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Materialidade da Comunicação um conceito para a Ciência da Comunicação Michae Hanke* RESUMO  sta contribuição tem o objetivo de apresentar e discutir o conceito da materialidade da comunicação a partir do obra homônima publicado em alemão em 1988 e traduzido parcialmente para o inglês. Materialidade da Comunicação é um programa de pesquisa que pretende indagar sobre as condições, o lugar, o suporte e as modalidades de produção de sentido, que, por si, são isentos de sentido. Foi desenvolvido no centro de estudos avançados em pós-graduação de Siegen, Alemanha, com a área de concentração denominada Formas de comunicação e formas de vida . Participaram deste projeto interdisciplinar pesquisadores de várias disciplinas, tais como letras e ciências sociais; e foi a busca para um consenso mínimo sobre o conteúdo específico dessa área que gerou a idéia de que qualquer comunicação precisa uma componente de materialidade, sendo este o fundamento básico do conceito. Palavras chave: materialidade, comunicação, ciência  STR CT The goal of this confribution is to present and to argue the concept of lhe materia/ity of the communicatíon from the work pub ished in German in 1988, and trans/a ted partia y into Eng ish. "Materia/ity of lhe communication" is a research program, that intends to inquire on lhe conditions, the place, lhe support and lhe moda/ities of direction production, that, for itse/f, they are exempt of direction. It was deve/oped in lhe Siegen center of advanced studies in post-graduafion , Germany, with lhe concentration arca ca//ed "Forms of communication ano forms of /ife". Several professors had pa,licipated in this project to interdiscip inary searching, such as social etters ano sciences; and it was thesearch for a minimum consensus on lhe specific content of this arca fhat generated lhe fo /owing idea: any necessary communícation needs a componentof materia/ity, beca use this is lhe basic bedding of the concept. Key words: materiali(y, communication, science Trabalho apresentado ao NP 01 - Teorias da Comunicação, do V Encontro dos Núcleos de Pesquisa da Intercom. Doutor em Semiótica, em 1990, Pós-doutorado no Centro de Estudos Avançados em Siegen entre 991 e 1993, Livre-Docente em Ciências da Comunicação, em 1998,  na Alemanha. Coordena o Núcleo Vilém Flusser, onde desenvolve pesquisa sobre a Teoria da Media e Comunicação de Viléni Flusser (CNPq 2003/ 2006).  5

Materialidades da comunicação: um conceito

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Artigo de Michael Hanke

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  • Materialidade da Comunicao -um conceito para a Cincia da Comunicao?

    Michae! Hanke*

    RESUMO

    Esta contribuio tem o objetivo de apresentar e discutir o conceito da materialidadeda comunicao a partir do obra homnima publicado em alemo em 1988, e traduzidoparcialmente para o ingls. "Materialidade da Comunicao" um programa depesquisa que pretende indagar sobre as condies, o lugar, o suporte e asmodalidades de produo de sentido, que, por si, so isentos de sentido. Foidesenvolvido no centro de estudos avanados em ps-graduao de Siegen,Alemanha, com a rea de concentrao denominada "Formas de comunicao eformas de vida". Participaram deste projeto interdisciplinar pesquisadores de vriasdisciplinas, tais como letras e cincias sociais; e foi a busca para um consensomnimo sobre o contedo especfico dessa rea que gerou a idia de que qualquercomunicao precisa uma componente de materialidade, sendo este o fundamentobsico do conceito.

    Palavras-chave: materialidade, comunicao, cincia

    ABSTRACT

    The goal of this confribution is to present and to argue the concept of lhe materia/ityof the communicaton from the work pub!ished in German in 1988, and trans/a tedpartia!!y into Eng!ish. "Materia/ity of lhe communication" is a research program,that intends to inquire on lhe conditions, the place, lhe support and lhe moda/itiesof direction production, that, for itse/f, they are exempt of direction. It was deve/opedin lhe Siegen center of advanced studies in post-graduafion , Germany, with lheconcentration arca ca//ed "Forms of communication ano forms of /ife". Severalprofessors had pa,licipated in this project to interdiscip!inary searching, such associal !etters ano sciences; and it was thesearch for a minimum consensus on lhespecific content of this arca fhat generated lhe fo!/owing idea: any necessarycommuncation needs a componentof materia/ity, beca use this is lhe basic beddingof the concept.

    Key words: materiali(y, communication, science

    Trabalho apresentado ao NP 01 - Teorias da Comunicao, do V Encontro dos Ncleos de Pesquisada Intercom.

    Doutor em Semitica, em 1990, Ps-doutorado no Centro de Estudos Avanados em Siegen entre991 e 1993, Livre-Docente em Cincias da Comunicao, em 1998, na Alemanha. Coordena o Ncleo Vilm

    Flusser, onde desenvolve pesquisa sobre a Teoria da Media e Comunicao de Vilni Flusser (CNPq 2003/2006).

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  • II!!p

    "Materialidade da Comunicao" o ttulo de um livro, baseado numcongresso homnimo, cujos organizadores, Hans Ulrich Gumbrecht e Karl-Ludwig Pfeiffer, foram diretores do Centro de Estudos Avanados em ps-graduao na cidade de Siegen, Alemanha. A rea de concentrao desteprojeto interdisciplinar foi denominada "Formas de comunicao e formas devida", da qual participaram pesquisadores, nacionais e estrangeiros, de vriasdisciplinas, tais como letras e cincias sociais.

    A edio do livro na verso alem, publicada em 1988, conta com 943pginas e 55 artigos de autores diferentes. A traduo para o ingls umaseleo de 34 textos, sendo 26 da edio original e mais 08 novos textos. Noparticiparam dessa verso, entre outros, Luiz Costa Lima, ento professor naPUC - Rio e na Universidade Federal Fluminense, Humberto Maturana e PaulWatzlawick.

    "Materialidade da Comunicao" um programa de pesquisa, quepretende indagar sobre as condies, o lugar, o suporte e as modalidades deproduo de sentido, que, por si, so isentos de sentido. Esta a definio-chave do colquio e do conceito. Em outras palavras, pergunta, o que sobrados fenmenos da comunicao, depois de abstrair a dimenso do significado,e se isso pode constituir uma nova rea de pesquisa interdisciplinar.

    Na introduo Ludwig Pfeiffer pergunta, 1 se, tendo em vista quetudo uma construo, interpretao, simulao, informaes circulando,existe ainda ou pode ser pensado algo como materialidade? E 2 0 se existem

    216 veculos materiais fora da interpretao? A resposta do conceito sim, porquematerialidade concebida como o outro lado da interpretao. O conceitoquer repensar a hermenutica, pressupondo uma dicotomia entre umamaterialidade, uma presena de coisas e situaes num nvel de "realidade"fora da interpretao, e, de outro lado, as respectivas interpretaes.Transferido para a comunicao isso quer dizer: o desenvolvimento efuncionamento de sistemas e o uso destes sistemas de conhecimento nacomunicao so duas coisas diferentes.

    Segundo Gumbrecht, o conceito tenta resolver o seguinte problema:qualquer entendimento de uma configurao do passado realizado atravsde uma transferncia daquilo que queremos entender para nossa presena;mas no temos critrios para distinguir interpretaes adequadas de projeesinadequadas que nos fazemos. "Materialidade" expressa a esperana de fugirdessas projees, sendo as materialidades objetos de pesquisa, e desenvolversignificado em cima desses fenmenos materiais, privados do significado,que eles continuam a apresentar. A idia foi pesquisar elementos constitutivospara "formas de comunicao" - sem ofuscar estes por interpretaesprematuras. Dar ateno ao som como som, ao gesto corporal como gestocorporal, sem perder esta materialidade do significante de vista por causa daateno dada ao significado (1988: 915). Entender o que se pode fazer comuma caneta sem interpretar as palavras escritas com ela.

  • As cincias do "esprito" ou da cultura (as cincias humanas) dofuturo no deveriam tratar o nvel do significado dos produtos culturais, mas,o que pareceu mais promissor, as materialidades desta produo. Quis seaproximar s cincias exatas, ou melhor, superar o dualismo entre as cinciashumanas e exatas (Gumbrecht 1988: 728, 1988: 919). Essa re-configurao dascincias humanas intencionada se reflete no programa do centro dos estudosavanados, fundado em 1986: introduzir formas de comunicao para ascincias da literatura e lingstica deveria transfonnar as filologias antigas,ou seja, colocar em pauta estruturas de organizao, media, o corpo, a voz oua escrita - materialidades - e deveria mostrar como formas de vida se baseiamem formas de comunicao.

    No seu livro mais recente, "Production ofPresence What MeaningCannot Convey" - "Produo de presena - o que o significado no podetrazer", Gumbrecht, ao contar a histria do desenvolvimento do seupensamento, contextualiza, no primeiro captulo chamado "Materialidade/Ono-hermenutico/presena", o conceito da materialidade da comunicao.Ainda aqui o embate de Gurnbrecht com a hermenutica e com a prtica dainterpretao, especificamente nas letras. Ele defende que, alm dainterpretao, existe um nvel que no alcanvel pela interpretao, queserve como ponto de partida para o processo: a materialidade. "Materialidadeda Comunicao" o "campo no-hermenutico", aquilo que serve comobase para interpretao, mas no idntico a ela. Isso importante se queremostransferir o conceito das letras (literatura) para as cincias sociais (aplicadas), 217ou para a Comunicao. E obvio que a interpretao tambm essencial paraestes, mas numa forma diferente do que para a histria da literatura.

    A critica interpretao no quer excluir o nvel do significado, mas"materializar" o discurso das cincias da cultura, e questionar a tradio,segundo a qual a interpretao seja a prtica exclusiva das cincias humanas."Materialidade" pretende derrubar essa hegemonia da interpretao, que vedaa pesquisa de outros fenmenos e questes (Gumbrecht 2004: 32). Mesmono sabendo uma alternativa ao sentido e hermenutica, existia umdesconforto com o relativismo intelectual que acompanha a cultura deinterpretao (Gumbrecht 2004: 23) - e isso vale a pena discutir tambm naComunicao.

    O colquio de 1987 no qual o conceito foi desenvolvido o quarto deuma srie de cinco, realizados entre 1981 e 1989. O local, a cidade de Dubrovnikna Iugoslvia, foi escolhido por vrios motivos; um deles sendo que aIugoslvia foi o nico pais da Europa acessvel para pessoas de pasesocidentais e orientais, os ltimos com governos comunistas, que restringiramviagens para o exterior. Esse detalhe j indica um esprito especfico dessesencontros. A ttulo de curiosidade, gostaria de mencionar que tambmparticiparam nesta histria, por duas vezes, brasileiros. Segundo Gumbrecht,

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    a idia dos colquios nasceu quando ele, em 1979, junto com um "amigobrasileiro" (no especificado), atendendo um outro congresso, sentiu o desejode voltar para essa cidade linda: materialidade tambm um pressupostopara a cincia!

    A idia geral dos colquios foi analisar a cincia da literatura e dalingstica historicamente. Pouco satisfeito com os resultados dos primeirostrs, o grupo procurou um novo rumo, e algum props, em 1985,"materialidade da comunicao". Dois anos depois foi realizado o colquio,do qual Gumbrecht se lembra com as seguintes palavras:

    "Se tem algum encontro cientifico que eu presencieique merece o elogio de ter sido "instigante ","importante ", "produtivo ", foi o colquio sobrematerialidade da comunicao na primavera de1987." (2004: 24)

    "Materialidade" e "comunicao" prometeram ser conceitos melhorespara trabalhar as questes com mais exatido e rigor cientfico, saindo daprtica das interpretaes repetidas e fartas. A busca de um novo discursofoi motivada por um cansao com as teorias antigas, ou seja, a teoria crtica,o marxismo, o estruturalismo, o ps-estruturalismo, o deconstrutivismo, ejem 1987,0 ps-modernismo (Gumbrecht 1988: 911). "Discursos baixos"

    218 ttulo do resumo do colquio de Gumbrecht, e o fato de que a noo deparadigma foi evitada neste contexto merece destaque para caracterizar umacerta modstia do projeto. Grande estima, por outro lado, foi dada aos seguintesautores: Paul Zumthor, que destacou a voz e a escrita como formas decomunicao centradas no corpo, Jean-Franois Lyotard, que alegou que arevoluo da mdia eletrnica gera uma nova "imaterializao" da vida humana,Walter Benjamin, que ensinou a importncia do contato direito com os objetosculturais, e Jaques Derrida, segundo o qual a excluso do significante (umaforma de materialidade) responsvel pela hegemonia do Logo-Phonocentrismo da cultura europia. "Materialidade da Comunicao" abriuos olhos para assuntos fascinantes como histria da mdia, body culture epara a seguinte questo: quais efeitos diferentes media, ou seja, diferentesmaterialidades tm em relao ao sentido realizado na comunicao(Gumbrecht 2004: 27/28). Tambm destacada a importncia do FriedrichKittler e sua "sensibilidade intelectual" para as formas de materialidade, queo deixa perceber como movimentos intelectuais so encaminhados porinovaes nos meios de comunicao baseado na tecnologia.

    Por exemplo, Martin Stingelin, ao tratar o filsofo Nietzsche, noparte de um nvel de contedo filosfico, mas analisa as condies ematerialidades mediticas do filsofo. A mquina de escrever, por conseguinte,

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    foi desenvolvida naquela poca com a inteno de facilitar a vida de cegos.Nietzsche, quase cego, com 14 dioptrias, teve que por o rosto bem acima dopapel, e as letras foram dificeis de identificar. Receber uma mquina de escrever,em 1882, aliviou muito as condies de trabalho deste, e num comentriorelacionado ao novo aparelho de escrever ele nota: nossos instrumentos deescrever tambm participam quando trabalhamos nossas idias. (Stinglin 1988:337) Muitos artigos analisam casos especficos dessa materialidade, VivianSobchack (1988), por exemplo, apresenta uma fenomenologia da presena nofilme e na mdia eletrnica, analisando o desenvolvimento histrico dafotografia e do filme e o impacto que estes tm para a natureza do "olharmecnico", inclusive as transformaes da experincia corporal, do tempo edo espao sob o regime da mudana analgico - digital. E esse estilo de olharpara os fenmenos de uma outra maneira, mais voltada para as materialidades- e os media e menos para interpretaes, que caracteriza o conceito, eassim, sem duvida, ainda continua estimvel.

    Em outros termos, materialidade foi descrita como o outro lado dasemntica. Jan Assmann, tratando a materialidade da escrita hieroglficaegpcia, entende materialidade com noes da semitica. Trabalha com doislados do signo, um semntico, o significado, e ou outro, sua forma material depresena (Assmann 1988: 143). A materialidade do signo essa parte damatria prima, que no influencia o significado. Por exemplo, um R pode sercinzelado em pedra, arranhado em couro, imprimido em vrios tipos de fontes- Fractura, Garamond ou Helvetica -, sem isto afetar seu significado e valor 219enquanto fonema: continua sendo um R. Para sua funcionalidade sessencial que ele no seja confundido com uma outra letra, digamos, um P.AleidaAssmann (1988:238), de maneira semelhante, recorre a uma regra simples,a relao inversa entre presena e ausncia: para ganhar um contedosemntico, um signo tem que perder a sua materialidade. Para alcanar osignificado, ausente, temos que penetrar (ou transcender) a materialidade dosigno, que presente. Mesmo Niklas Luhmann, com sua nova teoria desistemas, percorre a noo de smbolos materializados e organizados emsistemas (Luhmann 1988: 885). De maneira semelhante, Friedrich Kittler, aodestacar a importncia da dimenso da materialidade na comunicao moderna,alega que no existe significado sem portador, ou seja, veculo fsico (Kittler1988: 324), e recorre teoria matemtica de Shannon,j que esta exclui o nvelde significado e uma teoria pura de materialidade.

    Porm, a euforia coletiva inicial de 1989 deste "discurso no-hermenutico" revelou-se como ilusrio, e depois dessa srie dos colquios,perdeu-se o "impulso epistemolgico" (Gumbrecht 2004: 29). Caiu numconceito convencional do signo, segundo o qual, na comunicao transferidoum sentido que, implicando um (indesejado) conceito metafisico, localizadoabaixo da superfcie da materialidade. Para Gumbrecht faltaram noes que

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    operassem melhor a materialidade da comunicao, e a soluo para ele foidada por um aluno durante uma aula na UERJ em meados dos anos 90 queprops "produes de presena" para designar os efeitos da materialidadeda comunicao, o que virou exatamente o ttulo do novo livro de Gumbrecht.A "produo de presena" aperfeioa o conceito da materialidade dacomunicao; chama ateno para aquele lado de um texto, uma obra de arteou um objeto cultural qualquer, que no acessvel para a interpretao, masserve como base para ela. (Por isso, o ttulo da verso em alemo "No outrolado da hermenutica".) Presena aquilo que palpvel, concreto, evidentee tem um impacto corporal, e Gumbrecht defende uma oscilao entre efeitosde presena (= materialidade) e efeitos de significado.

    Concluso

    O conceito de materialidade utilizado em todos os vrios tipos deteoria da comunicao que trabalham com alguma noo de suporte material.Parece dificil fugir desse pressuposto sem questionar a idia da comunicao;so "inmeras e persistentes ... as abordagens sobre a materialidade dacomunicao", sendo a materialidade "um dos leitmotifs da discusso docampo comunicacional e, definitivamente, no pode ser creditada ao crculode Gumbrecht" (Pereira de S 2004: 33, 42). Assim, com toda razo usadomesmo sem referncia ao grupo de Gumbrecht/Pfeiffer. O conceito tambm

    220 tem antecessores, como confirmado em algumas contribuies do livro.Barck, por exemplo, destaca a materialit desenvolvida no grupo Tel-Quelpor Julia Kristeva, a produo de textos da chame signflcante (Barck 1988:131).

    Todavia, sendo que "falar em 'materialidades da comunicao' significater em mente que todo ato de comunicao exige a presena de um suportematerial para efetivar-se" (Felinto 2001, apud de S 2004: 32), o conceito temuma pertinncia bvia para a teoria da comunicao (Felinto 2001). Qualqueridia de representao implica algo que representa e algo que representado,sendo aquilo que representa sempre uma forma de materialidade. Isso podeser visto como um dos axiomas bsicos da semitica; segundo Husseri,qualquer compreenso do pensamento (no sentido amplo, incluindo emoes,desejos etc.) de um outro requer como veculo ou medium a apreenso de umobjeto, um fato ou evento do mundo externo materializado, entendido comorepresentao em relao ao significado. A materialidade que representa chamada signo (por Alfred Schtz (1967: 319) ou representamen (por C. S.Peirce, usado, s vezes, como sinnimo de signo, por exemplo CP 2.274). Econforme Umberto Eco:

  • 'O processo de significao s se verifica quandoestiste um cdigo. [..] Sempre que, co,n base a regrassubjacentes, algo MATERIALMENTE presente percepo do destinatrio ESTA PARA qualquer outracoisa, verifica-se a significao. "(Eco 1997: 6, grifesde Eco)

    Sendo a semitica no desconhecida para muitos autores do grupo,este raciocnio tambm compartilhado por alguns deles. Podemos aindaapontar para duas disciplinas no consideradas por eles: a fontica e afonologia. A primeira analisa o nvel do significante, a materialidade fisica dalngua, e a segunda est como unidades funcionais (complementaria bem asanlises de Gumbrecht (1988a) sobre a constituio de ritmo). O fato de queas duas disciplinas fazem parte da lingstica nos chama ateno pelo fato deque o grupo Gumbrecht/Pfeiffer vem dos estudos literrios e das filologias, eeles descobriram a materialidade oriunda deste ponto de vista. Concordamoscom Pereira de S que, discutindo o conceito da materialidade da comunicao,observa que, sem "qualquer preconceito contra a interdisciplinaridade,torna-se obrigatrio o reconhecimento dos limites de cada um dos campos ede seus interlocutores - no caso o da comunicao e o dos estudos literrios"(de S 2004: 33). As cincias sociais, na tradio weberiana, concebem oobjeto como algo produzido pelos atores sociais, ou seja, construes deprimeira ordem, que operam na vida social, e para isso precisam de unia 221visibilidade ou outras formas de percepo. A partir disso, a cincia social seempenha em produzir anlises de segunda ordem a partir desses objetos jconfigurados pelos atores. Igualmente como uma cincia dos media, as cinciassociais j focalizam a materialidade e o desafio para estas chegar aosignificado. O grupo Gumbrecht/Pfeiffer faz o caminho inverso, o que sedeve qualidade especfica dos objetos das letras. Conclumos com umaopinio salomnica compartilhada por eles: que a materialidade e o sentidodesenvolvido a partir dela so considerados inseparveis. Assim sendo,qualquer metodologia nas cincias humanas que inicia a investigao namaterialidade deve alcanar o nvel de interpretao, e vice-versa, ainterpretao tem que considerar as condies materiais de produo destesentido.

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  • Estudos brasileiros de cibercultura:vista sobre o estado da arte

    Francisco Rdiger*

    - Andr Lemos e Paulo Cunha (orgs.): Olhares sobre a cibercultura. Porto Alegre:Sulina, 2003.

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    * Doutor em cincias sociais (USP) e professor da Pontificia Universidade Catlica do Rio Grande doSul.

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    Olhares sobre a cibercultura mostra representativa da linha detrabalhos que, nos ltimos anos, vem desenvolvendo o GT "Sociedadetecnolgica e Novas tecnologias de Comunicao" das reunies anuais daAssociao dos Programas de Ps-Graduao em Comunicao. Proceder leitura do volume nos permite saber mais a propsito de diversas facetasdesse fenmeno emergente, a cibercultura, e, ao mesmo tempo, elaborar umconceito sobre os mritos e limitaes, virtudes e vcios intelectuais da elitedos seus pesquisadores e pensadores no Brasil.

    Varia em muito a matria, visto os articulistas abordarem desde pontosconceituais, como os problemas da esfera pblica virtual, da intelignciaartificial e da ascenso da dromocracia, at estudos de casos, como os dosblogs, a cibernetizao dos corpos e a cena da msica eletrnica. Em linhasgerais e procurando fazer uma mdia, o resultado do volume parece-nos debom nvel, seja no tocante aos temas tratados, seja na propriedade dasabordagens. Todos os textos so escritos com seriedade e revelam bom nvelde informao.

    Paula Sibilia e Simone Pereira de S, enfrentando, por ordem, ostemas dos blogs e da cena musical eletrnica, escrevem os trabalhos maiseruditos e documentados do volume. Simone Pereira de S procede a umesboo de mapeamento do campo da msica eletrnica, seguindo as linhasde um projeto cujo objetivo pens-la em relao tradio musicalestabelecida no Brasil. Explicitando os pressupostos histricos e elementos

    224 tpicos do fenmeno, ela lana as bases para um eventual trabalho posteriorde descrio etnogrfica, baseando-se na idia de remediao defendida porJay Bolter e Richard Grusin (p. 153-173).

    J Sibilia lembra que seu assunto, embora novo pelo suporte,dimenses e sentido, pode ser pensado em relao s formas primevas quelhe do um simulacro de paradigma cultural, histrico e sociolgico.Relativamente aos blogs: "No carece de interesse a comparao com asmodalidades que podem ser consideradas seus 'ancestrais', de algum modo,pois elas proporcionam um pano de fundo contra o qual mais fcil enxergaras inovaes".

    Como ela nota atravs da recolha de exemplos e de comparaeshistricas, os dirios ntimos eletrnicos no so ntimos (por isso o certoseria at evitar a legitimao terica da expresso - sugeriramos). "Convmaos pesquisadores se manter alerta e desconfiar dessas (supostas)permanncias". As prticas persistem apenas em aparncia e, portanto, seussentidos se alteram com a constelao histrica que as articula (p. 146).

    Paulo Cunha e Suely Fragoso optam pelo estranho caminho queconsiste em tentar iluminar fenmenos bem estudados por outras disciplinascom conceitos extrados menos de outros ngulos do que de campos alheiosaos em que aqueles se instituem, ou ento que o de empilhar argumentos

  • ntracam

    oriundos de diversas latitudes para defender o princpio de sociologia formal,isto , sem proposio tica, poltica, histrica ou humana, segundo o qualno h um mas, antes, vrios ciberespaos.

    Pensamos que no razovel projetar a teoria do imperialismo noterritrio da fsica nuclear. Portanto, parece-nos esdrxula a pretenso de quecom categorias oriundas do design de espaos virtuais e da arquitetura desistemas de informao se produza um esclarecimento sobre as relaesinternacionais e movimentos de distribuio da riqueza na era da globalizaociberespacial (p. 197-211).

    Outrossim, pensamos que um trusmo reconhecer que nada do que humano simples de analisar ou exclui o acrscimo de outros pontos devista. Portanto, parece-nos pregao escolar acaciana a concluso de estudocujo sentido mostrar que o ciberespao um terreno plural, complexo edinmico e que, "alm das escalas mobilizadas neste texto, outrosenquadramentos (ou inclusive os mesmos em outros instantes) revelaronovas imagens igualmente verdadeiras e verossmeis" (p. 212-231).

    Erick Felinto examina competentemente o movimento do trans-humanismo com o objetivo de nos alertar para as iluses msticas e fantasiasarcaicas que se reproduzem nos extremos da tecnologia avanada (p. 24-36).J Alex Primo relembra-nos em boa sntese os precrios fundamentosexperimentais e a insuficincia das premissas que norteiam o projeto depesquisa da inteligncia artificial (p. 37-56).

    Os artigos referenciam o eixo em que se equilibra o conjunto de

    225textos enfeixado no volume. O principal mrito de ambos nos parece apretenso de examinar o problema em foco com os meios adequados ao exigidopela matria e de acordo com um bom senso informado criticamente. O problema o sentido das proposies, visto no estar claro, positivamente, sobre quebase terica se assentam as anlises, quais so seus pressupostos histricose epistemolgicos. Obviamente, isso no culpa dos autores, se admitirnnosque a cibercultura, em seu processo de imposio, em si mesma uma agnciade radicalizao do modo fragmentado de ser e de pensar humanosconsolidado no incio do sculo XX.

    Cremos, prosseguindo a leitura, que decepcionam os trabalhos dospesquisadores mais consagrados presentes no volume, Andr Lemos eEugnio Trivinho. Ambos so autores de obras no apenas relevantes masmeritrias sobre a cibercultura, ficando, por isso, aqum de seu potencial jdemonstrado nas contribuies dadas ao texto aqui resenhado.

    Eugnio Trivinho sucumbe em seu texto sobre o suposto carterterrorista da democracia que imporiam as novas tecnologias de comunicao verborragia altissonante, mas despojada do sentido tico que tanto conferiadignidade moral e poltica a vrios de seus belos trabalhos anteriores, como0 Silncio no prato e Contra a cmera escondida.

  • Na presente ocasio, a vontade muito apropriada e justa de fornecerdemonstrao terica do problema da velocidade no cultura tecnolgicacontempornea se encontra prejudicada pelo emprego de uma linguajarpomposo e esterilizante, no qual os problemas do mundo acabam mitificadose encobertos por uma retrica desenfreada qual, se houvesse espao, poder-se-ia repetir os termos da crtica de Marx a Proudhon (Misria da Filosofia).

    Autor do rico Cibercultura, tecnologia e vida social (Porto Alegre:Sulina, 2002), Andr Lemos pende para o lado oposto dos autores citados,ao apontar as caractersticas que, segundo ele, definem a cibercultura. Empoucas pginas, o pesquisador procura sintetizar no apenas o conceito damesma, mas seu impacto nos campos da sociedade, da comunicao, dapoltica, da arte, da linguagem e do urbanismo. Excelente verbete deenciclopdia no especializada, o texto se ressente da falta de erudio queseria necessria para enfeixar bem os ensaios que lhe seguem e preenchem oresto do volume, visto o carter e ambio que todos demonstram.

    O problema maior, porm, no nem mesmo a enunciao das "trsleis da cibercultura" que encaminha seu desfecho, mas a prpria conclusodo artigo, que expressa, a nosso ver, um defeito presente em quase todos ascolaboraes do volume. A saber, a observao trivial travestida de sabedoriaterica; a banalidade empacotada com o papelo da argcia intelectual.

    "Devemos assim estar aberto s potencialidades das tecnologias dacibercultura e atentos s negatividades da mesma" (p. 23), escreve Andr

    226 Lemos. Quem discordar, no sendo nscio? "O fenmeno ainda est em suapr-histria e esse objeto dinmico se transformar com certeza" (idem).Algum ter dvida disso, no sendo desinformado? De resto, somosadvertidos, como se fosse necessrio, que, em sendo dinmico, o fenmenose "transformar" e que isso, tambm nos dito, uma "certeza" (idem).

    Da em diante, abundam esse tipo de juzos analticos, triviais eredundantes.

    Vincius Pereira especula sobre o desenvolvimento combinado damente e da comunicao a partir do pressupostos da filosofia da primeira,compondo texto que , em forma, o retrato negativo do artigo de Alex Primo.Surpreende a concluso (p. 93): "[Provavelmente] o crebro humano aindano esgotou as suas possibilidades. Com

    toda a certeza, suas atuaisrealizaes esto muito abaixo das realizaes possveis". Ora, sendo certoque assim, ento no provvel (no sentido de probabilidade) ou (nosentido de podemos fazer prova) que suas possibilidades no estejamesgotadas. A ambigidade ou confuso assim criada oculta a trivialidade daidia e a banalidade do raciocnio, "grifado para os objetivos do texto", comoescreve seu autor.

    Quem de s conscincia e o mnimo de informao contestar o juzode acordo com o qual ainda no empregamos todo o potencial contido emnosso crebro, um slogan convertido em bandeira dos manuais de auto-

  • !njpj

    ajuda e negociado barato no mercado de idias h mais de uni sculo? Quemdiria McLuhan tem a ver com Lair Ribeiro, que por ato de vontade funda aneurolingstica nas estruturas do crebro e, assim, corrobora a seu modo areduo do progresso das tecnologias de comunicao ao princpio dodarwinismo neural (p. 104-110). Em funo disso, certamente, ter de se convir, perda de tempo justificar conceitualmente a afirmao de que "oscomputadores pensam [ ... ] cada vez mais informaes" (p. 110, grifo de Pereira).

    Estamos na cultura da interface e no h mais tempo para isso (pensar),pronto!

    Adiante, l-se de quem explora com os meios da lgica formal osefeitos da interao dialtica entre sujeito e objeto, corpo e ao criadora nasnovas redes sociotcnicas a afirmao segundo a qual "em face de um objetoqualquer, exterior aquilo que lhe superficial , o que est em contato com oespao que o cerca, ou est inteiramente localizado nesse espao". Afinal,"diante do mesmo objeto, [o] interior corresponde ao espao compreendidopor seus limites", sendo "interior tudo o que se encontra dentro desseslimites" (p. 125).

    Coelho dos Santos pretende esclarecer assim, mediante enunciadosanalticos, os exemplos bem coletados de como o corpo modelado pelacultura maquinstica atual e como "a dicotoniia interioridade/exterioridadesofreu as conseqncias do acoplamento corpo/tecnologia" (p. 130). Ocorreque no apenas o raciocnio se funda em constelaes reificadas, tornadasparadigmas da anlise, como os exemplos carecem do bom senso crtico que 227evitaria sua aceitao imediata e ingnua.

    Digital sexsations, relata o autor, oferece vibradores individuaisconectveis em rede e inanipulveis online. Cada parceiro regulamaquinicarnente os implantes que puseram em suas zonas ergenas "erafuno das instrues [que recebem do outro]" (p. 131). Assim sendo,aceitemos por hiptese, a pergunta que conviria fazer, porm, por que aindase precisa de um parceiro ? Havendo ruptura histrica do princpio de sujeio(relao do "interno" com o "externo"), algo que duvidamos, qual sua (dahiptese) relevncia tica, moral, poltica e humana?

    O prprio autor nutre essa suspeita, de que no h muito valor nissoque se est dizendo, salientando que h formas de sexo virtual "sem osembaraantes intermedirios dessa natureza". Referindo-se aos chatsdedicados interao de sentido ertico, ele afirma que "seria equivocadoduvidar da realidade dos relacionamentos cibersexuais", porque "os corposdos participantes passam por estados ou alteraes de estados afetivoscomensurveis com aqueles experimentados nas relaes em que os parceirosesto fisicamente juntos no ato" (p. 132).

    Mas, sempre? Como saber...?Pode-se admitir como hiptese reguladora, no emprica, que, quando

    o sentido da ao social o mesmo, os estados afetivos virtuais dos agentes

  • ontracampg

    so comensurveis com os mais imediatos. Nesse caso, contudo, seria precisoreconhecer o carter analtico e portanto histrico e sociologicamente trivialda proposio: enquanto forem tais, os corpos sempre esto passando pormudanas de estados afetivos; nesse plano, o formal, o beijo na boca e obeijo virtual tm o mesmo gosto, so equivalentes...

    Questes como essas so o impensvel de uma reflexo sobre acibercultura que no consegue se distanciar crtica e reflexivamente de suaspressuposies, as da prpria cibercultura, e que aparenta ufanar-se de seualmejado mas pouco lcido vanguardismo intelectual.

    Francisco Paulo Marques nos fornece um ltimo exemplo do problemaenfocado, um problema que, embora seja possvel de tratar assim, nopretendemos documentar exaustivamente. O texto do autor lida com o conceitode esfera pblica virtual. Afirma ele: "faz-se necessrio que sempre nospoliciemos no sentido de ressaltar as potencialidades dos fluxos de informaono ambiente virtual" (p. 192).

    Porm, prossegue, "no suficiente que as entidades (ou mesmopessoas) apenas marquem presena na Internet: necessrio, sobretudosaber utilizar as ferramentas oferecidas de forma correta, sempre se adequandos potencialidades e s necessidades de um determinado movimento social".Por isso, conclui, "ainda longo o caminho para percorrer at se desvendaro potencial da comunicao mediada por computador" (!) (p. 193).

    Durma-se com essa prdica cheia de civismo bvio e barato, conforme228 o qual nos dito em tom de revelao sensacional e como se cidadania no

    exigisse responsabilidade e, por ventura tendo adquirido novidade, noprecisasse de renovao: "a nova cidadania, concebida com a idia de aldeiaglobal, requer uma renovao da sociedade, chamando a ateno para aresponsabilidade pblica" ! (p. 191).

    Repassando a matria comentada, pode-se afirmar que so pertinentese sugestivos os pontos de vista e assuntos trabalhados por nossos principaispesquisadores em cultura e novas tecnologias de comunicao. Porm, saltamao olhar as banalidades de sociologia formal e os trusmos interpretativosneles presentes. Desejamos crer que esse problema intelectual no s tal,tendo a ver com as prprias fundaes histricas da cibercultura e com o fatode que todos ns, sejamos leigos ou pesquisadores de ponta, estamos nostornando criaturas de uma poca pouco propensa reflexo orientadafinalisticamente, qualquer que seja o ponto de vista, e incapaz de elaborar osmeios para compor uma interpretao de conjunto sobre suas circunstncias.

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