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MARCOS HENRIQUE MENDANHAMédico do Trabalho (ANAMT/AMB/CFM). Sócio Titular da ANAMT (Associação Nacional deMedicina do Trabalho). Especialista em Medicina Legal e Perícias Médicas (ABMLPM/AMB).

Advogado. Especialista em Direito do Trabalho e Processo do Trabalho. Perito Judicial TRT-GO eTRF-GO. Assistente Técnico em Processos Judiciais Diversos. Membro da Sociedade Brasileira de

Perícias Médicas (SBPM). Professor de Cursos de Pós-Graduação em Medicina do Trabalho,Ergonomia, Perícias Médicas e Direito Médico. Diretor Técnico da Clínica ASMETRO — Assessoriaem Segurança e Medicina do Trabalho Ltda. Coordenador Geral do CENBRAP — Centro Brasileiro

de Pós-Graduações; e do NBE — Núcleo Brasileiro de Ensino.

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3ª edição

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EDITORA LTDA.

Rua Jaguaribe, 571CEP 01224-001São Paulo, SP — BrasilFone (11) 2167-1101www.ltr.com.br

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

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Todos os direitos reservados

Produção Gráfica e Editoração Eletrônica: R. P. TIEZZIProjeto de Capa: MARCELLO MENDANHAImpressão: PIMENTA GRÁFICA E EDITORAMarço, 2013

R

Contatos do autor: [email protected]: http://marcosmendanha.blogspot.com.

Mendanha, Marcos Henrique

Medicina do trabalho e perícias médicas: aspectos práticos (epolêmicos) / Marcos Henrique Mendanha. — 3. ed. — São Paulo : LTr, 2013.

Bibliografia

1. Medicina do trabalho — Brasil 2. Perícia médica I. Título.

13-02004 CDU-347.948:616-057

1. Medicina do trabalho e perícias médicas : Direito 347.948:616-057

Versão impressa - LTr 4838.3 - ISBN 978-85-361-2486-5

Versão digital - LTr 7543.7 - ISBN 978-85-361-2520-6

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Dedico este livro a todos os meus alunos.

Parte de nossas boas discussões e ideias forammaterializadas nesta obra.

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A Deus, que me deu a vida.

Aos meus pais, que me ensinam diariamentea importância de ser amado.

Aos meus irmãos e sobrinhos, pela riquezados momentos que passamos juntos.

Aos meus insubstituíveis amigos.

À minha amada Amanda,pelo incentivo e pela cumplicidade de sempre.

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SUMÁRIO

PREFÁCIO DA TERCEIRA EDIÇÃO ............................................................................... 13

PREFÁCIO DA SEGUNDA EDIÇÃO ............................................................................... 17

PREFÁCIO DA PRIMEIRA EDIÇÃO ............................................................................... 19

INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 21

CAPÍTULO 1. ASPECTOS PRÁTICOS (E POLÊMICOS) DE MEDICINA DO TRABALHO

1.1. O LIMBO TRABALHISTA-PREVIDENCIÁRIO. CONTROVÉRSIAS ENTRE MÉDICO DO TRA-BALHO E MÉDICO PERITO DO INSS: A QUEM SEGUIR? ........................................... 23

1.2. INCAPAZ AO TRABALHO = INAPTO AO TRABALHO? ................................................ 36

1.3. ENCAMINHAMENTO À PERÍCIA MÉDICA DO INSS DEVE INDICAR TEMPO DE AFASTA-MENTO? ............................................................................................................. 44

1.4. A PERÍCIA DO INSS ATRASOU, E AGORA? O QUE FAZER? ...................................... 47

1.5. EMPRESA NÃO QUER PAGAR EXAMES COMPLEMENTARES DO PCMSO: O QUE FAZER? 51

1.6. EMPRESA PODE RECUSAR UM ATESTADO (COM OU SEM CID)? ............................... 56

1.7. SOLICITAÇÃO DE TESTE DE GRAVIDEZ NO EXAME ADMISSIONAL É ILEGAL? E NO

DEMISSIONAL? .................................................................................................... 61

1.8. GESTANTE NO EXAME DEMISSIONAL: APTA OU INAPTA? ......................................... 67

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1.9. TESTE DE HIV PODE SER SOLICITADO NUM EXAME OCUPACIONAL? ....................... 70

1.10. COLOCAR NO ASO “APTO COM RESTRIÇÕES” É PERMITIDO? ............................... 75

1.11. QUANDO CONSIDERAR “RISCO DE ACIDENTE” NO PCMSO/ASO? .................... 77

1.12. RESPONSÁVEL PELO “ASO AVULSO”: MÉDICO OU EMPRESA? ............................... 80

1.13. QUAIS OS RISCOS JURÍDICOS PARA O MÉDICO QUE EMITE UM “ASO AVULSO”? ..... 83

1.14. EXAMES OCUPACIONAIS PELO SUS TÊM FUNDAMENTO LEGAL? ........................... 86

1.15. EXAME COMPLEMENTAR 6 MESES DEPOIS DO ADMISSIONAL REQUER NOVO ASO?. 92

1.16. MITOS E VERDADES SOBRE INSALUBRIDADE E PERICULOSIDADE (OS PERIGOS DO

LTCAT) ........................................................................................................... 93

1.17. O QUE É TRABALHO EVENTUAL? E TRABALHO INTERMITENTE? ............................ 98

1.18. REFLEXÕES CRÍTICAS SOBRE INSALUBRIDADE E PERICULOSIDADE ........................ 100

1.19. PERGUNTAS E RESPOSTAS SOBRE “ATESTADOS” (DE MÉDICOS E NÃO MÉDICOS) .... 103

1.20. QUAL O TEMPO PARA ENTREGA DOS ATESTADOS NAS EMPRESAS? ....................... 111

1.21. O QUE É MÉDICO EXAMINADOR? E MÉDICO DO TRABALHO? .............................. 113

1.22. LUZ SOLAR GERA INSALUBRIDADE? .................................................................. 120

1.23. MÉDICO DO SUS É OBRIGADO A PREENCHER A CAT? ...................................... 122

1.24. ESCORREGOU E CAIU: JÁ ABRE A CAT? ............................................................ 125

1.25. TESTE DE USO DE DROGAS EM MOTORISTAS: LEI MANDA FAZER, MAS CFM PROÍBE. E AGORA, A QUEM O MÉDICO DA EMPRESA DEVE OBEDECER? ........................... 128

CAPÍTULO 2. ASPECTOS PRÁTICOS (E POLÊMICOS) DE PERÍCIAS MÉDICAS

2.1. MÉDICO DO TRABALHO PODE ATUAR COMO ASSISTENTE TÉCNICO DA PRÓPRIA

EMPRESA? ........................................................................................................ 131

2.2. MÉDICO PERITO OU PERITO MÉDICO? ................................................................. 134

2.3. ASSISTENTE TÉCNICO NÃO MÉDICO PODE ATUAR EM PERÍCIA MÉDICA? ................. 136

2.4. ADVOGADO PODE SER ASSISTENTE TÉCNICO? E PERITO JUDICIAL? ........................ 140

2.5. EM QUANTO TEMPO DEVE SER ENTREGUE O PARECER TÉCNICO? ........................... 142

2.6. PODE O PERITO CUSTEAR EXAMES E PARECERES PARA RECEBER JUNTO COM OS HO-NORÁRIOS? ....................................................................................................... 143

2.7. ADVOGADO PODE SER ACOMPANHANTE DE UMA PERÍCIA MÉDICA? ...................... 144

2.8. DE QUEM É O PRONTUÁRIO DENTRO DE UM PROCESSO JUDICIAL? ......................... 147

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2.9. POR QUANTO TEMPO DEVE-SE GUARDAR O PRONTUÁRIO MÉDICO DO TRABALHADOR? 150

2.10. EXISTE ESTABILIDADE VITALÍCIA APÓS ACIDENTE DE TRABALHO? ........................ 153

2.11. ACIDENTE DE TRABALHO DURANTE O CONTRATO DE EXPERIÊNCIA GERA ESTABILI-DADE NO EMPREGO? ......................................................................................... 154

2.12. DOENÇA NÃO OCUPACIONAL GERA ESTABILIDADE NO EMPREGO? ....................... 159

2.13. EMPREGADA DOMÉSTICA TEM DIREITO À ESTABILIDADE APÓS SOFRER ACIDENTE

DE TRABALHO? ................................................................................................ 162

2.14. EXPOSIÇÃO AO RUÍDO UNILATERAL GERA PERDA AUDITIVA BILATERAL? .............. 164

2.15. QUANTO VALE UM PERITO MÉDICO (CORRUPTO)? ............................................. 166

2.16. FISIOTERAPEUTAS PODEM REALIZAR “PERÍCIAS MÉDICAS”? ................................ 168

2.17. CONCLUSÃO PERICIAL PODE SER EXTRA PETITA? ................................................ 174

2.18. SAIBA COMO DEMITIR UM EMPREGADO COM CÂNCER ........................................ 178

2.19. A EMPRESA FECHOU: QUEM FICA COM OS PRONTUÁRIOS CLÍNICOS DOS TRABALHA-DORES? ............................................................................................................ 181

2.20. TODO ELETRICISTA DEVE GANHAR O ADICIONAL DE PERICULOSIDADE? ............... 182

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PREFÁCIO DA TERCEIRA EDIÇÃO

O Dr. Marcos Mendanha teve a iniciativa e a gentileza de solicitar-me atarefa de prefaciar a 3ª edição do seu livro Medicina do Trabalho e PeríciasMédicas: Aspectos Práticos (e polêmicos), de 2013.

Embora eu conhecesse as edições anteriores de seu livro, assim como oautor, admito que isto ocorria não com muita profundidade e domínio de suaobra, mas como um leitor “comum”, apenas informado e sabedor “genérico”do conteúdo do referido livro e, de certa forma, do “conteúdo” de seu autor,posto ser ele — autor — uma espécie rara de “híbrido fértil”, que transita comdesenvoltura, na Medicina e no Direito, e nas delicadas interfaces entre eles.

Portanto, quando o Dr. Marcos solicitou-me que escrevesse o Prefácio,pedi-lhe mais informações a respeito do livro, na sua 3ª edição, e, em seguida,tive acesso ao texto completo. Como pertenço à “geração do papel”, procureicumprir bem o meu papel: imprimi o texto “original”, de 201 páginas (laudas),e li-o, até para saber o que eu diria no Prefácio, além das saudações de praxe.

A leitura dos “originais” do Dr. Marcos Mendanha, ou melhor, de seulivro, trouxe-me agradáveis surpresas.

Primeiro: quem começa a ler seu livro não para mais... Embora não exista,necessariamente, uma hierarquia interna e uma taxonomia própria,perceptível, sua leitura é cativante. Comecei na página 1 e terminei na página201 (destas laudas) de uma vez só, já não mais por obrigação profissional ouapenas por curiosidade, mas me deliciando e aprendendo muito... Sobretudoporque li e aprendi muita coisa que eu não sabia, o que me levou a imaginarque outros leitores e profissionais como eu também possam ter a mesmaexperiência.

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Segundo: descobri que o “híbrido fértil” é híbrido e é fértil, pois temexcelente domínio e erudição em ambos os campos ou áreas — como jámencionei — e sabe escrever bem. Escreve de forma escorreita, leve,transitando, com facilidade, em muitos territórios “minados”, cheios dearmadilhas e “pegadinhas”. Uma de minhas reflexões foi a de que, se já é tãodifícil transitar por um dos campos, como a Medicina do Trabalho — ondeme sinto relativamente à vontade, mas sempre estudando e procurandoaprender —, que dizer sobre alguém que transita, também, com desenvolturae domínio em campos como o da Perícia Médica (que eu pouco ou nada sei),e o do Direito do Trabalho e Direito Previdenciário (onde eu sei que nadasei...), entre tantos outros “direitos”? E o faz direito... E bonito.

Terceiro: preocupado com a lembrança de que quem prefacia, de certaforma endossa ou é avalista do autor ou da obra — se não, não aceitaria fazê--lo —, investiguei com cuidado os posicionamentos éticos do autor, no que serefere, em primeiríssimo lugar, à defesa da saúde do trabalhador e, emsegundo lugar, o papel do médico, frente aos diferentes atores sociais. Parameu conforto e alegria, só vi coisa boa, isto é, uma obra não neutra e imparcial,mas claramente posicionada em defesa da saúde dos trabalhadores, e nasobrigações e deveres dos médicos — todos, principalmente os “médicos dotrabalho” — no cumprimento de suas obrigações, à luz do Código de ÉticaMédica. Cheguei à conclusão de que eu — se necessário fosse — não hesitariaem apor minha assinatura de endosso e aval às suas posições, no que se referea estes ângulos de análise: o da ética, o do prevalência da defesa da saúde eda saúde do trabalhador, e o dos deveres e obrigações dos médicos, em proldos trabalhadores. Nestes aspectos, eu “assino embaixo”, conforme o usopopular da expressão.

Penso que estas três vertentes de avaliação e análise do autor-obra sãoas essenciais, e são suficientes para que todos tenham certeza de que, apósler, eu posso transmitir este testemunho, de forma relativamente aliviada ealegre, pois sei quanto o meu aval e a minha recomendação são levados asério, principalmente pelos colegas da área da Medicina do Trabalho, na qualtransito há mais de 40 anos.

Por sua rica erudição em jurisprudência, percebe-se, claramente, que aobra foi revista, atualizada e que está totalmente “em dia” em termos dereferências, citações e paradigmas, principalmente do Judiciário.

O Dr. Marcos, ao me convidar, sabia que eu, eventualmente, discordariade alguns de seus posicionamentos seus, e ele pensava que seriam muitas asdiscordâncias. São bem menos do que ele temia. Reservam-se apenas a doistemas. Primeiro, em suas reflexões e críticas à questão da formação do“especialista em Medicina do Trabalho”, vis à vis a sobrevivência da formaçãodesta figura meio esdrúxula de “médico do trabalho”. Concordo com as críticas

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sobre a insuficiência quantitativa (e acrescento: qualitativa!) dos programasde Residência Médica, mas tenho outra visão sobre as soluções e encami-nhamentos políticos e técnicos para esta questão. Até acho que suas reflexõesseriam dispensáveis dentro deste livro sobre “aspectos práticos” do exercícioda Medicina do Trabalho e Perícias Médicas, mas já que o fez, faço a ressalva:concordo, em parte, com o “diagnóstico”, mas discordo com o “tratamento”da questão.

Outra ressalva, mas pequena, é sobre o reiterado apego à Lei n. 605/1949, e sobre o suposto ranking de hierarquia em relação ao valor dos atestadosmédicos. Acho que tudo mudou de 1949 a esta parte — graças a Deus —sobretudo o contexto organizacional do Sistema de Saúde, o qual, literalmente,não existia em 1949 (eu era pequeno, mas já me lembro...). Com a evolução aolongo de mais de 60 anos, e com as múltiplas “reformas sanitárias”, inclusivea grande e verdadeira, trazida pela Constituição Federal de 1988 e pela Lei n.8.080/90, considero que aquela lei está para lá de velha, obsoleta e comple-tamente fora do contexto social, político e institucional em nosso país. Apegar--se a ela, é apegar-se ao velho e caduco. A lei é que tem de ser enterrada, poiso mundo mudou. E este anacronismo apenas exemplifica um pouco as dificul-dades, bem apontadas pelo Dr. Marcos, na convivência entre o Direito e aSaúde.

Mas estas pequenas discordâncias não modificam, em nada, tudo o queeu disse a respeito do autor e obra.

Recomendo, assim, sua leitura e estudo, com a certeza de que quem ofizer irá se beneficiar, tal como ocorreu comigo.

Resta parabenizar ao Dr. Marcos Mendanha, por sua dedicação e cuidadoem escrever bem, escrever bonito e escrever de forma politicamente eeticamente correta!

São Paulo, janeiro de 2013.

Prof. René MendesMédico especialista em Saúde Pública e em Medicina do Trabalho.

Livre-Docente em Saúde Pública pela USP. Professor Titular do Departamento de MedicinaPreventiva e Social, da Faculdade de Medicina da UFMG (Belo Horizonte).Foi Presidente da Associação Nacional de Medicina do Trabalho — ANAMT

(2001-2004; 2004-2007). Foi membro, por dois mandatos, do Conselho Diretor (Board) daComissão Internacional de Saúde no Trabalho (ICOH).

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PREFÁCIO DA SEGUNDA EDIÇÃO

Foi com grande honra e satisfação que recebi o convite do amigo, Médicodo Trabalho, Advogado e Perito Médico, Dr. Marcos Mendanha, para prefaciaro seu livro, em segunda edição.

Necessário realçar que a Medicina do Trabalho é uma especialidade quemantém grande afinidade com a Medicina Legal e Perícias Médicas, com áreasde atuação muitas vezes inter-relacionadas, com temas comuns, abordadoscom grande proficiência pelo autor.

A presente obra é muito mais completa e elucidativa que a anterior pois,por meio de revisão minuciosa e detalhada, transformou-se num livro decabeceira para as dúvidas do dia a dia, não só do Médico Perito, como dosMédicos de Trabalho, dos Médicos Generalistas, dos Residentes e dos Aca-dêmicos, bem como dos Operadores do Direito.

A iniciativa, coroada de êxitos, ocorre num momento ímpar e singularna História da Perícia Médica Brasileira, já que no ano passado conseguimosa tão sonhada especialidade, e neste ano titularemos os primeiros especialistas.

A sociedade civil, a jurídica e a médica clamam por alguém que detenhamais conhecimento na área, já que esta não é abordada nem nos cursos deformação, nem nas residências, e nem nos cursos de especialização em outrasáreas. O compêndio preenche essa lacuna e aborda conhecimentos técnicosbásicos e fundamentais, os quais todo profissional que atua na área deveriater. Atende também aquele colega que, apesar de ter uma experiência práticagrande, adquirida pelos longos anos de militância na área, não possui tempoe nem condições econômicas para participar de jornadas e eventos científicos,bem como tem dúvidas no dia a dia do seu labor.

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Aproveitamos o ensejo para cumprimentar o Dr. Mendanha, por suainiciativa e seu desprendimento, ao elaborar uma obra tão valorosa e completa,que busca iluminar os caminhos, nem sempre claros e sem obstáculos,percorridos por aquele que objetiva a realização de um bom laudo médicopericial. Espero que seu esforço e sua dedicação sirvam de exemplo para queoutros colegas façam o mesmo, enriquecendo a ainda escassa literaturanacional na especialidade de medicina legal e perícias médicas.

Dr. Jarbas SimasPresidente da Sociedade Brasileira de Perícias Médicas. Graduado em Medicina pela Faculdade de

Medicina do Triângulo Mineiro (FMTM). Especialista em Medicina do Trabalho, Medicina Interna,Cardiologia, e Terapia Intensvia. Graduado em Direito pela Universidade Paulista. Advogado.

Mestre em Direito Previdenciário pela PUC-SP. Médico Perito do Departamento Médico Civil doEstado de São Paulo. Médico Perito da Previdência Social (INSS).

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PREFÁCIO DA PRIMEIRA EDIÇÃO

Após 30 anos de prática da medicina, considero-me credenciado a fazeralgumas reflexões sobre aspectos relacionados ao ensino e ao preparo dosjovens médicos para a vida profissional. Sempre me questionei quanto àdissociação entre o que se aprende na academia, e o que se necessita saberpara o dia a dia, como médicos assistentes; sempre me intrigou por que sãotão valorizadas as situações mais complexas e raras, a tecnologia e o apare-lhamento sofisticado, sendo que o que encontramos na prática são os pequenosproblemas, situações de simplicidade tal que, por vezes, beiram a banalidade...Mas que são os problemas que afligem as pessoas e estão a perturbar seucotidiano, que lhes tolhem a possibilidade de trabalhar e de se divertir, porexemplo. São as unhas encravadas, bichos-de-pé, piolhos... entre outros, osquais somos solicitados a resolver, e cuja resolução, a maior parte das vezes,não nos foi ensinada ou mostrada. A não ser que disponhamos de alguémpara nos orientar, alguém que já tenha vivenciado essa fase de aprendizadopela prática, certamente passaremos por momentos angustiantes até que, pelotempo e pela repetição, adquiramos a experiência.

E se isso é verdade para a prática da medicina assistencial, muito mais oé quando se trata de aplicar os conhecimentos médicos na atividade pericial,ainda não sistematizada e consolidada suficientemente como área de conhe-cimento específico, e ainda não fazendo parte dos currículos acadêmicos, nemmesmo como disciplina optativa.

O que o leitor vai encontrar nesta obra é um verdadeiro tesouro! Aexperiência do autor durante anos de prática da perícia, associada ao enfoquedo direito, pela sua visão também como operador do direito.

Poucos se dispõem a divulgar os conhecimentos adquiridos com aexperiência, até porque é necessário muita coragem para assumir oficialmente,por escrito, atitudes e posições ainda não suficientemente referendadas emtrabalhos científicos e compêndios.

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Assim o faz o autor, que procurou compilar temas polêmicos, dúvidas(e até paradoxos) ainda não adequadamente normatizados da prática daPerícia Médica e da Medicina do Trabalho, e, a partir do substrato legalporventura existente, coloca sua sugestão de como deve postar-se o médicoperito ou o médico do trabalho, quando defrontado com essas “unhasencravadas” da prática diária.

Muito mais do que uma obra acabada, sugerimos ao leitor encarar estetrabalho como uma aula prática, e tomá-lo como base para aprofundar osconhecimentos em cada um dos tópicos apresentados, muito conveniente-mente listados como “polêmicos”, para, depois, se promover ampla e profundadiscussão sobre a realidade científica envolvida, e a adequação ao momentosocial contemporâneo.

O leitor certamente irá identificar-se quando da leitura de vários (se nãode todos) os tópicos abordados, e terá a oportunidade de acompanhar oraciocínio lógico do autor até a análise da sua sugestão para a atitude queassume em cada um deles.

A partir da análise da legislação, sempre respeitando a hierarquia deabrangência, o autor estabelece uma sincronia entre seu lado de advogado e ode médico, e chega afirmativamente, ao final de cada um deles, a uma pro-posta concreta de conclusão, oferecendo-nos assim subsídios para adotarmosnas nossas fundamentações, ponderadas com nossa própria experiência pessoal.

Como se tratam de aspectos pontuais, o livro não possui uma estruturacapitular clássica, e a leitura pode ser tanto sequencial como pontual, nomodelo “manual do que fazer quando...”.

Ao leitor é dada a liberdade de transitar livremente pela obra, e, inclusive,discordar de algumas das conclusões colocadas pelo autor, pois, como jádissemos, tratamos aqui de aspectos polêmicos e ainda não completamenteequacionados.

Ao autor, mais uma vez, louvamos a coragem de expor assim abertamentesua opinião e sua experiência, o que poderá vir a ser motivo de crítica poralguns, mas sem dúvida será da serventia de muitos.

Cláudio José TrezubGraduado em Medicina pela UFPR. Especialista em Clínica Médica e Medicina do Trabalho.

Coordenador e professor em cursos de Pós-Graduação em Perícias Médicas e Medicina do Trabalho.Ex-Presidente da Sociedade Brasileira de Perícias Médicas. Atual Presidente da Sociedade Brasileira dePerícias Médicas — Regional do Paraná. Membro da Câmara Técnica de Perícia Médica do Conselho

Federal de Medicina. Membro da Câmara Técnica de Perícia Médica e Auditoria do Conselho Regionalde Medicina do Paraná. Médico Perito Supervisor no INSS, PARANAPREVIDÊNCIA e Prefeitura

Municipal de Curitiba-PR. Autor de artigos e livros sobre Perícia Médica.

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INTRODUÇÃO

Que Direito e Medicina são ciências essenciais ao desenvolvimentohumano ninguém contesta. Não é por acaso que muitos estudiosos dedicama vida à busca incessante pelos conhecimentos médicos ou jurídicos. Em funçãoda amplitude das ciências, o apelo acadêmico pelas especializações foiinevitável ao longo dos últimos anos. Atualmente, o Direito apresentainúmeras ramificações: Direito Tributário, Direito Trabalhista, Direito Penaletc. Na Medicina, de igual forma: Pediatria, Ginecologia, Oftalmologia etc.

No entanto, algumas frentes de atuação profissional necessitam de umaintersecção entre as ciências médicas e jurídicas. Neste momento, nosreferimos especificamente à Medicina do Trabalho e às Perícias Médicas.

A Medicina do Trabalho, conquanto seja uma especialidade médicareconhecida pelo Conselho Federal de Medicina por força da Resolução n.1.634/2002, é um ramo da ciência médica altamente legislado. A atuação domédico do trabalho se pauta, por exemplo, pela Norma Regulamentadora n.7 do Ministério do Trabalho e Emprego, entrelaçando, assim, ciência médicae normativa.

Nas perícias judiciais, a legislação já está estabelecida. Citamos comoexemplo os valiosos arts. 420 a 439 do Código de Processo Civil, os quaisdispõem sobre o tema. No entanto, em se tratando de Perícias Médicas, emque a análise pericial se faz normalmente sobre um ser humano, questõeséticas e técnicas relativas à Medicina se permeiam com os aspectos jurídicoscontinuamente.

Por deficiência das escolas de graduação (seja de Medicina, seja deDireito), quando ciências médicas e jurídicas se inter-relacionam, forma-secomumente uma perigosíssima zona de conflito interdisciplinar, sobre a qualas polêmicas são constantes, e poucos se dispuseram a estudar e a escrever.

Este livro busca trazer luz a essa perigosa intersecção deflagrada pelosaspectos médicos e jurídicos relativos à Medicina do Trabalho e às PeríciasMédicas. Ao contrário do que muitos imaginam, Direito e Medicina são ciênciasque se inter-relacionam de maneira muito frequente. O que se verifica,entretanto, é que, com raras exceções, médicos sabem muito pouco de Direito,

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e operadores do Direito sabem muito pouco do exercício médico. As duaspartes perdem com isso.

Essa lacuna de conhecimento faz, por exemplo, com que médicos exerçama profissão de forma cada vez mais vulnerável, sem o mínimo de noção jurídicapara sua própria defesa e para o reconhecimento de outros direitos, como odo paciente. No campo pericial, médicos atuam frequentemente comoauxiliares dos magistrados, embora não conheçam das regras processuaismínimas que balizam a construção de seus laudos, o que é lamentável.

Hoje, verificamos que o exercício médico não se pauta apenas sobre onovo Código de Ética Médica de 2009, conquanto este se apresente inovadore digno de tantos elogios. O cenário contemporâneo exige um conhecimentomais alargado, contemplando todas as normas que envolvam o exercício damedicina como o Código de Defesa do Consumidor, as legislações referentesaos planos de saúde, as legislações trabalhistas, as legislações previdenciáriasetc. As escolas médicas não podem mais se furtar dessa imensa responsa-bilidade: ensinar aos futuros médicos sobre todas as repercussões jurídicasde seus trabalhos. Nesta obra, enfocaremos sobretudo os aspectos jurídicosrelativos ao exercício da Medicina do Trabalho e Perícias Médicas.

Por outro lado, é bem verdade que operadores do Direito não precisamsaber diagnosticar e tratar doenças, assim como os médicos não devempreocupar-se sobre qual o tipo de recurso que deve ser usado em determinadomomento processual. No entanto, com o estrondoso aumento dos processosjudiciais que envolvem doentes e doenças, advogados, juízes etc. devem terum conhecimento mínimo sobre as peculiaridades e as imponderabilidadesdas ciências e do exercício médico. Medicina não é ciência exata, e as variáveisdas doenças e dos atos médicos beiram o infinito. As escolas de Direito nãopodem negligenciar mais o ensino dessa intersecção científica. É muito primá-rio (quase pueril) ver uma peça processual que envolve o exercício médico e/ou doenças estar baseada apenas em recortes jornalísticos e no senso comum.Num país onde tudo que se veicula na mídia deve ser objeto de questiona-mento, a fundamentação de peças processuais com base apenas nos textosmidiáticos não se mostra confiável. Neste livro, as legislações processuais,trabalhistas e previdenciárias terão um enfoque especial, sempre analisadastambém à luz das ciências médicas. Não há na doutrina jurídica algo tãoobjetivo e fundamentado relativo aos temas abordados.

O conhecimento futuro sinaliza um caminho inverso do que vimos noséculo XX. Ao contrário do apelo científico à especialização extrema,diversificar conhecimentos (acumulando mais de um ramo da ciência) começaa ser um grande (e necessário) diferencial profissional. Em última instância,este livro é um convite ao estudo interdisciplinar do Direito e da Medicina!Boa leitura.

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CAPÍTULO 1

ASPECTOS PRÁTICOS (E POLÊMICOS)DE MEDICINA DO TRABALHO

1.1. O LIMBO TRABALHISTA-PREVIDENCIÁRIO. CONTROVÉRSIAS ENTRE

MÉDICO DO TRABALHO E MÉDICO PERITO DO INSS:A QUEM SEGUIR?

Um dos maiores problemas na prática da Medicina do Trabalho seestabelece quando o Médico do Trabalho/“Médico Examinador”, após terqualificado o empregado como “inapto” a determinada função, o encaminhapara o serviço de Perícias Médicas do INSS, sugerindo, mediante atestadomédico, determinado lapso de tempo para respectivo tratamento erecuperação.

O Médico Perito do INSS, por sua vez, após concessão de benefícioprevidenciário por um prazo menor do que o sugerido pelo Médico doTrabalho/“Médico Examinador”, qualifica este empregado como “capaz” pararetorno às suas atividades laborais. Estabelece-se então o chamado “limbotrabalhista-previdenciário”. Qual a conduta mais apropriada do Médico do

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Trabalho/“Médico Examinador” a partir de então, com relação ao empregado,à empresa, e ao INSS?

A Norma Regulamentadora n. 7 (NR-7) assim nos traz no item 7.4.4.3:“o ASO (atestado de saúde ocupacional) deverá conter, no mínimo: (e)definição de apto ou inapto para a função específica que o trabalhador vaiexercer, exerce ou exerceu”. Uma análise literal da norma supra nos sugereque essa definição de aptidão/inaptidão é prerrogativa do Médico do Trabalho/“Médico Examinador”, a quem coube a função de emitir o ASO.

No entanto, a Lei n. 11.907/2009, em seu art. 30, § 3º, assim coloca:“compete privativamente aos ocupantes do cargo de Perito MédicoPrevidenciário ou de Perito Médico da Previdência Social..., em especial a: (I)emissão de parecer conclusivo quanto à capacidade laboral para finsprevidenciários”.

Verifica-se aqui o que no estudo do Direito recebe o nome de antinomia,ou seja, a presença de duas normas conflitantes, gerando dúvidas sobre qualdelas deverá ser aplicada ao caso exemplificado. No caso em tela, a Lei n.11.907/2009 goza de uma posição hierárquica privilegiada em nossoordenamento jurídico, uma vez que se classifica como lei federal ordinária,enquanto que a NR-7 foi editada por força de uma portaria (Portaria do MTEn. 24/1994). Como hierarquicamente as leis ordinárias prevalecem sobre asportarias, juridicamente, deve prevalecer a Lei n. 11.907/2009.

Outras normativas corroboram no sentido de que a decisão do MédicoPerito do INSS deva, legalmente, prevalecer sobre a decisão do Médico doTrabalho/“Médico Examinador”:

Súmula n. 32 do TST: “Presume-se o abandono de emprego se o trabalhador nãoretornar ao serviço no prazo de 30 (trinta) dias após a cessação do benefícioprevidenciário nem justificar o motivo de não o fazer”.

Nosso comentário: vemos que aptidão ao trabalho é conferida pelacessação do benefício previdenciário definida pelo Médico Perito do INSS,e não pelo Médico do Trabalho/“Médico Examinador”. Lembramostambém que o abandono de emprego é considerado uma “justa causa”de rescisão do contrato de trabalho, conforme art. 482 da CLT.

Lei n. 605/1949, art. 6º, § 2º: “A doença será comprovada mediante atestado demédico da instituição da previdência social a que estiver filiado o empregado, e,na falta deste e sucessivamente, de médico do Serviço Social do Comércio ou daIndústria; de médico da empresa ou por ela designado; de médico a serviço derepresentação federal, estadual ou municipal incumbido de assuntos de higiene oude saúde pública; ou não existindo estes, na localidade em que trabalhar, de médicode sua escolha”.

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Nosso comentário: essa lei deixa clara a hierarquia existente entre osatestados médicos para fins de abonos de faltas ao trabalho, na qualo atestado de médico da instituição da previdência social prevalecesobre o atestado de médico da empresa ou por ela designado(Médico do Trabalho ou “Médico Examinador”). No nosso enten-dimento, isso equivale dizer que a decisão proferida pelo médicoda instituição da previdência social prevalece sobre a decisãoproferida pelo médico da empresa.

Súmula n. 15 do TST: “A justificação da ausência do empregado motivada pordoença, para a percepção do salário-enfermidade e da remuneração do repousosemanal, deve observar a ordem preferencial dos atestados médicos, estabelecidaem lei”.

Nosso comentário: a ordem dos atestados estabelecida em lei nos re-mete obrigatoriamente à Lei n. 605/1949 (vista anteriormente). Em outraspalavras, essa Súmula diz que deve ser obedecida primeiro a decisão doMédico Perito do INSS, para, só depois, a decisão do Médico do Trabalho/“Médico Examinador”.

Importante lembrar que essa súmula foi reavaliada e mantida pelo TSTem 2003, o que mostra a inquestionável importância da Lei n. 605/49ainda nos dias atuais.

Por toda fundamentação legal exposta na situação exemplificada naintrodução deste texto, ao receber esse empregado do serviço de PeríciasMédicas do INSS, entendemos que o Médico do Trabalho/“Médico Exa-minador” deverá:

• explicar ao trabalhador todas as repercussões (inclusive legais) doimpasse instalado;

• enfatizar junto ao empregado sobre todos os possíveis riscos à saúdeadvindos do seu ambiente de trabalho, nos termos dos arts. 12 e 13 donovo Código de Ética Médica;

• orientar e auxiliar esse segurado quanto a interposição de pedido dereconsideração (PR), recurso ou novo pedido junto ao INSS, explicando--lhe todas as possíveis consequências de cada possibilidade;

• orientar e auxiliar esse segurado quanto a possibilidade de ação judicialem face da decisão proferida pelo serviço de perícias médicas do INSS,também explicando-lhe as possíveis repercussões;

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• enquanto vigorar a discordância com o serviço de perícias médicasdo INSS (ainda que aguardando resultado do pedido de reconsi-deração, recurso etc.), deverá considerar o empregado “apto” aotrabalho, revogando, inclusive, o seu próprio atestado, já emitido quandodo encaminhamento inicial do empregado ao INSS. Nesse período deimpasse, não há sustentação legal para que o Médico do Trabalho/“Médico Examinador” (que age como se empresa fosse, conformeinterpretação extraída do art. 932, inciso III, do novo Código Civil)confronte a decisão do Médico Perito do INSS, não recepcione esse empre-gado no trabalho (em funções adequadas e não prejudiciais ao traba-lhador), e ainda o mantenha afastado (especialmente, sem o pagamentodo respectivo salário). Sobre o tema, assim vêm se pronunciando deforma majoritária (não unânime) os tribunais, em diversas situações:

EMENTA: “DANO MORAL — RECUSA INJUSTIFICADA NO RETORNO DO EMPRE-GADO AO TRABALHO — A recusa em receber o autor de volta ao trabalho, deixando--o sem recebimento de remuneração, tendo ciência da negativa do INSS em pagar-lhebenefício previdenciário, mostra-se não só arbitrária, como antiética e contrária aosparâmetros sociais. Essa atitude, além de não ter respaldo no ordenamento jurídico,revela apenas seu intuito de esquivar-se dos ônus devidos perante o trabalhador.Praticou verdadeira burla aos direitos da dignidade do cidadão empregado, de formaabusiva e absolutamente alheia às garantias constitucionais. Assim, é imperiosoreconhecer que a demandada deixou de observar o princípio básico da dignidade dapessoa humana (art. 1º, III, CR/88), além de vulnerar o primado valor social do trabalho(art. 1º, IV, CR/88), pelo que, a indenização decorrente do dano moral mostra-seplenamente devida”. (RO 00399-2008-068-03-00-2)

EMENTA: “AFASTAMENTO DO EMPREGADO. INDEFERIMENTO DE BENEFÍCIOPREVIDENCIÁRIO. INAPTIDÃO DECLARADA PELO MÉDICO DA EMPRESA. Com-provada a tentativa do autor de retornar ao trabalho e atestada a sua capacidadepela autarquia previdenciária, cabia à reclamada, no mínimo, readaptar o obreiro emfunção compatível com a sua condição de saúde, e não simplesmente negar-lhe odireito de retornar ao trabalho, deixando de lhe pagar os salários. Como tal providêncianão foi tomada, fica a empregadora responsável pelo pagamento dos salários edemais verbas do período compreendido entre o afastamento do empregado e aefetiva concessão do benefício previdenciário”. (RO 01096-2009-114-03-00-4)

TRECHO DA SENTENÇA: “(...) mesmo tendo o Órgão Previdenciário afirmado portrês vezes que o autor se encontrava apto ao labor e o laudo da Justiça Federal tam-bém comprovar a aptidão, a empresa não aceitou seu retorno ao trabalho, sob aalegação de que ele se encontrava inapto (fl. 17). (...) Vale ressaltar, ainda, quequem não concordou com a conclusão do INSS, que de alguma forma lhe impunhaaceitar o reclamante de volta ao trabalho, foi a empresa e não o empregado. Sendoassim, cabia a ela recorrer da decisão junto ao INSS, o que não fez, preferindo ocaminho mais cômodo, ou seja, deixar que o reclamante, sem qualquer apoio,

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recorresse às vias administrativa e judicial à procura de solução para o seu caso. (...)Por um lado, se a empresa não está obrigada a aceitar empregado doente em seusquadros, por outro não é correto e jurídico que o empregado, considerado apto eque já não mais recebe o benefício previdenciário, não aufira os salárioscorrespondentes, principalmente quando se apresenta reiteradamente ao labor, semsucesso. Nesta ordem de ideias, não se pode imputar ao reclamante os prejuízosdecorrentes de ato da empregadora, ainda que a título de protegê-lo, cabendo a elaa responsabilidade pelas consequências de seus atos, principalmente no caso emapreço, em que o empregado se apresenta ao trabalho por diversas vezes, acatandoo resultado da perícia previdenciária”. (00595-2009-090-03-00-9)

EMENTA: “INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. A reclamada agiu abusivamenteao impedir o retorno do reclamante ao trabalho após a alta médica, caracterizando--se tal procedimento como ato ilícito, que enseja a reparação pretendida. A con-figuração do dano moral na hipótese é inequívoca, como consequência da condiçãoimposta ao autor de permanecer ocioso sem exercer as suas atividades, sendo patenteso constrangimento e a angústia sofridos pelo reclamante”. (RO 001064-87.2010.5.03.0098)

EMENTA: “ALTA PREVIDENCIÁRIA. RETORNO DO EMPREGADO. RECUSA DOEMPREGADOR. EFEITOS DO CONTRATO DE TRABALHO. Se o empregadormantém em vigor o contrato de trabalho da empregada, mesmo após o INSS e aJustiça Federal terem indeferido o restabelecimento do benefício previdenciário, aofundamento de existência de capacidade laborativa, ele deve arcar com todos osefeitos pecuniários da ausência de suspensão do contrato de trabalho, mesmo nãotendo havido prestação de serviço”. (ED 0000475-44.2011.5.03.0136)

TRECHO DA DECISÃO: “Portanto, não há dúvida de que a recorrente foi sim impedidade retornar ao trabalho após a alta do INSS, por ter sido considerada inapta pelosetor médico da empregadora para reassumir as mesmas atividades desempenhadasantes do afastamento. Ocorre que diante da divergência entre a conclusão da períciado INSS e o médico da empresa, cabia a esta diligenciar junto à autarquia para a solu-ção do impasse, não podendo simplesmente recusar o retorno da empregada, que,de resto, nada recebeu de salário ou de benefício previdenciário, vendo-se privada doprincipal meio de sobrevivência, circunstância que inegavelmente viola as garantiasconcernentes à dignidade da pessoa humana e do valor social do trabalho, inscritasnos incisos III e IV do art. 1º da CR. Por outro lado, não se pode olvidar que a con-cessão de auxílio-doença implica a suspensão do contrato de trabalho a partir do 16ºdia do afastamento, retomando o seu curso normal a partir da concessão de altamédica pelo órgão previdenciário, daí a responsabilidade do empregador peloadimplemento dos direitos pecuniários enquanto o empregado não estiver percebendobenefício da autarquia”. (00699-2010-108-03-00-0-RO)

TRECHO DA DECISÃO: “Sem o amparo, quer dos salários, quer do benefício previ-denciário, o Reclamante, em 21.5.2010, conforme consta da inicial do writ (fl. 3),compareceu ao serviço médico da Empresa, oportunidade em que foi confeccionado

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o Atestado de Saúde Ocupacional — ASO (fl. 68), declarando-o inapto para executara função de supervisor administrativo. Isso é o que basta para sustentar a legalidadeda decisão impugnada. É dizer: a cessação de benefício previdenciário, em virtude derecuperação da capacidade laboral, afasta a suspensão do contrato de trabalho,impondo o imediato retorno do trabalhador ao emprego. Portanto, constatada aaptidão para o trabalho, compete ao empregador, enquanto responsável pelo riscoda atividade empresarial (CLT, art. 2º), receber o trabalhador, ofertando-lhe o exercíciodas funções antes executadas ou, ainda, de atividades compatíveis com as limitaçõesadquiridas. Do contrário, estar-se-ia dissipando o valor social do trabalho e a dignidadeda pessoa humana (CF, art. 1º, III e IV), pois o empregado, já sem a percepção debenefício previdenciário, ficaria, agora, ante a tentativa da empresa de obstar o seuretorno ao serviço, sem a possibilidade de auferir salários, o que, na verdade, revelao descaso do empregador, bem como a sua intenção de evitar a assunção dasirrefutáveis obrigações decorrentes do curso regular do contrato”. (TST-RO-33-65.2011.5.15.0000, Relator Ministro: Alberto Luiz Bresciani de Fontan Pereira,Subseção II Especializada em Dissídios Individuais, DEJT 13.4.12)

EMENTA: “AFASTAMENTO PREVIDENCIÁRIO — RETORNO AO LABOR — DIVER-GÊNCIA DE CONCLUSÕES MÉDICAS — INSS CONSIDERA O TRABALHADORAPTO — MÉDICO DA EMPRESA O CONSIDERA INAPTO — INDENIZAÇÕESDEVIDAS — A reiterada negativa da empresa em obedecer à conclusão da períciaprevidenciária configura abuso de direito do empregador; mostra-se não só arbitrária,como antiética e contrária aos parâmetros sociais; revela que a empresa tenta, atodo custo, imputar ao autor toda sorte e toda dor pelo indeferimento do benefícioprevidenciário, sendo que é do empregador o risco da atividade, conforme o dispostono art. 2º da CLT. Ora, a reclamada não podia deixar o empregado desamparado,por tanto tempo, sem receber nem os salários da empresa nem o benefício do INSS.Neste contexto, impõe-se à reclamada a obrigação de pagar salários do período emque o reclamante foi considerado, pelo INSS, apto para retomar suas atividades, masfoi impedido, pelo empregador, de retornar ao labor”. (RO-01420-2011-089-03-00-3)

TRECHO DA DECISÃO: “Demonstrada a tentativa obreira de retornar ao trabalho —tanto que se submeteu ao exame médico com esse propósito — e atestada a suacapacidade pelo órgão administrativo competente, cuja conclusão prevalece por serdotada de fé pública e por não ser o caso de se discutir, na presente lide, se houve ounão equívoco na decisão do INSS, cabia à ré, no mínimo, readaptar o autor emfunção compatível com as suas condições de saúde, e não simplesmente negar-lhe odireito de retornar ao trabalho. Todavia, tal providência não foi tomada pela empresa.Registra-se que, como o demandante permaneceu à disposição da demandada e quepartiu desta a iniciativa de obstar o retorno ao emprego, o salário do empregado nãopode ficar a descoberto”. (00252-2012-076-03-00-3-RO)

EMENTA: “DANO MORAL. APTIDÃO LABORAL DECLARADA PELA PREVIDÊNCIASOCIAL. NEGATIVA INJUSTIFICADA DE RETORNO DO EMPREGADO AO TRA-BALHO. A conduta ilícita patronal de não permitir o retorno do reclamante ao trabalho,ou mesmo de readaptá-lo em atividades compatíveis com sua condição de saúde,

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deixando-o sem percepção de salários, ciente ainda da negativa da Previdência Socialem conceder-lhe benefício previdenciário (por entendê-lo apto para o trabalho),demonstra-se abusiva, ferindo parâmetros éticos e sociais. Ademais, tal conduta ilegal,denota o intuito patronal de eximir-se dos ônus devidos perante o obreiro, olvidando--se de que o risco da atividade econômica pertence ao empregador (art. 2º, CLT).Restou, assim configurada, ofensa aos direitos personalíssimos do obreiro, gerandoo dever de reparar o dano (arts. 186, 187, 927 e 944 do Código Civil e arts. 5º, V eX, da Carta Magna), mormente, considerando os princípios constitucionais dadignidade da pessoa humana e do valor social do trabalho, eriçados a fundamentosda República Federativa do Brasil, bem como que, a ordem social é fundada noprimado do trabalho (arts. 1º, III e IV, e 193 da CRFB/88)”. (90.2010.5.03.0074-RO)

Portanto, além da devida documentação em prontuário médico,sugerimos que esse ASO de aptidão vá acompanhado de um documento queapresente a seguinte redação:

“O paciente ____ , RG _____ , teve o pedido de prorrogação (PP)indeferido, e/ou pedido de reconsideração (PR) indeferido, e/ou términode seu auxílio-doença em __/__/__. Diante do exposto, com fulcro noart. 482, alíneas e e i da CLT, combinado com Súmulas ns. 15 e 32 doTST, e nas Leis ns. 11.907/2009 (art. 30, inciso I) e 605/1949 (art. 6º, §2º), sem outra alternativa de conduta, me submeto à decisão do INSS, eo qualifico como apto para retorno ao trabalho, com as devidas reco-mendações, enquanto se aguarda resposta ao pedido de reconsideração(PR)/recurso/nova perícia/decisão judicial. Recomendações: _____ .”

Percebam: o propósito dessa conduta não é expor o empregado a algumrisco de adoecimento/agravamento/acidente. Não! Pelo contrário. Quandoelencamos todas as “recomendações” (que muitos médicos preferem carac-terizar com o uso do termo “restrições”), estamos deixando clara a nossaintenção de preservar a integridade do trabalhador, sem, contudo, percorrertrilhas de elevada insegurança jurídica. No entanto, sabemos que, na prática,muitas vezes, as “recomendações” solicitadas praticamente se equivalerão àprópria inaptidão desse empregado. Por isso, a partir de então, o bom-sensoe a boa habilidade de diálogo do Médico do Trabalho/“Médico Examinador”junto ao empregado, ao empregador e ao INSS é que definirão a melhorconduta a ser tomada, sempre visando ao bem maior: a preservação dadignidade, e da saúde do trabalhador (princípio da dignidade da pessoahumana, consagrado pelo art. 1º, inciso III, da Constituição Federal de 1988).Sugerimos então, algumas possíveis condutas:

• quanto ao INSS: caso haja possibilidade de aproximação com o serviço de períciasmédicas do INSS no sentido de viabilizar uma solução para o caso, o Médico doTrabalho/“Médico Examinador” deverá fazê-lo;

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• quanto ao empregador: nosso entendimento está firmado no sentido de que oempregador precisa entender toda essa problemática, com todos os seus fundamentoslegais, e também as prováveis repercussões em casos de processos judiciais futuros.Assim, o ideal, é que haja um posto de trabalho inócuo (não nocivo) à saúde dotrabalhador, e que o empregado atue por lá enquanto não estiver no pleno de suacapacidade laboral (do ponto de vista do Médico do Trabalho/“Médico Examinador”).Isso não deve ser confundido com o chamado “desvio de função”, comumente usadopara fins de pagamentos de menores salários. No caso em questão, o motivo damudança da atividade laboral se justifica pela preservação da dignidade do empregado,uma garantia constitucional. A manutenção do empregado na mesma função (casohaja possibilidade de agravamento da doença/acidentes) deve ser fortementecontraindicada. Além dos riscos indesejáveis ao trabalhador, caso haja algum dano, opróprio empregador poderá ser penalizado com fulcro nos arts. 129 e 132 do CódigoPenal, e 927 do novo Código Civil. Dessa forma, não havendo algum ambiente inócuoem que se possa acomodar o empregado durante sua completa convalescença, atémesmo a permanência do empregado em sua própria residência, sem o desconto norespectivo salário (situação em que a falta será considerada justificada, conforme art.131 da CLT) deverá ser considerada pelo empregador.

Na vigência do impasse entre Médico Perito do INSS e Médicodo Trabalho, a empresa poderá dispensar esse empregado?

Sendo considerado “capaz” pelo Médico Perito do INSS, a dispensa doempregado (rescisão do contrato de trabalho, sem justa causa), em tese, estápermitida por lei. Lembremos que, de forma submissa ao INSS, o Médico doTrabalho/“Médico Examinador” terá de considerá-lo “apto” para retorno aotrabalho. Desta forma, o empregado também estaria “apto” num eventualexame demissional que fizesse, uma vez que, para o Médico do Trabalho/“Médico Examinador”, os critérios clínicos dessas avaliações (examesadmissional, periódico, demissional, retorno ao trabalho, e mudança defunção) devem ser exatamente os mesmos, sob pena de haver condutasdiscriminatórias, com “pesos e medidas diferentes” para os exames realizados(no caso em análise, para os exames de retorno ao trabalho e demissional).Com esse raciocínio, vieram os seguintes julgados:

EMENTA: “INCERTEZA QUANTO À APTIDÃO DO RECLAMANTE PARA OTRABALHO. AFASTAMENTO. SALÁRIOS. INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS.PRINCÍPIO DA FUNÇÃO SOCIAL. Se o empregador discorda da decisão do INSSque considerou seu empregado apto para o trabalho deve impugná-la de algummodo, ou, até mesmo, romper o vínculo, jamais deixar o seu contrato de trabalhono limbo, sem definição. Como, no caso em exame, a reclamada somente veio adespedir o reclamante um ano e nove meses após, incorreu em culpa, ensejando opagamento de indenização por danos morais, bem assim dos salários devidos no

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