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AUXÍLIO-ACIDENTE DE QUALQUER NATUREZA

AUXÍLIO ACIDENTE DE QUALQUER NATUREZA - ltr.com.brltr.com.br/loja/folheie/5587.pdf · Manual de Acidente do Trabalho. Juruá: Curitiba, 2013. P. 33. 10 –Adriane Bramante de Castro

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AUXÍLIO-ACIDENTEDE

QUALQUER NATUREZA

Wladimir Novaes Martinez Coordenador

AUXÍLIO-ACIDENTEDE

QUALQUER NATUREZA

EDITORA LTDA.

Rua Jaguaribe, 571CEP 01224-003São Paulo, SP — BrasilFone (11) 2167-1151www.ltr.com.brJunho, 2016

Produção Gráfica e Editoração Eletrônica: Pietra DiagramaçãoProjeto de capa: Fábio Giglio Impressão: Paym Gráfica

Versão impressa — LTr 5587.7 — ISBN 978-85-361-8868-3Versão digital — LTr 8970.3 — ISBN 978-85-361-8894-2

Todos os direitos reservados

Índice para catálogo sistemático:

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Auxílio-acidente de qualquer natureza / Wladimir Novaes Martinez, coordenador.

– São Paulo : LTr, 2016.

Bibliografia 1. Auxílio-acidente 2. Direito previdenciário - Brasil I. Título.

16-03269 CDU-34:364.3(81)

1. Brasil : Auxílio-acidente : Direito previdenciário 34:364.3(81)

SUMÁRIO

O AUXÍLIO-ACIDENTE DE QUALQUER NATUREZA E SUA EXTENSÃO ÀS DOENÇAS NÃOOCUPACIONAIS ................................................................................................................. ....................9

Adriane Bramante de Castro Ladenthin

AUXÍLIO-ACIDENTE E SUA EXTENSÃO ÀS DOENÇAS NÃO OCUPACIONAIS ........... ..................19

Alexsandro Menezes Farineli

A APOSENTADORIA POR INVALIDEZ NA PREVIDÊNCIA COMPLEMENTAR .............. ..................27

Ana Flávia Ribeiro Ferraz

AUXÍLIO-ACIDENTE DE QUALQUER NATUREZA E SUA EXTENSÃO ÀS DOENÇAS DE QUALQUER NATUREZA ................................................................................................... ..................39

Cláudio José Vistue Rios

O AUXÍLIO-ACIDENTE DE QUALQUER NATUREZA E SUA EXTENÇÃO ÀS DOENÇAS NÃOOCUPACIONAIS – REFLEXÕES..........................................................................................................53

Dirce Namie Kosugi

AUXÍLIO-ACIDENTE – NATUREZA JURÍDICA E ALCANÇE PARA ACIDENTE DE TRABALHO E DOENÇA OCUPACIONAL E ACIDENTE DE QUALQUER CAUSA ......... ..................58

Ivani Contini Bramante

AUXÍLIO-ACIDENTE DE QUALQUER NATUREZA E SUA EXTENSÃO ÀS DOENÇAS NÃO OCUPACIONAIS ........................................................................................................ ..................74

Kyu Soon Lee

AUXÍLIO-ACIDENTE POR DOENÇA DE QUALQUER NATUREZA: AMPLIAÇÃO DO BENEFÍCIO POR INTERPRETAÇÃO CONSTITUCIONAL E INSERÇÃO NO QUADRO GERAL DO “CONFLITO PREVIDENCIÁRIO” ............................................................................................................ ..................83

Marco Aurélio Serau Jr.

AUXÍLIO-ACIDENTE DE QUALQUER NATUREZA OU CAUSA ...................................... ..................96

Wladimir Novaes Martinez

À GUISA DE INTRODUÇÃO

Este livro escrito por uma plêiade de especialistas em Direito Previden-ciário, elaborado, em ordem alfabética, por Adriane Bramante de Castro Ladenthin, Alexsandro Menezes Farinelli, Ana Flávia Ribeiro Ferraz, Clau-dio José Vistue Rios, Dirce Namie Kosugi, Ivani Contini Bramante, Kyu Soon Lee, Marco Aurélio Serau Junior e Wladimir Novaes Martinez, todos advoga-dos integrantes e fundadores do Grupo de Estudos Previdenciários Wladimir Novaes Martinez — GEP WNM, trata do tema auxílio-acidente de qualquer natureza ou causa.

Os estudos foram reunidos nesta coletânea em razão de terem definido como primeiro tema, a ser objeto de análises e reflexões pessoais apresen-tados ao GEP WNM, em sua sede social e sob a coordenação da presidente Dirce Namie Kosugi.

Todos cuidam do mesmo tema, mostrando uma magnífica diversidade de perspectivas e aprofundamento de matéria interessante para os profis-sionais do Direito Previdenciário.

Depois de historiar desde o início do século passado o avanço da proteção infortunística, os autores concluíram suas pesquisas em que pretenderam definir se subsiste o direito ao benefício previdenciário do auxílio-acidente quando de acidentes de qualquer natureza ou causa e, por assim dizer, fora do contrato de trabalho, ou seja, incapacidade não ocupacional.

Wladimir Novaes Martinez

O AUXÍLIO-ACIDENTE DE QUALQUER NATUREZA E SUA EXTENSÃO ÀS DOENÇAS NÃO OCUPACIONAIS

ADRIANE BRAMANTE DE CASTRO LADENTHIN Advogada. Mestre em Direito Previdenciário pela PUC/SP. Coordena-dora e Professora convidada em cursos de pós-graduação. Vice-Pre-sidente do Instituto Brasileiro de Direito Previdenciário – IBDP. Autora de livros. Vice-Presidente e Membro Fundador do Grupo de Estudos Previdenciários Wladimir Novaes Martinez – GEP WNM.

1. INTRODUÇÃO

O cerne da questão é distinguir o conceito de acidente de qualquer natureza daquele intrinsecamente relacionado ao trabalho.

Ambos têm natureza e tratamento legal semelhante, mas apenas o de natureza acidentária prevê também a indenização por sequela advinda de doença que cause incapacidade para o trabalho.

É necessário refletir o que é acidente para, mais adiante, tratarmos da sua natureza e seus reflexos.

2. EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO ACIDENTE DO TRABALHO

Apesar de a legislação infortunística ser relativamente recente, o acidente do trabalho ou as doenças ocasionadas pelo ambiente pernicioso era muito comum desde as mais remotas civilizações. Deformações físicas, enfermi-dades e muitas outras sequelas eram ocasionadas pelos abusos praticados pelos patrões no tocante aos seus obreiros e escravos.

Com a Revolução Industrial, surgiram as máquinas e, consequentemente, a figura do trabalho assalariado. A partir de então, as relações entre empre-gado e empregador passaram a exigir regras de inter-relacionamento e maior proteção ao trabalhador, principalmente nas questões que envolviam acidente do trabalho.

Costa destaca que as máquinas existentes nos primórdios das civili-zações eram muito rudimentares e como o homem sempre foi dotado de imperfeições, os riscos de acidente eram constantes, até porque ainda não existiam as idéias de treinamento e aperfeiçoamento profissional(1).

A preocupação com a saúde do trabalhador demorou a ser efetivada. A Organização Internacional do Trabalho (OIT) somente se manifestou sobre as doenças ocasionadas pelo trabalho em 1925 pela da Convenção n. 18, desta-cando apenas três doenças profissionais (saturnismo, hidragismo e infecção carbunculosa). A partir de então, outras convenções foram sendo publicadas acrescentando cada vez mais novas enfermidades de origem ocupacional.

Essas questões provocaram o surgimento de diversas teorias para solu-cionar os conflitos relacionados ao acidente do trabalho. A responsabilidade

(1) COSTA, Hertz Jacinto. Manual de Acidente do Trabalho. Juruá: Curitiba, 2013. P. 33.

10 –Adriane Bramante de Castro Ladenthin

era contratual, de natureza civil, imputando, na maioria, ao empregador a culpa pelos danos causados ao trabalhador. Essas teorias tiveram inúme-ras outras variantes.

Segundo Costa, a teoria que mais se adéqua ao sistema atual é a da responsabilidade social, onde a culpa é compartilhada entre os diferentes segmentos sociais e produtivos(2).

No Brasil, foi o Código Comercial de 1850 que fez as primeiras referên-cias ao acidente do trabalho, mas foi em 1919 que se inaugurou a primeira legislação específica (Decreto n. 3.724/1919) sobre essa matéria. Nessa época, foi adotada a teoria do risco profissional, cuja indenização era paga pelo empregador, numa relação de direito privado, de natureza civil.

O Decreto-Lei n. 7.036/1944, verdadeiro marco da legislação infortunís-tica, apesar de manter ainda a questão sob o manto do Direito Civil, assim definia o que era acidente do trabalho:

Art. 1º Considera-se acidente do trabalho, para os fins da presente lei, todo aquele que se verifique pelo exercício do trabalho, provocando, direta ou indiretamente, lesão corporal, perturbação funcional, ou doença, que determine a morte, a perda total ou parcial, perma-nente ou temporária, da capacidade para o trabalho.

Art. 2º Como doenças, para os efeitos desta lei, entendem-se, além das chamadas profis-sionais, – inerentes ou peculiares a determinados ramos de atividades –, as resultantes das condições especiais ou excepcionais em que o trabalho for realizado.

Art. 5º Incluem-se entre os acidentes do trabalho por que responde o empregador, de conformidade com o disposto nos artigos anteriores, todos os sofridos pelo empregado no local e durante o trabalho, em consequência de:

a) atos de sabotagem ou terrorismo levados a efeito por terceiros, inclusive companheiros de trabalho;

b) ofensas físicas intencionais, causadas por companheiros de trabalho do empregado, ou não, em virtude de disputas relacionadas com o trabalho;

c) qualquer ato de imprudência, de negligência ou brincadeiras de terceiros, inclusive companheiros de trabalho;

d) atos de terceiros privados do uso da razão;

e) desabamentos, inundações ou incêndios, respeitado o disposto na letra “b” do art. 7º. (grifei)

A Previdência Social passa a assumir a proteção do trabalhador pelo acidente do trabalho com a Lei n. 5.316/1967, que assim definiu acidente do trabalho:

Art. 2º Acidente do trabalho será aquele que ocorrer pelo exercício do trabalho a serviço da empresa, provocando lesão corporal, perturbação funcional ou doença que cause a morte ou a perda ou redução, permanente ou temporária, da capacidade para o trabalho.

§ 1º Doença do trabalho será:

a) qualquer das chamadas doenças profissionais, inerentes a determinados ramos de ativi-dade e relacionadas em ato do Ministro do Trabalho e Previdência Social;

b) a doença resultante das condições especiais ou excepcionais em que o trabalho for realizado.

§ 2º Será considerado como do trabalho o acidente que, embora não tenha sido a causa única, haja contribuído diretamente para a morte; ou a perda ou redução da capacidade para o trabalho.

Art. 5º Para os fins desta Lei:

(2) COSTA, Hertz Jacinto. Manual de Acidente do Trabalho. Juruá: Curitiba, 2013. p. 52.

O auxílio-acidente de qualquer natureza e sua extensão às doenças não ocupacionais – 11

I — equipara-se ao acidente do trabalho a doença do trabalho;

II — equipara-se ao acidentado o trabalhador acometido de doença do trabalho;

III — considera-se como data do acidente, no caso de doença do trabalho, a data da comu-nicação desta à empresa.

Art. 6º Em caso de acidente do trabalho ou de doença do trabalho, a morte ou a perda ou redução de capacidade para o trabalho darão direito, independentemente de período de carência, às prestações previdenciárias cabíveis, concedidas, mantidas, pagas e reajusta-das na forma e pelos prazos da legislação de previdência social, salvo no tocante ao valor dos benefícios de que tratam os itens I, II e III e que será o seguinte:

I — auxílio-doença — valor mensal igual ao do salário de contribuição devido ao empre-gado no dia do acidente, deduzida a contribuição previdenciária, não podendo ser inferior ao seu salário de benefício, com a mesma dedução;

II — aposentadoria por invalidez — valor mensal igual ao do salário de contribuição devido ao empregado no dia do acidente, não podendo ser inferior ao seu salário de benefício;

III — pensão — valor mensal igual ao estabelecido no item II, qualquer que seja o número inicial de dependentes. (grifei)

Podemos observar que, na definição legal de acidente, ao menos o rela-cionado ao trabalho, sempre foram incluídas as doenças ocasionadas pelo trabalho, adquiridas sem dolo ou culpa do empregador.

Tal conceito amplo visava atender aos que perderam parte de sua capa-cidade, mas não integralmente e tiveram que se adaptar ao trabalho, muitas vezes até trocando de função. Não estavam incapacitados totalmente, mas de forma parcial.

A legislação infortunística foi avançando e ampliando o rol de proteção do trabalhador vitimado pelo acidente do trabalho. Ressalta-se, por oportuno, que os regramentos eram tratados em legislação específica em relação às demais proteções previdenciárias.

Avançando um pouco mais no tempo, chegamos à Lei n. 6.367/1976 que manteve as mesmas condições para o reconhecimento do acidente de trabalho, com algumas alterações:

Art. 2º Acidente do trabalho é aquele que ocorrer pelo exercício do trabalho a serviço da empresa, provocando lesão corporal ou perturbação funcional que cause a morte, ou perda, ou redução, permanente ou temporária, da capacidade para o trabalho.

§ 1º Equiparam-se ao acidente do trabalho, para os fins desta lei:

I — a doença profissional ou do trabalho, assim entendida a inerente ou peculiar a deter-minado ramo de atividade e constante de relação organizada pelo Ministério da Previdên-cia e Assistência Social (MPAS);

(...)

§ 3º Em casos excepcionais, constatando que doença não incluída na relação prevista no item I do § 1º resultou de condições especiais em que o trabalho é executado e com ele se relaciona diretamente, o Ministério da Previdência e Assistência Social deverá considerá-la como acidente do trabalho.

§ 4º Não poderão ser consideradas, para os fins do disposto no § 3º, a doença degenera-tiva, a inerente a grupo etário e a que não acarreta incapacidade para o trabalho.

Até esse momento, havia legislação especial cuidando do acidente do trabalho e de seus benefícios, tal qual se pode observar pelas Leis e Decretos supramencionados.Esse cenário começou a ser modificado com a Lei 8.213/1991, quando

da sua redação original, publicada depois da Constituição Federal de 1988,

12 –Adriane Bramante de Castro Ladenthin

tratou de estabelecer diferenças de coberturas entre as contingências acidentárias e aquelas genéricas, mas tudo numa única lei, sem destacar em lei específica o acidente do trabalho, senão vejamos:

Art. 19. Acidente do trabalho é o que ocorre pelo exercício do trabalho a serviço da empresa ou pelo exercício do trabalho dos segurados referidos no inciso VII do art. 11 desta Lei, provocando lesão corporal ou perturbação funcional que cause a morte ou a perda ou redução, permanente ou temporária, da capacidade para o trabalho.

Art. 20. Consideram-se acidente do trabalho, nos termos do artigo anterior, as seguintes entidades mórbidas:

I — doença profissional, assim entendida a produzida ou desencadeada pelo exercício do trabalho peculiar a determinada atividade e constante da respectiva relação elaborada pelo Ministério do Trabalho e da Previdência Social;

II — doença do trabalho, assim entendida a adquirida ou desencadeada em função de condições especiais em que o trabalho é realizado e com ele se relacione diretamente, constante da relação mencionada no inciso I.

§ 1º Não são consideradas como doença do trabalho:

a) a doença degenerativa;

b) a inerente a grupo etário;

c) a que não produza incapacidade laborativa;

d) a doença endêmica adquirida por segurado habitante de região em que ela se desen-volva, salvo comprovação de que é resultante de exposição ou contato direto determinado pela natureza do trabalho.

§ 2º Em caso excepcional, constatando-se que a doença não incluída na relação prevista nos incisos I e II deste artigo resultou das condições especiais em que o trabalho é executado e com ele se relaciona diretamente, a Previdência Social deve considerá-la acidente do trabalho.

A legislação infortunística passou a ser tratada na mesma lei dos bene-fícios de natureza previdenciária, mas manteve ainda a diferença marcante dentre eles nos percentuais do salário de benefício que eram mais vantajo-sos àqueles vitimados pelo acidente do trabalho, como destacamos a seguir:

Art. 44. A aposentadoria por invalidez, observando o disposto na Seção III deste Capítulo, especialmente no art. 33, consistirá numa renda mensal correspondente a:

a) 80% (oitenta por cento) do salário-de-benefício, mais 1% (um por cento) deste, por grupo de 12 (doze) contribuições, não podendo ultrapassar 100% (cem por cento) do salário-de-benefício; ou

b) 100% (cem por cento) do salário-de-benefício ou do salário-de-contribuição vigente no dia do acidente, o que for mais vantajoso, caso o benefício seja decorrente de acidente de trabalho. (...)

Art. 61. O auxílio-doença, observado o disposto na Seção III deste Capítulo, especialmente no art. 33, consistirá numa renda mensal correspondente a:

a) 80% (oitenta por cento) do salário-de-benefício, mais 1% (um por cento) deste, por grupo de 12 (doze) contribuições, não podendo ultrapassar 92% (noventa e dois por cento) do salário-de-benefício; ou

b) 92% (noventa e dois por cento) do salário-de-benefício ou do salário-de-contribuição vigente no dia do acidente, o que for mais vantajoso, caso o benefício seja decorrente de acidente de trabalho.

O auxílio-acidente também estava previsto no art. 86 da Lei n. 8.213/1991 em sua redação original, com percentuais diferenciados em relação ao grau de redução da capacidade laborativa, determinando que:

O auxílio-acidente de qualquer natureza e sua extensão às doenças não ocupacionais – 13

Art. 86. O auxílio-acidente será concedido ao segurado quando, após a consolidação das lesões decorrentes de acidente de trabalho, resultar sequela que implique:

I — redução da capacidade laborativa que exija maior esforço ou necessidade de adap-tação para exercer a mesma atividade, independentemente de reabilitação profissional;

II — redução da capacidade laborativa que impeça, por si só, o desempenho da atividade que exercia à época do acidente, porém não o de outra, do mesmo nível de complexidade, após reabilitação profissional; ou

III — redução da capacidade laborativa que impeça, por si só, o desempenho da atividade que exercia à época do acidente, porém não o de outra, de nível inferior de complexidade, após reabilitação profissional.

§ 1º O auxílio-acidente, mensal e vitalício corresponderá respectivamente, às situações previstas nos incisos I, II e III deste artigo, a 30% (trinta por cento), 40% (quarenta por cento) ou 60% (sessenta por cento) do salário-de-contribuição do segurado vigente no dia do acidente, não podendo ser inferior a esse percentual do seu salário-de-benefício.

Até aqui, o auxílio-acidente tinha o escopo de proteger exclusivamente os segurados sequelados pelo acidente ou pela doença relacionada ao trabalho.

Foi a partir da Lei n. 9.032/1995 que o cenário mudou e as contingên-cias acidentárias deixaram de ter tratamento diferenciado em relação às contingências comuns, conforme transcrevemos abaixo:

Art. 44. A aposentadoria por invalidez, inclusive a decorrente de acidente do trabalho, consistirá numa renda mensal correspondente a 100% (cem por cento) do salário-de-be-nefício, observado o disposto na Seção III, especialmente no art. 33 desta Lei.

(...)

Art. 61. O auxílio-doença, inclusive o decorrente de acidente do trabalho, consistirá numa renda mensal correspondente a 91% (noventa e um por cento) do salário-de-benefício, observado o disposto na Seção III, especialmente no art. 33 desta Lei.

O auxílio-acidente foi ampliado, deixando de proteger apenas o traba-lhador vítima de acidente do trabalho ou doença profissional/trabalho, mas a cobertura também ganhou destaque àquele segurado, vítima de acidente de qualquer natureza ou causa, senão vejamos:

Art. 86. O auxílio-acidente será concedido, como indenização, ao segurado quando, após a consolidação das lesões decorrentes de acidente de qualquer natureza resultar sequelas que impliquem em redução da capacidade funcional.

§ 1º O auxílio-acidente mensal e vitalício corresponderá a 50% (cinquenta por cento) do salário-de-benefício do segurado.

§ 2º O auxílio-acidente será devido a partir do dia seguinte ao da cessação do auxílio-doença, independentemente de qualquer remuneração ou rendimento auferido pelo acidentado.

§ 3º O recebimento de salário ou concessão de outro benefício não prejudicará a continui-dade do recebimento do auxílio-acidente.

A partir da Lei n. 9.032/1995, a legislação previdenciária não mais dife-rencia os benefícios de natureza acidentária daqueles de natureza comum, seja nos percentuais, seja na ampliação do auxílio-acidente, demonstrando que o objetivo do legislador foi direcionar a proteção ao risco de forma genérica, não importando qual tenha sido a origem da incapacidade.

A Lei n. 9.528/1997 deu nova redação ao art. 86 e se mantém até os dias atuais, trazendo que:

O auxílio-acidente será concedido, como indenização, ao segurado quando, após a conso-lidação das lesões decorrentes de acidente de qualquer natureza, resultarem sequelas que impliquem redução da capacidade para o trabalho que habitualmente exercia.

14 –Adriane Bramante de Castro Ladenthin

3. DEFINIÇÃO DE ACIDENTE DO TRABALHO E ACIDENTE DE QUAL-QUER NATUREZA OU CAUSA

O conceito de acidente do trabalho sempre esteve presente nas legis-lações infortunísticas acima mencionadas, sendo que o art. 19 atualmente assim o define:

Acidente do trabalho é o que ocorre pelo exercício do trabalho a serviço de empresa ou de empregador doméstico ou pelo exercício do trabalho dos segurados referidos no inciso VII do art. 11 desta Lei, provocando lesão corporal ou perturbação funcional que cause a morte ou a perda ou redução, permanente ou temporária, da capacidade para o trabalho.

Esse seria o clássico conceito do que efetivamente seja acidente do traba-lho, ou seja, aquele que ocorre de forma súbita, inesperada. Porém, a legis-lação previdenciária classifica como acidente do trabalho outras situações fáticas que não são tecnicamente acidente, mas assim são considerados, quais sejam: as doenças do trabalho; as doenças profissionais; o acidente in itinere; as concausalidades; o acidente por epidemiologia; dentre outros previstos nos arts. 20 a 23-A da Lei 8.213/1991.

Por essa razão, o que se observa é que nenhuma destas são realmente acidentes, mas são consideradas ou equiparadas como acidente do trabalho e assim recebem o manto da proteção social.

MARTINEZ conceitua acidente como sendo um acontecimento humano, previsível ou não, com ou sem culpa da vítima ou de terceiros, que cause dano físico ou psicológico ao indivíduo, evento súbito, involuntário e causa-dor de lesão física, independente da origem, que tenha como consequência a incapacidade, a invalidez ou a morte do acidentado, fato, evento ou acon-tecimento pessoal ou coletivo que agride o indivíduo produzindo-lhe algum dano físico, psicológico ou moral à saúde ou integridade física mensurável(3).

Recorremos também ao significado da palavra ACIDENTE que, obvia-mente, não está no texto legal por mero acaso.

Dicionário Houaiss(4) — destacamos:“Acidente − substantivo masculino (sXIV)1. acontecimento casual, inesperado, fortuito ‹a descoberta da América foi um feliz a.›1.1. qualquer acontecimento, desagradável ou infeliz, que envolva dano,

perda, lesão, sofrimento ou morte ‹o a. matou a família inteira›2. fato acessório; qualidade particular, pormenor ‹a pontualidade é um

a. na sua rotina›3. irregularidade no nivelamento do solo ‹a. de terreno›4. distribuição desigual da luz ‹o sol atravessava a veneziana, causando

curiosos a. luminosos›

(3) MARTINEZ. Wladimir Novaes. Dicionário Novaes de Previdência Social. LTr: São Paulo, 2014. p. 23.(4) Disponível em: <http://houaiss.uol.com.br/busca?palavra=acidente>. Acesso em: 13/fev/2016.

O auxílio-acidente de qualquer natureza e sua extensão às doenças não ocupacionais – 15

5. infrm. ataque súbito de enfermidade; desmaio (esp. no caso de epilepsia)6. fil no pensamento aristotélico e escolástico, aspecto casual ou fortuito

de uma realidade, que, por esta razão, é irrelevante para a compreensão do que nela é essencial e imprescindível (p. ex., a cor azul de um tecido é um acidente que, por sua presença, não transforma a natureza essencial desse objeto) p.opos. a essência e substância

7. ling cada um dos modos por que uma coisa se apresenta, em oposição à substância e aos atributos que constituem a sua essência [Na gramática tradicional, a oposição acidente/substância fundamenta a distinção adje-tivo/substantivo ou verbo/substantivo.]

8. med fenômeno patológico inesperado que sobrevém no curso de uma doença

9. mús cada um dos cinco sinais gráficos (sustenido, bemol, bequadro, dobrado sustenido e dobrado bemol) que são colocados ao lado de uma nota para alterar sua altura (‘frequência’)

10. rel na Eucaristia, cada um dos aspectos exteriores – como cor, cheiro, sabor etc. – que permanecem no pão e no vinho depois da consagração, sob os quais se oculta o corpo, o sangue, a alma e a divindade de Cristo.”

Vimos, portanto, que acidente não significa apenas o caso fortuito, ines-perado, mas pode significar também um acontecimento desagradável que cause dano, perda, lesão, sofrimento ou morte. A própria legislação previ-denciária ampliou o conceito de acidente para incluir na proteção outras possibilidades de causas de incapacidade que não são efetivamente oriun-das de acidente na sua acepção jurídica do termo.

Entretanto, diferente do acidente do trabalho que tem destaque expresso na legislação previdenciária, o acidente de qualquer natureza ou causa foi simplesmente incluído no art. 86 da Lei n. 8.213/1991, mas, em nenhum momento, a lei definiu o que seja essa nova modalidade de benefício. Por sua vez, o Decreto n. 3.048/1999 traz essa definição, em seu art. 30, § único, muito embora seja apenas um regulamento:

Parágrafo único. Entende-se como acidente de qualquer natureza ou causa aquele de origem traumática e por exposição a agentes exógenos (físicos, químicos e biológicos), que acarrete lesão corporal ou perturbação funcional que cause a morte, a perda, ou a redução permanente ou temporária da capacidade laborativa.

Importante observar que a Lei n. 8.213/1991 e todas as demais que a antecederam traziam proteção tanto aos segurados vitimados por acidente do trabalho, bem como daqueles vitimados por outros “acidentes”, assim classificados por equiparação ou por doenças.

Diferentemente, o acidente de qualquer natureza, sem definição legal expressa, reconhece o direito do segurado ao benefício auxílio-acidente de qualquer natureza ou causa (B/36) apenas se sofreu um acidente, de causa fortuita, inesperada, não importando qual tenha sido a origem desse acontecimento. É omissa em relação à redução da capacidade do trabalho ocasionado por doença.

FARIAS destaca que, no âmbito do Direito Previdenciário, a causa do acidente, seja ele de qualquer natureza ou acidentária não influenciará na

16 –Adriane Bramante de Castro Ladenthin

proteção, uma vez que na legislação atual ambas geram direito ao benefício auxílio-acidente, estando a questão acidentária incorporada à previdenciária(5).

4. A DOENÇA DE QUALQUER NATUREZA OU CAUSA

Muito embora a realidade não legitime a concessão dos benefícios de aposentadoria por invalidez ou auxílio-doença, porquanto a incapacidade no caso do auxílio-acidente seja parcial e permanente, faz surgir, por outro lado, o direito à possível implementação de auxílio-acidente, que desponta como um minus em relação ao pedido de aposentadoria por invalidez ou auxílio--doença.

De fato, procedendo-se a uma análise paralela dos benefícios previden-ciários, percebe-se que estes estão inseridos num contexto fenomenológico idêntico, qual seja, a ocorrência de uma incapacidade laborativa do segu-rado da Previdência Social, cuja aferição — quanto à gravidade e perma-nência — determina a concessão de um ou de outro benefício.

Tal peculiaridade acaba por criar entre tais benefícios uma relação de fungibilidade gradual que, de acordo com as provas e perícias, será estabe-lecida uma espécie de benefício conforme o grau e a duração da incapaci-dade que acomete o segurado.

Posteriormente à Lei n. 9.032/1995, quando houve isonomia entre os bene-fícios acidentários e previdenciários, o risco passou a ser encarado como gené-rico, ou seja, as regras para os trabalhadores que se incapacitam devem ser as mesmas para todos, sem nenhuma vinculação à sua atividade laborativa.

A presença de nexo causal entre a lesão e a atividade profissional desenvolvida só é exigida para a concessão de benefício acidentário. É o que destacamos no AgRg no Ag n. 1.427.123-SC, Rel. Min. Marco Aurélio Bellize, 5ª T., DJe 14.03.2012:

1. A partir da Lei n. 9.032/1995, o benefício acidentário passou a ser devido não só em razão de acidente de trabalho, mas nos de qualquer natureza, quando após a consolidação das lesões, houvesse redução da capacidade laborativa habitual do segurado. A presença do nexo de causalidade entre a lesão e a atividade profissional desenvolvida, só é exigida para concessão do benefício acidentário decorrente de moléstia auditiva, o que não é a hipótese dos autos. (...)

O fato gerador do auxílio-acidente é a redução da capacidade de trabalho do segurado parcial e permanentemente para as atividades que habitualmente exercia. Não importa se a causa foi acidentária, patológica, exógena, epidemiológica ou de trajeto. O foco é a proteção do trabalhador que não pode mais exercer a mesma função com o mesmo vigor ou outra compatível com seu estado de saúde.

Insta destacar que algumas doenças podem ter sido ocasionadas pelo próprio trabalho, mas que pela dificuldade das provas podem ser conside-radas como de natureza previdenciária. Por exemplo: um segurado pode apresentar um quadro de Episódios Depressivos (F32) e nem imaginar que isso pode estar relacionado à sua exposição a hidrocarbonetos alifáticos ou aromáticos e seus derivados, conforme prevê o Anexo II, Lista A, item XIII,

(5) FARIAS, Luciana Moraes de. Auxílio-acidente. LTr: São Paulo, 2012. p. 89.

O auxílio-acidente de qualquer natureza e sua extensão às doenças não ocupacionais – 17

n. 11, do Decreto n. 3.048/1999. Essa lista prevê como possibilidade de doença de natureza ocupacional episódios depressivos causados por expo-sição a esses agentes. Sem o nexo causal e havendo perda parcial da capa-cidade de trabalho do segurado ele poderá estar desprotegido.

Outro exemplo: diagnóstico de toxoplasmose, que possui, dentre as possibilidades de sequela, a cegueira. A contaminação dessa doença infec-tocontagiosa pelo Toxoplasma Gondii é transmitida por contágios notoria-mente conhecidos. Esse contágio não poderia ser considerado um acidente? Afinal, ninguém ingere produtos que podem ter a doença de forma cons-ciente e espontânea, mas sim acidental. Ficando o segurado com cegueira monocular em razão dessa contaminação e tendo sua capacidade de traba-lho comprometida, não lhe caberia o auxílio-acidente de qualquer natureza, permitindo-lhe que retorne ao trabalho em outra ou na mesma função?

Existe evidente lacuna legal, na forma de omissão de conceito de elemento essencial, cabendo–nos responder o que seria o amplíssimo conceito do acidente de QUALQUER natureza.

Vimos que o conceito de acidente é amplo na legislação previdenciária, devendo o acidente de qualquer natureza seguir o mesmo caminho.

Percebe-se que o legislador ordinário, ao lançar a locução “qualquer natu-reza”, quis excluir apenas a natureza laboral, que já possuía a sua própria benesse, ampliando aos demais casos de acidentes típicos e moléstia de origem exógena a mesma cobertura que se estendera aos acidentados no trabalho.

Neste sentido, transcrevemos abaixo decisão jurisprudencial que já, elogio-samente, percebeu a grandiosidade dessa extensão aos casos de doença de qualquer natureza que cause incapacidade parcial e permanente, atentando para o princípio da fungibilidade e da necessidade de focar na proteção e no risco de forma genérica, desprezando o nexo causal que não se faz mais neces-sário a partir da Lei n. 9.032/1995 para os casos extralaborais, senão vejamos:

TURMA NACIONAL DE UNIFORMIZAÇÃO – TNU

AUXÍLIO-ACIDENTE É BENEFÍCIO PREVIDENCIÁRIO DA MESMA NATUREZA QUE APOSEN-TADORIA POR INVALIDEZ E O AUXÍLIO-DOENÇA, TENDO COMO ESSÊNCIA A INCAPACI-DADE PARA O TRABALHO.

2ª SUBSEÇÃO JUDICIÁRIA DO ESTADO DE SÃO PAULO JUIZADO ESPECIAL FEDERAL DE RIBEIRÃO PRETO

PROCESSO:2003.61.85.001209-2

RECTE.: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL — INSS

RECDO.: CONCEIÇÃO APARECIDA DE FIGUEIREDO

ADVOGADO: SP190709 — LUIZ DE MARCHI

RELATOR: JUIZ FEDERAL MARCELO DUARTE DA SILVA

I — VOTO

O INSS recorreu da r. sentença que julgou procedente o pedido para condená-lo ao paga-mento de auxílio-acidente à recorrida, Conceição Aparecida de Figueiredo, ao argumento de que a sentença é nula por julgar fora do pedido e por este Juizado ser absolutamente incompetente para processar e julgar pedidos de auxílio-acidente. Nada obstante a recor-rida não ter pedido expressamente o benefício de auxílio-acidente, diz o art. 460 do CPC que é vedado o juiz proferir sentença, a favor do autor, de natureza diversa da pedida.

Entretanto, o auxílio-acidente é benefício previdenciário da mesma natureza que a aposentadoria por invalidez e o auxílio-doença, tendo como essência a incapacidade para

18 –Adriane Bramante de Castro Ladenthin

o trabalho. A instrução probatória tratou de todos os fatos relacionados aos três benefícios, de maneira que a fungibilidade aplicada pelo juízo “a quo” respeita a natureza que liga os mesmos: a incapacidade para o trabalho. De outro lado, não colhe o argumento de que o auxílio-acidente somente pode ser conhe-cido pela Justiça dos Estados, uma vez que o caso vertente não trata de acidente de trabalho, mas de doença (câncer de língua e face), sem qualquer correspondên-cia com o exercício de atividade laborativa. Saliente-se que o benefício em ques-tão é cabível em razão de acidente de qualquer natureza, conforme expresso no “caput” do art. 86 da Lei n. 8.213/91, não se limitando a acidente de trabalho, como quer fazer crer o recorrente.

Superadas as argumentações de nulidade da sentença, vejo que, no que se refere ao mérito propriamente dito, não há o que retocar na r. sentença, mantendo-a por seus próprios e jurídicos fundamentos. (grifamos)

Diante do exposto, voto pelo improvimento ao recurso do INSS, condenando-o ao paga-mento das despesas processuais e honorários do advogado da recorrida, que fixo em 10% do valor da condenação.

CONCLUSÃO

A evolução (ou involução) da legislação infortunística não diferencia mais os benefícios de natureza acidentária daqueles de natureza previden-ciária, permitindo aos sujeitos de direito a mesma proteção.

O que importa destacar é o grau de incapacidade para o trabalho, bem como sua duração para definir qual será o benefício a ser implementado.

Há uma flagrante lacuna legislativa que não definiu o que seja acidente de qualquer natureza ou causa, mas o art. 86 da Lei n. 8.213/1991, com a nova redação que lhe foi trazida pela Lei n. 9.032/1995 permite a concessão do auxílio-acidente de qualquer natureza ao segurado, ainda que vitimado por doença e não necessariamente acidente, desde que comprovada sequela que implique em redução parcial e permanente da sua capacidade laborativa.

O conceito de acidente da própria legislação previdenciária reconhece como acidente outros fatos que, tecnicamente, não são acidentes. Da mesma forma, essa ampliação deve ser utilizada para os casos de doenças de qualquer natureza ou causa.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

COSTA, Hertz Jacinto. Manual de Acidente do Trabalho. Juruá: Curitiba, 2013.FARIAS, Luciana Moraes de. Auxílio-acidente. LTr: São Paulo, 2012. MARTINEZ, Wladimir Novaes. Dicionário NOVAES de Previdência Social. LTr: São Paulo, 2014.SITE: <http://houaiss.uol.com.br/busca?palavra=acidente>. Acesso em: 13/fev/2016.