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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE
CURSO DE ODONTOLOGIA
TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO
A MAÇÃ LIMPA OS DENTES. VERDADE OU MITO?
AVALIAÇÃO DA CAPACIDADE DA MAÇÃ NO CONTROLE DO
BIOFILME DENTAL
Orientadora: Prof.ª Dr.ª Gislaine Rosa Biacchi Co-orientador: Prof. Dr. Paulo Edelvar Correa Peres
Marina Coelho Silva Kruel
Santa Maria, dezembro de 2015
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................... 2
2 ARTIGO CIENTÍFICO ........................................................................................ 3
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................... 12
REFERÊNCIAS ..................................................................................................... 13
1 INTRODUÇÃO
Nos meios de comunicação em geral e em algumas publicações
especializadas, como no site do Conselho Federal de Odontologia1 com frequência
são divulgados informações que promovem determinados alimentos à auxiliares da
higiene bucal, entre outras, a maçã, a pêra, o kiwi, a melancia, a cenoura, a acelga e
o pepino2.
Durante o desenvolvimento da graduação em odontologia tomamos
conhecimento de que alguns alimentos chamados “detergentes” possuem a
propriedade de limpar a superfície dos dentes durante a mastigação e, em
decorrência, seriam coadjuvantes no combate à cárie ao removerem, mesmo que
parcialmente, a placa bacteriana, ou mais atualmente, o biofilme dental3.
Portanto, é possível que exista um consenso de que alguns alimentos
possuem a capacidade de agirem como removedores do biofilme dentário, porém
parece não haver evidências científicas que reforcem ou confirmem este conceito. A
busca realizada em periódicos científicos da área odontológica (PUBMED) revelou a
inexistência de estudos que pudessem esclarecer ou discutir o tema.
Desta forma, levantamos a possibilidade de desenvolver um estudo
procurando descortinar a verdade sobre a capacidade da maçã na “limpeza” dos
dentes.
Para isso, realizou-se este estudo que consiste em uma avaliação
microbiológica aliada à avaliação do índice de placa (IPV) em acadêmicos de
odontologia voluntários submetidos a um período sem escovação, com dieta
altamente cariogênica, para avaliar a eficácia da ingestão da maça na redução da
concentração de micro-organismos da saliva e da colonização bacteriana nas
superfícies dentárias livres.
2 ARTIGO CIENTÍFICO
A maçã limpa os dentes. verdade ou mito?
Avaliação da capacidade da maçã no controle do biofilme dental
The apple cleans the teeth. True or mith?
Evaluation of the apple’s capacity on dental
biofilm control. RESUMO Objetivos: Avaliar a eficácia da mastigação da maça na redução da colonização
bacteriana nas superfícies dentárias e na concentração de micro-organismos da saliva.
Métodos: Quinze voluntários suspenderam a higiene bucal por 18 horas e consumiram
uma dieta com alta concentração de sacarose. Após, submeteram- se ao protocolo com
solução evidenciadora de biofilme, coleta de saliva, registro fotográfico das arcadas e
análise do Índice de Placa, antes e após o consumo da maça. Resultados: a concentração
microbiana não apresentou diferenças significativas entre as amostras coletadas de antes
e após o consumo da fruta. A avaliação do Índice de Placa Visível
(IPV) demonstrou redução do biofilme nas superfícies livres. Conclusão: A maça possui uma capacidade relativa de desorganizar o biofilme dentário recém-formado, sendo que o consumo da fruta não altera a concentração de microorganismos oral da saliva. Palavras-chave: Biofilme dentário, Microrganismos, Maça, Saliva ABSTRACT Objectives: Evaluated the efficacy of chewing the apple in reducing biofilm on tooth
surfaces and in the concentration of micro-organisms in the saliva. Methods: Fifteen
volunteers suspended oral hygiene for 18 hours and consumed a diet with a high
concentration of sucrose. After, followed the protocol with plaque disclosing agents,
saliva collection, photography record and analysis of plaque index, before and after
chewing the apple. Results: The microbial concentration showed no significant
differences between the samples before and after consumption of the fruit. Evaluation of
Plaque Index Visible (IPV) showed a reduction in biofilm on surfaces free. Conclusions:
The apple has a relative ability to disrupt dental biofilm newly formed, being that the
consumption of fruit not alter the concentration of oral microorganisms of saliva. Keywords: Dental Biofilm, Microorganisms, Apple, Saliva
Paulo E. C. Peres* Gislaine R. Biacchi** Marina Coelho Silva Kruel*** Gabriel Mohr Franciosi**** Giuliano Omizzolo Giacomini***** Lívia Gelain Castilhos******
* Professor Associado do Departamento de
Parasitologia e Microbiologia da
Universidade Federal de Santa Maria
(UFSM) – RS [email protected] ** Professora Adjunta do Departamento de
Odontologia Restauradora da
Universidade Federal de Santa Maria – RS
[email protected] *** Acadêmica do Curso de Odontologia
da UFSM – RS [email protected] **** Acadêmico do Curso de Odontologia
da UFSM – RS [email protected] ***** Acadêmico do Curso de Odontologia
da UFSM – RS [email protected] ****** Mestre em Ciências Farmacêuticas
pela UFSM – RS [email protected]
Correspondência: Prof. Gislaine Rosa Biacchi Rua Conrado Hoffmann 345, Ap.502 -
Santa Maria – RS Cep: 97060-140 Telefone: (55) 9914-5517 – (55) 3304-
1209 [email protected]
A maça limpa os dentes. verdade ou mito? Avaliação da capacidade da maça no controle do biofilme dental
I N T R O D U ÇÃO
A dieta é considerada um fator determinante para a qualidade de vida, tanto sob o
ponto de vista nutricional quanto da saúde dentária, sendo a escolha dos alimentos um
aliado na prevenção de doenças metabólicas e bucais1,2. Ao relacionar dieta, nutrição e saúde bucal3, ressaltaram a importância dos alimentos
naturais, como frutas, verduras e legumes, como fontes de suprimentos de vitaminas e sais minerais para a formação de ossos e dentes, para a mastigação, bem como para o fortalecimento do sistema de defesa orgânico.
Supõe-se que, pela presença de fibras insolúveis, determinados alimentos naturais podem proporcionar uma ação mecânica sobre os dentes durante a mastigação, reduzindo a
quantidade de biofilme nas superfícies dentárias supra-gengivais 4, sendo considerada um
“alimento detergente”5. A crença na qual alguns alimentos, incluindo a maça, possam prevenir a cárie den-
tária e a doença periodontal existe a mais de um século6 persistindo até os dias de hoje como
um símbolo da saúde dental7. Baseados nesta crença, em meados da década de 70, iniciou-se a investigação da
potencialidade da maça como agente de limpeza para a saúde dentária. Já em 1969, Lindhe e
Wicén8 demonstraram que alimentos fibrosos pareciam não ter efeito de limpeza dentária significativa, bem como a mastigação da maça pouco efeito apresentava sobre o acúmulo de
placa. Porém Birkeland e Jorkjend (1974) 9 observaram que a fruta possuía a capacidade de remoção de restos alimentares através da mastigação. Outros estudos como de Longhurst e
Berman (1973)10 e Geddes et al. (1977) 11, ao observarem a ação da maça sobre a placa dentária concluíram que a fruta não possui o mesmo potencial anti--cariogêncio apresentado pelo amendoim e o queijo, mas ao contrário, podem ter um efeito adverso devido sua acidez baixar o pH da placa.
Em 1995, Pollard12, investigando a acidogenicidade sobre a placa e desmineralização
do esmalte de amidos e frutas, incluindo a maça, observou que todos eram menos acidogênicos que a sacarose, porém todos os alimentos produziram a desmineralização do esmalte, sendo que o baixo pH de laranjas e maçãs causou mais desmineralização do que a sacarose.
Sob o aspecto microbiano, alguns estudos mais recentes têm demonstrado, in vitro, a potencialidade da maça em inibir o crescimento de determinados microorganismos cario-
gênicos ou seus fatores de virulência13,14, ou então apresentar, através de seus compostos
fenólicos, propriedades anti-cárie15. Estudos epidemiológicos têm mostrado que a fruta consumida habitualmente, e na
ausência de placa bacteriana, apresenta baixa cariogenicidade16,17. O foco das investigações mais recentes envolvendo a maça tem sido a sua influência – e de seus derivados (sucos,
vinagre) – no desenvolvimento de lesões por erosão dentária18,19,20. Muito embora os estudos citados não considerem a maça um alimento capaz de
reduzir os depósitos alimentares sobre os dentes ou agir como aliado na prevenção à cárie dental e doença periodontal, esta informação ainda é encontrada tanto em periódicos de
odontologia4 como em documentos eletrônicos21,22,23,24. Acreditando que esta crença também encontra respaldo na sociedade e reconhecendo
a importância deste assunto para a odontologia, o presente estudo buscou avaliar Odonto 2014; 22(43-44): 21-28
Peres et al.
a capacidade da maça na redução do biofilme dental, por ação mecânica da mastigação, e as
alterações microbiológicas desencadeadas pela fruta após seu consumo.
MATERIAIS E METODOS
O presente estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade
Federal de Santa Maria (número 21830613.4.0000.5346) e desenvolvido no Laboratório de Pesquisas em Microbiologia (LAPEMICRO) da UFSM com a participação de acadêmicos voluntários regularmente matriculados no terceiro semestre do curso de Odontologia da UFSM, divididos em três grupos (n=15). O critério de seleção dos voluntários foi a presença
de dentes naturais em todas as arcadas (superior e inferior). O critério de exclusão foi a presença de fatores retentivos de placa (aparelhos ortodônticos, cálculo dental, prótese uni-
tária, prótese fixa ou removível). Para promover acúmulo de biofilme os voluntários foram instruídos a realizaram a última higienização oral às 22 horas do dia anterior a coleta de
material e, no dia seguinte, consumirem balas (uma unidade) de sabor framboesa (7 Bello, Arcor, Rio das Pedras, SP, Brasil) em intervalos regulares de uma hora até o momento da
coleta das amostras salivares (das 8 às 16 horas). O almoço dos voluntários, realizado às 12 horas, foi o fornecido pelo Restaurante Universitário da UFSM tendo como sobremesa um bombom Sonho de Valsa (Ind. Chocolates Lacta, Curitiba, PR, Brasil). Uma hora após a
ingestão da última bala (17 horas), os voluntários foram instruídos a realizar bochechos com 5ml solução evidenciadora de placa Eviplac (Biodinâmica, Ibiporã, PR, Brasil), por um
minuto, seguido da eliminação de todo conteúdo acumulado no interior da boca. Passados um minuto de espera, a saliva do voluntário foi coletada em placa de petri esterilizada,
mantida em banho de gelo, até a preparação de todas as amostras. Posteriormente à coleta de saliva inicial (S1), foi realizado por dois avaliadores independentes, devidamente cali-brados
entre si, a avaliação do Índice de Placa Visível inicial (IPV 1) nas faces vestibulares dos dentes: incisivos centrais superiores (11 e 21) e inferiores (31 e 41), primeiros molares
superiores (16 e 26), e caninos inferiores (41 e 43) no qual foi considerado o percentual de área colonizada pelo biofilme em relação à superfície de cada dente avaliado de acordo com cinco níveis de escores (0 a 4), adaptado de Logan e Boyce (1994), conforme tabela 1. Ao final
dessa avaliação foi entregue aos voluntários uma maçã Fuji (com peso médio de 250g) para ser consumida em sua totalidade. Passados 5 minutos após a ingestão da fruta, foram
realizados novamente os procedimentos anteriormente descritos obtendo-se a segunda amostra de saliva (S2) e avaliação do IPV após consumo (IPV2). As amostras de saliva
armazenadas em placas de petri estéreis foram numeradas e mantidas em banho de gelo. Na sequência, em capela microbiológica, uma alíquota de 20 ml foi adicionada a um tubo falcon
cônico contendo caldo BHI. As amostras foram incubadas em estufa microbiológica à 37°C por 24 horas e após, submetidas à análise por espectrofotometria (Espectro UV-1600, Pró-
análise, SP, Brasil) em um comprimento de onda de 460 nanôme - tros. Os resultados microbiológicos foram submetidos a análise de variância e ao Teste t pareado (Statistica Trial version). Os resultados da análise do IPV foram submetidos ao teste Wilcoxon. O nível de
significância adotado foi de 5%, tendo sido utilizado o programa SPSS 20 (SPSS Inc., Chicago, IL, EUA) para realização dos cálculos estatísticos.
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A maça limpa os dentes. verdade ou mito? Avaliação da capacidade da maça no controle do biofilme dental
Ta b e l a 1: Sistema de placa bacteriana segundo Logan & Boyce (1994)
CODIFICAÇÃO QUANTIDADE (%)
1 0 -24 2 25-49 3 50-74 4 75 -100
A área da superfície vestibular da coroa dental coberta pelo biofilme em relação à
superfície vestibular total atribuindo-se um escore de acordo com os dados dos intervalos de
percentagem.
R E S U LTA D O S
O teste não paramétrico de Wilcoxon revelou que o consumo de maçã reduziu sig-
nificativamente o IPV (p < 0,001). A tabela 2 apresenta a mediana, as médias das ordens e o
resultado do teste de Wilcoxon. O diagrama de caixas (gráfico 1) ilustra as medianas, os
escores mínimos e máximos observados previamente e após o consumo de maçã.
Tabela 2 – Medianas e médias das ordens dos índices de placa visível avaliados pre-viamente
e após o consumo de maçã e resultados do teste de Wilcoxon.
Momento Mediana Média das ordens
Previamente ao consumo 2 1,84 B
Após o consumo 2 1,16 A Médias seguidas por letras distintas indicam diferença significativa.
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Peres et al.
As imagens fotográficas apresentadas nas figuras 1 e 2, mostram as arcadas den-
tárias com a solução evidenciadora de placa e exemplificam os resultados obtidos antes e
após o consumo da maça.
Figuras 1A e 1B: Arcadas dentárias de um voluntário com o evidenciador de
placa, obtidos antes e após o consumo da maça.
Na análise por espectrofotometria da concentração microbiana na saliva, após teste de
normalidade, os dados discrepantes foram eliminados (3 amostras). A análise de variância e
o Teste T utilizados demonstraram que o consumo da maça não alterou significativamente a
concentração microbiológica (p>0,05). A tabela 3 apresenta a média e o desvio-padrão dos
resultados obtidos antes e após o consumo da maça. O gráfico 2 ilustra as medianas, os
escores mínimos e máximos observados previamente e após o consumo de maçã. Odonto 2014; 22(43-44): 21-28 25
A maça limpa os dentes. verdade ou mito? Avaliação da capacidade da maça no controle do biofilme dental
Tabela 3: Resultados da concentração de microrganismos antes e após o consumo do maça
(grau de absorbância).
Consumo da maça N Média (± DP) Valor mínimo - Máximo
Antes 12 1,396A(0,07) 1,250- 1,508
Depois 12 1,217A(0,36) 0,307– 1,517
Box & Whisker Plot
1,5
antes vs. depois
1,4
1,3
1,2
1,1
1,0
0,9
Mean
0,8
Mean±SE
antes Depois Mean±1,96*SE
Gráfico 2: Medianas, média e desvio padrão da concentração de microrganismos antes e após o consu-mo da
maça.
DISCUSSÃO
Quando o homem deixou de viver exclusivamente da natureza e modificou a forma
natural dos alimentos, gerou um desequilíbrio na biodiversidade bucal, alterando o pro-cesso de desmineralização e remineralização, agregando propriedades como aderência a superfície dentária e baixo pH, possibilitando o desenvolvimento de lesões na estrutura
dentária chamada de cárie dentária25,26. Os meios de comunicação da área4, incluindo a Internet, ao abordar temas rela-
cionados à saúde bucal sugerem que a maça, entre outros alimentos, tem a capacidade de
limpar as superfícies dentárias7,18,19,20,21, comparando -a ao dentifrício27 embora não se
encontre na literatura científica recente evidências para tal28. Neste estudo, buscou -se analisar se a hipótese na qual a maça “limpa” os dentes pode
ser considerada correta tanto sob o aspecto mecânico de remoção do biofilme quanto pela
redução da concentração microbiana. Em relação à quantificação microbiana, esperava-se uma alteração através da dimi-
nuição na concentração de microrganismos, pela eliminação parcial na deglutição salivar Odonto 2014; 22(43-44): 21-28
Peres et al.
ou, então, um aumento pela agregação do biofilme à saliva. Porém, a análise por espec -
trofometria demonstrou não haver mudança significativa na concentração de microrga-nismos antes e após o consumo da maça, evidenciando uma manutenção da estabilidade
quantitativa de microrganismos na saliva. O Índice de Placa é recurso utilizado em estudos de avaliação comparativa quando se
procura estabelecer diferenças na quantidade de biofilme na superfície dentária29,30. No
presente estudo, ao avaliarmos comparativamente o Índice de Placa antes e após a inges-tão da fruta, podemos observar que ocorreu uma alteração significativa entre as etapas anteriores e posteriores ao consumo da maça. Estes achados provavelmente se devem à capacidade dos alimentos duros e fibrosos, aliado a uma mastigação vigorosa, de remo - ver
parcialmente os substratos amolecidos que se encontram na superfície vestibular dos dentes 9 em particular tratando-se de biofilme recém-formado. Vale salientar que somente foram observadas as superfícies dentais livres (vestibulares) onde a remoção do biofilme por qualquer método de higiene é facilitada e o biofilme apresentava-se amolecido, devido
às particularidades de formação rápida com alimentos altamente açucarados.
Embora estudo recente aponte a potencialidade não cariogênica13 da maça, é teme-roso afirmar que este alimento possa ajudar na higiene dentária ao ser consumido.
Portanto, levando em consideração os resultados deste trabalho, pode-se conside-rar que a maça, muito embora tenha removido parcialmente o biofilme recém-formado, ela o fez superficialmente e somente nas superfícies dentárias livres, não se encontrando respaldo na literatura sobre a capacidade da fruta em promover “limpeza” dos dentes. Em relação à análise da saliva, não foi observado redução da concentração microbiana, embora alguns estudos tenham demonstrado haver uma possível inibição de microrga-nismos
específicos25,26 . Desta forma, levando em consideração a propriedade altamente acidogência
da fruta, não se pode considerar a maça um auxiliar da higiene bucal, nem defini-la como “alimento detergente”.
C O N C L U S ÃO
Dentro das limitações deste estudo pode-se concluir que:
• a maça é um alimento que possui uma capacidade relativa de desorganizar o biofilme dentário recém-formado nas superfícies livres e lisas dos dentes;
• o consumo da maça não altera a concentração de microrganismos oral da saliva.
R E F E R ÊN C I A S
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12
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Sabe-se que a busca para a prevenção das doenças bucais , doença
periodontal e cárie dentária, é de interesse da sociedade que busca uma melhor
qualidade de vida.
Informações pertinentes que visam esclarecer e informar a população devem
estar pautadas em evidências científicas, mesmo quando tenham por base um
conhecimento popular.
É crível considerar certos alimentos como aliados a boa saúde geral, mas
confiar a “limpeza dos dentes” a um fruto, como a maçã, pode provocar uma
compreensão errônea de que a mesma tenha a capacidade de substitui os
instrumentos de higiene consagrados.
Através desta pesquisa foi possível concluir que a maçã foi incapaz de
desorganizar totalmente o biofilme dental supragengival formado na presença de
sacarose após doze horas, não diminuindo assim os níveis de concentração
bacteriana da saliva.
Esta informação reveste-se de importância na medida em que são os
cirurgiões-dentistas os responsáveis por instruir e esclarecer aos pacientes e a
comunidades sobre meios de higiene bucal e prevenção das doenças da cavidade
oral.
13
REFERÊNCIAS
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