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Marilena Chaui: Etica e Moral

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7/23/2019 Marilena Chaui: Etica e Moral

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ÉTICA E MORAL

Algumas posições apresentadas por diferentes autores sobre o que é Ética e o que é

moral e a definição mais comumente aceita na abordagem filosófica:

“Ética é uma palavra de origem grega, com duas origens possíveis. A primeira é apalabra grega éthos, com e curto, que pode ser traduzida por costume, a segundatambém se escreve éthos, porém com e longo, que significa propriedade do caráter. Aprimeira é a que serviu de base para a tradução latina Moral , enquanto que a segundaé a que, de alguma forma, orienta a utilização atual que damos a palavra Ética.Ética é a investigação geral sobre aquilo que é bom”. (MOORE, G.E. Princípios éticos. São Paulo: Abril Cultural, 1975, p. 4).

“Realmente os termos ‘ética’ e ‘moral’ não são particularmente apropriados para nosorientarmos. Cabe aqui uma observação sobre sua origem, talvez em primeiro lugarcuriosa. Aristóteles tinha designado suas investigações teórico-morais  –  entãodenominadas como ‘ética’ –  como investigações ‘sobre o ethos’, ‘sobre aspropriedades do caráter’, porque a apresentação das propriedades do caráter, boas emás (das assim chamadas virtudes e vícios) era uma parte integrante essencial destasinvestigações. A procedência do termo ‘ética’, portanto, nada tem  a ver com aquiloque entendemos por ‘ética’. No latim o termo grego éthicos  foi então traduzido pormoralis. Mores  significa: uso e costumes. Isto novamente não corresponde, nem ànossa compreensão de ética, nem de moral. Além disso, ocorre aqui um erro de

tradução. Pois na ética aristotélica não apenas ocorre o termo éthos  (com ‘e’ longo),que significa propriedade de caráter, mas também o termo éthos (com ‘e’ curto) quesignifica costume, e é para este segundo termo que serve a tradução latina”.(TUGENDHAT, E. Lições sobre Ética. Petrópolis: Vozes, 1997, p. 35).

“Por ‘ética’ entendemos uma disciplina normativa, aquela filosofia do agir moral, aqual, em termos de uma fundamentação, pergunta sobretudo pelo princípio moral.Aristóteles certamente desenvolve uma ética desse tipo, mas não se contenta comisso. A palavra êthos significa, a saber, três coisas: o lugar costumeiro da vida, oscostumes que são vividos nesse lugar e, finalmente, o modo de pensar e o modo desentir, o caráter. Devido ao primeiro significado, Aristóteles ocupa-se também com asinstituições políticas e sociais; a uma ética pertence, em entendimento amplo, apolítica. Devido ao segundo significado, a sua ética assume traços de uma etologia, deuma doutrina daquele ethos (hábito, costume) que tem parentesco etimologicamentecom êthos (cf. EN  II 1, 1103a17s.). Aristóteles, contudo, não investiga meramente ascoisas comuns do seu tempo. À diferença de uma pesquisa de comportamentoempírica, ou de uma sociologia empírica, ele trata primariamente dos fundamentos docomportamento humano. E, de acordo com o terceiro significado de êthos, eledesenvolve uma ética normativa, a qual se interessa por algo muito mais amplo do quetão-somente um princípio moral.” (HÖFFE, O.  Aristóteles. São Paulo: Artmed, 2008, p.169.)

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“A Ética existe em todas as sociedades humanas, e, talvez, mesmo entre nossosparentes não-humanos mais próximos. Nós abandonamos o pressuposto de que aÉtica é unicamente humana.A Ética pode ser um conjunto de regras, princípios ou maneiras de pensar que guiam,ou chamam a si a autoridade de guiar, as ações de um grupo em particular

(moralidade), ou é o estudo sistemático da argumentação sobre como nós devemosagir (filosofia moral)”. (SINGER, P. Ethics. Oxford; OUP, 1994, p. 4-6).

“Kierkegaard  e Foucault diziam que a ética grega é uma estética, ou uma poética,preocupando-se com a arte de viver, com a elaboração de uma vida bela e boa”.(VALLS, Alvaro. In Ética e Contemporaneidade).

“Toda cultura e cada sociedade institui uma moral, isto é, va lores concernentes aobem e ao mal, ao permitido e ao proibido e à conduta correta e à incorreta, válidos

para todos os seus membros. Culturas e sociedades fortemente hierarquizadas e comdiferenças de castas ou de classes muito profundas podem até mesmo possuir váriasmorais, cada uma delas referida aos valores de uma casta ou de uma classe social.No entanto, a simples existência da moral não significa a presença explícita de umaética, entendida como filosofia moral, isto é, uma reflexão que discuta, problematize einterprete o significado dos valores morais. [...]A filosofia moral ou a disciplina denominada a ética nasce quando se passa a indagar oque são, de onde vêm e o que valem os costumes. [...]A filosofia moral ou a ética nasce quando, além das questões sobre os costumes,também se busca compreender o caráter de cada pessoa, isto é, o senso moral e a

consciência moral individuais”. (CHAUI, Marilena. Convite à filosofia. 13 ed. São Paulo:Ática, 2008, p.310).

“O ponto de partida da reflexão ética é, pois, a experiência moral concreta, e as teoriaséticas têm sentido como reflexo (precisamente por isso, de ‘segundo nível’) da práticaindividual do raciocínio moral, que visa justificar ações e juízos, e da prática social dadiscussão pública sobre os problemas morais. O ponto de chegada é matéria decontrovérsia: para alguns, o filósofo moralista deveria se abster de oferecer soluçõespara os problemas morais, limitando-se a um trabalho de esclarecimento conceitual,ou, no máximo, apresentando e analisando os argumentos pró e contra as diversas

soluções que o problema possa ter; para outros, porém, isso seria apenas um fútilexercício intelectual, uma vez que o objetivo da ética é precisamente o de orientar eguiar a ação. Há boas razões contra e a favor de cada uma das duas perspectivas eprovavelmente a verdade esteja no meio: de um lado, não é provável que o filósofoexamine um problema moral com a mesma indiferença e desinteresse com queexaminaria, por exemplo, um problema de lógica simbólica; de outro, a finalidadediretiva da ética não comporta certamente que o filósofo assuma o papel de moralistaou do pregador, ou seja, de quem se propõe recomendar e promover a observância deum certo código moral ou até de dizer ao povo o que deve ou não deve fazer, em casosconcretos e específicos.” (NERI, Demetrio. Filosofia Moral : manual introdutório. Trad.

Orlando S. Moreira, São Paulo: Loyola, 2004, p. 11).

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 “Aqui vai um esclarecimento terminológico. Embora eu vá utilizar as palavras ‘moral’ e‘ética’ como equivalentes, de um ponto de vista técnico (desculpe-me estar maisprofessoral do que de hábito) elas não têm significado idêntico. ‘Moral’ é o conjuntode comportamentos e normas que você, eu e algumas das pessoas que nos cercam

costumamos aceitar como válidos; ‘ética’ é a reflexão sobre  por que os consideramosválidos e a comparação com outras ‘morais’ de pessoas diferentes. Mas, enfim, aquicontinuarei utilizando as duas palavras indistintamente, sempre como arte de viver. Aacademia que me perdoe...” (SAVATER, Fernando. Ética para meu filho. São Paulo:Martins Fontes, 2004, p. 57).

“A Ética tem por objetivo facilitar a realização das pessoas. Que o ser humano cheguea realizar-se a si mesmo como tal, isto é, como pessoa. [...] A Ética se ocupa e pretendea perfeição do ser humano”. (CLOTET, J. Uma introducción al tema de la ética. Psico1986; 12 (1), p. 84-92).

“Este livro trata da Ética entendida como a parte da Filosofia que se dedica à reflexãosobre a moral. Como  parte da Filosofia, a Ética é um tipo de saber que se tentaconstruir racionalmente, utilizando para tanto o rigor conceptual e os métodos deanálise e explicação próprios da Filosofia. Como reflexão sobre as questões morais, aÉtica pretende desdobrar conceitos e argumentos que permitam compreender adimensão moral da pessoa humana nessa sua condição de dimensão moral, ou seja,sem reduzi-la a seus componentes psicológicos, sociológicos, econômicos ou dequalquer outro tipo (embora, obviamente, a Ética não ignore que tais fatorescondicionam de fato o mundo moral).

Uma vez desdobrados os conceitos e argumentos pertinentes, pode-se dizer que aÉtica, a Filosofia moral, terá conseguido explicar   o fenômeno moral, dar contaracionalmente da dimensão moral humana, de modo que teremos aumentado o nossoconhecimento sobre nós mesmos, e, portanto, alcançado um maior grau de liberdade.Em suma, filosofamos para encontrar sentido para o que somos e fazemos e buscamossentido para atender aos nossos anseios de liberdade, pois consideramos a falta desentido um tipo de escravidão.” (CORTINA, Adela; MARTÍNEZ, Emilio. Ética. São Paulo:Loyola, 2005, p. 9).