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11/11 1ª EDIÇÃO Caderno experimental da disciplina de Tópicos Especiais em Comunicação I

Meios & Modos - Caderno Experimental

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Meios e Modos é resultado de uma atividade experimental da disciplina de Tópicos Especiais em Comunicação I, do Curso de Comunicação Social da UFPI. Foi criado para tratar a moda numa abordagem ampla, entendo que o termo é algo maior ligado não somente a indumentária, mas a cultura e ao comportamento humano. Neste cenário, o caderno de moda objetiva tratar assuntos de interesse da comunidade universitária de Teresina, comprometidos com a ética e a prática jornalística de qualidade. Mostrando as várias interfaces da moda com as diferentes áreas do conhecimento e que o jornalismo de moda pode ser mais uma opção instigante na área da comunicação.

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Page 1: Meios & Modos - Caderno Experimental

11/111ª EDIÇÃO

Caderno experimental da disciplina de Tópicos Especiais em Comunicação I

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Meios e Modos é resultado de uma ati-vidade experimental da disciplina de Tópicos Especiais em Comunicação I,

do Curso de Comunicação Social da UFPI. Foi criado para tratar a moda numa abordagem ampla, entendo que o termo é algo maior liga-do não somente a indumentária, mas a cultura e ao comportamento humano.

Para tanto, consideramos o reconhe-cimento da moda, pelo Ministério da Cultura com um assento no Conselho Nacional de Po-lítica Cultural (CNPC), que já apontou quatro grandes eixos norteadores na definição das diretrizes executivas e ações do Ministério da Cultura para o segmento, sendo elas: Cultura, Memória e Criação; Estado, Instituições e Re-des; Formação, Educação e Pesquisa; e Finan-ciamento, e Economia da Cultura.

Neste cenário, o caderno de moda obje-tiva tratar assuntos de interesse da comunida-de universitária de Teresina, comprometidos com a ética e a prática jornalística de qualida-de. Mostrando as várias interfaces da moda com as diferentes áreas do conhecimento e que o jornalismo de moda pode ser mais uma opção instigante na área da comunicação.

Nesta Edição, trazemos matérias que mostram as iniciativas locais de desenvolvi-mento de produtos sustentáveis, destaca-mos o trabalho de alguns artistas plásticos e seu olhar sobre a moda, a parceria do Curso de Moda da UFPI com a SEMDEC em prol da comunidade, curiosidades sobre moda e cine-ma, um pouco da história de algumas peças do vestuário e a moda do shopping da cidade. Boa Leitura!

EDITORIALpor Profª. Danielle Araújo

HUMOR

REPÓRTERES:Aline RochaAnna Thays

Anne BeatriceCarlienne Carpaso

Claryanna AlvesDaiane Bezerra

Dariana RibeiroDiego Barlo

Diego RodriguesFrank FeitosaIsabela Leite

Jamila CarvalhoJéssica Patrícia

João Victor RolinJosiane Sousa

Luciana RodriguesMayara AraújoMichelly Brito

Priscila FlorêncioPriscila Sousa

Rafaele Ribeiro Ranielly Veloso

Thalita Castelo BrancoThays FernandaVinícius Ferreira

Wérica GeysWillame Lucas

Orientação: Profa. Danielle AraújoDisciplina: Tópicos Especiais em Comunicação I

Projeto Gráfico: Aureliano MachadoTirinha: Thyago

EXPEDIENTE

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“Acreditar que não existem regras e padrões é a chave pra surpreender: Não importa a situação, os trajes que você veste, ou mesmo o ambiente; o que realmente importa é ser quem quiser, quando quiser e como quiser.

DISCIPLINA: Produção de Moda

PROFESSORA: Gizela Falcão

EQUIPE:Adélia RebelloJhulie FreitasRafael LopèzSahâmia Isabel

MODELOS:Verbiany LealYngred CarvalhoKim Carlos

FOTÓGRAFOS:Yuri RibeiroThiago OliveiraEvelin Santos

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Você já parou para pensar como surgiram as peças de roupa? Quais contextos histó-ricos elas foram criadas? Quais as mudan-

ças econômicas e sociais que elas causaram?

Pois é, a maioria das pessoas nem suspeita que a roupa que veste hoje com a maior naturalidade já foi um símbolo de revolução, ou já causou uma grande revolta na sua época de criação. Cada peça de roupa tem sua história tem seu porquê. As roupas dependendo da época na qual foram criadas ilustram um pensamento, uma atitude, uma revolta ou qualquer outro sentimento seja ele bom ou ruim, que muitas vezes não percebe-mos na hora de vestir essas roupas.

Por exemplo, houve um tempo em que elas fo-ram símbolo de protesto, como na década de 70, com o movimento hippie e a ideia da antimoda, ou seja, da negação daquelas roupas que todos usavam. E com isso acabaram criando um novo estilo não só de roupa, mas de vida.

O jeans, por exemplo, um tecido de origem mar-ginal, que era usado por mineradores, virou o símbolo da juventude transviada da década de 60. O biquíni criado numa época conservadora foi um verdadeiro escândalo, tanto é que as mu-lheres a princípio se negaram a usá-lo tamanha era a rejeição pela peça. A minissaia que foi cria-da em Londres nos anos 60 pela estilista Mary Quant, ofendia a sociedade que olhava com des-prezo o uso de roupas curtas demais.

Diante de todas essas afirmações surgem os questionamentos: Quando foi criada tal roupa? Como foi criada? Onde foi criada? Porque foi criada? Então elegemos três peças de roupa bem conhecidas do público para explicar um pouco mais a história das mesmas, são elas o jeans, o biquíni e a minissaia, peças que geraram grande repercussão e muitas críticas no momento em que foram criadas e hoje estão assimiliadas pela população e mais que presentes no cotidiano.

Desnudando a História da ModaComo o surgimento de uma vestimenta pode mudar os costumes e pensamentos de uma época.

A minissaia criada em 1968 revolucionou a moda parisiense, as mulheres agora tinham mais liber-dade de se mostrar, e fizeram isso adotando a nova peça. Entretanto a minissaia não é apenas um símbolo de revolução, mas é também ícone de uma tradição milenar na China. Os povos de Duan Qun Miao, já usavam saias muito curtas e justas ao corpo muito antes de se pensar em moda como a conhecemos hoje, mas foi Mary Quant, estilista francesa, que ousou produzir a peça para ser incorporada ao cotidiano das jo-vens de sua época. As minissaias que inicialmen-te tinham cerca de 30 centímetros e deixavam as pernas bem à mostra viraram, em bem pouco tempo, uma febre entre as jovens que se sen-tiam mais femininas e libertas sexualmente.

Contudo esse é apenas um breve rela-to sobre a história da moda, até porque existem muitas outras peças de roupa aqui não citadas que tem histórias igual-mente interessantes.A exemplo das pe-ças do vestuário masculino que histori-camente vem sendo deixada de lado, mas que atualmente é motivo de muita pesquisa por parte dos estilistas. É pre-ciso revolucionar a produção de moda masculina no mundo. E uma boa forma de se chegar a boas ideias é voltando os olhos para a História e buscando lá o gla-mour perdido da vestimenta masculina.

O que poucas pessoas sabem é que em séculos passados os homens eram os maiores consumidores de moda. Era para eles e não para as mulheres que a moda era produzida. Eram eles que se exibiam com suas roupas bem costura-das. Cada um a seu gosto, mas todos bem vestidos.

O mais importante é saber que moda não é só roupa, acessório e tendência. Moda é comportamento, é cultura, é renovação, é escolha, é obrigação, é reafirmação, é customização, é o que está na televisão ou no meio da mul-tidão, enfim é modo de vida.

Testes com bombas nucleares no Atol de Bikini, e dois audaciosos estilistas europeus nos anos de 1945. Foi o contexto necessário para a criação da peças mais usada hoje nos litorais brasileiros: O biquíni, que causou na sociedade da época um sentimento de rejeição, afinal as pessoas não estavam preparadas para uma peça tão reduzid. Vale ressaltar que o primeiro modelo de biquíni produzido era bem maior do que os usados hoje.

A peça foi tão rejeitada pela sociedade que ne-nhuma modelo quis desfilar usando-o. Foi preci-so que uma stripper, Micheline Bernardini, tives-se a ousadia necessária para vesti-la e se mostrar ao mundo em uma borda de piscina em París.

O Jeans teve sua origem das roupas de lona usa-da pelos mineradores norte-americanos, e que o primeiro a testar a confecção do jeans foi Lévi- Strauss, nos anos de 1850, nos Estados Unidos, a roupa foi um sucesso entre os trabalhadores por causa da durabilidade da peça e logo passou a fazer parte do dia-a-dia dessas pessoas. Com o surgimento do cinema, atores como James Dean e Marlon Brando incorporaram o conceito de ju-ventude rebelde com o uso da peça.

Na década de 1970, o estilista Calvin Klein ou-sou colocar pela primeira vez peças de jeans em seu desfile, e foi duramente criticado. Mas logo a peça caiu no gosto dos demais estilistas e consequentemente da sociedade, tornando--se assim uma das pe-ças mais usadas e mais desejadas pelos con-sumidores tanto os antenados em moda quanto os leigos no assunto. E hoje é uma peça premium em qualquer guarda--roupa.

por Anna Thays e Michelly Brito

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NA

A terceira etapa deste projeto tem como finalidade a capacitação dos empreendedores dos centros de pro-dução. Através de minicursos ofere-cidos pelos alunos do curso de moda, estes costureiros empíricos terão a oportunidade de aprender aspectos técnicos e melhorar seus produtos.

A metodologia de ensino já está sen-do desenvolvida e dentro de dois meses será implantada dentro da Academia. A prefeitura arcará com os custos e os estudantes terão a opor-tunidade de mais uma vez colocar em prática o que aprendem em sala de aula. Dessa forma, além de reali-zarem uma ação social, ocorre uma troca de conhecimento e o apoio a comunidades de baixa renda.

No início do projeto houve uma relu-tância por meio dos costureiros dos centros de produção em relação aos alunos de moda. Acreditavam que por ter muitos anos de carreira, não necessitavam de ajuda, mas com o tempo a barreira foi se quebrando e então começaram a aceitar o apoio dos jovens estilistas.

De acordo com Camila Carvalho “os frutos colhidos pelos estudantes de moda foi a oportunidade que tiveram de mostrar um trabalho desenvolvi-do com seriedade, além de desenvol-ver as técnicas que eles aprendem na academia. Já os produtores aprende-ram que a moda não é só copia e que eles possuem a capacidade de criar um conceito.”

O curso de moda, recém-cria-do na Universidade Federal do Piauí (UFPI), firmou uma

parceria com a prefeitura de Teresi-na, através da Secretaria de Desen-volvimento Econômico (SEMDEC), para desenvolver e aperfeiçoar os centros de produção comunitários apoiados pelo poder municipal.

A parceria teve início em maio des-te ano, sob orientação da professora Célia Santos, do curso de Moda da UFPI, a fim de planejar uma cole-ção que fosse apresentada no Piauí Fashion Week (PFW), trabalhando junto aos centros, com acabamento e design das roupas, pois a prefei-tura já havia identificado um déficit técnico dos empreendedores. O que se buscou mostrar na coleção com a parceria UFPI – SEMDEC foi o olhar sobre a identidade teresinense, ten-do como tema o misticismo e a reli-giosidade local. A coleção recebeu o nome de “Olhar Pitoresco ao Misti-cismo Teresinense”.

De acordo com a organização, a co-leção buscava retratar as principais lendas da cidade, como “cabeça de cuia” e “não se pode”, assim como as tradições católicas típicas de cida-des ribeirinhas como as procissões fluviais que fluem em preces de ro-sários, e o adro arquitetônico das igrejas antigas que remetem as on-dulações das águas calmas dos rios que cercam a cidade.

O primeiro evento foi considerado um sucesso, que rendeu aos alunos do curso de Moda uma palestra do estilista Ronaldo Fraga, patrocinada pelo SEBRAE, além de convites de trabalho com planejamento de cole-ções em empresas do setor de vestu-ário da capital. A parceria continuou com a participação desses centros de produção no desfile da Semana de Moda de Teresina.

A estudante Camila Carvalho que participou das duas edições expli-ca a importância da parceria com a prefeitura, “Este evento foi mais difícil, por que deixamos de ape-nas orientar e passamos a modelar, até mesmo costurar. A coleção que apresentamos tinha o tema ‘a moda assim como a construção de um lo-cal se descortina de um esboço de ideias; e, através da modelagem do concreto toma a dimensão do real que se complementa e se moderni-za no tempo, em espaços ainda não tomados, em formas ascendentes e representativas do desenvolvimento de uma Teresina que amadurece. ’”.

As associações e os centros de pro-dução alcançados nesse projeto de extensão do curso de Moda da UFPI, podem utilizar-se desses espaços de desfile para divulgar seus trabalhos, feitos com seriedade e compromis-so. Com a loja que ganharam no Piauí Center Moda, durante a Semana de Moda, expuseram suas peças ao pú-blico alvo do evento, os empresários e assim atingiram o êxito da coleção.

Parceria entre UFPI e prefeitura marca presença no PFW

Centro de Produção para comunidades carentes

por Diego Rodrigues, Josiane Sousa e Priscila Sousa

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MODAAs influências

do cinema [não vistas]

sobre o comportamento

e o mercado de moda.

Sempre tem aquele personagem ou aque-le filme que você se identifica. Ao sair do cinema, muitas vezes, pensamos: “isso

bem que poderia acontecer comigo. Eu bem que queria viver aquele romance. Gostaria tanto de visitar aquele país. Amei a roupa da prota-gonista. Vou querer uma igual!” Pois é, o que é mostrado nas telas do cinema interfere, sim, em nossas vidas. De um simples modo de falar de um personagem ao comportamento extra-vagante de outro. O cinema cria moda!

Em Maio desse ano, estudantes de Comuni-cação Social da Universidade Federal do Piauí realizaram uma pesquisa com cem jovens nas portas dos principais cinemas da capital, Cine-mas Teresina e Cinemas Riverside, onde eles responderam, por unanimidade, que se vêem influenciados pelos filmes exibidos nas telo-nas. E que, também, vêem os filmes como fun-damental forma de aprendizado.

No momento em que se coloca o cinema como uma expressão da arte, ele passa a influenciar e a ser influenciado pelo dia-a-dia das pessoas, pois como tal, ele se firma em certas bases ide-ológicas, que a mídia acaba dando visibilidade ao promover o filme. Levando a história do ser retratado naquele filme para vida do cidadão, fazendo-o incorporar e se identificar com as ca-racterísticas daquele personagem.

A história do cinema tem nos mostrado que, de uma forma ou outra, ele vem influenciando o modo de se vestir das pessoas, ligada por uma construção ideológica que envolve o contexto histórico do momento. Por exemplo, na década de 50, com o fim dos anos de guerra e do racio-namento de tecidos, a mulher se tornou mais feminina e glamourosa, de acordo com a moda lançada pelo “New Look”, de Christian Dior, em 1947. Metros e metros de tecido eram utilizados para confeccionar um vestido bem amplo e na altura dos tornozelos. A cintura era bem mar-cada e os sapatos eram de saltos altos, além das luvas e outros acessórios luxuosos, como peles e jóias.

Com o fim da escassez dos cosméticos do pós--guerra, a beleza se tornaria um tema de gran-de importância. Grace Kelly e Audrey Hepburn, que se caracterizavam pela naturalidade, jovia-lidade e o estilo sensual e fatal. Nos cinemas, Audrey, viveu a personagem Sabrina, no filme com o mesmo nome. O filme descreve essa as-censão da moda. A cintura sempre marcada e afunilada, os vestidos até os tornozelos acom-panhados pelos sapatos de salto alto. O figu-rino da personagem se fez indispensável ao guarda roupa feminino.

“Audrey Hepburn, ícone do cinema e da moda

nos anos 50 e 60 e Angelina Jolie, ícone atual”.

Atualmente, a moda dos anos 2000 tem um ar de liberdade total. Não existe mais um “pa-drão” a ser seguido, mas sim, tendências que não necessariamente são extendidas à toda população, justamente por essa liberdade de modificar a roupa, como uma individualidade. Apesar de tantas releituras, os movimentos culturais igualmente marcaram a época, como o grunge (inspirado no rock de Seattle), o estilo “clean” (roupas básicas e ajustadas) e o estilo esportivo (uso de listras e inspiração nos espor-tes, que trouxeram para o dia-a-dia os tecidos inteligentes). O cenário da moda demonstra que as peças já não classificam alguém, e sim, etiquetas, que possibilitam status às pessoas. Esse consumismo exorbitante de marcas é a característica da personagem de Carrie (Sarah Jessica Parker), em “Sex and the City”. Uma mulher totalmente independente no âmbito fi-nanceiro, que tem a liberdade de consumir tudo que desejar, no caso da personagem: sapatos.

A maior influência que o filme traz é a justifica-tiva de se ter guarda-roupa invejado por outras mulheres, onde só se encontra grandes mar-cas, como: Chanel, Dolce&Gabbana, Luis Vuit-ton, Prada, Yves Saint Laurent. O filme retrata a mulher contemporânea, com múltiplos papéis dentro da sociedade: o papel de mãe, de dona de casa, de trabalhadora; no entanto é uma mulher muito forte, viva e independente.

O traje visto como a criação de uma identidade do indivíduo ajudou a alavancar o mercado de customização de roupas. Foram criados nos úl-timos anos diversos sites e blogs onde são con-feccionadas roupas em baixa escala ou onde o próprio consumidor cria sua estampa. E uma das principais inspirações são filmes e perso-nagens que o consumidor se identifica.

“Eu crio algumas estampas e coloco disponí-veis no blog. Essas são as que mais vendem, pois tem para todos os gostos. Mas também os clientes pedem muito para criar algo para ele, ou enviam a ideia toda pronta e eu só a concretizo. Harry Potter, por exem-plo, que é uma febre. A procu-ra da camiseta do filme foi enorme quando lança-ram o último filme da série. Até hoje são as camisetas mais pro-curadas. Harry Potter é de longe o mais consu-mido. Também, procuram por clás-sicos, como Charlie Chaplin.”, conta o artista e empresário Carlos Moura, dono do blog Cam Shirts.

[Além]das Telonas

Claryanna Alves,Isabela Leite, Jamila Carvalho,Wérica Geys

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Como se pode ver, a sétima arte influencia sim os seus seguidores, tanto em questão de moda, como no comportamento em geral, que também não deixa de ser moda. Ícones atuais como Angelina Jolie e Scarlett Johansson defi-nem padrões de estilos, até mesmo corporais. Se nos anos 30, Clarck Gable reinou absoluto em “E o vento levou”, hoje em dia, quem dita é o descolado Johnny Depp, juntamente com o vampiro Robert Pattinson. Infelizmente, como nos conta Professora de Moda, Design e Esti-lismo da UFPI, Msc. Maria de Jesus, “O cinema tem mais esse poder de elitizar. É muito mais restrito. Essa elitização não influencia a massa. Então, em parte ela influencia a moda”.

No entanto, já não é como nos tempos an-tigos, onde somente a elite pode-ria “consumir” o cinema. Hoje em dia, se consome o cinema tanto nas grandes marcas, como na 25 de março em São Paulo, um dos maiores pontos de referência em comércio popular do Brasil, ou mesmo em Teresina, no Shopping da Cidade. O cinema chega às clas-ses menos abastadas, mesmo na ilegalidade. Esses comércios popu-lares reproduzem o que é mostrado

nos cinemas, mas claro, de uma forma mais acessível.

O estudante de Comunicação Social, Victor Lages, é um dos adeptos das camisetas personalizadas. E assim como a grande maioria dos admiradores dessa moda, suas camisetas são inspiradas em filmes ou personagens: “Às vezes faço camisas de filmes que eu gosto, mas procuro fazer de filmes que poucas pessoas conheçam, pra que se torne algo mais original e único”.

Quando questionada sobre as pessoas que baseiam seu vestuário e comportamento nos filmes, a Mestra Maria de Jesus é categórica: “Você consome imagem, você consome tudo que é material e imaterial. O cinema não é feito fora desse esquema, tem toda uma campanha da publicidade, o marketing da logística. Tem todo um arsenal que envolve essa estratégia de vender aquele produto. Esse produto é sim-bólico, então, nesse sentido, quando o cinema se propõe a vender, por exemplo, a imagem, ele pode inventar ou reinventar uma história”.

[Além]das Telonas

“Você consome imagem, você consome tudo que é material e imaterial. O cinema não é feito fora desse esquema.”

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“Por acaso”, foi assim que ele começou. Aos

16 anos fez o curso de iniciação em estilis-

mo e design de moda pelo Senai, a partir daí

descobriu a afinidade pela área. Quando fez

vestibular optou por Artes Visuais, na Univer-

sidade Federal do Piauí. “É fácil conciliar arte

e moda, são duas coisas que andam juntas,

acho muito interessante esse envolvimento”.

Martins uniu o útil ao agradável e procurou

mostrar seu trabalho através de projetos

dedicados a novos estilistas, “todo estilista

que está começando procura mostrar suas

idéias e criações e o espaço mais democráti-

co, a princípio, são os concursos porque es-

tes abrem possibilidades para todo mundo”.

Com essa idéia na cabeça, participou do Dra-

gão Fashion, em Fortaleza, e já tem cartei-

rinha do Rio Moda Hype, o mais importante

celeiro de novos talentos da moda do Brasil.

Piauienseé destaqueno cenárioBrasileiroda Moda

Piauienseé destaqueno cenárioBrasileiroda ModaMartins Paulo só falta ganhar as passarelas internacionais

por Jéssica Patrícia, Rafaele Ribeiro, Ranielly Veloso

Acima, uma das peças que compõe a coleção Verão 2012

A coleção apresentada no Rio Moda Hype 2011

é inspirada nas obras da artista plástica

Beatriz Milhases.

Rio Moda Hype - janeiro de 2012 é a pró-

xima parada do estilista piauiense. Pela

6ª vez, Martins Paulo foi selecionado

para participar de uma das maiores platafor-

mas de moda do país que garante o lugar no

Fashion Rio. Serão três meses para preparar

e produzir a coleção de inverno 2012 e ele já

partiu em busca da primeira fase de criação,

escolha de materiais e tecidos. As cores for-

tes são características do seu trabalho, é fácil

identificar a marca Martins Paulo, existente

desde 2006. Consolidá-la é o objetivo do te-

resinense de apenas 25 anos. “Eu tento pas-

sar conteúdo, informações, por trás tem todo

um contexto histórico e um viés artístico”.

Page 9: Meios & Modos - Caderno Experimental

OPORTUNIDADES EM COMPETIÇÕES

O primeiro trabalho de destaque aconteceu

no Dragão Fashion 2006, apresentando a

coleção “O teatro do oprimido”, inspirada no

universo da comédia e da tragédia. No ano

seguinte, retornou ao evento com o nome

mais forte e reconhecido nas passarelas

pela ousadia. Movido pelas suas raízes le-

vou para a passarela um trabalho inspirado

no piauiense Torquato Neto e a tropicália na

coleção “Alinhavando Torquato”.

O Fashion Rio veio dois anos depois, em

2009, acrescentar experiências na carreira

promissora do estilista e não saiu mais. “O

que for feito por mim terá a minha identida-

de”. No Rio Moda Hype a confirmação dessa

identidade em seus trabalhos: cores inten-

sas, recortes geométricos e inspirações que

vão dos poemas de Cecilia Meireles (inverno

2009) ao cinema de Almodóvar (verão 2010).

MARTINS COLHE RESULTADOSEM ESPAÇO PARA POUCOS

Este foi um ano muito cheio e produtivo, o

jovem apresentou duas novas coleções no

Fashion Rio. Em janeiro, mostrou a cara do

inverno 2011, inspirada do musical CATS da

Broadway, e em junho o Verão 2012, guiado

pelas obras da artista plástica Beatriz Milha-

ses. Para a 15ª edição do Fashion Rio ele está

preparando uma coleção inverno 2012.

Entre um trabalho e outro, fez viagens de pes-

quisa, participou da produção da Semana da

Moda, esteve no Piauí Fashion Week, desen-

volveu um trabalho com os joalheiros de opa-

la de Pedro II apresentado em São Paulo no

Piauí Sampa. Também esteve no The Fashion

Trends e fez curadoria para o Ecomoda 2011.

O Brasil conheceu mais o trabalho de Martins

Paulo quando ganhou espaço na Rede Globo

participando no quadro Estilista Revelação

do programa Tv Xuxa. Não saiu em primeiro

lugar, mas aponta pontos positivos “aprovei-

tei ao máximo e fiz um bom network”.

O reconhecimento da arte de Martins era

perceptível desde sua primeira temporada

no Fashion Rio 2009, além das publicações

em revistas consagradas como, Vogue, Elle,

e Marie Claire. “fico feliz, porque são meios

que realmente entendem de moda, pessoas

que tem gabarito para falar disso”.

Como o Piauí não poderia deixar de reco-

nhecer a contribuição do mais novo nome da

moda no cenário nacional, Martins Paulo foi

agraciado recentemente pelo Mérito Renas-

cença 2011, a maior comenda outorgada pelo

governo estadual, por levar o nome do Piauí

em todo seu trabalho a nível nacional.

CRIATIVIDADE VEM A QUALQUER HORA

A inspiração vem das coisas que fazem

parte do seu universo, seja um filme ou

artista que Martin goste. Viagens também

despertam o processo criativo no estilista,

“é sempre bom ter a oportunidade de se

reciclar, ver novidades”, relembra a ida à

Paris no início deste ano.

Quando questionado sobre o desenvolvi-

mento do setor da moda no estado, ele diz

que isso é uma história recente e está bem no

comecinho, lembrando que a primeira turma

de moda formada no Piauí não tem nem dois

anos e o curso na Ufpi começou em 2009.

“Não sou deslumbradocom o ‘Sonho do Glamour’, quero é mostrar meu trabalho”

“Tem muita gentecom idéias boas aqui, mas talvez faltem opções de como desenrolar e mostrar trabalho aqui. Tive que mostrar meu trabalho fora”.

Planos para o futuro? Ele tem muitos, mas

confessa que pode mudar tudo da noite para

o dia. “Penso em continuar com minha for-

mação em Artes, quero fazer pós-graduação,

talvez em História da Arte”. Mas, em momen-

to nenhum esconde que a prioridade é forta-

lecer o trabalho autoral que leva seu nome.

Revista Elle de junhho de 2011

traz o trabalho deMartins Paulo

Entrega doMérito Renascença

Em visita a Galeria Michal Batory

Page 10: Meios & Modos - Caderno Experimental

Influências das novelas, tendência e

preço acessível na moda do Shopping da

Cidade

Em certos casos, o impacto de um personagem é imprevisível e torna-se inspiração para uma estação, outras vezes o persona-gem apenas divulga a tendência da estação. De um jeito ou de outro, a moda que advêm das grandes marcas não é acessível a toda a população. Para agregar um maior número, existem ou-tras opções, e no Piauí uma boa opção é o Shopping da Cidade.

Inicialmente, a construção do Shopping da Cidade visava ape-nas a alojar os vendedores am-bulantes em um único lugar, para melhorar o tráfego no Cen-tro. Atualmente, existem 1.800 boxes (divididos nos três pavi-mentos) em toda a extensão do Shopping, além de praça de ali-mentação, postos da Caixa Eco-nômica Federal, Correios, Eletro-bras, Banco 24h, Agespisa e um supermercado.

O alcance da novela é muito maior (em comparação aos desfiles de moda). A novela é a grande revista de moda das camadas populares.

Aline RochaAnne Beatrice

João Victor RolinPriscila Florêncio

É fácil perceber que as no-velas contribuem na po-pularização da moda que

é produzida nas passarelas. Os personagens de novela seguem as tendências e repassam para os telespectadores que bus-cam sempre estar em dia com a moda. O renomado estilista Ale-xandre Herchcovitch, em uma entrevista, fala sobre a influência dos figurinos da televisão sobre a maioria dos brasileiros: “O al-cance das novelas é muito maior (em comparação aos desfiles). A novela é a grande revista de moda das camadas populares.”

Page 11: Meios & Modos - Caderno Experimental

Caminhando por entre os boxes, fica clara a influência da TV nos modelos que as vendedoras co-locam nos manequins para ex-posição. “O que está na moda, aparece na TV, nos persona-gens, temos que comprar, senão a gente não vende. As pessoas procuram muito por modelos que vêem nos personagens das novelas”, afirma Elisângela So-ares, dona de um dos boxes no Shopping da Cidade. Além de personagens das novelas, can-tores também ditam moda. Com o sucesso recente e estrondoso da cantora Paula Fernandes, o Shopping da Cidade se encheu de corseletes com estampas e modelagem parecidas com as que a cantora costuma usar.

A importância do Shopping vai além do mercantilismo, ele cons-titui-se como ferramenta socioló-gica no que tange ao acesso fa-cilitado à moda e às tendências, consolida e molda o significado de vestir-se na sociedade atual.

Personagens que lançaram tendências

Não é de hoje que as rou-pas e acessórios dos per-sonagens das novelas

fazem sucesso. Muitos persona-gens ditaram moda e serviram de inspiração para as pessoas, tan-to no modo de se vestir como na maneira de falar. Algumas perso-nagens são lembradas até hoje. Quem não se lembra do visual over, cheio de exageros, brilhos e adereços enormes e laçarotes no cabelo, inspirados no estilo Madonna, de Viúva Porcina per-sonagem de Regina Duarte na novela Roque Santeiro (1985). A personagem Julia Mattos (Sô-nia Braga) popularizou nos anos 1970, as meias Lúrex com sapa-to de salto alto. Em 1994, A per-sonagem Babalu (Letícia Spiller)

da novela Quatro por Quatro ins-pirou milhares de adolescentes com suas mini blusas tipo bustiê, minissaia jeans e sandália plata-forma. A Jade da novela O Clone levou milhares de mulheres a pintar os olhoes e a comprarem anéis-pulseiras de todos os es-tilos. Os lenços de pescoço da personagem Laura da novela Ce-lebridade (2003). A Bebel (Camila Pitanga) com seus brincos gran-des, estampas de tigre e, recente-mente, a personagem de Débora Secco, Natalie Lamour da novela Insensato Coração (2011), com vestidos ajustados e estampas de animais, e o colar com pingen-te de dinossauro usado pela per-sonagem de Adriana Esteves na novela Morde e Assopra (2011).

Além da impor-tância econômi-ca e estrutural que o Shopping da Cidade representa, a população constata a característica mais estimada: o valor dos produtos. “O preço acessível é, sem dúvida, a melhor coisa daqui, porque essas roupas ‘de marca’ eu não posso comprar. E eu tenho certeza que a maioria das pessoas vem aqui por que também não podem”, assegura Ana Célia Ribeiro Silveira, com-pradora do Shopping da Cidade.

Colares, saias tubinhos, es-tampas florais, blusas assimé-

tricas, tudo que é tendência da estação vigen-te, pode ser en-contrado lá. “En-

contro tudo o que eu quero aqui. A minha fi-

lha queria um colar com pingen-te de dinossauro que a persona-gem da Adriana Esteves usa na novela Morde & Assopra, das 19h, depois de uma busca rápida, ela encontrou aqui e comprou”, constata Ana Célia Ribeiro, que também recorre ao Shopping.

De acordo com a escritora Marília Carneiro em seu livro ‘No Cama-rim das Oito’, quando entra uma novela nova no ar, seus figurinos são sempre baseados em cole-ções e mostruários da próxima estação, criando uma proximida-de entre telespectador e as atu-ais tendências, atingindo até as pessoas mais leigas, já que o al-cance da telenovela é surpreen-dente. Ao contrário dos circuitos de desfiles, a novela é exibida diariamente o que facilita a ab-sorção dos figurinos, e a identifi-cação com os personagens.

Dessa forma, o Shopping da Ci-dade, junto aos magazines, tem um papel social e cultural mui-to importante, já que facilitam o acesso e o consumo da moda. Como afirmou o sociólogo Zyg-munt Bauman, “Nós do líqui-do mundo moderno buscamos, construímos e mantemos as referências comunais de nos-sas identidades em movimento, lutando para nos aliar a grupos igualmente móveis que procu-ramos, construiímos e tentamos manter vivas por um momento, mas não por muito tempo”.

Muito do que se vê na mídia de massa,

pode ser encontrado no comércio po-

pular. Abaixo, modelo semelhante ao

usado pela cantora Paula Fernandes à

venda no Shopping da Cidade.

Page 12: Meios & Modos - Caderno Experimental

M DASUSTENTÁVEL

É POSSÍVEL?

A mídia brasileira e mundial vem abordando , constantemente, temas relacionados ao meio ambiente. Tal insistência temática tem

feito com que muitas pessoas voltem à atenção para as causas ambientais, assim como a diminui-ção dos problemas quem causam danos ao planeta.

Sabendo que pensamentos ecológicos passaram a compor o cotidiano de muitas famílias, as indús-trias , de um modo geral, têm investido em mate-riais menos poluentes a fim de conquistar consumi-dores mais engajados com a causa ambiental.

Embora muitas empresas e áreas de produção te-nham focado na sustentabilidade, o termo ,assim como vem sendo usado, é novo e surgiu com a cria-ção da Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, pela ONU, em 1980. Com essa onda verde, surgia então, a expressão “Desenvolvi-mento sustentável”, que se refere às formas como as atuais gerações devem satisfazer as suas necessi-dades no presente sem, no entanto, comprometer a capacidade de as futuras gerações satisfazerem as suas próprias necessidades.

Pensar sobre a questão ecológica e na melhor uti-lização dos recursos naturais no desenvolvimento de qualquer produto é importante, bem como per-tinente. Mas somente pensar não basta para que uma empresa seja reconhecida por esse diferencial. Hoje, a sustentabilidade vai muito além da simples racionalização dos recursos naturais, ela preconiza um desenvolvimento economicamente viável, so-cialmente equilibrado e que agregue valores éticos e culturais àquele produto, evitando assim o redu-cionismo do passado - que atrelava a sustentabili-dade apenas ao aspecto ambiental.

Vale frisar que as ações sociais são a essencia do conceito de sustentabilidade. No momento em que uma empresa oferece meios para que uma comu-nidade possa apresentar produtos ao mercado con-sumidor, ela faz mais do que aliar-se a pequenos produtores. Essa ligação potencializa o trabalho de quem antes produzia pouco por não saber a quem vender. Tal união faz com que a empresa também saia ganhando. Ter o rótulo de empresa amiga do meio ambiente ou ajudante de pequenos produto-res agrega valor ao nome da empresa.

por Dariana Ribeiro, Luciana Rodrigues, Thays Fernanda

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FIBRA DE ALGODÃO: Produção de tecidos ecológicos

Consumir produtosnaturais é valorizar a qualidade de vida.Isso é compromisso como meio ambiente e suasustentabilidade.

Jogos-americanos, case para notebooks, bolsas e artigos para casa, cama, mesa e banho, são confeccionados seguindo o pensamento de valo-rização do artesanato do Estado. Uma peça pro-duzida dessa forma engrandece a agricultura fa-miliar e enaltece o artesanato local ressalta Jesus Rufino,uma das proprietárias da loja.

Contraditoriamente, embora essa relação de consciência ecológica, consumo e moda venha fazendo sucesso, não é tão fácil assim comercia-lizar peças que carregam essa preocupação. Para Jesus Rufino, muitas pessoas veem de forma des-confiada algo feito artesanalmente. Por conta de uma análise ,inicialmente preconceituosa , pen-sam se tratar de produtos com qualidade inferior. Para outras, o preço é um empecilho para a com-pra. Muita gente gosta do que vê, mas não quer pagar o que é cobrado. Um produto fabricado de forma artesanal traz em si um valor de preserva-ção de toda uma comunidade de artesões produ-tores e , por ser confeccionado de forma caseira, não pode ter o mesmo preço de outro comercia-lizado fora desse contexto.

Mesmo com algumas dificuldades iniciais, a loja tem conquistado os clientes. Alguns compram porque abraçam a causa da sustentabilidade. Per-guntam sobre a origem dos produtos e o modo com foram confeccionados. Outros compram apenas pela beleza das peças. De fato, vender é a preocupação de todo lojista, mas o que sentimos quando visitamos o local pela primeira vez , e sem nos identificarmos, foi um empenho na divulga-ção daquilo que a loja acredita e vende. Íamos sendo apresentadas aos produtos e suas origens. Não sairíamos de lá sem saber pelo menos isso.

O trabalho desenvolvido pela Fio e Flor é sério e traz valores agregados. O que nem sempre ocor-re com todos que exaltam a preocupação com o planeta. A moda , seja ela aplicada a produtos ar-tesanais ou não, tem utilizado toda essa mídia e vem exaltando essa parceria como possível e lu-crativa. No entanto, até quando o mundo do gla-mour, do consumismo e da renovação constante vai ostentar a bandeira verde da sustentabilida-de? Só o tempo dirá se essa será mais uma ideia a ser reciclada pelo mundo fashion.

ComercializaçãoEm Teresina, a Fio e Flor, há apenas dois meses, vem apostando na venda de produtos produzidos a partir do algodão colorido. Camisetas e roupas infantis que não passaram por um processo de tingimento e , portanto , deixaram de poluir rios e lagos com resíduos do processo de coloração . As peças são confeccionadas na Paraíba em 100 % algodão e carregam uma etiqueta exaltando a preocupação com o meio ambiente.

A ideia da loja surgiu depois da feitura do docu-mentário Tecelagem e Cerâmica em Pedro II. En-cantados com o trabalho das artesãs da região, resolveu-se criar a Fio e flor. Embora a loja venda produtos a partir do algodão colorido, as peças confeccionadas em teares manuais são a identifi-cação do espaço.

As peças vendidas na loja apresentam muito mais do que beleza. Trazem na sua etiqueta in-formações sobre a origem artesanal do produto e o compromisso com a sustentabilidade. Afinal, tudo o que está à venda é feito por pessoas per-tencentes a pequenas comunidades que antes produziam artesanato, mas não tinham um mer-cado consumidor certo. Depois da parceria entre loja e artesãs, todos saíram ganhando.

A indústria da moda que polui bastante por in-centivar o consumo de produtos lançados a cada coleção, também tem se preocupado com um consumo mais consciente. Não podendo perder o auge das causas ambientais tem lançado coleções feitas com algodão colorido e roupas com fibras feitas a partir de garrafas PET recicladas.

Nesse contexto, o desenvolvimento da indústria dos tecidos sustentáveis vem se amplaindo, sen-do o algodão colorido o grande precursor. Não é possível citar com exatidão quando surgiram os primeiros tecidos de algodão, mas se sabe que por volta de 3.000 a.C., no continente asiático, já se usavam tecidos com essa fibra. Atualmente, o algodão entra no mundo da eco-moda e ganha destaque em lojas de todo o mundo.

O tecidos feito de elementos orgânicos é resulta-do de muitas pesquisas da indústria têxtil, mas só recentemente se tornou viável fazer roupas que aliassem o consumo sustentável ao design, à tec-nologia e à ecologia. A fibra natural, para garantir a qualidade, requer cuidados especiais no cultivo, na criação e na extração, além de ser um produto sazonal e sofrer com as condições do clima.

0 algodão colorido, cujas fibras se apresentam nas cores marrom, verde, safira e rubi, e carac-terizado por ser antialérgico, com boa absorção e resistentea à lavagem, dentre outras vantagens que contribuem para sua utilização na confecção de peças para cama, mesa, banho, limpeza, de-coração, capas para móveis, além de vestuários como camisaria, roupa íntima e jeans.

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CanelaC r a v oO design de jóias produzido pela Cravo & Canela

referencia a moda, com criatividade e sustentabilidade

O setor de jóias apresentou cres-cimento de 35% nos últimos cinco anos no Brasil, e isso

acontece agregado às inovações pro-porcionadas pela criatividade dos de-signers, que buscam novos materiais e processos para a execução de jóias e acessórios, além de inspirações que se diferenciem no mercado. Esse se-tor é responsável por empregar mais de 400 mil pessoas em todo o país, tendo faturamento anual de aproxi-madamente 1,3 bilhão de dólares. No Piauí, uma das matérias-primas mais conhecidas para criação de joias é a opala, encontrada na cidade de Pe-dro II, a 220 km da capital, Teresina. Segundo a Associação de Joalheiros e Lapidários de Pedro II (AJOPI), o setor movimenta cerca de R$ 2,5 milhões por ano no Estado, com previsão de crescimento de 40 % nas vendas de joias regionais com a proximidade da Copa do Mundo de 2014.

As matérias experimentais, como fi-bras e pedras naturais, sementes, couro de peixe etc. agrupadas, ou não, aos metais preciosos juntam--se as inovações proporcionadas pela criatividade dos designers que atuam como agentes transformadores no uso das matérias-primas e nos processos para a execução de jóias e acessórios, além de unir o estilo com a sustenta-bilidade promovendo a proteção ao meio ambiente. Sendo assim, a cons-ciência ambiental alia-se aos moldes de produção das joias e promovem uma moda com sustentabilidade.

E foi Aliando sustentabilidade ao de-sign de joias que, há oito anos, a mar-ca Cravo& Canela, idealizada por Lene Pires e Márcia Andrade, produz peças com criatividade, o nome da marca re-presenta a união do delicado e rústico Cravo junto à força da Canela, fazen-do assim o elo entre a delicadeza das jóias com o comercial do mercado.

As designers trabalham com o rea-proveitamento e a reciclagem de me-tais, fibras naturais, couro de peixe, coco, alumínio reciclado, opala, en-tre outros. Contribuindo assim, para o desenvolvimento sustentável que aplicado nas suas produções reflete o diferencial no mercado local e nacio-nal. “Ser design e sustentável em Te-resina não é desafiador, é necessário. Teresina precisa de inovação, de dife-renciação. Temos um público exigente sim, e quem pensa o contrário, se en-gana”, afirmam as empresárias.

Para Márcia, as peças da Cravo & Canela aliam conforto e design di-ferenciado para que gere bem-estar em seus/suas clientes, pois a marca busca trabalhar não só com a maté-ria física, mas também com psicológi-co das pessoas. “Não é só produto; é o belo, é o saudável, é o design, é a sustentabilidade! Nós fazemos e re-fazemos uma peça até ela sair legal, enquanto não achamos vamos explo-ramos o máximo as potencialidadese regionais, e tudo que podemos extrair dela, colocando em cada peça nossa identidade”, afirma Lene.

Ser design e sustentável em Teresina não é desafiador, é necessário.

Teresina precisa de inovação, de diferenciação.

Temos um público exigente sim, e quem pensa o contrário, se engana

Carlienne Carpaso Diego Barlo

Frank FeitosaThalita Castelo Branco

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O Piauí no design de jóias

A cultura piauiense é retratada nas peças produzidas pela Cravo e Ca-nela; sendo uma identidade da mar-ca valorizar o Piauí, traduzindo suas belezas em inspirações. A exemplo, da Serra da Capivara que influenciou peças recém lançadas; as idéias na criação das mesmas se voltou para as figuras clássicas representativas do local, dentre elas as pinturas rupes-tres da Capivara e a Cena do Beijo.

O(a) designer deve sempre dar um significado especial aos sinais e aos códigos linguísticos do cotidiano. É preciso traduzir todo o simbolismo do dia-a-dia para que possam surgir ideias que fomente a criatividade no processo de composição e conceito das peças. As designers contam que em viagem a Brasília, observaram o cotidiano da cidade e gostaram das paradas de ônibus em formato circu-lar. A partir dessa imagem, elas cria-ram um anel que foi moldado a partir daquele singular lugar, ganhando o gosto dos seus clientes.

Ser design envolve mais do que conhecer téc-nicas de manuseio e produção das peças que podem ser feitas. Envolve um estudo do coti-diano, uma percepção treinada para analisar os detalhes e nuances da cultura que se es-trutura diante do próprio designer. Tudo isso com o intuito de entender suas influências,

o cotidiano de sua cultura e valorizar, dando novos olhares aos detalhes, além de manter atualizada sua fonte de inspiração, crucial para a produção de peças que carreguem valores que encantem aos olhos dos que vêem essas expressividades tornando-se materiais, e pe-ças com design inovador, diferenciado e único.

Cravo & Canela pelo Brasil

Sempre em busca de renovar e firmar parcerias, A Cravo e Canela já se associou a renomados artistas, como exemplo, o estilista brasileiro Jum Nakao, que pediu as designers, a criação de um pingente de opala ao formato do mapa do Brasil, incluindo as divisórias entre os estados. Outra parceria foi com o estilista piauiense Martins Paulo que organizou um desfile agregando a sua produção com os acessórios da Cravo & Canela. Atualmente, a marca participa do Pro-jeto “Moda Piauí”, em fase inicial, com o estilista Ronaldo Fraga, considerado como um dos nomes mais importantes no processo de construção da identidade da Moda e Cultura Brasileira e represen-tante do Colegiado de Moda no Conse-lho Nacional de Política Cultural (CNPC), biênio 2010/2011.

Coleção RendáColeção Amarras

Peça confeccionada em fibra de buriti com delicadas e pe-quenas amarras pontuadas ao longo da peça com detalhe retangular em prata e opala presa em fios naturais.

Composições com inspiração na arte nordestina de tecer utensílios e adornos utilizando como matéria prima, fibras naturais a exemplo do buriti, nas confecções de jóias arte-sanais rústicas e contemporâneas em prata e opala.

Anel em prata com detalhes vazados e assimétricos cra-vados de pedra brasileira olho-de-tigre em forma de rosa.

A coleção inspira-se no trabalho minucioso realizado pelas rendeiras do ‘’Morro da Mariana’’ que dominam a arte de tecer delicadas rendas de bilros, arte que passa de mãe para filha e que há décadas vêm fazendo parte da cultura nordestina.

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Alheios aos proselitismos dos esti-los que caracterizam o transcorrer de sua época ativa, ambos trafegam pela arte carregando apenas a ban-deira da livre expressão – não enqua-dram e não se enquadram por razões que não sejam o prazer do dialogo estético fundamentado na essencial liberdade expressiva que, acreditam seja de fato a única bandeira da arte, “ Ao artista a liberdade da escolha pelo estilo que melhor lhe preencha a necessidade e o senso expressivo” como define Elda Ribeiro ao ser ques-tionada sobre a inadequação históri-ca da retórica de superfície, procla-mada como ultrapassada diante dos apelos e aparatos intelectuais da era conceitual que hoje rege a expressão artística e brincou com uma defini-ção do artista Brian O’Doherty – “O espaço é hoje apenas um lugar onde as coisas acontecem; as coisas fazem o espaço existir. E qualquer artista tem o direito de configurá-lo a partir do objeto gerador que lhe convier..”

Hostyano é um artista libertário por opção, trafega pelos estilos figura-tivos e não figurativos tendo como guia o prazer da composição, da construção e da livre criação, sua ins-piração esta onde sua curiosidade e necessidade estética o mandarem, uma cor que surge, uma mudan-ça de ponto de vista, uma bela mulher, os apelos estéticos da fé, um diálogo com os grandes mestres do passado ou a sim-ples vontade de pintar ditada pelo agora. Hostyano é fluxo que mantém em si a verve filosófica dos modernos aliada a sagacidade transgressora dos primeiros conceituais. O espaço

que ocupa na arte piauiense deriva da conquista de um espaço interior, fruto de uma consciência plena das vantagens de suas escolhas como artista, conduzidas pela mistura das emoções mais simples do ser huma-no, a sensualidade, a ironia , a per-formance, a transcendência, o mito e o comercio; articuladas em suas obras com simplicidade, transparên-cia, liberdade estilística, técnica e de constante diálogo com a beleza. Esta ultima claramente demonstrada em sua estreita ligação com a moda – so-bre a qual comentou, “ arte também é moda” . Tudo isto combinado com muita leveza, tranqüilidade e isenção de culpa ou desculpa.

O oposto da sua contemporânea, cuja densidade expressiva denota um mergulho angustiado ao cerne das emoções e experiências conflitu-osas de cada ser. Suas cores vibrantes e enquadramentos em zoom confe-rem a sua obra um ar de dramatici-dade mesmo na mais cotidiana ação. E cujas definições de liberdade e ex-pressão seguem por pressupostos radicais e bem definidos de qualida-de estética e ideológica, gerando um

olhar mais crítico e psico-logicamente engajado que remete a tensão primordial das suas

escolhas esté-ticas.

Eu trabalho para a obra

existir►A década de 70 é um marco para a cultura do Piauí, na imprensa jornais contraculturais explodiam, Teresina passava por uma efervescência cultural ímpar em sua história. As manifestações culturais, que até então estavam cercadas pelos muros dos grandes casarões, começavam a ganhar um público maior e a cultura europeizada dava lugar aos traços locais.

Em 1973, o curso de Artes Plásticas da Universidade Federal do Piauí é formado e a contracultura sai

do universo marginal para chocar a cultura dita erudita, exposições realizadas por Hostyano Machado como, por exemplo, a do Museu do Piauí, repleto de modelos nus, deram início a um novo fazer artístico.

Hostyano Machado é sem dúvida o artista mais completo do nosso estado, seu trabalhos, que utilizam os mais variados materiais, da tinta ao ferro bruto, combinados à diversas técnicas, como a pintura, cerâmica, escultura, modelagem, e design, são provas vivas que explicam seu reconhecimento como tal.

Além de incorporar em suas obras a sua assinatura, Hostyano trouxe para o artista piauiense a pesquisa e a téc-nica que possibilitaram o experimen-talismo que influenciou toda uma geração de artistas, como a parana-ense Elda Ferreira Ribeiro, filha de um piauiense com uma descendente de alemães, que desde menina vinha passar as férias em Teresina e aqui descobriu a pintura.

Elda incorpora em suas telas a reali-dade nordestina, mas buscando um discurso estético que consiga alcan-çar a alma de outras pessoas, já que para a artista a arte captura a porção mais íntima do ser humano sem ser invasiva. E a artista consegue com primazia atingir seu objetivo.

Seu trabalho mais recente, composto por 4 quadros, com rostos em close representando a oração, o bom hu-mor, a dor e a morte quando expos-tas atraíam a atenção de diferentes espectadores, as obras tem o poder de despertar uma emoção que por vezes estava adormecida.

“O grito de dor” foi escolhido pela Unicef, símbolo da campanha contra o abuso infantil.

Pode se destacar o figurativo repleto de personagens femininas como um dos pontos em comum que entrelaçam os artistas, que através dos elementos e um olhar sobre o local, acabaram por ganhar a atenção do mundo: Hostyano tem obras expostas na Alemanha, França e Itália [e, infelismente, é mais reconhecido fora do que em sua terra natal]. Enquanto Elda, anualmente participa do Circuito Internacional de Arte Brasileira College Arte.

porDaiane Bezerra - Mayara Araújo

Vinícius Ferreira - Willame Lucas