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MARIÁ

Maria

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História de uma mulher que conseguiu ter paz e felicidade, através do perdão e valores como amizade, oração e família. Resgate da história de pessoas simples do cerrado Mineiro.

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MARIÁ

História de uma mulher que conseguiu ter paz e felicidade, através do

perdão e valores como amizade, oração e família.

Todos os direitos reservados. A reprodução não autorizada desta publicação, no todo ou em parte,

constitui violação de direitos autorais (Lei 9.610/98)

HOMENAGEM Waldeviro Theodoro dos Anjos – Um exemplo de pai

In Memorian

CAPA Wesley Silva dos Anjos

APOIO

FEEDBACK INFORMÁTICA Rua Dom Silvério 81 Araguari MG Centro 38440

0xx34 3241 2407 www.feedbackari.com

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Wesley Silva dos Anjos 0xx34 8861 4771

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História de uma mulher que conseguiu ter paz e felicidade, através do perdão e valores como amizade, oração e família.

A reprodução não autorizada desta publicação, no todo ou em parte, s autorais (Lei 9.610/98)

Um exemplo de pai

1ª. Edição

Rua Dom Silvério 81 Araguari MG Centro 38440-060 www.feedbackari.com

Araguari MG Bosque 38446-006

Família, um lugar de amor. Cônjuge, um amor escolhido.

Filhos um amor incondicional e sem limites. Amizade uma forma de demonstrar amor.

PERDÂO a ponte para o AMOR.

AMOR o único caminho para a FELICIDADE.

AGRADECIMENTOS

Agradeço a DEUS pela vida e inteligência bem como a oportunidade de

ter convivido com uma pessoa tão especial que é minha mãe. Diversas

histórias vividas de muito amor e confidências. Considero-me um

grande amigo de Maria. Aprendi a superar dificuldades com paciência e

perseverança com valorização das pessoas principalmente com o

convívio prematuro de homens e mulheres mais experientes. Como

companheiro inseparável das histórias de Maria, somente tenho que

agradecer esta oportunidade de agora estar relatando um pouco da vida

desta excepcional mulher.

Agradeço a minha querida esposa Ligia por ter me incentivado na

construção desta obra. Agradeço e peço desculpas a meus filhos,

irmãos, amigos, vizinhos, genro, nora e netas, que sem às vezes saber

não puderam compartilhar da minha presença em alguns momentos.

Agradeço a todos os meus tios e primos que de certa forma fazem parte

da história deste livro e que a cada encontro valorizamos ainda mais o

sentido de família.

Não poderia deixar de agradecer ao homem que me ensinou a viver a

vida de uma forma única, com alegria e bom humor. Meu amado pai,

Waldeviro Theodoro dos Anjos ou VIVI, que acredito tê-lo honrado

tanto como filho como amigo.

Esta é uma obra adaptada à realidade de uma época e

qualquer nome, local ou contextualização comparada com a realidade é mera coincidência.

A obra foi realizada conforme diversos depoimentos de

pessoas que se envolveram de forma direta ou indireta com a imaginação do autor. A coletânea destas informações vem demonstrar a força de uma mulher que adotou o amor, a oração, o perdão e a amizade para amenizar um pouco seu sofrimento e suas angústias. Mostra que observando as ações de outras pessoas à nossa volta podemos aprender a errar menos e tornar este mundo um pouco melhor.

Cenas e fatos estão relacionados para demonstrar as fases da vida de uma geração de pessoas que adotaram decisões ímpares para superar seu sofrimento obtendo resultados diferentes.

Nesta obra alguns valores como família, amizade, perdão, ação, trabalho e perseverança denotam o perfil dos personagens. A busca pela felicidade é constante nos personagens fazendo com que cada um deles tenha uma decisão diferente durante a narração e por consequência um destino proporcional à sua decisão. A personagem principal analisa toda uma trajetória de seus familiares e se vê em uma situação de decidir qual caminho seguir. Procurou o caminho do perdão e da doação acreditando que aliviaria mais seus sentimentos e se sentindo mais leve com sua consciência.

Acredito que muitos irão apreciar esta obra como um elo

de sua época e de seus antepassados e por isto relacionei fatos históricos de uma região que foi marcada por fortes personagens. Praticamente é uma narração verbal que veio passando de geração em geração e chegou até o autor que decidiu documentá-la.

Boa leitura.

O autor

CONTEXTUALIZAÇÃO

O autor conhecendo algumas histórias vividas e ouvidas da vida de Mariá acredita que para demonstrar que as decisões tomadas por ela ao longo de sua vida foram consideradas benéficas, ele compara as realizações, a paz de espírito e a felicidade encontrada por ela com as decisões em que outros personagens de seu relacionamento adotaram. Essas decisões outrora resultaram em tragédias, pessoas magoadas e muitas das vezes não atingindo o objetivo esperado: a felicidade.

Vários personagens da história da vida de Mariá são de épocas anteriores à sua geração e a falta de documentação comprobatória da genealogia de sua família fez com que o autor adaptasse a obra buscando uma genealogia dedutiva. A família de Mariá possui traços que não são apenas da raça branca. Seu pai era descendente direto de europeus, mas é notória a miscigenação porque sua mãe era de cor avermelhada, estatura mediana, lábios delgados e cabelos bem lisos. O autor se baseia nas características de cada raça para determinar a fonte da miscigenação dos antepassados de Mariá.

As características da raça negra:

• Cara pequena, um tanto quanto achatada, testa alta e reta, olhos grandes, cor castanha escura, nariz chato, lábios grossos, estatura variada, membros inferiores longos.

Características da raça branca:

• Pele entre clara e quase chocolate, com uma coloração rosada nas faces, cabelo mole, ondulado ou liso com várias colorações desde louro ao negro, testa reta, face ortognata, olhos horizontais, castanhos ou claros, nariz afilado, lábios delgados, queixo mediano;

Características da raça Indígena:

• Pele morena ou avermelhada, olhos e cabelos pretos e lisos, estatura mediana baixa e aspectos fisionômicos de mongóis.

A raça mongoloide:

• Possui a cor da pele mais clara, cabelos negros e lisos e olhos nem tão escuros, os cabelos menos duros, lábios delgados e rosto grande e chato.

Alguns irmãos de Mariá possuem cor avermelhada com nariz afilado e lábios delgados e de estatura mediana. Conforme estas comparações físicas aliadas aos comentários de familiares terem contado histórias não documentadas de que existia uma origem indígena, o autor identifica a origem da miscigenação com a mistura da raça branca e indígena. Liga fatos históricos à família de Mariá integrando as histórias contadas com a sua realidade.

Raças Humanas: http://www.coladaweb.com/geografia/racas-humanas

CENÁRIO Esta obra relata as diversas histórias que Mariá conta para suas bisnetas em um rancho, na região do cerrado mineiro. Ao chegarem ao rancho à beira do lago do rio Paranaíba, as suas bisnetas já pegam um lençol, sentam debaixo de um pé de ipê amarelo ou de uma frondosa árvore de flamboyant, bem espaçoso e com uma grama esverdeada e pedem para sua bisavó contar as histórias de sua vida e de seus antepassados. Mariá conta que seu avô contava belas histórias para ela quando era criança. O avô de Mariá contava também que sua avó também fazia da mesma forma com ele, ou seja, sentava debaixo de uma árvore e contava histórias de seus familiares. Mariá comenta com suas bisnetas que elas também irão comentar com seus futuros netos repetindo o bom hábito da leitura e da comunicação entre gerações em uma família. Portanto para se situar melhor temos: As bisnetas ouvem histórias de Mariá 2014 Mariá ouve histórias de seu avô 1940 O avô de Mariá ouve histórias de sua avó 1814 A bisavó de Mariá ouve histórias de sua avó 1889 Neste cenário de histórias de uma família, cronologicamente o autor procura mostrar ao longo do tempo toda uma geração de pessoas que através de suas vidas influenciaram Mariá nas suas decisões.

A partir de 1889 as fotos são de seus respectivos personagens. As outras são apenas fictícias. Este quadro foi criado para tentar demonstrar as gerações de Mariá.

PEQUENA CRONOLOGIA

Tarde de outono, em um pequeno rancho de seu filho às margens de um lindo lago de águas cristalinas, o sol se pondo na serra ao fundo e Mariá sentada com suas bisnetas contando histórias. As meninas não param de interrompê-la. Elas não entendiam como as histórias que sua bisavó contava, se conectavam porque as histórias que escutavam eram de diversas épocas. Mostro a árvore genealógica que seu filho tinha confeccionado para elas conseguirem encaixar as histórias e a vida de cada personagem. A árvore possui diversas ramificações sendo que um dos detalhes da árvore genealógica mostra em linha direta a descendência de Mariá. Filha de Agda e João Augusto Neta de Antônio Camilo e Maria Cândida Bisneta de Agda e José Camilo. Agda que casou com José Camilo e é filha de Pitanga. Pitanga filha de índia e filho de Bandeirante que ficou na região

do cerrado Mineiro denominada antigamente como região da farinha podre.

A tataravó de Pitanga é filha de uma família indígena que viveu na época dos Bandeirantes. As bisnetas ficam admiradas em tanta informação e tentam encaixar as histórias de cada época. Com este mapa e a árvore genealógica na mão Mariá começa a contar:

Muito tempo atrás veio para a nossa região vários homens em busca de ouro e fortuna. Eles eram chamados Bandeirantes. Aqui viviam tribos indígenas que se assustaram com a presença e ambição dos Bandeirantes. Com o desbravamento da região foram trazidos para trabalhar escravos que os índios também não entendiam este tipo de relacionamento social. Um dos filhos de um dos bandeirantes ficou na nossa região e se casou com uma linda índia. Eles tiveram uma filha que batizaram com o nome de Pitanga por causa de sua cor avermelhada. Esta índia vivia na região e seus descendentes presenciaram a invasão dos bandeirantes e a luta entre negros e brancos por liberdade e poder. Diversos personagens da história da região da farinha podre marcaram as vidas de nossos antepassados. Veja bem: Vocês sabem que tenho cinco filhos e um deles é o avô de vocês, o vô Egi. Minha mãe casou com João Augusto e seu pai que é o meu avô, gostava de contar histórias de sua família para mim. Do mesmo jeito que estou fazendo agora com vocês. Meu avô era filho de José Camilo e de Agda que era filha de Pitanga. A mãe de Pitanga era uma índia nativa da região. Uma das meninas interrompe: - Pitanga era a menina do Ipê que conheceu o índio Afonso? Eu respondo com toda a paciência. - Sim, isso mesmo. Lembram-se da dança que ela fazia na noite de lua cheia para Putuá? E continuava... Pitanga era uma mulher muito bonita que nasceu do amor de uma índia e Pedro, que era filho de um bandeirante. A avó, bisavó e tataravó de Pitanga ao longo dos anos vêm contando as histórias de suas vidas de geração em geração. O que estou contando para vocês é um pouco da vida de nossos antepassados que conheci através das histórias de meu avô. Acredito que vocês também vão querer contar para suas netas e filhas. - Onde estava mesmo... Ah..sim... A história da carta. E continuava.

AS HISTÓRIAS

SANATÓRIO - SOLIDÃO NA MULTIDÃO

EM BUSCA DA FELICIDADE ATRAVÉS DO CASAMENTO

- Estava vivendo um momento difícil porque todos à minha volta estavam felizes e eu estava muito triste. Era um cenário muito constrangedor. De imediato uma das bisnetas interrompe: Como assim: Um cenário constrangedor. E continuo. Em uma manhã: Muita felicidade Era junho de 1970, ano de glória para o Brasil. Tri campeão mundial de futebol realizado no México, no estádio Azteca, final Brasil x Itália. Assistimos na casa de minha cunhada. Apesar de ser um engodo para o povo brasileiro que passava por uma ditadura militar, o circo estava montado. Eu, Maria, tinha 32 anos, todos diziam ser uma bela mulher, casada há mais de uma década, mãe de cinco lindos filhos, morando na bela e promissora cidade de Araguari no Estado de Minas Gerais. Cidade que montou o primeiro time de futebol feminino no Brasil. Tinha uma prima que jogava neste time. A revista CRUZEIRO no seu auge. Muita música romântica principalmente com Roberto Carlos, os Beatles e Ray Charles. Depois de diversas dificuldades para estabilizar financeiramente minha vida de casada, enfim uma vida mais tranquila. Outra manhã: Muita solidão e tristeza: Tive uma crise de nervos que me levou a ser internada em uma clínica de repouso. Não via saída para minha vida. Todos felizes a minha volta e eu praticamente perdida. Tudo iniciou porque ao desfazer a mala de viagem de meu marido achei uma carta romântica endereçada a ele. Meu mundo desabou. Minha raiva foi extrema e fui atrás da verdade. O pior ocorreu, a carta sumiu. Não havia carta, mas eu tinha certeza que tinha lido a carta. Mas a confirmação do fracasso de um relacionamento era nítida. O fim de um casamento com mais de 10 anos.

Beleza, sexo, diversão, intimidade, companheirismo. Onde tinha errado. Entreguei-me, me anulei para a família. Fui fiel. Fui temente a DEUS. Fui fértil com uma prole sadia. Onde tinha errado. Não era dinheiro, pois estávamos com uma situação controlada. Onde tinha errado.

A foto é como parar o tempo para podermos relembrar e matar saudades.

Fui pedir ajuda e ninguém sabia o que eu estava sentindo e passando, às vezes não me compreendiam. Isto tudo só fazia com que eu ficasse mais reclusa e interiorizada. Em consequência disso o resultado foi discussões e crise nervosa. Só ficava chorando porque não encontrava resposta para minhas dúvidas e não enxergava saída para minhas angústias. Como poderia sair de um casamento onde dependia financeiramente de meu marido para cuidar de meus filhos. A sociedade de uma cidade do interior na década de 70, no Brasil era preconceituosa. Minha família, como reagiria? Muitas dúvidas, muitas noites sem dormir. Ao acordar me vejo em outra cidade. Apenas um pequeno intervalo de tempo e o pior. Fui internada em um sanatório. O mais famoso de São Paulo era o Sanatório Juqueri que foi criado para recolher os psicopatas e loucos paulistas. Este Sanatório ficava na cidade de Juqueri, hoje Franco da Rocha no estado de São Paulo. Porém fui para Ribeirão Preto, no Sanatório Esquirol que foi criado para desafogar o Juqueri e inserir doentes pobres de Ribeirão Preto. O cenário era triste porque acreditavam que estava louca ou estavam querendo que eu ficasse. Os médicos que atendiam eram do Hospital Santa Tereza. Os médicos dificilmente apareciam prova detectada pelas poltronas que sempre ficavam empoeiradas demonstrando pouco uso. Fiquei preocupada porque ao meu lado diversas mulheres, nuas, ou com roupões curtos e grossos com a logomarca do sanatório. Muitas descalças, muita sujeira. Pedíamos para que as lavassem e colocassem roupas nas pacientes, mas em vão. No almoço era mais difícil, o cheiro de urina e fezes inundava o ambiente. Ânsia de vômito me impossibilitava de almoçar. Mais uma vez crise nervosa porque ninguém me ouvia. Todo dia procurava ser atendida por um médico para explicar que não estava louca e sim desesperada pelo meu casamento ter acabado e não conseguia achar saída para minha situação.

Era dependente financeira e não podia abandonar cinco filhos. Minha família não me entendia e as amizades que tinha poderiam me julgar como uma mulher abandonada que surtou. Realmente minha autoestima estava muito baixa porque não sabia como agir diante de uma rejeição como mulher e esposa, meu chão desabou. Todos me falavam para acalmar que tudo daria certo. Acredito que não sabiam o que estava passando. Aprendi que é fácil saber as respostas quando não se importa com as perguntas. Começo a gritar e bater na grade para ser atendida porque queria ver meus filhos ou conversar com minha mãe. As enfermeiras me dominavam e eu não conseguia sair e perdia as forças e mais uma vez me vejo dopada. Toda vez que me dopavam sonhava profundamente. Sonhos que eram lembranças de histórias às vezes de amor, de terror, de furor, de alegria e muitas vezes de esperança. Acordava mais calma não sei se pelo remédio ou pelas lindas histórias que eu relembrava contadas pelo meu avô. Via-me fortalecida ao saber que meus antepassados sobreviveram às situações difíceis que vivenciaram e foram felizes. Sentia alegria e força e ao mesmo tempo uma saudade enorme de meus filhos e de minha mãe. Lembro-me de meu avô contando lindas histórias como um sonho.

HISTÓRIAS DE AVÓ CONTADA POR UM AVÔ

A BUSCA DE DINHEIRO PARA ALCANÇAR A FELICIDADE Em uma poltrona coberta por uma colcha de retalhos, acariciando meus cabelos, meu avô Antônio, saudoso começa a falar sobre sua infância... “...Sinto saudades de ouvir as histórias da minha avó, Pitanga. Ela me contava histórias de índios, amores eternos e também de tragédias. Uma boa história é a do Anhanguera. Ela me disse que o famoso Anhanguera obteve este nome por encantar os índios colocando fogo em um prato de pinga. Ao ver as índias adornadas de ouro queria saber onde extraiam o metal precioso. Sem sucesso, ameaçou a tribo dizendo que colocaria fogo nos rios e nascentes se não contassem o local da jazida. Os índios viram que o fogo acabou com a água (pinga) e se ele colocasse fogo no rio, o rio poderia secar. Com isto, o Bandeirante, descobriu o local da jazida de ouro e ficou conhecido como Anhanguera que significava na língua indígena “o Diabo Velho”. Quem contou para minha avó estas histórias foi a sua avó que tinha parentes que diziam ter conhecido o fato. Estas histórias de índios me encantavam porque seus olhos brilhavam ao contar como estivesse participado. Contava ela.... “..com a escassez de ouro e diamantes em Minas Gerais, em meados de 1722 bandeirantes chefiados por Bartholomeu Bueno da Silva Filho, filho do anhanguera, iniciou a estrada do Anhanguera ligando São Paulo ao Planalto Central com destino a Goiás. A região que os bandeirantes desbravaram era conhecida como Sertão da Farinha Podre que era ocupada por índios Caiapós e diversos quilombos...” Toda vez perguntava as mesmas coisas e ela repetia com toda paciência e carinho. - “O que é quilombo mesmo, vó”? - “Quilombo”. Ela respondia: “..é um reduto de escravos que fugiam ou eram alforriados.” - “Alforriados eram os negros que recebiam a liberdade. Não é vó”. Afirmava apenas para ver os olhos dela felizes por saber que eu estava prestando atenção em sua história.

Ela falava que onde morávamos existia uma tribo de índios caiapós, e sempre repetia que se escrevia com a letra K (Kayapó), e que significa: “homens do poço d´água” ou “homens parecidos com macacos”. Isto porque eles dançavam como se fossem macacos e colocavam máscaras. Era muito intrigante o conhecimento da minha avó, parecia que ela realmente viveu as histórias e falava com muita autoridade e dava exemplos de seus parentes e amigos que participavam das histórias. Ela me explicou que Farinha Podre era o nome dado à região que morávamos proveniente do costume dos viajantes amoitarem sacos de farinha nos galhos das árvores no sertão devido ao peso e ao retornarem aproveitá-las. Como muitos não voltavam ou esqueciam o saco: a farinha apodrecia. Lembro que toda vez que passava debaixo de uma árvore procurava um saco de farinha. Continuava ela.... “..a região foi anexada à capitania de São Paulo e em 1748 foi anexada à capitania de Goiás recebendo o nome de Julgado do Desemboque. Nome falado aos indígenas pelos bandeirantes querendo dizer: desocupem o emboque de ouro e o desemboque dos bandeirantes.” Ela falava da dificuldade dos bandeirantes na penetração entre o rio Grande e rio Paranaíba principalmente por causa das histórias da resistência dos quilombolas (nome dado ao escravo refugiado em quilombos) e dos índios. O Rio Grande divide o Triângulo Mineiro de São Paulo e o Rio Paranaíba divide o Triângulo Mineiro de Goiás. Duas histórias que mais gostava era a do Negro Ambrósio e do Índio Afonso. Negro Ambrósio que no quilombo era considerado um Rei. Continuava a contar de modo manso até eu adormecer.

INDIOS – BRANCOS - NEGROS EM BUSCA DA LIBERDADE PARA BUSCAR A FELICIDADE “....de manhã o povo do Quilombo de Ambrósio (Região de Cristais -MG-1746 contada em 1759 no Quilombo do Parnaíba - Patrocínio MG) foi cercado por diversos homens sem ter sido alertada porque os espias do quilombo haviam sido mortos por embosca. Um holocausto, mães que amamentavam eram mortas e os estilhaços machucava as crianças em seu seio desnudo. Clarins anunciavam mais alvoroço. Ambrósio ao perceber que não havia chance de vitória e a derrota seria eminente recolheu seu povo realizando um sacrifício coletivo. Seus comandantes degolavam os quilombolas para que não fossem capturados e feitos escravos novamente. Ambrósio vestia uma casaca com botões de ouro e do alto via seu povo ser sacrificado. A prima de sua bisavó Itatita, que não era negra conseguiu fugir dos comandantes de Ambrósio e avisou a tropa que ao tomarem conhecimento do fato, deixaram de recolher seus mortos e foram evitar a tragédia. O comandante da tropa ao avistar Ambrósio no topo de um morro, olhou bem nos olhos do negro e viu que a liberdade não tinha preço e que Ambrósio não era apenas um negro escravo e sim um verdadeiro rei de um povo que acreditava na liberdade. Ambrósio era considerado um grande pai e fazia de tudo para ajudar outros escravos a fugir e a se alforriar. A felicidade inicia na liberdade tanto de expressar sentimentos e gerar movimentos para que estes sentimentos possam serem vivenciados. Diziam que conseguia dinheiro para ajudar comprar outros escravos e libertá-los..pois tinha uma visão mais bonita do mundo que vivia”. Sempre interrompia minha avó para perguntar se apenas os brancos dominavam os negros com tamanha injustiça e ela me contou que nem sempre era assim. Lembro que ela me contou da tragédia que ocorreu pela vingança dos negros.

“...por volta de 1736 quando os bandeirantes ultrapassaram a Serra da Pratinha ganhando o vale do Rio Uaimii, rio das Abelhas e rio das Velhas, que atualmente é chamado de Rio Araguari, um tal de Guarda-Mor de nome Feliciano resolveu ficar na cabeceira do rio Araguari em busca de ouro e fundou uma currutela de nome Arraial do Tabuleiro. Neste ano o arraial foi atacado pelos quilombolas (negros de quilombos da região) e índios Caiapós e Araxás sendo um grande massacre para retomada da região. Ela comentava que diversos amigos seus conseguiram escapar do massacre se escondendo atrás de cachoeiras, escondendo em buracos. Ela dizia que sua família convivia bem tanto com os brancos, negros e indígenas...“ Ela sempre falava que os homens não se entendiam muito bem. Sempre queriam ouro e explorar o próximo. Nunca entendi como poderiam ser felizes em uma terra sem paz. Décadas depois nasce a avó de minha avó, por volta de 1789 que convivia com a briga entre brancos e negros. Com muita vitalidade e fertilidade tem uma linda menina que gostava de andar ao pôr do sol para admirar o sol nas frestas dos ipês. O movimento de bandeirantes era intenso, proporcional à violência entre os homens e nesta época Pedro, seu antepassado deixou as Bandeiras porque não concordava com as matanças e a busca frenética por ouro e diamantes, sendo que iniciou a caminhada pela aventura e o conhecimento das exuberantes matas. Pedro sempre dizia que a briga por terra entre brancos e negros era medíocre porque os índios eram os detentores da terra. O certo era branco e negro pegar as malas e ir embora. Também a época era uma mistura de religiões onde havia divergências e contos intrigantes. Uma vez minha avó me contou que um vigário que estava de viagem certa noite ao redor de uma fogueia contou a história da hóstia abençoada...

HISTÓRIAS RELIGIOSAS

“...em uma igreja de Nossa Senhora do Rosário, em 1814 na festa da Anunciação e Encarnação, um feiticeiro negro comungou e tirou a hóstia da língua e guardou-a na camisa. Ao perceber que diversos fiéis viram o que tinha feito, começou a correr. Os fieis pensando que o feiticeiro faria algum feitiço com a hóstia correram atrás do negro gritando.. - “Sacrilégio..Peguem o feiticeiro..” O negro fugiu para a mata e todos ficaram preocupados com o destino da hóstia, principalmente porque tinham medo de feitiço e do castigo de Deus por não terem cuidado da segurança da hóstia consagrada representando o “Corpo de Cristo”. Passado alguns dias um pastor notou um agito nas ovelhas e ao verificar o que estava acontecendo viu a hóstia pairando no ar sobre um capinzal. Ela estava intacta e pura. Apesar do tempo seco e poeirento a hóstia continuava branca e límpida com uma luz brilhante ao seu redor. O pastor correu para avisar o vigário da paróquia que foi recolher a hóstia. Ao recolher a hóstia em uma âmbula de ouro, uma multidão de fiéis e de animais acompanhou a chegada da hóstia na igreja Matriz. Uma grande procissão todos os anos caminha para a Matriz em busca de milagres. Dizem que nunca mais o feiticeiro foi visto, mas a procissão continua até hoje. Alguns dizem que este negro esteve na nossa região pregando e evangelizando seu povo. Boa mesmo era as histórias de índios. Nestas nunca dormia por isto ela não contava tanto. Mas uma eu nunca me esqueço do famoso índio Afonso...

ATITUDES QUE ATRAPALHAM A FELICIDADE “...índio Afonso era um protetor das terras de seus antepassados e caçava para alimentar seu povo bem como evitava que seus irmãos fossem escravizados pelos brancos. Um dia quando voltava da caça para sua aldeia ficou sabendo que sua irmã foi agredida e estuprada por um homem branco da milícia. Foi atrás do agressor e vingou a sua irmã. Porém era gente influente e a partir daí diversas emboscadas foram realizadas para capturar índio Afonso. Exímio nadador, contam que ele atravessava os rios em toda sua extensão nadando principalmente de noite e quando acuado em terra firme se transformava em pedra ou cupim impossibilitando sua captura...” “... na época da colheita da mandioca índio Afonso ia para a aldeia para dançar com seus parentes. Minha avó, contava que dançavam até Putuá dormir, que significava até a lua se esconder, ou seja, na manhã do outro dia...” Ela me contava diversas histórias de pescarias, onças pintadas, lobos guará, tatus. Todo final de semana corria para o colo dela para ficar ouvindo suas histórias. Principalmente que eram histórias do local que eu brincava e vivia. Muitas das vezes minha avó ficava observando um pé de Ipê amarelo ao entardecer e ficava com os olhos distantes. Chegava perto dela e ela colocava a mão em um de meus ombros e com a outra mão colocava o dedo na boca e dizia: - Psiiiii... – queria silêncio para ouvir o tempo. E depois continuava... Ela lembra que pensava que encontraria um dia o Índio Afonso porque sempre passeava na beira do rio ao entardecer. Isto foi por volta de 1850. A mãe da minha avó nasceu em meados de 1814, época das mulheres destemidas e poderosas. Gostava também das histórias de amor. Lembro-me da história da formiga que nada tinha a ver com o inseto, mas uma linda história de amor e que ocorreu com a vizinha de minha avó. Dona Beja como era conhecida gostava no final da tarde contar suas histórias, tanto políticas como pessoal. Sua história é muito bonita e minha avó contava que Beja falava saudosa e chorosa, ao contá-la...

A BUSCA DA FELICIDADE ATRAVÉS DAS PESSOAS

Dona Beja conta para minha avó...

“...nasci em Formiga Minas Gerais, em 1800. Meu nome é Ana Jacinta de São José ou Dona Beja como dizem por aí. Acho que muitos não conhecem minha história por isto tem medo de mim. O apelido que ganhei é porque quando me apaixonei meu noivo me comparava a uma flor de Beijo por que me achava linda, e este apelido é um dos meus maiores patrimônios e que carrego comigo. Acho que eu era bonita mesmo pois as moças tinham inveja e ciúmes declarados. Mudei com minha família para Araxá e adolescente me apaixonei por um fazendeiro que me tornei noiva. Nesta época o império Português tinha muito poder sobre a população e um ouvidor me raptou pois ficou deslumbrado com minha beleza. Bibo como eu o chamava era muito engraçado pois vestia roupas muito desajeitadas mas eram de acordo com seu cargo.

Vivi um desespero porque estava apaixonada por um homem e fui raptado por um homem poderoso. Tinha que obedecer porque nós mulheres nesta época éramos muito submissas. Depois de dois anos Bibo voltou para Portugal me abandonando.Para mim foi um alívio pois poderia voltar para os braços de meu noivo. Mas o pior aconteceu. Uma das minhas maiores decepções foi saber que meu noivo não me esperou e se casou com uma magricela da cidade. Aí que foi difícil pois a cidade me hostilizou pensando que eu tinha seduzido e fugido com Bibo não me enxergando como vítima.

Por vingança de meu noivo e das mulheres que me repudiaram me prostituiu com os maridos das mulheres da cidade. Minha fama correu toda a região e o dinheiro veio por consequência. Sempre fui apaixonada pelo meu ex noivo, mas meu plano de vingança foi ruim só para mim pois não consegui que ele voltasse para mim.

O pior veio mais tarde quando meu noivo morreu. Acusaram-me de ter mandado matar minha grande paixão.

Veja minha situação, sem meu amor, repudiada pela sociedade e acusada de tê-lo matado. Fui julgada e fiquei livre. Agradeço a grandes amigos por terem me ajudado a sair desta situação porque sem a ajuda deles estaria presa até hoje.

Não tinha mais condição de ficar em Araxá, como a região aqui era promissora e rica, resolvi comprar fazenda na região aqui de Bagagem. Fiz questão de construir esta casa perto do chafariz para lembrar minha infância em Araxá e é por isto que toda tarde fico aqui te esperando para conversarmos. Isto me faz bem.

Minha amiga lembre-se que a vingança não trouxe meu amor de volta e sim me afastou cada vez mais dele. Tome cuidado com suas ações porque alguns valores são muito mais importantes que a fortuna.

“....

Minha avó ficava preocupada com Beja porque as pessoas não entendiam sua maneira de pensar.

Comentava também que as pessoas viviam muito isoladas sempre com a família e quando se encontravam viviam intensamente suas paixões. As barraquinhas da igreja eram a oportunidade de arrumar casamento ou quando passava alguma tropa de gado ou de viajantes.

A ORIGEM DA MISCIGENAÇÃO

AMOR- ESSÊNCIA DA FELICIDADE - Elimina as diferenças

A história mais bonita que eu nunca esqueço é a de Itatita. Ela contava as histórias e elas iam se emendando porque tudo era na mesma época e na mesma região além de nomes repetidos, e ela sabia falar mansamente parecendo que estávamos presenciando a cena. Nesta história ela até mudava a voz e falava como se fosse um romance e cheio de poesia. “...fim de tarde, pôr do sol deslumbrante, silêncio ensurdecedor e ao pé de um lindo Ipê amarelo no magnífico cerrado mineiro descansava um dos filhos de bandeirantes. Seis da tarde e do nada aparece um semblante encantador na frente dos olhos fitos do rapaz. Moço que não quis acompanhar a jornada de chegar à Goiás. Todos o conheciam como Pedro. Ficou para trabalhar nas fazendas da região porque não aceitava a violência contra negros e índios na busca frenética por ouro e diamantes. Pacífico e de alma serena, porém em um local sendo desbravado com muitos perigos eminentes e que o deixava sempre alerta. Muitos animais como onça, cobras ou pessoas como índios, negros que fugiam para quilombos aliada a uma flora exuberante compunham o cenário da vida desde jovem rapaz. Final da primavera, calor que provocava uma brisa morna ao entardecer. A sua frente sem perceber uma linda menina que se destacava pela forma escultural de mulher. Foi inevitável a atração. Silêncio absoluto. Sentia-se um perfume que exalava dos corpos dos dois jovens. Corria na veia e no suor a vontade desenfreada de se tocarem. Dois jovens que de imediato se apaixonaram, queriam ficar juntos, nenhuma conversa e muitos olhares na penumbra de um entardecer. Como em um sonho, ao acordar o rapaz viu que era uma linda descendente de índia da região. Ele sempre a ouvia falar: taumpé e insipia paã taope que em caiapó significa bonito e mola bonita, referenciando a atração entre os dois. Esta experiência trouxe um presente: uma linda menina de pele avermelhada, de olhos brilhantes e cabelos preto e liso. Uma verdadeira índia caiapó.

UMA FILHA QUERIDA E AMADA

A FELICIDADE ATRAVÉS DOS FILHOS

No nascimento da linda caiapó em meados de 1839 a região desde 1816 pertencia a Minas Gerais. Sempre tinha festa no povoado para comemorar a integração da região ao Estado de Minas Gerais. O rapaz se pintou de urucu, fruta vermelha de nome indígena e presenteou a menina com um xitacrite nhanha que quer dizer no idioma caiapó: vestido vermelho. Eles eram muito religiosos porque acreditavam em Puancá que significa DEUS na língua caiapó. Muitas das vezes minha avó falava coisas que eu não entendia. A família indígena ficou admirada e encantada com a felicidade dos dois e sinalizavam que Guaipira, a deusa da história Caiapó, deixaria a marca deste amor para as gerações futuras, mas o ciúme dos jovens índios atiçou a ira dos tiriricas (deuses da inveja indígena) fazendo com que a marca fosse modificada. Contam que a marca seria levada pelas mulheres e notada nos descendentes masculinos porque tinham ciúmes do jovem rapaz, mas não queriam prejudicar a pequena menina que era de sua tribo. A marca só será notada se em futuros relacionamentos ocorressem casamentos entre seus próprios parentes ou quando a geração dos dois encontrar outra geração que tivesse acontecido caso semelhante a promessa. Lendas eram comuns entre os nativos. Eles acreditavam na força da natureza em conjunto com o homem. Acreditam que a natureza determina as características da pessoa física e psicologicamente. Por isto colocavam o nome de seus filhos conforme fatos relevantes ao seu nascimento pelo propósito de sua jornada aqui na terra. Mas eram generosos porque apenas nas repetições dos erros é que os seus deuses interferiam.

Sempre fiquei curiosa em saber qual seria a marca da inveja dos índios que a família levaria. Mas ficava tranquila porque se não houvesse outra mistura de etnia não existiria uma marca na família. Foi criada junto do rapaz para evitar problemas com a família da mãe e a discriminação da vizinhança, dos escravos, dos índios bem como dos habitantes da região. Criou a linda menina sempre mostrando que ela era livre, bonita e podia ser feliz com o pouco que tinha. O tempo passava e o amor pela filha cada vez aumentava mais tanto que sempre ao vê-la a chamava pelo apelido de pitanga, pela origem caiapó e pela sua cor avermelhada. Nestas dificuldades da região, o Ipê amarelo se tornou a presença marcante na vida do jovem vaqueiro porque foi à divisão de sua vida deixando de seguir os bandeirantes para ficar no paraíso com sua linda filha pitanga. Muitos fatos se tornaram marcantes principalmente pela discriminação da sociedade em relação à pitanga por ser filha de um vaqueiro com uma índia caiapó. Para animar Pitanga, o belo rapaz sempre contava a história e o exemplo do escultor Aleijadinho que no mesmo ano do nascimento da mãe de Pitanga ele morreu: novembro de 1814. Ele falava que Sr. Antonio Francisco Lisboa (29/08/1738 – 18/11/1814) ou o aleijadinho além de ser filho bastardo de um português com uma escrava apesar de receber alforria ao nascer, era discriminado. Era familiarizado com a dor e a rejeição. Tinha um problema degenerativo e que todos pensavam ser lepra. Isto o deixava com mais problemas junto à sociedade, mas mesmo assim se tornou um dos maiores artistas do Brasil. O rapaz sempre dizia que Pitanga não tinha necessidade de alforria ou vergonha de sua origem porque ela e seus familiares caiapós sempre foram livres e sadios. A menina foi crescendo rapidamente e a alegria em seu coração aumentando. Em meados de 1863, em uma charqueada, especificamente uma festa junina, Pitanga veio conhecer um vaqueiro. Com a permissão de seu pai vieram a constituir uma linda família.

Era uma nova geração. Deste relacionamento veio uma linda filha que foi batizada com o nome de Agda (1864), por causa do vaqueiro e suas origens. Agda significa A BONDOSA e é de origem grega. Mas esta é outra história que um dia terei oportunidade de contar. É uma longa história da família de seu tataravô. História de luta e paixão. Quase acabo contando a história quando volto os ensinamentos de minha mãe. Nesta hora eu sempre chorava porque é a história da infância de minha mãe. Eu a admirava porque me ensinou muitos valores e sempre lembrava que ela me ensinava como eu tinha que me portar:

- Forte e destemido como Ambrósio, mas devia evitar ser

radical; - Ligeiro e discreto como índio Afonso, mas devia controlar sua

raiva; - Apaixonado e bondoso como o Bandeirante Pedro e Beja, mas

deixando livre sua paixão; - e feliz como Pitanga fruto desta miscigenação apesar de viver

em um mundo de preconceitos. Anos se passaram e também em uma festa religiosa aproximou em uma quermesse José Camilo, tradicional filho de fazendeiro da região da Chapada de Minas que ao ver Agda de imediato se apaixona e pede a mão da bela moça em casamento. Toda festa ou quermesse saia casamento. Eu achava muito engraçado. Mais alguns anos e um fato comemorativo, a Abolição da Escravatura através da Princesa Izabel em 1888. Fato que apenas documenta a eliminação da escravatura porque a população já não mais tolerava a escravidão. O processo da escravatura era basicamente econômico porque quem trabalhava eram os escravos. A partir de 1870 a região Sul passou a empregar assalariados brasileiros e imigrantes estrangeiros. A indústria começou a surgir nas cidades.

Lentamente veio a lei do Ventre Livre que tornava livre os filhos de escravos a partir de 1871, em 1885 a Lei Saraiva-Cotegipe ou dos Sexagenários que beneficiava negros com mais de 65 anos e em 13 de maio de 1888 a Lei Áurea que libertava todos os escravos no Brasil. É neste cenário que eu nasci. Não gosto muito de falar da minha história e da época que nasci. Como gostava muito das histórias de minha avó quando tive a primeira filha, para homenagea-la coloquei o nome de uma das minhas filhas de Agda. O nome da minha mãe que é o nome da minha filha. Maria Cândida minha querida esposa aceitou com prazer o nome e a homenagem. Maria Cândida minha esposa era filha do famoso José Rodrigues (dono da Ponte Rodrigues) e de Constância. Eles eram chamados de paizinho e mãezinha. Eram pessoas maravilhosas e bondosas. Diziam que o pai do José Rodrigues era estrangeiro e influente junto ao Império e tinham uma boa situação financeira. A herança de minha filha Agda, sua mãe, veio do seu avô José Rodrigues. Mariá comenta: “Devagar ia vendo meu avô falar cada vez mais baixo e devagarzinho ia acordando. Acordo com uma enfermeira me chamando....” - Acorda... Olho em volta e vejo que estou de volta à realidade. Fecho os olhos para ver se tudo não passava de um pesadelo. Penso que se dormir voltaria aos sonhos e suas maravilhas. Mas em vão.... ouço novamente uma voz gritando e alguém me sacudindo. - Acorda.... Você precisa comer e tomar seu remédio.

DE VOLTA A REALIDADE Todo dia tomava um comprimido que vinha na minha cartela de remédios. Acreditava que se acabasse de tomar a cartela estaria livre, mas quando acabava vinha outra cartela cheia de comprimidos o que me deprimia mais. Era a maneira de contar os dias, ou seja, a quantidade de comprimidos. Os sonhos das histórias de meu avô me ajudavam a acalmar porque meus sentimentos estavam muito abalados e pensava em vingança, tinha medo, estava revoltada e com a autoestima baixíssima me sentindo rejeitada, feia e traída. Pensava diariamente sobre o que devo fazer se conseguir sair do sanatório. Ficava pensando como meus antepassados poderiam me ajudar a tomar uma decisão. Notei que o amor e o perdão são as saídas para qualquer situação. Vi que por causa de poder e ouro meus antepassados foram enganados pelos Bandeirantes, houve muito ódio pela liberdade como no caso do Negro Ambrósio. Vendo meus familiares convivendo com todas as diferenças me faz sentir uma pessoa melhor. Agora consigo ficar calma e aceitar a loucura deste sanatório. No caso de Beja sua vingança não trouxe de volta seu amado, índio Afonso também por vingança não trouxe paz para sua família tendo que sempre estar fugindo. Já Aleijadinho canalizou sua energia para criar obras sendo valorizado inclusive pelos que lhe rejeitavam. O amor do pai de Pitanga ajudou-a a trazer paz para sua família. Com certeza tenho que alimentar meu amor próprio para recuperar meus filhos e família.

Neste instante me vem à frase do reformador luterano Martinho Lutero onde a sociedade também o discriminava: “É da natureza de DEUS fazer alguma coisa a partir do nada. Portanto quando uma pessoa se considera um “ZÉ NINGUÉM” ainda assim DEUS pode usá-la para realizar alguma coisa.” Como poderia ser útil se me sinto destruída. Mas a minha fé tinha que se manter viva. Queria falar com os médicos do Sanatório, mas em vão porque os estagiários que ficavam nos visitando tinham medo e praticamente eram motivados a não ouvir as reclamações dos pacientes. Um dia aparece uma nova esperança, vi passar um médico que havia saído da ala dos homens e comecei a gritar. - Doutor, doutor me ajude.. preciso falar com você. De imediato as enfermeiras me seguraram para me conter e observei que o médico parou, olhou e pensou em me atender, mas foi puxado por outro médico que estava conversando com ele e que desviou sua atenção. Mais uma vez um alvoroço no meu pavilhão porque as outras pacientes começaram a gritar, jogar os travesseiros para cima e a bater os pratos nas camas de ferro. As enfermeiras de imediato chegaram impacientes e como de costume me doparam. Mais injeção e mais sonhos.

HISTÓRIAS DE UMA FAMÍLIA CONTADA PARA UMA NETA.

A DIFERENÇA SOCIAL IMPEDE A FELICIDADE

Mariá sonhando comenta: Várias vezes meu avô contava suas histórias que me parecia muito mais familiar porque já era minha vida. Ele falava de nomes de pessoas diferentes e com coincidências na sua vida. Antônio Camilo comentava: “..branquinha sou neto de Pitanga, filha de um filho de bandeirantes, que não foi ganancioso na busca por ouro e diamantes e sim preferiu criar raízes no cerrado mineiro. Meu pai conheceu Agda, a filha de Pitanga e logo eu nasci. Conheci sua mãe que tinha oito irmãos e tivemos oito filhos dentre eles Agda, sua mãe. Com os olhos cheios de lágrima meu avô contava o fato do nascimento de sua filha Agda. Acredito que ele sempre chorava porque ele liga os fatos que sua avó te contava com a história de sua vida. Ele conta em detalhes o nascimento de sua filha. “...Nesta mesma época em que sua bisavó morria, sua mãe Agda nascia. Fatos curiosos aconteceram no nascimento de Agda porque acreditávamos que demoraria mais uns dois dias para Maria Cândida dar a luz. Sem ser chamada a parteira Umbelina, mãe do Sr. Guedes, chega com um sorriso contagiante deixando todos sem o que falar. Imediatamente pede para ferver água e por incrível que pareça na mesma tarde nasce nossa querida Agda. De pele avermelhada, olhos grandes e estatura média, nasce uma linda criança. Lembro bem que ao pegá-la veio à imagem de um lindo pé de Ipê amarelo em um magnífico entardecer. Minha alma descansa, meus pensamentos devaneiam. Vejo passar na minha frente à imagem de minha avó acariciando meus cabelos com uma paz cativante e vagarosamente contando belas histórias.”

Na época do nascimento e juventude da pequena Agda o mundo passava por revoluções e grandes modificações. A presença da mulher fazia-se presente em todos os cantos da sociedade. Lembro meu avô contar a história de mulheres valentes. “...O povo Russo, que é um povo de uma terra muito distante da nossa, pobre e insatisfeito com Nicolau II que era o Rei desta terra foi guerrear na Primeira Grande Guerra contra a Alemanha abandonando o poder nas mãos da Imperatriz Alexandra e seu conselheiro Rasputin. O povo lutava por melhores condições de trabalho e incitaram movimentações. Estes movimentos deram origem a Revolução Russa. Neste movimento um grande número de mulheres operárias pleitearam seus direitos. Hoje é considerado o Dia Internacional das Mulheres. Agda nasceu neste turbilhão de mudanças, mostrando porque era tão aguerrida, sendo uma mistura de sua origem e da época. Precisava ser “uma mulher forte.”

História do dia 08 de março.

08 de março de 1857, operárias tecelãs de Nova Iorque, Estados

Unidos, fizeram greve. Ocuparam a fábrica e começaram a

reivindicar melhores condições de trabalho, tais como, redução

na carga de trabalho, de 16 para 10 horas diárias. Igualdade de

salários com os homens e tratamento digno de trabalho. A

repressão foi violenta e imediata. Foram trancadas dentro da

fábrica e iniciaram um incêndio. Mais de 100 operárias

morreram. Em 1910 ficou decidido que 08 de março

comemorariam o “Dia Internacional da Mulher".

Neste instante olho para cima e vejo meu avô chorando. Nesta fase ele ficava em silêncio, ia para a porta dos fundos, dirigia-se para o terreiro e ficava se recompondo. Depois volta sorridente. Lembra-se das peripécias de uma ponte que meu bisavô tinha construído. Agda quando jovem morava com seu avô Antônio Rodrigues e Constância, eles eram chamados de paizinho e mãezinha. Antônio Rodrigues construiu uma ponte no Rio Bagagem por onde os fazendeiros e moradores da região atalhavam. Esta ponte na época foi batizada de ponte dos Rodrigues. Nesta época Antônio fez uma porteira no meio da ponte para cobrar pedágio de cavaleiros, boiadas, carro de boi que queria atalhar sobre o rio. Agda e Joaquim tio de Agda eram os cobradores. Sua infância sobre a ponte foi de muita reflexão porque ficava a tarde toda esperando alguém passar e brincava de um lado para outro da ponte. Eu sempre perguntava para ele sobre as histórias de meus antepassados e sempre perguntava para ele contar a história do João Branco que era o apelido de meu pai. Ele falava de meu pai assim... “... querida branquinha..” assim meu avô me chamava... “... seu pai João, ficou órfão muito novo porque sua avó faleceu com a famosa gripe espanhola...” - Minha avó foi para Espanha e ficou doente? Branquinha sempre interrompia para fazer mais perguntas. Vovô respondia com a mesma paciência que falava que sua avó contava as histórias.

- “.. branquinha, em 1918 enquanto ocorria a Primeira Guerra na Europa um surto de gripe flagelava o hemisfério norte com sintomas normais de uma gripe: dor de cabeça febre, calafrios e indisposição. Como ninguém queria afirmar que existia a gripe em seu país por causa da guerra, a Espanha que estava neutra na primeira guerra Mundial confirmou uma pandemia de gripe tanto que o próprio rei Afonso XIII havia falecido. Por isto denominou-se gripe espanhola. Foi tamanho o estrago desta pandemia que matou mais pessoas que em toda a grande guerra. No Brasil por causa de tropas que foram enviadas para Europa em missão, médicos e soldados retornaram ao Brasil, infectados com o vírus. A gripe espalhou rapidamente com a morte de muitas pessoas inclusive sua avó...” E continuou a história de meu pai... - “..Seu pai foi criado por um bom homem que lhe ensinou que a dignidade é um dos grandes tesouros que o homem tem durante sua vida. Seu pai foi muito testado pela vida e se mostrou valoroso. Desde moço foi trabalhar com uma família de um fazendeiro. Uma família tradicional e rica de Monte Carmelo. Certa época a empregada da família aparece grávida e o fazendeiro pede para falar que havia sido seu pai, João Augusto, que há havia engravidado. A esposa do fazendeiro de coração bondoso e uma mulher muito justa querendo ajudar a empregada pressionou seu pai que comentou que nunca tinha namorado a menina. Conhecendo o bom coração e a índole de seu pai, acredita e vai conversar com a inocente menina. Chorando a empregada conta para ela que seu marido, o fazendeiro, sempre a cortejava e quando ficou sabendo que estava grávida pediu para nunca falar que era dele e pediu para jogar a culpa no João Augusto. Situação constrangedora e João Augusto prefere sair do emprego pois foi envolvido em uma trama. A senhora pede desculpas para João que mesmo assim prefere sair do emprego. Foi trabalhar em um armazém de seu amigo. Ele era carinhosamente chamado de nenê Sisi, casado com Maria Amélia.

Envolto em mais uma ardilosa armadilha, o gerente do armazém sempre colocava dinheiro solto para testar a honestidade do João. João acreditava que poderia ser ciúmes do gerente mas sempre ficou integro e honesto nas suas atitudes e tinha a confiança do dono do Armazém. João Augusto e a esposa de seu patrão tinham contraído quando criança a doença de chagas porque na época era comum a contaminação por barbeiro. As pessoas viviam em casas de pau a pique e a infestação do barbeiro era grande. Um caso interessante é que Maria Amélia, esposa de seu patrão sempre reclamava do cansaço e comentava que às vezes preferia morrer. João Augusto gostava muito da amizade dela e de seu patrão. Uma grande coincidência aconteceu quando Maria Amélia morreu às 09h30min e seu pai ficou sabendo, duas horas depois, às 11:30 horas seu pai descansa e morre serenamente em seu quarto ao lado de sua neta e filha.” Consequentemente interrompia-o para perguntar. -Vô... antes eles não viviam nos carros de boi? Meu avô parava e explicava. Vocês estão misturando as histórias. Eles viviam na fazenda quando jovens e passaram por dificuldades. E continuava a contar.... Nesta época havia várias histórias de jagunços que passavam de viagem ou caçadores de recompensa. Muito falado era o jagunço Joaquim Cambota que contavam que ele tinha uma capanga com as orelhas das pessoas que ele matava. Meu avô disse que meu pai encontrou seu amigo Orozimbo, outro pistoleiro de uma forma bem estranha.

“...Em uma tarde João Augusto estava fazendo uma cerca debaixo de um sol escaldante e de longe avista um cavaleiro. Aproximando-se de frente para o sol, João Augusto não reconheceu pela fisionomia quem era o cavaleiro. Ao aproximar o cavaleiro pergunta se a fazenda era do João Branco porque avisaram que existia um atalho para o rio Bagagem. João Augusto por ser muito branco e de olhos bem azuis não gostava de ser chamado de João Branco e de supetão foi ríspido com o cavaleiro. - João Branco é a puta que te pariu? Meu nome é João Augusto e não gosto que me chamem de brancão. Esta fazenda é onde moro sim e a passagem é na primeira curva depois do Ipê. Orozimbo sem entender a valentia do rapaz, porque todos que chegavam perto dele já ficavam com medo, e por este fato não tinha nenhum amigo, comenta: - Valente e decidido você rapaz....Vejo que você é uma pessoa boa, trabalhadora e não tem medo. Agradeço sua informação e respeito sua personalidade... Até mais... Depois que João Augusto chegou à fazenda, ficou sabendo dos comentários da presença do jagunço na região. Ligou os fatos sobre o ocorrido e só restava ficar sorrindo pelo perigo que havia passado. Herdeira de um pedaço de terra Agda vai morar na Fazenda do Poço onde conhece João Augusto Rodrigues, o famoso João Branco natural da Chapada de Minas. E ai são outras histórias.

SURGE UMA GRANDE FAMÍLIA A FELICIDADE ESTÁ NA FAMILIA – LAR LOCAL DE AMOR Agda conhece João Augusto em uma quermesse no dia de São João Batista, como era de costume em toda a região. Em 1932 realizam seu matrimônio. Deste casamento nasce em 1933, a primeira filha de Agda. Uma linda menina e clara como o pai. Todos queriam que seus olhos fossem azuis como de João, mas ficaram esverdeados e cheios de vida. Era como se fosse uma boneca sendo um lindo presente para Agda. Muitas alegrias encontravam o casal e desta felicidade em 1935 nasce um lindo e forte menino parecido com o pai. Seu pai era um homem de referência na região porque estudava muito sobre homeopatia. Meu avô tentava me colocar na história contando fatos em que eu participava. - Lembra aquele livro grande que você folheava e seu pai pedia para você tomar cuidado. Era um dos volumes da enciclopédia que seu pai ficava sempre estudando. Nesta época seu pai e sua mãe me ajudaram muito porque quando minha caçulinha nasceu apesar de ter sido uma festa onde matamos um novilho para comemorar, passados seis meses, minha querida Cândida veio a falecer. Ela era muito nova, tinha 36 anos. Na época a gente falava que era ferida brava no útero, hoje acredito ter sido de câncer. Sua mãe como estava amamentando seu filho menor, acabou adotando minha caçulinha, amamentando-a. Praticamente criou-a como sua filha. Depois seu pai e sua mãe se mudaram da Fazenda do Poço e foram para a fazenda Lacraia, como seu pai era conhecido pela ajuda aos mais necessitados, foi procurado por um moço que apareceu nesta fazenda pedindo ajuda, seu nome era Israel. Com o coração de ouro de sua mãe, adotaram este menino.

Na mesma época uma família carente procurou seu pai para curar uma criança que estava muito fraca, de nome Sebastião Miguel. Ela tinha três anos e praticamente estava dessorando (soltava água pelo corpo) e os pais da criança não sabiam mais o que fazer para curar a criança. João Augusto, seu pai, com o maior carinho e amor, adotou o menino para curá-lo. Ele tinha amarelão e como o tratamento era longo e precisava de condições higiênicas e de alimentação, foi adotado pela sua família. Agda sempre teve um bom coração. Com o tempo, em 1938 nasce você branquinha. Pela fé de sua mãe em Nossa Senhora te batizaram pelo nome de Maria. A mãe de Cristo. Uma linda menina de olhos azuis, cabelos loiros como uma espiga de milho parecida com o pai e com a energia revigorante de sua mãe. Mais um presente na vida deste casal. Meu avô contava sobre meu nascimento com os olhos brilhantes de alegria e com muita poesia.... “...outubro, auge da primavera, o calor castigava o cerrado, as flores do pé de café que ficava perto da porteira exalava um aroma fresco. Chega Dona Zaza, parteira da família pronta para ajudar Agda, sua amiga de infância. Um ar bucólico paira no ar, o sol vem se pondo e no firmamento se vê nuvens avermelhadas como uma tarde do sertão. Onde todos lutavam na busca frenética por diamantes, nasce uma joia mais rara que todos os brilhantes do mundo. Minha branquinha.” A fazenda estava cada vez mais movimentada e cheia de crianças responsáveis pela alegria. Agora a fazenda estava com João e Agda com seus três filhos além de Israel e Sebastião Miguel adotados e sua tia. Para aumentar ainda mais veio morar com eles os irmãos de sua mãe: Onor e Hilda. Muita paz e prosperidade e em 1940 nasce outro belo menino. Mas Agda fica intrigada porque nasceu mais avermelhado que os outros filhos, parecendo mais com Agda e com sintomas de fanho. Ele não possuía a úvula (campainha na garganta). Meu avô de imediato liga os fatos que sua avó contava.

A história da marca do ciúme dos jovens índios. Foi de imediato observar como estavam seus sobrinhos. Até esta data nada tinha de problemas. Poderia ser problema na alimentação durante a gestação. Intrigado João não acreditava ser problema na gestação e alimentação porque na mesma época outras crianças nasceram que viviam em situação pior que a criação de seus filhos e não possuíam problema da formação da úvula. Criados com muito amor os filhos de Agda e João Augusto foram crescendo em um lar de harmonia e paz. Mas também havia dificuldades, tiveram que entregar a fazenda e se mudar novamente. O tio de Agda oferece uma fazenda em parceria com seu pai, uma oportunidade de crescimento para ajudar na criação de seus filhos. Imediatamente foi aceito o acordo porque seus pais eram muito animados e entusiasmados. Lembro-me da sua mãe falar: - Se temos que mudar, então, vamos logo. As crianças eram as primeiras a se animarem. Adoravam aventuras e não tinham medo de nada. Andar a cavalo, carro de boi, nadar no rio e agora uma grande excursão. Interrompia meu avô porque começava a lembrar de meu tempo de criança. - Eu lembro vovô que o meu irmão mais velho ficava me cutucando com o arpão do carro de boi porque eu parava para fechar a porta das plantas rasteiras. Colocamos o nome de “fecha a porta Maria” nestas gramíneas porque quando passávamos os pés nelas, elas se fechavam e nos gritávamos: - Fecha a porta Maria que os soldados já vêm. As plantas fechavam-se de imediato e às vezes eu ficava para traz para não deixar nenhuma aberta. E meu avô continuava:

Uma aventura porque tinham que levar todas as tralhas em um carro de boi além de todos os meninos empoleirados. Preparados para a mudança gastou três dias até a fazenda, atravessando rios, cozinhando no caminho, dormindo no mato com as crianças ou pedindo ajuda no meio do caminho em alguma fazenda. Ao chegar uma tristeza, a fazenda estava abandonada. Agda vendo a decepção de todos, de prontidão comentou. - “Vamos todos descer as bagagens e limpar nosso novo lar.” Época de muito trabalho. Agda tinha que cozinhar para todas as pessoas que lidavam na fazenda, os meninos adoravam ver as cabaças, o embornal para colocar os talheres e o cheiro gostoso da comida feita no fogão à lenha. A memória já me alertava porque presenciei esta história e comentava: -Vô... lembro-me de acordar de manhã e ir direto para o curral tirar leite das vacas. O leite saia quentinho na caneca e ficava olhando na cerca meu pai e mãe tirar leite. O cheiro do estrume de vaca ainda molhado com o orvalho da grama é inesquecível. Meu irmão tinha um amigo de trabalho esperto, João Balbino, garoto alegre e rápido na lida com o gado. Todos nos gostávamos dele. Tenho saudades.. Meu avô continuava: Muita água na fazenda, um rego passava no quintal e movia um monjolo que batia arroz e milho. Tinha o paiol que guardávamos o milho no trato dos porcos e para o fubá retirado depois do monjolo. Com a tranquilidade veio mais filhos: Em 1942 nasce mais uma menina que era uma mistura nítida do casal. Rosada com olhos negros como da mãe e pele lisa e brilhante como do pai. Era uma mistura de branco e vermelho. Todos a chamavam de rosinha.

Tempos depois nasce outro menino. Este nasceu fraco e muito pálido. Agda brincava com ele colocando-o em uma caixa de sapato, mas com muito carinho e amor. Fortificou-se com o conselho de seu marido em lhe dar leite de égua e de cabra. De novo Agda fica intrigada. Um dos filhos nasceu avermelhado e sem a úvula, e agora nasce uma linda criança parecida com o pai, bem clara e também sem a úvula. Não entendia bem porque seus outros filhos eram perfeitos e comentava: - Será que pode ser a marca dos índios invejosos em meus filhos. Mas tudo corria bem, a casa cheia como sua mãe gostava. Lembro que todo domingo sua mãe reunia toda a família na fazenda e fazia um frango com açafrão. Tinha polenta e quiabo. Era uma festa que todos adoravam. Sua mãe sempre gostou de reunir sua família. Todos os domingos a família se reunia e almoçavam debaixo de um flamboyant, que era frondosa e havia fatura. Era uma mistura de criança, cachorros e uma brisa fresca na sombra da árvore. Seu pai estudava muito. Lembro que ele curou diversas pessoas como um de seus filhos de coceira brava, outro de coqueluche, um vizinho do amarelão. Ele usava métodos diferentes como chás de ervas, leite de égua e de cabra e sempre dava muitos banhos nos meninos. Até que medicar ele fazia bem o difícil era tirar o leite de égua e fazer os meninos tomarem. Lembro-me do pior que era quebrar o ovo de manhã direto na garganta. Seu pai tampava o nariz dos meninos para engolir o ovo cru. E com a energia de sempre, em 1946 nasce mais uma menina. Esperta, uma doçura de menina com cabelos negros e cútis branca como o leite. O tio de Agda quando ia à fazenda me levava. Adorava brincar com as meninas, uma ele chamava de rosinha porque seu rosto ficava rosado com as brincadeiras dele e chamava a caçulinha de doce de leite. A visita ia embora e depois das seis horas sempre a mesma rotina: lavar os pés, ir para cama rezar e ouvir as histórias à luz de uma candeia.

Sua mãe era muito religiosa. Quando um dos meninos que ajudavam na lida, de tanto debulhar milho apareceu com um calo de pus em sua mão, sem muitos recursos Agda fez uma promessa para Nossa Senhora da Abadia que levaria uma mão de cera em Água Suja (atual Romaria). O menino foi curado e no próximo ano foram para Água Suja pagar a promessa. Toda a família de carro de boi. Seu irmão adorava ir à frente lendo o livro de homeopatia de seu pai. Ele sabia o nome de quase todas as doenças e indicações dos remédios. As crianças cresceram fortes, alegres e sadias. As brincadeiras eram com animais como um bode de estimação, pescar, andar de canoa e esperar festas de casamento para vestir uma roupa mais bonita. Lembra o tanto que você era bonita. Todos queriam que você fosse dama de honra nos casamentos. Foi um casamento atrás do outro. A fazenda ficou até vazia porque seu pai queria morar na cidade por causa da escola de seus filhos. Ele sempre prezou que vocês estudassem e seguisse seu exemplo, mas que não teve oportunidade. Sua tia que morava com vocês casou com Jaques e seu tio com a Cremilda. Ela era uma mulher muito bonita e morava na fazenda Rio Negro, vizinha da Fazenda Lacraia. Seu irmão de estimação, o Sebastião casou com Neli na cidade de Araguari e no mesmo ano Israel, seu outro irmão de criação, foi morar em outra fazenda da região porque seu pai pretendia ir para cidade para ficar mais fácil para as crianças estudarem. Como Israel sempre gostou de fazenda não quis mudar. Foram para Douradoquara. Nesta hora eu interrompia meu avô e comentava: - Eu lembro que ia com meus colegas, a Maria, a Olga e o Valtinho. Íamos de jardineira para a escola, vô. Era muito bom. Gostava muito de estudar. Vida nova na cidade e nasce outro menino em 1948. A parteira chegou cedo para ajudar sua mãe e quando ouço, escuto um grande choro de uma linda criança, forte e grande.

Mas a primeira coisa que Agda olha é a garganta do menino. Dito e feito. Também não tinha a úvula. Agora como explicar a alimentação se na cidade alimentou bem durante a gravidez. Já começa a acreditar na lenda de Pitanga. Ela comparava que só os meninos tinham a falta da úvula (campainha na garganta) e as meninas eram normais. Mas nem todos os meninos. Qual seria o enigma? Para confundi-la ainda mais fica grávida no inicio do ano de 1951. A expectativa era grande em relação à marca dos índios. Sempre preocupada e religiosa orava. Calculou que a criança deveria nascer em dezembro, como Cristo, o redentor que nasceu perfeito, pedia pela sua criança. Nasce um lindo e forte menino e sem problema de fanho. Agda não quis nem saber o tamanho e peso da criança só queria ver sua garganta. Intrigante. A criança nasce mais avermelhada, parecendo mais Agda e como ocorreu com seu primeiro filho que era branco como o pai, não tinha a marca. Alivio. Mas nas festas junina sempre voltava o assunto porque em volta da fogueira as crianças menores ficavam rodeando-a e cantando como se fossem indiozinhos. Sua mãe ficava muito pensativa. Mas a alegria na família era tudo de bom. As crianças se amavam e tinham o maior respeito por seu pai. Imagine nove crianças almoçando, tomando banho. Era uma festa todo dia. Sua mãe era muito feliz com a alegria de vocês. Ao ir para a cidade seu pai foi trabalhar em uma máquina de beneficiar arroz que havia adquirido e tinha uma sorveteria. Lembra o tanto que vocês pegavam sorvete escondido. Seu irmão mais velho que ficava chateado porque era difícil bater o sorvete manualmente. Difícil para ele é que os picolés de cajamanga verde que fazia não conseguia vender nenhum porque seus irmãos chupavam todos.

Nesta festança nasce mais uma linda menina em 1954. Mais alegria porque agora a filha mais velha de Agda, casa e foi para Monte Carmelo e no mesmo ano teve também uma linda criança. Agora eu já era bisavô. Uma grande alegria para mim. Agda também foi ama de leite de sua primeira neta por um pequeno tempo. Agda ficava horas e horas olhando as duas meninas, de tão bonitas que eram. Época boa para as crianças que ficavam encantadas como era feito o sorvete e uma vez no ano iam ao cinema assistir um filme preto e branco e mudo na praça. Mas não tão boa para Agda. Como tocava um bar e era um dos únicos bares de Douradoquara, de noite sempre havia confusão. Conhecida na cidade pela sua mansidão, os frequentadores do bar entregavam as suas armas ao chegarem ao bar para evitar confusão. Mas nem sempre era assim, certa noite dois rapazes começaram a brigar e um deles de nome Zico pegou uma faca e queria matar outro rapaz Wando. O bar lotado. Os homens não tomavam partido. Agda pulou por cima dos dois, tirou a faca de um deles e pediu para que se retirassem. Foi um dos motivos que mudaram novamente. Agora Araguari pois seu filho já havia ido para trabalhar em uma farmácia de seu tio. Vida nova. Era muito bonito e elegante ver a estação de trem em Araguari, onde desciam pessoas de terno de linho 120 e com suas belas malas de couro. As charretes eram muito bonitas, brilhantes e um barulho inesquecível dos belos animais trotando. Seu pai em 1955 montou o Hotel Oeste perto da estação Ferroviária. Para os seus irmãos era uma festa. Um era responsável em pegar as malas dos viajantes e você ficava para arrumar as camas e sua irmã servia as refeições. Nesta época existia o Colégio das Irmãs onde as meninas estudavam e a Escola São Luiz e Regina Pacis para os meninos. Eram escolas da igreja Católica. Muito trabalho e poucos clientes.

Nova mudança, nova casa, novo bairro. Mudamos para um bairro com nome de vila: Vila Amorim. Lugar bonito, vizinhança amiga. João foi negociar cereais com seu amigo, mudando de ramo de trabalho novamente. Agora seria comprador de cereais. A região era grande produtora de arroz e os produtores necessitavam de quem comprasse sua produção. João Augusto gostava deste serviço porque era visto como uma pessoa que traria boas notícias para os produtores, ou seja, seria o responsável em comprar os produtos dos fazendeiros. Conheceu diversas fazendas e produtores. Via a dificuldade das pessoas em produzir alimentos. O valor que comprava às vezes não era o preço que os produtores esperavam, trazendo às vezes insatisfações. Quem comprava a produção eram as máquinas de beneficiar. João Augusto viajava para Grupiara, Douradoquara, Indianópolis para comprar cereais e seu sócio vendia para as máquinas de beneficiar. Existiam diversos compradores de cereais, inclusive alguns casos interessantes.

João trabalhava muito porque manter uma família em qualquer época não é fácil, principalmente na cidade.

Foto da família Rodrigues. Uma simplicidade que denota alegria.

Da esquerda para direita: Augusta, Waltair e Oswando ao lado de Agda que carrega João no colo. Atrás de Agda a Natalice, Maria, Vilma e Waltamir. João está com Margarete no colo e ao seu lado José. Dos 12 filhos somente Walda e Walter não estão presentes. Na época da fazenda era mais fácil. No quintal tinha fruta, o chinelo e a botina eram ferramentas diária e somente se comprava uma vez ao ano, a querosene, o sal e as roupas. Os meninos tinham segurança, alimento e podia-se dizer que tinha fartura. A vinda para cidade era para dar uma profissão para os filhos e uma maneira de se profissionalizar era através da educação. Para uma família a fazenda era propicia, mas as meninas e os meninos iriam se casar e ai a terra ficava pequena. Por isto tem o famoso ditado que um pai cria de 10 filhos, mas 10 filhos não consegue cuidar de um pai. Isto porque os filhos terão sua vida própria, seus filhos e suas obrigações.

UMA BOA NOTÍCIA

A VERDADE: UM PILAR PARA A FELICIDADE

Alvoroço. Lembro bem do dia em que meu avô chegou irradiante de felicidade. Pulava de alegria e chamou toda a família para se reunir. Pede para matar um novilho, e reuni todos na mesa e começa a contar uma história triste que teve um final um pouco feliz. Isto deixou meu avô muito aliviado. “..meus filhos, netos, irmãos e amigos. Minha querida branquinha...hoje limpamos o nome da nossa família e de nossos amigos. Eu sempre acreditei neles, pois sempre foram de boa índole.” Chorava e contava ao mesmo tempo uma história que ninguém sabia direito o que seria. Todos de olhos fitos em sua história, ele continua. “Lembram-se do tio Amadeu. Vejam só: Eu tenho os filhos: Agda, Onor, Clarinda. Amadeu, Oswaldo, Hilda, Natalice e Geraldo O Amadeu tem um filho chamado Amadeu que é seu primo e se casou com a Iolanda que tem uma filha que casou com o Joaquim que morreu no asilo em 1948. Só que ele era irmão do Sebastião Naves. ...estes nossos amigos trabalhavam no comércio de arroz. Se vocês se lembram deles então é o Sebastião e o Joaquim. Em 1937 eles tinham 32 anos e 25 anos. Na época eles tinham um sócio chamado Benedito Caetano. Eles compraram uma grande quantidade de arroz e levaram para fora de Araguari e venderam. Só que a alegria deles virou tristeza porque Benedito Caetano sumiu. Simplórios e sem entender o que acontecia porque queriam receber a parte da venda do arroz, se dirigiram à delegacia. Ao comentarem na polícia que Benedito tinha sumido e o delegado Tenente Francisco Vieira dos Santos, o Chiquinho, mandou prendê-los. O delegado pensou que meus amigos mataram Benedito e ficaram com o dinheiro.

O pior é que o Chico não era flor que se cheire. Ficamos muito tristes por causa disso pois sabíamos que nossa família é muito honesta e não era capaz de tamanha atrocidade. Só que o Tenente Francisco era perverso e começou a sacanear com a família dos Sebastião para que contasse onde estava o dinheiro e o corpo do Benedito. Ele mandou torturar e estuprar a mãe deles na frente deles. Arrancou seus dentes, furaram o olho do Joaquim e desonraram a família. Julgados inocentes pelos jurados a promotoria recorreu anulando o julgamento e condena a prisão com mais de 25 anos. Porém com boa conduta depois de oito anos são libertados. Só que era tarde pois no ano que saiu foi para um asilo em Araguari e após longa doença falece como indigente. Por coincidência no dia do aniversário da cidade foi que ele faleceu dia 28 de agosto de 1948. Só que o tenente Francisco morreu no mesmo ano em maio por pura coincidência. A partir daí Sebastião Naves foi atrás de sua inocência porque já não tinha família nem dignidade. Encontra pista que levam a Benedito em julho de 1952 na cidade de Nova Ponte na casa de seus pais sendo reconhecido por um primo de Sebastião. Os policiais não queriam acreditar no Sebastião, mas depois de muita insistência convenceu-os e vendo Benedito que alegou não ter nenhuma noticia do ocorrido com seus sócios. Coincidentemente dias após sua prisão, toda a família de Benedito morre tragicamente na queda do avião que os transportava para Araguari onde prestariam esclarecimento sobre o suposto desaparecimento de Benedito. Agora eles finalmente foram inocentados e limparam o nome da família. Agora o Sebastião está aliviado, recuperou sua honra, mas perdeu sua mãe e seu irmão. Orientaram-no em um processo de indenização. Agora vamos festejar porque estamos felizes pela honra da família. Eu sempre os considerei como irmãos.

Esta história sempre mexeu comigo porque vejo que às vezes dentro da justiça humana realizamos injustiças e prejudicamos os outros. Começo a observar que somente DEUS deve julgar porque ele conhece a verdade e o coração e sentimento de cada um. João, seu pai, nesta euforia toda, ganha mais um menino. Nasce em 1956 o caçulinha do João Augusto que foi batizado com o nome do pai. Agda olhou bem para a criança e já sabia. Nasceu muito parecido com ela e tinha já a certeza da falta da úvula da criança. Este meu neto é especial, sempre achava ele muito engraçado. Gostava de pedir para ele falar: - Viva Santo Antônio, São Pedro e São Sebastião. E se ele falasse eu daria uma bala para ele. Como ele também tinha a marca ele falava fanhoso e engraçado. - Viva tototõi... Vô agora me dá as balas. Nesta época minha filha foi que seu pai veio a falecer. Foi muito bonita a morte dele. Foi serena. Ele chegou a sua casa e ficou sabendo da noticia que Maria Amélia, a mulher de seu amigo tinha falecido e duas horas depois ele chega à sua casa, deita na cama para descansar e brincar com sua primeira neta e dorme. Morreu sem dor e com uma serenidade angelical. Sua mãe desesperou. Ficou sozinha. E agora tinha vários filhos de todas as idades principalmente um de onze meses para criar. O chão caiu. Viu que tinha que ser forte porque seus filhos estavam contando com sua vitalidade e entusiasmo. Como viu que deveria sair sozinha desta situação notou que a única saída era fazer com que cada filho aprendesse um ofício e que pudessem gerar alguma renda.

Meses depois decidida começou a orientar seus filhos. As meninas foram costurar plice, sua irmã foi trabalhar na Associação Comercial de secretária, seu filho mais velho teve que assumir a casa e foi trabalhar na farmácia, tinha facilidade com remédios. Foi bom ele se encantar com os livros de seu pai de homeopatia. Outros foram aprender profissão de sapateiro com seu cunhado em Monte Carmelo e ela fazia capangas para vender e ajudar na sobrevivência da família. Sem mais nem menos vejo um clarão ofuscante e um som de água correndo e vejo que minha cabeça bate na cadeira porque meu avô estava subindo em direção à luz. Acordo assustada, lembrei-me da morte de meu avô em 1960.

UM SOCORRO, UM ALÍVIO.

A PROPRIA VIDA NOS PEDE PARA SERMOS FELIZES

Acordo chorando porque recordo do meu avô e lembro-me de seu falecimento e que não pude conviver tanto com ele como pretendia. Agora vejo que o tempo para mim não foi uma ilusão como afirma os cientistas e sim uma sequência de fatos que não aproveitei e que não consigo recuperar. O tempo passa muito rápido quando não conseguimos o que queremos e muito longo quando ainda conseguimos atingir nossos objetivos. A vida e o tempo são divergentes porque enquanto a vida cresce e aumenta nosso conhecimento através do contato com as pessoas e a natureza, nosso tempo vai diminuindo. Aprendi que a vida é um grande presente de DEUS. Cada momento que passa é um milagre que jamais repetira. O tempo é um tesouro valioso que vamos perdendo bem devagar ao longo de nossa vida. Por isto devemos aproveitar as pessoas com a maior intensidade possível e como se fosse à última vez que fossemos encontrá-la, para que um dia não nos arrependamos de não tê-la ouvido, de não tê-la abraçada. Devemos viver cada momento das pessoas intensamente e marcá-lo com um olhar direto nos olhos para ficar registrado na alma. Estou com saudades dos meus filhos. Ao encontrá-los olharei bem em seus olhos e falarei bem alto ... EU TE AMO... quero fazer isto com minha mãe e meus irmãos e amigos. Depois de conhecer este sentimento de falta, preciso aliviar minha alma. Lembro que um de meus filhos sempre olhava no fundo de meus olhos e falava: - Mãe eu te amo. Não se preocupe, estou aqui, tudo dará certo. Agora percebo seus olhos olhando dentro da minha alma. Um azul que me acalmava e um brilho de pureza que me incomodava. A realidade volta à tona. Recebo uma carta de uma paciente que queria me avisar do perigo que estava passando. “..

Querida não adianta você gritar para os médicos e acreditar nas enfermeiras. Se continuar assim eles devem te passar para a ala das agitadas, ou quarto forte, e ai o problema para você vai aumentar. Lá a angústia e ansiedade aumentam porque na escuridão você vai ouvir lutas das pacientes com os morcegos que rondam a madrugada fazendo a loucura delas aumentar. Se reclamar eles aumentam as injeções e começaram a te usar mais e mais porque dopada você não reagirá e a sede por prazer deles não tem fim. Você é uma moça bonita e eles não facilitam. Fique mais tranquila De sua amiga Nute..” Fiquei preocupada com a carta. Como tinha percebido que o tempo passa rápido e que precisava conhecer as pessoas a nossa volta, fiquei mais calma e procurei saber mais das pessoas que estavam comigo nesta situação. Muitas realmente não conseguiam se comunicar, sempre gritando e com um olhar muito distante que nunca esqueço. De madrugada fazíamos reuniões com outras meninas para saber como elas foram parar ali. Diversas histórias me chocaram porque ali ninguém poderia sair curada por causa de muita dor, injustiça e angústia. Angela, uma linda mulata de 24 anos, contou que trabalhava na fazenda de um produtor de café e prefeito em uma cidade mineira. O filho do fazendeiro a estuprou e ela engravidou. Ao saber da história o fazendeiro mandou Angela para o sanatório porque não queria um escândalo na família e muito menos um neto bastardo. Depois de quatro anos reclusa, todo mês de outubro ela canta parabéns para seu filho que foi adotado.

Já Solange tinha uma história mais emocionante. Ela com seus 15 anos de grande exuberância se apaixonou por um rapaz que era de uma religião diferente de sua família. Seu amor era muito forte e com muita paixão se entregou ao rapaz. Ela perdeu sua virgindade e eles faziam planos para o futuro. Seu pai um rico empresário do interior de São Paulo ao saber do ocorrido não querendo o casamento enviou a filha para o sanatório para evitar um vexame na cidade. Esperançosa Solange tenta avisar seu namorado de seu paradeiro porque saiu da cidade sem saber para onde ia e não avisou nenhuma amiga ou mesmo seu namorado. Ela sempre procurava mandar cartas através dos visitantes para ver se por algum milagre seu namorado soubesse de seu paradeiro e viesse buscá-la. Ela ficava sempre no canto porque tinha vergonha de seu estado, mas nunca entendeu porque estava ali. Tentava aliviar seu sofrimento compartilhando minhas experiências e sempre a aconselhava dizendo que as dificuldades que a vida nos proporciona são para nos tornar melhores e não mais amargos. Devemos buscar alegria nas nossas adversidades. Eu comecei a falar também um pouco da minha vida. Algumas internas vinham na cabeceira da minha cama pedindo para contar mais histórias. Comecei a contar para elas como tinha sido minha vida antes de ficar internada.

HISTÓRIAS DA VIDA DE UMA INSANA

A FELICIDADE SÓ EXISTIRÁ SE FOR COMPARTILHADA

Só pedia para elas ficarem quietas para não atrapalhar as outras mulheres que queriam ouvir e não gritar porque senão as enfermeiras vinham e colocava todas para dormir. Começava a contar... Lembro-me que nasci na fazenda e tive uma infância muito alegre. Minha casa era cheia de crianças e animais. Lembro-me do bode que corria atrás de meus irmãos, das vacas no curral que tirávamos leite, do carro de boi quando íamos passear na fazenda dos tios e também das plantas que fechavam a porta. As internas ficavam admiradas e algumas pensavam que eu vivia em um mundo mágico porque imaginavam que as plantas me obedeciam quando falava para elas fecharem a porta, que a vaca produzia leite apenas para mim e que os animais me protegiam dos meus irmãos. Fui crescendo e adorava ir para aula de jardineira. Para mim era um luxo e eu me sentia muito importante. Depois mudamos para a cidade e fomos morar perto da Estação Ferroviária onde possuía lindas charretes, homens de terno bonitos e suas namoradas belíssimas. Contava para elas como as meninas namoravam na minha cidade. Existia uma praça no centro da cidade que todo domingo íamos para lá. As moças ficavam andando (desfilando) em volta da praça e os rapazes ficavam paradas só observando. Era o famoso vai-e-vem dominical. Depois de paquerar íamos tomar chuvisco. A maioria perguntava se ia chover porque não conheciam o que era chuvisco e eu explicava. - Na minha cidade chuvisco é o sorvete com guaraná. Tinha a vaca amarela, que era sorvete com laranjada, que era um refrigerante muito gostoso.

Conheci meu namorado na praça e ele me falou que trabalhava em uma loja de tecidos. Ele também vendia peças para o ferro velho nas horas de folga. Era um moço muito bonito, alto e trabalhador. Fui com minha irmã visitá-lo na loja com a desculpa de comprar um tecido para fazer uma saia. Não demorou e em um ano, 1958, estava casada. Nesta época morava em Araguari à Rua Gonçalves Dias. Agradeço a minha mãe e irmãos que me ajudaram a realizar uma linda festa.

Em 1959 nasce meu primeiro filho, uma benção. Dona Natalia foi sua parteira. Nasceu um menino forte, bonito e de olhos claros. Foi convidado até para tirar foto para bebê Johnson & Johnson, que era uma revista de bebês. Como tinha preocupação da ira dos índios que meu avô me contava, olhei dentro da garganta da criança para ver se tinha a úvula. Um alívio, mas acredito que se contasse para alguém poderiam pensar que estava louca porque mesmo vendo o bebê chorar queria ver dentro da garganta dele.

Meu marido tinha uma loja de louça quando casamos, era empresário. Resolveu ser sócio na fazenda de seu irmão. Na região do Porto Barreiro, perto de Piracaiba, na fazenda Córrego da Égua, sempre ia visitar meu cunhado na fazenda. Era uma tristeza quando entardecia, principalmente ao pôr do sol. Estavam construindo a sede e moravam em um barraco.

A família de meu marido era tradicional na cidade. Mas o relacionamento entre os irmãos não era tão bom. Eu comparava com meus irmãos, por não termos casa, nem bens, e o relacionamento sempre foi de ajuda ou quem sabe sobrevivência. O único momento que me lembro de ciúmes entre irmão foi o caso de meu irmão mais novo que tinha uma coleção de gibis. Era chique colecionar marcas de cigarro, canecos. Ele tinha uma coleção de gibis e tinha todos os exemplares da coleção. Emprestava para nós lermos, mas tinha que pedir sua autorização. Para evitar que alguém pegasse, as escondia. Para saber que ninguém tinha mexido em suas revistas, colocava armadilha.

Certo dia viu que a armadilha tinha desarmado. Com ciúmes queimou todas as revistas. Ficamos sem entender porque ele preferiu perder todas as revistas. Será que pela invasão de privacidade ou pelo fato de ter sido enganado. Mas meus primeiros anos de casada foram maravilhosos. Fomos para o estado de São Paulo porque meu marido tinha montado uma loja em Miguelópolis e fomos de mudança. Era uma linda loja e ele colocou o nome de A PIONEIRA. Era tudo muito bom. Todo mês viajava para Ribeirão Preto para ver as corridas de cavalo, no Jóquei Clube. Eu sempre tinha um chapéu diferente, eram todos muito bonitos e meu marido ficava encantado com minha presença. Toda compra de tecidos novos, as estampas mais bonitas meu marido retirava um pedaço para fazer um novo vestido para mim. Vestido novo, chapéu diferente, linda e apaixonada, estava vivendo um sonho. Nestes passeios não levava meu filho que ficava com a Fé, minha ajudante. Neste momento as internas vaidosas queriam saber como eram as corridas, os chapéus, os vestidos e de imediato afastavam as camas e iam imitando os chapéus com travesseiros, calcinhas e era uma gargalhada só. Ficava preocupada com os vigias, mas eles nesta hora não atrapalhavam. Os enfermeiros chamavam esta hora de sessão nostalgia e acredito que eles até gostavam porque as internas ficavam mais concentradas e davam menos trabalho para eles. Continuo a contar... Fiquei grávida novamente e fui dar a luz em Araguari no ano de 1960. Fui para perto de minha mãe porque era difícil cuidar das crianças longe da minha família. Acredito que ai foi que fui perdendo meu marido. Ele trabalhava muito, era muito dinâmico e muito comunicativo. Como era atencioso cativava muitos às clientes que iam comprar tecidos e os maridos delas às vezes ficavam com ciúmes. Algumas das minhas amigas diziam que eu não queria enxergar que meu marido era custoso.

Nesta hora todas perguntavam... - O que é custoso? E eu explicava: - Na minha cidade, “Custoso” é a palavra que chamamos uma pessoa custosa. De novo todos perguntavam e eu percebi que não expliquei direito. - Custosa é uma pessoa que pode dar trabalho, mas no bom sentido. Uma pessoa levada, sapeca... Tentando explicar e as outras pediam para continuar a contar minha história que depois explicavam o que é uma pessoa custosa para as outras mulheres. Antes de voltar para Miguelópolis meu marido já tinha trocado a loja por uma maior em São Joaquim da Barra. A loja se chamava TRIUNFO, era forte no setor de tecidos. Lá também foi maravilhoso porque todo final de semana enchia a perua e íamos vender tecidos nas cidades vizinhas, principalmente em Pioneiros. Aproveitava para fazer piquenique nos bosques e riachos com meu marido e os meninos, pois já tinha nascido o meu segundo filho. Neste período fiquei grávida de novo. Sonhava em ter uma menina. Esta gravidez foi diferente e decidi dar a luz próximo de meu marido. Nasceu mais um menino. Mas foi muito difícil com três crianças sozinha porque meu marido tinha que trabalhar todo dia de manhã e precisava descansar, não podendo muito me ajudar. Voltei para Araguari pedindo ajuda da minha mãe no ano de 1961. Ela me ajudou muito a cuidar de meus filhos. Meu irmão mais velho construiu uma linda casa na frente da casa de minha mãe e as expectativas eram muito boas. Ficava tranquila porque meus irmãos olhavam bem minha mãe. Meu irmão também comprou um sitio nas Araras, que chamou de Sitio Colorado.

Ele era sócio do Silvio Rodrigues e eram inovadores, foi um dos primeiros plantadores de maracujá e amoreira de Araguari. Criavam bicho da seda. Meus meninos que gostavam de ir para o sitio para ver os maracujás e a represa. Voltando para São Joaquim da Barra uma nova fase. Jovem com três filhos pequenos era difícil sair para passear e meu marido sempre saia sozinho para jogar baralho ou encontrar seus amigos no final de tarde. Decidimos comprar uma loja porque o Sr. José Ribamar que era do Rio Grande do Norte resolveu voltar para sua terra natal e decidiu vender sua loja. Balanço, medição de panos e rendas. Mais tarde o filho do Ribamar desaparece. Toda a vizinhança foi chamada. Procuravam em bueiros, pensava que alguém tinha raptado a criança. Mais de duas horas sem noticias da criança meu filho mais velho me chama e fala que eles estavam dormindo debaixo do balcão. Venda concretizada e alivio. Até a negociação ficou mais fácil porque agora todos estavam mais tranquilos. Nesta época meu segundo filho do nada resolveu parar de comer. Cada vez mais fraco. Fiquei muito preocupada porque cada vez mais ele ficava pálido e sempre dormindo. Chegou ao ponto do médico indicar transfusão de sangue em Ribeirão Preto. Eu só sabia chorar. Uma tarde, Dona Vitalia esposa do Sr. Jorge e mãe do Calil Filho, que trabalhou na rádio tupi, ao tomar café pegou meu filho no colo e ele acenou com a mão que queria um pouco de café. Foi uma alegria porque brincando com ele e dando-lhe café, ele reagiu e começou a comer. Com isto não era necessário realizar a transfusão de sangue. Um milagre para mim. Meus vizinhos eram ótimos, tinha muita amizade. Tinha o Sr. Zanelli. Era um senhor descendente de italiano e comerciante de bicicletas. Gostava de brincar com meus filhos. Ele pegava uma lanterna e brincava de procurar formigas. Meus filhos o adoravam e um deles queria ser igual a ele, tanto que pegou o apelido de “vei Zanelli” porque imitava o senhor da lanterna buscando formigas, inclusive andando um pouco encurvado.

Novo final de semana e de novo na hípica em Ribeirão Preto. Tinha uma vida gratificante. Meu marido sabia me alegrar e eu cada vez mais apaixonada. Dizem que era muito ciumenta e meu marido muito alegre e extrovertido e que gostava de casa cheia. Era uma pessoa muito positiva, alegre e entusiasta. Mas do nada aparece um problema. Meus filhos maiores dão convulsão. Uns diziam ser crise. Outros diziam que poderia ser epilepsia. As pacientes agora ficam todas em silêncio..Viram que agora era uma história de suspense.. Olho para elas e vejo seus olhos bem abertos sem piscar aguardando a continuação da história. E continuo. Meu filho mais velho praticamente tinha crises diárias e o segundo teve apenas uma vez. Mas todo mês estava em São Paulo para levar os meninos ao médico. Isto unificava meu casamento pelo menos no inicio dos tratamentos em São Paulo. Minha cunhada morava em São Paulo e ficava hospedado em sua casa. Meus filhos sempre comentam desta fase, não pela cidade ou viadutos, o famoso minhocão, mas porque no centro da televisão assistindo as lutas livre com Ted Boy Marino ou o Programa do Bolinha ou Tarzan, tinha uma barata. Víamos os programas sempre com a barata na tela, ela tinha morrido entre o vidro da frente da televisão e o tubo. Acostumando a contar as minhas histórias para as internas, fiz muitas amizades. Quando eu falava do Tarzan elas já imitavam a Jane e outras a chita, a macaca do filme. Toda noite tinha histórias diferentes. Dias depois aparece o mesmo médico que tinha me notado, o Dr. José Ribamar. Novamente saindo de novo da ala dos homens. Quis gritar para ele, mas lembrei do recado da carta e a última vez do alvoroço que causei.

Mas a saudade dos meus filhos foi mais forte, corri para a grade da janela e gritei... - Doutor Ribamar, doutor... preciso falar com você. Desta vez ele veio em minha direção porque ninguém desviou sua atenção e ao chegar perto fiquei trêmula e tirei forças para falar o mais rápido possível sobre minha situação. - Doutor, desculpe, mas eu preciso que você apenas me ouça. Apenas tive uma crise nervosa meses atrás e vim parar aqui. - Ele falou que ia ver meu caso e para mim não se preocupar. Não tive fé porque tempos atrás os médicos diziam acreditar em mim e nada acontecia. Volto para minha cama e comecei a notar cada paciente e tentar imaginar o que elas estavam passando. Elas eram muito sensíveis e estavam debilitadas emocionalmente. Notei que toda vez que falava de namoros, amores, desejos elas mudavam de atitude e prestavam mais atenção. Uma das histórias que elas pediam para repetir era da tragédia de amor, porque parecia que elas extravazavam seus sentimentos através dos personagens das histórias que eu contava.

TRAGÉDIA DE AMOR

O CIÚME ACABA COM A FELICIDADE – FALTA DE AMOR Outra decepção e uma tragédia de amor. Meu marido tinha um primo chamado Tom. Ele era casado, dois filhos, sua esposa esperando mais um filho. Bem empregado no serviço público. Uma linda família. Mas tentado, teve um caso com uma adolescente. As internas perguntavam. O que é ter um caso? Explicava para elas que eles se tornaram amantes, namoravam. Nesta hora era um alvoroço. As perguntas sobre os detalhes do namoro e como ele fazia para encontrá-la inundava a imaginação das internas. Vi que muitas das mulheres que estavam internadas na clínica tinham sentimentos. Precisavam de carinho e sentiam carências afetivas e sexuais por isto gostavam das histórias. Elas se imaginavam como se fossem os personagens das histórias. Confesso que às vezes aumentava um pouco ou inventava um pouco de história para agradá-las. Continuo a contar sobre o caso da tragédia. A adolescente se apaixona pelo Tom. Ela havia ameaçado-o, que iria falar com sua família se ele não se separasse de sua esposa. Queria uma solução imediata porque queria ser considerada sua mulher. Uma tarde, ela vai à casa de seu amante conhecer a sua esposa e seus filhos. Leva presentes e diz que conhece o marido dela no seu serviço. Visita agradável. Ao anoitecer, Tom chega e no jantar sua esposa comenta que recebeu uma visita muito agradável de uma amiga de seu marido. Tom fica mudo e pálido. Disfarça bem e se viu pressionado. Tinha que resolver a situação definitivamente. Tom vai ao encontro de sua amante. Ao encontrá-la diz que não gostava dela e não iria separar de sua esposa e ficou muito chateado com o que ela havia feito em relação à visita à sua esposa e filhos.

A adolescente já tinha imaginado que isto poderia acontecer e após visitar a esposa de TOM, passa na casa de um amigo e pede uma arma emprestada. O amigo fica sem saber o que fazer para não emprestá-la, mas ela o convence que será apenas para passar um susto em seu amante. Ao ouvir a notícia ela tenta argumentar dizendo juras de amor e principalmente pressionando-o em relação à sua situação. Uma mulher apaixonada que se entregou a seu amante e agora descartada. As famílias tradicionais eram muito religiosas e pregavam o sexo apenas depois do sacramento do casamento e a benção da Igreja. Na época a sociedade dizia que uma mulher que dormia com um homem se não fosse casada era considerada puta ou sem vergonha. Nenhum homem iria querer casar com ela. Se a mulher perdeu a virgindade com um homem, a ele pertencia. Um silêncio e vejo uma interna chorando. Fico sabendo depois que ela foi internada porque tinha ficado grávida de seu namorado e seus pais a internaram depois que o rapaz não queria casar com ela. Acredito que por vergonha de ter uma filha considerada vadia na família. Voltando todos queriam saber como o caso acabou. Será que realmente isto era uma tragédia. Continuo a contar... A adolescente pega a arma que tinha conseguido emprestada e ameaça Tom. Tom não acredita que alguma coisa poderia acontecer e fica tranquilo. Por descuido a arma dispara e Tom leva um tiro na cabeça e morre sentado e com um cigarro entre os dedos. Uma tragédia para todos. A adolescente é julgada, a esposa de Tom se desespera e os filhos de Tom ficam desamparados.

As internas começam a perguntar sobre o que aconteceu com os filhos, e o nenê que nasceu e como ela deu conta de cuidar de sua família. Como estão. De tantas perguntas começo a pensar realmente como ela daria conta desta situação se eu com meus filhos e ainda com a assistência de meu marido estava difícil. E ela sem marido? Paro e fico pensando e ouvindo todas as perguntas ao mesmo tempo das internas e fico estarrecida. Praticamente fiquei uma hora parada sem falar nada apenas refletindo. Dias depois como uma me senti aliviada porque tinha uma gota de esperança para minha vida. Alguém tinha me ouvido e estaria olhando por mim. Depositei esperança em que o Dr. Ribamar estaria olhando minha situação. Fico pensando se ele nem observasse minha ficha, seria uma decepção, uma traição. Fiquei pensativa e vi que em nossa vida este tipo de situação acontece diariamente. São pessoas que nos depositam confiança, e nos pedem ajuda e nós traímos sua confiança, prometendo e não cumprindo a promessa por achar que o problema dos outros é simples e sem valor. Ou mesmo quando um amigo vem nos contar que está com um plano para sair de uma dificuldade e nós o destruímos dizendo que não dará certo ou que é difícil a situação. Às vezes a ajuda ou sonho de quem te pede socorro pode ser a última gota de esperança. Nunca devemos acabar com o sonho das pessoas e jamais trair a confiança. Por não dar valor aos problemas de quem te pede ajuda é que as pessoas julgam e as amizades são difíceis. Amigo é o que se coloca no lugar do outro. Assim saberá dar conselho, ajudar e até julgar.

Depois desta data fiquei sabendo que o Dr. Ribamar analisou minha ficha e não sei o que ocorreu, mas consegui sair do sanatório. Nem despedi direito das minhas amigas. Podem não acreditar mais tenho saudade dos desfiles das internas. Pensei que iria para casa, mas fui parar em uma clínica de repouso, Pinel, na cidade vizinha de Uberlândia. Um dia.. .dois dias... Não entendia nada, mas conversando com uma interna, Marci, aprendi a fumar para ver se o tempo passava. Isto deu uma reviravolta na minha cabeça porque tinha comigo que o cigarro era para homens e mulheres descente não fumava. Ansiosa demais e vendo a calma da Marci, experimentei. Tossia demais nas primeiras tragadas, mas como deveria de ser, aprendi a apreciar o aroma da fumaça do cigarro. O bom é que me deixava menos ansiosa. Ficávamos horas e horas conversando com as pessoas. Isto amenizava minha alma e me trazia paz. Além do cigarro nos medicavam com soníferos que nos faziam dormir. Na terapia de grupo comecei a conhecer mais pessoas e achei interessante a história do advogado Alexandre que estava na clinica para não ser preso por causa da ditadura do regime militar. Fiquei com pena do Alexandre porque comentava sobre seu idealismo. Falava de coisas bonitas e de paz, de igualdade e um mundo melhor. Mas queriam prendê-lo dizendo que era comunista e um anarquista contra o regime militar. Vi o outro lado da história. Vi que ele não era um comunista, um subversivo, não era ateu e muito menos uma pessoa falsa e mentirosa como nos pregava a sociedade. Ele era uma pessoa católica, temente a DEUS e que acreditava que o mundo poderia ser melhor. Suas ideias falavam mais de paz e igualdade do que de terrorismo.

Lembro-me da Solange que praticamente ficava chorando e isolada de todos e não tinha nenhuma alegria se sentindo desmotivada. Acredito hoje que poderia ser depressão. Diversas vezes conversei com o Dr. Nivaldo que concordava com tudo que eu dizia, e realmente acreditava que eu estava na clínica por engano, mas nada mudava. Acho que não acreditava em mim. Meu tempo deveria ser diferente do tempo da clinica, não via o tempo passar. Certo dia meu irmão e marido aparecem. Uma boa noticia. Liberdade. Agora poderia ir para casa. Acho que me sentia presa e não em uma clinica para me recuperar. É bom respirar ao ar livre, ver a imensidão da natureza. Só quem ficou privada deste pequeno instante sabe o valor da liberdade. Respirar um simples sopro olhando para o céu e ver a sua volta árvores e nenhuma janela ou porta, nos mostra que não precisamos de quase nada para ser feliz. Estava me sentindo mais leve e esperançosa, apesar de sentir envergonhada com minha situação de dar trabalho para a família. O silêncio era perturbador e incomodava. Tive medo de perguntar, de me expressar. No fundo estava com a alma ferida. O choro alivia a alma. Era o que conseguia fazer. Para demonstrar que estava bem chorava apenas por dentro. Mas só a vontade de ver meus filhos fazia meus olhos brilharem, isto eu chamo de esperança.

FILHOS – UMA FONTE DE FELICIDADE

O poder de procriação (sêmen) é maravilhoso por isto somos semelhantes, ou seja, capazes de criar.

Agora iria ver meus filhos. Foi uma data muito marcante, uma de realizar o que considerava estar perdido.

RETOMANDO UMA NOVA VIDA

MUDANÇAS E SONHOS NOS TORNAM MAIS FELIZES Meu marido foi me buscar. Não sabia o que fazia: chorava ou sorria. Estava envergonhada. Sai calada. De volta a minha casa de imediato resolvi atingir alguns objetivos. Na verdade não tinha objetivos bem traçados. Abracei muito meus filhos e minha mãe. Estava com muita saudade, mas ainda envergonhada por estar com uma situação matrimonial em dificuldades e vindo de um sanatório. Minha autoestima estava baixa, mas resolvi que tinha que encarar a situação e sozinha deveria cuidar de mim e de meus filhos. Com tanto tempo afastada da minha família e refletindo sobre minha vida, verifiquei com as lembranças das histórias de meu avô que nossa vida é consequência das decisões que nós tomamos. Lembro que todos os casos que meu avô me contava e as fases que presenciei, as decisões que tomamos refletem o nosso futuro. São as consequências das decisões tomadas. Fiquei pensando qual a decisão que poderia tomar para que as consequências do meu futuro fossem frutíferas. Várias pessoas me orientavam em arrumar outro marido. Diziam que era fácil porque me achavam bonita, esbelta, olhos azuis, loira e era notada quando era vista em festas, igreja ou mesmo na feira. Estas opiniões aumentavam minha autoestima, mas amava meu marido e meus filhos e queria reconquistar minha família que considero meu maior patrimônio. Como religiosa fiel e praticante não seria qualquer problema que iria fazer quebrar a promessa realizada no altar perante DEUS. Mais do que nunca deveria ser forte e minha situação era a seguinte. Mulher jovem, bonita, mãe de cinco filhos, sendo que dois filhos tinham um problema de convulsão periodicamente e precisavam de tratamento em São Paulo. Não tinha renda para sobreviver sozinha e sem casa própria. Meu marido estava em uma situação difícil porque eu acreditava que não gostava mais de mim, mas a integridade dele fazia com que se tornasse presente na criação de seus filhos.

Minha família não tinha como me ajudar porque estavam tentando sobreviver e já tinham vários problemas. Minha irmã tinha que fazer uma cirurgia de coração e não queria atrapalhar a vida de minha mãe com mais problemas porque ela precisava ter paz para ajudar minha irmã. Meu irmão mais velho que era arrimo de família viajava muito pelo Mato Grosso e Goiás para ajudar minha mãe e ainda tinha que cuidar de sua família que estava começando. Seria levar mais problemas para ele. Minha irmã mais velha estava casada e cuidando de seus filhos. O marido da minha irmã mais velha estava ajudando meus irmãos ensinando-lhes uma profissão, sapateiro. Levar problemas para ela não me ajudaria em nada. Meu marido já não tinha vida social comigo, ficava para criar meus filhos. Se fosse passear sozinha ou com minhas primas ou amigas, ou ir a um baile ou uma festa, somente para sair, me considerariam uma vadia. Meu marido com certeza ficaria sabendo e nunca conseguiria explicar que precisava passear. Meus passeios eram na casa de vizinhas, amigas, parentes e igreja, onde me tornei Legionária de Maria. Lembro-me das vezes que passeava na hípica de Ribeirão Preto com meus lindos chapéus e roupas bem decotadas. Como usar estas roupas, chapéus e leques em Araguari. Morava perto do campo de futebol do Fluminense em Araguari e todo domingo tinha jogo. O time era referencia no estado de Minas e Brasil. Nem no campo podia ir porque não tinha com quem ir e também não era bem vista uma mulher no campo de futebol, mesmo sendo amiga e prima de jogadoras do time de futebol da cidade. Minhas primas me comentavam que os bailes dançantes do Clube Recreativo eram excelentes. Minhas primas iam e me contavam que bebiam Hifi, Gin Tônica, Cuba Libre, San Raphael, Martini, Campari e dançavam chá-chá-chá, twist e bolero. Nunca aprendi a dançar. Também era o auge das serenatas. Eu sentia um pouco de inveja mas lembrava do tempo que fiquei internada e voltava para a realidade de meus filhos e me sentia mais valorizada. Penso nas decisões que as pessoas que conheço, tomaram no passado para me ajudar a decidir sobre minha vida.

Revendo minhas recordações lembro que a decisão de vingança do índio Afonso atrapalhou seu convívio com sua família e a sociedade, não trazendo dignidade para sua irmã. A vingança de Beja para passar ciúme em seu marido somente trouxe amargura em sua vida, não conseguindo o amor de volta para sua vida. Meus meninos tinham alguns problemas de saúde, mas não era motivo de rejeição como de Pitanga e Aleijadinho, pois eram filhos com saúde, bonitos, inteligentes e tinham uma família que os acolhia. Para ver seu povo livre Negro Ambrósio pagou um preço caro. Uma decisão que me lembro, e foi interessante, foi de Pedro, filho de um bandeirante que não quis seguir viagem em busca de fortuna. Esta decisão obteve frutos como Pitanga e minha família. Ele esta sendo lembrado como uma pessoa boa que fez de sua filha uma mulher virtuosa mesmo enfrentando preconceitos. Aprendi que as pessoas no presente valorizam o poder e os bens materiais dos outros e se comparando, quando o tempo passa valorizam os atos, obras e ações das mesmas pessoas esquecendo o valor material. Fico pensando qual a melhor decisão que devo tomar. Liberdade seria largar toda a família, porque não conseguiria sustentar meus filhos. Seria fácil, mas nunca deixaria meus filhos por nada neste mundo porque considerava o sentido de minha existência. Largar meu marido seria prático, mas iria contra meu coração porque ainda o amava e contra meus princípios cristãos. Vingança? Aprendi que não valeria a pena porque os frutos são amargos e não condizia com meu coração que apesar de ferido ainda possuía muito amor. Resolvi abdicar de minha vida para recuperar o amor de meu marido, cativar meus filhos, ajudar todas as pessoas que pudesse não preocupando com minha vida social. O objetivo principal seria a independência financeira. Mas para isto teria que ser inteligente e ter paciência porque não conseguiria trabalhar e educar os filhos, que até agora eram cinco. Minha decisão foi estudar.

Decidi me dedicar aos estudos depois que conversei com minha prima Carminha. Ela estava estudando em Uberlândia e fazendo faculdade de Educação Física, era uma menina muito esforçada e dedicada. Do outro lado estava minha mãe com a luta dos meninos. Nesta época meus irmãos que aprenderam o ofício de sapateiro montaram a Sapataria Oliveira. Era orgulho para minha mãe porque eles já conseguiam se sustentar. Na rua que minha mãe morava era uma tranquilidade, perto da Praça do chafariz e do cinema. Sempre ia visitá-la para acalmar e cansar meus filhos que tinham muita energia. Meu irmão caçula colocava-os no quarto do fundo e contava histórias. Era meu descanso semanal.

Rua Antônio Lemos da Silva – Antiga Casa Sucena

DE VOLTA AOS ESTUDOS

HISTÓRIAS VIVIDAS COM FILHOS NOS TRAZ FELICIDADE

1971, com 33 anos e cinco filhos para educar sendo o mais velho com 12 anos na sexta série e o mais novo com seis anos no primário. Para voltar a estudar comecei no Colégio Estadual desde a quinta série porque não aproveitaram meus estudos que tinha realizado até a oitava série no Colégio das Irmãs. Alegaram que já tinha muito tempo e que deveria iniciar na quinta série. Foi uma época difícil, tinha que reaprender a estudar. No primeiro ano estudei de manhã, ia com meus filhos para a escola e estudava em sala diferente. Estava difícil porque tinha que sair e ainda fazer almoço e preparar outros meninos para o jardim de infância. Resolvi estudar de noite. Mas para estudar de noite existia um problema. Uma mulher sozinha andando na rua a pé. Poderia ficar mal falada. Resolvi arrumar alguém para me acompanhar. Não tinha outra saída a não ser chamar meu filho para estudar comigo. Um dos meus filhos estudava de manhã na mesma sala que outro seu irmão. Eram competitivos e isto me aliviava em relação aos seus estudos porque um cobrava do outro mais conhecimento. Uma competição salutar. Lembro que eles eram criativos. Sonhavam com um jogo chamado WAR, pois seus colegas jogavam. Eles não tinham os dados nem o mapa. Eles improvisavam desenhando o mapa MUNDI em um papel de pão que vinha da padaria e como não tinham os dados jogavam de modo relâmpago, três partidas de xadrez para cada ataque. Ficavam horas jogando WAR Xadrez. O mais velho gostava de música e era muito bom de matemática. Já o segundo, era fanático por corrida automobilística. O do meio era mais esportista. Era atleta de natação e futebol. Lembro que fui convidada pelo ATC, um clube que ele treinava, para homenageá-lo. Tinha centenas de medalhas, mas não as guardava. Para mim era um orgulho. Ele viajava muito, tanto para nadar, jogar tênis de mesa e jogar xadrez representando a cidade. Com o xadrez ele e seu irmão representavam a escola e a cidade.

Eles treinavam com os filhos do Cirito, um dos nossos vizinhos, que tinha um moinho de fubá que ficava de frente a nossa casa. Inventavam até em jogar mental que é a técnica de jogar sem olhar o tabuleiro, um olhando e outro de costa jogando mentalmente. Não tinha outra saída, mas tive que chamar um de meus filhos para ir comigo à escola de noite. Para ele foi um pouco difícil porque trabalhava de manhã na loja de produtos veterinários. Esta loja era do meu marido, sua mãe e irmão. Meu filho trabalhava de manhã de ajudante geral, cobrador e serviço de banco e de tarde treinava natação. Chegava de tarde do treino e pegava uma bicicleta cargueira da loja e me levava para a escola João Pedreiro que era uma escola anexo do Colégio Estadual. Observava que ele tinha vergonha às vezes, principalmente quando as suas amigas da natação viam ele me carregar com a bicicleta de carregar gás ou caixas. Ele sempre procurava mudar de caminho para despistar evitando que seus colegas o vissem. Eu entendia sua situação porque ele só tinha 12 anos. Na época de chuva era impossível ir a pé ou de bicicleta. Arrumei um perueiro para nos levar a escola. O motorista era o Sr. Bim, goleiro do fluminense de Araguari, que carregava alunos para as escolas. Pessoa muito humilde e de grande coração. Seus amigos arrumaram esta perua para ele aumentar sua renda pois só a profissão de jogador não era suficiente para ele sustentar sua família. Esta situação não foi fácil porque era refém de carregar um filho para as outras pessoas não comentar de meu caráter. O tempo parecia que estava inerte, estagnado. Lembro que uma vez nesta escola tive uma crise de nervos. Imediatamente meu filho veio ao meu socorro e praticamente todos da sala saíram correndo. Uns falaram que tinha baixado um espírito em mim, outros diziam que eu estava louca.

Neste dia agradeço ao professor de Biologia, estudante de medicina, que me trouxe para casa com meu filho depois de horas de conversa sobre meu estado emocional. Nunca esqueço o que ele me recomendou: Viva agora intensamente porque a ansiedades é querer viver o futuro no presente, o que é impossível. Isto lhe provocará depressão que é a vontade de viver no presente o que deixou de viver no passado, que também é impossível. Portanto o agora é o passado amanhã, viva-o. Isto fez com que eu aproveitasse a companhia de meu filho na escola. Valorizava mais nossa jornada na época de prova. Ele praticamente fazia todos os trabalhos dos nossos colegas porque tinha facilidade e os alunos trabalhavam de dia. Na época de prova era muito engraçado porque a concorrência para sentar perto dele era grande. Ele foi responsável na conquista de diversos diplomas de nossos colegas. Mais um ano diferente. Minha irmã foi operar novamente e não tinha quem cozinhasse para meus irmãos. Solução marmita. Eu ficava com os meninos mais novos enquanto meu filho pegava a marmita para meus irmãos que trabalhavam. Lembro muito bem da música do Raul Seixas que dizia que não queria ficar na frente da TV vendo a vida passar ou agradecer por poder dar comida aos macacos no zoológico. Praticamente todo dia às 11:00 horas tocava, era a hora que meu filho tinha de buscar marmita. Repenso minha vida. Agradecia pela saúde de meus filhos, minha família simples e unida e com uma nova perspectiva: ESTUDAR. O estado de saúde de minha irmã me preocupava, mas não podia fazer nada. Pedi muito a DEUS para ajudar minha irmã. Minha cabeça estava confusa. Aprendi que realmente a vida é um presente. Minha irmã tinha muita vontade de viver porque era nova, muito bonita, inteligente e bondosa.

ESPORTE E GLAMOUR

O ESPORTE UNE PESSOAS AFASTANDO AS DIFERENÇAS UM PASSO PARA SER FELIZ

Nesta época lembro que o Fluminense de Araguari era um time conhecido e vencedor. Na cidade vieram diversos jogadores. A tia de meu marido que tinha duas lindas filhas estava preocupada porque seu marido não deixava suas filhas namorar jogador de futebol. Sr. Armando, policial aposentado, era um homem muito bom e simples. Ele era o responsável em castrar as cachorras da vizinhança para não procriar. Tinha um Jeep que meus meninos adoravam sentar e imaginar dirigindo o carro. Suas filhas eram muito bonitas e os jogadores ficavam encantados com a beleza delas. Um dos jogadores de nome Beliato namorou uma das meninas. Mas só foi paquera porque o pai delas não permitia namoro. Outro jogador, Lino, casado com Núria, também era nosso vizinho. Sua esposa sempre nos chamava quando ele demorava a chegar de noite. Os filhos eram criados juntos. Lembro-me que um dia aparece Lino ganhador da loteria esportiva. Ficou rico. Comprou um opala SS verde e preto e montou uma concessionária de carros. Passeou com todos os meninos. O Arlindo era o zaqueiro do Fluminense e morava no campo de futebol. Seus filhos jogavam com meus filhos. Sua esposa Divina era uma preciosidade de pessoa, me ajudou muito a criar meus filhos. Eu gostava da companhia da Carminha e Sonia, minhas primas, porque na casa delas era praticamente um salão de beleza. Grandes bobs nos cabelos e unhas bem feitas. A vaidade de ficar mais bonita era triunfante. Mas alguns familiares tinham ciúmes da beleza e dos namorados delas. A família se dividia. Intermediava porque conhecia o ambiente, as amizades e como elas se portavam. Eram uma maravilha os festivais de sorvete ou chopp onde se comprava o caneco para participar. Tinha coleção de canecos. Na casa de Carminha e Sonia os canecos não cabiam nas prateleiras.

Nesta época o time de futebol feminino já não era mais sucesso. Lembro-me de um time de índios xavantes que veio jogar em Araguari. Fomos todos ao estádio e ficamos admirados com os índios. Diversas vezes meus filhos assistiam aos jogos do fluminense. Já estiveram em Araguari os times do Cruzeiro com Tostão, Piazza bem como Atlético Mineiro. Nosso querido fluminense não deixava por menos. Tínhamos orgulho de nossa cidade e de nosso futebol.

Da esquerda para direita de pé: Lino, Mauro, Beliato, José Francisco, Bim o goleiro e Arlindo. Do lado o reporte José Reinaldo Machado.

Agachados: Lucinho, Lúcio, Juca Show, Baiano e Noé

O fim de semana era agitado na cidade porque todos iam ao estádio e passavam na porta de casa. Meus filhos estavam satisfeitos e com saúde. Meu casamento praticamente estava perdido, mas continuava na luta pela independência financeira. Amenizava minhas reclamações sobre minhas dificuldades observando o problema das famílias de meus amigos, assistidos ou parentes. Empenhada na caridade, tínhamos uma vizinha, Tina, que tinha duas filhas. Inês e Maria das Dores. Uma delas teve paralisia infantil e não andava. Tina trabalhava de servente na escola Estadual e para ajudá-la a trabalhar eu e minha amiga Dona Irani olhávamos suas filhas. A Tina era uma batalhadora, pois ainda passava roupa para aumentar sua renda. Seu marido, Antônio, apesar de ser um excelente alfaiate era alcoólatra. As filhas de Tina eram da mesma idade de meus filhos e as brincadeiras de namoro eram motivo de choro, eram crianças vergonhosas e puras. Ficou mais difícil a sua vida quando Antônio aos 38 anos caiu de uma caminhonete e bateu a cabeça no paralelepípedo da calçada de uma avenida da cidade de Araguari e veio a falecer. Muita tristeza. Logo após o ocorrido minha mãe foi para Ribeirão Preto, no Hospital das Clínicas, levar minha irmã para operar do coração. Arrumou para Dôdo como era chamada a filha da Tina, uma cirurgia para sua reabilitação, paralisia infantil. Como era necessário um endereço da cidade, Maria do Rosalvo muito caridosa cedeu sua casa para a reabilitação da criança. Meu marido carregava-a no colo porque não conseguia andar e queria continuar a estudar depois da reabilitação. Foi uma grande vitoria porque agora Dôdo podia andar. Esta foi uma das grandes ações que todos mobilizaram para realizar. Aprendi muito com elas, pois tivemos que ter humildade em pedir ajuda a desconhecidos que prontamente disponibilizaram sua casa, simplicidade para carregar uma criança no colo para continuar seus estudos, atitude em solicitar ajuda ao Hospital e a boa vontade de todos.

Boas amizades são difíceis de encontrar e lembro-me de Dona Irani, boa vizinha. Era uma mulher forte e dinâmica, esposa do Professor Hermenegildo, um português elegante e educado. Suas filhas também eram da mesma idade de meus filhos. O professor gostava muito de pescar e em uma destas pescarias levava toda sua família e a minha para passear. Coincidências acontecem e já aposentado, ao atravessar uma rua no centro da cidade caiu e bate a cabeça também no paralelepípedo e vem a falecer. Duas amigas que perdem seus maridos de formas iguais em épocas diferentes. Muitas coincidências aconteciam, mas fico pensativa em como ligar os fatos ou o que DEUS esta querendo me mostrar. A rua era cheia de crianças. A meninada fazia competição de futebol na calçada do Sr. Guaraci, um senhor que trabalhava na revenda de caminhões da marca Mercedes Bens. Era um homem de situação financeira controlada e era conhecido como o dono da melhor calçada para jogar futebol em Araguari. Quando não estavam na calçada do Guaraci estavam na graminha, a grama da Avenida Minas Gerais. Ali era perigoso porque a bola sempre ia para na avenida e o movimento de veículos poderia machucar alguma criança. Neste cenário a policia sempre passava e só observava meninos gritando: - Olha o rapa... Corria crianças para todos os lados. A família de meu marido afastou de meu convívio. Lembro que uma noite sonhei que minha sogra tinha ficado doente. No outro dia fui visita-la com meu filho. Adivinha. Era apenas um sonho. Fiquei sem saber o que falar para ela na minha frente. Não podia falar muito sobre isto porque poderiam pensar que realmente era louca e voltaria para o sanatório.

SAIDAS DESESPERADAS

A BUSCA PELA FELICIDADE DEVE TER LIMITES Nestes anos todos, na tentativa de conquistar meu marido, nada consegui. Meu filho estava doente dando crises e o outro já havia sarado. Fraquejei. Será que compensava esta luta. Era muita preocupação com a família de meu marido, com a sociedade, a igreja, os vizinhos, a escola e o tempo não me ajudava. Algumas pessoas falavam que isto que eu estava passando só podia ser feitiço. A nossa região era muito mística. Não custava nada. Fui tentar quebrar este feitiço que poderiam ter me colocado. Era feliz, bem financeiramente, apaixonada, filhos sadios e de uma hora para outra separada, filho doente, dificuldade financeira. Indicaram-me um benzedor perto de Indianópolis. Diziam que ele benzia contra inveja, mal olhado e feitiço. Não podendo ir sozinha, meu filho me acompanhou. Confiava em meu filho, era meu confidente e amigo. Peguei um taxi e fomos com destino a Indianópolis. Era um senhor simples, humilde e me disse que sem querer as pessoas nos invejam e como somos muito receptivos ficamos carregados desta energia negativa e que deve ser controlada, equilibrada. Ele me pediu uma roupa de meu filho e de meu marido. Era para curar meu filho e ver se meu marido estava enfeitiçado e quebrar mal olhado. Outros conselhos e fui parar no centro Espírita da Dona Cota. Era um centro espírita umbandista que ficava perto de minha casa. Como era de costume meu filho me acompanhava. Ele sabia o nome de diversos orixás e ficava admirado quando a Pomba Gira incorporava na médium. Ela e conhecia o nome diversos orixás e gostava da Pomba gira porque era mensageira entre o mundo dos orixás e a terra. Ele ficava com os olhos arregalados quando tinha trabalho. Fiz tudo isto para ver se meu filho fosse curado. Meus amigos e vizinhos diziam que estava com feitiço e precisa ser quebrado.

Fazia novenas, meu filho que sempre me acompanhava já rezava o terço sozinho inclusive com a invocação da Salve Rainha. Nas quermesses para levantar os santos meu filho era convidado à puxar o terço. Um dia estava acabando de limpar a casa, tinha encerado o chão, batido escovão, os meninos chegaram da rua e estava acabando de limpar a cozinha. Imagine cinco meninos gritando, um correndo atrás do outro, um pedindo água, outro pedindo comida e ainda não tinha acabado o serviço e tinha que tomar banho para ir à escola. Crise de nervos. Gritei com todos e o silêncio imperou na casa. Olhei para todos os meus filhos que não entendiam porque tinha dado uma crise nervosa e chorei. Chorei por mais de meia hora e abracei meus filhos e pedi desculpa. Não podia descontrolar. Melhorei e fui à Igreja da Matriz orar. Estava implorando para que minha situação melhorasse e me tornasse independente financeiramente. Batendo no peito, confessando meus pecados e chorando. Orei muito e pedi perdão sobre qualquer pecado que tivesse feito com ou sem meu conhecimento. Queria ter paz. Nesta hora meu filho que ia para o treino de natação chegou perto de mim na paróquia e disse: - Mãe, não fica assim, estou aqui. Eu nunca vou deixa-la sozinha. Nós bastamos para a senhora. A partir deste dia comecei a ver o mundo de outra forma. Resolvi perdoar. O perdão foi à ponte que atravessei para a minha felicidade. Um alívio me chegou ao coração. Não tinha que provar nada para ninguém, não sou obrigada a ter uma família perfeita, serei simplesmente Maria. Resolvi perdoar meu marido e todas as pessoas que acreditava que estava contra minha família. Compreendi que o erro estava mais em mim. Resolvi me dedicar mais as pessoas e aos meus filhos.

CARIDADE CARIDADE – AMOR AO PRÓXIMO – Ponte para FELICIDADE

Ajudava uma família de leprosos da cidade. Toda semana eles vinham até minha casa a cavalo e mantinham uma distância para coleta da ajuda. Utilizavam o chapéu para receber as doações. Às vezes íamos até o ribeirão Piçarrão levar ajuda a eles. O local era distante da cidade e ideal para eles acamparem. Nesta investida conheci diversos amigos verdadeiros que considero muito. Como o João Messias, marido da Maria Mole que praticamente adotei sua família. João era uma pessoa simples e especial. Viviam em um barraco de lona plástica com seus quatro filhos. Sempre levava meus filhos para visitá-los levando um pouco de esperança e alimento para esta família. Os meninos adoravam os piqueniques que fazíamos com os filhos de João. João Messias era otimista, todo dia saia para a cidade, pois morava no subúrbio, e pedia para limpar quintal das casas que passava. Via em seus olhos claros, a alegria de estar vivo apesar das dificuldades. Nunca o vi reclamar das dificuldades, com simplicidade alegrava seus filhos com brincadeiras diversas. Meu filho adorava porque brincava de carrinho de lobeira, competição de alvo em árvore com estilingue e outras brincadeiras simples. Outra amiga que encontrei nestas andanças foi a Tereza que tinha um filho chamado Hélio que sempre ficava em casa com os meus filhos. Eles andavam de carroça para vir à cidade. Ao nos visitar sempre tinham que dar uma volta de carroça com meus filhos. Como poderia ficar reclamando da vida se as pessoas que ajudava viviam me ensinando que a felicidade está nas pessoas e na saúde e não em um casamento ou em riquezas e poder.

Sentia-me mais forte com minhas amizades. Recordo da campanha para a filha da Tina poder andar sozinha devido à paralisia infantil. Fui companheira e amiga dela quando seu marido faleceu ao cair na rua e batido à cabeça no paralelepípedo. Lembrava que o Antônio (marido da Tina) já estava tendo alucinações. E eu reclamando. As pessoas que me ajudavam também precisavam crescer. Fiquei triste quando a família da Carminha e Sonia mudou-se para Belo Horizonte. Agradeço muito a amizade de dona Irani que me ajudou a superar esta ausência. Resolvi pintar. Minha prima Penha me ensinou a fazer quadros com relevo em papel alumínio e cera. Levei meu filho para ajudar. Fizemos um quadro enorme com duas japonesas com suas lanternas. Era um quadro de papel laminado dourado com fundo preto. Vendemos alguns quadros, mas a profissão não se tornou rentável. Foram três anos estudando de noite e consegui chegar ao colegial. Como precisava de uma profissão o mais rápido possível fui fazer um curso técnico de Contabilidade. Nada era a profissão que queria exercer, mas era uma oportunidade e uma tentativa. Nesta época minha mãe e meus irmãos foram de mudança para Goiânia. Era uma oportunidade para passear com meus filhos. Eles foram morar na Vila Nova em Goiânia, perto do Setor Universitário. Acreditava que meus filhos um dia poderiam estudar em Goiânia e poderia ficar mais perto de minha mãe. Foi muito bom para meus irmãos. Um que era contador arrumou emprego rapidamente e outros dois foram trabalhar com meu cunhado que estava muito bem financeiramente em Goiânia. Para minha mãe não sei se foi boa esta mudança. Ela, como eu detestava calor. Mas logo meu outro irmão casou e a vida foi acertando.

FAMILIA

LAR - UM LUGAR DE AMOR E FELICIDADE Como sempre minha mãe todo ano reunia seus filhos e netos em uma reunião festiva. Ela fazia questão que todos seus filhos se reunissem no mínimo no natal. Ela era uma pessoa muito religiosa e caridosa. Gostava da casa cheia. Sabia cativar os sobrinhos, netos, filhos, noras e genros. Aos domingos sempre ficava em casa e fazia almoço para reunir os filhos. Era um momento que não se falava de quem tinha dinheiro ou quem não tinha emprego. Era uma confraternização para reunir e agradecer. As crianças adoravam. Era uma maneira de conhecer e manter viva a célula familiar. Agradeço a minha mãe por ter me ensinado estes valores singelos e de grande valor. Outro exemplo simples que minha mãe me ensinou é que todo casamento de seus filhos ela presenteou com uma Bíblia Sagrada. 1977 minha mãe faleceu. Quando criança ela teve tétano e ao virar o pé em uma escada em Goiânia, pensando que não era nada grave despreocupou apesar de ficar com o pé inchado. Faleceu serena e seu filho mais novo estava com ela entregando um copo de água que havia pedido. Meu irmão disse que foi uma morte serena, sem dor, sem angústia. Apenas descansou. Veio para minha casa ser velada. Para mim foi muito difícil. Não aceitei muito porque era muito amiga dela e queria estar perto dela e não estava. Culpei-me. Meu marido me ajudou muito neste desafio e agradeço muito a ele, ele sempre foi um homem bondoso e amigo.

MÃE

A FELICIDADE DE SER E TER MÃE

Só quando perdemos as pessoas amamos ou que sempre podemos contar é que damos valor. Por mais que tenha abraçado, confidenciado minhas alegrias e angustias, ter amado, ainda é pouco o que fazemos em relação a nossa mãe.

Nesta foto de 60 anos de minha mãe, presente minha querida irmã Vilma e não deixando de notar minha alegria de ver 03 gerações reunidas. Minha mãe, eu e meu filho que sempre me acompanha.

Realmente tempo é uma questão de preferência. E minhas preferências

pela família foram corretas.

UMA LINDA PROFISSÃO

A FELICIDADE EM AJUDAR AS PESSOAS DOENTES

Para entender melhor a situação, como minha mãe havia falecido, procurei respostas tanto físicas como espirituais. Questionando a todos, recebi muita orientação de uma amiga de escola, a Delci. Quanto estava frequentando o curso de contabilidade, conheci uma linda jovem, Delci. Sergipana que veio morar em Araguari, trazida por seus pais que eram barrageiros. Nome dado aos profissionais que constroem barragem de Usinas Hidroelétricas. Eles vieram construir a barragem de Emborcação no rio Paranaíba. A cidade estava movimentada. Ela estudava comigo de noite e fazia um curso de enfermagem de dia. Convenceu-me que enfermagem era uma profissão que nunca iria ter crise e de remuneração garantida além de poder ajudar as pessoas. Não pensei duas vezes, me matriculei no curso de enfermagem na Escola Savério Petanha. Resolvi então ser enfermeira para entender melhor o que ocorreu com minha mãe. Também poderia ser um trabalho e uma caridade com as pessoas. Veja que coincidência. Uma profissão que ajuda as pessoas e ainda é remunerada. Observei que DEUS queria me dizer alguma coisa. Devagar e pensativa observo as minhas companheiras na época em que fiquei internada. Acho que sendo enfermeira poderia ajudá-las. Vi que um simples olhar, uma atenção ajuda os pacientes. Lembro-me que as enfermeiras quando estava internada mais se preocupavam em nos vigiar do que nos ajudar. Acredito que iriam gostar de mim como enfermeira. Imagino-as perguntando, seria um barulho ensurdecedor. Só se acalmariam quando estavam prestando atenção em alguma história, ficaria distraindo-as ao invés de dopá-las porque quando mais dopadas mais agressivas ficávamos.

Vi que quando a paciente se comunica, se expõe e faz atividades a recuperação é muito mais rápida e menos medicamentosa. Principalmente deixando-as expor suas opiniões e contar sua versão de como foi parar em uma clinica de recuperação. Isto eu vivi pessoalmente. Em meu devaneio sou interrompida pela irmã Goni. Irmã Goni era a freira responsável pelo curso. Acredito que era europeia, pela sua fisionomia. Meu estágio foi no Hospital São Sebastião. Fiquei dois anos estudando e fazendo estágio sem remuneração. Muitas histórias. Sentia-me bem em ajudar as pessoas. Observei que as pessoas que ficam doentes ficam muito sensíveis e carentes. Não esqueço quando o irmão da Delci ao soldar um tubo submerso, ficou preso. Submerso veio a falecer. Muita tristeza para a família de um jovem cheio de vitalidade e gosto pela vida. A Delci ficou arrasada. Era hora de ajudá-la e retribuir o bem que ela me fez no falecimento de minha mãe. Em um turno que estava de plantão, depois da medicação, outro jovem de 22 anos sofre uma parada cardíaca. Foi a primeira vez que vejo alguém falecer. Fiquei muito chocada. Meses depois, já recuperada, um senhor também barrageiro, chega ao hospital todo queimado proveniente de um acidente de trabalho. Tivemos que ficar de plantão. Foi à gota d´água. Meu marido chegou de viagem vendo que não estava em casa com os meninos, ficou chateado dizendo que não recebia nada e estava esquecendo-se de criar os filhos e abandonando a família. Meu sonho de independência como profissional sucumbiu. Nesta época meus meninos fizeram diversas amizades com os filhos dos profissionais responsáveis pela construção da Barragem de Emborcação. Eram profissionais de diversas regiões do Brasil. De volta às outras histórias. Não podia parar, tinha que aproveitar enquanto meu marido ainda me ajudava a ajudar na criação de meus filhos e minha sobrevivência. Tinha que conseguir formar em um curso técnico para tentar conseguir um emprego.

ADOLESCÊNCIA UMA FASE DE FELICIDADE

Como o curso era de Contabilidade e exigia de Matemática e lógica, para me ajudar levei meu filho para estudar comigo. Era uma festa. Ele era muito querido dos meus colegas porque a maioria dos alunos estava com mais de 25 anos e ele com apenas 16. Eu via em seus olhos a força da adolescência, a energia de um jovem. Ele ficava deslumbrado porque aquelas meninas todas formosas e os meninos fumando e com carros e motos. Para ele era uma independência. Época de prova era uma luta para sentar a sua volta. Uma vez ele fez a prova para quase metade da turma. Todos conspiravam para que a prova chegasse à carteira dele e ele as fazia e entrega para os colegas. Os alunos arrumavam alguma coisa para ele melhorar a letra. Sua letra nunca foi boa, acredito porque sempre teve que escrever rápido. Depois de meses neste ritmo os professores começaram a tirá-lo de perto de mim. Neste dia fui pega de surpresa. Mas ele fez a prova rapidamente e escreveu em um papel o conteúdo das questões e jogou o papel do meu lado ao sair da sala. Neli, uma moça bonita que fazia enfermagem pisou no papel e copiou na minha frente, foi um desespero porque o tempo estava acabando. Ela acabou metade da prova, rasgou o papel no meio, me entregou e finalizou sua prova. Depois fui a ultima a entregar a prova porque o professor estava me esperando. Tirei apenas metade da prova porque não deu tempo de copiar o restante. João Otávio era nosso professor de francês, a prova dele era difícil porque ele ficava em pé do meu lado. Um dia pedi para ele sair do meu lado porque não conseguia me concentrar. Ele deu a maior gargalhada e rindo saiu do meu lado. Acho que ele sabia que estava desesperada para receber ajuda de meu filho. Assim foram meus anos de estudo.

Meu filho estudava de manhã no colegial e Contabilidade comigo, o segundo filho já tinha ido para Belo Horizonte estudar. Acho que meu filho sentiu muito a falta do outro irmão porque eram muito ligados e competitivos. Agora percebo que deveria ter deixado meu filho estudar em Belo Horizonte, junto ao seu irmão. Para amenizar sua dor comprei em sua formatura um anel de Contador para ele. Foram seis meses de economia e imagina que ele deu o anel para uma amiga dele que se mudou para Goiânia. Ele era muito amigo do irmão dela. Quando fiquei sabendo perguntei. - O que você fez do seu anel de Contador? - Dei para Rosana, ela mudou para Goiânia. - Porque você deu para ela? Você sabe que custou uma nota. Ele me respondeu com um olhar bem sincero -Você tinha me dado. E se era meu podia dar para ela. Sorriu e foi treinar. Neste dia ele e a equipe de natação que ele participava foram de bicicleta para uma represa e treinaram durante 4 horas. Nunca tinha preocupado porque eles faziam isto direto, mas depois de ver que ele não deu valor ao anel me certifiquei que ele queria ter ido ficar com seu irmão. Conversando com meu marido pedi para que ele fizesse um cursinho preparatório para vestibular com o irmão dele em Belo Horizonte. Acreditava que estaria compensando uma falha de minha parte em pedir que me acompanhasse nos estudos noturnos. Pensei que tinha cometido uma injustiça. Imaginei que ficariam 30 dias estudando. Mas não foi o que aconteceu, ele foi para as cidades vizinhas com amigos que conheceu em Belo Horizonte.

Moramos durante anos na casa de minha sogra e mudamos para uma casa mais central. A adaptação foi fácil porque crianças e adolescentes se adaptam facilmente. Novos vizinhos e amigos. Vanda do Sr. Wilton, Luzia esposa do Sr. Pedro Faria. Verifico que as dificuldades das pessoas eram as mesmas de todos. Mais madura agora vejo com bons olhos minha situação. Praticamente nova casa, novo bairro, distante do centro. Casa grande vizinhança nova. Mais difícil porque não possuíamos veículo e dependíamos de ônibus para ir ao centro. Mas para os meninos a adaptação foi rápida. Agora já era certeza a separação. Separei definitivamente de meu marido. Era chamado de desquite. Como já era esperado segui minha vida normalmente e agora com um pouco mais aliviada. Continuando os estudos, os filhos também foram estudar fora. O caçula fica para traz e nas noites sem atividade monta uma banda de rock. Agora a casa ficou cheia novamente, tanto de jovens como de barulho. - Vô ... não estamos entendendo. A senhora esta falando rápido demais. Minha bisneta me orienta para contar mais pausadamente as histórias Continuo mais vagarosamente. Continuando a estudar passei no vestibular para História em Araguari. Quatro longos anos se passaram, mas gostava de ir à faculdade, conheci muitas pessoas cativantes e sedentas de sucesso. Meus filhos estudando fora ficando apenas o mais novo com sua banda. Dona Derli e Sr. Luciano se mudou para nosso bairro como diversas famílias. Minha querida vizinha. Como nossos filhos eram quase da mesma idade conseguimos montar um bar na represa das Araras com sociedade dela. Ela sempre gostou de cozinhar. Era uma festa nos finais de semana. Os meninos iam para a represa com uma turma. Nós íamos para fazer almoço e tentar vender produtos e salgados. Só ficou na festa porque não tinha tanto movimento.

Dona Derli era muito querida. Fiquei muito chocada com a morte de suas duas filhas. Luciene e Peninha, filhas de um casamento de cinco filhos, ao viajarem para Uberlândia para realizarem um culto, sofrem um acidente e veem a falecer. As meninas eram muito novas e fui pega de surpresa porque o tempo passa e temos que aproveitar nossa vida no presente porque algumas separações são impossíveis de serem retomadas e só ficam saudades. Meus filhos à medida que iam crescendo começaram a definir seus caminhos. Um foi para Belo Horizonte fazer engenharia, outro foi para Ituiutaba também fazer engenharia, depois de não querer ir para Passos. Dois foram para Ribeirão Preto fazer Química e o filho caçula resolveu ficar com sua banda. Eles gostavam de rock. A casa vivia cheia de adolescentes para prestigiar a banda. Na falta de dinheiro começaram a tocar em bailes de fazenda, bailes de carnaval entre outros. Resolvi com uma vizinha e amiga estudar para concursos. O Brasil nesta época apenas quem era concursado tinha segurança em relação ao trabalho e aposentadoria. Por incrível que pareça passei na Fundação de Brasília para professora nível médio. Frio na barriga. Será que conseguirei. Até a presente data estava na zona de conforto porque era minha cidade. Agora terei que viver sozinha, encarar uma vida diferente que estava acostumada e deixar meus filhos para trás. Se realmente queria a liberdade financeira deveria tomar uma decisão: resolvi ir para Brasília.

PROFESSORA MARIÁ

AÇÕES EM CONJUNTO AJUDAM A SERMOS MAIS FELIZES

Uma nova realidade. As portas foram se abrindo para mim porque não fiquei sozinha. Minhas sobrinhas, filhas de minha irmã mais velha, já trabalhavam na Fundação e me apoiaram muito. Agora vejo que não foi tão difícil e agradeço muito o apoio delas. Meu filho mais velho veio morar comigo depois de formado porque arrumou emprego na capital federal. Ajudou-me muito na rotina do dia a dia e como companhia. O tempo passa e as dificuldades em ter energia para suportar cinquenta alunos em sala de aula não eram fáceis. A rejeição me apareceu de frente. Os alunos queriam uma professora mais jovem. Eu já tinha 49 anos. Apelidaram-me de “XUXA amanhã”. Mas levava na brincadeira. Tempo de muita interiorização. Pertencia a uma paróquia e nossa pastoral fornecia sopa na madrugada toda segunda feira para moradores de rua e pessoas carentes. Nesta época fiz muitas amizades que me ajudaram a compreender melhor o mundo porque reclamamos muito e éramos insatisfeitos. Quando olhava as pessoas que toda segunda nos aguardava para poder se alimentar observava minha responsabilidade em não faltar nos encontros. Analisava a grande diferença social existente na capital federal, era gritante a diferença social entre o funcionalismo público e o restante dos habitantes. Anos de muito trabalho. Consegui me realizar profissionalmente e financeiramente porque agora dependia apenas de meu trabalho. Ajudava meus filhos que estavam começando a vida, meus netos começaram a nascer. Meus filhos vinham me visitar. Saia de Araguari para Brasília de “trem de ferro” com netos nas férias. Tempo de alegria apesar da distância da minha família proveniente da necessidade do trabalho.

Certo dia outra decepção. Ao ajudar uma criança que estava chorando no corredor da escola ao lado de outro adolescente, ao me aproximar vi que o menino menor estava dando o tênis para o menino maior que estava armado. Era um assalto. O assaltante olhou para mim e me ameaçou. - A senhora não viu nada... Suma daqui porque sei onde a senhora mora e o dia que da aula aqui. Vaza. Vi que a insegurança prevalecia. A vida não era valorizada no ambiente que estava vivendo. Estavam todos procurando dinheiro e poder. Imagine que depois de tanta batalha, ao ajudar uma criança ser baleada sem motivo por causa de um tênis. Interiorizei-me. Comecei a observar as pessoas a minha volta. Estavam todos querendo direitos. Estavam em busca de estabilidade financeira a todo custo. Participei de passeata em prol da classe de professores para garantir mais direitos. As crianças que dávamos aula estavam distantes do mundo que estávamos trabalhando. Todos em busca de dinheiro. O diretor precisava sobreviver e queria estabilidade econômica, os professores às vezes queriam dar aula, mas as crianças revoltadas com sua situação financeira tinham outro objetivo. Queriam entrar para o governo e se aposentar ou para o mundo do crime e também ter dinheiro fácil. O objetivo era ter poder ou dinheiro a qualquer custo. Outra decepção que tive foi com a classe dos professores que atendendo aos líderes sindicais que nos prometiam melhorias financeiras no nosso salário, nos convenciam a realizar greves e passeatas. Passado alguns anos além de não receber aumento nossos lideres sindicais que lutavam pelos nossos direitos agora estavam no poder. Esqueceu-se de quem os colocaram no poder. Senti-me usada e manipulada.

Resolvi aposentar, estava vivendo em um mundo que não me cabia. Na busca pela independência financeira comecei a esquecer das pessoas. Não via meus netos como deveria. Meus valores começaram a se tornar apenas em prol do dinheiro e poder. Meus amigos de sindicato me usavam para obter prestigio e poder. Meus colegas de trabalho só falavam em direitos de carreira, direitos de melhoria salarial, em busca de poder e nossos alunos já não mais respeitavam os professores como no meu tempo de adolescente. Eram dois mundos distantes na visão dos alunos, que observavam uma grande diferença social. De um lado sua família se desdobrando para sobreviver com salários baixos e de outro um mundo de fartura dos garantidos pelo governo. Através do estudo acreditavam que não iam conseguir mudar a realidade que viviam. Não queriam trabalhar tanto como seus pais se existia um mundo de pouco trabalho e muita garantia. O reflexo da realidade de Brasília estava enraizado agora em sua cultura, ou seja, queriam o poder e segurança para si e se possível rápido. Para possuir bens como relógios, bonés, bicicletas, começavam a roubar, se prostituir e com isto a droga entrou fácil na escola. Estava vivendo em um mundo muito capitalista, egoísta com uma bandeira socialista. Resolvi voltar. Aposentei. Mas não queria voltar para minha cidade natal. Onde poderia morar. Sem muitas opções. Fiquei em Araguari. - Vó.... Mas a senhora pulou muito tempo. Seus filhos como eles casaram. E as festas de família.

Minhas bisnetas gostavam que eu contasse de como elas nasceram e seus pais. - Agora esta na hora de dormir... Vamos tomar banho e depois da janta conto mais. Venham aqui e me dê um beijo, Deus as abençoe. Não vó só conta sobre a ira dos espíritos dos índios. Por favor, vó. Está bem, mas vamos colocar as blusinhas porque já esta esfriando e depois direto para cama.

A CRENÇA E A CIÊNCIA SE CONFIRMAM Foi na década de 80. Uma doutoranda da Faculdade Federal de São Paulo na cidade de Bauru veio me visitar. Ela estava realizando um estudo sobre as características dos fanhosos e sua origem. Como nossa família possui estas características ela solicitou nossa ajuda. Cientificamente ela precisava verificar as características genéticas da família. Ela inicialmente começou com a coleta de sangue para analisar a genética. Ela coletou sangue de meus irmãos, filhos, e diversas pessoas da família. Ela me explicou da seguinte maneira: - Há diversos motivos que podem levar alguém a falar de forma fanha. A origem mais comum é devido à fissura palatal (buraco no céu da boca que deixa escapar ar para a cavidade nasal). Esta fissura pode ser provocada pela má formação dos ossos ainda no feto durante a gestação, acidente ou extração devido a tumores na região. Nestes casos podem ser resolvidos com implantes de prótese móvel quando for muito grande ou de acrílico quando for menor a fissura. A voz também pode pegar o caminho das narinas devido à falha na musculatura da garganta ou pela falta da úvula. Em relação à musculatura pode ser amenizado através de exercícios. No caso de sua família o processo é interessante. A falta da úvula é um problema genético, atestado pelas análises de sangue e da análise de DNA. Por incrível que pareça, o processo da sua família é da seguinte forma: Os homens são fanhos e não transmitem o gene defeituoso. As mulheres transmitem o gene defeituoso, mas não são fanhas. Quis perguntar para ela se ela acreditava na cultura dos índios brasileiros. Mas como eu iria perguntar para ela. Ela era muito cética a dados não científicos.

Notei que a ira dos índios contada pela minha família começava a fazer sentido. Eles tinham ciúmes dos homens fazendo com que os homens que nascessem de descendentes de índias teriam a marca do fanho. Já as mulheres não tinham a marca, mas passaria se ficassem fora do relacionamento de sua tribo. Intrigante a coincidência. Mas começo a fazer uma árvore genealógica mentalmente para ver se realmente esta coincidência é verdadeira. Observando a árvore vejo que Pitanga teve uma filha chamada Agda que é mãe de meu avô Antonio Camilo. Como os homens não transmitem o gene defeituoso só poderia vir de minha avó Maria Cândida, mãe de Constância. Vejo que esta coincidência iniciou-se quando meu avô Antônio Camilo que não possuía o gene defeituoso casou-se com Maria Cândida que possuiria o gene defeituoso devido à possibilidade de seus antepassados fossem descendentes também de índios ou de possuírem casamento entre parentes (primos de primeiro grau). Existe um ou outro caso de fanhos na família de Maria Cândida confirmando a crença da marca que os índios deixaram quando houvesse encontro dos descendentes. Este encontro ocorreu quando os dois se casaram e a história parece se confirmar. Preciso ver com carinho este enigma. Vou procurar no livro que meu filho documentou a árvore e esta história, ele gosta muito de documentar a história da família. Talvez possamos encontrar a explicação para este enigma. Corro e pego o bauzinho que meu filho me presenteou com a árvore e começo de novo a tentar decifrar este enigma. Pego o mapa que ele desenhou dos fanhos e começo a refletir.

Noto que existe casamento entre os primos de primeiro grau na família de minha avó. Será que poderia ser um aviso da família da mãe de Pitanga não sendo uma praga, mas um aviso, um presságio para que a família ficasse alerta para não tomarem seus parentes em casamento. Fiquei pensativa. Devaneio. Começo a sonhar acordada. Minha vida passa rápido na minha frente. Começo a imaginar as fases da minha vida. Vejo que a verdadeira felicidade está no relacionamento com as pessoas. Em poder ajudar, em saber que podemos contar com um amigo. Que um local de amor é a família porque é de amores incondicionais. Vejo como as pessoas buscam a felicidades em dinheiro, ouro, poder, paixões, mas esquecem de que a felicidade não deve ser passageira ou temporal, ela deve estar dentro de você, em paz e tranquila. O tempo não para e as pessoas passam nas nossas vidas como oportunidades. Quando houver um reencontro este reencontro deve reviver a felicidade vivida nos momentos passados e a saudade deve surgir não como arrependimento de falta ou de dever, mas sim de como foi bom o momento vivido. Ás vezes, buscamos a felicidade momentânea, a segurança, e isto denota a nossa falta de fé. Devemos agir e acreditar. Eu posso dizer que fiz um pouco da minha parte. Não me deixei abater, fui à busca da minha liberdade financeira e neste caminhar acredito ter deixado flores sem espinhos e acredito que honrei minha família. Aprendi que o dia mais feliz da minha vida é hoje porque estou viva e posso compartilhar com outras pessoas minha experiência, aprender mais, e saber que ainda existe um tempo para agradecer.

O silêncio foi tão grande que começou a me perturbar. Olho de lado e vejo as minhas bisnetas dormindo....lindas, meigas, fico observando. Carreguei-as para a cama e fui dormir.... Mais um dia maravilhoso porque minha alma está leve e alegre por vivenciar este momento tão simples e valoroso que é contar histórias para minhas bisnetas. Antes de dormir pego meu caderno de anotações. São anotações que carrego comigo diversos anos. Ele é um resumo de várias etapas da minha vida. Vejo que tem muitas páginas que ainda não consegui contar. São histórias que vivenciei e que fazem parte da vida de meus filhos, mas haverá oportunidade de contar a vocês. Boa noite e bons sonhos.

A N E X O S

São coisas boas que deixamos de inserir no conteúdo do trabalho. É interessante ler.

Fanho Um estudo realizado no Brasil, na Universidade de Bauru, complementa que existem diversas maneiras de uma pessoa ser fanhosa. Traumas psicológicos, sustos, acidentes, problemas fonoaudiólogos e o principal: o genético. Comenta-se que existam apenas 03 famílias no mundo que são geradoras da genética fanhosa, sendo 02 no Brasil. O gen defeituoso faz com que a glote (campainha da garganta) da pessoa não desenvolva provocando assim o som fanhoso na sua comunicação. O interessante é que o gen só é transmitido pelo sexo feminino e neste caso apenas os homens são afetados (não desenvolvem a glote). Ou seja, as mulheres transmitem e os homens são fanhosos. As mulheres podem ser fanhosas por outros motivos como: traumas psicológicos, acidentes entre outros, mas no caso deste estudo a falta da glote provocada por um gen defeituoso apenas a mulher transmite e somente os homens desenvolvem a falta da glote. Portanto o gen passa de mulher para mulher e os filhos homens podem ou não desenvolver a falta da glote, mas não transmitem o gen defeituoso. O gen defeituoso passa de geração em geração paralisando em uma prole masculina.

Denominaremos o gen defeituoso de genF

Probabilidades

a) Mulher sem o genF 1-Com homem não fanho pode gerar filhos sem genF e não fanho 2-Com homem fanhoso pode gerar filhos sem genF e não fanho

b) Mulher com o genF 3-Com homem normal pode gerar filhos sem genF e não fanho 4-Com homem normal pode gerar filhos com genF e não fanho 5-Com homem normal pode gerar filhos sem genF e fanhoso 6-Com homem normal pode gerar filhos com genF e fanhoso

c) Mulher com o genF 7 -Com homem fanhoso pode gerar filhos sem genF e não fanho 8 -Com homem fanhoso pode gerar filhos com genF e não fanho 9 -Com homem fanhoso pode gerar filhos sem genF e fanhoso 10-Com homem fanhoso pode gerar filhos com genF e fanhoso

Portanto, geneticamente conforme este estudo apenas as mulheres são portadoras do genF e não sendo afetadas pelo gen defeituoso. Os homens não transmitem o genF porém são afetados, provocando a falta da formação da glote (campainha) provocando o fanho. A ciência detecta uma explicação para a lenda dos índios que queriam machucar o homem que ficasse com as índias, mas não afetando a as mulheres indígenas.

5 PEQUENSAS LIÇÕES QUE NOS AJUDA A SERMOS FELIZES

1) A FAXINEIRA

Durante meu primeiro ano de faculdade, nosso professor nos deu um questionário. Eu era bom aluno e respondi rápido todas as questões até chegar à última. “Qual o primeiro nome da mulher que faz a limpeza da escola?” Sinceramente, isso parecia uma piada. Eu já havia visto a tal mulher várias vezes. Ela era alta, cabelo escuro, lá pelos seus 50 anos, mas como eu ia saber o primeiro nome dela? Eu entreguei meu teste deixando essa questão em branco e um pouco antes da aula terminar meu colega perguntou se a ultima pergunta do teste ia contar na nota. “É claro!” Respondeu o professor. ”Na sua carreira, você encontrará muitas pessoas. Todas têm seu grau de importância. Elas merecem sua atenção mesmo que seja um simples sorriso ou um simples alô.” Eu nunca esqueci essa lição e também acabei aprendendo que o primeiro nome da mulher era Maria. Primeira Lição: Você pode e deve ser importante, porque todas as pessoas são importantes perante DEUS, mas o mais importante é o respeito ao próximo e o valor que você dá aos humildes.

2) PEQUENOS ATOS, GRANDE DIFERENÇA. Contam que: Numa noite, estava uma senhora negra, americana, sentada ao lado de uma estrada no estado do Alabama, enfrentando um tremendo temporal. O carro tinha enguiçado e ela precisava desesperadamente de uma carona. Completamente molhada, ela começou a acenar para os carros que passavam. Um jovem branco, parecendo que não tinha conhecimento dos acontecimentos e conflitos dos anos 60, parou para ajudá-la. O rapaz a colocou em um local protegido e procurou ajuda mecânica. Logo após chamou um táxi para ela. Ela parecia estar realmente com muita pressa, mas conseguiu anotar o endereço do rapaz e agradecê-lo. Sete dias se passaram e bateram à porta da casa do rapaz. Para a surpresa dele, uma enorme TV colorida com console, estava sendo entregue na casa dele com um bilhete junto que dizia: ‘Muito obrigada por me ajudar na estrada naquela noite. A chuva não só tinha encharcado as minhas roupas como também meu espírito. Aí você apareceu. Por sua causa eu consegui chegar ao leito de morte de meu marido antes que ele falecesse. DEUS te abençoe por ter me ajudado. Sinceramente.

Mrs. Nat King Cole”

Segunda lição: Pequenos atos ou gestos podem ser a diferença que falta para termos um mundo melhor. Seja você a diferença.

3) PEQUENAS AÇÕES GRANDES OPORTUNIDADES Numa época em que um sorvete custava muito menos que hoje, um menino de 10 anos entrou na lanchonete de um hotel e sentou na mesa. Uma garçonete colocou um copo de água na sua frente. “Quanta custa um sorvete de sundae?”, perguntou o menino. “Cinquenta centavos”, respondeu a garçonete. O menino puxou as moedas do bolso e começou a contá-las. “Bem, quanto custo o sorvete simples?” ele perguntou. As essa altura, mais pessoas estavam esperando por uma mesa e a garçonete, perdendo a paciência respondeu de maneira brusca: “trinta e cinco centavos.” O menino mais uma vez contou as moedas e disse: “Eu vou querer então o sorvete simples.” A garçonete trouxe o sorvete simples, a conta, colocou na mesa e saiu. O menino acabou o sorvete, pagou a conta no caixa e saiu. Quando a garçonete voltou ela começou a chorar a medida que ia limpando a mesa pois ali, do lado do prato, havia quinze centavos em moedas, ou seja, o menino não pediu o sundae porque ele queria que sobrasse a gorjeta da garçonete. Terceira lição: Não feche os olhos para as pequenas coisas do dia a dia, não as ignore, porque você pode estar deixando uma grande oportunidade pode ser aquela que justamente iria mudar a sua vida.

4) OS OBSTÁCULOS DEVEM SER ENFRENTADOS Contam que em tempos bem antigos, um rei colocou uma pedra enorme no meio de uma estrada. Então ele escondeu e ficou observando para ver se alguém tiraria a imensa rocha do caminho. Alguns mercadores e homens de posse do reino passaram por ali e simplesmente deram a volta pela pedra. Alguns até esbravejavam contra o rei dizendo que ele não mantinha as estradas limpas, mas nenhum deles tentou sequer mover a pedra dali. De repente, passa um camponês com uma boa carga de vegetais. Ao se aproximar da imensa rocha, ele pôs de lado a sua carga e tentou mover a pedra dali. Após muita força e suor ele finalmente conseguiu mover a rocha para o lado da estrada. Ele, então voltou a pegar a sua carga de vegetais mas notou que havia uma bolsa no local onde a pedra estava. A bolsa continha muitas moedas de ouro e uma nota escrita pelo rei que dizia que o ouro era para a pessoa que tivesse removido a pedra do caminho. O camponês aprendeu o que muitos de nos nunca entendeu: “Todo obstáculo possui uma oportunidade para melhorarmos nossa condição” Quarta lição:Muitas vezes desviamo-nos do nosso caminho para não encarar a realidade pela dificuldade e com isso não só passamos o problema para outros por não termos assumido a nossa parte da responsabilidade, como também podemos estar nos privando de muitas coisas boas, no mínimo a satisfação de ter realizado um grande feito.

5) DOAÇÃO É SINÔNIMO DE AMOR. Contam que em um hospital, há muitos anos atrás, quando um médico trabalhava como voluntário veio a conhecer uma menina de nome Liz, que sofria de uma doença rara. A única chance de recuperação para ela parecia ser através de uma transfusão de sangue do irmão mais velho dela de 05 anos, que milagrosamente havia sobrevivido à mesma doença e parecia ter, então, desenvolvido anticorpos necessários para combater a doença. O médico explicou toda a situação para o menino e perguntou, então, se ele aceitava doar o sangue dele para a irmã. Eu o vi hesitar um pouco mas depois de uma profunda respiração disse. “Tá certo, eu topo, já que é para salvá-la”. À medida que a transfusão de sangue ia progredindo, ele estava deitado na cama ao lado da cama da irmã e sorria, assim como nós também , ao ver as bochechas dela voltarem a ter cor. De repente, o sorriso dele desaparece e ele empalideceu. Ele olhou para o medico e perguntou com voz trêmula: “Eu vou começar a morrer logo, logo?” Por ser uma criança ingênua e muito nova, tinha interpretado mal as palavras do médico, pois ele pensou que teria que dar todo o sangue dele para salvar a irmã. Quinta lição: “Porque quando crianças, somos capazes de grandes gestos e com o passar da idade passamos a ser cada vez mais mesquinhos e arrumamos desculpas para justificar nossos atos e omissões?”.

DO AUTOR

Agradeço aos leitores que encontraram mais de sete erros de gramática neste livro porque foi lido e acredito que tenham aproveitado os bons exemplos nele contido. Confesso que aprendi um pouco o sentido da vida com minha mãe e procurei demonstrar relatando a bela história de uma mulher vencedora. Vi que o mundo nos envolve com sua maravilhosa natureza e oportunidades de apreciá-la bem como nos oferece todos os recursos que precisamos. Apesar de estarem à nossa disposição, temos que conquistá-los e para isto nos esforçar em consegui-los. Na busca pela sobrevivência e felicidade enfrentamos dificuldades e muitas das vezes machucamos pessoas. No meio desta caminhada da vida achamos que somos felizes conseguindo poder, dinheiro, terra, sexo, drogas. Uns dizem com facilidade “Não consigo, é difícil” e outros com entusiasmo comentam “Vou tentar”. Notei que existem dois tipos de pessoas: as que criam e as que somente consomem, fazendo uma grande diferença entre o futuro de cada uma delas. Perdendo tempo e envolvidos na busca da felicidade, esquecemos o melhor da vida que são as pessoas. Toda a ciência e religião nos indica a direção da felicidade: as pessoas. A ciência testifica que algumas doenças psicologias/sociais vêm da falta do simples contato pessoal (solidão). A religião é totalmente direcionada para a manutenção da vida eterna através da recuperação das pessoas e certifica que DEUS é amor. A felicidade solitária é passageira e temporária. Toda nossa felicidade deve ser compartilhada, contada e comentada para ser valorizada. Vejo como exemplo minha mãe que ao longo de sua vida através do perdão e doação que nada mais é que amar, compartilhou sua alegria, sua ajuda, seu companheirismo e sua companhia. Parece pouco, mas apenas a companhia e disponibilidade de uma pessoa são preciosas. É ter alguém para no mínimo confiar, desabafar, errar e doar.

Vejo que muitos falam, mas não conversam, muitos visitam, mas não estão presentes, muitos ajudam e mostram as mãos, demonstrando porque possuímos muitos conhecidos e poucos amigos. A família é um dos locais de maior amor porque possui o amor conjugal, que deve ser um amor escolhido. A família gera filhos de um amor eterno. Neste movimento surgem os amigos e vizinhos que é a forma de exercitar o amor incondicional e a caridade. Envolvidos com as pessoas e a família, temos a oportunidade de perdoar e ajudar que é a essência do amor. Aprendi que devemos perdoar apenas quando não temos amor, nos sentindo feridos. Quando amamos o perdão é desnecessário, porque entendemos a fraqueza das pessoas que nos ofendem. O texto mostra a perseverança nos objetivos aliada à esperança, oração e fé em DEUS e nos ensina como atravessar por dificuldades e sairmos limpos, íntegros, fortes e principalmente em paz. Através dos exemplos que nos rodeiam podemos nos orientar nas nossas decisões. Agradeço muito a toda minha família que me ensina valores do ser independente do ter. Homenageio meu pai, meu amigo que me ensinou a alegria de viver e o valor do trabalho onde podemos ter a oportunidade de compartilhar. A minha mãe, meu muito obrigado pela vida, amizade, amor e exemplo. Aos meus irmãos diretos e indiretos meu reconhecimento de gratidão por terem podido compartilhar com cada um nossas experiências impares e parabéns por vocês serem fortes lidando com as intempéries da vida. Aqui deixo declarado com satisfação o amor que sinto pela minha esposa Ligia, que muito me inspira e tem ajudado nas nossas realizações pessoais, profissionais e familiares. Obrigado aos meus filhos Lucas, Luiza e Pedro que estão sempre me ensinando como viver e aproveitar as oportunidades nas adversidades. Deixo aberto, minha amizade e amor fraterno, gritando que amo vocês. A todos meus amigos e pessoas que fizeram parte da minha história, muito obrigado, e minhas desculpas se direta ou indiretamente os tenha machucado, peço perdão.

A DEUS, meu humilde obrigado por ter propiciado esta maravilhosa vida e continuar a tentar honrar minha família. Como exemplo, desafio os leitores a poder falar:

“Minha neta dê-me sua neta, para abençoá-la” Só tataravós tem este privilégio.