Medidas Anticorrupcao Versao 2015-06-25

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    MEDIDA 1

    INVESTIMENTOEMPREVENO

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    1. Accountability

    ANTEPROJETO DE LEI

    Prev a criao de regras de accountabilityno mbito dosTribunais Regionais Federais, dos Tribunais de Justia dosEstados e do Distrito Federal e Territrios e dosMinistrios Pblicos respectivos, e d outras providncias.

    A PRESIDENTE DA REPBLICA, fao saber que o Congresso Nacional decreta e eusanciono a seguinte lei:

    Art. 1 Esta Lei prev a criao de regras de accountability no mbito dos TribunaisRegionais Federais, dos Tribunais de Justia dos Estados e do Distrito Federal e Territrios e dosMinistrios Pblicos respectivos.

    Art. 2Os Tribunais Regionais Federais, os Tribunais de Justia dos Estados e do DistritoFederal e Territrios e os Ministrios Pblicos respectivos divulgaro, anualmente, estatsticasglobais e para cada um dos rgos e Unidades que os compem, para demonstrar:

    I o nmero de aes de improbidade administrativa e de aes criminais, por categoria,que ingressaram e foram instaurados durante o exerccio, e o nmero de processos, por categoria,que foram julgados, arquivados ou que, por qualquer modo, tiveram sua sada realizada de forma

    definitiva, bem como o saldo de processos pendentes, por categoria;

    II o nmero de aes de improbidade administrativa e de aes criminais, por categoria,que tramitam perante o rgo ou Unidade, com a indicao do seu respectivo tempo de tramitaoe do interstcio gasto para receber algum tipo de deciso judicial ou para nele ser proferidamanifestao ou promoo de qualquer espcie.

    Art. 3Na hiptese de constatao, por meio da estatstica a que se refere o art. 2, de queas aes de improbidade administrativa e as aes criminais foram julgadas em prazo alm dorazovel, sero identificados os motivos e, se for o caso, instauradas as medidas administrativas edisciplinares cabveis.

    Art. 4Os Tribunais Regionais Federais, os Tribunais de Justia dos Estados e do DistritoFederal e Territrios e os Ministrios Pblicos respectivos devero encaminhar ao Conselho

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    JUSTIFICATIVA

    A presente iniciativa legislativa possui a finalidade primordial de agilizar a tramitao dasaes de improbidade administrativa e das aes criminais, com o estabelecimento de rotinas deaccountabilitye eficincia em relao aos processos judiciais respectivos.

    Busca-se, com isso, estimular a racionalidade do sistema judicial, permitindo que caminheem direo ao cumprimento de seu escopo, bem como se almeja reforar a responsabilidade

    proativa daqueles que melhor conhecem o sistema e seus percalos os julgadores e membros doMinistrio Pblico , na busca das solues mais adequadas. Cria-se, assim, um mecanismoautomtico de busca de solues a partir do diagnstico da situao.

    O fato que a morosidade na tramitao das aes de improbidade administrativa e dasaes criminais to nefasta a ponto de o Conselho Nacional de Justia (CNJ), rgo de controleexterno do Poder Judicirio, estabelecer meta para as Justias Estadual, Federal e Militar, e para oSuperior Tribunal de Justia, a fim de identificar e julgar, at 31/12/2013, as aes de improbidade

    administrativa e aes penais relacionadas a crimes contra a administrao pblica distribudas at31/12/2011 (Meta 18, de 2013).

    No entanto, as metas estabelecidas pelo CNJ ficaram longe de alcanar o efeito desejado.Mesmo com os esforos concentrados realizados por juzes pas afora, o Relatrio de Metas

    Nacionais do Poder Judicirio 2009-2013 revelou que nenhum Tribunal do pas logrou alcanar ameta.

    De acordo com as informaes prestadas pelos Tribunais, at 31 de dezembro de 2011havia no Poder Judicirio um estoque de 43.773 aes de improbidade distribudas e no julgadas.Mesmo com os esforos impostos pela Meta 18, de tais aes somente 10.643 foram julgadas noano de 2012, e apenas outras 9.864 no ano de 2013.

    V-se, portanto, que o problema da morosidade na tramitao dessas aes no serresolvido apenas com esforos concentrados e priorizao de julgamentos. Para tanto, necessrioidentificar os fatores que realmente influenciam na dificuldade de tramitao desses processos, ecriar meios para destrav-los.

    Nesse sentido, uma das possveis solues a deteco dos problemas e dasparticularidades que envolvem julgamentos relativos Lei n 8.429, de 2 de junho de 1992, Lei n12.846, de 1 de agosto de 2013, e aos crimes, por meio do estabelecimento de normas de

    accountability.

    O que se pretende, portanto, o estabelecimento de uma opo legislativa para, ao final,priorizar as aes que dizem respeito a atos de corrupo, por meio do efetivo conhecimento arespeito de como elas se desenvolvem.

    certo que as causas da morosidade na tramitao das aes de improbidadeadministrativa e das aes criminais, seguramente, no se resumem a esse aspecto procedimental.

    No se ignora que uma srie de fatores polticos e sociolgicos tambm possuem relevante papel nalentido dessas aes, uma vez que comumente essas causas interferem em poderosos interesseseconmicos e polticos e dizem respeito a rus que detm influncia social e meios financeiros para

    dificultar o andamento do processo judicial.

    No entanto, a existncia de outros fatores no justificativa para que no se resolvam os

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    problemas decorrentes de incongruncias procedimentais e estruturais; pelo contrrio, deve-seimplementar, ao mximo, os meios necessrios para que o processo assegure a viabilizao dointeresse social na responsabilizao dos autores de atos mprobos, bem como o direitoconstitucional da sociedade de se valer de procedimento judicial clere para tanto.

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    2. Teste de Integridade

    ANTEPROJETO DE LEI

    Cria o teste de integridade dos agentes pblicos.

    A PRESIDENTE DA REPBLICA, fao saber que o Congresso Nacional decreta e eusanciono a seguinte lei:

    Art. 1 Esta Lei cria o teste de integridade dos agentes pblicos no mbito daAdministrao Pblica.

    Art. 2 A Administrao Pblica poder, e os rgos policiais devero, submeter osagentes pblicos a testes de integridade aleatrios ou dirigidos, cujos resultados podero ser usadospara fins disciplinares, bem como para a instruo de aes cveis, inclusive a de improbidadeadministrativa, e criminais.

    Art. 3Os testes de integridade consistiro na simulao de situaes sem o conhecimentodo agente pblico, com o objetivo de testar sua conduta moral e predisposio para cometer ilcitoscontra a Administrao Pblica.

    Art. 4Os testes de integridade sero realizados preferencialmente pela Corregedoria,Controladoria, Ouvidoria ou rgo congnere de fiscalizao e controle.

    Art. 5Sempre que possvel e til realizao dos testes de integridade, poder serpromovida a sua gravao audiovisual.

    Art. 6Os rgos que forem executar os testes de integridade daro cincia prvia aoMinistrio Pblico, de modo sigiloso e com antecedncia mnima de 15 (quinze) dias, e informaroa abrangncia, o modo de execuo e os critrios de seleo dos examinados, podendo o MinistrioPblico recomendar medidas complementares.

    Art. 7 Os rgos de fiscalizao e controle divulgaro, anualmente, estatsticasrelacionadas execuo dos testes de integridade, bem como mantero, pelo prazo de 5 (cinco)

    anos, toda a documentao a eles relacionada, qual poder ter acesso o Ministrio Pblico.

    Art. 8A Administrao Pblica no poder revelar o resultado da execuo dos testes de

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    integridade nem fazer meno aos agentes pblicos testados.

    Art. 9Os testes de integridade tambm podero ser realizados pelo Ministrio Pblico oupelos rgos policiais, mediante autorizao judicial, em investigaes criminais ou que digamrespeito prtica de atos de improbidade administrativa.

    Art. 10.A Administrao Pblica, durante a realizao dos testes de integridade, poderefetuar gravaes audiovisuais ou registrar, por qualquer outro mtodo, o que ocorre nas repartiespblicas ou nas viaturas e nos carros oficiais, respeitado o direito intimidade.

    Art. 11.Aplicam-se as disposies desta Lei, no que couber, Lei n 12.846, de 1 deagosto de 2013.

    Art. 12.Esta Lei entra em vigor 90 (noventa) dias aps a sua publicao.

    Braslia, X de XXXX de 201X.

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    JUSTIFICATIVA

    Trata-se de iniciativa legislativa que almeja criar novo mecanismo voltado defesa damoralidade pblica.

    Assim que se pretende inovar o ordenamento jurdico para instituir o teste de integridadeaos agentes pblicos, de modo que sejam prevenidos atos de corrupo e comportamentosinadequados no servio pblico e, particularmente, nos corpos policiais, tal como j realizado emgrande extenso em outros pases, a exemplo dos Estados Unidos da Amrica, da Austrlia, doReino Unido, alm da regio administrativa especial de Hong Kong.

    O objetivo central do teste de integridade criar, preventivamente, a percepo de que todoo trabalho do agente pblico est sujeito a escrutnio e, a qualquer momento, a atividade pode estarsendo objeto de anlise, inclusive sob o ponto de vista de honestidade. A realizao do teste no

    parte da premissa da desconfiana sobre os servidores em geral, mas sim da noo de que todoagente pblico tem um dever de transparncia e accountability, sendo natural o exame de sua

    atividade.

    Prestigia-se, sob outra vertente, o Princpio Republicano, a partir do qual todos os agentespblicos devem prestar contas de sua atuao, e a Administrao Pblica deve velar pela correta eproba conduo da coisa pblica.

    O teste de integridade dirigido aplicado, ento, no agente pblico em relao ao qual jhouve algum tipo de notcia desairosa ou suspeita de prtica mproba, ao passo que os testes deintegridade aleatrios refletem o princpio de que a atividade de qualquer agente pblico estsujeita, a qualquer tempo, a escrutnio.

    O teste de integridade objetiva desencadear medidas proativas da Administrao Pblicapara combater e prevenir a corrupo em situaes enfrentadas corriqueiramente pelo agentepblico. Exemplo disso o oferecimento de um valor mdico, a ttulo de propina, por um agente decorregedoria que, fingindo ser um cidado comum, comete uma infrao de trnsito e parado por

    policial para ser multado. H registro de resultados positivos em diversos locais nos quais esse tipode teste foi e utilizado, sendo recomendado at mesmo pela ONU e pela TransparnciaInternacional em relao s polcias. Alm disso, esses dois organismos internacionais apontam queo conceito dos testes de integridade no precisa ser confinado s atividades policiais, da que

    possvel aplic-los em outros setores da Administrao Pblica.

    J na dcada de 70 do sculo XX, ao simular situaes reais na cidade norte-americana deMiami, a ABC Newsprovidenciou a entrega de 31 carteiras contendo dinheiro e identidade para 31policiais, 9 dos quais subtraram o dinheiro e foram penalizados.

    Trinta anos depois, em Los Angeles e em Nova York, cidades nas quais as polciasaplicam, sistematicamente, testes de integridade nos policiais, a mesma rede de televiso distribuiu20 carteiras para os policiais de cada cidade. Todas as carteiras foram devolvidas aos proprietriossem nenhum centavo faltando, a demonstrar que a criao de um ambiente de transparncia eescrutnio, no qual o agente pblico pode ser testado a qualquer momento, tende a modificar ocomportamento e a cultura de corrupo. Destaque-se tambm, no exemplo, que, se a prpriaimprensa pode aplicar, de modo lcito, testes de integridade, tanto mais pode faz-lo a

    Administrao Pblica.

    No caso do teste de integridade, embora pudesse haver alguma discusso jurdica quanto

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    viabilidade de processamento criminal (e no cvel ou administrativo) da situao, em razo da tesedo flagrante preparado, h posies doutrinrias e jurisprudenciais favorveis legitimidade da

    persecuo criminal de condutas apuradas por meio de tais testes, desde que sua aplicao sejacercada de alguns cuidados.

    De todo modo, independentemente de tal discusso na seara criminal, h precedente do

    Supremo Tribunal Federal rejeitando a tese do flagrante preparado no tocante aplicao de sanoadministrativa. Para proteger o servidor pblico, ressalte-se, vedada pelo projeto a realizao detestes que representem uma tentao desmedida, a qual poderia levar uma pessoa honesta a secorromper.

    Com o mesmo objetivo, dever ocorrer a comunicao prvia ao Ministrio Pblico,informando-se a abrangncia e os critrios de seleo usados, para aquela Instituio efetuarrecomendaes em 15 dias, se assim entender cabveis. Alm disso, para garantia do examinado, oteste deve ser sujeito gravao audiovisual sempre que for possvel.

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    3. Percentuais de publicidade

    ANTEPROJETO DE LEI

    Disciplina a aplicao de percentuais de publicidade paraaes e programas, bem como estabelece procedimentos erotinas para prevenir a prtica de atos de corrupo.

    A PRESIDENTE DA REPBLICA, fao saber que o Congresso Nacional decreta e eusanciono a seguinte lei:

    Art. 1Esta Lei disciplina a aplicao de percentuais mnimos de publicidade para aes e

    programas no mbito da Unio, dos Estados, do Distrito Federal e Territrios e dos Municpios,bem como estabelece procedimentos e rotinas voltados preveno de atos de corrupo.

    Art. 2Durante o prazo mnimo de 15 (quinze) anos, do total dos recursos empregados empublicidade, sero investidos percentuais no inferiores a 15% (quinze por cento) pela Unio, a 10%(dez por cento) pelos Estados e pelo Distrito Federal e Territrios, e a 5% (cinco por cento) pelosMunicpios, para aes e programas de marketingvoltados a estabelecer uma cultura de intolerncia corrupo.

    1 As aes e os programas de marketinga que se refere o caputincluiro medidas deconscientizao dos danos sociais e individuais causados pela corrupo, o apoio pblico para

    medidas contra a corrupo, o incentivo para a apresentao de notcias e denncias relativas corrupo e o desestmulo, nas esferas pblica e privada, a esse tipo de prtica.

    2 A proporo estabelecida no caput dever ser mantida em relao ao tempo de uso dordio, da televiso e de outras mdias de massa.

    3 As aes e os programas de que trata este artigo devero fomentar a tica e obedecerao 1 do art. 37 da Constituio Federal, de modo que no configurem propaganda institucionalde governo ou realizaes de ordem pessoal de governantes, agentes pblicos ou quaisquer rgosda Administrao Pblica.

    4 No prazo mximo de 2 (dois) anos da vigncia desta lei, sero afixadas placas visveisem rodovias federais e estaduais, no mnimo a cada 50 (cinquenta) quilmetros e nos dois sentidosda via, as quais indicaro, pelo menos, o nmero telefnico, o stio eletrnico e a caixa de

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    mensagens eletrnica por meio dos quais poder ser reportada corrupo de policiais rodovirios aoMinistrio Pblico.

    5 Nas aes e programas de que trata este artigo, lcito o uso de imagens e de sons quereproduzam atos de corrupo pblica ativa ou passiva, ou a execuo de testes de integridaderealizados pela Administrao Pblica, nos quais o agente pblico foi reprovado, sendo

    desnecessria a identificao do envolvido.

    Art. 3As Corregedorias da Administrao Pblica e, onde no houver, os rgos defiscalizao e controle, ao menos pelos prximos 15 (quinze) anos, faro no mnimo 2 (dois)treinamentos anuais relacionados aos procedimentos e s rotinas que devem ser adotados diante desituaes propcias ocorrncia de atos de improbidade administrativa, dentre os quais ooferecimento ou a promessa de vantagens ilcitas.

    1 Os procedimentos e as rotinas a que se refere o caputtero o objetivo de conscientizaros agentes pblicos acerca de condutas racionalizantes de comportamentos ilegais, de modo quesejam neutralizados.

    2 A Administrao Pblica assegurar que, a cada 5 anos, todos os agentes pblicossejam treinados ou reciclados quanto aos procedimentos e s rotinas mencionados no caput.

    3 A Administrao Pblica estabelecer, no prazo de 1 (um) ano da vigncia desta lei,um cdigo de conduta que dispor, dentre outros assuntos, sobre as principais tipologias e modos derealizao dos atos de corrupo relativos a cada carreira ou especialidade, assim como sobre oscomportamentos preventivos recomendados, os casos nos quais haver possibilidade de gravaoaudiovisual do contato com cidados ou com outros agentes pblicos, e quais as medidas a seremadotadas pelo agente pblico quando se encontrar em situao de iminente prtica de ato deimprobidade administrativa.

    4 Os stios eletrnicos do Poder Executivo da Unio, dos Estados, do Distrito Federal eTerritrios ou dos Municpios devero conter, em link apropriado e especialmente desenvolvido

    para esta finalidade, todos os cdigos de conduta vigentes na Administrao Pblica respectiva.

    5A Controladoria-Geral da Unio e os rgos congneres nos Estados, no DistritoFederal e Territrios e nos Municpios podero alterar os cdigos de conduta editados pelasCorregedorias ou pelos rgos de fiscalizao e controle a que se refere o caput, ou edit-los nocaso de no existirem.

    6 A Controladoria-Geral da Unio, as Corregedorias e, quando for o caso, os outrosrgos de fiscalizao e controle faro, no perodo estabelecido no caput, estudo anual das reas daAdministrao Pblica nas quais mais propcia a ocorrncia de corrupo, e podero exigir, sob

    pena de responsabilidade, a realizao de treinamentos frequentes e especficos para agentespblicos que atuam nos setores de maior risco, com a respectiva confeco de relatrios sobre suaquantidade, qualidade e abrangncia.

    7 O Ministrio da Educao, em conjunto com a Controladoria-Geral da Unio,desenvolver medidas e programas de incentivo, em escolas e universidades, voltados ao estudo e

    pesquisa do fenmeno da corrupo, conscientizao dos danos provocados pela corrupo e propagao de comportamentos ticos.

    8 Sob pena de responsabilidade do gestor no caso de omisso, a repartio pblica emque se faa atendimento a cidados dever conter cartazes ou outros meios de divulgao visveis,

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    pelos quais sejam informados os servios cobrados e seu respectivo valor, o nmero telefnico, ostio eletrnico e a caixa de mensagens eletrnica das Controladorias, das Corregedorias ou dosrgos de fiscalizao e controle e do Ministrio Pblico, para os quais possam ser dirigidasreclamaes e denncias.

    Art. 4 Aplicam-se as disposies desta Lei, no que couber, Lei n 12.846, de 1 de

    agosto de 2013.

    Art. 5Esta Lei entra em vigor na data de sua publicao.

    Braslia, X de XXXX de 201X.

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    JUSTIFICATIVA

    Trata-se de iniciativa legislativa que almeja criar novos mecanismos voltados defesa damoralidade pblica e da probidade administrativa, quais sejam, a aplicao de percentuais mnimosde publicidade para aes e programas no mbito da Unio, dos Estados, do Distrito Federal e

    Territrios e dos Municpios, bem como o estabelecimento de procedimentos e rotinas voltados preveno de atos de corrupo (art. 1).

    Assim que o art. 2 introduz a obrigao de um gasto mnimo de publicidade paraincentivar o desenvolvimento de uma cultura contra a corrupo, a qual, infelizmente, apresenta-secomo um fenmeno endmico, cuja mudana no depende apenas de acabar ou diminuir a sensaode impunidade, como tambm de aes de conscientizao da populao e de treinamento deagentes pblicos para enfrentar situaes de risco sem a flexibilizao de regras ticas.

    Um dos mais famosos exemplos bem-sucedidos de combate corrupo a experincia deHong Kong. De uma situao de corrupo endmica nos anos 1960, Hong Kong migrou para a 17

    posio no rankingglobal de honestidade da Transparncia Internacional, feito com base em ndicede percepo de corrupo. A estratgia de Hong Kong alicerou-se sobre trs pilares.

    Um deles a investigao e punio dos culpados, afastando-se a sensao de impunidade.Os outros dois so a preveno e a educao, que so o foco da presente medida. Em Hong Kong,houve forte campanha, feita em mdias de massa, para engajar a opinio pblica na luta contra acorrupo pblica e privada, no s incentivando a denncia de atos corruptos, mas tambmconscientizando a populao dos danos sociais e individuais decorrentes dessa prtica.

    A aceitao da corrupo na cultura social ocasiona sua assimilao em subculturasorganizacionais. Evidncia reveladora dessa concluso a pesquisa que mostra um ndice detolerncia corrupo poltica de 75%, ou seja, 75% dos brasileiros admitem que seriam capazesde cometer irregularidades em cargos pblicos.

    Diante desse nmero, no surpreende que parte relevante dos atos corruptos como acorrupo de policiais no trnsito ou as fraudes em licitaes comece por atos de particulares. Umexemplo claro, grave e recente da corrupo privada foi exposto pelo noticirio Fantstico do dia4 de janeiro de 2015, ao divulgar a existncia de uma mfia de prteses, por meio da qual mdicosreceberiam uma comisso de 20% a 30% dos valores das prteses em troca da escolha dedeterminadas marcas.

    Por outro lado, de nada adiantaria instituir, simplesmente, auditorias e sistemas de controlese no houver uma preocupao com a mudana da cultura de corrupo social e individual, pois ohomem continuar buscando e encontrando brechas para manter o velho jogo oculto sob as novasregras.

    Por isso que tambm so propostas medidas mais amplas e com repercusso social.Assim, paralelamente efetividade da punio do comportamento corrupto, deve-se realizartrabalho consistente de conscientizao da populao acerca dos malefcios coletivos e individuaisque a corrupo acarreta, bem como para que reportem comportamentos corruptos. H vriascampanhas anticorrupo no mundo que utilizaram, intensivamente, propagandas veiculadas emmeios de comunicao de massa a fim de contribuir com a mudana da cultura da corrupo pblica

    e privada.

    A anlise do detalhamento dos dispndios governamentais com publicidade revela uma

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    tendncia a ampliar os gastos com a publicidade institucional (que tem por objetivo divulgar atos,obras e programas do governo), em detrimento da publicidade de utilidade pblica (que visainformar e orientar a populao para adotar comportamentos que lhe tragam benefcios reais).

    Com efeito, comparando-se as Leis Oramentrias Anuais de 2013 e 2014, verifica-se quea previso de gastos com a primeira modalidade cresceu 33,8%, passando de R$ 202,8 milhes em

    2013 para R$ 270,1 milhes em 2014. J a publicidade voltada utilidade pblica teve seuoramento reduzido de R$ 728,7 milhes em 2013 para R$ 592,2 milhes em 2014. De qualquersorte, o gasto do Governo Federal com publicidade, apenas para a Administrao Pblica Direta(excluindo-se as empresas pblicas), alcanaria R$ 863,4 milhes em 2014.

    Assim, factvel especificar que uma parcela desses recursos seja direcionada acampanhas de preveno corrupo, como faz a proposta alinhavada no art. 2.

    A proposta de alocao de um percentual dos recursos gastos em propaganda tem, ainda, ocondo de melhor especificar o destino do oramento de publicidade, o qual, muitas vezes, j , porsi s, fonte de corrupo consoante visto a partir do julgamento da Ao Penal 470 (Mensalo)

    em relao ao desvio de recursos promovido por meio de verbas publicitrias pagas empresaSMP&B, do condenado Marcos Valrio de Souza.

    Evitando-se possveis questionamentos acerca da legitimidade e da licitude do uso deimagens e de sons de casos concretos de corrupo, o 5 introduzido no art. 2 expressamentedispe que desnecessria a identificao de criminosos na propaganda institucional contra acorrupo, de modo que acontea uma ponderao com o princpio constitucional da intimidade.

    A inspirao da norma do aludido 5 que o impacto das aes de marketing maiorquando se correlaciona a mensagem a casos concretos de conhecimento pblico. De fato, o impactoda publicidade ser maior se o cidado entender que atos de corrupo do dia a dia podem ser tonefastos quanto aqueles vistos nos grandes escndalos de corrupo.

    J o 4 proposto no art. 2 busca dar soluo para uma das maiores dificuldades nocombate corrupo policial, que a relutncia do cidado em noticiar a corrupo da polcia

    prpria polcia, dando publicidade ao rgo externo para o qual o cidado pode comunic-la. Arealizao da comunicao ao Ministrio Pblico justifica-se porque foi ele consagrado naConstituio Federal como a Instituio responsvel pelo controle externo da atividade policial.

    Ao mesmo tempo, o destaque no texto para esse assunto, assim como a obrigatoriedade deplacas contendo a informao em rodovias, justificam-se porque a corrupo de trnsito em

    rodovias uma das mais notrias tipologias de corrupo brasileiras, da que, enquanto no foreficazmente combatida, ser difcil mudar o ndice de percepo da corrupo no Brasil.

    O art. 3, por sua vez, exige a realizao de treinamentos e o estabelecimento de regrasespecficas contra a corrupo, realizados por rgos internos e externos de preveno e combate corrupo, o que tem por escopo modificar subculturas organizacionais voltadas a essa prticailcita.

    Nesse sentido, o dispositivo prev a realizao de cursos peridicos a agentes pblicos,para que se conscientizem sobre as atitudes a tomar diante da oferta direta de vantagens porparticulares ou em face de situaes que potencialmente possam caracterizar atos de corrupo. Os

    cursos objetivam, tambm, neutralizar as racionalizaes, isto , os processos psicolgicos nosquais o agente busca justificativas para a aceitao de comportamentos ilegais. Paralelamente, oartigo prev a edio e a publicidade de cdigos de conduta para regular o comportamento dos

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    agentes pblicos.

    O estabelecimento de regras claras sobre corrupo e o treinamento dos agentes pblicosconstituem a base para qualquer programa efetivo de compliance, o que vem sendo objeto deateno mundial. Nessa linha, em pases onde o estudo das regras de integridade mais avanado, acomunicao e o treinamento adequados figuram, inclusive, como balizadores do efetivo

    comprometimento das organizaes com a preveno corrupo.

    Na mesma direo, o 7 do art. 3 estimula o ensino e o debate da tica em escolas euniversidades, contribuindo com a formao de uma cultura contra a corrupo.

    Por fim, o 8 do mesmo artigo atende a uma recomendao internacional no combate corrupo, qual seja, dar visibilidade existncia de valores a serem pagos por servios emreparties pblicas. A disseminao da informao sobre a gratuidade ou a necessidade de pagaralgum valor cria um ambiente de transparncia e evita que o cidado entenda que est sendocobrado indevidamente quando o valor devido, ou que o agente pblico possa cobrar o cidado

    por um servio gratuito.

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    4. Sigilo da fonte

    ANTEPROJETO DE LEI

    Disciplina, nos termos do art. 5, inciso XIV, daConstituio Federal, o sigilo da fonte da informao quedeu causa investigao relacionada prtica de atos decorrupo.

    A PRESIDENTE DA REPBLICA, fao saber que o Congresso Nacional decreta e eusanciono a seguinte lei:

    Art. 1Esta Lei disciplina, nos termos do art. 5, inciso XIV, da Constituio Federal, osigilo da fonte da informao que deu causa investigao relacionada prtica de atos decorrupo.

    Art. 2Nas esferas administrativa, cvel e criminal, poder o Ministrio Pblico resguardaro sigilo da fonte de informao que deu causa investigao relacionada prtica de ato decorrupo, quando se tratar de medida essencial obteno dos dados ou incolumidade donoticiante ou por outra razo de relevante interesse pblico, devidamente esclarecidas no

    procedimento investigatrio respectivo.

    Pargrafo nico.O Ministrio Pblico poder arrolar agente pblico, inclusive policial,para prestar depoimento sobre o carter e a confiabilidade do informante confidencial, os quaisdevero resguardar a identidade deste ltimo, sob pena de responsabilidade.

    Art. 3Ningum poder ser condenado apenas com base no depoimento prestado porinformante confidencial.

    Art. 4No caso do conhecimento da identidade do informante confidencial ser essencial aocaso concreto, o juiz ou tribunal, ao longo da instruo ou em grau recursal, poder determinar aoMinistrio Pblico que opte entre a revelao da identidade daquele ou a perda do valor probatriodo depoimento prestado, ressalvada a validade das demais provas produzidas no processo.

    Art. 5Comprovada a falsidade dolosa da imputao feita pelo informante confidencial,

    ser revelada a sua identidade e poder ele responder pelos crimes de denunciao caluniosa ou defalso testemunho, sem prejuzo das aes cveis cabveis.

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    Art. 6 Aplicam-se as disposies desta Lei, no que couber, Lei n 12.846, de 1 deagosto de 2013.

    Art. 7Esta Lei entra em vigor na data de sua publicao.

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    JUSTIFICATIVA

    Trata-se de iniciativa legislativa que almeja criar novo mecanismo voltado defesa damoralidade pblica e da probidade administrativa, qual seja, regular o sigilo da fonte da informaoque deu causa investigao relacionada prtica de atos de corrupo.

    De fato, pretende-se introduzir a figura do informante confidencial, distinguindo-o doinformante annimo, cuja identidade se desconhece.

    que a identidade do informante confidencial ser conhecida, mas no revelada porimportante razo de interesse pblico. O objetivo central da regra criar um ambiente no qual oscidados que tm conhecimento de atos corruptos noticiem a prtica ilcita, mesmo quando tememalgum risco sua integridade fsica ou de algum prximo, o que bastante comum.

    Cuida-se de significativo avano para que se ultrapasse a primeira barreira que impede adescoberta (e consequente punio) de atos corruptos: a dificuldade dos rgos de persecuo de

    receberem notcias sobre a existncia dos fatos corruptos.

    Na experincia da regio administrativa especial de Hong Kong, a propsito, o slogancentral da primeira fase do processo de mudana de cultura, desde os anos relativos dcada de1970, foi reporte a corrupo.

    Diz-se expressamente, embora seja evidente, que ningum poder ser condenado com baseexclusivamente no depoimento de um informante confidencial, j que no ter sido possvel defesa avaliar criticamente a credibilidade do depoente. O comum, contudo, que se obtenham

    provas materiais do ato corrupto aps uma notcia de corrupo. A preservao da identidade doinformante s existe na medida em que ele no incrimine falsamente algum.

    Alm disso, caso o juiz entenda imprescindvel a revelao da identidade do informante, oMinistrio Pblico poder escolher entre revelar a identidade e perder o valor probatrioexclusivamente do depoimento prestado pelo informante. Tal opo tem por base o art. 5, incisoXIV, da Constituio Federal.

    Com frequncia, testemunhas comparecem voluntariamente ao Ministrio Pblico econdicionam seu depoimento sobre certo fato, at ento desconhecido das autoridades pblicas,

    preservao da confidencialidade de sua identidade, diante dos riscos sua integridade fsica. Apreservao da fonte nesses casos essencial ao trabalho do Ministrio Pblico, na defesa dos

    direitos fundamentais sociais e daqueles direitos fundamentais tutelados pelas normas penais.

    Esse tipo de conduta no novidade, sendo h muito tempo reconhecido no direito norte-americano e extravel, mediante interpretao, do art. 5, inciso XIV, da Constituio Federal. A

    previso expressa, contudo, objetiva conferir segurana jurdica testemunha que colabora sobrefato indito, sob condio de confidencialidade, cujo depoimento no poderia ser obtido semgarantia de sigilo.

    Dita norma incentivar as pessoas no s a informar crimes j cometidos, contribuindocom a investigao, mas tambm crimes em vias de serem cometidos, constituindo importantemedida para prevenir a prtica ou a continuidade de esquemas criminosos.

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    MEDIDA 2

    CRIMINALIZAODOENRIQUECIMENTOILCITODEAGENTES

    PBLICOSE

    PROTEO FONTEDEINFORMAO

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    5. Enriquecimento ilcito

    ANTEPROJETO DE LEI

    Acrescenta o art. 312-A ao Decreto-Lei n 2.848, de 7 dedezembro de 1940 Cdigo Penal, para tornar crime oenriquecimento ilcito de agentes pblicos.

    A PRESIDENTE DA REPBLICA, fao saber que o Congresso Nacional decreta e eusanciono a seguinte lei:

    Art. 1O Decreto-Lei n 2.848, de 7 de dezembro de 1940 Cdigo Penal, passa a vigorar

    acrescido do seguinte art. 312-A:

    Enriquecimento ilcito

    Art. 312-A. Adquirir, vender, emprestar, alugar, receber, ceder, possuir, utilizar ouusufruir, de maneira no eventual, bens, direitos ou valores cujo valor seja incompatvelcom os rendimentos auferidos pelo servidor pblico, ou por pessoa a ele equiparada, emrazo de seu cargo, emprego, funo pblica ou mandato eletivo, ou auferidos por outromeio lcito:

    Pena priso, de 3 (trs) a 8 (oito anos), e confisco dos bens, se o fato no constituirelemento de crime mais grave.

    1 Caracteriza-se o enriquecimento ilcito ainda que, observadas as condies do caput,houver amortizao ou extino de dvidas do servidor pblico, ou de quem a eleequiparado, inclusive por terceira pessoa.

    2 As penas sero aumentadas de metade a dois teros se a propriedade ou a posse dosbens e valores for atribuda fraudulentamente a terceiras pessoas.

    Art. 2Esta lei entra em vigor na data de sua publicao.

    Braslia, X de XXXX de 201X.

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    JUSTIFICATIVA

    A redao do tipo penal acima, com exceo da pena (originalmente de um a cinco anos ehoje de dois a cinco anos) e da conduta de possuir, a que consta no parecer da ComissoTemporria de Estudo da Reforma do Cdigo Penal (Relator Senador Pedro Taques). A pena de 3 a

    8 anos a mesma pena desse crime que foi proposta pelo Projeto de Lei 5.586/2005, oferecido pelaControladoria-Geral da Unio.

    O enriquecimento ilcito de servidor pblico decorre comumente da prtica de corrupo ecrimes conexos. No entanto, como ressaltado no projeto, muito difcil punir o crime de corrupo,salvo quando uma das partes revela sua existncia, o que normalmente no acontece. Por essa razo,a Conveno das Naes Unidas contra a Corrupo, da qual o Brasil signatrio, exorta os EstadosPartes a tipificarem em seus ordenamentos jurdicos o crime de enriquecimento ilcito, definidocomo o incremento significativo do patrimnio de um funcionrio pblico por ingressos que no

    podem ser razoavelmente justificados por ele.

    Por outro lado, o enriquecimento ilcito, alm de ser prova indireta da corrupo, em simesmo desvalorado, pois revela um agir imoral e ilegal de servidor pblico, de quem se espera umcomprometimento mais significativo com a lei do que se espera do cidado comum. H aqui umdesvalor no tocante discrepncia patrimonial, no raro oculta ou disfarada, de um agente pblicosujeito a regras de escrutnio, transparncia e lisura.

    Sobre esse tipo penal, o Relator da Comisso Temporria de Estudo da Reforma do CdigoPenal assim se manifestou:

    No restam dvidas sobre a necessidade e as vantagens prticas de criminalizao dessa gravssimaconduta, intimamente relacionada com delitos cometidos contra a Administrao Pblica. Afundamentao est muito bem colocada na Exposio de Motivos do Projeto de Cdigo:

    Enriquecimento ilcito. Objeto de tratados internacionais firmados pelo Brasil, a criminalizaodo enriquecimento ilcito mostra-se como instrumento adequado para a proteo da lisura daadministrao pblica e o patrimnio social. No cabe ignorar que o amealhamento de patrimnioincompatvel com as rendas lcitas obtidas por servidor pblico indcio de que houve a prtica deantecedente crime contra a administrao pblica. Notadamente a corrupo e o peculato mostram-se caminhos provveis para este enriquecimento sem causa. A riqueza sem causa aparente mostra-se, portanto, indcio que permitir a instaurao de procedimentos formais de investigao,destinados a verificar se no houve aquisio patrimonial lcita. No h inverso do nus da prova,incumbindo acusao a demonstrao processual da incompatibilidade dos bens com osvencimentos, haveres, recebimentos ou negociaes lcitas do servidor pblico. No se pode

    olvidar que o servidor pblico transita num ambiente no qual a transparncia deve reinar, distintodo que ocorre no mundo dos privados, que no percebem recursos da sociedade. Da obrigaescomo a entrega da declarao de bens a exame pelo controle interno institucional e pelo Tribunalde Contas. O crime de enriquecimento ilcito, especificamente diante da corrupo administrativa,na qual corruptor e corrupto guardam interesse recproco no sigilo dos fatos, sinaliza polticacriminal hbil, buscando consequncias e no primrdios (a exemplo da receptao e da lavagemde dinheiro). criminalizao secundria, perfeitamente admitida em nosso direito. Vocaciona-separa dificultar a imensa e nefasta tradio de corrupo administrativa que, de acordo com ndicesde percepo social, nunca se deteve.

    [...] Oportuno registrar que, como regra, a conduta de enriquecimento ilcito no gerar a adoo doencarceramento, pois (se preenchidos os requisitos legais) ser permitida a substituio da pena

    privativa de liberdade por restritivas de direitos. Ou seja, apenas as situaes mais gravesensejariam a imposio de penas de priso.

    As penas propostas para os graves delitos de prevaricao e advocacia administrativa no alteram

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    o quadro vigorante na dcada de 40 do sculo passado, quando da edio do CP. Diante danecessidade de haver uma proporcional e devida represso a esses crimes, que ocorrem comgrande frequncia, e que normalmente prescrevem em razo das baixssimas penas, propomos osdevidos aumentos.

    Mesmo com o aumento de pena proposto aqui, continuaro as penas a serem substitudas

    nos casos de delitos menos graves.Refora-se que no se trata de uma inverso do nus da prova no tocante ao carter ilcito

    da renda, mas sim de acolher a nica explicao para a discrepncia que encontrada em dado casoconcreto, aps investigados os fatos e ouvido o servidor. Essa soluo amparada na modernateoria explanacionista da prova, que tem por foco encontrar a hiptese que melhor explica aevidncia disponvel, bem como na tradicional teoria indutiva, que foca em associaes entre coisasque esto normalmente vinculadas com base na experincia que todos compartilhamos e ofundamento de qualquer exame sobre provas.

    Em outras palavras, com base na experincia comum por todos compartilhada, se a

    acusao prova a existncia de renda discrepante da fortuna acumulada e, alm disso, nem umainvestigao cuidadosa nem o investigado apontam a existncia provvel de fontes lcitas, pode-seconcluir que se trata de renda ilcita. Evidentemente, se a investigao ou o acusado forem capazesde suscitar dvida razovel quanto ilicitude da renda, ser caso de absolvio.

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    MEDIDA 3

    CORRUPOCOMPENAMAIORECOMOCRIMEHEDIONDOSEGUNDOOVALOR

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    6. Corrupo como crime hediondo

    ANTEPROJETO DE LEI

    Altera dispositivos do Decreto-Lei n 2.848, de 7 dedezembro de 1940 Cdigo Penal, para majorar as penasdos crimes contra a Administrao Pblica, suprime aregulao especfica do crime de corrupo praticado nocontexto tributrio da Lei n 8.137, de 27 de dezembro de1990, e do crime de peculato praticado por prefeito,

    previsto no Decreto-Lei n 201, de 27 de fevereiro de1967, e inclui a forma mais gravosa de corrupo no rol decrimes hediondos da Lei n 8.072, de 25 de julho de 1990.

    A PRESIDENTE DA REPBLICA, fao saber que o Congresso Nacional decreta e eusanciono a seguinte lei:

    Art. 1 Os arts. 312, 313-A, 316 e 2, 317 e 333 do Decreto-Lei n 2.848, de 7 dedezembro de 1940 Cdigo Penal, passam a vigorar com a seguinte redao:

    Peculato

    Art. 312. [...]

    Pena recluso, de quatro a doze anos, e multa. (NR)

    Insero de dados falsos em sistema de informaes

    Art. 313-A. [...]

    Pena recluso, de quatro a doze anos, e multa. (NR)

    Concusso

    Art. 316. [...]

    Pena recluso, de quatro a doze anos, e multa. (NR)

    Excesso de exao

    [...]

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    2 [...]

    Pena recluso, de quatro a doze anos, e multa. (NR)

    Corrupo passiva

    Art. 317. [...]

    Pena recluso, de 4 (quatro) a 12 (doze) anos, e multa. (NR)

    Corrupo ativa

    Art. 333. [...]

    Pena recluso, de 4 (quatro) a 12 (doze) anos, e multa. (NR)

    Art. 2 O Decreto-Lei n 2.848, de 7 de dezembro de 1940, passa a vigorar acrescido doseguinte art. 327-A:

    Art. 327-A. As penas dos crimes dos arts. 312 e 1, 313-A, 316 e 2, 317 e 333 sero

    de:I recluso, de 7 (sete) a 15 (quinze) anos, se a vantagem ou o prejuzo igual ou superiora 100 (cem) salrios-mnimos vigentes ao tempo do fato;

    II recluso, de 10 (dez) a 18 (dezoito) anos, se a vantagem ou o prejuzo igual ousuperior a 1.000 (mil) salrios-mnimos vigentes ao tempo do fato;

    III recluso, de 12 (doze) a 25 (vinte e cinco) anos, se a vantagem ou o prejuzo igualou superior a 10.000 (dez mil) salrios-mnimos vigentes ao tempo do fato.

    1 O disposto no pargrafo anterior no obsta a aplicao de causas de aumento ou de

    diminuio da pena, previstas na Parte Geral ou Especial deste Cdigo. 2 A progresso de regime de cumprimento da pena, a concesso de liberdadecondicional e a converso da pena privativa em restritiva de direitos, quando cabveis,ficam condicionados restituio da vantagem indevidamente auferida ou do seuequivalente e ao ressarcimento integral do dano.

    Art. 3 O art. 171 do Decreto-Lei n 2.848, de 1940, passa a vigorar com a seguinteredao:

    Art. 171. []

    Pena recluso, de 2 (dois) a 8 (oito) anos, e multa.[...]

    3 A pena aumenta-se de um tero, se o crime cometido em detrimento de instituto deeconomia popular ou beneficncia.

    4 Se o crime cometido em detrimento do errio ou de instituto de assistncia social, apena ser de:

    I recluso, de 4 (quatro) a 10 (dez) anos, se a vantagem ou o prejuzo igual ou superiora 100 (cem) salrios-mnimos vigentes ao tempo do fato;

    II recluso, de 6 (seis) a 12 (doze) anos, se a vantagem ou o prejuzo igual ou superior a1.000 (mil) salrios-mnimos vigentes ao tempo do fato;

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    III recluso, de 8 (oito) a 14 (quatorze) anos, se a vantagem ou o prejuzo igual ousuperior a 10.000 (dez mil) salrios-mnimos vigentes ao tempo do fato.

    5 O disposto no pargrafo anterior no obsta a aplicao de causas de aumento ou dediminuio da pena, previstas na Parte Geral ou Especial deste Cdigo.

    6 Nos casos previstos no 4, a progresso de regime de cumprimento da pena, o

    livramento condicional e a converso da pena privativa em restritiva de direitos, quandocabveis, ficam condicionados restituio da vantagem indevidamente auferida ou do seuequivalente e ao ressarcimento integral do dano. (NR)

    Art. 4O art. 3 da Lei 8.137, de 27 de dezembro de 1990, passa a vigorar com a seguinteredao:

    Dos crimes praticados por funcionrios pblicos

    Art. 3 []

    I Extraviar livro oficial, processo fiscal ou qualquer documento, de que tenha a guarda

    em razo da funo; soneg-lo ou inutiliz-lo, total ou parcialmente, acarretandopagamento indevido ou inexato de tributo ou contribuio social.

    Pena: recluso, de 3 (trs) a 8 (oito) anos, e multa.

    II Patrocinar, direta ou indiretamente, interesse privado perante a administraofazendria, valendo-se da qualidade de funcionrio pblico.

    Pena: recluso, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa. (NR)

    Art. 5Revoga-se o inciso I do art. 1 do Decreto-Lei n 201, de 27 de fevereiro de 1967.

    Art. 6O art. 1 da Lei n 8.072, de 25 de julho de 1990, passa a vigorar acrescido doseguinte inciso:

    Art. 1 []

    IX peculato (art. 312 e 1), insero de dados falsos em sistemas de informaes (art.313-A), concusso (art. 316), excesso de exao qualificada pela apropriao (art. 316 2), corrupo passiva (art. 317) e corrupo ativa (art. 333), quando a vantagem ou o

    prejuzo igual ou superior a cem salrios-mnimos vigentes ao tempo do fato (art. 327-A).

    Art. 7 Esta Lei entra em vigor na data de sua publicao.

    Braslia, X de XXXX de 2015.

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    JUSTIFICATIVA

    1. Alterao das penas dos crimes mais lesivos contra a Administrao Pblica previstosno Cdigo Penal

    As mudanas propostas objetivam fazer da corrupo, termo usado aqui em sentido amplo,uma conduta de alto risco.

    A corrupo hoje um crime de baixo risco, com pena iniciando em dois anos de priso.Criminosos de colarinho-branco normalmente so primrios, e as penas ficam prximas do mnimolegal. Quando h condenao e no prescrevem, as penas so substitudas, por fora de lei, por

    penas restritivas de direitos, isto , por penas bem brandas, as quais, em pouco tempo (em regraaps cumprido apenas um quarto da pena substitutiva), sero atingidas por indultos ou comutaes,reduzindo-se a nada ou quase nada. Considerando que a corrupo um crime difcil de serdescoberto e provado, o criminoso s ser punido em uma pequena parcela dos crimes que cometer,o que faz dela um crime altamente vantajoso.

    A elevao da pena mnima dos crimes mais graves contra a Administrao Pblica paraquatro anos significa que mesmo rus primrios e os rus de colarinho-branco normalmente so

    primrios mesmo quando praticaram crimes antes no tero suas penas substitudas por penasrestritivas de direitos e comearo a cumprir a pena, na melhor das hipteses, em regimesemiaberto. Ningum que praticar corrupo poder contar com um regime aberto, o qual, emmuitos casos, na prtica, por falta de casa de albergado e de fiscalizao, significa pena nenhuma.

    Adicione-se que a pena mnima atual, de dois anos, bastante aplicada nos casos dessescrimes em razo do mtodo de fixao da pena do nosso sistema, acarreta a prescrio em apenasquatro anos, o que tende a acontecer como regra em processos de crimes do colarinho branco. Uma

    pena maior permite tambm um prazo mais dilatado para a sua investigao e processamento semque o crime prescreva, o que necessrio, em decorrncia de ser normalmente um crime deapurao complexa, praticado s escondidas.

    Como o furto e o roubo, a corrupo suprime patrimnio. Diferentemente do furto e roubo,a corrupo endmica brasileira vitimiza a nao. A corrupo rouba a comida, o remdio e a escolade milhes de pessoas, prejudicando o futuro de todos. Essas circunstncias acentuam bastante suagravidade e tambm justificam a pena mnima proposta como uma reprovao proporcional aogravame. Cumpre observar, alis, que h projetos de lei em trmite que sugerem penas aindamaiores para alguns dos crimes (PL 7.868/2014, por exemplo, estabelece a pena inicial de cinco

    anos para o peculato e a concusso), enquanto outras estabelecem o patamar idntico ao proposto(PL 5.900/2013).

    Se queremos um pas livre de corrupo, esta deve ser transformada em um crime de altorisco. Como o homicdio, a corrupo mata. Contudo, diferentemente da maior parte doshomicdios, a corrupo planejada e pensada, ou seja, uma deciso racional que toma em contacustos e benefcios. A elevao da pena mnima constitui um desincentivo, um custo, da escolha

    pelo ato corrupto.

    Quanto gradao das penas desses crimes, embora entre as circunstncias judiciais do art.59 do Cdigo Penal, que regulam a individualizao da pena, j se encontrem as consequncias do

    crime, o valor do prejuzo ou da vantagem econmica constitui, no contexto normativo atual,apenas mais um dos fatores considerados na dosimetria da pena, que sempre parte do mnimo legal.

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    Contudo, em crimes contra a Administrao Pblica, o volume da supresso de recursos doEstado, alm de ser a principal circunstncia a ser sopesada, pode engendrar consequnciasgravssimas. Os milhes, ou bilhes, suprimidos dos cofres pblicos inevitavelmente afetam asdiversas camadas da populao em seus direitos essenciais, como segurana, sade, educao (isto, furtam-lhes a possibilidade de um futuro melhor) e, em ltima anlise, a prpria vida. Emboraseja difcil, em concreto, estabelecer-se o nexo causal entre os desvios de verbas e a morte de

    pessoas (tendo em vista que a ofensa difusa), no h dvidas de que o desvio de verbas pblicasem escala acentuada acaba por provocar mortes.

    O parmetro de pena razovel nesses casos deve ser o crime de homicdio, cuja pena,quando simples, de seis a vinte anos, e, quando qualificado, de doze a trinta anos. Outro

    parmetro razovel, para corrupo de grande magnitude, o crime de latrocnio, que tem pena devinte a trinta anos, e o delito de extorso qualificada pela morte, cuja pena de vinte a trinta anos.

    Por coerncia, props-se igualmente a gradao da pena quando se tratar de crime deestelionato contra o errio ou contra a previdncia social, os quais entram tambm na categoria dosmais graves crimes praticados contra a populao e merecem ser apenados de acordo com o

    montante do prejuzo.

    O aumento da pena proporcionalmente ao dano causado ou vantagem ilcita auferida adotada em outros pases, inclusive com democracias mais avanadas e instituies maisamadurecidas e consolidadas, como, por exemplo, os Estados Unidos da Amrica.

    Com efeito, o 2014 USSC Guidelines Manual(Manual de Orientaes da Comisso dePenas dos Estados Unidos, vigente a partir de novembro de 2014), que orienta os juzes e tribunaisestadunidenses na dosimetria das penas criminais naquele pas, determina que, se a vantagemauferida ou o dano ao Errio supera 5 mil dlares, a pena base passa a sofrer acrscimo

    proporcional, de acordo com a seguinte tabela:

    Loss (Apply the Greatest) Increase in Level

    (A) $5,000 or less no increase

    (B) More than $5,000 add 2

    (C) More than $10,000 add4

    (D) More than $30,000 add 6

    (E) More than $70,000 add 8

    (F) More than $120,000 add 10(G) More than $200,000 add 12

    (H) More than $400,000 add 14

    (I) More than $1,000,000 add 16

    (J) More than $2,500,000 add 18

    (K) More than $7,000,000 add 20

    (L) More than $20,000,000 add 22

    (M) More than $50,000,000 add 24

    (N) More than $100,000,000 add 26(O) More than $200,000,000 add 28

    (P) More than $400,000,000 add 30

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    Essa tabela impe um acrscimo pena-base, que pode variar entre 6 meses (acima de 5mil dlares de vantagem auferida) at o mximo de 10 anos (acima de 400 milhes de dlares devantagem auferida) de aprisionamento, para o ru primrio.

    Com base na proposta, apresenta-se abaixo o quadro de penas, em anos, por ato criminoso,que passariam a vigorar para os principais crimes contra a Administrao Pblica, com base no

    salrio-mnimo vigente a partir de 1 de janeiro de 2015, ressaltando que a primeira coluna retrata aspenas que hoje so cominadas pelo Cdigo Penal:

    Crime Penaatual

    Proposta: pena varivel pelo prejuzo ou benefcio (R$)

    0 a 77.999,99 78.800,00 788.000,00 7.880.000,00

    Peculato (art. 312 e 1)

    2 a 12 4 a 12 7 a 15 10 a 18 12 a 25

    Insero de dadosfalsosem sistema deinformaes(art. 313-A)

    2 a 12 4 a 12 7 a 15 10 a 18 12 a 25

    Concusso (art. 316) 2 a 8 4 a 12 7 a 15 10 a 18 12 a 25Excesso de exaoqualificada (art. 316, 2)

    2 a 12 4 a 12 7 a 15 10 a 18 12 a 25

    Corrupo passiva(art. 317)

    2 a 12 4 a 12 7 a 15 10 a 18 12 a 25

    Corrupo ativa(art. 333)

    2 a 12 4 a 12 7 a 15 10 a 18 12 a 25

    Estelionato (art. 171) 1 a 5 2 a 8 4 a 10 6 a 12 8 a 14

    Parece ser instintivo que as condutas que representam dano maior devem ser maisseveramente apenadas, no s como retribuio, mas sobretudo pelo seu carter dissuasrio. Poressa razo que se prope que a proporcionalidade entre o resultado lesivo e a sano criminal sejaexpressamente prevista em relao aos mais graves crimes do colarinho-branco praticado comabuso de funo pblica ou em prejuzo ao Errio, cujo potencial de danos to grande quanto o decrimes de violncia. Corrupo mata e deve ser uma conduta de alto risco, risco esse que deve ser

    proporcional ao gravame que pesar sobre a populao.

    Por fim, tendo em vista a necessidade de adaptar os princpios da moderna JustiaRestaurativa tambm aos crimes praticados contra os interesses difusos, que se prope que aobteno de benefcios e favores legais relacionados ao cumprimento da pena seja condicionada reparao do dano e devoluo da riqueza indevidamente amealhada.

    2. Supresso da regulao especfica do crime de corrupo praticado no contextotributrio, previsto no art. 3 da Lei 8.137, de 1990, e do crime de peculato praticadopor prefeito, do art. 1, I, do Decreto-Lei n 201, de 1967

    A proposta no suprime o crime de corrupo praticado no contexto tributrio ou o crimede peculato praticado por prefeito, mas apenas suprime sua regulao especialpela Lei 8.137/1990e pelo Decreto-Lei 201/1967. Com a alterao proposta, a corrupo praticada no contexto

    tributrio e o peculato de prefeito passam a ser previstos e punidos diretamente pelo Cdigo Penal.Isso evita regulaes adicionais e desnecessrias, bem como a necessidade de reproduzir na leiespecial a gradao da pena da corrupo segundo o proveito econmico, que foi proposta no

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    mbito do Cdigo Penal. A previso especial, alis, tende a gerar distores a longo prazo. Projetosem trmite no Congresso, que tornam hediondos a corrupo e o peculato, por exemplo, sequermencionam esses tipos penais, o que tornaria hedionda a corrupo e o peculato de forma geral eno a corrupo no contexto tributrio e o peculato praticado por prefeito. Isso, por si s, j seriailgico, mas se torna mais aberrante se percebermos que tradicionalmente esses crimes especiaistm uma pena maior do que o crime de corrupo em geral. Uma vez que no h razo para

    privilegiar auditores-fiscais ou prefeitos que cometem crime de corrupo, proposta a supressonesses artigos.

    3. Incluso da corrupo no rol de crimes hediondos do art. 1 da Lei n 8.072, de 1990

    Esta proposta tambm est no contexto de fazer da corrupo um crime de alto riscopatrimonial e moral, especialmente a corrupo de altos valores, porque esta produz consequnciasmais srias. Se queremos um pas livre de corrupo, ela deve ser transformada em um crime dealto risco, e esse risco deve corresponder gravidade da conduta.

    A corrupo rouba a comida, o remdio e a escola de milhes de pessoas, prejudicando ofuturo de todos. Como se disse acima, a corrupo afeta a populao em seus direitos essenciais,como segurana, sade e, em ltima anlise, vida. Embora seja difcil, em concreto, estabelecer-se o nexo causal entre os desvios de verbas e a morte de pessoas, no h dvidas de que o desviode verbas pblicas em escala acentuada acaba por provocar mortes. O parmetro de penarazovel nesses casos deve ser o crime de homicdio, cuja pena, quando simples, de seis a vinteanos, e, quando qualificado, de doze a trinta anos.

    O Projeto de Lei n 3.506/2012 um dos vrios no Congresso que buscam estabelecer acorrupo como crime hediondo , em sua justificativa, menciona uma reportagem da revista Veja,de 26 de outubro de 2011, que busca fazer um vnculo concreto entre a corrupo e os danos

    sociedade. A matria ressalta que os R$ 85 bilhes desviados mediante corrupo no ano de 2010poderiam ser empregados para: 1 Erradicar a misria; 2 Custear 17 milhes de sesses dequimioterapia; 3 Custear 34 milhes de dirias de UTI nos melhores hospitais; 4 Construir 241km de metr; 5 Construir 36.000 km de rodovias; 6 Construir 1,5 milhes de casas; 7 Reduzir1,2% na taxa de juros; 8 Dar a cada brasileiro um prmio de R$ 443,00 reais; 9 Custear 2milhes de bolsas de mestrado; e 10 Comprar 18 milhes de bolsas de luxo.

    Em nota tcnica de apoio ao Projeto de Lei n 5.900/2013, a Associao Nacional dosProcuradores da Repblica consigna que, com base em dados do Programa das Naes Unidas parao Desenvolvimento, so desviados do Brasil ao menos R$ 200 bilhes por ano. Isso quase duasvezes o total do oramento federal da sade de 2014, o que significa que a qualidade da sade no

    Brasil (no que depende de verbas federais) poderia ser triplicada caso se fechassem as torneiras dacorrupo. O valor aproximadamente duas vezes e meia maior do que o oramento federal daeducao, o que poderia tambm, pelo menos, triplicar a qualidade da educao, no que depende deverbas federais. J quanto ao investimento federal em cincia, tecnologia e inovao, poderia sermultiplicado por 30 vezes. Poderia ser duplicado o programa Minha Casa, Minha Vida, queentregou aproximadamente 1,7 milho de casas populares.

    Passou da hora de se reconhecer a gravidade concreta desse crime, especialmente quandoos valores envolvidos so elevados. A incluso da corrupo em sentido amplo entre os crimeshediondos um reconhecimento de que so crimes que atentam, direta e indiretamente, contradireitos fundamentais da populao.

    Como so crimes que possuem motivao e consequncias econmicas, natural ainsero de um parmetro econmico para a configurao de sua hediondez. Pela proposta, crimes

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    como corrupo e peculato passam a ser hediondos quando o valor envolvido supera cem salrios-mnimos, o que em valores atuais representa R$ 78.800,00. Quanto maiores os valores econmicos,maior o dano social, at um ponto em que o prejuzo social pode ser equiparado ao de outros crimesextremamente graves, que so delitos hediondos. Crimes como corrupo e peculato, quandoenvolvem cem vezes o valor que , no raro, tudo que pessoas tm para passar o ms um salrio-mnimo pode ser, sem dvidas, caracterizado como hediondo, ainda mais dentro de um contexto

    de compromisso do Estado em combater a corrupo.

    Some-se que, na linha do que figura nesta proposta, a pena desses crimes contra aAdministrao Pblica, com proporo econmica superior a cem salrios-mnimos, varia nomnimo entre 7 e 15 anos. Esse patamar de pena harmnico com outros crimes consideradoshediondos pela lei, como estupro, cuja pena varia de 6 a 10 anos em sua forma simples, ou ainda ofavorecimento da prostituio ou outra forma de explorao sexual de criana ou adolescente ou devulnervel, com pena de 4 a 10 anos.

    Reflexo do reconhecimento social da hediondez o fato de que h numerosos projetos delei propostos no Congresso, desde 1992, que objetivam transformar corrupo em crime hediondo,

    at mesmo independentemente do valor envolvido.

    Como j dito anteriormente, a corrupo hoje um crime de baixo risco. Quando hcondenao e as penas no prescrevem, elas so brandas (no prisionais) e, em pouco tempo, seroatingidas por indultos ou comutaes, reduzindo-se a nada ou quase nada. A atribuio da qualidadede crime hediondo s modalidades mais graves de corrupo ter como um dos efeitos positivosimpedir a concesso de indulto e comutao de pena aos criminosos. Tal restrio s pode acontecer

    por iniciativa do Congresso Nacional, alis, pela insero de tais crimes na categoria de crimeshediondos, para os quais a prpria Constituio veda os benefcios de indulto e comutao, j quede outro modo a concesso destes est dentro da esfera de prerrogativas do Presidente da Repblica.

    Alm disso, segundo estudos consagrados sobre corrupo, como os de Rose-Ackerman eKlitgaard, uma das perspectivas do ato corrupto apresenta-o como fruto de uma deciso racionalque toma em conta os benefcios e os custos da corrupo e os do comportamento honesto. A

    ponderao dos custos da corrupo envolve o montante da punio e a probabilidade de talpunio ocorrer. A insero de tais delitos como hediondos repercute diretamente no montante dapunio, sob prisma prtico, pesando como fator negativo na escolha racional do agente.

    extremamente raro que autores de crimes de colarinho-branco sejam punidos e, quandopunidos, que cumpram pena em regime fechado, mesmo quando os crimes so extremamentegraves. A perspectiva de pena mais grave, e de condies mais gravosas de cumprimento de pena,

    ser certamente um fator de desestmulo a tais prticas criminosas. No cenrio atual, em quegrandes esquemas de corrupo so descobertos, preciso adotar medidas firmes para mudar arealidade.

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    MEDIDA 4

    APERFEIOAMENTODOSISTEMARECURSALPENAL

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    7. Recurso manifestamente protelatrio

    ANTEPROJETO DE LEI

    Acresce ao Decreto-Lei n 3.689, de 3 de outubro de 1941 Cdigo de Processo Penal o art. 580-A, paradisciplinar o trnsito em julgado de recursosmanifestamente protelatrios.

    A PRESIDENTE DA REPBLICA, fao saber que o Congresso Nacional decreta e eusanciono a seguinte lei:

    Art. 1Acresa-se o art. 580-A ao Decreto-Lei n 3.689, de 3 de outubro de 1941 Cdigode Processo Penal, nos seguintes termos:

    Art. 580-A.Verificando o tribunal, de ofcio ou a requerimento da parte, que o recurso manifestamente protelatrio ou abusivo o direito de recorrer, determinar que sejacertificado o trnsito em julgado da deciso recorrida e o imediato retorno dos autos origem.

    Pargrafo nico. No ter efeito suspensivo o recurso apresentado contra o julgamentoprevisto no caput.

    Art. 2Aplica-se esta Lei ao Processo Civil.Art. 3Esta Lei entra em vigor na data de sua publicao.

    Braslia, X de XXXX de 201X.

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    JUSTIFICATIVA

    A questo relativa ao trnsito em julgado das mais sensveis no mbito da legislaoprocessual, penal ou civil.

    De um lado, h o direito constitucional da parte sucumbente de recorrer para que sejadefinitivamente afastada qualquer injustia e, de outro, a necessidade de o processo ter uma duraorazovel, de modo que a sensao de impunidade no se propague no seio da sociedade.

    por isso que premente a necessidade de a deciso judicial revestir-se com a qualidadeda coisa julgada.

    Por outro lado, o sistema recursal brasileiro, seja no mbito penal, seja no mbito civil,dificulta sobremaneira o advento do trnsito em julgado e, mais ainda, propicia o uso dos maisvariados recursos tendentes a afastar o trnsito em julgado.

    Nesse contexto que so, em larga medida, utilizadas manobras recursais que, longe deconfigurarem o legtimo exerccio do direito de recorrer, so, isto sim, a representao de seu abusoe do descaso com a Justia. De fato, simples consulta aos stios eletrnicos de Tribunais de todo oBrasil e, particularmente, das Cortes Superiores, aponta para o uso indiscriminado de recursos coma inteno nica de dilargar o termo final do processo.

    Por essa razo, a presente iniciativa legislativa pretende estabelecer que, uma vez que orgo Julgador (o qual deve ser, necessariamente, um Tribunal), tenha como manifestamente

    protelatrio o recurso ou considere abusivo o direito de recorrer, dever certificar o trnsito emjulgado da deciso contra a qual se recorre e ordenar o imediato regresso dos autos origem.

    Alm disso, o eventual recurso ou sucedneo recursal que seja protocolado contra adeciso do Tribunal no possuir efeito suspensivo, vale dizer, os efeitos da deciso devero serautomaticamente levados em considerao.

    Outro importante aspecto que tal deciso acontecer tanto para o Processo Penal quantopara o Processo Civil.

    Cuida-se de iniciativa legislativa que pretende, assim, tornar mais clere o julgamento deprocessos, sem olvidar a necessidade da existncia do duplo grau de jurisdio.

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    8. Pedido de vistas nos Tribunais

    ANTEPROJETO DE LEI

    Acresce ao Decreto-Lei n 3.689, de 3 de outubro de 1941 Cdigo de Processo Penal o art. 578-A, paradisciplinar os pedidos de vistas no mbito dos tribunais.

    A PRESIDENTE DA REPBLICA, fao saber que o Congresso Nacional decreta e eusanciono a seguinte lei:

    Art. 1Acresa-se o art. 578-A ao Decreto-Lei n 3.689, de 3 de outubro de 1941 Cdigo

    de Processo Penal, nos seguintes termos:

    Art. 578-A.O membro do tribunal que pedir vistas aps os votos do relator e, quandohouver, do revisor ter o prazo correspondente a cinco sesses para estudar o caso, findo oqual reapresentar o processo e viabilizar a continuidade do julgamento.

    Art. 2Aplica-se esta Lei ao Processo Civil.

    Art. 3Esta Lei entra em vigor na data de sua publicao.

    Braslia, X de XXXX de 201X.

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    JUSTIFICATIVA

    A questo relativa morosidade dos julgamentos nos Tribunais e nas Cortes Superiores das mais sensveis no mbito da legislao processual, penal ou civil.

    De um lado, h o natural desejo de as questes colocadas em julgamento serem apreciadasda forma mais cuidadosa e abrangente possvel e, de outro, a necessidade de o processo ter umadurao razovel, de modo que a sensao de impunidade no se propague no seio da sociedade.

    Nesse contexto, imperiosa a regulao dos pedidos de vistas por membros de tribunais,de modo tal que haja previsibilidade quanto ao julgamento dos recursos ou sucedneos recursaisapresentados. De fato, simples consulta aos stios eletrnicos de Tribunais de todo o Brasil mostramque alguns processos perduram em demasia (algumas vezes, longos anos) caso haja pedido devistas, tudo a implicar atraso inaceitvel para o processo.

    Por essa razo, a presente iniciativa legislativa pretende estabelecer que, se o relator (e,

    quando for o caso, o revisor) tiver proferido seu voto e ocorrer algum pedido de vistas,necessariamente o processo dever ser reapresentado para ser julgado no prazo equivalente a cincosesses.

    Ocorrer, portanto, a conciliao e a ponderao entre a razovel durao do processo e aevidente necessidade de, em alguns casos, o julgador pretender acercar-se de maior cuidado para

    proferir seu voto.

    Outro importante aspecto que tal deciso acontecer tanto para o Processo Penal quantopara o Processo Civil.

    Cuida-se de iniciativa legislativa que pretende, assim, tornar mais clere o julgamento deprocessos, sem olvidar a necessidade da existncia do duplo grau de jurisdio.

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    9. Reviso dos recursos no CPP

    ANTEPROJETO DE LEI

    Altera os arts. 600, 4, 609, 613, 620, 647, 652, 664,todos do Cdigo de Processo Penal e acrescenta o art. 638-A, tambm ao Cdigo de Processo Penal, no intuito demelhorar a eficincia da Justia a partir da reviso dosrecursos cabveis.

    A PRESIDENTE DA REPBLICA, fao saber que o Congresso Nacional decreta e eusanciono a seguinte lei:

    Art. 1Revogam-se o 4 do art. 600, o pargrafo nico do art. 609 e o inciso I do art. 613do Decreto-Lei n 3.689, de 3 de outubro de 1941 Cdigo de Processo Penal.

    Art. 2Os arts. 620, 647, 652 e 664 do Cdigo de Processo Penal passam a vigorar com asseguintes redaes:

    Art. 620. [...]

    3 A deciso em face da qual j foram opostos embargos de declarao no poder serobjeto de novos embargos.

    4 Quando os embargos de declarao forem manifestamente protelatrios, o Relator ou

    o Tribunal, declarando que o so, condenar o embargante a pagar multa de 10 (dez) a 100(cem) salrios-mnimos.

    5 Caso sejam opostos novos embargos protelatrios no curso do mesmo processo, amulta ser elevada em at 10 (dez) vezes, ficando condicionada a interposio de qualqueroutro recurso ao depsito do valor respectivo. (NR)

    Art. 647. Dar-se- habeas corpussempre que algum sofrer ou se achar na iminncia desofrer violncia ou coao ilegal que prejudique diretamente sua liberdade atual de ir e vir,salvo nos casos de punio disciplinar.

    1 A ordem de habeas corpusno ser concedida:

    I de ofcio, salvo quando for impetrado para evitar priso manifestamente ilegal eimplicar a soltura imediata do paciente;

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    II em carter liminar, salvo quando for impetrado para evitar priso manifestamenteilegal e implicar a soltura imediata do paciente e ainda houver sido trasladado o inteiro teordos autos ou este houver subido por emprstimo;

    III com supresso de instncia;

    IV sem prvia requisio de informaes ao promotor natural da instncia de origem da

    ao penal, salvo quando for impetrado para evitar priso manifestamente ilegal e implicara soltura imediata do paciente;

    V para discutir nulidade, trancar investigao ou processo criminal em curso, salvo se opaciente estiver preso ou na iminncia de o ser e o reconhecimento da nulidade ou dailegalidade da deciso que deu causa instaurao de investigao ou de processo criminaltenha efeito direto e imediato no direito de ir e vir.

    2 O habeas corpusno poder ser utilizado como sucedneo de recurso, previsto ou nona lei processual penal. (NR)

    Art. 652. Se o habeas corpusfor concedido em virtude da decretao da nulidade de ato

    processual, renovar-se-o apenas o ato anulado e os que diretamente dele dependam,aproveitando-se os demais.

    Pargrafo nico. No caso previsto no caput:

    I facultar-se- s partes ratificar ou aditar suas manifestaes posteriores ao ato cujanulidade tenha sido decretada;

    II o juiz ou tribunal que pronunciar a nulidade declarar os atos a que ela se estende,demonstrando expressa e individualizadamente a relao de dependncia ou consequnciae ordenando as providncias necessrias para sua retificao ou renovao. (NR)

    Art. 664. Recebidas as informaes, ou dispensadas, o habeas corpus ser julgado naprimeira sesso, podendo, entretanto, adiar-se o julgamento para a sesso seguinte.

    1 O Ministrio Pblico e o impetrante sero previamente intimados, por meio idneo,sobre a data de julgamento do habeas corpus.

    2 A deciso ser tomada por maioria de votos. Havendo empate, se o presidente notiver tomado parte na votao, proferir voto de desempate; caso contrrio, prevalecer adeciso mais favorvel ao paciente. (NR)

    Art. 3 So acrescidos ao Decreto-Lei n 3.689, de 3 de outubro de 1941 Cdigo deProcesso Penal, os arts. 638-A e 667-A .

    Art. 638-A. Os recursos especial e extraordinrio interpostos sero processados e julgadosparalelamente, de modo que a pendncia de um no suspender ou obstar o exame dooutro.

    1 Incumbe parte recorrente, sob pena de desero, adotar as medidas necessrias para aformao de traslado integral dos autos, a fim de que possam ser enviados autos idnticosao Superior Tribunal de Justia e ao Supremo Tribunal Federal.

    2 O Superior Tribunal de Justia e o Supremo Tribunal Federal mantero canaleletrnico de comunicao. a fim de que um informe ao outro o resultado do julgamento derecurso quando pende o julgamento de recurso no outro tribunal.

    3 Interposto o recurso extraordinrio e/ou o recurso especial, o prazo prescricional ficarsuspenso at a concluso do julgamento.

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    Art. 667-A. Da deciso concessiva de habeas corpus em Tribunal caber agravo para aSeo, o rgo Especial ou o Tribunal Pleno, conforme disposio prevista em regimentointerno.

    Art. 4 Esta lei entra em vigor na data de sua publicao.

    Braslia, X de XXXX de 201X.

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    JUSTIFICATIVA

    O principal gargalo para a eficincia da justia criminal e o enfrentamento corrupo oanacrnico sistema recursal brasileiro.

    Tal como reconhecido pelo ento Presidente do STF, Ministro Cezar Peluso, em entrevistaconcedida ao jornal O Estado de S. Paulo no dia 22 de dezembro de 2010, o Brasil o nico pasdo mundo que tem na verdade quatro instncias recursais. certo que esta ampla e quaseinesgotvel via recursal tem sido utilizada, na maioria das vezes, para protelar a marcha processuale evitar o cumprimento da lei. Da a importncia de que as condutas tendentes a prejudicar aceleridade e a efetividade da prestao jurisdicional sejam neutralizadas, sobretudo nos tribunais,onde o exame da prova j se encontra exaurido.

    De fato, estudo da morosidade judicial promovido pelo Banco Mundial, publicado em2003, destaca como uma das causas da morosidade o emprego de tticas protelatrias que

    beneficiam quem as emprega. Ressalta ainda o amplo reconhecimento de brechas da legislao

    processual brasileira, as quais permitem mtodos protelatrios, propiciando oportunidades para queo ru escape da justia. Como uma das solues propostas para a sobrecarga do sistema judicial

    brasileiro, est o aumento da efetividade judicial.

    Apesar das metas estabelecidas pelo CNJ, a grande possibilidade de manuseiodesarrazoado de recursos emperra a efetiva prestao jurisdicional. Em reportagem de maio de2014, o jornal O Globonoticiou estudo da Fundao Getlio Vargas em que fora avaliado o tempode tramitao das aes no Supremo Tribunal Federal, chegando-se concluso de que o principalmotivo de lentido o volume de recursos. Veja-se (http://oglobo.globo.com/brasil/lentidao-suprema-stf-leva-em-media-cinco- anos-para-julgar-acoes-que-ferem-constituicao-12525704 #ixzz 3 NISSiyDR ):

    Entre os motivos para o quadro de lentido, o grande volume de recursos que tomam o tempo doSTF apontado como o principal. A chamada repercusso geral foi um dos instrumentos criadospela emenda 45 para diminuir esse volume, diz Ayres Britto. Com ele, o STF s aceita recursosextraordinrios de temas que ultrapassem os interesses subjetivos da causa.

    Mas esse instrumento poderia ser mais usado pela Corte. At 9 de maio, dos casos com repercussogeral reconhecida, mais da metade (65,7%) estava com julgamento do mrito pendente. E, doscasos com julgamento pendente, s 14,07% foram includos em pauta; 83,53% esto conclusos aorelator; e h 2,4% iniciados.

    Outra tentativa de diminuir o nmero de recursos foi feita pelo ex-ministro Cezar Peluso, autor da

    PEC 15/2011, que dizia que decises de segunda instncia seriam definitivas. Mas foi alterada emcomisso do Senado em 2013. Agora, aguarda votao.

    evidente o espao e a tentao que as tticas protelatrias representam no processo penal.A sobrecarga de processos em tribunais superiores faz com que o simples despacho de uma petiodemore muito. Um estudo da FGV de 2014, por exemplo, revelou que o tempo mdio para umadeciso, quando os autos vo conclusos, de 154 dias, sendo de 54 dias em matria processual

    penal e de 64 dias em matria penal. Aps a deciso, o tempo mdio de publicao de acrdos de167 dias, sendo de 197 dias em casos de direito penal. Somando tempo de deciso e tempo de

    publicao de acrdo, decorrem em mdia 261 dias em matria penal, isto , mais de meio ano.Bastam trs peties clamando por decises, como embargos de declarao, para que o feito se

    arraste por dois anos. O fato de que o decurso do tempo, na seara penal, conduz prescrio, aliado demora natural dos feitos, gera um ambiente que estimula o emprego de tticas protelatrias.

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    Uma das consequncias da demora recursal a impossibilidade de o Brasil repatriarcentenas de milhes de reais desviados pela corrupo e que se encontram bloqueados no exterior,

    pois os demais pases s costumam entregar os valores ao pas de origem quando h uma decisodefinitiva, com trnsito em julgado. difcil at, no trato dirio, que as autoridades estrangeirascompreendam que a deciso final poder demorar, no Brasil, mais de quinze anos. No CasoMerchants, por exemplo, os Estados Unidos exigiram relatrios trimestrais do andamento dos feitos

    que embasaram bloqueios efetivados h mais de dez anos.

    Passados mais de vinte anos desde a promulgao da Constituio de 1988, urgesedimentar polticas legislativas que promovam a celeridade processual e cobam o uso abusivo derecursos, de forma que, preservados os direitos e as garantias individuais, seja tambm asseguradaao jurisdicionado a garantia de razovel durao do processo, na feliz expresso da EmendaConstitucional n 45/2004. Se, por um lado, no possvel admitir a violao do direito de defesano processo sumrio, tampouco se pode tolerar a morosidade da prestao jurisdicional.

    Um exemplo positivo do enxugamento das instncias recursais decorre da nova sistemticaadotada em torno da Lei da Ficha Limpa, que considera inelegveis os condenados em virtude da

    prtica de crimes graves, por deciso de rgo judicial colegiado, mesmo quando ainda noesgotada a via recursal.

    certo que o duplo grau de jurisdio, entendido como garantia de reviso dos atosjurisdicionais, um importante princpio do Estado de Direito e, como tal, recomendvel suaintegrao nos ordenamentos jurdicos democrticos. A garantia individual de ver uma deciso

    judicial revista por rgo judicial diverso e hierarquicamente superior, porm, no pode ser vistacomo um direito infinito ao recurso, a servio da ineficincia do sistema processual penal.

    nesse contexto, pois, que se colocam as modificaes legislativas propostas. Elas nomaculam, sob nenhum aspecto, as garantias constitucionais inerentes ao devido processo legal e ampla defesa, na medida em que se mantm hgido o direito das partes produo de provas em seufavor, perante um juiz imparcial com competncia previamente delimitada; no restringe o direito assistncia por advogado ou apresentao de razes recursais; nem restringe o direito daquele que,no vendo sua demanda acolhida pelo tribunal, submete a matria aos tribunais superiores. O

    procedimento em primeiro grau, alis, no sofre praticamente nenhuma alterao.

    A supresso do 4 do art. 600 proposta porque, no raramente, aps o protesto pelaapresentao de razes em segundo grau, o apelante, intimado para esse fim na instncia recursal,deixa de faz-lo, o que gera a necessidade de nova intimao pessoal do acusado, por vezes viacarta de ordem. Embora a medida no parea acarretar grande atraso, fato que, em decorrncia da

    grande quantidade de feitos em trmite nas diversas esferas do Judicirio, pode efetivamenteprocrastinar o trmite recursal por meses, enquanto so diligenciadas a localizao e a intimaopessoal do acusado na instncia de origem.

    Assim, a revogao do 4 do art. 600 do CPP medida necessria, que traria impactospositivos no trmite dos recursos e, por outro lado, nenhum prejuzo significativo s partes, j queremanescem os prazos para apresentao das razes na instncia recorrida.

    Outrossim, segundo o vigente Cdigo de Processo Penal, quando a deciso em segundainstncia no for unnime em desfavor do acusado, cabem embargos infringentes e de nulidade.Entretanto, a amplitude dos embargos infringentes e de nulidade tem causado embaraos durao

    razovel do processo. Para evitar uma prodigalizao excessiva dos embargos infringentes, emprejuzo da celeridade processual, a proposta reduz o seu cabimento ao mbito realmenteimportante, admitindo a sua interposio para conferir ao acusado a oportunidade de fazer

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    prevalecer em seu favor voto vencido pela absolvio. Assim, havendo, no rgo colegiado desegunda instncia, voto vencido pela absolvio, o acusado remanesceria com a possibilidade demanejar os embargos infringentes.

    Questo tambm relevante diz respeito aos embargos de declarao, que, no raro, servema propsitos meramente protelatrios. Veja-se, por exemplo, o caso dos Embargos de Declarao

    nos Embargos de Declarao nos Embargos de Declarao no Agravo Regimental no Agravo deInstrumento n 752.247/PR, Relator Ministro Joaquim Barbosa, un., j. 22/5/2012, DJe-112, de23/5/2012. Na ocasio, o ru condenado pela prtica de crime interps recurso extraordinrio cujoseguimento foi negado pelo Tribunal recorrido. Interps agravo de instrumento destinado aoSupremo Tribunal Federal, que houve por bem deneg-lo, depois um agravo regimental e trsembargos de declarao sucessivos, at que o Supremo Tribunal determinou que fosse certificado otrnsito em julgado do feito, independentemente da interposio de novos recursos.

    A proposta de alterao da disciplina dos embargos de declarao visa coibir sua utilizaocom intuito protelatrio, estabelecendo, luz do vigente artigo 265 do Cdigo de Processo Civil, aimposio de multa passvel de adequao gravidade do abuso processual.

    Para ganhar tempo no trmite recursal, o novo art. 638-A estabelece a simultaneidade dojulgamento dos recursos extraordinrio e especial em matria criminal. Hoje, quando so oferecidosrecursos especial e extraordinrio aps o julgamento da apelao, os autos so remetidos aoSuperior Tribunal de Justia para o julgamento do recurso especial e, apenas depois do julgamentodele que os autos seguiro para o Supremo Tribunal Federal. Isso faz com que o tempo de

    julgamento nos dois tribunais seja cumulativo, quando no h bice para a apreciao simultnea, jque as matrias submetidas a um e outro tribunal so diferentes. A proposta altera essa rotina,estabelecendo o julgamento em paralelo nas duas instncias, o que economizar anos no trmite

    processual. Em prol da eficincia, a proposta inova ao criar um canal eletrnico de comunicaoentre os tribunais para que um comunique ao outro o resultado do julgamento quando penderrecurso neste ltimo. Por fim, inserida a suspenso dos prazos prescricionais, o que uma cpiada proposio contida no 3 do art. 505 do Projeto 8.045/2010, de um novo CPP.

    Noutro giro, as alteraes sugeridas para o habeas corpus visam evitar que, eminstrumento moldado para proteo da liberdade ambulatorial, sejam adotados, por exemplo,expedientes destinados a anular processos de forma aodada; e, por outro lado, compatibilizar suaregncia com os princpios previstos no artigo 157 do Cdigo de Processo Penal.

    Por fim, cabe uma ressalva. As causas da morosidade na tramitao das aes e recursosno se resumem regulamentao do procedimento recursal. No se ignora que uma srie de fatores

    estruturais, econmicos polticos e sociolgicos tambm tm papel relevante na lentido dosprocessos. No entanto, a existncia de outros fatores no justifica que no se resolvam os problemasdecorrentes de incongruncias do procedimento recursal; pelo contrrio, deve-se ao mximoimplementar os meios necessrios para assegurar a viabilizao do interesse social naresponsabilizao dos autores de crimes e o direito constitucional do ru e da sociedade de se valerde procedimento judicial clere para tanto.

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    10. Execuo provisria da pena

    ANTEPROJETO DE EMENDA CONSTITUCIONAL

    Altera o art. 96 da Constituio da Repblica Federativado Brasil para incluir o pargrafo nico, bem comoacrescenta o 4 ao art. 102 e o artigo 105-A, daConstituio Federal.

    Mesa do Congresso Nacional, nos termos do art. 60 da Constituio Federal, promulga aseguinte emenda ao texto constitucional:

    Art. 1A Constituio Federal passa a vigorar com os seguintes acrscimos:Art. 96. [...]

    Pargrafo nico. Ao proferirem julgamento de mrito em matria penal, os tribunais deapelao autorizaro, a pedido do Ministrio Pblico, a execuo provisria da deciso

    penal condenatria, para todos os fins, ainda que na pendncia de recurso extraordinrio ourecurso especial.

    Art. 102. [...]

    4 O recurso extraordinrio no ter efeito suspensivo.

    Art. 105-A. O recurso especial no ter efeito suspensivo.

    Art. 2 Esta Emenda Constitucional entra em vigor na data de sua publicao.

    Braslia, em X de XXXX de 201X.

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    JUSTIFICATIVA

    Segundo dados da Assessoria de Gesto Estratgica do STF, entre 2009 e 2010, foraminterpostos 5.300 recursos extraordinrios criminais e agravos de instrumento em matria criminal,o que equivale a 8% do total do perodo. Destes, apenas 145 foram providos. Esse ndice representa

    apenas 0,22% do total de recursos extraordinrios interpostos no STF em 2009 e 2010. Ainda hque se considerar que, desses 145 recursos, 77 foram providos em favor do Ministrio Pblico e 59tratavam de execuo criminal. Ou seja, apenas 9 (nove) recursos extraordinrios criminais foram

    julgados e providos pelo STF em prol da defesa, antes do trnsito em julgado da condenao. Emapenas um (!) desses RE o STF veio a absolver o ru.

    Da, importante retirar o efeito suspensivo dos RE e dos RESP, por alterao constitucionalsugerida, tal como era antes de o STF decidir a questo no HC 84.078/MG. Seria o retorno lgicasistmica, presente nos ordenamentos do direito comparado e harmnica com as convenes dedireitos humanos, que traria de volta a racionalidade do modelo recursal, de modo a privilegiar asinstncias ordinrias, sem prejudicar o direito ao duplo grau e sem tolher a possibilidade de o ru

    interpor recurso especial ou recurso extraordinrio ou, ainda, impetrar habeas corpus, para romperacrdos abusivos proferidos por cortes regionais federais ou pelos tribunais de Justia dos Estados.

    Outrossim, o Conselho da Europa, organizao pan-europeia que congrega 47 pasesdaquele continente, aprovou em 1995 a Recomendao R (95) 5, cujo art. 7, alnea e, conclama aque nos Estados Partes as decises da jurisdio cvel e comercial proferidas por tribunais desegundo grau sejam imediatamente executveis, salvo se esse mesmo tribunal ou uma corte superior(third court) determinar a suspenso da execuo, ou se o apelante prestar garantias execuo.(Decisions made by the second court should be enforceable, unless the second or the third courtgrants a stay of execution or the appellant gives adequate security.)

    Se no bastasse, a garantia da durao razovel do processo e dos meios que garantam aceleridade de sua tramitao no se restringe ao processo civil; tambm do processo penal e,neste, no patrimnio apenas dos acusados, mas tambm das vtimas e da sociedade. O direitofundamental protegido pelas convenes internacionais de direitos humanos, como o Pacto de SoJos da Costa Rica, o Pacto Internacional sobre Direitos Civis Polticos e a Conveno Europeia deDireitos Humanos, restringe-se observncia do duplo grau, isto , ao julgamento justo e imparcialem primeira instncia e ao reexame com as mesmas qualidades, por um rgo colegiado superior.

    No existe garantia constitucional, convencional ou legal ao qudruplo grau, ou ao reexame semfim, que suportaria um fantasioso direito fundamental prescrio, que muitos pensam ler noincisoLV da nossa Constituio.

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    MEDIDA 5

    MAIOREFICINCIADAAODEIMPROBIDADEADMINISTRATIVA

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    11. Procedimento para agilizar a tramitao da AIA

    ANTEPROJETO DE LEI

    Altera os 7, 8, 9 e 10 do art. 17 da Lei n 8.429, de 2de junho de 1992, para agilizar a tramitao da ao deimprobidade administrativa.

    A PRESIDENTE DA REPBLICA, fao saber que o Congresso Nacional decreta e eusanciono a seguinte lei:

    Art. 1Os 7, 8, 9 e 10 do art. 17 da Lei n 8.429, de 2 de junho de 1992, passam a

    vigorar com a seguinte redao:

    Art. 17. ...................................................................................................

    7 Estando a inicial em devida forma, o juiz mandar autu-la e ordenar a citao dorequerido para responder ao e oferecer contestao, no prazo de quinze dias.

    8 Juntada a contestao, o juiz, no prazo de trinta dias, em deciso fundamentada,rejeitar a ao, se convencido da inexistncia do ato de improbidade, da improcedncia daao ou da inadequao da via eleita.

    9 Da deciso que determinar o prosseguimento da ao, caber agravo retido.

    10. Presumem-se vlidas as intimaes e notificaes dirigidas ao endereo no qual sedeu a citao do ru, cumprindo parte atualiz-lo sempre que houver sua modificaotemporria ou definitiva. (NR)

    Art. 2Esta Lei entra em vigor na data de sua publicao.

    Braslia, X de XXXX de 201X.

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    JUSTIFICATIVA

    As alteraes propostas nos aludidos dispositivos do art. 17 da