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Página 20 Rio Branco – Acre, DOMINGO, 28 e SEGUNDA-FEIRA, 29 de agosto de 2011 Mecanização e armazenamento avançam no meio rural Governos da Frente Popular fortalecem a agricultura do Acre apoiando todas as fases da produção de alimentos TEXTO: ROMERITO AQUINO FOTOS: ALEXANDRE CARVALHO S uado, roupa suja de nódoas, sorriso largo no rosto e ainda com muita disposição para trabalhar, mesmo depois de estar derru- bando cachos e mais cachos de banana comprida desde as cinco horas da madrugada. Foi assim que encontramos seu Sebastião Câma- ra no meio dos mais de 20 mil pés de bananas que plantou em nove hectares de sua propriedade, situada no ramal Samaúma, no km 25 da rodovia estadual que liga Plácido de Castro à Acrelândia, uma das regi- ões mais produtivas do Acre. O gigantismo e a valentia com que seu Sebastião avançava sobre o bananal desde a madrugada casam perfeitamente com sua história de homem que nasceu e foi criado no campo, enfrentando e vencendo qualquer tipo de dificuldades para produzir o alimento de cada dia dele e das pessoas da cidade. Paranaense, 55 anos, 25 dos quais morando no Acre, casado e pai de dois rapazes e uma moça, seu Sebastião é exemplo ideal de produtor rural que “agarra com vontade” e transforma “em muita produção” o apoio que vem sendo concedido nos últimos 12 anos e meio pelos governos da Frente Popular do Acre para fortalecer e fazer crescer a agricultura do estado. “Nasci e me criei debaixo de pés de café lá no Paraná”, conta ele, enquanto recorda, sentado na sombra de bananeira, de sua chegada ao Acre no dia 16 de junho de 1986. Na companhia de um irmão, Sebas- tião veio para o Acre oriundo do Paraguai, para onde os dois irmãos tinham ido tentar, por 14 anos, “crescer” na agricultura após deixarem o Paraná. Olhando para as muitas rumas de cachos de banana comprida, que ele e os dois filhos já haviam preparado para serem embarcadas no ca- minhão novo da família para seguirem até Porto Velho, de onde seriam levadas de barco para Manaus, seu Sebastião lembra que, inicialmente, pensou ficar com irmão em Rondônia, mas um amigo apostou que no Acre eles iam ter mais sucesso, pois a terra era melhor. E para cá vieram.

Mecanização e armazenamento avançam no meio rural

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Mecanização e armazenamento avançam no meio rural - Especial Jornal Página 20

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Page 1: Mecanização e armazenamento avançam no meio rural

Página 20Rio Branco – Acre, DOMINGO, 28

e SEGUNDA-FEIRA, 29 de agosto de 2011

Mecanização e armazenamento

avançam no meio rural

Governos da Frente Popular fortalecem a agricultura do Acre apoiando todas as fases da produção de alimentos

�TEXTO: ROMERITO AQUINO �FOTOS: ALEXANDRE CARVALHO

Suado, roupa suja de nódoas, sorriso largo no rosto e ainda com muita disposição para trabalhar, mesmo depois de estar derru-bando cachos e mais cachos de banana comprida desde as cinco

horas da madrugada. Foi assim que encontramos seu Sebastião Câma-ra no meio dos mais de 20 mil pés de bananas que plantou em nove hectares de sua propriedade, situada no ramal Samaúma, no km 25 da rodovia estadual que liga Plácido de Castro à Acrelândia, uma das regi-ões mais produtivas do Acre.

O gigantismo e a valentia com que seu Sebastião avançava sobre o bananal desde a madrugada casam perfeitamente com sua história de homem que nasceu e foi criado no campo, enfrentando e vencendo qualquer tipo de dificuldades para produzir o alimento de cada dia dele e das pessoas da cidade.

Paranaense, 55 anos, 25 dos quais morando no Acre, casado e pai

de dois rapazes e uma moça, seu Sebastião é exemplo ideal de produtor rural que “agarra com vontade” e transforma “em muita produção” o apoio que vem sendo concedido nos últimos 12 anos e meio pelos governos da Frente Popular do Acre para fortalecer e fazer crescer a agricultura do estado.

“Nasci e me criei debaixo de pés de café lá no Paraná”, conta ele, enquanto recorda, sentado na sombra de bananeira, de sua chegada ao Acre no dia 16 de junho de 1986. Na companhia de um irmão, Sebas-tião veio para o Acre oriundo do Paraguai, para onde os dois irmãos tinham ido tentar, por 14 anos, “crescer” na agricultura após deixarem o Paraná.

Olhando para as muitas rumas de cachos de banana comprida, que ele e os dois filhos já haviam preparado para serem embarcadas no ca-minhão novo da família para seguirem até Porto Velho, de onde seriam levadas de barco para Manaus, seu Sebastião lembra que, inicialmente, pensou ficar com irmão em Rondônia, mas um amigo apostou que no Acre eles iam ter mais sucesso, pois a terra era melhor. E para cá vieram.

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“Minha mulher amanhecia e escurecia

o dia na roça”Nos últimos anos, além

do plantio de milho e da banana, seu Sebastião está apostando, com sucesso, na criação de porcos, já dispon-do hoje de mais de 200 ca-beças, fora as 56 cabeças que havia vendido dias atrás. Ele diz que já teve mais de 400 cabeças de gado, mas vendeu parte do rebanho para inves-tir na compra do caminhão, do trator e de outros peque-nos implementos agrícolas.

A mecanização na região de seu Sebastião vem dando muito certo, da mesma for-ma que o armazenamento dos grãos, ambos garantidos no município pela Secretaria de Estado de Agropecuá-ria (SEAP). Depois que seu Sebastião prepara a terra, segundo relata Ênio Lazza-ri, gerente de Mecanização e

Produção de Grãos, a Seap presta assistência no plantio, lhe ajuda a colher e trans-porta seus grãos até o silo de Plácido de Castro, onde ele paga uma taxa de R$ 1,50 pela tonelada armazenada. Todo esse ciclo de ajuda vai se repetir agora, depois que o produtor concluir o preparo de 25 hectares de terra onde pretende plantar milho.

“Nós só temos condições de produzir por causa do grande apoio do governo do estado. E se eu tenho apoio, é claro que eu vou produ-zir”, assinala seu Sebastião, que só para alimentar seus porcos já consumiu esse ano 970 sacos de milho, que na região custa R$ 25,00 a saca, enquanto a saca de Mato Grosso é vendida a mais de R$ 30,00.

Com 48 “buchos”, que é como chama as bagagens, o agricultor Sebastião Câma-ra diz que “aportou na BR-364”, na altura de Acrelân-dia, com a família e “muitas mochilas, tranqueiras, alumí-nio, roupas e cobertas”.

“A gente veio para fazer aventura. A gente tava no Pa-raguai, onde já tinha morado 14 anos lá. Aí pensamos em fazer uma aventura no Norte do Brasil. Diziam que aqui a terra era boa, produtiva, mas estávamos fora do nosso país. A gente tinha vontade

de crescer, comprar mais ter-ra porque lá era pequeno. Eu só tinha quatro alqueires de terra lá. Então, a gente veio para cá aventurar”, afirma Sebastião.

Aqui chegando, o dinheiro que Sebastião e o irmão apu-raram com a venda das terras no Paraguai deu para comprar uma colônia de 80 hectares. “Dia primeiro de julho, nós botamos a foice no mato”, diz. Muitas foices e três plan-tios de arroz e mais duas boas colheitas de feijão (196 sacas) e de milho (400 sacas) depois,

Sebastião pode, enfim, com-prar a colônia dele.

“Foi muita luta no começo. A gente teve alguns apoios aí do governo. Na época, surgiu o Procera, o FNO. Não peguei o FNO porque era pesado. Mas peguei o Procera. Tive outro financiamento, que era ou-tro tipo de FNO. O governo me deu apoio, eu comprei um bocado de gado branco. Deu para crescer mais e assim foi...”, continua o produtor. Ele lem-bra que, nessa época, “minha mulher amanhecia e escurecia o dia na roça comigo”.

SEU SEBASTIãO vende sua banana para o mercado consumidor de Manaus (AM)

Apoio do governo começa no plantio dos alimentos

ALéM do trator, seu Sebastião conta com o caminhão novo para ampliar sua produção agrícola

GRANDE produção de banana na colônia do agricultor paranaense, que se encontra há 25 anos no Acre

CRIAçãO de porco é outra atividade lucrativa da propriedade do pequeno agricultor

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ESPECIAL

Ramal trafegável e apoio à exportação podem fazer a diferença

“O que o governo pode fazer ainda para o senhor produzir muito mais?” Dian-te da pergunta, seu Sebastião Câmara coça o bigode, olha para a imensidão de seu plan-tio de banana e responde: “acho que se o governo fizer mais duas coisas, vai ficar ain-da melhor a nossa produção”. As duas coisas mencionadas pelo produtor são tornar o ramal Samaúma trafegável o ano inteiro e ajudar a expor-tar a banana e o porco para outras regiões do país.

Além de ampliar de forma considerável sua produção, seu Sebastião ressalta que a

mecanização aboliu o uso do fogo em sua propriedade. Uma prática que lhe custou todo o grande plantio de la-ranja que possuía e que foi todo queimado pelo fogo que se espalhou por quase todo o estado no ano de 2005.

Para justificar a pavimen-tação do ramal Samaúma, o produtor destaca que ele é um dos ramais que mais produ-zem hoje alimentos na região do Alto e Baixo Acre. “Aqui temos mais de 100 produto-res, que só podem tirar a pro-dução durante o verão, mas precisam de escoamento tam-bém no inverno”, assinala.

Seu Sebastião Câmara lembra que todos os produ-tores da região dispõem de mecanização agrícola. “Todo mundo aqui é estruturado, tem trator porque todos tra-balham muito”, completa, ao lembrar que a região só não cresceu mais por falta de trá-fego constante no ramal, que tem a extensão de 18 quilô-metros. O produtor lembra que a bacia leiteira só está esperando o tráfego perma-nente no ramal para se ex-pandir de uma vez por toda na região.

O segundo apoio reclama-do pelo produtor ao governo é na área da exportação para outros estados, tanto do por-co quanto da banana. Sebas-tião diz que o porco não pode sair ainda do estado por falta da fiscalização do Sistema de Inspeção Federal (SIF), que está sendo aguardada para até o final deste ano.

Segundo seu Sebastião, a banana que ele produz só pode ser vendida no máximo para Manaus (AM), depois de ser transportada de caminhão até Porto Velho (RO). Para o Centro-Oeste, o produto não é vendido por causa do mal da Sigatoka Negra, que ame-aça o bananal daquela região brasileira. “Se o governo in-tervir nisso, acho que a gente pode conseguir vender para o Centro-Oeste e para além dessa região”, acredita o agri-cultor.

Sobre o quarto governo da Frente Popular, seu Sebas-tião Câmara diz que conhece bem as raízes de quem está hoje no comando do estado. “Eu conheço o governador Tião Viana e seu irmão, o senador Jorge Viana, desde que eu cheguei aqui no Acre. O pai dele era secretário de Agricultura e ajudou muito a gente aqui”, diz.

Mecanização amplia a produção em toda a região

COM o apoio dos governos da Frente Popular, seu Sebastião melhorou a qualidade de vida de sua família

PáTIO de máquinas e implementos agrícolas da Seap, em Plácido de Castro

GERENTE Ênio Lazzari (esq.), da Seap, acompanha de perto o desenvolvimento da produção agrícola

AGRICULTOR sai da produção de banana e vai conferir como se encontra a sua criação de porcos

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ESPECIAL

Agricultura mais produtiva, com menos desmates e queimadas

Nos primeiros sete meses do governo Tião Viana, segun-do assinala o agrônomo Roger Recco, chefe do Departamen-to de Modernização Agrícola da Seap, o governo já alcança como resultados o funciona-mento dos armazéns e dos si-los, a captação de R$ 12 milhões junto ao BNDES para duplicar a capacidade dos três silos gra-neleiros existentes e construir mais três outras unidades grane-leiras. Até 2014, o governo Tião Viana terá ampliada para 23.400 toneladas de grãos a capacidade de armazenagem estática dos si-los graneleiros, além das 15 mil toneladas dos armazéns moder-nizados.

Na área da mecanização,

esta era incipiente e centrada nos médios e grandes proprie-tários até 1998, a partir de quan-do os governos da Frente inicia-ram o processo de recuperação de áreas degradadas, reduzindo de forma significativa a necessi-dade de novos desmatamentos e queimadas em todo o estado. De saída, são adquiridos 20 kits com tratores e equipamentos. Até o ano passado, foram finan-ciados 200 kits de mecanização para pequenos produtores e foram mecanizados, de 2007 a 2010, mais de 15 mil hectares. “Em todas essas áreas, 100% dos proprietários não queima-ram e não fizeram novos des-mates”, assinala o secretário Mauro Ribeiro, do Seap.

Nos sete primeiros meses do governo Tião Viana, hou-ve captação de recursos para aquisição de mais 20 caminhões para o transporte e escoamento da produção, e de mais tratores de esteira, tratores agrícolas e implementos para ampliar ain-da mais mecanização agríco-la do estado. Até 2014, estão previstas para a agricultura do estado a destoca de oito mil hectares, a concessão de 18 mil toneladas de calcário para recu-perar as terras e a mecanização de mais 20 mil hectares para o plantio de milho e de quatro mil hectares para arroz e de seis mil hectares para banana, além do financiamento de mais 240 kits de mecanização agrícolas.

O aumento da produção e da produtividade, a meca-nização de áreas agrícolas de-gradadas, a redução do des-matamento e das queimadas e o crescimento do armaze-namento dos produtos foram os grandes avanços alcança-dos pela agricultura acreana no período em que o estado vem sendo administrado pe-los governos da Frente Popu-lar do Acre (FPA).

Assim como seu Sebastião

Câmara, de Plácido de Cas-tro, milhares foram os agri-cultores que, a partir de 1999, passaram a se beneficiar dos avanços ocorridos nas áreas do armazenamento e da me-canização das áreas rurais do estado, além de benefícios do crédito agrícola, da assistên-cia técnica, da comercializa-ção e do tráfego nos ramais e nas rodovias estaduais e fede-rais, entre outros.

O balanço da área de ar-

mazenagem assinala que até 1998, o estado contava com um sistema de secagem de grãos com equipamentos ul-trapassados e uma armazena-gem de grãos em sacas, que não permitiam manter uni-formidade e qualidade ideal na secagem e no controle sa-nitário e ambiental adequado à permanência dos produtos por períodos prolongados de estocagem.

A partir de 1999, o gover-

no Jorge Viana iniciou a mo-dernização da armazenagem do estado, revitalizando os 14 armazéns existentes nos mu-nicípios de Acrelândia, Plá-cido de Castro, Sena Madu-reira, Feijó, Cruzeiro do Sul, Senador Guiomard, Manuel Urbano e Porto Acre, com capacidade total de armaze-nagem de 15 mil toneladas.

Em 2004, foram instala-dos os dois primeiros silos graneleiros do estado, sendo

um em Senador Guiomard e outro em Plácido de Castro, com capacidade de armaze-nagem estática de 2.600 to-neladas de grãos cada. Em 2009, já no governo Binho Marques, um terceiro silo graneleiro foi instalado em Brasiléia, incluindo um “silo pulmão”, que permitem que os grãos oriundos das lavou-ras não precisem esperar o secador terminar de secar ou a moega esvaziar.

SILOS graneleiros armazenam a produção de grãos dos agricultores de Plácido de Castro e de Acrelândia

Mais armazenamento com mais mecanização

GOVERNADOR Tião Viana entregou máquinas agrícolas para os produtores de Brasiléia já no início de sua gestão

SILO graneleiro de Plácido de Castro atende centenas de produtores agrícolas