episódio de hoje

TODO MUNDO VAI SOFRER

escrito por

VITOR ABOU

MEGAPRO 2020

CENA 01. CEMITÉRIO. EXT. DIA.

SONOPLASTIA: bellyache – Billie Eilish

Imagens aéreas do cemitério: várias sepulturas, alguns enterros acontecendo, pessoas próximas,

muitas de preto. CAM aproxima-se de um desses enterros, onde há poucas pessoas, chorando.

Funcionários do cemitério descem o caixão, com cordas. Mais perto da cova está LIA (baixa,

morena, cabelo cacheado, 25 anos, vestido preto), chorando muito. Ela se ajoelha e joga uma rosa

em cima do caixão. TAINÁ (baixa, magra, cabelo curto e castanho, 23 anos, blusa preta e calça

jeans) aproxima-se e abraça Lia.

LIA – Desculpa, mãe, desculpa todos os meus erros/

TAINÁ – Vai ficar tudo bem, amiga.

LIA – Eu te amo, mãe. Eu te amo.

TAINÁ – Ela também te ama, Lia.

Tainá abraça Lia. Os funcionários terminam de descer o caixão. Começam a enterrar. Tainá ajuda

Lia a se levantar. JONAS (alto, magro, cabelo preto, bonito, 28 anos, blusa e calça pretas)

aproxima-se das duas. Sonoplastia cessa.

JONAS – Meus pêsames, Lia.

LIA – (surpresa) Ah, você veio, Jonas?!

JONAS – Vim.

LIA – Obrigada por ter vindo, Jonas.

JONAS – Não precisa agradecer.

Jonas abraça Lia. Outras pessoas se aproximam. CAM vai se afastando. CORTA PARA/

CENA 02. APTO. DE LIA. SALA DE ESTAR. INT. NOITE.

Espaço simples, pequeno, com um sofá, uma TV e uma mesa de centro. Paredes na cor laranja, quadros de pinturas na parede. No sofá, Lia está deitada no colo de Tainá.

LIA – Obrigada por ter vindo pra cá comigo, Tatá.

TAINÁ – Ah, amiga, cê sabe que pode contar comigo sempre. SEMPRE.

LIA – Digo o mesmo. (T) Você sempre comigo nesses momentos difíceis.

Lembra quando eu encontrei ela, depois que minha vó morreu?

TAINÁ – Lembro. Ela tava morando de favor lá no Alemão.

LIA – Aquele dia eu achei que ela fosse mandar eu sumir, que não queria

saber de mim. Mas ela veio pra cá.

TAINÁ – Vocês construíram uma relação muito bonita, mesmo com tudo que

ela tinha feito.

LIA – Foi mesmo. Mas agora a vida continua. (T) E eu sozinha...

TAINÁ – Não, Lia! Você não tá sozinha.

LIA – Amiga, primeiro minha vó, agora minha mãe. Não tenho mais

ninguém.

TAINÁ – Tem eu. (T) O Jonas também. Não sabia que ele ia hoje.

LIA – Nem eu. A gente nunca foi de conversar tanto.

TAINÁ – Mas ele sempre olhou pra você de um jeito...

Lia sai do colo de Tainá, sentando-se.

LIA – Olhar de safado? Tainá, por que você nunca me falou? Eu achava

que ele era bacana/

TAINÁ – Calma, amiga. Não é olhar maldoso não, é um olhar fofo.

LIA – O que vem a ser um olhar fofo, Tainá?

TAINÁ – Quando a pessoa tá a fim da outra.

LIA – Você acha que o Jonas tá a fim de mim?

TAINÁ – Sempre esteve, a meu ver.

LIA – A meu ver nunca esteve.

TAINÁ – Mas, é claro, você nunca olhou pro garoto.

LIA – Ah, nada a ver.

TAINÁ – Tudo a ver, Lia.

LIA – Ai, Tatá, só você mesmo pra me fazer pensar em outra coisa nesse

momento.

TAINÁ – Aliás, amiga, quando você volta pra agência?

LIA – Eu pedi dois dias de licença, até pra arrumar tudo, né.

TAINÁ – E quando voltar você vai ver como o Jonas baba em cima de mim.

LIA – Mas eu não quero nada com Jonas. Não começa não.

TAINÁ – Por quê, amiga? Ele é bonito, solteiro, inteligente.

LIA – Mas não faz meu tipo.

TAINÁ – E quem faz teu tipo, Lia Ferreira?

LIA – Ah, Léo Santana, Caio Castro...

TAINÁ – (rindo) E do mundo real?

LIA – Ah, me deixa sonhar, Tainá.

Lia e Tainá rindo, fora do áudio. CORTA PARA/

CENA 03. RIO DE JANEIRO. STOCK SHOTS. EXT. DIA.

LEGENDA: Dois dias depois...

SONOPLASTIA: Roxanne – Arizona Zervas

Imagens aéreas de pontos turísticos do Rio de Janeiro, como as belas praias da Zona Sul, e de

ruas do Leblon, aproximando-se de um shopping. CORTA PARA/

CENA 04. AGÊNCIA MIL DESTINOS. INT. DIA.

Sonoplastia cessa. Espaço grande, com quatro mesas de atendimento, cadeiras para espera e

muitos banners com promoções, fotos e informações de pacotes de viagem. Na mesa 1, está Lia;

na 2, Tainá; na 3, Jonas, ao telefone. A 4 encontra-se vazia. Não há nenhum cliente. Lia e Tainá

viradas uma para a outra.

TAINÁ – E aí, Lia? Já conversou com ele hoje?

LIA – Não, Tainá, não.

TAINÁ – E tá esperando o quê?

LIA – Ele tá no telefone.

TAINÁ – E depois?

LIA – Me deixa, garota. Vai fazer umas ligações, vai.

TAINÁ – Vou mesmo. Mas antes vou no banheiro.

Tainá levanta-se e sai. Lia fica observando Jonas falando ao telefone. Ele percebe. Ela desvia o

olhar, sem graça. Ele fica sem entender. Chega BRENO (alto, magro, cabelo castanho, com barba,

27 anos, blusa polo, calça social), mexendo no telefone. Lia fica boquiaberta olhando para ele. Ele

se aproxima da mesa dela.

BRENO – Oi. Onde fica a sala da Nice?

LIA – Oi... oi... Quem é você?

BRENO – Breno, novo agente.

LIA – Ah, a sala dela é a primeira à esquerda ali na frente. (apontando p/

as portas à sua frente)

BRENO – Valeu.

Breno sai, entrando na primeira porta à esquerda. Lia ainda boquiaberta com ele. Tainá volta.

TAINÁ – Lia do céu, quem era aquele boy?

LIA – Amiga, ele vai trabalhar aqui.

TAINÁ – Oi?

LIA – É. Deve ser o substituto do Mauro.

TAINÁ – Chocada. Que homem é esse, meu Deus?!

LIA – Tu tira olho, que eu vi primeiro.

TAINÁ – Esqueceu que eu tenho o Tito?

LIA – Ai, você sabe que eu não simpatizo muito com ele, né.

TAINÁ – Implicância tua.

LIA – Olha, vou até fazer meu trabalho aqui antes que a distração volte.

TAINÁ – Faz bem, amiga.

Lia começa a digitar em seu computador, focada. Breno volta e senta-se na mesa 4. Lia se levanta

e vai até Breno. Tainá observa, segurando o riso.

LIA – Oi. Eu nem me apresentei.

BRENO – Oi.

LIA – Prazer, Lia.

BRENO – Ah, beleza.

LIA – Se você precisar de qualquer ajuda, pode me chamar, tá? Eu sou

a mais antiga aqui. Sei onde ficam todos os documentos, papéis,

grampeador, panfletos... enfim, tudo que você precisar.

BRENO – Tranquilo. Valeu.

LIA – Tá precisando de alguma ajuda?

BRENO – Não tô não.

LIA – Eu posso pegar um café pra você.

BRENO – Precisa não.

LIA – Prefere chá?

BRENO – Acho melhor a gente trabalhar.

LIA – Ah, tem razão. Isso! Trabalhar! Então até mais tarde. Qualquer

coisa já sabe/

BRENO – Beleza.

LIA – Tô voltando pra minha mesa.

Lia anda de costas, voltando para sua mesa, mas sorrindo e olhando para Breno até que esbarra

em uma senhora (idosa, 60 anos).

LIA – Ai, senhora!

SENHORA – Não olha por onde anda não, menina?

LIA – Desculpa, desculpa.

Lia volta para sua mesa. CORTA PARA/

CENA 05. AGÊNCIA MIL DESTINOS. COPA. INT. DIA.

Espaço pequeno, com geladeira, microondas, pia e uma mesinha com quatro cadeiras. Lia e Tainá

em pé.

LIA – Ai, amiga, esse Breno, hein...

TAINÁ – Um gato, mas ele cagou pra você, amiga.

LIA – Que nada, Tatá. É que a gente não teve muita oportunidade ainda

pra conversar.

TAINÁ – Ah, tá bom. E quando vai rolar isso?

LIA – Sei lá. Deixa tudo acontecer no tempo dele.

TAINÁ – Ai, amiga, sei lá, mas, de verdade, ele não deu a mínima pra você.

LIA – Você tá muito apressada, Tainá. Relaxa.

TAINÁ – Enquanto isso o Jonas tá lá, todo esforçado. Aliás, ele disse que

tinha uma coisa pra te entregar.

LIA – Ah, lá vem.

TAINÁ – Lia, minha filha, o menino super gente boa, bonito, fofo tá querendo

ficar contigo e você tá assim?

LIA – Ele tem uma cara de lerdão. Não suporto gente lerda.

TAINÁ – O lerdão que tá fazendo seus relatórios, né, bonita?

LIA – Ajudando. (ri)

TAINÁ – Toma vergonha, Lia. Não vai ficar abusando da boa vontade do

coitado não.

LIA – Credo, Tainá. Até parece que eu sou uma pessoa interesseira.

Jonas entra.

JONAS – Oi, meninas.

LIA – Oi.

TAINÁ – Oi, Jonas. Descansando um pouco?

JONAS – Sim. (T) Ah, Lia, eu tenho uma coisa pra te entregar.

TAINÁ – Vou voltar pra minha mesa, gente.

Jonas abre a geladeira e procura algo lá dentro. Lia olha para Tainá, que está saindo e faz caras

e bocas imitando beijos. Lia faz o sinal do dedo do meio pra Tainá, que sai. Jonas tira um pote da

geladeira.

JONAS – (entregando o pote p/ Lia) Aqui, Lia.

LIA – O que é?

JONAS – Brigadeiro. Fiz pra você.

LIA – Ah, brigada, mas eu sou intolerante a/

JONAS – Lactose. Eu sei. Por isso fiz com leite sem lactose.

LIA – Muito obrigada, Jonas.

Lia abre a geladeira e guarda o pote lá.

JONAS – Não vai comer?

LIA – Agora não. Nem almocei ainda. (ri)

JONAS – Mas depois me fala se gostou.

LIA – Claro. Vou voltar agora.

JONAS – Também.

LIA – Vou dar uma passadinha no banheiro antes.

Jonas e Lia saem. CORTA PARA/

CENA 06. AGÊNCIA MIL DESTINOS. INT. DIA.

Breno, Jonas e Tainá sentados em suas mesas. Lia chega, vindo do banheiro. Ela se aproxima de

Breno.

LIA – Oi. Que tal a gente pegar o primeiro horário de almoço hoje pra eu

te mostrar uns lugares bacanas pra comer?

BRENO – Ah, eu vou pegar o segundo horário.

LIA – Ah, é?

BRENO – É. O Jonas pediu pra você ir no primeiro horário contigo. Acho que

só não te avisou, né. (ri)

LIA – Não, não. Posso ir contigo.

BRENO – Precisa não. Já tá combinado.

LIA – Ah, tá.

Inconformada, Lia senta-se em sua mesa. CORTA PARA/

CENA 07. SHOPPING. PRAÇA DE ALIMENTAÇÃO. INT. DIA.

Local grande, amplo, com várias mesas e cadeiras. Ao redor, muitos restaurantes e lanchonetes.

Numa dessas mesas, estão Jonas e Lia. Na frente cada um, há uma bandeja com o prato. Os dois

comem macarrão.

JONAS – Muito bom esse macarrão, né.

LIA – É.

JONAS – Você sempre come aqui, Lia?

LIA – Não. Eu e a Tainá costumamos variar.

JONAS – Ah, agora vamos poder experimentar várias coisas diferentes

também.

LIA – É, é...

JONAS – A gente podia dar uma volta no shopping, né. Ainda temos tempo.

LIA – Ai, eu tô meio cansada, Jonas. Acho que vou direto pra agência.

JONAS – Você que sabe. Vou contigo então.

LIA – Então tá.

JONAS – Só vou pedir um copo de gelo pro suco. Você quer alguma coisa?

LIA – Não, brigada.

Jonas levanta-se. Lia revira os olhos, bufando. CORTA PARA/

CENA 08. AGÊNCIA MIL DESTINOS. COPA. INT. DIA.

Lia e Tainá em pé.

TAINÁ – E aí, amiga?

LIA – E aí o quê, Tainá?

TAINÁ – O que rolou?

LIA – Nada. Não rolou nada.

TAINÁ – (decepcionada) Aff. Que desânimo vocês dois hein.

LIA – Amiga, eu tô falando sério. Você fica arrumando história e esse

menino tá ficando todo bobo, caidinho por mim. Mas eu não tô a fim

dele. Eu tô a fim é do Breno.

TAINÁ – Ainda nesse Breno?

LIA – Você não venha querendo me taxar de maluca pelo cara não, que

ele chegou hoje.

TAINÁ – Ih, já tá criando suas conspirações...

LIA – Conspiração nenhuma. Te conheço, Tainá.

TAINÁ – E eu te conheço também, Lia Ferreira.

LIA – Então para com isso do Jonas. É sério.

TAINÁ – Tá, tá bom.

LIA – Eu preciso me aproximar do Breno.

TAINÁ – Só seja discreta, né, Lia.

LIA – Discreta, amiga? Como? Ele não dá bola pra mim quando eu sou

descarada. Imagina discreta. Vai fingir que nem tá me vendo.

TAINÁ – (rindo) Daqui a pouco é a nossa hora de almoçar.

LIA – (animada) Ah, já sei!

Lia sai. CORTA PARA/

CENA 08. AGÊNCIA MIL DESTINOS. INT. DIA.

Breno e Jonas em suas mesas. Breno ao telefone. Lia chega, finge tropeçar perto da mesa de

Breno, projetando-se para cima da cadeira dele. Ele, concentrado ao telefone, levanta-se. Assim,

Lia dá de cara no braço da cadeira de Breno e cai no chão. Todos olham para ela. Tainá vem, do

corredor, rapidamente.

TAINÁ – Ai, amiga. Deixa que eu te ajudo.

Jonas levanta-se também.

JONAS – Quer ajuda, Lia? Tá tudo bem? Posso pegar gelo.

TAINÁ – Precisa não, Jonas. Deixa que eu cuido dela.

LIA – Foi só uma falta de atenção.

Tainá abaixa-se para ajudar Lia.

TAINÁ – (baixo p/ Lia) Essa que era a sua ideia, gênia? (ri)

LIA – Vai me ajudar ou não, Tainá?

TAINÁ – Vou. Bora. (estende a mão p/ Lia)

LIA – Ai, olha...

As duas levantam-se. Breno, ainda ao telefone, ri, discretamente, olhando para Lia, que disfarça.

TAINÁ – Machucou, amiga?

LIA – Só minha gengiva que tá sangrando.

TAINÁ – Deixa eu ver.

LIA – (abrindo a boca) Aqui na frente.

TAINÁ – Ah, Lia, uma verdadeira hemorragia. Melhor procurar um hospital.

LIA – Amiga, você só me zoa, né.

TAINÁ – Ué, e você quer que eu faça o quê?

LIA – Vamo lá no banheiro! Preciso lavar minhas mãos.

TAINÁ – E precisa de ajuda pra isso?

LIA – Anda logo, Tainá! Nunca vi tão lenta.

Lia e Tainá saem. CORTA PARA/

CENA 09. AGÊNCIA MIL DESTINOS. BANHEIRO. INT. DIA.

Lia lavando as mãos e a boca na pia. Tainá atrás, olhando.

LIA – E aí, amiga? Cê acha que ele notou?

TAINÁ – Notou o quê, Lia? O mico que você pagou?

LIA – Não.

TAINÁ – Ah, melhor, foi a família inteira de primatas que você pagou.

LIA – Tainá, fala sério. (T) Eu senti que ele gostou. Cê não viu o risinho

bobo dele?

TAINÁ – Vergonha alheia, né?

LIA – Olha, eu tô achando você muito tóxica, amiga. Sério.

TAINÁ – Tóxica? Eu só tô dando a real, Lia. Você que não tá percebendo

que ele não tá nem aí pra você.

LIA – Ele tava ocupado no telefone.

TAINÁ – Ah, tá bom. Enquanto isso o Jonas todo fofo.

LIA – Você de novo com essa de Jonas...

TAINÁ – Só tu prestar atenção.

LIA – Tá, tá bom. (T) Então imagino que você nem vai querer me ajudar

na missão de mais tarde.

TAINÁ – Que merda de missão é essa?

LIA – Quero ir atrás do Breno. Ele deve tá me evitando aqui porque

acabou de começar, não quer ter problema. Mas fora...

TAINÁ – Não acredito, Lia. Olha, você tá passando dos limites.

Tainá sai, incrédula. CORTA PARA/

CENA 10. AGÊNCIA MIL DESTINOS. INT. DIA.

Jonas sentado em sua mesa. As demais mesas vazias. Lia volta, vindo do corredor.

LIA – Cadê Tainá e Breno, Jonas?

JONAS – Foram almoçar.

LIA – Ah, tá. Aproveitando, queria falar uma coisa contigo.

JONAS – O quê? Pode falar.

LIA – Eu preciso da sua ajuda/

JONAS – Eu aceito.

LIA – Calma. Nem falei nada ainda. (T) Você tá livre hoje quando sair

daqui?

JONAS – Tô, claro.

LIA – Você veio de carro?

JONAS – Vim.

LIA – Então perfeito! Depois do expediente eu te espero lá no

estacionamento.

JONAS – Mas aonde a gente vai, afinal?

LIA – Na hora você vai saber. (ri)

CORTA PARA/

CENA 11. RIO DE JANEIRO. STOCK SHOTS. EXT. NOITE.

SONOPLASTIA: Tusa – KAROL G, Nicki Minaj

Anoitece. Imagens aéreas do Rio de Janeiro. CAM sobrevoa os principais pontos turísticos da

Cidade Maravilhosa, como o Cristo Redentor, bem iluminado, e as praias da Zona Sul. Aproxima-

se de um shopping. CORTA PARA/

CENA 12. AGÊNCIA MIL DESTINOS. INT. NOITE.

Jonas mexendo em seu computador. Lia guardando coisas em sua bolsa. Breno chega, vindo do

corredor, com a mochila nas costas. Sonoplastia cessa.

BRENO – Tchau, pessoal. Até amanhã.

JONAS – Até amanhã.

LIA – Tchau, Breno. Vai com Deus.

Breno acena positivamente com a cabeça e sorri. Ele sai. Lia joga papéis rapidamente em sua

bolsa.

LIA – Vamo, Jonas!

JONAS – Vamos pra onde?

LIA – Embora ué. Anda!

JONAS – Mas eu ainda tinha que fechar esse pacote/

LIA – Amanhã você fecha. Já deu a hora. Vai lá bater teu ponto logo.

JONAS – Mas pra quê essa pressa, Lia?

LIA – No caminho te explico. Bora!

JONAS – Calma. Vou só desligar o computador.

Lia se abaixa, perto da mesa de Jonas, e tira alguns cabos da tomada.

JONAS – Lia?! Eu ainda ia fechar as abas.

LIA – Ai, desculpa. Você disse que era só desligar.

JONAS – Cara, não sei pra quê tanta pressa.

LIA – Você não consegue ser mais rápido não?

JONAS – Tô indo.

Jonas rapidamente se levanta e sai, em direção ao corredor.

LIA – (olhando o relógio, nervosa) Ai, dois minutos já.

CORTA PARA/

CENA 13. SHOPPING. ESTACIONAMENTO. EXT. NOITE.

Espaço grande. diversos carros estacionados. O céu já está escuro. Grandes postes dão conta da

iluminação. Lia andando, escondendo-se atrás de carros, postes, arbustos. Ela vê Breno, com

sacolas de lojas de marca, entrando em um carro preto.

LIA – (baixo) Será que ele tem alguém?

JONAS APROXIMA-SE DE LIA.

JONAS – Ô, Lia, tá fazendo o que aí escondida?

LIA – Abaixa!

JONAS – (abaixando-se) O que foi? Tá fugindo de alguém?

LIA – Não. Justamente o contrário.

JONAS – Olha, eu não tô entendendo nada.

LIA – Vai entender já já.

JONAS – E quando a gente vai poder entrar no carro?

LIA – Calma. Deixa ele sair.

JONAS – Ele quem?

O carro de Breno vai em direção à saída do estacionamento.

LIA – Bora! Agora a gente pode ir.

JONAS – Vamo!

Jonas, ao se levantar, deixa a chave do carro cair no chão, mas não percebe. Jonas e Lia vão em

direção ao carro dele, branco, simples.

LIA – Abre, Jonas!

JONAS – (procurando a chave nos bolsos) Ué, cada a chave?

LIA – Ah não! Só me faltava essa.

JONAS – Calma. Tava no meu bolso agora. Deve ter caído ali.

Jonas volta ao arbusto e pega a chave no chão. Lia, ao lado do carro, espera, impacientemente.

LIA – Que merda! Fui arrumar justo essa tartaruga.

Jonas volta. Ele abre o carro.

JONAS – (mostrando a chave) Achei! Tava lá mesmo.

LIA – Finalmente!

Jonas e Lia entram no carro. CORTA PARA/

CENA 14. CARRO DE JONAS. INT. NOITE.

Carro pequeno. Jonas no banco do motorista e Lia ao lado.

JONAS – E aí, Lia? Onde a gente vai? Tem um restaurante novo ali em

Botafogo/

LIA – Que restaurante, Jonas?

JONAS – Ué, a gente não vai sair?

LIA – Não sair sair. Vamos fazer uma coisa importante.

JONAS – Ih, então é melhor passarmos na farmácia, porque eu não comprei/

LIA – Liga esse carro, Jonas! A gente já deve ter perdido o Breno de

vista.

JONAS – O Breno? O que ele tem a ver com a gente?

LIA – Vamos atrás dele.

JONAS – Atrás do Breno? Por quê?

LIA – Depois eu te falo. Vamo logo!

JONAS – Tá, tá.

Jonas liga o carro e dirige, indo em direção à saída do shopping. CORTA PARA/

CENA 15. COMPILAÇÃO DE CENAS. INT./EXT. NOITE.

A. RUA, Vários carros em alta velocidade. Carro de Jonas (branco) seguindo carro de Breno

(preto). A distância entre os dois é de uns 5 carros.

B. CARRO DE JONAS, Lia gritando com Jonas, que está calmo enquanto dirige.

C. RUA, Carro de Jonas cortando outros carros para se aproximar do de Breno. Agora o de

Jonas está a 1 carro do de Breno.

D. CARRO DE JONAS, Lia continua gritando, apontando para a frente.

CENA 16. RUA. EXT. NOITE.

Rua pequena, de apenas uma mão. Diversos prédios. Carro de Breno entra em um dos prédios.

O prédio aparenta ser novo. Sua fachada é branca, com vários vidros, algo bem moderno. Carro

de Jonas chega e para em frente ao prédio. CORTA PARA/

CENA 17. CARRO DE JONAS. INT. NOITE.

Lia observando o prédio. Jonas sem saber o que fazer.

JONAS – E aí, Lia?

LIA – E aí o quê?

JONAS – Vai fazer o quê agora?

LIA – Ai, eu vou lá.

JONAS – Pô, então é isso mesmo?

LIA – Isso o quê, Jonas?

JONAS – Você me usou pra vir atrás do cara que mal conheceu.

LIA – Eu não te usei. Você que quis me ajudar.

JONAS – Realmente. Eu que fui tolo.

LIA – Ah, Jonas, não é bem assim.

JONAS – É como então?

LIA – Ai... (T) Olha, é melhor eu ir logo.

JONAS – Pode ir...

LIA – Valeu!

Lia abre a porta e sai. CORTA PARA/

CENA 18. PRÉDIO. FACHADA. EXT. NOITE.

Lia desce do carro de Jonas. Ela aproveita que uma senhora está saindo do prédio onde o carro

de Breno entrou e corre.

LIA – (p/ senhora) Pode deixar. Brigada.

SENHORA – Nada. Boa noite.

A senhora segura a porta para Lia, que entra, de rosto abaixado, discreta. CORTA PARA/

CENA 19. PRÉDIO. PORTARIA. INT. NOITE.

Espaço pequeno, apenas com uma estante e uma mesa, onde está o PORTEIRO (gordo, alto, 65

anos, uniforme) sentado, lendo jornal, que cobre seu rosto todo. Lia entra, de cabeça baixa, para

não ser notada.

PORTEIRO – Boa noite, dona Fátima.

Lia olha ao redor. Não vê ninguém.

LIA – Oi, boa noite.

Lia vê Breno chegando, subindo as escadas que dão acesso ao estacionamento do subsolo. Ela

olha em volta, procurando um lugar para se esconder. Vê uma estátua, estilo grega, em um dos

cantos. Corre e se esconde atrás da estátua. Breno chega.

BRENO – (p/ porteiro) Boa noite, Luís.

PORTEIRO – Oi, seu Breno.

BRENO – Tem alguma coisa aí pra mim? Do 202.

PORTEIRO – Tem sim.

O porteiro entrega a Breno uma correspondência.

BRENO – Valeu.

Breno entra no elevador. Lia fica espiando atrás da estátua. Percebendo que o elevador fechou,

ela sai e vai à escada de emergência, discretamente. CORTA PARA/

CENA 20. PRÉDIO. ESCADAS DE EMERGÊNCIA. INT. NOITE.

Lia sobe as escadas, correndo.

LIA – Só Jesus na causa mesmo.

Ela para em frente a uma porta em que está escrito ‘‘1º andar’’.

LIA – Ai, não acredito. Falta mais metade. Que merda...

Lia respira fundo e continua a subir. CORTA PARA/

CENA 21. PRÉDIO. CORREDOR – 2° ANDAR. INT. NOITE.

Lia andando à procura do apartamento 202. Ela logo acha. Respira fundo, em frente à porta. Ela

toca a campainha. Lia tremendo, nervosa. Breno abre a porta.

BRENO – Oi? O que você tá fazendo aqui, Mia?

LIA – É Lia!

BRENO – Ah, foi mal. Mas o que você tá fazendo na minha casa?

LIA – Por enquanto nada.

BRENO – Calma aí. Você me seguiu?

LIA – Não, não.

BRENO – Como então você chegou aqui?

LIA – Ai, eu moro aqui.

BRENO – Que estranho. Nunca te vi aqui.

MULHER (O.S.) – Quem tá aí, Breno?

BRENO – (virando-se p/ dentro do apto.) Ninguém não, mãe.

LIA – Desculpa se eu vim em uma hora ruim. Posso voltar depois.

BRENO – Acho melhor não.

LIA – Por quê?

BRENO – Porque você precisa se tratar, sério. Você me segue, vem até a

minha casa. Qual o seu problema, pô?

LIA – Não precisa ser grosso.

BRENO – Me desculpa, mas isso é muito sem noção. Você é louca!

Breno fecha a porta, com força. Em Lia, em total choque. CORTA PARA/

CENA 22. PRÉDIO. FACHADA. INT. NOITE.

Lia sai do prédio. Ela encosta-se no portão, do lado de fora, procurando pelo carro de Jonas, mas

não há nenhum carro na rua.

LIA – Aff. Ele foi embora.

Lia pega seu celular do bolso e liga para Tainá.

LIA – Alô? (T) Oi, amiga, sou eu. (T) Posso ir pra tua casa? Preciso de

uma companhia. (T) Deu errado. Ele não quis nada comigo. Depois

eu te conto. (T) Como eu vim? Ah, foi o Jonas. (T) É. (T) Agora sei lá

dele. Acho que foi embora. (T) Tá bom. Vou pegar o ônibus, já já eu

tô aí.

CORTA PARA/

CENA 23. APTO. DE TAINÁ. SALA. INT. NOITE.

Sala pequena, com, basicamente, um sofá e uma TV. Tainá e Lia sentadas no sofá.

LIA – Garoto ridículo! Deve ter um namorado/

TAINÁ – Ai, Lia, nem continua. (T) Mas, assim, eu te avisei/

LIA – Que ele era viado?

TAINÁ – Não. Ele pode não ser/

LIA – E por que ele me tratou assim?

TAINÁ – Porque você seguiu ele e bateu na porta dele como se tivesse tudo

bem.

LIA – E não tava?

TAINÁ – Claro que não, maluca.

LIA – Ai, amiga, mas eu gosto tanto dele/

TAINÁ – VOCÊ CONHECEU ELE HOJE, LIA/

LIA – Mas eu senti...

TAINÁ – Tá bom, mas ele não quer.

LIA – E agora?

TAINÁ – E agora que você vai deixar ele quieto.

LIA – Ah, mas ele pode mudar de ideia.

TAINÁ – Pode, mas não é você que vai ficar forçando a barra. Ele já disse

que não.

LIA – Ain... (leva as mãos ao rosto)

TAINÁ – Mas e o Jonas, coitado?

LIA – E eu lá quero saber de Jonas?

TAINÁ – Deveria pelo menos se desculpar/

LIA – Desculpar? Eu não fiz nada.

TAINÁ – Olha, Lia, você precisa acordar pra vida. É sério. O Jonas é um

fofo, tava lá te apoiando no enterro e nem era tão próximo de você.

Mas tudo bem, você pode não querer. Só não se aproveita do

menino.

LIA – Tá, tá.

TAINÁ – Vou pegar uma cerveja. Você quer?

LIA – Quero.

Tainá se levanta e sai. Rapidamente volta com duas garrafas de cerveja. Dá uma para Lia.

SONOPLASTIA: Todo mundo vai sofrer – Marília Mendonça

CAM vai se afastando, mostrando Lia e Tainá bebendo, rindo.

FIM

Participaram deste episódio

Carol Macedo como Lia

Chay Suede como Breno

Danilo Mesquita como Jonas

Giullia Buscacio como Tainá