Martin Heidegger

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os conceitos fundamentais da metafisica: mundo - finitude - solido

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terceiro captulot

justificao da caracterizao da pergunta pelo mundo, pela finitude e pela singularizao, que se movimenta no cerne do conceito, como metafsica. origem e histria da palavra "metafsica"

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os conceitos filosficos, os conceitos fundamentais da metafisica mostraram-se como se movimentando no ceme do conceito: como conceitos que se movimentam no ceme daconceptualidade e nos quais o todo sempre perguntado, e como conceitos que se movimentam no ceme da conceptualidade e que sempre co-inserem conceptivamente o conceptor no interior da pergunta. por isso, determinamos o perguntar metafisico como um perguntar que se movimenta no ceme do conceito. temos constantemente equiparado - no importando o que possa dirigir nossa ateno - filosofia e metafisica, pensamento filosfico e pensamento metafisico. na filosofia, no entanto, ao lado da "metafisica", h tambm a "lgica", a "tica", a "esttica", a "fjiqsofl,a_tocroq>a. em resumo: no devemos interpretar a 1tprott] q>tocroq>a a partir da metafisica, mas precisamos, ao contrrio, explicitar o termo "metafisica" atravs de uma exegese do que se apresenta na 1tprott] q>tocroq>a de aristteles. se estabelecemos esta exigncia, ela tem por base a convico de que ainda no se deduziu o ttulo tradicional de contedo "metafsica" como conhecimento do supra-sensvel a partir de uma compreenso originria da 1tprot1l q>tocroq>a. para fundamentarmos esta convico, precisaramos mostrar duas coisas: em primeiro lugar, de que modo devemos conquistar uma compreenso originria da 1tprott] q>tocroq>a em aristteles; em segundo lugar, que o conceito tradicional de metafisica cai por terra ante esta compreenso. mas s podemos mostrar o primeiro ponto se ns mesmos j tivermos desenvolvido uma problemtica mais radical da filosofia propriamente dita. s assim estaremos de posse do archote com o qual possvel lanar luz sobre o interior dos fundamentos velados e ainda no levantados da 1tprott] q>tocroq>.a, e, com isto, da filosofia antiga, para ento decidirmos o que no fundo acontece a. no entanto, s devemos chegar realmente a nos inserir em um tal filosofar atravs da preleo. portanto, devemos abdicar do primeiro ponto. com isto, todavia, tambm no podemos trazer tona a inadequao da significao tradicional de metafisiea diante da 1tprott] q>tocroq>.a, permanecendo a recusa deste ttulo tradicional como uma mera atitude arbitrria. de qualquer maneira, para mostrar grosso modo como esta ltima concluso aqui improcedente, deve-se apontar para as inconvenincias internas deste conceito tradicional. estas, entretanto, no se derivam seno do

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os conceitos fundamentais da metafisica: mundo - finitude - solido 51 nhuma ordem extrnseca, mas traz consigo uma interpretao de contedo. a teologia e a dogmtica crists apoderaram-se da filosofia antiga e a reinterpretaram de uma maneira bem determinada (crist). atravs da dogmtica crist, a filosofia antiga foi compactada em uma compreenso bem determinada; uma compreenso que se manteve atravs da renascena, do humanismo e do idealismo alemo e que s agora lentamente comeamos a conceber em sua inverdade. o primeiro a conceber isto talvez tenha sido nietzsche. no interior da dogmtica crist, ou seja, no interior do estabelecimento dos princpios de uma determinada forma religiosa, tanto o homem quanto deus precisam ser tratados em um sentido excelso, de modo que estes dois - deus e o homem - no se tornem os objetos primrios somente da crena, mas tambm da sistemtica teolgica: deus como o supra-sensvel propriamente dito, e o homem no apenas - ou mesmo nica e preponderantemente - como esta essncia terrena, mas em funo de seu destino eterno, de sua imortalidade. peus e a imortalidade so os dois termos para o alm, para oque essencialmente est em questo nesta crena. este alm transforma-se no propriamente metafisico: ele requer para si uma filosofia determinada. no comeo da filosofia moderna, junto a seu fundador, descartes, vemos algo maximamente relevante. este diz expressamente em sua obra principal, meditationes de prima philosophia, "meditaes sobre a filosofia autntica", que a filosofia primeira tem por objeto a prova da existncia de deus e da im011alidade da alma. no comeo da filosofia moderna, a qual costumamos apresentar como uma ruptura com a filosofia de outrora, encontramos justamente acentuado e mantido o que perfazia o cerne da preocupao dafilosofia medieval. o acolhimento da filosofia primeira de aristteles na construo e no acabamento da dogmtica teolgica da idade mdia foi facilitado em certo sentido puramente extrnseco pelo fato de o prprio aristteles t-ia dividido - como j ouvimos - em duas direes fundamentais do questionamento, sem problematizar a sua unidade mesma; e isto no vi livro da metafisica, no livro em que fala da filosofia primeira. segundo esta diviso, trata-se primeiramente do ente como tal, isto , do que advm a todo e qualquer ente, a todo e qualquer v, na medida em que ele um v. pergunta-se: o que pertence a um ente, uma vez que ele um ente, abstraindo-se totalmente do fato de ele ser este ou aquele ente? o que lhe pertence tendo em vista que ele , de maneira geral, algo tal como um ente? esta pergunta pela essncia e pela natureza do ente feita pela filosofia primeira. ao mesmo tempo, porm, ela tambm coloca a pergunta pelo ente na totalidade, visto que faz a pergunta remontar ao mais elevado e derradeiro, que aristteles tambm designa como o tlj..tlnu'tov yvo, como o ente mais originrio. aristteles tam-

fato de o conceito no ter sido conquistado a partir da npc.ytll