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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL FACULDADE DE EDUCAÇÃO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO ESPECIALIZAÇÃO EM INTEGRAÇÃO DA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL À EDUCAÇÃO BÁSICA NA MODALIDADE DE EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS AS PRÁTICAS PEDAGÓGICAS DOCENTES NO USO DAS TICS JUNTO AO PROEJA DO IFRS- CAMPUS BENTO GONÇALVES Marilene Maria Zeni Vargas Orientador: Profª Daniela Brun Menegotto Bento Gonçalves 2009

Marilene Maria Zeni Vargas

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Page 1: Marilene Maria Zeni Vargas

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL FACULDADE DE EDUCAÇÃO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO ESPECIALIZAÇÃO EM INTEGRAÇÃO DA EDUCAÇÃO PROFISSION AL À

EDUCAÇÃO BÁSICA NA MODALIDADE DE EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS

AS PRÁTICAS PEDAGÓGICAS DOCENTES NO USO DAS TICS

JUNTO AO PROEJA DO IFRS- CAMPUS BENTO GONÇALVES

Marilene Maria Zeni Vargas Orientador: Profª Daniela Brun Menegotto

Bento Gonçalves

2009

Page 2: Marilene Maria Zeni Vargas

FICHA CATALOGRÁFICA ___________________________________________________________________________ V297p Vargas, Marilene Maria Zeni

As práticas pedagógicas docentes no uso das TICs junto ao PROEJA do IFRS – Campus Bento Gonçalves / Marilene Maria Zeni Vargas ; orientadora Daniela Brun Menegotto. – Bento Gonçalves, 2009.

19 f. Trabalho de conclusão (Especialização) – Universidade Federal do Rio Grande

do Sul. Faculdade de Educação. Programa de Pós-Graduação em Educação. Curso de Especialização em Educação Profissional integrada à Educação Básica na Modalidade Educação de Jovens e Adultos, 2009, Porto Alegre, BR-RS.

1. Educação. 2. Educação profissional. 3. Programa Nacional de Integração da

Educação Profissional com a Educação Básica na Modalidade de Educação de Jovens e Adultos. 4. PROEJA. 5. Práticas pedagógicas - PROEJA – Tecnologias da Informação e da Comunicação . 6. Concepções epistemológicas – PROEJA – Uso das TICs. 7. Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul – Campus Bento Gonçalves. I. Menegotto, Daniela Brun. II. Título

CDU 374.7

_____________________________________________________________________________ CIP-Brasil. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação. (Jaqueline Trombin – Bibliotecária responsável - CRB10/979)

Page 3: Marilene Maria Zeni Vargas

AS PRÁTICAS PEDAGÓGICAS DOCENTES NO USO DAS TICS

JUNTO AO PROEJA DO IFRS- CAMPUS BENTO GONÇALVES

Marilene Maria Zeni Vargas1 Daniela Brun Menegotto2

RESUMO

Este artigo origina-se da investigação das práticas pedagógicas dos docentes que, possivelmente, utilizam as TICs - Tecnologias da Informação e da Comunicação, como apoio, para o desenvolvimento do processo educacional da modalidade PROEJA - Educação de Jovens e Adultos Profissionalizante, realizado no IFRS - Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul- Campus Bento Gonçalves, tendo também como intenção compreender quais as concepções epistemológicas que embasam e fundamentam estas práticas. A investigação de natureza qualitativa se deu por meio da aplicação de questionário a oito docentes, de diferentes áreas do conhecimento, que participam do processo educacional da referida modalidade de ensino. Os dados coletados foram analisados e discutidos durante o texto, procurando expressar as reflexões dos docentes sobre a forma de desenvolvimento do processo de ensino e de aprendizagem em ambientes onde as TICs podem ou não estar contribuindo para a construção coletiva do conhecimento, por meio de um trabalho colaborativo e cooperativo. Os principais teóricos que fundamentam a pesquisa a partir dos relatos das experiências dos docentes foram principalmente Freire (2002) Becker (2003) e Moraes (2003). O estudo possibilitou compreender como se desenvolve a prática pedagógica dos docentes que utilizam as TICs e as suas concepções em relação a forma como acreditam que a aprendizagem ocorre.

Palavras-chave: concepções epistemológicas, práticas pedagógicas, Tecnologias da Informação e da

Comunicação, PROEJA.

ABSTRACT

This article originates from the research of pedagogical practices of teachers who, possibly, use ICTs – Information and Communication Technologies, as a support for the educational process development PROEJA – Youth and Adult Professional Education, , held in IFRS – Federal Institute of Education, Science and Technology of Rio Grande do Sul – Campus Bento Gonçalves. It also intends to understand which are the epistemological concepts that give support and base to these practices. The qualitative research was made by applying a questionnaire to eight teachers from different subject areas, who take part in the educational process of the mentioned method of teaching. The collected data were analyzed and discussed in the text, to express the thoughts of Professors on how to develop the process of teaching and learning in environments where ICTs may or may not be contributing to the collective construction of knowledge, through a collaborative and cooperative work. The main theoretical that based the research from the Professors´ experiences reports were mainly Freire (2002), Becker (2003) and Moraes (2003). The study triggered the process of understanding how the pedagogical practice of Professors who use the ICTs develops, and their ideas on how they believe that learning occurs.

Key words: epistemological conceptions, pedagogical practices, Information and Comunication

Technology, PROEJA.

1 Aluna do Curso de Especialização em Educação Profissional e Técnica de Nível Médio Integrada a Educação Básica na Modalidade de Educação de Jovens e Adultos - UFRGS. 2 Professora Orientadora. Mestre em Educação pela Unisinos. Docente do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul - Campus Bento Gonçalves.

Page 4: Marilene Maria Zeni Vargas

1 INTRODUÇÃO

Queremos relatar aqui o estudo realizado no IFRS - Instituto Federal de Educação,

Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul - Campus Bento Gonçalves, que contempla as

práticas pedagógicas no uso das TICs- Tecnologias da Informação e da Comunicação, para o

desenvolvimento da modalidade PROEJA- Educação de Jovens e Adultos Profissionalizante.

O estudo foi baseado na necessidade de compreender como os docentes desenvolvem

suas práticas pedagógicas utilizando as TICs no PROEJA. Levamos em consideração que

atualmente estas tecnologias podem estar presentes em todas as áreas do conhecimento e em

todas as áreas de atuação profissional, e então procuramos compreender como estas se fazem

presentes no fazer pedagógico dos docentes da Instituição.

Fizemos uma breve retrospectiva sobre a história da EJA Educação de Jovens e

Adultos no Brasil. Analisamos e comentamos o documento base do PROEJA. Baseamo-nos,

em teóricos como Paulo Freire, Maria Cândida Moraes e Becker, para situarmos o foco

teórico da pesquisa, possibilitando assim analisar os dados coletados por meio de

questionário, conforme ANEXO1- Questionário aplicado. É importante salientar que

participaram da pesquisa, um total de oito docentes.

Finalizamos o trabalho registrando as sugestões dos próprios docentes, as possíveis

alternativas para ampliar e qualificar o uso das TICs na educação.

2 UM POUCO DA HISTÓRIA DA EJA

Procurando entender a história da EJA, apresentaremos algumas idéias da trajetória

histórica e da dívida social, que a acompanha desde o seu surgimento.

De acordo com Santos (1998), “as décadas de 50 e 60 marcam a ‘apoteose’ da

Educação de Jovens e Adultos, os ‘anos dourados’”, porque segundo ela surge uma “frágil

democracia” ( p.5). A autora cita Paulo Freire como o grande responsável pelo olhar

diferenciado para o analfabetismo e a miséria, quando a partir de 1960 ele assessorou em

alguns Estados, principalmente, programas de alfabetização de jovens e adultos, modalidade

que passou a ser visto, de forma especial em comparação a outras modalidades educacionais e

necessária para a transformação de uma sociedade dita dependente, para uma sociedade

soberana.

Page 5: Marilene Maria Zeni Vargas

Assim sendo, Santos (1998) explica que Paulo Freire foi o grande idealizador da

chamada “Educação Libertadora”, uma educação que se baseava no diálogo, na

conscientização, na valorização da linguagem popular, mas era totalmente contra o

assistencialismo, a domesticação, o autoritarismo. Segundo ela, Freire acreditava que uma

mudança social só aconteceria se jovens e adultos fossem alfabetizados, o que os permitiria

serem cidadãos plenos.

Segundo a autora, o objetivo da educação na época era simplesmente a formação de

mão-de-obra, uma vez que o contexto nacional caracterizava-se pelo “período de

desenvolvimento industrial do governo Juscelino que liga a Educação de Jovens e Adultos

aos objetivos do Capital Humano presente nos círculos de intelectuais que discutiam

Economia e Educação na época” (SANTOS, 1998, p. 5).

Porém, Paulo Freire trabalhava no sentido de expor os seus ideais para a área da

Educação de Jovens e Adultos, enfatizando a necessidade e a importância de uma prática

pedagógica, que promovesse essa “Educação Libertadora”. Segundo o entendimento de

Freire, essa modalidade de educação popular, uma vez integrado a sociedade, seria a

responsável pela transformação dessa sociedade.

Com o passar do tempo e com a evolução das TICs, a forma de desenvolvimento dos

processos formativos ainda necessitam ser (re)pensados. Assim sendo, no decorrer desse

trabalho, procuramos compreender a situação atual da Educação de Jovens e Adultos e as

perspectivas de mudança: da concepção do PROEJA às práticas pedagógicas dos docentes

que atuam nesta modalidade de ensino, perpassando pelas influências e contribuições do uso

das TICs no desenvolvimento do processo educativo.

2.1 A EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS PROFISSIONALIZAN TE

De acordo com Documento Base do Ministério da Educação a respeito da PROEJA -

Programa Nacional de Integração Profissional com a Educação Básica na Modalidade de

Educação de Jovens e Adultos de 2007:

A educação de jovens e adultos (EJA) no Brasil, como modalidade nos níveis fundamental e médio, é marcada pela descontinuidade e por tênues políticas públicas, insuficientes para dar conta da demanda potencial e do cumprimento do direito, nos termos estabelecidos pela Constituição Federal de 1988. Essas políticas são, muitas vezes, resultantes de iniciativas individuais ou de grupos isolados, especialmente no âmbito da alfabetização, que se somam às iniciativas do Estado.

Page 6: Marilene Maria Zeni Vargas

No entanto, as políticas de EJA não acompanham o avanço das políticas públicas educacionais que vêm alargando a oferta de matrículas para o ensino fundamental, universalizando o acesso a essa etapa de ensino ou, ainda, ampliando a oferta no ensino médio, no horizonte prescrito pela Carta Magna ( 2007, p.9).

Percebemos então pelo documento, uma preocupação com a Educação de Jovens e

Adultos quanto às políticas públicas na questão de oferta de vagas no segmento, apesar de

estar respaldada em nossa lei maior. Uma preocupação que vai além do Ministério da

Educação e mobiliza todos aqueles que acreditam que cidadania se faz com participação.

De acordo com Pinto (1994), a importância do adulto na sociedade se faz de todas as

formas: como trabalhador, como chefe de família, como administrador, sendo dessa forma o

responsável pelo espelho de uma sociedade que compreende a educação de adultos como:

A educação de adultos não é uma parte complementar, extraordinária do esforço que a sociedade aplica em educação. É parte integrante desse esforço, parte essencial, que tem obrigatoriamente que ser executada paralelamente com a outra, pois do contrário esta última não terá o rendimento que dela se espera. Não é um esforço marginal, residual, de educação, mas um setor necessário do desempenho pedagógico geral, ao qual a comunidade se deve lançar. (PINTO, 1994, p. 82) .

Então, Pinto (1994) nos faz acreditar que precisamos aperfeiçoar a ação docente

levando em consideração que o trabalho com Jovens e Adultos não pode ocorrer da mesma

forma que com sujeitos em séries compatíveis com sua idade escolar, pois precisamos levar

em consideração os diferentes conhecimentos construídos por esses sujeitos aos longo da

vida, e administrar os diferentes ritmos de aprendizagem dos mesmos. Porém, notamos a falta

ainda no Brasil de políticas adequadas para esse segmento.

Pierro (2001) também enfatiza que a Educação de Jovens e Adultos deve ser

compreendida como um processo de formação continuada:

...jovens e adultos são cognitivamente capazes de aprender ao longo de toda a vida e que as mudanças econômicas, tecnológicas e socioculturais em curso nesse final de milênio impõem a aquisição e atualização constante de conhecimentos pelos indivíduos de todas as idades, propugna-se conceber todos os sistemas formativos nos marcos da educação continuada.” (PIERRO et al. 2001, p. 70).

Desta forma, o mundo atual vem exigindo dos jovens e adultos muito mais que

simplesmente mão-de-obra qualificada, mas sim sujeitos autônomos, criativos,

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colaborativos3, cooperativos4, reflexivos, críticos, que buscam informações e as transformam

em conhecimentos, aplicando-os na sua prática cotidiana. Diante do contexto, acreditamos

que o uso das TICs na educação pode contribuir para o desenvolvimento destes elementos,

necessários a formação continuada.

Então, é necessário repensar as práticas pedagógicas desenvolvidas na Educação de

Jovens e Adultos, visando o perfil do profissional que queremos formar.

Carmo (2008) nos auxilia quando escreve que:

Em passado recente, o adestramento permitia aos trabalhadores fazerem a mesma coisa durante toda a sua vida. Hoje a revolução tecnológica que não pára de acontecer exige evolução de habilidades que dependem muito mais de formação e atualização do que de mero adestramento. (CARMO, 2008, p. 50)

Assim sendo, Freire (2002) reforça que “ensinar não é transferir conhecimento, mas

criar as possibilidades para sua produção ou a sua construção”(FREIRE, 2002, p.25). Então

é urgente também redefinir o papel do educador, pois segundo ele (2002) “Quem ensina

aprende ao ensinar e quem aprende ensina ao aprender”(Ibidem, p.25). O autor mostra a

dialeticidade dos processos de ensinar e de aprender. A idéia de Freire nos faz perceber o

quanto é importante valorizar os saberes dos educandos dessa modalidade de ensino, uma vez

que os mesmos além de aprender também ensinam. Diante do contexto, é que se faz

necessário um estudo sobre as concepções dos docentes em relação a origem do conhecimento

acreditando que estas fundamentam e orientam as práticas pedagógicas do PROEJA.

2.2 AS CONCEPÇÕES EPISTEMOLÓGICAS QUE ORIENTAM ÀS PRÁTICAS

PEDAGÓGICAS DOS DOCENTES

Diante das necessidades apontadas pelos diferentes autores no item anterior,

passamos então a observar os educandos da modalidade, e a compreender que a experiência

profissional do educador é produto da interação com os demais sujeitos e objetos do

conhecimento e é integração de vários saberes. Acreditamos que o eixo que estrutura toda a

ação pedagógica do docente é a sua concepção sobre a origem e a aquisição do conhecimento.

3 Segundo TIJIBOY et al. 1999, apud MENEGOTTO, 2006, compreende-se colaboração como sendo a ação de trabalhar com outra(s) pessoa(s), visando alcançar um objetivo comum.(p.21) 4 A cooperação, segundo PIAGET, 1976, apud MENEGOTTO, 2006, é identificada como um processo em ação. Co-operação é operar em conjunto com a ação: caracteriza-se pela coordenação de pontos de vista diferentes e pela existência de regras autônomas de condutas fundamentadas no respeito mútuo.(p.21)

Page 8: Marilene Maria Zeni Vargas

Segundo Becker (2003) esta concepção, a qual estamos nos referindo denomina-se

“epistemológica”. No nosso ponto de vista ela pode ser responsável por bloquear ou

dinamizar o processo de ensino e aprendizagem, fragmentar ou integrar outros campos do

saber. A concepção epistemológica do docente influencia na sua atuação e na maneira de

encarar o desenvolvimento do processo educacional.

Becker (2003) nos auxilia a compreender as diferentes concepções, ditas

epistemológicas, já que as mesmas norteiam a compreensão que o docente tem sobre a origem

do conhecimento. De acordo com Becker (2003) “a postura epistemológica empirista

caracteriza-se por atribuir aos sentidos a fonte de todo conhecimento”(p.99). Freire (2002)

descreve esse tipo de educação como “educação bancária”, ou seja, uma educação que

oprime, antidialógica, instrumento ideológico de manipulação da ignorância, onde o professor

é o depositário da informação. Desse modo, uma prática pedagógica5 fundamentada em uma

postura empirista não se adaptaria as novas exigências de mudança, onde o professor não é

mais o transmissor da informação, embora precise ter consciência de que em alguns

momentos da ação docente possa haver necessidade de (re)passar informações aos sujeitos

que aprendem, porém, o mais importante é que o docente provoque estes sujeitos a refletirem

sobre tal informação, possibilitando que os mesmos construam conhecimentos coletivamente

a partir do que lhe foi apresentado.

Por outro lado, não caberia também imaginar uma concepção epistemológica

apriorista onde segundo Becker (2003) “O conhecimento já existe no sujeito, precisa apenas

ser despertado.” (p.101). Esta concepção, defende a idéia de que o saber está no sujeito, ou

seja, já nasce com ele e só depende de alguém para despertá-lo.

Ainda Becker (2003) nos auxilia quando traz a idéia que fundamenta a concepção

construtivista do conhecimento: “ idéia de nada , a rigor, está pronto, acabado, e de que,

especificamente, o conhecimento não é dado, em nenhuma instância como algo terminado, é

sempre um leque de possibilidades que podem ou não ser realizadas.” (p.72).

Assim no contexto do construtivismo, percebemos uma flexibilidade no processo

educacional, com práticas pedagógicas fundamentadas no diálogo e, portanto, um espaço de

compartilhamento de saberes, possibilitando assim ao educador e ao educando aprenderem

juntos. Silva (2007), nos diz: “o aluno não pode ser considerado um ser desprovido de saber e

um mero reprodutor do pensamento do professor”( p.134).

5 Conforme CUNHA (2000, apud MENEGOTTO, 2006, p.55), a prática pedagógica é o cotidiano do professor, desde as atividades de preparação até a execução do seu ensino.

Page 9: Marilene Maria Zeni Vargas

Concordamos com a idéia de Silva (2007, principalmente ao se tratar de uma

modalidade educacional como o PROEJA, onde os jovens e os adultos possuem uma história

de vida aliada, na maioria das vezes, a experiências profissionais onde desenvolvem por meio

da sua prática diária conhecimentos. E são estes conhecimentos que precisam ser

considerados durante o planejamento e o fazer pedagógico docente. Assim, o próximo item

tem como objetivo discutir as práticas pedagógicas docentes do PROEJA do IFRS.

3 AS PRÁTICAS PEDAGÓGICAS E AS CONCEPÇÕES EPISTEMOLÓGICAS DOS

DOCENTES DO IFRS-CAMPUS BENTO GONÇALVES

Neste item, analisamos as respostas coletadas por meio do questionário aplicado

junto aos docentes de diferentes áreas do conhecimento do IFRS, mais especificamente

aqueles inseridos na modalidade PROEJA, procurando compreender como os mesmos

desenvolvem as práticas pedagógicas no uso das TICs e quais as concepções epistemológicas

que embasam e fundamentam as mesmas..

Num primeiro momento, podemos perceber que não é possível determinar

especificamente, uma ou outra concepção epistemológica na forma de pensar e compreender a

origem do conhecimento de cada um dos questionados, porém notamos uma aproximação na

maioria das respostas dos mesmos. Estas aproximações trazem elementos que caracterizam o

construtivismo.

Quando questionados sobre o desenvolvimento da prática pedagógica a maioria

respondeu que ela se faz “através do diálogo”, “levando em consideração o conhecimento

dos alunos”, “relatos de experiências”, “participação do aluno no desenvolvimento da

aula”, “em situações de motivação”, “promovem a reflexão”, percebendo aí então uma linha

tipicamente freiriana.

Há alguns casos específicos em que o docente responde “uso questionários para

fixação dos conteúdos” ou “aulas expositivas”, expressando assim uma postura empirista em

relação ao conhecimento. No entanto, o mesmo educador diz utilizar-se de “relatos de

experiências de seus alunos” para selecionar os conteúdos e planejar a sua própria ação

pedagógica. Desta forma, o contexto nos leva a crer que o professor em diferentes momentos

de sua prática pedagógica ora apresenta uma postura empirista ora construtivista, o que

provavelmente dependa da situação que o envolve. Chamamos a atenção para tal fato, pois

acreditamos que os sujeitos, no caso os docentes, não sejam puramente construtivista ou

empirista ou apriorista, valendo-se muitas vezes das três concepções em diferentes e

determinados momentos do seu fazer pedagógico.

Page 10: Marilene Maria Zeni Vargas

Moraes (2003) reforça o contexto com a idéia da existência da transição de

paradigmas durante a ação docente:

Na realidade, em nossas práticas escolares transitamos de um paradigma para outro e vários são aqueles que já estão conscientes da importância de sobrepujar os métodos tradicionais de ensino, mas nem todos estão convencidos a respeito da relevância. (MORAES, 2003, p.183)

Segundo Paulo Freire (2002), “ensinar exige respeito aos saberes dos educandos”

(pg.33), e é essa percepção de experiências reais que é encontrada nas respostas da pergunta

feita sobre como os docentes desenvolvem sua prática pedagógica.

Os extratos das respostas são bastante elucidativos, no que diz respeito a valorização

dos conhecimentos prévios dos educandos, pois um dos docentes responde que desenvolve

sua prática pedagógica a partir do “conhecimento prévio dos alunos sobre o tema”, o outro

docente reforça escrevendo “tento aliar o ‘conteúdo’ com os saberes dos alunos, com a vida

e com a aplicabilidade dos mesmos”.

Assim temos mais clara ainda a idéia de Freire (2002) quando se refere: “Saber que

devo respeito a autonomia e a identidade do educando exige de mim uma prática em tudo

coerente com o saber” (p.67).

Ainda um dos docentes respondeu que a prática é desenvolvida: “Através do diálogo

e da participação do aluno no desenvolvimento da aula”

O diálogo é abordado por vários docentes, indo ao encontro de Freire (2002), quando

diz que: “Ensinar exige disponibilidade para o diálogo”(p.152).

Alguns docentes assim se referem sobre o planejamento de suas aulas: “ As aulas são

planejadas atendendo as necessidades trazidas pelos alunos”. “É feita levando em

consideração o conhecimento da turma e as expectativas”. Estes extratos expressam que os

docentes além de partir do conhecimento prévio dos educandos, também mostram-se abertos

para escutar as expectativas desses educandos em relação a aprendizagem. Isso reforça o que

diz Freire (2002): “Ensinar exige saber escutar” (p.127).

Um dos docentes destaca que o planejamento deve ser algo flexível e deve adaptar-

se a cada situação: “...tem que ter flexibilidade de se adaptar a cada situação”.

Dessa forma percebemos que na modalidade de jovens e adultos há tendência de

práticas pedagógicas que respeitam os saberes dos discentes, pois notamos que a seleção de

conteúdos a serem trabalhados ocorre de acordo com os conhecimentos prévios, interesses e

Page 11: Marilene Maria Zeni Vargas

necessidades de cada turma, assim a flexibilidade de adaptação a cada nova situação parece

nortear as ações dos docentes.

Assim, o processo educacional parte da escuta dos relatos das vivências pessoais e

experiências profissionais de seus educandos, que trazidos até a escola e devidamente

compartilhados e aperfeiçoados vão gerar novos conhecimentos.

Também quando questionados sobre o que acreditam ser fonte de conhecimento,

entre tantas respostas, registramos aqui algumas delas: “O conhecimento é um processo de

construção através da troca e da interação com o grupo de atores do processo”, “A fonte do

conhecimento é fruto das interações entre professores e alunos”. Esse processo de interação

aparece nas relações de ensino e de aprendizagem, pois segundo Piaget (1976): “... são as

relações estabelecidas por meio das interações entre os sujeitos que vão modificando uns em

relação aos outros...” (PIAGET, 1976, apud MENEGOTTO, 2006, p.100).

Na maioria dos casos aparece a preocupação dos docentes em aliar teoria e prática,

isto é, de acordo com Piaget (1978), a teoria do fazer para compreender. É assim que os

docentes responderam sobre como acreditam que seus educandos aprendem melhor: “Aliando

a teoria à prática”, “Mesclando teoria (aulas teóricas) com prática (apresentações, estudo

de caso)”. Segundo Piaget (1978):

...compreender consiste em isolar a razão das coisas enquanto fazer é somente utiliza-las com sucesso, o que é, certamente, uma condição preliminar da compreensão, mas que esta ultrapassa, visto que atinge um saber que precede a ação e pode abster-se dela. (PIAGET, 1978, pg 179 apud MENEGOTTO, 2006)

Partindo da teoria de Piaget (1978): do fazer para compreender, conseguimos

entender a preocupação dos docentes em preparar o educando do PROEJA para o mundo do

trabalho, o que parece ser o principal objetivo da maioria dos questionados, pois muitas vezes

foi mencionada a importância da aplicabilidade do que se aprende na escola no cotidiano do

educando e vice-versa.

Por meio dos extratos analisados, podemos entender que a maioria dos educadores da

instituição está procurando trabalhar na perspectiva de atender a proposta educacional do

PROEJA, desenvolvendo práticas fundamentadas no construtivismo.

3.1 AS PRÁTICAS PEDAGÓGICAS NO USO DAS TICS NO PROEJA DO IFRS-

CAMPUS BENTO GONÇALVES

Page 12: Marilene Maria Zeni Vargas

O uso das TICs no desenvolvimento do processo de ensinar e aprender parece-nos

um pouco distante da realidade dos docentes do PROEJA, pois são poucos os que se

apropriam e utilizam as mesmas em sala de aula. Ao longo da escrita, os extratos coletados

nos auxiliam a compreender esta questão.

Acreditamos também que o uso das Tecnologias da Informação e da Comunicação

no desenvolvimento do processo educacional pode possibilitar a construção de diferentes

conhecimentos, desde que a prática docente esteja fundamentada em teorias construtivistas.

De acordo com a concepção epistemológica construtivista, que parece orientar as

práticas docentes do PROEJA, Menegotto (2006) diz, então, que é importante que se construa

o conhecimento coletivamente. Assim o uso das Tecnologias da Informação e da

Comunicação, no desenvolvimento dos processos educacionais, tende a possibilitar esta

construção, desde que não se apóie no paradigma educacional que reforça a fragmentação do

conhecimento e a transmissão de informações. Pois segundo a autora:

As TDs6 podem continuar sendo utilizadas e representarem o paradigma dominante ao colocar no recurso tecnológico uma série de informações a ser repassada ao aluno, tendo a necessidade mínima ou nenhuma interação. Dessa forma, preserva-se e expande-se a velha forma como fomos educados. (MENEGOTTO, 2006, p. 3)

Desta forma, está posto um novo desafio: o uso dos recursos tecnológicos na

educação. Como lidar com isso? Como são desenvolvidas as práticas pedagógicas dos

docentes que usam as TICs para desenvolver os processos de ensino e de aprendizagem no

PROEJA do IFRS- Campus Bento Gonçalves?

De acordo com a coleta de dados por meio dos questionários, todos os educadores

dizem utilizar as TICs em seu cotidiano e admitem a importância de seu uso. Quando

questionados: Você considera importante o uso das TICs no desenvolvimento do processo

educacional?, um dos docentes responde: “Sem dúvidas, tudo evolui não podemos

permanecer com idéias e atitudes estagnadas, precisamos evoluir junto, em diversos

sentidos.” Outro docente também diz: “Sim, pois acredito que todas as profissões precisam

de conhecimento que envolvam TICs.”

Porém, se pensarmos na questão do uso das TICs durante as aulas dos docentes,

como apoio para o desenvolvimento educacional, notamos consenso do não uso das TICs nas

6 TDs- Tecnologias Digitais.

Page 13: Marilene Maria Zeni Vargas

respostas, pois quando questionados: Como educador, você costuma utilizar as TICs em sua

prática pedagógica?, um dos docentes responde: “...apenas como fonte de pesquisa. Na sala

de aula ainda não estou utilizando.” Outro docente diz “Utilizo, mas ainda é pouco. São

elas: e-mails, busca de exercícios virtuais.” Outro ainda responde: “Uso para elaboração de

aulas e para auxiliar os trabalhos dos alunos, através do uso dos laboratórios de

informática.”

Diante desse contexto, percebemos que os professores dizem utilizar as novas

tecnologias apenas para a preparação de suas aulas, ou seja, durante o planejamento

pedagógico das mesmas.

Por outro lado, percebemos que alguns docentes utilizam-se do laboratório de

informática apenas para possibilitar aos educandos a “digitação também de trabalhos” e a

apresentação dos mesmos por meio do uso de “data show” e permitir “consultas à internet”.

Neste caso, a tecnologia é apenas suplementar.

Podemos perceber então, que nesses casos, o laboratório de informática vem sendo

utilizado como mais um espaço educacional provedor de diferentes recursos tecnológicos e

audiovisuais, porém, acreditamos que os docentes possam ir além, utilizando as TICs como

apoio no desenvolvimento do processo de ensinar e de aprender, propiciando momentos de

construção coletiva, desencadeando elementos de colaboração, cooperação e autonomia nestes

sujeitos

No entanto, entre os questionados, um dos docentes parece estar possibilitando a

construção do conhecimento por meio das TICs. O docente em questão parece apresentar

objetivos claros quanto ao uso das TICs durante o desenvolvimento do processo de ensinar e

de aprender. Segundo este, a contribuição do uso das TICs em sua prática pedagógica é

importante pela ”...praticidade, organização e verificação de resultados”, porque de acordo

com ele há durante as aulas “...a visualização de imagens e a manipulação de temas tais

como gráficos e tabelas” , o que parece ser construído pelos alunos.

Quando questionados sobre as dificuldades em relação ao uso das TICs, os

educadores apontaram o fato de não terem acesso facilitado aos laboratórios, mas a maioria

enfatiza que o não uso vem do fato de não saberem como utilizá-las durante o

desenvolvimento do processo educacional. Diante da questão apresentada obtivemos as

seguintes respostas dos docentes “Uso pouco, pois existem poucos laboratórios”, “Não faço

porque ainda não sei! Até me sinto mal por não utilizar.”

Os educadores admitem que ao comunicarem seus educandos sobre a ocorrência de

uma aula no laboratório de informática, os mesmos reagem “com boa vontade e disposição”,

Page 14: Marilene Maria Zeni Vargas

“Geralmente com satisfação, pois essas atividades, são muito significativas, principalmente

em relação a Matemática, onde o preconceito é forte e essas atividades desenvolvem a

criatividade dos educandos”.

Desta forma, percebemos então que as respostas dos educadores apontam para uma

grande motivação dos educandos em relação ao uso das TICs. É fato que há curiosidade nos

sujeitos no que diz ao uso das TICs. Sobre o exercício da curiosidade e em específico sobre o

uso das TICs, Freire (2002) nos diz:

Nunca fui ingênuo apreciador da tecnologia: não a divinizo, de um lado, nem a diabolizo, de outro. Por isso sempre estive em paz para lidar com ela. (...) Ninguém melhor do que meus netos e minhas netas para me falar de sua curiosidade instigada pelos computadores com os quais convivem. (FREIRE, 2002, p.97 e 98).

Se os educandos se sentem motivados ao serem convidados para uma atividade

escolar no Laboratório de Informática, se os educadores entendem a necessidade do uso das

TICs na vida diária para o desenvolvimento da atividade profissional dos jovens e adultos e

muitos deles, inclusive, fazem uso delas na preparação de suas aulas, questionamos

novamente, por que não as usam para desenvolver o processo de ensino e de aprendizagem?

Alguns dados coletados apontam para a necessidade de programas de formação

continuada que aborde o uso das TICs na educação. Esta questão pode ser conferida no

próximo item.

3.2 A NECESSIDADE DA FORMAÇÃO CONTINUADA DOS PROFESSORES

Segundo Freire(2002):

O professor que não leve a sério sua formação, que não estude, que não se esforce para estar à altura de sua tarefa não tem força moral para coordenar as atividades de sua classe. (...) O quero dizer é que a incompetência profissional desqualifica a autoridade do professor.( FREIRE, 2002, p.103)

É fato que é de fundamental importância programas de formação continuada, que

visam o aperfeiçoamento da prática pedagógica docente.

A formação continuada que se faz necessária, no entanto, passa por dois canais: o

primeiro, é a vontade expressa do docente de querer inovar, e a segunda pelas políticas

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públicas, as quais devem ser responsabilizadas diretamente por incentivar e oportunizar a

formação continuada a todos os cidadãos, educadores e educandos.

De acordo com Freire (2002) “... na formação permanente dos professores, o

momento fundamental é o da reflexão crítica sobre a prática” (FREIRE, 2002, p.39). Dessa

forma se insiste em espaços de formação continuada desencadeadores da tomada de

consciência dos docentes em relação a própria ação. Estes espaços de formação devem

possibilitar o abandono de tabus, paradigmas, para a disponibilidade as inovações, como

condições indispensáveis para formar cidadãos conscientes do seu papel no mundo atual.

“...mudar é difícil mas é possível...” (FREIRE, 2002, pág.79).

Moraes( 2003) faz a seguinte observação a respeito dessa mudanças bastante

pertinente:

Apesar de muitos professores utilizarem em seus discursos pedagógicos inovadores, recursos, metodologias e estratégias inovadoras, e práticas construtivistas, porém a realidade revela que tais pressupostos entram em choque com as atuais estruturas escolares e formação docente fortemente impregnada pela estagnação. A adoção de um novo paradigma sempre se resvala na questão da formação docente. O professor que não estuda que não evolui, não sabe utilizar adequadamente esta ou aquela metodologia, não consegue estender o seu olhar para o sucesso do aluno e reconhecer os progressos individuais. Dificilmente reconhecerá as facilidades de cada aprendiz e deixará emergir os seus diversos talentos. ( MORAES, 2002, p.184)

É claro que isso não pode acontecer sem que nessa cadeia, o educador em primeiro

lugar se disponha em aceitar mudar e em segundo lugar passe a se dedicar a construção dos

saberes que os novos tempos exigem, estudando, compartilhando conhecimentos e

experiências e aprendendo muitas vezes com os educandos. Nessa perspectiva dialógica

Moraes (2003) continua a escrever sobre a complexidade do fazer pedagógico:

A mediação pedagógica, sob o olhar da complexidade, pressupõe humildade e abertura ao reconhecer a existência de múltiplas vozes, a expressão da diversidade e da polifonia social, a presença enriquecedora do outro, já que ambos crescem juntos, evoluem coletivamente, e, assim, vão criando, negociando e transformando a realidade social. É um diálogo que envolve uma compreensão mais ativa dos sujeitos implicados, onde quem escuta interpreta, relaciona, imagina, faz algo diferente com a informação que circula e transforma-a em algo que também passa a ser seu. Quem escuta, de maneira atenta e ativa, de maneira respeitosa, procura responder ativamente ao outro, para que este outro também possa compreender ativamente e, assim, ambos vão crescendo e evoluindo no processo de mediação que se apresenta. (MORAES, 2003, p.217).

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Reconhecendo a importância e a necessidade da formação continuada, conforme

enfatizam os autores acima, os docentes ao serem questionados sobre o que poderia ser feito

para que os mesmos se apropriassem das TICs e as utilizassem para contribuir para a

aprendizagem significativa dos educandos, eles responderam: “(...) Acredito que possa se

efetivar com o envolvimento de todos e investimento em treinamento de professores e infra-

estrutura” , “Sugiro que todos devem se atualizar em relação ao tema e utilizar essa

realidade como ferramenta”, “Acredito que seja importante ( o uso das TICs) desde que

respeitadas as especificações de cada disciplina”.

De acordo com as respostas acima percebemos que a maioria dos educadores parece

terem tomado consciência da importância das TICs no desenvolvimento do processo

educacional e estão procurando alternativas para um aperfeiçoamento do seu fazer

pedagógico.

Desta forma justifica-se a necessidade de programas de formação docente que

objetive o desencadeamento da análise do contexto mundial, da necessidade de ruptura

paradigmática em relação ao processo educacional, da reflexão da própria ação enquanto

docente e da potencialidade das TICs para o desenvolvimento da autonomia e do pensamento

crítico a partir da construção coletiva do conhecimento e o aprimoramento da prática

pedagógica docente.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS:

Partindo da origem da investigação das práticas pedagógicas dos docentes que

utilizam as TICs e da compreensão das concepções epistemológicas que fundamentam as

mesmas, observamos que a maioria delas está fundamentada no construtivismo pois

encontramos nas respostas dos docentes muitas referências ao diálogo, à participação, teoria

aliada à prática, à interação entre educandos e educandos e entre educadores e educandos. Em

linhas gerais, percebemos que esse processo de ouvir e valorizar experiências, vivências, além

dos objetivos afinados com o jeito de ser e com o ritmo de cada educando, vai ao encontro

das expectativas de uma educação libertadora, o que nos parece ser o princípio norteador do

PROEJA desta Instituição.

Considerando especificamente o foco da pesquisa que são as práticas pedagógicas

docentes no uso das TICs junto ao PROEJA do IFRS, notamos que a maioria dos educadores

são usuários das novas tecnologias no cotidiano. Alguns dos educadores fazem uso dessas

ferramentas para auxiliá-los no planejamento das aulas, porém a maioria não as utiliza em sala

de aula, como apoio no desenvolvimento do processo de ensinar e de aprender.

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Analisando algumas respostas, em geral daqueles que dizem utilizar as TICs,

notamos a falta ou o pouco conhecimento gerado a partir do seu uso. O que queremos dizer é

que se esta for usada apenas como “perfumaria” , como por exemplo, na apresentação de

trabalhos dos alunos em datashow, ou para um simples acesso a internet para consulta de

dados referentes a qualquer área do conhecimento isso não se evidencia mudança de

paradigmas.

Por outro lado, a conquista de mais laboratórios em qualquer instituição ou

disponibilidade destes para acesso aos alunos não garante qualidade na educação. É preciso

mais. Qualquer nova tecnologia deve ser capaz de gerar novos conhecimentos, integrar os

atores do processo educacional e estes ao mundo globalizado, porque entendemos que estes

serão os responsáveis por romper com uma escola tradicional buscando compensar as

deficiências e ou dificuldades com alternativas criativas. Formar cidadãos capazes de

atualizar-se por conta própria, e dando a eles a possibilidade de qualificar-se para o um

mundo cada vez mais complexo, deve ser a busca incansável da educação, para que ela

continue a ter significado na escola.

Nas respostas dos docentes confirma-se a importância com que ocorrem as

comunicações e a integração em tempo real de uma região a outra no mundo com um simples

toque. Segundo as respostas, todos os questionados acreditam terem chegado a uma fronteira,

ao limiar de uma nova escola que não tem mais como retroceder, sob a pena de ser engolida

pelos meios de comunicação, que apenas informam sem formar.

Se o papel do docente é o de facilitador da aprendizagem e se o ambiente se diz

interativo entre educandos e estes em relação aos educadores, podemos dizer que é verdade

que estes educadores aprendem também com seus educandos, isso vale também para as TICs.

Percebemos, então que, atualizar-se, estar disponível para inovações, aberto a novas

experiências, principalmente em relação ao uso das TICs, que acreditam ser necessárias aos

seus educandos, parece-nos evidentes nas respostas dos questionados.

Dentre as respostas não encontramos fórmulas nem respostas prontas, existem

grandes dúvidas, mas notamos na maioria dos educadores disponibilidade para aprender a

usar as TICs em favor do seu educando.

Os educandos, por sua vez, parecem bastante motivados, pois demonstram interesse

em relação ao uso das TICs. Necessita-se então explorar o potencial das TICs para a

construção de conhecimentos e focar em programas de formação continuada, discutindo o seu

uso na educação.

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ANEXOS

Anexo I – Questionário.

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PROFESSOR(A), Meu nome é Marilene Maria Zeni Vargas, sou aluna do Curso de Especialização em PROEJA e gostaria de contar com a tua colaboração no processo de desenvolvimento da pesquisa, que tem como tema: As propostas pedagógicas docentes no uso do Laboratório de Informática do PROEJA- CEFETBG.

Desta forma, apresento algumas questões para o registro das tuas reflexões sobre a experiência com o PROEJA. Acredito que por meio desta pesquisa estaremos contribuindo para o desenvolvimento desta modalidade de ensino. Sua assinatura no final do questionário será uma forma de autorização para a publicação dos dados coletados, preservando oculta a identificação.

1- De que forma você acredita que os seus alunos aprendem melhor? ___________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________________________________________________________________ 2- Como você desenvolve o planejamento de uma aula? _________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 3- Como você desenvolve a sua prática em aula? ____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 4- No seu ponto de vista, você considera que a fonte do conhecimento está no professor/

no aluno/ ou você acredita que o conhecimento é fruto das interações entre professores e alunos e objetos do conhecimento?

____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 5- Você utiliza as TICs - Tecnologias da Informação e da Comunicação em sua vida

diária? Quais são as TICs mais utilizadas por você? ____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 6- Como educador, você costuma utilizar as TICs em sua prática pedagógica? ________________________________________________________________________________________________________________________________________________

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____________________________________________________________________________________________________________________________ Em caso positivo, responda as questões 6.1, 6.2, 6.3, 6.4, 6.5 e 6.6 Em caso negativo, vá para a questão 7. 6.1 Com que objetivo você utiliza as TICs em sua prática pedagógica? _________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 6.2 De que forma você utiliza os recursos oferecidos pelas TICs para desenvolver o processo educacional? ________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 6.3 Você considera importante o uso das TICs no desenvolvimento do processo educacional? Por quê? _________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 6.4 Como seus alunos reagem ao serem convidados para uma aula no laboratório de informática da escola? _________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 6.5 Na sua percepção, qual a contribuição do uso das TICs na sua prática pedagógica? ________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 6.6 Gostaria de deixar alguma contribuição sobre a sua experiência no uso das TICs como suporte das suas práticas? __________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 7- Se você não usa as TICs na sua prática pedagógica, por que não o faz? _________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 8- Gostaria de obter maiores orientações de como utilizar as TICs para melhorar o

aprendizado dos seus educandos? De que forma você acredita que isto possa se efetivar na Instituição?

_________________________________________________________________________________________________________________________________________________

Assinatura do entrevistado REFERÊNCIAS

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BECKER, Fernando. A origem do conhecimento e aprendizagem escolar. Porto Alegre: Artemed, 2003. CARMO, Paulo Sérgio do. Tecnologia e Trabalho: a máquina substituirá o homem? In: KUPSTAS, Márcia (Org.). Trabalho em Debate. São Paulo: Moderna, 2008. p. 39-55. FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa.24 ed.São Paulo: Paz e Terra, 2002. MORAES, Maria Cândida. Educar na Biologia do Amor e da Solidariedade. Petrópolis, RJ: Vozes,2003. PIERRO, Maria Clara de; JOIA, Orlando; RIBEIRO,Vera Masagão. Visões da Educação de Jovens e Adultos no Brasil. Caderno Cedes, ano XXI, nº 55, novembro/2001. PINTO, Álvaro Vieira. Sete lições sobre educação de adultos. São Paulo: Cortez,1994. SANTOS, Simone Valdete dos. A Educação de 1º Grau na Fábrica: para além das competências e da qualidade total. Educação de Jovens e Adultos no Brasil: a trajetória do ensino fundamental tardio Dissertação de Mestrado, Programa de Pós-Graduação em Educação- UFRGS, 1998. SILVA, Alexandre Virginio. Ser professor em tempos de mal-estar na modernidade.Disponível em: http://www.alexandrevirginio.slg.br. Acesso em 01/06/2009.