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Memorial da Universidade Nova (2002-2010)

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Report of an experience of structural political transformation of an elite University, located in Northeast Brazil, into an open, effective device for social and ethnic inclusion. A complex network planning strategy was used to foster "deep change" in the institution. Following expansion of students and faculty, growth in investments and opening of an Afirmative Action Program, the curriculum architecture and the regulatory framework was extensively revised, implementing a cycle system of higher education. Resistence and reaction, internal and external, are analyzed in a critical-historical perspective.

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Memorial daUniversidade Nova

UFBA 2002-2010

Naomar de Almeida FilhoFrancisco MesquitaMaerbal Marinho

Antonio Alberto LopesEugênio Lins

Nádia RibeiroJoselita MacedoÁlamo PimentelFernando Rego

Salvador, BahiaJulho de 2010

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Reitoria da Universidade Federal da Bahia

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Universidade Federal da Bahia

REITOR:Naomar Monteiro de Almeida Filho

VICE REITOR:Francisco José Gomes Mesquita

EQUIPE DO REITORADO

PRÓ-REITOR DE GRADUAÇÃO:Maerbal Bittencourt Marinho (2002-2010)

PRÓ-REITOR DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO:José Sérgio Gabrielli de Azevedo (2002); Maria de Fátima Dias Costa (2003-2006); Hebert Conceição Torres de Farias (2006-2007); Anto-nio Alberto da Silva Lopes (2007-2010)

PRÓ-REITOR DE EXTENSÃO:Antonio Nery Alves Filho (2002-2003); Manoel José Ferreira de Car-valho (2003-2005); Álamo Pimentel Gonçalves da Silva (2005-2006); Ordep Trindade Serra (2006-2008); Eugênio de Ávila Lins (2008-2010)

PRÓ-REITOR DE PLANEJAMENTO E ADMINISTRAÇÃO:Luiz Alberto Bastos Petitinga (2002-2003); Dora Leal Rosa (2004-2006); Nádia Andrade de Moura Ribeiro (2007-2010)

PRÓ-REITOR DE DESENVOLVIMENTO DE PESSOAS:Neusa Dias Andrade de Azevedo (2002-2006); Joselita Nunes Macedo (2006-2010)

PRÓ-REITOR DE AÇÕES AFIRMATIVAS E ASSISTÊNCIA ESTUDANTIL:Álamo Pimentel Gonçalves da Silva (2006-2010)

CHEFE DE GABINETE:Isabela Cardoso de Matos Pinto (2002-2006); Nádia Andrade de Mou-ra Ribeiro (2006-2007); Aurélio Gonçalves de Lacerda (2007-2008); Lígia Jacobsen Álvares (2008-2009); Fernando Luiz Trindade Rêgo (2009-2010)

ASSESSOR DE ASSUNTOS INTERNACIONAIS:Emílio José de Castro e Silva (2002-2010)

ASSESSOR DE PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO E PROJETOS ESPECIAIS:Oswaldo Barreto Filho (período)

ASSESSOR DE ...:Roberto José Meyer Nascimento

ASSESSOR DE COMUNICAÇÃO:Vitor Hugo Soares; Cláudio Guimarães Cardoso; Lindinalva Silva Oli-veira Rubim; Paulo Renan Rodrigues dos Santos; Maria Lucineide Fon-tes; Marco Antonio Oliveira de Queiroz (2009-2010) (períodos)

SECRETÁRIA DOS ÓRGÃOS COLEGIADOS: Therezinha Maria Dultra Medeiros (2002-2010)

MEMBROS DOS CONSELHOS SUPERIORES DA UFBA (2002-2010):

CONSELHO UNIVERSITÁRIO:

Naomar Monteiro de Almeida Filho (Reitor), Francisco José Gomes Mesquita (Vice-Reitor).

PRÓ-REITORES: Álamo Pimentel Gonçalves da Silva, Dora Leal Rosa, Joselita Nunes Macedo, Luiz Alberto Bastos Petitinga, Nádia Andrade de Moura Ribeiro, Neusa Dias Andrade de Azevedo.

DIRETORES DE UNIDADES UNIVERSITÁRIAS: Ana Maria Fernandes, Ânge-la Tamiko Tahara, Antonia Torreão Herrera, Antonio Albino Canelas Rubim, Antonio Fernando Guerreiro M. de Freitas, Antônio Heliodo-ro Lima Sampaio, Antonio Marcos Chaves, Antonio Wilson Ferreira Menezes, Arthur Matos Neto, Caiuby Alves da Costa, Carmen Cé-lia Carvalho Smith, Celi Nelza Zulke Taffarel, Celso Luiz Braga de Castro, Daniel Marques da Silva, Dioneire Amparo dos Anjos, Dirceu Martins, Dulce Tamara Rocha Lamego da Silva, Edmar José Borges de Santana, Eduardo Luiz Andrade Mota, Eliene Benício Amâncio Cos-ta, Erick Magalhães Vasconcelos, Evelina de Carvalho Sá Hoisel, Fre-

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derico Guaré Cruz, Giovandro Marcus Ferreira, Heinz Karl Novaes Schwebel, Heloniza Oliveira Gonçalves Costa, Horst Karl Schwebel, Iracema Santos Veloso, Joana Angélica Guimarães da Luz, João Carlos Salles Pires da Silva, Johnson Barbosa Nogueira, Johnson Meira Santos, Jorge Antonio Moreira da Silva, José Bernardo Cordeiro Filho, José Fernandes Silva Andrade, José Tavares Neto, José Vasconcelos Lima Oliveira, Juçara Bárbara Pinheiro, Kátia Maria de Carvalho Custódio, Lídia Maria Brandão Toutain, Ligia Maria Vieira da Silva, Lina Maria Brandão Aras, Luis Edmundo Prado de Campos, Luiz Antonio Mattos Filgueiras, Luiz Rogério Bastos Leal, Magda Helena Rocha Dantas, Ma-noel Barral Neto, Marco Antonio Nogueira Fernandes, Maria Celeste de Almeida Wanner, Maria da Glória Lima Cruz Teixeira, Maria da Pureza Spínola Miranda, Maria Isabel Pereira Vianna, Maria Thereza Barral Araújo, Marlene Campos Peso de Aguiar, Mirabeau Levi Alves de Souza, Nelson de Luca Pretto, Osvaldo Barreto Filho, Reginaldo Souza Santos, Roaleno Ribeiro Amâncio Costa, Roberto Paulo Cor-reia de Araújo, Rosauta Maria Fagundes Poggio, Sérgio Coelho Borges Farias, Solange Souza Araújo, Sudário de Aguiar Cunha, Teresa Leal Gonçalves Pereira, Yeda de Andrade Ferreira.

REPRESENTAÇÃO DO CONSEPE: Juceni Pereira de Lima David, Nilce de Oliveira, Pedro Reginaldo dos Santo Prata, Ricardo Carneiro de Miran-da Filho.PRESIDENTES DOS CONSELHOS ACADÊMICOS: Francisco Lima Cruz Teixei-ra, Maria das Graças Reis Martins.

REPRESENTAÇÃO DOCENTE: João Augusto de Lima Rocha, Joviniano So-ares de Carvalho Neto.

REPRESENTAÇÃO DOS SERVIDORES TÉCNICO-ADMINISTRATIVOS: Antonio Valter Almeida Silva, José de Deus da Silva, Jundiara da Paz Paim, Luiz Fernando Bandeira, Marieta Barbosa da Silva, Nadja Maria Montene-gro Barbosa, Renato Jorge Pinto, Vladimir Fraga da Silva.

REPRESENTAÇÃO ESTUDANTIL: Ademário Sousa Costa, Alencastro Vini-cius Villas Boas, Ana Carolina Santos, Ana Virginia Alves Santana, An-tônio Gabriel Pinto de Almeida Júnior, Antonio Ricardo de Campos Matos, Antonio Teixeira Lima Junior, Bruno de Almeida Moura, Caio Bandeira Nascimento Silva, Caio Cardoso Marambaia, Caio Tavares Florença, Cristiano Marques do Nascimento, Daniele Costa Silva, Die-go Espinheira da Costa Bonfi m, Eduardo Ribeiro dos Santos, Emanuel Lins Freire Vasconcellos, Everaldo Evaristo dos Santos Neto, Fabrício Santos Moreira, Fernando Luís Monteiro de Jesus, Fernando Luiz Sei-xas Maltez, Gabriel Ribeiro de Oliveira, Gion Aléssio Rocha Brunn, Igor de Carvalho Gonçalves da Costa, Isac Tolentino de Araújo Junior, Isadora Salomão de Oliveira, João Gabriel Cabral, José Santos Souza Santana, Leila Carla Alves Ferreira, Leonardo Oliveira de Farias, Lí-gia Guimarães Leal, Liz Duque Magno, Luciano de Almeida Lopes,

Luís Henrique Silva Souza, Marcelo Pereira Leite da Silva, Marcos André dos Santos, Marcos Antônio Trajano Ferreira, Marta Caíres de Souza, Natália Ferraz Bastos, Otávia Veiga Laranjeira Malheiros, Paulo de Aquino Pires, Poliana Rebouças de Magalhães, Rafael Damasceno de Barros, Rafaela Espinheira Rodrigues, Robenilton dos Santos Luz, Rodrigo Carvalho Oliveira, Rogério Ferreira Silva, Rosa Bianca Mello di Tullio, Rowena dos Santos Brito, Sandra Assis Brasil, Thálisson Luiz Maia Santana, Tiago Andrade Gonçalves, Victor de Morais Cayres, Vi-nicius da Silva Cerqueira, Virginia Costa, Wanderley Vitorino, Warn-derson Pimenta Souza.

REPRESENTAÇÃO DA COMUNIDADE: Antonio Luiz Paranhos Ribeiro Leite de Brito, Arx da Costa Tourinho, Cleilza Ferreira Andrade, Dora Leal Rosa, Emiliano José da Silva Filho, João Luiz Silva Ferreira, José Carlos Capinan, Manuel Vicente Ribeiro Veiga Junior, Maria Luiza Câmara, Rafael Esmeraldo Lucchesi Ramacciotti, Valmir Carlos da Assunção, Vera Lúcia da Cruz Barbosa.

CONSELHO SUPERIOR DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO:

Naomar Monteiro de Almeida Filho (Reitor), Francisco José Gomes Mesquita (Vice-Reitor).

PRÓ-REITORES: Álamo Pimentel Gonçalves da Silva, Antonio Alberto da Silva Lopes, Antonio Nery Alves Filho, Eugênio de Ávila Lins, Hebert Conceição Torres de Farias, Maerbal Bittencourt Marinho, Maria de Fáti-ma Dias Costa, Manoel José Ferreira de Carvalho, Ordep Trindade Serra. REPRESENTANTES DE UNIDADES UNIVERSITÁRIAS: Alberto Rafael Cordi-viola, Alejandra Hernandez Muñoz, Amália Nascimento Sacramento, Ana Cristina Ferrmino Soares, Ana Helena Hiltner Almeida, André Luiz Martins Lemos, Ângelo Marconi Maniero, Antonio Fernando de Souza Queiroz, Antonio Luiz Barbosa Pinheiro, Antonio Neri Filho, Antonio Virgilio Bittencourt Bastos, Antrifo Sanches Neto, Arno Bri-chta, Cassiara Carmelo de Souza, Celeste Maria Philligret Baptista, Celso Luiz Braga de Castro, Ceres Mendonça Fontes, Cláudia Dias de Santana, Cláudio Guimarães Cardoso, Cristiane Corrêa Paim, Cristina Araújo Paim Cardoso, Cristina Maria Meiro de Melo, Daniel Tourinho Peres, Dante Eustachio Lucchesi Ramacciotti, Darci Neves dos San-tos, Deolindo Checcucci Neto, Dinéa Maria Sobral Muniz, Djanilson Barbosa dos Santos, Dulce Aquino, Edson Emanuel Starteri Sampaio, Eduardo Fausto Barreto, Eduardo Tadeu Santana, Eliete da Silva Bis-po, Elisabete de Araújo Ulisses dos Santos, Elizabeth Santana Borges, Eloísa Leite Domenici, Enaldo Silva Vergasta, Eugênio de Ávila Lins,

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Evandro Carlos Ferreira dos Santos, Fabiana Dultra Brito, Fernando Costa da Conceição, Fernando da Silva Freitas Pinto, Fernando Martins Carvalho, Geraldo Sampaio Costa, Gilda Ieda Sento Sé de Carvalho, Hebert Conceição Torres de Farias, Heloysa Martins Carvalho Andra-de, Horst Karl Schwebel, Hygia Maria Nunes Guerreiro, Iguaracyra Barreto de Oliveira Araújo, Ilhering Guedes Alcoforado de Carvalho, Ilka Dias Bichara, Isaac Costa Lázaro, Israel de Oliveira Pinheiro, Ivaldo Nídio Sitonio Trigueiro, Ivan Menezes Calazans, Ivani Santana, Jacques Antonio de Miranda, Jacyan Castilho de Oliveira, Jairo Lins de Albu-querque Sento Sé, Jamacy Costa Souza, João Lamarck Argolo, João Vieira Neto, Joilson João Laje Magalhães, Jonival Barreto Costa, Jorge Luiz Lordelo de Sales Ribeiro, Jorge Mario Carvalho Malbouisson, José Alberto Bandeira Ramos, José Fernandes Silva Andrade, José Francisco Serafi m, José Lucimar Tavares, José Sergio Gabrielli de Azevedo, José Umbelino Brasil, Juceni Pereira de Lima David, Jussara Sobreira Se-tenta, Leonardo Vincenzo Boccia, Lídia Maria Brandão Toutain, Lúcio Leopoldo Aragão da Silva, Luis Augusto Carvalho Malbouisson, Luis Claudio Cajaíba Soares, Luís Paulo Guimarães dos Santos, Luiz Alber-to Almeida, Luiz Alberto Petitinga, Luiz Augusto Mazzarolo, Luiz Pau-lo Guimarães dos Santos, Luzimar Gonzaga Fernandez, Manoel José Ferreira de Carvalho, Mara Zélia de Almeida, Marcelo Santos Castilho, Marcos Barbosa, Marcos Silva Palácios, Maria Auxiliadora da Silva, Ma-ria Cecília de Paula Silva, Maria das Graças Reis Martins, Maria de Fáti-ma Dias Costa, Maria de Lourdes Figueiredo Botelho, Maria do Carmo Soares de Freitas, Maria Eduarda Serpa, Maria Elizabeth Borges, Maria Hilda Baqueiro Paraíso, Maria Linert Lubisco, Maria Theresa Barral Araújo, Maria Vidal de Negreiros Camargo, Marilene Lobo Abreu Bar-bosa, Maristela Pina dos Santos, Maurício de Almeida Chagas, Mirella Márcia Longo Vieira Lima, Miriam Cristina M. Rabello, Mirian Santos Paiva, Monclar Eduardo de Lima Valverde, Mônica Cristina Cardoso da Guarda, Mônica Leila Portela de Santana, Nancy Elizabeth Oddo-ne, Nídia Franca Roque, Nidia Nilce de Oliveira, Nilza Maria Costa dos Reis, Oddone Braghirolli Neto, Odilon Matos Rasquim, Olga Verônica Montenegro de Souza, Ordep José Trindade Serra, Osmar Gonçalves Sepúlveda, Osvaldo Manuel Santos, Paulo Antonio de Freitas Balanço, Paulo César Costa Maia, Paulo de Oliveira Mafalda Junior, Paulo Fábio Dantas Neto, Paulo Lauro Nascimento Dourado, Pedro Bernardo da Rocha, Pedro Luiz Bernardo da Rocha, Pedro Reginaldo dos Santos Prata, Regina Cerqueira Wanderley Cruz, Regina Yatsuda, Reginaldo dos Santos Prata, Reginaldo Souza Santos, Reinaldo Pessoa Martinelli, Renato da Silveira, Renato José Amorim da Silveira, Ricardo Carneiro de Miranda Filho, Roberto Paulo Correia de Araújo, Roberto Sidnei Al-ves Macedo, Robson Barreto Matos, Rogério Hermida Quintella, Solan-ge Souza Araújo, Solange Veloso Viana, Sonia Lúcia Rangel, Sonia Maria Chada Garcia, Sônia Maria da Silva Gomes, Soraia Freaza Lobo, Susan Martins Pereira, Teresa Cristina Bahiense de Souza, Teresa Leal Gonçal-ves Pereira, Teresinha Guimarães Miranda, Therezinha Froes Burnham, Thomaz Cruz, Vilma Souza Santana, Virginia Maria Rocha Chaves.

REPRESENTAÇÃO DOS SERVIDORES TÉCNICO-ADMINISTRATIVOS: Edilene Costa, Iolita Oliveira Teles de Souza, Marieta Barbosa da Silva, Sandra Regina de Oliveira Santana.

REPRESENTAÇÃO ESTUDANTIL: Alexnaldo Queiroz de Jesus, Aloísio da Silva Pires, Amanda Cunha, André Luís Dias de Lima, Antonio Au-gusto Alves Junior, Antônio Francisco Cruz Arapiraca, Caio Cardoso Marambaia, Caio Fernandes Barbosa, Carlos Ernesto de Andrade Ra-mos, Carolina Silva Mendonça, Ciro Florence, Daniel Rocha Barbosa, Danilo Lobo Ramos, Diamilli Nepomuceno, Ellen da Silva Coutinho, Emily, Eva Dayane Almeida de Góes, Felippe Silva Ramos, Fernan-do Bezerra, Gabriel Vianna, Gillian Leandro de Quiroga Lima, Hugo Viotto Abreu, Isac da Costa Tolentino, Ismael, Jaqueline Ferreira de Lima, Joelson Conceição Souza, Júlio Leonardo Barbosa Pereira, Kle-ber Rosa de Souza, Leila Carla Alves Ferreira, Lucas Nonato Nunes, Lucy dos Santos Cardoso, Ludmila Meira, Maiane Cecília Santos Rosa, Maiara Alves Oliveira, Marcela Machado, Márcio Alexandre Nonato Cavalcante, Marcos Araújo Nascimento, Marcos Melo de Almeida, Mariana Seixas, Marta Caires Souza, Morjan Lisboa de Matos, Myna Lizzie Oliveira Silveira, Otávia Veiga Laranjeira Malheiros, Paulo Hen-rique Carvalho e Silva, Paulo José Riela Tranzilo, Paulo Moraes Neto, Rafael Bastos Oliveira, Rafaela Espinheira Rodrigues, Regiane Matos, René Augusto de Almeida Scaldaferri, Rinaldo de Castilho Rossi, Ro-drigo Yuri Fernandes, Tâmara Caroline Almeida Terso, Thiago Fiel dos Santos, Vinicius Oliveira Fraga.

CONSELHOS DE CURADORES:

Adeildo Osório de Oliveira, Antonio Wilson Ferreira Menezes, Arno Brichta, Celso Luiz Braga de Castro, Edivânia, Edna Maura Prata de Araújo, Eduardo Fausto Barreto, Eduardo José Silva, Eliete Gonçal-ves da Silva, Elinalva Vergasta de Vasconcelos, Francisco Lima Cruz Teixeira, Helena Argolo Benício, Ihering Guedes Alcoforado de Car-valho, Isaac Costa Lázaro, Jairo Lins de Albuquerque Sento Sé, Jés de Jesus Fiais Cerqueira, João Victor, Johnson Barbosa Nogueira, Johnson Meira Santos, Joilson João Lage de Magalhães, José Bernardo Cordeiro Filho, José de Andrade de Silva Filho, José Fernandes Silva Andrade, Luís Paulo Guimarães dos Santos, Marco Antonio Nogueira Fernandes, Marcos André dos Santos, Nilza Maria Costa dos Reis, Osmar Gon-çalves Sepúlveda, Paulo Fábio, Reginaldo Souza Santos, Renato Jorge Pinto, Sonia Maria da Silva Gomes, Sudário de Aguiar Cunha, Wilson Araújo Lopes.

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Sumário

APRESENTAÇÃO

Memorial anísio-graciliano

CAPÍTULO 1

UFBA, ano 2002EnsinoPesquisa e extensãoEstrutura institucional, instalações e pessoalDespesas e fi nanciamentoArquitetura curricularSíntese e avaliação

CAPÍTULO 2

Planejamento da inovação numa instituição hipercomplexaEixos programáticos do primeiro mandatoMetas estratégicas do segundo mandatoDo Plano de Metas à Rede de ImpactosComentário

CAPÍTULO 3

Marcos do primeiro mandato Hospitais universitários: crise e reestruturaçãoRestauração da Faculdade de Medicina do TerreiroCriação da UFRBInteriorização da UFBA Comentário

CAPÍTULO 4

Ações afi rmativas na UFBA Retrato de uma universidade quando elitistaHistórico e descrição do ProgramaAvaliações do modeloComentário

CAPÍTULO 5

UFBA Nova, Universidade Nova, REUNI UFBADa UFBA nova ao REUNI UFBAExpansão de vagas e cursos noturnosBacharelados Interdisciplinares CAPÍTULO 6 Plano Diretor Físico e AmbientalAntecedentesDiretrizes e estratégiasImplementação do Plano DiretorUFBA Ecológica

CAPÍTULO 7

Segundo mandato: outras açõesAssistência estudantilInternacionalização da UFBAReestruturação normativa da UFBA

CAPÍTULO 8

Balanço fi nanceiroEvolução da receitaDespesas e controle de custosAnálise

CAPÍTULO 9

UFBA Nova em 2010EnsinoPesquisa e extensãoCondições institucionaisAvaliação geral

CAPÍTULO 10

ComeçoProjeto político de transformaçãoAbrimos a casa de EdgardVetores de transformaçãoUma agenda Pós-REUNI

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Reitoria da Universidade Federal da Bahia

Memorial anísio-graciliano

APRESENTAÇÃO

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Memorial anísio-graciliano

Effectivamente, nesses adiantados princípios do seculo vin-te, o serviço de educação publica ainda estava jungido á velha orientação colonial de educação para uma classe fi na da sociedade.

A idéa de educação universal, de educação como elemento fundamental de vida democrática, não nos havia possuído.

Éramos um Estado com uma larga população analphabeta de viver primitivo e primitivo estado social e uma diminuta classe de letrados cujos índices de vida foram directamen-te copiados das mais amadurecidas classes educadas da Europa.

Dentro do contraste entre essa aristocracia intellectual e o ilota sertanejo, está a explicação de muitos problemas actuaes do paiz.

Quatro annos de administração são apenas um minuto para a solução de problema como o que ahi se esboça.

Mas, o que de logo desejamos registrado é a mudança de orientação.

(Anísio Teixeira. Relatorio do Serviço de Instrucção Publica do Estado da Bahia, Apresentado ao Exº. Snr. Consº. Braulio Xavier da Silva Pe-reira, Secretario do Interior, Justiça e Instrucção Publica. Quatriennio de 1924 a 1928).

O que é um Relatório? Em princípio, como diz o termo, signi-fi ca relato de eventos e fatos, analítico e retrospectivo. Idealmen-te, todo relatório deve ser objetivo, metódico, informativo e deta-lhado. No plano institucional, trata-se de documento de avaliação e prestação de contas referente a mandato ou período de gestão.

Para que serve um Relatório? Em condições normais, falando francamente, tem como fi nalidade o mero atendimento de nor-mas e regulamentos concernentes a registro e arquivamento de dados e informações ofi ciais. Quase sempre se dirige ao público interno das instituições a que se refere, com circulação restrita. Receberá atenção momentânea e se tornará objeto da famosa “leitura diagonal” de alguns dirigentes, compreensivelmente pre-ocupados em primeiro ver como sua seção ou unidade aparece no texto. Será integralmente lido e valorizado apenas por opo-sitores político-institucionais do momento, por eventuais porta-dores de curiositas morbo e, em futuro distante, por pesquisado-res de historiografi a aplicada, doutos e metódicos. Em geral, o fi m dos relatórios são estantes, armários e gavetas.

Por tudo isso, neste momento, não se trata de submeter um Relatório às instâncias competentes. Melhor será escrever um breve memorial histórico.

Para este Memorial, desejamos destino diverso da poeira das estantes, do fundo dos armários e da escuridão das gavetas. Te-mos a pretensão de apresentar a docentes, servidores e estudan-tes da nossa universidade, e aos cidadãos baianos e brasileiros, um relato honesto, responsável e sobretudo legível do que foi para nós este mandato de Reitoria, estes anos de crescimento como equipe gestora.

Esta é uma pretensão, ou ambição, a um só tempo, anísia e graciliana. Anísio Teixeira dirigiu ao Governo da Bahia um ex-cepcional libelo, sutil e sóbrio, citado em epígrafe, chamando à responsabilidade cívica e ética autoridades, cúmplices de uma elite que usava a educação como arma política para sua hege-monia. Graciliano Ramos se impôs o desafi o de elaborar um re-latório que, bem escrito, pudesse ser lido pelo povo de Palmeira dos Índios, nas Alagoas dos anos 1930, onde foi um Prefeito que buscava a participação de todos os cidadãos na vida da cidade.

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Essas fi guras lograram ser exceções históricas ao desmazelo de dirigentes públicos perante seus relatórios de governo, pois pensavam que, legando bons relatos de atos, tornar-se-ia huma-namente possível mudar a ordem burocrática das coisas, e assim sustentar a mudança. Em sentidos diversos, criam que documen-tos ofi ciais podem ser instrumentos de identidade institucional e de transformação da sociedade. Acreditamos nisso também.

Gracilianos, buscamos leitores e parceiros para este Memo-rial, com a pretensão de torná-lo peça de apresentação efi caz da nossa instituição perante à sociedade que nos sustenta e apoia. Nesse sentido, fi zemos um esforço para que nosso relato seja: (a) demonstrativo, com apresentação de metas, mapas e etapas de realização coletiva; (b) interpretativo, com destaque para casos exemplares que marcaram o período de gestão; (c) avaliativo, em um sentido preciso, propondo-se a analisar motivos e contextos dos fatos e eventos narrados.

Respeitosamente anísios, temos a ambição de tê-lo como re-gistro consciente e sistemático de uma fase de profunda mudan-ça institucional na UFBA, incorporando elementos contraditó-rios emanados do debate que sempre nos dispomos a manter com os segmentos que compõem a comunidade universitária. Isto porque, interessados no futuro, o que “de logo desejamos registrado é a mudança de orientação”. Pois, se nos permitem a paráfrase, sabemos que oito anos de administração são apenas dois minutos para a solução de problemas tão sérios como os que formaram (ou deformaram) nossa querida universidade.

Trazemos, portanto, e não escondemos, elevada expectativa para o presente Memorial. Este será, almejamos, por um lado, elemento catalisador de re-pensamento e reconstrução da insti-tuição e, por outro lado, dispositivo de difusão de uma imagem institucional que, esperamos, conseguimos construir com nosso

“...metas, mapas e etapas de realização coletiva...”

trabalho, dessa forma contribuindo para recuperar o valor social da universidade.

Esperamos vê-lo amplamente lido, compreendido, debatido e utilizado como pretexto para discussão e crítica, não somen-te por dirigentes e membros da comunidade universitária, mas também por parlamentares, instituições e organizações parceiras, por outros organismos de governo e, quem sabe, pelos cidadãos e cidadãs comuns que, em última instância, são a razão de ser da nossa Universidade Federal da Bahia.

Naomar de Almeida FilhoReitor da Universidade Federal da Bahia

Gestão 2002-2010

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UFBA,ano 2002

CAPÍTULO 1

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UFBA, ano 2002

Neste Capítulo, oferecemos uma descrição sumária da Univer-sidade Federal da Bahia que encontramos no ano de 2002. Toma-mos como fonte principal de informação o Relatório de Gestão daquele exercício.

Ao assumir a Reitoria no início de agosto daquele ano, demos continuidade aos programas e projetos da gestão anterior. Enquan-to isso, nossa equipe e colaboradores completavam o diagnóstico da situação e avançavam no delineamento mais detalhado de um plano de ação para o mandato que se iniciava. Assim, o Relatório 2002 foi elaborado pela nova equipe que assumiu a Pró-Reitoria de Planejamento e Administração no segundo semestre daquele ano, tendo sido construído já pensando no seu uso como subsídio para avaliação do processo de transformação pretendido.

Com essa fi nalidade, apresentaremos inicialmente, sem comen-tários, análises ou interpretações imediatas, dados referentes aos principais eixos de operação da instituição universitária: ensino de graduação e de pós-graduação, pesquisa e extensão, pessoal, estrutura institucional e instalações físicas, orçamentação, despe-sas e fi nanciamento. Em seguida, faremos uma avaliação sucinta dos principais problemas e questões que confi guravam o contexto institucional da época, demarcando a natureza das crises que afe-tavam o desenvolvimento da universidade.

Pretendemos com isso, da maneira mais objetiva possível, esta-belecer uma linha de base a partir da qual possamos posteriormente avaliar volume, teor, direção e natureza das metas e ações propostas, planejadas e executadas com vistas a uma profunda mudança estru-tural e conjuntural da Universidade Federal da Bahia.

ENSINO

Em 2002, com 17.941 estudantes de graduação e 1.672 de pós-graduação, a UFBA era uma universidade de porte intermediário

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e expressão acadêmica mediana, entre as instituições federais de educação superior no Brasil.

Na graduação, oferecíamos a cada ano pouco mais de 3,8 mil vagas em 55 cursos, ministrados em sua quase totalidade no perí-odo diurno. Mais de 2/3 das vagas destinavam-se a carreiras profi s-sionais, em 38 cursos de graduação, com aulas nos turnos matutino e vespertino (o que na prática inviabilizava a permanência, na uni-versidade, de jovens da classe trabalhadora). Única opção à noite, a Licenciatura em Física dispunha de apenas 40 vagas anuais. Em geral, os cursos de formação docente ocupavam pouco mais de 30% da oferta. Com altas taxas de evasão, atribuídas a difi culdades sócioeconômicas do alunado, matrículas nas licenciaturas repre-sentavam menos de 20% do total (exatos 6.261 estudantes).

Na pós-graduação (PG), podia-se constatar maior dinamismo re-lativo. Em modalidades chamadas de PG senso-estrito, contávamos com 61 cursos: 44 mestrados e 17 doutorados, ofertando 749 vagas anuais (159 no nível doutorado). Nessa época, a UFBA abrigava 1,7 mil estudantes de pós-graduação, sendo 1.057 nos mestrados e 615 em programas de doutoramento. Quase 70% dos cursos haviam al-cançado conceito quatro ou cinco na avaliação trienal da CAPES em 2001, com média geral de 4,0. Tínhamos 20 cursos de mestrado nível 3 e nenhum programa classifi cado em níveis de excepcionalidade (acima de cinco) pela CAPES. No que se refere à pós-graduação lato-senso, 1.491 estudantes estavam matriculados em 38 cursos de espe-cialização, incluindo 244 alunos em programas de residência médica.

Dados referentes ao ensino revelavam uma universidade de perfi l elitista, com apenas 2.022 estudantes pobres (aplicando os critérios atuais do Programa de Ações Afi rmativas), pouco mais de 11% do corpo discente de graduação. Replicando a profunda desigualdade da sociedade brasileira, estudantes de baixa renda concentravam-se em carreiras profi ssionais de menor procura. Cursos de alta concorrência (Medicina, Direito, Psicologia, Comunicação, Odontologia, Engenha-rias, Administração) mostravam-se socialmente excludentes, tendo como exemplo extremo a graduação em Odontologia que, em 2002, acolhia apenas 4% de estudantes provenientes de escola pública.

Naquela época, nenhuma bolsa-permanência era disponibiliza-da para o contingente de estudantes necessitado de apoio social. Assistência estudantil, na prática, restringia-se a 230 vagas de mo-

radia em Salvador (em imóveis residenciais improvisados como re-sidência universitária desde a década de 1950), para estudantes do interior do Estado, e 83 lugares em Cruz das Almas, com oferta li-mitada de serviços sociais e de saúde. A única política de promoção de acesso aos segmentos de baixa renda era a isenção de taxas de inscrição ao Vestibular que, em 2002, benefi ciou 1.800 candidatos.

PESQUISA E EXTENSÃO

Em 2002, a pesquisa na UFBA concentrava-se em 68 núcleos consolidados, de um total de 225 grupos de pesquisa registrados no CNPq. Do contingente de 1.722 docentes ativos, apenas 638 pesquisadores-doutores atuavam em 784 linhas de pesquisa; destes, 106 eram Bolsistas de Produtividade do CNPq. Isto signifi ca que os Bolsistas-Pesquisadores do CNPq representavam menos de 5% do total de docentes e 17% dos pesquisadores ativos. Os nossos pes-quisadores orientavam pouco mais de 800 estudantes de graduação, sendo que 390 destes recebiam bolsas de iniciação científi ca.

A comunidade científi ca da UFBA publicou, em 2002, um to-tal de 198 artigos, indexados na Web of Science, o que representa 0,09 artigos/docente e 0,31 artigos/pesquisador. Indicadores de produtividade em pesquisa colocavam a UFBA em quarto lugar na região Nordeste e em 17º em todo o País. Um dado extrema-mente preocupante: mais de 70% do quadro docente não registra-va qualquer produção científi ca, artística ou cultural referenciada.

A área de extensão experimentava forte dinamismo e algum viés de expansão, principalmente devido à consolidação de um programa pioneiro denominado Atividades Curriculares em Co-munidade (ACC). Em 2002, 444 estudantes de 38 cursos (cerca de 70% do total de cursos de graduação então existentes na UFBA) registraram-se em 42 grupos de ACC. Além disso, modalidades tradicionais de extensão, como cursos de atualização e eventos, totalizaram 934 atividades regularmente registradas, a partir das quais foram expedidos 19.509 certifi cados. Não obstante, o im-portante setor de prestação de serviços de saúde, particularmente a assistência hospitalar, passava por séria crise, com redução de leitos nos hospitais-escola (de 250 para 140 no Hospital Univer-sitário Professor Edgard Santos e de 75 para 32 na Maternidade Climério de Oliveira). Na interface extensão-pesquisa, não en-

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contramos registro de patentes requeridas ou marcas produzidas por docentes e pesquisadores da UFBA naquele ano ou antes dele.

Em 2002, o nível de internacionalização da UFBA era bastan-te reduzido: à parte o intercâmbio científi co espontaneamente re-alizado por grupos consolidados e pesquisadores reconhecidos, a UFBA registrava apenas 53 convênios com instituições estrangeiras. Não obstante, a maior parte desses acordos terminava como letra morta, sem efeitos concretos. Durante todo o ano de 2002, menos de 30 estudantes de graduação da UFBA cumpriam programas de intercâmbio acadêmico em universidades estrangeiras com respal-do institucional, restritos a áreas específi cas de conhecimento. Nes-se ano, apenas 6 estudantes estrangeiros haviam sido matriculados nos cursos de pós-graduação da UFBA, com bolsas do Programa de Estudantes-Convênio de Pós-Graduação (PEC-PG).

Merece referência, ainda, a Editora da Universidade Federal da Bahia – EDUFBA, que, no ano de 2002, publicou 30 títulos, in-cluindo três reedições, correspondendo a uma tiragem de 15.450 exemplares. No exercício, vendeu cerca de 15 mil livros, incluindo títulos de outras editoras universitárias, em três postos de vendas.

ESTRUTURA INSTITUCIONAL, INSTALAÇÕES E PESSOAL

Em 2002, a estrutura institucional da Universidade Federal da Bahia compreendia 27 unidades universitárias, 17 órgãos suple-mentares e 7 organismos da administração central. A universidade dispunha de três campi, sendo dois situados em Salvador – Cam-pus Universitário do Canela e Campus Federação-Ondina – e um Campus de Ciências Agrárias, no Município de Cruz das Almas, onde se localizava a Escola de Agronomia (desmembrada em 2005 para formar a Universidade Federal do Recôncavo da Bahia, como veremos adiante).

Em números consolidados, a UFBA apresentava os seguintes dados físicos: 5.410 ha de terreno próprio; 285.413 m² de área construída em 166 edifi cações, incluindo um total de 286 salas de aula, distribuídas em sua maioria nos imóveis das unidades e órgãos, mas também em 2 Pavilhões de Aulas (ambos no campus Ondina). Os mapas dos campi de Salvador, com a localização dos imóveis e marcos ambientais daquela época, podem ser vistos nas Figuras 2.1 e 2.2.

Campus Federação-Ondina 2002Campus do Canela 2002

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26 27

Através de Emenda Parlamentar de Bancada, aprovada em 2000, conseguiu-se algum grau de melhoria de instalações, me-diante reformas diversas, destacando-se o investimento na cons-trução de três novos prédios: o Centro de Convivência, o Pavilhão de Aulas do Canela – PAC e o Pavilhão de Aulas da Federação III – PAF III. O PAC foi concluído em 2002 e posto em funcionamento no primeiro semestre de 2003. O Centro de Convivência, conclu-ído em 2001, não chegou a operar porque as licitações para os ser-viços nele previstos resultaram desertas. O PAF III encontrava-se com obras em andamento quando a empresa construtora desistiu da obra, após sucessivas multas por descumprimento contratual.

Em 2002, a UFBA contava com uma Biblioteca Central e 34 Bibliotecas Setoriais situadas em unidades universitárias e ór-gãos suplementares. Mais de 80 bibliotecárias e 100 auxiliares encontravam-se dispersos na gestão e operação de pequenas bi-bliotecas ou coleções que, por alegada falta de pessoal, funciona-vam apenas durante o dia, em horários superpostos às aulas. O acervo compreendia 250 mil títulos de livros, 6,5 mil periódicos nacionais e 5,2 mil periódicos estrangeiros; em 2002, aquisições totalizaram 986 livros e 254 periódicos estrangeiros.

O parque de equipamentos de informática da UFBA, na épo-ca, incluía 3,9 mil microcomputadores e mais de 4 mil pon-tos de rede, além de 11 servidores de maior porte instalados no

CPD (Centro de Processamento de Dados). Em 2002, foram comprados mais 811 computadores e 83 impressoras, com re-cursos de convênios.

O corpo docente da UFBA, em 2002, compunha-se de 1.901 professores do quadro permanente (1.722 ativos, 179 afastados – 162 para capacitação) e 504 substitutos, correspondendo a 2.697,5 unidades de Professor Equivalente. Os níveis de titula-ção do quadro docente permanente eram medianos (40% mes-tres e 38% doutores); 68% dos docentes cumpriam regime de Dedicação Exclusiva (DE).

O corpo técnico-administrativo totalizava 3.211 servidores, 27% com nível superior de educação. A maioria dos servidores encontrava-se lotada em órgãos suplementares (1.375 ou 43%), principalmente nas unidades assistenciais de saúde (1.224 ou 38%); 771 servidores (24% do total) trabalhavam nos órgãos da administração central. Apenas um terço do total, (1.065 servido-res), atuava no apoio às atividades-fi m nas unidades universitárias. Além desses, a instituição contava com 676 trabalhadores de em-presas terceirizadas para os necessários serviços de apoio adminis-trativo, vigilância, manutenção e limpeza.

No geral, a universidade sofria com a não renovação de quadros, levando ao enfraquecimento da capacidade operacional da insti-tuição, decorrente da falta de autorização dos ministérios federais para a realização de concursos públicos. No plano específi co sala-rial, acumulavam-se perdas de rendimento, benefícios e vantagens dos servidores, com redução nas condições de vida e trabalho e na motivação do pessoal que desempenhava atividades essenciais. De fato, o funcionamento da maioria dos cursos e programas da UFBA mostrava-se prejudicado pela franca crise institucional no tocante ao desempenho dos corpos docente e técnico-administrativo.

DESPESAS E FINANCIAMENTO

O orçamento da UFBA, previsto na Lei Orçamentária Anual de 2002, foi de R$ 294.742.224,00. A execução orçamentária e fi -nanceira, correspondente ao ano fi scal de 2002, realizou um mon-tante de 360 milhões de Reais. Excluindo inativos, o orçamento operacional executado em 2002 alcançou 230 milhões de Reais. Registrou-se um aporte extraorçamentário de 36 milhões, além de

PAC – Pavilhão de Aulas do Canela

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28 29

receita própria de 8,2 milhões, provenientes de serviços e taxas. Neste orçamento, destacam-se despesas com Pessoal (80,8%), Ma-nutenção (7,2%) e recursos de convênios específi cos para custeio dos hospitais (5,6%). Em 2002, foram celebrados 481 convênios e contratos, sendo 21% com empresas e entidades do setor privado.

A Tabela 1.1 permite analisar o perfi l das despesas correntes da UFBA em 2002. Do total de quase 23 milhões executados em custeio, 15,6 milhões foram oriundos do Tesouro Nacional, dire-tamente do Orçamento da União (54,5%) ou da Secretaria de En-sino Superior do MEC, via convênios e suplementações (13,3%). Apenas 3 milhões (13%) aplicados em custeio provieram de Re-ceitas Próprias. O item de despesa que mais onerou o orçamento da UFBA em 2002 foi Vigilância (com 17% do total), seguido de Limpeza e Energia Elétrica (14%, ambos); Água e Telefone custa-ram, cada um, 6% do total de custeio. Deve-se ainda mencionar a existência de dívidas históricas a fornecedores de Energia Elétrica (1,2 milhão) e Água (5 milhões), herdadas como contencioso de exercícios anteriores.

A UFBA concluiu o ano de 2002 com um défi cit fi nanceiro de 7,3 milhões de Reais, transferido para o exercício de 2003, in-cluindo 2,1 milhões de dívida a fornecedores, o que veio a onerar de modo substancial o orçamento do ano seguinte. O défi cit fi nan-ceiro operacional (razão dívida / OCC) foi estimado em 20,8%, relativo ao orçamento total de custeio.

ARQUITETURA CURRICULAR

A velha UFBA mantinha inalterada a arquitetura curricular dos seus cursos de graduação, de raízes oitocentistas, consolidada pela Reforma Universitária de 1968.

Em 2002, sua arquitetura curricular caracterizava-se por marcan-te ambiguidade e excessiva diversifi cação em nomenclatura e na-tureza dos currículos de graduação. Nessa estrutura, engessamento dos currículos dos cursos, rigidez dos pré-requisitos, impossibilidade de mobilidade interna e reduzida articulação entre campos de saber são alguns dos fatores indicativos da necessidade de reorganização dos cursos de graduação. A tais problemas, agregava-se, por um lado, o ingresso direto aos cursos profi ssionais, através do vestibular, como única possibilidade de acesso à educação superior. Por outro lado, a formação acadêmica e profi ssional de pós-graduação mostrava-se pouco articulada com os outros níveis de educação universitária.

Com facilidade, podíamos observar na UFBA, em 2002, proble-mas de estrutura e funcionamento dos cursos de graduação que re-petiam, aprofundavam e agudizavam o que ainda ocorre em institui-ções congêneres. De fato, o modelo brasileiro de formação superior continua orientado para uma especialização precoce em certos cam-pos do saber, que se expressa no foco quase exclusivo em competên-cias específi cas. Esse modelo inviabiliza, na maioria dos casos, a circu-lação de estudantes entre cursos, impede quase totalmente qualquer possibilidade de aproveitamento de créditos e, consequentemente, perspectivas de mobilidade estudantil intra ou interinstitucional.

Na velha UFBA, os cursos de graduação eram predominante-mente orientados para formação profi ssional. Mesmo aqueles que não tinham essa natureza, como os bacharelados em áreas básicas, ofereciam currículos excessivamente concentrados, sem abertura para outras áreas do conhecimento. Isso ocorria mesmo nos cur-sos que haviam reformado seus currículos após a publicação das respectivas Diretrizes Curriculares Nacionais. Efetivamente, inexis-tiam propostas curriculares inovadoras, em decorrência da incom-patibilidade entre tais propostas e as regras de classifi cação, organi-zação e oferecimento de componentes curriculares, bem como de formas de avaliação, então vigentes na instituição. Mesmo inova-ções curriculares tímidas, como cursos superiores de formação tec-nológica ou programas de educação à distância, não compunham o horizonte pedagógico da nossa Universidade.

Tabela 1.1. Despesas Correntes por Fonte de Financiamento: Súmula

Vigilância 2.845.908 33.668 983.996 3.863.572 17

Limpeza 2.308.755 98.908 787.382 3.195.045 14

Energia Elétrica 2.137.866 530.216 327.699 3.095.781 14

Água 1.142.632 188.815 – 1.331.447 6

Telefone 962.028 299.050 – 1.261.078 6

Fonte: Relatório de Gestão UFBA-2002

FonteItem de Despesa Tesouro

Receita Própria Sesu-Mec Total %

Total 12.396.805 3.041.334 3.183.335 22.660.646 100

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30 31

Princípios norteadores básicos dos currículos contemporâne-os, como fl exibilidade e interdisciplinaridade, eram praticados de modo incipiente, por pequeno número de cursos de graduação. As práticas pedagógicas, adotadas nos cursos de graduação, eram tra-dicionais, com predominância de aulas expositivas e uso reduzido de recursos tecnológicos e outras formas inovadoras de ensino. Os módulos de estudantes eram fl agrantemente pequenos, mesmo em componentes curriculares cuja natureza não requer reduzida rela-ção aluno/professor.

Quadro 1.1. Indicadores Acadêmicos e Institucionais, UFBA 2002

Candidatos em Processos Seletivos de Graduação

Cursos de Graduação

Cursos de Graduação Noturnos

Vagas na Graduação

em Cursos Noturnos

em Licenciaturas

em Cursos Superiores de Tecnologia

em Bacharelados Interdisciplinares

Matrículas na Graduação

Cursos de Pós-Graduação

Mestrados

Doutorados

Vagas na Pós-Graduação

Mestrados

Doutorados

Matrículas na Pós-Graduação

Mestrados

Doutorados

Estudantes de escola pública (critério cotas)

Vagas em residência universitária

Número de bolsas-moradia

Bolsas em programas de Permanência

Convênios com universidades estrangeiras

Estudantes da UFBA em intercâmbio no exterior

Estudantes estrangeiros na UFBA

Estudantes estrangeiros de pós-graduação (PEC-PG)

2002 2002Ítens de avaliação Ítens de avaliação

Grupos de Pesquisa cadastrados no CNPq

Bolsas de Iniciação Científi ca

Média do Conceito CAPES dos Cursos de PG

Número de cursos PG com conceito CAPES 6 +

Bolsistas de Produtividade CNPq

Artigos publicados (Web of Science)

Razão artigo/docente (Prof-Eq)

Patentes requeridas

Ações Extensionistas

Total de participantes

Projetos Atividade Curricular em Comunidade

Estudantes engajados em ACC

Área total construída

Número de Pavilhões de Aulas

Total de salas de aula

Número de Bibliotecas

Acervo bibliográfi co (livros + periódicos)

Servidores Técnicos e Administrativos

Servidores terceirizados

Número de docentes (Quadro Permanente)

Número de docentes (Substitutos)

Total de docentes (Professor-Equivalente)

Proporção de Doutores no Quadro Docente

Razão Aluno/Professor (RAP)*

* RAP = Total Alunos (Graduação + PG) / (Total Professores Equivalentes em DE / 1,55) RAP2002 = (17.941 + 1.672) / (2.697,5 / 1,55) = 19.929 / 1.740,3 = 11,270

SÍNTESE E AVALIAÇÃO

Uma síntese da situação da UFBA no ano-base 2002 pode ser encontrada no Quadro 1.1, onde buscamos integrar todos os indi-cadores compilados neste capítulo. A partir desta visão panorâmica, poderemos agregar alguns elementos interpretativos necessários ao entendimento da situação institucional naquele ponto no tempo.

O tamanho relativamente pequeno do alunado de graduação refl etia duas décadas de estagnação: desde 1980, a UFBA já alcan-çara a marca de 18 mil matrículas. Nesse período, o crescimento

38.995

55

1

3.851

40

476

0

0

17.941

61

44

17

749

590

159

1.672

1.057

615

2.022

230

230

0

53

38

38

6

225

390

4,0

0

106

198

0,07

0

934

19.509

42

444

285.413

2

286

35

259.342

3.211

676

1.901

504

2.697,5

33,4%

11,3:1

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32 33

de vagas no Vestibular foi de apenas 8%, contrastando com um aumento de 130% na demanda social por vagas na universidade. Em relação à pós-graduação e à pesquisa, verifi cava-se um claro descompasso entre o potencial da instituição e os patamares efeti-vamente alcançados.

O Quadro 1.2, extraído diretamente do Relatório de Gestão 2002, apresenta indicadores compostos, padronizados pelo Tribu-nal de Contas da União (TCU), visando à avaliação comparati-va entre exercícios orçamentários. Verifi ca-se que, naquele ano, o custo médio por estudante da UFBA situava-se em R$ 641,66/mês, fl agrantemente reduzido dada a existência de cursos de ope-ração onerosa, o que certamente refl etia o grau de desinvestimen-to na educação superior pública da época. Havia quase 11 estu-dantes por docente e aproximadamente cinco para cada servidor técnico-administrativo. A importância relativa da pós-graduação mostrava-se reduzida, com um GEPG (Grau de Envolvimento com Pós-Graduação) estimada em menos de 0,1. Por outro lado, o Índice de Qualifi cação do Corpo Docente (IQCD) aproximava-se de três, numa escala de 0-5.

A TSG (Taxa de Sucesso na Graduação) da UFBA situava-se em 0,63. Tal indicador representa a relação entre o número total de diplomados no tempo t pelo total de ingressantes no período (t – i). Esse indicador refl ete essencialmente a evasão estudantil que, na época, correspondia a 43% dos ingressantes. Além disso, recebe grande infl uência do tempo médio de conclusão de curso: no caso da UFBA, no período 1980-2002, muito sofremos com greves de

Quadro 1.2. Resumo de Indicadores da UFBA 2002 — Modelo TCU

Custo Corrente/Aluno Equivalente 7.765,25

Aluno Tempo Integral/ Professor Eqv. 40h 10,8

Aluno Tempo Integral/ Funcionário Eqv. 40h 4,9

Funcionário Eqv. 40h/ Professor Eqv. 40h 2,2

Grau de Envolvimento com Pós-Graduação — GEPG 0,08

Índice de Qualifi cação do Corpo Docente — IQCD 2,94

Taxa de Sucesso na Graduação — TSG 0,63

Fonte: Relatório de Gestão UFBA-2002

Indicador Dado

servidores docentes, técnico-administrativos e estudantes sucessi-vas e periódicas (quase todos os anos), dilatando o tempo médio de conclusão e aumentando o grau de desistência dos discentes.

No ano-base 2002, todo um contexto de crise impossibilitava, num ciclo vicioso, qualquer proposta de ampliação de atividades, programas e vagas ou de implantação de inovações curriculares de maior monta. Esse contexto de paralisia institucional decorria de uma situação crítica de dupla natureza: uma crise estrutural de fi nanciamento e uma crise de responsabilidade e motivação dos quadros que compunham a comunidade universitária.

A crise fi nanceira da UFBA traduzia-se, em primeiro lugar, em quase nenhuma disponibilidade para investimentos em cons-trução e manutenção predial e de equipamentos e, em segundo lugar, em recursos para custeio menores que o total de gastos. Esse cenário de grandes difi culdades prevaleceu em boa parte do exercício de 2002, estendendo ao ano fi scal de 2003, gerando grande apreensão para a UFBA quanto à possibilidade de vir a cumprir seus compromissos.

As condições de funcionamento de muitos dos cursos e pro-gramas eram precárias, na época, devido a problemas fi nanceiros da instituição que, por falta de investimentos de capital, levaram ao sucateamento da estrutura física e de equipamentos. Em para-lelo, a contenção do orçamento de custeio resultava em redução de atividades essenciais. Com a aceleração da infl ação no fi nal do ano de 2002, as tarifas dos serviços públicos tiveram reajustes que superaram os 25%, situando-se bem acima dos índices utilizados na elaboração do orçamento das universidades federais. Por sua vez, mudanças introduzidas na execução do orçamento, visando a adequá-lo aos compromissos assumidos em relação à política econômica implicaram em difi culdades para essas instituições cumprirem suas obrigações regulares junto a concessionárias de serviços públicos, fornecedores e prestadores de serviços, de acor-do com os prazos contratuais.

A crise de recursos humanos da UFBA traduzia-se, em primei-ro lugar, pela reduzida capacidade de reposição de quadros na quantidade e qualidade necessárias e, em segundo lugar, manifes-tava-se na desmobilização, desmotivação e desresponsabilização do seu corpo de servidores docentes e técnico-administrativos.

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34 35

Observava-se, principalmente no corpo docente, uma sensação de inferioridade e impotência frente às condições defi cientes de trabalho, improdutividade forçada, anomia institucional e, mais que tudo, achatamento salarial imposto pelo governo federal. A persistência dessa situação fomentava aposentadorias precoces, acumulação de atividades, às vezes até clandestinas, e redução da dedicação do profi ssional ao seu trabalho. Com as mudanças na legislação educacional e trabalhista, a UFBA vinha perdendo professores e pesquisadores atraídos por melhores salários de ins-tituições privadas e órgãos de governo.

No plano social e político mais amplo, afl igida pelo conjunto das difi culdades apontadas acima, a UFBA sofria um perigoso dis-tanciamento da sociedade. Por um lado, esse distanciamento teria ocorrido por negligência das lideranças políticas e organismos go-vernamentais e não-governamentais, por motivos que não nos ca-bem analisar. Por outro lado, há que se cobrar responsabilidades de parte do corpo acadêmico da universidade, incapaz de acompanhar as transformações rápidas e profundas da conjuntura atual.

Enfi m, a UFBA cada vez mais se alienava das instituições e mo-vimentos sociais da região e do país. Dois efeitos dessa alienação social. Por um lado, o autoisolamento e a autorreferência agudi-zavam as crises internas, impedindo a universidade de reconhecer a gravidade da sua própria situação. Por outro lado, a redução do seu valor para a sociedade não atraia forças externas capazes de se importar com o destino da Universidade e se mobilizar para resgatá-la da profunda crise em que se encontrava.

As universidades são instituições hipercomplexas e, como tal, suas tensões, problemas e impasses não resultam de causas únicas e processos simples. Portanto, naquele momento, nosso foco lon-ge estava de buscar responsabilizar uma ou outra das equipes de gestão que nos antecederam, pela crise, estagnação e isolamento da instituição. Queríamos tão somente entender a estrutura da problemática que iríamos enfrentar, a fi m de apreender a comple-xidade da trama de fatores que a determinaram, visando a produ-zir soluções e efeitos capazes de provocar mudanças profundas na Universidade Federal da Bahia.

Escola Politécnica

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CAPÍTULO 2

Planejamento da inovação numa instituição hipercomplexa

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novo dispositivo heurístico chamado mapa de rede de impactos, defi nindo metas estratégicas cruciais para um projeto de transfor-mação institucional de maior vulto e ambição.

EIXOS PROGRAMÁTICOS DO PRIMEIRO MANDATO

Em 1º de Agosto de 2002, assumimos a Reitoria da Universi-dade Federal da Bahia com uma proposta de transformação pro-funda da instituição. Este projeto político foi referendado por ex-pressiva votação da comunidade universitária. Com vistas a criar condições para sua viabilização, conforme teremos oportunidade de avaliar criticamente adiante neste Memorial, nosso primeiro mandato foi marcado pelo esforço de saneamento fi nanceiro e re-organização administrativa da Universidade, buscando recuperar sua capacidade de planejamento para nela imprimir um padrão de gestão mais racional, efi ciente e criativo.

Planejamento da inovação numa instituição hipercomplexa

Quando assumimos a Reitoria em 2002, tínhamos clara cons-ciência de que, para concretizar um projeto político de mudança profunda numa instituição hipercomplexa como a Universidade, recursos fi nanceiros e insumos concretos são necessários mas não sufi cientes. É imprescindível o aporte de investimentos imateriais sob a forma de mobilização política e aplicação de tecnologia ge-rencial para a transformação institucional. Por um lado, teorias modernas de planejamento valorizam engajamento e participação de atores e agentes, tanto em relação à efi ciência quanto à sus-tentabilidade em termos de resultados organizacionais e impacto social das intervenções. Por outro lado, não podemos subestimar o papel de modelos, instrumentos, tecnologias e aplicações do pen-samento estratégico mais atualizado ao planejamento da inovação.

Neste Capítulo, em primeiro lugar, pretendemos rever estrutu-ra, conteúdo e eixos programáticos da extensa, embora preliminar, plataforma eleitoral que nos conduziu à Reitoria da UFBA em 2002. Em segundo lugar, vamos introduzir as metas estratégicas que, em 2006, compuseram o plano de ação proposto para o se-gundo mandato, indicando seu caráter de continuidade e detalha-mento dos eixos programáticos do primeiro termo. Em terceiro lugar, na parte analítica do texto, apresentaremos os dispositivos instrumentais de planejamento estratégico que utilizamos para viabilizar o projeto de transformação institucional.

Em nosso primeiro mandato, para a projeção dos processos de mudança institucional, utilizamos técnicas de planejamento es-tratégico. Nesse processo, desdobramos princípios norteadores e eixos programáticos sequenciados como matrizes de problematiza-ção, defi nindo situações-problema, estratégias e ações. No segun-do mandato, considerando uma situação de transição institucional, que demonstrava recuperação da capacidade de planejamento e gestão, consideramos pertinente utilizar técnicas de planejamento sistêmico. No marco desse referencial inovador, empregamos um

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40 41

Todos os princípios e propostas mencionados a seguir foram extraídos dos documentos da campanha eleitoral para o Reitora-do em 2002, demonstrando que várias propostas de reconhecida atualidade, já naquela época, compunham o horizonte de trans-formação por nós pretendido.

A consigna Abrace a UFBA, convocatória daquela campanha, desdobrava-se nos seguintes eixos:

• cumprimento da missão social da Universidade;

• promoção da excelência acadêmica;

• respeito à diversidade, integração entre saberes;

• competência de gestão acadêmica e administrativa.

MISSÃO SOCIAL DA UNIVERSIDADE

No Plano de Gestão 2002-2006, afi rmamos que o cumprimento da missão social da UFBA constitui elemento crucial para a sua reva-lorização enquanto instituição comprometida com a transformação da sociedade. Para as formações sociais contemporâneas, a Universi-dade signifi ca a principal fonte de produção de conhecimentos, sabe-res, técnicas, culturas e artes. Porém, a missão social da Universidade repousa sobre sua capacidade de crítica e criação, em contraponto dialético com sua natureza de instância de reprodução ideológica.

Visando a ampliar o papel da UFBA no desenvolvimento local, regional e nacional, assumimos compromisso de reativar a capa-citação da universidade na prestação de serviços à sociedade. Isto implicava, por um lado, descobrir os nichos da nossa competência. Por outro lado, signifi cava identifi car problemas e demandas sociais e construir a competência necessária (ou importá-la quando exce-desse nossa capacidade) para dar respostas sociais com efi ciência.

Para avançar no cumprimento da missão social da Universida-de, já em 2002 propúnhamos um Programa de Inclusão Social. Isso implicava ampliar acesso e viabilizar permanência de setores carentes na universidade pública federal mediante ampliação de vagas na graduação, preferencialmente em horário noturno. Em articulação com iniciativas pró-inclusão na UFBA, consideramos pertinente, desde aquela época, uma política de reserva de vagas para estudantes socialmente carentes.

EXCELÊNCIA ACADÊMICA

Já em 2002, destacávamos a promoção da excelência acadêmica nas ciências, artes e humanidades como importante prioridade para a instituição universitária. Isto signifi ca transformá-la num quali-fi cado centro de investigação e criação, inserido numa dinâmica simultaneamente local e global. Reafi rmávamos, assim, compro-misso com a criação e a inventividade, respeitando singularidades e valorizando produções artísticas e tecnológicas no mesmo pa-tamar da pesquisa científi ca. Para isso, seria fundamental reforçar nossa infraestrutura de informação acadêmica por meio de uma rede de bibliotecas setoriais na UFBA, com articulação de siste-mas e usuários de tecnologia da informação.

Comprometemo-nos com o resgate da capacidade deliberati-va dos conselhos superiores da UFBA, dinamizando a atuação do CONSEPE como principal organismo de coordenação das ativi-dades-fi m da universidade, tomando a criação artística e a pro-dução de conhecimento e tecnologia como estruturantes das ou-tras dimensões acadêmicas (ensino e extensão). A nossa principal meta, nesse aspecto, era superar carências do ensino de graduação, com a melhoria do sistema de avaliação das atividades de ensino.

Propusemos promover uma inserção qualifi cada da UFBA no panorama acadêmico nacional e internacional. Isto se alcançaria mediante ampla veiculação da produção científi ca, técnica e ar-tística bem como estímulo e viabilização da participação de pes-quisadores, docentes e técnicos em grupos de trabalho, comitês ou eventos das respectivas áreas de atuação. A priorização da produ-ção artística e científi ca de modo algum deveria resultar em de-satenção ao ensino e à extensão, evitando-se assim transformar a universidade em centro de excelência formado por pesquisadores ou artistas que não ministram aulas.

DIVERSIDADE E INTEGRAÇÃO

Componente essencial do nosso projeto político, afi rmamos que o respeito à diversidade intelectual, artística, institucional e política de-fi ne a instituição universitária enquanto organização efetivamente comprometida com a mudança, a criação e a inovação. Não obstan-te, como instituição, a UFBA deveria buscar integração e articula-

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42 43

ção dos múltiplos elementos da sua rica diversidade através de um planejamento estratégico, com efetivos monitoramento e avaliação.

Propusemos ampliar as opções institucionais de organização das atividades de pesquisa, criação e extensão, multiplicando as possi-bilidades de captação extraorçamentária e realização de atividades extraprogramáticas. Com isto, buscávamos incentivar a criação de centros e núcleos interdisciplinares e interunidades de pesquisa e criação. A relação da universidade com tais opções institucionais deveria ser objeto de regulamentação clara e negociada.

Constavam do nosso programa, já em 2002, políticas facilitado-ras da integração física entre unidades, setores e campi da UFBA: centros de convivência interunidades, passarelas, paisagismo, ar-borização para sombreamento. Outras metas nesse item incluíam: sistema de transporte coletivo intercampi não-poluente, melhoria dos sistemas de comunicação, implantação da Reitoria Itinerante, fomento à prática de esportes e lazer, com a instalação de equipa-mentos esportivos nos campi universitários.

COMPETÊNCIA DE GESTÃO 

No Plano de Gestão 2003-2006, afi rmamos também que, so-mente com uma gestão competente, a universidade poderia cum-prir sua missão social. O princípio administrativo da efi ciência – obrigação de toda instituição pública – implica potencializar os recursos existentes, reformando estruturas, simplifi cando redes de gestão e valorizando as pessoas que fazem funcionar a universida-de. Transparência de estruturas deliberativas e de recursos fi nan-ceiros, controle social, participação da comunidade acadêmica, promoção de deliberações coletivas, efetivação das decisões cole-giadas, publicização dos atos universitários e efi ciência gerencial são corolários deste princípio.

Propusemos descentralizar a gestão administrativa e fi nancei-ra da UFBA a partir de uma Reforma Administrativa, buscando ampliar a autonomia interna da UFBA, reduzindo ao máximo a burocracia da instituição. Isto implicava enxugar a administração central, dotando cada unidade de capacidade de gestão acadêmica e administrativa com autonomia (a maior possível naquele mo-mento). Como objetivo imediato, propusemos tornar cada escola,

faculdade ou instituto em centro de custos, unidade orçamentária autônoma fi nanceiramente equilibrada.

Para isso, postulamos uma política de maior acesso à infor-mação acadêmica, institucional e contábil, com transparência e abertura. Esta abertura de acesso à informação (elemento aliás estreitamente ligado à questão da democracia) deveria ser amplia-da para uma política de comunicação mais democrática e ampla, que garantisse não só acesso à informação interna, mas também divulgação transparente da UFBA num processo de comunicação permanente com a sociedade, construindo vias de mão dupla no fl uxo da informação.

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Ademais, postulamos aperfeiçoar os recursos de infraestrutura, materiais e fi nanceiros, implementando estratégias para utiliza-ção plena da capacidade instalada da UFBA. O gerenciamento do tempo dos docentes e técnicos poderia ser em muito melhorado. Cada hora de sala vazia, laboratório sem uso, serviço ou equipa-mento ocioso, docente ou técnico sem atividade signifi cava, para nós, malversação de recursos públicos.

Propusemos efetivar uma reforma organizacional profunda na UFBA, mediante revisão do Estatuto e elaboração do novo Regi-mento Geral, a fi m de privilegiar aspectos acadêmicos, simplifi car estruturas, agilizar rotinas, melhorar serviços prestados, raciona-lizar recursos fi nanceiros, patrimoniais e humanos e viabilizar a competência de gestão. A normalização do arcabouço jurídico da Universidade deveria ser capaz de propiciar redução da burocra-cia e inércia dos processos internos da UFBA. Consequentemente, signifi cava reforço da função acadêmica das congregações e dos colegiados de cursos.

No Plano de Gestão 2003-2006, defi nimos como prioridade elaborar um Plano Diretor para os campi da UFBA, retomando as propostas da Comissão de Patrimônio do Conselho Universitário, incluindo um plano de gerenciamento ambiental do campus, en-volvendo o uso de recursos (água, energia), destino do lixo, postos de reciclagem, disciplinamento e gerenciamento de estacionamen-tos. Isso implicava cuidadosa avaliação da situação fundiária dos imóveis da UFBA, convergindo para o estabelecimento de modelo jurídico e administrativo para a reforma patrimonial.

Apresentamos, como proposta base do eixo Política de Valori-zação de Pessoal, a criação da Pró-Reitoria de Desenvolvimento de Pessoas (que foi efetivamente aprovada pelo Conselho Universi-tário em outubro de 2002), visando à capacitação continuada dos funcionários, qualifi cação de docentes e pesquisadores e apoio aos estudantes, numa perspectiva de valorização das pessoas. Isso im-plicava uma política de desenvolvimento de pessoal valorizadora dos trabalhadores técnico-administrativos e docentes.

Propusemos a adoção de medidas específi cas voltadas para au-mento da segurança nos campi, contribuindo para implementação de ações intersetoriais de promoção da paz em Salvador. Den-tre tais medidas, destacamos inicialmente a utilização de recursos

humanos e fi nanceiros próprios, junto com a reestruturação da vigilância terceirizada. Para a sustentação do sistema, propusemos o estabelecimento do Fundo de Segurança dos Campi da UFBA.

Comprometemo-nos, enfi m, a implementar uma política de apoio ao corpo estudantil sem clientelismos nem assistencialis-mos. A política institucional para assuntos estudantis que propu-semos ultrapassaria questões exclusivamente assistenciais. Deve-ria ser mais ampla e incorporar temas acadêmicos e culturais. Para isso, propusemos fomentar a participação do corpo discente na formulação e implementação de programas de desenvolvimento de pessoas. Dessa maneira, esperávamos evoluir para a autogestão dos organismos responsáveis pelas políticas de apoio aos estudan-tes, gerenciando de modo participativo um Fundo de Assistência Estudantil a ser implementado na UFBA.

Este conjunto de princípios orientadores, eixos programáticos e propostas de ação do nosso Plano de Gestão 2003-2006 propi-ciaram racionalidade e melhor desempenho nas iniciativas e inter-venções realizadas por nossa equipe de gestão durante o primeiro mandato. A avaliação de resultados e efeitos dessas políticas, es-tratégias, programas e projetos constitui objeto deste Memorial, principalmente o Capítulo 9.

METAS ESTRATÉGICAS DO SEGUNDO MANDATO

Em 2 de agosto de 2006, tomamos posse na Reitoria da UFBA, em segundo mandato para o quadriênio 2006-2010. A campanha eleitoral tinha sido marcada pelo debate em torno da autonomia universitária e das ameaças de privatização da universidade (com todos os mal-entendidos pertinentes ao tema). Ganhamos com margem de votos ainda mais expressiva que na eleição de 2002. Após a eleição, nossa equipe de gestão recebeu a missão de pros-seguir na tarefa de buscar transformar a desgastada e combalida instituição universitária num organismo vivo e dinâmico, compro-metido socialmente tanto quanto competente academicamente.

Entendemos nossa recondução à Reitoria como efeito de uma demanda social mais ampla: o processo de transformação da UFBA precisava avançar e aprofundar, dando continuidade à expansão do ensino superior público da Bahia. Isso permitiu atualizar nosso

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compromisso perante à comunidade universitária e a sociedade baiana, apresentando uma nova pauta de trabalho para os quatro anos seguintes. Nesse documento, foram declarados três pilares de sustentação do nosso projeto político-acadêmico:

• Reafi rmação permanente do caráter público da universida-de, garantindo acesso amplo à educação superior. A educa-ção é um bem comum que traz benefícios para toda a socie-dade. A universidade deve se constituir em instrumento de mobilidade e mudança social, além de fonte de redução das desigualdades, imprescindível para consolidação da identi-dade nacional.

• Ampliação da autonomia da universidade. A autonomia deve abarcar, além dos aspectos acadêmicos, recursos fi nan-ceiros, política de pessoal e escolha de dirigentes. A estabili-dade do fi nanciamento da universidade pública brasileira é uma questão republicana prioritária. No entanto, o conceito de autonomia aplicado à universidade pública inclui ainda a necessidade de controle pela sociedade, a quem a instituição deve prestar contas.

• Respeito à pluralidade e diversidade intelectual, artística, cultural, institucional e política. A valorização da pluralida-de e da liberdade de atuação deve resultar em estratégias capazes de produzir saberes e práticas inter e transdiscipli-nares, a fi m de fundamentar as mudanças tão necessárias em nossa sociedade.

As ações que compuseram a nova pauta foram balizadas por três diretrizes, reafi rmando as bases do Plano de Gestão 2003-2006:

• Ampliação contínua da excelência acadêmica. Essa diretriz estruturava-se sobre um pressuposto -- o primado da inova-ção na universidade. Para isso, pesquisa e criação devem ser vistas como estruturantes das outras dimensões acadêmicas: ensino e extensão.

• Aprofundamento do compromisso social por meio de po-líticas capazes de transformar a excelência acadêmica em efetivo instrumento para a transformação social. Isso signi-fi ca identifi car problemas e demandas sociais e construir as competências necessárias para propor respostas efi cazes, ou

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estabelecer relações de parceria, quando essas demandas ex-cederem nossa capacidade. Implicava, também, ampliar seu papel no desenvolvimento local e regional, inclusive pela expansão das fronteiras de atuação, em direção ao vasto ter-ritório baiano.

• Inovação na gestão institucional e acadêmica para a melho-ria contínua dos serviços prestados pela UFBA. A excelência acadêmica com compromisso social só é sustentável me-diante processos gerenciais capazes de privilegiar atividades fi nalísticas.

Estes valores e diretrizes se desdobravam em projetos e ações concretas, com que pretendíamos tornar realidade os compromis-sos aqui fi rmados. Todos os princípios e propostas mencionados a seguir foram extraídos dos documentos da campanha eleitoral pela nossa recondução à Reitoria em 2006, mais uma vez demonstrando a atualidade do projeto de transformação institucional proposto.

EXCELÊNCIA ACADÊMICA

No documento de propostas para a reeleição em 2006, assu-mimos compromisso em estimular a excelência acadêmica, entre outras medidas, com uma política de incentivo ao trabalho inter-disciplinar, interdepartamental e interunidades, buscando ampliar opções institucionais de atuação, multiplicando possibilidades de captação extraorçamentária. Isso implicava consolidar progra-mas de renovação do ensino de graduação e incentivar reformas curriculares naqueles cursos que ainda não haviam apresentado propostas de atualização, com projetos acadêmico-pedagógicos criativos e consistentes, reduzindo as barreiras entre os níveis de ensino como, por exemplo, oferta de currículos integrados de gra-duação e pós-graduação.

Os seguintes projetos visavam a dar continuidade à ampliação e qualifi cação dos cursos de graduação:

UFBA Nova – Incentivar a abertura de programas experimentais de cursos interdisciplinares de graduação, não-profi ssionalizantes ou não-temáticos, com projetos pedagógicos inovadores, em gran-des áreas do conhecimento, como por exemplo Humanidades, Ar-tes, Ciências Moleculares, Tecnologias, Saúde, Meio Ambiente.

Modernização Didático-Pedagógica – Considerávamos funda-mental incentivar uma atmosfera capaz de estimular o desenvolvi-mento do espírito crítico dos estudantes e capacitar o profi ssional a buscar o conhecimento para solucionar problemas identifi cados na sua prática. Neste sentido, deveriam ser criadas condições para ampliar o uso de técnicas pedagógicas orientadas pela autonomia, a exemplo do PBL e do ensino à distância.

Reestruturação da Oferta de Cursos – Propusemos uma mo-dularização dos currículos de graduação, possibilitando a oferta de cursos concentrados num único turno, principalmente à noite. Essa medida facilitaria o acesso a estudantes socialmente carentes que necessitassem trabalhar. Visava, também, a ampliar a oferta de vagas, por meio da melhor utilização dos recursos existentes.

Pesquisa na Graduação – Estimular iniciativas de integração da graduação com a pesquisa e extensão, a exemplo das Atividades Curriculares em Comunidade (ACC), Programa Especial de Tu-toria (PET), Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Cien-tífi ca (PIBIC), empresas juniores e serviço de assistência jurídica.

Intercâmbio na Graduação – Ampliar o intercâmbio de estu-dantes de graduação, tanto pela recepção de estudantes de outros estados e países, como pela participação dos nossos estudantes em programas de universidades nacionais e estrangeiras. Estimular ainda a mobilidade entre unidades e áreas da UFBA.

Em nossos documentos de campanha para a eleição de 2006, a pesquisa era considerada como o principal elemento que confere à UFBA liderança no contexto regional, reconhecimento nacional e internacional, além de ser vetor de transformação do ensino. A UFBA deveria ampliar suas atividades de pesquisa. Para isso, seria preciso uma política de admissão de pessoal qualifi cado e motiva-do, bem como diversifi car fontes de fi nanciamento.

Nesse sentido, reafi rmamos uma política de qualifi cação e ex-pansão da pesquisa e pós-graduação na UFBA, tendo em vista seu caráter estruturante e sua importância para a excelência da gradu-ação e da extensão. Tal política não é de modo algum contraditória com fi nanciamentos captados sob a forma de convênios com en-tidades parceiras, destinados a viabilizar atividades de relevância social e alto interesse acadêmico, com transparência de gestão e sob efi ciente controle institucional e social.

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Os seguintes projetos visavam à promoção da excelência aca-dêmica na pesquisa e na pós-graduação:

Melhoria e Expansão da Pós-Graduação – Defendemos que a UFBA deveria expandir sua pós-graduação, tendo como meta a criação de cursos em todas as unidades, além de cursos interdis-ciplinares. Os cursos existentes deveriam melhorar seu desempe-nho e, consequentemente, seus resultados na avaliação da CAPES.

Projeto TecnoUFBA – Ações visando à participação intensiva e induzida em programas de desenvolvimento científi co e tecnoló-gico do Estado da Bahia, para consolidar a liderança da UFBA no âmbito regional e sua irradiação para o país.

Projeto Interdisciplinaridade – Dar continuidade à promoção de programas multi, inter e transdisciplinares de pesquisa e pós-gra-duação, consolidando e ampliando o que já vinha sendo feito nas unidades universitárias e nos antigos órgãos suplementares.

Consolidação do NPI/UFBA – Núcleo de Propriedade Intelec-tual da UFBA, organismo destinado a registrar e proteger direitos sobre obras de criação, marcas e produtos de conhecimento gera-dos pela UFBA.

Sistema de Bibliotecas – Consolidar o Sistema de Bibliotecas da UFBA, racionalizando sua estrutura e uso por meio de uma rede de bibliotecas de médio e grande porte organizadas por área do conhecimento e localização geográfi ca, com a requalifi cação e for-talecimento da Biblioteca Central.

Internacionalização da Pesquisa e do Ensino – Esta estratégia pretendia expandir o processo de internacionalização já em curso, por meio das seguintes ações:

• Projeto UFBA Verão – Universidade de Verão da Bahia: cur-sos modulares de curta-duração, temáticos, intensivos, desti-nados ao público nacional e internacional.

• Programa de Intercâmbio Acadêmico na Graduação – Conso-lidação e ampliação do programa em curso, com incentivo e foco especial nos estudantes participantes do Programa de Ações Afi rmativas.

• Programas de Pós-Graduação em Rede Internacional – Progra-mas em cotutela e dupla titulação, inicialmente com univer-sidades da União Europeia engajadas no Acordo de Bolonha, o qual prevê a criação de espaços universitários internacio-nais comuns.

• Programas Transnacionais de Pesquisa e Formação – Progra-mas em cooperação com universidades na Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), com foco na África lu-sófona, na Região do Mercosul e em outros países da Amé-rica Latina.

COMPROMISSO SOCIAL

Em nossa plataforma de trabalho para a reeleição de 2006, o compromisso social da UFBA se refl etia em todas as atividades e ações, considerando que a universidade é mantida pela sociedade e a ela deve responder. Nesse sentido, propusemos as seguintes estratégias e projetos:

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UFBA na Sociedade – aprofundamento da política de estímulo à interação da Universidade com as diversas instâncias sociais, ten-do em vista a ampliação do seu papel no desenvolvimento local, regional e nacional:

• Programa de Educação Permanente – cursos modulares de ex-tensão, aperfeiçoamento e especialização destinados a gra-duados ou estudantes de outras universidades, atendendo às demandas sociais por educação continuada.

• Programa de Cursos Temáticos Pré-Universitários – cursos, em modalidade de extensão, dirigidos a setores socialmente excluídos, para estudantes que tenham concluído o ensino médio em escolas públicas.

• Programa de Ensino à Distância – vinculado à Universidade Aberta do Brasil, destinado à formação profi ssional e peda-gógica, articulado a um consórcio municipal para o fomento do ensino superior público na RM de Salvador.

• Incubadora de ONGs Juniores – Programa de ação temática social e ambiental, visando a propiciar aos egressos da UFBA experiência de atuação no terceiro setor.

UFBA Ecológica – Consolidar e ampliar ações de proteção ao am-biente nos campi da UFBA, a exemplo do Memorial da Mata Atlân-tica (implantado em 2004), com a promoção de eventos capazes de aumentar a consciência ecológica da comunidade universitária. Este programa deveria ser completado com a instalação de organismos permanentes de supervisão e assessoramento em questões ambientais.

UFBA Cultural – Dotar a Universidade de políticas institucio-nais capazes de dinamizar as atividades culturais, propiciando in-terlocução permanente entre os centros de criação, formação e estudos em cultura da UFBA e a sociedade.

Rede de Museus – Reestruturar a rede de museus universitá-rios, consolidando aqueles já existentes e implantando dois novos projetos museológicos: o Museu de História Natural e a Estação Ciência (Museu de Ciência e Tecnologia).

Difusão das Artes – Ampliação do programa de difusão da pro-dução artística em curso na UFBA, alcançando os mais amplos setores da comunidade, além de contribuir para a integração entre as diferentes unidades.

Restauração do prédio da Faculdade de Medicina da UFBA – Completar a restauração arquitetônica do complexo arquitetô-nico no Terreiro de Jesus. Além disso, concluir a restauração do acervo bibliográfi co e documental resgatado das ruínas do prédio da antiga biblioteca. Esse projeto teve como horizonte a celebra-ção dos duzentos anos da Faculdade de Medicina.

Sistema Universitário de Saúde – Consolidar o processo de inte-gração das unidades assistenciais de saúde em termos de infraes-trutura e localização, com gestão articulada, racionalizando recur-sos humanos, administrativos e fi nanceiros.

• Instituto de Saúde da Mulher Climério de Oliveira – Trans-ferir a Maternidade Climério de Oliveira para o Campus Canela, promovendo-a como unidade docente-assistencial de alta complexidade e tornando-a referência para o SUS municipal e estadual.

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• Distritos Sanitários Docente-Assistenciais – Inserção qualifi -cada das unidades assistenciais do SUS nos programas de ensino na área de saúde, com a incorporação da gestão local ao âmbito acadêmico, com prioridade para o Programa de Saúde da Família.

Dinamização do Centro de Esportes de Ondina – Reforma dos equipamentos esportivos da UFBA concentrados em Ondina. Além de servir à prática de esportes pela comunidade universitá-ria, tais equipamentos seriam postos à disposição da comunidade em programas de inclusão social pelo esporte.

Consolidação da interiorização – Programas da pauta anterior que se encontravam em andamento: colaboração com a implantação da UFRB, Campus Professor Anísio Teixeira e Campus Reitor Edgard Santos.

Implantar o Programa de Apoio Social aos Estudantes, compre-endendo as seguintes propostas:

• Criação da Pró-Reitoria de Ações Afi rmativas e Assistência Es-tudantil, destinada à gestão do Programa de Ações Afi rmati-vas e Apoio Social aos Estudantes da UFBA.

• Criação do Fundo de Apoio Social ao Estudante, formado com recursos do orçamento da União, emendas parlamentares e convênios.

• Conclusão do Restaurante Universitário de Ondina e viabi-lização do Restaurante Universitário do Canela/Graça, no contexto do Plano Diretor.

• Abertura de Novas Residências Universitárias, em Ondina (Ga-ribaldi) e Canela/Graça, com ampliação das bolsas-moradia.

• Implantação de programas de Bolsa-Trabalho, Bolsa-Moni-toria e Iniciação Científi ca Especial (com prioridade para estudantes do Programa de Ações Afi rmativas).

INOVAÇÃO NA GESTÃO

Para a promoção da excelência acadêmica com compromisso social, de modo sustentável, será necessário realizar investimentos em infraestrutura, formar pessoal capacitado, implantar processos gerenciais que privilegiem as atividades fi nalísticas e rever o arca-bouço normativo da universidade.

Nesse sentido, em nosso programa de trabalho de 2006, incluí-mos os seguintes projetos e propostas:

Reforma do Estatuto e do Regimento Geral, bem como atualiza-ção do conjunto de normas das áreas de ensino, pesquisa e exten-são, órgãos e unidades. Novos documentos institucionais deveriam permitir uma organização interna capaz de refl etir a missão da Universidade e uma gestão orientada para a excelência.

Plano Diretor da UFBA, elaborado de modo amplo e participa-tivo, garantindo o respeito às propostas das unidades acadêmicas, subsidiando assim o processo de reforma patrimonial.

• Recuperação da infraestrutura física, dotando as unidades de condições de trabalho dignas e compatíveis com ensino, pes-quisa e extensão de qualidade.

• Consolidação do campus de São Lázaro, incluindo constru-ção de novo pavilhão de aulas e reforma das instalações exis-tentes, com urbanização e segurança. A meta era valorizar aquele espaço, no contexto do Plano Diretor, integrando-o ao campus de Ondina.

Plano de Reestruturação da Jornada de Trabalho dos servidores técnico-administrativos da UFBA, a ser submetido ao Conselho Universitário dentro dos princípios da legislação vigente, com im-plantação do turno contínuo nas unidades e órgãos que estende-rem seus horários de funcionamento, dando prioridade a cursos noturnos e atividades acadêmicas em fi ns de semana.

Programa de Educação Continuada dos Servidores Técnico-Admi-nistrativos da UFBA – Articulado à reestruturação da jornada de trabalho, compreende atividades de qualifi cação, aperfeiçoamento e educação permanente, integradas aos programas de graduação e pós-graduação da UFBA.

Projeto UFBA Saúde – Incentivo à implantação do Plano de Saúde UFBA, para servidores técnico-administrativos e docentes, reestruturando o SMURB no contexto da implantação do Sistema Universitário de Saúde, com integração física e funcional de todas as unidades assistenciais no Campus Canela.

Projeto UFBA Digital – Compreendendo ações para:

• equipar e manter laboratórios especializados de informática nas unidades;

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• abertura de espaços de livre acesso a computadores e cone-xão Internet;

• informatização de programas, procedimentos, processos e consultas, incluindo matrícula on line;

• expandir o acesso on line à produção científi ca e artística da UFBA;

• disponibilizar acesso à internet e endereço eletrônico aos participantes do Programa de Ações Afi rmativas.

Concluímos este eixo do nosso Plano de Gestão 2006-2010 com mais três proposições:

a) dar continuidade à implantação do Programa de Avaliação Institucional;

b) concluir a implantação do Programa de Segurança nos cam-pi da UFBA, seguindo as diretrizes aprovadas pelo Conselho Universitário;

c) instalar a Ouvidoria Universitária, dotando a UFBA de me-canismos de transparência e avaliação contínua, com acesso aber-to a toda a comunidade.

DO PLANO DE METAS À REDE DE IMPACTOS

Em nosso primeiro mandato, utilizamos técnicas convencionais de planejamento estratégico para a projeção dos processos de mu-dança institucional propostos.

Nos meses fi nais do exercício de 2002, nossa plataforma elei-toral foi revista a partir de uma série de reuniões técnicas, ofi ci-nas e seminários que resultou num extenso programa de trabalho para o Reitorado que se iniciava. A partir de princípios e eixos de atuação previamente estabelecidos, buscamos a defi nição de objetivos realistas e viáveis. Aquele programa foi desdobrado em estratégias e ações que compuseram um Plano Estratégico de Metas, visando ao desenvolvimento institucional da UFBA no quadriênio 2003-2006.

Para viabilizar as etapas prévias necessárias ao projeto de trans-formação institucional que postulávamos para a UFBA, os prin-cípios norteadores e eixos programáticos foram sequenciados, defi nindo situações-problema, estratégias e ações. Nesse processo,

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Quadro 2.1. Plano Estratégico de Metas 2003-2006

Princípio Objetivos Metas Estratégicas

Promoçãoda excelência acadêmica

Valorizar produções científi ca, tecnológica e artística no mesmo patamar

1. Promoção de meios institucionais para aumentar participação da UFBA em programas de fi nancia-mento à ciência e tecnologia***

2. Fomento à produção artística na universidade e sua difusão social como atividade privilegiada de pesquisa e extensão***

Superar carências do ensino de graduação

3. Melhoria do sistema de acompanhamento e ava-liação das atividades de ensino**

Fortalecer sistemas de bibliotecas e centros de informação

4. Organização de um sistema de bibliotecas seto-riais na UFBA***

5. Fortalecimento de redes e sistemas de tecnologia da informação na UFBA***

Promover inserção qualifi cada da UFBA no panorama científi co nacional-internacional

6. Fomento ao ensino de pós-graduação na UFBA***

7. Apoio à produção científi ca e tecnológica na UFBA***

Propiciar amplo acesso à informação acadêmica

8. Aperfeiçoamento dos sistemas de avaliação da pesquisa e criação na UFBA**

Missão social da Universidade

Conquistar efetiva autonomia para a Universidade

9. Apoio às iniciativas da ANDIFES para organiza-ção jurídica das universidades***

10. Articulação ANDES-FASUBRA-ANDIFES*

Ampliar o acesso de setores carentes à Universidade

11. Programa especial de ampliação de vagas na graduação****

12. Implantação do Programa de Ações Afi rmativas da UFBA***

13. Articulação com iniciativas pró-inclusão social***

14. Programa de Interiorização da UFBA***

Estreitar relações da UFBA na sociedade

15. Ampliação do papel da UFBA na prestação de serviços à sociedade***

16. Ampliação da representação da UFBA em orga-nismos da sociedade baiana***

17. Inserção da UFBA no desenvolvimento local, regional e nacional***

Respeito à pluralidade, promoção da integração

Remover amarras à criatividade e iniciativa

18. Promoção de atividades de animação acadêmica***

Ampliar opções de promoção da pesquisa, criação e extensão

19. Fomento à organização de centros e núcleos interdisciplinares e interunidades de pesquisa e criação**

Fomentar a prática de esportes e lazer

20. Instalação de equipamentos esportivos nos cam-pi universitários. (NC)

Princípio Objetivos Metas Estratégicas

Respeito à pluralidade, promoção da integração

Implementar políticas de integração entre unidades, setores e campi da UFBA

21. Promoção e proteção ao meio-ambiente nos campi***

22. Organização de um sistema de transporte cole-tivo intercampi*

23. Melhoria dos sistemas de comunicação***

24. Implantação da Reitoria Itinerante**

25. Reabertura do Colégio de Aplicação, dirigido a fi lhos de servidores e setores carentes da sociedade. (NC)

Aumentar segurança nos campi

26. Elaboração de Plano de Segurança da UFBA**

27. Reestruturação da vigilância terceirizada***

Implementar política de valorização dos servidores e docentes

28. Criação da PRODEP (Pró-Reitoria de Desen-volvimento de Pessoas)***

29. Programas de formação de pessoal com recursos próprios da UFBA**

Elaborar política especial para os aposentados

30. Implementação de um programa de reintegra-ção social dos aposentados**

Implementar política institucional de apoio ao corpo discente

31. Implementação de programas de apoio social aos estudantes carentes***

Gestão II:

Modernização administrativa

Realizar a reforma organizacional da UFBA; normalização regimental

32. Elaboração do novo Regimento Geral da UFBA.****

33. Revisão do Estatuto da UFBA.****

Descentralizar a gestão acadêmica da UFBA

34. Redefi nição do papel dos colegiados e congregações.****

Gestão I:

Valorização de pessoas

Descentralizar a gestão administrativa e fi nanceira da UFBA

35. Reforma Administrativa da UFBA nos setores de administração e planejamento****

36. Implementação do Orçamento Participativo*

* Ações encaminhadas | ** Metas correlatas parcialmente cumpridas | *** Metas correlatas totalmente cumpridas | **** Metas alcançadas posteriormente | (NC) Metas não cumpridas

Reduzir a burocracia e inércia dos processos internos da UFBA

37. Otimização de infraestrutura e gestão de recursos materiais e fi nanceiros**

Dinamizar a atuação dos conselhos superiores da UFBA

38. Resgate da capacidade deliberativa do CONSEPE e do CONSUNI***

Implantar Plano Dire-tor e Reforma Patrimo-nial da UFBA

39. Avaliação da situação fundiária dos imóveis da UFBA***

40. Elaboração de Plano Diretor Físico e Ambiental para a UFBA****

41. Estabelecimento de modelo jurídico e adminis-trativo para reforma patrimonial. (NC)

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utilizamos um dispositivo instrumental de planejamento estra-tégico linear chamado matriz de problematização, organizando os princípios e diretrizes assinalados acima em objetivos programá-ticos sequenciados, dessa forma orientando as estratégias e ações componentes do Plano (ver Quadro 2.1). Esta foi a base de refe-rência para validação de objetivos e verifi cação do cumprimento de metas pactuadas, cumprindo assim a função indutora do pla-nejamento participativo.

Durante o ano de 2003, uma pauta detalhada de ações, proje-tos e programas foi gerada a partir do debate e ajuste dos pontos programáticos do Plano de Metas. Para isso, contamos com a par-ticipação efetiva das instâncias de deliberação e pelos órgãos de gestão da UFBA, alimentados por dados produzidos pelos orga-nismos nacionais de avaliação e por setores de execução da admi-nistração central.

Não obstante sua adequação para avaliação direta do desem-penho e do impacto das ações programadas e executadas, as ma-trizes de planejamento têm sua efi cácia como dispositivo heurís-tico limitada a um projeto de gestão conservador do cotidiano e das rotinas institucionais. Assim, uma matriz dessa ordem sim-plesmente gera um elenco de metas cujo cumprimento se pode verifi car linearmente.

No Quadro 2.1, por exemplo, verifi ca-se de pronto que ape-nas três metas estratégicas (de um total de 41 ítens) não foram alcançadas. Uma delas, a reforma patrimonial proposta como es-tratégia para o levantamento de fundos sufi cientes para pelo me-nos iniciar as obras do Plano Diretor, foi superada com o aporte de recursos de investimentos do REUNI (como veremos no Ca-pítulo 6, adiante).

Em 2006, na preparação para o segundo mandato na Reitoria, consideramos mais adequado o uso de técnicas de planejamento sistêmico não-linear. Essa decisão foi tomada a partir da avaliação sistemática de um processo de transição institucional em curso, que já revelava impactos positivos de recuperação da capacida-de de gestão, tanto institucional quanto acadêmica. Dentro desse marco referencial, em si inovador, pudemos construir uma matriz integrada de efeitos capaz de articular projetos e programas estra-tégicos necessários à transformação institucional proposta.

Com esse objetivo, utilizamos uma metodologia de plane-jamento não linear recentemente desenvolvida pelo IDRC (ver anexo metodológico a este Capítulo), denominada mapeamen-to de efeitos ou impactos (outcome mapping). Como instrumento de planejamento estratégico, empregamos um novo dispositivo heurístico chamada mapa de rede de impactos (outcome network map), capaz de hierarquizar programas e projetos por seu poten-cial de gerar transformação no sistema como um todo. Do que sabemos, trata-se da primeira tentativa de aplicação dessa nova metodologia de indução da inovação pela via do planejamento no contexto hipercomplexo de uma instituição universitária.

Superando o modelo matricial de planejamento que organiza princípios e diretrizes em objetivos programáticos sequenciados e lineares, num quadro de efeitos previsíveis, as estratégias e ações componentes do Plano são representadas por meio de uma rede hierarquizada, composta por pontos e nexos (links) formalizados diferencialmente de um ponto de vista gráfi co, na medida do seu impacto sobre a mudança do sistema.

Como podemos ver na Figura 2.1, cada projeto ou programa tem como referencial gráfi co esferas de diâmetro variável, propor-cional ao numero de links por ele gerados e que o conectam a ou-tros programas e projetos postulados como estrutura dinâmica do sistema. Programas de maior impacto, geradores de transformação nos outros elementos da rede, constituem nós-críticos (hubs) a serem promovidos e cultivados. Isto se justifi ca plenamente já que a meta não é a conservação (o que implica um sistema fechado) e sim a introdução de mudança profunda (deep change) num siste-ma institucional aberto.

O mapa de rede de impactos demonstrado na Figura 2.1, atu-alizado durante todo o percurso do segundo mandato, divide-se em quadrantes, equivalentes às diretrizes programáticas defi nidas em nosso Plano de Ação de 2006. Esses quadrantes são: renovação e integração do ensino de graduação e pós-graduação; ênfase na pesquisa, criação e inovação; reafi rmação do compromisso social, redefi nindo o conceito de extensão; modernização administrativa com gestão participativa.

Notem que os limites entre cada quadrante são representados por linhas pontilhadas, demarcando não fronteiras rígidas, mas

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Figura 2.1. Mapa de Impactos em Rede no processo de renovação da UFBA

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Não obstante o seu enorme potencial de valorização social da UFBA perante à sociedade baiana, grafi camente, parece evidente no esquema da Figura 2.1 que o fato desta postulação ainda se encontrar pendente de concretização, pouco interfere na trajetó-ria de mudança institucional radical por que tem passado nossa universidade.

Nessa mesma perspectiva, devemos considerar a restauração do imóvel histórico da antiga Faculdade de Medicina da Bahia, situ-ado no Centro Histórico de Salvador, como priorização de efeito simbólico. Também fi ca evidente no esquema visual apresentado que, tivéssemos ou não concluído o trabalho de restauro da Ala Nobre da egrégia Faculdade, pouca ou nenhuma repercussão ha-veria sobre o conjunto de elementos da rede de efeitos e seus co-nexos no sentido da transformação da UFBA. Não obstante, o im-pacto simbólico é imensurável, visto que se trata do sítio histórico de nascimento da educação superior no Brasil em dois sentidos, com o seiscentista Colégio dos Jesuítas e com a criação do Co-légio Médico-Cirúrgico em 1808, raiz primeira da Universidade Federal da Bahia.

COMENTÁRIO

Diagnóstico detalhado de crises e contexto institucional, tra-tamento cuidadoso de situações-problema, saneamento fi nancei-ro, reorganização administrativa, crescimento na graduação e na pós-graduação, lançamento de alguns programas estratégicos de mudança, tudo isso fez do nosso primeiro mandato etapa prepa-ratória para avanços e propostas de maior fôlego e ambição.

O segundo mandato justifi cou-se essencialmente como sequên-cia, oportuna e necessária, de um projeto político-acadêmico que pretende profunda e radical transformação institucional para a UFBA. Com esse sentido, reafi rmamos princípios, diretrizes, es-tratégias, propostas e metas que já faziam parte de documen-tos produzidos por nossas equipes de concepção, planejamento e gestão. Dado o caráter de renovação organizacional e acadê-mica implicado no programa de trabalho que, por duas vezes, submetemos ao escrutínio da comunidade universitária em elei-ções para a Reitoria, rejeitamos vetores institucionais de inércia,

sim áreas de superposição ou de transição. Programas que articu-lam funções designadas por dois ou mais quadrantes podem aí se posicionar, como por exemplo, a avaliação institucional entre o campo da pesquisa, criação e inovação e o campo da moderniza-ção administrativa e os programas Nova ACC e Universidade de Verão entre o ensino e a extensão.

A iniciativa que assumiu maior prioridade em nossa gestão – o Plano UFBA Nova – aumenta fl agrantemente o peso relativo do quadrante ensino. Sua importância evidencia-se na riqueza e volu-me de nexos indutores de transformação do sistema, repercutindo diretamente em 18 projetos ou programas. Em seguida, e a ele fortemente vinculados, destacam-se quatro programas prioritários em segunda linha, como o Plano Diretor Físico e Ambiental e os programas UFBA Nova Extensão e UFBA Nova Pesquisa. A constelação de efeitos do Plano UFBA Nova na estrutura curri-cular, tais como fl exibilização, mobilidade estudantil, Nova ACC, processos seletivos alternativos (Novo ENEM), cursos noturnos, internacionalização de cursos, realça a inovação prevista na im-plantação dos Bacharelados Interdisciplinares, vinculada à criação do Instituto de Humanidades, Artes e Ciências Professor Milton Santos. (Ver capítulo 5).

Além desses elementos inovadores constitutivos da rede de im-pactos, podemos assinalar a centralidade da normalização estatutá-ria e regimental da UFBA. Apesar de tecnicamente não poder ser alinhada como determinante da transformação e sim como efeito planejado do processo indutor, esta estratégia signifi ca poderoso fa-tor de consolidação e sustentabilidade das mudanças institucionais produzidas. Assim, é pertinente assinalar que a construção paciente e cuidadosa de uma conjuntura política interna capaz de garantir pactos e consensos localizados foi possível pelo sucesso na implan-tação do Plano UFBA Nova. De fato, isso propiciou a necessária credibilidade dos órgãos da administração central junto às instân-cias deliberativas nos vários níveis de governança da instituição. Esta conjuntura política convergente foi o que permitiu a elaboração do novo marco normativo (Estatuto e Regimento Geral) da UFBA, que será objeto de análise mais detalhada adiante.

No outro extremo, podemos ilustrar uma situação peculiar, a proposta de criação da Universidade Federal da Bahia Oeste.

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“Reafi rmamos o desejo, por muitos compartilhado,

de resgatar o espírito universitário.”

conservação e permanência. Buscamos, enfi m, aplicar métodos, técnicas e instrumentos de planejamento-orientado-à-mudança e de gestão da inovação consistentes com o horizonte de transfor-mação almejado.

Não obstante, tínhamos convicção de que, por mais lógicas, adequadas, atuais e oportunas que fossem, proposições de reestru-turação institucional teriam possibilidade de tornar-se realidade somente se contássemos com o apoio crítico dos órgãos delibera-tivos da UFBA. Com esse espírito, procuramos sempre respeitar diretrizes e resoluções defi nidas pelos Conselhos Superiores, onde se encontram representados os segmentos que compõem o corpo político da universidade.

Temos consciência de que, durante nosso Reitorado, o respei-to às normas e instâncias democráticas foi cumprido sem des-cuidar do compromisso com o novo, visando a soluções capazes de promover e consolidar as mudanças profundas na instituição que defi niam nosso projeto coletivo. Ao fazê-lo, reafi rmamos o desejo, por muitos compartilhado, de resgatar o espírito univer-sitário que, para nós, parecia perdido no longo período de es-tagnação institucional e curricular que caracterizou o passado recente da UFBA.

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ANEXO METODOLÓGICO

O principal pressuposto do planejamento institucional não-linear é que a instituição social constitui um “sistema adaptativo comple-xo”. Trata-se de uma analogia com os sistemas orgânicos, distancian-do-a da representação de modelos estruturais estáveis resultantes de engenharia ou re-engenharia. O planejamento institucional sistêmico orienta-se pelo seguinte:

• Defi ne o sistema com base nas interações entre pessoas, grupos, estruturas e ideias e as condutas, eventos e efeitos por eles produzidos;

• Identifi ca tendências internas para a auto-organização que orien-tam a emergência da ordem, direção e capacidade do sistema;

• Focaliza processos mais que estruturas ou efeitos;

• Enfatiza a emergência como base da mudança resultante de infi -nitas interações entre um volume imenso de elementos.

Instituições sociais são sistemas complexos que compreendem redes em transformação constante, com maior ou menor velocidade de mudança. A mudança sistêmica se dá através de pontos-sensíveis (sensitive infl uence points), muitas vezes inesperados em natureza, lo-calização e efeito. É igualmente importante o reconhecimento dos pontos-duros, determinantes de maior conservação do sistema. Trata-se de elementos da rede-sistema pouco vulneráveis à indução trans-formadora e que, portanto, exigirão excessivos gastos de energia para absorver as intenções estratégicas de mudança. Mudanças abruptas em sistemas complexos podem produzir efeitos projetados de curto prazo que, no longo prazo, não se traduzem em sustentabilidade ou consolidação das mudanças. A transformação sustentada e de grande impacto no sistema denomina-se “mudança profunda” (deep change).

A identifi cação dos pontos sensíveis, também chamados de nós-críticos, dos pontos-duros e das trajetórias de transformação se alcan-ça pelo conhecimento ou compreensão da dinâmica geral do sistema. Diversas estratégias metodológicas têm sido propostas para represen-tar os sistemas de modo a permitir melhor acesso à sua lógica interna e ao entendimento da sua dinâmica geral.

Um primeiro grupo de estratégias, potencialmente mais frutífe-ras pois alcançam maior facilidade de realização, propõe representar conceitualmente os sistemas institucionais como redes complexas, formadas por sujeitos, órgãos e instâncias institucionais, funções, ideias, programas e projetos. As redes complexas podem ser repre-sentadas grafi camente por meio de mapas conceituais, diagramas de linhas (representando conexões) e nodos (representando os elemen-tos do sistemas). Dentre os vários métodos disponíveis na literatura especializada, destaca-se o Strategic Clarity Mapping (SCM). O se-

gundo grupo busca a compreensão da dinâmica do sistema pela ava-liação próxima do seu funcionamento ou operação em tempo real, estudando as respostas a estímulos de intervenção ou infl uência. O método chamado Experiential Learning ou “ciclo de Kolb” ilustra esse grupo de abordagens funcionais.

Uma derivação do mapeamento de redes que pretende sintetizar e articular os dois grupos de métodos é a developmental evaluation de Patton, apresentado como um conjunto articulado de princípios e procedimentos, concebidos para cada caso, capaz de desenvolver medidas e mecanismos de monitoramento dos efeitos emergentes ou impactos (outcomes) à medida em que emergem no sistema. Sua prin-cipal ferramenta metodológica é o Mapa de Rede de Impactos (Ou-tcome Network Mapping). Trata-se de uma proposta de representação em rede não do sistema em si e seus elementos constitutivos, mas da trama de iniciativas, interferências e infl uências visando à avaliação evolutiva (ou “desenvolvimental”) da organização ou instituição.

O esquema visual do Mapa de Rede de Impactos pode ser em-pregado tanto como dispositivo heurístico para exploração e com-preensão da dinâmica da organização ou instituição quanto como poderoso instrumento de planejamento estratégico da inovação institucional. Esta propriedade lhe permite hierarquizar programas, projetos e ações por seu potencial de gerar transformação no sistema como um todo. Dessa maneira, pode-se considerar, na modelagem da rede-sistema, pontos sensíveis, ou nós-críticos, pontos-duros e trajetórias de transformação de uma instituição universitária toma-da como caso de mudança radical ou transformação profunda (deep change) de uma instituição hipercomplexa.

BIBLIOGRAFIA:

Creech, H., Willard, T. Strategic Intentions: Managing knowledge networks for sustainable development. Winnipeg: International Institu-te for Sustainable Development, 2001.

Earl, S., Carden, F., Smutylo, T. Outcome Mapping – Building Lear-ning and Refl ection into Development Programs. Ottawa: International Development Research Centre (IDRC), 2001.

Patton, M. Development Innovation: Applying Complexity Concepts to Enhance Innovation and Use. New York, NY: Guilford Press, 2010.

Smutylo, T. Outcome Mapping: A method for tracking behavioural changes in development programs. Rome: Institutional Learning and Change (ILAC) Initiative, ILAC Brief nº 7., 2005.

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Salão Nobre da Faculdade de Medicina

Marcos do primeiro mandato

CAPÍTULO 3

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Muitos consideram, por diversas razões, devidamente explicita-das no Capítulo 4, que a principal marca do nosso primeiro man-dato foi a implantação do Programa de Ações Afi rmativas. Entre-tanto, cabe assinalar outras ações dessa fase do nosso Reitorado.

Nesse sentido, destacamos neste Memorial quatro processos: a reestruturação dos Hospitais Universitários da UFBA, o restauro do complexo arquitetônico da Faculdade de Medicina do Terreiro, o movimento de interiorização da UFBA e a criação da Universi-dade Federal do Recôncavo da Bahia.

HOSPITAIS UNIVERSITÁRIOS: CRISE E REESTRUTURAÇÃO

Ao assumirmos a Reitoria em agosto de 2002, encontramos uma crise profunda nos serviços de assistência à saúde da UFBA, confi gurando uma situação preocupante no setor docente-assis-tencial da universidade, que tinha como pano de fundo a falência geral dos hospitais de ensino em todo o país.

Os tradicionais hospitais universitários da Universidade Fe-deral da Bahia – Hospital Professor Edgard Santos (HUPES) e a Maternidade Climério de Oliveira (MCO) – têm sido referência social e assistencial para atendimento à saúde dos segmentos mais carentes da população baiana desde a sua fundação no século pas-sado. Por seu turno, o Serviço Médico Universitário Rubens Brasil (SMURB) vinha prestando valiosa contribuição à assistência estu-dantil e aos servidores docentes e técnico-administrativos.

Não obstante sua importância e prestígio, os serviços de saú-de da UFBA sofriam sérios problemas estruturais e conjunturais: situação fi nanceira defi citária, reduzida competência de gestão, confl itos jurídicos, contexto de política institucional turbulento. A situação fi nanceira do sistema, encontrada em outubro de 2002, era gravíssima e já ameaçava a idoneidade creditícia e a viabilidade institucional da FAPEX, organismo de apoio à pesquisa e exten-

Marcos do primeiro mandato

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são responsável pela execução fi nanceira dos serviços de assistên-cia à saúde da UFBA. A gravidade da situação expressava-se nos seguintes tópicos:

• o HUPES, com faturamento mensal em torno de 900 mil Reais, tinha um défi cit operacional de 15,6% ao mês;

• a MCO, com faturamento mensal em torno de 180 mil, ti-nha um défi cit de 22% ao mês;

• o fundo de reserva para pessoal estava quase esgotado: de 2,8 milhões recolhidos, restavam apenas 384 mil;

• falta de pagamento da contrapartida dos projetos do RE-FORSUS, sob risco de devolução de recursos já investidos;

• havia mais de 140 títulos protestados, resultantes de vultoso débito a fornecedores.

O componente administrativo da crise compreendia várias la-cunas e difi culdades, identifi cadas com base em análise da situação em novembro de 2002. Em primeiro lugar, inexistiam planos es-tratégicos de gestão. Além disso, observava-se reduzida governabi-lidade do sistema provocada pela exclusão de profi ssionais expe-rientes disponíveis no quadro da instituição. A política de pessoal era fl agrantemente inadequada, com inchaço de pessoal contrata-

do por meio de serviços terceirizados. Havia problemas no setor de compras, onde foram encontrados cinco CNPJs diferentes em nome da FAPEX. Ao lado de uma grande fragilidade gerencial e contábil (setor também terceirizado), os controles de qualidade e sistemas de cobrança de serviços eram inadequados e inefi cientes.

Uma rápida análise da situação permitiu descortinar o seguinte:

• a crise nacional dos hospitais universitários, os defeitos es-truturais e a política institucional constituíam fatores deter-minantes da crise;

• verifi cava-se uma diminuição signifi cativa da produção de serviços, com prejuízos para assistência, ensino e pesquisa nas unidades de saúde;

• a situação fi nanceira dos hospitais era gravíssima e necessi-tava solução imediata posto que a Lei de Responsabilidade Fiscal e acórdãos do TCU impunham equacionamento fi -nanceiro de contas públicas a cada exercício.

No plano político-institucional local, sérias questões jurídicas resultavam de denúncias fartamente veiculadas na imprensa local entre outubro de 2002 e fevereiro de 2004, pertinentes princi-palmente ao HUPES. Em relação à diretoria, apareciam denún-cias de prevaricação, corrupção, gestão temerária da coisa pública, cobrança fraudulenta do SUS, política de pessoal persecutória, inefi ciência e insolvência. Para resolver tais situações críticas, so-luções de emergência foram acionadas. No âmbito da gestão ins-titucional, a partir de recomendação de comissões de inquérito e do Conselho Deliberativo, determinamos o afastamento da Di-retoria do HUPES, com a organização de nova equipe dirigente, juntamente com a contratação de consultorias especializadas. O diretor da MCO renunciou e outro diretor pro tempore, indicado pelo Conselho Deliberativo, foi nomeado. Além disso, foi implan-tado um grupo de trabalho para acompanhamento da gestão dos hospitais universitários.

A sociedade civil Fundação Baiana de Cardiologia, median-te convênio de prestação de serviços celebrado originalmente em 1990, vinha gerenciando a Unidade de Cirurgia Cardiovascular (UCCV) do HUPES durante os quatro reitorados que nos antece-deram. Contra ela, pesavam denúncias de dupla cobrança indevida

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do SUS e de convênios, superfaturamento, discriminação no aten-dimento a pacientes e segregação de estudantes. Essas denúncias foram tratadas com o rigor determinado pela legislação pertinente.

A Reitoria instaurou Processo Administrativo Disciplinar, Co-missão de Inquérito para apurar denúncias de irregularidades ad-ministrativas e Comissão de Sindicância para investigar denún-cias relativas à má administração. Além disso, foram feitas gestões junto ao Ministério Público Federal para acompanhamento dos processos e à Polícia Federal para abertura de inquéritos policiais para investigar possíveis coautores dos ilícitos apurados, externos à UFBA. Esses processos foram concluídos, com identifi cação e punição de todos os envolvidos; na presente data, encontra-se sub judice a cobrança dos débitos, decorrente de um processo de To-mada de Contas Especial.

No âmbito fi nanceiro, realizou-se detalhada auditoria das con-tas dos hospitais na FAPEX, juntamente com a retirada da auto-nomia de compras e o bloqueio dos CNPJs. Em segundo lugar, procedeu-se à cobertura emergencial dos débitos mais prementes e a regularização das contratações indevidas. Além disso, foram celebrados convênios com a Secretaria Estadual de Saúde e com o Ministério da Saúde, viabilizando recursos emergenciais para su-perar o desabastecimento das instituições, o que inviabilizava a recuperação do seu faturamento.

As bases para uma reconstrução institucional dotada de maior sustentabilidade foram dadas quando, no início do ano de 2003, no auge da polêmica que resultou na rescisão do convênio com a Fundação Baiana de Cardiologia, a Reitoria solicitou ao Ministro da Saúde incluir a UFBA no plano nacional de recuperação dos hospitais universitários. Foi então formada uma Comissão inter-ministerial, com consultores e técnicos das universidades envolvi-das e dos Ministérios da Saúde e da Educação.

No âmbito local, instituímos um Grupo de Trabalho, composto por membros dos conselhos de gestão dos órgãos que compunham a rede assistencial da UFBA, e uma representação da Comissão MEC-MS, além de consultoria fi nanciada pela Organização Panamericana da Saúde. O GT concluiu diagnóstico detalhado, apresentado no Seminário Nacional do Programa de Recuperação dos Hospitais Universitários do Brasil, realizado em Salvador (em agosto de 2003).

SOBRE A RESCISÃO DE CONVÊNIO COM A FBC 1. Em 27/01/2003, o Conselho Universitário (CONSUNI) recomen-dou à Reitoria rescindir o convênio UFBA-FBC e deliberou encami-nhar os processos pertinentes ao Ministério Público Federal (MPF) e à Controladoria Geral da União (CGU). 2. O MPF determinou a continuidade da prestação de serviços pela FBC-UCCV/HUPES, à época única provedora de assistência cardio-lógica de alta-complexidade ao SUS no município de Salvador. 3. Em 28/05/2003, o Reitor fi rmou Termo de Rescisão com a FBC, com desativação gradual das atividades da UCCV/HUPES, atenden-do ao CONSUNI e ao MPF.4. No âmbito da Reitoria, foi designada em 24/09/2003 uma Comis-são Especial para supervisionar o TR UFBA-FBC e em 15/01/2004 foi estabelecida uma Comissão de avaliação patrimonial da UCCV. No âmbito do HUPES, sob supervisão da Coordenação de Controle Interno da UFBA, foi constituída Comissão Técnica para revisão do tombamento dos bens e equipamentos localizados na UCCV/HUPES. 5. Entre 27/10/2003 e 06/12/2003, atendendo demanda do MP Fede-ral na Bahia, o DENASUS realizou auditoria na FBC, para apurar “pos-sível prática de delitos contra a Administração Pública e contra a ordem tributária, consistentes em irregularidades na contabilidade da FBC”. 6. A cessação de todas as operações da FBC no HUPES/UFBA ocor-reu em 28/11/2003, sem prorrogações. 7. A UFBA foi instruída a contratar auditoria independente para os distratos patrimonial e contábil. A contratada (HLB Audilink, em-presa de auditagem sediada em São Paulo, portadora de franquia in-ternacional) encontrou um débito da UFBA de R$ 37.453.023,15, a favor da FBC.8. Os relatórios técnicos DENASUS e HLB Audilink foram anali-sados pela Coordenadoria de Controle Interno da UFBA que, em 22/02/2005, contestou o Relatório Contábil da HLB Audilink, por inobservância de regras básicas de auditoria e parcialidade nas inter-pretações. 9. A partir do exame do material levantado pela própria empresa de auditoria contratada, a Coordenadoria de Controle Interno da UFBA concluiu que a Fundação Baiana de Cardiologia devia à UFBA um total de R$ 47.971.744,66. 10. Após exame detalhado do processo em causa, a Reitoria decidiu acatar todas as recomendações da sua Coordenadoria de Controle Interno no tocante ao balanço contábil, com imediata remessa do Processo 23066.002690/05-04/PROPLAD/UFBA à Controladoria Geral da União, seguindo o item 9.3 do Acórdão n. 1.860/2003/TCU/Plenário. O processo foi encaminhado ao MP Federal para as devidas providências referentes ao ressarcimento de eventuais danos ao Erário Público.

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A análise de situação permitiu identifi car sérios problemas estru-turais no sistema de prestação de serviços de saúde da UFBA. Em primeiro lugar, destacava-se a multiplicidade, diversidade e redun-dância do conjunto, totalizando 10 unidades e órgãos envolvidos em atividades docente-assistenciais e/ou simplesmente prestação de serviços. Além da quase inexistente coordenação administrativa e pedagógica, verifi cava-se marcante fragmentação das atividades assistenciais: órgãos e serviços (ambulatórios e enfermarias), vincu-lados às antigas cátedras, eram geridos em regime quase autônomo.

Do ponto de vista da sua inserção no sistema público de saúde, ressaltava a ausência de um projeto assistencial, produzindo um frágil vínculo com a rede estadual do SUS. Por outro lado, também havia ausência de um modelo pedagógico claro, com defi ciente integração docente-assistencial e pouca interação com outras escolas da área de saúde. No que se refere à estrutura de gestão, observava-se um pa-pel reduzido das instâncias formalmente responsáveis pela supervisão da gestão das instituições. Daí resultava um modelo de gestão pouco profi ssional, dando margem à inefi ciência administrativa e fi nanceira, importante fonte de desperdício de recursos humanos e fi nanceiros.

Os elementos conjunturais da crise foram gradualmente sendo identifi cados e, na medida do possível, corrigidos. Estancado o dre-no fi nanceiro, renegociadas as dívidas com fornecedores, pactuada a inserção do sistema no SUS, superadas as questões jurídicas, es-tabilizada a gestão administrativa do sistema, buscamos aproveitar a crise como oportunidade para uma reconstrução institucional dotada de maior sustentabilidade.

Nesse sentido, aproveitando disponibilidade manifesta pela Se-cretaria Estadual de Saúde, em 2007, iniciamos processo de in-corporação do Hospital Ana Nery ao sistema de saúde da UFBA. Trata-se de uma unidade assistencial de alta complexidade, cre-denciada como hospital-escola, com reconhecida excelência nas áreas da nefrologia e da cardiologia. O processo de federalização do HAN encontra-se ainda em curso, porém essa iniciativa permi-tiu inclusive repor a lacuna na área da assistência cardiovascular provocada pela suspensão do convênio UFBA-FBC.

Do ponto de vista administrativo e fi nanceiro, alguns dados de-monstram hoje um cenário muito distinto da situação encontrada em 2002:

• o HUPES atualmente opera com 203 leitos e, neste ano, apresenta um faturamento mensal em tor-no de 3,5 milhões;

• a MCO mantém hoje 103 leitos e tem faturamento mensal de 790 mil;

• o HAN funciona com 223 leitos e atinge um faturamento mensal em torno de 4,1 milhões;

• o fundo de reserva para pessoal foi parcialmente recomposto, al-cançando agora o montante de 6,7 milhões;

• não há mais títulos protestados, resultado de contínuo monitora-mento junto a fornecedores, e as dívidas históricas foram renego-ciadas, encontrando-se em pro-cesso de quitação.

A análise da situação, além de iden-tifi car soluções de emergência para imediata aplicação, conforme relata-do acima, permitiu reconhecer sérios problemas estruturais no sistema de prestação de serviços universitários de saúde da UFBA que sobrevêm de lon-ga data. Tais problemas determinavam distorções em três aspectos: em pri-meiro lugar, modelo assistencial dis-sociado do SUS; segundo, modelo de gestão pouco profi ssional, permitindo inefi ciência administrativa e fi nancei-ra, fonte dos numerosos elementos conjunturais da crise; terceiro, modelo pedagógico distanciado das unidades universitárias, pesquisa e extensão.

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Considerando tal situação, foram propostas e implementadas estratégias de reestruturação institucional, visando a correções de rumo dos modelos assistencial, pedagógico e de gestão do conjun-to de órgãos de prestação de serviços de saúde e docente-assis-tenciais da UFBA através da criação de um sistema integrado de assistência à saúde.

O projeto do Sistema Universitário de Saúde UFBA (SUS-UF-BA) foi apresentado ao CONSUNI em agosto de 2007, tendo sido aprovado no contexto da redefi nição dos órgãos estruturantes da UFBA. Com a incorporação do Hospital Ana Nery, a estrutura do sistema compreende 9 Unidades Docente-Assistenciais coordena-das por uma Superintendência de Saúde.

A fi m de propiciar as condições necessárias à viabilização do Sistema, abrimos profícuo diálogo com lideranças institucionais e sindicais associadas aos grupos em atividade nos serviços de saúde da UFBA. No que concerne à herança política institucional, busca-mos uma indicação consensual de interlocutores para a abertura de mesas de negociações conjuntas, em todas as etapas do processo. A meta dessa negociação foi construir pactos mínimos para os proje-tos assistencial e pedagógico e para um novo modelo de gestão do Sistema de Saúde UFBA. Em paralelo e em fi na sintonia com os res-pectivos Conselhos Deliberativos, formamos equipes de consultores a fi m de rever estrutura e funcionamento dos organismos, com vistas à sustentabilidade futura do Sistema Universitário de Saúde UFBA.

Dentro do princípio constitucional da efi ciência do Serviço Pú-blico, ao lidar com a crise dos hospitais universitários da UFBA, procuramos sempre criar ou ajustar estruturas capazes de superar a centralização de processos decisórios sobre atividades específi cas da rotina de prestação de serviços. Dessa maneira, avançamos no sentido de racionalizar os recursos assistenciais e otimizar equi-pamentos e programas de ensino, evitando desperdícios e preen-chendo lacunas, tanto no ensino como na assistência. Entretanto, face à magnitude dos problemas herdados por uma estrutura jurí-dica e institucional defeituosa, o que afeta praticamente a todas as universidades brasileiras, muito ainda há que se fazer para garantir o equilíbrio fi nanceiro e a viabilidade administrativa da rede de hospitais universitários, essencial para a formação de alta qualida-de acadêmica e científi ca dos profi ssionais de saúde no Brasil.

ÓRGÃOS DO SISTEMA DE SAÚDE DA UFBA Complexo Hospitalar Universitário Professor Edgard Santos (C-HUPES): Órgão suplementar da UFBA, certifi cado como hospital de ensino pela Portaria Interministerial nº 2378/04 (26/10/2004). É uma unidade hospitalar e ambulatorial, pública, geral, de grande porte, in-tegrante do Sistema Único de Saúde – SUS, referência em Média e Alta Complexidade, que visa a desenvolver atividades de suporte ao ensino, pesquisa e extensão na área de saúde, formando recursos hu-manos voltados para a prática de ensino, pesquisa e assistência à saúde da população e produzir conhecimento em benefício da coletividade.

Maternidade Climério de Oliveira (MCO): Órgão suplementar da UFBA visa à pesquisa, ao ensino e à assistência à saúde da população. É um Hospital de média complexidade e desde 2005 é o único com cer-tifi cação como Hospital de Ensino no Estado da Bahia na área de Pe-rinatologia. É um Centro de Referência inserido no Distrito Sanitário do Centro Histórico com serviços de Urgência e Emergência 24 horas.

Hospital Ana Nery (HAN): Hospital geral, de médio porte, de assis-tência terciária, que realiza atendimento em regime de internação hos-pitalar, por demanda espontânea e referenciada, nas especialidades de Clínica Médica, Cirurgia Geral, Cirurgia Plástica, Urologia, Cardiologia Clínica e Cirúrgica (adulto e pediátrica), Nefrologia (adulto) e Cuida-dos Intensivos. Como integrante dos Hospitais Federais do Ministério da Saúde, visa a se tornar um hospital de ensino, voltado para o aten-dimento de alta complexidade na área da Cardiologia e da Nefrologia.

Centro de Promoção da Saúde Doutor Rubens Brasil Soares: ativi-dades individuais e coletivas de promoção e prevenção de agravos à saúde, como perícias e assistências médicas essencialmente curativas, na própria Unidade e em domicilio, está voltada essencialmente para formação de cuidadores e acompanhamento de doentes crônicos. Pres-ta assistência médica e social, com base na Assistência Estudantil e no Programa de Saúde do Trabalhador. Constitui-se em Unidade do Siste-ma Integrado de Assistência à Saúde do Servidor (SIASS).

Sistema Laboratorial UFBA: 10 laboratórios que atendem a pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS), nas áreas de imunologia, biologia molecular, bioquímica, doenças autoimunes e alergias, doenças infeccio-sas, toxicologia, hematologia, parasitologia, microbiologia e oncologia.

Clínica de Dietoterapia da Escola de Nutrição: São 4 consultórios que mantêm atendimento nas diversas especialidades à população há mais de 26 anos.

Ambulatório de Odontologia Clínica da Faculdade de Odontologia.

Centro Docente Assistencial de Fonoaudiologia (CEDAF).

Serviço de Psicologia João Mendonça.

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RESTAURAÇÃO DA FACULDADE DE MEDICINA DO TERREIRO

O prédio da antiga Faculdade de Medicina da Bahia, localizado no Terreiro de Jesus, é um dos mais importantes monumentos do conjunto arquitetônico do Centro Histórico de Salvador, tom-bado em 1983 pela UNESCO como Patrimônio da Humanida-de. Erguido no bairro onde teve início a povoação da cidade de Salvador, com a chegada de Thomé de Souza em 1549, o prédio abrigou desde 1551 o Colégio da Companhia de Jesus, estabele-cimento educacional modelo dos Jesuítas nas Américas no século XVII, até tornar-se a sede do Hospital Real Militar.

A Carta-Régia que autorizou a instalação do Colégio Médico-Chirurgico da Bahia, assinada pelo Príncipe Regente Dom João em 18 de fevereiro de 1808, foi um ousado ato político. Além de inaugurar nossa instituição, marcou, a um só tempo, o início da educação superior e do ensino médico no Brasil. Durante todo o século XIX, a Faculdade de Medicina foi sendo ampliada com a incorporação do ensino de Farmácia, Odontologia e Obstetrícia. Em 1905, após um incêndio criminoso, o prédio foi reformado e ampliado, dando lugar a um complexo de instalações de ensino e pesquisa avançado para a época, composto por quatro blocos: Ala Nobre (setor administrativo), Ala Nordeste (salas de aula), Biblioteca e pavilhões de auditórios e laboratórios. A partir da dé-

cada de 1930, o complexo passou por mutilações arquitetônicas advindas de novas fi nalidades – como a instalação do Instituto Médico-Legal no térreo da Biblioteca – e do aumento do contin-gente estudantil.

Em 1946, a Universidade da Bahia foi constituída pela união das faculdades de Direito, Medicina, Filosofi a e Letras e Escola Po-litécnica da Bahia. Durante os anos 1960, as atividades de ensino médico foram gradativamente transferidas para novas instalações no Campus Canela. Na década de 1980, a Ala Nobre foi reforma-da para abrigar o Memorial da Medicina Brasileira e Museu Afro-Brasileiro. O Instituto Médico-Legal Nina Rodrigues transferiu-se para um prédio próprio. Escavações arqueológicas descobriram catacumbas e alicerces do antigo Colégio de Jesus que passaram a abrigar o Museu de Arqueologia e Etnologia da UFBA.

RESTAURAÇÃO DA ALA NOBRE

Desde a transferência das atividades de ensino do curso médi-co para o Campus Canela, a restauração e preservação do valioso complexo monumental, patrimônio da cultura baiana, têm cons-tituído enorme desafi o para os gestores da Universidade Federal da Bahia. Oito reitores da UFBA e nove diretores da Faculdade de Medicina enfrentaram, com variado grau de difi culdades, soluções

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e resultados, esta questão. As sucessivas emendas parlamentares, com que a bancada baiana no Congresso Nacional passou a apoiar a UFBA desde 1998, eram totalmente consumidas pelas priorida-des de infraestrutura do ensino de graduação e nunca puderam ser destinadas à tão nobre causa.

Quando assumimos a Reitoria em 2002, buscamos inicialmen-te promover a continuidade das incipientes iniciativas de restaura-ção da sede da antiga Faculdade de Medicina da Bahia, desenvol-vidas por entidades, comissões e programas de extensão da nossa universidade e de outras instituições. Além disso, delineamos uma estratégia baseada em quatro princípios:

• aplicar o conceito de Complexo Monumental ao conjunto de imóveis históricos da Faculdade de Medicina da Bahia;

• segmentar, por critérios de localização, o conjunto de imó-veis em blocos arquitetônicos sob demanda de restauro, re-conhecendo suas especifi cidades;

• identifi car as potencialidades de uso social do Complexo Mo-numental, desenhando propostas de sustentabilidade capazes de viabilizar a captação de apoio fi nanceiro e institucional;

• mobilizar apoios internos e externos à UFBA, visando à conscientização da sociedade baiana e brasileira sobre o seu valor cultural e histórico.

Estado da Faculdade de Medicina quando do

início da restauração

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Uma equipe técnica da Faculdade de Arquitetura, através do Projeto Escola-Ofi cina, com patrocínio da Agência Espanhola de Cooperação Internacional e apoio da Prefeitura Municipal de Sal-vador, aplicou os critérios delineados e identifi cou quatro blocos arquitetônicos necessitados de obras de restauro: Ala Nobre, Ala Nordeste, Biblioteca, Setor de Pavilhões. Com a reinauguração do formoso Salão Nobre, em 18 de fevereiro de 2008, como parte dos festejos do Bicentenário da Faculdade de Medicina da Bahia, constatamos os resultados positivos dessa estratégia.

A Ala Nordeste, cuja reforma encontramos em andamento, havia sido concluída ainda em 2006. Mas a restauração da Ala Nobre e do solene Salão de Atos merece ter sua história conta-da. A Comissão de Antigos Alunos, junto com a Reitoria, desde 2003, havia tentado várias possibilidades de captação de apoio fi nanceiro. Finalmente, junto com representantes das entidades médicas, decidimos recorrer ao Ministério da Cultura, entre-gando ao Ministro Gilberto Gil um documento-apelo, em ple-no palco da Recepção Calourosa de 2006. Filho de um médico formado na Faculdade, Gil sensibilizou-se e encarregou o então Secretário Juca Ferreira de encaminhar a questão. Com o patro-cínio da Petrobrás, através da Lei de Incentivo à Cultura, o Mi-nistério da Cultura fi nalmente conseguiu garantir a viabilização fi nanceira desta etapa. Nosso reconhecimento à Petrobrás S/A, com apoio do Ministério da Cultura, através da Lei de Incentivo à Cultura, pela restauração deste solene Salão Nobre de Atos e da Ala Nobre da Faculdade de Medicina da Bahia. Nesse aspecto, cabe destacar o empenho do Prof. Osvaldo Barreto, na época, Superintendente da Fundação de Apoio à Pesquisa e Extensão/FAPEX, e sua equipe, que concluíram o Projeto – complexo, intricado e detalhado – em uma semana.

Restava resolver a questão de como restaurar os pavilhões da Ala Oeste, arruinados e sem uso há mais de 30 anos e que nunca sofreram qualquer restauro.

O Governo do Estado da Bahia, através da Secretaria de Saúde do Estado da Bahia, propôs neles instalar um complexo de edu-cação permanente em saúde, com a Escola de Saúde Pública José Maria de Magalhães Neto e a Escola Técnica de Saúde Aristides Novis, criando as bases para uma Universidade Aberta do SUS em

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parceria com a UFBA. Na festa do Bicentenário, o Governador Jacques Wagner fi rmou um Protocolo de Intenções, destinando recursos sufi cientes para completar a restauração do Complexo Monumental da Faculdade de Medicina da Bahia. A Congrega-ção da Faculdade, inicialmente, entusiasmou-se com a proposta, aprovando-a por unanimidade, porém, posteriormente, preferiu destinar o conjunto de pavilhões para outras atividades (e os re-cursos foram devolvidos ao Fundo Nacional de Saúde).

MUTIRÃO DA BIBLIOTHECA MEMORIAL

Criada ofi cialmente em 1836, a Biblioteca da antiga Faculdade de Medicina da Bahia, sofreu ao longo do tempo as consequên-cias do descaso com a história da medicina na Bahia e no Brasil registrada neste inestimável acervo. Durante 125 anos, a Biblio-theca da Faculdade de Medicina e Farmácia da Bahia consolidou-se como principal biblioteca universitária do nosso Estado. Após a reforma de 1908, a Bi-bliotheca foi instalada em um anexo construído em torno de uma torre de ferro naval, mon-tada num estaleiro de Berlim, com cinco andares de estantes articuladas e corredores de piso de vidro. A partir da década de 1930, ocorreram mutilações arquitetônicas na biblioteca, já batizada como Bibliotheca Gonçalo Moniz, com a instala-ção da morgue municipal.

Como vimos acima, na dé-cada de 1980, a Ala Nobre foi reformada para abrigar o Me-morial da Medicina Brasileira. Porém, a Ala Nordeste e o Con-junto de Pavilhões, com seus solenes auditórios e anfi teatros, pa-vilhões de aulas e numerosos laboratórios, fi caram abandonados, transformando-se em dantesca ruína. Da Bibliotheca foram reti-rados livros e revistas que, na época, pareciam modernos e su-

postamente adequados à nova escola. Separaram também alguns documentos que teriam maior importância histórica, selecionados para exibição no Memorial da Medicina Brasileira. Deixaram para trás o restante do acervo: milhares de volumes amontoados em estantes enferrujadas, dividindo espaço nos velhos corredores e salões com móveis e equipamentos descartados, na companhia de ratos, morcegos e pombos.

Aqui, nesta terra que se pretende berço da cultura nacional, mi-lhares de livros valiosos foram abandonados, condenados a apodre-cer, encerrados em uma ruína. Deixaram enterrar vivo o acervo da maravilhosa Bibliotheca da antiga Faculdade de Medicina da Bahia.

Duas vezes ao ano, normalmente por ocasião dos festejos do Dia do Médico, em outubro, e do aniversário da Faculdade de Medicina em fevereiro, realizava-se um estranho ritual. Dedicados profi ssionais de saúde, ex-alunos da velha escola, abriam as portas do pavilhão em ruínas, convocavam a imprensa para registrar e divulgar o escandaloso abandono. Sensíveis e bem intencionados, expunham indignados seus sentimentos de revolta e impotência.

UMA GRANDE BIBLIOTHECA

No seu apogeu, a Bibliotheca possuía a maior coleção de livros e revistas científi cas da área de saúde em toda a Amé-rica Latina um valioso acervo estimado em 160 mil volu-mes. Abrigava livros raros, de origem principalmente fran-cesa e alemã, desde meados do século XIX até a primeira metade do século XX. Havia coleções completas de perió-dicos e atas científi cas, desta-cando-se as famosas Thèses da Universidade de Paris e os Jahrbuchen da Universidade de Berlim.

Uma das equipes do mutirão

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Pretendiam chamar a atenção de autoridades e da opinião públi-ca para aquele crime cultural. Em alguns anos, as denúncias até alcançaram mídia nacional. Entretanto, passado o impacto, as pe-sadas portas da Bibliotheca fechavam-se e novamente se escondia a chaga infame.

Em 2003, a sociedade baiana fi nalmente começou a se mobi-lizar para salvar o que restava da Bibliotheca. No aniversário da Faculdade de Medicina daquele ano, o Reitor concluiu a cerimô-nia de modo inusitado: desafi ou os presentes a superar a denún-cia emocionada, mas paralisante, tomando a iniciativa de efetiva-mente resgatar o acervo bibliográfi co sob vergonhosa degradação. Inicialmente constrangidos e logo em seguida entusiasmados, os participantes da solenidade seguiram os membros da mesa ceri-monial até às portas da Bibliotheca, abriram-na e reverencialmen-te recolheram alguns exemplares dos livros abandonados.

A partir daí, em regime de mutirão, mais de uma centena de voluntários se revezaram todos os sábados, durante um ano in-teiro. Professores, servidores, estudantes e ex-alunos da Univer-sidade Federal da Bahia e de outras instituições, usando as pró-prias mãos, removeram para lugar seguro o que restava do acervo. Éramos de fato poucos, mas contamos com a ajuda do Corpo de Bombeiros e da VI Região Militar. Por terem demonstrado entu-siasmo e dedicação no mutirão de resgate dos livros, fazemos uma

menção especial ao Prof. Antonio Nery Filho, e seus alunos da Academética, e à Bibliotecária Graça Ribeiro, Diretora do Sistema de Bibliotecas da UFBA, e sua equipe.

No fi m do trabalho, mais de cem mil volumes haviam sido res-gatados das ruínas. Infelizmente, para um terço do valioso acervo bibliográfi co, a ajuda chegou tarde. Mais de cinquenta mil volu-mes já se haviam transformado em pasta de celulose, crestada, contaminada por fungos, vergonhoso monumento à incúria e ao descaso. Entretanto, o salvamento desse importante acervo signifi -cou apenas o começo de uma tarefa muito maior. Os livros salvos da destruição precisavam passar por um difícil e dispendioso tra-balho de restauração.

Em 2004, o Ministério da Saúde, através da sua Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos, fi rmou convênio vi-sando à recuperação arquitetônica do imóvel e implantação de um laboratório de restauro de obras raras. Além disso, conseguimos o apoio da Biblioteca Regional de Medicina-BIREME, organismo da Organização Panamericana da Saúde dedicado à sistematização e difusão de informação científi ca em saúde na América Latina. Os trabalhos de restauração arquitetônica foram iniciados em 2005 e, na presente data, encontram-se quase concluídos. Quanto ao acervo bibliográfi co, quase 40 mil livros e documentos raros já foram restaurados.

acervo bibliográfi co danifi cado

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Em 2006, o Conselho Universitário aprovou por unanimidade a criação do Sistema de Bibliotecas da UFBA, incorporando à sua gestão a Bibliotheca Gonçalo Moniz Memorial da Saúde Brasilei-ra, destinada a abrigar o acervo bibliográfi co de importância his-tórica da área de saúde. De volta às estantes, os livros resgatados e restaurados poderão ser consultados, lidos e admirados como parte do acervo da nova biblioteca. As gerações futuras de estu-dantes e pesquisadores terão oportunidade de melhor conhecer e estudar um pequeno, mas crucial, elemento de uma das mais ricas tradições intelectuais e científi cas da ciência brasileira, orgulho da Bahia e do Brasil.

Visita dos Príncipes das Astúrias à obra da Biblioteca da Faculdade de Medicina da Bahia

Restauração física e do acervo

da Bibliotheca da Faculdade

de Medicina da Bahia

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CRIAÇÃO DA UFRB

Em 200 anos de história, a Universidade Federal da Bahia tem operado mais como uma universidade de Salvador. Isto refl ete o padrão litorâneo de ocupação do território baiano quando da criação das faculdades que a originaram, no século 19. Também, resulta do contexto da época de sua organização enquanto uni-versidade, nos anos 40 e 50, quando ainda havia em nosso Estado um distanciamento geopolítico e cultural entre interior e capital.

Como vimos acima, em 2002, realizamos uma série de ofi cinas de trabalho que geraram uma pauta de ação a partir do debate e ajuste dos pontos programáticos do Plano de Metas 2002-2006. Dentre os seus princípios, esse Plano destacava o cumprimento da missão social da universidade como elemento crucial para sua revalorização enquanto instituição comprometida com a trans-formação da sociedade. Parte dessa função inclui a ampliação do papel da UFBA no desenvolvimento local, regional e nacional, mediante, entre outras estratégias, ações de interiorização das ati-vidades de ensino, pesquisa e extensão.

Planejamos inicialmente atingir essas metas mediante algumas possibilidades:

• autonomizar estruturas da UFBA já instaladas, como por exemplo programas de pesquisa e unidades universitárias em Cruz das Almas, Oliveira dos Campinhos e Entre-Rios;

• descentralizar o processo seletivo do Vestibular para polos regionais do interior da Bahia;

• realizar parcerias com outras instituições de ensino superior sediadas ou atuantes no interior do Estado;

• organizar novas estruturas de operação ou estender ao in-terior programas em curso, como por exemplo núcleos de extensão e pesquisa;

• implantar campi avançados ou plenos da UFBA em regiões distantes do Estado da Bahia.

Em 7 de outubro de 2002, após as eleições gerais, apresentamos às bancadas legislativas da Bahia o plano de trabalho 2003-2006 que, entre outros objetivos, previa “desconcentrar a atuação da UFBA no Estado da Bahia”, priorizando duas estratégias: por um lado, criar a

INTERIORIZAÇÃO COM ATRASO O processo de interiorização do ensino superior no Estado da Bahia foi muito lento e por muito tempo restringiu-se à Esco-la de Agronomia da UFBA. Em 1960 foi implantada a Escola de Agronomia de Juazeiro e, nessa mesma década, registra-se o surgimento de algumas escolas superiores particulares no eixo Ilhéus/Itabuna. A interiorização do ensino superior no Estado da Bahia ganhou maior fôlego a partir da década de 80, por meio da criação de quatro universidades vinculadas ao governo esta-dual (UNEB, UEFS, UESB e UESC) e, mais recentemente, com a criação de centros de ensino vinculados à iniciativa privada. Ao contrário de outros estados brasileiros, verifi cou-se na Bahia mar-cante ausência das bancadas parlamentares e dos sucessivos go-vernos estaduais e federais neste processo.

Escola de Agronomia da UFBA em Cruz das Almas

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Universidade Federal do Recôncavo da Bahia mediante desmembra-mento da Escola de Agronomia e, por outro lado, implantar campi avançados da UFBA no interior do Estado.

A sociedade baiana há muito ansiava pela criação de uma nova Universidade Federal a partir da Escola de Agronomia da UFBA, situada em Cruz das Almas. Nas últimas décadas, diversos docu-mentos com essa proposta haviam sido encaminhados, sem su-cesso, à Presidência da República, ao Ministério da Educação e à Câmara Federal.

Em 14 de março de 2003, convocamos uma sessão extraordiná-ria do nosso Conselho Universitário para Cruz das Almas, reunido fora de Salvador pela primeira vez em sua história. Constituímos então um grupo de estudos de viabilidade para elaborar a propos-ta formal. Tais iniciativas abriram um rico processo de discussão que mobilizou o cenário político baiano.

Entre junho e outubro de 2003, foram realizadas 28 reuniões e audiências públicas em 12 municípios da região do Recôncavo (Amargosa, Cachoeira, Castro Alves, Cruz das Almas, Maragogi-pe, Mutuípe, Nazaré das Farinhas, Santo Amaro, Santo Antônio de Jesus, São Félix, Terra Nova e Valença). Comunidades inteiras paravam para receber, pela primeira vez, uma delegação univer-sitária; políticos de todos os partidos participavam dos eventos, registrando adesão ao projeto.

A proposta, aprovada por unanimidade em todas as instâncias da UFBA, deu entrada no Ministério da Educação em maio de 2004. O projeto demorou na burocracia do MEC, mas, afi nal, deu entrada no Congresso, onde tramitou com rapidez pelas comis-sões pertinentes, sendo aprovado, em julho de 2005, na Câmara e no Senado. A sanção presidencial da lei de criação da UFRB (Lei Federal nº 11.151) ocorreu no dia da posse do novo Ministro da Educação, em 29 de julho de 2005.

O desenho institucional antevia uma instituição multicampi voltada para o desenvolvimento regional, respeitando vocações locais, a ser implantado de forma modular, num período de qua-tro anos, dependendo das condições orçamentárias da União e das contribuições dos poderes municipal e estadual ao processo. Na primeira etapa de implantação, foram instalados os campi de Cruz das Almas (sede), Santo Antônio de Jesus, Cachoeira e Amargosa.

A UFRB estrutura-se em Centros de Ciências, nucleados por áreas temáticas reconhecidas pela comunidade acadêmica: Centro de Ciências Agrárias, Ambientais e Biológicas; Centro de Ciências Sociais Aplicadas; Centro de Humanidades, Artes e Letras; Centro de Formação de Professores; Centro de Ciências Tecnológicas e Exatas; Centro de Ciências da Saúde. Os Centros foram criados com base numa visão administrativa integrativa, multifuncional, multi e interdisciplinar, para desenvolver atividades de ensino, pesquisa e extensão que abordem, preferencialmente, o Recôn-cavo como região de aprendizagem. Para o desenvolvimento das suas atividades-fi m, os Centros estão estruturados em colegiados e núcleos de pesquisa e extensão.

IMPERIAL INSTITUTO BAIANO DE AGRICULTURA O Imperial Instituto Baiano de Agricultura, criado pelo Imperador D. Pedro II em 1859, foi instalado no Mosteiro São Bento das Lages numa área hoje integrante do mu-nicípio de São Francisco do Conde. Permaneceu nesta localidade até 1929 quando foi transferida para Salvador. Em 1943, com o nome de Escola Agronômica da Bahia, foi instalada no município de Cruz das Almas. Incorporada à Univer-sidade Federal da Bahia a partir de 1967, passou a denominar-se Escola de Agronomia da UFBA. Já como Centro de Ciências Agrárias e Ambientais da UFBA, nos últi-mos cinco anos, esta unidade de ensino oferecia 120 vagas de gra-duação e tinha uma média de 700 estudantes matriculados.

Ata Imperial assinada por D. Pedro II

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A implantação inicial se deu sob tutoria da UFBA, entre de-zembro de 2005 e julho de 2006, através de um Grupo de Traba-lho coordenado pelo Vice-Reitor, professor Francisco José Gomes Mesquita. Em 03 de julho de 2006, a nova universidade iniciou suas atividades e o Professor Paulo Gabriel Soledade Nacif tor-nou-se seu primeiro dirigente, como Reitor pro tempore.

Hoje, a UFRB oferece 35 cursos de graduação, 7 mestrados e 1 doutorado, distribuídos pelos campi das cidades de Cruz das Almas, Cachoeira, Santo Antônio de Jesus e Amargosa. Conta atualmente com 435 professores e 552 servidores; acolhe 4.735 estudantes na Graduação, 159 em cursos de Mestrado e 36 no Doutorado. Com 12 novos cursos abertos em 2010, a universida-de aumentou sua oferta para 2.365 vagas de graduação, utilizando o ENEM como processo seletivo único. Essa expansão se deve à adesão da UFRB ao Programa REUNI, a partir de 2008.

Campi da UFRB em Cruz das Almas, Santo Antônio de Jesus e Amargosa, respectivamente

Campus da UFRB em Cachoeira-São Félix

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INTERIORIZAÇÃO DA UFBA

Do ponto de vista da Universidade Federal da Bahia, a imple-mentação de uma política de expansão com aumento da cober-tura territorial poderia trazer enormes benefícios, especialmente a redução da pressão do contingente de jovens do interior sobre o vestibular na Capital do Estado. Além disso, contribuiria para a di-minuição do custo social implicado no deslocamento de estudantes para realização do seu curso superior fora do domicílio original.

Acolhendo manifestações de lideranças sociais e políticas de diferentes regiões do Estado e atendendo a convite de autoridades municipais, participamos de eventos realizados em diversos polos regionais com vistas a debater formas de interiorização do ensino superior no Estado da Bahia. Nesse percurso, foram avaliadas seis propostas de campi avançados que, no decorrer do processo, al-cançaram diferentes estágios de desenvolvimento: Vitória da Con-quista; Irecê; Paulo Afonso; Barreiras; Simões Filho; Região Sul (Teixeira de Freitas e Porto Seguro). Em função da mobilização das respectivas comunidades e do apoio político que lograram an-gariar, duas dessas propostas chegaram a ser implantadas: o Cam-pus Anísio Teixeira em Vitória da Conquista e o Campus Reitor Edgard Santos na cidade de Barreiras.

CAMPUS ANÍSIO TEIXEIRA EM VITÓRIA DA CONQUISTA

Vitória da Conquista é um importante polo regional da região do Sudoeste Baiano, distando cerca de 600 km de Salvador, com uma população de 280 mil habitantes. Situada num importante entroncamento rodoviário (BR-116 e BR-415), desenvolveu-se como um centro comercial, agropecuário e, recentemente, como complexo industrial de médio porte. O município polariza 82 municípios da Bahia e do Norte de Minas Gerais, somando uma população de quase dois milhões de habitantes.

Localizado em Vitória da Conquista, o Campus Anísio Teixeira foi criado em 18 de julho de 2005, através da Resolução 02/2005 do Conselho Universitário da UFBA, sendo regulamentado ainda pela Portaria nº 813 do Ministério de Estado da Educação, publi-cado no DOU nº 165 de 27/08/2007. Compõe-se de uma única unidade universitária, o Instituto Multiprofi ssional de Saúde (IMS/

UFBA), que atualmente conta com um quadro de 59 docentes em dedicação exclusiva, 17 professores substitutos, 44 servidores técni-cos e administrativos, além de 18 prestadores de serviço.

As atividades acadêmicas do IMS/UFBA começaram em 23 de outubro de 2006, com três cursos de graduação (Enfermagem, Nutrição e Farmácia), contando com 40 vagas anuais cada. Em 2009, foram implantados mais dois cursos de graduação (Ciên-cias Biológicas e Biotecnologia) com a oferta de 45 vagas anuais para cada um. Em 2010, foi implantado o curso de graduação em Psicologia, fruto da adesão da UFBA ao programa REUNI, com a oferta de 45 vagas anuais. Em setembro de 2008, foi instalado o Programa Multicêntrico de Pós-Graduação em Ciências Fisiológi-cas, primeiro curso de pós-graduação do IMS/UFBA. O Programa foi aprovado pela CAPES, com conceito 4, nos níveis de mestrado e doutorado. Atualmente, o IMS/UFBA oferece um total de 255 vagas e acolhe 724 estudantes de graduação.

Campus Anísio Teixeira, em Vitória da Conquista

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O IMS/UFBA foi instalado provisoriamente no Mó-dulo I da Escola de Formação em Saúde da Família, espaço cedido provisoriamente pela Prefeitura Muni-cipal de Vitória da Conquista. As atividades acadêmi-cas foram todas concentradas neste módulo até o mo-mento em que as aulas teóricas foram transferidas para o Colégio Politécnico Boock, por conta de uma nova entrada de estudantes no semestre 2008.1. Assim, o IMS/UFBA teve parte de suas atividades funcionando neste espaço de março a julho de 2008.

A implantação da estrutura defi nitiva do campus em instalações próprias da UFBA tem acontecido de forma gradativa, na medida em que o Pavilhão de Laboratórios e o Pavilhão de Aulas foram postos em funcionamento. A partir de setembro de 2008, as ati-vidades que estavam funcionando no Colégio Politéc-nico passaram para o novo Pavilhão de Laboratórios do campus. Este pavilhão apresenta área total de 3.649,46 m2; é composto por 34 laboratórios, cada um com área padronizada de 61,50 m2. O Pavilhão de Aulas abri-gará provisoriamente a administração do IMS/UFBA e a Biblioteca. Além dessas estruturas, contém salas de aula, gabinetes de professores e um auditório para 120 pessoas. A área total desse prédio é de 4.284,60 m2. O pavilhão administrativo já se encontra em construção, com previsão de entrega para o fi nal de 2010.

A estrutura administrativa do IMS/UFBA inaugu-rou um novo modelo de organização dentro da UFBA. Sem divisão departamental, a unidade se organizou inicialmente com Diretoria, Congregação e Coorde-nação Acadêmica. Subordinada à Coordenação Acadê-mica, encontram-se uma Coordenação para cada curso e os seguintes Núcleos Acadêmicos: Núcleo Tecnolo-gia em Saúde (NTS), Núcleo Epidemiologia e Saúde Coletiva (NESC), Núcleo Complexo Produtivo de Saúde (NCPS) e Núcleo Ciências Naturais e da Vida (NCNV). O Instituto conta com uma Gerência Técni-co-Administrativa, com a competência de coordenar,

acompanhar, integrar e promover a articulação, a compatibilização e o desenvolvimento necessário para viabilizar o funcionamento do Instituto. O IMS/UFBA conta ainda com Biblioteca, Arquivo e um Núcleo de Tecnologia da Informação (NTI).

O IMS/UFBA tem funcionado com base no trabalho de comis-sões especiais, destacando-se: Comissão de Biblioteca, criada em 2006, com atribuições de acompanhamento, supervisão e orien-tação das atividades desenvolvidas pela Biblioteca do Instituto; Comissão de Avaliação Institucional (CAVI), funcionando desde 2008, responsável pela produção de dados e informações que for-neçam subsídios para planejamento e gestão institucional; Comitê de Ética em Pesquisa (CEP), em processo de implantação desde 2007, de caráter consultivo, normativo, deliberativo e educativo, criado para contribuir no desenvolvimento da pesquisa dentro de padrões ético-científi cos; Comissão de Biossegurança, funcio-nando desde 2007, tem por fi nalidade implementar condutas de biossegurança no IMS/UFBA, através de estudos das condições de riscos, atividades informativas e elaboração de protocolos.

Em parceria com a Secretaria Municipal de Saúde de Vitória da Conquista e a Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB), projetos importantes têm sido realizados na área de edu-cação superior em saúde. Entre 2008 e 2010, foram aprovados o projeto do Programa de Reorientação Profi ssional em Saúde (Pró-Saúde) em parceria com a SMS e o projeto do Programa de Edu-cação pelo Trabalho para a Saúde (PET-Saúde). Essas parcerias permitem que os estudantes de Medicina da UESB e de Farmá-cia, Enfermagem e Nutrição da UFBA compartilhem campos de prática nas Unidades de Saúde da Família (USF) do município. Destaca-se também o projeto “LAÇOS – Laboratório de expe-rimentação e criação de ofi cinas em saúde”, caracterizado como atividade de extensão em comunidade, realizado prioritariamente nas escolas da rede pública de ensino de Vitória da Conquista.

O Campus Anísio Teixeira, em sua fase inicial de implantação, foi administrado pela Professora Maria Anita Martinelli, Assessora da Pró-Reitoria de Graduação (PROGRAD), no período de 23 de outubro de 2006 a 06 de novembro do mesmo ano. A partir de 13 de fevereiro de 2007, até o presente momento, a Professora Dioneire Amparo dos Anjos ocupa o cargo de diretora pro tempore do novo instituto.

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Em sua curta trajetória, o IMS/UFBA superou uma série de desafi os, confl itos e impasses e já apresenta conquistas. Até o mo-mento, o Instituto vem construindo sua história com um grupo de jovens profi ssionais que reconhecem a importância que o campus possui para o desenvolvimento local e regional. Com esse espíri-to, pretende consolidar-se institucionalmente enquanto estrutura universitária autônoma, dinâmica e atenta aos desafi os que o en-sino superior público deverá enfrentar durante os próximos anos.

CAMPUS REITOR EDGARD SANTOS EM BARREIRAS

Situada às margens do Rio São Francisco, um dos mais impor-tantes do Brasil e do nordeste, a Região Oeste da Bahia apresenta superfície 162 mil km² e uma população de aproximadamente 700 mil habitantes. Abrange 32 municípios, tendo como cidade polo Barreiras, com aproximadamente 140 mil habitantes. A base econômica da região é essencialmente o agronegócio, destacando-se a produção de soja e algodão.

Por conta da posição geográfi ca e da sua importância econô-mica, a cidade de Barreiras recebe grande número de estudantes para cursar o ensino médio ou cursos superiores oferecidos pela Universidade Estadual da Bahia e por três faculdades privadas. A região conta ainda com o campus do IFBA – Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Bahia (antigo CEFET), instala-do na cidade desde 1993, oferecendo cursos tecnológicos. Apesar disso, observa-se um défi cit considerável no acesso à universida-de. Segundo dados da Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia (SEI), em 2000, o número de estudantes matri-culados em instituições de ensino superior correspondia a 0,33% do total de habitantes da região oeste. Não houve grande expan-são na oferta de vagas em cursos de nível superior na região, até a chegada da Universidade Federal da Bahia.

No dia 21 de novembro de 2005, foi aprovada a Resolução nº 04/05, que criou o Campus Professor Edgard Santos em Bar-reiras, pelo plenário do Conselho Universitário da Universidade Federal da Bahia – UFBA. Esse ato foi regulamentado pelo De-creto Presidencial nº 5.773 de 9 de maio de 2006. A implantação do Campus Professor Edgard Santos, no município de Barreiras, aconteceu ofi cialmente, em outubro de 2006, com a inauguração

de uma unidade universitária denominada Instituto de Ciências Ambientais e Desenvolvimento Sustentável (ICADS/UFBA), tendo como missão promover o desenvolvimento de atividades de ensino, pesquisa e extensão na região Oeste da Bahia.

O Campus Reitor Edgard Santos é o resultado de uma articula-ção entre diferentes níveis de governo e de parcerias institucionais visando, além da própria implantação, a condições ideais para sua manutenção. Tendo o meio ambiente e o desenvolvimento sus-tentável como premissas, entre os principais objetivos destaca-se a busca, desde seu início, por projetos de colaboração com diver-sas instituições vinculadas ao meio ambiente, assim como demais

Campus Reitor Edgard Santos, em Barreiras

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órgãos das administrações públicas nos três níveis, destacando-se as parcerias com prefeituras da região, com o governo do estado e com outras instituições de ensino superior, além de organizações de cunho social e iniciativa privada.

As atividades no Instituto se iniciaram em 23 de outubro de 2006, com 6 cursos de graduação: Administração, Ciências Bio-lógicas, Engenharia Sanitária e Ambiental, Geografi a, Geologia e Química, sendo oferecidas 40 vagas anuais cada. Em julho de 2007, a Congregação do ICADS/UFBA aprovou a criação do cur-so de graduação em Física. Em janeiro de 2008, foram aprovados os cursos de Engenharia Civil, Matemática, Física (com 40 vagas cada) e o Bacharelado Interdisciplinar em Ciências e Tecnologia, com 80 vagas. Em 2009, foram aprovados os cursos de História e o Bacharelado Interdisciplinar em Humanidades que entrou em funcionamento no 1º semestre de 2010. Os cursos de História e o BI de Humanidades são os primeiros cursos oferecidos no turno noturno do Instituto.

O ICADS/UFBA foi instalado em prédio doado pela Prefeitura Municipal de Barreiras, onde funcionou durante muitas décadas o Colégio Padre Vieira. Visando a permitir o funcionamento inicial da UFBA, o colégio passou por uma reforma. Com a conclusão das obras do Pavilhão de Laboratórios em 2008, e do Pavilhão de Aulas em 2009, o funcionamento do Campus foi dividido entre o Campus Padre Vieira no Centro, onde funcionam os cursos de Administração, História e BI de Humanidades, e o Campus da Prainha onde funcionam os demais cursos.

A implantação da estrutura defi nitiva do Campus implica construção de 11 prédios, por etapas. Na primeira etapa, foram construídos o Prédio de Laboratórios, composto de 32 laborató-rios, e o Pavilhão de Aulas I, que abriga salas de aula, gabinetes de professores e um auditório para 120 pessoas. Na segunda etapa, serão entregues o Pavilhão de Aulas II, também com auditório para 120 pessoas, e o Prédio da Biblioteca.

O ICADS/UFBA iniciou suas atividades com 40 professores, tendo como diretora pro tempore a Professora Joana Angélica Gui-marães da Luz, eleita pela comunidade acadêmica no ano seguin-te, iniciando seu mandato em outubro de 2007. Em março de 2007, com a realização do concurso, foram contratados 15 (quin-

ze) servidores técnico-administrativos. Atualmente o Instituto conta com um quadro funcional de 93 professores em dedicação exclusiva; 6 professores substitutos; 30 servidores técnicos e ad-ministrativos, sendo 12 de nível médio, 4 de nível técnico e 14 de nível superior.

Os investimentos aplicados no campus Edgard Santos, desde sua criação em 2006, com recursos de capital e custeio do pro-grama de expansão, alcançam cerca de R$ 20 milhões de Reais. Atualmente o instituto possui um campus de 60 hectares, com 5

Laboratórios no Campus de Barreiras

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COMENTÁRIO

Face a estes saudáveis mo-vimentos e inegáveis resulta-dos positivos, pensamos que é hora de refl etir sobre o que realmente signifi ca interiori-zar a Universidade. Conside-ramos que universidades não são escolas de terceiro grau, dedicadas exclusivamente ao ensino. Se assim fosse, seria relativamente fácil preencher salas de aulas com professores e estudantes. Porém, uma ver-dadeira universidade traz um compromisso ético com a pro-dução de conhecimento e com a transformação social. Por isso, durante os oito anos de nosso mandato, os esforços de inte-riorização e de inclusão social não implicaram mera expansão e redistribuição territorial de vagas no vestibular.

Envidamos esforços, assim, para criar uma rede de unidades descentralizadas da UFBA, no pleno âmbito da atuação universi-tária, com modelos inovadores de ensino e programas de pesquisa e extensão integrados a atividades de formação, sempre articula-dos ao desenvolvimento regional e nacional. Ao expandir a base territorial das atividades acadêmicas da UFBA e a cobertura da educação superior para todo o território baiano, nossa pretensão foi criar novos campi para que constituam sementes de universi-dades públicas, engajadas e competentes, essenciais para o desen-volvimento social e cultural do Estado da Bahia.

IMPACTOS DA INTERIO-RIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO SUPERIOR NA BAHIA Em 2002, na Bahia, apenas uma instituição federal – a UFBA – oferecia 3.851 vagas no Vestibular para 54 cursos de graduação localizados na Capital e apenas 1 no interior. Em 2010, a oferta de vagas públicas no ensino superior alcançou 11.411 vagas, em 154 cursos de graduação, em 10 campi de três universida-des federais: UFBA, UFRB, UNIVASF. Mais de 2/3 dessas vagas encontram-se em pólos regionais do interior. Em oito anos, tanto o número de cur-sos quanto a oferta de vagas cresceram em quase 200%, ampliando signifi cativamen-te a cobertura territorial da educação superior pública em instituições federais.

“... criar novos campi para que se constituam sementes de universidades públicas, engajadas e competentes, essenciais para o desenvolvimento social e cultural...”

prédios que abrigam 32 laboratórios de pesquisa e ensino, além de dois pavilhões de aula, biblioteca e prédio administrativo em iní-cio da construção. Em termos de pessoal, o ICADS/UFBA dispõe de 129 docentes em regime de dedicação exclusiva e 35 servido-res técnicos e administrativos.

A estrutura de departamentos não é seguida, de modo que o Instituto se caracteriza por um único órgão de lotação de docen-tes e servidores técnico-administrativos. Além da Direção e da Congregação, cada curso tem um colegiado, composto por cinco professores, dentre eles o coordenador que é também membro da Congregação. O Instituto conta ainda com uma Coordenação Acadêmica (incluindo um Núcleo de Apoio Acadêmico) e uma Gerência Técnica e Administrativa, composta por três núcleos: de Apoio Orçamentário e Financeiro e de Apoio Administrativo. Recentemente, foram criados os Núcleos de Apoio Estudantil e de Apoio à Extensão, todos ligados à Direção do ICADS/UFBA.

Atualmente, em pouco mais de dois anos de funcionamento, o ICADS já conta com cerca de 1.300 estudantes matriculados em doze cursos de graduação, fato que demonstra a grande demanda pelo ensino universitário na região e a rápida inserção da Univer-sidade no seu cotidiano.

Desde sua concepção inicial, o Campus Reitor Edgard Santos se apresenta como embrião da Universidade Federal da Bahia Oes-te. A estrutura física e humana atualmente disponível propiciará, relativamente, um baixo impacto orçamentário para tal proposta, pois a nucleação da futura Universidade já foi realizada no âmbito do ICADS/UFBA.

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Ações afi rmativas na UFBA

CAPÍTULO 4

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Ações afi rmativas na UFBA

Numa sociedade que se torna cada vez mais complexa do ponto de vista científi co e tecnológico, a educação superior aparece como inegável fator de empregabilidade e mobilidade social. Entretanto, como a universidade brasileira sempre foi uma instituição de for-mação das elites nacionais, os segmentos sociais ascendentes, como regra, encontravam enormes barreiras de acesso à educação superior.

Os processos de urbanização e modernização aumentaram a de-manda por ensino superior no Brasil, o que acirrou mais ainda a com-petição por vagas nas universidades públicas, melhores por qualquer indicador de qualidade e, além disso, gratuitas. Assim, além da persis-tente e vergonhosa chaga do analfabetismo estrutural, a dívida social da educação brasileira se manifesta também nos níveis superiores de ensino, confi gurando uma verdadeira perversão político-pedagógica.

A conjuntura atual da educação superior no Brasil, efeito e expressão particular dessa dívida social e política, caracteriza-se como um contexto de transição e de confl ito. A universidade bra-sileira no momento enfrenta dois problemas cruciais no tocante à sua missão civilizatória e formadora: o acesso restrito e socialmen-te seletivo (realizado através do anacrônico vestibular) e taxas de sucesso extremamente reduzidas, manifestas pelo fenômeno da evasão, particularmente nas instituições públicas.

Historicamente, a nossa UFBA se omitiu frente à questão da dí-vida social da educação superior. Nos dez anos que antecederam nosso primeiro mandato, a população baiana havia ampliado em mais de dez vezes a demanda por educação superior, enquanto a oferta de vagas de graduação na UFBA cresceu menos de 9%. E mesmo assim, antes de assumirmos uma posição institucional clara a favor da inclusão social na universidade, nenhuma discussão sobre (ou iniciativa para) ampliação de acesso a pobres, negros e índios havia sido conduzida de modo consistente e operativa no sentido de tornar a instituição universitária mais acolhedora aos excluídos.

A partir de 2003, essa situação começa a mudar. De forma gra-dual e sustentada, iniciamos uma política de ampliação de vagas e aumento da cobertura na graduação, visando a facilitar o acesso à universidade a segmentos antes dela excluídos. É conhecimento geral que essa política, evoluindo rápida e decisivamente, resultou na implantação do Programa de Ações Afi rmativas que transfor-mou radicalmente a cara da Universidade Federal da Bahia.

Embora o sistema de cotas no Vestibular seja o aspecto que, sem dúvida, tem despertado maior interesse da comunidade, o Progra-ma de Ações Afi rmativas da UFBA é bem mais amplo. Envolve uma diversidade de ações que devem ser efetivamente implemen-tadas, a fi m de que a decisão de mudar os critérios de ingresso nos cursos não afete o padrão de qualidade que nossa instituição vem conseguindo manter ao longo de sua história. Além das cotas, o Programa prevê o desenvolvimento de projetos voltados para a melhoria da qualidade do Ensino Fundamental e do Ensino Médio e o apoio a atividades preparatórias da demanda de escolas públi-cas e de afrodescendentes para o processo seletivo. Prevê também a adoção de várias medidas de apoio à permanência e sucesso dos estudantes nos diversos cursos, incluindo atividades de qualifi ca-ção e orientação de graduandos com vistas a favorecer acesso à pós-graduação ou inserção no mundo do trabalho.

Neste Capítulo, apresentaremos, em primeiro lugar, uma sínte-se descritiva do perfi l sociodemográfi co e étnico-racial do alunado da UFBA antes de 2005. E, em segundo lugar, faremos um resumo histórico do processo de elaboração, aprovação e implantação do Programa de Ações Afi rmativas na Universidade Federal da Bahia. Em terceiro lugar, pretendemos descrever os elementos centrais da proposta enfi m implantada e seus desdobramentos. Em segui-da, mostraremos resultados de alguns dos estudos de avaliação do programa, focalizando ampliação do acesso, qualidade do apren-dizado e fatores de permanência do alunado.

RETRATO DE UMA UNIVERSIDADE QUANDO ELITISTA

Os dados que vieram a subsidiar o Programa de Ações Afi rmati-vas da UFBA foram coletados nos processos seletivos dos sete anos que antecederam sua implantação, quando pela primeira vez (em 1998) investigou-se origem social (estudantes de escola pública)

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e auto-declaração de cor (preto, parda, branca, amarela ou indí-gena) tanto na candidatura quanto na classifi cação no vestibular.

A Tabela 4.1 apresenta, de modo comparativo, a proporção do alunado de acordo com cor da pele, para uma amostra selecionada de universidades brasileiras. A USP e a UFPR eram as universidades brasileiras com menor proporção de negros no alunado, pouco aci-ma de 8%. Apesar do reduzido défi cit (face à pequena proporção de pretos e pardos na população de ambos os Estados), ressaltam os maiores coefi ciente de discriminação de negros (leia-se: a proporção de negros na USP é 3,3 vezes menor que na população geral de São Paulo; a da UFPR é 2,4 vezes). A UnB apresenta uma proporção intermediária de negros (32%), porém aparece como a instituição mais inclusiva, com a proporção de negros apenas 1,5 vezes maior que na população do DF. UFMA e UFBA têm perfi s muito pareci-dos, apresentam os maiores percentuais (43% de negros na época do estudo), mas também os maiores défi cits, apesar dos coefi cientes de discriminação se mostrarem bastante equivalentes.

Preliminarmente, a análise desses dados permitiu refutar o ar-gumento de que a UFBA discriminava pobres, negros e índios nos seus processos seletivos em geral. Entre os anos de 1998 e 2001, de fato aumentou a porcentagem geral de pobres, pretos e pardos na UFBA. Porém, os dados demonstravam, de modo eloquente,

Tabela 4.1. Distribuição dos Estudantes Segundo a Cor da Pele: UFRJ, UFPR, UFMA, UNB, UFBA e USP – 2001

Indígena 13,0 4,1 1,6 2,9 5,9 3,0

Amarela 0,5 0,8 1,3 1,1 4,3 3,6

Branca 78,2 86,5 76,8 63,7 47,0 50,8

Negra 8,3 8,6 20,3 32,3 42,8 42,6

% de negros no Estado 27,4 20,3 44,6 48,0 73,4 75,0

Défi cit 18,9 11,7 24,3 15,7 30,6 33,6

Coefi ciente de Discriminação* 3,301 2,360 2,197 1,486 1,715 1,760

Fonte: Pesquisa Direta. Programa A Cor da Bahia /UFBA, I Censo Étnico-Racial da USP e IBGE Tabula-ções Avançadas, Censo de 2000.

*% Negros na População /% Negros na Universidade

UFRJ UnB UFMAUFPRUSP UFBA

“Os dados demonstravam, de modo eloquente, que nossa universidade discriminava pobres e negros nos cursos de alta concorrência.”

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que nossa universidade discriminava pobres e negros nos cursos de alta concorrência. Entretanto, houve acréscimo de pobres nos cursos de demanda mais baixa e redução nos de demanda mais alta, o que signifi ca que se ampliou a desigualdade interna. Como exemplo extremo, Medicina e Odontologia, em 2001, ambas com 34% de pretos e pardos e 16% de estudantes egressos das esco-las públicas entre os postulantes tiveram, respectivamente, 29% e 23% de pretos e pardos e 4% e 5% de egressos de escolas públicas entre os classifi cados.

Nos anos de 2002 a 2004, mais de 54% dos candidatos ao ves-tibular se autodesignavam pretos ou pardos e pouco mais de 1% dos que postulavam ingressar na UFBA declararam ser descen-dentes de etnias indígenas. Os candidatos que cursaram o ensino médio exclusivamente em escolas públicas eram respectivamente, 42% e 50%. Dos aprovados nos vestibulares de 2003 e 2004, mais de 50% eram negros, aproximadamente 2% indiodescendentes e quase 34% provenientes de escolas públicas.

Vários cursos tinham baixa proporção de estudantes autorrefe-ridos como negros (pretos ou pardos), como por exemplo Comu-nicação, Música (Regência), Direito, Odontologia, Arquitetura,

Psicologia, Engenharia Elétrica, Engenharia Civil e Medicina – to-dos com menos de 30% de negros. Alguns cursos revelavam virtual ausência de estudantes socialmente carentes, como, por exemplo, Medicina, Odontologia, Fonoaudiologia, Comunicação, Direito e Teatro – todos com menos de 10% de egressos de escolas públicas.

A explicação para essas distorções é a diferença de competitivi-dade no vestibular que, nos cursos mais concorridos, determina a exclusão direta ou a autoexclusão. De fato, os egressos de escolas públicas que se candidatam a tais cursos já seriam pré-seleciona-dos de moto próprio, avaliando suas chances remotas de sucesso entre os aprovados nesses cursos.

Os dados relativos ao período 2002 a 2004 demonstram a con-tínua e consistente distorção do sistema. O número dos que se au-toclassifi caram como pretos e pardos aumentou de 42% para 57%. Os mais apressados poderiam argumentar que houve aumento signifi cativo no ingresso de negros. Entretanto, esse crescimento só se verifi cou em cursos como Educação Física, Biblioteconomia, Ciências Contábeis, Secretariado, Ciências Sociais, Letras, Histó-ria e outras licenciaturas, enquanto que a diminuição de negros e pobres continuava em cursos como Medicina, Arquitetura, Odon-

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tologia, Psicologia e Administração. O fosso entre estudantes ne-gros oriundos do sistema público de ensino e os estudantes oriun-dos do sistema privado, portanto, permanecia e até aumentava em cursos mais concorridos e secularmente ocupados pelos que se autoclassifi cavam como brancos.

Tais dados indicam que, com a falência do ensino público de segundo grau no Estado e no País, a exclusão social ocorre antes do momento de ingresso na universidade. Isto faz com que a com-posição social e racial-étnica do grupo de postulantes ao ingresso na UFBA seja bastante diferente do perfi l sociodemográfi co da população baiana. Por todos esses motivos, qualquer programa de inclusão social induzida que pretendesse resultados concretos não poderia, por um lado, ser pautado pela restauração de proporções demográfi cas gerais nem poderia, por outro lado, ser genérico e difuso. Deveria, sim, ser focalizado e efetivamente dirigido aos cursos onde se observava maior defasagem entre composição da demanda e efetiva classifi cação de ingressantes.

HISTÓRICO E DESCRIÇÃO DO PROGRAMA

Em nosso documento-proposta para as eleições à Reitoria em 2002, incluímos um item denominado Programa de Inclusão So-cial. Essa proposta compreendia “implementação de uma política de reserva de vagas para estudantes socialmente carentes”, vincu-lada a um “programa especial de ampliação de vagas na gradua-ção, preferencialmente em horário noturno”. Após nossa posse, tal proposta passou a constar do Plano de Trabalho da Pró-Reitoria de Graduação como uma das prioridades para o período de 2002 a 2006, então ainda sem detalhamento ou formato defi nido.

RESGATE HISTÓRICO

Como primeiro passo, resgatamos o projeto do CEAO encami-nhado aos Conselhos Superiores, citado no box adiante. Com base nessa proposta, tomamos a iniciativa de pautar o tema no CONSE-PE que, em 21 de outubro de 2002, aprovou a constituição de um Grupo de Trabalho sobre Políticas de Inclusão Social, com a atribui-ção de propor “estratégias de inclusão social”. Esse GT, designado pelo Reitor mediante a Portaria 154/2002, foi constituído, inicial-

mente, pelos professores Maerbal Bittencourt Marinho (Pró Reitor do Ensino de Graduação), Odilon Rasquim (professor da Faculdade de Odontologia), Ubiratan Castro (Diretor do CEAO) e Osvaldo Barreto (professor da Faculdade de Administração), além de repre-sentantes dos servidores técnico-administrativos e dos estudantes.

Em novembro de 2002, aproveitando a realização da primei-ra Reunião Plenária da ANDIFES em Salvador, promovemos o I Seminário sobre Políticas de Ações Afi rmativas na Universidade, evento pioneiro no âmbito daquela entidade. Como palestrantes, convidamos Nilcéa Freire, então Reitora da UERJ, Ivete Sacra-mento, então Reitora da UNEB (que não compareceu), Ana Lú-cia Gazzola, Reitora da UFMG, e Carlos Lessa, Reitor da UFRJ. UERJ e UNEB haviam sido as primeiras universidades brasileiras a aprovar sistemas similares de cotas raciais; em contraste, UFMG e UFRJ tinham tomado decisões contrárias. Convidamos também Ubiratan Castro, então Diretor do CEAO, para apresentar os da-dos demonstrativos da exclusão social pela educação superior na UFBA e a proposta do CEAO de implantar um sistema de cotas sociais e étnico-raciais para cada curso.

Entre fevereiro e abril de 2003, por iniciativa do GT, uma equi-pe técnica da Pró-Reitoria de Graduação e do Serviço de Seleção

ANTECEDENTES

Entre 1998 e 2000, o Centro de Estudos Afro-Orientais – CEAO, en-tão órgão suplementar da UFBA, havia encaminhado à Administra-ção Central sucessivas propostas de abertura do debate sobre ações afi rmativas na universidade que, infelizmente, não obtiveram enca-minhamento. Tais propostas tinham como base as evidências sobre desigualdades raciais e sociais no ensino superior, acima citadas, que o programa de pesquisas A Cor da Bahia (da Faculdade de Filosofi a e Ciências Humanas da UFBA) vinha produzindo desde 1998, tan-to nesta quanto em outras instituições universitárias (UnB, UFRJ, UFMA e UFPR). Em 2001, durante uma reunião do CONSEPE, quando se avaliavam mudanças para o vestibular, o Diretório Central dos Estudantes (DCE) da UFBA propôs que fossem incluídas cotas de 40% para negros (mesma base das cotas então propostas para a UNEB). Foi constituído um Grupo de Trabalho para tratar da ques-tão, mas essa iniciativa não teve continuidade e o tema não voltou à pauta de discussões do Conselho.

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atualizou o perfi l social e racial do alunado da UFBA, e realizou avaliações que vieram a permitir a elaboração de um proposta institucional de maior consistência.

Além de reuniões regulares de trabalho, o GT promoveu opor-tunidades diversas de discussão sistemática do problema, com vis-tas à formulação de propostas concretas para a ampliação do aces-so de grupos sociais excluídos aos cursos de graduação da UFBA. Atendendo à pauta de reivindicações do Comitê Pró Cotas, o GT organizou quatro debates sobre a tema, no período de 16 de ou-tubro a 06 de novembro de 2003, em diferentes locais. A despeito de ampla divulgação, os debates não se realizaram, como progra-mado, por falta de quorum mínimo de participantes. Apenas no terceiro, em 30 de outubro, foi possível uma pequena discussão, com sete pessoas além do GT, entre elas quatro estudantes que

compareceram para a elabora-ção de trabalhos acadêmicos sobre o tema.

Não obstante, merece des-taque o amplo debate que, espontaneamente, movimen-tou a lista eletrônica da UFBA no verão de 2003. A discussão envolveu professores de diver-sas áreas e unidades universi-tárias, quando foram expressas livremente as mais diversas posições sobre o tema. Ainda que se tenham identifi cado opiniões diferentes quanto à adoção de medidas de redu-ção das desigualdades no aces-so aos cursos da UFBA, com a intensifi cação do debate pela rede, algumas dessas opini-ões evoluíram em função de respostas e argumentações de outros. A importância desse debate se deve ao aprofunda-

mento do conhecimento sobre o assunto em geral e, particu-larmente, sobre a proposta do GT, antes pouco conhecida pela maioria da comunidade acadêmica.

A proposta elaborada pelo Grupo de Trabalho foi enfi m con-cluída e encaminhada ao CONSEPE, sob a denominação ofi cial de Programa de Ações Afi rmativas na Universidade Federal da Bahia. Foi aprovada, em seus aspectos acadêmicos, em 13 de abril de 2004. A partir dessa data, o Reitor, o Pró-Reitor de Gradua-ção e outros membros do GT participaram de vários debates nas unidades universitárias, para esclarecimentos sobre a proposta e subsídios à posição a ser levada pelos seus diretores para a decisão fi nal do Conselho Universitário.

Em 17 de maio de 2004, o Programa de Ações Afi rmativas da UFBA foi, por ampla maioria (41 votos a favor, 6 votos con-trários e 2 abstenções), fi nalmente, aprovado pelo CONSUNI, em reunião extraordinária aberta, realizada no Salão Nobre da Reitoria. Seguindo indicação do GT, previamente aprovada pelo CONSEPE, sua implementação foi programada já para o exame vestibular do ano seguinte.

COMITÊ PRÓ-COTAS

Durante o ano de 2003, a composição do GT foi modi-fi cada, em parte para atender reivindicação do Comitê Pró Cotas, representativo do mo-vimento negro de Salvador, que havia realizado uma ocu-pação da Reitoria em dezem-bro de 2002. A composição fi nal do Grupo de Trabalho do CONSEPE incluía: Ma-erbal Marinho, Pro-Reitor de Graduação, Jocélio Teles dos Santos (CEAO), Maria Hilda Baqueiro Paraíso (FFCH), Os-valdo Barreto Filho (ADM), Edilene Costa (representante dos servidores), Marcos Melo de Almeida (representante estudantil), Silvio Humber-to dos Passos e Ceres Santos Cunha (representantes do Comitê Pró Cotas), além de Olímpio Serra (representan-te da União Nacional dos In-diodescendentes).

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DESCRIÇÃO DO PROGRAMA

O Programa de Ações Afi rmativas da UFBA tem como alvo grupos da população socialmente carentes e segmentos excluí-dos da educação superior. Seu objetivo geral é possibilitar que, no prazo previsto, seja alcançada, em todos os cursos de graduação, participação representativa de egressos das escolas públicas, pre-tos e pardos, descendentes de índios, índios aldeados e membros de comunidades remanescentes dos quilombos.

Os estudos disponíveis e consultados na elaboração do progra-ma mostraram que o principal fator de desigualdade no acesso à universidade é a origem escolar dos candidatos: se cursaram ensino fundamental e médio na rede pública ou em escolas particulares. O reconhecimento dessa diferença de base, somada à concorrên-cia aos cursos da UFBA, resultava numa imagem de inacessibilida-de que levava a que muitos jovens pobres sequer se inscrevessem para o nosso vestibular.

Em sua forma fi nal, o Programa de Ações Afi rmativas da UFBA estrutura-se em quatro eixos: preparação, acesso, permanência, pós-permanência.

Preparação – A Universidade deve contribuir para melhoria da formação dos estudantes das redes públicas através de programas e ações em parceria com os governos estadual e municipais. Tam-bém é importante um movimento de maior aproximação e de informação sobre a UFBA em relação aos estudantes, que ajude a mudar a perspectiva atual.

Com esse espírito, introduzimos, no Programa de Ações Afi r-mativas da UFBA, várias medidas que buscaram infl uenciar posi-tivamente na qualidade das escolas públicas na Bahia, melhorando a qualifi cação dos seus egressos como candidatos ao vestibular.

• Ações voltadas para a melhoria da qualidade do ensino mi-nistrado nas escolas públicas de Ensino Fundamental e Mé-dio a serem desenvolvidas mediante convênios com o Go-verno do Estado e com prefeituras:

» Formação inicial de professores – oferta de cursos espe-ciais de licenciaturas para professores das redes públicas – presenciais e à distância, com alguns convênios já vigen-tes; programa especial a ser desenvolvido, em conjunto

com a FUNAI, para a formação de docentes para o ensino indígena e para as licenciaturas no campo.

» Formação continuada de professores – oferta de cursos de especialização, de extensão e sequenciais, produção de material didático, organização de sites informativos de ca-ráter interdisciplinar em cada área de conhecimento.

» Ampliação do Programa de Avaliação do Ensino Médio, visando acompanhar o resultado das ações implementa-das e a melhoria desse nível de ensino.

• Ações voltadas para elevação do nível de informação dos candidatos sobre o próprio concurso vestibular a serem pro-movidas pelo Serviço de Seleção, incluindo palestras, deba-tes, exposições, ofi cinas, demonstrações, distribuição de im-pressos, site informativo, consultas virtuais.

• Preparação específi ca dos candidatos nos conteúdos exigidos nos processos seletivos.

» Apoio a cursos pré-vestibulares gratuitos ou subsidia-dos – através de convênios com entidades que os ofere-cem (como Instituto Steve Biko, ASSUFBA, Ofi cina da Cidadania, Pré-Vestibular Salvador, União Nacional dos Indiodescendentes etc.), disponibilizando espaço físico e equipamentos de ensino da Universidade, além de pro-mover o recrutamento de voluntários dentro dos quadros da universidade.

» Publicação de material didático (livros, fascículos, textos etc.) sobre conteúdos avaliados no vestibular, a exemplo de Cinema no Vestibular (livro publicado no fi nal de 2003).

A perspectiva de maior acesso à universidade certamente impli-caria maior pressão por qualidade nas escolas públicas de ensino fun-damental e médio, uma vez que continuávamos cobrando o desem-penho nos processos seletivos. A incorporação de mais estudantes de estratos sociais variados permitiu pressionar o Governo Federal a tra-duzir em ações efetivas o que tem defendido e cobrado das univer-sidades. Certamente havia riscos de que as demais ações não seriam implementadas, pelo menos na medida necessária. Mas, como estive-mos fi rmes na decisão de iniciar o processo, terminamos provocando outros atores a pressionar por sua efetivação e consolidação.

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Acesso (sistema de cotas) – A possibili-dade de acesso à Universidade era desigual, principalmente para os cursos mais con-corridos, ante as diferentes possibilidades e condições de formação, decorrentes da de-sigualdade social e econômica. As ações de melhoria do ensino fundamental e do en-sino médio, por mais amplas e efetivas que venham a ser, demandam tempo para que produzam resultados expressivos. Aguar-dar tais resultados, mesmo admitindo que investimentos com esse objetivo pudessem começar de imediato, signifi caria adiar por cerca de uma década a vigência de mudan-ças signifi cativas no quadro de iniquidades na educação superior pública. Enquanto isso, muitos estudantes, mesmo atingindo a média necessária para ingresso na univer-sidade, não conseguiriam nela entrar pela desigualdade na competição.

Visando à criação de condições objetivas para ampliação e diversifi cação do acesso à Universidade, concebemos, aprovamos e implementamos três medidas:

Primeiro, defi nição e implementação de critérios estáveis de isenção da taxa de ins-crição no vestibular, ampliando ao máximo o número de benefi ciados. A UFBA, sozi-nha, não tinha possibilidade de aumentos substanciais em subsídios e isenções além do que ofereceu nos últimos concursos, uma vez que o vestibular é autossustenta-do.

Segundo, maciça ampliação de vagas para cursos de graduação na UFBA, abrin-do vagas residuais, novas vagas em cursos pré-existentes e novos cursos, principal-mente noturnos. Para isso, o MEC precisa-

va aprovar a abertura de novas vagas para concurso de docentes e técnicos, além de aumentar os recursos de custeio da universida-de. Como veremos adiante neste volume, isto se realizou com o Programa REUNI.

Terceiro, reserva de vagas para estudantes provenientes das es-colas públicas, negros (pretos e pardos), índios e indiodescenden-tes e membros de comunidades remanescentes dos quilombos, com base nas seguintes ações:

• Reserva de 43% das vagas no vestibular para egressos das escolas públicas e negros, a serem preenchidas na seguinte ordem de prioridade:

» estudantes que tenham cursado todo o ensino médio e pelo menos uma série entre a quinta e a oitava do ensino fundamental na escola pública, sendo que, desses, pelo menos 85% de negros;

» no caso de não preenchimento dos 43% de vagas reser-vados por aqueles, preenchimento das vagas remanescen-tes da cota por estudantes negros, independentemente da procedência;

» continuando sem ser atingido o percentual de vagas re-servado, as vagas remanescentes seriam preenchidas pelos demais candidatos.

• Reserva de 2% das vagas para índiosdescendentes que te-nham cursado desde a quinta série do ensino fundamental até a conclusão do ensino médio na escola pública.

• Admissão de todos os índios aldeados, estudantes de comuni-dades remanescentes dos quilombos, até o limite de dois por curso, que tenham cursado da quinta série do ensino funda-mental até a conclusão do ensino médio integralmente em es-colas públicas que obtenham média acima do ponto de corte.

Nesse formato, não é necessário, na inscrição, que os candidatos optem por concorrer ou não às cotas. Apenas, dentro do limite estabelecido, há uma prioridade defi nida para preenchimento das vagas reservadas. No processo de inscrição, são registradas as infor-mações que possibilitam a classifi cação nas cotas. A identifi cação étnica é sempre autodeclaratória. Não havendo candidatos sufi -cientes dos grupos contemplados que atinjam a nota necessária

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para aprovação, as vagas são preenchidas pelos demais candidatos.

O formato da proposta procurava evitar a possibilidade de di-ferenciação e eventual desqualifi cação de qualquer dos classifi ca-dos. Não se aceitou qualquer redução das exigências cognitivas e pedagógicas vigentes para o ingresso. Todos concorrem ao mesmo vestibular ou processo seletivo, tendo que obter pontuação acima do mesmo ponto de corte. Assim, apenas se propunha uma con-corrência em faixas mais equilibradas.

O sistema toma como base a proporção de candidatos que decla-rarem origem racial/étnica negra (pretos e pardos) ou índia e forem comprovadamente carentes sociais; focalizado nos cursos que apre-sentam parcelas de estudantes egressos de escolas públicas, afro-brasileiros e índios, defasados em relação à proporção da demanda. Com o formato adotado, as cotas não interferiram nos resultados dos cursos que já tinham, independentemente das mesmas, uma porcentagem de aprovados dos grupos contemplados maior do que o mínimo estabelecido. Por outro lado, poderia haver um número de classifi cados desses grupos superior a esse mínimo desde que houvesse candidatos com média sufi ciente para se incluírem na fai-xa além das cotas.

Ainda que os dados mostrem como principal fator de desvan-tagem no vestibular a condição econômica detectada pela prove-niência da escola pública, a cor é, historicamente, um elemento de preterição dos não brancos. Adotando-se cotas para a escola pública, isso certamente contemplaria uma parcela signifi cativa de negros, entretanto, como consequência, sem uma manifesta-ção clara quanto à questão. Valorizando também a questão da cor, como demandavam os movimentos negros, a Universidade reafi r-mou a necessidade de interferir também no resultado decorrente de todos esses anos de exclusão racial.

O regime de cotas proposto foi implementado por tempo li-mitado (10 anos). Como veremos adiante neste Capítulo, durante o prazo de vigência, o sistema de cotas vem sendo acompanhado e avaliado sistematicamente. Em relação aos estudantes negros (pretos e pardos) e provenientes de escolas públicas, o objetivo era alcançar, no prazo de cinco anos, uma participação mínima de 40% em todos os cursos. Para indiodescendentes, provenientes da escola pública, a proposta é uma cota igual à demanda que tem

ocorrido no vestibular. Uma política de reserva de vagas com tais elementos, de extremo poder indutor, visa a acelerar a inclusão dos grupos sociais, econômicos e étnicos em desvantagem até que as demais ações a tornem desnecessária.

A natureza pública da instituição universitária federal, topo do sistema de educação pública, deve priorizar (e não privilegiar) estudantes de escola pública que conseguem atingir níveis de for-mação que os capacita a ingressar no ensino superior. Para isso, não bastava redistribuir os poucos lugares no ensino superior público, retirando vagas de segmentos já contemplados para concedê-las a outros grupos socialmente necessitados; por esse motivo, foi ne-cessário ampliar a oferta de vagas.

Permanência – Além das difi culdades de acesso, o principal problema para a inclusão social de estudantes egressos de escolas públicas, negros e índios pela via da formação superior encontra-se nas difi culdades e falta de apoio à permanência na univer-sidade. Entre 1998 e 2002, cerca de 43% dos estudantes que conseguiram ingressar na UFBA não completaram seu curso no prazo máximo regulamentar. Isto afetava especialmente os estu-dantes pobres e negros: no Vestibular 2003, 50% dos aprovados eram negros e 33% eram egressos de escola pública; entre os graduados naquele ano, apenas 43% eram negros e 19% vieram de escola pública.

Para dar conta do eixo Permanência, o Programa de Ações Afi r-mativas da UFBA incorpora três medidas:

Primeiro, uma profunda revisão da grade de horários da UFBA, propiciando aos estudantes regimes de estudos que permitam o atendimento àqueles que necessitam trabalhar para sobreviver na universidade. Isso incluía também a abertura de cursos em horários noturnos e aulas concentradas em fi ns de semana, atendendo com prioridade aos participantes no Programa de Ações Afi rmativas.

Segundo, um programa amplo de sucesso escolar, com tutoria, reforço e acompanhamento acadêmico para todos os que necessi-tem de assistência pedagógica, independentemente de terem in-gressado pelo regime de cotas.

Terceiro, um programa de apoio social ao estudante de baixa renda, reforçando e ampliando a política de assistência estudantil

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– residência, alimentação, transporte etc., com concessão de bolsas e demais ações de apoio à permanência na Universidade.

Apesar da falta de estudos específi cos, com boa base metodo-lógica, há consenso de que muitos fatores levam à evasão escolar no ensino superior, entre eles, as difi culdades econômicas. Com a adoção das cotas, passamos a ter mais estudantes com essas difi -culdades. Mecanismos que possibilitem aos estudantes conciliar estudo e trabalho ou, simplesmente, se dedicar integralmente ao curso escolhido, são importantes para contornar essas difi culdades. Dispor de tais soluções é pré-condição para o sucesso do projeto de inclusão. Entretanto, sempre defendemos que isto não deveria ser condição sine qua non para adoção do sistema de cotas; até porque a Universidade sempre teve estudantes carentes concluin-do os cursos, apesar das difi culdades.

Pós-permanência – Os estudantes que ingressarem na univer-sidade através do Programa de Ações Afi rmativas serão elegíveis a um programa especial de preparação para a vida pós-universidade,

com assessoria e assistência na obtenção de estágios e empregos, e um programa de educação permanente para aqueles que se torna-rem pequenos empresários.

Tão importante quanto promover preparação, ampliar acesso e garantir permanência é, certamente, o fomento da conclusão dos cursos e a preparação para estudantes socialmente carentes, negros e índios galgarem melhores posições na escala social. Ações de apoio à continuidade pós-formatura, seja para ingresso no merca-do de trabalho seja para continuidade de estudos, também devem ser dirigidas a todos os que tenham menor capacidade econômica considerando, igualmente, também a questão racial.

AVALIAÇÕES DO MODELO

Contra a proposta descrita acima, emergiram críticas, de dentro e de fora da Universidade, que insistiam na inviabilidade ou ino-cuidade das ações afi rmativas, declaradas meritórias em intenção, porém questionáveis em seus critérios operacionais. Alegavam razões de custo-benefício (elevados investimentos que poderiam ser destinados a ações de retorno imediato). Também referiam a problemas na operação da proposta (impossível defi nir raça cien-tifi camente; somos todos afrodescendentes; a classe média certa-mente vai fraudar o sistema...).

Os defensores dessa modalidade de reação tipicamente produ-ziam uma retórica de base técnica que só poderia ser vencida pelo efeito-demonstração das propostas implementadas, aproveitan-do a crítica para melhoria das propostas e avanço nas estratégias. Com esse objetivo, buscamos desenvolver um efi ciente e confi ável modelo de acompanhamento, avaliação e análise de dados, numa parceria entre UFBA (CEAO), USP (CEBRAP), Unicamp e Prin-ceton University, cujos resultados preliminares são apresentados nesta seção.1

1 Síntese de análises disponíveis nas seguintes publicações:• ALMEIDA FILHO, Naomar; MARINHO, Maerbal Bittencourt; CARVALHO,

Manoel José; SANTOS, Jocélio Teles. Ações Afi rmativas na universidade pública: o caso da Ufba. Salvador: Centro de Estudos Orientais/UFBA, 2005.

• GUIMARÃES, Antonio Sérgio Alfredo; COSTA, Lilia Carolina da; ALMEIDA FILHO, Naomar; NEWMAN, Katherine. Social Inclusion in Brazilian Univer-sities: the case of UFBA. São Paulo: Centro de Estudos da Metrópole, TEXTO PARA DISCUSSÃO Nº 008/2010 (http://www.ffl ch.usp.br/sociologia/asag).

Simpósio do Programa Permanecer da PROAE,

Pró-Reitoria de Assistência Estudantil

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Após cinco anos de implantação do Programa, dispomos agora de dados sufi cientes para, em primeira instância e com material empírico, avaliar se as críticas antecipadas tinham fundamento. Isto implica responder a três questões: primeiro, será que o sis-tema de seleção implantado foi efetivamente capaz de mudar o perfi l do alunado, aumentando o grau de inclusividade social da instituição? Segundo, houve realmente queda em qualidade e desempenho dos estudantes selecionados pelo sistema de re-serva de vagas? Que tipos de resposta e que níveis de efi ci-ência tal sistema alcançou no que concerne a discriminação positiva com manutenção da qualidade acadêmica?

No que concerne a indica-dores, tais questões podem ser respondidas com verifi cação do nível de preparação dos in-gressantes, desempenho dos estudantes durante o curso, níveis de evasão e taxas de su-cesso. Isso signifi ca contrastar os resultados em cada um dos indicadores do contingente de estudantes que fi zeram a seleção geral e aqueles que se benefi ciaram do sistema de cotas e do pro-grama como um todo. Nesta seção, faremos isso de modo conciso e objetivo, a partir de quatro análises distintas:

• avaliação de desempenho no processo seletivo de ingressan-tes na UFBA em 2005, primeiro ano de funcionamento do Programa;

• análise da oferta de vagas entre 2003-2008;

• simulação de efeitos de diferentes modelos de seleção numa determinada coorte do curso de maior concorrência da UFBA;

• estudo de rendimento relativo, evasão e sucesso de todos os estudantes da UFBA que ingressaram na instituição entre 2003 e 2008.

ARGUMENTO DE MÉRITO Um argumento contrário às cotas tem sido recorrente: a ameaça potencial ao mérito acadêmico. Nessa hipótese, ao se permitir acesso a candidatos supostamente sem base cogni-tiva e preparação intelectual, haveria impacto negativo das cotas na Universidade, com queda na qualidade do ensi-no, evasão elevada, formação defi ciente de profi ssionais, re-dução da taxa de sucesso etc.

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AVALIAÇÃO DE DESEMPENHO NO PROCESSO SELETIVO DE 2005

No Vestibular 2005, dos 3.986 candidatos selecionados para in-gresso na UFBA, 2.104 (52,8%) declararam-se oriundos de escola particular (não-cotistas). Dos outros 1.882 cotistas, 1.098 (27,5% dos selecionados) tiveram ordem de classifi cação igual ou inferior ao número de vagas oferecidas e, portanto, ainda que cotistas, não se benefi ciaram com o sistema, já que seriam selecionados mesmo sem esse sistema. Nesse ano, 784 estudantes benefi ciaram-se efeti-vamente do sistema de cotas, ocupando outras tantas vagas extras ou de candidatos com escores globais mais altos, que seriam sele-cionados, caso o sistema de cotas não tivesse sido implantado. Isso quer dizer que 80% dos candidatos foram selecionados exclusiva-mente pelo seu desempenho acadêmico nas provas do Vestibular, independentemente de qualquer característica relativa à origem escolar e à etnia ou cor, e que só 20% dos candidatos foram sele-cionados graças ao sistema de cotas.

Em 2005, das 61 opções de curso oferecidas no Vestibular da UFBA, em 10 delas a infl uência do sistema de cotas foi igual ou menor que 5%. O curso mais afetado pelo sistema de cotas foi Fonoaudiologia, com 43% de candidatos selecionados graças ao sistema de cotas. Por outro lado, 13 cursos não foram afetados, isto é, a relação de selecionados é exatamente a mesma, com ou sem o sistema de cotas.

Considerando que a UFBA já tinha 19 cursos com um percen-tual de estudantes oriundos da escola pública acima de 38%, em 23 cursos o sistema de cotas pouco ou nada infl uenciou. A relação de selecionados foi mais ou menos a mesma, com ou sem siste-ma de cotas. Tais cursos apresentam menor concorrência e mui-tos são considerados pela sociedade como de baixo prestígio. O desempenho no Vestibular de 2005 revela que a média geral dos candidatos selecionados foi de 5,8. Os que se inscreveram como não-cotistas obtiveram 6,1 e os cotistas 5,5.

Os candidatos situados entre os 60% mais bem classifi cados de cada curso não foram afetados pelo sistema de cotas. Até esse limite, a relação de classifi cados é exatamente a mesma, com ou sem o sistema de cotas. Os cotistas ocuparam as vagas sobretudo

dos 30% com classifi cação mais baixa, em cada curso. Ou seja, a infl uência do sistema de cotas só se fez sentir no terço inferior da classifi cação de cada curso.

Os escores globais do Vestibular da UFBA são atribuídos numa escala de 0 (zero) a 24.000 pontos (12.000 em cada fase), sendo que, na área de Artes, o escore global máximo é 30.000 pontos. Para facilitar o entendimento, os escores mencionados a seguir fo-ram convertidos à escala tradicional de 0 (zero) a 10 (dez), adota-da nos cursos da UFBA, indicando-se entre parênteses os respec-tivos escores na escala original, conforme constam nas listagens e relatórios técnicos, inclusive no Boletim de Desempenho posto à disposição de cada candidato.

A análise geral de desempenho do Vestibular 2005, com base nas médias históricas de pontos de corte, apresentada na Tabela 4.2, demonstra que a implantação do sistema de reserva de vagas na UFBA não interrompeu a tendência de elevação desse indica-dor em curso nos últimos anos.

A média geral dos candidatos selecionados no Vestibular 2005 da UFBA foi 5,8 (13.890), sendo mais alta a média do curso de Medicina, 7,2 (17.237), e mais baixa a média do curso de Enge-nharia de Pesca, 4,7 (11.166). O escore global mais alto foi 8,3 (19.836), obtido pelo 1º classifi cado para o curso de Medicina, e o escore mais baixo foi 4,0 (9.699), obtido pelo último classifi cado para o curso de Educação Física.

A média geral dos candidatos inscritos como não-cotistas foi 6,1 (14.532), e a dos candidatos inscritos como cotistas foi 5,5 (13.174). A maior diferença entre a média de inscritos não-cotistas e a de ins-critos cotistas foi encontrada no curso de Arquitetura e Urbanismo,

Tabela 4.2. Variação Temporal do Ponto de Corte Geral no Vestibular, UFBA-2005

Etapa 1 5.018,69 5.099,80 5.117,40

Etapa 2 5.009,29 5.056,44 5.089,05

Escore Global 10.027,98 10.156,24 10.206,45

Vestibular 2003 2004 2005

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respectivamente 6,1 (14.589) e 4,9 (11.860); a menor diferença foi encontrada no curso de Secretariado Executivo, respectivamente 4,9 (11.654) e 4,8 (11.499). Em três cursos, todos da área de Artes (Li-cenciatura em Teatro; Composição e Regência; e Licenciatura em De-senho e Plástica), a média dos cotistas foi maior que a dos não-cotistas.

Vejamos o que ocorreu com dois cursos normalmente muito procurados: Direito e Medicina. Conforme a Tabela 4.3, a nota global do curso de Medicina foi 7,2 (17.238 pontos), e as notas médias por subgrupos foram 6,7 cotistas e 7,5 não-cotistas. Con-vém observar que o último cotista classifi cado ocupou uma das três vagas destinadas especialmente para candidatos indio-descen-dentes de escola pública. Excluída essa categoria de inscrição, o candidato de escola pública (cotista) com a última classifi cação obteve escore global equivalente a 6,3 (15.046 pontos).

A média geral do curso de Direito foi 6,6 (15.863,2), com as se-guintes notas: 6,2 cotistas e 7,0 não-cotistas. Também o último co-tista classifi cado no curso de Direito ocupou uma das quatro vagas destinadas especialmente para candidatos indiodescendentes de es-cola pública. Excluída essa inscrição bem como um candidato que ocupou uma vaga extra, o candidato de escola pública com a última classifi cação obteve escore global equivalente a 5,8 (14.035).

A instituição do sistema de ações afi rmativas em 2005 nos permite demonstrar que a reserva de vagas signifi cou aumento substancial dos estudantes oriundos da escola pública e que se auto-classifi caram como pretos e pardos. O total de pretos e par-dos selecionados (73%) na Universidade em 2005 aproxima-se do percentual da população do Estado da Bahia e foi alcançado o percentual geral de 53% para estudantes oriundos da escola pú-blica (brancos, pretos e pardos) em todos os cursos. No ano de 2001, os percentuais dos oriundos da escola pública nos cursos de Medicina, Odontologia, Comunicação-Jornalismo e Direito eram respectivamente 4,4% , 5,0% , 6,7% e 8,0%. Com o início do nosso Programa de Ações Afi rmativas, nenhum desses cursos registrou menos de 43% de estudantes de escola pública.

Se a democratização no acesso foi alcançada, a manutenção do mérito se manteve. Como vimos acima, o ponto de corte do Ves-tibular 2005 (43% do valor máximo) foi ligeiramente maior que o dos vestibulares anteriores em 2004 e 2003 (42%).

Tabela 4.3. Desempenho de Cotistas e Não-Cotistas no Vestibular, UFBA-2005

Medicina

Número de Selecionados 72 88

Escore: média 6,7 (16.195,1) 7,5 (18.090,5)

mais alto 7,8 (18.711,4) 8,3 (19.836,2)

mais baixo 6,3 (15.045,8) 7,3 (17.504,2)

Direito

Número de Selecionados 91 110

Escore: média 6,2 (14.853,1) 7,0 (16.698,9)

mais alto 8,1 (19.408,5) 7,8 (18.764,6)

mais baixo 5,8 (14.034,8) 6,7 (15.990,4)

Cursos/indicadores Cotistas Não-cotistas

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Em relação aos cursos considerados de prestígio, as diferen-ças entre o desempenho médio nos vestibulares antes e depois das cotas foram pequenas, como observado em Odontologia (6,2 em 2004; 5,8 em 2005); Comunicação-Jornalismo (6,7 em 2004; 6,2 em 2005); Arquitetura (6,3 em 2004; 6,2 em 2005). Os cursos onde ocorreram maiores diferenças no desempenho foram Medicina (7,6 em 2004; 6,5 em 2005), Engenharia Elé-trica (7,6 em 2004; 6,5 em 2005) e Direito (7,4 em 2004; 6,3 em 2005).

O que ocorreu na UFBA foi uma revolução no ingresso em cursos considerados como de maior prestígio na sociedade bra-sileira, onde o número de estudantes oriundos da escola pública era ínfi mo. Um outro dado signifi cativo foi que, pela primeira vez na história da instituição, tivemos o ingresso de índios alde-ados (hoje são 14 estudantes, pouco em quantidade porém de grande signifi cado simbólico).

ANÁLISE DE DEMANDA E OFERTA DE VAGAS (2003-2008)

No período de 2003 a 2008, o número de vagas da UFBA se manteve praticamente constante na Capital, variando em torno de 3.600, enquanto o grosso da expansão, cerca de 300 vagas, con-centrou-se no interior do Estado, nos campi de Barreiras e Vitória da Conquista.

A demanda para os cursos em Salvador diminuiu entre 2003 e 2008, apresentando oscilações importantes no perío-do. Caiu acentuadamente entre 2003 e 2005, em quase 5 mil candidatos. A introdução das cotas, em 2005, aparentemente não signifi cou um atrativo para o aumento da demanda. Na-quele ano, a procura pela UFBA ainda caiu, no que pese a pequena ampliação com novos cursos e vagas. Os cursos mais demandados, como Medicina, Direito, Administração, Psico-logia, Enfermagem, Odontologia e Farmácia, perderam 3.312 candidatos, ou seja, 21% a menos que em 2004. Outros cursos, como Veterinária, Ciências da Computação, Educação Física e Engenharia Civil também receberam um número expressi-vamente menor de candidatos, provavelmente desviados para faculdades privadas.

No ano de 2006, a demanda pela UFBA foi revigorada, certa-mente devido ao incentivo que as cotas representavam (quase 8 mil estudantes voltaram a procurar a instituição), para cair bastante em seguida, em 2008. Esta segunda queda pode ter sido motivada por dois fatores: o crescimento da oferta de vagas na UFRB e nas facul-dades privadas, em função do grande aumento de vagas no PROU-NI. Ou seja, a procura pelos cursos que a UFBA oferece em Salva-dor caiu bruscamente por conta da concorrência com outras IES, diretamente ou através do PROUNI. De fato, entre 2005 e 2008, o número de bolsas do PROUNI ofertadas no município de Salva-dor quase que triplicou, passando de 3.831 para 10.739 (180% de incremento). O grande aumento da oferta aconteceu entre 2006 e 2007 (duplicando de 3.920 para 7.780); enquanto a Universidade Federal do Recôncavo, que começou a funcionar em julho de 2006, já ofertava 3.580 vagas em seus quatro campi (Cruz das Almas, Amargosa, Cachoeira e Santo Antonio de Jesus) no ano de 2009.

A Tabela 4.4 também permite analisar as tendências relativas à aprovação no Vestibular. Verifi camos que os percentuais de suces-so situam-se em torno de 10% na maior parte do tempo, aumen-tando para 12% nos dois anos em que houve redução acentuada da demanda (2005 e 2008).

MUDANÇA NO PERFIL SÓCIO-ECONÔMICO DOS APROVADOS

Uma primeira abordagem no sentido de avaliar o sistema de cotas introduzido pela UFBA em 2005 é conhecer a mudança no perfi l so-

Tabela 4.4. Demanda e Oferta de Vagas, UFBA, 2003 a 2008

2003 38.995 – 3.845 – 9,9

2004 37.839 -2,96 3.892 1,22 10,3

2005 33.060 -12,63 3.986 2,42 12,0

2006 40.319 21,96 3.993 0,18 9,9

2007 40.832 1,27 4.296 7,59 10,3

2008 34.957 -14,39 4.229 -1,56 12,0

Total de inscritos no Vestibular

Anos Abs Δ% Abs Δ% %

Oferta de vagas na primeira lista

Razão de Aprovação

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cioeconômico dos aprovados no vestibular da instituição. Como o pro-grama é voltado para benefi ciar principalmente os estudantes pretos e pardos de escolas públicas, através da reserva de vagas, era de se esperar que a composição demográfi ca dos aprovados se modifi casse radical-mente nesta direção, já em 2005. Para controlar o efeito de uma outra política de ação afi rmativa, introduzida em paralelo – a interiorização, vamos analisar apenas os dados referentes aos cursos de Salvador.

A tabela 4.5, abaixo, demonstra que realmente aconteceu o espe-rado: já no primeiro ano, a UFBA passou a recrutar um número de negros praticamente equivalente à proporção de negros na popula-ção do Estado da Bahia. Melhor ainda: passou a recrutar estudantes negros quase na mesma proporção de negros inscritos no seu ves-tibular. Com a consolidação do Programa, essa proporção torna-se um pouco maior ano a ano, como mostram as taxas crescentes de aprovação de negros. Mesmo com a diminuição da demanda a partir de 2007, quando boa parte da população de candidatos negros do ensino público passa a buscar faculdades privadas através do PROU-NI, a taxa de aprovação de estudantes negros continua crescendo.

O mesmo acontece com o percentual de estudantes aprovados oriundos das escolas públicas (Tabela 4.6). Em 2004, 66% dos apro-vados pela UFBA provinham de escolas privadas; em 2005, este nú-mero cai para 49%. Aqui, entretanto, o efeito da maior oferta e da atratividade do PROUNI se fez sentir mais fortemente. A partir de 2007, por exemplo, o percentual de aprovados das escolas privadas volta a crescer a taxas menores, até atingir, em 2008, 53%.

Tabela 4.5. Percentual de negros aprovados, UFBA, 2003-2008

2003 58,84 55,4 8,6 10,2

2004 66,75 61,1 9,3 12,3

2005 75,27 74,5 11,9 12,6

2006 74,43 73,0 9,6 10,5

2007 72,69 71,9 10,4 11,2

2008 71,37 72,3 12,6 12,4

Anos

Percentual de negros

inscritos aprovados negros brancos

Razão de aprovação

Tabela 4.6. Percentual de aprovados por procedência escolar. UFBA, 2003-2008

2003 61,5 38,5 23,2 9,0 1,7

2004 66,2 33,8 20,4 7,8 2,1

2005 49,0 51,0 36,5 11,1 2,9

2006 48,9 51,1 37,1 9,8 3,6

2007 49,1 50,9 36,5 11,2 2,7

2008 53,4 46,6 32,9 10,5 2,9

AnosEscola Particular

Escola Pública Estadual Federal Municipal

Tabela 4.7. Percentual de aprovados por renda familiar. UFBA, 2003-2008

Até 3 SM 11,6 14,7 23,3 27,2 27,9 27,8

+3 A 5 SM 20,7 18,7 25,6 23,9 23,0 23,7

+5 A 10 SM 31,6 29,5 24,5 23,9 23,9 22,6

+10 SM 36,1 37,1 26,6 25,2 25,2 25,9

AnosRenda familiar 2003 2004 2005 2006 2007 2008

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Isso não signifi ca que a política de democratização, ou seja, de atra-ção de jovens oriundos das classes populares, que o sistema de cotas atraiu num primeiro momento, teria sido necessariamente anulada pelo PROUNI. Ao contrário, há indícios de que o processo de de-mocratização do acesso à UFBA continuou seu curso. Tomemos, por exemplo, a renda familiar declarada pelos estudantes (Tabela 4.7). Ve-rifi camos que, no início do período, a proporção de estudantes apro-vados com renda familiar acima de 10 salários mínimos era 3,1 vezes maior do que aqueles com renda abaixo de três salários. O percentual de aprovados oriundos de famílias com renda acima de 10 salários mínimos continua a cair durante todo o período (de 36% a 26%), ainda que em menor velocidade, como seria de se esperar. Simetrica-mente, o percentual de aprovados pobres, oriundos de famílias com renda abaixo de três salários mínimos, aumentou signifi cativamente, de 12% em 2003 a 28% em 2008. Em 2008, a distribuição por faixa de renda tornou-se impressionantemente homogênea, variando entre 23% e 28% do total de aprovados. Em suma, apesar do seu impacto em geral, o PROUNI não parece ter sido capaz de re-elitizar o acesso à UFBA, graças ao efeito inclusivo do Programa de Ações Afi rmativas.

A tabela 4.8 revela signifi cativo aumento da proporção de ne-gros oriundos de escola pública entre os aprovados na UFBA, com o advento das cotas a partir de 2005; passam de um patamar de 25% para pouco mais de 44%. Simetricamente, observa-se uma variação em sentido oposto entre os brancos de escola particular: de 33% em 2003 para 19% em 2007-2008. Há, entretanto, uma discreta diferença em pontos percentuais entre 2008 e 2007 para cada combinação de aprovados por procedência escolar e cor. Ve-rifi ca-se que o aumento dos aprovados oriundos das escolas parti-

Tabela 4.8. Aprovados por procedência escolar e cor, UFBA, 2003-2008

Branco-Particular 32,7 29,9 16,6 17,6 19,0 19,1 0,18

Branco-Pública 10,1 6,4 6,0 6,0 5,7 4,9 -0,79

Negro-Particular 31,7 38,8 32,8 31,9 30,9 34,7 3,74

Negro-Pública 25,5 24,8 44,5 44,4 44,4 41,3 -3,14

AnosCategorias cor/tipo de escola 2003 2004 2005 2006 2007 2008

2008-2007 Δ%

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culares de nível médio ocorre igualmente em benefício de bran-cos e negros. No entanto, olhada com mais cuidado, a mesma tabela indica também que os maiores benefi ciados pela fuga dos estudantes pobres de escola pública em direção às faculdades privadas e à UFRB (assim como em direção aos campi do interior da própria UFBA) foram os negros de escola particular (4 pontos percentuais em 31).

Uma outra maneira de analisar os dados, mais refi nada, que altera de certo modo estes resultados, pois introduz nuanças im-portantes, ao fi xar os parâmetros de comparação, é observar, na tabela 4.9 as probabilidades de aprovação de candidatos segundo características socioeconômicas e demográfi cas diferentes. Deste modo, isolamos, em grande parte, alguns ruídos que empanam nossa compreensão do que devemos realmente observar.

As probabilidades nos mostram, por exemplo, que, em 2006, a chance de um candidato oriundo de família com mãe de escola-ridade superior ser aprovado no vestibular era de 1,86 para cada candidato oriundo de família com mãe de primário completo. Essa probabilidade caiu para 1,56 em 2008. Um estudante negro de escola pública, em 2005, tinha menos 60% de chances de pas-sar no vestibular que um estudante branco de escola privada; com as cotas, em 2005, suas chances passam a ser 35% maiores que a do branco de escola particular, para em 2008, atingir 74% mais de chances (1,74 negros de escola pública aprovado para cada branco de escola privada). As mulheres, que de um modo universal, têm menos chances de aprovação nestes concursos que os homens, vêem suas taxas de aprovação crescerem apenas depois da grande fuga para as universidades particulares e do interior; mas, ainda assim, em 2008, tinham 86% a menos de chance que os homens de serem aprovadas na UFBA, campus de Salvador.

SIMULAÇÃO DE MODELOS DE SELEÇÃO NO CURSO DE MEDICINA DA UFBA (2008)2

A partir de 2001, algumas universidades públicas começaram a reconhecer a distorção de avaliação do mérito individual e do potencial intelectual dos seus candidatos e passaram a tentar cor-

2 Devemos esta análise, inédita, ao Prof. Antonio Sérgio Guimarães (CEBRAP/USP).

Tabela 4.9. Razões de Chances de Aprovação no Vestibular de acordo com variáveis selecionadas, UFBA, 2003-2008

Renda Familiar

Até 3 SM 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00

De 3 a 5 SM 1,34*** 1,37*** 1,41*** 1,28*** 1,33*** 1,25***

De 5 a 10 SM 1,46*** 1,82*** 1,68*** 1,6*** 1,83*** 1,54***

De 10 a 30 SM 1,8*** 2,3*** 1,9*** 1,67*** 2,11*** 1,98***

Mais que 20 SM 2,14*** 2,35*** 2,07*** 1,79*** 2,45*** 2,01***

Escolaridade da Mãe

Até 5ª completo 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00

Ens. Fundamental completo 1,09 1,06 1,05 1,24** 1,07 1,07

Ens. Médio completo 1,24** 1,33*** 1,33*** 1,33*** 1,31*** 1,3***

Ens. Superior completo 1,43*** 1,93*** 1,55*** 1,84*** 1,62*** 1,56***

Raça e Ensino Médio

Branco e Rede privada 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00

Branco e Rede pública 0,66*** 0,61*** 1,4*** 1,28** 1,34** 1,34**

Negro e Rede privada 0,88** 0,9** 1,01 0,88** 0,85** 0,94

Negro e Rede pública 0,59*** 0,6*** 1,35*** 1,39*** 1,61*** 1,74***

Escola no Ensino Médio

Escola comum 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00

Escola técnica 0,16** 1,34*** 1,06 1 1,04 1,07

Outras 0,56*** 0,57*** 0,72*** 0,63*** 0,64*** 0,7***

Frequentou cursinho?

Não 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00

Sim 1,17*** 1,2*** 1,26*** 1,37*** 1,4*** 1,42***

Sexo

Masculino 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00

Feminino 0,83*** 0,79*** 0,78*** 0,8*** 0,71*** 0,86***

Candidato trabalha?

Não 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00

Sim 0,81*** 0,78*** 0,72*** 0,78*** 0,8*** 0,74***

Demanda

Média 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00

Alta 0,26*** 0,26*** 0,39*** 0,32*** 0,33*** 0,36***

Baixa 1,88*** 1,72*** 1,49*** 1,68*** 1,54*** 1,59***

Sem cotas

Todos os cursos 2003 2004 2005 2006 2007 2008

Com cotas

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rigir seus processos de seleção através de diferentes programas compensatórios. Dois tipos de programas se sobressaem: aqueles que atribuem pontos adicionais aos candidatos com características relacionadas a desvantagens sociais por carência econômica e/ou origem étnico-racial e aqueles que reservam um percentual ou uma quantidade fi xa de vagas a estes mesmos estudantes.

Duas características mostraram-se fortemente associadas à carên-cia e à consequente falta de oportunidade de mobilidade social pela educação superior: a origem escolar, ou seja, se o candidato fez o ensino médio em escolas públicas ou privadas; e a autodeclaração de cor do candidato. A justifi cativa para adoção deste último critério é tríplice: i) estudos sociológicos e econométricos demonstram que a autodeclaração de cor explica parte importante das desigualdades sociais no Brasil; ii) a cor é usualmente percebida no Brasil, segundo estudos sociológicos e antropológicos que datam pelo menos dos anos 1930, como o melhor marcador de posição social (no senso co-mum, ser preto ou pardo signifi ca ser pobre); iii) a mobilização polí-tica que demandava maior justiça social na seleção dos candidatos às universidades era organizada pelos movimentos negros brasileiros.

É interessante avaliar se a associação destes critérios (origem es-colar e cor) concede às políticas compensatórias conhecidas como ações afi rmativas maior poder de correção das desigualdades de oportunidades que a adoção de apenas um deles. Para tanto, os diferentes modelos de seleção adotados por universidades brasi-leiras foram avaliados em sua efi cácia no sentido do potencial de inclusão, utilizando uma simulação de resultados com os dados da UFBA, no seu curso mais concorrido (mais de 30 candidatos por vaga), o de Medicina. Este curso funciona no campus de Salvador, a região metropolitana com maior população preta e parda do Brasil. Utilizamos a base de inscritos e aprovados em 2008, quan-do o regime de cotas implantado em 2005 já havia se consolidado.

Os diferentes modelos de seleção são os seguintes:

• O modelo vigente até 2004, vestibular unifi cado sem reser-va de vagas;

• Um modelo hipotético que reservasse 45% das vagas apenas para os autodeclarados pretos, pardos e indígenas (PPI);

• Outro modelo hipotético que reservasse 45% das vagas ape-nas para estudantes da escola pública;

Tabela 4.10. Distribuição comparativa de aprovados para o curso de Medicina (n=162 vagas) sob diferentes modelos de seleção. UFBA, 2008

PPI de escola pública 12 12 64 61

PPI de escola particular 88 88 51 50

Outros de escola pública 2 2 9 13

Outros de escola particular 60 60 38 38

Total de PPI 100 100 115 111

Total de escola pública 14 14 73 74

AA: Ação Afi rmativa; PPI: Pretos, Pardos e Índios; EP: Escola Pública

Fonte: SUPAC/UFBA, 2008

Nenhuma AA Somente PPI Somente EP EP + PPICor da pele e origem escolar

• O modelo em vigor, implantado em 2005, que reserva, para cada curso, 45% das vagas: 36,5% para negros da escola públi-ca, 2,5% para indígenas de escolas públicas e o restante 6,5% para estudantes de escola pública independentemente da cor.

Analisemos a Tabela 4.10. Vemos, de início, que um sistema que reservasse vagas apenas para negros, na Região Metropolitana de Salvador, equivaleria, em cursos tão concorridos como Medici-na, a um sistema sem qualquer ação afi rmativa ou inclusão social: estas seriam preenchidas em sua maioria por autodeclarados pre-tos, pardos e indígenas, mas apenas 14 vagas seriam ocupadas por estudantes de escola pública.

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Do mesmo modo, um modelo hipotético que reservasse 45% das vagas apenas para estudantes da escola pública teria resulta-dos muito parecidos com os do sistema atualmente adotado pela UFBA. No entanto, o sistema em vigor, combinando EP + PPI, preserva melhor a diversidade racial (de cor) posto que permite a aprovação de um número de brancos mais próximo da distribui-ção populacional, numa cidade em que candidatos facilmente po-dem se declarar pardos, dada a grande miscigenação e reconhecida fl exibilidade das fronteiras de cor.

O critério de cor corrige a tendência da população mestiça (não branca) de declarar-se branca; o critério de origem escolar corrige a falta de oportunidades desta população. Assim, se a reserva de vagas da UFBA fosse apenas dirigida à população de cor, a indu-ção de mudança de autodeclaração da cor levaria a um retorno à situação ex ante de privilegiamento de grupos econômicos; ou, se a política de reserva de vagas fosse apenas dirigida a estudantes de escolas públicas, isso acabaria por prejudicar a população branca.

Enfi m, esta demonstração reforça o argumento a favor do mo-delo adotado pela UFBA no sentido de ser mais capaz de atender aos objetivos de inclusividade social e não-discriminação, além de reduzir os efeitos do viés de autodeclaração. Esta análise reafi rma também a necessidade de uma certa autonomia das universidades para ajustar tais critérios de acordo com a demografi a regional, de modo a produzir o mesmo efeito: a correção das desigualdades de oportunidades para candidatos de cor e de escola públicas.

PERFORMANCE RELATIVA DOS COTISTAS NA UFBA (2003 A 2008)

Esta análise refere-se a todos os ingressantes entre 2003 e 2008 na UFBA, totalizando 23.880 estudantes. As coortes de 2003 e 2004 (7.688 estudantes) foram tomadas como grupo-controle, permitindo a avaliação de efeitos tendenciais que potencialmente poderiam interferir nos resultados. Os principais achados encon-tram-se resumidos nas Tabelas 4.11 e 4.12.

Na Tabela 4.11, pode-se constatar dois efeitos esperados. Pri-meiro, os estudantes que se posicionam nos quintis inferiores dos escores no processo seletivo de entrada na Universidade tendem a melhorar seu desempenho, independentemente da coorte de en-trada. Segundo, os estudantes cotistas tendencialmente apresen-

Tabela 4.12. Análise comparativa de indicadores de evasão e sucesso de cotistas e não-cotistas na UFBA, 2003-2008

2003 Todos 29,5 23,8 4,1 42,6 100,00 3847

2004 Todos 56,4 21,5 3,2 18,8 100,00 3841

2005 Cotistas 73,34 16,07 4,02 5,92 100,00 1842

Não-cotistas 74,00 15,68 4,39 5,89 100,00 2073

2006 Cotistas 79,83 10,06 9,77 0,34 100,00 2345

Não-cotistas 80,56 10,26 8,54 0,59 100,00 1862

2007 Cotistas 96,96 2,81 0,23 – 100,00 2205

Não-cotistas 96,80 2,82 0,11 – 100,00 1843

2008 Cotistas 99,37 0,54 – – 100,00 2224

Não-cotistas 99,39 0,50 – – 100,00 1798

Ano

Situação do estudante no curso

Jubilado/Desistiu

Mudou de curso FormadoContinuaEstudantes Total% Total N

Tabela 4.11. Desempenho relativo ao escore de entrada de cotistas e não-cotistas na UFBA, 2003-2008

1 Menor 0 – 0 – 0 –

Igual 371 .244 766 .281 212 .488

Maior 1149 .656 1956 .719 222 .512

2 Menor 334 .217 518 .206 156 .216

Igual 339 .220 639 .254 192 .266

Maior 868 .563 1361 .540 374 .518

3 Menor 607 .396 329 .332 824 .367

Igual 331 .216 231 .233 505 .225

Maior 596 .388 431 .435 914 .408

4 Menor 877 .569 330 .520 1302 .500

Igual 324 .210 138 .218 662 .254

Maior 340 .221 166 .262 642 .246

5 Menor 994 .641 307 .640 1770 .623

Igual 558 .359 173 .360 1072 .377

Maior 0 – 0 – 0 –

Quintil do escore deentrada

Total –

Desempenho relativo à entrada

COORTES 2003-2004

COORTES 2005-2008

N Todos N Cotistas NNão-Cotistas

7688 1.000 7345 1.000 8847 1.000

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tam menores escores nos exames de ingresso, com 71% (5.240 estudantes) posicionados nos quintis um e dois da escala; de modo correspondente, 62% dos não cotistas (5.448 estudantes) concen-tram-se nos quintis superiores (quatro a cinco) da escala.

Porém a mesma tabela revela resultados surpreendentes, do ponto de vista de desempenho relativo dos estudantes que ingressaram na UFBA através do Programa de Ações Afi rmativas. A maioria (72%) dos cotistas posicionados no quintil inferior da tabela demonstram progresso em seu desempenho escolar, proporção signifi cativamen-te maior em comparação com os não-cotistas (51%). Mais ainda, em todos os quintis, cotistas obtiveram consistentemente melhor desempenho relativo ao escore de ingresso do que não cotistas, ten-dendo ao equilíbrio nos quintis superiores da escala.

Na Tabela 4.12, pode-se observar que os índices de conclusão são reduzidos nas coortes recentes porque os estudantes neces-sitam de maior intervalo de tempo para cumprir a duração dos respectivos cursos. Para todas as coortes, não existem diferenças entre cotistas e não-cotistas nos indicadores de continuidade dos cursos, taxas de conclusão e transferência e de jubilamentos e de-sistências. Evidentemente que tais indicadores são subestimados devido ao fenômeno da subnotifi cação e ao registro atrasado na burocracia acadêmica. Não obstante, ressalte-se que a variação nos indicadores ocorre consistentemente em igual medida para ambos os grupos de comparação, cotistas e não-cotistas.

A explicação para resultados tão positivos pode se encontrar justamente na refutação dos dois fatores acima destacados como eixo da crítica contraposta ao regime de cotas na UFBA.

O primeiro elemento assinalado pelos críticos, por um lado, implica uma suposição razoável, haja vista a real situação do con-tingente de ingressantes pelas cotas, em mais de 60% oriundos de famílias com renda média abaixo de três salários mínimos. Nesse caso, os achados da presente análise podem simplesmente atestar o impacto positivo das estratégias de prevenção da evasão escolar nos grupos de alunos benefi ciados pelas políticas de Ações Afi rmativas (ampliação de bolsas, expansão de moradia estudantil, abertura de restaurante universitário, Programa Permanecer) que aplicamos na UFBA, no contexto do REUNI, efi cientes mesmo considerando seus limites e carências. (Ver capítulo 7 adiante).

Evidências cada vez mais robustas dão conta de que, em conso-nância com os dados analisados, o desempenho relativo dos estu-dantes que se benefi ciaram da reserva de vagas nada deixa a desejar em comparação com os ingressantes pela seleção geral. Em outras palavras, os dados reconfi rmam de modo eloquente o potencial dos jovens oriundos de classes populares que sistematicamente eram excluídos do acesso a ensino universitário de qualidade. Mais que isso, a motivação frente à oportunidade de receber educação supe-rior, numa instituição pública de reconhecida qualidade, resulta em mais assiduidade, dedicação e aderência dos estudantes cotistas à formação universitária em comparação com seus colegas em me-lhor situação socioeconômica, protegidos por garantias de carreira e futuro profi ssional postas por sua origem familiar privilegiada.

COMENTÁRIO

No Brasil, a educação superior infelizmente tem contribuído para manter a exclusão social que ainda nos defi ne como uma das nações mais desiguais do mundo. A modernização do país fomen-tou maior demanda por ensino superior, sem o correspondente aumento da oferta. Acirrou-se a competição por vagas nas univer-sidades públicas brasileiras, por dois motivos. Primeiro, qualidade: todos os indicadores de avaliação disponíveis demonstram que o melhor ensino se encontra em universidades mantidas pelo Esta-do. Segundo, gratuidade: por preceito constitucional, a instituição pública não cobra mensalidades ou taxas.

Eis o argumento. No nível básico de ensino, os pobres, por seu reduzido poder econômico, têm sido alienados do direito à edu-cação de qualidade; a eles resta a rede pública, com precária in-fraestrutura e docentes desmotivados por baixos salários. Com a falência do ensino público de segundo grau no estado e no País, a exclusão social ocorre muito anteriormente ao momento de in-gresso na universidade, fazendo com que a composição social e ra-cial/étnica do grupo de postulantes ao ingresso na UFBA seja bas-tante diferente do perfi l sociodemográfi co da população baiana.

Ao contrário, as camadas médias e altas da sociedade, por capa-cidade fi nanceira própria, fi nanciam a educação pré-universitária de seus jovens em escolas privadas, com melhores condições de funcionamento e acesso a processos preparatórios efi cientes para

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vencer o fi ltro competitivo de seleção das universidades. Na educa-ção superior, nada pagam por formação de qualidade em institui-ções públicas, enquanto os pobres são obrigados a pagar caro em instituições privadas.

Nas discussões preparatórias para a implantação do Programa de Ações Afi rmativas, descobrimos que esta análise, aparentemen-te clara e eloquente, oculta dois equívocos e uma falácia.

O primeiro equívoco refere-se ao conceito de gratuidade, como se pudesse existir alguma atividade, realizada com qualidade e efi -ciência, sem custos estruturais e operacionais. A universidade pú-blica, dada sua missão social, é cara. E longe está de ser gratuita. É de fato pré-paga pelo orçamento público, constituído por impos-tos, taxas e contribuições sociais.

O segundo equívoco encontra-se na premissa de que, “por ca-pacidade fi nanceira própria”, as classes abonadas preparam seus jovens para ganhar acesso à universidade pública. Isto não é ver-dade. No Brasil, importante parcela das despesas com educação retorna às famílias com maior nível de renda sob a forma de des-contos e restituição de impostos. Dessa forma, gigantesca renún-cia fi scal subsidia a educação básica privada das classes média e alta, o que lhes facilita predominar na educação superior pública.

A falácia encontra-se na conclusão de que o Estado é sustenta-do por toda a sociedade, igualmente. A estrutura tributária brasi-leira – regressiva no imposto de renda, omissa e inoperante no que concerne à taxação da riqueza e pouco transparente e irracional no caso das taxas sobre produção e consumo – é em si impor-tante fator de desigualdade social. Dados do IPEA revelam que os mais pobres pagam 49% de sua renda em impostos, enquanto os que ganham mais de 10 salários mínimos mensais contribuem com apenas 26% da sua receita. Proporcionalmente à renda, os pobres contribuem mais para custear a máquina estatal, em todos os níveis e setores de governo, do que os contribuintes de melhor situação econômica.

A maioria de pobres não só fi nancia a educação superior pú-blica, mas também subsidia a educação básica privada daqueles membros da minoria social que, na falta de políticas de ações afi r-mativas, ocupariam a maior parte das vagas públicas. Do ponto de vista da reprodução social, a formação daqueles oriundos de classe

social detentora de recursos fi nanceiros, poder político e capital social se dá, nas universidades públicas, em carreiras profi ssionais de maior retorno econômico, poder político e prestígio social.

Para melhor apreciar nossos esforços no sentido de implantar um Programa de Ações Afi rmativas na UFBA, efetivo e sustentável, é pre-ciso compreender a questão do acesso à universidade enquanto me-canismo promotor de igualdade de oportunidades, visando à inclusão social pela via da educação superior. Para tanto, devemos com prio-ridade considerar elementos estruturantes e determinantes da dívida social e política da história brasileira. Entre os fatores determinantes, como vimos acima, a profunda perversão social e política do sistema educacional brasileiro merece maior refl exão. Entre as questões es-truturais, em primeiro lugar, o genocídio e etnocídio dos povos ame-ríndios e a vergonhosa escravatura de africanos, parte trágica da nossa herança colonial. Em segundo lugar, a profunda desigualdade econô-mica, considerada até há pouco uma das piores do mundo, base da exclusão social que infelizmente ainda defi ne a nação brasileira.

A missão social da Universidade inclui sua própria mudança como instituição acadêmica para assim poder contribuir, com o que tem de melhor, para a transformação da sociedade, na direção de um mundo mais justo e solidário.

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UFBA Universidade Nova

CAPÍTULO 5

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Em 2006, depois de nossa reeleição, a Universidade Federal da Bahia encontrava-se num momento privilegiado, em termos de conjuntura externa tanto quanto interna, para avançar nos pro-cessos de transformação que pusemos em marcha no primeiro mandato. No início daquele ano, os Conselhos Superiores tinham decidido retomar as discussões sobre o Plano de Desenvolvimento Institucional (PDI) que havia sido aprovado em 2004.

O projeto de lei da Reforma Universitária, em tramitação no Congresso Nacional desde 2005, focalizara aspectos macroestrutu-rais de fi nanciamento e controle social e microestruturais de orga-nização e gestão institucional. Lamentavelmente, o PL não defi nia mudanças signifi cativas no modelo vigente de formação acadêmica, seja na graduação, na pós-graduação ou em quaisquer modalidades de educação superior previstas na legislação em vigor. O seu foco se restringia a mecanismos regulatórios, administrativos e de fi nan-ciamento para as instituições de ensino superior, com a dimensão acadêmica reduzida à mera possibilidade de inclusão de um “ciclo de estudos gerais” no início dos cursos de graduação.

O esgotamento do modelo profi ssional de graduação vigente no Brasil era uma constatação já quase consensual. Estreitos campos de saber contemplados nos projetos pedagógicos, precocidade na escolha das carreiras, altos índices de evasão de estudantes por desencanto com os estudos, descompasso entre a rigidez da formação profi ssional e as amplas e diversifi cadas competências requeridas pelo mundo do trabalho e, sobretudo, os desafi os educativos da Sociedade do Conhe-cimento demandavam um modelo de formação superior mais abran-gente, mais fl exível, mais integrador e de melhor qualidade.

No plano prático, já se registravam no País iniciativas incipien-tes, porém potencialmente capazes de promover mudanças de pa-radigma no ensino superior no país. Dentre essas, destacavam-se os cursos da USP-Leste (www.each.usp.br) e o Bacharelado em Ciências Moleculares da Universidade de São Paulo (www.cecm.

UFBA Universidade Nova

usp.br), bem como o Bacharelado em Ciências da recém-criada Universidade Federal do ABC (www.ufabc.edu.br).

DA UFBA NOVA AO REUNI UFBA

O movimento em defesa de uma nova arquitetura acadêmica para os cursos de graduação no Brasil, que resultou no REUNI, foi sem dúvida iniciado no âmbito da UFBA.

Como vimos no Capítulo 2, quando postulamos a reeleição para a Reitoria da UFBA, no início de 2006, construímos um novo programa de trabalho realçando o tema da reestruturação curricu-lar. Com toda clareza, declaramos a intenção de buscar fomentar em nossa instituição uma reforma universitária verdadeira, aquela que deve ocorrer no plano da educação, e não tímidas e hesitan-tes proposições de viabilização fi nanceira e rearranjo institucional, nos planos normativo e administrativo. Em nosso programa, inclu-ímos um item que chamamos de UFBA Nova, referência declara-da ao movimento da Escola Nova que, na década de 1920, sob a liderança de Fernando de Azevedo e Anísio Teixeira, preconizava uma renovação radical em todos os níveis de ensino no Brasil. O projeto UFBA Nova compreendia os seguintes tópicos:

• abertura de programas de cursos experimentais e interdis-ciplinares de graduação, que poderiam ser não-profi ssiona-lizantes ou não-temáticos, com projetos pedagógicos inova-dores, em grandes áreas do conhecimento.

• programas de renovação do ensino de graduação, por meio de projetos acadêmico-pedagógicos criativos e consistentes, redu-zindo as barreiras entre os níveis de ensino como, por exemplo, oferta de currículos integrados de graduação e pós-graduação.

• reformas curriculares nos cursos que ainda não haviam apre-sentado propostas de atualização do ensino de graduação.

Após nossa posse em agosto de 2006, já nas primeiras reuniões dos Conselhos Superiores propusemos avançar as discussões sobre a revisão do Plano de Desenvolvimento Institucional. Ambos os conselhos aprovaram, por unanimidade, nossa moção. Com esse intento, uma comissão bicameral, com a participação de dirigen-tes, servidores docentes, técnico-administrativos e representantes discentes foi designada para planejar e organizar o processo de

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discussão. Em seus trabalhos preliminares, a Comissão propôs pauta e estratégia de organização, incluindo cronograma que con-templava a promoção de seminários conceituais e temáticos, con-gressos internos nas unidades e uma instância geral de debates. Na pauta proposta, aprovada pelos Conselhos Superiores, destacava-se o item Arquitetura Acadêmica como uma das prioridades no processo de repensar a Universidade.

A Reitoria, então, convidou docentes e pesquisadores conhe-cidos por seu interesse por temas de vanguarda acadêmica, em especial sobre questões fi losófi cas e metodológicas relacionadas à interdisciplinaridade, para uma série de diálogos. Inicialmente, reuniram-se representantes de áreas de conhecimento afi ns, po-rém logo se mesclaram origens institucionais, epistemológicas e paradigmáticas, em grupos gerais de discussão. Em paralelo, uma equipe técnica da Pró-Reitoria de Ensino de Graduação, com a colaboração de um grupo de trabalho ad hoc designado pela Rei-toria, dedicou-se a avaliar aspectos pedagógicos e operacionais da proposta, bem como seu marco legal.

O projeto UFBA Nova rapidamente começou a tomar forma, deixando de ser uma boa intenção num documento retórico de po-

lítica institucional. Em setembro de 2006, foi apresentado formal-mente ao Conselho Superior de Ensino, Pesquisa e Extensão e ao Conselho Universitário, órgãos máximos de deliberação da UFBA, que determinaram à nossa equipe levar a proposta às unidades, in-cluindo-a como parte do processo de discussão do PDI. Antes de descrevê-lo com algum grau de detalhamento, precisamos narrar como o projeto UFBA Nova tornou-se Universidade Nova.

UNIVERSIDADE NOVA

Nos informes de uma Reunião da ANDIFES, realizada em Recife, em setembro de 2006, como parte das comemorações dos sessenta anos da Universidade Federal de Pernambuco, o Reitor comunicou ao Conselho Pleno o andamento do projeto. A acolhida foi calorosa, com vários dirigentes se posicionando como parceiros em potencial.

Logo após o início das discussões, em outubro de 2006, apresen-tamos duas propostas ao Ministro Fernando Haddad: um plano de implantação de uma rede de faculdades comunitárias municipais e o projeto UFBA Nova. O Ministro interessou-se sobremaneira pela segunda proposição, que visava superar problemas herdados Exposição UFBA

A Universidade Nova, no Shopping Iguatemi (2008)

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da reforma universitária de 1968. Por sua indicação, apresentamos esboços da proposta à Secretaria de Ensino Superior do MEC que, de imediato, convidou-nos a uma ofi cina de trabalho para colabo-rar na discussão do projeto da Universidade do Mercosul.

Na Pauta da reunião ordinária regular da ANDIFES, no mesmo mês, o Reitor apresentou em maior detalhe a proposta, já com a nova denominação de Universidade Nova. Vários reitores de uni-versidades federais decidiram se engajar numa rede de discussão e acompanhamento do projeto, com grupos de trabalho e semi-nários locais e nacionais. A partir daí, a proposta rapidamente ga-nhou visibilidade na mídia, angariando adeptos fervorosos (e crí-ticos ferrenhos) não somente na comunidade acadêmica local mas também em outras instituições federais de ensino superior.

O apoio do Ministério da Educação, representado por sua Se-cretaria de Ensino Superior (SESu/MEC), veio dar ao movimen-to da Universidade Nova o indispensável respaldo institucional. Isso foi concretizado através da criação, pela SESu, de um Grupo Técnico de Trabalho para elabora-

ção de um projeto em escala nacional. Em dezembro de 2006 aconteceu em Salvador o I Seminário Nacional da Universidade Nova, realizado pela UFBA e promovido pela ANDIFES, sob o patrocínio do MEC, seguido do II Seminário, na Universidade de Brasília, em março de 2007. Tudo isso signifi cou decisiva amplia-ção do escopo original da proposta, infl uenciando o projeto de go-verno para a educação superior incluído no Plano de Desenvolvi-mento da Educação (PDE). A divulgação e debate dessas idéias no meio universitário nacional e na equipe técnica do MEC se deu, nesse primeiro momento, de forma tão vigorosa que as minutas iniciais dos documentos preparatórios do que viria a ser o REUNI o designavam como Programa Universidade Nova.

Exposição UFBA A Universidade Nova, no Shopping Iguatemi (2008)

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REUNI

O REUNI (Programa de Apoio a Planos de Expansão e Rees-truturação das Universidades Federais: reuni.mec.gov.br) foi es-tabelecido pelo Decreto Presidencial nº 6.096/07, assinado pelo Presidente Lula em abril de 2007.

Compreende, em termos práticos, um programa de ampliação física e reestruturação pedagógica do sistema federal de educação superior concebido para duplicar a oferta de vagas públicas no ensino superior. O REUNI veio ao encontro das expectativas das universidades federais que, a exemplo da UFBA, necessitavam de respaldo fi nanceiro para se renovarem, tanto no plano estrutu-ral quanto no organizacional e acadêmico. Essa ampla renovação buscava induzir efi ciência na rede federal de educação superior, que se expressaria por meio de duas metas claras: ampliação do acesso, com elevação da relação professor/aluno e aumento da taxa de diplomação dos cursos de graduação. Com um orçamento de 7 bilhões de Reais a serem aplicados em cinco anos, tornou-se seguramente o mais ambicioso programa dessa natureza já tenta-do no Brasil.

As exigências do Decreto, assim como o prazo para adesão ini-cial ao Programa REUNI, realmente limitado pelo tempo polí-tico do MEC, possibilitaram, no entanto, trazer à apreciação das instâncias deliberativas das universidades participantes uma pro-posta concreta de expansão e reestruturação, respeitando a au-tonomia de cada instituição. As diretrizes do REUNI compreen-diam os seguintes pontos: expansão de matrículas, em especial no turno noturno; diversifi cação da graduação; mobilidade estudantil ampla; articulação da educação superior com a educação básica, profi ssional e tecnológica; programas de inclusão social e assistên-cia estudantil. As universidades participantes deveriam apresentar propostas, comprometendo-se com metas de efi ciência: alcançar, ao fi nal do programa, taxa de conclusão de 90% e razão aluno/professor (RAP) de 18:1. Convém registrar que o indicador da taxa de conclusão, aparentemente inalcançável como média ge-ral, na verdade incentiva o aproveitamento de vagas residuais por mobilidade interna ou externa. Por outro lado, a relação aluno/professor poderia incorporar estudantes de pós-graduação, obede-cendo aos critérios de qualidade da CAPES.

Do ponto de vista da reestruturação, o REUNI, por um lado, abria espaço para elementos de inovação, como a oferta de cur-sos tecnológicos, a retomada e ampliação do Programa de Licen-ciaturas Especiais e a criação de novas modalidades de cursos de graduação. Por outro lado, em paralelo ou em transição, permitia a manutenção dos cursos atuais, com a devida articulação de suas estruturas curriculares a modelos reestruturados de arqui-tetura acadêmica.

Por razões que certamente merecerão estudos mais aprofun-dados e uma análise política cuidadosa, o REUNI sofreu intensa oposição de parte do movimento estudantil. Em 25 universidades, houve tumulto e violência em reuniões de Conselhos Universi-tários; 14 Reitorias foram invadidas; 9 dessas ocupações somente terminaram mediante emissão de mandados judiciais de reinte-gração de posse. Apesar da reação, no prazo, todas as 54 universi-dades federais brasileiras aderiram ao Programa REUNI.

O REUNI NA UFBA

A condução do processo de discussão do Programa REUNI na UFBA buscou, desde o princípio, ampla divulgação, com esclareci-mentos e debates sobre princípios, propósitos e operacionalização do Programa. Foram realizadas sucessivas reuniões dos Conselhos Superiores – juntos e separadamente; o Reitor, o Pró-Reitor de Graduação e sua equipe técnica, atendendo a todos os convites formulados, compareceram para discutir o assunto nas Unidades Universitárias. Além disso, foi enviada correspondência às Unida-des com orientações sobre participação no Programa, com a previ-são de modalidades e critérios para a adesão, todas elas vinculando a ampliação de vagas à atribuição dos recursos disponibilizados para a UFBA.

Textos preliminares de referência, documentos correlatos, ar-quivos de apresentação e minutas do anteprojeto, a partir do mo-mento das respectivas elaborações, foram submetidos a ampla di-vulgação pública no sítio da UFBA (www.ufba.br) e numa página especial do movimento da Universidade Nova (www.universida-denova.ufba.br). Um profuso e complexo calendário de palestras, reuniões e debates foi de fato cumprido pela equipe técnica do

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Programa, com a participação voluntária de mais de 300 cola-boradores, entre professores, servidores, estudantes e membros de organizações da sociedade civil. Foram exatas 212 (duzentas e doze!) atividades de elaboração, apresentação, esclarecimentos, debates e deliberações, dentro e fora da UFBA, durante mais de 15 meses, para a elaboração do Plano REUNI/UFBA.

Coube às Unidades Universitárias, inicialmente, se pronun-ciarem sobre a adesão da Universidade ao REUNI e a adequa-ção ou não de seus cursos ao modelo de ciclos, além de contri-buir para uma proposta unifi cada a ser submetida à apreciação dos Conselhos Superiores. Das 30 Unidades Acadêmicas, 26 se manifestaram favoráveis à participação no REUNI e contribu-íram para a elaboração do documento-base do REUNI/UFBA. Apenas as escolas de Teatro e de Belas Artes e as Faculdades de Medicina e de Educação rejeitaram a proposta de adesão da UFBA ao REUNI.

A proposta de adesão ao REUNI foi aprovada pelo Conselho Universitário da UFBA, em reunião extraordinária de 19 de ou-tubro de 2007, por 28 votos a favor num quorum de 33 mem-bros que registraram presença numa sessão extremamente con-turbada e polêmica. Seguindo o padrão geral de mobilização, repetido em quase todas as universidades federais, manifestan-tes tentaram, sem sucesso, protelar e depois impedir reuniões do Conselho Universitário agendadas para deliberar sobre a im-plantação do Programa em nossa universidade. Inconformados com a decisão majoritária do Conselho e das Congregações de 26 unidades universitárias, ocuparam a Reitoria da UFBA por 42 dias.

A aprovação do Plano REUNI/UFBA apenas deu início a um complexo e intrincado processo de reestruturação acadêmica da Universidade Federal da Bahia. Tal como tem ocorrido em todas as universidades federais que se engajaram no processo, a constru-ção da proposta do REUNI foi realizada de modo participativo, atendendo às diretrizes político-pedagógicas pertinentes. Como se pode verifi car, apesar das insistentes, porém equivocadas, de-núncias de falta de discussão, por parte de alguns setores sindicais docentes e do movimento estudantil, o processo de concepção, elaboração, apreciação e aprovação do Plano foi, sem dúvida, trans-

parente e aberto à discussão crítica. Não participou dos debates apenas quem boicotou o processo ou deliberadamente recusou as sucessivas oportunidades.

Não obstante, ao ser aprovado, o Plano estava longe de pronto e acabado; continuava em construção, com paciência e cuidado. Envolveu estudos técnicos detalhados, não só da área de educação superior, mas também de cada uma das áreas de conhecimento envolvidas. Os projetos político-pedagógicos que compuseram a Proposta de Reestruturação da Arquitetura Curricular foram de-talhados e submetidos às instâncias acadêmicas pertinentes. De-vidamente consolidadas, todas as propostas de alterações em es-trutura acadêmica, programas e grades curriculares da graduação e da pós-graduação foram avaliadas pelos colegiados de cursos e congregações das unidades proponentes.

Durante todo o ano de 2008, tais propostas foram apreciadas pelos Conselhos Superiores da UFBA. Inicialmente, foram ouvi-das as câmaras respectivas do CONSEPE, sobretudo porque o REUNI teria impactos não só na graduação, mas na pós-gradu-ação, na pesquisa e na extensão. Em seguida, conforme veremos adiante, o CONSUNI implementou mudanças institucionais e administrativas que foram necessárias para viabilizar as transfor-mações acadêmicas propostas. Nesse processo, duas das unidades que se posicionaram contrárias decidiram, de modo variado, par-ticipar do Plano REUNI/UFBA. Somente a Faculdade de Medi-cina, cuja Congregação – mesmo convidada, por duas vezes, a rever sua posição – e a Escola de Belas Artes não apresentaram qualquer proposta ao Plano REUNI/UFBA e mantém, até o mo-mento, o veto à entrada no Programa.

Além da UFBA, todas as universidades federais do Brasil, através da ANDIFES (Associação Nacional de Dirigentes de Instituições Federais de Educação Superior: www.andifes.org.br) continuam até hoje engajadas nesse processo. Debates em cada uma delas têm sido úteis para nossa própria discussão, e vice-versa. O pró-prio MEC tem contribuído promovendo vários seminários sobre aspectos específi cos do REUNI. O Conselho Nacional de Educa-ção, por meio de sua Câmara de Ensino Superior, tem emitido pareceres e resoluções que claramente apoiam a nova estrutura de formação proposta pelo REUNI.

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ampliava oferta de vagas em cursos existentes sem contar com do-centes, instalações, recursos fi nanceiros; só depois se buscava criar as condições mínimas para tanto. Esse tipo de crescimento pode ser chamado de autonomia-sem-apoio. Nessa fase, as instituições federais de ensino superior (IFES) realizaram vigoroso ajuste que, otimizando recursos humanos e materiais, permitiu ampliar a re-

EXPANSÃO DE VAGAS E CURSOS NOTURNOS

Trinta anos depois da expansão resultante da reforma universi-tária de 1968, o crescimento da rede federal de ensino superior, no fi nal dos anos 1990, tinha se dado por iniciativa das universidades públicas e caracterizou-se por uma estratégia institucional de cria-ção de fatos consumados. A universidade abria cursos novos ou

Em 8/11/2007, foi realizada uma segunda reunião entre representan-tes do DCE e da Administração Central. A fi m de promover solução pacífi ca ao impasse instalado, aceitamos a proposta de convocação de uma Reunião Extraordinária do CONSUNI tendo como ponto único de pauta Assistência Estudantil e Ações Afi rmativas na UFBA e soli-citamos desocupação imediata da Reitoria, com responsabilização do DCE pelos danos materiais e institucionais porventura causados ao patrimônio público. A representação do DCE rejeitou a proposta da Reitoria, reiterou sua posição contrária ao REUNI e insistiu em conti-nuar desrespeitando a decisão do Conselho Universitário.

Nova reunião foi agendada para o dia 9/11/2007, para apresentação de pauta complementar de assistência estudantil defi nida pelo Conselho de Entidades de Base. A representação do DCE, apesar de ter solicitado o encontro, a ele não compareceu e sequer justifi cou ausência. Confi r-mado o rompimento das negociações e constatada a ampliação da ocu-pação estudantil, com piquetes que obstruíam o acesso dos servidores aos órgãos administrativos, solicitamos à Procuradoria Geral Federal requerer reintegração de posse da sede da Reitoria. A Justiça Federal de imediato atendeu ao requerimento e notifi cou os ocupantes, que se negaram a receber os ofi ciais de justiça. Na manhã de 15/11/2007, por solicitação da Juíza Federal encarregada do processo, a Polícia Fe-deral executou o mandado de reintegração de posse. Encontraram 18 ocupantes, sendo que quatro resistiram à ordem de remoção e foram detidos pela PF (apenas um destes era estudante da UFBA).

Em nota ofi cial, assinalamos que em nenhum dos documentos ou con-tatos, o movimento estudantil “trouxe qualquer explicação racional para manifestação contrária à adesão da UFBA ao REUNI, amplian-do o alunado em mais de 17.000 matrículas novas, principalmente em cursos noturnos. Nenhuma justifi cativa foi dada para a estranha proposta de que a UFBA deve renunciar a mais de 200 milhões do orçamento público federal, rejeitando a contratação de mais de 1.000 docentes e técnicos. Nenhum argumento foi trazido pelo DCE para justifi car a dispensa de 18 milhões de Reais incluídos no REUNI/UFBA para assistência estudantil, nos próximos 5 anos.” Concluímos a nota “reiterando nossa profunda tristeza e indignação pelas agressões à mais antiga instituição de educação superior do Estado da Bahia, às suas instâncias democráticas de gestão e aos valores acadêmicos da Universidade Federal da Bahia.” (NAF)

A REAÇÃO ESTUDANTIL CONTRA O REUNI NA UFBAA ocupação da Reitoria durou 42 dias. De fato, foi uma sequência de três manifestações: a primeira, iniciada em 1/10/2007, conduzida pelos usuários das residências universitárias, durou dois dias e foi paci-fi camente resolvida pela negociação da pauta de reivindicações.

A segunda, iniciada em 3/10/2007 por um grupo de manifestantes que rejeitava o DCE como representativo do movimento. Autode-nominada de MORU – Movimento de Ocupação da Reitoria da Universidade, essa mobilização tinha como pauta única a rejeição ao Programa REUNI. Seus participantes utilizavam-se com frequência da internet para divulgar vídeos do cotidiano da ocupação, onde, apa-rentemente, reiteravam que sua motivação principal era... ocupar a Reitoria da UFBA.

A terceira, a partir de 18 de outubro, foi assumida pela Direção do DCE que, em seguida, participou da ocupação da Reitoria e da ten-tativa de impedimento da Reunião Extraordinária do CONSUNI que aprovou o Programa REUNI/UFBA em 19/10/2007. A partir de 22/10/2007, os ocupantes da Reitoria passaram a impedir o acesso de todos os funcionários do prédio da Reitoria, culminando com a ocupação da FAPEX. Durante todo o período de ocupação, a Reitoria manifestou de modo reiterado respeito às instâncias representativas institucionais, confi rmando sua disponibilidade de negociação exclu-sivamente através do DCE da UFBA. Apesar disso, a Reitoria nunca recebeu qualquer manifestação institucional do movimento estudan-til, solicitando negociações, justifi cando posicionamentos ou apresen-tando reivindicações.

Somente no dia 2/11/2007, o DCE divulgou na internet um docu-mento em que se posicionava contra o REUNI e exigia revogação da decisão do CONSUNI de 19/10/2007. Em 6/11/2007, foi realizada uma reunião entre o DCE e representantes da Administração Central, quando a representação estudantil ratifi cou todos os pontos da pauta divulgada. Após avaliação cuidadosa, a Reitoria considerou inaceitáveis os ítens da pauta estudantil contrários às deliberações de 26 Congrega-ções das 30 Unidades de Ensino que compunham a UFBA, cujos pre-sidentes são membros natos do Conselho Universitário, representando assim desqualifi cação do órgão máximo deliberativo da instituição.

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lação aluno/professor do pata-mar de 9:1 para quase 12:1.

A segunda onda de expan-são ocorreu no fi nal do primei-ro Governo Lula, na gestão do Ministro Fernando Haddad. A principal característica dessa fase foi a interiorização da uni-versidade brasileira como aten-dimento emergencial a deman-das históricas de populações e regiões representadas por lideranças político-partidárias. Nesse caso, as iniciativas eram tomadas pelo Governo Fede-ral, pouco respeitando a auto-nomia das IFES.

Por todos esses motivos, pode-se dizer que se tratava de crescimento tipo apoio-sem-autonomia. A estratégia predominante baseava-se na implantação de cursos simulta-neamente à contratação de do-centes e realização dos investi-mentos necessários. Nessa fase, o fi nanciamento era realizado durante a expansão de ativi-dades da universidade. Assim,

a partir de 2004, foram criadas dez universidades federais (duas novas, duas pelo desmembramento de universidades existentes e seis a partir de escolas e faculdades especializadas) e 48 campi universitários em diversas regiões do país.

O REUNI inaugurou a terceira fase de expansão do sistema uni-versitário federal. Finalmente tínhamos um modelo induzido de crescimento das instituições públicas de educação superior que, por um lado, respeitava a autonomia universitária, acolhendo propostas específi cas elaboradas por cada uma das instituições participantes

do programa. Por outro lado, pela primeira vez, os investimentos em obras e instalações, a aplicação de recursos de custeio, a modelagem pedagógica, a contratação dos quadros de servidores docentes e téc-nico-administrativos, se faziam antes da expansão de atividades e de vagas. Construída em parceria com a ANDIFES, essa modalidade de crescimento pode ser caracterizada como apoio-com-autonomia.

Não obstante, algumas questões precisam ser consideradas. Pri-meiro, o REUNI introduziu no sistema federal de educação supe-rior um modelo de gestão semelhante aos que regulam o repasse de recursos públicos do Sistema Único de Saúde. Portanto, impunha planejamento estratégico de recursos, insumos e atividades das uni-versidades, obrigando-as a pensar o futuro de curto e médio prazo, prática ainda pouco frequente nas instituições universitárias bra-sileiras. Em segundo lugar, os incentivos e apoios estavam condi-cionados ao atendimento de metas pertinentes, supervisionado por sistemas de avaliação existentes como SINAES e CAPES ou a se-rem criados. Enfi m, o REUNI representou poderoso indutor de efi -ciência institucional e de qualifi cação pedagógica. Desse modo, ao contribuir para reduzir a dívida social do ensino superior, implicava grande potencial de revalorização do campo público da educação.

Revisemos a situação da UFBA nesse aspecto. Considerando o período de 1970 a 2002, portanto mais de três décadas, o número de ingressos em nossos cursos de graduação teve um crescimento muito baixo, de apenas 28%, enquanto o número de candidatos ao vestibular aumentou dez vezes mais. Para mudar esse quadro de estagnação, nossa Pró-Reitoria de Graduação havia incluído, no seu Plano de Trabalho 2003-2006, diversas metas referentes à abertura de novas vagas a partir de ações bastante diversifi ca-das, tais como: interiorização da Universidade; criação de novos cursos; aumento de vagas em cursos já existentes; implantação de cursos noturnos; preenchimento regulado de vagas ociosas. Todas essas ações foram implementadas com sucesso e, entre 2002 e 2006, o aumento de ingressos por vias alternativas chegou a 1.700 novos estudantes. A UFBA atingiu, em 2006, em relação a 2002, o percentual de 22% de crescimento. Note-se que não estão inclu-ídos nesses dados os cursos novos criados em 2004 na Escola de Agronomia de Cruz das Almas, que em 2006 passaram a perten-cer à Universidade Federal do Recôncavo da Bahia.

UMA QUESTÃO EMERGENCIAL Uma nação como o Brasil, que chegou ao ano de 2007 com um índice de apenas 10% dos seus jovens de 18 a 24 anos matriculados no en-sino superior, precisava fazer um grande esforço no sentido da expansão desse nível de ensino. A meta defi nida pelo Plano Nacional de Educação projetava um índice de co-bertura da educação superior de 30% (em 2010), o que nos colocaria em condições pelo menos comparáveis às das na-ções desenvolvidas. Entretanto, a estratégia adota-da pelo MEC nas décadas an-teriores, baseada no aumento de vagas em instituições pri-vadas – a maior parte delas com fi ns lucrativos – mostra-va-se academicamente ques-tionável e incapaz de possibi-litar o atendimento das metas do PNE. Por isso, construiu-se amplo consenso de que reto-mar o crescimento do ensino superior público é questão emergencial e essencial para o desenvolvimento do país.

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O incremento resultante, apesar de expressivo, não chega-va, entretanto, a esgotar o potencial de expansão possível para a UFBA. Muitos espaços e equipamentos destinados ao ensino per-maneciam ociosos nos turnos vespertino e noturno e ainda per-sistia grande número de turmas teóricas com reduzido número de estudantes. A RAP em 2006 era de apenas 11,7 alunos por professor (praticamente a mesma de 2002). Além de aulas notur-nas para alguns cursos diurnos, só havia nessa época dois cursos efetivamente noturnos na UFBA: Física e Geografi a. Essa situa-ção demandava uma regulamentação interna para otimização da oferta de disciplinas, utilização do período noturno e atribuição de encargos docentes por regime de trabalho. Tais instrumentos, somados aos recursos adicionais previstos no Programa REUNI, permitiriam à instituição cumprir suas metas de expansão.

O Plano REUNI/UFBA previa, dentre as metas a serem alcan-çadas, ampliar matrículas em cursos presenciais de graduação, al-

cançando o total de 37,8 mil estudantes. Isso permitiria elevar progressivamente a relação aluno/professor até 18:1, consideran-do a dedução possibilitada pelo aumento paralelo da pós-gradua-ção. Para atingir tais metas, prevíamos oferecer 2.530 vagas novas em cursos noturnos e 1.980 em cursos diurnos de graduação, nas diversas modalidades, até o fi nal do Programa.

A expansão da oferta (prioritariamente no turno noturno) es-taria condicionada ao aumento de servidores docentes, técnicos e administrativos da Universidade, além da conclusão de obras de ampliação e recuperação da infraestrutura física e instalação, equi-pamento ou reequipamento de espaços destinados a aulas práticas e outras atividades pedagógicas. A ampliação de vagas na gradu-ação dependeria também da revisão dos critérios de distribuição de encargos docentes então vigentes. Medidas como concentração da oferta dos cursos em um único turno, priorizando o turno no-turno, em paralelo a melhor aproveitamento do espaço físico nos

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três turnos, permitiriam a ra-cionalização das atividades di-dáticas em tempos e espaços próximos. Além disso, propú-nhamos a adoção de práticas pedagógicas mais dinâmicas, atingindo maior número de estudantes, viabilizadas pelo uso recorrente de tecnologias de informação e comunicação no ensino.

A estimativa global de au-mento de vagas nos cursos de graduação da UFBA no contexto do Programa REU-NI foi de 17 mil matrículas, correspondendo a um cresci-mento de 83% em relação ao ano-base 2007. Dependendo das propostas encaminhadas pelas Unidades Universitárias, estimamos a seguinte eleva-ção gradativa de ingressos na graduação em relação às 4.246 vagas anuais de 2008: da ordem de 20% para o ano de 2009, de 30% para 2010, de 40% para 2011 e de 50% para 2012. Previmos oferta de vagas em novos cursos diur-

nos e noturnos, mais vagas nos cursos existentes e turmas notur-nas em cursos já existentes. Estimamos ainda crescimento da pós-graduação da ordem de 38%, sendo 15% como consequência dos cursos novos já previstos e/ou aprovados e do aumento do nível das avaliações CAPES e mais 20% sobre essa base ampliada.

Obedecendo às diretrizes gerais do Programa REUNI, o módu-lo padrão médio estabelecido para cada curso/turma de graduação no novo modelo pedagógico deveria totalizar 45 estudantes. Com

base nesse parâmetro, foram propostas as seguintes modalidades de participação das Unidades Universitárias no Plano REUNI/UFBA:

• Adaptação de curso existente ao Modelo REUNI;

• Transferência de turma existente para o turno noturno;

• Curso novo noturno no Modelo REUNI;

• Curso matutino ou vespertino no Modelo REUNI;

• Oferta de componentes curriculares proporcional à partici-pação da Unidade nos Bacharelados Interdisciplinares (BI).

Como resultado dessa consulta às Unidades, delineou-se uma proposta em que os cursos manteriam o ingresso direto, podendo prever gradativa transição, ao menos em parte, de suas vagas para ingresso através dos BIs. O detalhamento dessa transição depende-ria do cronograma de implantação das reformulações curriculares. De todo modo, todos os cursos, incorporando ou não estudantes dos BIs, deveriam atender às demais dimensões do documento Diretrizes do REUNI.

As propostas de abertura de cursos novos, novas turmas ou am-pliação de vagas dos cursos existentes submetidas pelas Unidades, somadas à oferta atual da Universidade, resultaram numa matrí-cula projetada para 2012 de 32.246 estudantes de graduação, sen-do 10.656 em cursos noturnos. No primeiro ano, priorizamos a oferta de vagas noturnas uma vez que essas puderam utilizar a ca-pacidade física instalada, não dependendo da conclusão das obras de ampliação previstas. As demais vagas deveriam ser abertas de forma compatível com a organização dos cursos e na medida da liberação de recursos.

Com a dedução da pós-graduação prevista nas Diretrizes do REUNI mais as novas modalidades de formação, esse conjunto

METAS DO REUNI UFBA• Implantação de 28 novos cursos de graduação;• Abertura de 21 novas turmas de cursos existentes;• Ajuste de 22 cursos existentes ao REUNI;• Abertura de 16 turmas de Licenciaturas Especiais;• Implantação de 7 Cursos de Educação Superior Tecnológica;• Implantação de 4 Bacharelados Interdisciplinares.

CONDIÇÕES PARA O REUNI As condições e o desenvolvimen-to das ações para cumprimento das metas previstas para o REU-NI UFBA eram as seguintes:• Contratação de 533 novos

professores com equivalên-cia em dedicação exclusiva (DDE) e de 426 servidores técnico-administrativos.

• Obras de construção, recupe-ração, reformas, ampliações e adequação de equipamentos e instalações de ensino (confor-me propostas das Unidades).

• Conclusão dos Pavilhões de Au-las de Ondina (PAF 3) e de São Lázaro, construção de novos Pavilhões de Aulas e implanta-ção do Centro de Idiomas.

• Implantação de infraestrutu-ra tecnológica nos campi da Universidade, inclusive rede de vídeo-conferência e insta-lação de ambientes virtuais de aprendizagem (AVA).

• Reestruturação da arquitetu-ra curricular da UFBA com a implantação de novas modali-dades de cursos de graduação baseados nas Diretrizes e Di-mensões do Programa REUNI.

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de propostas levaria a uma matrícula superior a 40 mil estudan-tes em 2012, o que signifi ca que se poderia, com folga, alcançar a dimensão prevista para a UFBA dentro das condições de pes-soal e custeio estabelecidas. Defendemos, no entanto, que fosse observado o limite defi nido pela SESu/MEC (MAT = 37.840) uma vez que dele decorre a magnitude dos recursos disponíveis para investimento.

Com a manutenção da oferta de vagas nos cursos diurnos (que eram 4.246 em 2008), propusemos a abertura de 1.215 vagas novas em cursos noturnos. Além disso, postulamos a inclusão, no projeto, da oferta de 800 vagas novas através do Programa de Li-cenciaturas Especiais, para formação de professores das redes pú-blicas de ensino, ante a reconhecida necessidade de melhoria da educação básica. Essa medida atenderia a um dos elementos de integração com outros níveis de ensino, cumprindo uma das mais importantes dimensões do REUNI. Com a disponibilização de servidores docentes e técnico-administrativos através do REUNI, o custo para o Estado e as prefeituras seria reduzido, possibilitan-do maior participação nos programas de formação. Finalmente, previmos a oferta, até 2012, de até 2.315 vagas novas em modali-dades alternativas de formação (Cursos Superiores Tecnológicos e Bacharelados Interdisciplinares).

BACHARELADOS INTERDISCIPLINARES

Como vimos acima, a proposta de arquitetura acadêmica cha-mada UFBA Nova havia sido apresentada pelo Reitor ao Ministro da Educação, em agosto de 2006. A reestruturação curricular pre-tendida visava a retifi car distorções que marcaram a última refor-ma da educação superior, a de 1968, que importara modelos orga-nizacionais estrangeiros, deixando intocado um regime acadêmico àquela altura já obsoleto.

Num tempo marcado pelo dinamismo e pelo intenso desloca-mento de pessoas no espaço real e virtual, em consequência de uma vasta rede de relações institucionais e pessoais que se estende por todo o planeta, é inaceitável que instituições superiores de educa-ção preservem currículos que difi cultam a mobilidade de estudan-tes entre cursos e instituições. As tradicionais grades curriculares devem ceder espaço a estruturas fl exíveis, abertas a diversos itinerá-

rios formativos que possibilitem aos estudantes se deslocarem entre cursos e instituições com pleno aproveitamento de estudos.

Com o REUNI, abriu-se a possibilidade de reestruturar o mo-delo acadêmico então vigente na UFBA, em rede ou em articula-ção com outras universidades públicas brasileiras, implementando uma nova arquitetura curricular para os cursos de graduação. Isso implicou ajuste da atual estrutura dos cursos de formação profi s-sional e de pós-graduação no sentido de adequar os respectivos projetos pedagógicos.

As exigências do Decreto nº 6.096, de 24 de abril de 2007, no sentido de priorizar reestruturação curricular, permitiam a incor-poração no Programa REUNI de elementos da proposta inicial da UFBA Nova, convivendo com a manutenção dos cursos atuais, permitindo entrada direta para os mesmos. As principais altera-ções na estrutura curricular postuladas no Plano REUNI/UFBA compreendem a implantação de um regime de três ciclos de edu-cação universitária.

O Primeiro Ciclo compreende uma nova modalidade de cur-sos chamada de Bacharelado Interdisciplinar (BI), oferecidos nos seguintes campos: a) Artes, b) Ciência & Tecnologia, c) Humani-dades, d) Saúde. Tal modalidade serve como pré-requisito para progressão aos ciclos de formação profi ssional naqueles cursos

Palestras para divulgação dosBacharelados Interdisciplinares

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que evoluírem para o regime de ciclos. Os BI são estruturados de forma similar, em cinco Eixos Cur-riculares: Eixo das Linguagens, Eixo Interdisciplinar, Eixo da Orientação Profi ssional, Eixo de Formação Específi ca, Eixo Integrador. Os Eixos podem ser cursados em paralelo, distribuídos numa duração mínima de 6 semestres. A estrutura curricular do BI prevê um total mínimo de 2.400 horas, distribuídas em duas etapas: a Etapa da Formação Geral e a Eta-pa da Formação Específi ca. A Formação Específi ca pode corresponder a uma Área de Concentração, de livre escolha do estudante, constituída de com-ponentes curriculares previamente defi nidos, jun-tamente com componentes optativos que se refe-rem a campos específi cos do conhecimento e ainda componentes inteiramente livres. O estudante pode ainda preferir manter-se numa estrutura curricular mais fl exível e aberta, denominada de Grande Área, que lhe proporciona uma formação mais generalis-ta. Ainda assim, qualquer dos trajetos da Etapa de Formação Especifi ca possibilita a escolha de itine-rários diversifi cados, dentro de um leque de opções previamente defi nidas.

A estrutura aberta do BI articula uma formação universitária geral com uma formação específi ca, o que propicia tanto terminalidade própria quanto, também, pode constituir etapa prévia aos cursos profi ssionais que assim o prevejam. De fato, as Gran-des Áreas estruturam-se de forma a abarcar e incluir todos os componentes curriculares das Áreas de Concentração aprovadas pelos Colegiados de cada BI, assim como os componentes curriculares ofereci-dos pelas unidades universitárias da UFBA, no cam-po de cada BI, respeitados os requisitos.

Conforme a fi gura 5.1, a continuidade dos estudos de graduação, após a conclusão do Bacharelado Inter-disciplinar, depende de adequação dos currículos dos cursos de natureza profi ssional que os estudantes se-

guirão, na condição de segundo ciclo da graduação, com duração de 1 a 3 anos. O Segundo Ciclo contempla a formação profi ssional específi ca, encurtando a duração dos atuais cursos e focalizando as etapas curriculares de práticas profi ssionais. O Terceiro Ciclo confi r-ma e integra a formação acadêmica em nível de pós-graduação, com cursos de mestrado e doutorado.

Trata-se, no geral, de uma estrutura modular, interdisciplinar, fl exível e progressiva, com garantia de mobilidade intra e inter-institucional. Dessa forma, os cursos de primeiro ciclo podem ser apreciados como uma nova modalidade de cursos plenos de gradu-ação não profi ssionais, fl exíveis e multifuncionais: terminais para estudantes que em princípio não almejam um diploma profi ssio-nal, possibilitarão, aos que queiram, a continuidade da formação em cursos de carreira profi ssional da Universidade. Posto que o BI preenche todos os requisitos de uma formação superior plena, seu diploma permite acesso direto ao nível mestrado, evidentemente condicionado à aprovação em processo seletivo próprio.

O conceito de Bacharelado Interdisciplinar pretende equilibrar o tempo destinado à formação geral e à específi ca e tem sua justi-fi cativa baseada na defesa de uma formação integral que possibili-tará uma leitura pertinente, sensível e crítica da realidade. Tal mo-

BachareladoInterdisciplinar

ArtesHumanidadesCiência & TecnologiaSaúde

Licenciaturas(formação docente)

Bacharelados(formação Profissional I)

Outros Diplomas(formação Profissional II)

Licenciaturas Doutorados

Figura 5.1. Regime de Ciclos do modelo UFBA Universidade Nova.

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delo deverá formar indivíduos críticos e sintonizados com o seu tempo. Essa sintonia não poderia excluir a inserção no mundo do trabalho. Uma das principais diferenças do Bacharelado Interdis-ciplinar em relação ao modelo de formação superior tradicional praticado até hoje no Brasil diz respeito ao modo de preparação para o trabalho. Enquanto o modelo tradicional se volta de forma direta e imediata para certos campos do saber ou uma profi ssio-nalização que se expressa no desenvolvimento de competências específi cas, o Bacharelado Interdisciplinar visa à preparação para o desempenho de ocupações diversas que mobilizem, de modo fl exível, competências cognitivas e habilidades técnicas.

No contexto internacional, o regime de ciclos predomina em praticamente todos os países com avançado grau de desenvolvi-mento econômico, social, cultural e científi co-tecnológico. O siste-ma de ciclos é adotado nas universidades norte-americanas desde 1910 e também na Europa, no processo de reforma universitária em curso conhecido como Pro-cesso de Bolonha (iniciado em 1999), cujo regime de ciclos prioriza estudos gerais no pri-meiro ciclo. Nas universida-des norte-americanas, apenas 1/4 da carga horária do college destina-se a um campo especia-lizado do conhecimento, geral-mente não-profi ssional, sendo o tempo restante investido no desenvolvimento de competên-cias gerais. No Processo de Bo-lonha, embora haja diferenças entre os países, uma caracterís-tica do 1º ciclo é a presença de estudos gerais.

Tomando-se o exemplo da França, a licence tem a sua carga horária dividida em três terços, sendo um deles destinado aos estudos gerais e os outros dois

voltados para uma área principal de concentração (básica ou profi s-sional) e uma área afi m (majeure/mineure). Outras regiões do mundo, como Sudeste Asiático e Oceania também adotam modelos conver-gentes. Países latino-americanos que realizaram reformas universitá-rias recentes, como México e Cuba, começam a implantar cursos de pre-grado como primeiro ciclo prévio às carreiras profi ssionais.

Mais detalhes sobre a arquitetura curricular de ciclos e sobre os Ba-charelados Interdisciplinares podem ser encontrados no site da Uni-versidade Nova (www.universidadenova.ufba.br) e em publicações especializadas. Nesta oportunidade, pretendemos ainda relatar alguns aspectos do seu processo de implantação, agregando comentários ana-líticos sobre o seu impacto na estrutura curricular da UFBA.

IMPLANTAÇÃO DOS BACHARELADOS INTERDISCIPLINARES

Durante o segundo semestre de 2007, em respeito à autonomia relativa das Unidades Universitárias, quanto à adesão ao modelo de ciclos de graduação, foi garantida a possibilidade de manuten-ção de cursos nos moldes antigos, de um só ciclo e com ingresso específi co. Entretanto, todos os cursos deveriam adequar os seus projetos pedagógicos de forma a contemplar os princípios estabe-lecidos no REUNI, nos sentidos seguintes:

• manter regime de progressão linear, com ingresso específi co para cada curso;

• introduzir regime de dois ciclos de graduação (BI + 1/2/3 anos);

• desenvolver formatos híbridos ou convergentes, acolhendo egressos dos Bacharelados Interdisciplinares.

Com a oportunidade de ampliação de vagas representada pelo REUNI, várias Unidades Universitárias apresentaram propostas de integração curricular ao regime de ciclos. Outras, mais volta-das para formação profi ssional preferiram a modalidade Curso Superior Tecnológico (CST), considerando o aproveitamento de recursos humanos, instalações e experiência já existentes dentro das respectivas áreas, bem como a identifi cação de demandas do mundo do trabalho por esse tipo de profi ssional.

De acordo com o Plano REUNI/UFBA aprovado em outubro de 2007, previa-se um período de transição entre 2008 e 2012, com ações e metas programadas para adoção da nova arquitetura curricular.

REGIME DE CICLOS

A arquitetura curricular por ci-clos na formação universitária não é inédita no Brasil ou no mundo. No Brasil, a proposta da UFBA converge, sobretudo, com os princípios fi losófi cos e pedagógicos que nortearam a fundação da Universidade de Brasília em 1961, sob a li-derança de Anísio Teixeira e Darcy Ribeiro. Atualmente, a Universidade Federal do ABC já adota o Bacharelado Inter-disciplinar como requisito para licenciaturas e engenharias; outras nove universidades fe-derais apresentaram propostas ao REUNI contemplando, de modo ainda que restrito, pro-postas similares ou conver-gentes como Bacharelados em Grandes Áreas; 19 cursos dessa modalidade foram oferecidos para o ano letivo de 2010.

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Durante todo o ano de 2008, após um meritório esforço concentrado, em nove reuniões extraordinárias consecutivas, o CONSEPE aprovou todas as normas e regras necessárias à im-plantação dos novos formatos curriculares. Além disso, apreciou as propostas de distribuição de vagas docentes e realização dos respectivos concursos. Em seguimento, foi concluída a elaboração e apreciação, pela Câmara de Ensino de Graduação, dos projetos pedagógicos dos novos cursos de graduação, bem como a aprova-ção das ampliações de vagas nos processos seletivos referentes ao ano de 2009.

Com a chegada da primeira parcela dos recursos fi nanceiros do REUNI em meados de 2008, o CONSUNI apressou-se a delibe-rar sobre aplicação dos recursos nas ações de ampliação e recu-peração da infraestrutura física e implantação de parque tecno-lógico necessário para dar suporte às novas atividades de ensino. Isso permitiu a retomada e conclusão dos debates sobre o Plano Diretor Físico e Ambiental (ver Capítulo seguinte). Além disso, o CONSUNI dedicou-se à aprovação de resoluções regulamenta-doras das mudanças institucionais essenciais para a implantação do Plano REUNI/UFBA, nesse caso, alterações normativas que anteciparam a atualização do marco normativo da UFBA (confor-me o Capítulo 7, adiante).

A partir de 2009, a UFBA passou a oferecer Bacharelados In-terdisciplinares em quatro grande áreas: Artes, Humanidades, Ci-ência & Tecnologia, Saúde. Os novos estudantes puderam ingres-sar na UFBA tanto nos cursos convencionais (já denominados de Cursos de Progressão Linear, seguindo normatização pertinente do CONSEPE), quanto nas novas modalidades de formação. Nes-se último caso, o ingresso em 2009 se deu através da primeira fase do vestibular. De 2010 em diante, defi niu-se a utilização do novo ENEM como fase única do processo seletivo. Para os cursos que optaram por manter suas grades curriculares, os ingressos têm ocorrido através do processo seletivo tradicional, com o exame vestibular em duas etapas.

De acordo com o Plano REUNI/UFBA, previa-se para 2009 uma oferta nas modalidades novas de formação correspondente a 20% sobre o total de vagas oferecidas em 2007, o que implicaria em 850 vagas. De 2010 a 2012, as vagas oferecidas nas modalida-

des novas de formação seriam aumentadas na proporção de 10% a cada ano, sobre o número-base de 2009, até atingir 50%, em 2012. No mesmo período, haveria um ajuste gradual do número de vagas de ingresso nos cursos profi ssionais que adotassem o BI como forma de entrada.

Houve inesperada aceitação da sociedade em relação às novas modalidades de formação incluídas no Plano REUNI/UFBA. Em 2009, foram ofertadas 1.025 vagas para os BIs e CSTs, que re-ceberam uma média superior a 5 candidatos por vaga. Detalhe importante, apenas no BI, das 980 vagas, 700 foram ofertadas no período noturno. O BI de Saúde recebeu 12 candidatos por vaga e a procura pelo BI de Ciência & Tecnologia superou quase todas as engenharias (acima de 10 candidatos por vaga). Isso nos incen-tivou, em 2010, a oferecer 90 vagas em dois CSTs e 1.380 vagas para os BIs em quatro grandes áreas e duas opções de turno (900 vagas noturnas), ultrapassando largamente as estimativas iniciais. No Quadro 5.1, apresentamos o perfi l resultante de oferta de va-gas nos Bacharelados Interdisciplinares.

Bacharelado Interdisciplinar em:

Opção de Formação Profi ssional com preferência para egressos do BI; previsão de 1.500 vagas (20%) em 2012, nos seguintes cursos:

Licenciaturas e Bacharelados em Letras, Licenciaturas em Dança, Teatro, Belas Artes, Música Popular, Licenciatura em Música, Cinema e Vídeo

ARTES...

300 vagas

Quadro 5.1. Oferta de vagas nos Bacharelados Interdisciplinares para 2010

Ano-base 2010 Ano-base 2013

Direito, Administração, Ciências Contábeis, Economia, Psicologia, Serviço Social, Secretariado, Arquivologia, Ciências Sociais, Filosofi a, História, Museologia, Jorna-lismo, Produção Cultural, Biblioteconomia, Pedagogia, Educação Física, Licenciaturas e Bacharelados em Letras

HUMANIDADES...

480 vagas

Engenharias, Ciências da Computação, Licenciatura em Matemática, Estatística, Geologia, Geofísica, Oceanogra-fi a, Licenciaturas em Química e Física, Licenciaturas em Ciências Biológicas, Biologia

CIÊNCIA E TECNOLOGIA...

380 vagas

Gastronomia, Nutrição, Saúde Coletiva, Enfermagem, Terapia Ocupacional, Fisioterapia, Fonoaudiologia, Bio-tecnologia, Farmácia, Odontologia, Medicina, Veterinária, Zootecnia

CIÊNCIAS DA SAÚDE...

300 vagas

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Neste ano, a receptividade frente às inovações foi excepcional: em processo seletivo recorde em toda a história de nossa institui-ção, cerca de 14 mil postulantes optaram por 1,4 mil vagas nas novas modalidades de ensino. Entre os 10 cursos mais concorridos, cinco foram BIs ou cursos tecnológicos. O BI de Humanidades teve maior concorrência que Direito, Administração e Comunica-ção. O CST de Gestão Social foi tão procurado quanto Medicina, com mais de 34 candidatos/vaga, enquanto o BI de Saúde, mes-mo duplicando a oferta de vagas, representou uma das opções de maior procura, com 21 candidatos/vaga.

Parte desse aumento de demanda pode ser explicada pelo fato de que, para os BIs e CSTs, a partir de 2009, adotamos o ENEM como processo seletivo e, para os cursos de progressão linear, man-tivemos o tradicional vestibular de duas etapas. Portanto, sendo o ENEM um exame de aplicação nacional, o BI e o CST com mais facilidade podem captar candidatos de todo o país, ampliando de modo signifi cativo, o alcance territorial da oferta de vagas.

Em 2011, ocorrerá a diplomação do primeiro contingente de egressos dos novos cursos de Tecnólogo, Bacharelados Interdisci-plinares e Licenciaturas Especiais. Até 2012, serão implantados os currículos dos novos cursos profi ssionais, que se caracterizarão por estrutura mais enxuta, e cujo número de vagas será defi nido em função da análise de demanda. Para o ingresso nesses cursos, have-

rá percentuais de vagas reservados aos egressos dos BIs e CSTs e à demanda externa. Para os cursos profi ssionais que optaram por ade-quar suas grades curriculares às diretrizes do REUNI, será programa-da a transição das formas de ingresso, adequando-se os respectivos processos seletivos. Serão estabelecidas regras de equivalência e de transição entre os currículos atuais e os reformulados para o REUNI.

Alguns dos cursos profi ssionais já contemplavam, durante as dis-cussões do Plano REUNI/UFBA, a perspectiva de reservar parte de suas vagas para estudantes egressos desses cursos que desejassem acesso a outros ciclos de formação universitária. Essa reserva prefe-rencial foi regulamentada pelo CONSEPE, que fi xou esse percen-tual em pelo menos 20% das vagas oferecidas. O acesso dos egres-sos do Bacharelado Interdisciplinar aos cursos profi ssionais dar-se-á sem processo seletivo quando a demanda for inferior ou igual à oferta de vagas e a área de concentração cursada no Bacharelado es-tiver relacionada com a área de conhecimento dos cursos. Quando a demanda for superior à oferta de vagas haverá processo seletivo direcionado especifi camente para cada curso e administrado pelo Núcleo de Seleção, Orientação e Avaliação da UFBA.

A possibilidade de incorporar egressos das novas modalidades de graduação, além de uma formação mais ampla dos profi ssionais, permitiria o aumento da taxa de sucesso desses cursos e em menos tempo. Os estudantes egressos dos BIs já terão cursado, ao menos, parte dos componentes iniciais dos cursos profi ssionais e ingressarão em semestres mais avançados. Para os cursos com vagas residuais (decorrentes de evasão ou atrasos), a transferência interna de estu-dantes dos BIs ou de CSTs seria outro fator de otimização das vagas.

Neste momento, concluída a elaboração dos projetos pedagógi-cos dos Bacharelados Interdisciplinares, avançamos na realização de estudos sobre campos do saber e agrupamentos de componen-tes curriculares da Formação Específi ca. Matrizes curriculares fl e-xíveis e modulares resultantes, tal como previsto, poderão compor as áreas de concentração dos Bacharelados Interdisciplinares.

Prevista no Plano REUNI/UFBA, a proposta de acolher os estu-dantes dos Bacharelados Interdisciplinares numa Unidade Univer-sitária própria foi concretizada pela aprovação, por unanimidade do CONSUNI, em 22 de outubro de 2008, do Instituto de Huma-nidades, Artes e Ciências (IHAC) Professor Milton Santos.

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CRIAÇÃO DO INSTITUTO MILTON SANTOS

O IHAC Milton Santos é a mais nova unidade acadêmica da Uni-versidade Federal da Bahia. Como vimos acima, criado num mo-mento de profunda transformação, quantitativa e qualitativa, tanto na UFBA como nas outras Universidades Federais do Brasil, o IHAC (www.ihac.ufba.br) foi concebido para desenvolver atividades acadê-micas inovadoras. Tem como objetivo fomentar uma confi guração mit (multi, inter, trans) disciplinar do conhecimento, mediante a oferta de programas interdisciplinares de graduação e pós-graduação, além da pesquisa, criação e inovação produzidas em centros de pesquisa e extensão. A estrutura conceitual da articulação dos Bacharelados In-terdisciplinares, com áreas de concentração e programas de pesquisa e pós-graduação, encontra-se esquematizada na Figura 5.2.

As atividades de extensão no IHAC encontram-se estreitamente vinculadas ao ensino de graduação, preferencialmente através do Eixo Integrador dos Bacharelados Interdisciplinares. Esse eixo é constituído por Atividades Complementares que têm como função a articulação das duas etapas de formação, incluindo as seguintes modalidades de atividade acadêmica: pesquisa, extensão, estágio, programas especiais, cursos livres, disciplinas de graduação e de pós-graduação, Atividade Curricular em Comunidade, Atividade Curricular em Instituição, Estágios e quaisquer eventos de natu-reza acadêmica. Através delas e, ao longo do percurso acadêmico,

os estudantes têm a oportunidade de ampliar sua responsabilidade social e competências relacionais. Nesse componente, de caráter optativo, os estudantes deverão cumprir um mínimo de 360 horas em seis semestres de atividades de extensão ou pesquisa. Este Eixo poderá estruturar-se como um conjunto de atividades curriculares e extra-curriculares de natureza bastante diversifi cada.

Para desenvolver, de modo sistemático e planejado, atividades per-manentes de pesquisa e extensão, efetivamente integradas ao ensino de graduação e pós-graduação, planejamos a organização de Centros Interdisciplinares de Pesquisa e Extensão, na modalidade de órgãos complementares. Dessa forma, articula-se de modo privilegiado, a ex-tensão, nas suas diversas modalidades (educação continuada, coope-ração técnica, inovação e criação etc.) aos programas mit-disciplinares de pós-graduação, particularmente aqueles de caráter profi ssional.

A estrutura organizacional do IHAC foi concebida para har-monizar este duplo recorte permitindo, sobretudo, o rompimento de fronteiras até então bem delimitadas entre as áreas de conhe-cimento e de formação. Para tanto, foi necessário implantar nesta nova Unidade uma proposta estrutural igualmente avançada, pro-ativa, fl exível, integral e integradora.

A estrutura organizacional adotada implica um organograma en-xuto, pouco verticalizado e que prioriza a interligação entre cargos de chefi a, permitindo o entrecruzamento dos processos geridos por cada um deles. A estrutura caracteriza-se por sua qualidade mista: adequada para organizações em que coexistem um sistema colegia-do de gestão e a estrutura matricial de projetos. A adoção de um modelo desse tipo permite a fl exibilidade e funcionalidade adequa-das ao clima de mudanças ambientais e à dinâmica interna.

Com base nesses pressupostos, conforme a Figura 5.3, implan-tamos a seguinte estrutura de instâncias de governança acadêmica e administrativa:

• Congregação;

• Diretoria, com Gerência Administrativa e Financeira e Co-ordenação Acadêmica;

• Colegiados dos Cursos de Graduação e dos Programas de Pós-Graduação;

• Centros Interdisciplinares de Pesquisa e Extensão.

Figura 5.2. Integração mit-disciplinar no IHAC Milton Santos

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A gestão acadêmica dos Bacharelados Interdisciplinares e dos Programas de Pós-Graduação do IHAC é conduzida por Colegia-dos de cursos, compostos, cada um deles, por cinco professores do corpo permanente dos respectivos cursos e um representante estudantil. A escolha dos membros docentes do Colegiado é feita pelo conjunto de professores credenciados do corpo permanente do curso. Cabe a este colegiado articular-se com os Centros Inter-disciplinares de Pesquisa e Extensão, visando à implementação de ações integradas nos campos da pesquisa, do ensino e da extensão. O conjunto de colegiados do IHAC conta com um setor de apoio administrativo e uma Secretaria de Cursos, unifi cados e articulados.

O Colegiado tem como competência principal fi xar diretri-zes e orientações didáticas para os componentes curriculares do respectivo Curso, além de supervisionar e avaliar as atividades de ensino. Para isso, o Colegiado propõe à Coordenação Acadêmica planejamento semestral, defi nindo oferta de componentes curricu-lares; coordena e fi scaliza as atividades do Curso; delibera sobre solicitações, recursos ou representações de estudantes referentes à vida acadêmica dos mesmos; além de aprovar as ementas dos com-ponentes curriculares oferecidos pelo IHAC. Dentre suas funções de maior relevância do ponto de vista da gestão acadêmica, destaca-

se propor à Coordenação Acadêmica credenciamento de docentes de outras Unidades Universitárias (e, ressalvados os impedimentos legais, de outras instituições e organizações) para colaborar com atividades de ensino.

O corpo docente permanente do IHAC no momento compõe-se de 34 professores, todos com título de doutorado. Além desses, deve incorporar outros docentes, pesquisadores e profi ssionais de-vidamente qualifi cados e credenciados, observando-se as normas legais, nos seguintes níveis de participação:

• lotados no IHAC;

• lotados em outras unidades da UFBA, porém credenciados nos programas de ensino, pesquisa e extensão do IHAC;

• em situação de lotação simultânea, no IHAC e em outra Unidade Universitária da UFBA;

• profi ssionais de outras instituições ou organizações creden-ciados no IHAC.

O estatuto do credenciamento para o nível de ensino de gra-duação e o reconhecimento formal das duas últimas categorias de participação em atividades docentes necessitarão de uma norma-tização especial, a ser proposta, sob forma de resolução, aos Con-selhos Superiores da universidade. De igual modo, os processos de recrutamento, seleção e gerenciamento de pessoal docente e de servidores técnicos deverão seguir regras mais contemporâneas, a serem estabelecidas com certo grau de urgência.

Projeta-se, no horizonte de implantação plena do Plano REU-NI/UFBA, para além de 2012, um alunado de aproximadamente 10 mil estudantes nos Bacharelados Interdisciplinares, com entra-da anual de 3 a 4 mil vagas. O IHAC ministrará a maior parte dos componentes curriculares da etapa de Formação Geral, na primei-ra metade do programa, e coordenará as atividades e componen-tes curriculares da Formação Específi ca, sendo que as respectivas áreas de concentração serão ministradas por outras Unidades Uni-versitárias. Assim, espera-se, a cada semestre, um contingente de 2 mil estudantes sob responsabilidade direta do IHAC.

Tais parâmetros permitem estimar o tamanho do corpo docen-te permanente dos BIs, lotado exclusivamente no IHAC Milton Santos, em cerca de 60 professores. Considerando a necessidade

Figura 5.3. Estrutura de Gestão Integrada (Administrativa-Acadêmica) no IHAC Milton Santos

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de ter quadros docentes no desempenho de funções de gestão aca-dêmica ou em afastamento para sabáticos e intercâmbios interna-cionais, além de viabilizar a própria vocação transversal do proje-to dos BIs, um contingente adicional de docentes, em dimensão proporcional ao alcance e diversidade das áreas de concentração, poderá ser credenciado, oriundos de outras unidades universitárias da UFBA, de outras instituições de conhecimento e mesmo sem vínculos institucionais formais (artistas, mestres de cultura popu-lar, intelectuais independentes). Assim, no bojo da recente rees-truturação normativa da UFBA (ver Capítulo 7, adiante), introdu-zimos a fi gura da lotação simultânea para os docentes do quadro, além das categorias de professor visitante e professor credenciado.

Cabe ressaltar a imprescindível presença no corpo funcional de servidores técnico-administrativos capazes de assumir tarefas administrativas (gerenciamento de instalações e processos aca-dêmicos); técnicas (em áreas de informática, redes, dispositivos audiovisuais e sonoros) e pedagógicas (experimentação e imple-mentação de modalidades inovadoras de transmissão de conhe-cimento, de acompanhamento e avaliação de estudantes). Com a proporcionalidade docentes/técnicos e considerando nível e fi na-lidade, estima-se um total de 50 servidores técnicos especializa-dos em atividades de apoio acadêmico.

Além do corpo de professores e funcionários, devido às caracterís-ticas peculiares de algumas das atividades previstas para o IHAC, a

exemplo dos Bacharelados Interdisciplinares, que têm previstas tur-mas amplas de estudantes, com composição heterogênea, o Instituto necessita que seu quadro de pessoal contemple a possibilidade de estudantes (de pós e de graduação) atuarem como monitores para desenvolver atividades acadêmicas supervisionadas por docentes.

Finalmente, face à potencial compatibilidade entre o regime curricular em vias de ser implantado na UFBA e modelos acadê-micos predominantes em outras realidades universitárias, o corpo docente do IHAC já se constitui com especial abertura ao inter-câmbio acadêmico e à internacionalização. Nesse sentido, encon-tra-se em curso uma estratégia composta por dois elementos:

Em primeiro lugar, convênios de intercâmbio de estudantes e docentes com universidades que desenvolvem arquiteturas cur-riculares com características inovadoras, semelhantes ao modelo Universidade Nova, como por exemplo, a New York University (www.nyu.edu, fundada em 1831) e a Michigan State University (www.msu.edu, fundada em 1855), nos EUA, além da Universi-

Maquete digitalda futura sede do IHAC

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dade de Coimbra (www.uc.pt, fundada em 1290), em Portugal, a Universität Graz (www.uni-graz.at, fundada em 1585), Áustria, e a Universidade Federal do ABC, no Brasil.

Em segundo lugar, a criação de um conselho consultivo, ad hoc, não estatutário, composto por intelectuais e personalidades de preeminência científi ca, artística e cultural, de âmbito pre-dominantemente internacional, nas respectivas grandes áreas do conhecimento. Este conselho terá como objetivo colaborar com a avaliação, no plano teórico-conceitual, das linhas e propostas implementadas, além de prospectar cenários e oportunidades de intercâmbio artístico, científi co e tecnológico para o IHAC. Os membros desse conselho atuarão também como consultores nas áreas de concentração pertinentes ao seu campo de atuação e como professores visitantes, em programas de curta e média dura-ção e ocupando cátedras nominadas. As cátedras nominadas com-preendem programas de bolsas de alta qualifi cação, com regras e condições a serem estabelecidas regimentalmente.

Os Bacharelados Interdisciplinares foram implantados no pri-meiro semestre de 2009, ainda sem dispor de instalações físicas próprias. A sede administrativa provisória do IHAC concentrou-se no andar térreo do Pavilhão de Aulas Glauber Rocha (antigo PAF-III). Nesse período, o IHAC teve sua existência formalizada do ponto de vista legal, administrativo e acadêmico.

Do ponto de vista de estrutura institucional, encontra-se em fase fi nal de construção o Centro de Idiomas (no Campus de On-dina), destinado à oferta de componentes curriculares do Eixo Língua Estrangeira da Formação Geral do BI. A instalação do Centro de Idiomas e a ampliação do Instituto de Letras foram priorizadas visto que o contingente principal de estudantes nos primeiros semestres do BI se concentrará no Eixo Linguagens e no Eixo Interdisciplinar. Nos primeiros anos de funcionamento, a oferta de cursos tem sido predominantemente noturna. Para isso, foram utilizados prédios de Unidades Universitárias que, total ou parcialmente, não funcionam à noite. Além disso, já nesta primeira fase do Plano REUNI/UFBA, estão sendo reformados outros audi-tórios do Campus Ondina (Biologia, Veterinária, Química).

A construção de sua sede própria inicia-se neste ano, com recur-sos orçamentários garantidos. Com a chegada de novos recursos fi nanceiros será construído um prédio no campus de Ondina com características e programação pertinentes ao acolhimento de estudantes do BI e à atuação de docentes e programas compo-nentes do IHAC. Enquanto não se conclui a construção da sede própria, as ativida-des do IHAC serão realizadas no prédio do Centro de Idiomas, recém inaugurado.

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Plano Diretor Físico e Ambiental

CAPÍTULO 6

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ANTECEDENTES

Em setembro de 2003, em conjunto com a Faculdade de Ar-quitetura, promovemos uma ofi cina de trabalho com membros do CONSUNI e do CONSEPE. Como palestrantes, convidamos dirigentes responsáveis por iniciativas de elaboração de planos di-retores urbanísticos e ambientais em outras universidades públi-cas (UFMG, USP, UFSC). Com base no material produzido nesse evento, dentro das limitadas perspectivas de fi nanciamento então disponíveis, ainda em 2003, apresentamos uma proposta de in-tervenções pontuais no patrimônio físico da UFBA, antecipando critérios e parâmetros para a elaboração de um Plano Diretor pa-trimonial e ambiental.

Para viabilizar a melhor ocupação do espaço físico institucional da UFBA, os seguintes ítens dessa proposta foram aprovados pelo CONSUNI, em diferentes momentos deliberativos, ainda no nos-so primeiro mandato:

• Desmembramento da Escola de Agronomia, em Cruz das Almas, para implantação da Universidade Federal do Recôn-cavo da Bahia.

Logo que assumimos a Reitoria da UFBA, no segundo semes-tre de 2002, tomamos a iniciativa de organizar uma Assessoria de Patrimônio Físico no quadro da Pró-Reitoria de Planejamento e Administração, transferindo o antigo setor de projetos da Prefei-tura do Campus. Uma vez instalado, o novo órgão iniciou estudos visando ao ordenamento do espaço físico, à qualifi cação das edifi -cações, instalações e infraestrutura e ao manejo ambiental do cam-pus universitário. Descobrimos que a UFBA, ao longo da sua exis-tência, havia elaborado diversos planos de arquitetura e urbanismo para os seus campi, que infelizmente sofreram descontinuidade.

Plano Diretor Físico e Ambiental

PLANOS DIRETORES ANTECEDENTES

1950 – Primeiro Plano de ocupação física, no Vale do Canela, cen-trado nas áreas do Campus Canela. 1967 – Proposta de ocupação física de gleba situada entre os bair-ros Federação e Ondina, para implantação dos Institutos Básicos previstos na Reforma Universitária, com recursos do Programa MEC – BID I.1976 – Plano Diretor do Campus Federação / Ondina, ao qual fo-ram anexadas novas áreas desapropriadas ou doadas, entre 1970 e 1975, ampliando-se as necessidades crescentes da UFBA, con-templadas no programa MEC – BID II. Este foi o mais abrangente deles, realizado pelo ETA – Escritório Técnico Administrativo, Pro-grama PREMESU IV, acordo MEC – BID II. A implantação desse plano, entre 1979 a 1984, foi parcial. 1990 – revisão parcial do plano original de ocupação física da UFBA, resultando na implantação do segundo Pavilhão de Aulas (PAF-II) e na transferência da Escola de Dança e do Instituto de Letras para o Campus Ondina, com a construção dos respectivos imóveis. A partir desse ponto, nenhuma iniciativa ocorreu para retomada do planejamento urbanístico dos campi, exceto a aprovação, em novembro de 1996, do documento Princípios Básicos para a Refor-ma Patrimonial da UFBA, elaborado pela Comissão de Orçamento, Patrimônio e Finanças do Conselho Universitário.

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• Incorporação ao patrimônio da UFBA de propriedade rural situada em Humildes, como Núcleo Agrotécnico da Escola de Medicina Veterinária.

• Refuncionalização do prédio do Centro de Convivência para abrigar o Restaurante Universitário de Ondina.

• Construção da Biblioteca Setorial de Saúde no Campus Canela.

• Conclusão da reforma do Teatro Martim Gonçalves.

• Conclusão do PAF III, em convênio com a Petrobras.

• Construção do Pavilhão de Aulas de São Lázaro.

PROPOSTAS ANTIGAS Outras intervenções e obras foram delineadas naquela proposta, po-rém não chegaram a ser apreciadas pelo CONSUNI, que decidiu constituir um Grupo de Trabalho, coordenado pela Faculdade de Ar-quitetura, para realizar estudos preliminares visando à elaboração do Plano Diretor. Não obstante, face à sua atualidade e pertinência, tais proposições merecem menção, até porque várias delas foram recupe-radas posteriormente na versão fi nal do Plano:• Construção do Centro Administrativo da UFBA em Ondina.• Construção de Centro de Eventos Artísticos (auditório de grande

porte, uso múltiplo; salas de ensaio; salas de concerto; café-teatro) na entrada do campus Ondina.

• Reforma e requalifi cação do Palácio da Reitoria para torná-lo Cen-tro Cerimonial e Cultural da UFBA.

• Implantação do CUCCA (Centro Universitário de Ciência, Cultu-ra e Arte) no local da Residência Universitária do Canela.

• Implantação do Instituto de Saúde da Mulher e da Criança Climé-rio de Oliveira (ISAMCO).

• Construção de vias de acesso interno interligando a Escola Politéc-nica e a Faculdade de Arquitetura.

• Refuncionalização do prédio do Serviço Médico Universitário (SMURB) para torná-lo em PAF IV.

• Transferência do SMURB para o Complexo de Saúde do Canela, criando a Policlínica Universitária Rubens Brasil Soares.

• Implantação do Hotel Universitário (requalifi cando imóveis da Vitória).

• Construção do Museu de História Natural no Campus Ondina.• Construção da Residência Universitária de São Lázaro.• Construção da Residência Universitária do Canela.

• Construção de Residência Universitária no Campus Federa-ção-Ondina.

No plano ambiental, nessa primeira fase, merece registro o mutirão, promovido pela Reitoria e realizado por dirigentes, ser-vidores docentes, técnico-administrativos e alunos, para limpeza dos cursos d’água e manejo ecológico das áreas verdes do campus Ondina, durante todo o primeiro semestre de 2004. Desse mo-vimento, resultou a implantação do Programa UFBA Ecológica, aprovado pelo Conselho Universitário em 2005. Esse programa compreende diversas iniciativas, incluindo criação de uma reser-va protegida de vegetação (Parque Memorial da Mata Atlântica), plantio de mudas de espécies nativas nos campi Canela e Ondina, construção de trilhas e sinalização ecológica dos campi (median-te apoio da Petrobras), além de programas integrados de ecoefi -ciência (Poupe Luz e Água Pura). Infelizmente, face à reduzida adesão da comunidade universitária, sucessivas campanhas para implantação de programas de coleta seletiva e reciclagem do lixo universitário nos campi da UFBA não lograram êxito.

Durante todo o ano de 2004, com apoio institucional e fi nan-ceiro da SESu/MEC, uma Comissão Técnica da Faculdade de Arquitetura e da Assessoria de Patrimônio Físico da Pró-Reitoria de Planejamento, coordenada pelo Professor Antonio Heliodório Sampaio, desenvolveu estudos preliminares para o Anteprojeto do Plano Diretor Físico e Ambiental dos Campi da UFBA. A apresen-tação digital dos estudos foi realizada por uma equipe de estudan-tes de Arquitetura como trabalho de conclusão da Graduação.

As soluções e propostas geradas pela Comissão Técnica foram apresentadas aos Conselhos Superiores em maio de 2005 e, em seguida, discutidas intensamente nas unidades universitárias. Ba-sicamente, foram três opções consideradas:

• mínima: reorganização das instalações existentes, reformas e pequenas obras, investimento fi nanceiro limitado (fi gura 6.1);

• intermediária: construções e reformas essenciais, interven-ções físicas de maior monta, com pequenas modifi cações do perfi l atual de ocupação física dos campi (fi gura 6.2);

• máxima: redesenho radical dos campi, obras, construções e reformas de grande porte, intervenções em infraestrutura, investimento fi nanceiro amplo (fi gura 6.3).

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REAÇÕES INEXPLICÁVEIS

A comunidade e dirigentes das escolas de Teatro e de Belas Artes, além de outros dirigentes de unidades e parte da representação estudantil, realizaram protestos e manifestações contra o Plano Diretor, provocando a suspensão dos debates. Em paralelo, denún-cias e intrigas inundaram listas de discussão na internet e repor-tagens em diversos jornais da cidade – contendo absurdos como, por exemplo, acusar o Reitor de venda ilegal de propriedades da UFBA. Um professor da área de artes, insinuando cumplicidade com escusos interesses imobiliários para demolição ilegal de imó-veis tombados como patrimônio histórico, afi rmou que o Plano Diretor “visa a um lucro milionário [...] querem fazer caixa [...] uma coisa sem escrúpulos”.

Além disso, veicularam interpretações distorcidas de processos ins-titucionais, como apresentar o conjunto de estudos preliminares e alternativas espaciais para o Plano Diretor como produto fi nal de um suposto processo sub-reptício imposto pela Reitoria. Um diretor de unidade chegou a declarar à imprensa que já estava em construção “uma frente contrária à proposta do reitor”.

Na verdade, nunca existira uma “proposta do reitor”. Para ter al-gum grau de viabilidade, qualquer projeto com essa fi nalidade não viria da Reitoria, do Reitor ou de algum grupo acadêmico – e sim teria que compor um Plano Diretor da Universidade Fede-ral da Bahia. E, em nenhuma hipótese, tal Plano Diretor poderia ser imposto. Por esse motivo, o estudo preliminar apresentava três opções (uma delas mantendo as localizações originais das escolas de Teatro e de Belas Artes) claramente expostas em um CD, de concepção precisa e cuidadosa, distribuído a todos os interessados justamente para iniciar uma discussão ampla, aberta e transparen-te na comunidade universitária. Com esse espírito, os conselhos superiores deveriam tomar decisões democráticas e serenas, com certeza respeitando consensos construídos em cada uma das uni-dades da UFBA, inclusive aquelas que naquele momento rechaça-ram qualquer tipo de mudança.

Por outro lado, nunca se cogitou vender os formosos prédios da Es-cola de Belas Artes ou do Teatro Martim Gonçalves ou ainda, como tinham denunciado, o Palácio da Reitoria. Nem se poderia fazê-lo, pois qualquer alienação de patrimônio público federal, novo ou antigo, imóvel ou semovente, livre ou tombado, por lei, teria que passar por uma cadeia complexa de deliberações coletivas, das unidades universitárias aos conselhos superiores, daí ao MEC, ao DNPU e ao Congresso Nacional. (NAF)

Figura 6.1

Figura 6.2

Figura 6.3

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198 199

Houve forte reação das escolas de Teatro e de Belas Artes, com apoio das Faculdades de Medicina e de Educação, na medida em que duas das opções submetidas ao CONSUNI recomendavam a nucleação das áreas de formação, posicionando os cursos da área de Artes no Campus Ondina. Em lugar de simplesmente postular, como consenso de cada escola, a sua manutenção nos imóveis ori-ginais, organizaram manifestações e convocaram a imprensa para denunciar a suposta venda dos imóveis por elas ocupados, provo-cando a suspensão dos debates do Plano Diretor por total falta de condições políticas para sua realização. Quiçá, por coincidência, estas foram justamente as unidades universitárias que, num pri-meiro momento (ver Capítulo 5), rejeitaram a proposta de adesão da UFBA ao REUNI.

DIRETRIZES E ESTRATÉGIAS

Com a aprovação da entrada da UFBA no programa REUNI, em outubro de 2007, juntamente com emendas parlamentares destinadas ao fi nanciamento de obras e equipamentos, foi neces-sário recolocar a questão do Plano Diretor na pauta dos Conselhos Superiores. Como preliminar para a reabertura da discussão sobre o tema, o Conselho Universitário ratifi cou, por unanimidade, em Reunião Extraordinária de 19 de março de 2008, o documento Princípios Básicos para a Reforma Patrimonial da UFBA, que havia sido aprovado pelo Conselho Universitário em outubro de 1996. Reconhecendo sua atualidade, o Conselho Universitário da UFBA confi rmou todas as diretrizes para ocupação do espaço físico insti-tucional constantes do documento anterior, ajustadas à conjuntu-ra atual, conforme segue:

• racionalizar ao máximo possível o uso do espaço físico e das instalações da UFBA;

• tornar mais efi ciente o uso de imóveis e equipamentos da UFBA, com projetos arquitetônicos, estruturas organizacio-nais e de rotinas capazes de reduzir os custos de manutenção;

• promover, dentro dos limites de fi nanciamento e respeitan-do as especifi cidades, maior racionalidade na localização es-pacial das unidades universitárias e instalações, agregando as edifi cações por área de conhecimento, proximidade geográ-fi ca e pertinência a grupos de formação afi ns;

• fomentar a construção e ampliação de equipamentos de ensino de utilização compartilhada e gestão coordenada centralmente;

• concentrar as atividades de ensino, pesquisa e extensão das unidades e órgãos da UFBA nos limites territoriais dos campi universitários.

Além disso, ainda por unanimidade, o CONSUNI deliberou acrescentar o seguinte:

• estabelecer perfi l-padrão de uso das edifi cações destinadas a abrigar as unidades universitárias;

• tornar a Universidade social e ambientalmente mais aco-lhedora, dotando-a de mais segurança e acessibilidade, inte-grando serviços de apoio, atividades de ação comunitária e assistência estudantil nos campi da UFBA;

• preservar, no justo equilíbrio entre tradição institucional e demandas contemporâneas, o patrimônio histórico e cultu-ral da UFBA, protegendo, visibilizando e valorizando as edi-fi cações de reconhecida relevância social e cultural;

• preservar, ponderando disponibilidades e necessidades de espaço, o patrimônio ambiental da UFBA, ampliando, aden-sando e protegendo fauna e áreas verdes dos campi;

• articular o Plano Diretor da UFBA ao Plano de Desenvol-vimento Institucional e ao Projeto Político-Pedagógico da universidade e das unidades e órgãos que a compõem.

Em seguida, o CONSUNI decidiu elaborar um documento de referência sobre estratégias de implantação do Plano Diretor da UFBA e encaminhá-lo, em minuta, à discussão das Unidades Universitárias, dos órgãos suplementares e junto à comunidade universitária, dando prazo para retorno de sugestões, revisões e recomendações. Consolidando as contribuições que retornaram da comunidade universitária e visando a concretizar as diretrizes aprovadas, o CONSUNI estabeleceu as seguintes estratégias como eixos do Plano Diretor de Desenvolvimento Físico e Ambiental dos Campi da Universidade Federal da Bahia:

• Articular as intervenções patrimoniais físicas ao Plano REU-NI/UFBA, a fi m de viabilizar fi nanceiramente o essencial do Plano Diretor.

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200 201

• Introduzir um zoneamento dos campi da UFBA, reagrupan-do unidades e órgãos da UFBA por proximidade e pertinên-cia a grupos de formação afi ns. Para as unidades universitá-rias, garantida sua relativa autonomia interna, essa proposta de zoneamento tinha caráter essencialmente indicativo; des-sa maneira, cada escola, faculdade ou instituto pode decidir manter sua localização ou postular pertinência a outros se-tores que não os aqui indicados.

• Classifi car como equipamentos de utilização compartilha-da, com gestão coordenada pela administração central, os seguintes tipos de instalações de apoio ao ensino: biblio-tecas, museus, centros de idiomas, centros de educação à distância, pavilhões de ensino presencial, pavilhões de en-sino com recursos computacionais, laboratórios multi-uso para ensino (tipo I), auditórios (fora das unidades universi-tárias), salas de espetáculos (fora das unidades universitá-rias), espaços de eventos (centro cerimonial e de conven-ções), central de segurança ambiental.

• Estabelecer o seguinte perfi l-padrão de utilização dos imó-veis que abrigam as unidades universitárias: instalações ad-ministrativas (promovendo a implantação de secretarias integradas), salas de professores (tendo como meta: gabi-netes para todos os docentes), dependências para núcleos/programas/projetos de pesquisa e extensão, salas de reuni-ões conversíveis para salas de aulas, salas e mini-auditórios específi cos, laboratórios temáticos especializados (tipo II), laboratórios de pesquisa.

• Instalar, em cada campus da UFBA, pelo menos uma uni-dade de restaurante universitário e uma unidade de resi-dência universitária, dimensionadas para atender à deman-da localizada.

• Implantar, em locais de amplo acesso, centros de serviços gerais, de integração comunitária e de atendimento aos estu-dantes e servidores da UFBA.

• Construir uma malha de trilhas pedestres para acesso in-terunidades e intersetores com segurança, acessibilidade e proteção ambiental (sombreada de dia e iluminada à noite).

• Implantar um sistema de transporte intracampus e inter-campi acessível, efi ciente e ecologicamente sustentado (passarelas, planos inclinados, biobus, bicicletas com em-préstimo rotativo).

Esses pontos compuseram um documento que foi aprovado por unanimidade no CONSUNI, também em 19 de março de 2008, com destaque para o item 1 que, face ao posicionamento do Diretório Central dos Estudantes na época contrário ao Pla-no REUNI/UFBA, foi mantido ad referendum do Conselho pelo seu Presidente.

Não obstante a oposição da representação estudantil, os princí-pios, diretrizes e estratégias do Plano Diretor Físico e Ambiental dos Campi da Universidade Federal da Bahia (PDFA/UFBA), atuali-zados frente à nova conjuntura e objetivos, foram introduzidos no Plano REUNI/UFBA, como balizamento ao item “investimentos em infraestrutura”. Por esse motivo, foram indicadas à SESu/MEC apenas propostas de intervenção física condizentes com demandas das unidades universitárias que optaram pela adesão ao REUNI.

IMPLEMENTAÇÃO DO PLANO DIRETOR

Respeitando as diretrizes e em consonância com as estratégias aprovadas pelo CONSUNI, as indicações de obras no PDFA/UFBA foram classifi cadas em três tipos:

I. Projetos de intervenções estruturantes dos campi.

II. Projetos de instalações e equipamentos de uso coletivo.

III. Projetos de investimentos em unidades participantes.

Tipo I. Trata-se de projetos de intervenções estruturantes dos campi, incluindo:

• Sistema viário, com plano de vias terrestres e deslocamento de pedestres, com especial atenção à integração entre o par-tido do Campus Federação/São Lázaro, mais elevado, com o Campus Ondina, mediante planos inclinados, escadarias e trilhas nas encostas.

• Revisão e expansão da rede elétrica, tanto nos espaços comuns quanto nas instalações e equipamentos de uso coletivo, bem como nas unidades universitárias e órgãos complementares.

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• Implantação de um efi ciente sistema de segurança patrimo-nial e pessoal, com identifi cação e controle de acesso aos campi e às instalações das unidades e órgãos, além de vigilân-cia eletrônica por meio de sensores, alarmes e câmeras.

• Ampliação e atualização da rede de comunicação interna, implantando sistemas mais efi cientes e de menor custo para a intercomunicação corporativa quanto para a difusão de in-formações intra e intercampi.

• Ampliação e atualização da rede lógica, reforçando o Centro de Processamento de Dados em equipamentos e recursos, implantando sistemas de rede sem fi o, com acesso regulado e controlado.

Tipo II. Os projetos de construção e requalifi cação de equipa-mentos de acesso comum e de uso coletivo compreendem: pavi-lhões de aulas, pavilhões de laboratórios, restaurantes universitá-rios, residências, bibliotecas.

As propostas de intervenção nessa modalidade, ajustadas du-rante o desenvolvimento do Plano REUNI/UFBA, incluíram, no Campus Canela e no Campus Ondina/Federação/São Lázaro, o seguinte:

• conclusão da Biblioteca Unifi cada de Saúde;

• construção de uma nova Residência Universitária;

• instalação do Restaurante Universitário do campus Graça/Canela;

• construção da Biblioteca Unifi cada Direito-Administração-Contábeis;

• reforma do atual prédio da Escola de Música para transfor-má-lo no Pavilhão de Aulas do Canela II;

• reformar e equipar o Auditório da Faculdade de Direito;

• construção do Centro de Idiomas;

• reformar e equipar Pavilhão de Aulas Poli-Arq;

• reformar e equipar Auditório da Escola de Medicina Vete-rinária;

• reformar e equipar Auditório do Instituto de Biologia;

• reformar e equipar Auditório do Instituto de Química;

OUTROS CAMPI

A instalação do Campus Reitor Edgard Santos em Barreiras e do Campus Professor Anísio Teixeira em Vitória da Conquista resultou do último Plano de Expansão da Educação Superior, incluindo as obras físicas necessárias à abertura e desenvolvimento de atividades acadêmicas que, portanto, já possuem orçamento reservado para tal. No momento oportuno, cada um dos campi do interior serão objeto de estudos específi cos com vistas à elaboração dos respec-tivos planos diretores de patrimônio físico e ambiental. Assim, as propostas de intervenções indicadas para inclusão no PDFA/UFBA restringem-se a construção, reformas, instalações e equipamentos aprovados para os campi da sede em Salvador.

Não obstante, a localização dos imóveis novos construídos nos campi do interior obedeceram a planejamento urbanístico e ambiental consistente com as diretrizes e estratégias do PDFA/UFBA, conforme se pode verifi car nas plantas do Campus Reitor Edgard Santos de Barreiras e Campus Professor Anísio Teixeira em Vitória da Conquista, abaixo.

1. Sede Administrativa IMS. 2. Pavilhão de Aulas. 3. Pavilhão de laboratórios. 4. Área de Ampliação. 5. Estacionamento e vias internas

Campus IMS

• ampliação do prédio da Biblioteca Central;

• construção da Biblioteca Isaías Alves em São Lázaro;

• construção da Biblioteca Unifi cada Poli-Arq (integrada às respectivas escolas por passarela/trilha);

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• construção da Biblioteca Unifi cada Física-Química-IGEO-Matemática;

• construção de módulos administrativos e de atendimento a estudantes e servidores em Ondina;

• construção de um complexo de auditórios no Campus Federação;

• construção de um complexo de salas de arte e de espetácu-los na entrada principal do campus Ondina.

As instalações de ensino de acesso comum e de uso coletivo (pavilhões de aulas, laboratórios e auditórios), requalifi cadas por meio de recursos do Programa REUNI, mesmo aquelas situadas atualmente em unidades universitárias, serão objeto de um mode-lo de gestão articulado pela Administração Central. As Bibliotecas Universitárias fazem parte do Sistema de Bibliotecas da UFBA, sob gestão da Superintendência própria.

Tipo III. Investimentos em obras de construção, ampliação, reforma e requalifi cação em unidades participantes do Plano REUNI/UFBA. As propostas de intervenção Tipo III foram des-dobradas e detalhadas a partir das solicitações encaminhadas pelas respectivas unidades universitárias e antigos órgãos su-plementares, seguindo a indicação de prioridade defi nida pelo CONSUNI.

Para defi nir as localizações de espaço físico das unidades, ór-gãos e instalações de uso compartilhado, em um novo patamar de discussão e deliberação, foi recuperada a Opção II do Ante-projeto elaborado pela Comissão Técnica (fi gura 6.2), ajustada face ao crescimento de vagas na graduação prevista no Plano REUNI/UFBA.

No Quadro 6.1, encontra-se a lista de edifi cações novas, cuja construção foi planejada no bojo do PDFA/UFBA, com recursos do REUNI e do conjunto de emendas parlamentares individuais e de bancada. O Plano de Investimentos respectivo encontra-se no Quadro 6.2. Os mapas de localização dos imóveis antigos e novos nos campi Federação/Ondina/São Lázaro e Graça/Canela, conforme o PDFA/UFBA encontram-se no Capítulo 9. No anexo deste Capítulo, são expostas fotos e maquetes digitais das princi-pais obras do Plano Diretor Físico e Ambiental.

Quadro 6.1. Obras do Plano Diretor da UFBA

Construções no período 2002 – 2010 47.191,72

1. Pavilhão de Laboratório I – Campus Edgar Santos – CES 3.649,46

2. Pavilhão de Laboratório II – Campus Edgar Santos – CES 4.284,60

3. Pavilhão de Laboratório I – Campus Anísio Teixeira – CAT 3.649,46

4. Pavilhão de Aulas I – Campus Anísio Teixeira – CAT 4.284,60

5. Anexo Instituto de Geociências 2.600,00

6. Pavilhão de Aulas Glauber Rocha 4.783,00

7. Pavilhão de Aulas V – PAF V 6.452,00

8. Centro de Idiomas 2.320,00

9. Anexo Instituto de Letras 2.280,00

10. Biblioteca Universitária de Saúde Prof. Álvaro Rubim de Pinho 3.357,80

11. Centro de Promoção da Saúde Doutor Rubens Brasil Soares 1.609,00

12. Pavilhão de Aulas Prof. Thales de Azevedo 3.941,80

13. Centro Interdisciplinar de Estudos e Desenvolvimento Social – CIEDS 1.480,00

14. Núcleo de Laboratório de Energia e Ambiente 2.500,00

Construções realizadas em 2010 39.038,66

1. Pavilhão de Aulas – Campus Edgar Santos – CES 4.284,60

2. Prédio Administrativo – Campus Anísio Teixeira – CAT 6.230,00

3. Biblioteca FIS 4.765,14

4. Instituto da Ciência da Informação – ICI 3.404,00

5. Escola de Dança 3.268,00

6. Escola de Nutrição 3.308,00

7. Escola de Música 5.924,00

8. Escola de Medicina Veterinária 2.667,00

9. Instituto de Matemática 661,61

10. Residência Universitária Garibaldi – RUG 4.226,31

11. Hospital de Medicina Veterinária – HOSPMEV 300,00

Especifi cações Área (m2)

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Quadro 6.2. Plano de Financiamento das Obras do Plano Diretor da UFBA (2008-2010)

Programa Reuni / UFBA 7.026.618 27.802.631 37.802.631 72.631.880

Emendas Parlamentares Individuais 4.780.000 4.000.000 *6.000.000 14.780.000

Emendas Parlamentares de Bancada 18.920.000 10.000.000 *25.000.000 53.920.000

Outras Fontes ... 22.000.000 **24.000.000 46.000.000

Fonte Financeira 2008 2009 2010 Total

Total 30.726.618 63.802.631 92.802.631 187.331.880

Construções licitadas ou a licitar em 2010 48.040,83

1. Biblioteca Campus Edgar Santos – CES 3.084,30

2. Faculdade de Ciências Contábeis 3.418,00

3. Faculdade de Farmácia 1.400,50

4. Anexo Física / Química 5.241,00

5. Escola de Teatro 4.056,00

6. Instituto de Biologia 1.501,00

7. Instituto de Ciências da Saude – ICS 6.500,00

8. Instituto de Saude Coletiva – ISC 6.908,50

9. Instituto de Humanidades, Artes e Ciências Milton Santos 9.093,84

10. Faculdade de Comunicação – FACOM 2.000,00

11. Faculdade de Arquitetura 1.595,24

12. Residência FFCH 3.242,45

ÁREA TOTAL PREVISTA NO PLANO DIRETOR 134.271,21

Área construída antes de 2002 251.455,71

Fonte: PROPLAD/APAF – Julho 2010

Total Geral 385.726,92

Especifi cações Área (m2)UFBA ECOLÓGICA

Um Estudo Preliminar de Avaliação Ambiental Estratégica do Plano Diretor do Campus Ondina/Federação foi conduzido pelo Prof. Ronan Caires e uma equipe de estudantes do Instituto de Biologia, em Dezembro de 2008. Esse estudo concluiu que o Campus Ondina/Federação e o Zoológico de Salvador represen-tam um dos poucos lugares da cidade onde ainda se observam fragmentos de fl oresta no ambiente urbano, conforme a foto de satélite da Cidade do Salvador (Figura 6.4).

Entretanto, as áreas do campus Ondina eram ocupadas, até a década de 1970, por pequenas propriedades rurais e por dois esta-belecimentos de grande porte. Próximo à entrada principal atual, situava-se o Parque de Exposições Agropecuárias Garcia D’Ávila;

Figura 6.4. Campus Federação/Ondina

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onde hoje se encontra o Memorial da Mata Atlântica, estenden-do-se até o Restaurante Universitário Manoel José de Carvalho, localizava-se garagem e pátio de manobras de uma empresa de ônibus. As atividades agrícolas de pequena escala, a área de es-tacionamento de veículos pesados e as exposições agropecuárias promoveram intenso desmatamento e compactação dos solos. Esse era o quadro anterior ao documentário fotográfi co apresentado a seguir, e, portanto, antes das instalações do novo campus universi-tário da UFBA.

Um processo de revegetação ocorreu, desde que a UFBA pas-sou a ocupar aquela área, por recomposição natural. A recompo-sição ocorreu, por um lado, pela contribuição dos remanescentes da Mata Atlântica do entorno, preservados, inclusive, pela forte infl uência do vizinho Parque Zoobotânico. Por outro lado, ações administrativas ao longo da implantação do campus permitiram manter as áreas das encostas e grande parte da pequena fl oresta na entrada do campus – declarada como Memorial da Mata Atlântica – como áreas naturais de preservação ambiental.

Não obstante tais iniciativas, é necessário acelerar o processo para, principalmente, promover o aumento da biodiversidade através do enriquecimento fl orístico das áreas. Assim, foi solici-tado ao Instituto de Biologia um Plano de Manejo Ambiental, abrangendo todos os aspectos técnicos e científi cos para uma competente recomposição da vegetação do campus. As espé-cies do enriquecimento fl orístico devem ser do Bioma Mata Atlântica, de acordo com as características regionais, plantadas em conformidade com as sucessões ecológicas e modelagem de plantio estabelecidas pelas condições locais. Os focos do enri-quecimento ambiental convergem à área do Memorial da Mata Atlântica, visando a clareiras e áreas onde predominam espécies gramináceas (capim braquiária e colonião) e ervas grimpantes (melão-de-são-caetano e outras trepadeiras) ou situações forte-mente dominadas por uma só espécie, como os enormes bam-buzais nas encostas.

Por tudo isso, no texto do Plano Diretor Físico e Ambiental da UFBA, o Conselho Universitário incluiu também as seguintes

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• Proteger mananciais e cursos d’água nos campi da UFBA.

• Iniciar processo de integração das áreas ocupadas por enti-dades do governo estadual contíguas ao terreno da univer-sidade, ampliando a demanda para incorporação do Parque Zoobotânico de Ondina ao acervo patrimonial da UFBA, consolidando o Campus Ondina.

Tais ações articulam-se a intervenções visando a superar a cul-tura do desperdício ainda predominante na comunidade univer-sitária, como por exemplo redução de automóveis no campus e coleta seletiva de lixo. Ademais, os projetos arquitetônicos dos no-vos laboratórios e instalações de ensino já são mais verticalizados e buscam a ecoefi ciência energética e funcional. Esse conjunto de medidas deverá compensar a inevitável utilização de áreas edifi cá-veis para os prédios necessários à expansão do alunado.

estratégias específi cas ao planejamento ambiental, propostas pela Reitoria a partir do Programa UFBA Ecológica (vide Capítulo 2):

• Na ocupação do Campus Ondina prevista no Plano Diretor, preservar o núcleo de vegetação denominado Memorial da Mata Atlântica, adensando-o com o plantio de espécies ve-getais típicas desse bioma.

• Defi nir um gabarito construtivo para ampliações e novas ins-talações, com verticalização e ocupação de encostas sem co-bertura vegetal mais densa, a fi m de garantir o máximo possí-vel de áreas livres de edifi cações nos setores de fácil acesso.

• Implantar paisagismo, urbanização e malha viária com pa-drões e critérios de construção que mantenham e ampliem a cobertura vegetal dos campi, respeitando os requisitos de iluminação, acessibilidade, circulação e segurança.

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Biblioteca Universitária de Saúde Professor Álvaro Rubim de Pinho

Reforma e Ampliação do Instituto de Letras

Centro de Idiomas

Pavilhão de Aulas de Ondina V

Escola de Nutrição

Ampliação do Instituto de Geociências

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Pavilhão de Aulas de Barreiras II

Pavilhão de Laboratórios de Conquista

Nucleo de Laboratorios de Energia e Meio Ambiente

Instituto de Saúde Coletiva

Escola de Dança

Escola de Música

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Segundo mandato: outras ações

CAPÍTULO 7

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Inegavelmente, a principal marca do nosso segundo mandato foi a adesão da UFBA ao Programa de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais Brasileiras e a implantação de novos modelos curriculares, narradas no Capítulo 5. Além disso, consi-deramos de grande importância a elaboração, aprovação e implan-tação do Plano Diretor Físico e Ambiental que, como demons-tramos no Capítulo anterior, constitui efeito direto da entrada da UFBA no REUNI.

Não obstante, cabe registrar, neste Memorial, outras ações rea-lizadas na segunda fase do nosso Reitorado: recuperação dos pro-gramas de apoio social aos estudantes de baixa renda; programa de internacionalização; renovação dos marcos normativos da Uni-versidade Federal da Bahia.

ASSISTÊNCIA ESTUDANTIL

Programas de Assistência Estudantil foram instituídos desde a época da criação da UFBA na década de 1940. Nesse período, o De-partamento de Assistência Estudantil (DAE) oferecia, aos poucos estudantes oriundos das camadas populares da comunidade baiana que não tinham família em Salvador, programas de moradia, auxílio alimentação, acompanhamento acadêmico e auxílio saúde.

Até o ano de 2002, a política de assistência estudantil da UFBA seguia, em linhas gerais, as diretrizes iniciais do antigo DAE, priorizando o atendimento à minoria de estudantes com perfi l socioeconômico de baixa renda oriundos do interior do Estado. Como vimos, nessa época, o perfi l socioeconômico do alunado revelava uma universidade elitista, com pouco mais de 11% do corpo discente de graduação composto por estudantes pobres. A assistência estudantil restringia-se a pouco mais de 200 vagas em residências universitárias. Desde que as bolsas de monitoria, mantidas por taxas de matrícula, foram suspensas por ação ju-

Segundo mandato: outras ações

dicial patrocinada pelo Diretório Central dos Estudantes em 1997, nenhum auxílio à permanência na universidade era pre-visto para o contingente de estudantes necessitados de apoio social.

Com a ampliação de vagas de gradu-ação, a partir de 2003, e a implantação do Programa de Ações Afi rmativas, em 2005, houve expressivo aumento da demanda por apoio material, social e acadêmico, a fi m de viabilizar permanência na Universidade e promover su-cesso dos estudantes pobres em seus itinerários formativos. Parte da missão social da Universidade, políticas consistentes de assis-tência estudantil justifi cam-se pela constatação de que, devido a condições socioeconômicas desfavoráveis, este segmento do corpo discente tem maior risco de atrasar ou mesmo interromper sua trajetória acadêmica.

Restaurante Universitário Manoel José de Carvalho

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PRÓ-REITORIA DE AÇÕES AFIRMATIVAS E ASSISTÊNCIA ESTUDANTIL

Como se pode verifi car no Capítulo 2, o documento-programa para nossa reeleição à Reitoria, em maio de 2006, propunha a criação de uma Pró-Reitoria de Ações Afi rmativas e Política Estu-dantil destinada à gestão do Programa de Apoio Social aos estu-dantes da UFBA, que havíamos submetido ao Conselho Social de Vida Universitária. O CONSUNI aprovou essa proposta em 20 de dezembro de 2006, instituindo a Pró-Reitoria de Assistência Estudantil – PROAE; porém, foi retirada do seu título a expres-são Ações Afi rmativas por ter sido aprovada, por estreita maioria, uma moção da representação estudantil contrária ao que havíamos encaminhado. Com o novo Regimento Geral (ver adiante, neste Capítulo), no entanto, pudemos recuperar parte da denominação original anteriormente derrotada no CONSUNI, mantendo a sigla PROAE para designar, enfi m, a Pró-Reitoria de Ações Afi rmativas e Assistência Estudantil.

À época, a UFBA contabilizava cerca de 5.400 estudantes oriundos de escolas públicas, com renda familiar per capita de, no máximo, dois salários mínimos. Destes, somente 1.087 eram aten-didos pelos programas de assistência estudantil da Universidade, número muito aquém da demanda real. Os programas de moradia atendiam a 350 estudantes, com 250 vagas em residências estu-dantis e 100 bolsas-moradia no valor de 250 reais. No que concer-ne à alimentação, em Salvador, a capacidade de atendimento era de apenas quatrocentas refeições/dia num restaurante instalado em condições precárias na Residência Estudantil da Vitória. Exis-tiam oito programas restritos de apoio à permanência, fi nanciados pelo MEC, instituições públicas e privadas do Estado da Bahia que asseguravam cerca de 250 bolsas de permanência no valor de 300 reais/mês. Nos campi de Vitória da Conquista e Barreiras (ambos oriundos do processo de interiorização da UFBA, confor-me Capítulo 5), não havia qualquer possibilidade de atendimento às demandas por assistência estudantil.

Apesar dos esforços empreendidos pelas equipes de sucessi-vos reitorados e dos avanços obtidos nos últimos anos, estes nú-meros revelam a impossibilidade, dadas as condições vigentes, de responder às reais necessidades da comunidade estudantil, em-bora elas já constassem, de modo quase permanente, como uma

das principais pautas de reivindicação do movimento estudantil na Universidade.

A consolidação institucional da PROAE foi realizada em pa-ralelo à discussão e elaboração do Plano REUNI/UFBA, durante todo o ano de 2007. O principal motivo dessa vinculação en-contrava-se na disponibilidade de recursos de capital e custeio previstos pelo Decreto do REUNI que, em suas diretrizes, des-tacava a assistência estudantil como prioridade. Como resultado, na proposta de adesão da UFBA ao Programa REUNI, aprovada em 19 de outubro de 2007 (vide Capítulo 5) foram incluídas as seguintes metas:

• Ampliar, gradualmente até 2012, em pelo menos 200%, os atendimentos a estudantes em situação de vulnerabilidade social e econômica contemplados nas diversas modalidades de apoio social e acadêmico (conforme Tabela 7.1).

• Reservar, em todos os programas de assistência estudantil, 50% das vagas para cotistas e 50% das vagas para não-co-tistas em situação de vulnerabilidade social e econômica.

• Ampliar, reequipar e reestruturar o Serviço Médico Ru-bens Brasil Soares, tornando-o Centro de Promoção da Saúde da UFBA.

• Concluir a construção do Complexo Residencial Estudan-til, na Avenida Garibaldi;

• Ampliação do Programa Bolsa-Moradia com expansão pro-gressiva do fi nanciamento e oferta de bolsas por ano;

• Implantar o Programa Bolsa-Alimentação para os campi de Barreiras e Vitória da Conquista;

• Aumentar o número de bolsas de permanência, na medi-da da captação de recursos, diversifi cando os programas pertinentes.

Graças ao Programa de Ações Afi rmativas (ver Capítulo 5), en-tre 2005 e 2009, a UFBA incorporou mais de 11,5 mil estudantes de famílias de baixa renda que, hoje, representam mais de 40% do alunado de graduação. Isso ocorre em todos os cursos, incluindo os de mais alta concorrência que, em 2002, acolhiam menos de 10% de estudantes provenientes de escolas públicas (e, menos ainda,

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pobres, negros e índios). Além disso, além das cotas, o acesso à Universidade tem sido viabilizado pela isenção de taxas de ins-crição que, atualmente, benefi cia 8.000 candidatos ao Vestibular (eram 1.800 em 2002, conforme www.vestibular.ufba.br); sem contar que os postulantes aos Bacharelados Interdisciplinares têm como via de acesso o ENEM, gratuito para estudantes de escolas públicas. Não custa reiterar que ações articuladas dessa natureza inexistiam em 2002.

Atualmente, a PROAE atende, somente com residência e bolsa-moradia, a 719 jovens de baixa renda oriundos do interior do Es-tado. Além disso, no contexto do Programa de Ações Afi rmativas, propicia 1.147 ítens diversos de auxílio-permanência a estudantes pobres. Mas, de fato, o principal instrumento de apoio institucio-nal à permanência e sucesso na graduação universitária de estu-dantes em situação de vulnerabilidade socioeconômica chama-se Programa Permanecer.

PROGRAMA PERMANECER

O Programa Permanecer foi criado em 2007, com recursos oriundos da política de descentralização orçamentária da SESu/MEC, permitindo a oferta de bolsas de permanência, conforme previsto no Plano REUNI/UFBA. As primeiras bolsas do Progra-ma foram implantadas no ano de 2008, atendendo aos campi de

Obras da Residência Universitária, na Garibaldi

Tabela 7.1. Metas de Assistência Estudantil do REUNI UFBA, 2007-2010

Oferta de unidades 228 228 348 408 468 528 131,6 residenciais (em vagas)

Programa Bolsa-Moradia 178 178 228 278 328 378 112,4 (em bolsas)

Atendimento em 560 800 1.200 1.600 2.000 2.400 328,6 Restaurantes Universitários (em atendimentos /dia)

Bolsa Alimentação para 0 60 80 100 120 150 *** os campi de Barreiras e Conquista (em bolsas)

Estratégias / etapasBase2007 2008 2009 2010 2011 2012 Var%

Totais 966 1.266 1.856 2.386 2.916 3.456 257,8

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terizado pelas atividades de monitoria (ensino de componentes curriculares da graduação).

Extensão – Os projetos Permanecer na modalidade extensão caracterizam-se pelo desenvolvimento de ações educativas, cul-turais e/ou científi cas na interface Universidade e Sociedade, a exemplo do Programa Atividades Curriculares em Comunidade da UFBA (ACC), que realiza diferentes tipos de ações voltadas para comunidades.

Pesquisa – Compreende bolsas de iniciação e formação científi ca e estágios em grupos credenciados de pesquisa científi ca para os estudantes que participam dos Programas de Ações Afi rmativas da UFBA. A principal ação deste setor é o Programa Permanecer/PI-BIC, em parceria com a Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação.

Salvador (500 bolsas), Barreiras (65 bolsas) e Vitória da Conquista (35 bolsas). Desde sua criação, o Programa estrutura-se como rede de ações no campo da extensão, atividades docentes e atividades institucionais, voltadas, principalmente, à formação e apoio social aos estudantes. Além disso, visa à consolidação de novas propostas e estratégias capazes de possibilitar a sustentabilidade da política de acesso e permanência no ensino de graduação da UBFA.

Anualmente, são selecionados projetos no âmbito dos eixos originais de organização das ações do Permanecer, além do eixo da pesquisa, recentemente agregado ao Programa. Trata-se, portanto, de quatro modalidades de bolsas:

Docência – Os projetos Permanecer na modalidade docência têm relação direta com a função ensino na Universidade, carac-

Açôes do Programa Permanecer junto

à comunidade

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tancialmente o número de bolsas, em acréscimo às existentes. Com a extinção dos Programas anteriores, o Permanecer passou a ampliar os seus benefícios, garantindo, a um número cada vez maior de estudantes, acesso e condições de permanência na uni-versidade, com investimentos paralelos às suas formações dentro do âmbito acadêmico.

Na Tabela 7.2, apresentamos os números do Permanecer nos últimos quatro anos, destacando a quantidade de bolsistas atendi-dos, a quantidade de ações implementadas e o número de unida-des acadêmicas contempladas no Programa.

No ano de 2009, os resultados positivos do Programa Perma-necer produziram, no âmbito da UFBA, uma bem sucedida coo-peração intrainstitucional da Pró-Reitoria de Ações Afi rmativas e Assistência Estudantil com a Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa que resultou na criação do Permanecer/PIBIC. Este programa agrega o princípio da inclusão social na pesquisa e formação científi ca dos estudantes que participam dos Progra-mas de Ações Afi rmativas da UFBA. Entre 2009-2010, foram concedidas 75 bolsas dessa modalidade, atendendo a estudantes engajados em grupos e programas de pesquisa de 19 unidades universitárias da UFBA.

Institucional – Os projetos institucionais são destinados ao apoio às atividades-meio de unidades administrativas ou sistemas estruturantes e atividades acadêmicas de unidades universitárias ou órgãos complementares da universidade. Neles se enquadram:

• projetos artístico-culturais permanentes, como orquestras e grupos musicais, corais, grupos de dança, teatro, etc.

• atividades de natureza técnico-administrativa, como, por exemplo, apoio a laboratórios de informática e bibliotecas, desenvolvimento de softwares para os sistemas da UFBA, estágios docentes na creche, otimização do espaço da Uni-versidade, organização e arquivamento de documentos no patrimônio cultural da UFBA, assistência ao setor de co-municação das unidades, atendimentos em hospitais ou no SMURB.

A submissão de projetos faz-se on line, através do Sistema Per-manecer (SISPER/UFBA) desenvolvido e implantado pelo CPD/UFBA. Além de garantir maior confi abilidade no processo de se-leção e avaliação das ações, este sistema gera anualmente infor-mações que servem de base para avaliação e acompanhamento da permanência dos estudantes bolsistas. A seleção de projetos tem sido realizada por comitês assessores, formados por especialistas nas áreas de promoção das atividades do Programa.

Já no seu primeiro processo de seleção, o Programa Permane-cer provocou debates e produziu cenários e condições de diálo-go para a refl exão sobre situação de vulnerabilidade socioeconô-mica e permanência estudantil. Além disso, descentralizou ações ao agregar, em todas as instâncias administrativas e acadêmicas da universidade, interlocutores comprometidos com a escolha responsável e cuidadosa dos estudantes que, ao longo de um ano, participaram dos projetos selecionados na primeira edição do Programa.

Como vimos acima, no biênio 2005/2006, antes da implanta-ção do Permanecer, o Programa de Ações Afi rmativas da UFBA contava com cerca de 250 bolsas-permanência, em diversos pro-gramas isolados: Conexões de Saberes, Afroatitude, Ações Afi rma-tivas/Fundação Clemente Mariani, Ações Afi rmativas/SEMUR, Ações Afi rmativas/BAHIAGÁS, Uniafro. A partir da criação do Permanecer no bojo do Plano REUNI/UFBA, aumentamos subs-

Tabela 7.2. Panorama geral de ações de promoção da permanência na UFBA, 2002-2010

2002 – – –

2003 – – –

2004 – – –

2005 30 28 5

2006 50 83 15

2007 250 283 50

2008 600 292 47

2009 635 292 47

2010 645 335 44

Fonte: Coordenadoria de Ações Afi rmativas, Educação e Diversidade/PROAE

Ano de ReferênciaEstudantes Atendidos com Bolsas

Número de Ações Desenvolvidas Unidades Atendidas

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Visando a consolidar um modelo participativo de gestão, des-de sua criação, o Programa Permanecer tem envolvido ativamente dirigentes, docentes, discentes e técnicos administrativos. Para sua implementação, os procedimentos administrativos e pedagógicos do Permanecer têm sido amplamente discutidos com as comuni-dades participantes. O Conselho Universitário da UFBA constituiu um fórum de decisões para elaboração das diretrizes do Programa, e garantiu sua plena consolidação institucional. Com sua recompo-sição, conforme o novo Regimento Geral, agrega-se às competên-cias do Conselho Social de Vida Universitária, o acompanhamento administrativo e pedagógico do Programa Permanecer.

Ao longo destes anos, constata-se a efi ciência do Programa na sua capacidade de gerar condições de permanência e produzir situ-ações de convivência entre os estudantes, principalmente aqueles que ingressaram na UFBA através do Programa de Ações Afi rma-tivas, e as diversas comunidades acadêmicas da UFBA. Sua efi cácia no fomento da permanência tem sido demonstrada pelo grau zero de evasão dos estudantes bolsistas nos seus cursos de origem. Sua efetividade social tem sido demonstrada pela ampliação do acesso dos estudantes participantes a bens culturais e formas de circula-ção social, dentro e fora da UFBA, propiciada pela aplicação dos estipêndios da bolsa. Finalmente, para a Universidade, os ganhos de produtividade e economicidade propiciados pelo Programa são excepcionais, destacando-se como emblemática a renovação do tradicional Madrigal da UFBA (que corria risco de ser desativado pela carência de cantores) e o funcionamento do Programa Água Pura (ver adiante, Capítulo 8), possibilitados pelo engajamento supervisionado de bolsistas Permanecer.

COMENTÁRIO

As políticas de Assistência Estudantil que buscamos implementar na Universidade Federal da Bahia foram fundadas na intenção ética e política de lançar bases para ações públicas capazes de consolidar estruturas e sustentar processos pedagógicos competentes no campo das ações afi rmativas. Além do investimento fi nanceiro necessário para garantir, a estudantes em situação de vulnerabilidade social e econômica, acesso a bens materiais essenciais à sua permanência na universidade, buscava-se um investimento conceitual capaz de pro-

duzir estratégias inovadoras de formação dos estudantes na relação com outros atores sociais que constituem a comunidade acadêmica: dirigentes, servidores docentes e técnico-administrativos.

Permanecer na universidade implica o desafi o de conviver com as diversidades que compõem os seus contextos. Além dos dife-rentes cenários de ensino, tanto em nível de graduação quanto de pós-graduação, a UFBA deve ampliar suas estruturas de convi-vência em diversas e diferentes unidades administrativas que di-reta ou indiretamente completam e enriquecem o investimento na presença dos seus discentes. O cotidiano acadêmico constitui rica e densa teia de relações na qual, dentro e fora da sala de aula, extrapolam-se os limites das formalidades curriculares e a rigidez dos rituais de ensino-aprendizagem.

No longo prazo, o compromisso mais radical do investimento em apoio social e formação integrada é a mudança das culturas institucionais que transformaram os espaços acadêmicos em ilhas de excelência. Ao articular ações institucionais, ações de extensão, ações docentes e ações de criação e produção de conhecimen-to, emerge uma importante exigência pedagógica: a compreensão de processos formativos como exercício de cuidado com o outro. Buscamos pôr em prática uma política de investimento em bolsas de permanência capaz de transformar as relações de convivência entre estudantes e demais membros da comunidade acadêmica, superando lógicas de competitividade para praticar experiências de solidariedade. Nesse processo, é preciso escutar, ver, tocar e ser-com-o-outro para vivenciar trajetórias de formação que integrem mais cada um e todos os indivíduos que convivem e aprendem dentro e fora dos espaços formais de ensino e aprendizagem na universidade, valorizando o privilégio do fazer-juntos a fi m de eli-minar as formas individualistas de fazer-privilégios. Desse modo, podemos superar desigualdades sociais e preconceitos étnico-ra-ciais para agregar novos saberes e posturas à construção curricular do contexto acadêmico da UFBA.

A história deste momento presente da Universidade Federal da Bahia encontra-se marcada pelo compromisso incontornável da implicação fecunda entre a cultura do mundo acadêmico e as cul-turas dos mundos não-acadêmicos. Este foi o caminho escolhido por nossa equipe de gestão para o projeto político de transforma-ção das relações entre a Universidade e os contextos sociais que a

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cercam. Desejamos que este caminho, que se faz essencialmente por dentro da universidade, seja marcado pelo reconhecimento de que permanência, convivência e exercício do cuidado com o outro constituem estado-da-arte na construção de novos paradig-mas de vida comum na UFBA, enriquecida por uma comunidade acadêmica mais solidária e mais consolidada no diálogo interno com as suas diversidades.

INTERNACIONALIZAÇÃO DA UFBA

A Assessoria para Assuntos Internacionais (AAI) da UFBA foi criada em 1996. Em agosto de 2002, quando nossa equipe assu-miu a Reitoria da Universidade, o cargo de Assessor para Assuntos Internacionais estava vacante. A equipe encontrada restringia-se a uma funcionária do quadro permanente, um estudante bolsista e um funcionário terceirizado como prestador de serviços gerais. Apesar da vontade potencial de acertar os próprios passos e en-contrar um rumo para o setor, a reduzida equipe não dispunha da orientação necessária para desenvolver uma política de relações internacionais compatível com a instituição. Nenhum dos funcio-nários falava inglês (defi ciência crucial e paralisante num escritório de relações internacionais). As instalações e equipamentos da AAI podiam ser classifi cados como precários, sua inserção e visibilidade na instituição como um todo eram bastante discretos. Os resulta-dos, tal como vimos no Capítulo 1, eram praticamente nulos.

A análise da situação condensada no parágrafo anterior revela claramente o que, de imediato, deveria se fazer a fi m de tornar a AAI compatível com a importância da UFBA: repensar suas funções, fazê-la realizar efi cientemente as tarefas inerentes a este novo papel e capacitá-la institucionalmente para tal. Dentro do modelo de planejamento estratégico adotado, defi nimos um con-junto de metas acadêmicas a serem alcançadas:

• incremento da mobilidade estudantil de graduação;

• ampliação do número de convênios com instituições es-trangeiras;

• realização de missões da AAI ao exterior visando à expansão da cooperação acadêmica com a África, a América Latina, a América do Norte e a Europa;

• fomento às atividades internacionais dos programas de pós-graduação melhor qualifi cados da UFBA.

Em articulação com as equipes dos diversos setores da adminis-tração central, foi possível elencar rapidamente os passos necessá-rios a tais modifi cações:

• expandir e qualifi car a equipe de apoio da AAI;

• modernizar recursos físicos (equipamento e espaços);

• encaminhar aos órgãos superiores propostas de moderniza-ção normativa da UFBA, adequando-a ao processo de inter-nacionalização;

• criar, no âmbito da rede UFBA, homepage específi ca da AAI em idiomas de alcance internacional;

Reunião sobre os Bacharelados Internacionais com o Reitor Fernando Seabra Santos da

Universidade de Coimbra

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• produzir material gráfi co de divulgação de qualidade gráfi ca e conteúdo pertinente;

• captar recursos fi nanceiros externos e internos sufi cientes para permitir a realização de atividades indispensáveis à exe-cução das metas.

REESTRUTURAÇÃO DA ASSESSORIA INTERNACIONAL

Desde sua criação, a AAI vinha sendo exercida por um úni-co Assessor Internacional, sempre um professor dos quadros da UFBA. Criamos a fi gura do Assessor Adjunto, o que permitiu ime-diata duplicação da capacidade gerencial da AAI, com aumento de sua efi cácia e agilidade.

No período 2002-2009, a equipe da AAI foi expandida, com a incorporação de mais dois servidores do quadro, mantendo-se um número variável de bolsistas e um prestador de serviços contrata-do. Funcionários da AAI participaram de programas de capacita-

ção para as Assessorias Internacionais no plano nacional, em es-pecial os diversos cursos promovidos pela ANDIFES em Brasília. Além disso, foram realizados esforços de capacitação dos recursos humanos disponíveis, enviando dois funcionários, em oportuni-dades distintas, para cursos de língua inglesa e técnicas de admi-nistração ligadas a Assessorias Internacionais na Universidade de York, em Toronto, no Canadá.

Em 2002, a sede da AAI dispunha apenas de duas salas: uma para atendimento geral ao público, ocupada pelos funcionários, e outra para escritório do Assessor. Criamos uma terceira sala destinada ao escritório do Assessor Adjunto a partir da refor-ma de espaços antes alocados a outros usos. O parque de infor-mática utilizado pela AAI era bastante obsoleto, demandando a substituição de vários equipamentos. No período 2002-2009, a atualização e reposição destes equipamentos tem sido constante e, no momento, o conjunto de computadores, impressoras, scan-ners e faxes utilizados na AAI é compatível com a tecnologia mais atual disponível.

Sem recursos fi nanceiros não há planifi cação, gestão ou ação. No período sob nossa responsabilidade, a AAI captou recursos diretos e indiretos de várias fontes externas, nacionais e interna-cionais, maximizando o uso de recursos da própria UFBA. Re-cursos oriundos de fontes nacionais provieram da Secretaria de Indústria e Comércio do governo estadual, através da PROMO, assim como da FAPESB e, indiretamente, do CNPq por meio da concessão de bolsas de pós-graduação para estudantes africanos na UFBA, em cota específi ca. A própria UFBA contribuiu, di-retamente de seu orçamento e de recursos próprios, com apoio limitado para passagens e diárias que possibilitaram missões no Brasil e no exterior necessárias às realizações da AAI.

Os fundos internacionais provieram principalmente da União Europeia, através da participação da UFBA nos consórcios for-mados por diversas universidades brasileiras, latino-americanas e europeias, no âmbito do Programa Erasmus Mundus External Windows. Os principais consórcios integrados pela UFBA foram liderados pela Universidade Técnica de Munique, pela Universida-de do Porto e pela Universidade de Santiago de Compostela. Ou-tras fontes de recursos internacionais foram programas específi cos

Desenvolvimento do Programa de

Licenciaturas Internacionais

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desenvolvidos entre a UFBA e o St. Mary’s College of Maryland (USA) com apoio da Mellon Foundation, com o Washington Cen-ter (com apoio da FORD Foundation) e de Universidade de Pas-sau (com apoio da fundação alemã Wilhelm Finck).

A Assessoria atuou ativamente no sentido de promover, princi-palmente no âmbito do CONSEPE, atualizações normativas que se mostraram fundamentais no processo de internacionalização da UFBA. As matérias versaram sobre a abertura de vagas nos cursos de pós-graduação da UFBA para estudantes estrangeiros e sobre o estabelecimento do regime de cotutela de teses de doutorado com universidades estrangeiras. Atualmente, mais de trinta estudantes da UFBA realizam teses de doutoramento neste regime.

Inexistia divulgação, via internet ou rede web, dos programas e atividades da AAI antes de 2003. Uma homepage foi rapidamen-te desenvolvida, em versão quadrilíngue (português, inglês, fran-cês e espanhol), agregando informações gerais sobre o órgão, de importância fundamental como interface entre a AAI e quem, nos níveis institucional ou individual, com ela interage. Inaugu-rado em 2004, este importante instrumento vem sendo cons-tantemente atualizado. Também, praticamente inexistia mate-rial gráfi co de divulgação internacional da UFBA ou da AAI. Isto foi providenciado em pelo menos três línguas e em quantidade sufi ciente. Contudo, a recente e rápida expansão da UFBA pelo REUNI criou tantas situações novas que será necessário atuali-zar tal material.

ATIVIDADES ACADÊMICAS COM PARCEIROS ESTRANGEIROS

Uma estratégia fundamental para o incremento da atividade internacional da UFBA compreendeu agressiva política de am-pliação da rede de universidades estrangeiras conveniadas, me-diante missões ofi ciais e criação de rotinas de recepção a dirigen-tes acadêmicos estrangeiros. Foram realizadas mais de 30 missões ofi ciais ao exterior, sempre com o propósito de expandir as ativi-dades acadêmicas internacionais da UFBA. Tais missões visitaram países da África, América Latina, América do Norte e Europa. Um breve sumário das principais missões efetuadas encontra-se no Quadro 7.1.

Missão acadêmica na Harvard University, 2009 Estudantes da UFBA na Universidade do País Basco, Espanha, 2008

Estudantes da UFBA na York University, Canadá, 2008 Missão ofi cial na Michigan State University, EUA, 2009

Missão acadêmica à Universidade de Roma Tor Vergata, Itália, 2005 Assinatura de convênios na Universidade de Coimbra, Portugal, 2008

Missão ofi cial em Cabo Verde, 2007 Missão acadêmica à New York University, EUA, 2009

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Alemanha 2005, 2006, 2009 Universidade de Bonn

Universidade de Bochum

Universidade de Bielefeld

Universidade Técnica de Bremen

Lunenburg Universitat

Universidade de Berlim

Hamburg Universitat

Karlsruhe Universitat

Universidade de Heidelberg

Universidade Técnica de Munique Áustria 2010 Universidade de Viena Universidade de Graz Espanha 2008 Universidad Europeia de Madrid Universidade Politécnica de Madrid Universidade Alfonso X Universidade Complutense de Madrid Universidade Autônoma de Madrid Universidade do País Basco Universidade Autônoma de Barcelona Universidade Politécnica da Catalunha Universidade Pompeu Fabra Universidade de Huelva Universidade de Sevilha Universidade de Granada Universidade de Córdoba Itália 2005, 2007 Universidade Tor Vergata Universidade Oriental de Nápoles Universidade de Roma La Sapienza Portugal 2003, 2005, 2006, Universidade do Porto 2007, 2009 Universidade de Aveiro Instituto Universitário de Lisboa (ISCTE) Universidade de Coimbra República Tcheca 2010 Univeridade de Praga Universidade Masarykova (Brno) Universidade de Olomouc Suiça 2010 Scuola Universitaria Professionale della Svizzera Italiana (SUPSI) Università della Svizzera Italiana Universidade de Berna Universidade de Lausanne Universidade de Genebra Universidade de Zurique

EuropaQuadro 7.1. Sumário das principais missões internacionais, AAI/UFBA, 2002-2008

África do Sul 2003 University of South Africa (UNISA) University Witwatersrand

Angola 2003, 2004 Universidade Agostinho Neto Universidade Católica de Luanda Instituto de Superior Privado de Angola

Moçambique 2003, 2006 Universidade Eduardo Mondlane

Cabo Verde 2007 Universidade de Cabo Verde

Argentina 2005 Ministério da Educação Secretaria da Cultura Universidade de Lujan Universidade de Buenos Aires Universidade de Córdoba Universidade de La Plata Universidade del Aconcagua Universidade Nacional de Cuyo Universidade de Quilmes

Chile 2005 Universidade do Chile Universidade Central do Chile Universidade de Santiago do Chile Pontifi cia Universidade Católica do Chile

Paraguai 2005 Universidade Nacional de Assunção

Uruguai 2005 Universidade da República do Uruguai Universidade Católica do Uruguai

Colombia 2006 Universidade Nacional de Colombia Universidad de Cartagena

Canadá 2004, 2008 McGill University Universitè de Montreal Universitè du Quebec a Montreal York University

Estados Unidos 2003, 2009, St. Mary’s College of Maryland

2010 University of Califórnia at Berkeley

Michigan State University New York University Harvard University

City University of New York

África

América Latina

América do Norte

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238 239

Procurou-se uma expansão multicêntrica seletiva, envolvendo universidades prestigiosas na Europa, América do Norte, Améri-ca Latina e África, incluindo também instituições com potencial e conhecida credibilidade. Isto permitiu uma dinamização con-siderável da internacionalização da UFBA, com repercussões so-bre o intercâmbio discente e sobre realização de pesquisas con-juntas. Decidimos não incluir nesta expansão a Ásia e a Oceania. Estão longe e custam caro. Contudo, sabemos da importância es-tratégica de interagir com estes continentes no futuro próximo. Outras universidades públicas brasileiras já se movem na direção desses continentes.

O intercâmbio estudantil internacional de graduação é um dos pilares das atividades acadêmicas de qualquer universidade. Mas, o conjunto de atividades desenvolvidas pela AAI ao lon-go dos últimos oito anos não poderia deixar de repercutir po-sitivamente na sua pós-graduação. Diversos contatos efetuados com universidades estrangeiras geraram atividades de pesquisa conjunta com parceiros fora do Brasil. Isto foi ampliado consi-deravelmente com o início e rápida expansão das parcerias de cotutela de tese em nível de doutorado, sobretudo com a França. O uso de uma cota expressiva e exclusiva de bolsas de estudo do CNPq potenciou o aumento do número de estudantes africanos em cursos de pós-graduação da UFBA, em especial no Centro de Estudos Afro-Orientais.

Ao longo dos últimos anos, a UFBA desenvolveu uma série de cursos de pequena duração (duas a quatro semanas em média) para estudantes de graduação em turmas conjuntas de estudan-tes da UFBA e estudantes estrangeiros, com aulas em inglês. Isto proporcionou uma interação positiva entre os nossos estudantes e os estudantes estrangeiros que em muito colabora para a forma-ção de todos. Interações deste tipo com a Universidade Bocconi de Milão, a Universidade do Texas em Austin, a Michigan State University e a City University of New York vêm sendo realizadas com amplo sucesso.

RESULTADOS E IMPACTO

Em comparação com a situação anterior a 2003, o nível de in-ternacionalização da UFBA hoje alcança novos patamares. Até o

ano-base 2002, apenas 53 convênios haviam sido assinados com instituições estrangeiras. Em nosso mandato, foram fi rmados 176 acordos desse tipo. Ou seja, em 8 anos, estabelecemos 3,3 ve-zes mais laços formais com universidades estrangeiras do que em toda a história anterior da UFBA.

Em 2002, o número de estudantes de graduação da UFBA enviados para o exterior e de estudantes estrangeiros recebi-dos em nossa universidade era bastante reduzido. O Gráfi co 7.1 mostra a extraordinária evolução quantitativa desses números no curso desta gestão. Os dados falam por si. O crescimento nesses indicadores, tomando 2002 como ano-base das fases an-teriores, foi de quase 320% para a recepção de estudantes in-

Gráfi co 7.1. Alunos estrangeiros na UFBA, 2002-2009

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Gráfi co 7.2. Alunos da UFBA em instituições estrangeiras, 2002-2009

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ternacionais na UFBA e de mais de 600% para intercâmbios de nossos estudantes em universidades estrangeiras. Ressaltamos apenas que o recuo referente ao exercício 2009 corresponde à grave crise fi nanceira internacional que determinou redução dos apoios fi nanceiros.

Durante o quadriênio 2002-2005, 333 estudantes de gradua-ção da UFBA haviam se benefi ciado de programas de intercâm-bio acadêmico em universidades estrangeiras, em diversas áreas específi cas de conhecimento. No quadriênio seguinte (2006-2009), foram 751 intercambistas, confi gurando um crescimento de 125% em relação ao período anterior. Neste ano, convênios fi rmados com importantes universidades estrangeiras (Universi-dade de Coimbra, New York University, Michigan State Univer-sity, Universität Graz) prevêem a oferta de bolsas tipo sanduí-che na graduação para estudantes participantes no Programa de Ações Afi rmativas.

Na pós-graduação, foi ampliada a formalização do intercâmbio internacional que já se fazia de modo espontâneo. Reforçando um programa já existente, em 2010, matriculamos 21 estudantes es-trangeiros nos cursos de pós-graduação da UFBA, com bolsas do Programa de Estudantes-Convênio de Pós-Graduação (PEC-PG). Abrindo uma linha original de parceria neste nível de formação, celebramos a realização de 31 doutorados em cotutela e dupla titulação, com importantes universidades europeias.

A Assessoria para Assuntos Internacionais tornou-se, no perí-odo da atual gestão, amplamente conhecida na UFBA. De março de 2004 até o momento, foram geradas 223 diferentes matérias jornalísticas relativas às atividades da AAI no UFBA em Pauta, o que signifi ca média de três fatos relevantes a cada mês. Trata-se de um indicador interessante da importância do trabalho (e seus resultados) aqui relatado.

A convivência sempre harmoniosa entre seus membros e o alto nível de interesse deles no trabalho e nos destinos da AAI transformaram o labor em lazer. Nossa equipe confi a ter desem-penhado sua missão da melhor maneira possível, sem excluir que outros pudessem tê-lo feito (ou poderão fazê-lo no futuro) ainda melhor.

Exmo. Sr. Prof. Doutor Maximiano Correia

Magnífi co Reitor da Universidade de Coimbra

Ao comemorar o primeiro decênio da sua organização defi ni-tiva, a Universidade da Bahia, que inclui entre as suas uni-dades a mais velha Escola Superior do Brasil, a Faculdade de Medicina, fundada ainda por um Rei Português, D. João VI, e cujos primeiros Mestres foram escolares de Coimbra, vem por meu intermédio e na pessoa de Vossa Magnifi cência, trazer à Alma Mater Coimbrieense as suas saudações reve-rentes e fraternas.

Bahia, Cidade do Salvador, maio de 1956

Reitor Edgard Santos

Registro da passagem do Reitor Edgard Santos

na Universidade de Coimbra

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242 243

REESTRUTURAÇÃO NORMATIVA DA UFBA

O Brasil ainda está construindo seu arcabouço democrático. Lentamente, a Constituição de 1988 vem sendo regulamentada. Um dispositivo constitucional, o artigo 207, assegura que as uni-versidades gozam de autonomia didático-científi ca, administrati-va e de gestão fi nanceira e patrimonial. O problema é que raros são os artigos constitucionais que têm aplicação direta. A Emenda Constitucional nº 11/1995 e a Lei de Diretrizes e Bases da Edu-cação (Lei 9.394/1996) são também muito claras na questão da autonomia da universidade, mas não avançam no necessário deta-lhamento normativo.

A universidade federal brasileira foi constitucionalmente defi -nida como autarquia com autonomia, portanto tem uma natureza jurídica muito mais independente do que a burocracia estatal tem permitido. De direito, a autonomia constitucionalmente outor-gada concede às universidades a capacidade de criar seu próprio marco regulatório, possibilitando de fato um autogoverno, o que compreende autogestão dos meios com compartilhamento da go-vernança, orientada à consecução de objetivos cuja determinação será pactuada com a sociedade.

Com a oportunidade aberta pelo Plano REUNI/UFBA, apro-veitamos essa brecha legislativa para construir o marco regulató-rio de uma instituição autogovernada, com autogestão e autor-regulação. E buscamos fazê-lo diretamente a partir dos nossos Conselhos, elaborando e aprovando Estatutos e Regimentos, pois ‘autonomia’ juridicamente quer dizer capacidade de auto-normatização.

Antes de narrar o processo de reestruturação normativa da UFBA, precisamos ainda estabelecer as seguintes defi nições. Es-tatuto é o marco normativo principal de uma instituição ou or-ganização, equivalente, no plano interno, à constituição de um país. Tipicamente, um estatuto estabelece princípios, normas ge-rais, macroestrutura e funcionalidade da entidade. Regimentos, aí incluindo o Regimento Geral, são dispositivos normativos in-fraestatutários que regulamentam normas específi cas, arcabouço estrutural interno, competências e, principalmente, operação da instituição e dos seus organismos constituintes.

NOVO MARCO REGULATÓRIO PARA A AUTONOMIA

A gestão pública em geral rege-se pelos princípios constitucio-nais de probidade, legalidade, economicidade, impessoalidade e efi ciência. Em todo o mundo, o princípio da probidade assume na instituição universitária um valor ainda mais profundo. Às exigên-cias de honestidade no trato da coisa pública, particularmente nos aspectos fi nanceiros e de gestão, a universidade agrega demandas muito fi rmes por integridade científi ca, estética, pedagógica e éti-ca. De variados modos, as comunidades acadêmicas desenvolvem e operam mecanismos extremamente efi cazes e rigorosos de au-torregulação, vinculados a redes de pesquisadores e criadores que convalidam processos, métodos, resultados, objetos e produtos pe-dagógicos, científi cos e artísticos.

Os outros princípios constitucionais da gestão pública são pertinentes, em geral, mas insufi cientes (e, em certos casos, até inadequados) para dar conta das especifi cidades da universidade. Excelência, cientifi cidade, esteticidade, criatividade e pluralidade devem ser tomados como princípios estruturantes dessa peculiar instituição que tem a missão histórica da educação superior, da produção de conhecimento/criação, do respeito à diversidade e da transformação crítica da sociedade. Em certos momentos, ha-verá mesmo contradição entre o espírito burocrático do serviço

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público e o ethos universitário: a efi ciência pode prejudicar a ex-celência; a impessoalidade pode rejeitar o talento e a pluralidade; a legalidade pode reprimir a criatividade; a economicidade pode comprometer a estética e a cientifi cidade.

Num plano teórico, a riqueza de uma universidade deve ser avaliada pelo talento e competência de seus docentes e pesqui-sadores. Porém, a situação atual é bem distinta e distante desse ideal. As interdições burocráticas do serviço público brasileiro não constituem pesadelos kafkianos fi ccionais; de fato, são a crua rea-lidade atual.

Atualmente, a instituição universitária federal é obrigada a se-guir a Lei de Licitações (Lei 8666/1993), devendo contratar servi-ços e adquirir produtos pelo menor preço ofertado, sem considerar estética, cientifi cidade e avanço tecnológico, critérios considerados subjetivos no regime licitatório vigente no serviço público. Nossos professores, pesquisadores e funcionários pertencem ao quadro de servidores federais e, portanto, a gestão de pessoas das instituições federais de educação superior é regida pelo Regime Jurídico Úni-co (Lei 8.112/1990). Submetemo-nos ao mesmo regime de todo servidor público federal, do ascensorista do Senado à secretária do Planalto ao analista do Supremo.

Um edital de concurso para docência universitária é cheio de ítens destinados a garantir a impessoalidade do processo, preser-vando direitos de técnicos e professores meramente efi cientes, mas que difi cultam reconhecimento e seleção dos excelentes, ou seja, os mais criativos e competentes. O modo de seleção tipo concurso é por vários motivos menos acadêmico e mais carto-rial, facilitando intermináveis recursos e processos judiciais. Além disso tudo, para realizar concursos públicos de pessoal técnico e administrativo, temos que seguir a lista de funções do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão. Essa submissão da univer-sidade ao padrão do serviço público difi culta, inclusive, a gestão orientada por uma noção peculiar de produtividade, a produtivi-dade acadêmica, que implicaria maior fl exibilidade para admitir, avaliar e, quando for o caso, demitir.

Para viabilização da autogestão universitária (ou autonomia plena dos meios), visando a garantir uma governança socialmente compartilhada, ou seja, autonomia relativa dos fi ns, cada univer-

sidade, aproveitando sua parca independência institucional atual-mente vigente, poderia (e deveria) implantar as seguintes medidas:

• elaboração de planos de desenvolvimento institucionais “verdadeiros”, e não termos de vagas intenções;

• negociação de Pactos de Metas, a tempo determinado, com o nosso principal mantenedor, o Governo Federal (nesse sen-tido, podemos conferir o exemplo do Canadá – onde planos quinquenais de metas garantem recursos estatais condicio-nados a operação efi ciente das universidades públicas);

• atualização de mecanismos e instâncias de controle interno nas unidades do sistema, capacitadas a exercer com efi ciência funções de avaliação, controle, acompanhamento, monitora-mento, fi scalização e supervisão, sempre com conhecimento estreito e próximo das especifi cidades da Universidade;

• instalação de Conselhos Sociais Estratégicos nas uni-dades do sistema, com a participação de representantes dos mantenedores (governos federal, estadual e munici-pais, bancadas parlamentares federais), dos fi nanciadores (agências de fomento, empresas parceiras), da sociedade civil (sindicatos, movimentos sociais) e da comunidade de egressos (ex-reitores, servidores aposentados, professores aposentados, ex-alunos).

Para contínua negociação e renovação desses pactos internos e externos, entretanto, não bastam alguns representantes de seg-mentos sociais num conselho superior deliberativo. Os governos municipal, estadual e federal, as entidades da sociedade civil, sin-dicatos, os fi nanciadores, os professores eméritos, os ex-alunos, todos deveriam participar. Por exemplo, o maior fi nanciador atual de projetos de pesquisa na UFBA é a Petrobras; será plenamente justifi cado que ela tenha assento no conselho estratégico da uni-versidade. A universidade poderá assim escolher em que investir, com decisões compartilhadas com a sociedade que a sustenta e a fi nancia com recursos públicos.

O fi nanciamento da universidade deve ser feito através de or-çamentos globais, que será plenamente autogerido e autocontro-lado, porém acompanhado e fi scalizado por instâncias internas e igualmente autônomas. Nesse cenário, o TCU (como órgão

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do Estado), o MEC e a CGU (como órgãos do Governo), e um Conselho Social Estratégico (como interface da sociedade na universidade) em cada instituição serão todos necessários para nos avaliar não como burocracia meramente efi ciente, mas como universidade excelente.

Tudo isso é muito pertinente e interessante, diriam as almas de bem (do ponto de vista acadêmico), mas demasiado distante. De fato, a construção da autonomia deve começar dentro de casa. Nesse sentido, nada mais justo que rever o marco normativo de cada instituição de conhecimento que se pretende Universidade, a começar pela nossa UFBA.

INCONSISTÊNCIAS DO ANTIGO ESTATUTO DA UFBA

O Estatuto anterior da UFBA, diploma legal máximo da insti-tuição, havia sido elaborado e aprovado pelos Conselhos Superio-res no ano 2000, incorporando um viés claramente simplifi cador. Nesse sentido, decidiu-se remeter detalhamento normativo e re-gramento operacional para um novo Regimento Geral que, face a sucessivas conjunturas adversas, nunca foi completado.

Naquele Estatuto, ressaltavam três inconsistências fundamentais no tocante aos temas da autonomia universitária acima assinalados.

Primeiro, no texto normativo se verifi cava grave lacuna no que se refere à ausência de defi nição do Colegiado de Cursos, instância típica de gestão do cotidiano acadêmico, consagrada na estrutura da universidade brasileira. Essa omissão foi notada de imediato após sua aprovação, porém sucessivas legislaturas no Conselho Universitário pretenderam remeter esta correção ao momento de revisão do Regimento Geral, o que de fato não ocorreu. Como as características da instituição universitária permitem larga tolerân-cia nos processos e dado o exaustivo trabalho de congregações, câmaras e conselhos, foi possível conservar padrões de gestão aca-dêmica com base no velho Regimento de 1981 (no que não con-fl itava com o Estatuto) e nas boas práticas informais.

Segundo, a revisão da estrutura de governança visando a inte-grar gestão acadêmica e gestão institucional, necessária para maior efi ciência e competência da universidade, restringiu-se ao âmbito localizado das Unidades Universitárias. A extinção dos Conselhos Departamentais, ao condensar funções acadêmicas e administra-tivas nas Congregações, constituiu importante passo no sentido da gestão baseada na unicameralidade. A avaliação da funcionali-dade dessa estrutura, no decênio que se encerra, não identifi cou maiores problemas e, pelo contrário, a ela se podia atribuir uma retomada, ainda que tímida, das responsabilidades de liderança acadêmica pelos Diretores de Unidade.

Por outro lado, na esfera central de deliberação, implantou-se a mais rígida dicotomia deliberativa, com um Conselho Univer-sitário exclusivamente responsável pelos aspectos administrativos e institucionais da gestão, sem qualquer competência acadêmica, quase antagonizando um Conselho de Ensino, Pesquisa e Exten-são, com todos os encargos deliberativos da gestão acadêmica es-trito senso. Não obstante, este último conselho, subdividido em câmaras, rapidamente encontrou-se sobrecarregado de processos e recursos do cotidiano da gestão universitária, impossibilitado de refl etir sobre as questões estratégicas maiores da instituição.

Terceiro, a despeito do avanço na constituição do Conselho de Curadores no Estatuto, dotando-o de maior autonomia perante os organismos de execução e deliberação da Universidade, tornando-o órgão consultivo do Conselho Universitário, fazia-se necessário ampliar as relações entre a instituição universitária e a sociedade

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que a sustenta no sentido institucional e o governo que a mantém tanto em termos administrativos como fi nanceiros. A estrutura, composição e competências dos conselhos superiores aprovadas no antigo Estatuto de fato não inovou no que se refere à parti-cipação da sociedade e do governo, conservando uma referência limitada de representações internamente constituídas.

Uma proposta de atualização do Estatuto da UFBA, visan-do ao aprimoramento tanto quanto à correção de tais lacunas e inconsistências, já constava do Plano de Metas apresentado em nossa posse na Reitoria em agosto de 2002. Como não alcança-mos, no primeiro mandato, o consenso político imprescindível para uma reestruturação normativa mais ampla, sustentável e representativa, consideramos então esta demanda como meta não-realizada e a mantivemos como prioridade em nossa plata-forma de trabalho para o segundo mandato – referendada pela comunidade universitária ao reeleger nossa equipe, por ampla margem, em 2006.

Os principais pontos da nossa proposta de ação no segundo mandato foram explicitados como princípios estruturantes de uma reforma acadêmica e administrativa da UFBA, no contexto da luta por autonomia universitária com responsabilidade institu-cional. Com esse espírito, durante todo o ano de 2007, avançamos na construção de um programa de reestruturação curricular (de-nominado inicialmente de UFBA Nova) que, infl uenciando a ela-boração da nova política de educação superior do governo federal (então designado como Universidade Nova), encontrou condições de viabilidade com a adesão da UFBA ao Programa REUNI, como vimos no Capítulo 6.

REFORMA ESTATUTÁRIA DE 2009

O ano de 2008 foi extremamente profícuo no sentido de criar as matrizes normativas da substancial transformação ainda em curso na UFBA. Por um lado, o Conselho Universitário, com agili-dade e fi rmeza, aprovou diretrizes, estratégias, metas e defi nições urbanísticas componentes de um Plano Diretor Físico e Ambien-tal, necessário para aplicar com efi ciência os recursos para investi-mento em obras e instalações. Por outro lado, o CONSEPE e suas câmaras, igualmente com objetividade e perseverança, aprovou

uma série de resoluções que, de modo pioneiro, regulamentaram aspectos acadêmicos do REUNI, imprescindíveis para a imple-mentação dos novos modelos curriculares e da logística comple-xa determinada pela massiva expansão de vagas na graduação e na pós-graduação.

Dado o grau de amadurecimento dos debates sobre reestrutu-ração institucional e curricular na UFBA provocados pelo Plano REUNI/UFBA e considerando a urgência em atualizarmos es-trutura de governança e arcabouço normativo de nossa institui-ção, incluímos a matéria na pauta nos conselhos pertinentes para a devida apreciação e deliberação. Assim, em outubro de 2008, o CONSUNI, acolhendo indicação consensual do CONSEPE, re-comendou à Reitoria tomar providências para abertura dos de-bates sobre reforma estatutária e subsequente elaboração de um novo Regimento Geral. Uma Comissão ad-hoc, composta pelos professores Aurélio Lacerda, Ricardo Miranda e Roberto Pau-lo Araújo, foi designada para proceder aos estudos necessários à elaboração de propostas de anteprojetos de Estatuto e Regi-mento Geral, a serem apreciadas conforme as disposições gerais da norma vigente. Ao apresentar seus resultados preliminares em fevereiro de 2009, essa comissão foi referendada por unani-midade pelo CONSUNI como Comissão Especial, acrescida de representantes dos servidores docentes, técnico-administrativos e estudantes.

O Conselho Conjunto Estatuinte, formado pela união dos con-selhos superiores da UFBA, foi instalado em 14 de agosto de 2009, tendo sido então autorizada a divulgação ampla da minuta elabo-rada pela Comissão. Na primeira minuta, as alterações propostas no Estatuto compreendiam o seguinte:

• Nova estrutura, composição e competências para os Órgãos de Administração Superior, ampliando a responsabilidade acadêmica do Conselho Universitário e regulamentando pa-pel e composição da Assembléia Universitária.

• Introdução, no Título III – Da Estrutura, do conceito de Conselhos Acadêmicos Superiores como órgãos de delibera-ção colegiada em matéria acadêmica e da categoria Órgãos Consultivos como instância auxiliar à Reitoria e aos Conse-lhos Superiores.

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• Concessão ao Conselho de Curadores do estatuto de Órgão de Controle, Fiscalização e Supervisão.

• Estabelecer estatutariamente o papel dos Colegiados de Cursos, como instância responsável pela gestão acadêmica de cursos e programas de graduação e de pós-graduação.

Nesse momento inicial, foi solicitado aos dirigentes e repre-sentantes encaminhar nas respectivas unidades, órgãos, entidades e segmentos, no prazo máximo de 40 dias, discussões e coleta de subsídios para aprimoramento e complementação da proposta.

Atendendo indicação consensual do Conselho Conjunto Esta-tuinte, a Comissão Especial foi reconstituída pela Portaria da Rei-toria nº 726/09 para “proceder, no período de 21 a 30.09.2009, à compilação e consolidação das propostas emanadas da comu-

nidade universitária, tendo em vista a elaboração de uma versão atualizada da proposta do novo Estatuto da UFBA, a ser submeti-da à apreciação defi nitiva dos seus Conselhos Superiores”, tendo sido instalada em 16 de setembro de 2009. Foram realizadas cinco reuniões do Conselho Conjunto Estatuinte, com amplo quorum deliberativo, apreciando as propostas que, incorporadas ao texto-base, serviram para novas rodadas de discussão. No total, 7 versões da minuta foram elaboradas pela Comissão Técnica, incorporan-do subsídios e sugestões resultantes de três rodadas de discussão nas unidades universitárias. Adicionalmente, a Comissão recebeu e considerou subsídios das representações dos docentes, dos téc-nico-administrativos e dos estudantes nos Conselhos Superiores, além de contribuições espontâneas independentes da Câmara de Ensino de Graduação do CONSEPE, do Departamento de Ci-ência Política da FFCH, do Coletivo Tribo (grupo de servidores técnico-administrativos) e de Marcelo Embiruçu, Professor Asso-ciado da Escola Politécnica.

Além daquelas constantes da minuta inicial, referidas acima, destacam-se as seguintes alterações enfi m incorporadas ao Estatuto:

1. Instituição de dois Conselhos Acadêmicos Superiores – Con-selho Acadêmico de Ensino; Conselho Acadêmico de Pesquisa e Extensão –, com maior autonomia deliberativa, mantendo o pa-pel do CONSEPE no que se refere à integração e articulação das atividades-fi m da Universidade.

2. Criação de Órgãos Estruturantes, compostos por sistemas institucionais vinculados à Reitoria, destinados à gestão e execu-ção de ações específi cas da administração acadêmica, operando como redes integradas (Sistema Universitário de Tecnologia da Informação; Sistema Universitário de Bibliotecas; Sistema Univer-sitário de Saúde; Sistema Universitário de Museus; Sistema Uni-versitário Editorial).

3. Simplifi cação dos processos de recursos frente a decisões acadêmicas, descentralizando o poder decisório aos Colegiados e Congregações, assim desobstruindo a pauta dos conselhos delibe-rativos superiores.

4. Ampliação das competências das Congregações, aumentan-do o grau de autonomia e respectivas responsabilidades das Uni-dades Universitárias.

CONTRIBUIÇÕES

Em diferentes momentos do processo de elaboração do Estatuto e do Regimento Geral, recebemos contribuições de 22 unidades e órgãos, a saber:

1. Faculdade de Arquitetura 2. Instituto de Geociências3. Instituto de Física4. Instituto de Politécnica 5. Instituto de Química 6. Instituto de Biologia7. Escola de Enfermagem8. Faculdade de Farmácia9. Instituto de Ciências da Saúde10. Instituto de Saúde Coletiva11. Faculdade de Medicina 12. Faculdade de Odontologia13. Escola de Nutrição14. Escola de Administração15. Faculdade de Ciências Contábeis16. Faculdade de Ciências Econômicas17. Faculdade de Educação18. Faculdade de Filosofi a e Ciências Humanas19. Instituto de Psicologia20. Instituto de Letras21. Instituto de Humanidades, Artes e Ciências Prof. Milton Santos 22. Centro de Pesquisa em Geofísica e Geologia

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A minuta fi nalizada constituiu um texto-base, aprovado por unanimidade pelo Conselho Estatuinte, em reunião realizada no Instituto de Ciências da Saúde, em 23 de novembro de 2009. O texto fi nal foi ainda apreciado e revisado pela Comissão de Nor-mas e Recursos do Conselho Universitário, em seus aspectos téc-nicos formais de redação legislativa. O texto completo do novo Estatuto encontra-se no portal da UFBA.

NOVO REGIMENTO GERAL

À medida em que se estabelecia o patamar normativo atuali-zado do Estatuto, a Comissão Especial organizou o processo de elaboração do Regimento Geral da UFBA a partir da compila-ção de expressivo conjunto de resoluções e normas editadas pelos Conselhos Superiores entre 1995 e 2008 que, em muitos casos, já antecipavam temas e questões naquele momento sistematizadas. Dessa forma, foi possível incorporar o essencial das matrizes nor-mativas vigentes com a fi nalidade de ajustá-las às transformações estruturais e à adoção dos novos modelos curriculares, introduzi-das pela adesão de nossa instituição ao REUNI.

A minuta consolidada do Regimento Geral foi apresentada e discutida numa reunião não deliberativa do Conselho Conjunto Es-tatuinte, em 9 de dezembro de 2009. Após divulgadas e debatidas nas Congregações das Unidades Universitárias que se engajaram na discussão da matéria, diferentes versões intermediárias foram apre-ciadas em três reuniões extraordinárias do Conselho Universitário, durante os meses de novembro de 2009 e março de 2010.

Além de regulamentar processos típicos da governança insti-tucional e da gestão acadêmica da universidade, várias importan-tes inovações foram incorporadas ao novo Regimento Geral, mais alto dispositivo normativo operacional da UFBA, a saber:

• Altera a estrutura da Administração Central, criando duas novas Pró-Reitorias (PROAD – Administração e PRPCI – Pesquisa, Criação e Inovação), além da Unidade Seccional de Correição e da Ouvidoria Geral.

• Formaliza três Comissões Centrais, previstas na legislação: Comissão Própria de Avaliação; Comissão Central de Ética; Comissão Permanente de Arquivo.

• Cria quatro órgãos consultivos: Conselho Consultivo Social; Conselho Consultivo de Aposentados, Eméritos e Ex-Alunos; Conselho Social de Vida Universitária; Consultoria Jurídica.

• Regulamenta as modalidades de cursos de graduação exis-tentes (Licenciatura; Bacharelado; Formação Profi ssional) e introduz duas modalidades novas (Curso Superior de Tec-nologia; Bacharelado Interdisciplinar).

• Defi ne programas de educação permanente e cursos de es-pecialização como atividades de extensão universitária, a critério da unidade proponente.

• Implanta o sistema de acompanhamento e avaliação das ati-vidades acadêmicas dos docentes, com base em instrumen-

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tos individuais e institucionais de planejamento e prestação de contas (PAT/RAT, PIT/RIT).

• Regulamenta os regimes de trabalho do corpo docente, com dimensionamento correspondente à unidade Pro-fessor-Equivalente, instituída pela Portaria MEC/MPOG 22/2007, incluindo regras para integralização da carga ho-rária docente.

• Autoriza percepção de remuneração adicional pelo docen-te em Regime DE, desde que não caracterize vínculo de emprego ou acumulação de cargos e tenha sido aprovada pela instância de lotação do docente.

• Oferece opção, exclusiva para o docente em Regime DE, de lotação simultânea em duas Unidades Universitárias por-tadoras de afi nidade interdisciplinar ou com demonstrada proximidade de campos de formação.

• Limita o tamanho mínimo, fi xado em vinte Professores-Equivalentes, para manutenção de estruturas departamen-tais numa Unidade Universitária.

• Estabelece o regime disciplinar para os corpos docente, técnico-administrativo e discente, com base em Códigos de Ética Universitária para cada segmento da comunidade acadêmica.

• Institui, pelo prazo de cinco anos, o Doutoramento Espe-cial, destinado à titulação de docentes do quadro perma-nente da UFBA admitidos antes do ano 1990.

Os destaques foram objeto de nova rodada de debates, tendo sido votados em 21 de dezembro de 2009, em reunião conclusi-va realizada no Museu de Arte Sacra. A minuta fi nalizada cons-tituiu um texto-base, aprovado por unanimidade pelo Conselho Universitário, em reunião realizada na Sala dos Conselhos em 26 de fevereiro de 2010. Seguindo o padrão utilizado no Es-tatuto, o texto regimental foi ainda apreciado e revisado pela Comissão de Normas e Recursos do Conselho Universitário, em seus aspectos técnicos formais de redação legislativa, tendo sido aprovado de forma conclusiva em 11 de março de 2010. O tex-to completo do novo Regimento Geral pode ser encontrado no Portal da UFBA.

AVALIAÇÃO DO NOVO MARCO NORMATIVO

O novo marco normativo da UFBA converge para uma re-visão crítica, do ponto de vista epistemológico e conceitual, do papel da Universidade enquanto instituição cultural e histórica. O papel institucional da Universidade pode ser compreendido como conjunto articulado de funções sociais. O binômio ensino-pesquisa da universidade humboldtiana clássica subordinava a função Conhecimento à função Formação. Em meados do Século XX, incluiu-se o Compromisso Social como função essencial da Universidade, traduzida concretamente pelo conceito de exten-são, convencionalmente completando o trinômio ensino-pesqui-sa-extensão que, seguindo a retórica do texto constitucional bra-sileiro, seria indissociável.

Em termos contemporâneos, impõe-se redefi nir e atualizar o escopo de cada um dos termos dessa fórmula triangular “ensino-pesquisa-extensão”. O ensino pode e deve ser entendido como pra-xis de formação de sujeitos epistêmicos; a pesquisa pode e deve ser tomada como produção intelectual e cultural aberta à episte-modiversidade a cena intelectual contemporânea; a extensão pode e deve ser compreendida como práxis educacional num mundo cada vez mais multirreferenciado e intercultural. Nesse sentido, podemos reconhecer a tripla missão de produção formativa, pro-

dução intelectual e produção política como efeitos do papel his-tórico da instituição de ensino superior chamada de Universidade. A compreensão ampliada do trinômio permitirá, sempre que tor-nada possível pela construção institucional consciente e planejada, integrar ciências, artes e humanidades em práticas não somente

“O novo marco normativo da UFBA converge para uma revisão crítica, do papel da Universidade enquanto instituição cultural e histórica.”

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interdisciplinares, mas também entre paradigmas, racionalidades e saberes, capazes de contribuir para transformar a sociedade e construir a história, numa perspectiva de solidariedade, sustentabi-lidade e consciência ambiental.

Em primeiro lugar, dentro desse referencial, uma das inova-ções mais signifi cativas do novo marco normativo da UFBA é a ampliação dos conceitos de produção acadêmica. Por um lado, foi consensual a aprovação de nossa proposta, desde a primeira mi-nuta, no sentido de superar a velha concepção de conhecimento exclusivamente como produto intelectual resultante de processo sistemático e metódico, classicamente designado como pesquisa científi ca. A função Conhecimento torna-se, dessa maneira, res-signifi cada como Ciência-Arte-Cultura. Por outro lado, a expres-são Pesquisa-Criação-Inovação merece um comentário adicional: aqui, é proposital a escolha dos signifi cantes ‘criação’ e ‘inovação’ justamente pelo sentido duplo, diferenciado na literatura econo-micista de Ciência & Tecnologia de herança schumpeteriana e por seu uso nos estudos culturais e em análises de produção artística. Ao incorporar na missão da UFBA a fórmula mais ampla ‘conhe-cimentos e saberes’, valorizando-as, pudemos agregar as categorias de produção artística e cultural e de desenvolvimento tecnológico às competências, objetivos institucionais e designativos das ins-tâncias e órgãos deliberativos.

Em segundo lugar, note-se que a função Formação mereceu destaque especial em nosso novo marco normativo. Na matriz conceitual que o subsidia, principalmente no Regimento Geral, a função Formação na instituição chamada Universidade encontra-se desdobrada em formação de profi ssionais – gestores e aplica-dores de conhecimento e tecnologia; em formação de criadores – pesquisadores, inovadores, artistas, produtores de conhecimento, artes e tecnologia; e em formação de formadores – docentes, tu-tores, educadores.

A aplicação desse marco referencial implica ainda diferenciar os conceitos de ‘Modo de Formação’ e ‘Modelo Curricular’. Modo de Formação compreende articulação de meios e fi ns da função Formação na educação superior, enquanto Modelos Curriculares referem-se à arquitetura curricular ou macroestrutura de cursos

e programas de ensino. Os modos de formação da Universidade contemporânea compreendem três modalidades:

• Profi ssionalizante;

• Acadêmico;

• Integrador.

Na modalidade Profi ssionalizante, a formação equivale a treina-mento e o diploma prevê habilitação ou qualifi cação em carreira profi ssional. Na modalidade Acadêmica, a formação equivale a ensi-no e o diploma signifi ca título, expressando um símbolo institucio-nal. Na modalidade Integradora, a formação equivale ao conceito amplo de educação e o diploma indica grau ou nível de formação.

Evidentemente, temos buscado reconstruir nossa UFBA como uma instituição convicta do seu papel integrador nesta função es-sencial das universidades: a Formação. Nesse espírito, o novo mar-co normativo foi concebido para reduzir ao máximo a diferen-ciação (que chegava às raias da segregação na velha universidade, produzindo um indesejável e estéril antagonismo) entre os níveis de ensino graduação e pós-graduação.

No plano da prática de planejamento e gestão acadêmica, o novo Regimento Geral defi ne regras claras para integralização da carga horária docente, estabelecendo o mínimo de 10 horas se-manais em atividades de ensino presencial, de graduação ou de pós-graduação, em sala de aula ou equivalente, para docentes em Dedicação Exclusiva ou em regime de Tempo Parcial. Os docen-tes submetidos ao regime excepcional de 40 horas ou aqueles em Regime DE que não exerçam atividades de pesquisa e/ou exten-são aprovadas pelas instâncias competentes, terão carga horária mínima de atividades de ensino de 20 horas semanais (sendo 16 horas de aula). Notem a conceituação ampla de ensino, mais além dos formatos convencionais de classes recitativas em salas de aula.

Em terceiro lugar, compreender a extensão como praxis educa-cional multirreferenciada signifi ca levar em consideração a interfa-ce universidade-sociedade, defi nida do modo mais amplo possível, Estado e sociedade civil, governos e mercados, movimentos sociais e organizações do terceiro setor. Assim é que, no texto regimen-tal em pauta, defi ne-se como atividades de extensão aquelas que

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“integram projetos e programas de formação continuada e de in-tegração da universidade com instituições públicas e privadas, or-ganizações não-governamentais, empresas e movimentos sociais”. As modalidades aprovadas incluem elenco diversifi cado e rico de possibilidades – cursos de extensão, aperfeiçoamento, especializa-ção, capacitação e similares; cooperação técnica, inovação tecno-lógica e similares; direção artística, produção cultural e similares; consultorias e assessorias; prestação de serviços; com realce para a articulação com saberes não-universitários.

Neste item, dois aspectos inicialmente controversos, mas que alcançaram consenso do ponto de vista jurídico a partir de acór-dãos do Tribunal de Contas da União e decisões do Supremo Tribunal Federal, merecem atenção, dado que dizem respeito à contraprestação pecuniária extraorçamentária de atividades reali-zadas por uma instituição pública federal. Primeiro, a inclusão de cursos de especialização como atividades de extensão, juntamente com outras modalidades de educação permanente ou continua-da extraordinárias à missão constitucional de ensino público da instituição federal. Segundo, a autorização para recebimento de remuneração adicional pelo docente em Regime DE, sob a forma de colaboração em atividade esporádica, prêmios científi cos, di-reitos autorais, direitos de patente ou correlatos, participação em

seminários, congressos, conferências e aulas eventuais, cachês por atividades artísticas, bolsas de ensino, pesquisa e extensão, gratifi -cação por cursos e concursos, coordenação de projetos institucio-nais, desde que o benefi ciário demonstre “desempenho satisfatório em atividades regulares de ensino avaliadas periodicamente, além do cumprimento dos demais encargos atinentes à função docente na universidade” sem prejudicar, “em hipótese alguma, [...] as ati-vidades acadêmicas exercidas na UFBA”.

Em conclusão, cabe assinalar que, aproveitando de modo pleno e preciso o dispositivo constitucional da autonomia como auto-normatividade e autorregulação, buscamos construir um consenso político institucional no sentido de concluir o trabalho de atu-alização estatutária e regimental da UFBA. Sabemos todos que, em instituições efetivamente democráticas, não existe forma mais efi ciente de controle social do que o autocontrole institucional. O novo marco normativo da UFBA resulta portanto de um pac-to interno em torno da articulação e integração entre excelência acadêmica e compromisso social e do compartilhamento da con-vicção de que uma instituição universitária como a Universidade Federal da Bahia, ao se demonstrar competente como instituição do conhecimento, das artes e da cultura, constitui fator decisivo e determinante da transformação sustentada da sociedade.

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BalançoFinanceiro

CAPÍTULO 8

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Apresentamos o balanço fi nanceiro da nossa gestão, numa perspectiva contábil clássica, por um lado, a partir da evolução da receita e, por outro lado, das despesas e controle de custos.

EVOLUÇÃO DA RECEITA

No Gráfi co 8.1, apresentamos a evolução do orçamento efeti-vamente executado pela UFBA, entre 1995 e 2009. No início da série histórica, tínhamos um orçamento de pouco menos de 200 milhões de Reais, com aumento nominal constante de 25% ao ano, até atingir 988 milhões de Reais no fi m do período. Excluindo inativos, o orçamento operacional realizado pela UFBA alcançou 677 milhões em 2009.

Entretanto, no mesmo gráfi co, podemos analisar o perfi l his-tórico do fi nanciamento da UFBA com maior grau de precisão, mediante correção monetária a valores do Real de dezembro de 2009. Observamos, no período inicial da série, um patamar com pequenas fl utuações, situando-o entre 650 e 700 milhões de Re-ais. Segue-se uma tendência decrescente constante no período 1998-2003, com uma queda de 21,9%, até o piso de 540 milhões de Reais. A partir daí, o orçamento passa a crescer de modo con-sistente, recuperando as perdas anteriores já em 2006. A partir de 2007, alcança sucessivos recordes históricos. No fi nal da série, com mais de 973 milhões de Reais em 2009, estimamos um incremen-to real de quase 80% em relação ao ano de 2003, com 13,2% de crescimento anual médio.

No Gráfi co 8.2, podemos observar a evolução histórica da re-ceita da UFBA, segundo fonte fi nanceira, no período considera-do. Observamos uma clara mudança no perfi l da receita fi nancei-ra da instituição, com redução da importância relativa da fonte orçamentária do Tesouro Nacional e um concomitante aumen-to de receita própria e de convênios. Assim, de um montante

Balanço Financeiro

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2009

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Gráfi co 8.2. Evolução Histórica da Receita, segundo fonte fi nanceira.UFBA, 1995-2009

(corrigido a Reais de 2009) de 18,7 milhões oriundos de fontes extraorçamentárias em 1995, crescemos para 54,4 milhões de Reais em 2002 (alcançando 10% do orçamento total e 50% do orçamento de custeio).

Em 2009, registramos 158,3 milhões de Reais em receita de convênios e contratos, incremento de 191% em relação a 2002, equivalente a 16% da receita total corrigida. O Gráfi co 8.3 apre-senta o número de convênios e contratos celebrados, discrimi-nando a entidade parceira em termos de natureza jurídica, como órgão público, empresas do setor privado e entidades do terceiro setor. Além do enorme incremento no total de termos celebrados (de 311 em 2002 para 1.560 em 2009, aumento de 402%), veri-fi camos uma radical mudança no perfi l das relações institucionais da UFBA. Em 2002, 42% dos convênios e contratos da UFBA provinham do setor privado e 30% foram fi rmados com órgãos de governo (estimando-se uma “razão de privatização” de 1,4). Em 2009, apenas 8% do total de ajustes foi fi rmado com o setor

privado, em contraste com 22% com o setor governamental, além de 64% com fundações e entidades da sociedade civil. Portanto, em nosso mandato na Reitoria, a “razão de privatização” da UFBA foi radicalmente revertida, situando-se hoje em 0,4 (ou 2,6 vezes a favor do setor público).

Em complemento, podemos analisar a evolução da Receita Própria da UFBA, no período considerado. Até 2002, a Universi-dade recolhia anualmente aproximadamente 8 milhões de Reais com a prestação de serviços, expedição de documentos, aluguel de imóveis, contratos de cessão de uso, cursos e concursos, estudos e pesquisas. Em 2009, esse montante alcançou 19 milhões de Reais, representando um aumento de 140% na captação fi nanceira. O Gráfi co 8.4 mostra a evolução dos principais ítens de Receita Pró-pria nos dois quadriênios. Podemos notar uma elevação substan-cial na captação, mediante cursos, prestação de serviços (incluindo consultorias, a partir de 2008) e receitas patrimoniais, resultante, por um lado, da regulação mais efi ciente da gestão fi nanceira dos

Gráfi co 8.3. Evolução Histórica dos contratos e convênios, segundo fonte fi nanceira. UFBA, 2002-2009

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recursos captados e, por outro lado, da renegociação de contratos com cantinas e outras empresas prestadoras de serviços no cam-pus, principalmente agências bancárias. A receita de concursos e expedição de documentos aumenta discretamente no período, em paralelo a uma redução relativa ao item Estudos e Pesquisas (que embutia serviços de consultoria, posteriormente regulamentados como prestação de serviços).

Finalmente, o Gráfi co 8.5 expõe a trajetória dos investimentos na UFBA no período analisado. De um montante de 1,1 milhão de Reais, sendo 80% de recursos próprios, em 2002, alcançamos quase 40 milhões em 2009. Notemos o aporte de emendas par-lamentares predominante em 2005-2006, totalizando mais de 16 milhões de Reais. O Programa de Expansão da SESu, que fun-damentalmente compreende investimentos nos novos campi do interior, aportou 3,5 milhões a cada ano em 2005-2006 e mais de 6 milhões em 2007. A partir daí, o fundo orçamentário do MEC destinado ao Plano REUNI/UFBA passa a dominar o cenário de investimentos, inicialmente em torno de 10 milhões/ano em 2007-2008, atingindo a mais de 25 milhões no último exercício

Gráfi co 8.4. Evolução histórica dos principais ítens de Receita Própria. UFBA, 2002-2009 (em R$ 1,00)

do nosso mandato. Notemos, ainda, a relativamente modesta (po-rém consistente e crescente) contribuição dos recursos próprios da UFBA ao montante aplicado em obras e construções, passando de menos de 400 mil Reais em 2003 para 2,7 milhões em 2009.

DESPESAS E CONTROLE DE CUSTOS

O Gráfi co 8.6 mostra a evolução do perfi l de despesas, des-tacando as parcelas referentes aos inativos e à manutenção dos hospitais universitários. Até o ano de 2004, a folha de pessoal representava aproximadamente 85% do total de despesas; a partir desse ano, começa a reduzir-se gradativamente, situando-se abai-xo de 80% nos anos de 2008-2009. Entretanto, esta redução não é observada na folha de pessoal ativo, estabilizada em torno de 50% do total de despesas. Tal padrão podemos notar também para a parcela destinada à manutenção das atividades-fi m da UFBA, que oscila entre 9% e 10%, durante todo o período considerado.

Analisando especifi camente a evolução dos gastos com ma-nutenção da UFBA, o Gráfi co 8.7 mostra o perfi l das principais

Gráfi co 8.5. Evolução dos Investimentos segundo Fonte Financeira.UFBA, 2002-2009

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Gráfi co 8.6. Evolução do Perfi l de Execução Orçamentária com Pessoal Ativo,Inativos e Manutenção. UFBA, 2002-2009 (em%)

Gráfi co 8.7. Evolução do Perfi l de Despesas Correntes. UFBA, 2002-2009

Gráfi co 8.8. Evolução do Consumo de Água e da População Acadêmica. UFBA, 1999-2010

despesas correntes no período 2002-2009. Notamos, de imedia-to, a ascensão constante das despesas com Vigilância/Portaria e Limpeza, decorrentes da ampliação dos serviços contratados até 2007, alcançando o patamar de 9 e 7 milhões de Reais/ano, res-pectivamente. A partir daí, com os investimentos em infraestru-tura do REUNI, observamos uma evidente contenção dos custos nessas rubricas. O mesmo se registra no que se refere à Energia Elétrica, cujo incremento (de 3 milhões/ano em 2002 para 8,2 milhões/ano em 2008) se deve, por um lado, ao reajuste de tari-fas e, por outro lado, ao pagamento parcelado de uma dívida de 1,2 milhão desde 1995. O controle de custos observado a partir de 2008 se deve à implantação do Programa Poupe Luz e à re-negociação dos contratos com a concessionária fornecedora. As despesas com Telecomunicações crescem em menor proporção, estabilizando-se em 2,8 milhões anuais a partir de 2007.

A conta de Água merece um destaque especial. Apesar da renegociação e quitação de uma dívida de 5 milhões, herdada como contencioso de reitorados anteriores, juntamente com re-

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ajuste de tarifas acima da infl ação, notamos, a partir de 2005, uma estabilidade nos dispêndios dessa rubrica em torno de 2,5 milhões/ano, seguida de um incremento signifi cativo nos anos de 2008 e 2009. O Gráfi co 8.8 ajuda a elucidar este ponto, além de demonstrar a efi cácia dos sistemas de controle de custos im-plantados através do Programa Água Pura. O contingente de ser-vidores docentes, técnico-administrativos e estudantes da UFBA cresce expressivamente no período, a partir de uma faixa de 25 mil sujeitos em 2000-2004, para 37 mil em 2010. Não obstante, o consumo global se reduz de 25.000 m3/mês e o consumo per capita de 50 litros/pessoa dia para menos de 20 l/p.d. Em 2009-2010, há um repique do consumo global médio (mas não do consumo per capita) explicado pelo volume de obras decorrentes do Plano Diretor (ver Capítulo anterior).

ANÁLISE

No ano-base 2002, num contexto de crise estrutural de fi nancia-mento, o cenário administrativo-fi nanceiro da UFBA era o seguinte:

• Orçamento quase exclusivamente oriundo do Tesouro Na-cional e destinado a pagamento da folha de pessoal.

• Recursos para custeio menores que o total de gastos, provo-cando um défi cit fi nanceiro de mais de 7 milhões de Reais, incluindo 2,1 milhões de dívida a fornecedores.

• Quase nenhuma disponibilidade para investimentos em construção e manutenção predial.

• Falta de investimentos de capital, resultando em sucatea-mento da estrutura física e de equipamentos.

• A contenção do orçamento de custeio inevitavelmente de-terminava uma redução de atividades essenciais.

Em 2010, temos uma situação bastante diferente:

• O orçamento da UFBA ampliou-se e diversifi cou-se em ter-mos de fontes fi nanceiras.

• Os recursos para custeio cresceram o sufi ciente para cobrir o total de gastos, juntamente com um esforço bem-sucedido de controle de custos, possibilitando zerar o défi cit fi nancei-ro crônico já a partir de 2005.

• As dívidas históricas foram reconhecidas, renegociadas e in-tegralmente quitadas.

• Programas de expansão, emendas parlamentares e a adesão ao REUNI permitiram a captação de recursos substanciais para investimentos em obras e construções.

• As mesmas fontes propiciaram a recuperação da estrutura física e a renovação de equipamentos.

• O saneamento fi nanceiro, a recuperação orçamentária e o apoio institucional do Governo Federal permitiram a am-pliação massiva das atividades essenciais.

No próximo Capítulo, apresentaremos uma análise do conjun-to de resultados e metas alcançadas durante os períodos de gestão analisados, bem como o perfi l de estrutura e funcionamento da UFBA na presente data, meados do ano de 2010.

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UFBA Nova em 2010

CAPÍTULO 9

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Neste Capítulo, oferecemos uma descrição sumária da situação da UFBA em meados do ano de 2010, no momento em que con-cluímos nosso trabalho como equipe responsável pela gestão nos oito anos de mandato.

Tomamos, como fonte principal, os Relatórios de Gestão dos exercícios cumpridos nos dois quadriênios, além de outras bases de dados disponíveis na Pró-Reitoria de Planejamento e Adminis-tração (www.proplad.ufba.br/relatorios-f.html). Apresentaremos, inicialmente, sem comentários, análises ou interpretações ime-diatas, informações referentes aos principais eixos de impacto do processo de transformação que demos curso na instituição: cres-cimento no ensino de graduação e de pós-graduação, pesquisa e extensão, abertura e integração social, melhoria da situação insti-tucional em termos de pessoal e instalações físicas.

Como subsídio para avaliação dos efeitos das políticas de reno-vação da instituição universitária, esses resultados serão compara-dos com a situação vigente no início do nosso mandato. Além dis-

UFBA Nova em 2010

so, onde couber, analisaremos o grau de cumprimento das metas previstas para o REUNI, aprazadas para o ano 2012, encerramen-to do Programa. Ao fi m do Capítulo, apresentaremos uma avalia-ção geral do percurso e dos resultados alcançados, enfatizando os aspectos qualitativos institucionais.

ENSINO

Em termos quantitativos, quando começamos em 2002, éra-mos uma universidade de porte intermediário no cenário na-cional. Na presente data, meados do ano 2010, estamos classi-fi cados entre as sete maiores instituições federais de educação superior no Brasil.

A UFBA matricula hoje um total de 32.412 estudantes, sendo 28.477 em cursos de graduação e 3.935 em cursos de pós-gradu-ação. Isso signifi ca um crescimento bruto de 65% em comparação com o ano-base 2002; o que equivale a um aumento médio anual de 4%, no quadriênio 2002-2005, e de 11%, no quadriênio 2006-2009. É importante assinalar que o crescimento bruto de matrí-culas foi maior na pós-graduação estrito senso (135% no período), atingindo marcas excepcionais (153%) para o nível doutorado.

Neste ano de 2010, oferecemos quase 8,5 mil vagas em 112 cursos de graduação. Em comparação com 2002, trata-se de um crescimento bruto de quase 120% na oferta de vagas. Mais de

Aula Magna 2010

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especial, por constituir marco histórico: no dia 25 de setembro de 2009, no programa de Pós-graduação em Engenharia Industrial (www.pei.ufba.br), na Escola Politécnica da UFBA (www.eng.ufba.br), ocorreu a primeira defesa de doutoramento em enge-nharia no Estado da Bahia.

Na avaliação trienal da CAPES de 2009 (http://trienal.capes.gov.br), mais de 80% dos cursos da UFBA haviam alcançado con-ceito 4 ou 5, resultando numa média geral de 4,2 (4,5 para os doutorados). Hoje, apenas 18% dos cursos de PG têm nível 3. No outro extremo da escala, uma dezena de cursos foram classifi ca-dos com conceito 6, ou seja, em níveis de excepcionalidade, o que coloca estes cursos no seleto grupo dos considerados pela CAPES como de nível internacional. É interessante observar que em 2002, 30% dos cursos de PG senso estrito da UFBA tinham conceito 3 e nenhum dos nossos programas de PG tinha nota acima de 5.

No geral, o crescimento da oferta de cursos e de matrículas em todos os níveis e modalidades de formação constitui um indi-cador indireto da recuperação da expressão acadêmica de nossa universidade. Os gráfi cos 9.1 a 9.5 apresentam as séries históricas correspondentes à abertura de cursos, oferta de vagas e dimensão do alunado na graduação e na pós-graduação.

1/3 dessas vagas destinam-se a 40 cursos de graduação noturnos (em 2002, era apenas 1), fato que refl ete a mudança do perfi l so-cial de nossa universidade. A oferta de cursos desse nível de for-mação encontra-se hoje muito mais diversifi cada do que há oito anos. Além de mais vagas nas licenciaturas, incluindo 450 lugares no Programa Especial de Formação Docente, abrimos quase 1,6 mil vagas em Bacharelados Interdisciplinares e cursos superiores de tecnologia.

Na pós-graduação (PG), consolidamos e ampliamos a tendên-cia anterior de maior dinamismo. Em modalidades designadas como PG estrito senso, contamos hoje com 103 cursos – 61 mes-trados e 42 doutorados –, ofertando quase 2 mil vagas anuais. No nível doutorado, são 643 vagas anuais, o que equivale a um au-mento de 300% em relação a 2002. Em 2009, foram concluídas 218 teses de doutorado e 682 dissertações de mestrado, totalizan-do 900 egressos da Pós-Graduação. Uma dessas merece registro

VI Enecult, Encontro de Estudos Multidisciplinares em Cultura

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PESQUISA E EXTENSÃO

A UFBA conta hoje com 530 grupos de pesquisa registrados no CNPq, resultado de um incremento de 137% em comparação com 2002. Do contingente de 2.203 pesquisadores ativos, 219 são Bolsistas de Produtividade do CNPq (20 classifi cados no nível máximo 1-A); em 2002, havia apenas 106 pesquisadores bolsistas do CNPq. No que se refere ao Programa Institucional de Iniciação

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Científi ca (PIBIC: www.pibic.ufba.br), a UFBA vive um excelente momento, não apenas no que se refere a crescimento numérico de bolsistas e voluntários, mas também no escopo do programa. Em 2009, obtivemos um aumento substancial de bolsas de fomento à iniciação científi ca (IC). Os docentes da UFBA orientam pouco mais de 3.573 estudantes de graduação, sendo que 825 recebem bolsas de iniciação científi ca. Em particular, a UFBA posiciona-se entre as instituições com maior número de bolsas de iniciação científi ca do Programa PIBIC-Ações Afi rmativas, instituído pelo CNPq, sendo pioneira neste tipo de ação uma vez que, desde 2008, desenvolve o Programa Permanecer-PIBIC. Ambos os in-dicadores de bolsas de pesquisa mais que dobraram desde 2002.

Os dados indicam que, nos últimos anos, a produção científi -ca da UFBA cresceu em maior escala do que a produção brasi-leira. No período 2000 a 2003, a produção de artigos científi cos da UFBA indexados no ISI (Institute for Scientifi c Information: isiknowledge.com) era de aproximadamente 1,2% em relação à produção brasileira; esse percentual cresceu para quase 2% após 2008. Em 2009, nossos pesquisadores publicaram um total de 536 artigos indexados na Web of Science, o que representa 0,19 artigos/docente. Em termos comparativos, a produção acadêmica da UFBA quase duplica em relação ao ano-base 2002. A série his-tórica respectiva é demonstrada pelo Gráfi co 9.6, onde notamos um padrão geométrico de crescimento nos últimos anos.

Um dos indicadores mais robustos da qualidade de artigos publicados é o número de vezes que um paper é citado em ou-tros trabalhos científi cos. De fato, observamos um crescimento marcante do volume de citações de artigos de pesquisadores da UFBA ao longo dos anos. Em 2002, artigos científi cos produzidos na UFBA haviam sido citados em 1.474 trabalhos indexados no ISI; em 2009, este número foi de 5.550, representando um incre-mento de 276%.

Indicadores de desempenho em ciência e tecnologia situam hoje a UFBA em destaque, entre as universidades brasileiras.

No Ranking Web Mundial de Universidades (www.webome-trics.info), divulgado em janeiro de 2010, a UFBA classifi cou-se entre as Top 600, no 555º lugar. Com esse resultado, avançou 196 posições no Ranking Mundial, pois em 2008 a UFBA havia se classifi cado entre as Top 1000, conquistando o 751º lugar. Ganhou assim duas posições no ranking da América Latina, agora como a 16ª, consolidando-se em sétimo lugar entre as universidades fe-derais brasileiras. Decisivo para o bom posicionamento da UFBA foi o volume de citações de seus pesquisadores no Google Scholar (scholar.google.com.br) no ano de 2009, situando-a na excelente 133ª posição nesse quesito. Entre as universidades brasileiras, a UFBA foi a instituição que mais ganhou posições nas últimas edi-ções do Ranking Web. No mesmo bloco de classifi cação, posiciona-se junto a importantes instituições de conhecimento, de diferen-tes países, tais como Universidade de Antuérpia, Universität Jena, Erasmus University de Rotterdam e a tradicional Universitá degli Studi di Roma Tre, na Europa, e as Universidades de Missouri e de Denver, nos EUA, e a Sherbrooke University, no Canadá.

Na área de extensão, o programa Atividades Curriculares em Comunidade (ACC: www.acc.ufba.br) passou por profunda re-formulação, ganhou estabilidade e experimentou uma pequena expansão. Dos 444 estudantes engajados em 42 grupos de ACC em 2002, registramos 48 grupos e 612 estudantes em 2009. Ou-tros Programas e Projetos Permanentes, que envolvem comuni-dades específi cas e a sociedade de modo geral, vieram a reforçar e diversifi car as atividades de extensão na UFBA: Ecosmar, Inclu-são Digital, Fórum Comunitário de Combate à Violência, REDE/EDH, Conexões de Saberes.

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282 283

No total, em 2009, foram computadas 647 ações extensio-nistas, como programas, projetos, ações, prestação de serviços ou eventos, mobilizando quase 26 mil participantes (www.extensao.ufba.br). Na comparação com 2002, verifi camos que houve uma concentração de esforços, com redução do número de projetos, simultânea à ampliação, em mais de 30%, do universo de parti-cipantes. Na interface extensão-pesquisa, hoje, o Núcleo de Ino-vação Tecnológica da UFBA (NIT/UFBA: www.portaldainovacao.ufba.br) já computa mais de 30 requerimentos de patentes ou registro de marcas; em 2002, nenhum registro havia a declarar.

Merece destaque, ainda, a Editora da Universidade Federal da Bahia (EDUFBA: www.edufba.ufba.br), que, no ano de 2009, re-alizou 110 lançamentos de livros, incluindo reedições. A produção editorial da UFBA, portanto, mais que triplicou em relação a 2002, quando publicou 30 títulos. No exercício, vendeu mais de 22 mil livros, incluindo a produção de outras editoras universitárias, em três postos de vendas e na Bienal do Livro da Bahia. O Gráfi co 9.7 mostra a evolução histórica da produção editorial da UFBA.

Livraria EDUFBAParticipação da EDUFBA

na Bienal do Livro

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criação da UFRB (www.ufrb.edu.br, Capítulo 4), a universidade dispõe de quatro campi, dois em Salvador – Campus Universi-tário do Canela e Campus Federação/Ondina/São Lázaro – e dois situados no interior: o Campus Reitor Edgard Santos, em Barreiras, e o Campus Professor Anísio Teixeira, em Vitória da Conquista.

Os mapas dos campi da UFBA, em Salvador e no interior do Estado, com a atual localização dos imóveis e respectivos marcos ambientais, podem ser vistos nas Figuras 9.1, 9.2, 9.3 e 9.4. Cer-tamente será instrutivo comparar com os mesmos mapas de oito anos atrás, mostrados no Capítulo 2, Figuras 2.1 e 2.2.

CONDIÇÕES INSTITUCIONAIS

Para avaliar as condições institucionais que resultaram do pro-cesso de renovação da UFBA, consideremos dois aspectos: estru-tura física, incluindo infraestrutura dos campi, edifi cações e ins-talações de uso administrativo e acadêmico, e quadro de pessoal, em termos quantitativos e qualitativos.

A estrutura institucional atual da Universidade Federal da Bahia compreende 32 unidades universitárias, 10 organismos da administração central e cinco sistemas estruturantes. Os órgãos suplementares que, anteriormente, eram em número de 17, fo-ram extintos com o novo marco normativo. Atualmente, após a

Campus Canela 2010 Campus Federação-Ondina 2010

Unidades Existentes

Unidades em Obras

Unidades Propostas

Unidades Existentes

Unidades Propostas

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Ao longo do ano 2010, concluímos a construção da Bibliote-ca Universitária de Saúde Professor Álvaro Rubim de Pinho, do Centro de Promoção da Saúde Doutor Rubem Brasil Soares, do Anexo do Instituto de Letras, do Pavilhão de Aulas Ondina, do Centro de Idiomas e da Pró-Reitoria de Ações Afi rmativas e Assis-tência Estudantil. O recém-inaugurado Pavilhão de Aulas Glauber Rocha conta inclusive com rede sem fi o (wireless) disponível aos estudantes e visitantes. Foram iniciadas as obras da Biblioteca de Ciência e Tecnologia Professor Omar Catunda e dos novos prédios do Instituto de Ciências da Informação e das Escolas de Nutrição e de Música. Ao lado desses investimentos, foram iniciados os ser-viços de reforma e ampliação das Escolas de Dança e de Medicina Veterinária, em paralelo à elaboração de projetos para novas cons-truções e reformas a serem licitadas ainda em 2010. Além dessas ações planejadas para o exercício, deu-se continuidade às obras de construção da nova Residência Universitária, e conclusão das ins-talações do novo Restaurante Universitário Professor Manoel José de Carvalho, que foi inaugurado em abril de 2010.

No Plano Diretor aprovado pelo CONSUNI, reafi rmamos nos-sa preocupação com questões de segurança pessoal e patrimonial da comunidade interna e externa e com o manejo ambiental dos campi, particularmente aqueles situados em área urbana. Nesse sentido, foram realizados serviços de gradeamento e urbanização do Campus Canela e do Campus Ondina, que se encontram em fase de conclusão. No Campus Canela, destacamos o plantio de 50 espécimes de Pau-Brasil; no Campus Ondina, a construção, ainda em curso, de uma praça integradora entre as edifi cações, recon-quistando espaços verdes, restringindo acesso de automóveis ao centro do campus. Em prosseguimento à política institucional de inclusão de pessoas com defi ciência, equipamentos – elevadores e plataformas, foram adquiridos e encontram-se em processo de instalação nos projetos de intervenção no espaço físico, ampliando as condições de acessibilidade da instituição.

Em números consolidados, em 2010, a UFBA apresenta os se-guintes dados físicos: Área total de 532,42 hectares; sendo 77,02 ha em Salvador, 54,19 ha em Barreiras, 8,14 ha em Vitória da Conquista e 393,07 ha em 3 Fazendas Experimentais (Humildes, Oliveira de Campinhos e Esplanada). Nessa área própria, as ben-feitorias totalizam 386 mil m² de área construída em 139 edifi ca-ções, com um total de 594 instalações de ensino, incluindo salas e

Gradeamento de segurança

Iluminação e urbanização pública

Ampliações, reformas e novos prédios

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as unidades de Salvador, acadêmicas e administrativas, conectadas numa rede de alta velocidade.

A operação dessa complexa estrutura institucional, visando às atividades-fi m da Universidade, demanda quadros docentes, técni-cos e administrativos em número sufi ciente, com alta qualifi cação e competência. Para cumprir com as imprescindíveis atividades-meio de apoio à sua missão político-acadêmica, a UFBA conta com servidores técnicos e administrativos especializados, além de mão de obra terceirizada para os setores de apoio à gestão.

Atualmente, o quadro docente da UFBA compõe-se de 2.699 professores, sendo 1.992 professores do quadro permanente (in-cluindo 114 afastados – 47 para capacitação) e 689 substitutos, correspondendo a 3.055 unidades de Professor Equivalente. Em relação a 2002, trata-se de uma ampliação de 17% do total geral de professores. Somente no ano de 2009, no contexto do REUNI, foram contratados 244 docentes.

Hoje, 77% dos docentes da UFBA cumprem regime de Dedi-cação Exclusiva; em 2002, eram 68%. Agora com 68% de dou-tores e 23% de mestres, o perfi l de titulação do quadro docente permanente alcança níveis compatíveis com as melhores univer-sidades brasileiras. Em 2002, tínhamos somente 38% doutores e 40% mestres. A evolução histórica da titulação do corpo docente encontra-se no Gráfi co 9.8, onde podemos observar um predomí-nio de doutores justamente a partir de 2004, quando se inverte o perfi l de titulação da UFBA.

auditórios, concentrados em 9 Pavilhões de Aulas, localizados em todos os campi. Como verifi camos no Capítulo 1, em 2002, eram menos de 300 salas, distribuídas em 122 imóveis das unidades e órgãos e em apenas dois pavilhões de aulas no campus Ondina, com pouco mais de 250 mil m2 de área construída (excluindo a Escola de Agronomia de Cruz das Almas, hoje UFRB). Entre 2002 e 2010, foram incorporados ao patrimônio da UFBA quase 140 mil m2 de área construída, ou 54% de acréscimo.

Em 2007, o Conselho Universitário aprovou a criação do Sis-tema de Bibliotecas da UFBA. Agora, em vez de 35 bibliotecas de tamanhos diversos e pequenas coleções localizadas e gerenciadas de modo autônomo por unidades universitárias e órgãos suple-mentares, como há oito anos, a UFBA conta com uma rede articu-lada de 11 Bibliotecas Universitárias, de porte médio, coordenada por uma Superintendência específi ca. O efeito imediato foi maior racionalidade na gestão, manutenção e operação do acervo, além de ampliação dos horários de funcionamento, alternativos às aulas. Atualmente, o acervo conjunto compreende 673.599 títulos de livros (eram 247.547 em 2002), além de 17.428 periódicos nacio-nais e estrangeiros; a taxa correspondente de aumento do acervo total da UFBA corresponde a quase 180% no período.

A UFBA dispõe hoje de uma rede de fi bra ótica de alta velo-cidade (1.000 Mbps), com mais de 6 mil pontos de acesso. Para a coordenação dessa rede e provimento para toda a comunidade universitária de serviços de TI, tais como e-mail (8.951 mil con-tas), gerenciamento de bancos de dados, armazenamento de ar-quivos, hospedagem de blogs, videoconferência, rádio on line, am-biente para educação a distância (Moodle: www.moodle.ufba.br, com mais de mil cursos de graduação e pós disponíveis), sistemas aplicativos corporativos, entre outros, o Centro de Processamento de Dados (CPD) dispõe de 100 servidores (em 2002 eram 35) – entre máquinas físicas e virtuais e um subsistema de armaze-namento em massa (totalizando 60 TB). Em 2009, com recursos orçamentários e de convênios, foram comprados através de pre-gões UFBA, 1.286 computadores e 85 impressoras. O parque de equipamentos de informática da UFBA totaliza agora cerca de 7.000 microcomputadores conectados à rede e mais de 1.000 im-pressoras. A UFBA liderou na Bahia a implantação da REMESSA (Rede Metropolitana de Salvador), infraestrutura de cerca de 100 km de fi bra ótica que lhe permitiu, a partir de 2009, ter todas

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O corpo técnico-administrativo hoje totaliza 3.262 servidores, com 27% de nível superior. A maioria dos servidores estava lo-tada em órgãos suplementares (1.375 ou 43%), principalmente nas unidades assistenciais de saúde (1.224 ou 38%); 1.065 (33%) atuavam no apoio às atividades-fi m nas unidades universitárias; o restante (771 servidores ou 24% do total) trabalhava nos órgãos da administração central. Além desses, 971 funcionários tercei-rizados atuam na prestação de serviços para os quais não mais existe contratação no serviço público federal (limpeza, vigilância, portaria). Isso equivale a um aumento de 44% em relação ao ano

de 2002. Não obstante, a recomposição e ampliação do quadro técnico-administrativo da UFBA prossegue, graças ao REUNI: en-tre 2008 e 2010, foram nomeados 352 servidores técnicos e ad-ministrativos. Visando a atender principalmente as diretrizes da política nacional de capacitação dos servidores, em nosso mandato foi desenvolvido e implantado o Plano de Capacitação dos servi-dores, alcançando 78% da força de trabalho técnico administrativa e, consequentemente, dando condições de crescimento funcional e promoção na carreira aos servidores desta Universidade.

Grupos de Pesquisa cadastrados no CNPq 225 530 136,6

Bolsas de Iniciação Científi ca 390 825 111,5

Média do Conceito CAPES dos Cursos de PG 4,0 4,1 3,6

Número de cursos PG com conceito CAPES 6 + 0 10 ∞

Bolsistas de Produtividade CNPq 106 219 106,6

Artigos publicados (Web of Science) 198 536 170,7

Razão artigo/docente (Prof-Eq) 0,07 0,19 171,4

Patentes requeridas/ marcas registradas 0 31 ∞

Ações Extensionistas 934 647 -31,7

Total de participantes 19.509 25.758 32,0

Projetos Atividade Curricular em Comunidade 42 48 14,3

Estudantes engajados em ACC 444 612 37,8

Área Total construída 285.413 373.651 30,9

Número de Pavilhões de Aulas 2 9 125,0

Total de salas de aula 286 594 107,7

Número de Bibliotecas 35 11 -31,4

Acervo bibliográfi co (livros + periódicos) 259.342 716.936 176,4

Lançamentos de Livros EDUFBA 30 110 266,6

Servidores Técnicos e Administrativos 3.211 3.262 0,2

Servidores terceirizados 676 971 43,6

Número de docentes (Quadro Permanente) 1.901 2.699 42,0

Número de docentes (Substitutos) 504 562 11,5

Total de docentes (Professor-Equivalente) 2.697,5 3.055 13,3

Proporção de Doutores no Quadro Docente 33,4% 64,2% 92,2

Razão Aluno/Professor (RAP)* 11,3:1 16,4:1 45,1

∞ estimativa não-mensurável* RAP = Total Alunos (Graduação + PG) / (Total Professores Equivalentes em DE / 1,55) RAP2002 = (17.941 + 1.672) / (2.697,5 / 1,55) = 19.929 / 1.740,3 = 11,270 RAP2010 = (28.477 + 3.935) / 3.008 / 1,55) = 32.412 / 1.940,645 = 16,702

2002 2010 Var%Ítens de AvaliaçãoQuadro 9.1. Indicadores Acadêmicos e Institucionais, UFBA 2002-2010

Candidatos em Processos Seletivos de Graduação 38.995 54.409 39,5

Cursos de Graduação 55 113 103,6

Cursos de Graduação Noturnos 1 33 3.200

Vagas na Graduação 3.851 8.446 119,3

em Cursos Noturnos 40 2.610 6.425

em Licenciaturas 476 1.381 190,1

em Cursos Superiores de Tecnologia 0 95 ∞

em Bacharelados Interdisciplinares 0 1.460 ∞

Matrículas na Graduação 17.941 28.477 58,8

Cursos de Pós-Graduação 61 103 68,8

Mestrados 44 61 38,6

Doutorados 17 42 147,1

Vagas na Pós-Graduação 749 1.896 153,1

em Mestrados 590 1.253 112,4

em Doutorados 159 643 304,4

Matrículas na Pós-Graduação 1.672 3.935 135,3

em Mestrados 1.057 2.380 125,2

em Doutorados 615 1.555 152,9

Estudantes de escola pública (critério cotas) 2.022 11.485 468,0

Vagas em residência universitária 230 290 26,1

Número de bolsas-moradia 230 429 86,5

Bolsas em programas de Permanência 0 645 ∞

Convênios com universidades estrangeiras 53 229 332,0

Estudantes da UFBA em intercâmbio no exterior 21 151 619,0

Estudantes estrangeiros na UFBA 38 167 339,5

Estudantes estrangeiros de pós-graduação (PEC-PG) 6 21 250,0

2002 2010 Var%Ítens de Avaliação

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AVALIAÇÃO GERAL

Como ilustração, o Quadro 9.1 sintetiza os indicadores per-tinentes no começo e no fi m do nosso mandato, indicando a va-riação percentual equivalente. Este esquema permite articular as informações apresentadas neste capítulo, possibilitando melhor entendimento da situação institucional da Universidade hoje.

Superando décadas de estagnação que, em 2002, resultaram num contingente de estudantes quantitativamente despropor-cional à expressão da instituição e à demanda da sociedade, a UFBA hoje experimenta vigoroso crescimento. Em oito anos, o aumento de cursos e vagas de graduação foi quase 120%, ultra-passando a marca de 30 mil matrículas em 113 cursos já neste ano de 2010. Em relação à pós-graduação e à pesquisa, os pa-tamares de ampliação efetivamente alcançados são ainda mais expressivos, variando de até 150% para vagas e matrículas a mais de 170% nos indicadores de produtividade em pesquisa. Nesse aspecto, maior destaque para o aumento de 300% na oferta de vagas em doutoramento.

O Plano REUNI/UFBA previa, para 2012, a abertura de 8.310 vagas anuais em 120 cursos presenciais de graduação, resultando em 17.501 novas matrículas, alcançando o total de 37.807 estu-dantes. Isso implicaria um crescimento de 83% sobre o ano-base 2007. Como vimos acima, com dois anos de antecipação, já su-peramos a meta REUNI geral de oferta de vagas de graduação. No que se refere ao tamanho do alunado, com as matrículas do semestre 2010.2, atingiremos ainda este ano a meta prevista para 2011. Mantendo-se o desempenho institucional revelado até o momento, já no próximo ano letivo, anteciparemos a meta REU-NI de oferta de 120 cursos presenciais de graduação.

O crescimento da pós-graduação previsto no Plano REUNI/UFBA era da ordem de 38% até 2012, com uma projeção de 4,5 mil matrículas. Considerando 2007 como ano-zero do REUNI, quando tínhamos 3.246 estudantes matriculados, nosso alunado de PG cresceu 21%, pouco acima da meta REUNI nesse nível de formação. O Plano prevê aumento de 40% da taxa de conclusão na PG em cinco anos, visando a atingir a marca de 1.000 titula-dos/ano até 2012. Com dois anos de antecipação, essa meta será cumprida já em 2010.

Verifi camos grande melhoria no âmbito das relações interna-cionais, testemunha da rápida transformação de uma instituição provinciana, predominantemente receptora de infl uências exter-nas, para uma universidade cada vez mais conectada com a rede mundial de instituições de conhecimento. Aumentos excepcionais em todos os indicadores de internacionalização (em comparação com 2002: 330% em número de convênios, 600% mais presença de estudantes UFBA em universidades estrangeiras e 340% mais estudantes internacionais na UFBA) atestam esta faceta da mu-dança radical de nossa universidade.

Entretanto, sem diminuir a importância da expansão e da in-ternacionalização, avanços nos indicadores de compromisso social observados em nossos mandatos situam-se numa escala ainda mais ampla. Vinculado à implantação do Programa de Ações Afi rmati-vas, aumentar mais de 60 vezes a oferta de vagas noturnas e passar de nenhuma para mais de mil bolsas de auxílio-permanência cer-tamente contribuíram para o extraordinário aumento, da ordem de 470%, da presença de estudantes pobres na UFBA.

O Quadro 9.2 apresenta indicadores compostos, padronizados pelo Tribunal de Contas da União (TCU: www.tcu.gov.br), visando à avaliação comparativa entre exercícios orçamentários. Em 2002, o custo médio anual por estudante da UFBA situava-se em torno de 7,8 mil Reais (R$ 641,66/mês); em 2009, houve um aumento de 32% nesse indicador fi nanceiro, elevando o custo/aluno para mais de 10 mil Reais (R$ 857,31/mês). Trata-se de aumento real que resulta principalmente da recuperação do orçamento público para educação superior, incluindo investimentos em infraestrutura e melhoria salarial, e não apenas da elevação de preços em geral.

Quadro 9.2. Resumo de Indicadores da UFBA 2002-2009 – Modelo TCU

Custo Corrente/Aluno Equivalente 7.765,25 10.287,72 32,5

Aluno Tempo Integral/ Professor Eqv. 40h 10,8 12,3 13,9

Aluno Tempo Integral/ Funcionário Eqv. 40h 4,9 8,8 79,6

Funcionário Eqv. 40h/ Professor Eqv. 40h 2,2 1,4 -57,1

Grau de Envolvimento com Pós-Graduação – GEPG 0,08 0,11 37,5

Índice de Qualifi cação do Corpo Docente – IQCD 2,9 3,4 17,2

Taxa de Sucesso na Graduação – TSG 0,63 0,68 7,9

Indicador Var%20092002

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No período em análise, houve evidente aumento da efi ciên-cia global da instituição. Entre 2002 e 2009, aumentamos 14% na razão bruta aluno-docente e aproximadamente 80% na razão aluno-servidor. Com a retomada dos concursos públicos para re-posição de quadros, houve recrutamento e permanência de novos docentes bem maior do que de servidores técnicos e administrati-vos. Como resultado, a razão servidor-docente caiu de 2,2 para 1,4 (redução signifi cativa de 57%). Por outro lado, o Índice de Quali-fi cação do Corpo Docente (IQCD) alcançou 3,4, numa escala de 0-5, o que equivale a um aumento de 17% no período.

O crescimento da importância relativa da pós-graduação apa-rece com clareza no indicador GEPG (Grau de Envolvimento com Pós-Graduação), estimado em 0,11 para 2009, aumento de 37,5% em relação a 2002. A TSG (Taxa de Sucesso na Gradu-ação) da UFBA indicou uma discreta melhora (8%) no período analisado. Tal indicador refl ete essencialmente a evasão estudantil e a duração dos cursos de graduação que ainda não poderiam, tão precocemente, revelar os efeitos positivos das inovações curricu-lares implementadas pelo Programa REUNI UFBA.

Como vimos no Capítulo 2, quando começamos no ano-base de 2002, a UFBA estava ainda marcada por um contexto de crise, interna e externa, que de fato impossibilitava sua renovação como instituição universitária. A adesão da UFBA ao REUNI representa, a médio e longo prazo, o acúmulo de condições concretas para um grande salto qualitativo. Em 2012, ou mesmo antes disso, como vimos, teremos atingido todas as metas previstas no Plano REU-NI/UFBA: crescimento quantitativo de 83% nas matrículas da graduação e de 38% na pós-graduação, maior produtividade do processo pedagógico, com Razão Aluno-Professor e taxa de con-clusão aproximando-se cada vez mais da meta estabelecida. Tudo isso, associado à melhor qualidade científi ca e estética do trabalho docente e ao indispensável suporte tecnológico de toda uma nova geração de servidores qualifi cados e capacitados.

Para isso, como vimos no Capítulo 5, a Universidade já conta com opções curriculares fl exíveis, interdisciplinares, atualizadas, abertas à universalidade do conhecimento, formando não ape-nas profi ssionais/trabalhadores, mas sobretudo indivíduos críticos e cidadãos intelectual e socialmente qualifi cados. Conexões em

rede entre instituições de conhecimento europeias e brasileiras, com animado e profícuo trânsito de docentes, pesquisadores, estu-dantes e gestores universitários, já começam a dinamizar os nossos processos de formação e produção de conhecimento. Dessa forma, intensifi cam-se as trocas acadêmicas e o intercâmbio científi co, tecnológico, artístico e cultural. Um novo modelo de universidade deve emergir da integração entre a rede universitária brasileira (e latino-americana) e matrizes intelectuais e culturais de outros contextos universitários.

Em 2013, ao encerrar-se o Plano REUNI/UFBA, estamos con-victos de que a Universidade Federal da Bahia encontrar-se-á efe-tivamente renovada como organismo vivo de criação e produção crítica do conhecimento humano, em vez de instituição a serviço das elites e instrumento de exclusão social como tinha sido duran-te quase duzentos anos. Dessa forma, poderemos resgatar o ensino superior e a produção criativa de tecnociência, da arte, da cultura como potencial articulador tecnológico e estético (e também eco-nômico) da criação de redes de solidariedade intercultural. Este cenário decerto representa a aspiração de todos os que acreditam que a educação tem papel decisivo e fundamental na transforma-ção dos indivíduos e da sociedade.

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ComeçoCAPÍTULO 10

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Instituições de conhecimento, como a Universidade, cum-prem a função de reprodução de relações sociais, estruturas po-líticas, marcos pedagógicos e matrizes simbólicas. É claro que as universidades o fazem com algum grau de liberdade, celebrado por alguns como autonomia universitária. Mas isso não as deixa pairando por cima e por fora da realidade social e cultural, na medida em que estruturas institucionais refl etem e reproduzem ordens sociais.

A função universitária, manifesta desde a invenção da Univer-sidade ocidental há quase um milênio, compreende produzir os discursos do saber dominante, formar os donos do poder, reformar os produtores dos discursos, conformar os formadores, os que pro-duzem discursos que instituem os donos do saber, e que estabele-cem instituições, reprodutoras das relações sociais e reprodutoras do saber universitário que passa a ser o saber dominante, isso sem fi m. Essa aristocracia intelectual, coletivo de sujeitos identifi cados por uma afi liação institucional peculiar, intelectuais orgânicos das classes educadas referidas na epígrafe de Anísio Teixeira, constitui efeito imediato da formação universitária.

Mas há uma potência histórica na universidade ocidental que, desde suas reinvenções por Kant-Humboldt, por Flexner-Anísio e pelos anônimos de 1968, pode ser ativada por movimentos e processos macro e micropolíticos. Esta função latente gera efei-tos somente quando a instituição se torna capaz de produzir os contradiscursos do saber crítico, em formar os enunciadores de outros saberes, em inconformar os formadores, os que produzem discursos que destituem donos de poderes e que desafi am insti-tuições reprodutoras das relações sociais e do saber das classes educadas, isso tudo à mercê de começos. Quando essa potência se realiza, intelectuais orgânicos das classes pouco ou não for-malmente educadas e das culturas ditas dominadas podem ser nela formados.

Começo

PROJETO POLÍTICO DE TRANSFORMAÇÃO

A partir dessa perspectiva conceitual, assumimos a Reitoria em 2002 com um projeto político de transformação (radical, foi nos-sa pretensão) desta universidade. Este projeto compreende três etapas: expansão com inclusão social; reestruturação curricular; internacionalização.

Tão logo criamos condições mínimas, sem hesitar, começamos. Já em 2003, quebramos o monopólio da capital, interiorizando o vestibular, criando uma nova universidade baiana, a UFRB. Em 2004, reciclando vagas ociosas, abrindo extensões e campi no inte-rior, aumentamos em 12% as matrículas de graduação. Na época, tal expansão parecia grande escala, e provocou reações – data des-se ano a última greve de estudantes e docentes que parcialmente fez interromper atividades acadêmicas.

Em 2005, implantamos um Programa de Ações Afi rmativas que, entre outras medidas, reservou vagas na universidade para estudantes pobres, negros e índios. Novamente, sofremos críticas, criamos polêmicas, provocamos resistência e reações.

Em 2006, com a reeleição, reconfi rmamos a compreensão e concordância da comunidade universitária ao projeto político que havíamos lançado em 2002. Novamente sem hesitação e sem es-perar condições ideais, iniciamos um movimento de reestrutura-ção curricular, com base no regime de ciclos, que ganhou o nome de Universidade Nova (em homenagem a Anísio Teixeira e os pio-neiros da Escola Nova) e que inspirou o REUNI, programa do governo federal concebido para fi nanciar expansão e inovação em instituições da rede federal de ensino superior.

Em 2007, sob tumulto e protestos do movimento estudantil, construímos consensos parciais (porém efetivos politicamente) e aderimos ao REUNI. Em 2008, iniciando a implementação do Plano REUNI/UFBA, por um lado, mais expansão: dobramos a oferta de vagas na graduação e abrimos quase três mil vagas notur-nas numa universidade que, por tradição, funcionava quase exclu-sivamente durante o dia. Por outro lado, mais inovação: implanta-mos Bacharelados Interdisciplinares, modalidade de curso onde a formação na cultura sobrepõe-se ao ensino da profi ssão.

Em 2009, avançamos na consolidação das mudanças, a partir da recriação de rotinas acadêmico-administrativas e principalmente

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com o novo marco normativo da Universidade. Recém-aprovados, Estatuto e Regimento Geral estabelecem instâncias legais e legíti-mas de apreciação e deliberação pertinentes aos princípios, méto-dos e instrumentos de planejamento e de gestão integrada.

Em 2010, iniciando a era pós-REUNI, começamos a terceira etapa do projeto político que lançamos em 2002, abrindo espaços de inclusão social na rede acadêmica mundial ao fi rmar convênios especiais com universidades de vocação internacional (Coimbra, NYU, MSU, Gratz – ver Capítulo 7). Por termos introduzido o regime de ciclos com os Bacharelados Interdisciplinares (BIs), criamos condições para mobilidade ampla na graduação, interna-cionalizando o Programa de Ações Afi rmativas.

ABRIMOS A CASA DE EDGARD

Na velha Bahia dos tempos anísios, a classe de letrados era di-minuta. Por 140 anos, faculdades cumpriam a função universitá-ria, com uma ajuda, não tão pequena, dos laços conimbricenses, gauleses e prussianos. Em 1946, uma universidade foi criada na costa baiana para produzir efeitos “directamente copiados das mais amadurecidas classes educadas da Europa”. Essa instituição foi, em princípio, audaciosa, orgulhosa por sua condição de elite. Representava o domínio cultural da matriz europeia sobre a capi-tal provinciana e desta sobre a província interiorana, reproduzin-do a hegemonia da elite intelectual sobre o “ilota sertanejo”.

Na velha universidade dos tempos edgardianos, predominava “uma classe fi na da sociedade”. Até fi ns do século passado, exis-tiam menos de 2 mil alunos em situação de vulnerabilidade social cadastrados nos serviços de assistência estudantil da UFBA; hoje temos quase 12 mil estudantes nessa situação. Em outras palavras, os pobres eram 1/10 do alunado, agora são 1/3. Isso representa aumento de 500% em dez anos. E estão em todos os cursos, em todas as salas de aula, em todos os programas de extensão, em pra-ticamente todos os grupos de pesquisa. Em suma, os ex-estranhos não são mais raros intrusos. São muitos e superlotam espaços an-tes comodamente vazios e desperdiçados.

Usando uma respeitosa irreverência, podemos dizer que, ao trazer para a Casa de Edgard Santos, pobres, negros e índios, re-

presentantes de outras matrizes estéticas, outros mundos simbó-licos, outras redes políticas e outras referências culturais, em vez de empobrecê-la e empalidecê-la, enriquecemos, negritamos e aculturamos a universidade. E fi zemos isso de caso pensado, em pouco tempo, com movimentos rápidos, criando e enfrentando situações de grande ansiedade e confl ito.

As mudanças na sociodemografi a da comunidade estudantil, apesar de concretas e visíveis, certamente são de pequena monta se comparadas com as transformações nos planos simbólicos da micropolítica institucional. Nessa perspectiva, podemos compar-tilhar algumas refl exões, ainda pouco sistemáticas, talvez preco-ces, sobre a experiência que ganhamos ao induzir transformações do saber universitário num contexto de reestruturação institu-cional radical. Nossa hipótese é que, nesse processo, o velho saber universitário necessariamente se redefi ne e se renova.

O saber universitário estabelecido tem a pretensão de ser cosmopolita. Universal e internacionalizado. Consegue ser eu-rocêntrico. Elegante e cortês, o saber universitário tem a pre-tensão de ser urbano. Se pensarmos historicamente, não passa

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de um habitus neoburguês. O saber universitário herdado tem a pretensão de ser racional. Termina calculista e orientado para o lucro. O saber universitário tem a pretensão de ser discipli-nar, disciplinado e disciplinador. Nisso, ao mostrar-se efi ciente e confi ável por ser fragmentado, justifi ca-se como fragmentador dos modelos do mundo e da história. O saber universitário que ainda predomina entre nós tem a pretensão de ser culto. Termi-na pedagógico.

Um sujeito, antes excluído, agora marca presença no contex-to da reprodução social pela educação superior. A presença des-se sujeito, ainda que silenciosa e desconfi ada, apesar de atenta e comprometida, parecia incomodar pelo lugar que, num marco de legitimidade recentemente conquistada, ocupava. E este incô-modo, provocado pela nova presença, teria resultado em frestas e brechas no monólito chamado Universidade, abrindo espaço e tempo para a ação de vetores de transformação institucional.

VETORES DE TRANSFORMAÇÃO

Como vimos em todo o curso deste Memorial, nos últimos anos, a Universidade Federal da Bahia tem experimentado profun-da e rápida mudança. De fato, do ponto de vista da política insti-tucional, introduzimos dois focos de tensão que, em pouco tempo, tornaram-se elementos de indução da transformação institucional.

Em primeiro lugar, um vetor externo. Ao criar o Programa de Ações Afi rmativas, realizamos uma inclusão de excluídos (pobres, negros e índios) na torre de marfi m (construção pálida, metáfora cromática e histórica pertinente), posta no maior enclave africa-no nas Américas, situado na mais pobre região do Brasil, nação pentacampeã das desigualdades sociais. Tudo isso, no bojo de um processo de ampliação massiva e rápida do contingente de sujeitos afi liados à instituição.

Em segundo lugar, um vetor interno. A reestruturação radi-cal da arquitetura curricular oitocentista, efeito almejado pelo movimento da Universidade Nova, recuperando ideias fl exnera-nisianas para a Universidade, permitiu-nos confrontar suas ba-ses epistemológicas, políticas, antropológicas, e até pedagógicas. Com a criação dos Bacharelados Interdisciplinares, por muitos considerados como uma fusão virtuosa do college norte-ameri-cano com o bachelor do Processo de Bolonha, desafi amos a um só tempo a epistemologia linear reducionista da tecnociência e o viés profi ssionalizante, pragmático e imediatista da escola de terceiro grau, infelizmente incorporado por alguns segmentos do movimento estudantil.

Além disso, a conjuntura política agregou um terceiro vetor de transformação institucional, novamente no plano externo ao es-paço universitário. Na guinada das políticas de educação superior do governo federal confi gurada pelo Programa REUNI, os pro-gramas de expansão, inclusão social e reestruturação curricular concebid os e postos em prática na UFBA encontraram condições avançadas de viabilidade e realização.

Desde então, a UFBA vem construindo sua participação nesse contexto de mudança com alto grau de convergência, impres-cindível para implementar o ambicioso projeto institucional confi gurado no Plano REUNI/UFBA. Aprovado pela quase tota-

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lidade das suas unidades universitárias, esse programa objetiva o desenvolvimento integrado da UFBA como instituição univer-sitária plena.

O positivo clima político interno permitiu-nos, a cada mo-mento, alcançar metas do REUNI mais precocemente e com amplitude maior do que o compromisso inicialmente assumido. Dessa forma, os Conselhos Superiores, quase sempre por una-nimidade, consenso ou aclamação, por um lado elaboraram um arcabouço normativo adequado ao atual ciclo de transformação e, por outro lado, aprovaram mudanças estruturais dele decor-rentes. No primeiro caso, destacamos respectivamente Plano Diretor, resoluções ordenadoras do ensino de graduação e Esta-tuto/Regimento; no segundo, redefi nição dos órgãos suplemen-tares como sistemas estruturantes e criação de novas unidades universitárias. Neste aspecto, iniciando em 2006, registramos o Instituto de Ciências Ambientais e Desenvolvimento Susten-tável (ICADS) no Campus Reitor Edgard Santos na cidade de Barreiras e o Instituto Multiprofi ssional em Saúde (IMS) no Campus Professor Anísio Teixeira na cidade de Vitória da Con-quista, culminando com o Instituto de Humanidades, Artes e Ciências Professor Milton Santos (IHAC), unidade universitária criada em 2008 especialmente para acolher os estudantes dos Bacharelados Interdisciplinares.

UMA AGENDA PÓS-REUNI

Ao concluir nosso período de gestão, continuamos a defender o mesmo projeto político-acadêmico de expansão com inclusão social, fomentando em paralelo qualidade e produtividade cien-tífi ca, cultural, estética, tecnológica e pedagógica. Para sua con-cretização, todos os cenários possíveis devem ser projetados le-vando-se em conta condicionantes externos à Universidade. Não obstante os efeitos da conjuntura, o futuro da UFBA hoje depen-de sobretudo da consolidação do pacto interno que construímos visando à integração entre excelência acadêmica e compromisso social. Mais ainda, depende do consenso de que a instituição uni-versitária constitui importante fator de transformação sustentada da sociedade, justamente ao mostrar-se radicalmente competente como instituição do conhecimento e da cultura.

A implantação do Programa de Ações Afi rmativas e do Pro-jeto UFBA Nova, no contexto do REUNI, de fato constituem marcos institucionais de crescimento com inclusão social e aber-tura interdisciplinar no período avaliado, transformando radi-calmente o perfi l socioeconômico e étnico-racial da instituição. Este padrão de desenvolvimento institucional, balizado por cri-térios de competência acadêmica, foi viabilizado pelo progressi-vo saneamento fi nanceiro, com pagamento de débitos históricos, otimização de custos e incremento orçamentário, alcançado no primeiro mandato.

Com a recente ampliação de cursos e vagas, contratação de servidores docentes e técnicos e administrativos, investimentos estruturais, novas modalidades curriculares e reconfi guração normativa, nossa Universidade prepara-se para concluir um ci-clo de crescimento, reestruturação e desenvolvimento institu-cional. O impacto dessas iniciativas, recentes e desconhecidas, ainda não podemos calcular. Não obstante, em que pese o enor-me esforço de gestão da inovação e operação da expansão em que estamos engajados, é chegado o momento de construir uma Agenda Pós-Reuni. Para a UFBA, isto signifi ca pensar o seu fu-turo como instituição.

Com o fi m do mandato, podemos fi nalmente falar dos en-frentamentos que fomos obrigados a empreender para avançar nesse contexto de transformação institucional. Isso implica fa-zer uma avaliação das muitas reações conservadoras justifi cadas pelo saber universitário em questão, e que têm produzido obs-táculos, barreiras, difi culdades e armadilhas frente às propostas de ação. Para melhor superá-las ou preveni-las, precisamos iden-tifi car e reconhecer a natureza dessas modalidades de reação e suas derivações.

Por um lado, muitos dos sujeitos resistentes a mudanças têm coragem de assumir publicamente, de modo aberto e claro, suas posições mesmo quando essas parecem “politicamente incorre-tas”. Esse tipo de reação por princípio pode ser de direita ou de esquerda, tanto faz. Alguns acham que o mundo sempre foi e é desigual e injusto e que não há qualquer problema em continuar assim, mantendo-se os privilégios de alguns poucos sustentados justamente pela carência de muitos. Outros defendem que qual-

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quer política pública orientada para a equidade poderá atenuar a luta de classes e isso atrasaria o processo revolucionário. Qual-quer que seja a perspectiva, podemos enfrentar essa modalidade de reação aprofundando a disputa e derrotando-a nos planos po-lítico e institucional.

Por outro lado, o criticismo programático alega suposta inviabi-lidade das propostas de transformação, declaradas meritórias em intenção, porém questionáveis em termos operacionais ou de apli-cabilidade prática. Os arautos dessa crítica instrumental apontam problemas na operação das propostas de mudança (a sociedade não vai aceitar...; não haverá docentes com mentalidade inter-disciplinar...) ou no seu impacto (haverá queda na qualidade do ensino, evasão elevada, formação defi ciente de profi ssionais...).

Os defensores dessa modalidade de reação, perdoem a ironia, são aprendizes de céticos. Mas produzem uma retórica técnica, objetiva e aparentemente racional, que só pode ser vencida pela demonstração de uma praxis perseverante e competente, sempre avançando nas estratégias de mudança institucional.

Com este Memorial, nossa intenção foi mostrar resultados. Re-sultados de um projeto prático de transformação. Mudar, é isso o que temos buscado fazer. Simplesmente, ou não tão simplesmente assim, fazer. Fazer implica conceber, propor e realizar movimen-tos de transformação. Sem hesitar, sem esperar a conjunção astral perfeita: começar. Começar a mudar.

Inspirados por Anísio Teixeira, “o que de logo desejamos regis-trado [foi] a mudança de orientação”.

Este Memorial teve, enfi m, a pretensão de ser o registro de um bom começo.

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FICHA TÉCNICA

REVISÃO TÉCNICA: Aurélio Gonçalves de Lacerda

COORDENAÇÃO EDITORIAL: Marco Antonio Queiroz

FOTOS: Célia Aguiar, exceto Carlos Casaes (p. 00), Karla Brunet (p. 00)

ILUSTRAÇÕES DA CAPA: Detalhes do painel da Biblioteca Central da UFBA

PROJETO GRÁFICO, EDIÇÃO E CAPA

P55 Edições / André Portugal e Marcelo Portugal

EDITORAÇÃO ELETRÔNICA

Carla Piaggio

IMPRESSÃO E ACABAMENTO

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sem a expressa autorização.