3
ENTREVISTA RBBD - 1. Qual era a situação do Biblio- tecário antes da fundação da FEBAB? LGMR - Antes de falarmos da Federação Brasileira de Associações de Bibliotecários, é necessário mencionar o importante even- to que, em 23 de julho passado, comple- tou 30 anos: a realização do I Congresso Brasileiro de Biblioteconomia, no Recife, em 1954. Presidiu esse primeiro Congresso o Dr, José Cesio Regueiro da Costa, Diretor do Departamento de Documentação e Cultu- ra da Prefeitura do Recife. Os pernambucanos foram os pioneiros de nossos Congressos de Biblioteconomia. Do temário o ítem Situação atual da Biblioteconomia no Brasil. Em excelente trabalho, elaborado pela bibliotecária Luiza Fonseca, então Chefe do Serviço de Documentação da Secreta- ria de Saúde do Estado de São Paulo, a matéria foi tratada, focalizando aspectos do movimento associativo e a necessidade de ser estabelecido um currículo mínimo a ser observado pelos oito Cursos de Biblioteconomia existentes no país. Em seqüência cronológica de fundação eram os seguintes: Curso de Bibliotecono- Revista Brasileira de Biblioteconomia e Documentação 17( 1/2) : 93·97. jan./julho 1984 93 LAVRA GARClA MORENO RUSSO CRB-8/I - S.P. CFB/CLN OAB - 42.423/S.P. FORMAÇÃO ACADtMICA Curso de Biblioteconomia, da Escola de .So- ciologia e Política de S. Paulo, 1941-1942. Curso de Documentação - Ano letivo de 1943 da Escola de Sociologia e Política de S. Paulo, 1963. Curso de Formação Profissional de Professor. Escola Normal Dr. Veiga Filho, 1952-1954. Curso de Biblioteconomia Superior. Bíbüote- teca Nacional de Madrid, do Ministério .da Educação Nacional. Bolsa de Estudos, 1957- 1958. Curso ''Social Science Resend and Training. Administration of Social Science Libraries. Departament of State - USA, 1964/65. Curso in Library Science. Departament of Health, Education and Welfare. Office of Education, USA - 1964/65. Curso de Graduação em Direito. Faculdade S. Francisco, Universidade de S. Paulo, 1971/75.

mentação - brapci.inf.br

  • Upload
    others

  • View
    1

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: mentação - brapci.inf.br

ENTREVISTA

RBBD - 1. Qual era a situação do Biblio-tecário antes da fundação da FEBAB?

LGMR - Antes de falarmos da FederaçãoBrasileira de Associações de Bibliotecários,é necessário mencionar o importante even-to que, em 23 de julho passado, comple-tou 30 anos: a realização do I CongressoBrasileiro de Biblioteconomia, no Recife,em 1954.

Presidiu esse primeiro Congresso o Dr,José Cesio Regueiro da Costa, Diretor doDepartamento de Documentação e Cultu-ra da Prefeitura do Recife.

Os pernambucanos foram os pioneirosde nossos Congressos de Biblioteconomia.

Do temário o ítem Situação atual daBiblioteconomia no Brasil.

Em excelente trabalho, elaborado pelabibliotecária Luiza Fonseca, então Chefedo Serviço de Documentação da Secreta-ria de Saúde do Estado de São Paulo, amatéria foi tratada, focalizando aspectosdo movimento associativo e a necessidadede ser estabelecido um currículo mínimoa ser observado pelos oito Cursos deBiblioteconomia existentes no país.

Em seqüência cronológica de fundaçãoeram os seguintes: Curso de Bibliotecono-

Revista Brasileira de Biblioteconomia e Documentação 17( 1/2) : 93·97. jan./julho 1984 93

LAVRA GARClA MORENO RUSSOCRB-8/I - S.P.

CFB/CLNOAB - 42.423/S.P.

FORMAÇÃO ACADtMICACurso de Biblioteconomia, da Escola de .So-ciologia e Política de S. Paulo, 1941-1942.Curso de Documentação - Ano letivo de 1943da Escola de Sociologia e Política de S. Paulo,1963.Curso de Formação Profissional de Professor.Escola Normal Dr. Veiga Filho, 1952-1954.Curso de Biblioteconomia Superior. Bíbüote-teca Nacional de Madrid, do Ministério .daEducação Nacional. Bolsa de Estudos, 1957-1958.Curso ''Social Science Resend and Training.Administration of Social Science Libraries.Departament of State - USA, 1964/65.Curso in Library Science. Departament ofHealth, Education and Welfare. Office ofEducation, USA - 1964/65.Curso de Graduação em Direito. Faculdade S.Francisco, Universidade de S. Paulo, 1971/75.

Page 2: mentação - brapci.inf.br

ENTREVISTALAVRA GARCIA MORENO RUSSO

1\\1

I11

1

Estando em Madrid, como bolsista,realizando o Curso de BiblioteconomiaSuperior, na Biblioteca Nacional, recebe-mos do então Presidente da APB uma cre-dencial para representar os bibliotecáriospaulistas na 24~ Sessão Anual da Federa-ção Internacional de Associações de Bi-bliotecários (IFLA) que se realizou emMadrid, em outubro de 1957.

A partir daquela data, começamos aestudar a estrutura e atividades da IFLA,visando a preparação de uma tese, queseria apresentada ao 11 Congresso Brasilei-ro de Biblioteconomia e Documentação.Se fosse aprovada, seria fundada a Federa-ção Brasileira de Associações de Bibliote-cários.

Voltamos ao Brasil em 1958 e nos ínte-gramos ao grupo dos Bibliotecários pau-listas, que tentavam conseguir a inclusãodo Bibliotecário no Quadro dos Profissio-nais Liberais, exigência primeira para aregulamentação profissional, segundo opatrono de nossas reivindicações, Depu-tado Rogê Ferreíra. Pela portaria 162, de7 de outubro de 1958, do Ministério doTrabalho, o bibliotecário foi incluído no19~ grupo, do Plano da ConfederaçãoNacional das Profissões Liberais.

Em 4 de dezembro de 1958, fomos aoIDo de Janeiro, com as' colegas Afra deLima e Marina da Rocha Miranda. Nossamissão era importante. Pela manhã fomosà Câmara Federal para entregar o textodo Anteprojeto de regulamentação profis-sional, ao Deputado Rogê Ferreira. Noperíodo da tarde, daquele mesmo dia, tive-mos a grande emoção de vê-lo apresentarno plenário o projeto de número 4770/58,

que passou a ser seguido por ele e portodos os bibliotecários do Brasil.

Em 1959, no período de 20 à 26 dejulho, foi, finalmente, realizado o 11Con-gresso Brasileiro de Biblioteconomia eDocumentação, em Salvador, Bahia.

Foi a primeira vez que o termo Docu-mentação passou a ser usado nas denomi-nações de nossos conc1aves nacionais. Pre-sidiu o II Congresso a colega EsmeraldaMaria de Aragão.

ticipando como secretária geral, LauraRusso; Maria Helena Brandão, como secre-tária e Maria Alice de Toledo Leite, comotesoureira.

Foi intensa a campanha que a FEBABdesenvolveu de julho de 1959 a janeiro de1961. As viagens foram custeadas por umgrupo de bibliotecários da BibliotecaMunicipal de São Paulo, chefiado pelacolega Afra de Lima. Nunca faltaram con-tribuições da bibliotecária Zenóbia Perei-ra da Silva, secretária da APB.

Em janeiro de 1961, durante o III Con-gresso Brasileiro de Biblioteconomia eDocumentação, realizado em Curitiba, foieleita e empossada a primeira diretoria daFEBAB, constituída dos seguintes elemen-tos: Laura Garcia Moreno Russo, presi-dente; Femando Leite Ribeiro, vice-presí-dente; Maria Helena Brandão, secretáriageral; Philomena Boccatelli, 1~ secretária;Odette Senna de Oliveira Penna, 2!l secre-tária; Maria Alice de Toledo Leite, 1~tesoureira; Heloísa Medeiros, 2!l tesourei-ra; Cacilda Basilio de S. Reis, bibliotecá-ria.

Foi nessa época que conhecemos acolega Adelia Leite Coelho, ex-diretora daBiblioteca do Senado.

O Congresso Nacional se instalara emBrasília e tudo ficara mais difícil. Ela foium "lobby" estupendo, elegante comopoucos, em seu modo de agir e de umacorreção moral digna de encômios.

Durante 18 meses, que agiu conosco,não tivemos a mínima dificuldade derelacionamento, tal foi o nível com quetratávamos as dificuldades, que iam surgin-do no trâmite do projeto. Nesse fim de

mia, da Biblioteca Nacional, 1915; Cursode Biblioteconomia da Fundação Escolade Sociologia e Política de São Paulo,1983; Curso de Biblioteconomia, da Uni-versidade Federal da Bahia, 1942; Cursode Biblioteconomia, da Pontifícia Univer-sidade Católica de Campinas, 1945; Cursode Biblioteconomia, da Universidade Fe-deral do Rio Grande do Sul, 1947; Cursode Biblioteconomia, da Universidade Fe-deral de Minas Gerais, 1950; Curso deBiblioteconomia, da Universidade Federalde Pernambuco, 1950; Curso de Bíblíote-conomia, da Universidade Federal do Para-ná, 1952.

Naquele ano de 1954, existiam seisAssociações de Bibliotecários e a tese deLuiza Fonseca já retrava a necessidade deser criada uma entidade para congregar osbibliotecários do país, através de suas res-pectivas associações.

Em ordem de fundação, eram as seguín-. tes as Associações: Associação Paulista deBibliotecários, 1938; Associação Pernam-bucana de Bibliotecários, 1948; Associa-ção Brasileira de Bibliotecários, 1949, quecongregava bibliotecários do Rio de Janei-ro; Associação Ríograndense de Bibliote-cários, 1951; Associação Baiana de Biblio-tecários, 1952; AssociaçãoParanaense deBibliotecários, 1952.

Como pode ser verificado era pequenoo número de entidades pelas quais as ati-vidades dos bibliotecários eram conheci-das. Eram quatorze apenas.

O I Congresso terminou com interessede todos os participantes de realizaremesses eventos cada dois anos, mas isto nãoaconteceu.

RBBD - 2. Como e quando foi criada aFEBAB?

LGMR - No dia 26 de julho apresenta-mos à consideração do Plenário do IICongresso a tese que tanto sonháramos.Tivemos como colaborador o colegaRodolfo Rocha Junior, da BibliotecaMunicipal de São Paulo. Visou criar umorganismo de âmbito nacional, para coor-denar as reivindicações da Classe e apre-sentá-Ias às autoridades de maneira unfs-sona. Tínhamos, na oportunidade, doisprojetos importantes a serem cuidados, naCâmara Federal, o .de regulamentaçãoprofissional; no MEC, o de aprovação peloCFE do Currículo Mínimo, em nível uni-versitário, tendo como etapa seguinte oregistro de todos os diplomas já expedi-dos, pelos Cursos de Biblioteconomia.

Eram tarefas árduas a serem cumpri-das, para que fosse reconhecida a classebibliotecária.

A tese foi aprovada po}"unanimidadeComexpectativa confiante.

Foi formado um grupo, em São Paulo,para estruturar a nova entidade, dela par-

;11111

I

11

Revista Brasileira de Biblioteconomia e Documentação 17(1/2) : 93-97, jan./julho 1984Revista Brasileira de Biblioteconomia e Documentação 17( 1/2) : 93-97, jan./julho 1984 9594

Page 3: mentação - brapci.inf.br

~n

1,111

:111

lilll

l1

LAVRA GARCIA MORENO RUSSO

jornada, nosso patrono foi o DeputadoAlmino Affonso, cuja atuação foi decisivapara a aprovação final e até para a pro-mulgação da Lei 4084, em 30 de junho de1962.

Em dezembro do mesmo ano, apresen-tamos ao Ministério do Trabalho o ante-projeto de decreto para regulamentar aLei. Ele foi retido pelo DASP, durante 2anos, custando muito 'sacrifício a sua reti-rada daquele órgão, isto acontecendo, gra-ças ao bom relacionamento que o Dr. RogêFerreira mantinha, ainda, com elementosdo Ministério do Trabalho.

Em 16 de agosto de 1965, finalmente,foi editado o decreto 56.725, que regula-mentou a Lei.

Naquele fim de ano, organizamos aseleições, seguindo normas da Lei e doDecreto, sendo instalados o Conselho Fe-deral de Biblioteconomia e 10 ConselhosRegionais, em julho de 1966, tendo inícioa fiscalização profissional.

o estudo foi desfigurado e aprovado otexto, que vigorou até 1983.

A ementa do estudo foi a seguinte:"Dispõe sobre o ensino da Arquivística,da Biblioteconomia e da Documentação".

O texto aprovado pelo Conselho Fede-ral de Educação fixando o currículo, foipublicado três meses após a promulgaçãoda Lei 4084/62. Como a Lei elevara obibliotecário à categoria de profissionalde nível universitário, o MEC apressou-seem publicar o currículo que era reivindi-cado desde 15 de janeiro de 1959.

A partir desta data, os diplomas expe-didos passaram a ser registrados nas Uni-versidades e na Diretoria do Ensino Supe-rior, s6 que haviam sido expedidos porescolas extintas.

Durante os anos de 1962 a 1966 a pre-sidente da FEBAB, cuidou, junto ao Dasp,da reclassificação dos bibliotecários fede-rais. Os maiores contigentes de colegasforam o da Biblioteca Nacional e das Uni-versidades Federais.

Em 1967, foi adquirida a sede daFEBAB, que foi ampliada na gestão deAntonio Gabriel.

RBBD - 4. Poderia dizer algo sobre aspublicações da FEBAB?

LGMR - Em 1960 foi lançado o FEBAB,boletim informativo, de periodicidadebimestral e ininterrupta, durante trezeanos. Foi extinto em dezembro de 1972,com 26 volumes e 78 fascículos.

B a mais completa publicação, que dis-põe a classe para saber da Bibliotecono-mia, de suas entidades e de sua legislação

96 Revista Brasileira de Biblioteconomia e Documentação 17(1/2) : 93-97, jan.ljulho 1984

T

" .~

RBBD - 3. E O Currículo Mínimo deBiblioteconomia?

LGMR - Essa foi uma questão muito séria.A comissão constituída de bibliotecários,vinculados ao ensino, nomeada pela Por-taría n? 20, de 15 de janeiro de 1959,doMEC, apresentou um excelente trabalho,onde a exigência de 4 anos de estudos apa-receu pela primeira vez.

Reuniu a arquivologia, a bibliotecono-mia e documentação, estabelecendo asmatérias e disciplinas de cada curso.Enfim, para a época era ideal, que assimentendesse a CFE, mas, infelizmente, istonão ocorreu.

específica, em um período de grandes con-quistas.

Em janeiro de 1973 foi lançada a Revis-ta Brasileira de Biblioteconomia e Docu-mentação. Encontra-se no volume 17,/jun. 1984.

Durante a gestão da Presidente Esme-ralda Maria de Aragão, foi lançada a CartaMensal, que teve início em outubro de1975 e término em dezembro de 1977,no fascículo 21.

Em 1981 a FEBAB publicou o IndíceGeral de suas publicações. Foi elaborado

.pela bibliotecária Cecilia A. Atienza e suaequipe de trabalho.

RBBD - 5. Que significa para a Classe, otrabalho desenvolvido pelas ComissõesPermanentes?

LGMR - As Comissões Permanentesforam criadas para agrupar bibliotecáriosatuantes nos vários tipos de biblitecas ecentros de documentação.

Há 20 anos eles se reunem para discutire resolver seus respectivos problemas, con-

ENTREVISTA

seguindo com isso uma verdadeira espe-cialização em suas áreas de atividades.

São importantes fontes de pesquisas ostrabalhos publicados pelas Comissões.

Com o passar dos anos, tanto a Lei4084/62 como o currículo ficaram' umpouco defasados e críticas injustas lhesforam feitas. Entretanto, como todo otexto que se lê ou consulta não reage a crf-.ticas, isto aconteceu com eles. Assim mes-mo garantiram o exercício profissional deuma classe consciente de suas responsabí-lidades e respeitável sob todos os aspec-tos.

Neste jubileu de prata da FEBAB, aofmal deste depoimento, resta-nos enviarHosanas aos bibliotecários do Brasil, quesouberam compreender a importância deunião da classe, que teve início com ,1;4entidades e hoje se expressa por 75, sendo'30 Escolas, 27 Associações, 14 ConselhosRegionais, 1 Federação, 1 Conselho Fede-ral; 1 Associação de Escolas e 1 Sindicato.

Viva a FEBAB! Que sua Diretoria, pre-sidida por May Brooking Negrão, possaengrandecê-Ia ainda mais.

Revista Brasileira de Biblioteconomia e Documentação 17(1/2) : 93-97, jan.ljulho 1984 97

---