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SAUDE MENTAL E TRABALHO: UMA REVISAO DE LITERATURA PSYCHOLOGICAL HEALTH AND WORK: A REVIEW OF LITERATURE Mariela Lima Amaral¹ Sonia Moura² ¹ Psicóloga, pós graduanda em gestão estratégica de pessoas pela Universidade Tuiuti do Paraná, Curitiba, Brasil. Administradora, formada pela Universidade Tuiuti do Paraná e pós-graduada em Marketing e Negócios pelo IBEPEX. _______________________________________________________________ RESUMO Este artigo teve por objetivo estudar a relação entre o trabalho e a saúde mental, mediante uma analise bibliográfica acerca da saúde mental e o trabalho. Devido as varias mudanças que vem ocorrendo no ambiente de trabalho, tais como: necessidade de alta produtividade, avanço tecnológico e enfraquecimento das relações de trabalhos resultam no aumento dos trabalhadores com doenças ocupacionais, além de atentar contra a saúde mental. Palavras-chave: saúde mental, trabalho. _______________________________________________________________ SUMMARY This article aims to study the relationship between work and mental health, through a literature review on mental health and work. Due to the various changes that have occurred in the workplace, such as: the need for high productivity, technological advancement and worsening relations work resulted in widespread workers with occupational diseases, and undermine mental health. Keywords: psychological health, work

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SAUDE MENTAL E TRABALHO: UMA REVISAO DE LITERATURA

PSYCHOLOGICAL HEALTH AND WORK: A REVIEW OF LITERATU RE

Mariela Lima Amaral¹

Sonia Moura²

¹ Psicóloga, pós graduanda em gestão estratégica de pessoas pela Universidade Tuiuti do

Paraná, Curitiba, Brasil.

Administradora, formada pela Universidade Tuiuti do Paraná e pós-graduada em Marketing

e Negócios pelo IBEPEX.

_______________________________________________________________

RESUMO Este artigo teve por objetivo estudar a relação entre o trabalho e a saúde mental, mediante uma analise bibliográfica acerca da saúde mental e o trabalho. Devido as varias mudanças que vem ocorrendo no ambiente de trabalho, tais como: necessidade de alta produtividade, avanço tecnológico e enfraquecimento das relações de trabalhos resultam no aumento dos trabalhadores com doenças ocupacionais, além de atentar contra a saúde mental. Palavras-chave : saúde mental, trabalho.

_______________________________________________________________

SUMMARY

This article aims to study the relationship between work and mental health, through a literature review on mental health and work. Due to the various changes that have occurred in the workplace, such as: the need for high productivity, technological advancement and worsening relations work resulted in widespread workers with occupational diseases, and undermine mental health.

Keywords : psychological health, work

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INTRODUÇÃO

O presente artigo ira tratar da relação entre a saúde mental e o trabalho.

Esta relação tem recebido atenção nas ultimas décadas, fato decorrente das

mudanças acarretadas pela globalização.

O interesse em pesquisar esse tema deveu-se ao fato de que, um dos

maiores fenômenos da sociedade atual são problemas de saúde mental, que

ainda não possui uma compreensão definitiva e nenhum tratamento definido.

Torna-se interessante, pois, fazer uma análise deste fenômeno.

Supõe-se que devido as varias mudanças que vêm ocorrendo no

ambiente de trabalho, tais como: necessidade de alta produtividade, avanço

tecnológico e enfraquecimento das relações de trabalhos resultam no aumento

dos trabalhadores com problemas de saúde.

Pretende-se, então, compreender a relação entre a saúde mental e o

trabalho, buscando esclarecer a etiologia da saúde mental e o desenvolvimento

de depressão no ambiente de trabalho, através de uma revisão bibliográfica.

Propõe-se, ainda, estudar o desenvolvimento histórico do trabalho, a fim

de compreender as mudanças ocorridas neste contexto com o passar dos

tempos.

A partir dos dados obtidos nessa revisão de literatura, poder-se-á,

através de sua divulgação, contribuir para a melhoria da qualidade de vida

desses profissionais, e a melhoria das relações de trabalho, bem como mostrar

à sociedade a importância do tema, para que possa pensar em políticas de

prevenção a problemas relacionados a saúde mental no trabalho.

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REVISÃO DE LITERATURA

Histórico da evolução do trabalho

Segundo MARTINS (2000), a relação entre o trabalho e o homem se da

desde 4000 A.C, onde predominava o trabalho escravo e o trabalhador era

“coisificado”. Na bíblia o trabalho era tido como um castigo. O significado da

palavra trabalho é objeto de tortura.

De acordo com MARTINS (2000), o trabalho poderá ser compreendido

como um conjunto de princípios, regras e instituições cujo objetivo é regular a

atividade dos órgãos jurisdicionais na solução dos dissídios entre empregador

e empregado.

No que diz respeito a evolução do trabalho MOTA (1956), ressalta que

um marco importante foi a revolução industrial, pois após esta revolução teve-

se consequências transformadoras. A expressão Revolução Industrial nomeia

o grande desenvolvimento econômico ocorrido na Inglaterra nos Sec. XVIII e

XIX. Tal evolução teve origem na organização do sistema fabril, utilizando-se

de novas tecnologias.

Conforme MOTA (1956), com a inserção das maquinas a vapor

aconteceram significativas mudanças com a substituição do trabalho rural e do

artesanato pelas atividades industriais. Como consequências disto,

trabalhadores passaram a deixar o trabalho rural ou artesanal para trabalhar

nas indústrias.

Foi neste momento histórico citado por MOTA (1956), que as condições

de trabalho mudaram radicalmente, predominando o trabalho estafante e

prolongado com péssimas condições de moradia e de alimentação.

De acordo com MOTA (1956), com o passar dos tempos tais condições,

foram-se evidenciando. Além das condições citadas acima se pode considerar:

Concentração do capital em poder de uma reduzida parcela de pessoas;

Ausência de qualquer direito trabalhista e falta de motivação dos trabalhadores.

Foram estes alguns dos motivos que começaram a mobilizar pensadores da

época, que a posteriori começaram a escrever e falar sobre este cenário.

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Como consequência uma relação conflituosa passou a existir entre o

empregado e o empregador. Por mais que existissem mais empregados do que

empregador ainda assim não apresentavam força, pela falta de conhecimento

do que estava acontecendo.

Já no Brasil, MARTINS (2000), relata que o primeiro órgão de solução

de conflito de trabalho foi o Patronato Agrícola, criado em 1911, através da lei

nº 1.299- A de 27 de dezembro de 1911.

Com o Advento da revolução industrial, criou-se a necessidade de um

setor que pudesse regular as atividades dos diversos trabalhadores dentro das

industrias. Esta área foi denominada de Recursos Humanos.

Segundo Marras (2002), a área de Recursos humanos surgiu da

necessidade de controlar os trabalhadores. Objetivavam controlar horas

trabalhadas, atrasos e absenteísmo.

Marras (2002), ressalta que esta área era e é entendida pelos

trabalhadores como o lugar onde contratam e demitem pessoas. Um

departamento que serve apenas os interesses da empresa.

Foi com base neste cenário que surgiu o interesse em se estudar sobre

os efeitos colaterais observados no campo da psicologia organizacional e da

sociologia do trabalho.

Foi o americano Taylor e após o francês Fayol que introduziram pela

primeira vez a clássica divisão do administrador, sendo estes autores

responsáveis pelo surgimento do movimento da administração científica.

É neste momento histórico que surgiu a função de chefe de pessoal.

Como citado por Marras (2002), Os trabalhadores eram vistos pelas empresas

como mais um instrumento para obtenção de resultados. A ideia predominante

era a de ter trabalhadores com boa saúde física e com a máxima dedicação à

empresa. Se levarmos em consideração o cenário em que a função de chefe

de pessoal nasceu, podemos então, chegar a conclusão que sua postura como

gestor era exclusivamente voltado aos interesses da empresa não havendo

preocupações com a saúde mental e bem estar do trabalhador.

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Eram atividades de um chefe de pessoal o controle de entrada e saída

de funcionários, pagamentos, vales, advertência e desligamento. Era uma

função vista pelos empregadores como de confiança, sendo a essa função,

atribuído muito poder coercitivo.

A década de 20 foi marcada por movimentos de relações humanas,

onde se passou a refletir sobre o modelo de atuação do chefe de pessoal.

Passa-se então, a utilizar um modelo de gestão que valoriza a relação entre

empregador e empregado. Enquanto na escola clássica predominava uma

postura autocrática, o novo modelo propunha aumentar a produtividade pela

eliminação dos conflitos. Este novo modelo administrativo buscava o bem

estar do trabalhador, um movimento no qual nem os empregados e nem os

empregadores estavam preparados (Marras, pag 23-2002).

Segundo Marras (2002), foi em 1945 influenciado pelo behaviorismo,

teoria psicológica que elege o comportamento como objeto de estudo, que os

primeiros estudos sobre liderança, autocracia, democracia e motivação foram

realizados. É neste contexto que a função de chefe de pessoal passou a ser

envolvida com as teorias de Simon, McGregor, Barnard, Argyris, Likert e pelo

poder das relações informais.

É pensando na necessidade de se conhecer as variáveis intrínsecas e

extrínsecas dos seres humanos que se começa a valoração da função de

“cuidar do pessoal”. É neste momento que a função chefe de pessoal deixa de

ser puramente operacional para se tornar de origem tática.

De acordo com pesquisas realizadas em 1997 pela professora Tose, da

Faculdade de administração da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo

citado por Marras (2002), pode destacar cinco fases no desenvolvimento e

evolução do perfil profissional dos trabalhadores de RH.

Anterior a década de 30 predominava-se a fase contábil, ou seja, da

gestão de pessoal. Preocupava-se com os custos da organização. Os

trabalhadores eram visto sob o enfoque contábil.

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De 1930 a 1950 foi denominada como fase legal, onde o chefe de

pessoal se preocupava com o acompanhamento e manutenção das recém-

criadas leis trabalhistas.

Já em 1950 a 1965 os profissionais de RH assumiram uma postura mais

tecnicista. Neste período foi implantado o modelo americano de gestão de

pessoal. Foi nesta fase que o RH passou a operacionalizar serviços de

treinamento, desenvolvimento, recrutamento, seleção, cargos e salário, higiene

e segurança no trabalho.

De 1965 a 1985 foram anos que marcaram a atuação dos profissionais

de RH como a fase Administrativa, onde se pretendia transferir a ênfase dos

procedimentos burocráticos e operacionais para as responsabilidades de

ordem humanísticas, voltada ao individuo e não a empresa.

Foi a partir de meados da década de 80 que foram introduzidos os

primeiros programas de planejamento estratégico.

Foi nesta fase que se registraram as primeiras preocupações de longo prazo, por parte do board das empresas, com os seus trabalhadores. Iniciou-se nova alavancagem organizacional do cargo de GRH, que, de posição gerencial, de terceiro escalão, em nível ainda tático, passou a ser reconhecido como diretoria, em nível estratégico nas organizações (Marras, pg.27-2002).

De acordo com Fernandes e Berton (2004), o estudo das estratégias

organizacionais esta diretamente relacionado com os conceitos militares a

respeito de como vencer os inimigos. Os militares definiam três alvos para

vencer os inimigos. O primeiro alvo era a avaliação das forças do inimigo; o

segundo era relacionado a avaliação dos recursos dos inimigos e o terceiro

relacionava-se a sua disposição em lutar.

Após a segunda guerra mundial a definição acima citada passou a ser

empregada aos métodos de gestão quando se tratava de estabelecer

estratégias para vencer na batalha por mercado (Fernando e Berton, pag.13-

2004). Ao se aplicar este conceito no âmbito empresarial não irá se tratar

apenas de vencer inimigos e sim se estende no sentido de tornar concreto o

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futuro desejado, visando tanto às oportunidades que o mercado oferece quanto

os recursos que a organização dispõe.

Segundo Henderson citado por Fernandes e Berton (2004), é através

das estratégias que as organizações podem planejar a sua evolução. De

acordo com o mesmo autor :

Estratégia é a busca deliberada de um plano de ação para desenvolver e ajustar a vantagem competitiva de uma empresa. Para qualquer empresa, a busca é um processo interativo que começa com um reconhecimento de quem somos e do que temos neste momento. Seus competidores mais perigosos são os que mais se parecem com você. As diferenças entre você e seus competidores são a base de suas vantagens. Se você participa do mercado e é autossuficiente, pode já ter uma vantagem competitiva, não importa se pequena e sutil. De outra forma, já estaria perdendo gradualmente os clientes, mais rapidamente do que ganhando. O objetivo deve ser aumentar o escopo de sua vantagem, oque só pode acontecer se alguém perder com isto (Fernandes e Berton, pag.14-2004).

Para que se tenha uma competição estratégica, Fernandes e Berton

(2004) destacam os seguintes elementos: Capacidade de compreender o

comportamento competitivo considerando cliente, dinheiro, pessoas e recursos

em constante relação; capacidade de compreensão para ter clareza quando

uma estratégia poderá gerar um desiquilíbrio competitivo; capacidade de prever

riscos e lucros com exatidão e certeza e disposição para agir.

De acordo com Bethlem (2003), pode-se perceber que as estratégias

não são simples de serem planejadas e executadas. A estratégia engloba tudo

e requer comprometimento de toda a organização, sendo esta, planejada e

ponderada onde se comprime o tempo e causa mudanças radicais. O

pensamento estratégico irá implicar na maneira de pensar e agir a respeito das

mudanças ocorridas tanto na empresa quanto no mercado.

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Como se pode perceber a área de recursos humanos surgiu da

necessidade de controlar alguns aspectos como: faltas injustificadas e atrasos,

visando o interesse da empresa. Com os movimentos de relações humanas os

empregadores passaram a pensar no individuo e em sua relação com a

empresa, e para isto tornou-se importante discutir sobre um RH menos

operacional e mais estratégico.

Segundo Marras (2002), Podemos entender o Recursos Humanos

Estrategico como a gestão que valoriza a otimização dos resultados finais e a

qualidade dos talentos que compõe a empresa. Este modelo de administração

de RH não se posiciona em linha no organograma da empresa, mas sim em

Staff. Neste modelo o RH se posiciona entre a diretoria e os negócios da

empresa, ou seja, não esta representada por equipes técnicas que respondem

cada uma por um tipo de serviço como se da à configuração do RH tático-

operacional. A AERH irá atuar cada vez mais como consultoria.

Quando um RH se posiciona de forma estratégica ele passa a

assessorar e prestar subsídios cognitivos aos diretores da empresa no que diz

respeito a: Qualidade dos talentos que compõem a organização;

desenvolvimento individual e organizacional; politicas de manutenção do RH;

produtividade e qualidade total (Marras, pág 253-2002).

Conforme visto em Marras (2002), são notáveis as diferenças que a

proposta da administração estratégica de RH traz, principalmente quando a

comparamos com a administração tática-operacional de RH. Enquanto o ARH

esta centrada em prestar serviços, portanto geradora de despesas a AERH

objetiva “participar e assessorar na formação das macros diretrizes da empresa

de modo a alterar o perfil dos resultados e, portanto, dos lucros da empresa,

agregando valor através do capital humano existente nas organizações”

(Marras, pag 254-2002).

São poucas as empresas que tem clareza necessária para que haja uma

mudança significativa no ARH. Para que as empresas consigam atuar em um

AERH ela terá que criar e difundir diretrizes estratégicas ao longo de toda

estrutura organizacional. Estas diretrizes estratégicas poderão variar de

intensidade e qualidade conforme a empresa se estrutura (Marras 2002).

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Faz-se necessário, então, discutirmos aspectos relacionados a saúde

mental dos trabalhadores. Pois trata-se de um assunto que surgiu juntamente

com a evolução do trabalho.

Saúde Mental

Para Devereux (1971), saúde mental diz respeito a capacidade do

sujeito de ajustamento às transformações que ocorrem no seu meio. Desta

forma, pode-se definir a saúde mental enquanto um estado de equilíbrio entre a

pessoa e o ambiente no qual esta inserido. É este estado de equilíbrio que ira

proporcionar a pessoa uma participação laboral atrelada a seu bem estar.

Ainda hoje, o conceito de saúde mental esta intimamente ligado a uma

analogia com a saúde física, porém trata-se de um fenômeno mais complexo.

Segundo a Organização Mundial da Saúde, ainda não se tem uma definição

para a saúde mental, pois se trata de um fenômeno complexo que conforme o

contexto social e histórico pode sofrer alterações.

De acordo com BLEGER (1984), não se pode apenas considerar a

saúde mental enquanto ausência de doença, mas sim compreender a saúde

mental enquanto o pleno desenvolvimento das pessoas em sociedade. Nesta

visão, a ênfase recai não sobre a doença, mas sim na saúde e em como as

pessoas se relacionam com o seu meio.

Segundo DEJOURS (1949), falar a respeito de saúde sempre é difícil,

porém falar de doença se torna uma atividade fácil. O alicerce da psicopatia

tradicional esta no modelo clássico da fisiopatologia das doenças que afetam o

corpo. A grande questão a ser compreendida é como algumas pessoas

mantem seu equilíbrio perante o mesmo cenário que outras adoecem?

No cotidiano encontram-se pessoas que por sua psicodinâmica interna,

apresentam tendências a trabalhar em excesso e não criar oportunidades para

o lazer e em contra partida temos as pessoas que se permitem divertir por

vários dias. É evidente que tanto o trabalho quanto a diversão em proporções

satisfatórias são o alicerce de uma saúde mental saudável.

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Segundo SANTANA (2006), as discussão entre a saúde mental e

trabalho na literatura vem aumentando , sendo que muitos destes estudos

foram realizados na área da saúde.

De acordo com SANTANA (2006), quando o meio cientifico começa a

preocupar-se com a relação entre a saúde mental e trabalho, muitos artigos

vão tratar da depressão como o conjunto de sintomas que mais incide no meio

de trabalho. Desta forma, optou-se por dar especial atenção a Depressão.

Depressão

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS) a depressão

atinge cerca de 121 milhões de pessoas no mundo todo, mas somente 25%

recebem tratamento adequado. Estima-se que, em 2020, a depressão seja a

segunda causa de incapacitação no mundo, perdendo apenas para doenças

cardíacas, atingindo ambos os sexos e todas as idades. No Brasil chega a 1,7

milhões o número de depressivos.

Hoje a depressão é a 4ª doença de maior impacto global. Do ponto de

vista econômico, seu custo é elevado tanto para o doente quanto para a

sociedade em geral. O custo relacionado com a morte prematura, o custo

indireto por redução na produtividade e absenteísmo no trabalho são

preocupantes (SAMPAIO, 2006).

De acordo com um estudo realizado pela Universidade de Brasília (UnB)

e do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) quase 50% dos casos de

afastamento registrados pelo INSS são de trabalhadores que sofrem de

doenças mentais como a depressão (MORENO; SOARES, 2003, p. 7 – 8).

Pelo menos 10% da população irá experienciar um episódio de

depressão maior durante a vida e as mulheres têm mais probabilidade de se

tornarem depressivas do que homens (SHINOHARA, 2006).

Depressão no DSM IV- Manual Diagnóstico e Estatísti co de Transtornos

Mentais

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Segundo o DSM IV a depressão é tratada como “Transtorno Depressivo”

que se subdivide em Transtorno Depressivo Maior, Transtorno Distímico e

Transtorno Depressivo Sem Outra Especificação, e se diferencia dos

Transtornos Bipolares pelo fato de haver uma história de jamais ter havido um

Episódio Maníaco, Misto ou Hipomaníaco.

Transtorno Depressivo Maior

O DSM IV define o transtorno depressivo maior por um ou mais

episódios depressivos, ou seja, pelo menos duas semanas de humor deprimido

ou perda de interesse, acompanhados por pelo menos quatro sintomas

adicionais de depressão, constantes na Tabela 1.

A presença de um sintoma deve ser recente ou então ter claramente

piorado, em comparação com o estado pré-episódico da pessoa. Os sintomas

devem persistir na maior parte do dia, praticamente todos os dias, por pelo

menos duas semanas consecutivas. O episódio deve ser acompanhado por

sofrimento ou prejuízo clinicamente significativo no funcionamento social,

profissional ou outras áreas importantes da vida do indivíduo. Se o prejuízo é

severo, a pessoa pode perder a capacidade de funcionar social ou

profissionalmente. Para alguns indivíduos com episódios mais leves, o

funcionamento pode parecer normal, mas exige um esforço acentuadamente

aumentando.

Um Episódio Depressivo Maior não se deve aos efeitos fisiológicos

diretos de uma droga de abuso (por ex., abstinência de cocaína), aos efeitos

colaterais de medicamentos ou tratamentos (por ex., esteróides) ou à

exposição de uma toxina. Da mesma forma, o episódio não é devido aos

efeitos fisiológicos diretos de uma condição médica geral (por ex.,

hipotiroidismo). Além disso, se os sintomas começam dentro de dois meses

após a perda de um ente querido e não persistem além desses dois meses,

eles geralmente são considerados decorrência do Luto, a menos que estejam

associados com um acentuado prejuízo funcional ou incluam preocupação

mórbida com desvalia, ideação suicida, sintomas psicóticos ou retardo

psicomotor.

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Critérios Diagnósticos Para Episódio Depressivo Mai or

Tabela 1:

A. Cinco (ou mais) dos seguintes sintomas presentes durante o mesmo

período de duas semanas representando uma alteração a partir do

funcionamento anterior; pelo menos um dos sintomas devem ser (1) humor

deprimido ou (2) perda do interesse ou prazer.

Nota: não incluir sintomas nitidamente devidos a uma condição médica

geral ou alucinações ou delírios incongruentes com o humor.

(1) Humor deprimido na maior parte do dia, quase todos os dias, indicado

por relato subjetivo (por ex., chora muito).

Nota: em crianças e adolescentes, pode ser humor irritável.

(2) Interesse ou prazer acentuadamente diminuído por todas ou quase

todas as atividades na maior parte do dia, quase todos os dias (indicado

por relato subjetivo ou observação feita por outros).

(3) Perda ou ganho significativo de peso sem estar de dieta (por ex., mais

de 5% do peso corporal em um mês) ou diminuição ou aumento de

apetite quase todos os dias.

Nota: em crianças considerar falha em apresentar os ganhos de peso

esperados.

(4) Insônia ou hipersonia quase todos os dias.

(5) Agitação ou retardo psicomotor quase todos os dias (observáveis por

outros, não meramente sensações subjetivas de inquietação ou de estar

mais lento).

(6) Fadiga ou perda de energia quase todos os dias.

(7) Sentimento de inutilidade ou culpa excessiva ou inadequada (que pode

ser delirante), quase todos os dias (não meramente auto-recriminação

ou culpa por estar doente).

(8) Capacidade diminuída de pensar ou concentrar-se, ou indecisão, quase

todos os dias (por relato subjetivo ou observação feita por outros).

(9) Pensamentos de morte recorrentes (não apenas medo de morrer),

ideação suicida recorrente sem um plano específico, tentativa de

suicídio ou plano específico para cometer suicídio.

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B. Os sintomas não devem satisfazer os critérios para um Episódio Misto.

Tabela extraída de DSM-IV – Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais p.312

Transtorno Distímico

Para o DSM IV o Transtorno Distímico caracteriza-se por pelo menos

dois anos de humor deprimido na maior parte do tempo, acompanhados por

sintomas depressivos adicionais (Tabela 2) que não satisfazem os critérios

para um episódio depressivo maior.

Critérios Diagnósticos Para Transtorno Distímico

Tabela 2:

A. Humor deprimido na maior parte do dia, na maioria dos dias, indicado por

relato subjetivo ou observação feita por outros, por pelo menos dois anos.

Nota: Em crianças e adolescentes, o humor pode ser irritável, e a duração

deve ser no mínimo de um ano.

B. Presença, enquanto deprimido, de duas (ou mais) das seguintes

características:

(1) Apetite diminuído ou hiperfagia;

(2) Insônia ou hipersonia;

(3) Baixa energia ou fadiga;

(4) Baixa auto-estima;

(5) Fraca concentração ou dificuldade em tomar decisões.

C. Durante o período de dois anos (um ano, para crianças ou adolescentes) de

perturbação, jamais a pessoa esteve sem os sintomas dos Critérios A e B

por mais de dois meses a cada vez.

D. Ausência de Episódio Depressivo Maior durante os primeiros dois anos de

perturbação (um ano para crianças e adolescentes); isto é, a perturbação

não é melhor explicada por um Transtorno Depressivo Maior Crônico ou

Transtorno Depressivo Maior, em emissão parcial.

E. Jamais houve um Episódio Maníaco, um Episódio Misto ou um Episódio

Hipomaníaco e jamais foram satisfeitos os critérios para Transtorno

Ciclotímico.

F. A perturbação não ocorre exclusivamente durante o curso de um Transtorno

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psicótico crônico, como Esquizofrenia ou Transtorno Delirante.

G. Os sintomas não se devem aos efeitos fisiológicos direitos de uma

substância (por ex., droga de abuso, medicamento) ou de uma condição

médica geral (por ex., Hipotiroidismo).

H. Os sintomas causam sofrimento clinicamente significativo ou prejuízo no

funcionamento social ou ocupacional ou em outras áreas importantes da

vida do indivíduo.

Tabela extraída de DSM-IV – Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais p.332 e 333

Transtorno Depressivo Sem Outra Especificação

De acordo com o DSM IV, o Transtorno Depressivo sem outra

especificação é incluído para codificação de transtornos com características

depressivas que não satisfazem os critérios para transtorno depressivo maior,

transtorno de ajustamento com humor deprimido ou transtorno de ajustamento

misto de ansiedade e depressão (ou sintomas depressivos acerca dos quais

existem informações inadequadas ou contraditórias), exemplificados na Tabela

3.

Exemplos de Transtorno Depressivo Sem Outra Especif icação

Tabela 03:

1. Transtorno disfórico pré-menstrual: na maioria dos ciclos menstruais

durante o ano anterior, sintomas (por ex., humor acentuadamente

deprimido, ansiedade acentuada, acentuada instabilidade afetiva, interesse

diminuído por atividades) ocorreram regularmente durante a última semana

da fase lútea (e apresentaram remissão alguns dias após o início da

menstruação). Estes sintomas devem ser suficientemente severos para

interferir acentuadamente no trabalho, na escola ou atividades habituais e

devem estar inteiramente ausentes por pelo menos uma semana após a

menstruação.

2. Transtorno depressivo menor: episódios de pelo menos duas semanas de

sintomas depressivos, porém com menos do que os cinco itens exigidos

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para transtorno depressivo maior.

3. Transtorno depressivo breve recorrente: episódios depressivos durando de

dois dias a duas semanas, ocorrendo pelo menos uma vez por mês,

durante doze meses (não associados com o ciclo menstrual).

4. Transtorno depressivo pós-psicótico da esquizofrenia: um episódio

depressivo maior que ocorre durante a fase residual da esquizofrenia.

5. Um episódio depressivo maior sobreposto a transtorno delirante, transtorno

psicótico sem outra especificação ou fase ativa da esquizofrenia.

6. Situações nas quais o clínico conclui que um transtorno depressivo está

presente, mas é incapaz de determinar se é primário, devido a uma

condição médica geral ou induzido por uma substância.

Tabela extraída de DSM-IV – Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos

Mentais p.334

Segundo MATOS (2001) o DSM IV é um manual diagnóstico e

estatístico, adotado pela APA American Psychological Association , e se

constitui como um conjunto e sistema de classificação de patologias mentais.

Nele há a descrição de transtornos clínicos, condições médicas e problemas

psicossociais e ambientais associados com o transtorno mental. Se, por um

lado, o DSM IV possibilita uma maior compreensão e diferenciação dos

transtornos psicológicos, por outro demonstra suas limitações e desvantagens.

Há uma fragmentação dos quadros clínicos dos transtornos mentais, pacientes

recebem simultâneos diagnósticos, e o profissional que o utiliza não deve usá-

lo como uma lista infalível que fornece automaticamente um diagnóstico

psiquiátrico. É necessário cautela e experiência na utilização do DSM IV,

tendo-se a consciência de que este não deve ser utilizado como única fonte de

conhecimento da especialidade.

Aspectos Fisiológicos da Depressão

Segundo KAPCZINSKI, QUEVEDO e IZQUIERDO (2004) praticamente

todos os neurotransmissores foram estudados na depressão, com o objetivo de

avaliar sua possível participação na fisiopatologia dessa condição. Dentre eles

os mais estudados e com resultados mais robustos são a noradrenalina

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(norepinefrina) e a serotonina (responsável pelo controle da liberação de

alguns hormônios e a regulação do ritmo circadiano, do sono e do apetite, entre

outras). No entanto, vários outros neurotransmissores e eixos hormonais

aparecem alterados, sugerindo um complexo inter-relacionamento entre os

diferentes sistemas, não havendo ainda uma definição de qual ou quais seriam

as alterações primárias e quais seriam subprodutos.

Vários estudos relataram anormalidades nos metabólicos das aminas

biogênicas – como adrenalina, catecolamina e serotonina – no sangue, na

urina, e no líquido cerebrospinal (LCS) – líquor – de pacientes com transtornos

do humor. Os dados encontrados são bastante consistentes com a hipótese de

que esses transtornos se associam com desregulações heterogêneas das

aminas biogênicas. Das aminas biogênicas, a norepinefrina e a serotonina são

os dois neurotransmissores mais implicados na fisiopatologia dos transtornos

do humor.

Norepinefrina

A norepinefrina, também chamada de noradrenalina é sintetizada nas

fibras nervosas, suas principais ações no sistema cardiovascular estão

relacionadas ao aumento do influxo celular de cálcio, e também a manutenção

da pressão sangüínea em níveis normais além de ser um hipertensor.

A correlação sugerida pelos estudos de ciências básicas entre

downregulation dos receptores β-adrenérgicos e as respostas clínicas aos

antidepressivos é, provavelmente, a evidência isolada mais convincente

indicando um papel direto do sistema noradrenérgico na depressão. Outras

evidências implicaram também nos receptores β2-pré-sinápticos na depressão,

já que sua ativação leva a uma redução da quantidade de norepinefrina

liberada. Os receptores β2-pré-sinápticos também estão localizados nos

neurônios serotonergéticos e regulam a quantidade de serotonina liberada. A

eficácia clínica dos antidepressivos com efeitos noradrenérgicos – como a

venfalaxina (Efexor) – apóia ainda mais um papel da norepinefrina na

fisiopatologia de pelo menos alguns sintomas da depressão (Kapczinski,

Quevedo e Izquierdo, p.266).

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Serotonina

A serotonina em estudos recentes parece ter funções diversas, como o

controle da liberação de alguns hormônios e a regulação do ritmo circadiano,

do sono e do apetite, entre outras.

Com o forte impacto que os inibidores seletivos da recaptação de

serotonina (ISRSs) – como a fluoxetina (Prozac) – tem tido sobre o tratamento

da depressão, a serotonina tornou-se a amina biogênica associada com mais

freqüência a depressão. A identificação de vários subtipos de receptores de

serotonina também aumentou a expectativa da comunidade de pesquisa sobre

o desenvolvimento de tratamentos ainda mais específicos para depressão

(Kapczinski, Quevedo e Izquierdo, p.267). Além do fato de os ISRSs (Inibidores

Seletivos de Serotonina - classe de fármacos que aumentam a concentração

extracelular do neurotransmissor serotonina, inibindo a sua recaptação pelo

neurônio pré-sináptico, aumentando o nível de serotonina disponível para se

ligar ao receptor pós-sináptico.) e outros antidepressivos serotonérgicos serem

eficazes no tratamento da depressão, outros dados indicam que a serotonina

está envolvida na fisiopatologia da depressão. A redução da serotonina pode

precipitar depressão, alguns pacientes com impulsos suicidas têm baixas

concentrações de metabólicos da serotonina no LCS (líquido cerebrospinal) e

baixas concentrações de sítios de captação da mesma nas plaquetas.

Dopamina

A dopamina é um neurotransmissor, precursor natural da adrenalina e

da noradrenalia. Tem como função a atividade estimulante do sistema nervoso

central. A dopamina também está associada ao Mal de Parkinson, à

Esquizofrenia, à dependência do jogo, do álcool e de outras drogas.

Embora a norepinefrina e a serotonina sejam aminas biogênicas

associadas com mais freqüência à fisiopatologia da depressão, estabeleceu-se

a teoria de que a dopamina também tem um papel no transtorno. Os dados

sugerem que sua atividade pode estar reduzida na depressão e aumentada na

mania. A descoberta de novos subtipos de receptores para a dopamina e o

aumento da compreensão da regulação pré-sináptica e pós-sináptica de sua

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função enriqueceu ainda mais a pesquisa sobre a relação entre a dopamina e

os transtornos do humor. Os medicamentos que reduzem as concentrações da

dopamina – como a reserpina (Serpasil) – e doenças que também têm esse

efeito de diminuição (por ex., doença de Parkinson) estão associados a

sintomas depressivos. Em contraste, medicamentos que aumentam suas

concentrações, como a tirosina, a anfetamina e a bupropiona (Wellbutrin)

reduzem os sintomas de depressão. Duas teorias recentes sobre dopamina e

depressão são que a via mesolímbica da dopamina pode estar disfuncional e

que seus receptores D1 podem estar hipoativos na depressão (Kapczinski,

Quevedo e Izquierdo, p.267).

Outros Fatores Neuroquímicos

Ainda que os dados não sejam conclusivos, os aminoácidos

neurotransmissores (particularmente o ácido γ-aminobutírico [GABA]) e os

peptídeos neuroativos (em especial a vasopressina e os opióides endógenos)

têm sido implicados na fisiopatologia dos transtornos do humor. Alguns

investigadores sugeriram que os sistemas de segundos-mensageiros – como o

da adenil ciclase, o do fosfatidil-inositol e a regulação do cálcio – também

podem ser relevantes. Os aminoácidos glutamato e glicina parecem ser os

principais neurotransmissores excitadores no sistema nervoso central. Eles se

ligam a locais associados com o receptor do N- metil-D-aspartato (NMDA) e,

em excesso, podem ter efeitos neurotóxicos. O hipocampo apresenta alta

concentração de receptores para NMDA: dessa forma, é possível que o

glutamato, em conjunto com hipercortilosemia, intermeie os efeitos

neurocognitivos do estresse crônico. Têm surgido evidências de que

medicamentos que antagonizam os receptores NDMA têm efeitos

antidepressivos (Kapczinski, Quevedo e Izquierdo, p.268).

Regulação Neuroendócrina

O hipotálamo é central na regulação dos eixos neuroendócrinos e ele

próprio recebe muitos inputs neuronais que utilizam as aminas biogênicas

neurotransmissoras. Várias desregulações neuroendócrinas foram relatadas

em pacientes com transtornos do humor. Assim, a regulação anormal dos eixos

neuroendócrinos pode se originar do funcionamento anormal dos neurônios

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contendo aminas biogênicas. Embora seja teoricamente possível o

envolvimento de uma desregulação particular de um eixo neuroendócrino na

causa de um transtorno do humor, as desregulações refletem com mais

probabilidade um distúrbio cerebral subjacente fundamental. Os principais

eixos neuroendócrinos de interesse nos transtornos do humor são os eixos das

adrenais, da tireóide e do hormônio do crescimento. Outras anormalidades

neuroendócrinas que têm sido descritas em pacientes com transtorno do humor

incluem a redução da secreção noturna da melatonina, a redução da liberação

de prolactina em resposta à administração do triptofano, a redução dos níveis

basais do hormônio folículo-estimulante (FSH) e do hormônio luteinizante (LH),

bem como a redução dos níveis de testosterona no homem.

Os neurotransmissores e os sistemas de produção hormonal são os

principais partícipes na fisiopatologia da depressão. Dentre eles pode-se

destacar a noradrenalina e a serotonina.

As aminas biogênicas, como a adrenalina e a catecolamina, são também

consideráveis na relação dos transtornos do humor.

A noradrenalina (norepinefrina) influencia diretamente nos sistema

noradrenérgico na depressão. A serotonina é essencial ao ser humano por ter

como função: a liberação de alguns hormônios e a regulação do ritmo

circadiano, do sono e do apetite. Sendo assim a redução da serotonina pode

precipitar a depressão. A dopamina está ligada a estimulação do sistema

nervoso central, portanto sua diminuição aumenta os sintomas depressivos.

Outros fatores que influenciam na depressão são os aminoácidos

neurotransmissores e os peptídeos neuroativos, além da relação

neuroendócrina que pode levar a uma anormalidade funcional dos neurônios.

Saúde Mental

Para DEVEREUX (1971), saúde mental diz respeito à capacidade do

sujeito de ajustamento às transformações que ocorrem no seu meio. Desta

forma, pode-se definir a saúde mental enquanto um estado de equilíbrio entre a

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pessoa e o ambiente no qual esta inserido. É este estado de equilíbrio que ira

proporcionar a pessoa uma participação laboral atrelada a seu bem estar.

Ainda hoje o conceito de saúde mental esta intimamente ligada ao uma

analogia com a saúde física, porém trata-se de um fenômeno mais complexo.

Segundo a Organização Mundial da Saúde, ainda não se tem uma definição

para a saúde mental, pois trata-se de um fenômeno complexo que conforme o

contexto social e histórico pode sofrer alterações.

De acordo com BLEGER (1984), não pode-se apenas considerar a

saúde mental enquanto ausência de doença, mas sim compreender a saúde

mental enquanto o pleno desenvolvimento das pessoas em sociedade. Nesta

visão, a ênfase recai não sobre a doença, mas sim na saúde e em como as

pessoas se relacionam com o seu meio.

Segundo DEJOURS (1949), falar a respeito de saúde sempre é dificil,

porém falar de doença se torna uma atividade fácil. O alicerce da psicopatia

tradicional esta no modelo clássico da fisiopatologia das doenças que afetam o

corpo. A grande questão a ser compreendida é como algumas pessoas

mantem seu equilíbrio perante o mesmo cenário que outras adoecem?

No cotidiano encontram-se pessoas que por sua psicodinâmica interna,

apresentam tendências a trabalhar em excesso e não criar oportunidades para

o lazer e em contra partida temos as pessoas que se permitem divertir por

vários dias. É evidente que tanto o trabalho quanto a diversão em proporções

satisfatórias são o alicerce de uma saúde mental saudável.

Segundo SANTANA (2006), as discussão entre a saúde mental e

trabalha na literatura vem aumentando , sendo que muitos destes estudos

foram realizados na área da saúde.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Analisados os dados, verificou-se que este estudo possibilitou relacionar

o trabalho e a saúde mental, considerando a evolução histórica do trabalho

juntamente com a saúde mental do trabalhador.

Percebeu-se que o trabalho sempre se apresentou como sinônimo de

tortura para o homem. No decorrer da evolução histórica este conceito foi se

modificando, porém permanecendo a característica de uma atividade que

causa sofrimento. Com o advento da revolução industrial, começou uma

preocupação com a saúde mental dos trabalhadores, pois não bastava apenas

maquinas de qualidade, mas sim de trabalhadores com condições físicas e

psicológicas em equilíbrio.

Foi possível compreender, também, que com a evolução do trabalho

teve-se o aumento de dificuldades em relação à saúde mental do trabalhador.

Conforme a OMS a depressão atinge cerca de 121 milhões de pessoas em

todo o mundo e apenas 25% recebem tratamento adequado. Mudanças que

vem ocorrendo no ambiente de trabalho, tais como: necessidade de alta

produtividade, avanço tecnológico e enfraquecimento das relações de

trabalhos. São estes alguns dos fatores que colaboram para este alto índice de

pessoas incapacitadas para o trabalho.

Revisões literárias, assim como esta permitem identificar aspectos

pouco explorados na literatura e percebe-se que existe um aumento nas

produções cientificas relacionando a saúde mental com o trabalho. Estima-se

que em 2020, a depressão será uma das maiores causadoras de incapacitação

no mundo, desta forma faz-se necessário, mais pesquisas e estudos para

buscar compreender os fenômenos que desencadeiam o aumento de pessoas

incapacitadas para o trabalho, para assim propor sugestões e estratégias com

o objetivo de diminuir o número de trabalhadores incapacitados para o trabalho

por motivo de saúde mental.

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REFERÊNCIAS

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São Paulo: Atlas, 2003.

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Washington, The Anthropological Society of Washington, 1971.

DSM-IV – Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais. trad.

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FERNANDES, B.H.R. Administração estratégica: da competência

empreendedora á avaliação de desempenho. Curitiba: Posigraf, 2004.

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estratégico. 3º edição- São Paulo, 2002.

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KAPCZINSKI, Flávio; QUEVEDO, João; IZQUIERDO, Iván et al. Bases

Biológicas dos Transtornos Psiquiátricos. 2ª ed. Porto Alegre: Artmed, 2004