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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS ESCOLA DE VETERINÁRIA E ZOOTECNIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA ANIMAL Disciplina: SEMINÁRIOS APLICADOS MECANISMOS DE DEFESA ESPECÍFICA E INESPECÍFICA DA GLÂNDULA MAMÁRIA DE BOVINOS Eliane Resende Costa Cavalcanti Orientador: Prof.Dr. Albenones José de Mesquita GOIÂNIA 2013

MECANISMOS DE DEFESA ESPECÍFICA E INESPECÍFICA DA ...ppgca.evz.ufg.br/up/67/o/2013_Eliane_Resende_Seminario_1c.pdf · A musculatura que circunda o canal do teto é denominada esfíncter,

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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS

ESCOLA DE VETERINÁRIA E ZOOTECNIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA ANIMAL

Disciplina: SEMINÁRIOS APLICADOS

MECANISMOS DE DEFESA ESPECÍFICA E INESPECÍFICA

DA GLÂNDULA MAMÁRIA DE BOVINOS

Eliane Resende Costa Cavalcanti

Orientador: Prof.Dr. Albenones José de Mesquita

GOIÂNIA 2013

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ELIANE RESENDE COSTA CAVALCANTI

MECANISMOS DE DEFESA ESPECÍFICA E INESPECÍFICA

DA GLÂNDULA MAMÁRIA DE BOVINOS

Seminário apresentado junto à disciplina Seminários Aplicados do Programa de

Pós - Graduação em Ciência Animal da Escola de Veterinária e Zootecnia da

Universidade Federal de Goiás. Nível: Doutorado

Área de Concentração: Sanidade Animal,

Higiene e Tecnologia de Alimentos.

Linha de Pesquisa: Higiene, Ciência, Tecnologia

e Inspeção de Alimentos

Orientador: Prof. Dr. Albenones José de Mesquita

Comitê de orientação: Prof.Dr. Antonio Nonato de Oliveira - UFG

Dr. Eurione A. da Veiga e Jardim - UFG

GOIÂNIA

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SUMÁRIO

1. Introdução .................................................................................................................. 6

2. Revisão de literatura .................................................................................................. 7

2.1. Mecanismos de defesa da glândula mamária bovina ............................................ 7

2.1.1. Mecanismos de resistência anatômicos ou físicos da glândula mamária ......... 7

2.1.2. Pele dos tetos ................................................................................................... 7

2.1.3. Canal do teto ..................................................................................................... 8

2.2. Defesas imunológicas da glândula mamária: fatores solúveis não específicos

e celulares ...................................................................................................................... 9

2.2.1. Fatores solúveis não celulares .......................................................................... 9

2.2.2. Fatores celulares ou defesas celulares .............................................................. 13

2.3. Imunidade adquirida ou específica........................................................................ 14

2.3.1 Resposta imune adquirida mediada por anticorpos ou humoral ....................... 14

2.3.2 Resposta imune adquirida mediada por células .............................................. 16

3. CONSIDERAÇÕES FINAIS ....................................................................................... 17

4. REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 18

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1- Reação de oxidação ....................................................................... 10

Figura 2- Identificação do anticorpo pela

bactéria ............................................................................................................ 15

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LISTA DE ABREVIATURAS

Lf Lactoferrina

SC Sistema Complemento

IL Interleucina

Lp LPL

Lactoperoxidase Lipase lipoproteica

CCST Contagem de Células Somáticas de Tanque

CEM SCN HOSCN OSCN TNF-α Ig

Células Epiteliais Mamária Íons de tiocianato Ácido hipotiociânico Íons de hipotiocianato Fator de necrose tumoral alfa imunoglobulina

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1. INTRODUÇÃO

Os programas de controle de mastite estão direcionados para as medidas

preventivas, com a implantação de praticas de manejo. Pesquisas têm sido

desenvolvidas dando ênfase ao aumento dos mecanismos de defesa da

glândula mamária no período de maior susceptibilidade (RAINARD e RIOLLET,

et al.,2006).

A inflamação da glândula mamária é denominada de mamite ou mastite,

causada por microrganismos como algas, fungos, leveduras e bactérias. A

mastite está entre as principais doenças responsáveis pelas perdas

econômicas na produção leiteira bovina (CHAGUNDA et al., 2006).

Os gastos relacionados à mastite incluem: tratamento, descarte precoce

de animais, aumento da mão de obra, redução da quantidade e qualidade do

leite e consequentemente, redução no pagamento por qualidade

(SANTOS e FONSECA, 2007).

O animal acometido por mastite apresenta redução na produção e

mudança na composição do leite, devido às alterações do tecido secretor e dos

capilares sanguíneos da glândula mamária, (WATTIAUX, 2000).

Segundo, Santos e Fonseca (2007), ocorrem uma perda de até 15% na

produção de leite, o que significa uma redução de 4,6 bilhões de litros ao ano

em relação aos 30,7 bilhões de litros produzidos no país em 2010 (IBGE,

2011).

O estado de Goiás em 2010 deixou de produzir 101 milhões de litros de

leite em decorrência da mastite (LQL, 2011).

É fundamental o conhecimento dos mecanismos de defesa da glândula

mamária para tomada de decisões sobre o controle de mastite, com o objetivo

de prevenir novas infecções, adoção de medidas profiláticas e terapêuticas

mais adequadas no que diz respeito à sanidade da glândula mamária

(PHILPOT & NICKERSON, 2002).

O presente seminário tem por objetivo abordar uma revisão sobre os

mecanismos de defesa específica e inespecífica da glândula mamária bovina.

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2. REVISÃO DE LITERATURA

2.1. Mecanismos de defesa da glândula mamária bovina

A primeira defesa do organismo a um dano tecidual é a resposta

inflamatória, que tem como função remover o estímulo lesivo e iniciar a

recuperação tecidual local. Os mecanismos de defesa da glândula mamária

bovina podem ser classificados em: imunidade inata e imunidade específica

(TIZARD, 2008).

A imunidade inata, também chamada de inespecífica, ocorre no inicio da

infecção sendo mediada por mecanismos de defesa anatômicos ou físicos,

substâncias solúveis não específicas e celulares (SORDILLO, 2005; TIZARD,

2008).

Assim que o patógeno adentra a glândula mamária pode ser eliminado

pelo sistema imuno inato, mas se isso não ocorre, o sistema imune específico

ou adquirido é acionado. Há um reconhecimento de fatores antigênicos do

patógeno que é mediado por anticorpos, macrófagos e por linfócitos

(SORDILLO et al.1997). Devido à memória imunológica após a primeira

exposição, a resposta vai se tornando cada vez mais rápida, longa e mais

efetiva (SORDILO e STREICHER, 2002).

2.1.1 Mecanismos de resistência anatômicos ou físicos da glândula

mamária

A principal barreira física encontrada pelos patógenos ao invadir a

glândula mamária é o canal do teto e está relacionada com a manutenção da

integridade da pele do canal e do esfíncter da teta (RAINAR e RIOLLET, 2006).

Segundo Souza e colaboradores (2009), o canal do teto consiste na

primeira barreira do úbere e a principal defesa anatômica.

2.1.2. Pele do teto

A pele do teto é constituída por epitélio estratificado e a contínua

descamação da superfície das células leva à formação de queratina que

bloqueia fisicamente a entrada do orifício do canal do teto, sendo capaz de

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ligar, imobilizar e remover a maioria das cepas de bactérias não capsuladas

(PRESTES et al, 2002; BIGGS, 2009).

A queratina é formada por ácidos graxos, esterificados e não esterificados

como mirístico, palmitoléico e linoléico, que possuem efeito bacteriostático e

proteínas catiônicas que têm a capacidade de se ligar eletrostaticamente aos

agentes patogênicos, alterando a parede celular tornando-a mais susceptível à

pressão osmótica (SORDILLO e STREICHER, 2002).

Fatores que interferem na integridade da camada de queratina podem

aumentar a susceptibilidade do canal do teto e do quarto mamário à entrada de

bactérias, levando às infecções intramamárias (PRESTES et al, 2002).

2.1.3. Canal do teto

A musculatura que circunda o canal do teto é denominada esfíncter, que

se mantém fechado entre as ordenhas, evitando assim, a penetração de

bactérias (PHILPOT e NICKERSON, 2002). No período entre ordenhas, esse

anel constitui-se em uma barreira física (RAINARD e RIOLLET, 2006). No

entanto a ordenha é um período determinante para a manutenção da

integridade do úbere, na ordenha o fluxo de leite e abertura do canal do teto

promovem a lavagem do tampão de queratina e o relaxamento do esfíncter do

teto que permanece aberto até duas horas após a ordenha, deixando o canal

do teto vulnerável a entrada de microrganismos (PHILPOT e NICKERSON,

2002).

Para manter os tetos saudáveis devem ser observados cuidados no

manejo das vacas em ordenha: alimentar os animais após a ordenha, pois,

assim os animais ao ficarem em pé, evitam a penetração de microrganismos

pelo canal do teto que se encontra aberta (FONSECA e SANTOS, 2000).

Medidas higiênicas devem ser observadas na aplicação de drogas

intramamárias, lembrando que as bactérias alojadas na queratina podem

penetrar no canal do teto pela introdução da cânula do medicamento (PHILPOT

e NICKERSON, 2002).

O epitélio da glândula mamária raramente é estimulado por

componentes bacterianos e assim qualquer bactéria que penetrar pelo canal do

teto pode ser reconhecida como invasora (RAINARD &RIOLLET,2006).

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O canal do teto é um meio asséptico, quando não sofre invasão de

patógenos causadores de mastite (PHILPOT e NICKERSON, 2002).

2.2. Defesas imunológicas da glândula mamária: fatores solúveis não

específicos e celulares

Uma vez que o agente patogênico atravessou o canal do teto e alcançou a

cisterna da glândula mamária, passam a atuar especialmente os fatores

solúveis não específicos e celulares, que são, respectivamente, sistema

lactoperoxidase, sistema complemento, lisozima e lactoferrina, neutrófilos,

macrófagos, linfócitos e células epiteliais mamárias (SORDILLO e

STREICHER, 2002).

2.2.1 Fatores solúveis não específicos

Os fatores solúveis não específicos presentes no leite também contribuem

para os mecanismos de defesa da glândula mamária.

A lactoperoxidase (Lp), enzima do grupo oxidase,é sintetizada na

glândula mamária principalmente por leucócitos polimorfonucleares e está

associada à sua proteção contra microrganismos patogênicos (ATASEVER et

al.,2013).

Esta enzima em associação com peróxido de hidrogênio, que é derivado

do metabolismo celular e pelo íon tiocianato (SCN-) proveniente do

metabolismo hepático, produzem reações químicas, que têm como produtos o

ácido hipotiociânico (HOSCN) e o íon hipotiocianato (OSCN-), elementos que

possuem características antimicrobianas, (ARAÚJO e GHELLER, 2005).

A Lp na presença de tiocianato e do peróxido de hidrogênio possui efeito

bacteriostático para bactérias gram-positivas, como Stapylococcus aureus e

estreptococos, bem como bactericida para gram-negativo, como por exemplo,

os coliformes (SMITH e SCHANBACHER, 1977).

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Figura 1: Reação de oxidação

Fonte: De WIT J.N& VAN HOOYDONK, (1996).

As concentrações de tiocianato no leite dependem de seus níveis séricos,

os quais por sua vez dependem diretamente da dieta (SORDILLO et al., 1997).

As concentrações de tiocianato e de peróxido de hidrogênio condicionam a

ação da lactoperoxidase, razão pela qual se julga que sua ação no úbere não é

muito importante, no período de lactação, uma vez que a baixa pressão de

oxigênio no úbere inibe a produção de peróxido de hidrogênio (SORDILLO et

al., 1997; RAINARD e RIOLLET,2006; BIGGS, 2009).

O Sistema Complemento (SC) é constituído por um conjunto de proteínas,

que são encontrados em maior concentração no plasma e presentes também

no leite (KORHONEN et al., 2000). Fatores do sistema complemento são

produzidos principalmente por hepatócitos, mas em menor quantidade por

macrófagos, monócitos e no leite de glândulas saudáveis. Quando há resposta

inflamatória, estes fatores são mobilizados da corrente circulatória juntamente

com a exsudação plasmática (BARRIO et. al. 2003).

Para que o SC exerça as suas funções, ele deve ser ativado, originando

assim uma série de fragmentos com diferentes características e funções

específicas. Esta ativação ocorre por duas vias: a clássica e a alternativa. Cada

uma delas é desencadeada por fatores diferentes, mas que convergem em

uma via comum a partir da formação de C3b (BARRIO et al 2003).

Os mesmos autores, a via clássica de ativação do complemento não é

claramente funcional na glândula mamária e a via alternativa se faz com duas

conseqüências: deposição de componentes opsonizantes na bactéria e

geração de fragmentos pró-inflámatorios, sendo assim, com a ativação desse

sistema obtém-se a produção dos mediadores pró-inflamátorios C4a, C3a e

C5a.

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No leite mastítico o elemento do complemento C5a pode ser um dos

principais mediadores inflamatórios, porque ele induz a migração de neutrófilos

e células fagocíticas na direção do local onde ocorre a resposta inflamatória

(ZECCONI e SMITH, 2000). Entretanto, baixas concentrações de complemento

observado em glândulas mamária saudáveis durante a lactação, comprovam

que as atividades bactericidas do sistema de complemento só estão

aumentadas em tecidos inflamados e a intensidade esta relacionada a uma

resposta inflamatória (RAINARD et al.; 2000).

As enzimas lisozimas produzidas pelas células epiteliais e leucócitos que

clivam as pontes existentes entre o ácido N-acetil murâmico e a N-

acetilglicosamina presentes no peptidoglicano da parede celular das bactérias

resultando em lise celular (RAINARD e RIOLLET,2000). As bactérias gram

positivas são mais susceptíveis devido à parede celular possuir 90% de

peptideoglicano (RAINARD e RIOLLET, 2006).

Os fragmentos dos peptídeosglicanos da parede celular resultantes da ação

da lisozima, também são ativadores da resposta inflamatória. A sua importância

está no fato dela intensificar a ação dos anticorpos e do complemento

(PHILPOT e NICKERSON, 2002).

Outra substância inespecífica que está presente na defesa da glândula

mamária é a lactoferrina (Lf). É uma glicoprotéina produzida pelas células

epiteliais, macrófagos e neutrófilos com ação antimicrobiana (CHANETON et

al., 2008).

Sua concentração aumenta durante o início do período seco e durante as

infecções e se torna a proteína mais importante das glândulas não lactantes.

Ela apresenta capacidade bacteriostática através da ação inibitória ao

crescimento bacteriano por se ligar aos íons de ferro, tornando indisponíveis

para o crescimento bacteriano (OVIEDO-BOYSO et al; 2007; TIZARD, 2008;

CHANETON et al , 2008).

Nas secreções de vacas secas, a lactoferrina está presente em grandes

concentrações. As concentrações normais de lactoferrina no leite são de

aproximadamente 0,1mg/mL, mas durante o período seco,estas concentrações

podem chegar a 20 mg/mL ou mais, este fato sugere que a lactoferrina é uma

das maiores defesas da glândula mamária bovina durante o período seco.

Neste período ocorre uma redução na concentração de citrato e um aumento

12

de bicarbonato, essa condição, é mais favorável a atuação quelante do ferro da

lactoferrina (RAINARD & RIOLLET, 2006).

A sensível diminuição da Lf na colostrogênese, associada ao aumento de

citrato, devido à retomada da síntese do leite, é um dos fatores que explicam a

maior suscetibilidade da glândula às infecções nesse período (CHENG et al.,

2008).

As funções da Lf estão no fator de modulação de aderência e emigração

de neutrófilos, indução da produção de citocina, que dependem da

concentração de Fe disponível, ainda possui atuação sinérgica com os

neutrófilos na ação contra os patógenos (WARD et al.,2005).

Mastite causada por Staphylococcus aureus e Escherichia coli

demonstraram ser mais sensíveis à ação bactericida da Lf e Staphylococcus

uberis demonstraram resistência (CHANETON et al.,2008).

Esta enzima pode ser utilizada como parâmetro de saúde da glândula

mamária (LINDMARK - MANSSON et al 2006).

As citocinas são proteínas produzidas por vários tipos de celulares como,

linfócitos e macrófagos ativados, na glândula mamária são produzidas pelas

células epiteliais e pelos neutrófilos. Alterando a permeabilidade vascular e o

recrutamento de leucócitos (SORDILLO et al,1997).

Entre os moduladores imunes secretados pela glândula mamária as

citocinas na patofisiologia têm sido estudadas, principalmente as citocinas do

tipo Interleucina (IL-1, IL-6, IL-8, IL-12) e o Fator de Necrose tumoral –α (TNF-

α). Sendo considerados como marcadores das defesas da glândula mamária.

Devido às alterações no repertório das citocinas, no úbere normal ou mastítico

tem sido pesquisado seu uso no diagnóstico e prognóstico de mastites

(SORDILLO et al.,1997; ALLUWAIMI e CULLOR,2002; ALLUWAIMI,2004)

O fator de necrose tumoral (TNF-α) é uma citocina envolvida nas reações

de fase aguda nos processos de inflamação. É ativada em resposta a

patógenos, especialmente ao lipopolisacarrídeo (LPL) de bactéria Gram-

negativo. Sendo produzida especialmente pelos macrófagos, neutrófilos e

células epiteliais. Ela media o recrutamento dos neutrófilos e macrófagos para

os locais da infecção. Participa da atividade quimiotática dos neutrófilos,

porque induz a expressão de moléculas de adesão para células epiteliais. O

choque endotóxico é outra atividade atribuída a citocina em caso de mastite

13

aguda causada por E.coli (PERSSON et al.,1993).

2.2.2. Fatores celulares ou defesas celulares

No leite proveniente de uma glândula mamária sadia, observa-se um

conjunto de células representadas, principalmente, por leucócitos e células

epiteliais.

Os leucócitos provêm do sangue através de diapedese para o tecido

mamário, enquanto que as células epiteliais resultam da descamação dos

alvéolos e ductos da glândula mamária. O conjunto dessas células é

denominado de células somáticas (ARAUJO, 2005).

As células que compõem o sistema de defesa celular inespecífico da

glândula mamária são constituídas pelos macrófagos, neutrófilos e pelas

células epiteliais mamárias que são ativados após os patógenos terem

ultrapassado as barreiras anatômicas e solúveis (SORDILLO et. al., 1997).

Os macrófagos são as células que normalmente, estão presentes no

processo de uma reação inflamatória, tendo a função de fagocitose, mas esta é

prejudicada, porque no leite as células esgotam sua capacidade fagocítica ao

englobarem micelas de caseína e glóbulos de gordura. Sendo assim, sua

maior importância reside na capacidade de secretar substâncias que facilitam a

migração dos neutrófilos que desempenharão suas atividades bactericidas

(KEHRLY et al.,2001).

As células somáticas, em especial os neutrófilos são atraídas para o leite

em resposta à inflamação através da liberação de substâncias quimioatrativas,

como produtos de degradação bacteriana, citocinas pró-inflamátorias, como

fator de necrose tumoral alfa (TNF-α) e interleuciana-1(IL-1b), o complemento

(fragmento C5a), complexo antígeno-anticorpo, entre outros, são liberadas,

provocando o recrutamento dos neutrófilos polimorfonucleares (PMN) da

corrente sanguínea para o local da inflamação (PRESTES et al., 2002).

O rápido influxo de neutrófilos para o sitio de infecção, a capacidade de

fagocitar e eliminar a bactéria pode ser o meio para uma rápida recuperação da

infecção (RABOT et al,2007).

Quando há inflamação da glândula mamária, os neutrófilos constituindo

até 95% das células somáticas (BIGGS, 2009).

As Células Epiteliais Mamárias (CEM) estão presentes no leite devido ao

14

processo de descamação. Segundo YANG et. al. (2008), as células epiteliais

mamárias, apresentam grande capacidade de expressar citocinas após a

estimulação com bactérias patogênicas.

2.3 Imunidade adquirida ou específica

A imunidade específica na glândula mamária ocorre quando o animal é

exposto a um agente infeccioso e a imunidade inata não foi capaz de debelar o

processo infeccioso. Essa forma de imunidade tem como característica a

especificidade e memória das células de defesa do organismo em relação ao

agente infeccioso (ABBAS & LICHTMAN, 2005).

As respostas imunes específicas reconhecem determinados antígenos

específicos de um patógeno. Isto é devido à memória imune, em função de

repetida exposição na glândula mamária de um mesmo patógeno. Quando

ocorre uma nova exposição ao mesmo patógeno se obtém uma resposta

efetiva mais rápida e eficaz na eliminação do agente invasor (PARK et

al.,2004).

A imunidade específica da glândula mamária nos ruminantes apresenta

algumas particularidades. A imunidade celular é prejudicada pela saturação das

células fagocíticas com micelas de caseína e glóbulos de gordura. A produção

de células produtoras de anticorpos na glândula mamária é reduzida. Sendo

assim, a maior parte de células imunes da glândula mamária tem origem

sistêmica e são constituídas por neutrófilos. Nos ruminantes estas células

apresentam receptores para IgG2 e não para IgG1,dificultando a opsonização

dos antígenos bacterianos (KERLI e HARP,2001).

Existem dois tipos de resposta imune adquirida ou específica: a humoral

(mediada pelos anticorpos, produzidos por linfócitos B) e a celular (mediada por

linfócito T (TIZARD, 2008).

2.3.1 Resposta imune adquirida humoral

A resposta imune adquirida humoral é mediada por anticorpos, que são

proteínas formadas por plamócitos (linfócitosB). Plasmócitos são linfócitos B

diferenciados sendo capazes de secretar anticorpos ativamente. A função dos

anticorpos é de neutralizar e eliminar o antígeno que estimulou sua produção.

Os anticorpos também podem ser chamados de imunoglobulinas (Ig) (TIZARD,

2008).

15

A resposta imune é mediada por um complexo antígeno-específico

composta por células de memória do sistema imune, conforme figura 6

(RAINARD & RIOLLET, 2006).

Figura. 1 identificação de bactéria

Fonte: PHILPOT & NICKERSON (2002)

Na glândula mamária bovina são quatro os isotipos de anticorpos

envolvidos na sua defesa: IgM, IgG1, IgG2 e IgA . Estas imunoglobulinas têm

diferentes funções e a sua concentração no leite varia com o estado de saúde

do úbere e a fase de lactação (BIGGS, 2009).

A IgG1 é o isotipo primário encontrado em secreções mamárias de

animais saudáveis. IgG2 aumenta durante o processo inflamatório da glândula

mamária e a IgA não auxilia na opsonização de bactérias, mas promove a

aglutinação de bactérias evitando a sua propagação (MALLARD et al.,1998).

A IgM sérica é bastante efetiva em neutralizar alguns tipos de toxinas e

opsonizar patógenos no sangue e no leite. Sendo mais eficaz na proteção

contra choques tóxicos do que na diminuição de sinais de inflamação local. As

IgA, mesmo tendo sua concentração relativamente baixa no leite e não tendo

atividade opsonizante atuam auxiliando na prevenção à colonização de

patógenos e dano tecidual via aglutinação e neutralização de toxinas (KHERLI

e HARP, 2001).

A IgG1 e IgG2 são encontradas no soro e no leite, devido ao transporte

imuno-mediado que age através das células epiteliais mamárias. Ambas,

efetivamente bloqueiam a interação de patógenos com as células do

hospedeiro e neutralizam as toxinas do sangue e tecidos e impedem a adesão

e a colonização da glândula mamária pelos microrganismos (SORDILLO et al.,

1997).

16

A IgG1 tem capacidade de estimular macrófagos e neutrófilos, mas, no

entanto, são as IgG2 que possuem a atividade opsonizadora principal para

neutrófilos bovinos, promovendo o recrutamento de neutrófilos para a glândula

mamária, eliminando a infecção (BURTON et al., 2002).

2.3.2 Resposta imune adquirida mediada por células

A imunidade mediada por células está representada basicamente pelos

linfócitos T são divididos em dois grupos principais: linfócito T e B. Os linfócitos

T podem ser classificados em: T helper (CD4+) e T supressor (CD8)+ (PARK et

al.,2004).

Os linfócitos T CD8+ são os tipos predominantes na glândula mamária

sadia, porém durante a mastite, os linfócitos T CD4+ passam a prevalecer

(PARK et al.,2004).

Durante a infecção bacteriana na glândula mamária os linfócitos CD8+

podem eliminar a células do hospedeiro, devido à resposta imune. Devido a

isso, esses linfócitos têm sido considerados como “catadores”, pois eliminam

as células danificadas ou velhas da glândula mamária (BURCHILL et al.,2003).

Os linfócitos B têm como principal função a produção de anticorpos contra

patógeno invasores. Os linfócitos B utilizam seus receptores de membrana

para o reconhecimento dos patógeno específicos, e funcionam também como

células apresentadoras de antígenos (BURCHILL, et al.,2003).

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3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A mastite na pecuária leiteira é a doença que mais onera o custo de produção,

e a melhor maneira de evitar esta doença é a prevenção. A pesar de todo o

conhecimento disponível para o seu controle, ela mantém com alta prevalência.

A estimulação do sistema de defesa da glândula mamária com o uso de

imunomoduladores pode ser vislumbrada como novas estratégias para o

controle de mastite.

Estudos direcionados à patofisiologia celular e molecular dos mecanismos

imunes da mastite têm sido desenvolvidos para melhor compreensão e assim

obter resultados mais concretos em relação à mastite.

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4. REFERÊNCIAS

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