idade, foi executado um modelo de invariância para comparação de vários

grupos. Seguindo a hipótese de que a estrutura fatorial das FEs muda conforme a

progressão da idade (tabela 23).

Tabela 23. Síntese de índices de ajustamento para testar a invariância do modelo.

x² df CFI RMSEA ∆x² ∆CFI

Idade

7 a 9 anos 8,66 4 0,94 0,126

10 a 11 anos 10,99 4 0,90 0,193

Configural 19,65 8 0,922 0,156

Métrica 20,68 11 0,935 0,121 1,02 0,013

Escalar 31,63 14 0,882 0,141 10,94 0,053

Os resultados da análise fatorial confirmatória multigrupos evidenciam o modelo

possui propriedades psicométricas configural e métrica invariantes em relação a idade dos

participantes. Entretanto houve variância escalar, resultando numa Invariância parcial do

modelo, que por sua vez, não compromete totalmente a comparação entre os grupos

(Byrne, 2010).

Page 86: MARCOS DESENVOLVIMENTAIS DAS FUNÇÕES EXECUTIVAS NA …

85

DISCUSSÃO

O presente estudo teve como objetivo analisar a organização estrutural das

funções executivas (CI, MT, FC) na infância. Logo, foi administrada uma bateria de

instrumentos que mensuravam memória de trabalho, controle inibitório e flexibilidade

cognitiva, em uma amostra de crianças entre sete e onze anos.

Os resultados da análise fatorial confirmatória indicaram que de forma global os

melhores modelos que caracterizam a estrutura fatorial das FEs em crianças entre 7 e 11

anos é o modelo bifatorial, com os seguintes fatores:

1. Flexiblidade cognitiva

2. Controle inibitório e Memória de trabalho indistinguível (FC e CI +MT).

Os resultados da análise fatorial confirmatória entre as faixas etárias indicaram

que com a progressão da idade que não há diferenças de estrutura das funções executivas

entre as idades, mantendo-se o mesmo achado para a amostra total.

A maioria dos estudos que analisaram a estrutura fatorial das funções executivas

encontraram uma estrutura de dois fatores (Lee, et al. 2013; Huizinga, et al. 2006;

Monette et al 2015). No entanto, a configuração das estruturas bifatoriais encontradas

divergem entre os estudos.

A estrutura bifatorial composta pelos fatores flexibilidade cognitiva e controle

inibitório indistinguível da memória de trabalho (FC e CI + MT) comprovada neste

estudo, é semelhante a outros estudos que analisaram, respectivamente a estrutura das

FEs em crianças de 6 e 7 anos (ven Der vem, et al. 2012); pré-escolares (Monette et al.

2015) e crianças de 11 e 12 anos (St Clair Thompson et al. 2006).

Geralmente a MT e a CI são suporte um do outro e por isto co-ocorrem. A MT é

base para CI visto que para agir em oposição a uma tendência inicial é necessário manter

e articular com as informações na mente, analisando se elas são apropriadas e o que deve

ser inibido. Articulando a memória de trabalho é provável que se diminua a probabilidade

de um erro inibitório (Diamond, 2013).

O controle inibitório também pode ajudar MT: 1) ajudando a impedir confusões

nas representações mentais, suprimindo pensamentos (ou seja, excluindo informações

irrelevantes do espaço de trabalho da MT); 2) resistindo à interferência proativa,

excluindo informações não relevantes do espaço de trabalho com capacidade limitada

(Zacks & Hasher 2006).

No entanto, os resultados referentes à análise fatorial confirmatória deste trabalho

diferem de outros estudos, que apesar de evidenciarem uma estrutura bifatorial divergem

Page 87: MARCOS DESENVOLVIMENTAIS DAS FUNÇÕES EXECUTIVAS NA …

86

quanto aos fatores que emergiram. Alguns estudos verificaram dois fatores: memória de

trabalho e controle inibitório, ao avaliarem crianças entre 6 e 13 anos (Brocki & Bohlin,

2004); pré escolares (Usai et al 2013); e aos 10 anos (Brydges et al 2014).

Outros estudos averiguaram a estrutura bifatorial com os fatores: memória de

trabalho e flexibilidade cognitiva, ao analisar crianças entre 9 e 12 anos (van der Sluis et

al 2007), e entre 7 e 11 anos (Huizinga, et al. 2006).

Demais estudos, constataram estrutura unifatorial das funções executivas durante

a infância, mas para diversas faixas etárias, como Brydges et al 2014 ao analisar crianças

entre 8 e 9 anos, Brydges et al 2012 ao analisar crianças entre 7 e 9 anos, Xu et al 2013

ao analisar crianças entre 7 e 13 anos, e Wiebe et al 2011 ao analisar crianças aos 3 anos.

A estrutura trifatorial, que distingue os fatores memória de trabalho, controle

inibitório e flexibilidade cognitiva, semelhante a encontrada em Miyake, et al (2000) é

verificada ao fim da infância e na adolescência (Xu et al 2013, Lehto et al 2003, Lee et al

2013, Huizinga et al. 2006).

Estudos longitudinais, indicam para uma mudança na estrutura dos fatores durante

a infância. O que revela o desenvolvimento das funções executivas, visto que no inicio

da infância observa-se uma estrutura unifatorial, e ao término da infância estrutura

trifatorial (Lee et al 2013; Xu et al 2013; Brydges et al 2014).

Alguns estudos refletem essas diferenças nos achados científicos devido as tarefas

e métodos utilizados nas investigações. Devido a impureza das tarefas e a variedade de

métodos os resultados seriam diversos e discordantes (van Der Sluis et al 2007; ven Der

ven et al 2012). Outros estudos associam esses achados aos aspectos neurofisiológicos

subjacente as funções executivas (Monette et al 2015).

Sabe-se que o desempenho em FEs está estreitamente associado ao funcionamento

do córtex pré-frontal (CPF), assim como o seu desenvolvimento está diretamente

associado ao desenvolvimento do CPF (Garon, 2008). Após os 11 anos o CPF passa por

mudanças a nível estrutural e funcional. Alguns estudos de neuroimagem demonstraram

que a massa cinzenta no CPF aumenta ao longo da infância obtendo seu tamanho limite

aos 12 anos. Funcionalmente o CPF se ativa a partir de demandas executivas entre 9 e 12

anos (Durston, et al. 2006). Provavelmente, estas mudanças que o CPF sofre estão

relacionadas as mudanças estruturais das FEs, no que diz respeito a separabilidade dos

três componentes básicos (MT, CI, FC).

Page 88: MARCOS DESENVOLVIMENTAIS DAS FUNÇÕES EXECUTIVAS NA …

87

Considerações Finais

Este estudo teve como objetivo analisar a organização estrutural das funções

executivas (CI, MT, FC) em crianças entre 7 e 11 anos. Os resultados da análise fatorial

confirmatória revelaram que o modelo estrutural para esta faixa etária é o bifatorial onde

distingue-se flexibilidade cognitiva e controle inibitório. Ressalta-se que o fator controle

inibitório apresenta-se como indistinguível da memória de trabalho. Revelando deste

modo o suporte mútuo entre CI e FC.

Page 89: MARCOS DESENVOLVIMENTAIS DAS FUNÇÕES EXECUTIVAS NA …

88

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Page 91: MARCOS DESENVOLVIMENTAIS DAS FUNÇÕES EXECUTIVAS NA …

90

CAPÍTULO IV

CONCLUSÃO GERAL

Page 92: MARCOS DESENVOLVIMENTAIS DAS FUNÇÕES EXECUTIVAS NA …

91

O principal objetivo deste trabalho foi analisar o desenvolvimento estrutural das

funções executivas. Deste modo, o estudo foi organizado em três etapas:

1. Abordagem teórica da temática estudada;

2. Análise de desempenhos das FEs durante a infância

3. Análise multidimensional das FEs durante a infância.

Para atender a proposta deste estudo foi aplicada uma bateria de testes em crianças

de 7 a 11 anos, todas estudantes de escolas públicas da cidade de João Pessoa – PB. As

crianças executaram tarefas que mensuravam memória de trabalho, controle inibitório e

flexibilidade cognitiva.

Dentre os resultados que se destacam estão:

a) Melhoria das FEs com a progressão da idade

b) Influência significativa do ano escolar e da habilidade de atenção sobre o

desempenho em FEs

c) Os três componentes das FEs que foram avaliados estão moderadamente

correlacionados, principalmente FC e CI.

d) A única tarefa que não apresentou diferenças significativas entre os grupos de

idade foi Stroop, que mensura inibição.

e) Em crianças de 7 a 11 anos o modelo estrutural que melhor se ajustou foi o

modelo bifatorial, onde se evidenciam dois fatores: Flexibilidade Cognitiva e

Controle Inibitório indistinguível da Memória de trabalho.

f) A estrutura fatorial observada para a amostra geral não é diferente para os

grupos de idade.

Ressalta-se o último achado desta tese. Inúmeros estudos buscam sobre evidências

acerca do modelo estrutural das funções executivas na infância. No entanto, há nos

estudos, uma variedade significativa de tarefas, métodos e faixa etária das amostras.

Todos estes pontos contribuem para que haja uma ampla discussão sobre a estrutura das

funções executivas em crianças.

Diante das discussões presentes neste trabalho, concorda-se com a hipótese de que

há uma progressão estrutural das funções executivas no decorrer do desenvolvimento.

Sendo inicialmente uma estrutura unifatorial, onde os três fatores são indistinguíveis,

passando para uma estrutura bifatorial, sempre composta por dois componentes e tendo

um terceiro indistinguível a um dos fatores; avançando para uma estrutura trifatorial, onde

todos os três componentes são separados e distinguíveis. Em idades da fase adulta as FEs

Page 93: MARCOS DESENVOLVIMENTAIS DAS FUNÇÕES EXECUTIVAS NA …

92

têm característica multifatorial, onde além dos componentes básicos, são identificados

outros componentes considerados mais complexos, como raciocínio e planejamento.

Mas diante a diversidade de achados que a literatura com este estudo constata que

crianças de sete a onze anos tem estrutura bifatorial das funções executivas, sendo esta

composta por FC e CI. Onde a memória de trabalho passa a dar suporte à inibição. Além

do mais, o nível de escolaridade da criança tem influência preponderante no

desenvolvimento das FEs. Os estudos que tratam da avaliação estrutural das FEs na

infância consideram a idade. No presente estudo observou-se que a série tem um valor

preditor maior do que idade. Pode ser possível que esta variabilidade de evidências que

culminam numa discordância científica sejam decorrentes diferenças sociais, dentre elas

a escolaridade.

A habilidade de atenção seletiva tem importante influência sobre o desempenho

de FEs, neste estudo este fato foi comprovado. Tendo em vista a importância da

capacidade de atenção sobre as FEs, é possível que ela interfira no seu desenvolvimento

estrutural. Estudos como os de Stedron et al. 2005 demonstram que bom desempenho em

atenção seletiva pode ocasionar melhorias na MT.

Uma limitação importante neste estudo foi a origem da amostra. Os pesquisadores

não obtiveram acesso a escolas particulares. E a coleta de dados precisou limitar-se as

escolas públicas, sendo a maioria dos estudantes advindos de baixo nível socioeconômico

e com certo risco de vulnerabilidade.

Alguns estudos apresentam dados referentes ao nível socioeconômico e o

desenvolvimento das FEs, revelando assim, uma influência negativa do primeiro para

com o segundo, especialmente para memória de trabalho e controle inibitório. A maioria

das crianças que foram avaliadas neste estudo, apesar de consideradas dentro do

desenvolvimento típico, obtiveram certa dificuldade na tarefa de Stroop. Provavelmente

devido ao seu caráter verbal, observado através da utilização de palavras e,

consequentemente, exigir a leitura automatizada.

Os dados que foram apresentados neste estudo são imprescindíveis para

compreensão do desenvolvimento das funções executivas. Principalmente por haver

grande discordância sobre este aspecto das FEs. A partir do entendimento de como este

construto muda durante a infância se é capaz de estabelecer formas de avaliação mais

adequadas.

Observou-se nesse estudo uma limitação significativa dos participantes na tarefa

de Stroop, devido a sua característica verbal. A maioria das crianças, apesar de

Page 94: MARCOS DESENVOLVIMENTAIS DAS FUNÇÕES EXECUTIVAS NA …

93

caracterizadas como desenvolvimento típico e, consequentemente sem indícios para

transtornos de aprendizagem, não tinham a leitura automatizada. Sendo assim, o teste de

Stroop que avalia o controle inibitório não cumpriu com eficiência sua função. O

desempenho inesperado no teste de Stroop, no caso desta amostra, não indica um baixo

desempenho, pois nota-se que na outra medida para CI (FDT) os resultados foram

adequados. A principal diferença entre os dois testes é a complexidade do uso da

linguagem escrita. Enquanto que o Stroop é formado por palavras, o FDT é constituído

por números (1 a 5).

Logo, ressalta-se a importância de formular protocolos de avaliação que

contemplem testes verbais e não-verbais, afim de que não haja uma interpretação

equivocada dos resultados. Os protocolos seriam escolhidos a partir de procedimentos

específicos realizados na triagem, com a finalidade de perceber se a criança possui

habilidades linguísticas adequadas para sua idade ou não.

Vale salientar, que a avaliação de crianças entre sete e onze anos devem

contemplar a mensuração da habilidade do controle inibitório e da flexibilidade cognitiva

como prioridades. Além disso, é de suma importância o desenvolvimento de testes com

normas para escolas públicas, tendo em vista que o acesso aos estudantes advindos deste

tipo de escola é mais fácil e eles são a maioria da população estudantil.

Considerando a escola como um importante espaço de socialização e

desenvolvimento, é essencial que o currículo escolar abarque atividades que estimulem

intencionalmente a capacidade de atenção, tendo vista que esta é um importante preditor

para o desempenho das FEs. Bem como a memória de trabalho, visto que esta serve de

suporte para a habilidade de controle inibitório e ambas, auxiliam o desenvolvimento da

flexibilidade cognitiva.

Vale ressaltar a importância para que estudos futuros contemplem a análise da

estrutura de desenvolvimento das FEs sob outros aspectos que não exclusivamente a

idade, tendo em vista que outros fatores cognitivos e sociais influenciam de modo

preponderante as FEs.

Estudos futuros serão executados afim de solucionar questões como:

Qual a estrutura das FEs considerando características sociais como o nível

de escolaridade?

Há diferenças de estruturas das FEs entre crianças que são expostas a

demandas executivas e as que não são?

Qual a estrutura das FEs quando considera-se a capacidade atencional?

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94

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ANEXOS

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TERMO DE ASSENTIMENTO PARA PARTICIPANTE MENOR DE IDADE

Prezado (a) Participante,

Esta pesquisa é sobre Funções executivas na infância e está sendo desenvolvida por Émille Burity Dias aluna de doutorado do programa de pos graduação em neurociência cognitiva e comportamento da Universidade Federal da Paraíba, sob a orientação do(a) Prof.(a) Carla Alexandra Da S. Moita Minervino.

O objetivo do estudo é analisar a relação entre os componentes das funções executivas (Memória de Trabalho, Controle Inibitório e Flexibilidade Cognitiva. A finalidade deste trabalho é contribuir para comunidade científica, permitir o acesso, estimular troca de ideias e opiniões referentes à comunidade acadêmica ou não acadêmica sobre o desenvolvimento das funções executivas na infância.

Solicitamos a sua colaboração para responder algumas atividades, dentro de 30 minutos, como também sua autorização para apresentar os resultados deste estudo em eventos da área de saúde e publicar em revista científica nacional e/ou internacional. Por ocasião da publicação dos resultados, seu nome será mantido em sigilo absoluto. Informamos que essa pesquisa não apresenta riscos!

Esclarecemos que sua participação no estudo é voluntária e, portanto, você não é obrigado (a) a fornecer as informações e/ou colaborar com as atividades solicitadas pelo Pesquisador (a). Caso decida não participar do estudo, ou resolver a qualquer momento desistir do mesmo, não sofrerá nenhum dano, nem haverá modificação na assistência que vem recebendo na Instituição (se for o caso). Os pesquisadores estarão a sua disposição para qualquer esclarecimento que considere necessário em qualquer etapa da pesquisa.

______________________________________

Assinatura do (a) pesquisador (a)

Eu aceito participar da pesquisa, que tem o objetivo analisar a relação entre os componentes das funções executivas (Memória de Trabalho, Controle Inibitório e Flexibilidade Cognitiva). Entendi os coisas ruins e as coisas boas que podem acontecer. Entendi que posso dizer “sim” e participar, mas que, a qualquer momento, posso dizer “não” e desistir sem que nada me

Universidade Federal da Paraíba

Centro de Educação

Núcleo de Estudos em Saúde Mental, Educação e Psicometria

(NESMEP)

58051-900 João Pessoa, PB

Telefone +55 (83) 32167476

E-mail: [email protected]

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103

aconteça. Os pesquisadores tiraram minhas dúvidas e conversaram com os meus pais e/ou responsáveis. Li e concordo em participar como voluntário da pesquisa descrita acima. Estou ciente que meu pai e/ou responsável receberá uma via deste documento.

João Pessoa, ____de _________de _______

Impressão dactiloscópica

__________________________________

Assinatura do participante (menor de idade)

Contato com o Pesquisador (a) responsável: [email protected]

Caso necessite de maiores informações sobre o presente estudo, favor ligar para o (a) pesquisador (a) Émille Dias Telefone 83 981621078 ou para o Comitê de Ética do Hospital Universitário Lauro

Wanderley -Endereço: Hospital Universitário Lauro Wanderley-HULW – 2º andar. Cidade Universitária. Bairro: Castelo Branco – João Pessoa - PB. CEP: 58059-900. E-

mail:[email protected] - Campus I– Fone: 32160-7964

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Questionário Sócio Demográfico Nº _________

Nome Idade Sexo Data de nascimento Escola ( ) pública ( ) privada NSE: ( ) alto ( ) médio ( ) baixo Ano escolar: Nº irmãos Pai Escolaridade Mae Escolaridade Usa óculos? Usa aparelho auditivo? É repetente? Possui problemas neurológicos?

Aprende as coisas na escola? Tem

dificuldade Na média Tem

facilidade Organiza-se bem? Tem

dificuldade Na média Tem

facilidade Mantém atenção? Tem

dificuldade Na média Tem

facilidade É inteligente? Tem

dificuldade Na média Tem

facilidade Entende o que lê (frases e pequenos textos)?

Tem dificuldade

Na média Tem facilidade

Sabe calcular? Tem dificuldade

Na média Tem facilidade

Reconhece números de 1 a 12? Tem dificuldade

Na média Tem facilidade

Reconhece o alfabeto de A a L? Tem dificuldade

Na média Tem facilidade

Sabe escrever palavras simples? Tem dificuldade

Na média Tem facilidade

Sabe ler palavras simples? Tem dificuldade

Na média Tem facilidade

Data da aplicação

Parte 1 (questionário, tac, raven) Parte 2 (digit span, letras e números, fdt, tt, stroop)

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Teste de Stroop versão victória

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Gráficos gerados pelo R

Modelo Unifatorial

Modelo trifatorial

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Modelo bifatorial 1

Modelo de segunda ordem (deu o mesmo do modelo bifatorial)

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Modelo bifactor