Medidas Assecuratórias no Processo Penal

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DAS MEDIDAS ASSECURATRIAS PENAIS providncias cautelares constritivas e reais como importantes instrumentos na busca da efetividade da jurisdio penal

Gabriela de Carvalho CarapebaAnalista Processual do MPF

De forma simples, pretende-se discorrer sobre tema de suma importncia na busca da efetividade da jurisdio penal, o qual, todavia, no tem recebido o merecido destaque por parte de nossos doutrinadores. A demora na concluso da instruo processual penal, desencadeada por diversos motivos sobre os quais no cabe aqui discorrer, faz das medidas assecuratrias fortes aliadas na busca pela tutela criminal patrimonial. Com o presente texto busca-se contribuir para utilizao das referidas medidas, mormente, no combate aos delitos contra a ordem tributria, a ordem econmica, o sistema financeiro nacional, nos crimes de lavagem e ocultao de bens, direitos e valores e em qualquer outro delito do qual resulte prejuzo ao errio.

GENERALIDADES

No curso de uma ao criminal ou at mesmo antes de seu incio comum acontecerem situaes que demandem providncias urgentes, por parte do ministrio pblico ou da prpria vtima do delito, hbeis a acautelar interesses, ora assegurando a correta apurao da infrao penal, ora garantindo a futura execuo da pena que se pretende ver aplicada, ou ainda, garantindo o ressarcimento do dano causado pela prtica criminosa. Neste contexto, as medidas assecuratrias penais de cunho patrimonial visam a tutelar, provisoriamente, direitos at o momento em que o Estado-Juiz possa decidir, definitivamente, a demanda, resolvendo, inclusive, o pagamento das custas processuais e o ressarcimento do dano causado vtima do delito. No ordenamento jurdico ptrio, as medidas cautelares penais esto previstas de maneira bastante confusa. O Cdigo de Processo Penal dispe sobre elas de maneira dispersa e sem sistematizao. Da matria tratam ainda normas esparsas como o Decreto-lei n. 3.240/41 e a Lei 9.613/98, entre outras.

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Analisando os artigos 125 a 144 do Cdigo de Processo Penal, constata-se que as medidas assecuratrias so previstas como processos incidentais, os quais devero ser propostos perante o juzo competente para julgar a ao criminal, sendo autuadas em apartado, a fim de no tumultuar a instruo da ao criminal. Tais medidas, alm das condies gerais para propositura de qualquer ao, sejam elas, a legitimidade das partes, a possibilidade jurdica do pedido e o interesse de agir, possuem mais dois requisitos, quais sejam, o fumus boni iuris e o periculum in mora. Vale salientar que, no processo penal, o sentido de urgncia que inspira as medidas assecuratrias possui particularidades que o diferenciam do processo civil. A respeito, vejamos o que diz Joo Gualberto Garcez Ramos1:A urgncia, no caso, quase onipresente. Essa qualidade decorre de diversas razes. Em primeiro lugar, do fato de que o crime , ontologicamente, a maior ofensa ao prximo que prev o ordenamento jurdico. Se pessoa do indivduo, muitas vezes tambm o ao seu patrimnio, irrazoadamente atingido. Sendo assim, ocorrendo o prejuzo patrimonial, justificada est a reao estatal enrgica. Outra razo referente ao destinatrio das regras viabilizadoras da responsabilidade patrimonial. Tendo o agente cometido um crime patrimonial doloso ou crime no patrimonial motivado pela cobia, por exemplo, razovel pensar-se que, uma vez consumado o crime, seu objetivo passe a ser manter o status quo alcanado com a prtica da infrao penal; talvez at com a repetio de aes moralmente reprovveis. Nisso tambm reside a potencial inutilidade das medidas patrimoniais do processo se desvestidas de urgncias.

Sobre a autonomia do processo penal cautelar, ou seja, sobre a existncia de um processo cautelar distinto do processo de conhecimento ou do de execuo, existem controvrsias entre os processualistas. No entanto, em relao s medidas assecuratrias aqui comentadas, no se pode deixar de reconhecer como suas caractersticas: a acessorialidade (apesar de ser possvel a existncia de uma medida cautelar sem a futura ao penal), a preventividade, a provisoriedade, a revogabilidade e a referibilidade, bem como a possibilidade de contenciosidade. Vale registrar ainda que, como nosso direito processual penal assegura ao magistrado o amplo conhecimento judicial dos fatos, bem como em face do poder geral de cautela conferido ao magistrado, possvel a concesso de medidas cautelares de ofcio pelo prprio juiz da causa, no curso do procedimento, sem necessidade de petio inicial e de correspondente sentena. Passamos, agora, as particularidades de cada uma das medidas.1

In A Tutela de Urgncia no Processo Penal Brasileiro, Ed. Del Rey, 1998, p. 287

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DO SEQESTRO DE IMVEIS (artigos 125 a 131 do CPP)

De acordo com Fernando da Costa Tourinho Filho2, o art. 125 do CPP contm impropriedade tcnica ao se referir a seqestro:Embora no se trate, a rigor, de coisa sobre cuja propriedade haja controvrsia, e s assim seria seqestro, por outro lado, no podem ser seqestrados quaisquer bens do indiciado; apenas aqueles imveis adquiridos por ele com os proventos da infrao.

Citando Tornaghi, o citado autor conclui que a medida assecuratria prevista no dispositivo em anlise seria um misto de seqestro e de arresto. Deficincia terminolgica parte, o certo que estamos diante de providncia que, fundada no interesse pblico, visa a antecipar o perdimento de bem produto do crime ou o proveito do crime (vantagem indiretamente auferida pelo agente com a prtica criminosa) como efeito da futura e eventual condenao. Desta feita, o seqestro medida adotada no interesse do ofendido e do prprio Estado, com o escopo de antecipar os efeitos da sentena penal condenatria, salvaguardando a reparao do dano sofrido pelo ofendido, bem como o pagamento das custas e da pena de multa a ser fixada na sentena. Ela tambm tem por objetivo assegurar que da atividade criminosa no resulte vantagem econmica para o infrator. Neste sentido, o Cdigo Penal, em seu artigo 91, prev entre os efeitos civis da condenao a indenizao do dano causado pelo crime e o confisco de bens (instrumentos e do produto do crime). Nos artigos 125 e 126 do CPP est previsto como requisito para a concesso da medida a presena de indcios veementes da origem ilcita dos bens do indiciado ou acusado, mesmo que estes tenham sido transferidos a terceiros. Vejamos o que entendem nossos Tribunais sobre a presena de indcios suficientes da origem ilcita dos bens:

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In Processo Penal, Vol. 3, Editora Saraiva, 2005, p. 28.

4 Origem: STF - Agravo Regimental em Inqurito N. 705-6/140-DF. Relator: Ilmar Galvo. DJ: 20.10.1995 EMENTA: DESPACHO QUE, EM INQURITO POLICIAL, DECRETOU LIMINARMENTE, AD REFERENDUM DO PLENRIO, SEQESTRO DE BENS QUE TERIAM SIDO ADQUIRIDOS PELOS INDICIADOS COM OS PROVENTOS DA INFRAO (ARTS. 125 E 132 DO CPP). IMPUGNAO MANIFESTADO POR AGRAVO DE INSTRUMENTO. Contemporaneidade da aquisio dos ditos bens com a imputada prtica de atos delituosos, os quais, segundo consta, envolveram elevadas somas de dinheiro. Circunstncia bastante para autorizar a presuno de que se est diante de produto da ilicitude. Excluso, todavia de parte ideal (1/20) de imvel que coube ao primeiro acusado por sucesso, ao qual teriam sido por este incorporadas valiosas benfeitorias aps a sucesso de fatos criminosos narrados na denncia, em face da impossibilidade fsica de serem estas destacadas, para fim de concretizao do confisco, medida que, de outra parte, no se poderia executar sobre o respectivo valor, sem prejuzo para os demais condminos, terceiros de boa f, cujos direitos se acham expressamente ressalvados no art. 91, II, do Cdigo Penal, j que exigiria a cessao da indiviso do bem, por meio de sua converso em dinheiro. Excluso, tambm, de imvel anteriormente adquirido pelo segundo acusado. Despacho referendado com as ressalvas acima explicitadas. Agravos regimentais de que no se conhece, por sua inadequao a casos de despacho do relator que adiante providncia cautelar ad referendum do Plenrio. Precedentes do STF. Acordo Origem: TRF - PRIMEIRA REGIO Classe: ACR - APELAO CRIMINAL 200635000101023 Processo: 200635000101023 UF: GO rgo Julgador: QUARTA TURMA Data da deciso: 10/10/2006 Documento: TRF100238392 Fonte DJ DATA: 10/11/2006 PAGINA: 37 Relator(a) DESEMBARGADOR FEDERAL HILTON QUEIROZ Deciso unnime. Data Publicao 10/11/2006 Ementa PROCESSUAL PENAL. SEQESTRO E INDISPONIBILIDADE DE BENS DOS SCIOS. ARTS. 129 E 131 DO CPP. EXISTNCIA DE AO PENAL. ORIGEM NO DEMONSTRADA. INTERESSE AO PROCESSO. MANUTENO DA DECISO. APELAO IMPROVIDA. 1. O art. 131 do Cdigo de Processo Penal no impede a ratificao do seqestro pretensamente caduco. 2. Inexistncia de vcio de forma do seqestro, formulado na prpria denncia e deferido nos autos da ao penal. 3. Os acrscimos patrimoniais que os apelantes e suas empresas tiveram so provenientes, segundo a denncia, das prticas criminosas que se lhes imputam, sendo, pois, veementes os indcios. 4. No tendo sido demonstrado o bom direito de propriedade, nem a origem lcita dos bens, e interessando a apreenso ao processo (art. 118 do CPP), a manuteno da deciso que deferiu o seqestro, arresto e busca e apreenso dos bens pertencentes aos scios a medida que se impe. 5. Apelao improvida

5 Acordo Origem: TRIBUNAL - QUARTA REGIO Classe: ACR - APELAO CRIMINAL Processo: 199904010076331 UF: SC rgo Julgador: SEGUNDA TURMA Data da deciso: 06/11/2000 Documento: TRF400078935 Fonte DJU DATA:17/01/2001 PGINA: 271 Relator(a) FERNANDO QUADROS DA SILVA Deciso unnime Data Publicao 17/01/2001 Ementa PROCESSO DA PENAL. VIA SEQUESTRO DE BENS. FUNDAMENTOS. PRVIO INDCIOS ESGOTAMENTO ADMINISTRATIVA. INADMISSIBILIDADE.

VEEMENTES DEMONSTRADOS. DECISO MANTIDA. 1- Por fora do princpio da separao dos poderes, invivel pretender que o Poder Judicirio tenha sua atuao condicionada prvia manifestao de rgos administrativos do Poder Executivo. 2- Privilegiar tal entendimento eqivaleria a nulificar o poder jurisdicional, que restaria na dependncia prvia da manifestao de autoridades fiscais, entendimento que confronta com art. 127, e 129, I, da Carta Poltica. 3- Para decretao do seqestro, a legislao processual penal exige apenas a presena de indcios veementes da origem ilcita dos bens. 4- Exame profundo da matria ftica deve ser diferida para a instruo penal, mediante amplo contraditrio entre acusao e defesa. 5- Apelao improvida. Acordo Origem: TRIBUNAL - QUARTA REGIO Classe: MS - MANDADO DE SEGURANA Processo: 200104010465253 UF: RS rgo Julgador: STIMA TURMA Data da deciso: 28/08/2001 Documento: TRF400081618 Fonte DJU DATA:12/09/2001 Relator(a) JOS LUIZ B. GERMANO DA SILVA Deciso unnime. Data Publicao 12/09/2001 Ementa PROCESSUAL PENAL. MANDADO DE SEGURANA. MEDIDA ASSECURATRIA. SEQESTRO DE BENS. ART. 125 E SS. DO CPP. INQURITO POLICIAL. INDCIOS DE SEREM OS BENS FRUTO DE ILCITOS PENAIS. 1. A decretao do seqestro de bens medida assecuratria prevista em lei que pode ser operada pelo Juiz em qualquer fase, mesmo antes da ao penal, quando ainda na fase inquisitorial. 2. Se das investigaes da Polcia apurou-se a existncia de fortes indcios de que a impetrante participa de organizao criminosa, especializada em roubo de cargas e distribuio do produto do roubo por vrias regies do pas, sendo filha do cabea da quadrilha, que utiliza suas contas bancrias para movimentao de dinheiro proveniente do ilcito, merece ser mantida a deciso que determinou o seqestro de seus bens. 3. Ordem denegada.

Ocorre que muitas vezes o criminoso tem, na frente da atividade criminosa, uma atividade lcita que oculta a origem criminosa do seu patrimnio, dificultando sobremaneira a demonstrao da relao entre o patrimnio e a atividade ilcita, todavia, a jurisprudncia vem, com acerto, permitindo a desconsiderao da personalidade jurdica nestas hipteses. Vejamos o seguinte precedente:

6 Acordo Origem: TRIBUNAL - QUARTA REGIO Classe: ACR - APELAO CRIMINAL Processo: 200070000272889 UF: PR rgo Julgador: STIMA TURMA Data da deciso: 25/09/2001 Documento: TRF400082018 Fonte DJU DATA:17/10/2001 PGINA: 1070 Relator(a) JOS LUIZ B. GERMANO DA SILVA Deciso unnime. Data Publicao 17/10/2001 Ementa PROCESSO PENAL. MEDIDAS ASSECURATRIAS. INDCIOS DO CRIME. EMPRESA USADA COMO MEIO PARA ATOS ILCITOS. DESCONSIDERAO DA PERSONALIDADE JURDICA. 1. As medidas assecuratrias previstas no CPP tm ensejo quando houver indcios veementes de atos ilcitos e a competncia para apreciar o cabimento da medida do Juzo Criminal. 2. Se a pessoa jurdica serve como instrumento para a prtica de delitos como sonegao fiscal, entre outros, cabe a desconsiderao da personalidade jurdica e o seqestro de bens, a fim de acautelar o ressarcimento do prejudicado.

certo que o nus da prova cabe a quem alega, assim, quem postula a medida caber provar a provenincia ilcita dos bens, j que esse requisito para concesso da medida. No entanto, dada a dificuldade na comprovao da origem ilcita dos bens nos delitos de "lavagem" ou ocultao de bens, direitos e valores, entende-se possvel a inverso do nus da prova, cabendo ao acusado do crime provar que o patrimnio lcito (v. g. art. 4, 2 da Lei n. 9.613/98). Neste caso, a possibilidade da inverso do nus da prova, mesmo tratando-se de medida que visa garantir os efeitos de uma eventual e futura condenao criminal, d-se porque a constrio meramente patrimonial, ou seja, incide sobre o patrimnio e no sobre a liberdade do indivduo. Por sua vez, o artigo 127 do CPP dispe que o seqestro pode ser ordenado antes de oferecida a denncia ou queixa, ou, em qualquer fase do processo. Ressalta-se, aqui, que a determinao da medida, antes de iniciada a ao penal, deve-se ao risco de que durante o inqurito o investigado se desfaa dos bens produto do crime ou adquiridos com os haveres obtidos por meios criminosos, tornando difcil ou impossvel a reparao do dano.

Quanto competncia para decretar a medida, apenas o juiz penal a possui. Agora, claro que no qualquer juiz penal, s o competente. Logo, as regras de competncia devem ser observadas. Com efeito, distribudo o inqurito policial, a competncia para determinar o seqestro de bens ser do juiz competente para o inqurito. Caso ainda no tenha havido distribuio do procedimento investigatrio, a competncia ser do juiz penal competente para eventual e futura ao penal, o qual determinando o seqestro de

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bens, antes da distribuio do inqurito policial, ficar prevento para o mesmo e, posteriormente, para a eventual ao penal. Vejamos as decises a seguir ementadas:Origem: TRF- 4 Regio. Apelao criminal. Processo n. 2003.71.04.001096-4/RS. Decidido em 24.06.2003, relator JOS LUIZ B. GERMANO DA SILVA, DJU DATA:16/07/2003 PGINA: 369 EMENTA: PROCESSO PENAL. APELAO CRIMINAL. SEQUESTRO. HIPOTECA LEGAL. MEDIDA CAUTELAR. PROCESSO INCIDENTE. COMPETNCIA. AO CAUTELAR. 1. A realizao de quaisquer das medidas assecuratrias prevista em nossa legislao processual penal so questes incidentais, cuja competncia para presidi-las do juiz competente para o processo principal. 2. Havendo cessado a competncia para decidir a causa, com a prolao da sentena, a medida cautelar deveria ter sido proposta originariamente no Tribunal. 3. Mantida a deciso que indeferiu as medidas postuladas por entender no haver poderes para o processamento e julgamento das mesmas. Apelao desprovida. 4. Nada obsta que o pedido seja conhecido como ao cautelar incidental de hipoteca legal de imveis e seqestro de mveis. Acordo Origem: TRIBUNAL - TERCEIRA REGIO Classe: ACR - APELAO CRIMINAL 9691 Processo: 200061810004071 UF: SP rgo Julgador: QUINTA TURMA Data da deciso: 07/11/2000 Documento: TRF300054995 Fonte DJU DATA:08/05/2001 PGINA: 361 Relator(a) JUIZA SUZANA CAMARGO Deciso unnime. Data Publicao 08/05/2001 Ementa APELAO CRIMINAL. MEDIDA CAUTELAR. PROCESSO INCIDENTE. COMPETNCIA DO JUIZ QUE PRESIDE O PROCESSO CRIMINAL. INEXISTNCIA DE NULIDADE. PRELIMINAR REJEITADA. ARTIGO 125 E 132 DO CDIGO DE PROCESSO PENAL. DECRETAO DO SEQESTRO. ARTIGO 126 DO CDIGO DE PROCESSO PENAL. EXISTNCIA DE SRIOS INDCIOS ACERCA DA ORIGEM ILCITA DOS VALORES DEPOSITADOS NAS CONTAS DO APELANTE, NO EXTERIOR. FUMAA DO BOM DIREITO E 'PERICULUM IN MORA' PRESENTES. RECURSO IMPROVIDO. I. Cdigo de Processo Penal, em seu Captulo VI, cuidou de disciplinar as chamadas medidas cautelares, tambm chamadas providncias assecuratrias, visando, assim, tornar certa a satisfao de obrigaes, bem como garantir a execuo de sentenas criminais. II. As medidas assecuratrias previstas no processo penal visam evitar o dano proveniente da morosidade da ao penal, garantindo, atravs da guarda judicial das coisas, o ressarcimento do prejuzo causado pelo delito, sendo que por ter a natureza de processos incidentais, a competncia para presidi-las do juiz competente para o processo criminal. III. A competncia do Juzo Federal da 1 Vara Criminal de So Paulo para processar a medida cautelar preparatria em exame, expressa na ordem de seqestro criminal dos ativos existentes em contas no exterior, decorre da circunstncia de ser o competente para o processo criminal

8 principal, que apura os fatos relacionados a operao que envolveu a apontado desvio de verbas pblicas na construo do Frum Trabalhista de So Paulo. IV. A e. Quinta Turma, nos autos dos 'Habeas Corpus' ns 2000.03.00.020550-1/SP e n 2000.03.00.022340-0, firmou a competncia do r. Juzo Federal da 1. Vara Criminal de So Paulo para o processo e julgamento da ao penal principal, nos termos dos artigos 70 e 83 do Cdigo de Processo Penal. V. No remanescendo qualquer ordem de incompetncia por parte do r. Juzo da 1a Vara Criminal de So Paulo, em determinar o seqestro dos numerrios, inexiste qualquer nulidade que esteja a inquinar a respectiva deciso. VI. Nos termos do que dispe o artigo 125 do Cdigo de Processo Penal, sero passveis de seqestro todos os bens adquiridos com os proventos da infrao, tanto imveis quanto mveis, caso no seja possvel a sua busca e apreenso, sendo nesse sentido o disposto no artigo 132 do mesmo codex. VII. A teor do que dispe o artigo 126 do Cdigo de Processo Penal, para a decretao do seqestro, basta a existncia de indcios veementes da provenincia ilcita dos bens. VIII. Se a ordem de seqestro em reexame partiu da existncia de srios indcios acerca da origem ilcita dos valores depositados nas contas do apelante no exterior, presente encontra-se a fumaa do bom direito autorizadora da medida cautelar em reexame, bem como o 'periculum in mora', expresso na eventual dissipao desses recursos. IX. Preliminar de nulidade rejeitada. Recurso improvido.

Nos termos do art. 127, podem requerer o seqestro: 1) o Ministrio Pblico, mesmo antes de proposta a ao penal, obedecidas as regras de competncia e de atribuies; 2) a autoridade policial, mediante representao ao juiz; 3) o ofendido mediante requerimento ao juiz; 4) apesar de no haver disposio expressa, entende-se que se o ofendido for incapaz, seus representantes legais podero requerer a medida e, se falecido, seus herdeiros tambm podero faz-lo, isto com fundamento no art. 63 do CPP; 5) por fim, reza o mencionado dispositivo que o juiz pode decretar a medida de ofcio, ou seja, independente de provocao de qualquer uma das pessoas antes mencionadas. Uma vez ordenada a medida, o magistrado determinar a autuao do incidente em apartado, bem como a expedio do competente mandado, o qual, segundo Tourinho3conter a descrio do bem cujo seqestro se ordenou, sua localizao, o motivo e fins da diligncia, sendo subscrito pelo escrivo e assinado pelo Juiz. Mais adiante, prossegue o citado processualista:De posse do mandado, dois Oficiais de Justia dirigir-se-o ao lugar em que estiver localizado o imvel (dentro da respectiva comarca, bvio; se fora, expedir-se- precatria), dando cincia da

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In Processo Penal, Vol. 3, Editora Saraiva, 2005, p. 30/31.

9 diligncia ao seu proprietrio. De qualquer sorte, encontrado ou no o proprietrio ou possuidor, lavraro o respectivo auto, tudo conforme o art. 665 do CPC.

Com a juntada do mandado, cumprido dentro das exigncias legais, o magistrado determinar a inscrio do seqestro no Cartrio de Registro de Imveis, nos moldes estabelecidos na Lei n. 6.015/73 (Lei de Registros Pblicos), sendo esta a nica disposio legal que no se aplica ao seqestro de bens mveis, j que, por motivos bvios, no cabvel. Nosso Cdigo de Processo Penal no prev um procedimento prprio para a efetivao do seqestro, motivo pelo qual entende-se pela aplicao das normas atinentes penhora, previstas no Cdigo de Processo Civil. As regras previstas nos artigos 125 a 133 do CPP aplicam-se tanto ao seqestro de imveis como o de mveis, salvo, como dito anteriormente, o registro no Cartrio de Imveis, o qual aplicvel apenas ao seqestro de imveis. Aqui, cabe uma importante observao. No caso dos bens imveis seja ele PRODUTO ou PROVEITO do crime, sempre caber o seqestro. Tratando-se de bens mveis PRODUTO do crime caber a busca e apreenso nos termos do art. 240, 1 do CPP, medida que aqui no se aprofunda a anlise por tratar de providncia cautelar probatria e no medida constritiva real. Neste ltimo caso, no necessria uma medida de seqestro sendo suficiente a busca e apreenso que menos formal, consistindo numa tutela mais rpida. Desta feita, temos que enquanto existir o produto ou o instrumento do crime (bem mvel), caber a busca e apreenso do mesmo e, estando ele apreendido, ficar garantido para um eventual confisco. Por outro lado, se os bens mveis forem PROVEITO do crime, ter que haver uma ao de seqestro. Conclui-se que quando o bem objeto do crime se transforma, p. ex. o veculo furtado que foi desmanchado para venda das peas, ele passa a ser PROVEITO do crime (resultado indireto) e as peas tero de ser seqestradas. No caso no caber mais a restituio do automvel ou a sua busca e apreenso, eis que o bem j fora todo desmanchado, em todo caso, caber a indenizao da vtima. O seqestro, bom frisar, atinge nica e exclusivamente o patrimnio adquirido ilicitamente pelo agente. Ele no tem carter de punio, apenas a recuperao daquilo que foi perdido pela vtima, seja o produto ou o proveito de crime em se tratando de bens imveis ou apenas o proveito em se tratando de bem mvel. Se houver o reconhecimento judicial de que estes bens so produto de ilcito, a sim, haver, como efeito da condenao, o perdimento do(s) bem(ns).

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Efetivada medida podero ser opostos embargos (art. 129 do CPP), meio de defesa conferido ao indiciado ou ru, ao terceiro senhor e possuidor e ao terceiro de boa-f (art. 130 do CPP). importante, assim, atentar para distino entre terceiro estranho e terceiro adquirente dos bens. Neste sentido, traz-se os ensinamentos de Marcellus Polastri Lima5, que, citando Srgio de Moraes Pitombo, esclarece:Em processo, o terceiro aflora como pessoa diversa daqueles que litigam. Quem no tomou parte no feito, pessoalmente ou por via de representao e, se no pode sujeitar, diretamente eficcia dos atos jurisdicionais dimanantes terceiro (...) Costuma-se apartar, no processo penal, o terceiro (arts. 125 e 129 do Cd. de Proc. Penal) do terceiro de boa-f (art. 130, n. II, do Cd. de Proc. Penal). Simples terceiro seria o senhor e possuidor do bem seqestrado, estranho ele ao delito, por completo alheio infrao penal. Terceiro de boa-f, apenas aquele que adquiriu, ao menos a preo justo, bens do acusado, resultantes da infrao ignorando-lhes, de modo invencvel, a provenincia ilcita. Seqestrveis, outrossim, so os bens, mveis ou imveis, adquiridos pelo terceiro, com o produto direto, ou indireto da infrao penal, o qual lhe foi, disfaradamente, fornecido pelo indiciado. (destacamos).

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Em seguida, Marcellus Polastri Lima acrescenta:Os embargos de terceiro estranho esto previsto no art. 129 do CPP, in verbis: (...) Neste caso o terceiro no tem qualquer vinculao com a infrao, como o caso do seqestro de bem que do terceiro e no do acusado. Poder este terceiro, que deseja ser mantido na posse do bem, o qual acabou, injustamente, sendo apreendido, ser o proprietrio do mesmo, possuidor direto ou indireto. Inexiste qualquer condio para a oposio destes embargos, pois, na verdade, o possuidor est sofrendo um esbulho por parte do Estado (...) Em relao aos embargos de terceiro de boa-f, a previso se d no inciso II do art. 130 do CPP, litteris: (...) Ao contrrio dos embargos de terceiro estranho, que podem ser julgados a qualquer tempo, uma vez que a apreenso foi indevida e com burla dos requisitos legais exigidos, os embargos do acusado e de terceiro de boa-f s sero julgados aps transitar em julgado a sentena condenatria.

Neste diapaso, traz-se colao o seguinte julgado:

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Neste sentido, Fernando da Costa Tourinho Filho, in Processo Penal, Volume 3, Editora Saraiva, p. 31. In Tutela Cautelar no Processo Penal, Ed. Lumen Juris, 2005, p. 170/172.

11 Acordo Origem: TRF - PRIMEIRA REGIO Classe: AG - AGRAVO DE INSTRUMENTO 9401374210 Processo: 9401374210 UF: MT rgo Julgador: TERCEIRA TURMA Data da deciso: 6/2/1995 Documento: TRF100029289 Fonte DJ DATA: 6/4/1995 PAGINA: 19355 Relator(a) JUIZ TOURINHO NETO Deciso unnime. Data Publicao 06/04/1995 Ementa PROCESSO PENAL. EMBARGOS DE TERCEIRO DE BOA-FE. SEQUESTRO. JULGAMENTO. 1. OS EMBARGOS DE TERCEIRO DE BOA-FE, AO CONTRARIO DOS EMBARGOS DO SENHOR E POSSUIDOR, POR NO SER UM ESTRANHO AO FATO CRIMINOSO, SO PODERO SER JULGADOS DEPOIS DE TRANSITADA EM JULGADO A SENTENA CRIMINAL, CONFORME DISPE O ART. 130, PARAG. UNICO, DO CODIGO DE PROCESSO PENAL. 2. AGRAVO IMPROVIDO.

Na hiptese do seqestro ter sido requerido pelo Ministrio Pblico, a contestao aos embargos ficar a seu cargo. Quando requerido pelo ofendido ou determinado de ofcio pelo juiz, o rgo do Ministrio Pblico dever intervir como custos legis. Eugnio Pacelli6, discorrendo sobre as matrias que podem ser alegadas nos embargos, adverte: bem de ver, porm, que a exigncia de fundamentao vinculada (s matrias mencionadas no art. 130, CPP) dos embargos pode esbarrar, no caso concreto, nas franquias constitucionais do devido processo legal , uma vez que ningum ser privado de seus bens sem a sua observncia (art. 5, LIV). Assim, parece-nos, tambm aqui, irrecusvel a observncia do princpio da ampla defesa e contraditrio.

De acordo com a regra inserta no art. 130, pargrafo nico do CPP, a deciso sobre os embargos somente dever ser proferida aps o trnsito em julgado da eventual sentena penal condenatria. Quanto ao recurso cabvel contra a deciso que determina o seqestro ou o indefere, no h unanimidade entre os doutrinadores. H os que defendam ser tal deciso irrecorrvel j que a mesma no prevista no rol exaustivo do artigo 581 do CPP (recurso em sentido estrito), como tambm, entendendo que ela no seria definitiva nem teria fora de definitiva, no seria hiptese de cabimento de apelao (art. 593, II do CPP). Para esses, a legalidade da referida deciso somente poder ser questionada atravs de mandado de segurana, no qual, todavia, pacfico o entendimento de que no cabvel dilao probatria. Vejamos as decises a seguir ementadas:

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In Curso de Processo Penal, Ed. Del Rey, 2006, p. 278

12 Acordo Origem: STJ - SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIA Classe: ROMS - RECURSO ORDINARIO EM MANDADO DE SEGURANA 3272 Processo: 199300194216 UF: SP rgo Julgador: QUINTA TURMA Data da deciso: 29/03/1995 Documento: STJ000087193 Fonte DJ DATA: 15/05/1995 PGINA:13414 LEXSTJ VOL.:00075 PGINA:282 Relator(a) ASSIS TOLEDO Deciso unnime. Data Publicao 15/05/1995 Ementa PROCESSUAL PENAL. SEQUESTRO DE BENS. RENOVAO. 1. SEQUESTRO DE BENS IMOVEIS ANTE A EXIGENCIA DE INDICIOS DE PROCEDENCIA ILICITA (ARTS. 126 E 127 DO CPP). MATERIA QUE, ENVOLVENDO QUESTO DE FATO CONTROVERTIDA, NO COMPORTA EXAME NA VIA SUMARISSIMA DO "MANDAMUS". 2. POSSIBILIDADE DE RENOVAO DO SEQUESTRO PREPARATORIO VENCIDO, COM O OFERECIMENTO DA DENUNCIA. ALEGAO DE DECURSO DE PRAZO PREJUDICADA. RECURSO EM MANDADO DE SEGURANA IMPROVIDO. Acordo Origem: TRIBUNAL - QUARTA REGIO Classe: MS - MANDADO DE SEGURANA Processo: 200204010113432 UF: RS rgo Julgador: OITAVA TURMA Data da deciso: 11/11/2002 Documento: TRF400086152 Fonte DJU DATA: 27/11/2002 PGINA: 989 Relator(a) LUIZ FERNANDO WOWK PENTEADO Deciso unnime. Data Publicao 27/11/2002 Ementa: MANDADO DE SEGURANA. ADMISSIBILIDADE. PROCESSO PENAL. CRIME DE SONEGAO FISCAL. MEDIDA CAUTELAR DE SEQESTRO. DEPRECIAO DOS VEICULOS. DEPSITO PBLICO. NOTRIA DEPRECIAO. 1. Na linha de precedentes do e. STJ, aos quais tm-se ajustado as decises dessa Turma, no obstante restrito o uso do mandado de segurana na esfera penal, cumpre admiti-lo em face de deciso no arrolada no art. 581 do CPP e desprovida de cunho terminativo, referentemente relao processual, cuja natureza, de outra parte, afasta eventual modificao pela via correicional. 2. Apenas na hiptese de flagrante ilegalidade, contra direito lquido e certo, verificvel de pronto, cabvel, em tese, a busca da reparao na via mandamental. 3. Inexistindo elementos concretos para aferir, em sede de cognio sumria, a exata correspondncia entre os dbitos satisfeitos por conta de parcelamento operado junto ao REFIS e aqueles pelos quais os rus esto respondendo ao penal, descabe proceder ao levantamento de seqestro efetivado, em sede cautelar, em garantia dos cofres pblicos. 4. Objetivando resguardar a garantia visada pela medida cautelar de seqestro, mostra-se devida a liberao de bens constritos em depsito pblico, sujeitos notria depreciao, depositando-os em nome dos respectivos proprietrios.

Outros processualistas, como Tourinho7, entendem que da deciso que defere ou indefere o pedido de seqestro cabe apelao, eis que tem natureza definitiva ou com fora de definitiva (art. 593, II do CPP). Isto porque uma7

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vez determinado o seqestro, a medida perdurar at o trmino da ao penal, ou, se ao revs, for denegado o pedido, o requerente ter seus direitos desprotegidos at uma eventual deciso final da ao penal. Tal entendimento majoritrio, vejamos as decises a seguir ementadas:Acordo Origem: TRF - PRIMEIRA REGIO Classe: MS - MANDADO DE SEGURANA 200001001114394 Processo: 200001001114394 UF: MG rgo Julgador: SEGUNDA SEO Data da deciso: 10/3/2004 Documento: TRF100160137 Fonte DJ DATA: 24/3/2004 PAGINA: 4 Relator(a) DESEMBARGADOR FEDERAL OLINDO MENEZES Deciso unnime. Data Publicao 24/03/2004 Ementa PROCESSUAL CIVIL. MANDADO DE SEGURANA. PROCESSUAL PENAL. SEQESTRO. DECISO QUE INDEFERE O LEVANTMENTO. RECURSO CABVEL. 1. A deciso que indefere levantamento de seqestro, no processo penal, desafia apelao supletiva, nos termos do art. 593, II do Cdigo de Processo Penal - decises que encerram a relao processual, julgam o mrito, mas no condenam nem absolvem -, no sendo cabvel o mandado de segurana, salvo nos casos de ilegalidade manifesta. Precedentes da Seo. 2. Extino do processo, sem exame do mrito. Acordo Origem: TRIBUNAL - QUARTA REGIO Classe: MS - MANDADO DE SEGURANA Processo: 200604000192882 UF: PR rgo Julgador: OITAVA TURMA Data da deciso: 27/09/2006 Documento: TRF400133411 Fonte DJU DATA: 04/10/2006 PGINA: 1070 Relator(a) PAULO AFONSO BRUM VAZ Deciso unnime. Data Publicao: 04/10/2006. Ementa PROCESSO PENAL. MANDADO DE SEGURANA. DESCONSTITUIO DE SEQESTRO PATRIMONIAL. EXISTNCIA DE RECURSO ESPECFICO. EXTINO DO MANDAMUS SEM RESOLUO DO MRITO. No processo penal, as decises que ordenam o seqestro ou a hipoteca legal de bens do ru, bem como a que indefere o levantamento de tais constries, por possurem natureza definitiva, esto sujeitas ao recurso de apelao (CPP, art. 593, II). Existindo instrumento jurdico prprio para atacar tais atos judiciais, a utilizao do mandado de segurana no se apresenta admissvel (art. 5, II, da Lei n 1.533/51 e Smula n 267 do STF).

Outros doutrinadores defendem ainda que, ante a ausncia de efeito suspensivo dos embargos (art. 129 e 130 do CPP), deve-se admitir a possibilidade de impetrao de mandado de segurana para suspender a medida. Tal hiptese, todavia, seria possvel apenas em casos extremos e excepcionais, bem como quando o impetrante comprovar, de plano, a origem dos bens seqestrados, j que no possvel a dilao probatria no mandamus, justificando, assim, a transferncia da medida para o juzo cvel. Agora, da deciso que acolhe ou nega os embargos, o entendimento pacfico, seja doutrinrio, seja jurisprudencial, o de que cabvel apelao (art. 593, II do CPP).

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O seqestro poder ser levantado nas hipteses previstas no artigo 131 do CPP. A primeira delas ocorre se a ao penal no for intentada no prazo de 60 dias, contado da data em que ficar concluda a diligncia. Entenda-se aqui, contado de sua efetivao, e no, da sua inscrio. Acrescente-se, ainda, que levantado o seqestro antes do incio ao penal, poder haver a renovao da medida quando aquela se iniciar. Vale salientar, que nossos Tribunais vm mitigando a aplicao de tal prazo quando houver justo motivo para a demora na propositura da ao penal ou o interesse pblico assim justificar. O entendimento predominante o de que no se deve proceder ao levantamento do seqestro nas referidas hipteses. Neste sentido, destacamos as seguintes decises:Acordo Origem: STJ - SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIA Classe: ROMS - RECURSO ORDINARIO EM MANDADO DE SEGURANA - 9999 Processo: 199800533460 UF: SP rgo Julgador: QUINTA TURMA Data da deciso: 01/06/1999 Documento: STJ000271127 Fonte DJ DATA:28/06/1999 PGINA:132 LEXSTJ VOL.:00125 PGINA:354 Relator(a) JOS ARNALDO DA FONSECA Deciso unnime. Data Publicao 28/06/1999. Ementa RECURSO EM MANDADO DE SEGURANA. PROCESSUAL PENAL. INDICIADO POR ESTELIONATO. CRIME CONFESSADO. SEQESTRO DA CONTA NO QUAL FORA DEPOSITADO "QUANTUM" OBJETO DO DELITO. AO PENAL NO INTENTADA. EXCESSO DE PRAZO. ART. 131, I, CPP. EXCEPCIONALIDADE DA CAUSA. SEQESTRO QUE DEVE SER MANTIDO. O recorrente confessou no s o crime, mas tambm que seu fruto fora depositado na conta poupana em seu nome, a qual fora determinado o seqestro. Apesar de no ter sido intentada a ao penal no prazo descrito no art. 131, I do CPP, o seqestro merece ser mantido, considerando a excepcionalidade do caso e as informaes ministeriais no sentido de no se tratar de inrcia daquele rgo, mas, sim, de dificuldades no cumprimento de certas diligncias e na apurao dos fatos. Recurso desprovido.

Acordo Origem: TRIBUNAL - TERCEIRA REGIO Classe: ACR - APELAO CRIMINAL 23119 Processo: 200461090043796 UF: SP rgo Julgador: QUINTA TURMA Data da deciso: 06/11/2006 Documento: TRF300109768 Fonte DJU DATA:05/12/2006 PGINA: 572 Relator(a) JUIZ ANDR NEKATSCHALOW Deciso unnime. Data Publicao 05/12/2006 Ementa PENAL. PROCESSUAL PENAL. ANTECIPAO DE TUTELA. SEQESTRO. PRAZO. REQUISITOS. ORIGEM LCITA DO NUMERRIO. SUBSTITUIO POR CARTA DE FIANA BANCRIA. 1. No havendo desdia do Ministrio Pblico Federal quanto propositura da ao penal, tendo esta sido efetivamente distribuda, incide o princpio da razoabilidade quanto ao cumprimento

15 do prazo indicado no art. 131, I, do Cdigo de Processo Penal. mngua de prejuzo decorrente de inexistente prolongamento da constrio judicial sem a correspondente instaurao da ao penal, de se rejeitar a alegada decadncia do seqestro. 2. No restou comprovada a alegao principal do apelante, quanto origem lcita do numerrio seqestrado em sua conta corrente, o qual consistiria em capital de giro de postos varejistas de combustveis. 3. O seqestro do proveito do delito de lavagem de capitais (Lei n. 9.613/98, art. 4) constitui eficiente meio de preveno e represso a esse crime, assegura os interesses da Unio e dos lesados quanto a eventual ressarcimento civil do dano (CPP, art. 133 e pargrafo nico) e evita que sejam utilizados para fins contrrios aos interesses da justia. 4. Fica prejudicado o pedido de antecipao de tutela recursal, de duvidosa pertinncia no processo penal, dado o julgamento do recurso, inclusive, no sentido do seu desprovimento. 5. Recurso desprovido. Pedido de antecipao de tutela recursal prejudicado. Acordo Origem: TRIBUNAL - QUARTA REGIO Classe: MS - MANDADO DE SEGURANA Processo: 200204010070123 UF: RS rgo Julgador: STIMA TURMA Data da deciso: 06/08/2002 Documento: TRF400084952 Fonte DJU DATA:21/08/2002 PGINA: 860 Relator(a) VLADIMIR PASSOS DE FREITAS Deciso unnime. Ementa: MANDADO DE SEGURANA. LEI 1.533/51, ART. 15. MEDIDA CAUTELAR DE SEQESTRO CRIMINAL. CD. PROCESSO PENAL, ARTIGOS 127 E 131. - O seqestro na esfera penal, como medida que venha a assegurar eventual indenizao s vtimas, deve ser concludo em 60 dias. Ainda que tolerado eventual excesso, por motivo justificado e flagrante interesse pblico, no possvel admitir-se que persista a medida preventiva por mais de trs anos sem que seja proposta a correspondente ao penal. Segurana concedida.

A segunda hiptese, tambm prevista no art. 131 do CPP, ocorre se o terceiro, a quem tiverem sido transferidos os bens, prestar cauo que assegure a aplicao do disposto no art. 74, II, b, segunda parte, do Cdigo Penal, leia-se, aqui, artigo 91, II, b, que substituiu o art. 74 da lei anterior. A terceira e ltima hiptese ocorre se for julgada extinta a punibilidade ou absolvido o ru, por sentena transitada em julgado. Vejamos deciso relativa extino da punibilidade em decorrncia do bito do acusado:

16 Acordo Origem: TRIBUNAL - QUARTA REGIO Classe: QUOACR - QUESTO DE ORDEM NA APELAO CRIMINAL Processo: 200371080068552 UF: RS rgo Julgador: OITAVA TURMA Data da deciso: 26/05/2004 Documento: TRF400096064 Fonte DJU DATA:09/06/2004 PGINA: 639 Relator(a) LUIZ FERNANDO WOWK PENTEADO Deciso unnime. Data Publicao 09/06/2004 Ementa QUESTO DE ORDEM. SEQESTRO DE BENS. PENA DE PERDIMENTO. REPARAO DO DANO. EFEITOS DA CONDENAO. BITO DE ACUSADO. EXTINO DA PUNIBILIDADE. DESONERAO DOS BENS. 1 - Se a medida cautelar de seqestro fundamenta-se no fato de que, em caso de eventual condenao, os bens objeto do crime sofreriam pena de perdimento em favor da Unio, bem como serviriam para o pagamento do prejuzo causado pelo delito praticado, a morte do acusado, que extingue a punibilidade, faz com que a constrio imposta perca efeito. 2 - A pena de perdimento e o dever de reparar o dano causado pelo delito decorrem da condenao, o que no se verificar em razo do falecimento do ru. 3 - Questo de ordem acolhida para liberar os bens seqestrados dos falecidos.

No se pode deixar de registrar, ainda, importante precedente do Superior Tribunal de Justia que garantiu a permanncia de medida assecuratria penal havendo a suspenso do curso de processo hiptese de suspenso e no de extino da punibilidade - em decorrncia de adeso do ru programa de recuperao de crdito (PAES), vejamos:Acordo Origem: STJ - SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIA Classe: RESP - RECURSO ESPECIAL - 733455 Processo: 200500396926 UF: RS rgo Julgador: QUINTA TURMA Data da deciso: 27/09/2005 Documento: STJ000649500 Fonte DJ DATA:07/11/2005 PGINA:370 RSTJ VOL.:00198 PGINA:549 Relator(a) ARNALDO ESTEVES LIMA Deciso unnime. Data Publicao 07/11/2005 Ementa PROCESSO PENAL. CRIME CONTRA A ORDEM TRIBUTRIA. HIPOTECA E SEQESTRO. INCLUSO NO PROGRAMA PAES. SUSPENSO DO CURSO DO PROCESSO. NO-OCORRNCIA DA EXTINO DA PUNIBILIDADE. LEGALIDADE DAS MEDIDAS INCIDENTES. RECURSO PROVIDO. 1. A mera suspenso do processo no constitui causa extintiva da punibilidade, somente ocorrendo esta com o pagamento integral do dbito tributrio. 2. O levantamento do seqestro e o cancelamento da hipoteca impem-se como efeitos acessrios da no-incriminao, seja pela absolvio ou pela extino da punibilidade, sendo que, inexistindo essas causas, no h bice para a decretao ou manuteno do seqestro e da hipoteca, que se orientam por regras e princpios prprios. 3. Recurso provido para reformar a deciso proferida pela Oitava Turma do Tribunal Regional Federal da 4 Regio e restabelecer as medidas incidentes impostas pelo Juzo de 1 grau.

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Ocorre que no esse o entendimento que tem prevalecido na Jurisprudncia, pelo menos no TRF 4 Regio, vejamos trs de suas decises sobre a matria:Acordo Origem: TRIBUNAL - QUARTA REGIO Classe: MS - MANDADO DE SEGURANA Processo: 200504010546672 UF: RS rgo Julgador: OITAVA TURMA Data da deciso: 01/02/2006 Documento: TRF400119501 Fonte DJU DATA:15/02/2006 PGINA: 630 Relator(a) SALISE MONTEIRO SANCHOTENE Deciso unnime. Data Publicao 15/02/2006 Ementa PROCESSO PENAL. CRIMES CONTRA A ORDEM TRIBUTRIA. PARCELAMENTO DO DBITO FISCAL. MEDIDAS ASSECURATRIAS. SEQESTRO. HIPOTECA LEGAL. ARRESTO. DESPROPORCIONALIDADE DA MEDIDA. 1. A decretao do seqestro (CPP, art. 125) e arresto (CPP, art. 137) do patrimnio do acusado, consistindo em medidas excepcionais, pautar-se-o com base no princpio da proporcionalidade, isto , em sua necessidade concreta para a garantia de eventual ressarcimento do dano ou pagamento da multa. 2. Encontrando-se suspensa ao penal em que se apura a prtica de crimes contra ordem tributria em virtude do parcelamento administrativo do dbito que embasa o libelo, a constrio dos bens de propriedade do denunciado apresenta-se ilegtima, sendo de rigor o levantamento da indisponibilizao. Acordo Origem: TRIBUNAL - QUARTA REGIO Classe: MS - MANDADO DE SEGURANA Processo: 200504010023596 UF: RS rgo Julgador: STIMA TURMA Data da deciso: 31/05/2005 Documento: TRF400107377 Fonte DJU DATA:15/06/2005 PGINA: 1039 Relator(a) TADAAQUI HIROSE Deciso unnime. Data Publicao 15/06/2005 Ementa PENAL. MANDADO DE SEGURANA. CRIME CONTRA A ORDEM TRIBUTRIA. ART. 1, INCISO I, DA LEI N 8.137/90. MEDIDAS ASSECURATRIAS. ESPECIALIZAO DA HIPOTECA LEGAL. SEQESTRO PRVIO (ARRESTO). CPP, ARTIGOS 134 E 137. PROCEDIMENTO FISCAL PENDENTE. IMPOSSIBILIDADE DE CARACTERIZAO DA FIGURA TPICA. CONSTRANGIMENTO ILEGAL. 1. O crime tipificado no inciso I do art. 1 da Lei n 8.137/90, material ou de resultado, carecendo, para sua consumao, de lanamento definitivo do crdito tributrio pelo Fisco (Precedentes do STF); 2. Em havendo impugnao ao Auto de Infrao, o lanamento no ocorre antes do trmino do processo fiscal. Por conseqncia, no h crdito tributrio, tampouco sonegao de tributos; 3. Inexiste interesse por parte do Ministrio Pblico em denunciar a prtica de sonegao fiscal antes do lanamento tributrio, visto que ainda no h dbito; 4. Caracteriza constrangimento ilegal o recebimento da denncia que descreve omisso fiscal quando o procedimento administrativo que discute o lanamento ainda est pendente, porquanto ausentes as condies necessrias tipicidade da conduta.

18 5. A hipoteca legal e o seqestro (arresto) so medidas assecuratrias impostas sobre quaisquer bens imveis e mveis do Ru, com a finalidade de garantir a reparao do dano causado pelo delito praticado (CPP, arts. 134 e 137); 6. Para a providncia acautelatria, que visa a reparao do dano causado e o pagamento das custas processuais, necessria a materialidade delitiva e os indcios da autoria. Acordo Origem: TRIBUNAL - QUARTA REGIO Classe: MS - MANDADO DE SEGURANA Processo: 200404010336820 UF: RS rgo Julgador: OITAVA TURMA Data da deciso: 03/11/2004 Documento: TRF400101568 Fonte DJU DATA:01/12/2004 PGINA: 700 Relator(a) PAULO AFONSO BRUM VAZ Deciso unnime. Data Publicao 01/12/2004 Ementa: MANDADO DE SEGURANA. PROCESSO PENAL. MEDIDA CAUTELAR. ARTS. 6 DO DECRETO-LEI N 3.240/41 E 131, III, DO CPP. ADESO AO PAES. SUSPENSO DA AO PENAL PRINCIPAL. INEXISTNCIA DE PROCESSO EM CURSO. LEVANTAMENTO DA MEDIDA CONSTRITIVA. - Os arts. 6 do Decreto-lei n 3.240/41 e 131, III, do CPP, vedam o levantamento da medida cautelar antes do trnsito em julgado da deciso proferida na ao principal em curso. Hiptese em que os denunciados aderiram aos PAES, estando suspensa a pretenso punitiva do Estado, no se justificando, pois, a manuteno da medida cautelar incidental sem que haja uma ao penal em andamento.

Transitada em julgado a sentena penal condenatria, sem ter sido o seqestro levantado, competir ao juiz que determinou a medida, qual seja, o prprio juiz criminal, de ofcio ou a requerimento do interessado, determinar a avaliao e a venda dos bens em leilo pblico (art. 133 do CPP). O pargrafo nico, do art. 133 do CPP reza ainda que Do dinheiro apurado, ser recolhido ao Tesouro Nacional o que no couber ao lesado ou a terceiro de boa-f. No existindo licitante, o bem ser adjudicado vtima. O depsito e a administrao dos bens seqestrados regulado de acordo com as regras do Cdigo de Processo Civil (arts. 148 a 150), que sero aplicadas subsidiariamente no processo penal. Por fim, traz-se colao precedente do STJ que, em face da preponderncia do interesse pblico sobre o privado, garantiu a manuteno do sigilo em medida cautelar de seqestro at a sua efetiva concretizao, vejamos:ORIGEM: 01.08.2005 SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIA. RECURSO EM MANDADO DE

SEGURANA N 18.673 - PR (2004/0103290-9) RELATOR : MINISTRO GILSON DIPP. DJ:

19 EMENTA: CRIMINAL. RMS. MEDIDA CAUTELAR DE SEQESTRO DE BENS CONDUZIDA SOB SIGILO. ACESSO IRRESTRITO DE ADVOGADO. NO CONFIGURAO DE DIREITO LQUIDO E CERTO. PREPONDERNCIA DO INTERESSE PBLICO SOBRE O PRIVADO. RECURSO DESPROVIDO. I. O direito do advogado de acesso aos autos no absoluto, pois em se tratando de processos guardados com segredo de justia, esse direito sofre restries, independentemente da existncia ou no de procurao. II. Hiptese em que foi decretada medida cautelar de seqestro de bens pertencentes aos acusados, incidental ao penal instaurada com vistas apurao da existncia de criminalidade organizada voltada prtica de evaso de divisas. III. Determinao de que a medida se desenvolvesse de forma sigilosa, tendo indeferido o pedido de vista dos autos formulado pelos ora recorrentes at a concretizao do seqestro e deciso judicial em contrrio. IV. No h ilegalidade na deciso que, considerando estar a medida cautelar de seqestro gravada de sigilo, negou, fundamentadamente, aos recorrentes, vista dos autos, especialmente porque buscava-se privilegiar a efetividade dos atos jurisdicionais, especialmente em se tratando de ao criminal que coloca em risco a segurana da sociedade e do Estado, na qual deve prevalecer a supremacia do interesse pblico sobre o interesse privado. V. Recurso desprovido.

DA HIPOTECA LEGAL (ART. 134 E 135 DO CPP)

Eugnio Pacelli8 aponta alguns traos distintivos entre a hipoteca legal e o seqestro:Ao contrrio do seqestro, que incide diretamente sobre o bem litigioso, e no qual a litigiosidade revelada pela possibilidade de ter sido ele adquirido com proventos da infrao, a hipoteca legal sobre imveis do acusado independe da origem ou da fonte de aquisio da propriedade. Trata-se de medida cujo nico objetivo garantir a solvabilidade do credor, na liquidao de obrigao ou responsabilidade civil decorrente de infrao penal. (...) Observe-se que para a decretao do seqestro a exigncia era de indcios veementes da provenincia ilcita do bem, sem a necessidade da mesma constatao em relao autoria. A razo de semelhante distino muito simples: enquanto o seqestro dirige-se coisa litigiosa, que poder pertencer at mesmo a terceiros, estranhos ao crime, a hipoteca tem como alvo unicamente o patrimnio do suposto autor do fato criminoso, em ateno sua responsabilidade civil. E por isso poder recair sobre

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20 quaisquer imveis, desde que suficientes para garantir a futura recomposio patrimonial dos danos, bem com o pagamento das custas e despesas processuais.

possvel, pois, serem especializados bens imveis do imputado, adquiridos antes do cometimento do crime, sendo irrelevante provar que o ru est dilapidando o seu patrimnio ou demonstrar a relao do bem com a prtica delituosa. Neste sentido, transcreve-se as decises a seguir ementadas:Acordo Origem: TRIBUNAL - QUARTA REGIO Classe: ACR - APELAO CRIMINAL Processo: 200470000335728 UF: PR rgo Julgador: OITAVA TURMA Data da deciso: 16/08/2006 Documento: TRF400131983 Fonte DJU DATA:30/08/2006 PGINA: 790 Relator(a) LCIO PINHEIRO DE CASTRO Deciso unnime. Data Publicao 30/08/2006 Ementa PROCESSO PENAL. SEQESTRO E HIPOTECA LEGAL. ARTIGOS 134 E 136 DO CPP. MINISTRIO PBLICO. LEGITIMIDADE. REQUISITOS. COMPETNCIA. BENS DE PESSOA JURDICA. CAPITAL SOCIAL INTEGRALIZADO POR IMVEIS DE CO-RU. INDCIOS DE MANOBRAS FRAUDULENTAS. MEAO. 1. Nos termos do artigo 142 do Cdigo de Processo Penal, o Ministrio Pblico tem legitimidade para requerer o seqestro e posterior hipoteca legal de imveis, havendo interesse da Fazenda Pblica. 2. Compete ao Juiz Criminal decretar as medidas constritivas, conforme expressa disposio legal (artigos 125 e seguintes do CPP). 3. As providncias assecuratrias insculpidas nos artigos 134 e 136 do Estatuto Penal Adjetivo pressupem apenas a certeza da infrao e os indcios suficientes da autoria, sendo irrelevante se o bem foi comprado com recursos do ilcito. 4.Mostra-se regular a constrio de bens da empresa, quando figuram em seu quadro societrio to-s gestor condenado por crimes contra sistema financeiro, sua esposa e filhas, e houve aumento do capital social, com a integralizao apenas de imveis pertencentes ao ru, poca em que teve incio a persecutio criminis, por meio da abertura de diversos inquritos policiais. 5. A autonomia patrimonial da pessoa jurdica no pode ser utilizada com o fim de proteger os bens particulares de quem pratica ilicitudes, porquanto os institutos de direito privado no existem para obstar as conseqncias legais de atividades criminosas. 6. Mesmo carecendo a recorrente de legitimatio ad causam para argir ofensa meao de terceiros, insta registrar que essa tese somente poder ser alegada no caso de transitar em julgado eventual decreto condenatrio, quando os bens podero ser alienados em hasta pblica, pois medidas assecuratrias no tm o condo de transferir a propriedade. Acordo Origem: TRIBUNAL - QUARTA REGIO Classe: ACR - APELAO CRIMINAL Processo: 200470000152488 UF: PR rgo Julgador: STIMA TURMA Data da deciso: 30/05/2006 Documento: TRF400126540 Fonte DJU DATA: 14/06/2006 PGINA: 587 CORDEIRO 14/06/2006 Deciso Relator(a) NFI APRESENTADO EM MESA. A TURMA unnime. Data Publicao

21 Ementa PENAL E PROCESSO PENAL. CRIME CONTRA O SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL. EMBARGOS DE TERCEIRO. MEDIDAS ASSECURATRIAS. MINISTRIO PBLICO. LEGITIMIDADE. HIPOTECA LEGAL E ARRESTO PROVISRIO. PENHORABILIDADE. BEM DE FAMLIA. EXCEO. MEAO. PERICULUM IN MORA. PRESUNO LEGAL. 1. Nos termos do artigo 142 do CPP, em havendo interesse da Fazenda Pblica o Ministrio Pblico tem legitimidade para requerer medida cautelar de arresto provisrio e posterior hipoteca legal, bem como o arresto de bens mveis. 2. Para a providncia acautelatria, que visa reparao do dano causado e ao pagamento de multa e custas, exige-se prova da materialidade do fato criminoso e indcios suficientes da autoria, sendo desnecessria prova de que esteja o ru dilapidando seu patrimnio. 3. O arresto (constrio sobre bens mveis do patrimnio do ru) ou a hipoteca legal (constrio sobre bens imveis do patrimnio do ru) no podem atingir bens impenhorveis. 4. A proteo legal ao bem de famlia, da Lei n 8.009/90, tem expressamente excepcionadas hipteses em que pode ser tal bem atingido pela constrio, entre elas a reparao por sentena criminal condenatria, pelo grave dano social causado pela infrao penal. 5. Constitucional a exceo do art. 3, VI, da Lei n 8.009/90, pois se analogamente decidiu o Supremo Tribunal Federal ser constitucional restringir o direito de moradia em face da proteo fiana - RE 407688 - ainda mais razovel a proteo pelo dano criminal. 6. do credor o nus de demonstrar que a esposa aproveitou-se do resultado da infrao penal afastando dela a prova negativa que se daria com a inverso do nus probatrio - e os efeitos da meao somente se daro em fase de eventual alienao dos bens indivisveis, mas desde logo deve ficar assegurado expressamente esse direito. 7. O periculum in mora nas cautelares penais se d por presuno legal absoluta, no se admitindo prova de que na espcie inexiste o risco de desfazimento do patrimnio do ru.

Pode-se dizer que a hipoteca legal direito real de garantia em virtude do qual um bem imvel, que continua em poder do devedor, assegura ao credor o pagamento da dvida. Quanto ao momento para interposio da medida, dispe o artigo 134 do CPP que ela poder ser oferecida em qualquer fase do processo, o que vem acarretando controvrsias, j que h os que entendem possvel a especializao da hipoteca antes do incio da ao penal, ou seja, na fase do inqurito, e os que entendem em sentido contrrio. So dois os pressupostos necessrios para a especializao da hipoteca legal: a prova inequvoca da materialidade e indcios suficientes de autoria. Vejamos a deciso do STF a seguir ementada:

22 ORIGEM: SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. AG.REG.NA AO CAUTELAR 1.189-2 DISTRITO FEDERAL RELATOR: MIN. JOAQUIM BARBOSA AGRAVADO(A/S): MINISTRIO PBLICO FEDERAL DJ: 02.02.2007 EMENTA: AGRAVO REGIMENTAL. SEQESTRO E ARRESTO DOS BENS DOS INDICIADOS PARA POSTERIOR INSCRIO DE HIPOTECA LEGAL. PRESENA DOS REQUISITOS NECESSRIOS CONCESSO DE MEDIDAS CAUTELARES. GARANTIA DE RESSARCIMENTO DO ERRIO. DECISO MANTIDA. AGRAVO DESPROVIDO. Agravo regimental interposto contra deciso que determinou o seqestro de bens mveis e o arresto de bens imveis dos agravantes. A deciso agravada encontra-se suficientemente fundamentada, existindo nos autos numerosos indcios aptos a demonstrar a presena dos pressupostos necessrios concesso de medidas cautelares. A reduzida participao do agravante no capital da NOV Patrimonial Ltda. no desautoriza o acautelamento dos bens pertencentes empresa, ante os indcios de confuso patrimonial existentes. No h prova nos autos de que os valores apurados unilateralmente e recolhidos aos cofres pblicos pelo agravante sejam suficientes ao ressarcimento do Errio em caso de condenao. A mera circunstncia de a Receita Federal no ter ajuizado ao prpria contra os agravantes, bem como a inexistncia de ao penal ou civil em que se lhes impute o cometimento de fraudes ou o desvio de recursos pblicos, no os exime das medidas cautelares justificadas luz dos indcios de prtica criminosa apresentados pela Procuradoria-Geral da Repblica. Agravo regimental desprovido.

Na hiptese de ser proposta a ao civil ex delicto poder o interessado requerer a especializao da hipoteca legal no juzo cvel competente para decidir a medida. No obstante, tratando-se, aqui, de medida assecuratria penal, a competncia ser do juzo competente para processar a ao penal. Dispe o artigo 140 do CPP que a garantia proveniente da especializao da hipoteca legal abrange, alm do ressarcimento do dano, as despesas processuais e as penas pecunirias caso aplicadas, tendo o ressarcimento ex delicto preferncia em relao s despesas processuais e penas pecunirias, isto , indeniza-se o ofendido em primeiro lugar, e o que sobrar o Estado recolhe. Podero requerer a especializao da hipoteca legal: o ofendido, seu representante legal ou seus herdeiros (art. 842, I e 827, VI do CCB), bem como pelo Ministrio Pblico, quando o ofendido for pobre e a ele requeira, ou se houver interesse da fazenda pblica (municipal, estadual ou federal), nesta ltima hiptese, a prpria pessoa jurdica de direito pblico tambm poder formular o pedido.

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No que tange previso, contida no art. 142 do CPP, de que o MP pode requerer a especializao da hipoteca legal quando a vtima for pobre e a ele requerer, entendemos que tal regra tem constitucionalidade duvidosa, haja vista que o direito indenizao individual disponvel, bem como a defesa dos necessitados, atualmente, atribuio da Defensoria Pblica. Com efeito, em relao dispositivo anlogo, seja ele o art. 68 do CPP, o STF vem decidindo por sua inconstitucionalidade progressiva, ou seja, na medida em que a Defensoria Pblica for estruturada nos Estados, a regra passaria a ser inconstitucional. Tratando da questo, discorre Tourinho9:Onde houver Defensor Pblico, a legitimidade para as atividades de que cuidam essas disposies da sua exclusividade. Onde no houver, ela se desloca para o Ministrio Pblico.

De acordo com o art. 134 do CPP, a medida pressupe a certeza da infrao e indcios suficientes da autoria. Registre-se, contudo, que tais pressupostos tambm so necessrios para o recebimento da Denncia, motivo pelo qual alguns doutrinadores defendem que a especializao da hipoteca legal poder ser deferida ainda na fase policial da persecutio criminis. Melhor explicando, recebida a Denncia os pressupostos da medida em comento j estariam presentes, quais sejam, a prova do crime e indcios suficientes de sua autoria, logo, como certo que no se encontram na lei palavras inteis, caso a especializao da hipoteca legal fosse apenas possvel depois de iniciada a ao penal, no seria necessria a incluso de tais requisitos no art. 134 do CPP. O procedimento para especializao da hipoteca legal definido no art. 135 do CPP. O requerimento dever ser instrudo com as provas ou indicao das provas em que se fundar a estimao da responsabilidade, com a relao dos imveis que o responsvel possuir, se outros tiver, alm dos indicados no requerimento, e com os documentos que comprobatrios do domnio. Recebido o requerimento, o juiz mandar proceder o arbitramento do valor da responsabilidade e avaliao do imvel, podendo corrigir o arbitramento do valor da responsabilidade, se lhe parecer excessivo ou deficiente. Transitada em julgado a sentena penal condenatria, e no havendo discordncia a respeito do arbitramento, os autos devero ser remetidos ao juzo cvel, onde devero ser executados (art. 63 c/c art. 143, ambos do CPP). O art. 136 do CPP, com intuito de oferecer maiores garantias, permite aos legitimados postulao da especializao da hipoteca legal outra medida preventiva, j que o processo de especializao e registro pode ser muito demorado. Assim, os legitimados podero requerer o arresto dos bens sobre os quais se pretenda recair9

In Processo Penal, Vol. 3, Editora Saraiva, 2005, p. 39.

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a hipoteca, at que tal medida seja efetivamente concretizada. Uma vez deferido o arresto e efetivada sua diligncia dever o requerente promover o registro e especializao da hipoteca legal no prazo de 15 dias, sob pena de revogao da medida preliminar. Caso os bens do responsvel sejam insuficientes para garantir o valor total arbitrado, o juiz ainda assim poder conceder a medida garantindo pelo menos parte do valor da indenizao. Cumpre registrar, que a inscrio (registro) da hipoteca legal requisito indispensvel para a medida valer contra terceiros. Nos termos do art. 141 do CPP, a hipoteca legal ser cancelada se por sentena irrecorrvel o ru for absolvido ou for julgada extinta a sua punibilidade. Da deciso que determina ou indefere a inscrio e especializao da hipoteca legal cabe recurso de apelao, sendo apenas legitimados para sua interposio as partes, no podendo terceiro prejudicado faz-lo.

DO ARRESTO DE MVEIS (art. 137 do CPP)

Como no se permite a hipoteca de bens mveis (salvo, excepcionalmente, sobre navios e aeronaves), o legislador, no art. 137 do CPP, redao dada pela Lei n. 11.435/2006, autorizou aos legitimados para requerer a hipoteca legal, quando inexistentes bens imveis em nome do acusado ou do responsvel civil, e caso existentes, insuficientes para garantir o valor estipulado para a reparao do dano, despesas processuais e penas pecunirias, a requerer o arresto de mveis. Deve-se observar a restrio legal para que esse tipo de medida recaia, to somente, sobre bens que sejam suscetveis de penhora, quais sejam, os no arrolados no artigo 649 do Cdigo de Processo Civil, com redao dada pela Lei. 11.382/2006. Observao importante diz respeito ao fato de que nossos Tribunais, analisando casos de bens de famlia, vm decidindo pela constitucionalidade da exceo prevista no art. 3, VI, da Lei n. 8.009/90 (dispe sobre a impenhorabilidade do bem de famlia), de penhorabilidade dos bens adquiridos com produto do crime ou para execuo de sentena penal condenatria a ressarcimento, indenizao ou perdimentos de bens. Neste sentido, vejamos a deciso a seguir:

25 Acordo Origem: TRIBUNAL - QUARTA REGIO Classe: ACR - APELAO CRIMINAL Processo: 200470000152488 UF: PR rgo Julgador: STIMA TURMA Data da deciso: 30/05/2006 Documento: TRF400126540 Fonte DJU DATA:14/06/2006 PGINA: 587 CORDEIRO Deciso unnime. Data Publicao 14/06/2006 Ementa: PENAL E PROCESSO PENAL. CRIME CONTRA O SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL. EMBARGOS DE TERCEIRO. MEDIDAS ASSECURATRIAS. MINISTRIO PBLICO. LEGITIMIDADE. HIPOTECA LEGAL E ARRESTO PROVISRIO. PENHORABILIDADE. BEM DE FAMLIA. EXCEO. MEAO. PERICULUM IN MORA. PRESUNO LEGAL. 1. Nos termos do artigo 142 do CPP, em havendo interesse da Fazenda Pblica o Ministrio Pblico tem legitimidade para requerer medida cautelar de arresto provisrio e posterior hipoteca legal, bem como o arresto de bens mveis. 2. Para a providncia acautelatria, que visa reparao do dano causado e ao pagamento de multa e custas, exige-se prova da materialidade do fato criminoso e indcios suficientes da autoria, sendo desnecessria prova de que esteja o ru dilapidando seu patrimnio. 3. O arresto (constrio sobre bens mveis do patrimnio do ru) ou a hipoteca legal (constrio sobre bens imveis do patrimnio do ru) no podem atingir bens impenhorveis. 4. A proteo legal ao bem de famlia, da Lei n 8.009/90, tem expressamente excepcionadas hipteses em que pode ser tal bem atingido pela constrio, entre elas a reparao por sentena criminal condenatria, pelo grave dano social causado pela infrao penal. 5. Constitucional a exceo do art. 3, VI, da Lei n 8.009/90, pois se analogamente decidiu o Supremo Tribunal Federal ser constitucional restringir o direito de moradia em face da proteo fiana - RE 407688 - ainda mais razovel a proteo pelo dano criminal. 6. do credor o nus de demonstrar que a esposa aproveitou-se do resultado da infrao penal afastando dela a prova negativa que se daria com a inverso do nus probatrio - e os efeitos da meao somente se daro em fase de eventual alienao dos bens indivisveis, mas desde logo deve ficar assegurado expressamente esse direito. 7. O periculum in mora nas cautelares penais se d por presuno legal absoluta, no se admitindo prova de que na espcie inexiste o risco de desfazimento do patrimnio do ru. Relator(a) NFI

H deciso, todavia, entendendo que a exceo prevista no art. 3, VI, da Lei n. 8.0009/90, no incide quando se tratar de pena de multa aplicada. Vejamos:Acordo Origem: TRIBUNAL - QUARTA REGIO Classe: ACR - APELAO CRIMINAL Processo: 200370000472466 UF: PR rgo Julgador: STIMA TURMA Data da deciso: 12/09/2006 Documento: TRF400133395 Fonte DJU DATA:04/10/2006 PGINA: 1063 Relator(a) MARIA DE FTIMA FREITAS LABARRRE Deciso POR MAIORIA. Data Publicao 04/10/2006 Ementa PENAL. APELAO CRIMINAL. CRIMES CONTRA O SISTEMA FINANCEIRO. LEI N 7.492/86. MEDIDAS ASSECURATRIAS. SEQESTRO DE BENS. HIPOTECA. ARTS. 134, 135

26 E 136 DO CPP. LEGITIMIDADE DO MINISTRIO PBLICO. ORIGEM DOS BENS. BEM DE FAMLIA. LEI N 8.009, ART. 3, IV. ESTIMATIVA SOMENTE DA PENA DE MULTA. IMPOSSIBILIDADE DA CONSTRIO. 1. permitida a concesso de medida cautelar de seqestro (arresto) de bens mveis e imveis ante possvel demora no procedimento de inscrio da hipoteca legal. 2. A hipoteca legal e o seqestro (arresto) so medidas assecuratrias, de carter provisrio, impostas sobre quaisquer bens imveis e mveis do Ru com a finalidade de garantir, at o trnsito em julgado de eventual condenao, a reparao do dano causado pelo delito praticado (CPP, arts. 134 e 137), enquanto o seqestro em sentido estrito (art. 125, CPP) adotado com o fim de reter os bens adquiridos com os proventos da infrao perpetrada. 3. Nos termos do art. 142 do CPP, o Ministrio Pblico est legitimado para requerer o seqestro e a posterior hipoteca legal; 4. Para as providncias acautelatrias basta a materialidade delitiva e os indcios da autoria, os mesmos requisitos para o recebimento da denncia. 5. O Lei n 8.009/90 contempla a impenhorabilidade dos bens de famlia, e em seu art. 3 determina as excees. O inc. IV possibilita a constrio de bem de famlia para garantir a execuo de eventual sentena condenatria a perdimento de bens, ressarcimento e indenizao. A pena de multa no abrangida pela exceo legal. 6. vedada a constrio de bem de famlia quando o Ministrio Pblico, ao fundamentar o pedido, discrimina apenas a estimativa da pena de multa abstratamente cominada ao delito, apesar de a ela se referir expressa e erroneamente como "estimativa do dano". Para a manuteno da medida constritiva deve ser pormenorizada a estimativa de dano decorrente de sentena condenatria no que se refere a eventual ressarcimento ou indenizao. 7. Deve ser reconhecido como bem de famlia o nico imvel registrado em nome do Ru, considerando-se as informaes da Declarao de Ajuste Anual do IRPF. Tal reforado quando, no decorrer da ao, o imvel indicado como sua residncia, sendo que l recebeu as intimaes efetivadas. A contraprova constitui encargo do Ministrio Pblico.

Os bens arrestados, nos moldes do art. 139 do CPP, ficaro sujeitos ao regime do processo civil, sendo entregues a terceiro estranho lide, o qual ser responsvel pelo seu depsito e administrao. Nos termos do art. 137 do CPP, se os bens mveis arrestados forem fungveis e facilmente deteriorveis, devero ser avaliados e levados leilo pblico, devendo o dinheiro apurado ser depositado em uma conta corrente ou entregue ao terceiro que os detinha se for pessoa idnea, o qual assinar termo de responsabilidade (art. 137, 1 c/c art. 120, 5 do CPP). Vejamos a deciso a seguir ementada:Acordo Origem: TRIBUNAL - QUARTA REGIO Classe: MS - MANDADO DE SEGURANA Processo: 200604000131479 UF: RS rgo Julgador: OITAVA TURMA Data da deciso: 26/07/2006

27 Documento: TRF400128911 Fonte DJU DATA:02/08/2006 PGINA: 633 Relator(a) PAULO AFONSO BRUM VAZ Deciso unnime. Data Publicao 02/08/2006 Ementa PROCESSO PENAL. MANDADO DE SEGURANA. MEDIDAS ASSECURATRIAS. CONDENAO. PRESCINDIBILIDADE PARA A DECRETAO DO SEQESTRO PATRIMONIAL. CONSTRIO DE BENS DE PROCEDNCIA LCITA. POSSIBILIDADE. RISCO DE SUCATEAMENTO. ALIENAO ANTECIPADA. LEGITIMIDADE. 1. Para a validade da decretao das medidas assecuratrias previstas no CPP, apresenta-se despicienda, em razo do carter provisrio de tais providncias cautelares, a exigncia de condenao, bastando, alm da certeza da infrao e da presena de fortes indcios de autoria, a necessidade da constrio para assegurar a coleta de elementos de prova que interessem ao processo ou, ento, para garantir a eficcia de futuro e eventual decreto condenatrio (seja quanto reparao do dano decorrente da infrao penal ou quanto ao pagamento de despesas processuais ou penas pecunirias). 2. No necessrio que o arresto decretado para assegurar a satisfao de casuais reprimendas pecunirias que venham a ser infligidas pela sentena ao denunciado incida exatamente sobre o patrimnio por ele adquirido com o produto do crime, bastando que recaia sobre bens sujeitos responsabilidade patrimonial, ainda que conquistados de forma lcita. 3. A alienao antecipada de bem constrito judicialmente em processo penal, j perdurando a medida por prolongado perodo de tempo, legitima-se com a finalidade de preservao do valor patrimonial da res . Uma vez alienado o patrimnio em hasta pblica, todavia, o valor auferido com a venda dever reverter para uma conta-corrente disposio do Juzo, aguardando-se o desfecho da ao penal para a destinao da importncia.

Na hiptese dos bens mveis arrestados gerarem rendas, caber ao juiz arbitrar um valor proveniente de tais rendimentos, com o objetivo de prover manuteno do acusado e de sua famlia.

DA MEDIDA PREVISTA NO DECRETO-LEI N. 3.240/41:

Institudo com a finalidade especfica de regular o seqestro de bens de pessoas indiciadas por crimes dos quais resulte prejuzo para a Fazenda Pblica, o Decreto-Lei n. 3.240/41, ainda vigor, conforme entendimento jurisprudencial dominante a respeito, norma especial, a qual, uma vez configurada a hiptese de delito do que resulte prejuzo ao Errio, prevalecer sobre as normas gerais previstas no Cdigo de Processo Penal que disciplinam o seqestro de bens como medida assecuratria para os crimes em geral. Sobre a vigncia e aplicabilidade do referido texto normativo, o STJ, reiteradamente, vem decidindo:

28 Acordo Origem: STJ - SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIA Classe RESP - RECURSO ESPECIAL N 149.516 - SC (1997/0067222-0) RELATOR: MINISTRO GILSON DIPP Data da publicao: 17.06.2002. EMENTA PENAL. RESP. SEQESTRO DE BENS. DELITO QUE RESULTA PREJUZO FAZENDA PBLICA. DISSDIO JURISPRUDENCIAL NO DEMONSTRADO. AFRONTA AO ART. 1 DO DECRETO-LEI 4.240/41. CONFIGURAO. INAPLICABILIDADE DO ART. 125 DO CPP ESPCIE. TIPOS QUE REGULAM ASSUNTOS DIVERSOS E TM EXISTNCIA COMPATVEL. IMPROPRIEDADE DA ARGUMENTAO ACERCA DO MOMENTO EM QUE OS BENS SEQESTRADOS FORAM ADQUIRIDOS. RECURSO CONHECIDO PELA ALNEA "A" E PROVIDO. I. Impe-se, para demonstrao da divergncia jurisprudencial a comprovao da divergncia e a realizao do confronto analtico entre julgados, de modo a evidenciar sua identidade ou semelhana, a teor do que determina o art. 255, 1 e 2 do RISTJ. II. No sobressai ilegalidade na deciso monocrtica que, calcada na norma que visa ao seqestro dos bens o quanto bastem para a satisfao de dbito oriundo de crime contra a Fazenda Pblica, determina o seqestro de todos os bens dos indiciados. III. O art. 1 do Decreto-Lei n 4.240/41. por ser norma especial, prevalece sobre o art. 125 do CPP e no foi por este revogado eis que a legislao especial no versa sobre a mera apreenso do produto do crime, mas, sim. configura especfico meio acautelatrio de ressarcimento da Fazenda Pblica, de crimes contra ela praticados. Os tipos penais em questo regulam assuntos diversos e tm existncia compatvel. IV. No h que se argumentar sobre o momento em que os bens submetidos a seqestro foram adquiridos, pois o dispositivo do r. Decreto-Lei visa a alcanar tantos bens quanto bastem satisfao do dbitos decorrente do delito contra a Fazenda Pblica. V. Evidenciada a apontada afronta legislao infraconstitucional, deve ser cassado o acrdo recorrido, a fim de ser restabelecida a deciso monocrtica que determinou o seqestro de todos os bens dos ora recorridos, por seus judiciosos termos. VI .Recurso conhecido pela alnea a e provido, nos termos do voto do relator. Acordo Origem: STJ - SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIA Classe RESP - RECURSO ESPECIAL N 132.539-SC (REG N. 97/0034758-3). RELATOR: WILLIAM PATTERSON. Data da publicao: 09.02.1998. EMENTA: PENAL. SEQESTRO DE BENS. CRIME DE SONEGAO FISCAL. DECRETO-LEI N 3.240, DE 1941. APLICAO. A teor da orientao j firmada na Sexta Turma do STJ, no est revogado, pelo Cdigo de Processo penal, o Decreto-lei n. 3.240, de 1941, no ponto em que disciplina o seqestro de bens de pessoa indiciada por crime de que resulta prejuzo para a fazenda pblica. Recurso especial conhecido e provido.

29 Acordo Origem: STJ - SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIA Classe: ROMS - RECURSO ORDINARIO EM MANDADO DE SEGURANA - 4161 Processo: 199400069162 UF: PB rgo Julgador: SEXTA TURMA Data da deciso: 20/09/1994 Documento: STJ000125688 Fonte DJ DATA:05/08/1996 PGINA:26416 Relator(a) PEDRO ACIOLI Deciso POR MAIORIA. Data Publicao 05/08/1996 Ementa ADMINISTRATIVO. MANDADO DE SEGURANA. SEQUESTRO DE BENS EM FAVOR DA FAZENDA PUBLICA E PERDA DO PRODUTO DO CRIME. CATEGORIAS LEGAIS DIVERSAS. CONVIVENCIA DO DECRETO-LEI N. 3.240/41 COM O CODIGO PENAL. APLICAO DO PARAGRAFO 1. DO ART. 2. DA LICC. RECURSO CONHECIDO E IMPROVIDO.

Entre as particularidades da medida prevista no Decreto-Lei n. 3.240/41 pode-se citar o fato de no exigir que os bens do indiciado ou acusado, objeto da medida, sejam decorrentes da prtica delituosa, sendo, por isso, irrelevante a origem dos bens que sofrero a constrio. Com efeito, no importa se tais bens foram adquiridos antes ou depois da prtica criminosa; se so, ou no, produto do crime, bem como se foram, ou no, adquiridos com proventos da infrao, e ainda, se so bens mveis ou imveis. Aqui, verifica-se uma impropriedade da denominao utilizada pelo referido Decreto-Lei ao falar em seqestro, uma vez que este pressupe que os bens sejam produto do crime ou adquiridos com o produto do crime (proveito do crime) e, no caso da medida ora comentada, o bem no precisa ter nenhuma relao com o fato criminoso. Outrossim, por destinar-se proteo dos interesses da fazenda pblica, o art. 4 do mencionado Decreto-Lei prev que a medida poder recair sobre todos os bens do indiciado, e compreender os bens em poder de terceiros desde que estes os tenham adquirido dolosamente, ou com culpa grave, alcanando, assim, tantos bens quantos forem necessrios ao ressarcimento do prejuzo sofrido pelo Errio. Vejamos os seguintes precedentes:Acordo Origem: TRIBUNAL - QUARTA REGIO Classe: ACR - APELAO CRIMINAL Processo: 200071000295302 UF: RS rgo Julgador: TURMA ESPECIAL Data da deciso: 17/07/2002 Documento: TRF400084836 Fonte DJU DATA:31/07/2002 Relator(a) AMIR SARTI Deciso unnime Data Publicao 31/07/2002

30 Ementa INCIDENTE DE RESTITUIO DE COISAS APREENDIDAS. PEDIDO DE DEVOLUO DE TALONRIOS. LIBERAO DE VALORES E VISTA DOS TERMOS CIRCUNSTANCIADOS. MANDADO DE BUSCA E APREENSO. ARTS. 1 E 4, DO DECRETO-LEI N 3.240/41. SEQESTRO. RESSARCIMENTO DE DANOS. ARTS. 125 E 131, DO CPP. ART. 119, DO CP. - Nos termos da jurisprudncia do STJ, no est revogado pelo CP o Decreto-lei n 3.240/41, que disciplina a possibilidade de seqestro de bens de pessoa indiciada por crime que resulta em prejuzo Fazenda Pblica. possvel o seqestro de todos os bens do indiciado, incluindo aqueles em poder de terceiros, desde que doados aps a prtica do crime (arts. 1 e 4). - O seqestro visa o ressarcimento dos danos causados pelos crimes imputados aos titulares da empresa. Nos termos do art. 125, do CPP, a medida assecuratria no pena e pode alcanar quaisquer bens adquiridos com os proventos da infrao ainda que j tenham sido transferidos a terceiros. - No h falar em ofensa aos princpios da razoabilidade e da proporcionalidade. O seqestro s pode ser levantado quando tenha perdido a sua eficcia (art. 131, do CPP). As coisas passveis de perdimento no podero ser restitudas, mesmo depois de transitar em julgado a sentena final (art. 119, do CP). - Quanto aos talonrios de notas fiscais, ausente demonstrao objetiva no sentido de que esses documentos no conservam nenhuma possvel relevncia processual, aplica-se a regra do art. 118, do CP. Acordo Origem: TRIBUNAL - QUARTA REGIO Classe: ACR - APELAO CRIMINAL Processo: 199804010536568 UF: PR rgo Julgador: OITAVA TURMA Data da deciso: 12/11/2001 Documento: TRF400082647 Fonte DJU DATA:16/01/2002 Relator(a) AMIR SARTI Deciso unnime Data Publicao 16/01/2002 Ementa PROCESSO PENAL - DECISES INTERLOCUTRIAS - RECURSO CABVEL PRINCPIO DA FUNGIBILIDADE - CRIME - SEQESTRO DE BENS - PREJUZO PARA A FAZENDA PBLICA - POSSIBILIDADE - OFENSA COISA JULGADA - INEXISTNCIA. Embora no processo penal, o recurso cabvel contra as decises interlocutrias , por analogia com o processo civil, o agravo de instrumento, tornando-se invivel a aplicao do princpio da fungibilidade para aproveitar recurso diverso daquele, em face da manifesta impropriedade da via escolhida, essa soluo radical no a que melhor atende ao carter instrumental do processo - at pela novidade da alternativa recomendada. O STJ considera estar em pleno vigor o Decreto-lei n 3.240/41, no ponto em que disciplina o seqestro de bens de pessoa indiciada por crime de que resulta prejuzo para a Fazenda Pblica, podendo, o seqestro, recair sobre todos os bens, inclusive os que estejam em poder de terceiros, mesmo que doados aps a prtica do crime, sem nenhuma ressalva ou restrio, bastando que o indiciado tenha auferido locupletamento ilcito.

31 No h falar em ofensa coisa julgada pois o acrdo da antiga 2 Turma deste Tribunal, decidiu sobre o seqestro decretado com base nos artigos 125 e seguintes do CPP, hiptese diversa do presente.

Outra peculiaridade da medida em anlise a possibilidade de ser deferida sem audincia da parte contrria, o que , expressamente, autorizado pelo art. 2 do referido texto normativo. Uma vez presentes indcios veementes da responsabilidade do indiciado no h impedimento para a decretao do seqestro de tantos bens quantos forem necessrios a assegurar o ressarcimento dos prejuzos sofridos pelo Errio (art. 3 do Decreto-lei n. 3.240/41). Vejamos as seguintes decises:Acordo Origem: TRIBUNAL - QUARTA REGIO Classe: MS - MANDADO DE SEGURANA Processo: 200604000341747 UF: PR rgo Julgador: STIMA TURMA Data da deciso: 18/12/2006 Documento: TRF400139199 Fonte DATA:17/01/2007 Relator(a) NFI CORDEIRO Deciso A TURMA, POR UNANIMIDADE, DECIDIU DENEGAR A SEGURANA E JULGAR PREJUDICADO O AGRAVO REGIMENTAL. Data Publicao 17/01/2007 Ementa MANDADO DE SEGURANA. CRIME CONTRA A ORDEM TRIBUTRIA, QUADRILHA, FALSIDADES IDEOLGICA E DOCUMENTAL E USO DE DOCUMENTO FALSO. SEQESTRO AMPARADO NO DECRETO-LEI N 3.240/41. APLICAO. CONEXO ENTRE DELITOS AFETOS JUSTIA FEDERAL E CRIME DE COMPETNCIA DA JUSTIA ESTADUAL. COMPETNCIA DA JUSTIA FEDERAL. LEGITIMIDADE DO MINISTRIO PBLICO FEDERAL. REQUISITOS PARA A DECRETAO DO SEQESTRO DEMONSTRADOS. ABRANGNCIA DA MEDIDA ACAUTELATRIA. 1. Na esteira da jurisprudncia do E. STJ, o seqestro de bens com fulcro no Decreto-Lei n 3.240/41 no foi revogado pelo Estatuto Processual Penal, tendo sido recepcionado pela Constituio Federal de1988 e permanece em vigor at os dias de hoje. 2. Utilizados documentos material e ideologicamente falsificados perante o Poder Judicirio Federal e a Secretaria da Receita Federal, a Justia Federal competente para o processo e julgamento do conexo crime de sonegao fiscal que, isoladamente, seria de competncia da Justia Estadual (Smula 122 do E. STJ). 3. Havendo representao da autoridade fazendria ao Ministrio Pblico Federal, este torna-se parte legtima para a propositura da medida constritiva prevista no Decreto-Lei n 3.240/41. 4. Fixada a competncia da Justia Federal para o processo e julgamento da ao penal deflagrada em desfavor do impetrante, por conseguinte tem-se tambm por atrada a competncia dessa jurisdio para o processo e julgamento da respectiva medida cautelar penal, com atuao do Parquet federal, ainda que na defesa do ressarcimento de dano sofrido por fazeda estadual. 5. Apontada na deciso atacada a participao e responsabilidade do impetrante nos delitos investigados, inclusive, como um dos lderes das atividades criminosas empreendidas por meio de

32 empresa de "fachada", tem-se como demonstrados os indcios veementes da responsabilidade, condio exigida para a decretao do seqestro em tela. 6. Demonstrada, ainda, a existncia de representao da autoridade fazendria ao Ministrio Pblico Federal, a ocorrncia de prejuzo Fazenda Pblica provocado por crimes e o locupletamento ilcito do indiciado, comprovados esto os requisitos indispensveis contrio dos bens. 7. A medida acautelatria prevista no Decreto-Lei n 3.240/41 presta-se para assegurar o ressarcimento da totalidade do prejuzo experimentado pelo errio, no qual esto includas as multas e os juros incidentes sobre o principal. Acordo Origem: TRIBUNAL - QUINTA REGIAO Classe: ACR - Apelao Criminal - 231 Processo: 8905030033 UF: PE rgo Julgador: Primeira Turma Data da deciso: 28/04/2005 Documento: TRF500101895 Fonte DJ - Data::13/09/2005 - Pgina::474 - N::176 13/09/2005 Ementa PROCESSO PENAL. APELAO CRIMINAL. SEQESTRO DE BENS DE RU ENVOLVIDO NO DESVIO DE RECURSOS FEDERAIS. SUFICINCIA DE INDCIOS DE QUE TAIS BENS SERIAM FRUTO DA ATIVIDADE CRIMINOSA. "ESCNDALO DA MANDIOCA". DECRETO-LEI N 3.240/41. NO REVOGAO DO MESMO PELO ADVENTO DO CDIGO DE PROCESSO PENAL. PRECEDENTES DO C. STJ. APELO MINISTERIAL CONHECIDO E PROVIDO. SENTENA REFORMADA. 1. No caso de crimes de que resulte prejuzo para a Fazenda Pblica, o seqestro de bens disciplinado pelo Decreto-Lei n 3.240/41 e pode recair sobre todos os bens do indiciado, a teor do art. 4 desse diploma. 2. A decretao do seqestro de bens como medida cautelar no processo penal no exige prova plena de serem eles fruto da atividade criminosa, bastando a existncia de indcios razoveis de tanto. Precedentes deste E. TRF da 5 Regio. 3. Vigncia do Decreto-Lei n 3.240/41, no ponto em que disciplina o seqestro de bens de pessoa indiciada por crime de que resulta prejuzo para a Fazenda Pblica. Precedentes do C. STJ. 4. Apelo ministerial conhecido e provido. Sentena reformada. Acordo Origem: TRIBUNAL - QUINTA REGIAO Classe: MS - Mandado de Segurana - 81701 Processo: 200205000228526 UF: CE rgo Julgador: Pleno Data da deciso: 30/10/2002 Documento: TRF500068775 Fonte DJ - Data::03/06/2003 - Pgina: 748 Relator(a) Desembargador Federal Paulo Roberto de Oliveira Lima Deciso POR MAIORIA. Data Publicao 03/06/2003 Ementa PENAL. PROCESSO PENAL. CONSTITUCIONAL. MANDADO DE SEGURANA. SEQUESTRO DE BENS PARA RESSARCIMENTO DE DANOS PROVOCADOS AO ERRIO PBLICO. FUNDAMENTOS LEGAIS. LIBERAO DE QUANTIA MNIMA NECESSRIA AO PROVIMENTO ALIMENTAR. POSSIBILIDADE. Relator(a) Desembargador Federal lio Wanderley de Siqueira Filho Deciso UNNIME Data Publicao

33 1 .SE POSSVEL O SEQESTRO DE BENS MVEIS OU IMVEIS, PARA O RESSARCIMENTO AO ERRIO PBLICO, AINDA DURANTE AS INVESTIGAES (SEGUNDO O AINDA VIGENTE DECRETO-LEI N 3.240/41), TANTO MAIS QUANDO J OFERECIDA DENNCIA, A QUAL SE PRESUME ESTAR CALCADA EM INDCIOS VEEMENTES DE RESPONSABILIDADE DO ACUSADO; 2 .A INDISPONIBILIZAO ABSOLUTA DE TODOS OS BENS DO IMPETRADO (RU EM DEMANDA PENAL), POR SEU TURNO, ENSEJA O COMPROMETIMENTO DAS FINANAS NECESSRIAS SUA MANTENA E DE TODA A SUA FAMLIA, VERDADEIRO PADECIMENTO POR INANIO, O QUE REPULSA BOA CONSCINCIA JURDICA; 3 .DEVIDA A CONCESSO PARCIAL DA SEGURANA PARA LIBERAR, DOS VALORES SEQESTRADOS, APENAS OS RENDIMENTOS RECEBIDOS DE PESSOAS JURDICAS, A TTULO DE VERBAS ALIMENTCIAS, EM VALOR CORRESPONDENTE AOS DO ANO ANTERIOR, DECLARADOS QUANDO DO AJUSTE ANUAL DO IMPOSTO DE RENDA; 4 .SEGURANA PARCIALMENTE CONCEDIDA.

Por fim, salienta-se o entendimento, retirado do julgado abaixo transcrito, de que o prazo estipulado no art. 136 do CPP no se aplica s hipteses da medida em comento, em face da especialidade da regra contida no art. 4, 2 do Decreto-Lei n. 3.240/41, a qual no determina prazo peremptrio a ser observado para a especializao, vejamos:Acordo Origem: TRIBUNAL - TERCEIRA REGIO Classe: RCCR - RECURSO CRIMINAL 2730 Processo: 199961160029189 UF: SP rgo Julgador: QUINTA TURMA Data da deciso: 19/11/2002 Documento: TRF300070787 Fonte DJU DATA: 11/03/2003 PGINA: 310 Relator(a) JUIZA SUZANA CAMARGO Deciso unnime. Data Publicao 11/03/2003 Ementa APELAO CRIMINAL - FUNGIBILIDADE RECURSAL - MEDIDA CAUTELAR DE SEQUESTRO DE BENS - ARTIGO 134 DO CDIGO DE PROCESSO PENAL - PRESENA DA MATERIALIDADE DELITIVA E INDCIOS SUFICIENTES DA AUTORIA. FUMUS BONI IURIS E PERICULUM IN MORA PRESENTES - INTELIGNCIA DO ARTIGO 6 DO DECRETO-LEI N 3.240/41 - RECURSO IMPROVIDO. 1. Invivel a utilizao do recurso em sentido estrito, no se afigurando o decisum recorrido dentre aqueles mencionados pelo artigo 581, do Cdigo de Processo Penal, devido a enumerao taxativa de suas hipteses de cabimento, podendo, todavia, ser aplicado o princpio da fungibilidade recursal, de conformidade com o artigo 579, da mesma norma processual, para o efeito de receber a insurgncia como recurso de apelao, verificando-se que a hiptese de cabimento que melhor se amolda ao caso, est prevista no artigo 593, inciso II, do referido diploma legal, e no restando, ademais, caracterizado qualquer erro grosseiro, nem mesmo m-f do recorrente na interposio do recurso. 2. Verificado a existncia da materialidade delitiva e de indcios veementes da autoria do delito previsto no artigo 1, inciso III, da Lei n 8.137/90, bem como constatado o dano de vulto praticado contra a Fazenda Pblica, presente encontra-se a fumaa do bom direito autorizadora da medida

34 cautelar em reexame, e o periculum in mora, expresso na eventual dissipao do patrimnio imobilirio dos recorrentes, denotando a necessidade da medida cautelar de seqestro de bens, de conformidade com o artigo 134 do Cdigo de Processo Penal. 3. O Decreto-Lei n 3.240/41, diploma legal especfico em relao aos prejuzos causados Fazenda Pblica, trata-se de norma que se coaduna com as regras do Cdigo de Processo Penal, relativas as medidas de cautela assecuratrias da efetiva reparao dos danos vitima do fato delituoso. 4. O prazo marcado pelo artigo 136 do Cdigo de Processo Penal, no se aplica aos casos de crimes praticados contra a Fazenda Pblica, nos quais incide a regra contida no artigo 4, 2, do Decreto-Lei n 3.240/41, que, no tocante a providncia da hipoteca legal dos bens imveis seqestrados, no determina peremptoriamente prazo a ser observado para sua especializao, e, ademais, a fixao desse lapso temporal despiciendo, posto que a providncia deve ser tomada no interesse e em favor da Fazenda Pblica, como garantia da reparao dos tributos suprimidos de seus cofres e porque tais prazos, fixados em relao ao Ministrio Pblico, so imprprios. 5. Recurso improvido.

RESUMO

Em apertada sntese, pode-se dizer que: O seqestro reservado ao produto ou proveito do delito, podendo o mesmo recair sobre bens imveis (artigos 125 a 131 do CPP) ou sobre mveis (artigo 132 do CPP). A medida atinge nica e exclusivamente o patrimnio adquirido ilicitamente pelo agente. Nos termos dos artigos 125 e 126 do CPP, requisito para a concesso do seqestro a presena de indcios veementes da origem ilcita dos bens do indiciado ou acusado, mesmo que estes tenham sido transferidos a terceiros. O seqestro no tem carter de punio, apenas a recuperao daquilo que foi perdido pela vtima, se houver o reconhecimento judicial de que estes bens eram produto de ilcito, a sim, haver, como efeito da condenao, o perdimento do(s) bem(ns). O seqestro medida adotada no interesse do ofendido e do prprio Estado, com o escopo de antecipar os efeitos da sentena penal condenatria, salvaguardando a reparao do dano sofrido pelo ofendido, bem

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como o pagamento das custas e da pena de multa a ser fixada na sentena. Ela tambm tem por objetivo assegurar que da atividade criminosa no resulte vantagem econmica para o infrator. Observa-se que no caso dos bens imveis, seja ele PRODUTO ou PROVEITO do crime, sempre caber seqestro. Tratando-se de bens mveis PRODUTO do crime caber busca e apreenso, nos termos do art. 240, 1 do CPP, e, tratando-se de bens mveis PROVEITO do crime a medida cabvel ser o seqestro. A hipoteca legal recai sobre imveis do acusado e independe da origem ilcita do bem. Seu nico objetivo garantir a solvabilidade do credor na liquidao de obrigao ou responsabilidade civil decorrente de infrao penal, ou seja, recomposio patrimonial dos danos, bem com o pagamento das custas e despesas processuais. So dois os pressupostos necessrios para a especializao da hipoteca legal, quais sejam, a prova inequvoca da materialidade e indcios suficientes de autoria. possvel, pois, serem especializados bens imveis do imputado adquiridos antes do cometimento do crime, sendo irrelevante provar que o ru est dilapidando o seu patrimnio ou demonstrar a relao do bem com a prtica delituosa. Por seu turno, o arresto pode recair sobre bens imveis (art. 136 do CPP), servindo como medida preparatria da hipoteca legal, bem como sobre bens mveis (art. 137 do CPP), destinando-se, em ambas as hipteses, garantia da ressarcimento do dano alcanando tambm as despesas processuais e as penas pecunirias, tendo preferncia sobre estas a reparao do dano ao ofendido (art. 140 do CPP). O art. 136 do CPP, com intuito de oferecer maiores garantias, permite aos legitimados postulao da especializao da hipoteca legal requererem o arresto dos bens sobre os quais se pretende recair a hipoteca, at que esta medida seja efetivamente concretizada. Por outro lado, como no se permite a hipoteca de bens mveis (salvo, excepcionalmente, sobre navios e aeronaves), o legislador, no art. 137 do CPP, redao dada pela Lei n. 11.435/2006, autorizou aos legitimados para requerer a hipoteca legal, quando inexistentes bens imveis em nome do acusado ou do responsvel civil, e caso existentes, insuficientes para garantir o valor estipulado para a reparao do dano, despesas processuais e penas pecunirias, a requererem o arresto de mveis. Por fim, temos a medida prevista no Decreto-Lei 3.240/41, denominada incorretamente de seqestro, quando na realidade trata-se de uma modalidade de arresto que incide na hiptese de delitos que acarretem prejuzo ao errio.

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Tal medida no exige que os bens do indiciado ou acusado sejam decorrentes da prtica delituosa, sendo, por isso, irrelevante a origem dos bens que sofrero a constrio. Com efeito, no importa se tais bens foram adquiridos antes ou depois da prtica criminosa; se so, ou no, produto do crime, bem como se foram, ou no, adquiridos com proventos da infrao, e ainda, se so bens mveis ou imveis. No obstante de origem absolutamente legtima, os bens podero ser convertidos em garantia. Ademais, por destinar-se proteo dos interesses da fazenda pblica, o art. 4 do mencionado Decreto-Lei prev que a medida poder recair sobre todos os bens do indiciado, e compreender os bens em poder de terceiros desde que estes os tenham adquirido dolosamente, ou com culpa grave, alcanando, assim, tantos bens quantos forem necessrios ao ressarcimento do prejuzo sofrido pelo Errio.