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Meillassoux: a inexistência divina

Meillassoux: a inexistência divina. Quatro elos dos humanos com Deus Não acreditar em Deus porque ele não existe (ateísmo, levando a tristeza, cinismo,

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Meillassoux: a inexistência divina

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Quatro elos dos humanos com Deus

• Não acreditar em Deus porque ele não existe (ateísmo, levando a tristeza, cinismo, desespero).

• Acreditar em Deus porque ele existe (religião, levando ao fanatismo, blasfêmia e idolatria).

• Não acreditar em Deus porque ele existe (rebelião luciferiana com o criador, associado a indiferença, apatia, sarcasmo).

• Acreditar em Deus porque ele não existe (a posição do factualista e do imanentista que Meillassoux explora e recomenda).

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Quentin Meillassoux

• Realismo especulativo e o diagnóstico do correlacionismo.

• A facticidade como especulação: o correlacionismo leva à facticidade de tudo.

• O princípio (racional) da irrazão: luta contra o fideísmo gerado pela filosofia crítica correlacionista.

• A necessidade da contingência (contraste com outras filosofias da contingência).

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Contingência transcendente

• O problema de Hume tomado à letra: a separação entre razão e empiria.

• Pode-se sempre pensar que os devires vão romper com as leis.• O que acontece no mundo é regido por uma ausência de

governo. Não há uma lei da contingência encoberta, mas apenas uma ausência de leis.

• A contingência absoluta é também um fato bruto, insuperável – nenhuma lei futura pode se arrogar o direito de ser razão suficiente para qualquer coisa.

• Uma contingência superior a qualquer necessidade, e portanto sem restrições: ausência transcendente.

• Não pode haver uma teoria do devir.

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Surgimento ex-nihilo

• O advento de uma coisa não predestinada, não já inscrita no que havia. Emergência.

• Surgissement e événement.• Surgimento como contingência: verdadeira

novidade e imanência, não de um repositório de possibilidades transcedentes. O devir.

• O potencial e o virtual: o virtual não pode ser objeto de uma estimativa de probabilidades.

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Os quatro adventos (e os quatro Mundos)

• Matéria, vida, razão (Mundos) surgidos um depois do outro em contingência e adicionando uma verdadeira novidade. Em cada caso, há mais no efeito do que em qualquer causa.

• O quarto surgimento: a justiça, que vêm com a reparação que é a ressurreição do mortos. A justiça pode emergir da razão porque a razão descobre como ela é incompatível com os outros Mundos.

• Se um Mundo surgisse depois da razão, seria aquele da ressurreição de todos os racionais mortos, o Mundo da justiça.

• A razão, pelo seu impasse com a vida e a matéria, revela o seu caráter de ponte e, assim, associa-se com a esperança racional na Justiça.

• Só um Deus pode instaurar o surgimento do quarto Mundo.

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Filosofia e a ruptura científica• A filosofia surge com a ruptura científica entre ser e valor – a busca

de um simbolismo. Não é uma nova mística, mas uma superação da ruptura.

• O problema do filósofo é responder porque ser justo (contra os cinismos, os apelos dos sacerdotes a recompensas amorais, os céticos que enxergam sacerdotes em todos).

• A filosofia é chamada a responder a falha dos simbolismos que não reconciliam o mundo com a razão (pretendem que ele é racional ou que ela deve ser desprezada).

• A filosofia da facticidade é a atitude adequada – a contingência absoluta é o símbolo buscado.

• Conciliação de surgimento com esperança: a fé racional no quarto Mundo.

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A cisão ética• Qual será a ética do quarto surgimento? Não é mais a ética da

esperança.• Superioridade humana: nosso desaparecimento provável (triste) e

nossa possível ressurreição (jubilante). A superioridade de direito de toda vida pensante sobre as demais.

• O humanismo factualista recusa toda inversão de valores que dá valor ao humano pelo não-humano. O humano vale porque acessa o absoluto (a contingência).

• O apego a esta vida porque ela tem valor. A ética do que virá deve ser uma ética do universal, do que funda o Mundo da justiça – e não a ética do simples gozo da eternidade (merecida).

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O mediador humano

• O mediador humano do quarto surgimento deve ser bom (guiado pelo universal), omnisciente, omnipotente (deve mediar por vontade própria, autonomamente), deve poder abolir seus poderes depois do surgimento e, de fato, aboli-los.

• O mediador deve ser uma criança (infans). O caráter crístico dessa criança funda uma ética que exclui as tentações da transcendência (e não é uma forma de religião racional).

• Queremos beber com os mortos sem a intervenção de um Deus revelado que estraga a festa.

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Contra o ateísmo• O ateísmo adere à visão religiosa da imanência e tenta se satisfazer

com ela.• A filosofia exorciza o ateísmo invocando a palavra “Deus” e

mostrando que é melhor que ele não exista, e assim condenando a religião pela crença de que Deus existe atualmente.

• A filosofia factualista preserva a espera espiritual do advento divino sem a fé em um Deus existente.

• Um Deus existente é a ferida de toda religião, pois elas pregam a submissão a algo amoral, e capaz, em suas manifestações, de extrema maldade.

• O ateísmo tem razão em rejeitar a existência atual de Deus, mas não de rejeitar sua possibilidade e sua presença como objeto racional de esperança.

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Os ancestrais de Deus

• A tarefa da filosofia: a inteligibilidade absoluta do ser enquanto ser e a apreensão da nossa imortalidade.

• Todo o discurso religioso se baseia na inevitabilidade de Deus, mas nós somos ancestrais possíveis dele, e não suas criaturas.

• A esperança troca a garantia pela possibilidade, dada a absoluta contingência.

• É racional que nós somos uma ponte – mas a ponte pode não acontecer jamais.

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Religião: blasfema e idólatra

• Blasfêmia: acreditar em um Deus existente é ter que defender as crueldades do mundo, é tomá-lo como o pior de todos os comandantes. Por outro lado, a expressão “inexistência divina” garante esperança a qualquer pessoa.

• Idolatria: acreditar em um Deus existente é pregar o amor a uma criatura horrível, responsável por calamidades.

• A filosofia factualista recria a relação com Deus prescindindo de sua necessidade e de sua existência atual, tornando-o o objeto de uma esperança racional calcada na contingência absoluta.

• Conciliação entre esperança política e relação com Deus: o advento da justiça.