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MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL TÍTULO DA DISSERTAÇÃO A educação ambiental não formal no processo de criação e gestão de unidade de conservação de uso sustentável: o caso da Reserva Serra do Cocho (RPPN) em Tremedal – BA Dissertação para obtenção do grau de: Mestre em, Gestão e Auditorias Ambientais Apresentado por: Josenalvo Cerqueira da Silva BRMAMGA733246 Orientador: Erik Simões SÃO PAULO, BRASIL 2017

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MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

TÍTULO DA DISSERTAÇÃO

A educação ambiental não formal no processo de criação e gestão de unidade de

conservação de uso sustentável: o caso da Reserva Serra do Cocho (RPPN) em

Tremedal – BA

Dissertação para obtenção do grau de:

Mestre em, Gestão e Auditorias Ambientais

Apresentado por:

Josenalvo Cerqueira da Silva

BRMAMGA733246

Orientador:

Erik Simões

SÃO PAULO, BRASIL

2017

DEDICATÓRIA

Ao Criador, fonte inesgotável de amor, que na necessária engrenagem da engenharia

universal da co-criação me fez enveredar, indelevelmente, rumo ao progresso, à

evolução e à perfectibilidade, sob o império da judiciosa paliginesia.

AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus, Causa Primária de todas as coisas, pela permissão de captar a

necessária inspiração e manifestar a essencial intuição que sempre me orienta na

condução de meu projeto de existencial;

Agradeço a Jesus, pelo exemplo de solidariedade, fraternidade e paradigma de

perfectibilidade que nos apresentou como orientação sublime;

A minha saudosa e amada mãe Guinalva Cerqueira, que apesar da interrupção abrupta

na presente experiência entre nós, deixou-nos um grande legado: a incondicionalidade ao

amor fraterno, à solidariedade, à honradez, à simplicidade...

Agradeço ao meu pai, José Ferreira e toda a minha grande família pela compreensão

mesmo que tácita, por minha longa ausência da convivência fraterna, em razão dos

inúmeros compromissos assumidos;

Minha amada irmã Keila Ribeiro (caçulinha) pela firmeza no compromisso assumido,

pelas alegrias compartilhadas em aventuras eco turísticas, pelos escambos, adições e

multiplicações adquiridas nas veredas existenciais;

Aos meus queridos avós com estima, gratidão e honra: Pedro Nunes e Basília Ferreira (in

memorian), pela sabedoria empírica e humilde, mas na qual, sempre saciei a sede de

mais saber do cotidiano;

Com gratidão agradeço especialmente a caríssima professora Odete Sampaio, por me

conduzir das primeiras letras, às primeiras lições de vida, para toda a vida, descortinando

e me apresentando ao saber;

Muito agradeço as queridas professoras: Doralice Coelho e Mª das Graças Gomes

Carneiro pela sedimentação das lições primeiras e ampliação do prazer na busca pela

sabedoria;

Agradeço ao primo Clebson Cerqueira, pelo entusiasmo e confiança depositados, além

de seus grandes esforços pela conservação da história e da cultura regional;

Ao estimado professor Erik Simões, pela segurança nos direcionamentos, orientando-me

sempre amparado pela razão, mas aliado da boa vontade e da compartilha, durante a

laboriosa realização deste gratificante trabalho;

A Funiber e a todos os seus colaboradores pela atenção e auxílio;

Agradeço ao Eduardo e ao Floriano competentes e excelentes técnicos do Inema

(Instituto do Meio Ambiente e Recursos Renováveis (Bahia)), pelo valiosíssimo trabalho

técnico-científico realizado na Serra do Cocho;

A CDA (Coordenação de Desenvolvimento Agrário (Bahia)) pela valiosa colaboração

técnica realizada na área demandada para criação da Reserva Ambiental;

Igualmente agradeço aos amigos sem exceção de nenhum pelo incentivo, pois sem tal, o

estímulo e o ânimo seriam diminutos para o enfrentamento de tamanho desafio; André

Luis Silva, Ilse Maria Edinger, Oswaldo Rodrigues, Diogo Albuquerque, Cristiano Oliveira,

Rubens Rodrigues Fº (e o pai também), Paolo Bruno, Eder Arakaki, Maria Rosa Filha,

Ingrid Lima, Vinicius Fonseca, Alessandro Oliveira, Joelma Lima, Ruy Alfredo, Nilza de

Fátima Silva, Suzanete Trindade. Muito obrigado, meus caros amigos!

Aos queridos amigos companheiros devotados à sociobiosustentabilidade: Juliana

Prates, Everaldo Santiago, Oscar Pereira, diretores da AASSC (Associação Ambiental e

Sociocultural da Serra do Cocho), qualificados pelos próprios predicados que emanam de

suas essências sociais, ambientais e culturais, autênticos defensores da

sociobiodiversidade e da ecosociobiosustentabilidade.

Aos novos e bons amigos de Tremedal – BA: Clovis Rodrigues, Helta Costa, Matheus

Ferraz, Paulo Marinho, Sandro Monteiro, Vitório Neto, Adailton Costa, Marisa Cândida,

Mathias Pereira, Célia Costa,...

Aos moradores das comunidades rurais do entorno da Reserva Ambiental da Serra do

Cocho, especialmente aqueles com muita boa vontade se dispuseram a colaborar com

esta pesquisa, concedendo-nos valiosas contribuições através das entrevistas realizadas

na pesquisa de campo;

Ainda agradeço ao casal de socioambientalistas dona Vera e seu Belo, generosos

apoiadores de nossa estada, durante todo o tempo da pesquisa de campo nas

comunidades do entorno da Serra do Cocho. Nossa eterna gratidão pelo carinho,

receptividade, acolhimento e pela hospedagem, confortável e agradável em sua própria

residência.

Muito agradeço ao casal de queridos amigos de Lençóis – BA, Carlos Henrique e Ivana,

seus filhos Micael, Michele e Rafael - “família Sossego”, pelo companheirismo e

compartilha de saberes ambientais empíricos, pelas memoráveis trilhas do Parque

Nacional da Chapada Diamantina, que muito me inspirou, impulsionando-me ao

aprofundamento dos estudos sobre Meio Ambiente e sociobiosustentabilidade.

Eterna gratidão a todos!

“RPPN a área é particular os benefícios são compartilhados”.

Pellin, A., 2017.

i

TERMO DE COMPROMISSO

Eu, Josenalvo Cerqueira da Silva, portador do documento de identidade 36.819.016-

X SSP/SP e aluno do programa acadêmico Mestrado em Gestão e Auditorias

Ambientais, declaro que:

O conteúdo do presente documento é um reflexo do meu trabalho pessoal e

manifesto que, diante de qualquer notificação de plágio, cópia ou prejuízo à fonte

original, sou responsável direto legal, financeira e administrativamente, sem afetar

o Orientador do trabalho, a Universidade e as demais instituições que colaboraram

neste trabalho, assumindo as consequências derivadas de tais práticas.

Assinatura:

ii

São Paulo, 24 de janeiro de 2018

Att: Direção Acadêmica

Venho por este meio autorizar a publicação eletrônica da versão aprovada

de meu Projeto Final com título A educação ambiental não formal no processo de

criação e gestão de unidade de conservação de uso sustentável: O caso da

Reserva Serra do Cocho (RPPN) em Tremedal - BA, no Campus Virtual e em outras

mídias de divulgação eletrônica desta Instituição.

Informo abaixo os dados para descrição do trabalho:

Título A Educação Ambiental não formal no processo de criação e gestão de unidade de conservação de uso sustentável: O caso da Reserva Serra do Cocho (RPPN) em Tremedal – BA.

Autor Josenalvo Cerqueira da Silva; Erik Simões

Resumo

A megabiodiversidade brasileira carece de proteção para conservação do plantel de espécies da fauna e flora, bem como dos recursos hídricos. Nesse contexto, as UC´s são de suma importância para garantir a existência das espécies e o equilíbrio dos ecossistemas. Dentre as categorias de UC, prevista no SNUC, as RPPN`s merecem destaque pela contribuição e alcance social que favorecem a conservação e preservação da biodiversidade.

Programa Mestrado em Gestão e Auditorias Ambientais

Palavras-chave

Educação Ambiental não formal; Unidade de Conservação de uso sustentável; Cultura e saberes populares; RPPN; Serra do Cocho.

Contato [email protected]; [email protected]

Atenciosamente,

Assinatura:

iii

ÍNDICE GERAL

INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 1

MARCO TEÓRICO ........................................................................................................... 9

1. UNIDADES DE CONSERVAÇÃO NO BRASIL ........................................................... 10

1.1. O SNUC e as Unidades de Conservação no Brasil ............................................... 11

1.1.1. Unidade de Conservação de uso sustentável .................................................... 13

1.1.1.2. Reserva do Patrimônio Particular Natural (RPPN) .............................................. 15

1.1.2. Unidade de Conservação de proteção integral ................................................. 22

1.2. O processo de criação de uma RPPN – Reserva do Patrimônio Particular

Natural ............................................................................................................................ 24

1.2.1. A Reserva do Patrimônio Particular Natural (RPPN) Serra do Cocho .............. 25

1.2.1.2. Articulações nas comunidades do entorno da área da Unidade Conservação

Serra do Cocho ................................................................................................................ 25

1.2.2. A participação social cidadã legitima e qualifica decisões .............................. 30

1.2.3. A democracia e a cidadania ambiental ............................................................... 33

2. A EDUCAÇÃO AMBIENTAL: PERSPECTIVAS E ESTRATÉGIAS ............................ 36

2.1. As perspectivas da educação ambiental ............................................................... 37

2.1.1. Educação Ambiental na Educação formal ......................................................... 39

2.1.2. Educação Ambiental na Educação Informal ...................................................... 40

2.1.3. Educação Ambiental na Educação não formal .................................................. 40

2.1.3.1. A Educação Ambiental não formal e o processo de criação de Unidades de

Conservação ................................................................................................................... 44

2.2. A Educomunicação e arteducação: estratégias para a educação ambiental ..... 46

2.3. Valorização da cultura regional e dos “saberes populares” ............................... 49

2.4. Aportes e suportes do engajamento e participação social cidadã através da

educação ambiental nas tomadas de decisões ........................................................... 50

2.5. A transversalidade, transdisciplinaridade e a interdisciplinaridade na Educação

Ambiental ....................................................................................................................... 52

2.6. Transformações individuais para vivências coletivas qualificadas .................... 56

3. A SERRA, O COCHO, PRESERVAÇÃO E SOCIABILIDADES .................................. 58

3.1. A nascente da Serra do Cocho, as cacimbas e as lavadeiras: harmonia e

sociabilidades ................................................................................................................ 64

3.2. Antropização e hiperexploração dos recursos naturais da Serra do Cocho ...... 69

3.3. Primeiros lampejos protetivos: identificação da Área de Preservação

Permanente Olho d´água da Serra do Cocho .............................................................. 71

iv

3.3.1. O longo processo para criação da UC: “a escolha e o preparo do solo” ........ 73

3.3.2. A propagação na comunidade das ideias para criar a UC: “O lançamento das

sementes do cume da serra” ........................................................................................ 73

3.3.3. Identificação de potenciais voluntários: “A semeadura em terra fértil” .......... 75

3.3.4. Esforços e muito suor, parcerias e parceiros voluntários: “Os trabalhadores

da última hora” .............................................................................................................. 76

3.3.5. Demarcação da área e regularização fundiária da Serra do Cocho: “A floração

e a anunciada colheita” ................................................................................................. 78

MARCO EMPÍRICO........................................................................................................ 83

4. CONTEXTUALIZAÇÃO ............................................................................................... 84

5. DESENHO METODOLÓGICO..................................................................................... 94

5.1. Introdução ............................................................................................................... 94

5.2. Amostras ................................................................................................................. 96

5.3. Materiais e métodos ............................................................................................... 96

5.4. Procedimentos ........................................................................................................ 98

6. RESULTADOS .......................................................................................................... 101

7. DISCUSSÃO ............................................................................................................. 105

8. CONCLUSÕES GERAIS ........................................................................................... 115

9. RECOMENDAÇÕES ................................................................................................. 117

BIBLIOGRAFIA ............................................................................................................. 119

ANEXOS E APÊNDICES ............................................................................................. 127

v

ÍNDICE DE FIGURAS

Figura 1.1: Os cinco estados do Brasil com o maior número de RPPN´s ......................... 17

Figura 1.2: Estados com maior área protegida (em hectare) por RPPN. .......................... 18

Figura 1.3: As dez maiores RPPN´s do Brasil .................................................................. 18

Figura 1.4: As dez menores RPPN´s do Brasil e sua localização .................................... 19

Figura 1.5: As dez maiores RPPN´s no Estado da Bahia ................................................. 20

Figura 1.6: Menores RPPN da BA ................................................................................... 21

Figura 1.7: Indicativo das nascentes da Serra dos Caititus .............................................. 26

Figura 1.8: Panorâmica beleza cênica da paisagem da Serra do Cocho e relevância

ecológica ......................................................................................................................... 27

Figura 1.9: Serra do Cocho e vegetação remanescente da Mata Atlântica ...................... 28

Figura 1.10: Placa identificadora da APP – Área de Preservação Permanente - Olho

D´Água do Cocho ............................................................................................................ 29

Figura 3.1: Painel de Arte do artista tremedalense Felipe Amaral .................................... 60

Figura 3.2: Ponto de distribuição de água canalizada da Serra do Cocho na comunidade

Quati ................................................................................................................................ 67

Figura 3.3: Cobertura da terra da Serra do Cocho e entorno ........................................... 80

Figura 3.4: Piquete com a insígnia da CDA (Coordenação do Desenvolvimento Agrário) 81

Figura 4.1: Mapa do Município de Tremedal e municípios vizinhos ................................. 86

Figura 4.2: Mapa do Estado da Bahia - Territórios de Identidade ................................... 87

Figura 4.3: Mapa do Território de Identidade Sudoeste Baiano ....................................... 88

Figura 4.4: Mapa da ocupação territorial e origem do Arraial da Conquista - BA ............. 90

vi

ÍNDICE DE TABELAS

Tabela 1.1: Categorias de Unidades de Conservação prevista no SNUC ....................... 12

Tabela 1.2: Cenários sugeridos pelo INEMA para a demarcação da área da Reserva

Serra do Cocho ................................................................................................................ 20

Tabela 4.1: Evolução do IDHM (Índice de Desenvolvimento Humano Municipal) do

município de Tremedal - BA ............................................................................................ 91

vii

ÍNDICE DE ANEXOS E APÊNDICES

Anexo 1: Biodiversidade do ecossistema da Serra do Cocho ........................................ 127

Anexo 2: Recursos hídricos do ecossistema da Serra do Cocho ................................... 129

Anexo 3: Ata de fundação da Associação Socioambiental e Cultural da Serra do

Cocho ........................................................................................................................... 130

Anexo 4: Ações Socioambientais do Projeto Tremedal Ecológico ................................. 133

Anexo 5: Ações Socioculturais do Projeto Tremedal Ecológico ..................................... 134

Anexo 6: Ações Socioeducativas do Projeto Tremedal Ecológico .................................. 135

Anexo 7: Manifestações poéticas locais........................................................................ 137

Apêndice 1: Questões-guia para entrevista com os moradores ..................................... 142

viii

LISTA DE ABREVIATURAS

ANA - Agência Nacional de Águas

APA – Área de Proteção Ambiental

APP - Área de Preservação Permanente

Art. – artigo

AASSC - Associação Socioambiental e Cultural da Serra do Cocho

AVA - Ambiente Virtual de Aprendizagem

CNUC - Cadastro Nacional de Unidades de Conservação

CNRPPN - Confederação Nacional de Reservas Particulares do Patrimônio Natural

CONAMA – Conselho Nacional do Meio Ambiente

CF – Constituição Federal

CNPJ – Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica

DF – Distrito Federal

EA - Educação Ambiental

EAD - Educação à Distância

ENCEA - Estratégia Nacional de Comunicação e Educação Ambiental

Ha - hectare

IBAMA – Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Renováveis

ICMBio - Instituto Chico Mendes de Biodiversidade

INEMA - Instituto do Meio Ambiente e Recursos Renováveis (Bahia)

LA - Lei da Educação Ambiental

LDB – Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional

LSNUC - Lei do Sistema Nacional de Unidades de Conservação

MEC – Ministério da Educação e Cultura

MMA – Ministério do Meio Ambiente

NCFLo - Novo Código Florestal

UC - Unidade de Conservação

OAB/SP – Ordem dos Advogados do Brasil Seccional São Paulo

ONG´s – Organizações não Governamentais

ONU – Organização das Nações Unidas

OS – Organização Civil

OSC – Organização da Sociedade Civil

OSCIP – Organização da Sociedade Civil de Interesse Público

PCNs - Parâmetros Curriculares Nacionais

Pnap - Plano Estratégico de Áreas Protegidas

ix

PNEA - Política Nacional de Educação Ambiental

PL – Projeto de Lei

PLS – Projeto de Lei Substitutivo

PRESERVA - Associação de Proprietários de RPPN da Bahia e Sergipe

RBJA – Rede Brasileira de Justiça Ambiental

REABA - Rede Baiana de Educação Ambiental

REBEA - Rede Brasileira de Educação Ambiental

REPAMS - Associação dos Proprietários de Reservas Particulares do Patrimônio Natural

do Estado de Mato Grosso do Sul

RPPN – Reserva do Patrimônio Particular Natural

SIMRPPN - Sistema Informatizado de Monitoria de RPPN do ICMBio

Sisnama - Sistema Nacional do Meio Ambiente

SNUC - Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza

x

RESUMO

O Brasil possui uma megabiodiversidade que necessita cada vez mais ser protegida,

preservada e conservada para usufruto pela presente e por futuras gerações. O SNUC

(Sistema Nacional de Unidades de Conservação) prevê doze categorias distintas de

unidade de conservação, cada uma com suas especificidades, cuja finalidade é melhor

gerir o patrimônio natural megabiodiverso. O presente trabalho investiga as contribuições

da educação ambiental não formal no processo de criação e gestão de unidade de

conservação de uso sustentável: o caso da Reserva Serra do Cocho (RPPN) em

Tremedal – BA. Trata-se de um estudo de caso orientado sob o prisma da educação

ambiental não formal, sobretudo, nos aportes da participação social cidadã democrática e

dos saberes populares regionais, que são molas propulsoras para o fortalecimento das

relações sociais e comunitárias, enfatizando a valorização da comunidade, com seu

cabedal histórico-cultural, promovendo a cidadania para que as pessoas da comunidade

possam participar das tomadas de decisões a cerca da criação e gestão da UC. O

objetivo geral da pesquisa é desenvolver um programa de educação ambiental não

formal, pautado na participação social cidadã e democrática, capaz de legitimar as

decisões em processo de criação e gestão de unidade de conservação de uso

sustentável. Tendo por direcionamento metodológico a pesquisa participante e a

pesquisação, com imersão do pesquisador na realidade das comunidades rurais do

entorno da Reserva da Serra do Cocho. Ao final, foi possível apurar que a comunidade

possui predisposição e determinação para trabalhar em mútua cooperação, de modo

solidário, em prol dos seus interesses difusos e coletivos, especialmente na defesa,

preservação e conservação do meio ambiente. Encontrando-se disposta a contribuir com

a sociosustentabilidade local, especialmente, para a preservação e a conservação do

ecossistema da Serra do Cocho.

Palavras-chave: Educação ambiental não formal; Demanda e criação de Unidade de

Conservação de uso sustentável; RPPN (Reserva Particular do Patrimônio Natural);

Cultura regional e saberes populares; Serra do Cocho.

xi

ABSTRACT

Brazil has a megabiodiversity that needs to be protected, preserved and conserved for

present and future generations. The NSCU (National System of Conservation Unit)

provides twelve distinct categories of conservation units, each one with its specificities,

with the purpose of a better way to manage the natural biodiversity. What is a work of

creation and management of the unit of conservation with sustainable use: the case of

Serra do Cocho Reserve (PRNP) in Tremedal - BA. It is a case of study oriented from the

perspective of a nonformal environmental education, above all, in the contributions of

citizen social participation and regional popular knowledge, which are driving propulsive

springs for the strengthening of social and community relations, emphasizing the value of

the community , with its historical-cultural background, promoting the citizenship so the

people of the community can participate in decisionmaking around the creation and

management of the UC. The general objective of this research is to develop a program of

non-formal environmental education, based on the social citizen and democratic

participation, capable of legitimizing decisions in the process of creation and management

of a sustainable use conservation unit. The methodological approach was the participant

research and the research, with the immersion of the researcher in the reality of the rural

communities around the Serra do Cocho Reserve. In the end, it was possible to verify if

the community has the predisposition and determination to work in mutual cooperation, in

solidarity, in favor of its diffuse and collective interests, especially in the defense,

preservation and conservation of the environment. Being willing to contribute with local

partners, especially, for the preservation and conservation of the Serra do Cocho

ecosystem.

Keywords: Non-formal environmental education; Demand and creation of a Sustainable

Use Conservation Unit; PRNP (Private Reserve of Natural Patrimony); Regional culture

and popular knowledge; Serra do Cocho.

1

INTRODUÇÃO

A humanidade atualmente encontra-se inserida em uma realidade econômico-social, em

que o culto e a prática dos hábitos consumeristas sobrepõem-se a quaisquer outras

possibilidades de modos de vida sustentáveis. Muitas vezes, sem nenhuma preocupação

para manter padrões de vida nesse patamar, que só tem gerado graves ameaças e

muitos problemas ambientais. Uma vez que, a exploração sem nenhum controle ou

planejamento dos recursos naturais tem sido uma prática habitual sem precedentes na

história.

A exacerbação do consumo, por sua vez, leva a exploração e depredação do meio

ambiente. São inúmeras as atividades produtivas que impactam diretamente os recursos

naturais: mineração, industriais, petrolíferas, urbanização desordenada, agropecuária

sem planejamento, irrigação sem controle, poluição atmosférica, poluição das águas

superficiais e subterrâneas, contaminação do solo, são apenas alguns meros exemplos

ilustrativos.

Os problemas e impactos ambientais se agravam à medida que as ocupações e

explorações regulares ou não, dos espaços naturais e dos seus recursos se intensificam

exponencialmente. Ressalta-se que da mesma maneira, o agronegócio brasileiro é um

setor produtivo que gera diversos embates entre ambientalistas, os produtores e o

governo. Justamente por seus imensuráveis impactos ambientais ao solo, ao ar, subsolo,

às águas, as florestas, as reservas ambientais e aos povos indígenas e tradicionais.

Visando mitigar os efeitos decorrentes das ações humanas desordenadas, a legislação

brasileira, uma das melhores do mundo, prevê várias possibilidades e estratégias para a

promoção da defesa e da conservação do meio ambiente e da diversidade ambiental.

O Brasil é um país megabiodiverso, com extensão territorial gigantesca, continental. A

defesa e a proteção do meio ambiente é uma questão complexa, porém urgente. A

Constituição brasileira de 1988 dispõe que o dever preservar e conservar o meio

ambiente é compartilhado entre a sociedade e o Estado.

Para atingir a eficiência e a eficácia na gestão do meio ambiente com a megadiversidade

de recursos naturais existentes e as múltiplas possibilidades de explorá-los, no Brasil, a

Lei nº 9.985/2000, institui o SNUC (Sistema Nacional de Unidades de Conservação da

2

Natureza), prevendo doze categorias de unidade de conservação, cada uma delas com

suas especificidades e objetos protetivos.

O processo de criação de uma Unidade de Conservação (UC) depende de ato

discricionário do Poder Público, a única exceção é a categoria RPPN (Reserva do

Patrimônio da Particular Natural) que depende de ato voluntário do proprietário da área

em que se deseja criar a reserva. Todavia, o órgão ambiental competente necessita

homologar o ato de criação e, posteriormente, executar fiscalização regularmente, na

reserva. A gestão e domínio da reserva são de responsabilidade do proprietário da área,

que se torna uma reserva ambiental perpetuamente. Todavia, não há nenhum

impedimento legal para o imóvel ser negociável.

A reservação de porção territorial para fins de criação de uma UC para a preservação e a

conservação da diversidade ambiental, suscita inúmeros conflitos étnico-sociais, raciais,

econômicos, financeiros, espirituais, morais, sentimentais e emocionais.

Nesse contexto, o que fazer para resolver os impasses e os conflitos gerados e

confrontados no processo de criação e de gestão da unidade de conservação?

As questões surgem durante o processo de apresentação da demanda para a criação de

uma UC são naturalmente, aclaradas e superadas à medida que sejam feitas divulgações

pertinentes através de ações de educação ambiental, que envolvam a temática da

importância da conservação e da preservação do meio ambiente e dos recursos naturais,

não apenas para a presente geração, sobretudo para as vindouras.

Por outro lado, outras grandes aliadas na mitigação e na resolução dos conflitos de

interesses advindos do processo de criação de uma unidade de conservação são: a

transparência e a participação social cidadã democrática; que, por sua vez, são fortes

aliadas durante todo o processo de demanda, criação e gestão da unidade de

conservação, mas também, posteriormente, na condução de sua gestão, que há que ser

compartilhada entre os atores sociais da comunidade do seu entorno.

Com efeito, o acompanhamento da demanda de criação da UC pelo número máximo

possível de pessoas residentes, ou ainda, por aquelas que possuam outros interesses

que por ventura venham a ser impactados: a participação nas audiências públicas,

simpósios, encontros, reuniões, são oportunidades basilares para o diálogo profícuo em

prol da coletividade e da defesa dos interesses difusos da comunidade em geral.

3

A motivação para trabalhar esse tema se deu na observação da baixa participação social

dos moradores das comunidades do entorno da Serra do Cocho no Município de

Tremedal – BA, no processo de criação e gestão da UC. Apesar de não ser natural da

região, atuo voluntariamente, oferecendo consultorias jurídica e ambiental no processo de

criação da unidade de conservação ambiental de uso sustentável: a RPPN Serra do

Cocho, por se tratar de área pública, isto é, devoluta, prescinde enormemente do

envolvimento da comunidade e da participação social cidadã democrática.

Assim, a justificativa para a realização do presente trabalho reside no propósito de

estabelecer um programa de ações estratégicas de Educação Ambiental, pautado nos

saberes populares tradicionais e cultura regional que estimule a participação social nas

etapas e nos procedimentos do longo processo de criação da UC.

Dessa maneira, ante a carência de diretrizes que orientem nesse sentido, os atores

sociais, políticos, lideranças comunitárias e pessoas interessadas em apresentar futuras

demandas de criação de UC, de um modo geral, terão como fonte de consulta e apoio

nos relatos dessa experiência para direcionamentos.

Por se tratar de temática com pluralidade de interesses, em que muitas vezes, não é

possível identificar a sua titularidade, pois é difuso; toda a sociedade será beneficiada: a

comunidade do entorno da Serra do Cocho terá benefícios diretos e a sociedade em

geral os indiretos, de modo difuso.

Desse modo traça-se uma conectividade que supere as divergências de opiniões para

uma convergência ajustada em debates e diálogos profícuos, legitimando a gestão do

interesse público e coletivo em detrimento do particular.

Objetivo geral

Desenvolver um programa de educação ambiental pautado na participação social cidadã

e democrática capaz de legitimar as decisões em processo de criação e gestão de

Unidade de Conservação de uso sustentável.

4

Objetivos específicos

• Realizar visitas para levantamentos in loco nas comunidades do entorno da Serra do

Cocho, visando à identificação de lideranças comunitárias, entidades e atores sociais

para catalogação de dados referenciais da cultura regional pautados nos usos, costumes

e saberes populares;

• Identificar e catalogar as manifestações culturais regionais, saberes populares e

perceber as influências delas na comunidade;

• Coletar depoimentos espontâneos de moradores da zona do entorno da Serra do Cocho

de fatos históricos que subsidiem a pesquisas, principalmente, quanto ao uso dos

recursos e serviços ambientais, a preservação e a conservação dos recursos naturais;

• Identificar na comunidade pessoas ou instituições da sociedade civil, que fossem

capazes de atuar em educomunicação e arteducação para divulgar a importância e a

prática da Educação Ambiental não formal para a sustentabilidade;

• Elaborar um plano de ações estratégicas de EA, fundamentado nas estratégias da

educação ambiental não formal, para implantar na UC Serra do Cocho.

Assim, o presente trabalho analisa o processo de criação e gestão da UC da Serra do

Cocho em Tremedal – BA. Localizada na comunidade rural Salininha, uma comunidade

de pequenos produtores rurais, no município de Tremedal.

Ocorre que, a área demandada é uma área pública que tradicionalmente a comunidade

conserva e preserva todo o ecossistema. A comunidade é detentora da posse mansa e

pacífica do imóvel. Desse modo, a Associação Ambiental e Sociocultural da Serra do

Cocho requereu junto a CDA (Coordenação de Desenvolvimento Agrário) da Bahia, o

título de propriedade da área demandada, para após criar a RPPN, na integralidade do

imóvel destinando-o, exclusivamente, para a conservação e preservação da

biodiversidade.

Dessa maneira, passamos a apresentar, suscintamente, o conteúdo do presente

trabalho. Assim, por através da trilha que se inicia no Primeiro Capítulo deste trabalho,

onde faremos uma análise da legislação ambiental vigente no Brasil, especificamente, a

Lei nº 9.985/2000, que institui o SNUC (Sistema Nacional de Unidades de Conservação

da Natureza); a Lei nº 6.938/81, que dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente e

a Lei nº 9795/99 (Lei da Educação Ambiental). Serão observadas as categorias de UC´s.

Por esta esteira, será analisada a demanda de criação das UC´s e o seu processo de

5

criação, bem como a sua oficialização, ambos pautados na participação social

democrática e cidadã.

Já que na realidade brasileira a existência de leis não é sinônimo de garantia e eficácia

dos instrumentos por elas mesmas previsto e disciplinados. Nesse diapasão, a sociedade

civil e os cidadãos comprometidos com a ética e as boas práticas de conservação e

preservação ambientais, unem-se com o propósito de melhorias para a sociedade em

geral e para a sua comunidade.

É nesse contexto que, as comunidades do entrono da Serra do Cocho, na zona rural do

Município de Tremedal no sudoeste da Bahia, se unem em esforços coletivos e solidários

para proteger, conservar e preservar o ecossistema biodiverso através da criação de UC.

Mantendo o ritmo constante, na trilha, adentra-se, por através de incursão no Segundo

Capítulo, na educação ambiental, com semelhante denodo na análise da

educomunicação e arteducação aplicadas à EA; a transversalidade e a

interdisciplinaridade enquanto práticas muito usadas na educação ambiental e as suas

perspectivas, detendo-se com maior atenção na educação ambiental não formal, posto

que, é o mote desse trabalho.

Para o Terceiro Capítulo: A Serra, o cocho, preservação e sociabilidades. Já com os

passos ajustados no ritmo firme, porém sereno e autêntico chega-se ao mirante da “Serra

do Cocho” e de lá observa-se a sua evolução e importância histórica para a comunidade.

Lugar que inspira muitas sociabilidades, harmonia e convivências dos atores sociais da

comunidade: desde a serenidade e harmonia dos tempos áureos da “Serra”, à cobiça e a

exploração do pretérito imperfeito; da melancolia e esperança do pretérito perfeito ao

despertamento à atitude do presente que nos conduzirá ao plano de ação estratégica de

educação ambiental, embasado na valorização dos saberes populares e da cultura

regional, a ser implantado na gestão da UC e no futuro Plano de Manejo da Reserva

Ambiental da Serra do Cocho.

Todo esse percurso conduz ao Plano de Ações Estratégicas Educação Ambiental da

Reserva Serra do Cocho, que, de per si, é autêntico, pois, nasce de suas próprias forças:

a solidariedade, a união, a participação democrática cidadã e nos saberes populares

tradicionais regionais. Todo esse percurso está fundamentado na educação ambiental em

sua perspectiva não formal.

6

No Quarto Capítulo: Contextualização. Descreve-se o contexto do objeto de estudo da

pesquisa. Descreve-se a Serra do Cocho e o seu entorno: principais características

físicas, geográficas, ambientais, sociais e econômicas. Contempla ainda alguns dados

históricos mais importantes da região, do município de Tremedal e do Território de

Identidade do Sudoeste Baiano.

No Quito Capítulo: Desenho Metodológico. Demonstra-se a metodologia usada na

persecução para o alcance dos objetivos propostos na realização da pesquisa. A

pesquisa participante, com a imersão do pesquisador no convívio das comunidades rurais

do entorno da Reserva Ambiental, realizando observação direta da realidade fática da

região, bem como, a participação em eventos da comunidade, e, ainda, conduzindo

entrevistas com os moradores, pautadas em perguntas abertas, suscintamente

conduzidas ou induzidas, com a finalidade de investigar a realidade, o modo que vivem,

as interações com o meio ambiente e a percepção da necessidade de preservar e

conservar a biodiversidade da Serra do Cocho.

No Sexto Capítulo: Resultados. Apresenta-se os resultados mais significativos que se

alcançou através da realização da presente pesquisa. Demonstra-se que o objetivo

especifico foi alcançado: desenvolver um programa de educação ambiental não formal,

pautado na participação social cidadã e democrática capaz de legitimar as decisões em

processo de criação e gestão de unidade de conservação de uso sustentável; bem como

os objetivos específicos foram alcançados na medida que:

Realizou-se visitas de campo para levantamentos in loco nas comunidades do entorno da

Serra do Cocho, visando à identificação de lideranças comunitárias, entidades e atores

sociais para catalogação de dados referenciais da cultura regional pautados nos usos,

costumes e saberes populares;

Identificou e catalogou as principais manifestações culturais regionais, saberes populares

e se percebeu as influências delas na comunidade;

Coletou-se depoimentos espontâneos de moradores da zona do entorno da Serra do

Cocho de fatos históricos que subsidiam a pesquisa, principalmente, quanto ao uso dos

recursos e serviços ambientais, a preservação e a conservação dos recursos naturais;

Identificou-se na comunidade pessoas e instituições da sociedade civil, que fossem

capazes de atuar em educomunicação e arteducação para divulgar a importância e a

7

prática da Educação Ambiental não formal para a sustentabilidade, a preservação e

conservação ambiental;

Elaborou-se um plano de ações estratégicas de EA, fundamentado nas estratégias da

educação ambiental não formal, para implantar na UC Serra do Cocho.

Ainda observou-se in loco na comunidade que, de modo geral, possui excelente aptidão

para sociabilidades e também para a participação social cidadã democrática. Estando

disposta a apoiar e a colaborar com a preservação e a conservação da Serra do Cocho,

pois entende que seja um patrimônio ambiental, sócio-histórico-cultural, biodiverso seu

que deve ser mantido para a presente e futuras gerações.

No Sétimo Capítulo: Discussão. Apurou-se no referencial teórico que o Estado da BA

lidera o ranque entre os demais estados do Brasil, na quantidade de UC da categoria

RPPN. Sua menor UC nesta categoria possui apenas 4,11 ha.

Por outro lado, no referencial empírico, registrou-se através do histórico (verbal) da área

demandada, que a Serra do Cocho sempre foi composta de terras públicas. A

comunidade sempre exerceu a posse mansa, livre e pacífica, portanto, com “animus

domini”, na integralidade da área. Consensualmente, toda área, desde pretérito remoto,

sempre foi destinada à preservação e à conservação do ecossistema. Em razão dessa

realidade fática é que a comunidade decidiu implantar uma UC na categoria RPPN, posto

que, dentre as doze categorias previstas no SNUC, é esta, a que melhor atende aos

desejos e a realidade da comunidade.

Apesar que, na categoria RPPN, trata-se de uma UC de propriedade privada, os

benefícios advindos são coletivos e difusos, beneficiando a todos indiretamente. Contudo,

o ecossistema da Serra do Cocho, mantem-se preservado e conservado com as suas

características e funções protegidas por um aparato legal. O que se traduz em segurança

e oficialidade para a comunidade.

A participação social cidadã e democrática já é uma vivência familiar à comunidade. Essa

realidade qualifica os atores sociais para, efetivamente atuarem integrando o Conselho

Gestor e participando da elaboração do Plano de Manejo da Unidade de Conservação.

No Oitavo Capítulo: Conclusões Gerais. As comunidades rurais do entorno da Serra do

Cocho possuem aptidão e desejo por melhorias em sua realidade de pequenos

8

produtores rurais. Têm muita expectativa que a oficialização da UC vai contribuir para o

desenvolvimento da região. Possibilitando oportunidade de obterem renda,

principalmente através do turismo rural e do ecoturismo.

As práticas comunitárias pautadas em sociabilidades fortalecem os laços de amizade,

solidariedade, companheirismo e união em prol de conquistas socioambientais para a

comunidade. Por exemplo, a construção da Casa da Cultura, projeto capitaneado pelo

Projeto Tremedal Ecológico (AASSC) e os mutirões para fazer “aceiros” das cercas da

reserva, bem como, manutenção das trilhas no interior da reserva.

As estratégias da educação ambiental na sua modalidade não formal é grande aliada no

processo de sensibilização, divulgação e formação das pessoas das comunidades do

entorno da unidade de conservação.

No Nono Capítulo: Recomendações. A comunidade possui grande cabedal histórico-

cultural e sociobiodiverso que necessita ser melhor explorado, estudado, investigado com

mais profundidade em futuros trabalhos realizados na região. Há que se atentar ainda

que, o município de Tremedal possui interessante plantel no campo da

ecosociobiodiversidade, bem como, todo o Território de Identidade do Sudoeste Baiano,

que renderão promissoras investigações científicas.

9

MARCO TEÓRICO

10

1. UNIDADES DE CONSERVAÇÃO NO BRASIL

A reservação de porções territoriais destinando para a preservação e a conservação da

biodiversidade é uma realidade mundialmente difundida e praticada. O Brasil segue essa

dinâmica criando diversas unidades de conservação com objetivos e destinação

protetivas específicos para cada categoria.

Ante a ascensão da já dominante crise ambiental, sem precedentes na história da

civilização moderna (Grun, 2007, Moraes, 2005, Azevedo, 2006, Trigueiro, 2005, 2009)

apesar dessa realidade, o Brasil vem se dedicado esforços para a implementação da

“Política Ambiental”, que instrumentaliza e incentiva a criação e a gestão de unidades de

conservação da biodiversidade.

Em um país cujas dimensões são continentais, como é o caso do Brasil, em que as

complexidades socioambientais atingem níveis diretamente proporcionais ao seu

tamanho, principalmente as referentes à preservação e a conservação da biodiversidade,

ainda não ocupam a devida importância e a necessária urgência. Apesar dos esforços da

sociedade civil organizada, do governo e de entidades socioambientalistas, as áreas

protegidas, ainda são insuficientes para a proteção e defesa da megabiodiversidade

brasileira.

No campo jurídico e no legislativo, a produção legislativa é qualificada e muitas leis são

concebidas para a promoção e a defesa do meio ambiente ecologicamente equilibrado

para a presente e as futuras gerações.

Todavia, a aplicabilidade prática dessas leis ainda não é eficaz. O que não permite que

atinja os objetivos para os quais foram elaboradas. Como é a hipótese da garantia de um

ambiente que promova a sadia qualidade de vida, e ainda assegure a preservação e a

conservação da biodiversidade, e da promoção do desenvolvimento sustentável. São

apenas exemplos ilustrativos do cenário que se encontram as questões relativas à defesa

do meio ambiente, da educação para a preservação, a conservação, a promoção

convivência harmoniosa e sustentável com as unidades de conservação.

Ante essa realidade, a sociedade civil organizada une-se com esforços coletivos, atua

pressionando e apresentando propostas ao Poder Público para que crie espaços

específicos que favoreçam a conservação e a preservação ambiental. Esses espaços

11

naturais protegidos são as denominadas Unidades de Conservação, que podem ser: de

proteção integral ou de uso sustentável, de acordo com as especificidades protetivas às

quais se destina.

Existem divergências doutrinárias quanto à denominação, Unidades de Conservação,

utilizada pela Lei nº 9.985/2000, que institui o Sistema Nacional de Unidades de

Conservação (SNUC). Alegam que o correto seria usar a expressão já consolidada na

Constituição Federal de 1988, no artigo 225: “espaços territoriais”. Enquanto que, a

legislação infraconstitucional usa a denominação unidade de conservação. Apontam que

o Brasil é o único país do mundo a usar essa denominação para os espaços geográficos

especialmente protegidos.

Apesar dessa realidade, encontra-se em todo o Brasil, segundo o Ministério do Meio

Ambiente (2016) 1.582.758 Km2 de área protegida por várias UC´s, nas mais diversas

categorias, totalizando 2.029 Unidades de Conservação no país. O Brasil é signatário da

Convenção sobre Diversidade Biológica – CDB, que entrou em vigor através do Decreto

Legislativo nº 2, de 1994, prevendo que até 10% da área de cada bioma brasileiro seja

protegido por UC´s, até o ano de 2010.

Contudo, existe em todo território brasileiro 516821.43 de hectares de área protegida

através da categoria RPPN – Reserva Particular do Patrimônio Natural, distribuídas por

todos os estados. São 666 unidades de conservação na categoria RPPN no Brasil.

Particularmente, no Estado da Bahia existem 104 RPPN´s, perfazendo 47209.01 de

hectares protegidos por esta categoria de unidade de conservação.

1.1. O Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC) e as Unidades de

Conservação no Brasil

Diante da problemática envolvendo as ações antrópicas e os impactos por elas causados

no ambiente natural, bem como a necessidade de espaços geográficos especialmente

protegidos para a preservação e conservação da biodiversidade, o Legislativo brasileiro,

elaborou e aprovou a Lei nº 9.985/2000, instituindo o Sistema Nacional de Unidades de

Conservação da Natureza (SNUC).

Essa iniciativa tem por finalidade regulamentar a previsão constitucional do artigo 225, §

1º, incisos I, II, III e VII da Constituição Federal do Brasil de 1988. Justamente para

12

atender as demandas da sociedade civil, de ONG´s, e de pessoas, movimentos

ambientalistas e ecologistas envolvidos com as causas ambientais.

A própria lei que instituiu o SNUC, já mencionada anteriormente, estabelece os critérios e

normas para a criação, implantação e gestão das unidades de conservação (Lei nº

9.985/2000, art. 1º).

O SNUC, por ser um sistema nacional das unidades de conservação no país, se traduz

em um conjunto de diretrizes e procedimentos oficiais que possibilitam as esferas

governamentais, bem como os particulares na criação, implantação e gestão das UC´s,

sistematizando assim a preservação ambiental no Brasil. Ele é formado por doze

categorias de UC (Tabela 1.1), cujos objetivos específicos se diferenciam quanto à forma

de proteção e usos permitidos: aquelas que precisam de maiores cuidados, pela sua

fragilidade e particularidades, e aquelas que podem ser utilizadas de forma sustentável e

conservadas ao mesmo tempo.” (Lei nº 9985/2000)

Categorias de Unidades de Conservação prevista no SNUC – Sistema Nacional de Unidades de Conservação

UC de proteção integral UC de uso sustentável Estação Ecológica Área de Proteção Ambiental Reserva Biológica Área de Relevante Interesse Ecológico Parque Nacional Floresta Nacional Monumento Natural Reserva Extrativista Refúgio de Vida Silvestre Reserva de Fauna Reserva de Desenvolvimento Sustentável Reserva Particular do Patrimônio Natural Tabela 1.1: Categorias de Unidades de Conservação prevista na Lei nº 9985/2000 que

institui o SNUC – Sistema Nacional de Unidades de Conservação. Fonte: Ministério do

Meio Ambiente (2010).

Aliás, é também o mesmo instrumento legal mencionado, que define o que é Unidade de

Conservação, em seu artigo 2º, inciso I:

espaço territorial e seus recursos ambientais, incluindo as águas jurisdicionais, com características naturais relevantes, legalmente instituído pelo Poder Público, com objetivos de conservação e limites definidos, sob regime especial de administração, ao qual se aplicam garantias adequadas de proteção.

Da análise desse dispositivo legal destaca-se que, a UC compreende um espaço

territorial com limites definidos abrangendo todo o plantel de seus recursos naturais,

incluindo os serviços ambientais. Interessa notar que o Poder Público é o responsável por

13

sua instituição, através do instrumento normativo adequado a cada caso, por exemplo:

Lei, Decreto, Decreto-Lei. Por Poder Público, entende-se que é a correspondente chefia

do Poder Executivo: Presidente da República, Governadores e Prefeitos; Poder

Legislativo: Presidentes da Câmara e do Senado, Presidente das Assembleias

Legislativas, Câmara Distrital (DF) e da Câmara de Vereadores. Estes são os legitimados

por lei para criarem uma UC.

Logicamente que a sociedade civil pode e deve, no exercício da cidadania, atendendo

aos requisitos legais, apresentar ao Poder Público, a demanda de criação de uma

Unidade de Conservação. E este, através dos órgãos competentes da Administração

Pública, solicitará os estudos de viabilidade técnica e econômica. Devendo todas as

provas ser acostadas ao processo de criação da unidade de conservação com os

documentos e relatórios, fundamentados inclusive em visitas de campo nas comunidades

do entorno e em toda a área demandada.

O Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza – SNUC, através da lei

que o instituiu, também previu o Cadastro Nacional de Unidades de Conservação

(CNUC). Este cadastro fica sob responsabilidade do MMA – Ministério do Meio Ambiente,

que o organiza e o mantém atualizado. Dessa maneira, o CNUC é um sistema integrado

de banco de dados com informações padronizadas das unidades de conservação geridas

pelos três níveis de governo e por particulares.

Segundo o MMA, (2015a) além do artigo 225 da Constituição Federal de 1988 e do

SNUC, existem outros instrumentos legais que justificam a criação de UC. Trata-se do

Plano Estratégico de Áreas Protegidas (Pnap), instituído por meio do Decreto no

5.758/2006.

O Pnap, por sua vez, segundo o MMA (2015a) reconhece não apenas a necessidade de

proteção, mas de articulação entre UCs presentes no território e destas com outras

políticas públicas que tratem dos povos e comunidades tradicionais, do desenvolvimento

regional sustentável e do fomento à participação social.

1.1.1. Unidade de Conservação de uso sustentável

O plantel de categorias de Unidades de Conservação de uso sustentável é amplo.

Segundo a Lei 9.985/2000, artigo 14, prevê as seguintes categorias de UC´s, que

compreende: Área de Proteção Ambiental; Área de Relevante Interesse Ecológico;

14

Floresta Nacional; Reserva Extrativista; Reserva de Fauna; Reserva de Desenvolvimento

Sustentável; e Reserva Particular do Patrimônio Natural.

As possibilidades de proteção da biodiversidade através das categorias do grupo uso

sustentável são muitas. Todavia, cada uma delas tem um objetivo específico de proteção

para atingir. Na verdade, o que vai definir a escolha por uma categoria específica será o

objeto que se busca proteger.

O objetivo principal desse grupo de categorias de UC´s é compatibilizar a conservação da

natureza com o uso sustentável de parcela dos seus recursos naturais.

No presente trabalho, é analisada a categoria Reserva Particular do Patrimônio Natural

(RPPN), posto que, constitui o cerne dessa dissertação. Será melhor detalhada nos itens

seguintes e durante o desenvolvimento do presente capítulo.

Assim, a legislação conceitua a Reserva Particular do Patrimônio Natural: é uma área

privada, gravada com perpetuidade, com o objetivo de conservar a diversidade biológica.

(Lei nº 9.985/2000; Art. 21).

Impende consignar que por diversidade biológica o Decreto Legislativo nº 2, de 1994

dispõe que:

significa a variabilidade de organismos vivos de todas as origens, compreendendo, dentre outros, os ecossistemas terrestres, marinhos e outros ecossistemas aquáticos e os complexos ecológicos de que fazem parte; compreendendo ainda a diversidade dentro de espécies, entre espécies e de ecossistemas.

Existe divergência legais e doutrinária a respeito de qual grupo de categorias de UC´s

deve integrar a RPPN. No sentido de corrigir as discrepâncias da atual legislação, juristas

e legisladores têm se mobilizado. Encontra-se em trâmite no Congresso Nacional o

Projeto de Lei de autoria do então Deputado José Sarney Júnior, que dispõe sobre a

criação, gestão e manejo de Reserva Particular do Patrimônio Natural – RPPN, e dá

outras providências. Trata-se do PL nº 1.548-A, de 2015.

Para Araújo (2017), as RPPN´s não são unidades de conservação de uso sustentável. O

entendimento desse jurista é embasado, justamente nas “colisões” e incongruências das

leis do Ordenamento Jurídico Brasileiro, e elenca algumas hipóteses:

15

não poderá o proprietário da RPPN gozar de benefícios legais, como participação em editais de pagamentos por serviços ambientais (PSA), nem servirá tal RPPN para emissão de Cota de Reserva Ambiental (CRA), porque o inciso III do art. 44 do Novo Código Florestal (NCFLo), instituído pela lei 12.651/12, prevê este título nominativo como representativo de área com vegetação nativa, existente ou em processo de recuperação, protegida "na forma de Reserva Particular do Patrimônio Natural - RPPN, nos termos do art. 21 da lei 9.985, de 18 de julho de 2000". Ou a RPPN segue o modelo jurídico do art. 21 da LSNUC, ou não serve aos propósitos do art. 44 do NCFLo.

Tal iniciativa legislativa busca readequar o grupo em que está vinculada a categoria da

RPPN, remanejando-a para o grupo de categorias de Unidade de Conservação de

proteção integral1. Este remanejamento de um grupo para o outro consta da justificação

para o Projeto de Lei, em análise, nestes termos:

Diante do quadro atual, e considerando a importância das RPPN´s, estamos propondo uma legislação que contemple os interesses do Estado e da sociedade. Sem perder sua matriz preservacionista, a RPPN deve ter elementos capazes de seduzir os proprietários de um modo geral, e não somente os ambientalistas, para que seu número seja ampliado no País. A RPPN faz parte do grupo das unidades de conservação de uso sustentável, sendo regulamentada pelo Decreto nº 5.746 de 5 de abril de 2006. Nossa proposta corrige essa anomalia legal, modificando a sua categoria para proteção integral. (PL nº 1.548-A, de 2015).

Nota-se que há também uma preocupação do legislador em harmonizar, equilibrando as

partes interessadas na criação de RPPN: o proprietário que passará ter benefícios

econômicos e financeiros mais salvaguardados e o Estado estimulará a criação de maior

número de reservas ambientais, beneficiando indiretamente, a sociedade. Além de

proporcionar a proteção da sociobiodiversidade, o equilíbrio e a qualidade ambiental.

1 Sônia Wiedmann, procuradora aposentada do IBAMA e uma das mentoras dessas unidades de conservação, se pronunciou: O artigo 21 da lei do SNUC é claro quando estabelece, em seu § 2º, expressamente, as atividades possíveis em uma Reserva Particular do Patrimônio Natural, relacionando o ecoturismo, a educação ambiental e a pesquisa científica. Fica claro que qualquer outra atividade é terminantemente proibida e, em havendo violação das normas legais, aplicam-se as punições da Lei nº 9.605/98 e do Decreto nº 3.179/99, Lei de Crimes Ambientais e seu decreto administrativo regulamentar, respectivamente. Como essas três atividades são permitidas em unidades de Proteção Integral, é, no mínimo, estranho que as RPPNs estejam incluídas no grupo de Uso Sustentável. Da leitura do artigo 21, que trata das RPPNs, observamos que o seu parágrafo 3º está vetado. Na redação original deste parágrafo, estava inserida a possibilidade de se exercer uma outra atividade dentro das RPPNs, a qual, se aprovada, as baniria do grupo de Proteção Integral, pois ali se incluía o extrativismo no seu interior. Felizmente, o veto presidencial evitou essa descaracterização perigosa e as razões do veto, por si só, justificaram sua exclusão. Criou-se, aqui (na lei do SNUC), uma anomalia legislativa, pois, embora colocada, originalmente, no Grupo de Uso Sustentável, por permitir uma atividade extrativista, a exclusão dessa atividade a tipifica, indubitavelmente, como de Proteção Integral, pois, permite-se apenas, nestas áreas, atividades típicas de preservação.

16

1.1.1.2. Reserva do Patrimônio Particular Natural (RPPN)

A proteção da biodiversidade em áreas privadas, por iniciativa do próprio proprietário

rural remonta ao ano de 1934, com a vigência da Lei Florestal, eram previstos espaços

naturais denominados de “Florestas Protetoras” REPAMS (2006).

Em toda a América Latina, apenas o Brasil, através do Decreto Federal nº 4.3.40/2002,

incluiu as reservas privadas no sistema de áreas protegidas oficial.

Atualmente está prevista na Lei no SNUC, porém disciplinada através do Decreto Nº

5.746/2006. A RPPN, será gravada com perpetuidade, por intermédio de Termo de

Compromisso averbado à margem da inscrição no Registro Público de Imóveis (Art. 1º

Decreto Nº 5.746/2006).

As RPPN´s contam com grandes adeptos, o que tem possibilitado a sua divulgação. São

pessoas das mídias, artistas, ativistas ambientais, ecologistas, grandes empresários.

Dentre todas as categorias de unidades de conservação previstas no SNUC, a Reserva

Particular do Patrimônio Nacional é a única que conta com uma data comemorativa

oficial. Será comemorado pela primeira vez, esse ano, no dia 31 de janeiro, de acordo

com a Lei nº 13.544/17, o dia Nacional das RPPN´s.

A preservação e a conservação da diversidade biológica através da categoria de unidade

de conservação RPPN, é uma realidade em que o cidadão particular coopera com o

Estado, para a obtenção dos fins protetivos e conservacionistas da biodiversidade

brasileira. Assim, para Mendonça (2004, citado por Lucena, 2010, p. 4).

“essas RPPN’s representam um dos primeiros passos para envolver a sociedade civil na conservação da diversidade biológica e, por intermédio desse mecanismo, a propriedade privada dá sua contribuição à proteção do meio ambiente e aumenta significativamente a possibilidade de se obter um cenário em que haverá muito mais áreas protegidas, tanto em termos de qualidade quanto de quantidade”.

Há que se entender o particular, nesse caso, não apenas, a pessoa física, mas também,

as pessoas jurídicas, como as empresas privadas, associações de direito privado da

sociedade civil, cooperativas, ONG, OSCIP e empresas de capital misto.

17

No Brasil, segundo a CNRPPN - Confederação Nacional de Reservas Particulares do

Patrimônio Natural2 em 2006, havia 530 mil hectares protegidas através de RPPN. Mas, o

Ministério do Meio Ambiente - MMA, (2016) tem registradas 808 reservas, colaborando

com a preservação ambiental por 5.540 Km2, em diversos biomas brasileiro.

De acordo com o Sistema Informatizado de Monitoria de RPPNs – SIMRPPN (2006), o

país contava, com 640 unidades desta categoria de unidade de conservação. Os dois

estados que se destacam com maior número de reservas são a Bahia, com 102 reservas

que cobrem 46.817 hectares, e Minas Gerais, com 88 reservas sobre 33.140 hectares.

(Figura 1.1)

Figura 1.1: Os cinco estados do Brasil com o maior número de RPPN´s. Fonte: Sistema

Informatizado de Monitoria de RPPNs – SIMRPPN do ICMBio.

Embora tenha apenas 15 reservas, Mato Grosso se destaca por possuir a maior área

protegida por reservas privadas: 172.980 hectares (Figura 1.2).

2 CNRPPN - Confederação Nacional de Reservas Particulares do Patrimônio Natural, cujos objetivos: Representar as associações estaduais de proprietários de RPPN; Defender, preservar e conservar o meio ambiente e os recursos naturais renováveis; Fortalecer a organização e mobilização das associações de RPPN; Fomentar o reconhecimento, consolidação, proteção e sustentabilidade das RPPN. A PRESERVA - Associação de Proprietários de RPPN da Bahia e do Sergipe é filiada a CNRPPN.

0

20

40

60

80

100

120

MT MS BA PI MG

Estados com maior quantidade de RPPN

18

Figura 1.2: Estados com maior área protegida (em hectare) por unidade de conservação

RPPN. Fonte: Sistema Informatizado de Monitoria de RPPNs – SIMRPPN do ICMBio.

Atualmente, as duas maiores RPPN do Brasil, segundo o SIMRPPN (2006) são: RPPN

Estância Ecológica SESC Pantanal de propriedade do Serviço Social do Comércio em

Barão de Melgaço – MT, com 49485,72 ha e a RPPN Estância Ecológica SESC –

Pantanal, também de propriedade do Serviço Social do Comércio – em Barão de

Melgaço – MT, com 38385,72 ha (Figura 1.3).

Figura 1.3: Maiores RPPN´s do Brasil. Fonte: Sistema Informatizado de Monitoria de

RPPN´s – SIMRPPN do ICMBio.

19

Contudo, existe uma RPPN registrada no SIMRPPN (Sistema Informatizado de Monitoria

de RPPN) do ICMBio, com menos de um hectare de extensão: RPPN Carbocloro S/A em

Cubatão – SP, com apenas 0,70 ha. Estes dados evidenciam o porquê da legislação não

instituir o tamanho da área que será transformada em RPPN, nem mínimo, nem máximo

(Figura 1.4).

Figura 1.4: As dez menores RPPN´s do Brasil e sua localização. Fonte: Sistema

Informatizado de Monitoria de RPPNs – SIMRPPN do ICMBio.

No Estado da Bahia, apesar de existir 104 RPPN,s cadastradas no SIMRPPN (Sistema

Informatizado de Monitoria de RPPN) do ICMBio, totalizando 47209.01ha de área

protegida através desta categoria de UC. Por outro lado, não consta nenhuma RPPN

cadastrada em todo o Território de Identidade Sudoeste Baiano. Indicativos apontam que

a Reserva Ambiental Serra do Cocho será a primeira RPPN a integrar o SIMRPPN,

dentre todos os 24 municípios que compõem o território (Figura 1.5).

Cubatão - SP

6%

Brasília - DF

8%São João

Nepomuceno - MG

8%

Teresópolis - RJ

8%

Nova Friburgo - RJ

9%

Cláudio -

MG

9%

Cavalcante - GO

12%

Monte Sião - MG

12%

Caraguatatuba - SP

13%

Porto Alegre - RS

15%

Menores RPPN´s do Brasil

20

Figura 1.5: As dez maiores RPPN´s no Estado da Bahia. Fonte: Sistema Informatizado de

Monitoria de RPPNs – SIMRPPN.

Os estudos de viabilidade técnica para a demarcação da área da RPPN Reserva da

Serra do Cocho indicam que a área total da reserva compreende 54,00ha. Todavia,

levantamentos do INEMA realizados em in situ, ofereceram quatro cenários possíveis de

estudos para a efetivação da UC, conforme apresentamos na Tabela 1.2.

Cenários sugeridos pelo INEMA para demarcação da UC

Cenários sugeridos para demarcação pelo INEMA

Área apurada para estudo/demarcação em ha

Primeiro cenário 67,73ha Segundo cenário 88,66ha Terceiro cenário 80,21ha Quarto cenário 154,28ha

Tabela 1.2: Cenários sugeridos pelo INEMA para a demarcação da área da Reserva

Ambiental Serra do Cocho. Fonte: Acervo do Projeto Tremedal Ecológico.

21

Após os estudos, a entidade proponente da demanda de criação da reserva ambiental

optou pelo primeiro cenário, tendo vista que os demais comportariam demandas e litígios

para apuração da titularidade da área. Ocorre que o GPS usado pelos técnicos do INEMA

não era geodésico. A CDA, através do GPS geodésico apurou divergência para o

primeiro cenário, o tamanho da área menor ficou em 54,00 ha.

Encontra nos registros da base dados do SIMRPPN a maior RPPN do Estado da Bahia

que fica no município de Porto Seguro, a RPPN Estação Veracel, com 6069,00 ha; e a

menor, é a RPPN Maria Maria no município de Saúde, cuja área é de apenas 4,11 ha

(Figura 1.6).

Figura 1.6: Menores RPPN da BA. Fonte: Sistema Informatizado de Monitoria de RPPNs

– SIMRPPN do ICMBio.

Impende dizer que, uma vez instituída a RPPN, o imóvel poderá será negociado:

(vendido, trocado, doado, transferir a titularidade). Todavia, o caráter perpétuo da RPPN

subsistirá para sempre. Equivale dizer que: o acessório segue o principal. A UC sempre

vai estar vinculada ao imóvel. Essa garantia é muito eficaz, porque o proprietário do

22

imóvel, além de firmar um Termo de Compromisso, fica obrigado a averbar na escritura

do imóvel o “ônus”, RPPN.

Em consonância com a legislação em vigor, na RPPN são permitidas, apenas atividades

de pesquisa científica e visitação com objetivos turísticos, recreativos e educacionais.

No Estado da BA, existe disciplinamento, inclusive com o modelo do Termo de

Compromisso Ambiental está previsto na Instrução Normativa Nº 004 de 13 de dezembro

2010, fundamentada na Lei Estadual nº 11.050, de 06 de junho de 2008.

Ademais, há dez anos, que o Estado da Bahia através do Decreto Estadual nº 10.410, de

25 de julho de 2007, estabelece critérios e procedimentos administrativos para sua

criação, implantação e gestão, institui o Programa Estadual de Apoio às Reservas

Particulares do Patrimônio Natural. Donde se depreende que essa política de apoio,

corrobora para a consolidação do estado, colocando-o em primeiro lugar no ranque de

estados com o maior número de RPPN no Brasil.

O plano de manejo da UC, segundo a lei 9.985/2000, é obrigatório e deve ser

apresentado ao órgão ambiental responsável pelo proprietário da área. Igualmente, a

averbação da área da RPPN, há que constar na escritura do imóvel e realizada no

cartório da situação do imóvel, também é outra obrigação do proprietário e segundo a lei

atual, tudo corre às suas expensas. Após criar a RPPN, a propriedade fica submetida à

fiscalização do Estado.

A partir da vigência da lei que está em tramitação no Congresso Nacional, o proprietário

terá incentivos que o sensibilize e o estimule para a criação de RPPN em sua

propriedade. Uma vez que, os custos com a documentação e os procedimentos do

processo de criação da UC serão suportados pelo Estado. Atualmente, o custo de criação

de uma RPPN para o Estado é praticamente inexistente, onerando em demasia o

proprietário interessado em criar uma Reserva Particular do Patrimônio Natural.

1.1.2. Unidade de Conservação de proteção integral

Neste grupo de categorias de Unidade de Conservação estão elencadas as UC´s de

proteção integral: Estação Ecológica, Reserva Biológica, Parque Nacional, Monumento

Natural, Refúgio de Vida Silvestre.

O objetivo básico das Unidades de Conservação de Proteção Integral é preservar a

natureza, sendo admitido apenas o uso indireto dos seus recursos naturais (§ 1º, do

23

artigo 7º da Lei Nº 9.985/2000). Assim, é permitido apenas: desfrutar da boa qualidade do

ar, da regularidade do ciclo hidrológico, da amenização das mudanças climáticas e do

favorecimento ao microclima local. São benefícios coletivos e difusos, isto é, não há

destinatário específico, determinado, porém, determinável, que nesse caso não se trata

apenas da humanidade, mas também, da própria biodiversidade.

Por proteção integral deve-se entender: manutenção dos ecossistemas livres de

alterações causadas por interferência humana, admitido apenas o uso indireto dos seus

atributos naturais; (Lei Nº 9.985/2000, Art. 2º, VI).

Frisamos que o PL nº 1.548-A, de 2015, em trâmite no Congresso Nacional, prevê a

mudança do grupo de vinculação da RPPN, que é o grupo de categorias de UC de uso

sustentável, para o grupo das UC de proteção integral.

O objetivo dessa adequação é corrigir incongruências da lei. Uma vez que, os requisitos

diretivos da categoria RPPN: atividades de pesquisas científicas e visitação com objetivos

turísticos, recreativos e educacionais; estão mais adequados ao grupo de categoria de

UC de proteção integral.

1.1.3. A demanda de criação de Unidade de Conservação

Já exaramos na introdução deste capítulo e voltamos a consignar que o processo de

criação de UC é muito longo, composto de muitas fases e procedimentos indispensáveis

para a efetivação da criação de uma unidade de conservação.

A primeira fase a cumprir é a apresentação da demanda de criação ao órgão da

Administração Pública, do respectivo ente federativo: União, Estado, Distrito Federal ou

Município, conforme a natureza e especificidade da UC.

Em seguida o órgão responsável pela demanda de criação da UC emite parecer e se

necessário fará visitas e diligências ao local apontado, para se inteirar a respeito da

viabilidade técnica da demanda apresentada. É a chamada fase avaliação da demanda

de criação.

Realizada a avaliação da demanda de criação, a fase seguinte é a elaboração de

estudos técnicos que compreendem: caracterização biológica e caracterização do meio

físico, com a finalidade de identificar se o local possui potencial para visitação pública;

bem como a sua caracterização socioeconômica.

24

Após a conclusão dos estudos técnicos do órgão responsável pela condução da

demanda de criação, será o momento de propor a categoria melhor apropriada, devendo

apontar no plantel das UC de uso sustentável ou UC de proteção integral, qual a que

atende melhor os objetivos de preservação e conservação ambiental.

Devendo ser feita ainda a audiência pública, conforme instrui o MMA (2010, p. 35) não

possui caráter deliberativo, apenas informativo, cuja finalidade: “é subsidiar a definição da

localização, da dimensão e dos limites mais adequados para a unidade”.

A consulta pública, por sua vez, segundo o MMA (2010, p. 35) esclarece que, “consiste

em reuniões públicas ou, a critério do órgão ambiental competente, outras formas de

oitiva da população local e de outras partes interessadas”.

Ainda há que se observar uma série de procedimentos administrativos necessários,

sugeridos pelo MMA, que asseguram a transparência do processo, evitando retrabalhos e

nulidades. Salienta ainda que, antes da publicação do ato de criação da unidade de

conservação, a Assessoria Jurídica emitirá um parecer informando se o processo

atendeu os requisitos legais.

1.2. O processo de criação de Reserva do Patrimônio Particular Natural

(RPPN)

É salutar reafirmar que segundo a legislação vigente e como bem esclarece a REPAMS -

Associação dos Proprietários de Reservas Particulares do Patrimônio Natural do Estado

de Mato Grosso do Sul (2006), as RPPN´s “devem ser criadas em áreas que possuam

potencial para a conservação de espécies de fauna e da flora para que possam promover

a conectividade entre áreas que ainda possuem remanescentes bem conservados”

(REPAMS, p. 40, 2006).

Essencialmente, o processo de criação de uma RPPN é mais célere que a ritualística

prevista para as demais categorias de UC. Não cabendo, nesse caso, desapropriação e

indenizações. Mesmo porque, trata-se de propriedade particular, em que o próprio

proprietário, voluntariamente, requer a criação da unidade de conservação em parte de

sua propriedade.

Ressaltamos que, uma vez criada a RPPN, terá caráter perpétuo. Não podendo tal ato

ser anulado, revogado, desconstituído. Todavia, o imóvel poderá ser transacionado,

25

alienado, escambado, vendido, dado em garantia, doado, mas não poderá desvincular o

gravame da perpetuidade da RPPN.

Mas, tratando-se de terras devolutas3, o interessado ou proponente da demanda de

criação da UC, há que conseguir o título de posse ou de propriedade da área, junto ao

órgão competente da Administração Pública e proceder com o acompanhamento e

procedimentos do processo de criação da RPPN. Regularizando e registrando

(averbando) o termo de compromisso à margem do título concedido, no competente

Cartório de Registros de Imóveis. Deverá ainda, requerer ao ICMBio (Instituto Chico

Mendes de Biodiversidade4), que promova a inscrição da UC no SNUC.

Na hipótese de terras públicas é muito interessante que a demanda seja apresentada ao

órgão da Administração Pública, por intermédio de uma associação da sociedade civil,

com fins preservacionistas e conservacionistas da sociobiodiversidade. Ficando a

responsabilidade pela gestão da UC a cargo de um conselho gestor, formado por

membros com inclinação à participação social cidadã.

Após a regularização da UC junto aos órgãos competentes da Administração Pública, é

necessário atentar para a gestão eficiente e eficaz da reserva. Assim, com a finalidade de

melhor geri-la, atendendo aos requisitos legais e os objetivos pelos quais foram criados; a

legislação ainda prevê, a elaboração do Plano de Manejo da UC, que será submetido à

aprovação do órgão ambiental responsável pelo reconhecimento da RPPN.

1.2.1. A Reserva do Patrimônio Particular Natural (RPPN) Serra do Cocho

A Serra do Cocho é a designação geográfica para um segmento da Serra Geral. A área

identificada como Serra do Cocho é composta de terras devoluta. A medida que a serra

vai se estendendo no espaço físico adquire outras denominações usadas pelos

moradores de seu entorno: Veredinha, Brejinho, Serra do Cocho, Serra do Boi, Grota,

Bananeira, Riacho d´Anta e Berrador (Figura 1.7).

3 Terras devolutas, segundo Ferreira (2013), são terras públicas sem destinação pelo Poder Público e que em nenhum momento integraram o patrimônio de um particular, ainda que estejam irregularmente sob sua posse. O termo "devoluta" relaciona-se ao conceito de terra devolvida ou a ser devolvida ao Estado. 4 O Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) é uma autarquia, isto é, um órgão da Administração Pública com o poder de auto administração, de acordo com os limites estabelecidos na lei que o criou. O ICMBio foi criado pela Lei 11.516, de 28 de agosto de 2007, sendo ligado ao Ministério do Meio Ambiente como parte do Sistema Nacional do Meio Ambiente (Sisnama). ICMbio, (p. 8/9, 2014)

26

Figura 1.7: Indicativo das nascentes da Serra dos Caititus, com influência nas

comunidades do entorno da UC Serra do Cocho. Ilustrativo sequencial dos pontos ao

longo da serra das nascentes: Veredinha, Brejinho, Serra do Cocho, Serra do Boi, Grota,

Bananeira, Riacho d´Anta e Berrador. Atualmente, apenas a nascente Olho d´Água do

Cocho e da Serra do Boi estão ativos com água, os demais estão todos esgotados. A

disposição dos indicativos da figura segue a inspiração do croqui do Projeto Tremedal

Ecológico.

O processo de criação da UC na Serra do Cocho vem obedecendo uma sistemática

própria, dada às peculiaridades, a realidade econômica, social e ambiental em que se

encontra inserida, bem como, quanto a sua titularidade, posto que, é uma área pública.

A apresentação da demanda de criação da UC, inicialmente foi apresentada a Prefeitura

do Município de Tremedal, pelo Projeto Tremedal Ecológico5, com amplo apoio das

comunidades do entrono da Reserva e autoridades políticas e comunitárias do município,

bem como outros atores sociais, profissionais da educação e moradores da sede do

município e de municípios vizinhos como é o caso de Piripá.

Inicialmente cogitou-se escolher a categoria APA – Área de Proteção Ambiental e

também Parque Natural Municipal. Após amadurecimento da ideia e com o

aprofundamento dos estudos, optou-se pela categoria RPPN, porque entendeu-se

5 Projeto ambiental e sociocultural, idealizado pelo biólogo tremedalense, Everaldo Santiago. Este projeto, através da Associação Ambiental e Sociocultural Serra do Cocho, atua no processo de criação e gestão da RPPN.

27

corresponder a melhor escolha para preservação do ambiente, bem como, os benefícios

indiretos que a comunidade do entorno da UC e a sociedade em geral irão desfrutar,

beneficiando-se (Santiago, 2014).

Além da beleza cênica da paisagem, a área demandada possui grande relevância

ecológica, (Figura 1.8) possuindo espécies endêmicas da fauna e flora dos biomas

Caatinga e Mata Atlântica, que se encontram ameaçadas ou em processo de extinção,

dentre outros fatores, pelas fortes e impactantes ações antrópicas.

Figura 1.8: Beleza cênica da paisagem da Serra do Cocho, também possui grande

relevância ecológica. Fonte: Acervo do Projeto Tremedal Ecológico.

A Reserva Ambiental Serra do Cocho, além de contribuir com a proteção e preservação

da biodiversidade do ecossistema da Serra do Cocho, expande-se aos biomas Mata

Atlântica e Caatinga, prestando serviços ambientais como a provisão de água, equilíbrio

climático, protegendo espécies endêmicas e a conservação da paisagem natural de

admirável beleza cênica.

A porção da serra dos Caititus, identificada pela população local como “Serra do Cocho”

(Figura 1.9) é uma área que possui cinco cacimbas, uma nascente revitalizada e ativa,

sob remanescentes de Mata Atlântica, vem sendo desde então, cuidada e protegida pelo

Projeto Tremedal Ecológico, razão pela qual, a comunidade mais se sensibiliza e cada

vez mais adere à causa da criação da Reserva Ambiental na área.

28

Figura 1.9: Serra do Cocho. Área de vegetação remanescente da Mata Atlântica. Na

porção verde escuro encontram-se a nascente e as cacimbas. Fonte: Acervo do Projeto

Tremedal Ecológico.

A área que compreende a Reserva é muito rica em biodiversidade, composta de fauna e

flora, inclusive com espécies ameaçadas ou em processo de extinção. Conforme

demonstramos através de fotografias do acervo do Projeto Tremedal Ecológico (Anexo

1).

No campo dos recursos hídricos, há cinco cacimbas, além da nascente ativa e que, aliás,

é outra forte razão que tem sensibilizado e despertado na população do entorno a

consciência para a conservação e preservação da área. Confira-se imagens fotográficas

(Anexo 2) também do acervo fotográfico particular do Projeto Tremedal Ecológico.

1.2.1.2. Articulações nas comunidades do entorno da área da Unidade Conservação

Serra do Cocho

As principais comunidades do entorno da UC Serra do Cocho são: Salininha, Quati,

Lagoa das Pedras, Brejinho, Veredinha e São João dos Britos. Trata-se de comunidades

rurais de pequenos produtores agropecuários. Nesse contexto, a população vem cada

vez mais se organizando e aderindo à ideia de criação da Reserva Ambiental Serra do

Cocho.

Um jovem biólogo, nascido na região também é um exímio articulista e mobilizador

socioambiental, que é natural da região e viveu até aos 19 anos de idade lá na

29

comunidade rural Lagoa das Pedras, em visita aos seus pais, que são antigos moradores

e ainda residem na mesma comunidade; deparou-se com a realidade muito angustiante

em que estava a Serra do Cocho. A presença de gado solto, pastando e pisoteando as

nascentes e cacimbas; também presenciou e registrou árvores cortadas e serradas para

uso da madeira, bem como presença de caçadores.

Indignado com a situação de abandono em que encontrou a Serra do Cocho, local aonde

vivenciou cenas importantes para si e para a toda a comunidade, resolveu intervir.

Procurou o INEMA (Instituto do Meio Ambiente e Recursos Renováveis da Bahia)

Unidade Regional de Vitória da Conquista, que lhe autorizou a identificar a área como

APP (Área de Preservação Permanente6) e também colocar avisos de alerta e de

proibição de caça, desprezo de lixo, ou pastejo de animais, conforme a Figura 1.10.

Figura 1.10: Placa identificadora da APP – Área de Preservação Ambiental - Olho D´Água

do Cocho, instalada na entrada da Reserva Ambiental Serra do Cocho, pelo jovem

biólogo natural da região com autorização do INEMA regional de Vitória da Conquista.

O jovem biólogo juntou-se com seu pai, e, agregaram-se com os vizinhos e amigos da

família. Subiram a serra e cercaram a mina Olho d´água do Cocho, isolando a área das

nascentes e cacimbas dos pisoteios de animais e pessoas.

6 APP encontra-se disciplinada pela LEI Nº 12.651, DE 25 DE MAIO DE 2012. No art. 3º, II - Área de Preservação Permanente - APP: área protegida, coberta ou não por vegetação nativa, com a função ambiental de preservar os recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade geológica e a biodiversidade, facilitar o fluxo gênico de fauna e flora, proteger o solo e assegurar o bem-estar das populações humanas; diz que compreende APP – Área de Preservação Permanente; O art. 4º prevê a delimitação das Áreas de Preservação Permanente, que podem ser em zonas urbanas ou rurais.

30

Comprometido com a conservação e preservação do ecossistema da Serra do Cocho, o

jovem biólogo, adquiriu todo o material necessário as suas próprias expensas e contou

com o trabalho voluntário dos amigos e vizinhos simpáticos a ideia de preservação e

conservação da Serra do Cocho (Santiago, 2013).

Ao lançar mãos das estratégias de Educação Ambiental, por suas perspectivas em

evolução, a EA não Formal, pautada nos saberes populares locais, amplifica o processo

de criação da Reserva Ambiental Serra do Cocho, através da participação social cidadã.

Dessa maneira, são inegáveis os ganhos socioambientais para a comunidade e para a

sociedade em geral, como grande trunfo do processo de criação e instalação da Reserva

Ambiental da Serra do Cocho.

1.2.2. A participação social cidadã legitima e qualifica decisões

A participação da comunidade tem sido muito fundamental nesse processo. O

engajamento social dos moradores do entorno e da sociedade civil organizada, oferta ao

processo de criação da Reserva Ambiental Serra do Cocho, o qualificativo da

participação social cidadã.

O diálogo participativo e esclarecedor é instrumento de educação e de capacitação ao

qual se recorre para o fortalecimento dos laços de solidariedade, de cooperação e

sociabilidade entre os membros da comunidade.

Outro instrumento utilizado no processo participativo dos moradores são as reuniões das

associações de pequenos produtores rurais das comunidades: Quati e Salininha. São

verdadeiros fóruns de discussão a respeito dos problemas enfrentados pela comunidade

que vão desde educação, lazer, agropecuária sustentável, preservação, conservação

ambiental, resgate e valorização da história local, das práticas, dos hábitos e usos

antigos da comunidade.

Toda esta riqueza encontra-se apenas na memória dos antigos moradores, que já muito

idosos e alguns já morreram detendo esse saber. A oralidade é a única fonte de consulta.

O que tem suscitado registros escritos, fotográficos e audiovisuais com a finalidade de

conservar para a posteridade.

Recentemente na comunidade Salininha foi criada e oficializada uma associação

socioambiental e cultural. Trata-se da Associação Socioambiental e Cultural da Serra do

31

Cocho - AASSC7, cujo nome fantasia é Projeto Tremedal Ecológico (Anexo 3). Um de

seus objetivos é proporcionar mais um espaço, uma opção a mais para que os diálogos e

trocas de experiências, uma oportunidade para as práticas participativas, sociais e de

cidadania, efetivando a preservação e a conservação ambiental, o desenvolvimento

social e cultural, objetivando o desejado desenvolvimento sustentável da região.

Com efeito, é o que se depreende da análise do preâmbulo do Estatuto Social da

AASSC:

Art. 1º - A Associação Ambiental e Sociocultural da Serra do Cocho – AASSC (Projeto Tremedal Ecológico), doravante simplesmente Associação Reserva Ambiental Serra do Cocho, é uma associação socioambiental e cultural, portanto, uma organização da sociedade civil (OSC) de proteção e conservação do meio ambiente e da cultural regional, juridicamente constituída como associação civil de direito privado, sem fins lucrativos, com número ilimitado de associados e prazo de duração indeterminado, sendo sediada na comunidade rural Salininha, Município de Tremedal, Estado da BA, e foro na Comarca de Tremedal. (Art. 1º do Estatuto Social da Associação Ambiental e Sociocultural da Serra do Cocho)

O Projeto Tremedal Ecológico, é a entidade proponente da demanda de criação da

reserva ambiental e também atua na coordenação do processo de criação e da gestão da

RPPN Serra do Cocho. Com o apoio e a participação da comunidade local, está

construindo a Casa de Cultura, que será a sede do Projeto, composta de um museu

regional, uma brinquedoteca, uma sala de informática, uma biblioteca, oficinas de arte,

educação ambiental, cultura e lazer; bem como o apoio as comunidades do entorno8.

Todo esse diálogo participativo e democrático fortalece os laços de solidariedade,

afetividade e amizade; o que leva ao fortalecimento das relações sociais, ampliando as

relações interna e externamente para além dos limites da comunidade.

Como se vê, a atuação do Projeto Tremedal Ecológico na comunidade tem uma

preocupação socioambiental (Anexo 4). Implica dizer que está em sintonia com o homem

e suas interações e relações com a comunidade/sociedade e com a Natureza. É o que

está explícito no Estatuto Social da Associação Ambiental e Sociocultural da Serra do

Cocho. No art. 4º - estão previstos os objetivos sociais, e em vários incisos trata da

questão socioambiental. Veja-se: 7 Fundada em 04 de março de 2017, o seu Estatuto Social está registrado no Cartório da Comarca de Tremedal, BA e inscrita no CNPJ, sob o número 27.565.643/0001-39. 8 A comunidade já desfruta desses equipamentos sociais. Provisoriamente, a biblioteca e a sala de informática já estão funcionando no salão social da Igreja Católica da Comunidade. A brinquedoteca está ativa na escola pública de educação fundamental da comunidade.

32

(...) III - Criar, produzir e disseminar conhecimentos especializados, que tenham por temática central a ecologia, a educação ambiental, a eco-socio-sustentabilidade, a biodiversidade, a cultura; IV - Assessorar, prestar serviços, orientar e participar em programas, projetos e outras formas de ação técnica, coletiva, pública ou privada, que promovam o meio ambiente e a cultura; V – Incentivar e participar na formação e atualização de profissionais de meio ambiente e de eco-socio-sustentabilidade, promovendo a adoção de tecnologias e abordagens inovadoras, especialmente às voltadas para o desenvolvimento sustentado na região e no território; VI - Participar e promover programas de educação ambiental, difusão de conhecimento e de conscientização atinentes às causas ambientais e culturais;

Toda essa movimentação e circulação de ideias tem gerado um clima propício para a

legítima participação social cidadã. As pessoas estão se habituando a ouvir, a falar, a

respeitar opiniões diversas, a construir raciocínios, em fim, dialogar. Tanto que assim o é,

que estão presentes no estatuto social da Reserva Ambiental Serra do Cocho, previstos

em seus os objetivos sociais, conforme demonstramos.

As proposições de melhoria, os conflitos, os problemas são submetidos à análise nos

“fóruns”, onde são discutidos e sugeridas as possíveis e melhores soluções, que após

aprovadas vão sendo executadas. Solidificando cada vez mais a participação social

cidadã que legitima e qualifica decisões tomadas e executadas no âmbito da

comunidade.

No quesito RPPN, o MMA (2008, p. 7) destaca “um aspecto relevante em relação aos

benefícios para a sociedade é que uma RPPN, na região em que está localizada, torna-

se um excelente exemplo de consciência e participação do cidadão comum na defesa da

natureza”.

A solidariedade e a participação social são práticas efetivas na comunidade do entorno

da Serra do Cocho. A organização e realização de mutirões, um costume local muito

antigo, ainda estão presentes no cotidiano da comunidade. No processo de criação da

reserva ambiental estão sendo utilizadas em alguns momentos essa prática; por

exemplo, para cercamento da área da APP onde estão localizadas as cacimbas e a

nascente, bem como, outros mutirões são realizados para fazer os “aceiros9”, nos locais

por onde passam os técnicos da CDA (Coordenação de Desenvolvimento Agrário) e do

9 Aceiro é processo manual de retirar arbustos ao longo de uma cerca. É também chamado de “picada”.

33

INEMA (Instituto do Meio Ambiente e Recursos Renováveis - Bahia) em suas visitas

técnicas para a elaboração de estudos, pesquisas e georreferenciamentos, demarcações

para a individualização da área pública que integra a reserva ambiental.

Igual prática também é usada para a manutenção das trilhas de acesso às visitantes em

passeios eco turísticos ou em atividades de educação ambiental, incluindo-se as

pesquisas realizadas pelos alunos da universidade.

Destaca-se em remate, que de acordo com MMA (2008, p. 7) “A criação de uma RPPN,

por ser um ato de cidadania, dissemina e promove diversas outras ações de

conservação, inclusive incentivando outros proprietários da região a seguirem o mesmo

caminho”.

1.2.3. A democracia e a cidadania ambiental

O Brasil é um Estado democrático de direito. O exercício efetivo de “direitos” e o

cumprimento honroso aos “deveres”, qualifica a pessoa ao exercício da cidadania. E

cidadão é todo aquele ou aquela que vivendo em comunidade respeita ao direito, as

regras e os valores de convivências sociais. Ainda participa ativamente na sua

comunidade, quer seja como membro de uma organização civil da sociedade organizada,

quer individualmente para o alcance de objetivos comuns de sua comunidade, do seu

país, do planeta.

A atual Constituição brasileira de 1988 (CF, art. 225) é reconhecida como constituição

cidadã. Traz em seu bojo deveres, direitos, garantias e prerrogativas para o exercício

desembaraçado e efetivo da cidadania, dentre muitos deles, os pertinentes ao meio

ambiente: preservação e conservação ambiental, à educação ambiental, à

sustentabilidade.

Assim, a democracia preconiza a igualdade, a liberdade possibilitando práticas cidadãs

em geral, inclusive as práticas e ações voltadas à preservação, a restauração, a

conservação e a educação ambiental.

Leis posteriores à Constituição Federal de 1988, conforme já foi dito anteriormente, foram

elaboradas e entraram em vigor para disciplinar e regulamentar os dispositivos

constitucionais, dentre elas, segundo nossa análise, a possibilidade de uma cidadania

ambiental.

34

O exercício do direito à liberdade habilita o cidadão como membro da coletividade para a

cidadania ambiental. Expressar, manifestar e executar ações ambientais para a

conservação da sociobiodiversidade e a preservação dos ambientes naturais; bem como

de todo o cabedal de riquezas que compõem o meio ambiente, latu sensu, é na verdade

o mais puro exercício da cidadania ambiental. Posto que, fundamenta-se no princípio

máximo de assegurar o direito das presentes e futuras gerações de desfrutar de um meio

ambiente ecologicamente equilibrado. Uma vez que, esse mandamento é essencial à

sadia qualidade de vida.

A cidadania ambiental, pois, é pressuposto para a Justiça Ambiental. Conforme Gadotti

(2011) a justiça supõe que todas e todos tenham acesso à qualidade de vida. O que

frisamos é a importância da necessidade das unidades de conservação como facilitadora

para promover o acesso à qualidade de vida. A atuação socioambiental, sociocultural

(Anexo 5) e socioeducativa (Anexo 6) do Projeto Tremedal Ecológico, proponente da

criação da Reserva Ambiental Serra do Cocho, é inegavelmente que é facilitadora e

promotora do acesso à qualidade de vida das pessoas das comunidades do entorno da

reserva.

O laureado jurista português, José Joaquim Gomes Canotilho (1999) vislumbra a

possibilidade de um Estado Ambiental: “o Estado de ambiente é um Estado de justiça

ambiental”. (p. 44):

Ainda elucida o nobre professor Canotilho (1999, p. 44):

A afirmação desta nova dimensão do Estado pressupõe o diálogo democrático, exige instrumentos de participação, postula o princípio da cooperação com a sociedade civil. O estado de ambiente constrói-se democraticamente de baixo para cima: não se dita em termos iluministas e autoritários de cima para baixo.

Assegura o professor Canotilho, (1999) que o Estado de ambiente ou ambiental, é um

Estado de direito, que prima pela liberdade, pela democracia, pela justiça ambiental.

Impende registrar que, “as fórmulas plásticas utilizadas nos direitos do ambiente, na

legislação interna, internacional e comunitária, como a do “poluidor-pagador”, “produtor-

poluidor-pagador”, “proibição de turismo de resíduos”.

Segundo demonstramos, as “formulas plásticas” do mestre Canotilho, compreendem

autênticos princípios do Direito Ambiental, que uma vez aplicados ao caso concreto

35

podem subsidiar e norteando a aplicação da lei ambiental em busca da almejada justiça

ambiental.

36

2. A EDUCAÇÃO AMBIENTAL: PERSPECTIVAS E ESTRATÉGIAS

Cada vez mais novos lampejos são lançados por sobre a educação. A história da

educação, a partir da Conferência da ONU realizada em Estocolmo em 197210, ganha um

farol luminoso que lança feixes de luz e passa a direcionar os novos rumos que a

educação passou a trilhar. Na ocasião, foi pela primeira vez que houve um

pronunciamento solene sobre a necessidade da educação ambiental.

Com esse fato de relevância histórica é ofertada para a humanidade uma nova visão,

uma nova percepção da educação que possibilitará uma educação mais abrangente e

que aborde as questões sociais, ambientais, econômicas, políticas, espirituais, em fim,

uma possibilidade de educação inclusiva, participativa e integral.

A educação ambiental possui uma história quase oficial, justamente, relacionada com as

conferências mundiais e com movimentos sociais em todo o mundo. Mas para o autor,

defensor da chamada educação ambiental política, é preciso lembrar que antes desses

principais eventos que marcam a história semioficial havia pessoas e grupos de forma

discreta, mas muito ativa, já realizavam ações educativas e pedagógicas próximas do

que se convencionou chamar de educação ambiental (Reigota, 2008).

Há autores como é o caso de Grun (2007, p. 15) coadunando ao retro exposto, menciona

que “a emergência da crise ambiental com uma preocupação específica da educação foi

precedida de uma certa ‘ecologização das sociedades”.

Os movimentos ecológicos, as ONG,s, os ambientalistas, os organismos internacionais

sociais e ambientais, a sociedade civil organizada, como se vê, possuem forte influência

na consolidação da educação ambiental no Brasil e no mundo.

As pressões feitas por esses grupos e a divulgação nos meios de comunicação de

massa11 de toda a problemática ambiental, como o esgotamento de alguns recursos

10 Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Humano, realizada Estocolmo na Suécia em 1972. No mesmo ano é criado o PNUMA Plano das Nações Unidas para o Meio Ambiente. 11Princípio 19 da Declaração da Conferência da ONU no Ambiente Humano, Estocolmo, 5-16 de junho de 1972. É indispensável um esforço para a educação em questões ambientais, dirigida tanto às gerações jovens como aos adultos e que preste a devida atenção ao setor da população menos privilegiado, para fundamentar as bases de uma opinião pública bem informada, e de uma conduta dos indivíduos, das empresas e das coletividades inspirada no sentido de sua responsabilidade sobre a proteção e melhoramento do meio ambiente em toda sua dimensão humana. É igualmente essencial que os meios de comunicação de massas evitem

37

ambientais não renováveis, resultado da hiperexploração pela ausência de consciência

ambiental. Como também é o caso da falta de sensibilidade e despertamento para o

consumo sustentável. Esses eventos contribuíram para o fortalecimento não apenas do

movimento ambientalista, mas para o despertamento para uma nova cultura de

exploração e consumo consciente e sustentável dos recursos e serviços ambientais,

pautados, óbvio em ações educativas ambientalmente sustentáveis.

Feito esse necessário preâmbulo vamos ao desenvolvimento desse capítulo, à análise

das perspectivas da educação ambiental e dentre elas vamos nos deter com maior

delonga na educação ambiental não formal, posto que, compreende o objeto de

investigação no presente trabalho.

Igualmente, vamos dar ênfase para as estratégias muito usadas em EA: educomunicação

e arteducação. Posto que, elas subsidiam os “saberes populares” e amplificam, por sua

vez, o engajamento e a participação social cidadã através da educação ambiental não

formal para as tomadas de decisões.

Ainda vai ser lançado um olhar para a transversalidade e a interdisciplinaridade na

Educação Ambiental, semelhantemente, sem deixar de lado, vamos nos debruçar,

mesmo que suavemente, nas transformações individuais para vivências coletivas

qualificadas, despertadas nesse processo de educação ambiental não formal.

2.1. As perspectivas da educação ambiental

No Brasil ainda há discursos inflamados pró e contra o estabelecimento de uma disciplina

autônoma de Educação Ambiental para integrar o currículo escolar no ensino

fundamental e médio. E nesse sentido, segundo Altafin (2016), está tramitando no

Congresso Nacional iniciativas legislativas12 para tal fim. Mesmo contrariando o já

estabelecido na Constituição Federal de 1988, e também em lei própria que disciplina a

Educação Ambiental e institui a Política Nacional de Educação Ambiental.

contribuir para a deterioração do meio ambiente humano e, ao contrário, difundam informação de caráter educativo sobre a necessidade de protegê-lo e melhorá-lo, a fim de que o homem possa desenvolver-se em todos os aspectos. 12 Educação ambiental pode passar a ser uma disciplina obrigatória para alunos de todas as séries dos níveis fundamental e médio, caso a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB — Lei 9.394/1996) seja modificada. É o previsto no PLS 221/2015, de autoria do senador Cássio Cunha Lima (PSDB-PB).

38

A Constituição Federal de1988, prevê a educação ambiental, em seu artigo 225,

parágrafo 1º, inciso VI - promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a

conscientização pública para a preservação do meio ambiente.

Todavia, quem disciplina essa previsão constitucional da Educação Ambiental é a Lei nº

9.795/1999, que institui a Política Nacional da Educação Ambiental, assim:

Art. 10. A educação ambiental será desenvolvida como uma prática educativa integrada, contínua e permanente em todos os níveis e modalidades do ensino formal. (...) § 1º. A educação ambiental não deve ser implantada como disciplina específica no currículo de ensino.

Apesar de já haver lei disciplinando o assunto, não permitindo uma disciplina específica

no currículo escolar do ensino básico. O lobe no Congresso Nacional influencia e

pressiona para a implantação da disciplina de Educação Ambiental, obrigatoriamente no

já tão vasto currículo escolar. Tanto que assim o é, que a estratégia adotada é modificar

a LDB – Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, Lei nº 9.394/1996, e não a Lei

da Educação Ambiental.

Tanto a lei, quanto as práticas pedagógicas, as estratégias educacionais tem

desenvolvido suficientemente subsídios e aparatos educacionais para enfrentar a

questão, aliás, já o fazem.

Outrossim, consignamos a lição de Reigota (2008, p. 94) reforçado a ideia aventada:

Não se trata de oferecer uma disciplina de educação ambiental, mas sim conquistar brechas e possibilidades da contribuição da educação ambiental a todo o processo pedagógico voltado para a ampliação da cidadania, da democracia, da liberdade, da justiça e das possibilidades de construção de uma sociedade sustentável.

Como se vê, acadêmicos e pensadores estão em consonância com o espírito da lei da

educação ambiental. A ampliação das possibilidades de abordagem e a diversificação da

temática que compõem a educação ambiental vão desaguar no grande delta do

despertamento para transformações e renovações conceituais para uma autônoma

sociedade sustentável.

39

2.1.1. Educação ambiental na educação formal

A primeira ideia que se aventa ao tratar da educação ambiental na educação formal é:

qual forma que estamos falando. Essa forma, é aquela que ocorre ensino regular no país,

é a forma da rede oficial de ensino. Sob responsabilidade, orientação e gestão do

Ministério da Educação. Portanto, todo e qualquer estabelecimento de ensino oficial, quer

seja da rede pública, quer seja da rede privada ou filantrópico estão submetidos às regras

legais e determinações do MEC.

As práticas pedagógicas e educacionais da educação ambiental na educação formal, isto

é, na educação oficial, seguem as determinações legais e são desenvolvidas de maneira

integrada, em todos os níveis e modalidades de ensino. Compreende, portanto, o ensino

à distância, o presencial, o semipresencial; os níveis infantil, fundamental, médio e

superior; igualmente, a formação técnica e tecnológica.

Assim, observa-se que a educação ambiental é objeto de estudo por toda a grade

curricular e por todos os níveis e modalidades, interdisciplinarmente. Não havendo uma

disciplina autônoma para o seu estudo e aprendizagem. Consoante a prescrição legal da

Lei que institui a Política Nacional da Educação Ambiental: “A educação ambiental não

deve ser implantada como disciplina específica no currículo de ensino.” (Lei Nº 9765/99,

art. 10, § 1º). No intuito de conseguir atingir o seu objetivo de despertar no estudante a

transformação necessária para o verdadeiro exercício da cidadania e a justiça ambiental,

através da autêntica educação ambiental.

A escola é naturalmente um ambiente de socialização da criança e socializar é

harmonização consigo, com o meio e com os demais indivíduos, interagindo e

relacionando. Esse processo dinâmico, portanto, inter-relacional, com forte base na troca

de experiências e vivências, que se sedimentam, desenvolve e solidifica na criança o

senso de responsabilidade, o zelo e o sentimento de pertencimento à Natureza.

Aliás, nesse sentido, Pádua e Tabanez (1997, p. 15) assinalam que: “A Educação

Ambiental propicia o aumento de conhecimentos, mudanças de valores e o

aperfeiçoamento de habilidades, que são condições básicas para que o ser humano

assuma atitudes e comportamentos que estejam em harmonia com o meio ambiente".

Frisamos que, assim sendo, não há razão para que se segregue o ensino de educação

ambiental em uma disciplina reduzindo o seu alcance. Ao contrário, há que se tratar a

40

questão transversalmente, tal qual, um grande eixo propositivo, transpassando e

permeando toda a grade curricular com a temática ambiental.

2.1.2. Educação ambiental na educação informal

A educação informal é transmitida pela família, no convívio social com amigos, ou seja, é

aquela decorrente de processos naturais e espontâneos, nos quais as pessoas adquirem

e acumulam conhecimentos, habilidades, atitudes e modos de discernimento mediante as

experiências diárias e a sua relação com o meio ambiente (Gohn, 2005, citado por

Tristão, 2011).

Amparando-nos nessa afirmação e considerando o dito anteriormente a respeito da

educação ambiental, podemos assegurar perfeitamente, que é possível desenvolver e

aplicar ações educativas ambientais tendo por viés norteador a educação informal. Uma

vez que, é autônoma de per si, e envolta pelos processos naturais e espontâneos, tendo

por maior força motriz a originalidade das vivências no meio familiar e social, “interagindo

com e no meio ambiente”.

Vale a pena ressaltar que, não é porque se trata de educação informal que seja algo

clandestino. Ao contrário, a informalidade, nesse caso, diz respeito apenas, ao modo em

que se apresentam as ações e medidas educativas. Não havendo uma maneira única,

uma técnica estanque, em que determinado seguimento social, intelectual, lance mãos

para desenvolver um projeto de sensibilização para ações de defesa e proteção da

Natureza, através da educação ambiental informal.

E é nesse contexto que Tristão (2011, p. 24) entende por educação informal, como

aquela que “refere-se às atividades organizadas, com caráter de intencionalidade,

realizadas fora da instituição formal de ensino, com determinado grau de sistematização

e estruturação para oferecer tipos selecionados de ensino a determinados subgrupos da

população”.

2.1.3. Educação Ambiental na Educação não formal

Tristão (2011) registrou em sua tese de doutorado que Philip Coombs, é considerado

como o criador da denominação educação não formal. Ocorre que, segundo a autora, ele

não fazia distinção explícita da educação não formal e informal. Contudo, reconhece que,

já em 1967, Coombs considerava que a “educação escolar não correspondia à procura

41

social enfatizando outros contextos educativos, como os da educação não formal e da

educação informal, como potenciais respostas às expectativas educativas” (p. 23).

Engrenada em duas grandes áreas de aplicação, quais sejam: a social e a ambiental; a

educação não formal atua nos processos educativos complementando espaços não

atingidos “preenchidos” pela educação formal, institucional. Assim, a educação social

“englobaria todos aqueles processos educativos destinados à melhoria da formação e da

condição social dos indivíduos”; enquanto que; a educação ambiental, “integraria todos

os processo dirigidos à preservação e melhoria do meio ambiente.” (Tristão, p. 29, 2011).

Nesse contexto, consoante Gadotti (2005) a educação não-formal é mais difusa, menos

hierárquica e menos burocrática. Os programas de educação não-formal não precisam

necessariamente seguir um sistema sequencial e hierárquico de “progressão”. Podem ter

duração variável, e podem, ou não, conceder certificados de aprendizagem.

Semelhantemente, acompanhamos a ideia do autor, e quanto à educação ambiental

acreditamos ser perfeitamente possível o desenvolvimento de um programa de educação

ambiental não formal. Aliás, na prática, é muito comum encontrarmos na internet, nas

modalidades online realizados em AVA (Ambiente Virtual de Aprendizagem) ou

semipresencial, ofertas de cursos que envolvem a temática, com grande procura,

gerando até filas de espera. Muitos desses cursos são oferecidos por órgãos oficiais,

universidades, ONG,s, OS, como é o caso do Senado Federal, Ministério do Meio

Ambiente, Agência Nacional de Águas, Fundações Públicas, são apenas alguns

exemplos. Esses cursos ocorrem na sua grande maioria na modalidade EAD (Educação

à Distância).

Ademais, segundo Reis, Semêdo e Gomes (2012) afirmam que a educação ambiental

não formal sofreu uma evolução ao longo do tempo, tendo em vista que era utilizada

como forma de manifesto com recomendação da necessidade de conservação da

natureza, segundo alerta sobre a escassez dos recursos naturais.

Inegável a evolução da educação ambiental não formal, haja vista, desde o seu

nascedouro nos fervedouros dos protestos e manifestos de ambientalistas e ecologistas,

alertando para a preservação e conservação da natureza, à evolução que chegamos à

atualidade: tema central de conferências internacionais, amparo constitucional no Brasil e

lei própria disciplinando, inclusive com uma Política Nacional de Educação Ambiental,

42

que contempla em seu artigo 13, Lei n.º 9.795, expressamente a previsão da educação

ambiental não formal.

Entendem-se por Educação Ambiental não-formal as ações e práticas educativas voltadas à sensibilização da coletividade sobre as questões ambientais e à sua organização e participação na defesa da qualidade do meio ambiente. (Lei nº 9.795, art. 13)

Em reforço ao nosso raciocínio, amparamo-nos em Tristão (2011) que assim se

manifesta esclarecendo:

No Brasil, a educação não formal, na atualidade, vem ocupando amplos e diversos espaços como a sociedade civil, organizada (na forma de ONGs, OSCIPS ou OS) ou não, em discussões no ambiente acadêmico, na mídia na forma de projetos de educação e assistência social, programas do poder público, institutos e fundações ligadas a empresas, parcerias entre as instituições públicas, privadas e governamental, ações de responsabilidade social empresarial, dentre outros. (p. 36)

Não se quer com essa afirmativa demeritar a educação ambiental formal. Todavia, busca-

se apenas, reconhecer a autonomia e a importância, que por mérito próprio, evoluiu e

conquistou o seu digno espaço na ordem lógica e cronológica dos acontecimentos.

Proporcionando uma alternativa para atingir os objetivos de fazer chegar a um maior

número de indivíduos uma proposta adicional, pela qual, é possível atingir e superar bons

resultados no processo educativo.

Assim, a evolução da educação ambiental não formal, desenvolve-se à medida que os

processos educativos não formais se ampliam para atender as demandas da sociedade

nos campos do desenvolvimento social, econômico e tecnológico. As desigualdades

advindas desses processos vão impactar diretamente o meio ambiente e daí, eis que

surge a necessidade de atuação através da perspectiva da educação ambiental não

formal. É o que na atualidade é denominado de “enfoque educativo próprio da sociedade

atual, na qual, apesar das instabilidades decorrentes de cada crise econômica ou social,

tem alcançado cotas progressivas de educação” (Vásques, 1998, citado por Tristão,

2011).

Em remate, Lima (2006, p. 2) retoma às origens da EA não formal, nos movimentos

sociais e Organizações Não Governamentais ONGs, e registra que ainda são vistos

como mero ativistas, desconsiderando toda contribuição que trouxeram à sociedade

através de sua luta.

43

Mas essas entidades vão ganhando forças ao longo do tempo, incorporando outros fundamentos, ampliando a visão do ambiental, o qual passa a ser assimilado no seu verdadeiro sentido, como algo sistêmico, composto pela inter-relação entre os fatores ambientais, sociais e econômicos e não apenas o fator natural. O que ocorre especialmente a partir do Fórum das ONGs, evento realizado em paralelo à Rio-92, legitimando estas instituições através da participação e articulação política. Como resultado e ganho para a EA, temos a formulação do Tratado de Educação Ambiental para Sociedades Sustentáveis e o surgimento da primeira rede de EA do Brasil, a Rede Brasileira de Educação Ambiental - REBEA.

É inegável a importância da postura educativa das entidades do dito, terceiro setor13,

através do envolvimento nos movimentos socioambientais por elas capitaneadas, essas

entidades são grandes articuladoras e promotoras da EA para a sustentabilidade

ambiental. A maioria delas atuam no campo da educação ambiental não formal

oferecendo cursos, palestras, seminários, simpósios voltados à temática por esse viés.

Nesse particular, citamos novamente o importante papel do Projeto Tremedal Ecológico.

Trata-se de uma associação ambiental e sociocultural, constituída para atuar na região

do entorno da Serra do Cocho.

O Projeto Tremedal Ecológico é fruto da idealização do jovem biólogo da região, que é

natural da região do entorno da Serra do Cocho. Inicialmente o projeto foi concebido com

um viés ecologista e preservacionista da biodiversidade do bioma da Serra do Cocho e a

revitalização da APP Olho d´Água do Cocho e restauração da nascente e cacimbas que

compõem a APP Serra do Cocho.

O Projeto é grande articulador na comunidade do entorno. Através do amadurecimento

da ideia inicial evoluiu-se agregando a vertente socioambiental, com impacto direto na

comunidade local, despertando a atenção de comunidades vizinhas e da Secretaria de

Educação do Município. São algumas das seguintes ações (Anexos: 1, 2, 4, 5 e 6) que

compreende a atuação socioambiental do Projeto Tremedal Ecológico:

• Disponibilização de uma brinquedoteca na escola rural de educação infantil da

comunidade;

13 Segundo a OAB/SP, o Terceiro Setor é o espaço ocupado especialmente pelo conjunto de entidades privadas sem fins lucrativos que realizam atividades complementares às públicas, visando contribuir com a sociedade na solução de problemas sociais e em prol do bem comum.

44

• Disponibilização de uma biblioteca na comunidade para uso dos alunos da escola rural

e das pessoas em geral;

• Disponibilização de uma sala de informática para inclusão digital da comunidade;

• Ações voltadas para EA nas escolas do município e palestras para professores e

coordenadores de unidades educacionais;

• Apoio e incentivo na construção de hortas nas escolas rurais do município;

• Apoio e estímulo para os eventos culturais regionais como a Cavalgada;

• Realização de mutirões para o cercamento da área da reserva ambiental;

• Construção da Casa de Cultura Antônio de Ernesto, cujo objetivo é a valorização e o

resgate das práticas culturais e da história regional.

Todo esse alcance tem sido possível graças ao apoio e a participação social da

comunidade, que cada vez mais tem se envolvido nesse processo de revalorização da

cultura regional e de pertencimento a sua comunidade, ao local aonde vive e convive

inter-relacionando. Tais ações, são essencialmente educativas, dentro do campo da

educação ambiental não formal.

A lei que prevê a Política Nacional da Educação Ambiental, dispõe que o Poder Público

nas suas três esferas administrativas: federal, estadual e municipal, incentivará a

educação ambiental não-formal. Todavia, é notório que os incentivos são

demasiadamente tímidos ou até mesmo imperceptíveis. Mas, a sociedade civil, através

de organizações, ao contrário do Poder Público, desenvolve ações cidadãs, fundamentais

para o aprimoramento e fortalecimento da educação ambiental. Evidenciam-se

principalmente, nas hipóteses previstas na Lei mencionada, nos incisos do artigo 10,

parágrafo único: a ampla participação da escola, da universidade e de organizações não-

governamentais na formulação e execução de programas e atividades vinculadas à

educação ambiental não-formal; a sensibilização da sociedade para a importância das

unidades de conservação; a sensibilização ambiental dos agricultores e o ecoturismo.

2.1.3.1. A Educação Ambiental não formal e o processo de criação de Unidades de

Conservação

O processo de criação de uma Unidade de Conservação já dissemos que é um vasto

campo, em que busca-se esclarecer a população e sensibilizá-la quanto à necessidade

de conservação da área demandada, com vistas à proteção e conservação da

sociobiodiversidade. Trata-se, na verdade, de uma excelente oportunidade para iniciar as

ações educativas para a conservação e preservação da Natureza.

45

Utiliza-se muito de técnicas de esclarecimentos e até mesmo de sensibilização para a

importância da criação da UC. Nesse estágio do processo é comum a “informalidade”, ou

melhor, a ausência de requisitos formais, o que facilita as aproximações das pessoas

para a interação, que apesar de voluntária, é extremamente necessária.

A educação ambiental não formal facilita essas conexões, promovendo diálogos,

debates, rodas de conversas, exibição de filmes com a temática ambiental, palestras,

teatro e música. Em fim, busca a primazia da clareza e transparência, desde antes das

primeiras reuniões, durante a apresentação da demanda e por todo o processo de

criação, legalização e gestão da UC.

Coadunando com essa ideia, muito nos dignifica endossar a afirmativa de Tristão (2008,

p. 9) “A força da educação ambiental não formal está no fato de que ela não opera dentro

de um determinado conjunto de regras com uma estrutura e currículos rígidos e

avaliações formais”.

A real força da educação ambiental não formal reside no seu poder de mobilização e

integração que lhe é intrínseco. A ausência de formalidades e formalismos lhe dá

permeabilidade, autonomia e maior alcance, permitindo realizações mais ágeis e

eficientes.

Ademais, muito elucidativa é a constatação da pesquisadora ao dizer com sapiência que

“a abordagem tradicional de educação é contestada para o processo de resolução de

problemas ambientais por causa da complexidade da maioria, senão de todas as

questões ambientais...”. E conclui o seu raciocínio com mestria, reafirmando que, os

problemas ambientais impedem que se encaixem dentro dos limites de determinada

disciplina, uma vez que são, por natureza, interdisciplinares (Tristão, p. 97, 2008).

Ressaltamos que a autora ao se referir à complexidade dos problemas ambientais ela

não está falando que é complicado/confuso; mas sim, “como a maneira de como

entendemos o mundo – os vários desafios que o movimentam e se inter-relacionam

criando sempre novos contextos” (Segura, p. 97, 2007).

A natureza interdisciplinar dos problemas ambientais torna-se visíveis e didáticos ao

imaginarmos a ocorrência de um deles; hipoteticamente, analisemos a ocorrência de uma

queimada severa em uma Reserva Ambiental. Os campos disciplinares envolvidos para a

46

restauração do ambiente são muitos: Biologia, Sociologia, Logística, Geografia, História,

Administração, Engenharia, Física, Matemática e Economia. Todas essas ciências, com

seus saberes envolvem entre si, interagindo-se para a melhor solução na restauração do

ambiente afetado pela queimada.

Nesse sentido, muito apropriado é o entendimento de Tristão (2008, p. 9) que a educação

ambiental não formal, “pelo menos teoricamente, está mais capacitada para responder a

questões ambientais locais que têm um significado mais social e de utilidade para a

comunidade uma vez que é menos voltada ao atendimento de necessidades

acadêmicas”.

Já dissemos que educação ambiental não formal provém principalmente, da ebulição dos

protestos e manifestações ambientalistas, fazendo chegar às coletividades sua

mensagem de despertamento, de indignação ante o descaso quanto à problemática

ambiental. E, justamente esses embates de posturas e ideias, que favorecem a

atmosfera do ambiente social, permitindo além de sua afirmação o merecido e justo

reconhecimento, ao ponto de ocupar seu digno espaço na CF/1988 e na Política Nacional

da Educação Ambiental.

Jungida a esse contexto, a educação ambiental não formal em sintonia com o espírito da

Lei nº 9795/99, que lhe reconhece como “práticas educativas voltadas à sensibilização da

coletividade sobre as questões ambientais e à sua organização e participação na defesa

da qualidade do meio ambiente”.

Essa força, em si, e de per si, produto das convivências coletivizadas garante os

subsídios que necessita um processo de criação de uma Unidade de Conservação

Ambiental. Justamente porque na sua essência a educação ambiental não formal, está

assentada na participação social, no diálogo participativo, que favorece a sensibilização e

também a adesão coletiva ao processo de criação de uma UC, que tem por objetivo

maior proteger a qualidade ambiental e a sociobiodiversidade.

2.2. A Educomunicação e arteducação: estratégias para a educação

ambiental no processo de criação e gestão de Unidades de Conservação

Embora a educomunicação e arteducação não estejam adstritas à educação ambiental

formal, são sim estratégias de sensibilização muito usadas no ambiente escolar. A

educação ambiental não formal, igualmente utiliza muito dessas estratégias para

47

comunicar, compartilhar experiências, vivências e ensinamentos e até mesmo para

despertar e sensibilizar as pessoas para as questões ambientais.

Objeto de disciplinamento através da Resolução nº 422 do Conama - Conselho Nacional

do Meio Ambiente, em seu artigo 1º, estabelece diretrizes para conteúdos e

procedimentos em ações, projetos, campanhas e programas de informação,

comunicação e educação ambiental no âmbito da educação formal e não-formal,

realizadas por instituições públicas, privadas e da sociedade civil.

Estas diretrizes objeto da Resolução nº 422 do Conama abrangem aspectos quanto à

linguagem, quanto à abordagem, quanto às sinergias e articulações.

Contudo, é possível observar ao nosso derredor muitas práticas, não apenas de

sensibilização para as questões ambientais, mas, efetivamente, empregadas na

educação ambiental envolvem: o teatro, a música, a poesia, a arte popular, o artesanato.

São alguns dos muitos exemplos em que as manifestações populares, artísticas e

culturais são cada vez mais abundantes e empregadas no processo ensino-

aprendizagem.

É nesse contexto que o MMA (2015, p. 32) diz que a “arte educação mobiliza diversas

inteligências para conferir significado ao que se vive e para o que se pretende

transformar”. E assim, passa a utilizar uma “multiplicidade de recursos, como o som, a

imagem, a ludicidade, a expressão corporal, verbal e escrita, de forma a atender a todos

os tipos de público de todas as faixas etárias”.

O termo educomunicação segundo o MMA (2007b) é um neologismo, ou seja, uma

palavra nova, fruto da junção de duas outras já conhecidas – educação e comunicação.

Porque une elementos característicos dessas duas ciências, mas ultrapassa seus limites,

a Educomunicação vem sendo apontada como um novo campo do conhecimento.

Associado a essa ideia está o alcance da eficiência e eficácia da comunicação. Em

particular, no âmbito das unidades de conservação, não basta informar, mas sim

comunicar educando, o cidadão, para solidificar o conhecimento que será introjetado no

âmago da pessoa, que o repassará para outros indivíduos da comunidade e do seu

convívio social.

48

O CONAMA (Conselho Nacional de Meio Ambiente) considera a “educomunicação como

campo de intervenção social que visa promover o acesso democrático dos cidadãos à

produção e à difusão da informação, envolvendo a ação comunicativa no espaço

educativo formal ou não formal” (Resolução nº 422, de 23 de março de 2010).

Dessa maneira, educomunicação e arteducação são estratégias necessárias que

auxiliam a educação ambiental, que, por sua vez, vão para muito além de mera

sensibilização, sobretudo, educacionais. Indivíduos que vivem essas experiências terão

capacidade de atuação qualificada. Os processos que envolvem a educomunicação e

arteducação proporcionam conhecimentos e saberes aos atores sociais envolvidos na

participação, tanto na formulação, quanto na execução de ações de educação ambiental

e comunicação na UC.

Uma condição para a gestão participativa é que se consiga assegurar que os diversos atores sociais participem ativamente da formulação e da execução de programas de educação ambiental e comunicação na UC. Nesse sentido, coloca-se, de imediato, a necessidade de ampliar a finalidade das ações de educação ambiental e de comunicação, dado que são estratégias ou ferramentas a serviço da gestão das UCs. (Moreira e Ferreira, p. 53, 2015c).

A eficiência da gestão da UC prescinde dessa qualificação. Através da criatividade e do

uso e da ampliação do alcance das estratégias e ferramentas da educomunicação e

arteducação, por exemplo, terão, na comunidade pessoas melhor capacitadas para

exercer funções na gestão da UC.

A educomunicação é, por excelência, um instrumento da comunicação participativa.

Segundo Menezes (2014), “isso se deve à sua capacidade de estimular o planejamento e

a produção coletiva, pelos próprios atores sociais, de meios comunicativos utilizados no

ato pedagógico”. Trabalhando em equipe e utilizando o repertório cultural local surgem

produtos como cartilhas, jornais, programas de rádio, vídeos e outros materiais

educativos no âmbito das UC (MMA, p. 34, 2007b).

Dessa maneira, o uso de práticas e abordagens que comtemplem a arte educação e

educomunicação como estratégias para educação ambiental tem alcance para muito

além da sensibilização, mas, efetivamente de transformação do indivíduo para ações que

segundo o MMA (2015) “ao mesmo tempo em que estimula e respeita a autonomia dos

educandos e dos cidadãos e das cidadãs cabe ao educador induzir ao descortinamento

de um horizonte de utopias, liberando a capacidade de sonhar futuros possíveis” (p. 32).

49

2.3. Valorização da cultura regional e dos “saberes populares”

As diversas manifestações artísticas, culturais e espirituais de uma nação, de um povo,

de um território ou de uma região são permeadas de saberes populares. Respeitar,

preservar e conservar esses “saberes” é valorizar a cultura popular. Muito dos saberes

ancestrais são valorizados, registrados e resgatados através dessas ricas manifestações.

O reconhecimento e a valorização dessas práticas e saberes garantem a perenidade das

tradições e manifestações populares. Fazer um levantamento das memórias, das

riquezas culturais e das manifestações artísticas é uma atividade que garante resgatar

documentando todo esse rico cabedal cultural. É tarefa indispensável na valorização e

autoestima das pessoas e da comunidade.

As manifestações históricas, culturais, artísticas, religiosas, espirituais e folclóricas são

acolhidas e trabalhadas nos cenários da educomunicação e da arteducação, atreladas à

educação ambiental promovendo verdadeiros resgastes da cultura regional e dos

“saberes populares”.

As movimentações e mobilizações sociais ocorridas na comunidade, na sociedade vão

muito além do “objetivo de sensibilizar e mobilizar para o cuidado e a conservação do

ambiente, há uma clara preocupação em contribuir para a valorização dos conhecimentos

e da cultura tradicionais e em promover o protagonismo juvenil na defesa do território, do

conhecimento e da manutenção de sua história.” (Moreira e Ferreira, p. 44, 2015c).

Cumpre-nos ainda registrar que, segundo Moreira e Ferreira (2015c), há também

experiências de valorização dos saberes locais e de busca de diálogo entre esses

saberes e as pesquisas científicas, além da tentativa de divulgação de estudos e

pesquisas feitos dentro das Unidades.

Nesse contexto, os autores Moreira e Ferreira (2015c, p. 44) exemplificam que “várias

iniciativas estão vinculadas ao uso público da área e buscam dar maior visibilidade à

própria UC, como os programas de visitas orientadas e as ações referentes a datas

comemorativas, realizadas por várias Unidades”.

Essas práticas ampliam o leque de possibilidades de ações conjuntas e valorosas para

os envolvidos: a comunidade acadêmica, a comunidade local e do entorno da UC,

50

integram-se por um objetivo comum; a valorização dos saberes e da cultura regional,

possibilitando destaque e visibilidade para a Unidade de Conservação.

Nas comunidades do entorno da Reserva da Serra do Cocho a valorização da cultura

regional e dos “saberes populares” vem sendo despertadas e estimuladas. Já é possível

elencar algumas ações com efeitos práticos na região. O resgate de um grupo de

mulheres reiseiras, que se apresentam visitando as residências da comunidade, a

restauração de objetos e utensílios antigos feitos por artesões regional são exemplos

autênticos que asseguram a continuidade da memória viva da comunidade.

O Projeto Tremedal Ecológico vem difundindo esse resgate de histórias, hábitos,

costumes regionais. Estão sendo feitas pesquisas na região para identificar pessoas que

tenham e saibam ainda manusear o tear. No passado era hábito muito comum os

artesãos teciam fazendas para a própria família e também vendiam os tecidos ou peças

prontas para outras pessoas da comunidade. Roupas eram feitas de tecido de algodão

natural que eram transformados artesanalmente.

2.4. Aportes e suportes do engajamento e da participação social cidadã

através da educação ambiental para tomadas de decisões

A vida em sociedade e na comunidade principalmente prescinde do engajamento dos

cidadãos através de sua participação ativa na vida social comunitária. Muitas questões de

cunho socioambientais são abordadas e discutidas e resolvidas no seio da comunidade.

Por exemplo, na associação de moradores, ou de produtores rurais são levantadas,

abordadas e aprovadas em assembleias muitas questões que dizem respeito às

particularidades locais tais como: melhoria dos acessos de estradas vicinais para a

escoação da produção agropecuária, ou, ainda, a promoção de palestras visando as

melhores práticas produtivas e a sustentabilidade ambiental em propriedades rurais. São

apenas exemplos ilustrativos dos aportes e suportes do engajamento e da participação

social cidadã das pessoas da comunidade.

A educação ambiental, por sua vez, é a grande aliada desse processo participativo e

democrático que subsidia as tomadas de decisões. Essa participação democrática

ocorre, efetivamente, quando em uma reunião ou assembleia é franqueada a

manifestação das pessoas presentes e os apartes à fala de um membro, sempre que o

participante achar necessário e oportuno.

51

Esse diálogo e os embates com divergências de opiniões, mas com síntese positiva, fruto

do produto participativo; é a força motriz que torna as tomadas de decisão mais

qualificadas e mais sólidas, pois, embasada no diálogo e na valorização da participação

social cidadã.

Essas experiências, por sua vez, oferecem suportes para determinadas situações que

ocorrem nas comunidades vizinhas e do entorno da UC. Por exemplo, arregimentar

pessoas na comunidade para formação de um grupo de brigadistas voluntários, para

atuar em situações emergenciais em eventual ocorrência de queimada no interior ou nos

limites da UC, participação na comissão de elaboração, implantação de Plano de Manejo

da UC, participação no Conselho Gestor da UC.

Bem como, por outro lado, garantem aportes qualificados para a manutenção e gestão da

Unidade de Conservação. Nesse caso, aventa-se os benefícios financeiros provenientes

do ICMS ecológico14, ou ainda, a disputa por prêmios em concursos na área ambiental.

Outrossim, esclarecem Moreira e Ferreira (2015b) que a preocupação com a participação

social efetiva na gestão das áreas protegidas está claramente colocada na segunda

diretriz da Encea15. Ainda para justificar-se essa pertinente preocupação “que aponta

para a consolidação das formas de participação social nos processos de criação,

implementação e gestão de unidades de conservação”. Exemplificam e orientam que

“entre os instrumentos para garantir essa participação estão a implantação dos

Conselhos, como espaços de reflexão e de tomada de decisões, e a própria construção

(e aplicação) do Plano de Manejo” (Moreira e Ferreira, p. 39, 2015b).

Nesse contexto, a participação social cidadã possibilitará a habilitação dos indivíduos já

“formados” e transformados para o labor e as lutas pela preservação da qualidade

ambiental para a presente e futuras gerações a assumirem postos na gestão participativa

e cidadã da UC, nos Conselhos, Comissões, ou ainda na elaboração e aplicação do

Plano de Manejo.

A definição para Plano de Manejo encontra-se na própria lei que estabelece o Sistema

Nacional de Unidades de Conservação da Natureza (SNUC):

14 ICMS ecológico, o Estado da Bahia ainda não destinada os benefícios do ICMS ecológico para os munícipios que possuem UC,s, não há legislação com regulamentação específica. 15 ENCEA - Estratégia Nacional de Comunicação e Educação Ambiental. Diretriz 2: Consolidação das formas de participação social nos processos de criação, implementação e gestão de Unidades de Conservação;

52

Documento técnico mediante o qual, com fundamento nos objetivos gerais de uma Unidade de Conservação, se estabelece o seu zoneamento e as normas que devem presidir o uso da área e o manejo dos recursos naturais, inclusive a implantação das estruturas físicas necessárias à gestão da Unidade. (Art. 2º - XVII da Lei Nº 9.985, de 18 de julho de 2000).

Esse é o caminho natural que há de se trilhar para o alcance do maior objetivo do

processo de criação de uma UC, qual seja, a eficiência e eficácia na sua gestão para a

efetividade e perpetuidade da UC no tempo e no espaço. A participação social

democrática e cidadã há que ser cultivada, colhida e replanta quantas vezes sejam

necessárias. É também através desse mecanismo que se preparam e renovam os

quadros da gestão, uma vez que, a RPPN, possui caráter perpétuo e existirá sempre,

para todo o sempre. Tendo em vista que, esta será averbada na matrícula do imóvel, no

Cartório de Registros de Imóveis.

2.5. A transversalidade, transdisciplinaridade e a interdisciplinaridade na

Educação Ambiental

Oficialmente, a transversalidade da temática meio ambiente é vista como uma

necessidade educacional e pedagógica.

É nesse sentido que o MEC – Ministério da Educação (1999) ao analisar os Parâmetros

Curriculares Nacionais (PCNs) se manifesta esclarecendo que os conteúdos de Meio

Ambiente foram integrados às áreas, numa relação de transversalidade, de modo que

impregne toda a prática educativa e, ao mesmo tempo, crie uma visão global e

abrangente da questão ambiental, visualizando os aspectos físicos e histórico-sociais,

assim como as articulações entre a escala local e planetária desses problemas (o

destaque é nosso).

O conceito de transversalidade quem nos oferta é o próprio Ministério da Educação

(1997, p. 36), nos PCN de Meio Ambiente e Saúde:

Os conteúdos de Meio Ambiente serão integrados ao currículo através da transversalidade, pois serão tratados nas diversas áreas do conhecimento, de modo a impregnar toda a prática educativa e, ao mesmo tempo, criar uma visão global e abrangente da questão ambiental.

Assim, o próprio MEC (1999) evidencia o conceito de transversalidade esclarecendo que

trabalhar de forma transversal significa buscar a transformação dos conceitos, a

53

explicitação de valores e a inclusão de procedimentos, sempre vinculados à realidade

cotidiana da sociedade, de modo que obtenha cidadãos mais participantes.

A transdisciplinaridade da educação ambiental atenta-se para os “temas transversais que

referem-se a questões contemporâneas de relevante interesse social, que atingem pela

sua complexidade as várias áreas do conhecimento”. Dessa maneira, “exigem um

planejamento coletivo e interdisciplinar, além da identificação dos eixos centrais do

processo de ensino-aprendizagem, para em torno deles elaborar as propostas

educacionais.” (Rohwer e Tutusaus, 2011).

Por temas transversais, entendemos que são assuntos atuais com relevância social, que

devem ser abordados por toda a grade curricular, por exemplo, a poluição ambiental e a

destinação final dos resíduos sólidos. Cada disciplina do currículo escolar deve oferecer a

sua contribuição na abordagem do tema, ofertando subsídios para a melhor solução do

problema.

De uma maneira preliminar destacamos que os termos interdisciplinaridade

transdisciplinaridade não são sinônimos. Segundo Reigota (2009, p. 69), “ao contrário da

interdisciplinaridade, a transdisciplinaridade desconsidera a noção de “disciplina”,

propondo a sua superação. A transdisciplinaridade rompe com todos os limites e as

categorizações dadas aos conhecimentos em tempos remotos das ciências”.

Ademais, a Lei Nº 9.795/99, que dispõe sobre a educação ambiental, institui a Política

Nacional de Educação Ambiental, no artigo 4º, inciso III, prevê os princípios básicos da

educação ambiental, dentre eles: o pluralismo de ideias e concepções pedagógicas, na

perspectiva da inter, multi e transdisciplinaridade.

Abordamos anteriormente que a educação ambiental é autônoma. Sua autonomia lhe

permite transitar por todas as diferentes disciplinas do currículo escolar, emprestando-

lhes ou concedendo novos sabores e saberes. Estes são concedidos ao permitir que os

seus conceitos e a sua temática sejam abordados nas diversas disciplinas do currículo

escolar, ora “ampliando a visão e a percepção do ambiente”, ora dialogando, ora

refletindo, ora realizando. É, pois, uma temática complexa que deve ser abordada

transversalmente, de maneira transdisciplinar e interdisciplinarmente.

A complexidade ambiental reclama a participação de especialistas que trazem pontos de vista diferentes e complementares sobre um problema e uma realidade

54

– a visão e a sensibilidade do ecólogo, do edafólogo, do geografo, do agrônomo, do geomorfólogo em relação ao “ambiente físico”; do sociólogo, do antropólogo, e do historiador em relação ao “ambiente social”. No entanto, a interdisciplinaridade não só implica a integração dessas disciplinas genéricas dentro de cada campo temático se desenvolvem “escolas de pensamento”, com diferentes princípios teóricos e ideológicos (...).” (Philippi, p. 18, 2012).

A interdisciplinaridade, no contexto da educação ambiental, há que apresentar-se,

conforme esclarece Segura (2007) “como a possibilidade de diálogo entre os campos do

saber e como forma de cooperação recíproca entre as várias disciplinas, o que significa

dizer: entre pessoas”. (p. 97) E a autora ainda assegura que “assumir esse referencial

implica, pois, não hierarquizar as áreas do conhecimento, isto é, significa adotar uma

postura crítica, porém integradora” (Segura, p. 97, 2007).

Na visão de Rohwer e Tutusaus (2011) para a formação ambiental, a interdisciplinaridade

constitui um meio e não um fim em si mesma. O objetivo é a compreensão da articulação

Sociedade-Natureza; o que permite a “aplicação a um mesmo objeto (...) de elementos

teóricos de diferentes disciplinas”.

Todo o produto desse diálogo resulta na amplificação e longo alcance da formação da

consciência ambiental dos indivíduos. Aproximando-se cada vez mais da almejada

educação integral e voltada para o desenvolvimento de possibilidades e potencialidades

do cidadão.

Ajustando, outrossim, aos objetivos fundamentais da educação ambiental, previstos na já

mencionada lei da educação ambiental, que dispõe em seu artigo 5º, III: “o

desenvolvimento de uma compreensão integrada do meio ambiente em suas múltiplas e

complexas relações, envolvendo aspectos ecológicos, psicológicos, legais, políticos,

sociais, econômicos, científicos, culturais e éticos”, dentre outros.

Esclarecemos que educação integral, não se confunde com educação em horário integral

na escola. A educação integral ocupa-se da transformação moral, cultural, intelectual e

espiritual do ser. Portanto, ela burila o âmago do ser, despertando-o para uma

perspectiva existencial com consciência; dotando-lhe de liberdade e autonomia. Esse

despertamento vai proporcionar ao cidadão uma vivência pautada na solidariedade, na

fraternidade e na compartilha de experiências que o qualifica para viver em comunidade

local e consciente de que seus hábitos e ações possuem implicações globais.

55

Assim, o ser/indivíduo é respeitado e compreendido em suas mais diversas dimensões:

econômicas, históricas, sociais, culturais, biológicas, antropológicas, psicológicas,

espirituais, emocionais e ambientais. Em fim, na sua completude, respeitando os seus

limites, os desejos, frustrações e ansiedades, na esperança e utopias, construções e

realizações. Todo esse arsenal integrativo, contudo, transdisciplinar, amplia e amplifica o

alcance do saber e do conhecimento ambiental.

A transdisciplina está no saber ambiental como essa falta de conhecimento que anima a produção de novos conhecimentos; está na hibridização entre ciências, tecnologias e saberes, está no diálogo inter-cultural; é o saber que sabe que não pode saber tudo, que sabe que está movido por seu não-saber, pelo desejo de saber. A transdisciplina leva assim, à desconstrução do conhecimento disciplinar e abre as vias para uma hibridização e diálogo de saberes no campo da complexidade ambiental (Philippi, p. 23, 2012).

Uma vez que, o ser/indivíduo vive em sociedade, em comunidade, inter-relacionando-se

com os seus iguais e com meio, porém respeitando e convivendo com as diversidades,

(sociais, raciais, étnicas, religiosas, filosóficas, políticas) numa autêntica relação cíclica,

ou melhor, numa rede de inter-relações.

A interdisciplinaridade tem sido definida como uma estratégia que busca a união de

diferentes disciplinas para tratar um problema comum. Também, por virtude da

etimologia, a palavra traduz esse vínculo não apenas entre saberes, mas, principalmente

de um saber com outro saber, ou de saberes entre si, numa sorte de complementaridade,

de cumplicidade solidária, em função da realidade estudada e conhecida (Philippi, 2012).

Cumpre-nos registrar outra vez, a assertiva de Philippi (2012, p. 17) a respeito da

interdisciplinaridade ambiental, ao afirmar que ela “transborda o campo do científico

acadêmico e disciplinar do conhecimento formal certificado, e se abre a um diálogo de

saberes, onde se dá o encontro do conhecimento codificado das ciências com os saberes

codificados da cultura”.

Aclaramos este ponto, exemplificando e demonstrando a prática de cultivo de horta nas

escolas do campo, iniciada na escola da comunidade Salininha na zona do entrono da

Reserva Ambiental Serra do Cocho. São atividades estimuladas e assessoradas pelo

Projeto Tremedal Ecológico, com participação das comunidades vizinhas das escolas e

em parceria com a Secretaria de Educação do município de Tremedal – BA. São

atividades que podem ser lúdicas, mas para o prazeroso aprendizado com respeito à

56

preservação e a educação ambiental, trazendo rendimentos para muito além do

satisfatório.

Por fim, compartilhamos da postura de Rohwer e Tutusaus (2011) a Educação Ambiental

apresenta-se como uma das alternativas da Educação no âmbito de um novo paradigma

em construção e de novas formas de pensar, de interpretar e de agir no mundo, capaz de

possibilitar a superação da visão positiva, instrumental e tecnocrática que caracteriza a

civilização contemporânea e que se manifesta através da crise global e generalizada

deste início de século.

2.6. Transformações individuais para vivências coletivas qualificadas

A educação ambiental desde suas origens mais remotas vem dos movimentos ecológicos

e ambientalistas. Esses movimentos visavam o despertamento das pessoas para as

questões ambientais e pelo cultivo da cultura da paz mundial, por solidariedade e

fraternidade.

A medida que esses movimentos agregavam em torno de si mais pessoas que

conscientizadas da urgência de mudanças de parâmetros de consumo e mudanças de

hábitos cotidianos, se fortaleciam e construindo uma história de conquistas

socioambientais.

A adesão e a participação em causas ecológicas, ambientais e sociais proporcionam uma

mudança de atitudes individuais, que ao enraizar transformam velhos hábitos ofensivos à

natureza e ao meio ambiente em nobres ações em prol da conservação e da preservação

ambiental.

Tudo isso se traduz no que chamamos de transformações individuais para vivências

coletivas qualificadas. Primeiro o indivíduo se convence que precisa mudar posturas,

atitudes e atos agressivos e desrespeitosos ao ambiente e, posteriormente, transforma-

se em um aliado esmerado, compartilhador e multiplicador das causas e ações

educativas em defesa do meio ambiente.

Por si só as questões e ações ambientais têm natureza coletiva. Os atores ambientais,

latu sensu, naturalmente tem essa trajetória: transformam-se, quase sempre

vagorosamente, assimilando em interações com o meio (educam-se) para conviver

através de vivências coletivas de maneira qualificada.

57

Aliás, a Lei Nº 9.795/99, que dispõe sobre a educação ambiental, institui a Política

Nacional de Educação Ambiental, no artigo 4º, inciso IV, com clareza prevê os objetivos

fundamentais da EA, dentre outros: “o incentivo à participação individual e coletiva,

permanente e responsável, na preservação do equilíbrio do meio ambiente, entendendo-

se a defesa da qualidade ambiental como um valor inseparável do exercício da

cidadania”.

As vivências coletivas qualificadas, por sua vez, amparam o indivíduo a sustentar ações

que assegurem condições para que a coletividade desfrute de um planeta socialmente

justo, ambientalmente equilibrado, economicamente sustentável, que compartilhe de uma

realidade em que o desenvolvimento e o progresso sejam ambientalmente sustentáveis,

para a presente e as futuras gerações.

Reforçamos ainda, a ideia que as vivências coletivas qualificadas são aquelas que sejam

capazes de oferecer alternativas para o equilíbrio ambiental no planeta e o

desenvolvimento sustentável local e global, mitigando ou eliminando os impactos

ambientais.

A lei que institui a Política Nacional de Educação Ambiental, ainda vai muito além ao

prevê nos objetivos fundamentais da EA, no artigo 5º, inciso VII, “o fortalecimento da

cidadania, autodeterminação dos povos e solidariedade como fundamentos para o futuro

da humanidade”.

58

3. A SERRA, O COCHO, PRESERVAÇÃO E SOCIABILIDADES

No presente trabalho será adotada a designação Serra do Cocho, usada pela população

local, para identificação do espaço geográfico onde está localizada a área demandada

para a criação da reserva ambiental, objeto de estudo deste trabalho.

Segundo relatos de antigos moradores essa denominação foi adotada há muitos anos e

não se sabe precisar data. Em razão da forte ligação histórica e cultural da comunidade

com a serra decidiu-se que a reserva ambiental seria “batizada” e registrada com o nome

de Reserva Ambiental da Serra do Cocho. Representando uma autêntica homenagem,

bem como, o reconhecimento e o respeito pela luta dos antepassados, e ainda, a

valorização da cultura e da história local.

No pretérito a região que compreendia o Sertão da Ressaca fora objeto de exploração

em expedição por Maximilian Alexander Philipp, o príncipe Maximiliano de Wied-

Neuwied, membro da alta nobreza prussiana. Em expedição pelo Brasil (1815 a 1817), a

rota seguida através do Rio de Janeiro, Espírito Santo, Minas Gerais e Bahia, é o que

registra Lima e Silva (2014). Os indícios e registros indicam que a expedição passando

pelo Sertão da Ressaca (Planalto de Conquista) segue para a capital da Bahia.

Nesse contexto, a Serra dos Caititus (Serra do Cocho) estando inserida no Sertão da

Ressaca, possivelmente tenha sido objeto de pesquisa do príncipe Maximiliano.

Na verdade, geograficamente a Serra Geral, se estende pelo município de Tremedal, no

Estado da Bahia, através das suas ramificações, ou melhor, extensões: Serra dos

Caititus e Serra das Queimadas. Não existem estudos recentes sobre a região, todavia, a

Serra do Cocho, está localizada na Serra dos Caititus.

A mensagem do jovem poeta da região, cristalinamente, registra o elo histórico que há

entre a Serra do Cocho e as pessoas das comunidades do seu entorno. O sentimento de

pertencimento, a identificação histórico-cultural, bem como, por outro lado, assinala

ainda, o poeta, fazendo desabrochar por através de seus versos singelos, um pacto;

tendo por elementos essenciais: a união, a fraternidade, a solidariedade de outrora a

perpetuar-se no tempo e no espaço.

Lá na Serra do Cocho tem nascente Por essa água, o povo aqui raiz fincou E por muitos anos criou

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Toda nossa gente A natureza tece sua teia E para sempre essa água correrá em nossa veia. (...)

Outro jovem morador descreve que o “cocho” era um grande recipiente que armazenava

água que vertia da nascente: “o cocho tinha cinco metros por 40 centímetros de largura

para guardar água lá pras pessoas lavar roupas ou pra buscar para beber”.

Outro morador antigo refere que o “cocho”, era confeccionado artesanalmente, pelas

pessoas da própria comunidade. Escolhiam um jatobá com tronco bastante grosso e

confeccionavam esculpindo o “cocho” que armazenava água que vinha da nascente.

As pessoas da comunidade também confeccionavam as “bicas” de madeira que conduzia

a água por gravidade da nascente até o cocho.

“A água vinha correndo pelas biquinhas de madeira e caia no cocho de madeira pro gado beber e as mulheres lavar roupas (...)”.

Apesar de jovem, outro morador recorda das bicas de madeiras: “(...) a água vinha em

uma bica de madeira e caia no cocho”.

A prática tradicional de esculpir utensílios pelas pessoas na comunidade é muito antiga e

remonta à arte ancestral, à cultura e aos utensílios indígenas. É uma realidade, histórica

na comunidade, que atualmente ainda usa as gamelas, os potes de barro e outros

objetos afins. Tanto é que, a técnica para confecção do cocho de madeira é a mesma

usada para fazer as gamelas e as bicas. Diferencia-se o utensílio de acordo com a sua

destinação e uso, que no caso em tela, o cocho era usado para armazenar a água, que

fluía da nascente lá na serra, sendo armazenada nesse “coletor de madeira” conhecido

por “cocho”, razão pela qual, a serra ficou conhecida pelas pessoas locais como Serra do

Cocho.

60

Figura 3.1: Painel de Arte do artista tremedalense Felipe Amaral, pitando na caixa

d´água, no interior da reserva ambiental, revelando cenas cotidianas do pretérito na Serra

do Cocho. Nesse local ficava o “cocho” que armazenava água para uso da comunidade.

Note-se no canto esquerdo da foto o “cocho” atravessado transbordando água. Fonte:

Acervo do Projeto Tremedal Ecológico.

Assim, ressalta-se que a Serra do Cocho, além de comtemplar beleza cênica indizível,

em uma harmonia de contornos geomorfológicos integrados na paisagem com

longínquos e amplos horizontes, perfazendo um conjunto de paisagem cadenciado e

aprazível.

Apesar desse apresentável conjunto paisagístico natural e harmonioso, a serra vem

sendo vítima, através dos tempos de muitas mudanças e transformações. Segundo

documento do acervo particular do Projeto Tremedal Ecológico, proponente da demanda

de criação da UC, que embasa o parecer do Inema, favorável à criação da reserva

ambiental. A área demandada passou, desde invasões de posseiros, “grileiros”,

caçadores, a soltura de gado bovino para pastejo. Até mesmo retirada ilegal de madeira

foi praticada. O aumento em larga escala dos impactos ambientais advindos do

fenômeno da antropização e da hiperexploração dos recursos naturais presentes e

disponíveis na serra é uma realidade evidente.

No seu interior existem “tesouros naturais” ameaçados e carentes de proteção urgente. O

ecossistema é muito rico em biodiversidade, inclusive com espécies endêmicas,

ameaçadas ou em processo de extinção, tanto da fauna quanto da flora. Sem falar nos

61

impactos aos recursos hídricos presentes na área, que estão muito vulneráveis,

principalmente à ação humana.

No campo dos recursos hídricos existe uma nascente e quatro cacimbas, todas ativas,

até mesmo no período de estiagem e das secas, permanecem servindo ao ecossistema e

a biodiversidade. Todavia, não é mais possível o uso doméstico, pois a nascente, após o

colapso, escasseou consideravelmente e vem retomando paulatinamente a sua atividade

produtiva e sua missão de manutenção do ecossistema.

Não há documentos ou registros da época que a comunidade iniciou as interações com a

serra e o ecossistema. Todavia, há relatos de pessoas antigas das comunidades do

entorno, que afirmam a ocorrência e a intensificação da presença humana na serra,

aproximadamente 70 anos. Por ocasião dos períodos de seca havia única opção de

abastecimento da comunidade e também dessedentação animal, o “olho d´água e as

cacimbas” da Serra do Cocho.

Historicamente, o marco da preservação da Serra do Cocho, segundo relatos colhidos na

comunidade, remonta a década de 1970, quando em um período de seca, para resolver

um conflito pelo uso da água que brotava lá na serra, esteve presente o “chefe político do

município”, que na base da serra declarou: “desse ponto para cima, ninguém retira nem

uma vara, isso aqui é para uso público”. Segundo relatos de um dos mais antigos

moradores da região reforça a importância da preservação e conservação do

ecossistema, diz: “essa serra sempre foi “serra geral” daqui. Tem muitos animais e

devemos preservar os animais e também não desmatar”.

A expressão “serra geral” é designativa de “campo geral”, cerrado, sertão, chapada.

Traduz uma realidade que no passado foi muito praticado o uso comum e coletivo pelas

pessoas da região. Designa área pública, “sem dono”, de uso comum de todos.

Atualmente são mais comuns no norte do Estado de Minas Gerais, que faz divisa com o

sul e sudoeste do município de Tremedal. A Serra do Cocho está localizada muito

próxima da divisa desses dois estados.

Tanto que, outro morador se refere à “larga”, termo muito usado pelos “geraizeiros” que

se denota: terra vasta, largada, deixada sem cuidados, sem destinação específica e sem

benfeitorias, sem cercas que delimitam a área.

62

Segundo, Carmo Bernardes (2014), jornalista e escritor mineiro evidencia esclarecendo

que:

NOS GERAIS, cujas raias podem ser imaginadas como englobando todo o Sul do Maranhão, Norte de Goiás e Oeste da Bahia e de Minas Gerais, espaço geográfico dado como sendo os sertões, o gado era criado à lei da Natureza, solto no mundo. Os horizontes, os limites; e o olho do vaqueiro, o vedo. O leigo em criatório extensivo estranha que tenha havido esse sistema de criatório. Onde há arraigada a mentalidade do arame farpado, ninguém aceita a idéia de se criar na largueza. Acreditam que as criações largadas à-toa, sem nenhum vedo como sujeição, desguaritam; e que é preciso trazê-las no rodeio, e que um pastoreio nessas condições, sem os apartadores e as invernadas limitadoras do espaço, exigiria o concurso de muitos vaqueiros para cuidar de pouco gado. Ouvimos o criador sulino dizer num desalento: "Crio aqui umas criaçõezinhas no tapume de cinco fios de arame, e óia lá: tê-tê, lê-lê, estou às voltas com uma criação sumida”! (p. 2) (destaque é meu)

Ainda trazendo mais luz à baila, para esclarecer e não pairar dúvidas sobre os povos

geraizeiros, a Associação Mineira de Municípios (2014) consigna que, apesar de

possuírem unidades de agricultura familiar, a criação do gado e a coleta de frutos são

feitos coletivamente em terras de uso comum:

Os geraizeiros – ou “geralistas” como escrevia Guimarães Rosa em seus livros sobre esses sertanejos do norte mineiro – foram incluídos entre as comunidades tradicionais no decreto 6.030 de 2007 do governo federal, que institui políticas específicas para esses grupos respeitando o direito a seu território. Ao contrário dos quilombolas que têm títulos coletivos das terras, as comunidades geraizeiras têm unidades privadas de moradia e agricultura familiar enquanto a criação do gado e a coleta de frutos são feitos coletivamente em terras de uso comum, as chapadas de cerrado. (p. 1) (destacamos)

Realidade tão significativa e representativa dos povos geraizeiros do norte do Estado de

Minas Gerais que levou o ICMbio a criar uma Reserva de Desenvolvimento Sustentável:

O Diário Oficial da União (DOU) publicou, dia 14/10, decreto presidencial criando a Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) Nascentes Geraizeiras. A nova unidade de conservação federal, com 38.177 hectares, irá abranger áreas dos municípios de Montezuma, Rio Pardo de Minas e Vargem Grande do Rio Pardo, no norte de Minas Gerais, beneficiando cerca de 500 famílias. (Associação Mineira de Municípios, p. 1)

Nas mídias digitais e eletrônicas, como é caso da Comissão Pastoral da Terra (2014, p.

2), dá notícia que existem comunidades geraizeiras em Tremedal e região: “a Comissão

Pastoral da Terra – Equipe sul sudoeste da Bahia - realizou um mutirão de formação e

mobilização nas comunidades geraizeiras dos municípios de Cordeiros, Condeúba e

Tremedal”.

63

Apesar de não haver documentos comprovando essa realidade fática, de grande

importância para a preservação da memória histórica da comunidade; na verdade,

existem vastos relatos de moradores antigos que testemunham esse fato, e ainda o

narra, transmitindo para a comunidade, através da oralidade essa realidade fática

consolidada e que se mantem até os dias atuais.

No passado, durante os períodos de seca, por muito tempo a nascente da Serra do

Cocho, foi a única fonte de água potável em toda a região. A comunidade conquistava e

até mesmo disputava seu quinhão precioso: um pote, uma botija d´água, uma lata, um

balde.

Outro fato, igualmente importante, porém unânime nos relatos dos moradores é o ato das

mulheres e moças da comunidade lavarem roupas lá na nascente e também nas

cacimbas da serra.

As narrativas ainda indicam que a convivência durante as atividades na serra iam além

da amizade. Asseguram que as lavagens de roupas, a coleta de água para o consumo

nas residências, a dessedentação de animais (bovinos, muares, equinos, asininos) eram

momentos de sociabilidades, de convivibialidades, de solidariedade, de fraternidade, de

integração social, também de lazer, de muitas brincadeiras e de muita diversão.

Por sua vez, a Serra do Cocho é um ecossistema caracterizado pela transição dos

biomas Caatinga e Mata Atlântica. Perceptível por simples observação em visita in loco,

as variações de temperatura e de micro clima, que ao se transitar por áreas de

predominância de Mata Atlântica percebe-se o clima quente e ameno; ao transitar por

áreas de predominância da Caatinga, o clima apresenta-se seco e quente.

A Serra é muito aprazível e na contemplação das espécies arbóreas e do conjunto da

vegetação, faz-se um exercício prazeroso e surpreendente ao trilhar pelo interior reserva.

O intenso calor ao admirar as belezas do “painel de mandacarus16” contrastando com as

extensões rochosas, ou ainda; a brisa suave por sob a sobra dos frondosos jatobás,

sucupiras, e o bailado cadenciado e sincronizado das copas dos jacarandás, se traduz

16 Trata-se de bela paisagem localizada paralelamente ao mirante da Serra do Cocho. É um “paredão” rochoso com diversos cactos incrustrados, dentre eles vários mandacarus. O contrate na paisagem indica a transição dos biomas Caatinga e Mata Atlântica.

64

em uma magistral encantadora “ópera sertaneja” conforme muita canta o “menestrel da

caatinga”, o cantor baiano, Elomar Figueira Melo.

3.1. A nascente da Serra do Cocho, as cacimbas e as lavadeiras: harmonia e

sociabilidades

A nascente da Serra do Cocho está localizada em um ponto mediano na aclividade da

serra, embaixo de copas de frondosas árvores e por entre vasta, diversa e exuberante

vegetação. Rumando ao mirante da serra, cerca de 100m encontram-se dispostas

horizontalmente quatro cacimbas ativas, bem protegidas por abundante vegetação em

volta.

Esse conjunto de “pontos de afloração d´água”, juntamente com a nascente constitui a

APP (Área de Preservação Permanente) da Serra do Cocho. Atualmente encontra-se

protegida através de isolamento da área com cerca de arame farpado, evitando pisoteios

de animais soltos (gado bovino) e de pessoas, levando a impactação do solo e impedindo

o seu afloramento.

Recorre-se a percepção do poeta da comunidade do entorno da Serra do Cocho, que

inspirado registra “lampejos imaginários” em seus versos conectados e encadeados a

partir da nascente da Serra do Cocho:

(...) Nascente de água é um grande berço de vida No subsolo a água acumula Depois para cima o fluxo pula E faz majestosa descida As árvores são defesas contra empecilhos A mata forma protetores cílios A água faz seu fluxo em harmonioso caminho Atraindo jacu, bugio e tanto passarinho Que come o fruto e a semente dispersa E nasce a flora tão diversa E o eixo natural circula Na sombra fresca o sapo pula E a cobra faz o bote E o carcará a pega e alimenta seu filhote Forma-se carreiros cheio de flores Visitados por insetos trabalhadores Sem eles não haveria outras vidas nos ecológicos corredores A abelha de exemplar comunidade organizada Que leva o néctar Cada uma tem sua função e tudo se conecta E o Papa mel vai pegar seu alimento

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Ele vai levar muita picada, Mas precisa de fonte para seu alimento Fauna silvestre de uma serra rica Tem onça parda, gato do mato e a nossa inesquecível jaguatirica (...)

Depoimento de um ancião morador da comunidade relata a abundância de água na

nascente da Serra do Cocho:

“(...) não precisava subir até o cocho porque a água tinha nos riachos embaixo...” (...) “lembro das lavouras de arroz que havia lá, engenho de cana. Eu já colhi 18 sacos de arroz aqui, havia muito plantação de cana aqui, muita rapadura”.

Outra anciã, também moradora da comunidade relata que:

“(...) quando eu conheci aquilo lá, era bom e bonito... Água à vontade... A água do cocho passava no Riacho de Manelim. Meu avô morava ali. A gente tomava banho ali no riacho, lavava roupa ali. Levava a bacia na cabeça e um menino no braço. A cabeça chegava... parece dormente, assim... Tem mais de 40 anos que não vou lá, meu filho.”

Denota-se a abundância de recursos hídricos na região e a regularidade do ciclo

hidrológico. Tanto que assim era, que as pessoas não iam até a serra para abastecer e

prover a sua família de água ou fazer usos domésticos. Bem como, a dessedentação

animal. Faziam isso nos riacho abaixo da serra.

No passado quando da ocorrência das secas e das longas estiagens, apenas restava

água para consumo da comunidade somente na Serra do Cocho. Então, as pessoas se

dirigiam para lá em busca do líquido da vida.

Segundo as reminiscências de um ancião morador da comunidade: “toda essa região na

seca vinha gente de muito longe. Vinha de São João dos Britos, buscar água na cabeça,

no pote, pra beber”. A comunidade compartilhava a água da nascente da serra,

generosamente com pessoas das comunidades vizinhas.

As mulheres e as jovens moças da família, ainda pela madrugada iam para a serra com

bacias ou gamelas com roupas sujas, que eram transportadas por si mesmas, sobre a

própria cabeça, para lavar lá na serra. Às vezes, quando possível, jumentos faziam o

transporte de ida e volta das roupas e também de água para o consumo doméstico.

As lavadeiras da Serra do Cocho são personagens muito lembradas nos relatos das

pessoas mais antigas da comunidade. É quase unanimidade, na oitiva das pessoas da

comunidade. Muitas delas relatam as dificuldades na tarefa árdua de transportar as

roupas na própria cabeça, lavá-las, colocá-las no coradouro (quarador), enxaguar,

66

esperar secar e trazê-las de volta para suas casas. Era um dia inteiro para realizar essa

tarefa exaustiva.

Relatos de um antigo morador da comunidade registram e atestam as diversas

dificuldades das mulheres lavadeiras da Serra do Cocho:

“lembro muito das mulheres lavando roupas lá, meu filho. Minha mãe usava “gamela de mulungu” lá na serra e a gamela ficava encharcada e o peso pra trazer de volta era muito grande. Lembro também das mulheres batendo a roupa nas pedras pra lavar”. Era o tanquinho das mulheres (...).

O relato de um morador da comunidade do entorno da Reserva Ambiental Serra Cocho,

ao relembrar suas memórias, diz: “(...) e me lembro de minha mãe contando que levava

minha irmã dentro de uma bacia com roupas para lavar na Serra do Cocho”.

Na oitiva das pessoas na comunidade, coletando informações, coincidentemente,

conversei com uma senhora, antiga moradora, relata que às vezes tinha que levar sua

filha, ainda criança muito pequena, dentro da bacia com as roupas para serem lavadas,

porque não tinha quem cuidasse da pequena criança, enquanto ela lavava as roupas da

família lá Serra do Cocho.

Reforçando essa narrativa uma jovem moradora também relata esse fato que a sua avó

levava a sua tia dentro na bacia para lavar as roupas lá Serra do Cocho.

Surpreendentemente, trata-se de três gerações da mesma família a narrar único fato

ocorrido na primeira geração. Aliás, a própria criança que fora transportada na bacia com

roupas relatou esse fato que sua mãe narrara para ela.

O poeta inspirado, ao versejar sobre a Serra do Cocho, assim declama:

(...) “Antigamente até ela, o povo subia E a água na "cangaia" do jegue descia Muita história de roupa lavada na bacia” (...)

Outro fato de grande relevância histórica para a comunidade foi a implantação do sistema

rudimentar de abastecimento de água nas comunidades do entorno da serra, canalizado

a partir de um reservatório “caixa d´água”, pela Prefeitura de Tremedal, lá na serra, há

poucos metros da nascente. Deste reservatório a água era conduzida por gravidade

através de encanamentos até determinados pontos estratégicos de distribuição “caixas

67

d´água” (Figura: 3.2) nas seguintes localidades: Quati, Salininha, Lagoa das Pedras e

São João dos Britos.

Mais uma vez recorre-se aos versos da poesia “Serra do Cocho” do poeta da região, que

apesar de jovem, foi testemunha de muitos fatos da história da região. A respeito da

implantação do sistema de abastecimento de água das nascentes da Serra do Cocho,

assim verseja a sua percepção:

(...) Veio a má planejada canalização E com ela muita confusão Água encanada era um progresso que se via, Pois muita fazenda abastecia Ia do Quati até o São João Só que natureza não tolera perturbação Humana Interferência Construção de barragem acima da serra A veia da água quase encerra Morreu Tio Maçu, nosso líder de linda consciência (...)

Figura 3.2: Um dos pontos de distribuição de água canalizada da Serra do Cocho na

comunidade Quati. Moradores já usando o transporte por tração animal: carro-de-bois ou

no lombo de jumentos. Fonte: Acervo do Projeto Tremedal Ecológico.

A “caixa d´água” construída lá na serra, certamente foi inspirada no Cocho de outrora,

que fora substituído, para dar maior vazão para o sistema abastecimento de água. O

Projeto Tremedal Ecológico afirma que pretende reconstruir o “cocho” como regaste da

memória, da cultura e da história da comunidade.

68

Os relatos dos moradores afirmam que o cocho da serra fora substituído na ocasião da

instalação do sistema de abastecimento de água, por uma caixa d´água, construída pelo

Poder Público municipal. A partir deste momento, a história oral assume o papel de

repassar para gerações subsequentes um cabedal de convivibialidades harmoniosas e

sociabilidades produtivas.

As lavadeiras, figuras emblemáticas, na sua árdua missão cotidiana experimentavam

também alguns momentos de descontração e de lazer.

“Havia muitas moças na época, então como lavavam a roupa de toda família, ficavam por lá o conjunto delas o dia todo, saíam de casa cedo e só voltavam à tardezinha; determinada hora mandavam os meninos que ficavam por lá ficarem vigiando para ver se não subia alguém porque elas iam tomar banho (...)”.

Durante a execução da tarefa de lavar as roupas, segundo os relatos colhidos na

comunidade, apontam que eram muito comuns brincadeiras, cantorias, rezas, versos de

improviso. Eram explorados empírica e intuitivamente, os fatos do cotidiano, das pessoas

presentes no momento e também da realidade da comunidade.

Outro morador se recorda que em sua infância havia uma “incelença”17 que a sua avó

rezava lá na serra enquanto lavava roupas.

“As mulheres rezavam benditos velhos quando lavava roupa lá no Cocho. Me lembro de uma incelença, um bendito, que as mulheres mais velhas cantavam lá...” Uma lavandeira, um beija-flor, Lavando os paninhos de Nosso Senhor Quanto mais lavava O sangue escorria Nossa Senhora chorava O demônio corria (...)

Isso repetia nove vezes, diz o jovem. Era o refrão do bendito que as mulheres mais

velhas cantavam, complementa.

17 São benditos/cântico entoados por católicos para os defuntos, durante a sentinela (velório) . O cantor e compositor baiano de Vitória da Conquista, Elomar Figueira Melo, difunde a cultura das “incelenças”, inclusive compôs e interpretou – Incelença pro amor retirante.

69

Outra senhora se lembra de uma cantiga que entoava enquanto lavava suas roupas nas

cacimbas da Serra do Cocho:

“olê muié redeira, olê muié rendar Tu me ensina a fazer renda Que te ensino a nomorar...”

Mais uma senhora moradora se recorda de apenas um verso de uma cantiga que

cantavam durante o labor da lavagem de roupas ou do transporte de água: “lagartixa foi

pra missa...”.

Uma anciã, moradora da comunidade informa que o número de pessoas era muito

grande para usar a água da nascente e muito emocionada relata que preferia usar as

cacimbas:

“havia muita gente e nós não ficava no cocho. Ali era muita gente, animal. Nós ia lá pra cima nas cacimbas (...). Havia as cacimba de João Grande, de Zelino, de João de Chico (...) A gente chegava cedo, limpava a cacimba pra lavar roupas mais sossegada.

Na verdade, a entrevistada se refere às cacimbas que ainda estão ativas na serra. As

pessoas que ela menciona, apenas cavaram no solo as cacimbas na área pública, não

são reais proprietários das cacimbas.

3.2. Antropização e hiperexploração dos recursos naturais da Serra do

Cocho

A zona do entorno da área demandada para a instalação da Reserva Ambiental Serra do

Cocho encontra-se em processo de antropização acentuado. Os efeitos negativos da

ação humana são claramente perceptíveis. Por se tratar de área onde a atividade

agropecuária desenvolvida por pequenos produtores rurais, os impactos ambientais

advindos dessas atividades exercem implicações diretamente no ecossistema da Serra

do Cocho.

Todavia, o maior impacto, segundo relatos colhidos na comunidade, foi a construção de

barragens no Rio Araçá18, interrompendo totalmente o fluxo d´água da montante, à

18 Trata-se de pequeno rio temporário ou intermitente da região que corre a cima e paralelamente à Serra, “nos gerais”. O relevo após o mirante da Serra do Cocho torna-se plano ou menos ondulado.

70

jusante do corpo d´água. Inclusive, a população residente no entorno da reserva, indica

que as nascentes da serra foram impactadas diretamente por essas obras de barramento

do rio, levando ao esgotamento dos lençóis freáticos, consequentemente todas as

nascentes da região. Restando ativas, apenas a nascente da Serra do Cocho e nascente

da Serra do Boi. As demais: Brejinho, Veredinha, Grota, Bananeira, Riacho d´Anta e

Berrador, encontram-se totalmente esgotadas.

Um ancião morador da comunidade faz relato surpreendente e muito interessante:

“Fizeram muitas barragens “nos gerais”. Os rios Lavador, Tapioconga, rio São João e Lagoa dos Veados. Esses rios foram desmatados e água que era filtrada por baixo da terra até aqui no Cocho, não chega mais”.

Relata outro morador, apesar de jovem, recorda-se que além da construção de represas

“(...) acredito que a construção de represa interrompeu o fluxo da minação. Secaram as

“minações”, houve queimadas e desmatamentos. Outros olhos d´água da região

secaram”.

Como se percebe através das narrativas dos moradores da comunidade, as ações

antrópicas, são as grandes causas dos impactos ambientais negativos sobre o

ecossistema da Serra do Cocho.

A arte poética do jovem morador do entorno da Serra do Cocho, outra vez é também

elucidativa nessa questão dos impactos ambientais negativos sofridos pelo ecossistema

da Serra do Cocho, verdadeira hiperexploração dos recursos naturais:

(...) Só que natureza não tolera perturbação Humana Interferência Construção de barragem acima da serra A veia da água quase encerra (...)

Outro fato que se verifica em visita in situ é presença de espécies endêmicas da flora,

principalmente, as ditas, ”madeira de lei”, por exemplo: o jatobá, a sucupira, a copaíba, o

jacarandá, o jacatiá; e na fauna, espécies ameaçados ou em processo de extinção: o

macaco bugio, o sagui de topete branco, a onça parda, a onça jaguatirica, o tamanduá, o

urubu-rei, são apenas alguns exemplos das espécies que ainda encontram refúgios na

área demanda para a criação da reserva ambiental.

71

Um antigo morador da comunidade relata sobre a diversidade do ecossistema e a

importância de preservá-lo:

“Acho demais importante a preservação porque nasci aqui e conheço tudo que tem lá: as matas, nascentes, árvores e os bichos. Inclusive, tem árvore lá que só tem na Amazônia, o jacatiá, dar uns mamãozinho papaia e meu pai, inclusive, usava pra fazer rapadura tijolo da fruta da árvore. Jatobá também dava muito lá e nós, a meninada, comia muitas frutas lá, direto”.

O jacatiá, também conhecido como mamãozinho do mato ou jacaratiá (Jacaratia spinosa)

na verdade é uma espécie endêmica da Mata Atlântica, de ocorrência desde o Rio

Grande do Sul até o Sul da Bahia. Como a Serra do Cocho é um ecossistema de

transição entre a Caatinga e a Mata Atlântica, localizado no sudoeste do Estado da

Bahia, o jacatiá se faz presente no ecossistema.

No entanto, no campo dos recursos hídricos, alguns moradores não têm essa percepção

muito clara. Entendem que o esgotamento das nascentes, principalmente a da Serra do

Cocho se deu devido à instalação do sistema de abastecimento doméstico. Todavia, é de

causar estranheza o fato de todas as outras demais nascentes ao longo da serra terem

secado também.

Todavia, alguns moradores percebem e entendem que o período de secas e estiagens

prolongadas é o fator desencadeante do esgotamento dos recursos hídricos da região,

inclusive a nascente e cacimbas de lá na Serra do Cocho.

Contudo, alguns moradores narram que a retirada desordenada de madeiras da mata da

Serra do Cocho gerou impactos ambientais significativos, inclusive escassez de espécies

endêmicas e surgimento de espécies exóticas no ecossistema.

Ademais, também apontam os desmatamentos como possível causa do esgotamento dos

“olhos d´água” de toda a região.

3.3. Primeiros lampejos protetivos: identificação da APP do “Olho d´água da

Serra do Cocho”

Identificado o primeiro grande marco histórico da preservação da Serra do Cocho, ainda

na década de 1970. Registra-se outro grande marco protetivo e igualmente histórico,

porém, sistemático, que se inicia após 2012. Um jovem morador da comunidade do

72

entorno da serra, ao migrar para São Paulo, em busca de melhorias econômicas-

financeiras, bem como, o desenvolvimento e aprimoramento intelectual, retorna em visita

aos seus pais, que ainda residem na região, resolveu intervir na realidade que se

encontrava a região.

Ocorre que, o jovem biólogo, ao trilhar pela serra, identificou várias ações negativas

impactantes ao meio ambiente: presença de gado solto na área, pisoteando as cacimbas

e a nascente, corte ilegal de árvores, queimadas e a presença de caçadores ilegais.

Indignado com a situação degradante em que se encontrava toda a área resolveu intervir

propondo e aplicando ações preservacionistas com o apoio da comunidade.

Assim, os primeiros lampejos protetivos sistematizados da Serra do Cocho tem início em

2012. O jovem biólogo da região, apesar de residir em São Paulo, indo visitar a região

apenas na ocasião de suas férias, intuitivamente idealizava criar uma reserva ambiental

para proteção de todo o ecossistema. Todavia, a região precisava de ações emergenciais

que não poderia aguardar a tramitação de um longo e moroso processo de criação de

uma UC, principalmente as cacimbas e a nascente sofreriam a maior impactação.

Então o jovem visionário reuniu-se com os amigos e vizinhos, expôs o problema e

sugeriu ações para aplicação imediata. Dirigiu-se ao INEMA sede regional de Vitória da

Conquista – BA, relatou o problema e a situação de abandono do local aos responsáveis

pelo órgão. O órgão ambiental aconselhou e lhe autorizou a colocar placa identificadora

da APP, advertido para não jogar lixo e com alerta proibindo caça. Ao retornar para a

comunidade as ações foram implantadas custeadas às próprias expensas do jovem

biólogo.

A comunidade mobilizou-se sob a coordenação do jovem biólogo realizaram um mutirão

e cercaram a área da nascente e cacimbas, isolando do pisoteio de animais soltos,

principalmente o gado bovino e também de pessoas.

A implantação destas ações emergenciais surtiram efeitos esperados: a nascente não

secou durante o decurso dos últimos dois anos. E com a presença de água no local,

consequentemente vários animais retornaram ao convívio na área. Por exemplo,

recentemente foi registrada a presença de macacos bugios, de saguis de topete branco,

de urubus-rei, além da onça jaguatirica com sua cria e muitas outras aves. A rápida

recomposição natural da flora é outro fato muito importante que se observa.

73

3.3.1. O longo processo para criação da Unidade de Conservação: “a escolha e o

preparo do solo”

Inegável que as primeiras ações protetivas em defesa da Serra do Cocho sensibilizaram

a comunidade levando vários cidadãos e cidadãs locais a aderir ao movimento. A

comunidade sensibilizada e convencida da importância da preservação e conservação da

área tem se envolvido em esforços comuns para a conquista do tão sonhado momento

da criação da UC na Serra do Cocho.

Uma vez escolhido o “solo fértil” é necessário prepará-lo para a semeadura. Apesar das

condições ideais do solo, para o lançamento das boas sementes, à germinação,

estrategicamente há que se ter a paciência e a sabedoria de aguardar o momento

adequado para depositar no terreno em condições favoráveis à germinação, mas,

sobretudo, o cuidado, o zelo para que após o rebento, cresçam, floresçam, deem frutos

sadios para garantir boa colheita que propicie a felicidade do saboroso banquete.

As fases precedentes ao banquete já foram avançadas conforme a evolução projetada e

sistematizada. Os preparativos para o banquete estão sendo providenciados para a

coroação da rainha tremedalense, a Reserva Ambiental da Serra do Cocho. Por sua vez,

o Território do Sudoeste Baiano, vai reverenciar também a primeira rainha – RPPN -

única soberana no território de 24 municípios. Certamente, vão aparecer princesas, aliás,

são muito bem-vindas ao “reino da preservação”, mas como soberania é atributo jungido

à realeza, a RPPN Serra do Cocho, possui unção primaz.

3.3.2. A propagação na comunidade das ideias para criar a Unidade de

Conservação: “O lançamento das sementes do cume da serra”

Um jovem biólogo e poeta, natural da comunidade do entorno da Serra do Cocho, é

também um exímio articulador socioambiental. É dele a idealização da criação da reserva

ambiental. Também é dele, a iniciativa da propagação na comunidade das ideias de

preservação e conservação ambiental de todo o ecossistema da Serra do Cocho.

Algumas estratégias foram intuitivamente, aplicadas no processo de sensibilização para o

despertamento e conscientização da importância de preservar e conservar o

ecossistema. Apesar de que na comunidade a técnica mais eficiente tem sido a

divulgação “boca-a-boca”.

74

O próprio jovem biólogo Santiago (2015) relata essas experiências, dizendo que se

aproveitou da oportunidade de participar de uma cavalgada na comunidade para divulgar

as primeiras ideias que tinha para a preservação da nascente da Serra do Cocho:

Com o projeto já elaborado em mente e com todas diretrizes pensadas, riscos e problemas que poderiam acontecer, conhecendo bem a região e o sistema das pessoas; analisando toda situação, era hora de iniciar o trabalho. A cavalgada teve papel fundamental no processo, pois nela contava-se com a participação de alguns importantes membros antigos da população local, como o Seu Gerosíno e Nozinho e membros mais jovens como Vando e Adalto. Então aproveitei a oportunidade e comecei a falar sobre o assunto, apresentei a ideia de cercar o local; a conversa fluiu e tive o apoio inicial necessário. Então foi comunicado para outros moradores sobre o projeto e informado o dia marcado para começo da obra. Relatei que não precisavam se preocupar com os custos iniciais e maiores que era do arame, que eu tomaria as providências. (p.18)

Após esses primeiros passos as mídias digitais do município e de municípios vizinhos

divulgaram as ações realizadas e a importância do trabalho feito em prol da conservação

da Natureza.

Com isso veio a participação do Poder Público Municipal. O prefeito e os vereadores

apoiaram o projeto, nessa fase. Foram realizadas reuniões na Câmara de Vereadores,

com a participação da comunidade e da sociedade civil.

A demanda de criação da reserva ambiental foi apresentada a Prefeitura de Tremedal,

que através do apoio da vereadora Maria Mônica Ferraz, fez os encaminhamentos para

os órgãos ambientais competentes em Salvador.

O Projeto Tremedal Ecológico utiliza a divulgação “boca-a-boca”, as mídias digitais e

redes sociais para comunicar o andamento e as ações realizadas, bem como, os

objetivos atingidos. Uma vez que, o município não dispõe de meios de comunicação de

massa (jornal, revista, rádio, TV).

Inegável considerar que a comunicação é de fundamental importância para a

sensibilização e adesão de mais pessoas simpáticas à causa ambiental, também

favorece a transparência dos atos e das ações. Ineludivelmente, esses processos de

comunicação fortalece e ampliada o alcance e a efetividade da participação social cidadã.

75

O lançamento das boas sementes se dá do cume da serra. Os bons ventos

(comunicação “boca-a-boca”) se encarregam de depositá-las no solo adequado, o

orvalho do alvorecer matinal contribui com o seu papel fundamental na germinação das

boas sementes: Eis o relato de Santiago (2015).

Na primeira reunião lá na serra ficou definido que seria feita a picada na mata, fazendo a marcação da nova cerca, que seria erguida ao redor da nascente. Antes de iniciar a obra comprei duas bolas de arame novo para garantir a animação dos homens e o incentivo do custo mais alto já ter sido pago e estar à disposição. (p. 18)

A empolgação das pessoas da comunidade é contagiante. Organizaram e realizaram

uma cavalgada com feijoada beneficente, em prol da construção da Cada da Cultura

Antônio de Ernesto, que também vai abrigar a sede social do Projeto Tremedal Ecológico.

3.3.3. Identificação de potenciais voluntários: “A semeadura em terra fértil”

A atual sociedade capitalista e individualista, também tem ocupado espaços importantes

na comunidade, nas relações sociais, afetando o modo de vida dos indivíduos. Não seria

diferente em uma comunidade rural do Município de Tremedal, que também está inserida

no processo de globalização em que o acesso à informação, através dos meios de

comunicação de massa e da internet contribui grandemente para isso.

O modo de vida moderno afeta diretamente o comportamento das pessoas no mundo, no

país, inclusive nas comunidades rurais que também é muito impactada com o advento

das mídias e redes sociais. A televisão e a internet têm mantido as pessoas em suas

casas prejudicando as interações sociais de modo direto. É cada vez mais raro as visitas

de vizinhos para tomar um cafezinho com biscoitos caseiros ou até mesmo visitar uma

pessoa doente.

Nesse contexto, não é tarefa das mais fáceis identificar potenciais voluntários e fidelizar

em número ideal para “tocar” as diversas tarefas e desenvolver as ações necessárias

para dar consistência ao processo de criação e gestão de uma unidade de conservação.

Concorrer com a televisão e as redes sociais é tarefa fadada ao insucesso.

Mas a persistência e a liderança do jovem biólogo, as pessoas da comunidade vêm se

unindo e assumindo tarefas, realizando ações fundamentais para que o ideal evolua para

a concretização do tão sonhado momento da criação da reserva ambiental.

76

O clima amistoso e de compartilha desenvolvido na comunidade favorecem as inter-

relações e essa intercambialidade constrói um ambiente fraterno, de convivência e de

sociabilidade. Proporcionando uma atmosfera favorável para a “semeadura em terra

fértil”. Os semeadores capacitados escolhem o solo fértil, airado, e, juntos plantam as

boas sementes em terra fértil.

Óbvio que, quem planta, o faz, porque espera colher bons frutos, sadios e nutritivos. Eis

porque é necessário selecionar bons semeadores, capacitados para a semeadura de

boas sementes, porque para a esperada colheita farta é necessário “semeadura em terra

fértil”.

E assim, as pessoas foram se identificando, se destacando em determinadas

tarefas/procedimentos do processo: guias voluntários para visitantes e pesquisadores,

vigilância e inspeção de toda a área demandada, construção e conservação das trilhas

no interior da reserva, conservação e manutenção das cacimbas e nascentes, captação

fotográfica de animais e plantas do ecossistema, execução de tarefas administrativas,

divulgação através de palestras de educação ambiental e sustentabilidade no município e

no território de identidade Vitória da Conquista, assessoria técnica para construção de

hortas nas escolas rurais do município.

Todas estas tarefas e funções exigem voluntários muito além de comprometidos com

resultados, mas, acima de tudo, bons semeadores de otimismo, distribuidores de

esperanças, colecionadores de boas práticas sustentáveis, fortalecedores da

fraternidade, multiplicadores de amizade, praticantes da preservação e conservação

ambiental: eis apenas alguns exemplos dos potenciais voluntários transformados em

efetivos colaboradores unidos em proposito único; a “semeadura em terra fértil” com zelo

amoroso e fraterno para a colheita de bons frutos, pela preservação da Serra do Cocho.

Todas essas ações contribuem com o processo de criação e com a efetiva gestão

participativa da unidade de conservação.

3.3.4. Esforços e muito suor, parcerias e parceiros voluntários: “Os trabalhadores

da última hora”

O processo de criação e de gestão de uma Unidade de Conservação demanda muitos

esforços. São várias reuniões, muitas argumentações, diversas negociações, estratégias,

77

acordos, palestras, discussões, avanços e retrocessos, eventos para divulgação de ideias

favoráveis à criação da reserva.

É de fundamental importância os esclarecimentos para as pessoas da comunidade a

respeito dos ganhos diretos e indiretos que a comunidade terá com uma reserva

ambiental lhes presenteando, ar puro, um microclima melhor regulado, toda a gama de

serviços ambientais que a reserva vem lhes oferecer.

Paralela e concomitantemente vão sendo realizados pequenos eventos sociais, tanto em

São Paulo, quanto na comunidade. A sensibilização estava sendo consolidada. O

fortalecimento do grande ideal de criar a unidade de conservação carece de muito mais

“esforço e suor” não apenas das pessoas da comunidade, mas também de estabelecer

parcerias e conexões com outras pessoas e com entidades afins.

Tão significativos esses esforços, inclusive a Fundação Mata Atlântica, esteve em visita

na comunidade. A Universidade Estadual do Sudoeste Baiano (UESB), através do

Departamento de Biologia, vem regularmente realizando levantamentos e pesquisas na

área de interesse de implantação da UC.

Com efeito, ocorrem ocasionalmente, visitação de autoridades políticas do munícipio e

lideranças comunitárias, educadores, estudantes, professores, pesquisadores, pessoas

simpáticas à preservação do ambiente. Até as pessoas da comunidade têm ido à serra

com muito mais frequência visitar e desfrutar de lazer e piqueniques.

Muitos profissionais de diversas áreas do conhecimento, voluntariamente, também vêm

cada vez mais aderindo e integrando-se ao projeto, são biólogos, professores,

pedagogos, geógrafo, advogado, engenheiros, jornalista. É dessa ação generosa e tão

elementar, através de parcerias com parceiros que se vai construindo uma proposta de

ação, segundo preceituam a Política Nacional do Meio Ambiente e a Política Nacional de

Educação Ambiental, de modo inter e transdisciplinar. Permeando transversalmente todo

o processo de criação e de gestão da unidade de conservação.

Inegável que os muitos esforços levam a muito suor compartilhado com as parcerias e os

parceiros voluntários, que estabelecem um processo qualificado pela solidariedade, o

companheirismo, traduzindo toda essa sociabilidade em habilidosos e devotados

“trabalhadores da última hora”. Contribuindo com a preservação da Serra do Cocho, mas,

78

acima de tudo colaborando para uma sociedade/comunidade com mais participação

social, cidadania, e justiça social.

Eis a grande missão e a recompensadora tarefa dos “trabalhadores da última hora”.

Nunca se faz trade para contribuir com esforços para a conquista de empreendimentos

socioambientais e culturais que beneficiem toda a comunidade e a coletividade em geral.

3.3.5. Demarcação da área demandada e a regularização fundiária da Reserva

Ambiental Serra do Cocho: “A floração e a anunciada colheita”

A evolução natural dos fatos está culminando com a demarcação da área para a

regularização fundiária, junto aos órgãos competentes e responsáveis por essa questão

no Estado da Bahia.

Assim, para a instauração do processo de criação da Unidade de Conservação Serra do

Cocho, foi juntado aos autos o parecer do Inema, com manifestação favorável a criação

da unidade de conservação. Esse parecer foi embasado, inclusive com documentos do

Projeto Tremedal Ecológico, e levantamentos in situ, do próprio Inema; para instruir o

processo de titulação da área demanda junto à CDA (Coordenação de Desenvolvimento

Agrário) em Salvador – BA: sob o número 468564-4 e protocolo nº 0880160015225 de 24

de agosto de 2016, tramitando perante a CDA.

(...) cabe aqui destacar que a partir das informações obtidas em campo e dos elementares estudos técnicos apresentados pelos interessados locais no processo de criação da unidade de conservação municipal, pode-se afiançar que a área da Serra do Cocho e seu entorno apresentam especialmente as funções de abrigar espécies da flora e da fauna silvestres ameaçadas de extinção e a de proteção de mananciais. Não obstante as restrições de uso estabelecidas pela Lei da Mata Atlântica já indiquem a premente obrigação de preservação destes ambientes, em vista da presença de áreas de preservação permanente associadas a terrenos com declividades igual ou superior a 45°, além da ocorrência de cursos hídricos e de suas respectivas áreas de preservação permanente, se advertem nítidas restrições de uso da área de interesse da criação da unidade de conservação e de boa parte das áreas de entorno alvo de estudo. Uma análise detalhada da cobertura e uso da terra da área objeto de interesse de criação da unidade de conservação da Serra do Cocho revela a presença de formações florestais em estágio médio a avançado de regeneração, áreas de transição Savana Estépica/Floresta Estacional e de áreas de solo expostos, as quais, para efeito de uma efetiva conservação dos recursos naturais, deveriam ser devidamente delimitadas e protegidas.

79

Esse processo de titulação da área se faz necessário, por se tratar de área pública. É

através desse processo que a Associação Ambiental e Sociocultural da Serra do Cocho,

reivindica para si, o título da área demandada para que, finalmente possa estar habilitada

a promover a criação da UC, junto aos órgãos ambientais competentes. Por entender ser

a comunidade detentora da posse mansa, pacífica, desimpedida e contínua ao longo de

aproximadamente 70 anos.

80

Figura 3.3: Cobertura da terra da Serra do Cocho e entorno. No centro da figura

apresenta-se a área de interesse de criação da UC constituída quase exclusivamente por

cobertura natural. Fonte: Inema.

81

Cumpre esclarecer que, essa área demandada sempre foi pública, mas não há nenhum

registro de tal situação. A comunidade sempre foi gestora da área. Sempre zelando e

preservando todo o ecossistema e a biodiversidade.

Reforça-se que a Associação Ambiental Serra Cocho é fruto do amadurecimento do

espírito comunitário e do associativismo para assumir legalmente toda a responsabilidade

pela preservação e gestão da RPPN Serra do Cocho, para que ela possa continuar ad

aeternum, oferecendo os serviços ambientais, para os usos de maneira democrática e

acessível a todos, de modo difuso e coletivo.

Ocorre que foi necessária uma visita in loco pelos técnicos da CDA, porque o

georreferenciamento da área, juntado no parecer técnico do Inema não foi realizado por

GPS geodésico. Em sua visita técnica a CDA realizou nova medição da área com o GPS

geodésico, cumprindo a exigência legal para a demarcação da área de interesse. Restou

apurada área menor que a medição inicial realizada pelo Inema.

Em segunda visita, os técnicos da CDA, já com a área georreferenciada, através do

instrumento tecnológico competente, fizeram a demarcação da área demandada,

identificando-a e individualizando-a das propriedades privadas. Nesta oportunidade foi

fincados piquetes de concreto com a logomarca do CDA em todo o contorno limítrofe da

área demandada.

Figura 3.4: Piquete com a insígnia da CDA (Coordenação do Desenvolvimento Agrário)

demarcando os limites da Reserva Ambiental Serra do Cocho. Fonte: Acervo do Projeto

Tremedal Ecológico.

82

O próximo passo é a titulação da área feita pela CDA em favor da Associação Ambiental

e Sociocultural da Serra do Cocho, para efetivamente, a Secretaria de Meio Ambiente do

Estado da Bahia decrete a criação da UC Serra do Cocho, restando a associação

habilitada para a gestão da unidade de conservação.

Figurativamente, a comunidade tem entendido estes acontecimentos como o prenúncio

da “farta floração para a anunciada e abundante colheita de bons frutos”. Equivale dizer

que: a floração é pulverização, é a divulgação das ideias conservacionistas e

preservacionistas do meio ambiente; por conseguinte, a colheita de bons frutos,

diretamente é a oficialização pelos órgãos ambientais, da Reserva da Serra do Cocho, e;

indiretamente, os benefícios difusos e coletivos, advindos dos serviços ambientais

disponibilizados pela unidade de conservação, RPPN Serra do Cocho.

A RPPN da Serra do Cocho é uma realidade fática consolidada, pois, é apoiada e

reverenciada por toda a comunidade local, que aguarda até com ansiedade o decreto de

sua oficialização para o banquete comemorativo por tanta luta, dedicação e empenho por

causa nobilitante e engrandecedora da comunidade local para toda sociedade em geral.

83

MARCO EMPÍRICO

84

4. CONTEXTUALIZAÇÃO

As Unidades de Conservação no Brasil convém ressaltar, estão agrupadas em dois

grandes grupos: UC de usos sustentável e UC de proteção integral. Compreendem

estratégias de ordenamento territorial e também asseguram a preservação e a

conservação ambiental dos espaços naturais. Uma vez que, consistem reservar porção

territorial com todos os seus atributos ambientais biodiversos e ecossistêmicos para a

preservação e conservação da biodiversidade.

A RPPN (Reserva do Patrimônio Particular Natural) é uma categoria de UC prevista no

SNUC (Sistema Nacional de Unidades de Conservação), que pertence ao grupo das

UC´s de usos sustentável. Todavia, ressalta-se que os requisitos legais desta categoria

(ecoturismo, educação ambiental e a realização de pesquisas eco ambientais podem ser

realizadas no seu interior) indicam que deveria estar no grupo de categorias de UC´s de

proteção integral. Pois, estes são os mesmo requisitos exigidos para as categorias de

UC´s de proteção integral. Contudo, existe projeto de lei tramitando no Congresso

Nacional, para retificar essa incongruência, explicitando que as RPPN´s são UC´s de

proteção integral.

Ainda ressalta-se que a criação de uma UC depende de ato discricionário do Poder

Público. Apesar de o ato de criação de uma RPPN ser uma iniciativa voluntária do

proprietário da área, a legislação exige que a UC seja homologada, registrada e

submetida à fiscalização do órgão ambiental competente. Todavia, a comunidade e a

sociedade civil, de modo geral, estão também autorizadas pela Constituição Federal de

1988 e por leis infraconstitucionais a promoverem demandas de criação de UC, inclusive

as RPPN. No artigo 225 da CF/1988 está disposto que:

Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao poder público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações. (grifo nosso)

Assim, a obrigação de conservar, preservar e defender o meio ambiente é compartilhada

entre o poder público, em todas as suas esferas de poder da Administração Pública, da

coletividade, e da sociedade. A obrigação de defender e preservar o meio ambiente, não

é apenas para usufruto no presente, mas, sobretudo, para as gerações vindouras que

têm assegurado o seu direito a usufruir o meio ambiente ecologicamente equilibrado,

posto que, é indispensável à sadia qualidade de vida.

85

Assim, restou claro que a pesquisa de campo realizada na comunidade apurou que as

pessoas têm maturidade e compreensão para a sustentabilidade, a preservação e

conservação do ecossistema e das riquezas da Serra do Cocho.

Nesse contexto, as unidades de conservação são grandes aliadas para a defesa e a

proteção da mega biodiversidade brasileira.

Dentre as categorias de UC´s, vem merecendo destaque a RPPN (Reserva Particular do

Patrimônio Natural). Por não ser necessárias desapropriações, como é comum em

qualquer outra categoria, ao contrário, nesse caso, é o próprio proprietário da área que

manifesta voluntariamente o seu desejo de preservar o meio ambiente em sua

propriedade privada. No mundo há mais de 10 mil reservas privadas contribuindo

grandemente com a sustentabilidade e a preservação da biodiversidade.

No Brasil, comemora-se no dia 31 de janeiro o Dia Nacional das RPPN´s. Há muitas

RPPN´s instituídas, tantas outras, em processo de criação. No Estado da Bahia,

encontra-se 103 já demarcadas e oficializadas, muitas outras aguardando a burocracia

estatal para serem regularizadas. Por outro lado, em todo o Território do Sudoeste

Baiano, não há nenhuma UC desta categoria registrada no SIMRPPN (Sistema

Informatizado de Monitoria de RPPN´s).

O município de Tremedal, apesar das grandes extensões territoriais e de consideradas

riquezas ambientais, ainda não possui nenhuma UC. Ademais, a RPPN da Serra do

Cocho será a pioneira no município e no Território de Identidade Sudoeste Baiano, que é

composto de 24 municípios e não possui nenhuma UC dessa categoria. No Brasil, em

200 municípios as RPPN´s são as únicas UC existentes. Assim o município de Tremedal

será mais um a integrar este rol.

A Serra do Cocho está localizada na zona rural do município de Tremedal,

aproximadamente 20 km, a sudoeste, entre o munícipio de Piripá - BA e Ninheiras - MG.

Seguindo pela estrada vicinal que liga a sede do munícipio de Tremedal ao distrito de

Lagoa Preta, e este, ao norte mineiro.

Por sua vez, o município está inserido no Território de Identidade Sudoeste Baiano, no

Estado da Bahia (Figura 4.1). A serra é composta por terras devolutas, que são bastante

cobiçadas, principalmente para “pastoreio de larga”, exploração dos recursos hídricos,

86

caça ilegal de animais silvestres e extração ilegal de madeira. Inserida em um conjunto

de comunidades rurais: Salininha, Quati, Veredinha, Lagoa das Pedras e Brejinho.

O município de Tremedal dista da capital do Estado da Bahia, Salvador, cerca de 588 km.

A referência regional é a cidade de Vitória da Conquista, que está localizada cerca de 80

Km de distância de Tremedal. Com efeito, Tremedal é considerado um município grande

quanto à sua extensão territorial.

Figura 4.1: Mapa do município de Tremedal e municípios vizinhos. Os destaques em cor

verde no mapa é a região da Serra dos Caititus, conhecida localmente por Serra do

Cocho. O município de Ninheiras fica no norte do Estado de Minas Gerais. Fonte:

https://www.google.com.br/maps/place/Tremedal

Segundo o IBGE, em 2016, o território do município possui 2.010 km2 e população de

17.854 habitantes, cuja densidade demográfica, no ano de 2010 totaliza 10,14 (hab/km²).

Geograficamente, a Serra do Cocho (Serra dos Caititus) está inserida nas ramificações

que compõem a Serra Geral.

87

Figura 4.2: Mapa do Estado da Bahia - Territórios de Identidade.

Vitória da Conquista (atual Sudoeste Baiano), do qual é integrante o município de

Tremedal, onde está localizada a Reserva Ambiental Serra do Cocho, atualmente é

chamado de Sudoeste Baiano. Fonte: Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia

- IPAC-BA.

O Território de Identidade Sudoeste Baiano é constituído por 24 municípios (Figura 4.3)

dentre eles o mais desenvolvido é Vitória da Conquista, importante centro comercial e

também de serviços. É a terceira maior cidade do estado da Bahia. Contudo, o território

possui área de 26.809,99 km² e população de 695.302 habitantes.

88

Figura 4.3: Mapa do Território de Identidade Sudoeste Baiano, com os municípios que o

compõem. Estando nele inserido o município de Tremedal, que faz divisa com o norte de

Minas Gerais. Fonte: Secretaria de Ciência Tecnologia e Inovação do Estado da Bahia.

Historicamente, a região do Território de Identidade Sudoeste Baiano possui cabedal

generoso em biodiversidade. O príncipe Maximiliano de Wied-Neuwied (1815 a 1817),

naturalista prussiano que esteve em expedição aqui pelo Brasil, ao passar pela região do

Sertão da Ressaca (região que compreende a margem esquerda do Rio Pardo em MG e

a margem direita do Rio das Contas na BA), comprovou a existência de abundante

biodiversidade, principalmente espécies da fauna e flora. Posto que, à época, a Mata

Atlântica predominava exuberante em toda a região, que ainda hoje, há vastos

remanescentes, o que caracteriza o ecossistema da Serra do Cocho como uma transição

dos biomas Caatinga e Mata Atlântica.

Segundo Heine (2009) afirma que, o Sertão da Ressaca era uma área compreendida

entre a margem esquerda do Rio Pardo e a direita do Rio de Contas; é a região onde

está localizada a cidade de Vitória da Conquista. (Figura: 4.4) Ainda segundo os mesmos

autores, constituía-se, naquele momento, num dos focos mais ativos de “expansão de

conquista de novas terras, graças à importância econômica da pecuária no mercado

consumidor interno”.

89

Na época das “conquistas” no sertão do sudoeste da BA e norte de MG, as questões dos

limites provincianos que ainda não eram demarcados e quiçá conhecidos os conflitos

ditavam as regras.

O fato é que esses limites não eram conhecidos nem pelos colonos, nem pelos exploradores da mineração que transitavam entre Minas e Bahia, havendo, contudo, conflitos jurídicos, políticos e religiosos. Assim foi definido por decreto em 1757, que as terras de Minas Novas pertenceriam a Minas Gerais, seguindo os limites definidos entre as bacias do Rio Pardo Rio Jequitinhonha e Rio Verde. Para evitar mais conflitos de interesses no território do Sertão do Rio Pardo, o Governador da Bahia Conde de Azambuja, pede ao Ouvidor da Comarca de Jacobina, José Joaquim de Almeida Araujo que, comandava juridicamente todo esse território do interior da Bahia, para legislar sobre o assunto.

Tanto que assim era que o ouvidor então define em edital:

Faço saber que pelos termos da demarcação da dita Vila do Rio das Contas com das Minas Novas, todos os moradores e habitantes do Rio Pardo para cá pertencem à jurisdição da Vila do Rio das Contas subordinada a Comarca de Jacobina e, por conseguinte aos domínios da Bahia. Por servir o dito Rio Pardo de divisas aos termos de uma e de outra Vila, como também de um e de outro Governo, mando a todos os moradores e habitantes desse território (grifos meus) que não obedeçam aos governos e jurisdições das Minas Gerais. (ARAUJO, 1766, p. 266, apud, Rocha (2013)

Esta foi a solução que o então governador da Bahia encontrou ao convocar o ouvidor da

Comarca de Jacobina, a avocar para sua jurisdição a solução de todos os conflitos do

Sertão da Ressaca.

90

Figura 4.4: Mapa da ocupação territorial e origem do Arraial da Conquista-BA. Fonte:

Rocha (2013) elaborado pelo autor com base na reconstituição cartográfica do século

XVIII e XIX informações do livro de Maximiliano Viagem ao Brasil-1817 e informações da

Compendiosa Carta de João Gonçalves da Costa -1783.

Socioeconomicamente, a região da Serra do Cocho e seu entorno é estritamente ligada à

agropecuária de subsistência. São pequenos produtores rurais, cuja produção é para o

próprio consumo familiar. Logo, é uma região carente de infraestrutura e equipamentos

sociais. A presença estatal na região limita-se a duas escolas rural de ensino

fundamental, cada uma com única sala de aula e classe multisseriada, onde as aulas

91

acontecem com alunos de diferentes idades e níveis educacionais; e um posto de saúde

pública, que está localizado no povoado de São João dos Britos, há 3 km da comunidade

rural Salininha.

Óbvio, que nesse contexto, o nível de educação formal das pessoas residentes no

entorno da UC, muitas vezes não atinge sequer o ensino fundamental.

Assim, nesse contexto, para o presente trabalho, optou-se, fundamentalmente pela

educação ambiental não formal, pautada nas tradições culturais e nos saberes populares

regionais.

O IDHM (Índice de Desenvolvimento Humano Municipal) no ano de 2010, segundo o

IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) foi 0,528, classificado como baixo,

correspondendo a 13ª pior classificação no Estado da Bahia.

O IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) global, inspirou a criação do IDMH, esse

índice, agrega as dimensões longevidade, educação e renda, analisando mais de 180

indicadores socioeconômicos, cujo valor máximo é 1. No município de Tremedal (Tabela:

4.1) O IDHM tem evoluído, mas ainda é considerado baixo.

IDHM do município de Tremedal - BA

Data Renda Longevidade Educação IDHM

1991 0,403 0,594 0,046 0,222

2000 0,477 0,675 0,136 0,352

2010 0,545 0,749 0,360 0,528

Tabela 4.1: Evolução do IDHM (Índice de Desenvolvimento Humano Municipal). Fonte:

PNUD, Ipea e FJP, apud, Atlas Brasil.

Ocorre que, em razão do processo de criação da UC Serra do Cocho (Processo 2015-

002672/TEC/UCM-0001), o INEMA, depois de consultado pelo Projeto Tremedal

Ecológico a respeito da viabilidade da criação da UC, manifestou-se positivamente

através da Nota Técnica (NT - COPLAN - Nº 02/2016) apontando a “relevância ambiental

que justifica a viabilidade da criação da unidade de conservação”.

“Evidenciado pelas informações apresentadas e obtidas nos trabalhos de campo, admite-se que a área da Serra do Cocho objeto de interesse da criação de unidade de conservação municipal possui estado de conservação suficiente para que sejam envidadas todas as ações técnicas e jurídico-administrativas

92

necessárias para a sua efetiva criação”. Cabe destacar que a partir das informações obtidas em campo e dos elementares estudos técnicos apresentados pelos interessados locais no processo de criação da unidade de conservação municipal, capitaneados pelo Projeto Tremedal Ecológico, pode-se afiançar que a área da Serra do Cocho e seu entorno apresentam especialmente as funções de abrigar espécies da flora e da fauna silvestres ameaçadas de extinção e a de proteção de mananciais. (p. 5)

Essa manifestação positiva em prol da criação da UC Serra do Cocho impulsionou o

Projeto Tremedal Ecológico a buscar apoio na comunidade local e também de amigos e

profissionais em diversas áreas, simpatizantes das causas ambientais e ecológicas. Bem

como na Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB).

Apesar da indicação positiva do INEMA, embasada em suas próprias pesquisas de

campo, o atual momento de dificuldades econômicas reinante no país, também tem

acometido a contrapartida do Poder Público para a efetivação da criação da Unidade de

Conservação.

Mas o Projeto Tremedal Ecológico, articulador na comunidade para a oficialização da UC,

tem empreendido muitos esforços juntamente com os órgãos públicos, entidades

parceiras e amigos voluntários para a regularização e criação da Reserva Ambiental.

Ecológica e ambientalmente, o município ainda possui grandes áreas remanescentes de

Mata Atlântica, de Cerrado e de Caatinga. Existem até áreas alagadas. Contudo, são

todas áreas privadas. Todavia, a municipalidade não possui órgão autônomo para as

questões de proteção e da gestão ambiental. Há uma diretoria de Meio Ambiente,

vinculada a Secretaria de Agricultura. Essa diretoria não possui dotação orçamentária

nem autonomia administrativa, tampouco pessoal capacitado para tal “missão”.

São recorrentes os conflitos e litígios no município envolvendo questões ambientais.

Principalmente no campo da exploração dos recursos naturais: exploração de minerais

(pedreiras), plantio desordenado de eucalipto, poluição de corpos d´água devido às

atividades mineiras, desmatamentos e queimadas.

O município apesar de não possuir nenhuma outra unidade de preservação da

biodiversidade, contudo, possui grande potencial para implantação de muitas UC´s. Mas,

não se tem notícia de iniciativas ou alguma organização para tal intento. Todavia, existe

uma área privada para soltura/reintrodução de animais silvestres apreendidos ou

vitimados por acidentes, em convênio com o IBAMA.

93

Ademais, verificou-se que o município ainda não possui um programa de proteção de

mananciais, mas existe um Conselho Municipal de Meio Ambiente. A Secretaria

Municipal de Educação está esboçando ações ambientais junto às escolas do campo.

Ainda verificou-se que o município não possui um programa de educação ambiental

sistematizado. O que seria demasiadamente importante para o município, uma vez que,

possui riquíssimo cabedal ambiental a zelar, proteger e beneficiar-se de toda essa

preciosa herança ecossistêmica que poderá ser usufruída pelas presentes e futuras

gerações, de modo sustentável.

94

5. DESENHO METODOLÓGICO

5.1. Introdução

No desenvolvimento do presente capítulo deste trabalho, além da pertinente revisão

bibliográfica, optou-se por uma imersão pessoal do aluno na realidade do local, para a

realização da pesquisa de campo, tanto no interior da Serra do Cocho, quanto nas

comunidades rurais do seu entorno, no município de Tremedal, no Sudoeste do Estado

da Bahia.

Durante uma semana permaneceu instalado na comunidade rural, hospedado na casa de

um casal de antigos moradores da comunidade. Anfitriões dedicados e gentis, bons

conhecedores da comunidade, dos hábitos, dos costumes e da história, bem como, da

cultural local.

A chegada à comunidade se deu à noite e no dia seguinte, logo cedo, foi realizado um

reconhecimento à Reserva Ambiental da Serra do Cocho, acompanhado por quatro

jovens moradores da comunidade. Foi possível observar a exuberante vegetação com

espécies características, predominantemente dos biomas Caatinga e Mata Atlântica;

animais (principalmente aves), insetos; muitas rochas, o solo, o relevo e o clima; bem

como os recursos hídricos (nascente e cacimbas).

Já nas visitas e deslocamentos pelas comunidades do entorno da Serra do Cocho foram

feitas além das anotações no diário de campo, os registros através de fotografias antigas

e atuais, recortes de revistas e jornais, com objetivo de observar a evolução no estilo de

vida, nos hábitos, nos costumes das pessoas da comunidade e suas interações

socioculturais.

Cabe registrar que pesquisadores Bizerril e Gastal, (2002, p. 50) esclarecem que “a

pesquisa em Educação Ambiental pode e deve utilizar metodologias qualitativas como

quantitativas para buscar responder uma série de tipos de perguntas”. Assim, nesse

sentido, optou-se por metodologia tanto qualitativa quanto quantitativa.

A pesquisa de campo, segundo Fonseca, apud, Bizerril e Gastal (2002), caracteriza-se

pelas investigações em que, além da pesquisa bibliográfica e/ou documental se realiza

95

coleta de dados junto a pessoas com o recurso de diferentes tipos de pesquisa (pesquisa

ex-post-facto, pesquisa-ação, pesquisa participante, etc.).

Por outro lado, com mestria, Bizerril e Gastal (2002, p. 47) esclarecem que na pesquisa

participante:

Não é raro um educador ambiental (pesquisador ou técnico ligado a órgãos governamentais de educação ou de meio ambiente) inserir na comunidade participando conjuntamente com os demais atores sociais, em busca de solução para os problemas ambientais encontrados. Este processo é relatado na literatura como ´Pesquisa Ambiental Participante´ ou simplesmente como ´Pesquisa Participante´ e consiste na principal metodologia recomendada por muitos autores para a prática da educação ambiental.

Doutrinariamente, Bizerril e Gastal, (2002) registram a existência de várias vertentes

desta estratégia com caracterizações próprias como é o caso da “pesquisação” e da

“investigação-ação-emancipatória participativa”.

Possuem em comum o enfoque educativo-ambiental visando mudanças sociais, a partir

do envolvimento e participação ativa do pesquisador e da comunidade. Esses mesmos

autores advertem que “a pesquisação e a pesquisa participante são processos muito

dinâmicos de tal modo que é difícil prever com exatidão os caminhos que serão

percorridos, e até que ponto os objetivos serão contemplados” (p. 48).

Com o intuito de aplicar as orientações das estratégias da pesquisação, que por

essência é uma pesquisa participante foi realizada uma viagem para Tremedal - BA, no

início do mês de março de 2017, para a imersão na comunidade. A estada foi realizada

por uma semana na residência de um casal de moradores antigos da comunidade Lagoa

das Pedras, no entorno da Serra do Cocho. Foi possível realizar uma interação com

muitos moradores das demais comunidades rurais do entorno, Salininha, Quati e

Veredinha.

Segundo o MMA (2017b) na pesquisa-ação participante pesquisadores, técnicos,

educadores e comunidade se colocam numa postura dialógica horizontal, onde a

realidade local e a diversidade de saberes exercem papel fundamental na condução do

processo de construção do conhecimento.

É pertinente mencionar que, nesse sentido, algumas experiências que ilustram e

exemplificam a permanência nas comunidades do entorno da Reserva Ambiental,

96

executando a pesquisa de campo: com participação ativa da fundação da Associação

Socioambiental e Cultural da Serra do Cocho, realizada no dia 04/03/2017; bem como, na

elaboração, discussão, aprovação do estatuto social, eleição da diretoria da associação e

eleição como 2º secretário. Também foi possível acompanhar e participar da reunião da

Comissão para Construção da Casa de Cultura na comunidade Salininha, haja vista, a

presença estatal na comunidade é demasiadamente diminuta, quase inexistente. O polo

urbano mais próximo é a cidade de Tremedal há cerca de 20 km de distancia e não há

transporte regular para os deslocamentos.

Para o alcance dos objetivos estabelecidos no presente trabalho, cujo enfoque

metodológico pautou-se na pesquisa de campo, orientada pelas estratégicas da

pesquisação na reserva ambiental da Serra do Cocho e nas comunidades do seu entorno

sendo visitados e entrevistados presencialmente 23 moradores nesse período.

As manifestações culturais e saberes populares de uma comunidade são permeados de

registros diretos e indiretos do seu cabedal histórico-sócio-cultural, que se encontram

entranhados nos arcabouços da memória; uma vez que, investigados e documentados se

traduzem em conhecimento autêntico da realidade histórica e sociocultural no tempo e no

espaço.

Todos os relatos foram colhidos de modo direto, aleatório, espontâneo e voluntariamente,

inclusive, com todas as informações reduzidas a termo, no diário de campo,

simultaneamente à oitiva do entrevistado. Todavia, para otimizar a fluidez e a dinâmica

dos trabalhos de campo, nos levantamentos dos dados, obedeceu-se um roteiro de

visitação aos entrevistados, previamente elaborado em parceria com lideranças e atores

sociais da comunidade.

5.2. Amostra

As amostras objeto da presente investigação constituem-se por pessoas moradoras nas

comunidades da zona de entorno da Reserva Ambiental da Serra do Cocho.

A comunidade é rural, conforme já se ressaltou anteriormente, e por isso mesmo muito

pequena. Estima-se que haja 150 moradores, entre adultos, jovens e crianças.

Predomina a maioria de pessoas jovens.

97

Durante a realização da pesquisa de campo conseguiu-se entrevistar 23 pessoas de

ambos os sexos e maiores de 18 anos de idade, no período de uma semana. Totalizando

13 pessoas e 10 do sexo feminino.

Assim, foram ouvidos aleatoriamente e de maneira voluntária, através de entrevistas

minimamente estruturadas moradores maiores de 18 anos de idade com interesse em

colaborar com a pesquisa. Nesse processo, em nenhum momento se deu preferência

pelo nível de escolaridade, sexo, ou projeção social, influência intelectual ou econômica

na comunidade. Preferiu-se a neutralidade.

5.3. Materiais e métodos

Na consecução deste trabalho, especificamente na fase de pesquisa de campo foi

utilizado o diário de campo, para apontamentos e registro de informações importantes,

lembretes da visita in loco na comunidade e na Serra do Cocho; igualmente a câmera

fotográfica; também um computador portátil e celular smartphone, com acesso à internet

para pesquisas rápidas ou confirmar e confrontar informações pertinentes.

O método para a coleta de dados e informações na comunidade do entorno da UC Serra

do Cocho, pautou-se em entrevistas semiestruturadas, com “perguntas abertas” para a

coleta direta e presencial de depoimentos dos moradores, que voluntária e

espontaneamente pudessem colaborar com o seu saber, com as suas informações.

Durante as entrevistas tomou-se muito cuidado, mantendo postura respeitosa.

Obedeceu-se critérios e padrões minimamente induzidos/conduzidos e as falas

(respostas) iam sendo registradas simultaneamente no diário de campo todas as

informações colhidas.

A temática e as perguntas foram previamente elaboradas antes do contato com os

entrevistados. Assim, foram feitas as mesmas perguntas para todos os entrevistados, às

vezes, com poucas adaptações para facilitar a clareza na comunicação com entrevistado.

Dado que, apesar de se tratar de uma comunidade rural de hábitos, costumes e cultura

semelhantes, a percepção e a compreensão da realidade pelo indivíduo não se dá de

maneira linear. Com efeito, o seu nível de instrução e a realidade sociocultural com a qual

inter-relaciona-se além comunidade, traz novos sentidos e significados para a sua

existência que é repleta de subjetividade, com desejos, frustrações e expectativas.

98

Com o objetivo de respeitar a individualidade da comunidade e das pessoas, optou-se

por fotografar apenas paisagens, o ambiente natural da Serra do Cocho e também do seu

entorno. Tal atitude se justifica por se tratar de pessoas “simples na acepção restritiva do

termo”, inseridas em uma realidade pacata e especial de ser e estar em uma comunidade

rural.

Nesse contexto, rigorosamente procurou-se evitar constrangimentos aos entrevistados ou

colocá-los em situações vexaminosas, de transtornos ou acanhamentos. As entrevistas,

outrossim, assumiram o “tom” cordial e de informalidade, num clima amistoso, para que o

entrevistado pudesse expressar os sentimentos, as suas reminiscências com emoção,

com verdade externar as suas ideias e o seu pensamento com fluidez.

As narrativas acompanhadas eram quase sempre marcadas pelo saudosismo

emocionado, às vezes evoluindo até para a melancolia em algumas falas. Além disso,

destaca-se a esperança e a crença numa nova realidade socioambiental, que resulte em

transformação positiva para a comunidade; traço presente e marcante em quase todos os

relatos dos entrevistados.

5.4. Procedimentos

Preliminarmente foram realizados levantamentos doutrinários, legais e bibliográficos,

estatísticos, históricos, atuais e especializados, pertinentes à temática desse trabalho.

Assim, os dados complementares à revisão bibliográfica foram coletados pessoal e

diretamente, no interior da Reserva Ambiental da Serra do Cocho e também, nas

comunidades rurais do seu entorno. Obtidos através de depoimentos, conversas

informais e entrevistas minimamente conduzidas ou induzidas. Ainda foram analisados

documentos antigos, principalmente fotografias, que reflitam as manifestações culturais e

as interações sociais na comunidade com viés para o sociosustentabilidade, o meio

ambiente, a educação ambiental ou conteúdo conservacionista e preservacionista.

E nesse contexto, também realizou-se visita, in loco, nas comunidades do entorno e no

interior da Reserva Ambiental compreendendo: contemplação, observação direta e

indireta, bem como inspeções, registros fotográficos e apontamentos escritos no diário de

campo, pertinentes a toda a área demandada para a criação da reserva ambiental da

Serra do Cocho.

99

Ademais, realizou-se levantamentos estatísticos junto aos órgãos públicos oficiais e

governamentais: o Ministério do Meio Ambiente, o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia

e Estatística), ICMBio (Instituto Chico Mendes de Biodiversidade) e no CONAMA

(Conselho Nacional do Meio Ambiente), o IBAMA, o INEMA, CNRPPN, (Confederação

Nacional dos Proprietários de RPPP), SIMRPPN (Sistema Informatizado de Monitoria de

RPPN). Esses levantamentos foram realizados com a finalidade de evidenciar,

quantitativamente a realidade das RPPN´s no Brasil e no Estado da Bahia e no Território

de Identidade do Sudoeste Baiano.

Durante as visitas às pessoas moradoras das comunidades do entorno da Serra do

Cocho, ressalta-se que, optou-se pela informalidade, a descontração e a espontaneidade.

Em todas as visitas aos entrevistados, adotou-se incondicionalmente a gentileza e a

cortesia. Tinha sempre a companhia de um morador local, para as coletas de dados,

informações, através de diálogos, entrevistas e até conversas informais, nas próprias

residências das pessoas. Houve também convite de moradores e lideranças da

comunidade que se disponibilizaram a contribuir como entrevistados.

Registra-se que ao chegar à residência do entrevistado, sempre em companhia de um

morador da comunidade escalado para me acompanhar que também me apresentava e

esclarecia o motivo da minha visita. Cuidadosamente, explicava que se tratava de um

trabalho acadêmico e que não seria nada veiculado na imprensa e que identidade do

entrevistado ficaria em anonimato.

Esclarece-se que, optou-se por realizar todas as entrevistas na residência de cada um

dos entrevistados com a finalidade de deixá-los à vontade e confortáveis para falar de

suas experiências, de sua história, de sua vida. Não se impondo, controlando ou

delimitando o tempo necessário para as respostas.

Importa dizer que na Assembleia Geral de fundação da Associação Socioambiental e

Cultural da Serra do Cocho, o pesquisador foi apresentado aos presentes, por um jovem

morador, que também é articulador socioambiental da comunidade. No uso da palavra foi

explicado em linhas gerais, a razão e os objetivos da visita, bem como, o que seria feito

naquela semana na comunidade. A proposta foi muito bem compreendida e aceita pela

comunidade que deu as boas vindas e ofereceu o apoio necessário.

Na oportunidade ainda foi esclarecido que eventualmente, pretendia fotografar eventos e

manifestações culturais na comunidade e o ambiente natural no interior da UC, e no seu

100

entorno, atinentes às questões socioculturais, ambientais, e, eventualmente algumas

ações de educação ambiental.

Convém consignar que, respeitando os limites de influência do pesquisador,

preconizados pela pesquisação, o mesmo foi um dos idealizadores e articuladores para a

criação da Associação Ambiental e Sociocultural da Serra do Cocho, objetivando uma

gestão cooperativa, participativa e democrática da Reserva Ambiental da Serra do

Cocho.

101

6. RESULTADOS

O processo de criação de uma unidade de conservação ambiental envolve uma grande

gama de interesses que nem sempre convergem para o delta da preservação e da

conservação da biodiversidade dos ecossistemas e dos biomas brasileiros. É muito

comum o surgimento de conflitos e litígios que exigem mediação e muito diálogo para

esclarecê-los ou solucioná-los.

É ponto pacífico na doutrina que a educação ambiental oferece valiosa contribuição

nesses processos, desde apresentação da demanda de criação da unidade de

conservação, passando pelas audiências públicas, reuniões, encontros, até os

procedimentos técnicos especializados: georreferenciamento, demarcação da área.

Após a oficialização da UC, é indispensável continuar o compromisso firmado mantendo

essa fiel aliada, a educação ambiental, em toda e qualquer etapa, quer seja na sua

gestão (Conselho Gestor), quer seja no modus operandi (Plano de Manejo). Todavia, não

se deve dispensar a existência de um plano de ações estratégicas de educação

ambiental, que nesse caso, deve ser pautado nas estratégias da educação ambiental não

formal, assegurando a perenidade de efetiva educação ambiental, que transforma

consciências para praticar as mudanças que assegurem um meio ambiente

ecologicamente equilibrado, socialmente justo para a presente e as futuras gerações.

O presente trabalho aderiu à educação ambiental não formal, dada a realidade da

reserva da Serra do Cocho. Uma vez que está localizada em zona rural do município, em

região de difícil acesso, com muitas de suas tradições e manifestações culturais ainda

estão preservadas.

Ressalta-se que educação ambiental não formal encontra-se amparada pela Lei nº

9.795/99, portanto, não há que se confundir com ilegal. Assim, tem por cerne, a ausência

de formalidades da educação formal, oficial; obedecendo a currículos padronizados,

estruturas físicas, hierarquias e sistemáticas de avaliações.

O objetivo geral da presente dissertação: desenvolver um programa de educação

ambiental não formal, pautado na participação social cidadã e democrática capaz de

legitimar as decisões em processo de criação e gestão de unidade de conservação de

uso sustentável; obteve êxito, uma vez que, as comunidades rurais localizadas no

102

entorno da reserva ambiental da Serra do Cocho, tem percepção, boa aceitação e

aptidão para as práticas coletivas, solidárias, portanto participativas e democráticas. São

pessoas engajadas na defesa dos seus interesses, enquanto coletividade.

A comunidade através do apoio da Associação Ambiental e Sociocultural da Serra do

Cocho demonstra interesse em implantar atividades turísticas voltadas para o turismo

rural e ecológico. Tendo em vista que, as visitações à comunidade e à reserva ambiental

tem despertado o interesse de pessoas e de escolas, bem como de pesquisas e estudos

acadêmicos universitários.

Com toda a movimentação em prol da criação da reserva ambiental, a comunidade tem

adquirido visibilidade através de redes sociais e mídias eletrônicas, o que tem aumentado

às visitações a Serra do Cocho, bem como, tem contribuído para o despertando do

aumento da autoestima e valorização da cultura local, das comunidades do entorno da

reserva ambiental.

Quanto aos objetivos específicos passa-se à análise do resultado alcançado em cada um

deles:

• Realizar visitas de campo para levantamentos in loco nas comunidades do entorno da

Serra do Cocho, visando à identificação de lideranças comunitárias, entidades e atores

sociais para catalogação de dados referenciais da cultura regional pautados nos usos,

costumes e saberes populares.

Durante a primeira semana do mês de março de 2017, foram realizadas visitas com

observação direta na Associação dos Pequenos Produtores Rurais da Salininha;

participação da reunião na Comissão da Casa da Cultura do Projeto Tremedal Ecológico;

participação na Assembleia de Fundação da Associação Ambiental e Sociocultural da

Serra do Cocho; visita aos presidentes das associações da Salininha e do Quati. Em

todas oportunidades foi possível fazer pronunciamento a cerca do associativismo, da EA,

sobre sociosustentabilidade ambiental, bem como, a respeito da preservação e

conservação ambiental, da necessidade e importância de criar unidades de conservação

ambiental.

Registrou-se a existência de um grupo informal de cavaleiros que realizam cavalgadas na

comunidade, anualmente. Também registrou-se a existência de outro grupo informal de

mulheres reizeiras, que anualmente se reúnem em visitação às famílias da comunidade

homenageando ao Santo Reis.

103

• Identificar e catalogar as manifestações culturais regionais, saberes populares e

perceber as influências delas na comunidade;

Conforme mencionando anteriormente, catalogou-se as seguintes manifestações da

cultura e dos saberes regional: folia de reis, futebol das jovens moças, cavalgada, saraus,

noites culturais.

• Coletar depoimentos espontâneos de moradores da zona do entorno da Serra do Cocho

de fatos históricos que subsidiem a pesquisas, principalmente, quanto ao uso dos

recursos e serviços ambientais, a preservação e a conservação dos recursos naturais;

No transcurso da primeira semana do mês de março de 2017, visitei famílias moradoras

no entorno da Serra do Cocho. Foi possível realizar 23 entrevistas, semiestruturas com

todas perguntas abertas para que o entrevistado pudesse explanar livremente seu

pensamento, suas impressões, suas percepções, expectativas, desejos, frustrações,

anseios. Todas as entrevistas foram realizadas na própria casa do morador, sem

presença de nenhum equipamento para gravações ou filmagens, apenas foram

realizadas anotações no diário de campo.

• Identificar na comunidade pessoas ou instituições da sociedade civil, que fossem

capazes de atuar em educomunicação e arteducação para divulgar a importância e a

prática da Educação Ambiental não formal para a sustentabilidade, a preservação e

conservação ambiental;

Através da observação direta e indireta foi possível identificar uma instituição da

sociedade civil com aptidão e interesse de atuar com educomunicação e arteducação na

comunidade divulgando sociosustentabilidade, a preservação e a conservação ambiental.

• Elaborar um plano de ações estratégicas de EA, fundamentado nas estratégias da

educação ambiental não formal, para implantar na UC Serra do Cocho.

Elaborar um cronograma contendo um círculo de palestras e atividades com a temática

ambiental para ser apresentado nas associações de agricultores da região, do município,

especialmente, no Projeto Tremedal Ecológico.

É possível ainda expandir a experiência do cultivo de horta, já sedimentada na escola

pública da comunidade, apoiada pelo Projeto Tremedal Ecológico, para hortas

104

comunitárias, até mesmo “farmácia viva” com plantas medicinais. São experiências que

possibilitam a “promoção do desenvolvimento econômico e social, com manutenção da

qualidade ambiental” (Lucena, 2010, p. 52).

Realizar atividades artísticas com a temática ambiental: sarau, apresentar músicas que

abordem o MA e sua temática; teatro abordando e explorando a cultura regional; tertúlias,

recital em vesperais e noite cultural. Tendo em vista que, apurou-se que a comunidade

possui potencialidade culturais que, uma vez valorizadas e estimuladas, são boas

estratégias para trabalhar arteducação, voltadas para a preservação e a conservação da

sociobiodiverdade;

Sistematizar as visitas guiadas ao interior da reserva Serra do Cocho para observação e

contemplação das belezas e dos recursos naturais. Tais práticas sensibilizam as pessoas

para adotar atos e atitudes voltados para a educação ambiental, preservação e a

conservação do meio ambiente e dos recursos naturais.

Os elementos qualificadores de todo o processo de criação da reserva ambiental da

Serra do Cocho são as sociabilidades e a participação social cidadã democrática. Isso se

comprova exemplificando a construção da Casa da Cultura na comunidade Salininha,

fruto dos esforços comuns, das práticas de sociabilidades, dos adjuntórios (mutirões).

Outros exemplos de sociabilidades igualmente dignos de se ressaltar são: a fiscalização

integrada da área da reserva pelos moradores, os mutirões para cercamento da área da

APP onde estão localizadas as cacimbas e a nascente, bem como, outros mutirões

realizados para fazer os “aceiros”, nos locais por onde passam os técnicos da CDA

(Coordenação de Desenvolvimento Agrário) e do INEMA (Instituto do Meio Ambiente e

Recursos Renováveis - Bahia) em suas visitas técnicas para a elaboração de estudos,

pesquisas e georreferenciamentos, demarcações da área que integra a reserva

ambiental.

Ressalta-se, todavia, que através da observação in loco, conclui-se que o maior cabedal

ambiental da comunidade é o compromisso firmado com a preservação e a conservação

da sociobiodiversidade, respeitando e contribuindo para com a sustentabilidade

ambiental. São ganhos sociais que norteiam os investimentos coletivos, não valoráveis

monetariamente, não estimáveis economicamente, em prol do bem comum e da

biodiversidade do ecossistema da Serra do Cocho.

105

7. DISCUSSÃO

No Brasil as unidades de conservação são criadas por ato discricionário do Poder

Público. As unidades de conservação (UC) possuem finalidades e objetivos diversos e

estão elencadas em doze categorias vinculadas em dois grupos: o grupo da UC´s de uso

sustentável e o grupo das UC´s de proteção integral.

Todas as UC´s legalizadas, inclusive, as RPPN´s devem ser cadastradas no Ministério do

Meio Ambiente, através do Cadastro Nacional de Unidades de Conservação (CNUC) - Lei

nº 9.985/2000, art. 50, prevê esse cadastro nacional. Compreende um “sistema integrado

de banco de dados com informações padronizadas das unidades de conservação geridas

pelos três níveis de governo e por particulares”. Independentemente do ente federativo

que a oficializou: União, Estados, Distrito Federal ou Municípios, há que integrar o CNUC,

tendo em vista que, “neste ‘ambiente virtual’ são apresentadas as características físicas,

biológicas, turísticas, gerenciais e os dados georreferenciados das unidades de

conservação”. A existência de tal sistema informatizado revela um compromisso com a

transparência, além de representar uma ferramenta de gestão das UC no país.

O ato de criação de uma RPPN, apesar de depender da vontade do proprietário da área,

é o Poder Público, quem o oficializa, através do instrumento legal cabível. Esta categoria

de UC, também integra o Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC),

portanto, deve ser cadastrada CNUC, submetendo-se a fiscalização pelo órgão

responsável por sua oficialização.

O presente trabalho, na persecução investigativa da pesquisa para atingir os resultados,

satisfatoriamente. Assim, para tal intento, parte da análise da legislação ambiental

pertinente, desde a previsão constitucional do Capítulo VI, que trata do meio ambiente,

artigo 227, CF/1988; bem como a legislação infraconstitucional, especialmente a Lei nº

9.985/2000 (Sistema Nacional de Unidades de Conservação - SNUC), o Decreto nº

4.340/2002, que regulamenta a Lei nº 9.985/2000, a Lei nº 9.795/99 (Política Nacional de

Educação Ambiental – PNEA) e a Lei nº 6938/81, que institui a Política Nacional do Meio

Ambiente.

Verificou-se que o Estado da Bahia possui sua própria Política de Meio Ambiente e de

Proteção à Biodiversidade (Lei nº 10.431 de 20/12/2006) em consonância com a

legislação federal. Também possui regulamentação própria para a criação de RPPN´s no

106

estado. Trata-se do Decreto 10410/07, que dispõe sobre a Unidade de Conservação

Reserva Particular do Patrimônio Natural - RPPN, estabelece critérios e procedimentos

administrativos para sua criação, implantação e gestão, institui o Programa Estadual de

Apoio às Reservas Particulares do Patrimônio Natural. O que não ocorre na legislação

federal, portanto, a lei do Estado da Bahia inova nesse quesito.

Recentemente o Governo do Estado da Bahia sancionou a Lei n° 13223/15, que institui a

Política Estadual de Pagamento por Serviços Ambientais (PSA) e cria o Programa

Estadual de Pagamento por Serviços Ambientais (PEPSA). Encontra-se ainda pendente

de regulamentação pela Secretaria do Meio Ambiente (Sema) as hipóteses disciplinando

a “proteção, melhoria e conservação dos ecossistemas e da biodiversidade, por meio da

valorização econômica dos serviços e o uso sustentável dos recursos naturais”.

Todas essas políticas públicas do governo baiano e as iniciativas legislativas em prol da

sociobiodiversidade e da sustentabilidade ambiental indicam compromissos e apoios para

com a preservação e conservação da ecosociobiodiversidade, basta analisar a

quantidade (104) de RPPN em todo o estado.

Apesar de todo o farto arcabouço legal brasileiro verifica-se que não há efetivação quanto

à aplicabilidade dessas leis, que assegurem a real efetivação da conservação e

preservação da biodiversidade através da criação de unidades de conservação. Eis que

surge a necessidade da atuação da sociedade cooperando e compartilhando com o

Poder Público a responsabilidade e o compromisso pelo meio ambiente ecologicamente

equilibrado e socialmente justo.

Segundo Azevedo (2008) ao fazer uma análise do conjunto da legislação ambiental,

conclui que “a impressão maior é de sua ineficácia, uma vez que suas normas são

verdadeiramente muito pouco aplicadas.” O autor, citando Luiz Fernando Coelho,

exemplifica: “a falta de cobrança de multas impostas aos agressores do meio ambiente, a

falta de vontade política, o excesso de formalismos dos procedimentos administrativos e

judiciários em nome da proteção dos direitos individuais, mas frequentemente em

detrimento dos direitos da comunidade”.

Prosseguindo as investigações também foram realizadas pesquisas nos bancos de dados

oficiais, especialmente ao Sistema Informatizado de Monitoria de RPPN do MMA, com a

finalidade de identificar e localizar onde estão situadas, bem como a totalidade de área

107

protegida por esta categoria de unidade de conservação, e ainda, a quantidade de RPPN

no país, em cada unidade da federação e nos biomas.

Segundo o MMA (2017) no Brasil estão registradas no Cadastro Nacional de Unidades

de Conservação 2.100 UC entre as doze categorias previstas pelo SNUC, dentre elas,

672 são RPPN.

Com efeito, ratificando os feitos nacionais, o Estado da Bahia, destaca-se no ranque

entre os estados brasileiros, existem 104 RPPN´s, perfazendo 47209.01 de hectares

protegidos por esta categoria de unidade de conservação (MMA, 2017). A Bahia, por sua

vez, encontra-se no topo da escala, está em primeiro lugar em quantidade dessa

categoria de unidade de conservação.

Uma vez que não basta criar leis ambientais ineficazes, tampouco, criar unidades de

conservação ineficientes. Necessário se faz lançar mãos das estratégias e instrumentos

adequados que supram essas deficiências que têm implicação diretamente na

preservação e conservação da sociobiodiversidade.

Nesse contexto é que a educação ambiental surge com maior aliada para suprir as

lacunas legislativas e as falhas procedimentais dos instrumentos de criação e gestão de

unidades de conservação, capazes de efetivamente transformar o modo de pensar e de

agir das pessoas. “A criação de unidades de conservação envolve a necessidade de

preservação e conservação de áreas e recursos naturais que determinam transformações

socioambientais” (Gonçalves e Hoefeel, 2012, citado por Dias e Mota, 2015). Cidadãos

ambientalmente educados transformam o seu entorno, a comunidade, a sociedade.

Respeitam o ecosociobiodiversidade não por imposição legal, mas por uma postura ética

de convivência harmoniosa com o meio ambiente, pois compreende que é apenas mais

um elemento natural integrante a natureza.

A educação ambiental, de modo geral, são práticas educativas integradas contínuas e

permanentes em todos os níveis e modalidades do ensino formal (Lei nº 9.756/99, art.

10), enquanto que, a educação ambiental não formal são “as ações e práticas educativas

voltadas à sensibilização da coletividade sobre as questões ambientais e à sua

organização e participação na defesa da qualidade do meio ambiente” (Lei nº 9.795/99,

art. 13).

108

A educação ambiental na sua modalidade não formal, segundo Tristão (2011), vem se

mostrando como uma estratégia facilitadora para a implantação das ações

sensibilizadoras para a preservação e conservação ambiental. Um importante subsídio

para o alcance e o envolvimento das pessoas das comunidades do entorno da área

demandada para a criação da unidade de conservação RPPN Serra do Cocho, bem

como, uma importante ferramenta para a qualificação do cidadão para a participação na

gestão compartilhada e participativa democrática (Conselho Gestor) e, ainda, na

elaboração do Plano de Manejo da unidade de conservação.

Muito salutar é o entendimento de que a educação ambiental favorece o “envolvimento

das pessoas em processos que busquem o bem comum (ambiental e social)”:

“Educação Ambiental (EA) ao estimular a compreensão, participação e envolvimento das pessoas em processos que busquem o bem comum (ambiental e social), torna-se uma ferramenta importante para a conservação de áreas protegidas, comumente ameaçadas. A adoção de abordagens participativas como diagnósticos consultivos, corresponde então ao elemento primordial em programas de EA no incentivo de populações próximas dessas áreas para tê-los como aliados na conservação”. (Padua, Tabanez e Souza, 2004, citado por (Alves, Nascimento e Maroti, 2013, p. 5/6)

No caso sob análise, apesar de ser uma exigência legal, por se tratar de unidade de

conservação na categoria RPPN, a comunidade optou por realizar reuniões na

comunidade, encontros, audiências públicas para não apenas ouvir, mas, informar

através do diálogo aberto e franco todas as pessoas presentes.

Coadunando à ideia de educação ambiental não formal, Sato (apud, Santana e Beline,

2000) “o sentido da educação ambiental, manifesta como um processo de aprendizagem

permanente que fomenta valores e ações que contribuem para a transformação humana

e social e para a preservação ecológica”.

Ainda amparando-se em Sato, os autores, complementam “educação ambiental não

formal, no dia-a-dia, leva as pessoas a pensarem espontaneamente sobre a qualidade da

natureza e do espaço frequentado no cotidiano, são estabelecidos valores que

determinam ações em prol da melhoria do ambiente”.

Por outro lado, apesar da institucionalização de uma RPPN, depender de ato voluntário

do proprietário da área (Decreto nº 5746/06), considerando a realidade fática da área

demandada para a criação da RPPN da Serra do Cocho, exigiu muitos diálogos, reuniões

109

e muita atenção para as implicações legais e jurídicas, posto que, a área é devoluta,

portanto a comunidade é apenas detentora de posse mansa e pacífica, havendo

necessidade de requerimento do título da área ao Estado da Bahia, para posteriormente

oficializar a RPPN.

Logo, reiteradamente lançou-se mão das ações e práticas da educação ambiental não

formal, durante todo o longo e complexo processo de criação da unidade de

conservação. A sensibilização e o esclarecimento da comunidade do entorno da reserva

ambiental para a importância do processo de adesão à causa da criação da reserva na

circunvizinhança.

Assim, para Hendges (2010), nesse contexto, afirma que:

Também são consideradas ações não formais de educação ambiental a divulgação de conteúdos que estimulem a sensibilização e capacitação da sociedade para a importância das Unidades de Conservação, inclusive de suas populações tradicionais (indígenas, quilombolas, caboclos, ribeirinhos, pescadores). A sensibilização dos agricultores para as questões ambientais e as atividades de ecoturismo também estão relacionadas como atividades não formais de educação ambiental no ensino brasileiro. (destacamos)

Muitos dos pequenos agricultores proprietários do entorno da reserva ambiental Serra do

Cocho, já instituíram em suas propriedades a reserva legal, ou estão em processo de

realização do Cadastro Ambiental Rural (CAR), criado pela Lei nº 12.651/12, além de

respeitarem e preservarem as APP. Por sua vez, o (CAR) é um registro eletrônico,

obrigatório para todos os imóveis rurais, formando base de dados estratégica para o

controle, monitoramento e combate ao desmatamento das florestas e demais formas de

vegetação nativa do Brasil, bem como para planejamento ambiental e econômico dos

imóveis rurais. São essas atitudes e atos, dentre outros, que comprovam o compromisso

da comunidade com a preservação e a conservação da biodiversidade e dos recursos

ambientais.

A opção pela categoria RPPN, pela comunidade, restou demonstrada como justa e muito

adequada, posto que, a área demandada sempre teve destinação para a conservação e

a preservação do ecossistema, tendo vista que, além da diversidade biológica do

ecossistema, existem recursos hídricos (nascentes e cacimbas) no interior da reserva

que carecem muito de proteção.

110

Ademais, as terras são inservíveis para a agropecuária, uma vez que, a aclividade e

declividade da área são muito acentuadas (relevo acentuadamente ondulado) e o solo

com presença excessiva formações rochosas.

Tendo em vista que, as atividades humanas legalmente permitidas nesta categoria de

unidade de conservação (RPPN) são de baixíssimos impactos ao ecossistema:

atividades de pesquisas científicas e visitação com objetivos turísticos, recreativos e

educacionais, conforme previsão do seu plano de manejo.

O desejo, a adesão e o apoio dos moradores do entorno são elementos qualificadores

para a consolidação do ideal preservacionista e conservacionista da área, transformando-

a em unidade de conservação na categoria RPPN. A pesquisa de campo realizada nas

comunidades rurais do entorno evidenciou a percepção ambiental dos moradores do

entorno da reserva Serra do Cocho. Neste sentido os 23 moradores entrevistados se

manifestaram unanimemente, favoráveis à criação da reserva, mantendo as suas

características e a intocabilidade em qualquer de suas formas de vida e dos seus

recursos naturais.

As sociabilidades segundo Dalva da Mota (2005, citada por Oliveira, 2009, p. 61), “é uma

categoria que possibilita compreender a relação entre a esfera da vida cotidiana e do

trabalho”, é outro elemento presente na realidade das comunidades do entorno da Serra

do Cocho, que muito contribui para a preservação e a conservação ambiental, posto que,

são adeptos dessas práticas como os mutirões.

“A cooperação é a base da sociabilidade. Além de cooperar, o grupo estabelecia laços de

afinidades (Oliveira, 2009). No entorno da Serra do Cocho, todas as pessoas se

conhecem e interagem social e culturalmente. Por se tratar de pequenos produtores

rurais as identidades se dão em vários aspectos da vida e favorecem as sociabilidades.

Para Mota (2005, citada por Oliveira, 2009), isso ocorre porque a cooperação é a única

forma de viabilizar a produção de determinados bens ou porque as pessoas necessitam

do sentimento de interação. No caso dos moradores do entorno da reserva ambiental é

possível dizer que a execução dos serviços de pedreiros para a construção da Casa da

Cultura na comunidade Salininha, fruto dos esforços comuns, é uma das práticas de

sociabilidades, dos adjuntórios (mutirões).

111

Outros exemplos de sociabilidades igualmente dignos de se ressaltar são os mutirões

para cercamento da área da APP, onde estão localizadas as cacimbas e a nascente, bem

como, outros mutirões realizados para fazer os “aceiros”, nos locais por onde passam os

técnicos da CDA (Coordenação de Desenvolvimento Agrário) e do INEMA (Instituto do

Meio Ambiente e Recursos Renováveis - Bahia) em suas visitas técnicas para a

elaboração de estudos, pesquisas e georreferenciamentos, demarcações da área que

integra a reserva ambiental. E ainda a manutenção das trilhas ecológicas, das cacimbas

e da nascente no interior da reserva.

Assim, das relações de amizade, evoluem para a cooperação mútua com a finalidade

comum de conquistar o bem-estar coletivo da comunidade não apenas para a presente,

mas para as futuras gerações.

Aliás, as sociabilidades nas comunidades do entorno da reserva ambiental são práticas

ancestrais. Uma vez que relatos de antigos moradores evidenciam que eram comuns

essas práticas na região, compartilhando afazeres, executando tarefas.

Outro fator importante a ser considerado é a percepção ambiental das comunidades do

entrono das unidades de conservação (Lucena, 2010; Alves, Nascimento e Maroti, 2013;

Dias e Mota, 2015; Dias, Guiducci, Torres, Teixeira, 2013). Neste sentido, que Lucena

(2010, p. 5/6, citando, Whyte), consigna que:

“tem sido recomendado que projetos de pesquisa que tratam da relação homem-ambiente e do gerenciamento de ecossistemas, incluam estudos de investigação da percepção dos grupos sócio-culturais interatuantes como parte integrante da abordagem interdisciplinar que estes projetos exigem”.

A título ilustrativo da percepção ambiental da comunidade, apresenta-se alguns

fragmentos de entrevistas realizadas durante a execução da pesquisa de campo. Uma

jovem senhora de apenas 34 anos de idade moradora da comunidade responde ao ser

indagada sobre a importância criar uma reserva ambiental para proteger a natureza na

Serra do Cocho:

“Porque através dessa reserva criar lá os próprios animais que tiver, a gente preservando eles não deixarão de existir. As demais cacimbas que existiam abaixo da Serra já secaram. E a de lá do Cocho que tava seca, depois desse Projeto Tremedal Ecológico, voltou a florescer”.

112

Outro senhor de 64 anos de idade morador de outra comunidade do entorno da reserva

dar a seguinte resposta para a mesma indagação retro:

“Tando preservado ninguém mais mexe lá. Não derruba madeira, não queima, não caça. Deixa lá pra benefícios de todos!

Em reforço e apoio à ideia de preservação da ambiental da Serra do Cocho, através de

uma reserva, outro senhor de 64 anos de idade, assim se manifesta:

“Acredito que sim! Sem essa reserva aí, a gente acredita que deve sempre manter ela. É porque isso aí é um caso de natureza... nós fala que isso aí é “Serra Geral”. Todos os olhos d´água: Brejinho, Pandeló, Quati, Boi, Riacho D´Atna, Grota (os dois) Bananeira, Berrador, Ressaca, Queimada, Pedra Preta, estão secos, só tem água no Boi e o nosso aqui. Se todos zelassem, igual nós aqui, todos eles tinha água... Todos eles maltratava as minas... É preciso não roçar, nem ponhar fogo perto... Se fosse comigo deixava 60 metros era suficiente... Eu nem quero que encane água do Cocho outra vez!

Outro morador de 56 anos de idade expõe nestes temos sobre a importância da criação

da reserva ambiental na Serra do Cocho:

“A reserva é muito importante. Sem a reserva vai piorar... porque vai melhorar todo o povoamento em volta. Tudo vai melhorar. Preservar enquanto tem jeito de recuperar. Eu cuidei daquilo lá pra não haver queimadas, caça e muitos brigaram comigo. Eu ficava nervoso porque o povo caçava lá. Fui cuidador lá quando foi feita a canalização, sem ganhar nada mesmo. Era voluntariado. A canalização da água acho que foi errada... A pior coisa que fez! Eu gostava muito de lá. Chegava a discutir com alguém. Detestava malinesa! Mais não fiquei de mal com ninguém lá. Avisava aos amigos que um dia vai acabar tudo aqui... ”.

Um jovem morador de 20 idade de idade assim se manifesta:

“É a primeira reserva ambiental do município, do território. Uma das únicas a proteger a minação... vai trazer renda para a comunidade. A ONU, já se preocupa com o aquecimento global. A reserva ambiental é uma contribuição para essa questão”.

Outra jovem moradora de 22 anos de idade se expressa da seguinte forma:

“Pro pessoal sinceramente se conscientizar... A oficialização inibiria ações devastadoras: caça, desmatamentos, queimadas, a água do olho d´água... Eu estudei em Escola Agrícola, e lá a gente sempre foi ensinado e o curso oferecia conhecimento para praticas do equilíbrio ambiental. A gente sempre vê que o pessoal sempre produz e todo mundo desmata e não tá protegendo as florestas”.

113

A percepção ambiental da comunidade se é no sentido que deve ser preservado o

ecossistema da Serra do Cocho, através de oficialização da unidade de conservação.

Acreditam que a oficialização da reserva traz em si mesma, uma força impeditiva contra

qualquer investida mal-intencionada, que comprometa a preservação e conservação da

diversidade ambiental do ecossistema.

Ademais, a gestão compartilhada, através do Conselho gestor, bem como, a elaboração

do Plano de Manejo da UC Serra do Cocho, são instrumentos que propagam em toda a

comunidade a responsabilidade compartilhada pela preservação e conservação de todo o

ecossistema.

“A percepção ambiental permite compreender e entender as relações da comunidade

com o meio, isso é primordial para elaboração de Programas de Planejamento e

Educação Ambiental. O ser humano percebe o meio ambiente de acordo com as suas

necessidades e com a utilização que faz dele”. Os benefícios da preservação do

ecossistema, bem como os benefícios da criação da RPPN foram mencionados de

acordo com a realidade e necessidade da comunidade (Dias e Mota, 2015).

Com efeito, coadunando com esta realidade, a Associação Ambiental e Sociocultural da

Serra do Cocho (AASSC), uma organização da sociedade civil, sem fins lucrativos,

representando os anseios da comunidade, foi criada com a principal finalidade

acompanhar todo o processo de criação e posteriormente, organizar a gestão da reserva

ambiental. Revela igualmente, a disposição, a aptidão e o compromisso solidário da

comunidade em prol da defesa dos seus interesses difusos e coletivos

(ecosociosustentabilidade).

Esta associação encampa a ideia que a comunidade tem autonomia, responsabilidade

socioambiental e compromisso ético-moral, para gerir o seu patrimônio natural biodiverso,

sem interferências exteriores de natureza filosóficas, ideológicas, político-partidárias,

religiosas, éticas e morais, posto que, a força que os une é respeito as suas tradições,

sua história, seus valores. Construindo seu cabedal ecosociosustentável pautados nas

sociabilidades, práticas antigas, ainda muito presentes na comunidade. Fortalecendo

saberes populares e tradicionais garantindo um meio ambiente ecologicamente

equilibrado, socialmente justo, para as presentes e futuras gerações.

Logo, ante todo o exposto, assevera-se que a criação da Reserva Ambiental da Serra do

Cocho, através da gestão compartilhada, acolhendo a participação social cidadã

114

democrática, muito contribuirá para preservação e conservação da biodiversidade do

ecossistema, oferecendo à comunidade do entorno possibilidades de desenvolvimento

social e econômico. Tendo em vista que, o desenvolvimento sustentável só é possível à

medida que se respeita e estimula a integração do homem e suas multirelações com a

natureza.

115

8. CONCLUSÕES GERAIS

Ante todo o exposto, tem-se por conclusões gerais, que o presente trabalho atingiu os

objetivos para os quais se propôs. Dessa maneira ressalta-se que o objetivo geral:

desenvolver um programa de educação ambiental não formal pautado na participação

social cidadã e democrática capaz de legitimar as decisões em processo de criação e

gestão de Unidade de Conservação de uso sustentável; obteve o êxito programado, uma

vez que, é clara a percepção da adesão da comunidade do entorno da Reserva

Ambiental da Serra do Cocho, aos comandos e propostas sugeridas, durante o processo

de criação da unidade de conservação.

A história, a cultura e os saberes locais das comunidades do entorno da reserva

ambiental está diretamente ligada a Serra do Cocho. Uma vez que, dado a abundância

de recursos hídricos existentes no passado, provavelmente foi o motivo pelo qual os

primeiros moradores fixaram habitação na região.

A comunidade sempre exerceu a posse direta, mansa e pacífica sobre a área, que no

passado, um antigo “chefe da cidade”, outorgou a área como pública para comum de

todos da comunidade. Salientou que na área não se deveria praticar desmatamentos ou

qualquer agressão á natureza. Desde então, a área é cuidada e controlada pela

comunidade.

O exemplo clássico, da integração comunitária, envolvida pelo clima participativo é a

fundação da Associação Ambiental e Sociocultural da Serra do Cocho (AASSC),

autorizada pelo seu estatuto a gerir a reserva ambiental da Serra do Cocho. É ela

também que tem acompanhando todo o processo de requerimento da titulação da área,

que integrará o seu patrimônio, ficando responsável junto aos órgãos fiscalizatórios

governamentais.

Mais um clássico exemplo, é a busca de parcerias e parceiros, tanto do Poder Público,

como de instituições de ensino, quanto de profissionais liberais para atender as diversas

demandas do processo de criação e gestão da unidade de conservação, que,

naturalmente, exigem resolução (multidisciplinar) pelos mais diversos campos das

Ciências.

116

Espera-se que a oficialização e a gestão compartilhada/participativa da Reserva

Ambiental Serra do Cocho, seja uma realidade inspiradora para que muitas outras

RPPN´s sejam criadas no município de Tremedal e no Território de Identidades Sudoeste

Baiano, possibilitando que outros ecossistemas significativos para a diversidade

biológica, sejam protegidos através desta categoria de UC, que privilegia a cooperação

entre o cidadão proprietário de terras e o estado.

Donde se conclui, em linhas gerais, que a participação social cidadã e democrática,

qualificam os cidadãos para as tomadas de decisões capazes de legitimá-las durante

todo o longo e burocrático processo de criação da UC. Que avança sorrateiramente,

desde a apresentação da demanda ao órgão ambiental responsável, reuniões, simpósios,

encontros, audiências públicas, até mesmo, por exemplo, integrar comissões

responsáveis por acompanhar e solucionar demandas específicas pendentes.

Nesse contexto, a educação ambiental não formal, através de suas estratégias e ações

cumpre papel fundamental para a integração das pessoas, desinibição, valorização dos

saberes populares e tradicionais da cultural local. Transformando pessoas e indivíduos

em autênticos cidadãos portadores de muitos deveres, mas também, titulares de

inúmeros direitos, em verdadeiros defensores do ambiente com mais solidariedade e

fraternidade; respeitadores das diversidades, cultivadores da liberdade e do amor

transcendente que emana de sua essência universal, manifestando sentimentos nobres e

engrandecedores de si e do próximo, porque vê nele, um ser semelhante que também

está galgando o seu lugar (suas oportunidades) sob o sol e sobre o solo, para

desenvolver suas potencialidades.

Considerando todo o retro exposto, conclui-se que, é possível afirmar que o presente

trabalho atingiu largamente os objetivos propostos na elaboração da presente

dissertação: tanto o objetivo geral, quantos os objetivos específicos.

117

9. RECOMENDAÇÕES

Tendo em vista que, o presente trabalho, não objetiva esgotar o tema proposto,

tampouco transcender os seus limites, mas observar, analisar, registrar, investigar e

averiguar e registrar a participação social cidadã e democrática no processo de criação

de unidade de conservação de uso sustentável, especificamente, a categoria RPPN.

Sugere-se outrossim, que a imersão na comunidade pesquisada seja mais longa que

uma semana e que haja também repetições de visitas ao longo da pesquisa. Não apenas

para checar dados e aplicar novas metodologias, mas para estimular a adesão às

estratégias de educação ambiental não formal posto que, favorecem a preservação e

conservação ambiental; bem como, auxiliam na gestão compartilhada e participativa da

unidade de conservação.

Recomenda-se a elaboração do Plano de Manejo e a do Conselho Gestor da UC, em

tempo razoável, uma vez que, esses instrumentos de gestão fortalecem e qualificam a

administração da reserva, através da participação da comunidade. Tendo em vista que,

neste caso, a Associação Ambiental e Sociocultural da Serra do Cocho, em tese, é a

responsável segundo previsão estatutária, para gerir a reserva ambiental.

Igualmente, recomenda-se que seja adotado o Plano de Educação Ambiental, que acolha

as questões atinentes à reserva ambiental e as demandas das comunidades do seu

entorno. Uma vez que, o estatuto da associação ambiental, prevê a existência de uma

comissão de educação ambiental.

Ainda sugere-se que as conquistas e o “modus operandi” da gestão da Reserva

Ambiental da Serra do Cocho, que já muito bem inclinada para as práticas

compartilhadas, através da participação social cidadã democrática faça divulgação dos

resultados obtidos e de suas ações nas redes sociais e mídias digitais da região. Para tal

fim, indica-se o uso das técnicas e abordagens da arteducação e da educomunicação na

incrementação desse processo de divulgação.

O fato de ser a primeira RPPN do Território de Identidades Sudoeste Baiano, certamente

lhe trará visibilidade e servirá de incentivo para que sejam criadas muitas outras reservas

ambientais na região.

118

Recomenda-se que em futuras pesquisas na região é fundamental buscar o

conhecimento e meios para a valorização da cultura, dos saberes locais, do modo de

vida, das interações e inter-relações da comunidade com a UC, e ainda; entender a

história da comunidade pesquisada para melhor fluidez na condução dos levantamentos

e trabalhos da pesquisa.

Na hipótese em que o pesquisador não resida próximo da comunidade pesquisada é

interessante e recomendável que tenha consigo contatos eletrônicos (email, redes

sociais, telefone, etc.) de lideranças da comunidade e de alguns atores sociais, caso haja

necessidade de checar alguma informação, fato ou dados coletados.

Apresentação dos resultados da pesquisa realizada para as pessoas da comunidade

pesquisada é um ato muito além de gratidão. É, antes de tudo, o reconhecimento da

valorização da comunidade.

O município de Tremedal, bem como, o Território de Identidade Sudoeste Baiano, possui

grande ecosociobiodiversidade, que certamente instiga os pesquisadores a debruçarem-

se em investigações promissoras.

119

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127

ANEXOS E APÊNDICES

ANEXO 1: Preservação da biodiversidade do ecossistema da Serra do

Cocho

A biodiversidade do ecossistema da Serra do Cocho é protegida pela Reserva Ambiental

da Serra do Cocho. São algumas das espécies da fauna e da flora ameaçadas ou em

processo de extinção.

As imagens são do acervo particular do Projeto Tremedal Ecológico, todas captadas na

área demandada para a criação da Unidade de Conservação.

128

A imagem 1 é um filhote de onça de onça jaguatirica encontrada em uma árvore ôca. A

imagem 2 é uma jiboia. Na imagem 3 um mocó e dois filhotes e na imagem 4 um mocó

adulto.

Na imagem 1 periquitos. Na imagem 2 seriema (espécie em processo de extinção). Na

imagem 3 dois urubus-rei (em processo de extinção). Na imagem 4 sofrê, ave símbolo do

bioma caatinga.

129

ANEXO 2 Preservação dos recursos hídricos da Serra do Cocho

Os recursos hídricos do ecossistema da Serra do Cocho não são abundantes, todavia, o

suficiente para a manutenção, o equilíbrio e as demandas próprias da biodiversidade.

Na imagem 1 em destaque a “bica” da nascente (olho d´água do cocho). Na imagem 2

destaca-se a cacimba. As imagens 3 e 4 o fluxo de água que desce a serra a partir da

nascente.

130

ANEXO 3

Ata da assembleia geral de constituição da Associação Ambiental e Sociocultural da

Serra do Cocho (AASSC) do município de Tremedal-Bahia.

Aos quatro dias do mês de março de dois mil e dezessete as (14h00min) quatorze horas

na comunidade de Salininha, município de Tremedal estado da Bahia, reuniram-se, de

livre e espontânea vontade (31) trinta e uma pessoas da comunidade e interessados,

com o objetivo de constituir uma associação ambiental ecológica, conforme o edital de

convocação com a seguinte ordem do dia: 1- Apreciação do Estatuto Social; 2- Fundação

da Associação Ambiental e Sociocultural da Serra do Cocho; 3- Eleição da Diretoria

Executiva; 4- Eleição do Conselho Fiscal efetivos e suplentes. Foi aclamado para

coordenador os trabalhos o senhor Everaldo de Almeida Santiago que convidou a mim,

Juliana Prates Viana de Carvalho para lavrar a presente ata, tendo digo tendo ainda

participado da mesa o senhor Clovis Rodrigues dos Santos presidente do CMDS –

Conselho Municipal de Desenvolvimento Sustentável. Em seguida o senhor coordenador

falou da importância da fundação da Associação e os benefícios que trará a comunidade

local bem como a preservação ambiental solicitou que fosse lido explicado e debatido o

projeto do estatuto da associação anteriormente elaborado, o que foi feito artigo por

artigo. A seguir posto em discussão e votação o estatuto foi aprovado pelo voto unânime

dos associados presentes, o senhor coordenador suspendeu então por dez (10) minutos

os trabalhos para a doação das providencias que conduziriam a eleição dos membros da

diretoria executiva e do conselho fiscal, órgão sociais. Reiniciados os trabalhos e

procedia a votação foram eleitos para compor a diretoria executiva e conselho fiscal os

associados: Presidente Everaldo de Almeida Santiago; Vice-presidente Oscar Pereira de

Souza; 1º secretário Juliana Prates Viana de Carvalho; 2º secretário Josenalvo Cerqueira

da Silva; 1º tesoureiro Sandro Monteiro Vieira; 2º tesoureiro Helta Almeida Costa. Para

membros efetivos do conselho fiscal os associados: 1º efetivo Mateus Pereira Ferraz; 2º

efetivo Paulo Marinho dos Santos; 3º efetivo Nailza Maria Pereira. Para suplentes do

conselho fiscal os associados: 1º suplente Vitório Pereira da Silva Neto; 2º suplente

Tereza Batista; 3º suplente Fabiana de Oliveira. Prosseguindo os eleitos foram

empossados nos seus respectivos cargos, e o senhor Everaldo de Almeida Santiago,

convidado a assumir a direção dos trabalhos agradeceu a colaboração de todos na

assembléia nesta tarefa e declarou definitivamente constituída de então para o futuro da

Associação Ambiental e Sociocultural da Serra do Cocho (AASSC), com sede na

comunidade Salininha, município de Tremedal estado da Bahia. Que tem como objetivo

promover a assistência e apoio a programas, projetos e outros que venha contribuir com

131

a preservação e conservação do nosso ambiente, representando a associação junto a

órgãos públicos e provados no atendimento de suas reivindicações. Como ninguém mais

desejasse fazer o uso da palavra o senhor presidente declarou encerrado os trabalhos e

eu Juliana Prates Viana de Carvalho que servi de secretaria lavrei a presente ata a qual

após ser lida e achada conforme, vou assinar por mim e por todos os associados

fundadores como prova de livre espontânea vontade de cada um de organizar a

sociedade. Associação Ambiental e Sociocultural da Serra do Cocho, Salininha município

de Tremedal Bahia 04 de março de 2017.

Presidente Everaldo de Almeida Santiago

Vice presidente Oscar Pereira de Souza

1º secretário Juliana Prates Viana de Carvalho

2º secretário Josenalvo Cerqueira da Silva

1º tesoureiro Sandro Monteiro Vieira

2º tesoureiro Helta Almeida Costa

1º efetivo Mateus Pereira Ferraz

2º efetivo Paulo marinho dos Santos

3º efetivo Nailza Maria Pereira

1º suplente Vitório Pereira da Silva Neto

2º suplente Tereza Batista Silva

3º suplente Fabiana de Oliveira

Clovis Rodrigues dos Santos

Ana Pereira Pereira de Souza

Matias Pereira de Souza

Adriana Rocha Nascimento

Célia Pereira Costa

Paulo Almeida Pereira

Joaquim Pereira de Souza

Jovelino Pereira Costa

Luzia Maria Costa

Ana Pereira de Assunção Costa

Narcisa Pereira de Oliveira

Adailton Almeida Costa

Edvan da Trindade da Silva

Mariza Cândida de Oliveira

Valdeci Pereira de Almeida

Senhorinha Monteiro Vieira

132

Abdias Alves Vieira

133

ANEXO 4: Ações Socioambientais do Projeto Tremedal Ecológico

O Projeto Tremedal Ecológico possui grande influência e atuação na comunidade do

entorno da UC da Serra do Cocho. Nesse sentido ilustramos alguns exemplos

emblemáticos:

Figura 1: Alunos da escola pública da comunidade em atividade complementar

retroprojetada através da parceria com o Projeto Tremedal Ecológico. Na figura 2,

colaboradora voluntária do Projeto ministrando palestra sobre educação e

sustentabilidade ambiental no colégio público da sede do município de Tremedal. No

conjunto 3 de figuras apresentação e demonstração de objetos e hábitos antigos da

comunidade: o sião é uma cela em que as mulheres andavam montadas à cavalo

posicionada de lado; um resgate incentivado e estimulado pelo Projeto. No conjunto 4 de

figuras, crianças desde cedo são incentivadas ao contato direto com a Natureza cuidando

da horta da escola pública da comunidade do entorno da Serra do Cocho. Outra ação

incentivada e assessorada por pessoas da comunidade e voluntários do Projeto.

134

ANEXO 5: Ações Socioculturais do Projeto Tremedal Ecológico

Colacionamos algumas fotografias que ilustram o incentivo a cultura regional e a

participação social das pessoas das comunidades do entorno da Reserva Ambiental

Serra do Cocho.

Figura 1: Cavalgada na comunidade Salininha realizada em prol da Casa de Cultura Antônio de Ernesto. Figura 2: Tarde recreativa e seminário sobre plantas medicinais da região realizado pelo Projeto Tremedal Ecológico. Figura 3 e 4: Reaproveitamento dos

canos do antigo sistema de abastecimento de água da comunidade na demarcação das trilhas na Reserva Ambiental Serra do Cocho. Figura 5: Mutirão realizado para

cercamento para isolamento da área da nascente e das cacimbas.

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ANEXO 6: Ações Socioeducativas do Projeto Tremedal Ecológico

São notórios os ganhos advindos das ações socioeducativas do Projeto Tremedal

Ecológico. Benefícios diretos para todos os moradores da comunidade desde crianças,

jovens e até adultos.

Figuras 1 e 2: Biblioteca comunitária montada na comunidade Salininha, juntamente com

sala de informática promovendo inclusão digital proporcionadas pelo Projeto Tremedal

Ecológico.

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Figuras 1 a 5: aula de campo e piquenique com os alunos da escola da comunidade

realizados pelo jovem biólogo na Reserva Ambiental Serra do Cocho.

Figuras 1 à 4: Alunos de uma Universidade da região realizando pesquisas e

levantamentos da fauna e da flora na Reserva Ambiental Serra do Cocho.

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ANEXO 7: Manifestações poéticas locais

*Serra do Cocho

Lá na Serra do Cocho tem nascente

Por essa água, o povo aqui raiz fincou

E por muitos anos criou

Toda nossa gente

A natureza tece sua teia

E para sempre essa água correrá em nossa veia.

Serra do Cocho

La no alto tem ipê amarelo

Cá em baixo tem ipê roxo

Da caixa de Mariana, tem se um por do sol tão belo

E os imponentes pau ferro e “tambori”

Em tão bonitos a florir

Antigamente até ela, o povo subia

E a água na "cangaia" do jegue descia

Muita história de roupa lavada na bacia

Veio a má planejada canalização

E com ela muita confusão

Água encanada era um progresso que se via,

Pois muita fazenda abastecia

Ia do Quati até o São João

Só que natureza não tolera perturbação

Humana Interferência

Construção de barragem acima da serra

A veia da água quase encerra

Morreu Tio Maçu, nosso líder de linda consciência

O cocho secou

A seca forte pegou

O lugar caiu em esquecimento

Criou se outras formas de abastecimento

O povo deixou em abandono

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E a serra parecia ter novo dono

E assim tudo se encaminhava para um fim triste

Ahhh!! Mas a esperança renasce e a fé existe

A chuva veio forte

Um idealizador deu um novo norte

A comunidade abraçou novamente

E os amigos vieram ajudar a cuidar da nascente

E a união planejada fortalece a iniciativa

Poucos guerreiros envoltos em energia positiva

E olho d'água acorda e está cheio de vida

Abençoando por Deus essa serra querida

Encantadora e misteriosa caatinga

Que tanto nos apaixona e intriga

Na seca parece não ter vida

Existe muita, porém está escondida

Vem o milagre quando chove

E o espetáculo do renascimento do chão se move

Nascente de água é um grande berço de vida

No subsolo a água acumula

Depois para cima o fluxo pula

E faz majestosa descida

As árvores são defesas contra empecilhos

A mata forma protetores cílios

A água faz seu fluxo em harmonioso caminho

Atraindo jacu, bugio e tanto passarinho

Que come o fruto e a semente dispersa

E nasce a flora tão diversa

E o eixo natural circula

Na sombra fresca o sapo pula

E a cobra faz o bote

E o carcará a pega e alimenta seu filhote

Forma-se carreiros cheio de flores

Visitados por insetos trabalhadores

Sem eles não haveria outras vidas nos ecológicos corredores

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A abelha de exemplar comunidade organizada

Que leva o néctar

Cada uma tem sua função e tudo se conecta

E o Papa mel vai pegar seu alimento

Ele vai levar muita picada,

Mas precisa de fonte para seu alimento

Fauna silvestre de uma serra rica

Tem onça parda, gato do mato e a nossa inesquecível jaguatirica

E a vida gira

Lá no topo do pé de sucupira

E debaixo do pé de jatobá

Quantos laços de vida há

É tão interessante uma prática aula

No meio da natureza falando de flora e fauna

Fazendo conta de árvores, descrevendo em redação

Tem o pé de cansanção

Que oferece alimento e medo

E seus coquinhos servem de brinquedo

São vaquinhas pelo chão

É bicho e planta misturado no mato

É cipó escada de macaco e também unha de gato

E o urubu tem grande papel

E vigia tudo lá do céu

Ele faz ótimo trabalho de limpeza. Ei!

Em nome de sua realeza

Tem urubu que até tem nome de rei

Vamos desenhar da natureza tudo é arte

Tudo se aproveita e de nada faz descarte

Vamos espalhar a ideia

Contar da vida e morte, sabia que aqui já foi aldeia?

Uma experiência de nova atitude

Uma aula de clima em pleno açude?

A história mostra a escassez de madeira

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E a próxima geração como fará sua cumeeira

O pica pau é esperto na pica a baraúna

O homem não foi e hoje começar pagar por madeira uma fortuna

O ciclo tem uma matemática exata

E todos nós dependemos da preservação da mata

O homem é preciso entender e respeitar a flora

Saber ser sustentável na explora

O camponês sabido observa

Que a vaqueta depois que chove, o gado erva

Tudo que se põe na mesa

Vem da mãe natureza

Não brota da prateleira

E para chegar ao mercado

Há quem tenha muito pelejado

Tem uma biológica trajetória inteira

Nossos animais estão ameaçados na lista vermelha

E matando o veado, a onça vai se defender pegando a ovelha

E na Fazenda Quati

Esse animal não tem mais por aqui

E procurar, nem adianta

Não existe anta na Lagoa de Anta

E quem sabe na Fazenda Jiboia

Ahh! Mas quando aparece uma no lombo apanha

E vão tirar sua banha

Será que vão ficar as pedras da lagoa?

As mineradoras exploram e nossa terra fica à toa

Para desenvolver um lugar tem um primeiro passo

É cuidar do nosso meio ambiente

Buscar entender cada laço

E fazer uma atitude diferente

A educação é nossa única chance

Valorizando o que há na nossa terra

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Reverenciando a nossa serra

E em equipe, fazer o que tiver ao nosso alcance

Se o professor ensinar

O aluno não vai mais caçar

Se o professor mostrar

O aluno, uma árvore vai plantar

Vamos juntos educadores de Tremedal

Fazer uma referência de Educação Ambiental.

*Everaldo Santiago

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APÊNDICES

APÊNDICE 1: Questões-guia para entrevista com os moradores

Questões-guia para entrevistas/conversas com os moradores das comunidades do

entorno da UC da Serra do Cocho

1 - Acha que é importante preservar e conservar a Serra do Cocho com todas as suas

riquezas naturais? Por quê?

2 – Acha que a Serra do Cocho é importante para a comunidade? Por quê?

3 – Acredita que a Serra do Cocho é ou seria capaz de oferecer alguma coisa positiva

para as comunidades vizinhas? E para a sociedade em geral? Poderia citar algum (uns)

exemplos?

4 - Entende que seja importante criar uma reserva ambiental para proteger a natureza na

Serra do Cocho? Por quê?

5 – Estaria disposto (a) a colaborar com a preservação e conservação da Serra do

Cocho? Como faria essa colaboração? Prestando algum serviço...?

6 - Acha que a serra faz parte da história da comunidade? Para o Senhor (a),

particularmente, há algum fato importante na sua vida ligado á Serra do Cocho?

7 – Saberia informar se existe alguma música, cantiga de roda, samba, chula, poesia,

cordel, drama (dramatização) em que a inspiração seja a Serra do Cocho? Saberia

declamar, representar, cantar algum trecho?