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7/25/2019 MATOS - Rousseau
1/63
r
I
I
I
L
ROUSSE U
UMA
R Q U E O L O G L ~
D DESIGU LD DE
7/25/2019 MATOS - Rousseau
2/63
I
I
I
FICHA CATALOGRFICA
preparada pelo setor de catalogao de
MG
Editores
Associados
Bibliotecria
Diva Andrade)
Matos, Olgria C.F.
Roussea- uma arqueologia da desigualdade. So Pau-
lo, M.
G
Editores,
1978.
124p.
Bibliografia
1
Filosofia francesa
I Tftulo.
CDD
194
desta edio
da
MG
EDITORES ASSOCIADOS
Rua Sergipe,
768 fone: 259-7398
O1243 So au lo, S
Olgria c
f
Matos
ROUSSE U
UMA
R Q U I ~ O L O G I
D DESIGU LD DE
SO
PAULO 1978
7/25/2019 MATOS - Rousseau
3/63
I
\
.
\ \
I \
Produo
- itorial: Florentino Marcondes O Angelo
Capa
Mauro
LOpes
R..,iso: Rosane
Albert
Assistem
de
Produo Nilza
lraci Silw
COMPOSIO
COMGRAF o m p o s i ~ Grficas S/C Ltda.
Rua Alvarenga. 1237
?
conj
23
-
Tel.: 210 8579
o Kdu
razo
de
ser deste trabalho
e
a meus pais
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4/63
I
l
I
I I
\
I l
\
\
I
I
Este estudo
no
teria sido possvel
sem
o concurso
da
PESP
(Fundao de mparo Pesquisa do Estado de So Paulo) que
concedeu bolsa de estudo durante sua elaborao na Universidade
e
Paris
I ,
Sorbonne.
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5/63
j I
i
I
I
I
suMhluo
Prefcio
Introduo
Captulo I - O Silncio e a Origem
A - O Visvel e a Natureza: a Presena e a Igualdade . .
B - O Movimento
das
Paixes . . .
Captulo
A
Natureza e o
Artifcio
.
.
.
A -
0Anima1
o Homem: a Identidade . .
.
B - O Animal,
oHomem:
a Diferena .
.
.
C - O Retomo do Reprimido
na
Sociedade . . . .
Captulo
Da Visibilidade Alienao .
A - O
Invisvel e a Repre3entao .
.
B - A Gnese da Oposio: a Conscincia
C - A Guerra de Todos contra Todos: a Propriedade
9
17
5
5
36
45
45
50
60
6
67
71
82
'
ConduSio -
Balanos
e Perspectivas . . . . . . . . . . . . . . . .
93
A - Restaurar a Visibilidade: o Contrato . . . . . . . . . . . . . 93
B -
Um
BalanO Provisrio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
1 4
.
C -
Um Balano sem Perspectivas . . . . . . . . . . . . . . . . . 11 2
Bibliografia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 121
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I
I
I
I
\
PREF IO
Por que
tendo
escavado as origens da desigualdade entre
os homens, Jean-Jacques Rousseau nao um revolucionrio? Este
livro nos convida a ret1etir menos acerca da coerncia da obra
de Rousseau e mais sobre a
inquietante
questlro
de
seus limites.
A
autora
procura localizar o
ponto
em que o discurso rousseau
ruano cria sua prpria barreira interna e que, no podendo ser
ultrapassada, impede a emer;gncia da idia
de
uma nova justia
e a exigncia de
uma
revolu
o para
alcan-la. A origem e o fun
damento da desigual dad' social so marcados pelo advento da
propriedade privada, porm falta
anlise
de
Rousseau apontar
o vnculo necessrio enue propriedade e explorao. A ausncia
desta ltima
impo
ssibilita
dar
desigualdade um contedo his
trico e na falta deste, no
h como
conceber uma passagem
dialtica das contradies '. Eis porque as duas solues oferecidas
pelo ftlsofo - o con trato social e a pequena comunida de de Cla
rens - a pa re cem mais como substitutos para a injustia do
que
como luta co
nua
sua causa. Ser desnaturado porque cind ido da
atureza e socialmente dividido, o homem jamais recuperar
a indiviso da origem quando , silencioso e disperso, colhia os frutos
da terra, 'aplacava as necessidades e divagava no murmrio das
paixes benevolentes. Quando os homens se reunem j se sepa
raram da Natureza e a sociedade , precria substituio, incapaz
de
re
fazer a urudade indivisa do originrio. Buscando a origem
perdida. o homem social apenas encontra substirutos para ela ,
mas porque a perda perverso , perversos sero os substitutos
encontrados e nascendo acorrentado aos grilhes do destino de
tudo quanto avm depois da queda o
homem so
cial homem
sem esperma e sem redeno. Desnaturar se ser culpado e tor
nar-se suspe
ito
no co rao de uma alteridade pervertida e cada
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I
I
I
'
i
I
\
I
I
I
I
I
I I
I
l
1 .
alim nta
a
suspeiao
.
. nas agrava a
culpa
e e . diz
vun
ento da histna ape . diateza
do instmto,
mo
ara a liDe
d
rfectibilidade, substituto
P .
is
o
homem progn e
A pe at t e sim ambigua,
po
d
oo-raa
1
. . no di e
ica
d .ar.:or.a e para a eo>fr
O
gana,
do e se aperfeioa
em e-'e- ' -.--
po
rque desgraa . d
. ara a morte.
so po
e-
Socializ.ar-se e nascer p . discurso
que
a temat:lZ.a . .
Histria da perversidade, o . sta uma pista
para
adivinhar
ria ser perverso
tambm
.
Na:o
s e n ~
da
obra de Rousseau t a l v e ~
mos que a
questo acer ': a n
oerncia
no
s e ~
um
c o n t ~ e
.
uro falso problema . e . escapasse milagrosame n
seJaso no seria exigir que o d i s e ~ o suscita e
provoca
para q u ~
: t ~ a dessa histria ~ r v e ~ q u ~ r e o mal? Mais fecunda sera
tomaS;e urn
bom
d i s c u r ~ . so d
discUfSO
e que, ao faz-lo.
se . gue os linUtes
0
- percorre
a leitura que mterro grnca
rememoraao
que -
desvende o sentido dessa eru homem feliz no tem
mem
a obra onde lembrar s b e r f q l i ~ e d o d e silenciosa. A obra
per
afirm
que a e ci supnmu-se
ria e falar
ar
.
tentava
funesta para
versa e nela a busca
da
ongem ria. a linguagem, o pensarnen-
. sem conseglll-lo . A
roem .
.
lembrar. escrever,
a S1 mesma . da erda
ongmana,
.
to e o trabalho so
SlgllOS b ~ o da
obra seja a repetiO mcan
fazem com que o tra . . discurso est a procurar.
~ d a perda e da d i v i ~ o CUJa o:Og;{: ; eda sua plena manifes-
de
Rousseau no e descn
A obra ocu e
o al
0
visvel se ta
ta .Como o
diferente
se toma d e ~ a .estas questes, escreve
resena se faz ausente? A respos histria emprica. pois Rous
~ ~
no
deve ser buscada em uma riam determinado o advento
. d g quais os fatos que te . rincpios que ator-
seau nao m s e sim quaJ.S os P
da
. ~ ~
naldade
enUe
os
homen
I W
ia
da
Desigualdade trans-
. a
Arqueo
s
possi
vel. Dnamos que dental Freqentemente o
naram transcen . . . .
cone no espao de urna rustona a consideram o principiO explicau
intrPretes da
obra
rousseauruand
comparao
feita entre o s t a ~ ?
da desigualdade como
fruto
visto que em Rousseau a cnU
~ ~ n a t u r e z a e o estado de soCledad: em sua oposio
absoluta
face_
ca do social encontra-se allceraf
co
tradicional
da interpretao
.
ao
natural.
Olgria
deslo:
e
e ~ t a d o
de
natureza
que Rousseau
' ' atravs do conceJ . aldade mas atravs do conceitO
n...... d desigu fu da
fundamenta a teona
Ea
deslocmento interpretativo n -
de natureza
humana.
sse . -ia incompreensvel a preocupao,
ele tornar se
mentaL pms sem
11
presente no "Segundo Discurso , quanto s transformaes ocorri
das
no modo de ser do homem. Destarte, tanto o
conceit
o
de
ho
mem natural quanto o de
homem
social
bem como
a passagem do
estado de natureza ao de sociedade enoontram-se fundad
os em
um
princpio
nico
e slido a partir do qual possvel narrar o
drama
do gn ro humano Assim, a
pergunta
pela origem da desigualda
de
entre
os
hom
ens
deve passar pelo m
omento
em
que
os
homens
eram
iguais
na
diferena
puramente
natural.
momento
da
auto sufi..
cincia e da
piedade,
momento originrio da liberdade e da esponta
nea identificao com o outro no
sofrimento
. Se a natureza h:uma
na
livre
e
piedosa em
estado de
natureza
porque neste estado
reina a
abundncia,
a satisfao
das
necessidades no ultrapassa o
desejo
natural. o mundo feito somente do aqu i e
do
agora plena
mente
visvel e sua visibilidade transita entre os homens
para
os
quais o simples gesto bastante
para
a comunicao e a dor visvel
do outro, suficiente para despertar
um
eco nos demais qu e no
precisam "
entend-la
para senti-la em sua prpria carne. A per
gunta
pela origem
da
desigualdade converte-se, pois, em
q u ~
acerca
da transformao ocorrida na natureza humana e que a fez
passar
do estado de igualdade ent re homens
auto-
suficientes ao
estado de desigualdade entre homens que se
tomaram
depen dentes.
A Arqueologia da Deslgualdade uma teoria da alienao. Com
preendemos , ento , porque a autora completa a pergunta sobre
a origem
da
desigualdade oom
uma outra que
lhe confere pleno
sentido: qual a origem da submisso? Sem a questo acerca da
obedincia
a
outrem
seria impossvel determinar o momento em
que
a diferena natural transfigurada em desigualdade social,
pois esta nada mais seno a forma da o ~ o e das relaes
entre
homens divididos.
Olgria
Matos
enfatiza a afirmao de Rousseau segundo a
qual a
propriedade
privada marca o advento do estado de guerra,
.
mas
no o advento da sociabilidade, de
sorte que
o surgimento
. da propriedade privada precedido de
outras
desigualdade que
a preparam, sendo mais um
fruto
delas do que sua causa. Da mesma
m a n e i r ~ O
lg
ria mostra como o uso da fora e a exigncia do
reconhecimento ent re homens que se tomaram oonscien tes no
so causas da submisso, mas apenas seus intrumentos de conser
vao , sendo necesSrio buscar
aqum
delas a gnese da obedit n
cia.
Assim, tant
o o advento da propriedade privada
quan
to o da
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8/63
,I
I
12
dominao devem pressupor outras alteraes no modo de ser
dos homens que as tornaram possveis. Eis porque a autora se
detm
na
anlise
da
origetn das lnguas.
na
compreenso do signi
ficado da passagem
da
sensibilidade e das paixeS
para
a conscin
cia e a razo,
na
interpretao
da
gnese do
mundo
do trabalho
como mundo
da
carncia. Essas modificaeS so camadas super
posta onde a d.,;guaidade
. ,
,.djmenta e cujo perlll o oaptulo
deste
livro
desenternun
com
pacincia. Aqui a arqueologia geolo-
gia.
No estado de natureza. plo ideal
da
origem, reinam a pre-
sena e a visibilidade. O nascimento da
Ungu.ageiD
e o advento
do trabalhO marcam a separao
entre
o hometn e a origem. pois
a fala relao
com
o ausente e o trabalho, criao
do
possvel.
Com eles surge a conscincia
do tempo
e da
morte,
roas tambm
a da permanncia e a
da
identidade. A conscincia de
si
desco
bre-se como idntica ao saber-se
diversa
do mundo natural e das
demais conscincias que a cercam-
Para
que
a Unguagetn, o traba
lho. a conscincia do tempo e da identidade surgissem foi preciso
quo
a ade< O intitiva ao imodiato codo"" p a = a olgo in.:rito na
natureza humana desde a origem: a perfectibilidade. Todavia. para
< 'lo
'
a ocupar o lugar do inStinto, futiugUindo o ho
mem do animal. e para que a conscincia viesse a ocupar o lugar
da pu
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9/63
Os possuidores c o n v e n c e ~ o os demais acerca da d e p e n d ~ u
cia necessria e sem este convencimento a
submiSSO
seria imps
s wl contudo, a \ingll'&em do ongodo s foi pess"'l .,.ando
toda
a superfcie
da
Terra
j
se
encontrava
repartida entre algunS
que
P""
defondore.n
seus bens
o se apassat= d" ' de
outrem
pcufSO
do
ri> o
do forte
transfi
gusa-se em
w.c= da l""'tnnidade? Co.no
pSS"'l
. ,se
,novi-
,neoto sincroniZ'-do
da propriedade
o
da >Uh- do
trab.Jho
e
da linguagem?
Para responder a
estas
questes Olgria Matos
explcita o de.,.vo\vimeoto de
uma
opOSiO
que . , \ou
a sepa
nfo definitivO
entre
o bo.nem natural e o
bo.nem social '
o de-
semolvimento
da opsi:io
entre o ser e o parecer. H
em
Rousseau
um . ; terna
de
oposiO'
quo
vai
do
plano
ontolgi> ao plano
pnlticO'
ser-parea>r; .ter-oi O-ter; fortoom
t o
" n>o produrtvo o, IDca-
p
poSIes
que descre>era '
pode ul tnp=n
a
di-
ermanecendo .
vendou Ro pnsiOnerro d
os
con.tlit
usseau pod r os cuj
0
ostado de
0
'P n tentu o ' ' o n g = d e ~
guerra. mas no terecer remdios
pera a fora. Or" o q sua supress o. No estado de p ~
""' ue ad d guerra
atar e somente uma fo ~ o pela fora, a f o ~ pode 11D
a
ceda 1 ra
maior po
d
r -
arre-
ugar ao poder . e conservar. Para
lar.
Ao
co p n = o
uoivorsaliz quo a for-
lidado
ntrato
soei.
caber..06
.......dade , e atravs
dela
R m
servidos para que senha ousseau
por alegres trabal h , res benevolentes ~
aaores
. Malgrad
- J a i D
o seu fracasso
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10/63
\
i
16 _
0
dese}o de unir
al Clarens
exprunem ~ o
subs-
Contrato
Socl e . O desejo
de
d
porm.
0
. d nenas reunua. . restauran
ns que a socleda e. ai: - . . ; r r i n ~ r i a tenta realiz.ar-se s da
home indiviso
0 1 1 ' - -
'
os outros
at.raV
tituto
fmal
para a sena dos homens uns a Le. no Contrato.
a
a
,,;.;bitidade e a pre
u
diano
Porm.
a
1,
o
rasuo
..,. d labor
co
~ P t l l apagar
Lei, da festa e b
ta.
em Clarens. no
r---da
origem no re-
festa
e_ a
a l e g r e ~ ;
da
g u e r r a . ~ a
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lriCO.
do g e n ~ a l
da _SOCJ.ed.ade n
primado
do eUCO ~ b r e b poo r e v o l u c i o n r i ~ o
diJne o
p r e s e n t ~ -
6 co do arqueolglCO so ~ ; ~ ~ ~ o do origin-
h
o biSt n
n r > < e
e
do apenas para g a um salto em pleno ar. o assado, mas de
grito, prepara-se
~ ~ < N o se trata
de conservar p
lhida pela
autora.
,,
- ~ : ~ . r suas esperanas
r ~
Marilena de Souza Chaui
ulho de 1977
. dade de
So
Paulo,)
uruveiSI.
INTRODUO
No se
trata de
conser
var o passado, mas de
realizai suas esperanas.
(Adorno)
Como as paixes, alterando-se insensivelmente, mudam de
natureza; por
que as carncias e desejos mudam de objeto;
por que
,
medida
que
Homem Natural se apaga, a sociedade s revela ao
olliar a reunio de homens artificiais e paixes fictcias?
A preocupao
do Disalrso
se faz
sentir em
seus avanos
e recuos,
em
seus acordes e pausas, sob
cada
signo obscurecido
e cristalizado pelo olli.ar desnaturado. Existiria wna perverso
inscrita
j
na
prpria origem? O claro-escuro do Discurso impede
a viso, e o que transparece, desaparece. Dever-se-ia colocar a ques
t.Jo de outra forma, para recuperar o ser mais quimrico e mais
extravagante que
s
o delrio inventa . O
Discurso
uma obra
solene
1
:
dedicatria, prefcio , evocao
que
percorremos lenta
mente, como
se Rousseau quisesse exprimir, pelo smbolo, o es
pao que nos separa do comeo primeiro. De sua Genebra.,
passa
evocao de Plato e da Academia de
Atenas
, para deixar surgir
finalmente a floresta primitiva - de onde decorreria toda a his-
tria: homem, de qualquer regia:o que sejas, quaisquer que
sejam tuas opinies, ouve-me: eis tua histria, como acreditei ~ l a
1.
A expresso de Starobinslti, in Je4nJacques ou u . a Trans-
ptZTence t
J O
bsracle.
http:///reader/full/realiz.aIhttp:///reader/full/realiz.aI7/25/2019 MATOS - Rousseau
11/63
t
\
18 -o
mentirOSOS
mas
us
semelhantes, C\ue
sa trai
esta
natu-
. no
nos
livros de
te ,
l Para reencon
tempo
lido,
no mente
nunca . seja
ao
mestnO
na
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C\ue
lo
a
um
olhai
C\ue
homem natural
reza, ser p r e c ~ o
f ~ e i ; J c i o
na dimenso ern (\U:
~ l h a r C\ue lhe
audiO e fala,
tsto
,
eza
diversificada.
p e ~ s
lho
escuta e fala."
. . diante
da natur
reender. O
0
" povos
vwe, . d
escutai
e comp . existe
enue
os
coe:x.tenSJ.vo)
po _e estnO silncto C\ue de Geral
no t e ~
AC\ui donuna
o_ rn resso. onde a
Vonta
d ,
sua
prpna
- eXlste
0
P
0
Esta
o e
felizes"
onde nao
alavta porC\ue . . A AIC\ueologla
dade
de
tornar a
P_
sses
contraditnos. s i l ~ n c i o
necessi _
e ~ ; r l P J O
mtere - deste
outro
nao ;u >
o
palavra.
pOlS deste
s l ~ n c i o
e a
ms
ante
ao
anterior: o SigO
b
....... a
ruptura
nada semelh
nue perten
...,......
signO -
em omento em
.
-
C\ue
se
t o ~ a
e ser rnudo,
c o ~ o
no rn r ser tornado intel-
atual
no
maiS
pod
eza;
0
sujetto acaba cultura)
C\ue
lhe
. cii.sCUfSO
da natur da natureza
a
clll ao
" .
do outro
...,.,ente
no djscUISO .,.,.
0
a:m
routua
,.......
. - . . . nue se e.....-r d
irope
o
silncto. . tre dois silnctos
vil
'leste
esta
o
A
obra se enge en
al e o
do
homem
C1 .
de urna
rnul-
d
hmnem
natur .
os de
alegna . -
mente,
o Ouo ao l o n ~ e
os
gn a}cios e cidades;
ve]O
Rou.sseau . . . construtremse p forrnarern-se. esp
.t"o insensata;
veJO
. cio vejo
os
pavos
das do
mar
;
tlU
leis o comer '
mo
as
on
cerern as
artes
, as , se sucederem-se.
co
d seu territrio para
disSolverem-
pontos
e hor-
fua.Iem-se.
'dos
em
algUilS
o
mundo num
I1S
reUDl sf
arem "
vejo
os home
utuarnente e
tran o ~
e uilbrio
em
repouso
.
se
devorarem m . d
dia
em C\ue
o
C\
de.
ou
de ser a
a1 , 4 A partli o h
em
no
t:x
rvel deserto . a histria do orn . ndervel, C\ue
da
natureza
foi rornptdo, centro de gravidade
d l l l l ~ z
mais, o de-
. ada
de um assim ca a
v
procura obstm instante , agravando, ,
se
desioca a cada , . alternativa a tornar
se(\ui.lbrio. da natureza ser u n t ~ ~ se fez ilegvel, estra-
0
reenconuo
undo
C\ue h
mUl
em
aparece co-
possvel a l e i t ~ de ~ : e no fundo do \Ual ~ : : . a memria
do
s
nho
a seu prpno sen .ante. Rousseau se re
rsonagern err
c
omo
urna
pe
. P
' e de l1ngaute, . '
DiscO
UT sur
l
Qngm
Jean-Jacques Rousseau , 43 Ed . u SeuiL
1 .
196
2 paris. h. p tP I An.alyse. n
7/25/2019 MATOS - Rousseau
12/63
;
.
Genebra
- q u e
toma oonscincia de >i. de ' ' in. . , . . . . , e da
Ol'
neitintO
,
.
LaunaY,
op. cit P 8.
8.
ldetn,
op. cit p. 8.
maigu.Jdade. A Origem encontraSO pelo e no
im,ginrio que, em sua t t a n S I ~ n c i a . ou desetda defim
wamente o
homem;
ohn lmm '' degenetOU, desfigutouse
quase que
inten=erite,
sem
"ode'
teeocontn r e . n t a .
ontes de roais oda.
- ocu/l..,ro;
natu=> "rimeita suMiste. tnaS
"""ndida;
sob
mortalh dos artifciOS, origem
,_..-..
como senwre.
in
tacto. Te""
defendi.W "''
ve7.0S .Jtemativaffiente,
"''
vezes si
xnultaneamen e.e qualquer modo, afastamo-nos de F. Engels. que v
no
Anti-IJUhrin8 um
omUfibo
dialtiCO deole
o
DisCUI '
- onde o
homem
vi,. isOlado
let
feliz
~ o pelo
Emt1io
- que
devet
.J feito
"""vivedo l t . mostta que es
ta
"unidade" n> "' encontta na peonanncia dos mesmos tem>'
o-
l"'is
a unidade
da obta ni O
, com efeito, mesma
co""
que unidade do
pensamento"' '.
A unidade
. ,na
onconttada.
de ,refotncia.
n3
monoira de.
o
7/25/2019 MATOS - Rousseau
14/63
r
I
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1
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'
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I
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I
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I
I
I
I
I
I
.
CAPITuLO I
O
~ N I O
E A ORIGEM
Do-nos gnvemente por Filosofia os sonhos
de
algnmas noites
mal
donn.id.u. Alguem me dir que
sonho tmlbm. Co nco O o. as o que os outroS
no se
importm
em fza.er -
eu
dou meus sonhOi
por
wnhos,
deixando buscar
se
tm
algo
de
t l
pessoas a.rordadas.
Em l o j
A O Visivel e a Natureza: a Presena e a Igualdade.
Todos os filsofos que examinaram os fundamentos da
sociedade, sentiram a necessidade de recuar at o estado de natu-
reza, mas nenhum deles chegou
at
l
.
1
No pre fcio do
Discurso sobre a Drngualdade
quando Rous
seau procura reconstituir o estado de natureza, refere-se a ele como
um estado ao qual o homem no mais penence, que no existe mais,
que provavelmente
nunca
existiu e nem vir a existir; e na primeira
verso do Contrato Social ( 1756) diz que a idade de ouro foi sem
pre
um
estado estranho
nature
za humana. A descrio
do
m
m
natural
no
se
r uma
verdade histrica
mas a condi
o
hipottica
1. Rousseau, D.OJ. idem, p. 13 2.
7/25/2019 MATOS - Rousseau
15/63
I
1.\
I \
il
\
I
I
1
\ , I
I
\
I .
]
. . a
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essencial
do homem.
Quais as ex.pe-
que
poder
uurrunar
conhecer o
homem
natural
. -
. ; . ~
necessrias
para
se chegar a . . dade? 2 Rousseau
nen.........
. ealiz-las no
seiO
da
sacie . .
e
quais
os meios
para
r -
~ : r :
uldade
mas
prope
direes
nhuma
soluao
UlllC
animais
no aponta
ne
ist .
na observao d
os
P
ara abord-la.
Uma
delas c o ~ uab.
estudar
o homem selva-
.
tural
poder-se-Ia
tam
em
. dadem seu me10
na
'
vive
em
sOCle
e
e,
ge
m -
tendo
sempre presente qdue este
s t a J
do narural
no
mais
di tarite o seu e ,
P
ortanto,
apresenta-se
J
s Iha
no
fsico e
no
moral,
al
as
a ele se asseme
o
homem natur
, m
rais
la vida social.
apesar
da alterao
dos seUS t r a O S - ~ r eUS
sentidOS, sua
nudez,
A
fora do
selvagem,
~
. d 1
tes
sua
diferena
com
.
_ suas parx es m o
en , . .
sua
despreocupaao, . .tir a
Rousseau reconstltwr
o
J,.. i in ao futuro
tudo
IstO perou
.
r e ~
' do
"saa da natureza
.
homem tal como
devia ser
~
'silncio
da
origem,.' no
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tad
atura
dorruna o . - . lingUa-
No es
o n
nica
ex.Istencta -
no h nada a
dizer'
onde
a natureza
r
a . a voz
muda
pois
no
gem silenciosa dos gestos. .
n d ~ ~ : s e ~ n e l a .
Este
silncio
r u i ~ o -
resenta a
natureza
roas lden
1 .
A
primeira lin-
rep - silncio
do
se vagem. . .
so
rico de
expressao,
e o . uruve--1
mais
energtca, e
'
l i n m ~ ~ > e r n m..al5 I:> . . . . .
de ecisar
persuadir
homens
... . . ,
ssidade antes pr -
a nica de
que ~ v e
nece ( )
Quando
as idias
dos homens
reunidos, o gnto da ~ a t u r e z a ul.. ip. licar e
entre
eles se estabelec eu
difun
dir
e a se m '
rosas
comearam
a se . .
ocuraram
signos
mais
nume
uma comunicao maiS
e s t r e l ~ pr
.
li
as
inflex.es
da voz
uma linguagem
mais
extensa:
multip
caram
s ~
mais
expres-
e por sua
natureza,
e juntaram-lhes
os
gestos que,
de
uma determinao
ante-
sivoS
e cujo
sendo d e p e n ~ e
menos d esta depende
menos
de
3 ' . rsal a , ; ' ~ > e m
o g
rior.
Mais uruve '
...... . . . . . ,
distncia. um "meio de vislo -
convenes; o gesto
s u ~
uma
d o excesso de distncia
ou
de
dade e
p e ~ d e
sua
eficoa
.
~ ~ e "A
ao
do
movimento
'
mediaes
mterrompe _a V1Sl ou mediata,
pelo gesto: a
" imediata pelo tocar, . od
diz Rousseau,
rimento do brao, no
p e
. d r termo o
comp ...
~ l o
P
rimeua,
ten
o
po
.
ai to
longe
quanto
o
irtude de uma J.inguagem que sabe dar ao imaginrio
todas as caracterlsticas da presena". (T. er O. p. 344 /5.)
6. Rousseau, id ibid . p. 152 .
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16/63
8
dade
das formas
, 7 A limpidez do ar
e
a
UitenSJ
,
h
tanto tempo "qualidade
do
olhar' ,
.b da ,.;.,,.oen1 mas uma
no so
um
atr
uto
P--t> . .dad do ar e o obst-
l faz desaparecer a opao e
que de
um
s go
pe
d St birukis a Nouvelle Hlolse
culo entre
s homens. Segun
o ar ~ r n c i e o vu.
prope um devaneio
prolongado so
: a .
o da montanha lia-
Desde o incio do romance, a libe da do vu
.gnifi -
de uma
p:usagem
ra
,
laistmne
adquire a SI
caao .edad
grandeza. a beleza
lh .. magine a van e, a
desYendada aos o
os:
. .
razer de s
ver
ao
redor
de
si
de mil grandiosos e s p e t c u l o s ~ estranhos plantas exticas
~ t o s inteiramente novos, p s. , tra natu-
l . servar de
uma certa
forma
uma ou
e desconhectdas, de
ob do Tudo isto provoca nos
de encontrar-se num novo mun . . la
reza e . . .
1 .
o encanto
aumenta
mm pe
olhos
uma
mescla
mexpmruve, CU]
. . os traos mais mar-
sutileza do ar que toma as cores
m u ~
distncias parecem
. todos
os pontos de VISta,
as
cados, reaproxuna . .
onde
a densidade do ar cobre a
terra
menores
do que
nas
~ l a r u c t e s ta
aos olhos mais
objetos do
com
um
vu, o
honzonte apresen
uece-se de si
mesmo, no
que
parece
conter;
e s q u e ~ ~ s e
I
d t o
esq
ncia
que
faz reinar
uma
se sabe
mais onde se est ultaneamente
. d
parece
IDaiS vasto e snn
atmosfera mgica:. o
m u ~
o . a "infelicidade
da
distncia das
tudo
se toma maiS
prxuno,
pOis
coisas
atenua-se'\
~ b
0
omnio
da transpa-
Rousseau, l l l l m .
A Botaruca.
em
. . bolo da inocncia perdida
rncia
e da visibilidade e .enge-se emp adsunJ "desenhou-se quando
. . O
al
diz
Bento
r o r.,
na Histna. m lhar quando
0
homem
voltou-se
bli dade dos o es
algo escapou
pu l ,rivado e secreto: o mal est
sobre si
mesmo,
cavando
um espao
P
nhuma cam
ara secreta
1 J que ne
d lado das trevas e do lDVlSlve. . . da lanta a
o fi
lcula
que a superftcte p ,
se esconde
sob
esta
ma pe
s
"ncias e coincidir nova-conscincia
pode
abandonar-se apare
,, 1
o
mente
com
as suas sensaes .
7.
Rousseau , Premire Parrie.
Let:re XXIII , Pliade, O.
C.
ll , p.
78
8.
In T
et 0., p.
102.
.
Hloi u ci1. Starobinski,
idem , p . 10:::..
9. Rousseau, La Nouvelle_ o 1S ' 16
p
78 Rio de Janeiro , Gta-
10.
Revista Tempo Bro:nleU O
n.
' , . '
n abara
29
Mas a que distncia encontra-se _o homem em relao
visi
bilidade perdida? Qual a espesscra que os separa. qual o dpao
a ser transposto para reencontr-la? Pois se a natureza expulsou
o homem e a Sociedade persiste em oprimi-lo, deve haver ao menos
uma forma de inverter a questo a seu favor, procurando-se a "so
ciedade
da
natureza
para
meditar
sobre a
n
atureza da s ociedade."*
Para isto, torna-se necessrio
partir
em busca
das
origens; o
homem
pode cbamar-se homem e excluir seu outro
do
jogo
da
.. uplementaridade", quer dizer, recuperando a "primitividade"
da natureza, da animalidade, da infncia e da loucura: '1'ois
como
conhecer a
fonte da
desigualdade entre
os
homens, se
no se
come-
ar par
conhecer a eles
mesmos(
.. . Semelhante esttua de
Glau
co, que o tempo, o mar e as intempries
tinham
desfigurado, e a
tal ponto que se assemelbzva mais a um animal feroz
do
que a um
deus, a alma humana alterada
no
seio
da
sociedade
por
rnilh.ues
de
~ u s s sempre renovadas,
pela
aquisio de uma
multido de
conhecinlentos e de erros, pelas
mudanas
que
se
do na cons
tituio do corpo e pelo choque
contnuo
das paixes, mudou
por assim dizer de aparncia, a ponto de
se
tomar
quase
irreco
nhecivel ( ...
);
fcil
ver que nessas mudanas sucessivas da cons
tituio humana que se deve procurar a origem primeira as
diferenas que distinguem os homens"'.
1 1
pela linguagem que Rousseau pode marcar, acentuar e
radicalizar os traos do homem no estado puro de natureza. Neste
sentido, o Ensino sobre a Origem das Lfnguas quer reconstituir
o movimento pelo qual os homens "esparos sobre a Terra so
arrancados
de
seu eSiado primitivo; e assim
que
Rousseau poe
escapar ao ' 'erro dos filsofos" que projetam no homem primiti
vo a imagem deformada do
homem
que vive em sociedade,
qne
fazem
da
sociabilidade e da linguagem os critrios da humanidae,
impondo limites natureza. Para Rousseau, quando Hobbes esu
belecia o estado de natureza
como
estado de guerra. de violt nc:ia
.
Esta sena,
segundo UYi-Straus.s . a mensagem indissol e l do o ~ t -
trrno Social das
Canas
S o b ~
a Botdnica
e das
Rivenet
(In J e a n - J a ~
RoUSSeau, "Fundador de las Cincias del Hombre , Presrncia de
. 16) .
11. Rousseau,
DJJ.. iem
. p.
34.
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17/63
'
I I
I 1
1
I
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I
li
I
I ; \
1
1\.
. 1 1
' i I I
I .
I '
1
O
e
de
angstia,
na:o
fazia
outra
coisa seno
dotar
seus
h o ~ n s
natura is de qualidades propriamente sociais. Ao confundir o
homem natural com
o
civilizado (ou mesmo com o selvagem ),
Hobbes amplia para a idade primitiva o que
s
verdadeiro na
seqllncia da Histria:
O
grande defeito dos e u r o p e ~ ffiosofar
sempre sobre a origem das coisas segundo o que
se
passa ao seu
redor .
1
2
O que Hobbes via no comeo
dos
tempos, Rousseau v
no
fim: o reino do egosmo. Rousseau
se ~
natureza
do
home:
''Nascemos sensveis e, desde o nascunento, somos afetados
diversas maneiras pelos objetos que nos cercam. Desde que co
meamos a ter, por assim dizer, a conscincia
de
nossas sensaes,
estamos preparados a procurar
ou
a fugir aos objetos que os p r ~
duzem;
primeiro, conforme sejam agradveis
ou.
e ~ d v e J S ;
em seguida, conforme a convenincia
ou i n c o n ~ n e t a
que en
contramos entre ns mesmos e
estes
objetos e, fmalmente, con
forme os juzos que construmos sobre a
idia
de
felicidade_ ou
de perfeia-o que a
razo
nos
d.
Estas d i s p o s i ~ se
~ ~
ou
se
fortalecem na medida que nos tornamos maiS seD SJ veJS e
mais esclarecidos; mas corJStrangidas
por
nossos
hbitos,
alteram-se
mais
ou menos por nossas opinies. Antes desta alterao, elas
,.. 1 3
so o que
em
ns chamamos a
natureza . .
A distino entre homem
natwal
e
homem social faz
apa
recer a
natureza como
um
absolulo -
o
homem
natural
na:o
poderia ser destrudo no interior do homem social - de outra
maneira a educao do Emilio seria impossveL*
12. Rousseau., E.OL. cap. Ylll, idem. p. 192.
13. Emile.
v.
II,
p.
6, Ed.
Hachette.
.
. Se tomamos a Nouvefle
HloT e,
vemos que aconteceu mwtas_ v e z ~
a Saint-Preux, nos instantes em que faz a
stira
dos costumes ~ r u l e s
rto
abna.s fteis e ~ . cenas reapanoes IIDpre-
evocar, com re:qx: -
d
h
vistas do natural que desarticula, no momento, a ronf JgUilillO os _-
bitos e convenes socia.. P. BUigelin in
P
E. mostra que a deDtlltJUQQO
' realidade uma dualidade : o homem mundano compe1: de um
:so
e, na , . . .
fundo
e de uma mmc r sob a qual permanece escondido o pnmezro,
=o entanto apagu-se. Por esta
raz.o,
tem sentido o projeto de Rousseau:
,.,.. diur a vida de tua espcie que vou descttver de acordo com
J:., por ~ ' hb' uderam de-
as qualidades que recebeste e que tua ~ u c a o e tew t01 P
pravar, m'as que no puderam destruir .
JJ
.O.J., idem, p. 140).
I .
31
O homem natural uma totalidade, o inteiro absoluto ,
a unidade
com
relao a si mesmo, e s pode ser reportado a si
mesmo
ou
a seu semelhante; o homem
social
somente uma
uni
dade fracionria , que s tem sentido relacionado a um denomi
nador comum e cujo valor encontra-se em
sua
relao ao
inteiro
que
corpo
S>cial :
as boas
instituies
sociais
so as
que
da melhor
maneira conseguem desnaturar o homem, retirar-lhe a existncia
absoluta para dot-lo
de
uma relativa, e transportar o
eu
na Uni
dade comum; de
tal
forma que cada particular no se
aaedite
mais uno, mas parte da
unidade,
e seja apenas sensvel no todo .
4
O
estado
de
natureza
apresentado como historicamente
anterior ao estado civil. A natureza este grau
zero
da Histria
onde o homem natural silencioso e estpido ' age, no entanto,
como homem. Este homem no tem Histria, encontra-se entre
os animais,
para o outro como para
si
prprio, sem
c o n s c i ~ n c i
e sem memria, sem vcios, sem virtudes,
sem
razo. preciso
sair
da Histria
caso
se
queira tomar como
ponto
de
partida a
imagem
de
um homem ainda prximo da estupidez dos animais ;
preciso afastar todos os fatos
1
5
pois estes sa:o os traos
his-
tricos do homem e fariam com que parssemos na Histria; pren
der-se aos fatos seria penetrar nwn domnio j afastado da origem.
Para recuper-la, Rousseau adota as narraes dos via:jantes que
viveram entre
os
selvagens,
pes r
destes
j
estarem desnaturados,
diferenciados pela cultura: mas encontram-se to distantes
de
ns
que se
voltarmos
a
olhar. em sua direo estaremos, ao mesmo
tempo, olhando
em direo
da origem.
Por
trs de homens co
loridos por pinturas e plumas, o olhar des-
7/25/2019 MATOS - Rousseau
18/63
l
r
I .
.
l i
I
32
Rousseau articula a significao da origem (essncia, pre
sena.
nascimento,
renascimento) compreendendo as relaes
entre
o
Ser
e o
Tempo
a partir
do "agora". por esta
razo que
o
homem
selvagem enfrenta a morte sem angstia; para ele o tempo
o
presente,
o
presente
sem espessura:
"Sua
alma que
no
por
nada
agitada, entrega-se ao nico
sentimento
da
existncia atual
sem nenhuma
idia
do
futuro,
por
mais prximo que seja, e seus
projetos,
limitados
por sua vista, se proiongam somente at o fnn
do dia.
Tal
ainda
hoje o
grau de
previso
do
Ca..rata: vende de
II1llil.M o
leito de
algodo e vem chorar noite para recompr-lo,
por no ter previsto
que precisaria
e i ~ na prxinla noite".
*
1
7
O homem primitivo vive
numa
iminncia:
no
nem
"natu-
reza" nem "sociedade", j
apresenta caractersticas distintas
com
relao
aos
animais
-
uma ' 'quase sociedade
", "sociedade nas.
17. Rousseau., idem , p. 49-50.
. Para delinear a constituio original do homem, Rousseau volta-se
sobre si me
IDO: ' "Come=os
, pois.
por
nos
tomannos
ns mesmos, por
entrumos
em ns,
por circunscrever nossa
alma
com os mesmos limites
com que a
natureza
dotou nosso ser, comecemos,
numa
palavra,
por
nos
reuniimos
onde
estams a frm de que, procurando nos conhecer, tudo o
que nos componha venha, ao me=o tempo, apresentar-se a ns. De
minha
parte, penso
que
aquele
que
conheceu melhor
em
que consiste o eu humano
est
IIlllis
prximo da sabedoria; e
da
mesma forma que o primeiro trao
de um desenho se
compe
de linhas
que
o realizam, a primeira idia do ho-
mem de separ-lo do que no
ele . : (Leme Sophie, Vl , Masson, cit .
Burgelin,
op
cit p. 143). O estado de natureza , antes
de
mai nada, uma
experincra vivida de
que
se tem uma viso
direta: "li beno da
inqwetude
da esperana, e
ceno
de perder assim pouco a pouco a do desejo , vendo
que o passado j no
me
era nada, procurava me pr inteiramente no estado
de
um homem
que comea a viver '. (Rousseau,
E
mile
e Sophie.
O C.. il l,
p. 18 ,
Ed. Hachette).
Trata-se do
retomo
presena das origens;
no
corao"
isto se passa depois de cada funesto
acaso", que
pode recompor a vida:
depois da fora divina que quis que o homem fosse socivel (no Ensaio Obre
a Origem das L fnguas); depois que Rousseau foi derrubado por um "cachorro
dinamarqus" ( Deuxime Promeruxie ) ;
o acordar que significa a vo
lta
pura presena,
sem anJecipao .
sem lembrana, s
em
nenhuma comparao
ou distino, sem articulao . As.sim se apagam a memria e seus signos,
tudo se toma
natural
na paisagem, tudo visto pela primeira vez.
33
cente"
. ela que
permitir
a restaurao
do "tornar
-se cultura
da
natureza*".
A linguagem, a moralidade e a- razo so faculdades
virtuais
que se obtm pela vida em sociedade, j que o ser que corre pela
floresta,
que se
alimenta de frutos, que l
uta contra
os
animais
ferozes,
que
passa
os
dias sem histria e
que,
talvez,
impropria-
mente chama-se
homem,
no necessita disso
para
sobreviver; a
sociedzde e a fala originam-se nele
sem
lhe ser,
porm,
essenciais
ou constitutivas; o
homem
primitivo .poderia
ter
atravessado
toda
a existncia sem precisar nem de relaes
nem
de
comunicao.
O
Emio
refora
esta
idia:
~ n q u n t o
s se conhece a necessidade
fsica, cada
homem
se
basta
a si mesmo; a introduo do supr
fluo
toma
indispensvel a repartio e a distribuio
do
trabalho ;
pois, embora um
homem
trabalhando sozinho ganhe apenas a
subsisttncia de um homem, cem homens trabalhando juntos ga
nharo o suficiente
para
a subsistncia de duzentos. Assim. quando
uma parte
dos
homens
descansa,
preciso que o consenso
dos
braos dos que trabalham supra a ociosidade dos que no fazem
nada .
1 8
A
desnaturao
assinala o fun da independncia
do
indi
vduo, mas a
socializao
imp
li
ca o desenvolvimento das
poten-
cialiddes de
sua natureza. Por
entre as vicissitudes
da
Histria,
o homem atualiza as suas faculdades virtuais, a linguagem, a mora
lidade, a razo; nos primeiros tempos, ao
contrrio (" chamo
de
primeiros
tempo", diz
Rousseau,
"os
da disperso dos
homens,
seja qual
for
a idade
do
gnero humano
na qual
se
queira fixar
tal
poca"), os
homens
disperros sobre a face da
Terra s tinham
por
sociedade a da familia., por leis s as da natureza,
por
lngua
.
preciso observar que hi em Rousseau , a coruiderao do bomem
da natureza", "homem prim.i.tivo e "homem selvagl:m que tendem a
con
fundir-se, como se ver pela seqncia dos textos. Nos
trs
casos, o
impor-
tante a representao da ausncia de desigualdade e o momento da vida
indolente e em equilbrio com a na tureza (embora, a rigor, o homem
da
natureza e o homem primitivo sejam os nicos a estar dispersos, sem ter
nenhuma idia de reunio: quem no percebe
",
diz Rousseau, "q ue tudo
parece afastar do ho mem selvagem a tentao e os meios de deixar de s i?
D.OJ
., idem, p. 49) .
18.
Emile p. 240,
Ed.
Gamier.
http:///reader/full/nada%22.187/25/2019 MATOS - Rousseau
19/63
\
I:.
I :
I
-\.
I
.
,.
I
\.
34
s
a do gesto e alguns sons inarticulados.
1 9
Ou ainda: "parece,
a princpio, que os homens nesse estado,
sem
ter entre si qualquer
espcie de relao moral ou de deveres conhecidos, n o podiam
ser nem bons nem
maus,
ou possuir vcios e virtudes, a menos
que se considere como vcios
do
indivduo
as
qualidade capazes
de prejudicar
sua
prpria conservao, e virtudes aquelas capazes
de a seu favor cont ribui r''; nest e caso, poder-se-ia chamar de mais
virtuoso aquele que menos resistisse aos impulsos simples da na
tureza.. o
No estado de disperso
da
hwnanidade primitiva, no exis
te
nada
que
possa
unir
wn
a
outro
e nada tambm o subjuga:
s
se conhecia e se desejava o que se encontrasse ao alcance da ma:o , de
tal forma
que,
ao invs de aproXimar o homem de seu semelhante,
suas carncias afastavam-nos. E porque no experimenta nenhum
desejo de coiJl1lllica o, nao se sente separado do outro, nenhuma
"distncia metafsica" afasta-o
do
exterior - por esta razo o
estado primitivo o
momento da
visibilidade absoluta: "supo-lo-ei
conformado
em
todos os tempos como o vejo hoje, andando
so
bre dois ps, utilizando-se de suas mos como o fazemos
com as
nossas, levando o seu olhar a toda a natureza e medindo
com
os
olhos a imensido do
cu
.
21
ASsim
, errnnte nas florestas, sem
fala
ou
domicilio flxo, sem necessidade do outro e sem desejo
de
prejudic-lo, o homem primitivo, sujeito a raras paixes,
tinha
somente sentimentos e luzes prprias a seu estado; sentia
apenas necessidades verdadeiras, s olhava o que acreditasse ter
interesse em ver e, assim, nem a inteligncia nem a vaidade
de-
senvolviam-se.
J no
Ensaio,
a linguagem e a sociedade descritas no
momento em que se formaram, antes de sua progressiva degrada
o; a linguagem instituda conserva ainda um
canto puro , por
ser uma ngua de puro ritmo: j no mais animal, pois exprime
a paixo, e n'o inteiramente convencional, porque escapa arti
culao; e
nem
constitui uma linguagem analtica pois abando
na-se situao presente. As palavras calcam-se na experincia
19 E.OL . idem , p.
194.
20.
D.
OJ
.
idem , p. 57.
2
1
D.
OJ
.,
idem , p.
41.
35
imediata, que s conhece o particular : "esta lngua possuiria
muitos sinnimos para exprimir o mesmo ser
em suas vrias
rela
es (
..
.
.
a lgica est ausente dela, persuadiria sem convencer
e pintaria sem raciocinar"
_
2
Esta
linguagem dirige-se aos olhos e na-o ,
inteligncia,
pois
fala-se melhor aos olhos do que aos ouvidos: ve-se mesmo que
os discursos mais eloqentes so os que se compem de maior
nmero de imagens e os sons nunca possuem maior energia do
que quando produzem o efeito das cores"
2 3
E Rousseau
apela
pan as
mais antigas lnguas orientais, onde
no
se
pode encontrar
nada
de "metdico
ou
raciocinado". So
lnguas
viv s e figurativas,
no so
lnguas
de gemetras" mas
de
poetas" pois nJo se co-
mea
por raciocinar
m.as por
sentir. O homem no inventa a pala
vra para exprimir suas carncias - seu efei
to
natur3I o de sepa
r-los e no o de aproxim-los:
e
foi preciso que
ssim se
passasse
para que a espcie chegasse a se expandir e que a Terra fosse po-
-voada; sem o que o gnero humano permaneceria amontoado num
canto
do
mundo e todo o resto permaneceria deserto" .
4
A origem
d s
lnguas est nas
necessidade morais
nas pai
xes que aproximam os homens: "
no
a fome ou a sede, mas
1
o amor, o dio, a p iedade, a clera, que llies arrancaram as primei-
ras vozes. Os frutos no fogem s nossas mos, possvel alimen
tar-se com eles sem falar ; persegue-se em silncio a presa de que
queremos nos alimentar:
mas
para comover
um
jovem corao,
para
repelir
um
agressor injus to, a natureza
dita
sinais, gritos, quei
xumes. Eis as mais antigas palavras inventadas, eis porque
as
pri
meiras lnguas foram cantantes e apaixonadas antes de serem
sim
ples e metdicas"
2 5
Esta linguagem que no d lugar nem ao clculo, nem re
flex'o, nem
comparao,
ainda
uma
"linguagem natural
,
li
gada s emoes; uma lngua comum a todos como a que as
crianas falam antes de aprender a falar
;
e
studemos
~
22. O.L . idem, p. 168.
23. Idem, ibid. p. 156 .
24. Idem, ibid.
p.
1
62
.
25. Rou sseau , E.O.L. , idem, p . 162 .
http:///reader/full/met6dicas%22.25http:///reader/full/met6dicas%22.25http:///reader/full/met6dicas%22.25http:///reader/full/met6dicas%22.257/25/2019 MATOS - Rousseau
20/63
H
..
I
I
I
I
36
e 10go ns a reaprenderemos com elas. As amas so
os
nossos mes-
tres nesta lfngua; compreendem tudo o que dizem os bebs; res
pondem-lhes, tm com eles dilogos continuados; e embora pro
nunciem palavras, tais palavras so inteiramente inteis; no o
sentido das palavras que elas compreendem, mas a acentuao de
--L.-.l-
26
que so acompiUuuu= .
O conceito de infncia deve ser analisado sempre em rela
o ao signo: isto quer dizer que a i.n ancia a no-relao ao signo
enquanto tal.* Para Rousseau, a criana o nome daquilo que
no tem nenhum significado caso se separe o
significante
do sig
nificado,
o que tomaria possvel am-lo. nele mesmo, como wn
fetiche. Deste ponto de
vista,
a infncia o estado de no-alie
nao absoluto -
o estado da presena que corresponde a este
tempo
feliz em que nada marcava as horas" do Ensaio _onde a
associao
no
passa por tratados, leis ou representantes. O homem
era seu
prprio
"servidor
',
para ser mestre cada um era servido
por todos e o tempo passava sem ser perce bido.
f
o tempo das
Rveries, um tempo indiferenciado,
sem
intervalos
ou
desvios
entre
o desejo e o prazer, porque prazer e desejo confundem-se
e sentem-se de uma s vez.
B - O Movimento
dt1s
Ptri.xes
A separao entre o mestre e o servidor s se torna poss
vel a
partir da
diferenciao temporal
que
permite
medir
o tempo
e simultaneamente atirar o homem fora do Presente. A sucesso
dos tempos" no Discurso ser enta:o retomada pelos conceitos
de
estado
de
natureza, estado selvagem
e
estado sociaL
Nele Rous
seau diz : "Enquanto os homens se contentaram com suas caba
nas rsticas, enquanto
se
limitaram a
costurar
com espinhos ou
26. Rousseau, Emile. p. 45, Ed. Garnier, 1962.
. Derrida (in De La Grammatologie diz que no eltiste signo en
q
uanto
tal: um signo
considerado co
mo
uma coisa e n_o
m.w um
signo,
ou ento ele um " enviar", urna mensagem e portanto nao e m.w ele mesmo.
com cerdas as suas roupas de pele, a enfeitar-se com plumas e con
chas, a pintar o corpo de vrias cores, a aperfeioar ou embelezar
seus arcos e flechas, a talhar com pedras cortantes algumas canoas
de pescador ou toscos instrumentos de msica;
em uma
palavra,
enquanto s se dedicaram a obras que um nico homem podia
criar e artes que no solicitavam o concuxw de vrias mos,
viveram to livres, sadios,
bons
e felizes
quanto
o podiam ser
por
sua
natureza .
2
7
Este o momento da ''quase sociedade
,
da qual a cabana.
a linguagem dos gestos e sons inarticulados so os indcios. A fa-
mlia j existia, pois, mesmo antes do "tempo das festas e d apro
ximao
dos homens" , estes
no
nasciam d "
terra :
"poderiam
as geraes sucederem-se sem que os sexos se
un i ssem
e as pes-
sOas se entendessem? No: existiam famlias''.
28
Nelas impera um
lngua domstica e
c d
qual basta a
si
mesmo e perpetua-se pelo
mesmo sangue; as crianas nascem dos mesmos pas, crescem juntas
e aos poucos encontram uma maneira de compreenderem-se. Havia
fanu1ias afmna o Ensaio, mas no ruzes; h vi lnguas doms
ticas verdade, mas no
~
populares; "havia casamentos,
mas no havia amor . " *
27. D OJ
.
idem, p. 72/73.
28.
E.O.L.
idem, p. 220.
29. Idem, ibid p. 220.
. A famflia nascente encontta-se na origem da sedimentao social.
Em termos hegelia.oos, esta fan:u1ia pertence
ao
momento
da
pr-histria
do homem : A moralidade objetiva
a idia da liberdade ( .. . O conceito
desta
idia s6 o Esprito romo algo de
real
e con.siente de si se for a ob
jetivao de si mesmo, o movimento que percorre a forma de seus diferentes
momentos.
Ele
:
a) O Esprito moral objetivo imediato
ou
natural - a fam11ia.
Esta
substancialidade se dissipa na perda de sua unidade , na diviso
e
no
ponto de vista do relativo; to rna-se,
pois,
b) sociedade civil, associa-o de
mem
bros
que
so indivduos inde
pendentes numa unYersalidade formal, atravs das necessidades,
pela ronstiruio jurdica corno instrumento
da
segurana da pessoa
e
da
propriedade e
por
uma regulamentao exterior para as nece
s-
sidades paruculares e coletivas. Este estado exterior red unda e
rene-se na
c) con stituio do Estado, que o fun e a realidade em ato da subs
tncia universal e
da
vida
pblica que se consagra a isso( .
.) .
http:///reader/full/familias%22.18http:///reader/full/familias%22.18http:///reader/full/familias%22.187/25/2019 MATOS - Rousseau
21/63
I
l.
l .
38
A
idlzde
das cabantu j se encontra do lado da cultura, a
natureza j sofreu alteraes, mas cada um continua a
manter
relaes independentes. a poca
da sociedade natural sociedade
nascerrre ou sociedade comeada: Na medida
em
que as idias
e sentimentos se
sucedem, que
o
esprito
e o corao entram em
atividade, o gnero
humano continua
a domesticar-se, as ligaes
se estendem e os laos se fortalecem" .
30
E uma vez que se trata
de uma verdadeinl sociedade, a moralidade aparece significando,
ao
mesmo tempo, a oportunidade de humanidade" e
j
"origem
da perversa:o": esta moralidade consistir nos "primeiros deveres
de civilidade".*
Tudo
isto se d quand o homem deixa de dormir
sob
a primeira rvore e comea a cortar a lenha e construir cabanas;
passa enta:o a necessitar
do
socorro do outro, o que
se
encontra
na origem do estabeleciment o e distino das famlias.
A
idlzde
das cabanas assiste introduo de uma espcie
de propriedade de
onde
decorrem quereLas e combates. Pois, "co
mo os mais fortes foram provavelmente
os
primeiros a construir
habiUes
que
Se sentiam
capazes
de
defender,
de crer que
os fracos acharam mais rpido e seguro imit-los do que tentar
desaloj-los e, quanto
aos
que
possuam
cabanas, nenhum deles
certamente
proclirou
apropriar-se
da
de seu vizinho menos por
no lhe pertencer do
que
~ r - l h e intil e no poder apoderar-se
dela sem expor-se a
um
rduo combate
com
a fami1ia que a ocu
pava".3 1
A
famlia se
~ . s . t i u
trs
a s p e c t o s ~
a) na forma
de ro::..::eito imediato,
romro casamento;
b) na existnci."a e.:\renor:
propriedade r:
bens da famlia e cuidados
o r r e s p o n d e n ~
c) na educao ..h$ crianas e na da famlia''. (Hegel,
Prn
cipt $
de la l t i i o ~ ~
du
Droit P- 1 89--197/8/9.
30. Rousseau, D .OJ . riem, p. 69.
t
preciso
Ob.seiY:U ~ u e
a
s o e i ~ CX>I:IIIeada
e as rela.es
j esta
belecida
entre os homens Q g i . a r n
deles q ~ e s diferente
das
que con
servavam de sua
constirui.;::i.::l
primitiva; que o moralidade, comeando a
introduzir-se
nas ae5
h - ~
.." R o ~
D.
CH ., idem, p. 72).
31. Rousseau,
D.
ul
~ ,
p. 69.
39
Este perodo de desenvolvimento das "faculdades" do ho
mem (linguagem, moralidade, trabalho) encontra-se a meio caminho
entre a indolncia primitiva e a degenerescncia
civil;
por esta
razo deve ter sido o momento mais feliz e mais durve l - quando
a terra no era de ningum e a coLheita e a caa, atividades que
da
uals
.
" fun
..
3
bastavam aos grupos - q se
sa1u
por um
esta acaso .
Rousseau diz que um imenso intervalo separa a perda
da
natureza
primitiva e o estabelecimento da sociedade civil* - e que a suces
so destes estados no poderia ocorrer sem
crises,
ritmadas pelas
"Grandes Revolues" do ~ e g u n d o Discurso": F o r a d o s a se
abastecer para o inverno, eis os habitantes_ evados a se socorrer,
'obrigados a estabelecer entre si alguma espcie de coveno. Quan
do as expedies se tornam impossveis e o rigor do frio os detm ,
o tdio os liga tanto como a necessidade: os Lapes, enterrados
nos gelos, os Esquims, o mais selvagem de todos os povos, re
nem-se no inverno
em
suas cavernas e, no
ver o,
nem se conhecem
mais. Aumentai de um grau seu desenvolvimento e suas luzes, e
ei-los reunidos para
sempre
.
33
O homem primitivamente ocioso,
sobredeterminado pelas "circunstncias exteriores" descobre a
necessidade e a eficcia do
trabalho.**
Sobrevm o que Rousseau chama
a
"Primeira Revoluo" ***
- o perodo dos agrupamentos
em
farnilia e da construo das
comunidades. Quanto mais Rousseau reflete sobre ele e o recons
titui, mais acredita ser este o
estado
menos suje ito a conflitos, o
melhor ao homem, e do qual s saiu
por
um "funesto acaso"
que
para o
bem
de todos
no
deveriam nunca ter ocorrido. Na
idade
32. Rousseau,
D.OJ.
idem , p. 72.
. A rigor,
o estado de
natureza
s ser
definitivamente
extinto
no
momento em que
se
estabelecerem as sociedades
p o l t
com
um
governo,
como mostraremos no decorrer de nosso trabalho .
33. Rousseau , E.O.L idem, p. 212.
. f
preciso lembrar
qu
e n
um
primeiro momento
a associao
per
manece o ~ i o n a l pressionada pelas necessidades, constituindo "gzupos
anrquicos , sem permanncia.. pois
ao
tra balho comum sucede a disperso.
. Esta "Primeira Revoluo no representa ainda a ruptura com
o estado
de natu reza..
http:///reader/full/capaz.eshttp:///reader/full/pava%22.31http:///reader/full/r=.ti.zahttp:///reader/full/capaz.eshttp:///reader/full/pava%22.31http:///reader/full/r=.ti.za7/25/2019 MATOS - Rousseau
22/63
i I
l
l
I
I
40
dill
caba1UlS o homem
j
perdeu sua ociosidade paradisaca, caiu
no
estado de trabalho
que comea a op-lo natureza; mas a eco
nomia que resulta
uma
economia de subsistencia *- o trabalho
no cria ainda valor Foi Locke que o observou - explicitamente:
v como
um
valor
narural
de qualquer
objeto
o que tem a capa
cidade de satisfazer as carnci.as elementares do homem ou de
servir sua
comodidade.**'
E
Marx analisou-: a uti lid ade de
um
objeto converte- em v.lor de uso e o que constitui seu
v
alor
de
uso
-
os bens
- sua
prpria materialidade
independente
mente
do
volume de trabalho necessrio sua produo. O valor
de
uso
s se corporifica
no
momento de sua utilizao ou do
consumo de um determinado objeto,
isto ,
o valor de uso
' 'wonh e no value (este j valor de troca , produo para
a circulao num mercado). Os valores de uso , diz Marx, formam
o contedo material da riqueza qualquer
que
seja sua forma so
al
3
4
A . dad '
o . SOCle e nascente e, neste sentido, o momento
do valor de uso ,
j
que
a
natureza a
fonte
dos valores de
uso .
35
Por que se passa
de uma economia de subsistncia
a uma
economia de produo? O que leva Rousseau a afirmar que foi
o ferro e o trigo que civilizaram os homens e degeneraram o g
nero humano ?
Quando
os
obstculos
e a adversidade obrigam
o homem, para sobreviver, a desenvolver
todas
as suas foras e
faculdades, percebe que,
com
relao ao
animal,
ele que
tem
o poder de modificar seu estado e a si mesmo; da
perfectibilidade
derivam todas as outras faculdades, fonte das convulses econ
micas e sociais, fonte das luzes adquiridas e fonte de todas as
misrias: Ainda quando as dificuldades que envolvem todas estas
questes dessem algum lugar discusso sobre a diferena entre
o
homem
e o animal, haveria
uma
outra
qualidade
especfica
que
os distinguiria e a respeito da qual no pode haver c o n t e s t ~ o
-
a faculdade de apefeioar-se, faculdade
que,
com o amu1io
. A Expresso
da Starobisnki.
. In
Some considuationJ on the o n ~ e n c e s
o[
the lowering
o[
muerr.
vol
li
p.
2.
34. E
Capal,
p. 4.
35. Programme de Gotha. p. 6 .
41
das
circunstncias, desenvolve sucessivamente todas as
7/25/2019 MATOS - Rousseau
23/63
J
4
sos que puderam aperfeioar a razo humana deteriorando a esp
cie, tornar mau wn ser ao torn-lo socivel e,
partindo
de
to
longe,
trazer enfim o homem e o mundo ao ponto em
que
o conhece-
mos .3
7
Os selvagens no so maus justamente porque no sabem
o que ser
bom;
e neles, no nem o desenvolvimento de
suas
luzes nem a vigilncia daS leis o que impede o Mal, e sim a
calma
das paixes
e a
ignorncia
do
vcio.
* .
A perfectibilidade toma manifesto que as relaes humanas
mudaram; num certo sentido, realiza-se contra a natureza , no
estado social. sob a influncia
das
necessidades materiais. Ou seja,
as mudanas repondem
a uma
provodto vinda de fora_ em certas
regies o homem encontrou anos estreis, invernos longos e rudes,
veres ardent es e em seu meio natural
no
conseguiu encontrar
proteo segura. yendo-se forado a sair de sua i n d o l ~ n c i primi
tiva; a parfu
de ento,
passa a depender do exterior. E este ser
que
recebia
os dons
da
natureza
dever
conquist-los - a adver
sidade s ser vencida ao preo de um esforo
continuo:
o
tra-
balho que obrigar o homem a organizar-se
em
sua
luta
contra
os obstculos.
Entendida como desenvolvimento de potencialidades . a
perfectibilidade sinnimo de
P_rogresso mas
de um progresso que
a perdio
do
gnero humano. ** Engels
3 8
mostra. porm,
que em Rousseau existe um progresso na emergncia
da
desigual
dade: no estado natural e selvagem os homens eram iguais e, como
Rousseau torna a linguagem como alterao da natureza. tem razo
em aplicar a igualdade entre os animais de uma mesma espcie
37.
D.OJ.
idem,
p.
65.
. D.OJ. idem, p.
58
.
. f ntc:re$$llllte aproximar dois textos, um de: Rousseau, outro de
Nietz.sehe como
prope
BUillelin
in
P.E.:
Esta
disposio
para
compa
rar diz Rousseau, que tranSforma uma pailo natural
c:
boa em uma outra
racticia e m ( __) provm
da s relaes sociaU,
do progresso
das
idias e da
cultura do esprito .
(Dialogues .
IX, p. 197). E Nietz.sche: ' 'Os Europeus,
graas a sua moralidade crescente, acreditam com .
toda
~ o c n c i a e vaidade
que se elevam. enquanto que, em realidade, declinam. ~ V o l o n t de .PuiJ.
sance
. livro il l , p. 227) .
38. Anri-Dhring p. 160 e
s s
'
-
:
43
a todo domnio desta espcie e aos homens-animais . Este ho
mens-animais tinham uma vantagem com relalro aos outros ani-
mais, a propriedade de aperfeioarem-se , de evolurem ulterior
mente - e esta foi a causa da e s i g u l ~ mas este progresso
sendo antagnico era, ao mesmo tempo, um recuo.
verdade que no Emio Rousseau afirma
que
apenas
em
sociedade o homem toma-se propriamente homem, que
a
mo
ralidade que
d
a humanidade ; assim, h um deslocamento ,
na medida em que o homem abandona
sua
amoralidade original:
pelo mesmo movimento que ele
se
sabe
bom
e toma-se mau.
Vemos, entretanto, que o progresso
mais
ambguo que dial-
tico: preciso empregar muita
arte
para impedir o homem
social
de ser completamente artificial ,
diz
o Emz1io. pelo aper
feioamento da cultura, por uma desnaturaiio mais avanada
que
a concordncia com a natureza poder ser reencontrada; esta
segunda natureza ser um equilbrio novo, agora esclarecida
pela razo e garantida pelo sentimento moral que o homem des
conhecia antes. Em outros termos, a anttese entre a natureza e
a
cultura
pode resolver-se em um movimento progressivo.
a filo
sofia que Kant lerem Rousseau.
*
O Discurso no oferece estas perspectivas tranqilizadoras .
Rousseau continua a procurar a origem da desigualdade e continua
a mostrar que pelo trabalho o homem se toma
um
ser histrico que
luta contra a natureza, opondo-lhe seu trabalho e degenerando-se
medida
em
que se desenvolvem nele novas luzes ; Rousseau
lembra sempre que no estado de natureza os desejos- no ultrapas
sam _s necessidades fsicas e a
imaginafo
no se manifesta pois
nada
agita a
alma s
existe o sentimento da existncia do mo
mento. O trabalho que enfrenta as coisas evoca a reflexo e o ho-
mem
acaba por tomar conscincia de sua
diferena:
comea a com
parar-se ao outro e esta comparao
se
encontra na origem da
. A nature:z a qu is assim: o homem extrai de si mesmo tudo o que
uluapassa a ordem mecnica de sua existncia animal, e no participa de
nenhuma ou
tra felicidade ou perfeio
a
no ser
a
que ele mesmo criou por
sua
prpria razo, liberada
do
instinto . (Kant ,
lA
Raison
Pra
tique, texre
choisis).
7/25/2019 MATOS - Rousseau
24/63
44
45
raziio.
Ao chegarmos neste
ponto
nero mesmo conseguimos recu
peru
as origen s e carla vez nos afastamos mais desta dimensllo:
'0 que M de mais cruel
ainda e
que, mais os progressos rla espe
r
humana
distanciam incessantemente de seu
estado
prirnitivo,
mais acumulamos novos conhecimentos, e mais retiramos
os
meios
de adquirir
mais
importante
de todos, e que
e nUID certo
sentido,
a
forya de
estudar
homem
que nos tomamos incapazes de
_co-
nhece-Io .H
E
preciso
examinar
0 porqtili deste
~ s v i o
39
DOJ
idem, p. 34.
CAPITULo
n
A NATUREZA E OARTIFICIO
~ u 5 e por
sepailii 0
homem
cia
natureza
e por f dele urn reino soberano, acreditando-se,
assim, que
se
apagava seu
carater mail
irrecusivel,
o de ser, antes de mais
Dada
urn ser vivo.
E fechan-
do-re os ollios a esta propriedade
comwn, abriu-se
caminho a todos os abuses.' Nunca como ao final
quarro
Ultimos seculos de sua historia,
0
homem
ocidental compreendeu que arrogand 5e 0 direito
de separiIr radicalmente
a hwnanidade
da
animali
dade,
entregando a .
wn tudo
0
que se
retirava
ao
ourro, abria urn clrculo maid ito e que a mesma
freD
teira
constantemente deslocada para
tr.i.s serviria
para
separar os hom ens uns dos outros e reivindicaYa,l
em beneficio
de
algumas oUnorias cada vez
restritas,
0
p r i v i l ~ o de urn hurnanismo corrompido
desde sel l nascimento, por tel
feito
do
amor-pr6prio
seu principio e sua
~ : l
A - 0
animal fuJmem: a identidade
E preciso colocar a questao fundamental (originMia) que o-pije
o estado de natureza ao estado civil e constitui 0 abisrno
te6rico
da vida politica. Rousseau filo se interessa pela p r o d u ~ a o hist6
rica
deste movimento.
mas
pela
elucidac;:lfo de
sua
natureza;
em
outros termos. sao os fundamentos que 0 Segundo Discurso
m
L Claude Levi-Sttauss,
op.
r.t .. p. 17.
7/25/2019 MATOS - Rousseau
25/63
4 7
if
I '
:1
i
1
1
.
,
I
1
:
j
1
.
j
I
"
46
procurando - a verdade da origem nao se confunde
com
a verdade
dos
faw. Por
isso Rousseau
c o m ~ por afastar todos os fatos
e continua lembrando: "Confesso que os acontecimentos que tenho
a descrever,
podendo
sobrevir de inu.meros modos, 56
por
coojectu
ras posso decidir-me
na
escolha. Mas, mesmo que essas conjecruras
se
tomem
razOes
quando
sao as mais provaveis
que
se possaro extrair
da natureza das coisas e os Unicos meios que se possa ter
para
des
cobrir a verdade, as conseqii!ncias que quero deduzir
nao
serao
por isso
conjecrr.uais porquanto, sabre os principios
que
acabo
de estabelecer, nao se poderia formar nenhum outro sistema que
n o me fomecesse os mesmos resultados e
do
qual nao pudesse
ioferir as mesmas conelusOes',.l
A descoberta de urn
metoda
capaz de substituir a Hist6ria,
vai ajudar
perigosamente
Rousseau: pois e necessario explicar
a ordem social,
este
direito sagrado que serve de base a
todos
os outros. Tal d.ireito, O entanto, nan vem cia natureza: funcia-se,
portanto,
em
c o n v e n ~ s Trata-se de saber que convenyOes sao
eslas_
Antes de alcanyar em
ponto,
devo estabelecer
0
que
aca
bo de
adiantar".3 Trata-se de colocar
0 problema
do
Contrato
em da
natureza
dos individuos, de suas foryas e
cia
mu
d a n ~ cia maneira de ser dos homens.*
Viu-se que ao estado de indolencia feliz e de repouso do
homem original opOe-se 0 cielo das
r e v o l u ~
Viu-se que para
o Rousseau do DiSClDSO
0
hom ern civil, cotrompido e infe liz ,
pervertido pela
Hist6ria
e por seus pr6prios progresses, tern tudo
a cobirrar
ao
homem da sociedade primitiva de onde nunca devia
ter saido".
Ou
entao,
este
paradoxo
inicial"
permite
denunciar
os males de que sofrem as socieciades funciadas
sobre
a desigual
dade e preparar assim, atraves de uma
critica
radical, a passagem
A
sociedade do Contrato: "
Sem entrar, no momento
, nas pesqui
sas que aioda restarn
por
fazer sobre a
natureza do
pacto funda
mental de qualquer govemo, liroito-me ( .. ) a considerar aqui 0
2 D.
OI.
idem, p. 65/66.
3.
u
Contrat Socwl I, I,
p.
236.
. Nio
se
pode e ~ q u e e r que toda a primeira pane do D.O.I descreve
o estado de puro natureza, sem necessidade nem mesmo
das
linguas.
estabelecimento do cofPO politico como urn verdadeiro contrato
entre 0 povo e os chefes que escolhe, contrato pelo qual as
duas
partes se obrigam a observancia das leis nele estipuladas e que
formam os liames de sua uniao ( ...). Pois nao se baseando a rna
gistrarura e seus direitos senao nas leis fuodamentais ,
assim
que
estas fossem destruidas, os magistrados deixariam de ser legitimos
e 0 , pavo nao mais estaria obrigado a obedece-Ios, e como nao
era 0 magistrado, mas a lei, que constituira a essencia do Estado,
cada
urn de direito voltaria a liberdade
natural" .4
0 estado
de
solidao
esta
aquem do
hem
e do mal. que
56
podem
ser defmidos
pela
ordem
sociaL No
eszado
de
sociedatie porem,
a
mi.seria
do
homem
traosparece na contradi'rao entre seu estado e seus desejos,
entre
seus deveres e
i n ~ O e s
entre a natureza e as
i n s t i t ~ s
sociais -
em
suma, entre 0 homem e 0 cidadfio_ A lei deve, assim,
tomar
0
homem
feliz fazendo-o uno entregando-() inleiro ao Estado
ou a si
mesmo,
pois
quando se
divide 0 c o ~ a o 0
homem se
dilacera ; 0 "programa" do Contrato e 0 de colocar a lei social.
no
-'fundo
do
c o r ~ o
do
homem
" . 0 Contrato aincia nao
e
a lei
mas a sua possibilidade, a possibilidade de que se
retome
a lei natural
a partir de agora abolida, na dirnensa"o da "decisao do homem .
S6
no
Discurso
e
passivel que 0 homem seja feliz em plena natu
reza:
Se entendo
bern 0 terrno miserrivel e uma palavra sem ne
nhuro
sentido au
que
s6
significa uma
p r i v ~
dolorosa e softi
mento do corpo
au da alma. Ora, desejaria que me explicassem
qual poderia ser 0 genero de miseria de urn ser livre cujo
o ~ o
esta em paz
e
0
corpo
com
saUde".5
Na
primeira vrsao
do
Contrato
Social
entretanto,
Rousseau acentua 0 car.iter de rruseria do estado
de
natureza
. Para a coinpreensa"o desta passagem, e preciso
notar
que , neste
momento
, nao se
trata
mais
do
estado primitivo do
homem ,
mas
de urn estaLio de natureza segundo ern que 0 homern
jei esta
desnaturado
mas nao aincia sociaIizado; deveni ainda atra
vessar
toda uma
"hist6ria" antes de tomarse
homem
civil".Daqui
decorre a distin'rao que devera ser feita entre a pie dade
natural
tal
como
se exerce no
erraLio de animalidade
e a
piedade
que
despena no Ensaio sobre a
Ongem
das Linguas
com a
imaginao
4. Rousseau,
D.OJ.
idem, p. 84/5 .
5. Rousseau, idem, p_ 56.
7/25/2019 MATOS - Rousseau
26/63
-/8
e a
re/7e.xuo a f e i ~ 6 e s
sociais que nos remetem necessanamente '
a urn
estado
posterior, ao estado de razao.
*
E
se
Rousseau,
56
tar
Ji:llTlente vern a faJar no Discurso do direito natural"'" *, e justa
' :1ente porque e preciso ref1etir,
antes
de mais
nada,
sobre a
narureza
Jo hom m
a partir do
estado de natureza
para conceber 0
que
e
a
mudanya
de sua maneira de
ser . Pois
como
conhecer a fonte
da desiguaJdade entre os homens, se nao se c o m e ~ a r par conhecer
a eJes mesmos? E como 0 homem chegara
ao ponto
de ver-se tal
como 0 formou a natureza, atraves de todas as mudanyas produzi
das
na
sua constitui
7/25/2019 MATOS - Rousseau
27/63
51
)
reflexao, ao SOcorro dos
que vemos
sofrer:
e
ela que, no
estado
de
natureza, ocupa lugar
de lei,
de
costumes e
de
virtu
de
, com
a vantagem de que ningw m e
tentado
a desobedecer sua doce
" 8
voz .
A pie dade nao e apenas uma forma de identificayao com a
humarudade inteira. mas a propria mane ira pela qual 0 hornem
redescobre sua
infra-estrutura
vital:
E
sobre esta faculdade pri
mordial que virao desenhar-se, num jogo de oposiyao, os predi
cados que a ciencia deve decifrar. 0
homem
identifica-se, pri
meiro, peJa
piedade.
com a totalidade da vida, para em seguida
distinguir-se, no interior deste campo, do
'nao-humano
' .9
'.
I
B - a Animal, 0 Homem : a Diferent;a
No
Ensaio sobre a Origem
das
L/nguas,
no
DisCUTSO
e
no
Emz7io a
piedade
aoarece como
um sentimento original,
isto
e
ern oposiyao ao soci;U
aitillcial,
0
reslduo
que nao
se
deixa expli
car pela sOciedade".1
0
~ a s este sentirnento sera
tratado
de maneira diversificada
nos tres textos : no DisCUTSO e no Eml7io a piedade
e
vista como
urn
sentimento
espontineo
da
alma (embora nao seja
um
senti
mento simples) anterior
a
reflexao, enquanto q u ~ no Ensaio 1 I
transparece urn acento
inteiectualista.
Assim, no Ensaio Rousseau
diz: A piedade,
embora natural ao
corayao do hornern, pem1a
neceria etemarnente
inativa
sem a imaginayao que a coloca em
jogo.
Como nos
deix.amos comover
pela
piedade? T'ranspo
rt
an
do-nos para fora de n6s rnesmos, identificando-nos COm 0 ser que
sofre. Sofremos apenas na rnedida em que julgamos que ele sofre;
nao
e
em n6s,
e
nele
que
sofremos.
Figure-se
0
quanta
este trans
porte supoe de conhecimentos adquiridos. Como imaginaria os
males
de que nao
tive.
nenhurna
ideia? Como sofreria venda sofrer
\
8. D.OJ., p. 59/60.
9.
Bento Prado Jr., Revista Tempo Braf ikiro, idem, p. 16/17.
j 0. P. Burgelin, PE, idem, p . 219.
1t. Segundo
Starooinski, Ed.
P h ~ i a d e voL 1lI, p. 1330,
.
,'
,.
I
urn ou tra, se nao sei sequer que ele sofre, se ignoro a que
h:i
de
comum entre
ele e eu?
Aquele
que jarnais refletiu nao pode ser
nem clemente, nern justo, nern piedoso".12
Esta conce pyao da pie dade que toma densidade pela refle
xao seria imposslvel no
Discurso,
onde
raztio
e
rej7exiIo abrangem
tudo 0 que
condm
inelu [avelmente
a
degenerescencia do g ~ n e r o
humano : f, a razao que engendra
0
arnor-proprio e a
reflexao
o fortifica; faz
0
homem Yoitar-se sobre si
mesmo;
separa-o de
quanto 0 penurba
e aflige.
f
a fUosofia que
0
isola;
por
sua
causa
ele diz, em segredo, ao ver urn homem
so
t " ..do: Perece , se queres ,
quanta a mim estou segura" . 3 Deste ponto de vista, a conserva
yao do genero humano lena sldo imposslvel se dependesse da re
flexao. Esta afumayao e atenuada peio
Em17io
que introdm, e
verdade, ulna inclinayao intelectualista na concep
7/25/2019 MATOS - Rousseau
28/63
,'
ou uma teoria
da naturalidade como
"po tentia/
Ire
sommeillante
".
As faculdodes v/rtUIJis
operam
como ligadura em todos os
p6ntos
de frssura te6rica (nos
pontos
em que a sociedade
se
rompe)
ani
culando-se
com
a natureza .
Isto
leva a pen sar a natureza nao mais
como urn dado ,
como
presenc,:a
atual.
mas
como
urn
residua,
uma
reserva
Assim, e a imaginac,:ao que de sperta 0 poder de sua reserva,
sem se esquecer sua
dupla
detenninac,:ao: ela e a
fonte
dos
vicios
e das virtudes, de urn
lado
, do I3em e do Mal,
do
outro.
E que
a pr6pria imaginac,:ao pode perverter-se; desperta as faculdades
virtuais mas logo
as
transgride.
1 5
A imaginayao desempenha urn papel decisive no desenvol
vimento das faculdades do
homem,
pois sem ela a piedade nunca
se
tomaria ativa e
0 homem nao poderia
identificar-se a seu serne
lhante; e alern disso
0 homem embora
dotado de perfectibilidade ,
perrnaneceria em sua condic,:ao
de quase
animalidade" . Desta
exigencia
de aperfeic,:oamento ver-se
a
nascer sua hist6ria : a pie dade
p e
as
a f e i ~ 6 e s h
em
movimento,
sob impulso da
i m a g i n ~ a : o ,
e
0
homem pode entw compreender
a
dor
e a ail.i
c,:a
o
de
seu seme
Ihante, saindo ja