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263 Revista Territórios e Fronteiras V.1 N.1 Jan/Jun 2008 Programa de Pós-Graduação Mestrado em História do ICHS/UFMT Mauro Cezar Coelho O IMENSO PORTUGAL: VILAS E LUGARES NO VALE AMAZÔNICO Resumo: O Império Português, em sua face americana, resultou de um longo processo de expansão que colocou por terra os termos inicialmente instituídos nomeadamente o famoso Tratado de Tordesilhas. Este artigo destaca a ampliação e consolidação do poder imperial no Vale Amazônico, por meio da análise de como o espaço amazônico, constituído até meados do século dezoito por aldeamentos, indígenas e missionários, e por umas poucas unidades coloniais (civis e militares), foi transformado, a partir de 1757, de modo a tornar o Vale Amazônico parte do Império Português. Palavras-Chave Política Indigenista, Civilização, Fronteira. Abstract: The Portuguese Empire, in its American face, resulted of a long process of expansion that did not respect the terms initially instituted the Tordesilhas Treat. This article detaches the enlargement and the consolidation of the imperial power in the Amazonian Valley. The analysis demonstrates how the Amazonian space (constituted until middle of Eighteen Century by aboriginals and missionaries villages, and by one few colonial units, civil and military) had been transformed, from 1757, in order to become the Amazonian Valley part of the Portuguese Empire. Keywords: Indian politics, Civilization, Frontier. Oh musa do meu fado! Oh minha mãe gentil! Te deixo consternado No primeiro abril Mas não se tão ingrata Não esquece quem te amou E em tua densa mata Se perdeu e se encontrou Ai esta terra ainda vai cumprir seu ideal! Ainda vai tornar-se um imenso Portugal! Fado Tropical Chico Buarque O Império Português, em sua face americana, resultou de um longo processo de expansão que colocou por terra os termos inicialmente instituídos nomeadamente o famoso Tratado de Universidade Federal do Pará, Professor Adjunto, Doutor em História Social pela Universidade de São Paulo, Faculdade de História, Rua Augusto Correia, 1, Campus do Guamá, Belém (PA) 66.075-900, [email protected]. Este artigo compõe parte das reflexões desenvolvidas no âmbito de minha tese de doutoramento, intitulada Do Sertão para o Mar um estudo sobre a experiência portuguesa na América: o caso do Diretório dos Índios (1751- 1798), concebida no Programa de História Social da Universidade de São Paulo e defendida em 2006, sob a orientação de Mary Del Priore.

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Revista Territórios e Fronteiras V.1 N.1 – Jan/Jun 2008

Programa de Pós-Graduação – Mestrado em História do ICHS/UFMT

Mauro Cezar Coelho

O IMENSO PORTUGAL: VILAS E LUGARES NO VALE AMAZÔNICO

Resumo: O Império Português, em sua face

americana, resultou de um longo processo de

expansão que colocou por terra os termos

inicialmente instituídos – nomeadamente o

famoso Tratado de Tordesilhas. Este artigo

destaca a ampliação e consolidação do poder

imperial no Vale Amazônico, por meio da

análise de como o espaço amazônico,

constituído até meados do século dezoito por

aldeamentos, indígenas e missionários, e por

umas poucas unidades coloniais (civis e

militares), foi transformado, a partir de 1757,

de modo a tornar o Vale Amazônico parte do

Império Português.

Palavras-Chave Política Indigenista,

Civilização, Fronteira.

Abstract: The Portuguese Empire, in its

American face, resulted of a long process of

expansion that did not respect the terms

initially instituted – the Tordesilhas Treat.

This article detaches the enlargement and the

consolidation of the imperial power in the

Amazonian Valley. The analysis

demonstrates how the Amazonian space

(constituted until middle of Eighteen Century

by aboriginals and missionaries villages, and

by one few colonial units, civil and military)

had been transformed, from 1757, in order to

become the Amazonian Valley part of the

Portuguese Empire.

Keywords: Indian politics, Civilization,

Frontier.

Oh musa do meu fado!

Oh minha mãe gentil!

Te deixo consternado

No primeiro abril

Mas não se tão ingrata

Não esquece quem te amou

E em tua densa mata

Se perdeu e se encontrou

Ai esta terra ainda vai cumprir seu ideal!

Ainda vai tornar-se um imenso Portugal!

Fado Tropical – Chico Buarque

O Império Português, em sua face americana, resultou de um longo processo de expansão

que colocou por terra os termos inicialmente instituídos – nomeadamente o famoso Tratado de

Universidade Federal do Pará, Professor Adjunto, Doutor em História Social pela Universidade de São Paulo,

Faculdade de História, Rua Augusto Correia, 1, Campus do Guamá, Belém (PA) – 66.075-900,

[email protected]. Este artigo compõe parte das reflexões desenvolvidas no âmbito de minha tese de doutoramento, intitulada Do

Sertão para o Mar – um estudo sobre a experiência portuguesa na América: o caso do Diretório dos Índios (1751-

1798), concebida no Programa de História Social da Universidade de São Paulo e defendida em 2006, sob a

orientação de Mary Del Priore.

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Tordesilhas, primeiro marco a estabelecer os limites das possessões espanholas e portuguesas.

Os bandeirantes paulistas têm sido vistos pela historiografia como os principais protagonistas

dos eventos que pontuaram o alargamento das fronteiras luso-espanholas e, conseqüentemente,

do Império Português (Holanda, 1989; Palacin, 1976; Silva 2001). Neste artigo, minha intenção é

destacar uma outra dinâmica desse processo - a iniciativa metropolitana de ampliação e

consolidação do poder imperial no Vale Amazônico.

Analisarei, a seguir, uma das dimensões da política indigenista promulgada na segunda

metade do século XVIII, o Diretório dos Índios: legislação complementar à Lei de Liberdades de

1755, a qual estabeleceu de modo definitivo a liberdade das populações indígenas, pondo fim às

possibilidades abertas pelos aparatos legislativos anteriores, como a Guerra Justa e o Resgate. A

Guerra Justa (sic) se aplicava, grosso modo, às populações indígenas refratárias ao contato com

os representantes coloniais – leigos ou religiosos – e facultava a escravidão dos vencidos. As

Tropas de Resgate (sic) tinham por objetivo a compra de índios escravizados em guerras

intertribais. (Farage, 1991, p. 27-28; Domingues, 2000; p. 45-46).

O Diretório dos Índios consistiu em um aparato legislativo que pretendeu regular a

liberdade indígena. Seus noventa e cinco artigos tratavam tanto dos limites daquela liberdade

quanto dos procedimentos a serem adotados com vistas à transformação daquelas populações em

participantes ativas no processo de consolidação das fronteiras, como cidadãos do Império.

Assim, para além de sua condição de instrumento regulador, o Diretório dos Índios manifestava

uma pretensão civilizatória.

Enganam-se, no entanto, aqueles que associam a legislação unicamente às populações

indígenas. É verdade que o corpo legislativo as tinha como objeto privilegiado de sua atenção e

ação. Todavia, seus objetivos eram mais amplos, pois pretendiam abarcar a região e todos os

seus habitantes – como, de resto, parte significativa das políticas reformadoras do período

(Coelho, 1998). Francisco Xavier de Mendonça Furtado, o governador e capitão-general do

Estado do Grão-Pará e Maranhão, denunciou, em sua correspondência o descaso dispensado às

determinações metropolitanas. Relacionadas a outras vozes do mesmo período, suas alegações

caracterizam o Vale como um espaço no qual a autoridade metropolitana estava por se construir

(Coelho, 2006).

A preocupação com a civilização do espaço, sua submissão ao projeto de ocupação e de

consolidação da presença portuguesa no Vale Amazônico, é evidência dessa condição da

legislação indigenista: sua pretensão em atingir a todos, em conformar a Colônia aos desígnios

do Império. Nesse sentido, tratarei de como o espaço amazônico, constituído até meados do

século dezoito por aldeamentos, indígenas e missionários, e por umas poucas unidades coloniais

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(civis e militares), é transformado, a partir de 1757, em função de um objetivo político que

ultrapassava a questão indígena: tornar o Vale Amazônico parte do Império Português.

Historiografia

Capistrano de Abreu pontuava, como marco inicial da ocupação lusitana no Vale

Amazônico, a consolidação da presença portuguesa no litoral pernambucano. A expansão rumo

às terras do Norte teria partido dali, na luta contra invasores europeus e na lida com as

populações indígenas – por meio do estabelecimento de alianças ou da submissão dos resistentes.

A relação com os índios fora vista como fundamental, uma vez que por meio dela os portugueses

teriam esperado conter as invasões estrangeiras ao território colonial (Abreu, 1998, p. 67-78). A

remissão às populações indígenas como fator determinante na conquista do Vale foi, a partir de

então, freqüente.

Elas têm sido vistas, desde Caio Prado Júnior, como a razão para o fortalecimento do

empreendimento missionário na região – o qual contribuiu decisivamente para a ocupação do

Vale (Prado Júnior, 1977, p. 37). Caio Prado destacou, ainda, o papel fundamental da rede fluvial

nesse processo: os núcleos populacionais, religiosos ou leigos, seguiram os cursos dos rios, que

se apresentavam como as melhores vias de comunicação (Prado Júnior, 1977, p. 69). Arthur

Cezar Ferreira Reis ressaltou, no entanto, que a despeito da importância missionária, ela não

constituiu o único recurso adotado pela Metrópole para o povoamento daquela área. Segundo ele,

os colonos açorianos foram vistos, desde 1616, como uma das soluções para o problema: levas

de açorianos teriam aportado no Vale em 1620, 1621, 1667 e 1676 (Reis, 1993, p. 106-109).

A bibliografia é unânime, todavia, em apontar o papel central que a assinatura do Tratado

de Madri e o conseqüente processo de delimitação das fronteiras desempenharam na projeção de

uma nova política de ocupação do território. Antes dele, a ocupação da imensa área que se

estendia do Gurupi até perto das cabeceiras do Japurá se resumia a uma cidade, Belém; quatro

vilas – Caeté, Cametá, Gurupá e Vigia; oito fortificações – Presépio, São Pedro Nolasco, Barra,

Gurupá, Desterro, Araguari, Rio Negro e Pauxís; e cerca de setenta estabelecimentos

missionários (Araújo, 2003, p. 155).

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Construção de uma política imperial1

Uma perspectiva relativamente recente da historiografia brasileira pontua a necessidade

de considerarmos a Colonização Moderna como um processo, no qual as relações estabelecidas

entre os agentes envolvidos são determinantes para a conformação e o dimensionamento das

forças políticas que a constituem (Alencastro, 2000; Florentino & Fragoso, 2001). Tal

perspectiva é proveitosa para considerarmos a construção da política exercida pela metrópole.

Menos que uma política exclusivamente metropolitana – pombalina¸ conforme a denominação

freqüente nas obras relativas ao período – a execução do projeto de integração do Vale

Amazônico ao Império buscou satisfazer demandas coloniais.

Até meados do Setecentos, as populações indígenas ocupavam um lugar na vida colonial.

Eram as mãos e os pés da Colônia, realizando todas as tarefas que garantiam a reprodução da

vida. Retiradas das áreas em que viviam por meio de mecanismos diversos, concentravam-se,

preferencialmente, nos aldeamentos missionários (a serviço dos religiosos), de onde eram

retiradas para servir aos colonos. O convívio com os colonos se dava, segundo a letra da lei e

mesmo a sua revelia (quando os colonos recusavam a intervenção missionária ou o suporte legal

para a arregimentação e distribuição da mão-de-obra indígena) no contexto das relações de

trabalho a que as populações indígenas eram submetidas.

As relações de trabalho demarcavam, então, fundamentalmente, as relações de

missionários e colonos com as populações indígenas. Área de colonização tardia, o Vale

Amazônico atraiu poucos investimentos. A atividade extrativa pareceu, mesmo antes do

estabelecimento português no Vale, ser mais promissora pelo pouco investimento inicial que

exigia, de forma que a agricultura conheceu um avanço relativo, à medida que transcorriam os

anos, mas jamais foi preponderante (Cardoso, 1984). As populações indígenas compunham a

principal e quase exclusiva mão-de-obra aplicada nos processos extrativos e, mesmo, nas

atividades agrícolas. Daí sua importância para colonos e missionários que disputavam

acirradamente o controle sobre elas.

A assinatura do Tratado de Madri introduz uma questão nova. Resultado de uma longa e

penosa negociação envolvendo as Coroas portuguesa e espanhola, o tratado dispunha sobre os

limites das possessões coloniais de ambas, em função do abandono dos marcos iniciais. O novo

1 A documentação que fundamenta as conclusões apresentadas compóe três acervos distintos. Em primeiro lugar,

documentação impressa: a correspondência ativa e passiva de Francisco Xavier de Medonça Furtado, publicada por

Marcos Carneiro de Mendonça (1963). Em seguida a, documentos manuscritos: os códices da Coleção Pombalina,

sob a guarda da Biblioteca Nacional de Lisboa e do Fundo Diversos com o Governo, do Arquivo Público do Estado

do Pará. Por fim, a documentação digitalizada do Arquivo História Ultramarino, constante do Projeto Resgate. A

seguir, por economia de espaço, indicarei apenas a documentação impressa, quando ela for expressamente citada.

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tratado estabelecia como parâmetro para a definição das fronteiras o recurso ao conceito de uti

possidetis – a posse seria atribuída à Coroa que tivesse ocupado previamente a área em disputa

(Cortezão, 2001).

Apesar das iniciativas apontadas por Arthur Cezar Ferreira Reis, o Vale Amazônico era

área com população colonial rarefeita, dispersa em núcleos coloniais distantes entre si, mas

concentrados nas margens dos rios e nos arredores da cidade de Belém. Um imenso sertão

reclamava a presença portuguesa, de forma a garantir e consolidar a sua posse sobre o território

colonial. Recursos humanos disponíveis para a ocupação e o povoamento do Vale, todavia, eram

escassos. As populações indígenas surgiram, assim, como uma opção valiosa.

Nádia Farage pontuou, em obra imprescindível à compreensão do período, que as

populações indígenas, desde o início da conquista do Vale, constituíram o meio pelo qual as

Coroas européias estabeleceram domínio sobre extensas áreas (Farage, 1991). O estabelecimento

de associações de paz e amizade, permeadas por relações de troca, conformaram domínios ao

longo de todo o Vale, em sua grande maioria interrompidos pelos portugueses desde 1616,

quando se instalaram na região. O recurso às populações indígenas, como “muralhas” que

definiriam as possessões portuguesas, pareceu, portanto, uma alternativa viável e frutífera pois

garantiriam a incorporação de dois importantes capitais ao Império – homens e terras.

As populações indígenas, no entanto, já eram objeto de intensa disputa, de forma que a

Coroa não pode dispor delas sem considerar os demais agentes coloniais. Colonos e missionários

apresentaram forte resistência ao projeto metropolitano. Francisco Xavier de Medonça Furtado, o

Governador e Capitão-General do Estado, enviado com o objetivo de implementar o Tratado de

Madri e consolidar a presença da Coroa na região, enfrentou toda a sorte de contratempos,

interpostos por colonos e missionários, que apontavam a indisposição de todos contra qualquer

iniciativa que privasse a Colônia do acesso ao braço indígena (Coelho, 2006).

A política finalmente formulada foi resultado de um processo de conflitos ocorridos entre

1750 e 1757, no qual as pretensões metropolitanas tiveram de adequar-se às limitações impostas

pela Colônia. A análise desse processo pode esclarecer sobre a construção do Império Português.

Menos que resultado da vontade lusa, de construto das determinações emanadas da metrópole,

ele resulta de uma conformação política, na qual os agentes dispersos nas diversas unidades que

o compõem jogam uma partida decisiva: por meio de sua intervenção – sua conformação ou

resistência às projeções metropolitanas – eles dimensionam o Império; consolidam ou

enfraquecem os laços que os ligam à metrópole, colocando questões a serem resolvidas, de

forma a salvaguardar a unidade imperial.

O Vale Amazônico vivia um conflito secular, a disputa pelo controle da mão-de-obra

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indígena. Colonos e missionários eram os protagonistas. Os primeiros acusavam os segundos de,

sob o álibi da catequização, utilizar as populações indígenas para a edificação de uma imensa

fortuna. De fato, os missionários, especialmente os jesuítas, eram detentores de privilégios de

muita importância: tinham sob sua responsabilidade um conjunto portentoso de indivíduos,

distribuídos em quase setenta aldeias missionárias; nelas, produziam um sem número de gêneros,

escoados pelo porto de Belém, sem qualquer adição tarifária; possuíam várias fazendas de gado,

nas quais reuniam mais de cem mil reses; e, por fim, controlavam a distribuição daqueles

indivíduos, reunidos em suas aldeias, pelas demandas interpostas pelos colonos.

Os missionários, por sua vez, consideravam que o interesse pecuniário dos colonos

prejudicava a catequese e a civilização das populações indígenas. Denunciavam as violências a

que aquelas populações eram submetidas: afirmavam que, em muitos casos, aldeias indígenas

eram invadidas à revelia do que predispunha a legislação; que motivações eram forjadas para o

estabelecimento de Guerras Justas; que muitos indivíduos eram submetidos à escravidão por

meio da falsificação de sua condição de resgatado.

Ambos, no entanto, se mostraram contrários às projeções metropolitanas,

consubstanciadas nas Instruções Régias Públicas e Secretas para Francisco Xavier de Mendonça

Furtado, Capitão general do Estado do Grão-Pará e Maranhão (Mendonça, 1963, v. 1, p. 26-38),

que pontuavam a administração de Francisco Xavier de Mendonça Furtado. Nelas, a metrópole

definia as bases por sobre as quais a colônia seria integrada ao Império Português: introdução da

região nas trocas comerciais atlânticas, através da ampliação da produção de gêneros, e

submissão da colônia às diretrizes legais e políticas da metrópole. A concessão da liberdade aos

índios era o meio pelo qual tais bases se concretizariam em número variado de iniciativas: os

gêneros extrativos seriam colonizados; as diversas unidades coloniais – produtoras – seriam

integradas por redes de transporte fluvial; todo o complexo colonial deveria ser protegido por

uma rede de fortificações – com o reparo das que já existiam e a construção de novas fortalezas.

As populações indígenas constituiriam os agricultores, os agentes de transporte, as tropas e,

sobretudo, os elementos povoadores.

Já disputadas por colonos e missionários, aquelas populações passaram, então a ser objeto

de interesse de mais um agente – o Estado português. Os outros dois contendores não aceitaram

passivamente o projeto metropolitano. Desde a sua chegada, Francisco Xavier de Mendonça

Furtado teve de conviver com manifestações de resistência de ambas as partes. No entanto, cedo

percebeu que os missionários representavam o maior entrave. Em função do controle efetivo que

exerciam sobre uma população imensa, impediam que muitas das políticas projetadas fossem

executadas. Um exemplo é a organização da primeira expedição, reunindo espanhóis e

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portugueses, responsável pela definição das fronteiras que demarcariam os limites dos dois

territórios.

Os deslocamentos pelo território colonial dependiam, enormemente, das populações

indígenas. Elas exigiam muitos esforços e a participação de um grande número de indivíduos –

como batedores, flecheiros, remadores e carregadores. Em alguns casos, como as expedições que

realizavam a comunicação entre o Mato Grosso e o Grão-Pará, os deslocamentos compreendiam

mais de cinco centenas de indivíduos – necessários às transposições de cachoeiras, coleta e

preparo de gêneros, que garantissem a alimentação, e defesa dos viajantes contra eventuais

perigos.

Mendonça Furtado necessitava organizar as expedições que o levariam ao encontro dos

ministros espanhóis, a fim de dar início à demarcação das fronteiras. Todavia, lidava com toda

série de contratempos para arregimentar os recursos, materiais e humanos, necessários à viagem.

Segundo as denúncias que fazia à Metrópole, os missionários, jesuítas especialmente,

dificultavam a concessão de canoas, gêneros e, especialmente, índios, alegando não os terem em

número suficiente e sugerindo que o governador apresasse, ele mesmo, tantos quantos

necessitava.

Outro fator denunciado por Mendonça Furtado foi a resistência de colonos e missionários

(estes, evidentemente, com especial responsabilidade) pelo descumprimento da recomendação de

que as populações indígenas fossem catequizadas por meio da Língua Portuguesa, e não da

Língua Geral, a qual impedia o reconhecimento das determinações metropolitanas. Os colonos,

por sua vez, eram acusados de utilizar todo tipo de meios para burlar as restrições legais a fim de

submeter índios ao trabalho, tanto pelo substituto de Mendonça Furtado em suas ausências, Frei

Miguel de Bulhões, Bispo do Pará, quanto pelo próprio Furtado.

Diante de tamanha resistência, a administração metropolitana reformulou suas projeções

iniciais. A concessão da liberdade não previa qualquer instrumento regulatório (Coelho, 2006, p.

149-171). Todavia, o posicionamento assumido pelos missionários, colocou em cheque a

efetivação dessa política – tanto Mendonça Furtado quanto o Bispo do Pará consideraram que

livres da autoridade de qualquer agente do Estado, as populações indígenas estariam sujeitas à

influência missionária e, portanto, infensas às pretensões metropolitanas. Da mesma forma, a

resistência de colonos fez ver que o acesso à mão-de-obra indígena não poderia ser sustado. A

falta de recursos para a aquisição de braços escravos africanos e a própria amplitude do uso da

força de trabalho exigiam – como demandavam os colonos continuamente – alguma forma de

acesso à mão-de-obra indígena.

O Diretório dos Índios consubstanciou, então, as projeções metropolitanas e as demandas

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coloniais, à medida que buscou garantir, de um só golpe, o fim do poder missionário – visto

como um risco à consecução da autoridade metropolitana no Estado do Grão-Pará –, o acesso

dos colonos à mão-de-obra indígena – sob o controle e as determinações do governo da capitania

– e, finalmente, a utilização das populações como instrumentos de certificação da presença

portuguesa no Vale, nos termos propostos pelo Tratado de Madri. Este último aspecto promoveu

uma profunda transformação do Vale Amazônico. Dezenas de unidades coloniais surgiram,

erigidas por sobre antigos aldeamentos missionários. Elas foram criadas com diversas

atribuições: consolidar a presença portuguesa no Vale; promover a civilização das populações

indígenas; incentivar o convívio e a integração entre populações indígenas e coloniais; e, não

menos importante, produzir bens para o comércio.

A introdução e a consolidação do poder imperial no Vale Amazônico implicou, a partir

daí, a adoção de uma série de medidas, boa parte delas incluídas no Diretório dos Índios. A

transformação da condição das populações indígenas – em instâncias definidoras das fronteiras

coloniais – implicava não somente em uma alteração de estatuto, mas na própria modificação da

natureza daquelas populações. A primeira daquelas medidas, e uma das mais importantes, atingiu

diretamente o estatuto das populações inseridas no universo colonial: alcançavam a condição de

vassalos do rei português – passo fundamental para afiançarem o poder metropolitano luso sobre

as áreas em disputa com a Espanha.

Outras obedeciam ao mesmo imperativo: criação de unidades coloniais por todo o

território, especialmente em áreas de fronteira; introdução da Língua Portuguesa e banimento da

Língua Geral; promoção de atividades produtivas que potencializassem as possibilidades de cada

área do território – cada uma das unidades se especializaria na produção do gênero que mais lhes

favorecesse, de forma que não concorressem umas com as outras; e, não menos importante,

consolidação do poder metropolitano – com a eliminação da presença missionária e introdução

da administração laica, diretamente submetida ao governo metropolitano.

No entanto, a política adotada deveria dar conta, também, das demandas coloniais. Nesse

sentido, o Diretório dos Índios previa, como medidas civilizatórias, o incentivo ao trabalho

(agrícola, especialmente) e – mais importante para os colonos – a manutenção do trabalho

compulsório, com a distribuição regular de índios para os colonos, com a novidade da obrigação

de pagamento pelo trabalho indígena.

Todo esse processo considerava a transformação do espaço: a edificação de unidades

coloniais que viabilizassem tanto o projeto metropolitano quanto as demandas coloniais. Cabe,

portanto, percorrer o processo que conformou o aportuguesamento do Vale Amazônico, de

forma a corroborar o argumento que apresento aqui: a conformação do Império Português não

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pode ser percebida como uma determinação da Metrópole, mas como resultado de um processo

no qual conflitos de diversas ordens contribuem para o delineamento do Império – tanto do ponto

de vista geográfico, quanto no que se refere às políticas que permeiam as tentativas de

construção de sua unidade.

O imenso Portugal

A consecução do projeto metropolitano para o Vale Amazônico e a satisfação de

demandas coloniais conformou a ocupação da região. Conduzida pela Metrópole, ela buscou

integração do espaço e das populações que o habitavam aos interesses do Império. O primeiro

passo nesse sentido foi, sem dúvida, a transformação das antigas aldeias missionárias em

unidades coloniais leigas e a criação de unidades coloniais em áreas fronteiriças. O que se

pretendeu foi reverter o caráter da ocupação realizada até 1750, quando as ordens religiosas

respondiam pela maior parte das unidades coloniais, nas quais – afiançavam os agentes

administrativos – a autoridade metropolitana era rarefeita.

O empreendimento conduzido por Francisco Xavier de Mendonça Furtado pretendeu – e,

em larga medida, conseguiu – transformar aquele quadro. A conversão das aldeias missionárias

em vilas e lugares facultou um intenso convívio entre colonos e populações indígenas (Prado

Júnior, 1980, p. 72; Domingues, 2000b, p. 82-83), quase inexistente no passado (Belloto, 1988,

p. 53). Enquanto que aqueles aldeamentos gozavam de uma autonomia relativa, as povoações

instituídas pela política pombalina pretendiam integrar suas populações ao universo colonial, de

maneira inequívoca (Moreira Neto, 1988, p. 25). As povoações criadas no âmbito da execução

do Tratado de Madri e do Diretório dos Índios se distinguiam em Vilas e Lugares. Segundo

Eliane Ramos Ferreira, as Vilas eram unidades de povoamento, enquanto que os Lugares eram

centros de arregimentação, organização e distribuição da mão-de-obra indígena (Ferreira, 1998,

98). A despeito da propriedade da distinção, tratava-se, a rigor, de espaços complementares, em

acordo com o projeto de ocupação do território, integração da população indígena e utilização de

sua força de trabalho. Vilas e Lugares serviram aos propósitos de povoamento, de irradiação da

cultura portuguesa e de ordenação dos índios e colonos, segundo os ditames metropolitanos

(Santos, 2001, p. 24; Araújo, 2003, p. 151 e 158-161).

Tais povoações concretizaram, ainda que não de todo, as projeções de recriação do

espaço colonial à imagem da Metrópole. O imenso Portugal projetado e semeado em mais de

cinqüenta unidades urbanas está, segundo Palma Muniz, na origem das municipalidades

paraenses (Muniz, 1916, p. 3). Ele se encontrava formulado, já, nas Instruções Régias Públicas e

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Secretas para Francisco Xavier de Mendonça Furtado, Capitão general do Estado do Grão-Pará e

Maranhão, recebidas por Mendonça Furtado. Elas ordenavam o estabelecimento de novas aldeias

para os índios, especialmente nas regiões de fronteira, como os rios Mearim, Solimões e Japurá e

na área do Cabo Norte.

Mendonça Furtado acatou-as de imediato. Em novembro de 1751, preparava a fundação

de aldeias nos rios Japurá e Solimões. Em janeiro de 1752, encaminha a fundação da vila de São

José de Macapá e, um ano depois, da Aldeia de Santana, ambas no Cabo Norte. No mesmo ano

de 1753, informava a transformação da Vila do Caeté em Vila de Bragança. A fundação desta

última, aliás, acarretou a distinção a que me referi há dois parágrafos: após recomendar que ela

fosse povoada com colonos remetidos das ilhas, sugeria a edificação de uma aldeia de índios que

lhe fosse anexa, a fim de supri-la de trabalhadores – encontra-se aqui, talvez, a gênese da

distinção de Vilas e Lugares.

Logo no início, apesar da preferência pela criação de estabelecimentos livres da

participação missionária, ela não foi descartada. Só em 1753, já num contexto de conflitos com

os missionários, sugeriu-se a transformação das aldeias em vilas, isentas da sua autoridade. Em

1756, Sebastião José de Carvalho e Melo noticiou a concordância de Sua Majestade, autorizando

a transformação das aldeias e fazendas missionárias em povoações civis. Mendonça Furtado,

contudo, havia se antecipado, solicitando aos missionários que fornecessem relatórios

minuciosos sobre os seus estabelecimentos, de modo a tomar pé do que assumiria.

Ele formulara, ao longo dos primeiros anos de seu governo, a idéia de que os

estabelecimentos missionários não contribuíam para a consecução das projeções metropolitanas.

Entendera, cedo, que as aldeias não facultariam a emergência do vínculo que pretendia ver

constituído entre as populações indígenas e os colonos:

Não podemos fazer um estabelecimento sólido [...] se os Índios não

concorrerem conosco igualmente, para a causa comum, fazendo os interêsses

recíprocos; é preciso que nos benquistemos com eles, e que façamos todo o

possivel para que eles conheçam, não só que os estimamos, mas que buscamos

todos os meios de os fazer ricos e opulentos (“Instrução passada ao tenente

Diogo António de castro, para estabelecer a vila de Borba, a Nova, antiga

Aldeia de Trocano”, em 06/01/1756 – Mendonça, 1963, v. 3, p. 897).

Mendonça Furtado entendeu, portanto, que o incentivo aos casamentos inter-étnicos

(medida que integravas as iniciativas civilizatórias), a introdução da Língua Portuguesa e o

trabalho agrícola só cumpririam o seu papel em um espaço propício – as povoações civis. No

entanto, os missionários resistiram em abrir mão do que entendiam ser seu patrimônio. Antes de

partir, tentaram levar o que podiam: segundo o Bispo do Pará, o missionário da antiga Aldeia

Trocano (convertida em Vila de Borba, a Nova) cobrara, dos índios, supostas dívidas de

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comércio; outro, da mesma vila, segundo Mendonça Furtado, arrancou as fechaduras das casas e

reclamara para a sua Ordem os benefícios existentes na aldeia; ainda outros, conforme o mesmo

Furtado, tentavam convencer os índios a se transferirem para os domínios espanhóis. A grita dos

missionários foi tanta que Mendonça Furtado publicou uma Carta Circular alertando que os bens

das missões não eram privativos dos padres missionários, como alegavam alguns religiosos. A

emenda não consertou o soneto, de modo que tivera de lidar com as dificuldades interpostas

pelos regulares até o último momento.

A conversão das aldeias missionárias em estabelecimentos laicos, mais que culminar um

processo de disputas que opôs missionários e administração colonial – como pretendeu Colin

MacLachlan (MacLachlan, 1972, p. 360) – teve por objetivo implementar a ocupação do

território, no contexto político instituído pelo Tratado de Madri (Avellar, 1983, p. 26-27). Em

função do que ele dispunha, os espaços urbanos, as vilas e lugares, foram projetados como

centros de irradiação da autoridade metropolitana. E, nesse caso, não houve novidade: A. J. R.

Russel-Wood, Ronald Raminelli e Luiz Centurião afirmam ter sido este um recurso freqüente no

processo de ocupação e consolidação da presença portuguesa na América (Russel-Wood, 1977,

p. 35; Raminelli, 1992; Centurião, 1996, p. 131; 1999, p. 211, 214-215, 229-232).

As notícias sobre a fundação de vilas são constantes, em meio à documentação. Dão

conta do estabelecimento das vilas de São José do Jaguaribe, Borba, a Nova, Portel, Poiares,

Conde, Chaves, Melgaço, Vistoza, Nossa Senhora do Socorro das Salinas, Vizeu e Aveiro. Tais

notícias indicam a preocupação que norteou a ação metropolitana, no sentido de ocupar o

território. Até o final do século, o Estado contava com mais de noventa povoações, sessenta

delas na Capitania do Pará, grande parte das quais fundadas no governo de Mendonça Furtado.

Por meio delas, aquele governador pretendeu fortalecer a presença do poder metropolitano,

denominando-as com nomes portugueses, escolhidos dentre os das terras da Real Casa de

Bragança, da Coroa e da Rainha (Araújo, 1998, p. 122; Rodrigues, 1999, p. 106).

A edificação dessas povoações expõe uma outra faceta do processo de dominação

iniciado com a Conquista. O recurso àqueles topônimos portugueses teve a intenção de tornar

mais forte a relação entre a Colônia e a Metrópole. Evidentemente, a disputa por terras com a

Coroa espanhola, no contexto de concretização do disposto pelo Tratado de Madri foi decisiva: a

nomeação se constituía em mais uma estratégia para afirmar a antiguidade da ocupação

portuguesa e a sua autoridade sobre o território. Mas, dar nomes portugueses às novas vilas

cumpria, também, um importante papel no desmantelamento das culturas nativas, pois as

populações passariam, progressivamente, a se reconhecer pelo lugar de moradia, deixando de

lado a identificação primeira – com os seus grupos de origem. A nomeação com topônimos

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portugueses foi, portanto, mais um movimento, no processo de integração das populações

indígenas na sociedade colonial portuguesa. E não foi o único: aqueles estabelecimentos foram

planejados. Ao contrário da falta de ordenação, comumente atribuída às cidades coloniais

portuguesas (Holanda, 1979, p. 61-100; Centurião, 1999, p. 217; Cosentino, 1999, p. 89-91;

Marins, 2001, p. 46-50), as vilas e lugares introduzidos no Vale Amazônico na segunda metade

do século dezoito obedeceram a um minucioso planejamento. Ruas e casas foram projetadas, de

modo a maximizar o potencial pedagógico das povoações (Sommer, 2000, p. 108-109; Araújo,

2003, p. 162).

A preocupação com o delineamento de ruas, edificação de casas, preparação de roças e

manutenção das igrejas foi constante. Em 1764 (por volta de oito anos depois de iniciado o

processo de edificação das vilas e lugares), o Ouvidor Geral, Feliciano Ramos Nobre Mourão,

percorreu as vilas de Monsarás, Salvaterra, Monforte, Colares, Cintra, Bragança, Nova d’El Rei,

Ourém e Soure. Em relação a todas, o ouvidor atentou para a necessidade de se edificarem

prédios públicos, para servirem de câmara e cadeia; afirmou ser imperativo traçar ruas, capinar o

entorno das vilas, reparar os cais, aprontar roças e edificar casas para colonos e índios,

sugerindo, inclusive a construção de olarias que suprissem a demanda por telhas – em

substituição à palha, que requeria trocas freqüentes – e tijolos – em lugar da madeira e barro – e

que viabilizasse o fabrico de louças.

O fortalecimento do poder metropolitano era percebido, portanto, como algo mais que a

presença dos seus representantes – juízes, vereadores e procuradores (componentes das câmaras

e portadores das chaves da cadeia). A Metrópole se fortalecia com a transformação do sertão

amazônico em uma paisagem domesticada: com as aldeias volvidas vilas e as matas tornadas

roças. Umas e outras teriam de evocar, continuamente, a presença do poder metropolitano, por

meio de suas denominações, traçado urbano e arquitetura. As igrejas cumpririam papel relevante

nesse processo. Em lugar dos missionários – que representavam as Ordens às quais pertenciam –

os párocos, seus substitutos, deveriam fazer valer os interesses da Metrópole: cristianizar e

contribuir para a transformação do índio em vassalo. Daí decorreu a preocupação constante com

a construção e manutenção das igrejas, manifesta pelos governadores e, em grau diverso, pelos

diretores.

Como aponta Bárbara Sommer, todavia, as vilas não se constituíram tal e qual a projeção

portuguesa. A uniformidade esperada não foi de todo alcançada, uma vez que as povoações

investiam de modo distinto em melhorias. Assim, algumas se desenvolveram mais que outras, e

todas sofreram de forma similar a deteriorização imposta pelo clima do Vale. Da mesma forma, a

esperada integração não foi absoluta, porque algumas povoações adotaram uma distribuição

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espacial, a qual separava brancos e índios em bairros distintos. Independentemente da ocorrência

de divisões como essas, a viabilidade das povoações como instrumentos integradores foi posta à

prova. A maior parte da população vivia, grande parte do tempo, junto às suas roças, de forma

que os contatos entre os habitantes restringiam-se aos domingos e dias santos, quando as Vilas

tornavam-se pólos de reunião (Sommer, 2000, p. 108-116).

Edificar e manter as povoações não foram, então, tarefas fáceis. Havia que se rasgar ruas,

levantar casas, erguer igrejas e prédios públicos – “casas de Camera, e Cadêas publicas,

cuidando muito em que estas sejão erigidas com toda a segurança, e aquellas com a possivel

grandeza” (“Directorio que se deve observar nas Povoaçoens dos Índios do Pará, e Maranhão em

quanto Sua Magestade não mandar o contrário”, Moreira Neto, 1988, p. 196-197). Para tudo –

cortar madeira, trançar folhas para elaboração de coberturas das construções etc. – o índio era

necessário; sem esquecer, evidentemente, sua importância como povoador.

A política indigenista formulada no governo de Francisco Xavier de Mendonça Furtado

alterou, profundamente, as formas pelas quais as populações indígenas eram contatadas e

convencidas a habitarem as povoações. Os descimentos, termo que designava o processo de

convencimento e alocação das populações nas povoações coloniais, sofreram uma inflexão

significativa. Antes de 1750, eram três os meios de arregimentação das populações indígenas: a

guerra justa, as tropas de resgate e os descimentos promovidos por missionários ou particulares.

Os descimentos constituíam um conjunto de práticas com vistas à alocação de populações

indígenas em povoações coloniais, com fins catequéticos e de constituição de reserva de mão-de-

obra (Domingues, 2000b, p. 33).

Guerra justa e resgate foram, praticamente, deixados de lado. A primeira passou a ser

aplicada, quase que exclusivamente, às populações promotoras de ataques às povoações, a

despeito das iniciativas de estabelecimento de paz – como os Mundurucus. A escravização dos

vencidos foi, evidentemente, abolida, diante do contexto de liberdade, já previsto nas Instruções

recebidas por Mendonça Furtado. O segundo foi abandonado formalmente em 1753. Os

descimentos, ao contrário, foram expressamente ordenados pelas mesmas Instruções, as quais

recomendavam o recurso aos missionários, de modo que estes convencessem aos índios da

conveniência de se estabelecerem junto aos portugueses.

Mendonça Furtado cumpriu imediatamente tal dispositivo, logo no início de seu governo,

enviando o padre Antonio Machado ao rio Mearim, a fim de que ele promovesse o descimento

dos índios Gamela. Em relatório sobre suas atividades, no entanto, o padre sugeriu que as

populações refratárias fossem submetidas à força. Mendonça Furtado recusou prontamente a

sugestão, uma vez que ela colocava em risco a política de paz e amizade com os indígenas, os

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quais eram essenciais para as projeções de ocupação do território colonial. A insistência na

manutenção daquela política fora incorporada, posteriormente, ao texto do Diretório dos Índios e

compuseram o discurso da administração colonial até o fim do século.

Tantas povoações exigiam habitantes. Assim, ao longo da vigência da lei do Diretório, a

administração colonial se manteve firme no incentivo à realização de descimentos. E muitos

ocorreram. A documentação coligida por mim, registra trinta descimentos, totalizando cerca de

dois mil indivíduos. Tais descimentos, no entanto, diferiam daqueles promovidos antes de 1750.

Segundo a informação de João Daniel, a qual se refere aquele período, o ponto de partida para o

sucesso de um descimento era o estabelecimento da confiança. Para construí-la, os missionários

transferiam-se para junto das populações ou recorriam ao auxílio de um índio, já cristianizado,

ou de algum colono com quem mantivessem relações de comércio. De todo modo, a confiança

era alimentada com presentes, garantia de abrigo contra os inimigos, oferta de ferramentas para

elaboração de roçados e promessa de fartura de gêneros. As chefias indígenas eram

especialmente seduzidas, sendo as principais beneficiárias dos presentes, promessas e garantias.

Nada disso, no entanto, tornava certo o sucesso do empreendimento, pois freqüentemente as

populações descidas retornavam a sua condição original. Isto acabou por consolidar como que

uma norma: o estabelecimento das populações descidas em áreas distantes daquelas das quais

provinham, de forma a dificultar qualquer eventual retorno (Daniel, 1976, p. 40-45).

Nos descimentos ocorridos durante a vigência do Diretório dos Índios, a oferta de

presentes permaneceu intocada, como um dos momentos fundamentais do processo de

convencimento. Roupas, tecidos, chapéus, machados, foices, barbantes, granadas, pólvora,

espelhos etc. faziam parte da relação de bens que eram oferecidos aos índios. A primeira

distinção, no entanto, se dava na relação que se estabelecia com as chefias indígenas. Além da

atenção especial que já lhes era dispensada pelos missionários, concretizada na oferta de mais ou

melhores tecidos, roupas e chapéus – e tudo o mais que pudesse distinguí-los dos demais –

Francisco Xavier de Mendonça Furtado lhes acenou com a manutenção de sua autoridade.

Em um dos descimentos em que esteve envolvido, Mendonça Furtado relatara ao irmão o

encontro que tivera com várias chefias indígenas. Ouçamo-lo:

Os primeiros três me disseram que me vinham ver e saber o que queria dêles, e

respondendo-lhes eu que desejava muito conhecê-los e ter trato com êles e

pedir-lhes que se quisessem descer para o grêmio da Igreja, porque além de

interessarem o fazerem-se filhos de Deus e salvarem as suas almas, se lhes

seguiam muitos bens temporais, sendo os primeiros e mais importantes os de se

livrarem de seus inimigos e viverem entre nós com descanso e em vida civil, e

que com todas as conveniências, não perdiam a autoridade do govêrno dos seus

vassalos, por que Sua Majestade os ficava conservando nêle, devendo, porém,

regular-se pelas suas reais leis: ao que me responderam todos que eles não

teriam dúvidas a descer-se, porém, que por ora lhes era impossível, dando-me

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algumas desculpas, ainda que frívolas, para pretextarem aquela dilação, sem

embargo de cujo desengano os tratei muito bem, e quando se despediram lhes

fiz seus presentes e no exterior foram alegres, porém, não fizeram nada das

esperanças que deram (Correspondência de 15/11/1755 – Mendonça, 1963, v. 2,

p. 841-848).

A fala de Mendonça Furtado sinaliza a permanência de outros momentos do processo de

convencimento das populações que se pretendiam descer: oferta de abrigo diante dos inimigos,

garantia de oferta regular de alimentos e de condições para cultivá-los. O destaque, todavia, é

dado ao penhor da manutenção da autoridade das chefias indígenas – e nisto reside uma enorme

distinção, em relação ao período anterior à introdução do Diretório dos Índios. Enquanto os

missionários seduziam as chefias pelo acesso que elas facultavam às populações sob sua

autoridade, Mendonça Furtado as valorizava pela participação que elas poderiam ter no processo

de ocupação do território de controle das populações descidas. Daí decorreu, em larga medida, a

atenção de que foram objeto.

O Diretório dos Índios sinalizou, depois, o quanto elas seriam importantes, pois transferia

para elas e para as chefias coloniais leigas – os diretores nomeados pelo governador – a

responsabilidade pela promoção dos descimentos. E eles foram fundamentais. Principais,

sargentos-mores, capitães e alferes – os oficiais índios – estiveram envolvidos na realização de

descimentos, ao longo de todo o período de vigência da lei. Muitos saiam das vilas com o

objetivo de convencer primos, tios e irmãos a juntarem-se aos estabelecidos nas povoações

portuguesas.

Sua participação, todavia, não era sinônimo de sucesso. Este, aliás, dependia do interesse

das populações indígenas, que pareciam levar em conta os dividendos provenientes dos

descimentos, antes de qualquer decisão definitiva. Freqüentemente, como apontou o testemunho

de Mendonça Furtado, as confabulações com vistas ao estabelecimento em alguma povoação

eram apenas um meio de subtrair dos colonos aquilo que lhes interessava. Ainda em 1755, os

índios Gamela aceitaram presentes e recusaram a vida nas povoações. Em 1766, o governador da

Capitania do Grão-Pará reportava o assassinato de Francisco Rodrigues, durante a tentativa de

descimento dos índios Mobiú. O mesmo teriam feito os índios Sumaúma, tomando para si tudo o

que os representantes coloniais carregavam.

Os descimentos, contudo, mantiveram vivas as povoações do Vale Amazônico, ao longo

daquela metade de século. Para as populações indígenas, o descimento podia se constituir em

uma alternativa proveitosa, diante de seu horizonte imediato. Como sinalizou Bárbara Sommers,

os descimentos ocorriam após intensas negociações, nas quais as populações indígenas

consideravam as suas demandas imediatas, acima de tudo (Sommer, 2000, p. 102-108). Refúgio

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diante de inimigos mais poderosos, promessa de oferta regular de alimentos, auxílio em

momentos de fragilidade – as povoações coloniais representaram possibilidades diversas para as

populações indígenas, especialmente àquelas debilitadas depois de mais de cento e cinqüenta

anos de presença européia efetiva e desmantelamento de muitos grupos indígenas.

Maria Regina Celestino de Almeida argumenta, muito acertadamente, que a política de

descimentos praticada ao longo da vigência do Diretório dos Índios não representou um

crescimento populacional efetivo, tal como pretendeu a política portuguesa. Mais que garantir o

povoamento da região, os descimentos significaram o despovoamento de algumas áreas

indígenas em favor das coloniais (Almeida, 2005). Não obstante, a transferência daquelas

populações para as unidades coloniais alterou de forma definitiva o universo amazônico –

matizou de lusas as suas raízes e fez emergir relações e tipos sociais novos, atinentes às questões

emergidas do processo histórico resultante da integração da região ao Império Português.

Para concluir

A transformação do Vale Amazônico em região – conforme a conceituação feita por

Ilmar Rohloff de Matos (1990) – se deu em um longo processo, iniciado no século XVII, com o

estabelecimento definitivo dos portugueses na área próxima à entrada do grande rio das

Amazonas. Desde o começo, relações de necessidade foram se estabelecendo, vinculando áreas

coloniais e áreas indígenas. Os vínculos com a metrópole foram estabelecidos, aliás, por meio

das populações indígenas: a Coroa portuguesa entendeu, cedo, que o controle sobre àquelas

populações era imperativo. A cessão do controle sobre elas para as ordens religiosas teve o

objetivo de garantir o território e os vínculos, sem prejuízo da ocupação e da exploração colonial

(MacLachlan, 1972).

No entanto, em meados do século XVIII a situação exigiu a intervenção direta da

Metrópole. A assinatura do Tratado de Madri e a necessidade de tornar o território área

portuguesa fez com que o recurso às ordens religiosas sofresse solução de continuidade. A

autoridade metropolitana, rarefeita até àquela data, teve de ser construída sob novas bases. Os

atores políticos tiveram de ser redimensionados, de forma que os missionários regulares –

agentes importantes dos interesses metropolitanos – perderam espaço em favor dos colonos

leigos. A presença lusa reforçada.

A transformação da paisagem do Vale, com a edificação de Vilas e Lugares, diretamente

submetidos à autoridade régia, fez emergir não apenas um novo mapa, mas novas relações

sociais. Tomadas como índice da ocupação lusitana, foram rebatizadas com nomes portugueses –

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Parú torna-se Almeirim; Borary, Alter do Chão; Guarimocu, Arraiolos; Taparajó, Aveiro;

Sumaúma, Beja e, assim por diante, Portugal é reproduzido em quase todas as povoações

amazônicas do período, por meio da nomenclatura que recria o mundo luso nos trópicos.

Amplia-se o Império.

Naquelas povoações, populações indígenas e coloniais exerceram um convívio inédito.

Associações e conflitos fizeram emergir uma sociedade nova, vinculada, sem sombra dúvida, ao

Império Português, mas, relacionada, da mesma forma ao Vale e as injunções que a vida, nele,

estabeleciam. Conforme aponta aquela historiografia referida no início deste artigo, portanto, foi

por meio das tensões que demarcavam a vida no Vale e a relação dele com a Metrópole que a

inserção no Império se fez.

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