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MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
TÍTULO DA DISSERTAÇÃO
A educação ambiental não formal no processo de criação e gestão de unidade de
conservação de uso sustentável: o caso da Reserva Serra do Cocho (RPPN) em
Tremedal – BA
Dissertação para obtenção do grau de:
Mestre em, Gestão e Auditorias Ambientais
Apresentado por:
Josenalvo Cerqueira da Silva
BRMAMGA733246
Orientador:
Erik Simões
SÃO PAULO, BRASIL
2017
DEDICATÓRIA
Ao Criador, fonte inesgotável de amor, que na necessária engrenagem da engenharia
universal da co-criação me fez enveredar, indelevelmente, rumo ao progresso, à
evolução e à perfectibilidade, sob o império da judiciosa paliginesia.
AGRADECIMENTOS
Agradeço a Deus, Causa Primária de todas as coisas, pela permissão de captar a
necessária inspiração e manifestar a essencial intuição que sempre me orienta na
condução de meu projeto de existencial;
Agradeço a Jesus, pelo exemplo de solidariedade, fraternidade e paradigma de
perfectibilidade que nos apresentou como orientação sublime;
A minha saudosa e amada mãe Guinalva Cerqueira, que apesar da interrupção abrupta
na presente experiência entre nós, deixou-nos um grande legado: a incondicionalidade ao
amor fraterno, à solidariedade, à honradez, à simplicidade...
Agradeço ao meu pai, José Ferreira e toda a minha grande família pela compreensão
mesmo que tácita, por minha longa ausência da convivência fraterna, em razão dos
inúmeros compromissos assumidos;
Minha amada irmã Keila Ribeiro (caçulinha) pela firmeza no compromisso assumido,
pelas alegrias compartilhadas em aventuras eco turísticas, pelos escambos, adições e
multiplicações adquiridas nas veredas existenciais;
Aos meus queridos avós com estima, gratidão e honra: Pedro Nunes e Basília Ferreira (in
memorian), pela sabedoria empírica e humilde, mas na qual, sempre saciei a sede de
mais saber do cotidiano;
Com gratidão agradeço especialmente a caríssima professora Odete Sampaio, por me
conduzir das primeiras letras, às primeiras lições de vida, para toda a vida, descortinando
e me apresentando ao saber;
Muito agradeço as queridas professoras: Doralice Coelho e Mª das Graças Gomes
Carneiro pela sedimentação das lições primeiras e ampliação do prazer na busca pela
sabedoria;
Agradeço ao primo Clebson Cerqueira, pelo entusiasmo e confiança depositados, além
de seus grandes esforços pela conservação da história e da cultura regional;
Ao estimado professor Erik Simões, pela segurança nos direcionamentos, orientando-me
sempre amparado pela razão, mas aliado da boa vontade e da compartilha, durante a
laboriosa realização deste gratificante trabalho;
A Funiber e a todos os seus colaboradores pela atenção e auxílio;
Agradeço ao Eduardo e ao Floriano competentes e excelentes técnicos do Inema
(Instituto do Meio Ambiente e Recursos Renováveis (Bahia)), pelo valiosíssimo trabalho
técnico-científico realizado na Serra do Cocho;
A CDA (Coordenação de Desenvolvimento Agrário (Bahia)) pela valiosa colaboração
técnica realizada na área demandada para criação da Reserva Ambiental;
Igualmente agradeço aos amigos sem exceção de nenhum pelo incentivo, pois sem tal, o
estímulo e o ânimo seriam diminutos para o enfrentamento de tamanho desafio; André
Luis Silva, Ilse Maria Edinger, Oswaldo Rodrigues, Diogo Albuquerque, Cristiano Oliveira,
Rubens Rodrigues Fº (e o pai também), Paolo Bruno, Eder Arakaki, Maria Rosa Filha,
Ingrid Lima, Vinicius Fonseca, Alessandro Oliveira, Joelma Lima, Ruy Alfredo, Nilza de
Fátima Silva, Suzanete Trindade. Muito obrigado, meus caros amigos!
Aos queridos amigos companheiros devotados à sociobiosustentabilidade: Juliana
Prates, Everaldo Santiago, Oscar Pereira, diretores da AASSC (Associação Ambiental e
Sociocultural da Serra do Cocho), qualificados pelos próprios predicados que emanam de
suas essências sociais, ambientais e culturais, autênticos defensores da
sociobiodiversidade e da ecosociobiosustentabilidade.
Aos novos e bons amigos de Tremedal – BA: Clovis Rodrigues, Helta Costa, Matheus
Ferraz, Paulo Marinho, Sandro Monteiro, Vitório Neto, Adailton Costa, Marisa Cândida,
Mathias Pereira, Célia Costa,...
Aos moradores das comunidades rurais do entorno da Reserva Ambiental da Serra do
Cocho, especialmente aqueles com muita boa vontade se dispuseram a colaborar com
esta pesquisa, concedendo-nos valiosas contribuições através das entrevistas realizadas
na pesquisa de campo;
Ainda agradeço ao casal de socioambientalistas dona Vera e seu Belo, generosos
apoiadores de nossa estada, durante todo o tempo da pesquisa de campo nas
comunidades do entorno da Serra do Cocho. Nossa eterna gratidão pelo carinho,
receptividade, acolhimento e pela hospedagem, confortável e agradável em sua própria
residência.
Muito agradeço ao casal de queridos amigos de Lençóis – BA, Carlos Henrique e Ivana,
seus filhos Micael, Michele e Rafael - “família Sossego”, pelo companheirismo e
compartilha de saberes ambientais empíricos, pelas memoráveis trilhas do Parque
Nacional da Chapada Diamantina, que muito me inspirou, impulsionando-me ao
aprofundamento dos estudos sobre Meio Ambiente e sociobiosustentabilidade.
Eterna gratidão a todos!
i
TERMO DE COMPROMISSO
Eu, Josenalvo Cerqueira da Silva, portador do documento de identidade 36.819.016-
X SSP/SP e aluno do programa acadêmico Mestrado em Gestão e Auditorias
Ambientais, declaro que:
O conteúdo do presente documento é um reflexo do meu trabalho pessoal e
manifesto que, diante de qualquer notificação de plágio, cópia ou prejuízo à fonte
original, sou responsável direto legal, financeira e administrativamente, sem afetar
o Orientador do trabalho, a Universidade e as demais instituições que colaboraram
neste trabalho, assumindo as consequências derivadas de tais práticas.
Assinatura:
ii
São Paulo, 24 de janeiro de 2018
Att: Direção Acadêmica
Venho por este meio autorizar a publicação eletrônica da versão aprovada
de meu Projeto Final com título A educação ambiental não formal no processo de
criação e gestão de unidade de conservação de uso sustentável: O caso da
Reserva Serra do Cocho (RPPN) em Tremedal - BA, no Campus Virtual e em outras
mídias de divulgação eletrônica desta Instituição.
Informo abaixo os dados para descrição do trabalho:
Título A Educação Ambiental não formal no processo de criação e gestão de unidade de conservação de uso sustentável: O caso da Reserva Serra do Cocho (RPPN) em Tremedal – BA.
Autor Josenalvo Cerqueira da Silva; Erik Simões
Resumo
A megabiodiversidade brasileira carece de proteção para conservação do plantel de espécies da fauna e flora, bem como dos recursos hídricos. Nesse contexto, as UC´s são de suma importância para garantir a existência das espécies e o equilíbrio dos ecossistemas. Dentre as categorias de UC, prevista no SNUC, as RPPN`s merecem destaque pela contribuição e alcance social que favorecem a conservação e preservação da biodiversidade.
Programa Mestrado em Gestão e Auditorias Ambientais
Palavras-chave
Educação Ambiental não formal; Unidade de Conservação de uso sustentável; Cultura e saberes populares; RPPN; Serra do Cocho.
Contato [email protected]; [email protected]
Atenciosamente,
Assinatura:
iii
ÍNDICE GERAL
INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 1
MARCO TEÓRICO ........................................................................................................... 9
1. UNIDADES DE CONSERVAÇÃO NO BRASIL ........................................................... 10
1.1. O SNUC e as Unidades de Conservação no Brasil ............................................... 11
1.1.1. Unidade de Conservação de uso sustentável .................................................... 13
1.1.1.2. Reserva do Patrimônio Particular Natural (RPPN) .............................................. 15
1.1.2. Unidade de Conservação de proteção integral ................................................. 22
1.2. O processo de criação de uma RPPN – Reserva do Patrimônio Particular
Natural ............................................................................................................................ 24
1.2.1. A Reserva do Patrimônio Particular Natural (RPPN) Serra do Cocho .............. 25
1.2.1.2. Articulações nas comunidades do entorno da área da Unidade Conservação
Serra do Cocho ................................................................................................................ 25
1.2.2. A participação social cidadã legitima e qualifica decisões .............................. 30
1.2.3. A democracia e a cidadania ambiental ............................................................... 33
2. A EDUCAÇÃO AMBIENTAL: PERSPECTIVAS E ESTRATÉGIAS ............................ 36
2.1. As perspectivas da educação ambiental ............................................................... 37
2.1.1. Educação Ambiental na Educação formal ......................................................... 39
2.1.2. Educação Ambiental na Educação Informal ...................................................... 40
2.1.3. Educação Ambiental na Educação não formal .................................................. 40
2.1.3.1. A Educação Ambiental não formal e o processo de criação de Unidades de
Conservação ................................................................................................................... 44
2.2. A Educomunicação e arteducação: estratégias para a educação ambiental ..... 46
2.3. Valorização da cultura regional e dos “saberes populares” ............................... 49
2.4. Aportes e suportes do engajamento e participação social cidadã através da
educação ambiental nas tomadas de decisões ........................................................... 50
2.5. A transversalidade, transdisciplinaridade e a interdisciplinaridade na Educação
Ambiental ....................................................................................................................... 52
2.6. Transformações individuais para vivências coletivas qualificadas .................... 56
3. A SERRA, O COCHO, PRESERVAÇÃO E SOCIABILIDADES .................................. 58
3.1. A nascente da Serra do Cocho, as cacimbas e as lavadeiras: harmonia e
sociabilidades ................................................................................................................ 64
3.2. Antropização e hiperexploração dos recursos naturais da Serra do Cocho ...... 69
3.3. Primeiros lampejos protetivos: identificação da Área de Preservação
Permanente Olho d´água da Serra do Cocho .............................................................. 71
iv
3.3.1. O longo processo para criação da UC: “a escolha e o preparo do solo” ........ 73
3.3.2. A propagação na comunidade das ideias para criar a UC: “O lançamento das
sementes do cume da serra” ........................................................................................ 73
3.3.3. Identificação de potenciais voluntários: “A semeadura em terra fértil” .......... 75
3.3.4. Esforços e muito suor, parcerias e parceiros voluntários: “Os trabalhadores
da última hora” .............................................................................................................. 76
3.3.5. Demarcação da área e regularização fundiária da Serra do Cocho: “A floração
e a anunciada colheita” ................................................................................................. 78
MARCO EMPÍRICO........................................................................................................ 83
4. CONTEXTUALIZAÇÃO ............................................................................................... 84
5. DESENHO METODOLÓGICO..................................................................................... 94
5.1. Introdução ............................................................................................................... 94
5.2. Amostras ................................................................................................................. 96
5.3. Materiais e métodos ............................................................................................... 96
5.4. Procedimentos ........................................................................................................ 98
6. RESULTADOS .......................................................................................................... 101
7. DISCUSSÃO ............................................................................................................. 105
8. CONCLUSÕES GERAIS ........................................................................................... 115
9. RECOMENDAÇÕES ................................................................................................. 117
BIBLIOGRAFIA ............................................................................................................. 119
ANEXOS E APÊNDICES ............................................................................................. 127
v
ÍNDICE DE FIGURAS
Figura 1.1: Os cinco estados do Brasil com o maior número de RPPN´s ......................... 17
Figura 1.2: Estados com maior área protegida (em hectare) por RPPN. .......................... 18
Figura 1.3: As dez maiores RPPN´s do Brasil .................................................................. 18
Figura 1.4: As dez menores RPPN´s do Brasil e sua localização .................................... 19
Figura 1.5: As dez maiores RPPN´s no Estado da Bahia ................................................. 20
Figura 1.6: Menores RPPN da BA ................................................................................... 21
Figura 1.7: Indicativo das nascentes da Serra dos Caititus .............................................. 26
Figura 1.8: Panorâmica beleza cênica da paisagem da Serra do Cocho e relevância
ecológica ......................................................................................................................... 27
Figura 1.9: Serra do Cocho e vegetação remanescente da Mata Atlântica ...................... 28
Figura 1.10: Placa identificadora da APP – Área de Preservação Permanente - Olho
D´Água do Cocho ............................................................................................................ 29
Figura 3.1: Painel de Arte do artista tremedalense Felipe Amaral .................................... 60
Figura 3.2: Ponto de distribuição de água canalizada da Serra do Cocho na comunidade
Quati ................................................................................................................................ 67
Figura 3.3: Cobertura da terra da Serra do Cocho e entorno ........................................... 80
Figura 3.4: Piquete com a insígnia da CDA (Coordenação do Desenvolvimento Agrário) 81
Figura 4.1: Mapa do Município de Tremedal e municípios vizinhos ................................. 86
Figura 4.2: Mapa do Estado da Bahia - Territórios de Identidade ................................... 87
Figura 4.3: Mapa do Território de Identidade Sudoeste Baiano ....................................... 88
Figura 4.4: Mapa da ocupação territorial e origem do Arraial da Conquista - BA ............. 90
vi
ÍNDICE DE TABELAS
Tabela 1.1: Categorias de Unidades de Conservação prevista no SNUC ....................... 12
Tabela 1.2: Cenários sugeridos pelo INEMA para a demarcação da área da Reserva
Serra do Cocho ................................................................................................................ 20
Tabela 4.1: Evolução do IDHM (Índice de Desenvolvimento Humano Municipal) do
município de Tremedal - BA ............................................................................................ 91
vii
ÍNDICE DE ANEXOS E APÊNDICES
Anexo 1: Biodiversidade do ecossistema da Serra do Cocho ........................................ 127
Anexo 2: Recursos hídricos do ecossistema da Serra do Cocho ................................... 129
Anexo 3: Ata de fundação da Associação Socioambiental e Cultural da Serra do
Cocho ........................................................................................................................... 130
Anexo 4: Ações Socioambientais do Projeto Tremedal Ecológico ................................. 133
Anexo 5: Ações Socioculturais do Projeto Tremedal Ecológico ..................................... 134
Anexo 6: Ações Socioeducativas do Projeto Tremedal Ecológico .................................. 135
Anexo 7: Manifestações poéticas locais........................................................................ 137
Apêndice 1: Questões-guia para entrevista com os moradores ..................................... 142
viii
LISTA DE ABREVIATURAS
ANA - Agência Nacional de Águas
APA – Área de Proteção Ambiental
APP - Área de Preservação Permanente
Art. – artigo
AASSC - Associação Socioambiental e Cultural da Serra do Cocho
AVA - Ambiente Virtual de Aprendizagem
CNUC - Cadastro Nacional de Unidades de Conservação
CNRPPN - Confederação Nacional de Reservas Particulares do Patrimônio Natural
CONAMA – Conselho Nacional do Meio Ambiente
CF – Constituição Federal
CNPJ – Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica
DF – Distrito Federal
EA - Educação Ambiental
EAD - Educação à Distância
ENCEA - Estratégia Nacional de Comunicação e Educação Ambiental
Ha - hectare
IBAMA – Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Renováveis
ICMBio - Instituto Chico Mendes de Biodiversidade
INEMA - Instituto do Meio Ambiente e Recursos Renováveis (Bahia)
LA - Lei da Educação Ambiental
LDB – Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
LSNUC - Lei do Sistema Nacional de Unidades de Conservação
MEC – Ministério da Educação e Cultura
MMA – Ministério do Meio Ambiente
NCFLo - Novo Código Florestal
UC - Unidade de Conservação
OAB/SP – Ordem dos Advogados do Brasil Seccional São Paulo
ONG´s – Organizações não Governamentais
ONU – Organização das Nações Unidas
OS – Organização Civil
OSC – Organização da Sociedade Civil
OSCIP – Organização da Sociedade Civil de Interesse Público
PCNs - Parâmetros Curriculares Nacionais
Pnap - Plano Estratégico de Áreas Protegidas
ix
PNEA - Política Nacional de Educação Ambiental
PL – Projeto de Lei
PLS – Projeto de Lei Substitutivo
PRESERVA - Associação de Proprietários de RPPN da Bahia e Sergipe
RBJA – Rede Brasileira de Justiça Ambiental
REABA - Rede Baiana de Educação Ambiental
REBEA - Rede Brasileira de Educação Ambiental
REPAMS - Associação dos Proprietários de Reservas Particulares do Patrimônio Natural
do Estado de Mato Grosso do Sul
RPPN – Reserva do Patrimônio Particular Natural
SIMRPPN - Sistema Informatizado de Monitoria de RPPN do ICMBio
Sisnama - Sistema Nacional do Meio Ambiente
SNUC - Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza
x
RESUMO
O Brasil possui uma megabiodiversidade que necessita cada vez mais ser protegida,
preservada e conservada para usufruto pela presente e por futuras gerações. O SNUC
(Sistema Nacional de Unidades de Conservação) prevê doze categorias distintas de
unidade de conservação, cada uma com suas especificidades, cuja finalidade é melhor
gerir o patrimônio natural megabiodiverso. O presente trabalho investiga as contribuições
da educação ambiental não formal no processo de criação e gestão de unidade de
conservação de uso sustentável: o caso da Reserva Serra do Cocho (RPPN) em
Tremedal – BA. Trata-se de um estudo de caso orientado sob o prisma da educação
ambiental não formal, sobretudo, nos aportes da participação social cidadã democrática e
dos saberes populares regionais, que são molas propulsoras para o fortalecimento das
relações sociais e comunitárias, enfatizando a valorização da comunidade, com seu
cabedal histórico-cultural, promovendo a cidadania para que as pessoas da comunidade
possam participar das tomadas de decisões a cerca da criação e gestão da UC. O
objetivo geral da pesquisa é desenvolver um programa de educação ambiental não
formal, pautado na participação social cidadã e democrática, capaz de legitimar as
decisões em processo de criação e gestão de unidade de conservação de uso
sustentável. Tendo por direcionamento metodológico a pesquisa participante e a
pesquisação, com imersão do pesquisador na realidade das comunidades rurais do
entorno da Reserva da Serra do Cocho. Ao final, foi possível apurar que a comunidade
possui predisposição e determinação para trabalhar em mútua cooperação, de modo
solidário, em prol dos seus interesses difusos e coletivos, especialmente na defesa,
preservação e conservação do meio ambiente. Encontrando-se disposta a contribuir com
a sociosustentabilidade local, especialmente, para a preservação e a conservação do
ecossistema da Serra do Cocho.
Palavras-chave: Educação ambiental não formal; Demanda e criação de Unidade de
Conservação de uso sustentável; RPPN (Reserva Particular do Patrimônio Natural);
Cultura regional e saberes populares; Serra do Cocho.
xi
ABSTRACT
Brazil has a megabiodiversity that needs to be protected, preserved and conserved for
present and future generations. The NSCU (National System of Conservation Unit)
provides twelve distinct categories of conservation units, each one with its specificities,
with the purpose of a better way to manage the natural biodiversity. What is a work of
creation and management of the unit of conservation with sustainable use: the case of
Serra do Cocho Reserve (PRNP) in Tremedal - BA. It is a case of study oriented from the
perspective of a nonformal environmental education, above all, in the contributions of
citizen social participation and regional popular knowledge, which are driving propulsive
springs for the strengthening of social and community relations, emphasizing the value of
the community , with its historical-cultural background, promoting the citizenship so the
people of the community can participate in decisionmaking around the creation and
management of the UC. The general objective of this research is to develop a program of
non-formal environmental education, based on the social citizen and democratic
participation, capable of legitimizing decisions in the process of creation and management
of a sustainable use conservation unit. The methodological approach was the participant
research and the research, with the immersion of the researcher in the reality of the rural
communities around the Serra do Cocho Reserve. In the end, it was possible to verify if
the community has the predisposition and determination to work in mutual cooperation, in
solidarity, in favor of its diffuse and collective interests, especially in the defense,
preservation and conservation of the environment. Being willing to contribute with local
partners, especially, for the preservation and conservation of the Serra do Cocho
ecosystem.
Keywords: Non-formal environmental education; Demand and creation of a Sustainable
Use Conservation Unit; PRNP (Private Reserve of Natural Patrimony); Regional culture
and popular knowledge; Serra do Cocho.
1
INTRODUÇÃO
A humanidade atualmente encontra-se inserida em uma realidade econômico-social, em
que o culto e a prática dos hábitos consumeristas sobrepõem-se a quaisquer outras
possibilidades de modos de vida sustentáveis. Muitas vezes, sem nenhuma preocupação
para manter padrões de vida nesse patamar, que só tem gerado graves ameaças e
muitos problemas ambientais. Uma vez que, a exploração sem nenhum controle ou
planejamento dos recursos naturais tem sido uma prática habitual sem precedentes na
história.
A exacerbação do consumo, por sua vez, leva a exploração e depredação do meio
ambiente. São inúmeras as atividades produtivas que impactam diretamente os recursos
naturais: mineração, industriais, petrolíferas, urbanização desordenada, agropecuária
sem planejamento, irrigação sem controle, poluição atmosférica, poluição das águas
superficiais e subterrâneas, contaminação do solo, são apenas alguns meros exemplos
ilustrativos.
Os problemas e impactos ambientais se agravam à medida que as ocupações e
explorações regulares ou não, dos espaços naturais e dos seus recursos se intensificam
exponencialmente. Ressalta-se que da mesma maneira, o agronegócio brasileiro é um
setor produtivo que gera diversos embates entre ambientalistas, os produtores e o
governo. Justamente por seus imensuráveis impactos ambientais ao solo, ao ar, subsolo,
às águas, as florestas, as reservas ambientais e aos povos indígenas e tradicionais.
Visando mitigar os efeitos decorrentes das ações humanas desordenadas, a legislação
brasileira, uma das melhores do mundo, prevê várias possibilidades e estratégias para a
promoção da defesa e da conservação do meio ambiente e da diversidade ambiental.
O Brasil é um país megabiodiverso, com extensão territorial gigantesca, continental. A
defesa e a proteção do meio ambiente é uma questão complexa, porém urgente. A
Constituição brasileira de 1988 dispõe que o dever preservar e conservar o meio
ambiente é compartilhado entre a sociedade e o Estado.
Para atingir a eficiência e a eficácia na gestão do meio ambiente com a megadiversidade
de recursos naturais existentes e as múltiplas possibilidades de explorá-los, no Brasil, a
Lei nº 9.985/2000, institui o SNUC (Sistema Nacional de Unidades de Conservação da
2
Natureza), prevendo doze categorias de unidade de conservação, cada uma delas com
suas especificidades e objetos protetivos.
O processo de criação de uma Unidade de Conservação (UC) depende de ato
discricionário do Poder Público, a única exceção é a categoria RPPN (Reserva do
Patrimônio da Particular Natural) que depende de ato voluntário do proprietário da área
em que se deseja criar a reserva. Todavia, o órgão ambiental competente necessita
homologar o ato de criação e, posteriormente, executar fiscalização regularmente, na
reserva. A gestão e domínio da reserva são de responsabilidade do proprietário da área,
que se torna uma reserva ambiental perpetuamente. Todavia, não há nenhum
impedimento legal para o imóvel ser negociável.
A reservação de porção territorial para fins de criação de uma UC para a preservação e a
conservação da diversidade ambiental, suscita inúmeros conflitos étnico-sociais, raciais,
econômicos, financeiros, espirituais, morais, sentimentais e emocionais.
Nesse contexto, o que fazer para resolver os impasses e os conflitos gerados e
confrontados no processo de criação e de gestão da unidade de conservação?
As questões surgem durante o processo de apresentação da demanda para a criação de
uma UC são naturalmente, aclaradas e superadas à medida que sejam feitas divulgações
pertinentes através de ações de educação ambiental, que envolvam a temática da
importância da conservação e da preservação do meio ambiente e dos recursos naturais,
não apenas para a presente geração, sobretudo para as vindouras.
Por outro lado, outras grandes aliadas na mitigação e na resolução dos conflitos de
interesses advindos do processo de criação de uma unidade de conservação são: a
transparência e a participação social cidadã democrática; que, por sua vez, são fortes
aliadas durante todo o processo de demanda, criação e gestão da unidade de
conservação, mas também, posteriormente, na condução de sua gestão, que há que ser
compartilhada entre os atores sociais da comunidade do seu entorno.
Com efeito, o acompanhamento da demanda de criação da UC pelo número máximo
possível de pessoas residentes, ou ainda, por aquelas que possuam outros interesses
que por ventura venham a ser impactados: a participação nas audiências públicas,
simpósios, encontros, reuniões, são oportunidades basilares para o diálogo profícuo em
prol da coletividade e da defesa dos interesses difusos da comunidade em geral.
3
A motivação para trabalhar esse tema se deu na observação da baixa participação social
dos moradores das comunidades do entorno da Serra do Cocho no Município de
Tremedal – BA, no processo de criação e gestão da UC. Apesar de não ser natural da
região, atuo voluntariamente, oferecendo consultorias jurídica e ambiental no processo de
criação da unidade de conservação ambiental de uso sustentável: a RPPN Serra do
Cocho, por se tratar de área pública, isto é, devoluta, prescinde enormemente do
envolvimento da comunidade e da participação social cidadã democrática.
Assim, a justificativa para a realização do presente trabalho reside no propósito de
estabelecer um programa de ações estratégicas de Educação Ambiental, pautado nos
saberes populares tradicionais e cultura regional que estimule a participação social nas
etapas e nos procedimentos do longo processo de criação da UC.
Dessa maneira, ante a carência de diretrizes que orientem nesse sentido, os atores
sociais, políticos, lideranças comunitárias e pessoas interessadas em apresentar futuras
demandas de criação de UC, de um modo geral, terão como fonte de consulta e apoio
nos relatos dessa experiência para direcionamentos.
Por se tratar de temática com pluralidade de interesses, em que muitas vezes, não é
possível identificar a sua titularidade, pois é difuso; toda a sociedade será beneficiada: a
comunidade do entorno da Serra do Cocho terá benefícios diretos e a sociedade em
geral os indiretos, de modo difuso.
Desse modo traça-se uma conectividade que supere as divergências de opiniões para
uma convergência ajustada em debates e diálogos profícuos, legitimando a gestão do
interesse público e coletivo em detrimento do particular.
Objetivo geral
Desenvolver um programa de educação ambiental pautado na participação social cidadã
e democrática capaz de legitimar as decisões em processo de criação e gestão de
Unidade de Conservação de uso sustentável.
4
Objetivos específicos
• Realizar visitas para levantamentos in loco nas comunidades do entorno da Serra do
Cocho, visando à identificação de lideranças comunitárias, entidades e atores sociais
para catalogação de dados referenciais da cultura regional pautados nos usos, costumes
e saberes populares;
• Identificar e catalogar as manifestações culturais regionais, saberes populares e
perceber as influências delas na comunidade;
• Coletar depoimentos espontâneos de moradores da zona do entorno da Serra do Cocho
de fatos históricos que subsidiem a pesquisas, principalmente, quanto ao uso dos
recursos e serviços ambientais, a preservação e a conservação dos recursos naturais;
• Identificar na comunidade pessoas ou instituições da sociedade civil, que fossem
capazes de atuar em educomunicação e arteducação para divulgar a importância e a
prática da Educação Ambiental não formal para a sustentabilidade;
• Elaborar um plano de ações estratégicas de EA, fundamentado nas estratégias da
educação ambiental não formal, para implantar na UC Serra do Cocho.
Assim, o presente trabalho analisa o processo de criação e gestão da UC da Serra do
Cocho em Tremedal – BA. Localizada na comunidade rural Salininha, uma comunidade
de pequenos produtores rurais, no município de Tremedal.
Ocorre que, a área demandada é uma área pública que tradicionalmente a comunidade
conserva e preserva todo o ecossistema. A comunidade é detentora da posse mansa e
pacífica do imóvel. Desse modo, a Associação Ambiental e Sociocultural da Serra do
Cocho requereu junto a CDA (Coordenação de Desenvolvimento Agrário) da Bahia, o
título de propriedade da área demandada, para após criar a RPPN, na integralidade do
imóvel destinando-o, exclusivamente, para a conservação e preservação da
biodiversidade.
Dessa maneira, passamos a apresentar, suscintamente, o conteúdo do presente
trabalho. Assim, por através da trilha que se inicia no Primeiro Capítulo deste trabalho,
onde faremos uma análise da legislação ambiental vigente no Brasil, especificamente, a
Lei nº 9.985/2000, que institui o SNUC (Sistema Nacional de Unidades de Conservação
da Natureza); a Lei nº 6.938/81, que dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente e
a Lei nº 9795/99 (Lei da Educação Ambiental). Serão observadas as categorias de UC´s.
Por esta esteira, será analisada a demanda de criação das UC´s e o seu processo de
5
criação, bem como a sua oficialização, ambos pautados na participação social
democrática e cidadã.
Já que na realidade brasileira a existência de leis não é sinônimo de garantia e eficácia
dos instrumentos por elas mesmas previsto e disciplinados. Nesse diapasão, a sociedade
civil e os cidadãos comprometidos com a ética e as boas práticas de conservação e
preservação ambientais, unem-se com o propósito de melhorias para a sociedade em
geral e para a sua comunidade.
É nesse contexto que, as comunidades do entrono da Serra do Cocho, na zona rural do
Município de Tremedal no sudoeste da Bahia, se unem em esforços coletivos e solidários
para proteger, conservar e preservar o ecossistema biodiverso através da criação de UC.
Mantendo o ritmo constante, na trilha, adentra-se, por através de incursão no Segundo
Capítulo, na educação ambiental, com semelhante denodo na análise da
educomunicação e arteducação aplicadas à EA; a transversalidade e a
interdisciplinaridade enquanto práticas muito usadas na educação ambiental e as suas
perspectivas, detendo-se com maior atenção na educação ambiental não formal, posto
que, é o mote desse trabalho.
Para o Terceiro Capítulo: A Serra, o cocho, preservação e sociabilidades. Já com os
passos ajustados no ritmo firme, porém sereno e autêntico chega-se ao mirante da “Serra
do Cocho” e de lá observa-se a sua evolução e importância histórica para a comunidade.
Lugar que inspira muitas sociabilidades, harmonia e convivências dos atores sociais da
comunidade: desde a serenidade e harmonia dos tempos áureos da “Serra”, à cobiça e a
exploração do pretérito imperfeito; da melancolia e esperança do pretérito perfeito ao
despertamento à atitude do presente que nos conduzirá ao plano de ação estratégica de
educação ambiental, embasado na valorização dos saberes populares e da cultura
regional, a ser implantado na gestão da UC e no futuro Plano de Manejo da Reserva
Ambiental da Serra do Cocho.
Todo esse percurso conduz ao Plano de Ações Estratégicas Educação Ambiental da
Reserva Serra do Cocho, que, de per si, é autêntico, pois, nasce de suas próprias forças:
a solidariedade, a união, a participação democrática cidadã e nos saberes populares
tradicionais regionais. Todo esse percurso está fundamentado na educação ambiental em
sua perspectiva não formal.
6
No Quarto Capítulo: Contextualização. Descreve-se o contexto do objeto de estudo da
pesquisa. Descreve-se a Serra do Cocho e o seu entorno: principais características
físicas, geográficas, ambientais, sociais e econômicas. Contempla ainda alguns dados
históricos mais importantes da região, do município de Tremedal e do Território de
Identidade do Sudoeste Baiano.
No Quito Capítulo: Desenho Metodológico. Demonstra-se a metodologia usada na
persecução para o alcance dos objetivos propostos na realização da pesquisa. A
pesquisa participante, com a imersão do pesquisador no convívio das comunidades rurais
do entorno da Reserva Ambiental, realizando observação direta da realidade fática da
região, bem como, a participação em eventos da comunidade, e, ainda, conduzindo
entrevistas com os moradores, pautadas em perguntas abertas, suscintamente
conduzidas ou induzidas, com a finalidade de investigar a realidade, o modo que vivem,
as interações com o meio ambiente e a percepção da necessidade de preservar e
conservar a biodiversidade da Serra do Cocho.
No Sexto Capítulo: Resultados. Apresenta-se os resultados mais significativos que se
alcançou através da realização da presente pesquisa. Demonstra-se que o objetivo
especifico foi alcançado: desenvolver um programa de educação ambiental não formal,
pautado na participação social cidadã e democrática capaz de legitimar as decisões em
processo de criação e gestão de unidade de conservação de uso sustentável; bem como
os objetivos específicos foram alcançados na medida que:
Realizou-se visitas de campo para levantamentos in loco nas comunidades do entorno da
Serra do Cocho, visando à identificação de lideranças comunitárias, entidades e atores
sociais para catalogação de dados referenciais da cultura regional pautados nos usos,
costumes e saberes populares;
Identificou e catalogou as principais manifestações culturais regionais, saberes populares
e se percebeu as influências delas na comunidade;
Coletou-se depoimentos espontâneos de moradores da zona do entorno da Serra do
Cocho de fatos históricos que subsidiam a pesquisa, principalmente, quanto ao uso dos
recursos e serviços ambientais, a preservação e a conservação dos recursos naturais;
Identificou-se na comunidade pessoas e instituições da sociedade civil, que fossem
capazes de atuar em educomunicação e arteducação para divulgar a importância e a
7
prática da Educação Ambiental não formal para a sustentabilidade, a preservação e
conservação ambiental;
Elaborou-se um plano de ações estratégicas de EA, fundamentado nas estratégias da
educação ambiental não formal, para implantar na UC Serra do Cocho.
Ainda observou-se in loco na comunidade que, de modo geral, possui excelente aptidão
para sociabilidades e também para a participação social cidadã democrática. Estando
disposta a apoiar e a colaborar com a preservação e a conservação da Serra do Cocho,
pois entende que seja um patrimônio ambiental, sócio-histórico-cultural, biodiverso seu
que deve ser mantido para a presente e futuras gerações.
No Sétimo Capítulo: Discussão. Apurou-se no referencial teórico que o Estado da BA
lidera o ranque entre os demais estados do Brasil, na quantidade de UC da categoria
RPPN. Sua menor UC nesta categoria possui apenas 4,11 ha.
Por outro lado, no referencial empírico, registrou-se através do histórico (verbal) da área
demandada, que a Serra do Cocho sempre foi composta de terras públicas. A
comunidade sempre exerceu a posse mansa, livre e pacífica, portanto, com “animus
domini”, na integralidade da área. Consensualmente, toda área, desde pretérito remoto,
sempre foi destinada à preservação e à conservação do ecossistema. Em razão dessa
realidade fática é que a comunidade decidiu implantar uma UC na categoria RPPN, posto
que, dentre as doze categorias previstas no SNUC, é esta, a que melhor atende aos
desejos e a realidade da comunidade.
Apesar que, na categoria RPPN, trata-se de uma UC de propriedade privada, os
benefícios advindos são coletivos e difusos, beneficiando a todos indiretamente. Contudo,
o ecossistema da Serra do Cocho, mantem-se preservado e conservado com as suas
características e funções protegidas por um aparato legal. O que se traduz em segurança
e oficialidade para a comunidade.
A participação social cidadã e democrática já é uma vivência familiar à comunidade. Essa
realidade qualifica os atores sociais para, efetivamente atuarem integrando o Conselho
Gestor e participando da elaboração do Plano de Manejo da Unidade de Conservação.
No Oitavo Capítulo: Conclusões Gerais. As comunidades rurais do entorno da Serra do
Cocho possuem aptidão e desejo por melhorias em sua realidade de pequenos
8
produtores rurais. Têm muita expectativa que a oficialização da UC vai contribuir para o
desenvolvimento da região. Possibilitando oportunidade de obterem renda,
principalmente através do turismo rural e do ecoturismo.
As práticas comunitárias pautadas em sociabilidades fortalecem os laços de amizade,
solidariedade, companheirismo e união em prol de conquistas socioambientais para a
comunidade. Por exemplo, a construção da Casa da Cultura, projeto capitaneado pelo
Projeto Tremedal Ecológico (AASSC) e os mutirões para fazer “aceiros” das cercas da
reserva, bem como, manutenção das trilhas no interior da reserva.
As estratégias da educação ambiental na sua modalidade não formal é grande aliada no
processo de sensibilização, divulgação e formação das pessoas das comunidades do
entorno da unidade de conservação.
No Nono Capítulo: Recomendações. A comunidade possui grande cabedal histórico-
cultural e sociobiodiverso que necessita ser melhor explorado, estudado, investigado com
mais profundidade em futuros trabalhos realizados na região. Há que se atentar ainda
que, o município de Tremedal possui interessante plantel no campo da
ecosociobiodiversidade, bem como, todo o Território de Identidade do Sudoeste Baiano,
que renderão promissoras investigações científicas.
10
1. UNIDADES DE CONSERVAÇÃO NO BRASIL
A reservação de porções territoriais destinando para a preservação e a conservação da
biodiversidade é uma realidade mundialmente difundida e praticada. O Brasil segue essa
dinâmica criando diversas unidades de conservação com objetivos e destinação
protetivas específicos para cada categoria.
Ante a ascensão da já dominante crise ambiental, sem precedentes na história da
civilização moderna (Grun, 2007, Moraes, 2005, Azevedo, 2006, Trigueiro, 2005, 2009)
apesar dessa realidade, o Brasil vem se dedicado esforços para a implementação da
“Política Ambiental”, que instrumentaliza e incentiva a criação e a gestão de unidades de
conservação da biodiversidade.
Em um país cujas dimensões são continentais, como é o caso do Brasil, em que as
complexidades socioambientais atingem níveis diretamente proporcionais ao seu
tamanho, principalmente as referentes à preservação e a conservação da biodiversidade,
ainda não ocupam a devida importância e a necessária urgência. Apesar dos esforços da
sociedade civil organizada, do governo e de entidades socioambientalistas, as áreas
protegidas, ainda são insuficientes para a proteção e defesa da megabiodiversidade
brasileira.
No campo jurídico e no legislativo, a produção legislativa é qualificada e muitas leis são
concebidas para a promoção e a defesa do meio ambiente ecologicamente equilibrado
para a presente e as futuras gerações.
Todavia, a aplicabilidade prática dessas leis ainda não é eficaz. O que não permite que
atinja os objetivos para os quais foram elaboradas. Como é a hipótese da garantia de um
ambiente que promova a sadia qualidade de vida, e ainda assegure a preservação e a
conservação da biodiversidade, e da promoção do desenvolvimento sustentável. São
apenas exemplos ilustrativos do cenário que se encontram as questões relativas à defesa
do meio ambiente, da educação para a preservação, a conservação, a promoção
convivência harmoniosa e sustentável com as unidades de conservação.
Ante essa realidade, a sociedade civil organizada une-se com esforços coletivos, atua
pressionando e apresentando propostas ao Poder Público para que crie espaços
específicos que favoreçam a conservação e a preservação ambiental. Esses espaços
11
naturais protegidos são as denominadas Unidades de Conservação, que podem ser: de
proteção integral ou de uso sustentável, de acordo com as especificidades protetivas às
quais se destina.
Existem divergências doutrinárias quanto à denominação, Unidades de Conservação,
utilizada pela Lei nº 9.985/2000, que institui o Sistema Nacional de Unidades de
Conservação (SNUC). Alegam que o correto seria usar a expressão já consolidada na
Constituição Federal de 1988, no artigo 225: “espaços territoriais”. Enquanto que, a
legislação infraconstitucional usa a denominação unidade de conservação. Apontam que
o Brasil é o único país do mundo a usar essa denominação para os espaços geográficos
especialmente protegidos.
Apesar dessa realidade, encontra-se em todo o Brasil, segundo o Ministério do Meio
Ambiente (2016) 1.582.758 Km2 de área protegida por várias UC´s, nas mais diversas
categorias, totalizando 2.029 Unidades de Conservação no país. O Brasil é signatário da
Convenção sobre Diversidade Biológica – CDB, que entrou em vigor através do Decreto
Legislativo nº 2, de 1994, prevendo que até 10% da área de cada bioma brasileiro seja
protegido por UC´s, até o ano de 2010.
Contudo, existe em todo território brasileiro 516821.43 de hectares de área protegida
através da categoria RPPN – Reserva Particular do Patrimônio Natural, distribuídas por
todos os estados. São 666 unidades de conservação na categoria RPPN no Brasil.
Particularmente, no Estado da Bahia existem 104 RPPN´s, perfazendo 47209.01 de
hectares protegidos por esta categoria de unidade de conservação.
1.1. O Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC) e as Unidades de
Conservação no Brasil
Diante da problemática envolvendo as ações antrópicas e os impactos por elas causados
no ambiente natural, bem como a necessidade de espaços geográficos especialmente
protegidos para a preservação e conservação da biodiversidade, o Legislativo brasileiro,
elaborou e aprovou a Lei nº 9.985/2000, instituindo o Sistema Nacional de Unidades de
Conservação da Natureza (SNUC).
Essa iniciativa tem por finalidade regulamentar a previsão constitucional do artigo 225, §
1º, incisos I, II, III e VII da Constituição Federal do Brasil de 1988. Justamente para
12
atender as demandas da sociedade civil, de ONG´s, e de pessoas, movimentos
ambientalistas e ecologistas envolvidos com as causas ambientais.
A própria lei que instituiu o SNUC, já mencionada anteriormente, estabelece os critérios e
normas para a criação, implantação e gestão das unidades de conservação (Lei nº
9.985/2000, art. 1º).
O SNUC, por ser um sistema nacional das unidades de conservação no país, se traduz
em um conjunto de diretrizes e procedimentos oficiais que possibilitam as esferas
governamentais, bem como os particulares na criação, implantação e gestão das UC´s,
sistematizando assim a preservação ambiental no Brasil. Ele é formado por doze
categorias de UC (Tabela 1.1), cujos objetivos específicos se diferenciam quanto à forma
de proteção e usos permitidos: aquelas que precisam de maiores cuidados, pela sua
fragilidade e particularidades, e aquelas que podem ser utilizadas de forma sustentável e
conservadas ao mesmo tempo.” (Lei nº 9985/2000)
Categorias de Unidades de Conservação prevista no SNUC – Sistema Nacional de Unidades de Conservação
UC de proteção integral UC de uso sustentável Estação Ecológica Área de Proteção Ambiental Reserva Biológica Área de Relevante Interesse Ecológico Parque Nacional Floresta Nacional Monumento Natural Reserva Extrativista Refúgio de Vida Silvestre Reserva de Fauna Reserva de Desenvolvimento Sustentável Reserva Particular do Patrimônio Natural Tabela 1.1: Categorias de Unidades de Conservação prevista na Lei nº 9985/2000 que
institui o SNUC – Sistema Nacional de Unidades de Conservação. Fonte: Ministério do
Meio Ambiente (2010).
Aliás, é também o mesmo instrumento legal mencionado, que define o que é Unidade de
Conservação, em seu artigo 2º, inciso I:
espaço territorial e seus recursos ambientais, incluindo as águas jurisdicionais, com características naturais relevantes, legalmente instituído pelo Poder Público, com objetivos de conservação e limites definidos, sob regime especial de administração, ao qual se aplicam garantias adequadas de proteção.
Da análise desse dispositivo legal destaca-se que, a UC compreende um espaço
territorial com limites definidos abrangendo todo o plantel de seus recursos naturais,
incluindo os serviços ambientais. Interessa notar que o Poder Público é o responsável por
13
sua instituição, através do instrumento normativo adequado a cada caso, por exemplo:
Lei, Decreto, Decreto-Lei. Por Poder Público, entende-se que é a correspondente chefia
do Poder Executivo: Presidente da República, Governadores e Prefeitos; Poder
Legislativo: Presidentes da Câmara e do Senado, Presidente das Assembleias
Legislativas, Câmara Distrital (DF) e da Câmara de Vereadores. Estes são os legitimados
por lei para criarem uma UC.
Logicamente que a sociedade civil pode e deve, no exercício da cidadania, atendendo
aos requisitos legais, apresentar ao Poder Público, a demanda de criação de uma
Unidade de Conservação. E este, através dos órgãos competentes da Administração
Pública, solicitará os estudos de viabilidade técnica e econômica. Devendo todas as
provas ser acostadas ao processo de criação da unidade de conservação com os
documentos e relatórios, fundamentados inclusive em visitas de campo nas comunidades
do entorno e em toda a área demandada.
O Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza – SNUC, através da lei
que o instituiu, também previu o Cadastro Nacional de Unidades de Conservação
(CNUC). Este cadastro fica sob responsabilidade do MMA – Ministério do Meio Ambiente,
que o organiza e o mantém atualizado. Dessa maneira, o CNUC é um sistema integrado
de banco de dados com informações padronizadas das unidades de conservação geridas
pelos três níveis de governo e por particulares.
Segundo o MMA, (2015a) além do artigo 225 da Constituição Federal de 1988 e do
SNUC, existem outros instrumentos legais que justificam a criação de UC. Trata-se do
Plano Estratégico de Áreas Protegidas (Pnap), instituído por meio do Decreto no
5.758/2006.
O Pnap, por sua vez, segundo o MMA (2015a) reconhece não apenas a necessidade de
proteção, mas de articulação entre UCs presentes no território e destas com outras
políticas públicas que tratem dos povos e comunidades tradicionais, do desenvolvimento
regional sustentável e do fomento à participação social.
1.1.1. Unidade de Conservação de uso sustentável
O plantel de categorias de Unidades de Conservação de uso sustentável é amplo.
Segundo a Lei 9.985/2000, artigo 14, prevê as seguintes categorias de UC´s, que
compreende: Área de Proteção Ambiental; Área de Relevante Interesse Ecológico;
14
Floresta Nacional; Reserva Extrativista; Reserva de Fauna; Reserva de Desenvolvimento
Sustentável; e Reserva Particular do Patrimônio Natural.
As possibilidades de proteção da biodiversidade através das categorias do grupo uso
sustentável são muitas. Todavia, cada uma delas tem um objetivo específico de proteção
para atingir. Na verdade, o que vai definir a escolha por uma categoria específica será o
objeto que se busca proteger.
O objetivo principal desse grupo de categorias de UC´s é compatibilizar a conservação da
natureza com o uso sustentável de parcela dos seus recursos naturais.
No presente trabalho, é analisada a categoria Reserva Particular do Patrimônio Natural
(RPPN), posto que, constitui o cerne dessa dissertação. Será melhor detalhada nos itens
seguintes e durante o desenvolvimento do presente capítulo.
Assim, a legislação conceitua a Reserva Particular do Patrimônio Natural: é uma área
privada, gravada com perpetuidade, com o objetivo de conservar a diversidade biológica.
(Lei nº 9.985/2000; Art. 21).
Impende consignar que por diversidade biológica o Decreto Legislativo nº 2, de 1994
dispõe que:
significa a variabilidade de organismos vivos de todas as origens, compreendendo, dentre outros, os ecossistemas terrestres, marinhos e outros ecossistemas aquáticos e os complexos ecológicos de que fazem parte; compreendendo ainda a diversidade dentro de espécies, entre espécies e de ecossistemas.
Existe divergência legais e doutrinária a respeito de qual grupo de categorias de UC´s
deve integrar a RPPN. No sentido de corrigir as discrepâncias da atual legislação, juristas
e legisladores têm se mobilizado. Encontra-se em trâmite no Congresso Nacional o
Projeto de Lei de autoria do então Deputado José Sarney Júnior, que dispõe sobre a
criação, gestão e manejo de Reserva Particular do Patrimônio Natural – RPPN, e dá
outras providências. Trata-se do PL nº 1.548-A, de 2015.
Para Araújo (2017), as RPPN´s não são unidades de conservação de uso sustentável. O
entendimento desse jurista é embasado, justamente nas “colisões” e incongruências das
leis do Ordenamento Jurídico Brasileiro, e elenca algumas hipóteses:
15
não poderá o proprietário da RPPN gozar de benefícios legais, como participação em editais de pagamentos por serviços ambientais (PSA), nem servirá tal RPPN para emissão de Cota de Reserva Ambiental (CRA), porque o inciso III do art. 44 do Novo Código Florestal (NCFLo), instituído pela lei 12.651/12, prevê este título nominativo como representativo de área com vegetação nativa, existente ou em processo de recuperação, protegida "na forma de Reserva Particular do Patrimônio Natural - RPPN, nos termos do art. 21 da lei 9.985, de 18 de julho de 2000". Ou a RPPN segue o modelo jurídico do art. 21 da LSNUC, ou não serve aos propósitos do art. 44 do NCFLo.
Tal iniciativa legislativa busca readequar o grupo em que está vinculada a categoria da
RPPN, remanejando-a para o grupo de categorias de Unidade de Conservação de
proteção integral1. Este remanejamento de um grupo para o outro consta da justificação
para o Projeto de Lei, em análise, nestes termos:
Diante do quadro atual, e considerando a importância das RPPN´s, estamos propondo uma legislação que contemple os interesses do Estado e da sociedade. Sem perder sua matriz preservacionista, a RPPN deve ter elementos capazes de seduzir os proprietários de um modo geral, e não somente os ambientalistas, para que seu número seja ampliado no País. A RPPN faz parte do grupo das unidades de conservação de uso sustentável, sendo regulamentada pelo Decreto nº 5.746 de 5 de abril de 2006. Nossa proposta corrige essa anomalia legal, modificando a sua categoria para proteção integral. (PL nº 1.548-A, de 2015).
Nota-se que há também uma preocupação do legislador em harmonizar, equilibrando as
partes interessadas na criação de RPPN: o proprietário que passará ter benefícios
econômicos e financeiros mais salvaguardados e o Estado estimulará a criação de maior
número de reservas ambientais, beneficiando indiretamente, a sociedade. Além de
proporcionar a proteção da sociobiodiversidade, o equilíbrio e a qualidade ambiental.
1 Sônia Wiedmann, procuradora aposentada do IBAMA e uma das mentoras dessas unidades de conservação, se pronunciou: O artigo 21 da lei do SNUC é claro quando estabelece, em seu § 2º, expressamente, as atividades possíveis em uma Reserva Particular do Patrimônio Natural, relacionando o ecoturismo, a educação ambiental e a pesquisa científica. Fica claro que qualquer outra atividade é terminantemente proibida e, em havendo violação das normas legais, aplicam-se as punições da Lei nº 9.605/98 e do Decreto nº 3.179/99, Lei de Crimes Ambientais e seu decreto administrativo regulamentar, respectivamente. Como essas três atividades são permitidas em unidades de Proteção Integral, é, no mínimo, estranho que as RPPNs estejam incluídas no grupo de Uso Sustentável. Da leitura do artigo 21, que trata das RPPNs, observamos que o seu parágrafo 3º está vetado. Na redação original deste parágrafo, estava inserida a possibilidade de se exercer uma outra atividade dentro das RPPNs, a qual, se aprovada, as baniria do grupo de Proteção Integral, pois ali se incluía o extrativismo no seu interior. Felizmente, o veto presidencial evitou essa descaracterização perigosa e as razões do veto, por si só, justificaram sua exclusão. Criou-se, aqui (na lei do SNUC), uma anomalia legislativa, pois, embora colocada, originalmente, no Grupo de Uso Sustentável, por permitir uma atividade extrativista, a exclusão dessa atividade a tipifica, indubitavelmente, como de Proteção Integral, pois, permite-se apenas, nestas áreas, atividades típicas de preservação.
16
1.1.1.2. Reserva do Patrimônio Particular Natural (RPPN)
A proteção da biodiversidade em áreas privadas, por iniciativa do próprio proprietário
rural remonta ao ano de 1934, com a vigência da Lei Florestal, eram previstos espaços
naturais denominados de “Florestas Protetoras” REPAMS (2006).
Em toda a América Latina, apenas o Brasil, através do Decreto Federal nº 4.3.40/2002,
incluiu as reservas privadas no sistema de áreas protegidas oficial.
Atualmente está prevista na Lei no SNUC, porém disciplinada através do Decreto Nº
5.746/2006. A RPPN, será gravada com perpetuidade, por intermédio de Termo de
Compromisso averbado à margem da inscrição no Registro Público de Imóveis (Art. 1º
Decreto Nº 5.746/2006).
As RPPN´s contam com grandes adeptos, o que tem possibilitado a sua divulgação. São
pessoas das mídias, artistas, ativistas ambientais, ecologistas, grandes empresários.
Dentre todas as categorias de unidades de conservação previstas no SNUC, a Reserva
Particular do Patrimônio Nacional é a única que conta com uma data comemorativa
oficial. Será comemorado pela primeira vez, esse ano, no dia 31 de janeiro, de acordo
com a Lei nº 13.544/17, o dia Nacional das RPPN´s.
A preservação e a conservação da diversidade biológica através da categoria de unidade
de conservação RPPN, é uma realidade em que o cidadão particular coopera com o
Estado, para a obtenção dos fins protetivos e conservacionistas da biodiversidade
brasileira. Assim, para Mendonça (2004, citado por Lucena, 2010, p. 4).
“essas RPPN’s representam um dos primeiros passos para envolver a sociedade civil na conservação da diversidade biológica e, por intermédio desse mecanismo, a propriedade privada dá sua contribuição à proteção do meio ambiente e aumenta significativamente a possibilidade de se obter um cenário em que haverá muito mais áreas protegidas, tanto em termos de qualidade quanto de quantidade”.
Há que se entender o particular, nesse caso, não apenas, a pessoa física, mas também,
as pessoas jurídicas, como as empresas privadas, associações de direito privado da
sociedade civil, cooperativas, ONG, OSCIP e empresas de capital misto.
17
No Brasil, segundo a CNRPPN - Confederação Nacional de Reservas Particulares do
Patrimônio Natural2 em 2006, havia 530 mil hectares protegidas através de RPPN. Mas, o
Ministério do Meio Ambiente - MMA, (2016) tem registradas 808 reservas, colaborando
com a preservação ambiental por 5.540 Km2, em diversos biomas brasileiro.
De acordo com o Sistema Informatizado de Monitoria de RPPNs – SIMRPPN (2006), o
país contava, com 640 unidades desta categoria de unidade de conservação. Os dois
estados que se destacam com maior número de reservas são a Bahia, com 102 reservas
que cobrem 46.817 hectares, e Minas Gerais, com 88 reservas sobre 33.140 hectares.
(Figura 1.1)
Figura 1.1: Os cinco estados do Brasil com o maior número de RPPN´s. Fonte: Sistema
Informatizado de Monitoria de RPPNs – SIMRPPN do ICMBio.
Embora tenha apenas 15 reservas, Mato Grosso se destaca por possuir a maior área
protegida por reservas privadas: 172.980 hectares (Figura 1.2).
2 CNRPPN - Confederação Nacional de Reservas Particulares do Patrimônio Natural, cujos objetivos: Representar as associações estaduais de proprietários de RPPN; Defender, preservar e conservar o meio ambiente e os recursos naturais renováveis; Fortalecer a organização e mobilização das associações de RPPN; Fomentar o reconhecimento, consolidação, proteção e sustentabilidade das RPPN. A PRESERVA - Associação de Proprietários de RPPN da Bahia e do Sergipe é filiada a CNRPPN.
0
20
40
60
80
100
120
MT MS BA PI MG
Estados com maior quantidade de RPPN
18
Figura 1.2: Estados com maior área protegida (em hectare) por unidade de conservação
RPPN. Fonte: Sistema Informatizado de Monitoria de RPPNs – SIMRPPN do ICMBio.
Atualmente, as duas maiores RPPN do Brasil, segundo o SIMRPPN (2006) são: RPPN
Estância Ecológica SESC Pantanal de propriedade do Serviço Social do Comércio em
Barão de Melgaço – MT, com 49485,72 ha e a RPPN Estância Ecológica SESC –
Pantanal, também de propriedade do Serviço Social do Comércio – em Barão de
Melgaço – MT, com 38385,72 ha (Figura 1.3).
Figura 1.3: Maiores RPPN´s do Brasil. Fonte: Sistema Informatizado de Monitoria de
RPPN´s – SIMRPPN do ICMBio.
19
Contudo, existe uma RPPN registrada no SIMRPPN (Sistema Informatizado de Monitoria
de RPPN) do ICMBio, com menos de um hectare de extensão: RPPN Carbocloro S/A em
Cubatão – SP, com apenas 0,70 ha. Estes dados evidenciam o porquê da legislação não
instituir o tamanho da área que será transformada em RPPN, nem mínimo, nem máximo
(Figura 1.4).
Figura 1.4: As dez menores RPPN´s do Brasil e sua localização. Fonte: Sistema
Informatizado de Monitoria de RPPNs – SIMRPPN do ICMBio.
No Estado da Bahia, apesar de existir 104 RPPN,s cadastradas no SIMRPPN (Sistema
Informatizado de Monitoria de RPPN) do ICMBio, totalizando 47209.01ha de área
protegida através desta categoria de UC. Por outro lado, não consta nenhuma RPPN
cadastrada em todo o Território de Identidade Sudoeste Baiano. Indicativos apontam que
a Reserva Ambiental Serra do Cocho será a primeira RPPN a integrar o SIMRPPN,
dentre todos os 24 municípios que compõem o território (Figura 1.5).
Cubatão - SP
6%
Brasília - DF
8%São João
Nepomuceno - MG
8%
Teresópolis - RJ
8%
Nova Friburgo - RJ
9%
Cláudio -
MG
9%
Cavalcante - GO
12%
Monte Sião - MG
12%
Caraguatatuba - SP
13%
Porto Alegre - RS
15%
Menores RPPN´s do Brasil
20
Figura 1.5: As dez maiores RPPN´s no Estado da Bahia. Fonte: Sistema Informatizado de
Monitoria de RPPNs – SIMRPPN.
Os estudos de viabilidade técnica para a demarcação da área da RPPN Reserva da
Serra do Cocho indicam que a área total da reserva compreende 54,00ha. Todavia,
levantamentos do INEMA realizados em in situ, ofereceram quatro cenários possíveis de
estudos para a efetivação da UC, conforme apresentamos na Tabela 1.2.
Cenários sugeridos pelo INEMA para demarcação da UC
Cenários sugeridos para demarcação pelo INEMA
Área apurada para estudo/demarcação em ha
Primeiro cenário 67,73ha Segundo cenário 88,66ha Terceiro cenário 80,21ha Quarto cenário 154,28ha
Tabela 1.2: Cenários sugeridos pelo INEMA para a demarcação da área da Reserva
Ambiental Serra do Cocho. Fonte: Acervo do Projeto Tremedal Ecológico.
21
Após os estudos, a entidade proponente da demanda de criação da reserva ambiental
optou pelo primeiro cenário, tendo vista que os demais comportariam demandas e litígios
para apuração da titularidade da área. Ocorre que o GPS usado pelos técnicos do INEMA
não era geodésico. A CDA, através do GPS geodésico apurou divergência para o
primeiro cenário, o tamanho da área menor ficou em 54,00 ha.
Encontra nos registros da base dados do SIMRPPN a maior RPPN do Estado da Bahia
que fica no município de Porto Seguro, a RPPN Estação Veracel, com 6069,00 ha; e a
menor, é a RPPN Maria Maria no município de Saúde, cuja área é de apenas 4,11 ha
(Figura 1.6).
Figura 1.6: Menores RPPN da BA. Fonte: Sistema Informatizado de Monitoria de RPPNs
– SIMRPPN do ICMBio.
Impende dizer que, uma vez instituída a RPPN, o imóvel poderá será negociado:
(vendido, trocado, doado, transferir a titularidade). Todavia, o caráter perpétuo da RPPN
subsistirá para sempre. Equivale dizer que: o acessório segue o principal. A UC sempre
vai estar vinculada ao imóvel. Essa garantia é muito eficaz, porque o proprietário do
22
imóvel, além de firmar um Termo de Compromisso, fica obrigado a averbar na escritura
do imóvel o “ônus”, RPPN.
Em consonância com a legislação em vigor, na RPPN são permitidas, apenas atividades
de pesquisa científica e visitação com objetivos turísticos, recreativos e educacionais.
No Estado da BA, existe disciplinamento, inclusive com o modelo do Termo de
Compromisso Ambiental está previsto na Instrução Normativa Nº 004 de 13 de dezembro
2010, fundamentada na Lei Estadual nº 11.050, de 06 de junho de 2008.
Ademais, há dez anos, que o Estado da Bahia através do Decreto Estadual nº 10.410, de
25 de julho de 2007, estabelece critérios e procedimentos administrativos para sua
criação, implantação e gestão, institui o Programa Estadual de Apoio às Reservas
Particulares do Patrimônio Natural. Donde se depreende que essa política de apoio,
corrobora para a consolidação do estado, colocando-o em primeiro lugar no ranque de
estados com o maior número de RPPN no Brasil.
O plano de manejo da UC, segundo a lei 9.985/2000, é obrigatório e deve ser
apresentado ao órgão ambiental responsável pelo proprietário da área. Igualmente, a
averbação da área da RPPN, há que constar na escritura do imóvel e realizada no
cartório da situação do imóvel, também é outra obrigação do proprietário e segundo a lei
atual, tudo corre às suas expensas. Após criar a RPPN, a propriedade fica submetida à
fiscalização do Estado.
A partir da vigência da lei que está em tramitação no Congresso Nacional, o proprietário
terá incentivos que o sensibilize e o estimule para a criação de RPPN em sua
propriedade. Uma vez que, os custos com a documentação e os procedimentos do
processo de criação da UC serão suportados pelo Estado. Atualmente, o custo de criação
de uma RPPN para o Estado é praticamente inexistente, onerando em demasia o
proprietário interessado em criar uma Reserva Particular do Patrimônio Natural.
1.1.2. Unidade de Conservação de proteção integral
Neste grupo de categorias de Unidade de Conservação estão elencadas as UC´s de
proteção integral: Estação Ecológica, Reserva Biológica, Parque Nacional, Monumento
Natural, Refúgio de Vida Silvestre.
O objetivo básico das Unidades de Conservação de Proteção Integral é preservar a
natureza, sendo admitido apenas o uso indireto dos seus recursos naturais (§ 1º, do
23
artigo 7º da Lei Nº 9.985/2000). Assim, é permitido apenas: desfrutar da boa qualidade do
ar, da regularidade do ciclo hidrológico, da amenização das mudanças climáticas e do
favorecimento ao microclima local. São benefícios coletivos e difusos, isto é, não há
destinatário específico, determinado, porém, determinável, que nesse caso não se trata
apenas da humanidade, mas também, da própria biodiversidade.
Por proteção integral deve-se entender: manutenção dos ecossistemas livres de
alterações causadas por interferência humana, admitido apenas o uso indireto dos seus
atributos naturais; (Lei Nº 9.985/2000, Art. 2º, VI).
Frisamos que o PL nº 1.548-A, de 2015, em trâmite no Congresso Nacional, prevê a
mudança do grupo de vinculação da RPPN, que é o grupo de categorias de UC de uso
sustentável, para o grupo das UC de proteção integral.
O objetivo dessa adequação é corrigir incongruências da lei. Uma vez que, os requisitos
diretivos da categoria RPPN: atividades de pesquisas científicas e visitação com objetivos
turísticos, recreativos e educacionais; estão mais adequados ao grupo de categoria de
UC de proteção integral.
1.1.3. A demanda de criação de Unidade de Conservação
Já exaramos na introdução deste capítulo e voltamos a consignar que o processo de
criação de UC é muito longo, composto de muitas fases e procedimentos indispensáveis
para a efetivação da criação de uma unidade de conservação.
A primeira fase a cumprir é a apresentação da demanda de criação ao órgão da
Administração Pública, do respectivo ente federativo: União, Estado, Distrito Federal ou
Município, conforme a natureza e especificidade da UC.
Em seguida o órgão responsável pela demanda de criação da UC emite parecer e se
necessário fará visitas e diligências ao local apontado, para se inteirar a respeito da
viabilidade técnica da demanda apresentada. É a chamada fase avaliação da demanda
de criação.
Realizada a avaliação da demanda de criação, a fase seguinte é a elaboração de
estudos técnicos que compreendem: caracterização biológica e caracterização do meio
físico, com a finalidade de identificar se o local possui potencial para visitação pública;
bem como a sua caracterização socioeconômica.
24
Após a conclusão dos estudos técnicos do órgão responsável pela condução da
demanda de criação, será o momento de propor a categoria melhor apropriada, devendo
apontar no plantel das UC de uso sustentável ou UC de proteção integral, qual a que
atende melhor os objetivos de preservação e conservação ambiental.
Devendo ser feita ainda a audiência pública, conforme instrui o MMA (2010, p. 35) não
possui caráter deliberativo, apenas informativo, cuja finalidade: “é subsidiar a definição da
localização, da dimensão e dos limites mais adequados para a unidade”.
A consulta pública, por sua vez, segundo o MMA (2010, p. 35) esclarece que, “consiste
em reuniões públicas ou, a critério do órgão ambiental competente, outras formas de
oitiva da população local e de outras partes interessadas”.
Ainda há que se observar uma série de procedimentos administrativos necessários,
sugeridos pelo MMA, que asseguram a transparência do processo, evitando retrabalhos e
nulidades. Salienta ainda que, antes da publicação do ato de criação da unidade de
conservação, a Assessoria Jurídica emitirá um parecer informando se o processo
atendeu os requisitos legais.
1.2. O processo de criação de Reserva do Patrimônio Particular Natural
(RPPN)
É salutar reafirmar que segundo a legislação vigente e como bem esclarece a REPAMS -
Associação dos Proprietários de Reservas Particulares do Patrimônio Natural do Estado
de Mato Grosso do Sul (2006), as RPPN´s “devem ser criadas em áreas que possuam
potencial para a conservação de espécies de fauna e da flora para que possam promover
a conectividade entre áreas que ainda possuem remanescentes bem conservados”
(REPAMS, p. 40, 2006).
Essencialmente, o processo de criação de uma RPPN é mais célere que a ritualística
prevista para as demais categorias de UC. Não cabendo, nesse caso, desapropriação e
indenizações. Mesmo porque, trata-se de propriedade particular, em que o próprio
proprietário, voluntariamente, requer a criação da unidade de conservação em parte de
sua propriedade.
Ressaltamos que, uma vez criada a RPPN, terá caráter perpétuo. Não podendo tal ato
ser anulado, revogado, desconstituído. Todavia, o imóvel poderá ser transacionado,
25
alienado, escambado, vendido, dado em garantia, doado, mas não poderá desvincular o
gravame da perpetuidade da RPPN.
Mas, tratando-se de terras devolutas3, o interessado ou proponente da demanda de
criação da UC, há que conseguir o título de posse ou de propriedade da área, junto ao
órgão competente da Administração Pública e proceder com o acompanhamento e
procedimentos do processo de criação da RPPN. Regularizando e registrando
(averbando) o termo de compromisso à margem do título concedido, no competente
Cartório de Registros de Imóveis. Deverá ainda, requerer ao ICMBio (Instituto Chico
Mendes de Biodiversidade4), que promova a inscrição da UC no SNUC.
Na hipótese de terras públicas é muito interessante que a demanda seja apresentada ao
órgão da Administração Pública, por intermédio de uma associação da sociedade civil,
com fins preservacionistas e conservacionistas da sociobiodiversidade. Ficando a
responsabilidade pela gestão da UC a cargo de um conselho gestor, formado por
membros com inclinação à participação social cidadã.
Após a regularização da UC junto aos órgãos competentes da Administração Pública, é
necessário atentar para a gestão eficiente e eficaz da reserva. Assim, com a finalidade de
melhor geri-la, atendendo aos requisitos legais e os objetivos pelos quais foram criados; a
legislação ainda prevê, a elaboração do Plano de Manejo da UC, que será submetido à
aprovação do órgão ambiental responsável pelo reconhecimento da RPPN.
1.2.1. A Reserva do Patrimônio Particular Natural (RPPN) Serra do Cocho
A Serra do Cocho é a designação geográfica para um segmento da Serra Geral. A área
identificada como Serra do Cocho é composta de terras devoluta. A medida que a serra
vai se estendendo no espaço físico adquire outras denominações usadas pelos
moradores de seu entorno: Veredinha, Brejinho, Serra do Cocho, Serra do Boi, Grota,
Bananeira, Riacho d´Anta e Berrador (Figura 1.7).
3 Terras devolutas, segundo Ferreira (2013), são terras públicas sem destinação pelo Poder Público e que em nenhum momento integraram o patrimônio de um particular, ainda que estejam irregularmente sob sua posse. O termo "devoluta" relaciona-se ao conceito de terra devolvida ou a ser devolvida ao Estado. 4 O Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) é uma autarquia, isto é, um órgão da Administração Pública com o poder de auto administração, de acordo com os limites estabelecidos na lei que o criou. O ICMBio foi criado pela Lei 11.516, de 28 de agosto de 2007, sendo ligado ao Ministério do Meio Ambiente como parte do Sistema Nacional do Meio Ambiente (Sisnama). ICMbio, (p. 8/9, 2014)
26
Figura 1.7: Indicativo das nascentes da Serra dos Caititus, com influência nas
comunidades do entorno da UC Serra do Cocho. Ilustrativo sequencial dos pontos ao
longo da serra das nascentes: Veredinha, Brejinho, Serra do Cocho, Serra do Boi, Grota,
Bananeira, Riacho d´Anta e Berrador. Atualmente, apenas a nascente Olho d´Água do
Cocho e da Serra do Boi estão ativos com água, os demais estão todos esgotados. A
disposição dos indicativos da figura segue a inspiração do croqui do Projeto Tremedal
Ecológico.
O processo de criação da UC na Serra do Cocho vem obedecendo uma sistemática
própria, dada às peculiaridades, a realidade econômica, social e ambiental em que se
encontra inserida, bem como, quanto a sua titularidade, posto que, é uma área pública.
A apresentação da demanda de criação da UC, inicialmente foi apresentada a Prefeitura
do Município de Tremedal, pelo Projeto Tremedal Ecológico5, com amplo apoio das
comunidades do entrono da Reserva e autoridades políticas e comunitárias do município,
bem como outros atores sociais, profissionais da educação e moradores da sede do
município e de municípios vizinhos como é o caso de Piripá.
Inicialmente cogitou-se escolher a categoria APA – Área de Proteção Ambiental e
também Parque Natural Municipal. Após amadurecimento da ideia e com o
aprofundamento dos estudos, optou-se pela categoria RPPN, porque entendeu-se
5 Projeto ambiental e sociocultural, idealizado pelo biólogo tremedalense, Everaldo Santiago. Este projeto, através da Associação Ambiental e Sociocultural Serra do Cocho, atua no processo de criação e gestão da RPPN.
27
corresponder a melhor escolha para preservação do ambiente, bem como, os benefícios
indiretos que a comunidade do entorno da UC e a sociedade em geral irão desfrutar,
beneficiando-se (Santiago, 2014).
Além da beleza cênica da paisagem, a área demandada possui grande relevância
ecológica, (Figura 1.8) possuindo espécies endêmicas da fauna e flora dos biomas
Caatinga e Mata Atlântica, que se encontram ameaçadas ou em processo de extinção,
dentre outros fatores, pelas fortes e impactantes ações antrópicas.
Figura 1.8: Beleza cênica da paisagem da Serra do Cocho, também possui grande
relevância ecológica. Fonte: Acervo do Projeto Tremedal Ecológico.
A Reserva Ambiental Serra do Cocho, além de contribuir com a proteção e preservação
da biodiversidade do ecossistema da Serra do Cocho, expande-se aos biomas Mata
Atlântica e Caatinga, prestando serviços ambientais como a provisão de água, equilíbrio
climático, protegendo espécies endêmicas e a conservação da paisagem natural de
admirável beleza cênica.
A porção da serra dos Caititus, identificada pela população local como “Serra do Cocho”
(Figura 1.9) é uma área que possui cinco cacimbas, uma nascente revitalizada e ativa,
sob remanescentes de Mata Atlântica, vem sendo desde então, cuidada e protegida pelo
Projeto Tremedal Ecológico, razão pela qual, a comunidade mais se sensibiliza e cada
vez mais adere à causa da criação da Reserva Ambiental na área.
28
Figura 1.9: Serra do Cocho. Área de vegetação remanescente da Mata Atlântica. Na
porção verde escuro encontram-se a nascente e as cacimbas. Fonte: Acervo do Projeto
Tremedal Ecológico.
A área que compreende a Reserva é muito rica em biodiversidade, composta de fauna e
flora, inclusive com espécies ameaçadas ou em processo de extinção. Conforme
demonstramos através de fotografias do acervo do Projeto Tremedal Ecológico (Anexo
1).
No campo dos recursos hídricos, há cinco cacimbas, além da nascente ativa e que, aliás,
é outra forte razão que tem sensibilizado e despertado na população do entorno a
consciência para a conservação e preservação da área. Confira-se imagens fotográficas
(Anexo 2) também do acervo fotográfico particular do Projeto Tremedal Ecológico.
1.2.1.2. Articulações nas comunidades do entorno da área da Unidade Conservação
Serra do Cocho
As principais comunidades do entorno da UC Serra do Cocho são: Salininha, Quati,
Lagoa das Pedras, Brejinho, Veredinha e São João dos Britos. Trata-se de comunidades
rurais de pequenos produtores agropecuários. Nesse contexto, a população vem cada
vez mais se organizando e aderindo à ideia de criação da Reserva Ambiental Serra do
Cocho.
Um jovem biólogo, nascido na região também é um exímio articulista e mobilizador
socioambiental, que é natural da região e viveu até aos 19 anos de idade lá na
29
comunidade rural Lagoa das Pedras, em visita aos seus pais, que são antigos moradores
e ainda residem na mesma comunidade; deparou-se com a realidade muito angustiante
em que estava a Serra do Cocho. A presença de gado solto, pastando e pisoteando as
nascentes e cacimbas; também presenciou e registrou árvores cortadas e serradas para
uso da madeira, bem como presença de caçadores.
Indignado com a situação de abandono em que encontrou a Serra do Cocho, local aonde
vivenciou cenas importantes para si e para a toda a comunidade, resolveu intervir.
Procurou o INEMA (Instituto do Meio Ambiente e Recursos Renováveis da Bahia)
Unidade Regional de Vitória da Conquista, que lhe autorizou a identificar a área como
APP (Área de Preservação Permanente6) e também colocar avisos de alerta e de
proibição de caça, desprezo de lixo, ou pastejo de animais, conforme a Figura 1.10.
Figura 1.10: Placa identificadora da APP – Área de Preservação Ambiental - Olho D´Água
do Cocho, instalada na entrada da Reserva Ambiental Serra do Cocho, pelo jovem
biólogo natural da região com autorização do INEMA regional de Vitória da Conquista.
O jovem biólogo juntou-se com seu pai, e, agregaram-se com os vizinhos e amigos da
família. Subiram a serra e cercaram a mina Olho d´água do Cocho, isolando a área das
nascentes e cacimbas dos pisoteios de animais e pessoas.
6 APP encontra-se disciplinada pela LEI Nº 12.651, DE 25 DE MAIO DE 2012. No art. 3º, II - Área de Preservação Permanente - APP: área protegida, coberta ou não por vegetação nativa, com a função ambiental de preservar os recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade geológica e a biodiversidade, facilitar o fluxo gênico de fauna e flora, proteger o solo e assegurar o bem-estar das populações humanas; diz que compreende APP – Área de Preservação Permanente; O art. 4º prevê a delimitação das Áreas de Preservação Permanente, que podem ser em zonas urbanas ou rurais.
30
Comprometido com a conservação e preservação do ecossistema da Serra do Cocho, o
jovem biólogo, adquiriu todo o material necessário as suas próprias expensas e contou
com o trabalho voluntário dos amigos e vizinhos simpáticos a ideia de preservação e
conservação da Serra do Cocho (Santiago, 2013).
Ao lançar mãos das estratégias de Educação Ambiental, por suas perspectivas em
evolução, a EA não Formal, pautada nos saberes populares locais, amplifica o processo
de criação da Reserva Ambiental Serra do Cocho, através da participação social cidadã.
Dessa maneira, são inegáveis os ganhos socioambientais para a comunidade e para a
sociedade em geral, como grande trunfo do processo de criação e instalação da Reserva
Ambiental da Serra do Cocho.
1.2.2. A participação social cidadã legitima e qualifica decisões
A participação da comunidade tem sido muito fundamental nesse processo. O
engajamento social dos moradores do entorno e da sociedade civil organizada, oferta ao
processo de criação da Reserva Ambiental Serra do Cocho, o qualificativo da
participação social cidadã.
O diálogo participativo e esclarecedor é instrumento de educação e de capacitação ao
qual se recorre para o fortalecimento dos laços de solidariedade, de cooperação e
sociabilidade entre os membros da comunidade.
Outro instrumento utilizado no processo participativo dos moradores são as reuniões das
associações de pequenos produtores rurais das comunidades: Quati e Salininha. São
verdadeiros fóruns de discussão a respeito dos problemas enfrentados pela comunidade
que vão desde educação, lazer, agropecuária sustentável, preservação, conservação
ambiental, resgate e valorização da história local, das práticas, dos hábitos e usos
antigos da comunidade.
Toda esta riqueza encontra-se apenas na memória dos antigos moradores, que já muito
idosos e alguns já morreram detendo esse saber. A oralidade é a única fonte de consulta.
O que tem suscitado registros escritos, fotográficos e audiovisuais com a finalidade de
conservar para a posteridade.
Recentemente na comunidade Salininha foi criada e oficializada uma associação
socioambiental e cultural. Trata-se da Associação Socioambiental e Cultural da Serra do
31
Cocho - AASSC7, cujo nome fantasia é Projeto Tremedal Ecológico (Anexo 3). Um de
seus objetivos é proporcionar mais um espaço, uma opção a mais para que os diálogos e
trocas de experiências, uma oportunidade para as práticas participativas, sociais e de
cidadania, efetivando a preservação e a conservação ambiental, o desenvolvimento
social e cultural, objetivando o desejado desenvolvimento sustentável da região.
Com efeito, é o que se depreende da análise do preâmbulo do Estatuto Social da
AASSC:
Art. 1º - A Associação Ambiental e Sociocultural da Serra do Cocho – AASSC (Projeto Tremedal Ecológico), doravante simplesmente Associação Reserva Ambiental Serra do Cocho, é uma associação socioambiental e cultural, portanto, uma organização da sociedade civil (OSC) de proteção e conservação do meio ambiente e da cultural regional, juridicamente constituída como associação civil de direito privado, sem fins lucrativos, com número ilimitado de associados e prazo de duração indeterminado, sendo sediada na comunidade rural Salininha, Município de Tremedal, Estado da BA, e foro na Comarca de Tremedal. (Art. 1º do Estatuto Social da Associação Ambiental e Sociocultural da Serra do Cocho)
O Projeto Tremedal Ecológico, é a entidade proponente da demanda de criação da
reserva ambiental e também atua na coordenação do processo de criação e da gestão da
RPPN Serra do Cocho. Com o apoio e a participação da comunidade local, está
construindo a Casa de Cultura, que será a sede do Projeto, composta de um museu
regional, uma brinquedoteca, uma sala de informática, uma biblioteca, oficinas de arte,
educação ambiental, cultura e lazer; bem como o apoio as comunidades do entorno8.
Todo esse diálogo participativo e democrático fortalece os laços de solidariedade,
afetividade e amizade; o que leva ao fortalecimento das relações sociais, ampliando as
relações interna e externamente para além dos limites da comunidade.
Como se vê, a atuação do Projeto Tremedal Ecológico na comunidade tem uma
preocupação socioambiental (Anexo 4). Implica dizer que está em sintonia com o homem
e suas interações e relações com a comunidade/sociedade e com a Natureza. É o que
está explícito no Estatuto Social da Associação Ambiental e Sociocultural da Serra do
Cocho. No art. 4º - estão previstos os objetivos sociais, e em vários incisos trata da
questão socioambiental. Veja-se: 7 Fundada em 04 de março de 2017, o seu Estatuto Social está registrado no Cartório da Comarca de Tremedal, BA e inscrita no CNPJ, sob o número 27.565.643/0001-39. 8 A comunidade já desfruta desses equipamentos sociais. Provisoriamente, a biblioteca e a sala de informática já estão funcionando no salão social da Igreja Católica da Comunidade. A brinquedoteca está ativa na escola pública de educação fundamental da comunidade.
32
(...) III - Criar, produzir e disseminar conhecimentos especializados, que tenham por temática central a ecologia, a educação ambiental, a eco-socio-sustentabilidade, a biodiversidade, a cultura; IV - Assessorar, prestar serviços, orientar e participar em programas, projetos e outras formas de ação técnica, coletiva, pública ou privada, que promovam o meio ambiente e a cultura; V – Incentivar e participar na formação e atualização de profissionais de meio ambiente e de eco-socio-sustentabilidade, promovendo a adoção de tecnologias e abordagens inovadoras, especialmente às voltadas para o desenvolvimento sustentado na região e no território; VI - Participar e promover programas de educação ambiental, difusão de conhecimento e de conscientização atinentes às causas ambientais e culturais;
Toda essa movimentação e circulação de ideias tem gerado um clima propício para a
legítima participação social cidadã. As pessoas estão se habituando a ouvir, a falar, a
respeitar opiniões diversas, a construir raciocínios, em fim, dialogar. Tanto que assim o é,
que estão presentes no estatuto social da Reserva Ambiental Serra do Cocho, previstos
em seus os objetivos sociais, conforme demonstramos.
As proposições de melhoria, os conflitos, os problemas são submetidos à análise nos
“fóruns”, onde são discutidos e sugeridas as possíveis e melhores soluções, que após
aprovadas vão sendo executadas. Solidificando cada vez mais a participação social
cidadã que legitima e qualifica decisões tomadas e executadas no âmbito da
comunidade.
No quesito RPPN, o MMA (2008, p. 7) destaca “um aspecto relevante em relação aos
benefícios para a sociedade é que uma RPPN, na região em que está localizada, torna-
se um excelente exemplo de consciência e participação do cidadão comum na defesa da
natureza”.
A solidariedade e a participação social são práticas efetivas na comunidade do entorno
da Serra do Cocho. A organização e realização de mutirões, um costume local muito
antigo, ainda estão presentes no cotidiano da comunidade. No processo de criação da
reserva ambiental estão sendo utilizadas em alguns momentos essa prática; por
exemplo, para cercamento da área da APP onde estão localizadas as cacimbas e a
nascente, bem como, outros mutirões são realizados para fazer os “aceiros9”, nos locais
por onde passam os técnicos da CDA (Coordenação de Desenvolvimento Agrário) e do
9 Aceiro é processo manual de retirar arbustos ao longo de uma cerca. É também chamado de “picada”.
33
INEMA (Instituto do Meio Ambiente e Recursos Renováveis - Bahia) em suas visitas
técnicas para a elaboração de estudos, pesquisas e georreferenciamentos, demarcações
para a individualização da área pública que integra a reserva ambiental.
Igual prática também é usada para a manutenção das trilhas de acesso às visitantes em
passeios eco turísticos ou em atividades de educação ambiental, incluindo-se as
pesquisas realizadas pelos alunos da universidade.
Destaca-se em remate, que de acordo com MMA (2008, p. 7) “A criação de uma RPPN,
por ser um ato de cidadania, dissemina e promove diversas outras ações de
conservação, inclusive incentivando outros proprietários da região a seguirem o mesmo
caminho”.
1.2.3. A democracia e a cidadania ambiental
O Brasil é um Estado democrático de direito. O exercício efetivo de “direitos” e o
cumprimento honroso aos “deveres”, qualifica a pessoa ao exercício da cidadania. E
cidadão é todo aquele ou aquela que vivendo em comunidade respeita ao direito, as
regras e os valores de convivências sociais. Ainda participa ativamente na sua
comunidade, quer seja como membro de uma organização civil da sociedade organizada,
quer individualmente para o alcance de objetivos comuns de sua comunidade, do seu
país, do planeta.
A atual Constituição brasileira de 1988 (CF, art. 225) é reconhecida como constituição
cidadã. Traz em seu bojo deveres, direitos, garantias e prerrogativas para o exercício
desembaraçado e efetivo da cidadania, dentre muitos deles, os pertinentes ao meio
ambiente: preservação e conservação ambiental, à educação ambiental, à
sustentabilidade.
Assim, a democracia preconiza a igualdade, a liberdade possibilitando práticas cidadãs
em geral, inclusive as práticas e ações voltadas à preservação, a restauração, a
conservação e a educação ambiental.
Leis posteriores à Constituição Federal de 1988, conforme já foi dito anteriormente, foram
elaboradas e entraram em vigor para disciplinar e regulamentar os dispositivos
constitucionais, dentre elas, segundo nossa análise, a possibilidade de uma cidadania
ambiental.
34
O exercício do direito à liberdade habilita o cidadão como membro da coletividade para a
cidadania ambiental. Expressar, manifestar e executar ações ambientais para a
conservação da sociobiodiversidade e a preservação dos ambientes naturais; bem como
de todo o cabedal de riquezas que compõem o meio ambiente, latu sensu, é na verdade
o mais puro exercício da cidadania ambiental. Posto que, fundamenta-se no princípio
máximo de assegurar o direito das presentes e futuras gerações de desfrutar de um meio
ambiente ecologicamente equilibrado. Uma vez que, esse mandamento é essencial à
sadia qualidade de vida.
A cidadania ambiental, pois, é pressuposto para a Justiça Ambiental. Conforme Gadotti
(2011) a justiça supõe que todas e todos tenham acesso à qualidade de vida. O que
frisamos é a importância da necessidade das unidades de conservação como facilitadora
para promover o acesso à qualidade de vida. A atuação socioambiental, sociocultural
(Anexo 5) e socioeducativa (Anexo 6) do Projeto Tremedal Ecológico, proponente da
criação da Reserva Ambiental Serra do Cocho, é inegavelmente que é facilitadora e
promotora do acesso à qualidade de vida das pessoas das comunidades do entorno da
reserva.
O laureado jurista português, José Joaquim Gomes Canotilho (1999) vislumbra a
possibilidade de um Estado Ambiental: “o Estado de ambiente é um Estado de justiça
ambiental”. (p. 44):
Ainda elucida o nobre professor Canotilho (1999, p. 44):
A afirmação desta nova dimensão do Estado pressupõe o diálogo democrático, exige instrumentos de participação, postula o princípio da cooperação com a sociedade civil. O estado de ambiente constrói-se democraticamente de baixo para cima: não se dita em termos iluministas e autoritários de cima para baixo.
Assegura o professor Canotilho, (1999) que o Estado de ambiente ou ambiental, é um
Estado de direito, que prima pela liberdade, pela democracia, pela justiça ambiental.
Impende registrar que, “as fórmulas plásticas utilizadas nos direitos do ambiente, na
legislação interna, internacional e comunitária, como a do “poluidor-pagador”, “produtor-
poluidor-pagador”, “proibição de turismo de resíduos”.
Segundo demonstramos, as “formulas plásticas” do mestre Canotilho, compreendem
autênticos princípios do Direito Ambiental, que uma vez aplicados ao caso concreto
36
2. A EDUCAÇÃO AMBIENTAL: PERSPECTIVAS E ESTRATÉGIAS
Cada vez mais novos lampejos são lançados por sobre a educação. A história da
educação, a partir da Conferência da ONU realizada em Estocolmo em 197210, ganha um
farol luminoso que lança feixes de luz e passa a direcionar os novos rumos que a
educação passou a trilhar. Na ocasião, foi pela primeira vez que houve um
pronunciamento solene sobre a necessidade da educação ambiental.
Com esse fato de relevância histórica é ofertada para a humanidade uma nova visão,
uma nova percepção da educação que possibilitará uma educação mais abrangente e
que aborde as questões sociais, ambientais, econômicas, políticas, espirituais, em fim,
uma possibilidade de educação inclusiva, participativa e integral.
A educação ambiental possui uma história quase oficial, justamente, relacionada com as
conferências mundiais e com movimentos sociais em todo o mundo. Mas para o autor,
defensor da chamada educação ambiental política, é preciso lembrar que antes desses
principais eventos que marcam a história semioficial havia pessoas e grupos de forma
discreta, mas muito ativa, já realizavam ações educativas e pedagógicas próximas do
que se convencionou chamar de educação ambiental (Reigota, 2008).
Há autores como é o caso de Grun (2007, p. 15) coadunando ao retro exposto, menciona
que “a emergência da crise ambiental com uma preocupação específica da educação foi
precedida de uma certa ‘ecologização das sociedades”.
Os movimentos ecológicos, as ONG,s, os ambientalistas, os organismos internacionais
sociais e ambientais, a sociedade civil organizada, como se vê, possuem forte influência
na consolidação da educação ambiental no Brasil e no mundo.
As pressões feitas por esses grupos e a divulgação nos meios de comunicação de
massa11 de toda a problemática ambiental, como o esgotamento de alguns recursos
10 Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Humano, realizada Estocolmo na Suécia em 1972. No mesmo ano é criado o PNUMA Plano das Nações Unidas para o Meio Ambiente. 11Princípio 19 da Declaração da Conferência da ONU no Ambiente Humano, Estocolmo, 5-16 de junho de 1972. É indispensável um esforço para a educação em questões ambientais, dirigida tanto às gerações jovens como aos adultos e que preste a devida atenção ao setor da população menos privilegiado, para fundamentar as bases de uma opinião pública bem informada, e de uma conduta dos indivíduos, das empresas e das coletividades inspirada no sentido de sua responsabilidade sobre a proteção e melhoramento do meio ambiente em toda sua dimensão humana. É igualmente essencial que os meios de comunicação de massas evitem
37
ambientais não renováveis, resultado da hiperexploração pela ausência de consciência
ambiental. Como também é o caso da falta de sensibilidade e despertamento para o
consumo sustentável. Esses eventos contribuíram para o fortalecimento não apenas do
movimento ambientalista, mas para o despertamento para uma nova cultura de
exploração e consumo consciente e sustentável dos recursos e serviços ambientais,
pautados, óbvio em ações educativas ambientalmente sustentáveis.
Feito esse necessário preâmbulo vamos ao desenvolvimento desse capítulo, à análise
das perspectivas da educação ambiental e dentre elas vamos nos deter com maior
delonga na educação ambiental não formal, posto que, compreende o objeto de
investigação no presente trabalho.
Igualmente, vamos dar ênfase para as estratégias muito usadas em EA: educomunicação
e arteducação. Posto que, elas subsidiam os “saberes populares” e amplificam, por sua
vez, o engajamento e a participação social cidadã através da educação ambiental não
formal para as tomadas de decisões.
Ainda vai ser lançado um olhar para a transversalidade e a interdisciplinaridade na
Educação Ambiental, semelhantemente, sem deixar de lado, vamos nos debruçar,
mesmo que suavemente, nas transformações individuais para vivências coletivas
qualificadas, despertadas nesse processo de educação ambiental não formal.
2.1. As perspectivas da educação ambiental
No Brasil ainda há discursos inflamados pró e contra o estabelecimento de uma disciplina
autônoma de Educação Ambiental para integrar o currículo escolar no ensino
fundamental e médio. E nesse sentido, segundo Altafin (2016), está tramitando no
Congresso Nacional iniciativas legislativas12 para tal fim. Mesmo contrariando o já
estabelecido na Constituição Federal de 1988, e também em lei própria que disciplina a
Educação Ambiental e institui a Política Nacional de Educação Ambiental.
contribuir para a deterioração do meio ambiente humano e, ao contrário, difundam informação de caráter educativo sobre a necessidade de protegê-lo e melhorá-lo, a fim de que o homem possa desenvolver-se em todos os aspectos. 12 Educação ambiental pode passar a ser uma disciplina obrigatória para alunos de todas as séries dos níveis fundamental e médio, caso a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB — Lei 9.394/1996) seja modificada. É o previsto no PLS 221/2015, de autoria do senador Cássio Cunha Lima (PSDB-PB).
38
A Constituição Federal de1988, prevê a educação ambiental, em seu artigo 225,
parágrafo 1º, inciso VI - promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a
conscientização pública para a preservação do meio ambiente.
Todavia, quem disciplina essa previsão constitucional da Educação Ambiental é a Lei nº
9.795/1999, que institui a Política Nacional da Educação Ambiental, assim:
Art. 10. A educação ambiental será desenvolvida como uma prática educativa integrada, contínua e permanente em todos os níveis e modalidades do ensino formal. (...) § 1º. A educação ambiental não deve ser implantada como disciplina específica no currículo de ensino.
Apesar de já haver lei disciplinando o assunto, não permitindo uma disciplina específica
no currículo escolar do ensino básico. O lobe no Congresso Nacional influencia e
pressiona para a implantação da disciplina de Educação Ambiental, obrigatoriamente no
já tão vasto currículo escolar. Tanto que assim o é, que a estratégia adotada é modificar
a LDB – Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, Lei nº 9.394/1996, e não a Lei
da Educação Ambiental.
Tanto a lei, quanto as práticas pedagógicas, as estratégias educacionais tem
desenvolvido suficientemente subsídios e aparatos educacionais para enfrentar a
questão, aliás, já o fazem.
Outrossim, consignamos a lição de Reigota (2008, p. 94) reforçado a ideia aventada:
Não se trata de oferecer uma disciplina de educação ambiental, mas sim conquistar brechas e possibilidades da contribuição da educação ambiental a todo o processo pedagógico voltado para a ampliação da cidadania, da democracia, da liberdade, da justiça e das possibilidades de construção de uma sociedade sustentável.
Como se vê, acadêmicos e pensadores estão em consonância com o espírito da lei da
educação ambiental. A ampliação das possibilidades de abordagem e a diversificação da
temática que compõem a educação ambiental vão desaguar no grande delta do
despertamento para transformações e renovações conceituais para uma autônoma
sociedade sustentável.
39
2.1.1. Educação ambiental na educação formal
A primeira ideia que se aventa ao tratar da educação ambiental na educação formal é:
qual forma que estamos falando. Essa forma, é aquela que ocorre ensino regular no país,
é a forma da rede oficial de ensino. Sob responsabilidade, orientação e gestão do
Ministério da Educação. Portanto, todo e qualquer estabelecimento de ensino oficial, quer
seja da rede pública, quer seja da rede privada ou filantrópico estão submetidos às regras
legais e determinações do MEC.
As práticas pedagógicas e educacionais da educação ambiental na educação formal, isto
é, na educação oficial, seguem as determinações legais e são desenvolvidas de maneira
integrada, em todos os níveis e modalidades de ensino. Compreende, portanto, o ensino
à distância, o presencial, o semipresencial; os níveis infantil, fundamental, médio e
superior; igualmente, a formação técnica e tecnológica.
Assim, observa-se que a educação ambiental é objeto de estudo por toda a grade
curricular e por todos os níveis e modalidades, interdisciplinarmente. Não havendo uma
disciplina autônoma para o seu estudo e aprendizagem. Consoante a prescrição legal da
Lei que institui a Política Nacional da Educação Ambiental: “A educação ambiental não
deve ser implantada como disciplina específica no currículo de ensino.” (Lei Nº 9765/99,
art. 10, § 1º). No intuito de conseguir atingir o seu objetivo de despertar no estudante a
transformação necessária para o verdadeiro exercício da cidadania e a justiça ambiental,
através da autêntica educação ambiental.
A escola é naturalmente um ambiente de socialização da criança e socializar é
harmonização consigo, com o meio e com os demais indivíduos, interagindo e
relacionando. Esse processo dinâmico, portanto, inter-relacional, com forte base na troca
de experiências e vivências, que se sedimentam, desenvolve e solidifica na criança o
senso de responsabilidade, o zelo e o sentimento de pertencimento à Natureza.
Aliás, nesse sentido, Pádua e Tabanez (1997, p. 15) assinalam que: “A Educação
Ambiental propicia o aumento de conhecimentos, mudanças de valores e o
aperfeiçoamento de habilidades, que são condições básicas para que o ser humano
assuma atitudes e comportamentos que estejam em harmonia com o meio ambiente".
Frisamos que, assim sendo, não há razão para que se segregue o ensino de educação
ambiental em uma disciplina reduzindo o seu alcance. Ao contrário, há que se tratar a
40
questão transversalmente, tal qual, um grande eixo propositivo, transpassando e
permeando toda a grade curricular com a temática ambiental.
2.1.2. Educação ambiental na educação informal
A educação informal é transmitida pela família, no convívio social com amigos, ou seja, é
aquela decorrente de processos naturais e espontâneos, nos quais as pessoas adquirem
e acumulam conhecimentos, habilidades, atitudes e modos de discernimento mediante as
experiências diárias e a sua relação com o meio ambiente (Gohn, 2005, citado por
Tristão, 2011).
Amparando-nos nessa afirmação e considerando o dito anteriormente a respeito da
educação ambiental, podemos assegurar perfeitamente, que é possível desenvolver e
aplicar ações educativas ambientais tendo por viés norteador a educação informal. Uma
vez que, é autônoma de per si, e envolta pelos processos naturais e espontâneos, tendo
por maior força motriz a originalidade das vivências no meio familiar e social, “interagindo
com e no meio ambiente”.
Vale a pena ressaltar que, não é porque se trata de educação informal que seja algo
clandestino. Ao contrário, a informalidade, nesse caso, diz respeito apenas, ao modo em
que se apresentam as ações e medidas educativas. Não havendo uma maneira única,
uma técnica estanque, em que determinado seguimento social, intelectual, lance mãos
para desenvolver um projeto de sensibilização para ações de defesa e proteção da
Natureza, através da educação ambiental informal.
E é nesse contexto que Tristão (2011, p. 24) entende por educação informal, como
aquela que “refere-se às atividades organizadas, com caráter de intencionalidade,
realizadas fora da instituição formal de ensino, com determinado grau de sistematização
e estruturação para oferecer tipos selecionados de ensino a determinados subgrupos da
população”.
2.1.3. Educação Ambiental na Educação não formal
Tristão (2011) registrou em sua tese de doutorado que Philip Coombs, é considerado
como o criador da denominação educação não formal. Ocorre que, segundo a autora, ele
não fazia distinção explícita da educação não formal e informal. Contudo, reconhece que,
já em 1967, Coombs considerava que a “educação escolar não correspondia à procura
41
social enfatizando outros contextos educativos, como os da educação não formal e da
educação informal, como potenciais respostas às expectativas educativas” (p. 23).
Engrenada em duas grandes áreas de aplicação, quais sejam: a social e a ambiental; a
educação não formal atua nos processos educativos complementando espaços não
atingidos “preenchidos” pela educação formal, institucional. Assim, a educação social
“englobaria todos aqueles processos educativos destinados à melhoria da formação e da
condição social dos indivíduos”; enquanto que; a educação ambiental, “integraria todos
os processo dirigidos à preservação e melhoria do meio ambiente.” (Tristão, p. 29, 2011).
Nesse contexto, consoante Gadotti (2005) a educação não-formal é mais difusa, menos
hierárquica e menos burocrática. Os programas de educação não-formal não precisam
necessariamente seguir um sistema sequencial e hierárquico de “progressão”. Podem ter
duração variável, e podem, ou não, conceder certificados de aprendizagem.
Semelhantemente, acompanhamos a ideia do autor, e quanto à educação ambiental
acreditamos ser perfeitamente possível o desenvolvimento de um programa de educação
ambiental não formal. Aliás, na prática, é muito comum encontrarmos na internet, nas
modalidades online realizados em AVA (Ambiente Virtual de Aprendizagem) ou
semipresencial, ofertas de cursos que envolvem a temática, com grande procura,
gerando até filas de espera. Muitos desses cursos são oferecidos por órgãos oficiais,
universidades, ONG,s, OS, como é o caso do Senado Federal, Ministério do Meio
Ambiente, Agência Nacional de Águas, Fundações Públicas, são apenas alguns
exemplos. Esses cursos ocorrem na sua grande maioria na modalidade EAD (Educação
à Distância).
Ademais, segundo Reis, Semêdo e Gomes (2012) afirmam que a educação ambiental
não formal sofreu uma evolução ao longo do tempo, tendo em vista que era utilizada
como forma de manifesto com recomendação da necessidade de conservação da
natureza, segundo alerta sobre a escassez dos recursos naturais.
Inegável a evolução da educação ambiental não formal, haja vista, desde o seu
nascedouro nos fervedouros dos protestos e manifestos de ambientalistas e ecologistas,
alertando para a preservação e conservação da natureza, à evolução que chegamos à
atualidade: tema central de conferências internacionais, amparo constitucional no Brasil e
lei própria disciplinando, inclusive com uma Política Nacional de Educação Ambiental,
42
que contempla em seu artigo 13, Lei n.º 9.795, expressamente a previsão da educação
ambiental não formal.
Entendem-se por Educação Ambiental não-formal as ações e práticas educativas voltadas à sensibilização da coletividade sobre as questões ambientais e à sua organização e participação na defesa da qualidade do meio ambiente. (Lei nº 9.795, art. 13)
Em reforço ao nosso raciocínio, amparamo-nos em Tristão (2011) que assim se
manifesta esclarecendo:
No Brasil, a educação não formal, na atualidade, vem ocupando amplos e diversos espaços como a sociedade civil, organizada (na forma de ONGs, OSCIPS ou OS) ou não, em discussões no ambiente acadêmico, na mídia na forma de projetos de educação e assistência social, programas do poder público, institutos e fundações ligadas a empresas, parcerias entre as instituições públicas, privadas e governamental, ações de responsabilidade social empresarial, dentre outros. (p. 36)
Não se quer com essa afirmativa demeritar a educação ambiental formal. Todavia, busca-
se apenas, reconhecer a autonomia e a importância, que por mérito próprio, evoluiu e
conquistou o seu digno espaço na ordem lógica e cronológica dos acontecimentos.
Proporcionando uma alternativa para atingir os objetivos de fazer chegar a um maior
número de indivíduos uma proposta adicional, pela qual, é possível atingir e superar bons
resultados no processo educativo.
Assim, a evolução da educação ambiental não formal, desenvolve-se à medida que os
processos educativos não formais se ampliam para atender as demandas da sociedade
nos campos do desenvolvimento social, econômico e tecnológico. As desigualdades
advindas desses processos vão impactar diretamente o meio ambiente e daí, eis que
surge a necessidade de atuação através da perspectiva da educação ambiental não
formal. É o que na atualidade é denominado de “enfoque educativo próprio da sociedade
atual, na qual, apesar das instabilidades decorrentes de cada crise econômica ou social,
tem alcançado cotas progressivas de educação” (Vásques, 1998, citado por Tristão,
2011).
Em remate, Lima (2006, p. 2) retoma às origens da EA não formal, nos movimentos
sociais e Organizações Não Governamentais ONGs, e registra que ainda são vistos
como mero ativistas, desconsiderando toda contribuição que trouxeram à sociedade
através de sua luta.
43
Mas essas entidades vão ganhando forças ao longo do tempo, incorporando outros fundamentos, ampliando a visão do ambiental, o qual passa a ser assimilado no seu verdadeiro sentido, como algo sistêmico, composto pela inter-relação entre os fatores ambientais, sociais e econômicos e não apenas o fator natural. O que ocorre especialmente a partir do Fórum das ONGs, evento realizado em paralelo à Rio-92, legitimando estas instituições através da participação e articulação política. Como resultado e ganho para a EA, temos a formulação do Tratado de Educação Ambiental para Sociedades Sustentáveis e o surgimento da primeira rede de EA do Brasil, a Rede Brasileira de Educação Ambiental - REBEA.
É inegável a importância da postura educativa das entidades do dito, terceiro setor13,
através do envolvimento nos movimentos socioambientais por elas capitaneadas, essas
entidades são grandes articuladoras e promotoras da EA para a sustentabilidade
ambiental. A maioria delas atuam no campo da educação ambiental não formal
oferecendo cursos, palestras, seminários, simpósios voltados à temática por esse viés.
Nesse particular, citamos novamente o importante papel do Projeto Tremedal Ecológico.
Trata-se de uma associação ambiental e sociocultural, constituída para atuar na região
do entorno da Serra do Cocho.
O Projeto Tremedal Ecológico é fruto da idealização do jovem biólogo da região, que é
natural da região do entorno da Serra do Cocho. Inicialmente o projeto foi concebido com
um viés ecologista e preservacionista da biodiversidade do bioma da Serra do Cocho e a
revitalização da APP Olho d´Água do Cocho e restauração da nascente e cacimbas que
compõem a APP Serra do Cocho.
O Projeto é grande articulador na comunidade do entorno. Através do amadurecimento
da ideia inicial evoluiu-se agregando a vertente socioambiental, com impacto direto na
comunidade local, despertando a atenção de comunidades vizinhas e da Secretaria de
Educação do Município. São algumas das seguintes ações (Anexos: 1, 2, 4, 5 e 6) que
compreende a atuação socioambiental do Projeto Tremedal Ecológico:
• Disponibilização de uma brinquedoteca na escola rural de educação infantil da
comunidade;
13 Segundo a OAB/SP, o Terceiro Setor é o espaço ocupado especialmente pelo conjunto de entidades privadas sem fins lucrativos que realizam atividades complementares às públicas, visando contribuir com a sociedade na solução de problemas sociais e em prol do bem comum.
44
• Disponibilização de uma biblioteca na comunidade para uso dos alunos da escola rural
e das pessoas em geral;
• Disponibilização de uma sala de informática para inclusão digital da comunidade;
• Ações voltadas para EA nas escolas do município e palestras para professores e
coordenadores de unidades educacionais;
• Apoio e incentivo na construção de hortas nas escolas rurais do município;
• Apoio e estímulo para os eventos culturais regionais como a Cavalgada;
• Realização de mutirões para o cercamento da área da reserva ambiental;
• Construção da Casa de Cultura Antônio de Ernesto, cujo objetivo é a valorização e o
resgate das práticas culturais e da história regional.
Todo esse alcance tem sido possível graças ao apoio e a participação social da
comunidade, que cada vez mais tem se envolvido nesse processo de revalorização da
cultura regional e de pertencimento a sua comunidade, ao local aonde vive e convive
inter-relacionando. Tais ações, são essencialmente educativas, dentro do campo da
educação ambiental não formal.
A lei que prevê a Política Nacional da Educação Ambiental, dispõe que o Poder Público
nas suas três esferas administrativas: federal, estadual e municipal, incentivará a
educação ambiental não-formal. Todavia, é notório que os incentivos são
demasiadamente tímidos ou até mesmo imperceptíveis. Mas, a sociedade civil, através
de organizações, ao contrário do Poder Público, desenvolve ações cidadãs, fundamentais
para o aprimoramento e fortalecimento da educação ambiental. Evidenciam-se
principalmente, nas hipóteses previstas na Lei mencionada, nos incisos do artigo 10,
parágrafo único: a ampla participação da escola, da universidade e de organizações não-
governamentais na formulação e execução de programas e atividades vinculadas à
educação ambiental não-formal; a sensibilização da sociedade para a importância das
unidades de conservação; a sensibilização ambiental dos agricultores e o ecoturismo.
2.1.3.1. A Educação Ambiental não formal e o processo de criação de Unidades de
Conservação
O processo de criação de uma Unidade de Conservação já dissemos que é um vasto
campo, em que busca-se esclarecer a população e sensibilizá-la quanto à necessidade
de conservação da área demandada, com vistas à proteção e conservação da
sociobiodiversidade. Trata-se, na verdade, de uma excelente oportunidade para iniciar as
ações educativas para a conservação e preservação da Natureza.
45
Utiliza-se muito de técnicas de esclarecimentos e até mesmo de sensibilização para a
importância da criação da UC. Nesse estágio do processo é comum a “informalidade”, ou
melhor, a ausência de requisitos formais, o que facilita as aproximações das pessoas
para a interação, que apesar de voluntária, é extremamente necessária.
A educação ambiental não formal facilita essas conexões, promovendo diálogos,
debates, rodas de conversas, exibição de filmes com a temática ambiental, palestras,
teatro e música. Em fim, busca a primazia da clareza e transparência, desde antes das
primeiras reuniões, durante a apresentação da demanda e por todo o processo de
criação, legalização e gestão da UC.
Coadunando com essa ideia, muito nos dignifica endossar a afirmativa de Tristão (2008,
p. 9) “A força da educação ambiental não formal está no fato de que ela não opera dentro
de um determinado conjunto de regras com uma estrutura e currículos rígidos e
avaliações formais”.
A real força da educação ambiental não formal reside no seu poder de mobilização e
integração que lhe é intrínseco. A ausência de formalidades e formalismos lhe dá
permeabilidade, autonomia e maior alcance, permitindo realizações mais ágeis e
eficientes.
Ademais, muito elucidativa é a constatação da pesquisadora ao dizer com sapiência que
“a abordagem tradicional de educação é contestada para o processo de resolução de
problemas ambientais por causa da complexidade da maioria, senão de todas as
questões ambientais...”. E conclui o seu raciocínio com mestria, reafirmando que, os
problemas ambientais impedem que se encaixem dentro dos limites de determinada
disciplina, uma vez que são, por natureza, interdisciplinares (Tristão, p. 97, 2008).
Ressaltamos que a autora ao se referir à complexidade dos problemas ambientais ela
não está falando que é complicado/confuso; mas sim, “como a maneira de como
entendemos o mundo – os vários desafios que o movimentam e se inter-relacionam
criando sempre novos contextos” (Segura, p. 97, 2007).
A natureza interdisciplinar dos problemas ambientais torna-se visíveis e didáticos ao
imaginarmos a ocorrência de um deles; hipoteticamente, analisemos a ocorrência de uma
queimada severa em uma Reserva Ambiental. Os campos disciplinares envolvidos para a
46
restauração do ambiente são muitos: Biologia, Sociologia, Logística, Geografia, História,
Administração, Engenharia, Física, Matemática e Economia. Todas essas ciências, com
seus saberes envolvem entre si, interagindo-se para a melhor solução na restauração do
ambiente afetado pela queimada.
Nesse sentido, muito apropriado é o entendimento de Tristão (2008, p. 9) que a educação
ambiental não formal, “pelo menos teoricamente, está mais capacitada para responder a
questões ambientais locais que têm um significado mais social e de utilidade para a
comunidade uma vez que é menos voltada ao atendimento de necessidades
acadêmicas”.
Já dissemos que educação ambiental não formal provém principalmente, da ebulição dos
protestos e manifestações ambientalistas, fazendo chegar às coletividades sua
mensagem de despertamento, de indignação ante o descaso quanto à problemática
ambiental. E, justamente esses embates de posturas e ideias, que favorecem a
atmosfera do ambiente social, permitindo além de sua afirmação o merecido e justo
reconhecimento, ao ponto de ocupar seu digno espaço na CF/1988 e na Política Nacional
da Educação Ambiental.
Jungida a esse contexto, a educação ambiental não formal em sintonia com o espírito da
Lei nº 9795/99, que lhe reconhece como “práticas educativas voltadas à sensibilização da
coletividade sobre as questões ambientais e à sua organização e participação na defesa
da qualidade do meio ambiente”.
Essa força, em si, e de per si, produto das convivências coletivizadas garante os
subsídios que necessita um processo de criação de uma Unidade de Conservação
Ambiental. Justamente porque na sua essência a educação ambiental não formal, está
assentada na participação social, no diálogo participativo, que favorece a sensibilização e
também a adesão coletiva ao processo de criação de uma UC, que tem por objetivo
maior proteger a qualidade ambiental e a sociobiodiversidade.
2.2. A Educomunicação e arteducação: estratégias para a educação
ambiental no processo de criação e gestão de Unidades de Conservação
Embora a educomunicação e arteducação não estejam adstritas à educação ambiental
formal, são sim estratégias de sensibilização muito usadas no ambiente escolar. A
educação ambiental não formal, igualmente utiliza muito dessas estratégias para
47
comunicar, compartilhar experiências, vivências e ensinamentos e até mesmo para
despertar e sensibilizar as pessoas para as questões ambientais.
Objeto de disciplinamento através da Resolução nº 422 do Conama - Conselho Nacional
do Meio Ambiente, em seu artigo 1º, estabelece diretrizes para conteúdos e
procedimentos em ações, projetos, campanhas e programas de informação,
comunicação e educação ambiental no âmbito da educação formal e não-formal,
realizadas por instituições públicas, privadas e da sociedade civil.
Estas diretrizes objeto da Resolução nº 422 do Conama abrangem aspectos quanto à
linguagem, quanto à abordagem, quanto às sinergias e articulações.
Contudo, é possível observar ao nosso derredor muitas práticas, não apenas de
sensibilização para as questões ambientais, mas, efetivamente, empregadas na
educação ambiental envolvem: o teatro, a música, a poesia, a arte popular, o artesanato.
São alguns dos muitos exemplos em que as manifestações populares, artísticas e
culturais são cada vez mais abundantes e empregadas no processo ensino-
aprendizagem.
É nesse contexto que o MMA (2015, p. 32) diz que a “arte educação mobiliza diversas
inteligências para conferir significado ao que se vive e para o que se pretende
transformar”. E assim, passa a utilizar uma “multiplicidade de recursos, como o som, a
imagem, a ludicidade, a expressão corporal, verbal e escrita, de forma a atender a todos
os tipos de público de todas as faixas etárias”.
O termo educomunicação segundo o MMA (2007b) é um neologismo, ou seja, uma
palavra nova, fruto da junção de duas outras já conhecidas – educação e comunicação.
Porque une elementos característicos dessas duas ciências, mas ultrapassa seus limites,
a Educomunicação vem sendo apontada como um novo campo do conhecimento.
Associado a essa ideia está o alcance da eficiência e eficácia da comunicação. Em
particular, no âmbito das unidades de conservação, não basta informar, mas sim
comunicar educando, o cidadão, para solidificar o conhecimento que será introjetado no
âmago da pessoa, que o repassará para outros indivíduos da comunidade e do seu
convívio social.
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O CONAMA (Conselho Nacional de Meio Ambiente) considera a “educomunicação como
campo de intervenção social que visa promover o acesso democrático dos cidadãos à
produção e à difusão da informação, envolvendo a ação comunicativa no espaço
educativo formal ou não formal” (Resolução nº 422, de 23 de março de 2010).
Dessa maneira, educomunicação e arteducação são estratégias necessárias que
auxiliam a educação ambiental, que, por sua vez, vão para muito além de mera
sensibilização, sobretudo, educacionais. Indivíduos que vivem essas experiências terão
capacidade de atuação qualificada. Os processos que envolvem a educomunicação e
arteducação proporcionam conhecimentos e saberes aos atores sociais envolvidos na
participação, tanto na formulação, quanto na execução de ações de educação ambiental
e comunicação na UC.
Uma condição para a gestão participativa é que se consiga assegurar que os diversos atores sociais participem ativamente da formulação e da execução de programas de educação ambiental e comunicação na UC. Nesse sentido, coloca-se, de imediato, a necessidade de ampliar a finalidade das ações de educação ambiental e de comunicação, dado que são estratégias ou ferramentas a serviço da gestão das UCs. (Moreira e Ferreira, p. 53, 2015c).
A eficiência da gestão da UC prescinde dessa qualificação. Através da criatividade e do
uso e da ampliação do alcance das estratégias e ferramentas da educomunicação e
arteducação, por exemplo, terão, na comunidade pessoas melhor capacitadas para
exercer funções na gestão da UC.
A educomunicação é, por excelência, um instrumento da comunicação participativa.
Segundo Menezes (2014), “isso se deve à sua capacidade de estimular o planejamento e
a produção coletiva, pelos próprios atores sociais, de meios comunicativos utilizados no
ato pedagógico”. Trabalhando em equipe e utilizando o repertório cultural local surgem
produtos como cartilhas, jornais, programas de rádio, vídeos e outros materiais
educativos no âmbito das UC (MMA, p. 34, 2007b).
Dessa maneira, o uso de práticas e abordagens que comtemplem a arte educação e
educomunicação como estratégias para educação ambiental tem alcance para muito
além da sensibilização, mas, efetivamente de transformação do indivíduo para ações que
segundo o MMA (2015) “ao mesmo tempo em que estimula e respeita a autonomia dos
educandos e dos cidadãos e das cidadãs cabe ao educador induzir ao descortinamento
de um horizonte de utopias, liberando a capacidade de sonhar futuros possíveis” (p. 32).
49
2.3. Valorização da cultura regional e dos “saberes populares”
As diversas manifestações artísticas, culturais e espirituais de uma nação, de um povo,
de um território ou de uma região são permeadas de saberes populares. Respeitar,
preservar e conservar esses “saberes” é valorizar a cultura popular. Muito dos saberes
ancestrais são valorizados, registrados e resgatados através dessas ricas manifestações.
O reconhecimento e a valorização dessas práticas e saberes garantem a perenidade das
tradições e manifestações populares. Fazer um levantamento das memórias, das
riquezas culturais e das manifestações artísticas é uma atividade que garante resgatar
documentando todo esse rico cabedal cultural. É tarefa indispensável na valorização e
autoestima das pessoas e da comunidade.
As manifestações históricas, culturais, artísticas, religiosas, espirituais e folclóricas são
acolhidas e trabalhadas nos cenários da educomunicação e da arteducação, atreladas à
educação ambiental promovendo verdadeiros resgastes da cultura regional e dos
“saberes populares”.
As movimentações e mobilizações sociais ocorridas na comunidade, na sociedade vão
muito além do “objetivo de sensibilizar e mobilizar para o cuidado e a conservação do
ambiente, há uma clara preocupação em contribuir para a valorização dos conhecimentos
e da cultura tradicionais e em promover o protagonismo juvenil na defesa do território, do
conhecimento e da manutenção de sua história.” (Moreira e Ferreira, p. 44, 2015c).
Cumpre-nos ainda registrar que, segundo Moreira e Ferreira (2015c), há também
experiências de valorização dos saberes locais e de busca de diálogo entre esses
saberes e as pesquisas científicas, além da tentativa de divulgação de estudos e
pesquisas feitos dentro das Unidades.
Nesse contexto, os autores Moreira e Ferreira (2015c, p. 44) exemplificam que “várias
iniciativas estão vinculadas ao uso público da área e buscam dar maior visibilidade à
própria UC, como os programas de visitas orientadas e as ações referentes a datas
comemorativas, realizadas por várias Unidades”.
Essas práticas ampliam o leque de possibilidades de ações conjuntas e valorosas para
os envolvidos: a comunidade acadêmica, a comunidade local e do entorno da UC,
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integram-se por um objetivo comum; a valorização dos saberes e da cultura regional,
possibilitando destaque e visibilidade para a Unidade de Conservação.
Nas comunidades do entorno da Reserva da Serra do Cocho a valorização da cultura
regional e dos “saberes populares” vem sendo despertadas e estimuladas. Já é possível
elencar algumas ações com efeitos práticos na região. O resgate de um grupo de
mulheres reiseiras, que se apresentam visitando as residências da comunidade, a
restauração de objetos e utensílios antigos feitos por artesões regional são exemplos
autênticos que asseguram a continuidade da memória viva da comunidade.
O Projeto Tremedal Ecológico vem difundindo esse resgate de histórias, hábitos,
costumes regionais. Estão sendo feitas pesquisas na região para identificar pessoas que
tenham e saibam ainda manusear o tear. No passado era hábito muito comum os
artesãos teciam fazendas para a própria família e também vendiam os tecidos ou peças
prontas para outras pessoas da comunidade. Roupas eram feitas de tecido de algodão
natural que eram transformados artesanalmente.
2.4. Aportes e suportes do engajamento e da participação social cidadã
através da educação ambiental para tomadas de decisões
A vida em sociedade e na comunidade principalmente prescinde do engajamento dos
cidadãos através de sua participação ativa na vida social comunitária. Muitas questões de
cunho socioambientais são abordadas e discutidas e resolvidas no seio da comunidade.
Por exemplo, na associação de moradores, ou de produtores rurais são levantadas,
abordadas e aprovadas em assembleias muitas questões que dizem respeito às
particularidades locais tais como: melhoria dos acessos de estradas vicinais para a
escoação da produção agropecuária, ou, ainda, a promoção de palestras visando as
melhores práticas produtivas e a sustentabilidade ambiental em propriedades rurais. São
apenas exemplos ilustrativos dos aportes e suportes do engajamento e da participação
social cidadã das pessoas da comunidade.
A educação ambiental, por sua vez, é a grande aliada desse processo participativo e
democrático que subsidia as tomadas de decisões. Essa participação democrática
ocorre, efetivamente, quando em uma reunião ou assembleia é franqueada a
manifestação das pessoas presentes e os apartes à fala de um membro, sempre que o
participante achar necessário e oportuno.
51
Esse diálogo e os embates com divergências de opiniões, mas com síntese positiva, fruto
do produto participativo; é a força motriz que torna as tomadas de decisão mais
qualificadas e mais sólidas, pois, embasada no diálogo e na valorização da participação
social cidadã.
Essas experiências, por sua vez, oferecem suportes para determinadas situações que
ocorrem nas comunidades vizinhas e do entorno da UC. Por exemplo, arregimentar
pessoas na comunidade para formação de um grupo de brigadistas voluntários, para
atuar em situações emergenciais em eventual ocorrência de queimada no interior ou nos
limites da UC, participação na comissão de elaboração, implantação de Plano de Manejo
da UC, participação no Conselho Gestor da UC.
Bem como, por outro lado, garantem aportes qualificados para a manutenção e gestão da
Unidade de Conservação. Nesse caso, aventa-se os benefícios financeiros provenientes
do ICMS ecológico14, ou ainda, a disputa por prêmios em concursos na área ambiental.
Outrossim, esclarecem Moreira e Ferreira (2015b) que a preocupação com a participação
social efetiva na gestão das áreas protegidas está claramente colocada na segunda
diretriz da Encea15. Ainda para justificar-se essa pertinente preocupação “que aponta
para a consolidação das formas de participação social nos processos de criação,
implementação e gestão de unidades de conservação”. Exemplificam e orientam que
“entre os instrumentos para garantir essa participação estão a implantação dos
Conselhos, como espaços de reflexão e de tomada de decisões, e a própria construção
(e aplicação) do Plano de Manejo” (Moreira e Ferreira, p. 39, 2015b).
Nesse contexto, a participação social cidadã possibilitará a habilitação dos indivíduos já
“formados” e transformados para o labor e as lutas pela preservação da qualidade
ambiental para a presente e futuras gerações a assumirem postos na gestão participativa
e cidadã da UC, nos Conselhos, Comissões, ou ainda na elaboração e aplicação do
Plano de Manejo.
A definição para Plano de Manejo encontra-se na própria lei que estabelece o Sistema
Nacional de Unidades de Conservação da Natureza (SNUC):
14 ICMS ecológico, o Estado da Bahia ainda não destinada os benefícios do ICMS ecológico para os munícipios que possuem UC,s, não há legislação com regulamentação específica. 15 ENCEA - Estratégia Nacional de Comunicação e Educação Ambiental. Diretriz 2: Consolidação das formas de participação social nos processos de criação, implementação e gestão de Unidades de Conservação;
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Documento técnico mediante o qual, com fundamento nos objetivos gerais de uma Unidade de Conservação, se estabelece o seu zoneamento e as normas que devem presidir o uso da área e o manejo dos recursos naturais, inclusive a implantação das estruturas físicas necessárias à gestão da Unidade. (Art. 2º - XVII da Lei Nº 9.985, de 18 de julho de 2000).
Esse é o caminho natural que há de se trilhar para o alcance do maior objetivo do
processo de criação de uma UC, qual seja, a eficiência e eficácia na sua gestão para a
efetividade e perpetuidade da UC no tempo e no espaço. A participação social
democrática e cidadã há que ser cultivada, colhida e replanta quantas vezes sejam
necessárias. É também através desse mecanismo que se preparam e renovam os
quadros da gestão, uma vez que, a RPPN, possui caráter perpétuo e existirá sempre,
para todo o sempre. Tendo em vista que, esta será averbada na matrícula do imóvel, no
Cartório de Registros de Imóveis.
2.5. A transversalidade, transdisciplinaridade e a interdisciplinaridade na
Educação Ambiental
Oficialmente, a transversalidade da temática meio ambiente é vista como uma
necessidade educacional e pedagógica.
É nesse sentido que o MEC – Ministério da Educação (1999) ao analisar os Parâmetros
Curriculares Nacionais (PCNs) se manifesta esclarecendo que os conteúdos de Meio
Ambiente foram integrados às áreas, numa relação de transversalidade, de modo que
impregne toda a prática educativa e, ao mesmo tempo, crie uma visão global e
abrangente da questão ambiental, visualizando os aspectos físicos e histórico-sociais,
assim como as articulações entre a escala local e planetária desses problemas (o
destaque é nosso).
O conceito de transversalidade quem nos oferta é o próprio Ministério da Educação
(1997, p. 36), nos PCN de Meio Ambiente e Saúde:
Os conteúdos de Meio Ambiente serão integrados ao currículo através da transversalidade, pois serão tratados nas diversas áreas do conhecimento, de modo a impregnar toda a prática educativa e, ao mesmo tempo, criar uma visão global e abrangente da questão ambiental.
Assim, o próprio MEC (1999) evidencia o conceito de transversalidade esclarecendo que
trabalhar de forma transversal significa buscar a transformação dos conceitos, a
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explicitação de valores e a inclusão de procedimentos, sempre vinculados à realidade
cotidiana da sociedade, de modo que obtenha cidadãos mais participantes.
A transdisciplinaridade da educação ambiental atenta-se para os “temas transversais que
referem-se a questões contemporâneas de relevante interesse social, que atingem pela
sua complexidade as várias áreas do conhecimento”. Dessa maneira, “exigem um
planejamento coletivo e interdisciplinar, além da identificação dos eixos centrais do
processo de ensino-aprendizagem, para em torno deles elaborar as propostas
educacionais.” (Rohwer e Tutusaus, 2011).
Por temas transversais, entendemos que são assuntos atuais com relevância social, que
devem ser abordados por toda a grade curricular, por exemplo, a poluição ambiental e a
destinação final dos resíduos sólidos. Cada disciplina do currículo escolar deve oferecer a
sua contribuição na abordagem do tema, ofertando subsídios para a melhor solução do
problema.
De uma maneira preliminar destacamos que os termos interdisciplinaridade
transdisciplinaridade não são sinônimos. Segundo Reigota (2009, p. 69), “ao contrário da
interdisciplinaridade, a transdisciplinaridade desconsidera a noção de “disciplina”,
propondo a sua superação. A transdisciplinaridade rompe com todos os limites e as
categorizações dadas aos conhecimentos em tempos remotos das ciências”.
Ademais, a Lei Nº 9.795/99, que dispõe sobre a educação ambiental, institui a Política
Nacional de Educação Ambiental, no artigo 4º, inciso III, prevê os princípios básicos da
educação ambiental, dentre eles: o pluralismo de ideias e concepções pedagógicas, na
perspectiva da inter, multi e transdisciplinaridade.
Abordamos anteriormente que a educação ambiental é autônoma. Sua autonomia lhe
permite transitar por todas as diferentes disciplinas do currículo escolar, emprestando-
lhes ou concedendo novos sabores e saberes. Estes são concedidos ao permitir que os
seus conceitos e a sua temática sejam abordados nas diversas disciplinas do currículo
escolar, ora “ampliando a visão e a percepção do ambiente”, ora dialogando, ora
refletindo, ora realizando. É, pois, uma temática complexa que deve ser abordada
transversalmente, de maneira transdisciplinar e interdisciplinarmente.
A complexidade ambiental reclama a participação de especialistas que trazem pontos de vista diferentes e complementares sobre um problema e uma realidade
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– a visão e a sensibilidade do ecólogo, do edafólogo, do geografo, do agrônomo, do geomorfólogo em relação ao “ambiente físico”; do sociólogo, do antropólogo, e do historiador em relação ao “ambiente social”. No entanto, a interdisciplinaridade não só implica a integração dessas disciplinas genéricas dentro de cada campo temático se desenvolvem “escolas de pensamento”, com diferentes princípios teóricos e ideológicos (...).” (Philippi, p. 18, 2012).
A interdisciplinaridade, no contexto da educação ambiental, há que apresentar-se,
conforme esclarece Segura (2007) “como a possibilidade de diálogo entre os campos do
saber e como forma de cooperação recíproca entre as várias disciplinas, o que significa
dizer: entre pessoas”. (p. 97) E a autora ainda assegura que “assumir esse referencial
implica, pois, não hierarquizar as áreas do conhecimento, isto é, significa adotar uma
postura crítica, porém integradora” (Segura, p. 97, 2007).
Na visão de Rohwer e Tutusaus (2011) para a formação ambiental, a interdisciplinaridade
constitui um meio e não um fim em si mesma. O objetivo é a compreensão da articulação
Sociedade-Natureza; o que permite a “aplicação a um mesmo objeto (...) de elementos
teóricos de diferentes disciplinas”.
Todo o produto desse diálogo resulta na amplificação e longo alcance da formação da
consciência ambiental dos indivíduos. Aproximando-se cada vez mais da almejada
educação integral e voltada para o desenvolvimento de possibilidades e potencialidades
do cidadão.
Ajustando, outrossim, aos objetivos fundamentais da educação ambiental, previstos na já
mencionada lei da educação ambiental, que dispõe em seu artigo 5º, III: “o
desenvolvimento de uma compreensão integrada do meio ambiente em suas múltiplas e
complexas relações, envolvendo aspectos ecológicos, psicológicos, legais, políticos,
sociais, econômicos, científicos, culturais e éticos”, dentre outros.
Esclarecemos que educação integral, não se confunde com educação em horário integral
na escola. A educação integral ocupa-se da transformação moral, cultural, intelectual e
espiritual do ser. Portanto, ela burila o âmago do ser, despertando-o para uma
perspectiva existencial com consciência; dotando-lhe de liberdade e autonomia. Esse
despertamento vai proporcionar ao cidadão uma vivência pautada na solidariedade, na
fraternidade e na compartilha de experiências que o qualifica para viver em comunidade
local e consciente de que seus hábitos e ações possuem implicações globais.
55
Assim, o ser/indivíduo é respeitado e compreendido em suas mais diversas dimensões:
econômicas, históricas, sociais, culturais, biológicas, antropológicas, psicológicas,
espirituais, emocionais e ambientais. Em fim, na sua completude, respeitando os seus
limites, os desejos, frustrações e ansiedades, na esperança e utopias, construções e
realizações. Todo esse arsenal integrativo, contudo, transdisciplinar, amplia e amplifica o
alcance do saber e do conhecimento ambiental.
A transdisciplina está no saber ambiental como essa falta de conhecimento que anima a produção de novos conhecimentos; está na hibridização entre ciências, tecnologias e saberes, está no diálogo inter-cultural; é o saber que sabe que não pode saber tudo, que sabe que está movido por seu não-saber, pelo desejo de saber. A transdisciplina leva assim, à desconstrução do conhecimento disciplinar e abre as vias para uma hibridização e diálogo de saberes no campo da complexidade ambiental (Philippi, p. 23, 2012).
Uma vez que, o ser/indivíduo vive em sociedade, em comunidade, inter-relacionando-se
com os seus iguais e com meio, porém respeitando e convivendo com as diversidades,
(sociais, raciais, étnicas, religiosas, filosóficas, políticas) numa autêntica relação cíclica,
ou melhor, numa rede de inter-relações.
A interdisciplinaridade tem sido definida como uma estratégia que busca a união de
diferentes disciplinas para tratar um problema comum. Também, por virtude da
etimologia, a palavra traduz esse vínculo não apenas entre saberes, mas, principalmente
de um saber com outro saber, ou de saberes entre si, numa sorte de complementaridade,
de cumplicidade solidária, em função da realidade estudada e conhecida (Philippi, 2012).
Cumpre-nos registrar outra vez, a assertiva de Philippi (2012, p. 17) a respeito da
interdisciplinaridade ambiental, ao afirmar que ela “transborda o campo do científico
acadêmico e disciplinar do conhecimento formal certificado, e se abre a um diálogo de
saberes, onde se dá o encontro do conhecimento codificado das ciências com os saberes
codificados da cultura”.
Aclaramos este ponto, exemplificando e demonstrando a prática de cultivo de horta nas
escolas do campo, iniciada na escola da comunidade Salininha na zona do entrono da
Reserva Ambiental Serra do Cocho. São atividades estimuladas e assessoradas pelo
Projeto Tremedal Ecológico, com participação das comunidades vizinhas das escolas e
em parceria com a Secretaria de Educação do município de Tremedal – BA. São
atividades que podem ser lúdicas, mas para o prazeroso aprendizado com respeito à
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preservação e a educação ambiental, trazendo rendimentos para muito além do
satisfatório.
Por fim, compartilhamos da postura de Rohwer e Tutusaus (2011) a Educação Ambiental
apresenta-se como uma das alternativas da Educação no âmbito de um novo paradigma
em construção e de novas formas de pensar, de interpretar e de agir no mundo, capaz de
possibilitar a superação da visão positiva, instrumental e tecnocrática que caracteriza a
civilização contemporânea e que se manifesta através da crise global e generalizada
deste início de século.
2.6. Transformações individuais para vivências coletivas qualificadas
A educação ambiental desde suas origens mais remotas vem dos movimentos ecológicos
e ambientalistas. Esses movimentos visavam o despertamento das pessoas para as
questões ambientais e pelo cultivo da cultura da paz mundial, por solidariedade e
fraternidade.
A medida que esses movimentos agregavam em torno de si mais pessoas que
conscientizadas da urgência de mudanças de parâmetros de consumo e mudanças de
hábitos cotidianos, se fortaleciam e construindo uma história de conquistas
socioambientais.
A adesão e a participação em causas ecológicas, ambientais e sociais proporcionam uma
mudança de atitudes individuais, que ao enraizar transformam velhos hábitos ofensivos à
natureza e ao meio ambiente em nobres ações em prol da conservação e da preservação
ambiental.
Tudo isso se traduz no que chamamos de transformações individuais para vivências
coletivas qualificadas. Primeiro o indivíduo se convence que precisa mudar posturas,
atitudes e atos agressivos e desrespeitosos ao ambiente e, posteriormente, transforma-
se em um aliado esmerado, compartilhador e multiplicador das causas e ações
educativas em defesa do meio ambiente.
Por si só as questões e ações ambientais têm natureza coletiva. Os atores ambientais,
latu sensu, naturalmente tem essa trajetória: transformam-se, quase sempre
vagorosamente, assimilando em interações com o meio (educam-se) para conviver
através de vivências coletivas de maneira qualificada.
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Aliás, a Lei Nº 9.795/99, que dispõe sobre a educação ambiental, institui a Política
Nacional de Educação Ambiental, no artigo 4º, inciso IV, com clareza prevê os objetivos
fundamentais da EA, dentre outros: “o incentivo à participação individual e coletiva,
permanente e responsável, na preservação do equilíbrio do meio ambiente, entendendo-
se a defesa da qualidade ambiental como um valor inseparável do exercício da
cidadania”.
As vivências coletivas qualificadas, por sua vez, amparam o indivíduo a sustentar ações
que assegurem condições para que a coletividade desfrute de um planeta socialmente
justo, ambientalmente equilibrado, economicamente sustentável, que compartilhe de uma
realidade em que o desenvolvimento e o progresso sejam ambientalmente sustentáveis,
para a presente e as futuras gerações.
Reforçamos ainda, a ideia que as vivências coletivas qualificadas são aquelas que sejam
capazes de oferecer alternativas para o equilíbrio ambiental no planeta e o
desenvolvimento sustentável local e global, mitigando ou eliminando os impactos
ambientais.
A lei que institui a Política Nacional de Educação Ambiental, ainda vai muito além ao
prevê nos objetivos fundamentais da EA, no artigo 5º, inciso VII, “o fortalecimento da
cidadania, autodeterminação dos povos e solidariedade como fundamentos para o futuro
da humanidade”.
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3. A SERRA, O COCHO, PRESERVAÇÃO E SOCIABILIDADES
No presente trabalho será adotada a designação Serra do Cocho, usada pela população
local, para identificação do espaço geográfico onde está localizada a área demandada
para a criação da reserva ambiental, objeto de estudo deste trabalho.
Segundo relatos de antigos moradores essa denominação foi adotada há muitos anos e
não se sabe precisar data. Em razão da forte ligação histórica e cultural da comunidade
com a serra decidiu-se que a reserva ambiental seria “batizada” e registrada com o nome
de Reserva Ambiental da Serra do Cocho. Representando uma autêntica homenagem,
bem como, o reconhecimento e o respeito pela luta dos antepassados, e ainda, a
valorização da cultura e da história local.
No pretérito a região que compreendia o Sertão da Ressaca fora objeto de exploração
em expedição por Maximilian Alexander Philipp, o príncipe Maximiliano de Wied-
Neuwied, membro da alta nobreza prussiana. Em expedição pelo Brasil (1815 a 1817), a
rota seguida através do Rio de Janeiro, Espírito Santo, Minas Gerais e Bahia, é o que
registra Lima e Silva (2014). Os indícios e registros indicam que a expedição passando
pelo Sertão da Ressaca (Planalto de Conquista) segue para a capital da Bahia.
Nesse contexto, a Serra dos Caititus (Serra do Cocho) estando inserida no Sertão da
Ressaca, possivelmente tenha sido objeto de pesquisa do príncipe Maximiliano.
Na verdade, geograficamente a Serra Geral, se estende pelo município de Tremedal, no
Estado da Bahia, através das suas ramificações, ou melhor, extensões: Serra dos
Caititus e Serra das Queimadas. Não existem estudos recentes sobre a região, todavia, a
Serra do Cocho, está localizada na Serra dos Caititus.
A mensagem do jovem poeta da região, cristalinamente, registra o elo histórico que há
entre a Serra do Cocho e as pessoas das comunidades do seu entorno. O sentimento de
pertencimento, a identificação histórico-cultural, bem como, por outro lado, assinala
ainda, o poeta, fazendo desabrochar por através de seus versos singelos, um pacto;
tendo por elementos essenciais: a união, a fraternidade, a solidariedade de outrora a
perpetuar-se no tempo e no espaço.
Lá na Serra do Cocho tem nascente Por essa água, o povo aqui raiz fincou E por muitos anos criou
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Toda nossa gente A natureza tece sua teia E para sempre essa água correrá em nossa veia. (...)
Outro jovem morador descreve que o “cocho” era um grande recipiente que armazenava
água que vertia da nascente: “o cocho tinha cinco metros por 40 centímetros de largura
para guardar água lá pras pessoas lavar roupas ou pra buscar para beber”.
Outro morador antigo refere que o “cocho”, era confeccionado artesanalmente, pelas
pessoas da própria comunidade. Escolhiam um jatobá com tronco bastante grosso e
confeccionavam esculpindo o “cocho” que armazenava água que vinha da nascente.
As pessoas da comunidade também confeccionavam as “bicas” de madeira que conduzia
a água por gravidade da nascente até o cocho.
“A água vinha correndo pelas biquinhas de madeira e caia no cocho de madeira pro gado beber e as mulheres lavar roupas (...)”.
Apesar de jovem, outro morador recorda das bicas de madeiras: “(...) a água vinha em
uma bica de madeira e caia no cocho”.
A prática tradicional de esculpir utensílios pelas pessoas na comunidade é muito antiga e
remonta à arte ancestral, à cultura e aos utensílios indígenas. É uma realidade, histórica
na comunidade, que atualmente ainda usa as gamelas, os potes de barro e outros
objetos afins. Tanto é que, a técnica para confecção do cocho de madeira é a mesma
usada para fazer as gamelas e as bicas. Diferencia-se o utensílio de acordo com a sua
destinação e uso, que no caso em tela, o cocho era usado para armazenar a água, que
fluía da nascente lá na serra, sendo armazenada nesse “coletor de madeira” conhecido
por “cocho”, razão pela qual, a serra ficou conhecida pelas pessoas locais como Serra do
Cocho.
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Figura 3.1: Painel de Arte do artista tremedalense Felipe Amaral, pitando na caixa
d´água, no interior da reserva ambiental, revelando cenas cotidianas do pretérito na Serra
do Cocho. Nesse local ficava o “cocho” que armazenava água para uso da comunidade.
Note-se no canto esquerdo da foto o “cocho” atravessado transbordando água. Fonte:
Acervo do Projeto Tremedal Ecológico.
Assim, ressalta-se que a Serra do Cocho, além de comtemplar beleza cênica indizível,
em uma harmonia de contornos geomorfológicos integrados na paisagem com
longínquos e amplos horizontes, perfazendo um conjunto de paisagem cadenciado e
aprazível.
Apesar desse apresentável conjunto paisagístico natural e harmonioso, a serra vem
sendo vítima, através dos tempos de muitas mudanças e transformações. Segundo
documento do acervo particular do Projeto Tremedal Ecológico, proponente da demanda
de criação da UC, que embasa o parecer do Inema, favorável à criação da reserva
ambiental. A área demandada passou, desde invasões de posseiros, “grileiros”,
caçadores, a soltura de gado bovino para pastejo. Até mesmo retirada ilegal de madeira
foi praticada. O aumento em larga escala dos impactos ambientais advindos do
fenômeno da antropização e da hiperexploração dos recursos naturais presentes e
disponíveis na serra é uma realidade evidente.
No seu interior existem “tesouros naturais” ameaçados e carentes de proteção urgente. O
ecossistema é muito rico em biodiversidade, inclusive com espécies endêmicas,
ameaçadas ou em processo de extinção, tanto da fauna quanto da flora. Sem falar nos
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impactos aos recursos hídricos presentes na área, que estão muito vulneráveis,
principalmente à ação humana.
No campo dos recursos hídricos existe uma nascente e quatro cacimbas, todas ativas,
até mesmo no período de estiagem e das secas, permanecem servindo ao ecossistema e
a biodiversidade. Todavia, não é mais possível o uso doméstico, pois a nascente, após o
colapso, escasseou consideravelmente e vem retomando paulatinamente a sua atividade
produtiva e sua missão de manutenção do ecossistema.
Não há documentos ou registros da época que a comunidade iniciou as interações com a
serra e o ecossistema. Todavia, há relatos de pessoas antigas das comunidades do
entorno, que afirmam a ocorrência e a intensificação da presença humana na serra,
aproximadamente 70 anos. Por ocasião dos períodos de seca havia única opção de
abastecimento da comunidade e também dessedentação animal, o “olho d´água e as
cacimbas” da Serra do Cocho.
Historicamente, o marco da preservação da Serra do Cocho, segundo relatos colhidos na
comunidade, remonta a década de 1970, quando em um período de seca, para resolver
um conflito pelo uso da água que brotava lá na serra, esteve presente o “chefe político do
município”, que na base da serra declarou: “desse ponto para cima, ninguém retira nem
uma vara, isso aqui é para uso público”. Segundo relatos de um dos mais antigos
moradores da região reforça a importância da preservação e conservação do
ecossistema, diz: “essa serra sempre foi “serra geral” daqui. Tem muitos animais e
devemos preservar os animais e também não desmatar”.
A expressão “serra geral” é designativa de “campo geral”, cerrado, sertão, chapada.
Traduz uma realidade que no passado foi muito praticado o uso comum e coletivo pelas
pessoas da região. Designa área pública, “sem dono”, de uso comum de todos.
Atualmente são mais comuns no norte do Estado de Minas Gerais, que faz divisa com o
sul e sudoeste do município de Tremedal. A Serra do Cocho está localizada muito
próxima da divisa desses dois estados.
Tanto que, outro morador se refere à “larga”, termo muito usado pelos “geraizeiros” que
se denota: terra vasta, largada, deixada sem cuidados, sem destinação específica e sem
benfeitorias, sem cercas que delimitam a área.
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Segundo, Carmo Bernardes (2014), jornalista e escritor mineiro evidencia esclarecendo
que:
NOS GERAIS, cujas raias podem ser imaginadas como englobando todo o Sul do Maranhão, Norte de Goiás e Oeste da Bahia e de Minas Gerais, espaço geográfico dado como sendo os sertões, o gado era criado à lei da Natureza, solto no mundo. Os horizontes, os limites; e o olho do vaqueiro, o vedo. O leigo em criatório extensivo estranha que tenha havido esse sistema de criatório. Onde há arraigada a mentalidade do arame farpado, ninguém aceita a idéia de se criar na largueza. Acreditam que as criações largadas à-toa, sem nenhum vedo como sujeição, desguaritam; e que é preciso trazê-las no rodeio, e que um pastoreio nessas condições, sem os apartadores e as invernadas limitadoras do espaço, exigiria o concurso de muitos vaqueiros para cuidar de pouco gado. Ouvimos o criador sulino dizer num desalento: "Crio aqui umas criaçõezinhas no tapume de cinco fios de arame, e óia lá: tê-tê, lê-lê, estou às voltas com uma criação sumida”! (p. 2) (destaque é meu)
Ainda trazendo mais luz à baila, para esclarecer e não pairar dúvidas sobre os povos
geraizeiros, a Associação Mineira de Municípios (2014) consigna que, apesar de
possuírem unidades de agricultura familiar, a criação do gado e a coleta de frutos são
feitos coletivamente em terras de uso comum:
Os geraizeiros – ou “geralistas” como escrevia Guimarães Rosa em seus livros sobre esses sertanejos do norte mineiro – foram incluídos entre as comunidades tradicionais no decreto 6.030 de 2007 do governo federal, que institui políticas específicas para esses grupos respeitando o direito a seu território. Ao contrário dos quilombolas que têm títulos coletivos das terras, as comunidades geraizeiras têm unidades privadas de moradia e agricultura familiar enquanto a criação do gado e a coleta de frutos são feitos coletivamente em terras de uso comum, as chapadas de cerrado. (p. 1) (destacamos)
Realidade tão significativa e representativa dos povos geraizeiros do norte do Estado de
Minas Gerais que levou o ICMbio a criar uma Reserva de Desenvolvimento Sustentável:
O Diário Oficial da União (DOU) publicou, dia 14/10, decreto presidencial criando a Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) Nascentes Geraizeiras. A nova unidade de conservação federal, com 38.177 hectares, irá abranger áreas dos municípios de Montezuma, Rio Pardo de Minas e Vargem Grande do Rio Pardo, no norte de Minas Gerais, beneficiando cerca de 500 famílias. (Associação Mineira de Municípios, p. 1)
Nas mídias digitais e eletrônicas, como é caso da Comissão Pastoral da Terra (2014, p.
2), dá notícia que existem comunidades geraizeiras em Tremedal e região: “a Comissão
Pastoral da Terra – Equipe sul sudoeste da Bahia - realizou um mutirão de formação e
mobilização nas comunidades geraizeiras dos municípios de Cordeiros, Condeúba e
Tremedal”.
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Apesar de não haver documentos comprovando essa realidade fática, de grande
importância para a preservação da memória histórica da comunidade; na verdade,
existem vastos relatos de moradores antigos que testemunham esse fato, e ainda o
narra, transmitindo para a comunidade, através da oralidade essa realidade fática
consolidada e que se mantem até os dias atuais.
No passado, durante os períodos de seca, por muito tempo a nascente da Serra do
Cocho, foi a única fonte de água potável em toda a região. A comunidade conquistava e
até mesmo disputava seu quinhão precioso: um pote, uma botija d´água, uma lata, um
balde.
Outro fato, igualmente importante, porém unânime nos relatos dos moradores é o ato das
mulheres e moças da comunidade lavarem roupas lá na nascente e também nas
cacimbas da serra.
As narrativas ainda indicam que a convivência durante as atividades na serra iam além
da amizade. Asseguram que as lavagens de roupas, a coleta de água para o consumo
nas residências, a dessedentação de animais (bovinos, muares, equinos, asininos) eram
momentos de sociabilidades, de convivibialidades, de solidariedade, de fraternidade, de
integração social, também de lazer, de muitas brincadeiras e de muita diversão.
Por sua vez, a Serra do Cocho é um ecossistema caracterizado pela transição dos
biomas Caatinga e Mata Atlântica. Perceptível por simples observação em visita in loco,
as variações de temperatura e de micro clima, que ao se transitar por áreas de
predominância de Mata Atlântica percebe-se o clima quente e ameno; ao transitar por
áreas de predominância da Caatinga, o clima apresenta-se seco e quente.
A Serra é muito aprazível e na contemplação das espécies arbóreas e do conjunto da
vegetação, faz-se um exercício prazeroso e surpreendente ao trilhar pelo interior reserva.
O intenso calor ao admirar as belezas do “painel de mandacarus16” contrastando com as
extensões rochosas, ou ainda; a brisa suave por sob a sobra dos frondosos jatobás,
sucupiras, e o bailado cadenciado e sincronizado das copas dos jacarandás, se traduz
16 Trata-se de bela paisagem localizada paralelamente ao mirante da Serra do Cocho. É um “paredão” rochoso com diversos cactos incrustrados, dentre eles vários mandacarus. O contrate na paisagem indica a transição dos biomas Caatinga e Mata Atlântica.
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em uma magistral encantadora “ópera sertaneja” conforme muita canta o “menestrel da
caatinga”, o cantor baiano, Elomar Figueira Melo.
3.1. A nascente da Serra do Cocho, as cacimbas e as lavadeiras: harmonia e
sociabilidades
A nascente da Serra do Cocho está localizada em um ponto mediano na aclividade da
serra, embaixo de copas de frondosas árvores e por entre vasta, diversa e exuberante
vegetação. Rumando ao mirante da serra, cerca de 100m encontram-se dispostas
horizontalmente quatro cacimbas ativas, bem protegidas por abundante vegetação em
volta.
Esse conjunto de “pontos de afloração d´água”, juntamente com a nascente constitui a
APP (Área de Preservação Permanente) da Serra do Cocho. Atualmente encontra-se
protegida através de isolamento da área com cerca de arame farpado, evitando pisoteios
de animais soltos (gado bovino) e de pessoas, levando a impactação do solo e impedindo
o seu afloramento.
Recorre-se a percepção do poeta da comunidade do entorno da Serra do Cocho, que
inspirado registra “lampejos imaginários” em seus versos conectados e encadeados a
partir da nascente da Serra do Cocho:
(...) Nascente de água é um grande berço de vida No subsolo a água acumula Depois para cima o fluxo pula E faz majestosa descida As árvores são defesas contra empecilhos A mata forma protetores cílios A água faz seu fluxo em harmonioso caminho Atraindo jacu, bugio e tanto passarinho Que come o fruto e a semente dispersa E nasce a flora tão diversa E o eixo natural circula Na sombra fresca o sapo pula E a cobra faz o bote E o carcará a pega e alimenta seu filhote Forma-se carreiros cheio de flores Visitados por insetos trabalhadores Sem eles não haveria outras vidas nos ecológicos corredores A abelha de exemplar comunidade organizada Que leva o néctar Cada uma tem sua função e tudo se conecta E o Papa mel vai pegar seu alimento
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Ele vai levar muita picada, Mas precisa de fonte para seu alimento Fauna silvestre de uma serra rica Tem onça parda, gato do mato e a nossa inesquecível jaguatirica (...)
Depoimento de um ancião morador da comunidade relata a abundância de água na
nascente da Serra do Cocho:
“(...) não precisava subir até o cocho porque a água tinha nos riachos embaixo...” (...) “lembro das lavouras de arroz que havia lá, engenho de cana. Eu já colhi 18 sacos de arroz aqui, havia muito plantação de cana aqui, muita rapadura”.
Outra anciã, também moradora da comunidade relata que:
“(...) quando eu conheci aquilo lá, era bom e bonito... Água à vontade... A água do cocho passava no Riacho de Manelim. Meu avô morava ali. A gente tomava banho ali no riacho, lavava roupa ali. Levava a bacia na cabeça e um menino no braço. A cabeça chegava... parece dormente, assim... Tem mais de 40 anos que não vou lá, meu filho.”
Denota-se a abundância de recursos hídricos na região e a regularidade do ciclo
hidrológico. Tanto que assim era, que as pessoas não iam até a serra para abastecer e
prover a sua família de água ou fazer usos domésticos. Bem como, a dessedentação
animal. Faziam isso nos riacho abaixo da serra.
No passado quando da ocorrência das secas e das longas estiagens, apenas restava
água para consumo da comunidade somente na Serra do Cocho. Então, as pessoas se
dirigiam para lá em busca do líquido da vida.
Segundo as reminiscências de um ancião morador da comunidade: “toda essa região na
seca vinha gente de muito longe. Vinha de São João dos Britos, buscar água na cabeça,
no pote, pra beber”. A comunidade compartilhava a água da nascente da serra,
generosamente com pessoas das comunidades vizinhas.
As mulheres e as jovens moças da família, ainda pela madrugada iam para a serra com
bacias ou gamelas com roupas sujas, que eram transportadas por si mesmas, sobre a
própria cabeça, para lavar lá na serra. Às vezes, quando possível, jumentos faziam o
transporte de ida e volta das roupas e também de água para o consumo doméstico.
As lavadeiras da Serra do Cocho são personagens muito lembradas nos relatos das
pessoas mais antigas da comunidade. É quase unanimidade, na oitiva das pessoas da
comunidade. Muitas delas relatam as dificuldades na tarefa árdua de transportar as
roupas na própria cabeça, lavá-las, colocá-las no coradouro (quarador), enxaguar,
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esperar secar e trazê-las de volta para suas casas. Era um dia inteiro para realizar essa
tarefa exaustiva.
Relatos de um antigo morador da comunidade registram e atestam as diversas
dificuldades das mulheres lavadeiras da Serra do Cocho:
“lembro muito das mulheres lavando roupas lá, meu filho. Minha mãe usava “gamela de mulungu” lá na serra e a gamela ficava encharcada e o peso pra trazer de volta era muito grande. Lembro também das mulheres batendo a roupa nas pedras pra lavar”. Era o tanquinho das mulheres (...).
O relato de um morador da comunidade do entorno da Reserva Ambiental Serra Cocho,
ao relembrar suas memórias, diz: “(...) e me lembro de minha mãe contando que levava
minha irmã dentro de uma bacia com roupas para lavar na Serra do Cocho”.
Na oitiva das pessoas na comunidade, coletando informações, coincidentemente,
conversei com uma senhora, antiga moradora, relata que às vezes tinha que levar sua
filha, ainda criança muito pequena, dentro da bacia com as roupas para serem lavadas,
porque não tinha quem cuidasse da pequena criança, enquanto ela lavava as roupas da
família lá Serra do Cocho.
Reforçando essa narrativa uma jovem moradora também relata esse fato que a sua avó
levava a sua tia dentro na bacia para lavar as roupas lá Serra do Cocho.
Surpreendentemente, trata-se de três gerações da mesma família a narrar único fato
ocorrido na primeira geração. Aliás, a própria criança que fora transportada na bacia com
roupas relatou esse fato que sua mãe narrara para ela.
O poeta inspirado, ao versejar sobre a Serra do Cocho, assim declama:
(...) “Antigamente até ela, o povo subia E a água na "cangaia" do jegue descia Muita história de roupa lavada na bacia” (...)
Outro fato de grande relevância histórica para a comunidade foi a implantação do sistema
rudimentar de abastecimento de água nas comunidades do entorno da serra, canalizado
a partir de um reservatório “caixa d´água”, pela Prefeitura de Tremedal, lá na serra, há
poucos metros da nascente. Deste reservatório a água era conduzida por gravidade
através de encanamentos até determinados pontos estratégicos de distribuição “caixas
67
d´água” (Figura: 3.2) nas seguintes localidades: Quati, Salininha, Lagoa das Pedras e
São João dos Britos.
Mais uma vez recorre-se aos versos da poesia “Serra do Cocho” do poeta da região, que
apesar de jovem, foi testemunha de muitos fatos da história da região. A respeito da
implantação do sistema de abastecimento de água das nascentes da Serra do Cocho,
assim verseja a sua percepção:
(...) Veio a má planejada canalização E com ela muita confusão Água encanada era um progresso que se via, Pois muita fazenda abastecia Ia do Quati até o São João Só que natureza não tolera perturbação Humana Interferência Construção de barragem acima da serra A veia da água quase encerra Morreu Tio Maçu, nosso líder de linda consciência (...)
Figura 3.2: Um dos pontos de distribuição de água canalizada da Serra do Cocho na
comunidade Quati. Moradores já usando o transporte por tração animal: carro-de-bois ou
no lombo de jumentos. Fonte: Acervo do Projeto Tremedal Ecológico.
A “caixa d´água” construída lá na serra, certamente foi inspirada no Cocho de outrora,
que fora substituído, para dar maior vazão para o sistema abastecimento de água. O
Projeto Tremedal Ecológico afirma que pretende reconstruir o “cocho” como regaste da
memória, da cultura e da história da comunidade.
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Os relatos dos moradores afirmam que o cocho da serra fora substituído na ocasião da
instalação do sistema de abastecimento de água, por uma caixa d´água, construída pelo
Poder Público municipal. A partir deste momento, a história oral assume o papel de
repassar para gerações subsequentes um cabedal de convivibialidades harmoniosas e
sociabilidades produtivas.
As lavadeiras, figuras emblemáticas, na sua árdua missão cotidiana experimentavam
também alguns momentos de descontração e de lazer.
“Havia muitas moças na época, então como lavavam a roupa de toda família, ficavam por lá o conjunto delas o dia todo, saíam de casa cedo e só voltavam à tardezinha; determinada hora mandavam os meninos que ficavam por lá ficarem vigiando para ver se não subia alguém porque elas iam tomar banho (...)”.
Durante a execução da tarefa de lavar as roupas, segundo os relatos colhidos na
comunidade, apontam que eram muito comuns brincadeiras, cantorias, rezas, versos de
improviso. Eram explorados empírica e intuitivamente, os fatos do cotidiano, das pessoas
presentes no momento e também da realidade da comunidade.
Outro morador se recorda que em sua infância havia uma “incelença”17 que a sua avó
rezava lá na serra enquanto lavava roupas.
“As mulheres rezavam benditos velhos quando lavava roupa lá no Cocho. Me lembro de uma incelença, um bendito, que as mulheres mais velhas cantavam lá...” Uma lavandeira, um beija-flor, Lavando os paninhos de Nosso Senhor Quanto mais lavava O sangue escorria Nossa Senhora chorava O demônio corria (...)
Isso repetia nove vezes, diz o jovem. Era o refrão do bendito que as mulheres mais
velhas cantavam, complementa.
17 São benditos/cântico entoados por católicos para os defuntos, durante a sentinela (velório) . O cantor e compositor baiano de Vitória da Conquista, Elomar Figueira Melo, difunde a cultura das “incelenças”, inclusive compôs e interpretou – Incelença pro amor retirante.
69
Outra senhora se lembra de uma cantiga que entoava enquanto lavava suas roupas nas
cacimbas da Serra do Cocho:
“olê muié redeira, olê muié rendar Tu me ensina a fazer renda Que te ensino a nomorar...”
Mais uma senhora moradora se recorda de apenas um verso de uma cantiga que
cantavam durante o labor da lavagem de roupas ou do transporte de água: “lagartixa foi
pra missa...”.
Uma anciã, moradora da comunidade informa que o número de pessoas era muito
grande para usar a água da nascente e muito emocionada relata que preferia usar as
cacimbas:
“havia muita gente e nós não ficava no cocho. Ali era muita gente, animal. Nós ia lá pra cima nas cacimbas (...). Havia as cacimba de João Grande, de Zelino, de João de Chico (...) A gente chegava cedo, limpava a cacimba pra lavar roupas mais sossegada.
Na verdade, a entrevistada se refere às cacimbas que ainda estão ativas na serra. As
pessoas que ela menciona, apenas cavaram no solo as cacimbas na área pública, não
são reais proprietários das cacimbas.
3.2. Antropização e hiperexploração dos recursos naturais da Serra do
Cocho
A zona do entorno da área demandada para a instalação da Reserva Ambiental Serra do
Cocho encontra-se em processo de antropização acentuado. Os efeitos negativos da
ação humana são claramente perceptíveis. Por se tratar de área onde a atividade
agropecuária desenvolvida por pequenos produtores rurais, os impactos ambientais
advindos dessas atividades exercem implicações diretamente no ecossistema da Serra
do Cocho.
Todavia, o maior impacto, segundo relatos colhidos na comunidade, foi a construção de
barragens no Rio Araçá18, interrompendo totalmente o fluxo d´água da montante, à
18 Trata-se de pequeno rio temporário ou intermitente da região que corre a cima e paralelamente à Serra, “nos gerais”. O relevo após o mirante da Serra do Cocho torna-se plano ou menos ondulado.
70
jusante do corpo d´água. Inclusive, a população residente no entorno da reserva, indica
que as nascentes da serra foram impactadas diretamente por essas obras de barramento
do rio, levando ao esgotamento dos lençóis freáticos, consequentemente todas as
nascentes da região. Restando ativas, apenas a nascente da Serra do Cocho e nascente
da Serra do Boi. As demais: Brejinho, Veredinha, Grota, Bananeira, Riacho d´Anta e
Berrador, encontram-se totalmente esgotadas.
Um ancião morador da comunidade faz relato surpreendente e muito interessante:
“Fizeram muitas barragens “nos gerais”. Os rios Lavador, Tapioconga, rio São João e Lagoa dos Veados. Esses rios foram desmatados e água que era filtrada por baixo da terra até aqui no Cocho, não chega mais”.
Relata outro morador, apesar de jovem, recorda-se que além da construção de represas
“(...) acredito que a construção de represa interrompeu o fluxo da minação. Secaram as
“minações”, houve queimadas e desmatamentos. Outros olhos d´água da região
secaram”.
Como se percebe através das narrativas dos moradores da comunidade, as ações
antrópicas, são as grandes causas dos impactos ambientais negativos sobre o
ecossistema da Serra do Cocho.
A arte poética do jovem morador do entorno da Serra do Cocho, outra vez é também
elucidativa nessa questão dos impactos ambientais negativos sofridos pelo ecossistema
da Serra do Cocho, verdadeira hiperexploração dos recursos naturais:
(...) Só que natureza não tolera perturbação Humana Interferência Construção de barragem acima da serra A veia da água quase encerra (...)
Outro fato que se verifica em visita in situ é presença de espécies endêmicas da flora,
principalmente, as ditas, ”madeira de lei”, por exemplo: o jatobá, a sucupira, a copaíba, o
jacarandá, o jacatiá; e na fauna, espécies ameaçados ou em processo de extinção: o
macaco bugio, o sagui de topete branco, a onça parda, a onça jaguatirica, o tamanduá, o
urubu-rei, são apenas alguns exemplos das espécies que ainda encontram refúgios na
área demanda para a criação da reserva ambiental.
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Um antigo morador da comunidade relata sobre a diversidade do ecossistema e a
importância de preservá-lo:
“Acho demais importante a preservação porque nasci aqui e conheço tudo que tem lá: as matas, nascentes, árvores e os bichos. Inclusive, tem árvore lá que só tem na Amazônia, o jacatiá, dar uns mamãozinho papaia e meu pai, inclusive, usava pra fazer rapadura tijolo da fruta da árvore. Jatobá também dava muito lá e nós, a meninada, comia muitas frutas lá, direto”.
O jacatiá, também conhecido como mamãozinho do mato ou jacaratiá (Jacaratia spinosa)
na verdade é uma espécie endêmica da Mata Atlântica, de ocorrência desde o Rio
Grande do Sul até o Sul da Bahia. Como a Serra do Cocho é um ecossistema de
transição entre a Caatinga e a Mata Atlântica, localizado no sudoeste do Estado da
Bahia, o jacatiá se faz presente no ecossistema.
No entanto, no campo dos recursos hídricos, alguns moradores não têm essa percepção
muito clara. Entendem que o esgotamento das nascentes, principalmente a da Serra do
Cocho se deu devido à instalação do sistema de abastecimento doméstico. Todavia, é de
causar estranheza o fato de todas as outras demais nascentes ao longo da serra terem
secado também.
Todavia, alguns moradores percebem e entendem que o período de secas e estiagens
prolongadas é o fator desencadeante do esgotamento dos recursos hídricos da região,
inclusive a nascente e cacimbas de lá na Serra do Cocho.
Contudo, alguns moradores narram que a retirada desordenada de madeiras da mata da
Serra do Cocho gerou impactos ambientais significativos, inclusive escassez de espécies
endêmicas e surgimento de espécies exóticas no ecossistema.
Ademais, também apontam os desmatamentos como possível causa do esgotamento dos
“olhos d´água” de toda a região.
3.3. Primeiros lampejos protetivos: identificação da APP do “Olho d´água da
Serra do Cocho”
Identificado o primeiro grande marco histórico da preservação da Serra do Cocho, ainda
na década de 1970. Registra-se outro grande marco protetivo e igualmente histórico,
porém, sistemático, que se inicia após 2012. Um jovem morador da comunidade do
72
entorno da serra, ao migrar para São Paulo, em busca de melhorias econômicas-
financeiras, bem como, o desenvolvimento e aprimoramento intelectual, retorna em visita
aos seus pais, que ainda residem na região, resolveu intervir na realidade que se
encontrava a região.
Ocorre que, o jovem biólogo, ao trilhar pela serra, identificou várias ações negativas
impactantes ao meio ambiente: presença de gado solto na área, pisoteando as cacimbas
e a nascente, corte ilegal de árvores, queimadas e a presença de caçadores ilegais.
Indignado com a situação degradante em que se encontrava toda a área resolveu intervir
propondo e aplicando ações preservacionistas com o apoio da comunidade.
Assim, os primeiros lampejos protetivos sistematizados da Serra do Cocho tem início em
2012. O jovem biólogo da região, apesar de residir em São Paulo, indo visitar a região
apenas na ocasião de suas férias, intuitivamente idealizava criar uma reserva ambiental
para proteção de todo o ecossistema. Todavia, a região precisava de ações emergenciais
que não poderia aguardar a tramitação de um longo e moroso processo de criação de
uma UC, principalmente as cacimbas e a nascente sofreriam a maior impactação.
Então o jovem visionário reuniu-se com os amigos e vizinhos, expôs o problema e
sugeriu ações para aplicação imediata. Dirigiu-se ao INEMA sede regional de Vitória da
Conquista – BA, relatou o problema e a situação de abandono do local aos responsáveis
pelo órgão. O órgão ambiental aconselhou e lhe autorizou a colocar placa identificadora
da APP, advertido para não jogar lixo e com alerta proibindo caça. Ao retornar para a
comunidade as ações foram implantadas custeadas às próprias expensas do jovem
biólogo.
A comunidade mobilizou-se sob a coordenação do jovem biólogo realizaram um mutirão
e cercaram a área da nascente e cacimbas, isolando do pisoteio de animais soltos,
principalmente o gado bovino e também de pessoas.
A implantação destas ações emergenciais surtiram efeitos esperados: a nascente não
secou durante o decurso dos últimos dois anos. E com a presença de água no local,
consequentemente vários animais retornaram ao convívio na área. Por exemplo,
recentemente foi registrada a presença de macacos bugios, de saguis de topete branco,
de urubus-rei, além da onça jaguatirica com sua cria e muitas outras aves. A rápida
recomposição natural da flora é outro fato muito importante que se observa.
73
3.3.1. O longo processo para criação da Unidade de Conservação: “a escolha e o
preparo do solo”
Inegável que as primeiras ações protetivas em defesa da Serra do Cocho sensibilizaram
a comunidade levando vários cidadãos e cidadãs locais a aderir ao movimento. A
comunidade sensibilizada e convencida da importância da preservação e conservação da
área tem se envolvido em esforços comuns para a conquista do tão sonhado momento
da criação da UC na Serra do Cocho.
Uma vez escolhido o “solo fértil” é necessário prepará-lo para a semeadura. Apesar das
condições ideais do solo, para o lançamento das boas sementes, à germinação,
estrategicamente há que se ter a paciência e a sabedoria de aguardar o momento
adequado para depositar no terreno em condições favoráveis à germinação, mas,
sobretudo, o cuidado, o zelo para que após o rebento, cresçam, floresçam, deem frutos
sadios para garantir boa colheita que propicie a felicidade do saboroso banquete.
As fases precedentes ao banquete já foram avançadas conforme a evolução projetada e
sistematizada. Os preparativos para o banquete estão sendo providenciados para a
coroação da rainha tremedalense, a Reserva Ambiental da Serra do Cocho. Por sua vez,
o Território do Sudoeste Baiano, vai reverenciar também a primeira rainha – RPPN -
única soberana no território de 24 municípios. Certamente, vão aparecer princesas, aliás,
são muito bem-vindas ao “reino da preservação”, mas como soberania é atributo jungido
à realeza, a RPPN Serra do Cocho, possui unção primaz.
3.3.2. A propagação na comunidade das ideias para criar a Unidade de
Conservação: “O lançamento das sementes do cume da serra”
Um jovem biólogo e poeta, natural da comunidade do entorno da Serra do Cocho, é
também um exímio articulador socioambiental. É dele a idealização da criação da reserva
ambiental. Também é dele, a iniciativa da propagação na comunidade das ideias de
preservação e conservação ambiental de todo o ecossistema da Serra do Cocho.
Algumas estratégias foram intuitivamente, aplicadas no processo de sensibilização para o
despertamento e conscientização da importância de preservar e conservar o
ecossistema. Apesar de que na comunidade a técnica mais eficiente tem sido a
divulgação “boca-a-boca”.
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O próprio jovem biólogo Santiago (2015) relata essas experiências, dizendo que se
aproveitou da oportunidade de participar de uma cavalgada na comunidade para divulgar
as primeiras ideias que tinha para a preservação da nascente da Serra do Cocho:
Com o projeto já elaborado em mente e com todas diretrizes pensadas, riscos e problemas que poderiam acontecer, conhecendo bem a região e o sistema das pessoas; analisando toda situação, era hora de iniciar o trabalho. A cavalgada teve papel fundamental no processo, pois nela contava-se com a participação de alguns importantes membros antigos da população local, como o Seu Gerosíno e Nozinho e membros mais jovens como Vando e Adalto. Então aproveitei a oportunidade e comecei a falar sobre o assunto, apresentei a ideia de cercar o local; a conversa fluiu e tive o apoio inicial necessário. Então foi comunicado para outros moradores sobre o projeto e informado o dia marcado para começo da obra. Relatei que não precisavam se preocupar com os custos iniciais e maiores que era do arame, que eu tomaria as providências. (p.18)
Após esses primeiros passos as mídias digitais do município e de municípios vizinhos
divulgaram as ações realizadas e a importância do trabalho feito em prol da conservação
da Natureza.
Com isso veio a participação do Poder Público Municipal. O prefeito e os vereadores
apoiaram o projeto, nessa fase. Foram realizadas reuniões na Câmara de Vereadores,
com a participação da comunidade e da sociedade civil.
A demanda de criação da reserva ambiental foi apresentada a Prefeitura de Tremedal,
que através do apoio da vereadora Maria Mônica Ferraz, fez os encaminhamentos para
os órgãos ambientais competentes em Salvador.
O Projeto Tremedal Ecológico utiliza a divulgação “boca-a-boca”, as mídias digitais e
redes sociais para comunicar o andamento e as ações realizadas, bem como, os
objetivos atingidos. Uma vez que, o município não dispõe de meios de comunicação de
massa (jornal, revista, rádio, TV).
Inegável considerar que a comunicação é de fundamental importância para a
sensibilização e adesão de mais pessoas simpáticas à causa ambiental, também
favorece a transparência dos atos e das ações. Ineludivelmente, esses processos de
comunicação fortalece e ampliada o alcance e a efetividade da participação social cidadã.
75
O lançamento das boas sementes se dá do cume da serra. Os bons ventos
(comunicação “boca-a-boca”) se encarregam de depositá-las no solo adequado, o
orvalho do alvorecer matinal contribui com o seu papel fundamental na germinação das
boas sementes: Eis o relato de Santiago (2015).
Na primeira reunião lá na serra ficou definido que seria feita a picada na mata, fazendo a marcação da nova cerca, que seria erguida ao redor da nascente. Antes de iniciar a obra comprei duas bolas de arame novo para garantir a animação dos homens e o incentivo do custo mais alto já ter sido pago e estar à disposição. (p. 18)
A empolgação das pessoas da comunidade é contagiante. Organizaram e realizaram
uma cavalgada com feijoada beneficente, em prol da construção da Cada da Cultura
Antônio de Ernesto, que também vai abrigar a sede social do Projeto Tremedal Ecológico.
3.3.3. Identificação de potenciais voluntários: “A semeadura em terra fértil”
A atual sociedade capitalista e individualista, também tem ocupado espaços importantes
na comunidade, nas relações sociais, afetando o modo de vida dos indivíduos. Não seria
diferente em uma comunidade rural do Município de Tremedal, que também está inserida
no processo de globalização em que o acesso à informação, através dos meios de
comunicação de massa e da internet contribui grandemente para isso.
O modo de vida moderno afeta diretamente o comportamento das pessoas no mundo, no
país, inclusive nas comunidades rurais que também é muito impactada com o advento
das mídias e redes sociais. A televisão e a internet têm mantido as pessoas em suas
casas prejudicando as interações sociais de modo direto. É cada vez mais raro as visitas
de vizinhos para tomar um cafezinho com biscoitos caseiros ou até mesmo visitar uma
pessoa doente.
Nesse contexto, não é tarefa das mais fáceis identificar potenciais voluntários e fidelizar
em número ideal para “tocar” as diversas tarefas e desenvolver as ações necessárias
para dar consistência ao processo de criação e gestão de uma unidade de conservação.
Concorrer com a televisão e as redes sociais é tarefa fadada ao insucesso.
Mas a persistência e a liderança do jovem biólogo, as pessoas da comunidade vêm se
unindo e assumindo tarefas, realizando ações fundamentais para que o ideal evolua para
a concretização do tão sonhado momento da criação da reserva ambiental.
76
O clima amistoso e de compartilha desenvolvido na comunidade favorecem as inter-
relações e essa intercambialidade constrói um ambiente fraterno, de convivência e de
sociabilidade. Proporcionando uma atmosfera favorável para a “semeadura em terra
fértil”. Os semeadores capacitados escolhem o solo fértil, airado, e, juntos plantam as
boas sementes em terra fértil.
Óbvio que, quem planta, o faz, porque espera colher bons frutos, sadios e nutritivos. Eis
porque é necessário selecionar bons semeadores, capacitados para a semeadura de
boas sementes, porque para a esperada colheita farta é necessário “semeadura em terra
fértil”.
E assim, as pessoas foram se identificando, se destacando em determinadas
tarefas/procedimentos do processo: guias voluntários para visitantes e pesquisadores,
vigilância e inspeção de toda a área demandada, construção e conservação das trilhas
no interior da reserva, conservação e manutenção das cacimbas e nascentes, captação
fotográfica de animais e plantas do ecossistema, execução de tarefas administrativas,
divulgação através de palestras de educação ambiental e sustentabilidade no município e
no território de identidade Vitória da Conquista, assessoria técnica para construção de
hortas nas escolas rurais do município.
Todas estas tarefas e funções exigem voluntários muito além de comprometidos com
resultados, mas, acima de tudo, bons semeadores de otimismo, distribuidores de
esperanças, colecionadores de boas práticas sustentáveis, fortalecedores da
fraternidade, multiplicadores de amizade, praticantes da preservação e conservação
ambiental: eis apenas alguns exemplos dos potenciais voluntários transformados em
efetivos colaboradores unidos em proposito único; a “semeadura em terra fértil” com zelo
amoroso e fraterno para a colheita de bons frutos, pela preservação da Serra do Cocho.
Todas essas ações contribuem com o processo de criação e com a efetiva gestão
participativa da unidade de conservação.
3.3.4. Esforços e muito suor, parcerias e parceiros voluntários: “Os trabalhadores
da última hora”
O processo de criação e de gestão de uma Unidade de Conservação demanda muitos
esforços. São várias reuniões, muitas argumentações, diversas negociações, estratégias,
77
acordos, palestras, discussões, avanços e retrocessos, eventos para divulgação de ideias
favoráveis à criação da reserva.
É de fundamental importância os esclarecimentos para as pessoas da comunidade a
respeito dos ganhos diretos e indiretos que a comunidade terá com uma reserva
ambiental lhes presenteando, ar puro, um microclima melhor regulado, toda a gama de
serviços ambientais que a reserva vem lhes oferecer.
Paralela e concomitantemente vão sendo realizados pequenos eventos sociais, tanto em
São Paulo, quanto na comunidade. A sensibilização estava sendo consolidada. O
fortalecimento do grande ideal de criar a unidade de conservação carece de muito mais
“esforço e suor” não apenas das pessoas da comunidade, mas também de estabelecer
parcerias e conexões com outras pessoas e com entidades afins.
Tão significativos esses esforços, inclusive a Fundação Mata Atlântica, esteve em visita
na comunidade. A Universidade Estadual do Sudoeste Baiano (UESB), através do
Departamento de Biologia, vem regularmente realizando levantamentos e pesquisas na
área de interesse de implantação da UC.
Com efeito, ocorrem ocasionalmente, visitação de autoridades políticas do munícipio e
lideranças comunitárias, educadores, estudantes, professores, pesquisadores, pessoas
simpáticas à preservação do ambiente. Até as pessoas da comunidade têm ido à serra
com muito mais frequência visitar e desfrutar de lazer e piqueniques.
Muitos profissionais de diversas áreas do conhecimento, voluntariamente, também vêm
cada vez mais aderindo e integrando-se ao projeto, são biólogos, professores,
pedagogos, geógrafo, advogado, engenheiros, jornalista. É dessa ação generosa e tão
elementar, através de parcerias com parceiros que se vai construindo uma proposta de
ação, segundo preceituam a Política Nacional do Meio Ambiente e a Política Nacional de
Educação Ambiental, de modo inter e transdisciplinar. Permeando transversalmente todo
o processo de criação e de gestão da unidade de conservação.
Inegável que os muitos esforços levam a muito suor compartilhado com as parcerias e os
parceiros voluntários, que estabelecem um processo qualificado pela solidariedade, o
companheirismo, traduzindo toda essa sociabilidade em habilidosos e devotados
“trabalhadores da última hora”. Contribuindo com a preservação da Serra do Cocho, mas,
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acima de tudo colaborando para uma sociedade/comunidade com mais participação
social, cidadania, e justiça social.
Eis a grande missão e a recompensadora tarefa dos “trabalhadores da última hora”.
Nunca se faz trade para contribuir com esforços para a conquista de empreendimentos
socioambientais e culturais que beneficiem toda a comunidade e a coletividade em geral.
3.3.5. Demarcação da área demandada e a regularização fundiária da Reserva
Ambiental Serra do Cocho: “A floração e a anunciada colheita”
A evolução natural dos fatos está culminando com a demarcação da área para a
regularização fundiária, junto aos órgãos competentes e responsáveis por essa questão
no Estado da Bahia.
Assim, para a instauração do processo de criação da Unidade de Conservação Serra do
Cocho, foi juntado aos autos o parecer do Inema, com manifestação favorável a criação
da unidade de conservação. Esse parecer foi embasado, inclusive com documentos do
Projeto Tremedal Ecológico, e levantamentos in situ, do próprio Inema; para instruir o
processo de titulação da área demanda junto à CDA (Coordenação de Desenvolvimento
Agrário) em Salvador – BA: sob o número 468564-4 e protocolo nº 0880160015225 de 24
de agosto de 2016, tramitando perante a CDA.
(...) cabe aqui destacar que a partir das informações obtidas em campo e dos elementares estudos técnicos apresentados pelos interessados locais no processo de criação da unidade de conservação municipal, pode-se afiançar que a área da Serra do Cocho e seu entorno apresentam especialmente as funções de abrigar espécies da flora e da fauna silvestres ameaçadas de extinção e a de proteção de mananciais. Não obstante as restrições de uso estabelecidas pela Lei da Mata Atlântica já indiquem a premente obrigação de preservação destes ambientes, em vista da presença de áreas de preservação permanente associadas a terrenos com declividades igual ou superior a 45°, além da ocorrência de cursos hídricos e de suas respectivas áreas de preservação permanente, se advertem nítidas restrições de uso da área de interesse da criação da unidade de conservação e de boa parte das áreas de entorno alvo de estudo. Uma análise detalhada da cobertura e uso da terra da área objeto de interesse de criação da unidade de conservação da Serra do Cocho revela a presença de formações florestais em estágio médio a avançado de regeneração, áreas de transição Savana Estépica/Floresta Estacional e de áreas de solo expostos, as quais, para efeito de uma efetiva conservação dos recursos naturais, deveriam ser devidamente delimitadas e protegidas.
79
Esse processo de titulação da área se faz necessário, por se tratar de área pública. É
através desse processo que a Associação Ambiental e Sociocultural da Serra do Cocho,
reivindica para si, o título da área demandada para que, finalmente possa estar habilitada
a promover a criação da UC, junto aos órgãos ambientais competentes. Por entender ser
a comunidade detentora da posse mansa, pacífica, desimpedida e contínua ao longo de
aproximadamente 70 anos.
80
Figura 3.3: Cobertura da terra da Serra do Cocho e entorno. No centro da figura
apresenta-se a área de interesse de criação da UC constituída quase exclusivamente por
cobertura natural. Fonte: Inema.
81
Cumpre esclarecer que, essa área demandada sempre foi pública, mas não há nenhum
registro de tal situação. A comunidade sempre foi gestora da área. Sempre zelando e
preservando todo o ecossistema e a biodiversidade.
Reforça-se que a Associação Ambiental Serra Cocho é fruto do amadurecimento do
espírito comunitário e do associativismo para assumir legalmente toda a responsabilidade
pela preservação e gestão da RPPN Serra do Cocho, para que ela possa continuar ad
aeternum, oferecendo os serviços ambientais, para os usos de maneira democrática e
acessível a todos, de modo difuso e coletivo.
Ocorre que foi necessária uma visita in loco pelos técnicos da CDA, porque o
georreferenciamento da área, juntado no parecer técnico do Inema não foi realizado por
GPS geodésico. Em sua visita técnica a CDA realizou nova medição da área com o GPS
geodésico, cumprindo a exigência legal para a demarcação da área de interesse. Restou
apurada área menor que a medição inicial realizada pelo Inema.
Em segunda visita, os técnicos da CDA, já com a área georreferenciada, através do
instrumento tecnológico competente, fizeram a demarcação da área demandada,
identificando-a e individualizando-a das propriedades privadas. Nesta oportunidade foi
fincados piquetes de concreto com a logomarca do CDA em todo o contorno limítrofe da
área demandada.
Figura 3.4: Piquete com a insígnia da CDA (Coordenação do Desenvolvimento Agrário)
demarcando os limites da Reserva Ambiental Serra do Cocho. Fonte: Acervo do Projeto
Tremedal Ecológico.
82
O próximo passo é a titulação da área feita pela CDA em favor da Associação Ambiental
e Sociocultural da Serra do Cocho, para efetivamente, a Secretaria de Meio Ambiente do
Estado da Bahia decrete a criação da UC Serra do Cocho, restando a associação
habilitada para a gestão da unidade de conservação.
Figurativamente, a comunidade tem entendido estes acontecimentos como o prenúncio
da “farta floração para a anunciada e abundante colheita de bons frutos”. Equivale dizer
que: a floração é pulverização, é a divulgação das ideias conservacionistas e
preservacionistas do meio ambiente; por conseguinte, a colheita de bons frutos,
diretamente é a oficialização pelos órgãos ambientais, da Reserva da Serra do Cocho, e;
indiretamente, os benefícios difusos e coletivos, advindos dos serviços ambientais
disponibilizados pela unidade de conservação, RPPN Serra do Cocho.
A RPPN da Serra do Cocho é uma realidade fática consolidada, pois, é apoiada e
reverenciada por toda a comunidade local, que aguarda até com ansiedade o decreto de
sua oficialização para o banquete comemorativo por tanta luta, dedicação e empenho por
causa nobilitante e engrandecedora da comunidade local para toda sociedade em geral.
84
4. CONTEXTUALIZAÇÃO
As Unidades de Conservação no Brasil convém ressaltar, estão agrupadas em dois
grandes grupos: UC de usos sustentável e UC de proteção integral. Compreendem
estratégias de ordenamento territorial e também asseguram a preservação e a
conservação ambiental dos espaços naturais. Uma vez que, consistem reservar porção
territorial com todos os seus atributos ambientais biodiversos e ecossistêmicos para a
preservação e conservação da biodiversidade.
A RPPN (Reserva do Patrimônio Particular Natural) é uma categoria de UC prevista no
SNUC (Sistema Nacional de Unidades de Conservação), que pertence ao grupo das
UC´s de usos sustentável. Todavia, ressalta-se que os requisitos legais desta categoria
(ecoturismo, educação ambiental e a realização de pesquisas eco ambientais podem ser
realizadas no seu interior) indicam que deveria estar no grupo de categorias de UC´s de
proteção integral. Pois, estes são os mesmo requisitos exigidos para as categorias de
UC´s de proteção integral. Contudo, existe projeto de lei tramitando no Congresso
Nacional, para retificar essa incongruência, explicitando que as RPPN´s são UC´s de
proteção integral.
Ainda ressalta-se que a criação de uma UC depende de ato discricionário do Poder
Público. Apesar de o ato de criação de uma RPPN ser uma iniciativa voluntária do
proprietário da área, a legislação exige que a UC seja homologada, registrada e
submetida à fiscalização do órgão ambiental competente. Todavia, a comunidade e a
sociedade civil, de modo geral, estão também autorizadas pela Constituição Federal de
1988 e por leis infraconstitucionais a promoverem demandas de criação de UC, inclusive
as RPPN. No artigo 225 da CF/1988 está disposto que:
Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao poder público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações. (grifo nosso)
Assim, a obrigação de conservar, preservar e defender o meio ambiente é compartilhada
entre o poder público, em todas as suas esferas de poder da Administração Pública, da
coletividade, e da sociedade. A obrigação de defender e preservar o meio ambiente, não
é apenas para usufruto no presente, mas, sobretudo, para as gerações vindouras que
têm assegurado o seu direito a usufruir o meio ambiente ecologicamente equilibrado,
posto que, é indispensável à sadia qualidade de vida.
85
Assim, restou claro que a pesquisa de campo realizada na comunidade apurou que as
pessoas têm maturidade e compreensão para a sustentabilidade, a preservação e
conservação do ecossistema e das riquezas da Serra do Cocho.
Nesse contexto, as unidades de conservação são grandes aliadas para a defesa e a
proteção da mega biodiversidade brasileira.
Dentre as categorias de UC´s, vem merecendo destaque a RPPN (Reserva Particular do
Patrimônio Natural). Por não ser necessárias desapropriações, como é comum em
qualquer outra categoria, ao contrário, nesse caso, é o próprio proprietário da área que
manifesta voluntariamente o seu desejo de preservar o meio ambiente em sua
propriedade privada. No mundo há mais de 10 mil reservas privadas contribuindo
grandemente com a sustentabilidade e a preservação da biodiversidade.
No Brasil, comemora-se no dia 31 de janeiro o Dia Nacional das RPPN´s. Há muitas
RPPN´s instituídas, tantas outras, em processo de criação. No Estado da Bahia,
encontra-se 103 já demarcadas e oficializadas, muitas outras aguardando a burocracia
estatal para serem regularizadas. Por outro lado, em todo o Território do Sudoeste
Baiano, não há nenhuma UC desta categoria registrada no SIMRPPN (Sistema
Informatizado de Monitoria de RPPN´s).
O município de Tremedal, apesar das grandes extensões territoriais e de consideradas
riquezas ambientais, ainda não possui nenhuma UC. Ademais, a RPPN da Serra do
Cocho será a pioneira no município e no Território de Identidade Sudoeste Baiano, que é
composto de 24 municípios e não possui nenhuma UC dessa categoria. No Brasil, em
200 municípios as RPPN´s são as únicas UC existentes. Assim o município de Tremedal
será mais um a integrar este rol.
A Serra do Cocho está localizada na zona rural do município de Tremedal,
aproximadamente 20 km, a sudoeste, entre o munícipio de Piripá - BA e Ninheiras - MG.
Seguindo pela estrada vicinal que liga a sede do munícipio de Tremedal ao distrito de
Lagoa Preta, e este, ao norte mineiro.
Por sua vez, o município está inserido no Território de Identidade Sudoeste Baiano, no
Estado da Bahia (Figura 4.1). A serra é composta por terras devolutas, que são bastante
cobiçadas, principalmente para “pastoreio de larga”, exploração dos recursos hídricos,
86
caça ilegal de animais silvestres e extração ilegal de madeira. Inserida em um conjunto
de comunidades rurais: Salininha, Quati, Veredinha, Lagoa das Pedras e Brejinho.
O município de Tremedal dista da capital do Estado da Bahia, Salvador, cerca de 588 km.
A referência regional é a cidade de Vitória da Conquista, que está localizada cerca de 80
Km de distância de Tremedal. Com efeito, Tremedal é considerado um município grande
quanto à sua extensão territorial.
Figura 4.1: Mapa do município de Tremedal e municípios vizinhos. Os destaques em cor
verde no mapa é a região da Serra dos Caititus, conhecida localmente por Serra do
Cocho. O município de Ninheiras fica no norte do Estado de Minas Gerais. Fonte:
https://www.google.com.br/maps/place/Tremedal
Segundo o IBGE, em 2016, o território do município possui 2.010 km2 e população de
17.854 habitantes, cuja densidade demográfica, no ano de 2010 totaliza 10,14 (hab/km²).
Geograficamente, a Serra do Cocho (Serra dos Caititus) está inserida nas ramificações
que compõem a Serra Geral.
87
Figura 4.2: Mapa do Estado da Bahia - Territórios de Identidade.
Vitória da Conquista (atual Sudoeste Baiano), do qual é integrante o município de
Tremedal, onde está localizada a Reserva Ambiental Serra do Cocho, atualmente é
chamado de Sudoeste Baiano. Fonte: Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia
- IPAC-BA.
O Território de Identidade Sudoeste Baiano é constituído por 24 municípios (Figura 4.3)
dentre eles o mais desenvolvido é Vitória da Conquista, importante centro comercial e
também de serviços. É a terceira maior cidade do estado da Bahia. Contudo, o território
possui área de 26.809,99 km² e população de 695.302 habitantes.
88
Figura 4.3: Mapa do Território de Identidade Sudoeste Baiano, com os municípios que o
compõem. Estando nele inserido o município de Tremedal, que faz divisa com o norte de
Minas Gerais. Fonte: Secretaria de Ciência Tecnologia e Inovação do Estado da Bahia.
Historicamente, a região do Território de Identidade Sudoeste Baiano possui cabedal
generoso em biodiversidade. O príncipe Maximiliano de Wied-Neuwied (1815 a 1817),
naturalista prussiano que esteve em expedição aqui pelo Brasil, ao passar pela região do
Sertão da Ressaca (região que compreende a margem esquerda do Rio Pardo em MG e
a margem direita do Rio das Contas na BA), comprovou a existência de abundante
biodiversidade, principalmente espécies da fauna e flora. Posto que, à época, a Mata
Atlântica predominava exuberante em toda a região, que ainda hoje, há vastos
remanescentes, o que caracteriza o ecossistema da Serra do Cocho como uma transição
dos biomas Caatinga e Mata Atlântica.
Segundo Heine (2009) afirma que, o Sertão da Ressaca era uma área compreendida
entre a margem esquerda do Rio Pardo e a direita do Rio de Contas; é a região onde
está localizada a cidade de Vitória da Conquista. (Figura: 4.4) Ainda segundo os mesmos
autores, constituía-se, naquele momento, num dos focos mais ativos de “expansão de
conquista de novas terras, graças à importância econômica da pecuária no mercado
consumidor interno”.
89
Na época das “conquistas” no sertão do sudoeste da BA e norte de MG, as questões dos
limites provincianos que ainda não eram demarcados e quiçá conhecidos os conflitos
ditavam as regras.
O fato é que esses limites não eram conhecidos nem pelos colonos, nem pelos exploradores da mineração que transitavam entre Minas e Bahia, havendo, contudo, conflitos jurídicos, políticos e religiosos. Assim foi definido por decreto em 1757, que as terras de Minas Novas pertenceriam a Minas Gerais, seguindo os limites definidos entre as bacias do Rio Pardo Rio Jequitinhonha e Rio Verde. Para evitar mais conflitos de interesses no território do Sertão do Rio Pardo, o Governador da Bahia Conde de Azambuja, pede ao Ouvidor da Comarca de Jacobina, José Joaquim de Almeida Araujo que, comandava juridicamente todo esse território do interior da Bahia, para legislar sobre o assunto.
Tanto que assim era que o ouvidor então define em edital:
Faço saber que pelos termos da demarcação da dita Vila do Rio das Contas com das Minas Novas, todos os moradores e habitantes do Rio Pardo para cá pertencem à jurisdição da Vila do Rio das Contas subordinada a Comarca de Jacobina e, por conseguinte aos domínios da Bahia. Por servir o dito Rio Pardo de divisas aos termos de uma e de outra Vila, como também de um e de outro Governo, mando a todos os moradores e habitantes desse território (grifos meus) que não obedeçam aos governos e jurisdições das Minas Gerais. (ARAUJO, 1766, p. 266, apud, Rocha (2013)
Esta foi a solução que o então governador da Bahia encontrou ao convocar o ouvidor da
Comarca de Jacobina, a avocar para sua jurisdição a solução de todos os conflitos do
Sertão da Ressaca.
90
Figura 4.4: Mapa da ocupação territorial e origem do Arraial da Conquista-BA. Fonte:
Rocha (2013) elaborado pelo autor com base na reconstituição cartográfica do século
XVIII e XIX informações do livro de Maximiliano Viagem ao Brasil-1817 e informações da
Compendiosa Carta de João Gonçalves da Costa -1783.
Socioeconomicamente, a região da Serra do Cocho e seu entorno é estritamente ligada à
agropecuária de subsistência. São pequenos produtores rurais, cuja produção é para o
próprio consumo familiar. Logo, é uma região carente de infraestrutura e equipamentos
sociais. A presença estatal na região limita-se a duas escolas rural de ensino
fundamental, cada uma com única sala de aula e classe multisseriada, onde as aulas
91
acontecem com alunos de diferentes idades e níveis educacionais; e um posto de saúde
pública, que está localizado no povoado de São João dos Britos, há 3 km da comunidade
rural Salininha.
Óbvio, que nesse contexto, o nível de educação formal das pessoas residentes no
entorno da UC, muitas vezes não atinge sequer o ensino fundamental.
Assim, nesse contexto, para o presente trabalho, optou-se, fundamentalmente pela
educação ambiental não formal, pautada nas tradições culturais e nos saberes populares
regionais.
O IDHM (Índice de Desenvolvimento Humano Municipal) no ano de 2010, segundo o
IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) foi 0,528, classificado como baixo,
correspondendo a 13ª pior classificação no Estado da Bahia.
O IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) global, inspirou a criação do IDMH, esse
índice, agrega as dimensões longevidade, educação e renda, analisando mais de 180
indicadores socioeconômicos, cujo valor máximo é 1. No município de Tremedal (Tabela:
4.1) O IDHM tem evoluído, mas ainda é considerado baixo.
IDHM do município de Tremedal - BA
Data Renda Longevidade Educação IDHM
1991 0,403 0,594 0,046 0,222
2000 0,477 0,675 0,136 0,352
2010 0,545 0,749 0,360 0,528
Tabela 4.1: Evolução do IDHM (Índice de Desenvolvimento Humano Municipal). Fonte:
PNUD, Ipea e FJP, apud, Atlas Brasil.
Ocorre que, em razão do processo de criação da UC Serra do Cocho (Processo 2015-
002672/TEC/UCM-0001), o INEMA, depois de consultado pelo Projeto Tremedal
Ecológico a respeito da viabilidade da criação da UC, manifestou-se positivamente
através da Nota Técnica (NT - COPLAN - Nº 02/2016) apontando a “relevância ambiental
que justifica a viabilidade da criação da unidade de conservação”.
“Evidenciado pelas informações apresentadas e obtidas nos trabalhos de campo, admite-se que a área da Serra do Cocho objeto de interesse da criação de unidade de conservação municipal possui estado de conservação suficiente para que sejam envidadas todas as ações técnicas e jurídico-administrativas
92
necessárias para a sua efetiva criação”. Cabe destacar que a partir das informações obtidas em campo e dos elementares estudos técnicos apresentados pelos interessados locais no processo de criação da unidade de conservação municipal, capitaneados pelo Projeto Tremedal Ecológico, pode-se afiançar que a área da Serra do Cocho e seu entorno apresentam especialmente as funções de abrigar espécies da flora e da fauna silvestres ameaçadas de extinção e a de proteção de mananciais. (p. 5)
Essa manifestação positiva em prol da criação da UC Serra do Cocho impulsionou o
Projeto Tremedal Ecológico a buscar apoio na comunidade local e também de amigos e
profissionais em diversas áreas, simpatizantes das causas ambientais e ecológicas. Bem
como na Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB).
Apesar da indicação positiva do INEMA, embasada em suas próprias pesquisas de
campo, o atual momento de dificuldades econômicas reinante no país, também tem
acometido a contrapartida do Poder Público para a efetivação da criação da Unidade de
Conservação.
Mas o Projeto Tremedal Ecológico, articulador na comunidade para a oficialização da UC,
tem empreendido muitos esforços juntamente com os órgãos públicos, entidades
parceiras e amigos voluntários para a regularização e criação da Reserva Ambiental.
Ecológica e ambientalmente, o município ainda possui grandes áreas remanescentes de
Mata Atlântica, de Cerrado e de Caatinga. Existem até áreas alagadas. Contudo, são
todas áreas privadas. Todavia, a municipalidade não possui órgão autônomo para as
questões de proteção e da gestão ambiental. Há uma diretoria de Meio Ambiente,
vinculada a Secretaria de Agricultura. Essa diretoria não possui dotação orçamentária
nem autonomia administrativa, tampouco pessoal capacitado para tal “missão”.
São recorrentes os conflitos e litígios no município envolvendo questões ambientais.
Principalmente no campo da exploração dos recursos naturais: exploração de minerais
(pedreiras), plantio desordenado de eucalipto, poluição de corpos d´água devido às
atividades mineiras, desmatamentos e queimadas.
O município apesar de não possuir nenhuma outra unidade de preservação da
biodiversidade, contudo, possui grande potencial para implantação de muitas UC´s. Mas,
não se tem notícia de iniciativas ou alguma organização para tal intento. Todavia, existe
uma área privada para soltura/reintrodução de animais silvestres apreendidos ou
vitimados por acidentes, em convênio com o IBAMA.
93
Ademais, verificou-se que o município ainda não possui um programa de proteção de
mananciais, mas existe um Conselho Municipal de Meio Ambiente. A Secretaria
Municipal de Educação está esboçando ações ambientais junto às escolas do campo.
Ainda verificou-se que o município não possui um programa de educação ambiental
sistematizado. O que seria demasiadamente importante para o município, uma vez que,
possui riquíssimo cabedal ambiental a zelar, proteger e beneficiar-se de toda essa
preciosa herança ecossistêmica que poderá ser usufruída pelas presentes e futuras
gerações, de modo sustentável.
94
5. DESENHO METODOLÓGICO
5.1. Introdução
No desenvolvimento do presente capítulo deste trabalho, além da pertinente revisão
bibliográfica, optou-se por uma imersão pessoal do aluno na realidade do local, para a
realização da pesquisa de campo, tanto no interior da Serra do Cocho, quanto nas
comunidades rurais do seu entorno, no município de Tremedal, no Sudoeste do Estado
da Bahia.
Durante uma semana permaneceu instalado na comunidade rural, hospedado na casa de
um casal de antigos moradores da comunidade. Anfitriões dedicados e gentis, bons
conhecedores da comunidade, dos hábitos, dos costumes e da história, bem como, da
cultural local.
A chegada à comunidade se deu à noite e no dia seguinte, logo cedo, foi realizado um
reconhecimento à Reserva Ambiental da Serra do Cocho, acompanhado por quatro
jovens moradores da comunidade. Foi possível observar a exuberante vegetação com
espécies características, predominantemente dos biomas Caatinga e Mata Atlântica;
animais (principalmente aves), insetos; muitas rochas, o solo, o relevo e o clima; bem
como os recursos hídricos (nascente e cacimbas).
Já nas visitas e deslocamentos pelas comunidades do entorno da Serra do Cocho foram
feitas além das anotações no diário de campo, os registros através de fotografias antigas
e atuais, recortes de revistas e jornais, com objetivo de observar a evolução no estilo de
vida, nos hábitos, nos costumes das pessoas da comunidade e suas interações
socioculturais.
Cabe registrar que pesquisadores Bizerril e Gastal, (2002, p. 50) esclarecem que “a
pesquisa em Educação Ambiental pode e deve utilizar metodologias qualitativas como
quantitativas para buscar responder uma série de tipos de perguntas”. Assim, nesse
sentido, optou-se por metodologia tanto qualitativa quanto quantitativa.
A pesquisa de campo, segundo Fonseca, apud, Bizerril e Gastal (2002), caracteriza-se
pelas investigações em que, além da pesquisa bibliográfica e/ou documental se realiza
95
coleta de dados junto a pessoas com o recurso de diferentes tipos de pesquisa (pesquisa
ex-post-facto, pesquisa-ação, pesquisa participante, etc.).
Por outro lado, com mestria, Bizerril e Gastal (2002, p. 47) esclarecem que na pesquisa
participante:
Não é raro um educador ambiental (pesquisador ou técnico ligado a órgãos governamentais de educação ou de meio ambiente) inserir na comunidade participando conjuntamente com os demais atores sociais, em busca de solução para os problemas ambientais encontrados. Este processo é relatado na literatura como ´Pesquisa Ambiental Participante´ ou simplesmente como ´Pesquisa Participante´ e consiste na principal metodologia recomendada por muitos autores para a prática da educação ambiental.
Doutrinariamente, Bizerril e Gastal, (2002) registram a existência de várias vertentes
desta estratégia com caracterizações próprias como é o caso da “pesquisação” e da
“investigação-ação-emancipatória participativa”.
Possuem em comum o enfoque educativo-ambiental visando mudanças sociais, a partir
do envolvimento e participação ativa do pesquisador e da comunidade. Esses mesmos
autores advertem que “a pesquisação e a pesquisa participante são processos muito
dinâmicos de tal modo que é difícil prever com exatidão os caminhos que serão
percorridos, e até que ponto os objetivos serão contemplados” (p. 48).
Com o intuito de aplicar as orientações das estratégias da pesquisação, que por
essência é uma pesquisa participante foi realizada uma viagem para Tremedal - BA, no
início do mês de março de 2017, para a imersão na comunidade. A estada foi realizada
por uma semana na residência de um casal de moradores antigos da comunidade Lagoa
das Pedras, no entorno da Serra do Cocho. Foi possível realizar uma interação com
muitos moradores das demais comunidades rurais do entorno, Salininha, Quati e
Veredinha.
Segundo o MMA (2017b) na pesquisa-ação participante pesquisadores, técnicos,
educadores e comunidade se colocam numa postura dialógica horizontal, onde a
realidade local e a diversidade de saberes exercem papel fundamental na condução do
processo de construção do conhecimento.
É pertinente mencionar que, nesse sentido, algumas experiências que ilustram e
exemplificam a permanência nas comunidades do entorno da Reserva Ambiental,
96
executando a pesquisa de campo: com participação ativa da fundação da Associação
Socioambiental e Cultural da Serra do Cocho, realizada no dia 04/03/2017; bem como, na
elaboração, discussão, aprovação do estatuto social, eleição da diretoria da associação e
eleição como 2º secretário. Também foi possível acompanhar e participar da reunião da
Comissão para Construção da Casa de Cultura na comunidade Salininha, haja vista, a
presença estatal na comunidade é demasiadamente diminuta, quase inexistente. O polo
urbano mais próximo é a cidade de Tremedal há cerca de 20 km de distancia e não há
transporte regular para os deslocamentos.
Para o alcance dos objetivos estabelecidos no presente trabalho, cujo enfoque
metodológico pautou-se na pesquisa de campo, orientada pelas estratégicas da
pesquisação na reserva ambiental da Serra do Cocho e nas comunidades do seu entorno
sendo visitados e entrevistados presencialmente 23 moradores nesse período.
As manifestações culturais e saberes populares de uma comunidade são permeados de
registros diretos e indiretos do seu cabedal histórico-sócio-cultural, que se encontram
entranhados nos arcabouços da memória; uma vez que, investigados e documentados se
traduzem em conhecimento autêntico da realidade histórica e sociocultural no tempo e no
espaço.
Todos os relatos foram colhidos de modo direto, aleatório, espontâneo e voluntariamente,
inclusive, com todas as informações reduzidas a termo, no diário de campo,
simultaneamente à oitiva do entrevistado. Todavia, para otimizar a fluidez e a dinâmica
dos trabalhos de campo, nos levantamentos dos dados, obedeceu-se um roteiro de
visitação aos entrevistados, previamente elaborado em parceria com lideranças e atores
sociais da comunidade.
5.2. Amostra
As amostras objeto da presente investigação constituem-se por pessoas moradoras nas
comunidades da zona de entorno da Reserva Ambiental da Serra do Cocho.
A comunidade é rural, conforme já se ressaltou anteriormente, e por isso mesmo muito
pequena. Estima-se que haja 150 moradores, entre adultos, jovens e crianças.
Predomina a maioria de pessoas jovens.
97
Durante a realização da pesquisa de campo conseguiu-se entrevistar 23 pessoas de
ambos os sexos e maiores de 18 anos de idade, no período de uma semana. Totalizando
13 pessoas e 10 do sexo feminino.
Assim, foram ouvidos aleatoriamente e de maneira voluntária, através de entrevistas
minimamente estruturadas moradores maiores de 18 anos de idade com interesse em
colaborar com a pesquisa. Nesse processo, em nenhum momento se deu preferência
pelo nível de escolaridade, sexo, ou projeção social, influência intelectual ou econômica
na comunidade. Preferiu-se a neutralidade.
5.3. Materiais e métodos
Na consecução deste trabalho, especificamente na fase de pesquisa de campo foi
utilizado o diário de campo, para apontamentos e registro de informações importantes,
lembretes da visita in loco na comunidade e na Serra do Cocho; igualmente a câmera
fotográfica; também um computador portátil e celular smartphone, com acesso à internet
para pesquisas rápidas ou confirmar e confrontar informações pertinentes.
O método para a coleta de dados e informações na comunidade do entorno da UC Serra
do Cocho, pautou-se em entrevistas semiestruturadas, com “perguntas abertas” para a
coleta direta e presencial de depoimentos dos moradores, que voluntária e
espontaneamente pudessem colaborar com o seu saber, com as suas informações.
Durante as entrevistas tomou-se muito cuidado, mantendo postura respeitosa.
Obedeceu-se critérios e padrões minimamente induzidos/conduzidos e as falas
(respostas) iam sendo registradas simultaneamente no diário de campo todas as
informações colhidas.
A temática e as perguntas foram previamente elaboradas antes do contato com os
entrevistados. Assim, foram feitas as mesmas perguntas para todos os entrevistados, às
vezes, com poucas adaptações para facilitar a clareza na comunicação com entrevistado.
Dado que, apesar de se tratar de uma comunidade rural de hábitos, costumes e cultura
semelhantes, a percepção e a compreensão da realidade pelo indivíduo não se dá de
maneira linear. Com efeito, o seu nível de instrução e a realidade sociocultural com a qual
inter-relaciona-se além comunidade, traz novos sentidos e significados para a sua
existência que é repleta de subjetividade, com desejos, frustrações e expectativas.
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Com o objetivo de respeitar a individualidade da comunidade e das pessoas, optou-se
por fotografar apenas paisagens, o ambiente natural da Serra do Cocho e também do seu
entorno. Tal atitude se justifica por se tratar de pessoas “simples na acepção restritiva do
termo”, inseridas em uma realidade pacata e especial de ser e estar em uma comunidade
rural.
Nesse contexto, rigorosamente procurou-se evitar constrangimentos aos entrevistados ou
colocá-los em situações vexaminosas, de transtornos ou acanhamentos. As entrevistas,
outrossim, assumiram o “tom” cordial e de informalidade, num clima amistoso, para que o
entrevistado pudesse expressar os sentimentos, as suas reminiscências com emoção,
com verdade externar as suas ideias e o seu pensamento com fluidez.
As narrativas acompanhadas eram quase sempre marcadas pelo saudosismo
emocionado, às vezes evoluindo até para a melancolia em algumas falas. Além disso,
destaca-se a esperança e a crença numa nova realidade socioambiental, que resulte em
transformação positiva para a comunidade; traço presente e marcante em quase todos os
relatos dos entrevistados.
5.4. Procedimentos
Preliminarmente foram realizados levantamentos doutrinários, legais e bibliográficos,
estatísticos, históricos, atuais e especializados, pertinentes à temática desse trabalho.
Assim, os dados complementares à revisão bibliográfica foram coletados pessoal e
diretamente, no interior da Reserva Ambiental da Serra do Cocho e também, nas
comunidades rurais do seu entorno. Obtidos através de depoimentos, conversas
informais e entrevistas minimamente conduzidas ou induzidas. Ainda foram analisados
documentos antigos, principalmente fotografias, que reflitam as manifestações culturais e
as interações sociais na comunidade com viés para o sociosustentabilidade, o meio
ambiente, a educação ambiental ou conteúdo conservacionista e preservacionista.
E nesse contexto, também realizou-se visita, in loco, nas comunidades do entorno e no
interior da Reserva Ambiental compreendendo: contemplação, observação direta e
indireta, bem como inspeções, registros fotográficos e apontamentos escritos no diário de
campo, pertinentes a toda a área demandada para a criação da reserva ambiental da
Serra do Cocho.
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Ademais, realizou-se levantamentos estatísticos junto aos órgãos públicos oficiais e
governamentais: o Ministério do Meio Ambiente, o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatística), ICMBio (Instituto Chico Mendes de Biodiversidade) e no CONAMA
(Conselho Nacional do Meio Ambiente), o IBAMA, o INEMA, CNRPPN, (Confederação
Nacional dos Proprietários de RPPP), SIMRPPN (Sistema Informatizado de Monitoria de
RPPN). Esses levantamentos foram realizados com a finalidade de evidenciar,
quantitativamente a realidade das RPPN´s no Brasil e no Estado da Bahia e no Território
de Identidade do Sudoeste Baiano.
Durante as visitas às pessoas moradoras das comunidades do entorno da Serra do
Cocho, ressalta-se que, optou-se pela informalidade, a descontração e a espontaneidade.
Em todas as visitas aos entrevistados, adotou-se incondicionalmente a gentileza e a
cortesia. Tinha sempre a companhia de um morador local, para as coletas de dados,
informações, através de diálogos, entrevistas e até conversas informais, nas próprias
residências das pessoas. Houve também convite de moradores e lideranças da
comunidade que se disponibilizaram a contribuir como entrevistados.
Registra-se que ao chegar à residência do entrevistado, sempre em companhia de um
morador da comunidade escalado para me acompanhar que também me apresentava e
esclarecia o motivo da minha visita. Cuidadosamente, explicava que se tratava de um
trabalho acadêmico e que não seria nada veiculado na imprensa e que identidade do
entrevistado ficaria em anonimato.
Esclarece-se que, optou-se por realizar todas as entrevistas na residência de cada um
dos entrevistados com a finalidade de deixá-los à vontade e confortáveis para falar de
suas experiências, de sua história, de sua vida. Não se impondo, controlando ou
delimitando o tempo necessário para as respostas.
Importa dizer que na Assembleia Geral de fundação da Associação Socioambiental e
Cultural da Serra do Cocho, o pesquisador foi apresentado aos presentes, por um jovem
morador, que também é articulador socioambiental da comunidade. No uso da palavra foi
explicado em linhas gerais, a razão e os objetivos da visita, bem como, o que seria feito
naquela semana na comunidade. A proposta foi muito bem compreendida e aceita pela
comunidade que deu as boas vindas e ofereceu o apoio necessário.
Na oportunidade ainda foi esclarecido que eventualmente, pretendia fotografar eventos e
manifestações culturais na comunidade e o ambiente natural no interior da UC, e no seu
100
entorno, atinentes às questões socioculturais, ambientais, e, eventualmente algumas
ações de educação ambiental.
Convém consignar que, respeitando os limites de influência do pesquisador,
preconizados pela pesquisação, o mesmo foi um dos idealizadores e articuladores para a
criação da Associação Ambiental e Sociocultural da Serra do Cocho, objetivando uma
gestão cooperativa, participativa e democrática da Reserva Ambiental da Serra do
Cocho.
101
6. RESULTADOS
O processo de criação de uma unidade de conservação ambiental envolve uma grande
gama de interesses que nem sempre convergem para o delta da preservação e da
conservação da biodiversidade dos ecossistemas e dos biomas brasileiros. É muito
comum o surgimento de conflitos e litígios que exigem mediação e muito diálogo para
esclarecê-los ou solucioná-los.
É ponto pacífico na doutrina que a educação ambiental oferece valiosa contribuição
nesses processos, desde apresentação da demanda de criação da unidade de
conservação, passando pelas audiências públicas, reuniões, encontros, até os
procedimentos técnicos especializados: georreferenciamento, demarcação da área.
Após a oficialização da UC, é indispensável continuar o compromisso firmado mantendo
essa fiel aliada, a educação ambiental, em toda e qualquer etapa, quer seja na sua
gestão (Conselho Gestor), quer seja no modus operandi (Plano de Manejo). Todavia, não
se deve dispensar a existência de um plano de ações estratégicas de educação
ambiental, que nesse caso, deve ser pautado nas estratégias da educação ambiental não
formal, assegurando a perenidade de efetiva educação ambiental, que transforma
consciências para praticar as mudanças que assegurem um meio ambiente
ecologicamente equilibrado, socialmente justo para a presente e as futuras gerações.
O presente trabalho aderiu à educação ambiental não formal, dada a realidade da
reserva da Serra do Cocho. Uma vez que está localizada em zona rural do município, em
região de difícil acesso, com muitas de suas tradições e manifestações culturais ainda
estão preservadas.
Ressalta-se que educação ambiental não formal encontra-se amparada pela Lei nº
9.795/99, portanto, não há que se confundir com ilegal. Assim, tem por cerne, a ausência
de formalidades da educação formal, oficial; obedecendo a currículos padronizados,
estruturas físicas, hierarquias e sistemáticas de avaliações.
O objetivo geral da presente dissertação: desenvolver um programa de educação
ambiental não formal, pautado na participação social cidadã e democrática capaz de
legitimar as decisões em processo de criação e gestão de unidade de conservação de
uso sustentável; obteve êxito, uma vez que, as comunidades rurais localizadas no
102
entorno da reserva ambiental da Serra do Cocho, tem percepção, boa aceitação e
aptidão para as práticas coletivas, solidárias, portanto participativas e democráticas. São
pessoas engajadas na defesa dos seus interesses, enquanto coletividade.
A comunidade através do apoio da Associação Ambiental e Sociocultural da Serra do
Cocho demonstra interesse em implantar atividades turísticas voltadas para o turismo
rural e ecológico. Tendo em vista que, as visitações à comunidade e à reserva ambiental
tem despertado o interesse de pessoas e de escolas, bem como de pesquisas e estudos
acadêmicos universitários.
Com toda a movimentação em prol da criação da reserva ambiental, a comunidade tem
adquirido visibilidade através de redes sociais e mídias eletrônicas, o que tem aumentado
às visitações a Serra do Cocho, bem como, tem contribuído para o despertando do
aumento da autoestima e valorização da cultura local, das comunidades do entorno da
reserva ambiental.
Quanto aos objetivos específicos passa-se à análise do resultado alcançado em cada um
deles:
• Realizar visitas de campo para levantamentos in loco nas comunidades do entorno da
Serra do Cocho, visando à identificação de lideranças comunitárias, entidades e atores
sociais para catalogação de dados referenciais da cultura regional pautados nos usos,
costumes e saberes populares.
Durante a primeira semana do mês de março de 2017, foram realizadas visitas com
observação direta na Associação dos Pequenos Produtores Rurais da Salininha;
participação da reunião na Comissão da Casa da Cultura do Projeto Tremedal Ecológico;
participação na Assembleia de Fundação da Associação Ambiental e Sociocultural da
Serra do Cocho; visita aos presidentes das associações da Salininha e do Quati. Em
todas oportunidades foi possível fazer pronunciamento a cerca do associativismo, da EA,
sobre sociosustentabilidade ambiental, bem como, a respeito da preservação e
conservação ambiental, da necessidade e importância de criar unidades de conservação
ambiental.
Registrou-se a existência de um grupo informal de cavaleiros que realizam cavalgadas na
comunidade, anualmente. Também registrou-se a existência de outro grupo informal de
mulheres reizeiras, que anualmente se reúnem em visitação às famílias da comunidade
homenageando ao Santo Reis.
103
• Identificar e catalogar as manifestações culturais regionais, saberes populares e
perceber as influências delas na comunidade;
Conforme mencionando anteriormente, catalogou-se as seguintes manifestações da
cultura e dos saberes regional: folia de reis, futebol das jovens moças, cavalgada, saraus,
noites culturais.
• Coletar depoimentos espontâneos de moradores da zona do entorno da Serra do Cocho
de fatos históricos que subsidiem a pesquisas, principalmente, quanto ao uso dos
recursos e serviços ambientais, a preservação e a conservação dos recursos naturais;
No transcurso da primeira semana do mês de março de 2017, visitei famílias moradoras
no entorno da Serra do Cocho. Foi possível realizar 23 entrevistas, semiestruturas com
todas perguntas abertas para que o entrevistado pudesse explanar livremente seu
pensamento, suas impressões, suas percepções, expectativas, desejos, frustrações,
anseios. Todas as entrevistas foram realizadas na própria casa do morador, sem
presença de nenhum equipamento para gravações ou filmagens, apenas foram
realizadas anotações no diário de campo.
• Identificar na comunidade pessoas ou instituições da sociedade civil, que fossem
capazes de atuar em educomunicação e arteducação para divulgar a importância e a
prática da Educação Ambiental não formal para a sustentabilidade, a preservação e
conservação ambiental;
Através da observação direta e indireta foi possível identificar uma instituição da
sociedade civil com aptidão e interesse de atuar com educomunicação e arteducação na
comunidade divulgando sociosustentabilidade, a preservação e a conservação ambiental.
• Elaborar um plano de ações estratégicas de EA, fundamentado nas estratégias da
educação ambiental não formal, para implantar na UC Serra do Cocho.
Elaborar um cronograma contendo um círculo de palestras e atividades com a temática
ambiental para ser apresentado nas associações de agricultores da região, do município,
especialmente, no Projeto Tremedal Ecológico.
É possível ainda expandir a experiência do cultivo de horta, já sedimentada na escola
pública da comunidade, apoiada pelo Projeto Tremedal Ecológico, para hortas
104
comunitárias, até mesmo “farmácia viva” com plantas medicinais. São experiências que
possibilitam a “promoção do desenvolvimento econômico e social, com manutenção da
qualidade ambiental” (Lucena, 2010, p. 52).
Realizar atividades artísticas com a temática ambiental: sarau, apresentar músicas que
abordem o MA e sua temática; teatro abordando e explorando a cultura regional; tertúlias,
recital em vesperais e noite cultural. Tendo em vista que, apurou-se que a comunidade
possui potencialidade culturais que, uma vez valorizadas e estimuladas, são boas
estratégias para trabalhar arteducação, voltadas para a preservação e a conservação da
sociobiodiverdade;
Sistematizar as visitas guiadas ao interior da reserva Serra do Cocho para observação e
contemplação das belezas e dos recursos naturais. Tais práticas sensibilizam as pessoas
para adotar atos e atitudes voltados para a educação ambiental, preservação e a
conservação do meio ambiente e dos recursos naturais.
Os elementos qualificadores de todo o processo de criação da reserva ambiental da
Serra do Cocho são as sociabilidades e a participação social cidadã democrática. Isso se
comprova exemplificando a construção da Casa da Cultura na comunidade Salininha,
fruto dos esforços comuns, das práticas de sociabilidades, dos adjuntórios (mutirões).
Outros exemplos de sociabilidades igualmente dignos de se ressaltar são: a fiscalização
integrada da área da reserva pelos moradores, os mutirões para cercamento da área da
APP onde estão localizadas as cacimbas e a nascente, bem como, outros mutirões
realizados para fazer os “aceiros”, nos locais por onde passam os técnicos da CDA
(Coordenação de Desenvolvimento Agrário) e do INEMA (Instituto do Meio Ambiente e
Recursos Renováveis - Bahia) em suas visitas técnicas para a elaboração de estudos,
pesquisas e georreferenciamentos, demarcações da área que integra a reserva
ambiental.
Ressalta-se, todavia, que através da observação in loco, conclui-se que o maior cabedal
ambiental da comunidade é o compromisso firmado com a preservação e a conservação
da sociobiodiversidade, respeitando e contribuindo para com a sustentabilidade
ambiental. São ganhos sociais que norteiam os investimentos coletivos, não valoráveis
monetariamente, não estimáveis economicamente, em prol do bem comum e da
biodiversidade do ecossistema da Serra do Cocho.
105
7. DISCUSSÃO
No Brasil as unidades de conservação são criadas por ato discricionário do Poder
Público. As unidades de conservação (UC) possuem finalidades e objetivos diversos e
estão elencadas em doze categorias vinculadas em dois grupos: o grupo da UC´s de uso
sustentável e o grupo das UC´s de proteção integral.
Todas as UC´s legalizadas, inclusive, as RPPN´s devem ser cadastradas no Ministério do
Meio Ambiente, através do Cadastro Nacional de Unidades de Conservação (CNUC) - Lei
nº 9.985/2000, art. 50, prevê esse cadastro nacional. Compreende um “sistema integrado
de banco de dados com informações padronizadas das unidades de conservação geridas
pelos três níveis de governo e por particulares”. Independentemente do ente federativo
que a oficializou: União, Estados, Distrito Federal ou Municípios, há que integrar o CNUC,
tendo em vista que, “neste ‘ambiente virtual’ são apresentadas as características físicas,
biológicas, turísticas, gerenciais e os dados georreferenciados das unidades de
conservação”. A existência de tal sistema informatizado revela um compromisso com a
transparência, além de representar uma ferramenta de gestão das UC no país.
O ato de criação de uma RPPN, apesar de depender da vontade do proprietário da área,
é o Poder Público, quem o oficializa, através do instrumento legal cabível. Esta categoria
de UC, também integra o Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC),
portanto, deve ser cadastrada CNUC, submetendo-se a fiscalização pelo órgão
responsável por sua oficialização.
O presente trabalho, na persecução investigativa da pesquisa para atingir os resultados,
satisfatoriamente. Assim, para tal intento, parte da análise da legislação ambiental
pertinente, desde a previsão constitucional do Capítulo VI, que trata do meio ambiente,
artigo 227, CF/1988; bem como a legislação infraconstitucional, especialmente a Lei nº
9.985/2000 (Sistema Nacional de Unidades de Conservação - SNUC), o Decreto nº
4.340/2002, que regulamenta a Lei nº 9.985/2000, a Lei nº 9.795/99 (Política Nacional de
Educação Ambiental – PNEA) e a Lei nº 6938/81, que institui a Política Nacional do Meio
Ambiente.
Verificou-se que o Estado da Bahia possui sua própria Política de Meio Ambiente e de
Proteção à Biodiversidade (Lei nº 10.431 de 20/12/2006) em consonância com a
legislação federal. Também possui regulamentação própria para a criação de RPPN´s no
106
estado. Trata-se do Decreto 10410/07, que dispõe sobre a Unidade de Conservação
Reserva Particular do Patrimônio Natural - RPPN, estabelece critérios e procedimentos
administrativos para sua criação, implantação e gestão, institui o Programa Estadual de
Apoio às Reservas Particulares do Patrimônio Natural. O que não ocorre na legislação
federal, portanto, a lei do Estado da Bahia inova nesse quesito.
Recentemente o Governo do Estado da Bahia sancionou a Lei n° 13223/15, que institui a
Política Estadual de Pagamento por Serviços Ambientais (PSA) e cria o Programa
Estadual de Pagamento por Serviços Ambientais (PEPSA). Encontra-se ainda pendente
de regulamentação pela Secretaria do Meio Ambiente (Sema) as hipóteses disciplinando
a “proteção, melhoria e conservação dos ecossistemas e da biodiversidade, por meio da
valorização econômica dos serviços e o uso sustentável dos recursos naturais”.
Todas essas políticas públicas do governo baiano e as iniciativas legislativas em prol da
sociobiodiversidade e da sustentabilidade ambiental indicam compromissos e apoios para
com a preservação e conservação da ecosociobiodiversidade, basta analisar a
quantidade (104) de RPPN em todo o estado.
Apesar de todo o farto arcabouço legal brasileiro verifica-se que não há efetivação quanto
à aplicabilidade dessas leis, que assegurem a real efetivação da conservação e
preservação da biodiversidade através da criação de unidades de conservação. Eis que
surge a necessidade da atuação da sociedade cooperando e compartilhando com o
Poder Público a responsabilidade e o compromisso pelo meio ambiente ecologicamente
equilibrado e socialmente justo.
Segundo Azevedo (2008) ao fazer uma análise do conjunto da legislação ambiental,
conclui que “a impressão maior é de sua ineficácia, uma vez que suas normas são
verdadeiramente muito pouco aplicadas.” O autor, citando Luiz Fernando Coelho,
exemplifica: “a falta de cobrança de multas impostas aos agressores do meio ambiente, a
falta de vontade política, o excesso de formalismos dos procedimentos administrativos e
judiciários em nome da proteção dos direitos individuais, mas frequentemente em
detrimento dos direitos da comunidade”.
Prosseguindo as investigações também foram realizadas pesquisas nos bancos de dados
oficiais, especialmente ao Sistema Informatizado de Monitoria de RPPN do MMA, com a
finalidade de identificar e localizar onde estão situadas, bem como a totalidade de área
107
protegida por esta categoria de unidade de conservação, e ainda, a quantidade de RPPN
no país, em cada unidade da federação e nos biomas.
Segundo o MMA (2017) no Brasil estão registradas no Cadastro Nacional de Unidades
de Conservação 2.100 UC entre as doze categorias previstas pelo SNUC, dentre elas,
672 são RPPN.
Com efeito, ratificando os feitos nacionais, o Estado da Bahia, destaca-se no ranque
entre os estados brasileiros, existem 104 RPPN´s, perfazendo 47209.01 de hectares
protegidos por esta categoria de unidade de conservação (MMA, 2017). A Bahia, por sua
vez, encontra-se no topo da escala, está em primeiro lugar em quantidade dessa
categoria de unidade de conservação.
Uma vez que não basta criar leis ambientais ineficazes, tampouco, criar unidades de
conservação ineficientes. Necessário se faz lançar mãos das estratégias e instrumentos
adequados que supram essas deficiências que têm implicação diretamente na
preservação e conservação da sociobiodiversidade.
Nesse contexto é que a educação ambiental surge com maior aliada para suprir as
lacunas legislativas e as falhas procedimentais dos instrumentos de criação e gestão de
unidades de conservação, capazes de efetivamente transformar o modo de pensar e de
agir das pessoas. “A criação de unidades de conservação envolve a necessidade de
preservação e conservação de áreas e recursos naturais que determinam transformações
socioambientais” (Gonçalves e Hoefeel, 2012, citado por Dias e Mota, 2015). Cidadãos
ambientalmente educados transformam o seu entorno, a comunidade, a sociedade.
Respeitam o ecosociobiodiversidade não por imposição legal, mas por uma postura ética
de convivência harmoniosa com o meio ambiente, pois compreende que é apenas mais
um elemento natural integrante a natureza.
A educação ambiental, de modo geral, são práticas educativas integradas contínuas e
permanentes em todos os níveis e modalidades do ensino formal (Lei nº 9.756/99, art.
10), enquanto que, a educação ambiental não formal são “as ações e práticas educativas
voltadas à sensibilização da coletividade sobre as questões ambientais e à sua
organização e participação na defesa da qualidade do meio ambiente” (Lei nº 9.795/99,
art. 13).
108
A educação ambiental na sua modalidade não formal, segundo Tristão (2011), vem se
mostrando como uma estratégia facilitadora para a implantação das ações
sensibilizadoras para a preservação e conservação ambiental. Um importante subsídio
para o alcance e o envolvimento das pessoas das comunidades do entorno da área
demandada para a criação da unidade de conservação RPPN Serra do Cocho, bem
como, uma importante ferramenta para a qualificação do cidadão para a participação na
gestão compartilhada e participativa democrática (Conselho Gestor) e, ainda, na
elaboração do Plano de Manejo da unidade de conservação.
Muito salutar é o entendimento de que a educação ambiental favorece o “envolvimento
das pessoas em processos que busquem o bem comum (ambiental e social)”:
“Educação Ambiental (EA) ao estimular a compreensão, participação e envolvimento das pessoas em processos que busquem o bem comum (ambiental e social), torna-se uma ferramenta importante para a conservação de áreas protegidas, comumente ameaçadas. A adoção de abordagens participativas como diagnósticos consultivos, corresponde então ao elemento primordial em programas de EA no incentivo de populações próximas dessas áreas para tê-los como aliados na conservação”. (Padua, Tabanez e Souza, 2004, citado por (Alves, Nascimento e Maroti, 2013, p. 5/6)
No caso sob análise, apesar de ser uma exigência legal, por se tratar de unidade de
conservação na categoria RPPN, a comunidade optou por realizar reuniões na
comunidade, encontros, audiências públicas para não apenas ouvir, mas, informar
através do diálogo aberto e franco todas as pessoas presentes.
Coadunando à ideia de educação ambiental não formal, Sato (apud, Santana e Beline,
2000) “o sentido da educação ambiental, manifesta como um processo de aprendizagem
permanente que fomenta valores e ações que contribuem para a transformação humana
e social e para a preservação ecológica”.
Ainda amparando-se em Sato, os autores, complementam “educação ambiental não
formal, no dia-a-dia, leva as pessoas a pensarem espontaneamente sobre a qualidade da
natureza e do espaço frequentado no cotidiano, são estabelecidos valores que
determinam ações em prol da melhoria do ambiente”.
Por outro lado, apesar da institucionalização de uma RPPN, depender de ato voluntário
do proprietário da área (Decreto nº 5746/06), considerando a realidade fática da área
demandada para a criação da RPPN da Serra do Cocho, exigiu muitos diálogos, reuniões
109
e muita atenção para as implicações legais e jurídicas, posto que, a área é devoluta,
portanto a comunidade é apenas detentora de posse mansa e pacífica, havendo
necessidade de requerimento do título da área ao Estado da Bahia, para posteriormente
oficializar a RPPN.
Logo, reiteradamente lançou-se mão das ações e práticas da educação ambiental não
formal, durante todo o longo e complexo processo de criação da unidade de
conservação. A sensibilização e o esclarecimento da comunidade do entorno da reserva
ambiental para a importância do processo de adesão à causa da criação da reserva na
circunvizinhança.
Assim, para Hendges (2010), nesse contexto, afirma que:
Também são consideradas ações não formais de educação ambiental a divulgação de conteúdos que estimulem a sensibilização e capacitação da sociedade para a importância das Unidades de Conservação, inclusive de suas populações tradicionais (indígenas, quilombolas, caboclos, ribeirinhos, pescadores). A sensibilização dos agricultores para as questões ambientais e as atividades de ecoturismo também estão relacionadas como atividades não formais de educação ambiental no ensino brasileiro. (destacamos)
Muitos dos pequenos agricultores proprietários do entorno da reserva ambiental Serra do
Cocho, já instituíram em suas propriedades a reserva legal, ou estão em processo de
realização do Cadastro Ambiental Rural (CAR), criado pela Lei nº 12.651/12, além de
respeitarem e preservarem as APP. Por sua vez, o (CAR) é um registro eletrônico,
obrigatório para todos os imóveis rurais, formando base de dados estratégica para o
controle, monitoramento e combate ao desmatamento das florestas e demais formas de
vegetação nativa do Brasil, bem como para planejamento ambiental e econômico dos
imóveis rurais. São essas atitudes e atos, dentre outros, que comprovam o compromisso
da comunidade com a preservação e a conservação da biodiversidade e dos recursos
ambientais.
A opção pela categoria RPPN, pela comunidade, restou demonstrada como justa e muito
adequada, posto que, a área demandada sempre teve destinação para a conservação e
a preservação do ecossistema, tendo vista que, além da diversidade biológica do
ecossistema, existem recursos hídricos (nascentes e cacimbas) no interior da reserva
que carecem muito de proteção.
110
Ademais, as terras são inservíveis para a agropecuária, uma vez que, a aclividade e
declividade da área são muito acentuadas (relevo acentuadamente ondulado) e o solo
com presença excessiva formações rochosas.
Tendo em vista que, as atividades humanas legalmente permitidas nesta categoria de
unidade de conservação (RPPN) são de baixíssimos impactos ao ecossistema:
atividades de pesquisas científicas e visitação com objetivos turísticos, recreativos e
educacionais, conforme previsão do seu plano de manejo.
O desejo, a adesão e o apoio dos moradores do entorno são elementos qualificadores
para a consolidação do ideal preservacionista e conservacionista da área, transformando-
a em unidade de conservação na categoria RPPN. A pesquisa de campo realizada nas
comunidades rurais do entorno evidenciou a percepção ambiental dos moradores do
entorno da reserva Serra do Cocho. Neste sentido os 23 moradores entrevistados se
manifestaram unanimemente, favoráveis à criação da reserva, mantendo as suas
características e a intocabilidade em qualquer de suas formas de vida e dos seus
recursos naturais.
As sociabilidades segundo Dalva da Mota (2005, citada por Oliveira, 2009, p. 61), “é uma
categoria que possibilita compreender a relação entre a esfera da vida cotidiana e do
trabalho”, é outro elemento presente na realidade das comunidades do entorno da Serra
do Cocho, que muito contribui para a preservação e a conservação ambiental, posto que,
são adeptos dessas práticas como os mutirões.
“A cooperação é a base da sociabilidade. Além de cooperar, o grupo estabelecia laços de
afinidades (Oliveira, 2009). No entorno da Serra do Cocho, todas as pessoas se
conhecem e interagem social e culturalmente. Por se tratar de pequenos produtores
rurais as identidades se dão em vários aspectos da vida e favorecem as sociabilidades.
Para Mota (2005, citada por Oliveira, 2009), isso ocorre porque a cooperação é a única
forma de viabilizar a produção de determinados bens ou porque as pessoas necessitam
do sentimento de interação. No caso dos moradores do entorno da reserva ambiental é
possível dizer que a execução dos serviços de pedreiros para a construção da Casa da
Cultura na comunidade Salininha, fruto dos esforços comuns, é uma das práticas de
sociabilidades, dos adjuntórios (mutirões).
111
Outros exemplos de sociabilidades igualmente dignos de se ressaltar são os mutirões
para cercamento da área da APP, onde estão localizadas as cacimbas e a nascente, bem
como, outros mutirões realizados para fazer os “aceiros”, nos locais por onde passam os
técnicos da CDA (Coordenação de Desenvolvimento Agrário) e do INEMA (Instituto do
Meio Ambiente e Recursos Renováveis - Bahia) em suas visitas técnicas para a
elaboração de estudos, pesquisas e georreferenciamentos, demarcações da área que
integra a reserva ambiental. E ainda a manutenção das trilhas ecológicas, das cacimbas
e da nascente no interior da reserva.
Assim, das relações de amizade, evoluem para a cooperação mútua com a finalidade
comum de conquistar o bem-estar coletivo da comunidade não apenas para a presente,
mas para as futuras gerações.
Aliás, as sociabilidades nas comunidades do entorno da reserva ambiental são práticas
ancestrais. Uma vez que relatos de antigos moradores evidenciam que eram comuns
essas práticas na região, compartilhando afazeres, executando tarefas.
Outro fator importante a ser considerado é a percepção ambiental das comunidades do
entrono das unidades de conservação (Lucena, 2010; Alves, Nascimento e Maroti, 2013;
Dias e Mota, 2015; Dias, Guiducci, Torres, Teixeira, 2013). Neste sentido, que Lucena
(2010, p. 5/6, citando, Whyte), consigna que:
“tem sido recomendado que projetos de pesquisa que tratam da relação homem-ambiente e do gerenciamento de ecossistemas, incluam estudos de investigação da percepção dos grupos sócio-culturais interatuantes como parte integrante da abordagem interdisciplinar que estes projetos exigem”.
A título ilustrativo da percepção ambiental da comunidade, apresenta-se alguns
fragmentos de entrevistas realizadas durante a execução da pesquisa de campo. Uma
jovem senhora de apenas 34 anos de idade moradora da comunidade responde ao ser
indagada sobre a importância criar uma reserva ambiental para proteger a natureza na
Serra do Cocho:
“Porque através dessa reserva criar lá os próprios animais que tiver, a gente preservando eles não deixarão de existir. As demais cacimbas que existiam abaixo da Serra já secaram. E a de lá do Cocho que tava seca, depois desse Projeto Tremedal Ecológico, voltou a florescer”.
112
Outro senhor de 64 anos de idade morador de outra comunidade do entorno da reserva
dar a seguinte resposta para a mesma indagação retro:
“Tando preservado ninguém mais mexe lá. Não derruba madeira, não queima, não caça. Deixa lá pra benefícios de todos!
Em reforço e apoio à ideia de preservação da ambiental da Serra do Cocho, através de
uma reserva, outro senhor de 64 anos de idade, assim se manifesta:
“Acredito que sim! Sem essa reserva aí, a gente acredita que deve sempre manter ela. É porque isso aí é um caso de natureza... nós fala que isso aí é “Serra Geral”. Todos os olhos d´água: Brejinho, Pandeló, Quati, Boi, Riacho D´Atna, Grota (os dois) Bananeira, Berrador, Ressaca, Queimada, Pedra Preta, estão secos, só tem água no Boi e o nosso aqui. Se todos zelassem, igual nós aqui, todos eles tinha água... Todos eles maltratava as minas... É preciso não roçar, nem ponhar fogo perto... Se fosse comigo deixava 60 metros era suficiente... Eu nem quero que encane água do Cocho outra vez!
Outro morador de 56 anos de idade expõe nestes temos sobre a importância da criação
da reserva ambiental na Serra do Cocho:
“A reserva é muito importante. Sem a reserva vai piorar... porque vai melhorar todo o povoamento em volta. Tudo vai melhorar. Preservar enquanto tem jeito de recuperar. Eu cuidei daquilo lá pra não haver queimadas, caça e muitos brigaram comigo. Eu ficava nervoso porque o povo caçava lá. Fui cuidador lá quando foi feita a canalização, sem ganhar nada mesmo. Era voluntariado. A canalização da água acho que foi errada... A pior coisa que fez! Eu gostava muito de lá. Chegava a discutir com alguém. Detestava malinesa! Mais não fiquei de mal com ninguém lá. Avisava aos amigos que um dia vai acabar tudo aqui... ”.
Um jovem morador de 20 idade de idade assim se manifesta:
“É a primeira reserva ambiental do município, do território. Uma das únicas a proteger a minação... vai trazer renda para a comunidade. A ONU, já se preocupa com o aquecimento global. A reserva ambiental é uma contribuição para essa questão”.
Outra jovem moradora de 22 anos de idade se expressa da seguinte forma:
“Pro pessoal sinceramente se conscientizar... A oficialização inibiria ações devastadoras: caça, desmatamentos, queimadas, a água do olho d´água... Eu estudei em Escola Agrícola, e lá a gente sempre foi ensinado e o curso oferecia conhecimento para praticas do equilíbrio ambiental. A gente sempre vê que o pessoal sempre produz e todo mundo desmata e não tá protegendo as florestas”.
113
A percepção ambiental da comunidade se é no sentido que deve ser preservado o
ecossistema da Serra do Cocho, através de oficialização da unidade de conservação.
Acreditam que a oficialização da reserva traz em si mesma, uma força impeditiva contra
qualquer investida mal-intencionada, que comprometa a preservação e conservação da
diversidade ambiental do ecossistema.
Ademais, a gestão compartilhada, através do Conselho gestor, bem como, a elaboração
do Plano de Manejo da UC Serra do Cocho, são instrumentos que propagam em toda a
comunidade a responsabilidade compartilhada pela preservação e conservação de todo o
ecossistema.
“A percepção ambiental permite compreender e entender as relações da comunidade
com o meio, isso é primordial para elaboração de Programas de Planejamento e
Educação Ambiental. O ser humano percebe o meio ambiente de acordo com as suas
necessidades e com a utilização que faz dele”. Os benefícios da preservação do
ecossistema, bem como os benefícios da criação da RPPN foram mencionados de
acordo com a realidade e necessidade da comunidade (Dias e Mota, 2015).
Com efeito, coadunando com esta realidade, a Associação Ambiental e Sociocultural da
Serra do Cocho (AASSC), uma organização da sociedade civil, sem fins lucrativos,
representando os anseios da comunidade, foi criada com a principal finalidade
acompanhar todo o processo de criação e posteriormente, organizar a gestão da reserva
ambiental. Revela igualmente, a disposição, a aptidão e o compromisso solidário da
comunidade em prol da defesa dos seus interesses difusos e coletivos
(ecosociosustentabilidade).
Esta associação encampa a ideia que a comunidade tem autonomia, responsabilidade
socioambiental e compromisso ético-moral, para gerir o seu patrimônio natural biodiverso,
sem interferências exteriores de natureza filosóficas, ideológicas, político-partidárias,
religiosas, éticas e morais, posto que, a força que os une é respeito as suas tradições,
sua história, seus valores. Construindo seu cabedal ecosociosustentável pautados nas
sociabilidades, práticas antigas, ainda muito presentes na comunidade. Fortalecendo
saberes populares e tradicionais garantindo um meio ambiente ecologicamente
equilibrado, socialmente justo, para as presentes e futuras gerações.
Logo, ante todo o exposto, assevera-se que a criação da Reserva Ambiental da Serra do
Cocho, através da gestão compartilhada, acolhendo a participação social cidadã
114
democrática, muito contribuirá para preservação e conservação da biodiversidade do
ecossistema, oferecendo à comunidade do entorno possibilidades de desenvolvimento
social e econômico. Tendo em vista que, o desenvolvimento sustentável só é possível à
medida que se respeita e estimula a integração do homem e suas multirelações com a
natureza.
115
8. CONCLUSÕES GERAIS
Ante todo o exposto, tem-se por conclusões gerais, que o presente trabalho atingiu os
objetivos para os quais se propôs. Dessa maneira ressalta-se que o objetivo geral:
desenvolver um programa de educação ambiental não formal pautado na participação
social cidadã e democrática capaz de legitimar as decisões em processo de criação e
gestão de Unidade de Conservação de uso sustentável; obteve o êxito programado, uma
vez que, é clara a percepção da adesão da comunidade do entorno da Reserva
Ambiental da Serra do Cocho, aos comandos e propostas sugeridas, durante o processo
de criação da unidade de conservação.
A história, a cultura e os saberes locais das comunidades do entorno da reserva
ambiental está diretamente ligada a Serra do Cocho. Uma vez que, dado a abundância
de recursos hídricos existentes no passado, provavelmente foi o motivo pelo qual os
primeiros moradores fixaram habitação na região.
A comunidade sempre exerceu a posse direta, mansa e pacífica sobre a área, que no
passado, um antigo “chefe da cidade”, outorgou a área como pública para comum de
todos da comunidade. Salientou que na área não se deveria praticar desmatamentos ou
qualquer agressão á natureza. Desde então, a área é cuidada e controlada pela
comunidade.
O exemplo clássico, da integração comunitária, envolvida pelo clima participativo é a
fundação da Associação Ambiental e Sociocultural da Serra do Cocho (AASSC),
autorizada pelo seu estatuto a gerir a reserva ambiental da Serra do Cocho. É ela
também que tem acompanhando todo o processo de requerimento da titulação da área,
que integrará o seu patrimônio, ficando responsável junto aos órgãos fiscalizatórios
governamentais.
Mais um clássico exemplo, é a busca de parcerias e parceiros, tanto do Poder Público,
como de instituições de ensino, quanto de profissionais liberais para atender as diversas
demandas do processo de criação e gestão da unidade de conservação, que,
naturalmente, exigem resolução (multidisciplinar) pelos mais diversos campos das
Ciências.
116
Espera-se que a oficialização e a gestão compartilhada/participativa da Reserva
Ambiental Serra do Cocho, seja uma realidade inspiradora para que muitas outras
RPPN´s sejam criadas no município de Tremedal e no Território de Identidades Sudoeste
Baiano, possibilitando que outros ecossistemas significativos para a diversidade
biológica, sejam protegidos através desta categoria de UC, que privilegia a cooperação
entre o cidadão proprietário de terras e o estado.
Donde se conclui, em linhas gerais, que a participação social cidadã e democrática,
qualificam os cidadãos para as tomadas de decisões capazes de legitimá-las durante
todo o longo e burocrático processo de criação da UC. Que avança sorrateiramente,
desde a apresentação da demanda ao órgão ambiental responsável, reuniões, simpósios,
encontros, audiências públicas, até mesmo, por exemplo, integrar comissões
responsáveis por acompanhar e solucionar demandas específicas pendentes.
Nesse contexto, a educação ambiental não formal, através de suas estratégias e ações
cumpre papel fundamental para a integração das pessoas, desinibição, valorização dos
saberes populares e tradicionais da cultural local. Transformando pessoas e indivíduos
em autênticos cidadãos portadores de muitos deveres, mas também, titulares de
inúmeros direitos, em verdadeiros defensores do ambiente com mais solidariedade e
fraternidade; respeitadores das diversidades, cultivadores da liberdade e do amor
transcendente que emana de sua essência universal, manifestando sentimentos nobres e
engrandecedores de si e do próximo, porque vê nele, um ser semelhante que também
está galgando o seu lugar (suas oportunidades) sob o sol e sobre o solo, para
desenvolver suas potencialidades.
Considerando todo o retro exposto, conclui-se que, é possível afirmar que o presente
trabalho atingiu largamente os objetivos propostos na elaboração da presente
dissertação: tanto o objetivo geral, quantos os objetivos específicos.
117
9. RECOMENDAÇÕES
Tendo em vista que, o presente trabalho, não objetiva esgotar o tema proposto,
tampouco transcender os seus limites, mas observar, analisar, registrar, investigar e
averiguar e registrar a participação social cidadã e democrática no processo de criação
de unidade de conservação de uso sustentável, especificamente, a categoria RPPN.
Sugere-se outrossim, que a imersão na comunidade pesquisada seja mais longa que
uma semana e que haja também repetições de visitas ao longo da pesquisa. Não apenas
para checar dados e aplicar novas metodologias, mas para estimular a adesão às
estratégias de educação ambiental não formal posto que, favorecem a preservação e
conservação ambiental; bem como, auxiliam na gestão compartilhada e participativa da
unidade de conservação.
Recomenda-se a elaboração do Plano de Manejo e a do Conselho Gestor da UC, em
tempo razoável, uma vez que, esses instrumentos de gestão fortalecem e qualificam a
administração da reserva, através da participação da comunidade. Tendo em vista que,
neste caso, a Associação Ambiental e Sociocultural da Serra do Cocho, em tese, é a
responsável segundo previsão estatutária, para gerir a reserva ambiental.
Igualmente, recomenda-se que seja adotado o Plano de Educação Ambiental, que acolha
as questões atinentes à reserva ambiental e as demandas das comunidades do seu
entorno. Uma vez que, o estatuto da associação ambiental, prevê a existência de uma
comissão de educação ambiental.
Ainda sugere-se que as conquistas e o “modus operandi” da gestão da Reserva
Ambiental da Serra do Cocho, que já muito bem inclinada para as práticas
compartilhadas, através da participação social cidadã democrática faça divulgação dos
resultados obtidos e de suas ações nas redes sociais e mídias digitais da região. Para tal
fim, indica-se o uso das técnicas e abordagens da arteducação e da educomunicação na
incrementação desse processo de divulgação.
O fato de ser a primeira RPPN do Território de Identidades Sudoeste Baiano, certamente
lhe trará visibilidade e servirá de incentivo para que sejam criadas muitas outras reservas
ambientais na região.
118
Recomenda-se que em futuras pesquisas na região é fundamental buscar o
conhecimento e meios para a valorização da cultura, dos saberes locais, do modo de
vida, das interações e inter-relações da comunidade com a UC, e ainda; entender a
história da comunidade pesquisada para melhor fluidez na condução dos levantamentos
e trabalhos da pesquisa.
Na hipótese em que o pesquisador não resida próximo da comunidade pesquisada é
interessante e recomendável que tenha consigo contatos eletrônicos (email, redes
sociais, telefone, etc.) de lideranças da comunidade e de alguns atores sociais, caso haja
necessidade de checar alguma informação, fato ou dados coletados.
Apresentação dos resultados da pesquisa realizada para as pessoas da comunidade
pesquisada é um ato muito além de gratidão. É, antes de tudo, o reconhecimento da
valorização da comunidade.
O município de Tremedal, bem como, o Território de Identidade Sudoeste Baiano, possui
grande ecosociobiodiversidade, que certamente instiga os pesquisadores a debruçarem-
se em investigações promissoras.
119
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127
ANEXOS E APÊNDICES
ANEXO 1: Preservação da biodiversidade do ecossistema da Serra do
Cocho
A biodiversidade do ecossistema da Serra do Cocho é protegida pela Reserva Ambiental
da Serra do Cocho. São algumas das espécies da fauna e da flora ameaçadas ou em
processo de extinção.
As imagens são do acervo particular do Projeto Tremedal Ecológico, todas captadas na
área demandada para a criação da Unidade de Conservação.
128
A imagem 1 é um filhote de onça de onça jaguatirica encontrada em uma árvore ôca. A
imagem 2 é uma jiboia. Na imagem 3 um mocó e dois filhotes e na imagem 4 um mocó
adulto.
Na imagem 1 periquitos. Na imagem 2 seriema (espécie em processo de extinção). Na
imagem 3 dois urubus-rei (em processo de extinção). Na imagem 4 sofrê, ave símbolo do
bioma caatinga.
129
ANEXO 2 Preservação dos recursos hídricos da Serra do Cocho
Os recursos hídricos do ecossistema da Serra do Cocho não são abundantes, todavia, o
suficiente para a manutenção, o equilíbrio e as demandas próprias da biodiversidade.
Na imagem 1 em destaque a “bica” da nascente (olho d´água do cocho). Na imagem 2
destaca-se a cacimba. As imagens 3 e 4 o fluxo de água que desce a serra a partir da
nascente.
130
ANEXO 3
Ata da assembleia geral de constituição da Associação Ambiental e Sociocultural da
Serra do Cocho (AASSC) do município de Tremedal-Bahia.
Aos quatro dias do mês de março de dois mil e dezessete as (14h00min) quatorze horas
na comunidade de Salininha, município de Tremedal estado da Bahia, reuniram-se, de
livre e espontânea vontade (31) trinta e uma pessoas da comunidade e interessados,
com o objetivo de constituir uma associação ambiental ecológica, conforme o edital de
convocação com a seguinte ordem do dia: 1- Apreciação do Estatuto Social; 2- Fundação
da Associação Ambiental e Sociocultural da Serra do Cocho; 3- Eleição da Diretoria
Executiva; 4- Eleição do Conselho Fiscal efetivos e suplentes. Foi aclamado para
coordenador os trabalhos o senhor Everaldo de Almeida Santiago que convidou a mim,
Juliana Prates Viana de Carvalho para lavrar a presente ata, tendo digo tendo ainda
participado da mesa o senhor Clovis Rodrigues dos Santos presidente do CMDS –
Conselho Municipal de Desenvolvimento Sustentável. Em seguida o senhor coordenador
falou da importância da fundação da Associação e os benefícios que trará a comunidade
local bem como a preservação ambiental solicitou que fosse lido explicado e debatido o
projeto do estatuto da associação anteriormente elaborado, o que foi feito artigo por
artigo. A seguir posto em discussão e votação o estatuto foi aprovado pelo voto unânime
dos associados presentes, o senhor coordenador suspendeu então por dez (10) minutos
os trabalhos para a doação das providencias que conduziriam a eleição dos membros da
diretoria executiva e do conselho fiscal, órgão sociais. Reiniciados os trabalhos e
procedia a votação foram eleitos para compor a diretoria executiva e conselho fiscal os
associados: Presidente Everaldo de Almeida Santiago; Vice-presidente Oscar Pereira de
Souza; 1º secretário Juliana Prates Viana de Carvalho; 2º secretário Josenalvo Cerqueira
da Silva; 1º tesoureiro Sandro Monteiro Vieira; 2º tesoureiro Helta Almeida Costa. Para
membros efetivos do conselho fiscal os associados: 1º efetivo Mateus Pereira Ferraz; 2º
efetivo Paulo Marinho dos Santos; 3º efetivo Nailza Maria Pereira. Para suplentes do
conselho fiscal os associados: 1º suplente Vitório Pereira da Silva Neto; 2º suplente
Tereza Batista; 3º suplente Fabiana de Oliveira. Prosseguindo os eleitos foram
empossados nos seus respectivos cargos, e o senhor Everaldo de Almeida Santiago,
convidado a assumir a direção dos trabalhos agradeceu a colaboração de todos na
assembléia nesta tarefa e declarou definitivamente constituída de então para o futuro da
Associação Ambiental e Sociocultural da Serra do Cocho (AASSC), com sede na
comunidade Salininha, município de Tremedal estado da Bahia. Que tem como objetivo
promover a assistência e apoio a programas, projetos e outros que venha contribuir com
131
a preservação e conservação do nosso ambiente, representando a associação junto a
órgãos públicos e provados no atendimento de suas reivindicações. Como ninguém mais
desejasse fazer o uso da palavra o senhor presidente declarou encerrado os trabalhos e
eu Juliana Prates Viana de Carvalho que servi de secretaria lavrei a presente ata a qual
após ser lida e achada conforme, vou assinar por mim e por todos os associados
fundadores como prova de livre espontânea vontade de cada um de organizar a
sociedade. Associação Ambiental e Sociocultural da Serra do Cocho, Salininha município
de Tremedal Bahia 04 de março de 2017.
Presidente Everaldo de Almeida Santiago
Vice presidente Oscar Pereira de Souza
1º secretário Juliana Prates Viana de Carvalho
2º secretário Josenalvo Cerqueira da Silva
1º tesoureiro Sandro Monteiro Vieira
2º tesoureiro Helta Almeida Costa
1º efetivo Mateus Pereira Ferraz
2º efetivo Paulo marinho dos Santos
3º efetivo Nailza Maria Pereira
1º suplente Vitório Pereira da Silva Neto
2º suplente Tereza Batista Silva
3º suplente Fabiana de Oliveira
Clovis Rodrigues dos Santos
Ana Pereira Pereira de Souza
Matias Pereira de Souza
Adriana Rocha Nascimento
Célia Pereira Costa
Paulo Almeida Pereira
Joaquim Pereira de Souza
Jovelino Pereira Costa
Luzia Maria Costa
Ana Pereira de Assunção Costa
Narcisa Pereira de Oliveira
Adailton Almeida Costa
Edvan da Trindade da Silva
Mariza Cândida de Oliveira
Valdeci Pereira de Almeida
Senhorinha Monteiro Vieira
133
ANEXO 4: Ações Socioambientais do Projeto Tremedal Ecológico
O Projeto Tremedal Ecológico possui grande influência e atuação na comunidade do
entorno da UC da Serra do Cocho. Nesse sentido ilustramos alguns exemplos
emblemáticos:
Figura 1: Alunos da escola pública da comunidade em atividade complementar
retroprojetada através da parceria com o Projeto Tremedal Ecológico. Na figura 2,
colaboradora voluntária do Projeto ministrando palestra sobre educação e
sustentabilidade ambiental no colégio público da sede do município de Tremedal. No
conjunto 3 de figuras apresentação e demonstração de objetos e hábitos antigos da
comunidade: o sião é uma cela em que as mulheres andavam montadas à cavalo
posicionada de lado; um resgate incentivado e estimulado pelo Projeto. No conjunto 4 de
figuras, crianças desde cedo são incentivadas ao contato direto com a Natureza cuidando
da horta da escola pública da comunidade do entorno da Serra do Cocho. Outra ação
incentivada e assessorada por pessoas da comunidade e voluntários do Projeto.
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ANEXO 5: Ações Socioculturais do Projeto Tremedal Ecológico
Colacionamos algumas fotografias que ilustram o incentivo a cultura regional e a
participação social das pessoas das comunidades do entorno da Reserva Ambiental
Serra do Cocho.
Figura 1: Cavalgada na comunidade Salininha realizada em prol da Casa de Cultura Antônio de Ernesto. Figura 2: Tarde recreativa e seminário sobre plantas medicinais da região realizado pelo Projeto Tremedal Ecológico. Figura 3 e 4: Reaproveitamento dos
canos do antigo sistema de abastecimento de água da comunidade na demarcação das trilhas na Reserva Ambiental Serra do Cocho. Figura 5: Mutirão realizado para
cercamento para isolamento da área da nascente e das cacimbas.
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ANEXO 6: Ações Socioeducativas do Projeto Tremedal Ecológico
São notórios os ganhos advindos das ações socioeducativas do Projeto Tremedal
Ecológico. Benefícios diretos para todos os moradores da comunidade desde crianças,
jovens e até adultos.
Figuras 1 e 2: Biblioteca comunitária montada na comunidade Salininha, juntamente com
sala de informática promovendo inclusão digital proporcionadas pelo Projeto Tremedal
Ecológico.
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Figuras 1 a 5: aula de campo e piquenique com os alunos da escola da comunidade
realizados pelo jovem biólogo na Reserva Ambiental Serra do Cocho.
Figuras 1 à 4: Alunos de uma Universidade da região realizando pesquisas e
levantamentos da fauna e da flora na Reserva Ambiental Serra do Cocho.
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ANEXO 7: Manifestações poéticas locais
*Serra do Cocho
Lá na Serra do Cocho tem nascente
Por essa água, o povo aqui raiz fincou
E por muitos anos criou
Toda nossa gente
A natureza tece sua teia
E para sempre essa água correrá em nossa veia.
Serra do Cocho
La no alto tem ipê amarelo
Cá em baixo tem ipê roxo
Da caixa de Mariana, tem se um por do sol tão belo
E os imponentes pau ferro e “tambori”
Em tão bonitos a florir
Antigamente até ela, o povo subia
E a água na "cangaia" do jegue descia
Muita história de roupa lavada na bacia
Veio a má planejada canalização
E com ela muita confusão
Água encanada era um progresso que se via,
Pois muita fazenda abastecia
Ia do Quati até o São João
Só que natureza não tolera perturbação
Humana Interferência
Construção de barragem acima da serra
A veia da água quase encerra
Morreu Tio Maçu, nosso líder de linda consciência
O cocho secou
A seca forte pegou
O lugar caiu em esquecimento
Criou se outras formas de abastecimento
O povo deixou em abandono
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E a serra parecia ter novo dono
E assim tudo se encaminhava para um fim triste
Ahhh!! Mas a esperança renasce e a fé existe
A chuva veio forte
Um idealizador deu um novo norte
A comunidade abraçou novamente
E os amigos vieram ajudar a cuidar da nascente
E a união planejada fortalece a iniciativa
Poucos guerreiros envoltos em energia positiva
E olho d'água acorda e está cheio de vida
Abençoando por Deus essa serra querida
Encantadora e misteriosa caatinga
Que tanto nos apaixona e intriga
Na seca parece não ter vida
Existe muita, porém está escondida
Vem o milagre quando chove
E o espetáculo do renascimento do chão se move
Nascente de água é um grande berço de vida
No subsolo a água acumula
Depois para cima o fluxo pula
E faz majestosa descida
As árvores são defesas contra empecilhos
A mata forma protetores cílios
A água faz seu fluxo em harmonioso caminho
Atraindo jacu, bugio e tanto passarinho
Que come o fruto e a semente dispersa
E nasce a flora tão diversa
E o eixo natural circula
Na sombra fresca o sapo pula
E a cobra faz o bote
E o carcará a pega e alimenta seu filhote
Forma-se carreiros cheio de flores
Visitados por insetos trabalhadores
Sem eles não haveria outras vidas nos ecológicos corredores
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A abelha de exemplar comunidade organizada
Que leva o néctar
Cada uma tem sua função e tudo se conecta
E o Papa mel vai pegar seu alimento
Ele vai levar muita picada,
Mas precisa de fonte para seu alimento
Fauna silvestre de uma serra rica
Tem onça parda, gato do mato e a nossa inesquecível jaguatirica
E a vida gira
Lá no topo do pé de sucupira
E debaixo do pé de jatobá
Quantos laços de vida há
É tão interessante uma prática aula
No meio da natureza falando de flora e fauna
Fazendo conta de árvores, descrevendo em redação
Tem o pé de cansanção
Que oferece alimento e medo
E seus coquinhos servem de brinquedo
São vaquinhas pelo chão
É bicho e planta misturado no mato
É cipó escada de macaco e também unha de gato
E o urubu tem grande papel
E vigia tudo lá do céu
Ele faz ótimo trabalho de limpeza. Ei!
Em nome de sua realeza
Tem urubu que até tem nome de rei
Vamos desenhar da natureza tudo é arte
Tudo se aproveita e de nada faz descarte
Vamos espalhar a ideia
Contar da vida e morte, sabia que aqui já foi aldeia?
Uma experiência de nova atitude
Uma aula de clima em pleno açude?
A história mostra a escassez de madeira
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E a próxima geração como fará sua cumeeira
O pica pau é esperto na pica a baraúna
O homem não foi e hoje começar pagar por madeira uma fortuna
O ciclo tem uma matemática exata
E todos nós dependemos da preservação da mata
O homem é preciso entender e respeitar a flora
Saber ser sustentável na explora
O camponês sabido observa
Que a vaqueta depois que chove, o gado erva
Tudo que se põe na mesa
Vem da mãe natureza
Não brota da prateleira
E para chegar ao mercado
Há quem tenha muito pelejado
Tem uma biológica trajetória inteira
Nossos animais estão ameaçados na lista vermelha
E matando o veado, a onça vai se defender pegando a ovelha
E na Fazenda Quati
Esse animal não tem mais por aqui
E procurar, nem adianta
Não existe anta na Lagoa de Anta
E quem sabe na Fazenda Jiboia
Ahh! Mas quando aparece uma no lombo apanha
E vão tirar sua banha
Será que vão ficar as pedras da lagoa?
As mineradoras exploram e nossa terra fica à toa
Para desenvolver um lugar tem um primeiro passo
É cuidar do nosso meio ambiente
Buscar entender cada laço
E fazer uma atitude diferente
A educação é nossa única chance
Valorizando o que há na nossa terra
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Reverenciando a nossa serra
E em equipe, fazer o que tiver ao nosso alcance
Se o professor ensinar
O aluno não vai mais caçar
Se o professor mostrar
O aluno, uma árvore vai plantar
Vamos juntos educadores de Tremedal
Fazer uma referência de Educação Ambiental.
*Everaldo Santiago
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APÊNDICES
APÊNDICE 1: Questões-guia para entrevista com os moradores
Questões-guia para entrevistas/conversas com os moradores das comunidades do
entorno da UC da Serra do Cocho
1 - Acha que é importante preservar e conservar a Serra do Cocho com todas as suas
riquezas naturais? Por quê?
2 – Acha que a Serra do Cocho é importante para a comunidade? Por quê?
3 – Acredita que a Serra do Cocho é ou seria capaz de oferecer alguma coisa positiva
para as comunidades vizinhas? E para a sociedade em geral? Poderia citar algum (uns)
exemplos?
4 - Entende que seja importante criar uma reserva ambiental para proteger a natureza na
Serra do Cocho? Por quê?
5 – Estaria disposto (a) a colaborar com a preservação e conservação da Serra do
Cocho? Como faria essa colaboração? Prestando algum serviço...?
6 - Acha que a serra faz parte da história da comunidade? Para o Senhor (a),
particularmente, há algum fato importante na sua vida ligado á Serra do Cocho?
7 – Saberia informar se existe alguma música, cantiga de roda, samba, chula, poesia,
cordel, drama (dramatização) em que a inspiração seja a Serra do Cocho? Saberia
declamar, representar, cantar algum trecho?