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ERLÉIA APARECIDA VANTROBA MATERIAL DIDÁTICO – FOLHAS IRATI, DEZEMBRO DE 2008

MATERIAL DIDÁTICO – FOLHAS - Operação de migração ... · existência de duas partes em nosso país, que insistem em conviver neste contraste de seus números. Hoje em dia,

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Page 1: MATERIAL DIDÁTICO – FOLHAS - Operação de migração ... · existência de duas partes em nosso país, que insistem em conviver neste contraste de seus números. Hoje em dia,

ERLÉIA APARECIDA VANTROBA

MATERIAL DIDÁTICO – FOLHAS

IRATI, DEZEMBRO DE 2008

Page 2: MATERIAL DIDÁTICO – FOLHAS - Operação de migração ... · existência de duas partes em nosso país, que insistem em conviver neste contraste de seus números. Hoje em dia,

BIODIVERSIDADE

Material   didático   “Folhas”   apresentada   ao  PDE, como requisito aos integrantes de 2008. 

Professora(PDE): Erléia Aparecida Vantroba

Professora(IES): Karla Rosário Brumes         

IRATI, DEZEMBRO DE 2008

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Autora: Erléia Aparecida Vantroba

NRE: Irati Município: Irati

Estabelecimento: Colégio Estadual Nossa Senhora de Fátima

Distrito: Guamirim

Disciplina: Ciências

Disciplina da relação interdisciplinar 1: Geografia

Disciplina da relação interdisciplinar 2: História

Conteúdo Estruturante: Biodiversidade.

O jovem do campo deixa o seu ambiente por que é atraído pela cidade... ou por que é expulso pela falta de

alternativas?

Por que o jovem rural está tirando o time de campo?

Por que o jovem do campo deixa o seu ambiente?

Por ser atraído pela cidade... ou...

... porque é expulso pela falta de alternativas no meio rural.

Fonte: www.diaadiaeducacao.pr.gov.br – banco de imagens – acesso em 05/12/08

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O que vai acontecer ao jovem, após o abandono do campo?

Todos que migram conseguem trabalho?

• Por que a migração?

Fonte: www.diaadiaeducacao.pr.gov.br – banco de imagens – acesso em 05/12/08

Antes de qualquer comentário, vamos ler algumas definições de migração.

Migração:

O sentido de migração está em trocar de região, país, estado ou até mesmo domicílio. É algo que já acontece há muito tempo atrás, desde o começo da história da humanidade. Migrar faz parte do direito de ir e vir, que consta na constituição. Porém essa questão da migração envolve muita polêmica, que gira em torno das condições em que ocorrem esses processos migratórios: se de um modo livre, que assim está se exercendo este direito ou se de modo obrigatório, que tende a realizar interesses

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políticos e econômicos desumanos, visando sempre o capital, sendo algumas vezes nacional e outras estrangeiro, marcando cada vez mais esse enorme abismo que existe entre o mundo da riqueza e o mundo da pobreza.

Devido a todo esse complicado processo, podemos dizer que temos a existência de duas partes em nosso país, que insistem em conviver neste contraste de seus números. Hoje em dia, o Brasil é o terceiro exportador mundial de produtos agrícolas, porém temos a presença de 33,7 milhões de brasileiros que estão na miséria e passam fome. Em média, oitocentas crianças morrem diariamente por desnutrição.

Fonte: VALIM, Ana. Migrações: Da perda da terra à exclusão social. SP: Atual, 1996.

As migrações humanas tiveram lugar, em todos os tempos, e numa variedade de circunstâncias. Têm sido, tribais, nacionais, de classes ou individuais. As suas causas têm sido políticas, econômicas, religiosas, ou por mero amor à aventura. As suas causas e resultados são fundamentais para o estudo da etnologia, história política ou social, e para a economia política.

Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Migra%C3%A7%C3%A3o_humana. Acesso em 10/12/2008.

Denomina-se migração todos os movimentos de pessoas de um país a outro, ou dum lugar geográfico a outro dentro dum mesmo país, com mudança de residência. No primeiro caso trata-se de migração internacional e, no segundo, de migração interna. Chama-se emigração o movimento de saída de pessoas de uma determinada área geográfica, seja dum país a outro ou dentro das divisões administrativas duma nação, e imigração o movimento de chegada para a mesma. O saldo migratório representa a diferença entre o número de entradas e de saídas. Denomina-se emigrante a pessoa que sai duma área geográfica específica e imigrante a pessoa que chega à mesma. Um mesmo indivíduo é emigrante se considerado com referência ao lugar de saída e imigrante do ponto de vista do lugar de chegada.

Disponível em: http://www.ine.gov.mz/censos_dir/recenseamento_geral/estudos_analise/migra. Acesso em:

10/12/08.

Como sabemos o homem, sempre migrou. Os problemas nunca terminaram, até se acentuaram. Portanto, vem o questionamento mais uma vez:

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O jovem do campo deve deixar seu ambiente?

A migração é um problema bastante discutido, mas nunca solucionado, portanto é importante fazer com que o jovem tenha uma abordagem abrangente, dando-lhe oportunidade de entender que as migrações não são movimentos contemporâneos nem de fatalidades da natureza.

Os migrantes, principalmente os jovens, pela falta de terras para cultivar, sem perspectivas de adquiri-las, conseqüentemente não sendo possível ter o mínimo necessário à sua sobrevivência e de sua família, acabam sucumbindo e vão para longe, sintetizando mais ainda a dificuldade das populações urbanas. Para que efetivamente a permanência no campo ocorra, não basta apenas discurso, é necessário oportunizar de forma concreta, clara e objetiva possibilidades de melhoria na educação, cultura, lazer e principalmente economicamente, ao contrário, mesmo que deixando sua família, suas terras, enfim, sua origem, o jovem vai em busca de melhores condições de vida.

Você já deve ter notado de que a migração do campo ocorre, a partir do momento em que o camponês começa a ser expropriado de seus meios de produção, representado na maior parte das vezes pela terra, seu início está no bojo do desenvolvimento do capitalismo e a história do Brasil não pode ser desvinculada da história mundial.

Em equipe, listem os moradores de suas comunidades: • os que sempre viveram nelas ;• os que vivem recentemente.

PARANÁ – OUTRO ÍMÃ

O estado do Paraná, nas décadas de 1940, 50 e 60, foi um verdadeiro desaguadouro de migrantes da região Nordeste, Minas Gerais, São Paulo e até o Rio Grande do Sul e Santa Catarina.

O responsável por isso foi o café, que fazia sucesso em São Paulo e começou a se espalhar pelo norte e oeste do Paraná, provocando a “corrida do café”.

Algumas companhias de colonização se empenharam em organizar a ocupação dessas áreas.

Os colonos, ao chegarem, desmataram as terras, prepararam o solo e deram origem a novas cidades que ali proliferaram ao mesmo tempo em que o café se expandia. No entanto, mais uma vez o poder dos grandes proprietários, alicerçado numa política agrícola que os protege em detrimento do pequeno produtor, num processo que é secular em nosso país, os expulsou para as áreas onde se abriam novas fronteiras agrícolas, tais como o Norte e Centro-Oeste ou até mesmo o Paraguai, onde se encontram os “brasilguaios”. Isso sem falar no estado de São Paulo, em especial na sua capital, que continua a atuar como forte pólo de atração ocupacional.

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Vamos refletir juntos sobre as conseqüências das constantes migrações. Para isso, nos utilizaremos da linguagem musical para guiar nossa reflexão.

Brejo da Cruz

A novidade...Cruzam os céus do Brasil

Na rodoviáriaAssumem formas mil...

Tem uns que viram JesusMuito sanfoneiro...Uns têm saudade...

Mas há milhões desses seresQue se disfarçam tão bem...

São jardineirosGuardas-noturnos, casais

São passageirosBombeiros e babás...

São faxineirosBalançam nas construções

São bilheteirasBaleiros e garçons...

(Brejo da Cruz – Chico Buarque: 1984)

Leia a música “Brejo da Cruz”, de Chico Buarque. Você pode encontrar na íntegra no livro, “MIGRANTES”, de Dora Martins e Sônia Vanalli, Editora Contexto, 2001, pág. 62.

Nesta música, segundo as autoras, Chico Buarque, coloca sua alma em denúncia à injustiça do mundo.

ATIVIDADES:Em grupo, realize um levantamento da origem das famílias de suas

comunidades, procurando saber:• sua origem;• sua ocupação na área de origem;• ocupação atual;• quem trabalha na família;• a renda familiar;• as razões que os levaram a abandonar suas áreas de origem;• o percurso que realizaram para chegar até essa comunidade e por

que se fixaram no local;• se gostariam de voltar para sua terra e por quê;• se nunca saíram do local de origem, por quê;• se algum membro da família migrou, por quê;• se todos da família estudam ou estudaram, até que série.

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Fonte: www.diaadiaeducacao.pr.gov.br – banco de imagens – acesso em 05/12/08

A POPULAÇÃO RURAL E URBANA

Até 1960, predominava no Brasil a população rural. No recenseamento de 1970 já se constatou o predomínio da população urbana, com 56% do total nacional. À medida que um país se desenvolve industrialmente, a tendência geral é o abandono do campo em direção às cidades. O homem procura nos centros urbanos melhores condições de vida, conforto, salários e garantias. É o fenômeno do êxodo rural. Atualmente, 75% da população brasileira urbana, isto é, vive nas cidades. No estado do Rio de Janeiro, a população urbana é de 95%.

Fonte: www.diaadiaeducacao.pr.gov.br – banco de imagens – acesso em 05/12/08

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Fonte: acervo pessoal

Pedagogia em Movimento

Pedagogia quer dizer o jeito de conduzir a formação de um ser humano.

• Pedagogia da terra

Ela brota da mistura do ser humano com a terra: ela é mãe e, se somos filhos e filhas da terra, nós também somos terra. Por isso precisamos aprender a sabedoria de trabalhar a terra, cuidar da vida: a vida da Terra (Gaia), nossa grande mãe, a nossa vida. A terra é ao mesmo tempo o lugar de morar, de trabalhar, de produzir, de viver, de morrer e cultuar os mortos, especialmente os que a regaram com o seu sangue, para que ela retornasse aos que nela se reconhecem.

O trabalho na terra, que acompanha o dia-a-dia do processo que faz de uma semente uma planta e da planta um alimento, ensina de um jeito muito próprio que as coisas não nascem prontas, mas, sim, que precisam ser cultivadas; são as mãos do camponês, da camponesa, as que podem lavrar a terra para que chegue a produzir o pão. Este também é um jeito de compreender que o mundo está para ser feito e que a realidade pode ser transformada, desde que se esteja aberto para que ela mesma diga a seus sujeitos como fazer isto, assim como a terra vai mostrando ao lavrador como precisa ser trabalhada para ser produtiva.

Nossa escola pode ajudar a perceber a historicidade do cultivo da terra e da sociedade, o manuseio cuidadoso da terra – natureza - para garantir mais vida, a educação ambiental, o aprendizado da paciência de semear e colher no tempo certo, o exercício da persistência diante dos entraves das intempéries e dos que se julgam senhores do tempo. Mas não fará isso apenas com discurso; terá que se desafiar a envolver os educandos e as educadoras em atividades diretamente ligadas a terra.

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• Você concorda com as afirmações feitas na pedagogia da terra, de que não basta apenas discurso, todos devem ser desafiados em atividades diretamente ligadas a terra?

Sendo disponibilizados recursos para desenvolverem seus projetos os jovens vão permanecer no campo. Realize em grupos, uma pesquisa referente a isto.

TERRA E TRABALHO

Tem terra sobrando por todo o país,tem braços dispostos a tudo lavrar,

crianças brincando, com fome, desnudas... e uns vão rindo de tanto esbanjar.

Cidades tão cheias de gente ao redor,que veio de longe, buscando trabalho,fugindo da terra que sempre plantou,

colhendo amargura, sem pão e agasalho.

Depois ainda dizem: “Que gente indolente!Quer nada com nada. Merece o que tem”.Porém, não perguntam quem foi que ficoucom toda a colheita e com lucro também...

Tem grandes indústrias e máquinas muitas,seguro bem alto pra todo imprevisto.Mas, vagas contadas e muitos na rua

... e o riso de uns poucos lucrando com isto.

Cidades tão cheias de gente sem rumo,sem pão para os filhos, sem dia melhor,

buscando mil formas de sobreviver,colhendo migalhas do próprio suor.

Depois ainda dizem: “Que gente indolente!Quer nada com nada. Merece o que tem”.Porém, não perguntam quem é que aí vai

com todo o produto e com tanto desdém...

J. Thomaz Filho

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OS ESTATUTOS DO HOMEM(Ato Institucional Permanente)

Artigo IFica decretado que agora vale a verdade. agora vale a vida, e de mãos dadas,marcharemos todos pela vida verdadeira.

Artigo IIIFica decretado que, a partir deste instante,haverá girassóis em todas as janelas,que os girassóis terão direitoa abrir-se dentro da sombra;e que as janelas devem permanecer,o dia inteiro, abertas para o verde ondecresce a esperança.

Artigo IVFica decretado que o homemnão precisará nunca maisduvidar do homem.Que o homem confiará no homemcomo a palmeira confia no vento, como o vento confia no ar, como o ar confia no campo azul do céu.Parágrafo único:O homem, confiará no homem como um menino confia em outro menino.

Artigo XIIIFica decretado que o dinheironão poderá nunca mais compraro sol das manhãs vindouras.Expulso do grande baú do medo,o dinheiro se transformará emuma espada fraternalpara defender o direito de cantare a festa do dia que chegou.

Artigo FinalFica proibido o uso da palavra liberdade,a qual será suprimida dos dicionários e do pântano enganoso das bocas.A partir deste instantea liberdade será algo vivo e transparentecomo um fogo ou um rio,e a sua morada será sempreo coração do homem.

Santiago do Chile,abril de 1964

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RETIRANTE

Tiraram-me terra,Teto e mesa.Perdi raízes,

Ganhei incerteza.Me deram máquina,

Relógio e cartão....Nasceu do impossível,

Mais um barracão.

J. Thomaz Filho

Após a leitura e reflexão de partes das poesias e alguns artigos dos estatutos do homem, relate aos colegas a mensagem apreendida pelo seu grupo.

Com a realização deste trabalho, agora você é capaz de responder seguramente o questionamento inicial:

O jovem do campo deixa o seu ambiente por que é atraído pela cidade... ou por que é expulso pela falta de

alternativas?

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Referências Bibliográficas:

ARROYO, Miguel Gonzalez, CALDART, Roseli Salete e MOLINA, Mônica Castagna. Por Uma Educação do Campo. 2ª edição - Petrópolis, RJ: Vozes, 2004.

CEM - Centro de Estudos Migratórios. Migrações no Brasil: o peregrinar de um povo sem terra. São Paulo: Paulinas, 1986.

MARTINS, Dora e VANALLI, Sônia. Migrantes. 4ª edição - São Paulo: Contexto, 2001.

MELLO, Thiago de. Os Estatutos do Homem. Poética Brasileira: coleção de poetas e poesias do Brasil. Brasília – DF, nº10, setembro, 2005, pág. 25.

RODRIGUES, Arlete Moysés. Moradia nas Cidades Brasileiras. 5ª edição – São Paulo: Contexto,1994.

THOMAZ, J. Filho. Retirante. - Migração e Moradia. São Paulo: Paulinas, julho, 2000, pág. 565.

_________________.Terra e Trabalho. - Migração e Moradia. São Paulo: Paulinas, julho, 2000, pág. 552.