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1 Marlon Dourado de Azevedo A Influência das Tecnologias na Reforma Curricular do Curso de Medicina da Faculdade de Ciências Médicas e da Saúde da PUC-SP MESTRADO EM TECNOLOGIAS DA INTELIGÊNCIA E DESIGN DIGITAL São Paulo 2010 PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO - PUC-SP

Marlon Dourado de Azevedo - PUC-SP · Aos funcionários da Biblioteca da PUC-SP (Campus Sorocaba), que sempre me ... Procedimentos realizados nos bonecos de simulação de procedimento

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Marlon Dourado de Azevedo

A Influência das Tecnologias na Reforma Curricular do Curso de Medicina da Faculdade de Ciências Médicas e da Saúde da PUC-SP

MESTRADO EM TECNOLOGIAS DA INTELIGÊNCIA E DESIGN DI GITAL

São Paulo 2010

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO - PUC -SP

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Marlon Dourado de Azevedo

A Influência das Tecnologias na Reforma Curricular do Curso de Medicina da Faculdade de Ciências Médicas e da Saúde da PUC-SP

MESTRADO EM TECNOLOGIAS DA INTELIGÊNCIA E DESIGN DI GITAL

Dissertação apresentada à Banca

Examinadora da Pontifícia Universidade

Católica de São Paulo, como exigência

parcial para obtenção do título de

MESTRE em Tecnologias da Inteligência

e Design Digital - Aprendizagem e

Semiótica Cognitiva, sob a orientação da

Profa. Doutora Sonia Maria de Macedo

Allegretti.

São Paulo 2010

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO - PUC -SP

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Banca Examinadora

________________________________________

________________________________________

________________________________________

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AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus por ter colocado em meu caminho pessoas tão

maravilhosas, que de uma forma ou de outra, tiveram um papel fundamental para

que este momento se tornasse realidade.

Agradeço a minha esposa Vilma, meus filhos Gabriela e Iago que sempre me

apoiaram e estiveram ao meu lado nos momentos mais difíceis, e tiveram

paciência, abdicando da minha presença na caminhada solitária.

À Professora Dra. Sonia Allegretti, que sempre me apoiou e me colocava nos

trilhos, norteando-me, quando eu começava a derivar.

Um agradecimento especial ao Professor Dr. Luiz Sampaio, que me auxiliou muito

na interdisciplinaridade do projeto, pois ao trabalharmos com informações de uma

área tão complexa como a Medicina, é inevitável que as dúvidas apareçam a todo

o momento, e ele sempre elucidou minhas interrogações.

A FUNDAÇÃO SÃO PAULO / PUC-SP, por ter me concedido esta bolsa de

estudo.

Aos funcionários da Biblioteca da PUC-SP (Campus Sorocaba), que sempre me

auxiliaram nas buscas dos bons livros para fundamentar esta pesquisa.

E a todos aqueles que participaram direta ou indiretamente dessa conquista

pessoal.

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Dedico este trabalho aos meus filhos Gabriela e Iago, que sirva de inspiração para suas

buscas contínua do conhecimento.

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“A mente que se abre a uma nova ideia, jamais voltará ao seu tamanho original." Albert Einstein

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RESUMO

A formação médica passa por uma série de adequações para atender às novas

demandas da saúde no Brasil, conforme preconiza o Conselho Federal de

Medicina, e a Faculdade de Medicina da PUC-SP através do seu PPI.

Esse estudo exploratório se posiciona dentro destas mudanças para mostrar a

influência exercida pelas tecnologias na formação dos novos médicos. A

telemática, a informática médica, a Telemedicina, a Internet, são apresentadas

como ferramentas que possibilitam a criação de cenários que auxiliam na

construção do conhecimento, e se destacam como fortes aliados no processo de

transformação da sociedade do conhecimento.

A contextualização desta pesquisa ocorre no ambiente de transformação da

Faculdade de Medicina da PUC-SP, por meio de uma análise da sua reforma

curricular e dos ambientes tecnológicos da Universidade.

O resultado mostra que o uso das tecnologias ainda é feito de uma forma tímida,

mas com grandes perspectivas de exploração das potencialidades apresentadas.

Palavras chaves

Aprendizagem, Ciberespaço, Reforma Curricular, Tecnologia, Telemedicina

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ABSTRACT

Medical training involves a series of adaptations to attend the new demands of

health in Brazil, as recommended by Conselho Federal de Medicina, and

Faculdade de Medicina da PUC-SP through his PPI.

This exploratory study is positioned within these changes to show the influence

exercised by technologies in training of new doctors. The telematics, medical

informatics, telemedicine, the Internet are presented as tools that allow the creation

of scenarios that aid in the construction of knowledge, and they stand out like forts

allied in this process of transformation of this knowledge society.

The context of this research occurs in the ambient of transformation of the

Faculdade de Medicina da PUC-SP, through an analysis of its curriculum reform

and technological environments of the University.

The result shows that the use of technologies is still done in a shy way, but with

great perspectives to explore the opportunities presented.

Keywords

Learning, Cyberspace, Curricular Reform, Technology, Telemedicine

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SUMÁRIO

RELAÇÃO DE SIGLAS ................................................................................................................ 11

LISTA DE FIGURAS ..................................................................................................................... 14

LISTA DE TABELAS ..................................................................................................................... 15

LISTA DE GRÁFICO ..................................................................................................................... 16

INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 17

Objetivo Geral ................................................................................................................. 20

Objetivos Específicos .................................................................................................... 21

Método de Pesquisa ...................................................................................................... 21

Estrutura do Projeto ....................................................................................................... 22

CAPITULO I .................................................................................................................................... 25

1 – A CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO NO CIBERESPAÇO ..................................... 25

1.1 – A Construção do Conhecimento Coletivo no Ciberespaço sob uma Visão

Prática no Âmbito da Saúde .............................................................................. 25

CAPITULO II ................................................................................................................................... 31

2 – AS TECNOLOGIAS COMO POSSIBILIDADE DE CONSTRUÇÃO COLETIVA DO CONHECIMENTO NA FORMAÇÃO MÉDICA .......................................................................... 31

2.1 – Ambientes Virtuais de Aprendizagem Médica ................................................ 31

2.1.1 – Moodle ............................................................................................................ 32

2.2 – Os Cenários Proporcionados Pelas Tecnologias Envolvidas ....................... 37

2.2.1 – Laboratório de Simulação de Procedimentos .......................................... 37

2.3 – Recursos Multimídia ............................................................................................ 39

2.4 – Telemedicina ........................................................................................................ 40

2.4.1 - História ............................................................................................................ 41

2.4.2 – Telemedicina no Brasil ................................................................................ 43

2.4.3 – Casos Reais .................................................................................................. 44

2.4.4 – Legalização da Telemedicina ..................................................................... 46

2.4.5 – Desenvolvimento da Telemedicina no Brasil ........................................... 47

2.4.6 – Estrutura da Telemedicina .......................................................................... 49

2.4.7 – Composição das Estruturas Tecnológicas em Telemedicina ............... 50

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2.4.8 – Tipos de Aplicação ....................................................................................... 52

2.4.9 – Desafio Para Implantar Uma Estrutura de Telemedicina ....................... 53

2.4.10 – Aplicações da Telemedicina na Formação Médica .............................. 56

CAPITULO III .................................................................................................................................. 59

3 – DIRETRIZES DO CURSO DE MEDICINA E A PROPOSTA CU RRICULAR DA FCMS/PUC-SP ............................................................................................................................... 59

3.1 – Diretrizes do Curso de Medicina no Brasil ....................................................... 59

3.2 - Resolução CNE/CES 4/2001 .............................................................................. 59

3.3 – O Grande Cenário de Atuação: SUS ................................................................ 61

3.4 - A Nova Formação do Médico no Brasil ............................................................. 64

3.5 - PROMED – Programa de Incentivo às Mudanças Curriculares das Escolas

Médicas ................................................................................................................. 66

3.6 - PRÓ-SAÚDE – Programa Nacional de Reorientação da Formação

Profissional em Saúde ........................................................................................ 67

3.7 – Mudança do Currículo do Curso de Medicina ................................................. 69

3.8 – Metodologia da Aprendizagem Baseada em Problemas .............................. 69

3.9 - Problematização ................................................................................................... 74

3.10 - Aprendizagem Baseada na Pesquisa ou por Projetos ................................. 77

CAPITULO IV ................................................................................................................................. 78

4 – A INFLUÊNCIA DAS TECNOLOGIAS COMO FERRAMENTAS D E APOIO AO NOVO MODELO DE ENSINAMENTO MÉDICO ...................................................................... 78

4.1 – Perspectivas ......................................................................................................... 78

4.2 – Informática para Medicina no Curso da FCMS ............................................... 80

CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................................................................... 82

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................................................... 87

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RELAÇÃO DE SIGLAS

ADSL Asymmetric Digital Subscriber Line

AIDS Acquired Immunodeficiency Syndrome

ALH Antígeno leucocitário humano

ATA American Telemedicine Association

ATM Asynchronous Transfer Mode

BIREME Biblioteca Regional de Medicina

CES Câmara de Educação Superior

CFM Conselho Federal de Medicina

CID Classificação Internacional de Doenças

CNE Conselho Nacional de Educação

CNES Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde

CNRM Comissão Nacional de Residência Médica

CONASS Conselho Nacional de Secretários de Saúde

CRM Conselho Regional de Medicina

DATASUS Departamento de Informática do SUS

DICOM Digital Imaging Communications in Medicine

ECG Eletrocardiograma

FAMEMA Faculdade de Medicina de Marília

FAPESP Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo

FCMS Faculdade de Ciências Médicas e da Saúde.

H1N1 Letra H de Proteína Hemaglutinina e letra N de Proteína

Neuraminidase

HIV Human Imunodeficiency Virus

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INAMPS Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social

INPS Instituto Nacional de Previdência Social

INSS Instituto Nacional de Seguridade Social

ISDN Integrated Service Digital Network

JPEG Joint Photographic Experts Group

LMS Learning Management System

MEC Ministério da Educação e Cultura

MEDLINE Medical Literature Analysis and Retrieval System Online

MOODLE Modular Object-Oriented Dynamic Learning Environment

MS Ministério da Saúde

NASA National Aeronautics and Space Administration

NLM National Library of Medicine

OMS Organização Mundial da Saúde

OPAS Organização Pan Americana da Saúde

OPM Órteses, Próteses, Medicamentos e Materiais Especiais

PBL Problem-Based Learning

PEP Prontuário Eletrônico do Paciente

PPI Projeto Pedagógico Institucional

PROMED Programa de Incentivo às Mudanças Curriculares das Escolas

Médicas

PRÓSAÚDE Programa Nacional de Reorientação da Formação do Profissional da

Saúde

PSF Programa Saúde da Família

PUC-SP Pontifícia Universidade Católica de São Paulo

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SAMU Serviço de Atendimento Móvel de Urgência

SEDI Serviço Estadual de Diagnóstico por Imagem

SUS Sistema Único de Saúde

TIC Tecnologia da Informação e Comunicação

USP Universidade de São Paulo

VPN Virtual Private Network

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Módulo de Capacitação Docente: des-construindo as unidades

educacionais.

Figura 2 - Proposta que MAGUEREZ denominou Método do Arco

Figura 3 – Site do LMS Moodle disponibilizado pela PUC-SP em

http://moodle.pucsp.br/

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1. CNES - Recursos Humanos – Profissionais

Tabela 2. Procedimentos realizados nos bonecos de simulação de procedimento

Tabela – 3 Indicadores de uso dos recursos do audiovisual – FCMS / PUC-SP. 2˚

semestre 2.009

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LISTA DE GRÁFICO

Gráfico 1. Utilização das ferramentas disponibilizadas no Moodle para os cursos

da FCMS.

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INTRODUÇÃO

A formação médica se vê dentro de um novo contexto, já que a busca pela

humanização do profissional médico é o que preconiza os Ministérios da Saúde e

da Educação. Para se adequar às novas exigências sociais os cursos de formação

médica têm sofrido grandes transformações estruturais e metodológicas.

As faculdades de Medicina mudam seus currículos e são estimuladas pelo

governo a atender às demandas da sociedade que traz a reboque uma série de

problemas de saúde pública. Esta nova formação se apoia em uma nova maneira

de construir o conhecimento, introduzindo o método de aprendizado baseado na

prática.

Essa mudança metodológica exige a construção de vários cenários, reais

ou virtuais, que estimulem os alunos a criarem o seu próprio conhecimento e

itinerário formativo. Nesse processo cognitivo, as tecnologias aparecem como uma

ferramenta de apoio importante, pois possibilitam várias formas de criação desses

cenários, os quais facilitam o trabalho dos professores nesse contexto de

aprendizagem, alem de favorecer um maior controle nas avaliações.

Estimular a troca de conhecimentos entre o ambiente acadêmico e

unidades básicas de saúde contribui de forma simbiótica para o crescimento

melhorado da prática de cuidados da saúde básica e da formação acadêmica.

Cria-se uma sensibilidade no desenvolvimento de recursos humanos através dos

centros de formação dos profissionais médicos, melhorando desta forma, a

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qualidade do curso e a qualidade de vida da sociedade em geral, a qual contará

com um melhor atendimento, e com profissionais melhor preparados.

Esse processo estimula o desenvolvimento da pesquisa científica e do

conhecimento coletivo, que sempre buscará a melhor solução para os problemas

da saúde pública e privada.

Utilizar as tecnologias para estimular a construção e expansão do

conhecimento é uma prática que vem ganhando força, pois há incentivos do

governo para que a mesma ocorra e, se torne uma ação natural nos meios de

formação.

Lévy (1994) defende que a informática comunicante se apresentaria, então,

como a infraestrutura técnica do cérebro coletivo de comunidades vivas. O papel

da informática e das técnicas de comunicação com base digital não seria

“substituir o homem”, nem aproximar-se de uma hipotética “inteligência artificial”,

mas prover a construção de coletivos inteligentes, nos quais as potencialidades

sociais cognitivas de cada um poderão desenvolver-se e ampliar-se de maneira

recíproca.

Ainda há muitas dificuldades em utilizar essas tecnologias de forma

adequada para atingir tal fim. Essas dificuldades estão relacionadas muitas vezes

com a falta de conhecimento dos profissionais envolvidos no processo, ou pela

falta de projetos adequados que vislumbrem o valor agregado dessas tecnologias

ou que venha a agregar, enquanto ferramenta de apoio à área médica.

No Brasil existe um dos maiores sistemas de saúde do mundo, o Sistema

Único de Saúde (SUS), que é o maior empregador dos profissionais da área da

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saúde, conforme pode ser visto na tabela 1. Consequentemente os cursos de

formação médica são incentivados a se estruturarem para esta demanda.

Brasil

Recursos Humanos (vínculos) segundo categorias sele cionadas Dez/2009

Categoria Total Atende ao

SUS

Não atende ao

SUS Prof/1.000

hab

Prof SUS/1.000

hab Médicos 843.100 600.399 242.701 4,4 3,1 .. Anestesista 37.485 28.622 8.863 0,2 0,1 .. Cirurgião Geral 56.235 46.230 10.005 0,3 0,2 .. Clínico Geral 176.407 149.021 27.386 0,9 0,8 .. Gineco Obstetra 83.183 53.664 29.519 0,4 0,3 .. Médico de Família 35.419 35.316 103 0,2 0,2 .. Pediatra 80.989 59.685 21.304 0,4 0,3 .. Psiquiatra 16.125 12.566 3.559 0,1 0,1 .. Radiologista 30.165 17.759 12.406 0,2 0,1 Cirurgião dentista 138.826 78.614 60.212 0,7 0,4 Enfermeiro 144.260 132.313 11.947 0,8 0,7 Fisioterapeuta 52.577 33.321 19.256 0,3 0,2 Fonoaudiólogo 18.241 11.830 6.411 0,1 0,1 Nutricionista 17.316 14.202 3.114 0,1 0,1 Farmacêutico 43.202 35.511 7.691 0,2 0,2 Assistente social 22.790 21.950 840 0,1 0,1 Psicólogo 38.533 26.721 11.812 0,2 0,1 Auxiliar de Enfermagem 320.598 287.177 33.421 1,7 1,5 Técnico de Enfermagem 186.297 162.314 23.983 1,0 0,8 Tabela 1 . Situação da base de dados nacional em 10/04/2010 Fonte: CNES - DATASUS. Nota: Se um profissional tiver vínculo com mais de um estabelecimento, ele será contado tantas vezes quantos vínculos houver.

O SUS foi criado na Constituição de 1988 e tem melhorado muito seus

atendimentos nos últimos anos, mas ainda esbarra em fatores como a formação

nivelada dos profissionais e a localização privilegiada das grandes capitais, quanto

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aos recursos aplicados. Quando se fala em recursos, são destacados os

profissionais e as tecnologias utilizadas nos atendimentos.

Conseguir expandir o conhecimento de forma linear, levando recursos pelas

redes informatizadas é um desafio para os países com grande extensão territorial

como é o caso do Brasil.

A Região Sudeste é a que apresenta o maior número de profissionais

formados na área da saúde. É a região que também apresenta o maior número de

profissionais atuantes (SUS, Portal, 2009).

As Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs) e a Telemedicina são

meios que podem promover o encurtamento das distâncias e facilitar a troca de

experiências entres pontos distantes. Os locais distantes dos grandes centros

serão, assim, os mais beneficiados.

Objetivo Geral

O propósito desta pesquisa é investigar as contribuições das tecnologias

em conjunto com a telemática na reforma curricular da formação médica do curso

de Medicina da PUC-SP. Deve-se destacar as principais contribuições na

formação médica, e como estas são aplicadas de forma estratégica na Faculdade

de Medicina da PUC-SP.

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Objetivos Específicos

Apresentar a formação do médico no Brasil e as mudanças curriculares

feitas pela Faculdade de Ciências Médicas da Saúde da PUC-SP.

Destacar as tecnologias e suas principais contribuições na formação

médica e no processo de construção do conhecimento.

Evidenciar o uso da Telemedicina, da informática médica, dos sistemas

informatizados1 enriquecendo os ambientes de ensino-aprendizagem e o processo

de troca de informações entre as unidades de atendimentos e universidade.

Apontar as influências tecnológicas na reforma curricular do curso de

Medicina da PUC-SP, e a contribuição de forma decisiva para a efetivação da

mudança dentro das novas concepções de construção de conhecimento, a partir

do uso dos meios virtuais, e as diretrizes que norteiam a formação médica no

Brasil.

Método de Pesquisa

Segundo Cervo, Bervian, Da Silva (2007), a metodologia de pesquisa

exploratória é um passo inicial para o processo de pesquisa pela experiência,

sendo fundamental para criação de elementos necessários para elaboração de

1 A informação é todo dado trabalhado ou tratado. Pode ser entendido como um dado com valor significativo atribuído ou

agregado a ele e com um sentido natural e lógico para quem usa a informação (Rezende, 2008)

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uma boa hipótese. Desta forma, podemos dizer que é um instrumento de estudo

preliminar de um assunto complexo, que objetivamos pesquisar.

De acordo com a definição de Gil (1999), a pesquisa exploratória visa

proporcionar maior familiaridade com o problema, com vistas a torná-lo explícito

ou a construir hipóteses. Envolve levantamento bibliográfico; entrevistas com

pessoas que tiveram experiências práticas com o problema pesquisado e análise

de exemplos que estimulem a compreensão. Assume, em geral, as formas de

Pesquisas Bibliográficas.

Para esta pesquisa, será utilizada a metodologia exploratória, onde as

principais coletas de informações serão buscadas nos documentos utilizados pela

comissão criada para promover a reforma curricular da Faculdade de Ciências

Médicas e da Saúde da PUC-SP, nos Hospitais Universitários e Unidades de

Atendimentos do SUS, que fazem parte deste cenário.

Será feito também um levantamento bibliográfico, que por meio das

revisões dará a fundamentação da pesquisa, abrindo, desta forma, possíveis

“visões” para uma pesquisa científica experimentada posteriormente.

Estrutura do Projeto

No Capítulo I , será mostrada a construção do conhecimento no ciberespaço sob a

ótica de Lévy. Esse capítulo é utilizado como referencial teórico do projeto, já que

fundamenta e contextualiza, a partir da revisão bibliográfica, a base do tema

pesquisado, ou seja, a formação médica, e que usa o meio informatizado como

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plataforma de apoio, e está diretamente relacionado com a construção do

conhecimento no contexto do ciberespaço.

No Capítulo II , serão mostradas as várias possibilidades da construção coletiva

do conhecimento médico através das tecnologias, como foco na interatividade

entre os centros de pesquisas, hospitais universitários e Faculdades de Medicina.

A Telemedicina é mostrada como uma nova forma de articular as trocas de

informações e assistências remotas. É ela que dará suporte tecnológico para os

estímulos das inteligências coletivas.

Pretende-se neste momento justificar a tríplice estrutura, que são as

faculdades de Medicina, representando o meio de formação, as tecnologias, e o

SUS que é o grande cenário de atuação e principal empregador dessa classe

depois de formada.

No Capítulo III , é dado um enfoque para as diretrizes que regem um curso de

Medicina no Brasil. A estrutura curricular apoiada nas tecnologias, além da

projeção que prevê eficaz o uso destas tecnologias.

É apresentada a proposta curricular da Faculdade de Medicina da PUC-SP,

explorando a nova formação do médico no Brasil, com especial destaque para as

mudanças curriculares feitas pelas faculdades de Medicina, para suprir a principal

demanda de atendimento à saúde.

O objetivo desse capítulo na dissertação é fundamentar e contextualizar a

área de pesquisa, através de análise documental, o que possibilitará destacar os

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elementos que contarão com a influência das tecnologias como ferramentas de

apoio para se desenvolver.

São apresentados também os projetos de incentivo fomentados pelo

governo, para que haja um ganho para ambas as partes, sociedade e faculdades,

e que estimula a mudança curricular.

No Capítulo IV , será mostrada a influência das tecnologias como ferramentas de

apoio ao novo modelo de ensinamento médico, com base na reforma curricular da

FCMS.

O uso da informática, da Internet, dos sistemas de gestão da

aprendizagem, como o Moodle, os bancos de informações médicas, todas estas

ferramentas são exploradas para enriquecer o ambiente de aprendizagem médica.

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CAPITULO I

1 – A CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO NO CIBERESPAÇO

Neste capítulo é apresentada a influência do ciberespaço no

desenvolvimento social e na formação acadêmica, já que a formação médica

contemporânea encontra uma forte aliança nos meios de comunicação digital, nos

sistemas informatizados, nos sistemas de simulações com base de conhecimento,

da utilização do ciberespaço e das tecnologias voltadas para os cuidados com a

saúde.

1.1 – A Construção do Conhecimento Coletivo no Cibe respaço sob uma

Visão Prática no Âmbito da Saúde

Lévy (1999) define como ciberespaço, um novo meio de comunicação que

surge da interconexão mundial dos computadores. O termo especifica não apenas

a infraestrutura material da comunicação digital, mas também o universo oceânico

de informações que ela abriga, assim como os seres humanos que navegam e

alimentam esse universo.

O neologismo “cibercultura”, o autor especifica como conjunto de técnicas,

de práticas, de atitudes, de modos de pensamento e de valores que se

desenvolvem juntamente com o crescimento do ciberespaço.

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Nesse ciberespaço, há uma forte interatividade entre as pessoas, e esta

influência cria uma dependência sistêmica nos processos de aprendizagem e

construção do conhecimento, ou seja, as partes interagem de forma sinérgica para

formar um todo, há uma redescoberta a cada momento. A busca pelo

conhecimento não é mais limitada e direcionada como foi durante muito tempo,

como, por exemplo, a televisão (comunicações em massa), a aula expositiva. Os

alunos são estimulados através de imagens, vídeos e áudio a entender o processo

na prática e a novas mídias ajudam a promover esta cognição.

As diretrizes nacionais do curso de Medicina definidas pelo MEC, através

do Conselho Nacional de Educação, preconiza a educação permanente tanto na

sua formação, quanto na sua prática. Essa visão contínua na construção do

conhecimento, trazida para o conceito de inteligência coletiva (LÉVY, 1994),

estabelece uma base de sustentação, onde as integrações promovidas pelas

conexões sociais garantem essa contínua transformação do já definido, ou seja, o

conhecimento é reconstruído a todo o momento, como se observa.

A inteligência coletiva é uma inteligência distribuída por toda a parte,

incessantemente valorizada, coordenada em tempo real, que resulta em

mobilização efetiva das competências. Acrescentemos à nossa definição

este complemento indispensável: a base e o objetivo da inteligência

coletiva são o reconhecimento e o enriquecimento mútuo das pessoas,

senão o culto de comunidades fetichizadas ou hipostasiadas (LÉVY,

1994, p. 28).

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Com base nesta concepção, vemos as tecnologias de uma forma geral,

com destaque para a Internet que tem um papel social importantíssimo, pois

mantém um forte vínculo entre as várias camadas da sociedade, contribuindo

diretamente para as pesquisas, em seus vários níveis e valores. Essa contribuição

coletiva do conhecimento extrapola as fronteiras da geografia, pois não se limita

ao estado pronto do já definido, há uma investigação contínua por vários

“ciberpesquisadores”, onde o resultado é apresentado de várias formas como

soluções dos problemas apresentados. Assim, a sociedade se beneficia com os

projetos desenvolvidos.

Também em Lévy (1997), são constatados três pontos importantes em

relação à educação e a cibercultura. A primeira é que, qualquer reflexão sobre o

futuro dos sistemas de educação e de formação na cibercultura deve ser fundada

em uma análise prévia da mutação contemporânea da relação com o saber. Em

relação a isso, a primeira constatação diz respeito à velocidade de surgimento e

de renovação dos saberes. A velocidade da mudança desses saberes faz com

que as competências adquiridas por uma pessoa no início do seu percurso

profissional sejam constantemente atualizadas até o fim de sua carreira, num

processo contínuo de superação de obsolescência.

Esta constatação é observada também, na reforma curricular dos cursos de

Ciências Médicas e da Saúde da PUC-SP. O modelo original sofreu várias

transformações desde sua concepção inicial até o ponto de estabilidade. E isso

não significa que é a versão final, pois o método cíclico de avaliações questiona

até a própria avaliação. Desta forma, há sempre uma busca para adequação do

processo de ensino-aprendizagem.

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Essa característica potencializa o ser humano a não se acomodar diante da

base de conhecimento adquirido, ou do senso comum. Haverá sempre uma busca

incessante pela evolução do conhecimento.

A segunda constatação diz respeito à nova característica do trabalho, onde

há uma exigência mútua das pessoas quanto ao aprender, transmitir saberes e

produzir conhecimento.

A terceira constatação advoga que o ciberespaço suporta tecnologias

intelectuais que amplificam, exteriorizam e modificam várias funções cognitivas

humanas: podem ser feitas analogias com as memórias e os bancos de dados, a

imaginação e as simulações, a percepção e os sensores digitais.

Todo esse incremento tecnológico reforça as bases da construção do

conhecimento sob a influência de uma mediação docente.

As funções cognitivas citadas podem ser claramente identificadas num

projeto da Microsoft Research2, que pretende usar a mesma lógica dos filtros anti-

spam para encontrar pontos vulneráveis do vírus HIV, e, com isso, desenvolver

uma vacina que consiga identificar os pontos fracos do vírus.

Conforme podemos perceber no texto a seguir, a inteligência coletiva mais

a utilização do ciberespaço são colocadas a mercê do trabalho científico em prol

da sociedade.

2 Microsoft Research (MSR) é uma divisão da Microsoft criado em 1991 para pesquisar tópicos relacionados a Ciência e Engenharia da Computação, em conjunto com várias áreas, neste caso a medicina.

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Para que os pesquisadores possam ter um banco de dados com todas as

configurações possíveis de epítopos3 e ALHs, a Microsoft Research

desenvolveu o banco de dados PhyloD.net. Pesquisadores da área

médica em todo o mundo podem ajudar a alimentar o banco enviando as

informações genéticas de seus pacientes infectados com AIDS. “Não

conseguiremos fazer nada sem ter informações globais sobre

características de ALH e epítopos presentes no processo de infecção da

AIDS”, alerta Heckerman. “Atualmente, temos centenas de colaboradores

pelo mundo trabalhando nisso. Às vezes as pistas que encontramos nos

conduzem a caminhos errados, mas isso é como a ciência funciona.

Ainda não temos certeza se conseguiremos atacar os pontos vulneráveis

na cadeia genética do HIV.”

(Disponível em: http://criasnoticias.wordpress.com/2010/05/18/como-a-

ciencia-pode-relacionar-spams-e-aids/ Acesso em: 20/06/2010 / Revista

Pesquisa FAPESP 172 – jun/2010 - p. 81).

Esse projeto exemplifica bem a terceira constatação de Lévy, nos

mostrando as interações e participações na construção do conhecimento coletivo

no ciberespaço.

Essa interatividade coletiva no ciberespaço é o que determina o grande

potencial de projetos com magnitudes sociais como o apresentado pelos

pesquisadores da Microsoft Research.

Mesmo restringindo o universo do campo de pesquisa, trazendo para o

cenário de análise em questão, que é a reforma curricular da Faculdade de

Ciências Médicas e da Saúde da PUC-SP, existem potencialidades em comum.

Os trabalhos efetuados pelos alunos nas Unidades Básicas de Saúde de

Sorocaba geram um banco de informações úteis no mapeamento de doenças e

3 Epítopo é a menor parte de um antígeno capaz de estimular resposta imunológica se ligando ao anticorpo. (Wikipédia, 2001)

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criação de hipóteses diagnósticas, as quais fazem parte da estrutura curricular do

curso. E estas informações podem ser trocadas com a Universidade e dentro do

ciberespaço.

Pelo que pudemos notar nos textos de Lévy (1994), mais as experiências

apresentadas no projeto da Microsoft Research, concluímos que, a interatividade,

a criatividade, o saber fazer, mais o corpo de conhecimento existente em um

indivíduo, são peças do “quebra-cabeça” que contribuem para a construção do

conhecimento coletivo.

O Ciberespaço é o elo que impulsiona as cabeças pensantes a construir

novos fundamentos, novas respostas para problemas. As tecnologias estão

presentes na multidisciplinaridade dos projetos sociais e exerce o papel de link do

conhecimento.

A Medicina tem usado as tecnologias como parte natural do seu arsenal de

guerra contra as doenças, desta forma as faculdades buscam se armar cada vez

mais com estas ferramentas bélicas na preparação dos futuros médicos.

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CAPITULO II

2 – AS TECNOLOGIAS COMO POSSIBILIDADE DE CONSTRUÇÃO

COLETIVA DO CONHECIMENTO NA FORMAÇÃO MÉDICA

2.1 – Ambientes Virtuais de Aprendizagem Médica

A Internet é a base para muitas ações consideradas revolucionárias para a

troca de informações e o enriquecimento cultural e intelectual da sociedade.

Os ambientes virtuais que proporcionam trocar conhecimentos na área

médica, vão desde os meios convencionais de pesquisa na Internet como Google

e Wikipédia, até sites específicos com grande conteúdo de pesquisas científicas

voltados para a área da Medicina e profissionais da saúde.

As bibliotecas MedLine disponibilizam de forma gratuita ou paga, as últimas

pesquisas realizadas na área médica e da saúde. São disponibilizados artigos

científicos, periódicos, revistas e jornais com toda evolução histórica das

publicações.

O site da BIREME (Biblioteca Regional de Medicina) é um Centro

Especializado da OPAS, estabelecido no Brasil desde 1967, em colaboração com

o Ministério da Saúde, Ministério da Educação, Secretaria da Saúde do Estado de

São Paulo e Universidade Federal de São Paulo. Localizado no endereço:

http://regional.bvsalud.org/php/index.php, é um dos sites mais procurados pela

sociedade que busca o conhecimento médico (BIREME, 2010).

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A BIREME faz buscas de informações em outros bancos de dados, como a

LILACS e SciELO, por exemplo .

O PubMed também é um serviço que disponibiliza informações na área

médica, pertence à Biblioteca Nacional de Medicina Americana (NLM) e provê

acesso a quase 20 milhões de citações bibliográficas (MedLine), catalogadas

desde meados de 1960. O conteúdo dessas citações são artigos médicos

publicados nas mais variadas revistas de diversas especialidades (PUBMED,

2010).

As tecnologias aplicadas, as interconexões das redes, os grandes bancos

de dados com os sistemas eficientes de buscas, são só estruturas que

possibilitam o desenvolvimento destas plataformas de compartilhamentos de

informações. O que merece destaque, de fato, são as contribuições coletivas para

que o conhecimento seja disponibilizado.

Essas ferramentas servem de apoio à pesquisa científica através da

Internet buscando filtrar as informações de forma otimizada nesses sites.

2.1.1 – Moodle

O LMS Moodle, ou Learning Management System Moodle, do ponto de

vista da tecnologia é um pacote de software para a produção de cursos e web

sites em Internet. Do ponto de vista educacional, é um projeto de desenvolvimento

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contínuo concebido para apoiar a Filosofia do Moodle, dentro de um quadro

construcionista social de educação.

O educador e cientista computacional Martin Dougiamas, foi o criador da

plataforma Moodle, ele iniciou o projeto nos anos de 1999, sob a forma de

comunidade virtual. Em 2002 lançou a versão 1.0 do Moodle.

O Moodle é fornecido gratuitamente como software Open Source, isto é, é

um software protegido por direito autoral, mas qualquer um está autorizado a

copiar, modificar e usá-lo, desde que concorde em: fornecer o código-fonte para

outros desenvolvedores; não modificar ou remover a licença original e os direitos

autorais e aplicar esta mesma licença para qualquer trabalho derivativo. (Portal

Moodle, 2001).

Os professores e alunos da FCMS – PUC-SP utilizam o Moodle como uma

ferramenta de apoio aos módulos cursados em cada ano do curso da Medicina. É

criado um repositório de dados para troca de informações médicas, onde são

postados:

• Material de Apoio em vários formatos de arquivos;

• Orientações para sessões de tutoria;

• Cronograma de aulas e atividades complementares, além dos fóruns de

troca de informações de interesses do grupo, onde são colocados, por

exemplo, casos para serem discutidos.

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A necessidade de corrigir rotas, problematizar novos temas, ampliar a

discussão e fazer sínteses são alcançados com o uso dessa ferramenta pelos

professores tutores.

A seguir, apresentamos um gráfico de utilização desta ferramenta pelos

professores e alunos da FCM. Nele, conseguimos perceber que os fóruns são os

mais amplamente utilizados.

Gráfico 1 – Utilização dos materiais disponibilizados no Moodle para os cursos da

FCM. Fonte: (FALSSARELA,2010).

-

1

2

3

4

5

6

7

enfermagem medicina

quan

tidad

e pe

ssoa

s

curso

Ferramenta utilizada para acesso no Moodle pelos Professores

forum

coffe

wiki

material apoio

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A palavra Moodle era originalmente um acrônimo para Modular Object-

Oriented Dynamic Learning Environment (Ambiente de Aprendizagem Dinâmico

Modular Orientado a Objeto), que é útil principalmente para programadores e

teóricos da educação. Numa linguagem coloquial o verbo to moodle descreve o

processo de passar por algo despretensiosamente, enquanto outras coisas são

feitas ao mesmo tempo. Uma divertida atividade manual que leva freqüentemente

a insights e criatividade. Como tal, aplica-se tanto ao modo como o Moodle foi

desenvolvido, quanto ao modo como um estudante ou professor pode abordar o

estudo ou o ensino em um curso on-line. Quem usa Moodle é um Moodler

(Moodleiro), (Portal Moodle, 2001).

Apesar da utilização do Moodle pelos professores e alunos do curso de

Medicina da FCMS não abranger todas as funcionalidades disponibilizadas

(figura–3), as poucas ferramentas, como os fóruns e a troca de material didático

são muito utilizadas na nova concepção da reforma curricular.

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Figura-3 – Site do LMS Moodle disponibilizado pela PUC-SP em http://moodle.pucsp.br/

Para ter acesso ao ambiente virtual, o aluno tem que ser cadastrado em

algum curso, onde terá um usuário e senha. Todos os alunos são cadastrados no

começo de cada período letivo e seu RA é o seu login de acesso.

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2.2 – Os Cenários Proporcionados Pelas Tecnologias Envolvidas

2.2.1 – Laboratório de Simulação de Procedimentos

No Laboratório de Simulação de Procedimentos, são utilizados bonecos

com sensores ligados a softwares com controles das partes do corpo e simulações

das sensações humanas, que reproduzem situações de emergências ou

atendimentos equivalentes aos acontecimentos reais.

A tecnologia empregada nesses simuladores possibilita ao aluno ter noções

práticas de como agir em casos reais, pois até os sentimentos são exprimidos,

como um choro de dor, podem ser ouvidos na simulação desse atendimento

didático.

A base da construção do conhecimento está na criação de vários cenários,

onde os professores procuram passar para os alunos a reprodução de situações

que ocorrem no dia-a-dia nos hospitais e unidades de atendimentos à saúde.

O manequim apresenta tamanho natural de uma pessoa, e podem

reproduzir vários procedimentos, como podem ser vistos na tabela a seguir:

Técnicas de difícil gerenciamento de vias aéreas: Inflação/deflação realista do peito, uso de saco ou válvula máscara; Pulsação carótida manualmente gerada; Ausculta estomacal para verificar o correto posicionamento das vias aéreas; Entubação retrógrada; Entubação oral e nasal por fibra ótica; Entubação com bastão de luz; Entubação oral, nasal e digital; Língua inflável manualmente para simular obstrução nas vias aéreas;

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Ventilação trans-traqueal; Inserção de via aérea orofaríngea e nasofaringeal. Técnicas de sucção: Utilização de todos os tipos de tubos; Cricotireotomia cirúrgica e por agulha; Técnicas de descompressão tensão pneumotórax: Pontos médio-claviculares bilaterais; Pontos médio-auxiliares bilaterais; Técnicas relativas à cardiologia; Compressão em peito fechado; Interpretação de arritmia; Técnicas de reconhecimento e ausculta multi-sonoras : Ausculta e reconhecimento de coração normal e anormal e sons de respiração; Técnicas circulatórias e administração de Medicina via venosa: Diversos pontos de injeção para prática de injeções IV, IM e subcutânea

Tabela 2 – Procedimentos realizados nos bonecos de simulação de procedimento.

Fonte: Laerdal.com.br. – Laerdal – helping Save Lives . Acesso em 01 de julho de 2010, disponível

em: http://www.laerdal.com.br

A grande vantagem em usar os simuladores, está na preparação do aluno

para atuar num cenário real, onde a experiência adquirida no cuidado com os

bonecos dará segurança para aplicar os procedimentos em situações reais.

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2.3 – Recursos Multimídia

O termo multimídia segundo o dicionário Houaiss (CARDIM, 1996), nas

rubricas informática e meios de comunicação, é descrito respectivamente como:

- Técnica para apresentação de informações que recorre simultaneamente

a diversos meios de comunicação, mesclando texto, som, imagens fixas e

animadas.

- Uso de meios de expressão de tipos diversos em obras, p.ex., de teatro,

vídeo, música, performances etc.

- O Som (voz humana, música, efeitos especiais), fotografia (imagem

estática), vídeo (imagens em pleno movimento), animação (desenho animado),

gráficos, textos (incluindo números, tabelas), são exemplos de recursos utilizados

como apoio às aulas.

A utilização das várias mídias estáticas (texto, fotografia, gráfico) ou

dinâmica (vídeo, áudio, animação), age diretamente no processo de construção do

conhecimento. A partir desses métodos, os alunos são estimulados a usar seus

sentidos (visão e audição).

A seguir, relacionamos os recursos de audiovisuais e multimídia

disponibilizados para o curso da FCMS no segundo semestre de 2009.

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Recursos Qtde. Utilização TV 12 780 Vídeo 5 780 DVD 2 Retroprojetor 14 1480 Projetor multimídia 30 16800 Projetor de slides 20 1376 Microsystem 1 Caixas de amplificadores 3 Sons para auditórios 2 468 Notebook 12 8300 Microcomputador 12 8600 Microcomputador Tutoria 12 4800

Tabela – 3 Indicadores de uso dos recursos do audiovisual – FCMS / PUC-SP. 2˚ semestre 2009 - Fonte: DTI – Áudio Visual - Obs.: O recurso DVD é utilizado no próprio notebook ou microcomputador.

2.4 – Telemedicina

A Telemedicina é uma das grandes promessas para a assistência remota

em várias situações onde o fator tempo e as distâncias são variáveis e podem

decidir a vida. Nesse contexto, a maioria das faculdades médicas já busca

adaptação a essa nova realidade.

De acordo com Sabbatini (2008), a Telemedicina possibilita além de

importantes atividades assistenciais, também em função do seu caráter

marcadamente interativo, a atuação nas áreas de ensino e pesquisa, servindo-se

de pontos estruturais inseridos no que poderíamos denominar como Universidade

Médica Virtual.

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2.4.1 - História

Os primeiros relatos de prática de Medicina não presencial ocorreram já no

século XIX, com a utilização do serviço de correios. Através de cartas, os médicos

trocavam informações com os seus doentes e outros médicos. Essa técnica era

um processo simples se comparado com o uso das tecnologias atuais. Não pode

ser considerada Telemedicina de acordo com os conceitos utilizados hoje, porém,

apresentava os mesmos anseios, ou seja, estabelecer uma comunicação de forma

remota em prol da saúde, e já era uma ação precursora da Telemedicina

moderna. Anos depois, passaram a ser usados os telégrafos com fio para

transmissão de laudos de Raio-X4 (KHOURI, 2003).

Nessa época a telefonia e o rádio apresentaram alternativas para se criar

ações voltadas para Telemedicina.

Em 1906, Willem Einthoven5 definiu os princípios da eletrocardiografia

(ECG). Na década de 20, surgiu o primeiro eletrocardiógrafo, e, em seguida na

década de 30, o eletroencefalógrafo. Ambos revolucionaram a cardiologia e a

neurologia, respectivamente, e introduziram um novo conceito na esfera médica

(SCHAEFER, 2006).

Com esse sinal biológico, anos depois foram iniciadas experiências de

consulta remota através da rede telefônica. A partir de então, foram feitas

4 Raio X – Descoberto em 1895 pelo físico alemão Wilhelm Conrad Röntge. 5 Prêmio Nobel de Fisiologia ou Medicina em 1924.

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descrições de com seria possível realizar a transmissão de eletrocardiogramas por

telefones. (MOFFA, SANCHES, RAMIRES, & ALMEIDA, 2001).

Em 1910, na Inglaterra, foi apresentado o primeiro estetoscópio elétrico a

funcionar por telefone. Vale lembrar que o estetoscópio original foi inventado pelo

francês René Théophile-Hyacinthe Laennec (1781-1826), que foi um dos maiores

clínicos de todos os tempos. Não se conformando com os métodos de auscultação

da época, o médico-cientista inventou instrumentos que ajudariam a traçar de

forma mais clara o quadro clínico de várias doenças. Começou com a ideia de

utilizar papel enrolado para facilitar a auscultação, em seguida passou para a

construção de um cilindro de madeira que, no final, foi sendo progressivamente

melhorado, dando origem ao estetoscópio (LYONS & PETRUCELLI, 1997).

Durante a Primeira Guerra Mundial, a partir do ano de 1916, o rádio foi

utilizado para permitir a comunicação entre médicos de estações costeiras ou na

frente de batalhas, com hospitais de campanha. Ações que antecederam a

Telemedicina moderna merecem referências, pois abriram possibilidades na

história, e que, caracterizaram na época tecnologias emergentes vislumbrando o

futuro.

Em 1948, transmitiu-se pela primeira vez imagens de radiologia através do

telefone entre West Chester e Philadelphia. Nos anos 50 radiologistas do Hospital

Jean-Talon em Montreal no Canadá criaram a teleradiologia. Nos anos seguintes,

verificou-se o aparecimento de vários projetos e de instituições pioneiras na

tentativa de aplicar as tecnologias emergentes, à prestação dos cuidados com a

saúde.

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O início da Telemedicina moderna culminou com a evolução da

telecomunicação e eletrônica, concomitantemente com os projetos espaciais,

principalmente da NASA. Com o objetivo de fazer o monitoramento remoto da

saúde física e mental dos seus astronautas que seriam lançados no espaço, foram

iniciados grandes projetos com expressivos investimentos para que fosse possível

ter o controle da saúde dos tripulantes à distância (SCHAEFER, 2006).

A história nos mostra que o homem, através dos seus interesses bélicos,

cria invenções maravilhosas, e que, de alguma forma, as pessoas de bom senso

as utilizam para o bem da sociedade.

2.4.2 – Telemedicina no Brasil

No Brasil, no período imperial, os recursos pioneiros da Telemedicina já

eram praticados com o uso do telégrafo. Estes foram instalados em várias regiões

do país pelo Marechal Rondon. Mas a Telemedicina moderna só começou mesmo

na década de noventa. Os processos se iniciaram no meio acadêmico, conforme

mostra o texto da revista “Engenharia da Televisão”.

Em 1983, o Professor Dr. Gyorgy Bohm, na época, presidente do

Conselho Brasileiro de Telemedicina e Telessaúde, e Professor Titular da

Faculdade de Medicina da USP, começou a articular maneiras que

viabilizassem a fusão e integração dessas duas áreas.

Em 1987 juntamente com o Dr. Chao Lung Wen, implantaram a disciplina

de Informática Médica na Faculdade de Medicina da USP.

Naquela época, os relatos de resistências dos profissionais ligados a

áreas da saúde eram grandes. O desconhecimento dos benefícios que

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essa tecnologia podia agregar e era confundido com a possível

substituição dos profissionais. Não era considerado que esta era uma

área meio, ou seja, uma área de apoio. A presença do homem é de

fundamental importância em qualquer cuidado com o paciente, e aliada a

Telemedicina o ganho é ainda maior.

(Revista Engenharia de Televisão no. 69. - 2003)

Nos últimos dez anos, muito tem se falado no Brasil, em Telemedicina

como apoio a área da saúde. São várias ações desenvolvidas em parcerias com

organizações governamentais, onde várias universidades, principalmente as

públicas, que tem no seu currículo cursos voltados para a área da saúde,

participam de projetos financiados pelo governo federal e as organizações da

saúde.

A Rede Universitária de Telemedicina (RUTE) é um exemplo de iniciativa

do governo que visa dar suporte na criação de infraestruturas e promover a

integração das universidades participantes. Teve início em 2006, e hoje conta com

a maioria das universidades estaduais e federais distribuídas no país. Grande

parte das ações em Telemedicina ocorre nos meios acadêmicos, mas já existem

muitas ações efetivas nas instituições privadas, com o foco no atendimento à

distância e com situações reais.

2.4.3 – Casos Reais

Um exemplo da Telemedicina aplicada no atendimento da rede pública no

estado de São Paulo é o Serviço Estadual de Diagnóstico por Imagem (SEDI).

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Através desse serviço, foi montada uma central de emissão de laudos para os

exames de imagens realizados em hospitais, ambulatórios e outras unidades

públicas de saúde.

Os radiologistas se revezam em tempo integral para produzir resultados de

mamografias, ressonâncias magnéticas, tomografias computadorizadas e raios X.

As imagens dos exames produzidas nos locais onde os pacientes são

atendidos são gravadas em computadores com grande capacidade de

armazenamento, em seguida são transmitidas através de rede sem fio para uma

central de laudos, e será avaliada por uma equipe de 50 médicos que se reveza

24 horas por dia. Um laudo que levava de 10 a 15 dias para ficar pronto, com este

novo sistema, leva 30 minutos (VEJA, 28/10/2009).

Outro serviço inovador ocorre nas unidades móveis do Serviço de

Atendimento Móvel de Urgência, conhecido como SAMU.

O SAMU foi idealizado na França em 1986, e foi implantado no Brasil em

2003. Tem a finalidade de realizar atendimentos pré-hospitalares de urgência e

emergência. Segue a mesma administração do SUS, tanto na esfera municipal,

quanto na estadual e federal.

Uma parceria entre o Ministério da Saúde e o Hospital do Coração - HCor

em São Paulo, disponibiliza nas ambulâncias do SAMU um equipamento de Tele-

Eletrocardiografia Digital que permite ao profissional de saúde obter diagnósticos

do paciente em casa ou em trânsito, antes mesmo do deslocamento para o

hospital.

As Unidades Móveis do SAMU são equipadas com um aparelho de tele-

eletrocardiógrafo digital, capaz de transmitir o eletrocardiograma via celular ou

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telefone fixo. O exame é transmitido para a central de Telemedicina no HCor.

Minutos depois, o laudo retorna para a ambulância.

Com essa nova tecnologia de apoio mais o conhecimento médico, é

possível reduzir os riscos de morte dos pacientes causados por problemas

cardiovasculares. Antecipar as ações de tratamento do paciente com o diagnóstico

em mãos é uma vantagem que antes não era possível por conta do fator tempo.

Todas essas tecnologias aplicadas em situações reais merecem e devem

ser entendidas pelos alunos das faculdades de Medicinas na fase de formação.

Por isso, é importante que a informática médica contemple no seu plano de aula

essas tecnologias como parte do ensinamento.

2.4.4 – Legalização da Telemedicina

A regulamentação e definição da Telemedicina no Brasil ocorreram em

2002 através da Resolução do Conselho Federal de Medicina CFM nº 1.643/2002.

Esta resolução cita uma série de questões éticas que envolvem os profissionais

médicos que farão uso desta tecnologia para atendimento aos pacientes,

conforme pode ser vista na sequência.

CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA RESOLUÇÃO CFM Nº 1.64 3,

DE 7 DE AGOSTO DE 2002

Define e disciplina a prestação de serviços através da Telemedicina.

[...] Art. 1º - Definir a Telemedicina como o exercício da Medicina através

da utilização de metodologias interativas de comunicação áudio - visual e

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de dados, com o objetivo de assistência, educação e pesquisa em

Saúde.

Art. 2º - Os serviços prestados através da Telemedicina deverão ter a

infra - estrutura tecnológica apropriada, pertinentes e obedecer às

normas técnicas do CFM pertinentes à guarda, manuseio, transmissão de

dados, confidencialidade, privacidade e garantia do sigilo profissional.

Art. 3º - Em caso de emergência, ou quando solicitado pelo médico

responsável, o médico que emitir o laudo a distância poderá prestar o

devido suporte diagnóstico e terapêutico.

Art. 4º - A responsabilidade profissional do atendimento cabe ao médico

assistente do paciente. Os demais envolvidos responderão

solidariamente na proporção em que contribuírem por eventual dano ao

mesmo.

Art. 5º - As pessoas jurídicas que prestarem serviços de Telemedicina

deverão inscrever-se no Cadastro de Pessoa Jurídica do Conselho

Regional de Medicina do estado onde estão situadas, com a respectiva

responsabilidade técnica de um médico regularmente inscrito no

Conselho e a apresentação da relação dos médicos que componentes de

seus quadros funcionais. Parágrafo único - No caso de o prestador for

pessoa física, o mesmo deverá ser médico e devidamente inscrito no

Conselho Regional de Medicina.

Art. 6º - O Conselho Regional de Medicina deverá estabelecer constante

vigilância e avaliação das técnicas de Telemedicina no que concerne à

qualidade da atenção, relação médico - paciente e preservação do sigilo

profissional.

Art. 7º - Esta resolução entra em vigor a partir da data de sua publicação.

[..]

Resolução do Conselho Federal de Medicina CFM nº 1.643/2002

2.4.5 – Desenvolvimento da Telemedicina no Brasil

Outro fator que destacamos no Brasil, é o maior desenvolvimento de

algumas regiões, o que faz com que muitos conhecimentos e recursos

tecnológicos fiquem centralizados nestas áreas. Levar o conhecimento médico aos

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locais onde faltam recursos tecnológicos de apoio à saúde é um grande desafio da

Telemedicina.

O Brasil com sua vasta extensão territorial e concentração da renda, exige

ações que ajudem a fomentar as novas mídias utilizadas como ferramentas de

suporte à saúde pública a distância na área médica. São essas regiões mais

desenvolvidas que apresentam melhores condições tecnológicas e humanas na

prática da Medicina e no atendimento básico à saúde. O objetivo maior é o

atendimento aos pacientes, e a Telemedicina é só um meio para que os locais

desenvolvidos deem suporte aos menos desenvolvidos (SABBATINI, 2008).

Preocupada com as ações nos locais menos favorecidos com recursos

tecnológicos e pessoas, a Telemedicina apresenta propostas de atendimento

remoto, usando para tanto os meios de comunicação e sistemas de informação.

Encurtar distâncias, agilizar o atendimento, levar conhecimento especializado às

áreas mais pobres, ter uma segunda opinião sobre um caso mais complexo, são

algumas das propostas da Telemedicina.

De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS –

http://www.who.org), “Telemedicina compreende a oferta de serviços ligados aos

cuidados com a saúde, nos casos em que a distância é um fator crítico; tais

serviços são prestados por profissionais da área da saúde, usando tecnologias de

informação e de comunicação para o intercâmbio de informações válidas para

diagnósticos, prevenção e tratamento de doenças e a contínua educação de

prestadores de serviços em saúde, assim como para fins de pesquisas e

avaliações...”.

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Já para a American Telemedicine Association (ATA), a Telemedicina é “o

uso de informações médicas veiculadas de um local para outro, por meio de

comunicação eletrônica, visando à saúde e educação dos pacientes e do

profissional médico, para assim melhorar a assistência a saúde”.

2.4.6 – Estrutura da Telemedicina

O sucesso da Telemedicina depende essencialmente de dois componentes

que são as bases de sustentação de qualquer projeto com este objetivo: as

pessoas envolvidas e as tecnologias que formam o corpo funcional da

Telemedicina. Essa estrutura estará sempre apoiada nesses dois pilares, e um

não poderá acontecer sem o outro. É uma simbiose em prol dos cuidados com a

saúde.

Recursos Humanos

O profissional médico especializado é fundamental para que esse processo

que envolve tecnologia e conhecimento humano exista. Por isso a importância de

contextualizar a Telemedicina já na formação médica.

Assim, consideramos de uma forma básica que a Telemedicina é só um

meio de transmissão das informações de um local para outro, com o objetivo de

facilitar a visualização de uma enfermidade em locais distantes, por exemplo.

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Porém, não podemos deixar de lado o fator humano, já que é por meio da

avaliação do homem detentor do conhecimento que o diagnóstico preciso para a

solução do problema apresentado deverá ser feito. Ele é responsável pela palavra

final e é isso que fará a diferença.

Também é o profissional médico que instruirá outros profissionais, através

da Telemedicina, apresentando a forma correta de diagnosticar e tratar um

doente.

O papel do recurso humano com seus valores éticos e morais, juntamente

com a sua criatividade, tornam a sua participação essencial em qualquer projeto

em Telemedicina.

Havia uma resistência dos profissionais médicos mais conservadores,

quanto ao velho jargão do homem ser substituído pela máquina. A tecnologia é só

um coadjuvante nesse meio que envolve homem/tecnologia. E o papel de cada

um é muito bem definido, já que, um não substitui o outro.

2.4.7 – Composição das Estruturas Tecnológicas em T elemedicina

A tecnologia necessária para montar uma estrutura de Telemedicina está

dividida em duas categorias:

Hardware - a estrutura mais simples utilizada é composta por

equipamentos de videoconferência. Esta montagem é constituída por câmeras,

microfones, telas (duas), uma para exibir a imagem do interlocutor ou

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apresentações e a outra a imagem local; um codec (codificador, decodificador),

que é um dispositivo que faz a compressão do áudio e vídeo, para ser transmitido

na rede com uma resolução aceitável e com isso não exigir um link com uma

banda super estimada. O codec pode ser também via software, e é fundamental

para altas taxas de transferência e criptografia dos áudios e vídeos.

Outras estruturas mais completas já contém câmera de documentos,

scanners, equipamentos médicos ligados à estrutura, como por exemplo,

eletrocardiogramas, equipamentos de videolaparoscopia e endoscopia.

Software de gerenciamento da teleconferência, gerenciamento de

documentos, registros médicos eletrônicos, imagens estáticas, áudio e vídeo.

Estrutura de Telecomunicação

Essa estrutura é responsável por fazer a ponte entre os sites envolvidos em

uma sessão de Telemedicina. Na maioria das vezes usa-se o serviço de uma

operadora de Telecom, que oferece várias formas de transmissão dos dados pela

rede. As redes ATM de alta velocidade estão presentes nos grandes projetos

universitários como a RUTE. Vale salientar que existem também estruturas

usando ISDN, ADSL, Cable Modem, e VPN’s na Internet.

Formas de Transmissão

Há duas formas de fazer as transmissões de uma sessão de Telemedicina,

a assíncrona e a síncrona.

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Assíncrona : Também chamada de “Store and Forwarding” utiliza recursos

de imagens e gravações prévias, com o armazenamento em um servidor para

transmissões posteriores, de forma off line. Este tipo de transmissão é muito

utilizado para análise de exames por imagem. O custo e a operacionalização são

menores, pois exigem menos recursos e banda para transmissão.

Síncrona: Nesta modalidade de transmissão, há um sincronismo entre o

transmissor e o receptor sem interrupção. A comunicação ocorre de forma real

time e exige uma banda maior e alta disponibilidade do link para manter a

operabilidade, e, conseqeentemente uma elevação no custo do serviço. A

videoconferência é um dos meios utilizados para uma sessão de Telemedicina

real time.

2.4.8 – Tipos de Aplicação

Cada tipo de aplicação da Telemedicina está relacionado com uma área de

especialidade médica. Desta forma, cada especialidade recebe o prefixo “tele”,

que em grego significa distância, mais o nome da especialidade, como no exemplo

a seguir.

Telerradiologia

A Radiologia é uma especialidade médica que usa o serviço de radiologia e

diagnose por imagem. No final, o laudo desse exame é usado para diagnosticar

um paciente que apresenta suspeita de alguma enfermidade. Os exames

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realizados pela radiologia estão presentes desde os tradicionais raios-x, bem

como a ultrassonografia, a ressonância magnética nuclear, a mamografia e a

tomografia computadorizada.

Utilizando-se dos recursos das TICs, a radiologia virou telerradiologia. É

uma das especialidades que mais tem se destacado na Telemedicina, porque na

maioria das vezes o paciente tem que se deslocar até o laboratório para fazer os

exames. Com as informações trafegando criptografadas pela rede, ou seja, de

forma embaralhada, atendendo padrões de segurança, esse processo poupa

tempo, pois aumenta agilidade no atendimento (WOOTTON, CRAIG, &

PATTERSON, 2006).

Também pode ser aplicada para obter uma segunda opinião de um

especialista ou até mesmo como cenário de aprendizagem a distância.

Outro ponto que favorece a telerradiologia está relacionado aos

equipamentos que geram as imagens, pois a grande maioria deles possui

interfaces digitais, o que facilita muito a transmissão de um meio para outro.

Assim como a Telemedicina, a telerradiologia foi regulamentada pelo Conselho

Federal de Medicina através da Resolução CFM nº 1.890.

2.4.9 – Desafio Para Implantar Uma Estrutura de Tel emedicina

Ainda existem algumas barreiras a serem vencidas. Mesmo a Telemedicina

abrindo um leque de possibilidades para atuação e apoio à saúde, ainda há muitas

questões que precisam ser normatizadas ou superadas, e esse processo leva um

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tempo até que seja instituída de fato como ferramenta colaborativa na formação

médica e assistencial.

Alguns desafios a serem superados nesse processo de homologação dos

sistemas são: falta de legislação apropriada para dar suporte legal aos

procedimentos na atenção a distância; resistência dos profissionais médicos e da

saúde; validação dos processos; alto custo dos equipamentos de Telemedicina.

Falta de legislação apropriada para dar suporte leg al aos procedimentos atenção a distância

Ainda não há legislação que defina quanto será o honorário de um

profissional médico, quando este fizer um procedimento a distância usando a

Telemedicina para atender um paciente com suspeita de um melanoma6, por

exemplo. Hoje, para esse atendimento em uma clinica ou hospital, os honorários

são referenciados pela tabela AMB92 ou tabela unificada do SUS.

As duas referências a seguir (Jornal CFM mar/2009) são exemplos de que

há uma preocupação mundial em normatizar, estabelecendo regras que

mantenham a ética que sempre imperou na Medicina e nas áreas correlatas.

6 Tumor cutâneo que se desenvolve a partir de melanócitos, gerando um nevocarcinoma canceroso de alta gravidade (embora existam também melanomas benignos)

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“[...] Em outubro de 1990, em Tel Aviv – Israel foi adotado na 51º.

Assembléia Geral da Associação Médica Mundial foi declarada as

responsabilidades e normas éticas na utilização da Telemedicina [...].“

“[...] O conselho Federal de medicina normatiza a Telerradiologia, através

da resolução CFM n º 1.890/09. Essa resolução determina dentre outros

artigos, que as imagens devem obedecer a padrões de segurança das

informações e imagens médicas. As imagens devem ser transmitidas no

formato JPEG com resolução de 4 Megapixel ou DICOM 3. [...]”

Resistência dos profissionais médicos

A superação ocorre pela massificação das tecnologias, da Internet e dos

novos meios de comunicação emergentes, mas ainda há muitos profissionais da

área da saúde que têm uma visão distorcida da Telemedicina, como sendo uma

impostora que veio para substituir a presença do homem, enquanto que a intenção

é agregar forças para melhorar a qualidade de vida da sociedade, facilitar o

trabalho e/ou melhorar a construção de conhecimentos.

Validação dos processos

Por se tratar de uma tecnologia (tecnologia mais processos) e também da

área médica, onde qualquer pesquisa nova leva de 20 a 30 anos para ser posta

em prática em definitivo, ainda que seja apresentada uma gama de possibilidades

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através de vários projetos ligados às entidades que se dedicam aos cuidados com

a saúde, a maioria das ações ainda é acadêmica.

Alto custo dos equipamentos de Telemedicina

Basta pegar o retrato do Brasil e vários outros países do Continente

Africano (Portal OMS), os quais são carentes de necessidades básicas, quando o

assunto é atenção à saúde pública, para verificar que a aquisição e manutenção

de uma estrutura de Telemedicina se torna secundária diante dessa realidade.

Projetos como PRÓ-SAÚDE e o TELE-SAÚDE, são exemplos de ações do

governo, que demonstram uma preocupação forte com a saúde. Mostrando-se

também que o meio para melhorá-la é o ensino e a educação.

2.4.10 – Aplicações da Telemedicina na Formação Méd ica

Algumas aplicações que levem em conta os preceitos da Telemedicina

podem ser feitas na formação médica, como a assistência médica remota, a

discussão de um caso mais complexo, onde a opinião de outros profissionais faz

com que o caso seja mais assertivo, e a melhoria da capacitação dos profissionais

da área da saúde.

Conforme demonstrado no portal da Rede Universitária de Telemedicina,

todas estas ações são possíveis com o uso da Telemedicina, que, através de

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estruturas de redes e sistemas de informação, usando recurso de áudio e vídeo de

alta resolução, é possível fazer a informação deslocar, melhorando a saúde no

Brasil.

O outro foco de atuação da Telemedicina que está em grande ascensão, é

o papel que ela exerce como ferramenta de apoio na formação médica, usado

para educação a distância. Os sistemas de informações, videoconferência e redes

de comunicação de dados são as bases dos cenários usados para prover a

estrutura técnica e dar suporte para a Telemedicina.

As dificuldades tecnológicas hoje não se configuram em problemas para a

prática da Telemedicina, visto que as empresas voltadas para essa tecnologia têm

desenvolvido, em seus portfólios de produtos, várias soluções para atender a área

da saúde como um todo.

Uma demonstração hipotética de utilização da Telemedicina, auxiliando

nesta aproximação do meio acadêmico com situações reais, poderia ser vista na

participação de um grupo de alunos em uma cirurgia. Esse procedimento se

tornaria improdutivo e arriscado para o sucesso da cirurgia, se este grupo de

alunos fosse inserido dentro de um hospital universitário, em uma sala do centro

cirúrgico, para acompanhar, por exemplo, uma cirurgia cardíaca.

O grande número de pessoas, não só comprometeria o ambiente na sala de

cirurgia, com a falta de espaço, mas também colocaria o paciente num ambiente

de risco relativo.

Dividir as turmas em pequenos grupos segmentaria a aula e correria o risco

de ter situações diferentes num mesmo procedimento, por exemplo, uma

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intercorrência7. Neste caso, utilizando uma estrutura de videoconferência, os

problemas citados não ocorreriam, pois poderia levar a sala do centro cirúrgico

para dentro da sala de aula, com vários alunos assistindo em tempo real a

realização da cirurgia, e essa estrutura ainda possibilitaria a interação direta com a

equipe médica.

Essa é uma atividade de Telemedicina que vem ganhando espaço nos

meios acadêmicos, pois facilita a troca de informações, e já é prevista nas

diretrizes do curso de medicina.

A Faculdade de Ciências Médicas da Saúde da PUC-SP já possui seu

próprio laboratório de Telemedicina. No momento, encontra-se na fase de

articulação de parcerias com outras entidades para trazer para Sorocaba a

Redecomep, possibilitando que a referida instituição faça parte do circuito das

grandes redes de alta velocidade que permitirá a troca de informações com outras

instituições de pesquisas.

7 Ocorrência de um evento inesperado em um procedimento médico.

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CAPITULO III

3 – DIRETRIZES DO CURSO DE MEDICINA E A PROPOSTA

CURRICULAR DA FCMS/PUC-SP

3.1 – Diretrizes do Curso de Medicina no Brasil

Todos os anos ingressam nas faculdades de Medicina do Brasil cerca de 12

mil alunos, segundo o Ministério da Educação e Cultura (MEC). Todos eles com o

intuito de se formarem cidadãos médicos. Eles cursarão cinco anos para a

graduação normal, podendo cursar por mais um período de até três anos de

residência médica, dependendo da especialidade8 escolhida.

3.2 - Resolução CNE/CES 4/2001

As diretrizes curriculares que norteiam o curso de Graduação em Medicina,

segundo o Conselho Nacional de Educação9, estão fundamentadas na formação

generalista, humanista, crítica e reflexiva. Pautadas em princípios éticos, no

processo de saúde-doença, em seus diferentes níveis de atenção, com ações de

promoção, prevenção, recuperação e reabilitação da saúde, na perspectiva da

8 Campo do conhecimento dentro da Medicina que o médico se especializa e particularmente domina. 9 CONSELHO NACIONAL DE EDUCAÇÃO. Câmara de Educação Superior. Resolução CNE/CES 4/2001. Diário Oficial da União.

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integralidade da assistência, com senso de responsabilidade social e

compromisso com a cidadania, como promotor da saúde integral do ser humano.

A formação do médico, na busca do conhecimento, tem por objetivo dotar o

profissional dos conhecimentos requeridos para o exercício das seguintes

competências e habilidades que englobam a atenção à saúde, tomada de decisão,

comunicação, liderança, administração, gerenciamento e educação permanente.

No §4º da resolução CNE/CES Nº 4, de 07 de novembro de 2001, nos

parágrafos:

III – Comunicação “...A comunicação envolve comunicação verbal, não

verbal e habilidades de escrita e leitura; o domínio de, pelo menos, uma língua

estrangeira e de tecnologias de comunicação e informação;”.

VI – Educação Permanente “...proporcionando condições para que haja

benefício mútuo entre os futuros profissionais e os profissionais dos serviços,

inclusive, estimulando e desenvolvendo a mobilidade acadêmico/profissional, a

formação e a cooperação por meio de redes nacionais e internacionais.”.

Os dois parágrafos preconizam o uso da tecnologia da informação e redes

informatizadas como ferramentas de apoio e como parte das diretrizes que

norteiam a formação médica.

A relação do conhecimento na formação médica com as tecnologias está

arraigada em toda sua concepção, e pode ser verificada desde um Raio-X

visualizado na tela de um computador até sua transmissão numa sessão de

Telemedicina.

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Como declara Lévy (1999), na sua terceira constatação de educação e

Cibercultura, o ciberespaço suporta tecnologias intelectuais que amplificam,

exteriorizam e modificam numerosas funções cognitivas humanas: memória,

imaginação, raciocínio.

3.3 – O Grande Cenário de Atuação: SUS

De acordo com Sistema Único de Saúde / Conselho Nacional de

Secretários de Saúde. – Brasília : CONASS, (2007), o SUS como é comumente

chamado, foi criado na Constituição de 1988. Foi um marco para a saúde pública

no Brasil. Porém, os movimentos de descentralização já eram conhecidos desde

1970, com os movimentos pela Reforma Sanitária.

Com o lema “direito de todos e dever do Estado”, o texto que consagrava a

saúde como produto social tinha, nos municípios, a responsabilidade de

elaboração da Política da Saúde. O sistema de atendimento à saúde pública

deixava de ser feito pelo Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência

Social (INAMPS) criado em 1977, o qual prestava atendimento médico aos que

contribuíam com o Instituto Nacional de Previdência Social (INPS), atual INSS.

Foram elaboradas e aprovadas as leis orgânicas da Saúde: Lei 8080/90

que fundou o SUS e a Lei 8142/90 que, imprimiu ao SUS uma de suas principais

características, o controle social.

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O SUS é um sistema de saúde de abrangência nacional. Contudo, sua

administração é hierarquizada em subsistemas com responsabilidades federais,

estaduais e municipais. A ênfase é dada aos municípios que tem a totalidade das

ações e os serviços de atenção voltados à saúde.

O SUS tem como base três princípios ideológicos: universalidade, integralidade

e equidade. Foram estabelecidos na Lei Orgânica da Saúde, em 1990, com base

no Artigo 198 da Constituição de 1998.

• Universalidade – Acesso garantido aos serviços de saúde para toda a

população, em todos os níveis de assistência;

• Integralidade – Conjunto articulado e contínuo de ações e serviços,

preventivos e curativos, individuais e coletivos, exigidos para cada caso, em

todos os níveis de complexidade do sistema;

• Equidade – Igualdade na assistência à saúde, com ações e serviços

priorizados em função de situações de risco, das condições de vida e da

saúde de determinados indivíduos e grupos da população.

Há também os princípios organizacionais: da descentralização, da

regionalização e da hierarquização.

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• Descentralização – É o processo de transferência de responsabilidade de

gestão para as três esferas do SUS, atendendo às determinações

constitucionais e legais que o embasam e que definem competências

específicas à União, Estados e municípios. Cada um com atribuições

próprias. O município apresenta um papel fundamental na gestão dos

serviços de saúde e os repasses de verbas são baseados nos tipos de

serviços ofertados e atendimentos executados.

• Regionalização e Hierarquização – Cada serviço de saúde tem uma área

de abrangência entre os gestores estaduais e municipais, ou seja, cada um

é responsável pela saúde de uma parte da população. Os serviços de

saúde em cada região são organizados para que a população tenha acesso

a todos os tipos de atendimento. Quando recebido pelo sistema de saúde, o

cidadão será encaminhado para um serviço de saúde de referência daquela

região.

Os serviços de saúde são divididos em níveis de complexidade. O nível

primário, que é a atenção básica, deve ser oferecido diretamente à população com

acesso às especialidades básicas, enquanto os outros devem ser utilizados

apenas quando necessário.

Quanto mais bem estruturado for o fluxo de referência e contra-referência

entre os serviços de saúde, melhor sua eficiência e eficácia, pois um paciente

referenciado da rede básica para uma rede especializada não pode ser tratado

com problemas de baixa complexidade. Quando isto acontece, o SUS está

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investindo alto valor agregado num problema que poderia ser resolvido na rede

básica. MS – SUS (2000).

3.4 - A Nova Formação do Médico no Brasil

A formação do profissional médico tem sofrido várias transformações nesta

última década para adequar-se às novas realidades da sociedade e às novas

demandas de assistência à saúde.

As faculdades de Medicina estão buscando formar cada vez mais

profissionais, não só com habilidades técnicas, mas com capacidade de

enfrentamento dos problemas e sensibilidade para as questões do doente,

humanizando os atendimentos por meio de aprendizagem com a prática. A

cognição vai a campo, ou seja, um misto de empirismo formalizado com a teoria

experimentada e fundamentada, já existente no corpo de conhecimento aplicado e

estudado nas faculdades.

A Faculdade de Medicina da PUC-SP, cujo campus é em Sorocaba, utiliza

o Conjunto Hospitalar de Sorocaba, como principal ambiente para realização da

residência médica.

Dentro deste cenário, alunos e faculdades de Medicina, existe uma terceira

peça compondo o objetivo da formação médica, que é a sociedade usuária dos

serviços médicos.

Essa massa usuária tem um poder muito forte de moldar as estruturas

curriculares de um curso, pois exercem influências nas ações do governo para

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atendê-la. E o governo, por sua vez, investe em pesquisas e apoia estas

mudanças para que sua demanda, a população que é atendida pelo SUS, tenha

um atendimento sustentável e direcionado para os seus problemas reais.

O Governo, a partir de projetos como o PROMED (Programa de Incentivo

às Mudanças Curriculares das Escolas Médicas), e PRÓ-SAÚDE (Programa de

Reorientação dos Profissionais da Saúde), estimula e apoia, com investimentos

financeiros, as faculdades da área da saúde em adequar seus cursos às

realidades exigidas pela saúde pública, principalmente a atenção básica, porta de

entrada para o atendimento no SUS.

Esses projetos de mudanças curriculares tiveram seus editais publicados e,

a participação era aberta a todas as faculdades de Medicina do Brasil. Porém, só

as que tiveram interesse em adequar seus cursos e apresentaram um projeto

consistente, com propostas de mudanças reais e que atendiam às qualificações,

puderam participar desse incentivo.

As unidades formadoras, buscando atender essas novas demandas, têm

introduzido nos seus currículos mudanças que alteram a forma de aprendizagem

convencional e fundamentada por décadas. Um exemplo dessa mudança é a

implantação da metodologia PBL (Problem-Based Learning).

Segundo Feuerwerker (2004), o desafio é grande, pois as escolas médicas

são instituições muito tradicionais. E é preciso trabalhar as perguntas, situações

ou problemas para provocar a aprendizagem.

Os projetos PROMED e, em seguida, o PRÓ-SAÚDE, criados pelo

Ministério da Saúde (MS) e Ministério da Educação e Cultura (MEC), com

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patrocínio da Organização Pan Americana da Saúde (OPAS), dá sustentação para

que as faculdades consigam direcionar seus cursos e atender às demandas do

governo na área da saúde.

3.5 - PROMED – Programa de Incentivo às Mudanças Cu rriculares das

Escolas Médicas

Este projeto foi criado em 2002, por meio da Portaria Interministerial do

Ministério da Saúde e Ministério da Educação, onde incentivou e manteve

processos de transformação em 19 faculdades médicas brasileiras.

Com o foco nessas faculdades, o objetivo do governo era preparar uma

formação visando à assistência dispensada pelos futuros médicos à demanda da

sociedade e, principalmente, atender aos princípios do SUS.

Assim o governo passou a estimular as escolas médicas na busca de

excelência técnica e relevância social, procurando formar profissionais com

competência para terem postura ética, visão humanística, senso de

responsabilidade social e compromisso com a cidadania, orientação para a

proteção, promoção da saúde e prevenção das doenças, orientação para atuar em

nível primário e secundário de atenção e resolver com qualidade os problemas

prevalentes de saúde (MS – PROMED, 2002).

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3.6 - PRÓ-SAÚDE – Programa Nacional de Reorientação da Formação

Profissional em Saúde

Os Ministérios da Saúde e da Educação lançaram, em 2005, o PRÓ-

SAÚDE, cujo objetivo é qualificar a formação profissional na área de saúde, para

melhorar a assistência prestada aos usuários do SUS.

Uma das principais metas do programa é aproximar a formação profissional e

científica das necessidades reais do SUS, sobretudo na atenção básica, que é a

porta de entrada do sistema.

Durante o lançamento do PRÓ-SAÚDE, foi assinada portaria interministerial

de cooperação técnica que consolida a articulação entre os dois ministérios, para

a formação profissional na saúde.

Das 57 faculdades de Medicina que apresentaram o projeto, apenas 38

foram aprovadas, dentre elas a Faculdade de Ciências Médicas e da Saúde da

PUC-SP.

O PRÓ-SAÚDE é dirigido às escolas médicas, de enfermagem e

odontologia que se disponham a rever seus processos, de forma a torná-los mais

de acordo com as necessidades sociais e epidemiológicas.

O programa se estrutura em três eixos de transformação, e todos eles contam

com a utilização de ferramentas tecnológicas para se promoverem:

i - Orientação Teórica - nesse eixo devem ser destacados aspectos relativos aos

determinantes de saúde e à determinação biológico-social da doença, estudos

clínico-epidemiológicos, ancorados em evidências capazes de possibilitar a

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avaliação crítica do processo saúde-doença e de redirecionar protocolos e

intervenções, ou seja, visa focalizar mais a promoção da saúde como forma de

prevenção de doenças;

ii - Cenários de Práticas - as simulações da prática dos futuros profissionais de

saúde apontam para a progressiva desinstitucionalização, onde muitas

práticas assistenciais poderão desenvolver-se em ambulatórios, na

comunidade e nos domicílios, tendência oposta à verificada nas últimas

décadas, quando eram realizadas em ambientes dos tradicionais Hospitais

Universitários;

iii – Orientação Pedagógica - o processo de educação de adultos pressupõe a

utilização de metodologias de ensino-aprendizagem que proponham

concretamente desafios a serem superados pelos estudantes, que lhes

possibilitem ocupar o lugar de sujeitos na construção do conhecimento,

participando da análise do próprio processo assistencial em que estão

inseridos e que coloquem o professor como facilitador e orientador desse

processo. Busca aliar as aulas magistrais a uma maior participação dos

estudantes nos processos formativos.

Os dois ministérios esperam com o PRÓ-SAÚDE, o ingresso no mercado de

trabalho de profissionais melhores qualificados e com atuação voltada a uma

assistência universal e integral à população. Esses são os preceitos

constitucionais do SUS (MS - PRÓ-SAUDE, 2007).

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3.7 – Mudança do Currículo do Curso de Medicina

A resolução CNE/CES Nº 4, de 07 de novembro de 2001 que institui

Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Graduação em Medicina, através

dos artigos §8˚, §9˚ e §10, já previa mudanças curriculares para adequar seus

egressos às realidades da população no setor da saúde.

Diante dessas aberturas, algumas universidades do Brasil, com apoio dos

projetos do governo PROMED e PRÓ-SAÚDE, mudaram seus currículos para a

adequação à realidade dos problemas apresentados na sociedade, onde o aluno

sai da sala de aula e vai aprender na prática, atuando diretamente na linha de

batalha. A Metodologia aplicada para atender essas mudanças é o PBL, que tem

por objetivo colocar o aluno num enfrentamento direto com o problema.

3.8 – Metodologia da Aprendizagem Baseada em Proble mas

A Metodologia da Aprendizagem Baseada em Problemas (ABP) do inglês

Problem-Based Learning (PBL), com origem no Canadá, tem como objetivo

principal aprender na prática, utilizando métodos cognitivos que extrapolam os

ensinamentos tradicionais. A referência ao ensino tradicional aponta

principalmente a forma de ensinamento onde o professor tem o papel de um

transmissor da informação para um grupo de interlocutores reunidos em uma sala

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de aula, pautado em um conhecimento já experimentado e fundamentado10. Por

mais que a participação seja efetiva, há uma passividade na aceitação do

conhecimento.

A metodologia PBL força o aluno a construir seu próprio corpo de

conhecimento dentro de um contexto real ou simulado. Nesse processo, o

problema é apresentado antes mesmo de terem sido apresentadas as possíveis

soluções. O aluno é estimulado a usar a criatividade mais o conhecimento e

habilidades já armazenados no seu bojo de conhecimento para resolver os

problemas apresentados.

Segundo BUNGE (1975), a investigação científica começa com a

percepção de que o acervo de conhecimento disponível é insuficiente para

manejar determinados problemas. A investigação se ocupa de problemas, e não é

possível formular uma pergunta - para não falar de dar-lhe uma resposta – fora

de algum corpo de conhecimento.

Neste processo cíclico de construção de conhecimento com problemas

reais, o PBL se baseia nos problemas cotidianos da prática médica.

Recentemente tivemos uma situação real que exigiu a construção de novos

conhecimentos para atender uma demanda urgente. A variação de um vírus já

conhecido, o Influenza A, sofreu um processo de mutação, transformando-se em

um novo vírus, o Influenza A H1N1, que de forma pandêmica vitimou várias

pessoas no mundo.

10 Conhecimento construído através de métodos científicos, mas são desatualizados pelas mudanças sociais. Os

problemas da sociedade contribuem para que a ciência progrida.

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Claro que a ciência usou experimentos laboratoriais para construir uma

nova vacina para a nova gripe A, mas a analogia usada aqui tem como objetivo,

destacar a necessidade de uma transformação do conhecimento já construído,

para criar soluções rápidas e eficientes que atenda à população.

Para chegar no mapeamento genético do vírus, sistemas com algoritmos

eficientes e bancos de dados foram utilizados como tecnologias para o

mapeamento desse novo vírus.

Normalmente, no PBL, são criados pequenos grupos de alunos, orientados

por um professor tutor, onde um problema é apresentado, identificado e discutido.

Esse é o ponto de partida para estabelecer os objetivos de aprendizado. Várias

hipóteses são apresentadas e discutidas pelo grupo, sempre acompanhados pelo

tutor.

A diferença básica entre um professor de uma disciplina numa sala de aula

convencional e um professor numa sala de tutoria está relacionada com o número

de participantes e a forma como a aula é dirigida. Em uma aula convencional, o

professor é o centro das atenções, a fonte que transmite o conhecimento para o

grupo de alunos ouvintes. Na tutoria, o papel do professor funciona como um

maestro, ele não ensina o músico a tocar, mas os conduz para que se estabelecça

uma harmonia sinfônica. Neste caso, o aprendizado é centrado no aluno e não no

professor.

Segundo Tsuji & Zanolli (2004, p47), são apresentados os passos para uma

boa tutoria:

1. Apresentação do problema (leitura pelo grupo);

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2. Esclarecimento de alguns termos poucos conhecidos e de dúvidas sobre o

problema;

3. Análise do problema com base em conhecimentos prévios (chuva de Ideias -

brainstorm);

4. Desenvolvimento de hipótese para explicar o problema e identificação de

lacunas de conhecimento;

5. Definição dos objetivos de aprendizagem e identificação dos recursos de

aprendizagem apropriados;

6. Busca de informação + estudo individual;

7. Compartilhamento da informação obtida e sua aplicação na compreensão do

problema. Avaliação do trabalho do grupo e de seus membros.

Esse novo currículo, que estimula o conhecimento baseado na prática, já é

encontrado em várias faculdades de Medicina privadas e públicas no Brasil. Como

exemplo nós podemos citar: a faculdade privada Pontifícia Universidade Católica -

PUC-SP ou a pública Faculdade de Medicina de Marília - FAMEMA.

Nesses dois modelos de renovação curricular, sendo um privado e outro

público, respectivamente, o ponto de objetivo comum está relacionado com a

forma de construção do conhecimento, que ocorre a partir da utilização da

metodologia PBL.

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A pirâmide de aprendizagem (fig.1), apresentada a seguir, demonstra a

proposta do novo modelo de construção do conhecimento, onde as estratégias

utilizadas, a interatividade, a prática, segundo a FAMEMA, apresentam uma maior

cognição.

Figura-1 - Módulo de Capacitação Docente: des-construindo as unidades

educacionais. Fonte: FAMEMA, 2001

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Essa mudança metodológica exige uma abstração muito maior por parte

dos alunos. Por outro, lado a faculdade tem que se adequar eficientemente para

oferecer condições para que o aluno possa se desenvolver. Os controles de

avaliações são mais complexos, pois medem habilidades e capacidades em

solucionar problemas.

Essa mudança construtivista se ancora nos pilares já escritos por Piaget,

onde a construção do conhecimento é influenciada pela a interação do aluno com

o meio, levando em conta tanto os aspectos biológicos e sociais, quanto os

ambientais.

Seja no processamento das avaliações, no apoio à criação de ambientes de

aprendizagem virtuais, nas simulações de procedimentos, na aproximação de

áreas multidisciplinares com objetivos comuns, na construção do conhecimento,

todas essas estruturas criadas sempre contarão com a retaguarda dos sistemas

de informação, das tecnologias, da Telemedicina e da informática médica.

3.9 - Problematização

A metodologia da problematização é utilizada como uma forma de

construção de conhecimento, onde o aluno é colocado diante de um assunto

controverso, ainda não satisfatoriamente respondido, em qualquer campo do

conhecimento, e que pode ser objeto de pesquisas científicas ou discussões

acadêmicas (CARDIM, 1996) – Dic. Houaiss.

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De acordo com a Proposta de Alteração do Projeto Pedagógico do Curso

de Medicina da FCMS (PUC-SP - FCMS, 2009), o processo inicia-se pela

observação de um cenário real pelos estudantes, buscando responder à questão:

“o que está acontecendo?”. Observar algo complexo como a realidade, com suas

múltiplas contradições, gera questionamentos e detecção de vários problemas.

A compreensão desses problemas passa por sua teorização e pela

consequente criação de hipóteses de solução para um ou todos eles. Uma vez

selecionada, a intervenção escolhida será implementada, ou seja, aplicada à

realidade.

Espera-se, dessa forma, que o problema original seja solucionado,

redundando numa modificação da realidade inicialmente observada, sempre

através do diálogo e da negociação com os diferentes protagonistas. Essa

abordagem educacional visa criar consciência crítica e não apenas levar à

compreensão dos conceitos e mecanismos básicos da ciência. Ao relacionar

sociedade e educação, a problematização dá a esta última uma dimensão política,

conscientizando professores e estudantes acerca dos direitos e deveres do

cidadão, tendo forte caráter emancipatório e libertador.

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Figura 2: Proposta que MAGUEREZ denominou Método do Arco. Fonte: Google

Imagens - rosangelamentapde.pbworks.com.

Na construção de situações problematizadoras, a presença das tecnologias

é fundamental, pois podem ser usadas como ferramenta de apoio na elaboração

de textos eletrônicos, criação de imagens e vídeos, com o objetivo de enriquecer o

cenário e facilitar a abstração do problema. Todo esse material pode ser trocado

pela Internet, pelo uso de e-mail ou pela publicação como material de apoio no

ambiente virtual LMS Moodle, por exemplo.

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3.10 - Aprendizagem Baseada na Pesquisa ou por Proj etos

De acordo com Proposta de Alteração do Projeto Pedagógico do Curso de

Medicina da FCMS, a aprendizagem baseada na pesquisa ou por projetos procura

fazer com que o estudante aprenda por elaboração própria, substituindo a

curiosidade de escutar pela de produzir (PUC-SP - FCMS, 2009 apud DEMO,

2000). Movido por seu desejo e curiosidade, ele é mobilizado a produzir um

levantamento das certezas provisórias e das dúvidas temporárias, assim como a

definir o problema a ser investigado através do uso de critérios de julgamento

baseados na relevância em relação a um determinado contexto.

A implantação de uma metodologia de aprendizagem utilizando a pesquisa,

a problematização ou o PBL exige do facilitador uma criatividade e vários recursos

cognitivos para que o aluno consiga assimilar o conceito exigido pela nova

formação médica. A tecnologia da informação, a Internet, a informática médica,

aparecem como fortes aliadas nesse processo.

Para os dias atuais, é quase que impraticável a implementação de um

projeto de mudança curricular, com um alto grau de complexidade, sem o apoio

das ferramentas tecnológicas.

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CAPITULO IV

4 – A INFLUÊNCIA DAS TECNOLOGIAS COMO FERRAMENTAS

DE APOIO AO NOVO MODELO DE ENSINAMENTO MÉDICO

4.1 – Perspectivas

A palavra tecnologia significa estudo sistemático sobre técnicas, processos,

métodos, meios e instrumentos de um ou mais ofícios ou domínios da atividade

humana (p.ex., indústria, ciência etc.). A etimologia desta palavra vem do grego

tekhnología, 'tratado ou dissertação sobre uma arte, exposição das regras de uma

arte', formada a partir do radical grego tekhno - (de tékhné 'arte, artesanato,

indústria, ciência') e do radical grego – logía (de lógos, ou 'linguagem, proposição')

(CARDIM, 1996) - Dic. Houaiss.

Existe uma forte atuação das tecnologias contribuindo diretamente na

construção do conhecimento. Os meios de armazenamento de imagens e os

controles hospitalares, através dos registros das informações médicas, geram um

banco de informações que auxiliam na criação desse cenário.

Sistemas com imagens tridimensionais das estruturas do corpo humano

facilitam o ensino pedagógico, pois enriquece a aula com imagens precisas dos

nossos órgãos. Podemos pegar como exemplo o Projeto Homem Virtual criado em

2003 pelos professores doutores: György Miklós Böhm e Chao Lung Wen, da

Disciplina de Telemedicina da Faculdade de Medicina da USP. Esse projeto alia a

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multidisciplinaridade que envolve profissionais das áreas da computação,

comunicação, tecnologia, além de médicos e demais profissionais de saúde.

Todas essas ferramentas contribuem para esta nova formação, onde a

prática é uma das atividades exigidas, os cenários proporcionados por elas,

desenvolvem a cognição dos alunos, porque as imagens tridimensionais garantem

essa proximidade da realidade.

Outro exemplo a ser citado ocorre num laboratório de simulação de

procedimentos, onde bonecos com sensores ligados a softwares com controles

das partes do corpo e simulações das sensações humanas, reproduzem situações

de emergências ou atendimentos equivalentes aos acontecimentos reais.

A tecnologia empregada nesses simuladores possibilita ao aluno ter noções

práticas de como agir em casos reais. Quando chegar o momento de atuar num

cenário real, já teve uma experiência que possibilitou desenvolver habilidades e o

conhecimento necessário até para salvar uma vida.

Os alunos do Centro de Ciências Médicas e da Saúde (FCMS – PUC-SP)

exercem atividades assistenciais nas Unidades Básicas de Saúde (UBS), que são

atendidas pelo SUS. Esse atendimento in loco tem o registro de vários problemas

ligados a doenças epidemiológicas, Programa da Saúde da Família (PSF), entre

outros. O fórum do Moodle é muito utilizado para registros dessas informações de

interesse dos grupos.

A aula em campo agrega muito mais, pois insere o aluno diretamente com

os problemas primários de atendimento em saúde. Os casos mais complexos,

dentro dessa realidade, podem ser discutidos com especialistas, ou seus tutores.

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As tecnologias podem auxiliar no registro dessas informações levantadas e

posteriormente discutidas ou podem usar a Telemedicina para acesso direto a

outro professor que esclareceria as dúvidas em tempo real.

De uma forma geral, é importante já trabalhar com as tecnologias na

formação médica, pois farão parte dos ambientes de trabalho, já em situações

reais no campo de atuação de cada profissional.

4.2 – Informática para Medicina no Curso da FCMS

A ementa da disciplina de acordo com o projeto pedagógico da FCMS

(PUC-SP - FCMS, 2009), aborda a utilização dos recursos da Informática como

ferramenta de apoio para as atividades acadêmicas.

O conteúdo programático prevê a utilização dos recursos de softwares para

edição de texto, apresentação e planilhas eletrônicas que possibilitem o

desenvolvimento de atividades e aplicação na área médica. Tudo isso fazendo

parte da introdução à informática.

Também são trabalhados softwares de aplicação específica na área médica

para interpretação de imagens, prontuários eletrônicos, prescrições eletrônicas,

sistemas específicos para clínica médica, mobilidade em Medicina, informática

aplicada a pesquisas científicas, tecnologia e inovação na área médica.

A maioria dos sistemas específicos para clínica médica já contemplam as

rotinas de prontuário eletrônico e prescrição eletrônica.

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Segundo o Computer-based Patient Record Institute, o prontuário eletrônico

é um registro computadorizado do paciente; é a informação mantida

eletronicamente sobre o estado de saúde e os cuidados que um indivíduo recebeu

durante toda sua vida.

Entende-se que o prontuário eletrônico do paciente está relacionado à

gravação eletrônica de todas as informações referentes ao paciente quando este é

atendido em um hospital ou clinica. Essas informações podem ser procedimentos,

exames, prescrições, entre outros.

Um dos objetivos em manter o registro eletrônico do paciente é facilitar o

acesso rápido ao histórico do mesmo e tomar decisões para a melhoria e

efetividade do cuidado. Esse processo facilita muito a atuação do profissional

médico quando vai analisar o problema apresentado pelo paciente (Totvs - Gestão

Hospitalar, 2010).

Todas as informações históricas de um paciente vinculadas a um prontuário

eletrônico sejam elas exames, prescrições eletrônicas, anamneses, são

armazenadas em um banco de dados.

Esse ambiente informatizado fará parte da rotina de muitos

profissionais após a sua formação. Dar condição técnicas para que o aluno de

Medicina, futuro médico, consiga fazer a interpretação clara das informações

disponibilizadas pelos diversos sistemas e banco de dados, é uma necessidade

cada vez mais presente nos hospitais informatizados.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

A formação médica deve sempre priorizar o aprendizado com base nas

diretrizes estabelecidas pelo Conselho Federal de Medicina e o projeto

pedagógico da instituição formadora.

Destacamos os pontos importantes da utilização das tecnologias na

formação médica dentro da reforma curricular da faculdade de medicina da PUC-

SP, onde novas tecnologias, como a Telemedicina, são prospectadas com

vislumbre de um apoio maior na construção de cenários que aumenta e estimula a

inteligência cognitiva, e que também, são realidades na prática médica.

As tecnologias e a informática voltadas para Medicina devem fazer parte

de forma incisiva na formação dos profissionais médicos contemporâneos. É o que

pregam as diretrizes estabelecidas pelo próprio CFM.

A área da saúde nas últimas duas décadas tem passado por uma série de

evoluções tecnológicas que contribuíram para a melhoria na qualidade de vida das

pessoas que precisaram ou precisam do atendimento médico hospitalar.

O ciberespaço tem se mostrado um grande cenário que possibilita a criação

de vários projetos sociais, como exemplo, o já citado projeto da Microsoft

Research, onde os mesmos algoritmos utilizados nos filtros anti-spam são usados

para encontrar pontos vulneráveis do vírus HIV. E a alimentação da base de

dados com as informações dos pacientes com o vírus HIV, que são necessárias

na pesuisa, é fornecida pela comunidade no ciberespaço.

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A faculdade tem um papel fundamental, que é estimular os seus alunos a

utilizarem as tecnologias em benefício das suas atividades-fim, que é a atenção à

saúde da sociedade.

A Faculdade de Medicina da PUC-SP, já utiliza várias tecnologias como os

simuladores de procedimentos, o LMS, as bases de dados de informações

médicas, as mídias digitais, e busca a ampliação de estruturas que possibilitem

disponibilizar e acessar recursos remotos, que agregam agilidade e informações

nas pesquisas realizadas no âmbito acadêmico e assistencial.

Há também uma articulação técnica/política de várias entidades

acadêmicas e de pesquisas, onde se inclui a PUC-SP, com o intuito de montar um

consócio para pleitear junto a RNP a vinda da RedeComep para Sorocaba.

O objetivo é a implantação de uma rede de alta velocidade, através de

infraestrutura de fibra óptica própria, voltada para as instituições de pesquisa e

educação superior. Esse consórcio entre as instituições participantes asseguraria

a sua própria autossustentação.

A criação desse consórcio colocaria todas as entidades participantes, no

mesmo link de fibra de alta velocidade das grandes redes metropolitanas de

pesquisas, como por exemplo, a MetroSampa em SP.

Com a participação direta nessas redes de pesquisas, haveria um ganho

exponencial entre os alunos e professores, pois as trocas de experiências entre as

universidades, que hoje já ocorrem, aconteceriam em tempo real, enriquecendo os

cenários utilizados na educação problematizadora. A Telemedicina se mostraria

eficaz na atuação dos seus alunos, atuando nas Unidades Básicas de Saúde.

Também seria possível analisar um caso raro de uma doença ocorrida lá no Acre,

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por exemplo, e levar o conhecimento da pesquisa até àquele lugar carente de

recursos.

A reforma curricular da Faculdade de Medicina da PUC-SP apresenta uma

grande variação estratégica nos cenários utilizados para a aprendizagem médica.

São usadas as opções: Problematização; Aprendizagem baseada na pesquisa ou

por projetos; Aprendizagem baseada na prática; Aprendizagem baseada em

problemas (ABP), todas buscando o desenvolvimento através educação

problematizadora. Em todas estas práticas, de alguma forma as tecnologias estão

inseridas como apoio, como exemplo o Moodle, que serve como plataforma de

comunicação através dos foruns.

A disciplina de informática médica do curso de Medicina da FCMS/PUC-SP,

poderia contemplar além da Telemedicina que hoje já é quase uma realidade, os

sistemas que dão base para os médicos e profissionais da saúde, quando estes já

estão formados e atuantes. Essa base não objetivaria torná-los especialistas, mas

dar noções básicas para qualquer ambiente que venham a atuar.

Hoje é quase impraticável ter um atendimento com qualidade, sem o uso de

recursos tecnológicos, e eles estão presentes como coadjuvantes importantes

nesse processo de atendimento à saúde. Por isso há um destaque na utilização

dessas ferramentas de apoio na formação médica como parte do ensino

aprendizagem e utilização das tecnologias como instrumentos de apoio na

assistência à saúde.

Por exemplo, no SUS tem um sistema chamado SIGTAP (Sistema de

Gerenciamento da Tabela de Procedimentos, Medicamentos e OPM do SUS).

Este sistema apresenta todos os procedimentos autorizados pelo SUS, descrição

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dos procedimentos, informações dos CBO's (especialidades) permitidos,

honorários médicos e várias informações importantes para o conhecimento

médico.

Se for atuar em uma clínica ou hospital, informações básicas do paciente

que são registradas em um banco de dados, como PEP - Prontuário Eletrônico do

Paciente ou a própria prescrição eletrônica, são informações necessárias para a

atuação médica. Estas situações já são realidades em vários hospitais de grande

e médio porte, que investem em tecnologias.

Os alunos são preparados para atuar em diversas especialidades e

ambientes. Alguns vão atender aos pacientes do SUS, outros trabalharão em

clínicas ou hospitais. Qualquer que seja a área de atuação deste profissional, ele

sempre estará diante de ferramentas tecnológicas que o apoiará no

desenvolvimento do seu trabalho.

Seja na geração de um exame por imagem e transmitido de um laboratório

para um centro cirúrgico, seja na tomada de decisão pelo profissional médico,

onde a coleta e o processamento dos dados coletados, os exames, os históricos

de atendimentos já registrados no sistema, juntamente com a anamnese11. Todo

esse apoio tecnológico gera um conjunto de informações que permitem que a

decisão seja mais assertiva. Portanto, é importante que seja trabalhada já na

formação médica.

As tecnologias não param, e outros estudos merecem destaque e atenção

quanto às estratégias pedagógicas. Ambientes virtuais com situações

11 Anamnese (do grego ana, trazer de novo e mnesis, memória) é uma entrevista realizada pelo médico ao seu paciente,

que tem a intenção de ser um ponto inicial no diagnóstico de uma doença. Em outras palavras, é uma entrevista que busca relembrar todos os fatos que se relacionam com a doença e à pessoa doente (CARDIM, 1996) – Dic. HOUAISS.

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desafiadoras imitando a vida real, por exemplo, um game, voltado para a área da

formação médica. São possibilidades que poderiam enriquecer e estimular a

criação de raciocínios lógicos através de métodos lúdicos e cognitivos.

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