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INSTITUTO SABER & CIDADANIA FACULDADES INTEGRADAS DE VITÓRIA MARGARETH BATISTA SARAIVA COELHO Gestão de Políticas Públicas com Inclusão Social no Âmbito da Prefeitura Municipal de Vitória Vitória 2005

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INSTITUTO SABER & CIDADANIA FACULDADES INTEGRADAS DE VITÓRIA

MARGARETH BATISTA SARAIVA COELHO

Gestão de Políticas Públicas com Inclusão Social no Âmbito da Prefeitura Municipal de Vitória

Vitória 2005

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MARGARETH BATISTA SARAIVA COELHO

Gestão de Políticas Públicas com Inclusão Social no Âmbito da Prefeitura Municipal de Vitória

Monografia apresentada ao Instituto Saber & Cidadania e Faculdades Integradas de Vitória, como requisito para conclusão do curso de pós graduação lato sensu em Gestão Municipal de Políticas Públicas, realizado no período de 2003-2004. Orientador: Prof. José Carlos Neves Loureiro

Vitória 2005

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MARGARETH BATISTA SARAIVA COELHO

Gestão de Políticas Públicas com Inclusão Social no Âmbito da Prefeitura Municipal de Vitória

Monografia apresentada ao Instituto Saber & Cidadania e Faculdades Integradas de Vitória, como requisito para conclusão do curso de pós graduação lato sensu em Gestão Municipal de Políticas Públicas, realizando no período de 2003-2004. Orientador: Prof. José Carlos Neves Loureiro

Aprovado em 30 de agosto de 2005.

Profº. José Carlos Neves Loureiro – Orientador Arquiteto e Urbanista

Especialista em Planejamento Urbano e Gestão da Qualidade

Vitória 2005

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Não é aceitável um desenvolvimento que não esteja baseado na consolidação e

extensão de direitos iguais para todos os grupos da sociedade.

Ladislau Dowbor

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Dedicatória

Pablo, Marina e Godo.

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Agradecimentos

À Prefeitura Municipal de Vitória e ao

Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural

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RESUMO

No presente trabalho o processo de desenvolvimento econômico excludente e

concentrador é tomado com referencia para evidenciar os problemas urbanos

advindos da desestruturação do setor agrícola, e a concentração de investimentos

industriais na Grande Vitória, que atraem população do interior do Espírito Santo e

outros Estados, promovendo o inchaço e empobrecimento nas cidades. Analisa-se

os impactos desse modelo no Estado do Espírito Santo, que no período de 1960 a

1980 passa de rural exportador para urbano exportador. Também são registrados as

mudanças políticas no processo de democratização do país, a retomado dos

movimentos sociais e a construção de políticas públicas a nível do município,

demonstrando as inovações na gestão local tendo como referencia empírica os

Projetos São Pedro e Terra.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 01: Malha urbana Município de Vitória – 1960...................................... 26

Figura 02: Malha urbana Município de Vitória – 1970...................................... 26

Figura 03: Malha urbana Município de Vitória – 1980...................................... 27

Figura 04: Malha urbana Município de Vitória – 1990......................................

27

Figura 05: São Pedro...................................... .................................................. 41

Figura 06: Localização das Poligonais do Projeto Terra.................................. 70

Figura 07: Estrutura gerencial – 1997/1998....................................................... 76

Figura 08: Grupos ................................................................................................ 77

Figura 09: Estrutura gerencial – 1998 a junho/2000......................................... 80

Figura 10: Urbanização de Assentamentos Subnormais – UAS....................... 82

Figura 11: Estrutura gerencial – Junho/2001 a Junho/2002............................. 84

Figura 12: Estrutura gerencial – Junho/2002 a Junho/2003............................. 86

Figura 13: Estrutura gerencial – Junho/2003 a Dezembro/2004.............. 88

Figura 14: Estrutura organizacional (informal).................................................. 92

Figura 15: Fluxograma para elaboração do Plano Local – 1998...................... 94

Figura 16: Metodologia do projeto terra – Fases .............................................. 97

Figura 17: Programa de mejoramento barrial plan local de desarrolo integrado....................................................... ..................................

100

Figura 18: Programa de mejoramento barrial plan local de desarrolo integrado....................................................... ....................................

101

Figura 19: Programa de mejoramento barrial plan local de desarrolo integrado....................................................... ..................................

102

Figura 20: Fluxograma para elaboração do Plano de Desenvolvimento Local – Situação 01. ....................................................... ..........................

104

Figura 21: Fluxograma para elaboração do Plano de Desenvolvimento Local – Situação 01....................................................... .............................

105

Figura 22: Fluxograma para elaboração do Plano de Desenvolvimento Local – Situação 01....................................................... ............................

106

Figura 23: Fluxograma para elaboração do Plano de Desenvolvimento Local – Situação 02....................................................... ............................

107

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LISTA DE QUADROS

Quadro 01 - Espírito Santo - Evolução demográfica do Estado e da Grande Vitória - 1940 – 1980........................................... ........................

21

Quadro 02 - Crescimento populacional em Vitória, Grande Vitória e no Espírito Santo (1940 a 2000). ........................................... .........

25

Quadro 03 - Recursos aplicados/obras de infra-estrutura remoção e assentamento de famílias, melhorias habitacionais, desenvolvimento comunitário, delimitação do manguezal e fiscalização. (Em US$)....................................................................

40

Quadro 04 - Regiões administrativas e composição dos bairros, SEPLAN/PMV,1996 .......................................................................

44

Quadro 06 - Bairros contemplados pelo Projeto Terra segundo Poligonal....... 69

Quadro 07 - Recursos captados por fontes – 1997 a 2004.............................. 115

Quadro 08 - Recursos aplicados por fontes – 1997 a dezembro de 2004....... 116

Quadro 09 - Orçamento do Projeto Terra para 2005 – por Secretaria............. 116

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO................................................................................................. 11

1 DESENVOLVIMENTO CONSERVADOR DEPENDENTE E EXCLUDENTE .............................................................................................

14

1.1. MODELO ECONÔMICO CONCENTRADOR ........................................... 14

1.2 A SOCIEDADE CIVIL..................................... .......................................... 16

1.3 REDEMOCRATIZAÇÃO: SOCIEDADE CIVIL E ESTADO........................ 16

1.4 O ESPÍRITO SANTO E A MODERNIZAÇÃO CONSERVADORA............. 19

2 VITÓRIA E OS REBATIMENTOS DO MODELO DE DESENVOLVIMENTO CONSERVADOR.....................................................

24

2.1 OCUPAÇÃO DESIGUAL E SEGREGAÇÃO ESPACIAL........................... 27

2.2 PODER LOCAL E GESTÃO DEMOCRÁTICA........................................... 29

2.3 VENTOS DA RENOVAÇÃO POLÍTICA...................................................... 31

3 GESTÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS DE INCLUSÃO SOCIAL: DE SÃO PEDRO AO PROJETO TERRA..................................... ............................

34

3.1 SÃO PEDRO..................................... ......................................................... 34

3.2 AGENDA 21 DA CIDADE..................................... ..................................... 42

3.3 PROJETO TERRA..................................... ................................................ 46

3.3.1 Concepção – Escopo do Projeto Terra................................................ 47

3.3.2 Desenho e implantação do programa de 1997 a 1999. 60

3.3.3 Qualificando o desenho a partir da implementação do Projeto Terra.....................................................................................................

66

3.3.4 Estruturas Gerenciais de 1997 a 2004................................................. 74

3.3.5 Estratégias de gestão do Projeto Terra............................................... 93

3.3.6 Recursos mobilizados para o Projeto Terra....................................... 113

CONCLUSÃO.................................................................................................. 117

REFERÊNCIAS............................................................................................... 122

BIBLIOGRAFIA............................................................................................... 125

ENTREVISTAS................................................................................................ 126

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INTRODUÇÃO

O crescimento das cidades brasileiras nos últimos 40 anos ocorreu como

conseqüência do modelo de crescimento econômico do país. A cidade de Vitória e a

Região Metropolitana da Grande Vitória sofreram estes impactos de forma singular.

O setor econômico resultante desse processo de modernização na Grande Vitória é

bastante dinâmico e vigoroso, mas em compensação o inchaço populacional e a

pobreza urbana cresceram significativamente e de forma acelerada.

Na redemocratização do país foi elaborada a Constituição Federal de 1988, que

confere autonomia aos municípios, reconhecendo-os enquanto entes da federação.

Novos governantes são eleitos, pelo voto popular, para dirigentes das cidades,

iniciando uma nova fase na gestão dos municípios brasileiros, que inovam na

formulação e implementação de políticas públicas, que se pautam pela participação

popular, integração de políticas publicas, desenvolvimento local sustentável e

comprometidos com valores democráticos e sociais, em consonância com a vontade

popular.

No município de Vitória, o período de 1989 a 2004 é analisado no presente trabalho,

quanto a formulação e a gestão de políticas publicas com inclusão social, tomando-

se como referência empírica os Projetos de São Pedro e o Terra, políticas públicas

que ousaram promover a inclusão social, introduzindo com essas práticas novos

paradigmas para a gestão de políticas: do setorial para o integrado. No nível

institucional representou buscar garantir a transversalidade na troca de

conhecimentos, visando gerar novas sínteses entre diferentes olhares. Por outro, a

migração do autoritário para o participativo: significando a busca de métodos e

técnicas que possibilitem melhorar a escuta e a interlocução entre os diferentes

saberes, dos técnicos, da comunidade e dos agentes políticos interessados no tema.

Para acompanhar a dinâmica desse processo um novo gestor se faz necessário,

comprometido com sua função social enquanto profissional do setor público, e

comprometido com a construção da democracia e do interesse público enquanto

cidadão.

As inovações, na gestão municipal de políticas públicas com inclusão social, são

registradas no presente trabalho, tendo como elemento preliminar a análise

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realizada no primeiro capítulo, onde se busca, através da revisão bibliográfica de

alguns autores, focar o olhar para minimamente conectar os elementos de análise

quanto a expansão do capitalismo no Brasil, o processo de modernização acelerada

e seus rebatimentos no estado do Espírito Santo, o processo de redemocratização e

o surgimento de uma nova sociedade civil.

No segundo capítulo são registrados os rebatimentos do modelo de

desenvolvimento concentrador e excludente na ocupação desigual, na formação de

bolsões de pobreza, na segregação espacial do território da cidade de Vitória, onde

as duas cidades são consolidadas no espaço de 20 anos: a legal e a real. É também

caracterizado, com apoio de alguns autores, o entendimento quanto aos traços que

caracterizam as transformações nas políticas públicas no nível do poder local: o

incentivo e promoção da gestão democrática participativa. São registradas também

as renovações políticas na Prefeitura de Vitória no período de 1988 a 2004. É

importante ressaltar que alguns documentos internos da PMV, pelo seu valor

histórico, e, raridade de exemplares, foram sintetizados e partes dos mesmos

chegam a ser transcritas.

No terceiro capitulo são descritas as experiências na elaboração e implementação

de políticas gestadas no âmbito municipal visando o enfrentamento da pobreza

urbana, com base em documentos elaborados pelas equipes da PMV, estudiosos do

tema, entrevistas com protagonistas e vivência da autora, enquanto partícipe do

processo no período de 1999 a 2004.

Os momentos históricos de maior relevância na vida dos Projetos em estudo são

utilizados como recursos para se tentar demonstrar que as políticas públicas,

principalmente as inovadoras como nestes casos, são resultados da construção de

pactos institucionais e pactos junto à sociedade, pela promoção da qualidade de

vida, com o entendimento de que cabe ao poder público tentar resgatar a dívida

social para com um grande contingente da população, sendo esta uma função do

Estado e um direito do cidadão: viver com dignidade.

A dinâmica da formulação e implementação das políticas públicas em estudo tem

como objetivo demonstrar que no seu âmbito a continuidade e a qualificação da

gestão são fatores-chave para o sucesso das mesmas. Tenta-se também

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demonstrar o papel e importância dos pactos em defesa da política de qualidade.

Espera-se que o olhar através do qual esta releitura é feita, possa contribuir para a

qualificação de políticas públicas integradas e participativas, compreendendo o seu

caráter inovador e os incômodos naturais que tais processos proporcionam, o novo e

o velho, o futuro e suas incertezas, as negociações e participações promovendo um

aprendizado diário, que levam à formação de novos gestores públicos

comprometidos com os valores democráticos, o interesse público e a promoção da

cidadania.

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1 DESENVOLVIMENTO CONSERVADOR DEPENDENTE E EXCLUDENTE

1.1. MODELO ECONÔMICO CONCENTRADOR

As sucessivas mudanças dos regimes políticos no Brasil, sempre contaram com os

arranjos das elites econômicas locais, em desenvolvimento ou em potencial,

representando em alguns momentos os interesses capitalistas supranacionais.

A cada arranjo das forças políticas e econômicas, para promoverem o

desenvolvimento do capitalismo, rebatia em novo arranjo na forma do Estado se

organizar para agir e intervir na economia e na vida das pessoas, com períodos de

perda total das liberdades individuais.

Os modelos de desenvolvimento econômico guardaram entre si a lógica da exclusão

social, concentração das riquezas, o desrespeito ambiental, o desemprego e a

concentração de terras.

A ditadura militar implantada em março de 1964 adotou o modelo de

“desenvolvimento conservador”, cujo padrão tecnológico reforçava a dependência

externa através da importação dos pacotes tecnológicos, segundo Aguiar (1988,

p.144) “os parâmetros eram definidos pelos pólos dominantes da economia

mundial”.

O País não se tornou uma nação capitalista por obra de impulsos renovadores capazes de promover rupturas categóricas com os padrões tradicionais de organização societária e estatal. A dinâmica capitalista, além do mais, não se mostrou particularmente empenhada na promoção social ou na geração de um padrão de desenvolvimento “sustentável” e mais equilibrado territorialmente. A revolução burguesa brasileira esteve categoricamente vinculada à conciliação, à busca de composições e acertos concebidos como forma de compensar os grupos e interesses mais identificados com as fases econômica-sociais que se desejava superar. (NOGUEIRA, 1998, p.92).

O modelo de desenvolvimento conservador em nome da modernização e do

progresso, reservou para a agricultura brasileira a introdução de novos padrões

tecnológicos, através dos pacotes tecnológicos, com ênfase nos produtos de

exportação, grande uso de insumos e máquinas agrícolas e poupadores de mão de

obra. Conforme Aguiar (1988, p.76) “a agricultura modernizada dos países

subdesenvolvidos constitui um elo no processo de complementação/especialização

dos sistemas produtivos nacionais, articulando-se, portanto ao jogo da divisão

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internacional do trabalho”.

À modernização tecnológica na agricultura correspondeu a novos sistemas de

produção e novas relações sociais no trabalho, alterando as relações de

parceiros/meeiros e colonos, para trabalhadores assalariados, volantes, bóias frias e

sem terras.

Como conseqüência desse modelo de desenvolvimento na agricultura, denominado

por alguns estudiosos como “revolução verde”, os trabalhadores rurais e suas

famílias seguiram em busca de melhores condições de vida nas cidades. Esse fluxo

migratório rural - urbano mudou a distribuição populacional no Brasil. No período

entre 60 e 80 a população rural passa de 54,9% para 32,4% e a população urbana

de 45,1% para 67,5%, em 20 anos a sociedade brasileira tornou-se urbana -

industrial.

Segundo Baltar (1994, p. 6) esse modelo, baseado na industrialização e

modernização de setores agrícolas, apesar de ter gerado um número significativo de

empregos urbanos, não foi suficiente para absorver a demanda por novos postos de

trabalho expandindo-se, assim, o contingente de sub-empregados e

desempregados. Assistiu-se, pois, nas últimas décadas, a um crescimento caótico

das cidades, com uma distribuição quantitativa e qualitativamente desigual dos

equipamentos e serviços de consumo coletivo que concentrando em poucas áreas

uma variedade de equipamentos e serviços, cujo impacto sobre a segregação social,

no espaço urbano, foi expressivo especialmente nas grandes cidades.

O modelo econômico concentrador e excludente privilegiou a expansão do

capitalismo a qualquer custo, sem considerar seus impactos sobre o espaço e na

qualidade de vida, teve um breve ciclo expansivo de 1967 até 1973 (milagre

econômico), quando a crise internacional desencadeada pelos preços do petróleo

afetou os financiamentos externos, abrindo a falência do modelo e suas graves

conseqüências no âmbito sócio - econômico - ambiental.

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1.2 A SOCIEDADE CIVIL

A crise no modelo de desenvolvimento acirra no seio da população brasileira o

descontentamento com a onda inflacionária, o desemprego, a falta de liberdade de

expressão, em síntese a falta de oportunidades para o exercício da cidadania. A

organização da sociedade civil ganha:

Impulso no contexto da ditadura militar, nos anos 70, fruto do surgimento e generalização de um conjunto de organizações e associações civis. As décadas de 70 e 80 apresentavam-se, portanto, como marco na história da organização civil no país. Trata-se de um quadro novo, na medida em que supera, tanto quantitativamente quanto qualitativamente, o conjunto de experiências de organização social anterior ao período da ditadura, uma vez que há a ampliação e pluralização dos grupos, associações e instituições, que procuram se posicionar de forma autônoma em relação ao Estado. A questão da autonomia surge, portanto, como o primeiro elemento articulador de uma noção de sociedade civil. (GRUPO DE ESTUDOS, 2001, p. 16).

Diversos atores sociais, mesmo antes da ditadura, reivindicavam participação no

processo político, onde a luta comum contra o regime autoritário reuniu importantes

setores sociais, que com suas praticas políticas estabeleceram novos padrões de

relacionamento com o Estado, surgindo movimentos autônomos, ao mesmo tempo

em que a solidariedade entre diferentes movimentos era estabelecida.

O surgimento de um novo sindicalismo (CUT/1983 - São Bernardo dos Campos -

São Paulo), na luta contra o arrocho salarial, a carestia, por um “desenvolvimento

em novas bases”, o movimento estudantil “pelo ensino público e gratuito com

qualidade”, as lutas por transporte, escolas, creches, direitos das mulheres, dos

homossexuais, e a articulação intersetorial desses movimentos pelas liberdades

democráticas, reivindicaram “direito a ter direitos”, acirrando o enfrentamento com a

ditadura militar, iniciando na década de 80 o processo de abertura lenta e gradual.

Num primeiro momento, o uso do termo sociedade civil passa a se constituir como eixo de identificação deste vasto campo de atores que se organizavam coletivamente, tornando públicas as suas carências, e reivindicando mais liberdade e mais justiça social, no esboço de um projeto que, naquele contexto, unificava o quadro múltiplo e heterogêneo da organização social, através de uma demanda comum de derrubada do regime autoritário e da construção da democracia. (GRUPO DE ESTUDOS, 2001, p. 17).

1.3 REDEMOCRATIZAÇÃO: SOCIEDADE CIVIL E ESTADO

O ano de 1985 foi um marco histórico na redemocratização do país com a eleição no

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colégio eleitoral de civis para presidente e vice, respectivamente Tancredo Neves e

José Sarney, ocorrendo também neste mesmo ano, eleições diretas para prefeitos

das capitais.

A chegada de novos governantes, comprometidos com as causas populares e na

tentativa de resgatarem a dívida social, depara-se com a máquina estatal, falida,

privatizada, atendendo interesses de grupos econômicos e políticos, que cultivaram

a cultura clientelista e patrimonialista, apoiando-se na neutralidade técnica.

Somando-se a centralização da formulação de políticas públicas setoriais, que

reservava aos Estados e Municípios o papel de meros implementadores, sem

espaço para intervirem de forma direta nas análises das mesmas e nas correções de

rumos necessários.

As demandas sociais rebatem nas administrações municipais, e por maior que seja a

boa vontade dos governantes locais, os limites do corpo administrativo e técnico,

deixam clara a herança de décadas, privilegiando o insulamento burocrático. Além

dos problemas financeiros para fazerem frente aos gravíssimos problemas sociais, a

cultura gerencial reserva surpresas desagradáveis aos novos dirigentes. Por um

lado, as dificuldades dos técnicos que se identificam com o processo de

transformação em curso na sociedade, para exercitarem novas formas de elaborar

políticas com a participação ativa da sociedade, já que faltava a experiência

concreta, e por outro a descrença de alguns no saber popular, reforçava a

identidade de quadros técnicos e administrativos, que assumiam posições

refratárias, fazendo muitas vezes oposições silenciosas, e até mesmo de forma

inconsciente, a um novo exercício de poder local objetivando o fortalecimento da

democracia participativa.

A morosidade da máquina para vencer os entulhos burocráticos, conduz a

necessidade de novas práticas administrativas, tendo que se investir na formação de

novos quadros técnicos, comprometidos com as mudanças, as incertezas e os

conflitos que os processos participativos geram.

Na medida em que se avança no processo de redemocratização, o mau uso da

“coisa” pública torna-se mais explícito. Abrem-se as discussões sobre o que de fato

caracteriza o interesse público.

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A Constituição Federal de 1988 redefiniu o pacto federativo ampliando e

fortalecendo o papel dos municípios, e as possibilidades da participação

democrática dos cidadãos.

A nova forma de organização do capitalismo internacional, nos anos 80, coloca em

pauta a reestruturação produtiva, retomando-se as opções pelo “Estado Mínimo”, à

luz da globalização da economia.

Esta nova organização do capital remete a releituras do Estado Brasileiro e aos

novos arranjos das elites. Nas eleições diretas para presidente da república do

Brasil, no ano de 1989, Collor e Lula abrem o debate com suas visões da crise

brasileira, e qual deveria ser o papel do Estado.

Collor defende a visão neoliberal de Estado Mínimo, e que o mesmo deveria ser

privatizado, saindo vitorioso; e Fernando Henrique Cardoso ao suceder o Governo

de Itamar Franco, vice-presidente de Collor que ascendeu com a cassação,

implementa a política neoliberal.

As mudanças no nível do poder central são substanciais, porém continuam

atendendo aos interesses e orientações do capital internacional e das elites

econômicas e políticas locais.

As renovações políticas ao nível dos Estados e Municípios nos anos 80 e 90

inauguram as possibilidades de gestões democráticas. Como os cidadãos moram,

vivem e sobrevivem nas cidades, a proximidade para reivindicar participação na

formulação e implementação de políticas, ganha novos contornos com a legitimação

de novos atores oriundos dos movimentos sociais.

A proximidade entre poder público e sociedade civil no nível local leva a novos

exercícios de poder, configurando novos mecanismos de participação direta e semi

diretas, seja através de conselhos setoriais, orçamento participativo, quer seja

através de outros fóruns.

Resultam desses processos novas políticas para enfrentamento da dívida social, que

tentam quebrar a visão setorial dos problemas sociais. Dada a complexidade desses

problemas a intersetorialidade, a integração de diversos conhecimentos técnicos, e

os mecanismos criados para ouvir e respeitar o saber popular originam práticas

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inovadoras de gestão. “É o novo sendo construído dentro do velho”.

Cabe ressaltar a importância do papel dos organismos internacionais de

financiamento que reafirmam a participação da sociedade civil na formulação e

implementação das políticas públicas, como receita para garantir a sustentabilidade

das mesmas.

O exercício do poder local ancorado no desenvolvimento humano sustentável realça

a importância da transparência e da participação democrática e cidadã. Assim os

municípios inovam e promovem políticas, aos poucos vão deixando de ser meros

implementadores, e ganham força na formulação de novas práticas de gestão.

As organizações da sociedade civil abandonam uma postura meramente

contestatória, passando a combinar reivindicação e interlocução direta com as

agências estatais.

1.4 O ESPÍRITO SANTO E A MODERNIZAÇÃO CONSERVADORA.

O modelo de desenvolvimento conservador rebateu no estado do Espírito Santo de

forma singular, gerando em um espaço de 20 anos profundas transformações nos

aspectos sócio-ambiental, econômico e político.

No início dos anos 60 o Espírito Santo tinha sua base econômica alicerçada na

agricultura, em especial na cultura do café que, com suas oscilações, determinava o

ritmo do crescimento da economia regional.

Naquele momento, de acordo com Caser & Coelho (1988, p. 14), o setor agrícola

correspondia a 48,82% da renda do Espírito Santo, seguido pelo setor de serviços

com 45,27% e indústria 5,91%, sendo que os estabelecimentos rurais menores de

100ha correspondiam a 54,7% do total, explorados, em sua maioria, com mão-de-

obra familiar. No que se refere à distribuição da população, segundo Siqueira (2001,

p. 131), 71,6% da população do Estado encontrava-se na área rural e 28,4% na área

urbana.

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As periódicas crises nos preços do café, influenciadas pelo mercado internacional,

somadas ao aumento da produção em escala mundial, além da baixa qualidade do

produto brasileiro, do esgotamento do solo para o cultivo tradicional, foram fatores

que levaram o Governo Federal a criar em 1961 o Grupo Executivo de

Racionalização da Cafeicultura - GERCA, com o objetivo de reduzir as super safras,

através do planejamento, ficando a cargo deste Grupo a definição da política

cafeeira.

Em 1962 o GERCA lançou seu Plano Diretor, que previa como diretrizes: erradicação de dois bilhões de pés de café anti-econômicos, a diversificação de culturas nas áreas liberadas e a renovação racional das lavouras cafeeiras em proporção conveniente “. (CASER & COELHO, 1988, p14).

Ainda segundo os mesmos autores, no Espírito Santo foram erradicados 53,8% dos

cafezais, no período de 1963 a 1967, que ocupavam 71% da área total cultivada

com café, representando no Brasil 22% de cafeeiros erradicados e 20,1% de área.

A política cafeeira em conformidade com o modelo de desenvolvimento conservador,

caracterizava-se pela dissociação entre o econômico e o social. Na implementação

das diretrizes dessa política no Espírito Santo, não foi contemplada a especificidade

nas relações de produção e trabalho na agricultura, ou seja, pequenas propriedades

com uso intenso de mão-de-obra familiar e a descapitalização desses agricultores

devido à crise nos preços do café iniciada a partir da década de 50.

Tomando como referência os autores Caser & Coelho (1998) e Siqueira (2001),

observa-se como conseqüência da implementação das diretrizes do GERCA no

Espírito Santo:

• Opção pela agropecuária extensiva, com conseqüente liberação de mão-de-obra

e o deslocamento de grandes contingentes populacionais para as áreas

urbanas;

• início do processo de concentração da propriedade agrária. Segundo Caser &

Coelho (1988, p. 12), o número de estabelecimentos menores que 100ha em

1960 correspondiam a 54,7% das propriedades, enquanto em 1980, esse

número caiu para 39,9%; os maiores que 100ha em 1960 correspondiam a

45,3% e em 1980, aumentaram para 60,1%; os maiores que 500ha

correspondiam a 17,3% em 1960 e 26,4% em 1980. Desaparecem 11.380

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estabelecimentos rurais com área inferior a 100ha entre os censos

agropecuários de 1970 e 1980;

• renovação da cafeicultura em nova base tecnológica, com a larga utilização de

insumos industriais e mudanças expressivas nas relações sociais de trabalho;

• incentivo a implantação dos grandes projetos agro-industriais e reflorestamento,

com predominância do trabalho assalariado temporário;

• os pequenos e médios agricultores descapitalizados e com esgotamento do solo,

foram os que mais aderiram à erradicação dos cafezais, como forma de saldar

dívidas;

• intensa evasão da população rural para as cidades de porte médio e para a

Grande Vitória e, em número significativo para a fronteira no Norte do País. Em

1960 a população no Espírito Santo apresentava a seguinte distribuição: 28,4%

na área urbana e 71,6% na área rural, e no ano de 1980 estava 64,2% na área

urbana e 35,8% na área rural;

• inchamento populacional da Grande Vitória, que pode ser verificado no Quadro

1.

Quadro 01 - Espírito Santo - Evolução demográfica do Estado e da Grande Vitória -

1940 – 1980

População Total Taxas anuais de Crescimento

Ano Espírito Santo

Grande Vitória

Espírito Santo

Grande Vitória

% da Grande Vitória na população Estadual

1940 790.149 91.570 - - 11,6

1950 957.238 110.931 1,9 1,9 11,6

1960 1.418.384 198.265 4,0 6,0 14,0

1970 1.599.333 385.998 1,2 6,9 24,1

1980 2.023.340 706.263 2,4 7,0 34,9

Fonte: FIBGE. Censo Demográfico do Espírito Santo – 1940 a 1980, citado por Siqueira (2001, p.129).

• em 1980 a participação por setor na renda gerada correspondeu: agricultura

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16,11%; serviços 43,08% e, indústria 34,81%, e

O Espírito Santo começou a ser lançado na era industrial, com a siderurgia e a

celulose.

Assim o programa de erradicação de cafezais deve ser entendido, também, como uma necessidade básica para a expansão do capital monopolista, particularmente o perfil de industrialização que veio a se configurar na Grande Vitória. A contrapartida foi a diminuição da participação do setor agrícola na renda interna de 48,82% em 1960 para 14,81% em 1985. (CASER & COELHO, 1988, p. 12 a 13).

Segundo Siqueira (2001, p. 47) a desestruturação agrária, associada à

industrialização concentrada na região da Grande Vitória, acentuou os desequilíbrios

regionais do Espírito Santo, caracterizando o esvaziamento do interior. A

incapacidade dos setores urbanos dinâmicos absorverem todo o contingente de

pessoas que saíram do interior, transformou a região da capital em centros

concentradores das camadas mais desfavorecidas, caracterizando um sério

processo de empobrecimento social, sem alternativa a curto prazo.

A desestruturação sócio-econômica no Espírito Santo em decorrência da

erradicação de cafezais leva a que o Governo Estadual em parceria com atores

políticos e econômicos locais busquem junto ao Governo Federal a criação e adoção

de medidas capazes de corrigir a defasagem de crescimento que se experimentava

em relação ao resto do País. Como resultado dessa ação, o Espírito Santo chega a

1975 com uma infra-estrutura administrativa reaparelhada e todo o sistema de

incentivos fiscais e de financiamento em ação. É nesse momento que se instalam

aqui vários projetos industriais de grande porte, os chamados grandes projetos.

A prioridade clara era integrar o Espírito Santo no contexto capitalista nacional e

internacional; assim os problemas sociais da população foram relegados a segundo

plano.

A consolidação do espaço urbano industrial na Grande Vitória, sem adequado

planejamento, gestão urbana, e políticas sociais, para fazerem frente às demandas

do empobrecimento e do crescimento populacional acelerado, levou a expansão

desordenada das malhas urbanas e ocupações irregulares.

No período de 20 anos a economia deixa de ser rural - exportadora e passa a

urbana - industrial - exportadora, respondendo ao grau de aderência das elites locais

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ao projeto nacional de industrialização acelerada.

Mais uma vez as elites locais, como haviam feito na cultura do café, criaram e implementaram um projeto de desenvolvimento local. Foi da articulação de diferentes atores e da ação planejada do Estado que ele foi formulado e implementado. Seu principal objetivo, que era tirar o Espírito Santo da estrita dependência do café, obtivera êxito. Havia as indústrias e um aparato governamental muito mais qualificados. Assim como os positivistas do final do século XIX formularam um projeto que colocou o Estado na cena nacional a partir do café, os desenvolvimentistas articulados em torno de Jones e fortemente ligados ao ideal Getulista, também obtiveram resultados. O Espírito Santo jamais seria o mesmo. (VASCONCELOS, 2004, p. 134.)

Acrescenta o mesmo autor com base em Marta Zorzal (Tese de Doutorado, 2001),

outro fator de relevada importância no desenvolvimento industrial do Espírito Santo é

a presença da CVRD – Companhia Vale do Rio Doce, já que a mesma tinha como

missão impulsionar o desenvolvimento, sobretudo industrial, do espaço onde

atuasse. Na medida em que a empresa se consolida no mercado, a idéia da

alavancagem de novos empreendimentos tornou-se meta importante, em relação às

conexões com o capital privado, a Vale foi ou deveria ser incubadora de empresas e

promotora de novos empreendimentos. (Id, p.134)

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2 VITÓRIA E OS REBATIMENTOS DO MODELO DE DESENVOLVIMENTO

CONSERVADOR

A cidade de Vitória, Capital do Estado do Espírito Santo, até os anos 50 assentava

sua economia no comércio do café, ofertando serviços especializados em função

deste vetor econômico.

Conforme Campos Junior (1996, p. 8), as transformações iniciadas no período, ao

nível dos setores produtivos no campo, com o esgotamento do solo e a crise nos

preços do café, e, na cidade, com início das operações da Companhia Vale do Rio

Doce – CVRD, no cais do Atalaia em Vila Velha, impactaram a lógica rural cafeeira.

Esses impactos na segunda metade dos anos 60 foram potencializados por

acontecimentos que se verificaram em âmbito nacional e local, com destaque para a

construção do Porto de Tubarão, a erradicação de cafezais no Estado e o processo

de modernização conservadora experimentado pelo setor agropecuário no Brasil.

A política de erradicação dos cafezais improdutivos deixou, segundo Siqueira (2001,

p. 129), aproximadamente “quinze mil pessoas sem ocupação” e,

conseqüentemente, sem as condições mínimas de sobrevivência nas áreas rurais do

Espírito Santo. As notícias da oferta de trabalho na cidade de Vitória e na Grande

Vitória, com a implantação de projetos industriais e ampliação do setor de serviços,

funcionaram como chamariz da esperança para aqueles que buscavam melhores

condições de vida e emprego. No censo de 1960 o município de Vitória apresentava

uma população de 83.351 habitantes e em 1980 correspondia a 207.747 habitantes.

Na fase da implantação dos grandes projetos industriais, parte da mão-de-obra foi

ocupada pela indústria da construção civil. Passada esta fase, a exigência das

indústrias eram por profissionais mais qualificados, sendo dispensado os

trabalhadores não aptos para as demandas ora exigida, aumentando o número de

desempregados na Grande Vitória.

O crescimento acelerado da cidade foi acompanhado pelo empobrecimento da

população e a ocupação desordenada e desigual dos espaços urbanos. O poder

público, apesar de algumas iniciativas, para ofertar moradias, através da

implantação de conjuntos habitacionais, nem de longe conseguiu responder a

demanda por novas unidades habitacionais, infra-estrutura de saneamento básico,

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iluminação pública, além de outros serviços públicos, como educação, saúde e

transportes. De acordo com Siqueira (2001, p. 161) “Nem o Estado nem os

municípios dispunham de recursos suficientes para prover todas as necessidades

com a urgência exigida”.

A desestruturação do espaço urbano em Vitória e na Grande Vitória é, portanto, uma

conseqüência do modelo de desenvolvimento concentrador e excludente.

Com o aumento da população urbana, verificou-se uma demanda crescente por equipamentos públicos e infra-estrutura que passam a atender um percentual cada vez menor de habitantes. Coube a população de menor renda encontrar formas mais acessíveis de moradia, como invasões e os loteamentos clandestinos e irregulares, uma vez que o poder público e o mercado imobiliário não ofertavam habitação para esta faixa de renda. Inicia-se então o contraponto entre duas cidades que passam a coexistir no mesmo espaço: a “cidade legal” preconizada nos planos e projetos oficiais e a “cidade real” que se espalha pelas áreas de mangue, sob as encostas dos morros e ocupa áreas que deveriam estar destinadas à preservação ambiental e da paisagem. (OLIVEIRA, 1996, p. 59).

Conforme apresentado no Quadro 02, pode-se verificar o crescimento populacional

na cidade de Vitória, na Grande Vitória e no Estado do Espírito Santo, no período de

1940 a 2000.

Quadro 02 - Crescimento populacional em Vitória, Grande Vitória e no Espírito

Santo (1940 a 2000).

Município Censo 40 Censo 50 Censo 60 Censo 70 Censo 80 Censo 91 Censo 00

Vitória 45.212 50.922 83.351 133.019 207.747 250.443 292.304

Grande Vitória 91.570 110.931 194.310 385.998 706.263 1.063.295 1.337.187

ES 750.107 861.562 1.169.553 1.559.333 2.023.340 2.598.505 3.097.498

Fonte: IBGE/GAB/PLAN/PMV, 2003

Conforme Siqueira (2001, p.128,129) até 1950 a Grande Vitória guardou paralelismo

com o crescimento demográfico do Estado. Entre 50 e 60, década que significou o

auge do processo econômico baseado na monocultura do café, Vitória emergia

como um dos maiores centros portuários do país. O poder polarizador de atração de

migrantes ocorre de forma intensa a partir dos anos 60, sendo nas décadas de 70 e

80 que esse fenômeno concentrador ganha traços definitivos. A população migrante

movimentou-se em direção à região onde se concentrava a atividade econômica

dinâmica, a Grande Vitória, concentrando em 1980 34,9% da população total do

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Estado.

As taxas geométricas anuais de crescimento populacional em Vitória, com base nos

censos e edição SEDEC/Subges em 2003 – TGCA: 1950/60 – 5,3; 60/70 – 4,6;

70/80 – 4,55; 80/91 – 1,99, e 91/2000 – 1,36.

As figuras correspondentes à evolução da malha urbana no município de Vitória, nos

anos 60, 70 e 90 mostram como a ocupação do solo em Vitória ocorreu de forma

acelerada. (FIGURA 01, 02, 03 e 04)

Figura 01: Malha urbana Município de Vitória – 1960 Fonte: http://www.baiadevitória.ufes.br

Figura 02: Malha urbana Município de Vitória – 1970 Fonte: http://www.baiadevitória.ufes.br

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Figura 03: Malha urbana Município de Vitória – 1980 Fonte: http://www.baiadevitória.ufes.br

Figura 04: Malha urbana Município de Vitória – 1990 Fonte: http://www.baiadevitória.ufes.br

2.1 OCUPAÇÃO DESIGUAL E SEGREGAÇÃO ESPACIAL

A ocupação dos morros de Vitória pela população de baixa renda inicia-se na

década de 20, em especial os morros do Forte São João, Piedade e Fonte Grande,

pela proximidade dos locais de trabalho.

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No período de 1960 a 1980, a ocupação da cidade ocorre de forma acelerada e

desigual, ao longo do litoral e região continental por famílias das classes alta e

média, e nas encostas dos morros e mangues pela população pobre.

Conforme registrado no documento sobre política habitacional de Vitória (2000, p. 9),

a ocupação de encostas e morros e dos manguezais foi a solução encontrada pela

população pobre para morar.

Esse processo de ocupação ilegal ocorreu, em algumas circunstâncias, com

incentivo de Poder Público, visando vantagens eleitorais, ou por iniciativa da

população apoiada por uma parcela do setor imobiliário, que aproveitava da

inoperância do Poder Público diante da rapidez da demanda.

A acentuada declividade das áreas de encosta, aliada à retirada da cobertura

vegetal para dar lugar às ocupações desordenadas, resultou em processos

contínuos de erosão com conseqüências muito graves, provocando deslizamentos

de terra, ocasionadas pela descoberta de matacões e acúmulo de lixo, colocando

em risco a população residente. As regiões baixas também foram afetadas, com

trasbordamentos e enchentes causadas pelo entupimento das galerias pluviais.

(PMV, 2000, p. 9).

A partir de 1977 tem início a ocupação desordenada da área de mangue situada no

lado noroeste da Ilha de Vitória, local onde a prefeitura depositava o lixo da cidade.

Em 1980 essa região, denominada São Pedro congregava, em média, 15 mil

favelados.

As famílias muito pobres que ocuparam esta região tiravam do lixo o seu sustento,

seja aproveitando restos alimentares, seja reciclando e vendendo papéis, vidros,

plásticos e utilizando o lixo para realizar aterros no mangue.

No momento em que o País começava a usufruir das vantagens proporcionadas pelo “milagre econômico”, a cidade de Vitória estava recebendo migrantes do Sul da Bahia, Norte de Minas Gerais, Zona da Mata Mineira, Norte do Rio de Janeiro e interior do Estado, sob o mesmo pretexto: buscamos trabalho e melhores condições de vida. (SIQUEIRA, 2001, P. 101).

As carências em relação a infra-estrutura e serviços nas áreas ocupadas de forma

desordenada (morros e mangues) é de tal ordem que mesmo em período de regime

político de exceção, os moradores desses espaços socialmente segregados,

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apoiados pelas Comunidades Eclesiais de Base, da Igreja Católica, unem-se em

associações e centros comunitários para reivindicarem melhorias junto ao poder

público municipal e estadual, em especial água, esgoto, iluminação, escadarias,

escolas, transportes, dentre outros.

Nos anos 80, o ciclo da transição rural-agropecuário-exportador para urbano-

industrial-exportador está consolidado, ou seja, Vitória se consolida como centro

político, cultural, administrativo e metropolitano.

Segundo Siqueira (2001, p. 112), em 1980 as famílias com renda entre ¼ a 3

salários mínimos (carentes) correspondiam, em Vitória, a 49,6% da população, ou

seja, de 207.747 habitantes, 103.080 eram carentes.

As características físicas do território de Vitória, com montanhas íngremes, mangue

e boa parte de sua área plana no continente ocupada pelo aeroporto, universidade e

complexo CST/CVRD, deixam poucas áreas disponíveis para ocupação regular. A

escassez de terras eleva os preços das mesmas.

2.2 PODER LOCAL E GESTÃO DEMOCRÁTICA

Reproduzindo e sintetizando Soares (2002, p. 64-67) a retomada das eleições

diretas para prefeito das capitais, em 1985, colocou em novo patamar o discurso de

todos os grupos sociais que se haviam firmado como oposição do modelo autoritário

de administração, vigente nas duas décadas anteriores.

O exercício do voto oferecia aos novos movimentos sociais possibilidades concretas

de intervir diretamente na definição e fiscalização das políticas públicas no plano

local. As transformações na composição social dos grandes centros urbanos

mostravam, em toda a sua inteireza, as agudas contradições do processo de

urbanização recente do país, sinalizando, ao mesmo tempo, para um novo padrão

de reconhecimento social e de disputa no campo político institucional.

Este é o primeiro ciclo do novo modelo de “democracia urbana” caracterizado pelos

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seguintes traços: valorização da participação dos movimentos sociais na definição

das políticas públicas locais; a hegemonia de uma frente política democrática com

um discurso que combinava a condenação ao autoritarismo com propostas de uma

democracia substantiva que ultrapassasse os marcos da representação parlamentar;

mudanças no comportamento de segmentos da esquerda quanto à validade de as

organizações da sociedade civil abandonarem uma postura meramente

contestatória, passando a combinar reivindicação com interlocução direta com as

agências estatais.

Um segundo ciclo desse novo discurso urbano é marcado pelas eleições de 1988,

quando o PT sai vitorioso em mais de quarenta cidades (médias e grandes),

passando a administrar cerca de 20% do eleitorado brasileiro. Este pleito eleitoral é

caracterizado pela profunda crise de credibilidade da nova república e dos partidos

centristas e, conseqüentemente, pela radicalização do discurso do “povo como

sujeito de sua própria história”. Esta idéia, já presente, nos anos 70, na construção

utópica dos movimentos de base da Igreja, parecia ganhar factibilidade com a vitória

da esquerda em importantes centros urbanos.

O terceiro ciclo dessas gestões locais inovadoras reforça a idéia do orçamento

participativo e introduz os conceitos de parceria e de desenvolvimento econômico

local como condições para uma administração bem-sucedida. Uma idéia que vai

diferenciar este último ciclo é a da combinação de formas de participação semi-direta

na gestão (os conselhos setoriais) com a parceria da iniciativa privada, ONG´s e

organizações populares no desenvolvimento de projetos econômicos.

Reconstruir o sentido de cidade (e de cidadania), ampliar o sentimento de pertencimento a um “local” (com uma história, um conjunto de valores etc.) – numa época de globalização ativa, de perda de consciência dos limites e possibilidades da manutenção de identidades nacionais, de tendências homogeneizadoras e massificantes – pode ser um estimulante projeto coletivo que ajudará a construir novas formas de convivência social (...) Para a ampliação do espaço ampliado de poder local parece fundamental: a participação ativa da sociedade dos cidadãos, uma cooperação social intensa e a integração de políticas urbanas. (ARAÚJO, 2202, p. 56)

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2.3 VENTOS DA RENOVAÇÃO POLÍTICA

As transformações políticas ocorridas nos anos 80, com as eleições direta para

governadores, presidente, deputados constituintes e prefeitos, a elaboração da nova

Constituição do país, conferindo aos municípios mais autonomia e responsabilidade,

e principalmente, o resgate do direito a cidadania, o fortalecimento dos processos

de participação democrática, são conquistas da sociedade brasileira na luta pela

redemocratização do Brasil.

Os movimentos sociais na cidade de Vitória e da Grande Vitória são apoiados, em

especial, pelas

Comunidades Eclesiais de Base, ligadas a Igreja Católica, com ênfase centrada no estabelecimento de procedimentos democráticos de decisão. E na luta contra a injustiça e a pobreza através da autonomia política, portanto, contra as práticas de cooptação. (DOIMO, 1989, p. 20).

Em 1988 Vitor Buaiz é eleito prefeito de Vitória, pelo Partido dos Trabalhadores, e

inaugura um novo modo de governar, com a implementação do orçamento

participativo, a busca pela melhoria da prestação de serviços aos cidadãos (saúde,

educação, cultura, transporte público, limpeza pública, paisagismo), criação de

conselhos setoriais paritários e, principalmente, novas abordagens em relação ao

meio ambiente, ciência e tecnologia e urbanização de áreas de favelas.

As administrações seguintes de Paulo Hartung e Luiz Paulo buscam a qualificação

das políticas públicas, dando continuidade e ampliando programas, projetos e

atividades que visavam o resgate da dívida social e melhoria na prestação de

serviços públicos.

Os diferentes interesses políticos no seio da sociedade, a cultura clientelística, a

neutralidade técnica, a falta de recursos financeiros, a necessidade de

modernização de técnicas e ferramentas de gestão, a capacitação e composição de

equipes técnicas e gerenciais, são tratadas pelos três governantes de formas

diferenciadas, influenciadas pela dinâmica política de cada momento histórico, e

induzidas pelas opções ideológicas dos gestores locais.

A melhoria da prestação de serviços e da qualidade de vida no período de 1988 a

2004 pode ser verificada pelos moradores, mesmo sem a abrangência desejável e

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necessária, e por diferentes indicadores a exemplo:

- IDHM- Índice de Desenvolvimento Humano Municipal, levantado pelo IPEA com

apoio da Fundação João Pinheiro - quarta colocada entre as capitais brasileiras e

18ª no ranking nacional;

- capital com maior índice de satisfação com os serviços públicos, 69% em

levantamento feito pela Fundação Getúlio Vargas;

- a primeira capital do país em Índice de desenvolvimento Infantil - IDI, indicador

medido pela UNICEF, e

- considerada em 2001 a melhor capital para crianças de zero a seis anos morarem.

O contraponto e limite maior para o poder local são os índices de violência, em

especial para a população de jovens na faixa etária de 14 a 25 anos.

As inovações nas políticas públicas e a busca pela melhor prestação de serviços são

elementos que caracterizam e identificam as quatro últimas gestões municipais,

devendo, no entanto, ser lembrado que políticas públicas são elaboradas por

pessoas em ambientes políticos muitas vezes de conflitos de interesses no nível

institucional e na sociedade civil, com seus diferentes atores e suas visões

diferenciadas.

As mediações que as autoridades locais são levadas a promover constróem os

consensos possíveis para garantir a governabilidade. Não se trata aqui de esquecer

as opções ideológicas e visões de Estado e da relação deste com a sociedade,

ressalta-se a busca do entendimento sobre o que de fato é o interesse público, e da

necessidade da transparência e da participação cidadã ativa na construção da

democracia participativa, e também no fortalecimento e qualificação da democracia

representativa, e da consciência da cidadania - direitos e deveres. A essência da

mudança de valores da gestão está na superação da ação do Estado enquanto

favores prestados, para um desenvolvimento de ações enquanto atendimento aos

direitos dos cidadãos.

Nenhuma das experiências de gestão citadas podem ser consideradas como blocos

monolíticos, diversas sínteses são construídas no dia a dia da gestão local, o futuro

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é gestado no presente, ou como diz no ditado popular "entre a noite e o dia tem a

madrugada". As classificações conceituais em termos dos modelos de gestão

democrático popular e gerencial são referências teóricas importantes, mas são

limitantes para as análises das práticas de gestão, na medida em se verifica a

incorporação de novos valores por gestores e técnicos de carreira no serviço público

e posições pró-ativas por parte da sociedade, em especial ressalva-se o papel

exercido pelos meios de comunicação. Esses fatores conjugados impactam de forma

efetiva na formulação e implementação de políticas públicas e gestão, criando novas

institucionalidades.

Conforme registra Nogueira

A gestão pública se distingue da gerência de organizações privadas não por conta da natureza jurídica das organizações públicas ou de suas finalidades “não lucrativas”, mas sim acima de tudo pelo dilema que tipifica a ação do gestor público: a escolha dos meios, as opções político-sociais, as implicações e as conseqüências que as decisões técnico-gerenciais têm para o processo coletivo mais amplo (...) a gerencia pública não se separa da questão da democracia e do aperfeiçoamento dos mecanismos democráticos, devendo se dedicar a estimular a participação dos cidadãos e a fazer com que os atos do poder sejam transparentes e estejam submetidos a um efetivo controle social. (NOGUEIRA,1998, p. 2002)

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3 GESTÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS DE INCLUSÃO SOCIAL: DE SÃO PEDRO

AO PROJETO TERRA

As políticas públicas e os programas têm vida, nascem, crescem, transformam-se, reformam-se. Eventualmente estagnam, às vezes morrem. Percorrem então, um ciclo vital, um processo de desenvolvimento, de maturação e, alguns deles, de envelhecimento ou decrepitude (....) O campo onde florescem as políticas e programas pode ser pensado como campo de força, de embates, de conflitos, que se sucedem e se resolvem ao longo do tempo. (DRAIB, 2002, p.64)

3.1 SÃO PEDRO

Segundo Siqueira (2001, p. 101), em 1977 iniciou a ocupação da região do contorno

da ilha (região noroeste), formado por mangues e morros, local onde a Prefeitura

Municipal de Vitória depositava o lixo da cidade. Nos anos seguintes, a invasão que

teve início no mangue, dando origem à favela de São Pedro I, estendeu-se por

quase cinco quilômetros, subdividindo-se em São Pedro I, II, III, IV, V, VI, VII e VIII,

sendo que a última ocupação ocorrida em 1980 congregava, em média 15 mil

favelados.

A ocupação ocorrida em fevereiro de 1977 foi reconhecida como bairro em 4 de

setembro do mesmo ano. Segundo Doimo (1989, p. 24), as disputas políticas entre

governo do Estado e Municipal, face às eleições previstas para o ano de 1978,

levaram à decisão que beneficiou as famílias, que após este ato passaram a ter um

pouco mais de tranqüilidade quanto à posse dos terrenos.

O movimento organizado de São Pedro (Figura 05), com apoio das Comunidades

Eclesiais de Base, trabalhou com o entendimento de que a participação popular

significava, de acordo com Doimo (1989, p. 32) “exercer efetiva influência nas

decisões durante o processo de implantação dos planos desenvolvidos pelo poder

público, apropriando-se de todas as informações do Plano e rediscutindo-as à luz

dos interesses da comunidade”.

No início dos anos 80 a prefeitura, com financiamento do BNH no âmbito do

PROMORAR (que previa a legalização dos lotes e a incorporação da população

envolvida como sujeitos em sua implementação), implementa as atividades visando

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a urbanização de São Pedro I. O movimento organizado, contesta a falta de

participação ampla dos moradores nas definições do plano urbanístico. Fruto desse

embate, como registra Doimo (1989, p. 33), é realizado um seminário do

PROMORAR com os seguintes objetivos (Doimo,1989, p.33):

• Garantir a participação popular no Projeto PROMORAR do bairro;

• superar os impasses surgidos com a implantação do Projeto, na medida que a

população não foi ouvida anteriormente;

• estabelecer maior entrosamento entre os órgãos envolvidos no Projeto;

• estabelecer o local dos equipamentos comunitários e sociais, bem como definir

os arruamentos e garantir o respeito às posses dos moradores, e

• discutir a infra-estrutura, definindo cronograma das obras e seus custos.

O seminário é realizado e conta com a participação de representantes dos Governos

Federal, Estadual e Municipal; comunidade e entidades de apoio, quando são

pactuados os ajustes no Plano de Intervenção Urbanístico. Ou seja, o processo de

participação ocorreu de fato pela pressão popular junto aos órgãos governamentais.

Em entrevista realizada com José Carlos Loureiro, o mesmo ressalta:

que a pressão popular buscando privilegiar o espaço privado em detrimento do público, resultou numa urbanização de baixa qualidade com ruas e calçadas estreitas. Foi uma decisão mal negociada porque prejudicou ambas as partes: o poder público e a população, uma vez que a desqualificação do espaço impede a valorização dos imóveis (perde a população) e dificulta ou impede a implantação de equipamentos e serviços públicos (perdem a população e o poder público). Em menor escala este fenômeno se repetiu nas etapas seguintes do processo de urbanização. (LOUREIRO, 2005)

Alimentados pela esperança de urbanização futura, novas ocupações aconteciam

sobre o mangue, ao mesmo tempo em que se urbanizava a 1ª etapa de São Pedro,

a região da Grande São Pedro abrigava no início dos anos 90 cerca de 47 mil

habitantes.

Na medida em que se avança na urbanização para novas etapas, o fenômeno da

expulsão branca foi verificado, sendo também ocupadas ilegalmente as áreas de

morros no entorno. Neste período, de acordo com matéria de A Gazeta de 04/02/96,

pág. 24 “as placas de vende-se espalhadas pela Grande São Pedro era a principal

preocupação da PMV”.

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Durante a assinatura da ordem de serviço para as obras de complementação da urbanização dos bairros Grande Vitória, Inhanguetá e Estrelinha, o prefeito Paulo Hartung apelou aos moradores para que não se dobrem às propostas de especuladores. Vocês disputam na lama e no lixo o seu teto. Agora estão recebendo melhorias e não é justo que especuladores venham agora se aproveitar. Esses lotes e essas casas são o maior patrimônio de vocês, ou melhor dos seus filhos, pois daqui a 10 anos esta será uma das áreas mais valorizadas e bonita de Vitória. Estamos tirando vocês da lama e do lixo e dando dignidade e uma vida com qualidade, e não é justo que pessoas que nunca colocaram os pés na lama venham se apropriar dos lotes. (A GAZETA, 4/02/1996, p. 24).

A ação institucional sobre a região pode ser compreendida em 3 etapas distintas e

complementares, conforme relatório da SEMAS/PMV (1996, p. 5-7) sobre o Projeto

São Pedro/Desenvolvimento Urbano Integrado e Preservação do Manguezal, que

abaixo se registra:

- Primeira Etapa: 1977/1988 – Antecedentes: A luta pela moradia: devastação

do manguezal, emergência da questão sanitária e organização popular.

Ação institucional anterior ao Projeto:

1) Processo assistemático, imediatista, conduzido para atendimento das pressões

dos moradores organizados no bairro e que contavam com o apoio de outras

organizações civis (Comissão de Direito à Moradia, Comissão de Justiça e Paz

da Arquidiocese de Vitória e IAB-ES). São dessa época: O PROMORAR –

Programa Nacional de Erradicação de Sub-habitações em São Pedro I. Nesta

etapa predominou a urbanização com os critérios definidos pela comunidade

usuária através de projeto alternativo ao oficial. Decisão e início da implantação

da Usina de lixo como resposta ás denúncias veiculadas pela imprensa em

relação a vida no bairro e necessidade de definições sobre a destinação do lixo

urbano. (São dessa época o livro de denúncia e o documentário em vídeo “Lugar

de Toda a Pobreza” realizados por dois jornalistas). Não havia nenhuma

preocupação com o manguezal por parte da sociedade ou dos poderes públicos.

- Segunda Etapa: 1989/1992 – Origens do Projeto: Delimitação do manguezal e

urbanização.

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Caracteriza pela definição e elaboração de um projeto para a Região, com três eixos

principais que nortearam todo o período:

2) Delimitação/preservação do manguezal com conscientização dos moradores;

3) envolvimento das comunidades, principalmente na implantação dos critérios para

uso e ocupação do solo;

4) urbanização das áreas passíveis de serem urbanizadas, e melhorias

habitacionais para as famílias a serem assentadas.

Nesse período, as mudanças no quadro político e institucional do país a vigência da

nova Constituição Brasileira que garante a participação popular e, principalmente, a

emergência dos movimentos em defesa do meio ambiente rebateram sobre uma

nova postura administrativa. A Prefeitura passou a definir uma política para a região,

estabelecendo diretrizes para atuação na área. Algumas medidas propiciaram o

desenvolvimento do novo programa. Uma das mais relevantes foi a conclusão da

Usina de Lixo de Vitória, paralisando definitivamente com o depósito de lixo no

mangue, além de possibilitar a organização dos catadores em seu Sindicato de

Classe.

As principais ações foram:

1) delimitação da área de manguezal adjacente aos bairros a serem urbanizados

(Nova Palestina, Resistência, Ihanguetá e Estrelinha), e a implantação de uma

fiscalização efetiva e permanente, integrada por órgãos ambientais Federais,

Estaduais e Municipais;

2) cadastramento de 4.000 famílias habitantes dos bairros adjacentes ao

manguezal preservado;

3) definição dos critérios de parcelamento do solo, adotando-se limite máximo de

tamanho do lote;

4) indenização de benfeitorias;

5) implantação da infra-estrutura urbana em toda a área definida como passível de

ser urbanizada;

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6) possibilidade de permanência dos moradores nos bairros;

7) remoção de 450 famílias ocupantes das áreas de manguezal delimitado;

8) reassentamento das famílias nas áreas urbanizadas;

9) fornecimento de materiais (taipas, telhas, escoras e pregos) para reposição de

perdas ocorridas durante o desmonte e reconstrução dos barracos;

10) construção de casas modelo 48m2, em madeira, utilizadas pela Prefeitura para

posto de atendimento a população local, como forma de demonstrar a ocupação

racional de um lote de 150m2.

- Terceira Etapa: 1993/1996 – Continuidade e ampliação do programa –

políticas públicas articuladas, preservação do manguezal e a conquista da

dignidade.

Continuidade e ampliação do Projeto São Pedro incorporando o conceito e a prática

de Políticas Públicas articuladas como direito do cidadão.

As funções foram marcadas por:

• Determinação de continuidade do projeto de urbanização e preservação do

manguezal;

• maior injeção de recursos próprios e captação de recursos federais para a região;

• agilização do ritmo de implementação das ações;

• ampliação do universo do projeto, com programas complementares como

Regularização Fundiária, Geração de Emprego e Renda com Capacitação

Profissional e outros;

• participação sistemática dos moradores nas ações localizadas e nas ações

globais sobre a região e a cidade, com discussão do orçamento popular.

O projeto é ampliado e ganha então novo enfoque com a ação integrada do governo

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com um conjunto articulado de políticas públicas voltadas para a melhoria da

qualidade de vida da população, com intensificação e planejamento integrado das

seguintes ações:

• Urbanização: obras de saneamento básico, drenagem, pavimentação, iluminação

pública, redes de água, redes de esgotos, construção de estações para

tratamento de esgotos e melhorias habitacionais estendendo aos bairros:

Resistência, Grande Vitória, Inhanguetá e Estrelinha.

• Complementação da remoção e o assentamento das famílias ocupantes da área

de preservação.

• Execução das obras de delimitação do manguezal preservado, em toda região.

Ações diversas no atendimento de direitos da cidadania, tais como:

• Educação: construção de novas unidades e manutenção da rede física ao todo

11 escolas de 1º Grau.

• Saúde: construção, reforma e manutenção de 4 unidades sanitárias e uma

unidade de alta resolutividade para atendimento de toda região.

• Ações educativas/preventivas de orientação e assistência familiar, campanhas de

prevenção e educação sanitária com uma marca alcançada de mortalidade

infantil em torno de 20 por mil.

• Esporte e lazer: foram construídas praças em toda a região, com implantação de

escolinhas de futebol para crianças/adolescentes com quase mil alunos.

• Educação para a cidadania com fornecimento de documentos, assessoria para

fortalecimento da organização popular (grupos de terceira idade, associações

diversas, minorias), palestras, seminários, cursos, etc.

• Segurança pública: iluminação de toda a região para a redução das áreas de

risco, convênio com a Polícia Militar Estadual para a implementação da Polícia

Interativa.

• Transporte público, planejamento e melhorias do sistema viário com acesso de

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transporte coletivo em toda a região.

• Emprego e renda: implantação de uma fábrica-escola de alimentos, com

treinamento e encaminhamento para o mercado de trabalho de 300 alunos/ano.

Projeto SOS Trabalhador que apóia a instalação (Crédito junto ao Banco de

Desenvolvimento do Estado) de pequenos negócios para os egressos dos cursos

(Projeto desenvolvido em parceira com a ONG Pastoral de São Pedro).

• Programa de capacitação massiva para formação de empresas associativas

possibilitando, no curto prazo a organização de um sistema de participação social

para geração de emprego e renda.

Os eixos norteadores do Projeto São Pedro foram: preservação ambiental,

participação popular, moradia mais digna com a implantação de infra-estrutura e

equipamentos, políticas públicas articuladas como direito do cidadão. O último eixo

citado merece ser destacado pela sua importância na mudança de paradigmas na

gestão da política como registrado no relatório PMV/SEMAS.

A região tem sido contemplada com a implementação de políticas públicas articuladas, principalmente para oferta de serviços básicos e numa visão da totalidade social, negando-se assim o fracionamento/setorização do governo, o clientelismo político (todas as prioridades são discutidas com a população na metodologia do orçamento popular) e consequentemente fortalecendo o exercício da cidadania responsável. (PMV/SEMAS, p. 9).

Quadro 03 - Recursos aplicados/obras de infra-estrutura remoção e assentamento

de famílias, melhorias habitacionais, desenvolvimento comunitário,

delimitação do manguezal e fiscalização. (Em US$)

Fonte de Recursos

1993 19994 1995 Total

Governo Federal 6.316.353,60 1.047.926,74 - 7.364.280,34

Recursos Próprios 949.264,72 1.161.960,30 3.838.807,04 5.950.032,06

Caixa Econômica Federal

1.338.927,59 - 112.104,47 1.451.032,06

TOTAL 8.604.545,91 2.209.887,04 3.950.911,51 14.765.344,46

Fonte: PMV/SEMAS, 1996

Verifica-se que no período de 1988 a 1992, buscou-se solucionar problemas de

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moradia e da preservação do manguezal com o desenvolvimento da consciência

ambiental local.

Segundo Vaz (1998), no período de 1993 a 1996, houve um esforço adicional de

elaboração de políticas públicas integradas para melhorar a qualidade de vida da

população. Dois objetivos foram então agregados ao projeto inicial:

a) desenvolvimento de políticas públicas setoriais, articuladas para atender às

necessidades da população no que se refere a educação, saúde, cultura,

esportes, direitos, geração de renda e meio ambiente, e

b) desenvolvimento de todas as ações com participação da população local.

A continuidade e qualificação das políticas públicas eram entendidas pelos gestores

no período de 1993/96, como fatores de inovação e superação de práticas antigas

conforme pode ser observado no registro do Secretário Municipal de Planejamento

do Município de Vitória.

sob certos aspectos a continuidade é uma característica da política moderna e de postura profissional. Faz parte da velha política renegar todo e qualquer compromisso administrativo passado, personalizar a administração e ignorar os resultados já alcançado. (DIAS, 1993, p. 01).

Figura 05: São Pedro Fonte: PMV, 1996.

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Ainda de acordo Vaz (1998, p 3) “dentre as dificuldades apresentadas, destaca-se o

registro quanto ao trabalho intersecretarial, pois a cultura estava voltada para um

trabalho setorizado, centrado na ação de cada secretaria isoladamente”.

O Projeto São Pedro no período de 1989 a 1992 foi coordenado pela Secretaria de

Planejamento/SEMPLA e no período de 1993 a 1996 pela Secretaria de Ação

Social/SEMAS, cabe registrar que conforme depoimento de Loureiro, “toda a equipe

que conduziu o projeto no período de 89/92, foi transferida para a SEMAS,

preservando-se assim a memória técnica do Projeto São Pedro”. Na execução do

projeto contou-se com equipe de campo formada por profissionais de engenharia e

arquitetura e do serviço social. No período de 89/92 a premência das questões

ambientais, habitacionais e de infra-estrura, foram os pilares das intervenções. No

período de 93/96, além da continuidade das intervenções urbanísticas, tem início o

esforço para a integração das políticas/ações sociais, sendo criado nesse período o

Comitê da Área Social, composto pelos Secretários da área social do governo,

coordenado pela Secretaria de Ação Social (Vera Nacif), que fazia a integração dos

diversos projetos das secretarias da área social na Região da Grande São Pedro.

Esse. processo foi catalisado pela SEMAS através de sua secretária, porém

também conforme depoimento, não se conseguiu envolver efetivamente toda a rede

técnica da PMV.

3.2 AGENDA 21 DA CIDADE

Em 1996 a administração municipal de Vitória já acumulava experiências em

processos de participação direta da população como o orçamento popular e a

experiência de urbanização de São Pedro. Soma-se também a existência de 13

Conselhos Setoriais, com participação de representantes da sociedade civil.

Em nível institucional, a realização de seminários de planejamento estratégico,

envolvendo a alta e média gerência, somando-se as instâncias colegiadas

compostas por secretários municipais nas áreas de: a) finanças e administração; b)

social, e c) intervenções urbanas, são espaços de construção de consensos em

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relação a gestão de políticas públicas.

Em 1996 a administração municipal inova com a elaboração do planejamento

estratégico para a cidade, tomando como referência a Agenda 21, sendo um dos

primeiros municípios no Brasil a elaborar sua Agenda 21.

No período de junho a novembro de 1996, vários especialistas são chamados a

diagnosticar o crescimento da cidade e indicar, segundo a metodologia adotada, os

cenários, tanto inercial quanto o desejável para a cidade de Vitória.

Ao olhar desses especialistas somam-se a experiência dos servidores e gestores

municipais e, discussões com amplos setores da sociedade capixaba, através do

Conselho Vitória do Futuro.

Conforme apresentado pelo secretario de planejamento, Haroldo Corrêa da Rocha,

no documento do Plano Estratégico da Cidade/Vitória do Futuro 1996-2010:

O projeto Vitória do Futuro representou para a nossa cidade o abandono do planejamento clássico ou planejamento urbano convencional, que se voltava quase unicamente para a dinâmica do meio físico e para o uso/ocupação do solo. O planejamento estratégico, ao contrário, além de ter em sua base metodológica a exigência da participação da população, é superior ao planejamento clássico também porque procura formar uma visão integral e abrangente da cidade, considerando todas as suas dimensões, ou seja, econômica, social, uso e ocupação do solo, meio ambiente, qualidade de vida, infra-estrutura, administração pública, etc. (PREFEITURA MUNICIPAL DE VITÓRIA, 1996).

No cruzamento dos diferentes diagnósticos, tem-se a clareza dos rebatimentos

positivos e negativos do modelo de desenvolvimento na realidade do território

municipal, em especial as leituras propiciadas pela tabulação realizada pelo

município, com os dados da Pesquisa do Consumidor (implementada pelo Instituto

Jones dos Santos Neves - IJSN, Secretaria de Estado da Agricultura - SEAG,

Secretaria de Estado da Saúde - SESA, com apoio da Organização Mundial da

Saúde - OMS e do Instituto Nacional de Alimentação e Nutrição - INAN). Esses

dados propiciaram a elaboração do documento “Dados socioeconômicos do

Município de Vitória por região administrativa”, 1992/SEMAS/PMV. Esse estudo

possibilitou a hierarquização das regiões administrativas baseados nas

características de domicílios (infra-estrutura, características de construção,

instalações sanitárias) e característica das pessoas (idade, escolarização, dados em

relação ao trabalho, renda, aquisição de bens de consumo duráveis), constatando a

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seguinte ordem do melhor para a pior qualidade de vida dos moradores por região

administrativa, conforme Quadro 04: 1ª região VI, 2ª região V, 3ª região I, 4ª região

III, 5ª região IV, 6ª região II, 7ª região VII. (Nacif,1996, p.13).

Quadro 04 - Regiões administrativas e composição dos bairros, SEPLAN/PMV,1996

Regiões Bairros Inteiros ou Parciais

I Forte São João, Morro da Fonte Grande, Ilha do Príncipe, Vila Rubim, Parque Moscoso, Piedade, Centro, Morro do Moscoso, Gruta da Onça.

II Bela Vista, Grande Vitória, Santo Antônio, Santa Tereza, Morro do Alagoano, Caratoira, Mário Cypreste, Inhanguetá, Estrelinha, Morro do Quadro

III Juqutuquara, Morro do Romão, Ilha de Santa Maria, Monte Belo, Consolação, Bento Ferreira, Bairro de Lourdes, Cruzamento, Morro Rio Branco, Fradinhos, Jaburu/Constantino, Jesus de Nazareth, Horto.

IV Bairro Bonfim, Bairro Itararé, Bairro da Penha, Santa Martha, Tabuazeiro, Eucalipto, Maruípe, São Benedito, Santa Cecília, Engenharia, São Cristóvão, Santos Dumont, Joana D’Arc.

V Andorinhas, Morro São José, Morro Santa Helena, Enseada do Suá, Ilha do Boi, Praia do Canto, Barro Vermelho, Praia do Suá, Praia de Santa Helena, Ilha do Frade, Santa Lúcia.

VI Boa Vista, Maria Ortiz, Jabour, Bairro República, Jardim da Penha, Mata da Praia, Antônio Honório, Sólon Borges, Goiabeiras Velha, Jardim Camburi.

VII Bairro São Pedro I, II, III, IV, Ilha das Caieiras, Nova Palestina, Conquista, Comdusa, Universitário, Redenção, Resistência, Santo André.

Fonte: PMV/SEPLAN, 1996.

Foram tomados como base para analisar o perfil socioeconômico dos moradores de

Vitória os dados do Censo Demográfico de 1991 e o documento “Dados

Socioeconômicos do Município de Vitória” (SEMAS/1992). Também foi analisada a

população sem acesso ao mínimo necessário para uma vida de qualidade, os

chamados excluídos sociais, procurando identificar as variáveis que caracterizavam

o fenômeno, onde estavam localizados na cidade, bem como os germes da

mudança (Ibid, 1996, p.11)

De um modo geral as condições de vida da população de Vitória, segundo as

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características das pessoas e dos domicílios são superiores às encontradas para a região metropolitana e para o Estado. Entretanto, a realidade do município apresenta um quadro de concentração de renda e diferenças significativas entre as regiões. Percebe-se também uma delimitação geográfica, quase no nível de segregação dos pobres em alguns bairros. (NACIF, 1996, p.16)

O Plano Estratégico da Cidade 1996/2010 – Vitória do Futuro é concluído em

setembro de 1996. Na apresentação do documento registra-se o sonho:

Vitória será uma cidade com qualidade de vida, capaz de oferecer bem-estar e satisfação em nível individual e coletivo, oportunidades para o desenvolvimento crescente das potencialidades humanas e das relações sociais, a conservação dos recursos naturais para as futuras gerações, a preservação, como parte da identidade da cidade, da paisagem natural e construída, a incorporação progressiva dos excluídos do processo de produção e fruição dos benefícios de viver em sociedade, e oportunidades para a participação consciente e solidária dos cidadãos na vida da cidade. (PREFEITURA MUNICIPAL DE VITÓRIA, 1996).

A elaboração da Agenda 21 do município de Vitória ocorre em um momento ímpar

na vida do país, em especial na vida das cidades brasileiras, representa o esforço

em superar o dito modelo clássico de planejamento, que privilegiava em excesso o

rigor técnico, ao mesmo tempo em que negava toda e qualquer possibilidade de

participação popular. A construção da agenda 21 representa a busca de novos

modelos de gestão, onde poder público e sociedade civil consensam prioridades,

não de forma pontual, mas com uma visão abrangente e transversal sobre as

necessidades e possibilidades na construção de uma cidade cidadã. Observa-se na

mensagem da apresentação da Agenda 21 pelo prefeito Paulo Hartung,

a importância política para a cidade do Plano Estratégico pois representa a Vitória dos interesses coletivos sobre os interesses particulares e personalistas (...) Os políticos e os administradores passam a ser gerentes de planos comunitários e coletivos e não de projetos pessoais.

Como resultado do cruzamento de diferentes diagnósticos são construídos os

cenários e indicados os projetos prioritários de governo para se atingir o cenário

desejável. Nos componentes de ação social, meio ambiente, uso e ocupação do solo

destacam-se as indicações para intervenções em áreas socialmente segregadas:

• Dar continuidade aos programas de urbanização de áreas de ocupação irregular;

• promover a urbanização das áreas de ocupação irregular dos bairros Maria

Ortiz, Joana D'Arc, Andorinhas, Santo Antônio, e dos morros de Jaburu,

Constantino, São Benedito, Fonte Grande e Romão;

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• definir áreas para reassentamento de famílias instaladas em áreas de risco e

preservação e aquelas incluídas nos programas de urbanização das ocupações

irregulares;

• promover a remoção de famílias e implantar reflorestamento nas áreas de risco

e de preservação permanente, e

• dar continuidade e aperfeiçoar as políticas sociais integradas no município de

Vitória para assegurar o acesso de todos aos direitos fundamentais e a inserção

dos excluídos sociais.

A administração municipal de Vitória, a exemplo de outros municípios do país inova

na construção de políticas públicas, o Projeto São Pedro é reconhecido a nível

nacional e internacional como exemplo de melhores práticas de políticas de inclusão

social e preservação ambiental. A Agenda 21 de Vitória afirma o compromisso com a

construção da cidade cidadã e o desenvolvimento sustentável.

3.3 PROJETO TERRA

Quando da elaboração da Agenda 21 – Plano Estratégico da Cidade – Vitória do

Futuro, a administração municipal acumulava experiência de enfrentamento da

exclusão social e urbanização de áreas subnormais (Projeto São Pedro, São José e

Santa Helena) e mecanismos institucionais de democratização das decisões sobre

políticas e gestão pública.

No desenvolvimento do Vitória do Futuro, vários diagnósticos foram elaborados

aprofundando o conhecimento sobre a realidade da cidade e da Grande Vitória. O

pacto firmado em defesa da cidadania, da construção da cidade cidadã e da

qualidade de vida, leva a que a administração municipal busque alternativas de

políticas públicas que venham a possibilitar o resgate da dívida social, em especial

para com as famílias pobres, moradoras em áreas segregadas espacialmente

(morros e marés).

Nesse ambiente é gestado o Projeto Terra. Os registros apresentados a seguir

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tentam resgatar o ambiente institucional, o processo de concepção e a

implementação do Projeto no período de 1996 a 2004.

3.3.1 Concepção – Escopo do Projeto Terra

Em documento da PMV datado de novembro de 1996 encontra-se o escopo do -

Programa de Desenvolvimento Urbano Integrado e Preservação Ambiental em

Morros e Áreas Adjacentes - PROJETO TERRA, elaborado sob a coordenação dos

Secretários Vera Nacif - Ação Social e Haroldo Corrêa da Rocha- Planejamento,

tendo o documento como referência registra-se a seguir, os principais pontos

abordados que embasaram o desenho da política.

O documento referenciado foi elaborado para ser encaminhado às fontes de

financiamento e às Agências de Desenvolvimento, em nível internacional, com um

escopo de projeto que englobava o conjunto articulado das ações sobre a cidade,

objetivando o desenvolvimento urbano integrado e a preservação ambiental de 29

comunidades, localizadas, principalmente nas áreas de morros e encostas,

compreendendo cerca de 68 mil habitantes (25% da população total do município à

época), que viviam com níveis de qualidade de vida inferior as médias do conjunto

da cidade.

Na esteira da agenda Habitat e da Agenda 21, o município vem investindo maciçamente e dedicando significantes esforços ao combate da pobreza e à exclusão social e à construção e/ou preservação do patrimônio histórico, paisagístico e ambiental com experiências bem sucedidas que credenciam a cidade para assumir novos desafios. (PMV, 1996, p. 4).

É apresentado como exemplo do esforço já empreendido pelo município o Projeto

São Pedro - Desenvolvimento Integrado e Preservação do Manguezal,que

beneficiou 47 mil habitantes em 13 bairros, com infra-estrutura urbana, escolas,

unidades de saúde e delimitação do manguezal com remanejamento das moradias

sobre palafitas, recuperando e assegurando vitalidade de 893 ha de mangue da

Estação Ecológica de Lameirão, importante ecossistema da Baia de Vitória. O

Projeto São Pedro, foi destacado pelo Relatório Brasil como uma das 18 melhores

práticas em urbanização tendo sido levado ao Habitat em Istambul, Turquia, em

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1996.

Para o Projeto Terra é apresentado como premissas na página 5, que as

intervenções necessárias para a solução dos grandes problemas, nessas áreas,

deveriam considerar parâmetros urbanísticos, ambientais, sociais e culturais que

levassem ao desenvolvimento das comunidades de modo que a população residente

pudesse usufruir de uma melhor qualidade de vida, estendida de forma direta ou

indireta a toda população da cidade.

A caracterização sócio-econômica da população (Ibid, p. 6-7) é apresentada

tomando-se como referência a situação do trabalho e renda, a escolarização e as

condições dos domicílios como fatores decisivos da maior ou menor inclusão social,

lembrando que essas informações foram trabalhadas pela SEMAS e também pelos

especialistas do Vitória do Futuro no componente Ação Social, sendo destacados,

para aquele momento:

a) em relação aos demais municípios da Região Metropolitana, Vitória é o que mais

concentra renda percebida pelo chefe do domicílio. Dos chefes de domicílio que

percebem mais de 20 salários mínimos 66% estão em vitória. Estudos sobre a

produção de renda gerada no Estado, indicam que Vitória concentra 30% da renda

gerada.

Entretanto, ao nível interno da cidade, Vitória repete intrarregionalmente o mesmo

princípio concentrador e excludente. Enquanto a renda mediana da população é de

4,087 salários mínimos, tem região com 1,2 salários mínimos e outras com mais de

8 salários de renda mediana. Cerca de 17,36% sobrevivem com menos de 01 salário

mínimo.

Por outro lado, por representar o pólo mais desenvolvido da Região Metropolitana –

RM, a cidade atrai também os pobres e desempregados de outros municípios e do

Estado sobrecarregando com uma grande população flutuante, e enorme demanda

os serviços públicos locais.

b) Em relação à escolarização, Vitória é superior ao Estado e aos outros municípios

da RM.

Quase metade da população com 15 anos ou mais de estudos concentram-se em

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Vitória. Em torno de 30% da população economicamente ativa tem curso superior.

c) Vitória também vem caracterizando-se como um centro gerador de serviços

especializados (portuários, financeiros, serviços pessoais, atendimento médico,

produção de software, comércio sofisticado e especializado, serviços na área de

alimentação, administração pública e um grande potencial de turismo ainda não

suficientemente explorado). A oferta de postos de trabalho está concentrada no

comércio, serviços e administração pública. Parcela significante de trabalhadores

alojados no setor informal da economia que permanece desorganizada,

desarticulada e com baixa competitividade. Os "excluídos" sobrevivem nessas

ocupações quase sempre na forma de biscates. Em alguns bairros, cerca de 70%

dos trabalhadores não têm carteira assinada.

d) Estudos da PMV/SEMAS mostram que em torno de setenta mil pessoas (cerca de

25% dos moradores), habitam morros e/ou regiões de manguezal em processo de

urbanização. São habitações precárias, com renda média em torno de dois salários

mínimos, numa relação morador/domicílio de 3,92. Constata-se uma redução no

ritmo de crescimento da cidade, provavelmente em razão da inexistência de grandes

vazios urbanos, vez que a ocupação dos morros data de período anterior ao preço

elevado dos imóveis e também da política municipal de fiscalização e controle das

áreas de preservação ambiental.

e) Da população residente nessas áreas precárias destaca-se aquela considerada

alvo da assistência social do município. Estima-se em mais de quatorze mil pessoas

a clientela potencial residente em Vitória, da assistência social que se desdobram

em demandas específicas (3.900 crianças, 2.500 idosos, 2.833 portadores de

deficiências, 5.788 analfabetos). Essa realidade estimada, acrescida da demanda

flutuante atendida pelos programas da PMV, revelam a dimensão da clientela da

exclusão social em Vitória (12 mil atendimentos/ano a migrantes carentes, quase 20

mil atendidos à população de rua com mais de 34 mil refeições em abrigo, crianças e

adolescentes em situação de risco e outros que foram atendidos em 1995, de 560,

65% eram residentes em outros municípios, principalmente Cariacica e Serra.

Outrossim, é importante atentar para as características dessa população atendida

pela assistência social da prefeitura, que revela a face dos excluídos, abaixo de

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qualquer aproximação com as médias verificadas para a cidade, a relação de

dependência, por exemplo, nessa categoria, é de 7,2 o número de filhos habitando

barracos de até 3 cômodos. Quase sempre, as famílias em situação de risco são

chefiadas por mulheres (70%), vítimas do alcoolismo ou outras dependências

químicas, com uma renda inferior a R$ 25,00 por membro da família,

majoritariamente biscates, trabalho infantil ou esmolas. É também nessa fração da

população que incide a maior mortalidade infantil, doenças da desnutrição, o

analfabetismo e a violência familiar.

No tocante ao desenvolvimento institucional (Ibid, 1996, p. 7-15) são apontadas as

orientações seguidas pela PMV a partir de 1993, quais sejam:

• A identificação de estratégias e projetos prioritários é de fundamental

importância para ordenar as ações públicas e deve se realizar de forma coletiva;

• as ações do setor público devem ser coordenadas e integradas, superando o

fracionamento, e

• a sociedade organizada deve ter ampla participação nas decisões e ações da

municipalidade.

Quanto a materialização da visão estratégica são apresentados quatro conjuntos de

ações, que envolviam o poder público e a sociedade organizada:

• Método de gestão participativa (planejamento estratégico, orçamento popular e

programa municipal de qualidade e produtividade);

• Órgãos colegiados com participação popular (17 Conselhos Municipais Setoriais

e Conselho Municipal do Vitória do Futuro);

• instrumentos de gestão colegiada (Comitê Administrativo-financeiro e

orçamentário, coordenação da área social, comissão de intervenções urbanas e

comitê gerencial), e

• medidas de qualificação gerencial (parcerias qualificadas e atração de quadros

técnicos), monitoramento das atividades e ações da prefeitura e centro de

gerenciamento de projetos especiais.

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Dada a importância de algumas ações para a promoção de mudanças na cultura de

gestão, abaixo estão transcritos os registros referentes ao: Planejamento

Estratégico, Orçamento Popular, Órgãos Colegiados com participação popular,

Instrumentos de Gestão Colegiada e as medidas de qualificação gerencial e o

monitoramento das atividades e ações da prefeitura. (Ibid, p. 8-13)

a) Planejamento estratégico

Atividade que se materializou através da realização de seminários envolvendo a alta

e a média gerência da administração municipal, num total de 120 dirigentes, onde

foram identificados os projetos prioritários da municipalidade e definidos os recursos

humanos e materiais que deviam ser mobilizados para viabilizar cada projeto.

Nos quatro anos foram realizados nove seminários, que tiveram como suporte

análises de conjuntura de especialistas, estudos técnicos e pesquisas de opinião

realizadas junto à população de Vitória.

Os vários projetos prioritários, dentre eles o orçamento popular, foram executados

pelos órgãos municipais, quase sempre em parceria, tendo um deles como

coordenador geral. O desenvolvimento e as metas dos projetos eram monitorados

através de relatórios gerenciais mensais, que eram consolidados pela Coordenação

de Planejamento Estratégico da Secretaria Municipal de Planejamento e formavam o

sistema de informações gerenciais - SIG.

b) Orçamento popular - OP

Conforme registrado no documento em análise, (p. 8-9), o orçamento popular era um

sistema de escolha das obras prioritárias dos bairros com participação da população,

tendo sido iniciado em Vitória no ano de 1989, tendo passado por aperfeiçoamentos

da metodologia.

O Orçamento Popular era executado anualmente em cinco fases sucessivas:

• estimativa da receita disponível para o ano seguinte, definição do valor

destinado às obras dos bairros e identificação das obras prioritárias de cada

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bairro que seriam indicados pela Prefeitura de Vitória. Com base em estudos

sócio-econômicos, ambientais, financeiro, legal e demandas da população e do

legislativo;

• preparação e realização, juntamente com as lideranças comunitárias da

assembléia de abertura e das assembléias dos bairros, que num total de 68

reuniões atingem aos 84 bairros da cidade. Nas assembléias a população

decidia democraticamente as obras que deveriam ser executadas no seu bairro

no ano seguinte, considerando os indicativos da PMV e das comunidades, a

disponibilidade financeira e a viabilidade técnica, ambiental e jurídica. Os

vereadores em geral participavam das assembléias;

• as obras indicadas pelas assembléias dos bairros eram avaliadas sob as óticas

técnica e financeira e consolidadas passavam a fazer parte, como um anexo, do

projeto de lei orçamentária;

• a Câmara Municipal analisava e aprovava o orçamento popular juntamente com

o orçamento municipal. Importante registrar que no período de 1993 a 1995 a

aprovação do orçamento municipal deu-se por unanimidade e sem a realização

de emendas, e

• no ano seguinte a PMV executava as obras do Orçamento Popular com o

monitoramento da Coordenação de Planejamento Estratégico e dos delegados

escolhidos nas assembléias dos bairros, que recebiam treinamentos específicos

para a função.

O orçamento popular constitui-se em um dos mais importantes instrumentos de participação da população na administração da cidade e suas obras recebem tratamento especial e prioritário da municipalidade. Além disso, o orçamento popular tem se revelado um instrumento garantidor de que anualmente dez por cento da receita disponível municipal seja destinada a investimentos nos bairros. Ao longo dos últimos quatro anos esse valor representou dois terços da capacidade de investimentos do município. (IBID, p. 9)

c) Órgãos colegiados com participação popular

c.1) Conselhos Municipais Setoriais

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A administração municipal contava, em 1996, com o apoio de um conjunto de 17

conselhos municipais setoriais, que eram compostos por representantes do poder

público municipal, cuja representação variava de um terço a cinqüenta por cento e

de representantes de diversos segmentos organizados da sociedade, com os

interesses específicos de cada setor representado.

As funções específicas desses conselhos eram as seguintes: definir as políticas

públicas setoriais a serem implementadas no município, aprovar projetos e alocar

recursos financeiros vinculados de fundos municipais.

Esses conselhos abrangiam diversas áreas de atuação do poder público municipal e

envolviam um número superior a 150 membros representantes da sociedade. Abaixo

a relação dos 17 conselhos em atividades até 1996:

• Conselho Municipal do Plano Diretor Urbano

• Conselho Municipal de Ciência e Tecnologia

• Conselho Municipal de Saúde

• Conselho Municipal de Transportes

• Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente

• Conselho Municipal de Defesa do Meio Ambiente

• Conselho Municipal dos Direitos das Pessoas Portadoras de Deficiência

• Conselho Municipal do Trabalho

• Conselho Municipal do Turismo

• Conselho Municipal da Cultura

• Conselho Municipal de Esportes

• Conselho Municipal de Recursos Fiscais

• Conselho Municipal da Mulher

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• Conselho Municipal de Defesa do Consumidor

• Conselho Municipal de Entorpecentes

• Conselho Tutelar de Vitória

• Conselho Municipal de Assistência Social.

c.2) Conselho Municipal do Projeto Vitória do Futuro

O planejamento estratégico desenvolvido no âmbito da PMV e a ação política do

Governo Municipal no sentido de estabelecer parcerias e alianças com a sociedade

desdobraram-se no planejamento estratégico da cidade, com o projeto Vitória do

Futuro.

No período de seis meses, de março a setembro de 1996, empreendeu-se em

Vitória um esforço que contou com a participação de 48 técnicos das mais diversas

áreas de conhecimento, dos servidores da PMV e, principalmente, do Conselho

Municipal de Vitória do Futuro composto por 350 lideranças representativas dos

diversos segmentos sociais do município. Elaborou-se o Plano Estratégico da

Cidade para o período de 1996-2010. Nele estão listados 130 projetos, que deverão

ser desenvolvidos nesse período para que a cidade atinja o cenário do Marlin Azul,

ou seja, configure-se como uma cidade cidadã com alta qualidade de vida.

O Conselho da Cidade de Vitória foi institucionalizado sendo seu papel avaliar

anualmente a implementação do Plano Estratégico e decidir sobre as adequações e

sanções de suas metas e projetos.

d) Instrumentos de gestão colegiada no âmbito da Prefeitura Municipal de Vitória -

PMV

d.1) Comitê Administrativo, Financeiro e Orçamentário - COMAFO

O COMAFO foi criado em 1993, era composto pelas Secretarias de Fazenda e

Governo e tinha a função de organizar os gastos, monitorar os contratos de

terceiros, controlar os gastos com pessoal e identificar medidas com vistas ao

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aumento da arrecadação municipal.

d.2) Coordenação da Área Social

Esta coordenação envolvia as sete secretarias da área social, ou seja, Ação Social,

Educação, Saúde, Meio Ambiente, Cidadania, Esportes e Cultura e Turismo. A

coordenação geral era exercida pela Secretaria de Ação Social e a sua principal

função era articular as ações de assistência social e os serviços sociais visando uma

ação integrada em cada região da cidade. Cabe destacar a ação coordenada da

área social no Projeto São Pedro: Desenvolvimento Urbano Integrado e Preservação

do Manguezal.

d.3) Comitê Gerencial - COGER

O COGER era coordenado pela Secretaria de Planejamento, articulava ações

prioritárias e buscava a unidade de ação ao longo das fases de planejamento,

execução, articulação externa e divulgação, prevenindo e resolvendo conflitos

internos e equacionando situações complexas sem a morosidade própria da

estrutura burocrática formal.

A composição do COGER era variável de acordo com os assuntos prioritários que a

cada momento passavam a fazer parte da sua pauta de discussão.

d.4) Comissão de Intervenções Urbanas

Constituída pelas Secretarias de Obras, Planejamento, Meio Ambiente, Transportes

e Serviços Urbanos, esta comissão tinha a função de articular as ações e serviços

das diversas áreas da PMV voltados para o meio físico da cidade.

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e) Medidas de qualificação gerencial

Englobavam ações de parcerias, qualificação e atração de quadro técnico, centro de

gerenciamento de Projetos Especiais, e monitoramento conforme registrado pela

descrição abaixo:

e.1) Monitoramento das atividades e ações da Prefeitura

O controle das atividades desenvolvidas foi significativamente qualificado através da

implantação de um amplo processo de informatização de rotinas. A informática já se

incorporou aos mais diversos setores da PMV e tem sido fundamental para a

dinamização do sistema de planejamento e para o monitoramento eficaz das ações

desenvolvidas na cidade.

A combinação da implantação da rede de computadores com a implementação

simultânea do Programa Municipal de Qualidade e Produtividade resultou em

monitoramento constante, maior transparência e melhoria crescente da qualidade

dos serviços públicos municipais.

Após a descrição dos antecedentes acima relatados, no mesmo documento (PMV,

1996, p. 16-40) é apresentado o escopo do Programa de Desenvolvimento Urbano

Integrado e Preservação Ambiental em Morros e Áreas Adjacentes, cujo objetivo

geral era:

A incorporação destas áreas ao tecido urbano da cidade, dotando-as de padrões urbanísticos adequados, infra-estrutura básica, equipamentos públicos, habitações dignas, segurança e melhorias micro-climáticas, de modo a viabilizar a regularização fundiária, e garantir qualidade de vida e pleno direito à cidade aos moradores destas comunidades. (PMV, 1996, p. 16)

Quanto aos objetivos específicos:

• Criar condições de segurança à população residente nas áreas de risco.

• Delimitar as áreas de preservação, reassentando a população ocupante.

• Recompor a vegetação através do reflorestamento.

• Promover a melhoria das condições sócio-econômicas da população,

oportunizando a criação de novos postos de trabalho e consequentemente

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gerando novas fontes de renda.

• Integrar as comunidades locais em todas as etapas do programa, fazendo-os co-

responsáveis nas ações que objetivem a fixação da população local.

• Estabelecer parcerias com instituições, empresas, ONG's, órgãos da

administração pública, entidades representativas de classes, e entidades de

moradores, oportunizando a participação da sociedade organizada no

planejamento, desenvolvimento e acompanhamento das ações.

• Promover a melhoria das condições urbanísticas das áreas de ocupações dando

condições adequadas de acessibilidade, implantando equipamentos públicos e

comunitários, de infra-estrutura urbana e proporcionando a melhoria das

condições de habitabilidade.

• Regularizar a situação de ocupação da população residente, integrando a cidade

real à cidade legal.

• Despertar nas comunidades o espírito conservacionista, usando recursos de

educação ambiental e sanitária.

• Despertar o compromisso com a construção da cidadania.

• Desenvolver nas comunidades beneficiadas pelo programa a prática de gestão

em parceria das ações e recursos municipais destinados para os projetos.

• Otimizar os recursos, através de convênios e outras formas de atuação.

• Incentivar a participação popular em todas as etapas dos projetos.

• Beneficiar todos os moradores das áreas inseridas no programa, com os

equipamentos implantados e as ações desenvolvidas.

• Capacitar o universo de pessoas envolvidas para gerenciar o processo.

• Garantir a continuidade do processo de desenvolvimento comunitário,

multiplicando as ações, depois do projeto concluído.

• O desenvolvimento de técnicas gerenciais que assegurem a integração setorial e

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comunitária e multi-institucional em todas as etapas do projeto.

Quanto a abrangência do Programa, as áreas eram representadas por Poligonais. A

delimitação das Poligonais foi realizada em dois momentos. Num primeiro momento,

tendo como base os levantamentos de infra-estrutura básica, mapeamento da

defesa civil das áreas de risco e habitação em situação de risco, fotografias aéreas e

levantamento aerofotogramétricos, legislação urbanística e ambiental; com base

nessas informações foram identificadas as áreas a serem delimitadas como

Poligonais, quantificados o número de unidades habitacionais, e delimitação das

Áreas de Interesse Ambiental – AIA. No segundo momento os limites das Poligonais

foram ajustados para contemplar setores censitários do IBGE, para que se pudesse

usufruir dos dados primários dos censos para futuras análises. Sendo apresentado a

seguinte composição das Poligonais:

• Poligonal 1: Comunidades de Consolação, São Benedito, Gurigica, Alto Itararé,

Constatino, Jaburu e Engenharia;

• Poligonal 2: Comunidades do Cruzamento, Romão e Forte São João;

• Poligonal 3: Comunidades de Piedade, Fonte Grande, Moscoso e Santa Clara;

• Poligonal 4: Comunidades de São José e Santa Helena;

• Poligonal 5: Comunidade de Jesus de Nazareth;

• Poligonal 6: Comunidade da Ilha do Príncipe;

• Poligonal 7: Comunidades de Alagoano, Quadro, Cabral, Bananal e Alto

Caratoira;

• Poligonal 8: Comunidades de Bela Vista, Pedra do Bode e Santo Antônio;

• Poligonal 9: Comunidade de Comdusa;

• Poligonal 10: Comunidade de Conquista;

• Poligonal 11: Comunidades de Joana D´Arc.

Nessas Poligonais viviam, aproximadamente, 68.079 habitantes, que correspondiam

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a 24,68% da população de Vitória, e 29 comunidades, totalizando uma área de

4.274.037m2.

Foram considerados os seguintes aspectos como norteadores para o planejamento,

ações e obras:

1) Urbanístico: sistema viário, infra-estrutura, contenção de encostas, parcelamento

do solo, regularização fundiária, equipamentos públicos, construção de novas

unidades habitacionais e limpeza urbana.

2) Ambientais: definição das áreas de preservação e do limite das ocupações,

melhoria da fiscalização, integrando-as com órgãos estaduais e federais, definição

da arborização urbana e tratamento paisagístico das encostas, reflorestamento das

encostas com instalação de barreiras e cercas de proteção e educação ambiental.

3) Desenvolvimento familiar e comunitário

• Garantir formas de participação da população local em todas as fases do

programa.

• Desenvolver ações de promoção humana, mediante cursos e oficinas de

orientação e planejamento familiar e economia doméstica.

• Desenvolver mecanismos que propiciem e incentivem a organização

comunitária.

• Articular com os programas existentes: Cidadão Criança, Família Cidadã

(Garantia de Renda Mínima) e Geração de Emprego e Renda.

4) Geração de empregos

• Promover cursos de capacitação massiva profissional para organização dos

trabalhadores desempregados das comunidades envolvidas.

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• Incentivar à formação de cooperativas de produção e de prestação de serviços

com os moradores.

• Contratar mão-de-obra local para execução dos serviços nos bairros, quando for

o caso.

• Viabilizar fontes de financiamento a empreendimentos locais.

É também registrado neste documento a experiência da PMV realizada no período

de 1990 a 1991 nos morros São José e Santa Helena, com população de cerca de

1.200 pessoas, situadas no extrato de renda familiar entre 0 e 2 salários mínimos.

A metodologia de trabalho partiu de um diagnóstico preliminar dos problemas

existentes, e levou em consideração as aspirações dos moradores, que foram

ordenadas como propostas de intervenção nas áreas de infra-estrutura, meio

ambiente, cultura, saúde, lazer, educação, uso do solo, habitação, segurança e

comunicação comunitária.

Quanto aos recursos financeiros previstos para implementar o Projeto Terra foram

orçados em de R$ 61.366.690,00 (Sessenta e um milhões, trezentos e sessenta e

seis mil, seiscentos e noventa reais), para investimentos nas 11 Poligonais

contemplando: infra-estrutura, centro de educação infantil, escola de 1ª grau,

unidade de saúde, centro comunitário, esporte e lazer, habitação, fiscalização,

desapropriação, contenção de encostas, reflorestamento, educação ambiental,

desenvolvimento comunitário e regularização fundiária.

3.3.2 Desenho e implantação do programa de 1997 a 1999.

Durante o ano de 1997 a administração municipal aprofunda os debates buscando

as definições sobre premissas, diretrizes, objetivos, componentes institucionais,

reanálise das áreas de abrangência, da matriz de financiamento, da metodologia de

trabalho, da estratégia gerencial, enfim, foram estabelecidos novos pactos internos e

definido o desenho do programa.

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Através do Decreto nº 10.131 de 15/01/98 é criado do “Programa Integrado de

Desenvolvimento Social, Urbano e de Preservação Ambiental nas Áreas Ocupadas

por População de Baixa Renda no Município de Vitória – Projeto Terra e dá outras

providências, tendo como objetivo:

a incorporação das áreas de baixa renda ao tecido urbano da cidade, dotando-as de padrões urbanísticos adequados, infra-estrutura básica, equipamentos públicos, habitações dignas, segurança e melhorias microclimáticas, regularização fundiária, garantindo a qualidade de vida e pleno direito á cidadania aos moradores dessas comunidades. (PMV, Decreto nº 10.131, de janeiro de 1998, p.1)

A opção pelo modelo matricial de planejamento e execução fica demonstrada no

Capítulo II, que estabelece a coordenação como interfuncional, ficando a mesma

sob a competência da Coordenadoria de Administração Estratégica – GAB/ADM,

vinculada ao Gabinete do Prefeito Municipal, efetivando-se através dos níveis

estratégico, tático e operacional.

Cada nível apresentando a seguinte composição:

• Estratégico - prefeito, Secretários municipais, auditor geral, procurador geral e

administradores regionais.

• Tático - com até três representantes das seguintes secretarias: Coordenadoria de

Administração Estratégica – GAB/ADM, Secretaria Municipal de Economia e

Finanças – SEMFA, Secretaria Municipal de Obras – SEMOB, Secretaria

Municipal de Ação Social – SEMAS, Secretaria Municipal de Meio Ambiente –

SEMMAM, Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano – SEDUR,

Secretaria Municipal de Transportes e Infra-Estrutura Urbana SETRAN.

• Operacional – exercido pela Secretaria responsável pelas ações a serem

implementadas no âmbito do Programa e gerenciado por seu titular e seus

representantes no nível tático.

A Secretaria Executiva no nível estratégico seria de competência do GAB/ADM e a

coordenação do nível tático seria exercida pelo GAB/ADM, ressalvando que quando

se fizesse necessário o nível tático consultaria o Comitê Municipal específico.

Quanto às competências dos níveis de gerência:

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• Estratégico – tomada de decisões políticas e estratégicas ligadas ao Projeto

Terra.

• Tático – estabelecer e submeter as propostas técnicas ao nível estratégico,

gerenciar e encaminhar a operacionalização junto às secretarias responsáveis.

• Operacional – implementar as decisões tomadas nos níveis estratégicos e tático,

no âmbito de suas atribuições.

Quanto à implementação do Projeto, o art. 6º condiciona que a elaboração de

projetos, serviços e a execução de obras, deveriam obedecer ao caderno de

encargos para projetos, serviços e obras, respectivamente.

É criada a Comissão Especial de Licitação do Projeto Terra – CEL-Terra para licitar

serviços e obras necessários à implementação do Projeto Terra.

À Secretaria de Desenvolvimento Urbano - SEDUR coube a contratação e

fiscalização dos projetos e serviços, sendo que o acompanhamento e recebimento

dos projetos e serviços licitados estariam a cargo das secretarias de acordo com as

suas respectivas áreas de atuação. No tocante a contratação e fiscalização de obras

licitadas era de responsabilidade da Secretaria Municipal de Obras – SEMOB, o

recebimento das obras estaria a cargo das secretarias envolvidas de acordo com

suas respectivas áreas de atuação. Ficou garantido sob a coordenação da

Secretaria Municipal de Ação Social - SEMAS, a participação das comunidades

através de Fóruns Especiais e Comissões de Moradores, no acompanhamento da

elaboração de projetos e na execução de obras e serviços.

O Decreto 10.131, em seu Capítulo VI, artigo 12, concedia ao nível tático 30 dias

para elaborar o caderno de encargos para projetos, serviços e obras e o Manual de

Normas e Procedimentos, onde as competências de cada órgão municipal estariam

contemplada.

No ano de 1998 são elaborados e aprovados o Caderno de Encargos para

Contratação de Projetos de Engenharia e Arquitetura e o Manual de Normas e

Procedimento do Projeto Terra.

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No Manual foram apresentadas as definições básicas (conceitos), relação de 13

Poligonais, responsabilidades das Secretarias, Procuradoria e Auditoria Geral,

Comitês, Administrações Regionais e Grupos do Projeto Terra, correlacionando-os

aos objetivos e diretrizes do Programa.

Pela relevância do papel desempenhado destacam-se as competências dos agentes

relacionados a seguir:

- Caberá aos Subgerentes do Projeto Terra: • Coordenar e promover a integração do trabalho de todos os integrantes do Grupo

Tático e Operacional em toda sua área de atuação; • Coordenar e garantir a participação dos representantes nas Equipes Locais, em sua

área de atuação; • Encaminhar relatório de avaliação dos trabalhos realizados pela Equipe Local, em

cada Poligonal, em sua área de atuação; • realizar avaliação de desempenho dos contratados temporários. - caberá às Equipes Locais • Montar o Plano de Ação Local, respeitadas as diretrizes do Programa Terra e seus

projetos; • Promover a integração das ações sociais e a participação da comunidade em todas

as fases do programa. - caberá ao Coordenador das Equipes Locais • Coordenar as Equipes Locais e garantir a implementação do Plano de Ação Local; • Promover a integração das ações e participação da comunidade em todas as fases

do programa; • Elaborar relatório e avaliação dos trabalhos realizados pela Equipe Local e os

impactos gerados na comunidade; • Organizar e mobilizar os Fóruns, Conselhos e Assembléia para discussão e

acompanhamento do Programa Terra e todas as suas fases. (PMV, 1988, p. 7)

Tomando como base entrevista realizada com Nepomuceno (2005) e documentos

elaborados por técnicos da coordenação do Projeto Terra, foram destacadas as

principais ações ocorridas no período de 1997 a 1999, visando a implementação do

Projeto Terra:

• Formação de Grupos Estratégico, Tático Urbano e Social, envolvendo

representantes de todas as Secretarias indicados pelos respectivos Secretários;

• formação da Equipe de Desapropriação e Regularização Fundiária;

• contratação, pela SEMAS, de profissionais sob contrato temporário para

atuação nos escritórios locais das Poligonais 1, 2, 3, 4, 5, 8, 10, 11 e,

posteriormente, na Poligonal 12;

• negociação com HBB visando a assinatura de contrato global e para a Poligonal

11;

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• realização de Seminário para a internalização e participação dos Secretários,

sub-Secretários e equipes técnicas gerencial e de campo;

• assinatura do contrato com a CEF para execução de 72 Unidades Habitacionais

e via 01 – Jaburu;

• assinatura de contrato com a CEF para a execução da primeira etapa de

urbanização da Poligonal 5;

• assinatura de contrato com a CEF para a execução da primeira etapa de

urbanização da Poligonal 2;

• desenvolvimento de fluxograma para elaboração de projeto;

• contratação em 1998 do projeto urbanístico para Poligonal 1, contemplando as

seguintes fases: diagnóstico, plano de intervenção, projeto básico, projeto

executivo e orçamento;

• organização, simplificação de fluxos de desapropriação e procedimentos,

construção da metodologia para definição do levantamento fundiário – cruzando

histórico existente na instituição e processos, critérios para demarcação de

limites físicos, pesquisa fundiária das áreas públicas, identificação parcial de

áreas particulares, levantamento de legislações federal, estadual e municipal

pertinentes, Programa de Regularização Fundiária para as Poligonais 1 e 11,

Critérios para a política de habitação e de remoção nas áreas de risco e

ambiental;

• contratação dos Projetos de Reflorestamento, implementado sob coordenação

da Secretaria Municipal de Meio ambiente - SEMMAM;

• definição do fluxograma gerencial financeiro;

• Termo de Referência para a contratação de Assessoria Social para reforçar a

área de desenvolvimento social e pactuação com a comunidade;

apostava-se, na concepção, na efetiva articulação do conjunto das ações desenvolvidas no local/território pelas diferentes secretarias, sem perda de suas especificidades, de forma focada nas diretrizes do Programa para proceder ao avanço quanto as políticas públicas de promoção social, prevenção e a prática de projetos locais integrados que

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potencializassem as ações públicas e sua ampliação com outros atores comunitários da comunidade, do entorno e da cidade (NEPOMUCENO, 2005)

• pactuação com as Secretarias de Desenvolvimento Urbano e a Secretaria de

Meio Ambiente para alocação de suas fiscalizações nos escritórios locais, com a

função de realizar ações preventivas e educacionais, visando impedir novas

ocupações nas áreas de interesse ambiental, e

• contratação da assessoria para a área social em 14/1/1999.

Observa-se nesse período que nove Poligonais foram selecionadas para receberem

intervenções do Projeto Terra, sendo caracterizada como início das atividades do

Projeto, a implantação dos escritórios locais nas Poligonais selecionadas: 2, 3, 4, 5,

8, 10, 11 e 12. Deve-se ressaltar que até dezembro de 1998 estavam listadas no

Programa 13 Poligonais.

Através da SEMAS foi contratada empresa para consultoria na área social do Projeto

Terra. Sendo a SEMAS responsável pela coordenação da área social do Projeto,

tinha como competência articular as demais Secretarias da área social, visando a

elaboração dos Planos Locais e dos Projetos Sociais Integrados e coordenação dos

escritórios locais. À equipe local, coordenada pela SEMAS, caberia a articulação

institucional nos territórios das Poligonais, formando a equipe ampliada,

possibilitando a participação da sociedade através de Comissões Temáticas e

Fóruns Sociais, Comissão de Moradores e atendimentos nos plantões sociais dos

escritórios locais.

Nesse período é contratada a elaboração do projeto urbanístico-ambiental para a

Poligonal 1, sob a coordenação da Secretaria de Desenvolvimento Urbano - SEDUR,

utilizando-se o caderno de encargos do Projeto Terra, na contratação dos serviços e

na análise dos produtos apresentados, conforme as etapas de diagnóstico, plano de

intervenção, projetos básicos, projetos executivos e orçamentos.

A empresa contratada, sob coordenação da SEMAS e com acompanhamento do

GAB/PLAN – Coordenadoria de Planejamento, inicia suas atividades assessorando

a SEMAS, nas nove Poligonais selecionadas, desenvolvendo diagnósticos sócio-

organizativos e ambientais, formação das comissões de moradores, grupos

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temáticos, atividades de educação sanitária e ambiental, mobilização social,

atividades de geração e ocupação de renda e elaboração dos Planos Locais.

3.3.3 Qualificando o desenho a partir da implementação do Projeto Terra

Em documento organizado pela coordenação do Projeto Terra junto ao Gabinete de

Administração Estratégica GAB/ADM em novembro de 2000 (Nepomuceno, 2000, p.

8-17) identifica-se aprofundamento e maior detalhamento, quanto as relações entre

poder público e direito social, a função da equipe local, o plano de Ação Local, a

concepção de gestão pública de cidades, diretrizes, abrangência (passa a

contemplar 15 Poligonais), objetivos, eixos de intervenção/componentes (urbano,

social, ambiental e fundiário), o gerenciamento, investimentos e parcerias.

Considerando a importância dos registros contidos no documento referenciado

acima, no tocante aos rumos estratégicos, elaborou-se uma síntese e transcrição de

partes do mesmo, que a seguir são apresentadas:

a) Poder Público e Direito Social

O processo de democratização reiniciado no país na década de 70, permitiu ao

poder público ser mais permeável aos movimentos organizados da sociedade civil,

na luta pela conquista e preservação de seus interesses, bem como demandou um

novo perfil político e gerencial dos agentes públicos, no processo de

descentralização decisória e da participação popular na gestão pública.

Quanto a discussão da democracia na sociedade contemporânea, é citado que,

segundo Bobbio (1992) gira em torno, sobretudo, de sua passagem da esfera

política para a social, onde o indivíduo é percebido em sua “multiplicidade de seu

status”. Essa ampliação do poder da sociedade civil, possibilita ao indivíduo atuar

sob as mais diversas condições, inclusive na de usuário e gestor de serviços

públicos.

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No âmbito do poder público, é importante ressaltar seu papel na redução das

desigualdades sociais, possibilitando o acesso da população economicamente

desfavorecida a bens, serviços e poder decisório, através de políticas sociais.

O caráter distributivo-redistributivo dessas políticas põe em destaque, para sua

efetividade, a condição de que tais definições sejam assumidas como projetos dos

próprios sujeitos sociais, coletivamente organizados.

Assim, cabe ao poder público, propiciar à população local os meios necessários para

exercer o direito de atuação direta e efetiva no planejamento e execução das ações,

enquanto um direito social.

b) Equipe local e Plano Local de Ação

O exercício direto da participação, demanda do poder público uma nova postura na construção da relação social. A construção do Plano Local de Ação no âmbito do Projeto Terra, caracteriza-se enquanto um instrumento de construção, avaliação, alteração e monitoramento das ações públicas em execução e a definição e implementação de novas ações pautadas na negociação entre a visão do agente público e dos atores coletivos e individuais, baseados em todas a informações coletadas através do Cadastro Sócio Econômico, das reuniões e do processo de interação com a comunidade. (NEPOMUCENO, 2000)

Para a formulação e implementação do Plano Local, em seus diferentes aspectos

(urbano, ambiental, fundiário e social), foi montada a Equipe Local, composta por

profissionais da área social, urbana e ambiental, que eram responsáveis pela

coordenação de todas as ações desenvolvidas na Poligonal e elemento chave no

processo de organização, mobilização e negociação com a comunidade em todas

as etapas do Projeto.

A Equipe Local, principal responsável pelo sucesso da implementação do Projeto Social no dia a dia, tem como desafio desenvolver, em parceria com a comunidade, uma compreensão sistêmica e integrada da realidade, abrangendo todos os aspectos da vida humana representados na área, sua interação com a cidade e a promoção das capacidades humanas, incluindo a capacidade de escolha e a construção de novas perspectivas de vida para a população local. A mobilização e organização da população visando fortalecer e ampliar a percepção do sentimento de pertencimento ao processo e a manutenção da população no local seria desenvolvida focada nas categorias de criança, jovem e adulto, dando prioridade à mulheres, e ao idoso. (NEPOMUCENO, 2000)

c) Concepção de Gestão de Cidades e Diretrizes para o Projeto Terra

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Atualmente, as cidades, em diferentes partes do planeta, começam a adotar novas

visões e técnicas de gestão, buscando entender e intervir de maneira integrada

sobre a realidade complexa desenvolvida no espaço urbano.

Fica cada vez mais patente que as intervenções pontuais e com visão de curto prazo

não surtem o efeito desejado, seja em nível político e administrativo, seja em nível

de promoção das melhorias de qualidade de vida.

Assim, uma concepção contemporânea de intervenção para o desenvolvimento das

cidades deve considerar fundamentalmente que:

• o futuro das cidades já não é mais um problema exclusivo das Administrações

Públicas, mas afeta e interessa diretamente a população em geral;

• precisa-se de uma compreensão sistêmica e integrada da realidade, abrangendo

todos os aspectos da vida humana representados num dado espaço e território

urbano;

• deve-se trabalhar com uma visão de longo prazo, tendo consciência de que as

ações que contribuem para modificar realidades ultrapassam o limite temporal

de uma administração, pois se constituem enquanto um processo coletivo que

envolve muitos atores;

• a ação deve ser orientada para resultados, definindo objetivos e caminhos para

atingi-los.

d) Abrangência do Projeto Terra

São consideradas em situação precária no município, aproximadamente 86.075

pessoas, representando cerca de 30% da população municipal e abrangendo cerca

de 24.954 domicílios.

Das 15 áreas ocupadas, denominadas Poligonais, 11 estão localizadas nas

encostas do Maciço Central e dos maciços graníticos espalhados pelo município,

além de quatro áreas situadas em manguezais. (Quadro 06 e Figura 06).

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As áreas de alcance do projeto foram definidas tendo como parâmetro a ocupação

irregular, considerando os critérios de grau de carência em infra-estrutura, grau de

risco e os baixos índices sociais da comunidade em relação às demais áreas da

cidade. Com isso houve a ampliação na área de abrangência em comparação ao

apresentado no escopo inicial, sendo incorporadas as Poligonais 14 e 15.

Quadro 06 - Bairros contemplados pelo Projeto Terra segundo Poligonal

POLI-GONAL

BAIRROS ÁREA

TOTAL (m²) DOMICÍLIOS POPULAÇÃO

1

Consolação, São Benedito, Morro Gurigica, Alto Itararé, Engenharia, Jaburu, Constatino, Bonfim, Bairro da Penha

1.763.640 10.800 30.257

2 Cruzamento, Romão, Forte São João 803.123 1.458 8.611

3 Piedade, Fonte Grande, Moscoso, Santa Clara e Capixaba

442.900 1.181 3.936

4 Morro São José e Morro Santa Helena 60.538 199 1.437

5 Jesus Nazareth 274.430 682 3.392

6 Ilha do Príncipe 89.031 741 2.323

7 Alagoano, Morro do Quadro, Morro do Cabral e Bananal, Alto Caratoíra

494.507 3.184 10.948

8 Bela Vista, Pedra do Bode e Orla de Santo Antônio

511.922 1.971 7.740

9 Condusa 148.266 452 1.555

10 Conquista 307.491 535 2.311

11 Joana D’Arc, Andorinhas, Santa Martha 274.430 1154 4.020

12 Ilha das Caieiras 117.220 691 1.531

13 Maria Ortiz 90.914 506 2.812

14 Morro do Macaco - 1.100 3.702

15 Morro de Monte Belo e Santa Maria - 300 1.500

TOTAL 24.954 86.075

Fonte: IBGE/Prefeitura Municipal de Vitória, 2000.

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e) Objetivos do Projeto Terra

e.1) Promover melhorias urbanísticas das áreas ocupadas, dando condições de

acessibilidade, implantando equipamentos de infra-estrutura públicos e comunitários

e proporcionando melhorias das condições de habitabilidade.

e.2) Promover a melhoria das condições sócio econômicas da população,

desenvolvendo mecanismos integrados de incubação, de acesso a financiamento e

de capacitação profissional que estimulem a transformação de desempregados

excluídos do mercado em empreendedores individuais ou coletivos.

e.3) Estabelecer o limite da ocupação urbana, preservando as áreas de interesse

ambiental e intervindo para diminuição ou eliminação das áreas de risco.

e.4) Reassentar as famílias residentes em áreas de interesse ambiental e de risco

no interior ou no entorno da área de intervenção.

e.5) Implementar ações sociais integradas visando a melhoria e ampliação dos

Figura 06: Localização das Poligonais do Projeto Terra Fonte: SEPLAN/PVM, 2004

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serviços e a participação popular em todas as fases de implementação do projeto.

e.6) Promover a melhoria dos índices sociais, através da implementação da

urbanização e de ações sociais integradas, visando a criação de novas perspectivas

para a população local.

e.7) Promover a regulação fundiária e a titulação dos lotes nas áreas públicas

municipais, nas áreas cedidas pela União e nos reassentamentos.

f) Eixos e Diretrizes de Intervenção no Projeto Terra

f.1) Urbano

As cidades se caracterizam por diferentes usos dos espaços econômicos para

habitação, acumulação urbana e usos públicos de interesse coletivo.

Historicamente, a timidez da intervenção pública e o modelo de desenvolvimento

econômico adotado (sem distribuição de renda e com escassos financiamentos para

políticas públicas voltadas à população de baixa renda) contribuiu, em grande parte,

para a ocorrência de ocupações irregulares e a criação de um mercado informal de

terras urbanas, gerando pressão sobre áreas frágeis, de risco e preservação.

A elaboração de projeto, partindo de uma visão integrada acerca da problemática e

carências existentes na área de intervenção, em seus diferentes aspectos

(econômico, urbano, ambiental e social) visa à redução das desigualdades urbanas.

Busca-se redefinir a divisão social e simbólica do espaço; as normas de uso e

ocupação do solo; a adequação e segurança nos processos de construção; os

espaços para implantação de acessos e equipamentos e o serviço de fiscalização

urbana e ambiental.

f.2) Social

Todas as intervenções, em seus diferentes aspectos, objetivam atender a população

de um dado território visando a promoção humana e a melhoria da qualidade de vida

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de forma sustentável e consciente.

Assim, o elemento essencial para o sucesso na implementação dos serviços e

obras, bem como para a potencialização das ações já existentes e a manutenção do

investimento aplicado, passa a ser a participação popular.

Nesse sentido, a concepção da atuação pública é alterada, cabendo-lhe o papel de

ampliar e promover as capacidades humanas e a participação, incluindo a

capacidade de escolha e a possibilidade de novas perspectivas de vida,

contribuindo, assim, para a consolidação da democracia, transformando o usuário

em cidadão.

Para tanto, foram montadas Equipes Locais, responsáveis pela mobilização da

comunidade para discussão e acompanhamento de todo o processo. Essas equipes

também são o elemento coordenador de todas as ações desenvolvidas pela

Prefeitura Municipal de Vitória nas áreas de intervenção.

Dentre essas ações, foram citadas:

Programa Saúde da Família, Programa de Geração de Ocupação e de Renda,

atividades lúdicas e esportivas, educação ambiental e sanitária, ações preventivas

de segurança pública, melhorias habitacionais, programas voltados à infância,

adolescência e terceira idade.

f.3) Ambiental

Os aspectos mais relevantes para a degradação ambiental são os desmatamentos e

as ocupações irregulares em áreas de relevo acidentado, com altos declives,

matacões e solos de fácil erosão. Esses fatores trazem conseqüências desastrosas

para os moradores, tais como deslizamentos de massas de terra e matacões, além

de influir nas áreas baixas, contribuindo para a ocorrência de alagamentos e a

poluição da Baía de Vitória.

Este quadro agrava-se pelo lançamento “in-natura” dos esgotos domésticos na rede

pluvial e pelas dificuldades operacionais para a coleta de lixo, que geram pontos

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viciados de deposição em vários locais, aumentando o número dos vetores de

doenças, a ocorrência de entupimentos de galerias, a degradação do solo e a

instabilidade das encostas.

Os resultados mais relevantes esperados das intervenções previstas no Projeto

residem na sustentabilidade dos ecossistemas e das áreas mais sensíveis, bem

como na recuperação das áreas degradadas e de risco, que convergem, por

conseqüência, para a transformação das condições de vida da população local e da

cidade como um todo.

f.4) Fundiário

Decorrente de questões estruturais, o processo de ocupação desordenada do solo

urbano, sem planejamento e sem critério, vem suscitando problemas de ordem

social, econômica, urbanística, ambiental e legal que se cristalizaram com a

anuência do poder público, ao longo do tempo.

Consciente do papel do Poder Público Municipal na definição do uso do solo urbano

e sua democratização, o Projeto define a regularização das áreas de morros e

marés, visando assegurar aos adquirentes e posseiros o direito de legalizarem a sua

situação.

As áreas de intervenção se constituem, enquanto áreas de loteamento e ocupações

espontâneas e irregulares, de propriedade pública e particular situadas geralmente

em áreas ambientalmente protegidas, topos dos morros e encostas, não cumprindo

as exigências mínimas sanitárias, higiênicas e de segurança necessárias à defesa

da vida.

Desse modo, após a consolidação do Projeto Terra, as comunidades beneficiadas

são integradas à cidade legal/formal, normatizadas e regulamentadas pelo Plano

Diretor Urbano, e seus moradores passarão a exercer todos os direitos e deveres de

cidadania aplicáveis aos demais habitantes do município.

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f.5) Gerenciamento

A concepção gerencial adotada está centrada na forma matricial, rompendo com a

prática setorializada das ações e investimentos, e priorizando a compreensão

integral das questões num dado território nos seus aspectos econômicos, urbanos,

ambientais, sociais e fundiários.

Visando o melhor aproveitamento dos recursos existentes e a eliminação das

superposições de ações públicas e de recursos financeiros, o modelo gerencial

pauta-se, ainda, na mobilização da estrutura interna da instituição, na parceria com

agentes organizados da sociedade civil e das comunidades envolvidas.

Baseado no pressuposto de que todos os atores envolvidos no processo, em todos

os níveis da instituição e da sociedade, são parceiros que pensam, controlam e

executam, este componente objetiva estabelecer o conjunto de práticas e

procedimentos técnicos e administrativos, sistemas de monitoramento, avaliação e

estratégias que viabilizem a agilidade da instituição, a mudança da cultura

organizacional, a relação com a comunidade e a integração das ações.

Viabilizando a concepção matricial e integrada, a estrutura gerencial do Projeto

Terra, criou vários níveis de competências multi-setorial e multidisciplinar que

perpassam todos os níveis da Instituição em seus processos de planejamento e

execução, formando, assim, a base necessária para garantia da continuidade do

Projeto.

3.3.4 Estruturas Gerenciais de 1997 a 2004

Do Projeto São Pedro ao Projeto Terra o desafio central a nível institucional estava

em alterar a cultura, pautada no planejamento clássico setorial centralizado e

autoritário, para formas inovadoras de: gestão compartilhada, planejamento e ações

integradas e articuladas, com o fortalecimento da participação popular.

Essas premissas embasaram as definições nos diferentes desenhos gerenciais do

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Projeto Terra, e a busca do desenvolvimento de metodologias para implementar o

Projeto, viabilizadoras do desenvolvimento humano sustentável, a razão de ser do

Projeto Terra.

Os ajustes nos desenhos gerenciais foram realizados por exigências das fontes de

financiamento, na superação de conflitos gerenciais e por pressão social.

Tomando como base o desenho das estruturas gerenciais do Projeto, no período de

1997 a 2004, registra-se a dinâmica do gerenciamento a cada período

correspondente, a partir da análise de registros, de entrevistas e nas experiências

pessoais da autora, partícipe do processo de março de 1999 a dezembro de 2004.

• 1997 a 1998

A estrutura gerencial de 1997 a 1998 é a preconizada pelo Decreto nº 10.131 de

15/01/1998 que criou o Projeto Terra, acrescido do Grupo de Trabalho

Intersetorial de Regularização Fundiária e correspondentes grupos: estratégico,

tático e operacional, destaca-se a criação do comitê Social, com níveis:

estratégico, tático e operacional exercidos pelas equipes locais fixas e

ampliadas, conforme Figuras 07 e 08.

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GRUPO ESTRATÉGICO � Prefeito � Secretários � Administradores

Regionais

COORDENADORIA DE ADMINISTRAÇÃO ESTRATÉGICA

GERENCIA GERAL

GRUPO TÁTICO – Secretaria Executiva TÉCNICOS DE TODAS AS SECRETARIAS

SEMAS COORDENAÇÃO

EQUIPES LOCAIS INTEGRADAS

GRUPOS OPERACIONAIS

POR POLIGONAL

GRUPO DE TRABALHO

INTERSETORIAL DE

REGULARIZAÇÃO FUNDIÁRIA

Figura 07: Estrutura gerencial – 1997/1998 Fonte: GAB/ADM/PMV, 1998

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Grupo Estratégico

Grupo Tático

Grupo Operacional

GERAL SOCIAL

PROJETO TERRA

Comitê Social

Grupo Tático Social

Equipe Local � Ampliada

� Fixa

Figura 08: Grupos Fonte: GAB/ADM/PMV, 1998

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• 1998 a junho de 2000

De 1998 a junho de 2000 conforme Figura 09, passou-se a denominar os

componentes do grupo tático como sub gerentes, cada secretaria indicou um

representante, sendo este subgerente responsável pela articulação interna,

desobstruindo os canais, agilizando as ações de suas secretarias no fortalecimento

da integração institucional.

A coordenação da área social era de competência da SEMAS, que a partir de janeiro

de 1999 passou a contar com a consultoria da empresa Diagonal Urbana. Sob a

coordenação da SEMAS estavam as equipes locais, composta por assistentes

sociais da Secretaria e da Empresa Diagonal acrescidos por profissionais da

SEMMAM e fiscais da SEDUR.

O relacionamento direto com a comunidade acontecia através das equipes locais.

Os problemas de ordem gerencial, junto às equipes locais, podem ter tido como um

dos fatores primordiais uma certa ausência de autoridade da SEMAS sobre a

coordenação da equipe local, ou seja, não havia ascendência sobre os demais

membros da equipe, oriundos de outras Secretarias, não conseguindo assim traçar e

implementar um plano de trabalho consensual. Os técnicos da SEMMAM e SEDUR

eram acompanhados e supervisionados pelas respectivas Secretarias, no

desenvolvimento de ações específicas, fiscalização de novas ocupações e ações de

educação sanitária e ambiental, ou seja, compartilhavam o mesmo espaço com a

SEMAS, mas não conseguiam de fato uma integração, não se constituindo enquanto

equipe, fragilizando o desenvolvimento das ações locais. O peso da cultura setorial

foi agravado pelas divergências de concepção e prática na implementação da

política, entre algumas lideranças gerenciais e técnicas.

Enquanto os Planos Locais eram construídos pautados nas ações sociais, o ritmo do

trabalho sofreu atropelos, decorrentes da chegada dos recursos financeiros do

BNDES. As exigências dessa fonte quanto a aprovação dos Projetos Urbanísticos

junto ao Conselho de Meio Ambiente, a exigência da legislação municipal de

aprovação junto ao Conselho do Plano Diretor Urbano, somados ao distanciamento

entre as equipes de projetos urbanístico, ambiental e social, aliadas às vaidades e

disputas políticas em todos os níveis de instâncias coletivas, promoveram

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perturbações e problemas concretos a serem superados pela equipe de

gerenciamento do Projeto, em especial pelos subgerentes e membros dos comitês.

Tais ocorrências de processos resultaram em projetos urbanísticos sem a

ancoragem social necessária, isto provocado pelas velocidades diferenciadas entre

a formulação e mobilização social e a elaboração dos projetos urbanísticos. Ao longo

desse período, por vários motivos, a integração e interface entre a equipe social e

urbanística aconteceu como forma de validar o projeto elaborado, quando da

apresentação do mesmo para a comunidade, já que segundo os prazos políticos, as

obras deveriam ser iniciadas o mais rapidamente possível. Muito possivelmente em

conseqüência desses processos, as ações sociais estiveram pautadas no

acompanhamento do desenrolar das obras e na mitigação dos transtornos na vida

das famílias.

O processo de implementação de políticas, rico em descobertas e conhecimentos, é

realizado muitas vezes em ambientes de conflito: entre pessoas, instituições e na

relação com a sociedade, resultando em novas institucionalidades, impactando no

desenho gerencial e promovendo ajustes.

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GRUPO ESTRATÉGICO

GERENTE DO PROJETO

GRUPO TÁTICO-

URBANO E SOCIAL GRUPO DE TRABALHO

MULTISETORIAL

DESENVOLVIMENTO � Projetos � Execução de

Obras

COORDENAÇÃO SEDUR/SEMOB/

SEMMAM

SUBGERENTES

SETORIAIS

ASSESSORIA DO GERENCIAMENTO

SOCIAL

COORDENAÇÃO

SEMAS

ASSESSORIA DO GERENCIAMENTO

DE OBRAS

EQUIPES LOCAIS

COMUNIDADE

Figura 09: Estrutura gerencial – 1998 a junho/2000 Fonte: GAB/ADM/PMV, 1998

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• junho de 2000 a junho de 2001

Aos fatores internos da instituição são acrescidos os fatores externos, como:

exigência das fontes de financiamento, assim a mudança na estrutura gerencial

ocorrida em junho de 2000, conforme Figura 10, visava adequar o modelo gerencial

do Projeto Terra ao Programa HBB com a criação da Unidade Executora Municipal –

UEM, passando a ser esta instância equivalente ao nível tático anterior, o nível

estratégico continuava a ser representado pelos Secretários, Administradores

Regionais - AR’s e prefeito.

Segundo relato da assistente social Valéria Latavanha, “em fevereiro de 2001

encerrou-se o contrato da Diagonal com a SEMAS, em seguida os escritórios locais

são fechados, já que boa parte dos mesmos eram mantidos pela Diagonal”.

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Urbanização de Assentamentos Subnormais – UAS

Desenvolvimento Institucional – DI Junho/2000 à Junho/2001

GA

GAB/ADM

UNIDADE EXECUTORA MUNICIPAL Equipe Multidisciplinar

Equipe Multidisciplinar Urbano-Social

(1)

Equipe de Desenvolvimento

Institucional

(2)

Equipe Especializada na Área de Meio Ambiente

(3)

Equipe Social

(4)

Equipes de Fiscalização da Área Ambiental E de novas Invasões(5)

Equipe De

Urbanização

(6)

Equipe de Monitoramento de aporte Recursos

(7)

AR SEDUR/SEMAS SEMMAM SEMAS SEDUR/SEMMAM SEMOB SEMDE

Entidades Representativas dos Beneficiários (ER)

Comitê de Desenvolvimento Urbano/Social

Coordenador – Secretário-Chefe de Gab/Adm Subcoordenador – Subgerente do Projeto Terra Técnicos da Projur, Semob, Sedur/Setran, Semfa, Semas, Semmam/Semurb e Semde

Figura 10: Urbanização de Assentamentos Subnormais – UAS Fonte: GAB/ADM/PMV, 1998

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• junho de 2001 a junho de 2002

Em junho de 2001 a Coordenação Geral do Projeto Terra no GAB/ADM, seleciona e

contrata 23 técnicos sociais para atuarem junto às Administrações Regionais (AR),

para gerenciarem o Programa no nível local e realizarem as articulações e

implementações de fóruns coletivos.

A retirada da SEMAS, o fechamento dos escritórios locais e as contratações

realizadas pelo GAB/PLAN, levaram a novo redesenho da estrutura gerencial, que

vigorou de junho de 2001 a junho de 2002, conforme Figura 11. A SEMAS ficou com

a responsabilidade por suas ações específicas junto ao Projeto Terra e continuou

respondendo pela coordenação do Comitê Social. Conforme registro documental,

constituíam ações da SEMAS nesse período, no tocante ao projeto de participação

comunitária do Plano de Trabalho:

• Promoção social: implantar e operacionalizar as ações de Assistência Social

previstas nos Planos Sociais de Ação Integrada (Renda Mínima, Cesta Básica,

Alfabetização, NAF, Rede Criança, etc.).

• Geração de Trabalho e Renda: implantar e operacionalizar as ações de Geração

de Trabalho e Renda previstas nos Planos de ação Integrada.

• Habitação: desenvolver os trabalhos voltados à preparar o cadastro das famílias

para a remoção e o reassentamento e ações educativas pertinentes.

• Regularização Fundiária: implantar o Programa de Regularização Fundiária e

titulação dos lotes.

É criada a equipe Urbano-social que segundo Nepomuceno em entrevista,

a equipe era coordenada pela AR em parceria com o GAG/PLAN. Vinculação, enquanto responsabilidade da equipe Multidisciplinar urbano-social (urbano e fiscalização – em parceria com a SEDUR e social-contratação pelo GAB/PLAN de vinte e três assistentes sociais no dia 4/6/2001, mais dois engenheiros, um advogado, um administrador e um técnico de área social). As técnicas sociais foram alocadas nas AR´s para efetuarem a relação e os pactos com entidades representativas dos beneficiados. (NEPOMUCENO, 2005)

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Equipe de Desenvolvimento

Institucional (2)

SEDEC/SEHAB

Equipe de Especialização Na Área de Meio Ambiente(3) SEMMAM

Equipe de Fiscalização Ambiental/ Invasões(4)

SEDEC/SEMMAM

Equipe Social

(5)SEHAB/SEMAS

Equipe de Urbanização(6)

SEDEC/SEMOB/

SEMMAM/SETRAN

Equipe de Monitoramento de Aporte de Recursos(3)

SEHAB/SEMAS

Equipe Multidisciplinar Urbano/Social

(1)AR/Equipe Social

Organizações Comunitárias

Núcleo Operacional

Social (10)

Público Alvo

Núcleo TécnicoSocial (9)

Comitê Social (8)

GAB/PLAN

UNIDADE EXECUTORA MUNICIPAL - UEM Grupo Intersetorial de Regularização Fundiária

Comitê de Desenvolvimento Urbano/

Social

Figura 11: Estrutura gerencial – Junho/2001 a Junho/2002 Fonte: GAB/ADM/PMV, 1998

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• junho de 2002 a junho de 2003

em 2002 é criada a Secretaria Municipal de Habitação – SEHAB, sendo transferido

para a mesma a coordenação das atividades de habitação de Interesse Social,

Regularização Fundiária e dezenove técnicos do GAB/PLAN, para desempenharem

atividades referentes a ações educativas, cadastros, acompanhamento social de

famílias a serem reassentadas, bem como as atividades sociais necessárias a

regularização fundiária.

Lembrando que as atividades referentes a habitação e regularização fundiária eram

de competência institucional da SEMAS, mais um choque é promovido na gestão do

Projeto Terra, a SEMAS passa a focar seus esforços na construção do Programa

Social Integral e Integrado – PSI, voltado a famílias abaixo da linha da pobreza, e

fortaleceu no âmbito do Terra as atividades de geração de ocupação e renda. A

estrutura gerencial que vigorou de junho de 2002 a junho de 2003, conforme Figura

12, tinha as equipes sociais das AR’s vinculadas a SEHAB, que por sua vez foca

suas as ações nas Poligonais com atividades de reassentamento, respectivamente

nas Poligonais 1, 5, 8 e 11 e na 4, com Cores no Morro, um Sub-Projeto dentro do

Terra, deixando a SEHAB a desejar no acompanhamento às equipes sociais nas

demais Poligonais.

É interessante registrar que as AR’s em sua maioria não conseguiram absorver a

dinâmica de trabalho do Projeto Terra, sendo apenas mais um espaço físico para as

equipes sociais. As AR’s realizavam os trabalhos de manutenção e em algumas

situações, após a urbanização das Poligonais, encontravam dificuldades para

incorporá-las nos atendimentos das demandas, alegando problemas orçamentários.

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Equipe Multidisciplinar Urbano/Social AR/Equipe Social (SEHAB)

Organizações Comunitárias

Núcleo Operacional Social

Público Alvo

UNIDADE EXECUTORA MUNICIPAL - UEM

Comitê de Desenvolvimento Urbano/

Social

GAB/PLAN

Equipe de Desenvolvimento

Institucional

SEDEC/SEHAB

Equipe de Especializada

na Área de Meio Ambiente SEMMAM

Equipe de Fiscalização Ambiental/ Invasões

SEDEC/SEMMAM

Equipe de Urbanização

SEDEC/SEMOB/

SEMMAM/ SETRAN

Equipe de Monitoramento de Aporte de Recursos

SEDEC/NCR

Comitê Social

Núcleo Técnico Social

Equipe Social

SEHAB/SEMAS

Figura 12: Estrutura gerencial – Junho/2002 a Junho/2003 Fonte: GAB/ADM/PMV, 1998

Regularização

Fundiária

SEHAB

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• junho de 2003 a dezembro de 2004

Em março de 2003 ocorreram mudanças na coordenação geral do Projeto Terra,

assumindo um novo coordenador e gerente executivo. São mantidos e reafirmados

os objetivos e diretrizes, busca-se o aprimoramento no gerenciamento do Projeto.

Novo entendimento é realizado junto a SEHAB, retomando ao GAB/PLAN a função

de coordenação do Projeto no nível local, com retorno de parte da equipe de

técnicos sociais. Este é o modelo que vigorou de junho de 2003 a dezembro de

2004, conforme Figura 13.

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Equipe de Especialização Na Área de Meio

Ambiente SEMMAM

Equipe de Fiscalização Ambiental/ Invasões SEDEC/ SEMMAM

Equipe Social SEHAB/ SEMAS

Equipe de Urbanização SEDEC/

SEHAB/CDV-DSC/SETRAN

Equipe de Monitoramento de Aporte de Recursos

SEMFA/NCR

Equipe Multidisciplinar Urbano/Social Administração Regional

Equipe de Coordenação Local – GAB/PLAN

Organizações Comunitárias

Núcleo Operacional Social – SEHAB/SEMAS

Público Alvo

Comitê Social

UNIDADE EXECUTORA MUNICIPAL - UEM

Comitê de Desenvolvimento Urbano / Social

Núcleo Técnico Social

GAB/PLAN

Comitê de Planejamento Urbano

U.G.P.

Regularização Fundiária

SEHAB SEDEC PROJUR SEMAD

GAB/PLAN

Equipe de Desenvolvimento

Institucional SEDEC/SEMMAM/

SEHAB

Figura 13: Estrutura gerencial – Junho/2003 a Dezembro/2004 Fonte: GAB/ADM/PMV, 1998

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No período de 2003 a 2004 soma-se à estrutura gerencial do Projeto Terra a

reorganização interna da gerência do Projeto e da Coordenadoria de Planejamento-

GAB/PLAN. Fica evidenciado na Figura 14 a estrutura organizacional informal do

GAB/PLAN. Com base em documento elaborado pela equipe do GAB/PLAN, para

ser apresentado a equipe de transição em dezembro de 2004, verifica-se a definição

do Projeto Terra, das competências das instâncias colegiadas e dos níveis de

gerência para o Projeto Terra no âmbito do GAB/PLAN, conforme descreve-se a

seguir.

• Projeto Terra: É uma iniciativa de política pública de inclusão social, tendo como

pressupostos do modelo de gestão a integração institucional, a participação

social e as poligonais como territórios de planejamento e ação.

• Objetivo do Projeto Terra: O projeto terra objetiva a incorporação das áreas

ocupadas por população de baixa renda ao tecido urbano da cidade, dotado-as

de padrões urbanísticos adequados, infra-estrutura básica, equipamentos

públicos, habitações dignas, segurança e melhorias microclimáticas,

regularização fundiária e preservação ambiental, garantindo a qualidade de vida

e pleno direito à cidadania aos moradores destas comunidades. (decreto no

10.131 de 15/01/1998).

Instâncias Colegiadas:

A Nível Institucional

• Comitê de Planejamento Urbano (CPU): Fórum de decisão estratégica sobre o

planejamento e intervenções urbanas, coordenado pelo Secretário de

Planejamento, tendo como secretaria executiva o Gab/Plan e composto pelos

Secretários Municipais de Desenvolvimento da Cidade, Meio Ambiente, e

Transportes e Infra-Estrutura Urbana, Obras, Habitação, Fazenda, Procuradoria

Geral, Administradores Regionais, Auditoria Geral.

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• Unidade Executora Municipal (UEM): Equipe interfuncional gerenciadora do

Programa Terra, em seu aspecto urbanístico, ambiental e social, formada por

representantes das secretarias Municipais de Planejamento, Desenvolvimento da

Cidade, Meio Ambiente, Transportes e Infra-Estrutura Urbana, Obras, Habitação,

Fazenda, Procuradoria, Saúde, Educação, Ação Social e Comunicação,

coordenada pelo secretário de Planejamento.

• Unidade de Gerenciamento Projetos Local (UGP-Local): Equipe interfuncional

responsável pela operacionalização das atividades relativas à coordenação,

analise e aprovação do plano de desenvolvimento local integrado, relativo a

Poligonal 02 no âmbito do PAT-Prosanear, coordenada pelo Subgerente do

Projeto Terra, com a seguinte composição: representantes técnicos das

Secretarias de Planejamento, Desenvolvimento da Cidade, Meio Ambiente,

Habitação, Fazenda, Administrações Regionais 1 e 3, CDV/DSC e

representantes da Cesan e Caixa Econômica.

A Nível Local

Equipe de Coordenação local, ligada ao GAB/PLAN, responsável pela mobilização

comunitária na formação e acompanhamento das comissões de moradores,

constituição das redes sociais e articulação da equipe ampliada para formação das

redes de serviços públicos e gestão dos Planos Locais.

Estrutura de Gestão do Projeto Terra na Coordenadoria de Planejamento:

• Coordenação Geral: Responsável pela coordenação das definições de diretrizes

políticas e estratégicas relativas ao Programa e desobstrução dos canais

institucionais, exercida pelo Secretário Chefe do Gabinete de Planejamento.

• Gerência Executiva: Coordenar e promover a integração do trabalho de todos

os técnicos integrantes dos grupos interfuncionais, no planejamento e execução

das ações referentes às áreas sócio-ambiental, urbanística, administrativa e

financeira, exercida pelo Subsecretário de Planejamento Urbano do GAB/PLAN.

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• Coordenadoria Urbanística: Coordenar e acompanhar as ações referentes ao

desenvolvimento de projetos, licitação e execução de obras, regularização

fundiária, captação de recursos e as interfaces com as equipes social e

administrativo-financeiro.

• Coordenadoria Administrativa e Financeira: Elaboração do orçamento e

acompanhamento da execução financeira do mesmo, acompanhamento dos

processos de medição e pagamento de contratos de obras e serviços,

acompanhamento dos processos de desapropriação, acompanhamento jurídico

das ações sociais, no que tange a legalidade das definições relativas ao trabalho

social, resoluções, normas e regulamentos referentes ao repasse das unidades

habitacionais e regularização fundiária.

• Coordenadoria Social: Coordenar a integração das ações sociais na elaboração

e implementação de planos e projetos de desenvolvimento humano, exercendo o

monitoramento e supervisão das equipes de coordenação local, estimulando e

promovendo a capacitação continuada na busca de métodos e técnicas que

possibilitem a participação da comunidade em todas as fases do Programa.

• Equipe Local: Promover a mobilização e sensibilização comunitária, visando a

integração das ações sociais e a participação efetiva da comunidade em todas as

fases do Programa, exercendo o papel de mediadora e facilitadora na interface

social e institucional.

No período de 2003 e 2004 aprofunda-se a discussão sobre sustentabilidade do

Projeto e busca-se promover os ajustes na metodologia de trabalhos, tendo como

base a experiência de implementação do Projeto Terra, em especial do aprendizado

proporcionado pelo intercâmbio com o Programa Habitar Brasil – BID/HBB, o

Programa de Assistência Técnica ao Programa de Saneamento – PAT-

PROSANEAR, Ministério das Cidades, com a Caixa e o BNDES – Programa

Multisetorial Intregrado - PMI

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ESTRUTURA ORGANIZACIONAL (INFORMAL)

COORDENADORIA DE PLANEJAMENTO

UEM

CPU

UNIDADE DE APOIO SETORIAL (UAS)

SECRETÁRIO-ADJUNTO DE PLANEJAMENTO

SECRETÁRIO-ADJUNTO DE PLANEJAMENTO URBANO SUBGERENTE DO PROJETO

TERRA

COORDENADORA DE URBANIZAÇÃO

COORDENADORA ADM. FINANCEIRA

COORDENADORA SOCIAL

EQUIPE URBANÍSTICA

EQUIPE ADM. FINANCEIRA

EQUIPE SOCIAL INTERNA

EQUIPE COORDENAÇÃO

LOCAL

COORDENADOR NÚCLEO DE INFORMAÇÕES

GERENCIAIS

EQUIPE DE PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO

EQUIPE DO SISTEMA DE

INFORMAÇÕES MUNICIPAIS

UGP

SECRETÁRIO-CHEFE DA COORDENADORIA DE PLANEJAMENTO

GERENTE DO PROJETO TERRA

Figura 14: Estrutura organizacional (informal) Fonte: GAB/ADM/PMV, 1998

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3.3.5 Estratégias de gestão do Projeto Terra

Partindo das premissas: planejamento com ações integradas e articuladas, gestão

compartilhada e participação popular, tendo as Poligonais (territórios físicos

delimitados) como unidade de planejamento e ação, o Projeto Terra foi sendo

implementado e ajustado em relação às estratégias de gestão, utilizando-se da

metodologia do planejamento estratégico.

O Projeto Terra era entendido, de acordo com Lucas (2003, p. 8) como “uma política

de método de gestão de enfrentamento da pobreza urbana”. Em 2004 o Projeto

Terra é apresentado pela coordenação, segundo Coelho (2004, p. 2) “como uma

iniciativa de política pública de inclusão social, tendo como pressupostos do modelo

de gestão: a integração institucional, a participação social e as Poligonais como

territórios de planejamento e ação”.

Tomando como referência o fluxograma de 1998 para elaboração do Plano Local,

apresentado na Figura 15, ficam demonstrados os passos com os quais se

esperava, em sendo dados, chegar-se aos Planos Locais. O ciclo de elaboração do

Plano iniciava com a realização dos diagnósticos para conhecer os seguintes

aspectos: projetos setoriais em execução; demandas por serviços; problemas que

seriam identificados através de cadastros; pesquisas e processos de

desenvolvimento comunitários, incluindo também o levantamento dos planos de

intervenção urbana , e projetos.

Num segundo momento seriam elaboradas as ações que visavam responder aos

diagnósticos setoriais. Esse fluxo simplificado tinha como complemento o Manual de

Normas e Procedimentos e o caderno de encargos, e a estrutura gerencial,

contemplando as instâncias coletivas institucionais e a relação com a sociedade,

através das equipes locais; e dos coletivos comunitários representado, pelas

comissões de moradores, e comissões temáticas, por Poligonal.

No período de 1997 a 2002 várias ações estavam sendo implementadas junto a

população, em nove Poligonais; e a nível institucional, no âmbito técnico-

administrativo, para viabilizar a aplicação dos recursos captados em conformidade

com a legislação pertinente, premissas e diretrizes do Projeto Terra.

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Projetos Setoriais em Execução

Demandas, problemas identificados nos cadastrados, Pesquisa e Processo de Desenvolvimento Comunitário

Plano de Intervenção Urbana/Projetos

Qualidade e Ambiente de vida (saúde,

educação, aspectos, lúdicos...)

Ocupação e renda

Reassentamento / Remoção

Urbanização / Obras

Ambientais

Fundiária

Melhorias Habitacionais

Fiscalização Urbana e Ambiental

Legislação urbana e ambiental específicas

Monitoramento

OBJETIVOS

METAS

ATIVIDADES/ ESTRATÉGIAS

PRAZO

Fim Início

RESPONSÁVEIS CUSTO

PRAZO

� Indicadores � Mobilização � Resultado

IMPACTO

Figura 15: Fluxograma para elaboração do Plano Local – 1998 Fonte: GAB/ADM/PMV, 1998

DIAGNÓSTICO

AÇÕES PLANO LOCAL

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Ganha fôlego a discussão sobre o entendimento do que seria a sustentabilidade das

ações promovidas e das obras implementadas nas Poligonais no âmbito do Projeto.

Essa discussão foi motivada pela constatação das depredações ocorridas nos

espaços públicos urbanizados, bem como na demora que se observava na mudança

de atitudes e absorção de novos valores em relação por exemplo aos pontos

viciados de lixo, a continuidade da ocupação de áreas de risco em especial nas

áreas de morro, a baixa capacidade de articulação da rede pública no

desenvolvimento das ações no âmbito das Poligonais, dentre outros.

A mobilização da comunidade, que se fortalecia quando do início das obras, levava

a que constantemente fosse exigido da equipe local, da gerência geral e técnicos da

área urbanística, apresentações e esclarecimentos quanto aos planos urbanísticos e

projetos arquitetônicos, também sobre o porquê da demora na execução de obras.

De forma geral, em todas as Poligonais, na medida em que o trabalho avançava,

ficavam explicitadas as relações clientelistas de lideranças comunitárias com a

administração pública, vereadores e com membros da comunidade, sendo dados de

realidade que passavam a ser identificados pelos técnicos locais e de outras

instâncias da administração municipal.

Nesse caldeirão efervescente de aprendizagem, os conflitos gerados pelas

diferentes visões sobre a concepção do Projeto eram apaixonadamente discutidos

em todas as instâncias coletivas internas.

O primeiro consenso interno, construído como fruto de discussões com secretários,

subsecretários, assessores e chefes de departamento, foi sobre o conceito do

Projeto o papel de cada Secretaria, e o método de gestão: integrado e participativo.

O resultado desse processo pode ser verificado em vídeo gravado com depoimento

sobre o Projeto Terra de diversos secretários no ano de 1998.

Em segundo lugar, os espaços coletivos de formulação foram estimulados, a rede

técnica começou a ser conectada, segundo depoimento de Loureiro “como nunca

antes na história da prefeitura”. As instâncias táticas avançaram nas discussões para

formulação e implementação de diferentes políticas setoriais. O período de 2002 a

julho de 2003 foi marcado pelo adormecimento do Projeto em relação à gestão

compartilhada. De 2003 a dezembro de 2004 resgataram-se os princípios e

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diretrizes do Projeto e buscou-se qualificar a gestão do conhecimento, redefinindo

funções e ajustando a metodologia para elaboração do Plano de Desenvolvimento

Humano Sustentável.

Para descrever o fluxograma de elaboração dos Planos de Desenvolvimento

Humano Sustentável/2004, conforme Figura 16, toma-se como referência a

influência da concepção do Projeto Terra, junto aos técnicos da SEDUR - Secretaria

de Desenvolvimento Urbano sucedida pela SEDEC - Secretaria de Desenvolvimento

da Cidade e junto a Coordenadoria de Planejamento GAB/ADM - Coordenadoria de

Administração Estratégica sucedida pela GAB/PLAN - Coordenadoria de

Planejamento, em especial através do olhar da equipe urbanística da SEDEC, na

qual a autora foi protagonista no período de 1999 a 2003, e agregando o olhar ao

nível da gerência executiva do Projeto no período de 2003 e 2004, também como

protagonista. Nesse período de balanço a análise do aprendizado proporcionado

com a implementação do Projeto, foi realizada visando a promoção dos ajustes

gerenciais, para dar celeridade as ações: foram mantidas as diretrizes, objetivos e

metas do Projeto já pactuadas. Buscou-se reconstruir os consensos possíveis,

estabelecendo alianças táticas entre os atores envolvidos no processo, e

construindo pactos para qualificar a implementação das ações visando a promoção

do desenvolvimento humano sustentável.

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METODOLOGIA DO PROJETO TERRA FASES

DIAGNÓSTICO SÓCIO-AMBIENTAL E URBANÍSTICO

PLANO GERAL DE INTERVENÇÃO

PLANOS E PROJETOS

REGULARIZAÇÃO FUNDIÁRIA

IMPLENTAÇÃO DOS PLANOS E OBRAS

SUSTENTABILIDADE DAS AÇÕES

PRÉ-URBANIZAÇÃO

URBANIZAÇÃO

PÓS-UBANIZAÇÃO

Levantamento da Situação Econômica, Social, Físico-territorial (urbanístico, Fundiária e Ambiental) da Poligonal

Diagnósticos: Jurídico-Legal, Físico, Ambiental, Sócio-Econômico e Organizacional Indicadores de Monitoramento Mobilização e SensibilizaçãoSocial Formação das Comissões de Moradores e Comissões Temáticas Pactos Urbanístico – Propostas de Intervenção e Proposta de Zoneamento (ZEIS) Sócio-ambiental – Definição de Prioridades / Objetivos e Metas Pactos

Plano Urbanísticos – Projetos Básicos, Executivo e Orçamento Plano de Apoio ao Desenvolvimento Social Licenciamento Ambiental Legislação Urbanística Específica Hierarquização das Prioridades

Planta de Parcelamento Legislação Específica Identificação de Domínio Elaboração de Contratos Registros Cartoriais

Licitação para execução de Obras Implementação do Plano de Apoio ao Desenvolvimento Social Educação Sanitária e Ambiental Capacitação para Geração de Ocupação e Renda Participação Comunitária Acompanhamento e Avaliações / Comissões de Moradores e Comissões Temáticas

Apropriação pública dos espaços construídos Manutenção e Conservação Transformações Culturais e Construção de Valores Redes e Serviços Avaliação e Monitoramento

Estudos de Concepção e Propostas

Levantamento Topográfico Cadastral Pesquisa Cartorial, Análise do cadastro sócio-econômico, Cruzamento do Plano Urbanístico com a planta cadastral, Análise dos índices urbanísticos

PLANO DE TRABALHO SOCIAL

Figura 16: Metodologia do projeto terra – Fases Fonte: GAB/PLAN/PMV, 2004

PLANO DE DESENVOLV IM

ENTO HUMANO

SUSTENTÁVEL

FISCALIZAÇÃO

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A seguir registra-se momentos e movimentos considerados chaves no processo de

pactuação na construção do método para elaboração dos Planos de

Desenvolvimento Humano Sustentável no âmbito do Projeto Terra.

A estratégia de gestão de Programas multisetoriais integrados de inclusão social

pressupõe o compartilhamento constante de conhecimentos, esta poderia ser

sinteticamente a frase a caracterizar o entendimento sobre o exercício da

implementação do Projeto Terra, extraída do documento que registra os resultados

do planejamento estratégico da Secretaria de Desenvolvimento Urbano -

SEDUR/PMV em 2000.

A antiga SEDUR hoje Secretaria de Desenvolvimento da Cidade - SEDEC tinha

como parte de suas competências descritas no Manual de Procedimento do Projeto

Terra:

• Gerenciar o contrato de Projetos Urbanos, receber da(s) contratada(s) e

coordenar a aprovação técnica dos diagnósticos, planos de intervenção, projetos

básicos e executivos junto às secretarias municipais;

• providenciar a fiscalização urbanística para as Poligonais, e

• coordenar as secretarias envolvidas e dar o aval final nos processos provisórios e

definitivo de aceitação dos produtos/projetos.

À SEMAS cabia dentre outras atribuições:

• Gerenciar o contrato de gerenciamento social e garantir a participação das

demais secretarias envolvidas;

• assessorar os coordenadores das Equipes Locais na formulação e

implementação do Plano de Ação e respectivos instrumentos de

acompanhamento, e

• priorizar tecnicamente com a SEMOB o acompanhamento das atividades

relacionadas com a execução e fiscalização de obras.

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Concretamente, o que acabou acontecendo foi uma tímida articulação entre os

conhecimentos nas áreas social e urbanística, talvez dadas as características

diferenciadas dos trabalhos nas respectivas áreas. O período de 1997 a 2000 foi

marcado pela falta de integração entre os diagnósticos sociais e urbanísticos,

repercutindo em Planos Urbanísticos com baixa aderência às demandas locais, o

que poderia estar colocando em risco a sustentabilidade do Projeto, isto somado a

outros fatores preocupantes, já que a integração esperada nos serviços públicos

sociais (saúde, educação, assistência e promoção social, cultura e esporte) também

apresentava baixo grau de integração nos territórios das Poligonais.

Preocupados com o momento, a coordenação do Projeto aprofundou a discussão

em especial com a participação de técnicos e gerentes da SEMAS, SEDUR e

SEMMAM, secretarias estas com técnicos alocados nos escritórios locais, e

assessorados pela Diagonal Urbana, buscaram ajustar a estratégia de condução dos

trabalhos.

Em outubro de 2000 a Diagonal Urbana apresentou o fluxo para o “PLAN LOCAL DE

DESARROLO INTEGRADO”, que era subdividido em três grandes etapas: Figuras

17, 18 e 19.

1ª. Elaboração do diagnóstico integrado que contemplaria os aspectos urbanístico-

ambiental, sócio-econômico e sócio-organizativo.

2ª. Plano de Ação Integrada, que seriam construídos após a discussão dos

diagnósticos com a comunidade.

3ª. Hierarquização das ações e obras, que seriam detalhados em projetos

executivos após a aprovação pela comunidade do Plano de Ação Integrada.

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100

Figura 17: Programa de mejoramento barrial plan local de desarrolo integrado Fonte: Diagonal Urbana/PMV, 2000

ACCIÓN PRELIMINAR

TALLER DIAGNÓSTICO

INVESTIGACIONES, ANÁLISIS Y ESTUDIOS

ESTUDIOS SOBRE LA TENENCIA DE

LA TIERRA

ENCUESTA SÓCIO ECONÔMICA- AMBIENTAL

ENCUESTA SÓCIO-

ORGANIZATIVA (CUALITATIVA)

LEVANTAMENTO DEL PERFIL DE

LAS INSTITUICIONES

ESTUDIOS URBANÍSTICOS Y AMBIENTALES

DIAGNÓSTICO URBANÍSTICO AMBIENTAL

DIAGNÓSTICO SÓCIO-

ORGANIZATIVO

DIAGNÓSTICO SÓCIO

AMBIENTAL

DIAGNÓSTICO INTEGRADO Y DIRECTRICES

DE LA INTERVENCIÓN

DIAGNÓSTICO ETAPA 1

ENCUESTA DE FUENTES

SECUNDARIAS

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101

PRESENTATIOCIÓN Y DISCUSIÓN DEL DIAGNÓSTICO Y

DIRECTRICES COM LA COMUNIDAD

ESTUDIO DE ALTERNATIVAS

URBANÍSTICO Y TECNOLÓGICO

ACCIONES SOCIALES

ESTRATÉGIAS DE PARTICIPACIÓN

PLANO DE ACCIÓN

INTEGRADO

ELABORAÇÃO DE MATRIZ DE PARTICIPACION

PRESENTACIÓN Y DUSCUSIÓN DEL PLANO COM LA

COMUNIDAD

DIAGNÓSTICO ETAPA 2

Figura 18: Programa de mejoramento barrial plan local de desarrolo integrado Fonte: Diagonal Urbana/PMV, 2000

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102

JERARQUIZACIÓN DE ACCIONES Y

OBRAS

PRESENTACIÓN Y DISCUSION COM LAS

COMUNIDADES

PLANIFICACION 2001 2002 2003

ESTRUTURACIÓN DE LAS ACCIONES

INTEGRADAS PARA CORTO

PRAZO

JERARQUIZACIÓN DE ACCIONES ETPAPA 3

ESPECIFICACIONES PARA

PROYECTOS EJECUTIVOS

ESTRUTURACIÓN DE LAS

ACCIONES INTEGRADAS PARA CORTO

PRAZO

CONTRATACIÓN Y ELABORACIÓN DE PROYECTOS

IMPLE

MENTACIO

DE O

BRAS Y ACCIO

NES

Figura 19: Programa de mejoramento barrial plan local de desarrolo integrado Fonte: Diagonal Urbana/PMV, 2000

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103

Baseado nesse fluxograma apresentado pela Diagonal e nas discussões internas

junto a UEM foi ajustado o fluxograma para elaboração dos Planos Locais em dois

módulos: um que atenderia a elaboração do Plano de Desenvolvimento Local para

as Poligonais, onde os estudos sócio-ambiental e urbanísticos estavam concluídos,

e outro módulo para atender as Poligonais onde os estudos não haviam sido

elaborados. (Figuras 20, 21, 22, 23 e 24).

Nesses fluxogramas aprovados ficava explicitado o momento de validação interna e

hierarquização das propostas de intervenção que, após validadas internamente,

seriam apresentadas e discutidas com a comunidade, sendo a mesma ouvida

através de pesquisas e oficinas quando da elaboração do diagnóstico.

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Análise conjunta dos projetos – diagnóstico e propostas poligonais

Ajuste da Metodologia por

poligonal

Seminário de partida:

apres/disc metodologia p/ elaboração

planos/programas de trabalho

Sistematização dos dados e informações

disponíveis por poligonal e por dimensão de

estudo

Levantamento de programa e ações da PMV por dimensão

Módulo 1 Ação Preliminar

Figura 20: Fluxograma para elaboração do Plano de Desenvolvimento Local – Situação 01.

Fonte: PMV – Elaborado pela Diagonal Urbana

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105

Figura 21: Fluxograma para elaboração do Plano de Desenvolvimento Local – Situação 01 Fonte: PMV – elaborado pela Diagonal Urbana, 2000

Síntese do diagnóstico apresentado (urbanístico)

Categorização de problemas

Síntese das propostas e soluções

apresentadas

Diagnóstico social

Etapa 1 Diagnóstico

Identificação de dimensão crítica

não contemplada

Diagnóstico Integrado e Diretrizes de Intervenção

Pesquisas/ prefeitinhos/ oficinas equipe ampliada

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Estudo de alternativas

Problemas dimensão crítica

urbanística

Problemas Sócio-Econômicos

Problemas organizativas

Plano de ação integrada

Validação do plano e

hierarquização de ações e

obras

Dimensionamento recursos existentes

Reunião grupo estratégico: validação

definição das prioridades

Matriz de participação

Agenda curto, médio e longo

prazos

Validação das propostas

Apresentação e discussão com a comunidade

ETAPA 2 Plano e Hierarquização de Ações

Figura 22: Fluxograma para elaboração do Plano de Desenvolvimento Local – Situação 01 Fonte: PMV – elaborado pela Diagonal Urbana, 2000

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Análise e estudos

Análise situação fundiária

Pesquisa sócio-econômica

Análise pesquisa qualitativa sócio-

organizativa

Diagnóstico urbanístico- ambiental

Diagnóstico sócio-

Econômico

Diagnóstico sócio-

organizativo

Diagnóstico integrado e diretrizes de intervenção

Análise complementação

estudos urbanísticos

Análise dos estudos

ambientais

Análise das oficinas com

equipe ampliada

Análise das oficinas de diagnóstico

Módulo 2 Diagnóstico

Figura 23: Fluxograma para elaboração do Plano de Desenvolvimento Local – Situação 02 Fonte: PMV – elaborado pela Diagonal Urbana, 2000

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Estudo de Alternativas

Plano urbanístico e ambiental

Plano social

Estratégias de

participação

Plano de ação integrada

Validação do plano e

hierarquização de ações e

obras

Validação das propostas

Dimensionamento recursos existentes

Matriz de participação

Agenda curto, médio e longo

prazos

Validação das propostas

Apresentação e discussão com a comunidade

Módulo 3 Plano e Hierarquização de Ações

Reunião grupo estratégico: validação

definição das prioridades

Figura 24: Fluxograma para elaboração do Plano de Desenvolvimento Local – Situação 02 Fonte: PMV – elaborado pela Diagonal Urbana, 2000

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A reflexão sobre a concepção metodológica do Projeto foi discutida com

profundidade no ano de 2000 pelos técnicos e gerentes da SEDUR, as discussões

sobre a sustentabilidade, os limites para a elaboração de projetos urbanísticos sem o

conhecimento dos códigos locais, demandas sociais e análises sociais mais

profundas que possibilitassem melhor apuração das demandas e desejos de

segmentos sociais específicos, em especial, crianças, jovens, mulheres e idosos,

fragilizavam a consistência das propostas urbanísticas, arquitetônicas e ambientais

para cada Poligonal.

A inquietação da equipe de Projetos da SEDEC foi também sentida por alguns

técnicos da SEMMAM, que juntos elaboraram a Proposta Preliminar de Roteiro para

Elaboração de Diagnóstico nas Poligonais do Projeto Terra, chegou-se ao consenso

da necessidade de desenvolver e buscar métodos de diagnóstico integrado e

participativo, sendo apresentada justificativa para a mudança proposta e uma

sugestão metodológica.

O diagnóstico urbano, normalmente é elaborado, a partir de uma coleta de dados físicos da área, no qual toda avaliação fica por conta da equipe técnica, a população apenas é consultada para levantamento das demandas e relatos históricos. Desta forma, a interpretação por assim dizer do espaço em estudo fica apenas por conta dos técnicos. Se considerarmos que a principal transformação que o Projeto Terra propõe é a mudança de foco do espaço para o homem, este paradigma deve estar presente em todo o processo, e da forma mais ampla possível, e não apenas como referendo, mas como co-autor das propostas. O que queremos dizer, é que se da mesma forma que a expulsão branca pode ser reduzida com o trabalho de promoção humana, a melhoria da qualidade de vida pode ser majorada se os técnicos conseguirem captar as aspirações dos ocupantes de uma forma mais ampla. Para isto, é que estamos propondo que o Diagnóstico Urbano, avalie o espaço sob duas óticas, a do morador, e a dos técnicos, para que as conclusões e indicações de necessidades estejam além da percepção técnica, das demandas do orçamento participativo e da opinião das lideranças formais e informais, para que possam traduzir as aspirações da maioria dos beneficiários. A metodologia proposta para o trabalho é de desenvolvimento paralelo das duas óticas, e a confrontação dos dois trabalhos na elaboração da síntese final. E esta síntese, mais o processo social, é que balizarão a elaboração do Plano de Intervenção. (SEDUR/PMV, 2000, P. 4)

No Relatório Gerencial 1997/2000 da SEDUR resultante do seu planejamento

estratégico em 2000 na página 6, é registrado “que o modelo gerencial do Projeto

Terra, no qual a SEDUR pode exercitar o gerenciamento integrado, lançou luzes

para que, em outros projetos, fosse adotado o mesmo método”. Na página 8 é

aprofundado o conceito de desenvolvimento urbano, que vinha evoluindo na

prefeitura, desde a concepção do Projeto Terra.

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É registrado que conceitualmente, desenvolvimento urbano é o crescimento da

cidade no sentido de progresso, melhoria, portanto pode-se dizer que é o

acompanhamento evolutivo dos sistemas urbanos (infra-estrutura, equipamentos,

transporte e circulação) para o perfeito atendimento das demandas da sociedade.

Entretanto, a razão de ser do desenvolvimento é o ser humano, que o gera, sendo

citado no Relatório Gerencial o conselheiro do Programa das Nações Unidas para o

Desenvolvimento – PNUD, Mahbub ul Haq, quanto a conceituação sobre

desenvolvimento:

O desenvolvimento deve ter três atributo básicos: desenvolvimento das pessoas, aumentando suas oportunidades, capacidades, potencialidades e direitos de escolha; desenvolvimento para as pessoas, garantindo que seus resultados sejam apropriados eqüitativamente pela população, e desenvolvimento pelas pessoas, empoderando, isto é, alargando a parcela de poder dos indivíduos e comunidades humanas durante sua participação ativa na definição do processo de desenvolvimento do qual são sujeitos e beneficiários. E são duas qualidades indissociáveis ao desenvolvimento: ser eqüitativo e sustentável. Ambas manifestam-se na forma como se dá sua construção e na distribuição de seus resultados, entre membros das presentes e futuras gerações. Logo, a sustentabilidade do desenvolvimento é política, social, cultural, econômica e, não menos importante, ambiental, entendendo-se por ambiente os serviços e recursos naturais que dão suporte ao processo do desenvolvimento humano, no presente e no futuro. O processo de desenvolvimento que atenda estes atributos e tenha estas qualidades será denominado desenvolvimento humano sustentável (DHS). (HAQ, citado por PMV, 2000, P. 8-9).

Dentro desta linha de pensamento, buscou-se desenvolver os trabalhos da SEDUR

no âmbito do Projeto Terra e nos demais projetos e ações por ela desenvolvidos.

Até o ano de 2000, por maior que fosse o esforço para priorizar a integração de

diferentes conhecimentos e olhares sobre o território, e busca de métodos para tal,

ainda tem-se o foco no urbanístico.

O início das atividades para contratação do Plano de Desenvolvimento Local

Integrado para a Poligonal 2, no âmbito do PAT-PROSANEAR, foi exercitado pela

equipe da PMV, com o aprofundamento da discussão de metodologia do Terra e do

PAT, visando encontrar as complementaridades, o que foi realizado, através da

Unidade Gestora de Projeto – UGP, criada em atendimento as exigências do PAT,

constituindo a mesma um grupo técnico interfuncional com função tática. A

metodologia de trabalho proposta pelo PAT embasou a discussão sobre o

aprimoramento de métodos de integração dos componentes sócio-ambiental e

urbanístico, com o fortalecimento da participação comunitária em todas as etapas de

desenvolvimento do Projeto englobando do diagnóstico aos projetos executivos,

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hierarquização de ações e obras, execução das obras e implementação do Plano de

Trabalho Social.

Do Programa Habitat Brasil BID HBB foram absorvidas as etapas de implantação

dos trabalhos nas Poligonais: pré-urbanização, urbanização e pós-urbanização.

Em 2003, através do Decreto 11.740, é aprovado o novo caderno de encargos para

contratação de planos e projetos urbanísticos, incorporando os conceitos e

princípios ambientais em conformidade com as exigências da legislação para

aprovação e licenciamento ambiental.

Os aspectos sociais, principalmente para análise da qualidade de vida, também são

incorporados no caderno de encargos. Trabalha-se com o entendimento da

importância do exercício da transversabilidade para o conhecimento técnico da

realidade local, e com a importância da participação de diferentes atores sociais

locais na leitura comunitária do espaço, em suas vertentes sócio-organizativo

ambiental e urbanística.

A aprovação do Plano de Desenvolvimento Local e a priorização das obras e ações

deveriam ser pautadas pelas discussões e entrelaçamentos dos saberes técnicos e

comunitários, bem como das indicações de prioridades por parte da administração.

Os consensos resultariam no Plano de Desenvolvimento Humano Sustentável que

contemplaria diferentes ações ao longo do tempo, com compromissos, direitos e

deveres para a administração pública, para as organizações comunitárias e para os

cidadãos.

Em conformidade com os ajustes metodológicos foram elaborados no ano de 2004

os Termos de Referências para contratação de Planos de Desenvolvimento Humano

Sustentável para as Poligonais 3, 8, 10 e 12, que serão atendidas com recursos do

BNDES 2.

Na Poligonal 2 os trabalhos estão sendo desenvolvidos com recursos do

PAT/PROSANEAR.

Na implementação dos trabalhos nestas 5 Poligonais será exercitado o fluxograma

dos passos metodológicos conforme Figura 16 e com o novo caderno de encargos,

um complemento dos Termos de Referência que embasarão as contratações e

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execução dos serviços.

No nível local (poligonal) é importante registrar que no período de 2003 e 2004

foram retomados os trabalhos de mobilização social com a coordenação do

GAB/PLAN em colaboração com a SEHAB.

O nível de organização e conscientização política da população em cada poligonal

caracterizavam as singularidades na implementação do Projeto Terra.

Fica dessa experiência a importância de que em todos os níveis gerenciais ocorram

o comprometimento quanto à metodologia do Projeto Terra, em especial na

formação da rede de serviços públicos, formação da equipe ampliada e construção

de objetivos comuns, para nortearem os planos de trabalho locais, visando a

promoção do desenvolvimento humano e social sustentável e a integração das

áreas subnormais à cidade pela via dos direitos humanos.

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3.3.6 Recursos mobilizados para o Projeto Terra

A prefeitura através do Núcleo de Captação de Recursos da Secretaria Municipal da

Fazenda SEMFA/NCR, coordenação do Projeto Terra e Prefeito Municipal, somaram

esforços para captação de recursos junto ao Banco de Desenvolvimento Econômico

e Social – BNDES,.Secretaria de Desenvolvimento Urbano – SEDU, ligada ao

gabinete da Presidência da República, responsável pela seleção e aprovação de

áreas para receberem recursos no âmbito do Programa HBB (Habitar Brasil BID-

Banco Interamericano de Desenvolvimento) e CAIXA- Caixa Econômica Federal.

Logrou-se êxito com a contratação de R$ 66.474.727,18 (sessenta e seis milhões

quatrocentos e setenta e quatro mil e setecentos e vinte e sete reais e dezoito

centavos) no período de 1997 a 2004, conforme demonstrado no Quadro 07. No

mesmo Quadro pode-se identificar.os processos em andamento para captação de

recursos junto ao BNDES no valor de R$ 15.607.664,00 (quinze milhões seiscentos

e sete mil e seiscentos e sessenta e quatro reais) e Ministério das Cidades no

âmbito do PRÓ-MORADIA E PRÓ-SANEAMENTO, de R$ 8.999.605,26 (oito

milhões novecentos e noventa e nove mil seiscentos e cinco reais e vinte e seis

centavos)

Conforme depoimento da chefe do Núcleo de captação de Recursos, Virgínia

Gomes Fontes, busca-se, através da Secretaria de Assuntos Internacionais do

Ministério de Planejamento, Orçamento e Gestão a captação de recursos junto ao

BID no valor de R$ 126.000.000,00 (cento e vinte e seis milhões de reais).

É interessante o registro de Fontes em relação aos impactos que as discussões

sobre o Projeto Terra unto as fontes de financiamento acabaram causando, como

exemplo junto ao BNDES, que através de sua Diretoria Social, na época ocupada

por Paulo Hartung, criou o Programa Multisetorial Integrado.

No período de 1997 a dezembro de 2004 foram aplicados no Projeto Terra R$

110.242.438,00 (cento e dez milhões duzentos e quarenta e dois mil quatrocentos e

trinta e oito reais), conforme pode ser observado no Quadro 08, que indica os

recursos aplicados por fontes.

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Em consonância com o modelo matricial de gestão do Projeto, pode ser verificado

no Quadro 09 o orçamento previsto para o ano de 2005 por secretaria.

Ainda conforme depoimento de Fontes, espera-se que em conseguindo captar os

recursos previstos, seja concluído o Projeto Terra, em especial as obras e o

fortalecimento das ações sociais

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Quadro 07 - Recursos captados por fontes – 1997 a 2004

VALOR Assinatura CT/CV (VALORES FONTES EXTERNAS) Item PROJETO FONTE/PROGRAMA TIPO

TOTAL PMV FONTE 1997 1998 2000 2002 2004

1 Urbanização do Morro Romão/Forte São João

MPO/CEF/Pró-Moradia F

1.503.301,21

472.852,76

1.030.448,45

1.030.448,45

2 Projeto Terra BNDES/PMI F 20.000.000,00 20.000.000,00 28/12/1998

3 Projeto Terra - Urbanização do Morro Jesus de Nazareth

MPO/CEF/Pró-Moradia F 1.958.975,92 511.856,34 1.447.119,58 14/1/1998

4 Projeto Terra - Urbanização do Morro Jaburu

MPO/CEF/Pró-Moradia F 2.094.279,98 894.670,53 1.199.609,45 19/5/1998

5 ProjetoTerra - Galeria Camilo Gianordolli – Horto

MPO/CEF/Pró-Saneamento

F 451.232,87 123.550,25 327.682,61 19/5/1998

8.332.442,74 1.861.554,00

6.470.888,74

30/6/2000 6

Urbanização dos Bairros Joana D`Arc, Andorinhas e Santa Marta - Poligonal 11

MC/CEF Programa HBB-UAS

NR

13.348.365,03 4.513.479,79 8.834.885,24

7 MC/CAIXA/Pat-Prosanear MC/CEF

Programa HBB-UAS NR 1.650.000,00 750.000,00 900.000,00 5/7/2002

8 Projeto Terra 2 - Saneamento Ambiental BNDES/PMI F 14.392.336,00 14.392.336,00 2/7/2004

9 Urbanização P1- 1ª Etapa MC/CEF

Programa HBB-UAS NR 12.248.442,00 3.134.834,00 9.113.608,00 2/7/2004

10 Urbanização P1- 2ª Etapa MC/CEF

Programa HBB-UAS NR 13.278.800,51 4.049.762,66 9.229.037,85 23/12/2004

11 Projeto TERRA - Urbanização de Assentamentos Sub-normais

BNDES/PMI F 15.607.664,00

15.607.664,00 Protocolos de Intenções no BACEN - R$ 24.607.269,26

12 Projeto TERRA - Construção de Unidades Habitacionais

M. Cidades/CAIXA/ Programa Pró Moradia

F 3.120.656,88 1.556.656,88

1.564.000,00

13 Projeto TERRA - Drenagem Pluvial e Esgotamento Sanitário

M. Cidades/CAIXA/ Programa Pró Saneamento

F 9.894.506,58 2.458.901,32

7.435.605,26

TOTAL

1.030.448,45 22.974.411,64

6.470.888,74

900.000,00

35.098.978,35

66.474.727,18

Fonte: NRC/SEMFA/PMV * F – Financiamento/NR – Não reembolsável/CT – Contrato/CV - Convênio

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Quadro 08 - Recursos aplicados por fontes – 1997 a dezembro de 2004

RECURSOS/FONTES – 1997 a Dez/2004

Fonte de Recursos Valor (R$ 1,00)

Próprio 74.771.155

BNDES 22.795.576

Programa Habitar Brasil – BID 7.826.336

CEF 4.006.648

PAT-PROSANEAR 46.464

Outros 796.259

TOTAL 110.242.438

Fonte: GAB/PLAN – PMV, 2004

Quadro 09 - Orçamento do Projeto Terra para 2005 – por Secretaria

ORÇAMENTO DO PROJETO TERRA - 2005

Composição por Secretaria

SECRETARIA Fonte própria Outras Fontes Total %

GAB/PLAN 104.000,00 1.917.586,00 2.021.586,00 3,7%

SEMAS 360.000,00 590.700,00 950.700,00 1,8%

SEMOB 5.378.874,00 25.197.330,00 30.576.204,00 56,6%

SEMMAM 3.751,00 474.249,00 487.000,00 0,9%

SEHAB 8.215.010,00 9.391.115,00 17.606.125,00 32,6%

SEDEC 511.154,00 1.845.307,00 2.356.461,00 4,4%

TOTAL 14.572.789,00 39.416.287,00 53.989.076,00 100%

Fonte: GAB/PLAN – PMV, 2004

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CONCLUSÃO

As opções brasileiras por modelos de desenvolvimento que promoveram a

concentração de renda e o acirramento das exclusões sociais, e em especial as

transformações ocorridas nas áreas rurais a partir de 1964, em função da

modernização acelerada da agricultura no período de 60 a 80, impactaram

profundamente as cidades brasileiras, e em especial a cidade de Vitória e a Grande

Vitória, concentrando a pobreza em alguns bolsões no território da cidade levando a

formação e ampliação de favelas no município de Vitória, e na Grande Vitória.

No processo de democratização do Brasil foi elaborada a Constituição Federal de

1988, lançando as bases para que os municípios pudessem inovar em relação às

políticas públicas, na medida em que passam a serem reconhecidos como entes da

federação, com autonomia, sendo conferido nova matriz de financiamento, e

consagrado as possibilidades de participação dos cidadãos, ou seja, contribuindo

para o fortalecimento da democracia direta, e dos direitos iguais de todos perante o

Estado.

Diante da realidade de exclusão social extrema de segmentos da população no

município de Vitória, o Governo de Vitor Buaiz inicia em 1989 as transformações nas

políticas públicas, em conformidade com o discurso de campanha, de

democratização do poder público. Visando resgatar a dívida social resultante do

modelo de desenvolvimento em curso, são lançados novos paradigmas, dentre eles

a forma de enfrentamento da pobreza urbana, com a formulação do Projeto São

Pedro, a implementação do orçamento popular, dentre outras ações que sinalizam

para a construção de novos patamares na relação democrática entre Estado e

sociedade.

Essas inovações deparam-se com as práticas tradicionais de clientelismo,

patrimonialismo e o modelo de planejamento autoritário e centralizado, esses

aspectos são elementos que compõe a cultura do serviço público, e que são

identificados como elementos a serem alterados, para que novas formas de ação

possam fluir, já que não basta que os governantes tenham clareza e compromissos

com as mudanças, é necessário que a máquina pública seja impregnada pelos

germes da mudança, novos valores devem ser estimulados, a máquina precisa ser

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oxigenada, sempre.

As transformações na relação Estado e sociedade são buscadas e, dada a urgência

da situação precária de vida de milhares de famílias na região de São Pedro é

elaborado o Projeto para intervenção na região, no primeiro momento com foco nos

componentes ambientais e urbanísticos, dada a degradação acelerada do mangue.

No segundo ciclo do Projeto o componente social é fortalecido, espelhando as

discussões que vinham ocorrendo no país quanto à descentralização de políticas

sociais, fortalecimento das ações municipais, pela proximidade com os cidadãos, e a

necessidade de integração das políticas públicas para o enfrentamento da pobreza

urbana, considerando as múltiplas carências dos cidadãos, e não só a falta de

renda. Esse novo momento foi marcado pela busca da integração das secretarias da

área social, aprofundado as discussões quanto aos métodos de trabalho para que o

Estado fosse se democratizando progressivamente, na medida em que segmentos

da sociedade se conscientizam de seus direitos políticos e se qualificam na prática

democrática, tendo-a como essência na relação Estado e sociedade.

Ao mesmo tempo um novo olhar é desenvolvido no seio da máquina pública,

segmentos do corpo gerencial, técnico e administrativo, comprometidos com o

interesse público, entendido como bem comum, e os valores éticos na elaboração e

implementação de políticas, inauguram uma nova prática de trabalho,

reconhecendo-se enquanto cidadãos e assumindo a defesa de políticas que

promovam a cidadania e a democracia.

É dentro do velho que o novo vai sendo gestado, as diferentes visões de mundo,

entre os responsáveis pela formulação e gestão das políticas públicas, promovem

conflitos e tensionamentos constantes. Métodos e objetivos são consensados, e

consensos também não são respeitados, e assim as políticas são gestadas

resultantes do ideal-possível a cada momento, vai-se adquirindo gosto pela prática

democrática na construção das políticas públicas, e na construção de pactos

internos que promovam a eficácia, eficiência e efetividade das políticas na melhoria

das condições de vida dos munícipes.

A continuidade e qualificação das políticas públicas é uma necessidade para a

modernidade da gestão pública, a administração municipal em Vitória vem desde o

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ano de 1989 buscando concretizar suas ações pautada nesta linha. Apesar de anos

de experiência os sucessivos modelos gerenciais e os ajustes nas metodologias de

trabalho, deixam claro que para mudar a cultura institucional deve-se incentivar as

mudanças individuais, a incorporarem novos valores, que possibilitem novos olhares,

e novos compromissos em defesa da democracia.

Em todos estes anos de experiências com projetos multissetoriais integrados ainda

se verificam problemas internos, e choques entre setores que já deveriam ter

assimilado métodos que possibilitassem trabalhar de forma conjunta, ou seja,

integrado, com gestão compartilhada e consensada, sendo, portanto um dos

grandes desafios para o corpo gerencial a continuidade nas mudanças da cultura

interna, de forma a possibilitar o exercício de uma nova ética, pautada no

compromisso com a função social do servidor público.

Ainda, os mecanismos de participação direta da sociedade ainda não estão

consolidados.

No nível institucional a mudança cultural é um desafio grande, e no seio da

sociedade também, as relações clientelísticas devem ser melhor estudadas pelos

agentes públicos, pois limita a emancipação política do cidadão, e fragiliza a

interlocução entre Estado e sociedade numa perspectiva democrática, também deve

ser melhor pesquisado a realidade organizativa dos movimentos sociais, que

passam a serem chamados para discutirem políticas públicas e desenvolvimento

local, para além da realidade do bairro. Para fazer frente a estes desafios a

capacitação continuada de técnicos e cidadãos é de fundamental importância.

Nas referências empíricas registradas São Pedro e Projeto Terra, observa-se que,

na medida em que as ações evoluem, fica fortalecido no âmbito institucional o

entendimento quanto a necessidade de trabalhar com foco no desenvolvimento

humano sustentável, tendo o território delimitado como unidade de planejamento e

ação. Quanto ao fortalecimento da participação cidadã é necessário o entendimento

que a mesma pode ser qualificada e fortalecida na prática democrática, se existir

uma vontade política forte por parte dos dirigentes do poder público, e a forte

determinação da autoridade máxima do poder executivo municipal.

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A metodologia do Projeto Terra, com todos os seus ajustes buscou propiciar o

desenvolvimento local sustentável, chamando a população para discutir seu bairro a

Poligonal e a cidade, ou seja, aprofundar as discussões de políticas públicas.

Os Projetos em estudos ousaram inovar na formulação e gestão de políticas

públicas, concebidas em nível local, mas tendo como referência as tendências

globais, em conformidade com as diretrizes de pensar globalmente e agir

localmente.

Como referência para demonstrar o efeito da continuidade das políticas, registra-se

que em 1990 quarenta e sete mil pessoas viviam em moradias insalubres nas áreas

de mangue, e no período compreendido pela execução do Projeto São Pedro e

Projeto Terra, ou seja, de 1988 a 2004, foram removidos 100% das palafitas e

reassentados seus moradores, varias outras melhorias podem ser também

identificadas como a redução da mortalidade infantil, a melhoria no nível

educacional, a implantação de equipamentos públicos, a melhoria na prestação de

serviços para as comunidades menos favorecidas. Porém persiste ainda a

necessidade de realizar obras de reurbanização principalmente para as áreas de

morros, contemplando: infra-estrutura, equipamentos públicos, remoção de

moradores de áreas de risco, fortalecimento das ações de promoção social e

emancipação política.

A violência urbana rebate nos territórios segregados socialmente, contribuindo para

o aumento do número de mortes violentas em especial para os jovens na faixa etária

de 14 a 25 anos. Esse é atualmente o maior desafio a ser enfrentado pelo poder

público e sociedade civil, em defesa da vida.

As avaliações da efetividade e impacto das políticas públicas não estão

incorporadas na cultura política das organizações públicas no Brasil. Apesar desta

constatação para o Projeto Terra, foi buscado realizar os diagnósticos para nove

Poligonais demarcando o momento zero de partida dos trabalhos.

Em 2004 foi elaborado o índice de Qualidade Urbana – IQU, com base nos censos

de 1991 e 2000, demonstrando ser um método interessante. Porém os anos em

questão, pelo distanciamento entre o início do Projeto Terra 1997 e a maior parte

das intervenções físicas e sociais terem ocorrido entre 2000 e 2002, promovem

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distorções na análise das possibilidades de influências do Projeto Terra no território.

É importante que o Projeto Terra seja avaliado por equipe externa à PMV com o uso

de metodologia para análise dos impactos no nível institucional e no âmbito da

sociedade atendida diretamente pelo Projeto.

Nesse momento em que uma nova administração está chegando à prefeitura de

Vitória, cabe registrar que a riqueza das ações do poder local estão em sua fase de

amadurecimento e, a julgar pelos registros de experiências locais em outros

municípios, Vitória encontra-se no momento da síntese de sua trajetória histórica,

onde o fortalecimento da participação cidadã deve ser o alvo para a gestão

democrática, e a continuidade e qualificação das políticas públicas deveria continuar

sendo entendida como uma excelente prática de gestão.

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BIBLIOGRAFIA

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ENTREVISTAS

Valéria Andrade Latavanha. Assistente Social. Coordenadora da Área Social do Projeto Terra.

Madalena de Carvalho Nepomuceno. Economista. Gerente Executiva do Projeto Terra, no período de 1997 a março de 2003.

José Carlos Neves Loureiro. Arquiteto da PMV. Assessor Técnico Projeto São Pedro e Projeto Terra.

Virgínia Fontes Gomes. Chefe do Núcleo de Captação de Recursos da SEMFA/PMV

Maria de Lourdes da Silva Oliveira. Chefe do D.P.U. no período de 1998 a 2003 e atual assessora da SEDEC.