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MESA Presidente: Deputado Vilson Covatti 1ºVice-Presidente: Deputado Ronaldo Zülke 2º Vice-Presidente: Deputado Márcio Biolchi 1º Secretário: Deputado Paulo Azeredo 2º Secretário: Deputado Manoel Maria 3º Secretário: Deputado Paulo Brum 4º Secretário: Deputado Cézar Busatto COMPOSIÇÃO DA COMISSÃO Presidente: Deputado Jerônimo Goergen (PP) Vice-Presidente: Elvino Bohn Gass(PT) Relator: Márcio Biolchi (PMDB) MEMBROS TITULARES BANCADA DO PT : Deputado Ivar Pavan Deputado Elvino Bohn Gass Deputado Dionilso Marcon BANCADA DO PP : Deputado Jerônimo Goergen Deputado Marco Peixoto BANCADA DO PMDB : Deputado Márcio Biolchi Deputado Elmar Schneider

MESA - Rio Grande do Sul

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MESA

Presidente: Deputado Vilson Covatti1ºVice-Presidente: Deputado Ronaldo Zülke2º Vice-Presidente: Deputado Márcio Biolchi1º Secretário: Deputado Paulo Azeredo2º Secretário: Deputado Manoel Maria3º Secretário: Deputado Paulo Brum4º Secretário: Deputado Cézar Busatto

COMPOSIÇÃO DA COMISSÃO

Presidente: Deputado Jerônimo Goergen (PP)Vice-Presidente: Elvino Bohn Gass(PT)Relator: Márcio Biolchi (PMDB)

MEMBROS TITULARES

BANCADA DO PT:

Deputado Ivar PavanDeputado Elvino Bohn GassDeputado Dionilso Marcon

BANCADA DO PP:

Deputado Jerônimo GoergenDeputado Marco Peixoto

BANCADA DO PMDB:

Deputado Márcio BiolchiDeputado Elmar Schneider

BANCADA DO PDT:

Deputado Giovani CheriniDeputado Osmar Severo

BANCADA DO PTB:

Deputado Edemar Vargas

BANCADA DO PPS: Deputado Berfran Rosado

BANCADA DO PSDB:

Deputado Sanchotene Felice

MEMBROS SUPLENTES

BANCADA DO PT:

Deputado Frei Sérgio

BANCADA DO PP:

Deputado Pedro WestphalenDeputada Leila Fetter

BANCADA DO PMDB:

Deputado João OsórioDeputado Fernando Záchia

BANCADA DO PDT:

Deputado Gerson BurmannDeputado Paulo Azeredo

BANCADA DO PTB:

Deputado Manoel Maria;

BANCADA DO PPS:

Deputado Cézar Busatto;

BANCADA DO PSDB:

Deputado Ruy Pauletti.

RELATÓRIO FINAL DA CPI DAS CARNES

HISTÓRICO DA CONSTITUIÇÃO DA CPI DAS CARNES:

CONSTITUIÇÃO:

A Comissão Parlamentar de Inquérito, denominada CPI DAS CARNES, foi instalada no dia 30 de junho de 2003, mediante requerimento protocolado sob n.º 01/2003 (folhas 02 a 06) e tombado no processo n.º 20472 01.00 ALRS 03.3, subscrito por 36 (trinta e seis) Senhores Deputados, sendo o seu primeiro signatário o Deputado Jerônimo Goergen (PP), Presidente da Comissão Permanente de Agricultura, Pecuária e Cooperativismo e mais 36 (trinta e seis) Senhores Deputados, feitas na seguinte ordem:

1) Deputado Jerônimo Goergen (PP);2) Deputado Elvino Bohn Gass (PT);3) Deputado Giovani Cherini (PDT);4) Deputado Ruy Pauletti (PSDB);5) Deputado Dionilso Marcon (PT);6) Deputado Ivar Pavan (PT);7) Deputado Berfran Rosado (PPS);8) Deputado Heitor Schuch (PSB);9) Deputado Pedro Westphalen (PP);10)Deputado Bernardo de Souza (PPS);11)Deputado Adolfo Brito (PP);12)Deputada Floriza dos Santos (PDT);13)Deputado Frei Sérgio (PT);14)Deputado Raul Pont (PT);15)Deputado Fabiano Pereira (PT);16)Deputada Leila Fetter (PP);17)Deputado Adão Villaverde (PT);18)Deputado Marco Peixoto (PP);19)Deputado Vieira da Cunha (PDT);20)Deputado Gerson Burmann (PDT);21)Deputado Iradir Pietroski (PTB);22)Deputado Edson Portilho (PT);23) Deputado Flávio Koutzii (PT);24)Deputado Sérgio Stasinski (PT);25)Deputado Estilac Xavier (PT);26)Deputado Luis Fernando Schmidt (PT);27)Deputado Adroaldo Loureiro (PDT);28)Deputado Eliseu Santos (PTB);29)Deputado Ronaldo Zülke (PT);30)Deputado Edemar Vargas (PTB);31)Deputado Abílio dos Santos (PTB);

32)Deputado João Fischer (PP);33)Deputado Telmo Kirst (PP);34)Deputado José Farret (PP);35)Deputado João Luiz Vargas (PDT);36)Deputado Paulo Azeredo (PDT).

O Presidente desta Casa Legislativa, Deputado Vilson Covatti submeteu o requerimento n.º 01/2003 à apreciação e análise jurídica da Procuradoria da Assembléia Legislativa do Estado do Rio Grande do Sul (folha 09). Essa exarou a promoção jurídica n.º 19.698 (folhas 10 a 12), que opinou favoravelmente à instalação do presente inquérito parlamentar. Na data de 18/06/2003, foi deferida a constituição da CPI (folhas 14).

COMPOSIÇÃO DA CPI:

Em continuidade, as Bancadas Parlamentares indicaram os seus representantes (folhas 22), passando a CPI a ter a seguinte composição: BANCADA DO PT: Membros titulares: Deputado Ivar Pavan, Elvino Bohn Gass; Deputado Dionilso Marcon, Membros Suplentes: Deputado Frei Sérgio; BANCADA DO PP: Membros Titulares: Deputado Jerônimo Goergen, Deputado Marco Peixoto; Membros Suplentes: Deputado Pedro Westphalen, Deputada Leila Fetter; BANCADA DO PMDB: Membros Titulares: Deputado Márcio Biolchi, Deputado Elmar Schneider; Membros Suplentes: Deputado João Osório; Deputado Fernando Záchia; BANCADA DO PDT: Membros Titulares: Deputado Giovani Cherini; Deputado Osmar Severo; Membros Suplentes: Deputado Gerson Burmann; Deputado Paulo Azeredo; BANCADA DO PTB: Membro Titular: Deputado Edemar Vargas; Membro Suplente: Deputado Manoel Maria; BANCADA DO PPS: Membro Titular: Deputado Berfran Rosado; Membro Suplente: Deputado Cézar Busatto; BANCADA DO PSDB: Membro Titular: Deputado Sanchotene Felice; Membro Suplente: Deputado Ruy Pauletti.

Na data de 30/06/2003, em ato solene realizado na Sala Lutzenberger quarto andar da Assembléia Legislativa, o seu Presidente, Deputado Vilson Covatti, instalou oficialmente a CPI das Carnes e empossou os seus membros. No mesmo ato, conforme entendimento político mantido entre as Bancadas Parlamentares, foram eleitos por aclamação e empossados os seguintes Deputados nos respectivos cargos: 1) PRESIDENTE: Deputado Jerônimo Goergen; 2) VICE-PRESIDENTE: Deputado Elvino Bohn Gass; 3) RELATOR: Deputado Márcio Biolchi.

OS FATOS DETERMINADOS DO INQUÉRITO PARLAMENTAR:

A Assembléia Legislativa do Estado do Rio Grande do Sul, através do Requerimento n.º 01/2003 (folhas 02/06), delimitou o objeto jurídico do presente Inquérito Parlamentar, que é o de “apurar as causas da atual situação econômica e financeira da bovinocultura de corte e da suinocultura e investigar indícios da

prática de infrações da ordem econômica nas cadeias produtivas e suínas e seus derivados, com ênfase aos aspectos relacionados à formação do preço recebido pelos agricultores e pagos pelos consumidores finais.”

O objetivo jurídico do presente inquérito Parlamentar se desdobra em seis fatos determinados. Os seguintes fatos e políticas relacionadas aos mecanismos de formação de preços recebidos pelos produtores e pagos pelas indústrias e consumidores finais:

PRIMEIRO FATO DETERMINADO: indícios de prática de infração à ordem econômica da compra e venda por parte da indústria de carnes e dos estabelecimentos varejistas, com apuração dos preços justos que deveriam ser praticados;

SEGUNDO FATO DETERMINADO: a existência de abates sem inspeção sanitária oficial e sem controle fiscal;

TERCEIRO FATO DETERMINADO: a existência de unidades industriais desativadas ou com elevada capacidade ociosa;

QUARTO FATO DETERMINADO: a existência de barreira sanitária ao comércio internacional;

QUINTO FATO DETERMINADO: políticas setoriais, com ênfase nos investimentos públicos;

SEXTO FATO DETERMINADO: políticas de inovação tecnológica, com ênfase nos processos agropecuários e industriais de produção e processamento das carnes e de automação na distribuição.

OS MOTIVOS PARA INSTALAÇÃO DO INQUÉRITO PARLAMENTAR:

Nesta CPI, os motivos - elementos de convicção sobre matéria fática - para a instalação do presente Inquérito Parlamentar constam expressamente na justificativa do Requerimento n.º 01/2003 (folhas n.° 02/06).

O principal motivo constante da justificativa são “as dificuldades econômicas e financeiras encontradas pelos agricultores e pelas empresas produtoras de bovinos para corte e suínos e essas serem verificadas através de diversas fontes, que retratam a realidade nacional e constitui fato determinado para a averiguação em nível estadual” (folha 03).

Os fundamentos do Requerimento n.º 01/2003 - base legal - encontram-se na regra do artigo 158 da Constituição Estadual que prevê a intervenção do Estado no domínio econômico para "orientar e estimular a produção, corrigir distorções da atividade econômica e prevenir abusos do poder econômico." Constituem alvo especial de investigação pelo Inquérito Parlamentar os fatos e as práticas que são objeto da Lei Federal n° 8.884/94 e que podem constituir

infrações contra a ordem econômica, orientadas pelas disposições constitucionais de liberdade de iniciativa, livre concorrência, função social da propriedade, defesa dos consumidores e repressão ao abuso do poder econômico.

Em âmbito estadual, conforme consta do Requerimento n.º 01/2003, os fundamentos estão expressos no artigo 184, § 1º., IV, da Constituição do Estado, que inclui entre os objetivos da política agrícola a serem definidos pelo Estado o “fomento da produção agropecuária e dos alimentos de consumo interno, bem como a organização do abastecimento alimentar”. A alínea “a” do inciso IV do referido artigo 184 da CERS considera como instrumento da política agrícola, em caráter supletivo à União, a “política de preços e de custos de produção, a comercialização, a armazenagem e os estoques reguladores”.

PRAZO CERTO DE FUNCIONAMENTO DO INQUÉRITO PARLAMENTAR:

As regras que estabelecem o prazo certo de funcionamento das CPIs estão expressas no artigo 85 do Regimento da Assembléia Legislativa do Estado do Rio Grande do Sul. O prazo ordinário é de 120 (cento e vinte) dias, e esse pode ser prorrogado por mais (60) sessenta dias, por deliberação do Plenário da Assembléia Legislativa.

A questão do prazo e, principalmente, a forma de sua contagem, é matéria pacificada neste Egrégio Parlamento pelos bem expostos fundamentos jurídicos lançados no PARECER N.º 2722, de 07 de julho de 1992, da DOUTA PROCURADORIA PARLAMENTAR deste Casa, pelo Procurador Bernardo de Souza, hoje membro desta Casa Legislativa. Transcreve-se, a seguir, os pontos relevantes sobre as regras de prazo das CPIS:

I- A QUESTÃO DO PRAZO

61. Como visto, por expressa disposição constitucional, as Comissões Parlamentares de Inquérito são criadas “para a apuração de fato determinado e por prazo certo (CF. art.58, § 3º; CE. Art. 56 §4º). O regimento Interno da Assembléia Legislativa do Estado do Rio Grande do Sul acertou, fixou, explicitou este prazo em “cento e vinte dias, prorrogável por mais sessenta, (....), para conclusão dos trabalhos” (R.I. art.84).

62. A natureza deste prazo parece óbvia. Não é prazo de direito material, por conseguinte não se trata de prazo prescricional ou decadencial.

Este prazo é processual, pois é o lapso de tempo fixado para que, nele, se cumpram os procedimentos correspondentes

ao exercício das atribuições inerentes à Comissão e ao Parlamento.

“O processo visa a solucionar a lide, realizando o Direito. Logo, este é seu objetivo principal, para alcançá-lo, a ciência recomendaria agir sem pressa, tal como sucede nos laboratórios de pesquisa, onde o tempo não conta. Mas, a solução do litígio não pode aguardar o resultado perfeito, pois, enquanto não vem, a vida corre e as partes sofrem prejuízos. Daí, a solução oposta do jurista, agir com a menor perda de tempo, alcançar o final dentro do mais breve espaço. Entre os dois ideais oscila o processo”.

(....).Destes “(os prazos)” cogita o legislador para definir o lapso de tempo dentro do qual devem ser praticados os atos processuais. Não se trata mais de indicar os dias ou períodos, em que não o podem ser, mas, ao inverso, de fixar um espaço dentro do qual deverão sê-lo, sob pena de, talvez, perder-se a faculdade de praticá-los (Grifos nossos). ( E.D. Moniz de Aragão, “in” Comentários ao Código de Processo Civil, II volume, arts. 154 a 269, Editora Forense, 1ª edição, 1974, pág. 81).

Considerando-se que não se trata – obviamente – de matéria de processo civil, a analogia é perfeita e a aplicabilidade absoluta, no que tange à lição acima transcrita.

63- O prazo, como palmar, implica em transcurso entre dois momentos, entre os quais ocorre algum efeito jurídico.

“De sua própria maneira de ser, nota-se que os prazos ficam limitados por dois momentos: o de seu início e o de seu final” (E.D. Moniz de Aragão, op. cit., pág. 82)“O prazo se desenrola, portanto, entre dois termos: o termo inicial, ou termo a quo, e o termo final, ou termo ad quem. Sabe-se que um prazo começa em determinado dia, porque nessa data ele tem seu termo a quo; e sabe-se que ele finda em certo dia, porque aí se situa o seu termo ad quem”. (J.F. Marques, “in” Instituições de Direito Processual Civil, volume I, Editora Forense, 3ª edição, 1996, pág. 266).

64. Do socorro da processualidade (de onde se extrai a analogia pertinente), vem o conceito de prazo legal: “(....) quando a lei que os determina” (J.F. Marques, op. cit. Pág. 267).

65. Da mesma ciência processualística vem o conceito – aqui fundamental e da mais absoluta relevância – de prazo peremptório e prazo preclusivo.

“Caracteriza-se a peremptoriedade pela circunstância de que o prazo se finda fatalmente” (J.F.Marques, op. cit. Pág. 270). (Os prazos peremptórios) “Têm o efeito de pré-excluir o ato processual que se ia realizar dentro deles, e não se realizou: nenhuma possibilidade se dá de se realizar depois, salvo quando a lei concede o benefício de reposição (....)” (Grifo nosso.) (Pontes de Miranda, “in” Comentários ao Código de Processo Civil, Tomo III, Editora Forense, 1ª edição, 1973, pág. 116.

66. A circunstância de que o prazo para a Comissão Parlamentar de Inquérito chegar à “conclusão dos trabalhos” é “prorrogável” (R.I., art. 84), e admite “suspensão (....) no recesso parlamentar” (R.I., art. 78), não elide a condição de sua peremptoriedade.

“A peremptoriedade do prazo não é incompatível com a prorrogabilidade” (J.F. Marques, op. cit. Pág.270).“Só em casos taxativamente previstos em lei, é que se admite exceção ao princípio da inalterabilidade dos prazos”. (Grifos nossos). (J.F. Marques, op. cit, pág. 271).“Os prazos peremptórios são atingíveis pela suspensão do processo” (P. Miranda, op. cit. pág. 117).

O que resta é que, sendo prazo peremptório – prorrogado ou suspenso, pouco importa – o seu escoamento é fatal para a pretensão à prática de qualquer ato para seu interregno previsto ou determinado.“(....) (princípio de preclusão). Então a parte que não

praticou, ou não provocou a prática de algum ato processual, não mais pode fazê-lo” (Grifo final nosso). (P. Miranda, op. cit., pág. 111).

“(....) caracteriza-se a peremptoriedade pela circunstância de que o prazo se finda fatalmente, sem necessidade de um ato qualquer da parte que determine essa extinção (....). Antes de findo o prazo, dá-se a prorrogação, mas o modo de findar continua o mesmo” (Grifo nosso). (J.F. Marques, op. cit. pág. 270).

67. Tudo visto, a conclusão é uma só. O prazo das Comissões Parlamentares de Inquérito é peremptório e fatal: após o escoamento do prazo de (“cento e vinte dias”, com ou sem “suspensão no recesso parlamentar”, prorrogado ou não por “mais sessenta dias”) não há mais ato que possa ser praticado.

“Prazos preclusivos são precisamente os peremptórios, no curso dos quais deve ser praticado algum ato processual, pena de precluir a faculdade de praticá-lo” (E.D. Moniz de Aragão, op. cit., pág.89).

68. Há que examinar, agora, como flui tal prazo.

O “termo inicial”, ou termo “a quo”, só pode ser o da instalação da Comissão já que só a partir daí pode ela exercitar suas atribuições e seus poderes, e cumprir sua missão investigatória.O cuidado do legislador com isto foi tão grande que explicitou como e em que prazo se faz a instalação da CPI.

“Deferida a constituição da Comissão Parlamentar de Inquérito, seus integrantes serão indicados no prazo de cinco dias, e findo este, deverá ser instalada no prazo de três dias” (Grifo nosso). (R.I., art. 85).É daí que flui o prazo “para conclusão dos trabalhos” – que

é, originalmente de “cento e vinte dias”.

No caso concreto, esta “instalação” ocorreu em 10 de setembro de 1991, tendo sido lavrada “ata de instalação” (fls. 384/385, volume II).

69. A contagem do fluxo do prazo não traz maiores problemas, bastando a mera aplicação dos dispositivos legais pertinentes, sendo uniforme o direito positivo.

“Salvo disposição em contrário, computam-se os prazos, excluindo o dia do começo, e incluindo o do vencimento” (Código Civil, art. 125).“Todos os prazos correrão em cartório e serão contínuos e peremptórios, não se interrompendo por férias, domingo ou dia feriado” (Código de Processo Penal, art. 798, “caput”).“Não se computará no prazo o dia do começo, incluindo-se, porém o do vencimento” (Código de Processo Penal, § 1º, do art. 798).“O prazo, estabelecido pela lei ou pelo juiz, é contínuo, não se interrompendo nos feriados”. (Código de Processo Civil, art. 178).“Salvo disposição em contrário, computar-se-ão os prazos, excluindo o dia do começo e incluindo o do vencimento”. (Código de Processo Civil, art. 184).

Assim, iniciado o fluxo do prazo – o que ocorreu no dia da instalação -, passa ele a fluir de modo “contínuo”, sem interrupção ou suspensão em domingos e feriados até seu termo final.

Conforme o exposto, na contagem dos prazos, aplicam-se, subsidiariamente, por força da regra expressa no artigo 87, § 2º do Regimento, as regras de direito do Código de Processo Penal - CPP. Assim, aplicam-se as regras do artigo 798 do CPP, em que os prazos são contínuos e peremptórios, não se interrompendo por férias, domingo ou feriado, não se incluindo o dia inicial e incluindo o termo final.

O presente Inquérito Parlamentar teve o seu prazo certo de funcionamento iniciado no dia 1º de julho de 2003, que foi o primeiro dia útil seguinte da data de sua instalação: 30 de junho de 2003. O seu término inicial previsto seria no dia 28 de outubro de 2003.

Na data de 28 de outubro de 2003, o Plenário aprovou o RDI n.º 115/2003. Foi prorrogado o prazo de funcionamento do presente Inquérito Parlamentar por mais sessenta dias. Assim, o prazo de funcionamento máximo desta CPI passou a ser o de 180 dias, com término previsto para o dia 28 de dezembro.

JURISDICIDADE DO OBJETO DELIMITADO PELA PRESENTE CPI:

O Parlamento Gaúcho tem ganho notoriedade na defesa dos legítimos interesses dos produtores rurais, independente da posição doutrinária das bancadas parlamentares. Essa sensibilidade se deve à importância da produção agropecuária e do agronegócio na economia do Rio Grande e na geração de emprego e renda. As Comissões Permanentes, em especial a de Agricultura, Pecuária e Cooperativismo, não tem medido esforços nesse sentido. Tornou-se um grande fórum do setor primário e do agronegócio. Em situações de maior gravidade chega até a instaurar inquéritos parlamentares, como foi o caso da CPI DO PREÇO DO LEITE.

O Relatório tem a intenção de manter viva a tradição deste Parlamento de apoio ao produtor rural e a de reforçar a argumentação jurídica de defesa do bem-estar de todos os elos das cadeias produtivas dos alimentos. Neste aspecto, esta CPI reitera e ratifica os argumentos jurídicos da CPI DO PREÇO DO LEITE, inclusive com a intenção de que seja criado um repositório doutrinário neste Parlamento, em matéria de Direito Econômico, em defesa do bem-estar sistêmico das cadeias produtivas de alimentos.

O inquérito parlamentar deve estar em conformidade com os valores que emanam da sociedade – legitimidade – e com o direito: legalidade. É o que se denomina jurisdicidade.

A jurisdicidade das normas e atos do Poder Público é tema de importância recente. Antes da entrada em vigor da atual Constituição Federal, legalidade e legitimidade eram conceitos que se confundiam. Era considerado legítimo tudo o que era legal. Essa confusão deu-se no Brasil, internamente, por imposição de uma cultura autoritária que imperou nas instituições políticas nacionais, hipertrofiando o Estado, como uma dupla herança, oriunda de um lado, do patrimonialismo e de outro, da Filosofia Positivista Comtista, especialmente na sua versão castilhista.

Externamente, houve a influência das filosofias jurídicas do juspositivismo, que reduziu o direito à lei. A legalidade, que emana do Estado, acabou assimilando a legitimidade que emana da sociedade civil, deslocando dessa para aquela a verdadeira fonte da legitimidade. Contudo, para os valores imperantes na sociedade civil ocidental, não basta que o Estado se paute pela legalidade - seja um estado de direito - também é necessário que respeite a legitimidade: seja um Estado Democrático. Legítimo é o que vai ao encontro dos valores e interesses prevalecentes na sociedade civil e ilegítimo aquilo que os ignora ou os afronta.

Quanto à legitimidade do inquérito parlamentar, não há dúvida de que seu objeto vai ao encontro de interesses prevalecentes na sociedade civil. Rara é a CPI instaurada que não é motivada por matéria de relevante interesse da opinião pública. A CPI das Carnes não é exceção, pois a sua criação foi uma reivindicação das entidades representativas dos criadores de bovino de corte e de suínos.

Porém, quanto à legalidade, a questão apresenta maior complexidade: o Brasil integrar a família jurídica romano-germânica. Por conseqüência, possui um sistema escalonado de normas de direito, cuja norma fundamental do tipo escrito-rígida é a Constituição Federal. Isso exige que o inquérito parlamentar observe critérios rígidos de legalidade, o que faz se diferenciar pela sua rigidez, se comparado àqueles existentes na sua matriz histórica inglesa, formado à imagem e semelhança do sistema jurídico da Conmon Law.

A constituição válida de uma comissão parlamentar de inquérito deve observar os seguintes requisitos: 1°) requerimento escrito subscrito, no mínimo, por um terço dos membros da Corporação Legislativa; 2°); fato ou fatos determinados que sejam matérias de competência da entidade estatal a que pertence o Poder Legislativo; 3°) funcionamento por prazo certo.

Dos requisitos acima nominados, sem dúvida alguma, o mais importante por questão de segurança jurídica, é o que exige a existência de fato determinado a ser investigado pelo inquérito parlamentar. Sendo a CPI dotada de poderes idênticos aos das autoridades judiciais no processo criminal, fica o Poder Legislativo municiado de um poder real de coação física, como a violação legítima do Direito de Privacidade e a quebra de sigilo de pessoas. Em circunstâncias como essa, sempre há possibilidade real de haver abuso de poder. É por isso que o Direito Pátrio exige que seja delimitado pelo Poder Legislativo, de forma clara, precisa e objetiva qual é o fato determinado ou os fatos determinados a serem apurados pelo Inquérito parlamentar, sob pena de ser dado um cheque em branco contra os Direitos Fundamentais da Pessoa Humana.

O que dá margem para surgir dúvida sobre o fato determinado do inquérito parlamentar é a circunstância de que a Constituição do Estado e o Regimento deste Poder Legislativo não conceituam o que seja fato determinado. Diante dessa omissão, mediante aplicação de um processo de integração por analogia, pode-se saneá-la através da regra contida no parágrafo 1°, do artigo 36, do Regimento da Câmara dos Deputados, que trata objetivamente sobre o conceito de fato determinado de CPI:

“Art. 36. § 1°. Considera-se fato determinado o acontecimento de relevante interesse para a vida constitucional, legal, econômica e social do País, que estiver devidamente caracterizado no requerimento de constituição da Comissão.”

O conceito legal acima referido pelo Regimento da Câmara dos Deputados é também o mesmo entendimento da melhor doutrina, conforme consta no Dicionário Parlamentar e Político de Said Farhat, pg. 148:

As CPIs são o braço investigatório do Congresso. São Constituídas automaticamente, sem votação, mediante dois requisitos essenciais: requerimento de um terço (171) dos 513 deputados, ou um terço(27) dos 81 senadores; e fato determinado a investigar (CF. art. 58 § 3°).

(....)

O RIC define fato determinado (Art. 35, § 1°) como o “acontecimento de relevante interesse para a vida pública e a ordem constitucional, legal, econômica e social do País, que estiver devidamente caracterizado no requerimento da constituição da CPI.

Esse também é o entendimento do Constitucionalista MANOEL GONÇALVES FERREIRA FILHO, na sua obra COMENTÁRIOS À CONSTITUIÇÃO BRASILEIRA DE 1988, volume 2, pg. 70:

“Além disso, as comissões de inquérito devem ter objeto determinado, de modo preciso. É para indicar que a Constituição se refere a “fato determinado”. Como observa Pontes de Miranda, “não se pode abrir inquérito sobre crises in abstracto” (Comentários à Constituição de 1967, com a Emenda n° 1 de 1969, t. 3, p. 50).

Isto melhor se compreende quando se leva em conta a distinção formulada pela doutrina italiana entre inchista legislativa e inchiesta política )cf. Alessandro Pace, Inchiesta Parlamentare. Enciclopedia del diritto, Milão, Giuffré, 1970, v. 20).

A primeira destina-se a “adquirir informações e dados necessários para o exercício da função legislativa”. Realmente, o Legislativo, no mundo contemporâneo, tem necessidades de um volume crescente de informações. Com efeito, no Estado de Bem-Estar, deparam-se Parlamentos com problemas de elevada tecnicidade e complexidade, que dele esperam solução no que concerne à disciplina normativa. Está é, por assim dizer, uma justificativa de ordem técnica.

A segunda é de ordem política. Por força de seu caráter eminentemente representativo, o Congresso posiciona-se naturalmente como órgão de controle dos negócios públicos em geral. Incumbe-se do que Loewenstein denomina de policy control, distinta de policy decision e da policy execution (Political power and the governmental process, 2, ed., Chicago, Univ. Chicafo, 1965, p. 42).

As investigações da primeira espécie se compadecem tanto com o presidencialismo como com o parlamentarismo. Constituem simplesmente meio, um instrumento para que o Legislativo possa adequadamente exercer suas atribuições constitucionais (cf. Raul Machado Horta, Limitações constitucionais dos poderes de investigações, RDP, 5:36; também, Otacílio Alecrim, Comissões congressuais de investigações no regime presidencialista, RF, 151:34).

As da segunda, que realizam a inchiesta política, são incompatíveis com o sistema presidencial. Visam o controle (não no sentido de vigilância ou fiscalização, mas no de supervisão, aprobatória ou desaprobatória) que o Parlamento somente possui no sistema parlamentar de governo (cf. Paulino Jacques, “Comissão parlamentar de inquérito e governo de gabinete”, RF,151:83).

Outro Jurista Pátrio de destaque nos meios jurídicos, provavelmente o maior pensador jurídico brasileiro no Século XX, FRANCISCO CAVALCANTI PONTES DE MIRANDA, na sua clássica obra de Direito Constitucional “COMENTÁRIOS À CONSTITUIÇÃO DE 1967 COM A EMENDA N° 1 DE 1969, Tomo III, pg. 49, também conceitua o que seja fato determinado a ser investigado pelo inquérito parlamentar:

34) COMISSÃO DE INQUÉRITO SOBRE FATOS DETERMINADOS. - (a) Fato determinado é qualquer fato da vida constitucional do país, para que dele tenha conhecimento, preciso e suficiente, a Câmara dos Deputados ou o Senado Federal; e possa tomar as providências que lhes couberem. Se fizerem funcionar tal regra jurídica, se lhe revelarem todo o conteúdo e a tomarem, na prática, o instrumento eficaz que o texto promete, ter-se-á conferido à Câmara dos Deputados e ao Senado Federal relevante função no regime presidencial, ainda

asfixiante, que a Constituição manteve, crendo tê-lo atenuado quando devia. (grifo é da CPI)

(b) A investigação somente pode ser sobre fato determinado, ou, em conseqüência, sobre fatos determinados que se encadeiam, ou se seriam. O estado permanente, em que se aponte, e.g., insolvência, comércio ilícito, é fato determinado; porém é preciso que se diga qual é. Se, por exemplo, alguma empresa de serviços ao público está a cobrar preços mais altos do que o preço fixado, há fatos determinados, que se repetem, mais ou menos freqüentemente. Se o banco está a cobrar, por fora, juros ilegais, há fatos determinados, que se repetem, mais ou menos freqüentemente. Se o Governo está a emitir, sem lei, há fato determinado: ai, determinou-se fato, que pode ter sido único, ou ter-se repetido (pluralidade de fatos determinados por seus elementos componentes, isto é, emissão + carência de lei). O que se inquire é se, ou quando, ou onde, ou como; mas é preciso que se trate de fato determinado.

( c) As autoridades competentes para conhecer de fatos da vida de empresas particulares são muitas, mas a competência é distribuída e a cognição depende de legislação para suscitá-la. Não pode a Câmara dos Deputados, ou o Senado Federal, ou o Congresso Nacional abrir comissão de inquérito para verificar se o banco a está insolvente ou se vai ficar insolvente, ou se o banco a entrou em crise de diretoria, ou em crise com os seus empregados. Nem investigar crise, in abstracto, ou in concreto, em determinada empresa, que recebe subvenção, ou a ajuda por executada (subvenção por obra). Pode investigar se a subvenção tem sido paga, satisfeitos os pressupostos para ser válida. Pode mais: pode investigar se a fortuna de alguma pessoa que foi empregado público, ou exerceu cargo na administração, corresponde com as declarações de imposto de renda. Pode investigar se a administração está dispensando, ilegalmente, multas, ou dando divisas estrangeiras, contra a lei.

Não pode, sem apontar o fato, ou elementos do fatos que componham o fato, de que suspeita, proceder a investigação dentro de banco ou da empresa, ou nos negócios da pessoa, sem precisar o fato. A determinação do fato foi exigida pela Constituição de 1946, art. 53, como pela Constituição de 1967, art. 37, e pela Constituição de 1934, art. 36.

(d) Determinado o fato, a pergunta ( e todo inquérito contém pergunta implícita ou explícita) pode ser:

a) No plano da existência, se houve fato, ou se não houve.

b) No plano da legalidade; e.g., se o fato compõe determinada figura penal ou ilícito civil ( ou administrativo).

c) No plano topográfico: onde se deu o fato.

d) No plano do tempo: quando se deu o fato.

e) No plano da quantitatividade; e.g., se houve redução do fato, ou quando sobre o prejuízo.

Não se pode abrir inquérito, com base no art. 37, sobre crises, in abstracto. O inquérito, por exemplo, que a Câmara dos Deputados, ou o Senado Federal, determine, para se saber se as emissões que se vem fazendo e as portarias que se lançam sobre divisas estrangeiras são contrárias à Constituição de 1967, seria possível: aludiu-se a fato determinado, “emissão de papel moeda”, em determinado período. Não se pode abrir inquérito para se apurarem as causas e conseqüências da crise que há na fábrica A ou na Empresa B, salvo se o fato determinado tem causa em atos do Governo ou em funcionário público. A investigação in abstracto sobre as causas e conseqüências de determinada crise pertence a outras comissões que às do art. 37, limitadas, constitucionalmente. à investigação de fato determinado ou de fatos determinados.”

Adaptando-a à realidade dos Estados Federados, fato determinado é qualquer fato da vida constitucional do Estado para que dele tenha conhecimento, preciso e suficiente, a Assembléia Legislativa, e possa tomar as providências que lhes couber.

Nesse sentido, ratificando essa interpretação, cita-se o PARECER N° 2745 da DOUTA PROCURADORIA PARLAMENTAR DESTA ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA que também esclarece o conceito de fato determinado, saneando toda e qualquer dúvida que restava a respeito do assunto:

“O que quer a norma constitucional é que Comissão Parlamentar de Inquérito tenha objeto determinado, correspondente ao “fato determinado “. O Congresso, enquanto Poder Legislativo, não está restrito a fato determinado: mas a Comissão que ele cria (uma das que pode criar), ao ser criada, nasce com o limite de fato determinado. Nada impede que o Congresso Nacional, no exercício absolutamente regular de suas atribuições, crie outras comissões para investigar outros fatos. O Congresso (o criador de Comissões) pode exercitar sua competência investigatória em tantos fatos quantos entenda necessário para bem se desincumbir da missão institucional, mas a Comissão (enquanto criatura) está adstrita a investigar aquele “fato determinado” ou aqueles fatos determinados que o criador lhe selecionou como finalidade no próprio ato criativo.

E este é o limite da Comissão Parlamentar de Inquérito: investigar aquele “fato determinado” ou aqueles fatos determinados definidos como seu objeto no próprio ato de criação. Não pode ir além. Não pode investigar outro fato ou outros fatos, excedentes - em sua natureza ou composição - à finalidade (integrante como essencial) do ato constitutivo.”

Pela exposição doutrinária acima referida, inclusive com a citação e transcrição de texto do Regimento da Câmara dos Deputados, considera-se fato determinado para o inquérito parlamentar estadual todo o acontecimento de relevante interesse para a vida constitucional, legal, econômica e social do Estado do Rio Grande do Sul que estiver devidamente caracterizado no requerimento de constituição da CPI.

No caso concreto, o Requerimento n.º 01/2003 (folhas 02/06) caracterizou os acontecimentos de relevante interesse para a vida econômica e social do Estado do Rio Grande do Sul que são “as causas da atual situação econômica e financeira da bovinocultura de corte e da suinocultura e os indícios da prática de infrações da ordem econômica nas cadeias produtivas de carnes suínas e seus derivados, com ênfase aos aspectos relacionados à formação do preço recebido pelos agricultores e pagos pelos consumidores finais.”

Os acontecimentos de relevante interesse para a vida econômica e social do Estado do Rio Grande do Sul devidamente caracterizados pelo Requerimento n.º 01/2003 (folhas n.º 02/06) desdobram-se em seis fatos determinados apurados pelo presente Inquérito Parlamentar, que são os fatos e políticas relacionadas à competitividade sistêmica e aos mecanismos de formação do preço recebido pelos agricultores e pagos pelas indústrias e consumidores.

Afasta-se, assim, toda e qualquer dúvida de que o presente Inquérito Parlamentar não tenha caracterizado objetivamente o seu objeto jurídico e os fatos determinados a serem apurados.

Resta, por último, analisar, a legalidade de Inquérito Parlamentar para apurar indícios da prática de infrações da ordem econômica na cadeia produtiva das carnes bovina e suína, caracterizados objetivamente no FATO DETERMINADO 01: “Indícios de prática de infração à ordem econômica de compra e venda de carne por parte da indústria de carnes e dos estabelecimentos varejistas, com apuração dos preços justos que deveriam ser praticados”. .

Consta expressamente na justificativa do Requerimento n.º 01/2003 (folhas 02/06) a exposição dos fundamentos legais e os argumentos que demonstram a possibilidade jurídica de inquérito parlamentar estadual poder apurar validamente Indícios de prática de infração à ordem econômica de compra e venda de carne por parte da indústria de carnes e dos estabelecimentos varejistas, com apuração dos preços justos que deveriam ser praticados”. (FATO DETERMINADO 01).

Na CPI DO PREÇO DO LEITE, este Parlamento já havia enfrentando essa matéria e afastado toda e qualquer dúvida. Por ocasião da instauração daquele Inquérito Parlamentar algumas vozes discordantes alegavam que os Estados Federados não tinham competência para investigar casos de abuso de poder econômico. Essa alegação se baseava no raciocínio de que compete ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica - CADE, autarquia administrativa vinculada ao Ministério da Justiça que, através de um processo judicante, quase-judicial, assegura aos litigantes a Cláusula do Devido Processo Legal em sua Dimensão Processual, com base na Lei Federal n° 8.884/94, o julgamento dos casos de abuso de poder econômico. Se compete à União o julgamento administrativo dos casos de abuso econômico, cabe também à União a investigação desses fatos.

Há muito a hermenêutica jurídica afasta o método de interpretação literal ou mesmo lógico-sistemático. O emprego desses dois métodos de interpretação para dar razoabilidade ao raciocínio jurídico de querer atribuir a competência exclusiva à União de investigar os casos de abuso de poder econômico reflete uma tendência histórica de centralização juspolítica do Poder Estatal no Governo Central. Se essa se justificou, sob o ponto de vista histórico no Século XIX, para a consolidação do Estado Nacional, atualmente não se sustenta. Os esforços atuais são para consolidar a Federação, tirando-se do papel o Princípio da Subsidiariedade, respeitando-se as esferas regionais e locais do Poder Estatal. Só é razoável e plausível, à luz da Carta de 1988, a interpretação que leve em conta o Princípio da Subsidiariedade, visando à descentralização político-administrativa as esferas regional e local.

O Federalismo e o Municipalismo, este último considerado como uma espécie de federalismo de segundo grau, num método finalístico ou teleológico, deve ser considerado como premissa principal e balisador em toda a construção jurídica que analisa conflito de atribuições administrativas entre os entes da Federação, o que, em suma, desautoriza toda e qualquer interpretação literal ou

lógico-sistemática de que só a União poderia investigar casos de abuso de poder econômico.

Ratifica-se, assim, como precedente doutrinária, a construção jurídica adotada pela CPI DO PREÇO DO LEITE.

Utilizando-se o método teleológico, numa construção jurídica que tenha como premissa principal o Federalismo e o Princípio da Subsidiariedade, afasta-se a interpretação simplista de excluir o poder investigativo dos Estados. A circunstância do processo administrativo com finalidade punitiva dos casos de abuso de poder econômico ser matéria reservada à União, não significa que os Estados Federados não possam investigar esses mesmos fatos. O Inquérito Parlamentar tem como objetivo realizar investigações, apurando indícios de autoria e a prova da materialidade de fatos determinados. Não pune, apenas indicia e encaminha suas conclusões ao Ministério Público ou à autoridade competente.

Partindo-se do raciocínio de que um inquérito parlamentar estadual só pode investigar as matérias que são de competência do Estado Federado, cabe analisar se os Estados Federados podem dispor sobre a matéria Abuso de Poder Econômico. Nesse sentido, a Constituição do Estado do Rio Grande do Sul é expressa em autorizar o Estado a intervir no domínio econômico privado para prevenir abusos do poder econômico:

"Art. 158 – A intervenção do Estado no domínio econômico dar-se-á por meios previstos em lei, para orientar e estimular a produção, corrigir distorções da atividade econômica e prevenir abusos do poder econômico."

O dispositivo constitucional acima referido, por si só, não torna válida a atuação do Estado do Rio Grande do Sul para prevenir abuso de poder econômico. É necessário, para que o mesmo seja válido perante a Ordem Jurídica Brasileira, que esteja em conformidade com a Constituição Federal. A matéria Abuso de Poder Econômico pertence ao chamado Direito Econômico, que é a tradução jurídica da intervenção do Estado no domínio econômico privado, que inclui também as normas sobre produção e consumo, conforme ensina o CONSTITUCIONALISTA MANOEL GONÇALVES FERREIRA FILHO, na sua obra COMENTÁRIO À CONSTITUIÇÃO BRASILEIRA DE 1988, volume 01, folhas 190:

"Direito Econômico. A autonomia desta disciplina jurídica não foi reconhecida senão recentemente nos meios científicos. No plano constitucional, esta é a primeira Constituição brasileira que o faz.

De um modo geral, o Direito Econômico abrange o conjunto de normas que regulam a atuação do Estado sobre a economia. Especificamente, as que definem o tipo de organização econômica (centralizada ou descentralizada), a relação entre a iniciativa privada e a iniciativa pública e a orientação finalística da economia, questões que, juntas ao regime dos meios de produção, capital (objeto do direito civil e comercial, precipuamente) e trabalho (objeto do trabalho), estabelecem a "constituição econômica" do Estado (v., a este respeito, o meu estudo "Lineamento de uma constituição econômica", in Idéias para a nova Constituição Brasileira, Cit., p. 119 e s.). Ou, como prefere Afonso Insuela Pereira, Direito Econômico é o "complexo de normas que regulam a ação do Estado sobre as estruturas do sistema econômico e as relações entre os agentes da economia" (O Direito Econômico na ordem jurídica, São Paulo, Bushatsky, 1980, p. 66-7).

O Direito Econômico pertence à competência legislativa concorrente entre a União e os Estados, prevista no artigo 24, I e V, da Constituição da República:

"Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre: I - direito tributário, financeiro, penitenciário, econômico e urbanístico; V - produção e consumo;" (Grifo é da CPI)

Portanto, a norma-regra constitucional do artigo 158 da Constituição do Estado do Rio Grande do Sul é constitucional. Isto é, está em conformidade com o artigo 24 da Constituição Federal, o que legitima a atuação do Estado para prevenir abuso de poder econômico, inclusive através de inquérito parlamentar instaurado por seu Poder Legislativo, mediante instauração de uma investigação a ser conduzida por uma comissão parlamentar de inquérito, visando a coletar elementos para que a autoridade competente federal instaure o Devido Processo Legal.

Com essa breve exposição, pretende-se afastar toda e qualquer dúvida de que o Requerimento n.º 01/2003 (folhas n.° 02/06) não tenha caracterizado de forma objetiva os fatos determinados apurados pelo presente Inquérito Parlamentar, especificando o acontecimento de relevante interesse para a vida econômica e social do Estado do Rio Grande do Sul.

CONSIDERAÇÕES DOUTRINÁRIAS E JURISPRUDENCIAIS SOBRE O INQUÉRITO PARLAMENTAR:

CONSIDERAÇÕES JUSPOLÍTICAS

O inquérito parlamentar, diante da importância que passou a assumir no Parlamento moderno, onde a sua utilização demonstra o grau de independência do Poder Legislativo, merece que se aborde, mesmo que brevemente, sobre a sua natureza e importância institucional, especialmente por que o Brasil ainda tem um longo caminho a trilhar para consolidar o seu regime democrático.

Em que pese ser um instituto juspolítico razoavelmente propagado pela imprensa e de conhecimento da opinião pública, o inquérito parlamentar, tecnicamente, enquanto procedimento administrativo investigatório, é ainda pouco conhecido, inclusive nos meios acadêmicos e até mesmo nas Casas Legislativas. Isso se deve a vários fatos, como a escassa literatura existente e a pouca experiência que os Poderes Legislativos, em âmbito estadual, possuem nesse campo.

Em termos de História, é um instituto juspolítico investigatório que teve origem na Inglaterra. A história do inquérito parlamentar se confunde com a própria evolução política do sistema parlamentar de governo. É um instrumento da minoria parlamentar para poder investigar as ações de governo. Para evitar a ditadura da maioria parlamentar, formadora e destituidora de governos, foi estabelecido pela tradição constitucionalista anglo-saxônica o mecanismo de instalação e funcionamento de comissões de inquéritos que não dependem da vontade da maioria parlamentar. Caso contrário, se a maioria parlamentar pudesse impor sua vontade majoritária, os atos de um Governo não seriam fiscalizados, salvo em caso de ruptura política, que praticamente significaria quebra da confiança e resulta, inevitavelmente, no sistema parlamentarista a queda e formação de um novo Governo.

O inquérito parlamentar no Brasil, em que pese ter como fonte jurídica remota o modelo inglês, teve de se afastar desse para se adaptar ao sistema de Governo Presidencialista, com seus mecanismos rígidos de separação dos Poderes. Por isso, as sucessivas Constituições Federais brasileiras, como a de 1988, referem-se a fato determinado como oposição a fato indeterminado, que decorre de investigação de crises in abstracto, no parlamentarismo. Como na matriz inglesa, a CPI brasileira não deixou de ter papel relevante na função de fiscalização e controle da administração pública pelo Poder Legislativo.

Em termos de precedente histórico, podemos afirmar que o inquérito parlamentar é o mais eficiente instrumento juspolítico que o Poder Legislativo possui para cumprir sua missão institucional de fiscalização e controle da administração pública e de investigar fatos sujeitos a sua competência legislativa. Mas, isso é fato recente na história do Brasil, especialmente a partir de 1988. A maior parte da nossa história não passou de “letra morta.” Teve de seguir a

própria sorte e ocupar o espaço político que cada regime político havia reservado ao Parlamento.

Por certo, quando uma Casa Legislativa instaura um inquérito parlamentar acaba sempre criando uma expectativa quanto ao seu funcionamento e ansiedade quanto ao resultado almejado. Isso ocorre, não só por que, via de regra, apura fatos de grande repercussão perante a opinião pública, mas também por que se trata de um procedimento juspolítico dotado de poder de coação física contra os investigados, o que lhe difere de todos os demais procedimentos parlamentares.

Todo e qualquer uso de coação física por qualquer órgão e agentes do Estado é sempre mal visto pelas pessoas como restrição às suas Liberdades Públicas. À primeira vista parece não coadunar com o regime democrático, especialmente quando emana do Poder Legislativo como órgão político superior do Estado, que expressa em sua plenitude a soberania popular. Entretanto, essa visão reflete uma incompreensão da própria gênese do Estado. É justamente o uso legítimo da coação física, na sua essência, o que caracteriza o Estado enquanto organização humana. Trata-se de conceito atualmente aceito como universal pela Ciência Política, cuja elaboração teórica foi expressa na clássica obra do criador da sociologia compreensiva, Max Weber - ECONOMIA E SOCIEDADE -, provavelmente a maior obra de sociologia do Século XX: "uma empresa com caráter de instituição política denominamos Estado, quando e na medida em que seu quadro administrativo reivindica com êxito o monopólio legítimo da coação física para realizar as ordens vigentes".

O exercício do monopólio da coação física é praticado por todos os regimes políticos. A questão não é o seu uso em si, mas o seu exercício legítimo pelo Estado. Enquanto nos regimes totalitários e autoritários predomina a legalidade sobre a legitimidade, no regime democrático predomina o equilíbrio entre ambas.

Nas nações de tradição democrática não consolidada, como o Brasil, o conflito entre legalidade e legitimidade é mais acentuando. A falta de equilíbrio gera a crise da democracia. Por carecerem de instituições políticas adequadas a sua realidade nacional, as crises periódicas de governabilidade levam o regime democrático ao descrédito, pela ineficiência da Administração Pública. Torna-se ineficaz para atingir os fins do Estado de promoção do bem comum da comunidade. Como conseqüência nefasta, surge espaço para soluções via autocrática, seja ela civil ou militar. Os atos estatais, embora legais, acabam-se tornando ilegítimos, se não na sua modalidade originárias, mas nas suas versões corrente e finalística.

Na atualidade brasileira, a ilegitimidade das normas e atos estatais, se dá em maior intensidade nos casos de ineficácia do Estado para punir os infratores da lei. Provavelmente, a ineficácia na administração da justiça e no exercício de poder de polícia, atividades típicas e básicas do Estado, sejam hoje os fatores de maior descrédito deste. Pela impotência das instituições político-administrativa tradicionais, como o Poder Judiciário, a Polícia e o Ministério Público, de aplicarem uma punição rápida, severa e exemplar aos infratores à lei, pelas vias ordinárias e regulares, acabam caindo no descrédito e surgindo reclames de soluções rápidas

e exemplares. Intensifica-se ainda mais quando a impunidade se dá em relação a pessoas oriundas da elite dirigente, seja ela política, cultural ou econômica.

É nesse contexto que os Parlamentos acabaram ocupando um papel importante junto às expectativas da comunidade, como forma de solução rápida e exemplar de punição contra os infratores da lei, seja mudando leis arcaicas ou articulando a criação de políticas públicas mais eficazes - é a caixa de ressonância da opinião pública - Cada CPI instalada, seja pelas Casas do Congresso Nacional, ou pelos Parlamentos estaduais e municipais, gera, na opinião pública, grande perplexidade contra a impunidade.

O Poder Legislativo, através das CPIs, mal ou bem, acaba atendendo, a curto prazo, aos reclames populares. Se não tem o poder de punir, acabam os indícios expostos à opinião pública, que não deixa de ser uma provação, senão uma punição. Há, na história recente nacional e estadual, diversos exemplos de inquéritos parlamentares que, de uma ou outra forma, contribuíam para legitimarem o regime democrático, passando o Brasil a limpo, aproximando mais a sociedade política das suas instituições políticas representativas.

O que num primeiro momento contribui para aumentar a legitimidade do Parlamento, transforma-se no seu próprio desgaste, das instituições governamentais, e, em última análise, do regime democrático.

Por uma crônica deficiência do sistema educacional formal e informal brasileiro, na área de formação política e preparação para cidadania, muito se fala, comenta-se e diz a respeito das CPIs, sem contudo entender a história e a gênese desse importante instituto investigatório parlamentar.

CONCEITO JURÍDICO DO INQUÉRITO PARLAMENTAR:

O inquérito parlamentar pode ser definido como um procedimento administrativo inquisitório dirigido por uma comissão temporária de parlamentares, dotada dos poderes próprios de investigação das autoridades judiciárias, além de outros previstos em Regimento, para apurar a materialidade e autoria de fato determinado de competência da entidade estatal a que pertence a Corporação Legislativa, que o instituiu para funcionar por prazo certo, sendo suas conclusões encaminhadas para que a autoridade competente instaure o devido processo legal, sem ter a mesma força obrigatória e vinculante para o Ministério Público ou para o Poder Judiciário.

O inquérito parlamentar não é um processo administrativo. Seu objeto jurídico não é o de solucionar um litígio, ou seja, um conflito de interesses, nem, tampouco, há nele partes, por não haver interesses contraditórios, mas, apenas partícipes: pessoas que têm o dever de cooperar com a elucidação da verdade, visando ao interesse público. Não é, tampouco, o seu objeto jurídico a aplicação de uma sanção ou qualquer outro ato punitivo ou restritivo de direito, mas o de investigar um fato determinado da alçada de competência da entidade estatal, a

qual pertence a corporação legislativa, concluindo se existe ou não a materialidade do fato ilícito e indícios ou não de autoria.

Pela sua natureza jurídica inquisitorial, o inquérito parlamentar não é obrigado a observar o Princípio Constitucional da Plena Defesa dos Acusados em qualquer processo (Art. 5º, LV, da CF/88). Contudo, pode a Corporação Legislativa entender que o inquérito parlamentar tenha de observar o princípio do acusatório, devendo, neste caso, assegurar o direito à ampla defesa das pessoas apontadas como suspeitas de qualquer acusação.

A criação de CPI faz parte do poder discricionário do Poder Legislativo, segundo as necessidades e conveniências políticas de tornar efetivo o exercício da sua função fiscalizadora. Em termos comparativos, o inquérito parlamentar se assemelha ao irmão jurídico existente no processo penal - o inquérito policial. No direito administrativo, a sua irmã é a sindicância administrativa. Ambos procedimentos têm como objeto investigar se houve ou não a ocorrência de irregularidade, apurando os indícios da autoria e a materialidade da infração, sem, no entanto, aplicar penalidade alguma. Por isso, o inquérito parlamentar se afasta do processo judicial penal e do processo administrativo disciplinar, inclusive para aplicação analógica das regras desse, na medida em que esse tem como objetivo aplicar uma penalidade judicial ou administrativa disciplinar, respectivamente, observando a cláusula do devido Processo Legal, fazendo respeitar, entre outras garantias individuais, os princípios do contraditório e da ampla defesa.

DO PRINCÍPIO DA COLEGIALIDADE E DA DELEGAÇÃO DE ATRIBUIÇÕES:

As Comissões Parlamentares são órgãos colegiados, isto é, um órgão pluripessoal, cuja composição deve refletir, tanto quanto possível, a representação proporcional das bancadas parlamentares. São uma universalidade de pessoas, especificamente um conjunto de representantes do povo, cometidas coletivamente da mesma função e que decidem conforme a manifestação conjunta e majoritária de seus membros.

O Princípio da Colegialidade, aplicável às CPIs, traduz a primazia da vontade majoritária, que é a única e definitiva manifestação dos órgãos colegiados, revestida de jurisdicidade. Após a deliberação, a decisão tomada é da Comissão Parlamentar. Os votos vencidos, mesmo que fundamentados por escritos, são individualmente desconsiderados e a decisão é a do colegiado como um todo.

Como colegiado, a CPI, no procedimento de sua atuação, compreende as etapas de convocação e de deliberação. O poder decisório da maioria deve obedecer a norma-regra do artigo 51 da Constituição do Estado:

“Art. 51. As deliberações da Assembléia Legislativa, salvo disposição em contrário nesta Constituição, serão tomadas por maioria de votos, individuais e intransferíveis, presente a maioria de seus “.

Vale dizer, que os órgãos colegiados da Assembléia Legislativa – Plenário, Comissões Parlamentares e a Mesa –, segundo a norma-regra do artigo 51 da Constituição do Estado e, as deliberações do Colegiado da CPI são tomadas pela maioria simples, isto é, pela maioria dos presentes na reunião (presentes a maioria dos seus membros). Nesse caso, o quorum mínimo para haver deliberação válida é o de sete membros da Comissão e são necessários quatro votos. Não há quorum de maioria absoluta nas CPIs (mínimo de sete votos para haver deliberação válida), pela simples circunstância da Constituição do Estado não estabelecer nenhuma norma-regra, no sentido de que as deliberações nas Comissões Parlamentares sejam todas por maioria absoluta, conforme determina o artigo 51 da Carta Magna Estadual.

O Princípio da Colegialidade é de importância prática capital às CPIs. Significa que os poderes investigatórios são do colegiado e não individualmente de algum parlamentar. Somente a comissão, como órgão colegiado, “através da vontade majoritária expressa de seus membros, é o soberano juiz da conveniência, oportunidade, necessidade e utilidade das diligências e atividades probatórias que, eventualmente, considere indispensáveis à colimação de seus objetivos investigatórios”, conforme parecer exarado pelo Consultor-Geral da República, José Saulo Pereira Ramos, publicado na Revista de Direito Administrativo n.º 171, páginas 203/204, de 1988, citação contida na obra do Jurista PLÍNIO SALGADO, em sua obra COMISSÕES PARLAMENTARES DE INQUÉRITO – CPI - DOUTRINA, JURISPRUDÊNCIA E LEGISLAÇÃO.

O Princípio da Colegialidade e a sua conseqüência lógica, a primazia da vontade majoritária, não afasta a delegação de atribuições a alguns membros da CPI. A delegação é juridicamente possível, conforme consta dos bem lançados fundamentos do jurista PLÍNIO SALGADO, na obra já referida, página 171:

“De se salientar, como obvio, que tarefas de investigação, v.g., coleta de provas, diligências, sobretudo, quando requerem o deslocamento da comissão de inquérito para locais distintos de sua sede, por deliberação majoritária sua, podem ser delegadas a parcela de seus membros, sempre que assim julgar conveniente, sem que isto desnature o princípio da colegialidade, de aplicação aos atos de conteúdo decisório. Aliás, a possibilidade dessa delegação já se contém no Regimento Interno da Câmara dos Deputados (art. 36, III).”

Para celeridade dos trabalhos de investigação, levando em consideração o fato de que os membros deste Egrégio Parlamento se encontram assoberbados de atividades, onde muitos participam de inúmeras Comissões Parlamentares, e a dificuldade de se reunir sete deputados em todos os atos da CPIs, a presente Comissão decidiu delegar suas atribuições.

Com esse intento, suscitou dúvida à Procuradoria da Assembléia Legislativa, que na promoção jurídica n.º 19.859 contida no processo n.º 005247-01.00/03-9, entendeu ser juridicamente possível a delegação de atribuições. Transcreve-se, na íntegra, a referida peça jurídica, exarada pelo Douto Procurador-Geral desta Assembléia Legislativa, Paulo Roberto Cardoso Moreira de Oliveira:

Processo nº 5247-0100/03-9

Senhor Deputado Presidente da CPI:

Foi encaminhado a esta Procuradoria para manifestação questionamento acerca da aplicação de normas à Comissão Parlamentar de Inquérito das Carnes criada nos termos do Regimento Interno, art. 83 e seguintes.

Suscitaram-se dúvidas acerca da incidência de normas gerais e da forma como deveriam ser compreendidos os atos a serem realizados pela CPI, citando-se, especificamente, os dispositivos dos arts. 78, 59, 63, 87, inc. III, § 2º, todos do Regimento Interno, bem como a norma do art. 148, § 1º, do Regimento Interno do Senado Federal e as normas da Lei nº

8.038/90 e o Código de Processo Penal.

Em primeiro lugar, deve-se ter presente que existe no Regimento Interno da Assembléia Legislativa do Estado normas específicas sobre a criação, funcionamento e encerramento das Comissões Parlamentares de Inquérito, sendo elas passíveis de serem subsidiadas por normas atinentes às Comissões Permanentes, conforme determina o art. 78 do RI – sempre que haja cabimento.

Não existe, portanto, conflito de normas, haja vista estarem perfeitamente colocadas no texto, aplicando-se distintamente para as diversas hipóteses fáticas.

Por isso, somente quando não existir a regra específica e houver lacuna na legislação processual penal (art. 87, § 2º, do RIALRS) é que serão utilizados os regramentos relativos às comissões permanentes.

Conforme referido no início do pedido de esclarecimento, a dúvida sobre a incidência das normas surge a partir da indagação sobre ser ou não possível a “delegação do funcionamento de sessão da CPI para tomada de depoimento ou oitiva de testemunha”.

Desde logo, cumpre destacar o entendimento desta Procuradoria no sentido de que está correta a interpretação manifestada no pedido formulado de que as deliberações devem ser tomadas de acordo com as regras do Regimento Interno, em colegiado, sendo possível, no entanto, a coleta de prova (oitiva de testemunhas e depoimentos) por qualquer de seus membros previamente indicado para tal (art. 87, inc. III, do RIALRS).

Isso porque o RI é claro no sentido de que se aplicam as regras processuais penais para as omissões procedimentais do regulamento. Assim, por se tratar de um órgão colegiado, tal como o Tribunal de Justiça do Estado, não havendo dispositivo expresso no Regimento Interno sobre a forma como se fará a coleta de provas, deve-se aplicar os dispositivos processuais da Lei nº 8.038/90 e do Código de Processo Penal.

Há previsão no RI de que a oitiva de testemunhas possa ser feita em local diverso da sede do Parlamento, possibilitando-se, com isso, que seja feita a instrução processual nos mesmos moldes de processos judiciais.

Como a Comissão Parlamentar de Inquérito é órgão colegiado do Legislativo, correta é a adequação das normas pela forma preconizada pela legislação processual que prevê o processamento originário nos Tribunais de segundo grau.

Acertada, portanto, é a interpretação no sentido de que possa haver a incumbência de um dos integrantes (Deputados) da Comissão para a coleta de provas, já que à instrução processual não é necessária a participação de todos os membros da CPI.

Trata-se de delegação de poder, que deve ser feita pela Comissão. Ao assumir esse entendimento, buscou-se suporte na norma do art. 9o da Lei nº 8.038/90, aplicada cumulativamente com as normas do Regimento Interno, art. 87, incs. III e IV, e §§ 1º e 2º.

Por isso que à indagação feita, responde-se ser possível a realização de atos de diligência (instrução) processual, incumbindo-se um dos membros para sua realização.

Dessa forma, entendendo não haver omissão legislativa, tampouco conflito de normas, opina-se no sentido de que são aplicáveis ao caso concreto a norma do art. 87, incs. III e IV, e §§ 1º e 2º, do Regimento Interno, bem como o art. 9º, § 1º, da Lei nº 8.038/90, para afirmar que é possível que a Comissão Parlamentar, de forma colegiada, delibere sobre a realização de atos de diligência, designando-se um ou mais de seus membros para tal.

Porto Alegre, 15 de julho de 2003.

Paulo Roberto Cardoso Moreira de OliveiraProcurador - Geral

Na Reunião Extraordinária desta CPI realizada em 07 de agosto de 2003,conforme consta na ATA 03/2003, o Colegiado desta CPI autorizou a delegação de atribuições, nos seguintes termos: (1) nas reuniões em que se realizar tomada de depoimento, que estiver previamente designada mediante publicação da agenda no Diário da Assembléia Legislativa e a serem realizadas no Palácio Farroupilha, se não houver número para deliberar, a Comissão Parlamentar de Inquérito poderá tomar o depoimento das testemunhas, indiciados e autoridades convidadas ou convocadas, desde que estejam presentes o Presidente e o Relator desta Comissão; (2) nas reuniões em que se realizar audiência pública ou inspeção pública, assim como para realizar qualquer diligência em qualquer ponto do Estado, poderão ser realizados por delegação a qualquer membro da CPI.

Posteriormente, com a intensificação das investigações, houve necessidade de ampliação da delegação de atribuições. Nesse sentido, o Colegiado desta CPI, em Reunião Extraordinária realizada em 08 de setembro de 2001, deliberou ao Presidente, ao Vice-Presidente e ao Relator desta Comissão, para que, em conjunto e por unanimidade, nos casos em que as investigações envolvam sigilo e

a sua publicidade possa inviabilizá-la, determinem a realização de diligência de inquirir testemunhas sob compromisso, requisitar informações e documentos, realizar inspeções públicas e requisitar os serviços de quaisquer autoridades, inclusive policial, dando conhecimento prévio à Mesa e ciência oficial ao Colegiado desta Comissão, na primeira reunião após a realização do ato.

Registra-se que as delegações de atribuições foram indispensáveis ao sucesso das investigações promovidas por esta CPI. Elas viabilizaram a eficiência e a agilidade no resultado final. A presente experiência de delegação de atribuições deve ser levada à reflexão dos membros deste Egrégio Parlamento por ocasião da reforma do Regimento, a fim de tornar mais célere os trabalhos desenvolvidos pelas Comissões Parlamentares.

PODERES INVESTIGATÓRIOS DAS CPIS:

Para se saber quais são os poderes instrutórios das CPIs, toda e qualquer discussão tem como ponto de partida o seguinte dispositivo da Constituição Federal:

"Art. 58. § 3°. As comissões permanentes de inquéritos, que terão poderes de investigação próprio das autoridades judiciais, além de outros previstos nos regimentos das respectivas casas, serão criadas pela Câmara dos Deputados e pelo Senado Federal, em conjunto ou separadamente, para a apuração de fato determinado e por prazo certo, sendo suas conclusões, se for o caso, encaminhadas ao Ministério Público, para que promova a responsabilidade civil ou criminal dos infratores."

A instrução do inquérito parlamentar é dotada dos seguintes poderes: (1) os previstos no Regimento da Assembléia Legislativa; (2) os dispostos em leis processuais penais esparsas ou codificadas.

A Assembléia Legislativa do Rio Grande do Sul regula os poderes do inquérito parlamentar no artigo 87 do seu Regimento:

“Art. 87 – A Comissão Parlamentar de Inquérito poderá, observada a legislação específica:

I. requisitar servidores dos serviços administrativos da Assembléia, bem como, em caráter transitório, os de qualquer órgão ou entidade da administração pública direta, indireta e fundacional, necessários aos seus trabalhos;

II. determinar diligências, ouvir indiciados, inquirir testemunhas sob compromisso, requisitar de órgãos e entidades da administração pública informações e documentos, requerer a audiência de Deputados e Secretários de Estado, tomar depoimentos e requisitar os serviços de quaisquer autoridades, inclusive policiais;

III. incumbir qualquer de seus membros ou funcionários requisitados da realização de sindicâncias ou diligências necessárias aos seus trabalhos, dando conhecimento prévio à Mesa;

IV. deslocar-se a qualquer ponto do Estado para a realização de investigações e audiências públicas;

V. estipular prazo para o atendimento de qualquer providência ou realização de diligência sob as penas da lei, exceto quando da alçada de autoridade judicial;

VI. se forem diversos os fatos inter-relacionados objeto do inquérito, dizer em separado sobre cada um, mesmo antes de findar a investigação dos demais;

§ 1º – Indiciados e testemunhas serão intimados por servidores da Assembléia Legislativa ou por intermédio de Oficial de Justiça designado pelo Juiz de Direito do Foro da Comarca onde deva ser cumprida a diligência.

§ 2º – Aplicam-se subsidiariamente às Comissões de Inquérito, no que couber, as normas da legislação federal, especialmente do Código de Processo Penal.

Essas não são as únicas regras. Há outras e de maior importância, que são justamente as regras processuais penais esparsas ou codificadas. A regra contida no parágrafo segundo do dispositivo regimental acima transcrito determina que “aplicam-se subsidiariamente às Comissões de Inquérito, no que couber, às normas da legislação federal, especialmente ao Código de Processo Penal”.

A Legislação federal aplicável ao inquérito parlamentar é formada basicamente pela Lei Federal n° 1.579, de 18 de março de 1952, que dispõe sobre as Comissões Parlamentares de Inquérito e o Código de Processo Penal, ambos os Diplomas Legais recepcionados pela Constituição de 1988, o que significa que devem ser interpretados e aplicados à luz da nova Ordem Constitucional, cujo fim

é indiscutivelmente o mais benéfico de todas as Cartas Republicanas brasileiras aos Direitos Fundamentais da Pessoa Humana.

As regras do Diploma Legal, acima referido, serviram de fonte para a regra do artigo 87 do Regimento da Assembléia Legislativa. Contém normas penais e processuais penais, as quais transcreve-se a seguir:

"Art. 2°. No exercício de suas atribuições, poderão as Comissões Parlamentares de Inquérito determinar as diligências que se reputarem necessárias e requererem a convocação de Ministros de Estado, tomar o depoimento de quaisquer autoridades federais, estaduais e municipais, ouvir indiciados, inquirir testemunhas sob compromisso, requisitar de repartições públicas e autárquicas informações e documentos, e transportar-se aos lugares onde se fizer mister sua presença.

Art. 3°. Indiciados e testemunhas serão intimados de acordo com as prescrições estabelecidas pela legislação penal.

Parágrafo único. Em caso de não comparecimento da testemunha sem motivo justificado, sua intimação será solicitada ao juiz criminal da localidade em que resida ou se encontre, na forma do artigo 218 do Código de Processo Penal.

Art. 6° - O processo de instrução dos inquéritos obedecerão ao que prescreve esta Lei, no que lhe for aplicável, as normas do Processo Penal."

Em suma, as CPIs estaduais, para produção de prova, são dotadas dos seguintes poderes de instrução: (1) requerer diligências; (2) requerer convocação de Secretário de Estado; (3) tomar depoimento de autoridades; (4) ouvir indiciados; (5) inquirir testemunhas sob compromisso; (6) requisitar informações e documentos da Administração Pública; (7) requerer ao Tribunal de Contas do Estado informações e documentos; (8) requisitar o serviço de quaisquer autoridade administrativa, inclusive policial.

Então, surge a dúvida se o poder das CPIs requisitarem informações e documentos de particulares. Pela redação exposta nos Diplomas Legais acima citados, não há previsão legal para a prática desses atos instrutórios. Contudo, como foi exposto no início deste item, quando se trata de inquérito parlamentar se deve iniciar todo e qualquer raciocínio jurídico, tendo como base a norma-regra do

parágrafo 3° do artigo 58 da Constituição Federal. Nesse sentido, cita-se o Jurista PLÍNIO SALGADO, em sua obra já referida anteriormente, página 140:

"Todavia, a omissão legislativa foi suprida pela Constituição da República de 1988, que, ao outorgar às Comissões Parlamentares de Inquérito os mesmos poderes de investigações das autoridades judiciais (art. 58, § 3°), permitiu a esses organismos requisitar documentos particulares ou privados, que é o ato alcançado pelo abrangente campo investigatório, desde que, é claro, tenham relação de pertinência com os negócios públicos, particularmente investigados. Na hipótese de recusa à exibição dos documentos, as comissões providenciarão sua busca e apreensão, requerendo a competente ordem judicial, quando se tratar de medida a ser efetivada na casa do seu possuidor".

PODERES INVESTIGATÓRIOS DAS CPIS EM ÂMBITO ESTADUAL:

Sendo o Brasil organizado sob a forma de um Estado Federado, as Corporações Legislativas dos entes de Governo em âmbito regional - Estados Federados e o Distrito Federal, e âmbito local - Municípios -, no exercício de sua atividade fiscalizadora, também podem criar comissões parlamentares de inquérito. A norma-regra do artigo 83, § 3° da Constituição Federal alcança todas as entidades federativas.

Para ratificar essa interpretação, cita-se novamente a obra COMISSÕES PARLAMENTARES DE INQUÉRITO - CPI - DOUTRINA, JURISPRUDÊNCIA E LEGISLACÃO do jurista PLÍNIO SALGADO, página 192:

"Destarte, a Carta Política Federal, no dispositivo em tela (art. 58, § 3°), é a matriz da criação das CPIs, em geral, e constitui fundamento de legitimidade das comissões parlamentares de inquérito, nas esferas estadual e municipal, para o exercício próprio das autoridades judiciais, definidos nos códigos processuais e leis especiais pertinentes, cuja competência legislativa para dispor é exclusiva da União, ressalvada a dos Estados para legislar sobre questões específicas, se autorizados por lei complementar (art. 22, I, e seu parágrafo único).

A dúvida existente é se a Lei Federal n.° 1.579, de 18/03/1952 se aplica ou não às CPIs Estaduais. Nesse sentido, para saneá-la, cita-se a mesma obra e autor acima referidos, página 192:

"sobre a Lei Federal n.° 1.579, de 18.03.52, apesar de, na sua literalidade, o texto apenas aludir apenas às comissões da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, seus preceitos, quer substantivos e adjetivos, são extensivos cumpulsoriamente às CPIs estaduais e municipais, porque recepcionado o diploma pela Constituição da República atual, com ressalvas (parágrafo único do art. 3° ) artigo 58, § 3°, correspondendo ao artigo 53 da Lei Fundamental de 1946, a que regulamentou. Trata-se, portanto, de lei de amplitude federativa e não de aplicação somente à União, dispondo em nível regulamentar sobre as comissões parlamentares de inquérito.

Nesse sentido é a lição de Pinto Ferreira, ao assinalar que as disposições da Lei n.° 1.579/52 são de influição evidente às CPIs instituídas em âmbito dos Estados e dos Municípios, porque a finalidade daquele documento legal "foi a de dar cumprimento às normas existentes na Constituição anterior, a CF de 1946 (art. 53), em mandamento concernente às comissões parlamentares."

Como, também, é o ponto de vista de José Alfredo de Oliveira Baracho, reportando-se às considerações de Américo Gonçalves Valério Filho:

"A Lei n.° 1.579/52, cuja finalidade foi dar cumprimento ao mandamento objeto do art. 53 da Constituição de 1946, é uma lei nacional e não uma lei federal. Seu campo de aplicação - apesar de seu defeito de técnica legislativa compreensível à época em que foi elaborada - compreende a União, os Estados-Membros e os Municípios."

A cada qual dessas comissões parlamentares de inquérito cabem as mesmas funções da CPI federal, isto é, na órbita do território do Estado ou do Município, a atividade fiscalizadora de administração, mediante a apuração de atos praticados por autoridades públicas, tidos como irregulares, e, bem assim, a verificação de fatos de relevante interesse público regional ou local, cuja elucidação se impõe visando à adoção de medidas de natureza legislativa ou administrativa compatíveis com a solução reclamada."

DA PUBLICIDADE DAS REUNIÕES DAS CPIs:

Não há uma regra explícita no Regimento da Assembléia Legislativa de que as sessões plenárias e as reuniões das comissões parlamentares sejam públicas. Também não há regras expressas regulando as sessões e reuniões secretas ou reservadas. Há, apenas, regra implícita no artigo 275 do Regimento da Assembléia Legislativa no capítulo IV, que trata a Ordem e do Poder de Polícia da Assembléia do Titulo IX da Administração e da Economia Interna, onde disciplinar o ingresso e permanência do público no edifício principal e seus anexos.

Contudo, não chega a haver controvérsia sobre esse tema, pelo menos no sentido de que os trabalhos nas sessões plenárias e nas comissões são públicos. A tradição e os costumes constitucionais são claros. A Assembléia Legislativa, como órgão superior do Estado, que representa toda a pluralidade política da sociedade civil do Rio Grande do Sul, pela sua essência democrática, deve dar ampla publicidade dos seus trabalhos de legislação, fiscalização e de participação popular, não só franqueando espaços em suas galerias, mas, principalmente, na divulgação dos debates pela Imprensa.

A sociedade civil tem o direito de conhecer o que está sendo debatido e, principalmente, as posições defendidas pelos Parlamentares. Em razão disso, o voto dos parlamentares e os trabalhos nas sessões do Plenário e das reuniões das Comissões devem ser públicas. As exceções são as reuniões secretas e reservadas.

Como o Regimento da Assembléia Legislativa não faz previsão de sessão plenária e reuniões das Comissões Parlamentares secretas e reservadas, significa concluir-se que todas as sessões e reuniões são obrigatoriamente públicas.

Essa conclusão, contudo, comporta uma exceção: CPIs. É comum as investigações terem por objeto matérias que envolvam questões de segurança do Estado ou mesmo direito à privacidade de pessoas, assim como sigilos profissionais, empresariais e fiscais. Nesses casos, é recomendável que as reuniões sejam reservadas. A circunstância de não haver regra regimental explícita autorizando a realização de reunião reservada, não leva, necessariamente, à conclusão simplista e literal de que as CPIs só possam realizar reuniões públicas. A base legal para a realização das reuniões reservadas estão na regra do parágrafo 2° do artigo 87 do Regimento, contida no “caput” do artigo 20 do Código de Processo Penal, que determina: “aplicam-se subsidiariamente às Comissões de Inquérito, no que couber, as normas da legislação federal, especialmente o Código de Processo Penal”. Assim, aplica-se a seguinte regra do CPP, especial a do parágrafo 1º:

“Art. 792. As audiências, sessões e os atos processuais serão, em regra, públicos e se realizaram na sede dos juízos e tribunais, com assistência de escrivães, do secretário, do oficial de justiça que servir de porteiro, em dia e hora certos, ou previamente designados.

§ 1º. Se da publicidade da audiência, da sessão ou do ato processual puder resultar escândalo, inconveniente grave ou perigo de perturbação da ordem, o juiz ou o tribunal, câmara ou turma, poderá, de ofício ou a requerimento da parte ou do Ministério Público, determinar que o ato seja realizado a portas fechada, limitando o número de pessoas que possam estar presentes.

Portanto, a publicidade é a regra, inclusive para as reuniões da CPIs.

DO SIGILO NO TRABALHO INVESTIGATÓRIO DO INQUÉRITO PARLAMENTAR:

Sendo a publicidade a regra nas reuniões das CPIs, o mesmo não ocorre com os trabalhos de investigações, especialmente o acesso aos autos do inquérito parlamentar. É imperioso que a autuação, isto é, a formalização dos atos processuais coletados durante a instrução em autos, seja feita em caráter sigiloso, por conveniência processual. O acesso aos autos de pessoas que estão na mira da investigação ou de simples curiosos, pode prejudicar a investigação, com a revelação de informações. Por esse motivo, há necessidade de sigilo.

A base legal para existência de sigilo nos trabalhos de instrução encontra-se no artigo 20 do CPP, que se aplica, nesse caso, por força da regra do parágrafo 2° do artigo 87 do Regimento:

"Art. 20. A autoridade assegurará no inquérito o sigilo necessário à elucidação do fato ou exigido pelo interesse da sociedade.”

Nesse sentido, para melhor elucidar esse ponto, cita-se a seguinte posição doutrinária de FERNANDO DA COSTA TOURINHO FILHO, em CÓDIGO DE PROCESSO PENAL COMENTADO, página 64, referente ao inquérito policial, cujas conclusões se aplicam também ao inquérito parlamentar:

Sendo o inquérito um conjunto de diligências visando a apurar o fato infringente da norma penal e da respectiva autoria, parece óbvio deva ser cercado do sigilo necessário , sob pena de se tornar uma burla. Não se concebe investigação sem sigilação. Sem o sigilo, muitas e muitas vezes o indiciado procuraria criar obstáculos às investigações, escondendo

produtos ou instrumentos do crime, afugentando testemunhas e, até , fugindo à ação policial. Embora não se trate de regra absoluta, como se 1ntrevê da leitura do art. 20, deve a Autoridade Policial empreender as investigações sem alarde, em absoluto sigilo, para evitar que a divulgação do fato criminoso possa levar desassossego à comunidade. E assim deve proceder para que a investigação não seja prejudicada. Outras vezes o sigilo é mantido visando a amparar e resguardar a sociedade, vale dizer, a paz social.

Não havendo interesse na sigilação , pode a autoridade fazer publicar, no jornal, retrato falado do pretenso autor do fato e até mesmo revelar o fato , indicando algumas provas, procurando , assim, o auxílio dos bons cidadãos da cidade.

Sem embargo disso, o Estatuto da Advocacia ( Lei n. 8.906/94 ) dispõe, no seu art. 7°, serem direitos do advogado : “III – comunicar-se com seus clientes, pessoal e reservadamente, mesmo sem procuração , quando estes se acharem presos , detidos ou recolhidos em estabelecimentos civis ou militares, ainda que considerados incomunicáveis”; “XIV – examinar em qualquer repartição policial, mesmo sem procuração , autos de flagrante e de inquérito, findos ou em andamento, ainda que conclusos à autoridade, podendo copiar peças e tomar apontamentos”.

É verdade que o § 1° do art. 7° faz restrições quando houver segredo de justiça . Estas, porém, não alcançam os incisos III e XIV do mesmo art. 7°. Contudo merece especial atenção o art. 3° da Lei n. 9.034/95 pertinente ao crime organizado.

NATUREZA DA PROVA PRODUZIDA NO INQUÉRITO PARLAMENTAR :

O inquérito parlamentar segue a lógica jurídica do axioma PRO SOCIETATE. Contudo, para poder indiciar algum infrator validamente, sob pena de abuso de direito, tem de atender aos fatos e circunstâncias constantes nos autos. Deve indicar no seu Relatório Final os motivos que formaram o convencimento do Relator. Significa que o indiciamento tem de estar alicerçado em prova existente nos autos e obtida por meios lícitos (art. 5°, LVI, da CF/88).

Pela lógica dessa argumentação, reforça-se a convicção dominante entre os processualistas de que a prova é o elemento central no processo. Daí a necessidade de sua compreensão, mesmo em se tratando de um procedimento inquisitório, já que se aplica aos mesmos as regras de direito do Processo Penal. Nesse sentido, para melhor entendimento dessa matéria, o vocábulo prova teve origem no latim PROBATIO e pode ser traduzido como experimentação, verificação, exame, confirmação, reconhecimento e confronto, dando origem ao verbo PROBARE (probo, as, are). Como significado jurídico, representa os atos e os meios usados pelas partes e reconhecidos pela autoridade competente como sendo a verdade dos fatos alegados ou investigados.

O Processo Penal Pátrio segue a classificação da prova apresentada pelo festejado Malatesta e se divide em três critérios: (1) quanto ao objeto, em direta e indireta; (2) quanto ao sujeito, em pessoal ou real; (3) quanto à forma, testemunhal, documental e material. O objeto da prova é o fato cuja existência se deseja ver reconhecida. É considerada direta quando se referir diretamente ao fato probando, cuja prova é desejada. Considera-se prova indireta, caso afirme outro fato do qual, por via de raciocínio, com formulação de hipóteses, exclusões e aceitações, chega-se ao que se deseja provar, para uma conclusão final, como as presunções e indícios. Quanto ao sujeito da prova, esse é pessoa ou coisa de quem ou onde emana a prova. Por último, quanto à forma, as provas podem ser testemunhal, documental e material, onde se inclui a pericial e as inspeções.

A prova produzida no inquérito parlamentar não é de natureza definitiva. Por não ser colhida sob o crivo do contraditório e da ampla defesa, deve ser renovada no decorrer da instrução do processo administrativo ou judicial. Algumas provas, dada a sua natureza, tornam-se definitivas. É o caso da prova pericial, da busca e apreensão e o reconhecimento de pessoa. Mas, no que diz respeito ao valor probante, as provas colhidas no decorrer do inquérito parlamentar, se exclusivas, não autorizam a emissão de decreto condenatório, isto é, se não apoiadas em elementos contidos no decorrer da instrução do devido processo legal administrativo ou judicial.

Há necessidade de que a prova em qualquer procedimento investigatório seja coletada em conformidade com as normas processuais, ou em conformidade com uma norma material que tutela Direitos Fundamentais da Pessoa Humana, mesmo tendo de ser renovada no processo judicial ou administrativo. Somente nessas circunstâncias será prova lícita. Caso contrário, será ilícita e, conseqüentemente, o indiciamento que nela se louvar, será nulo e não haverá início de prova válida para a admissibilidade de um processo administrativo ou judicial.

INDICIAMENTO NO INQUÉRITO PARLAMENTAR E O AXIOMA PRO SOCIETATE:

Nas nações democráticas as relações entre o Estado e as pessoas se dão por um critério de boa-fé. Há uma presunção de que todas as pessoas são honestas, até que se prove em contrário. Em suma, a inocência é presumida e a culpa deve ser provada, o que está positivado no texto constitucional como PRINCÍPIO DA INOCÊNCIA PRESUMIDA (art. 5°, LVII, da CF/88). Outro princípio de suma importância para a democracia substancial, que também teve origem no Direito Anglo-saxão, é a CLÁUSULA DO DEVIDO PROCESSO LEGAL, conhecido como DUE PROCESS OF LAW e incorporada à nova Constituição Federal no inciso LIV do artigo 5.°

A Cláusula do Devido Processo Legal tem duas dimensões: Uma formal, outra substancial. A que interessa a este Inquérito Parlamentar é o seu aspecto formal, que consiste na sujeição de qualquer questão que fira a liberdade ou os bens de um ser humano ao crivo do Poder Judiciário, por meio do juiz natural, num processo contraditório, e que se assegure ao acusado ampla defesa. O Constitucionalista PINTO FERREIRA, em sua obra “COMENTÁRIOS À CONSTITUIÇÃO BRASILEIRA”, 1° volume, pg. n° 175, explica melhor o sentido e o alcance dessa Liberdade Pública:

“O devido processo legal significa o direito a regular curso de administração da justiça pelos juizes e tribunais. Cláusula constitucional do devido processo legal abrange de forma compreensiva: a) o direito à citação, pois ninguém pode ser acusado sem ter reconhecimento da acusação; b) o direito de arrolamento de testemunhas, que deverão ser intimadas para comparecer perante a justiça; c) direito ao procedimento contraditório; d) o direito de ser processado por leis ex post facto; e) o direito de igualdade com acusação; f) o direito de ser julgado mediante provas e evidências legais e legitimamente obtidas; g) o direito ao juiz natural; h) o privilégio contra a auto-incriminação; i) a indeclinabilidade da prestação jurisdicional quando solicitada; j) o direito ao recurso; l) o direito à decisão com coisa julgada.

Embora a Constituição Federal tenha reconhecido o Direito à Plena Defesa aos acusados em geral, em qualquer Processo (art. 5°, LV, da CF/88), de forma expressa e em norma-princípio constitucional específica, essa liberdade pública é um desdobramento da cláusula do devido Processo Legal em sua dimensão processual. Exige que a instrução de processo administrativo e judicial, que enseja aplicação de uma sanção, deve ser contraditória, tenha a participação do acusado como parte do processo e sujeito de direitos.

É importante frisar que a cláusula do devido Processo Legal, em sua dimensão processual, não se aplica somente ao Direito Penal, mas toda as regras de Direito que restringem direitos da pessoa humana. São as normas penais em sentido amplo. Nesse sentido, o Jurista Carlos Maximiliano, para quem a expressão leis penais deve ser compreendida:

“395 - A rubrica - Leis Penais, aposta a este capítulo, compreende toda as normas que impõem penalidades, e não somente as que alvejam os delinqüentes e se enquadram em Códigos Criminais. Assim é que se aplicam as mesmas regras de exegese para os regulamentos policiais, as posturas municipais e leis de finanças, quando às disposições cominadoras de multas e outras medidas repressivas de descuidos culposos, imprudência ou abusos, bem como em relação às castigadoras dos retardatários no cumprimento de prescrições legais. Os preceitos mencionados regem, também, disposições de Direito Privado, de caráter punitivo: as relativas à indignidade do sucessor, por exemplo, e diversas concernentes a falência. Toda a norma imperativa ou proibitiva e de ordem pública admite só a interpretação estrita.” obra Hermenêutica e Aplicação do Direito, pg. n ° 327.

Uma possível condenação baseada somente em elementos de prova colhidos no decorrer do inquérito parlamentar violaria mortalmente a Liberdade Pública do Direito à Plena Defesa aos Acusados em Qualquer Processo (Art. 5°, LV, da CF/88). Essa prova é incompatível com a exigibilidade de certeza de uma decisão condenatória que aplica uma sanção. Essa prova não fornece uma certeza plena - não serve ela exclusivamente como alicerce de uma decisão condenatória.

Contudo, a prova coletada pelo inquérito parlamentar não necessita de uma certeza plena. Recapitulando, conforme já exposto anteriormente, quando se abordou brevemente sobre a natureza jurídica do inquérito parlamentar, concluiu-se que o mesmo é um procedimento administrativo investigatório. Nesse, o acusado torna-se apenas um objeto da investigação, sem acompanhar as provas e sem nada poder requerer em seu benefício, pois o seu fim não é a aplicação de uma sanção, mas a investigação de um fato ilícito em sua materialidade e na sua autoria, mediante rito inquisitório, escrito e reservado, visando a fornecer elementos para que a autoridade competente promova o devido processo legal administrativo ou judicial.

Em se tratando de um procedimento investigatório inquisitorial, é juridicamente suficiente uma certeza relativa para a prova coletada, para que haja o indiciamento. A validade desse requer apenas a existência de uma justa causa,

que ocorre quando há certeza da materialidade do fato ilícito e indício da sua autoria.

Na verdade, para haver indiciamento válido, não é necessário prova direta - é suficiente a existência de prova de natureza indiciária quanto à autoria, como sinal demonstrativo do ilícito: SIGNUM DEMONSTRATIVUM DELICTI. Etimologicamente, a palavra indício tem sua origem no termo latino INDICIUM, que significa o que é apontado e indicado, isto é, aquele que, pelos elementos colhidos, pelas circunstâncias fáticas assinaladas, é provável autor do fato.

Em todo procedimento administrativo investigativo, face a sua natureza inquisitória, a sua lógica jurídica segue o axioma PRO SOCIETATE: em caso de dúvida quanto à inocência do investigado, indicia-se o mesmo. O inverso ocorre no processo com natureza punitiva, regrado pelo contraditório: em caso de dúvida, funciona IN DUBIO PRO REO, isto é, havendo incerteza quanto à culpa do acusado, absolve-se. A condenação exige certeza da culpa, enquanto o indiciamento exige dúvida quanto a inocência do investigado.

NATUREZA JURÍDICA DA DECISÃO FINAL DAS CPIs:

As CPIs concluem seus trabalhos através deste relatório circunstanciado que será apresentado ao Presidente da Assembléia Legislativa do Estado do Rio Grande do Sul (art. 88, “caput” do Regimento). A decisão final nos inquéritos parlamentares é o relatório. Em que pese ser um ato do Poder Legislativo, evidente é que não se trata de um ato legislativo, pois não emana da função legiferante do Estado.

A decisão final do inquérito parlamentar poderia ser classificada como um ato jurisdicional, decorrente da função jurisdicional do Estado, na medida em que as CPIs possuem os mesmos poderes instrutórios das autoridades judiciárias? A resposta nos parece ser negativa. O Poder Judiciário não possui o monopólio da função jurisdicional do Estado. As Assembléias Legislativas exercem também a função jurisdicional do Estado quando processam e julgam o Governador e o Vice-Governador do Estado nos crimes de responsabilidade, e os Secretários de Estado nos crimes da mesma natureza conexos com aqueles (art. 53, VII da CERS). Contudo, as CPIs não exercem a função jurisdicional do Estado. A circunstância de serem dotadas as CPIs dos mesmos poderes instrutórios das autoridades judiciárias é só para efeitos de instrução e não de julgamento. Sua decisão não possui eficácia de coisa julgada material.

Se não é um ato legislativo ou jurisdicional, qual então seria a natureza jurídica do Relatório Final da CPI?

A esse respeito cita-se, novamente, FRANCISCO CAVALCANTI PONTES DE MIRANDA, na sua obra “COMENTÁRIOS À CONSTITUIÇÃO DE 1967 COM A EMENDA N° 1 DE 1969, Tomo III, pg. 65:

“5) DECISÃO NOS INQUÉRITOS – A decisão no inquérito não é despacho ou sentença, no sentido do direito processual penal, nem tampouco deliberação, no sentido do direito administrativo (Gerhard Anschütz, Die Verfassung des Deutschen Reichs, 13ª ed., 200). O seu caráter é específico. Não lhe pode opor nulidade, anulação ou falta de defesa suficiente. As regras jurídicas processuais não são de invocar-se, salvo se as acolheu o Regimento.”

A decisão final do inquérito parlamentar emana da função fiscalizadora das Corporações Parlamentares. É, portanto, um ato administrativo emanado da função administrativa do Estado. Por mais qualificada que seja a função fiscalizadora é a mesma espécie da função administrativa, pois trata de um ato concreto e específico.

NATUREZA TERMINATIVA DAS DECISÕES DAS CPIs E O ENCAMINHAMENTO DAS CONCLUSÕES DO INQUÉRITO PARLAMENTAR:

O tema que tem gerado controvérsia neste Parlamento é se as conclusões das CPIs têm ou não caráter terminativo, isto é, se basta a aprovação pelo colegiado da Comissão para este ter executoriedade ou se devem ou não ser submetidas à deliberação do Plenário do Parlamento para terem eficácia plena.

A controvérsia surge diante da interpretação literal dada à regra do "caput" do artigo 88 do Regimento deste Egrégio Parlamento:

"Art. 88. Ao termo dos trabalhos, a Comissão apresentará, ao Presidente da Assembléia, relatório circunstanciado com suas conclusões, por meio de projeto de resolução, que será publicado no Diário da Assembléia e encaminhado:"

O problema encontra-se no expressão "por meio de projeto de resolução", o que significa que o relatório final deve ser submetido ao crivo do Plenário, que objetivamente significa não ter caráter terminativo e carecem de executoriedade.

O atual Regimento da Assembléia Legislativa, segue a tradição do Direito Constitucional pré-1988. Teima o Parlamento Gaúcho em continuar a não seguir a tradição juspolítica das Nações Democráticas de serem as CPIs um instituto da minoria parlamentar para investigar o Governo.

Caso se entenda a ordem jurídica pátria como uma sistema normativo harmônico, organizado com base num modelo constitucional escrito-rígido, cuja Constituição Federal é a norma fundamental, há necessidade de se confrontar a redação entre as normas constitucionais e as normas regimentais, aquelas hierarquicamente superiores a essas. A Constituição de 1988 é clara em conferir natureza terminativa às conclusões finais da CPI, ao estabelecer a seguinte norma-regra constitucional:

"Art. 58. § 3°. As comissões parlamentares de inquérito, que terão poderes de investigação próprio das autoridades judiciais, além de outros previstos nos regimentos das respectivas casas, serão criadas pela Câmara dos Deputados e pelo Senado Federal, em conjunto ou separadamente, para a apuração de fato determinado e por prazo certo, sendo suas conclusões, se for o caso, encaminhadas ao Ministério Público, para que promova a responsabilidade civil ou criminal dos infratores."

A Constituição do Estado do Rio Grande do Sul reproduz a mesma norma-regra constitucional:

“Artigo 56. § 5°. As conclusões das comissões parlamentares de inquérito serão encaminhadas, se for o caso, no prazo de trinta dias, ao Ministério Público, para que promova a responsabilidade civil e criminal dos infratores.”

O dispositivo regimental em questão é flagrantemente inconstitucional. Adota a Assembléia Legislativa uma regra regimental que tem uma péssima redação legislativa, que afronta a norma-regra constitucional do parágrafo 3° do artigo 58 da Constituição Federal. É, portanto, manifestamente inconstitucional o artigo 88 do Regimento Interno ao determinar que o relatório final tem de ser submetido ao Plenário desta Assembléia Legislativa, isto é, sob o crivo da maioria parlamentar, quando a Constituição é clara e objetiva em dizer que as conclusões finais são decisões definitivas, cuja executoriedade é de eficácia plena.

A doutrina constitucionalista de JOSÉ AFONSO DA SILVA, na sua obra CURSO DE DIREITO CONSTITUCIONAL POSITIVO, página 451, sobre a obra e a página) ratifica a presente interpretação de que as conclusões das CPIs possuem natureza terminativa:

"Um dos problemas mais sérios das comissões parlamentares de inquérito consistiu sempre na ineficácia jurídica de suas conclusões, normalmente dependente de apreciação do Plenário da respectiva Casa ou do Congresso Nacional, que, não raro, as enterras nos caminhos das injunções políticas. A Constituição traz o remédio para esse mal, ao dizer: sendo suas conclusões, se for o caso, encaminhadas ao Ministério Público, para que promova a responsabilidade civil e penal dos infratores, significando que as conclusões das comissões parlamentares de inquérito são decisões definitivas, cuja executoriedade independe de apreciação ou aprovação de outro órgão. Nada impede que a comissão, por si, submeta suas conclusões ao Plenário, solicitando-lhe aprovação e providências de sua alçada".

O Congresso Nacional é a corporação legislativa com maior tradição em inquéritos parlamentares. Seu corpo político e técnico possui larga experiência e produzem farta produção literária em CPIs. Assim, louva-se esta CPI na experiência do Parlamento Nacional e se transcreve as lições doutrinárias do eminente homem público, político reconhecido nacionalmente pelos relevantes serviços prestados à Pátria e a este Estado e advogado de notável saber jurídico, ODACIR KLEIN, em sua obra COMISSÕES PARLAMENTARES DE INQUÉRITO – A SOCIEDADE E O CIDADÃO, página 71 e seguintes:

ENCAMINHAMENTO DAS CONCLUSÕES DAS CPIs:

A Constituição Federal, no art.58, § 3º estabelece que as conclusões das CPIs poderão, se for o caso, ser encaminhadas ao Ministério Público, para que promova a responsabilidade civil ou criminal dos infratores.

Prevê, assim o desdobramento apenas para o caso de, ao final da investigação, ser verificada a existência de delito ou de atos que possam resultar em responsabilidade civil para quem os pratica.

Não estabelece a obrigatoriedade do encaminhamento das conclusões ao Ministério Público, mas, apenas, que se for o caso isto ocorra.

Desta forma, pelo texto constitucional, somente será acionado o órgão que examinará a conveniência da

apresentação de denúncias para a abertura de processos criminais ou de proposição de ações cíveis se houver aflorado, da investigação, a prática de atos que possam ensejar tais procedimentos.

No entanto, a Constituição Federal não proíbe que as conclusões tenham outros encaminhamentos que não ao Ministério Público.

A Lei 1.579/52, sobre o assunto, assim dispõe:

“Art. 5º - A Comissões Parlamentares de Inquérito apresentarão relatório de seus trabalhos à respectiva Câmara, concluindo por projeto de resolução”.“§ 1º - Se forem diversos os fatos objeto de inquérito, a comissão dirá, em separado, sobre cada um, podendo fazê-lo antes mesmo de finda a investigação dos demais”.

Não fixa os desdobramentos.

O Regimento Interno do Senado Federal, no art. 150 e no art. 151 e seus parágrafos, contém o seguinte:

“Art. 150 – Ao término de seus trabalhos, a comissão parlamentar de inquérito enviará à Mesa, para conhecimento do Plenário, seu relatório e conclusões”.“§ 1º - A comissão poderá concluir seu relatório por projeto de resolução se o Senado for competente para deliberar a respeito”.“§ 2º - Sendo diversos os fatos objeto de inquérito, a comissão dirá, em separado, sobre cada um, podendo fazê-lo antes mesmo de finda a investigação dos demais”.“Art. 151 – A comissão parlamentar de inquérito encaminhará suas conclusões, se for o caso, ao Ministério Público, para que promova a responsabilidade civil ou criminal dos infratores”.

Acrescenta, assim, à Constituição Federal, a possibilidade da CPI concluir por projeto de resolução se o Senado Federal for competente para deliberar sobre a matéria.

O Regimento Comum – do Congresso Nacional – não contém disposições relativas ao encaminhamento das

conclusões do processo investigatório, pelo que, por força do contido em seu art. 151, aplicam-se às CPIs Mistas, supletivamente, os regimentos internos das duas Casas.

O da Câmara dos Deputados é que trata da matéria de forma mais completa, em seu art. 37.

“Art. 37 – Ao termo dos trabalhos a Comissão apresentará relatório circunstanciado, com suas conclusões, que será publicado no Diário do Congresso Nacional e encaminhado:“I – à Mesa, para as providências de alçada desta ou do Plenário, oferecendo, conforme o caso, projeto de lei, de decreto legislativo ou de resolução, ou indicação, que será incluída em Ordem do Dia dentro de cinco sessões”;“II – ao Ministério Público ou à Advocacia-Geral da União, com a cópia da documentação, para que promovam responsabilidade civil ou criminal por infrações apuradas e adotem outras medidas decorrentes de suas funções institucionais”;“III – Ao Poder Executivo, para adotar as providências saneadoras de caráter disciplinar e administrativo decorrentes do art. 37, §§ 2º a 6º, da Constituição, e demais dispositivos constitucionais e legais aplicáveis, assinalando prazo hábil para seu cumprimento”;“IV – à Comissão Permanente que tenha maior pertinência com a matéria, à qual incumbirá fiscalizar o atendimento do prescrito no inciso anterior”;“V – à Comissão Mista Permanente de que trata o art. 166, § 1º, da Constituição, e ao Tribunal de Contas da União, para as providências previstas no art. 71 da mesma Carta”.“Parágrafo único. Nos casos dos incisos II, III, V, a remessa será feita pelo Presidente da Câmara, no prazo de cinco sessões”.

É necessário que se examine cada um dos incisos mencionados, para demonstrar qual o papel da investigação parlamentar, que difere de um inquérito policial; de uma produção antecipada de provas numa ação cível ou de um processo administrativo.

Pode ter os resultados de cada um deles, mas também pode ensejar a propositura de recomendações, projetos de lei, informações à Comissão Mista de Orçamento ou ao Tribunal de Contas da União, bem como resultar no exame de outras proposituras de caráter legislativo.

O inciso I prevê que a CPI encaminha as conclusões À Mesa, para providências cabíveis, oferecendo à mesma, para a devida tramitação:

- projeto de lei ordinária ou complementar, destinado a regular as matérias de competência do Poder Legislativo, com a sanção do Presidente da República (art. 109, I do RICD);- projeto de decreto legislativo, destinado a regular as matérias de exclusiva competência do Poder Legislativo, sem a sanção do Presidente da República (art. 109, II, do RICD); - projeto de resolução, destinado a regular, com eficácia de lei ordinária, matérias de competência privada da Câmara dos Deputados, de caráter político, processual, legislativo ou administrativo, ou quando deva a Câmara pronunciar-se em casos concretos especificados no art. 108, III, de seu Regimento Interno.- Indicação, que é a proposição através da qual o deputado:“I – sugere a outro Poder a adoção de providência, a realização de ato administrativo ou de gestão, ou o envio de projeto sobre a matéria de sua iniciativa exclusiva”;“II – sugere a manifestação de uma ou mais Comissões acerca de determinado assunto, visando a elaboração de projeto sobre matéria de sua iniciativa da Câmara” (Art. 113, I e II do RICD).

Constata-se, assim, que pelo mencionado dispositivo regimental, as conclusões de uma CPI da Câmara dos Deputados podem subsidiar suas atribuições legislativas, as exclusivas propriamente ditas e até a instrumentalizar parcela da exclusivas jurisdicionais e da fiscalizatórias.

O inciso II amplia o que prevê a Constituição Federal ensejando o encaminhamento das conclusões à Advocacia-

Geral da União e não somente ao Ministério Público, para a promoção de responsabilidade civil ou criminal, com o que completa a função investigatória do Legislativo.

O inciso III estabelece que as conclusões podem ser encaminhadas ao Poder Executivo, para os fins previstos no art. 37, §§ 2º a 6º da Constituição Federal, que são os seguintes:

“Art. 37 – A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte:“§ 2º - A não-observânbcia do disposto nos incisos II e III implicará a nulidade do ato e a punição da autoridade responsável, nos termos da lei”.“§ 3º - A lei disciplinará as formas de participação do usuário na administração pública direta e indireta, regulando especialmente:I – as reclamações relativas à prestação de serviços públicos em geral, asseguradas a manutenção de serviços de atendimento ao usuário e a avaliação periódica, externa e interna, da qualidade dos serviços;II – o acesso dos usuários a registros administrativos e a informações sobre atos de governo, observando o disposto no art. 5º, X e XXXIII;III – a disciplina da representação contra o exercício negligente ou abusivo de cargo, emprego ou função na administração pública”.“§ 4º - Os atos de improbidade administrativa importarão a suspensão dos direitos políticos, a perda da função pública, a indisponibilidade dos bens e o ressarcimento ao erário, na forma e gradação previstas em lei, sem prejuízo da ação penal cabível”.“§ 5º - A lei estabelecerá os prazos de prescrição para ilícitos praticados por qualquer agente, servidor ou não, que causem prejuízos ao erário, ressalvadas as respectivas ações de ressarcimento”.“§ 6º - As pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado prestadoras de serviços públicos responderão pelos danos que seus agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros, assegurado o direito de

regresso contra o responsável nos casos de dolo ou culpa”.Os incisos I e II mencionados no § 2º, tem a seguinte redação:“I – os cargos, empregos e funções públicas são acessíveis aos brasileiros que preencham os requisitos estabelecidos em lei, assim como aos estrangeiros, na forma da lei”;“II – a investidura em cargo ou emprego público depende de aprovação prévia em concurso público de provas ou de provas e títulos, de acordo com natureza e a complexidade do cargo ou emprego, na forma prevista em lei, ressalvadas ao nomeações e exonerações”.

O conjunto destes dispositivos demonstra que as CPIs podem se constituir em acionadoras do Poder Executivo no que diz respeito à tomada de providências saneadoras de caráter disciplinar ou administrativo.

O inciso IV prevê o encaminhamento das conclusões à Comissão Permanente que tenha maior pertinência com a matéria, a qual incumbirá fiscalizar a adoção, pelo Executivo, das providências mencionadas no tópico anterior.

Com isto, a CPI cumpre sua função investigatória, encerra seus trabalhos, mas fornece informações para que, outras comissões não temporárias, mas sim permanentes, possam continuar acompanhando as providências saneadoras que incumbe ao Executivo adotar.

O inciso V prevê que as conclusões da CPI podem ser encaminhadas à Comissão Mista de Orçamento e ao Tribunal de Contas da União.

A Comissão Mista prevista no art. 166, § 1º da Constituição Federal, incumbe não apenas aprovar as diretrizes orçamentárias, o Orçamento Geral da União e o plano plurianual de investimentos, mas também acompanhar a execução orçamentária e dar parecer sobre as contas do Presidente da República.

Atua, desta forma, tanto nas atribuições legislativas do Congresso Nacional como também nas fiscalizatórias.

No entanto apesar da importância das matérias a serem objeto de fiscalização, a Comissão Mista de Orçamento não possui os poderes de investigação atribuídos às CPIs pelo que estas podem levantar informações preciosas para que aquela tenha condições de atuar com suficiência.

A previsão de encaminhamento das conclusões ao Tribunal de Contas da União decorre do fato de ser o mesmo órgão que auxilia o Congresso Nacional no controle externo das contas públicas e as informações colhidas durante a investigação parlamentar podem ser de importância para que tenha condições de desempenhar as funções que lhe são atribuídas através do art. 71 da Constituição Federal.

Com essas citações doutrinárias, chega-se à conclusão de que a regra do “caput” do artigo 88 do Regimento da Assembléia Legislativa é manifestamente inconstitucional. Ninguém é obrigado e nem pode ser penalizado por deixar de cumprir regra manifestamente inconstitucional. Essa desobrigação é maior quando se trata de Deputado Estadual, que prestaram compromisso de cumprir e fazer cumprir a Constituição do Estado. Assim, não estão os mesmos obrigados a cumprirem regra hierarquicamente inferior à Constituição do Estado, que é manifestamente inconstitucional. Num sistema jurídico organizado através de normas hierarquizadas, havendo conflito normativo, cumpre-se norma superior e se exclui a inferior.

Em termos mais imediatos, há necessidade de se compatibilizar a regra do “caput” do artigo 88 do Regimento com a regra constitucional. Com esse objetivo, basta harmonizar a sua inteligência com a norma-regra constitucional e compará-la com a redação dada pelo Regimento da Câmara dos Deputados a dispositivo similar:

"Art. 37. Ao termo dos trabalhos a Comissão apresentará relatório circunstanciado, com suas conclusões, que será publicado no Diário do Congresso Nacional e encaminhado:"

Assim, é razoável dar-se a seguinte interpretação ao artigo 88 do Regimento da Assembléia Legislativa. (1) Quando houver indiciamento responsabilizando cível e penalmente o infrator, determinando a remessa do relatório final e das provas ao Ministério Público, essa decisão da CPI não pode ser submetida ao crivo da maioria parlamentar, isto é, ao Plenário, mediante projeto de resolução. (2) Por interpretação com efeitos extensivos, no que diz

respeito ao envio do relatório final, interpreta como equivalente ao Ministério Público todas as autoridades competentes, como o Tribunal de Contas, órgãos correicionais, para apurar responsabilidade disciplinar e outros órgãos e entidades administrativos que aplicam sanções em decorrência do exercício do poder de polícia administrativa, em processo administrativo quase-judicial, como são os casos do Banco do Brasil, SUSEPE, agências reguladoras, procons e, no caso, do presente Inquérito Parlamentar, à Secretária de Direito Econômico, do Ministério Público. (3) As demais conclusões, que não envolvem indiciamento para apuração de responsabilidade jurídica de infratores, como recomendações de políticas públicas - essas sim podem ser submetidas ao crivo do Plenário, se assim concluir e decidir o colegiado da CPI.

EXTENSÃO DOS PODERES INVESTIGATÓRIOS DAS CPIs E OS LIMITES DO SEU EXERCÍCIO COM O RESPEITO AOS DIREITOS FUNDAMENTAIS DA PESSOA HUMANA:

Um ponto importante que não poderia deixar de ser tratado é justamente a compatibilidade entre os exercícios dos poderes de investigação das CPIs com respeito aos Direitos Fundamentais da Pessoa Humana.

Nestes tempos em que impera a sensação de impunidade generalizada, as CPIs têm ganho notoriedade na história recente do Brasil pela forte repercussão que seus atos investigatórios têm causado perante a opinião pública. A sensação é a de que as CPIs são mais eficientes como instrumentos investigatórios do que aqueles promovidos pelas instituições tradicionais, como a polícia judiciária, polícias administrativas e até mesmo o Ministério Público. Esses, por serem obrigados a observar as garantias da CLÁUSULA DO DEVIDO PROCESSO LEGAL EM SUA DIMENSÃO PROCESSUAL e terem seus trabalhos contraditados e fiscalizados pelos advogados dos suspeitos acabam, na prática, não tendo a mesma agilidade do que as CPIs para perseguirem os suspeitos de infratores da lei. A imagem é a de que as CPIs possuem poderes investigatórios ilimitados - e daí resulta a sua eficiência.

Em muitas CPIs, especialmente as que geram atenção da Mídia, é comum que alguns de seus membros pratiquem atos que violam as liberdades públicas dos investigados e restrinjam a atuação dos advogados, o que, num inquérito policial, ou mesmo num processo judicial, resultaria na nulidade dos atos e na punição da respectiva autoridade policial ou judicial. Isso não significa que as CPIs possuem poderes ilimitados e que seus membros não possam ser responsabilizados juridicamente por eventuais abusos.

Os membros das CPIs não estão autorizados a realizar atos em violação aos Direitos Fundamentais da Pessoa Humana. Nenhum Diploma Constitucional de nenhuma Nação Democrática deu ao seu Parlamento uma carta em branco para legitimar qualquer espécie de abuso. Se no Brasil havia esse tipo de abuso é porque a imunidade parlamentar formal permitia agirem dessa forma. Atualmente, pelas novas regras da imunidade parlamentar, os Parlamentares podem ser processados, inclusive por abuso de autoridade. É o que estabelece o seguinte

dispositivo introduzido no texto constitucional pela EMENDA CONSTITUCIONAL Nº 35, DE 2001, publicada no Diário Oficial da União, de 21 de dezembro de 2001:

“Art. 53. § 3º. Recebida a denúncia contra Senador ou Deputado, por crime ocorrido após a diplomação, o Supremo Tribunal Federal dará ciência à Casa respectiva, que, por maioria de seus membros, poderá, até a decisão final, sustar o andamento da ação.”

O que alguns entendem como fator de eficiência das CPIs, em especial por não observarem as liberdades públicas da Pessoa Humana, é, na verdade, a mesma causa da ineficiência das instituições tradicionais de investigações: crise de legitimidade do Estado. As CPIs não são instrumentos hábeis para substituir o papel das instituições tradicionais. Se essas têm-se mostrado ineficientes é por que o Estado, como um todo, é ineficiente. E, atropelar os Direitos Fundamentais da Pessoa Humana para agilizar a punição de infratores, é um atestado da barbárie e não de civilização.

Portanto, os alegados superpoderes investigatórios ou poderes ilimitados das CPIs são, na verdade, abuso ou excesso de poder. É mais um mito gerado pela pirotecnia de parlamentares ansiosos em criar factóides para terem espaço garantido na Mídia, do que fruto das regras e da tradição juspolítica.

As CPIs, no Brasil e em todas as Nações Democráticas, não são e nunca foram dotadas de poderes ilimitados. Num Estado de Direito, nenhum órgão ou pessoa exerce poderes ilimitados. A lei é o limite para todos. A circunstância do inquérito parlamentar ser um instituto investigatório do Poder Legislativo não o descaracteriza como um procedimento administrativo do Estado. O Parlamento é um órgão superior do Estado e seus atos são atos de Estado.

Em que pesem os abusos e excessos praticados em algumas CPIs, notoriamente as das Casas do Congresso Nacional, onde as pessoas investigadas são expostas ao escárnio da opinião pública, a ordem constitucional vigente e mesmo as anteriores, a tradição e os costumes democráticos nunca autorizaram, de forma alguma, qualquer tipo de abuso violando os direitos e garantias individuais da Pessoa Humana. E, para pôr limites ao arbítrio e à prepotência, a Lei Fundamental da Ordem Jurídica - Constituição Federal - estabelece limites explícitos e implícitos.

Entre os LIMITES EXPLÍCITOS para as CPIs, destaca-se como principal, o próprio dispositivo constitucional que dá base jurídica para a sua instituição:

"Art. 58. § 3°. As comissões parlamentares de inquéritos, que terão poderes de investigação próprio das autoridades judiciais, além de outros previstos nos regimentos das

respectivas casas, serão criadas pela Câmara dos Deputados e pelo Senado Federal, em conjunto ou separadamente, para a apuração de fato determinado e por prazo certo, sendo suas conclusões, se for o caso, encaminhadas ao Ministério Público, para que promova a responsabilidade civil ou criminal dos infratores."

A ordem constitucional, ao conferir às CPIs os poderes de investigação próprios das autoridades judiciárias e outros previstos no regimento da Corporação Legislativa, buscou apenas como finalidade dotá-la de poderes instrutórios mais eficientes do que aqueles existentes e exercidos pelas demais Comissões Parlamentares na função de fiscalização do Poder Legislativo. Sob nenhum ângulo podem ser interpretados como poderes ilimitados ou superpoderes. As regras instrutórias, especialmente as processuais penais, são limites ao investigador e garantias ao investigado.

O inquérito parlamentar, pela sua natureza de procedimento investigatório inquisitorial, não possui todos os poderes instrutórios das autoridades judiciais. Há poderes de instrução que a Constituição outorga exclusivamente ao Poder Judiciário e que as CPIs não podem exercê-los. São os LIMITES IMPLÍCITOS ÀS CPIs. A esse respeito, cita-se, novamente, um trecho da obra do político e advogado emérito já referido ODACIR KLEIN (folha 39):

"Mesmo na instrução existe a chamada "reserva jurisdicional constitucional", prevendo que determinados atos somente podem ser praticados por decisão judicial, dentre eles: a quebra da inviolabilidade da escuta telefônica (art. 5°, XI); a quebra da inviolabilidade da escuta telefônica (art. 5°, XII); e a prisão, ressalvado o caso de flagrante delito (art. 5°, LXI).

No entanto, existem outros atos que podem ser praticados antes do julgamento definitivo, mas que não caracterizam mera instrução. São atos jurisdicionais, pois não visam somente a ensejar o conhecimento para efeitos probatórios, mas representam uma restrição à liberdade ou outros direitos dos cidadãos. Incluem-se entre eles as medidas acautelatórias, como a declaração de indisponibilidade de bens e a proibição de ausentar-se do País.

A CPI, se entender oportuna tais providências, pode requerê-las ao Judiciário."

O Legislativo somente poderá decidir sobre restrições a liberdade ou direitos nos casos em que a Constituição Federal

lhe transfere competência privativa para processar e julgar determinadas pessoas em certas circunstâncias. Será o caso do exercício de suas atribuições exclusivas jurisdicionais, que examinamos anteriormente."

Quanto ao sigilo fiscal e bancário, em que pese a Constituição Federal não ser explícita em reconhecê-los, ambos são espécies que integram o DIREITO À PRIVACIDADE (artigo 5°, X, da CF/88). A obtenção dessas informações por uma CPI estadual só é possível através de ordem judicial, demonstrando haver justa causa. Aliás, qualquer medida investigatória que viole o DIREITO À PRIVACIDADE de particulares, assim como SEGREDO e SIGILO PROFISSIONAL e EMPRESARIAL só poder ser obtido contra a vontade da parte interessada, mediante ordem judicial. E, caso obtido contra ou com consentimento da parte interessada, há o dever de ser guardado o sigilo dessas informações e documentos, em autos sem acesso ao público, sem que seja dada publicidade a essas informações.

Enfim, a Constituição atribui aos inquéritos parlamentares poderes de investigação próprios das autoridades judiciais, o que não significa que sejam dotados de poder de jurisdição. Esse visa ao julgamento, isto é, à emissão de um decreto condenatório, o que não coaduna com as CPIs. E, os poderes a essas conferidos, são só os de investigações necessários a instruir um futuro processo judicial ou administrativo, coletando provas com base na verdade material, sob o crivo da CLÁUSULA DO DEVIDO PROCESSO LEGAL EM SUA DIMENSÃO PROCESSUAL.

PROVA COLETADA PELO INQUÉRITO PARLAMENTAR:

PROVA TESTEMUNHAL:

A prova testemunhal no inquérito parlamentar consiste em tomada de depoimento, mediante inquirição de testemunhas, convocação de Deputados e Secretários de Estado, tomada de depoimento de autoridades e ouvir indiciados.

O Inquérito Parlamentar das Carnes coletou farta e robusta prova testemunhal, mediante a tomada de depoimentos de testemunhas, sob compromisso, e autoridades públicas relacionadas à cadeia produtiva das carnes bovina e suína. Não houve indiciamento prévio de nenhuma pessoa, nem convocação específica de Deputado, Secretário de Estado e autoridade pública. As pessoas que prestaram depoimento, nessa condição, foram informantes, sem as formalidades do depoimento sob compromisso, em geral em audiências públicas e não em audiência de tomada de depoimento.

Foram ouvidas 118 pessoas, num total de 34 reuniões. No total foram 122 horas de tomada de depoimento.

Esta CPI adotou uma estratégia de trabalho diferenciada, ao aprovar um cronograma de reuniões, que passaram a ser ordinárias. O mesmo, ao contrário do que pensaram alguns discordantes, em nada se engessou os trabalhos de investigação, pois os fatos novos que surgiram no curso da trabalhos, exigindo a oitiva outras pessoas, foram investigados, por meio de oitivas, em reuniões extraordinárias.

O Cronograma de Trabalhos aprovado determinou, em princípio, que todas as reuniões ordinárias fossem realizadas na Cidade de Porto Alegre - RS, tendo.

PRIMEIRA FASE DAS INVESTIGAÇÕES: PRODUÇÃO DE PROVA TESTEMUNHAL COM A OITIVA DOS REPRESENTANTES DAS ENTIDADES DA CADEIA PRODUTIVA DE CARNE BOVINA:

PRODUTORES RURAIS

OBJETO DA INVESTIGAÇÃO: Tratar acerca dos fatos determinados, para identificar os problemas dos produtores rurais.

DEPOENTES: Entidades representativas de produtores rurais organizadas em âmbito estadual.

DATA: 03/08/2003 - tarde (Segunda-feira)

INDÚSTRIA E DISTRIBUIÇÃO

OBJETO DA INVESTIGAÇÃO: Apreciar os seguintes fatos determinados: (1) PRIMEIRO FATO DETERMINADO: INDÍCIOS DE PRÁTICA DE INFRAÇÃO À ORDEM ECONÔMICA DA COMPRA E VENDA DE CARNE POR PARTE DA INDÚSTRIA DE CARNES E DOS ESTABELECIMENTOS VAREJISTAS, COM APURAÇÃO DOS PREÇOS JUSTOS QUE DEVERIAM SER PRATICADOS; (2) TERCEIRO FATO DETERMINADO: EXISTÊNCIA DE UNIDADES INDUSTRIAIS DESATIVADAS OU COM ELEVADA CAPACIDADE OCIOSA.

DEPOENTES: Entidades representativas da indústria de carne bovina e suína organizada em âmbito estadual e das empresas de comércio atacadista e de distribuição de carnes bovina e suína

DATA: 11/08/2003 - tarde (Segunda-feira)

DEPOENTES: Principais indústrias de carnes bovina e suína no Rio Grande do Sul.

DATA: 18/08/2003 (Segunda-feira)DEPOENTES: Entidades e empresas de couro.DATA: 25/08/2003 (Segunda-feira)

COMÉRCIO VAREJISTA

OBJETO DA INVESTIGAÇÃO: Será apreciado o PRIMEIRO FATO DETERMINADO: INDÍCIOS DE PRÁTICA DE INFRAÇÃO À ORDEM ECONÔMICA DA COMPRA E VENDA DE CARNE POR PARTE DA INDÚSTRIA DE CARNES E DOS ESTABELECIMENTOS VAREJISTAS, COM APURAÇÃO DOS PREÇOS JUSTOS QUE DEVERIAM SER PRATICADOS;

DEPOENTES: Entidades representativas do comércio varejista organizada em âmbito estadual:

DATA: 01/09/2003 (segunda-feira)

DEPOENTES: Oitiva das principais empresas do comércio varejista de carnes bovina e suína no Rio Grande do Sul.

DATA: 08/09/2003 (Segunda-feira)

CONSUMIDOR E LIVRE CONCORRÊNCIA:

OBJETO DA INVESTIGAÇÃO: Apreciar o PRIMEIRO FATO DETERMINADO: INDÍCIOS DE PRÁTICA DE INFRAÇÃO À ORDEM ECONÔMICA DA COMPRA E VENDA DE CARNE POR PARTE DA INDÚSTRIA DE CARNES E DOS ESTABELECIMENTOS VAREJISTAS, COM APURAÇÃO DOS PREÇOS JUSTOS QUE DEVERIAM SER PRATICADOS;

DEPOENTE: (1) Entidades ligadas a defesa do consumidor; (2) entidades ligadas a bares e restaurantes; (3) órgãos do Governo de defesa do consumidor e da livre concorrência; (4) Secretaria Federal de Direito Econômico, do Ministério da Justiça.

DATA: 15/09/2003

SEGUNDA FASE DAS INVESTIGAÇÕES: PRODUÇÃO DE PROVA TESTEMUNHAL COM A OITIVA DOS AGENTES EXTRACADEIA DA CARNE, QUE NELA INFLUENCIAM NA FORMAÇÃO DOS PREÇOS:

ABIGEATO

OBJETO DA INVESTIGAÇÃO: Tratar do SEGUNDO FATO DETERMINADO DA CPI: A EXISTÊNCIA DE ABATES SEM INSPEÇÃO SANITÁRIA OFICIAL E SEM CONTROLE FISCAL.

DEPOENTES: (1) Brigada Militar; (2) Polícia Civil (3) Secretaria Estadual da Saúde; (4) Secretaria Estadual da Fazenda; (5) Entidades representativas da indústria de couro;. DATA: 22/09/2003 (Segunda-feira)

SISTEMA DE INSPEÇÃO SANITÁRIA

OBJETO DA INVESTIGAÇÃO: Tratar dos seguintes fatos determinados: (1) SEGUNDO FATO DETERMINADO: EXISTÊNCIA DE ABATES SEM INSPEÇÃO SANITÁRIA OFICIAL E SEM CONTROLE FISCAL; (2) QUARTO FATO DETERMINADO: EXISTÊNCIA DE BARREIRAS SANITÁRIAS AO COMÉRCIO EXTERIOR.

DEPOENTES: (1) SIF/MAPA; (2) SAA/CISPOA; (3) SIM/FAMURS; (4) Entidade representativa dos inspetores sanitários; (4) autarquia profissional dos médicos veterinários.

DATA: 29/09/2003

LICENCIAMENTO AMBIENTAL

OBJETO DA INVESTIGAÇÃO: Tratar sobre os problemas ambientais da criação de bovinos e suínos confinados e os problemas decorrentes do licenciamento ambiental

DEPOENTES: FEPAM, FAMURS e entidades representativas de produtores rurais

DATA: 06/10/2003 (Segunda-feira)

TRIBUTAÇÃO

OBJETO DA INVESTIGAÇÃO: Apreciar o peso da CARGA TRIBUTÁRIA QUE INCIDE SOBRE A CARNE E SEUS DERIVADOS E SUA COMPOSIÇÃO NO PREÇO FINAL.

DEPOENTES: (1) Tributaristas; (2) Fazenda Pública Estadual; (3) Fazenda Pública Nacional; (4) Fazenda Pública Municipal, através da FAMURS

DATA: 13/10/2003 (Segunda-feira)

INSUMOS

OBJETO DA INVESTIGAÇÃO: Apreciar o CUSTO ECONÔMICO E FINANCEIRO DOS INSUMOS NA FORMAÇÃO DO CUSTO DE PRODUÇÃO E NOS PREÇOS DA CARNE E SEUS DERIVADOS.

DEPOENTES: Entidades representativas da formação de insumos, como medicamentos, sêmen, sementes, adubos e fertilizantes, corretivos de solo, etc

DATA: 20/10/2003 (Segunda-feira)DEPOENTES: Entidades governamentais e não-governamentais que

tratam sobre os estoques reguladores de milho para insumo de alimentação de animais.

DATA: 27/10/2003 (Segunda-feira)

POLÍTICAS PÚBLICASOBJETO DA INVESTIGACÃO: Abordar o QUINTO FATO DETERMINADO

DA CPI: POLÍTICAS SETORIAIS, COM ÊNFASE NOS INVESTIMENTOS PÚBLICOS.

DEPOENTES: Entidades governamentais que tenham como atribuições as atividades de incentivos e benefícios à produção de carne, como gestora de políticas públicas na produção agropecuária, como SAA, FAMURS, representando os Municípios, EMATER e MAPA e CONAB.

DATA: 03/11/2003 (Segunda-feira)

DEPOENTE: Entidades governamentais que tenham atribuições nas atividades de incentivos e benefícios à produção de carne como gestora de políticas públicas nos agronegócios na parte de benefícios e incentivos fiscais e creditícios, como BANRISUL, Secretaria de Desenvolvimento Econômico e Assuntos Internacionais, BRDE e as autoridades federais na área de comércio exterior e agronegócios.

DATA: 10/11/2003 (Segunda-feira)

TECNOLOGIA

OBJETO DA INVESTIGAÇÃO: Tratar o SEXTO FATO DETERMINADO DA CPI: POLÍTICAS DE INOVAÇÃO TECNOLÓGICA, COM ÊNFASE NOS PROCESSOS AGROPECUÁRIOS E INDUSTRIAIS DE PRODUÇÃO E PROCESSAMENTO DE CARNES E AUTOMOÇÃO NA DISTRIBUIÇÃO

DEPOENTES: Entidades de pesquisa, como universidades, escolas técnicas, EMBRAPA e a FEPAGRO e indústrias de fornecimento de equipamentos

DATA: 17/11/2003

Da conjugação dos trabalhos de instrução, observando-se o cronograma de trabalhos aprovados, com as adaptações necessárias ao bom andamento do trabalho, foram realizadas as seguintes reuniões ordinárias, onde depuseram as seguintes testemunhas, sob compromisso, que especificamos a seguir:

REUNIÕES ORDINÁRIAS :

PRIMEIRA REUNIÃO ORDINÁRIA DEPOENTES: Entidades representativas de produtores rurais organizadas

em âmbito estadual.CIDADE: Porto Alegre - RSLOCAL: Sala José Antônio Lutzenberger, 4º andar do Palácio FarroupilhaDATA: 04/08/2003 HORÁRIO: 14:00 horas

PRIMEIRO DEPOENTE: CARLOS RIVACCI SPEROTTO ENTIDADE: Presidente da FARSULHORÁRIO: 14:15 horas

SEGUNDO DEPOENTE: GILBERTO MOACIR DA SILVA ENTIDADE: Presidente da ACSURSHORÁRIO: 16:15 horas

INDÚSTRIA E DISTRIBUIÇÃO

SEGUNDA REUNIÃO ORDINÁRIA DEPOENTES: Entidades representativas da indústria de carne bovina e

suína organizada em âmbito estadual e das empresas de comércio atacadista e de distribuição de carnes bovina e suína.

LOCAL: Sala José Antônio Lutzenberger, 4º andar do Palácio FarroupilhaDATA: 11/08/2003 - tarde (Segunda-feira)

HORÁRIO: 14:00 horas

DEPOENTE: ARiSTiDES INÁCIO VOGTENTIDADE: Presidente do SIPSHORÁRIO: 14:15 horas

DEPOENTE: MAURO DANTE AYMONE LOPEZENTIDADE: Presidente do SICADERGSHORÁRIO: 15:45 horas

DEPOENTE: MARCOS AUGUSTO LUNARDELLIENTIDADE: Presidente do SINDICARNESHORÁRIO: 17:15 horasTERCEIRA REUNIÃO ORDINÁRIADEPOENTES: Principais indústrias de carnes bovina e suína no Rio Grande

do Sul.CIDADE: Porto Alegre - RSLOCAL: Sala José Antônio Lutzenberger, 4º andar do Palácio FarroupilhaDATA: 18/08/2003 (Segunda-feira)HORÁRIO: 08:30 horas

DEPOENTE: CARLOS ALBERTO FREITAS ENTIDADE: Presidente da COSUELHORÁRIO: 08:30 horas

DEPOENTE: ARISTIDES VOGTENTIDADE: Representante da Empresa FRANGOSUL S/A HORÁRIO: 09:30 horas

DEPOENTE: VERA REYENTIDADE: Diretora Comercial da Empresa AVIPAL S/AHORÁRIO: 10:30 horas

DEPOENTE: MAURO PILZENTIDADE: Representante do Frigorífico MERCOSULHORÁRIO: 11:30 horas

DEPOENTE: IVON SILVA ENTIDADE: Representante do Frigorífico SILVAHORÁRIO: 14:00 horas

DEPOENTE: LUIZ FERNANDO DE ASSISENTIDADE: Representante do Frigorífico LOPESHORÁRIO: 15:00 horas

DEPOENTE: DORIVAL BRISTOTENTIDADE: Representante da Empresa DISTRIBUIDORA BRISTOTHORÁRIO: 16:00 horas

DEPOENTE: MILTON SANTOS ENTIDADE: Representante da Empresa MILTON N. SANTOSHORÁRIO: 17:00 horas

DEPOENTE: ADELCIO HAUBERT ENTIDADE: Representante da Empresa FRIGORÍFICO HAUBERTHORÁRIO: 18:00 horas

QUARTA REUNIÃO ORDINÁRIA

DEPOENTES: Entidades e empresas de couro.CIDADE: Porto Alegre - RSLOCAL: Sala José Antônio Lutzenberger, 4º andar do Palácio FarroupilhaDATA: 25/08/2003 (Segunda-feira)HORÁRIO: 14:00 horas

DEPOENTE: RICARDO MICHAELSENENTIDADE:Vice-Presidente do CTCCAHORÁRIO:14:10 horas

DEPOENTE: CÉSAR LUIZ MÜLLERENTIDADE:Presidente da AICSULHORÁRIO:15:10 horas

DEPOENTE: ELTON MIGUEL BENDERENTIDADE:Representante do Curtume Bender S/AHORÁRIO:16:10 horas

DEPOENTE: CLAUDIO AFONSO FRIZZOENTIDADE:Representante da Braspelco Ind.Com.LtdaHORÁRIO:17:10 horas

COMÉRCIO VAREJISTA

QUINTA REUNIÃO ORDINÁRIADEPOENTES: Entidades representativas do comércio varejista organizada

em âmbito estadualCIDADE: Porto Alegre - RSDATA: 01/09/2003 (Segunda-feira)

DEPOENTE: ANTONIO CESA LONGOENTIDADE:Presidente da AGASHORÁRIO:14:15 horas

DEPOENTE: GIRLEI WOLFFENTIDADE:Presidente do SICOCARNES

HORÁRIO:15:15 horas

SEXTA REUNIÃO ORDINÁRIA

DEPOENTES: Oitiva das principais empresas do comércio varejista de carnes bovina e suína no Rio Grande do Sul

CIDADE: Porto Alegre - RSLOCAL: Sala José Antônio Lutzenberger, 4º andar do Palácio FarroupilhaDATA: 08/09/2003 (Segunda-feira)HORÁRIO:13:00 horas

DEPOENTE: LUIZ CARLOS CARVALHOENTIDADE:Representante dos Supermercados GUANABARAHORÁRIO:14:00 horas

DEPOENTE: RENALDO CANDIDOENTIDADE: Representante dos Supermercados RISSULHORÁRIO: 16:00 horas

DEPOENTE: AUGUSTO DE CÉSAROENTIDADE: Representante da Comercial Unida de Cereais – UNIDÃOHORÁRIO: 17:00 horas

DEPOENTE: ARNALDO EIJSINK ENTIDADE: Representante do CARREFOURHORÁRIO: 18:00 horas

DEPOENTE : CLÁUDIO ZAFFARIENTIDADE : Representante dos Supermercados ZAFFARIHORÁRIO : 19:00 horas

DEPOENTE : ROGÉRIO SOUTO ENTIDADE : Representantes da rede SONAEHORÁRIO: 20:00 horas

DEPOENTE : IDÊNIO RISSO BELMONT FILHOENTIDADE : Representantes da rede SONAEHORÁRIO: 20:00 horas

ABIGEATO

OBJETO DA INVESTIGAÇÃO: Tratar do SEGUNDO FATO DETERMINADO DA CPI: A EXISTÊNCIA DE ABATES SEM INSPEÇÃO SANITÁRIA OFICIAL E SEM CONTROLE FISCAL.

SÉTIMA REUNIÃO ORDINÁRIA

DEPOENTES: (1) Brigada Militar; (2) Polícia Civil (3) Secretaria Estadual da Saúde; (4) Secretaria Estadual da Fazenda; (5) Entidades representativas da indústria de couro;. CIDADE: Porto Alegre - RS

LOCAL: Sala José Antônio Lutzenberger, 4º andar do Palácio FarroupilhaDATA: 22/09/2003 (Segunda-feira)HORÁRIO: 14:00 horas

DEPOENTE:NELSON PAFIADACHE DA ROCHAENTIDADE:Comandante – Geral da Brigada MilitarHORÁRIO :14:30 horas

DEPOENTE :JOÃO ANTÔNIO LEOTEENTIDADE :Chefe da POLÍCIA CIVILHORÁRIO :15:30 horas

SISTEMA DE INSPEÇÃO SANITÁRIA

OITAVA REUNIÃO ORDINÁRIADEPOENTES: (1) SIF/MAPA; (2) SAA/CISPOA; (3) Entidade

representativa dos inspetores sanitários.

CIDADE: Porto Alegre - RSLOCAL: Sala José Antônio Lutzenberger, 4º andar do Palácio FarroupilhaDATA: 29/09/2003HORÁRIO: 13:30 horas DEPOENTE :MARCO ANTÔNIO RODRIGUES DOS SANTOSENTIDADE :Chefe do SIPA/DFAHORÁRIO :13:30 horas

DEPOENTE :EDUARDO NEMOTOENTIDADE : Coordenador da CISPOAHORÁRIO : 14:30 horas

DEPOENTE : JOSÉ PEDRO SOARES MARTINSENTIDADE : Chefe da Fiscalização do CRMVHORÁRIO : 15:30 horas

ABIGEATO

OITAVA REUNIÃO ORDINÁRIA DEPOENTES: (1) Vigilância Sanitária da Secretaria da Saúde; (2) SEFAZ/RS

DEPOENTE : JANE LEONARDO

ENTIDADE : Chefe da Divisão de Vigilância Sanitária da Secretaria da Saúde

HORÁRIO : 17:30 horas

DEPOENTE : GIOVANNI PADILHA DA SILVA ENTIDADE : Agente Fiscal do Tesouro Estadual da SEFAZ/RSHORÁRIO : 16:30 horas

LICENCIAMENTO AMBIENTAL

NONA REUNIÃO ORDINÁRIADEPOENTES: FEPAM, FAMURS e entidades representativas de

produtores ruraisCIDADE: Porto Alegre - RSLOCAL: Sala José Antônio Lutzenberger, 4º andar do Palácio FarroupilhaDATA: 06/10/2003 (Segunda-feira) HORÁRIO: 14:00 horas

DEPOENTE : FRANCISCO LINEU SCHARDONG ENTIDADE : Vice-Presidente da Farsul

DEPOENTE : VALTEMIR GOLDMEIER ENTIDADE : Representante da Famurs

DEPOENTE: CLÁUDIO DILDA ENTIDADE: Diretor – Presidente da Fepam

TRIBUTAÇÃO

DÉCIMA REUNIÃO ORDINÁRIA

DEPOENTES: (1) Tributaristas; (2) Fazenda Pública Estadual; (3) Fazenda Pública Nacional; (4) Fazenda Pública Municipal, através da FAMURS

CIDADE: Porto Alegre – RS LOCAL: Sala José Antônio Lutzenberger, 4º andar do Palácio FarroupilhaDATA: 13/10/2003 (Segunda-feira)HORÁRIO: 14:00 horas

DEPOENTE : GIOVANNI PADILHA DA SILVA ENTIDADE : Agente Fiscal do Tesouro Estadual da Secretaria da Fazenda

DEPOENTE : PEDRO EINSTEIN DOS SANTOS ANCELES ENTIDADE : Delegado da Receita Federal de Julgamento de Santa Maria

DEPOENTE : VALMOR MARCHETTI ENTIDADE : Economista que elaborou o trabalho sobre Mark-up e tributação encomendados pelo SIPS

DÉCIMA PRIMEIRA REUNIÃO ORDINÁRIA

DEPOENTES: Entidades governamentais e não-governamentais que tratam sobre os estoques reguladores de milho para insumo de alimentação de animais.

CIDADE: Porto Alegre - RSLOCAL: Sala José Antônio Lutzenberger, 4º andar do Palácio FarroupilhaDATA: 29/10/2003 (Quarta-feira)HORÁRIO: 14:00 horas

DEPOENTE: JOÃO PRIOR ENTIDADE: Secretário Executivo e Procurador do SINDIRAÇÕES

DEPOENTE: CARLOS MANOEL FARIAS ENTIDADE: Superintendente Regional da Companhia Nacional de Abastecimento – CONAB - RS

REUNIÃO EXTRAORDINÁRIA DE AUDIÊNCIA DE DEPOIMENTOS:

25/08/2003TEMA: PLANTA FRIGORÍFICA DO GRUPO CHAPECÓ EM SANTA ROSA

( EX-PRENDA) – DEPOENTE : CELSO MÁRIO SCHMITZ – Representante da empresa Chapecó S/A

TEMA: PLANTA FRIGORÍFICA DA COOPERATIVA CASTILHENSE EM JÚLIO DE CASTILHOS – DEPOENTE : MARIA DO CARMO LOURENCI – Advogada dos cooperativados da Cooperativa Castilhense.

06/10/2003TEMA: VAREJO - DEPOENTE : DANIEL TAICHI WATANABE –

Carrefour Ind. Comércio Ltda – Diretor Nacional de Perecíveis

13/10/2003TEMA:PLANTA FRIGORÍFICA DO GRUPO CHAPECÓ EM SANTA ROSA (

EX-PRENDA ) - DEPOENTES : MARCELO DA COSTA – Representante da Companhia de Navegação MAERSKI / MÁRCIO HENRIQUE MONTEIRO DE CASTRO - Diretor do BNDES

20/10/2003

TEMA: INDÚSTRIA - DEPOENTES : JOÃO ROZÁRIO – Empresa Perdigão S/A // ARTÊMIO FRONZA – Empresa Sadia S/A .

TEMA: PLANTA FRIGORÍFICA DA COOPERATIVA CASTILHENSE EM JÚLIO DE CASTILHOS - DEPOENTES : LEONARDO KESSLER THIBES – Ex- Diretor da Cooperativa Castilhense // JÚLIO SCHENAER SALLES – Pecuarista e credor do usufruto da Cooperativa Castilhense.

03/11/2003TEMA: PLANTA FRIGORÍFICA DO BANCO DO BRASIL EM SANTANA DO

LIVRAMENTO ( EX-SWIFT ARMOUR ) - DEPOENTES : CARLOS ANTÔNIO KERBER – Frigorífico Três C , CLÓVIS KERBER – Frigorífico Três C , CARLOS ANTÔNIO KERBER JÚNIOR – Frigorífico Três C , FLÁVIO ALEXANDRE HOFSETZ – Diretor do Frigorífico Mercomeat , WILSON BRANDÃO – Diretor de Infra-estrutura do Banco do Brasil, ROBERTO CARLOS MAYER – Contador do Frigorífico Três C , SÍLVIO NASCIMENTO – Advogado do Frigorífico Três C , FRANCISCO FERNANDO CARLOS DE CARVALHO – Pecuarista e credor do Frigorífico Três C

TEMA: PLANTA FRIGORÍFICA DA COOPERATIVA CASTILHENSE EM JÚLIO DE CASTILHOS – DEPOENTE : CARLOS ANTÕNIO GOMES – Arrendatário do Frigorífico Castilhense.

10/11/2003TEMA: DEFESA SANITÁRIA ANIMAL - DEPOENTES : RONI BARBOSA –

Diretor de Defesa Agropecuária da Secretaria da Agricultura de Santa Catarina , MAURÍCIO PEREIRA NEVES PRETTO – Ex-Dirigente dos serviços de doenças infecciosas da Sec.da Agricultura do Estado do RS, JOSÉ EUCLIDES SEVERO – Chefe do SSA/DFA e ILDARA NUNES VARGAS – Diretora do DPA/SSA.

12/11/2003TEMA: PLANTA FRIGORÍFICA DO GRUPO CHAPECÓ EM SANTA ROSA

( EX-PRENDA ) – DEPOENTE: ALEX FONTANA – Ex-Diretor-Presidente da Empresa Chapecó.

24/11/2003TEMA: PLANTA FRIGORÍFICA DO GRUPO CHAPECÓ EM SANTA ROSA

( EX-PRENDA ) - DEPOENTE : PLÍNIO DAVID DE NES – Ex-proprietário da Empresa Chapecó.

01/12/2003TEMA: PLANTA FRIGORÍFICA DO GRUPO CHAPECÓ EM SANTA ROSA

( EX-PRENDA ) - DEPOENTE: LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS – Ex-Presidente do BNDES.

TEMA: PLANTA FRIGORÍFICA DA COOPERATIVA CASTILHENSE EM JÚLIO DE CASTILHOS - DEPOENTE: ANTÔNIA MARA LOGUÉRCIO – Juíza de Direito.

08/12/2003TEMA: ACAREAÇÃO ENTRE INDÚSTRIA E GRANDE VAREJO –

DEPOENTES: CLÁUDIO LUIZ ZAFFARI – Companhia Zaffari , ARNALDO JOHANNES JOSEF EIJSINK – Carrefour , IDÊNIO RISSO BELMONTE FILHO – Sonae , JOÃO ROZÁRIO DA SILVA – Perdigão , ARISTIDES INÁCIO VOGT – Frangosul , ARTÊMIO FRONZA – Sadia , VERA REY – Avipal .

AUDIÊNCIAS PÚBLICAS REALIZADAS EM REUNIÕES ORDINÁRIAS:

PRIMEIRA AUDIÊNCIA PÚBLICA EM REUNIÃO ORDINÁRIA :

LOCAL: Sala Salzano Vieira da Cunha , 3º Andar do Palácio FarroupilhaDATA: 04/08/2003HORÁRIO: 14:15 horas

DEPOENTE : ROQUE AVRELAENTIDADE: Associação dos Suinocultores de Tuparandi

DEPOENTE : JOSÉ ADÃO BRAUNENTIDADE: ABCS

DEPOENTE :MAURO GOBBI ENTIDADE: Associação dos Suinocultores da Grande Sarandi

DEPOENTE : ODOLIR ZANATTAENTIDADE: ACSURS de Vila Maria

DEPOENTE : CLÁUDIO DARIO LOPES DE ALMEIDAENTIDADE: Fecocarne e membro do CRMV

DEPOENTE : VALDECIR LUIS FOLADORENTIDADE: Sindicato Rural de Erechim

DEPOENTE : LEONARDO PALUDOENTIDADE: Associação Rural da Serra Gaúcha

DEPOENTE : VITOR DE CONTIENTIDADE: Núcleo de criadores de suínos de Santa Rosa

DEPOENTE : CLÉO BARBIERO ENTIDADE: ACSURS de Sarandi

DEPOENTE : VILMAR VENDRAME e FERNANDO ADAUTO LOUREIRO DA SILVAENTIDADE: Comissão Pecuária de Corte e Indústria da FARSUL

SEGUNDA AUDIÊNCIA PÚBLICA EM REUNIÃO ORDINÁRIA:

CONSUMIDOR E LIVRE CONCORRÊNCIA

DEPOENTE: (1) Entidades ligadas a defesa do consumidor; (2) entidades ligadas a bares e restaurantes; (3) órgãos do Governo de defesa do consumidor e da livre concorrência; (4) Secretária Federal de Direito Econômico do Ministério da Justiça.

LOCAL: Sala José Antônio Lutzenberger, 4º andar do Palácio FarroupilhaDATA: 15/09/2003HORÁRIO: 09:30 horas

DEPOENTE: FERNANDO EDISON DOMINGUES SOARES ENTIDADE: Delegado do DECON

DEPOENTE: ALEXANDRE APPEL ENTIDADE: Coordenador do PROCON

DEPOENTE: GUILHERME FAVARO RIBAS ENTIDADE: Coordenador – Geral de Análise de Infrações nos setores de agricultura e indústria ( CADE – Min. Justiça )

TERCEIRA AUDIÊNCIA PÚBLICA EM REUNIÃO ORDINÁRIA:

DEPOENTES: Entidades governamentais que tenham atribuições nas atividades de incentivos e benefícios à produção de carne como gestora de políticas públicas nos agronegócios na parte de benefícios e incentivos fiscais e creditícios, como BANRISUL, Secretaria de Desenvolvimento Econômico e Assuntos Internacionais, BRDE e as autoridades federais na área de comércio exterior e agronegócios.

CIDADE: Porto Alegre - RSLOCAL: Sala José Antônio Lutzenberger, 4º andar do Palácio FarroupilhaDATA: 10/11/2003 (Segunda-feira)HORÁRIO: 10:00 horas

DEPOENTE : NELSON MARCHEZAN Jr. ENTIDADE : Diretor de Desenvolvimento do Banrisul HORÁRIO : 10:00

DEPOENTE : PAULO DA SILVA REIS ENTIDADE: Superintendente de Acompanhamento e Recuperação de Créditos do BRDE HORÁRIO : 10:00

DEPOENTE : HERMES RIBEIRO FILHO ENTIDADE : Diretor do Departamento de Pró-Produtividade da Secretaria da Agricultura do RS HORÁRIO : 10:00

DEPOENTE : JOSÉ KOCHHANN SOBRINHO ENTIDADE : Gerente de Agronegócios do Banco do Brasil HORÁRIO : 10:00

DEPOENTE : JEFERSON MIOLA ENTIDADE : Delegado Federal do Ministério do Desenvolvimento Agrário no RS HORÁRIO : 10:00

DEPOENTE : GISELA SCHULER ENTIDADE : Diretora Geral e Secretária Substituta da Secretaria do Desenvolvimento e dos Assuntos Internacionais HORÁRIO : 10:00

QUARTA AUDIÊNCIA PÚBLICA EM REUNIÃO ORDINÁRIA :

TECNOLOGIA

OBJETO DA INVESTIGAÇÃO: Nesta audiência tratar o SEXTO FATO DETERMINADO DA CPI: POLÍTICAS DE INOVAÇÃO TECNOLÓGICA, COM ÊNFASE NOS PROCESSOS AGROPECUÁRIOS E INDUSTRIAIS DE PRODUÇÃO E PROCESSAMENTO DE CARNES E AUTOMOÇÃO NA DISTRIBUIÇÃO

DEPOENTES: Entidades de pesquisa, como universidades, escolas técnicas, EMBRAPA e a FEPAGRO e indústrias de fornecimento de equipamentos

CIDADE: Porto Alegre - RSLOCAL: Sala José Antônio Lutzenberger, 4º andar do Palácio FarroupilhaDATA: 17/11/2003HORÁRIO: 10:00 horas

DEPOENTE: JOSÉ FERNANDO PIVA LOBATO

ENTIDADE: Professor do Departamento de Zootecnia da Faculdade de Agronomia - UFRGS

DEPOENTE: ÁLVARO ANTÔNIO LOUZADA GARCIA ENTIDADE: Fundação de Economia e Estatística - FEE

DEPOENTE: CARLOS CARDINAL ENTIDADE: Diretor Presidente da Fepagro

DEPOENTE: MARIA ANGÉLICA ZOLLIN DE ALMEIDA ENTIDADE: Diretora do Centro de Pesquisas Veterinárias Desidério Finamor

DEPOENTE:EDUARDO SALOMONI ENTIDADE:Chefe Geral da Embrapa/Bagé

DEPOENTE:ROBERTO SILVEIRA COLLARES ENTIDADE: Chefe de Pesquisa da Embrapa Pecuária-Sul

As AUDIÊNCIAS PÚBLICAS foram realizadas nas seguintes cidades e datas:

PRIMEIRA AUDIÊNCIA PÚBLICA DA INTERIORIZAÇÃO DA CPI: 26/09/2003 – JÚLIO DE CASTILHOS – RS

DEPOENTES: RÉGIS LOPES SALES , JOSÉ FERNANDES e WILSON DA SILVA

ENTIDADE: ex – funcionários da Cooperativa Castilhense

DEPOENTE: ALESSANDRA MARQUES CORDEIROENTIDADE: Administradora da Cooperativa Castilhense

DEPOENTE: JOSÉ ANTÔNIO POSSER DALCINENTIDADE: Contador da Cooperativa Castilhense

SEGUNDA AUDIÊNCIA PÚBLICA DA INTERIORIZAÇÃO DA CPI:17/10/2003 – SARANDI – RS

DEPOENTE: SÉRGIO CELSO TASSO ENTIDADE: Produtor Rural

DEPOENTE: CLÉO FERNANDO COLOMBO BARBIEROENTIDADE: Sindicato Rural de Sarandi

DEPOENTE: MARTIN RIORDANENTIDADE: Vice-Presidente da ACSURS e Presidente da Suinosul

TERCEIRA AUDIÊNCIA PÚBLICA DA INTERIORIZAÇÃO DA CPI: 31/10/2003 – CACEQUI – RS

DEPOENTES: JOÃO GILBERTO DE LIMA, ERONY PANIZ, LAURI SACCOL, ZELINDO PANIZ, CARLOS ZUBARAN, CÃNDIDO LEAL, CLÓVIS LONGHI VIEIRA, NOÊMIA ANTONIAZZI FREITAG E JOÃO INÁCIO XAVIER FILHO.

QUARTA AUDIÊNCIA PÚBLICA DA INTERIORIZAÇÃO DA CPI: 14/11/2003 – SANTA ROSA - RS

DEPOENTES: ROQUE AVRELLA, CLAIRTON SCHARDONG, JOSÉ ALLES .

QUINTA AUDIÊNCIA PÚBLICA DA INTERIORIZAÇÃO DA CPI: 28/11/2003 – SANTANA DO LIVRAMENTO - RS

DEPOENTES: AIRTON DE OLIVEIRA DO COUTO, MANOEL ANTÔNIO ROSA ALVES, CARLOS THOMAS AVILA ALBORNOZ, JÚLIO CÉSAR SANTOS, ADROALDO BERNARDO PÖTTER, LEONARDO SANTANA, JOSÉ OTÁVIO SILVEIRA, DANÚBIO LUZ, AMILTON DE OLIVEIRA E FERNANDO SOUZA .

PROVA DOCUMENTAL :

A prova documental produzida por este Inquérito Parlamentar é formada por informações e documentos requisitados por esta Comissão, assim como documentos entregues espontaneamente por testemunhas.

Sendo a prova testemunhal insuficiente para esclarecer os fatos determinados investigados pelo Inquérito Parlamentar, esta Comissão elaborou e expediu 1881 REQUISIÇÕES DE INFORMAÇÕES para a realização de uma análise global sobre a cadeia produtiva das carnes. Foram direcionadas às entidades governamentais para informarem sobre o funcionamento da inspeção sanitária de lácteos, pesquisas, problemas ambientais e compra de carnes e derivados para programas de alimentação pelo Estado e Município. Foram ainda expedidas requisições para todas as cooperativas, indústrias e principais redes de supermercados.

PROVA PERICIAL :

A prova pericial produzida no presente Inquérito Parlamentar consiste nos trabalhos técnicos elaborados por Universidades e especialistas, que são os seguintes:

PROVA TÉCNICA 01 – LAUDO TÉCNICO DE CRAQUEAMENTO DE BOVINO E SUÍNO

PROVA TÉCNICA 02 – MARK-UP APRESENTADO PELO SIPS

SEGUNDA PARTE

RELATÓRIO ANALÍTICO DOS FATOS DETERMINADOS:

SÍNTESE DA ORGANIZAÇÃO DAS CADEIAS AGROINDUSTRAIS DA BOVINOCULTURA DE CORTE E DA SUINOCULTURA:

CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA

A cadeia agroindustrial da bovinocultura de corte e da suinocultura atravessam momentos de enormes dificuldades no Rio Grande do Sul. Há inúmeros fatos que podem ser identificados como causa dos problemas enfrentados, onde se tem a certeza de que o produtor rural está tendo o seu produto mal remunerado e a indústria enfrenta dificuldades quase insuperáveis para poder melhor remunerar os criadores. Entretanto, para poder situar as causas fáticas no tempo e espaço, a fim de se encontrar as deficiências e apontar soluções, é importante identificar os dois momentos históricos que essas duas cadeias agroindustriais de alimentos passaram na histórica recente do Brasil.

Os dois momentos históricos dizem respeito ao modo como o Estado interagia com as cadeias agroindustriais, isto é, o grau e os fins da intervenção estatal no domínio econômico privado visando a assegurar a oferta regular de alimentos à população, como política pública de segurança alimentar, como parte ou não do conceito de segurança nacional ou Estado, como modernamente passou a ser denominada.

O fato das cadeias agroindustriais terem surgido no primeiro momento histórico – economia nacionalista estatizante – acabou deixando marcas profundas na sua estruturação do presente momento histórico, que é o da economia de mercado globalizada. Muitas das dificuldades que estão sendo enfrentadas na atualidade se devem, em parte, pelo atropelo do surgimento do segundo momento, e modelo vindo de fora para dentro, onde nem todos conseguiram se adaptar e sobreviver num mercado globalizado, mas de concorrência acirrada e desigual pelo protecionismo econômico aos produtos primários das Grandes Economias Globais.

As cadeias agroindustriais de alimentos foram organizadas sob a égide da economia nacionalista-estatizante. Esse modelo durou até o final dos anos 80. Era o modelo que tinha maior identidade cultural com o Estado patrimonialista. Foi o período da economia de reserva de mercado. O segundo momento é o que estamos vivendo: o de economia de mercado, ditado ao Brasil pelas circunstâncias internacionais de globalização da economia mundial.

O Brasil é uma nação de capitalismo tardio. Pela precária força de sua burguesia ou empresariado nacional, coube ao Estado a iniciativa de alavancar o

desenvolvimento nacional sob bases de uma economia nacionalista-estatizante, que implantou um modelo conhecido como queimador de etapas do crescimento econômico. O ápice desse modelo deu-se nos Governos da Arena (1964/1985). Houve uma forte intervenção do Estado no domínio econômico e social privado, não só através de empresas estatais, mas também de mecanismos denominados indiretos. Visava, essa política, à substituição das importações e a consolidação da indústria nacional. No setor de alimentos, a estratégia era a de segurança alimentar, cujo fim era o da auto-suficiência produtiva interna como parte da estratégica da segurança nacional.

A intervenção do Estado nas cadeias agroindustriais de alimentos se dava através do tabelamento do preço pela Comissão Interministerial do Preço – CIP e por estoques regulamentadores de abastecimento. Havia, ainda, uma presença ativa do Estado, especialmente do Governo Federal, em políticas públicas de fomento ao produtor rural na concessão de benefícios e incentivos fiscais e creditícios, na assistência técnica e extensão rural e na pesquisa agropecuária.

Nesse período, a indústria era formada por uma pequena rede de empresas de grande e médio porte, assim como havia uma pulverização de pequenos estabelecimentos de comércio varejista. Era forte a presença de cooperativas e significativa a participação de empresas estatais. O perfil das empresas era o de capital nacional.

Esse quadro mudou radicalmente no início dos anos 90. O Brasil passou a integrar, sem ser estabelecido um período de transição, um quadro de economia globalizada. Foi extinto o tabelamento de preços pela CIP. O mercado, em tese, passou a ditar as regras. Nesse período, houve uma pulverização do setor industrial, principalmente devido à implantação da Lei nº 7.889, que criou os três níveis de inspeção no País e uma concentração do varejo em poucas empresas (redes de supermercados). Há eliminação do setor estatal e as cooperativas passam a ter um papel periférico, praticamente de intermediárias no fornecimento de matéria-prima ou de pequenas unidades industriais de porte regional.

No primeiro período histórico – economia estatizante-nacionalista -, os produtores rurais eram independentes. Por necessidade de logística as unidades industriais se situavam próximo de seus mercados consumidores. No segundo momento – economia de mercado globalizada – as unidades industriais destinam seus produtos para todo o mercado nacional e até internacional. É nesse período que houve expansão dos sistemas integrados entre a unidade produtora rural e a indústria beneficiadora na suinocultura, na bovinocultura de leite e principalmente na avicultura.

A produção de carne bovina e suína no Rio Grande do Sul passou por um intenso processo de transformação, pressionada por fatores externos e internos à economia do País. O processo de rearticulação das cadeias agroindustriais de alimentos, dentro da ótica liberalizante da intervenção do Estado no domínio econômico privado, proporcionou, de um lado o surgimento de um modelo de desenvolvimento produtivo calcado na demanda de matéria-prima, onde baixos custos de produção combinados com a qualidade do produto, e passaram a ser a

tônica da atividade e o foco da estratégia industrial para se tornar competitiva no mercado globalizante. Por outro, acabou tornando obsoletos os que não têm capacidade de produção em escala e dificuldade de se modernizarem.

A dinâmica da modernização econômica, com forte pressão competitiva, e a implantação do Mercado Comum do Sul – MERCOSUL, como zona de livre comércio, gerou um grande impacto e uma séria de desafios para as cadeias agroindustriais de alimentos, principalmente para os produtores rurais.

O período que interessa para esta CPI é justamente o segundo momento: o da economia de mercado globalizada. Não mais havendo a intervenção do Estado na fixação do preço das carnes e nem estoques reguladores de abastecimento, o mercado, em tese, passou a ditar as regras para fixação do preço em todas as relações econômicas existentes nas cadeias agroindustriais.

Resta ser apurado quais são os mecanismos de mercado que influenciam a formação do preço, averiguando se há livre concorrência ou abuso de poder econômico pelas empresas que possuem posição de domínio de mercado.

ORGANIZAÇÃO DA CADEIA AGROINDUSTRIAL DA BOVINOCULTURA DE CORTE:

HISTÓRICO:

A produção de carne bovina no Brasil vem aumentando significativamente nos últimos anos, sendo que, atualmente o Brasil ocupa o primeiro lugar nas exportações de carne bovina com aproximadamente 1,3 mil toneladas de carne bovina. Isto se deve, principalmente, ao crescimento do rebanho de bovinos no Centro-Oeste e Norte do País, mas também a um aumento na produtividade do setor.

A atividade de criação de bovinos de corte no RS, em geral, é desenvolvida, basicamente, em sistemas de produção extensiva a campo com pastagens nativas, onde, devido a variações climáticas, ocorre uma disponibilização de forragem irregular durante o ano, resultando em restrições alimentares em determinados períodos do ano, ocasionando perdas de peso neste período. Esta situação gera baixas taxas de natalidade e prorrogação no primeiro entoure, entre outras coisas.

O RS possui aproximadamente 350 mil produtores de bovinos e apresenta uma população bovina mais ou menos estabilizada em 14 milhões de cabeças, onde 80 % estão na região Centro-Sul (IBGE, 1999) com predominância nos Municípios da Fronteira Sul (divisa com o Uruguai) e Fronteira Oeste (divisa com a Argentina). A produção ocorre predominantemente em áreas médias e grandes, sendo que mais da metade da população bovina está estabelecida em propriedades com 500 a 5000 hectares. Porém, considerando o número de produtores, 75 % possuem até 20 hectares, representando somente 10 % do rebanho.

Um ponto que merece ser comentado é sobre a melhoria da eficiência da propriedade rural em relação à produtividade. Entre 1974 e 1993, segundo análise dos animais guiados para abate, 94 % tinham mais de 3 anos de idade (ABAG, 1995), indicando um desfrute do rebanho em torno de 15 %, e hoje, analisando os dados estatísticos do DPA/SAA, encontramos em 2001 e 2002 um índice médio de 62 % de animais abatidos com mais de 3 anos de idade, o que, se não é o ideal, mostra que houve uma evolução positiva na bovinocultura de corte com a conseqüente diminuição do ciclo de produção, e com isto, uma melhoria do desfrute comparado ao início da década de 1990.

Os dados de abate oficial de bovinos e bubalinos no RS, segundo o DPA/SAA, totalizaram, nos últimos anos, 1.547.420 cabeças (SIF/CISPOA, 1998), 1.528.420 cabeças (SIF/CISPOA, 1999), 1.377.468 cabeças (SIF/CISPOA, 2000), 938.904 cabeças (SIF/CISPOA, 2001), 1.212.502 cabeças, incluindo 51.974 abatidas sob inspeção municipal (SIF/CISPOA/SIM, 2002).

Os dados de abate total (real), no Estado, são bastante divergentes, porém, alguns indicadores (consumo per capita e desfrute do rebanho) corroborados por depoimentos nesta CPI, apontam para um número total entre 2.200.000 e 2.600.000 cabeças, que resulta em 1.000.000 a 1.200.000 cabeças abatidas irregularmente, visando, provavelmente, à sonegação de tributos e apresentando sérios riscos à saúde pública. Entretanto, não podemos deixar de citar alguns depoimentos, como o do Sr Fernando Adauto L. de Souza, dizendo que o abate de bovinos no RS é de 3.372.751 cabeças, baseado na FNP/São Paulo e ainda “.... SR. RICARDO MICHAELSEN – Os números que se trabalha, digamos, em termos de entidades e tudo do Rio Grande do Sul seriam, deixa eu ver, 3,5 milhões de couros mais ou menos.[fim]”

O setor industrial dessa cadeia vem apresentando, no decorrer do tempo, vários problemas que interferem na sua sustentabilidade. Entre eles, podemos citar a ociosidade e o envelhecimento das plantas projetadas para uma realidade distinta da atual e a sazonalidade de oferta de bovinos comprometendo a competitividade das mesmas.

A capacidade instalada de processamento de carne nos frigoríficos do RS é de 6 milhões de cabeça/ano (Cachapuz, 1995) para um abate total médio estimado 2.300.000 cabeças. Este fato, associado ao expressivo abate irregular (em torno de 50 %) tem ocasionado a ociosidade, o fechamento e mesmo falências nesse setor.

A exportação de carne bovina no RS já viveu momentos mais promissores, com aproximadamente 12 plantas exportadoras habilitadas e operando com o mercado externo. Porém, atualmente apenas 01 (uma) empresa (Mercosul) está operando regularmente com o mercado externo de carne bovina (há informações de que mais uma empresa está começando a exportar). A exportação de carnes bovinas do RS atingiu em 2002 o montante de 57 mil toneladas, enquanto a exportação brasileira deste produto foi da ordem de 1.000 mil toneladas.

Em relação às indústrias, há 23 plantas de abate de bovinos sob inspeção federal, 149 plantas ativas para abate de bovinos sob inspeção estadual e 127 abatedouros sob inspeção municipal. Porém, o Conselho Regional de Medicina Veterinária apresentou uma relação de 893 empresas registradas no órgão, com atividades na área de industrialização de carnes.

Estranhamente nos deparamos com o fato de que, apesar dos incentivos fiscais concedidos às empresas inscritas no Programa Agregar/RS, apenas 01 (uma) indústria está registrada no SIM, 107 (cento e sete) indústrias registradas na CISPOA e 17 indústrias registradas no SIF e inscritas e homologadas no programa estadual de apoio ao setor auferindo os seus benefícios.

O abate irregular (clandestino) tem promovido uma concorrência desleal no setor, prejudicando sensivelmente as empresas organizadas e afastando as indústrias eficientes do mercado. Esse abate irregular fomenta o crescimento de abatedouros com duvidosos níveis higiênicos - sanitários e sem nenhum tipo de inspeção sanitária oficial, contribuindo para a difusão de doenças e intoxicações alimentares e, ainda, e para a evasão de receitas tributárias.

A baixa rentabilidade do setor industrial pode também ser atribuída à pequena margem de valor agregado da carne bovina, porque, tradicionalmente, essa ainda é comercializada em forma de carcaça, dividida em traseiro, dianteiro e costela, e, apenas poucos frigoríficos comercializam carne em cortes e/ou produtos de maior valor agregado.

A comercialização da carne bovina é feita via mercado, onde praticamente não há especificidade dos produtos ofertados. Apesar de alguns avanços que ocorreram no setor, ainda não é considerado, para a formação, o preço junto ao produtor e as diferenças de rendimento de carcaça que ocorrem entre as raças e idades, o que, de certa forma, não estimula o produtor a produzir animais com maior qualidade.

ESTRUTURAÇÃO DA CADEIA AGROINDUSTRIAL DA BOVINOCULTURA DE CORTE:

A cadeia de carnes bovina no RS, bem como no Brasil, é bastante desarticulada entre os diferentes agentes, e o produto tratado como commodity tem um preço de referência através das relações de mercado, dificultando a identificação de produtos diferenciados com um plus de qualidade, mesmo que eles existam no mercado.

Em geral, o relacionamento entre os diversos elos da cadeia se dá pela disputa de margens de comercialização, sem que haja uma interação calçada em projetos com estratégias e objetivos estabelecidos. Em resumo, cada agente atua de forma independente, sem que sejam formadas parcerias visando à colocação no mercado de produtos diferenciados, distribuídos ao longo do ano e diminuindo o efeito da sazonalidade de oferta de matéria-prima.

Com o incremento gradativo da rastreabilidade, exigência já obrigatória para a exportação à União Européia, é cada vez mais importante a integração da cadeia produtiva através de parcerias que organizam a produção e a distribuição de carne com origem e qualidade comprovada, oferecendo aos consumidores de quaisquer mercados a garantia do produto final ofertado.

Como a cadeia é desarticulada e os supermercados são os responsáveis pela distribuição da grande maioria do produto ao consumidor, de uma forma geral, são eles que estabelecem as regras na cadeia da carne bovina e tem um papel muito significativo na definição dos preços praticados em todos os segmentos dessa cadeia. Esta afirmativa está baseada no fato de que o consumidor é o regulador de preços. O aumento do produto ao consumidor final imediatamente reflete na redução ou, até mesmo, na estagnação das vendas. O consumidor é sensível aos aumentos de preços, e como estes mantém uma relação muito próxima dos supermercados, estes passam a repassar os efeito da “ponta” para os demais elos da cadeia produtiva.

O Governo, pelo seu lado, tem tentado contribuir para a melhoria de condições para a organização da cadeia em geral, criando os Programas de “Apoio aos Frigoríficos” (1992), “Carne de Qualidade” (1995) e “Agregar Carnes/RS” (2001)que, basicamente, objetivaram a melhoria da produção e a comercialização das carnes bovinas e bubalinas no RS. De um modo geral, esses programas visavam a aumentar a competitividade da cadeia agroindustrial, à adequação das plantas frigoríficas, à regularização dos abates irregulares com o aumento dos abates sob inspeção sanitária oficial, ao combate à sonegação fiscal, à melhoria do produto final, à distribuição uniforme de carnes durante o ano e a uma melhor qualidade dos couros oriundos dos abates no Estado.

Na verdade, nesta última década, pouco dos objetivos desses programas foram atingidos, como o aumento significativo dos abates oficiais alcançados em 1997, 1998 e 1999 (posteriormente houve decréscimo novamente), uma melhoria estrutural das plantas frigoríficas registradas no SIF e na CISPOA e uma distribuição mais uniforme de carne no varejo no decorrer do ano. E, ainda se pode citar uma certa diminuição da idade média dos bovinos com destino ao abate. Entretanto, além dos objetivos não alcançados, que devem ser revistos na hipótese de haver outros programas para o setor, as entidades governamentais devem-se preocupar com o apoio aos produtores rurais de bovinos de corte, porque, segundo depoimentos de entidades de produtores, a grande omissão nesses programas foi a não-inclusão de benefícios diretos ao produtor, que é o elo inicial da cadeia.

ESTRUTURAÇÃO DOS PRODUTORES RURAIS NA CADEIA AGROINDUSTRIAL DA BOVINOCULTURA:

Atualmente, o Rio Grande do Sul conta, segundo dados do DPA/SAA, com 373.978 propriedades rurais e 387.093 produtores rurais responsáveis pela criação de 14.149.321 cabeças de bovinos e 73.430 cabeças de bubalinos, sendo que, 38% das propriedades e dos produtores e 71% dos bovinos estão localizados na Metade Sul e 62% das propriedades e dos produtores e 29% dos bovinos estão situados na Metade Norte do Estado.

Foi informado pela SICADERGS que o número de produtores rurais com atividade específica e significativa na pecuária de corte atinge o montante, aproximado, de 81.000 produtores, indicando apenas 21% do total de proprietários de bovinos do RS.

A falta de gerenciamento adequado da propriedade e a pouca profissionalização e especialização do produtor rural são apontados como fatores importantes na apuração de baixos índices produtivos e econômicos gerais do setor e perda de competitividade comparada com os produtores de outros Países. O avanço em gerenciamento da propriedade rural tem como consequência direta a modernização do produtor, com o uso de tecnologias, maior conhecimento na utilização do solo, produção e conservação adequada de forragens, exigências alimentícias, manejo reprodutivo, genético e ainda a agregação de máquinas, equipamentos e instalações apropriadas ao melhor desempenho da propriedade rural. (Krug)

Outro fator de influência na atividade de bovinocultura no Estado do Rio Grande do Sul é a constante diminuição da escala de produção das propriedades rurais, que causa limitação da capacidade de investimento do produtor e conseqüentemente limita a modernização da processo produtivo.

O gerenciamento e a profissionalização são fatores preponderantes para a competitividade no setor, segundo Almeida e Yamaguchi “a profissionalização dos produtores melhorará o aproveitamento de sua propriedade, mediante a incorporação e utilização de técnicas adequadas, resultando numa melhor relação custo/benefício para os produtores. Isto ocorrerá, sobretudo, pelo estabelecimento, na cooperativa ou na indústria, de assistência técnica credenciada, personalizada e cooperativada.”

Há muito se discute sobre sistema de produção de bovinos: qual o melhor, o mais econômico e o mais produtivo. Em função dos objetivos propostos são classificados em intensivos (confinado, semiconfinado ou a pasto) ou extensivos (a pasto).

A diversidade edafoagroclimática e topográfica brasileira leva a uma diferença muito grande de modelos de produção com diferentes níveis de sucesso e, conseqüentemente, de explorações mais ou menos complexas (Jank, 1999).

Conceitualmente, podemos dizer que o sistema intensivo confinado se caracteriza pela utilização de gado especializado, alimentação adequada,

alojamento, água à vontade e ambientação para os animais, sendo que os animais são mantidos em estábulos e a alimentação é totalmente administrada no cocho.

O sistema intensivo semiconfinado é aquele em que os animais são confinados com disponibilidade de alimentação e água ao mesmo tempo em que os animais têm acesso às pastagens cultivadas por determinados períodos do dia.

O sistema intensivo a pasto é definido como sendo aquele no qual os animais são criados a campo, em piquetes de pastagens cultivadas e com manejo rotacionado, podendo ou não haver suplementação de forragens no cocho.

Já, o sistema de produção extensiva a campo caracteriza-se por ser aquele em que o produtor possui uma fração de terra, capital e mão-de-obra, coloca animais em uma determinada área, normalmente de campo nativo (melhorado ou não) e após um período completa o seu ciclo produtivo (cria, recria, engorda ou ciclo completo). Este é o sistema produtivo da bovinocultura de corte adotado pela imensa maioria de produtores rurais do RS.

Segundo a FARSUL (pelo representante F. Adauto), em relação aos aspectos de rebanho, um dos grandes problemas da pecuária bovina de corte no Rio Grande do Sul é a desestruturação do setor. Inegavelmente no Rio Grande do Sul a pecuária de corte se apresenta muito distinta da pecuária de corte do restante do Brasil. No nosso Estado produzimos animais de raças européias, principalmente raças britânicas, que são animais produtores de carne com melhor acabamento e marmoreio com destino preferencial para a grelha. Enquanto no restante do Brasil, que é quase um continente, e que tem um rebanho bovino imensamente maior do que o Rio Grande do Sul, há outras raças bovinas, especialmente o Nelore.

O Rio Grande do Sul representa, atualmente, aproximadamente 8% do rebanho nacional, e, o nosso desempenho, com essa desestruturação do setor, aponta para uma exportação na ordem de 4 a 5% do volume total de carne bovina exportada pelo Brasil em 2002.

É evidente que os clientes da carne gaúcha não são os mesmos clientes do produto oriundo do Centro-Oste - nós disputamos o mercado internacional com o Uruguai e a Argentina, que têm uma produção semelhante a nossa. É importante destacar que o Rio Grande do Sul também tem preferência para esse tipo de carne em todos os Estados brasileiros, inclusive em alguns grandes centros, como São Paulo. As raças criadas no Rio Grande do Sul são fator de mídia, de propaganda, na valorização do produto final (F. Adauto/FARSUL).

Outro problema apontado pelos produtores gaúchos nas relações de mercado é sobre a guerra fiscal entre os Estados que proporcionam benefícios que são agregados ao valor da carne e apropriados pelos compradores de carnes oriundas de outras unidades da federação, ocasionando uma concorrência desleal com as indústrias regularmente instaladas no RS. Vale ressaltar que houve recentemente um ajuste tributário em relação ao Centro-Oeste. Porém, perduram diferenças significativas em relação a carnes com origem em outros Estados do

País.

ESTRUTURAÇÃO DA INDÚSTRIA NA CADEIA AGROINDUSTRIAL DA BOVINOCULTURA DE CORTE:

Esta cadeia produtiva poderia ser segmentada, de jusante a montante, nos diversos segmentos de comercialização, industrialização e produção primária. No entanto, na lógica dessas operações, considera-se o consumidor final como sendo o grande indutor de mudanças do sistema. Portanto, o consumidor de carne bovina tem um papel muito importante entre os diferentes agentes da cadeia, contribuindo substancialmente para o bom desempenho e coordenação da cadeia em geral.

O setor agroindustrial assume uma participação fundamental dentro do complexo de produção de carnes, tendo em vista, principalmente, o fato deste produto ser altamente perecível, o que implica em cuidados especiais em todas as fases de transporte, armazenamento e exposição à venda. Também deve haver uma preocupação quanto à utilização de embalagens apropriadas, e ainda, padronização nos cortes, grau de limpeza, quantidade e porção.

As atividades industriais propriamente ditas, como a utilização de técnicas adequadas de abate, processamento e resfriamento, também interferem sobremaneira na garantia de melhor qualidade do produto final.

Um estudo da Fundação Getúlio Vargas (FGV) sobre melhores oportunidades de investimento para exportação cita o seguinte: “.....e apesar da carne bovina aparecer como produto de grande interesse nos mercados mundiais, neste mesmo estudo ela está entre as piores colocações. Por quê ? Porque, junto com a do leite, é uma das cadeias mais desorganizadas.”

A principal causa apurada para esta desorganização, segundo o prof. Mauro de Rezende Lopes na revista DBO/agosto 2002, é “o ambiente do negócio que historicamente é pouco favorável ao entendimento e a confiança, e, COM DESCONFIANÇA, NÃO DÁ.”

Nas tabelas abaixo, demonstra-se como estão distribuídas as indústrias frigoríficas no Estado do RS.

RELAÇÃO DAS EMPRESAS ASSOCIADAS AO SICADERGS, COM O ABATE E FATURAMENTO RELATIVO À 2002

Nome LocalidadeUnid. Industrial

Filiais N° Func Área Planta (m2)Tipo Inspe-ção

Nº de animais abatidos (2002)

Faturamento 2002R$

FRIG. MERCOSUL LTDA. Bagé 1 3 797 25.208,00 F 167.636 112.320.608,86SONAE (FRIGONAL) Montenegro F 64.082COOP. AGROP. SULCOOP LTDA. Bom Retiro do Sul 1 1 74 3.218,91 F 42.318 30.602.118,00FRIG. JG LTDA. Caçapava do Sul 1 174 4.483,00 F 36.218FRIG. MERCOSUL LTDA. Mato Leitão 1 119 3.100,00 F 33.015 43.252.980,96FRIG. SILVA IND. E COM. LTDA. Santa Maria 2 1 176 5.000,00 F 26.150COOP. SUIN.CAÍ SUPERIOR LTDA. Harmonia 1 260 7.000,00 F 26.160FRIG. E DISTRIB. DE CARNES BOA VISTA LTDA.

Sta. Maria do Herval 1 23 3.252,00 E32.731

FRIG. MARIANTE LTDA. Venâncio Aires 1 50 3.019,50 F 23.258 1.971.571,19FRIG. AB LTDA. Parobé 1 103 10.000,00 F 23.502PROVIN MILANI COM. DE ALIMENTOS LTDA. Bento Gonçalves 1 1 85 800,00 EFRIG. KROTH LTDA. Venâncio Aires 1 64 1.598,00 E 21.965 16.334.862,84FRIG. EXTREMO SUL S/A Capão do Leão 1 232 9.565,00 F 10.887FRIG. ROEHL LTDA. Venâncio Aires 1 51 820,00 E 17.737MASTERSUL DISTRIB. DE CARNES E CEREAIS LTDA.

São Jerônimo 1 20 2.100,00 F16.466

FRIG. TRÊS C S/A Rio Pardo F 16.545COOP LEOP. DOS TRAB. NAS IND. CARNES E DERIV.

São Leopoldo 1 82 2.520,00 E17.043

FRIG. CAXIENSE LTDA. Caxias do Sul 1 51 2.500,00 F 21.681CALLEGARO E IRMÃOS LTDA. Santo Ângelo E 13.317 10.488.866,14BOA ESPERANÇA AGROINDÚSTRIA LTDA. Sto. Ant. Patrulha 1 64 1.850,45 E 15.216FRIG. RIOGRANDENSE LTDA. Farroupilha 1 101 4.500,00 F 14.376 2.252.469,73RAPHAEL VANHOVE & FILHOS LTDA. São Gabriel 1 1 34 752,00 E 8.437IRMÃOS GREVE & CIA. LTDA. (Líder) Viamão 1 100 6.000,00 E 10.663 3.777.062,00COOP. FRONT. OESTE CARNES E DERIV. Uruguaiana 1 51 15.209,92 E 8.726 8.169.372,98COOP. TRIT. PANAMBI LTDA.- COTRIPAL Condor 1 84 5.915,00 E 9.368 9.342.853,72AIRTON KLEIN Carazinho 1 15 400,00 E 8.571 4.902.264,66COOP. VALE VERDE LTDA. Westfalia 1 14 1.800,00 E 6.824COML. JACUÍ LTDA. Passo Fundo 1 32 2.000,00 E 807 1.765.600,41FRIG. LEUSIN LTDA. Cachoeira do Sul 1 1 21 700,00 E 7.527FRIG. ZIMMER LTDA. Sapiranga 2 1 36 800,00 E 5.711 5.103.249,34COOP REG CASTILHENSE DE CARNES E DER LTDA.

Júlio de Castilhos 1 390 2.674,00 F4.703

FRIG. LIFT LTDA. Gravataí 1 6 620,00 E 4.741FRIG. ROLOFF S/A Pelotas E 3.051ABATEDOURO BOI GORDO - FRIG. LTDA. Carazinho E 3.645FRIG. PASTORE LTDA. Antônio Prado 1 10 535,44 E 3.657 1.585.971,72JOSÉ TADEU VAZ (FRIG. VALE DO SOL) Vale do Sol 1 3 600,00 E

FRIG. SÃO VICENTE LTDA. Santa Maria 1 20 768,05 E 3.271FRIG. SENTINELA Caçapava do Sul 1 3 1.500,00 E 2.943MARCELO SARTORI Augusto Pestana 1 8 420,00 E 583 1.869.661,22FRIG. LAGOENSE LTDA. Sto. Ant. Patrulha E 1.967P. R. MACIEL & CIA. LTDA. Taquara 1 8 246,00 E 1.593COOP. AGROP. ALTO URUGUAI LTDA. Três de Maio 1 10 374,95 E 1.817 659.060,00FRIG. RODEIO LTDA. Triunfo 1 9 350,00 E 1.841 1.289.336,13RENATO TELLES Ibiaça 1 6 259,00 E 1.445NEIDEMAR DIAS DE OLIVEIRA & CIA. LTDA. São José do Norte MFRIG. SÃO JOSÉ DO SUL LTDA. Salvador do Sul 1 5 240,00 E 332BE COM. IND. IMP. EXP. S/A (PAMPEANO)(*) Hulha Negra 1 429 25.000,00 F Não abate 83.614.786,00CELGON AGROINDUSTRIAL LTDA. (*) Alvorada F Não abateIND COM TRANSP ROD DE CARNES PANTANENSE LTDA. (EX-CODISTAL)

1 1 15.000,00 F8.840

COOP. IND. CARNES E DERIV. RIO VACACAÍ – COORIVA 1 98 16.000,00 F 1.483FRIG. DO SUL LTDA. Passo do Sobrado 1 43 2.400,00 ECONSERVAS ODERICH S/A (*) São Sebastião do Caí 1 F Não abateFRANGOSUL S/A - AGRO AVÍCOLA INDUSTRIAL(*)

Montenegro 1 F

FAZENDA ANA PAULA & CARNES LTDA. (*) São Leopoldo F Não abate QUALITY BRASIL ALIMENTOS LTDA. (*) Canoas 1 E Não abate 2.679.748,20SEFAR - IND. E COM. DE FARINHA E SEBO LTDA (*) 1 F Não abate

(*) Não abatemTipos de InspeçãoM: MunicipalE: EstadualF: Federal

Nome Localidade Unid. Industrial Filiais N° Func Área Planta (m2)Tipo Inspe-ção

Nº de animais abatidos (2002)

Faturamento 2002R$

FRIG. MERCOSUL LTDA. Bagé 1 3 797 25.208,00 F 167.636 112.320.608,86SONAE (FRIGONAL) Montenegro F 64.082COOP. AGROP. SULCOOP LTDA. Bom Retiro do Sul 1 1 74 3.218,91 F 42.318 30.602.118,00FRIG. JG LTDA. Caçapava do Sul 1 174 4.483,00 F 36.218FRIG. MERCOSUL LTDA. Mato Leitão 1 119 3.100,00 F 33.015 43.252.980,96FRIG. SILVA IND. E COM. LTDA. Santa Maria 2 1 176 5.000,00 F 26.150COOP. SUIN.CAÍ SUPERIOR LTDA. Harmonia 1 260 7.000,00 F 26.160FRIG. E DISTRIB. DE CARNES BOA VISTA LTDA.

Sta. Maria do Herval 1 23 3.252,00 E32.731

FRIG. MARIANTE LTDA. Venâncio Aires 1 50 3.019,50 F 23.258 1.971.571,19FRIG. AB LTDA. Parobé 1 103 10.000,00 F 23.502PROVIN MILANI COM. DE ALIMENTOS LTDA. Bento Gonçalves 1 1 85 800,00 EFRIG. KROTH LTDA. Venâncio Aires 1 64 1.598,00 E 21.965 16.334.862,84FRIG. EXTREMO SUL S/A Capão do Leão 1 232 9.565,00 F 10.887FRIG. ROEHL LTDA. Venâncio Aires 1 51 820,00 E 17.737MASTERSUL DISTRIB. DE CARNES E CEREAIS LTDA.

São Jerônimo 1 20 2.100,00 F16.466

FRIG. TRÊS C S/A Rio Pardo F 16.545COOP LEOP. DOS TRAB. NAS IND. CARNES E DERIV.

São Leopoldo 1 82 2.520,00 E17.043

FRIG. CAXIENSE LTDA. Caxias do Sul 1 51 2.500,00 F 21.681CALLEGARO E IRMÃOS LTDA. Santo Ângelo E 13.317 10.488.866,14BOA ESPERANÇA AGROINDÚSTRIA LTDA. Sto. Ant. Patrulha 1 64 1.850,45 E 15.216FRIG. RIOGRANDENSE LTDA. Farroupilha 1 101 4.500,00 F 14.376 2.252.469,73RAPHAEL VANHOVE & FILHOS LTDA. São Gabriel 1 1 34 752,00 E 8.437IRMÃOS GREVE & CIA. LTDA. (Líder) Viamão 1 100 6.000,00 E 10.663 3.777.062,00COOP. FRONT. OESTE CARNES E DERIV. Uruguaiana 1 51 15.209,92 E 8.726 8.169.372,98COOP. TRIT. PANAMBI LTDA.- COTRIPAL Condor 1 84 5.915,00 E 9.368 9.342.853,72AIRTON KLEIN Carazinho 1 15 400,00 E 8.571 4.902.264,66COOP. VALE VERDE LTDA. Westfalia 1 14 1.800,00 E 6.824COML. JACUÍ LTDA. Passo Fundo 1 32 2.000,00 E 807 1.765.600,41FRIG. LEUSIN LTDA. Cachoeira do Sul 1 1 21 700,00 E 7.527FRIG. ZIMMER LTDA. Sapiranga 2 1 36 800,00 E 5.711 5.103.249,34COOP REG CASTILHENSE DE CARNES E DER LTDA.

Júlio de Castilhos 1 390 2.674,00 F4.703

FRIG. LIFT LTDA. Gravataí 1 6 620,00 E 4.741FRIG. ROLOFF S/A Pelotas E 3.051ABATEDOURO BOI GORDO - FRIG. LTDA. Carazinho E 3.645FRIG. PASTORE LTDA. Antônio Prado 1 10 535,44 E 3.657 1.585.971,72JOSÉ TADEU VAZ (FRIG. VALE DO SOL) Vale do Sol 1 3 600,00 EFRIG. SÃO VICENTE LTDA. Santa Maria 1 20 768,05 E 3.271FRIG. SENTINELA Caçapava do Sul 1 3 1.500,00 E 2.943

MARCELO SARTORI Augusto Pestana 1 8 420,00 E 583 1.869.661,22FRIG. LAGOENSE LTDA. Sto. Ant. Patrulha E 1.967P. R. MACIEL & CIA. LTDA. Taquara 1 8 246,00 E 1.593COOP. AGROP. ALTO URUGUAI LTDA. Três de Maio 1 10 374,95 E 1.817 659.060,00FRIG. RODEIO LTDA. Triunfo 1 9 350,00 E 1.841 1.289.336,13RENATO TELLES Ibiaça 1 6 259,00 E 1.445NEIDEMAR DIAS DE OLIVEIRA & CIA. LTDA. São José do Norte MFRIG. SÃO JOSÉ DO SUL LTDA. Salvador do Sul 1 5 240,00 E 332BE COM. IND. IMP. EXP. S/A (PAMPEANO)(*) Hulha Negra 1 429 25.000,00 F Não abate 83.614.786,00CELGON AGROINDUSTRIAL LTDA. (*) Alvorada F Não abateIND COM TRANSP ROD DE CARNES PANTANENSE LTDA. (EX-CODISTAL)

1 1 15.000,00 F8.840

COOP. IND. CARNES E DERIV. RIO VACACAÍ – COORIVA 1 98 16.000,00 F 1.483FRIG. DO SUL LTDA. Passo do Sobrado 1 43 2.400,00 ECONSERVAS ODERICH S/A (*) São Sebastião do Caí 1 F Não abateFRANGOSUL S/A - AGRO AVÍCOLA INDUSTRIAL(*)

Montenegro 1 F

FAZENDA ANA PAULA & CARNES LTDA. (*) São Leopoldo F Não abate QUALITY BRASIL ALIMENTOS LTDA. (*) Canoas 1 E Não abate 2.679.748,20SEFAR - IND. E COM. DE FARINHA E SEBO LTDA (*) 1 F Não abate

(*) Não abatemTipos de InspeçãoM: MunicipalE: EstadualF: Federal

RELAÇÃO DOS ESTABELECIMENTOS FRIGORÍFICOS DE ABATE DE BOVINOS REGISTRADOS NO SIF COM O MUNICÍPIO DE LOCALIZAÇÃO

SIF Razão Social Classifi-cação

Município Espécies que abate

7 General Meat Food Exportação e Imp. Ltda.

maf Santana do Livramento

Bovinos

68 Coop. Triticola Erechim Ltda. mac Erechim Bovinos168 Coop. Regional Rural

Santanense Ltda.maf Santana do

LivramentoBovinos

226 BE Comércio Ind. Imp. Exp. S/A

maf Hulha Negra Não abate

232 Frigorífico Mercosul Ltda. maf Bagé Bovinos234 Frigorífico Riograndense Ltda. maf Farroupilha Bovinos435 Quality Brasil Alimentos Ltda. ecd Canoas Não abate671 Sonae Distribuição Brasil S/A maf Montenegro Bovinos702 Frigorífico J G Ltda. maf Caçapava do

SulBovinos

847 Coop.Ind. Carnes e Der.Rio Vacacai Ltda

maf São Gabriel Bovinos

1651

Frigorífico Extremo Sul S/A maf Capão do Leão

Bovinos

1733

Frigorífico Silva Ind.e Com.Ltda.

maf Santa Maria Bovinos

1847

Frigorífico AB Ltda. maf Parobé Bovinos

2007

Cootaal-Coop.de Trabalho Autogestionada de Alimentos Ltda

maf Alegrete Bovinos

2205

Frigorífico Caxiense Ltda. maf Caxias do Sul Bovinos

2679

Ind.Com.Tran Rod.Carnes Pantanense Ltda.

maf Pantano Grande

Bovinos

2850

Coop. Agro Pecuária Sulcoop Ltda.

maf Bom Retiro do Sul

Bovinos

3024

Frigorífico Mariante Ltda. maf Venancio Aires

Bovinos

3187

Agropastoril BS Ltda. maf Tupanciretã Bovinos

3766

Fazenda Ana Paula e Carnes Ltda.

fac São Leopoldo Não abate

3787

Frigoríifico Três C S/A maf Rio Pardo Bovinos

4101

Frigorífico Mercosul Ltda. maf Mato Leitão Bovinos

4249

Mastersul Distribuidora de Carnes e Cereais Ltda.

maf São Jerônimo Bovinos

LEGENDAMaf = matadouro frigoríficoFps= fábrica de produtos suinosMac= matadouro de aves e coelhosEcd= entreposto de carnes e derivadosEnf= entreposto frigoríficoFpnc= fábrica de produtos não comestíveisFac= fábrica de conservasEno= entreposto de ovos

RELAÇÃO DAS EMPRESAS FRIGORÍFICAS REGISTRADAS NA CISPOA COM O MUNICÍPIO DE LOCALIZAÇÃO, ANO DE REGISTRO E ATIVIDADE OPERACIONAL

ESTADO DO RIO GRANDE DO SULSECRETARIA DA AGRICULTURA E ABASTECIMENTO

ESTABELECIMENTOS COM REGISTROAtualizada em Novembro/2003Por nº de CISPOA e Endereço

CISPOA

ESTABELECIMENTOS MUNICÍPIO ANO ATIVIDADE

1 105 COOPERATIVA TRITÍCOLA ESPUMOSO LTDA

Espumoso 95 Matadouro-Frigorífico (bov/ovin/suí) e FCPC

2 106 RAPHAEL VANHOVE & FILHOS LTDA São Gabriel 95 Matadouro-Frigorífico (bov/ovin/suí)

3 109 TAITA COM.CARNES MANUFATURADOS LTDA

Rio Grande 95 Matadouro-Frigorífico (bov/ovin)

4 111 FRIGORÍFICO CORDIAL LTDA Barra do Ribeiro

95 Matadouro-Frigorífico (bovinos)

5 112 FRIGORÍFICO ROSÁRIO DO SUL LTDA. Rosário do Sul 95 Matadouro-Frigorífico

(bovinos/ovinos)

6 113 FRIGORÍFICO FAMILE LTDA Pelotas 95 Matadouro-Frigorífico (bov/ovin)

7 116 FRIGORÍFICO ROLOFF LTDA Pelotas 95 Matadouro-Frigorífico (bov/ovin)

8 117 BONSUL-IND.COM.CARNES E DERIVADOS LDA

Pelotas 95 Matadouro-Frigorífico (bov/ovin/suí) e FCPC

9 121 FRIGORÍFICO DO SALSO Pelotas 95 Matadouro-Frigorífico (bov/ovin)

10 122 MATADOURO RUBENS BERNI Morro Redondo

95 Matadouro-Frigorífico (bov/ovin)

11 124 FRIGORÍFICO ROTATTI LTDA. Canguçu 95 Matadouro-Frigorífico (bov/ovin)

12 125 SALABERRY & CIA. LTDA. Arroio Grande 95 Matadouro-Frigorífico (bov/ovin)

13 126 IRMÃOS SAGRILLO LTDA. Santiago 95 Matadouro-Frigorífico (bov/ovin/suí)

14 127 MAT.BELA UNIÃO SANTIAGO LT Santiago 95 Matadouro-Frigorífico (bov/ovin/suí)

15 128 CALEGARO & IRMÃOS LTDA. Santo Ângelo 95 Matadouro-Frigorífico (bov/ovin)

16 130 COOPERATIVA AGRO-PECUÁRIA ALTO URUGUAI LTDA.

Três de Maio 95 Matadouro-Frigorífico (bov/suí)

17 137 FRIGORÍFICO KROTH LTDA. Venâncio Aires 95 Matadouro-Frigorífico (bovinos)

18 139 FRIGORÍFICO ROEHL LTDA. Venâncio Aires 95 Matadouro-Frigorífico (bovinos)

19 140 FRIGORÍFICO MARIENSE Vila Maria 95 Matadouro-Frigorífico (bovinos)

20 142 FRIGORÍFICO ZIMMER LTDA Sapiranga 95 Matadouro-Frigorífico (bovinos)

21 143 COM. DE CARNES BLAU LTDA. Santa Clara do Sul

95 Matadouro-Frigorífico (bov/suí)

22 145 FRIGORÍFICO GLÓRIA LTDA. Fazenda Vila Nova

95 Matadouro-Frigorífico (bov/ovin/suí)

23 146 FRIGORÍFICO BOA ESPERANÇA 61 St.º Antônio da Patrulha

95 Matadouro-Frigorífico (bovinos)

24 147 FRIGORÍFICO LAGOENSE LTDA St.º Antônio da Patrulha

95 Matadouro-Frigorífico (bovinos)

25 148 MAT COM CARNES SCHERER Marques de Souza

95 Matadouro-Frigorífico (bovinos)

26 154 FRIGORÍFICO MEAT COMPANY LTDA. Campo Bom 95 Matadouro-Frigorífico (bovinos/bubalinos)

27 156 CELANIRA DE QUEVEDO OLIVEIRA 57 São Martinho da Serra

95 Matadouro-Frigorífico (bov/ovin)

28 160 FRIGORÍFICO SÃO VICENTE Santa Maria 95 Matadouro-Frigorífico (bov/ovin)

29 162 COOP.AGROP.SUL CARNES LT -COOPEC Cachoeira do Sul

95 Matadouro-Frigorífico (bovinos)

30 168 IRMÃOS HOFFMEISTER LTDA. Morro Reuter 95 Matadouro-Frigorífico (bov/suí)

31 172 COOP. TRITÍCOLA PANAMBI-COTRIPAL Condor 95 Matadouro-Frigorífico (bov/suí) e FCPC

32 176 FRIGORÍFICO LEUSIN LTDA Cachoeira do Sul

95 Matadouro-Frigorífico (bov/ovin)

33 178 EUCLIDES JOSÉ DALLA NORA Cruz Alta 95 Matadouro-Frigorífico (bovinos)

34 179 ITÁLIA CARNES Taquara 95 Matadouro-Frigorífico (bov/suí) e FCPC

35 193 FRIGORÍFICO SANTA ROSA Taquara 95 Matadouro-Frigorífico (bovinos)

36 194 DISTR .DE CARNES CACO Capão do Leão 95 Matadouro-Frigorífico (bov/ovin)

37 201 FRIGORÍFICO VIAPIANA Antônio Prado 95 Matadouro-Frigorífico (bov/suí) e FCPC

38 202 COMÉRCIO GÊNEROS ALIMENTÍCIOS LAVRAS

Lavras do Sul 95 Matadouro-Frigorífico (bov/ovin)

39 208 NILTON NICOLLI São Borja 95 Matadouro-Frigorífico (bov/ovin)

40 209 PIZOLOTTO & PIZOLOTTO LTDA. Ijuí 95 Matadouro-Frigorífico (bovinos)

41 215 FRIGORÍFICO FONTOURA IND. DE CARNES

Vera Cruz 95 Matadouro-Frigorífico (bov/suí/ovi) e FCPC

42 222 IRMÃOS GREVE & CIA LTDA. Viamão 95 Matadouro-Frigorífico (bov/ovin/suí) e FCPC

43 236 FRIGORÍFICO DISTRIB.CARNES BOA VISTA LT

Santa Maria do Herval

95 Matadouro-Frigorífico (bov/suí) e FCPC

44 243 MATADOURO ESQUIL LTDA. Triunfo 95 Matadouro-Frigorífico (bovinos)

45 248 COMERCIAL DE CARNES TIGRE LTDA. Arroio do Tigre 95 Matadouro-Frigorífico (bov/suí)

46 250 FRIGORÍFICO CASON LTDA. Putinga 95 Matadouro-Frigorífico (bov/ovin/suí)

47 257 ZATTI & CIA LTDA. Ibiraiaras 95 Matadouro-Frigorífico (bov/suí) e

FCPC

48 259 MATADOURO DA SERRA LTDA. Nova Petrópolis

95 Matadouro-Frigorífico (bov/suí)

49 263 COMERCIAL DE CARNES DE BONA LTDA. Ibarama 95 Matadouro-Frigorífico (bov/ovin/suí)

50 270 IRMÃOS DAMETTO LTDA. Tapejara 95 Matadouro-Frigorífico (bov/ovin)

51 274 FRIGORÍFICO DO SUL LTDA Passo do Sobrado

95 Matadouro-Frigorífico (bovinos)

52 283 FRIGORÍFICO CAIPIRA Rodeio Bonito 95 Matadouro-Frigorífico (bov/suí)

53 286 ROBERTO A. BAUM Coqueiros do Sul

95 Matadouro-Frigorífico (bov/ovin/suí)

54 294 COOP. AGRIC. MISTA NOVA PALMA Nova Palma 95 Matadouro-Frigorífico (bov/ovin/suí) e FCPC

55 315 COOPERATIVA SANTA CLARA Carlos Barbosa 95 Matadouro-Frigorífico (bov/suí) e FCPC

56 322 AIRTON KLEIN Almirante Tamandaré

95 Matadouro-Frigorífico (bov/ovin/suí)

57 336 FRIGORÍFICO CARBONI Guaíba 95 Matadouro-Frigorífico (bovinos)

58 347 FRIGORÍFICO HENRICH LTDA. Selbach 95 Matadouro-Frigorífico (bovinos)

59 348 PROVIN MILANI COMÉRCIO ALIMENTOS Farroupilha 95 Matadouro-Frigorífico (bovinos-ovinos)

60 353 JAQUES A. SALVATI & CIA. LTDA. Santo Augusto 95 Matadouro-Frigorífico (bov/ovin)

61 357 JOÃO ALFREDO CRAUS Vacaria 95 Matadouro-Frigorífico (bovinos)

62 358 FRIGORÍFICO GIROTTO LTDA. Vacaria 95 Matadouro-Frigorífico (bovinos)

63 370 P. A. QUINOT CIA. LTDA. Lajeado 95 Matadouro-Frigorífico (bovinos)

64 371 FRIGORÍFICO CASA DE PEDRA Igrejinha 95 Matadouro-Frigorífico (bov/suí) e FCPC

65 373 MENDES & MALDANER LTDA - ME São José do Ouro

95 Matadouro-Frigorífico (bovinos)

66 374 LUZARDO PEREZ LTDA. Bagé 95 Matadouro-Frigorífico (bovinos)

67 386 FRIPAL FRIG. PALMITAL LTDA Osório 96 Matadouro-Frigorífico (bovinos)

68 390 MATADOURO MINAS DO LEÃO LTDA Minas do Leão 2 Matadouro-Frigorífico (bovinos)

69 392 FRIGORÍFICO DAFEPAL LTDA. São Lourenço Sul

96 Matadouro-Frigorífico (bov/ovin/suí)

70 393 COOP.PROD.AGROP.CASCATA LTDA Pontão 96 Matadouro-Frigorífico (bov/suí) e FCPC

71 412 J.V.S. LOPES Alvorada 96 Matadouro-Frigorífico (bovinos/eqüinos)

72 414 R. C. KIRST & FILHOS LTDA. Santa Cruz do Sul

96 Matadouro-Frigorífico (bovinos)

73 415 RENATO TELLES Ibiaçá 96 Matadouro-Frigorífico (bovinos)

74 419 FRIGORÍFICO CAPITAL LTDA. Triunfo 96 Matadouro-Frigorífico (bovinos)

75 421 FRIGORÍFICO COQUEIRO LTDA. São Lourenço do Sul

96 Matadouro-Frigorífico (bov/ovin)

76 426 FRIGORÍFICO T. A. Rolante 96 Matadouro-Frigorífico (bov/suí) e FCPC

77 429 INCOAL IND. COM. DE ALIMENTOS LTDA Sapiranga 96 Matadouro-Frigorífico (bovinos)

78 431 FRIGORÍFICO MORUNGAVA 9 Gravataí 96 Matadouro-Frigorífico (bovinos)

79 432 FRIPASA FRIGORÍFICO MATADOURO LTDA

Cotiporã 96 Matadouro-Frigorífico (bov/ovin/suí) e FCPC

80 437 FRIGORÍFICO NICOLAU LTDA. 23 São José do Herval

96 Matadouro-Frigorífico (bov/suí) e FCPC

81 442 AÇOUGUE BROCHIER Brochier 96 Matadouro-Frigorífico (bovinos)

82 444 MULTICARNES COM. CARNES Montenegro 96 Matadouro-Frigorífico (bov/ovin)

83 447 ZANIN COM. PROD. ALIMENTÍCIOS Lagoa Vermelha

96 Matadouro-Frigorífico (bovinos)

84 449 FRIGORÍFICO SANTO ANTONIO LTDA. 52 Bento Gonçalves

97 Matadouro-Frigorífico (bovinos)

85 450 P. R. MACIEL & CIA. LTDA. Taquara 97 Matadouro-Frigorífico (bovinos)

86 453 HENRIQUE DELAR LAUCK Taquara 97 Matadouro-Frigorífico (bovinos)

87 454 FRIGORÍFICO BONNA CARNE LTDA Pelotas 97 Matadouro-Frigorífico (bov/ovin)

88 455 ABATEDOURO SERRANO LTDA. Encruzilhada 97 Matadouro-Frigorífico (bov/suí)

89 465 LUIZ CARLOS KIEKOW Taquara 97 Matadouro-Frigorífico (bov/suí)

90 468 FRIGORÍFICO SÃO JOSÉ SUL LTDA São José do 97 Matadouro-Frigorífico (bov/suí)

Sul

91 469 MATADOURO ZIMERMANN Nova Petrópolis

97 Matadouro-Frigorífico (bov/suí) e FCPC

92 482 IND. SUÍNO BOV. PROGRESSO LTDA. Progresso 97 Matadouro-Frigorífico (bov/suí)

93 491 BOISUL CARNES LTDA. Farroupilha 97 Matadouro-Frigorífico (bovinos)

94 492 FRIVERSUL FRIG. MAT. LTDA. Veranópolis 97 Matadouro-Frigorífico (bovinos)

95 499 FRIGORÍFICO DAL CASTEL LTDA. Riozinho 97 Matadouro-Frigorífico (bov/suí) e FCPC

96 500 MATADOURO JANIVAN LTDA. Nova Pádua 97 Matadouro-Frigorífico (bov/suí) e FCPC

97 501 MAT. MARTINI LTDA. Planalto 97 Matadouro-Frigorífico (bovinos)

98 502 MOCRIMA IND. COM. AGROPEC. Planalto 97 Matadouro-Frigorífico (bov/suí) e FCPC

99 505 FRIGORÍFICO PASTORE LTDA. Antônio Prado 97 Matadouro-Frigorífico (bovinos)

100 510 MAT. FRIGOSERRA LTDA. São Francisco de Paula

97 Matadouro-Frigorífico (bovinos)

101 515 FRIGORÍFICO LEON LTDA 63 Terra de Areia 97 Matadouro-Frigorífico (bovinos)

102 516 FRIGORÍFICO BOI NA BRASA LTDA São Marcos 97 Matadouro-Frigorífico (bovinos)

103 519 MIGUEL RIEHMULLER Augusto Pestana

97 Matadouro-Frigorífico (bovinos)

104 532 IRMÃOS TRESPACH LTDA. Terra de Areia 97 Matadouro-Frigorífico (bovinos)

105 533 ADIALE-VITÓRIA CAR.DER.ALIMENTARES LT

Encruzilhada do Sul

97 Matadouro-Frigorífico (bovinos)

106 534 ARNILDO FLORIANO DOS SANTOS Vera Cruz 97 Matadouro-Frigorífico (bovinos)

107 537 COOP. AGRIC. MISTA GEN. OSÓRIO Ibirubá 97 Matadouro-Frigorífico (bov/suí) e FCPC

108 539 COM. CARNES DIETER LTDA. Lajeado 97 Matadouro-Frigorífico (bov/ovin)

109 540 VIAN - IND. PROD. ALIM. LTDA. Dr. Ricardo 97 Matadouro-Frigorífico (bov/suí) e FCPC

110 541 MARCELO SARTORI Augusto Pestana

97 Matadouro-Frigorífico (bovinos)

111 546 LOPES & MOURA LTDA. Camaquã 98 Matadouro-Frigorífico (bov/ovin)

112 551 FRIGORÍFICO RODEIO LTDA Triunfo 98 Matadouro-Frigorífico (bovinos)

113 563 LORENZI & FRONCHETTI Muçum 98 Matadouro-Frigorífico (bov/suí)

114 566 JOSÉ CARLOS MOSCON CIA LTDA Guarani das Missões

98 Matadouro-Frigorífico (bov/ovin)

115 577 ABATEDOURO GALLAS LTDA. Santo Cristo 98 Matadouro-Frigorífico (bovinos)

116 578 COOP. FRONTEIRA OESTE DE CARNES LTDA.

Uruguaiana 98 Matadouro-Frigorífico (bovinos)

117 587 CARLITO HEUSER-ME Mato Leitão 98 Matadouro-Frigorífico (bovinos)

118 588 IDO HENZEL 28 Santo Cristo 98 Matadouro-Frigorífico (bovinos)

119 611 AGROINDÚSTRIA DOIS LAJEADENSE LTDA.

Dois Lajeados 99 Matadouro-Frigorífico (bov/ovin/suí) e FCPC

120 624 ROGER GUSTAVO ANDREOLLA Vista Alegre do Prata

99 Matadouro-Frigorífico (bov/suí) e FCPC

121 639 MANICA, MANICA E CIA LTDA. Água Santa 99 Matadouro-Frigorífico (bov/suí)

122 647 GIOVANA DORNELES CALLEGARO Catuípe 99 Matadouro-Frigorífico (bovinos)

123 650 IRENO FIORIN Manoel Viana 99 Matadouro-Frigorífico (bovinos)

124 652 COOPERATIVA MISTA SARANDIENSE LTDA.

Sarandi 99 Matadouro-Frigorífico (bov/suí) e FCPC

125 658 COOPERLEO – COOP. LEOPOLDENSE São Leopoldo 0 Matadouro-Frigorífico (bovinos)

126 662 SUPERMERCADO DEMARCO LTDA. Viadutos 0 Matadouro-Frigorífico (bovinos)

127 665 COOP.IND.COML.CARNES E DERIVADOS LTDA.

Hulha Negra 0 Matadouro-Frigorífico (bovinos)

128 668 FRIGORÍFICO PALMAR LTDA. Santa Vitória do Palmar

0 Matadouro-Frigorífico (bov/ovin)

129 670 MATADOURO MUNICIPAL SÃO JORGE São Jorge 0 Matadouro-Frigorífico (bovinos)

130 672 FRIGORÍFICO PAVERAMA LTDA Paverama 0 Matadouro-Frigorífico (bovinos)

131 679 JOSÉ TADEU VAZ 60 Vale do Sol 0 Matadouro-Frigorífico (bovinos)

132 683 IND.COM.CARNES VENDRAME Mariano Moro 0 Matadouro-Frigorífico (bov/suí) e FCPC

133 684 MARCIA REGINA PETRY Rolante 0 Matadouro-Frigorífico (bovinos)

134 689 IND.COM.DERIVADOS SUÍNOS SUICAR Engenho Velho 0 Matadouro-Frigorífico (bov/suí) e

LTDA FCPC

135 695 CASA DAS CARNES DE NOVA PRATA LTDA

Nova Prata 1 Matadouro-Frigorífico (bovinos)

136 697 MATADOURO HARTMANN LTDA Candido Godoi 1 Matadouro-Frigorífico (bovinos)

137 710 COOPERATIVA VALE VERDE LTDA Westphalia 1 Matadouro-Frigorífico (bovinos)

138 725 ABATEDOURO BOI GORDO FRIG.LTDA Carazinho 2 Matadouro-Frigorífico (bov/ovin/suí)

139 728 AGROINDÚSTRIA NOVA ALVORADA LTDA Nova Alvorada 2 Matadouro-Frigorífico (bov/suí) e FCPC

140 733 FRIGORÍFICO PARAIENSE LTDA Paraí 2 Matadouro-Frigorífico (bovinos)

141 748 COMERCIAL JACUI LTDA Passo Fundo 2 Matadouro-Frigorífico (bovinos)

142 751 SANCHES E SANTANA LTDA Vila Nova do Sul

2 Matadouro-Frigorífico (bovinos)

143 752 NEIDEMAR DIAS DE OLIVEIRA CIA LTDA São José do Norte

3 Matadouro-Frigorífico (bovinos)

144 757 D. V. GONÇALVES & CIA. LTDA. Cerrito 3 Micro Matadouro (Bovinos)

145 761 GASTÃO PETRY Crissiumal 3 Micromatadouro-Frigorífico (Bovinos)

146 762 RUDI NIEDERLE Crissiumal 3 Micromatadouro-Frigorífico (Bov/Suí/Ovi)

147 770 XISTO & HAAR LTDA. Santa Maria 3 Matadouro-Frigorífico (Bovinos, suínos e ovinos)

148 779 FRIGORÍFICO BCS LTDA. Portão 3 Matadouro-frigorífico (Bovinos)

Além dessas empresas listadas acima, temos aquelas registradas no Serviço de Inspeção Municipal (SIM) que, em conjunto, formam o sistema formal e legal de inspeção industrial e sanitária, em cujos estabelecimentos são produzidas as carnes e os seus produtos consumidos pela população gaúcha e também a parcela com destino à exportação.

As informações recebidas por esta CPI em relação ao abate sob inspeção municipal (SIM) não foram suficientes para que pudesse ser feito uma real radiografia deste setor da cadeia agroindustrial de carnes.

De qualquer sorte estamos inserindo os dados recebidos das prefeituras, que representam aproximadamente 4,19% do abate oficial do RS.

N.º total de municípios

N.ºde municípios

que informaram

N.º de municípios com

abatedouros

N.º total de abatedouros

N.º total de bovinos abatidos

(2002)496 204 (41.12%) 72 127 51.974 (4,33%)

Apesar de todas essas empresas que estão registradas no sistema oficial de inspeção sanitária e nas quais foram abatidas aproximadamente 1.200.000 cabeças de bovinos, segundo os dados fornecidos pelos respectivos serviços (com exceção do SIM), não podemos furtar-nos de registrar a informação do Conselho Regional de Medicina Veterinária (CRMV/RS), que aponta para um número de 893 empresas relacionadas com abate e/ou industrialização de carnes registradas no órgão.

A facilidade do abate irregular excessivo e predatório para o setor agroindustrial da bovinocultura de corte começa a ser explicado pelos números apresentados acima pois, do total das empresas registradas no CRMV, apenas 30% delas estão registradas nos órgãos oficiais de inspeção e ainda há todos os pontos de abate “realmente” clandestino que, somados aos irregulares e ao produto de abigeato, indicam um abate sem a fiscalização sanitária na ordem de 50 a 60 % do abate total estimado no RS. Porém, é importante salientar que, segundo informações da Secretaria da Fazenda (Dr. Giovane), o total de lançamentos referentes ao abate de bovinos atinge um número de 1.900.000 cabeças com emissão de documento fiscal .

ORGANIZAÇÃO DA CADEIA AGROINDUSTRIAL DA SUINOCULTURA:

HISTÓRICO:

Os dados atuais da ABIPECS, indicam um crescimento gradual e um grande desenvolvimento da atividade suinícola no Brasil, com um abate de 19,2 milhões de suínos em 1994 e 22,4 milhões em 1998, alcançando um total de 37,7 milhões de suínos em 2002, com destinação de 65% desta produção para o mercado interno e 35% direcionado para a exportação, onde se destaca a participação da Rússia como o principal cliente do Brasil (aproximadamente 80% do total exportado).

Salienta-se, ainda, conforme informações da ABIPECS, que o elevado padrão de eficiência e qualidade da carne suína produzida no Brasil se deve, e muito, ao complexo processo de parceria entre produtores e indústrias, constituída nas integrações da produção, ao mesmo tempo em que são criados programas de investimento direcionados ao aprimoramento tecnológico das fábricas, embalagens, congelamento e transporte.

A Região Sul, além de ser a principal produtora de suínos, com uma participação percentual em relação ao Brasil de 40,8% nos abates sob inspeção federal (SIF) e 81,9% do total exportado pelo País, destaca-se, ainda, nos índices de produtividade com média de 19 suínos terminados/matriz/ano, atingindo 110 kg, num período de 150 dias - números que se aproximam com Países de primeiro mundo como, EUA, Canadá, Dinamarca, Holanda e outros.

O Rio Grande do Sul, por sua vez, é o segundo produtor de suínos do País, envolvendo 70.855 produtores (segundo estimativa da ACSURS) com um rebanho de 4.619.487 suínos (ACSURS/SIPS). O abate sob inspeção federal, em 2002, foi de 4.754.889 suínos, representando 12,6% do total brasileiro e 15,4% da exportação nacional (ABIPECS), sendo que, 70% das carcaças são industrializadas (ACSURS). Porém, o abate total do Estado é da ordem de 6.001.190 suínos (ACSURS/SIPS).

Em 1976, existiam no Rio Grande do Sul 40 frigoríficos que estavam sob inspeção federal e eram responsáveis pelo abate de aproximadamente 2.500.000 suínos; em 1998 foi registrado um abate de 3.587.884 suínos (ACSURS, SIF/CISPOA) e, em 2002, encontramos 19 indústrias registradas no SIF (SIPA/DFA) e 63 frigoríficos registrados no CISPOA (DPA/SAA), onde foram abatidos 5.001.190 suínos.

População, consumo per capita, número de criadores, animais abatidos e produção de carne suína/SIF/CISPoA no Rio Grande do Sul, desde 1991

Fonte: (2) IBGE - (3) SIPS - MA/SIF - CISPOA - (1) estimativa da ACSURS Elaboração e montagem: ACSURS

Já, a exportação de carne suína do Rio Grande do Sul em 1998 foi de 22.184 toneladas, enquanto o Brasil exportou 81.565 toneladas, e, ao passo que em 2002 o RS exportou 86.002 toneladas e o Brasil exportou 475.863 toneladas de carne suína (em 2003, até outubro, o RS exportou aproximadamente 122.000 toneladas). Isto demonstra o crescimento do setor que em 4 (quatro) anos obteve um acréscimo superior a 400% nas vendas ao mercado externo.

Em relação ao consumo dessa carne, também podemos registrar um crescimento significativo de 15,12 kg/habitante/ano. Em 1994, passamos para 21,0 kg/habitante/ano em 2002 (ACSURS). Isto pode ser atribuído às campanhas de marketing realizadas pela Associação Brasileira de Criadores de Suínos e suas filiadas, em especial as da Região Sul do País, visando a esclarecer à população em geral sobre a qualidade da carne suína.

Em relação ao sistema de criação, pode-se afirmar que as granjas integradas que recebem da indústria a qual estão vinculadas a matéria-prima (suíno), seja matrizes ou leitões, insumos, assistência técnica, etc, são responsáveis por 72% do total dos suínos abatidos. Entretanto, algumas agroindústrias adquirem 95% dos suínos destinados ao abate dos seus próprios integrados, e os produtores independentes, que são responsáveis por todas as etapas de criação, ou seja, são proprietários das matrizes e/ou compram os leitões para recria e todos os insumos, absorvendo os custos de produção e, posteriormente, vendendo seus suínos terminados no mercado.

ESTRUTURAÇÃO DA CADEIA AGROINDUSTRIAL NA SUINOCULTURA:

Atualmente, a suinocultura é a atividade agroindustrial com maior nível de diversificação na linha de produção, em comparação com as outras cadeias responsáveis pelo fornecimento de proteína animal ao mercado. A produção de carne suína está distribuída genericamente em carnes in natura (carcaças), representando 30% da produção, os produtos embutidos 55% da produção e, ainda, outros produtos industrializados apontando 15% do total.

NAOPOPULAÇÃO RS (2)

CONSUMO PERCAPITA KG (1)

NÚMERODECRIADORES

ANIMAISABATIDOSSIF/CISPOA(3)

PRODUÇÃODECARNE KG(3)

1991 9.138.670 13,97 - 2.253.227 160.477.7421992 9.249.199 14,59 - 2.398.207 158.981.8331993 9.369.646 14,85 - 2.450.818 167.292.8361994 9.475.871 15,12 - 2.693.305 187.400.1611995 9.578.597 16,53 (2) 84.904 3.063.726 220.710.8211996 9.624.529 17,15 (1) 83.205 3.563.615 250.914.1321997 9.762.110 17,23 (1) 81.541 3.041.360 215.662.8371998 9.844.606 19,00 (1) 80.126 3.540.045 258.777.2891999 9.971.910 19,60 (1) 76.828 3.824.064 275.418.6182000 10.187.798 20,00 (1) 75.291 3.827.319 274.255.3442001 (1)10.289.675 20,50 (1) 74.538 4.223.670 308.327.9102002 (1)10.392.571 21,00 (1) 72.301 5.001.190 383.091.1542003 (1)10.496.496 21,50 ( 1)70.855 (1)4.854.009 (1) 381.039.707

A produção é destinada, na grande maioria, aproximadamente, 75% ao mercado externo (nacional - 54% e internacional – 21%) e 25% é consumida dentro do Estado.

A formação do preço da carne suína ocorre em três etapas bem caracterizadas: nos custos de produção do suíno, na agroindústria frigorífica, na comercialização, e, atualmente, observam-se dificuldades na rentabilidade do produtor e da indústria, sem que o consumidor esteja sendo beneficiado com reduções de preço significativas.

Transcreve-se a seguir um trecho do depoimento do Vice-Presidente do SIPS, quando aborda a relação da formação de preço, que diz o seguinte “ O modelo de imposição que era de alguns anos atrás, isso vai ser importante para explicar alguns aspectos desta Comissão, que no passado se partia dos fornecedores de nutrição para chegar ao consumidor, atualmente se parte do que o consumidor deseja, para aí nós voltarmos exatamente o nosso trabalho.[fim]....”

Essa citação é um indicativo de que, atualmente, o consumidor é um elo da cadeia extremamente importante. A exigência por parte deste é cada vez maior em termos de qualidade dos produtos que devem vir ao mercado, associada a preços compatíveis ao seu poder econômico, o que demonstra que o papel do consumidor (seja ele estadual, nacional ou mesmo internacional) interfere em muito na formação do preço em todos os segmentos da cadeia.

Dentro dessa ótica, pode-se justificar as dificuldades que a suinocultura vem passando, uma vez que houve um grande incremento no número dos abates, tanto em nível de Brasil como também no RGS, sendo este, reflexo de uma expectativa de aumento nas exportações. E, também, houve problemas sanitários de 2000 e 2001 (febre aftosa) que impediram o Estado de competir com igualdade com os outros Estados exportadores, gerando uma frustração no consumo de carne suína direcionada para exportação, e, conseqüentemente, um excedente de matéria-prima no mercado interno, empurrando os preços para baixo. Além dos problemas sanitários que inviabilizaram o aumento do consumo, agregou-se o problema de abastecimento de milho e insumo, com maior peso na alimentação e que sofreu grandes majorações de preço no ano de 2002.

A cadeia produtiva de suínos é uma grande empregadora de mão-de-obra ao longo de todo o ciclo de produção (Marchetti, Spohr & Rohr, 1996), distribuída na produção de alimentos, na criação de suínos, na industrialização e na comercialização.

O número de empregos diretos vinculados à suinocultura, somando-se aos vários postos de trabalho nas distintas fases que integram toda a cadeia de

produção de carne suína, considerando os dados coletados em 1995, quando havia um abate de 2.950.000 suínos, era de 92 mil. Como em 2002 ocorreu um abate de 6.006.228 animais, pode-se estimar um número muito maior de pessoal envolvido diretamente à suinocultura.

Abate de suínos sob inspeção Federal, Estadual, Municipal e não inspecionado no RS, nos anos de 2000, 2001 e 2002

AGROINDÚSTRIA MUNICÍPIOA B A T E D E S U Í N O S

2000 2001 2002

SUBTOTAL 3.616.531 4.003.490 4.754.589ABATE CISPOA 210.788 220.180 251.639SUBTOTAL 3.827.319 4.223.670 5.006.228ABATE INSPEÇÃO MUNICIPAL +NÃO INSPECIONADO + CONSUMOPROPRIEDADE (*)

1.000.000 1.000.000 1.000.000

TOTAL 4.827.319 5.223.670 6.006.228(*) DADOS ESTIMADOS ACSURS Fonte: SIF/MA, CISPOA/SAA, SIPS e ACSURSElaboração e Montagem: ACSURS

5.3.3. - PRODUTORES RURAIS NA CADEIA AGROINDUSTRIAL DA SUINOCULTURA:

A cadeia de produção da carne suína, de um modo geral, é distribuída em três etapas: a criação de suínos propriamente dita, a industrialização e a comercialização.

A criação de suínos no RS, na sua grande maioria, está sendo realizada na forma de integração entre o produtor e a indústria. Segundo a ACSURS, a recuperação do ritmo de crescimento na atividade suinícola no Rio Grande do Sul, a partir de 1986, é atribuída ao emprego desse sistema de produção.

Essa parceria na produção está estabelecida em três fases, que são: o melhoramento genético, a tarefa desenvolvida pelas agroindústrias integradoras, através de granjas núcleo e granjas multiplicadoras de melhoramento genético, a produção de leitões em unidades produtoras de leitões (UPLs), que podem se organizar em condomínios de associados, produtores de grande porte ou mesmo pela própria integradora; e a terminação de leitões, realizada por associados das agroindústrias integradoras que recebem destas os leitões a serem terminados (que, por sua vez, a agroindústria adquiriu das UPLs), a assistência técnica, as rações e a garantia do leitão terminado.

RS: Número de integrados na produção de leitões, por tipo de granja e por tamanho, em dez/1997

Granja e nº Porte Total de Integrados % no %

de cabeças grupo s/totalCiclo completo:De 1 a 44 Mínimo 4.605 59,67%De 45 a 449 Pequeno 2.393 31,01%De 450 a 1.799 Médio 660 8,55%De 1.800 a 4.999 Grande 59 0,76%De 5.000 e acima Excepcional 1 0,01%Soma 1 7.718 100,00% 71,70%U P L s:De 1 a 9 Mínimo 38 6,01%De 10 a 49 Pequeno 247 39,08%De 50 a 199 Médio 295 46,68%De 200 a 499 Grande 42 6,65%De 500 e acima Excepcional 10 1,58%Soma 2 632 100,00% 5,87%Terminadores:De 1 a 39 Mínimo 579 23,98%De 40 a 199 Pequeno 1.054 43,64%De 200 a 799 Médio 752 31,14%De 800 a 1.999 Grande 25 1,04%De 1.200 e acima Excepcional 5 0,21%Soma 3 2.415 100,00% 22,43%TOTAL 10.765 100,00%Fonte: Sindicato da Indústria de Produtos Suínos no Estado do RS

A eficiência desse sistema de produção é comprovada, segundo a ACSURS, pelos indicadores de produtividade constantes da tabela contendo os indicadores de produtividade em granjas integradas e granjas não integradas abaixo, elaborada a partir de dados captados pelos dois sistemas de produção no Rio Grande do Sul.

IndicadoresGranjasIntegradas

Granjas nãoIntegradas

Taxa de conversão (kg ração : kg carne) 3,0 De 3,6 a 4,5Partos por matriz/ano 2,4 1,8Mortalidade (%) 9% 15%Leitões por parto (número) 11 9 Leitões terminados por matriz/ano 23 13Tempo de produção, do nascimento ao abate 155 dias 180 diasPeso no abate (kg) 100 85

O exemplo mais recente de melhoria na tecnologia de produção suinícola gaúcha é a modalidade de criação conhecida por “três sítios”, onde cada propriedade se especializa, sob assistência da integradora, a uma das três fases do processo: produção de leitões (desmame precoce), creche e terminação. Esse sistema proporciona um melhor ganho de peso, melhor conversão alimentar, reduz a mortalidade na terminação, diminui o prazo para o abate e melhora a sanidade dos animais.

Um dos grandes desafios na sustentabilidade da cadeia passa pela árdua tarefa de alcançar um equilíbrio entre a rentabilidade do produtor de milho e do suinocultor, sem que um desestimule a atividade do outro.

Os produtores passaram por sérias dificuldades nos últimos anos, devido, entre outros, pelos aumentos significativos nos custos de produção, impulsionados pelo aumento dos insumos, em especial, do milho e farelo de

soja (em 2002), dos medicamentos e vacinas. Além disso, o preço médio do kg do suíno vivo andou no sentido contrário dos insumos.

Segundo levantamento apresentado pelo Cepea/Esalq, em 2002, os dois principais itens da ração obtiveram altas muito relevantes, sendo que o preço do milho, entre dezembro e janeiro de 2002, sofreu majoração de aproximadamente 219% e o farelo de soja na ordem de 147%.

Tendo em vista o cenário de crise e dificuldades que se arrasta desde 2002, com uma pequena melhora a partir de setembro de 2003, uma parcela de produtores, especialmente os independentes, terminaram por abandonar a criação de suínos.

Os integrados também sofreram influência dessa crise, talvez com menor intensidade. Porém os que mantém contratos de parceria, isto é, com fornecimento total dos insumos por parte da indústria, conseguiram obter alguma margem. Já, aqueles que realizam a compra de algum dos seus insumos, enfrentaram as mesmas dificuldades que os produtores independentes, que compram os insumos com as majorações do mercado, principalmente de grãos, e quando vão vender os animais terminados submetem-se aos preços pré-fixados do kg do suíno, que muitas vezes não cobrem os custos de produção.

O Brasil tem adotado uma estratégia ofensiva em relação ao mercado externo, principalmente devido à conveniência da taxa de câmbio à exportação aliada à expansão do rebanho suíno nacional, e, com isto, contrabalançar o excedente interno.

A incorporação da Rússia como principal cliente do Brasil em relação à carne suína (80% do total das exportações) fez com que o País saltasse da 12ª para a 4ª posição no ranking de exportadores desse produto. O restante das exportações está distribuída entre Hong Kong (11%), Uruguai e Argentina (9% juntos).

Esses números demonstram a grande concentração das exportações em único País, o que, de certa forma, causa uma fragilidade para o mercado, pois, qualquer restrição comercial ou mesmo um abalo na economia deste País (parceiro econômico) poderá trazer sérias conseqüências ao nosso mercado.

No momento em que se obtiver maiores garantias sanitárias, através da erradicação de enfermidades que interferem no comércio mundial de carnes, e, especialmente, a estruturação adequada dos serviços de defesa sanitária animal, para que os mesmos possam alcançar, manter e referendar o “status sanitário” exigido para os padrões internacionais, alcançar-se-á um nível de competitividade ideal visando a buscar maiores e melhores mercados para os produtos cárneos gaúchos.

ESTRUTURAÇÃO DA INDÚSTRIA NA CADEIA AGROINDUSTRIAL DA SUINOCULTURA:

Esta cadeia produtiva poderia ser segmentada, de jusante a montante, nos diversos segmentos de comercialização, industrialização e produção primária, no entanto na lógica destas operações, considera-se o consumidor final como sendo o grande indutor de mudanças do sistema. Portanto o consumidor de carne suína tem um papel muito importante entre os diferentes agentes da cadeia, contribuindo substancialmente para o bom desempenho e coordenação da cadeia em geral.

O setor agro-industrial assume uma participação fundamental dentro do complexo de produção de carnes, tendo em vista, principalmente o fato deste produto ser altamente perecível, o que implica em cuidados especiais em todas as fases de transporte, armazenamento e exposição à venda; também deve haver preocupação na utilização de embalagens apropriadas, e ainda, padronização nos cortes, grau de limpeza, quantidade e porção.

As atividades industriais propriamente ditas, como a utilização de técnicas adequadas de abate, processamento e resfriamento, também interferem sobremaneira na garantia de melhor qualidade do produto final.

Todos somos sabedores que a carne suína é a mais consumida no mundo, chegando a mais de 40% do total das carnes consumidas pela população mundial.

Há um trabalho publicado pela FAO, em 1999, chamado de “Livestock to 2.020: The next food revolution”, onde indica claramente que os países em desenvolvimento serão os grandes beneficiados no sentido da produção de carnes. Isto vai acontecer em virtude da perspectiva de crescimento do consumo de carnes em nível mundial, e um aumento substancial da produção de alimentos por países em desenvolvimento, muito maior do que os países desenvolvidos.

O Brasil e em especial o Rio Grande do Sul, são exemplos deste crescimento apontado pelo estudo da FAO, pois podemos constatar pelas tabelas abaixo o crescimento significativo ocorrido nos últimos anos, na produção de carne suína.

RELAÇÃO DAS EMPRESAS ASSOCIADOS AO SIPS

EMPRESAS ASSOCIADAS AO SIPS Nº DE SUÍNOS ABATIDOS 2002

FATURAMENTO / 2002 (R$)

Baumhardt Irmãos S/A 0 0Coop. Dos Suinoc. do Cai Superior 28.403 10.955.321,13Coop. Dos Suinoc. de Encantado Ltda 356.526 137.515.643,40Ind. Ibirubense S/A 13.634 5.258.770,14Perdigão S/A 499.213 192.551.446,20Chapecó Cia Indl Alim. S. Rosa 418.083 161.258.793,90Coop. Reg. Sananduva Carnes Deriv. 127.600 49.216.596,00Coop. Reg. Languirú Ltda 48.558 18.729.306,18Doux-Frangosul S/ASadia S/A 499.824 192.787.115,00

Coop. Trit. Erechim Ltda 398.989 153.894.047,10Endler Ind. de Carnes e DerivadosFrigoconsult Eng.Internacional S/ASino dos Alpes LtdaCoop. Reg. Trit. Serrana Ltda 99.379 38.331.474,09Coop.Central Oeste Catarinense Ltda 244.619 94.351.994,49Coop. Castilhense Ltda 91.357 35.237.308,47Coop. Trit. Getúlio Vargas Ltda 142.267 54.873.804,57Frangosul S/A Agro Avícola Indl. 685.883 264.551.931,90Frig. Bassanense S/A 34.863 13.447.007,73

Frigorífico Nova Araçá Ltda 43.937 16.946.940,27Frigorífico Mabella Ltda 247.690 95.536.509,90Alibem Coml Alim. Ltda 205.736 79.354.432,56Agroavícola Rizzi Ltda 124.350 47.963.038,50Avipal S/A Alimentos 443.678 171.131.041,30

TOTAL

4.754.589 1.833.892.523,00

Na tabela verificamos um crescimento de 18,53% no abate inspecionado ( SIF+ CISPOA) 2002, comparado com 2001, temos um acréscimo de 782.558 suínos, contendo os abates nos últimos nove anos no Estado:

Por outro lado, as agroindústrias em geral e especialmente as de menor porte tem apresentado uma redução constante no retorno dos seus investimentos o que como conseqüência acarretou um crescente endividamento do setor.

Os indicadores de competitividade técnica na produção e industrialização de suínos são similares entre os estados do Sul, porém as diferenças relacionadas com benefícios fiscais têm trazido dificuldades para o RS.

O setor agroindustrial da carne suína (abate e industrialização), no estado está distribuído em 22 estabelecimentos com inspeção federal, sendo 8 cooperativas, que são responsáveis por 95% do abate total, os restantes 5% são produzidos em estabelecimentos sob inspeção estadual.

A capacidade de abate industrial instalada (SIF/CISPOA/SIM) é de 6.280.000 cabeças por ano, sendo que as cooperativas representam 32,5% deste total.

Ano Abates1994 2.562.4121995 2.972.7411996 3.170.7031997 2.644.0431998 3.587.8841999 3.816.2482000 3.827.3192001 4.223.6702002 5.001.190

Fonte: Sindicato da Indústria de Produtos Suínos, Serviço de Inspeção Federal/MA e CISPOA/SAA

População, consumo per capita, número de criadores, animais abatidos e produção de carne suína/SIF/CISPoA no Rio Grande do Sul, desde 1991

Fonte: (2) IBGE - (3) SIPS - MA/SIF - CISPOA - (1) estimativa da ACSURS

Elaboração e montagem: ACSURS

A produção suinícola, no RS, bem como nos outros Estados do Região Sul está organizada na grande maioria sob forma de integração produtor/indústria, cujas integrações representavam em 2002, segundo informações do SIPS, 5.793 unidades de produção com 184.470 matrizes fêmeas.

Na atividade agroindustrial, é fundamental para a competitividade que as empresas gaúchas mantenham formas estáveis de integração, associada a investimentos com o objetivo de modernização das suas plantas de processamento.

Estes investimentos, em conjunto com as garantias sanitárias, são necessários para que as mesmas possam cumprir com as exigências dos países importadores e ao mesmo tempo atingirem padrão internacional para se qualificarem ao mercado externo, cada vez mais exigente.

O desenvolvimento de novos produtos, trabalhos no aumento do consumo interno e principalmente a busca de novos clientes internacionais são condições indispensáveis para que as indústrias gaúchas absorvam a matéria-prima suína produzida no RS, evitando que ocorra um excedente carnes e produtos, empurrando para baixo o preço do suíno e com isto prejudicando toda a cadeia produtiva.

Nas tabelas abaixo, estamos demonstrando como estão distribuídas as indústrias frigoríficas no Estado do RS.

ANOPOPULAÇÃO

RS(2)

CONSUMO PERCAPITA KG

(1)

NÚMERO DECRIADORES

ANIMAIS ABATIDOSSIF/CISPOA

(3)

PRODUÇÃO DECARNE KG

(3)1991 9.138.670 13,97 - 2.253.227 160.477.7421992 9.249.199 14,59 - 2.398.207 158.981.8331993 9.369.646 14,85 - 2.450.818 167.292.8361994 9.475.871 15,12 - 2.693.305 187.400.1611995 9.578.597 16,53 (2) 84.904 3.063.726 220.710.8211996 9.624.529 17,15 (1) 83.205 3.563.615 250.914.1321997 9.762.110 17,23 (1) 81.541 3.041.360 215.662.8371998 9.844.606 19,00 (1) 80.126 3.540.045 258.777.2891999 9.971.910 19,60 (1) 76.828 3.824.064 275.418.6182000 10.187.798 20,00 (1) 75.291 3.827.319 274.255.3442001 (1)10.289.675 20,50 (1) 74.538 4.223.670 308.327.9102002 (1)10.392.571 21,00 (1) 72.301 5.001.190 383.091.154

2003 (1)10.496.496 21,50 ( 1)70.855 (1)4.854.009 (1) 381.039.707

ESTABELECIMENTO DE CARNE SUÍNA COM SERVIÇO DE INSPEÇÃO FEDERAL NO RIO GRANDE DO SUL

SIF Razão Social Classifi-cação

Município Espécies que abate

12 Frigorífico Mabella Ltda. fps F. Westphalen Suinos

56 Excelsior Alimentos S/A fps Santa Cruz do Sul Não abate

60 Sadia S/A fps Três Passos Suinos

64 Conservas Oderich S/A fac São Sebastião do Cai Não abate

102 Perdigão Agroindustrial S/A fps Marau Suinos

167 Coop. Suinocultores de Encantado Ltda fps Encantado Suinos

225 Indústria Ibirubense S/A fps Ibiruba Suinos

384 Coop. Triticola Getúlio Vargas Ltda. fps Getúlio Vargas Suinos/Bovinos

435 Quality Brasil Alimentos Ltda. ecd Canoas Não abate

459 Coop. Suinocultores Caí Superior Ltda fps Harmonia Suinos/Bovinos

510 Coop Reg Sananduva Carnes Deriv Ltda fps Sananduva Suinos/Bovinos

654 Frigorífico Bassanense S/A fps Nova Bassano Suinos

665 Agro Avícola Rizzi Ltda. maf Mato Castelhano Suinos

760 Coop. Castilhense de Carnes Deriv. Ltda. maf Júlio de Castilhos Suinos

772 Cotrel – Coop. Tritícola Erechim Ltda. fps Erechim Suinos/Bovinos

876 Frangosul S/A Agroavícola Industrial maf Caxias do Sul Suinos

915 Coop.Trab.Autôn. Prod. Trab. Alim. Ltda COOPRAL

fps Santo Angelo Suinos

1184 Coop. Regional Triticola Serrana Ltda. fps São Luiz Gonzaga Suinos

2146 Chapecó Companhia Indust de Alimentos maf Santa Rosa Suinos

3847 Coop. Central Oeste Catarinense Ltda. COOPERCENTRAL

fps Sarandi Suinos

3975 Avipal S/A Avicultura Agropecuária fps Lajeado Suinos

4699 Frigorífico Nova Araçá Ltda. fps Nova Araçá Suinos

LEGENDA

maf = matadouro frigorífico

fps= fábrica de produtos suinos

mac= matadouro de aves e coelhos

ecd= entreposto de carnes e derivados

enf= entreposto frigorífico

fpnc= fábrica de produtos não comestíveis

fac= fábrica de conservas

eno= entreposto de ovos

RELAÇÃO DOS ESTABELECIMENTOS DE ABATE DE SUÍNOS REGISTRADOS NA CISPOA/DPA/SAA

ESTABELECIMENTOS COM REGISTROAtualizada em Novembro/2003Por nº de CISPOA e Endereço

CISPOA

ESTABELECIMENTOS MUNICÍPIO ANO SITUAÇÃO ATIVIDADE

105 COOPERATIVA TRITÍCOLA ESPUMOSO LTDA

Espumoso 95 Em atividade Mat-Frig (bov/ovin/suí) e FCPC

106 RAPHAEL VANHOVE & FILHOS LTDA

São Gabriel 95 Em atividade Mat-Frig (bov/ovin/suí)

117 BONSUL-IND.COM.CARNES E DERIVADOS LDA

Pelotas 95 Em atividade Mat-Frig (bov/ovin/suí) e FCPC

126 IRMÃOS SAGRILLO LTDA. Santiago 95 Em atividade Mat-Frig (bov/ovin/suí)

127 MAT.BELA UNIÃO SANTIAGO LT

Santiago 95 Em atividade Mat-Frig (bov/ovin/suí)

130 COOPERATIVA AGRO-PECUÁRIA ALTO URUGUAI LTDA.

Três de Maio 95 Em atividade Mat-Frig (bov/suí)

143 COM. DE CARNES BLAU LTDA. Santa Clara do Sul

95 Em atividade Mat-Frig (bov/suí)

145 FRIGORÍFICO GLÓRIA LTDA. Fazenda Vila Nova

95 Em atividade Mat-Frig (bov/ovin/suí)

168 IRMÃOS HOFFMEISTER LTDA. Morro Reuter 95 Em atividade Mat-Frig (bov/suí)

172 COOP. TRITÍCOLA PANAMBI-COTRIPAL

Condor 95 Em atividade Mat-Frig (bov/suí) e FCPC

179 ITÁLIA CARNES Taquara 95 Em atividade Mat-Frig (bov/suí) e FCPC

201 FRIGORÍFICO VIAPIANA Antônio Prado 95 Em atividade Mat-Frigo (bov/suí) e FCPC

215 FRIGORÍFICO FONTOURA IND. DE CARNES

Vera Cruz 95 Em atividade Mat-Frig (bov/suí/ovi) e FCPC

222 IRMÃOS GREVE & CIA LTDA. Viamão 95 Em atividade Mat-Frig (bov/ovin/suí) e FCPC

236 FRIGORÍFICO DISTRIB.CARNES BOA VISTA LT

Santa Maria do Herval

95 Em atividade Mat-Frig (bov/suí) e FCPC

248 COMERCIAL DE CARNES TIGRE LTDA.

Arroio do Tigre 95 Em atividade Mat-Frig (bov/suí)

250 FRIGORÍFICO CASON LTDA. Putinga 95 Em atividade Mat-Frig (bov/ovin/suí)

257 ZATTI & CIA LTDA. Ibiraiaras 95 Em atividade Mat-Frig (bov/suí) e FCPC

259 MATADOURO DA SERRA LTDA. Nova Petrópolis

95 Em atividade Mat-Frig (bov/suí)

263 COMERCIAL DE CARNES DE BONA LTDA.

Ibarama 95 Em atividade Mat-Frig (bov/ovin/suí)

283 FRIGORÍFICO CAIPIRA Rodeio Bonito 95 Em atividade Mat-Frig (bov/suí)

286 ROBERTO A. BAUM Coqueiros do Sul

95 Em atividade Mat-Frig (bov/ovin/suí)

294 COOP. AGRIC. MISTA NOVA PALMA

Nova Palma 95 Em atividade Mat-Frig (bov/ovin/suí) e FCPC

322 AIRTON KLEIN Almirante Tamandaré

95 Em atividade Mat-Frig (bov/ovin/suí)

371 FRIGORÍFICO CASA DE PEDRA

Igrejinha 95 Em atividade Mat-Frig (bov/suí) e FCPC

392 FRIGORÍFICO DAFEPAL LTDA. São Lourenço Sul

96 Em atividade Mat-Frig (bov/ovin/suí)

393 COOP.PROD.AGROP.CASCATA LTDA

Pontão 96 Em atividade Mat-Frig (bov/suí) e FCPC

426 FRIGORÍFICO T. A. Rolante 96 Em atividade Mat-Frig (bov/suí) e FCPC

432 FRIPASA FRIGORÍFICO MATADOURO LTDA

Cotiporã 96 Em atividade Mat-Frig (bov/ovin/suí) e FCPC

437 FRIGORÍFICO NICOLAU LTDA. 23

São José do Herval

96 Em atividade Mat-Frig (bov/suí) e FCPC

455 ABATEDOURO SERRANO LTDA.

Encruzilhada 97 Em atividade Mat-Frig (bov/suí)

465 LUIZ CARLOS KIEKOW Taquara 97 Em atividade Mat-Frig (bov/suí)

468 FRIGORÍFICO SÃO JOSÉ SUL LTDA

São José do Sul

97 Em atividade Mat-Frig (bov/suí)

469 MATADOURO ZIMERMANN Nova Petrópolis

97 Em atividade Mat-Frig (bov/suí) e FCPC

482 IND. SUÍNO BOV. PROGRESSO LTDA.

Progresso 97 Em atividade Mat-Frig (bov/suí)

499 FRIGORÍFICO DAL CASTEL LTDA.

Riozinho 97 Em atividade Mat-Frig (bov/suí) e FCPC

500 MATADOURO JANIVAN LTDA. Nova Pádua 97 Em atividade Mat-Frig (bov/suí) e FCPC

502 MOCRIMA IND. COM. AGROPEC.

Planalto 97 Em atividade Mat-Frig (bov/suí) e FCPC

537 COOP. AGRIC. MISTA GEN. OSÓRIO

Ibirubá 97 Em atividade Mat-Frig (bov/suí) e FCPC

540 VIAN - IND. PROD. ALIM. LTDA.

Dr. Ricardo 97 Em atividade Mat-Frig (bov/suí) e FCPC

563 LORENZI & FRONCHETTI Muçum 98 Em atividade Mat-Frig (bov/suí)

611 AGROINDÚSTRIA DOIS LAJEADENSE LTDA.

Dois Lajeados 99 Em atividade Mat-Frig (bov/ovin/suí) e FCPC

620 COOP. DE PROD. AGROPEC. NOVA STA. RITA

Nova Santa Rita

99 Em atividade Mat-Frig (suínos)

624 ROGER GUSTAVO ANDREOLLA

Vista Alegre do Prata

99 Em atividade Mat-Frig (bov/suí) e FCPC

639 MANICA, MANICA E CIA LTDA. Água Santa 99 Em atividade Mat-Frig (bov/suí)

652 COOPERATIVA MISTA SARANDIENSE LTDA.

Sarandi 99 Em atividade Mat-Frig (bov/suí) e FCPC

677 VANZIN SCOPELL & CIA LTDA Frederico Westphalen

0 Em atividade Mat-Frig (suí) e FCPC

683 IND.COM.CARNES VENDRAME Mariano Moro 0 Em atividade Mat-Frig (bov/suí) e FCPC

689 IND.COM.DERIVADOS SUÍNOS SUICAR LTDA

Engenho Velho

0 Em atividade Mat-Frig (bov/suí) e FCPC

708 GRANJA SÃO ROQUE COM.CARNES LTDA

Ibiaçá 1 Em atividade Mat-Frig (suínos)

725 ABATEDOURO BOI GORDO FRIG.LTDA

Carazinho 2 Em atividade Mat-Frig bov/ovin/suí)

728 AGROINDÚSTRIA NOVA ALVORADA LTDA

Nova Alvorada 2 Em atividade Mat-Frig (bov/suí) e FCPC

762 RUDI NIEDERLE Crissiumal 3 Em atividade Micromat-Frig (Bov/Suí/Ovi)

770 XISTO & HAAR LTDA. Santa Maria 3 Em atividade Mat-Frig (Bov, suí e ovi)

ORGANIZAÇÃO DO COMÉRCIO VAREJISTA NA CADEIA AGROINDUSTRIAL DA BOVINOCULTURA DE CORTE

INTRODUÇÃO:

Os serviços de venda a varejo, no caso, carne verde de bovinos e suínos beneficiados em cortes, ou sob a forma de agregados, são realizados de duas formas: A primeira, a tradicional, por açougues ou lojas de carnes. A segunda, mais recente, por meio de lojas de supermercados e hipermercados, conhecidos como auto-serviço ou auto-atendimento.

Em outros tempos o mercado de carne bovina era caracterizado por uma pequena rede de grandes indústrias frigoríficas que faziam a distribuição de carnes pulverizadas em um imenso número de açougues e mercearias. Porém, houve um câmbio com uma inversão desse cenário, e o que observamos hoje é um número cada vez maior de pequenas e médias indústrias frigoríficas e um mercado varejista de carne bovina fortemente concentrado em grandes redes supermercadistas que absorvem aproximadamente 80 % da distribuição do produto (RS 2010, 1998; Workshop, 1997).

A carne bovina, no geral, ainda é tratada como commodity, sem maior especialização ou mesmo diferenciação de qualidade. Esta característica vem sendo, ao longo dos tempos, um entrave competitivo da carne gaúcha em relação a produtos importados do Mercosul, que chegam ao nosso mercado em cortes diferenciados, com valorização de qualidade e respectivo valor agregado.

Alguns supermercados aliados a algumas indústrias estão investindo no nicho de mercado, que é a oferta de carnes apresentadas em cortes especiais com origem e qualidade comprovada com marca própria, como é o caso do “Novilho Precoce Zaffari” e o “Novilho Jovem BIG/NACIONAL”. Integram esses projetos, normalmente, o produtor, a indústria e o varejo, proporcionando ao

consumidor um produto diferenciado, com garantia de qualidade, ao mesmo tempo em que procura remunerar melhor o produtor pela qualidade dos animais. Mas, infelizmente, essas situações são algumas exceções à regra de comercialização do mercado de carne bovina.

ESTRUTURAÇÃO DO COMÉRCIO VAREJISTA DE AÇOUGUES

Esta é a forma tradicional de comércio varejista de carnes bovina e suína e também a mais antiga. No Brasil-Colônia as cidades e vilas brasileiras já conheciam os açougues como comércio varejista, especializado em venda de carne em retalho. Com a transformação sociológica que o Brasil passou no Século XX, de uma sociedade rural e agrária para o tipo urbano industrial, a maior parte da população brasileira foi residir na zona urbana e não rural. Os hábitos de consumo também se alteraram, assim como as exigências de saúde pública. Criaram-se as inspeções e a vigilância sanitária. Os açougues se difundiram nos bairros das cidades. Alguns, acompanhando a evolução dos tempos, realizam operações industriais de segundo ciclo, fornecendo carnes beneficiadas para cozinhas industriais e restaurantes.

Em regra, o mercado varejista de açougue é a típica empresa familiar, que utiliza, se não totalmente, na maior parte, a mão-de-obra familiar. A maior parte se enquadra como microempresa e empresa de pequeno porte.

Prestou depoimento perante esta CPI, como testemunha compromissada, o presidente do SINDICARNES, senhor Girlei José Wolff, que prestou as seguintes declarações sobre a realidade desse mercado varejista:

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – Obrigado, Presidente, Deputado Elvino Bohn Gass.[fim]

Gostaria de agradecer a presença do Sr. Girlei aqui na reunião da Comissão hoje. Passando, então, já diretamente aos questionamentos, o nome completo da entidade?[fim]

O SR. GIRLEI JOSÉ WOLFF – Sicocarne – Sindicato Varejista de Carnes Frescas do Rio Grande do Sul.[fim]

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – Quantos associados possui?[fim]

O SR. GIRLEI JOSÉ WOLFF – Tá na média de 50.[fim]

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – Qual é o perfil desses associados? São empresas?[fim]

O SR. GIRLEI JOSÉ WOLFF – É casa de carnes.[fim]

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – Açougues?[fim]

O SR. GIRLEI JOSÉ WOLFF – Isto.[fim]

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – Desses 50, isso representa quanto em nosso Estado? Existem quantos?[fim]

O SR. GIRLEI JOSÉ WOLFF – No Estado, está em média de 4 mil a 5 mil casas de carnes.[fim]

As mudanças urbanas causaram, por sua vez, uma alteração radical nesse ramo do varejo, diante do surgimento de um poderoso concorrente: lojas de supermercados e hipermercados. Se essas não são as maiores em números de lojas, o são, certamente, em faturamento. Na atualidade, pelo menos a carne inspecionada, na sua grande maioria, é comercializada em lojas de supermercados e hipermercados.

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – Mais em Porto Alegre. Qual é a sua opinião referente à competitividade com as grandes redes de supermercado? Vocês se sentem prejudicados por não conseguir fazer o que eles fazem, ou vocês se sentem até em uma concorrência desleal pelo abuso do poder econômico? Gostaria que tu viesse aqui e nos desse um testemunho de qual é a visão de quem representa várias empresas deste setor que vocês trabalham diante desta realidade de termos grandes grupos econômicos com maior poder de barganha influenciando dentro do mercado.[fim]

O SR. GIRLEI JOSÉ WOLFF – Sem dúvida que isto prejudica, inclusive nós temos, a cada dia que passa, já não temos mais o controle de quantos açougues estão sobrevivendo. Quebra um por dia. Não pode fazer concorrência às grandes redes. Não tem mídia, porque hoje as redes vivem mais na mídia. Vendem o produto deles mais na televisão e nós não temos condições de entrar na mídia. O horário também acaba complicando muito, porque abri aos domingos de manhã. As grandes redes vêm com grandes promoções aos domingos que é o dia principal para o

pequeno vender. Então é onde está massacrando os pequenos.[fim]

Há situações, até, em que os açougues ofertam preços mais competitivos. Mas, no seu conjunto, passou a ter uma posição secundária, perdendo, de longe, para as lojas de supermercados que, por venderem uma gama mais diversificada de produtos, com comodidades como estacionamento, acabam atraindo a maior parte dos consumidores.

ESTRUTURAÇÃO DO COMÉRCIO VAREJISTA DE SUPERMERCADOS E HIPERMERCADOS:

CONCEITUAÇÃO

O conceito de comércio varejista de supermercados e hipermercados está claramente definido no site da Associação Brasileira de Supermercados – ABRAS, entidade representativa desse ramo do varejo, organizada em âmbito nacional: (site Abras)

PERGUNTAS E RESPOSTAS

As PERGUNTAS que você gostaria de fazer sobre o SETOR de supermercados e suas RESPOSTAS:

Como classificar um supermercado? Perguntas como esta tinham várias respostas, até que com a evolução do setor a Abras estabeleceu parâmetros para esta classificação. É claro que são somente parâmetros de acordo com certas premissas e que antes de tudo vale o bom senso.

1) Quais os critérios para classificar uma loja de supermercado?Hoje há três tipos de classificações para um supermercado: Compacto - Com área de vendas de 250 a 1000 metros quadrados, 7 mil itens, de 2 a 7 check-outs, e com as seções de mercearia, hortifrútis, açougue, frios e laticínios e bazar. Convencional - De 1001 a 2.500 metros quadrados de área de vendas, média de 12 mil itens, de 8 a 20 check-outs, e com as seções de mercearia, hortifrutis, açougue, frios e laticínios, peixaria, padaria e bazar. Grande - De 2.500 a 5 mil metros quadrados de área de vendas, média de 20 mil itens, e de 21 a 30 check-outs, com as seções de mercearia, hortifrutis, açougue, frios e laticínios, peixaria, padaria, bazar e eletroeletrônicos.

2- E um hipermercado ?Considera-se uma loja de auto-serviço como hipermercado, quando ela tem uma área de vendas superior a 5 mil metros quadrados, mais de 50 check-outs e uma média de 45 mil itens à venda. Contando com as seções de

mercearia, hortifrutis, açougue, frios e laticínios, peixaria, padaria, bazar, eletroeletrônicos e têxteis.

3- O que caracteriza uma loja de conveniência ?Este segmento requer uma área de vendas de até 250 metros quadrados, de um a três check-outs, média de 1.000 itens, com prioridade para alimentos. Além disso, deve dar grande ênfase à oferta de serviços, entre eles se inclui o horário ampliado. Incorpora as seções de mercearia, frios e laticínios, bazar e snacs.

4- Como é uma loja de sortimento limitado ?Tem de 200 a 400 metros quadrados de área de vendas, de um a quatro check-outs, e uma média de 700 itens, com ênfase para produtos de mercearia com preços mais baixos em relação a outros tipos de lojas. Seções: mercearia, frios e laticínios e bazar.

5 - Quais as características de uma loja de clube de compras?São lojas do tipo depósito, que vendem no atacado apenas para associados, cobrando deles uma taxa anual. Além do mais são estabelecimentos de baixo custo operacional, sortimento reduzido e preços baixos.

6 – Qual foi o primeiro supermercado no sistema de auto-serviço no Brasil?O Sirva-se, fundado em 24 de agosto de 1953, situado à rua da Consolação, 2581, em São Paulo, Capital.

7 – Quando foi regulamentado o conceito e funcionamento de supermercado?Em 12 de novembro de 1968, pela Lei Municipal nº 7.208, de São Paulo.

8 – Quem definiu o supermercado como sendo sistema varejista e de auto-serviço?A Abras, em 1972.

9 - Qual é a data considerada o Dia do Supermercado?Dia 12 de novembro. Nesta data, ou próximo a ela, a Abras promove um grande evento com palestras, para confraternização de supermercadistas e fornecedores.

MERCADO VAREJISTA NO RIO GRANDE DO SUL:

De acordo com o Ranking da AGAS, das cinqüenta maiores empresas para o ano de 2002, o Estado do Rio Grande do Sul apresenta os seguintes números, o que demonstra a importância desse setor na economia gaúcha:

Faturamento:Faturamento Nominal: R$ 5,85 bilhõesFaturamento Real (deflacionado pelo IPCA/IBGE): R$ 5,40 bilhões.Crescimento nominal: 6,23% Crescimento real: 0,5%

Número de Lojas: 467Número de Funcionários: 39.952Número de Checkouts: 6.214Número de área de Vendas: 808.169 m²Participação no PIB: 0,44% do PIB Brasil em 20025,33% do PIB RS em 2002

PIB do Rio Grande do Sul 2002: R$ 109,7 bilhões. (FEE)Taxa de crescimento real PIB RS de 2001 para 2002 : 1,8%

ANALISE REGIAO SULDESEMPENHO SUPERMERCADOSCheckouts N° Lojas Tamanho Loja

Checkout m² Func.

01 a 04 1.694 3 376 10

05 a 09 731 6 811 35

10 a 19 377 13 1.465 75

20 a 49 84 24 2.546 160

mais de 50 * * * *

PRODUTIVIDADE FÍSICAFunc/100m² Check/100m² Func/Check

2,6 0,7 4

4,3 0,8 5

5,1 0,9 6

6,3 T 7

* * *

PRODUTIVIDADE FINANCEIRAFat/Loja Fat/m² Fat/Check Fat/Func.

1.277.453 2.988 478.780 113.440

4.733.212 5.131 673.844 121.995

10.070.301 6.614 779.310 123.218

23.901.907 9.580 1.062.307 155.713

DESEMPENHO DOS HIPERMERCADOSRegiões N° Lojas Tamanho Loja

Checkout m² Func.

Sul 9 45 6.999 334

Sudeste 83 51 8.366 323

Cent-Oeste 6 53 8.615 390

Nordeste 25 48 7.210 439

Norte 3 41 5.203 443

Produtividade FísicaFunc/100m² Check/100m² Func/Check

5 0,6 7

4 0,6 6

5 0,6 7

6 0,7 9

9 0,8 11

Produtividade FinanceiraFat/Loja Fat/m² Fat/Check Fat/Func.

89.348.328 9.857 1.631.105 243.973

87.046.679 10.003 1.594.191 244.472

145.031.293 14.152 2.358.232 308.796

68.234.823 9.339 1.437.128 158.656

80.413.495 13.603 1.800.302 243.431

O ranking da Associação Gaúcha de Supermercados – AGAS, no exercício de 2002, conforme consta no site desta Entidade, é o seguinte:

Class BRASIL

Class RS Nome da Empresa Sede N°Lojas

CHECKOUTS Funcionários Área de Vendas (m²)

Faturamento anual (R$)

4 1 SONAE DISTRIB. BRASIL S/A Porto Alegre 162 3.651 18.338 457.157 3.341.908.000,00

7 2 CIA ZAFFARI COM. E IND. Porto Alegre 23 669 6.960 100.844 1.040.111.505,00

39 3 COML. UNIDA DE CEREAIS LTDA São Leopoldo 21 146 1.039 15.547 136.925.665,00

48 4 MASTER SONDA HIPERM. LTDA Erechim 7 103 767 13.042 103.996.908,00

55 5 SUPERM. GUANABARA S/A Rio Grande 8 121 523 9.650 89.396.921,00

56 6 IMP. E EXP. DE CEREAIS S/A Lajeado 12 112 692 11.008 87.093.917,57

57 7 COML. ZAFFARI LTDA Passo Fundo 12 112 1.012 17.600 85.401.276,00

65 8 COML. CESA S/A Caxias do Sul 12 110 650 18.000 73.901.982,98

72 9 ANDREAZZA E ANDREAZZA E CIA LTDA Caxias do Sul 5 57 280 6.396 68.400.000,00

78 10 SUPERM. BAKLIZI LTDA Uruguaiana 5 82 727 7.180 62.057.460,09

81 11 ASUN COM. GÊNEROS ALIM. LTDA Gravataí 13 148 760 15.970 60.509.830,00

101 12 PADARIA MODERNA LTDA Bagé 6 53 390 6.390 44.412.896,00

102 13 TISCHLER E CIA LTDA Cachoeira do Sul 8 87 519 10.000 43.242.000,00

105 14 LIBRAGA E CIA LTDA Santa Maria 7 54 425 6.030 42.896.600,14

115 15 RIGHI COM. DE GÊNEROS ALIM. LTDA Livramento 6 51 348 6.600 40.934.096,00

119 16 COOP. AGRO INDL. ALEGRETE LTDA Alegrete 3 33 287 3.450 39.660.561,00

124 17 COOP. TRIT. PANAMBI LTDA Panambi 3 40 355 4.578 37.505.352,23

135 18 CIA APOLO DE SUPERMERCADOS Bento Gonçalves 8 55 296 7.550 32.926.601,00

142 19 COOP. REGIONAL TRITÍTICA SERRANA LTDA

Ijuí 8 27 188 6.342 29.877.224,20

158 20 COOP. AGROPEC. PETRÓPOLIS LTDA Nova Petrópolis 4 30 190 3.115 26.299.945,00

165 21 SUPERM. BIRD S/A Porto Alegre 7 40 276 4.748 24.157.824,00

178 22 SINDICATO DOS TRAB. RURAIS DE LAJEADO

Lajeado 2 23 176 2.650 22.297.226,00

186 23 L. C. BONATO E CIA LTDA Charqueadas 5 38 209 5.300 21.413.893,62

190 24 IRMÃOS SILVA E ROCHA E CIA LTDA Pelotas 4 31 216 2.590 21.043.750,00

193 25 SANTO BELTRAME E CIA LTDA Santa Maria 2 20 107 1.700 20.156.200,03

194 26 DORALEI MARIA LEITE E CIA LTDA Carazinho 3 29 192 3.000 20.087.000,00

204 27 COOP. TRIT. SARANDI LTDA Sarandi 13 44 186 5.383 18.842.110,00

205 28 CEREALISTA OLIVEIRA LTDA Alvorada 2 18 97 2.040 18.779.976,03

207 29 COOP. MISTA SÃO LUIZ LTDA Santa Rosa 10 29 138 4.510 18.461.412,77

210 30 COOP. AGROP. ALTO URUGUAI LTDA Três de Maio 13 27 132 5.232 18.217.000,00

213 31 DOTTA SUPERMERCADOS LTDA Sapucaia do Sul 7 47 209 4.445 17.986.225,40

216 32 DE CARLI S/A SUPERMERCADOS Carazinho 3 29 197 4.700 17.628.662,85

219 33 SUPERM. DALPIAZ LTDA Osório 4 20 121 1.730 17.049.131,18

220 34 COOP. AGRIC. CAIRU LTDA Garibaldi 1 16 103 3.000 16.974.434,86

223 35 SUPERM. GECEPEL LTDA Porto Alegre 2 17 116 2.000 16.820.000,00

235 36 OSMAR NICOLINI E CIA LTDA Bagé 5 19 115 1.600 15.306.854,00

236 37 COOP. SANTA CLARA LTDA Carlos Barbosa 6 27 93 5.450 15.150.034,41

240 38 COOP. TRIT. MISTA ALTO JACUÍ LTDA Não Me Toque 5 22 111 2.780 14.914.700,00

241 39 SUPERM. LAMBERT LTDA Santa Cruz do Sul 4 19 99 1.990 14.847.390,00

243 40 GUARAPARI C. DE GÊNEROS ALIMENTÍCIOS LTDA

Viamão 3 25 105 1.550 14.749.769,04

248 41 AGOSTINHO SALING E CIA LTDA Santa Rosa 1 10 75 1.000 14.120.813,29

251 42 COOP. TRIT. SANTA ROSA LTDA Campina das Missões

14 23 70 5.400 13.776.000,00

255 43 SUPERFELIZ LTDA Santa Cruz do Sul 3 32 175 1.280 13.025.572,00

274 44 LUCIANO CRISTIAN MILLER Santa Cruz do Sul 1 10 70 1.000 11.684.532,21

277 45 COOP. TRIT. MISTA CAMPO NOVO LTDA Campo Novo 10 25 81 4.030 11.500.000,00

296 46 COOP. AGRÍCOLA SOLEDADE LTDA Soledade 7 20 107 4.100 9.946.171,43

300 47 COOP. TRIT. SEPEENSE LTDA São Sepé 4 15 69 1.875 9.620.625,00

302 48 M. PRADELLA E CIA LTDA São Gabriel 2 11 65 2.220 9.575.292,26

313 49 COOP. REG. ENERGIA DES. RURAL TAQUARI

Taquari 1 10 74 850 8.882.500,00

315 50 ACIRIO FINK E CIA LTDA Dois Irmãos 3 13 51 1.600 8.650.000,00

316 51 N. A. R. GONÇALVES E CIA LTDA Ijuí 1 9 48 2.300 8.611.200,00

320 52 SUPERM. SCORTEGANHA LTDA Passo Fundo 3 17 150 2.400 8.467.200,00

327 53 CEREALISTA GIRUA LTDA Giruá 2 11 77 1.800 8.313.775,00

330 54 COOP. TRIT. TAPERENSE LTDA Tapera 3 13 55 2.096 8.051.178,13

332 55 IRRIGARAY E GARCIA LTDA Quaraí 1 8 53 750 8.040.000,00

335 56 PEDRO MACCARI E IRMÃOS LTDA Porto Alegre 1 7 34 1.000 8.000.000,00

343 57 COOP. TRITÍCOLA DE GETÚLIO VARGAS LTDA

Estação 8 15 61 2.839 7.707.885,00

366 58 COOP. TRITÍCULA DE ESPUMOSO LTDA Espumoso 7 22 95 3.300 6.843.214,47

379 59 SUPERM. MOMBACH LTDA Montenegro 2 10 77 1.500 6.489.255,00

384 60 COOP. TRITÍCOLA SAMBORJENSE LTDA São Borja 1 7 52 1.000 6.224.149,71

390 61 SUPERM. PERACCHI LTDA Porto Alegre 1 5 34 800 6.132.800,00

402 62 QUADROS E SERPA LTDA Charqueadas 3 15 85 1.770 5.617.980,00

407 63 ÂNGELO DI DOMÊNICO E FILHOS LTDA Passo Fundo 1 6 50 1.000 5.312.847,00

410 64 SUPERM. PORTAPRATA LTDA Nova Prata 4 7 28 1.060 5.216.100,00

411 65 LENZ E CIA LTDA Venâncio Aires 1 5 22 800 5.175.200,00

416 66 ZANDEI SUPERMERCADOS S/A Serafina Corrêa 4 12 57 1.680 5.075.000,00

425 67 GERALDO BERTUOL Nonoai 1 5 43 800 4.850.000,00

429 68 COOP. SUINOC. ENCANTADO LTDA Encantado 1 5 24 620 4.789.237,00

431 69 M. F. GOMES E CIA LTDA Santo Antônio da Patrulha

1 6 40 600 4.728.000,00

433 70 COOP. TRITÍCOLA SANANDUVA LTDA Sananduva 1 5 40 1.500 4.707.675,57

441 71 SUPERM. FRASSUL LTDA Veranópolis 2 9 55 800 4.480.000,00

445 72 COOP. TRIT. JÚLIO DE CASTILHOS LTDA

Júlio de Castilhos 3 6 34 840 4.410.000,00

O Grupo CARREFOUR não é associado à AGAS. Por isso, não consta no ranking acima. Este Estado possui cinco lojas de supermercados localizadas nos Municípios de Porto Alegre, Canoas, Novo Hamburgo e Caxias

do Sul. Tem 251 checkouts, 1780 funcionários, 43.729 m2 de área de venda e faturamento anual em 2002 de R$ 475.000.000,00.

Uma das características do setor varejista de supermercados no Rio Grande do Sul é o fato de quase a sua totalidade ter-se desenvolvido com base em empresas locais, de origem familiar. Em que pese a dinâmica do setor, a sua modernização continua a possuir ainda um perfil de empresa de gestão familiar: os donos do capital são os gestores e principais executivos da empresa. Mesmo as empresas de maior porte, como o Grupo Zaffari de Porto Alegre – RS, que desponta pela sua eficiência, em que pese os padrões eficazes de gerenciamento, estão fortemente impregnadas pela gestão familiar. As exceções são justamente as empresas cujo capital é controlado por empresas estrangeiras: SONAE e CARREFOUR.

HISTÓRICO DAS PRINCIPAIS REDES DE SUPERMERCADOS NO RIO GRANDE DO SUL:

INTRODUÇÃO:

No presente item será narrado o histórico das três principais redes de supermercados e hipermercados em operação no Rio Grande do Sul. A escolha dessas três não se deu por critérios arbitrários, mas em função dessas empresas serem submetidas oportunamente à análise se exercem ou não domínio relevante de carnes bovina e suína.

GRUPO ZAFFARI:

No ano de 1935, na Região Norte do Rio Grande do Sul, o fundador, Francisco José Zaffari e sua esposa, Santina de Carli Zaffari, montaram uma pequena casa de comércio. Era um armazém de gêneros alimentícios, instalado na frente da residência do casal, na Vila Sete de Setembro, interior do Município de Erechim.

Desde o começo, Francisco demonstrou grande empenho, talento e disposição para esse ramo de atividade, obtendo progressos e passando a oferecer cada vez melhores produtos e serviços a seus clientes. Anos mais tarde, em 1947, mudou-se com a família para Erval Grande, cidade sede do distrito, onde abriu uma nova casa comercial, já bem melhor aparelhada. Os filhos desempenharam papel fundamental nesse crescimento, auxiliando o pai na administração do negócio.

Na década de 50, os negócios prosperaram e a família pôde inaugurar as primeiras filiais, em localidades vizinhas à sede do distrito. E, em 1960, a empresa chegou a Porto Alegre abrindo seu primeiro estabelecimento de comércio na capital, um atacado. Esse foi o ponto de partida para uma nova etapa de expansão, que resultou na abertura da primeira loja da Companhia Zaffari, inaugurada em 1965, na cidade de Porto Alegre.

Hoje, a Companhia Zaffari, uma empresa com capital 100% nacional, abrange uma rede de 22 supermercados e hipermercados; o Bourbon Shopping, com seis unidades, cinco no Rio Grande do Sul e uma em São Paulo; uma administradora de cartões de crédito, uma Indústria fabricante de café e biscoitos e a uma de óleos vegetais.

Desde o início da década de 90, a Companhia Zaffari aparece entre as três maiores redes de supermercados do Rio Grande do Sul. Foi a única grande rede gaúcha de supermercados não incorporada pela Sonae Distribuição Brasil S/A. Desde 1996, é a segunda colocada no ranking da AGAS (Associação Gaúcha de Supermercados), obtendo em 2000 um faturamento bruto de 754 milhões de reais.

GRUPO CARREFOUR:

O sumário da história do GRUPO CARREFOUR, conforme consta no seu site, é o seguinte:

1959

Criação da sociedade Carrefour. 1960 Abertura do supermercado Carrefour Parmelan na Haute-Savoie. 1961 Criação de Promodis, nome inicial que, em seguida, tornou-se Promodès. Esta criação teve origem na fusão de dois comerciantes e atacadistas normandos, Paul-Auguste Halley e Léonor Duval-Lemonnier. 1962 Abertura do primeiro supermercado Promodès em Mantes-la-Jolie (Yvelines). 1963 O Carrefour inventa um novo conceito de comércio:O Hipermercado.Abertura do primeiro hipermercado Carrefour em Sainte-Geneviève-des-Bois, com 2500 m² de superfície e 400 vagas para estacionamento.

1969 Os supermercados Promodès adotam a insígnia Champion.Carrefour abre seu primeiro hipermercado no estrangeiro, na Bélgica. 1970 Carrefour foi introduzido na Bolsa de Paris. 1972 Os hipermercados Promodés adotam a insígnia Continent. A atividade de lojas de conveniência foi criada pela Shopi. 1973 Implantação de Carrefour na Espanha através da abertura do primeiro hipermercado Pryca. 1975 Carrefour chega ao Brasil. 1976 Lançamento dos " produtos livres " , dos produtos sem marcas mas " também bons e mais baratos ". 1977 Promodès cria a insígnia 8 à Huit para as lojas de conveniência. 1979 Desenvolvimento do maxidesconto: Carrefour cria a insígnia ED e Promodès cria a insígnia Dia.

1981 Promodès abre-se à franquia com os mercados Champion Carrefour lança o cartão de pagamento Pass. 1982 Implantação de Carrefour na Argentina. 1984 Carrefour propõe um novo serviço com os Seguros Carrefour

1985 Os produtos com a marca Carrefour foram lançados 1988 Aquisição por Promodès dos 128 supermercados do Grupo Primistères. Lançamento do slogan "Com o Carrefour eu positivo" 1989 Abertura do primeiro Carrefour em Taiwan. 1991 Carrefour adquire Euromarché e Montlaur Abertura das primeiras lojas Continent na Grécia. 1992 Criação das primeiras Fileira Qualidade Carrefour. 1993 Abertura na Itália e na Turquia dos primeiros hipermercados Carrefour.

1994 Abertura dos primeiros hipermercados Carrefour no México e na Malásia 1995 Primeira implantação na China do Carrefour. 1996 Carrefour prossegue seu desenvolvimento na Ásia (Tailândia, Coréia e Hong Kong). Promodès adquire a cadeiade lojas Félix Potin 1997 Lançamento, com a marca Carrefour Bio, de uma linha de produtos biológicos. Primeira implantação em Singapura e na Polônia. Promodès compra a cadeia de supermercados Catteau. 1998

Promodès multiplica os acordos com grupos de distribuição estrangeiros: Gib na Bélgica, GB, Norte na Argentina e Gs na Itália. 16 lojas Mammouth tornaram-se parceiras do Carrefour e Adotaram a insígnia; Carrefour integra a atividade supermercado com Stoc, Marché Plus. Abertura dos primeiros hipermercados Carrefour no Chile, na Colômbia e na Indonésia. 1999 Carrefour e Promodès formam o 1º grupo de distribuição europeu e o segundo mundial. Aquisição de 85 supermercados no Brasil com a compra de 23 unidades das Lojas Americanas, bem como a totalidade das bandeiras Planaltão (DF), Roncetti (ES), Mineirão (MG) e Rainha, Dallas e Continente (RJ). 2000 Carrefour aumenta sua participação na sociedade italiana Gruppo Spa e torna-se o número 2 da distribuição na Itália. Carrefour e Marinopoulos se associam para tornarem-se o primeiro grupo de distribuição na Grécia. Carrefour torna-se líder da distribuição na Bélgica elevando sua participação a 100% na sociedade GB. Os Grupos Carrefour e Maus se associam nos hipermercados na Suíça. Carrefour, Sears e Oracle criam o GNX, GlobalNetXchange, o primeiro mercado mundial de compras online. Todos os hipermercados Continente passam para a insígnia Carrefour e os supermercados para Champion na França. Lançamento do site de e-commerce Ooshop Primeira abertura no Japão.

GRUPO SONAE:

As informações históricas do surgimento e a expansão do GRUPO SONAE estão contidas no próprio site desta Empresa. Trata-se, portanto, de informações públicas cuja transcrição é feita na íntegra por esta CPI:

A SONAE no Brasil

Ao final da década de 80, o Grupo Sonae, maior conglomerado não-financeiro de Portugal e um dos maiores do setor de distribuição na Europa, desembarcou no Brasil por meio de uma joint venture com a empresa gaúcha Josapar, originando a Cia. Real de Distribuição, com sede no estado no Rio Grande do Sul. Cerca de dez anos depois, o grupo português adquiriu a totalidade da empresa brasileira, partindo para uma grande fase de expansão no país. No entanto, seu foco sempre esteve direcionado para os mercados dos estados da Região Sul e de São Paulo.

Em 1998, associou-se à empresa Cândia Mercantil Norte Sul, em São Paulo, num acordo que deu origem a uma nova sociedade, que foi denominada Sonae Distribuição Brasil. Uma operação no final de 1998 fez do grupo o novo proprietário da rede paranaense Mercadorama, primeira no ranking nessa praça. No final de janeiro de 1999, o Grupo Sonae adquiriu também a rede Exxtra Econômico, no Rio Grande do Sul, e em seguida houve as aquisições das Redes Nacional, no RS, e Coletão e Muffatão, no Paraná.

Hoje, a Sonae Distribuição Brasil é a quarta maior rede do setor de supermercados do país, segundo ranking da Abras - Associação Brasileira de Supermercados. Nessa nova etapa, os investimentos estão voltados com maior vigor para a modernização das lojas, para o treinamento de seus colaboradores, para o Programa de Responsabilidade Social e Ambiental e para a integração da Sonae em todas as regiões em que atua através do Projeto de Regionalização. A Sonae é detentora das marcas BIG no segmento hipermercado (com 47 lojas no Brasil sendo duas em fase de finalização de obras); no segmento supermercado do Mercadorama (com 24 lojas no PR e 1 em SC), do Nacional (65 lojas no RS) e do Cândia em SP (1 loja); e no segmento atacado com o Maxxi Atacado (8 lojas no RS e 2 lojas no PR). Ao todo, controla no país 149 lojas, entre Hipermercado, Supermercado e Atacado, e lojas especializadas, como a Hello!, que atua na área têxtil (roupas femininas, masculinas, infantil e bebê), e a BIG Eletroeletrônicos, que atua com toda a linha eletrodomésticos e eletrônicos. Além dessas unidades, a empresa também dispõem de três Centros de Distribuição (RS/Porto Alegre, PR/Pinhais e em SP/São Bernado) e um frigorífico próprio, denominado Frigonal, com capacidade de 320 abates/dias, somando mais de 6,5 mil abates/mês, representando um total de produção de 84 mil cabeças/ano.

Bandeira Lojas Big Eletro HelloSDB (total) 148 13 1São Paulo (total) 19 6 .

BIG 19 6 .Cândia 1.Paraná (total) 36 2 .BIG 10 2 .Mercadorama 24 . .Maxxi 2 . ..S. Catarina (total) 6 2 .BIG 5 2 .Mercadorama 1 . ..R G do Sul (total) 87 3 1BIG 13 3 1Nacional 65 . .Maxxi 8 .SDB 1

PRÊMIOS NACIONAIS

Prêmio Top de RH 2002 / ADVB 10ª EdiçãoEscola de Varejo

Meta: Formação de Gerentes

Prêmio Top of Mind (Geral das marcas do RS)/Revista AmanhãAs 15 Marcas Mais Lembradas do RS

8º - BIG9º - Nacional

Prêmio Top of Mind/Segmento Varejo/Revista Amanhã/RS1º - Nacional

2º - BIG

Prêmio Internacional - Gold Award for the 2003 Global Excellence Awards

Case: WorkflowMeta: autonomia das lojas com o controle central, obtendo

melhor controle de custos, agilidade (redução em 50% do tempo de vários projetos), segurança na tomada de decisões e

eliminação de falhas.

Prêmio Aberje 2003Case: Projeto Faça Certo

Meta: Programa de Prevenção de Perdas, com redução gradual de 22% ao mês.

Prêmio Top de RH 2003 ADVBCase: Portal de Recursos Humanos

Metas: Democratização da informação dentro da empresa

Prêmio Internacional User Challenge (ACL) - CanadáCase: Excelência no uso do software ACL na Sonae

Resultado: 6º lugar entre 30 concorrentes na classificação mundial.

NÚMEROS DA SONAE DISTRIBUIÇÃO BRASIL

Posição no Ranking da Abras 2003: 4ª Posição (ranking de supermercados)Geração de Empregos:

10º empregador do país em 2002 (Revista Exame)10º empregador do país em 2003 (Revista Exame)

Número de Colaboradores: 22 mil

Faturamento 2000: R$ 3,0 bilhõesFaturamento 2001: R$ 3,4 bilhõesFaturamento 2002: R$ 3,4 bilhõesFaturamento 2002: R$ 3,4 bilhõesVendas - 38ª maior empresa privada, por venda 2001 (América Latina/ Gazeta Mercantil)- 10ª maior empresa do comércio, por venda 2001 (Brasil);- 5ª maior empresa do Rio Grande do Sul, em vendas, 2003;- 8ª maior empresa da Região Sul, 2003 (Revista Valor);- 1ª empresa de varejo da Região Sul, 2001 e 2003 (Ranking Abras);- 4ª maior empresa em arrecadação de tributos do RS, 2001/2002 e 2003 (Fonte: Gov. RS);- 49ª maior empresa entre as 1000 maiores do Brasil, 2003 (Revista Valor);- 221ª maior empresa entre as 500 maiores da América Latina, 2003 (Revista América Econômica).

Investimentos: para 2003: R$ 100 milhões

O site do GRUPO SONAE dá grande destaque às realizações sociais, como recursos humanos e responsabilidade social:

Os números falam pela empresa. Atualmente a Sonae Distribuição Brasil S/A é a nona maior empregadora do país, com um quadro superior a 21 mil colaboradores. Só no ano passado foram realizadas 3.500 contratações e 5.633 promoções internas.

Em 2002, o setor de Recursos Humanos registrou um total de 661 mil horas de treinamento com mais de 58 mil participações. Na área de assistência médica, a Sonae registrou um total de 97.209 consultas, além de 112.613 exames complementares e 35.410 procedimentos ambulatoriais. No mesmo período, foram realizados 53.510 procedimentos odontológicos entre os colaboradores da empresa.

Algumas destas ações são reconhecidas como exemplo no país. É o caso do projeto Sonae Ensino Intensivo (SEI), programa de complementação escolar, desenvolvida pela Sonae Distribuição Brasil em conjunto com a Secretaria de Educação do Estado do Paraná (SEED). Em 2002, o SEI iniciou no Estado de Santa Catarina atendendo 180 alunos.Outro projeto interno de grande destaque foi a Escola de Varejo. Foi premiado pela ADVB com o Top de RH 2002. Ganhou também o Prêmio Summit de Varejo 2002, concedido pela Fundação Getúlio Vargas. Outras iniciativas vencedoras formam o videojornal e o jornal mural, veículos de comunicação interna da empresa. Ambos receberam prêmios da Aberje (Associação Brasileira de Comunicações Empresarial) nos certames a Região Sul e Brasil.

Banco de Alimentos

Dando continuidade ao fortalecimento do seu Programa de Responsabilidade Social e Ambiental, a Sonae assinou convênio com o Banco de Alimentos do Rio Grande do Sul como uma das empresas mantenedora, em mais uma ação em prol da cidadania. A Sonae vai doar 10 toneladas de alimentos perecíveis e não-perecíveis por semana. O convênio também prevê o repasse de RS 6.4 mil mensais no prazo de dois anos. A assinatura deste convênio veio ao encontro da filosofia da Sonae, que busca na consciência do conceito de empresa cidadã, para ser responsável por uma parcela do bem-estar da comunidade em que a empresa está inserida. O Banco de Alimentos é uma ação empresarial, que servirá como um tipo de centro de logística para a coleta, o armazenamento e a distribuição de alimentos, estabelecendo uma ponte entre as fontes que geram excedentes de alimentos em condições de serem consumidos e as entidades de Assistência Social da sociedade civil organizada.

Caxias Solidária

A Sonae Distribuição Brasil através da sua bandeira de Hipermercados BIG participou de mais uma ação ligada a área social realizada pela entidade Parceiros Voluntários de Caxias do Sul .A ação Caxias Solidária teve como objetivo arrecadar 8 toneladas de

alimentos (exceto sal) para combater a miséria da cidade que segundo dados da Fundação Getúlio Vargas (FGV) já atinge 21.566 pessoas. O evento ocorreu no dia 8 de junho nos pavilhões da Festa Nacional da Uva, sendo que o ingresso era um quilo de alimentos não perecível (exceto sal) trocado nos caixas do BIG.

Programa Comida Urgente - Prefeitura de Novo Hamburgo

Esse programa marca o início do Projeto de Responsabilidade Social e Ambiental da Sonae no ano de 2003,com a doação de R$ 5 mil/mensais, para o Programa Comida Urgente, da Prefeitura de Novo Hamburgo, município localizado na região do Vale dos Sinos, do Estado do Rio Grande do Sul. O programa será gerenciado, diretamente, pela primeira-dama do município e deputada estadual, Floriza Rosa dos Santos.

FAS e Instituto Pró-Cidadania

Devido a uma parceria com a Prefeitura de Curitiba, todas as lojas Big e do Mercadorama, são postos de arrecadação de alimentos doados pela comunidade. Esses donativos serão entregues diretamente a FAS e ao Instituto Pró-Cidadania de Curitiba - IPCC -, ambos presididos pela primeira-dama, Marina Taniguchi. Os dois órgãos ficam responsáveis pela distribuição dos alimentos arrecadados e pela elaboração de relatórios mensais das entidades atendidas. Iniciado o processo os clientes serão informados, mensalmente, através das lojas do Big e do Mercadorama, o número de pessoas já atendidas pelo projeto.A iniciativa tem o objetivo de atender as 300 entidades cadastradas no IPCC - Instituto Pró-Cidadania de Curitiba o que beneficiará centenas de famílias A campanha foi lançada em 17/03/03 e na ocasião, a Sonae Distribuição Brasil, representada por suas bandeiras Big e Mercadorama, fez a entrega de uma doação inicial de 300 cestas-básicas.

Lions – Pirituba

A V Feira da Saúde do Lions SP/Pirituba, evento que já se tornou tradição na região, se realizou dia 17/05 no estacionamento do BIG/Pirituba, em São Paulo, foi um sucesso. Mais de 1,3 mil pessoas foram atendidas com idades entre 10 anos e 90 anos. A feira deste ano trouxe 4 palestras sobre Aids, Câncer de mama e próstata, dengue e gravidez precoce, além de oferecer exames gratuitos de audição, diabetes, orientação odontológica, osteoporose, pressão arterial e visão.

A Sonae, através da bandeira BIG participou do evento como uma das empresas patrocinadoras e cedente do espaço para realização da feira.

Instituto do Câncer Infantil

Sonae Distribuição Brasil SA, através da sua Rede de Supermercados Nacional, firmou uma parceria com o Instituto do Câncer Infantil (ICI) como uma das quatro patrocinadoras da 10ª Corrida pela Vida de Porto Alegre, que é hoje o maior evento filantrópico do Estado do Rio Grande do Sul em prol de uma instituição do terceiro setor. Este ano, a corrida pela Vida de Porto Alegre está comemorando seus 10 anos e já faz parte do calendário oficial de eventos da capital gaúcha. O instituto tem a expectativa de mobilizar cerca de 30 mil participantes adotando camisetas do ICI alusivas ao evento. As 20 lojas da Rede Nacional, em Porto Alegre, foram disponibilizadas para servirem de postos de venda das camisetas da corrida, e o ICI ficará responsável pela logística e comercialização dentro das lojas.A corrida está marcada para o dia 9 de novembro. Porém, antes da atividade em Porto Alegre, municípios como: Triunfo, Sapiranga, Gramado e Caxias do Sul promoverão suas respectivas corridas em benefício ao Instituto.

O SONAE NO RIO GRANDE DO SUL:

A ascensão da SONAE DISTRIBUIÇÃO BRASIL S.A no mercado do Rio Grande do Sul de varejo ocorreu através da compra de redes de supermercados gaúchos, conforme as operações descritas abaixo. Portanto, deu-se por aquisição.

AQUISIÇÃO DA COMPANHIA REAL DE DISTRIBUIÇÃO:

Foi no Rio Grande do Sul que a SONAE se instalou quando chegou no Brasil, em 1989, através de uma joint-venture com a empresa Josapar, originando a Companhia Real de Distribuição, com 26% de participação do grupo Sonae. Em 1997, o grupo português adquiriu a totalidade da empresa brasileira. Partiu para uma vigorosa prospecção em outras praças. No final de janeiro de 1999, o grupo Sonae adquiriu a rede Exxtra Econômico, e em seguida as Redes Nacional.

AQUISIÇÃO DA EXXTRA ECONÔMICO:

Em 1999, a Sonae Distribuição Brasil S/A, concluiu um acordo com os acionistas da Exxtra Econômico S/A, por via do qual passou a deter 100% do capital social desta sociedade.

A Exxtra Econômico S/A explorava, naquele ano, sete estabelecimentos de retalho alimentar, totalizando cerca de 14.000 metros quadrados de área de venda e um volume de vendas brutas anuais de 94 milhões de reais.

Este investimento reforçou a presença da Sonae Distribuição Brasil S/A na área metropolitana de Porto Alegre.

AQUISIÇÃO DO NACIONAL SUPERMERCADOS:

A Modelo Continente SGPS S/A e a Nacional – Administração e Participações S/A decidiram, em Abril de 1999, associaram as suas operações no setor brasileiro de retalho.

No seguimento desta operação, a sua subsidiária. Modelo Investimentos Brasil AS, passou a deter cerca de 76% da Sonae Distribuição Brasil S/A (SDB), empresa onde foram integradas atividades de retalho da Nacional Supermercados S/A.

Quando da realização do negócio, a Nacional operava uma rede de 90 lojas com cerca de 96.000 metros quadrados de área de venda, representando um volume de vendas brutas anuais de cerca de 920 milhões de reais, sendo o segundo maior operador da Região Sul do Brasil e líder no Estado do Rio Grande do Sul.

Salienta-se que, anos antes, em 1996, a Nacional havia comprado a Rede Dosul de Supermercados e, em 1997, a rede Zottis. A forte presença da rede de lojas da Nacional no interior do Estado ofereceu uma elevada complementaridade em relação ao parque de lojas da SDB.

A SDB, que liderava já o mercado da Região Sul do Brasil, consolidou assim a sua posição na área de influência que selecionou como mercado base e passou a ocupar a 3ª posição no ranking nacional de distribuição do Brasil, com um total de 164 lojas, cerca de 270.000 metros quadrados de área de venda e um volume de vendas brutas de cerca de 2,8 mil milhões de reais.

DEFINIÇÃO TÉCNICA DA CADEIA AGROINDUSTRIAL DE ALIMENTOS :

O conceito de Sistema Agroindustrial (SAG) ressalta a importância do ambiente institucional e das organizações ao funcionamento das cadeias produtivas. As instituições são as regras do jogo da sociedade e são representadas pelas leis, tradições e costumes que caracterizam as diferentes sociedades. As organizações são os agentes que fazem os SAGs funcionar, como as cooperativas, sindicatos, associações, empresas e universidades, entre outros. (ZYLBERSZTAJN & NEVES, 2001)

Para WILKINSON (1997), as formas organizacionais heterogêneas constituem a norma, e não a exceção nos campos da atividade econômica. O

perfil institucional e organizacional predominante em qualquer tempo pode não representar um “resultado eficiente”, mas é produto de padrões históricos.

O SAG é tradicionalmente definido como um conjunto de relações contratuais (formais e informais) entre empresas e agentes especializados, cujo objetivo final é disputar o consumidor de determinado produto. No caso da CPI, serão enfatizadas as transações realizadas entre agricultores/abatedouros/frigoríficos, abatedouros/frigoríficos/fornecedores industriais, abatedouros/frigoríficos/distribuição e distribuição/consumidor final. Um SAG pode compreender mais de um produto ou região geográfica.

Considera-se que os agentes atuantes nos SAGs mantêm uma relação de intensa competição e cooperação, conflito e solidariedade e que há uma pluralidade de formas igualmente legítimas, embora heterogêneas, de coordenação econômica. A supressão da pluralidade em favor da universalização de um modo específico de coordenação é prejudicial à “eficiência” (WILKINSON, 1997: 28)

Para definição do mercado relevante é importante frisar que a produção de carnes bovina e suína são organizadas em cadeia produtiva. Utiliza-se, para esse fim, como conceito técnico, a definição dada por ERNESTO KRUG, economista gaúcho com notáveis conhecimento na Cadeia Agroindustrial do Leite:

“uma cadeia agroalimentar é definida como a “seqüência de ações físicas e o conjunto de agentes, instituições e operações envolvidas na produção, processamento e marketing de um produto específico, desde a produção até o consumo final. Deve-se acrescentar, por estar associada às cadeias agroalimentares e agroindustriais, uma série de ações correlatas, como a pesquisa voltada à produção e os serviços financeiros, de logística e de informação.”

Outro conceito dado é o da escola francesa. Segundo Morvan (apud BATALHA 1997, p.26), a cadeia de produção poderia ser sintetizada em três enunciados:

1) ......é uma sucessão de operações de transformação dissociáveis, capazes de ser separadas e ligadas entre si por um encadeamento técnico;

2) .....é também um conjunto de relações comerciais e financeiras que estabelecem, entre todos os estados de transformação, um fluxo de troca, situado de jusante a montante, entre clientes e fornecedores;

3) .....é um conjunto de ações econômicas que presidem a valoração dos meios de produção e asseguram a articulação das operações

Para concluir, se inclui a seguinte tabela contendo a RELAÇÃO DAS EMPRESAS ASSOCIADAS NA AGAS COM O FATURAMENTO/2002, com as doze principais empresas, contendo o respectivo percentual em cada espécie carnes dentro do faturamento total:

RANKING SUPERMERCADOS FATURAMENTO 2002 (R$) % /faturamento em carnes.

Bovino

Suino

4 1 SONAE DISTRIB. BRASIL S/A 3.341.908.090, 5 3

7 2 CIA ZAFFARI COM. E IND. 1.040.111.505, 6 .739 3 COML. UNIDA DE CEREAIS S/A 136.925.655, 7 .246 4 IMP. E EXP. DE CEREAIS S/A 111.450.491,56 5 SUPERMERC. GUANABARA S/A 89.396.921, 15 .857 6 COML. ZAFFARI LTDA 85.401.276,62 7 ASUN COM. GÊNEROS AL. LTDA 74.761.114,64 8 COMERCIAL CESA S/A 73.901.982,74 9 SUPERM. BAKLIZI LTDA 62.097.710,81 10 ANDREAZZA E ANDREAZZA E CIA

LTDA 56.200.000,

100 11 PADARIA MODERNA LTDA 44.412.896,101 12 TISCHLER E CIA LTDA 43.242.000,

A cadeia das carnes bovina e suína, pelo conceito acima exposto, pode ser divida nas seguintes fases econômicas: (1º) relação do produtor rural e os fornecedores de insumos; (2º) relação entre o produtor rural e a indústria; (3º) relação entre a indústria e o comércio varejista; (4º) relação do comércio varejista e o consumidor.

ANÁLISE DOS FATOS SEGUNDO A PROVA COLETADA:

CONFLITO DE INTERESSE NA CADEIA PRODUTIVA DAS CARNES OS IMPERATIVOS DE BEM COMUM DA COMUNIDADE:

Conforme consta na justificativa do requerimento de instalação da presente CPI, o fato que motivou a instalação deste Inquérito Parlamentar foram as justas reclamações dos produtores rurais contra o preço pago pelo animal vivo por parte da indústria.

A indústria de produtos suínos, por sua vez, por ocasião da Subcomissão da Suinocultura, no exercício de 2002, foi clara em declarar que o preço que pagava ao produtor era uma decorrência do preço pago pelo varejo. Naquela ocasião, para comprovar sua alegação, tornou público perante este Parlamento o estudo que haviam encomendado aos Economistas Valmor Marchetti e Fátima Behncker Jerônimo, realizado a pedido do Sindicato da Indústria de Produtos Suínos no Estado do Rio Grande do Sul– SIPS - MARK-UP PRATICADO PELA DISTRIBUIÇÃO EM CARNES E PRODUTO DE ORIGEM SUÍNA EM PORTO ALEGRE. O varejo organizado e representado através da Associação Gaúcha de Supermercados – AGAS nega a veracidade das alegações acusatórias apresentadas pelo SIPS.

Está havendo nas cadeias agroindustriais da bovinocultura e da suinocultura uma falta de equilíbrio - uma desarmonia entre seus agentes. Um

segmento acusa o outro de estar se apropriando de maior parcela do preço pago pelo consumidor final.

É evidente que essas duas cadeias agroindustriais estão vivendo conflitos de interesse, ou melhor, não estão sabendo os seus agentes harmonizar seus interesses divergentes.

A questão não é a existência ou não de conflito. Este surge da complexidade da organização social do homem. Numa sociedade civil cultural e politicamente diversificada e, portanto, pluralista, é inevitável que cada segmento tenha seus interesses peculiares e que estes conflituem com os interesses também legítimos de outros grupos. O ponto chave é a construção de um consenso entre os diversos grupos que possibilitem a convivência e a tolerância mútua entre os mesmos, possibilitando a paz social e o bem-estar geral. E, aqui não se exclui o campo da economia. O que deve ser analisado é como cada grupo se posiciona para solucionar o conflito de interesses - uma forma é a conflitual - nesta, a vitória de um significa necessariamente a derrota do outro. Um dos modos de solução via forma conflitual é a do uso da violência. Não é preciso dizer que esse tipo de solução, embora algumas vezes rápida e eficiente, deixa sempre seqüelas entre os interessados, criando fissuras que quebram a paz social. Outra forma é a solidária. Nesta, os partícipes do conflito de interesse solucionam por alguma forma de negociação, como a mediação, conciliação, mesmo arbitralmente ou submetem ao Estado, como administrador da justiça a solução do conflito de interesses e se submetem a cumprirem a decisão emanada. Nem sempre é a solução mais rápida e fácil de ser tomada. Contudo, é, sem dúvida, a mais segura e eficiente. Esse tipo de solução só é possível quando as partes envolvidas têm consciência da necessidade de haver paz social e bem-estar e quando há um consenso entre os membros envolvidos, isto é, a existência necessária de uma certa solidariedade entre os integrantes de um sistema, qualquer que seja esse, decorrente de uma crença ampla de crenças, sentimentos e valores difusos na sociedade civil, por obra de uma lenta e gradual evolução da história. A solução solidária faz com que a democracia se consolide e se aperfeiçoe.

Para esta CPI, é importante apurar os fatos que estão causando a desarmonia e a falta de equilíbrio ao bem-estar entre os integrantes das cadeias agroindustriais das carnes bovinas e suínas. E, o conflito de interesses é fácil e perfeitamente identificado na questão do preço justo a ser pago e/ou recebido, conforme o caso, a cada integrante das cadeias.

Em diversos depoimentos, houve declarações alegando que, se não há harmonia nas cadeias é por que assim determina o mercado. Em suma, pela lógica desse tipo de declaração, o mercado determina tudo. Que os fatos se dão numa economia de mercado - isto não resta dúvida - é fato público e notório. A controvérsia para o presente Inquérito Parlamentar é se os agentes que atuam no mercado das carnes bovina possuem eficiência econômica pela lei da livre concorrência ou por exercer abuso de poder econômico,

estabelecendo arbitrariamente o preço, onde o produtor rural e o consumidor são os grandes perdedores.

Respostas evasivas, como colocar a culpa no mercado, não passam de alegações infundadas para práticas abusivas de mercado, como se a economia de livre empresa, nos padrões praticados nas Nações Democráticas e legitimamente aceitos pela sociedade civil, aceitasse, tolerasse ou incentivasse esse tipo de abuso. Reflete, na verdade, esse tipo de alegação - a maximização dos interesses individuais, como se as liberdades econômicas fossem o valor supremo da Civilização Ocidental, que não tem compromisso com o consenso social e o bem-estar.

Esse tipo de argumentação leva à seguinte reflexão expressa nesta pergunta: “No regime democrático é legitimo que uma pessoa maximize seus interesses individuais, mesmo em detrimento dos interesses metaindividuais de todas as demais pessoas? Há valores no Mundo Ocidental que legitimam essa visão de mundo, de que os valores econômicos são absolutos?”

Numa leitura simplista da História, numa época como a atual em que o econômico é o elemento predominante, não é difícil forçar uma interpretação de que as liberdades econômicas são valores absolutos e supremos, o que legitima a maximização dos interesses individuais. Essa visão é uma deturpação de toda a tradição humanista do Mundo Ocidental e não coaduna com a democracia. Usando as palavras de Mário Soares, estadista português, proferidas no II Fórum Social Mundial - “vivemos uma economia de mercado, mas não em uma sociedade de mercado” – sintetiza em poucas palavras a distorção de valores existentes nos nossos dias.

Uma sociedade de mercado é a distorção da natureza da pessoa humana. É a redução dessa a uma estreita visão econômica. É a “coisificação” do homem pela sociedade de consumo, onde o egoísmo e outros comportamentos negativos, como antivalores, acabam tornando-se virtudes de uma sociedade doente.

Maximizar interesses individuais em detrimento dos interesses metaindividuais de toda a comunidade é conduzir uma nação ao caos por um atalho.

Mesmo que, tratando superficialmente esse tema, pois a sua exaustão é praticamente impossível, há necessidade introdutória, para não se perder a questão de foco, e há de se entender a democracia enquanto regime político, que tem, na sua dimensão substancial, como princípio e fim, anteriores e superiores ao Estado, o conceito de pessoa humana, como uma visão do ser humano dotado de direitos fundamentais invioláveis e inalienáveis. Na sua dimensão instrumental, é um processo político de participação e controle do Estado pela sociedade civil.

Legitimar a maximização dos interesses individuais sobre os interesses metaindividuais é também desconhecer a própria natureza da pessoa humana,

o que induz em equívoco à condução dos conflitos de interesses gerados por uma sociedade pluralista. Pessoa humana é uma concepção antropológica de homem, desenvolvida a partir da mensagem do cristianismo, que atribui ao mesmo três características básicas: substancialidade, individualidade e racionalidade. Entende, ainda, que a pessoa humana possui, simultaneamente, duas dimensões: uma individual e outra social.

Da dimensão individual da pessoa humana advém os interesses individuais. Da dimensão social emanam os interesses metaindividuais: coletivo, difuso e público. O ponto de equilíbrio é justamente a harmonia entre essas duas dimensões.

O regime democrático, substancialmente, tem como cerne o conceito de pessoa humana e os seus direitos fundamentais. Contudo, respondendo à pergunta acima articulada, as liberdades econômicas não são absolutas e nem de longe as mais importantes. Não existe nenhum direito absoluto. Nem o Direito à Vida, hierarquicamente o mais importante, é absoluto. Comporta exceção, como o aborto, eutanásia e a pena de morte - condutas aceitas em diversos Países como legais.

As liberdades econômicas estão subordinadas a outros Direitos Fundamentais da Pessoa Humana, como o Direito à Vida. O seu desdobramento lógico é o princípio da dignidade da pessoa humana, assim como os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa, e o reconhecimento do pluralismo da sociedade civil em suas múltiplas manifestações.

A economia de mercado, como manifestação concreta das liberdades econômicas, e como forma estrutural da economia mais eficiente na geração de emprego e renda, só se legitima no regime democrático enquanto contribui para a promoção do bem comum da comunidade nacional. Não é e nem pode ser legitimada como valores supremos, sob pena de se legitimar um darwinismo econômico, onde os maiores devoram os menores, dominando o mercado.

A vida em sociedade, especialmente numa sociedade pluralista, requer que todas as partes tenham noção da dimensão social da pessoa humana e não maximize o seu interesse individual.

Essa visão da totalidade deve ser vista também pelo Estado e os seus agentes políticos. São eles que têm o dever de fazer com que os conflitos de interesses sejam solucionados sempre visando à paz e à justiça social. Também são eles que devem por limites aos abusos praticados pelos egoístas.

Não pode o Estado tolerar que, em nome da economia de mercado, numa visão descontexualizada dessa com os valores que se baseia a própria democracia, num reducionismo econômico da pessoa humana, legitimar a exploração do elo mais fraco, no presente caso, o produtor rural.

Esta CPI tem a reta compreensão de que na cadeia produtiva das carnes bovina e suína, como em qualquer segmento da economia, todos os elos devem estar em harmonia, onde os mais fortes e poderosos, valendo-se de meias verdades, legitimem seus interesses egoísticos, desconsiderando questões relevantes, como o bem comum da comunidade, com a qual eles também têm o dever de contribuir para sua promoção.

FIXAÇÃO DO PREÇO COMO PONTO CONTROVERSO NA CADEIA PRODUTIVA DAS CARNES:

O ponto chave e controvertido do conflito de interesses nas Cadeias Agroindustriais da Bovinocultura de Corte e da Suinocultura é quem tem o poder de mercado para fixar unilateralmente o preço, isto é, quem tem o poder de mercado para impor unilateralmente o preço em cada relação econômica de cada uma das Cadeias.

Na primeira etapa – a relação econômica entre o produtor rural e a indústria - é fato público e notório segundo a prova coletada no presente Inquérito Parlamentar que os produtores rurais não estabelecem o preço do seu produto.

Nas demais relações econômicas existentes – indústria e varejo e varejo e consumidor – a controvérsia da fixação do preço fica restrita à relação indústria e varejo. Na relação varejo e consumidor não há controvérsia, pois as leis de mercados de oferta e procura operam normalmente. Nenhuma empresa do varejo consegue impor aumento abusivo de preço, face à acirrada concorrência existente nesse setor. Assim, o direito de opção do consumidor é respeitado, o que afasta, até provem em contrário, controvérsia nesse elo da cadeia.

Fixa-se, portanto, como ponto controvertido, as seguintes dúvidas a serem solucionadas: 1°) se o preço é imposto ou negociado entre as partes; 2°) se imposto, quem tem poder dominante de mercado para impor o preço unilateralmente.

AVALIAÇÃO DO PRIMEIRO FATO DETERMINADO: INDÍCIOS DE PRÁTICA DE INFRAÇÃO À ORDEM ECONÔMICA DA COMPRA E VENDA DE CARNE POR PARTE DA INDÚSTRIA DE CARNES E DOS ESTABELECIMENTOS VAREJISTAS, COM APURAÇÃO DOS PREÇOS JUSTOS QUE DEVERIAM SER PRATICADOS.

OBJETIVO DO PRESENTE FATO DETERMINADO:

O objetivo do Fato Determinado 01 é o de apurar se há indícios de prática de infração à ordem econômica na compra e venda de carnes de bovinos e suínos por parte da indústria de carnes e dos estabelecimentos varejistas, com apuração dos preços justos que deveriam ser praticados.

O presente Fato Determinado tem como cerne apurar quem tem o poder de fixar o preço pago ao produtor rural nas cadeias produtivas das carnes bovina e suína e se esse poder dominante de mercado não configura abuso de poder econômico. Conforme a exposição dos motivos do requerimento que deu origem à instauração do presente Inquérito Parlamentar, há preocupação da Assembléia Legislativa com a prática de abuso de poder econômico nas cadeias produtivas das carnes, por se entender ser esse um fato negativo para o bem-estar econômico da sociedade civil do Rio Grande do Sul.

PROVA COLETADA:

A prova coletada consiste em prova documental e prova testemunhal, assim como de laudos técnicos que foram utilizados como prova pericial ou a esta equiparada.

QUESTÕES PRELIMINARES DE CONCEITUAÇÃO JURÍDICA PARA EXPLICITAÇÃO DO MÉTODO DE AVALIAÇÃO:

INTRODUÇÃO:

O objeto jurídico das investigações do presente Inquérito Parlamentar é o de “apurar as causas da atual situação econômica e financeira da bovinocultura de corte e da suinocultura e investigar indícios da prática de infrações da ordem econômica nas cadeias produtivas e suínas e seus derivados, com ênfase aos aspectos relacionados à formação do preço recebido pelos agricultores e pagos pelos consumidores finais”, delimitados pelo Requerimento n.º 01/2003 (folhas 02/06), desdobrado em seis fatos determinados conectados aos mecanismos de formação de preços recebidos pelos produtores e pagos pelas indústrias e consumidores finais.

SISTEMA FEDERAL DE DEFESA DA CONCORRÊNCIA:

O Estado brasileiro defende a economia de mercado contra o abuso de poder econômico, por ser esse negação da economia de livre empresa. A defesa da concorrência não é um fim em si, mas um meio para se criar uma economia eficiente e preservar o bem-estar econômico da sociedade. A economia eficiente é a que promove o bem-estar econômico através do desenvolvimento competitivo em consonância com os seguintes dispositivos constitucionais:

“Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios:

I - soberania nacional;

II - propriedade privada;

III - função social da propriedade;

IV - livre concorrência;

V - defesa do consumidor;

VI - defesa do meio ambiente;

VII - redução das desigualdades regionais e sociais;

VIII - busca do pleno emprego;

IX - tratamento favorecido para as empresas de pequeno porte constituídas sob as leis brasileiras e que tenham sua sede e administração no País. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 6, de 15/08/95)”

Em âmbito regional, o fundamento da economia eficiente encontra base jurídica nos seguintes dispositivos da Constituição do Estado do Rio Grande do Sul:

“Art. 157 - Na organização de sua economia, em cumprimento ao que estabelece a Constituição Federal, o Estado zelará pelos seguintes princípios:

I - promoção do bem-estar do homem como fim essencial da produção e do desenvolvimento econômico;

II - valorização econômica e social do trabalho e do trabalhador, associada a uma política de expansão das oportunidades de emprego e da humanização do processo social de produção, com a defesa dos interesses do povo;

III - democratização do acesso à propriedade dos meios de produção;

IV - integração das economias latino-americanas;

V - convivência da livre concorrência com a economia estatal;

VI - planificação do desenvolvimento, determinante para o setor público e indicativo para o setor privado;

VII - integração e descentralização das ações públicas setoriais;

VIII - proteção da natureza e ordenação territorial;

IX - integração dos Estados da Região Sul em programas conjuntos;

X - resguardo das áreas de usufruto perpétuo dos índios e das que lhes pertencem a justo título;

XI - condenação dos atos de exploração do homem pelo homem e da exploração predatória da natureza, considerando-se juridicamente ilícito e moralmente indefensável qualquer ganho individual ou social auferido com base neles.

Ainda, na Constituição Estadual, cita-se os seguintes dispositivos constitucionais:

"Art. 159 - Na organização de sua ordem econômica, o Estado combaterá:

I - a miséria;

II - o analfabetismo;

III - o desemprego;

IV - a usura;

V - a propriedade improdutiva;

VI - a marginalização do indivíduo;

VII - o êxodo rural;

VIII - a economia predatória;

IX - todas as formas de degradação da condição humana.”

Para instrumentalizar o combate ao abuso de poder econômico foi criado o SISTEMA BRASILEIRO DE DEFESA DA CONCORRÊNCIA. A esse respeito, transcreve-se matéria contida no site do MINISTÉRIO DA FAZENDA, que explica o que é e como funciona o referido Sistema:

Defesa e Promoção da Concorrência:

A defesa da concorrência não é um fim em si mesmo, mas um meio pelo qual se busca criar uma economia eficiente. Em uma economia eficiente, os cidadãos dispõem da maior variedade de produtos pelos menores preços possíveis e os indivíduos desfrutam de um nível máximo de bem-estar econômico. O objetivo último da defesa da concorrência é tornar máximo o nível de bem-estar econômico da sociedade.

Economias competitivas são, também, uma condição necessária para o desenvolvimento econômico sustentável a longo prazo. Nesse ambiente econômico, as empresas defrontam-se com os incentivos adequados para aumentar a produtividade e introduzir novos e melhores produtos, gerando crescimento econômico.

No Brasil, ainda que a legislação inicial sobre a matéria remonte aos anos 60, apenas ao longo do último decênio a defesa da concorrência passou a assumir caráter prioritário no contexto das políticas públicas. Até então, as características que marcaram a economia brasileira ao longo de décadas – forte presença do Estado, recurso a controle de preços,

elevado nível de proteção à indústria nacional, altos índices de inflação – eram incompatíveis com uma política eficaz de defesa da concorrência.

A Secretaria de Articulação Econômica - Seae - com a Secretaria de Direito Econômico (SDE), ambas do Ministério da Justiça e o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), autarquia vinculada ao Ministério da Justiça, integram o chamado SISTEMA BRASILEIRO DE DEFESA DA CONCORRÊNCIA - SBDC. O objetivo principal desse Sistema é a promoção de uma economia competitiva por meio da prevenção e da repressão de ações que possam limitar ou prejudicar a concorrência, com base na lei antitruste (Lei n.º 8.884/94).

A atuação dos órgãos do sistema subdivide-se em duas vertentes: o controle de estruturas de mercado, via apreciação de fusões, aquisições e incorporações de empresas e o controle de condutas ou práticas anticoncorrenciais, que busca verificar a existência de infrações à ordem econômica.

O controle de estruturas é disciplinado pelo art. 54 da Lei n.º 8.884/94, que estabelece um prazo de 30 dias para a manifestação da Seae e encaminhamento do processo à SDE, dispondo este órgão de prazo semelhante para sua manifestação. Em seguida, o caso é remetido ao Cade, que tem o prazo de 60 dias para deliberação (julgamento), sendo esses prazos suspensos quando da solicitação, pelos órgãos de informações adicionais.

No que se refere ao controle de estruturas, o Sistema Brasileiro de Defesa da Concorrência analisa preventivamente se uma concentração entre empresas (fusões, aquisições, incorporações, etc.) pode causar efeitos prejudiciais à concorrência. A Seae tem atribuição, prevista na Lei n.º 8.884/94, de proceder à análise econômica da operação, do ponto de vista dos impactos sobre a concorrência. Nesses casos, a análise da Seae é feita tomando como base o Guia para Análise Econômica de Atos de Concentração, adotado pela Secretaria por meio da Portaria Conjunta Seae/SDE N.º 50, de 01/08/2001.

Os atos de concentração têm, potencialmente, efeitos negativos e positivos sobre o bem-estar econômico. Os efeitos negativos decorrem de um eventual exercício de poder de mercado pela empresa concentrada – aumento de preços, fundamentalmente - enquanto os efeitos positivos derivam de economias de escala, de escopo, de redução de custos de transação, entre outros, que podem proporcionar vantagens competitivas para as empresas participantes.

A Seae procede, então, a uma análise dos custos e dos benefícios dos atos de concentração, sugerindo a aprovação daqueles que gerarem efeitos líquidos não-negativos para o bem-estar econômico e a reprovação ou a adoção de medidas corretivas em relação àqueles que gerarem efeitos líquidos negativos.

O controle de condutas, por seu turno, consiste na apuração de práticas anticoncorrencias de empresas que detêm poder sobre determinado mercado, das quais são exemplo as vendas casadas, os acordos de exclusividade e a prática de cartel. Nesses casos, a SDE promove Averiguação Preliminar ou instaura Processo Administrativo, conforme o caso, para apurar os fatos e o Cade aprecia, com base nas opiniões da SDE e da Seae (se for o caso), se houve configuração de infração à ordem econômica. No controle de condutas, a manifestação da Seae é facultativa.

No atual contexto econômico, o controle de condutas representa o grande desafio à frente do SBDC – e da Seae em particular. Atenção prioritária tem sido dedicada aos casos de condutas concentradas (cartéis), tanto no plano nacional como no internacional. Nesse último caso, a intenção é identificar de que forma cartéis de empresas multinacionais afetaram a economia e o consumidor brasileiro. Universalmente reconhecidos como danosos a uma economia de mercado eficiente, cartéis para fixação de preço ou divisão de mercado são um empecilho ao desenvolvimento econômico e não podem ser tolerados.

Se a defesa da concorrência diz respeito à aplicação restrita da legislação, a promoção da concorrência refere-se ao papel de, direta ou indiretamente, influir na formulação das demais políticas públicas, de modo a garantir que a concorrência seja, ao máximo, incentivada. A esse respeito, deve-se observar a intensa interface entre a regulação econômica e a promoção da concorrência, uma vez que esta pode ser alcançada por meio da correção de falhas em estruturas regulatórias. Nesse sentido, a Seae tem atuação expressiva nas discussões referentes à reestruturação de vários setores da economia, entre eles, aviação civil, energia elétrica, transportes, saneamento e telecomunicações, bem como na constituição de um marco regulatório para concessões públicas.

NOÇÃO DE DESENVOLVIMENTO COMPETITIVO:

A noção de desenvolvimento competitivo formulada no âmbito do Estudo da Competitividade da Indústria Brasileira está assentada em três elementos: (I) articulação das políticas macroeconômicas, de infra-estrutura, educação, ciência e tecnologia, comércio exterior, e de fomento e estímulo à modernização das empresas e das relações de trabalho; (II) novas relações entre Estado, setor privado e sociedade e (III) legitimação e busca de coesão social em torno dos objetivos da competitividade, orientada para a distribuição eqüitativa dos ganhos e benefícios deste processo. (COUTINHO & FERRAZ, 1994: 56)

A escolha da competitividade como objetivo social da defesa da concorrência envolve o reconhecimento de que este processo vai além do aumento da eficiência técnica e da participação das empresas no mercado. Ele se apoia também na ampliação da participação de toda a sociedade nos frutos desses aumentos. Essa maior presença da sociedade pode ocorrer diretamente através de emprego, de salários e outras remunerações, do respeito mútuo entre capital e trabalho em matéria de negociações, da qualidade das relações sociais, ou indiretamente, na forma de novos produtos e serviços, do aperfeiçoamento da qualidade, bem como do bem-estar social de uma forma geral e dos outros princípios constitucionais.

A busca de formas de harmonizar adequadamente as dimensões econômicas e sociais das bases da competitividade visa a prevenir efeitos sociais adversos da competitividade e a evitar que seus alicerces sejam frágeis e efêmeros.

Em uma visão dinâmica, a competitividade deve ser entendida como “a capacidade da empresa de formular e implementar estratégias concorrenciais

que lhe permitam conservar, de forma duradoura, uma posição sustentável no mercado” (COUTINHO & FERRAZ, 1994: 18). Decorre dessa definição que a competitividade é uma medida de desempenho das firmas individuais. No entanto, esse desempenho depende de relações sistêmicas, que envolve políticas públicas e privadas, individuais e coletivas (JANK et al., 1999: 22, 28).

A noção de competitividade sistêmica enfatiza que o desempenho empresarial depende, e é também resultado, de fatores situados fora do âmbito das empresas e da estrutura industrial da qual fazem parte, como a ordenação macroeconômica, as infra-estruturas, o sistema político-institucional e as características sócio-econômicas dos mercados nacionais.

A compreensão da dinâmica da vida econômica em geral - e da competitividade sistêmica em particular - requer um enfoque interdisciplinar, uma vez que a troca econômica pressupõe a emergência de instituições como mecanismos para a sua viabilização (WILKINSON, 1997: 27).

TESE DA EFICIÊNCIA SISTÊMICA COMO FATOR DE BEM-ESTAR ECONÔMICO DAS CADEIAS PRODUTIVAS DE AGROALIMENTAR:

A Secretaria de Direito Econômico, do Ministério da Justiça, tem como fator principal, na apuração de abuso de poder econômico, o bem-estar do consumidor. Em qualquer análise, sempre será levado em consideração o bem-estar do consumidor. Nesse sentido, sobre os malefícios do abuso de poder econômico e o prejuízo sofrido pelo consumidor, cita-se a lição do JURISTA JOSÉ MARCELO MARTINS PROENÇA, página 89, em sua obra CONCENTRAÇÃO EMPRESARIAL E O DIREITO DA CONCORRÊNCIA:

Os lucros excessivos do monopólio e do oligopólio cartelizado importam em má distribuição da riqueza, transferindo o ganho que teria o consumidor para as empresas e seus acionistas. Em conseqüência, países com uma estrutura industrial concentrada são caracterizados pela desigualdade na distribuição de riqueza.

No mundo pós-moderno, com sua sociedade de massa, não há nenhuma dúvida de que o consumidor é o agente mais importante em qualquer cadeia produtiva. Essa importância é inclusive destacada pelo moderno Direito Constitucional, como o Brasileiro, que determina que “o Estado promoverá, na forma da lei, a defesa do consumidor”. É uma Garantia Constitucional da Pessoa Humana, reconhecida como artigo 5º, XXXII, da Constituição da República. Significa que o Estado protegerá o direito do consumidor como parte juridicamente mais fraca na relação jurídica de consumo, pois não se trata de um interesse individual, mas meta-individual, na sua subespécie Direito Difuso.

Em que pese esse entendimento estar bem alicerçado juridicamente, esta CPI diverge desse fundamento. As investigações realizadas no Inquérito Parlamentar das Carnes seguem o mesmo princípio adotado pela CPI DO LEITE: análise do bem-estar econômico de todos os agentes das cadeias produtivas.

A tese desta CPI é de EFICIÊNCIA SISTÊMICA, onde todos os agentes das cadeias produtivas sejam beneficiados de forma eqüitativa, onde o enriquecimento de um não signifique o empobrecimento sem justa causa de outros.

Uma cadeia produtiva é composta por diversos elos. O seu bem-estar não pode ser auferido porque um dos seus agentes está sendo beneficiado. No entendimento desta CPI, há necessidade de que todos os agentes estejam sendo beneficiados, pois o prejuízo de um deles significa desarmonia no sistema, o que resultará em algum determinado tempo prejuízo a todos os demais elos das cadeias.

Daí, a nossa divergência com a Secretaria de Direito Econômico, do Ministério da Justiça. Entende esta CPI que os conceitos acima transcritos do Sistema Nacional da Defesa do Consumidor devem ser adaptados ao conceito de bem-estar de todos os elos das cadeias produtivas. Deve ser averiguada a conduta decorrente da concentração na indústria e no varejo nas cadeias produtivas das carnes suínas e bovinas, se o resultado ou o saldo do exercício de poder de mercado é positivo ou negativo no contexto do bem-estar econômico de todos os agentes, não só do consumidor e do produtor rural, no sentido de que o saldo negativo não anulou, ao longo do tempo, os fatores positivos.

Os fundamentos jurídicos da tese desta CPI de bem-estar econômico de todos os elos das cadeias produtivas, vêm da conjugação do Direito Constitucional com o Direito Econômico, mediante a subordinação desta interpretação feita com base no método teleológico utilizado pela hermenêutica jurídica de que a exigência de eficiência sistêmica de todos os elos emana da própria Ordem Constitucional, conforme os argumentos jurídicos, que se passa a expor sob a avaliação axiológia da economia de mercado, com a Ordem Econômica Constitucional Brasileira.

O Brasil adota como modelo estrutural da sua economia o sistema de economia de mercado ou de livre empresa. Esse é o modelo, em que pese suas variações, predominante no mundo Ocidental e nas Nações Desenvolvidas do Chamado Primeiro Mundo que se situam fora da Civilização Ocidental, mas que não deixam de estar ocidentalizadas. Esse é o modelo que dita as regras da economia no mundo. As nações subdesenvolvidas, onde muitas delas convivem com sociedades feudais e até tribais, com economia do tipo pré-capitalista, não deixam de sofrer os efeitos da economia de mercado ditada pelos Países desenvolvidos.

Na era da globalização, isto é, da Ocidentalização do mundo, onde essa Civilização impõe sua cultura, a ponto de modificar o modo de ser, agir e pensar das demais, se a democracia e seus pressupostos de direitos humanos não foi universalizada com valor comum a todos os povos, a economia de mercado ou seus efeitos no comércio exterior, positivos e negativos, acabaram se universalizando. Até Países totalitários, como a China, que formalmente adotam um modelo nacionalista-estatizante, hoje se transformaram, de fato, em economia de livre empresa. Por ironia, a maior potência comunista é o paraíso do capitalismo selvagem. A China não tem ou não cumpre leis de proteção do trabalho humano - faz vistas grossas ao trabalho escravo e semi-escravo e a exploração do trabalho infantil não respeita o meio ambiente; realiza pirataria de propriedade intelectual e industrial. É o País de maior confiabilidade para os investimentos exteriores, superando até mesmo os Estados Unidos da América, visto que o seu sistema de Direito e Justiça é por demais rigoroso no cumprimento dos contratos avençados.

Nunca o PRINCÍPIO DA PACTO SUN SERVANDE dos contratos foi levado tão a sério no seu cumprimento. Nenhum jurisconsulto romano iria imaginar que, no lado extremo do mundo comparado com a Europa seus conceitos hoje superados, iriam ter tanta acolhida. Direito do consumidor, nem pensar. Karl Marx e todos os Teóricos do Socialismo Científico devem estar se remoendo no túmulo com essa grande potência “comunista”.

A economia de mercado tem como princípios básicas o direito de propriedade aos particulares sobre os meios de produção de bens e serviços e a livre concorrência dos agentes econômicos, regida pelas leis de mercado, isto é, da oferta e da procura. Contudo, cada País adota critérios próprios adaptados a sua realidade, onde o capitalismo se diferencia e essa diferença se dá pelo papel da intervenção do Estado no domínio econômico e social privado e os mecanismos de defesa da economia nacional. O livre mercado mundial é um mito como o é a sociedade sem classe. Assim, não há de se falar em capitalismo, mas em capitalismos, moldada a realidade de cada Estado Nacional.

A economia de mercado é o modelo estrutural da economia mais eficiente na geração de emprego e renda. O Século XX representou o triunfo desse modelo de economia, sem que não houvesse duras críticas. Seus detratores à acusação de falida, pois não solucionou o problema das injustiças sociais, sendo que em alguns casos até as agravou, especialmente nos Países do Terceiro Mundo. Não há de se negar que o triunfo da economia de mercado não eliminou a miséria e a pobreza. Mas, não é fim da economia de mercado eliminar a miséria e a pobreza, criando uma sociedade mais justa. Sua missão é meramente econômica de gerar produtos e serviços mais baratos, em maior quantidade, de melhor qualidade e de menor preço. O campo para promoção da justiça social não é o da economia, mas o da política. Se a economia de mercado é eficiente na geração de riquezas, o que é ineficiente é a política na sua justa distribuição, que não promove as políticas públicas adequadas. Os detratores da economia de mercado estão fazendo confusão entre economia e

política, numa notória mistura dos papéis que cada uma delas exerce na sociedade.

Está havendo nas últimas décadas uma supremacia da economia sobre a política, onde aquela passa a reger os destinos dessa. As decisões de governo, mesmo sendo uma decisão política, a sua causa é econômica, motivada pela defesa de interesses econômicos. O Ocidente pode ter suas economias estruturadas sobre a forma de economia de mercado, mas não é uma sociedade de mercado. Muitos equívocos estão sendo praticados com essa mistura, com o agravamento da crise social.

Sobre o Ocidente, da qual o Brasil faz parte, é importante destacar como paradigma de vida, que nenhum modelo econômico é um fim em si mesmo. As liberdades econômicas estão subordinadas a outros valores hierarquicamente superiores, em especial ao PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA. A economia de mercado só se justifica numa sociedade democrática como meio eficiente de geração de emprego e renda para promoção do bem comum.

Em outras palavras, nenhum modelo econômico pode ser aceito se só visa aos interesses individuais dos seus agentes econômicos. A Ordem Jurídica deve condicioná-la a um fim maior que é o do bem-estar econômico da comunidade.

Como foi dito, o mercado livre mundial ou mesmo as leis de mercado atuando livremente são um mito - uma utopia ideológica. E, como toda utopia ideológica quando a política quis colocá-la em prática, gerou só desastres sociais e até mesmo políticos. Não será demais lembrar que os regimes totalitários – fascismo, nazismo e comunismo - são a antítese do Estado Liberal, face à ineficiência deste para promoção da justiça social. Em termos realistas, não há nenhuma economia de mercado em que haja uma concorrência absolutamente livre. O protecionismo dado pelos Países do Primeiro Mundo a suas economias e a proteção dispensada às empresas transnacionais de grande porte desequilibram as regras do jogo. Por ironia da História, os teóricos do Livre Mercado Absoluto, contrários a toda e qualquer forma de intervenção do Estado na economia, defendendo a tese da auto-regulamentação da economia, são obrigados a engolir o fato de que o Estado, através da política, deve intervir para manter a livre concorrência dos agentes econômicos.

Nesse sentido, citam-se as observações do JURISTA JOSÉ MARCELO MARTINS PROENÇA, na sua obra CONCENTRAÇÃO EMPRESARIAL E O DIREITO DE CONCORRÊNCIA, página 19:

“Sendo assim, verificada a impossibilidade de se manter a esperança de um sistema de concorrência perfeita no mercado, assumindo a realidade no sentido de que os mercados são, na maioria das vezes, monopolísticos ou

oligopolísticos e, admitindo, entretanto, que haja a possibilidade de incentivar uma concorrência entre eles, o direito da concorrência não se destina a proteger a existência de uma concorrência absolutamente livre, mas sim a garantir que haja uma concorrência efetiva e real entre os operadores desse mercado, a fim de que nenhum desses operadores possa impor unilateralmente as condições do mercado em questão. Dessa forma, a concentração de empresas poderá acarretar problemas quando, ao aparecer um monopólio ou um oligopólio quase monopolístico, estes sejam hábeis a eliminar a concorrência em determinado mercado, impondo de maneira unilateral normas mercadológicas.”

A economia brasileira possui regras de direito que reconhecem a economia de mercado ou de livre empresa. Mas, as Liberdades Públicas Econômicas não são o fim maior reconhecido pela Ordem Constitucional vigente, conforme já exposto brevemente. Para assegurar o bem-estar econômico da comunidade é aceita a intervenção do Estado no domínio econômico particular como agente normativo e regulador da atividade econômica. É, ainda admitida, em caráter supletivo, a intervenção do Estado através da exploração direta de atividade econômica, quando necessária por imperativos da segurança nacional ou relevante interesse coletivo.

APLICAÇÃO DA LEI FEDERAL N.º 8.884/94 PARA REPRIMIR ABUSO DE PODER ECONÔMICO NAS CADEIAS PRODUTIVAS DAS CARNES :

O cerne das investigações do principal fato determinado - FATO DETERMINADO 01 - indícios de prática de infração à ordem econômica da compra e venda por parte da indústria de carnes e dos estabelecimentos varejistas, com apuração dos preços justos que deveriam ser praticados - está diretamente relacionado com a defesa da concorrência, visando a uma economia mais eficiente.

A defesa da concorrência e a punição de abuso de poder econômico são os fatos e práticas regulados pela Lei Federal n° 8.884, de 11 de junho de 1994, que "transforma o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE) em Autarquia e dispõe sobre a prevenção e repressão às infrações contra a ordem econômica e dá outras providências". Esse é o diploma legal que define juridicamente quais são as infrações contra a ordem econômica. Disciplina o mesmo, infraconstitucionalmente, o art. 173, § 4º, da Constituição Federal: “A lei reprimirá o abuso de poder econômico que vise à dominação dos mercados, à eliminação da concorrência e ao aumento arbitrário dos lucros.”

Na aplicação deste Diploma Legal, o SBDC não considera a concorrência como um fim em si, mas a concorrência como meio de haver uma economia eficiente, a fim de promover o bem-estar econômico da sociedade civil. Nesse sentido, transcreve-se um trecho da obra do Jurista citado anteriormente:

CONCORRÊNCIA-FIM E CONCORRÊNCIA-MEIO:

No intuito de dividir as diversas experiências de defesa da concorrência em sistemas típicos de legislação, é possível distinguir, quanto ao tipo de proibição de práticas restritivas da concorrência, dois modelos de sistemas: aqueles que proíbem as práticas restritivas da concorrência por produzirem um dano potencial na economia e os que reprimem apenas as práticas que se traduzem num dano efetivo.

Quanto ao sistema que reprime as práticas restritivas reguladas pelos arts. 20 e seguintes da Lei n. 8.884/94, há a tendência de privilegiar uma noção estrutural de concorrência e de avaliar esta como um bem em si mesmo - concorrência-fim -, também chamada como teoria da concorrência-condição, razão pela qual se estabelece uma proibição genérica e a priori de todos os acordos e práticas suscetíveis de atingirem a estrutura concorrencial do mercado, combatendo-se, portanto, a concentração por meio da proibição das práticas que a ela possam conduzir. Esse sistema, também conhecido como da per se condetnnation, abstrai dos resultados efetivos das restrições à concorrência, para centrar a sua atenção no perigo que estas, por si mesmas, representam. A concorrência, nesse sistema, é um valor em si mesmo, a ser preservado de modo absoluto, pelo que só por ela se realiza o progresso e o equilíbrio econômico.

Nesse sistema, o controle e técnica da proibição tende a ser, a posteriori, uma vez que somente após a prática dos atos é que, em rigor, podem ser aferidos os seus efeitos.

O segundo sistema tende a privilegiar os comportamentos efetivos dos agentes econômicos. A concorrência é dada como um bem entre outros e não um bem em si mesmo, podendo ser sacrificada em favor de outros bens, também protegidos pela legislação. Trata-se da teoria

da concorrência-meio, e, como tal, pode, em certas circunstâncias, ser afastada em nome da proteção de outros interesses ou da realização de outros fins socialmente relevantes. Daí que esse sistema não pretenda, em abstrato, combater os acordos, oligopólios, monopólios ou quaisquer outros fatores de domínio de mercado nos quais venha a se manifestar a concentração econômica. Tal sistema, na verdade, preocupa-se apenas em reprimir tais atos quando, por particulares condicionalismos, se revelem prejudiciais ao interesse geral, declarando ilícitos os acordos ou práticas que produzam efeitos negativos na concorrência, não justificados por outras razões (teoria da rule of reason, regra da razão, a ser observada posteriormente).

Tal sistema, no que toca ao controle e técnica da proibição, na observação do direito comparado, tende a adotar um controle prévio das práticas restritivas por um órgão administrativo ou jurisdicional, que poderá declarar nula ou não determinada prática. Entretanto, a legislação atualmente vigente no Brasil possibilita, também para tal sistema de controle, a verificação, a posteriori, da prática do ato.

Assim, pode-se verificar que, dependendo do bem jurídico a ser tutelado pela lei de defesa da concorrência, temos diversas respostas jurídicas ao ato praticado pelo agente econômico, surgindo os dois grandes sistemas da defesa da concorrência: sistema da concorrência-fim, também chamado de concorrência-condição, na qual a concorrência aparece como um objetivo, ou seja, a concorrência é um fim em si mesmo, trata-se do fim máximo a ser tutelado pela legislação; e o sistema da concorrência-meio, também chamado de concorrência-instrumento, na qual a concorrência é vista como um instrumento utilizado para se chegar a um outro objetivo que é ainda maior, objetivo esse que, para ser definido, depende do país, do momento econômico, das políticas públicas, dos valores previstos na ordem econômica constitucional etc.

Em conseqüência, em se tratando da concorrência-meio, como a concorrência não é o fim máximo a ser tutelado, pode-se atropelá-la para se atingir o fim máximo em questão.

Sacrifica-se a concorrência com o objetivo de se alcançar outro objetivo, ou seja, pode-se permitir que duas empresas se unam, configurando a concentração empresarial, sacrificando-se a saudável concorrência, tudo com o objetivo, por exemplo, de evitar o. aumento do poder econômico de determinada empresa estrangeira, ou, para o aumento da escala empresarial, aumento das eficiências em proteção ao consumidor etc.

No Brasil, pela análise das decisões proferidas pelo CADE, bem como seu relatório de 1996, chega-se à conclusão de que utilizamos o sistema da concorrência-meio. No mesmo sentido, a conclusão a que se pode chegar pela análise do art. 170 da Constituição Federal de 1988, orientador do art. 173 do mesmo diploma.

De fato, não obstante a previsão no sentido de que "a lei reprimirá o abuso do poder econômico que vise à dominação dos mercados, à eliminação da concorrência e ao aumento arbitrário dos lucros" (§ 42 do art. 173), como princípio da ordem econômica, ou seja, regra orientadora da ordem econômica e financeira, prevê o art. 170 da Constituição Federal que "a ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social", observados os princípios da "função social da propriedade; livre concorrência; defesa do consumidor; redução das desigualdades regionais e sociais; busca do pleno emprego e tratamento favorecido para as empresas brasileiras de capital nacional de pequeno porte", dentre outros.

Acerca do assunto, ilustradas são as palavras de Nuno T. P. Carvalho:

"Também no Brasil a definição constitucional da ordem econômica é de sentido distributivista, o que impõe a conclusão de que a livre concorrência não se protege por si mesma, mas só na medida em que servir para assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social”. A fórmula é por demais vaga para ser esclarecedora, é verdade, mas deixa inequívoco que a concorrência é , na ordem econômica brasileira, um valor apenas orientador,

informador, os suscetível de ceder o passo quando, na consecução de iniciativas para dar uma vida mais digna ao cidadão brasileiro, se imponha a obediência a outros valores, por vezes com ela incompatíveis".

Evidente, pois, que, em prejuízo à defesa da concorrência como um fim, esta poderá ser sacrificada para a tutela de outros interesses, também protegidos em nível constitucional, como a defesa do consumidor. Assim é que é possível a autorização, pelo CADE, de um ato de concentração horizontal de empresas que inevitavelmente sacrificará a concorrência, dado os benefícios que ele poderá colacionar aos consumidores, como a redução dos preços, o aumento das eficiências em termos qualitativos e quantitativos dos produtos etc. Inequívoco, portanto, que a concorrência, na ordem econômica brasileira, é um valor apenas orientador, informador, que pode ser ferido, sacrificado, com vistas à consecução de outras iniciativas para dar uma vida mais digna ao cidadão brasileiro, iniciativas essas que podem ser, com o direito da concorrência, incompatíveis.

Seguindo os ditames constitucionais do sistema da concorrência-meio, a Lei n.º 8.884/94 evidencia a possibilidade de se sacrificar a defesa da concorrência em favor de outros interesses sociais em seu art. 54, uma vez que "o CADE poderá autorizar os atos, sob qualquer forma manifestados, que possam limitar ou de qualquer forma prejudicar a livre concorrência, ou resultar na dominação de mercados relevantes de bens ou serviços", desde que tenham por objetivo "aumentar a produtividade, melhorar a qualidade de bens ou serviços, ou propiciar a eficiência e o desenvolvimento tecnológico ou econômico". Pode também ser aprovado o ato que sacrifique a concorrência quando seus benefícios "sejam distribuídos eqüitativamente entre os seus participantes, de um lado, e os consumidores ou usuários finais, de outro".

Conclui-se, pois, que a Lei n.º 8.884/94 admite um certo abrandamento do aumento da defesa da concorrência na perseguição de determinados fins coletivos, mas não a elimina, nem a despreza.

No direito comunitário, outrossim, evidencia-se que a concorrência é um instrumento para se atingir os fins da ordem econômica, sendo que, quando ela, a concorrência, não for o melhor instrumento para a obtenção do resultado previsto, deixará de ser protegida, deixará de ser defendida, naquele caso específico, tudo com vistas a, de outra maneira, obter êxito na consecução dos fins previstos na referida ordem econômica. O próprio Tratado de Roma, no art. 85, § 311, estabelece critérios para esse afastamento do primado da defesa da concorrência, critérios esses que, posteriormente, foram particularizados por diversos regulamentos da Comissão Européia, instituindo as chamadas isenções por categorias. Outrossim, o Regulamento do Conselho da União Européia, de n.º 4.064/89, que regula as concentrações de empresas no âmbito comunitário, prevê, em seu art. 2.2, que "uma concentração que não crie ou reforce uma posição dominante será declarada compatível com o mercado comum, ainda que seu resultado restrinja significativamente a concorrência efetiva no mercado comum, ou em uma parcela substancial do mesmo".

Nesse sentido, ilustrada a posição traçada por Sofia Oliveira Pais, a demonstrar, no âmbito comunitário, a possibilidade de concentrações empresariais, mesmo em detrimento à saudável concorrência:

A Comissão acreditava que as empresas só seriam capazes de atuar eficazmente nesse mercado de dimensões alargadas aumentando o seu tamanho. Deste modo, defende o Memorando de 11 de dezembro de 1965, que o mercado comum necessita de empresas de grandes dimensões, capazes de alcançarem as vantagens da produção em massa, do desenvolvimento, do progresso técnico e econômico e da investigação. Para tal, afirma a necessidade de serem suprimidos certos obstáculos, que se opõem ao desenvolvimento das concentrações comunitárias, nomeadamente às fusões internacionais, para que estas possam adquirir a dimensão e os meios que as tornem capazes de defrontar os “gigantes americanos".

O exemplo clássico do sistema da concorrência-fim é o da legislação norte-americana, pela simples análise do Shermann Act, complementada pelo Federal Trade Commissáon Act e pelo Clayton Act. Entretanto, a rigidez que caracteriza referidas legislações, na prática, foi muito atenuada pela jurisprudência que, nos casos submetidos a sua apreciação, a mitigou com a introdução da "regra da razão", instrumento utilizado para auferir a pró-competitividade de certos atos que, aparentemente, restringem a concorrência".

São dois, portanto, os critérios utilizados pelos EUA para a aplicação da legislação antitruste.

Em primeiro lugar, segundo a regra da ilicitude per se, há práticas que são flagrantemente anticompetitivas, que não merecem sequer uma análise de eventuais efeitos pró-concorrenciais. Nuno T. P. Carvalho salienta que, nos Estados Unidos, a regra per se visa a evitar inúteis pesquisas sobre a natureza e as conseqüências econômicas do ato praticado quando este é tão grave que merece ser predefinido como abusivo. Trata-se de uma presunção jure et de jure. Não admite prova em contrário".

Em segundo lugar, admite a legislação dos Estados Unidos a aplicação da regra da razão, que impõe uma análise dos fatos para se detectar eventuais efeitos pró-competitivos que dele decorrerão, sendo consideradas ilegais somente as práticas que restringem a concorrência de forma não razoável, diferenciando, portanto, os good trusts dos bad trusts.

Analisando a situação norte-americana, Shieber expôs que a regra da razão acabou por determinar uma modificação no art. 1° do Shermann Act, muito embora não lhe tenha sido alterado o texto, que passou a viger com a seguinte redação: "Todo e qualquer contrato, combinação sob a forma de truste ou qualquer outra forma ou conspiração em (desarrazoada) restrição do tráfico ou comércio entre os Estados, ou com nações estrangeiras, é declarado ilícito pela presente lei 116”.

É importante salientar que a regra da razão adotada também no nosso sistema legislativo tem sentido completamente diferente da regra adotada nos EUA. No

sistema brasileiro, a regra da razão serve para justificar a aprovação dos atos anticompetitivos, tratando-se, pois, de conceito diametralmente oposto.

A Lei n.º 8.884/94 adotou o sistema das autorizações, uma vez que o CADE, que exerce um controle a posteriori das práticas realizadas, que acabam por produzir efeitos plenos até serem formalmente proibidas pela autoridade antitruste, poderá aprovar o ato anticompetitivo em caso de preenchimento das condições previstas em lei.

Nesse sentido, expressivas as explicações de Nuno T. P. Carvalho, no sentido de que "todos os atos submetidos à SDE e ao CADE, de ofício ou por iniciativa do interessado, devem ter seu exame submetido ao crivo da conveniência, nos moldes estabelecidos no art. 54 da Lei 8.884/94. (...) o art. 54 da L. 8.884/94, calcado no texto do art. 85 do Tratado de Roma, atribui competência ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE) para examinar os atos lesivos à concorrência e aprová-los, desde que atendidos os requisitos ali arrolados. Trata-se, como se verá, de uma regra da razão com sentido fortemente intervencionista, regulador e burocratizante, prevendo-se inclusive a sujeição da empresa consulente à fiscalização pela Secretaria de Direito Econômico (SDE) durante algum tempo. (...) Fique, por agora, apenas a noção de que a regra da razão, em obediência ao sistema da concorrência- instrumento, pode ser utilizada, tanto no Brasil quanto na União Européia, para permitir práticas anticompetitivas, desde que consideradas socialmente úteis, ao contrário do sistema norte-americano, o qual, tendo adotado a concorrência-condição, parte do pressuposto de que toda a prática anticompetitiva é anti-social, e, portanto, vedada pela Lei Shermann e pelas leis que se lhe seguiram, a menos que haja lei expressa em sentido contrário".

Atualmente, é comum verificar explicações, incorretas, todavia, no sentido de que a rule of reason significa a aprovação do ato anticoncorrencial, uma vez que a conduta do agente é razoável. A regra da razão não tem por escopo justificar a razoabilidade da conduta do agente, mas trata-se, tão-somente, de um meio de flexibilizar a aplicação da lei

antitruste, justificando a aprovação de atos anticompetitivos dada às eficiências por ele colacionadas, por serem socialmente úteis.

Note-se, entretanto, que, ao contrário do que defendido por Nuno T. P. Carvalho, o sistema europeu não é o sistema da regra da razão. O Tratado de Roma não tem regra da razão, tem teoria da isenção. Na regra da razão existe um suporte técnico para justificar a aprovação de atos anticoncorrenciais em face dos benefícios por ele colacionados, dando assim eficácia ao princípio da concorrência-meio. No sistema da isenção, que pode ser concedida por categoria ou em bloco, verifica-se uma norma genérica vedando determinado tipo de conduta e outra norma prescrevendo a possibilidade daquela conduta, podendo-se afirmar que a razoabilidade para justificar a aprovação de determinado ato anticoncorrencial já se encontra prevista em lei.

DEFINIÇÃO DOS INSTITUTOS JURÍDICOS ESTABELECIDOS PELA LEI FEDERAL N.º 8.884/94 E SUA ADAPTAÇÃO AO CASO CONCRETO DOS FATOS APURADOS PELO INQUÉRITO PARLAMENTAR DAS CARNES:

A Lei Federal n.º 8.884, de 11/06/1994, não define os conceitos dos institutos jurídicos que estabelece. Essa tarefa cabe à Doutrina e à Jurisprudência. Sendo conceitos em branco, é necessário definir o sentido e o alcance de cada um deles, a fim de servirem de base para aplicação no presente Inquérito Parlamentar.

É importante reiterar que “a defesa da concorrência não é um fim em si, mas um meio para se criar uma economia eficiente e preservar o bem-estar econômico da sociedade. Na presente análise, o entendimento do Sistema Brasileiro de Defesa da Concorrência - SBDC - de que “em uma economia eficiente os consumidores dispõem de maior variedade de produtos pelo menor preço possível” não pode ser levado com fim maior, conforme já argumentado. O fim pretendido de “os indivíduos desfrutam de um nível máximo de bem-estar econômico”, em termos de cadeia produtiva, deve ser analisado com base no tratamento eqüitativo de todos os agentes, desde o produtor rural até o consumidor, e não só neste último. Essa interpretação dada pelo Governo Federal, através dos órgãos públicos que compõem o SBDC, só é aceitável como razoável quando se trata de concentração horizontal. No presente caso, assim como no Inquérito Parlamentar do Preço do Leite se for aplicada, legitimará a exploração do elo mais fraco da cadeia produtiva, que é o produtor

rural, em benefício do consumidor, num primeiro momento, mas também dos demais agentes econômicos, que ganham em processo de escala de produção, mesmo com a redução do lucro por unidade dos produtos produzidos ou vendidos, conforme o caso.

Cabe a este Inquérito Parlamentar das Carnes realizar um balanço nos atos de conduta de concentrações econômicas, averiguando o saldo positivo ou negativamente ao bem-estar econômico. A dificuldade, no presente caso concreto, resulta de que os fatos apurados não consistem em caso de concentração horizontal, nem vertical. Essa última, a “integração vertical ocorre entre empresas que operam em diferentes níveis ou estágios da mesma indústria, mantendo entre si relações comerciais, na qualidade de comprador/vendedor ou prestador de serviços. ( página 67, Autor acima referido )”. No presente caso concreto, é de análise de cadeia produtiva, a fim de se determinar que tem o poder de fixar o preçp do produto de forma arbitrária, em detrimento dos demais agentes econômicos.

Daí, a exemplo da CPI do Preço do Leite, advém a dificuldade de aplicar-se aos fatos apurados por este Inquérito Parlamentar das Carnes, na íntegra, as definições fornecidas tanto pela Lei Federal n.° 8.884, de 11/06/1994 e especialmente as dadas pela PORTARIA CONJUNTA SEAE/SDE N.º 50, de 01/08/2001. O objeto dessa se refere a atos de concentração horizontal. Como estão sendo apurados atos de integração vertical que se dão nas cadeias produtivas é necessário que os institutos jurídicos previstos na Lei Federal n.º 8.884/94 sejam adaptados às cadeias produtivas das carnes bovina e suína, apurando quem pode estabelecer o preço do animal vivo pago ao produtor rural.

Para efeitos de conceituação e de aplicação ao presente caso concreto, passa a se dar a seguinte interpretação aos vocábulos jurídicos:

I - ORDEM ECONÔMICA BRASILEIRA: - Por ordem econômica brasileira deve ser entendido o conjunto de dispositivos contidos na Constituição Federal, que visam a definir a estruturação da economia nacional, conjugada com os demais valores fundamentais reconhecidos pela Ordem Jurídica Brasileira. Devem os seus dispositivos serem interpretados no contexto do texto constitucional e não isoladamente.

Os Princípios Gerais da Atividade Econômica estão previstos nos artigos 170 a 181 da Constituição Federal, que são os seguintes:

Art.. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios: I – soberania nacional; II – propriedade privada; III – função social da propriedade; IV –

livre concorrência; V – defesa do consumidor; VI – defesa do meio ambiente; VII – redução das desigualdades regionais e sociais; VIII – buscar pleno emprego; IX – tratamento favorecido para as empresas de pequeno porte constituídas sob as leis brasileiras e que tenham sua sede e administração no País.

Parágrafo único. É assegurado a todos o livre exercício de qualquer atividade econômica, independente de autorização de órgãos públicos, salvo nos casos previstos em lei.

O artigo 170 da Constituição Federal não foi dotado de boa técnica de redação legislativa. Isto dificulta sua interpretação e a distinção entre o que são princípios gerais da ordem econômica e o fim que essa tem como objetivo.

Os Princípios Gerais da Atividade Econômica visam ao bem-estar econômico da sociedade civil. No texto constitucional estão consagrados pela ordem econômica (Art. 170 a 181 da Constituição Federal). São desdobramentos de outros valores já consagrados no texto constitucional. Os principais são o fundamento da valorização do trabalho humano e o fim de assegurar a todos a existência digna, que é a concretização do PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA, reconhecido como um dos fundamentos ou Princípios Básicos da República Federativa do Brasil (art. 1º, III, da Constituição Federal). Após, vem o da SOBERANIA NACIONAL, reconhecido no artigo 1º, I, da Constituição da República. Em seguida, vem o DIREITO DE PROPRIEDADE COM FUNÇÃO EMINENTEMENTE SOCIAL, reconhecido como Liberdade Pública da Pessoa Humana no “caput” e incisos XXII e XXIII do artigo 5º. Cita-se também o PRINCÍPIO BÁSICO DA LIVRE INICIATIVA e o PRINCÍPIO DA LIVRE CONCORRÊNCIA. O primeiro é um desdobramento do Princípio Fundamento reconhecido no art. 1º, IV da Constituição Federal. Por último, a Liberdade Econômica (parágrafo único do artigo 170) é um desdobramento da LIBERDADE DE TRABALHO, prevista como Liberdade Pública da Pessoa Humana no inciso XIII do artigo 5º da CF/88.

A regra do inciso IX do artigo 170 visa a dar tratamento favorecido para as empresas de pequeno porte constituídas sob as leis brasileiras e que tenham sua sede e administração no País. É um dispositivo constitucional que objetiva dar tratamento especial aos que são economicamente mais fracos. É um tratamento desigual aos que estão em situação de desigualdade, na medida em que se desigualam. Está em perfeita consonância com o Princípio da Igualdade (art. 5º, Caput, da CF/88).

Os Princípios da Defesa do Consumidor, de Defesa do Meio Ambiente, da redução das desigualdades regionais e sociais e a busca do pleno emprego devem ser interpretados como desdobramentos dos objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil na Ordem Econômica. Norteiam a atuação do Estado como agente normativo e regulador da atividade econômica (art. 3°, da CF/88), demonstrando que a economia de mercado não é um fim em si mesmo, mas um meio, subordinada a outros valores superiores, para construção do bem comum.

Acrescenta-se, ainda, o conceito contido no artigo 159, VIII da Constituição do Estado do Rio Grande do Sul, em que “na organização de sua ordem econômica”, o Estado combaterá a economia predatória.

II - INFRAÇÃO DA ORDEM ECONÔMICA: Entende-se como infração da ordem econômica a violação aos Princípios Gerais da Economia Nacional, consagrados no artigo 170 da Constituição da República. A Lei Federal n.º 8.884/94, em seus artigos 20 e 21, define quais são essas infrações. São essas, basicamente as seguintes: 1) limitar, falsear ou, de qualquer forma, prejudicar a livre concorrência ou a livre iniciativa; 2) dominar mercado relevante de bens ou serviços. 3) aumentar arbitrariamente os lucros; 4) exercer de forma abusiva posição dominante.

III - LIVRE INICIATIVA E LIVRE CONCORRÊNCIA: Livre iniciativa deve ser interpretada no sentido de economia de mercado ou de livre empresa. A livre concorrência é um dos pressupostos básicos da economia de mercado, juntamente com o Direito de Propriedade dos Meios de Produção e pressupõe exercício das Liberdades Econômicas por agentes particulares, num espaço de razoável liberdade, limitada a intervenção estatal para promoção do bem comum da comunidade. Economia de mercado não é o mesmo que sociedade de mercado.

IV - MERCADO RELEVANTE: A definição de um mercado relevante é o processo de identificação do conjunto de agentes econômicos que efetivamente limitam as decisões referentes a preços e quantidades dos fatos analisados. O mercado relevante é determinado em termos dos produtos e/ou serviços que o compõem e da área geográfica. No primeiro caso, a delimitação do mercado relevante diz respeito ao conjunto de produtos que são considerados suficientemente próximos para que as decisões de escolha do consumidor sejam influenciadas por seus respectivos preços e atributos de qualidade. No segundo caso, deve-se observar o espaço territorial para o qual a venda destes produtos é economicamente viável.

V - EXERCÍCIO DE PODER DE MERCADO: Consiste no ato de uma empresa unilateralmente, ou de um grupo de empresas coordenadamente, aumentar os preços (ou reduzir quantidades), diminuir qualidade ou a variedade dos produtos ou serviços, ou ainda, reduzir o ritmo de inovações com relação aos níveis que vigorariam sob condições de concorrência irrestrita, por um período razoável de tempo, com a finalidade de aumentar seus lucros.

Essa definição também é dada pela PORTARIA CONJUNTA SEAE/SDE N.º 50, de 01/08/2001.

VI - EFICIÊNCIA ECONÔMICA: A eficiência econômica pode ser analisada apenas a longo prazo e envolve, por parte dos atores envolvidos, uma relação positiva com percepções de eqüidade econômica. São eficiências econômicas as melhorias nas condições de produção, distribuição e consumo de bens e serviços que sejam persistentes a longo prazo. Por se referirem a eventos futuros, são difíceis de se verificar e quantificar. São determinadas através de projeções e podem não se concretizar.

A PORTARIA CONJUNTA SEAE/SDE N.º 50, de 01/08/2001, que não possui caráter vinculante, significa que tem a faculdade de se adaptar às circunstâncias do caso concreto. Expõe da necessidade de definição do mercado relevante quando se está apurando caso de concentração de empresas:

A definição de um mercado relevante é o processo de identificação do conjunto de agentes econômicos, consumidores e produtores, que efetivamente limitam as decisões referentes a preços e quantidades da empresa resultante da operação. Dentro dos limites de um mercado, a reação dos consumidores e produtores a mudanças nos preços relativos - o grau de substituição entre os produtos ou fontes de produtores - é maior do que fora destes limites. O teste do “monopolista hipotético”, descrito adiante, é o instrumental analítico utilizado para se auferir o grau de substitutibilidade entre bens ou serviços e, como tal, para a definição do mercado relevante.

Diante da circunstância do Instrumento Analítico acima referido ser direcionado para o caso de concentração horizontal, deve o mesmo ser adaptado ao presente caso concreto, que é o de analise em cadeia produtiva, que não é de casos hipotéticos, mas de fatos ocorridos. Por isso, não se aplica a hipótese do monopolista hipotético.

PROCEDIMENTO PARA ANÁLISE DOS FATOS:

São alvo especial de investigação da CPI os fatos e as práticas que são objeto da Lei Federal nº 8.884/94 e que podem constituir infrações contra a ordem econômica, orientadas pelas disposições constitucionais de liberdade de iniciativa, livre concorrência, função social da propriedade, defesa dos consumidores e repressão ao abuso do poder econômico.

Considera-se que a eficácia da política de defesa da concorrência depende, sobretudo, do ambiente político-econômico que lhe ampara. É necessário, pois, caracterizar o contexto geral da apuração dos fatos. Para isto, se recorrerá à bibliografia especializada.

O critério básico de avaliação dos fatos e das práticas que constituem o objeto da CPI é o efeito líquido sobre o bem-estar econômico. O efeito líquido não-negativo é aquele que não reduz o bem-estar econômico.

O exercício de poder de mercado consiste no ato de uma empresa unilateralmente, ou um grupo de empresas coordenadamente, alterar condições de preço, produção, quantidade, qualidade ou variedade dos produtos ou serviços, ou ainda o ritmo de inovações com relação aos níveis que vigorariam sob condições de concorrência irrestrita, por um período razoável de tempo, com a finalidade de aumentar seus lucros.

A eficiência econômica pode ser analisada apenas a longo prazo e envolve por parte dos atores uma relação positiva com percepções de eqüidade econômica. São eficiências econômicas as melhorias nas condições de produção, distribuição e consumo de bens e serviços que sejam persistentes a longo prazo. Por se referirem a eventos futuros, são difíceis de se verificar e quantificar. São determinadas através de projeções e podem não se concretizar.

RELAÇÃO ECONÔMICA ENTRE O PRODUTOR RURAL E A INDÚSTRIA NA CADEIA AGROINDUSTRIAL DA BOVINOCULTURA DE CORTE NO RIO GRANDE DO SUL:

ETAPA 01: OBJETO E FIM DA ANÁLISE.

Na relação econômica entre os produtores rurais criadores de bovino de corte e a indústria de abate, representada por frigoríficos e abatedouros, o objeto da análise é o de averiguar se, na operação de fornecimento de matéria-prima por parte dos produtores rurais para a indústria de carnes, há indícios de infração à ordem econômica, mediante prática de domínio de mercado ou de condutas anticompetitivas contra a livre concorrência.

O fim da presente análise é o de apurar a existência da (1) materialidade de infração à ordem econômica e (2) indícios de autoria.

ETAPA 02: DEFINIÇÃO DO MERCADO RELEVANTE:

INTRODUÇÃO CONCEITUAL:

A definição de um mercado relevante é o processo de identificação do conjunto de agentes econômicos que efetivamente limitam as decisões referentes a preços e quantidades dos fatos analisados. O mercado relevante é determinado em termos dos produtos e/ou serviços que o compõem a área geográfica. No primeiro caso, a delimitação do mercado relevante diz respeito ao conjunto de produtos considerados suficientemente próximos, para que as decisões de escolha do consumidor sejam influenciadas por seus respectivos preços e atributos de qualidade. No segundo caso, deve-se observar o espaço territorial para o qual a venda desses produtos é economicamente viável.

O instrumento analítico do teste do “monopolista hipotético”, para determinação do mercado relevante de bens e serviços, previsto na PORTARIA CONJUNTA SEAE/SDE N.º 50, de 01/08/2000, conforme transcrição na íntegra, é o seguinte:

30. Procedimento. O teste do “monopolista hipotético” consiste em se considerar, para um conjunto de produtos e área específicos, começando com os bens produzidos e vendidos pelas empresas participantes da operação, e com a extensão territorial em que estas empresas atuam, qual seria o resultado final de um “pequeno porém significativo e não transitório” aumento dos preços para um suposto monopolista destes bens nesta área. Se o resultado for tal que o suposto monopolista não considere o aumento de preços rentável, então a SEAE e a SDE acrescentarão à definição original de mercado relevante o produto que for o mais próximo substituto do produto da nova empresa criada e a região de onde provém a produção que for a melhor substituta da produção da empresa em questão. Esse exercício deve ser repetido sucessivamente até que seja identificado um grupo de produtos e um conjunto de localidades para os quais seja economicamente interessante, para um suposto monopolista, impor um “pequeno porém significativo e não transitório aumento” dos preços. O primeiro grupo de produtos e localidades identificado segundo este procedimento será o menor grupo de produtos e localidades necessário para que um suposto monopolista esteja em condições de impor um “pequeno porém significativo e não transitório” aumento dos preços, sendo este o mercado relevante delimitado. Em

outras palavras, "o mercado relevante se constituirá do menor espaço econômico no qual seja factível a uma empresa, atuando de forma isolada, ou a um grupo de empresas, agindo de forma coordenada, exercer o poder de mercado."

IDENTIFICAÇÃO DA DIMENSÃO DO PRODUTO E DA DIMENSÃO GEOGRÁFICA DO MERCADO RELEVANTE NA CADEIA AGROINDUSTRIAL DA BOVINOCULTURA DE CORTE:

A identificação do produto que compõe o MERCADO RELEVANTE na relação econômica entre o criador de gado bovino e a indústria, a operação é o fornecimento de matéria-prima por parte dos produtores rurais para a indústria de carnes, representadas por frigorífico e abatedouros, licenciados pela inspeção sanitária Municipal (SIM), ou Estadual (CISPOA/SAA) ou pela Federal (SIF/MAPA).

A matéria-prima nessa operação é o “animal vivo”. Não há como substituí-lo por outra matéria-prima. Sem bovinos não existiria a cadeia agroindustrial de carne bovina. Todos os produtos de carne industrializados derivam dessa matéria-prima. O seu fornecedor é o criador de gado bovino localizado no Estado do Rio Grande do Sul que, em escala econômica, só é produzido por produtores rurais, em qualquer lugar do mundo onde haja produção de carne em escala comercial. É um produto do setor primário da economia típica de zona rural, produzido em unidades produtoras rurais de médio e grande porte.

A dimensão geográfica de atuação das empresas que adquirem bovinos, animais vivos para abate como matéria-prima, é o território do Rio Grande do Sul. Essa é a base geográfica onde se localizam os produtores rurais que fornecem o produto para a indústria. Para a definição da área geográfica deve ser levada em consideração a questão de ordem sanitária e, também a tributária. Nas operações internas, limitadas às fronteiras do Estado do Rio Grande do Sul, a sistemática de tributação do ICMS apresenta-se de duas maneiras: a primeira é o benefício do diferimento do pagamento do imposto para etapa posterior, que significa que o produtor rural ao vender sua mercadoria ao industrial, posterga o pagamento, passando para este último a responsabilidade tributária pelo pagamento do ICMS. A segunda, a operação subseqüente, a saída da indústria ao varejo está sujeita à sistemática da substituição tributária. Neste caso, o frigorífico é o substituto tributário pelo ICMS devido pela operação de venda do varejo ao consumidor final. Assim, a indústria ao vender a carne verde deve reter o ICMS do substituído (varejista e/ou atacadista). Por sua vez, o varejo está desobrigado do pagamento no momento da sua venda, visto que o ICMS já ficou sob a responsabilidade da indústria.

Por outro lado, nas operações interestaduais, o imposto deve ser pago no momento da ocorrência do fato gerador, sendo fixada uma base de cálculo

mínima pela Secretaria da Fazenda, com o objetivo de resguardar os interesses econômicos do Estado. A conhecida “pauta” nada mais é do que um valor de referência - um valor mínimo atribuído ao animal vivo, fixado, levando em consideração os preços no mercado atacadista, isto por que a regra geral da base de cálculo do ICMS é o valor da operação. Quando esta é efetivada por valor superior aquele mínimo fixado pela Secretaria da Fazenda, nada há a recolher, ao contrário, se o valor da operação ocorrer por preços inferiores, o vendedor deverá recolher a diferença do imposto, antes de ultrapassar as fronteiras do Estado.

Neste ponto específico, pode-se verificar que a pauta influi na movimentação dos bovinos vivos entre o Rio Grande do Sul e os demais Estados brasileiros, produzindo um entrave na comercialização, pois os Estados do Centro-Oeste e Sudeste oferecem benefícios fiscais que reduzem a carga tributária, dificultando a comercialização para esses centros consumidores.

Ademais, há barreira sanitária com o Estado de Santa Catarina. O Rio Grande do Sul realiza vacinação contra a aftosa e o Estado vizinho é zona livre de aftosa sem vacinação, estabelecendo corredores sanitários para outros, o que inviabiliza a logística por seus custos. É pouco provável, e se realizado, não apresenta significância na formação do preço do bovino vivo a realização de operações interestaduais. A operação realizada é praticamente, senão, a totalidade no mercado interno estadual.

Em suma, este Inquérito Parlamentar, na definição do MERCADO RELEVANTE, fixa como dimensão do produto o MERCADO DE FORNECIMENTO DE BOVINOS VIVOS PELO PRODUTOR RURAL PARA ABATE NA INDÚSTRIA, e, como dimensão geográfica, o TERRITÓRIO DO RIO GRANDE DO SUL.

ETAPA 03: EXAME DE PROBABILIDADE DE EXERCÍCIO DE PODER DE MERCADO POR ATO DE CONCENTRAÇÃO ECONÔMICA:

INTRODUÇÃO:

O controle de uma parcela substancial de mercado é condição necessária, mas não suficiente, para que a empresa exerça o poder de mercado. É preciso determinar se existem condições suficientes para que o poder de mercado seja exercido unilateralmente pelo agente econômico, ou coordenadamente por um grupo de empresas.

A Portaria Conjunta SEAE/SDE n° 50, de 01/08/2001 estabelece no item 39 do Guia para Análise Econômica de Atos de Concentração Horizontal, as regras para exame da probabilidade do exercício de poder de mercado:

39. O Fato de uma concentração envolver uma parcela de mercado suficientemente alta não implica necessariamente que a nova empresa formada exercerá de forma unilateral seu poder de mercado, ou que as empresas coordenarão suas decisões. Nesta seção são apresentados os fatos que determinaram se o exercício de poder de polícia é provável.

IDENTIFICAÇÃO DAS EMPRESAS QUE EXERCEM PRESUMIDAMENTE DOMÍNIO DE MERCADO:

O critério para a identificação das empresas que exercem presumidamente poder de mercado (artigo 20, II da Lei Federal n.° 8.884/94.) é o critério de faturamento bruto anual acima de R$ 400.000.000,00 (quatrocentos milhões de reais), conforme definição dada pelo parágrafo 3° do artigo 54 do Diploma Legal referido.

Na indústria frigorífica de bovinos nenhuma empresa chega sequer perto do valor de quatrocentos milhões de reais. A maior empresa é a MERCOSUL, cujo faturamento bruto anual não é superior a 240 milhões de reais. Outra empresa de destaque é o FRIGORÍFICO SILVA, que tem como faturamento bruto anual aproximadamente 36 milhões de reais.

Pela inexistência de grande indústria exclusivamente de produtos bovinos, não é possível para nenhuma delas, unilateralmente, dominar esse mercado relevante.

Nenhuma indústria da bovinocultura de corte no Rio Grande do Sul exerce domínio de mercado relevante. Contudo, há uma peculiaridade nesse mercado. O GRUPO SONAE possui indústria frigorífica própria, conforme declarou seu representante em depoimento prestado perante esta CPI:

O SR. ELVINO BOHN GASS – Eu queria sugerir exatamente isso e queria compreender melhor se vocês têm acordos. Acordo de fornecimento. É o mesmo padrão de acordo? São acordos diferenciados em relação a empresas diferenciadas, às carnes suína, bovina? Como é que funciona efetivamente esse acordo?[fim]

O SR. ROGÉRIO MOTA SOUTO – Deputado Elvino, como disse o Idenio tem expertise. Mas só para lhe responder de plano, assim, nós, no que tange a gado bovino, nós somos auto-suficientes. Nós temos um frigorífico próprio que nos

fornece 95%. O fornecedor que supre isso é o Mercosul, os outros 5%. Suínos nós temos as parcerias com as indústrias já conhecidas, né, Sadia, Perdigão, não é, todas essas indústrias que são fornecedoras usuais do varejo. Mas o Idenio com mais terá condição de elucidar, tá. E não há problema. Nos definam um prazo de 48 horas, nós estaremos ‘juntando esses contratos para conhecimento, em especial do Mercosul, que é o grupo (ininteligível) nós temos de gado e dos suínos.[fim]

O SONAE, ainda, no depoimento prestado por Idenio Risso Belmonte Filho, esclarece em detalhes a unidade indústria frigorífica dessa

Empresa, bem como a sua importância estratégica empresarial:

O SR. IDENIO RISSO BELMONTE FILHO – Nós compramos carne bovina de forma complementar, uma vez que nós temos um frigorífico. Nós compramos em torno de cinco ponto dois por cento desse volume vendido no Rio Grande do Sul. É comprado do Mato Grosso e do Paraná.[fim]

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – E onde é que é a planta do frigorífico, a de vocês?[fim]

O SR. IDENIO RISSO BELMONTE FILHO – É em Montenegro.[fim]

(...)

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – O frigorífico aqui em Montenegro possui inspeção federal?[fim]

O SR. IDENIO RISSO BELMONTE FILHO – Sim.[fim]

O depoente que representou o Grupo SONAE explica a importância estratégica de uma rede varejista manter unidade própria de abate com o objetivo de não só manter um padrão de qualidade com objetivo de fidelizador de clientes, mas também como chamarisco para as lojas:

O SR. IDENIO RISSO BELMONTE FILHO – A carne bovina, ela tem uma participação, como eu já mencionei para o Senhor, de 4.6%. Ela é um grande gerador de fluxo na loja,

de tráfego de clientes. E ela é composta, em função dessa necessidade de atrair clientes...[fim]

Nós temos e trabalhamos com quase 80 mil itens em lojas grandes, 35 mil itens em lojas pequenas, existe uma composição de margem.[fim]

O SR. ELVINO BOHN GASS – Vocês, no abate próprio, ele é desde o início, quando trabalham com o mercado ou foi uma transformação que vocês fizeram e passaram a abater a partir de um segundo momento?[fim]

O SR. IDENIO RISSO BELMONTE FILHO – Não, foi quando da fusão com o Nacional que este frigorífico veio.[fim]

O SR. ELVINO BOHN GASS – E qual é a avaliação que se tem hoje, isto é um acerto ou...[fim]

O SR. IDENIO RISSO BELMONTE FILHO – Quanto a qualidade não tenha dúvida que se tem um controle maior. Hoje nós estamos abatendo em torno de 70% animais jovens e tu consegue ter um controle maior da qualidade, uma vez que isso...nós acreditamos que seja um fidelizador de clientes.[fim]

Não é difícil deduzir os motivos de uma empresa varejista em manter uma unidade frigorífica própria: desorganização estrutural da indústria bovina no Rio Grande do Sul e a dificuldade de abastecimento com produtos de qualidade. Outra rede varejista, a UNIDÃO também realiza, pelos mesmos motivos, abate próprio, mas em unidade frigorífica terceirizada.

A SONAE, em 2002, teve um faturamento bruto anual de R$ 3.341.980.090,00. A carne bovina representou 4,6% do faturamento: R$ 153.731.084,14. O percentual de carne bovina adquirida de outras indústrias em caráter complementar representou apenas 0,23% do faturamento bruto anual da SONAE: R$ 76.865.542,07. Nestes números estão incluídos o agregamento de valor pelo beneficiamento pelo segundo ciclo, o que não ocorre com a indústria.

O mercado formal de carne bovina no Rio Grande do Sul foi de três bilhões de reais (2.6% do PIB/RS em 2002, segundo a SEDAI). Os valores da

SONAE representariam 5,3% do mercado de fornecimento de bovinos vivos pelo produtor rural para abate na indústria.

Pelos critérios da regra do parágrafo 3° do artigo 54 da Lei Federal n.° 8.884/94, os números apresentados à SONAE não se enquadra no critério de faturamento como ato de concentração econômica.

ETAPA 04: AVALIAÇÃO DAS CONDUTAS ANTICOMPETITIVAS EM TESE SEGUNDO A PROVA COLETADA:

INTRODUÇÃO:

Na cadeia agroindustrial da bovinocultura de corte nenhuma indústria exerce presumidamente domínio relevante de mercado. Mesmo na hipótese de nenhuma empresa poder exercer, unilateralmente, domínio de mercado, não significaria, no entender desta Relatoria, que não possa, alguma delas, em tese, realizar atos prejudiciais à concorrência, especialmente na fixação unilateral do preço do produto ao produtor rural.

Na presente Cadeia Agroindustrial de Alimentos só há produtores independentes. Em outras palavras, o criador é o proprietário do animal. Não existem no Rio Grande do Sul criadores integrados como há na suinocultura e na avicultura, cujo proprietário do animal é a indústria.

DEFINIÇÃO CONCEITUAL

A vertente de atuação analística e investigativa definida é a de apurar indícios de infrações da ordem econômica de atos que representam condutas anticoncorrenciais nas empresas que exercem domínio de mercado relevante.

A previsão legal para a presente análise tem como fundamento os seguintes dispositivos da Lei Federal n.° 8.884, de 11 de junho de 1994, na combinação das regras de direito contidas nos incisos abaixo transcritos com a do "caput" do artigo 20:

Art. 20. Constituem infração da ordem econômica, independente de culpa, os atos sob qualquer forma manifestados, que tenham por objeto ou possam produzir os seguintes efeitos, ainda que não sejam alcançados: I – limitar, falsear ou de qualquer forma prejudicar a livre concorrência ou a livre iniciativa II – dominar mercado relevante de bens e serviços;

Os atos apontados, em tese, como conduta anticoncorrencial, que configurem as hipóteses previstas no "caput" e incisos do artigo 20 da Lei n.° 8.884/94, devem ser enquadradas em um dos tipos previstos no artigo 21 do mesmo Diploma Legal, para configurar, em concreto, infração da ordem econômica como ato anticoncorrencial.

O Glossário Básico da Defesa da Concorrência do Ministério da Fazenda define conceitualmente o que são condutas anticompetitivas:

"REPRESSÃO A CONDUTAS ANTICOMPETITIVAS: Uma das vertentes de atuação do SBDC. Consiste na apuração de condutas nocivas à concorrência levadas a cabo por empresas que detêm poder sobre determinado mercado, das quais são exemplo a prática de cartel, a prática de preços predatórios, as vendas casadas, os acordos de exclusividade, a discriminação de preços, a fixação de preços de revenda e as restrições territoriais. Para promover a apuração dessas condutas e conforme o caso, a SEAE pode realizar PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO destinado a instruir representação a ser encaminhada à SDE, enquanto a SDE pode promover AVERIGUAÇÃO PRELIMINAR ou instaurar diretamente PROCESSO ADMINISTRATIVO. O CADE julga, então, com base nas opiniões da SEAE e da SDE se houve configuração de infração à ordem econômica. Na análise de

condutas anticompetitivas, a manifestação da SEAE é facultativa. Ver artigos 20 2 21 da Lei n.° 8.884/94 e Lei n.° 10.149/00."

FIXAÇÃO DO PREÇO COMO PONTO CONTROVERTIDO:

Na relação econômica entre o produtor rural e a indústria o ponto controvertido do conflito de interesses na Cadeia Agroindustrial da Bovinocultura de Corte é quem tem o poder de mercado para fixar unilateralmente o preço.

Fixa-se, portanto, como ponto controvertido, as seguintes dúvidas a serem solucionadas: (1°) se o preço é imposto ou negociado entre as partes; (2°) se imposto, quem tem poder dominante de mercado para fixar o preço unilateralmente.

IDENTIFICAÇÃO DOS ATOS QUE EM TESE REPRESENTAM CONDUTAS ANTICOMPETITIVAS SEGUNDO A PROVA COLETADA:

A circunstância de nenhuma empresa exercer, unilateralmente, domínio de mercado, não significa que não possa alguma delas realizar atos prejudiciais à concorrência, especialmente na fixação unilateral do preço do produto ao produtor rural.

No cotejo da prova coletada neste Inquérito Parlamentar, constatou-se que o preço é imposto unilateralmente pela indústria, sem que negocie e discuta o mesmo com o produtor rural.

A Federação da Agricultura no Rio Grande do Sul – FARSUL em sua resposta à REQUISIÇÃO DE INFORMAÇÕES N° 01/2003 desta CPI, fez as seguintes declarações contundentes a este respeito:

I – Se o criador de bovino de corte e suíno quem forma preço do animal vivo para abater ou esse é estabelecido pela indústria. Quais os critérios utilizados para fixação do preço do animal vivo.

É importante comentar que produtor nenhum, em qualquer parte do mundo, põe preço na sua produção. Quem estabelece preço é o mercado.

O mercado no Rio Grande do Sul é comandado pelo capital especulativo pelos contraventores. Quem põe preço no boi e na carne em nosso Estado são mercadores. Em sua grande maioria não tem indústria, não tem empregados, abatem quando lhes convém, vivem do mercantilismo, comercializando carne de outros estados e utilizando-se da sonegação, da guerra fiscal e sobretudo da fragilidade de nossa indústria frigorífica. O preço hoje, basicamente, é balizado pela oferta de carne de outros estados, auferindo as vantagens dos créditos fiscais concedidos, que somados a sonegação e aos subsídios na origem proporcionam grande competitividade em um produto de qualidade duvidosa."

A afirmação a primeira vista talvez seja até discutível mas, em todo caso, é bem significativa para demonstrar a crise da bovinocultura no Rio Grande do Sul.

Essa informação é ratificada na integra pelo representante da FARSUL, em depoimento prestado perante esta CPI:

O SR. FERNANDO ADAUTO LOUREIRO DE SOUZA – Acho que sim. Acho que hoje quem estabelece o preço do gado bovino no Rio Grande do Sul é o capital especulativo que trabalha no setor de carne. É o mercantilismo que compra. Tem muita gente abatendo que não tem empregado, que não tem indústria, que abate em frigoríficos, inclusive sob inspeção federal, sob prestação de serviço ou aluguel, enfim, e que, se for negócio abater, abatem, se for negócio trazer carne do Centro Oeste, trazem, e praticam aquilo que a gente chama de mercantilismo. São mercadores de carne, e não são indústria, porque a indústria tem que ter o fornecedor, tem que ter o cliente, tem que ter uma cadeia organizada. E isso no Rio Grande do Sul praticamente não acontece. Acho que aí está talvez uma das questões que necessariamente teremos de corrigir.[fim]

O SINDICATO DA INDÚSTRIA DE CARNES E DERIVADOS NO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL – SICADERGS, que agrega a indústria de bovinos, diz que é o mercado quem estabelece o preço do produto pago ao produtor rural:

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – No preço pago ao produtor, esse preço é regulado pelo mercado ou é feito um cálculo em cima do custo de produção?[fim]

O SR. MAURO DANTE AYMONE LOPEZ – Na verdade, é regulado pelo mercado, não é? São variáveis que concorrem, é uma negociação. Na verdade, ela é uma negociação que é feita quase que dia a dia. É uma negociação da indústria com o produtor, da indústria com o mercado. O mercado aqui é, evidentemente, o que nos compra a carne diretamente e sempre há uma relação que

nos é imposta – até dizemos assim – pelos preços da carne que vem de fora do Estado, do centro-oeste, que coloca bastante carne aqui dentro.[fim]

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – Não é levado, então... O cálculo não é feito através do custo de produção, mas, sim, é regulado pelo mercado?[fim]

O SR. MAURO DANTE AYMONE LOPEZ – É regulado pelo mercado, muito embora o frigorífico tenha seu custo de produção e sua expectativa de preço de venda, mas, dificilmente, nós conseguimos vender pelo preço pretendido.[fim]

O SINDICARNES, através do seu Presidente, prestou a esse respeito declarações, no sentido de que é o mercado que regula o preço do produto que é pago ao produtor rural:

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – O preço pago ao produtor se origina lá na relação com o mercado, ele não leva em conta o custo de produção?[fim]

O SR. MARCOS AUGUSTO LUNARDELLI – Não, ele leva. O nosso preço leva, só que tu não consegues pegar esse preço. O preço que tu precisas pegar de margem de lucro para trabalhar tu não consegues pegar, entendeu? Por quê? Porque se tu subires a carne mais do que o mercado está regulando... Que nem hoje, hoje está uma enxurrada de carne do centro do País para cá. Quando eu digo centro do País, vamos dizer assim os Estados que eu te falei – Paraná, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul.[fim]

As Indústrias de bovinos que prestaram depoimento também confirmaram que o produtor rural não é o agente das cadeias quem estabelece o preço, conforme depoimento a seguir:

FRIGORÍFICO SILVA:

O SR. PRESIDENTE (Elvino Bohn Gass) – E o produtor, ele participa da formatação do preço?[fim]

O SR. IVON DA SILVA JÚNIOR – Não.

São vários os fatores que influenciam a fixação do preço pago ao produto fornecido pelo produtor rural. O preço pago a esse não pode ser simplificado pela alegação de que é o mercado quem estabelece o preço, seja esse entendido em sentido amplo, como no sentido restrito.

Conforme a exposição histórica da cadeia agroindustrial da bovinocultura, trata-se de um setor industrial que se encontra com sérias dificuldades de adequação à nova realidade do mercado. As principais plantas industriais foram estruturadas num período histórico, e tinha a sua estratégia industrial direcionada para a exportação ou abastecimento do mercado interno nas épocas áureas do tabelamento de preço e estoques reguladores de mercado. Eram grandes as plantas industriais estruturadas para abater expressivo número de animais/dia e com vasta capacidade de estocagem. Com os novos tempos de abertura econômica, essas plantas industrias tornaram-se defasadas tecnologicamente, de difícil operacionalidade e alto custo operacional. Todas essas plantas industrias, que não eram muitas, no caso da inspeção sanitária, em sua maioria, continuam sob a responsabilidade do Serviço de Inspeção Federal, do Ministério da Agricultura.

O preço do bovino vivo praticado está relacionado com os problemas estruturais. A este respeito, será transcrito, na integra, o documento encaminhado pelo SICADERGS a esta CPI, onde expõe os problemas estruturais da Cadeia Agroindustrial da Bovinocultura de Corte no Rio Grande do Sul:

"A produção de bovinos de corte no RS apresenta problemas estruturais de competitividade em função, principalmente, da redução do tamanho médio da propriedade rural e do nível tecnológico utilizado, em todos os elos que a compõem. Nosso Estado, em termos de escala de produção, deixou de ser competitivo com os Estados do Brasil Central,

especialmente. No Mato Grosso do Sul, Goiás e Mato Grosso, especialmente, a Cadeia Produtiva da Carne Bovina vem apresentando crescente competitividade estribada em uma escala de produção semelhante a que tínhamos em nosso Estado há quarenta anos atrás.

As mudanças verificadas na estrutura fundiária do Estado, com a redução do tamanho médio das propriedades dedicadas à produção de bois, determinou uma alteração na estrutura de todos os elos produtivos, inclusive o industrial, com o fechamento das grandes plantas frigoríficas e a proliferação de mais de quinhentos pequenos e médios abatedouros, registrados na Secretaria Fazenda e mais de mil estabelecimentos, pelo registro de profissional responsável, junto ao Conselho Regional de Medicina Veterinária.

A agregação de valor na Cadeia Produtiva é muito débil e a pequena escala dos agentes remeteu, nos últimos anos, para a inexistência de resultados econômicos e financeiros que provocaram a existência de elevado nível de informalidade e uma descapitalização das estruturas de produção, tanto no campo, como na indústria. Essa situação permitiu que capitais especulativos e sem compromissos com as plantas industriais assumisse relevante parcela do abate.

A inserção nos mercados brasileiro e internacional é muito pequena ou quase nula, quando comparada com o que observamos no Brasil Central. A concorrência de fora é estabelecida pela entrada de carnes do Brasil Central, com nítida desvantagem competitiva para a produção gaúcha.

Para uma avaliação da situação dos agentes industriais dessa Cadeia Produtiva vamos examinar algumas informações relativas a disponibilidade de matérias primas, capacidade instalada de abate e mercado de carnes.

As vendas de animais para os frigoríficos com inspeção federal e estadual tem se mantido em um milhão e cem mil cabeças por ano, aproximadamente. Esse número já atingiu o montante de um milhão e quinhentas mil cabeças em 1998,

número recorde e nunca mais atingido. Há diferentes especulações sobre a oferta real de matéria prima para os frigoríficos, entretanto, sabe-se que são abatidos e, portanto, foram ofertados e comprados, em torno de um milhão e cem mil cabeças por ano. O restante da presumível oferta não se

encaminha para o sistema industrial com controle sanitário federal ou estadual e não tem controle.

A capacidade de abate das plantas industriais das empresas inscritas no Programa Agregar do Governo do Estado atinge ± 3.000.000 cabeças por ano.

A capacidade ociosa dessas empresas corresponde a 1.900.000.00 cabeças por ano.

Existem plantas industriais fechadas/inoperantes com uma capacidade de abate de 1.400.000 cabeças por ano.

A ociosidade total existente no setor industrial do Estado corresponde a 3.300.000 cabeças por ano.

Como as empresas necessitam reduzir sua ociosidade para reduzir seus custos fixos, preponderantes nesse tipo de atividade, há um esforço permanente na busca de ampliar a compra da insuficiente matéria prima.

O Setor Público Estadual exerce um esforço sem direcionamento, concedendo vantagens tributárias específicas ( FUNDOPEM-INTEGRAR) e facilitando o acesso ao crédito nas Instituições Públicas, especialmente o Banrisul, no atendimento de pressões exercidas, especialmente pelos Prefeitos dos Municípios que possuem plantas desativadas. A ineficácia dessas ações foi comprovada pela CPI das Carnes em andamento na Assembléia Legislativa do Estado. Esse tipo de atuação tira a credibilidade dos Fóruns constituídos pelo próprio Governo do Estado para estruturar políticas para as Cadeias Produtivas, no caso específico da carne bovina, há uma Câmara Setorial e o Programa Agregar Carnes - RS que conta com um Conselho Deliberativo, no âmbito da Secretaria da Agricultura.

O artificialismo econômico da intervenção pública privilegiando empresas que mediante locação tão somente, reabrem plantas fechadas, altera todo o sistema de compra de matérias primas, pois, reduz pelo poder do agente público o ICMS a pagar de determinadas empresas, aumentando-lhe,

em algumas situações, o acesso ao crédito, negado, via de regra, pela análise de risco setorial do Banco. Essa intervenção acaba por dar a algumas empresas uma maior capacidade de poder de compra perante seus concorrentes, principalmente, pela redução de seus custos tributários.

Em decorrência dessa política pública as empresas não beneficiadas, que são a grande a maioria, não conseguem praticar os preços de compra das matérias primas estabelecidos pelas empresas com FUNDOPEM, e em função da já mencionada insuficiência de oferta de gado para abate, acabam por terem de reduzir, ainda mais, sua atividade agravando seu desempenho.

Este fato pode ser comprovado se olharmos a relação da empresas que operavam em 1996, comparada com a atual, com os respectivos abates.

O mercado de consumo de carne bovina é de 450.000 toneladas por ano no RS e de 6.300.00 toneladas por ano no Brasil. O RS exporta ± 68.000 toneladas por ano e o Brasil 1.400.000 toneladas por ano.

O RS vende para outros estados 8.000 toneladas por ano de carne bovina.

Como pode ser observado a indústria gaúcha tem sua produção vendida com alta concentração no mercado do RS, em acirrada competição entre si. A agregação de valor nos produtos é muito incipiente, proliferando ainda a elaboração dos cortes nos estabelecimentos varejistas. A qualidade dos produtos é muito irregular, em todos as fases da Cadeia.

Atuam no mercado do RS empresas situadas no Brasil Central, com maior capacidade comparativa, pela maior oferta de gado, escala de produção e custos tributários, especialmente. O Estado do RS está atuando para inibir as vantagens tributárias das indústrias do Brasil Central, reduzindo a competição.

Na exportação, atualmente, existe uma só empresa gaúcha em operação, com três plantas industriais.

O Estado do RS concedeu, por decreto, crédito presumido para a exportação de carne desossada em percentual de 3% aplicado sobre o valor exportado que deverá zerar o ICMS de quem exportar.

Os benefícios concedidos resultarão em uma maior capacidade de comprar gado e de vender carne no RS por parte dos exportadores.

Os incentivos à exportação são sempre bem vindos e se constituem em reivindicação do setor. Entretanto, a política de incentivo do Estado deve ser levada a todo o segmento industrial, inclusive para aquelas plantas que operam exclusivamente no mercado interno.

A solução que agora se apresenta mais recomendável é promover o nivelamento da carga tributária do ICMS entre as empresas, a partir dos benefícios concedidos para ao exportador, estendendo-os para as outras plantas industriais exportadoras ou não. Para tanto deve ser utilizado o Programa Agregar. O objetivo é realinhar a tributação do ICMS de todas as indústrias que competem na compra do mesmo boi e que estão instaladas em mais de cem outros municípios gaúchos e que, hoje, pela intervenção do Governo do Estado estão em posição concorrencial desfavorável, passíveis de prejuízos ou mesmo de fechamento.

O mecanismo que propomos para esse fim é o do diferimento da tributação do ICMS para a etapa do varejo. Cremos que essa solução deverá, adicionalmente, propiciar aumento na arrecadação do Estado, pelo elevado nível de informalidade existente no abate.

Na seqüência, possivelmente a segunda maior

debilidade estrutural dessa Cadeia Produtiva seja a atuação do serviço público de vigilância e de inspeção sanitária. As atividades desse serviço objetivam manter o gado gaúcho livre de doenças, assim como, preservar a população de zoonoses. Essas questões provocam reflexos de natureza

social e econômica e podem tirar o acesso do nosso Estado a mercados internacionais. As três carnes, bovina, frango e suína, são suscetíveis de barreiras sanitárias internacionais e são controladas e fiscalizadas pelos mesmos serviços de vigilância e de inspeção ( MAPA e SAA ). Os prejuízos nas exportações, podem advir em decorrência de falhas no controle/fiscalização sanitária. A propósito, já vimos essa situação de fechamento de mercados internacionais e interrupção nas exportações quando do surto de febre aftosa em Jóia e em outros Municípios do Estado.

A reestruturação do sistema estadual de vigilância sanitária é da maior importância estratégica, assim como, a sua integração com o sistema de fiscalização tributária, inclusive no plano federal e municipal.

Além de ser instituída a obrigatoriedade de um recadastramento tributário e sanitário das indústrias, distribuidores, marchantes e varejistas deveria, também, ser obrigatória a sua adesão ao SINTEGRA. Tudo isto como forma de aumentar o conhecimento e o controle sobre os agentes econômicos que operam com carne bovina no Estado.

Em paralelo sugere-se a adoção de um novo e eficiente sistema que permita, através de inventário, conhecer-se a existência de bovinos no RS, identificando-se regiões, municípios, tipo de animal por sexo e idade, tipo de propriedade, etc...

As políticas públicas devem ser estruturadas e aprovadas no sistema formal existente ( Programa Agregar/Câmara Setorial ) eliminando a concessão de benefícios individuais ou setoriais que não estejam alinhados com metas físicas e estratégias aprovadas nos fóruns da SAA.

A primeira questão a ser enfrentada, além do diferimento do ICMS para o varejo e a reestruturação do sistema de vigilância e inspeção sanitária é a inserção do RS em mercados e produtos que aumentem a receita da Cadeia

da Produtiva. Para tanto será necessário promover uma alteração qualitativa no produtos finais de consumo, envolvendo todos os elos produtivos, assim como, acessar novos mercados no Brasil e no exterior.

Ações:

♦ Reestruturação do sistema de vigilância e inspeção sanitária.

♦ Reestruturação do sistema de fiscalização tributária.♦ Acabar com o sistema (Lei Federal) que permite a

inspeção municipal.♦ Promover a equalização tributária no RS, da carne bovina.♦ Promover a equalização tributária com os outros Estados

da Federação.♦ Programa de fortalecimento da empresa industrial que se

encontra em atividade.♦ Implantar novo sistema de inventário da existência de

bovinos no RS.♦ Recadastramento das industrias, marchantes,

distribuidores e varejistas.♦ Compulsoriedade na adesão ao SINTEGRA para quem

trabalha com carne bovina.♦ Programa de valorização da carne gaúcha."

Atualmente, somente uma empresa exporta carne: a MERCOSUL. Isto não é sinal da decadência - é a própria decadência do setor neste Estado da Federação.

Com a alteração da legislação sanitária, foram criados os serviços estadual (CISPOA) e municipal (SIM) de inspeção sanitária. Houve a pulverização de estabelecimentos frigoríficos e, especialmente, o de matadouros, onde ninguém no Rio Grande do Sul sabe ao certo o número de unidades industriais existentes. Segundo dados do Conselho Regional de Medicina Veterinária do Rio Grande do Sul, pelo seu cadastro de profissionais que exercem responsabilidade técnica em unidades industriais, o número seria de 893 (oitocentos e noventa e três). Esses, segundo esta CPI, são os dados que mais se aproximam da realidade.

O abate irregular, cujo abigeato é apenas um capítulo violento, mas, em termos de números globais, não é o mais significante, conforme será exposto no fato determinado 02 desta CPI, de forma aprofundada, face à informalidade,

acaba fazendo uma concorrência desleal com a indústria formalizada. O resultado não seria outro senão o de baixar o preço da matéria-prima.

Há, ainda, em que pese existir à longa data, mas que, diante da desorganização desse setor, ajudam a agravar a crise, os denominados marchantes, que são comerciantes de gado que especulam no mercado, comprando bovinos e locando plantas para realizar o abate. São os responsáveis por parte significativa do abate irregular, especialmente em questões fiscais, conforme o depoimento do representante da FARSUL.

Também não é possível ser descartado o chamado abate para consumo próprio. O Rio Grande do Sul possui ainda uma expressiva parcela de sua população habitando a zona rural. Os pequenos núcleos urbanos vivem da produção primária. Essas populações, até por hábito cultural, facilitado pelos modernos sistemas domésticos de refrigeração, costumam abater seus próprios animais para consumo familiar. Isto tem alguma significância no mercado.

A concessão de benefícios e incentivos fiscais e creditícios à indústria de produtos bovinos é proporcionada discricionária e aleatoriamente. Não obedece a diretrizes e bases de uma política pública claramente definida, com metas a serem atingidas a curto, médio e a longo prazos. Os resultados que vêm sendo apresentados demonstram que o crescimento não se dá pela eficiência, em padrões de produtividade real.

São relevantes as declarações do representante do maior frigorífico gaúcho – FRIGORÍFICO MERCOSUL - , que, em seu depoimento, retrata um quadro bem realista da indústria de bovinos no Rio Grande do Sul:

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – Claro. Mas na tua visão, de forma geral, quais são os prejuízos que podem trazer para a cadeia produtiva?[fim]

O SR. MAURO LUIZ PILZ – Em função de a indústria não ter estrutura... o último frigorífico construído no Rio Grande do Sul – de grande porte, lógico – foi em torno de 1970, né. Havia conceitos errados de indústria. Hoje, isso não

seria viável economicamente. Os frigoríficos menores não têm estrutura de congelamento, não têm estrutura de desossa muitas vezes, ou, se têm, é pequena, entende. Então, matou o boi, não vendeu, vai vender pelo melhor preço que conseguir. Via de regra, o açougue ou o supermercado compra pelo mais barato.[fim]

Se não tivermos indústrias organizadas, estruturadas, pessoas que tenham condições de fazer um cálculo, saber quanto é realmente o seu custo, vendem pelo primeiro preço, não há condições de administrar um problema, uma falta de venda. Isso faz com que vendam barato e tragam o negócio para baixo.[fim]

A melhor época de trabalhar é quando falta o boi. Aí, realmente não se precisa fazer tanta força para vender e se vende num patamar mais alto. Quando tem muito boi se vende pelo preço mais baixo. Entendeu como é? O problema todo não é só pela... o pessoal não começa um negócio para lograr, ou para deixar de pagar, ou para vender barato, ou para quebrar. Ninguém começa um negócio para quebrar, seria sadomasoquismo. O que o pessoal faz é administrar mal o seu recurso, e vende barato. Vendendo barato, não tem lucro; não tendo lucro, no primeiro contratempo, quebra, e aí deixa de pagar.[fim]

Complementando, pode-se afirmar que a carne bovina oriunda do Centro-Oeste, num quadro de guerra fiscal, entrava mais barato no Rio Grande do Sul do que a carne regular aqui produzida. Isto também contribuía para puxar o preço para baixo.

Todos esses fatores contribuem para desvalorizar o preço do produto fornecido pelo criador de bovinos.

CONCLUSÃO E APLICAÇÃO DA LEGISLAÇÃO DE DEFESA DA LIVRE CONCORRÊNCIA:

É FATO NOTÓRIO, segundo a prova coletada neste Inquérito Parlamentar, que os produtores rurais não são o elo da cadeia que estabelece o preço do seu produto. Pelo que se constatou, é justamente o contrário: o preço é imposto unilateralmente pela indústria, sem que negocie e discuta o mesmo.

De momento, conclui-se o presente item afirmando que o produtor rural tem o preço do seu produto imposto direta ou indiretamente pela indústria.

Afirmar que o preço é imposto unilateralmente pela indústria, não significa necessariamente que a indústria esteja praticando atos anticompetitivos. Esta conclusão não se dá pelo fato de nenhuma indústria exercer domínio de mercado da carne bovina, onde alguma delas poderia

impor o preço mais baixo, mesmo que pequeno, mas, permanente, ao produto do fornecedor de matéria-prima, com aumento arbitrário do seu lucro. Num setor econômico pulverizado como o da indústria da carne bovina, isto é pouco provável ou difícil de ocorrer. Se ocorrer, o produtor rural tem opção de vender o seu produto para o concorrente.

O preço da matéria-prima é composto por uma série de variantes mercadológicas, numa disputa entre a formalidade e a informalidade. Destacam-se problemas tributários, a competição da carne do Centro do Brasil, onde há problemas da guerra fiscal, a sazonalidade da oferta de animais para abate, o custo de produção, a relação com o varejo e, principalmente, a concorrência desleal do abate irregular que, como toda atividade informal, opera com menos custos e faz com que o preço do animal vivo seja aviltado.

Todos esses fatores levam à conclusão de que, face à desorganização do setor, pela inexistência de grandes empresas, não é possível a nenhuma delas, unilateralmente, dominar esse mercado relevante e de práticas anticompetitivas. Na verdade, a prática anticompetitiva advém não do mercado formal ou regular, mas do informal e irregular do abate clandestino.

RELAÇÃO ECONÔMICA ENTRE O PRODUTOR RURAL E A INDÚSTRIA NA CADEIA AGROINDUSTRIAL DA SUIINOCULTURA NO RIO GRANDE DO SUL:

OBJETO E FIM DA ANÁLISE:

Na relação econômica entre os produtores rurais criadores de suínos e a indústria de produtos suínos, o objeto da presente análise é o de averiguar se na operação de fornecimento de matéria-prima para a indústria de carnes pelos produtores rurais há indícios de infração à ordem econômica, mediante prática de domínio de mercado ou de condutas anticompetitivas contra a livre concorrência.

O fim da presente análise é o de apurar a existência da (1) materialidade de infração à ordem econômica e (2) os indícios de autoria.

DEFINIÇÃO DO MERCADO RELEVANTE:

INTRODUÇÃO CONCEITUAL:

A definição de um mercado relevante é o processo de identificação do conjunto de agentes econômicos que efetivamente limitam as decisões referentes a preços e quantidades dos fatos analisados. O mercado relevante é determinado em termos dos produtos e/ou serviços que o compõem e da

área geográfica. No primeiro caso, a delimitação do mercado relevante diz respeito ao conjunto de produtos que são considerados suficientemente próximos, para que as decisões de escolha do consumidor sejam influenciadas por seus respectivos preços e atributos de qualidade. No segundo caso, deve-se observar o espaço territorial para o qual a venda desses produtos é economicamente viável.

O instrumento analítico do “teste do monopolista hipotético”, para determinação do mercado relevante de bens e serviços, previsto na PORTARIA CONJUNTA SEAE/SDE N.º 50, de 01/08/2000, é o seguinte, conforme transcrição na íntegra:

30. Procedimento. O teste do “monopolista hipotético” consiste em se considerar, para um conjunto de produtos e área específicos, começando com os bens produzidos e vendidos pelas empresas participantes da operação, e com a extensão territorial em que estas empresas atuam, qual seria o resultado final de um “pequeno porém significativo e não transitório” aumento dos preços para um suposto monopolista destes bens nesta área. Se o resultado for tal que o suposto monopolista não considere o aumento de preços rentável, então a SEAE e a SDE acrescentarão à definição original de mercado relevante o produto que for o mais próximo substituto do produto da nova empresa criada e a região de onde provém a produção que for a melhor substituta da produção da empresa em questão. Esse exercício deve ser repetido sucessivamente até que seja identificado um grupo de produtos e um conjunto de localidades para os quais seja economicamente interessante, para um suposto monopolista, impor um “pequeno porém significativo e não transitório aumento” dos preços. O primeiro grupo de produtos e localidades identificado segundo este procedimento será o menor grupo de produtos e localidades necessário para que um suposto monopolista esteja em condições de impor um “pequeno porém significativo e não transitório” aumento dos preços, sendo este o mercado relevante delimitado. Em outras palavras, "o mercado relevante se constituirá do menor espaço econômico no qual seja factível a uma empresa, atuando de forma isolada, ou a um grupo de empresas, agindo de forma coordenada, exercer o poder de mercado."

IDENTIFICAÇÃO DA DIMENSÃO DO PRODUTO E DA DIMENSÃO GEOGRÁFICA NA CADEIA AGROINDUSTRIAL DA SUINOCULTURA:

Na relação econômica entre o criador de suínos e a indústria, para a identificação do produto que compõe o MERCADO RELEVANTE, a operação é o fornecimento de matéria-prima por parte dos produtores rurais para a indústria de carnes de produtos suínos, estas representadas por frigoríficos, abatedouros e fábricas de produtos suínos, licenciados pela inspeção sanitária Municipal (SIM), ou Estadual (CISPOA/SAA) ou pela Federal (SIF/MAPA).

Portanto, o produto do mercado relevante é o “suíno vivo”, matéria-prima dessa operação. Não há como substituí-lo por outra matéria-prima. Sem os suínos não existiria a cadeia agroindustrial da suinocultura - todos os produtos industrializados derivam dessa matéria-prima. O seu fornecedor é o criador de suíno localizado no Estado do Rio Grande do Sul. O suíno, em escala econômica, só é produzido por produtores rurais, em qualquer lugar do mundo onde haja produção de carne em escala comercial. É um produto do setor primário da economia, típico de zona rural, produzido tradicionalmente por unidades produtoras de pequeno porte.

A dimensão geográfica de atuação das empresas que adquirem suínos vivos como matéria-prima para abate é o território do Rio Grande do Sul. Esta é a base geográfica onde se localizam os produtores rurais que fornecem o produto à indústria.

Para definição da área geográfica, deve ser levada em consideração a ordem sanitária, bem como a tributária. Nas operações internas, limitadas às fronteiras do Estado do Rio Grande do Sul, a sistemática de tributação do ICMS apresenta-se de duas maneiras: a primeira é o benefício do diferimento do pagamento do imposto para etapa posterior, o que significa que o produtor, ao vender sua mercadoria ao industrial, posterga o pagamento, passando para este último a responsabilidade tributária. A segunda: a operação da indústria ao varejo tem sistemática geral, onde a indústria debita o imposto na nota fiscal de venda, e o varejo, por sua vez, tem direito ao crédito fiscal destacado naquele documento. Por outro lado, nas operações interestaduais, o imposto deve ser pago no momento da ocorrência do fato gerador, sendo fixada uma base de cálculo mínima pela Secretaria da Fazenda, com o objetivo de resguardar os interesses econômicos do Estado.

A conhecida “pauta” nada mais é que um valor de referência - um valor mínimo atribuído ao animal vivo - isto por que a regra geral da base de cálculo do ICMS é o valor da operação. Quando esta é efetivada por valor superior àquela mínima fixada pela Secretaria da Fazenda, nada há a recolher, ao contrário, se o valor da operação ocorrer por preços inferiores, o vendedor deverá recolher a diferença do imposto antes de ultrapassar as fronteiras do Estado. Neste ponto específico, pode-se verificar a movimentação dos suínos vivos entre os Estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina, somente em relação aos produtores independentes. Em relação ao preço do suíno ser variável de acordo com a oferta e procura, a regulação fica para o mercado, assim, com um valor reduzido na “pauta”, poderá, eventualmente, propiciar que

os produtores rurais gaúchos tenham vantagens em relação aos catarinenses, em função do preço aliado ao crédito fiscal decorrente da operação interestadual. As alterações de pauta fora da realidade de mercado afetam diretamente a comercialização dos suínos para o Estado de Santa Catarina.

É pouco provável, e se realizada é de pouca significância na formação do preço do suíno vivo, as operações interestaduais. A operação é realizada praticamente, senão a totalidade, no mercado interno estadual, até pelo fato de que mais de 90% dos animais são criados pelos sistema integrado, onde o produtor rural não tem disponibilidade de comercializar o animal, a não ser para a própria indústria.

Em suma, este Inquérito Parlamentar, na definição do MERCADO RELEVANTE, fixa como dimensão do produto o MERCADO DE FORNECIMENTO DE SUÍNOS VIVOS PELO PRODUTOR RURAL, PARA ABATE NA INDÚSTRIA, e como dimensão geográfica o TERRITÓRIO DO RIO GRANDE DO SUL.

EXAME DE PROBABILIDADE DE EXERCÍCIO DE PODER DE MERCADO POR ATO DE CONCENTRAÇÃO ECONÔMICA:

INTRODUÇÃO:

O controle de uma parcela substancial de mercado é condição necessária, mas não suficiente, para que a empresa exerça o poder de mercado. É preciso determinar se existem condições suficientes para que o poder de mercado seja exercido unilateralmente pelo agente econômico, ou coordenadamente, por um grupo de empresas.

A Portaria Conjunta SEAE/SDE n° 50, de 01/08/2001 estabelece no item 39 do Guia para Análise Econômica de Atos de Concentração Horizontal, as regras para exame da probabilidade do exercício de poder de mercado:

39. O Fato de uma concentração envolver uma parcela de mercado suficientemente alta não implica necessariamente que a nova empresa formada exercerá de forma unilateral seu poder de mercado, ou que as empresas coordenarão suas decisões. Nesta seção são apresentados os fatos que determinaram se o exercício de poder de polícia é provável.

IDENTIFICAÇÃO DAS EMPRESAS QUE EXERCEM PRESUMIDAMENTE DOMÍNIO DE MERCADO:

O critério para a identificação das empresas que exercem presumidamente poder de mercado (artigo 20, II da Lei Federal n.° 8.884/94.) é o de faturamento bruto anual acima de R$ 400.000.000,00 (quatrocentos milhões de reais), conforme definição dada pelo parágrafo 3° do artigo 54 do Diploma Legal referido.

As indústrias de produtos suínos que, em tese, exercem domínio de mercado, presumidamente, com base no critério de faturamento, são as seguintes: (1) SADIA, com faturamento bruto anual no exercício de 2002; de R$ 4.689.274,00 (2) PERDIGÃO com faturamento bruto anual no exercício de 2002, de R$ 3.341.709.000,00. (3) FRANGOSUL, com faturamento bruto anual de aproximadamente um bilhão e quatrocentos milhões de reais; (4) AVIPAL, com um faturamento bruto anual de aproximadamente um bilhão e duzentos milhões de reais por ano.

AVALIAÇÃO DAS CONDUTAS ANTICOMPETITIVAS, EM TESE, SEGUNDO A PROVA COLETADA:

INTRODUÇÃO

Na Cadeia agroindustrial da Suinocultura, ao contrário da bovinocultura de corte, há empresas que presumidamente exercem domínio relevante de mercado. Mesmo na hipótese de nenhuma empresa poder exercer, unilateralmente, domínio de mercado, não significaria, no entender desta Relatoria, que não possam, algumas delas, realizar atos prejudiciais à concorrência, especialmente na fixação unilateral do preço do produto ao produtor rural.

Na presente Cadeia Agroindustrial de Alimentos, há uma diferença crucial em relação à bovinocultura, motivo pelo qual exige uma análise diferenciada. Enquanto nesta só há produtores independentes, isto é, o mesmo é o proprietário do animal, na da suinocultura há dois tipos de produtores: (1) independentes, que são proprietários dos suínos e podem vendê-los livremente; (2) integrados, cujo proprietário dos suínos é a indústria, portanto, o produtor rural, através de um contrato de parceria "atípico" participa do empreendimento e dos rendimentos, mas sem ter disponibilidade sobre os animais, isto é, não pode vendê-los por que não são seus.

DEFINIÇÃO CONCEITUAL:

A vertente de atuação analítica e investigativa definida é a de apurar indícios de infrações à ordem econômica de atos que representam condutas anticoncorrenciais nas empresas que exercem domínio de mercado relevante.

A previsão legal para a presente análise tem como fundamento legal os seguintes dispositivos da Lei Federal n.° 8.884, de 11 de junho de 1994, na

combinação das regras de direito contidas nos incisos abaixo transcritos com a do "caput" do artigo 20:

Art. 20. Constituem infração da ordem econômica, independente de culpa, os atos sob qualquer forma manifestados, que tenham por objeto ou possam produzir os seguintes efeitos, ainda que não sejam alcançados: I – limitar, falsear ou de qualquer forma prejudicar a livre concorrência ou a livre iniciativa II – dominar mercado relevante de bens e serviços;

Os atos apontados, em tese, como conduta anticoncorrencial, que configurem as hipóteses previstas no "caput" e incisos do artigo 20 da Lei n.° 8.884/94, devem ser enquadradas em um dos tipos previstos no artigo 21 do mesmo Diploma Legal, para configurar, em concreto, infração da ordem econômica como ato anticoncorrencial.

O Glossário Básico da Defesa da Concorrência do Ministério da Fazenda define conceitualmente o que são condutas anticompetitivas:

"REPRESSÃO A CONDUTAS ANTICOMPETITIVAS: Uma das vertentes de atuação do SBDC. Consiste na apuração de condutas nocivas à concorrência levadas a cabo por empresas que detêm poder sobre determinado mercado, das quais são exemplo a prática de cartel, a prática de preços predatórios, as vendas casadas, os acordos de exclusividade, a discriminação de preços, a fixação de preços de revenda e as restrições territoriais. Para promover a apuração dessas condutas e conforme o caso, a SEAE pode realizar PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO destinado a instruir representação a ser encaminhada à SDE, enquanto a SDE pode promover AVERIGUAÇÃO PRELIMINAR ou instaurar diretamente PROCESSO ADMINISTRATIVO. O CADE julga, então, com base nas opiniões da SEAE e da SDE se houve configuração de infração à ordem econômica. Na análise de condutas anticompetitivas, a manifestação da SEAE é facultativa. Ver artigos 20 2 21 da Lei n.° 8.884/94 e Lei n.° 10.149/00."

FIXAÇÃO DO PREÇO COMO PONTO CONTROVERTIDO:

Na relação econômica entre o produtor rural e a indústria, o ponto controvertido do conflito de interesses na Cadeia Agroindustrial da Suinocultura é quem tem o poder de mercado para fixar unilateralmente o preço.

Fixa-se, portanto, como ponto controvertido, as seguintes dúvidas a serem solucionadas: (1°) se o preço é imposto ou negociado entre as partes; (2°) se é o imposto quem tem poder dominante de mercado para impor o preço unilateralmente.

FIXAÇÃO UNILATERAL DO PREÇO AO CRIADOR DE SUÍNOS INDEPENDENTES:

No cotejo da prova coletada, novamente, constatou-se no presente Inquérito Parlamentar que o preço é imposto unilateralmente pela indústria, sem que se negocie e discuta o mesmo com o produtor rural independente, isto é, aquele que é proprietário do suíno e tem livre disposição sobre o mesmo no mercado.

A Federação dos Trabalhadores na Agricultura no Rio Grande do Sul – FETAG - em resposta à REQUISIÇÃO DE INFORMAÇÕES N° 02/2003, na sua essência, afirmou que não são os produtores quem fixam o preço do seu produto:

"Item 1. Os preços são pagos aos produtores através de uma "bolsa de índices" utilizados pelas empresas, que no caso dos suínos leva em consideração as taxas de mortalidade, ganho de peso diário, taxas de conversão alimentar, uniformidade dos lotes, que determinará os patamares de remuneração. Esse índice são construídos unilateralmente pelas empresas sem que os produtores tenham qualquer controle ou participação sobre eles. "

Essa também foi a resposta da ACSURS aos mesmo quesito em à REQUISIÇÃO DE INFORMAÇÕES N° 03/2003:

"O preço para o quilo vivo do suíno é estabelecido pela agroindústria."

No mesmo, transcrevem-se os depoimentos prestados perante esta CPI, que ratificam as declarações prestadas nas respostas acima citadas:

FARSUL:

O SR. JOÃO PICOLI – Os nossos produtores, infelizmente, nós não vendemos o produto, nos é comprado esse produto. Nós sempre recebemos preço, recebemos preço para elaborarmos o nosso custo de produção, para produzirmos e depois recebemos preço que o mercado está pagando.[fim]

Temos constatado e acredito que outro setor pode trazer essa informação aqui, que seria o setor que fornece ao consumidor, das oscilações de preço que ocorram lá na ponta e que não se verificam reflexo nenhum na base, no que diz respeito aos preços de aquisição. É um anseio de que daqui se tire, justamente, se desvende este mistério que não se entende, em que na gôndola o preço ou fica estático ou tenha variáveis que não são refletidas lá na base. Portanto, é uma pergunta que deixamos para contribuir e também para sermos receptivos aos dados que aqui vierem a ser trazidos.[fim]

ASSOCIAÇÃO DOS CRIADORES DE SUÍNOS NO RIO GRANDE DO SUL – ACSURS:

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – Na ótica do produtor, e aqui tratando do integrado, ele entende que a indústria leva em consideração os seus custos de produção quando forma de pagamento a ele ou hoje esse custo é pouco considerado?[fim]

O SR. GILBERTO MOACIR DA SILVA – Volto a frisar que o sistema da agroindústria... Cada agroindústria tem um sistema de controle de seu sistema integrado. Não tenho idéia de se leva em consideração hoje o custo de produção ou não. Só sei que o produtor recebe um determinado valor, e esse valor é ou não suficiente. Se considerarmos hoje o valor que alguns produtores estão recebendo de três ou quatro reais por animal, por um lado, poderemos dizer: não está perdendo. Mas, na realidade, se nós considerarmos que ele vai ter que

logo adiante renovar as suas instalações, todas essas considerações acho que ele está perdendo dinheiro ainda.[fim]

O SINDICATO DA INDÚSTRIA DE PRODUTOS SUÍNOS NO RIO GRANDE DO SUL – SIPS – , através do seus representantes alega que é o mercado quem estabelece o preço do produto. Isso significa dizer, segundo o SIPS, que é o mercado varejista quem estabelece o preço do produto suíno beneficiado e quem vai determinar o preço do produto pago ao produtor rural:

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – Presidente, é claro que entendendo – e quando digo que os agricultores passa dificuldade não excluo a indústria – e estamos aqui para tentar, justamente, diagnosticar, identificar onde estão esses gargalos da cadeia produtiva.[fim]

Mas temos aqui uma informação por parte da Acsurs que o custo de produção do suíno hoje varia, o preço médio é de 1 real e 58 centavos. Dados esses, se não me falha a memória também, Presidente, que foram feitos pela Embrapa. Foi passado que eles utilizam dados da Embrapa como média desse custo de produção. A Farsul também nos forneceu 1,49.[fim]

Então, percebemos que existe esse custo de produção alto, comparando com o preço pago ao produtor. Mas esse preço não é estipulado à vontade da indústria. Segundo o que eu entendi, ele se regula pelo mercado.[fim]

O SR. ARISTIDES INÁCIO VOGT – Pelo mercado, correto.[fim]

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – Então, até para que eu consiga dentro dos meus limites, entender, o valor da carcaça, do produto é formado pelo mercado.[fim]

O SR. ARISTIDES INÁCIO VOGT – Correto.[fim]

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – Nesse mercado – aí nós passaríamos talvez para uma relação indústria-mercado – o sistema de distribuição ao consumidor final, das

redes que existem, dos mercados no Estado, existem grupos que se distinguem pelo volume que eles colocam, melhor, que eles repassam ao consumidor. A que ponto poderíamos chegar, num percentual, dizer que existem alguns grandes grupos que distribuem 50% da carne ou que 60% do produto de origem suína é distribuído por tais grupos. O que quero conseguir identificar é que existem grandes grupos econômicos que talvez tenham uma influência maior no preço pago pelo mercado, no valor pago, regulado pelo mercado?[fim]

O SR. ARISTIDES INÁCIO VOGT – Deputado, nós sabemos que isso é uma questão, muitas vezes, de supermercado, a influência que esse supermercado tem junto aos consumidores, e a indústria não pode entrar neste mérito ou não, se o supermercado tem ou não mais participação ou menos participação no mercado.[fim]

Agora, o trabalho colocado para os Senhores que está aí, o trabalho exatamente uma cópia desse trabalho que... Inclusive tem aí um trabalho extremamente importante. Creio que ele está aí – não é Rogério? – o trabalho que é levantado onde a Associação Brasileira entrou com uma ação. Inclusive tem reportagens todas elas junto ao CADE. E está aqui uma cópia desse trabalho, Relator, e também está exatamente o trabalho do levantamento.[fim]

Então, eu acho... O que gostaríamos de recomendar se isso é válido, Deputado, que pegasse o trabalho que estamos entregando e se fizesse um corte. E ali menciona indústrias, menciona os supermercados. Se faça um determinado corte e que se solicitem as cópias de documentos fiscais das indústrias, que se solicitem cópias dos documentos fiscais dos supermercados. Não nos cabe ver exatamente o porquê desses valores, porque nós não sabemos e não queremos dimensionar isso. Mas estamos apresentando um trabalho que nos cabe apresentar.[fim]

Então, o que nós nos colocamos à disposição é para que se faça um corte naquele trabalho. Então, Senhores, por favor me apresentem documentos daquele momento, e o

supermercado me apresente documentos. Eu acho que daí pode ser feito o trabalho.[fim]

As Indústrias que prestaram depoimento também confirmam que o produtor rural não é o agente das cadeias quem estabelece o preço:

EMPRESA FRANGOSUL:

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – O.K. Caminho para esse campo porque o preço pago ao produtor, a remuneração do produtor, não é feita através do cálculo do custo de produção, ou é feita através do cálculo ou é feita através, ou é feita através da regulação do mercado? [fim]

O SR. ARISTIDES INÁCIO VOGT – Não, o mercado não interfere. No nosso caso, o mercado não interfere. O preço de mercado não interfere de forma alguma no preço pago ao integrado mesmo que o custo de produção e foi e ainda o é, superior, muitas vezes, à aquisição de preços do mercado. [fim]

Um exemplo prático: tivemos períodos em que nosso custo de produção chegou a R$ 1,52 e o preço que o mercado praticava era R$ 1,20, R$ 1,30, mas isso não interferia no pagamento ao integrado. [fim]

EMPRESA AVIPAL:

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – Claro. Então, só para o meu entendimento, o que regula o preço pago pelo suíno ao produtor não é o mercado, mas, sim... Vocês levam esse cálculo, essa tabela, que é o que vai estabelecer o preço pago a ele?[fim]

O SR. EURICO MUSSOI JÚNIOR – No suíno verticalizado, sim. No suíno adquirido aí é lei de mercado.[fim]

EMPRESA PERDIGÃO:

O SR. ELVINO BOHN GASS – Não há, então, nenhum momento em que o agricultor participe da negociação direta para formar o preço e nem as entidades... as entidades representantes, vamos citar a Acsurs, por exemplo, que é a Associação dos Produtores de Suínos no Estado, ou outras associações, de que forma elas participam na formação do preço pago pela indústria aos produtores? [fim]

O SR. JOÃO ROZÁRIO DA SILVA – Então... os sindicatos contatam entre os dois: o dos criadores e o nosso e criam preços de referência. Não obrigatoriamente, lógico, seguido por todos, porque aí entra a lei de mercado novamente.[fim]

O SR. ELVINO BOHN GASS – A participação não é direta , se acontece é entre sindicatos e não é determinante para a formação do preço, é apenas uma ...[fim]

O SR. JOÃO ROZÁRIO DA SILVA – ...uma referência.[fim]

O SR. ELVINO BOHN GASS – ...uma referência, uma posição. Não tem a formação direta.[fim]

O SR. JOÃO ROZÁRIO DA SILVA – Exato.[fim]

EMPRESA SADIA:

O SR. PRESIDENTE (Elvino Bohn Gass) – O agricultor não participa, em nenhum momento, do contrato que é com o agricultor?[fim]

O SR. ARTÊMIO FRONZA – Não.[fim]

O SR. PRESIDENTE (Elvino Bohn Gass) – O preço...[fim]

O SR. ARTÊMIO FRONZA – Até porque o contrato com o produtor é de produzir o animal. Ele não entra, por exemplo..., nós já tivemos, em Uberlândia, onde nós compramos uma fábrica, alguns grandes produtores que queriam discutir um contrato, na verdade, de produzir sob risco: participar da outra parte. Não evoluiu, porque, até para fazer essa conta e, depois, ter ela numa tratativa, efetivamente..., a produtora, a produtora..., é muito complexo, porque os mercados têm muitas involuções, e aquilo que se lista, aí: oh o preço é tanto, mesmo na soja ou no milho, quando você vê: preço do milho é tanto; preço da soja é tanto, não está claro se é na...[fim]

O SR. PRESIDENTE (Elvino Bohn Gass) – Mas é..., quando tem uma reivindicação, aí, os agricultores estão recebendo pouco. Aí, eles reúnem; eles fazem atos; eles fazem reuniões com vocês para tentar melhorar o preço?[fim]

O SR. ARTÊMIO FRONZA – Não. Nós temos hoje...está crescendo (ininteligível). Nós temos, por exemplo, em Concórdia, a Associação dos Criadores de Leitão. Associação de..., eles trazem isso...Já existe esse movimento...[fim]

As Empresas que não possuem presumidamente domínio de mercado, em especial as de médio porte, organizadas sob a forma de cooperativa, sustentaram a mesma linha de argumentação, de que é o mercado quem estabelece o preço pago ao produtor e que não é levado em conta o custo de produção do mesmo. Nesse sentido, transcreve-se um trecho do depoimento prestado pelo representante da COSUEL:

"O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – Vocês, nesse valor praticado, têm pago ao produtor, vocês levam em conta o custo de produção ou é pago em virtude da oscilação do mercado? [fim]

O SR. CARLOS ALBERTO DE FIGUEIREDO FREITAS – É pago em função do mercado. Digamos, o custo do produtor não influencia o preço de venda. Se a atividade, se o custo cobre... se o preço de venda cobre o custo de produção,

o produtor tem lucro. Se o preço não cobre, o produtor tem prejuízo. É o que aconteceu nessa crise e está acontecendo agora.[fim]"

Se forem comparadas as declarações contidas na prova testemunhal, observa-se que há algum nível de contradição com a prova documental, constante das respostas às Requisições de Informações expedidas por esta CPI:

Na REQUISIÇÃO DE INFORMAÇÕES N.° 62/2003, expedida ao SIPS, foi articulado o seguinte quesito:

"VII – Informar que fixa o preço do suíno vivo –se é a cooperativa agropecuária, o criador ou a indústria. Especificar quais os critérios utilizados pela indústria para negociar com os criadores o preço, os descontos e outras operações utilizadas para formar o preço pago ao criador"

RESPOSTA DO SIPS:

"VII – O preço do suíno é determinado por empresa, levando em conta as condições de mercado, seu mix de produtos, nível tecnológico e outros fatores."

Para as indústrias de produtos suínos foram também expedidas Requisições de Informações contendo o seguinte quesito:

"II – Informar os critérios de fixação do preço do animal vivo, especificando quais os utilizados por esta empresa para negociar com os criadores e o prazo para pagamento."

EMPRESA SADIA - REQUISIÇÃO DE INFORMAÇÕES N.° 1797/2003:

"RESPOSTA: Os preços são determinados pelo mercado, sendo que este é influenciado pelo mercado paulista. Destaca-se, por oportuno, que 96,5% dos suínos abatidos na unidade da Sadia de Três Passos – RS são próprios ou produzidos no sistema de parceria. Em outras palavras, a Sadia não é compradora de suínos no RS, mais produtora. Apenas 3,5% da sua produção decorre de compra no mercado, quando, então, paga o preço localmente ofertado."

EMPRESA FRANGOSUL - REQUISIÇÃO DE INFORMAÇÕES N.° 1804/2003:

"RESPOSTA: Como em qualquer atividade econômica, os preços são determinados pelo mercado e o prazo de pagamento estabelecido de acordo com as condições financeiras de cada empresa, em vista do fluxo de caixa e da disponibilidade de linhas de crédito, notadamente quando haja necessidade de administrar maior volume de estoques."

EMPRESA AVIPAL - REQUISIÇÃO DE INFORMAÇÕES N.° 1873/2003:

"RESPOSTA: A empresa ora notificada possuí sua atividade de suínos verticalizada, no sistema de parceria, ou seja os animais enviadas aos parceiros criadores são de sua propriedade não havendo aquisição dos mesmos e sim, a remuneração de acordo com a conversão alimentar. Frisa-se, que no caso da empresa vir a ser compelida a adquirir animal vivo o preço pago e ofertado é regulado pelo mercado de suínos, variando de região à região."

A indústria alega que o preço pago ao produtor independente é determinado pelo varejo, na relação econômica indústria e comércio. Em suma, na relação econômica entre o criador independente de suínos e a indústria, o preço pago é estabelecido unilateralmente pela indústria.

Na presente análise, esta CPI está apurando somente a relação existente entre os produtores rurais independentes e a indústria. Não está sendo feita a análise da fixação do preço do contexto global de todas as relações econômicas existentes na Cadeia Agroindustrial da Suinocultura.

É importante realizar uma análise da natureza jurídica dos contratos firmados entre o produtor rural independente e a indústria. Não podem os mesmos serem caracterizados como prática de atos de comércio. Uma das partes signatárias não é comerciante. O objeto do contrato não é uma relação de Direito Comercial. Tecnicamente, classifica-se como um contrato civil de compra e venda. Caso a venda seja pontual e esporádica, é contrato de compra e venda propriamente dito. Se for continuada, é modalidade desse contrato de fornecimento. Uma das partes (produtor rural) obriga-se a transferir a propriedade de uma coisa (suíno vivo para abate) à outra (Indústria). Recebe, em contraprestação, determinada soma de dinheiro. Esse tipo de relação contratual no Direito Pátrio possui efeitos meramente

obrigacionais e não translativos e se resolve mediante indenização por perdas e danos.

O conceito jurídico do contrato de fornecimento é dado pelo Civilista ORLANDO GOMES, em sua obra CONTRATO (página 237):

"Tornou-se usual o contrato de fornecimento, considerando na doutrina moderna modalidade de compra e venda.

Por via desse contrato, uma das partes obriga-se a prestações periódicas ou contínuas de coisas contra pagamento de correspondente preço.

Caracteriza-se pela repetição ou continuidade das prestações do fornecedor. Fornecimento não há, tecnicamente, se em vez de coisas se prestam periodicamente serviços. O objeto da prestação tanto pode ser coisa material como energia natural. A prestação consiste na transferência da propriedade das coisas fornecidas ou no seu uso e gozo. A periodicidade implica o fornecimento em intervalos normalmente regulares. No fornecimento de energia elétrica as prestações se satisfazem de modo contínuo. Não obstante tais particularidades o fornecimento é contrato unitário.

Origina o contrato obrigações interdependentes para ambas as partes, sendo, portanto, sinalagmático. É de sua essência a onerosidade. O preço deve ser pago também proporcionalmente a cada prestação cumprida. Os termos se estipulam no interesse de ambas as partes, não podendo pretender o fornecedor a antecipação do fornecimento nem a outra parte que cumpra a prestação antes do prazo.

Admita-se a estipulação da cláusula de exclusividade tanto em favor do fornecedor como do outro contratante.

O contrato de fornecimento pode ser por tempo indeterminado ou determinado. Na primeira hipótese, nenhuma das partes pode resili-lo sem aviso prévio.

Resolva-se com o inadimplemento das prestações que incumbem aos contratantes se for tal sorte que enfraqueça a confiança na exatidão dos futuros cumprimentos."

Pela função econômica que desempenha na circulação de riqueza, o contrato de compra e venda (inclusive na sua modalidade fornecimento) é um dos contratos civis mais freqüente e de maior importância social. Sendo realizada entre dois agentes econômicos de produção, não é uma relação de consumo e não se aplica às regras de defesa do consumidor.

O contrato de fornecimento só é considerado válido se cumprir os elementos extrínsecos de validade: os pressupostos de desenvolvimento regular no negócio jurídico. Não podem ter nenhum vício quanto: (a) à capacidade das partes; (b) à idoneidade do objeto; (c) à legitimação do objeto. O mesmo deve ser observado em relação aos elementos intrínsecos, ou seja, a validade do contrato quanto aos requisitos complementares: a) consentimento; b) a causa; c) o objeto; d) a forma.

Analisando os elementos extrínsecos da capacidade das partes, não se constata nenhuma irregularidade quanto à capacidade legal de agir dos signatários. Em que pese a maior parte serem firmados oralmente, forma esta válida para este tipo de contrato, trata-se de um negócio jurídico firmado entre pessoas legalmente capazes de agirem. As que são pessoas jurídicas estão regularmente constituídas como “pessoas jurídicas de direito privado” e os seus objetos sociais lhes possibilitam praticar atos econômicos da vida civil.

Com relação ao segundo pressuposto de validade extrínseca - idoneidade do objeto -, o mesmo é lícito, possível e se encontra adequado ao fim visado pelos contratantes. Não há nenhuma inidoneidade absoluta ou relativa do objeto por motivos técnicos e/ou razões de política legislativa. O contrato utilizado comporta o objeto. Não há nenhuma falsa causa com desvio de sua função econômica, bem como não há nenhuma proibição legal de que os interesses contemplados nos contratos sejam objeto da presente relação contratual, não se vislumbrando nenhuma impossibilidade jurídica. O objeto é idôneo, pois versa sobre bens que as partes podem dispor livremente, o que caracteriza a unidade do contrato.

Não há ilegalidade extrínseca. Cabe a esta CPI analisar se há ilegalidade intrínseca: a validade do contrato quanto aos requisitos complementares: a) consentimento; b) a causa; c) o objeto; d) a forma.

Quanto ao primeiro requisito da legalidade intrínseca - elemento consentimento -, não se vislumbra nenhuma ilegalidade. A declaração de vontade é direta e expressa, seja via escrita ou verbal. Nos casos em que a vontade é verbal também não se cogita a existência de vício de consentimento, pois a vontade é instrumentalizada em nota fiscal, que formaliza a relação jurídica.

Analisando o segundo requisito da legalidade intrínseca – a causa negocial é ou não contrária ao direito ou à moral - a invalidação dessa espécie de contrato não se justifica porque não tem causa ilícita ou imoral.

Quanto ao terceiro e mais relevante requisito da legalidade intrínseca - objeto – este deve ser como em todo o negócio jurídico: possível, lícito e determinável. É este ponto que merece uma apreciação mais aprofundada nos contratos ora analisados, por ser a parte mais controvertida: PREÇO.

Com relação ao quarto requisito da legalidade intrínseca - forma em que foi realizado o negócio jurídico -, o contrato de compra e venda não exige forma solene. Vigora o princípio da forma livre.

Da análise dos quatro requisitos formadores da ilegalidade intrínseca, pode-se concluir que os contratos de compra-e-venda de matéria-prima não possuem nenhuma falsa causa. Em outras palavras, cumpre todos os requisitos intrínsecos, inclusive o mais importante, que é o requisito do objeto – preço. Por ser o preço o cerne para compreensão jurídica do fato determinado ora apurado, esta Relatoria se socorre, novamente, na lição do Civilista ORLANDO GOMES, em sua obra CONTRATO (página 230):

“PREÇO

O preço é a quantia que o comprador se obriga a pagar ao vencedor. Elemento natural do contrato, sine pretio nula venditio, dizia Ulpiano.

Deve consistir em dinheiro. Se é outra coisa, o contrato define-se como permuta ou troca. Não se exige, contudo, que seja exclusivamente em dinheiro, bastando que a parcela principal. Para se saber se é venda ou troca, aplica-se o princípio major pars ad se minorem trahit; venda, se a parte em dinheiro é superior; troca, se é o valor do imóvel.

O preço pode ser pago de uma só vez, ou parceladamente (venda a prestação).

O preço deve ser sério; verum, como diziam os romanos. Necessário que o vendedor tenha a intenção de exigi-lo e consista em soma que possa ser considerada contrapartida da coisa. Inadmissíveis, portanto, o preço simulado, o preço irrisório, o preço vil. Se fictício não vale a venda. A equivalência das prestações não precisa ser objetiva. Exigindo-se apenas que o preço não seja tão insignificante que signifique liberalidade do vendedor ou seu propósito de não o exigir. Algumas legislações permitem a rescisão da venda por lesão quando há certa desproporção da coisa e o preço estipulado. A maioria não exige que o preço seja justo, considerando-o tal, mesmo “se é superior ou inferior ao valor real do bem vendido”. Se o vendedor não recebe ou o restitui ao comprador, o contrato é simulado. A simulação pode ser absoluta ou relativa.

Além de verdadeiro, deve o preço ser certo – certum. Há de constar no contrato, mas não é preciso que seja determinado. Basta que possa ser determinado, como no caso de ser deixado à taxa do mercado, ou no de ser habitualmente pago.

A determinação do preço pode resultar: a) da livre estipulação das partes; b) do arbitramento de terceiros (arbitrador); c) da cotação da mercadoria em determinado dia e lugar.

O primeiro modo de fixação do preço é o mais comum. Em regra, há plena liberdade de estipulação, mas, na venda de certas mercadorias, o preço é tabelado pela autoridade pública.

Permite a lei que a fixação do preço seja deixado a arbítrio de terceiro, mas desde que os contratantes logo designem ou prometam designar o árbitro. Se este não aceitar a incumbência, o contrato ficará sem efeito, salvo se prevista a substituição. Do mesmo modo, se terceiro, por qualquer motivo, não pode fixar preço, como, por exemplo, se falece antes de determiná-lo. A decisão do árbitro é irrevogável. Os contratantes não podem recusá-la, exceto se houver erro ou dolo, ou se o terceiro ultrapassou os limites de sua incumbência. Entende-se, porém, que as partes conferiram ao arbitrador um arbitrium boni viri, o arbitramento pode ser impugnado se for evidentemente contrário à equidade (manifesta iniquitas).

É possível, também, deixar a fixação do preço à taxa do mercado ou da bolsa, em certo e determinado dia e lugar.

Em nenhuma circunstância pode ficar ao arbítrio de um dos contratantes. Violada esta proibição, o contrato será nulo, mas se entende lícita a cláusula pela qual o industrial impõe ao comerciante o preço de seus produtos com o fim de evitar o seu aviltamento.”

No caso concreto, pelo tipo de relação econômica existente entre os produtores rurais independentes e a indústria, a maior parte dos negócios de compra e venda se dá de maneira verbal, com preço praticado no dia da venda.

Há algumas relações jurídicas que a compra e venda que poderá ocorrer de compromisso de fornecimento periódico. Quando assume forma escrita, não é possível que seja estabelecido um preço determinado, isto é, a fixação do preço em moeda corrente no instrumento contratual. Por se tratar de suíno vivo, produto cujo preço se altera com freqüência, haveria necessidade de aditamentos constantes para ajustar o preço do produto, que tem variação no mercado. Os referidos contratos não possuem preço determinado . E isso não resulta em nenhuma ilegalidade.

Não contendo os contratos ora em análise, preço determinado, cabe averiguar se o preço é determinável, hipótese que é juridicamente válida pelo Direito das Obrigações. Pela prova colhida e analisa, a determinação do preço ao produtor rural não resulta da livre estipulação entre as partes. É a indústria quem fixa o preço, segundo as variações do mercado. Portanto, também possuem preço determinável.

Para concluir, os produtores independentes foram as maiores vítimas da crise na suinocultura. Além da crise em si, essa se agravou na Mesorregião Noroeste com o fechamento da planta indústrial do Frigorífico Chapecó em Santa Rosa – RS e os calotes praticados pelos administradores da usufruto judicial da planta industrial do Castilhense, que comprou animais e pagou com cheques sem fundo.

FIXAÇÃO UNILATERAL DO PREÇO AO CRIADOR DE SUÍNOS INTEGRADO:

Neste item será analisada a relação econômica existente entre o produtor rural integrado e a indústria. Para melhor compreensão do tema, será dada a definição conceitual sob a ótica jurídica e econômica. Nesse sentido, transcreve-se, na íntegra, as informações prestadas por duas grandes empresas integradoras:

Registra-se que o produtor integrado é a grande massa de suinocultores e sua atividade é juridicamente diferenciada daquela praticada pelo produtor independente.

A Empresa FRANGOSUL em REQUISIÇÃO DE INFORMAÇÕES N.° 1804/2003:

QUESITO II – Informar os critérios do preço do animal vivo, especificando quais os utilizados por esta empresa para negociar com os criadores e o prazo para o pagamento.

Como em qualquer atividade econômica, os preços são determinados pelo mercado e o prazo de pagamento estabelecido de acordo com as condições financeiras de cada empresa, em vista do fluxo de caixa e da disponibilidade de linhas de crédito, notadamente quando haja necessidade de administrar maior volume de estoques.

No que diz, especificadamente, com a atividade integrada que a FRANGOSUL desenvolve com os produtores de suíno que dela participam, em verdadeiro sistema de parceria, a fixação do preço de animais vivos se dá de acordo com as várias etapas de produção, a saber:

Ciclo – Unidade Produtora de Leitões

As Unidades Produtoras de Leitões são remuneradas mensalmente pelo seu custo de produção, que compreende o valor despendido para produzir um quilo de leitão (valor da ração consumida + valor de medicamentos).

A remuneração está dividida em faixas que, por um cálculo de projeção linear, comparando o custo da empresa com o custo do criador, define o quantum que deverá ser satisfeito ao produtor:

- Mínimo: R$ 6,07

- Médio: R$ 8,77

- Máximo: R$ 11,47

Ciclo – Unidade de Creche

As Unidades de Creche são remuneradas por lote, considerando o custo de produção de um quilo de leitão, custo esse localizado pela soma de valor dos leitões recebidos, mais o valor da ração e dos medicamentos.

A remuneração está dividida em faixas que, por um cálculo de projeção linear, comparando o custo da empresa com o custo do criador, define o montante a ser satisfeito ao produtor. Sublinhe-se que o custo da empresa é formado pelos produtores que entregaram leitões nos últimos 90 (noventa) dias, através da soma de todas as entregas.

- Mínimo: R$ 2,03

- Médio: R$ 3,38

- Máximo: R$ 4,73

Ciclo – Unidade de Terminação

As unidades de terminação em faixas que, por um cálculo de projeção linear, comparando o custo da empresa com o custo do criador, define o montante a ser satisfeito ao produtor. Sublinhe-se que o custo da empresa é formado pelos produtores que entregaram leitões nos últimos 60 (sessenta) dias, através da soma de todas as entregas.

- Mínimo: R$ 5,40

- Médio: R$ 8,78

- Máximo: R$ 12,83

Cabe esclarecer que a remuneração ao produtor obedece a parâmetros que levam em consideração o desempenho dos animais e a dedicação do integrado.

No que diz com o desempenho, impede destacar-se a Conversão Alimentar e Mortalidade. Quanto ao item dedicação revela-se em outros índices como índice de natalidade e qualidade dos animais que chegam ao frigorífico.

Por oportuno, a requerente pondera que o produtor integrado, em vista do sistema de integração, verdadeira parceria de que participam, não se sujeitam às adversidades conjunturais e de estrutura que assolam os criadores independentes.

A integração para criação de suínos, entre produtor e agroindústria, pode ocorrer de várias maneiras, ou seja, existem produtores que se dedicam à produção de reprodutores, outros na produção de leitões, outros na terminação, recebendo leitões para engorda e posterior remessa ao frigorífico, além daqueles integrados em todas as fases de produção que constituem o chamado ciclo completo.

As granjas de reprodutores utilizam alta tecnologia e encontram-se divididas em Granja-Núcleo, que fazem uma seleção genética, procurando aprimorar o produto final e as Granjas Multiplicadoras, que produzem a partir da primeira geração do cruzamento de duas raças puras, com o objetivo de produzir animais com melhor desempenho (conversão alimentar, ganho de peso diário, rendimento de carcaça, espessura de toucinho, etc.).

As Unidades Produtoras de Leitões (UPLs), dentro do processo produtivo da suinocultura, são, entre as diversas etapas, as de maior risco, pois necessitam de um maior cuidado no manejo, com as matrizes, tanto antes, quanto

durante e, no pós-parto, bem como com os leilões durante o aleitamento e desmame. As UPLs necessitam comprar reprodutores e matrizes com boa linhagem genética e ter instalações adequadas, tais como: baias de monta para produtores e matrizes, baias de gestação e área de maternidade para os períodos do parto e da amamentação. Necessitam, muitas vezes, adquirir o sêmen de outras granjas, utilizando os espaços destinados aos reprodutores e às montas para a expansão de suas granjas. Os leitões são repassados aos crecheiros na idade de 20 dias aproximadamente, com um peso médio de 6 Kg, logo após o desmame.

As unidades de Creches (UC) são resultantes de uma inovação tecnológica recente. Os produtores recebem os leitões com aproximadamente 20 dias de idade e peso médio de seis Kg. São confinados em baias coletivas com, no máximo, 10 leitões em cada creche. Nesse período de vida, os leitões necessitam de maiores cuidados, sendo assim, suas instalações são climatizadas , com aquecedores e controles sobre a temperatura ambiente, tudo para ter um aumento de produtividade. Esses leitões são repassados aos produtores terminadores – granjas dedicadas à fase final de formação de suíno a ser abatido pela indústria – com a idade média de 60 dias e um peso aproximado de 20 a 22 Kg.

A requerente informa, finalmente, que é a única empresa em que 100% (cem por cento) dos animais abatidos e industrializados provém do sistema de integração.

A SADIA apresentou petição incidental, sustentando a juridicidade do contrato de parceria:

Sadia S. A., companhia aberta registrada na Comissão de Valores Mobiliários – CVM, com sede na Rua Senador Attilio Fontana, número 86 na cidade de Concórdia, Estado de Santa Catarina. inscrita no CNPJ/MF sob o n.º 20.730.099/0001-94, por seu representante legal ao final assinado, vem, com o devido acatamento e respeito, perante Vossa Excelência, apresentar as informações e

documentos solicitados por ocasião da Audiência Pública realizada no dia 20 de outubro de 2003, como segue:

1 – Informações Prévias

1. Inicialmente a Sadia deseja patentear sua total disposição para contribuir com os trabalhos desta Respeitável Comissão. Para tanto, entende como necessário esclarecer a forma como ocorre o processo produtivo de suínos na Sadia onde se destacam dois sistemas fundamentais: integração e parceria. Vejamos:

1.1. Sistema de “Parceria para Produção Integrada”

O sistema de parceria implantado pela Sadia no Rio Grande do Sul reproduz o modelo integrado adotado com indiscutível sucesso em todo o Brasil, desde 1966, notadamente nos Estados de Santa Catarina, Paraná, Minas Gerais e São Paulo. O sistema de Integração conta hoje, em todo o Brasil, com 4.431 integrados na produção de aves. 1.219 integrados na produção de perus e 3.917 na produção de suínos, totalizando hoje 9.567 produtores rurais vinculados ao sistema de parceria de produção integrada.

O modelo de integração adotado é o mesmo utilizado pelas principais agroindústrias em todo País, notadamente a Perdigão, Aurora, Chapecó, Seara, Pif-Paf, Pena Branca, entre outras.

Tal modelo, que hoje é utilizado em todo o Brasil, caracteriza-se pela parceria entre uma empresa integradora (a agroindústria tal como a Sadia e seus demais concorrentes) e criadores de suínos, que recebem da empresa os animais, a ração e a assistência técnica responsabilizando-se o produtor pela criação e engorda dos animais. Concluindo o período de engorda, os animais são partilhados na proporção da participação de cada um dos parceiros nos insumos e de acordo com a produtividade do lote.

A parceria integrada surgiu da livre negociação entre as

partes, num processo natural, onde antes existia separadamente a indústria e o produtor. Na medida em que o mercado consumidor começou a ser mais exigente as agroindústrias uniram-se com os produtores. Este processo de integração tem se mostrado justo para as partes contratantes, tanto assim que é modelo em expansão ainda hoje, seguido inclusive, por outros segmentos da sociedade. que vêem nesta forma de exploração agrícola, real alternativa econômica, como por exemplo, a Cooperativa de Produção Agropecuária União do Oeste (COOPERUNIÃO), formada por um grupo de 60 famílias do assentamento Conquista na Fronteira, de Dionísio Cerqueira, região do extremo oeste do Estado de Santa Catarina.

O sucesso do sistema de parceria é inegável, pois basta verificar o desenvolvimento ocorrido nas regiões onde o mesmo foi implementado. Através deste sistema, o integrado obtém um mercado seguro para a sua produção; obtém apoio técnico da mais alta tecnologia a nível mundial; obtém resultados de produtividade que seriam impossíveis sem a tecnologia fornecida pelas empresas integradoras. As integradoras, por sua vez, além de contar com a disponibilidade dos animais que atendem aos padrões de qualidade exigidos do mercado interno e externo, obtém uma programação de recebimento de produto compatível com o processo de massificação industrial.

Este segmento da economia tem se empenhado para manter os padrões de qualidade em nível internacional, garantindo, com isso, a sobrevivência do setor e de várias regiões do país em face da crise mundial que assola todas as nações.

Destaca-se, finalmente, que o Sistema de Produção Integrada preconizada pela Sadia, hoje é adotado no mundo inteiro e em diversos setores da economia, como a têxtil, metal mecânica, e especialmente rural, como é o caso da produção de aves de corte e de postura, bovinos de corte de leite, produtos como trigo, soja, arroz, laranja, uvas, etc. Tanto assim, que recentemente o Ministério da Agricultura e Abastecimento, através da Portaria n° 447 de 18 de dezembro de 2000, publicada no DOU em 18 de janeiro de 2001,

resolveu submeter à consulta pública, em total reconhecimento do sistema de produção integrada, as Diretrizes Gerais para a Produção Integrada de Frutas, considerando o modelo conceitual e operacional da Produção Integrada de Frutas – PIF, preconizado pela Organização Internacional para Controle Biológico e Integrado contra os Animais e Plantas Nocivas – OILB.

2.1.1 Funcionalidade do sistema

A parceria suinícola possui as seguintes obrigações gerais da empresa integradora, neste caso a Sadia:

a) Entregar os animais para serem engordados,b) Fornecer as rações,c) Fornecer 0s medicamentos necessários à criação,d) Orientar tecnicamente os Parceiros criadores,e) Transportar os animais e os insumos.

O parceiro criador, por sua vez, possui as seguintes obrigações gerais:

a) Possuir instalações com os equipamentos,b) Cuidados necessários à criação,c) Tratamento e aquecimento das aves,d) Fornecimento de água, energia elétrica, combustível para aquecimento, etc.

O sistema de parceria para produção integrada da Sadia é utilizado para produção de várias categorias (tipos) de suínos, de acordo com as exigências dos consumidores e finalidade como por exemplo, “Tipo Parma”, “Tipo Normal Macho”, “Tipo Normal Fêmea”, “Tipo Normal Misto” e “Tipo Tender”. Cada categoria tem suas características próprias, principalmente em relação ao tempo de engorda e peso de entrega do animal, e isso é levando em consideração por ocasião dos custos e da partilha.

2.1.2 Das Vantagens do Parceiro Integrado

Ao ingressar no sistema de integração, o parceiro produtor

passa a desfrutar das seguintes vantagens:

a) Acesso à técnica/tecnologia de ponta, permitindo ao suinocultor manter sua propriedade competitiva;b) Acesso ao mercado interno e externo;c) Otimização da estrutura de mão-de-obra disponível na propriedade;d) Complementaridade da renda;e) Redução dos riscos:

a. Não arca com os custos dos animais;b. Garante renda mínimac. Não arca com os custos da ração, fugindo da flutuação de commodity (milho)a. Redução do capital de giro, reduzindo exposição às

taxas de juros de mercado.

2.1.2.1 Da natureza da relação jurídica

Não obstante não se tenha definida por lei especial a natureza jurídica desta relação contratual, torna-se importante destacar que a Produção Integrada é hoje considerada uma instituição em nosso País, reconhecido como tal pelo Estado, seja, através do Poder Executivo, Legislativo ou Judiciário.

O sistema de produção integrada constitui-se através de um contrato de parceria atípico, onde o regime jurídico a ser observado é o do Código Civil Brasileiro.

De fato, uma análise minuciosa demonstra, com facilidade, que a parceria (avícola ou suinícola), atualmente em escala industrial, não se enquadra nas hipóteses previstas pelo Estatuto da Terra, nem poderia ser diferente, pois o sistema de parceria integrada teve seu inicio no Brasil após o advento deste Estatuto.

A realidade atual é muito diversa daquela que levou a definição das normas do Estatuto da Terra. Nesse contrato de parceria a Empresa integradora entrega ao Parceiro Criador, dezenas de leitões para que este, a partir das orientações

técnicas e da tecnologia colocada a sua disposição, se dedique, por certo período, a engorda dos animais, usando, para tanto, das rações, medicamentos e assistência técnica fornecida pela integradora. A entrega dos animais é sucessiva, ou seja, após a retirada de um lote de animais terminados, a granja passa pelo processo de limpeza e desinfecção, e, após, o parceiro criador receberá novo lote para igual procedimento.

Esta forma de produção que é praticada em todo o Território Nacional e que teve origem nos Estados Unidos da América. também introduzida pela Sadia na década de 1960 no segmento aviário, adquiriu um avanço tecnológico e uma velocidade de produção em larga escala, o que lhe retira qualquer possibilidade de aplicação das normas contempladas pelo Estatuto da Terra, que possuem objetivos claros de dar condições ao homem do campo de lá permanecer.

O ilustre Professor SÍLVIO RODRIGUES em brilhante parecer que analisou a natureza jurídica desta relação, referindo-se à PARCERIA AVÍCOLA¹, afirmou que "o contrato de parceria avícola, difundido após a legislação agrária, não foi, nem poderia ser, objeto de cogitação do legislador, que dele, obviamente, não cuidou”. Mais adiante acentua o ilustre doutrinador que em não havendo regra expressa a este respeito, deve ser aplicado o Código Civil, especificamente as normas que tratam da parceria rural.

A conclusão do Professor SILVIO RODRIGUES veio corroborada por importantes decisões prolatadas pelo Colendo Tribunal de Alçada do Paraná, que afirmou expres-samente a inaplicabilidade do Estatuto da Terra a questões desta ordem e concluiu ser esta parceria um contrato atípico, celebrado com plena liberdade entre as partes, o que impele ao intérprete buscar a subsidiária aplicação das normas gerais do Código Civil por expressa determinação do art. 96, do Estatuto da Terra. Abaixo as ementas destas decisões:

INDENIZAÇÃO -PARCERIA AVÍCOLA -ESTATUTO DA TERRA- INAPLICABILIDADE -CONTRATO ATÍPICO

-NEGOCIO DE INTERESSE DO DIREITO CIVIL. A parceria Avícola ajustada entre as partes, induz contrato atípico, celebrado com plena liberdade na regulamentação das relações jurídicas, sem qualquer subordinação à disciplina dos modelos legais, estes sujeitos às normas dos artigos 92 a 96 da Lei N. 4.504, de 30.11.64 (Estatuto da Terra e artigos 1º a 5º do Decreto N. 59.566,de 14.11.66), e também sem chocar-se com o artigo 39 do Regulamento. Indenização indevida.

PARCERIA AVÍCOLA-AÇÃO DE INDENIZAÇÃO -PARTILHA -NULIDADE DE DISPOSIÇÕES CONTRATUAIS RELATIVAS À PARTILHA. POR INFRINGÊNCIA ÀS NORMAS DA LEI 4.504/64(ESTATUTO DA TERRA ) – INOCORRÊNCIA. Parceria avícola cujas características não se ajustam às hipóteses prevista no art. 98 da Lei N. 4504/64. Aplicação subsidiária do Código Civil por força do Art. 96, inciso VII, da Lei. 4.504/64.

Observa-se, portanto, que os acórdãos foram firmes ao definir a Inaplicação do Estatuto da Terra nesta forma de parceria. Este último acórdão, Inclusive, com brilhantismo foi fundamentado, merecendo ser transcrito um pequeno excerto para melhor compreendo da tese:Aliás, o art. 96, inciso VI, “a” a “e”, tratando de percentuais relativos à participação dos frutos de parceria, em nenhum momento se refere às aves domésticas, como decorre da sua simples leitura, A parceria, ora em exame, realmente difere daquelas expressamente referidas no Estatuto da Terra, em razão de suas características absolutamente peculiares.

Veja-se, a propósito, que a parceira proprietária entra com as despesas da matriz, do pintinho, das rações, dos medicamentos, da assistência técnica, do transporte, da Infra-estrutura de abate e comercialização, além do que existem vantagens em favor do parceiro criador, tais como, preço convencionado, algumas unidades para consumo próprio, etc...

Enquanto isso, este concorre apenas com o aviário, mão de obra, água, e energia elétrica para aquecimento dos pintinhos.

Consequentemente, não há como aplicar à hipótese a lei 4.504/64, no que diz respeito a forma de partilha nela prevista para as demais parcerias já mencionadas. A solução é efetivamente, aquela encontrada pelo nobre magistrado sentenciante: prevalência das regras do contrato de sociedade, conforme permite o art.96, inciso VII, da Lei 4.504/64, e das normas do Código Civil, consoante ensina ARNALDO RIZZARDO, ao comentar o Art. 92, §9º do Estatuto da Terra.

Se não bastassem estes elementos de credibilidade, é de conhecimento de todos, que o ordenamento jurídico tem recepcionado de forma coerente, taxativa e induvidosa a modalidade do contrato de parceria integrada estabelecida entre os produtores rurais com as agroindústrias como se percebe na Ordem de Serviço n.º 159, de 02.05.97, da Diretoria de Arrecadação e Fiscalização do INSS - DOU de 21.05.97 que estabelece as Normas de contribuição incidentes sobre a produção rural e define, entre outras:

(...) 9- Parceria de produção agrária integrada é a sociedade entre produtores rurais, pessoa física com pessoa jurídica, com pessoa jurídica, objetivando a produção rural para fins de industrialização ou de comercialização, sendo o resultado partilhado nos termos contratuais.

Hoje, a Ordem de Serviço INSS/DAF n° 159/97 e a Orientação Normativa INSS/DAF/AFAR n.º 03/97, encontram-se revogadas pela Instrução Normativa INSS n° 60, de 30 de outubro de 2001 –DOU de 1°.11.2001, mas que de forma clara, diferencia parceria rural da parceria de produção rural integrada, definindo:

Art.2º. Para os efeitos desta Instrução Normativa considera-se:

XI- Parceria rural...

XIV- parceria de produção rural integrada o contrato entre produtores rurais, pessoa física com pessoa jurídica ou pessoa Jurídica com pessoa jurídica, objetivando a produção rural para fins de industrialização ou de comercialização, sendo o resultado partilhado nos termos contratuais.

Pois bem, vencida definição da natureza jurídica da relação, há que se considerar, ainda que dentre as normas Civilistas e por principio de eqüidade, é o da parceria pecuária que melhor se enquadra na presente análise. Neste passo, ressalta-se que a regra do art. 1.423 do Código Civil antigo, que é expresso em dizer que a estes contratos se aplicam às regras de sociedade, no que não estiver regulado por convenção das partes em sociedade.

Um contrato de parceria, a partir do Código Civil, nada mais é do que uma celebração onde as pessoas mutuamente se obrigam a combinar seus esforços e recursos para lograr fins comuns. De fato, o convívio social e especialmente O mundo atual. convencem o homem de que somando esforço com seus semelhantes, muito mais fácil será o atingimento de determinado objetivo.

Observa-se ainda, que nesta relação jurídica os interesses dos contraentes são paralelos. Ou seja. a Parceira Proprietária como O Parceiro Criador põem esforços e bens para a consecução de um fim econômico a ser obtido mediante a cooperação de todos. De fato, há um diferenciamento desta relação jurídica contratual das demais, posto que não há interesses antagônicos, mas objetivos comuns. Não há pólos opostos, mas parceiros. Esta visão de parceria, na Sociedade, levou o professor ORLANDO GOMES a afirmar que “[...] Tais negócios não devem ser inseridos na categoria do contrato, por isso que, neles, a declaração de vontade das partes tem por fim a satisfação de interesses paralelos, e não de interesses contrapostos.[...] A sociedade pertence à categoria desses negócios plurilaterais, porque os interesses dos que a

constituem convergem para fim comum. Sua natureza, pois, não seria contratual”2.

Isto demonstra que a relação jurídica existente entre as partes é muito semelhante a da sociedade regradas a partir do art. 1.363 do Código Civil de 1916 e com justa razão o próprio legislador do Código Civil determinou expressamente a sua aplicação subsidiária à parceria.

Em síntese, afirma-se que a união dos esforços na parceria visa um objetivo em comum, qual seja obter renda para os parceiros na produção de frango de corte. Por tanto, o negócio estaria desvirtuado se o resultado alcançado beneficiasse um dos parceiros, vez que esta relação se caracteriza por convergirem mutuamente para um fim comum e recíproco. A "affectio societaties", portanto, é o elemento psicológico decisivo para a caracterização desta parceria; constitui-se em elemento subjetivo da vontade dos sócios de produzirem suínos, sob os princípios da boa fé, na busca do bem comum visado petos contraentes.

2.1.4 Do Projeto de Lei n° 4.378/98

Se não bastasse a farta prova do reconhecimento jurídico do Instituto em questão, atenta-se ainda, à existência do Projeto de Lei n.º 4.378/98, em tramitação no Congresso Nacional, que busca normatizar, de forma específica e especial, os contratos de Produção Integrada.

A existência do projeto se justifica, por entender o pretenso legislador, haver uma lacuna na Lei Agrária, que não abarcou a modalidade de contratos de Parceria de Produção Integrada.

A existência do projeto ratifica os sistemas adotados pela Sadia, sustentada pelos pareceres do Eminente Doutrinador Silvio Rodrigues e pela contundente jurisprudência acima mencionada.

Na verdade, os Contratos de parceria de Produção Integrada são realidade fática; existentes no mundo

jurídico, representando modalidade sui generis, distinta daquelas disciplinadas pelo Estatuto da Terra, mas significativa a ponto de despertar interesse no mundo jurídico, à sua regulamentação específica e especial.

1.2. Sistema de Integração - Ciclo Completo

A integração, segundo a nossa organização, caracteriza-se pelo crédito concedido ao produtor rural, onde a empresa disponibiliza ao suinocultor, para compra, matrizes, leitões, rações e demais insumos necessários, que será pago posteriormente, com a produção.

Neste tipo de integração, o integrado assume totalmente o risco do seu Processo produtivo, sendo que a integradora, compromete-se em comprar sua produção. Todos os custos são de mercado, assim como a compra e venda dos animais, ou seja, o produtor se sujeita as flutuações de mercado.

Neste sistema não há contrato escrito, pois que a relação de compra e venda. O produtor assume a compra e venda dos animais e insumos, através de documentos comerciais próprios (nota fiscal. Cédula de Produto Rural. etc.) e a agroindústria adquire os suínos da mesma forma, ou seja, mediante a emissão das respectivas notas fiscais de compra e venda.

Em face dos grandes riscos, poucos produtores ainda adotam este sistema de produção.

2 - Outras Informações

Para a Perfeita compreensão da atuação da Sadia no mercado de carne suína no Estado do Rio Grande do Sul, é fundamental que se diga ainda:

a) A Participação da Sadia nos abates do Rio Grande do sul. Situa-se redor dê 10,9% do total:

b) 96,5% dos suínos abatidos no parque fabril da Sadia de Três Passos, do próprios ou produzidos no Sistema de

Parceria Integrada;

c) 3,5% apenas, dos suínos abatidos no parque fabril da Sadia de Três Passos, representando 0,38% da produção estadual. São produzidos no sistema de integração - ciclo completo, ou seja, tio somente estes estio expostos ao risco de mercado;

d) Em setembro de 2003, apenas 4 (quatro) produtores são integrados à Sadia na modalidade de ciclo completo;

e) Em verdade. os problemas que vem ocorrendo com a suinocultura no Rio Grande do Sul, envolvem estes 4 (quatro) produtores que, para a Sadia, representa 3.6% da sua produção. Estes suinocultores, nas épocas de escassez de suínos, acabam tendo grandes resultados e, quando há oferta em demasia, suportam os prejuízos;

O contrato de parceria integrado é uma relação contratual que possui conteúdo uniforme. Cabe-se apurar se é um contrato de cláusulas uniformes de adesão ou por adesão. Para melhor esclarecimento, entende-se oportuna a transcrição doutrinária do Civilista ORLANDO GOMES, na obra acima referida (página 119):

"Para haver contrato de adesão no exato sentido da expressão, não basta que a relação jurídica se forme sem prévia discussão, aderindo uma das partes à vontade da outra. Muitos contratos se estipulam desse modo sem que devam ter essa qualificação. A predominância eventual de uma vontade sobre a outra e até a determinação unilateral do conteúdo do contrato não constituem novidade. Sempre que uma das partes se encontra em relação à outra numa posição de superioridade, ou, ao menos, mais favorável, é normal que queira impor sua vontade, estabelecendo as condições do contrato. A cada momento isso se verifica, sem que o fato desperte a atenção dos juristas, justo porque essa adesão se dá sem qualquer constrangimento se a parte pode dispensar o contrato. O que caracteriza o contrato de adesão propriamente dito é a circunstância de que aquele a quem é proposto não pode deixar de contratar, porque tem

necessidade de satisfazer a um interesse que, por outro modo, não pode ser atendido. Assim, quem precisa viajar, utilizando determinado meio de transporte, há de submeter-se às condições estipuladas pela empresa transportadora, pois não lhe resta outra possibilidade de realizar o intento. A alternativa é contratar ou deixar de viajar, mas se a viajem é necessário está constrangido, por essa necessidade, a aderir às cláusulas fixadas por aqueles que podem conduzi-lo. Esse constrangimento não configura, porém, coação, de sorte que o contrato de adesão não pode ser anulado por vício de consentimento.

O mesmo civilista, é claro em precisar em que circunstância se dá o constrangimento de uma das partes (página folhas 120 da obra citada):

"A situação de constrangimento que se cria para uma das partes é porque a outra desfruta de um monopólio de fato ou de direito, no exercício do qual os serviços que se propõe a prestar através de uma rede de contratos, de operações em massa, conservam a natureza de serviços prestados por particulares. Desde, pois, que o interessado não possa prescindir do serviço, nem se dirigir a outrem que o preste ao menos em condições diversas, é forçado a contratar com o monopolista.

É pressuposto, pois, do contrato de adesão o monopólio de fato, ou de direito, de uma das partes que elimina a concorrência para realizar o negócio jurídico. Se a situação não se figura configura desse modo, poderá haver contrato por adesão, jamais de adesão (Grifo é do Relator).

Esta CPI entende que a relação contratual existente entre os produtores rurais e a indústria se configura em contrato por adesão e não de adesão. A adesão não se dá por constrangimento dos produtores rurais, em que pese serem a parte mais fraca na relação econômica e podem dispensar o contrato. Há várias indústrias concorrentes.

CONCLUSÃO E A APLICAÇÃO DA LEGISLAÇÃO DE DEFESA DA LIVRE CONCORRÊNCIA:

É FATO NOTÓRIO, segundo a prova coletada no presente Inquérito Parlamentar, que os produtores rurais não são o elo das cadeias que estabelecem o preço do seu produto. Pelo contrário, o que se constatou é justamente o contrário, ou seja, o preço é imposto unilateralmente pela indústria, sem que negocie e discuta o mesmo.

Contudo, essa circunstância não configura abuso de poder econômico. O preço é determinado pelo mercado. Em última análise pelo consumidor, através das leis de oferta e procura. Não é o custo de produção que determina o preço. Evidente que pode alguma empresa realizar domínio de mercado e impor aumento arbitrário de preços, inclusive ao produto do produtor rural.

As conclusões acima não significam que o produtor esteja sendo satisfatoriamente remunerado pelo seu produto. E esta Relatoria reconhece as dificuldades que passaram nos últimos anos. Mas indústria também sofreu as dificuldades. Significa que se a industria vai mal o produtor também vai. São problemas de mercados, onde todos tem sua parcela de risco.

Mais do que procurar um culpado, como se isso fosse solucionar os problemas, tem que se achar as verdadeiras causas para se encontrar o caminho da solução. Nesse sentido, a fim de identificar as causas transcreve-se informações do SIPS, onde demonstra esses problemas, especialmente por causa de câmbio que aumentou os insumos e de restrição de mercado externo, por existência de barreiras sanitárias:

Exmos. Srs. Presidente Dep. Jerônimo Goergen e Deputados Integrantes da CPI.

Ao cumprimenta-los cordialmente, o Sindicato da Industria de Produtos Suínos no Estado do Rio Grande do Sul – SIPS, em complemento às informações já disponibilizadas, solicitadas por esta Comissão Parlamentar de Inquérito, traz de forma sistematizada as causas do desempenho da cadeia de produtos suínos, a luz do enfoque macro econômico, que modificaram de forma robusta o normal exercício da sua gestão, no âmbito mundial, nacional e, de forma mais dramática no Estado do Rio Grande do Sul.

Excelências, com o devido acatamento, entendemos que as alterações mercadológicas, verificadas a partir de 2000 e nos anos seguintes, agregaram componentes desestruturantes externa e internamente, como seguem:

AVALIAÇÃO DOS CENÁRIOS QUE INFLUENCIARAM NAS ATIVIDADES DA CADEIA DE PRODUTOS SUÍNOS, IMPONDO-LHE DESEMPENHO NEGATIVO.

O período 2000/2001 foi favorável a produção suína. A ocorrência de casos de “encefalopatia espongiforme bovina” (vaca louca) e endemia de febre aftosa na União Européia, trouxe como conseqüência o deslocamento do consumo de proteína animal para as carnes de frango e suína, com significativa reposição de preços, conforme podemos verificar nas cotações da exportação brasileira de carne suína.

Mês Exportações Mensais – US$/ton.2000 2001 2002 2003

Janeiro 1.354,0 1.397,0 1.235,0 930,0Fevereiro 1.365,0 1.330,0 1.138,0 1.014,0Março 1.296,0 1.328,0 1.140,0 1.043,0Abril 1.249,0 1.383,0 1.174,0 1.028,0Maio 1.241,0 1.502,0 1.079,0 1.070,0Junho 1.247,0 1.528,0 1.131,0 1.030,0Julho 1.267,0 1.425,0 981,0 1.019,0Agosto 1.334,0 1.318,0 908,0Setembro 1.380,0 1.253,0 924,0Outubro 1.454,0 1.280,0 932,0Novembro 1.415,0 1.312,0 936,0Dezembro 1.442,0 1.242,0 889,0

tabela 01 – Fonte:ABIPECSEste cenário favorável coincidiu com os esforços conjugados, governo e cadeia de produção para uma maior presença no mercado internacional, iniciados em momento anterior.

A estas condições, somou-se uma excepcional safra de cereais (safra 00/01), disponibilizando abundante oferta com preços atrativos para a transformação em proteína animal, também, neste momento, o milho começou a ser incorporado na pauta dos produtos exportáveis. Estas constatações podem ser avaliadas nas tabelas 02 e 03.

Safra ProduçãoTon.

ProdutividadeKg/há

2000/2001 42.289.700 3.2602001/2002 35.280.700 2.8642002/2003 47.384.000 3.580

Tabela 02 - Fonte: Conab

Mês

Preços médios pagos ao produtor pelo milho no Rio Grande do Sul2000 2001 2002 2003

a B a b a b a BJan 11,98 14,10 8,64 9,01 11,30 12,21 20,82 21,33Fev 12,08 12,71 7,95 8,41 12,25 13,20 19,25 20,57

Mar 11,90 11,80 7,71 7,76 12,75 13,42 18,44 20,00Abr 11,35 11,68 7,72 7,98 12,81 13,58 16,60 18,50Mai 11,07 11,76 7,66 8,27 13,04 14,80 16,09 17,56Jun 11,00 12,10 8,27 9,12 13,65 14,83 14,87 17,14Jul 11,23 12,30 8,85 9,75 13,91 15,20 14,14 14,42Ago 11,58 13,00 9,84 11,40 14,28 16,76 14,50 15,10Set 11,62 12,89 10,77 12,14 15,49 18,51Out 11,82 12,84 10,80 11,56 18,30 22,45Nov 11,67 11,94 10,97 11,61 20,66 25,97Dez 10,60 10,65 11,13 12,36 22,58 25,52

Tabela 03 - Fonte: (a) Conab – (b) Agroceres

As tabelas 02 e 03 demonstram preços favoráveis do milho, nos anos 2000 e 2001, insumo básico no programa nutricional dos suínos.

Estes fatores conjugados aceleraram o aumento de produção de carne suína, em especial da produção brasileira, conforme pode se observar na tabela 04

BRASIL – Produção – Consumo – Exportação 1998 1999 2000 2001 2002 2003 (*)

Produção

1.699 1.834 1.967 2.730 2.892 2.750

Consumo 1.617 1.748 1.841 2.466 2.397 2.230Per capita 9,26 9,98 10,7 14,3 13,7 13,3Exportação 82 87 127 265 476 520

Tabela 04 – Fonte: ABIPECS – SIPS

Este cenário produziu um aumento vigoroso da produção, num primeiro momento absorvido pelo mercado interno e com exportações em crescimento, para sem seguida ser fator de desestabilização, em sintonia com o crescimento e as semelhantes dificuldades na produção mundial, conforme pode ser observado na tabela 05, a seguir:

2001 2002 Variação %C

hina42,780 44,280 3,50

CE-15 17,560 17,590 0,17EUA 8,690 8,930 2,76Brasil 2,730 2,860 4,76Canadá 1,729 1,835 6,11

Tabela 05 – Fonte: Revista Pork World, pagina 20

A conjuntura econômica mundial modifica-se ao final de 2001. O período 2002 a 2003, neste último considerado até seu primeiro semestre, o cenário altera-se de forma marcante. Recompõe-se a situação sanitária na União Européia, a maturação dos projetos para aumento da produção, em todos os centros produtores, colocou a disposição um volume maior de produto (tabela 05), no momento em que se intensifica uma desaceleração da economia mundial e interna.

Como conseqüência, o ano de 2002, registrou “recorde de produção e baixos preços na suinocultura mundial”, na tabela 06, fica evidenciada a dificuldade, decorrente de uma menor cotação., tomando como base importantes centros produtores.

2001ProduçãoMilhões ton.

2002Produção Milhões ton.

Aumento % da produção ½

Preço pago ao produtor 2001

Preço pago ao produtor 2002 Difer

ença %

França 2,250 2,320 3,11 1,451 Euros 1,102 Euros

-31,6

Espanha 2,920 2,980 2,05 1,297 Euros 1,012 Euros -28,0USA 8,690 8,930 2,76 US$ 1,38 US$ 1,04 -32,6Brasil 2,730 2,860 4,76 US$ 0,64 US$ 0,49 -30,6Canadá 1,729 1,835 6,13 U$ Can 1,77 U$ Can 1,38 -27,8

Tabela 06 – Revista Pork World , pág. 24

CAUSAS INTERNAS COM IMPACTO NO DESEMPENHO DA CADEIA DE PRODUÇÃO SUÍNA.

No Brasil, os setores produtivos, em especial, a cadeia de produtos suínos, foram impactados pelo aumento do desemprego, pela perda da capacidade aquisitiva da população, contágio da desestruturação econômica Argentina e Mundial, fatores que remeteram a uma perversa variação cambial.

A média da massa salarial em 2002 foi inferior a 2001, em mais de 16% (dezesseis pontos percentuais). O desemprego avançou a patamar superior a 18 % (dezoito pontos percentuais).

A variação cambial trouxe reflexos diretos à esmagadora maioria dos fatores de produção da cadeia da suinocultura, decorrente do colamento da taxa cambial a recomposição de valores de tarifas, preços e serviços, destacando-se a energia elétrica, telefonia, combustíveis, insumos dos programas nutricionais, produtos veterinários, fretes, embalagens e aditivos, etc.

Em especial, no caso das duas principais matérias primas, milho e farelo de soja, que compõem cerca de 80% do custo de produção do suíno, a variação cambial alterou de forma significativa à composição do custo de produção, conforme se visualiza nas tabelas 07 e 08, período de maio de 2002 a junho de 2003, pois, são itens da pauta dos produtos exportáveis, tendo suas cotações lastreadas na paridade.

Impossível desconsiderar a situação estabelecida a partir da decisão judicial, que veda a importação de produtos que contenham organismos geneticamente modificados, construindo uma dicotomia inusitada, de um lado as exportações de milho se intensificaram, de outro, as importações, ferramenta sempre usada para normalizar o abastecimento, restou cerceada, determinando prática de preços acima da paridade internacional, ficando os setores demandantes reféns da retenção de estoques e da manipulação do mercado.

MêsPreços médios pagos aos produtores pelo milho - RS x PR x GO (Sc/60 kg)

2001 2002 2003

RSP

PRG

GO RS PR GO RS PR GO

Jan 9,01 8,69 7,54 12,21 12,15 11,00 21,33 22,33 22,40Fev 8,41 7,90 6,79 13,20 12,25 10,69 20,57 20,57 21,49Mar 7,76 7,88 7,36 13,42 12,18 10,67 20,00 19,00 19,00Abr 7,98 7,88 7,66 13,58 13,20 11,12 18,50 18,54 18,43Mai 8,27 8,30 7,58 14,80 14,20 12,50 17,56 17,20 16,50Jun 9,12 9,46 7,87 14,83 14,02 12,65 17,14 16,35 15,07Jul 9,75 10,36 8,37 15,20 14,50 13,03 14,42 14,65 13,07

Ago 11,40 10,98 8,95 16,76 16,48 14,59Set 12,14 11,55 9,58 18,51 17,72 15,30Out 11,56 11,72 9,51 22,45 20,30 20,07

Nov 11,61 12,01 10,04 25,97 25,00 25,09Dez 12,36 12,69 10,50 25,52 24,02 25,03

Tabela 07 – Fonte: Agroceres

Na tabela acima, de preços comparativos de milho, nos Estados do Rio Grande do Sul, Paraná e Goiás, nos mostra o quadro dramático vivenciado pela suinocultura gaúcha, em 2002 e primeiro semestre de 2003. Com a redução na produção, na safra 2001/2002, o Estado ficou na dependência de aquisições externas, em cerca de 1.200.000 toneladas. Com a importação impedida por medida judicial, restou adquirir o produto em outros Estados da Federação, tradicionais produtores. Pelos preços alinhados, conforme mostra a tabela, o custo de deslocamento em montante superior a 30% do valor do produto, permite aferir a condição desfavorável à cadeia.

Em adendo, cabe mencionar a indisponibilidade de estoques reguladores oficiais, que teriam o poder indutor de equalizar os preços.

MêsPreços médios pagos pelo farelo de soja - RS x PR x GO (Ton.)

2001 2002 2003RS PR GO RS PR GO RS PR GO

Jan 404,00 442,00 408,00 493,00 483,00 464,00 691,00 762,00 699,00Fev 384,00 385,00 360,00 506,00 498,00 420,00 726,00 770,00 720,00Mar 370,00 382,00 347,00 441,00 431,00 361,00 735,00 731,00 641,00Abr 321,00 376,00 326,00 409,00 437,00 358,00 621,00 652,00 510,00Mai 330,00 390,00 346,00 460,00 479,00 410,00 556,00 669,00 511,00Jun 413,00 462,00 434,00 504,00 503,00 442,00 565,00 632,00 525,00Jul 456,00 474,00 467,00 555,00 564,00 502,00 557,00 633,00 536,00Ago 440,00 494,00 445,00 591,00 591,00 530,00Set 491,00 529,00 491,00 642,00 681,00 611,00Out 546,00 547,00 554,00 728,00 772,00 703,00Nov 534,00 534,00 502,00 712,00 720,00 681,00Dez 489,00 495,00 457,00 716,00 790,00 711,00

Tabela 08 – Fonte: Agroceres

Outro ponto agravante, é a continuada redução do estoque mundial, despontando uma produção declinante e um consumo em viés de alta, que contribui para transferir mais sensibilidade as cotações do produto, conforme tabela 09, a seguir:

afra Milhões de toneladasEstoque Inicial

Produção Importação Consumo

99/00 169,1 606,4 73,2 604,800/01 170,8 587,5 76,3 607,201/02 151,0 596,0 74,8 622,202/03 124,8 590,0 75,5 623,3Tabela 09 – Fonte USDA

CAUSAS DESESTRUTURANTES, QUE AGRAVARAM E FORAM DETERMINANTES NO DESEMPENHO MAIS DESFAVORÁVEL DA CADEIA DE PRODUÇÃO SUÍNA GAÚCHA.

A produção de carne suína do Rio Grande do Sul, a partir de 2000, vem tendo obstáculos diferentes da suinocultura nacional, enquanto que esta, no período 2000/2001, se capitalizou com resultados positivos num favorável mercado externo, conforme os preços obtidos nas exportações, tabela 01, a cadeia gaúcha acumulou resultados negativos, decorrentes dos focos de FEBRE AFTOSA, ocorridos em agosto de 2000 e em maio de 2001.

Nenhum suíno foi afetado pela doença, entretanto, como espécie susceptível, perdeu a condição de estado exportador e, no mercado interno a circulação dos produtos recebeu restrições e limitações.

As perdas estimadas foram superiores a R$ 200 milhões de reais, destes cerca da metade pelo menor remuneração da matéria prima (suíno), quando a produção ficou por longos períodos restrita ao mercado nacional, com remuneração menor. Além disto, ocorreram perdas em novos investimentos, abate de material genético, baixa remuneração, com rentabilidade negativa e descapitalização do setor.

A participação gaúcha na exportação brasileira foi comprometida no período 2000/2001, conforme tabela 10, a seguir:

BRASIL RIO GRANDE DO SULTon. Var. % Ton. Var. % % participação

2000 127.883,0 46,50 35.742,5 46,54 28,02001 264.944,0 107,18 47.411,8 32,64 17,22002 475.863,0 79,46 86.003,9 81,40 18,02003 (jan/ago)

317.607,0 16,85 99.807,4 119,0 31,0

Tabela 10 – Fonte Abipecs - Sips

A instabilidade econômica da Argentina, tradicional importador de carne suína brasileira, desta parcela significativa de procedência do Rio Grande do Sul, agregou mais dificuldades à cadeia. Tendo como base o ano de 2001, foram comercializadas neste mercado 38.665 toneladas, das quais 22.962 de procedência do Rio Grande do Sul. Em 2002, as exportações àquele mercado ficaram limitadas a pouco mais de 13.000 toneladas, e, nefastos entraves nos pagamentos.

Por outro lado, o aumento do volume exportado, 2002 e 2003, a partir da resolução dos problemas sanitários, derivados dos focos de febre aftosa, se contrapõe com um declínio de preços, eliminando a rentabilidade da cadeia, tornando mais aguda a crise do setor no Rio Grande do Sul, tabelas 01 e 06.

Com a ausência de rentabilidade, a viabilidade da cadeia foi comprometida, em sintonia à economia brasileira, o risco do setor aumentou, os recursos encurtaram, conjugando recursos escassos e de alto custo, determinado pela política econômica adotada, comprometendo empresas e a saúde financeira de muitas, quando o grau de dependência da atividade é preponderante.

O custo de produção comprometido pelos fatores já mencionados, foi agravado por perdas na produção de milho, decorrentes de condições climáticas adversas safra 2001/2002, tabela 02 e, em especial, por perdas mais severas no Rio Grande do Sul , com quadro de comprometimento mais intenso, conforme a tabela 11, a seguir demonstrada:

Safra ProduçãoTon.

ProdutividadeKg/há

2000/2001 6.237.000 3.7502001/2002 3.971.200 2.7202002/2003 5.283.400 3.750

Tabela 11 - Fonte: Conab

Outro ponto importante a destacar, diz respeito às políticas tributárias e fiscais, utilizadas como ferramentas de atração de investimentos e reserva de mercado, resultando em ultima análise em redução da carga tributária.No caso da suinocultura, as distorções regionais, não podem ser desconhecidas, pois, em recentes alterações introduzidas às legislações dos Estados do Paraná, São Paulo, Minas Gerais e Mato Grosso do Sul, estas trouxeram perda de competitividade, conforme podemos observar na tabela 12, cristalizando as dificuldades adicionais para a cadeia de produtos suínos no Estado do Rio Grande do Sul. Alíquotas finais de ICMS por Estado, em operação interestadual (percentual)

DestinoRegião R

SSC

PR

SP

MG

MS

MT

GO

RJ

SUL 7,5

7,0

5,0

5,0

0,1

4,0

12,0

12,0

12,0

SUDESTE(-ES)

7,5

7,0

5,0

5,0

0,1

4,0

12,0

12,0

12,0

C. OESTE(+ES)

7,0

7,0

0 0 0,1

4,0

12,0

6,63

7,0

NORTE 7,0

7,0

0 0 0,1

4,0

12,0

6,63

7,0

NORDESTE 7,0

7,0

0 0 0,1

4,0

12,0

6,63

7,0

Tabela 12 - Fonte: Estudo “Tributação de Carnes e Produtos de Origem Suína”, Mar/03 – Economistas Marchetti e Fátima.INDICATIVOS DA ATIVIDADE AGROINDUSTRIAL.

Pontos importantes a considerar, dentro de um cenário macroeconômico desfavorável em seus índices de desempenho, destaca a reversão da situação alcançada na produção de milho, safra 02/03, suficiente para a demanda interna no Estado e, uma recuperação dos preços, esta decorrente da redução dos abates nos dois maiores centros produtores de carne suína no país, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.

Por outro lado, os indicadores industriais divulgados pela Federação das Industrias do Estado do Rio Grande do Sul – FIERGS, identificam que as atividades produtivas, tecnicamente, estão em recessão, em simetria com as atividades brasileiras. No mercado de trabalho, a geração de empregos é negativo no país e insignificante no Rio Grande do Sul, indicador que sinaliza baixa demanda e dificuldade de repassar os custos de produção, conforme tabela 13, como segue:Setores deAtividade

ACUMULADOS1º semestre/2002 1º semestre/2003 Diferenças

BR RS BR RS BR RSEstr.mineral 2.618 3 3.611 189 993 186Agropecuária 207.684 -762 205.570 -1.660 -2.114 -898Ind. Transf. 128.491 20.965 128.032 19.938 -459 -1.027SIUP 3.317 -88 2.104 233 -1.213 321Const. Civil 16.590 -1.141 -20.564 639 -37.154 1.780Comércio 87.919 2.480 61.321 3.921 -26.598 1.441Serviços 209.931 7.338 161.561 7.043 -48.370 -295Adm. Pública 24.200 759 19.272 423 4.928 -336Total 680.750 29.554 560.907 30.726 -119.843 1.172

Tabela 13 – Fonte: CAGED / Fiergs

RECOMPOSIÇÃO DOS PREÇOS DOS INSUMOS E PRODUTOS INDUSTRIALIZADOS.

Na tabulação dos preços dos produtos e insumos, período de jun/94 a jun/03, fica demonstrado de forma cristalina, as razões dos resultados negativos da cadeia, com acumulo perigoso de prejuízos, conforme acompanhamento dos preços praticados nas principais centros consumidores, tomando como base os preços médios, tabela 14, como segue:

ProdutosCotaçõ

esJun/94

MERCADOS – POSIÇÃO EM 31/06/03R$ US$ Var. % - US$ Var. % - R$

R$US$ SP RJ

SP RJ SP

Carcaça Xp.

1,801,80 2,80

2,70

0,97 0,94 -45,99

Carré Cong.

2,602,60 3,80

3,90

1,32 1,35 -49,25

Costela Cong.

2,502,50 4,70

4,00

1,63 1,39 -34,72

Copa Lombo

2,202,20 3,60

3,80

1,25 1,32 -43,18

Filé Esp./extra

2,902,90 4,30

4,00

1,49 1,39 -48,52

Lombo Cong.

4,004,00 4,70

4,80

1,63 1,67 -59,20

Pernil Ind.

2,502,50 2,90

2,80

1,01 0,97 -59,72

Pernil especial

2,802,80 3,00

3,00

1,04 1,04 -62,80

Toucinho Lombo

1,401,40 2,10

2,10

0,73 0,73 -47,92

Barriga s/costela

1,501,50 3,10

3,90

1,08 1,35 -28,24

Barriga c/costela

1,801,80 4,10

4,30

1,42 1,49 -20,91

Banha 1/kg

1,301,30 2,30

2,60

0,80 0,90 -38,57

Bacon Manta

4,504,50 6,90

4,80

2,40 1,67 -46,67

Orelha Salgada

1,501,50 2,90

2,40

1,01 0,83 -32,87

Pés Salgados

1,501,50 2,90

3,00

1,01 1,04 -32,87

Rabo Salgado

4,00

4,00 3,70

4,00

1,28 1,39 -67,88

Salame Italiano

6,8

6,80 11,

14,0

3,82 4,86 -43,83

0 00

0

Presunto Gordo

5,00

5,00 5,80

5,80

2,01 2,01 -59,72

INSUMOS / SUÍNOItem R$ US$ R$ US$ Var.% -

US$Milho Sc/60 kg

6,30 6,30 17,00 5,90 -6,31

Farelo Soja / ton

145,00 145,00 570,00 197,92 36,49

Suíno Ref. Vivo

0,66 0,66 1,38 0,48 -27,40

Tabela 14 – Fonte: Sips

A incapacidade de reposicionar preços, comprometeu os resultados do segmento de transformação. Tomando como base os demonstrativos de resultados, período de 2000 a 2003, neste de janeiro a junho, pode ser visualizada a deterioração da atividade agroindustrial. Na tabela 15, elaborada a partir da consolidação dos dados de 17 empresas de produtos suínos, nas quais foi possível segregar as informações da atividade suínas de outras exercidas.

Especificações % participação da receita2000 2001 200

22003(jan / jun)

Impostos e taxas 12,40 12,00 9,40 13,30Matéria prima 56,90 63,60 64,30 60,80Mão de Obra 6,10 6,40 6,50 6,30Outros custos 11,80 10,80 9,40 10,50Resultado Operacional Bruto

16,70 15,30 13,20 8,50

Despesas operacionais > despesas financeiras

10,704,00

10,404,20

11,905,20

8,904,70

Resultado Operacional Líquido

2,00 0,90 -1,30 -2,80

Receitas/Despesas ñ operacionais

-0,50 -1,00 -0,70 1,00

Resultado antes IR

1,50 -0,10 -2,00 -1,80

Tabela 15 – Fonte: Demonstrativos de Resultados – Sips

De igual forma, o endividamento, conforme tabela 16, fornece indicativos que consolida um -quadro de resultados negativos, incorporando a variação patrimonial o esforço estratégico das empresas em dar sustentabilidade a produção da matéria prima. Diante da ausência de rentabilidade, da inexistência e recursos próprios e linhas de financiamento, muitos suinocultores foram desistindo da atividade, com o abate de matrizes de forma crescente, atingindo em outubro de 2002, o dobro do índice normal de reposição.

Na perspectiva concreta de trabalhar com elevada ociosidade, tornando inviável qualquer empreendimento, as agroindústrias passaram a incorporar número expressivo de suinocultores, no sistema de integração verticalizada, numa decisão arrojada, considerando as dificuldades comprometedoras projetadas.

Há que se mencionar, o atual endividamento só não é maior em razão da ausência de linhas de financiamento para o setor.

Posição das DívidasVariação %

2001 2002 2003(jan a jun)

Fornecedores e clientesBancárias de curto e longo prazoFiscaisPrevidenciáriasImpostos, contribuições e taxas

100 113 138

Tabela 16 – Fonte: Demonstrativos de Resultados – Sips

Senhores Parlamentares.

Nosso Estado é precursor da produção suína nacional e, na sua trajetória jamais experimentou e registrou a conjugação de tantos fatores desfavoráveis.

A identificação e dimensionamento destes fatos econômicos são necessários para a perfeita visualização das causas determinantes dos nefastos resultados, suportados pelos produtores e agroindústrias. No caso específico do Estado do Rio Grande do Sul, as conseqüências foram mais abrangentes e prolongadas, conforme destacamos ao longo desta exposição de motivos.

Os desafios estruturais que a cadeia enfrenta estão levantados em recente estudo elaborado, porém, inquestionável a influência de causas macroeconômicas, de âmbito externo e interno, que contaminaram, deterioraram e agravaram a situação da produção gaúcha.

RELAÇÃO ECONÔMICA ENTRE A INDÚSTRIA E O GRANDE VAREJO NA CADEIA AGROINDUSTRIAL DA BOVINOCULTURA DE CORTE:

ETAPA 01: OBJETO E FIM DA ANÁLISE:

No presente item, que trata da relação econômica entre a indústria e o varejo, o objeto da análise dos fatos é averiguar se na operação de fornecimento de carne bovina seus derivados e industrializados, realizada entre a indústria e o varejo, se há indícios de infração à ordem econômica, mediante domínio relevante de mercado por parte da empresa ou ocorrência de conduta anticompetitivas à livre concorrência.

O fim da presente análise é o de apurar a existência da (1) materialidade de infração à ordem econômica e (2) indícios de autoria.

ETAPA 02: DEFINIÇÃO DO MERCADO RELEVANTE:

INTRODUÇÃO CONCEITUAL:

A definição de um mercado relevante é o processo de identificação do conjunto de agentes econômicos que efetivamente limitam as decisões referentes a preços e quantidades dos fatos analisados. O mercado relevante é determinado em termos dos produtos e/ou serviços que o compõem, e da área geográfica. No primeiro caso, a delimitação do mercado relevante diz respeito ao conjunto de produtos que são considerados suficientemente próximos, para que as decisões de escolha do consumidor sejam influenciadas por seus respectivos preços e atributos de qualidade. No segundo caso, deve-se observar o espaço territorial para o qual a venda desses produtos é economicamente viável.

O instrumento analítico do teste do ”monopolista hipotético”, para determinação do mercado relevante de bens e serviços, previsto na PORTARIA CONJUNTA SEAE/SDE N.º 50, de 01/08/2000, é o seguinte, conforme transcrição na íntegra:

30. Procedimento. O teste do “monopolista hipotético” consiste em se considerar, para um conjunto de produtos e área específicos, começando com os bens produzidos e vendidos pelas empresas participantes da operação, e com a extensão territorial em que estas empresas atuam, qual seria o resultado final de um “pequeno porém significativo e não transitório” aumento dos preços para um suposto monopolista destes bens nesta área. Se o resultado for tal que o suposto monopolista não considere o aumento de preços rentável, então a SEAE e a SDE acrescentarão à

definição original de mercado relevante o produto que for o mais próximo substituto do produto da nova empresa criada e a região de onde provém a produção que for a melhor substituta da produção da empresa em questão. Esse exercício deve ser repetido sucessivamente até que seja identificado um grupo de produtos e um conjunto de localidades para os quais seja economicamente interessante, para um suposto monopolista, impor um “pequeno porém significativo e não transitório aumento” dos preços. O primeiro grupo de produtos e localidades identificado segundo este procedimento será o menor grupo de produtos e localidades necessário para que um suposto monopolista esteja em condições de impor um “pequeno porém significativo e não transitório” aumento dos preços, sendo este o mercado relevante delimitado. Em outras palavras, "o mercado relevante se constituirá do menor espaço econômico no qual seja factível a uma empresa, atuando de forma isolada, ou a um grupo de empresas, agindo de forma coordenada, exercer o poder de mercado."

IDENTIFICAÇÃO DA DIMENSÃO DO PRODUTO E DA DIMENSÃO GEOGRÁFICA NA CADEIA AGROINDUSTRIAL DA SUINOCULTURA:

A identificação do produto ou produtos que compõem o mercado relevante são os conjuntos de produtos decorrentes do abate de bovinos e sua transformação em (1) carcaça pela indústria e o seu beneficiamento em (2) cortes "in natura"e (3) produtos industrializados. Não há, nessa relação econômica, como substituir esses produtos por outros. Esses são o resultado da atividade-fim da indústria de produtos bovinos. Esta se desenvolve em dois ciclos. A primeira etapa é denominada de primeiro ciclo e envolve o abate do bovino e a produção de carne verde em carcaça. O segundo ciclo de beneficiamento é o que produz cortes "in natura" e produtos industrializados. A indústria bovina, em sua maioria, não realiza o segundo ciclo de beneficiamento. Este é realizado pelo próprio varejo.

O fornecedor do produto é a indústria de carnes localizada no território do Rio Grande do Sul. É onde se localizam as unidades industriais, mais precisamente as que podem, em tese, exercer domínio relevante de mercado de carnes. Essas têm como mercado potencial todas as lojas de varejo localizadas no Estado que comercializam produto de carne bovina. Podem comercializar seus produtos em todo o território do Estado ou mesmo fora dele e até diretamente ao consumidor através de loja própria. Essa definição da área geográfica também se deve ao critério de incidência do ICMS para as carnes bovinas nas operações internas.

Esta Relatoria, na definição do MERCADO RELEVANTE, fixa como dimensão dos produtos o MERCADO DE FORNECIMENTO DE CARNE VERDE DE BOVINOS EM CARCAÇA OU PARA SER BENEFICIADA EM CORTES "IN NATURA"OU SOB FORMA DE PRODUTOS

INDUSTRIALIZADOS, e como dimensão geográfica o TERRITÓRIO DO RIO GRANDE DO SUL.

EXAME DE PROBABILIDADE DE EXERCÍCIO DE PODER DE MERCADO POR ATO DE CONCENTRAÇÃO ECONÔMICA :

INTRODUÇÃO:

O controle de uma parcela substancial de mercado é condição necessária, mas não suficiente, para que a empresa exerça o poder de mercado. É preciso determinar se existem condições suficientes para que o poder de mercado seja exercido unilateralmente pelo agente econômico, ou coordenadamente por um grupo de empresas.

A Portaria Conjunta SEAE/SDE n° 50, de 01/08/2001 estabelece no item 39 do Guia para Análise Econômica de Atos de Concentração Horizontal, as regras para exame da probabilidade do exercício de poder de mercado:

39. O Fato de uma concentração envolver uma parcela de mercado suficientemente alta não implica necessariamente que a nova empresa formada exercerá de forma unilateral seu poder de mercado, ou que as empresas coordenarão suas decisões. Nesta seção são apresentados os fatos que determinaram se o exercício de poder de polícia é provável.

IDENTIFICAÇÃO DAS EMPRESAS QUE EXERCEM PRESUMIDAMENTE DOMÍNIO DE MERCADO :

Para análise dos aspectos concorrenciais de domínio de mercado, utilizou-se a estimativa de participação de mercados das principais empresas da indústria de produtos bovinos e do grande varejo na Cadeia Agroindustrial da Bovinocultura de corte que atuam no mercado geográfico do Rio Grande do Sul, com base no critério de faturamento bruto anual acima de R$ 400.000.000,00 (quatrocentos milhões de reais), conforme definição dada pelo parágrafo 3° do artigo 54 da Lei Federal n.° 8.884/94.

Na indústria da bovinocultura, nenhuma empresa chega sequer perto do valor de quatrocentos milhões de reais. A maior empresa é o Frigorífico MERCOSUL, cujo faturamento bruto anual não é superior a 240 milhões de reais. Outra empresa de destaque é o FRIGORÍFICO SILVA que tem como faturamento bruto anual em torno de 36 milhões de reais.

Em relação ao varejo, há empresas que presumidamente exercem domínio de mercado, com poder de estabelecer unilateralmente o preço. Assim, há necessidade de se analisar cada grande rede de supermercado.

No grande varejo, por esse critério, foram definidas as três maiores redes de supermercado e hipermercados no Estado. A SONAE, é a primeira do RANKING da AGAS. Teve um faturamento anual bruto em 2002 de R$ 3.341.980.090,00. O Grupo ZAFFARI, segunda colocada, teve um faturamento bruto anual em 2002 de R$ 1.040.111.505,00. O CARREFOUR, em que pese não ser associado à AGAS, teve um faturamento bruto anual em 2002 de R$`475.000.000,00 nas cinco lojas gaúchas.

Contudo, o critério de faturamento global, onde são computados todos os produtos comercializados, deve ser especificado para o critério de faturamento percentual representado pelos produtos bovinos para coadunar com objeto do presente Inquérito Parlamentar.

Começando pela maior rede do ranking gaúcho - a SONAE. A mesma mantém indústria própria, que lhe fornece aproximadamente 95% da carne bovina em carcaça. Adquire apenas carne em complemento, preferencialmente de frigoríficos gaúchos e de outros Estados. A participação da carne bovina no faturamento bruto anual é a seguinte, conforme consta em declaração a seguir:

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – Sr. Idenio, ah...qual é a participação percentual da carne bovina e suína e também os derivados, é...no faturamento total da empresa?[fim]

O SR. IDENIO RISSO BELMONTE FILHO – Hoje a carne bovina representa 4.6% da venda.[fim]

Em relação ao faturamento anual bruto em 2002, que foi de R$ 3.341.980.090,00, a carne bovina representou percentualmente 4.6%: R$ 153.731.084,14. O percentual de carne bovina adquirida de outras indústrias, em caráter complementar, representou apenas 0,23% do faturamento bruto anual da SONAE: R$ 76.865.542,07. Nesses números, estão incluídos o agregamento de valor pelo beneficiamento pelo segundo ciclo, que não ocorre com a indústria.

O mercado formal de carne bovina no Rio Grande do Sul foi de três bilhões de reais (2.6% do PIB/RS em 2002, segundo a SEDAI). Os valores da SONAE representariam 0,53% do mercado relevante de fornecimento carne verde de bovinos em carcaça, para ser beneficiada em cortes, ou sob a forma de industrializados no território do Rio Grande do Sul.

Por qualquer um dos números, levando em consideração somente os produtos de carne bovina, essa empresa varejista não se enquadra pelo critério de faturamento como ato de concentração econômica, em conformidade com o parágrafo 3° do artigo 54 da Lei Federal n.° 8.884/94.

A Rede ZAFFARI é a segunda no ranking no Rio Grande do Sul, com faturamento bruto anual de R$ 1.040.111.505,00 no exercício de 2002. Não tem indústria própria, como a sua concorrente SONAE. A carne bovina representa de 5% a 6% do valor desse faturamento, conforme declaração prestada pelo representante desta Empresa:

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – Está, antes de nós continuarmos nesse raciocínio. Quanto que representa do faturamento a participação da carne bovina e suína na Companhia?[fim]

O SR. CLAUDIO LUIZ ZAFFARI – Eu diria que a carne bovina, no faturamento total, varia de 5 a 6% no total.[fim]

Isto em valores representaria R$ 62.406.690,30.

O mercado formal de carne bovina no Rio Grande do Sul é de três bilhões de reais (2.6% do PIB/RS em 2002, segundo a SEDAI). Esses valores da ZAFFARI representariam 0,02% do mercado relevante de fornecimento carne verde de bovinos em carcaça para ser beneficiada em cortes ou sob a forma de industrializados, no território do Rio Grande do Sul.

Por qualquer um dos números, levando em consideração somente os produtos de carne bovina, a REDE ZAFFARI não se enquadra pelo critério de faturamento como ato de concentração econômica, em conformidade com o parágrafo 3° do artigo 54 da Lei Federal n.° 8.884/94.

Por último, será analisada a REDE CARREFOUR, que teve um faturamento bruto anual em 2002 de R$ 475.000.000,00, nas cinco lojas gaúchas. A participação da carne bovina no faturamento foi informada em depoimento pelo representante legal da Empresa:

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – Qual é a participação, o percentual do faturamento que representa o comércio de carne bovina e suína referente ao Estado, ao Rio Grande do Sul, no mercado regional. Quanto que representa o faturamento destes dois segmentos? Quando digo a carne, claro que estou colocando aqui junto os seus derivados. Não estou deixando somente a carne in natura. Quanto que representa do total do faturamento da empresa? O Senhor teria condições de responder isso?[fim]

O SR. ARNALDO JOHANNES JOSEF EIJSINK – Eu tenho condições de responder, porque eu mexo mais com a parte de perecíveis do que a parte mais fresca digamos assim. Os embutidos já está fora deste cálculo.[fim]

As carnes frescas bovinas e suínas representa ao redor de quatro por cento do faturamento. Participa em quatro por cento da venda total de uma loja. Na média quatro por cento.[fim]

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – Isto fazendo uma análise?[fim]

O SR. ARNALDO JOHANNES JOSEF EIJSINK – Anual, sim.[fim]

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – Mas por loja. Pode variar ...[fim]

O SR. ARNALDO JOHANNES JOSEF EIJSINK – Pode variar loja por loja. Vamos dizer a loja Caxias tem uma participação, o açougue tem uma participação menor do que a loja Porto Alegre.[fim]

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – A nossa média no Estado seria ...[fim]

O SR. ARNALDO JOHANNES JOSEF EIJSINK – Quatro por cento.[fim]

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – Quatro por cento. Desses 4%, dessa participação, quanto é suíno?[fim]

O SR. ARNALDO JOHANNES JOSEF EIJSINK – Na ordem de 30%.[fim]

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – Então, desses 4%, pouco mais de um ...[fim]

O SR. ARNALDO JOHANNES JOSEF EIJSINK – Pouco menos de 30% é carne suína. O forte é carne

bovina.[fim]

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – Entrando ... Considerando, no caso da suína, embutidos?[fim]

Em números, esse percentual representa o valor de R$ 19.000.000,00. Deste total 70% é de carne bovina, o que significa R$ R$ 13.300.000,00.

O mercado formal de carne bovina no Rio Grande do Sul é de três bilhões de reais (2.6% do PIB/RS em 2002, segundo a SEDAI). Esses valores do GRUPO CARREFOUR representariam 0,44% do mercado relevante de fornecimento carne verde de bovinos em carcaça, para ser beneficiada em cortes ou sob forma de industrializados, no território do Rio Grande do Sul.

Por qualquer um dos números, levando em consideração somente os produtos de carne bovina, o GRUPO CARREFOUR também não se enquadra pelo critério de faturamento como ato de concentração econômica, em conformidade com o parágrafo 3° do artigo 54 da Lei Federal n.° 8.884/94.

Há uma observação a ser feita, que é relevante. O percentual de participação das três grandes redes varejistas é com base no abate regular - isto é no mercado formal. Contudo, todo e qualquer enquadramento deve ser realizado com base em números reais, pois o mercado se dá também na informalidade, pois esse compete com o formalmente estabelecido. Globalmente tem sua significância, senão não influenciaria na formação do preço ao produtor rural. O abate irregular, em que pese não se saber o número exato, é estimado por baixo, que seja igual ao do abate regular. Isso significa que, para cada bovino abatido regularmente, há um abatido irregularmente. Isto faz com que o número global de abate seja multiplicado por dois, para sabermos a dimensão do mercado real de fornecimento de carne verde de bovinos em carcaça, para ser beneficiada em cortes ou sob forma de industrializados no território do Rio Grande do Sul.

Pelos números globais e reais de abates, o percentual de participação de cada grande REDE apresentado neste item deve ser dividido pela metade para se chegar ao percentual de participação de cada Rede no mercado. Por esse critério, o índice de participação fica ainda mais reduzido, o que afasta a hipótese de domínio de mercado relevante.

Para concluir, existe um fato que deve ser levado em consideração na relação indústria/varejo: inadimplência do varejista. De nada adianta vender e não receber. E esse problema é histórico, especialmente com os pequenos varejistas, até pelo alto índice de fechamento de microempresas e empresas de pequeno porte. Se à primeira vista é mais vantajoso a indústria negociar com o pequeno varejo, essa vantagem se dilui com os custos de logísticas e com a incerteza do adimplemento. Nesse sentido, citam-se, a seguir, as declarações do representante do FRIGORÍFICO MERCOSUL:

O SR. MAURO LUIZ PILZ – Tem supermercados que tem dois, três; tem supermercado que tem até 11%. Mas eu não encaro isso como um problema porque eu ponho os 11% no preço, e o baile segue. Esse não é o entrave. Eu prefiro vender sabendo o que vai- me custar do que correr o risco da inadimplência num açougue que tu não sabe se tu vai receber.[fim]

AVALIAÇÃO DAS CONDUTAS ANTICONCORRENCIAIS:

INTRODUÇÃO:

No presente item, serão analisadas, segundo a prova existente nos autos do presente Inquérito Parlamentar, as condutas que constituem infração da ordem econômica, por práticas anticoncorrenciais.

A Lei Federal n.° 8.884, de 11/06/1994, que dispõe sobre a prevenção e a repressão às infrações contra a ordem econômica, em seu artigo 20, estabelece as seguintes regras de direito sobre a definição jurídica de quando os atos sob qualquer forma manifestados, que tenham por objeto ou possa produzir o efeito de limitar ou de qualquer forma prejudicar a livre concorrência ou a livre iniciativa:

Art. 20. Constituem infração da ordem econômica, independente de culpa, os atos sob qualquer forma manifestados, que tenham por objeto ou possam produzir os seguintes efeitos, ainda que não sejam alcançados:

I – limitar, falsear ou de qualquer modo prejudicar a livre concorrência ou a livre iniciativa;.

Os atos sob qualquer forma manifestados, independente de culpa que tenham por objeto ou possam produzir os efeitos que configuram as hipóteses das regras contidas nos incisos do artigo 20 da Lei Federal n.° 8.884/94, caracterizam infração da ordem econômica tipificadas no artigo 21 do mesmo Diploma Legal.

O Glossário Básico da Defesa da Concorrência do Ministério da Fazenda define conceitualmente o que são condutas anticompetitivas:

"REPRESSÃO A CONDUTAS ANTICOMPETITIVAS: Uma das vertentes de atuação do SBDC. Consiste na apuração de

condutas nocivas à concorrência levadas a cabo por empresas que detêm poder sobre determinado mercado, das quais são exemplo a prática de cartel, a prática de preços predatórios, as vendas casadas, os acordos de exclusivadade, a discriminação de preços, a fixação de preços de revenda e as restrições territoriais. Para promover a apuração dessas condutas e conforme o caso, a SEAE pode realizar PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO destinado a instruir representação a ser encaminhada à SDE, enquanto a SDE pode promover AVERIGUAÇÃO PRELIMINAR ou instaurar diretamente PROCESSO ADMINISTRATIVO. O CADE julga, então, com base nas opiniões da SEAE e da SDE se houve configuração de infração à ordem econômica. Na análise de condutas anticompetitivas, a manifestação da SEAE é facultativa. Ver artigos 20 2 21 da Lei n.° 8.884/94 e Lei n.° 10.149/00."

Assim, serão analisadas no presente item, as condutas anticoncorrenciais que caracterizam, em tese, enquadramento como infração da ordem econômica tipificada no artigo 21 da Lei Federal n.° 8.884/94, que foram noticiadas no curso da instrução do presente Inquérito Parlamentar.

FIXAÇÃO DO PREÇO COMO PONTO CONTROVERTIDO :

Na relação econômica entre a indústria bovina e o grande varejo, o ponto controvertido do conflito de interesse na Cadeia Agroindustrial da Bovinocultura de Corte é quem tem o poder de mercado para fixar unilateralmente o preço.

Fixa-se, portanto, como ponto controvertido, as seguintes dúvidas a serem solucionadas: (1°) se o preço é imposto ou negociado entre as partes; (2°) se imposto, quem tem poder dominante de mercado para impor o preço unilateralmente.

IDENTIFICAÇÃO DOS ATOS QUE, EM TESE, REPRESENTAM CONDUTAS ANTICOMPETITIVAS SEGUNDO A PROVA COLETADA:

MARK-UP PRATICADO PELO GRANDE VAREJO:

Se há uma certeza na Cadeia Agroindustrial da Carne Bovina é a de que, na relação econômica entre o produtor rural e a indústria, é essa última, direta ou indiretamente, quem estabelece o preço. Contudo, nas demais

relações econômicas, certeza não há. Enquanto a indústria alega que não pode pagar um preço mais justo ao produtor rural, pois o preço de seus produtos é imposto pelo varejo, esse declara em sua defesa que o preço praticado é negociado e não imposto.

Na relação econômica entre a indústria da bovinocultura de corte e o comércio surge o MARK-UP. Este diz respeito à margem que o elo da Cadeia Agroindustrial de Alimentos se apropria, em relação ao preço pago pelo consumidor final.

Frisa-se que o tema do MARK-UP sempre vem à tona quando se trata de cadeia produtiva. Cada elo sempre reclama que os outros estão ganhando mais. Contudo, trata-se de um fato difícil de apurar. Em cada etapa, há os custos de produção e as margens de lucro, o que é segredo empresarial e difícil de se indentificar. Os cálculos simplistas apresentados estão longe de desnudar a verdade.

Contudo, esse tema está distante de ser a maior preocupação da indústria de produtos bovinos, que é, sem dúvida a concorrência desleal do abate irregular, os problemas sanitários e tributários e a modernização das plantas frigoríficas e abatedouros.

As indústrias da bovinocultura de corte no Rio Grande do Sul são representadas pelo SICADERGS. O seu presidente, em depoimento prestado perante esta CPI, esclareceu as margens praticadas em cada etapa da Cadeia, desde o peso do bovino vivo e o que realmente chega ao consumidor, em termos de rendimento de carcaça:

O SR. ELVINO BOHN GASS – o Senhor falou que o preço, em média, praticado para o produtor é de 3,60, e que os Senhores, a indústria, fornece em média a 3,95 para os supermercados.[fim]

O SR. MAURO DANTE AYMONE LOPEZ – Desculpe.[fim]

O SR. ELVINO BOHN GASS – O que eu entendi antes, nas falas dos Senhores, é que em média os Senhores pagam ao produtor 3,60 e vendem adiante, para o comércio varejista, em média a 3,95. Foi o número apresentado antes, se peguei bem. Correto?[fim]

O SR. MAURO DANTE AYMONE LOPEZ – Sim.[fim]

O SR. PRESIDENTE (Elvino Bohn Gass) – Esta

relação, no comércio varejista depois, os preços variam enormemente em função dos cortes, enfim. Esta relação da margem da composição do preço, qual é a avaliação que vocês fazem em relação ao comércio varejista?[fim]

O SR. MAURO DANTE AYMONE LOPEZ – Bem. Nós... Acho que precisamos fazer... passar uma informação. É pena que não temos condição de projeção, não é? Porque nós queríamos passar uma informação, que não sei se vou conseguir passá-la oralmente através do microfone. Mas, vou tentar, se é possível, para ver como essa questão de preços, às vezes, nos perdemos na discussão e tem um conteúdo que precisa ser bem entendido, principalmente para aqueles que não são do ramo, vamos dizer assim.[fim]

Nós tomamos aqui o preço do quilo do boi praticado ao produtor, preço top de boi, informação que colhemos hoje, que soubemos que foi praticado no Rio Grande do Sul, preço quilo vivo do boi pago ao produtor 1,80. Os rendimentos, por isso fica um pouco complicado... Este boi vai produzir uma carcaça de 240 quilos. Só esta transformação, vamos dizer assim, de quilo vivo para carne com osso, produto comestível, o preço pago ao produtor, ainda somente preço pago ao produtor, passa para 3 reais e 75 centavos. Isso significa dizer que os mesmos 1,80 que nós pagamos lá, na verdade, para a indústria, está pagando também ao produtor 3,75.[fim]

Vamos ver se vocês conseguem acompanhar o meu raciocínio.[fim]

Um boi... Vamos fazer carne desossada, preço de carne desossada. Se nós desossarmos esta carcaça de 240 quilos, desossamos o dianteiro, desossamos o traseiro e deixamos a costela com osso, porque esse é o mercado da costela, nós vamos ter, na verdade, carne comestível, somadas do traseiro, do dianteiro desossado e mais a costela com osso, carne comestível para ser vendida ao produtor em 175 quilos. Desculpe, vendida ao consumidor, 175 quilos. Isso representa, 175 quilos representa 35% do peso de um boi de 500 quilos. Isso significa que o preço médio desses 175 quilos, que é o mesmo equivalente pago ao produtor pelo boi de 500 quilos,

vão, na verdade, valer 5 reais e 14 centavos, como preço médio.[fim]

Sei que é difícil de entender, mas, quem sabe, conseguiram perceber.[fim]

O SR. PRESIDENTE (Elvino Bohn Gass) – Eu percebi, sim. Eu sei que é pela carcaça, pela medição que é feita. Mas...[fim]

O SR. MAURO DANTE AYMONE LOPEZ – Por isso que há, às vezes, uma transformação muito grande entre o preço que é pago ao produtor e o preço que é pago pelo consumidor. Na verdade, nós temos que considerar isso. Porque o boi, o 1,80 que nós pagamos, não é todo comestível. Tem couro, tem chifre, tem casco, tem conteúdo de rúmen, tem vísceras, enfim.[fim]

O SR. PRESIDENTE (Elvino Bohn Gass) – Isso. Mas a minha preocupação era na pergunta que em fiz. Em relação ao preço na formação do preço frente ao comércio varejista, qual é a avaliação de vocês em relação a este preço? Porque isso tem a ver com as condições que o comércio varejista impõe sobre o produto que vocês oferecem a ele para ser comercializado posterior.[fim]

O SR. MAURO DANTE AYMONE LOPEZ – Nós temos dois preços no Rio Grande do Sul: o preço que é comercializado na Grande Porto Alegre, ou aqui na Capital, e o preço que é comercializado no interior. O preço da carne ao consumidor no interior é mais barato. Isso é uma coisa é considerado pela indústria numa composição de preço. Os melhores preços, vamos dizer assim, seria a venda em Porto Alegre. No interior, a indústria consegue colocar preços mais baixos, por isso que nós trabalhamos com preço médio, mas nós, embora tenhamos uma avaliação de margem do mercado varejista, nós não temos opinião definida assim de que, se existe a possibilidade de nós termos mais ganho dentro dessa margem.[fim]

O SR. ELVINO BOHN GASS – O principal motivo de

em Porto Alegre é por que hoje a comercialização de Porto Alegre se dá, ou nos grande centros se dá, fundamentalmente pelos supermercados, o que diferencia muito fortemente em relação ao interior, ou qual é o principal motivo dessa diferença?[fim]

O SR. MAURO DANTE AYMONE LOPEZ – Eu não sei identificar, não sei se é poder aquisitivo ou se é realmente uma imposição do preço do mercado.[fim]

Eu que trabalho no interior, posso dar um depoimento do interior. Do interior, seguramente a competição é preço. O que força o preço mais baixo no interior é uma competição de preço que nós avaliamos que o consumidor no interior tem menor poder aquisitivo.[fim]

Pelo cálculo do SICADERGS, de 01 (um) bovino de meia tonelada, acaba chegando ao consumidor apenas 175 quilos - o que é comestível e que é comercializado no varejo, junto com os miúdos. Os subprodutos, como o couro, o sebo, o casco, o chifre e os ossos, também têm valor econômico e são comercializados com outras indústrias, o que é objeto de outra relação econômica, distinta e diferenciada da que é objeto da presente análise. Esse mesmo bovino, de meia tonelada, comercializado ao valor de R$ 1,80 por quilo, gera uma renda para o produtor de R$ 900,00. Ao ser abatido o animal, sua carcaça fica reduzida ao peso de 240 quilos, que comercializada entre a indústria e o varejo geraria uma renda de R$ 948,00 para a indústria. No varejo, a carcaça de 240 quilos ao ser beneficiada no segundo ciclo, fica reduzida a 175 quilos e o seu custo é de R$ 899,50. Há muitas perdas de produtos e o que acaba gerando mais renda a indústria é um subproduto: o couro.

Observa-se que o primeiro ciclo do beneficiamento realizado pela indústria, onde o bovino é abatido e transformado em carcaça, agrega pouco valor. É no varejo, com o segundo ciclo de beneficiamento, quando a carcaça é desossada e desmembrada em cortes, que acaba agregado o valor. Mas, se isso ocorre, é por que a indústria não está estruturada para realizar esse tipo de beneficiamento, agregando valor ao seu produto.

Para solucionar essa dúvida, esta CPI realizou ESTUDO TÉCNICO de CRAQUEAMENTO DE UM BOVINO DE CORTE, para demonstrar quanto agrega de valor, segundo os cortes realizados. Nesse sentido:

Abate e rendimento de bovinos

Novilhos com média de peso vivo de 468 KgPerda de peso durante o transporte 4 a 7 % 444,6 KgPeso da carcaça quente com 50 % de rendimento 222,3 KgPeso da carcaça fria 2% de quebra de resfriamento 217,85 Kg

Principais cortes da carcaça bovina:

Traseiro: 47% peso 102,39 Kg variação 46 a 49%Dianteiro: 38 % peso 82,72 Kg variação 36 a 39 %Costilhar: 15 % peso 32,68 Kg variação 13 a 15 %

Traseiro:

Percentagem Peso x Preço médioAlcatre 5,30 5,426 x 9,78 = 53,06

CCoxão de dentro

12,80 13,105 x 9,31 = 122,00

Coxão de fora 8,09 8,283 x 8,12 = 67,25Contra filé 8,03 8,221 x 8,57 = 70,45Filé 2,60 2,662 x 15,29 = 40,70Patinho 8,00 8,191 x 8,97 = 65,28Tatu 3,40 3,481 x 8,44 = 29,37Bife Ancho 2,39 2,447 x 8,57 = 20,97Garrão 2,95 3,020 x 3,62 = 10,93Maminha 2,04 2,088 x 10,41 = 21,73 Tortugita 2,89 2,959 x 3,62 = 10,71Picanha 1,75 1,791 x 16,30 = 29,19Recorte 7,50 7,679 x 3,62 = 27,79Gordura 8,70 8,907 x 0,12 = 1,06Ossos 22,75 23,293 x 0,12 = 2,79Quebra 0,73

TOTAL: 573,28

Dianteiro:

TOTAL: 349,53

Costilhar:

Percentagem Peso x Preço médio

Costela 53,12 17,00 x 5,05 = 85,85Matambre 9,96 3,19 x 5,05 = 16,10Vazio 10,75 3,44 x 6,87 = 23,63Bife vazio 4,43 1,42 x 6,87 = 9,75Recorte 5,31 1,70 x 3,62 = 6,15Gordura Aponeurose 14,31 4,58 x 0,12 = 0,54Quebra 2,09

TOTAL: 142,02

Sub produtos comestíveis

Peso x Preço médio

Coração 1,150 x 2,15 = 2,47Fígado 3,420 x 2,70 = 9,23Língua 1,240 x 2,60 = 3,22Estômago 4,750 x 2,45 = 11,63Rins 0,600 x 1,65 = 0,99Rabada 1,250 x 3,05 = 3,81Diafragma 1,925 x 3,62 = 6,96Retalhos 2,040 x 3,62 = 7,38

TOTAL: 45,68

Sub produtos não comestíveis

Peso x

Preço médio

Percentagem Peso x Preço médioCarne 70,91 58,70 x 5,75 = 337,52Osso 22,10 18,29 x 0,12 = 2,19 Recorte 3,20 2,65 x 3,62 = 9,59Gordura 2,34 1,94 x 0,12 = 0,23Quebra 1,43

Couro 29,760 x 2,60 = 77,37Patas (unidade) 1,340 6,00Cascos 0,580 x 0,12 = 0,06Chifres 0,340 x 0,12 = 0,04

TOTAL: 83,47

Para efeitos de Direito Econômico, pela análise do Laudo Técnico, independente de uma empresa exercer ou não domínio de mercado relevante de carne bovina, as margens praticadas pelo varejo não podem ser consideradas como prática anticompetitiva. Não há como enquadrá-la na infração a ordem econômica prevista no inciso XXIV do artigo 21 da Lei n.° 8.884/84, com imposição de preços excessivos, ou aumentar sem justa causa o preço do bem.

PRÁTICA DO BENEFÍCIO EXTRAPREÇO:

A indústria de produtos bovinos nunca expressou que o beneficio extrapreço é um problema que prejudica o setor. Diferente é a opinião da indústria de produtos suínos. Por isso, o benefício extrapreço, em si, será melhor analisado no item em que trata da relação econômica entre a indústria de produtos suínos e o varejo.

O benefício extrapreço foi tratado incidentalmente como ponto secundário na presente Cadeia. Consiste o mesmo numa série de descontos do preço ofertado e efetivamente negociado entre as partes. As empresas que têm escala de produção necessitam de escala de distribuição. Nesse contexto, não há como não negociar com as grandes redes varejistas, sob pena de perder mercado consumidor.

Sobre a prática do benefício extrapreço, cita-se as declarações do FRIGORÍFICO SILVA e a forma como se dá a relação com o varejo:

O SR. PRESIDENTE (Elvino Bohn Gass) – O extrapreço? Vocês tem um contrato com quem vocês fornecem carnes para os supermercados. Foi colocado em até 11% que é o que está fora do contrato. Que é extrapreço. Só confirma de que forma vocês fazem este acordo com as indústrias onde eles colocam condições além das condicionantes do contrato.[fim]

O SR. IVON DA SILVA JÚNIOR – Isso aí eu vejo como oferta e procura. Se tu não quiseres tu não vendes. Entendeu? Vejo como pressão. Há pouco fizemos este

negócio. Se pode fazer um contrato, tu não é obrigado a vender. Tu tem um contrato feito para mim vender são essas as condições, mas se está ruim não vendo. Se vou perder dinheiro não vou vender. Quer dizer não há obrigatoriedade de se vender quando se tem este contrato. O contrato tu assinas o modo de vender é esse. Para mim vender tu tens que me pagar isso e daí escolho se quero vender ou não. Não se tem um contrato de fornecimento que tenho obrigação de fornecer.[fim]

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – Uma imposição.[fim]

O SR. PRESIDENTE (Elvino Bohn Gass) – Mas em nenhum momento vocês se sentem lesados pelas exigências que são feitas extracontrato? Porque uma coisa tu faz um contrato de venda tantos quilos de carne a tal preço e aí o mercado vai ter seu macaco que ele impõe e além disso tem, isso é corrente, todo mundo diz aqui que frente a venda nas redes de supermercados acabam tendo outras condicionantes que são promoções, enfim várias que são citadas aqui.[fim]

Não acontece isso também com vocês?[fim]

O SR. IVON DA SILVA JÚNIOR – O que eles alegam, que isso é uma briga. Alguém paga isso, com certeza alguém paga. Eles falam que têm despesas com publicidade, com prêmios. Não vejo no nosso ver aí, isso é um contrato que tu fazes ou não.[fim]

Outra Empresa, a MERCOSUL, prestou as seguintes declarações sobre a prática do benefício extrapreço:

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – No caso do supermercado, esse preço comercializado é imposto pelo mercado?[fim]

A forma de estabelecimento do preço numa transação com o mercado e com o açougue é igual ou diferente?[fim]

O SR. MAURO LUIZ PILZ – Nós vendemos mais caro para supermercados do que para açougues. [fim]

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – Por quê?[fim]

O SR. MAURO LUIZ PILZ – Porque de acordo com o tamanho do supermercado, ele também precisa te fornecedores que suportem um volume de matéria- prima. E nós, muitas vezes, socorremos eles e nós nos fazemos respeitar. Como isso é sigiloso, ainda bem que é sigiloso...[fim]

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – Só para constar, a reunião, os dados aqui passados...[fim]

O SR. MAURO LUIZ PILZ – Para vocês terem uma idéia, eu vendi 947 mil e 600 reais, num mês, em junho de 2001, para o Zaffari. Em função de condições comerciais, nós simplesmente não vendemos mais, e foi obrigado o Zaffari vir atrás da nossa empresa para nós fornecermos para eles de novo, e aí sim nas nossas condições.[fim]

Então eu acho que a situação comercial é imposta pelo mercado. Tá em tu querer jogar ou não querer jogar; é nós dois ir para um jogo de futebol e tu querer jogar e eu querer jogar também, nós disputamos. E outra coisa é: tu pode jogar, se tu quiser. Nós tratamos o supermercado como um cliente normal, e a nossa empresa tem as condições comerciais. Se elas convierem para ambos, se faz o negócio; se não convierem, nós não fazemos.[fim]

Então, mesmo eu faturando 20 milhões, num mês, e 947 mil é 5 %, nós preferimos abrir mão do que aceitar as condições comerciais. Quando as condições comerciais forem favoráveis a nós, nós voltamos a vender.[fim]

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – E rapel existe nesta transação do supermercado?[fim]

O SR. MAURO LUIZ PILZ – Existe.[fim]

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – Chegando até que percentual, entre rapel, espaço em gôndola, promoção, reinauguração, aniversário, esses artifícios que são utilizados?[fim]

O SR. MAURO LUIZ PILZ – Tem supermercados que tem dois, três; tem supermercado que tem até 11%. Mas eu não encaro isso como um problema porque eu ponho os 11% no preço, e o baile segue. Esse não é o entrave. Eu prefiro vender sabendo o que vai- me custar do que correr o risco da inadimplência num açougue que tu não sabe se tu vai receber.[fim]

Para a indústria organizada o benefício extrapreço não é um problema e também não é encarado como uma imposição. Se a indústria é eficiente, como é o caso das empresas acima referidas, há possibilidade de negociações equitativa entre as partes interessadas.

COMERCIALIZAÇÃO DE PRODUTOS COM MARCA PRÓPRIA:

O uso de marcas próprias caracteriza os produtos com nome da própria rede de supermercados e hipermercados. É uma prática nova que se consolidou com a expansão e a supremacia do varejo. Como toda inovação sempre causa controvérsia, diante do conflito de interesses que passa a haver com a indústria, contrariadas pela possibilidade de enfraquecimento das marcas tradicionais, é ela quem diferencia para o consumidor a qualidade do produto. Na medida em que a indústria perde essa referência, limitando-se apenas a fabricar produtos com marca de terceiros, deixa a indústria de agregar valor na sua atividade, porque perde a referência de seu produto.

Numa economia de mercado altamente competitiva, a marca comercial do produto pode se tornar o maior patrimônio de uma empresa e o segredo do seu sucesso. Cita-se o exemplo de diversos produtos, cuja marca comercial, como o caso de cigarros, é o maior bem mensurável da empresa. Trata-se de uma propriedade imaterial, com registro público da propriedade intelectual ou industrial.

Sobre a controvérsia de concorrência desleal, do varejo utilizar –se de marca própria para venda de diversos produtos, transcreve-se a seguir a resposta da AGAS à REQUISIÇÃO DE INFORMAÇÕES N.° 60/2003, ao seguinte quesito:

VIII – Quais os Associados da AGAS que comercializam produtos derivados de carne suína e bovina com marca própria. O uso de marca própria é uma prática do comércio varejista gaúcho ou é praticado em outros Estados e outros Países? Qual a razão comercial da existência de marcas próprias? Essa prática não prejudica marcas tradicionais da indústria?

VIII – Respondendo por partes:

a) A AGAS, por não ter ingerência na administração de seus associados, não poderá responder com a devida segurança e certeza quais comercializam marca própria de carnes;

b) O uso de marca própria tem se difundido no varejo brasileiro nos últimos anos, em especial quanto a cereais e alguns produtos de limpeza. Há uma tendência de uma generalização da prática no mercado nacional.

c) As razões comerciais para existência de marcas próprias estão afetas a política de marketing

d) Em face ao direito constitucional da livre iniciativa e livre concorrência, o uso de marca própria se mostra adequado.

A mesma entidade, através do depoimento do seu presidente, como representante das redes de supermercados e hipermercados no Rio Grande do Sul, foi mais claro em expor o uso de marca própria pelo grande varejo:

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – A respeito de marca própria foi colocado que alguns possuíam abate próprio, outros produziam arroz.[fim]

Qual a importância estratégica para um supermercado que atua com marca própria na medida em que ele não fabrica, mas contrata serviços de uma indústria?[fim]

O SR. ANTÔNIO CESA LONGO – A importância é que a marca dá credibilidade, o consumidor, no momento em que ele elege um estabelecimento, este vende uma imagem de

qualidade, seriedade, confiabilidade.[fim]

O consumidor elege essa marca, porque sabe quem fez, ou seja, pode não ser o supermercado que fez, mas está se responsabilizando por esse produto e o consumidor sabe que qualquer problema ele tem aonde ir e reclamar, é um direito que o consumidor tem, hoje, de ir diretamente ao supermercado e exigir os seus direitos no momento em que ele sentir alguma dificuldade.[fim]

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – Conforme a experiência de vocês, se o supermercado colocar cinco quilos de arroz de três macas e colocar os mesmos cinco quilos da marca dele, há alguma preferência da parte do consumidor?[fim]

O SR. ANTÔNIO CESA LONGO – A fidelidade de marca se modificou muito, claro que primeiro o consumidor olhará o preço, o que tiver melhor preço ele adquirirá e se tiver melhor preço ainda com a marca do estabelecimento, melhor ainda.[fim]

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – Eu faço a pergunta, porque me considero um bom consumidor, afinal de contas, fujo um pouco do padrão normal da população gaúcha, talvez eu consuma mais do que os Senhores aqui presentes.[fim]

Eu observo que várias vezes o produto da marca do mercado, possui um preço menor.[fim]

Não sei se é por que aquele preço foi reduzido, ou por que os outros são aumentados.[fim]

Enfim, o mercado prefere vender aquilo que ele mesmo produz, dentro da minha experiência como consumidor.[fim]

Isso não é uma prática?[fim]

O SR. ANTÔNIO CESA LONGO – Não, isso é uma questão de livre comércio, livre negociação, onde uma

empresa se propõe a fornecer X unidades de caixas e de repente não houve uma comissão para alguém que intermediou, tendo ocorrido uma negociação direta.[fim]

A marca do supermercado é vendida e pode ser de interesse do supermercado colocar mais destaque na divulgação de sua marca.[fim]

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – Mas essa preferência do mercado pela sua marca própria, não seria uma concorrência desleal com aquela empresa que não tem um supermercado, aquela indústria que produziu e tem seus custos normais e sobrevive em cima da relação com o mercado, ou seja, que sobrevive como um papel de fornecedor.[fim]

Não prejudica essa empresa?[fim]

O SR. ANTÔNIO CESA LONGO – Não, porque hoje não há uma única indústria, por exemplo, de amaciante que produza para todos os supermercados a marca própria.[fim]

Geralmente quem faz isso é a pequena indústria, as multinacionais, dificilmente param a sua linha de produção para fazer a marca própria da empresa a ou b. Isso você está beneficiando a pequena e média indústria e geralmente são n indústrias que fazem esse tipo, que é essa prática de produzir a marca própria para o supermercado.[fim]

No supermercado, às vezes, o material de limpeza, de repente o supermercado faz o amaciante com determinada empresa e faz o desinfetante com outra empresa. Não é que a mesma empresa vai fazer toda a marca dos supermercados aí. Ou seja, o setor dá oportunidade para mais indústrias de participarem desse mercado aí.[fim]

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – Existe alguma tendência de que os mercados criem, cada vez mais, essas marcas próprias na questão da carne e os derivados?[fim]

O SR. ANTÔNIO CESA LONGO – Marca própria, se tu

vais ver hoje os supermercados, cada carne que ele vende, a bandeja da carne embalada, no momento em que tu, o supermercado coloca a etiqueta do peso e coloca a etiqueta onde foi embalado, ou seja, no próprio supermercado, bota a sua etiqueta, o seu logotipo, ele já está vendendo a marca própria do supermercado, ele já está endossando ao consumidor que ele está garantindo a qualidade daquele produto. No momento que o supermercado dá essa garantia, ele está dando a garantia que o produto tem inspeção federal e tem origem comprovada.[fim]

A prova documental materializada através de respostas às requisições de informações presta as seguintes informações sobre o mesmo quesito acima referida.

O Grupo ZAFFARI respondeu que não possui produtos derivados de carne suína e bovina com marca própria (REQUISIÇÃO DE INFORMAÇÕES N.° 883/2003). O CARREFOUR responde no mesmo sentido, que não possui marca própria para carnes. A SONAE respondeu à REQUISIÇÃO DE INFORMAÇÕES N.° 882/2003, nos seguintes termos:

"VIIII –

1 - A Sonae Distribuição Brasil S.A comercializa somente produto derivado de carne bovina (hambúrger bovino) marca própria.

2 - O conceito e a prática de MP é utilizado largamente em outros estados e Países e é operada também em outros formatos como atacados e farmácias. Inclusive, a participação destes artigos de vendas totais do varejo também é bem maior nestes países como Reino Unido 41%, Bélgica 36,4%; Alemanha 31%; França 24,3%, USA 14,7%, Argentina 7,8%, Colômbia 4,8% com grande tendência de crescimento na América Latina (fonte: ACNielsen Oitavo Estudo Anual MP/2002). No Brasil calcula-se em 1,7% a participação MP sobre o total venda do varejo.

3 - O objetivo da MP é agregar a melhor relação de valor para todos os envolvidos nas seguintes visões:

- Indústria: Otimiza escala de produção ociosa, reduz gastos com vendas, aumenta faturamento.

- Varejo: Fideliza clientes- Consumidor: Melhor relação Qualidade x Preço. Compra qualidade

no nível de marcas lideres com menor custo devido ao rigoroso controle de qualidade e ganhos de escala da indústria.

4 - Não prejudica porque há espaço para todos. Hoje existe uma quantidade de marcas com vários posicionamento mercadológicos. A MP apenas desenvolve o verdadeiro conceito de parceria entre a indústria e o varejo baseado nas necessidades dos consumidores de adquirir qualidade e segurança com a melhor customização de preços.

A prova testemunhal corrobora com as declarações acima prestadas. Nesse sentido, transcrevem-se os seguintes depoimentos:

REDE GUANABARA:

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – Fica difícil? Vocês possuem venda de produtos com marca do próprio supermercado?[fim]

O SR. LUIZ CARLOS DA SILVA CARVALHO – Não.[fim]

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – Algum projeto pra que isso seja implementado?[fim]

O SR. LUIZ CARLOS DA SILVA CARVALHO – Não.[fim]

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – Enxergam vantagem nesse tipo de...[fim]

O SR. LUIZ CARLOS DA SILVA CARVALHO – Particularmente não.[fim]

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – Por que não?[fim]

O SR. LUIZ CARLOS DA SILVA CARVALHO – Nós não temos volume pra isso. A marca própria foi difundida em função de botar preço na mercadoria. Colocar uma marca num produto nosso, pra daqui a uma semana ter um produto

de marca diferente, mais barato, seria uma depreciação da marca. Não me agrada particularmente.[fim]

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – Na visão do Senhor, não existe uma tendência pra que isso se encaminhe?[fim]

O SR. LUIZ CARLOS DA SILVA CARVALHO – Tem uma tendência. As redes grandes estão fazendo isso, e tende a aumentar.[fim]

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – Será que da mesma forma que iniciaram o extrapreço, corre-se o risco de que amanhã também as menores caiam nessa prática. O Senhor acredita nisso?[fim]

O SR. LUIZ CARLOS DA SILVA CARVALHO – Acho que não por causa do volume.[fim]

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – Do volume?[fim]

O SR. LUIZ CARLOS DA SILVA CARVALHO – Do volume.[fim]

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – Os fornecedores de marcas com renome, de marcas maiores, como é dito pelo consumidor, marcas tradicionais excluem, na visão dos Senhores, excluem supermercados menores, dando preferência a redes maiores. Não existe esse processo de exclusão, de preferência?[fim]

O SR. LUIZ CARLOS DA SILVA CARVALHO – É só no mercado de carne ou não?[fim]

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – Na questão da carne.[fim]

O SR. LUIZ CARLOS DA SILVA CARVALHO – Honestamente, desconheço porque temos pequenos açougues ou pequenas redes, todas elas trabalham com

carnes. Os preços são todos competitivos. Nunca ouvi falar que um supermercado pequeno, por menor que fosse, deixasse de comprar, a não ser com falta de capacidade financeira dele próprio.[fim]

REDE ZAFFARI:

O SR. CLAUDIO LUIZ ZAFFARI – Não tem muito sentido isso. Acho que uma empresa de comércio ela tem que dosar o processo dela, na medida em que tem que respeitar o consumidor. O consumidor não é um ente que a gente imagina solto, não. Ele é exigente. E exige da empresa local, como a nossa, uma postura contínua.[fim]

O consumidor todo dia nos liga, nos fala, das mais diversas lojas, ou através dos nossos Gerentes, ou através da nossa Central, falando das coisas, dos detalhes menores possíveis. O que interessa para eles é que nós, comerciantes tradicionais, tenhamos uma resposta a ele. Então, nos liga. Olha, é impressionante o tipo de situação a que nos leva: “Olha não tem a tal mercadoria”, “Não tem tal produto, porque que não tem?” Quer explicação sobre isso e nós temos, então, que responder ao nosso consumidor.[fim]

Então, é muito difícil que produtos normais, de comercialização, tenham uma retirada, um processo desses, porque quem perde é o consumidor. E perdendo o consumidor, ele começa a olhar a tua empresa, que é uma empresa de variedades...[fim]

Talvez esse seja um destaque que tenhamos que colocar, o diferencial da nossa empresa. Nós temos alguns tripés que não abrimos mãos. É um tripé nosso. Temos que trabalhar com um serviço, um atendimento acima dos outros, nossos concorrentes, temos que ter uma variedade de produtos também acima dos nossos concorrentes, e é muito fácil de verificar isso. Se chegar dentro de uma loja, ver a variedade de vinhos, a variedade de molhos, a variedade de temperos, a variedade de produtos que vendemos ao consumidor, sempre, em todas as seções de produtos alimentícios, nós temos muito mais produtos que os nossos

concorrentes.[fim]

Isso gera custos, mas gera oportunidade ao consumidor de escolher com mais democracia, com mais oportunidade própria de tomar a definição do que o nosso concorrente. Nós, praticamente, não trabalhamos com produtos próprios, marcas próprias. Temos três, quatro, cinco variedades de indústrias diferentes para o mesmo produto.[fim]

A gestão disso exige um custo, um cuidado, um trabalho muito grande da nossa equipe. Mas, de maneira nenhuma, o nosso consumidor não identifica isso aí. Ele identifica muito claramente. Ele vê que pode chegar em uma rede de supermercados e ter opção para comprar. Tem certas redes que têm uma marca e, às vezes, é própria. Isso é, sem dúvida, eu diria, um forçar de situação.[fim]

Não é o nosso caso. Nós não temos essa postura. Nós, normalmente, temos diversas oportunidades ao consumidor. E ele escolhe o que ele quer. Se ele quer o mais caro, o mais barato... porque o consumidor é soberano. Se ele quer comprar carne a 30, a 20, a dez, ele tem a escolha dele.[fim]

A REDE SONAE, através do seu representante Idenio Risso Belmonte Filho, deu detalhes mais precisos e transparentes sobre a prática de marca própria:

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – Vocês possuem produtos com marca própria?[fim]

O SR. IDENIO RISSO BELMONTE FILHO – Possuímos.[fim]

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – Quais são eles?[fim]

O SR. IDENIO RISSO BELMONTE FILHO – Temos um hambúrguer e as carnes Novilho Jovem Nacional e

BIG.[fim]

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – Qual a importância estratégica do mercado trabalhar com marcas próprias?[fim]

O SR. IDENIO RISSO BELMONTE FILHO – Para nós, no varejo, ela fideliza, né, o consumidor. Temos um controle maior e garantia de qualidade do produto. Para o consumidor, um benefício, uma relação mais justa de preço e qualidade, uma vez que ele está comprando produto de primeira linha, com preço inferior. Para a indústria, desenvolve, ocupa a escala de ociosidade.[fim]

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – São produzidos por vocês as marcas citadas?[fim]

O SR. IDENIO RISSO BELMONTE FILHO – O hambúrguer, não; as carnes sim.[fim]

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – É produzido por quem o hambúrguer?[fim]

O SR. IDENIO RISSO BELMONTE FILHO – O hambúrguer é produzido... eu não tenho certeza por quem é, não saberia lhe dizer. Acredito que é uma empresa de São Paulo.[fim]

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – Essa empresa fornece também produtos com marca própria?[fim]

O SR. IDENIO RISSO BELMONTE FILHO – Fornece.[fim]

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – E os preços do produto de vocês e o da empresa são os mesmos ao consumidor final?[fim]

O SR. IDENIO RISSO BELMONTE FILHO – Não saberia lhe informar.[fim]

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – Poderia, posteriormente, nos passar essa informação? Eu gostaria de saber a que preço essa empresa fornece o produto dela, qual o preço que ela cobra pelo produto com a marca de vocês e que valores vocês aplicam nos dois produtos ao consumidor.[fim]

Também quero saber se existem similares desses produtos, com outras marcas, de outras empresas, nas lojas de vocês, quais os valores pagos na aquisição e os cobrados do consumidor. Com esses dados, queremos calcular a margem de lucro bruto.[fim]

O SR. IDENIO RISSO BELMONTE FILHO – Perfeito.[fim]

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – Vocês adotam essa mesma sistemática em outros produtos, como arroz, óleos, enlatados, ou apenas nos derivados de carnes?[fim]

O SR. IDENIO RISSO BELMONTE FILHO – Nós temos marca própria em outros produtos, sim.[fim]

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – Quais são eles?[fim]

O SR. IDENIO RISSO BELMONTE FILHO – Temos em arroz, em produtos de higiene, temos em erva-mate...[fim]

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – Nessa área, tens algum dado?[fim]

O SR. IDENIO RISSO BELMONTE FILHO – Não tenho conhecimento.[fim]

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – A tendência é de que se aumente essa política de adoção de marcas próprias ou vocês acreditam que vai se manter ou diminuir?[fim]

O SR. IDENIO RISSO BELMONTE FILHO – No segmento de carne bovina, fica nesse estágio. Acredito que no de suínos, sim, a gente vai evoluir para trabalhar com embutidos e auto-serviço.[fim]

A controvérsia da "marca própria" é um ponto já enfrentado, incidentalmente, pelos órgãos de defesa da concorrência, na análise de um caso concreto de ato de concentração. Como se trata de documento reservado, ainda sem trânsito em julgado na esfera administrativa, há sigilo quanto às partes. Não será citado o número do processo administrativo, nem tampouco as partes envolvidas. Assim, transcreve-se a síntese dos fundamentos jurídicos contidos nesses processos, com as precauções acima referidas e adaptação, sem que seja alterado o sentido dos fundamentos de mérito da opinião técnica da SEAE/MF:

"A marca própria caracteriza os itens com o nome da própria rede varejista. Usualmente, tais itens conseguem ser ofertados por um preço inferior ao das marcas tradiconais. Isto ocorre pelo fato de que não há, por parte dos fabricante, gastos em desenvolvimento de novos produtos, gastos em publicidade, além de serem utilizadas embalagens com menor visual e menor custo.

Mesmo sendo ofertados a um preço mais baixo, os produtos de marca própria podem ser considerados de qualidade semelhante aos das marcas tradicionais, dado que as grandes indústrias cada vez mais trabalham esse tipo de produto, utilizando-se de sua capacidade ociosa. Quando não ofertados pelas grandes indústrias é usual que as marcas próprias sejam ofertadas por pequenos e médios fabricantes, cujos produtos passam pelo controle de qualidade das redes varejistas. A preocupação das redes varejistas com esse tipo de produto justifica-se pela seguinte razão: oferecê-los constitui um enorme diferencial em relação à concorrência, além de ser uma excelente oportunidade de torna leal/fidelizar os consumidores à bandeira da rede.

A referida opinião técnica da SEAE/MF faz referência que " a alegação da utilização de Marcas Próprias poder ser considerada uma eficiência específica.," e que todas as grandes redes varejistas e até diversas redes gaúchas, inclusive algumas com atuação somente no interior do Estado,

possuíam produtos com marca própria. Concluiu a SEAE/MF "que o crescimento de marca própria é uma tendência do varejo, aparentemente irreversível."

A ótica dedutiva da SEAE/MF e também da SDE/MF é justamente o bem-estar do consumidor. Assim, por essa ótica, a "marca própria" em si, não caracteriza conduta anticompetitiva, mesmo que a empresa exerça presumidamente domínio de mercado relevante de bens, pois não há prejuízo, mas benefício ao consumidor.

Pela ótica de análise adotada por essa CPI, que é a de bem-estar sistêmico de todos os agentes, o ponto da "marca própria" deve ser analisado no caso concreto, em cada produto específico, se a "marca própria" não se constitui em conduta anticompetitiva do varejo contra a indústria.

O presente Inquérito Parlamentar, no presente fato determinado, tem como objeto analisar as condutas anticompetitivas no mercado de fornecimento de carne verde de bovinos e suínos em carcaça beneficiada em cortes ou sob forma de industrializados. Há, portanto, um produto específico para ser analisado.

O varejo, seja o açougue tradicional ou a moderna loja de supermercado ou hipermercado, realiza a operação de aquisição de carne bovina em carcaça. O seu beneficiamento se dá em cortes, sem os quais o consumidor não tem como adquiri-los. Essa operação de segundo ciclo tem todas as características de beneficiamento industrial e, através dela, ocorre agregação de valor. Quando a carne estiver em corte ou retalho, seja embalada ou refrigerada em balcão, o referencial para o consumidor da qualidade do produto passa a ser a do varejo e não mais o da indústria.

Nesse caso, a "marca própria" perde o objeto de discussão, especialmente por que não há substituição da marca tradicional, pelo simples fato de que no Rio Grande do Sul a grande maioria da indústria de bovinos, cujo seu produto não é reconhecido como referência direta ao consumidor, por não ter marca de referência.

No Rio Grande do Sul a indústria bovina não tem tradição de agregar valor à carcaça ou corte primário, beneficiando-a em cortes embalados ou através de produtos industrializados. O tradicional hambúrguer em produção significativa em escala, com marca própria industrial, não é fabricado no Rio Grande do Sul. Esta CPI recebeu informações de que a SONAE contrata esse serviço de uma grande indústria localizada em São Paulo, para produção desse produto, com sua marca própria para distribuição em suas lojas.

CONCLUSÃO E APLICAÇÃO DA LEGISLAÇÃO DE DEFESA DA LIVRE CONCORRÊNCIA:

Não existe solução a curto prazo. A reestruturação de uma cadeia agroindustrial de alimentos exige tempo e grandes esforços. A pecuária bovina de corte do Rio Grande do Sul possui alguns diferenciais. É formada por plantéis de raças européias, especialmente britânicas, com melhor aceitação nos mercados do Primeiro Mundo e possui maior conversão de alimento em proteína do que as raças zebuínas. É um rebanho de boa qualidade zootécnica. Houve progressos nos últimos anos, como a redução da idade de abate do bovino. Há programas especiais que valorizam o animal, agregando valor ao produtor com o varejo, promovida hoje pelas três principais redes varejistas. A SONAE tem o Programa Novilho Jovem, a ZAFFARI o Programa Novilho Precoce.

Indústrias mais organizadas como o FRIGORÍFICO SILVA, começam a interagir melhor com as redes varejistas e a criar programas especiais com abate de bovinos mais jovens, portanto, de melhor qualidade. Neste sentido:

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – Não existe nenhum sistema que vincule o produtor ao frigorífico, ou já existe hoje algum artifício? Por exemplo, na suinocultura nós sabemos que tem a integração, o sistema integrado. No bovino, na empresa de vocês, não existe nenhuma forma de...[fim]

O SR. IVON DA SILVA JÚNIOR – Está-se começando um trabalho de animais superprecoces, com até 22 meses de idade. Esse aí nós estamos remunerando o produtor em torno de 3% no valor da carcaça. Está começando agora. Nós estamos trabalhando com supermercado, então nós começamos a comprar animais de até 18 meses, 18 a 22 meses, e damos uma remuneração melhor para o produtor.[fim]

O Frigorífico Silva começa a dar o rumo que a indústria, no setor, tem de tomar, que é o de agregar valor ao seu produto, a fim de aumentar a sua margem de lucro e é, conseqüentemente, também o do produtor rural.

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – E o preço de venda, boi casado?[fim]

O SR. IVON DA SILVA JÚNIOR – É, está em torno de 3,85 hoje, rês casada. É que não se vende rês casada mais, se fraciona o animal em trezentos pedaços.[fim]

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – Em peças.[fim]

O SR. IVON DA SILVA JÚNIOR – Em peças. Não só peças, a própria peça é subdividida em várias peças. Esse sistema de carcaça, que abatia e vendia a carcaça inteira, praticamente não existe mais.[fim]

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – Para a gente se situar, então a maior parte já vende picada.[fim]

O SR. IVON DA SILVA JÚNIOR – É, picada, com os nomes já, a vácuo, para...[fim]

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – Embalada.[fim]

O SR. IVON DA SILVA JÚNIOR – É, embalada, para pegar um valor melhor, né?[fim]

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – E sendo que é praticamente o produto final, não se agrega nenhum valor a não ser a margem de lucro do mercado, do varejo? No produto de vocês, grande parte dele já sai pronto, ideal para o consumo, ou ele ainda vai sofrer alguma industrialização, algum outro processo que vá agregar valor?[fim]

O SR. IVON DA SILVA JÚNIOR – Ah, em torno de 50% é direto ao consumidor; o resto tem que ter uma transformação na loja, no caso.[fim]

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – Por parte do açougue, do mercado.[fim]

O SR. IVON DA SILVA JÚNIOR – Do supermercado, é.[fim]

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – Aí seria para a carcaça, né?[fim]

O SR. IVON DA SILVA JÚNIOR – Seria assim: cortes como picanha, maminha, que já pode embalar direto ao consumidor, sim. Costela, que é uma parte com osso, que

algum consumidor quer mais larga ou mais estreita a ripa, então seria feito esse produto só no supermercado.[fim]

Um bovino é criado, em parte, com insumos e medicamentos cotados em dólar. Se não total, parte do custo de produção é em dólar. Entretanto, o produto é vendido em real. Se os Estados de São Paulo e a Região Centro-Oeste hoje estão remunerando melhor o produtor rural é por que estão exportando. O produto passa a ser em cotado em dólar. No Rio Grande do Sul, somente as unidades industriais da EMPRESA MERCOSUL é que estão habilitadas para exportar. O exemplo dessa Empresa deve ser seguido por outras.

Para finalizar, o problema da indústria de produtos bovinos é mercadológico. Precisa-se readequar as novas contingências do mercado interno e externo, e isso passa por iniciativas e ações conjugadas entre o Governo e a iniciativa privada, envolvendo todos os elos da Cadeia Agroindustrial da Bovinocultura de Corte.

RELAÇÃO ECONÔMICA ENTRE A INDÚSTRIA E O GRANDE VAREJO, NA CADEIA AGROINDUSTRIAL DA SUINOCULTURA, NO RIO GRANDE DO SUL:

OBJETO E FINS DA ANÁLISE:

No presente item, que trata da relação econômica entre a indústria e o grande varejo, o objeto da análise dos fatos é averiguar se, na operação de fornecimento de carne bovina e suína e seus derivados e industrializados realizada entre a indústria de produtos suínos e o grande varejo, há indícios de infração à ordem econômica, mediante domínio de mercado relevante, por ato de concentração econômica e de práticas anticompetitivas.

O fim desta análise é o de apurar a existência da (1) materialidade de infração à ordem econômica e os; (2) indícios de autoria.

ETAPA 02: DEFINIÇÃO DO MERCADO RELEVANTE

INTRODUÇÃO CONCEITUAL

A definição de um mercado relevante é o processo de identificação do conjunto de agentes econômicos que, efetivamente, limitam as decisões referentes aos preços e quantidades dos fatos analisados. O mercado relevante é determinado em termos de produtos e/ou serviços que o compõem e da área geográfica. No primeiro caso, a delimitação do mercado relevante diz respeito ao conjunto de produtos que são considerados suficientemente próximos, para que as decisões de escolha do consumidor sejam influenciadas por seus respectivos preços e atributos de qualidade. No segundo caso, deve-se observar o espaço territorial para o qual a venda desses produtos é economicamente viável.

O instrumento analítico do “teste do monopolista hipotético”, para a determinação do mercado relevante de bens e serviços, previsto na PORTARIA CONJUNTA SEAE/SDE N.º 50, de 01/08/2000, é, conforme transcrição a seguir:

30. Procedimento. O teste do “monopolista hipotético” consiste em se considerar, para um conjunto de produtos e área específicos, começando com os bens produzidos e vendidos pelas empresas participantes da operação, e com a extensão territorial em que estas empresas atuam, qual seria o resultado final de um “pequeno porém significativo e não transitório” aumento dos preços para um suposto monopolista destes bens nesta área. Se o resultado for tal que o suposto monopolista não considere o aumento de preços rentável, então a SEAE e a SDE acrescentarão à definição original de mercado relevante o produto que for o mais próximo substituto do produto da

nova empresa criada e a região de onde provém a produção que for a melhor substituta da produção da empresa em questão. Esse exercício deve ser repetido sucessivamente até que seja identificado um grupo de produtos e um conjunto de localidades para os quais seja economicamente interessante, para um suposto monopolista, impor um “pequeno porém significativo e não transitório aumento” dos preços. O primeiro grupo de produtos e localidades identificado segundo este procedimento será o menor grupo de produtos e localidades necessário para que um suposto monopolista esteja em condições de impor um “pequeno porém significativo e não transitório” aumento dos preços, sendo este o mercado relevante delimitado. Em outras palavras, "o mercado relevante se constituirá do menor espaço econômico no qual seja factível a uma empresa, atuando de forma isolada, ou a um grupo de empresas, agindo de forma coordenada, exercer o poder de mercado."

IDENTIFICAÇÃO DA DIMENSÃO DO PRODUTO, BEM COMO DA DIMENSÃO GEOGRÁFICA, NA CADEIA AGROINDUSTRIAL DA SUINOCULTURA:

A identificação do produto ou produtos que compõem o mercado relevante, são os conjuntos de produtos decorrentes do abate de animais e sua transformação em (1) carcaça de suínos, pela indústria e o seu beneficiamento em (2) cortes "in natura"e (3) produtos industrializados com valor agregado”. Não há nessa relação econômica como substituir esses produtos por outros. Esses são o resultado da atividade-fim da indústria de produtos suínos que fornecem, no seu primeiro ciclo, a carcaça e, no segundo ciclo, os cortes "in natura" e produtos industrializados com valor agregado. Portanto, o fornecedor do produto é a indústria de produtos suínos localizada no território do Rio Grande do Sul.

A área geográfica é o território do Rio Grande do Sul, onde se localizam as unidades industriais. Essas têm como mercado potencial todas as lojas do varejo localizadas no Estado, que comercializam produtos suínos. Podem comercializar seus produtos em todo o território do Estado, ou, mesmo fora dele e até no Exterior. Essa definição da área geográfica também se deve ao critério de incidência do ICMS para a carne suína nas operações internas.

Em suma, este Inquérito Parlamentar na definição do MERCADO RELEVANTE, fixa como dimensão dos produtos o MERCADO DE FORNECIMENTO DE CARNE DE SUÍNOS EM (1) CARCAÇA OU ESTA BENEFICIADA EM (2) CORTES "IN NATURA"OU SOB FORMA DE (3) PRODUTO INDUSTRIALIZADO COM VALOR AGREGADO, e como dimensão geográfica, o TERRITÓRIO DO RIO GRANDE DO SUL.

ETAPA 03: - EXAME DE PROBABILIDADE DE EXERCÍCIO DE PODER DE MERCADO POR ATO DE CONCENTRAÇÃO ECONÔMICA :

INTRODUÇÃO

O controle de uma parcela substancial de mercado é condição necessária, mas não suficiente para que a empresa exerça o poder de mercado. É preciso determinar se existem condições suficientes para que o poder de mercado seja exercido unilateralmente pelo agente econômico, ou coordenadamente, por um grupo de empresas.

A Portaria Conjunta SEAE/SDE n° 50, de 01/08/2001 estabelece no item 39 do Guia para Análise Econômica de Atos de Concentração Horizontal, as regras para exame da probabilidade do exercício de poder de mercado:

39. O Fato de uma concentração envolver uma parcela de mercado suficientemente alta não implica necessariamente que a nova empresa formada exercerá de forma unilateral seu poder de mercado, ou que as empresas coordenarão suas decisões. Nesta seção são apresentados os fatos que determinaram se o exercício de poder de polícia é provável.

IDENTIFICAÇÃO DAS EMPRESAS QUE EXERCEM PRESUMIDAMENTE DOMÍNIO DE MERCADO:

Para análise dos aspectos concorrenciais, utilizou-se o critério de faturamento bruto anual acima de R$ 400.000.000,00 (quatrocentos milhões de reais), conforme definição dada pelo parágrafo 3° do artigo 54 da Lei Federal n.° 8.884/94, para estimativa de participação de mercados das principais empresas da indústria de produtos suínos e do grande varejo na cadeia agroindustrial da suinocultura que atuam no mercado geográfico do Rio Grande do Sul.

Na indústria de produtos suínos, são as seguintes empresas que podem ser enquadradas pelo critério de faturamento: (1) FRANGOSUL, com faturamento bruto anual de aproximadamente um bilhão e quatrocentos milhões de reais; (2) AVIPAL, com um faturamento bruto anual de aproximadamente um bilhão e duzentos milhões de reais por ano; (3) SADIA, com faturamento bruto anual em 2002 de R$ 3.341.709.000,00; (4) PERDIGÃO, em 2002 teve um faturamento bruto de três bilhões 341 milhões e 700 mil reais.

No grande varejo, por esse critério de faturamento, foram definidas as três maiores redes de supermercados e hipermercados no Estado. A SONAE, é a primeira do RANKING da AGAS e teve um faturamento anual bruto em 2002 de R$ 3.341.980.090,00. O Grupo ZAFFARI, segunda colocada, teve um faturamento bruto anual em 2002 de R$ 1.040.111.505,00. O CARREFOUR, em que pese não ser associado à AGAS, teve um faturamento bruto anual em 2002 de R$`475.000.000,00 nas cinco lojas gaúchas.

Contudo, o critério de faturamento global, onde são computados todos os produtos comercializados, deve ser especificado para o critério de faturamento percentual representado pelos produtos suínos para coadunar com objeto do presente Inquérito Parlamentar.

Começando pela maior rede do ranking gaúcho: a SONAE. Em relação ao faturamento anual bruto em 2002, que foi de R$ 3.341.980.090,00, a carne suína representou percentualmente 3%: R$ 100.259.402,70. Nesses números, estão incluídos o agregamento de valor pelo beneficiamento pelo segundo ciclo.

O mercado formal de carne bovina no Rio Grande do Sul foi de 1,8 bilhão de reais (1,6% do PIB/RS em 2002). Os valores da SONAE representariam 5,5% do mercado relevante de fornecimento de carne suína e seus derivados no território do Rio Grande do Sul.

Por qualquer um dos números, levando em consideração somente os produtos de carne suína, essa Empresa Varejista não se enquadra pelo critério de faturamento como ato de concentração econômica, em conformidade com o parágrafo 3° do artigo 54 da Lei Federal n.° 8.884/94.

A Rede ZAFFARI é a segunda do ranking no Rio Grande do Sul, com faturamento bruto anual de R$ 1.040.111.505,00 no exercício de 2002. Não tem indústria própria, como a sua concorrente SONAE. A carne suína e seus derivados representa aproximadamente 10% do valor desse faturamento, conforme declaração prestada pelo representante desta Empresa:

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – Está, antes de nós continuarmos nesse raciocínio. Quanto que representa do faturamento a participação da carne bovina e suína na Companhia?[fim]

O SR. CLAUDIO LUIZ ZAFFARI – Eu diria que a carne bovina, no faturamento total, varia de 5 a 6% no total.[fim]

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – E a suína?[fim]

O SR. CLAUDIO LUIZ ZAFFARI – Zero seis, zero sete. Agora, só que nós não podemos falar do suíno dessa forma. Porque suíno, como eu lhe falei, bovino é tudo. Agora, suíno não é, suíno nós temos que pensar em todo o restante da cadeia de suíno, que é carne suína também.[fim]

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – Os derivados.[fim]

O SR. CLAUDIO LUIZ ZAFFARI – Presunto, salchicha, lingüiça.[fim]

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – E se nós incluíssemos esses?[fim]

O SR. CLAUDIO LUIZ ZAFFARI – Olha, eu acho que aí a coisa complica um pouco. Talvez vai em torno de 10%, porque aí tu entras com presuntaria.[fim]

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – Dez por cento?[fim]

O SR. CLAUDIO LUIZ ZAFFARI – Da venda total.[fim]

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – Total.[fim]

O SR. CLAUDIO LUIZ ZAFFARI – Talvez chegue a isso, porque aí tu entras em toda a cadeia. No enlatado tem suíno também.[fim]

Isto em valores representaria R$ 104.011.150,00.

O mercado formal de carne suína no Rio Grande do Sul é de 1,8 bilhão de reais (1,6% do PIB/RS em 2002). Esses valores da ZAFFARI representariam 5,8% do mercado relevante de fornecimento carne suína e seus derivados no território do Rio Grande do Sul.

Por qualquer um dos números, levando-se em consideração somente os produtos de carne suína, A REDE ZAFFARI não se enquadra pelo critério de faturamento como ato de concentração econômica, em conformidade com o parágrafo 3° do artigo 54 da Lei Federal n.° 8.884/94.

Por último, será analisada a REDE CARREFOUR, que teve um faturamento bruto anual em 2002 de R$ 475.000.000,00 nas cinco lojas

gaúchas. A participação da carne suína no faturamento foi informada em depoimento pelo representante legal da Empresa:

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – Qual é a participação, o percentual do faturamento que representa o comércio de carne bovina e suína referente ao Estado, ao Rio Grande do Sul, no mercado regional. Quanto que representa o faturamento destes dois segmentos? Quando digo a carne, claro que estou colocando aqui junto os seus derivados. Não estou deixando somente a carne in natura. Quanto que representa do total do faturamento da empresa? O Senhor teria condições de responder isso?[fim]

O SR. ARNALDO JOHANNES JOSEF EIJSINK – Eu tenho condições de responder, porque eu mexo mais com a parte de perecíveis do que a parte mais fresca digamos assim. Os embutidos já está fora deste cálculo.[fim]

As carnes frescas bovinas e suínas representa ao redor de quatro por cento do faturamento. Participa em quatro por cento da venda total de uma loja. Na média quatro por cento.[fim]

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – Isto fazendo uma análise?[fim]

O SR. ARNALDO JOHANNES JOSEF EIJSINK – Anual, sim.[fim]

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – Mas por loja. Pode variar ...[fim]

O SR. ARNALDO JOHANNES JOSEF EIJSINK – Pode variar loja por loja. Vamos dizer a loja Caxias tem uma participação, o açougue tem uma participação menor do que a loja Porto Alegre.[fim]

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – A nossa média no Estado seria ...[fim]

O SR. ARNALDO JOHANNES JOSEF EIJSINK –

Quatro por cento.[fim]

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – Quatro por cento. Desses 4%, dessa participação, quanto é suíno?[fim]

O SR. ARNALDO JOHANNES JOSEF EIJSINK – Na ordem de 30%.[fim]

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – Então, desses 4%, pouco mais de um ...[fim]

O SR. ARNALDO JOHANNES JOSEF EIJSINK – Pouco menos de 30% é carne suína. O forte é carne bovina.[fim]

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – Entrando ... Considerando, no caso da suína, embutidos?[fim]

Em números, esse percentual representa o valor de R$ 19.000.000,00. Desse total, 30% é de carne suína e seus derivados, o que significa R$ 5.700.000,00.

O mercado formal de carne suína no Rio Grande do Sul é de 1,8 bilhão de reais (1,6% do PIB/RS em 2002). Esses valores do GRUPO CARREFOUR representariam 0,32% do mercado relevante de fornecimento de carne verde de suínos, em carcaça, para ser beneficiada em cortes ou sob a forma de industrializados, no território do Rio Grande do Sul.

Por qualquer um dos números, levando em consideração somente aos produtos de carne suína, O GRUPO CARREFOUR também não se enquadra pelo critério de faturamento como ato de concentração econômica, em conformidade com o parágrafo 3° do artigo 54 da Lei Federal n.° 8.884/94.

AVALIAÇÃO DAS CONDUTAS ANTICONCORRENCIAIS:

DEFINIÇÃO CONCEITUAL:

No presente item serão analisadas, segundo a prova existente nos autos do presente Inquérito Parlamentar, as condutas que constituem infração da ordem econômica, por práticas anticoncorrenciais.

A Lei Federal n.° 8.884, de 11/06/1994, que dispõe sobre a prevenção e a repressão às infrações contra a ordem econômica, em seu artigo 20, estabelece as seguintes regras de direito sobre a definição jurídica de quando os atos, sob qualquer forma manifestados, que tenham por objeto ou possa produzir o efeito de limitar, ou de qualquer forma prejudicar a livre concorrência ou a livre iniciativa:

Art. 20. Constituem infração da ordem econômica, independente de culpa, os atos sob qualquer forma manifestados, que tenham por objeto ou possam produzir os seguintes efeitos, ainda que não sejam alcançados:

I – limitar, falsear ou de qualquer modo prejudicar a livre concorrência ou a livre iniciativa;.

Os atos, sob qualquer forma manifestados, independente de culpa que tenham por objeto ou possam produzir os efeitos que configuram as hipóteses das regras contidas nos incisos do artigo 20 da Lei Federal n.° 8.884/94, caracterizam infração da ordem econômica tipificadas no artigo 21 do mesmo Diploma Legal.

O Glossário Básico da Defesa da Concorrência do Ministério da Fazenda define conceitualmente o que são condutas anticompetitivas:

"REPRESSÃO A CONDUTAS ANTICOMPETITIVAS: Uma das vertentes de atuação do SBDC. Consiste na apuração de condutas nocivas à concorrência levadas a cabo por empresas que detêm poder sobre determinado mercado, das quais são exemplo a prática de cartel, a prática de preços predatórios, as vendas casadas, os acordos de exclusividade, a discriminação de preços, a fixação de preços de revenda e as restrições territoriais. Para promover a apuração dessas condutas e conforme o caso, a SEAE pode realizar PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO destinado a instruir representação a ser encaminhada à SDE, enquanto a SDE pode promover AVERIGUAÇÃO PRELIMINAR ou instaurar diretamente PROCESSO ADMINISTRATIVO. O CADE julga, então, com base nas opiniões da SEAE e da SDE se houve configuração de infração à ordem econômica. Na análise de condutas anticompetitivas, a manifestação da SEAE é facultativa. Ver artigos 20 2 21 da Lei n.° 8.884/94 e Lei n.° 10.149/00."

Assim, serão analisadas no presente item as condutas anticoncorrenciais que caracterizam, em tese, enquadramento como infração da ordem econômica tipificada no artigo 21 da Lei Federal n.° 8.884/94, que foram noticiadas no curso da instrução do presente Inquérito Parlamentar.

FIXAÇÃO DO PREÇO COMO PONTO CONTROVERTIDO:

Na relação econômica entre a indústria e o grande varejo, o ponto controvertido do conflito de interesse na cadeia agroindustrial da suinocultura é quem tem o poder de mercado para fixar unilateralmente o preço.

Fixam-se, portanto, como ponto controvertido, as seguintes dúvidas a serem solucionadas: (1°) se o preço é imposto ou negociado entre as partes; (2°) se imposto, quem tem poder dominante de mercado para fixar o preço unilateralmente.

IDENTIFICAÇÃO DOS ATOS QUE, EM TESE, REPRESENTAM CONDUTAS ANTICOMPETITIVAS SEGUNDO A PROVA COLETADA:

MARK-UP PRATICADO PELO GRANDE VAREJO:

Se há uma certeza na cadeia agroindustrial da suinocultura é a de que, na relação econômica entre o produtor rural e a indústria é essa última, direta ou indiretamente, quem estabelece o preço. Contudo, nas demais relações econômicas, conforme acima exposto, entre a indústria e o grande varejo, certeza não há. Enquanto a indústria alega que não pode pagar um preço mais justo ao produtor rural, pois o preço de seus produtos é imposto pelo varejo, este declara em sua defesa que o preço praticado é negociado e não imposto, e que não é a culpada pelos problemas que a indústria atravessa.

Na controvertida relação econômica entre a indústria e o comércio, surge outra dúvida, além da dúvida se o preço é negociado ou imposto, que é o MARK-UP. O estudo foi realizado pelos Economistas Valmor Marchetti e Fátima Behncker Jerônimo, a pedido do Sindicato da Indústria de Produtos Suínos no Estado do Rio Grande do Sul– SIPS - MARK-UP PRATICADO PELA DISTRIBUIÇÃO EM CARNES E PRODUTO DE ORIGEM SUÍNA EM PORTO ALEGRE, editado em setembro de 2002 – que faz parte deste Inquérito como LAUDO TÉCNICO, portanto, equiparado como prova pericial.

O Estudo MARK-UP PRATICADO PELA DISTRIBUIÇÃO EM CARNES E PRODUTOS DE ORIGEM SUÍNA EM PORTO ALEGRE foi recebido por esta CPI como notícia de infração da ordem econômica, até por que foi o único trabalho realizado em parâmetros técnicos apontando distorções nos preços,

que se propõe a analisar distorções na formação do preço numa cadeia agroindustrial de alimentos.

Esta CPI destaca que a circunstância de admitir o referido estudo como laudo técnico é apenas para efeitos de direito processual, no sentido de sua admissibilidade como meio de prova dos seus noticiantes quanto às alegações que apresentaram. A admissibilidade processual não significa, pelo menos no presente momento, emissão de um juízo de mérito quanto à veracidade do conteúdo de fundo das citadas conclusões deste estudo. Este será cotejado e sobrepesado no conjunto da prova coletada aos autos, quando for devidamente comparada com outros elementos de prova, para esta CPI firmar seu elemento de convicção sobre os fatos investigados.

Estudo como este apresentado pelo SIPS é admitido por esta CPI, para efeito de raciocínio jurídico, num processo dialético - tese, antítese e síntese - como tese. Por maior que seja a autoridade acadêmica de seus realizadores e o respeito que o SIPS, seu apresentador possui, sobre o qual os membros desta CPI nunca colocaram em nenhum momento dúvida sobre a autoridade intelectual e a boa-fé, o referido LAUDO TÉCNICO, possui valor relativo como prova. Esse valor é relativo: Primeiro, por uma questão essencial no Estado de Direito: trata-se de um estudo unilateral. Sua produção não passou pelo crivo do contraditório e da ampla defesa. Não foi o mesmo elaborado oportunizando a defesa do grande varejo, quem teve de suportar o ônus das suas conclusões. Segundo, nenhuma prova, por maior que seja a autoridade de quem a subscreve, tem valor absoluto, por si só. Trata-se, sem sombra de dúvida, de um estudo sério, tecnicamente bem elaborado e de grande valia para esta CPI. Entretanto, na questão de mérito, suas conclusões terão de ser avaliadas e pesadas no contexto da prova coleta e não isoladamente. No presente item, as conclusões do estudo – tese – serão confrontadas com a defesa do varejo – antítese. Com isso, deverá surgir a síntese, que serão as conclusões desta CPI, geradas pelo cotejo e valoração da prova no contexto de todas as provas coletadas.

Contudo, por ora, as conclusões do presente estudo serão transcritas com o objetivo de mostrar a tese apresentada pelo SIPS, a fim de se definir o ponto controvertido, cujo mérito será melhor analisado oportunamente:

"MARK-UP TOTAL E MARGEM BRUTA

CONCLUSÕES

Em resumo aos cálculos da Seção anterior, a Tabela 3.1 apresenta a médias dos preços e do mark-up direto do período a que se referem as informações (setembro/99 a Julho/02), apurando-se o seguinte percentual de mark-up médio para aquele período:

Para carnes suínas: Máximo: 55,9% (Lombinho)Mínimo: 41,7% (Pernil sem osso)Média: 48,6%

Para embutidos de suínos:Máximo: 79,2% (Presunto Magro)Mínimo: 60,9% (Salsichas soltas)Média: 69,4%

Para outros produtos suínos:

Média: 92,3%

Tabela 3.1. Preços médios pagos pelos consumidores, preços médios de venda das Agroindústrias e mark-up direto (média do período Setembro/99 – Julho/02)

Grupos /Produtos

Preços médios pagos pelos consumidores

( R$ )

Preços médios de venda das Agroindústrias

( R$ )

Mark-upDireto

A) Carnes:Costela suína 5,33 3,46 54,0%Pernil suíno sem osso

4,74 3,34 41,7%

Paleta sem osso de suíno

5,06 3,55 42,6%

Lombinho suíno 7,08 4,54 55,9%MÉDIA 5,55 3,72 48,6%B) Embutidos:Mortadela 2,85 1,73 64,6%Salsichas soltas 2,17 1,35 60,9%Presunto magro 8,05 4,11 79,2%Presunto gordo 7,59 4,44 70,9%Salsichão 3,89 2,33 66,5%MÉDIA 4,91 2,79 69,4%C) Outros produtos:Banha 2,39 1,24 92,8%Costela defumada 11,31 5,90 91,8%MÉDIA - - 92,3%

Observa-se, nitidamente, que os produtos embutidos apresentam mark-up mais elevados que as carnes, e que para os outros produtos, o percentual de aumento é ainda maior do que os embutidos.

Dado existir benefícios extrapreços em favor dos Supermercados, como foi mencionado (rapel, enxoval, taxas sob diversas denominações, etc.), o percentual de mark-up

deverá ser ajustado para levar em conta também esses benefícios. Os cálculos realizados estão apresentados na Tabela 3.2, computando, assim, o mark-up total, bem como a margem bruta de ganho.

Cabe ressaltar que o percentual de benefícios extrapreços utilizado foi de 18%, que é o percentual mais baixo do intervalo de 18% a 22%, mencionado na Seção 1.3.

Tabela 3.2. Preços médios pagos pelos consumidores, preços médios de venda das Agroindústrias, mark-up total e margem bruta (média do período Setembro/99 – Julho/02)

Grupos /Produtos

Preços médios pagos pelos

consumidores

Preços médios de venda das Agroindústrias

Preços médios líquidos pagos

pelos Supermercados

MMark-up

TotalMargem Bruta de Ganho

(1) (2) (3) (4) (5)A) Carnes:Costela suína 5,33 3,46 2,837 87,9% 46,8%Pernil suíno s/osso 4,74 3,34 2,739 73,1% 42,2%Paleta s/osso suína 5,06 3,55 2,911 73,8% 42,5%Lombinho suíno 7,08 4,54 3,723 90,2% 47,4%MÉDIA 5,55 3,72 3,052 81,8% 45,0%B) Embutidos:Mortadela 2,85 1,73 1,419 100,9% 50,2%Salsichas soltas 2,17 1,35 1,107 96,0% 49,0%Presunto magro 8,05 4,11 3,370 138,9% 58,1%Presunto gordo 7,59 4,44 3,641 108,5% 52,0%Salsichão 3,89 2,33 1,911 103,6% 50,9%MÉDIA 4,91 2,79 2,289 114,5% 53,4%C) Outros produtos:Banha 2,39 1,24 1,017 135,1% 57,5%Costela defumada 11,31 5,90 4,838 133,8% 57,2%MÉDIA - - - 134,4% 57,3%Notas:(1) Preços médios pagos pelos consumidores conforme levantamento de preços do IEPE/UFRGS (apresentados na Seção 2 deste trabalho).(2) Preços médios de venda das Agroindústrias (apresentado na Seção 2 deste trabalho).(3) Preços médios líquidos pagos pelos Supermercados: equivale ao preço médio de venda das Agroindústrias ajustado pelo percentual de benefícios extrapreços (rapel, enxoval, etc.), que é de 18%.(4) Mark-up total: Percentual de acréscimo entre preços médios líquidos pagos pelos Supermercados e preços médios pagos pelos consumidores.(5) Margem bruta de ganho: Corresponde ao percentual de ganho bruto do Supermercado, calculado pela razão entre o ganho bruto [diferença entre os preços (1) e preços (3)] e o preço pago pelos consumidores (1).

Após esses ajustes, o mark-up total passa a ser [coluna (4) da Tabela 3.2]:

Para carnes suínas: Máximo: 90,2% (Lombinho)Mínimo: 73,1% (Pernil sem osso)Média: 81,8%%

Para embutidos de suínos:Máximo: 138,9% (Presunto Magro)Mínimo: 96,0% (Salsichas soltas)Média: 114,5%

Para outros produtos suínos:

Média: 134,4%

Os Gráficos 3.1 e 3.2 permitem visualizar os percentuais de mark-up total para os dois primeiros grupos (carnes e embutidos).

Gráfico 3.1. Mark-up total de produtos de carne suína (média do período Setembro/99 – Julho/02).

Gráfico 3.2. Mark-up total de produtos de embutidos de suínos (média do período Setembro/99 – Julho/02).

0,0%20,0%40,0%60,0%80,0%

100,0%120,0%140,0%160,0%

Mortadela Salsichassoltas

Presuntomagro

Presuntogordo

Salsichão MÉDIA

Outra forma de examinar a questão é através da margem bruta de ganho dos estabelecimentos de distribuição. Os cálculos da margem bruta estão apresentados na coluna (5) da Tabela 3.2, gerando os seguintes percentuais:1

Para carnes suínas: Máximo: 47,4% (Lombinho)Mínimo: 42,2%% (Pernil sem osso)Média: 45,0%

Para embutidos de suínos:2

Máximo: 58,1% (Presunto Magro) Mínimo: 49,0% (Salsichas soltas)Média: 53,4%

Para outros produtos suínos: Média: 57,3%

Finalizando, isso significa que, em média, o ganho da distribuição (margem bruta) é de 45% do preço pago pelos consumidores de carnes suínas, de 53,4% do preço pago

1 Estes percentuais de margem bruta de ganho já consideram os benefícios extrapreços em favor dos estabelecimentos de distribuição.2O percentual mais elevado de margem bruta em Presunto Magro e Presunto Gordo, em relação aos demais produtos deste grupo de Embutidos, pode dever-se a custos adicionais que incorrem os Supermercados para fatiá-los (custos de mão-de-obra, energia e depreciação de equipamento).

pelos consumidores de embutidos e de 57,3% dos preços pagos pelos consumidores de outros produtos.

Os números apurados confirmam que o setor de distribuição efetivamente está se beneficiando com a uma parcela significativa do preço pago pelos consumidores de carnes e produtos de origem suína. Em Carnes, em cada R$ 10,00 de compra dos consumidores, R$ 4,50 é a remuneração (margem) do Supermercado e R$ 5,50 a remuneração dos demais elos de produção (Agroindústria e produtores, principalmente). No caso de Embutidos, em cada R$ 10,00 de compra dos consumidores, R$ 5,34 é a remuneração do Supermercado e R$ 4,66 a remuneração dos demais elos (idéia contida nos Gráficos 3.3 e 3.4, da página seguinte).

Gráfico 3.3. Distribuição do valor pago pelos consumidores de produtos de carne suína, entre o Supermercado e os demais elos de produção – cálculos para R$ 10,00 de gasto (média do período Setembro/99 – Julho/02).

-1,002,003,004,005,006,007,008,009,00

10,00

Costela suína Pernil suíno Paleta suína Lombinho suíno MÉDIA

Parcela dos Supermercados Parcela dos demais elos

Gráfico 3.4. Distribuição do valor pago pelos consumidores em produtos de embutidos de suíno, entre o Supermercado e os demais elos de produção – cálculos para R$ 10,00 de gasto (média do período Setembro/99 – Julho/02).

-

1,00

2,00

3,00

4,00

5,00

6,00

7,00

8,00

9,00

10,00

Mortadela Salsichas solt as P resunto m agro P resunto gordo Salsichão MÉDIA

Parcela dos Supermercados Parcela dos demais elos

Além das margens elevadas da distribuição, a atividade enfrenta um problema adicional, que é a dificuldade em manter os preços dos produtos. Esta constatação pode ser tida observando-se as informações contidas na Tabela 3.3, que apresenta os preços em Reais e em Dólares, de Julho/1994 e Julho/2002, para um grande número de produtos de origem suína. A constatação geral observada naquela tabela é que todos os produtos de origem suína listados tiveram no período mencionado, preços em Dólares inferiores em Julho/2002 em relação aos preços praticados no início do Plano Real, em Julho/1994.

Tabela 3.3. Comparativo entre os preços de julho/94 e Julho/02, em reais e dólares, de carnes e produtos suínos.

Produtos

Preços emJulho/1994

Preços em Julho/2002 Variação %

R$ US$Bolsa

S.PauloBolsa

R. JaneiroMédia

R$MédiaUS$

R$ US$

Carcaça Exportação 1,80 1,80 2,05 2,15 2,10 0,74 16,7% -59,0%

Carré Congelado 2,60 2,60 3,70 3,60 3,65 1,28 40,4% -50,7%

Costela Congelada 2,50 2,50 3,60 3,60 3,60 1,27 44,0% -49,4%

Copa Lombo 1 a 1 2,20 2,20 3,30 3,20 3,25 1,14 47,7% -48,1%

Copa Lombo Ind. 2,10 2,10 3,00 3,00 1,05 42,9% -49,8%

Filé Extra 2,90 2,90 3,70 3,70 3,70 1,30 27,6% -55,2%

Lombo Cong. Extra 4,00 4,00 4,80 4,80 4,80 1,69 20,0% -57,8%

Pernil c/ Osso Ind. 2,50 2,50 2,40 2,30 2,35 0,83 -6,0% -67,0%

Pernil Especial 2,80 2,80 3,20 3,50 3,35 1,18 19,6% -58,0%

Paleta Desossada 2,20 2,20 2,40 2,20 2,30 0,81 4,5% -63,3%

Papada 1,00 1,00 1,20 1,20 1,20 0,42 20,0% -57,8%

Toucinho 0,90 0,90 0,90 0,80 0,85 0,30 -5,6% -66,8%

Toucinho de Lombo 1,40 1,40 1,10 1,10 1,10 0,39 -21,4% -72,4%

Barriga Cong. s/ Cost. 1,50 1,50 2,40 2,30 2,35 0,83 56,7% -44,9%Barriga Cong. c/ Cost. 1,80 1,80 3,80 2,70 3,25 1,14 80,6% -36,5%

Retalho Magro 1,70 1,70 2,10 2,00 2,05 0,72 20,6% -57,6%

Retalho Gordo 1,50 1,50 1,30 1,40 1,35 0,47 -10,0% -68,4%

Banha 1,30 1,30 1,20 1,20 1,20 0,42 -7,7% -67,6%

Bacon em Mantas 4,50 4,50 5,80 5,70 5,75 2,02 27,8% -55,1%Barriga Def. s/ Costela 3,70 3,70 3,50 3,80 3,65 1,28 -1,4% -65,3%Carne Salgada de Pernil 3,10 3,10 3,80 3,80 1,34 22,6% -56,9%Carne Salgada de Paleta 3,10 3,10 3,70 3,70 1,30 19,4% -58,1%

Costela Salgada 3,00 3,00 3,80 3,80 1,34 26,7% -55,5%

Couro Comestível 1,00 1,00 1,10 0,80 0,95 0,33 -5,0% -66,6%

Língua Salgada 3,00 3,00 2,70 2,70 0,95 -10,0% -68,4%

Orelha Salgada 1,50 1,50 2,00 1,80 1,90 0,67 26,7% -55,5%

Pés Salgados 1,50 1,50 2,10 2,00 2,05 0,72 36,7% -52,0%

Rabo Salgado 4,00 4,00 3,10 3,30 3,20 1,12 -20,0% -71,9%

Toucinho Salgado 1,20 1,20 1,30 1,30 0,46 8,3% -61,9%

Salame Tp. Ital. 6,80 6,80 9,50 10,50 10,00 3,51 47,1% -48,3%

Copa Curada 7,10 7,10 11,00 11,00 3,87 54,9% -45,6%

Salaminho 6,40 6,40 9,50 9,50 3,34 48,4% -47,8%

Presunto Gordo 5,00 5,00 4,30 4,60 4,45 1,56 -11,0% -68,7%

Média 2,78 2,78 - - 3,43 1,21 23,6% -56,6%Fonte: SIPS/RS, Bolsa de Mercadoria de São Paulo e Bolsa de Mercadorias do Rio de Janeiro.Notas: 1) Preços de julho/2002 referem-se ao dia 15.2) Cotação do dólar em julho/94: R$ 1,00/US$. Cotação em 15/julho/2002: R$ 2,8455/US$.

O preço médio nominal em Reais, do conjunto de produtos da Tabela 3.3, elevou-se em 23,6% no período entre Julho/94 e Julho/02. Porquanto a taxa de câmbio passou, no mesmo período, de R$ 1,00 para R$ 2,8455 (isto é, um aumento de 184,5%), os preços médios em Dólares dos produtos listados naquela tabela decaíram de US$ 2,78 para US$ 1,21 que representa uma redução média de 56,6%. O gráfico seguinte permite visualizar a comparação de preços em Dólares para os principais produtos de origem suína.

Gráfico 3.5. Comparativo de preços de Julho/94 e Julho/02, em US$, de produtos de origem suína selecionados.

0,00

1,00

2,00

3,00

4,00

5,00

6,00

7,00

8,00

Costel

a Con

gelad

a

Lombo

Con

g. Extr

a

Pernil

Esp

ecial

Paleta

Desos

sada

Banha

Costel

a Salg

ada

Salam

e Tp.

Ital.

Copa C

urad

a

Salam

inho

Presu

nto G

ordo

Preços em Jul/94 - US$ Preços em Jul/02 - US$

Fonte: Tabela 3.3

O estudo acima referido não conceitua o que é MARK-UP. O conceito técnico foi revelado pelo Economista Valmor Marchetti, que prestou depoimento perante esta CPI, como testemunha compromissada, na data de 13 de outubro. Naquela ocasião foram prestados esclarecimentos necessários para clarear a parte conceitual:

O SR. VALMOR MARCHETTI – Estaria interessado o Deputado numa visão geral do trabalho.[fim]

A idéia, primeiro, partindo do conceito chave, a idéia de mark-up é acréscimo de preço praticado pela distribuição. Na verdade não é um cálculo difícil de se realizar, de dispor de informações, mais isso. Então esse acréscimo de preço, uma comparação entre o preço efetivamente pago pelo estabelecimento de distribuição, em relação ao preço que o consumidor paga no supermercado, em seu estabelecimento de distribuição. Essa é a diferença do percentual, vamos dizer, se um estabelecimento comprar um produto por cinco e vender por dez, por exemplo, ele estaria tendo um aumento de cem por cento, é a isso que estamos nos referindo com o mark-up.[fim]

Em termos de trabalho tivemos que entender por que

esses produtos estão aqui e não alguns outros mais.[fim]

Vejam que as informações que tivemos que utilizar, são informações que estão levantadas e processadas junto ao IF, fazem parte dos produtos que compõem a cesta básica, os produtos de origem suína que estão lá são a carne, o pernil, a costela suína, o lombinho suíno, a mortadela, salsicha solta e acho que tem mais um, que é o presunto magro e gordo e salsichão. São nove produtos e dez com a banha, tem também a costela defumada, formando um total de onze produtos.[fim]

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – Só para ficar claro, qual a diferença, temos a expressão em cálculo, mas qual a diferença entre o mark-up e a margem bruta?[fim]

O SR. VALMOR MARCHETTI – É uma outra maneira de se referir a ele, mas com outro ponto de vista, para seguir o exemplo que eu dei, o supermercado compra o produto por cinco e vende por dez.[fim]

O mark-up é cem por cento, a margem é considerar o ganho do supermercado em relação ao seu preço de venda, ou o preço que o consumidor paga.[fim]

Então, qual é o ganho bruto, a margem bruta? É cinco, comparado com dez que foi o preço de venda.[fim]

Essa é a margem bruta, 50%.[fim]

O que significa o percentual de margem bruta que o supermercado tem em relação ao seu preço de venda.[fim]

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – Através do mark-up é possível identificar a margem?[fim]

O SR. VALMOR MARCHETTI – Sim, é só virar um pouco a equação e a gente chega lá.[fim]

Em termos de preços pagos pelo consumidor, uma informação do IEPE, um levantamento de preços para o

cálculo dos seus índices de preços, esse levantamento usa metodologia que busca onze informações por produto a cada semana.[fim]

Num mês com quatro semanas, tem quarenta e quatro observações para dizer o preço médio de tal produto, num mês de cinco semanas, seriam cinqüenta e cinco informações.[fim]

Os preços de venda da agroindústria são obtidos junto às agroindústrias consultando listas de preços e tabelas que sinalizam preços, pois eles fazem reuniões periódicas para combinar práticas de preços, mês a mês nesse período que foi coberto aqui.[fim]

Uma consideração, acredito que é a parte central, é considerar o que nós chamamos aqui de mark-up direto, ou margem bruta direta, do mesmo conceito numa idéia total, porque o que vem se observando, esse não é o primeiro estudo nosso, mas o terceiro que realizamos para o sindicato e para outros setores também, demonstra que há uma prática que vem se consolidando, de cobrar um valor que chamamos esse preço, porque realmente ele não está registrado nem no preço de venda da agroindústria, nem no preço pago pelo consumidor, que leva às margens da distribuição.[fim]

A diferença entre um mark-up direto e um mark-up total, leva em conta esse percentual ganho extrapreço.[fim]

Sintetizando, o conceito técnico de MARK-UP é a margem percentual de apropriação pelo varejo, calculada a partir do preço de venda ao consumidor, em relação ao preço pago à indústria pelo respectivo produto. Assim, fixa-se como ponto controvertido, a razoabilidade da margem de MARK-UP praticada pelo varejo e se esses níveis são ou não abuso de poder econômico.

Tal estudo está longe de ser aceito como matéria pacífica - pelo contrário - foi contestado e impugnado pela setor varejista. A AGAS, em correspondência dirigida ao então Presidente da Comissão de Agricultura, Pecuária e Cooperativismo desta Assembléia Legislativa, Deputado Frederico Antunes, por ocasião da apresentação deste Estudo à Subcomissão da Suinocultura, pelo SIPS, contraditando os dados e suas conclusões em exposição tecnicamente fundamentada. Transcreve-se, a seguir, um trecho deste documento:

"MARGEM DE LUCRO REAL DO SETOR SUPERMERCADISTA GÁUCHO SOBRE A CARNE SUÍNA – A Associação Gaúcha de Supermercados (AGAS) vem a público contestar, de forma veemente, o estudo patrocinado pelo "Sindicato da indústria de Produtos Suínos no Estado do Rio Grande do Sul", denominado "Mark-up Praticado pela Distribuição em Carnes e Produtos de Origem Suína em Porto Alegre", por falta de rigor técnico e por induzir o setor da suinocultura que os responsáveis pelas dificuldades operacionais e financeira por que passa esse setor. "

As três redes varejistas de Porto Alegre – RS foram notificadas para apresentar sua defesa em relação ao estudo acima referido, como forma de apresentar sua defesa e contraditar as conclusões que lhe são desfavoráveis. Transcreve-se, a seguir, os principais pontos das defesas impugnativas apresentadas:

AGAS – RESPOSTA AO MANDADO DE NOTIFICAÇÃO N.º 01/2003:

Preliminarmente a AGAS vem reiterar a esta Comissão o fato de sua natureza associativa lhe permitir apenas atividade de espírito de união entre os supermercadistas, mas não propriamente o exercício da atividade econômica. Desta forma a AGAS não dispõem de dados específicos relativamente a operações de varejo de cortes e de carnes.

Em segundo lugar, a AGAS impugna o conceito e a estrutura metodológica empregada pelo Sindicato da Indústria de Produtos Suínos na realização do trabalho denominado "Mark-up" Praticado pela Distribuição em carne e produtos de origem suína em Porto Alegre" tendo em vista que naquela metodologia não foi incluído nenhum custo inerente a cadeia produtiva, como por exemplo, tributos diretos e indiretos, contribuição social, salários, maquinário, energia, transporte, telefonia, treinamento e serviços e tantos outros que são inerentes ao exercício da atividade.

Tal fato, por si só revela que a indicação do Mark-up, praticado pelos supermercados, segundo o sindicato referido, não reflete a realidade do setor.

Mais ainda, a AGAS sente a ausência da indicação das fontes de informação que serviram da base para o trabalho apresentado pelo Sindicato, além da especificação e detalhamento das várias marcas (produtos) dos cortes das carnes e embutidos que servem de ilustração ao mark-up indicado no trabalho.

De qualquer forma, passamos a seguir a fazer um contraponto e uma análise técnica sobre o documento apresentado pelo Sindicato da Indústria de Produtos Suínos:

São muitos os motivos que nos fazem questionar o estudo a que nos foi apresentado, visto que a amostra escolhida não foi estatisticamente significativa, uma vez que a análise apresentada compreendeu apenas cinco estabelecimentos, que, diga-se de passagem, não foram explicitados no presente documento, perante um universo de mais de um mil e setecentas redes supermercadistas. Do mesmo modo, a localização de tais estabelecimentos foi ignorada, e o critério para coleta dos preços dos produtos não foi esclarecido, porque não se levou em consideração a diferenciação dos mesmos, já que são inúmeras as marcas dos produtos concorrentes no mercado da carne suína.

Analisando-se, especificamente, a evolução dos principais cortes de carne suína comercializada pelos supermercados, tomando como fonte o Centro de Estudos e Pesquisas Econômicas (IEPE), Instituição que balizou a análise do documento do SIPS, a AGAS constatou o seguinte: houve um aumento de 29,1% para o preço da costela suína, 26,91% para o preço do lombinho suíno, 34,59% para a paleta suína e 27,08% para o pernil suíno. Tais aumentos representam uma variação média de 29,4 nos referidos cortes.

Comparando o aumento de preços acima especificados com os índices de preços do IEPE e da FGV/RJ, através de seu

IGP-DI, índice comumente utilizado para reajustar contratos nominais da economia brasileira, observa-se que a variação dos preços dos cortes da carne suína entre setembro de 1999 e julho de 2002 ficou um pouco acima da inflação registrada pelo IEPE no mesmo período, qual seja, 24, 82%, e ligeiramente abaixo da inflação registrada entre setembro de 1999 e julho de 2992 pelo IGP-DI, que foi de 36,17%. Tais resultados mostram que a dispersão dos preços dos cortes da carne suína em relação à média dos referidos índices de preços é - 1,09%.

Pelo que acima foi exposto, cremos que os Supermercados não estão praticando Mark-up indicado no documento do Sindicato.

Colocamo-nos a disposição para maiores informações, em outro momento, posto que pela exiguidade do tempo, não nos foi possível concluir um trabalho mais detalhado. O que não altera o teor do documento, posto que cremos e tentamos provar que os dados fornecidos pelo SIPS não condizem com a realidade.

REDE SONAE:- – RESPOSTA AO MANDADO DE NOTIFICAÇÃO N.º 02

Em atenção ao Mandado de Notificação n.º 01/2003, datada de 7 de agosto de 2003, da Comissão Parlamentar de Inquérito que apura as causas da atual situação econômica e financeira da bovinocultura de corte e suinocultura e investiga indícios da prática de infrações a ordem econômica nas cadeia produtivas das carnes bovinas e suínas e seus derivados, vimos apresentar nossa resposta sobre as alegações/conclusões do estudo Mark UP, publicado pelo Sindicato das Indústrias dos Produtos Suínos do Rio Grande do Sul.

1. A Sonae Distribuição Brasil S.A. é a 4ª maior rede varejista do Brasil e a líder na Região Sul do país, operando através das bandeiras Big, no Estado do Rio Grande do Sul, Santa Catarina,

Paraná e São Paulo; Nacional, no Estado do Rio Grande do Sul; Mercadorama; nos Estados de santa Catarina e Paraná; Maxxi Atacado, nos Estados do Rio Grande do Sul e Paraná e Maxxi Distribuição, no Estado do Rio Grande do Sul.

A bandeira Big é representada por lojas de grande dimensão, com área superior a 6.000m², denominados Hipermercados, com alargada e que aposta na vertente preço.

Já as bandeiras Nacional e Mercadorama, que são lojas de supermercado de pequeno e médio porte, procuram ofertar a melhor relação preço e qualidade, aliada ao serviço e à conveniência dos clientes.

As bandeiras Maxxi Atacado e Maxxi Distribuição atendem aos comerciantes oferecendo uma linha de produtos específica para este ramo.

2. A Sonae Distribuição Brasil S/A visando o desenvolvimento pessoal e profissional de seus 21 mil colaboradores oferece salários e benefícios compatíveis com o mercado e tem investido em uma série de projetos e ações, como por exemplo:

• Programa Conquista ( incentivo a graduação)• Sonae Ensino Intensivo (SEI)• Escola de Varejo (Programa de formação

gerencial)• Projeto Loja 2000 (treinamentos técnicos para as

funções da operação de loja)• Projeto Menor Aprendiz• Programa Primeiro Emprego• Portal Recursos Humanos (canal de comunicação

interna que democratiza todas as informações de RH para os colaboradores da empresa)

• Projeto terceira Idade (hoje são 593 colegas)• Contratação de Portadores de Deficiência (hoje

são 785 colegas)

Além de ações para os seus colaboradores, a Sonae Distribuição do Brasil atua com destaque junto aos públicos externos. São ações com fornecedores e comunidade em que a empresa está inserida.

• Banco de Alimentos• Clube dos Produtores• Programa Comida Urgente (Novo Hamburgo)• Caxias Solidária• FAZ e Instituto Pró-Cidadania (250 crianças

carentes envolvidas)• Instituto de Câncer Infantil• AACD• Parceiros Voluntários• Junior Achievement• Lions Pirituba - São Paulo (Feira de Saúde) • E diversas outras ações nas comunidades que

envolveram contribuições na ordem de R$ 2.297.600,00.

3. Em relação a seus cliente procura sempre oferecer agradável ambiente de compras, com melhor relação preço e qualidade nos produtos ofertados. Tem buscado cada vez mais conhecê-los e se moldar às suas exigências de modo a se tornar a sua melhor opção de compra.

Neste sentido tem criado grupos de trabalho chamados "Conselho de Clientes", para cada uma de suas unidades, de modo a conhecer as particularidades de cada zona em que opera. Criou o SAC, de modo a ter um canal direto aberto junto ao consumidor para ouvir e atender seus clientes.

Tem buscado, também, aproximar-se da comunidade na qual atua oportunizando através de patrocínio de eventos culturais e de entretenimento de sucesso, tais como a Mostra Nacional de Gastronomia, o Paradouro Nacional, a Feira de Queijos e Vinhos, etc.

4. Junto aos fornecedores, a Sonae Distribuição Brasil S/A vem firmando parcerias e desenvolvendo projetos que visam atender os objetivos e interesses das duas partes, como por exemplo o "Clube do Produtor", com o incentivo direto ao produtor rural.

5. O processo de Globalização (financeiro, produtivo e comercial), a introdução de novas tecnologias e a implantação de novos processos organizacionais levaram o segmento de varejo (supermercado/hipermercado) a um cenário de fusões, incorporações e reestruturação com o objetivo de manter a competitividade.

Para o segmento de supermercados o enfoque de planejamento tem sido o de adotar uma estratégia orientada para serviços.

Sem dúvida a melhora no nível de serviço e a fidelização do cliente visam ao aumento da competitividade. Entretanto, o setor não pode se afastar da busca da excelência operacional.

6. Diversas ações estratégicas estão sendo adotadas pelas empresas do setor de supermercados, como por exemplo lançamentos de marca própria, adoção de novas tecnologias, introdução de novos processos organizacionais, enfoque logístico, comércio eletrônico, ECRC (resposta eficiente ao consumidor), CRM ( gerenciamento de relacionamento com o consumidor), novos formatos de lojas, segmentação do mercado e profissionalização do corpo gerencial, que tem a competitividade do organização.

7. A concentração no segmento de supermercados é uma tendência mundial. No Brasil, em apenas 10 anos, o índice de concentração em relação às 5 maiores redes passou de menos de 30% para mais e 40%. Este fenômeno ainda está a meio

caminho se tornarmos como parâmetro os Estados Unidos e a Europa, onde a concentração das maiores redes se aproxima a 70%.

8. Historicamente, o setor de supermercados sofre a pressão feita pelos consumidores, sensíveis qualquer aumento de preço e à pressão feita pelas indústrias que, obviamente, tentam repassar a seus preços os impactos negativos sofridos pela cadeia produtiva.

9. Quando falamos em margem operada pelo setor supermercadista, há de se levar em conta uma série de despesas necessárias para tornar o produto disponível ao consumidor. É necessário deduzir da margem operada, as despesas com pessoal, de limpeza, segurança, energia elétrica, custo de armazenagem e distribuição (logística), perda na manipulação de produtos (quebras), manutenção e embalamento dos produtos. Ademais, o investimento para a construção de uma loja é da ordem de R$ 15 milhões. Se a loja não for própria, há ainda o custo de aluguel mensal.

10.Portanto, é inadmissível deduzir que a diferença entre o valor pago ao fornecedor e o preço pago pelo cliente é lucro direto do supermercado.

O gráfico abaixo mostra a evolução do lucro líquido médio do setor supermercadista nos últimos anos. De 2002 para 2001 a lucratividade cai 15%, como efeito do aumento dos custos e da concorrência acirrada que leva o setor a operar com preços mais baixos.

GRÁFICO

11.Os números apresentados pelo Sindicato da Indústria de Produtos Suínos do Estado do Rio Grande do Sul, através do Estudo Mark Up praticado pela distribuição em carnes e produtos

de origem suína em Porto Alegre de setembro de 2002, não permitem a verificação efetiva das margens praticadas pelas empresas que foram objeto da pesquisa.

12.A carne suína representa hoje 2,9% das vendas da Sonae Distribuição Brasil S/A no Rio Grande do Sul.

Na tabela em anexo apresentamos as margens operadas pela Sonae Distribuição Brasil S/A nos últimos dois anos, onde:

MB (Margem Bruta) - define-se como Margem Bruta a diferença entre preço de compra e preço de venda ao consumidor, deduzido dos custos de embalamento, logísticos e de perda por manipulação (quebra) e acrescido das receitas comerciais.

ARTIGO

MARGEM BRUTA

01 02LOMBO SUÍNO 34,7 28,7PALETA SUÍNA 28,1 23,4PERNIL SUÍNO 26,7 23,0COSTELA SUÍNA 21,9 23,7BANHA/GORD VEGETAL 23,7 30,9COSTELA DEFUMADA 38,2 38,4MORTADELA 29,1 27,8PRESUNTO C/ GORD 23,9 25,5PRESUNTO S/ DORD 23,4 22,7SALSINHA 25,3 28,1SALSICHÃO 32,8 35,9

PORCENTAGEM SOBRE A VENDA LÍQUIDA:

13.Sem dúvida, a composição dos preços é obtida através da livre negociação do mercado, onde cada empresa deve levar em consideração os custos relacionados no item 12 supra.

Os preços são dinâmicos e as margens da lucratividade são variáveis, principalmente em decorrência da acirrada concorrência que existe entre as redes de supermercados. Inclusive, os pequenos e médios

supermercados se mobilizaram na formação de parcerias para fazer frente concorrência das grandes redes.

Nesse sentido, pequenos supermercados se unem para formar centrais de compras. A estratégia é criar escala, evitar intermediários e comprar produtos básicos e de alto giro diretamente das indústrias, com economia média de 10% no preço.

14.Assim, é notória a constante evolução do mercado varejista, que resulta na impossibilidade de uma avaliação concreta e conclusiva mediante a utilização de informações genéricas. A efetiva avaliação de mercado deve se basear em informações individualizadas obtidas de acordo com a característica de cada segmento avaliado.

As informações apresentadas demonstram que os números obtidos na pesquisa não refletem a realidade de mercado haja vista, que não são levadas em consideração as despesas supra informados e as oscilações do mercado produtor, industrial e varejista.

Por fim, estamos a inteira disposição desta Comissão Parlamentar de Inquérito para elucidar quaisquer questões que se fizerem necessárias. Informamos, que as pessoas que irão representar a signatária na condição de Assistentes Técnicos são os Srs. Rogério Mota Souto e Idênio Risso Belmonte Filho, cujo o mail para contato é [email protected].

GRUPO CARREFOUR – RESPOSTA AO MANDADO DE NOTIFICAÇÃO N.º 03:

Primeiramente, é de se destacar que a resposta técnica ao Estudo Mark-up resta desde logo prejudicada, pois o trabalho apresentado pela Entidade carece de vários elementos, conforme adiante se verá, que possibilitam uma análise direta e precisa sobre o tema.

Por conseguinte, resta impugnado o conteúdo e a metodologia utilizada pelo Sindicato da Indústria de Produtos Suínos para a realização da pesquisa denominada "Mark-up praticado pela Distribuição de carnes e produtos de origem suína em Porto Alegre".

Neste trabalho não foi incluído nenhum custo agregado à cadeia produtiva, como por exemplo: tributos diretos e indiretos, contribuição social, salários, maquinário, energia, transporte, telefonia, treinamento, serviços e tantos outros que são inerentes ao exercício de tal atividade.

Tal fato, isoladamente, já revela a escassez de elementos utilizados para elaboração do que é denominado de "Mark-up" e não reflete, de forma alguma, a realidade do setor.

Se não bastasse, não há indicação das fontes de informação que serviram de base para o trabalho apresentado pelo Sindicato, além da especificação e detalhamento das várias marcas (produtos) dos cortes das carnes e embutidos que servem de ilustração ao "Mark-up" indicado no trabalho.

Em virtude destas circunstâncias a peticionária encontra dificuldades para elaborar contra - ponto ao trabalho desenvolvido pela Entidade Sindical. Contudo, mesmo diante da escassez de elementos, refuta tecnicamente alguns pontos:

Vários são os pontos de divergência entre a realidade do setor e o estudo apresentado, uma vez que a amostra escolhida não foi estatisticamente significativa, haja vista que compreendeu apenas cinco estabelecimentos, num universo de mais de mil, sem indicação de quais e se, inclusive, a peticionária foi uma das eleitas nas estatísticas.

Da mesma forma a localização de tais estabelecimentos foi ignorada; o critério para a coleta dos preços dos produtos não foi esclarecido; não foi revelada a

marca dos produtos, já que inúmeros são comercializados no mercado; enfim, a análise é demasiada restrita para o volume de negócios, estabelecimentos e produtos.

Analisando-se, especificamente, a evolução dos principais cortes de carne suína comercializados pelos supermercados, tomando como fonte o Centro de Estudos e pesquisas Econômicas (IEPE), Instituição que balizou a análise do documento do SIPS, constata-se, por informação da Associação Gaúcha de supermercados - AGAS-, que houve um aumento de 29,1% para o preço da costela suína, 26,91% para o preço do lombinho suíno, 34,59% para a paleta suína e 27,08% para o pernil suíno. Tais aumentos representam uma variação média de 29,4% nos referidos cortes.

Comparando os aumentos de preços acima especificados com os índices de preços do IEPE e da FGV/RJ, através do IGP-DI, índice comumente utilizado para reajustar contratos nominais da economia brasileira, observa-se que a variação dos preços dos cortes da carne suína entre setembro de 1999 e julho de 2002 ficou um pouco acima da inflação registrada pelo IEPE no mesmo período, qual seja, 24,82%, e ligeiramente abaixo da inflação registrada entre setembro de 1999 e julho de 2002 pelo IGP-DI, que foi de 36, 17%. Tais resultados mostram que a dispersão dos preços dos cortes da carne suína em relação à média dos referidos índices de preços é - 1,09%.

Diante destes dados pode se concluir que os supermercados não estão praticando o "Mark-up" precipitadamente informado pela Entidade Sindical.

Ante ao exposto, a peticionária coloca-se à disposição dessa MM. Comissão para quaisquer outros esclarecimentos que se fizerem necessários, requerendo, por final, que qualquer conclusão tirada por essa CPI não tenha como base o trabalho apresentado pelo Sindicato das Indústrias de Produtos Suínos no Rio Grande do Sul, uma vez que escasso de elementos e dados informativos.

O GRUPO CARREFOUR prestou, ainda, as seguintes informações, impugnaNdo as alegações acusatórias de MARK-UP, na resposta à REQUISIÇÃO DE INFORMAÇÕES N.° 1820/2003:

15) Tendo apresentado as informações solicitadas, a Peticionaria pede permissão a V.Exa., com a devida vênia, para reiterar os termos de impugnação feita anteriormente ao estudo denominado "mark-up", em relação ao qual consignou que:

• não inclui nenhum dos custos que devem ser agregados à cadeia produtiva, como os tributos diretos e indiretos, contribuição social, salários, maquinário, energia, transporte, telefonia, treinamento, serviços, entre outros;

• não traz a indicação das fontes de informação que serviram de base para os gráficos e conclusões apresentadas;

• não especifica as marcas de produtos dos corte das carnes e embutidos que foram utilizados como parâmetro para identificação do suposto "mark-up";

• a amostra escolhida não pode ser considerada estatisticamente válida, além de não indicar as empresas (não se sabe nem se as lojas da Peticionária foram incluídas nas estatísticas);

• não foi identificada a localização dos estabelecimentos pesquisados;• não foi explicitado o critério adotado para coleta dos preços dos

produtos; e, finalmente,• a variação dos preços dos cortes da carne suína entre setembro de

1999 e julho de 2002 ficou um pouco em acima da inflação medida pelo IEPE no mesmo período, pelo IGP-DI (36,17%), mostrando que a dispersão dos preços dos cortes da carne suína em relação à média dos referidos índices de preços é 1,09%, o que revela a inexistência da prática de qualquer "mark-up".

16) Vale ressaltar que a correta metodologia de apuração tanto do Mark-up Direto quanto da Margem Bruta exigem a incorporação de todos os custos incorridos para a venda de uma mercadoria (impostos, despesas diretas e indiretas, custo de produção / custo de aquisição conforme acima elencados), caso contrário os resultados obtidos são totalmente inválidos, por configurarem indevida super estimação da margem de lucro do agente econômico, no caso os Supermercados pesquisados.

17) Admitindo-se um exemplo hipotético, de uma mercadoria adquirida a R$ 6 (seis reais) que, somados os impostos e despesas diretas e indiretas, tenha um custo final

para o Supermercado de R$ 9 (nove reais), se vendida a R$ 10 (dez reais) resulta em um mark-up direto de 11%² e uma margem bruta de lucro de 10%³.

18) Se pudesse ser admitido o estudo de forma como foi apresentado pelo SIPS (sem incluir os custos de impostos e de despesas, direta e indiretas), no exemplo hipotético acima utilizado as margens de Mark-up Direito e de Margem Bruta seriam, respectivamente, de 66,6% e 40%, o que evidencia a grande distorção e a inviabilidade dos resultados apresentados pelo estudo, levando a uma absurda superestimação, e tudo isso sem falar na falta de origem e de fonte dos dados utilizados, conforme

19) Por fim, a Peticionária deseja ainda destacar os seguintes trechos constantes de referido estudo Mark-up:

• Pg. 5: "(...) As agroindústrias processadoras relataram, em reunião no Sindicato da Indústria de Produtos Suínos no Estado do Rio Grande do Sul, que a soma dos pagamentos delas aos Supermercados atinge o percentual entre 18% e 22% do valor das vendas.(...)"

• Pg. 6: "(...) Os preços médios de venda das Agroindústrias são a média dos preços de vendas das Agroindústrias para os Supermercados, apurados através das listas de preços das Agroindústrias filiadas ao Sindicato da Indústria de Produtos Suínos no Estado do Rio Grande do Sul.(...)"

REDE ZAFFARI: – RESPOSTA AO MANDADO DE NOTIFICAÇÃO N.º 04:

Em resposta a sua correspondência expedida como "Mandado de Notificação n.º 04/2003", de 07 de agosto de 2003 onde V. Exa., em nome da nobre Comissão Parlamentar de Inquérito, que estuda os assuntos referentes a atual situação econômica e financeira da bovinocultura de corte e suinocultura, solicita informações que possam colaborar na

avaliação dos problemas que estão afligindo a produção, industrialização e comercialização de produtos cárneos bovinos, suínos, aves e outros, e em particular quanto ao Relatório apresentado pelo Sindicato da Indústria de Produtos Suínos do Estado do Rio Grande do Sul, vimos tecer algumas considerações que entendemos pertinentes.

1. Não é demasiado dizer, que no sistema de livre iniciativa, os preços privados são estabelecidos a partir de um regime competitivo de mercado, onde cada empresa forma seus preços, levando em conta custos fixos, variáveis, qualidade, remuneração do capital, depreciação, tributos, etc.

Os Preços são dinâmicos e as margens de lucratividade são extremamente variáveis, havendo situações de ganho zero, menor ou maior ganho, em função de estoques perdidos, concorrência, escassez, baixo ou alto consumo. A passagem do lucro para o prejuízo pode ser muito rápida. È preciso estar muito atento, sobretudo, para quem, como a Companhia Zaffari Comércio e Indústria, tem uma responsabilidade social enorme, com um contigente de mais de 8.000 funcionários, além de um universo de consumidores e fornecedores, uma geração de tributos expressiva, sem falar na remuneração do conjunto de empresas e famílias acionistas.

2. O referido estudo foi desenvolvido durante 35 meses, permitindo assim que as oscilações verificadas demonstrassem a atuação dos mais diversos fatores, como a sazonalidade típica da carne suína na comercialização, o volume de exportação para outros estados e países, alterando a oferta ao mercado - alvo e outras variáveis que apesar de não estarem diretamente vinculadas com a comercialização local acabam por gerar grande influência nos preços locais.

3. A oscilação dos custos de produção, originada pelas representativas variações nos custos dos principais insumos, como o farelo de soja, o milho, a energia elétrica e o transporte entre outros, soma-se considerável alternância de alto e baixo

consumo, também influenciado nos preços de atacado e varejo.

4. O registro das habituais promoções entre indústria - varejo -consumidor, que possibilitam a venda de grandes volumes a preços finais bem abaixo da média, que dificilmente são verificados neste tipo de pesquisa.

5. A ponderação dos custos decorrente de tributos e variáveis exógenas ao processo direto de comercialização, também não foram objeto de qualquer referência.

6. Os processos individuais, exclusivos e próprios de cada empresa de varejo na comercialização dos tipos de carne suínas, referidas na pesquisa e também existentes em outros produtos de origem animal, que diferenciam o produto oferecido ao consumidor final destas empresas, agregando valor e gerando um grau maior de satisfação pela qualificação destes produtos elaborados e ofertados ao seus consumidores, infelizmente não são registrados no trabalho.

7. Os custos diretos e indiretos, próprios de cada varejista, tais como sua localização, sua infra-estrutura, suas instalações, sua manutenção, seus equipamentos, seus diferenciais operacionais, seu custo de pessoal especializado na operação direta e gerenciamento destes itens, todas estas particularidades que distinguem e diferenciam cada loja também não são abordados pela pesquisa.

8. As diferenças concorrenciais apresentadas por cada varejista quer pela alternância de fornecedores, oferta de produtos procedentes de outros estados ou países do Mercosul, substituição dos produtos tradicionalmente pesquisados por outros, criação de novos hábitos

de consumo, principalmente pela facilidade de preparação de algumas alternativas com maior valor agregado disponíveis no mercado, ofertados pelas mesmas indústrias fornecedoras das tradicionais carnes " in natura" alterando a matriz de comercialização, frente a tradicional matriz de produção primária, ou quer pela disponibilidade de clientela mais exigente e com condições diferenciadas para adquirir estes novos produtos.

9. O desenvolvimento de ações especiais por parte da empresa varejista no desenvolvimento de oportunidades a novos fornecedores, com novos padrões de qualidade superior, diferenciação de produtos e busca continua de melhor atendimento da sua clientela, ampliando as oportunidades de comercialização também não fazem parte da pesquisa.

Portanto, de forma muito sucinta, entendemos que a realização da pesquisa apresentada é válida, mas as abordagens e conclusões são incompletas e limitadas.

O mercado está em continua e dinâmica evolução. Sua análise através de trabalhos e pesquisas de segmentos normalmente é parcial, incompleta e as conclusões tentam ser de caráter geral. O uso de médias nos reduz a avaliação específica, anulando cada diferença, cada identidade ou segmentação realmente existente.

A atual liberdade na produção, industrialização e comercialização em geral e em particular dos produtos provenientes da produção primária, com suas particularidades, seus novos desenvolvimentos, a sua imensa diversidade, suas embalagens, suas formas de exposição e consumo final tem gerado um multifacetado mercado que até pouco tempo se resumia a alguns poucos produtos . E isto tem exigido uma forte reciclagem dos todos os envolvidos.

A dificuldade de se atualizar, investir, buscar e dominar novas tecnologias, transformar as estruturas existentes

também tem criado inúmeros desafios para as empresas instaladas, quer pela escassez de recursos, quer pelos altos custos para consegui-los, quer pela dificuldade de avaliar o retorno destes investimento frente as incertezas do mercado.

Somos solidários e parceiros de nossos inúmeros e importantes fornecedores.

Ao mesmo tempo que precisamos ter eficiência, capacidade de gerar diferenciais, reduzir custos, ter força concorrencial frente a grandes conglomerados internacionais que atuam no varejo nacional dispondo de recursos financiados a custos indisponíveis as empresas brasileiras e também frente ao mercado marginal que não cumpre as obrigações tributárias de alta monta, que o sistema atual determina, precisamos principalmente atender bem as novas demandas de nossos clientes.

Concluímos nos colocando ao inteiro dispor desta nobre Comissão para os esclarecimentos que se fizerem necessários oportunamente.

Nesse sentido, para balizar o debate, cita-se o LAUDO TÉCNICO DE CRAQUEAMENTO DE SUÍNO, onde se demonstra as estreitas margens em cada elo da cadeia:

Abate e rendimento da espécie suína

Foram considerados dados e trabalhos de suínos com peso vivo entre 101,57 e 107 Kg onde o peso das carcaças quentes ficaram entre 74 e 78 Kg determinando com isso pesos de carcaça resfriada entre 73,57 e 77 Kg.

Pesos médios encontrados de cabeças e vísceras:

CABEÇA- Papada: 1,90- Pele: 0,65- Retalhos de carne: 0,15- Retalhos de gordura: 0,50- Ossos: 2,40

MIUDOS INTERNOS- Rins: 0,30- Fígado: 1,70- Garganta: 0,35- Pulmão: 0,98- Língua: 0,25- Coração: 0,30- Baço: 0,25

MUIDOS EXTERNOS- Pés: 0,80- Rabo: 0,38- Focinho: 0,14- Mascara: 0,84- Ouvido: 0,14

VISCERAS BRANCAS E GORDURA- Intestino delgado e grosso: 4,48- Estômago: 0,50- Bexiga: 0,20- Útero: 0,15- Pâncreas: 0,10

Vesícula biliar: 0,10Medula óssea: 0,07Cascos: 0,15

Aproveitamento médio de uma carcaça com 77 Kg para os cortes propostos:a) Pernil: 31,2% ou 24,06 Kgb) Barriga: 28,6% ou 22,06 Kgc) Costado: 19,6% ou 15,12 Kgd) Paleta e Sobrepaleta: 20,6% ou 15.85 Kg

a) Pernil: - Carne: 15,68 Kg - Gordura e pele: 5,46 Kg - Ossos: 2,92 Kg

b) Barriga: - Barriga 15,00 Kg - Retalhos: 2,16 Kg - Costela da barriga: 2,88 Kg - Pele: 0,84 Kg - Osso do peito: 1,12 Kg

b) Costado: - Lombo: 10,45 Kg - Filezinho: 0,81 Kg - Pele: 1,36 Kg - Toucinho: 2,32 Kg - Retalhos: 0,10 Kg

c) Paleta e Sobrepaleta: - Paleta: 7,08 Kg - Copa: 2,92 Kg - Ossos: 3,90 Kg - Retalhos: 1,95 Kg

Em relação o custo o LAUDO TÉCNICO DE CRAQUEAMENTO DE SUÍNO, transcreve-se o trecho

Preços pagos ao produtor rural pela carcaça fria de suínos (sem bonificação):

107 Kg x R$ 1,77 = R$ 189,39

Valores comercializados pela indústria frigorífica nos 4 cortes principais:

Pernil: 24,06 Kg x R$ 4,17 = 100,33

Barriga: 22,06 Kg x R$ 3,14 = 69,26

Costado: 15,12 Kg x R$ 4,75 = 71,82

Paleta/sobrepaleta: 15,85 Kg x R$ 4,31 = 68,31

R$ 309,72

Valores dos cortes principais comercializados no varejo pelos mercados:

Pernil: 24,06 Kg x R$ 5,48 = 131,84

Barriga: 22,06 Kg x R$ 6,67 = 147,14

Costado: 15,12 Kg x R$ 6,26 = 94,65

Paleta/sobrepaleta: 15,85 Kg x R$ 5,07 = 80,35

R$ 453,98

6.5.5.7. - PRÁTICA DO BENEFÍCIO EXTRAPREÇO:

NOTÍCIA DA PRÁTICA DO BENÉFICO EXTRAPREÇO:

Na controvertida relação econômica entre a indústria de produtos suínos e o grande varejo surge ainda a figura controvertida do “BENEFÍCIO EXTRAPREÇO”. Não se trata, na verdade, de um fato novo neste Parlamento. No Inquérito do Preço do Leite e na Subcomissão Especial da Suinocultura esse assunto foi investigado, mas, sob outra rotulagem: descontos ou rapel.

Em termos genéricos, se deduz, pelas reclamações da indústria de produtos suínos, que o grande varejo estaria impondo unilateralmente, nos contratos de fornecimento, exigências à indústria, que se obriga a pagar, em dinheiro ou em mercadoria ( geralmente em dinheiro) um percentual sobre as compras que aquele supermercado fez dos seus produtos.

No presente Inquérito Parlamentar, esse tema dos descontos nos contratos de fornecimento entre a indústria e o grande varejo será tratado através da nomenclatura de BENEFÍCIO EXTRAPREÇO. Esse critério se dá porque o Estudo MARK-UP PRATICADO PELA DISTRIBUIÇÃO EM CARNES E PRODUTO DE ORIGEM SUÍNA EM PORTO ALEGRE DO SIPS utiliza essa nomenclatura em termos técnicos de Ciência Econômica. O rapel assim seria apenas uma das tantas espécies de descontos existentes.

A indústria de produtos suínos, através do SIPS, aponta o benefício extrapreço como um dos fatores responsáveis pelas dificuldades econômicas que esse segmento industrial atravessa. Para dar sustentabilidade às suas alegações acusatórias, conforme já registrado no item que tratou de MARK-UP, o SIPS encomendou a realização do estudo acima referido, realizado pelos Economistas Valmor Marchetti e Fátima Behncker Jerônimo, já mencionado, onde é tratado também sobre o benefício extrapreço. :

Como o referido Estudo MARK-UP PRATICADO PELA DISTRIBUIÇÃO EM CARNES E PRODUTO DE ORIGEM SUÍNA EM PORTO ALEGRE, foi

recebido como notícia de infração da ordem econômica, transcreve-se o trecho do referido estudo que traga sobre o assunto ora abordado.

1.3 Benefícios extrapreços

Os cálculos que se realizam a seguir visam a informar a real magnitude do mark-up e da margem bruta praticada pela distribuição. Deve-se ter em conta que os percentuais a serem calculados, de ambos os indicadores, resultam da comparação direta de preços de vendas das Agroindústrias com os preços pagos pelos consumidores – por isso, foi denominado de mark-up direto.Contudo, a margem de ganho dos supermercados vai além da diferença daqueles dois preços (preços pagos pelos consumidores e preços de venda das Agroindústrias): os Supermercados obtêm adicionalmente outros ganhos, além da diferença entre os preços pagos pelos consumidores e os preços de venda das Agroindústrias. São benefícios extrapreços que se substanciam sob diversos termos, como os seguintes:i) Rapel: Consiste de um montante cobrado da Agroindústria

pelo Supermercado, em geral determinado por um percentual

sobre o volume das vendas e concedido por um desconto

sobre o valor da duplicata.

ii) Enxoval: Termo que designa entregas adicionais

(promocionais) por parte das Agroindústrias aos

Supermercados, por ocasião de aniversários, inaugurações ou

reinaugurações de suas lojas. Na prática funciona como uma

bonificação: há a emissão de nota fiscal e pagamento dos

impostos, por parte das Agroindústrias, mas o valor do

desconto é integral.

iii) Repositores e Degustadores: As Agroindústrias

fornecedoras arcam com os ônus para manter, dentro dos

Supermercados, funcionários especialmente contratados para

realizarem as tarefas de colocação de produtos nas gôndolas,

colocação de etiquetas de preços, substituição de produtos e

divulgação dos produtos.

iv) Outras denominações que representam a redução do preço

de venda ou a um desconto sobre o valor das vendas:

Aniversários

Verba para inaugurações e re-inaugurações

Desconto financeiro

Verba de crescimento adicional

Desconto de logística ou de centralização

Taxa de fidelidade

Preço Margem Zero – PMZ (equalização dos preços

com os preços mais baixos propostos).

Esta prática está institucionalizada em todos os compradores das Agroindústrias, não somente nos estabelecimentos de grande porte, mas também nos estabelecimentos pequenos, bem como pelas cozinhas industriais.Redes de atuação nacional impõem condições adicionais: 1) Que os preços básicos dos produtos são os preços para o Estado de São Paulo, embora as entregas devam ser realizadas em outros Estados, correndo o ônus do frete por conta da Agroindústria fornecedora; 2) Asseguram-se o direito de aceitarem ou não a lista de preços, a ser entregue com uma semana de antecedência, a qual deverá ser aprovada pela Diretoria do estabelecimento varejista.O importante é perceber que tais práticas representam um ganho adicional aos Supermercados. Isto é, elevam o seu mark-up direto. Assim sendo, os cálculos de mark-up direto e margem bruta direta devem ser ajustados, para terem em conta, também, os benefícios extrapreços.Qual é a magnitude dos benefícios extrapreços dos estabelecimentos de distribuição, em relação aos produtos de origem suína? As Agroindústrias processadoras relataram, em reunião no Sindicato da Indústria de Produtos Suínos no

Estado do Rio Grande do Sul, que a soma dos pagamentos delas aos Supermercados atinge o percentual entre 18 e 22% do valor das vendas. Assim, em média, a soma dos itens que denotam benefícios extrapreços é de 20%.

CONCEITO TÉCNICO DE BENEFÍCIO EXTRAPREÇO:

O estudo do SIPS não conceitua o que é BENEFÍCIO EXTRAPREÇO. O seu conceito técnico também não foi revelado pelo Economista Valmor Marchetti, em seu depoimento realizado na data de 13 de outubro. Cita-se, contudo, uma explicação a seguir:

O SR. VALMOR MARCHETTI – Eu acho que essa questão do extrapreço dá para agrupar em dois grupos, vamos dizer assim. Um é calcular um percentual sobre esses 100 ou esses 10, que estavas mencionando, que é a venda da agroindústria para o supermercado. Inclui aí um percentual na linguagem, vamos dizer, de rapel, de enxoval, de verba para inauguração, reinauguração, desconto financeiro, desconto de logística, taxa de fidelidade e assim por diante, né. Tá. Não são só esses, isso depende de cada caso. Isso funciona como um percentual, né. Então, se a venda é a dez, né, e... na liquidação da nota, desconta o percentual correspondente e a agroindústria recebe lá o seu valor, podia ser o quê? Nove, oito, sei lá, o percentual correspondente.[fim]

Não há uma definição técnica para o benefício extrapreço que seja aceita consensualmente. Diante das dificuldades, até por ausência de fonte literária de definição técnica e enquadramento jurídico do benefício extrapreço, esta CPI requisitou essas informações às maiores redes do grande varejo, pedindo maiores esclarecimentos sobre essa matéria, entre outras. Das respostas recebidas, a maioria mostrou dificuldades para apresentar uma conceituação razoável. A melhor e mais plausível definição técnica apresentada, pelo menos sob o enfoque jurídico, foi dada pelo GRUPO SONAE, em resposta à REQUISIÇÃO DE INFORMAÇÕES N.° 1816/2003, que define o benefício extrapreço como um COSTUME COMERCIAL.

O benefício extrapreço até pode ser um costume. Essa alegação merece ser melhor analisada. Mas, mesmo admitido, só por argumentação, que seja um costume, essa circunstância, por si só, não torna essa prática lícita. Há

costumes ADVERSUS LEGEM – contrários à lei, SECUNDUM LEGEM, conforme e integrativo à lei, e PRAETER LEGEM preenche as lacunas da lei. Restaria, então, saber em qual se enquadra, o que será exaustivamente tratado e enfrentado neste Relatório Final, em momento oportuno.

PRÁTICA DO BENEFÍCIO EXTRAPREÇO COMO FATO NOTÓRIO E INCONTROVERSO NA RELAÇÃO ECONÔMICA ENTRE A INDÚSTRIA E O GRANDE VAREJO:

A linha de argumentação da indústria de produtos suínos é a de que o benefício extrapreço é uma atividade imposta unilateralmente pelo grande varejo, como abuso de poder econômico. Por esse enfoque, sob o ângulo jurídico da questão, se trataria de atividade ilícita, portanto, defesa em lei.

Contudo, se a sua existência foi admitida pelo grande varejo, foi sob um enfoque diferente, sem o caráter de imposição de abuso de poder econômico. Nesse sentido, transcreve-se a seguir a prova testemunhal:

AGAS:

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – E sobre um assunto também que foi levantado, sobre, que eu citei no início dos questionamentos, a figura do rapel, para sermos mais abrangentes, os extrapreços. Conforme informações prestadas na CPI, a prática do rapel e de outros mecanismos nos extrapreços é uma prática operacional muito usada, onde a rede de supermercados, às vezes a indústria já sabe até qual é o percentual que envolve essa prática. O que o Senhor tem a colaborar conosco nesse assunto referente à extrapreço, reinauguração de obra, de loja, rapel? São conhecedores da prática de que forma que isso se operacionaliza? Contrato, não existe contrato? Como é que é feito no valor da nota?[fim]

O SR. ANTÔNIO CESA LONGO – É, esse rapel, se pegar o dicionário tem uma descrição dele, mas na prática comercial, não sei como é que surgiu esse nome, mas são ações de mercado.[fim]

GRUPO ZAFFARI:

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – Mas a sua empresa, a empresa que o Senhor representa pratica a

negociação de benefícios extrapreços? Benefícios extrapreços?[fim]

O SR. CLAUDIO LUIZ ZAFFARI – Eu teria que definir claramente o que que o Senhor entende por um benefício extrapreço. Então, eu vou voltar a lhe dar um exemplo, talvez nós possamos encaixar, e eu diria que sim, se se encaixar nesse processo. Por exemplo: a indústria me procura para fazer um lançamento de um produto, ou uma promoção de um produto ou uma promoção de um produto e precisa usar todos os meios possíveis para se comunicar com o seu consumidor através de nossos espaços.[fim]

GRUPO SONAE:

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – O Senhor poderia definir para nós o que é benefício extrapreço, em termos de mercado varejista?[fim]

O SR. IDENIO RISSO BELMONTE FILHO – São as condições contratuais que nós acertamos com os fornecedores anualmente.[fim]

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – Esses benefícios todos estão em contrato?[fim]

O SR. IDENIO RISSO BELMONTE FILHO – Todos, todos, todos.[fim]

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – Vou usar aquilo que usualmente é colocado aqui: rapel, reinauguração de loja, espaço em gôndola, enfim, isso tudo é previsto no contrato?[fim]

O SR. IDENIO RISSO BELMONTE FILHO – Tudo. Nós não temos rapel. Temos fidelidade, né? Mas tudo, tudo que é acordado com o fornecedor...[fim]

Além do SIPS que noticiou a existência do benefício extrapreço, a representação da Indústria de produtos bovinos – SICADERGS – também reconhece a existência dessa prática:

O SR. ELVINO BOHN GASS – (...) Gostaria de saber qual a informação que os Senhores têm, que contratos os Senhores têm em relação à rede de supermercados e se também em relação à carne bovina é praticado um extrapreço.[fim]

O SR. MAURO DANTE AYMONE LOPEZ – Essa questão é de domínio público. É notória. Realmente isso aí acontece.[fim]

Quanto à existência da prática de benefício extrapreço - isto é FATO NOTÓRIO E INCONTROVERSO. Se em outros inquéritos parlamentares esse tema foi tratado com restrições, e com uma série de cautelas por parte do grande varejo, no presente Inquérito houve maior transparência e esta CPI conseguiu obter maior cooperação para esclarecer tal fato. A controvérsia em si não é a existência, mas a legalidade dessa prática.

DIFUSÃO DA PRÁTICA DO BENEFÍCIO EXTRAPREÇO NO MERCADO VAREJISTA DO RIO GRANDE DO SUL:

Uma dúvida surgida no presente Inquérito é se a prática do benefício extrapreço era restrita ao grande varejo, mais precisamente às grandes redes de supermercados. Por ocasião da CPI do Preço do Leite foi detectado que essa prática era concentrada nas grandes redes varejistas e que as médias e pequenas empresas não tinham poder econômico para exigi-la do fornecedor.

Em resposta à Requisição de Informações n.° 1816/2003 a SONAE fez as seguintes declarações:

III - Foi a SONAE que introduziu a prática do “benefícios extra preços” no RS?

III - Não. Nem sabe informar quem introduziu no Rio Grande do Sul. Contudo, com certeza foi o SONAE a primeira rede de lojas e supermercados a formalizar juridicamente a prática do "benefício extrapreços" com a finalidade de dar transparência e segurança jurídica ao negócio jurídico, o que é benefício ao fornecedor. Isto é uma demonstração que não há nada ilícito

ou infração contra a ordem econômica. Se ilícito fosse, o SONAE não teria espontaneamente apresentado cópia dos contatos de fornecimento a esta CPI e prestados todas pontualmente todas as informações e explicações solicitadas.

IV - O "benefício extrapreço" é um costume comercial atualmente praticado por todo varejo, por empresas de todos os portes e até por restaurantes.

No presente Inquérito, esse ponto da difusão do benefício extrapreço tomou rumo oposto. Foi apurado que se trata de uma prática difusa no grande comércio varejista e que está se propagando, inclusive, para outros setores. Nesse sentido, transcreve-se o depoimento de Aristides Inácio Vogt, presidente do SIPS e do técnico que elaborou o estudo sobre MARK-UP:

O SR ARISTIDES INÁCIO VOGT – Teríamos que fazer um levantamento para poder apontar isso mais precisamente.[fim]

Professor Marquetti quando o trabalho foi feito, menciona supermercados?[fim]

O SR. VALMOR MARQUETTI – Menciona, mas não faz. O que se sabe é que esta prática não é gaúcha, digamos, é do País todo e não se restringe ao setor de carnes. Praticamente todas as agroindústrias e as indústrias que fornecem aos supermercados reclamam da existência desta cobrança de verbas adicionais: Rapel, aniversários, promoções, estas coisas todas.[fim]

As evidências que se tem é que já ultrapassou os supermercados. Está entrando também em cozinhas industrias, restaurantes já estão passando a praticar este tipo de procedimento.[fim]

O realizador do estudo prestou as seguintes declarações sobre a difusão da prática do benefício extrapreço, em seu depoimento perante esta CPI, na data de 13 de outubro do corrente ano:

O SR. PRESIDENTE (Elvino Bohn Gass) – Esses extrapreços, Dr. Marchetti, eles... é possível nós considerarmos eles uma imposição das redes de supermercados?[fim]

O SR. VALMOR MARCHETTI – Bom, vamos falar o seguinte: em grandes redes, em pequenas e médias, até, praticamente isso é uma prática usual, né? Eu já vi as declarações: se quer vender, quer vender tem que pagar rapel, senão tu não vende. Então...[fim]

A própria Entidade Noticiante é quem declara que se trata de prática difusa no grande varejo – lojas de supermercados e hipermercados – e não se restringe só ao produto carne bovina e suína. Não se restringe a nenhum produto, o que se deduz que se não abrange a todos, mas, pelo menos, à maioria e aos principais. Não é restrito só ao mercado gaúcho, mas é praticado em todo o Brasi,l e está entrando até em cozinhas industriais e restaurantes.

PERCENTUAL DO BENEFÍCIO EXTRAPREÇO PRATICADO PELO GRANDE VAREJO:

O Estudo MARK-UP PRATICADO PELA DISTRIBUIÇÃO EM CARNES E PRODUTO DE ORIGEM SUÍNA EM PORTO ALEGRE, editado em setembro de 2002 pelo SIPS, aponta que o benefício extrapreço é praticado com um percentual de 20% pelo grande varejo:

Qual é a magnitude dos benefícios extrapreços dos estabelecimentos de distribuição, em relação aos produtos de origem suína? As Agroindústrias processadoras relataram, em reunião no Sindicato da Indústria de Produtos Suínos no Estado do Rio Grande do Sul, que a soma dos pagamentos delas aos Supermercados atinge o percentual entre 18 e 22% do valor das vendas. Assim, em média, a soma dos itens que denotam benefícios extrapreços é de 20%."

No dia 11 de agosto de 2003 os representantes do SIPS prestaram depoimento perante esta CPI. Entre eles, estava o economista que elaborou o estudo sobre Mark-Up e prestou depoimento na data de 13 de outubro de 2003, dando informações dos percentuais praticados sobre benefício extrapreço:

O SR. PRESIDENTE (Elvino Bohn Gass) – No trabalho apresentas isso, mas só para nós termos aqui, o percentual disto, o que é considerado extrapreço, isso eleva em quanto?[fim]

O SR. VALMOR MARCHETTI – Nesse setor, em torno de 18 %.[fim]

O SR. PRESIDENTE (Elvino Bohn Gass) – Dezoito por cento, confirma esse dado?[fim]

O que era 20% teve uma redução para 18% em média percentual. Ora, se o estudo aponta uma dado, por que motivo os seus representantes e realizadores declaram outro? Por que essa divergência de números?

Para esclarecer essa dúvida, é importante se averiguar como foi elaborado tal estudo. O técnico que o elaborou prestou depoimento perante esta CPI na data de 13 de outubro de 2002, conforme transcreve-se o trecho a seguir:

O SR. PRESIDENTE (Elvino Bohn Gass) – De outro lado, absolutamente ao contrário, as redes de mercado dizem aqui: Nós aceitamos as ofertas que as agroindústrias nos fazem. Então aquela que faz a melhor oferta, essa nós praticamos.[fim]

O SR. VALMOR MARCHETTI – É, isso fecha com a declaração que já ouvimos de que quem quer vender, tem que se submeter, pagar rapel, aumentar rapel...[fim]

O SR. PRESIDENTE (Elvino Bohn Gass) – E os Senhores só ouviram? Não têm sobre essa prática algo documentado, escrito...[fim]

O SR. VALMOR MARCHETTI – Não... nota fiscal, isso não...[fim]

O SR. PRESIDENTE (Elvino Bohn Gass) – Absolutamente nada, nenhum contrato, não chegaram a avaliar ou ver contratos...[fim]

O SR. VALMOR MARCHETTI – Não.[fim]

O estudo foi realizado exclusivamente com base nas informações verbais das indústrias associadas ao SIPS. Não foi realizado com base em documentos, como notas fiscais. Isto compromete seriamente a metodologia deste estudo, pois, para o que foi alegado não há comprovação.

E foi isto que ocorreu no curso da instrução desta CPI. O referido estudo, ao ser contradito pelo grande varejo, demonstrou que os níveis percentuais do benefício extrapreço não são, nem os 20% declarados no estudo, e, tampouco, os 18% afirmados em audiência de tomada de depoimento. Nesse sentido, transcreve-se os depoimentos dos representantes do grande varejo:

AGAS:

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – Claro, até entendo o exemplo, mas isso se dá dentro de um determinado limite. Agora, temos, aqui, segundo declarações do SIPS na CPI, que a prática do rapel pelas redes de supermercados, independentemente das nomenclaturas utilizadas, extrapreço, enfim, o somatório pode chegar de 15 a 20%. Essa acusação é verdadeira?[fim]

O SR. ANTÔNIO CESA LONGO – Eu não acredito. Eu não tenho conhecimento desses índices, dessa existência de...[fim]

GRUPO GUANABARA:

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – Isso é uma série de adjetivos que se classificam. Na verdade, se formos buscar no dicionário, não vá condizer com aquilo que é fato. Então, esses extrapreços chegam a quanto por cento do valor?[fim]

O SR. LUIZ CARLOS DA SILVA CARVALHO – Ah, é irrisório.[fim]

GRUPO ZAFFARI:

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – Nós falamos, aqui, de produtos; agora, segundo a declaração do SIPS, perante esta CPI, a prática de benefícios extrapreços pelas redes de supermercados, independentemente das nomenclaturas utilizadas, o seu somatório pode chegar de 15 a 20%. Essa acusação do SIPS é verdadeira?[fim]

O SR. CLAUDIO LUIZ ZAFFARI – Na nossa empresa, pela qual estou respondendo, acredito totalmente fora de propósito.[fim]

GRUPO SONAE:

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – Nós tivemos aqui declarações do SIPS, nesta CPI, no sentido de que a prática desses benefícios pelas redes de supermercados, independentemente das nomenclaturas que sejam utilizadas, o seu somatório poderia chegar a 15% ou 20%. Procede?[fim]

O SR. IDENIO RISSO BELMONTE FILHO – Esse número nós desconhecemos. Não é a nossa realidade.[fim]

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – A realidade de vocês chega a qual patamar?[fim]

O SR. IDENIO RISSO BELMONTE FILHO – Ela chega, no suíno, a 8.3 média.[fim]

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – E no bovino?[fim]

O SR. IDENIO RISSO BELMONTE FILHO – No bovino, 10%.[fim]

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – Então, essa acusação do SIPS, no caso, não é verdadeira?[fim]

O SR. IDENIO RISSO BELMONTE FILHO – Do Sonae, não é verdadeira.[fim]

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – Não é verdadeira?[fim]

O SR. IDENIO RISSO BELMONTE FILHO – Não.[fim]

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – O Senhor tem conhecimento de outras empresas que chegam a esse patamar?[fim]

O SR. IDENIO RISSO BELMONTE FILHO – No Sonae, não.[fim]

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – Não. E em algumas outras, por relato dos fornecedores?[fim]

O SR. IDENIO RISSO BELMONTE FILHO – Não.[fim]

Essas são declarações positivas contra declarações negativas. O estudo contratado pelo SIPS não tem como provar suas alegações, porque foi realizado somente com base em informações verbais, não comprovadas por prova documental. As alegações do varejo foram ratificadas pela prova documental requisitada por esta CPI. Em média, o maior percentual verificado nas grandes redes foi em torno de 10% - significa a metade do que foi alegado pelo SIPS.

A SONAE é a única empresa que formaliza em instrumento de contrato a prática do benefício extrapreço, que varia de 4,8% a 9,8%, conforme cópias reprográficas juntadas aos autos. Os nomes não são revelados em razão do segredo comercial.

Na análise dos documentos apresentados pela AVIPAL S/A ALIMENTOS, pode-se constatar que a empresa comercializa seus produtos derivados de suínos com pouca margem de descontos. A contabilização dessas vendas é representada pelas notas fiscais e respectivos lançamentos contábeis, dando conta de que os valores recebidos correspondem ao constante na nota fiscal de venda. Algumas exceções aparecem em decorrência de alguns descontos no momento do pagamento, ou seja, descontos mercantis que não influenciam na base de cálculo dos tributos estaduais e federais. Esses descontos estão juridicamente amparados pela prática comercial.

Com relação ao FRIGORÍFICO BASANENSE S/A, trazemos mais um exemplo de fornecedor de produtos suínos às redes de supermercados, e podemos citar as notas fiscais nºs 117.360 e 117.662, destinadas à Comercial Rissul Ltda., onde os registros contábeis não apresentam qualquer diferença

em relação àqueles documentos fiscais, ou seja, o valor recebido corresponde ao valor do documento fiscal de venda.

A ILEGALIDADE DIRETA OU EXTRÍNSECA, EM TESE, DO BENEFÍCIO EXTRAPREÇO:

Pela alegação do SIPS quando manifestou sua inconformidade, pode-se deduzir que o benefício extrapreço seria, em tese, ilícito. O grande varejo, por sua vez, entende que se trata de um costume comercial, portanto, uma prática lícita.

É razoável, à luz da Ciência Jurídica, concluir que o benefício extrapreço é um costume comercial? Preenche o mesmo os requisitos de ser um costume e esse pode ser considerado como uma fonte do Direito e uma regra jurídica? Se é um costume, é SECUNDUM LEGEM, ADVERSUS LEGEM ou PRAETER LEGEM? Se enquadra tecnicamente no campo do Direito Comercial?

Quem sustenta a tese de que o benefício extrapreço é um costume comercial foi o GRUPO SONAE, através da resposta escrita à REQUISIÇÃO DE INFORMAÇÕES N.° 1816/2003:

I - Definir tecnicamente, especialmente a luz do Direito Comercial, o que é “benefícios extra preços” em termos de mercado varejista?

I - O "benefício extrapreço", a rigor técnico, não possuí uma conceituação jurídica, a luz do Direito, especialmente do Direito Comercial. A sua definição técnica dificilmente será encontrada nos meios acadêmicos ou mesmo em literatura. As raras publicações existentes são trabalhos elaborados por técnicos do meio universitário, encomendados por fornecedores, como é do conhecimento desta CPI. Contudo, trata-se de um ponto de visa unilateral. Está longe de avaliar essa matéria com imparcialidade e, principalmente, com rigor científico.

A princípio, "benefício extrapreço" pode ser definido como um costume comercial oriundo das práticas e dos usos de comércio entre varejo e os fornecedores, onde ambas as partes na negociação de compra e venda, visam obter vantagens econômicas para melhor colocação de um produto junto ao consumidor.

O surgimento e consolidação do "benefício extrapreço", como um costume comercial, tem como causa a evolução do varejo, a complexidade das relações modernas de produção e consumo, a sofisticação dos consumidores em padrões de exigências e a consciência dos seus direitos como sujeito de direito. Como conseqüência das práticas e usos de comércio entre o varejo e os fornecedores, onde ambas as partes na negociação da compra e venda, com o fim de obter vantagens econômicas para melhor colocação de um produto junto ao consumidor, está diretamente relacionada como a necessidade de publicidade das marcas indústrias.

A correta compreensão do surgimento do "benefício extrapreço", como costume comercial, deve ser buscada na evolução do próprio varejo nas últimas décadas no brasil, que segue a mesma tendência mundial. O processo de urbanização da sociedade brasileira, fez com que a maioria das pessoas passasse a viver e trabalhar em cidades, especialmente, nas de porte médio e grande. Toda essa mudança sociológica, de uma sociedade do tipo rural e agrária para o tipo urbana e industrial, gerou mudanças radicais na relação de produção e consumo. A do tipo tradicional, onde a maioria dos produtos, especialmente os perecíveis, eram produzidos na zona rural próxima à cidade e comercializados em estabelecimentos varejistas de pequeno porte, sem necessidade de identificação do fabricante e sem que esse tivesse necessidade de divulgar o produto pelos meios de comunicação, acabou ficando obsoleta e superada, especialmente com o advento da globalização. No mundo Pós-Moderno os produtos industriais são hoje produzidos numa parte do planeta e comercializados em outros países. Os fornecedores são obrigados a identificar seus produtos através de marcas, com o registro como propriedade imaterial, e de adotarem estratégicas agressivas de publicidade para sensibilizar o consumidor para adquiri-los, especialmente para alimentos, como forma de identificação de sua origem e qualidade.

Na relação de abastecimento, o "freguês" da época tradicional se transforma em "consumidor" dos tempos pós-moderno, sujeito de direito protegido por regras de direito

especial e por órgãos públicos especializados de sua defesa, como Procons e agentes especiais do Ministério Público.

O comércio varejista do tipo tradicional, especialmente o de alimentos, conhecidos como venda, vendinha, mercado, bar, bodega, bolicho, bazar, boteco, quitanda, secos e molhados, foram superadas pelas lojas de supermercados e hipermercados, com maior espaço de exposição de produtos, em maior quantidade, variedade e diversidade, com atrações extras de preço e até de crédito, que são realidade até em Municípios de pequeno porte. São esses os estabelecimentos de comércio da preferência dos consumidores, que em última análise, foi quem ditou, pelas suas preferências, a própria evolução do varejo.

Como foi dito, os produtos são identificados por marcas industriais. É essa que dá referência ao consumidor da qualidade e origem do produto. Sua importância se tornou tamanha que é bem protegido juridicamente, pois é mensurável economicamente. Se é vítima de pirataria ou clonagem, é uma demonstração da importância que a marca adquiriu junto ao consumidor atualmente. Enquadra-se juridicamente como propriedade imaterial.

Para uma marca ficar conhecida pelos consumidores, adquirir a preferência e a confiança desses, é necessário altos investimentos publicitários pelos meios de comunicações. Ora, se as relações de abastecimento se dão em lojas de supermercados e hipermercados, local onde os consumidores fazem suas compras, evidente que essas lojas passam a participar da estratégia de publicidade das marcas para atingir o consumidor, onde são gastos muitos recursos, o que acrescenta aumento de custo ao produto final, com influência direta na composição do preço ao consumidor.

Os espaços de maior visibilidade nas lojas de supermercados e hipermercados são espaços de publicidade. Um produto que se encontra num espaço de acesso obrigatório de passagem dos consumidores, como os que estão localizados perto dos caixas, tem maiores chances de

ser visualizado pelo potencial comprador do que aquele que fica numa prateleira no final da loja.

A tese da SONAE é razoável, mas não dá uma justificativa suficiente para convencer esta Relatoria. Necessita essa matéria ser melhor analisada e aprofundada.

Que se trata de uma prática comum e habitual na relação econômica entre a indústria e o varejo, não resta dúvida alguma. É fato notório. Se cria obrigação entre as partes signatárias - essa é dúvida, até por que é formalizada em instrumento do contrato ou a este equiparado. Por esse ângulo de argumentação jurídica, o benefício extrapreço até pode ser considerado como um costume, pois preenche os requisitos desta fonte de direito. Mas isto não esgota a análise dessa matéria.

Cabe analisar se o costume pode ser considerado como um fonte de direito e um regra jurídica no Direito Pátrio. Para uma melhor compreensão desta matéria, transcreve-se, a seguir, uma citação doutrinária originária do Direito Civil, por ser esse o ramo da Ciência Jurídica que primeiro se desenvolveu e cujo institutos serviram de base para os demais ramos que o sucederam. Nesse sentido, cita-se o CIVILISTA ORLANDO GOMES, em sua obra INTRODUÇÃO AO DIREITO CIVIL, 10ª edição, página 43:

1. O Costume

Costume é o uso geral, constante e notório, observado na convicção de corresponder a uma necessidade jurídica. Regra de conduta habitualmente obedecida, sua força coativa credencia-o como fonte formal do Direito. O costume é, em síntese, “um uso juridicamente obrigatório”. ³

O costume exerceu relevante papel na formação do Direito, por ter sido a forma de sua revelação nas sociedades rudimentares. Os monumentos legislativos da antigüidade mais remota foram condensação de costumes.

Para ser fonte formal do Direito, precisa o costume reunir dois requisitos, um objetivo e outro subjetivo. O elemento objetivo é o uso; “ a observância uniforme da regra pela generalidade dos interessados”, durante longo tempo. Necessário para a configuração desse elemento constitutivo, material, externo, que o uso seja constante, prolongado e uniforme, generalizado e contínuo. O elemento subjetivo é

representado pela convicção geral de que o uso correspondente a uma necessidade jurídica. É a opinio juris et necessitatis. Sobre sua necessidade pairam dúvidas, 4 mas a opinião dominante é que constitui requisito indispensável. A opinio necessitatis serve para distinguir o costume de outras regras de conduta (morais, religiosas) e de hábitos ou práticas que não correspondem a uma necessidade jurídica, como uso de anel de aliança pelas pessoas casadas.

O costume não se confunde com os usos convencionais constituídos por cláusulas insertas invariavelmente em certos contratos, chamados cláusulas de estilo, que se presumem quando neles não estão expressas. A força obrigatória de tais cláusulas resulta da vontade tácita das partes, não se impondo, desse modo, quando não podem ser presumidas, o que não ocorreria se verdadeiramente costume fossem.

O fundamento da força obrigatória do costume é controvertido. Seria, para alguns, a vontade tácita do legislador; para outros, a consciência popular. A primeira concepção contradiz a natureza mesma do costume. A segunda, tem o grave defeito de sustentar que uma regra de conduta é obrigatória, porque sua obrigatoriedade é consentida pelos que lhe devem obediência. Provinda da Escola Histórica, a teoria que põe a força obrigatória do costume na consciência popular é a mais difundida, contando ainda com o apoio de eminentes pesquisadores das fontes do Direito.

O problema do fundamento da força obrigatória do costume tem, no direito moderno, o interesse prático, e mais relevante, de explicar de onde o costume tira sua autoridade. Para essa indagação, há duas respostas: ou a autoridade do costume se consagra pela confirmação do legislador, ou pela a citação do juiz. A tese da confirmação legislativa é inadmissível na sua fundamentação e em suas conseqüências, não passando de intolerável exageração do papel do legislador para lhe reservar o monopólio da produção normativa, que eliminaria o costume como fonte formal do Direito. A tese da confirmação jurisprudencial é aceitável. Segundo seus adeptos, o costume adquire força

obrigatória quando reconhecido e aplicado pelos tribunais. Necessário, portanto, se consagre através da prática judiciária.

Discute-se, também, se o costume deve ser provado. Divergem os autores, entendendo alguns que, sendo o uso – elemento material do costume – um conjunto de fatos, sua prova é indispensável para que possa ser aplicado pelos tribunais, enquanto sustentam outros que, sendo fonte formal do Direito, dispensa prova, tal como a lei, que deve ser conhecida pelos juízes. Do ponto de vista lógico, esta interpretação é correta, mas, atendendo-se a que o costume, por sua própria formação, não possui os caracteres de precisão e certeza da lei escrita, há que admitir a necessidade da sua prova toda vez que não for suficientemente conhecido pelo juiz, tal como se procede em relação ao direito estrangeiro que por ele deva ser aplicado.

Os usos podem manifestar-se: secundum legem, praeter legem e contra legem. Costume secundum legem é o que se acha expressamente referido na lei. A remissão legal empresta-lhe segundo alguns, o caráter de verdadeira lei, pelo que deixaria de ser costume propriamente dito. Costume praeter legem é o que serve de complemento à lei, preenchendo as suaslacunas. Manifesta-se, desse modo, o cunho subsidiário do costume, próprio das sociedades políticas organizadas no pressuposto de que compete ao Estado, mediante leis, revelar o Direito. O costume praeter legem é um dos expedientes a que deve recorrer o juiz para setenciar quando a lei é omissa. Costume contra legem é o que se forma em oposição a uma disposição legal. Se encerra norma que se opõe diretamente a um preceito legal, chama-se consuetudo aprogatoria (costume ab-rogatório). Se consiste no não-uso de prescrições legais, denomina-se desuetudo (desuso). A distinção, embora admitida para o efeito de se dar valor ao primeiro e negar ao segundo, carece, hoje, de relevância. De referência ao costume contra legem, a grande questão que seu exame suscita é saber se prevalece. As opiniões dividem-se. Para alguns, é inadmissível. Como esclareceu GÉNY, tem se hoje por incontestável, do ponto de vista político, que a lei escrita, considerada a regra suprema,

deve prevalecer, por seu caráter preciso e regular, sobre as manifestações incertas, muitas vezes incoerentes ou mal determinadas, pelo menos desorganizadas, do uso. Para outros, o costume ab-roga a lei, uma vez se reconheça ser fonte do Direito, em pé de igualdade com o direito escrito sob forma legislativa. 5 Em que pese aos argumentos expedidos em favor desta tese, não é possível admitir-se o costume ab-rogatório, nem que a lei se revoga por desuso. 6 Princípio incontestável, decorrente da organização política atual, é o de que a lei só se revoga por outra lei. Até as leis supletivas não são revogáveis pelo costume. Na ausência de declaração da vontade das partes, prevalecem ainda quando aquele levasse à aplicação do preceito contrário ao que subsidiariamente é oferecido pela norma legal. O entendimento contrário é, entretanto, prestigiado por escritores de renome.

Há uma hierarquia entre as fontes formais do Direito, na qual a lei ocupa posição superior.

Breve comparação entre o direito escrito e o direito consuetudinário revela, por outro lado, as vantagens da lei sobre o costume. A lei é certa, precisa, rígida e pode ser modificada ou suprida facilmente. Tem, ademais, o cunho da generalidade. O costume é impreciso e inseguro, mas, em compensação, flexível, podendo modificar-se à medida que as necessidades sociais evoluem. Possui, demais disso, base popular de maior autenticidade por força do modo por que se forma. Seus inconvenientes são, entretanto, maiores do que essas vantagens.

No direito moderno, o papel do costume é insignificante, raro sendo o que se forma hoje em dia, não só devido à expansão legislativa mas também em conseqüência das limitações de sua força obrigatória. Sobrevivem, no entanto, costumes secundum legem, e, de alguma sorte, para a aplicação do Direito nos casos de lacuna da lei, usos praeter legem, postos que outros processos de integração, como a analogia e o recurso aos princípios gerais do Direito, sejam empregados com maior freqüência. Do costume, também qualificado uso normativo, distinguem-se os usos negociais e

os usos integrais. Tais usos não são fonte de direito; importam para a interpretação dos negócios jurídicos.

Costume é uma fonte de direito. É também uma norma de direito: cria obrigações de fazer e não fazer às partes como jurisdicização da conduta humana habitual e reiterada. Mas, isto depende do modelo jurídico adotado. Se o Brasil pertencesse à família Jurídica da Common Law, que é um modelo consuetudinário/jurisprudencial, maiores problemas não surgiriam. Bastaria um determinada conduta reiterada ser reconhecida por um tribunal e obrigaria as partes interessadas. Contudo, pertencemos à Família Jurídica Romano-Germânica. Esta agrupa os Países nos quais a Ciência Jurídica se formou sobre a base do Direito Romano. Formou-se graças aos esforços da universidade da Europa Continental, que elaborou e desenvolveu, a partir do seculo XII, com base nas compilações do Imperador Justiniano, como uso de método e bases científicas comum a todos, apropriada às condições do mundo moderno. Não é o Direito Romano em si, mas sua evolução e continuidade histórica. É aí que reside o problema. No Sistema Romano-Germânico o costume é uma fonte secundária do Direito. Por ser um direito legislativo a lei é a principal regra de direito. Porém, não é única fonte de Direito.

Sobre o conceito técnico de costume e sua importância no Mundo Ocidental, transcreve esta Relatoria o trecho da obra OS GRANDES SISTEMAS DO DIREITO CONTEMPORÂNEO, do Jurista RENÉ DAVID, página 113, que trata do costume na Família Jurídica Romano-Germânica:

O Costume

97. Conceito de costume. Dentro de uma certa concepção sociológica do direito, o costume desempenha um papel preponderante; constitui a infra-estrutura sobre a qual o direito é edificado e dirige a maneira pela qual é aplicado e desenvolvido pelo legislador, pelos juizes e pela doutrina. A escola positivista, ao contrário, esforçou-se por reduzir a nada o papel do costume; este já não lhe parecia ter de desempenhar senão uma função das mais restritas dentro do direito, doravante codificado, identificado com a vontade do legislador. Esta posição carece de realismo, enquanto que, inversamente, a da escola sociológica, concedendo à expressão “fonte de direito” um sentido inusitado, exagera a função do costume. O costume não é, aos nossos olhos, este elemento fundamental e primário do direito como desejaria a escola sociológica: ele não é senão um dos elementos que permitem descobrir a solução justa. Este elemento, nas

nossas sociedades modernas, está longe de ter a importância primordial que se atribui à legislação. Mas está igualmente longe de ser tão insignificante como tem pensado a doutrina do positivismo legislativo.

Juristas franceses e alemães adotam, em teoria, uma atitude diferente perante o costume. Os juristas franceses são tentados a ver nele uma fonte de direito de certo modo ultrapassada, não desempenhando mais que um papel insignificante depois de termos reconhecido, com a codificação, a preponderância inconteste da lei. Estariam prontos a subscrever as fórmulas legislativas que, na Áustria e na Itália, apenas prevêem a aplicação do costume nos casos em que a lei remete expressamente os juizes para este. Pelo contrário, na Alemanha, na Suíça e na Grécia a preocupação é apresentar a lei e o costume como duas fontes de direito colocadas no mesmo plano¹; esta atitude é aparentemente orientada pela escola histórica que considerou o direito no século XIX, como um produto da consciência popular. Assim, a discrepância que existe na teoria não tem qualquer conseqüência prática. De fato, ambos comportam-se como a lei se tivesse tornado a fonte exclusiva ou quase exclusiva do direito; a realidade revela-nos, contudo, outra coisa, e confere ao costume um papel muito maior que a aparência nos leva a supor.

98. Função prática do costume. A lei tem, muitas vezes, a necessidade do suplemento introduzido pelo costume para ser compreendida, na medida em que as noções às quais recorre o legislador exigem ser esclarecidas do ponto de vista do costume. Não se pode, sem apelar para o costume, dizer quando a conduta de uma pessoa é faltosa, se uma certa marca constitui uma assinatura, se um indivíduo agiu dentro de um prazo razoável, se o autor de uma infração pode invocar circunstâncias atenuantes, se um bem constitui uma recordação de família, se houve ou não impossibilidade moral de se conseguir a prova escrita de uma obrigação. Todas as tentativas feitas para eliminar, a este propósito, o papel do costume conduzem a um conceitualismo e a uma casuística contrários ao espírito do direito nos países da família romano-germânica; é empresa vã pretender eliminar o vasto papel, deste modo, ao costume secundum legem.

O costume praeter legem tem tido, pelo contrário, o seu domínio muito restringido com o progresso da codificação e o

primado reconhecido à lei nos regimes democráticos das sociedades políticas modernas. Os juristas da família romano-germânica, dos nossos dias, procuram a todo o custo apoiar o seu raciocínio nos textos legislativos. O costume praeter legem está condenado, nessas condições, a desempenhar apenas um papel muito secundário.

Igualmente o papel do costume adversus legem está, pelo menos em aparência, muito limitado, mesmo quando não é negado em princípio pela doutrina. Os tribunais, é evidente, não gostam de insurgir-se contra o poder legislativo.

Toda a análise do costume é, por assim dizer, falseada pela importância primordial reconhecida pela ciência aos textos do direito romano-germânico de outrora e aos códigos nacionais de hoje. O costume desempenhou, na evolução do sistema romano-germânico, um papel muito importante, mas parece que esse papel necessitava de uma legitimação que se encontrou na Idade Média, em certos textos de Digesto². Ainda nos nossos dias temos dificuldade em nos libertarmos da concepção romano-canônica do costume; procuramos colocar todos os costumes no quadro da lei, mesmo se, para isso, tivermos de apresentar falsamente, como sendo conformes à lei, costumes que, na realidade, preenchem lacunas ou vão mesmo contra a lei. O costume perdeu, assim, aos nossos olhos, salvo raras exceções, o seu caráter de fonte autônoma do direito. Sendo doravante o problema único o da interpretação da lei, pareceu que se podia deixar de falar dele.

Uma compreensão mais exata do papel do costume, permitindo, em particular, compreender os direitos tradicionais africanos, apenas pode ser obtida desde que se deixe de confundir o direito com a lei. Se a lei não se confunde com o direito, mas é concebida com um simples meio – o principal nos nossos dias – de chegar ao conhecimento do direito, nada impede que se reconheça, ao lado dos textos legislativos, a atitude de outras fontes. Entre estas figurará, de modo importante o costume: tão natural e pode dizer-se, inevitável é considerar a conduta habitual dos homens para estabelecer o que objetivamente é considerado como justo na

nossa sociedade. No entanto não deve ser atribuído um valor em si ao costume, ele apenas deve ser consagrado na medida em que serve para indicar a solução justa. O jurista não deve, portanto, aplicá-lo de um modo automático. Deve exercer sobre ele a sua crítica e interrogar-se sobre sua razoabilidade.

No Direito Brasileiro, o costume pode ser aceito como uma fonte secundária do Direito e se constitui em regra jurídica. Se é um costume, é SECUNDUM LEGEM, ADVERSUS LEGEM ou PRAETER LEGEM? Como costume, qual deles o benefício extrapreço se enquadraria?

Começando pelo COSTUME ADVERSUS LEGES, isto é, contrário à lei. Para se chegar a uma conclusão plausível, se o benefício extrapreço é realmente um costume comercial contrário à lei, deve-se encontrar a lei que proíbe a sua prática ou penaliza criminal ou administrativamente esta conduta. Em outras palavras, o fato em si de ser um costume não significa que seja uma conduta lícita, em conformidade com o Direito. Para adentrar ao mérito desta matéria, será analisada a legalidade direta ou explícita, cujo campo do Direito a ser tratado é o do Direito Econômico e os reflexos que sofre do Direito Penal e Administrativo.

O benefício extrapreço, para ser um costume ilícito, tem de estar proibido em lei, isto é, tem de ser uma conduta proibida expressamente por lei válida. O benefício extrapreço é uma matéria de ordem econômica. Se, em tese, a sua prática estiver proibida em lei penal, deveria estar tipificada pela Lei Federal n.° 8.137/1990, que define os crimes contra a ordem tributária, econômica e as relações de consumo, em especial nos seus artigos 4° e 5° que definem os crimes contra a ordem econômica:

"Art. 4°. Constitui crime contra a ordem econômica:

I – abusar do poder econômico, dominando o mercado ou eliminando, total ou parcialmente, a concorrência, mediante:

A) ajusta ou acordo de empresa;

b) aquisição de acervos de empresas ou cotas, títulos ou direitos

c) coalização, incorporação, fusão ou integração de empresa;

d) concentração de ações, títulos, cotas ou direitos em poder de empresa, empresa coligadas ou controladas, ou pessoa físicas;

e) cessação parcial ou total das atividades da empresa;

f) impedimento a constituição, funcionamento ou desenvolvimento de empresa concorrente;

II – formar acordo, convênios, ajuste ou aliança entre ofertantes, visando:

a) à fixação artificial de preços ou quantidades vendidas ou produzidas;

b) ao controle regionalizado de mercado por empresa ou grupo de empresa;

c) ao controle, em detrimento da concorrência, de rede de distribuição ou de fornecimento;

III – discriminar preços de bens ou de prestação de serviços por ajustes ou acordo de grupo econômico, com o fim de estabelecer monopólio, ou de eliminar, total ou parcialmente, a concorrência;

IV – açambarcar, sonegar, destruir ou inutilizar bens de produção ou consumo, com o fim de estabelecer monopólio ou de eliminar, total ou parcialmente, a concorrência;

V – provocar oscilações de preços em detrimento de empresa concorrente ou vendedor de matéria-prima, mediante ajuste ou acordo, ou por outro meio fraudulento;

VI – vender mercadoria abaixo do preço de custo, com o fim de impedir a concorrência;

VII – elevar sem justa causa o preço de bem ou serviço, valendo-se de posição dominante de mercado.

PENA – detenção, de dois a cinco anos, ou multa.

Art. 5°. – Constitui crime da mesma natureza:

I – exigir exclusividade de propaganda, transmissão ou difusão de publicidade, em detrimento da concorrência;

II – subordinar a venda de bem ou a utilização de serviço à aquisição de outro bem, ou ao uso de determinado serviço

ÍII – sujeitar a venda de bem ou a utilização de serviço à aquisição de outro bem, ou ao uso de determinado serviço à aquisição de quantidade arbitrariamente determinada;

IV – recusar-se, sem justa causa, o diretor, administrador ou gerente de empresa a prestar à autoridade competente ou prestá-lo de modo inexato, informação sobre o custo de produção ou preço de venda.

PENA – detenção, de dois a cinco anos, ou multa.

Parágrafo único. A falta de atendimento da exigência da autoridade, no prazo de 10 (dez) dias, que poderá ser convertido em horas em razão da maior ou menor complexidade da matéria ou da dificuldade quanto do atendimento da exigência, caracteriza a infração prevista no inciso IV.

Observa-se que os tipos penais acima transcritos penalizam condutas que possuem similaridade idêntica às infrações da ordem econômica, previstas no artigo 21 da Lei Federal n.° 8.884/94.

Esta Relatoria não encontrou nos dispositivos legais acima referidos, de forma direta, clara e objetiva, no Diploma Legal acima referido ou mesmo em nenhuma lei penal proibindo expressamente a prática do benefício extrapreço em si e estabelecendo alguma forma de sanção para os infratores. Na verdade, não há proibição alguma expressa em lei vedando a prática do extrapreço que sirva como lei penal em branco para estabelecer sanção à prática do extrapreço.

Portanto, não há pena criminal à pratica do beneficio extrapreço.

Resta analisar, se o alegado costume comercial do benefício extrapreço constitui infrações da ordem econômica, previstas na Lei Federal n.° 8.884/94.

As sanções aplicadas pelo CADE às infrações da ordem econômica, previstas na combinação dos artigos 20 e 21 da Lei Federal n.° 8.884/94, não são de natureza criminal, mas administrativa. A circunstância de poderem ser revisadas pelo Poder Judiciário não descaracteriza sua natureza de pena em sentido amplo dado pela Ciência Jurídica. Esta Relatoria tem entende que as sanções administrativas estabelecidas pela Lei n.° 8.884/94 se aplica também ao varejo e até a prestadores de serviços, inclusive profissionais liberais. Não possui aplicação restrita à indústria. Mas, isso também não afasta a aplicação do Princípio da Legalidade.

Toda norma que estabelece sanção está sujeita ao PRINCÍPIO DA LEGALIDADE CRIMINAL, reconhecido como LIBERDADE PÚBLICA DA PESSOA HUMANA pela seguinte norma-regra da Constituição Federal: “Art. 5°. XXXIX – não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal.” Em decorrência disso, há proibição de aplicação de analogia e interpretação com efeito extensivo, face à exigência de taxatividade do tipo penalizador administrativo. Em outras palavras, a infração deve estar redigida de forma clara e objetiva, não podendo ser preenchidas as lacunas deixadas pelo legislador.

Às infrações contra a ordem a econômica se aplica mediante a conjugação dos artigos 20 e 21 da Lei Federal n.° 8.884/94, da mesma forma que, no Diploma Penal acima citado, a conduta considerada típica se dá pela conjugação da redação legislativa prevista no inciso e na alínea. Até pela similitude das infrações penais com as administrativas, conclusão outra que não poderia ser senão a de que não há proibição expressa e, em conseqüência, sanção à prática do benefício extrapreço.

Forçando um raciocínio jurídico para tentar enquadrar e punir como conduta anticompetitiva a prática do beneficio extrapreço, enquadrando somente pelo artigo 20 da Lei Federal n.° 8.884/94 e não na sua combinação com o artigo 21. Abstraindo a questão da legalidade e trabalhando até com a hipótese de possibilidade jurídica, só para efeitos de argumentação, se alguma empresa do grande varejo exercesse domínio relevante de mercado seria possível enquadra-la por abuso de poder econômico. Contudo, no caso concreto, nenhuma empresa exerce domínio de mercado presumido sobre o mercado de produtos de carnes bovina e suínas no Rio Grande do Sul. Isto afasta a aplicação de qualquer sanção a qualquer empresa sob análise.

Portanto, o benefício extrapreço não pode ser enquadrado como um COSTUME ADVERSUS LEGEM.

Não sendo contrário à lei, o benefício extrapreço é um COSTUME SECUNDUM LEGEM ou PRAETER LEGEM?

Costume SECUNDUM LEGEM não é, por que não se trata de matéria regulada em lei. Resta, assim, analisar se é COSTUME PRAETER LEGEM, pois a simples exclusão dos dois primeiros tipos de costumes, não o enquadra automaticamente neste último conceito.

Na seqüência, forçando ainda um outro raciocínio jurídico, para tentar enquadrar e punir como conduta anticompetitiva a prática do beneficio extrapreço, poderia argumentar-se que o mesmo não tem previsão legal, logo seria ilegal. Em outras palavras, não sendo previsto em lei, seria ilícito. É verdade que esse tipo de conduta não contém nenhuma espécie de previsão ou disciplina legal. Até pouco tempo, sequer era conhecida pelo grande público. Era essa a matéria tratada com reserva, face ao sigilo empresarial que envolvia as operações. Ganhou notoriedade pelas diversas divulgações sobre as CPIs do Leite, instaladas em vários Estados.

Esta Relatoria só utiliza essa hipótese como argumento para esgotar a análise dessa matéria. Defender a tese de que a falta de previsão legal a torna ilícita é um absurdo jurídico. Toda a construção prática e teórica do PRINCÍPIO DA LEGALIDADE, desde o ano 1215, quando foi estabelecida a Magna Carta na Inglaterra anglo-normanda, é para estabelecer limites ao arbítrio dos governantes. Em outras palavras, os governantes e seus agentes só podem fazer o que estão autorizados por lei. Para os particulares, se dá justamente o oposto: podem fazer tudo que não é proibido ou defeso em lei.

Por força do PRINCÍPIO DA LEGALIDADE, reconhecido no inciso II do artigo 5° da Constituição Federal – ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude da lei – "só a lei pode limitar ou restringir a liberdade natural, que só ela pode comandar que se faça ou se faça alguma coisa" segundo o Constitucionalista MANOEL GONÇALVES FERREIRA FILHO, em sua obra Comentários à Constituição de 1988, volume 01, folhas 26.

É juridicamente possível a existência de COSTUME PRAETER LEGEM e o beneficio extrapreço, em tese, poderia ser enquadrado nesse conceito.

Resta, por último, analisar se o benefício extrapreço pode ser enquadrado no campo do Direito Comercial. Ele pode ser definido como um costume comercial?

O benefício extrapreço se dá na relação comercial entre a indústria de produtos suínos e o grande varejo. Não é um relação de consumo, mas de intermediação com fornecimento ou compra-e-venda mercantil. Pode ser enquadrado como ato de comércio e, portanto, matéria que pode ser analisada sob a ótica do Direito Comercial.

Os conceitos técnicos acima referidos sobre costume são todos sob a ótica do Direito Civil. São uma referência, um ponto de partida para ser construído um conceito definitivo. É uma matéria do Direito Privado. Não é uma

matéria do Direito Civil e sim do Direito Comercial, por ser ato de comércio. Para isso, é necessário haver uma exata compreensão do próprio direito comercial, especialmente sob a nova ótica moderna implementada pelo novo Código Civil, já que esta codificação abrange também o Direito Comercial, com a denominação de Direito das Empresas. Esta, construída em conformidade com a nova ordem econômica estabelecida pela Constituição Federal de 1988, que é expressa em reconhecer as liberdades econômicas. E, acompanha as mudanças dos tempos, onde o comércio, no sentido jurídico, não pode ser mais considerado, em termos estritos. Em outras palavras é o ato de intermediar a compra e venda entre produtor e consumidor e o atacado e o varejo.

O Direito Comercial atual não se restringe a regular a profissão do comerciante e os atos de comércio à atividade comercial pura. Ela se amplia para tratar de toda atividade empresarial, abrangendo também a indústria, os transportes, os seguros, as instituições financeiras e a prestação de serviços como um todo.

Assim, interessam direitamente ao Direito Comercial o comércio interno e exterior, as importações e exportações, o comércio das coisas corpóreas e incorpóreas, de serviços, de riscos, a circulação de produtos, por via área, rodoviária, ferroviária, de cabotagem, marítima, o comércio fixo e ambulante e as atividades de transformação de bens, em geral. Ficam de fora as atividades do setor extrativo (agropécuária e mineração), desde que não explorados por pessoa jurídica, e as atividades intelectuais exercidas por profissionais liberais.

Por esse alargamento na matéria regulada pelo Direito Comercial é que se utiliza hoje a terminologia Direito Empresarial, conforme a teoria da empresa. O Direito Comercial pode ser conceituado em nossos tempos pós-modernos como o conjunto de regras que disciplinam a atividade dos empresários e das sociedades empresariais e os atos de comércio, mesmo quando praticados por não-empresários.

O comércio tem atuado como fator de integração e intercâmbio entre os povos, suplantando questões ideológicas e religiosas, ao longo da história. A economia move o mundo que se origina das transações comerciais em sentido amplo. Por isso, a preocupação do Governo em atrelar à norma constitucional os princípios que regem a ordem econômica. Também, o Direito Comercial/Empresarial é dinâmico e volumoso, porque deve acompanhar as inovações surgidas nas atividades humanas, que tornam possíveis a concretização de projetos inimagináveis.

Com o advento de novas tecnologias, principalmente a informática, aumenta o número de negócios realizados via rede mundial de computadores. Com isso, o Direito ainda encontrará muita matéria-prima com a crescente informatização, bem como nas atividades que ela gera e viabiliza.

O método utilizado pelo Direito Comercial é o indutivo; isto é, aquele que observa as partes para construir o todo. Suas características são: (1) dinamismo e agilidade para acompanhar o movimento das relações econômicas, já que seus atos são praticados com rapidez e em massa; (2) internacionalismo e inovação, pois, conforme já registrado, sofre influências dos mercados e se realiza entre povos, adota institutos e convenções estrangeiras para não ver a economia nacional suplantada por outras, e para uniformizar seus padrões de realização, acompanhando os progressos tecnológicos, que estimulam sua continuada renovação; (3) onerosidade, visto que o objetivo do Direito Comercial é a atividade que sempre busca o lucro; (4) massificação, pois seus atos se realizam em larga e ampla escala, em nível de mercado; (5) instrumentabilidade, pois o Direito Comercial se presta a dar forma jurídica à realização de negócios e relações comerciais, que se concretizam sem excesso de formalismo.

Tais características demonstram bem a autonomia do Direito Comercial, ramo do Direito Privado, em relação do Direito Civil. Em alguns momentos, principalmente quando se trata de obrigações, ambos caminham juntos e de mãos dadas. Entretanto, os elementos identificadores acima expostos, são suficientes para comprovar a diferenciação do Direito Civil, que utiliza o método dedutivo, isto é, que parte do geral para o particular, baseado em institutos praticamente imutáveis, como a família e a propriedade. O Direito Civil é estático, formal e solene e são comuns os atos praticados a título gratuito.

Os princípios que instruem o Direito Comercial, ao lado das características já elencadas, também colaboram para sua autonomia. A propriedade, no Direito Comercial, tem sentido diverso do que o consagrado pelo Direito Civil. Aqui, a propriedade é vista de modo dinâmico e empresarial, já que controla instrumentos de produção e geração de riquezas. Existe, também, no Direito Comercial, uma preocupação em proteger a aparência, com a finalidade de se garantir e assegurar a atividade mercantil, abrigando a boa fé.

Pela nova ótica do moderno Direito Comercial uma conduta não necessita ser imemorial para ser considerada um costume. Isto se exigia antes do advento do Código Civil da França, primeira codificação moderna, em sociedades estáticas. O mesmo não se aplica às sociedades dinâmicas dos tempos pós modernos. A vida em sociedade, especialmente nas relações econômicas, é mais abrangente do que as regras de direito estabelecidas pelo Estado sob a forma de lei. Os costumes nascem do seio da sociedade. Por sua origem, levando-se em consideração o critério de legitimidade, que é a regra de direito mais democrática.

Quanto à eficácia da regra consuetudinária, observam-se as lições do MESTRE FRANCISCO CAVALCANTE PONTE DE MIRANDA, em um das maiores obras do Direito Privado do Ocidente -Tratado de Direito Privado (páginas 119 e120):

Usos e costumes; usos interpretativos. A alusão da lei aos usos e costumes não a faz lata; ou ela mesma o é, ou o é o uso ou costume, a que ela remete. Se se trata de costume regra jurídica, há remissão: a regra jurídica costumeira é regra-conteúdo, e pode ser ou não ser lata; se se trata de uso-negócio jurídico, ou uso ato jurídico stricto sensu, ou uso fato jurídico stricto sensu, não se pode pensar em ser regra jurídica stricti iuris, ou não: não há regra jurídica em tais usos.

Surge aqui a questão da referência das leis aos usos interpretativos. A regra jurídica, que a faz, é regra jurídica interpretativa. O uso, aí, é conceito, com que se integra a regra jurídica interpretativa, como poderia ser conceito, com que se integrasse regra jurídica dispositiva, ou cogente. Discutir-se se o uso, aí, é regra jurídica , ou não no é, não vem ao caso: a) se o uso é atendido sem lei que remita a ele é só manifestação de vontade; b) se é atendido porque a lei manda atender a ele, é parte integrante (talvez a conteúdo variável) da lei; c) se é aplicado como lei, então é uso noutro sentido, o de direito costumeiro. Se b) tem o que ele diz (não ele mesmo) o caráter de parte integrante da regra jurídica que a ele remete, e então o ser interpretativo, dispositivo, ou cogente, depende da regra jurídica cuja parte é. Se a), não há cogitar-se de ser lei, ou de não no ser, porque, ex hypothesi, é somente manifestação de vontade. Se c), não se há de levantar a questão, porque já se partiu da afirmação de se tratar de costume, portanto de lei. O que é comum às três espécies é que tais usos e costumes podem variar com o tempo; e, salvo regra jurídica especial, a remissão da espécie b) se entende ao uso que for o do momento e lugar em que haja de considerar a incidência da regra jurídica remissiva sobre o suporte fático. Se a codificação deles os fixa no tempo é problema a posteriori, concernente à força fixadora dessa codificação. Entende-se que se trata de simples facilitação literária, se alguma regra jurídica, da mesma categoria que a regra jurídica remissiva, não lhe atribuí força que baste à derrogação dessa.

O benefício extrapreço surge das complexas relações do novo varejo. O fato de não haver uma previsão ou regulamentação legal não torna uma

conduta que não esteja proibida ou defesa em lei. Querer dar interpretação com efeitos extensivos ou utilizar analogia ou mesmo interpretação analógica a uma conduta que não é tipificada como ilícita ou mesmo simplesmente proibida, é que seria ilegal. Por isso, sob a ótica do novo Direito Comercial/Empresarial é plausível admitir que o benefício extrapreço é um COSTUME PRAETER LEGEM,

Nesse aspecto discordamos do ilustre Jurista René David sobre a importância do COSTUME PRAETER LEGEM, que teria sido suplantada, se não extinto com a codificação do Direito. O Mestre Francês tem razão quando se refere a seu País, a França, e a seus vizinhos da Comunidade Européia. Mas, no Brasil, a realidade é diferente. Vivemos numa anarquia legislativa, onde a pulverização de diplomas legais criam instabilidade ao invés de estabilidade na ordem jurídica. O processo legislativo tem se mostrado ineficiente para modernizar e simplificar o conjunto de atos normativos, atualizando-se aos novos tempos. Basta citar o exemplo do novo Código Civil que tramitou por vários anos e já reclama atualização no seu primeiro ano de vigência. Em razão disso, há um razoável espaço jurídico para o COSTUME PRAETER LEGEM. Na verdade, esse nunca perdeu seu espaço. A maior parte das leis comerciais em vigor no Brasil e no Mundo tiveram como fonte usos e costumes comerciais. O Código Civil novo regula uma série de contratos nominados. Contudo, nada de novo foi criado. Já eram construções jurídicas de contratos inominados ou atípicos, vigorando como verdadeiros usos e costumes civis.

Sobre o COSTUME PRAETER LEGEM, que está longe de ter um papel secundário no Direito Comercial moderno, pode-se afirmar com segurança que se trata de um pioneiro das relações jurídicas, já que a livre empresa é mais ágil que o Estado, que só intervém normativamente após a existência de uma experiência consolidada pela iniciativa privada.

Esta CPI concluí que não é ilegal a conduta do benefício extrapreço, pois se trata de um COSTUME COMERCIAL PRAETER LEGEM, cuja prática ainda não foi disciplinada por lei pelo Congresso Nacional.

ILEGALIDADE INDIRETA OU INTRÍNSECA EM TESE DO BENEFÍCIO EXTRAPREÇO

A circunstância do benefício extrapreço poder ser enquadrado tecnicamente como um COSTUME COMERCIAL PRAETER LEGEM, não esgota a análise da ilegalidade dessa conduta praticada pelo grande varejo. Ficaria incompleta se não fosse abordada sob a ótica da ilegalidade indireta ou intrínseca; que resulta da violação às normas positivadas do standards valorativo como normas-princípios constitucionais ou oriunda do campo da legitimidade da sociedade através dos PRINCÍPIOS GERAIS DO DIREITO.

Um dos Princípios Gerais do Direito é o que veda o LOCUPLEMENTO ou ENRIQUECIMENTO SEM JUSTA CAUSA, que significa que o Direito não aceita que uma pessoa enriqueça as custas do empobrecimento do outro, sem uma justa causa.

A dúvida surgida por esta CPI é se na relação negocial entre o fornecedor de produto suínos e grande varejo a imposição direta ou indireta não importaria em enriquecimento ilícito do varejo, as custas do empobrecimento sem justa causa do fornecedor, face a circunstância de que a produção em escala exige distribuição em escala, que na atualidade só as lojas de supermercados e hipermercados realizam em nível de varejo.

Na coleta da prova testemunhal esta CPI questionou diretamente essa matéria. Nesse sentido, transcreve-se o depoimento da REDE ZAFFARI:

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – A prática desses benefícios extrapreços não importa em enriquecimento sem justa causa do varejo com o empobrecimento do fornecedor na medida em que essa prática tem como fator central para a sua realização o poder de mercado praticado do varejo?[fim]

O SR. CLAUDIO LUIZ ZAFFARI – Eu diria que, se tudo que é abusivo de uma parte ou de outra, é prejudicial ao mercado, mas o mercado, justamente se ajusta a esse processo na medida em que se substitui o fornecedor ou se substitui o supermercado. Cabe à indústria, justamente, tomar um caminho: para aí, eu estou vendendo tanto para ti, tu estás pedindo demais, não posso te atender. É, mas eu quero assim, senão não te compro. Então a indústria vai ter que repensar a posição dela, vai ter que...vou te vender a um pouquinho menos, vou vender agora para outro, para outro, isso é processo de mercado, processo de comércio.[fim]

Para esclarecer esse ponto controvertido, esta CPI expediu requisições de informações, já que a prova testemunhal foi deficitária nesse ponto. Entre as respostas recebidas, destaca-se a da REQUISIÇÃO DE INFORMAÇÕES N.° 1816/2003, da SONAE:

II – O benefício extra preços não importa em enriquecimento sem justa causa do varejo com o empobrecimento ilícito do fornecedor, na medida que essa prática tem como fator central para sua realização o poder

de mercado praticado pelo varejo, que a não realização do negócio inviabiliza a colocação do produto no mercado

II - Inicialmente, é importante esclarecer que a prática do "benefício extrapreço" não é proibida por lei. A circunstância de não ser suficientemente conhecido pela opinião pública e até mesmo nos meios acadêmicos, não o torna nenhum ilícito penal ou infração contra a ordem econômica. E essa circunstância se dá justamente pelas peculiaridades próprias do comércio varejista de lojas de supermercados e hipermercados. Não há monopólio nesse segmento. Não há monopólio nesse segmento. Pelo contrário, existe forte e acirrada concorrência entre as redes de lojas, num mercado altamente competitivo. Há necessidade de sigilo nas negociações com os fornecedores, para obter uma vantagem competitiva com os concorrentes.

O fator sigilo da prática do "benefício extrapreço" foi o que fez surgir toda a controvérsia e até mesmo desconfiança e suspeitas. Mas "sigilo comercial" não pode ser interpretado como atividade ilícita ou nociva a livre concorrência como abuso de poder de mercado. As atividades fiscais e comercial estão sob proteção do sigilo. As negociações com os fornecedores é também uma atividade que envolve sigilo, pois integra a estratégica empresarial frente as suas concorrentes.

Não é correta a informação de que o "benefício extrapreço" tem como fator central para sua realização o poder de mercado praticado pelo varejo. É importante esclarecer que a prática do "benefício extrapreço" é um costume comercial difuso em todo o comércio varejista. Não é só praticado pelas grandes redes, mas também pelas médias e pequenas e atualmente está se expandindo até para restaurantes. A sua ocorrência independente da empresa ter ou não posição dominante de mercado e não é a sua prática que leva alguma empresa varejista a assumir posição de mercado no varejo.

No quesito anterior foi explicado que esse costume comercial está intimamente relacionado com a publicidade das marcas indústrias dos fornecedores. Foi dito que as lojas

de supermercados e hipermercados não são só espaço de comércio, mas também espaço publicitário de marcas de produtos. Se toda a estratégia de publicidade dos fornecedores visa atrair o consumidor para adquirir sua marca, que são vendidas pelo varejo, especialmente nas lojas de supermercados e hipermercados, essas adquirem importância estratégica de publicidade, pois é lá que o consumidor, em última análise, vai ser persuadido e convencido em optar por determinada marca. Na negociação entre o varejo e o fornecedor, o local de exposição do produto na loja se torna estratégico para atrair o consumidor. Os locais de maior visibilidade e fácil acesso são aqueles mais procurados pelos fornecedores para expor seus produtos. Há disputas entre os fornecedores por esses espaços nas lojas, pois a exposição nos melhores locais é uma forma de publicidade, diminuindo os custos de publicidade direta pela mídia.

Não há como falar em empobrecimento ilícito do fornecedor. Quem industrializa um produto e cria uma marca tem a opção de comercializa-lo diretamente ao consumidor. Inúmeras indústrias adotam essa estratégia de venda. Mas essa estratégia de venda limita a oferta do produto, diante da limitação dos postos de vendas, além de obrigar a empresa a diversificar em uma atividade que não é a sua principal atividade. A indústria que pretende realizar venda em escala deve contar com parceira com o varejo. Para isso, pode optar em negociar com o pequeno varejo, pulverizado em milhares de lojas, ou com as redes de lojas de supermercados e hipermercados.

As empresas tem opção de comercializar diretamente seus produtos em lojas próprias ou com o pequeno varejo. Por que então no o fazem? Tem essa opção, mas acabam optando em comercializa-los com as redes de supermercados, porque é mais vantajoso e lhes auferem maior oportunidade de venda do seu produto e, portanto, maior margem de lucro. Essa opção se dá porque as redes de supermercados, no seu conjunto, são os locais preferenciais de compras dos consumidores, numa sociedade altamente urbanizada e concentrada em cidades de porte médio e

grande. A existência de lojas de supermercados e hipermercados só existem porque é uma opção do consumidor.

A opção que fazem pelas lojas de supermercados, especialmente aquelas organizadas em redes com inúmeras lojas, significa realizar um bom negócio. Um contrato de fornecimento, firmado com uma rede de lojas de supermercados, como o SONAE, significa a colocação do produto no mercado em diversas cidades e até Estados, onde milhares de fornecedores tem acesso diário. Significa que a marca fica conhecida por milhares de consumidores. Na prática, resulta a venda em escala. É importante esclarecer que o SONAE é responsável direto pela colocação de inúmeras marcas gaúchas fora do rio grande do Sul. Outro fator importante é a inexistência de inadimplemento: os fornecedores são pagos religiosamente nas datas pactuadas. A venda para redes menores ou para o pequeno varejo possuí elevados índices de inadimplemento. Outra vantagem é a logística. Há menos gastos com transporte, carga e descargas. Há, ainda, eliminação de intermediários na operação de compra e venda, pois a negociação é direta. Tudo isso, tem reflexo na composição de custo e influi diretamente nos preços.

Caso o "benefício extrapreço" gerasse o enriquecimento sem justa causa do varejo, tendo como nexo causal o empobrecimento ilícito do fornecedor, sua nomenclatura deveria ser "prejuízo extrapreço".

Em sua defesa a SONAE argumenta que o benefício extrapreço se dá por dois fatores: (1) espaço publicitário; (2) distribuição em escala.

Quanto ao primeiro fator, o depoimento da indústria corrobora com essa alegação. Nesse sentido, transcreve-se as declarações do representante da EMPRESA PERDIGÃO:

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – O Senhor saberia informar se é cobrado da sua empresa, em função de comercialização de carnes e produtos, pelo setor supermercadista – no caso da Perdigão, de produtos –,

valores ou descontos relativos à propaganda institucional?[fim]

O SR. JOÃO ROZÁRIO DA SILVA – Sim, nós temos acordos comerciais, eventuais ou não, com praticamente todos os supermercados daqui e do interior e do Brasil todo, uma variedade, uma gama muito grande de nomes que se dão pelo Brasil a fora, desde o enxoval até os descontos de fidelidade, crescimento, passando por aniversários, inaugurações, anúncios cooperativos, e são acordos comerciais que nós fazemos regularmente com todos os supermercados.[fim]

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – Existe negociação desses valores?[fim]

O SR. JOÃO ROZÁRIO DA SILVA – Sem dúvida, de acordo com o volume que vão comprar, com o espaço extra, ou não, na loja, um anúncio de preço mais acessível ao consumidor, participamos com alguma coisa.[fim]

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – Não são impostos arbitrariamente pelo mercado... pelos supermercados?[fim]

O SR. JOÃO ROZÁRIO DA SILVA – A nós, não.[fim]

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – A outros?[fim]

O SR. JOÃO ROZÁRIO DA SILVA – Não conheço se algum depoente passa pelo problema de ter que arcar com a imposição de supermercado. Nós não aceitamos essa imposição.[fim]

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – Quando ocorre essa negociação ela é contratual ou verbalmente?[fim]

Em relação ao segundo fator – escala de distribuição - o grande varejo possui essa capacidade a custos menores do que a estratégia de pulverização das vendas. Essa capacidade do grande varejo de desovar grandes volumes é um fator que é levado em conta na negociação. Distribuição em escala com um

contrato firmado de fornecimento, contendo quantidade determinada, significa planejamento da produção, escoamento certo da produção, diminuição de custo de logística e do risco de inadimplemento. Nesse sentido, transcreve-se novamente o depoimento de uma das principais indústrias de produtos suínos, a PERDIGÃO:

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – Mas referente à formação do preço, o Senhor acredita que as grandes redes têm influência relevante e profunda na formação do preço?[fim]

O SR. JOÃO ROZÁRIO DA SILVA – Sem dúvida alguma. A concentração é uma verdade no Brasil, no Rio Grande do Sul e no mundo, e o poder de compra está ao lado da concentração. Eles oferecem a nós, indústrias, condições que só eles possuem de desovar grandes volumes, espaços refrigerados, exposições muito boas, e não há como uma indústria do nosso setor crescer, ser grande, sem passar por grandes vendas às grandes redes de supermercados. E em toda a negociação, o poder de compra está com quem compra grandes volumes.[fim]

Pelas informações recebidas, deduz-se que o beneficio extrapreço está relacionado ao serviço de publicidade da marca industrial e à capacidade de venda em escala. Os descontos operam-se nessas duas linhas.

A resposta e as declarações contêm argumentos plausíveis e razoáveis para demonstrar que, em tese, o benefício extrapreço está relacionado diretamente à capacidade do grande varejo de distribuição em escala em suas lojas, que se revestem de espaço direto de publicidade junto ao consumidor para a distribuição e publicidade da marca da indústria. Sob esse ângulo de análise, essa conduta não é anticompetitiva ou abusiva, pois, na prática, consiste numa prestação de serviço de distribuição e publicidade.

Nos negócios econômicos firmados nesses parâmetros, formalizados ou não por escrito no contrato de fornecimento, não há quebra da comutatividade, que geraria o desequilíbrio econômico-financeiro de uma das partes. Não se pode afirmar que só o varejo ganha e a indústria só perde com esses descontos realizados no benefício extrapreço. Há uma compensação entre ganhos e perdas. Os valores dos descontos se dão na proporção do espaço publicitário da marca na loja e a capacidade de venda em escala. Não há, assim, como se concluir que exista enriquecimento sem justa causa do varejo, pois não há um ganho unilateral só do varejo.

Quem deu a nomenclatura de benefício extrapreço a esses descontos foi o próprio estudo do SIPS. Até então este Parlamento não usava ou mesmo a conhecia. Esses descontos eram generalizados pelo nome de "rapel". Pelo acima exposto, se a própria nomenclatura diz ser benefício, é por que não é prejuízo. Se fosse plausível a alegação acusatória de imposição abusiva com empobrecimento ilícito da indústria, realmente poderia se dar razão à ironia lançada pela SONAE sobre esta matéria: a nomenclatura deveria ser "prejuízo extrapreço".

Não se descarta a possibilidade de haver uma negociação em que o grande varejo estabeleça descontos abusivos. Isso é possível de ocorrer. A quebra de regras jurídicas e morais é algo inerente à espécie humana. Mas, nessa hipótese, a análise só é possível num caso concreto e não em tese, como o presente onde se analisa o benefício extrapreço em si mesmo. Contudo, nessa hipótese, não é matéria objeto do Direito Econômico, mas do Direito Comercial. Observa-se que não foi trazido a este Inquérito Parlamentar o estudo de um caso concreto, mas em tese.

EXIGÊNCIA DE PROMOTORES DE VENDA ÀS CUSTAS DA INDÚSTRIA:

A indústria de produtos suínos foi expressa em seu estudo sobre MARK-UP ao alegar que o varejo exige e impõe, às custas da indústria, a colocação de promotores de venda em suas lojas. Em outras palavras, alega a indústria que esse custo deveria ser suportado pelo grande varejo. Nesse sentido, transcreve-se o trecho do Estudo Mark-up do SIPS:

Repositores e Degustadores: As Agroindústrias fornecedoras

arcam com os ônus para manter, dentro dos Supermercados,

funcionários especialmente contratados para realizarem as

tarefas de colocação de produtos nas gôndolas, colocação de

etiquetas de preços, substituição de produtos e divulgação

dos produtos.

A presente matéria será tratada em item separado do beneficio extrapreço. Há peculiaridades que exigem uma análise em separado, em que pese o estudo do SIPS ter tratado essa matéria junto com os descontos. O motivo é que não se vislumbrou, à primeira vista, uma quebra da comutatividade da relação de ganhos e perdas. Nesse tipo de operação não foi detectado o fato do varejo ter algum ganho via descontos na fatura. O cerne

da dúvida é saber: (1) se o varejo faz alguma cobrança monetária; (2) se é uma imposição do varejo; (3) se há ou não o interesse da indústria em arcar com essa despesa. O que se pretende clarear é se essa prática não importa em enriquecimento sem justa causa do grande varejo, na medida em que essa matéria é do seu interesse exclusivo e não da indústria.

A primeira dúvida existente é se o grande varejo exige desconto ou faz alguma cobrança monetária nesse tipo de operação. O técnico responsável pelo estudo acima referido, em seu depoimento prestado perante esta CPI, prestou as seguintes declarações sobre essa matéria:

O SR. PRESIDENTE (Elvino Bohn Gass) – Conforme o estudo do Dr. Valmor Marchetti a denominação disso se chama preço, extrapreço, está certo? Além da promoção, da propaganda propriamente dita, ou além da abertura de um novo empreendimento. O que mais está no extrapreço? No que está fora do contrato. Por favor, pode ser o DR. Marchetti, sim, mas eu só queria depois a confirmação, se pela indústria, isso efetivamente acontece.[fim]

O SR. VALMOR MARCHETTI – Pode se acrescer dos custos que as agroindústrias tem dentro dos supermercado com repositores e degustadores. Aquele funcionário que expõe, é um ônus da agroindústria. Esse é um encargo adicional. O resto são descontos em relação a agenda feita que tem n denominações. Além de rapel, conhece como enxoval, aniversários, verba para inaugurações ou reinaugurações, desconto financeiro, verba de crescimento, desconto de logística, taxa de fidelidade. Quero dizer que há vários outros termos empregados aí.[fim]

Esta declaração demonstra que a exposição do produto nas lojas do grande varejo não é um desconto, mas um custo adicional à indústria.

Quanto à segunda dúvida – imposição do grande varejo – as alegações acusatórias do SIPS foram contraditadas pelo grande varejo. O contraponto deu-se nas respostas às requisições de informações expedidas. Destaca-se, nesse sentido, a resposta à REQUISIÇÃO DE INFORMAÇÕES N.° 1816/2003 feita pela SONAE, ao seguinte quesito:

VI – O SIPS informou que as redes de supermercados exigem que os fornecedores coloquem promotores de venda para vender os produtos, as custas dos mesmos. Alegam que esse custo deveria ser suportado pelos

supermercados. Essa exigência não é abuso de poder econômico, na medida que o produto exposto na loja já não é mais da indústria? O SONAE utiliza este artifício?

VI - Não se trata de nenhum artifício de abuso de poder de mercado. Quando uma indústria lança um produto novo ou quer aumentar as vendas frente a seus concorrentes, há necessidade de torna-lo conhecido ou mais atrativo ao consumidor, eis que uma loja de hipermercado possui aproximadamente 30.000 itens em sua gama de produtos. Uma das estratégias utilizadas é a utilização de promotores de venda junto ao consumidor em potencial. Um dos lugares escolhidos, que é o único, são as lojas de supermercados.

Colocar promotores de vendas no local onde o consumidor faz suas compras é uma estratégia de publicidade da empresa que é a dona da marca, para sua divulgação diretamente ao consumidor. É uma opção da indústria e não uma imposição do varejo. Não há motivo para o varejo, em especial o SONAE, fazer essa exigência, pois o maior interessado na divulgação do produto é da dona da marca.

As informações da SONAE são corroboradas pelo conjunto da prova coletada, não só das outras empresas varejistas, mas até da própria indústria. Nesse sentido, são esclarecedoras as declarações de uma das maiores indústrias de produtos suínos, a PERDIGÃO:

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – A Empresa dos Senhores, que os Senhores representam, mantém promotores de venda distribuídos na rede varejista?[fim]

O SR. JOÃO ROZÁRIO DA SILVA – Sim, mantemos, hoje o número de promotor de venda é muito grande, com a urbanização do País e o crescimento dos supermercados, cresce assustadoramente. [fim]

Agora, Exmo. Deputado Márcio Biolchi, iniciei minha vida profissional no supermercado, em 1962. De 62 a 65 gerenciei o maior supermercado do Brasil em São Paulo, que era o Sirva-se S/A, já naquela época, as indústrias me forçavam aceitar promotores para cuidar melhor do seu produto, abrir seus espaços, então é uma prática

generalizada, consolidada, e que é difícil saber quem começou. É como a história do ovo e da galinha. Eu sou testemunha viva de que a indústria vinha a me oferecer promotores. Isso agora se tornou uma proporção que hoje já está institucionalizada. Hoje é difícil imaginar não colocarmos nossos homens nos principais supermercados, porque o produto perderia espaço, não seria bem cuidado, teria vencimento de vida útil e porque o mais novo poderia ficar na frente do mais velho, aquela coisa toda. Hoje temos um pequeno batalhão de 1200 promotores pelo Brasil afora cuidando de nossos produtos. Isso é mercado.[fim]

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – Por opção da indústria?[fim]

O SR. JOÃO ROZÁRIO DA SILVA – Por opção da indústria. Se não pusermos, tudo bem, mas certamente os nossos produtos não terão o mesmo cuidado.[fim]

Essas declarações são suficientemente esclarecedoras e dispensam maiores argumentações para formar a convicção desta Relatoria de que não é uma imposição do grande varejo, mas uma opção da indústria para melhor expor e cuidar da sua própria marca, sem ônus adicional na sua negociação com o grande varejo. Tem a opção de fazer e não fazer, conforme suas conveniências de publicidade. Em suma, é matéria de interesse exclusivo da dona da marca industrial.

Resta analisar se essa prática não importa em enriquecimento sem justa causa do grande varejo, na medida em que essa matéria seria do seu interesse exclusivo e não da indústria. Essa questão até já foi enfrentada e respondida. Contudo, para esgotar todas as hipóteses possíveis, para não deixar nenhuma dúvida, aborda-se a questão em outros termos: o custo da mão-de-obra não teria que ser arcado pelo grande varejo na medida em que há substituição de tarefas, como a de colocação do produto nas prateleiras, por exemplo?

Há questões em que a experiência de vida ajuda a responder certas perguntas com segurança. Quem hoje em dia não ingressa com regularidade nas lojas do grande varejo, pelo menos uma vez por semana? Em Porto Alegre – RS, pelo menos, o que se observa é que o serviço de colocar os produtos nas prateleiras, em sua grande maioria, é feito por funcionários da própria rede, ou, pelo menos, com o uniforme da rede, o que se leva a supor que sejam seus funcionários. Quando há demonstração de produtos, são perfeitamente identificáveis e se diferenciam dos funcionários regulares da loja, inclusive pela boa apresentação visual e estética. Se a dona da marca

industrial está expondo o produto e zela pela sua boa colocação nas prateleiras não o está fazendo em substituição à tarefa dos funcionários da loja, mas em seu próprio interesse de publicidade e atração de clientes. Não é plausível o argumento de que há substituição de tarefa com o fim de desonerar o varejo do custo de mão-de-obra de colocação do produto nas prateleiras.

Para concluir o presente item, se o varejo nada cobra e é uma opção da indústria, é evidente que o interesse só pode ser dessa última, por razões de publicidade da marca. Se é do seu interesse, não se pode vislumbrar enriquecimento sem justa causa do varejo, no fato da indústria ter de suportar sozinha o custo dito adicional de exposição do produto nas lojas.

COMPRA DE CARGAS FECHADAS:

A produção em escala da indústria exige distribuição em escala pelo varejo. Nessas circunstâncias, o grande varejo, especialmente as grandes redes, acabam assumindo um papel que era inimaginável para qualquer empresa do pequeno varejo. Este não tem escala de venda para adquirir uma carga inteira de um determinado produto, seja por falta de capital de giro ou mesmo dificuldade de estocagem. A indústria acaba vendendo pequenos lotes, cujo pequeno volume não gera descontos e há aumento adicional de custo de logística. O inverso se dá com o grande varejo. Este busca aqueles fornecedores que os podem atender rapidamente em quantidade e qualidade do produto e baixo preço. As compras do setor são centralizadas e programadas com a entrega sendo realizada pelo próprio fornecedor (indústria), nas diversas lojas ou num depósito central.

Esse processo se denomina de venda de carga fechada que, pelo volume de compras e a diminuição de custo de logística da indústria, gera descontos ao comprador.

A questão objeto da presente análise diz respeito à prática de carga fechada caracterizar ou não uma competição desleal por parte do grande varejo com relação ao pequeno, assim como em relação à indústria.

Em relação ao poder de compra do grande varejo, em especial às grandes redes supermercadistas, nenhuma indústria é obrigada a vender exclusivamente para essas. Se firmam acordo é por que se presume ser um negócio razoável. Tudo depende da estratégia de venda da indústria. Há empresas que diversificam e pulverizam suas vendas, como é o caso da PERDIGÃO, empresa de grande porte. Nesse sentido:

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – O Senhor citou várias vezes a questão da competitividade, a competição que ocorre aqui no Estado do Rio Grande do Sul. Referente às

grandes redes, eu faço a pergunta – ou refaço a pergunta: participam tão pouco do faturamento é apenas devido à competição local, de outras indústrias locais, ou também da dificuldade em negociação com as grandes redes, do poder de barganha que elas possuem?[fim]

O SR. JOÃO ROZÁRIO DA SILVA – Eu poderia esclarecer um pouco mais. No caso específico do Rio Grande do Sul é em função da competitividade da indústria, que é muito forte. Mas cabe esclarecer que, no todo, as grandes redes são pouco representativas para a Perdigão, porque nós atendemos diretamente a 60 mil clientes no Brasil. Nós fazemos questão de atender a todo e qualquer cliente que queira comprar nossos produtos. Com isso, as cinco maiores redes do Brasil representam para a Perdigão apenas 4, 8% do faturamento no acumulado deste ano até agora, quando, para a Associação Brasileira de Supermercados, essas cinco redes distribuem aproximadamente 40% dos alimentos do Brasil e, para nós, apenas 14, 8%. As 15 maiores redes do Brasil, ou melhor, os 15 maiores clientes, incluindo atacadistas e distribuidores, representam para nós 29% apenas. Nós não temos nenhum cliente no Brasil, nenhuma rede representando 5% do nosso faturamento. Nós somos uma empresa que dilui a sua venda no maior número possível de clientes de Norte a Sul do Brasil.[fim]

Mas, para adotar essa estratégia, há necessidade de organização de comércio, adicionando gastos elevados com publicidade, de logística e de vendedores, na medida em que a venda é pulverizada para poder realizar distribuição e venda que atenda a sua escala de produção industrial.

Entretanto, o grande varejo possui capacidade de distribuição em escala, a custos menores do que a estratégia de pulverização das vendas. Essa capacidade do grande varejo de desovar grandes volumes

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – Mas referente à formação do preço, o Senhor acredita que as grandes redes têm influência relevante e profunda na formação do preço?[fim]

O SR. JOÃO ROZÁRIO DA SILVA – Sem dúvida

alguma. A concentração é uma verdade no Brasil, no Rio Grande do Sul e no mundo, e o poder de compra está ao lado da concentração. Eles oferecem a nós, indústrias, condições que só eles possuem de desovar grandes volumes, espaços refrigerados, exposições muito boas, e não há como uma indústria do nosso setor crescer, ser grande, sem passar por grandes vendas às grandes redes de supermercados. E em toda a negociação, o poder de compra está com quem compra grandes volumes.[fim]

Sobre o que foi dito em relação ao pequeno varejo, valem as mesmas conclusões para a pequena indústria.

Que existe uma competição desigual entre o pequeno e o grande varejo isto é FATO NOTÁVEL e INCONTROVERSO. A medida em que a produção e a distribuição em escala dominam o mundo da economia, essa desigualdade tende a aumentar. Não há como o pequeno competir em condições de igualdade com o grande. Tampouco, há como se obrigar a indústria a fornecer para o pequeno varejo nas mesmas condições de descontos que tem com o grande varejo. São situações diferenciadas pelos imperativos de geração e distribuição de bens em escala. Em outras palavras, a relação negocial entre a indústria e o grande varejo e as vantagens obtidas pela produção e distribuição em escala não é, sob qualquer ângulo, que se analise a questão uma conduta anticompetitiva que configure, em si mesmo, uma infração à ordem econômica

Mas, o pequeno varejo está sabendo reagir e, com certeza, sobreviverá. Em relação ao Inquérito do Preço do Leite há um FATO NOVO: as CENTRAIS DE COMPRA. Essas estão fazendo com que o pequeno varejo e as redes menores do grande varejo possam concorrer em melhores condições. Nesse sentido, a AGAS prestou as seguintes declarações:

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – E essa prática, ela seria usual com todos os supermercados ou mais pelas grandes redes?[fim]

O SR. ANTÔNIO CESA LONGO – Não, isso... aquele ditado: Quem não chora, não mama; o pequeno aprendeu, também, para sobreviver eles estão formando centrais de compra, hoje, no Estado, temos 17 centrais que congregam cerca de 600 empresas de supermercados onde todos estão buscando um lugar ao sol. O pequeno está buscando se unir para ter um poder de compra melhor. O grande está procurando sobreviver em função do crescimento do pequeno.[fim]

A concorrência....e quem está ganhando muito é o consumidor, já que, apesar da perda do poder aquisitivo, a grande vantagem de toda essa abertura do mercado é o consumidor, que tem a oportunidade de resgatar um pouco da renda perdida através dessa ações mercadológicas aí.[fim]

A organização dos pequenos varejistas está fazendo com que haja maiores condições de igualdade de oportunidade à concorrência. Este fato novo no mercado, as centrais de compras, passa a ser um fator de estabilização da livre concorrência em matéria de preço, o que é, inclusive, reconhecido pelas grandes redes. Nesse sentido, cita-se o depoimento do representante da SONAE:

O SR. ROGÉRIO MOTA SOUTO – Eu também, eu só vou fazer um referencial, né, que isso é público, os Senhores devem estar acompanhando as centrais de compras, né. Hoje acabou aquela concorrência de uma empresa como a Sonae ou Zaffari, ou Carrefour contra o mercadinho da esquina. Não! As centrais de compra no qual eles têm poder de compra igual ou superior a nós. Isso é fato público, né. Nós temos aqui no Estado uma central de compras que dá-se destaque, né, que ela tem um volume de negócios substancial.[fim]

Nós temos outras centrais de compra no Estado aí com volume substancial de compra. Então, nós temos que romper essa idéia de que o mercadinho da esquina está concorrendo com a Sonae. Não. É um volume de negócio que essas centrais oferecem aos nossos fornecedores.[fim]

O efeito colateral das centrais de compras é uma pressão extra sobre a indústria. Ao comprar cargas fechadas acaba realizando melhores negócios porque tem produção em escala. A indústria acaba diminuindo sua oportunidade de pulverização de vendas e, de certa forma, de obter maior lucro. Mas, quem ganha é o consumidor. Primeiro por que o pequeno varejo e as redes menores do grande varejo podem competir em preço dos produtos. Segundo, obriga a indústria a se tornar mais competitiva e produzir em escala. O resultado são produtos melhores e mais baratos no mercado.

Na relação das centrais de compras com a indústria, observa-se o mesmo fenômeno já ocorrido no grande varejo: negociação direta entre o varejo e a indústria e a eliminação do atacado. Na prática, ao se eliminar esse

último, está-se reduzindo custos, o que torna maior a competição sem essa intermediação.

Resta o problema da pequena indústria que não tem capacidade de produção em escala. Nesse campo, nunca irá competir com a grande indústria - se tentar irá falir. A solução é a explorar o nichos de mercado e produzir produtos especializados do tipo artesanal ou especial. Na cadeia agroindustrial do leite, há exemplos que podem ser seguidos pelas indústrias tanto de produtos bovinos como suínos, de duas Cooperativas, a DANBY e a SANTA CLARA. Ambas se especializaram em nichos de mercado, onde as grandes indústrias de leite e seus derivados possuem dificuldade de competir.

Para esta Relatoria, a questão parece que não foi bem exposta. Se é fato notório e incontroverso a competição desigual entre o pequeno e o grande varejo e entre a pequena e grande indústria, diante das exigências de mercado de produção e distribuição em escala, a questão deveria ser direcionada para outro enfoque, que é o das políticas públicas. Em todas as nações desenvolvidas há tratamento jurídico efetivo aos pequenos empresários. No Brasil muito foi feito, mas há muito caminho a ser trilhado ainda, especialmente na capacitação do pequeno varejo em explorar melhor o comércio de conveniências e a pequena indústria a se capacitar na exploração dos nichos de mercado.

Para concluir, não se pode entender a relação entre o grande e o pequeno varejo como uma disputa de vida e morte, onde a vitória de um significa o extermínio do outro. Existem lojas de hipermercados e até supermercados que abrem espaços comerciais para o pequeno varejo, com atividade diversa. Além disso, muitas das grandes redes atuam também no atacado, estabelecendo alguma forma de cooperação. Esse é o caso da SONAE:

VII - Qual a relação do Grupo SONAE com o pequeno varejo?

VII - O pequeno varejo é parceiro do SONAE e não concorrente. O SONAE também atua no ramo de atacado e o pequeno varejo é seu cliente potencial. Ademais, muitas empresas do pequeno varejo acabam se abastecendo diretamente nas lojas do SONAE.

6.5.5.6. - COMERCIALIZAÇÃO DE PRODUTOS COM MARCA PRÓPRIA:

Para que este Relatório Final não se torne repetitivo nos pontos conceituais, remete-se ao item que tratou dessa mesma matéria na relação entre a indústria de produtos bovinos e o grande varejo.

A indústria de produtos suínos, por realizar o beneficiamento da carcaça em segundo ciclo, seja fornecendo cortes "in natura" ou produtos industrializados os mesmos são referenciados pela "marca industrial". O fator qualidade está associado diretamente à indústria. Nesse caso, é possível haver concorrência entre "marca própria do varejo" e a marca tradicional da indústria. A estratégia de "marca própria" é para fidelizar o consumidor com a bandeira da loja. Esse é beneficiado porque adquire, em tese, um produto de qualidade por menor preço. O consumidor não sofre prejuízo algum. A questão é saber se a indústria com marcas tradicionais sofre prejuízo e se esse pode significar uma conduta anticompetitiva do varejo. Nesse sentido, pela prova coletada, não há alegação explícita por parte dos interessados que seriam as indústrias de produtos suínos, de que estaria havendo prejuízo das marcas tradicionais pela difusão de "marcas próprias" por parte de alguma rede varejista.

Por último, pela prova coletada, pode-se deduzir que não é significativo ainda o número de produtos industrializados de suínos com "marca própria. A única rede a se manifestar objetivamente a esse respeito, foi a SONAE. O seu representante IDENIO RISSO BELMONTE FILHO declarou em seu depoimento que "no segmento de carne bovina, fica nesse estágio. Acredito que no de suínos, sim, a gente vai evoluir para trabalhar com embutidos e auto-serviço". Ora, interpretamos evoluir no sentido de se expandir, isto é, ocupar um espaço. Significa que não é relevante o uso de "marca própria" pelo varejo no agregado de suínos. Poderá vir a ser, mas ainda não é. Só se poderá analisar se há prática competitiva quando houver um caso concreto significativo e representativo.

O PODER DE MERCADO DO GRANDE VAREJO DE INFLUENCIAR NO PREÇO FINAL DOS PRODUTOS SUÍNOS E OS REFLEXOS CAUSADOS NO RESTANTE DA CADEIA AGROINDUSTRIAL DA SUINOCULTURA:

A força e a importância do grande varejo para a indústria estão diretamente relacionadas à questão de produção em escala. Produzir em escala exige, por questão mercadológica, distribuição em escala. Isto transferiu, na média, o eixo da negociação a favor do grande varejo. Se outrora a indústria, face à pulverização do mercado varejista, tinha maior poder de barganha e em muitos casos estabelecia as regras do jogo da negociação, isto hoje se inverte a favor do varejo. É evidente que a grande indústria dona de marcas tradicionais no mercado negocia em melhores condições com o grande varejo. Mas, na média, a indústria não mais impera sozinha no mercado.

Num mercado varejista em que operam grandes redes não dá para subestimar o poder de compra das mesmas e a capacidade de influenciar na formação do preço. Numa cadeia agroindustrial de alimentos é significativa a participação do grande varejo na formação do preço do produto, o que não deixa de ter reflexo no preço do produto fornecido pelo produtor rural. Contudo, há de se levar em consideração, na composição do preço, a

participação percentual do pequeno varejo, as vendas diretas em lojas próprias, a venda direta a cozinhas industriais, a restaurantes e o peso das exportações.

O Estudo MARK-UP PRATICADO PELA DISTRIBUIÇÃO EM CARNES E PRODUTO DE ORIGEM SUÍNA EM PORTO ALEGRE apresentado pelo SIPS, argumenta que o preço dos produtos suínos praticado pelas grandes redes de supermercados e hipermercados de Porto Alegre – RS é que acaba determinando o preço da matéria-prima fornecida pelo produtor rural. Em outras palavras, o SIPS responsabiliza as grandes redes de Porto Alegre – RS pela situação de dificuldade que a indústria de produtos suínos atravessa. É pelo menos o que se deduz desse estudo.

É fato NOTÓRIO e INCONTROVERSO que o produtor rural não está sendo justamente remunerado. A indústria de produtos suínos, por diversas razões, em seu conjunto, passa por dificuldades. Mas, isso não quer dizer que o culpado dessa crise é única e exclusivamente o grande varejo, em especial as grandes redes varejistas de Porto Alegre – RS. A instrução do presente Inquérito demonstrou que esta alegação do SIPS não se sustenta em provas.

O depoimento prestado pelo representante da PERDIGÃO dá informações discordantes da que foi fornecida pelo SIPS. Nesse sentido:

O SR. PRESIDENTE JERÔNIMO GOERGEN – De que forma essa competitividade influencia no preço aqui com relação aos outros Estados, como é que funciona?[fim]

O SR. JOÃO ROZÁRIO DA SILVA – Sem dúvida nós aqui vendemos mais barato do que no resto do Brasil, porque nós não queremos ficar ausentes do mercado. Nós temos produtos altamente perecíveis estocados aqui em Canoas, que é o nosso centro de distribuição do Rio Grande do Sul, além da fábrica de Marau, que abastece aquela região. Nós temos que vender. Nós não podemos ficar com produto velho no estoque. E, como o mercado faz o preço, a gente acaba abrindo mão de margem para estar presente. Para que se tenha uma idéia, neste ano, nós estamos em carnes suínas, no Brasil todo, com um lucro de 0, 6% – insignificante, mas está positivo. No Rio Grande do Sul, nós estamos com um prejuízo de 0, 4%.[fim]

O SR. PRESIDENTE JERÔNIMO GOERGEN – E de que forma isso é relacionado ao produtor?[fim]

O SR. JOÃO ROZÁRIO DA SILVA – Não interfere.[fim]

O SR. PRESIDENTE JERÔNIMO GOERGEN – Esses prejuízos, esse preço pago ao produtor?[fim]

O SR. JOÃO ROZÁRIO DA SILVA – Não interfere. Nós tratamos o produtor sem qualquer link com a região onde estamos vendendo o produto.[fim]

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – Os Senhores possuem dados referentes ao consumo e venda na Região Metropolitana em Porto Alegre?[fim]

O SR. JOÃO ROZÁRIO DA SILVA – Sim, especificamente para industrializados de suíno. As nossas vendas, do total Brasil, nós vendemos 4, 3% no Rio Grande do Sul, 1, 9% na Grande Porto Alegre, 0, 9% às grandes redes de Porto Alegre. Então, as grandes redes de Porto Alegre representam 0, 9% apenas da nossa venda Brasil, porém representam 21% das nossas vendas no Rio Grande do Sul. Como nossa posição no Rio Grande do Sul é fraca em função da grande competitividade local, esse 0, 9% do total Brasil representa 21% da venda do consumo do Rio Grande do Sul.[fim]

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – Eu ouvi o Senhor dizer que representa apenas 0, 9% do total.[fim]

O SR. JOÃO ROZÁRIO DA SILVA – Isso.[fim]

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – Sendo que 21% dos 4, 3% do Estado. Então, esse 0, 9% ou 21% do que é vendido no Estado o Senhor se referiu a isso como apenas. Por que apenas isso às grandes redes?[fim]

O SR. JOÃO ROZÁRIO DA SILVA – Perfeitamente. Pelo grande número de competidores locais. Para que V. Exa. tenha uma idéia, nós temos de markshare, no consumo total do Rio Grande do Sul de carnes industrializadas suínas, apenas – novamente – 15, 3%. Gostaríamos de ter muito

mais. Para que se tenha uma idéia, nós temos, então, 15, 3% do consumo do Rio Grande do Sul, 25, 5% do consumo de Santa Catarina e 36% do consumo do Paraná. Então, a competição aqui em carnes suínas industrializadas ou não é muito forte. O número de produtores é muito grande, de fabricantes é muito grande, e são ferrenhos combatentes nossos aqui.[fim]

O exemplo da PERDIGÃO é representativo da realidade, embora outras agroindústrias possuam maior participação no mercado relevante de Porto Alegre – RS, o que significa maior influência do grande varejo na composição do preço e o reflexo que essa produz no preço da matéria-prima paga ao produtor rural.

Entretanto, há um dado que não pode passar despercebido, sob pena de comprometer toda a análise. Pelos dados fornecidos pelo SIPS, a maior parte dos produtos de origem suína são vendidos fora do Rio Grande do Sul, inclusive para exportação, isto é, o custo em dólar da produção é compensado em dólar na venda. Nesse sentido, são estas as declarações do SIPS:

O SR. ARISTIDES INÁCIO VOGT – Vamos tentar. Rogério, por favor.[fim] (Procede-se ao datashow.)[fim]

Só para nós nos atualizarmos, na produção mundial, a carne suína é, largamente, a carne mais consumida, é muito mais consumida que as demais carnes.[fim]

Outro aspecto importante, numa análise que se faz da carne bovina, é que 30% do consumo da carne bovina, perdão, suína, é in natura; 70% são processados. Isso ainda também acontece no Rio Grande do Sul, como nós podemos ver nessas projeções. Aí nós temos o grupo de carcaças – isso aqui são trabalhos da origem, a produção e onde é que nós estamos consumindo –, as carcaças, os congelados, frescais e assim por diante.[fim]

O destino da produção, acho que também é importante nós fixarmos aonde é que vai a produção do Estado do Rio Grande do Sul, 25% da produção é consumo interno, dentro do Estado do Rio Grande do Sul; 54% nós mandamos para os demais Estados da Federação; e 20,5%, exportação – já era

superior.[fim]

Sintetizando, de cada quatro suínos abatidos pela indústria de produtos suínos no Rio Grande do Sul, somente um é comercializado no varejo gaúcho. E, varejo aqui no Estado é tanto o pequeno como o grande, as cozinhas industriais e até venda direta para restaurantes em todo o território do Rio Grande do Sul. Não é o produto suíno comercializado no Rio Grande do Sul que forma o preço na Cadeia, quanto mais o que é comercializado nas principais redes varejistas de Porto Alegre – RS. Também, não há necessidade de maior argumentação para afastar essa hipótese apontada pelo estudo do SIPS.

Para efeitos de raciocínio jurídico, mesmo que os altos índices de MARK-UP e que o benefício extrapreço fosse abusivo, em nada iria alterar as conclusões desta Relatoria de que o preço pago ao produtor rural não é determinado pelo varejo gaúcho, especialmente as três grande redes de Porto Alegre - RS. Isso não significa que não seja o varejo. Na verdade é esse, mas nacionalmente, somado aos efeitos das exportações.

Na verdade, nem todas as indústrias comungam da mesma opinião do SIPS, como é o caso da PERDIGÃO:

O SR. ELVINO BOHN GASS – Entrou com um pedido de investigação sobre suposto abuso da atuação dos supermercados no varejo. A Perdigão endossa esse pedido de investigação feito pela Abipecs?[fim]

O SR. JOÃO ROZÁRIO DA SILVA – Não.[fim]

A formação do preço, para finalizar o presente item, é uma matéria complexa, ligada a problemas mercadológicos, com todas as suas variantes de oscilação do mercado, como excesso de oferta, falta de procura, custo de insumos, tributos e outros fatores. Essa matéria não pode ser simplificada apenas como se um elo da cadeia tivesse poder de mercado para estabelecer o preço final do produto, com reflexo em todos demais elos, e fosse o responsável pelas dificuldades financeiras que o setor de produtos suínos atravessa.

HIPÓTESE DE FORMAÇÃO DO PREÇO MEDIANTE ACORDO E AÇÃO COMBINADA ENTRE CONCORRENTES:

Esta CPI não poderia deixar de registrar algumas observações feitas sobre os indícios de formação de cartel na indústria de produtos suínos, em especial o apontado expressamente pelo GRUPO CARREFOUR em sua

resposta à REQUISIÇÃO DE INFORMAÇÕES N.° 1820/2003:

"20) E, apenas para constar, "reuniões para discutir vendas e listas de preços enviadas ao Sindicato por parte das empresas filiadas", em tese, estariam a configurar indícios da existência de prática dos ilícitos previstos nos incisos I e II do art. 21 da Lei n.º 8.884/94.

Nesse sentido, convém observar que o CADE já se manifestou em casos de práticas consertadas envolvendo sindicatos de indústrias, reputando-as como infrativas à ordem econômica."

À referência feita, inclusive com a transcrição, realmente existe no Estudo MARK-UP PRATICADO PELA DISTRIBUIÇÃO EM CARNES E PRODUTO DE ORIGEM SUÍNA EM PORTO ALEGRE do SIPS. O realizador deste estudo, o Economista Valmor Marchetti em seu depoimento prestado perante esta CPI na data de 10 de outubro do corrente ano, não nega a realização destas reuniões na sede do SIPS e declara que o referido Sindicato se reúne para discutir preço comum a ser praticado:

"O SR. PRESIDENTE (Elvino Bohn Gass) – Tem uma diferenciação que me interessaria, do tipo entre grande, médio e pequeno fornecedor, de tratamento diferenciado por parte do mercado em relação a esta característica dele?[fim]

O SR. VALMOR MARCHETTI – Não, não temos essa informação. Temos a média, que está... faz parte do trabalho, mas acho que esse levantamento que estavam se propondo a fazer e eu já dei curso a ele, apura isso.[fim]

O SR. PRESIDENTE (Elvino Bohn Gass) – Que levantamento é esse?[fim]

O SR. VALMOR MARCHETTI – Esse de tomar...[fim]

O SR. PRESIDENTE (Elvino Bohn Gass) – Ah, sim... do trabalho. Certo.[fim]

O Senhor fez referência à existência de indicador de

referência dos preços das indústrias aos supermercados. O que é exatamente isso?[fim]

O SR. VALMOR MARCHETTI – Isso é uma lista de preços elaborada pelas agroindústrias...[fim]

O SR. PRESIDENTE (Elvino Bohn Gass) – Individualmente ou conjuntamente?[fim]

O SR. VALMOR MARCHETTI – Não, em conjunto.[fim]

O SR. PRESIDENTE (Elvino Bohn Gass) – Em conjunto?[fim]

O SR. VALMOR MARCHETTI – Elas se comprometem a praticar um preço mínimo, digamos, nas suas vendas.[fim]

O SR. PRESIDENTE (Elvino Bohn Gass) – Isso, em que momento? Decidem entre elas?[fim]

O SR. VALMOR MARCHETTI – Eles fazem reuniões periódicas para decidir isso aí, praticamente mensais.[fim]

O SR. PRESIDENTE (Elvino Bohn Gass) – Reuniões do sindicato, no caso?[fim]

O SR. VALMOR MARCHETTI – Exato, é. Sindicatos, em bolsas, em vários lugares.[fim]"

Por fim, esta CPI obteve junto à ACSURS, um levantamento de preços por quilo de suíno pago por algumas unidades industriais. A seguir, demonstra-se na tabela os preços praticados no período de 24.06 a 29.07 do corrente ano:

29.07.03 22.07.03 15.07.03 08.07.03 01.07.03 24.06.03Empresa “a”

1,40 +bom

1,40 + bon

1,40 + bon

1,37 + bon

1,37 + bom

1,37 + bon

Empresa “b’”

1,40 1,40 1,40 1,37 1,37 1,37

Empresa “c”

1,40 + tip

1,40 + tip 1,40 + tip 1,37 + tip 1,37 + tip 1,37 + tip

Empresa “d”

1,40 + tip

1,40 + tip 1,40 + tip 1,37 + tip 1,37 + tip 1,37 + tip

Média 1,40 1,40 1,40 1,37 1,37 1,37

Diante do registro do GRUPO CARREFOUR esta CPI oportunizou ao SIPS que apresenta-se sua defesa sobre as condutas infracionais que lhe estão sendo imputadas. Em resposta ao MANDADO DE NOTIFICAÇÃO N.º 13/2003, o SIPS impugnou a acusação e fez prova comprovando suas alegações (folhas 13380/13389).

O professor Valmor Marchetti em petição encaminhada a esta CPI, alega que seu depoimento foi distorcido no seu contexto. Conclui que “por derradeiro e definitivo, reafirmo que jamais presencei e não tenho conhecimento de que, em qualquer oportunidade, tenham as agroindústria, na sede do SIPS ou fora dela, se reunido com o objetivo de definirem, prévia e conjuntamente os preços a serem praticados ao comércio varejista (folhas 13390/13393).

Pelo contraditório firmado, especialmente nas informação de variação de preços mensais nas empresas associados, não se confirma a tese de prática de uniformização de preços.

CONCLUSÃO E A APLICAÇÃO DA LEGISLAÇÃO DE DEFESA DA LIVRE CONCORRÊNCIA:

A indústria suína passa por dificuldades sérias por uma questão de custo de produção. Como é estruturada no sistema de produção integrada, tem que arcar com o custo da alimentação dos seus suínos. Porém, há uma equação que nunca vai fechar. O custo de produção se dá em dólar e a venda do mesmo é em real. As exportações não possuem um peso relevante para equilibrar essa operação dólar x real. As soluções não são simples, mas há necessidade de se rever essa operação, não só no sentido de aumentar as exportações e diversificar os mercados externos, mas também de diminuir os custos de alimentação. Mas, isto é tema de discussão para outro capítulo desta CPI - o referente às políticas públicas.

Quanto à infração da ordem econômica, não há prova de abuso de poder de mercado por parte da SONAE, ZAFFARI e CARREFOUR, no sentido noticiado de que as dificuldades enfrentas pela indústria de produtos suínos seriam dessas Empresas, por serem elas quem fixa o preço final do produto, com reflexo no preço que a indústria paga pela matéria-prima – suíno vivo – ao produtor rural. Não só não existem elementos de prova plausíveis para decretar o indiciamento, mas, principalmente, a hipótese noticiada não é razoável, no sentido da possibilidade de ocorrer, pois a sua participação na compra do total da produção de produtos suínos no Rio Grande do Sul não é tão significativa a ponto das grandes redes varejistas de Porto Alegre – RS poderem determinar unilateralmente o preço praticado em todo o Estado, mesmo que a hipótese de prática abusiva de MARK-UP e de benefício extrapreço, para efeitos de argumentação, fosse verídica, pelo menos nos

termos noticiados pelo SIPS.

Na verdade, na AUDIÊNCIA DE ACAREAÇÃO realizada no dia 08 do corrente mês, entre a indústria de produtos suínos (Sádia, Perdigão, Frangosul e Avipal) e o grande varejo (Sonae, Carrefour e Zaffari), as teses de abuso de poder econômicos não foram confirmadas. Pelo contrário, as declarações foram todas no sentido de confirmar a livre concorrência e livre negociação entre as diferentes partes. Foi exposto que as negociações se dão pontualmente, caso a caso, conforme o interesse e a conveniência das partes. Todas as partes confirmaram que o consumidor não é prejudicado, mas sim o grande beneficiado, com a existência do controverso benefício extrapreço.

Os trabalhos de condução da acareação tiveram como norte, gráficos que indicavam variações de aumento percentual de preços em Porto Alegre – RS, muitos superiores a São Paulo. Esse foi um ponto que as partes presentes tiveram dificuldades de apresentar naquele momento uma explicação plausivel. Esta CPI oportunizou que as mesmas apresentassem explicações por escritos, repetindo as perguntas feitas naquele ato. Todas as partes responderam, refutando as colocações sobre os citados gráficos, como teses não confirmadas. Nesse sentido, esta Relatoria transcreve em anexo (ANEXO 01 DO RELATÓRIO FINAL) as respostas do GRUPO ZAFFARI, que a média dos argumentos apresentados, cujos fundamentos e conclusões acolhe como parte deste Relatório para afastar a tese inicialmente apresentada, que não se mostrou suficientemente sustentável para indicar prática de conduta anticompetitiva.

RELAÇÃO ECONÔMICA ENTRE O GRANDE VAREJO E O CONSUMIDOR:

OBJETO E FIM:

Tendo como premissa a relação econômica entre o varejo e o consumidor, o objeto da presente análise é o de averiguar se há domínio de mercado relevante de carnes bovina e suína e o exercício abusivo de posição dominante de mercado, pela circunstância de haver concentração de redes de supermercados e hipermercados.

O fim da presente análise é o de apurar a existência da (1) materialidade de infração à ordem econômica; (2) indícios de autoria.

DEFINIÇÃO DO MERCADO RELEVANTE:

Nas cadeias agroindustriais das carnes bovina e suína a presente etapa é a que se dá a relação entre o grande varejo e o consumidor.

Ao elencar as hipóteses de definição da dimensão de produtos do mercado relevante, esta CPI adapta os conceitos e definições técnicas de pareceres da SEAE/MF, de texto técnicos de sua autoria, face à precisão da fonte. Só não os transcreve na íntegra para preservar as partes interessadas, por tramitar o processo em sigilo e por envolver informações e dados que se constituem segredo empresarial.

Esta Relatoria, ao analisar as operações praticadas no varejo, dividiu o mesmo no seguinte critério: (1) pequeno varejo: as mercearias, fruteiras, padarias, açougues, feiras-livres, papelarias, mercados e mercadinhos e lojas de conveniência e lojas de sortimento limitado; (2) grande varejo: supermercados e hipermercados.

Para a análise de ato de concentração de mercado, esta CPI excluiu na formação do mercado relevante de produto o pequeno varejo. O motivo da exclusão da análise desse tipo de estabelecimento varejista foi por que o tipo de consumo que se pratica nesses pequenos estabelecimentos, via de regra, é o de "conveniência", ou seja, pequenas compras que suprem necessidades imediatas dos consumidores. Nesses estabelecimentos o consumidor não pode efetuar o mesmo tipo de compra integrada proporcionada pelas lojas de supermercados e hipermercados.

Excluiu esta CPI, também, os tipos de auto-serviços representados pelas chamadas lojas de conveniências e de sortimento limitado. Embora estas operem com sistema de auto-serviços, oferecem basicamente o mesmo conjunto de bens do pequeno varejo e, portanto, de possibilidade limitada de compras do consumidor.

A economia de custo de transação do ponto de vista da demanda, os supermercados e hipermercados, oferecem ao consumidor a oportunidade de eliminar o custo de várias paradas para adquirir um determinado conjunto de bens. O consumidor, especialmente nas cidades de médio e grande porte, onde se localiza a maior parte da população, em regra, só se dirige ao pequeno comércio (acima especificado com um exemplo) se deseja efetuar compras de conveniência, para adquirir um produto ou produtos em específico. Caso contrário, não se irá dirigir, seguidamente, a vários estabelecimentos do pequeno varejo. Se assim desejar, fará várias paradas e pesquisas de preços para comprar uma cesta de produtos. A tendência do consumidor é optar por uma loja de supermercado/hipermercado, objetivando comprar todos os bens numa única parada.

Seguindo essa tendência comportamental, sua dúvida é escolher qual a rede em que irá realizar suas compras. Esse tipo de comércio varejista permite ao consumidor eliminar ou, pelo menos reduzir, os custos de transação, como pesquisa de preço, já que as redes varejistas usualmente divulgam os produtos promocionais e seus preços, por meio de propaganda, os custos para adquirir informações sobre a qualidade dos produtos, além do custo de deslocamento. Acrescenta-se, ainda, a facilidade de estacionamento do veículo do consumidor, problema esse que se agrava cada vez mais nos médios e grandes centros urbanos.

O grande varejo orienta suas estratégicas de venda, diversificando o mix de produtos ofertados, levando em consideração esse comportamento do consumidor. A diversidade dos bens vendidos em lojas de supermercados e hipermercados constitui-se numa forte atração sobre o consumidor, pois lhe oferece a possibilidade de economizar tempo e adquirir produtos variados de uma só vez, no mesmo lugar, reduzindo o seu custo de transação. Com estabilidade monetária, com o advento e consolidação do Plano Real os supermercados e hipermercados estão intensificando a ampliação de seu mix, avançando sobre fatias de mercado que tradicionalmente pertenciam ao pequeno varejo.

A elevação de preço de um ou de poucos produtos vendidos pelos supermercados e hipermercados não faz com que o consumidor destes procure um outro concorrente. Para o consumidor, o custo da troca de uma loja por outra é muito mais alto do que a troca por produtos substitutos dentro do próprio estabelecimento. E, mais uma vez, os supermercados e hipermercados se colocam numa situação vantajosa perante o pequeno varejo, dada à variedade do seu mix. Porém, a troca de uma loja do grande varejo por outra pode ocorrer quando há uma elevação significativa e não transitória dos preços da cesta básica de bens – justamente aquela que faz os consumidores efetuarem suas compras numa loja de supermercado ou hipermercado e não no pequeno varejo da esquina. Nessa hipótese, o consumidor tende a buscar outra loja do grande varejo como substituto, ou seja, um concorrente do grande varejo e não no pequeno varejo.

Existe diferenciação dos produtos oferecidos pelas lojas de supermercado e hipermercado, constituídos pelos serviços extras que estas oferecem. O conjunto de produtos e serviços oferecidos pelos supermercados é o substituto mais próximo do conjunto oferecido pelas lojas de hipermercados e não do pequeno comércio que, além de não oferecerem uma maior variedade quanto aos produtos, não dispõem dos serviços oferecidos pelos grandes. Não se trata apenas de avaliar o conjunto de bens vendidos, propriamente ditos. No universo de produtos oferecidos pelos supermercados e hipermercados é levado em conta, adicionalmente, pelo SBDC, em especial pela SEAE/MF, os serviços diferenciados prestados por estes, que, em geral, não são, ou são poucos, ofertados pelo pequeno varejo, tais como: (1) estacionamento; (2) ar condicionado; (3) atendimento 24 horas; (4) vendas virtuais; (5) aceitação de cartão de crédito ou cartão próprio da loja; (6) aceitação de cheques pré-datados; (7) parcelamento dos pagamentos; (8) prestação de serviços de limpeza; (9) corte e embalagem de hortifrutis; (10) maior quantidade e variedade de itens vendidos; (11) melhores técnicas para exposição dos produtos; (12) automação das lojas; (13) condições de atingir o consumidor por meio de propaganda; (14) oferta de marca própria, com preços inferiores aos produtos substitutos; (15) maior nível de qualificação de funcionários; (16) fraldário; (17) sanitários; (18) combinação com outros serviços no mesmo espaço físico. Em síntese, esses estabelecimentos do grande varejo não vendem apenas mercadoria, mas conveniência e facilidade aos consumidores, alguns em menor quantidade, outro em maior, o que diferencia os produtos por eles, mesmo que estes sejam os mesmos vendidos pelo pequeno varejo.

As lojas de supermercados apresentam-se como substitutos quase que perfeitos para o hipermercado, não dispondo, em geral, apenas de algumas seções de têxteis e eletrodomésticos, especialmente as de maior porte: a denominada linha branca. O mesmo não ocorre com o pequeno varejo. Em outras palavras, o consumo praticado nos hipermercados se assemelha bastante ao praticado nas lojas de supermercados.

A identificação do produto ou produtos que compõem o mercado relevante são os serviços de venda integrada de bens de consumo não - duráveis, no caso carne de bovinos e suínos beneficiadas em cortes ou sob a forma de produtos industrializados realizada por meio de lojas de supermercados e hipermercados, conhecidos como auto-serviço ou auto-atendimento.

Nessa etapa da cadeia produtiva, há uma peculiaridade que deve ser destacada. O comercio varejista de carnes bovina e suína em cortes é a que mais agrega valor, pelo fato de que a carne verde recebida sob a forma de carcaça é beneficiada na loja, onde são realizados os cortes segundo a preferência do consumidor. Esse beneficiamento da carcaça é uma verdadeira operação industrial, mesmo no tradicional açougue. Contudo, o varejo só pode comercializá-la para o consumidor. Caso a comercialização desses beneficiamentos seja para cozinhas industriais ou outras unidades varejistas é

denominada de industrialização de segundo ciclo, que exige inspeção sanitária e industrial de produto de origem animal.

O produto objeto da venda integrada de bens de consumo não - duráveis de carnes bovina e suína beneficiadas ou sob a forma de produtos industrializados, se em si podem ser substituídas por outro produto, podem os mesmos ser adquiridos em outras unidades Federadas ou mesmo no Exterior. Portanto, a indústria do Rio Grande do Sul, enquanto agente fornecedor, pode ser substituída por outras de outros Estados ou mesmo por importação.

Contudo, a definição geográfica do mercado relevante do varejo deve ser diferenciada da indústria. Enquanto o mercado relevante do produto na relação econômica entre a indústria e o comércio é o território do Rio Grande do Sul, utilizando-se o critério de base do ICMS nas operações internas, onde a indústria, mais precisamente a que pode exercer domínio relevante de mercado de carnes tem como mercado potencial todas as lojas de varejo localizadas no Estado. Essa relação econômica não é a mesma entre o varejo e o consumidor. Uma rede de supermercados e hipermercados pode ter lojas em mais de uma cidade. Em cada uma delas a concorrência se comporta de modo diferenciado. A Secretaria de Direito Econômico, do Ministério da Justiça, tem demarcado a área geográfica por cidade, especialmente quando se trata de núcleo urbano de médio e grande porte.

Nas investigações realizadas por esta CPI, foi anexada aos autos cópia da versão pública do ATO DE CONCENTRAÇÃO N° 08012.001138/2001-98 da SECRETARIA DE DIREITO ECONÔMICO, DO MINISTÉRIO DA JUSTIÇA.Trata-se, portanto, de processo público obtido junto ao site da SDE/MJ. Há outras decisões que utilizam os mesmos fundamentos jurídicos. Contudo, a escolha do presente caso concreto se dá pela circunstância desse ato envolver duas empresas que estão sob investigação por suspeita de exercerem domínio de mercado relevante no varejo: Os grupos SONAE e o CARREFOUR. Nesse sentido, transcrevem-se os fundamentos jurídicos contidos no referido ATO DE CONCENTRAÇÃO”:

DEFINIÇÃO DO MERCADO RELEVANTE:

Concluídos o relatório e a análise da tempestividade, inicia-se este parecer pela definição do mercado relevante, em suas dimensões produto e geográfica, que possibilitará mensurar o poder de mercado das Requerentes, antes e depois da operação sob análise, e avaliar a possibilidade de seu abuso.

Dimensão Produto

A presente operação envolve o mercado de prestação de serviços de vendas a varejo de bens de consumo duráveis (eletrônicos, têxteis, utilidades domésticas, papelaria, etc.) e não - duráveis (produtos alimentícios de toda a natureza, de higiene e limpeza, bebidas, etc.), realizadas por meio de supermercados e hipermercados, conhecidos como auto-serviço ou auto-atendimento.

Segundo a Associação Brasileira de Supermercados – ABRAS, são considerados supermercados os estabelecimentos que apresentam como principais seções de vendas mercearia, bazar e perecíveis; cerca de 1.500 a 5.000 itens em exposição, de 3 a 40 check-outs, mais de 300m2 de área de venda e um faturamento anual acima de 1 milhão de dólares. Já os hipermercados se caracterizam por possuírem as seções de venda mercearia, bazar, perecíveis, vestuário e eletrodomésticos; mais de 5.000 itens em exposição mais de 40 check-outs uma área de vendas maior que 5.000 m2, e um faturamento anual de no mínimo 12 milhões de dólares.

Os supermercados/hipermercados adequaram-se a um novo perfil do consumidor indo ao encontro da conveniência desse consumidor. Nesse aspecto, cabe destacar a ampliação de lojas abertas aos domingos e feriados e de lojas que operam 24 horas, o aumento da área de vendas, a introdução de novas categorias de produtos e o aumento na aceitação de cartões de crédito e tickets. Essas iniciativas têm provocado a migração para os supermercados de vendas de outros segmentos do comércio como feiras livres, padarias e açougues.

Assim, dado estas características e sendo um serviço de venda integrada, o mercado relevante do produto considerado na presente análise, de acordo com a SEAE (fls. 157/160) e pelo entendimento desta Secretaria, é o de supermercados e hipermercados.

Dimensão Geográfica

O mercado relevante geográfico é o locus onde se desenvolvem as relações de concorrência. Conforme Mário Possas, a área geográfica deve ser delimitada dentro da qual os consumidores, sem custos significativos e em um intervalo de tempo razoável, podem, em resposta a um aumento no preço relativo do produto relevante, substituir nas suas aquisições os vendedores localizados em um dado território por outros situados em regiões distintas.

No caso específico de supermercados/hipermercados, deve-se tentar aferir qual é a distância máxima que o consumidor está disposto a percorrer em busca de preços inferiores. Segundo estudo realizado por Juracy Parente, estima-se que 70% dos clientes atraídos para uma determinada loja residem num raio de cerca de 2,5 Km desse estabelecimento. Vale ressaltar que o mercado do setor supermercadista é extremamente regionalizado, principalmente em cidades de médio e grande porte.

Ademais, conforme pesquisa dirigida aos consumidores de supermercados, realizada pela empresa ACNilsen, entre as principais razões de escolha do supermercado para compras de maior gasto destaca-se que 43,3% dos brasileiros preferem os estabelecimentos perto do domicílio, sendo que 19,7% são atraídos por preços baixos. Estas também são as razões que os consumidores utilizam para escolher os supermercados para compras mais freqüentes.

Contudo, é juridicamente possível a alteração do critério da dimensão geográfica da Cidade de Porto Alegre – RS, para o do território do Rio Grande do Sul. Basta adotar a regra do parágrafo 3° do artigo 54 da Lei Federal n.° 8.884/94, utilizando-se o critério de faturamento bruto anual acima de R$ 400.000.000,00 (quatrocentos milhões de reais).

Portanto, a dimensão geográfica do mercado relevante no varejo é a base municipal.

O maior mercado varejista do Rio Grande do Sul é a Cidade de Porto Alegre: não só pela sua expressão demográfica, mas também pela alta qualidade de vida despontada, se comparado com outras metrópoles brasileiras, e, sobretudo, pelo razoável poder aquisitivo e o alto grau de exigência de seus consumidores. É também na Capital do Estado que o varejo encontra o seu maior índice de concentração em grandes redes de supermercados e a acirrada competitividade.

Outro fator, na verdade o principal que levou esta CPI a fixar a Cidade de Porto Alegre como dimensão geográfica para definir o mercado relevante, é o estudo elaborado pelos Economista Valmor Marchetti e Fátima Behncker Jerônimo, realizado a pedido do Sindicato da Indústria de Produtos Suínos no Estado do Rio Grande do Sul– SIPS - MARK-UP PRATICADO PELA DISTRIBUIÇÃO EM CARNES E PRODUTO DE ORIGEM SUÍNA EM PORTO ALEGRE, editado em setembro de 2002 – que faz parte desta CPI como PROVA TÉCNICA, portanto, equiparado como prova pericial, que analisa as distorções na cadeia agroindustrial da carne suína. A conclusão desse estudo é de que o varejo, representado pelas principais redes de supermercados e hipermercados de Porto Alegre – RS, estaria se apropriando de elevadas margens do preço pago pelo consumidor, em detrimento de outros elos da cadeia.

A interpretação dada por esta CPI, conforme já exposto, é a de que o referido estudo, corroborado pelas declarações dos representantes do SIPS em depoimento prestado perante esta CPI, apresenta uma versão dos fatos que as grandes redes de supermercados e hipermercados de Porto Alegre seriam os agentes da agroindústria da carne suína que definem o preço dos produtos suínos industrializados e, por conseqüência, em última análise, o preço que a indústria acaba pagando ao produtor rural pelo animal vivo, já que este seria decorrência do preço fixado pelo varejo.

A própria AGAS interpreta o referido estudo como uma estratégia do SIPS para responsabilizar o varejo pelas dificuldades operacionais e financeiras que a suinocultura passa. Em outras palavras, o varejo seria quem impõe o preço.

Em suma, na relação econômica entre o varejo e o consumidor, este Inquérito Parlamentar, na definição do MERCADO RELEVANTE, fixa como dimensão dos produtos os serviços de venda a varejo integrada de bens de consumo não -duráveis, no caso carnes verdes de bovinos e suínos beneficiada em cortes ou sob a forma de produtos industrializados, realizadas por meio de lojas de supermercados e hipermercados, conhecidos como auto-serviço ou auto-atendimento, e como dimensão geográfica a Cidade de Porto Alegre – RS.

Reitera-se que, no entender desta CPI, a alteração do critério da dimensão geográfica da Cidade de Porto Alegre, para o do território do Rio

Grande do Sul, adotando-se o critério de faturamento bruto anual acima de R$ 400.000.000,00 (quatrocentos milhões de reais), conforme definição dada pelo parágrafo 3° do artigo 54 da Lei Federal n.° 8.884/94. A SONAE, segundo o RANKING da AGAS, teve um faturamento anual bruto em 2002 no Rio Grande do Sul de R$ 3.341.980.090,00. O Grupo ZAFFARI, segundo colocado, teve um faturamento bruto anual em 2002 de R$ 1.040.111.505,00, e, o Carrefour, em que pese não ser associado à AGAS, teve um faturamento bruto anual em 2002 de R$ 475.000.000,00 nas suas cinco lojas gaúchas. A terceira colocada no RANKING da AGAS e quarta no geral é a Rede Comercial Unida de Cereais Ltda. – UNIDÃO. A mesma teve um faturamento bruto anual em 2002 de R$ 136.925.655,00. Não se enquadra, nem de longe, no critério de faturamento como ato de concentração econômica em conformidade com o parágrafo 3° do artigo 54 da Lei Federal n.° 8.884/94.

ETAPA 03: EXAME DE PROBABILIDADE DE EXERCÍCIO DE PODER DE MERCADO E IDENTIFICAÇÃO DAS EMPRESAS QUE EXERCEM PRESUMIDAMENTE DOMÍNIO DE MERCADO:

Os conceitos e o procedimento que serão utilizados são os mesmos do capítulo anterior. Assim, para não sermos repetitivos, remetemos a leitura dos mesmos ao citado item, por remição.

No presente caso, o abuso de poder de mercado estaria na circunstância da concentração do mercado em grandes redes de supermercados e hipermercados, onde essa levaria ao domínio de mercado e o seu exercício abusivo, pelos seus efeitos anticoncorrenciais no mercado relevante de Porto Alegre – RS.

As Empresas que exercem presumidamente domínio de mercado são as mesmas identificadas também no capitulo anterior: GRUPOS ZAFFARI, SONAE e CARREFOUR.

ETAPA 04: APRECIAÇÃO DOS EXAMES DAS EFICIÊNCIAS ECONÔMICAS GERADAS PELOS ATOS DE CONCENTRAÇÃO ECONÔMICA NAS GRANDES REDES DE SUPERMERCADOS E HIPERMERCADOS:

INTRODUÇÃO:

Em inquéritos parlamentares instaurados por este Parlamento, como o do Leite (com poderes das autoridades judiciais) e o da suinocultura (sem os poderes das autoridades judiciais) identificou-se como prática de abuso de poder econômico o dominante mercado relevante de bens e serviços (artigo 20, II, da Lei Federal n.º 8.884, de 11 de junho de 1994) com atos de concentração econômica do mercado varejista.

O presente Inquérito Parlamentar que apura, entre outros fatos, a prática de abuso de poder econômico em duas cadeias agroindustriais de alimentos, também não poderia deixar de averiguar os Atos de Concentração Econômica no varejo.

O Glossário Básico de Defesa da Concorrência publicado no site da Secretaria de Acompanhamento Econômico do Ministério da Fazenda define tecnicamente o que são atos de concentração econômica:

"(atos de) Concentração econômica: atos "que visam a qualquer forma de concentração econômica (horizontal, vertical ou conglomeração), seja através de fusão ou incorporação de empresas, de constituição de sociedade para exercer o controle de empresa, ou do grupo de empresas resultante, igual ou superior a 20% (vinte por cento) de um mercado relevante, ou em que qualquer dos participantes tenha registrado faturamento bruto no último balanço equivalente a R$ 400.000.000,00 (quatrocentos milhões de reais). Definição em conformidade com o § 3° do artigo 54 da Lei n.° 8.884/94."

É evidente que a definição técnica de ato de concentração econômica não foi elaborada arbitrariamente pela SEAE, do Ministério da Fazenda. O mesmo deriva da Lei Federal n.° 8.884, de 11/06/1994, que dispõe sobre a prevenção e a repressão às infrações contra a ordem econômica. Em seu artigo 20, este Diploma Legal estabelece as seguintes regras de direito sobre ato de concentração econômica e também a definição jurídica de eficiência econômica da empresa que domina o mercado relevante de bens e serviços:

Art. 20. Constituem infração da ordem econômica, independente de culpa, os atos sob qualquer forma manifestados, que tenham por objeto ou possam produzir os seguintes efeitos, ainda que não sejam alcançados: II – dominar mercado relevante de bens e serviços;

§ 1°. A conquista de mercado resultante de processo natural fundado na maior eficiência de agente econômico em relação a seus competidores não caracteriza o ilícito previsto no inciso II.

A regra do parágrafo primeiro tem como cerne o vocábulo jurídico "eficiência do agente econômico". Quando resulta de processo natural afasta o ilícito de domínio de mercado relevante de bens e serviços. Contudo, a

demonstração da eficiência econômica só pode ser analisada apenas a longo prazo. Envolve por parte dos atores uma relação positiva com percepções de eqüidade econômica. São eficiências econômicas as melhorias nas condições de produção, distribuição e consumo de bens e serviços que sejam persistentes. Por se referirem a eventos futuros, são difíceis de se verificar e quantificar e são determinadas através de projeções e podem não se concretizar.

A PORTARIA CONJUNTA SEAE/SDE N° 50, de 01/08/2001 estabelece no item 34 do GUIA PARA ANÁLISE ECONÔMICA DE ATOS DE CONCENTRAÇAO HORIZONTAL, as regras para determinação da parcela de mercado:

34 - Uma condição necessária, embora não suficiente, para que uma operação tenha impactos negativos sobre o bem-estar do consumidor e sobre a concorrência é que a empresa resultante controle uma parcela substancial do mercado relevante. Em mercado em que a oferta de cada empresa, ou de um grupo de empresas, é muito pequena em relação à oferta total da indústria, nenhuma empresa ou grupo de empresa tem, unilateralmente, ou coordenadamente, capacidade de mudar suas condutas (alterar preços, quantidades, qualidades, variedades ou inovações), ou seja, exercer poder de mercado. Isto ocorre porque os consumidores responderão a tal tentativa desviando a totalidade de suas compras para empresas rivais.

Ainda, a Portaria Conjunta acima citada, estabelece no item 71 e seguintes do Guia para Análise Econômica de Atos de Concentração Horizontal as regras de eficiência econômica do ato de domínio de mercado relevante de bens e serviços:

71. Eficiências Econômicas do ato. São consideradas eficiências econômicas das concentrações os incrementos do bem-estar econômico gerados pelo ato e que não podem ser gerados de outra forma (eficiências específicas da concentração). Não serão consideradas eficiências específicas da concentração aquelas que podem ser alcançadas, em um período inferior a 2 (dois) anos, por meio de alternativas factíveis, que envolvem menores riscos para a concorrência.

72. Verificação. Os incrementos de eficiência são difíceis de se verificar e quantificar, em parte porque as informações necessárias se referem a eventos futuros. Em particular, incrementos de eficiência projetados, ainda que com razoável boa fé, podem não se concretizar. Por isso, serão consideradas como eficiências específicas da concentração aquelas cuja magnitude e possibilidade de ocorrência possam ser verificadas por meios razoáveis, e para as quais as causas (como) e o momento em que serão obtidas (quando) estejam razoavelmente especificados. As eficiências alegadas não serão consideradas quando forem estabelecidas vagamente, quando forem especulativas ou quando não puderem ser verificadas por meios razoáveis.

73. Exclusão. Não serão considerados eficiências os ganhos pecuniários decorrentes de aumento de parcela de mercado ou de qualquer ato que represente apenas uma transferência de receitas entre agentes econômicos.

NÍVEIS DE CONCENTRAÇÃO NO MERCADO VAREJISTA:

A Associação Brasileira de Supermercados – ABRAS em seu site, apresenta o ranking dos últimos dez anos da classificação das redes de supermercados e hipermercados no Brasil, por faturamento bruto anual. A síntese das dez primeiras colocadas, nos últimos dez anos, é a seguinte:

RANKING 1993 CLASS. EMPRESA UF FAT. BRUTO

(CR$ 1.000) Nº

CHECK-OUTS

ÁREA VENDAS

M2

Nº DE LOJAS

Nº FUNC. FAT. CHECK-

OUT (CR$ 1.000)

FAT. M2 (CR$

1.000)

FAT. / FUNC.

1 CARREFOUR COM. E IND. S/A SP 252.480.793 2.363 284.803 29 18.061 106.848 887 13.979

2 CIA BRASILEIRA DE DISTRIBUIÇÃO SP 162.269.470 2.932 253.380 233 19.329 55.344 640 8.395

3 CASAS SENDAS COM. E IND. S/A RJ 71.906.984 1.327 146.606 56 12.513 54.188 490 5.747

4 PAES MENDONÇA S/A RJ 64.439.000 1.462 169.538 51 9.625 44.076 380 6.695

5 BOMPREÇO S/A SUPERMERCADOS DO NE

PE 58.368.218 1.450 147.721 74 10.911 40.254 395 5.349

6 UNIMAR SUPERMERCADOS S/A BA 41.521.470 949 116.870 48 7.207 43.753 355 5.761

7 ELDORADO S/A COM. IND. IMP. SP 33.555.842 456 80.500 8 3.619 73.587 417 9.272

8 CIA REAL DE DISTRIBUIÇÃO RS 31.813.194 701 63.841 40 4.876 45.383 498 6.524

9 NACIONAL CDA LTDA. RS 31.283.022 721 68.248 62 6.906 43.388 458 4.530

10 CIA ZAFFARI DE SUPERMERCADOS RS 30.738.408 542 48.549 18 5.681 56.713 633 5.411

RANKING 1994

CLASS. EMPRESA SEDE

FAT. BRUTO (R$)

Nº CHECK-OUTS

ÁREA VENDAS

M2

Nº DE LOJAS

Nº FUNC. FAT. / CHECK-

OUT

FAT. M2 (R$)

FAT. / FUNC.

FUNC. CHECK-

OUT

1 CARREFOUR COM. E IND. S/A SP 3.272.968.891 2.779 328.222 33 22.658 1.177.750 9.972 144.451 8,2

2 CIA BRASILEIRA DE DISTRIBUIÇÃO SP 2.257.290.678 2.830 257.376 216 20.142 797.629 8.770 112.069 7,1

3 CASAS SENDAS COM. IND. S/A RJ 900.429.340 1.349 146.483 57 12.012 667.479 6.147 74.961 8,9

4 BOMPREÇO S.A SUPERMERCADOS NE PE 854.505.405 1.437 141.840 73 8.616 594.645 6.024 99.177 6,0

5 PAES MENDONÇA S/A RJ 747.254.141 1.164 147.006 39 7.047 641.970 5.083 106.039 6,1

6 UNIMAR SUPERMERCADOS S/A BA 493.264.994 1.126 108.047 48 6.236 438.068 4.565 79.100 5,5

7 ELDORADO S/A COM. IND. IMP. SP 415.803.173 432 80.500 8 3.657 962.507 5.165 113.701 8,5

8 CIA REAL DE DISTRIBUIÇÃO RS 401.245.866 592 62.037 39 4.786 677.780 6.468 83.837 8,1

9 NACIONAL CDA LTDA. RS 386.230.995 838 81.228 65 6.221 460.896 4.755 62.085 7,4

10 CIA ZAFFARI DE SUPERMERCADOS RS 341.815.313 592 50.669 18 5.569 577.390 6.746 61.378 9,4

RANKING 1995 CLASS. RAZÃO SOCIAL ESTAD

O FAT. CKTO

T AVTOT NLTOT FUNC. FAT/CK FAT/A

V FAT/FU FUN/

CKCLA

SFUN/A

VCLAS CK/N

L AV/C

KAV/NL

1 CARREFOUR COM. IND. LTDA SP 4.682.598.096

3.129 381.158

38 21.780 1.496.515

12.285 214.995

7.0 237 5.7 147 82 121.8 10.030

2 CIA. BRASILEIRA DE DISTRIBUIÇÃO

SP 3.169.314.492

2.831 271.244

218 20.429 1.119.503

11.684 155.138

7.2 257 7.5 240 13 95.8 1.244

3 CASAS SENDAS COM. E IND. S/A RJ 1.323.997.536

1.428 138.151

55 11.417 927.169

9.583 115.967

8.0 288 8.3 260 26 96.7 2.511

4 BOMPREÇO S.A SUPERMERCADOS DO NE

PE 1.176.411.000

1.296 133.407

59 8.775 907.724

8.818 134.063

6.8 224 6.6 196 22 102.9 2.261

5 PAES MENDONÇA S/A RJ 875.592.150

1.060 140.262

35 6.052 826.030

6.242 144.678

5.7 155 4.3 75 30 132.3 4.007

6 SUPERMAR SUPERMERCADOS S.A

BA 621.997.193

997 98.772

48 5.129 623.868

6.297 121.270

5.1 124 5.2 121 21 99.1 2.057

7 NACIONAL CDA LTDA RS 587.432.060

1.008 95.134

72 7.513 582.769

6.174 78.188

7.5 270 7.9 249 14 94.4 1.321

8 ELDORADO S.A COM. IND. IMP. SP 515.740.214

388 55.406

8 3.660 1.329.227

9.308 140.912

9.4 331 6.6 198 49 142.8 6.925

9 CIA. REAL DE DISTRIBUIÇÃO RS 495.282.839

522 59.940

35 4.354 948.817

8.262 113.753

8.3 302 7.3 229 15 114.8 1.712

10 CIA ZAFFARI DE SUPERMERCADOS

RS 493.810.203

593 51.323

18 5.729 832.732

9.621 86.194

9.7 336 11.2 324 33 86.5 2.851

RANKING 1996 CLASS. EMPRESA SED

E FAT. BRUTO

(R$) Nº

CHECK-

OUTS

ÁREA VENDAS

M2

Nº DE LOJA

S

Nº FUNC.

FAT. / CHECK-

OUT

FAT. / M2

FAT. FUNC.

Nº FUNC.

/ CHEC

K-OUT

CLASS.

FUNC. /

CHECK-OUT

Nº FUNC. / 100 M2

CLASS. FUNC. / 100 M2

1 CARREFOUR COM. IND. LTDA SP 4.897.013.694

3.370 450.525 44 23.976

1.453.119 10.869 204.246

7,1 190 5,3 98

2 CIA. BRASILEIRA DE DISTRIBUIÇÃO

SP 3.535.662.140

2.783 294.734 223 20.737

1.270.449 11.996 170.500

7,5 210 7 183

3 CASAS SENDAS COMÉRCIO E IND. S/A

RJ 1.545.741.490

1.441 142.917 56 11.849

1.072.686 10.815 130.453

8,2 241 8,3 224

4 BOMPREÇO S/A SUPERMERCADOS NE

PE 1.247.060.431

1.157 122.687 50 8.576

1.077.839 10.164 145.412

7,4 208 7 178

5 PAES MENDONÇA S/A BA 1.010.186.831

1.011 138.345 35 6.190

999.195 7.301 163.196

6,1 143 4,5 62

6 NACIONAL CDA LTDA. RS 695.497.017

960 82.713 65 6.741

724.476 8.408 103.174

7,0 187 8,1 220

7 SUPERMAR SUPERMERCADOS S/A

BA 656.880.727

878 102.004 51 6.397

748.155 6.439 102.685

7,3 199 6,3 143

8 CIA ZAFFARI COMÉRCIO E IND. RS 587.913.640

597 51.323 18 5.894

984.779 11.455 99.747

9,9 275 11,5 280

9 CIA REAL DE DISTRIBUIÇÃO RS 560.965.000

564 65.460 34 3.889

994.618 8.569 144.244

6,9 178 5,9 126

10 ELDORADO S/A COM. IND. IMP. SP 499.090.651

340 57.968 8 2.577

1.467.913 8.609 193.671

7,6 214 4,4 61

RANKING 1997

CLASS. EMPRESA SEDE

FAT. BRUTO (R$)

Nº CHEC

K-OUTS

ÁREA VENDAS

M2

Nº DE LOJA

S

Nº FUNC.

FAT. / CHECK-

OUT (R$)

FAT. / M2

FAT. / FUNC. (R$)

Nº FUNC.

/ CHEC

K-OUT

CLASS.

FUNC. /

CHECK-OUT

Nº FUNC. / 100 M2

CLASS. FUNC.

/ 100 M2

Nº CHECK-OUT / LOJA

M2 / CHEC

K-OUTS

M2 / LOJA

1 CARREFOUR COM. IND. LTDA SP 5.533.187.959 3.677 504.033 49 20.379 1.504.810 10.978 271.514 5,5 102 4 41 75 137.1 10.286 2 CIA. BRASILEIRA DE

DISTRIBUIÇÃO SP 3.638.384.269 3.069 350.410 238 19.653 1.185.528 10.383 185.131 6,4 152 5,6 114 13 114,2 1.472

3 BOMPREÇO S.ª SUPERM. DO NORDESTE

PE 2.009.912.065 2.044 287.268 93 14.837 983.323 6.997 135.466 7,3 194 5,2 92 22 140,5 3.089

4 CASAS SENDAS S.A RJ 1.705.109.951 1.535 155.463 58 11.439 1.110.821 10.968 149.061 7,5 202 7,4 188 26 101,3 2.680 5 PAES MENDONÇA S.A BA 927.000.000 942 129.170 35 5.840 984.076 7.177 158.733 6,2 138 4,5 56 27 137,1 3.691 6 NACIONAL CENTRAL DISTR.

ALIM. LTDA RS 737.779.790 1.099 90.607 76 6.025 671.319 8.143 122.453 5,5 97 6,6 163 14 82,4 1.192

7 LOJAS AMERICANAS S.A RJ 665.066.300 810 89.709 23 4.178 821.070 7.414 159.183 5,2 79 4,7 64 35 110,8 3.900 8 CIA.ZAFFARI COM. E IND. RS 636.123.626 600 54.784 18 5.511 1.060.206 11.611 115.428 9,2 259 10,1 261 33 91,3 3.044 9 CIA. REAL DE DISTRIBUIÇÃO RS 630.791.000 713 83.754 34 4.222 884.700 7.531 149.406 5,9 123 5 85 21 117,5 2.463 10 REDE BARATEIRO DE SUPERM. SP 573.519.751 658 77.141 32 5.106 871.611 7.435 112.323 7,8 216 6,6 161 21 117,2 2.411

RANKING 1998

CLASS. EMPRESA SEDE FAT. BRUTO (R$)

Nº CHECK-OUTS

ÁREA VENDAS

M2

Nº DE LOJAS

Nº FUNC.

FAT. / CHECK-

OUT (R$)

FAT. / M2

FAT. / FUNC. (R$)

1 CARREFOUR COM. IND. LTDA. SP 7.003.209.734 5.087 674.374 82 28.195 1.376.688 10.385 248.385

2 CIA BRASILEIRA DE DISTRIBUIÇÃO SP 5.470.301.723 4.095 475.381 285 28.398 1.335.849 11.507 192.630

3 BOMPREÇO S/A SUP DO NORDESTE PE 2.410.158.000 2.013 237.094 91 15.016 1.197.297 10.165 160.506

4 CASAS SENDAS COM. IND. S/A RJ 1.912.801.201 1.591 162.639 60 12.257 1.202.263 11.761 156.058

5 SONAE DISTRIBUIÇÃO BRASIL S/A RS 1.541.286.366 1.512 159.490 49 10.630 1.019.369 9.664 144.994

6 NACIONAL CENTRAL DISTR. ALIM. LTDA. RS 899.878.393 1.104 98.129 84 7.367 815.107 9.170 122.150

7 PAES MENDONÇA S/A RJ 829.215.000 850 119.403 26 4.393 975.547 6.945 188.758

8 WAL-MART BRASIL SP 783.257.547 437 98.017 9 3.943 1.792.351 7.991 198.645

9 CIA ZAFFARI COM. E IND. RS 656.248.490 575 65.959 19 6.550 1.141.302 9.949 100.191

10 SÉ S/A COMÉRCIO E IMPORTAÇÃO SP 582.522.282 533 48.346 28 3.582 1.092.912 12.049 162.625

,

RANKING 1999

CLASS. EMPRESA SEDE

FAT. BRUTO (R$)

Nº CHECK-OUTS

ÁREA VENDAS

M2

Nº DE LOJAS

Nº FUNC.

FAT. / CHECK-

OUT (R$)

FAT. M2 (R$)

FAT. / FUNC. (R$)

Nº FUNC.

CHECK-OUT

Nº CHECK-

OUT / LOJA

Nº FUNC.

/ 100M2

M2 / CHECK-OUTS

M2 / LOJA

1 CARREFOUR COM. IND. LTDA. SP 7.943.531.873

5.601

796.568

152

37.004

1.418.235

9.972 214.667

6.6 4.6 37 142.2 5.241

2 COMPANHIA BRASILEIRA DE DISTRIBUIÇÃO

SP 7.760.588.000

5.339

663.237

349

34.624

1.453.566

11.701 224.139

6.5 5.2 15 124.2 1.900

3 SONAE DISTRIBUIÇÃO BRASIL S/A RS 2.854.549.836

3.003

300.733

164

19.527

950.566

9.492 146.185

6.5 6.5 18 100.1 1.834

4 BOMPREÇO S/A SUPERMERCADOS DO NORDESTE

PE 2.642.320.717

2.205

264.416

100

17.980

1.198.331

9.993 146.959

8.2 6.8 22 119.9 2.644

5 CASAS SENDAS COMÉRCIO E INDÚSTRIA S/A

RJ 2.377.850.311

1.960

201.686

82

14.782

1.213.189

11.790 160.861

7.5 7.3 24 102.9 2.460

6 WAL-MART BRASIL LTDA. SP 955.726.128

437

98.017

9

6.154

2.187.016

9.751 155.302

14.1 6.3 49 224.3 10.891

7 JERONIMO MARTINS / SÉ SUPERMERCADOS

SP 714.342.630

745

72.263

48

5.000

958.849

9.885 142.869

6.7 6.9 16 97.0 1.505

8 CIA. ZAFFARI COMÉRCIO E INDÚSTRIA RS 696.657.379

635

76.147

19

6.488

1.097.098

9.149 107.376

10.2 8.5 33 119.9 4.008

9 G. BARBOSA & CIA LTDA. SE 518.623.115

625

52.095

34

5.029

829.797

9.955 103.126

8.0 9.7 18 83.4 1.532

10 COOP COOPERATIVA DE CONSUMO SP 490.000.210

242

32.234

11

2.619

2.024.794

15.201 187.094

10.8 8.1 22 133.2 2.930

RANKING 2000 CLASS. EMPRESA SED

E FAT. BRUTO

(R$) PART. SETOR

(%)

Nº CHEC

K-OUTS

ÁREA VENDAS M2

Nº DE

LOJAS

Nº FUNC.

FAT. POR

CHECK-OUT (R$)

FAT. / M2

FAT. POR

FUNC. (R$)

Nº FUNC. POR

CHECK-OUT

Nº FUNC. / 100 M2

Nº CHECK-OUT / LOJA

M2 / CHEC

K-OUTS

M2 / LOJA

1 COMPANHIA BRASILEIRA DE DISTRIBUIÇÃO

SP 9.550.402.598

14,1 6.707 815.291 416 50.106 1.423.946 11.714 190.604 7 6 16 122 1.960

2 CARREFOUR COM. IND. LTDA. SP 9.520.321.760

14,1 6.884 940.704 201 44.571 1.382.964 10.120 213.599 6 5 34 137 4.680

3 BOMPREÇO S/A SUPERMERCADOS DO NORDESTE

PE 3.042.870.646

4,5 2.428 292.724 106 19.613 1.253.242 10.395 155.146 8 7 23 121 2.762

4 SONAE DISTRIBUIÇÃO BRASIL S/A RS 3.008.256.489

4,4 3.637 401.171 170 20.396 827.126 7.499 147.492 6 5 21 110 2.360

5 CASAS SENDAS COMÉRCIO E INDÚSTRIA S/A

RJ 2.478.972.569

3,7 1.937 196.397 86 13.601 1.279.800 12.622 182.264 7 7 23 101 2.366

6 WAL-MART BRASIL LTDA. SP 1.211.323.245

1,8 741 188.524 20 7.155 1.634.714 6.425 169.297 10 4 37 254 9.426

7 JERONIMO MARTINS / SÉ SUPERMERCADOS

SP 934.790.000

1,4 980 86.563 59 6.091 953.867 10.799 153.471 6 7 17 88 1.467

8 CIA. ZAFFARI COMÉRCIO E INDÚSTRIA RS 754.572.504

1,1 708 77.458 19 6.185 1.065.780 9.742 122.000 9 8 37 109 4.077

9 G. BARBOSA & CIA. LTDA. SE 629.004.066

0,9 688 61.261 35 6.050 914.250 10.268 103.968 9 10 20 89 1.750

10 COOP COOPERATIVA DE CONSUMO SP 543.092.061

0,8 299 40.701 14 3.019 1.816.361 13.343 179.891 10 7 21 136 2.907

RANKING 2001 CLASS. EMPRESA SEDE FAT. BRUTO

(R$) PART. SETOR

(%)

Nº CHECK-OUTS

ÁREA VENDAS

M2

Nº DE LOJAS

Nº FUNC. FAT. POR CHECK-OUT

(R$)

FAT. POR M2 (R$)

FAT. POR FUNC. (R$)

Nº FUNC. CHECK-

OUT

1 COMPANHIA BRASILEIRA DE DISTRIBUIÇÃO SP 9.857.529.194 13,6 6.891 866.280 443 52.060 1.430.493 11.379 189.349 8

2 CARREFOUR COM. IND. LTDA. SP 9.236.682.550 12,7 7.240 1.015.485 227 45.424 1.275.785 9.096 203.344 6

3 SONAE DISTRIBUIÇÃO BRASIL S/A RS 3.411.418.775 4,7 3.677 445.483 168 21.028 9.096 7.658 162.232 6

4 BOMPREÇO S/A SUPERMERCADOS DO NORDESTE PE 3.222.578.737 4,4 2.532 312.032 110 19.344 1.272.740 10.328 166.593 8

5 CASAS SENDAS COMÉRCIO E INDÚSTRIA S/A RJ 2.622.103.758 3,6 1.910 207.728 84 14.417 1.372.829 12.623 181.876 8

6 WAL-MART BRASIL LTDA. SP 1.482.898.841 2,0 777 191.751 22 6.828 1.908.493 7.733 217.179 9

7 JERÔNIMO MARTINS DISTRIBUIÇÃO BRASIL LTDA. SP 1.043.636.663 1,4 963 97.273 62 6.984 1.083.735 10.729 149.433 7

8 CIA. ZAFFARI COMÉRCIO E INDÚSTRIA RS 838.619.778 1,2 799 96.417 22 6.850 1.049.587 8.698 122.426 9

9 G. BARBOSA COMERCIAL LTDA. SE 730.670.620 1,0 690 61.762 35 5.764 1.058.943 11.830 126.765 8

10 COOP COOPERATIVA DE CONSUMO SP 639.460.422 0,9 338 47.331 17 3.188 1.891.895 13.510 200.584 9

RANKING 2002

CLASS. EMPRESA SEDE FAT.BRUTO (R$) PART. SETOR

(%)

Nº CHECK-OUTS

ÁREA VENDAS

M2

Nº DE LOJAS

1 COMPANHIA BRASILEIRA DE DISTRIBUIÇÃO SP 11.688.664.073 14,6 7.901 979.723 500

2 CARREFOUR COM. IND. LTDA. SP 10.070.763.269 12,6 6.907 942.694 270

3 BOMPREÇO S/A SUPERMER. DO NORDESTE PE 3.342.522.574 4,2 2.543 323.535 119

4 SONAE DISTRIBUIÇÃO BRASIL S/A RS 3.341.908.090 4,2 3.513 446.410 160

5 SENDAS S/A RJ 2.526.807.000 3,2 2.022 229.155 84

6 WAL-MART BRASIL LTDA. SP 1.704.590.774 2,1 777 191.751 22

7 CIA. ZAFFARI COMÉRCIO E INDÚSTRIA RS 1.040.111.505 1,3 669 100.844 23

8 G. BARBOSA COMERCIAL LTDA. SE 807.665.704 1,0 661 59.842 32

9 COOP COOPERATIVA DE CONSUMO SP 753.383.730 0,9 400 55.789 20

10 IRMÃOS BRETAS, FILHOS E CIA. MG 662.801.669 0,8 644 74.634 36

Os números falam por si só. A integração do Brasil na era da globalização mudou e fez com que o ranking mudasse anualmente. De um mercado pulverizado, passou-se a um mercado concentrado, onde empresas nacionais têm sua posição substituída por empresas estrangeiras. Essa alteração traz mudanças significativas na relação entre fornecedores e o varejo e o varejo com o consumidor.

A concentração do mercado varejista não é um fenômeno exclusivamente brasileiro - é uma tendência mundial. A relevância da presente análise é no sentido de averiguar se os níveis de concentração existentes são ou não prejudiciais à livre concorrência no varejo e se essa não gera efeitos negativos ao consumidor com aumentos arbitrários de preços.

Havia previsões de que os níveis de concentração do mercado varejista, especialmente por grandes empresas estrangeiras, iria exterminar, na prática, com as redes nacionais, especialmente as de médio e grande porte. Essa tendência foi constada pelo Inquérito do Preço do Leite. Essa CPI fixou como dimensão geográfica do mercado relevante o território do Estado do Rio Grande do Sul, com base no fator faturamento bruto anual. Este é um critério válido e tem previsão legal no parágrafo 3° do artigo 54 da Lei Federal n.° 8.884/94.

Contudo, somente com base no faturamento bruto anual não se tem uma visão completa dos níveis de concorrência. Em razão disso, esta CPI está utilizando como critério de fixação da base geográfica do mercado relevante não só o do faturamento bruto anual, mas também o fator de preferência do consumidor, que faz com que a dimensão do mercado relevante seja fixado pela zona de influência de cada loja ou cidade. Por esse fator, observa-se que as redes locais conseguem competir com as grandes redes, inclusive as estrangeiras, com eficiência.

No entendimento da AGAS, conforme depoimento prestado por seu Presidente, Antonio Cesa Longo, em 01/09/2003, são prestados esclarecimentos sobre o nível de concentração no mercado varejista no Rio Grande do Sul e a sua lesividade à livre concorrência:

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – Antônio, dentro da sua visão, o Senhor entende que existe, ou se existe ou não, concentração no ramo do comércio varejista?[fim]

O SR. ANTÔNIO CESA LONGO – Não, não existe e acredito que não existirá, pelas dimensões do nosso País, pelos hábitos diferentes de cada região. O Brasil é um dos países, temos países europeus com problemas do tipo onde três empresas têm 80% do mercado. Aqui, as 10 maiores do Brasil têm 45, 50%, e a tendência não é de aumentar.[fim]

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – No seu entendimento, então, não existiria aqui, principalmente no Rio Grande do Sul, uma concentração no ramo varejista?[fim]

O SR. ANTÔNIO CESA LONGO – Não existe porque, como eu falei, a pequena e média empresa vêm ganhando espaço, vêm ganhando a preferência, e melhor de tudo, elas vêm mantendo a tradição e os hábitos regionais da sua região, fortalecendo o pequeno fornecedor e a pequena indústria da sua região.[fim]

Observa-se que a AGAS é constituída praticamente de pequenos e médios varejistas. Só tem duas associadas com faturamento bruto anual superior a quatrocentos milhões de reais e, mesmo assim, uma delas é estrangeira. Não há motivo algum em defender o interesse das grandes redes, especialmente as estrangeiras. Assim, entende-se como razoáveis e plausíveis essas declarações, o que confirmam sua veracidade.

A AGAS faz ainda uma comparação entre os níveis de concentração do varejo na Europa com o existente no Brasil:

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – Antes, o Sr., por exemplo a situação de mercado a Europa, onde seria em alguns países até uma concentração maior por parte de algumas redes. Existe, vocês têm conhecimento se os governos, tanto da Europa como também dos Estados Unidos, vêm tratando esta questão da concentração das redes de supermercados. Estão tendo alguma iniciativas ou os governos estão alheios a isso tudo?[fim]

O SR. ANTÔNIO CESA LONGO – Estão, é que esta concentração que houve lá, voltamos a afirmar que não vai acontecer aqui, na França existe, na Itália existe. Existe também o apoio à pequena empresa através de formação de centrais de compras. Que nem se falou, na Alemanha tem só alemães, é só tu vender para alemão que tu vendes bem. Aqui tem que vender para polaco, russo, italiano, português. É um País com dimensões pequenas, acho que o mercado no Brasil ainda tem muito a explorar, muito a crescer do que botar muitas regras de inibição deste crescimento. É um setor que, apesar do supermercado, apesar de

todo desemprego que temos, cerca de 12% de taxas de desemprego, o setor nos últimos dez anos ampliou a todos os anos 5% o número de pessoas. Ou seja, aumentou o número de empregos e o ano passado, mesmo com toda a queda das vendas, ele ainda ampliou em 2% o número de empregos.[fim]

O representante do SONAE, Senhor Rogério Souto, prestou informações mais precisas sobre o nível de concentração do varejo na Europa, que se compara com os existentes no Brasil:

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – No entendimento do Sonae, há ou não concentração no mercado varejista de lojas de supermercados e hipermercados em poucas empresas, se analisado o fator faturamento do setor na última década, no Brasil e no Rio Grande do Sul?[fim]

O SR. ROGÉRIO MOTA SOUTO – Deputado, é um grande equívoco quando se faz esse tipo de afirmação, que há concentração no Brasil. Eu tenho dados aqui que são da Nilsen, ou seja, uma consultoria internacional, que vão elucidar. Elas mostram claramente que não. Hoje, os cinco primeiros varejistas, nós temos apresentado 38%. Ou seja, somando o Carrefour, o Pão de Açúcar, o Bom Preço, a Sonae e o Wall Mart, que são os cinco maiores operadores, somando os cinco, sobre o faturamento geral, vamos ter 38%.[fim]

Eu gostaria de registrar, se me permitir, Deputado. Posso transcrever o percentual? Suécia, 95% de concentração no segmento; Noruega, 86; Holanda, 83; Finlândia, 80; Dinamarca, 78; Áustria, 78; Suíça, 76; França, 64; Bélgica, 60; Reino Unido, 58; Alemanha, 57; Irlanda, 54; Portugal, 52; Espanha, 44; Itália, 32; e Grécia, 32. Citei a maioria dos países de maior representação econômica da Europa, onde os índices são muito superiores ao Brasil. Portanto, no nosso entendimento inexiste concentração econômica hoje no País no que tange ao segmento varejista.[fim]

A controvérsia não diz respeito aos níveis de concentração existentes no mercado varejista no Brasil. Sem dúvida, o mesmo é mais baixo do que a média européia. O cerne da discussão é se os níveis de concentração praticados são ou não

nocivos à livre concorrência, especialmente os praticados pelas grandes redes varejistas estrangeiras que tiveram substancial crescimento nos últimos anos.

PRIMEIRA HIPÓTESE DE CONCORRÊNCIA DESIGUAL ENTRE AS GRANDES REDES VAREJISTAS EM RELAÇÃO ÀS MÉDIAS E PEQUENAS: EXPANSÃO DOS GRUPOS ESTRANGEIROS SONAE E CARREFOUR E A SOCIEDADE ENTRE ESSES DOIS GRUPOS

A expansão das grandes redes varejistas multinacionais causou um grande impacto na concorrência brasileira, seja pela expansão direta, como no caso do CARREFOUR, ou pela aquisição de redes locais, como se deu com a SONAE. O mercado varejista não é mais o mesmo quando só havia ou predominavam redes locais. Assim, é do interesse desta CPI averiguar os motivos de empresas estrangeiras atuarem no mercado varejista regional.

No Inquérito Parlamentar do Preço do Leite foi constado que, na última década, os grupos SONAE e CARREFOUR aumentaram significativamente sua expansão no mercado varejista na América Latina, em especial no Brasil. O entendimento daquela CPI foi o de que na Comunidade Européia estariam sendo aplicadas severas sanções por infração por concentração de mercado e criadas dificuldades por leis restritivas de parcelamento do solo urbano.

A legislação de proteção da livre concorrência na Comunidade Européia é mais restritiva do que a Brasileira e até mesmo que a dos Estados Unidos da América. Há, além dessa, na Comunidade Européia leis urbanísticas de planejamento do solo urbano que estabelecem restrições para expansão de centros comerciais – Shopping Center – e lojas de supermercados e hipermercado, essas últimas direcionadas para áreas onde não existe comércio estabelecido. Há problemas de super ocupação do solo, pela diminuta extensão territorial e grande população.

Esse entendimento é ratificado por esta CPI.

A presença do grupo CARREFOUR no Brasil, em especial, no Rio Grande do Sul, não é recente. Data da década de setenta. Porém, teve uma significativa expansão de suas atividades na década de noventa e início da presente década. Nesse período, este Grupo sofreu pesadas restrições, na França e na Espanha, por concentração nociva à livre concorrência. Foi inclusive obrigado a comunicar aos seus acionistas, em publicações feitas através do site www.carrefour.com, sobre a cedência das lojas, na França e na Espanha, por determinação das autoridades de regulamentação da concorrência daqueles Países.

O Grupo Sonae, por sua vez, nunca recebeu sanções por abuso de poder econômico na Comunidade Européia. Mas, é notório que, pelos motivos acima citados, encontra dificuldades para a expansão de suas atividades varejistas no Velho Mundo, pelas restrições urbanísticas. Esse teria sido um dos motivos para a expansão do Grupo SONAE no Brasil. Nesse sentido, transcreve-se o depoimento do seu

representante, prestado no Inquérito Parlamentar do Preço do Leite:

"O SR. MANOEL ANTÔNIO MARTINEZ DE ARAÚJO – Na verdade, a rigidez das leis, em termos de Europa, de crescimento de grandes áreas de superfície atinge não só o Grupo Sonae como os outros demais concorrentes de origem européia, que hoje no Brasil, se não me engano, são cinco, ou todos os grandes players europeus estão hoje no Brasil, que é um mercado interessante, não só o Brasil como a Argentina também e Chile, mais em função de que o Brasil oferece um mercado em expansão. Qualquer 10% que cresça a economia do Brasil, 5% que cresça a economia do Brasil nós temos até falta de embalagens, porque é um mercado muito grande. Então, todos estão aqui. Evidente que na Europa essa restrição que leva muito mais em consideração também aspectos urbanos e custo também dessa exploração, desse aumento de área de venda, faz com que haja um crescimento maior para todos os países da América Latina ou até mesmo Estados Unidos. Todos os grandes players, todos os grandes supermercados de redistribuição do mundo, da Europa hoje estão no mercado americano."

No presente Inquérito Parlamentar, o representante do GRUPO SONAE, Senhor Rogério Mota Souto revelou os níveis de concentração do mercado varejista em Portugal, onde a SONAE é a maior empresa varejista:

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – Antes, só para que eu não fique com dúvidas, eu fiz um questionamento referente a restrições impostas em países da comunidade européia. É óbvio que eu me dirigia ao grupo Sonae de Portugal. Não tens conhecimento de restrições?[fim]

O SR. ROGÉRIO MOTA SOUTO – Deputado, até porque o nível de concentração que apresentei...Portugal é hoje um dos menores índices da Europa, Portugal tem 52%.[fim]

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – Mas eu digo...não em Portugal, na Europa.[fim]

O SR. ROGÉRIO MOTA SOUTO – Na Europa. Até porque nós só atuamos em Portugal em varejo e distribuição, nós não temos atuação em nenhum outro país da comunidade européia.[fim]

A expansão desses dois Grupos não pode ser simplificada somente pelas restrições impostas na Comunidade Européia. Numa economia globalizada, onde caem muitas das barreiras protecionistas, investir no Brasil, uma das doze maiores economia mundiais, com um grande mercado consumidor, é um negócio altamente atrativo. Houve inúmeros investimentos produtivos no Brasil nos últimos anos. Com a estabilidade monetária, essa tendência se mantém, inclusive com o atual Governo Federal, que também não mede esforços para demonstrar a estabilidade da economia nacional e para ser o Brasil um lugar seguro para investir capitais produtivos.

No presente Inquérito Parlamentar, o grupo SONAE foi mais objetivo em esclarecer os motivos da sua expansão no Brasil. O seu representante Rogério Mota Souto declarou os motivos em seu depoimento prestado na data de 08 de setembro de 2003:

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – Saberia explicar os motivos que levaram o grupo a atuar no Brasil?[fim]

O SR. ROGÉRIO MOTA SOUTO – Vamos analisar os anos de 1995 a 2000.[fim]

Tivemos uma série de fatores que contribuíram, não só para o nosso grupo, mas temos que citar outros segmentos econômicos, tenho dados do Banco Central para apresentar.[fim]

O Brasil, de 1994 a 2000, passou por um processo de transformação econômica muito grande, tivemos o fim da inflação, a estabilização econômica e a partir disso tornou-se um país atrativo para o capital internacional.[fim]

O capital que a Sonae trouxe é um capital não espoliativo ou especulador, mas que gerou posse e trabalho, um capital de longo prazo.[fim]

Só para mostrar alguns dados do site do Banco Central: na

agricultura, o dinheiro que entrou de fora para investimentos, foi de cerca de 2 bilhões de dólares, no segmento industrial, entrou cerca de 34 bilhões de dólares, no segmento de serviços, o valor foi de 65 bilhões.[fim]

A Sonae, junto com os demais investidores, veio ao Brasil apostando na dimensão, na riqueza, no mercado, buscando valorizar e sempre destacando que esse investimento que a empresa fez, é de longo prazo e visa a gerar divisas, é uma parceria com o Brasil, acreditando que o País é um país do presente e do futuro.[fim]

No processo penal se regem, entre outros princípios, o da verdade material, isto é, o magistrado é obrigado a perseguir de oficio a verdade, sempre em consonância com o PRINCÍPIO DA LEGALIDADE PENAL, indissociável ao Estado de Direito. Esses Princípios podem ser combinados com a regra do artigo 334, I, do CPC, que diz que "NÃO DEPENDEM DE PROVA OS FATOS NOTÓRIOS".

Na primeira etapa deste item, esta CPI constata que é FATO NOTÓRIO que os GRUPOS SONAE e CARREFOUR estão expandido suas atividades no Brasil. Não há controvérsias para esta CPI de que, entre as causas, estão as restrições sofridas na Comunidade Européia diante dos níveis concentrados do mercado varejista, como é o caso do GRUPO CARREFOUR, ou restrições urbanísticas, com é o caso da SONAE, assim como os atrativos da economia brasileira.

A controvérsia concentra-se na circunstância dessa expansão e seu impacto negativo, ou não, na economia local. Esta não é a primeira vez que este Parlamento investiga práticas de abuso econômico em cadeia agroindustrial de alimentos. Já foi citada várias vezes, em diversas e diferentes oportunidades, a CPI DO PREÇO DO LEITE, por ser a pioneira nessa matéria de Direito de Econômico. Por esse motivo, e também pela relativa proximidade temporal da conclusão dos seus trabalhos, fatos citados naquele Inquérito Parlamentar diretamente relacionados com o objeto da presente CPI são obrigados a ser novamente enfrentados.

Um desses fatos seria uma parceria existente entre os grupos CARREFOUR e SONAE na Europa e no Brasil, pela circunstância de serem sócias.

O representante do SONAE, em depoimento prestado perante esta CPI, prestou as seguintes declarações da alegada sociedade:

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – O Senhor poderia nos explicar a relação do grupo Sonae e o grupo Carrefour, no exterior e

aqui no Brasil também?[fim]

O SR. ROGÉRIO MOTA SOUTO – Deputado, eu vou ter que contar uma pequena história. Desculpe o tempo, sei do avançado da hora. Em 1980, houve a Revolução dos Cravos, em Portugal, onde houve uma mudança radical na forma de agir, oportunizando que a economia se aquecesse. A Sonae era uma empresa já bastante atuante dentro da indústria e dos segmentos que ela atuava, e em Portugal ela não tinha ainda hipermercados – 1985 –, só operava no modelo supermercados. Visando a gerar uma condição de hipermercado, a Sonae saiu em busca de um parceiro, e encontrou essa parceria numa empresa francesa chamada Promodes. Essa empresa tinha uma marca chamada Continente, uma marca vitoriosa, e tinha todo o know-how de operação de um hipermercado. A partir daí, foi firmado uma joint-venture onde a Promodes entrou com o capital intelectual, a marca, o know-how todo, e a Sonae entrou com o capital financeiro. E foi inaugurado o primeiro hipermercado de Portugal, em 1985.[fim]

Aí nós passamos cerca de 14 anos. O grupo Carrefour vem em 1999 se associar com a Promodes e, por conseguinte...nessa participação de 85, qual foi a composição da joint-venture? A Sonae ficou com 80% do capital da empresa, e, pelo know-how que a Promodes ofereceu, ela ficou com 20%. Em 99, por conseguinte, a Promodes detinha 20% da operação de varejo em Portugal. O Carrefour funde com a Promodes e herda, por uma questão econômica, a participação nesses 20% na Sonae Portugal.[fim]

Portanto, nós não temos nenhum relacionamento diretivo, não temos nenhuma ação que vise às empresas trabalhando. Inclusive o Carrefour não tem assento na direção da Sonae em Portugal e nem no Brasil, não tem assento no conselho de administração. Em 2001, houve uma oferta pública de ações na Bolsa de Londres, onde a Sonae tentou comprar essas ações que o Carrefour herdou por força de fusão com a Promodes francesa.[fim]

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – É... houve algum reflexo nessa... nessa ligação do Sonae com o Carrefour? É... trouxe algum reflexo prático aqui, no Brasil?[fim]

O SR. ROGÉRIO MOTA SOUTO – Nenhum. Até porque as empresas não têm nenhum relacionamento, nem empresarial nem pessoal. O Corpo Diretivo da Sonae Brasil é composta dos seus administradores por um português e três brasileiros,...ahn! onde nós atua... somos concorrentes, somos concorrentes acirrados, né? Não temos nenhum relacionamento, tanto comercial como econômico.[fim]

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – É... por que a Sonae não conseguiu comprar essas ações em 2001?[fim]

O SR. ROGÉRIO MOTA SOUTO – Nós fizemos uma oferta pública de ações, Deputado, na Bolsa de Londres. Uma oferta pública é um valor fixado pelo comprador. E nós fixamos o valor, todavia o Carrefour...ahn! fixou um valor superior. Portanto, ali já ficou materializado nosso desconforto e a nossa oposição em ter o Carrefour como participante. Na verdade, não por compra, mas por herança pela fusão compra modesta.[fim]

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – Entende-se, então, que o Carrefour não quis... a intenção deles não é vender também essas ações ou a intenção era vender por um determinado preço?[fim]

O SR. ROGÉRIO MOTA SOUTO – Eu presumo que é em regras de mercado, né, Deputado. Isso é um ativo do Carrefour, né, e eles devem valorar segundo seus critérios.[fim]

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – Essas ações são ordinárias ou preferenciais?[fim]

O SR. ROGÉRIO MOTA SOUTO – São ordinárias, Deputado.[fim]

Na competitiva economia de mercado, nenhuma empresa domina e mantém parte do controle acionário de outra, principalmente no mesmo ramo de negócios, só como aquisição patrimonial. Essa participação é um meio para atingir um fim, que é o do estabelecimento de parceria. As ações que o grupo CARREFOUR

possui na SONAE não foram adquiridas em bolsas de valores. Nessas, adquirem-se ações preferenciais. A aquisição se deu pelo grupo PROMODÉS que fornecia todos os processos e procedimentos de construção de hipermercado e em troca tinha a participação de 22% na SONAE. Como o grupo CARREFOUR adquiriu a PROMODÉS no final dos anos noventa, o ele passou a ter ações ordinárias como aquisição patrimonial.

A aquisição de ações ordinárias significa, necessariamente, a existência de uma sociedade ou mesmo parceria empresarial? Envolveria acordo de direção econômica para atuação conjunta ou combinada no mercado varejista?

A SONAE declarou estar constrangida por essa participação acionária de sua concorrente CARREFOUR, o que se mantém contra a vontade da SONAE, que tentou já comprar essas ações.

Os representantes do CARREFOUR não souberam responder, alegando desconhecer o assunto.

A existência ou não de participação acionária, mesmo em se tratando de ações ordinárias, não é o fato principal. Possuir ações ordinárias não gera automaticamente o direito de direção em si. Pelas leis brasileiras, o acionista ou grupo de acionistas só pode indicar diretores se tiver 30% das ações ordinárias. Pelas leis brasileiras, o grupo CARREFOUR estaria excluído, pois detém menos de 30% das ações ordinárias da SONAE. ( ver leis S/A)

O fato principal e relevante ao presente Inquérito Parlamentar é o de apurar a existência ou não de ação conjunta ou combinada entre dois ou mais grandes grupos empresariais, para exercerem domínio de mercado relevante de bens e serviços, em prejuízo à livre concorrência, com ou sem participação acionária. Não basta somente a ação combinada ou conjunta, essa tem de gerar efeitos negativos à concorrência.

No Inquérito do Preço do Leite foi noticiada a prática de ação combinada entre a SONAE e CARREFOUR, de que este teria vendido o prédio de algumas lojas (Ex Lojas Americanas) ao grupo nas cidades de Blumenau e Joinville, no Estado de Santa Catarina. Essa operação teria sido um indício de combinação para domínio de mercado de bens, mediante ato de concentração. Foi a mesma analisada no ATO DE CONCENTRAÇÃO N° 08012.001138/2001-98 DA SECRETARIA DE DIREITO ECONÔMICO DO MINISTÉRIO DA JUSTIÇA, cujo texto se encontra no site da SDE/MJ, portanto, informação pública.

Se há ou houve ação combinada, a mesma se demostrou não produzir efeitos anticoncorrenciais na operação acima transcrita, pois a SEAE/MF e a SDAE/MJ concluiram "que se pode presumir que dificilmente o SONAE conseguiria impor aumentos de preços ou reduzir os produtos comercializados por suas lojas de forma lucrativa, já que os consumidores poderiam desviar parcela de suas compras para os demais competidores, ou pelo menos para o principal concorrente."

O Relator num Inquérito Parlamentar faz as vezes de um juiz, ou melhor, de magistrado num juizado de instrução. Para prolatar uma decisão, e nesse caso o relatório final de uma CPI é uma decisão e se poderia até lhe comparar a uma sentença indiciária, caso existisse juizado de instrução no Brasil, há necessidade do Relator indicar no Relatório Final os motivos e fundamentos que lhe formaram o convencimento com base nos fatos e circunstâncias contidos como prova lícita nos autos do processo, ainda que não alegado pelas partes (adaptação ao caso concreto do princípio do livre convencimento moderado, expresso no artigo 131 do CPC, aplicado subsidiariamente ao CPP).

É plausível concluir como FATO NOTÓRIO que em Porto Alegre – RS existe uma acirrada concorrência entre os grupos SONAE e CARREFOUR, que disputam a preferência do consumidor com preços baixos. Não passa na mente de nenhum consumidor na capital gaúcha ou mesmo nos outros mercados relevantes que ambas empresas atuam no ramo de hipermercados em ação conjunta ou combinada para domínio de mercado relevante de bens e serviços. Pelo contrário, a publicidade de ambas as empresas indica justamente o contrário. Recentemente o CARREFOUR contratou o mais famoso jogador de futebol brasileiro, RONALDINHO para sua publicidade. A SONAE revidou e contratou sua ex-esposa, MILENE. É evidente que se trata de cachês pagos a peso de ouro. Ninguém investiria milhões só para fazer um "faz de conta de existência de concorrência". O resultado prático dessa disputa publicitária milionária são preços mais baixos e o grande beneficiado é o consumidor.

Por força do Princípio da Legalidade, mesmo em se tratando de procedimento administrativo de natureza inquisitorial, o axioma IN DUBIO PRO SOCIEDADE se aplica quando não há certeza da inocência do suspeito. Mas, para isto não há inversão do ônus da prova, com responsabilidade objetiva de culpa presumida e a inocência deve ser provada. Só se aplica quando há contradição ou obscuridade na prova coletada e nenhum momento autoriza o indiciamento com base em suspeitas. Estas devem estar alicerçadas em indícios e início de prova.

Concluindo o presente item, todos esses fatos e circunstâncias levam à conclusão de que, se houve ou há alguma sociedade ou parceira entre ambas Empresas para dominarem mercado relevante de bens e serviços, em ação conjunta ou combinada, deve-se a uma interpretação distorcida ou errônea da aquisição de ações ordinárias da SONAE pelo CARREFOUR. Se há parceria ou sociedade essa é feita em segredo e nada disso foi provado. Pode haver até suspeitas nesse sentido, contudo, essa não se materializa em indícios, quanto mais início de prova para demonstrar a veracidade dessa alegação acusatória. Com ou sem parceria ou sociedade, o resultado prático que se tem observado nos atos dessas duas empresas é justamente o contrário do que se prevê quando se faz sociedade: a acirrada concorrência para atrair o consumidor mediante diversidade de produtos de boa qualidade a preços mais baixos. Isto não é prática anticoncorrencial, mas concorrência em sentido estrito.

SEGUNDA HIPÓTESE DE CONCORRÊNCIA DESIGUAL ENTRE AS GRANDES REDES VAREJISTAS EM RELAÇÃO ÀS MÉDIAS E PEQUENAS: IMPOSSIBILIDADE DE CRESCIMENTO OU DESAPARECIMENTO DAS REDES EXISTENTES:

Os atos de concentração em qualquer atividade econômica é fato que preocupa a livre concorrência. Por esse motivo, os indícios de concentração do mercado supermercadista em poucas empresas é uma preocupação e objeto do presente Inquérito Parlamentar, especialmente se forem interpretados os números de faturamento pelo ranking publicado pela AGAS.

Em qualquer setor da economia, em qualquer lugar do mundo, a concorrência entre as empresas de pequeno e médio porte com as de grande porte é desigual. Isto é FATO NOTÓRIO. Caso não fosse verdadeiro, o artigo 179 da Constituição Federal não dispensaria tratamento jurídico diferenciado às microempresas e às empresas de pequeno porte, visando a incentivá-las pelas simplificações de suas obrigações administrativas, tributárias, previdenciárias e creditícias, ou pela eliminação ou redução desta. Essa desigualdade não pode ser interpretada, em si, como prática de abuso de poder econômico.

No entendimento desta CPI, é relevante apurar como e quando a concorrência deixa de ser desigual e passa a ser desleal. É juridicamente relevante para identificar quando o poder econômico passa a ser usado com o propósito de impedir a iniciativa dos outros, com a ação no campo econômico, ou quando o poder econômico passa a ser o fator concorrente para um aumento arbitrário de lucros do detentor do poder, o abuso é manifesto

Na apuração dos fatos, será averiguado se a concorrência no mercado varejista gaúcho, entre as grandes redes varejistas e as pequenas e médias empresas, está sendo ou não prejudicada por prática desleal advinda, não por um critério de eficiência, mas por vantagem financeira como, por exemplo, obtenção de empréstimos financeiros. Esses fatos, se existentes, geram atos anticoncorrenciais com a quebra de condições de igualdade de oportunidade de competição, dificultando a entrada de novas redes varejistas e impossibilitando o crescimento ou desaparecimento das redes existentes.

Novamente esta Relatoria se baseia nas declarações da AGAS para esclarecer os níveis de concorrência no mercado varejista no Rio Grande do Sul, conforme consta das declarações do seu Presidente Antônio Cesa Longo, que traz um relato interessante sobre a evolução do mercado varejista no Rio Grande do Sul, em seu depoimento prestado perante esta CPI :

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – É que tivemos, aqui, no

parque das grandes redes, a aquisição, a ampliação de lojas, e isso fez com que elas se estruturassem de forma, talvez nunca igual, dentro da Grande Porto Alegre. Algumas pessoas identificam, até, uma relação de comércio diferenciado, depois que isso ocorreu, onde dificultou a indústria essa relação com o mercado. E conseqüentemente mercados menores também, eles acreditam que mercados menores também podem estar encontrando essas dificuldades. Na visão da entidade, existiu de forma prática, alguma diferença depois que isso ocorreu, depois que houve essa ampliação dos grandes grupos aqui, dentro da Grande Porto Alegre?[fim]

O SR. ANTÔNIO CESA LONGO – Isso é o que estava previsto, ou seja, os consultores afirmavam que poderia haver, mas não houve isso, tanto que houve aquisições de um grande grupo. Houve, mas também houve o fechamento dessas mesmas lojas; diversas cidades que estavam presentes se retiraram do mercado em função de uma maior eficiência da empresa regional. Então, o que tava previsto, não foi a realidade.[fim]

Hoje, se você pegar o número de lojas que tinham, hoje têm menos e as inaugurações de empresas regionais, redes médias aconteceram nesses últimos dois anos.[fim]

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – Essa redução de lojas não seria uma conseqüência, acho que dentro dessas previsões, mas não seria algo explícito desse poder dominante de mercado que acaba se formando com os grandes grupos, onde conseguem reduzir custos, onde manejam os seus pontos de venda, conforme aquilo que vai dar um retorno maior?[fim]

Isso tudo, acredito que traria àqueles que não possuem poder econômico, uma parcela do mercado tão grande, requereria uma reestruturação dentro dessa relação de mercado. Vocês observam que isso ocorreu ou acreditam que não?[fim]

O SR. ANTÔNIO CESA LONGO – Esse fechamento de loja foi de um grande grupo em função dessa eficiência do grande e médio, dessa melhor equalização do mercado, onde a indústria se qualificou, importações do setor quase que não importam mais em

função dessa grande qualificação que houve, a pequena e média indústria e o pequeno supermercado vem ganhando a preferência devido aos diversos formatos de lojas.[fim]

Hoje você tem loja que é diferenciada pelo horário, ou pelo atendimento, ou pela localização, pela variedade, pela limpeza, então dificilmente alguém vai assumir o controle de todo um mercado, sendo melhor em todos esses quesitos aí.[fim]

A distribuição das lojas da SONAE, por cidade, em 1999, era a seguinte:

CidadeNacional

Supermercados

Big Hipermercado

s

Maxxi Atacado

TOTAL

Porto Alegre 20 2 2 24Canoas 4 1 1 6São Leopoldo 4 1 0 5Novo Hamburgo

5 0 0 5

Santa Maria 2 1 1 4Gravataí 4 0 0 4Pelotas 4 0 0 4Caxias do Sul 1 1 1 3Esteio 3 0 0 3Guaíba 3 0 0 3Rio Grande 1 1 1 3Sapucaia do Sul

3 0 0 3

Alvorada 1 1 0 2Bagé 2 0 0 2Cachoeirinha 1 1 0 2Livramento 2 0 0 2Santa Cruz do Sul

1 0 1 2

São Borja 2 0 0 2Uruguaiana 1 1 0 2Viamão 1 1 0 2

Alegrete 1 0 0 1Barra do Ribeiro

1 0 0 1

Bento Gonçalves

1 0 0 1

Camaquã 1 0 0 1Capão da Canoa

1 0 0 1

Cruz Alta 1 0 0 1Ijuí 1 0 0 1Lajeado 1 0 0 1Montenegro 1 0 0 1Osório 1 0 0 1Rosário do Sul

1 0 0 1

Santa Rosa 1 0 0 1Santo Ângelo 1 0 0 1Santo Antônio

1 0 0 1

São Gabriel 1 0 0 1Taquara 1 0 0 1Torres 1 0 0 1Tramandaí 1 0 0 1TOTAL 83 11 07 101

Atualmente, a distribuição das lojas da SONAE, é a seguinte:

CidadeNacional

Supermercados

Big Hipermercado

s

Maxxi Atacado

TOTAL

Porto Alegre 19 2 2 23Canoas 3 1 1 5São Leopoldo 2 1 0 3Novo Hamburgo

2 1 0 3

Santa Maria 2 1 1 4Gravataí 3 0 1 4

Pelotas 4 1 0 5Caxias do Sul 0 1 1 2Esteio 2 0 0 2Guaíba 3 0 0 3Rio Grande 1 1 1 3Sapucaia do Sul

2 0 0 2

Alvorada 0 1 0 1Bagé 1 0 0 1Cachoeirinha 1 1 0 2Livramento 0 1 0 1Santa Cruz do Sul

1 0 1 2

São Borja 1 0 0 1Uruguaiana 0 1 0 1Viamão 1 1 0 2Alegrete 1 0 0 1Barra do Ribeiro

1 0 0 1

Bento Gonçalves

0 0 0 0

Camaquã 1 0 0 1Capão da Canoa

1 0 0 1

Cruz Alta 1 0 0 1Ijuí 1 0 0 1Lajeado 0 0 0 0Montenegro 1 0 0 1Osório 1 0 0 1Rosário do Sul

1 0 0 1

Santa Rosa 1 0 0 1Santo Ângelo 1 0 0 1Santo Antônio

1 0 0 1

São Gabriel 1 0 0 1Taquara 1 0 0 1Torres 1 0 0 1

Tramandaí 1 0 0 1TOTAL 66 14 08 88

A SONAE se retirou de dois importantes mercados no interior gaúcho: Lajeado e Bento Gonçalves. E não se trata de mercados de importância secundária no Rio Grande do Sul: são duas cidades de porte médio, de zona colonial da Metade Norte, com elevada qualidade de vida para os padrões sociais brasileiros, isto é, razoável mercado consumidor.

As declarações do representante da AGAS sobre a capacidade de concorrência das redes locais com os grupos estrangeiros são ratificadas pelos representantes das principais redes de supermercados ouvidas por esta CPI. Todas elas são empresas gaúchas e concorrentes diretas do grupo CARREFOUR e da SONAE. Nesse sentido, transcrevem-se as declarações de Cláudio Zaffari, representante do grupo ZAFFARI, empresa genuinamente local, segunda no ranking local e a primeira em Porto Alegre – RS.

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – Então, existe um poder dominante no mercado gaúcho?[fim]

O SR. CLAUDIO LUIZ ZAFFARI – Eu diria que existem empresas que têm um volume maior de concentração. Se eles usam isso para dominar o mercado ou não, nós estamos crescendo gradativamente as nossas vendas, a nossa participação à medida que abrimos novas lojas e fazemos os nossos investimentos. Os outros, o restante do mercado não tenho condições de avaliar.[fim]

O SR. PRESIDENTE JERÔNIMO GOERGEN – Quais seriam estas empresa que exercem esta maior?[fim]

O SR. CLAUDIO LUIZ ZAFFARI – No Rio Grande do Sul, temos hoje duas empresas multinacionais operando no mercado basicamente. O Sonae e o Grupo Carrefour. O volume que eles compram e a participação deles é um volume muito grande e é natural que tenham a sua participação no mercado diferenciada em

função do seu volume. Se isto é uma prática normal, desconheço, porque são concorrentes ferrenhos aos quais temos que responder com eficiência, qualidade e preço.[fim]

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – Mas isto chega a prejudicar a livre concorrência?[fim]

O SR. CLAUDIO LUIZ ZAFFARI – É difícil medir isto Deputado. Acho que é muito complicado fazer uma conta e dizer sim, não. Pode em um determinado momento, sim, pode num determinado momento, não. Pode para alguma indústria, por exemplo, que por um motivo ou outro fez um grande investimento num parque fabril e não tenha grandes condições de fazer um outro investimento num processo de logística e ele passar por uma política de concentração de venda para uma única rede. À medida que ele vai fazer essa concentração, numa única rede, ele acaba sofrendo a pressão desta rede. E aí é ruim para (incompreensível) dela.[fim]

Importantes foram as declarações prestadas pelo representante da rede UNIDÃO, a quarta no Rio Grande do Sul, com atuação exclusivamente no interior do Estado, até agora. No sentido de ratificar as declarações da AGAS sobre a capacidade de competição das empresas nacionais com as estrangeiras, transcrevem-se os seguintes trechos do depoimento do Senhor Augusto de Cesaro, que faz declarações interessantes sobre os níveis de concorrência na Região Metropolitana e a capacidade de redes locais se expandirem:

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – Mas quais são as dificuldades, é melhor ir para o interior que vir para cá?[fim]

O SR. AUGUSTO DE CESARO – Essa pergunta freqüentemente acontece. Por que não Porto Alegre?[fim]

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – Não precisa dar a resposta.[fim]

O SR. AUGUSTO DE CESARO – Não, é que ainda não chegou o momento de vir a Porto Alegre. Agora mesmo vamos abrir em Canoas, quer dizer, estamos chegando perto de Porto Alegre. E como a gente sempre teve uma preferência para aquela Região do Vale dos Sinos...Hoje, se pegar logisticamente de São Leopoldo até São Francisco de Paula ficou só Parobé de fora, em todas as outras a gente já tem mercado. Então, a gente já teve essa preferência em função de estar na Região.[fim]

Sobre o mercado em Porto Alegre e a capacidade de ingresso de novas redes, foi declarado o seguinte:

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – Poderia dizer que, então, existe uma desigualdade no mercado de Porto Alegre devido a concentração dessa fatia dos consumidores? Existe uma desigualdade de concorrência?[fim]

O SR. AUGUSTO DE CESARO – Olha, eu diria que Porto Alegre é um atrativo pra loja, pra supermercado. E de concorrência, que nem eu falei, se a gente fazer o levantamento do que já tem em Novo Hamburgo em termos de rede... já está super bem atendido pelos supermercados, porque todas as redes tem em Novo Hamburgo.[fim]

Outra importante rede do varejo ouvida por esta CPI, foi a GUANABARA, com área de atuação nas cidades do Rio Grande e de Pelotas, dois importantes Municípios de porte médio da Mesorregião Sul do Estado. Naquela Região, o GUANABARA com rede local entende não haver prejuízo à livre concorrência face à disputa com o grupo SONAE. É importante destacar que a rede REAL, adquirida pela SONAE, é originária daquelas duas cidades. Transcreve-se os principais trechos do depoimento do representante da rede GUANABARA .

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – E no que diz respeito aos supermercados, os Senhores acreditam que existe um equilíbrio de oportunidades, de condições ou às vezes uma concentração de redes, de lojas causam desequilíbrio nesse elo da cadeia?[fim]

O SR. LUIZ CARLOS DA SILVA CARVALHO – Na nossa área não haveria isso, com certeza.[fim]

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – Na área diz respeito...[fim]

O SR. LUIZ CARLOS DA SILVA CARVALHO – na nossa área geográfica.[fim]

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – Rio Grande, geográfica.[fim]

Então não identificariam nenhum, algum poder dominante dentro...[fim]

O SR. LUIZ CARLOS DA SILVA CARVALHO – Com certeza.[fim]

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – Da área de vocês?[fim]

O SR. LUIZ CARLOS DA SILVA CARVALHO – Com certeza.[fim]

Outra rede ouvida foi a RISSUL. É uma rede nova, ainda em fase de consolidação, com 18 lojas na Região Metropolitana da Grande Porto Alegre – RS. Neste sentido:

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – Na sua visão, Sr. Renaldo, o Senhor acredita que há igualdade de oportunidades na disputa do mercado aqui no Rio Grande do Sul, no segmento que o Senhor trabalha e também representa? O Senhor acredita que existe uma igualdade de condições de concorrência, de oportunidades, ou existe alguma distorção entre redes maiores e redes menores?[fim]

O SR. RENALDO CANDIDO – Não, até o conhecimento que a gente tem, seria a concorrência em si.[fim]

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – Nós temos aqui alguns relatos de que já foi até qualificado como poder dominante de grandes grupos que detêm uma grande participação, principalmente pelo que percebo da quantia de lojas que os Senhores possuem. Atuam muito na Região Metropolitana, aqui na Grande Porto Alegre, de forma um pouco mais objetiva em Porto Alegre. Grupos acabam desestabilizando um pouco essa relação de mercado. O Senhor acredita que isso possa acontecer, ou, no seu entendimento, isso não acontece?[fim]

O SR. RENALDO CANDIDO – Não, pelo que a gente vê até hoje, até o momento, nada que ficou claro, que exista alguma confirmação, enfim, exata.[fim]

Quanto à concorrência no Município de Porto Alegre – RS, principal mercado consumidor no Rio Grande do Sul, a principal rede varejista não é a SONAE e tampouco o grupo CARREFOUR. A líder no ranking é justamente uma empresa local, de capital nacional: o grupo ZAFFARI. A liderança em Porto Alegre – RS da rede local é inclusive reconhecida pela sua concorrente, a SONAE:

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – E no Rio Grande do Sul?[fim]

O SR. ROGÉRIO MOTA SOUTO – No Rio Grande do Sul nós somos o...eu vou pegar o exemplo de Porto Alegre. Nós somos o segundo operador de Porto Alegre, né.[fim]

Concluindo, as previsões não se concretizaram, ao menos no nível projetado, de que as redes locais desapareceriam, absolvidas pelas grandes redes, especialmente as internacionais. Pelo contrário, recuaram até certo ponto, e as redes locais reagiram, mantendo assim níveis razoáveis de concorrência.

TERCEIRA HIPÓTESE DE CONCORRÊNCIA DESIGUAL ENTRE AS GRANDES REDES VAREJISTAS EM RELAÇÃO ÀS MÉDIAS E PEQUENAS: DIFICULDADE DE ENTRADA DE NOVAS REDES NO MERCADO:

Com relação à probabilidade de entrada de novas redes de supermercados no Rio Grande do Sul, seja de outra unidade Federada ou do estrangeiro, seja por iniciativa de algum empreendedor local, para concorrer com as grandes redes, inclusive com as estrangeiras, como a SONAE e o CARREFOUR, esse tem-se mostrado

possível e viável.

A AGAS entende que há espaço para novas redes varejistas no mercado gaúcho, inclusive para os pequenos e médios.

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – No seu entendimento, então, não existiria aqui, principalmente no Rio Grande do Sul, uma concentração no ramo varejista?[fim]

O SR. ANTÔNIO CESA LONGO – Não existe porque, como eu falei, a pequena e média empresa vêm ganhando espaço, vêm ganhando a preferência, e melhor de tudo, elas vêm mantendo a tradição e os hábitos regionais da sua região, fortalecendo o pequeno fornecedor e a pequena indústria da sua região.[fim]

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – É que tivemos, aqui, no parque das grandes redes, a aquisição, a ampliação de lojas, e isso fez com que elas se estruturassem de forma, talvez nunca igual, dentro da Grande Porto Alegre. Algumas pessoas identificam, até, uma relação de comércio diferenciado, depois que isso ocorreu, onde dificultou a indústria essa relação com o mercado. E conseqüentemente mercados menores também, eles acreditam que mercados menores também podem estar encontrando essas dificuldades. Na visão da entidade, existiu de forma prática, alguma diferença depois que isso ocorreu, depois que houve essa ampliação dos grandes grupos aqui, dentro da Grande Porto Alegre?[fim]

O SR. ANTÔNIO CESA LONGO – Isso é o que estava previsto, ou seja, os consultores afirmavam que poderia haver, mas não houve isso, tanto que houve aquisições de um grande grupo. Houve, mas também houve o fechamento dessas mesmas lojas; diversas cidades que estavam presentes se retiraram do mercado em função de uma maior eficiência da empresa regional. Então, o que tava previsto, não foi a realidade.[fim]

Hoje, se você pegar o número de lojas que tinham, hoje têm menos e as inaugurações de empresas regionais, redes médias aconteceram nesses últimos dois anos.[fim]

Na mesma linha de argumentação, depõe o grupo SONAE.

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – A concorrência desigual por parte das grandes redes de varejo não é o motivo principal para que as redes locais de um modo geral estejam sendo adquiridas por grandes como a Sonae?[fim]

O SR. ROGÉRIO MOTA SOUTO – Não, Deputado. Na medida em que as grandes redes locais estão crescendo, estão se desenvolvendo, estão abrindo novas lojas, né. Nós temos agora como exemplo a Comercial Zaffari, de Passo Fundo, que está vindo para Porto Alegre. E está com uma loja só lá na rótula da Protásio Alves, da Carlos Gomes, né, onde ela está inaugurando nos próximos dias mais uma loja. Se ela temesse a concorrência que estava em Porto Alegre, ela não viria a Porto Alegre, né.[fim]

A rede UNIDÃO, quarta no ranking no Estado, por ocasião do seu depoimento, destacou sobre a possibilidade de expansão do varejo no interior do Estado, o que demonstra que há espaço para e expansão de lojas de supermercados:

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – E foi-se expandindo nas imediações de São Leopoldo e também para o interior. Por que não vieram a Porto Alegre?[fim]

O SR. AUGUSTO DE CESARO – Olha, é que tem ainda...nós, como somos do interior, têm diversas cidades que ainda estão, têm espaço para supermercado. Só por isso.[fim]

Mais significativo é o exemplo da rede RISSUL, que é uma empresa nova no mercado varejista gaúcho. Esta possui dezoito lojas, algumas delas em prédios que antes funcionavam as lojas da SONAE, como a existente no Shopping Center na cidade de Lajeado – RS. É importante destacar que a maior parte das lojas dessa nova Empresa não foram abertas em zonas que não contavam com esse serviço, mas na Região Metropolitana da Grande Porto Alegre – RS, o maior mercado consumidor regional no Rio Grande do Sul. Isto demonstra, de forma inequívoca, que há espaço no mercado para a entrada de novas redes varejistas.

Os exemplos das Redes UNIDÃO e RISSUL são exemplos que se aplicam à Região Metropolitana da Grande Porto Alegre – RS e ao interior do Estado. Contudo, não se aplicam à Cidade de Porto Alegre – RS. O exemplo significativo é o da COMERCIAL ZAFFARI, de Passo Fundo, que como a ZAFFARI de Porto Alegre – RS só tem de identidade o nome, que está se expandido no maior mercado local varejista do Rio Grande do Sul.

O mercado varejista não é um empreendimento econômico para amadores. Com os altos níveis de competição existentes, nenhuma empresa iria se aventurar a abrir uma loja sem que realizasse um estudo sobre a viabilidade econômica do empreendimento. Ora, uma Empresa como a COMERCIAL ZAFFARI, de Passo Fundo – RS que atua há longos anos no mercado não estaria se arriscando numa operação de alto risco sem que tivesse um mínimo de certeza de que há espaço ainda para a expansão no mercado em Porto Alegre – RS. Em suma, ninguém rasga dinheiro.

Para concluir, à expansão das grandes redes varejistas no mercado de Porto Alegre – RS, pode-se aplicar as citações do Historiador David Lander, em sua clássica obra "A RIQUEZA E A POBREZA DAS NAÇÕES: "sempre há espaço para sobremesa" No contexto dessa obra citada, significa que se a sobremesa é gostosa, sempre tem espaço para ela, por maior que tenha sido a pajelança. Em outras palavras, finalizando, quando se é eficiente, sempre há espaço no mercado, por mais concentrado ou competitivo que esse seja.

AVALIAÇÃO DA RELAÇÃO ENTRE CUSTO E BENEFÍCIO DOS IMPACTOS POSITIVOS E NEGATIVOS AO BEM-ESTAR ECONÔMICO DO CONSUMIDOR:

INTRODUÇÃO:

A já referida PORTARIA CONJUNTA SEAE/SDE N° 50, de 01/08/2001, estabelece no seu item 85 e seguintes do GUIA PARA ANÁLISE ECONÔMICA DE ATOS DE CONCENTRAÇAO HORIZONTAL, as regras de avaliação do efeito do ato de concentração sobre a eficiência econômica: “Para que um ato que implique controle de parcela substancial de mercado (Etapa II) em um mercado em que existam condições de exercício de poder de mercado (Etapa III) seja aprovado com base nas eficiências que gera (Etapa IV), é necessário que o efeito líquido da operação sobre o bem-estar econômico da sociedade seja não-negativo, e que sejam observados os limites estritamente necessários para atingir os objetivos visados (art. 54, §1º,IV).“

O objeto final da análise, especialmente quando a relação econômica se dá entre o varejo e o consumidor, é sempre o bem-estar econômico deste último. Assim, no presente item, será analisado se os atos de concentração econômica do varejo no Rio Grande do Sul advêm de um critério de eficiência e não de uma vantagem proveniente de ganhos pecuniários decorrentes de transferência de receitas entre agentes econômicos, averiguando se conquistaram a posição com ou sem prática desleal da concorrência. Mas, uma vez assumindo o domínio de mercado, passaram a praticar abuso de poder de mercado.

Esta CPI, no curso da instrução, ao identificar as Empresas que hipoteticamente exercem domínio de mercado relevante no varejo na Cidade de Porto Alegre – RS, notificou essas empresas através das requisições de informações:

RESPOSTA À REQUISIÇÃO DE INFORMAÇÕES N.° 1818 (GRUPO SONAE),

Sonae Distribuição do Brasil S/A, com foro e sede na cidade de Porto Alegre, RS, na Avenida Sertório, 6600, sobreloja, inscrita no CNPJ/MF sob n.° 93.209.756/0001-17, vem pela presente, em atenção a Requisição de Informações n.° 1818/2003, feita por esta Comissão Parlamentar de Inquérito que apura as causas da atual situação econômica e financeira da bovinocultura de corte e suinocultura e investiga indícios da prática de infrações a ordem econômica nas cadeias produtivas de carne bovina e suína e seus derivados, esclarece que o CADE não exerce função jurisdicional. Não é um órgão do Poder Judiciário. É uma autarquia administrativa vinculada ao

Ministério da Justiça que julga através de um processo administrativo quase-judicial as infrações à ordem econômica. Sua decisão final é de natureza administrativa e pode ser revisada pelo Poder Judiciário.

Em que pese a decisão do CADE não ser tecnicamente matéria do direito penal e sim do direito administrativo, não deixa a mesma de aplicar uma sanção punitiva. Todavia, nem todas as penas – sanções aplicadas pelo Estado como punição - estão contidas nas leis penais. Há outras espécies de leis, inclusive que regulam direitos privados, que contém penas. É uma questão como se compreende a expressão jurídica penalidade. Antes da edição do inciso XLVI do art. 5º, da Constituição da República, o Direito Pátrio já tinha entendimento sob esse tema, como, por exemplo, o Jurista Carlos Maximiliano, para quem a expressão leis penais devem ser compreendidas em sentido amplo:

“395 - A rubrica - Leis Penais, aposta a este capítulo, compreende toda as normas que impõem penalidades, e não somente as que alvejam os delinqüentes e se enquadram em Códigos Criminais. Assim é que se aplicam as mesmas regras de exegese para os regulamentos policiais, as posturas municipais e leis de finanças, quando às disposições cominadoras de multas e outras medidas repressivas de descuidos culposos, imprudência ou abusos, bem como em relação às castigadoras dos retardatários no cumprimento de prescrições legais. Os preceitos mencionados regem, também, disposições de Direito Privado, de caráter punitivo: as relativas à indignidade do sucessor, por exemplo, e diversas concernentes a falência. Toda a norma imperativa ou proibitiva e de ordem pública admite só a interpretação estrita.” obra Hermenêutica e Aplicação do Direito, pg. n° 327.

As sanções aplicadas pelo CADE são estabelecidas por uma lei que contém normas imperativas e de ordem pública. Como toda a regra de direito que atrita, suspende, restringe ou interdita direitos, não pode ser outra a sua natureza jurídica, senão a de

pena, mesmo que essa expressão seja compreendida em sentido amplo e não estrito que lhe é dada pelo direito penal.

O fato de uma empresa ou grupo de empresas assumir posição dominante a que se refere o parágrafo 2° do artigo 20 da Lei Federal n.º 8.884, de 11 de junho de 1994, é uma presunção quando controla 20% (vinte por cento) de mercado relevante. Não é uma forma de responsabilidade objetiva em que a empresa estaria automaticamente enquadrada como culpada. É uma presunção oponível mediante exceção de defesa, com todas as garantias da Cláusula do Devido Processo Legal em sua Dimensão Processual, incluindo a plena defesa, com o contraditório e o direito ao juiz natural que é o direito de ingressar com as medidas cabíveis junto ao Poder judiciário em caso de ameaça ou lesão de direito.

Por outro lado, nem poderia ser dada essa interpretação literal de culpa presumida ou de interpretação com efeitos extensivos. Por força do Princípio da Legalidade, onde ninguém é culpado até o trânsito do processo, não podendo os efeitos da sentença penal ou a que ela for equiparada, inclusive na instância administrativa, antecipar os efeitos da condenação.

II - O § 2º do artigo 20 da lei acima referida possuí redação taxativa: "ocorre posição dominante quando uma empresa ou grupo de empresas controla parcela substancial de mercado relevante, como fornecedor, intermediário, adquirente ou financiador de um produto, serviço ou tecnologia a ele relativa."

A redação desse dispositivo legal é clara que só se aplica à indústria. O varejo não se enquadra nesse conceito. O ato de concentração n° 08012.001138/2001-98 do Ministério da Justiça contém a definição exata do que é mercado relevante em matéria de supermercado e hipermercado:

III.1 - Dimensão Produto

A presente operação envolve o mercado de prestação de serviços de vendas a varejo de bens de consumo duráveis (eletrônicos, têxteis, utilidades domésticas, papelaria, etc.) e não -duráveis (produtos alimentícios de toda a natureza, de higiene e limpeza, bebidas, etc.), realizadas por meio de supermercados e hipermercados, conhecidos como auto-serviço ou auto-atendimento.

Segundo a Associação Brasileira de Supermercados – ABRAS, são considerados supermercados os estabelecimentos que apresentam como principais seções de vendas mercearia, bazar e perecíveis; cerca de 1.500 a 5.000 itens em exposição, de 3 a 40 check-outs, mais de 300m2 de área de venda e um faturamento anual acima de 1 milhão de dólares. Já os hipermercados se caracterizam por possuírem as seções de venda mercearia, bazar, perecíveis, vestuário e eletrodomésticos; mais de 5.000 itens em exposição mais de 40 check-outs uma área de vendas maior que 5.000 m2, e um faturamento anual de no mínimo 12 milhões de dólares.

Não contendo a regra punitiva redação taxativa, não pode ser dada a mesma interpretação com efeitos extensivos. Há vedação expressa, nesse sentido, no inciso XXXIX do artigo 5º da Constituição Federal, que reconhece o PRINCÍPIO DA LEGALIDADE CRIMINAL. Um dos seus desdobramento ou subprincípio é o da TAXATIVIDADE. Cita-se as explanações doutrinárias de CELSO DELMANTO, na sua obra CÓDIGO PENAL COMENTADO, 4ª edição, página 04:

“2. Taxatividade. As leis que definem crimes devem ser precisas, marcando exatamente a conduta que objetivam

punir. Assim, em nome do princípio da legalidade, não podem ser aceitas leis vagas ou imprecisas, que não deixam perfeitamente delimitado o comportamento que pretende incriminar – os chamados tipos penais abertos (Hans Heinrich Jescheck, Tratado de Derecho Penal – Parte General, 4ª ed., Granada, Editora Comores, 1993, p. 223).

O mesmo PENALISTA, na obra acima mencionada, discorre sobre O PRINCÍPIO DA TAXATIVIDADE, que impede ao Juiz da causa completar as falhas da lei incriminadora:

“Por outro lado, ao juiz que vai aplicar leis penais é proibido o emprego da analogia ou da interpretação com efeitos extensivos para incriminar algum fato ou tornar mais severa sua punição. As eventuais falhas da lei incriminadora não podem ser preenchidas pelo juiz, pois é vedado a este completar o trabalho do legislador, para punir alguém.”

Por força do PRINCÍPIO DA LEGALIDADE CRIMINAL, se é defeso ao juiz preencher as falhas da lei incriminadora, também o é para completar as omissões da denúncia penal.

Em hipótese alguma a SONAE domina mercado relevante de bens ou serviços no mercado varejista. Sua posição no Rio Grande do Sul e no Brasil foi resultado de processo natural fundado na maior eficiência de agente econômico em relação a seus competidores, sem prejuízo ao consumidor e a livre concorrência.

A eficiência foi conquistada pela capacidade administrativa do seu corpo de gestores e a seus funcionários e jamais por condutas anticompetitivas nocivas à concorrência. Nossa Empresa se enquadra na Cultura da concorrência que o SBDC promove.

A SONAE, no Rio Grande do Sul, apenas substitui rede regionais, que passavam por dificuldades por problemas gerenciais e falta de capitalização. Não ingressou diretamente nesse mercado, apenas deu continuidade, inclusive ao espírito comunitário das suas antecessoras, especialmente o de responsabilidade social.

A SONAE não é uma empresa portuguesa, mas sim luso-brasileira. Se fosse só lucro, concentraria seus investimentos em outros mercados mais atrativos, como os do Extremo Oriente, México e os Estados Unido da América. Se optou pelo Brasil, o seus motivos não só de natureza econômica. Sua atuação no Brasil, tem como causa os mesmos motivos que sempre uniram Portugal e o Brasil: "identidade e continuidade histórica". Portugal é um pequeno pais da Europa. Ë um dos membros mais pobre da Comunidade Européia. Não é nenhuma potência econômica como a Alemanha, França ou mesmo a Itália. Os motivos que levaram Portugal a promover as Grandes Navegações, vindo a atracar nas costas brasileiras são os mesmos motivos que levaram a SONAE a investir e a acreditar no Brasil. Aqui o Brasil, como continuidade de Portugal pode ser grande. Aqui no Brasil a SONAE pode ser grande, no sentido de ser uma grande empresa notoriamente reconhecida como competitiva e eficiente, que é o sonho de todo o empreendedor.

É importante destacar que o mercado gaúcho de supermercados e hipermercados é um dos mais competitivos no Brasil. A SONAE figura no ranking da AGAS como primeira empresa em faturamento bruto no setor em 2002. Mas analisado cada cidade que atua, observa-se que há fortíssima disputa no mercado com as redes locais. Em Porto Alegre, por exemplo, a rede local concorrente, é a primeira colocada em faturamento bruto. No interior do Estado observa-se o mesmo. As redes locais, mesmo as de pequeno porte, conseguem competir com eficiência. São mais flexíveis no gerenciamento e podem dar muitas vezes tratamento mais personalizados aos

seus clientes. Também interagem com maior agilidade com os fornecedores locais. As alegações infundadas, como a exclusão das pequenas e médias redes da possibilidade de comprar cargas fechadas, não procedem, especialmente após a criação das centrais de compras. Com o início da operação dessas, a concorrência em matéria de preço ficou ainda mais acirrada e quem ganha com isso é o consumidor.

Como é do conhecimento desta CPI, por informações prestadas por nossa Empresa, houve redução do número de lojas de supermercados, cujos pontos foram ocupados por redes locais. Se a SONAE estivesse dominando mercado relevante de bens e serviço de forma negativa à livre concorrência, a lógica seria a de aumentar o número de lojas e de tirar espaço no mercados das suas concorrentes, especialmente as pequenas e médias. Porém, está acontecendo justamente o inverso.

Por último, encaminhamos em anexo, cópia dos atos de concentração em que nossa Empresa é parte, demonstrando que a SONAE não pratica atos nocivos a livre concorrência.

Por isso, não é justa e carece de plausividade colocações de que a SONAE domina mercado relevante de bens e pratica condutas anticoncorrencias.

RESPOSTA À REQUISIÇÃO DE INFORMAÇÕES N.° 1819 (GRUPO ZAFFARI)

Procurando atender a sua Requisição, buscamos prestar algumas informações que possam contribuir para os altos objetivos dessa egrégia Comissão Parlamentar de Inquérito, que se empenha em diagnosticar as verdadeiras causas da situação econômico-financeira de dificuldades por que passa a bovinocultura de corte e suinocultura.

Desde logo, desejamos ressalvar que se faz necessário uma revisão estatística sobre a questão da denominada "posição dominante" desta empresa no comércio varejista do Município de porto Alegre, por não se saber quais os critérios que foram adotados

nos levantamentos efetuados, quem os executou, quais as empresas abrangidas, qual a área, etc. Os números que dispomos são outros.

Por outro lado, queremos deixar registrado que o crescimento da nossa empresa não ocorreu per saltum, mas foi conseqüência natural do trabalho, do sacrifício, da poupança/investimento, do arrojo, da coragem e da confiança no futuro, de par com a expansão demográfica e econômica da grande porto Alegre.

Tudo foi sendo construído e ampliado paulatinamente. Não adquirimos grandes redes.

Acreditando no binômio: poupança/investimento, fomos ampliando e desenvolvendo nossas atividades, sem necessidade de recorrermos ao mercado de capitais e ao mercado financeiro, o que tem sido fonte de amargas decepções e ruínas.

Na história de nossa empresa, fixamos como marco inicial, a casa de comércio fundada por Francisco José Zaffari e sua esposa Santina de Carli Zaffari em Vila 7 de setembro, interior do município de Erechim, na região norte do Rio Grande do Sul, Isto no ano de 1935.

Lá, aos poucos se desenvolveram as características que marcariam a empresa em sua trajetória.

Buscando a produção agrícola junto aos pequenos produtores da região e levando aos grandes centros consumidores da época, a empresa foi ampliando sua atuação no comércio atacadista principalmente de produtos alimentícios. No final dos anos 50, com o aumento dos negócios com Porto Alegre, ficou evidente a importância de iniciar uma operação atacadista na grande metrópole. No bairro Petrópolis, na Avenida Protásio Alves, onde ainda hoje funciona a nossa loja número 01, abrimos uma operação de atacado para melhor abastecermos os armazéns e feiras, que eram o comércio predominante e tradicional da época.

O forte desenvolvimento dos centros urbanos junto as capitais e a evolução necessária dos meios de abastecimento trouxeram para Porto Alegre experiências que já eram adotadas em outros centros mais desenvolvidos, procurando atingir maior eficiência neste importante serviço. Iniciavam os supermercados.

A Cia Zaffari inaugurou sua primeira loja de sepermercado em 1965. Num bairro nobre da cidade começou a desenvolver sua atividade, com base nas experiências anteriores, procurou desde logo cativar seus clientes, oferecendo serviços diferenciados, variedade de opção para melhor escolha, qualidade nos produtos e serviços e preços competitivos. Na empresa trabalhava toda família Zaffari, homens e mulheres, permitindo um atendimento personalizado, que veio marcar, com esse estilo pessoal, até hoje nossas atividades empresariais.

Com uma família de muitos filhos e filhas, 11 ao todo, e dedicação exclusiva aos seus negócios Francisco José Zaffari foi direcionando sua atuação para a nova forma de abastecer a população e buscando aprimorar cada vez mais a sua operação para poder fazer frente a outras empresas que entravam no setor e iniciaram a formar o novo panorama do comércio varejista na Capital dos gaúchos.

Reinvestindo totalmente seus resultados no crescimento e melhoria de suas lojas em 1967, abriu a loja 02 também no mesmo bairro Petrópolis. Ainda mantinha funcionando atividades no interior do Estado, mais precisamente no município de Passo Fundo.

Gradativamente foi buscando novos pontos que estavam desguarnecidos de estabelecimentos comerciais desta natureza e em 1971 inaugurou a loja da Rua Coronel Bordini. Vale registrar neste período a cisão da empresa quando um dos irmãos e sócios de Francisco partiu para a criação de sua própria empresa, que posteriormente se tornou um grupo de vulto no setor, a Cia. Dosul de Abastecimento.

Outras empresas iniciavam a se destacar no ramo. A maioria de origem familiar, entre elas o Supermercado Real, o Zottis, o Econômico, o Asun e posteriormente o Nacional.

Continuando o Zaffari a sua trajetória, foram inauguradas novas unidades. Em 1973 a pequena loja da Vila Assunção. Em 1974 o primeiro supermercado de maior porte, a loja da Av. Ipiranga. Em 1976 a loja da esquina da Silva Jardim e Anita Garibaldi. Em 1977 no bairro Bonfim. Em 1978 na Marechal Floriano Peixoto, no centro, em 1980 na Fernando Machado.

Sempre buscando inovar e ampliar os conhecimentos nos centros mais desenvolvidos para melhor enfrentar os desafios que a própria comunidade gaúcha continuamente propunha, foram dedicados esforços no desenvolvimento de tecnologias com fornecedores de equipamentos, cm técnicos, arquitetos engenheiros, nutricionistas, veterinários, administradores, enfim todos os campos de conhecimento que de uma forma ou outra interagia com a operação de supermercado, que tomava vulto e importância na vida das pessoas.

Em 1983 inauguramos a loja da Cristovão Colombo e da Plínio Brasil Milano procurando implantar novos conceitos.

Em 1987 foi a vez da Lima e Silva, na Cidade Baixa. Em 1989 na Av. Cavalhada, na Zona Sul.

Com a chegada dos grandes concorrentes internacionais ao Brasil, empresas multinacionais, com acesso a recursos financeiros com custos diferenciados, iniciou-se a era dos hipermercados. A concorrência passou a exigir maior eficiência, domínio de custos, maior tecnologia e diferenciações, que fossem identificados pelos consumidores.

Assim, 1991, inauguramos o Bourbon Assis Brasil, integrando ao hipermercado a sua capacidade de gerar fluxos, lojistas parceiros em atividades complementares, muitos iniciando um novo negócio.

Decorridos 7 anos, em 1998 inauguramos outra importante unidade nesta configuração, o Bourbon Ipiranga.

Em 2000 uma loja convencional no bairro Menino Deus. Em 2001 Bourbon Country e a loja da Avenida Juca Batista. Em 2003 inauguramos a loja da Oto Niemeyer.

Hoje estamos com 19 operações na capital, nestes 43 anos de atuação no comércio varejista. Também operamos com 02 unidades de varejo e uma indústria em Passo Fundo. Duas unidades em Caxias do Sul, uma em Novo Hamburgo e uma em Canoas.

Além das operações comercias e industriais, administramos e operamos os conhecidos Shopping Bourboun, onde um significativo número de lojistas tem suas lojas e desenvolvem suas novas empresas e negócios nas mais diversas áreas.

São muitos anos de atuação e sem dúvida, muito aprendizado no setor.

Diversas empresas tradicionais cessaram suas atividades e venderam ou locaram seus prédios para empresas multinacionais, que vieram e estão tentando rapidamente ampliar espaços duramente conquistados. Recebem um mercado pronto e através da disponibilidade de recursos oriundos de outras economias mais desenvolvidas, a custos reduzidos pela própria dificuldade de crescimento no seu mercado, conseguem espaços generosos entre nossas empresas que dependem exclusivamente do mercado interno.

Como empresa genuinamente gaúcha, que cresceu com o povo desta terra, acompanhou passo a passo o desenvolvimento aqui verificado com tanto trabalho e esforço, temo orgulho de nossa trajetória e plena consciência da nossa responsabilidade.

Responsabilidade com nossas colaboradores, cidadãos deste Estado, que querem progredir dentro de um ambiente ético e eficiente.

Compromisso com nossos cliente, que ao longo destes anos, de forma democrático, têm livremente demonstrado a preferência por nossas iniciativas e nossa forma de atuar neste mercado tão competitivo.

Impõe-se registrar também, nossa aposta nos meios de comunicação, com uma filosofia de compromisso com a verdade e com a realidade.

Apostamos nos meios de comunicação, como forma dinâmica, rápida e eficiente de interação com nosso grande público consumidor.

Compromisso com nossos fornecedores, que se sentem partícipes de nossa história, pois crescemos juntos, conquistando espaços e unidos contribuímos para a modernização e fortalecimento da indústria de nosso Estado.

Igualmente, procuramos desenvolver uma modesta e conservadora ação industrial no segmento de óleos vegetais, com uma unidade industrial em Passo Fundo. Da mesma forma, estamos modernizando nossa indústria de café. São essas empresas complementares do nosso foco principal - a atividade de supermercados e hipermercados - as quais também muito contribuem para a geração de produção, rendas e empregos.

São compromissos que honramos e entendemos serem missão de qualquer empresa que queira ter algum sucesso e futuro nesta terra de pessoas exigentes e que exigem cada vez mais eficiência e dedicação dos prestadores de serviço.

Ter do povo do Rio Grande do Sul, principalmente da região metropolitana, a acolhida que temos, só aumenta a nossa responsabilidade.

Procuramos atender, dentro da nossa filosofia comercial e de trabalho, e dentro dos nossos limites econômicos os mais diversos

bairros da nossa cidade, nos aproximando do consumidor, facilitando seu acesso, tudo com vistas à comodidade e melhor qualidade de atendimento. A pedidos, abaixo-assinados, indicação de novas áreas, solicitações para novas filiais por clientes, entidades, autoridades são uma constante e nos desafiam.

É preciso fique bem claro que esta empresa jamais teve consciência de que seu crescimento pudesse representar qualquer tipo de infração da ordem econômica. Sua atuação comercial, a conquista de novos mercados, a instalação de novas lojas, sempre foram determinadas por motivações de necessidade do mercado. Não usamos qualquer método de sufocar concorrência ou estabelecer monopólios. Atuamos em área onde a concorrência é livre, transparente e de fácil acesso.

Nossa empresa sempre teve rosto, face humana, com quem o cliente e os fornecedores podiam e podem fazer seus reclamos, dialogar e reivindicar.

Nossas lojas sempre procuraram ser muito mais do que um simples depósito de mercadorias à disposição dos consumidores. Sempre nos empenhamos - e nisso investimos -, para dar ao cliente - consumidor, lojas com alguma estética, locais aprazíveis, onde pudesse ter prazer, conforto e segurança no ato de comerciar, quando busca o atendimento de suas necessidade de consumo. É uma espécie de homenagem à preferência do cliente.

Em razão disso, investimos em pesquisas, continuamos constantemente a enviar nossos colaboradores aos centros mais adiantados cultural e comercialmente para observar e buscar técnicas evoluídas de atendimento. Sempre apostamos na qualidade de nosso atendimento, dos nossos produtos e da nossa estrutura.

Seguramente, essa filosofia aliada a nossa eficiência, permitiu-nos, mercê das graças de Deus e a inspiração de nossos antepassados, alcançar sucesso no empreendimento.

Nossa eficiência decorre do trabalho e da produtividade. Nossos colaboradores, que hoje representam perto de 8.000 funcionários, assimilaram nosso estilo e realizam suas funções com alegria e competência.

Procuramos proporcionar aos nossos colaboradores as melhores condições de trabalho, para obtermos melhores índices de produtividade e também para que eles possam transmitir aos nossos clientes, a satisfação íntima e o orgulho de participar de uma organização, que se não é a melhor, procura sê-la.

Graças a eficiência na compra das nossas mercadorias, com um gerenciamento que evite perdas pela obsolescência, e que esteja em sintonia com o desejo dos consumidores, podemos manter preços competitivos com os nossos concorrentes, sem sacrificar a qualidade.

Em apertada síntese e de forma pálida, acreditamos ter descortinado aquilo que pensamos ser a causa de nosso crescimento auto - sustentado.

RESPOSTA À REQUISIÇÃO DE INFORMAÇÕES N.° 1820 (CARREFOUR).

CARREFOUR COMÉRCIO E INDÚSTRIA LTDA., já qualificada, vem respeitosamente, por seu procurador infra-assinado, apresentar seus esclarecimentos e informações em resposta à requisição de informações em referência, na forma do quanto a seguir exposto, requerendo-se quanto segue:

1) A requisição encaminhada solicita desta empresa ( ora peticionaria ) " as informações devidamente justificadas de como foi conquistado o mercado em Porto Alegre - RS como resultado de processo natural fundado na eficiência de agente econômico em relação aos seus competidores", tendo em vista as seguintes afirmações feitas por V. Exa.:

"(...)

IV - Face ao documento acima referido ("estudo técnico denominado mark-up"), o mercado relevante no comércio varejista de supermercados e hipermercados fixados é o do Município de Porto alegre - RS.

V - A regra de direito estabelecida pelo parágrafo 3º do artigo 2º ("da Lei 8.884/94") é clara em dizer que é presumida a posição dominante de mercado que a empresa ou grupo de empresa ou grupo de empresa controla vinte por cento do mercado relevante.

VI - Esta CPI constatou que esta Empresa controla mais de vinte por cento do mercado relevante varejista de rede de supermercados e hipermercados no Município de Porto Alegre - RS. Possui, presumidamente, posição dominante de mercado, a luz da regra de direito do parágrafo 3º do artigo 20 da Lei Federal nº 8.884/94, de 11/07/1994.

VII - Em tese, estaria configurada a infração da ordem econômica de dominar mercado relevante de bens, independente de culpa ( art. 20, "caput", II ). Contudo, a regra do parágrafo 1º do Diploma Legal supra referido diz que ' a conquista de mercado resultante de processo natural fundado na maior eficiência de agente econômico em relação a seus competidores não caracteriza o ilícito previsto no inciso II. ' "

2) Antes de responder a questão que lhe foi concretamente colocada, a ora peticionária perde permissão para registrar, com a devida vênia, que está equivocada a informação recebida por V.Exa. de que a empresa Carrefour "controla mais de vinte por cento do

mercado varejista de supermercados e hipermercados no Município de Porto Alegre".

3) De fato, como é de conhecimento público, a peticionária possui apenas 2 ( duas ) lojas no Município de Porto Alegre, o que lhe confere uma participação relativa muito menor do que aquela que é detida pelas suas duas principais concorrentes na cidade, que são as redes Sonae e Zaffari, e muito aquém do percentual de 20% da regra de direito estabelecida pelo parágrafo 3º do artigo 2º da Lei n.º 8.884/94, conforme irá demonstrar a seguir.

4) No setor supermercadista, para se poder calcular, de forma precisa, as participações das empresas em um mercado relevante, seria necessário obter-se os dados de faturamento anual de cada uma das lojas existentes numa cidade (no caso Porto Alegre). Ocorre que os dados de faturamento que são publicamente disponibilizados ( a nível nacional pela ABRAS e a nível estadual pela AGAS) são apenas os números consolidados, ou seja, os resultados obtidos pelas empresas com todas as suas lojas, não existindo dados parciais oficialmente publicados de faturamento por loja das empresas, ou mesmo de faturamento por município. Trata-se, afinal, de dado sigiloso que não é disponibilizado pelas empresas justamente para evitar o acesso de terceiros ( principalmente dos concorrentes ) a informação estratégica sobre o desempenho individual de cada uma das lojas, o que só vem a confirmar ser o setor supermercadista marcado por forte rivalidade entre as empresas, rivalidade essa que só afirma e fortalece a livre concorrência em benefício do consumidor final.

5) Diante dessa falta justificada (e benéfica para a livre concorrência) de dados de faturamento, o tamanho / formato das lojas é aceito e normalmente utilizado como proxi para estimativa das participações nos mercados relevantes. Nesse sentido, define-se como formato Supermercado, as lojas que possuem de 3 a 40 check-outs, e como formato Hipermercado, as lojas que possuem mais de 40 check-outs.¹

6) Assumindo-se aqui, por um momento, que o comércio varejista no Município de Porto Alegre estivesse restrito apenas às redes Sonae, Zaffari e Carrefour, o que não é verdade (!), e assumindo-se, ainda, que as lojas formato Supermercado tivessem todas 21,5 check-outs (média entre 3 a 40) e que as lojas formato Hipermercado tivessem todas 50 check-outs ( são muito poucos os hipermercados com mais de 50 check-outs) tem-se as seguintes participações:

MERCADO RELEVANTE DE PORTO ALEGRE (três principais redes)

SONAE* ZAFFARI** CARREFOUR***

Supermercados 19 ( Super. Nacional) 16 ( Super. Zaffari) ---Hipermercados 2 (Hiper. Big) 3 (Hiper. Bourboun) 2 (Hiper. Carrfour)Total Check-outs Super 408,5 (19 x 21,5) 344 ( 16 x 21,5) ---Total Checks-outs Hiper 100 (2 x 50) 150 (3 x 50) 100 (2 x 50 )Total Checks-outs 508,5 (408,5 + 100) 494 (344 + 150) 100

Totais Participações (%) 46% 45% 9%

• * O dado quantidade de lojas Sonae em Porto Alegre foi obtido no site www.sonae.com.br

• ** O dado quantidade de lojas Zaffari em Porto Alegre foi obtido no site www.zaffari.com.br• *** As duas lojas Carrefour em Porto Alegre possuem, respectivamente, 66 check-outs loja POA e 57

check-outs Loja PPA. No entanto, para manter a mesma base comparativa coma as outras duas redes, atribui-se para o Carrefour a quantidade média de 50 check-outs para ambas as loja para fins do que se pretende ora demonstrar.

A secretaria de acompanhamento econômico do Ministério da Fazenda e o CADE têm adotado esses parâmetros nos vários casos analisados envolvendo o setor supermercadista.

7) Tendo em vista que as três redes (Sonae, Zaffari e Carrefour) atuam em patamares próximos de concorrência, com padrões relativamente equivalentes de tecnologia, know-how, formato de lojas e investimento em publicidade, as participações que seriam obtidas com base em dados de faturamento de lojas certamente não seriam muito diferentes daquelas que se obteve com base em quantidade de check-outs.

8) Registre-se, ainda, que essa participação de apenas 9% (nove por cento) do Carrefour no mercado relevante de Porto Alegre foi obtida adotando-se um critério bastante restritivo e conservador ( apenas as três maiores redes ), isso porque se fossem levadas em consideração ainda as participações das várias outras redes e estabelecimentos supermercadistas atuantes na cidade, como, por

exemplo, as redes Asun (13 lojas), Bird (7 lojas), Gecepel (2 lojas), Comercial Zaffari (1 loja), entre outras menores, a participação do Carrefour seria ainda menor, possivelmente se situando próximo de 5% (cinco por cento ).

9) Causa estranheza, assim, a informação recebida por V.Exa. de que o Carrefour controlaria mais de 20% do mercado relevante varejista de Porto Alegre, até mesmo porque não há qualquer explicitação da fonte ou da metodologia adotada por esta D. CPI para poder assumir que a Peticionária " possui, presumidamente, posição dominante de mercado". Como se demonstrou acima, a Peticionária está muito longe de poder desfrutar de posição dominante no mercado relevante de porto Alegre, detendo parcela reduzida desse mercado (menr que 10%).

10) Quanto a questão que lhe foi concretamente dirigida a Requisição de Informações em referência ("informações devidamente justificada de como foi conquistado o mercado de Porto Alegre - RS como resultado de processo natural fundado na eficiência de agente econômico em relação aos seus competidores"), a Peticionária, aproveitando para ressaltar a importância e a oportunidade da questão colocada por V.Exa., gostaria de informar que a sua participação de mercado (embora reduzida) foi justamente conquistada como resultado de processo natural fundado na sua própria eficiência em relação aos seus concorrentes !

11) Com efeito, as duas únicas lojas Carrefour existentes na cidade de Porto Alegre foram construídas com investimentos próprios da empresa ("processo natural"), não sendo, portanto, resultado de processos de aquisições ou fusões. Ademais, a participação de mercado conquistada pelo Carrefour na cidade de Porto Alegre, ainda que pequena, foi fundada na sua própria eficiência, isso porque, quando decidiu construir a sua segunda loja, a peticionária já sabia que teria que enfrentar uma dura concorrência, tanto da maior rede local (Zaffari), há muito tempo estabelecida na cidade e que possui bom prestígio junto à

população local, quando da rede Sonae que conquistou a liderança do mercado através de sucessivas aquisições de redes locais.

12) Vê-se, assim, que os investimentos feitos pela Peticionária em suas duas lojas na Cidade de Porto Alegre não apenas representaram a entrada de investimentos produtivos diretos na Cidade e no Estado, com todos os benefícios daí resultantes e seus efeitos multiplicadores (como geração de empregos diretos e indiretos, aumento de opção para os fornecedores regionais eficientes, aumento da arrecadação de impostos, implementação de programas sociais e culturais em benefício da coletividade), como também representaram um benefício direto para os consumidores, aumentando as suas opções de compras num mercado no qual as duas maiores redes (Sonae e Zaffari) detêm juntas mais de 50% (cinqüenta por cento) do mercado. A participação do Carrefour, ainda que pequena, tem contribuído para o desenvolvimento do ambiente concorrencial na cidade, pois conquistada justamente pela sua maior eficiência em oferecer produtos de qualidade a preços justos para os seus consumidores.

13) Tanto isso é verdade, que a construção da segunda loja Carrefour na Cidade foi objeto de projeto analisado e aprovado pela Prefeitura Municipal, tendo esta condicionado a aprovação ao cumprimento de diversas medidas de caráter social e econômico que, juntamente com os programas já normalmente adotados pela Peticionária, trouxeram grandes benefícios tanto para os consumidores como para a comunidade de forma geral, o que de resto só vem a confirmar a colocação de que a participação de Carrefour na Cidade de Porto Alegre, ainda que pequena, foi resultado de processo natural fundado na sua própria eficiência, inclusive reconhecida pela Prefeitura de Porto Alegre - RS.

14) Se, porventura, através dessas duas lojas, a Peticionária lograr obter um crescimento de mercado, pelo aumento nas sua vendas, isso só poderá ser atribuído à sua maior eficiência em relação aos seus concorrentes. Ainda que, por hipótese de argumentação, lograsse com essas duas lojas obter uma

participação superior a 20% (o que, como visto, está longe de ocorrer), ainda assim nada havia de ilícito, pois aplicar-se-ia, nesse caso, a regra de direito do § 1º do art. 20 da Lei n.º 8.884/94, como bem destacado por V.Exa.

15) Tendo apresentado as informações solicitadas, a Peticionária pede permissão a V.Exa., com a devida vênia, para reiterar os termos de impugnação feita anteriormente ao estudo denominado "mark-up", em relação ao qual consignou que:

• não inclui nenhum dos custos que devem ser agregados à cadeia produtiva, como os tributos diretos e indiretos, contribuição social, salários, maquinário, energia, transporte, telefonia, treinamento, serviços, entre outros;]

• não traz a indicação das fontes de informação que serviram de base para os gráficos e conclusões presenteadas;

• não especifica as marcas de produtos dos corte das carnes e embutidos que foram utilizados como parâmetro para identificação do suposto "mark-up";

• a amostra escolhida não pode ser considerada estatisticamente válida, além de não indicar as empresas (não se sabe nem se as lojas da Peticionária foram incluídas nas estatísticas);

• não foi identificada a localização dos estabelecimentos pesquisados;• não foi explicitado o critério adotado para coleta dos preços dos produtos; e,

finalmente,• a variação dos preços dos cortes da carne suína entre setembro de 1999 e

julho de 2002 ficou um pouco em acima da inflação medida pelo IEPE no mesmo período, pelo IGP-DI (36,17%), mostrando que a dispersão dos preços dos cortes da carne suína em relação à média dos referidos índices de preços é 1,09%, o que revela a inexistência da prática de qualquer "mark-up".

16) Vale ressaltar que a correta metodologia de apuração tanto do Mark-up Direto quanto da Margem Bruta exigem a incorporação de todos os custos incorridos para a venda de uma mercadoria (impostos, despesas diretas e indiretas, custo de produção / custo de aquisição conforme acima elencados), caso contrário os resultados obtidos são totalmente inválidos, por configurarem indevida super estimação da margem de lucro do agente econômico, no caso os Supermercados pesquisados.

17) Admitindo-se um exemplo hipotético, de uma mercadoria adquirida a R$ 6 (seis reais) que, somados os impostos e despesas

diretas e indiretas, tenha um custo final para o Supermercado de R$ 9 (nove reais), se vendida a R$ 10 (dez reais) resulta em um mark-up direto de 11%² e uma margem bruta de lucro de 10%³.

18) Se pudesse ser admitido o estudo de forma como foi apresentado pelo SIPS (sem incluir os custos de impostos e de despesas, direta e indiretas), no exemplo hipotético acima utilizado as margens de Mark-up Direito e de Margem Bruta seriam, respectivamente, de 66,6% e 40%, o que evidencia a grande distorção e a invalidade dos resultados apresentados pelo estudo, levando a uma absurda superestimação, e tudo isso sem falar na falta de origem e de fonte dos dados utilizados, conforme

19) Por fim, a Peticionária deseja ainda destacar os seguintes trechos constantes de referido estudo Mark-up:

• Pg. 5: "(...) As agroindústrias processadoras relataram, em reunião no Sindicato da Indústria de Produtos Suínos no Estado do Rio Grande do Sul, que a soma dos pagamentos delas aos Supermercados atinge o percentual entre 18% e 22% do valor das vendas.(...)"

• Pg. 6: "(...) Os preços médios de venda das Agroindústrias são a média dos preços de vendas das Agroindústrias para os Supermercados, apurados através das listas de preços das Agroindústrias filiadas ao Sindicato da Indústria de Produtos Suínos no Estado do Rio Grande do Sul.(...)"

20) E, apenas para constar, " reuniões para discutir vendas e listas de preços enviadas ao Sindicato por parte das empresas filiadas", em tese, estariam a configurar indícios da existência de prática dos ilícitos previstos nos incisos I e II do art. 21 da Lei n.º 8.884/94.

Nesse sentido, convém observar que o CADE já se manifestou em casos de práticas concertadas envolvendo

sindicatos de indústrias, reputando-as como infrativas à ordem econômica .

21) Ante o acima exposto, a Peticionária coloca-se à disposição dessa MM. Comissão para prestar quaisquer outros esclarecimentos que se fizerem necessários, reiterando as impugnações e manifestações anteriormente apresentadas, requerendo uma vez mais seja o estudo denominado Mark-up totalmente desconsiderado para fins de apuração das margens auferidas pelas redes supermercadistas participantes dessa CPI, tendo em vista a total falta de elementos e dados informativos para uma aplicação correta da metodologia proposta.

Pelas explicações expostas, há argumentos sólidos de eficiência econômica e de não-existência de práticas anticoncorrenciais que comprometem o livre mercado varejista. Essa alegação de eficiência é inclusive reconhecida pela AGAS:

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – Pergunto isso porque, da mesma forma que foi feito por parte da indústria, nós temos aqui algumas pessoas que colocam que as grandes redes de Porto Alegre acabam determinando o preço, o valor, a todos. Então, existe essa preocupação quanto à concentração do ramo do comércio varejista, principalmente na Capital, da mesma forma que o Senhor entende que não existe, no Brasil, não existe no Rio Grande do Sul, Porto Alegre seria um caso mais específico, mais delicado, ou entraria nessa visão panorâmica geral, de que aqui também não existe uma concentração maior, dentro do ramo?[fim]

O SR. ANTÔNIO CESA LONGO – As empresas, se elas atingiram a posição que é de direito delas, é em função da qualificação, da maneira de trabalhar, através da produtividade, já que benefícios governamentais nunca tiveram, reservas de mercado, e o que existe, essa eficiência, realmente, um copia do outro, um quer ser melhor que o outro, isso tem criado com que o Rio Grande do Sul seja parâmetro nacional em modelo de supermercado, graças a esse aspecto do gaúcho de atender o seu consumidor, que é altamente exigente, é o consumidor mais exigente do Brasil. Isso de

ter bons supermercados em Porto Alegre, realmente o que ultrapassa as fronteiras para o Interior aí é que o Interior também tem os seus modelos de qualidade, que já existem.[fim]

A AGAS esclarece que os altos índices de competitividade no mercado varejista de Porto Alegre – RS são benéficos ao consumidor, especialmente no mercado das carnes:

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – Essas grandes redes aqui de Porto Alegre, na visão de vocês, elas dominam o mercado da capital ou não? Na questão da carne bovina e suína, elas possuem esse domínio ou não?[fim]

O SR. ANTÔNIO CESA LONGO – Não, não acredito porque os açougues ainda tem uma participação considerável, acredito que 30% da venda da carne é feita pelo comércio retalhista e o mercado não tem concentração, não.[fim]

E além do grande consumidor, os restaurantes, nós temos aqui grandes churrascarias, grandes..., então o único cliente não é o supermercado, nós temos supermercados, açougues, hotéis, restaurantes, cozinhas industriais. Tem um mercado muito amplo para que essas 27 empresas suínas possam atingir.[fim]

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – Por mais que não seja – na visão de vocês – majoritário esse domínio – não seria um domínio e, sim, uma grande participação – isso não caracterizaria um prejuízo à livre concorrência ou um abuso de poder econômico?[fim]

O SR. ANTÔNIO CESA LONGO – Não, esse abuso, como se falou, o consumidor também, ele é livre para fazer a sua opção de compra hoje. Não existe uma lei que restrinja a abertura de determinada empresa, mas realmente hoje só para relembrar a nossa função é de promover ações do setor.[fim]

A CPI do Preço do Leite utilizou como critério para enquadrar a existência de domínio de mercado relevante de bens a existência de Ato de Concentração

Econômica do varejo. Esse fator foi válido para inquéritos passados. Contudo, no presente inquérito não mais se aplica. O momento histórico é outro, diante do surgimento de fatos novos. Há decisões da Secretaria de Direito Econômico do Ministério da Justiça que avaliaram justamente os atos de concentração da SONAE no Rio Grande do Sul.

Transcreve-se, na íntegra, o ATO DE CONCENTRAÇÃO n° 08012.001296/99-71 com parecer da Secretaria de Direito Econômico, do Ministério da Justiça:

ATO DE CONCENTRAÇÃO N.º 08012.001296/99-71REQUERENTES: SONAE DISTRIBUIÇÃO BRASIL S.A- EXXTRA ECONÔMICO SUPERMERCADOS S.A

Senhora Coordenadora,

Trata-se de aquisição pela SONAE DISTRIBUIÇÃO BRASIL S.A de 100% do capital social da empresa EXXTRA ECONÔMICO SUPERMERCADOS S.A, tudo em conformidade com o Instrumento Particular de Acordo de Associação com Posterior Cisão e Outras Avenças”, firmado em 29.01.99.

A operação insere-se no mercado de vendas a varejo de bens de consumo duráveis e não - duráveis realizadas por meio de supermercados e hipermercados, e envolve estoques, instalações, móveis, equipamentos operacionais, estrutura de pessoal e demais elementos tangíveis e intangíveis relativos a 09 (nove) estabelecimentos comerciais, localizados em Porto Alegre (07); Caxias do Sul (01) e Gravataí (01).

Em 24.02.99 foram encaminhadas cópias do pleito à Secretaria de

Acompanhamento Econômico - SEAE/MF - para elaboração de parecer técnico,

e ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE) para conhecimento.

O parecer técnico da SEAE/MF foi protocolizado nesta Secretaria em

20.03.2001, fls. 190/198 e concluiu pela aprovação do ato sem restrições.

A SDE publicou edital submetendo aos interessados os termos do presente ato de concentração, para eventual impugnação, por meio de publicação no Diário Oficial da União em 24.02.99 (fl.49). No entanto, até a presente data não houve manifestação.

Cabe ressaltar que as requerentes não solicitaram sigilo de

informações prestadas a esta SDE.

Este é o relatório.

II - TEMPESTIVIDADE

O primeiro documento vinculativo da operação foi o instrumento de fls. 22/40, firmado em 29.01.99. O ato, por sua vez, foi apresentado em 22.02.99, estando, portanto, dentro do prazo legal de 15 dias úteis o que caracteriza sua tempestividade.

III - APRECIAÇÃO DOS ASPECTOS CONCORRENCIAIS DA

OPERAÇÃO

A operação em análise não possui aptidão para gerar efeitos anticoncorrenciais nos mercados relevantes identificados, pois consubstancia pequena variação de participação que não confere à adquirente condições que favoreçam o exercício de poder de mercado.

Tendo em vista os princípios da economia processual e da eficiência da Administração Pública, concorda-se com o teor do parecer da SEAE/MF, nos termos do § 1º do artigo 50 da Lei 9.784/99.

IV - CONCLUSÃO

Ante o exposto, opina-se pela aprovação do ato sem restrições, tendo em vista a inexistência de efeitos anticoncorrenciais e sugere-se o encaminhamento ao CADE para as providências de sua competência.

Brasília, de de 2001.

AGOSTINHO ROSA PORTELAAssistente

De acordo.À consideração do Sr. Diretor.Brasília, de de 2001.

MARCIA SUAIDENCoordenadora Geral

De acordo.Encaminhe-se ao Sr. Secretário de Direito Econômico.Brasília, de de 2001.

DARWIN CORRÊAD4iretor

O ATO DE CONCENTRAÇÃO n° 08012.001296/99-71 do CONSELHO ADMINISTRATIVO DE DEFESA ECONÔMICA – CADE, cujo Relator foi o Conselheiro Mércio Felsky, em processo administrativo que envolveu a SONAE DISTRIBUIÇÃO BRASIL e a EXXTRA ECONÔMICO SUPERMERCADOS S/A, que concluiu pela aprovação do ato sem restrições, tendo em vista que as operações aumentaram muito pouco a participação da SONAE no mercado relevante em questão. Nesse processo, a Secretaria de Direito Econômico e a Secretaria de Acompanhamento Econômico, do Ministério da Fazenda opinaram pela aprovação do ato sem restrições, em função da inexistência de efeitos anticoncorrenciais da operação, com a concordância da Procuradoria do CADE:

Ato de Concentração n.º 08012.001296/99-71Requerentes: Sonae Distribuição Brasil e Exxtra Econômico Supermercados

s/aAdvogados: José Algusto Regazzini, Diogo R. Coutinho e outrosRelator: Conselheiro Mércio Felsky

RELATÓRIO

1. DAS REQUERENTES:

A rede adquirente Sonae Distribuição do Brasil S.A. (SDB), é uma empresa brasileira subsidiária integral do Grupo Sonae investimentos Sociedade Gestora de Participações Sociais S.A de origem portuguesa. Em Portugal o grupo Sonae, por intermédio da Modelo Continente, é detentor de 60 lojas e se considerada toda a

rede varejista, incluindo outros ramos além do setor supermercadista, o grupo possui 118 lojas em Portugal. No Brasil o grupo Sonae começou a atuar, no segmento de supermercados, 1998, através da aquisição da rede Cândida Mercantil Norte-Sul S.A. cuja sede está em São Paulo. Posteriormente, o Sonae adquiriu 100% da Demeterco & Cia. Ltda. (Mercadorama), sediada em Esteio/RS. Em 1989, o grupo formou uma joint venture com a rede Josepar, detentora dos Supermercados Real S.A., originários de Porto Alegre/RS. Assim, foi criada a Companhia Real de Distribuição (CRD), com 26% de participação do grupo Sonae. Em 1997, o grupo assumiu a totalidade da CRD. No mesmo ano, a Modelo investimentos vendeu 20% de seu capital para a estatal portuguesa chamada Investimentos e Participações Empresariais S.A. (IPE). Em 1990, o Sonae ampliou sua participação no sub-setor supermercadista, a partir do ingresso da CRD no segmento de Hipermercados, com a inauguração do hipermercado Big, em Porto Alegre/RS.

Em 1999 o grupo Sonae adquiriu as empresas Nacional S.A., que ocupava o 6º lugar no ranking de faturamento no Brasil e Exxtra Econômico que estava em 59º.

A empresa Exxtra Econômico Supermercados S.A., é uma empresa brasileira sediada em Porto Alegre não pertence a nenhum grupo econômico e só atuante no Rio Grande do Sul.

2. DA OPERAÇÃO:

Trata a presente operação de aquisição da Sonae Distribuição Brasil S.A. (Exxtra), nos termos do Instrumento Particular de Acordo de Associações com posterior Cisão e outras Avencas.

Em 30 de janeiro de 1999, data da assinatura do Instrumento Particular, Exxtra, em Assembléia Geral Extraordonária, teve seu capital social aumentado por Sonae, que subscreveu um total de 109.137 ações ordinárias nominativas por um valor de emissão de R$ 11.810.806,14. Subseqüentemente, Sonae e os vendedores, os antigos acionistas de Exxtra, aprovaram uma cisão parcial pela qual

a mencionada quantia do capital subscrito foi vertida para a sociedade PPL Participações Ltda.

Em 22 de janeiro de 1999 as empresas requereram à Secretaria de Direito Econômico - SDE, do Ministério da Justiça, ouvida a Secretaria de Acompanhamento Econômico - SEAF, do Ministério da Fazenda, que fosse submetido ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica - CADE, o presente ato.

A submissão do presente ato aos órgãos de Defesa da Concorrência se dá pelo disposto no art. 54 § 3º da Lei 8.884/94.

3. DO MERCADO RELEVANTE:

Tanto a SEAE quanto a SDE concordaram que o mercado relevante a ser analisado na presente operação deve ser o mercado de vendas a varejo de bens de consumo duráveis e não - duráveis realizadas por meio de supermercados e hipermercados, envolvendo estoques, instalação, moveis, equipamentos operacionais, estrutura de pessoal e demais elementos tangíveis e intangíveis relativos a 09 estabelecimentos comerciais, localizados em Porto Alegre (07); Caxias do Sul (01) e Gravataí (01).

4. PARECERES:

A SEAE (fls. 190/198) é pela aprovação do ato sem restrições, tendo em vista que a operação aumentou muito pouco a participação das requerentes no mercado relevante em questão.

A SDE (fls. 206/208) opina pela aprovação do ato sem restrições em função da inexistência de efeitos anticoncorrenciais da operação.

A d. Procuradoria do CADE (fls. 552/554) em concordância com o parecer da SEAE também é pela aprovação do ato sem restrições.

É o relatório.

Brasília, 29 de maio de 2001.

Mércio Felsky Conselheiro-Relator

VOTO

1. DA OPERAÇÃO

Versa a presente operação de operação realizada integralmente no Brasil, tendo seus efeitos restrito a este país, sendo constituída pela aquisição de 100% da capital social da empresa Exxtra Econômico Supermercados S.A., pela empresa Sonae Distribuição do Brasil S.A., A operação foi estabelecida mediante o Instrumento Particular de Acordo de associação com Posterior Cisão e Outras Avencas (Contrato), através do qual a vendedora ( Exxtra) teve seu capital aumentado pela empresa Sonae, que subscreveu um total de 109.137 (cento e noventa mil e cento e trinta e sete).

Tal operação é posta sob análise pelo CADE, visto o critério objetivo do faturamento da empresa ou grupo de empresas, inserto no art. 54 § 3º da Lei Federal 8.884/94.

2. DA TEMPESTIVIDADE

O primeiro instrumento vinculativo da operação foi o Contrato de Fls. 22/40, firmado em 29.01.1999. O ato foi apresentado aos órgão de defesa da concorrência em 22.02.199, estando, portanto, dentro do prazo legal de 15 dias úteis, em concordância com o Art. 54 da Lei n.º 8.884/94, caracterizando desta forma, a tempestividade do pedido.

3. MERCADO RELEVANTE

3.1 DO PRODUTO

A operação insere-se no mercado de vendas a varejo de bens de consumo duráveis a não - duráveis, realizadas por meio de supermercados e hipermercados e, envolve estoques, instalações, moveis, equipamentos operacionais, estrutura de pessoal e demais elementos tangíveis e intangíveis relativos a 09 (nove) estabelecimentos comerciais, localizados em Porto Alegre (07); Caxias do Sul (01) e Gravataí (01).3.2 GEOGRÁFICOComo bem aponta o parecer da SEAE, o mercado relevante desta operação, deve ser definido individualmente para cada cidade, considerando os bairros destas cidades que se encontram próximos do Supermercado ( no máximo 5 Km do estabelecimento).

Neste diapasão, vale uma análise um pouco mais detalhado no mercado de Porto Alegre, tendo em vista que esta, é a única cidade em que se pode haver dominação de mercado, levando em conta o número de lojas adquiridas.

Em Porto Alegre, obtendo as área de concentração das lojas, se definiu dois mercados relevantes distintos. No primeiro mercado, a Sonae obteve um aumento de 0,69% em sua participação no mercado, passando de 18,92% para 19,61%. No segundo mercado relevante identificado a Sonae teve um aumento de 0,34% passando de 9,10% para 9,44%.

4. CONCLUSÃONeste sentido e, compulsando tudo que dos autos consta, entendo que a operação não produz nenhum tipo de efeito anticoncorrencial tendo em vista que a participação nos dois mercados relevantes de Porto Alegre do Grupo Sonae não teve um aumento significativo e, nas outras cidades houve apenas uma substituição de playes.

Vale ressaltar ainda que nos mercados relevantes de Porto Alegre a Sonae permanece com o faturamento abaixo de 20%.

Ante o exposto, e compulsando de tudo que dos autos consta, entendo que o presente Ato de Concentração não limita ou prejudica a livre concorrência, razão pela qual, aprovo a operação sem restrições.

É o voto,Brasília, 06 de junho de 2001

MÉRCIO FELSKYConselheiro Relator

A decisão do CADE estuda analiticamente as operações de concentração de mercado no Rio Grande do Sul. Demonstra os níveis de concentração do varejo no Estado do Rio Grande do Sul, especialmente na Capital e nas principais cidades gaúchas. Pelas suas conclusões, aprovando as operações sem restrições, em função da inexistência de efeitos anticoncorrenciais por esse critério – concentração das redes de supermercados – não é possível indiciar alguma empresa varejista em atuação no Rio Grande do Sul, por não caracterizar os níveis de concentração existentes, por si só, abuso de poder econômico por domínio de mercado relevante de bens e serviços.

CONCLUSÃO E A APLICAÇÃO DA LEGISLAÇÃO DE DEFESA DA LIVRE CONCORRÊNCIA:

A ZAFFARI é uma tradicional rede local e se destaca pela qualidade. O grupo CARREFOUR pertence a uma multinacional consolidada à longa data, tendo iniciado suas atividades no Brasil, justamente em Porto Alegre – RS, na sua loja de hipermercado localizada no Bairro Partenon. O grupo SONAE é a mais jovem das três redes. Contudo, essa empresa luso-brasileira, como se autodenomina, no Rio Grande do Sul e em Porto Alegre – RS, passou a atuar no ramo de supermercados como substitutas das Redes Nacional, Real e Econômica, essa de pequena expressão. Com toda competição existente, a rede ZAFFARI é a que ocupa o primeiro lugar no ranking. Isto afasta a alegação de concorrência desigual e desleal das empresas estrangeiras, pois não conseguem suplantar a empresa local. O mesmo se observa nos diversos mercados relevantes existentes no interior do Estado, onde as redes locais conseguem competir com as grandes companhias.

Pode-se presumir, ainda, que dificilmente as três grandes redes varejistas de Porto Alegre – RS conseguiram impor unilateralmente um aumento de preços ou reduzir os produtos comercializados em suas lojas de forma lucrativa, obtendo aumento arbitrário de lucros, já que os consumidores poderiam desviar parcelas de suas compras para os demais competidores.

Pelo exposto, as três grandes redes de Porto Alegre – RS, conquistaram sua participação no mercado resultante de processo natural, fundado na maior eficiência de agente econômico em relação a seus competidores, o que exclui o ilícito de domínio de mercado relevante de bens e serviços (art. 20, II, § 1° da Lei 8.884/94).

Concluindo, o presente item referente à avaliação da relação entre custo e benefício dos impactos positivos e negativos ao bem-estar econômico do consumidor, referente à concentração no mercado varejista em Porto Alegre – RS, não existe prova de efeitos anticoncorrenciais nesse mercado relevante. O efeito líquido da operação sobre o bem-estar econômico do Ato de Concentração Econômica não é negativo e não há prejuízo ao consumidor por aumento arbitrário de preços.

AVALIAÇÃO DO SEGUNDO FATO DETERMINADO: EXISTÊNCIA DE ABATES SEM INSPEÇÃO SANITÁRIA OFICIAL E SEM CONTROLE FISCAL:

OBJETIVO E FIM DA ANÁLISE

No Fato Determinado n° 02 a análise dos fatos fica restrita somente à Cadeia Agroindustrial da Bovinocultura de Corte.

O objetivo direito do Fato Determinado 02 é o de apurar a existência de abates de bovinos sem inspeção sanitária e sem controle fiscal, investigando a existência da (1) materialidade de infração criminal e (2) indícios de autoria

Como reflexo, há como objeto indireto ou fatos conexos, a análise da atuação dos seguintes serviços públicos na fiscalização dos abates: (1) defesa animal, vigilância sanitária e inspeção sanitária; (2) administração fazendária; (3) órgãos de segurança pública. O fim dessa análise é o de avaliar a eficiência desses serviços públicos.

PROVA COLETADA:

ANÁLISE DA PROVA COLETADA:

INTRODUÇÃO:

Diante da complexidade do presente objeto, o mesmo será dividido em duas etapas. A primeira irá tratar da dimensão do abate irregular e os seus reflexos na Cadeia Agroindustrial da Bovinocultura de Corte, onde se inclui o abigeato, e, na segunda, a eficiência dos serviços públicos estaduais no combate ao abate irregular.

DEFINIÇÃO DO ABATE IRREGULAR E ABIGEATO:

Antes de começar a análise das provas, é importante conceituar o que é abate irregular, pelo menos para os objetivos pleiteados por esta CPI. Como foi exposto, essa expressão deve ser entendida em sentido amplo, ou seja, como todo o abate de bovinos sem o controle do serviço de inspeção sanitária – SIF/MAPA, CISPOA/SAA e SIM – e com sonegação fiscal. Esse conceito não engloba só o crime de abigeato, que é uma infração penal cujo objeto é a substração, para si ou para outrem, de coisa alheia móvel. Integra também aqueles casos em que o produtor rural vende para terceiros os animais de sua propriedade com destino ao abate, porém utiliza nota

fiscal de produtor (NFP) e a Guia de Trânsito Animal (GTA) , com isto incide em sonegação de impostos e riscos à saúde pública ou vende diretamente sem a NFP, implicando em evasão fiscal e abate sem inspeção sanitária e ainda o abate para consumo próprio ou para venda da carne sem inspeção sanitária.

ABIGEATO é o nome popular dado ao furto de animais domésticos. Tecnicamente seu conceito é dado pelo Direito Penal. Trata-se de conduta criminosa tipificada como CRIME DE FURTO, pelo artigo 155 do Código Penal, com pena de reclusão, de um a quatro anos e multa (se for FURTO QUALIFICADO a pena é de dois a oito anos, e multa). Quando a subtração do animal alheio, para si ou para outrem é executada com grave ameaça ou violência à pessoa, ou depois de havê-la, por qualquer meio, reduzi-la à impossibilidade de resistência é CRIME DE ROUBO previsto no artigo 157 do Código Penal, com pena de quatro a dez anos e multa. Se da violência resulta lesão corporal de natureza grave, a pena é de reclusão, de sete a quinze anos, além da multa. Caso resulte em morte, a reclusão é de vinte a trinta anos, sem prejuízo da multa. É o CRIME DE LATROCÍNIO (§ 3° do artigo 157 do Código Penal)

No rastro do ABIGEATO há, ainda, o CRIME DE SONEGAÇÃO (art. 180 do Código Penal). A conduta sancionada é a ausência de recolhimento prévio de ICMS, quando o varejo realiza venda de carne irregular, assim como o transporte de animais para a indústria, para fins de compra e venda, sem emissão de nota fiscal de produtor rural ou emissão de nota falsificada, o que, sem dúvida, caracteriza crime contra a Fazenda Pública.

Há, ainda, o delito criminal do artigo 268 do Código Penal: CRIME DE INFRAÇÃO DE MEDIDA SANITÁRIA PREVENTIVA.

DIMENSÃO DO PROBLEMA DO ABATE IRREGULAR:

O abate irregular é uma das causas da desestruturação da Cadeia Agroindustrial da Bovinocultura de Corte. Não é a única. Há causas estruturais, que já foram analisadas no Fato Determinado 01. Mas, como toda atividade informal, em percentuais gerais, acaba sendo uma concorrência desleal com o abate formal. Seus custos são menores e seus preços também. Isto acaba influindo negativamente na formação do preço que é pago ao produto do bovinocultor pela indústria regular. É um problema histórico na Bovinocultura. Mas no momento atual, talvez o mais grave de toda sua história, onde problemas econômicos estruturais expõem a fragilidade desta Cadeia Agroindustrial de Alimentos, o abate irregular é um agravante desses problemas. Dificulta a sua reestruturação como agronegócio para se adequar aos competitivos tempos modernos de economia globalizada e da concorrência de outras unidades Federadas, como as do Centro-Oeste, que estão sendo mais eficientes na produção em escala de carne bovina.

Os problemas do abate irregular não envolvem só os agentes econômicos da iniciativa privada que integram a Cadeia Agroindustrial da Bovinocultura de Corte. Em outras palavras, não é a iniciativa privada a única responsável pelos problemas existentes. Muitos, senão os principais, são causados pelo Poder Público, especialmente pela ineficiência dos serviços públicos que se relacionam com este setor da economia. Se esses fossem eficientes não haveria abate irregular nos índices alardeados.

DÚVIDAS SOBRE OS NÚMEROS DO ABATE IRREGULAR:

Qual o número de bovinos abatidos irregularmente no Rio Grande do Sul, a cada ano? Na verdade, não existe um número exato ou mesmo aproximado. É ai que reside o ponto controvertido do presente Fato Determinado, para se saber com melhor precisão o número de bovinos abatidos de forma irregular.

Primeiramente, é importante saber quais são os números do rebanho gaúcho de bovinos.

A Secretaria da Agricultura e Abastecimento é o ente público que faz o registro do rebanho bovino para efeitos de defesa sanitária animal. Os dados oficiais indicam que o rebanho bovino gaúcho é de 14.149.321 animais. O produtor rural é obrigado por lei a informar anualmente, através de declaração instituída por lei, o número de animais de sua propriedade, para que o serviço de defesa sanitária animal faça o controle e fiscalização dos rebanhos através das fichas de produtor.

Quanto ao abate irregular, não há informações precisas.

A iniciativa privada não tem os meios de obter os números aproximados da dimensão do abate irregular de bovinos de corte. Faz o possível, dentro dos seus limites. Como é um problema que preocupa diretamente os bovinocultores, a FEDERAÇÃO DA AGRICULTURA NO RIO GRANDE DO SUL – FARSUL tem se dedicado a esse tema. No depoimento que os representantes desta Entidade prestaram no dia 03 de agosto do corrente ano, suas declarações foram no sentido de que para cada bovino abatido regularmente, há um abatido irregularmente:

O SR. ELVINO BOHN GASS – Ainda sobre a mesma questão. Há esse abate irregular? Existe esse abate irregular no Rio Grande do Sul?[fim]

O SR. FERNANDO ADAUTO LOUREIRO DE SOUZA – Existe, tanto é que nós temos uma discrepância entre o abate oficial e o que efetivamente se tem de couros. E, se estima, ele existe. O nosso abate oficial está em torno de 1 milhão e pouco de cabeças. Nós temos mais de 2 milhões de couros e temos a estimativa de algumas fontes que dizem que o abate do Rio Grande do Sul anda

em torno de 3 milhões de cabeças. Então, podemos dizer que o abate que não paga imposto no Rio Grande do Sul, na melhor das hipóteses, é de 50%.[fim]

O SR. ELVINO BOHN GASS – Qual é essa fonte?[fim]

O SR. FERNANDO ADAUTO LOUREIRO DE SOUZA – Olha, nós temos a FNP, de São Paulo, que publica. Eu dou um dado, porque essa aí publica normalmente. A FNP diz que, no ano passado, o Rio Grande do Sul abateu – eu tenho o número aqui, um momentinho só – 3 milhões, 372 mil e 751 cabeças. Isso está publicado e entra como estatística nacional do Rio Grande do Sul para todos os Estados.[fim]

O SR. ELVINO BOHN GASS – Os Senhores têm, na Farsul, a identificação já no Estado do Rio Grande do Sul aonde estão localizados esses focos de abate irregular?[fim]

O SR. FERNANDO ADAUTO LOUREIRO DE SOUZA – Não, nós não temos, porque eles são generalizados. Hoje, o grande abate que acontece no Rio Grande do Sul são abates de matadouros municipais, com inspeção municipal ou estadual. E evidentemente que todos esses abatedores são registrados e pagam impostos, contribuem, só que é muito difícil saber quanto é que efetivamente eles abateram. Eles podem abater 100 e declarar 10. Então, ele contribui, vive, existe, só que essa realidade a gente nunca sabe – quanto que efetivamente foi abatido –, porque boa parte desse abate eu imagino que deva acontecer sem nota.[fim]

Nós temos uma outra modalidade, que o frigorífico compra como se comprasse gado para outro produtor. Então, ele já diz: é livre de Funrural. Quando é livre de Funrural, a gente já sabe que a operação vai ser uma operação fraudulenta. Então, o sujeito compra, transporta com a guia para criação e abate. E aí ele sonega o Funrural e, naturalmente quando sonega o Funrural, sonega todos os outros impostos em cadeia. E esse abate acontece em todo o Estado.[fim]

O ruralista Fernando Adauto Loureiro de Souza tem-se destacado como liderança que expõe com firmeza e coragem seus pontos de vista. Suas declarações são claras em apontar que o abate irregular se dá em sua maioria em estabelecimentos regulares. Essa declaração foi uma supressa para esta Relatoria. Até então, a opinião dominante era a de que o abate irregular se dava à margem da indústria regular. E realmente essa declaração do representante da FARSUL se mostra plausível configurando hipótese de provável verificação. Se há um abate expressivo de bovinos irregularmente, há necessidade de um sistema eficiente de distribuição do produto, bem como de um apoio de logística eficiente, não só de transporte como de refrigeração para conservação de um produto volumoso e de fácil deterioração. Não

significa que o comércio formiga transportando o produto irregular em porta-malas de veículos ou meios assemelhados, não tenha seu peso em números globais. Mas não para distribuir volumes altos de produtos.

Os dados presumidos de abate irregular da FARSUL se assemelham aos números que a ASSOCIAÇÃO DOS CURTUMES DO RIO GRANDE DO SUL – AICSUL interpreta como estimativa de abate. Contudo, não confirma que o critério de quantidade de couro que ingressa nos curtumes como meio de auferir o número de animais abatidos irregularmente: Nesse sentido, cita-se o depoimento do seu representante:

O SR. CÉZAR LUIZ MÜLLER – Nós entendemos, até pela nossa proximidade com a indústria da carne e a indústria primária, que o abate no Rio Grande do Sul gera em torno de 1 milhão e meio de couros/ano. Esse número pode ser um pouco maior ou um pouco menor.[fim]

A verdade é que os curtumes do Rio Grande do Sul têm um perfil um pouco diferente. Basicamente, a indústria de curtumes do Rio Grande do Sul, ela tem uma vocação para curtumes que produzem couros acabados e semi-acabados.[fim]

Cabe aqui, talvez, eu explicar um pouquinho melhor o que que eu quero dizer com isso. De um tempo para cá, todos sabem, que a indústria frigorífica se deslocou pra o centro do País e com esse deslocamento a indústria curtidora criou – o que eu chamo – de dois tipos de curtume. O curtume que trabalha a matéria-prima, que é o couro até o até o wet blue e o couro, a partir do wet blue, até o produto acabado.[fim]

Alguns anos atrás, diríamos que talvez a grande maioria dos curtumes eram curtumes que trabalhavam desde o couro salgado até o couro pronto. Hoje isso se desmembrou. Por quê? Porque a indústria de curtume aqui no Estado do Rio Grande do Sul, até pelo seu potencial de manufaturados − nós temos uma indústria de calçados muito forte aqui, uma indústria de artefatos, vestuário, moveleira, que tem uma vocação para comprar couro acabado. Então, aqui no Rio Grande do Sul ficaram, praticamente, as indústrias que produzem a partir do wet blue, na sua grande maioria. Nós hoje respondemos por uma parcela bem significativa de couros no Brasil.[fim]

Nós entendemos que no Brasil se produz ao redor de 35 milhões de couros. O abate, no Brasil, é mais ou menos esse número. E nós produzimos aqui no Rio Grande do Sul 12 milhões de couros. Se o abate no Rio Grande do Sul é um milhão e meio, ou dois, ou qualquer coisa nesse sentido, isso é um pouquinho mais de 10% .[ fim]

Então, o que ficou aqui no Rio Grande do Sul como indústria de curtumes? A grande maioria trabalha a partir do wet blue para frente e é importadora de couro wet blue do Centro-Oeste e do Norte do País, onde estão as grandes plantas frigoríficas.[fim]

Por que não couro salgado? Porque há muito tempo atrás se salgavam os couros no Brasil Central, e vieram os couros para cá, ao longo dos anos, salgados, onde aqui eram industrializados, transformados em wet blue, semiterminados e acabados. Hoje existem muitos investimentos no Centro - Oeste de plantas de wet blue, inclusive algumas já dentro dos próprios frigoríficos, que pegam o couro verde, industrializam esse couro, transformam em wet blue − isso é um giro extremamente rápido, em dois ou três dias o couro está pronto − e vem para as indústrias do Rio Grande do Sul, ou então esse couro até é exportado.[fim]

Essas indústrias que tinham essas plantas no Rio Grande do Sul muitas delas fecharam. Outras se mantiveram. E as que se mantiveram é que hoje trabalham com esse volume pequeno que o Rio Grande do Sul produz de couro, comparado com o Brasil e com o potencial da indústria curtidora que se tem.[fim]

Não sei se dá para entender o mecanismo que se criou nos últimos anos.[fim]

Cabe lembrar, também, que dentro desse contexto a indústria curtidora, produtora, e principalmente a indústria curtidora associada à AICSul, nossa entidade que basicamente tem uma vocação para ter as grandes empresas associadas à nossa entidade, ela tem, na sua grande maioria, um grande volume, um significativo volume de importação de matéria-prima de outros Estados.[fim]

A Administração Pública também não conseguiu informar qual o número de bovinos abatidos irregularmente no Rio Grande do Sul, por ocasião da inqüirição dos representantes dos serviços públicos de inspeção sanitária industrial e vigilância sanitária. Há divergência de números. Nesse sentido:

SERVIÇO DE INSPEÇÃO FEDERAL DO MINISTÉRIO DA AGRICULTURA, PECUÁRIA E ABASTECIMENTO – SIF/MAPA:

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – Para que aquela nossa pergunta anterior fique bem explicitada, o Senhor acredita que toda a carne

comercializada no Brasil e também no Rio Grande do Sul é inspecionada?[fim]

O SR. MARCO ANTONIO RODRIGUES DOS SANTOS – Não, eu creio que não, pelo que se ouve, se diz um percentual aí de 50, 60% seria inspecionada.[fim]

COORDENADORIA DE INSPEÇÃO SANITÁRIA DE PRODUTOS DE ORIGEM SANITÁRIA DA SECRETÁRIA DA AGRICULTURA E ABASTECIMENTO – CISPOA/POA:

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – Toda a carne comercializada no Rio Grande do Sul é inspecionada?[fim]

O SR. EDUARDO NEMOTO VERGARA – Não.[fim]

SERVIÇO DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA DA SECRETARIA DA SAÚDE:

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – A Vigilância Sanitária fiscaliza 100% das empresas varejistas que comercializam carnes e produtos industrializados aqui no Rio Grande do Sul?[fim]

A SRA. JANE LEONARDO – Não.[fim]

SERVIÇO DE INSPEÇÃO SANITÁRIA MUNICIPAL REPRESENTADA PELA FAMURS -SIM:

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – Toda a carne no Rio Grande do Sul é inspecionada?[fim]

O SR. MIGUEL FARIAS CALDERON – Não, nem toda a carne é inspecionada. Nós temos o problema do abigeato.[fim]

Os serviços públicos de inspeção sanitária nos três níveis de governo apontam que o abate regular é de 1.210.905 (incluindo os 50 mil bovinos que se presume ser abatido pelos SIMs).

Contudo, esses números divergem dos dados fornecidos pela Secretária da Fazenda. Há dúvida por contradição entre a Secretaria da Agricultura e a Secretaria da

Fazenda, pois o representante desta demonstrou dados divergentes dos acima apresentados:

SECRETARIA DA FAZENDA:

O SR. GIOVANNI PADILHA DA SILVA – Olha, se nós considerarmos...Eu cheguei a um cálculo de um milhão 992 mil animais. Isso, é bom frisar, diante de uma projeção, porque um milhão e 300 mil praticamente já tinha sido digitado pelo sistema.[fim]

Nós temos hoje um sistema, só gostaria então de completar a informação, nós temos hoje um sistema que chama-se Sistema de Informações da Agropecuária – Sitagro, popularmente conhecido como Sitagro – que ele... que inclusive conta com a ajuda das Prefeituras. As Prefeituras digitam todas as notas de produtor.[fim]

Esse trabalho começou em 2001 e agora, em 2002, nós conseguimos praticamente a integralidade. Só que quando nós fizemos o levantamento, nós tínhamos 65% das notas de produtor digitadas. Então, nesse momento, quando tínhamos 65% das notas de produto digitadas, nós chegamos a um milhão e 300 mil.[fim]

Tem calculadora aqui? Quem tiver... Fazer uma projeção de que, com 65% nós tínhamos um milhão e 300, 100% corresponderia a um milhão e 990, quase dois milhões.[fim]

Veja bem: trabalhando com um milhão e 900, a uma carcaça de 210 quilos, isso corresponderia a um consumo anual por habitante – quase 10 milhões de habitantes – daria 47 quilos. Quer dizer que é um número bastante próximo daquilo que se veicula, daquilo que outras fontes chegam, né. O que se veicula é 48 quilos. Esse cálculo que nós chegamos fecha em 47. Quer dizer que se nós considerarmos aí... Também já considerando algumas entradas de fora do Estado.[fim]

E aí, é evidente que, como é um número aproximado, às vezes 210 quilos por animal é uma aproximação, só que o número que se chega, de 47 quilos, não deixa dúvidas de que aquele um

milhão e 900 projetado e via nota de produtor para a indústria e comércio, ele tá dentro da realidade.[fim]

Há flagrante divergência entre os números reais e projetados pelos próprios órgãos superiores da Administração Pública Estadual. A Secretaria da Agricultura obtém registro de 1.210.905 animais abatidos e a Secretária da Fazenda de 1.992.000 animais. Há uma diferença de 781.095. Contudo, entre dados declarados e dados projetados a juízo desta CPI são mais confiáveis os números registrados.

Esta Relatoria procurou analisar as informações e construir sua própria conclusão, com dados mais confiáveis.

A população no Rio Grande do Sul é de 10.187.798 habitantes(fonte IBGE). O consumo per capita anual de carnes neste Estado é de 50 quilogramas (fonte SICADERGS). Significa que a população residente no Rio Grande do Sul consome 509.389.900 quilogramas/ano. A carcaça de um bovino/médio abatido é de 217 quilogramas, conforme consta no LAUDO TÉCNICO 01, considerando um bovino vivo de 468 quilogramas. Equivale ao consumo de 2.347.418 bovinos.

Desse cálculo deve ser excluído o montante de carne com origem em outros Estados Federados, pelos dados coletados, os números são equivalentes a 130.000 bovinos. Ao mesmo tempo deveremos incluir neste cálculo o montante exportado, que é equivalente a 57.000.000 quilogramas, que corresponde a 262.672 bovinos. Portanto, o total de bovinos abatidos no Rio Grande do Sul pode ser apurado em 2.347.418 (consumo) mais 262.672 (exportado mas abatido no RS) e menos o 130.000 (de outros Estados), totalizando 2.480.000 cabeças de gado abatido.

Este seria o número aproximado de bovinos abatidos em números globais, incluindo o abate regular e irregular. Como o abate regular pela Secretaria da Agricultura (SIF e CISPOA) e a projeto de abates pelo SIM é 51.975 cabeças. foi na ordem de 1.212.879 bovinos, pode se concluir que o abate irregular estimado é de 1.267.201.

INDÚSTRIA FORMALIZADA E SUA PARTICIPAÇÃO DO ABATE IRREGULAR:

Os números estimados por esta CPI confirmam a suspeita de que só o comércio irregular formiga não é suficiente para desovar tamanha quantidade de produto. Há necessidade de participação de quem possui capacidade de estocagem e apoio logístico de distribuição, isto é, de quem realiza abate formal. Nesse sentido, as suspeitas desta CPI são corroboradas pelas declarações do Chefe de Polícia em

depoimento prestado em audiência de instrução realizada no dia 15 de setembro de 2003:

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – Existe alguma relação entre o abigeatário e matadouros frigoríficos?[fim]

O SR. JOÃO ANTÔNIO LEOTE – Este é um problema sério Deputado. Este é um problema sério e agora recentemente tivemos um problema desta ordem.[fim]

O que acontece? Ou o animal entra no frigorífico com a nota falsificada e a guia de transporte falsificada ou, então, este animal vem para o frigorífico com a nota chamada nota para ser rasurada possivelmente ou entra mesmo sem nota e é abatido, como tivemos aqui em Sapiranga, ao que me parece. Tivemos este abigeato desta quadrilha que vinha atuando aqui em Eldorado do Sul, Guaíba, Butiá, Glorinha, aqui para cima do lado de Montenegro e que conseguimos pegar 10 cabeças de gado abatido já no açougue foram carneados num açougue aqui em Sapiranga. Não tinha fiscalização, não tinha nada. Quer dizer o cara simplesmente abateu. Abateu sem nota, transportou sem nota, colocou no açougue sem nota.[fim]

Então, isto é um problema sério. Não há fiscalização. Nós pedimos que fosse feito uma fiscalização depois do fato ocorrido, o pessoal foi lá levantou os caras não tinham condições nenhuma. Nós pedimos uma outra fiscalização, porque queríamos num determinado momento fazer uma escuta telefônica em cima de uma investigação, em cima do sujeito investigado, queríamos, através de uma vistoria no açougue dele, pegar números de telefone. Se chegássemos para pegar o número do telefone não conseguiríamos. Então, pedimos a um órgão determinado de uma Prefeitura ali que fizesse uma vistoria lá, uma inspeção normal e não foi feito. Até hoje estamos esperando.[fim]

Então, realmente existe a falta de fiscalização nos frigoríficos e existe a falta de fiscalização nos açougues. Este é um problema sério e eu diria que o abigeato em larga escala tem toda a sua destinação a estes frigoríficos que operam desta forma e não são poucos.[fim]

As declarações acima demonstram a falta de ação integrada, isto é, falta de articulação entre as próprias unidades administrativas do Estado, que indica falta de cooperação mútua.

CONTRIBUIÇÃO DO PRODUTOR RURAL NO ABATE IRREGULAR

O produtor rural é sem dúvida alguma a maior vítima do ABIGEATO. Mas em relação ao abate irregular não pode esta CPI fazer a mesma afirmação, sob pena de falsear a verdade. Se há abate irregular é porque o produtor rural vende seus animais sem nota de produtor rural. Em outras, na ilusão de maior ganho, sonega a operação de venda. A questão não é o ICMS que é diferido para a indústria, mas o FUNRURAL e o imposto de renda. E infelizmente, é aí que o mesmo acaba sofrendo os golpes dos estelionatários. Estes pagam com cheques sem fundo ou sem garantias reais ou pessoais. Em muitos casos, a expectativa de ganho maior se transforma em prejuízo total.

Conforme exposto, há dificuldade de identificar os números reais sobre o abate irregular. Mesmo problema existe em relação aos números do ABIGEATO. Há o registro formal, com noticiamento do furto perante a autoridade policial. A dúvida é se esses dados são reais. Em outras palavras, todos os lesados informam os seus animais furtados? Há registros falsos, para acobertar venda de gado sem registro fiscal?

O CHEFE DE POLÍCIA informou os números do abigeato

POLÍCIA CIVIL

OCORRÊNCIAS REGISTRADAS DE ABIGEATO:

ANO

1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003*

NÚMERO DE OCORRÊNCIAS

5277 5834 5923 6648 4976 4480 4682 5930 6859 8327 8799 9710 5645*

• OBS: A ESTATÍSTICA DE 2003 APRESENTA SOMENTE DADOS DO 1º SEMESTRE

NATUREZA DOS INQUÉRITOS INSTAURADOS E REMETIDOS

ANO

1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003*

INQUÉRITOS INSTAURADOS

273 293 355 235 358 256 421 407 - -

INQUÉRITOS REMETIDOS

245 277 327 222 273 268 283 359 259 863 1694 1494*

* OBS: A ESTATÍSTICA DE 2003 APRESENTA SOMENTE DADOS DO 1º SEMESTRE

O proprietário é obrigado a registrar o número de animais para efeitos de

controle sanitário animal, especialmente de vacinação e toda a movimentação de rebanho que venha a ocorrer. Se vende, consome ou morre algum bovino é obrigado a dar informações, para fins de baixa, face à alteração na sua ficha. Se vender irregularmente, isto é, sem nota fiscal, terá que justificar o desaparecimento do animal. Esse tipo de conduta é confirmada pelo CHEFE DE POLÍCIA:

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – Nós aqui estamos falando de atos pertinentes ao abigeato, a carne. Mas existe alguma outra prática que a Polícia Civil diagnostica referente à produção tanto de gado de corte quanto de suíno com exceção do abigeato? Por exemplo, nós temos um problema que, às vezes, até é discutido aqui, classificado dentro desta CPI, a questão do abate irregular. Isso a Polícia Civil também possui algum trabalho?[fim]

O SR. JOÃO ANTÔNIO LEOTE – Não, infelizmente não. Mas é um problema sério que nós não tivemos tempo de partir para isso, porque é uma situação que, muitas vezes, ocorre. E a gente, como produtor, muitas vezes é cantado a fazer isso.[fim]

Eu mesmo, há questão de um ano atrás, resolvi vender umas cabeças lá para um rapaz, que tinha um minimercado, que ele mesmo abatia. E vendi e tal. Na hora que expedi a nota, que eu dei a nota para ele: Tá, mas eu não queria assim. Eu queria te... Eu te paguei tanto, te paguei um pouquinho a mais, porque eu queria... quem sabe tu... É a velha a história do dar baixa na nota. É complicado, não é na nota, é dar baixa na ficha de cadastro dos animais na Inspetoria Veterinária.[fim]

Então, tem alguns produtores – vejam bem, não são todos, mas tem alguns produtores que tem um problema que nós temos que ver – que, ao invés de vender com nota, ele vende sem nota. E aí, depois, não tem como dar baixa. Aí ele cria uma situação de abigeato. O animal desapareceu, desapareceu, aí ele cria, diz olha eu tinha um animal, desapareceu do meu campo. A gente não acha nunca os restos mortais nem a carcaça, e ele diz que foi carregado e tal e não tem como a gente provar. A gente sai atrás, assim como o abigeato é difícil de provar, a gente termina aceitando a idéia de abigeato, mas muitas vezes a gente tem, como que vou dizer? Vamos dizer assim, quase que a certeza que não foi abigeato, só que não tem como provar que não foi abigeato. Geralmente quando ele comunica o animal já foi consumido, já está no freezer do vizinho, o vizinho não tem mais do que reclamar e é aquele negócio todo.[fim]

4) ABIGEATO E A INSEGURANÇA NA ZONA RURAL:

Esta CPI analisa o crime de ABIGEATO sob três modalidade: (1) ABIGEATO FORMIGA; (2) ABIGEATO QUADRILHA; (3) ABIGEATO DO COLARINHO BRANCO.

A primeira modalidade – ABIGEATO FORMIGA – é a forma tradicional e mais comum e freqüente de furto de gado bovino. Sua incidência maior se dá entre as quintas e sexta-feiras, por causa do final de semana ou perto de datas comemorativas ou de festividades. Suas maiores vítimas são os pequenos proprietários rurais. A maior parte dos bovinos furtados são vacas leiteiras ou animais de tração. Nessa modalidade, a zona de operação se localiza próximo da zona urbana, seja de cidades ou vilas rurais. É comum o animal ser morto e carneado no próprio local do crime e carregado somente em parte, geralmente o traseiro. Contudo, não pode ser simplificado como FURTO FAMÉLICO, isto é, quando seus agentes criminosos praticaram o ilícito em estado de necessidade. Pelas informações obtidas, os seus agentes são até

conhecidos nas comunidades em que atuam e nenhum caso registrado ou informado se deu por estado de necessidade: fome. É safadeza em sentido estrito.

O ABIGEATO QUADRILHA é a segunda modalidade. Em que pese não ser a modalidade mais freqüente do ABIGEATO, causa maior prejuízo econômico aos criadores de bovino do que a modalidade formiga. Sua atuação mediante quadrilha exige uma razoável organização logística. É necessário caminhão boiadeiro, um cavalo encilhado para juntar o gado a ser furtado, ferramentas para romper aramados e pessoas para embarcar o gado. Nessa modalidade o crime de furto ou roubo é praticado em concurso formal com o CRIME DE FORMAÇÃO DE QUADRILHA.

A última modalidade é o ABIGEATO DO COLARINHO BRANCO. Nessa espécie de delito não há furto ou roubo, mas CRIME DE ESTELIONATO (artigo 171 do Código Penal). Este se dá quando falsos empresários ou maus empresários compram gado e dão um calote no proprietário dos animais, fazendo pagamento com cheque sem fundo ou com garantias falsas. É sem dúvida alguma o que tem causado maior prejuízo econômico aos produtores rurais, já que em alguns casos são praticados por indústria frigorífica e matadouros.

O ABIGEATO gera um prejuízo econômico direto. Contudo, causa um efeito colateral mais funesto ainda: insegurança na zona rural. O furto para se transformar em roubo é só uma questão de segundos. Quem furta gado bovino nunca executa a operação sozinho ou desarmado. Em que pese a vontade subjetiva seja só a de se apropriar indevidamente do animal alheio, até por medo de revide, caso seja avistado, e ocultar a ação criminosa, é comum o agente agir com violência nessas circunstâncias, causando até a morte.

A insegurança na zona rural resultante do ABIGEATO cria custos adicionais aos criadores de bovinos. Há trabalho adicional com elevação do custo de mão-de-obra para vistoriar diariamente todos os cantos da gleba rural para contagem do rebanho e reparação de cercas rompidas quando há o furto. Em lugares de maior freqüência, como Cacequi – RS, os animais são recolhidos diariamente para currais perto da sede da fazenda. Em algumas, especialmente naquelas fazendas com melhor plantel genético, é necessário até contratar seguranças particulares.

E uma coisa não pode esta CPI deixar de reconhecer, que é o fato dos abigeatários estarem cada fez mais ousados e criativos. Alguns estão usando de meios sofisticados de fraude, fugindo dos padrões tradicionais de truculência. Nesse sentido, novamente se transcrevem as declarações prestadas pelo CHEFE DE POLÍCIA:

O SR. PRESIDENTE JERÔNIMO GOERGEN – Caro Delegado, eu vou voltar aqui na mesma forma que fiz ao Coronel Pafiadache me reportar a uma matéria publicada na Zero Hora do dia 7 de setembro deste ano e vou aqui a uma breve leitura de uma parte dessa entrevista para que eu possa me referir com parte do seu depoimento.[fim]

Aqui diz sobre...o Inquérito 26280310052A, concluído em agosto pelo Delegado Régis Gomes dos Santos de Sapucaia do Sul que o grupo que atua na área do abigeato adquiriu uma propriedade rural fantasma – isso é um item, só existe no papel, portanto, em São Francisco de Paula, o que possibilitava a aquisição de Nota Fiscal de Produtor Rural. A Guia de Transporte Animal (GTA), outro documento necessário para o transporte de animais, era falsificada. Sempre que furtava bois e vacas, o grupo levava as notas para, em caso de alguma barreira fazendária, justificar o transporte de gado.[fim]

O Senhor falou aqui, com relação às notas: primeiro, essas fazendas fantasmas, nós temos dados, números mais específicos de quantas são, como atuam e quais as ações desempenhadas nesse sentido? Outra pergunta: podemos afirmar que existe uma indústria de notas frias hoje, no Estado, com relação à carne fruto do abigeato? Mais especificamente, qual a maior região de incidência de abate irregular, de frigoríficos irregulares aqui no Estado? Talvez eu possa não ter...tive que me locomover aqui durante a reunião, mas gostaria de dados, especificamente quanto a notas frias, até porque nós temos informações, Delegado, de que existe um processo onde se tira uma nota de uma propriedade para outra e que no meio do caminho o animal é desviado, indo até um frigorífico, que por mais que seja até, eventualmente, um frigorífico formal, lá existe uma nota fria que esquenta, digamos, o produto, colocando-o no mercado. O produto obviamente compete com a carne formalizada, e é mais ou menos isso que nós temos.[fim]

Eu gostaria que o Senhor pudesse, no aspecto policial, nos falar com relação a esse trânsito, porque se isso ocorre, obviamente vamos manter sempre o mesmo número do tamanho do rebanho, mas, no entanto, o consumo é muito maior – e uma carne sem fiscalização sanitária e sem fiscalização tributária, colocando em risco a saúde pública. Não sei se o Senhor pegou aqui a...[fim]

O SR. JOÃO ANTÔNIO LEOTE – Perfeito. Vamos primeiro...eu até pediria que se eu me perder – porque a pergunta é complexa – o Senhor dissesse: não é esse aspecto. Eu posso lhe colocar algumas coisas sob todos os pontos que o Senhor tocou. O primeiro deles: propriedades - fantasma. Não é propriamente uma propriedade - fantasma. Existem duas formas de fazer isso. Esse cidadão que estamos falando, eu não vou citar o nome dele aqui, mas é um cidadão que está preso – espero que esteja preso ainda – por abigeato. É a segunda vez que consigo colocá-lo na cadeia. Ele fazia o seguinte: na primeira vez que o pegamos, ele comprou, por uma escritura pública de cessão de direitos, uma propriedade na localidade de Torrinhas, interior de São Francisco de Paula. Comprou uma propriedade – alguém foi lá e vendeu para ele –, foi lá no cartório e registrou, tudo bonitinho. Então, ele tem um documento de que ele é proprietário de uma determinada área de terras.[fim]

À parte disso, ele foi na Prefeitura Municipal e pediu uma guia, um talão de produtor. Recebeu o talão de produtor, se cadastrou. Foi lá na inspetoria veterinária e trouxe algumas cabeças de gado, comprou e tal, e também se cadastrou como produtor rural no Município. À parte disso, o que ele fazia? Ele furtava os animais, ele transportava para a propriedade dele com notas frias. E aí eles falsificavam um talão de produtor, digamos, no meu nome. Ele comprava uma vez – ele era açougueiro –, normalmente, de mim. Pegava o meu número de inscrição, todos os meus dados e fazia uma nota igual, produzia um talão igual.[fim]

Então, na próxima vez ele furtava do Senhor, expedia uma nota em meu nome e mandava para essa propriedade dele, lá em Torrinhas. Mas, no meio do caminho, ela era desviada para um frigorífico e era abatida ali. E dali nós não pegamos como é que ele esquentava. Ele tinha, nós pegamos – eu não sei como é que agente chama –, aquela matriz que a gente usa para falsificar tanto a nota fiscal quanto a GTA. Ele tinha, nós apreendemos na casa dele. Ele tinha um visor noturno. Quem conhece a lida campeira sabe que o gado de noite fica bobo, a gente leva para onde quer. Pega um cavalo bom, levando ele devagarinho. Quem tem gado chucro, que não consegue levar na mangueira, de noitezinha pega, a gente bota o cavalo de um lado, outro cavalo de outro e vai indo. E ele vai bobo, não sei se é porque ele está ruminando, o que é.[fim]

Então, ele fazia isso. Tinha caras especializados. Então, ele furtava nesse campo daqui e carregava para lá, e ele fazia documentado. Ele passava em qualquer lugar com esse gado documentado. Chegava no frigorífico e abatia esse gado documentado e saia dali com uma nota quente. Aí, o que ele fazia? Ele tinha uma empresa, em nome de um terceiro, de comercialização de carne. Então, o que ele fazia? Vendia a carne para aquela empresa, e aquela empresa esquentava a nota. E saía bonitinho, sem qualquer problema.[fim]

Bom, além desse caso que tinha, eu posso, por exemplo, pegar uma propriedade rural sua e arrendar. Eu arrendo a sua propriedade rural. Quando nós o pegamos, agora, ele tinha uma aqui em Santo Antônio da Patrulha – nós pegamos 22 cabeças lá –, arrendada por ele. E agora, essa última que nós o pegamos – ele foi preso em flagrante –, era aqui em...para o lado de Viamão, para cá, ele tinha outra propriedade rural, arrendada também, onde tinha mais 10 cabeças. Então, o que ele faz? Ele vai lá com esse gado que ele furta, ele faz uma nota de transferência para esse campo dele, uma nota fria. Vem, vem, vem, muitas vezes, se ele chega, não traz nem a nota, traz o talão, como se diz, alguém citou aqui, ele traz o talão e quando vai passar na barreira...(longe do microfone). Então, essa é a forma. É muito fácil de se passar, o Senhor tem, com arrendamento rural, de qualquer propriedade improdutiva, o Senhor tem condições de chegar na Prefeitura e tirar um talão de produtor. Depois, o Senhor simplesmente compra, com outras notas frias ou compra de terceiros, e começa a botar gado, e cria uma ficha de produtor. Essa é uma formas, é uma prática

corrente. Esse cidadão tinha essa prática. A outra prática que nós pegamos ele agora.[fim]Citam-se esses fatos para deixar claro que não se trata de simples crime contra

o patrimônio. Pelos efeitos diretos ou indiretos da insegurança que gera, pode ser incluído o ABIGEATO no conceito de CRIMINALIDADE VIOLENTA, de grande POTENCIAL OFENSIVO.

Para quem não tem conhecimento da realidade e da dimensão dos problemas atuais gerados pelo ABIGEATO, num primeiro momento, pode-se pensar que se trata de um fato sem maior relevância. Contudo, os depoimentos coletados por esta CPI em audiências públicas realizadas no interior do Estado, expõem com clareza a insegurança provocada por essa tipo de delito penal.

Na AUDIÊNCIA PÚBLICA realizada em 31/10/2003, na Cidade de Cacequi - RS, uma das localidades mais prejudicadas pelo ABIGEATO, o problema foi exposto com clareza pela Vereadora Mariângela Mendonça Souza Dias, conforme transcreve-se a seguir:

A SRA. MARIÂNGELA MENDONÇA SOUZA DIAS – Sou Vereadora da Bancada do PDT da Câmara Municipal de Cacequi.[fim]

Gostaria de cumprimentar a todos, em especial a Presidência desta Comissão, em nome dela, todos os funcionários da Assembléia Legislativa, aos Deputados que acompanham os trabalhos no dia de hoje no nosso município, o nosso Prefeito Municipal e a todas as autoridades já nominadas pelo protocolo.[fim]

Deputado Jerônimo Goergen, como o trabalho é extenso, vamos ser objetivos.[fim]

Desde o ano de 2001 eu venho me dedicando de maneira mais assídua na questão que envolve os problemas da cadeia produtiva da carne, hoje, tema destacado por esta CPI, especificamente, no que aflige os nossos produtores rurais de Cacequi, a economia do meu município e a questão de saúde pública.[fim]

No ano de 2001 iniciei esse trabalho, até por se tratar de uma questão de abigeato na nossa região, questão essa muito presente e preocupante.[fim]

A maior arrecadação do nosso município vem da produção rural, os nossos produtores viviam e sofriam a questão do abigeato de uma forma mais amena e incluindo o que já foi citado aqui pelo Prefeito, a questão social do desemprego, falta de oportunidade, fome e miséria, por vezes acabavam sendo casos isolados, compreendido pela classe produtora.[fim]

Mas, no momento em que a questão do abigeato no município e na região de Cacequi chegou a um número e somas alarmantes, nós, como Poder Público, Legisladores e representantes de uma comunidade, simplesmente não podemos calar.[fim]

Precisamos da união, da conjunção de forças para que seja solucionada a questão da segurança como um todo, especialmente a questão rural.[fim]

Para tanto, Srs. Deputados, iniciamos um trabalho em 2001 junto com o Sindicato Rural de Cacequi que, na época, estava sob a direção do Rui Antônio Broll Azevedo, houve continuidade na gestão seguinte, a do presidente Potiguar, e hoje o Toninho está como presidente novamente e continuamos na mesma linha de trabalho junto com o sindicato.[fim]

O que vimos mais oportuno e presente, com a criação desta CPI, são as velhas reivindicações dos produtores, da Câmara de Vereadores e do Poder Executivo como um todo.[fim]

Cacequi está desprovida, há nove anos, de um delegado.[fim]

Há alguns dias eu questionava ou fui questionada pelo funcionário, inclusive da polícia, a respeito de qual a diferença de ter ou não um delegado se temos um delegado substituto que responde

por Cacequi.[fim]

A diferença, Srs. Deputados, é o fato de os órgãos governamentais, os órgãos de segurança não terem a plenitude do seu funcionamento, pode haver um excelente trabalho da Polícia Civil, da Brigada Militar fazendo investigações, buscas e apreensões e quando chega na hora não temos um delegado, não temos um registro de flagrante, o delegado que está respondendo por Cacequi está em outro município, enfim, tudo vai por água abaixo.[fim]

Vejam o gasto, o desperdício de energia física e econômica do Estado, daqueles funcionários da Brigada, da Polícia Civil e o produtor abandonado, o município perdendo recursos, perdendo dinheiro para a saúde, tendo em vista termos um trabalho feito pelo SIM – Serviço de Inspeção Municipal, muito bem feito, que detecta tuberculose bovina e tantas outras doenças que o consumidor, ao adquirir uma carne clandestina, sem inspeção, está sujeito a se contaminar com essas doenças.[fim]

Vejo como um caso sério, grave e urgente.[fim]

Aqui não está o rico contra o pobre e nós, eu, especificamente como Vereadora, encaro a seriedade do meu mandato em trabalhar por todas as classes, não posso segregar o meu trabalho, defendendo só o pobre ou só o rico no temor de perder o voto do rico, do honesto, do ladrão ou do pobre.[fim]

Temos que ter uma outra concepção de política e seriedade no que se faz, por isso, fiz tanta questão de poder, junto com o trabalho, ter essa oportunidade pública para colocar a questão de maneira clara acerca do que acontece no interior.[fim]

Se hoje os Srs. Deputados tomarem como base os levantamentos, do que são feitos os registros na Polícia Civil, vão dizer que em Cacequi nós estamos loucos, porque os números não condizem com a realidade, aí temos que analisar a causa.[fim]

Por que o produtor deixa de ir à delegacia registrar o abigeato que ocorreu lá na propriedade?[fim]

Primeira e principal causa, muitas vezes nada acontece. Eu vou lá, faço queixa de que me roubaram e aí? Nada é feito. Isso acontece por vários fatores, falta delegado, equipamentos, enfim, vamos levantar, estamos aqui e a função desta CPI é saber o porquê.[fim]

Outra causa é o temor, muitas vezes, de represália.[fim]

Temos que ver realmente o que está acontecendo, pois temos um dado oficial e outro, extra-oficial.[fim]

O extra-oficial é alarmante.[fim]

Temos que dar segurança inclusive para que o produtor consiga chegar numa delegacia e fazer o registro do sinistro que ocorreu na sua propriedade e ter um retorno.[fim]

É obrigação do Estado assegurar essa condição de segurança em todos os sentidos, especialmente no caso em que tratamos aqui, a questão do abigeato.[fim]

Neste primeiro momento eu apenas gostaria de fazer essa introdução, no decorrer dos trabalhos estarei me manifestando sobre as questões que achar importante.[fim]

Muito obrigada. (Palmas)[fim]

Em Santana do Livramento, em AUDIÊNCIA PÚBLICA realizada em 28/11/2003, se obteve outra dimensão do ABIGEATO, agravada pelo fato de ser um Município de aproximadamente 800 mil hectares, sendo parte do território fronteira internacional do tipo seco, com o Uruguai. Esclarecedor foi o depoimento do líder ruralista e advogado Leonardo Santana, responsável pela comissão que trata do abigeato no Sindicato Rural de Santana do Livramento:

O SR. LEONARDO SANTANA – Bom-dia, Senhores

Deputados, Vereadores, demais autoridades aqui presentes.[fim]

É difícil resumir, em cinco minutos, a problemática que envolve Santana do Livramento. Eu vou tentar ser objetivo e ir ao ponto específico desse assunto. Nós temos duas situações extremamente críticas. Uma é o problema do mercado da carne e a outra é a questão do abigeato.[fim]

No que se refere ao abigeato, nós em Santana do Livramento e na Região somos campeoníssimos, porque aqui, de animais registrados todos os anos, são mais de mil reses que são objeto de abigeato. Aqui nós estamos frente a uma situação inusitada, diferente do resto do Estado do Rio Grande do Sul ou um pouco diferente, porque aqui nós estamos tratando com criminosos que estão envolvidos com o crime organizado.[fim]

Ou seja: pessoas que estão envolvidas e que usam o dinheiro do...do... resultado do abigeato pra o contrabando, pra se capitalizarem com o contrabando de armas, de bebida, de cigarro. Essas mesmas quadrilhas organizadas têm um grande poder de corrupção. Há prova disso é que há pouco tempo atrás um desses Senhores saiu caminhando de dentro do presídio municipal, o que é fato raro em Santana do Livramento. Não é comum aqui em Santana do Livramento haver fuga do nosso sistema penitenciário, porque nós temos, comparado com o Rio Grande do Sul, um baixo nível de criminalidade. Agora sair do presídio municipal caminhando é uma coisa um pouco inédita. Esse cidadão, que já baleou policiais, que já resistiu à prisão, está aí na Fronteira, caminhando sem problema nenhum. Ele é um dos chefes dessa quadrilha do crime organizado.[fim]

Esse assunto tomou um volume aqui ao ponto de obrigar os produtores rurais a colocarem guardas. Evidentemente que só podem colocar guardas no campo os produtores rurais que podem pagar um guarda. Evidentemente que os outros produtores, os pequenos produtores rurais, por exemplo, os leiteiros que estão na

volta da cidade, esses não podem pagar guarda, porque eles quando muito podem sustentar a família. O que acontece? Os abigeatários vão lá e matam a melhor vaca do produtor, do leiteiro, e ele provavelmente já vai ter dificuldade de sustentar a própria família. Essa é uma situação cotidiana. Todas as semanas os leiteiros de Livramento estão sendo lesados porque perdem as suas matrizes em razão do abigeato.[fim]

Mas esse ainda é o pequeno abigeato. O grande abigeato, esse que é resultado do crime organizado ou que está dando vazão ao crime organizado, esse é feito por quadrilhas, por gente que está há muito tempo praticando o delito. É um crime continuado e que não tem combate estruturado das forças policiais de Santana do Livramento ou da Região. Por quê? Não há comunicação entre a Brigada Militar e a Polícia Civil. Há uma grande dificuldade de comunicação entre as duas forças que têm que investigar o delito. Eles não se passam informações, porque existe algum entrave – e nós sabemos desse entrave entre as duas polícias –, e elas não atuam coordenadamente. Existe mais coordenação entre a atuação da Brigada Militar com a polícia uruguaia do que da Brigada Militar com a Polícia Civil.[fim]

Ora, a Polícia Civil é que tem que instruir o processo penal, e esse processo penal deve chegar ao juiz com uma formação de prova convincente para haver a condenação do abigeatário ou da quadrilha de abigeatários. Se não há a formação do inquérito policial, não haverá jamais a condenação desses Senhores, e eles permanecem impunes. Já tem abigeatários, formadores dessas quadrilhas, que estão se aposentando. A segunda, a terceira geração de abigeatários já está entrando no mercado de novo, porque é um delito que hoje dá um lucro de aproximadamente 500, 600 mil dólares, para o Senhor ter uma noção. E hoje quando o quilo da carne no Uruguai, que é um dos nossos problemas, está um dólar, nós aqui estamos vendendo a carne a pouco mais de 50 centavos de dólar. Os Senhores imaginem que hoje já não precisa nem se furtar gado gordo, o gado magro serve também. Então, na linha divisória, têm propriedades que já estão ficando despovoadas de gado, porque os produtores não podem mais ter gado adulto

nessas propriedades, porque roubam, furtam desses produtores 200, 300 reses. Isso quebra um produtor rural. Não tem produtor rural que suporte perder durante um ano tudo aquilo que ele venderia durante o ano, ou seja, ele trabalha com prejuízo todos os anos, ao ponto que ele chega ao ponto de quebrar.[fim]

Esses abigeatários são tão corajosos, vamos dizer assim, que eles enfrentam a Brigada Militar a bala, eles correm a Polícia Civil a bala, eles esperam essas autoridades e tocam chumbo, não tem problema nenhum. Assim como...nós sabíamos que um dia ia acontecer de um produtor rural morrer vigiando seus campos, e aconteceu em Livramento. Até hoje não foi apontada a autoria correta do delito, mas nós sabemos que foram os abigeatários que mataram o produtor rural que andava, ele, vigiando a sua propriedade porque ele já andava cansado disso aí.[fim]

Bom, então Srs., nós temos aqui Santana do Livramento 200 quilômetros de fronteira seca. Do lado de lá, do lado Uruguaio, no Município de Rivera, tem 100 mil hectares de floresta sem vigilância, porque o poder público Uruguaio não obriga as florestadoras a colocarem vigilância.[fim]

As estradas das florestadoras para escoar a madeira é melhor que as nossas estradas. Os Srs., aqui de Santana do Livramento, se quiserem ir para um extremo da metade do Município, que divide os dois lados da fronteira, digamos mais ou menos de citação igual, os Srs. levarão, para ir, ao outro extremo da metade do Município, os Srs. levarão mais de 3 horas para chegar, se chegarem, em dia de verão bom.[fim]

Por que em dia de inverno, pra zona do (inintelegível) os Srs. não chegarão, nem em caminhonetes tracionadas. Aqui, a brigada militar tem uma Blazer. Recém agora recebeu uma Mitsubishi tracionada. Simplesmente com uma Blazer Srs.? Não tem condições nenhuma de fazer...essa Blazer não consegue andar regularmente mais que dois meses.[fim]

Outro fato. Nós já falamos para a Secretaria de Segurança isso. Os brigadianos, aqui, por um esquema burocrático, eles tem

que cumprir um determinado trabalho. Ora, mas para ir para um extremo do Município o Sr. precisa de 3 horas, quando ele chega lá ele já tem que voltar porque já esta terminando o horário de trabalho dele.[fim]

Ele não fez absolutamente nada. Isso nós já falamos para a Secretaria de Segurança e não conseguimos convencer a cabeça da burocracia estatal. Eles não querem flexibilizar o horário de trabalho das patrulhas do abigeato.[fim]

Evidentemente que abigeatário de dia... não vão encontrar. Se fosse possível encontrar os abigeatários de dia, nós os pecuaristas já os teríamos encontrado. Certamente que de dia eles não vão se largar para o campo. Eles nos tiram de noite. Bom, eu não sei...[fim]

O SR. ELVINO BOHN GASS – Pode falar.[fim]

O SR. LEONARDO SANTANA – Depois daqui, Srs., as quadrilhas de abigeatários não é só com o Uruguai que quase sempre ficam impunes porque há o problema de fixar a autoria do delito e há o problema da...da formação da culpa.[fim]

Um abiegetário de Santana do Livramento, por exemplo, que é dono de um açougue, foi preso em flagrante com gado do Uruguai, que é uma coisa um pouco incomum. O nosso gado é que vai para lá, não o gado deles que vem para cá.[fim]

Mas foi pego aqui. Justamente porque a nossa lei penal, como era gado uruguaio, ele está sendo processado em Porto Alegre, onde o juiz não tem a mínima noção do que que é o procedimento de abigeato, do que que é o crime de abigeato.[fim]

Outro problema, a nossa polícia civil diferente um pouco da brigada, não tem formação para investigar o crime do abigeato. Não, não tem formação, Vereador. Não sabe o que é abigeato. Não consegue distinguir um tipo de animal do

outro.[fim]

Não distingue o touro, da vaca, os Srs. compreenderam? O boi, da vaca, essas coisas assim. As coisa mais elementares. O problema de marca, de sinal, a forma... assim como não conhecem a burocracia estatal, a burocracia estatal que só serve para punir o produtores no tráfico de animais.[fim]

A Inspetoria Veterinária, as informações da Inspetoria Veterinária são boas porque nós os produtores não deixamos de informar a Inspetoria Veterinária a respeito do movimento do nosso gado, não é usado como elemento para formação da prova.[fim]

Os dados da Inspetoria Veterinária não são levados ao Governo do Estado para os Srs. saberem quanto foi abatido realmente. Se fizerem um cruzamento, desses dados que são oferecidos toda vez que nós movimentamos um gado, o Estado pode se... aquilatar provas suficientes para impedir essa comercialização ilegal de carne.[fim]

Mas aqui existe uma outra facete que é aquilo que eu estava dizendo para os Srs.. Existem já, abigeatários tirando gado de caminhão. Se o gado está saindo de caminhão para fora do Município, para ser abatido fora do Município ou pra ser comercializado fora do Município, é porque ele está passando pela polícia rodoviária federal.[fim]

E aqui já houve casos da polícia rodoviária federal ter deixado passar uma kombi carregada de animais, kombi, carregada de animais, Kombi, carregada de animais abatidos. Disseram que não poderiam, por uma questão que eles não poderiam manter aquele produto que é perecível durante muito tempo, eles largaram as pessoas lá com a carne abatida. Por uma questão burocrática na cabeça do policial lá, ele achou que não podia apreender a Kombi naquelas condições, mas passam caminhões de animais que são objeto de abigeato, e eles não recebem nem a parada da Polícia Federal para que ela examine a documentação se esta

documentação está adequada.[fim]

Bom, o comércio clandestino de carne, que era outra coisa que nós procurávamos aqui, ele se dá tanto naquela forma mais grosseira, como também na forma mais sofisticada ou seja frigoríficos recebem carne irregularmente de pessoas que previamente eles sabem que mandarão este tipo de produto para dentro do frigorífico, e eu não posso compreender como é que o Estado do Rio Grande do Sul não pode tomar conhecimento disso aí quando existe inspeção estadual e inspeção federal.[fim]

Eu descobri um gado que foi furtado de mim aqui em Santana do Livramento por registros na inspeção federal e tinha sido abatido no frigorífico por registro na inspeção federal. Por que o Estado não usa, diz é um comércio clandestino de couros duas vezes o que houve ou três vezes, Deputado, superior aquilo que oficialmente é escrito, mas a inspeção federal tem o registro de todos os animais que são abatidos onde ela faz inspeção. A inspeção estadual tem o registro de todos os animais que são abatidos, só fica o problema da inspeção municipal e a inspeção municipal realmente, Senhores não existem regras adequadas mais rígidas para regular esta questão da inspeção municipal de cargas.[fim]

Então, aqui se permite a nível de Município, evidentemente o Prefeito não pode impedir que a pessoa faça um pequeno abatedouro e esses pequenos abatedouros são objeto de abate clandestino, de sonegação fiscal, como já aconteceu agora recentemente em Livramento.[fim]

Enfim, isso acaba também lesando produtores, lesando trabalhadores, lesando o erário público. Isso é uma coisa que vem há muito anos.[fim]

O SR. ELVINO BOHN GASS – Presidente, permite? Leonardo, eu acredito que talvez, quando o Senhor fala que têm quadrilhas que estão muito bem estruturadas e que estão até ligadas

com bebida, com cigarro, com arma, enfim, e que isso é uma força muito potente, obviamente, vocês sabem quem são.[fim]

O SR. LEONARDO SANTANA – Sabemos.[fim]

O SR. ELVINO BOHN GASS – Então, eu peço isso, para que a gente tenha os nomes dessas pessoas, e se o Senhor desejar falar agora, pode falar, mas senão nós podemos recolher depois a questão por sigilo, nome por nome, porque isso vai combinar com outros depoimentos que nós temos, então essa liberdade eu deixo pro Senhor.[fim]

O SR. PRESIDENTE JERÔNIMO GOERGEN – Eu até queria fazer, Deputado Bohn Gass, solicitar ao Leonardo que fizesse sigilosamente isso, contribuiria muito para nós.[fim]

O SR. ELVINO BOHN GASS – Isso, porque daí nós vamos investigar porque nós vamos recolher, vocês conhecem as pessoas e sabem quem é que são, então pra nós, é importantes, porque isso vai correr, arrolar com os outros depoimentos.[fim]

Segunda questão, nós precisamos ter mais dados sobre esta conexão com o Uruguai, então, nesse sentido, se puder, depois, ou agora, já fazer alguma coisa a mais.[fim]

Quando eu falo isso do Uruguai, elas são informações desde a questão desde o roubo do gado, mas também a questão de esquentar a contabilidade ou a venda, tipo lavagem de dinheiro, em relação ao que é industrializado, aqui, nas plantas frigoríficas e que desaparece o dinheiro através de contas no Uruguai. O agricultor não... a planta é arrendada, é isso que o Senhor está falando, se eu estou compreendendo bem, a planta é arrendada às pessoas de fora que vem para cá, na verdade eles no início pagam bem ao produtor, enfim, tudo bem, até que pega confiança, depois eles cessam esses pagamentos, criam problemas aqui e em algum lugar esquentam o dinheiro, porque eles movimentam, eles abatem.[fim]

Se a gente tiver mais informações sobre isso, para nós é um dado importante, se os Senhores estão se dedicando a esse trabalho aqui. Acho que isso é uma coisa importante.[fim]

E a terceira,... espera aí, acho que são os nomes desse negócio de quadrilhas, do roubo, diretamente e esse vínculo com o roubo e o abate irregular. Me parece que aqui está... porque o percentual de roubo, ele, do ponto de vista do abate irregular, ele é pequeno, ele é volumoso porque vocês sentem ele direto aqui, mas em um ano, o maior número de registros foi 27 mil registrados, mas nós sabemos que tem muito mais de 1 milhão de animais abatidos irregularmente.[fim]

Então, na verdade, isso é uma coisa conectada também. Eu gostaria que, se o Senhor pudesse negociar mais alguma coisa sobre isso, agora, ou depois nós recolhemos, porque nos interessa ter a identificação de nomes e envolvidos diretamente nesse esquema.[fim]

Me parece que a nossa vinda para cá, é exatamente também...nós não vamos em todos os lugares, não é possível, mas aqui nós optamos em vir exatamente por essa proximidade com o Uruguai, pelas plantas que foram instaladas aqui e aí nós temos muito interesse nessas informações dos Senhores.[fim]

O SR. PRESIDENTE JERÔNIMO GOERGEN – Eu gostaria de solicitar, Leonardo, que prestasse isso de forma sigilosa, mas ainda de maneira pública, aqui... falaste em mais de mil cabeças/ano.[fim]

O SR. LEONARDO SANTANA – Mais de mil.[fim]

O SR. PRESIDENTE JERÔNIMO GOERGEN – Mais de mil. Isso é o que é oficializado. Isso é o que tem registro na polícia, enfim...[fim]

O SR. LEONARDO SANTANA – Sim, nós temos um registro

de abigeato, aqui, superior a mil cabeças, quer dizer, nós temos aqui 630 mil cabeças de gado. Evidentemente que são mais de mil cabeças. É que alguns produtores, os mais lesados, são esses que estão próximos a linha divisória. Esses são os mais penalizados. Sim, isso aí eu lhe falei de bovino. Ovino se tornou um problema já... ou seja, os pequenos produtores de Santana do Livramento tiveram que terminar com a ovinocultura, principalmente aqueles que estavam próximos aos assentamentos.[fim]

Bom, mas não é só isso, aqueles que também estão próximos às estradas federais, essas asfaltadas, esses também já estão terminando com a ovinocultura, porque ovelha virou caça, até porque, até porque, hoje é a carne que tem mais valor.[fim]

Os produtores, como houve uma valorização da lã e uma valorização da carne ovina, os produtores acabaram retendo um pouco do rebanho para aumentar o rebanho, com o aumento do rebanho, eles retiveram um pouco de ovelhas. Nós temos aqui no Município 400 mil ovinos, mas nós já tivemos muito mais. Livramento foi um dos grandes núcleos de ovinocultura no Rio Grande do Sul.[fim]

Temos uma cultura para trabalhar com ovino, assim como temos campo adequado pra o trabalho com o ovino no basalto, mas hoje isso se tornou um tormento, porque as pessoas não podem manter os ovinos por causa do abigeato. Então isso acabou sendo...[fim]

O SR. PRESIDENTE JERÔNIMO GOERGEN – E uma última questão aqui, que foi falada pelo Senhor: vocês têm informação sobre o número de cabeças que é remetido para o Uruguai? Chegaram a fazer algum levantamento nesse sentido?[fim]

O SR. LEONARDO SANTANA – Sim, sim. É isso que lhe digo... a maioria, 90% desse gado, vai para o Uruguai. E aqui tem mais uma particularidade: Rivera tem 80 ações, Montevideo tem 720, Rivera vende 6 vezes mais carne que Montevideo. Montevideo tem a

metade da população uruguaia, um milhão e quinhentos mil habitantes, lá eles têm 720 ações, aqui eles têm 80.[fim]

Eu não sei como é que esses 80 açougueiros conseguem se manter. Fomos pesquisar: uma carreta de carne vai para Rivera, por semana, e as pessoas que distribuem essa carne não fazem o contrabando de nenhum quilo de carne porque os açougueiros de Rivera se encarregam de vir aqui e pegar a carne em Livramento, levando no porta – malas dos veículos para dentro de Rivera.[fim]

Então o comércio de Livramento abastece clandestinamente o comercio de Rivera. Isso foi uma coisa que já denunciamos lá no Uruguai. Por causa disso, nos últimos 30 anos, o Instituto Nacional de Carnes do Uruguai, órgão que fiscaliza isso, nunca tinha vindo a Livramento... a Rivera, porque eles tem sete fiscais para todo o Uruguai. Evidentemente eles não conseguiam fiscalizar isso.[fim]

Agora, quando eles souberam dessa denúncia, porque tinha carne que estava vindo para Rivera, que vinha do Mato Grosso, quando estava liberada a nossa fronteira...[fim]

A todo momento se sabe que carne do Paraguai entra pelo Mato Grosso, do Mato Grosso entra para Rivera e eles não tiram o sanduíche ali nas barreiras sanitárias, porque não pode entrar com sanduíche, mas recebiam carne com osso em Rivera diretamente do Mato Grosso. Uma carreta de carne por semana ia para Rivera, de carne viva do Mato Grosso, que pode ser carne do Paraguai, não é?[fim]

Em conseqüência disso temos essa particularidade aqui da nossa fronteira. Evidentemente eles, com a carne a um dólar em Rivera, não têm a mínima condição de concorrer com o mercado retalhista de Santana do Livramento, com menos de sessenta centavos de dólar no quilo do boi. É evidente que não. Eles quebrariam todos, teriam de fechar.[fim]

O consumidor deles vive todo aqui, então compra carne em Santana do Livramento. Como é que esses açougues conseguem

sobreviver ali em Rivera se não houver o comércio clandestino de carne? Evidentemente é. E não é pouco, Senhores, porque Rivera é uma cidade de 100 mil habitantes. Não é pouco.[fim]

Nós aqui somos uma comunidade que convivemos com o contrabando, seja o pequeno ou o grande. Hoje o comércio de Santana do Livramento se ressente profundamente porque o Presidente da República do Uruguai impôs uma restrição: zero quilo, ou seja, não passa nada para dentro do Uruguai, e nós tínhamos aqui um turismo essencialmente comercial.[fim]

Somos uma comunidade que, desde a nossa origem, estamos acostumados com o contrabando, agora, nas proporções em que isso está acontecendo agora, em forma de crime organizado e sem nenhum combate das forças públicas ou quase nenhum... porque o problema aqui é o seguinte, Senhores, se a Brigada Militar atua isoladamente, se a Polícia Civil atua isoladamente... evidentemente eles não vão conseguir fazer combate a crime organizado nenhum. Os criminosos vão passar por cima deles.[fim]

Com relação ao ABIGEATO COLARINHO BRANCO, que é praticado por maus empresários, o depoimento de Leonardo Santana, de Santana do Livramento explica melhor como esse tipo de fraude é praticada contra os produtores rurais:

O SR. LEONARDO SANTANA – (...)

Bom, no âmbito do mercado da carne, Senhores, nós já somos hours concurs em golpe de frigorífico. Aqui nós sabemos tudo em matéria de golpe de frigorífico, até porque para devolver contra estes golpistas. Além de produtor, eu sou advogado, sou primeiramente advogado e depois produtor. Já advoguei contra esses Senhores.[fim]

Então, o que acontece? Eles alugam uma planta frigorífica que nós temos muitas desocupadas aí, inclusive a de Santana do Livramento, do Rio Guaíba era alugada. São pessoas que previamente já não oferecem patrimônio suficiente a não ser uma fiança formal para o Estado do Rio Grande do Sul para fazer a sua

inscrição estadual. Esta fiança nem de perto, nem de perto, garante os impostos que do movimento que aquele empresário vai fazer. Então, de certa forma o Estado permite que o golpista se estabeleça, porque se o Estado colocasse, obrigasse o frigorífico a oferecer uma fiança em bens compatível com o movimento econômico que ele vai realizar, certamente iríamos reduzir e muito esta situação porque eles teriam que oferecer bens. Eles se valem justamente disso porque eles sabem que a Justiça é lerda e que eles, não tendo bens suficientes para garantir os títulos que nós eventualmente poderíamos emitir por (ininteligível) tem a questão da duplicata rural, que os produtores não conhecem, é um título que o produtor pode emitir, eles se tornam inócuo.[fim]

Bom, esses cidadãos alugam estas plantas frigoríficas, começam a trabalhar, começam a oferecer pagamentos à vista. Depois que eles adquirem a confiança da praça porque um produtor vai passando para o outro e vai, vai me pagaram bem, eu fui bem pago, foram pontuais comigo. Depois que ele amansa bem, ele começa a comprar a prazo e depois ele prepara o golpe. Esse golpe Senhores que é um golpe que ele tem que ocorrer num prazo curtíssimo porque é um prazo de 30 de dias, no máximo, e ele tem que fugir dos 15 dias da devolução, por causa da lei da falência das concordatas, eles preparam o golpe, eles abatem um número excessivo de cabeças de gado, esta carne, eles não têm clientela para ela, porque a clientela deles é reduzida, consequentemente eles deságuam esta carne – todo este estoque, uma grande parte dele – num grande frigorífico, e este grande frigorífico redistribui a carne.[fim]

Evidentemente que essa carne que vai para o grande frigorífico ela vai clandestina, esse é negócio de bastidores, e com isso eles consubstanciam logo, eles vendem rapidamente uma grande quantidade de carne, porque os Senhores imaginem um marchante que normalmente tem uma estrutura para entregar – digamos – mil cabeças ou 500 cabeças de gado por semana, ele só pode dar um golpe de 2 mil vezes. Os Senhores tão de acordo?[fim]

Um desses marchante que esteja trabalhando com mil

cabeças por semana, a clientela dele é de mil cabeças por semana, ele não vai, de uma hora pra outra, conseguir um cliente de 5 mil cabeças por semana, porque as grandes distribuidoras, os grandes mercados retalhistas são hoje os supermercados, segundo me consta, 60% da carne é comercializada em nível de supermercados.[fim]

Ora, os supermercados não admitem clientes na última hora, a negociação de carne com o supermercado, ela é uma negociação mais longa, eles mantêm os clientes permanentemente, ou seja, eles não admitem, de uma hora para outra, um fornecedor porque é um negócio planejado. Enquanto que eles precisam, pra dar o golpe e pra se desfazer do produto eles necessitam de uma venda ágil, e essa venda ágil só possível se eles colocarem esse volume de carne num grande frigorífico.[fim]

Bom, evidentemente que eles não tendo bens e a planta sendo alugada, os produtores ficam sem condições de cobrar a quantia e tá consubstanciado o golpe. Como os produtores ficam sempre na expectativa e na promessa de receber o dinheiro mais tarde, eles não ajuízam sequer um procedimento normal porque isso é um estelionato. E é um estelionato organizado que há muito tempo vem acontecendo.[fim]

Por outro lado, Senhores, a indústria da carne no Rio Grande do Sul, São Paulo e Santa Catarina, ela é o calcanhar de Aquiles, ela é o elo mais fraco da corrente. Eu li um trabalho de um professor de economia de São Paulo que pesquisou todos os frigoríficos de São Paulo até o Rio Grande do Sul, e ele diz que 90% das empresas dos frigoríficos são negócios de família que não passam do seu criador.[fim]

E nós temos hoje um exemplo aqui: o Mercosul, o maior frigorífico exportador, trabalha numa planta alugada, é um negócio de família, que começou com o seu Ritter e o seu Ritter ainda hoje tá vivo. Hoje ele é o maior exportador, é um negócio que era um pequeno abatedouro que se tornou o maior abatedouro do Rio Grande do Sul e basicamente trabalha com plantas alugadas, onde

funcionava a Cooperativa de Bagé e agora funciona a de Alegrete e, segundo me consta, em Pelotas também.[fim]

Quer dizer, não existe estrutura patrimonial que assegure os negócios desses Senhores. Não existe, posso afirmar para os Senhores sem conhecer a contabilidade deles, o volume de negócios deles é tamanho, que não existe estrutura patrimonial para assegurar, ao menos, sob o ponto de vista do patrimônio físico, porque são todas plantas alugadas e o volume de abate dele é imenso, é grande. Tomara que ele siga, porque é basicamente ele que tá hoje pautando o abate de carne no Rio Grande do Sul.[fim]

Dos dois depoimentos extraem-se de comum, face às peculiaridade de cada comunidade, os problemas de falta de eficiência dos serviços de segurança pública. Ainda, resulta na indignação de pessoas de bem em verem os infratores impunes, agindo livremente, enriquecendo às custas do patrimônio alheio, mediante ação criminosa. Com isso, percebe-se que começa a imperar a “lei do silêncio”. As pessoas de bem temem represálias dos abigeatários. Ironicamente, fatos dessa natureza, pensava-se existir somente no cinema. Mas não é fantasia: é realidade.

O COMANDANTE-GERAL DA BRIGADA MILITAR, Coronel Nelson Pafiadache da Rocha prestou depoimento em 15 de setembro de 2003, perante esta CPI, onde expôs os problemas e dificuldades para combater o ABIGEATO:

O SR. NELSON PAFIADACHE DA ROCHA – Agradeço a V. Exa. pela deferência de permitir que nós venhamos trazer algumas circunstâncias fáticas do nosso labor e de pronto gostaria de dizer da ciência do meu compromisso de me fazer presente diante ah... do Parlamento.[fim]

E homenageio o Sr. Presidente da Comissão, os Srs. Deputados, as Sras. Deputadas e até por que eu sei que o tempo, também, ele tem a sua limitação, já gostaria de trazer alguns dados de que nós tivemos pela análise do tempo, até por que há uma requisição para que venhamos a trazer uma situação de cinco anos para cá e nós registramos em 2001, no segundo semestre, que houve, começou a haver um crescimento nessa...nessa incidência de ocorrências que remetem para o abigeato.[fim]

Bom, ao assumirmos o comando da Brigada Militar, nós, ao constatarmos que, a situação do abigeato era uma situação que precisava uma pronta resposta, já começamos a tratar da nossa reativação do centro de treinamento numa área de 1.200 em Santana do Livramento.[fim]

Era um processo que tinha sido iniciado há alguns anos, mas, evidentemente, a Brigada Militar não também, de igual sorte, como outros órgãos, tem seus altos e baixos nas suas políticas, como decorrências das políticas de governo, a ação dos órgãos, ela se opera nem sempre de uma forma, de uma forma progressiva. Então, esses altos e baixos, né, nos apontaram para que houvesse a reativação desse espaço necessário e imprescindível que era o treinamento dos policiais militares e inclusive oportunizar aos policiais civis pelo caráter da integração policial que nós temos procurado notadamente no ensino dar muita ênfase, local esse que, no passado, já formou policiais que integram gendarmeria e guardas nacionais da Argentina, do Uruguai e do Paraguai.[fim]

Em julho, proferimos uma aula inaugural e dando muita ênfase para o caráter motivacional de 60 alunos que começaram a formação e hoje já estamos com 120 policiais militares das diversas regiões do Estado até por que o abigeato carregava ao longo da sua historicidade uma situação de remeter para a zona de fronteira, para a nossa campanha.[fim]

E hoje já temos dados das diversas regiões dos comandos da Brigada Militar onde continua, evidentemente, com assento na Região de Campanha, na Região da Fronteira Oeste e até pela característica...a característica da extensão, o caráter extensivo do campo tanto quanto a linha seca de fronteira que oportuniza também que o crime se movimente, esse tipo de crime se movimente para fora do País, às vezes com dificuldade de identificar limites de fronteira na ação criminosa.[fim]

Então, esses aspectos aí nos incentivam de que por que centrar lá o treinamento? Pela experiência, até, como disse, pela

historicidade.[fim]

E o que era importante que fosse colocado? Contar com a experiência dos homens do II Regimento de Polícia Montada, na cidade de Livramento, a vida inteira da Brigada Militar, até com produção literária muito farta, muito suficiente, e com a própria experiência desses homens nós poderíamos fazer o enfrentamento.[fim]

No início do Governo atual tivemos a oportunidade de contar com 19 viaturas, Pickups, Mitsubish, zero quilômetro, 4x4 e alocamos as viaturas dentro de um critério estritamente técnico, com a finalidade específica de atender o meio rural.[fim]

Esse foi um cuidado que tivemos, inclusive inaugurando uma situação em região bem próxima, na cidade de Portão, onde, pela sua divisa com cinco municípios, estávamos enfrentando situações dessa ordem, inclusive com um produtor de Portão, em direção à Capela – um fato conhecido – em que seu abate de gado, a criação é de gado confinado, houve o roubo de um caminhão com gado de sua propriedade. Fizemos um trabalho talvez não muito comum porque as atividades da Brigada Militar se dividem pelos Comandos Regionais.[fim]

Então o meio e o homem se integram dentro de um Comando Regional. Notadamente Portão integra o Comando Regional do Vale dos Sinos e faz divisa com o Comando Regional do Vale do Taquari – Caí, tanto quanto com o Comando da Região Metropolitana, em Santa Rita, notadamente.[fim]

Tínhamos ali uma relação onde destinamos um veículo para que pudesse atender toda essa Região, com base em Portão, em virtude de ter havido uma incidência nessa Região, não só dentro de um espaço delimitado para um Comando.[fim]

Assim nós fizemos essa distribuição visando minimizar a situação. Temos muitas dificuldades pela questão do nosso território, da nossa geografia, temos... pontuamos, inclusive, se V. Exas. me

permitirem ou se julgarem conveniente, eu poderia trazer algumas circunstâncias para que...[fim]

O SR. PRESIDENTE JERÔNIMO GOERGEN – Comandante, se me permite, tudo aquilo que for possível, nós pretendemos que seja trazido.[fim]

O SR. NELSON PAFIADACHE DA ROCHA – No crime de abigeato, nossos problemas por Região:[fim]

Região da Fronteira - Oeste – área rural extensa, fronteira seca, estradas de acesso à zona rural precárias e com pedregulho, estradas muito difíceis para o deslocamento de viaturas.[fim]

Região da Serra: extensão da área rural, a própria geografia, gado solto no campo e grande incidência de vias... existência, na verdade, de vias secundárias.[fim]

Região do Vale do Rio Pardo: extensa rede hidrográfica que facilita o transporte do animal abatido.[fim]

Região do Vale do Taquari - Caí: dificuldade de acesso à zona rural, multiplicidade de pequenas propriedades.[fim]

Região da Fronteira Noroeste: péssimas condições das estradas locais, indisponibilidade da vigilância sanitária, inexistência de abatedouros municipais em algumas localidades.[fim]

Região do Planalto: indisponibilidade da vigilância sanitária. Na Região do Planalto, recentes... isso é dito pelos Comandos Regionais, os Coronéis que comandam as diversas Regiões do Estado.[fim]

Zona central: grande extensão de área rural. Já tem característica da Região de Campanha.[fim]

Região do Vale do Rio dos Sinos: gado colocado em pontos isolados, grande extensão rural.[fim]

Região Metropolitana: propriedades distantes umas das outras, grande extensão rural pouco povoada, vítimas não efetuam registro da ocorrência.[fim]

Notadamente chama-nos a atenção justamente naquilo que podemos entender na Região metropolitana, a questão de Santa Rita, mas tem ênfase a cidade de Gravataí, que é uma cidade que tem uma grande extensão rural e onde também tivemos incidência mas fortes ações no combate ao crime do abigeato.[fim]

Litoral: animais soltos, habitações de baixa renda próximas à zona rural. E isso... o gado passa a ser um atrativo até por uma questão de fome. Essa é uma visão do litoral com a qual nós concordamos até porque já servimos no litoral. É uma Região que tem uma característica peculiar, onde a alta temporada oferece condições de emprego e oportunidade para as pessoas e toda uma situação de baixa temporada, quando alguns crimes se avolumam por via de conseqüência, como temos grandes extensões de campo próximas a praias e conglomerados que estão nessa região do litoral e isso vale do litoral norte em direção do literal sul. Grandes extensões mesmo. Então eles citam ainda, falta de controle do executivo municipal sobre marcas e animais existentes no município.[fim]

Há um chamamento muito forte da Brigada Militar, justamente no caráter de cooparticipação, seja da vigilância sanitária, seja de órgãos municipal para auxiliar no enfrentamento, tanto quanto nós gostaríamos de trazer. Evidentemente que numa situação de meios efetivos e material, gostaria de deixar para uma parte seguinte, se V. Exa. assim concordar.[fim]

Por via de conseqüência, diante do problema, nós trabalhamos com busca de soluções.[fim]

Na fronteira oeste, evidentemente, a patrulha rural está sendo retomada com toda força da sua historicidade, realização de barreiras e reunião com produtores rurais e autoridades locais para

tratar do tema e buscar soluções integradas, até porque eu gostaria de fazer um... a grande dificuldade de nós em áreas de grandes extensões, o tempo de atuação das patrulhas, porque têm alguns envolvimentos. Notadamente que a Brigada Militar, ela, de uns anos para cá, experimenta uma nova modalidade, que são as horas extras. Nós temos fatores limitadores de horas extras. Temos fatores limitadores que agora estamos renovando de alguma forma o material de campanha para poder estabelecer bases no campo, porque até então nós não possuíamos nada de material de campanha para fazer o enfrentamento.[fim]

O abigeato, notadamente nessas zonas extensas, nós precisamos instalar o homem no campo. Não adianta nós sairmos de uma cidade onde estão baseados as frações da Brigada Militar na esperança de que vamos cumprir uma missão e rapidamente e voltar. Algumas ações são demoradas, precisa-se fazer tratativas, ouvir as pessoas nos pontos mais distantes. Isso requer inclusive material, até porque, temos procurado e há orientação muito firme do Senhor Secretário da Segurança no sentido de que nós não venhamos a conviver com qualquer tipo de apoio que possa representar a falta de liberdade da ação da própria Brigada Militar, até porque não seria justo instalarmos pessoas em propriedades rurais e pedir abrigo, pedir subsistência, até porque temos dificuldades, notadamente na fronteira oeste, de fazer aquisição dos próprios meios de sobrevivência e manutenção nas situações tradicionais que foram exitosas naquelas regiões.[fim]

Nas regiões onde são mais povoadas, nossas barreiras podem ser montadas mais facilmente tanto quanto tem-se procurado fazer todo um trabalho noturno porque é um indicativo de mais facilidade, pelo menos para deslocamento de crimes dessa natureza, até porque é auxiliado pela própria escuridão, seja para o abate, seja pra o abate, seja para... especialmente para o transporte porque temos que fazer a opção pela noite.[fim]

Bom, no Vale do Rio Pardo nós intensificamos a patrulha rural, também aquinhoada com esse tipo de viatura utilitária.[fim]

No Vale Taquari / Caí, em todas as regiões, diante da analise numérica, nós tratamos de reativar, até porque já voltaram os policiais militares, um bom número, porque nós já fechamos 120 treinados esse ano e que permitiram voltar para suas regiões, já com um conhecimento mais acurado e como um fator difusor do conhecimento e até pelo próprio caráter motivacional do investimento que foi feito estamos trabalhando nesse sentido, já com todas as regiões, com pessoas treinadas nesse ano.[fim]

Então se aponta também para operações conjuntas que tem sido feitas, seja com a Polícia Civil, mas acima de tudo, buscando os órgãos públicos de interesse e de necessidade no enfrentamento dessa questão.[fim]

No litoral eles apontam para o cadastramento de proprietários de carroças para... porque o deslocamento parece que se dá de alguma forma nesse transporte e algumas medidas que são apontadas, mas todas estão nesse patamar de patrulhas, barreiras e trabalho integrado, seja com as próprias forças policiais tanto quanto com as partes da vigilância sanitária e, acima de tudo, um aspecto de interação com os produtores rurais.[fim]

Esses dados são apresentados como as ações que estamos realizando.[fim]

Gostaria de dizer que há uma preocupação muito grande da área da segurança pública com esse crescimento que está sendo apontado e dizer que nós contamos com uma realidade, sempre que há registros de ocorrência.[fim]

Evidentemente que as estatísticas aumentam, parece que o comandante da Brigada estaria externando o óbvio, mas quando não há registro, não podemos ter um retrato aproximado do que efetivamente ocorre.[fim]

Isso significa que, de alguma forma, aumenta o número e aumenta a estatística, porque há registro, assim sendo há uma ação aproximada, até porque os registros se dão pela tomada do próprio

policial militar no contato com o produtor, que em alguns momentos não vai até à delegacia e a delegacia vem pelo sistema da comunicação da Brigada Militar, isso, por via de conseqüência, aumenta.[fim]

Jamais questionamos os números pretéritos, mas ao longo dos anos também trabalhamos com metodologias diferenciadas de lançamentos e até de codificação, mas isso não significa que venhamos a nos desresponsabilizar com a problemática, conforme externei, estamos fazendo o enfrentamento numa atitude de crença aos dados registrados.[fim]

Não paira sobre nós dúvidas ou incertezas, só que nós questionamos, em alguns momentos, metodologias e quanto a isso temos procurado compatibilizar a metodologia atual com a que vinha acontecendo ao longo do tempo.[fim]

Nós, Brigada Militar, não balizamos uma troca de governo para definir as nossas ações, porque temos toda uma historicidade da problemática, é importante que coloquemos isso.[fim]

O que eu gostaria de trazer nessa parte inicial, até, se os Senhores me permitirem, darei uma analisada e me coloco à disposição para perguntas.[fim]

Encerro a parte expositiva inicial.[fim]

Na mesma data, também prestou depoimento o CHEFE DE POLÍCIA, Delegado João Antônio Leote que prestou informações importantes sobre o crime de abigeato:

O SR. JOÃO ANTÔNIO LEOTE – Primeiramente, eu gostaria de cumprimentar o Presidente desta Comissão, o Vice - Presidente e V. Exa. como relator, a Deputada Leila Fetter e o Deputado Elmar Schneider.[fim]

É um prazer muito grande poder estar diante dos Senhores e, de alguma forma, contribuir para a solução deste problema tão sério

que aflige uma camada da sociedade, da qual eu também faço parte, embora em pequena escala.[fim]

Sou filho de agricultor que durante a vida toda trabalhou com gado e hoje tem uma pequena propriedade com seus filhos, onde produz algumas cabeças de gado.[fim]

Sei o quão difícil é a lida campeira, sei o quanto é difícil produzir uma cabeça de gado.[fim]

Muitas vezes, as pessoas não costumam dar importância, e não é o caso do delegado, ao delito de abigeato, porque todos dizem que o produtor de gado, desculpem o termo, é um gigolô de vaca, é um sujeito que ganha a vida facilmente, que é muito fácil produzir, que aquilo vem ao natural, basta que tenha campo e capim, não precisando trabalhar, as coisas vêm ao natural.[fim]

Isso não é verdade, só a gente sabe o quanto custa produzir um terneiro, um boi pronto, só nós, que estamos lá, sabemos o trabalho que demanda até chegar ao ponto de fazer com que o animal renda alguns reais a mais dentro da cadeia produtiva.[fim]

Para mim, é um prazer muito grande, gostaria de dizer a todos que eu tenho uma experiência razoável nesse campo, porque talvez seja um dos delegados que mais sorte teve no combate ao abigeato.[fim]

Enfrentei momentos difíceis, cidades onde o abigeato era grande e, graças a Deus, consegui, através de um trabalho conjunto com a Brigada Militar, mas não só com a Brigada, como com outros órgãos tanto do município, quanto do estado.[fim]

Conseguimos, através de ações conjuntas, sejam elas repressivas ou preventivas, muitas vezes até sem realizar prisões, fazer com que o índice de abigeato diminuísse.[fim]

Assim foi em Pinheiro Machado, em Butiá, em Triunfo, em São Jerônimo e em General Câmara, sem citar outros municípios

com índices menores.[fim]

Esse trabalho consistiu, basicamente, naquilo que nós achamos muito importante, que é semear, no espírito daquele que pratica o furto, a intranqüilidade.[fim]

Temos que usar contra o abigeatário o mesmo tipo de comportamento que ele usa contra o produtor, ou seja, a possibilidade de agir a qualquer momento e em qualquer local, em qualquer circunstância e em qualquer tempo.[fim]

Como se faz isso? As chamadas barreiras que temos feito com muita freqüência, sempre foi feito com muita freqüência, hoje ocorrem no interior deste Estado.[fim]

São barreiras não de muita expressão numérica, não de muitos policiais ou de muito tempo, mas são feitas em pontos estratégicos, em momentos diferenciados para que o abigeatário não tenha aquilo que para ele é fundamental para a prática do delito: a possibilidade de sucesso, ou seja, lançar no espírito daquele que pratica o delito, a incerteza do sucesso com a prática do crime.[fim]

Por quê? Porque o abigeatário pratica o delito de abigeato, pois busca, com a venda da carne, conseguir dinheiro.[fim]

Muitas vezes, em outros casos, mas esse eu diria que não é o que nos preocupa e nunca nos preocupou, é aquele abigeato que, muitas vezes, até o próprio proprietário aceita, a própria satisfação de uma necessidade própria, que é o abigeato de pequena quantidade, o abigeato de ovelhas, de bichos de menor tamanho. Mas então, fazendo esse tipo de trabalho, e esse foi o trabalho que nós usamos por onde passamos e que deu resultado. Trabalho de barreira, mas não a barreira, digamos assim, só da polícia, ou uma barreira que se faz uma hoje; outra, daqui há um mês; outra, daqui há trinta dias, não. Pequenas barreiras em eixos onde ocorre o abiegato.[fim]

Então, o primeiro trabalho seria da Polícia Civil e da Brigada

Militar, apurando os locais onde se têm a maior incidência. E os prováveis eixos de deslocamento ou de saída desse material. Em cima daquilo ali se contariam as barreiras, e se contaria também com um trabalho complementar da Secretaria, no sentido da fiscalização de açougues, porque nós temos certeza de que a maioria dessa carne abatida vai para os açougues da própria cidade, quando em pequena escala. Quando em larga escala nós temos outro problema que são os batedouros mal fiscalizados.[fim]

Mas, se nós formos falando, Deputado, no fim eu vou fazer, digamos assim, uma enrolada e nós não vamos poder agir especificamente sobre cada ponto, e, eu gostaria, então, se fosse possível, que o Senhor nos colocasse questão por questão que a gente poderia de uma forma mais específica colocar a experiência que tem em cada uma dessas circunstâncias.[fim]

Pelas declarações acima expostas, pode-se concluir que os altos índices de inadimplência se devem à ineficiência da Administração Pública em fiscalizar as operações que ocorrem na Cadeia Agroindustrial de Alimentos, onde o próprio Estado perde em todos os sentidos, seja em arrecadação, seja pelo custo de tratamento médico de doenças causadas por problemas sanitários de produtos não fiscalizados.

Nenhuma Cadeia Agroindustrial de Alimentos pode ser eficiente num mercado nacional e internacional altamente competitivo, apresentando os índices de informalidade como se estimou acima. Esses números descredenciam o Rio Grande do Sul como referência em carne bovina. Os esforços individuais de ponta de pecuaristas e indústrias eficientes, com referência de qualidade genética e produto de qualidade para atender os consumidores mais exigentes, acabam sendo prejudicados. Na média, os altos índices de irregularidade contribuem negativamente, muculando o resultado final de toda a Cadeia.

5) A INEFICIÊNCIA DOS SERVIÇOS DE DEFESA ANIMAL E VIGILÁNCIA SANITÁRIA NO RIO GRANDE DO SUL

Antes de adentrar na questão de fundo, esta Relatoria abre uma preliminar. Quando se refere à ineficiência da Administração Pública, não está se referido ou atribuindo culpa aos servidores públicos. Pelo contrário, esses, mesmo com a falta de estrutura e com todos os problemas funcionais, cumprem zelosamente com suas atribuições. Não é o serviço que executam no cumprimento de suas atribuições que é ineficiente, mas o órgão público ao qual servem por não ter estrutura suficiente para

atender toda a demanda que lhe é exigida. Faz-se esse registro até por uma questão de justiça.

Abre-se, ainda, uma outra preliminar, de natureza conceitual com referência à expressão serviço público. Quando esta Relatoria se referia a serviço público, não é sem seu sentido orgânico de unidade administrativa, em sentido funcional, que é toda aquela atribuição prestada diretamente pela Administração Pública ou indiretamente mediante delegação, sob normas e controles estatais, para satisfazer necessidades essenciais e secundárias da comunidade ou simples conveniência do Estado.

Feitos estes esclarecimentos preliminares, passa-se a discutir o mérito do presente ponto.

O Sistema de Defesa Agropecuária se compõe dos serviços de defesa animal, defesa e inspeção vegetal e inspeção de produto de origem animal. Na cadeia agroindustrial de alimentos a inspeção se dá desde a unidade produtora agropecuária até a unidade industrial. Em nível de varejo a fiscalização se dá pelo serviço de vigilância sanitária. Esse serviço é executado nos três níveis de governo. O seu fim último visado é a defesa da saúde pública humana, com ações de medicina preventiva.

A inspeção de produtos de origem animal está organizada sob a forma de sistema. Há uma esfera nacional, pertencente à União Federal, com fiscalização dos produtos que tem destino interestadual e internacional, uma esfera regional exercida pelos Estados Federados, com atuação intermunicipal dentro do território do Estado e uma local, exercida pelos Municípios, restrita somente aos limites territoriais do Município.

Em âmbito nacional, o serviço de defesa agropecuária é executado pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento – MAPA – através da Secretaria de Defesa Agropecuária. Já em âmbito estadual, o serviço de defesa agropecuária é executado pela Secretaria da Agricultura e Abastecimento através do Departamento de Produção Vegetal e do Departamento de Produção Animal. Este por sua vez está dividido em três unidades que são: Divisão de Fiscalização e Defesa Sanitária Animal (DFDSA), Coordenadoria de Inspeção de Produtos de Origem Animal (CISPOA) e Central Riograndense de Inseminação Artificial (CRIA). Por último, em âmbito local, o serviço de inspeção sanitária é de responsabilidade das Secretarias de Agricultura Municipais através do Serviço de Inspeção Municipal (SIM)

Com relação ao serviço de vigilância sanitária, o mesmo obedece ao mesmo sistema estrutural da defesa agropecuária. Na União, o serviço público de vigilância sanitária é executado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária, entidade vinculada ao Ministério da Saúde. No Estado do Rio Grande do Sul é exercido pela Divisão de Vigilância Sanitária. Da Secretaria Estadual de Saúde, e por delegação dessa, os Municípios executam o serviço de vigilância sanitária em nível local.

O profissional central no sistema de inspeção e vigilância sanitária é o médico veterinário. É uma profissão de nível de ensino superior. Como toda a profissão reconhecida por lei é necessário para o seu exercício, o registro profissional. Nesse caso é feito perante o Conselho Regional de Medicina Veterinária -CRMV, que é uma autarquia federal, criada por lei. O CRMV fiscaliza o exercício profissional da Medicina - Veterinária e Zootecnia. Nesta função de fiscalização, além do registro dos profissionais dos médicos veterinários e zootecnistas, também realiza o registro das empresas que exercem atividade peculiares à Medicina - Veterinária e à Zootecnia.

Toda inspeção e a fiscalização higiênica, sanitária e tecnológica de produto de origem animal é uma atividade privativa do médico veterinário. É necessário que a Empresa tenha um médico veterinário como responsável técnico. Entretanto a atividade de poder de polícia administrativa do Poder Público (fiscalização) só pode ser exercida por servidor público cujo requisito de admissibilidade na função pública entre outros, é ter registro profissional de médico veterinário.

O CRMVRS tem sido zeloso na fiscalização do exercício profissional. Em seus registros fornecidos a esta CPI, consta que há 893 empresas registradas neste órgão que tem médicos veterinários. O SIF/MAPA, CISPOA/SAA e todos os SIM, juntos só tem 375 empresas registradas. Há uma diferença de 518. Mostra que a Administração Pública não tem sido eficiente em fiscalizar todas as empresas, mesmo realizando um cruzamento de dados disponíveis.

O CRMVRS foi ouvido perante esta CPI, na pessoa do Senhor José Pedro Soares Martins no dia 29 de setembro de 2003, que prestou as seguintes declarações sobre a estruturação e condições de trabalho dos médicos veterinários nas unidades administrativas de inspeção sanitária nos três níveis de governo. Nesse sentido foram as duas declarações:

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – E, na sua opinião, como é que... como é que estão organizados e estruturados os serviços oficiais de inspeção de produtos... de produtos de origem animal? O SIF, o CISPOA, o SIM. São satisfatórios? Não são?[fim]

O SR. JOSÉ PEDRO SOARES MARTINS – Olha, pelo... pelo conhecimento que a gente tem e pelo relacionamento, até porque este assunto, ele é da maior importância para a classe dos médicos veterinários, porque a inspeção e a fiscalização higiênica, sanitária e tecnológica de produto de origem animal é uma atividade privativa do médico veterinário. Então, pelo conhecimento que nós temos, é... eu diria assim, ó: a nível do Ministério da Agricultura, é que hoje é responsável pela

fiscalização, digamos assim, das grandes indústrias, que são aquelas indústrias que têm o poder... ahn!... de fazer o comércio interestadual ou internacional dos seus produtos... ahn!... eu diria que estamos assim numa situação boa, né. Não é a situação ideal, porque, como um todo, o serviço público, ele está defasado de pessoal. Então, o Ministério da Agricultura também sofre dessa carência. Nós, realmente, precisaríamos ter um número maior de médicos veterinários, um número maior de auxiliares de inspeção, para que, efetivamente, nós tivéssemos, em todos os estabelecimentos de comércio internacional e intermunicipal, a efetiva fiscalização do Ministério da Agricultura.[fim]

No tocante à Secretaria da Agricultura, com a Coordenadoria de Inspeção Sanitária dos Produtos de Origem Animal, a... a questão também seria essa, né, só que com um agravante maior, porque a deficiência de pessoal é maior ainda. Ademais porque a Secretaria da Agricultura, além das atividades atribuídas a ela pela Lei 7889, de Fiscalização Industrial Sanitária de Produtos de Origem Animal, ela também tem todo um outro contingente de atividades na área de defesa sanitária animal.[fim]

Os governos estaduais têm, na medida de suas possibilidades, feito concurso para contratação de médicos veterinários, auxiliares de inspeção, mas, efetivamente, esse número é bastante reduzido, o que permite e propicia que estabelecimentos que deveriam ter uma in... uma fiscalização mais permanente e com a presença efetiva de quadros da Secretaria da Agricultura se vejam privados dessa presença mais efetiva, de sorte que nós teríamos profissionais que, além das atividades de inspeção nas indústrias, nos frigoríficos, ainda têm que acumular outras funções, como, por exemplo, defesa sanitária animal. Então, isso aí leva a uma situação, digamos assim, grave, já que nós estamos tratando de sanidade de produto de origem animal que vai ser consumido pela população.[fim]

E com relação aos serviços de inspeção municipal, esse sim, esse é o... digamos assim, é a situação mais grave que nós

temos, porque temos Municípios que, ainda hoje, não têm o seu serviço de inspeção municipal. E os estabelecimentos funcionam sem a obrigatória fiscalização sanitária e o produto que é colocado à disposição do consumidor não tem o menor controle por... de parte do órgão fiscalizador.[fim]

Pela ótica do CRMVRS há necessidade de aumentar o número de fiscais de inspeção sanitária. Essa opinião não é isolada. As autoridades da inspeção sanitária ouvidas por esta CPI ratificaram essa opinião:

SIF/MAPA:

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – E esse número é o suficiente?[fim]

O SR. MARCO ANTONIO RODRIGUES DOS SANTOS – Olha, além desses, nós temos ainda os termos de cooperação técnica com as prefeituras, né? Aos estabelecimentos que realizam o abate, que são a nossa prioridade, né, eles são suficientes hoje. A não ser agente de inspeção que nós temos uma... uma... uma deficiência grande. Aí, é... nós nos valemos das... dos... do art. 102, do RIISPOA, né, da nossa Lei 1283, para que possamos... e a empresa nos cede esses funcionários para que possam auxiliar nas linhas de inspeção.[fim]

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – Tá, mas esses funcionários é... de carreira... ahn!... eles a... o número deles atende a demanda?[fim]

O SR. MARCO ANTONIO RODRIGUES DOS SANTOS – Em termos de veterinária, a gente pode dizer que sim, agora, em termos auxiliares, não.[fim]

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – Quanto que seriam necessários de auxiliares?[fim]

O SR. MARCO ANTONIO RODRIGUES DOS SANTOS – Puxa, aí, teríamos de fazer um levantamento grande, porque cada

linha, não posso te precisar, mas necessitaríamos, acho, que pelo menos o dobro, acho, de agentes de inspeção.[fim]

CISPOA/SAA:

O SR. EDUARDO NEMOTO VERGARA – Contratados em caráter emergencial? Em caráter emergencial são 60 veterinários para praticamente... foram contratados em função da vacinação e dos focos de febre aftosa.[fim]

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – Num total aqui do Rio Grande do Sul , quantos veterinários e auxiliares atuam no serviço de inspeção?[fim]

O SR. EDUARDO NEMOTO VERGARA – Veterinários, hoje, trabalhando em contratos emergenciais... alguns trabalham também no serviço de inspeção, termos de cooperação técnica junto a Prefeituras. Veterinários concursados e extranumerários, mais ou menos 240 técnicos. E guardas, com os contratos emergenciais, vão a 1200, aproximadamente.[fim]

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – Esse número é suficiente?[fim]

O SR. EDUARDO NEMOTO VERGARA – Não é suficiente.[fim]

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – Quantos seriam necessários , tanto veterinários como auxiliares?[fim]

O SR. EDUARDO NEMOTO VERGARA – O último levantamento... porque, como eu falei, o trabalho é feito não apenas para inspeção. É feito para inspeção e defesa sanitária. No caso de ser apenas para inspeção sanitária, que foi o levantamento que fiz, pela Coordenadoria, junto com a direção do departamento, nós precisaríamos de 200 veterinários e em torno de 250 auxiliares, técnicos agrícolas.[fim]

SERVIÇO ESTADUAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA:

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – Os números referentes ao Estado são suficientes?[fim]

A SRA. JANE LEONARDO – Para todas as ações de vigilância sanitária que nós temos, não.[fim]

SERVIÇO MUNICIPAL DE INSPEÇÃO - SIP:

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – Então, fica registrado. Até peço para que a assessoria nos auxilie em algumas questões, Miguel, que por acaso não tivermos aqui a resposta, para que nós apontemos já, de imediato, para que seja enviado por escrito o número de Prefeituras que tenham o SIM devidamente instalado e funcionando regularmente, conseqüentemente quantos servidores, com a especificação de veterinários e também de auxiliares da Inspeção Municipal estão atuando. São dados que nós aguardaremos. Dentro desses números que, por mais que não tenhamos aqui especificamente, o Senhor acredita que é suficiente para atender a demanda do Estado?[fim]

O SR. MIGUEL CALDERON – Dentro da estrutura dos Municípios?[fim]

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – Dos Municípios.[fim]

O SR. MIGUEL CALDERON – Olha, Deputado, eu acredito que cada Município, e vejo assim, eu tenho alguns conhecimentos de alguns municípios, até os municípios se estruturam por exemplo, desde que o Município também não é uma excelência em trabalhos e há deficiências. Mas hoje o sistema de Inspeção Municipal, ele é um sistema ainda pequeno, um sistema que tem bastante restrito, porque só pode ser comercializado dentro dos municípios. Eu acho assim que a grande deficiência está também nos municípios, mas principalmente nos órgãos do Estado, principalmente na Inspeção do Estado, é bastante deficiente. Isso não vai aí... Hoje nós temos aí

alguns... e muitos... e muitos abatedouros em que o veterinário não tem condições. Quem está fazendo isso é o guarda rural, o veterinário apenas... Têm pessoas que fazem a inspeção, e o veterinário passa lá alguns dias, não acompanha o dia-a-dia que é exigido. Então, isso é deficiência, que a gente sabe que não é culpa dos colegas, que não é culpa... É culpa de toda uma estrutura,[fim]

A Secretária da Agricultura e Abastecimento em resposta à REQUISIÇÃO DE INFORMAÇÕES N.º 13/2003 informou a situação desse importante e estratégico serviço público, ratificando as declarações acima prestadas:

IV – A quantidade de profissionais disponíveis e a qualificação técnica dos mesmos;

Este Departamento dispõe de 162 Médicos Veterinários pertencentes ao Quadro de Técnicos Científicos da Pasta, 69 Médicos Veterinários, contratados em caráter emergencial e 32 profissionais da Medicina Veterinária, funcionários de Prefeituras Municipais que prestam serviço para o Estado através de Termos de Cooperação Técnica. Cabe salientar, entretanto, que nem todos os profissionais deste Departamento, técnicos capacitados, desempenham a função de fiscalização e inspeção, sob o ponto-de-vista sanitário e industrial, nos estabelecimentos registrados nesta Coordenadoria, pois muitos deles trabalham em atividades de Defesa Sanitária Animal. Este serviço de inspeção sanitária foi incorporado às atribuições desta Secretaria em 1995, sem acréscimo do quadro funcional, embora no ano de 1997 tenha havido a nomeação de 59 Médicos Veterinários aprovados em concurso público, já incluídos nos números acima expostos, em contrapartida aposentadorias e exonerações a pedido de servidores aprovados em concursos, como o do MAPA (em número de 12, neste caso) vieram a defasar o quadro funcional, tendo em vista que é crescente o número de empresas que buscam registro junto a este Órgão.

V – A quantidade de profissionais disponíveis no Estado e a qualificação técnica dos mesmos;

Esclarecemos que somente podemos informar o número de profissionais, Médicos Veterinários, pertencentes ao Quadro de Pessoal deste Departamento, quais sejam 162 Técnicos Científicos, 69 contratados em caráter emergencial e 32 Méd. Veterinários de Prefeituras Municipais que prestam serviços para esta Pasta através de Termos de Cooperação Técnica firmado entre os Órgãos envolvidos.

VI – A quantidade de profissionais é suficiente para a adequada fiscalização de toda produção de carne bovina e suína;

Não é suficiente uma vez que os profissionais disponíveis na Secretaria da Agricultura e Abastecimento do Estado atuam tanto na área de defesa sanitária animal quanto na inspeção e fiscalização de produtos de origem animal.

VII – Há previsão de realização de concurso público para o serviço de inspeção sanitária; caso positivo, especificar qual a área e o número de profissionais e a data de previsão da realização do concurso público;

Não é de conhecimento desta Coordenadoria que esteja previsto concurso público para o provimento do cargo de Médico Veterinário para atender o Serviço de Inspeção e Fiscalização Sanitária. Temos conhecimento e participação do estudo das demandas de profissionais para atender a contento os serviços que competem ao Departamento de Produção Animal, com esforço da Direção no sentido de viabilizar, junto às chefias, a importância e a necessidade técnica da complementação do quadro funcional.

Não pode esta CPI ignorar os problemas financeiros pelos quais todas as entidades governamentais passam na história recente. Os problemas acima apontados são de longa data. Refletem a desestruturação da Administração por múltiplos problemas. A estrutura da Administração Pública no Estado foi criada nos anos setenta. Era voltada para operacionalizar um Estado intervencionista dirigista de uma economia nacionalista-estatizante. Mas os tempos hoje são outros. É verdade que houve várias tentativas de efetivar reformas administrativas, mas na sua essência a velha estrutura continua a mesma e os problemas e desafios são novos. Há necessidade de adequação da máquina administrativa a nova realidade.

Esta Relatoria não quer entrar no debate de Estado Mínimo, Estado Máximo e Estado Necessário. Mas mesmo para os que defendem a tese do Estado Mínimo, as atividades de poder de polícia, seja de segurança pública ou administrativa são consideradas típicas de Estado. Em outras palavras, a atividade de poder de polícia administrativa não pode ser atribuída à iniciativa privada, especialmente quando se trata de proteção de saúde pública através de medidas de medicina preventiva.

A União Federal é a entidade governamental que tem o serviço de inspeção sanitária mais antigo e também o mais estruturado. Possui referência de qualidade e não apresenta graves problemas. A única observação que esta CPI faz é no sentido de que a atividade de inspeção sanitária seja efetivada por servidores federais devidamente capacitados evitando os convênios com outros órgãos ou entidades que poderiam descaracterizar o PRINCÍPIO DA IMPESSOALIDADE.

Em âmbito estadual, o Rio Grande do Sul não tem a mesma tradição da União Federal em inspeção sanitária, até porque foi estruturado mais recentemente. Contudo, apresenta sérias dificuldades, especialmente de pessoal. E sem resolver o problema funcional, não há solução. Quem exerce poder de polícia administrativa é um servidor público. Aqui a estabilidade no serviço público é pressuposto da independência funcional, condição essencial e indispensável para a eficiência do exercício de suas atribuições sem interferência da esfera política. O meio justo e legítimo de acesso ao cargo público é o concurso público. Contratações temporárias por excepcional interesse público, como o próprio nome define, é em caráter temporário e excepcionail. Não pode ser uma solução que se perpetue no tempo. Em outras palavras, o Estado deve realizar o concurso público a fim de suprir as necessidades de pessoal apontadas em vários depoimentos desta CPI. Há outras sugestões para aprimorar esse serviços que serão tratadas oportunamente no item das recomendações.

Por último, há o SIM. Por se tratar de uma experiência ainda em processo de consolidação, apresenta maiores problemas e até desconfiança em relação aos seus congêneres: SIF e CISPOA. Mas por coerência com as tradições municipalistas deste Parlamento, as críticas são no sentido de que há necessidade de seu aperfeiçoamento. Para isso, existe o controle político da Câmara Municipal de Vereadores e o Ministério Público, fiscal da lei, organizado e atuante ativamente em todas as Comarcas. Não é necessário mudar lei, basta se implantar uma cultura de cumprir a lei.

Os imperativos de proteção de saúde pública, por si só, justificariam a realização de concurso público para médico veterinário nos três níveis de governo. Mas há outros benefícios, como por exemplo, a diminuição dos gastos públicos com prevenção de doenças. Em termos econômicos, com os níveis atuais de estruturação do Sistema Estadual de Defesa Animal existentes, o Rio Grande do Sul tem muita dificuldade para conseguir ser referência de qualidade sanitária, o que impede o Estado de atingir os melhores mercados consumidores mundiais. Sob qualquer ângulo que seja analisada

esta questão, não há mais como postergar este importante ato de governo que depende de uma decisão da esfera política.

6) INEFICIÊNCIA DAS CORPORAÇÕES POLICIAIS NO COMBATE AO ABIGEATO

Os altos índices de abigeato demonstram por si só que as Corporações Policiais do Estado – Brigada Militar e Polícia Civil – não estão sendo eficientes no combate ao ABIGEATO. A cobrança não é no sentido de eliminar na integra esse problema, mas de inibi-lo a níveis toleráveis, especialmente quando se trata de quadrilhas organizadas.

As duas Corporações Policiais são autônomas. Contudo, existe a Secretaria de Justiça e Segurança Pública para coordená-las e articular uma ação conjunta ou combinada. É necessário, ainda, uma integração com as Secretarias da Saúde, Fazenda e Agricultura, onde os fiscais dessas Pastas, comuniquem imediatamente a ocorrência de ABIGEATO ou mesmo de abate irregular. Trata-se de órgãos públicos pertencentes a mesma Entidade Estatal, não havendo nenhuma justificativa plausível para a falta de uma ação coordenada entre esses entes.

CONCLUSÃO E INDICIAMENTO:

Já há a certeza da existência do abate irregular no Estado e da gravidade desse problema. É portanto, FATO NOTÓRIO E INCONTROVERSO. O mesmo ocorre em relação ao ABIGEATO.

Os prejuízos são imensos. Segundo o LAUDO TÉCNICO DE CRAQUEAMENTO DE BOVINO encomendado por esta CPI, um bovino médio de abate pesa 468. Como o preço do animal vivo é R$ 1,80, um bovino médio de abate que pesa 217 quilogramas custaria 827,00, que a base cálculo para a alíquota de 7% seria R$ 57,89. Pelos cálculos acima referidos o Estado perde diretamente de arrecadação R$ 73.358.0265,89 somente com ICMS.

A sonegação é só uma parte do problema do abate irregular. Há um lado mais negativo que são os problemas de saúde pública. Aqui, novamente, não há dados confiáveis, inclusive da Secretária Estadual da Saúde, que não identifica a origem das doenças pagas pelo SUS. As informações prestadas são insuficientes porque não identificam a causa da doença, nem tampouco o custo social da disseminação das mesmas.

O problema não é só de gastos financeiros com a medicina curativa, mas também de custos econômicos de incapacitação temporária ou definitiva laborial das

pessoas que contraem doenças por causa de produtos não inspecionados. Sobre esse tipo de prejuízo, esta CPI não conseguiu nenhum dado estatístico.

Há necessidade de uma ação mais enérgica do Poder Público Estadual, efetivada em ações concretas pela ação conjunta ou combinada de suas Corporações Policiais e com as autoridades fazendárias e sanitárias. Deve ser criada uma FORÇA TAREFA CONTRA O ABATE IRREGULAR E O ABIGEATO, contando com a participação dessas autoridades sob a coordenação do Ministério Público Estadual, além da participação do SIF/MAPA e da Receita Federal. Só com uma medida enérgica se poderá restabelecer a paz na zona rural e colocar um fim nos dados vergonhosos dos número do abate irregular.

É importante que o Ministério da Justiça e o Ministério das Relações Exteriores tomem medidas concretas junto à República Oriental do Uruguai para que coloque um fim nos excessos praticados na fronteira deste País com o Brasil.

O contrabando e outros ilícitos dessa natureza há muito deixaram de ser um comércio formiga, de sobrevivência. Há informações de que se trata de quadrilhas organizadas que atuam nos dois lados da Fronteira. É matéria de competência das Autoridades Federais.

Para concluir, esta CPI indicia e solicita que a Autoridade Policial competente, conclua o mais breve possível os Inquéritos Policiais das seguintes pessoas suspeitas de ABIGEATO:

Santana do Livramento:

Antonio Scheffer de Medeiros – (abate clandestino)Sandro Carvalho – (abigeato)José Maria Pereira Lima (abigeato e abate clandestino)Artigas Reina Lavadi (abigeato)Araci da Silva Aguiar – (abate clandestino)Ariel Pereira Magnone (abigeato)Diolofe Pereira Martinez (abate clandestino e abigeato)Luis Oliveira Camachi (abate clandestino)Ary Cesar Pereira Medeiros (abigeato e abate clandestino)

São Borja:

Valdemir Gavião Roque (abigeato)Eduardo Roque Escobar (abigeato)

São Sepé:

João Francisco da Silva Vargas (abigeato)

General Câmara:

João Anildo Souza Silva (abigeato)

Jaguari:

Cláudio José Manganelli (abigeato)Cláudio Leite, Francisco Leite

Cacequi:

Vilson Vicente da SilvaPedro da Silva

João Vargas (gandola)Jean Vargas

Matadouro Frigorífico Kaufmann – de Santa Maria – está sob suspeita de receptação de gado.

Ainda, em Cacequi aparecem alcunhas de abigeatários que são do conhecimento do MP:

Zeca, Lúcio, Paulo da “Augusta”, Mano do Assis e o Pavãozinho.

AVALIAÇÃO DO TERCEIRO FATO DETERMINADO: EXISTÊNCIA DE UNIDADES INDUSTRIAIS DESATIVADAS OU COM ELEVADA CAPACIDADE OCIOSA:

OBJETIVO DO PRESENTE FATO DETERMINADO:

Foi objeto do presente fato determinado apurar as causas da existência de unidades industriais desativadas ou com elevada capacidade ociosa, fato esse que tem gerado preocupação na comunidade, pois se em outrora houve prosperidade, com geração de emprego e renda, hoje há incerteza, pobreza e ressentimentos.

ANÁLISE DA PROVA:

Dentro dos objetivos do terceiro fato determinado, foram analisadas as seguintes unidades industriais:

1) Planta industrial da Cooperativa Castilhense de Carnes e Derivados Ltda., de Júlio de Castilhos.

2) Plantas industriais de Santana do Livramento.

3) Planta industrial de Santa Rosa, Grupo Chapeco (antiga Prenda).

PLANTA INDÚSTRIAL DA COOPERATIVA REGIONAL CASTILHENSE DE CARNE E DERIVADOS LTDA:

BREVE HISTÓRICO:

A Cooperativa Regional Castilhense de Carnes e Derivados Ltda., foi fundada em 1939, na Cidade de Júlio de Castilhos – RS. Os abates começaram em 1964. A produção atingiu o auge nos anos setenta. A crise dos anos oitenta acabou estourando na década seguinte, quando o frigorífico foi fechado devido ao endividamento. Em comodato, a planta frigorífica foi explorada pela Empresa Penta Star Ltda., de propriedade do Advogado Carlos Gomes. Essa, como outras empresas, não obteve sucesso no empreendimento. A planta frigorífica chegou a ir à venda em 1996, mas não houve comprador. O frigorífico fechou as portas mais uma vez em maio de 1997. As dívidas trabalhistas, bancárias e fiscais chegaram em 1997 à aproximadamente quinze milhões de reais - mais da metade do patrimônio da Cooperativa, que na época era avaliado em vinte e dois milhões.

Os abates foram retomados em 1997 depois que a Justiça do Trabalho decretou o usufruto processual da planta frigorífica (processo n.º 2862/92, em tramitação na Primeira Vara do Trabalho em Santa Maria - RS), em benefício dos reclamantes trabalhistas, com objetivo de que o lucro fosse destinado ao pagamento dos créditos trabalhistas de mais de duzentos reclamantes, até que essas fossem solvidas..

Foi designado pela Justiça do Trabalho para administrar o usufruto processual, Cláudio de Quevedo e Bem Hur Banolas. Após, foi designado o Advogado Leonardo Thibes, posteriormente destituído por não cumprir as determinações judiciais. Atualmente, a administração é exercida pela médica veterinária Giovana Cordeiro.

Essa situação do usufruto processual se estende até a presente data, com nomeação e destituição sucessiva de administradores, sem que seja dada uma solução definitiva à planta frigorífica, que está em processo gradativo de sucateamento. Nesse meio tempo, acirraram-se os ânimos em relação ao processo de usufruto, que, por ironia, a direção da Cooperativa e os reclamantes passaram a ter posições idênticas e contrárias à manutenção do usufruto, pelo menos em relação aos administradores nomeados pela Justiça do Trabalho. Em outras palavras, resumindo a situação atual desta planta frigorífica, os trabalhadores não receberam seus créditos, a Cooperativa não reviu sua planta industrial e nenhum comprador vai querer realizar esse negócio enquanto não houver um solução definitiva para o impasse.

CAUSAS DAS INSOLVÊNCIA DE FATO DA COOPERATIVA:

A Cooperativa Castilhense não foi a única que teve dificuldades e teve de suspender suas operações de abate. Na mesma época, praticamente a maioria das cooperativas de carnes encerraram suas atividades. Pode-se dizer que se deu num contexto de crise geral no modelo de organização desse setor industrial. O Presidente desta Cooperativa, Senhor Régis Lopes Sales, em seu depoimento prestado na data de 26 de setembro de 2003, em audiência de instrução realizada em reunião ordinária desta CPI, em Júlio de Castilhos – RS, expôs a crise e a situação atual da referida planta industrial:

O SR. RÉGIS LOPES SALES – Em primeiro lugar, eu gostaria de parabenizar esta Comissão e dizer-lhe que nós estamos ligados ao problema de frigoríficos de carne desde 1966. De lá para cá tivemos um período de aproximadamente 20 anos na direção da Cooperativa Castilhense. Assistimos ao auge dos frigoríficos e também, infelizmente, a esses problemas. De 16 cooperativas de carne, hoje não resta mais nenhuma cooperativa em atividade.[fim]

Gostaria de fazer uma consideração preliminar antes de

entrar na Castilhense propriamente dita, que é o problema de carne. Quando se fundaram as cooperativas de carne no Estado do Rio Grande do Sul, foi para fugir dos chamados frigoríficos multinacionais, que, na época, eram Anglo, Armour, Swift, e aí fundaram-se as cooperativas. As cooperativas floresceram. E trabalhamos só com carne salgada, só com charque.[fim]

E, por volta de 1973, as cooperativas ganharam alce com frigorificação, e houve uma exportação muito grande de carnes. E, durante essa época de 73 ou 74, a comercialização ficou muito conturbada. Agora, houve problemas...Pois, não?[fim]

O SR. PRESIDENTE JERÔNIMO GOERGEN – Se, eventualmente, nós não tivermos olhando para o Senhor, isso está sendo gravado, está?[fim]

O SR. RÉGIS LOPES SALES – Não se preocupe. Está sendo gravado, não se preocupe com isso.[fim]

Então, houve problemas de comercialização de carnes; criou-se uma figura – que é isso que eu queria fazer esse preâmbulo – nova a partir de 1974, 75, que é o distribuidor de carne.[fim]

Essa figura não tinha investimento de infra-estrutura nenhuma e trabalhava geralmente com telefone. Por exemplo: se a Castilhense abatia 400 bovinos – que, na época, abatia só bovinos –, hoje, o distribuidor de carne telefonava e dizia: quantos bois tu abateste? Quatrocentos. Quantos quilos pesa a costela? Tanto, 20, 22. Então, é minha toda costela? Ou todo traseiro é meu? E ele começava a pipocar e oferecer para outros frigoríficos. E, aí, houve o problema de inadimplência, e houve, resumidamente, isso. Não quero culpar ou sacrificar só o distribuidor, mas esse tipo de comercialização é que levou os frigoríficos, a partir de 76 ou 77, a entrar em dificuldades.[fim]

Bom, agora, especificamente quanto ao Frigorífico Castilhense. Sabidamente – e nesta CPI já foi dito – que a Castilhense, Cooperativa Castilhense, deixou..., parou suas

atividades em 89, 1989, e encerrou mesmo em 91. Aí, houve sucessivos arrendatários, que, por comodato. E, a partir de 90,91, começou o usufruto judicial, que foi uma figura jurídica que se criou, e foram nomeados os administrados e seus prepostos pela Junta de Conciliação e Trabalho de Santa Maria.[fim]

Houve a primeira administração e, depois, a secunda, que era um advogado trabalhista, que militava como advogado dos trabalhadores, e foi nomeado..., era o Dr. Thibes, foi nomeado como administrador. E, durante a administração do Dr. Thibes, é que houve..., e suas..., inclusive está nos autos do processo, um endividamento bastante grande. E a Juíza do Trabalho nomeou um perito da sua confiança – foi feita uma peritagem –, infelizmente, houve esse endividamento, que, inclusive, endividamento, este, se reflete diretamente na Cooperativa Regional Castilhense de Carnes e Derivados, que não participa da administração, nem participa do usufruto.[fim]

Se reflete porque a administração judicial usa o CGC da Cooperativa; usa indevidamente, porque não tinha procuração; abriu conta corrente com o nome de Cooperativa Regional Castilhense de Carnes e Derivados Ltda.; fez câmbio, através do Banco Central, câmbio, este de exportação, ela, Castilhense exportando, sem procuração, sem autorização da direção, o que levou a um endividamento grande.[fim]

Eu fiz um...Eu fui ao Banco Central quando soube disso, porque um importador, representante de um importador da Rússia me ligou, descobriu o meu telefone, e começou dizer para mim que eu deveria cumprir a exportação. Mas do que o Senhor está falando? Eu não exporto, a Cooperativa não exporta. A Cooperativa está com a sua atividade paralisada. Não, mas o Senhor fez um contrato com o meu cliente, na Rússia, e não cumpriu, de tantas toneladas. Não, o Senhor está enganado, isso não é com a Cooperativa, é com a administração judicial. O Senhor se dirija ao Ministério do Trabalho em Santa Maria. Então, isso nos alertou, não sabíamos que estavam usando o nome da Cooperativa indevidamente.[fim]

Esses reflexos dessa má administração e desse endividamento, infelizmente, vai cair aqui na Cooperativa, até que nós consigamos provar que não fomos nós que exportamos, não somos nós que estamos devendo para os fornecedores da suínos, isso vai demandar um incômodo para nós.[fim]

Gostaria de deixar claro que quando a Cooperativa fechou, paralisou suas atividades, nós, dirigentes e o grupo de avalistas, são todos do Conselho de Administração, são 11 avalistas, respondemos pelo endividamento da Cooperativa. Fizemos, inclusive, o Pesa recentemente, com recursos nossos, tenho bens meus indisponíveis por causa da Cooperativa, e se vier agora esse endividamento que não vem a nós, que não é da Cooperativa, eu também terei que responder, naturalmente, vou me defender dizendo que não fui eu, só pelo uso indevido e sem autorização.[fim]

Esse câmbio internacional que a Cooperativa não trabalhava mais com exportação, não tinha mais autorização do Banco Central, foi feito em nome dela. Essa inadimplência no exterior está em nome da Cooperativa, sem autorização nenhuma. Então, isso nos preocupa, alguém tem que ficar com a responsabilidade. Não nós, porque não participamos dessa administração, mas alguém tem que ficar com a responsabilidade.[fim]

Os fornecedores de suínos, como os Senhores sabem, são pessoas que tem pequenas propriedades, em geral são minifundiários, que com muito esforço e algum investimento conseguem bastante produtividade, com alta tecnologia. Naquela Região de Santa Rosa, Região Noroeste do Estado, é comum ter 24 leitões porca ano com a tecnologia que usam.[fim]

Todo mundo sabe que o suíno para converter o alimento em carne ele come bastante, sabe quanto custa isso, esses suinocultores, confiando no Frigorífico, porque antes havia um grupo argentino que comprava nessa Região, foram vendendo e hoje não conseguem receber. Eles vem aqui devem ter apelado até aos Senhores e não conseguiram receber, fizeram escalonamento de dívida e não cumpriram nem uma etapa do escalonamento.[fim]

Isso nos preocupa como castilhenses, como moradores dessa terra, como ex-diretores e gostaríamos que o Frigorífico continuasse abatendo, continuasse cumprindo a sua função social, porque esse Frigorífico abateu muito, exportou muito tem uma história de exportação muito grande. Foi o pioneiro no abate de cordeiros do Estado. O cordeiro mamão que tanto se fala, foi lançamento da Castilhense. O novilho precoce que foi lançado em 1971 o primeiro lote de novilho precoce abatido no Estado foi aqui de Júlio de Castilhos, casualmente foi meu. O segundo lote, o segundo abate foi do Gedeão Pereira, de Bagé.[fim]

Então temos alguma história dentro do Frigorífico, essa história não pode ficar enlameada. Dever para produtores de suíno, dever para fornecedores da cidade e o mais grave são essas exportações em aberto, não sei se já reuniram documentos, parece-me que os Senhores já tem esses documentos, inclusive, a relação do Banco Central. Em resumo, era isso, fico aberto totalmente às perguntas.[fim]

Como eu disse antes: estou na carne há muito tempo. Então, eu não tenho histórias pra contar, mas tenho essa vivência que os Senhores, com toda liberdade, se quiserem me perguntar qualquer coisa, estou à disposição.[fim]

O depoimento acima narra a versão dos diretores da Cooperativa, isto é, na relação processual trabalhista, são os representantes do pólo processual passivo. O depoimento que segue é do represente do pólo ativo, que são os trabalhadores reclamantes que organizaram uma associação. Nesse sentido, transcrevem-se as principais declarações do depoimento prestado pelo Senhor José Fernandes Pereira Pedroso, na mesma audiência acima referida:

O SR. PRESIDENTE (Elvino Bohn Gass) – E qual foi o problema, na época, que ela teve que fechar?[fim]

O SR. JOSÉ FERNANDES PEREIRA PEDROSO – A Cooperativa estava devendo, o mercado da carne estava ruim, e eles acabaram fechando. Tinha muita inadimplência, vendiam e não recebiam. Muitas cargas de carne que foram vendidas para o Rio de

Janeiro, Manaus, que eu lembro na época, e não foram, não pagaram, o pessoal não pagou lá.[fim]

O SR. PRESIDENTE (Elvino Bohn Gass) – E como é que vendiam sem ter uma nota para...?[fim]

O SR. JOSÉ FERNANDES PEREIRA PEDROSO – Mas tinha a nota, tinha o representante, mas os caras sumiam, desapareciam, chegava lá depois vinham cobrar e não...[fim]

O SR. PRESIDENTE (Elvino Bohn Gass) – Eles terceirizavam esse serviço ou era a própria Cooperativa...[fim]

O SR. JOSÉ FERNANDES PEREIRA PEDROSO – Não, a própria Cooperativa mesmo que vendia.[fim]

O SR. PRESIDENTE (Elvino Bohn Gass) – A própria cooperativa vendia e não...[fim]

O SR. JOSÉ FERNANDES PEREIRA PEDROSO – E não recebia.[fim]

O SR. PRESIDENTE (Elvino Bohn Gass) – Não recebia. O Senhor tem mais algum outro motivo que possa ter gerado aquela falência da Cooperativa na época?[fim]

O SR. JOSÉ FERNANDES PEREIRA PEDROSO – Pois olha, um dos fatores foi esse aí. Outro, antes da última direção assumir também como havia participação dos lucros dos associados não é, porque a Cooperativa não...o lucro era distribuído.[fim]

O SR. PRESIDENTE (Elvino Bohn Gass) – Era repartido.[fim]

O SR. JOSÉ FERNANDES PEREIRA PEDROSO – Repartido. Houve também um rateio, numa época anterior ali, que deu um resultado bom, e eles dividiram com...[fim]

O SR. PRESIDENTE (Elvino Bohn Gass) – Com o quadro

social?[fim]

O SR. JOSÉ FERNANDES PEREIRA PEDROSO – É. Só que isso aí estava em estoque e daí, aquela vez, havia oscilação de preço. Eu lembro que em seguida o preço da carne caiu e eles tiveram que dar o dinheiro de volta para o...[fim]

O SR. PRESIDENTE (Elvino Bohn Gass) – Recapitalizar de novo. Então, o agricultor ganhou, no final do ano o balanço estava positivo e depois, logo em seguida, teve que capitalizar de novo.[fim]

O SR. JOSÉ FERNANDES PEREIRA PEDROSO – Vender, tiveram que vender, tiveram que vender daí os produtos para poder dar o...[fim]

POLÊMICO USUFRUTO JUDICIAL INSTITUÍDO PELA JUSTIÇA DO TRABALHO E SUA GESTÃO TEMERÁRIA

A polêmica foi gerada, não só pelo usufruto judicial da planta industrial. Agravou-se, descontentando até os reclamantes trabalhistas, por que não só deixou de solver os débitos trabalhistas, como aumentou o passivo geral de dívidas da Cooperativa. Daí, a irresignação de ambas as partes: reclamantes e reclamados. Esta se deu especialmente por conta da administração do Advogado Leonardo Kessler Thibes.

Cabe analisar os motivos de tal descontentamento com a gestão deste Administrador do Usufruto.

Há uma preliminar importante a ser feita, para melhor compreensão da matéria. O usufruto judicial é um instituto de direito processual civil, com previsão legal no artigo 716 a 729 do CPC. É instituído sobre a totalidade ou não dos bens imóveis da empresa como forma de garantir os créditos dos credores. Não significa a extinção judicial da empresa. Se assim fosse, seria um procedimento falimentar ou de insolvência.

O instituto do usufruto se dá no processo de execução, como procedimento contra o devedor solvente, isto é, que não está insolvente. É uma intervenção onde os proprietários perdem a disponibilidade dos bens e o direito de gestão. Por isso, não procedem as alegações de que não mais existe a cooperativa como pessoa jurídica ou de que esta, mesmo existente, não teria corpo administrativo. Basta uma simples consulta no site da Justiça do Trabalho no processo n.º 2862/92, em tramitação na Primeira Vara do Trabalho em Santa Maria – RS, para verificar que consta no pólo passivo a cooperativa, tendo como seu representante legal o Senhor Régis Sales e

como advogada por este constituída a Senhora Maria do Carmo Lourenci, OAB/RS n.º 14768.

A segunda preliminar é referente aos motivos do Senhor Leonardo Thibes ter aceito o encargo de administrador do usufruto judicial. Em seu depoimento, o mesmo fez as seguintes declarações contidas em seu depoimento prestado na audiência de tomada de depoimento realizada em reunião extraordinária desta CPI, no dia 20 de outubro de 2003:

O SR. LEONARDO KESSLER THIBES – Não, eram 150 da Avipal e 150 da empresa Tower. E quando elas não abatiam nós abatíamos uma parte. E daí o que é que acontecia, com essa receita de prestação de serviço muito reduzida a receita da venda destes produtos que deveriam ir não só para produtores de suínos como para outros fornecedores ela tinham que ir para folha de pagamento, para luz, para que a indústria pudesse continuar, porque seria muito mais cômodo para mim, como administrador ou como advogado, com a minha vida estabelecida em Porto Alegre, simplesmente em março de 2002 ter entregue o Frigorífico.[fim]

Hoje este Frigorífico estaria fechado, são 400 empregos lá na cidade. Não teria porque eu me comprometer pessoalmente, o meu patrimônio pessoal, o meu nome, o meu crédito que eu não tenho hoje, porque eu disponibilizei cheques meus para o Frigorífico.[fim]

Pode-se extrair das declarações do Advogado Leonardo Thibes que o mesmo comprometeu todo o seu patrimônio pessoal, o seu nome e o seu crédito para não fechar o frigorífico e não desempregar 400 pessoas. Realmente, parece uma altitude altruísta desta Cidadão. O comum é as pessoas agirem de forma contrária, isto é, ao invés de se sacrificarem, sacrificam a empresa, especialmente quando não são os donos da mesma. Entretanto, há motivos para não ser levado muito a sério esse “altruísmo”, com seu “espírito de sacrifício incomum”. Esta Relatoria não está colocando em questão e nem duvidando que as pessoas são capazes de atos altruístas. A história está cheia de pessoas altruístas, que se sacrificaram pessoalmente, num processo de doação de amor. Aliás, muitos psicólogos, especialmente os que seguem a linha jungana, entendem que esse é o verdadeiro sentido da vida. Mas, esse ato de doação se dá quando há vínculos subjetivos da pessoa que se doa com a causa a ser doada.

Referente ao “altruísmo” do Advogado Leonardo Thibes destaca-se que o mesmo percebia uma remuneração de R$ 1.800,00 por mês, mais as suas despesas

pessoais. Para esse poder administrar o usufruto teve de se afastar de suas atividades de profissional liberal, embora tenha alegado que continuava a receber honorários advocatícios em torno de três mil reais por mês. Contudo, essa alegação de remuneração não foi comprovada, embora tenha sido oportunizada ao Depoente. Ora, o Senhor Leonardo Thibes não tem nenhum vínculo subjetivo, no sentido de afetivo, com a comunidade castilhense. Não nasceu ou foi criado naquela comunidade, não tem familiares naquela Cidade, não é casado com ninguém de Júlio de Castilhos ou tem filhos e sequer mora lá ou tem alguma propriedade na mesma. Em outras palavras, não tem vínculo algum com o Município de Júlio de Castilhos – RS. A circunstância de ter sido advogado de algumas pessoas daquela cidade, só cria vínculo profissional - nada mais. Em suma, o que esta Relatoria quer dizer é que estranha e acha pouco provável que uma pessoa de 46 anos de idade abdique de seus ganhos monetários para ter prejuízo, comprometer seu patrimônio particular e seu crédito pessoal só para ajudar uma comunidade com o qual nunca teve nenhum vínculo afetivo.

Esta Relatoria, antes de expor o elemento de convicção, não pode deixar de fazer reparo sobre as declarações contidas no depoimento do Senhor Leonardo Thibes, de uma suposta adjudicação judicial da planta frigorífica pela Fazenda Pública Estadual, conforme consta declaração contida em seu depoimento prestando na audiência de tomada de depoimento realizada em reunião extraordinária desta CPI, no dia 20 de outubro de 2003:

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – E a sua função na Cooperativa Castilhense ou o usufruto judicial em Júlio de Castilhos era?[fim]

O SR. LEONARDO KESSLER THIBES – Eu fui... A história da Castilhense, se vocês me permitem, um pouco anterior, eu sempre fui advogado do Sindicato dos Empregados do Frigorífico. Nós começamos ... Quando a Cooperativa fechou, em 1990, ela demitiu todo o quadro de funcionários e não efetuou o pagamento das rescisões trabalhistas. Nós ajuizamos, então, uma série de ações na Justiça do Trabalho de Santa Maria. Essas ações foram ao Tribunal do Trabalho, voltaram e entraram em processo de execução. Como todo o patrimônio da Cooperativa havia sido adjudicado pelo Estado do Rio Grande do Sul em executivos fiscais, restava apenas o parque industrial. O parque industrial está localizado numa área de 16 hectares, que também já havia sido adjudicada pelo Estado. Só não havia sido adjudicado o maquinário, a indústria em si. E como essa indústria não havia possibilidade de levá-la a leilão porque não saldaria a dívida

trabalhista, seria simplesmente o sucateamento da indústria, a venda como sucata do maquinário que já estava bastante sucateado, nós requeremos, o Sindicato dos Empregados requereu o usufruto judicial da Empresa como forma de reabrir o frigorífico, que estava fechado, de gerar empregos. E a receita que fosse possível arrecadar, seria depositada um percentual, alguma coisa na Justiça do Trabalho para que fossem quitados, parcialmente, os créditos trabalhistas.[fim]

Na época da instituição do usufruto, em 1997, o crédito trabalhista girava em torno de 6 milhões de reais. Foi instituído o usufruto, foram nomeados dois administradores – o Presidente do Sindicato dos Trabalhadores e mais um fazendeiro da Região, o Sr. Benhur Bañolas. Posteriormente, em 2001, foram trocados..., um administrador foi exonerado e o outro pediu exoneração. Como não havia outra... Eu era, então, advogado da administração do usufruto. O Juiz de Santa Maria, então..[fim]

Estranha-se essa declaração, partindo principalmente de uma pessoa que tem formação jurídica. Para um leigo se admite esse tipo de erro. Contudo, partindo de um advogado, só pode ser interpretado como gafe para induzir esta CPI em erro. Adjudicação é outro instituto de processo de execução civil, previsto no artigo 714 do CPC. Faculta ao credor quando finda a praça sem o lançador, oferecer preço não inferior ao que consta do edital, requerendo que sejam adjudicados os bens penhorados. Em outras palavras, os bens penhorados podem ser incorporados ao patrimônio do credor, para solver seu crédito. Ora, no caso concreto, se houvesse adjudicação da planta frigorífica a mesma passaria ser patrimônio do Estado do Rio Grande do Sul. Não haveria como a Justiça do Trabalho instituir o referido usufruto judicial sobre patrimônio público, especialmente quando a dívida sequer seria do Estado do Rio Grande do Sul. Trata-se de outro blefe.

Feitos os esclarecimentos acima, esta Relatoria passa a analisar a gestão do Senhor Leonardo Thibes, demonstrando a seguir o elemento de convicção, motivado com base em prova coletada pela instrução.

Como há partes com interesses conflitantes, inclusive em processos judiciais, com acusações mútuas, esta Relatoria não irá motivar seus elementos de convicção com base na prova testemunhal coletada por esta CPI, face a sua fragilidade diante dessa circunstância de suspeição. O elemento de prova séria, forte e de natureza técnica que formou a convicção desta Relatoria, como PROVA EMPRESTADA JUDICIALIZADA extraída do processo n.º 2862/92, em tramitação na Primeira Vara do

Trabalho em Santa Maria – RS: LEVANTAMENTO PERICIAL CONTÁBIL E AUDITORIA. Trata-se de uma PROVA PERICIAL realizada sob o crivo do contraditório e da ampla defesa, onde as partes puderam apresentar quesitos e indicar assistente técnico. A prova pericial foi realizada pelos peritos contábeis/auditores Roque Cabbi Zanatta e Oscar Frederico Winterle, brasileiros, contadores com registro no CRC-RS, respectivamente sob números 18.538 e 17.790. Transcrevem-se os quesitos e as respostas dos peritos judiciais sobre os pontos que demonstram a má gestão do Advogado Leonardo Thibes:

2. – Examinando os mesmos itens supra, definir se é possível ao Juízo exigir depósito de R$ 50.000,00 mensais a partir de janeiro de 2003?

R. – Em principio, não! Estes peritos/auditores em duas visitas que efetuaram ao Estabelecimento da Cooperativa, constataram que, efetivamente havia necessidade, primeiro, de se remodelar as instalações da Indústria, tornando-a compatível com sua atividade fim, diretamente relacionada com o setor de alimentação, rigorosamente fiscalizado pelo Ministério da Agricultura (que segundo o Administrador do Usufruto, estaria excessivamente severo, prejudicando a seqüência de abates e negando-se a permitir o abate em sábados, domingos e feriados, pois o veterinário responsável pela fiscalização reside em Santa Maria), bem como de se reformar e modernizar o parque de máquinas, fundamental para se manter a produção necessária para sua manutenção. Um dos setores críticos para o abate regular e a capacidade de geração de frio, que tem exigido um aporte de recursos considerável. No Anexo XIII, reunimos um dossiê, inclusive com fotos, para ilustrar como se encontram os investimentos no setor de produção de frio. Em vista ao exposto, os recursos que eventualmente poderiam ser mensalmente disponibilizados para os depósitos judiciais antes determinados, foram canalizados para esta finalidade, em detrimento, lógico, da continuidade daqueles depósitos.

Também em análise dos relatórios e documentos contábeis da Cooperativa, constatou-se ser absolutamente inviável, de momento, com o seu atual faturamento, disponibilizar recursos para os questionados depósitos judiciais, visto que o demonstrativo de

resultados do exercício encerrado aos 31 de dezembro de 2002, acusou um prejuízo final R$ 1.784.637,69 – (Hum milhão, setecentos e oitenta e quatro mil, seiscentos e trinta e sete reais e sessenta e nove centavos).

Tal resultado negativo, segundo os registros contábeis, teve sua origem fundamentada nas seguintes contas de resultado(Anexo XII):

Contas de Resultado R$ R$Receita Bruta do exercício 9.647.365,50(-) Impostos Incidentais 371.132,99Receita líquida Operacional 9.276.232,51DESPESAS com pessoal 1.637.677,61Encargos Sociais 665.813,20Serviços de Terceiros 25.383,00Energia Elétrica 444.252,97Manutenção e Conservação do Imobilizado

469.188,55

Depreciações 25.175,28Material de Consumo 324.641,61Consumo de Matéria Prima 6.460.095,10Fretes e carretos 239.119,66

Carregamento de containers 87.361,10Despesas Financeiras 173.558,43Outras Despesas 508.603,69 11.060.870,20Prejuízo Final do Exercício (1.784.637,69)

4. – Apresentar um balanço, o mais completo possível, da produção do frigorífico do ano encerrado.

R. – Embora ainda não definitivamente concluído o Balanço Geral encerrado aos 31 de dezembro de 2002 (faltam contabilizar algumas receitas de variação cambial), demonstra-se, abaixo, de forma objetiva, a referida peça contábil, em complemento ao demonstrativo dos resultados já apresentado na resposta ao quesito 02, acima:ATIVO R$ PASSIVO R$Caixa e Bancos 74.131,53 Fornec. Mat. Consumo 523.586,96Clientes 144.278,99 Fornec. Convênio 51.624,54Clientes Exportação 1.116.588,29 Fornec. Suínos 931.915,32Aditamentos Div. 21.036,77 Fornec. Abates 384,49Tributos a Recuperar 62.707,57 Emp. Pes. Ligadas 1.189.562,04Estoques 117.775,34 Obrig. Trabalhistas 1.036.956,69Realizável a L/Prazo 482.704,73 Obrig. Tributárias 249.011,50Máq. E Equipamentos 558.503,31 Contas a Pagar 239.500,36Veículos 30.291,14 Exigível a L/Prazo 630.078,01

Móveis e Utensílios 11.241,46 ------------------------------- ------------------------------Investimentos 180,00 Patrim. Líquido (2.233.180,78)TOTAL DO ATIVO 2.619.439,13 TOTAL DO PASSIVO 2.619.439,13

5.- Outras observações que os louvados nomeados considerarem pertinentes:

R.- Entende-se necessário apontar para os seguintes fatos relevantes referentes aos demonstrativos apresentados nas respostas aos quesitos 02 e 04, acima:

a) Com relação ao demonstrativo do Resultado do Exercício

Estão computadas na apuração do Prejuízo do Exercício, “ Despesas com Manutenção e Conservação do Imobilizado” (R$469.188,55) e “Depreciações (R$25.175,28); contabilmente o procedimento está correto, mas entende-se necessário esclarecer que, na realidade, tais valores podem ser considerados como agregados ao imobilizado da Entidade, o que, então, indiretamente viria a compor aumento do Patrimônio Líquido e consequentemente maior garantia aos reclamantes do processo em epígrafe;

Adotando-se, pois, tal procedimento, o prejuízo do exercício poderia, teoricamente, ser considerado como sendo diminuído deste valor, e passaria, então, a ser de R$ 1.290.273,86.

Na conta “outras despesas”, estão computadas R$50.000,00 (cinquenta mil reais), referentes a “depósitos juduciais” aos reclamantes do processo em epígrafe, efetuados no decorrer do exercício;

Estranha-se o elevado valor do custo da “matéria prima” consumida; Cabe registrar que a margem de lucro sobre o valor eqüivalente à receita, corresponde à apenas 18% do total faturado, o que se mostra em percentual muito pequeno para cobrir as demais despesas ocorridas, cabendo se concluir que:

Ou as compras de bovinos/suínos vivos estão sendo realizadas a preços muito elevados;

Ou, a venda destes produtos industrializados está sendo efetuada por um valor muito abaixo;Ou, o “ponto de equilíbrio” da Cooperativa não está sendo atingido.

b) Com relação ao Balanço Geral

As demonstrações contábeis, no que se referem ao Patrimônio Líquido, registram apenas os valores acumulados à partir da data em que foi instituído o usufruto juducual. Assim, não constam das mesmas, os valores do imobilizado, máquinas e motores e outros bens ou dívidas existentes e de propriedade/responsabilidade ainda da Cooperativa, antes da instituição do usufruto juducial.

Registra-se que não se procedeu ao comparativo do atual balanço geral com aqueles encerrados em anos anteriores, tendo-se em vista que aqueles não haviam sido auditados por estes profissionais, tornando assim inviável o trabalho com a segurança desejada e necessária para este tipo de trabalho.

Tal como se observa do demonstrativo próprio, a Cooperativa se encontra atualmente com o valor do Patrimônio Líquido negativo, no valor de R$2.233.180,78 (dois milhões, duzentos e trinta e três mil, cento e oitenta reais e setenta e oito centavos), o que significa que, caso encerra-se hoje as suas atividades e mesmo que realizasse todos os seus bens e direitos, não teria recursos suficientes para quitar os seus compromissos já assumidos, ficando aquele valor sem a correspondente cobertura.

3.- Qual a situação dos encargos fiscais e trabalhistas (INSS,FGTS) dos trabalhadores sob responsabilidade do Usufruto? Havendo débito, queira o Sr. Perito relacionar o seu montante atualizado, consideradas eventuais multas, juros e correção monetária.

R.- Existem, sim, débitos originados pelo não recolhimento tempestivo de contribuições previdenciárias e ao FGTS, cabendo esclarecer que:

Em relação às contribuições previdenciárias, estas se encontram em atraso referentes aos meses de agosto e 13 º salário de 2001, e a partir de janeiro de 2002, até esta data, estando contabilizadas, até 31 de janeiro de 2003, pelo valor nominal de R$579.846,91 (quinhentos e setenta e nove mil, oitocentos e quarenta e seis reais e noventa e um centavos).

Em relação às contribuições ao FGTS, estas se encontram em atraso desde outubro de 2002, estando contabilizadas, até 31 de janeiro de 2003, pelo valor nominal de R$61.322,07 – (Sessenta e um mil, trezentos e vinte e dois reais e sete centavos)

Quanto ao valor atualizado, S.M.J., este deverá ser apurado pelas repartições competentes quando de sua quitação, ou quando assim requisitado pelo MM. Juízo.

Contratos com Terceiros

6. Queira o Douto Perito relacionar as obrigações vencíveis a curto, médio e longo prazo, da cooperativa, em face de contratos mantidos com terceiros.

R. – Encontrou-se, segundo os registros contábeis e em relação ao questionado, apenas a seguinte obrigação contratada (contrato em anexo):

Contrato de Empréstimo e Outras Avenças – Avipal S/A Avicultura e Agropecuária, como primeira contratante e Cooperativa Regional Castilhense de Carnes e derivados como segunda contratante, em que a Primeira Contratante adianta à Segunda, para fins de aquisição de máquinas e equipamentos necessários para modernizar e adequar suas instalações industriais, a importância de R$190.000,00 – (Cento e noventa mil reais); a segunda Contratante, por sua vez, compromete-se e obriga-se a pagar o valor recebido, semanalmente, autorizando a Primeira Contratante a reter e descontar a importância de R$ 15.000,00 (quinze mil reais) da nota fiscal de prestação

de serviços originária do abate e desossa dos suínos (Anexo IV).

Registra-se, por relevante, que o crédito do Administrador Sr. Leonardo Kessler Thiebes, constante do Balanço encerrado aos 31 de dezembro de 2002, segundo informações do Sr. Contador da Empresa, tem origem em cheques pré-datados, por aquele emetidos, para garantia de compras da Cooperativa, já que esta não dispõe de talonários do cheque por restrição bancária.

7. – Queira o Douto perito relacionar os contratos de exportação realizados em nome da Cooperativa e/ou Usufruto, seus valores datas de vencimento e situação de regularidade.

R. – Não se encontrou, entre os registros contábeis, contrato de exportação que estivesse em vigor atualmente, pelo que, entende-se, fica o demais questionado, prejudicado.

13. Qual a situação da Administrada perante fornecedores e, havendo débitos, sua situação financeira atualizada?

R. – A situação atualizada até 12 de março de 2003, conforme relatórios anexos, parcelas vencidas e a vencer, registradas pelo seu valor nominal, é a seguinte (Anexo IX):

Fornecedores de material de consumo R$631.255,58Fornecedores de suínos R$593.729.78

14. – A Administrada possuí títulos protestados? Qual o montante da dívida em valores atualizados?

R. – Sim, existem títulos protestados, conforme relação anexa, cabendo explicitar que, em seu valor nominal, este corresponde a(Anexo X):

Títulos em Cartório não pagos R$291.978,96Títulos em Cartório – paga mas não

baixados em vista da falta da carta deanuência do credor R$126.050,38

Registra-se que o valor acima já se encontra incluído na resposta ao quesito, 13,acima.

17. – Através da análise do patrimônio líquido da Administrada, em caso de encerramento das atividades do Usufruto, qual seria a sua situação líquida patrimonial? Positiva ou Negativa? Qual o montante de eventual dívida e percentual de patrimônio negativo?

R. – Como já informado anteriormente, a situação líquida patrimonial seria negativa, no valor de R$ 2.233.180,78 (dois milhões, duzentos e trinta e três mil, cento e oitenta reais e setenta e oito centavos), o que corresponde a 85,25% do Ativo Total.

21. – Queira o Sr. Perito emitir sua análise sobre o endividamento total da Periciada.

R. – O grau de endividamento é conhecido pela relação existente entre o total do passivo (curto prazo + longo prazo), com o total do ativo. Tecnicamente é interessante que esta relação se apresente em valor menor do que a unidade, o que significa que, realizando o seu ativo, o seu passivo estaria completamente coberto. No caso em particular, o índice se apresenta como sendo igual a 1,85, o que indica que, a Cooperativa só dispões de uma unidade monetária para resgatar cada 1,85 unidades de compromissos já assumidos, o que, correspondente a um muito alto grau de endividamento, ou seja, a Cooperativa deve 85% a mais do que toda a sua capacidade de pagamento se todos os seus bens fossem alienados pelo seu valor contábil.

A perícia acima transcrita data de 13 de março de 2003. A perícia/auditoria realizada em 05 de agosto de 2003 ratifica a existência de irregularidade apontada na primeira perícia. Transcrevem-se ao principais pontos ratificadores:

11) Quantificar os valores devidos a fornecedores bem como os créditos em haver com produtos já entregues.

R. – Sempre com base no balancete de junho de 2003, constatam-se os seguintes créditos de fornecedores, que perfazem o total de R$1.389.781,21 (Hum milhão, trezentos e oitenta e nove mil, setecentos e oitenta e um reais e vinte e um centavos):

Fornecedores p/ Material de Consumo – R$422.513,14Fornecedores de suínos – R$852.395,44Fornecedores Convênio – R$62.404,32Fornecedores p/abate – R$52.468,31Já os créditos da Cooperativa provenientes de produtos já

entregues e outros, correspondem a R$381.737,41 (Trezentos e oitenta e um mil, setecentos e trinta e sete reais e quarenta e um centavos),assim desdobrados:

Clientes – R$91.927,54Adiantamentos –

Salários a empregados – R$16.121,63Adiantamentos Fornec. Const. – R$5.151,00

Tributos e Contribuições a Recuperar – R$138.179,64Estoques – R$130.357,60

1) Quantificar nos contratos de exportação os valores ainda pendentes de entrega relativamente às respectivas cartas de crédito?

R. – O saldo contábil aos 30 de junho de 2003 correspondente a R$174.558,13(Cento e setenta e quatro mil, quinhentos e cinqüenta e oito reais e treze centavos), o que equivale, então, ao valor em débito da Cooperativa perante o mercado externo. Na falta de outros documento, entretanto, recomendou-se à direção da Cooperativa que solicitasse ao banco Central do Brasil documentação comprobatória da real situação desta em relação aos contratos de exportação, tendo esta, na pessoa da Sra. Carmen Lúcia Machado, se comprometido a juntar aos autos referido documento até o próximo dia 13 do corrente.

Pela prova pericial emprestada não deixa dúvida que houve má gestão. O usufruto ao invés de solver dívidas aumentou o passivo da Cooperativa. Cabe analisar os desdobramentos civil e penal desta gestão temerária.

O usufruto judicial é administrado por um gestor nomeado pelo Poder Judiciário, no caso concreto, a Justiça do Trabalho, portanto, a União Federal. Suas responsabilidades estão previstas nos artigos 148 e 149 do CPC. O administrador responde pelos prejuízos que, por dolo ou culpa, causar à parte, isto é, o executado. Mas isto deve ser conjugado com a responsabilidade da pessoa jurídica que o indicou. Em outras palavras, a União é responsável civilmente pelos danos causados pelo administrador. Pode esse ser responsabilizado em ação de regresso. Deve ser conjugado em consonância com a regra do artigo 37, § 6º da Constituição Federal. Caso seja interpretado que não se trata de caso de responsabilidade objetiva, mesmo assim a União pode ser responsabilizada pela culpa subjetiva CULPA IN ELEGENDO. Sob qualquer ângulo a União Federal não terá como se esquivar da responsabilidade civil dos atos de gestão temerária do administrador do usufruto judicial.

Há notícia de que a Cooperativa ingressou na Justiça Federal com AÇÃO DE RESPONSABILIDADE CIVIL DA UNIÃO, COM EXTINÇÃO DO USUFRUTO CUMULADO COM PEDIDO DE ANTECIPAÇÃO DE TUTELA, sendo distribuída à 3ª Vara Federal de Santa Maria – RS (processo n.º 2003.71.02.00.9650-6).

Contudo, não se trata só de má gestão e de atos sujeitos à responsabilidade civil. Há indícios de ação criminosa. Onde estão os documentos referentse aos contratos de exportação, referidos na resposta da Perícia Judicial? Por que não há contabilização de todos os valores da exportação?

Mas, esse não é o único indício de fraude. O Advogado Leonardo Thibes comprou inúmeros suínos e simplesmente não pagou os produtores rurais. Em princípio pode ser alegado em sua defesa que os mesmos foram adquiridos em nome da administração do usufruto judicial, isto é, em nome e em benefício da Cooperativa. Essa dívida apontada pela perícia é R$ 852.395,44. O que se estranha é que essas dívidas foram feitas com seus cheques particulares. Por que motivo? Em princípio poderia se alegar que a cooperativa não tinha conta bancária, por problemas de restrição bancária? Como é que a Cooperativa conseguiu movimentar volumes expressivos de dinheiro sem possuir conta bancária, especialmente os referentes à exportação? Havia confusão nas contas bancárias particulares do Administrador entre seus haveres próprios com os valores da Cooperativa? Onde estão os recursos das exportações, já que contabilmente não foram suficientemente registrados? Os suínos comprados com cheques pessoais não eram negócios particulares, posteriormente atribuídos à Cooperativa? Essa matéria tem que ser melhor explicada, pois foram contraídas dívidas em nome da cooperativa com cheques sem fundo de um particular, nomeado. Isto é grave!

Os atos de compra de suínos com cheques particulares do administrador não constam no plano de administração submetido à aprovação do Poder Judiciário (art. 728, II, do CPC).

Quem administra bens e recursos alheios tem o dever de prestar contas. E, nesse caso concreto, não existem prestações de contas transparentes.

Os graves fatos acima referidos deixam claro os motivos que levaram o Senhor Leonardo Thibes a negar-se a fornecer voluntariamente a esta CPI os extratos bancários de suas contas particulares, assim como as declarações de imposto de renda, dando desculpas não convincentes.

Causa espanto o Poder Judiciário ter levado tanto tempo para destituir o referido Administrador. E, não foi por falta de aviso das partes interessadas e mesmo alertas contidos nas períciais. Pelo que parece, o Poder Judiciário, em especial a Juíza do Trabalho Antônia Maria Loguercio, não estava nada bem informado a respeito deste Cidadão. Quando perceberam os problemas, já era tarde. As dívidas e as fraudes já estavam consumadas.

Para encerrar, observa-se que mais uma vez o suinocultor foi lesado. Vendeu seus animais e não recebeu. São ações temerárias como essa, patrocinadas por aventureiros, que nada ou muito pouco tem a perder, que agravam a crise da bovinocultura e da suinocultura, causando prejuízo de difícil reparação aos produtores rurais.

AO ASSIM AGIR, o administrador do Usufruto Judicial Leonardo Thibes, por ser equiparado a funcionário público para efeitos penais, por exercer função pública por designação da Justiça do trabalho, praticou, em tese, o CRIME DE PECULATO (art. 312 do Código Penal) por se apropriar de dinheiro particular, de quem tinha a posse em razão da função pública de administrador, e que no caso os valores referentes aos contratos de exportação não estão contabilmente registrados, segundo perícia judicial, assim como também praticou o CRIME DE ESTELIONATO (art. 171, VI, do Código Penal), ao emitir cheque, sem suficiente provisão de fundos, para comprar suínos de produtores rurais.

GESTÃO POLÊMICA DE CARLOS GOMES:

O Senhor Leonardo Thibes não foi o primeiro aventureiro que passou pela administração da planta frigorífica do Castilhense. Pelo que se tem notícia foi o último. Antes teve o Senhor Carlos Gomes. Trata-se de outro aventureiro que não tinha experiência alguma em administração de planta frigorífica. Como o Senhor Leonardo Thibes, de advogado galgou o posto de gestor. Evidente que por caminhos diferentes, mas com os mesmos resultados trágicos por gestão temerária. Transcreve-se o

depoimento do Advogado e político Carlos Gomes que prestou depoimento nesta CPI na data de 03 de novembro de 2003 de como o mesmo ingressou no mundo das carnes:

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – O Senhor pode nos explicar como é que o Senhor ingressou no ramo da carne?[fim]

O SR. CARLOS ANTONIO GOMES – Sim. Em 1993, o Governo Collares estava preocupado com a crise que tinham os frigoríficos, e ele dizia-se muito impressionado em ter visto, na cidade de Bagé, Júlio de Castilhos e outros, durante a campanha para governador e, mesmo depois, com a quantidade de pessoas desempregadas, uma crise nos frigoríficos, aliada a uma situação que apontava mais ou menos 50% dos abates clandestinos. E ele havia se empenhado, entre outras cidades, em Júlio de Castilhos, em reabrir a indústria. E aí ele de certa forma convocou alguns empresários para elaborarem um projeto, um plano de reabertura da Castilhense. E esses empresários enfrentavam reclamatórias trabalhistas de 480 pessoas, além de execuções de 8 milhões de dólares por um grupo de bancos que haviam financiados o frigorífico e mais uma cerca de 40 ou 50 processos.[fim]

E essas pessoas, então, me contrataram para eu ser o advogado dessa Cooperativa, em razão de dois trabalhos anteriores que eu havia feito. Eu havia feito um trabalho uns anos antes e que instituiu um usufruto na Caldas Júnior e que pediu o fechamento da Rádio Guaíba. Eu havia feito também um trabalho jurídico que trouxe de volta o BRDE. Eu fui o autor da ação popular que trouxe de volta o BRDE. Em razão desses dois trabalhos, então eles me convidaram para eu assumir o jurídico da Cooperativa. E, nessa condição, então, eu fui para a Cooperativa Castilhense no dia 1º de maio de 1993.[fim]

O Depoente Carlos Gomes expõe como conseguiu explorar a planta industrial do Castilhense:

O SR. CARLOS ANTONIO GOMES – Não. Não foi uma

proposta de compras. Foi o seguinte: Houve um comodato e, nesse comodato, fazia-se necessário descobrir a real situação da cooperativa. Ninguém sabia o quanto montavam aquelas reclamatórias trabalhistas, ninguém sabia o quanto montava a divida do ICMS, nem nada.[fim]

Então, foi elaborado um comodato e, depois, no curso do tempo, se fosse viável o negócio, aí se faria uma aquisição. Não houve contrato de compra e venda e não houve compra e venda. Brasil.[fim]

(...)

O SR. ELVINO BOHN GASS – Neste caso se formou a Penta Star e a Penta Castilhense.[fim]

O SR. CARLOS ANTONIO GOMES – Sim.[fim]

O SR. ELVINO BOHN GASS – Explique a formação da Penta Star e da Penta Castilhense.[fim]

O SR. CARLOS ANTONIO GOMES – A cooperativa não podia se movimentar, não podia fazer nada porque ela tinha, como eu falei, centenas de ações trabalhistas. E ela tinha também ações cíveis, ela tinha execuções, não tinha contas bancárias, e qualquer ação implicaria automaticamente na apreensão, na penhora dos seus produtos. Havia a necessidade de se constituir uma terceira empresa que operasse o parque industrial. Por outro lado, para o enquadramento na Lei 9.495, era necessário que 75% do ICMS fossem para os trabalhadores. Os trabalhadores tinham todo crédito em cima do patrimônio, que era aquele crédito trabalhista, tanto crédito legítimo quanto o salário-papel.[fim]

E, para que os trabalhadores pudessem ou concordar, assim, e negociar, aí, que foi feito um prazo de 15 ou 20 dias, para estudar, com o Governo do Estado, um tipo de solução. Essa solução não surgiu, lá, no dia 1º de maio, na hora; ela demorou, mais ou menos,

uns 8, 10 dias, enquanto que o Estado chegou à conclusão de que, se as operações comerciais foram feitas através da Cooperativa, o ICMS da Cooperativa – os 75% – iria para os empregados da Cooperativa, que eram os credores trabalhistas. E, aí, que se chegou a essa idéia do comodato, que foi firmado no dia 11 de maio.[fim]

Então, naquele dia, 1º de maio, não teve nenhum contrato, e teve, simplesmente, propostas de todos os lados, que ficaram na condição de viabilidade futura.[fim]

O SR. ELVINO BOHN GASS – Isso, mas a Penta Star e a Penta Castilhense são empresas, então, qual é que é...[fim]

O SR. CARLOS ANTONIO GOMES – Foram constituídas para operar o comodato.[fim]

O SR. ELVINO BOHN GASS – O comodato. E quem coordenou a formação da Penta Star e da Penta Castilhense?[fim]

O SR. CARLOS ANTONIO GOMES – Quem assinou os contratos fui eu, como advogado, e assinei também como sócio.[fim]

O SR. ELVINO BOHN GASS – Está. O Senhor era sócio junto com mais quem?[fim]

O SR. CARLOS ANTONIO GOMES – Era eu, o Carlos Kerber, o Erardth Staub e o Orlando Pochmann.[fim]

O SR. ELVINO BOHN GASS – Isso era a Penta Star ou a Penta Castilhense?[fim]

O SR. CARLOS ANTONIO GOMES – Acho que a Penta Star, essa.[fim]

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – O Sr. Arthur Boes não era sócio?[fim]

O SR. CARLOS ANTONIO GOMES – Da Penta Star, não. Da Penta Star, não.[fim]

O SR. ELVINO BOHN GASS – E o Carlos Kerber era da Penta Star?[fim]

O SR. CARLOS ANTONIO GOMES – Penta Star.[fim]

O SR. ELVINO BOHN GASS – Da Penta Star.[fim]

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – No dia em que fizeram...[fim]

O SR. CARLOS ANTONIO GOMES – Tanto que o acordo que foi feito com os empregados foi feito em nome do Três C, porque o acordo com os empregados foi antes dessas Empresas.[fim]

Na seqüência do depoimento, é narrado como era a relação entre a Cooperativa, proprietária da planta frigorífica e sua arrendatária. Isto na versão do Depoente:

O SR. CARLOS ANTONIO GOMES – Quem realizava as operações comerciais era a Cooperativa; quem comprava, emitia nota, assinava, assinava as duplicatas era a Cooperativa. A Cooperativa repassava o valor da mão-de-obra para a Penta, e a Penta pagava os empregados.[fim]

Ainda, na seqüência o mesmo Depoente fala sobre a constituição dos Créditos Fiscais pela Cooperativa:

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – Com relação ao ICMS, nós temos que a firma dos Senhores deixou para a Cooperativa um débito de mais de 17 milhões de reais à época. Procede ou não procede essa informação?[fim]

O SR. CARLOS ANTONIO GOMES – Procede em parte. Procede porque as autuações são falaciosas. As autuações fraudam a lei, mas eu já estou providenciando nas ações pra anular essas autuações.[fim]

É nesse ponto que há séria contradição dessa informação. A Cooperativa tem outra versão dos fatos. Nesse sentido, transcrevem-se as declarações da sua Procuradora, a Advogada Maria do Carmo Lorenci, que prestou depoimento em reunião extraordinária realizada na data de 25 de agosto, dando um histórico diferente dos fatos, especialmente sobre a constituição das dívidas com o FISCO ESTADUAL:

A SRA. MARIA DO CARMO LORENCI – Eu gostaria.[fim]

Meu bom-dia a todos os componentes desta CPI e dizendo que sei da importância de uma comissão parlamentar de inquérito e da importância desta, em especial, uma vez que há 14 anos sou advogada da Cooperativa Regional Castilhense de Carnes e Derivados, de Júlio de Castilhos.[fim]

Nessa condição, nós vimos passando, desde 1989, 88, por diversos problemas no setor. Os primeiros dizem respeito a quando a Cooperativa paralisou suas atividades em 1990, decorrente de planos econômicos do Governo Federal, onde houve o problema do congelamento do câmbio, com contratos de exportação que havia a obrigatoriedade de cumprir., enfim, o ICMS que era tributado, na época, chegando até a 17%. Tudo isso vinha inviabilizando o setor, ao lado de abates clandestinos, abigeato, enfim, uma série de fatores que levaram os nossos frigoríficos do Estado a ter os mais diversos problemas que hoje a gente procura contemporizar.[fim]

Na realidade, após 1990, quando a Cooperativa encerrou as suas operações, entregando todos os seus documentos para o ICMS, fechando o caixa, fechando contas em banco, a cooperativa passou a operar, é que nós precisamos mantê-la funcionando, pois é um belo frigorífico, também precisamos da fonte de emprego em Júlio de Castilhos, passamos a fazer arrendamentos temporários, teve o frigorífico CD que esteve lá e foi excelente durante seis meses, quase um ano.[fim]

Depois disso, em maio de 1993, o grupo Três C, junto com o seu proprietário, Sr. Carlos Antônio Kerber e outras pessoas, fizeram propostas de compra e um comodato.[fim]

A partir de então passamos a viver um período, como havia a necessidade de que se fizesse, a cooperativa estava com a sua inscrição estadual encerrada, como esse grupo achou, por bem, fazer um contrato de compra e venda e um de comodato, já que eles iriam adquirir o parque e seria mais fácil para eles negociarem com os credores através de um contrato de comodato, segundo eles entenderam, fizeram um requerimento de uma nova inscrição da cooperativa.[fim]

A priori eles requereram uma inscrição em nome da firma que eles haviam criado, a Pentas Car, que era o Sr. Carlos Kerber, Herard Wolgmuth Von Staub, Carlos Antônio Gomes, Orlando Pockmann e havia um outro Senhor, que não lembro o nome, mas tenho os documentos.[fim]

Como a 10ª Coordenadoria Regional de Santa Maria entendeu que a cooperativa não poderia ter uma nova inscrição da Pentas Car no mesmo endereço da cooperativa, pois a cooperativa existe, está com a sua direção e o seu conselho formalizados, entenderam que não poderia haver uma nova inscrição no mesmo local.[fim]

Como também havia essas firmas pedindo para entrar no Programa de Carne de Qualidade, eles abriram uma nova inscrição e teria que ser para frigoríficos, deram uma nova inscrição para a castilhense.[fim]

Isso, para nós, foi um problema muito sério que, até hoje, traz prejuízo.[fim]

Por quê? Porque quando o fisco concedeu uma nova inscrição, já que a primeira havia sido cancelada, para que a Penta Star operasse em nome da cooperativa, essa firma veio a criar um

débito fiscal de ICMS, no final, em torno de 17 milhões de reais, onerando a cooperativa.[fim]

Quando a cooperativa viu, em 1994, um ano após, que as coisas não estavam bem, imediatamente ingressou na Justiça, retirando talonários e uma série de providências, reintegração de posse, denunciando rescisão de contrato de compra e venda, enfim, fazendo tudo o que a lei nos permitia para a retomada do frigorífico e para que cessasse aquele endividamento que nós entendíamos não ser da cooperativa.[fim]

Por quê? Porque tudo que era comercializado, tudo que era abatido, tudo que era negociada pelas Pentas, a Pentas Car e a Pentas Castilhense, que era a firma que contratava os funcionários, nada entrava nos cofres da cooperativa, nunca entrou um centavo.[fim]

Tivemos uma dificuldade muito grande, para que alguns autos de lançamentos, depois de 19 reuniões com o Governo do Estado, inúmeros ofícios para o Governador do Estado, na época Antônio Britto, inúmeros ofícios inclusive para o ex-Governador, quando o Governador estava viajando, também para o Secretário da Fazenda, Dr. Cézar Busatto, estive presente em 19 reuniões com a Secretaria da Fazenda, sendo que na última, vendo que não teríamos nenhum tipo de, enfim, que nos auxiliassem para que cessassem aquelas coisas uma vez que o Fisco continuava dando, através de liminares, a Justiça, também dava liminares para as Pentas trabalharem. Resolvemos que a partir dali viríamos para a Assembléia Legislativa. Foi quando o Dr. Volnei, que era advogado na época, pediu que esperássemos por um dia para eles terem uma resposta e conseguimos anular alguns autos de infração.[fim]

Este problema veio o redundar em que tínhamos necessidade urgente, uma vez que o Fisco, após dois anos e meio de requerermos, conseguimos retirar os talonários da Cooperativa, a Penta Star conseguiu, aqui na 3ª Vara da Fazenda Pública, uma liminar lhe concedendo inscrição estadual, porque até então ela operava até 1996 com a inscrição da cooperativa, mesmo que

tivéssemos tomado todas as providências legais, inclusive, na época denunciamos à Receita Federal, ao Ministério Público Federal, denunciamos ao Ministério Público Estadual, denunciamos a todas as autoridades competentes. Com isso conseguimos que cessassem o uso dos talonários, mas o nosso endividamento, o endividamento que o ICMS, que a fiscalização do Estado entendia ser da cooperativa, veio a nos trazer um prejuízo enorme. Até hoje temos mais de 36 executivos fiscais, sou que atuo, sou eu que defendo a Castilhense, em Júlio de Castilhos, com problemas sérios inclusive em todos eles.[fim]

Existia, na época, substituição tributária elevadíssima, multa de 300% e uma gama considerável de coisas que fizeram que a Castilhense, a par do seu endividamento anterior até 1990 que com o Estado do Rio Grande do Sul era de 1 milhão, 600 mil reais e, após este comodato e contrato de compra e venda, passou a 17 milhões de reais, fez com que nos retraíssemos até em alguns negócios viáveis que havia.[fim]

Isso que nos trazia ao Governo do Estado, na época, nos tínhamos um comprador que tinha interesse na aquisição da Castilhense e não o fazia por causa deste débito fiscal. Para que isto cessasse, para que estas firmas saíssem de lá, – eu tinha a obrigação, lógico, de defender a minha cliente –, tive a idéia de fazer um usufruto. Tínhamos dívida na Justiça do Trabalho, na época eram 360 reclamantes. Então resolvemos colocar a idéia para a direção e conselho fiscal, resolvemos requerer o usufruto da empresa. Na realidade, o pedido inicial não foi da empresa. O pedido foi apenas para o parque frigorífico. Que o parque frigorífico fosse dado em usufruto aos trabalhadores, para que eles trabalhassem e se pagassem, mas acabou saindo, na Justiça do Trabalho, usufruto de empresa. Como tínhamos urgência que as medidas fossem tomadas, também não argüimos que este usufruto não poderia ser gerido pelos empregados em nome da empresa e somente o parque frigorífico.[fim]

Conseguimos, depois de várias tentativas obtivemos êxito, a primeira vez a Justiça do Trabalho nos negou este direito e nós não

queríamos. Gostaria de esclarecer que o usufruto foi feito, porque a cooperativa regional, a Cooperativa Serrana, de Tupanciretã, tinha passado por um problema semelhante, com o mesmo advogado, que era o advogado das trabalhistas, lá em Júlio de Castihos, Dr. Leonardo Kessler Thibes, e ele conseguiu, na época, fazer o leilão da cooperativa da Serrana de Tupanciretã, retirando todo o maquinário, leiloando para pagar – o que não pagou todas as trabalhistas – mas que inviabilizou a empresa.[fim]

Então, tínhamos um exemplo ao lado, porque Tupanciretã fica 24 quilômetros de Júlio, nós temos um exemplo ao lado de que o leilão do maquinário para os empregados não resolveria o problema, e mais, agravaria a situação de Júlio de Castilhos que tem muito poucos empregos.[fim]

Então, esse também foi um dado que nos fez fazer usufruto judicial, só que infelizmente esse usufruto, realmente veio a acarretar, não só para Júlio de Castilho, mas acredito que para o suinocultores do Rio Grande do Sul é um problema muito sério.[fim]

Nos dois primeiros anos, em 1997, acho que até final de 1999, ficaram na administração as pessoas que nós havíamos indicado. Como essas pessoas também não estavam a contento, mas também não estavam utilizando o nome da Castilhense em nada, mas também não estavam cumprindo a meta que o Dr. Ricardo Vigilante Pedroso, que instituiu o usufruto tinha colocado no rendimento mensal de 200 mil. Isso porque um usufruto não pode ser eterno, ele tem que ter um período, porque os proprietários, lógico, do frigorífico, da cooperativa também tem o direito e o dever de pagar seus débitos próprios, retomando as atividades.[fim]

Como esse usufruto estava realmente muito moroso, entre eles mesmos houve um problema e acabou o Juiz do Trabalho, Dr. Gustavo Fontoura Vieira, nomeando sob os protestos veementes, principalmente meu e dos advogados dos reclamantes, nomeando como administrador o Dr. Leonardo Kessler Thibes.[fim]

Ele assumiu, acredito que, se não me engano em final do ano

de 1999, de 2000, aliás, desculpa, de 2000. A partir daí ficou ainda trabalhando com ele lá, a firma Frigopal, que era um frigorífico de... um grupo empresarial da Argentina, e depois também não deu certo e paralelamente a gente... no início nós deixamos para ver. Eles estavam imbuídos de muita boa vontade, demostrado para o Juiz o que iria compor os débitos, mas passados, praticamente um ano e meio, não havia nenhum depósito judicial a favor dos reclamantes e a gente começou a se inquietar, até que um dia, o Presidente da Cooperativa, Dr. Régis Lopes Sales recebeu no final do ano passado, um telefonema de um advogado de São Paulo, que representava uma...[fim]

Houve uso indevido da inscrição da Cooperativa no ICMS. Se era a empresa comandatária do Senhor Carlos Gomes que explorava a planta indústria, abatendo e comercializado animais de corte, era ela que deveria ser responsável pelo recolhimento dos impostos referentes à produção. A Cooperativa não tinha disposição sobre a planta indústria. Sem essa, não tinha como operar. Se não estava em operação e nem tinha meios para operar, o uso de seu talão fiscal por outra Empresa é uma fraude fiscal. Essa consiste na conduta de elaborar e utilizar documento fiscal, no caso talonário de terceiro, que sabia que era inexato. E essa está perfeitamente caracterizada pelo prejuízo causado à Cooperativa, que só ficou com as dívidas perante o Fisco e o ônus de discuti-la em Juízo.

AO AGIR ASSIM, o Senhor Carlos Gomes ao elaborar e utilizar documento fiscal, no caso talonário de terceiro, que sabia que era inexato para não pagamento de tributo de empresa de sua propriedade praticou, em tese, CRIME CONTRA ORDEM TRIBUTÁRIA, capitulado no inciso IV do artigo 1° da Lei Federal n.° 8.137, de 27 de dezembro de 1990.

MERCOMEAT IMPORTAÇÃO E EXPORTAÇÃO LTDA.

Para promover a análise do comportamento do parque industrial instalado no Município de Santana do Livramento, a CPI iniciou seus trabalhos pelo histórico dos acontecimentos das antigas instalações do Frigorífico Swift Armour S/A, sociedade que teve suas operações encerradas há vários anos. O parque industrial foi adjudicado pelo Banco do Brasil S/A, por conta de dívidas junto à instituição financeira. De posse do parque, o Banco do Brasil S/A efetuou uma locação à empresa General Meat Food Exportação e Importação Ltda., tendo em sua composição societária o Sr. Carlos Kerber, também sócio do Frigorífico Três C Ltda., ex-presidente do Sindicato da Indústria da Carne do Rio Grande do Sul (SICADERGS). No decorrer do tempo a composição societária se modificou, passando a ter como sócio majoritário uma “off-shore” com sede em Montevidéu, República Oriental do Uruguai, sendo representada para todos os efeitos jurídicos pelo Sr. Júlio Cesar dos Santos. As atividades desta

empresa cessaram e ela se encontra em estado falimentar, com processo em curso na Comarca daquela cidade.

Sobre esta questão específica, foram ouvidas por esta CPI diversas pessoas ligadas aos fatos que culminaram no fechamento da planta industrial arrendada ao Banco do Brasil S/A, pela General Meat Food Exportação e Importação Ltda., que ocasionou reflexos danosos aos fornecedores e credores, em especial aos produtores rurais que entregaram seus animais sem terem recebido o pagamento por eles.

As primeiras informações sobre a situação das atividades da General Meat Food Exportação e Importação Ltda., foram trazidas à CPI pelo Sr. Júlio Cesar dos Santos. Este, como procurador da “off-shore”, administrava as operações da empresa, sob a supervisão do Sr. Carlos Kerber que, segundo provas documentais, cedeu sua participação societária para a Wanex National Investments S/A, pelo valor de R$ 4.900.000,00 (quatro milhões e novecentos mil reais), conforme prova documental anexada aos autos. Apesar de credor desta quantia significativa, declarou não ter recebido e não ter providenciado a respectiva ação para a cobrança. A declaração consta do depoimento datado de 03 de novembro de 2003, o qual deixou, de certa forma, clara a ligação do credor (Carlos Kerber) com a “off-shore”. Isto é realçado de forma mais incisiva no momento em que o mesmo Sr. Carlos Kerber cedeu à outra “off-shore”, com sede também em Montevidéu, República Oriental do Uruguai Yniza-Yorke National Investments S/A, pelo valor de R$ 5.350.000,00 (cinco milhões, trezentos e cinqüenta mil reais), sua participação societária no Frigorífico Três C Ltda., e, da mesma forma, não recebeu e não tomou qualquer medida para receber seu crédito ou reaver sua participação social.

Os créditos do Sr. Carlos Kerber junto às empresas uruguaias ultrapassam a cifra de R$ 10.000.000,00 (dez milhões de reais) e, mesmo assim, não tomou qualquer medida, e, ainda, ele passou (o Sr. Carlos Kerber) a ser o procurador de ambas as empresas, sendo que, no Frigorífico Três C Ltda., atualmente é diretor, com uma remuneração mensal de R$ 2.000,00 (dois mil reais). As provas documentais destas transações encontram-se anexadas aos autos, juntamente com as transcrições dos depoimentos.

Este intróito serve para, de fundamento lógico, vincular a figura do Sr. Carlos Kerber ao Sr. Flávio Alexandre Hofsetz, seu ex-empregado.

No depoimento do Sr. Júlio Cesar Santos, prestado em 18 de setembro de 2003, este informou que uma nova empresa estaria encobrindo as ações do Sr. Carlos Kerber, sócio majoritário da General Meat Food Exportação e Importação Ltda., visando à reabertura da planta industrial da antiga Swift Armour. Mencionou que a empresa Mercomeat Importação e Exportação Ltda., era de propriedade do Sr. Flávio, sendo que este trabalhou para o Sr. Carlos Kerber, como financeiro na General Meat Food Exportação e Importação Ltda., nos seguintes termos:

O SR. PRESIDENTE JERÔNIMO GOERGEN – E dentro deste contexto de que haveria um seguro, seguro ou enfim uma indenização, nós temos uma informação...quem é o grupo que vai reabrir o Swift Armour, General Meat Food?[fim]

O SR. JULIO CESAR SILVA DOS SANTOS – Quem representa a Merco Meat...[fim]

O SR. PRESIDENTE JERÔNIMO GOERGEN – Merco Meat seria quem está abrindo novamente?[fim]

O SR. JULIO CESAR SILVA DOS SANTOS – A empresa que teria arrebatado a planta. Merco Meat é... o diretor majoritário dela é o Flávio.[fim]

O SR. ELVINO BOHN GASS – Que Flávio?[fim]

O SR. JULIO CESAR SILVA DOS SANTOS – Flávio Alexandre Hofsetz.[fim]

O SR. PRESIDENTE JERÔNIMO GOERGEN – Como? Flávio Alexandre?[fim]

O SR. JULIO CESAR SILVA DOS SANTOS – Hofsetz.[fim]

O SR. PRESIDENTE JERÔNIMO GOERGEN – O Sr. acha que o Três C estaria por trás disso?[fim]

O SR. JULIO CESAR SILVA DOS SANTOS – O Flávio sempre me negou, até porque...[fim]

O SR. PRESIDENTE JERÔNIMO GOERGEN – Foi este também que não lhe pagou os 250? É isto?[fim]

O SR. JULIO CESAR SILVA DOS SANTOS – Isso.[fim]

O SR. PRESIDENTE JERÔNIMO GOERGEN – O Flávio que deu um

cheque sem fundo...[fim]

O SR. JULIO CESAR SILVA DOS SANTOS – Isso.[fim]

O SR. PRESIDENTE JERÔNIMO GOERGEN – E o Senhor acha que o Três C estaria por detrás disso?[fim]

O SR. JULIO CESAR SILVA DOS SANTOS – É, porque, no início das nossas conversações, eu indaguei do Flávio isso aí: Mas o Carlos já está jogando por trás? Não, não tá.[fim]

O SR. PRESIDENTE JERÔNIMO GOERGEN – O Flávio é da onde?[fim]

O SR. JULIO CESAR SILVA DOS SANTOS – Aqui de Porto Alegre.[fim]

O SR. ELVINO BOHN GASS – O que ele tem de representação de empresa? Ele trabalha em que ramo, o Flávio?[fim]

O SR. JULIO CESAR SILVA DOS SANTOS – O Flávio, eu sei que ele trabalhou, se não me engano, aqui no Conceição, antes de ir para Livramento. Depois foi trabalhar lá na General Meat Food.[fim]

O SR. PRESIDENTE JERÔNIMO GOERGEN – Ele trabalhou na General Meat Food?[fim]

O SR. JULIO CESAR SILVA DOS SANTOS – Sim, ele era financeiro lá.[fim]

O SR. ELVINO BOHN GASS – O Senhor pediu os 250 reais. Por que o Senhor pediu os 250 reais para ele?[fim]

O SR. JULIO CESAR SILVA DOS SANTOS – Eu pedi porque...[fim]

O SR. ELVINO BOHN GASS – Porque o Senhor pediu para o

Flávio?[fim]

O SR. JULIO CESAR SILVA DOS SANTOS – Eu pedi para o Flávio.[fim]

O SR. ELVINO BOHN GASS – À época o Senhor já estava desligado das empresas?[fim]

O SR. JULIO CESAR SILVA DOS SANTOS – Ah, não, isso foi agora em julho.[fim]

O SR. ELVINO BOHN GASS – Agora em julho.[fim]

O SR. JULIO CESAR SILVA DOS SANTOS – É.[fim]

O SR. PRESIDENTE JERÔNIMO GOERGEN – Que cargo ele exerceu na General Meat Food o Flávio?[fim]

O SR. JULIO CESAR SILVA DOS SANTOS – Financeiro.[fim]

O SR. ELVINO BOHN GASS – Mas vocês tinham...[fim]

O SR. JULIO CESAR SILVA DOS SANTOS – Porque antes de ir à falência, ocorreu o seguinte. O Carlos procurou...[fim]

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – Já foi decretada a falência?[fim]

O SR. JULIO CESAR SILVA DOS SANTOS – Sim.[fim]...........O SR. ELVINO BOHN GASS – Eu posso continuar, então, no raciocínio que eu estava.[fim]

Foi a leilão a Meat Food.[fim]

O SR. JULIO CESAR SILVA DOS SANTOS – A Swift, a planta da Swift.[fim]

O SR. ELVINO BOHN GASS – A planta, isso, que estava gerenciada pela Meat Food. Esta certo. A planta. Qual é o comentário? Foi 1 milhão e meio...[fim]

O SR. JULIO CESAR SILVA DOS SANTOS – É.[fim]O SR. ELVINO BOHN GASS – ...o pagamento. Mas qual a avaliação que a planta mereceria no seu parecer?[fim]

O SR. JULIO CESAR SILVA DOS SANTOS – Olha, eu creio que o potencial da planta, puxa vida, seria, no mínimo, dez vezes mais que isso.[fim]

O SR. ELVINO BOHN GASS – Como é que foi esse procedimento assim? O leilão... Esse processo que o Senhor falou antes, entendeste, de entrar o recurso, retornar... Conta talvez melhor essa história. Como foi isso?[fim]

O SR. JULIO CESAR SILVA DOS SANTOS – Quanto ao leilão, só acompanhei o leilão pelo rádio. Houve um ou dois leilões há pouco tempo e não houve lance. Aí marcaram esse último, saiu a venda e foi quando entrou o Flávio na...[fim]

O SR. ELVINO BOHN GASS – Mas, então, assim, na verdade, a venda baixa, o valor baixo, depois a sugestão deles mesmos de constituir uma empresa para gerenciar, o que o Senhor disse antes.[fim]

O SR. JULIO CESAR SILVA DOS SANTOS – Sim, antes da falência, eles constituíram a Heart para ficar de gestora da General Meat.[fim]

O SR. ELVINO BOHN GASS – Perfeito, aí fazem o leilão. E agora voltam para comprar a planta?[fim]

O SR. JULIO CESAR SILVA DOS SANTOS – Sim.[fim]

O SR. ELVINO BOHN GASS – Na verdade compraram a planta?[fim]

O SR. JULIO CESAR SILVA DOS SANTOS – Compraram. Não no nome da Heart, né. Comprou essa empresa que o Flávio constituiu ela, a Merco Meat.[fim]

O SR. ELVINO BOHN GASS – Isso. Mas essa relação do Flávio com a Três C, qual é que é?[fim]

O SR. JULIO CESAR SILVA DOS SANTOS – Ele foi financeiro lá do Carlos e da Heart of de Frontier.[fim]

Estas declarações levaram a CPI a intimar o Sr. Flávio Alexandre Hofsetz para prestar depoimento, no sentido de esclarecer todos os atos relacionados à criação da empresa Mercomeat Importação e Exportação Ltda. e suas atividades. Em 03 de novembro do corrente ano, o depoente apresentou-se assessorado por advogado e, nesta ocasião, apresentou cópias reprográficas dos documentos relativos à constituição da sua empresa e as devidas alterações sociais, assim como relativas ao contrato de locação das instalações da massa falida do Frigorífico Rio Guaíba Ltda. e do processo judicial relativo à planta de propriedade do Banco do Brasil S/A.

Ao ser questionado, informou:

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – Qual é a sua profissão?[fim]

O SR. FLÁVIO ALEXANDRE HOFSETZ – Eu sou contabilista.[fim]

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – A sua atividade atualmente, hoje, é essa?[fim]

O SR. FLÁVIO ALEXANDRE HOFSETZ – Não, eu sou proprietário duma empresa, que detenha a planta frigorífica de Santana do Livramento.[fim]

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – Essa planta é propriedade da empresa, ou ela tem a...?[fim]

O SR. FLÁVIO ALEXANDRE HOFSETZ – Eu, não...Nós temos uma planta locada na cidade, lá, que é planta da Cooperativa Regional Santanense, e a questão de 60 dias atrás nós adquirimos do leilão do Banco do Brasil a planta do Swift Armour.[fim]

O SR. FLÁVIO ALEXANDRE HOFSETZ – Na Mercomeat houve uma alteração contratual em abril deste ano. Ela era uma empresa da família, foi constituída em junho de 1999 e em abril deste ano nós fizemos uma alteração contratual. Alteramos o objetivo social dela para carnes porque eram duas alternativas: ou se constituía uma nova empresa, e como existia essa empresa da família, optamos por dar segmento à empresa apenas alterando o objetivo e a razão social.[fim]

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – Por qual razão foi feita essa alteração?[fim]

O SR. FLÁVIO ALEXANDRE HOFSETZ – Para vincular, ela não era uma empresa ligada ao setor de carnes. Como havia o interesse da empresa em arrendar o frigorífico da Cooperativa Santanense, com quem nós estávamos em tratativas desde janeiro, ou se constituía uma empresa ou simplesmente se alterava esta. E optou-se por uma empresa que já tinha, pelo menos, algum histórico, já existia uma data de fundação.[fim]

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – Ela atuava em qual setor?[fim]

O SR. FLÁVIO ALEXANDRE HOFSETZ – Ela dava consultoria e representação, esse era o objetivo dela.[fim]

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – Quem são os sócios dessa...[fim]

O SR. FLÁVIO ALEXANDRE HOFSETZ – Da Mercomeat.?[fim]

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – Isso![fim]

O SR. FLÁVIO ALEXANDRE HOFSETZ – Flávio, que sou eu, e Fábio, que é o meu irmão.[fim]

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – Qual é o capital social da empresa?[fim]

O SR. FLÁVIO ALEXANDRE HOFSETZ – Hoje, quinhentos mil reais.[fim]

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – A sua sede...[fim]

O SR. FLÁVIO ALEXANDRE HOFSETZ – Hoje ela está em Santana do Livramento. Na Avenida São Paulo, que era o endereço anterior, é apenas um escritório, aqui em Porto Alegre.[fim]

O SR. PRESIDENTE JERÔNIMO GOERGEN – Capital integralizado, total?[fim]

O SR. FLÁVIO ALEXANDRE HOFSETZ – Hoje já integralizado.[fim]

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – Ela opera em Livramento?[fim]

O SR. FLÁVIO ALEXANDRE HOFSETZ – Ela está por iniciar as atividades. Hoje o endereço da empresa é na planta da Cooperativa Regional Santanense.[fim]

O SR. PRESIDENTE JERÔNIMO GOERGEN – Esse capital integralizado é seu e do...[fim]

O SR. FLÁVIO ALEXANDRE HOFSETZ – Esse capital foi integralizado, em parte, na alteração do contrato, após, na aquisição de uma máquina e posterior a isso, o restante em dinheiro, até quando foi dado o lance para a compra da Swift Armour.[fim]

O SR. PRESIDENTE JERÔNIMO GOERGEN – Tá. Então... E a origem do recurso para integralizar o capital na ordem de 500 mil reais, como ele veio? Tinha parte dele que era recurso pessoal, 250

mil reais. Qual é o...[fim]

O SR. FLÁVIO ALEXANDRE HOFSETZ – Se não me engano, eram 200 mil reais entre... Eram 100 mil reais para mim, 100 mil reais para o Fábio. O restante foi comprado numa máquina, uma máquina que hoje é patrimônio da empresa, de aproximadamente 200 mil reais, e o restante do recurso foi empréstimo pessoal, onde foi aportado para a compra do...[fim]

O SR. PRESIDENTE JERÔNIMO GOERGEN – Empréstimo pessoal... Pegou no banco? Onde?[fim]

O SR. FLÁVIO ALEXANDRE HOFSETZ – É, exatamente.[fim]

O SR. PRESIDENTE JERÔNIMO GOERGEN – Qual banco?[fim]

O SR. FLÁVIO ALEXANDRE HOFSETZ – Na Caixa Econômica Federal.[fim]

O SR. PRESIDENTE JERÔNIMO GOERGEN – Valor de...[fim]

O SR. FLÁVIO ALEXANDRE HOFSETZ – Cem mil reais. Centro e trinta mil reais, para ser mais exato.[fim]

O SR. PRESIDENTE JERÔNIMO GOERGEN – Então o Senhor integralizou 250, que era a sua parte. Nós temos aqui, no contrato, esses valores. Por isso que estou questionando.[fim]

O SR. FLÁVIO ALEXANDRE HOFSETZ – Sim, sim, sim. É que grande parte desse valor, aproximadamente 200 mil reais, foi adquirida através da compra de uma máquina, uma injetora de poliuretano que nós vamos reformar as câmaras frias da Cooperativa Santanense.[fim]

O SR. PRESIDENTE JERÔNIMO GOERGEN – Sim, mas são 500 mil o total do capital.[fim]

O SR. FLÁVIO ALEXANDRE HOFSETZ – Hoje o capital social é

500 mil reais.[fim]

O SR. PRESIDENTE JERÔNIMO GOERGEN – Integralizado...[fim]

O SR. FLÁVIO ALEXANDRE HOFSETZ – ...dessa forma.[fim]

O SR. PRESIDENTE JERÔNIMO GOERGEN – Dessa forma.[fim]

O Sr. Flávio Alexandre Hofsetz, ao ser questionado sobre a composição societária e a integralização do capital social da empresa Mercomeat Importação e Exportação Ltda., apontou contradições. Em determinado momento, afirmou que o capital social de R$ 500.000,00 (quinhentos mil reais) está totalmente integralizado, assim composto: R$ 100.000,00 (cem mil reais) seus; R$ 100.000,00 (cem mil reais) de seu irmão e sócio; R$ 130.000,00 (cento e trinta mil reais) em empréstimo junto à Caixa Econômica Federal; e o restante relativo à aquisição de uma máquina no valor de R$ 200.000,00 (duzentos mil reais). Em documento apresentado à CPI, o contrato dispõe que o capital social de R$ 500.000,00 (quinhentos mil reais), sendo que cada sócio teria integralizado R$ 250.000,00 (duzentos e cinqüenta mil reais). Entretanto, segundo o próprio depoente, seu sócio e irmão arcou somente com R$ 100.000,00 (cem mil reais), o que, de certa forma, prejudica juridicamente a confiabilidade daquele contrato social. Aduziu, ainda, em depoimento que:

O SR. PRESIDENTE JERÔNIMO GOERGEN – Nós sabemos... Aqui, o Senhor falou em empréstimo na Caixa Federal, e se sabe que, para um montante de 100 mil ou 200 mil, como foi aqui falado, precisa um capital para ser dado em garantia. Eu precisava saber um pouco mais dessa origem desses valores dados em empréstimos ou pessoais.[fim]

O Senhor tem uma renda de 4 mil. Que bens foram dados em garantia? Qual é o seu patrimônio? Preciso de mais dados.[fim]

O SR. FLÁVIO ALEXANDRE HOFSETZ – Para esses 100 mil reais?[fim]

O SR. PRESIDENTE JERÔNIMO GOERGEN – Isto.[fim]

O SR. FLÁVIO ALEXANDRE HOFSETZ – Esses 100 mil reais a garantia é pessoal minha, em cima só do meu único bem que eu

tenho, que é o apartamento onde resido.[fim]

O SR. PRESIDENTE JERÔNIMO GOERGEN – O Senhor deu o apartamento como garantia?[fim]

O SR. FLÁVIO ALEXANDRE HOFSETZ – É, eu assinei como avalista, né. Não chega a ser feito uma escritura, não é, uma hipoteca, vamos dizer assim. Foi simplesmente dado como avalizando o pagamento.[fim]

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – Sim, foi dado em garantia.[fim]

O SR. FLÁVIO ALEXANDRE HOFSETZ – É foi dado em garantia, foi dado em garantia.[fim]

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – O seu apartamento para receber esse valor?[fim]

O SR. FLÁVIO ALEXANDRE HOFSETZ – Exatamente.[fim]

A justificativa apresentada para a forma de financiamento junto à Caixa Econômica Federal é singela e não tem o condão de veracidade. As regras estabelecidas pelo Banco Central do Brasil são claras e rígidas. Um empréstimo pessoal no valor de R$ 100.000,00 (cem mil reais) com oferecimento de apenas um aval, é operação incompatível com a realidade. A instituição financeira não libera valores deste porte sem, no mínimo, uma garantia real. O que demonstra a fragilidade da origem dos recursos para legitimar o capital social da empresa Mercomeat Importação e Exportação Ltda..

Em outro questionamento, o depoente, Sr. Flávio Alexandre Hofsetz, assim deixou claro:

O SR. ELVINO BOHN GASS – Eu também tenho algumas questões a fazer, dentro dessa linha que foi colocada antes aqui, porque a origem do recurso, o Senhor, dos 500 mil reais que foram colocados aqui, 250 eram patrimônio vosso anterior e 130 foram financiados pela Caixa e 200 era análise do valor de aquisição de uma máquina.[fim]

O SR. FLÁVIO ALEXANDRE HOFSETZ – Sim.[fim]

O SR. ELVINO BOHN GASS – Que foi capitalizada.[fim]

O SR. FLÁVIO ALEXANDRE HOFSETZ – Sim.[fim]

O SR. ELVINO BOHN GASS – Esta máquina é originária da onde?[fim]

O SR. FLÁVIO ALEXANDRE HOFSETZ – Essa máquina é uma injetora de poliuretano, nós compramos ela da empresa Polsul Poliuretano, ela vai servir para acabar com um problema que existe, lá na cooperativa, chamado condensação. As câmaras lá são muito antigas, quando elas pararam de entrar em atividade, recolheram o frio, elas racharam, existem entradas de ar. E essa máquina vai injetar poliuretano para que acabe com essa condensação. É condição para que ela possa entrar nos mercados de exportação.[fim]

O SR. ELVINO BOHN GASS – É, mas e como é que ela foi financiada?[fim]

O SR. FLÁVIO ALEXANDRE HOFSETZ – Se ela foi financiada? Foi financiada.[fim]

O SR. ELVINO BOHN GASS – E que financiamento foi esse?[fim]

O SR. FLÁVIO ALEXANDRE HOFSETZ – Foi financiamento direto com essa empresa Polsul, onde nós compramos ela particular e ingressamos ela como patrimônio na empresa.[fim]

O SR. ELVINO BOHN GASS – Tá, e a origem desses recursos para essa compra?[fim]

O SR. FLÁVIO ALEXANDRE HOFSETZ – Não, mas ela foi totalmente financiada.[fim]

O SR. ELVINO BOHN GASS – Então, na verdade, vocês devem ela.[fim]

O SR. FLÁVIO ALEXANDRE HOFSETZ – É quem deve ela é Flávio, e não a empresa, né, ela pra empresa está quitada.[fim]

O SR. ELVINO BOHN GASS – Isso perante a... da onde ela foi comprada?[fim]

O SR. FLÁVIO ALEXANDRE HOFSETZ – Da empresa Polsul Poliuretano.[fim]

O SR. ELVINO BOHN GASS – Tá, e a perspectiva de pagamento dela, qual é o contrato de...[fim]

O SR. FLÁVIO ALEXANDRE HOFSETZ – De pagamento dela? Eu tenho até cinco anos para pagar essa. É que essa máquina, ela não estava em operação na empresa, essa onde foi comprada. E a empresa é de um amigo, ele fez – como é que eu vou te dizer – tanto que ele já me deu a quitação, mas quem deve, na realidade, é Flávio para a empresa.[fim]

......................O SR. ELVINO BOHN GASS – É que o empréstimo que o Senhor fez também pro... de 200 mil reais pra pagar em cinco anos da máquina... É isso?[fim]

O SR. FLÁVIO ALEXANDRE HOFSETZ – É, eu...[fim]

O SR. ELVINO BOHN GASS – O Senhor não fez empréstimo, o Senhor vai pagar em cinco anos?[fim]

O SR. FLÁVIO ALEXANDRE HOFSETZ – É. Vamos dizer que eu tenho até cinco anos pra continuar pagando...[fim]

O SR. ELVINO BOHN GASS – Porque é muito estranho se você for pagar um levantamento daria três e trezentos por mês, mais ou menos, se fosse pagar mensalmente.[fim]

O SR. FLÁVIO ALEXANDRE HOFSETZ – É que não foi feito um financiamento assim: olha vai dar X por mês. Eu tenho que pagar...[fim]

O SR. ELVINO BOHN GASS – Sim, mas nós precisamos pedir isso... (Falam simultaneamente.) como é que ela faz um negócio desses nessas condições, sem contrato...[fim]

O SR. FLÁVIO ALEXANDRE HOFSETZ – É porque eu tenho uma relação de amizade pessoal com o proprietário da empresa, inclusive a minha negociação com ele pode envolver inclusive... ele vir a participar no quadro social da minha empresa. Ele pode ser um dos parceiros...[fim]

O SR. PRESIDENTE JERÔNIMO GOERGEN – Mas nesse caso não está então integralizado o capital?[fim]

O SR. FLÁVIO ALEXANDRE HOFSETZ – Não, o capital está, eu... a minha pessoa física que é a devedora do valor. A empresa está capitalizada.[fim]

O SR. PRESIDENTE JERÔNIMO GOERGEN – Como é o nome da empresa?[fim]

O SR. FLÁVIO ALEXANDRE HOFSETZ – É a Mercomeat.[fim]

O SR. PRESIDENTE JERÔNIMO GOERGEN – Não, da máquina.[fim]

O SR. FLÁVIO ALEXANDRE HOFSETZ – Polsul Poliuretano Ltda.[fim]

O SR. ELVINO BOHN GASS – Quem é o proprietário da Polsul?[fim]

O SR. FLÁVIO ALEXANDRE HOFSETZ – É Venitor Bruschi.[fim]

O SR. PRESIDENTE JERÔNIMO GOERGEN – Quando é que foi

integralizado o capital da Mercomeat? Total deles 500 mil?[fim]

O SR. FLÁVIO ALEXANDRE HOFSETZ – Foi integralizado o restante com a compra da unidade da planta lá de Santana do Livramento, onde nós pagamos 80 mil reais pelo lance da planta.[fim]

O SR. PRESIDENTE JERÔNIMO GOERGEN – Mas quando que foi integralizado?[fim]

O SR. FLÁVIO ALEXANDRE HOFSETZ – Em agosto deste ano.[fim]

O SR. PRESIDENTE JERÔNIMO GOERGEN – Mas aqui em 30 de setembro ainda tinha a integralizar 100 mil reais.[fim]

O SR. FLÁVIO ALEXANDRE HOFSETZ – É apenas um lançamento que não havia sido efetuado. Nós ainda nem lançamos porque estamos ainda tratando com o Banco do Brasil da aquisição da planta, não é?[fim]

O SR. PRESIDENTE JERÔNIMO GOERGEN – A máquina injetora foi adquirida de quem?[fim]

O SR. FLÁVIO ALEXANDRE HOFSETZ – Não. Polsul poliuretano.[fim]

O SR. PRESIDENTE JERÔNIMO GOERGEN – Quanto foi pago?[fim]

O SR. FLÁVIO ALEXANDRE HOFSETZ – Quase 200 mil reais, se não me engano foi 182 ou 186, agora não me lembro o número direito.[fim]

O SR. PRESIDENTE JERÔNIMO GOERGEN – Onde que ela está?[fim]

O SR. FLÁVIO ALEXANDRE HOFSETZ – Ela está aqui em Porto

Alegre.[fim]

O SR. PRESIDENTE JERÔNIMO GOERGEN – A máquina?[fim]

O SR. FLÁVIO ALEXANDRE HOFSETZ – Isso.[fim]

O SR. PRESIDENTE JERÔNIMO GOERGEN – Onde?[fim]

O SR. FLÁVIO ALEXANDRE HOFSETZ – Na São Paulo, 245. Na empresa, ainda está em plástico bolha, está fechado.[fim]

O SR. PRESIDENTE JERÔNIMO GOERGEN – E a documentação inerente à aquisição?[fim]

O SR. FLÁVIO ALEXANDRE HOFSETZ – A aquisição? A nota fiscal dela.[fim]

O SR. PRESIDENTE JERÔNIMO GOERGEN – Nós temos aqui uma cópia da nota fiscal, que foi entregue pelo Senhor. O valor é 162 mil. Por que o Senhor falou 180.[fim]

O SR. FLÁVIO ALEXANDRE HOFSETZ – Não me lembrava do valor.[fim]

O SR. PRESIDENTE JERÔNIMO GOERGEN – Aqui não fala a questão do frete da máquina. Não consta aqui do transporte.[fim]

O SR. FLÁVIO ALEXANDRE HOFSETZ – Ela está praticamente no prédio ao lado, ali. Ela foi comprada e continua, porque não havia necessidade ainda. Enquanto não houver a necessidade de uso da máquina, ela vai ficar no prédio.[fim]

O SR. PRESIDENTE JERÔNIMO GOERGEN – Avenida São Paulo, 271.[fim]

O SR. FLÁVIO ALEXANDRE HOFSETZ – Isso.[fim]

O SR. PRESIDENTE JERÔNIMO GOERGEN –Sobreloja.[fim]

O SR. FLÁVIO ALEXANDRE HOFSETZ – Isso.[fim]

O SR. PRESIDENTE JERÔNIMO GOERGEN – O original da nota está contigo?[fim]

O SR. FLÁVIO ALEXANDRE HOFSETZ – Sim, está na Empresa.[fim]

O SR. PRESIDENTE JERÔNIMO GOERGEN – Nós precisávamos ter acesso ao original dessa nota.[fim]

O SR. FLÁVIO ALEXANDRE HOFSETZ – Perfeito.[fim]Por mim, se não hoje, amanhã, no máximo, está aí a nota.[fim]

O SR. PRESIDENTE JERÔNIMO GOERGEN – Original, nós precisamos do original, 48 horas.[fim]

O SR. FLÁVIO ALEXANDRE HOFSETZ – Perfeito.[fim]

Dentre as cópias reprográficas dos documentos apresentados no momento da tomada do depoimento, foi apresentada a da Nota Fiscal nº 3695, emitida por Polsul Poliuretano Ltda., na data de 10 de abril de 2003. Por dúvidas quanto à veracidade daquele documento, haja vista que nas declarações do Sr. Flávio Alexandre Hofsetz, a máquina ainda estaria na posse da empresa vendedora, em uma sobreloja, causou a esta Relatoria muita estranheza. Isso, aliado ao fato de que o dono da empresa vendedora é amigo do depoente, que não efetuou qualquer pagamento, e o pagamento parcelado sem emissão de duplicata mercantil para concretizar juridicamente aquela operação. Assim, foi solicitada a apresentação da via original da nota fiscal, que foi oportunizada para a assessoria da Comissão, comprovando-se a sua existência.

De posse da cópia reprográfica da nota fiscal autenticada, foi requerido à Secretaria da Fazenda para que confirmasse a veracidade daquele documento. Em diligência efetuada no endereço da empresa emitente da nota fiscal, a diligente fiscalização fazendária, assim manifestou-se:

Com relação ao local, informamos que está desocupado, sem sinal que esteja operando. Consultado estabelecimentos comerciais vizinhos fomos informados que encontraríamos os responsáveis pela POLSUL POLIURETANO LTDA no imóvel da mesma rua de nº 245.

Em nosso cadastro, nesse endereço, esteve inscrita até 31/08/03 a empresa MERCOMEAT IMP E EXP LTDA que é citada como destinatária da nota fiscal nº 3595.No local (Rua São Paulo nº 245) fomos recebidos pelo Sr. Venitor João Bruschi, sócio da empresa POLSUL POLIURETANO LTDA que nos informou que a mesma esta desativada desde meados de 2002 e que no momento trabalha como assessor comercial da empresa MERCOMEAT IMP E EXP LTDA que na Rua São Paulo nº 245 funciona um escritório desta.Também no local foram encontradas notas fiscais da empresa POLSUL POLIURETANO LTDA de nºs 2308 a 2981, emitidos no período de maio de 200 a outubro de 2000 e de nºs 2983 a 3673 emitidos entre novembro de 2000 a junho de 2001, os quais foram apreendidos, além das notas fiscais da empresa POLSUL POLIURETANO LTDA encontram-se no local, documentos fiscais das empresas CASA DO FIBERGLASS LTDA, baixada em 21/10/96, CASA DAS FITAS LTDA, baixada em 31/10/96 e CICLOSUL IND DE RESINAS LTDA, todas tendo como sócio o Sr. VENITOR JOÃO BRUSCHI.Com referência à empresa POLSUL POLIURETANO LTDA, informamos que a mesma desde novembro de 2001 vem apresentando Guia de Informação e Apuração do ICMS (GIA), sem movimento. Com referência à nota fiscal nº 3695, de 10/04/03 temos a informar o seguinte:O AIDF o nº 09698116791 de 14/07/98 autoriza a impressão de notas fiscais de nº 2001 a 3000. No rodapé da nota fiscal nº 3695, emitida em 10/04/03 o AIDF citado é o de nº 0969816791, nota-se a diferença de 1 (um) algarismo entre este e o citado anteriormente. E também o AIDF que autorizou a impressão de documentos fiscais (formulários contínuos) de nºs 2001 a 4000 foi o AIDF nº 50000017030, de 13/01/2000. Portanto, o AIDF citado na nota fiscal nº 3695, não foi autorizado, sendo este documento inidôneo.A nota fiscal nº 3695, emitida em 10/04/2003 tem como destinatária a empresa MERCOMEAT IMP E EXP LTDA. A Inscrição Estadual da destinatária e que esta destacada no documento fiscal é a nº 096/2982008. Em nosso cadastro verificamos que a empresa MERCOMEAT IMP E EXP LTDA somente obteve a Inscrição

Estadual 096/2982008 em 01/06/2003 portanto podemos afirmar que o documento fiscal é inidôneo e que foi emitido após 01/06/2003.

Como relatado na íntegra, a informação da 1ª Delegacia da Receita Estadual, do Departamento da Receita Pública Estadual, encontrou o imóvel vazio. Dirigindo-se ao endereço da empresa destinatária (Mercomeat Importação e Exportação Ltda.) foi encontrada uma pessoa que se apresentou como sócia da empresa Polsul Poliuretano Ltda., localizada a Av. São Paulo nº 271, sobreloja, afirmando que esta havia encerrado suas atividades em meados do ano de 2002. No entanto, no local onde estava inscrita no Cadastro Geral de Contribuintes de Tributos Estaduais (CGC/TE), foram encontrados documentos fiscais da empresa emitente da Nota Fiscal (Polsul Poliuretano Ltda.).

Afirmou o Sr Flávio Alexandre Hofsetz que nos dados da nota fiscal não constava transportador por que a máquina se encontrava em poder do vendedor, ainda embalada. Com a constatação pelos Fiscais da Secretaria da Fazenda de que o prédio onde funcionava a Polsul Poliuretano Ltda. está vazio e se encontra para locação, constata-se que é uma inverdade a posse da máquina. Até por que o depoimento foi realizado no dia 03 de novembro e a visita fiscal foi efetivada no dia 06 de novembro, apenas 48 horas após o depoimento. No momento do depoimento o Sr. Flávio Alexandre Hofsetz sabia da inexistência da máquina que serviu para justificar a integralização do capital da empresa Mercomeat Importação e Exportação Ltda., bem como serviu de garantia para levar a efeito a locação da massa falida do Frigorífico Rio Guaíba Ltda.

Pela apreensão dos documentos no momento da visita fiscal, confirmou-se que a Nota Fiscal nº 3695, emitida em 10 de abril de 2003, foi considerada inidônea pela fiscalização da Secretaria da Fazenda, visto que, nas autorizações para impressão de documentos fiscais, concedidos pelo Departamento da Receita Pública Estadual, não consta a descrita naquele documento fiscal, considerando-se uma “nota fiscal fria”.

Outro ponto a ser levado em consideração para comprovação de que a nota fiscal não merece qualquer credibilidade, está no fato de que a data da emissão é 10 de abril de 2003, enquanto que a inscrição estadual (CGC/TE) somente foi concedida em 01 de junho de 2003, ou seja, 50 dias após a emissão da nota fiscal, o que, em hipótese alguma poderia ocorrer, haja vista que o número de inscrição no cadastro de contribuinte é uma operação informatizada, e o emitente não poderia ter acesso àquele número.

Destarte, como conseqüência da comprovação de inidoneidade da nota fiscal, a mercadoria nela constante não existe, visto que em depoimento foi afirmado que a referida máquina não havia sido entregue. Entretanto, este bem foi dado em garantia judicial para a locação da instalações da massa falida do Frigorífico Rio Guaíba Ltda.,

tendo como fiel depositário o Sr. Flávio Alexandre Hofsetz, sócio gerente da Mercomeat Importação e Exportação Ltda..

No depoimento prestado e nas cópias apresentadas, consta que a máquina descrita na nota fiscal, no valor de R$ 162.000,00 (cento e sessenta e dois mil reais), foi paga e serviu para a integralização do capital social da Mercomeat Importação e Exportação Ltda. Porém, ao depor, o Sr. Flávio Alexandre Hofsetz afirmou ser amigo do dono da empresa emitente da Nota Fiscal (Sr. Venitor João Bruschi) e efetivamente não efetuou o pagamento da referida máquina. Apesar de constar no corpo da referida nota que houve o recebimento do valor da venda ali descrita.

De outra parte, deve ser analisado o leilão de venda extrajudicial da planta frigorífica de propriedade do Banco do Brasil S/A, pelos motivos abaixo discriminados.

A este respeito, ao ser questionado, o Sr. Flávio Alexandre Hofsetz, assim manifestou-se:

O SR. FLÁVIO ALEXANDRE HOFSETZ – Perfeito. E existia a idéia – existe ainda a idéia – da Cooperativa Santanense em vender a planta frigorífica, não é. E nós estabelecemos que, colocando essa planta em operação, a idéia era construir uma unidade de industrializados lá, mais voltada até para a área de refeições pet, essa para refeições animais.[fim]

Aí, o que aconteceu? Em julho deste ano, muitos...até nós assinarmos contrato com a massa falida do frigorífico Rio Guaíba, o Banco do Brasil levou a leilão a planta da Swift Armour. E o Secretário de Desenvolvimento do Município lá, o Sr. Gornatti, ele nos falou que nós seríamos uma peça interessante dentro processo da Swift, uma vez que a planta da Santanense é um frigorífico, ela é apenas um abatedouro. Nós poderíamos fornecer matéria-prima, já que a distância ali é próxima. E a idéia da planta da Swift não era fazer nenhum abate.[fim]

Aí, passado o leilão, para nossa surpresa, não houve nenhum arrematante. Entramos em contato com ele novamente, perguntamos se havia algum outro interessado na aquisição da planta. Ele disse que a parte que ele teria, que era um grupo de argentinos que iriam investir na planta, havia desistido. E nós perguntamos se ele teria alguma coisa em se opor a nós participarmos do leilão, uma vez que nós iríamos eliminar uma fase

do processo, que gostaríamos de construir lá na outra uma unidade de industrializados, e, há poucos quilômetros dali, já tinha uma completa por um valor, digamos que...nem...como é que eu vou lhe dizer, que não representa o patrimônio que tem dentro da empresa lá. O Banco do Brasil levou aquela planta a leilão, no ano passado, por aproximadamente 16 milhões de reais – e há uma empresa que está por fazer esse levantamento do patrimônio. Ou seja, o valor hoje da planta é muito maior do que o que o Banco do Brasil colocou, não é, à venda.[fim]

E um outro fator para nós é o seguinte: o valor que nós pagaríamos para o Banco do Brasil é menor do que o aluguel que nós estaríamos pagando para a Cooperativa Santanense, não é. Então, em termos financeiros, era extremamente viável participar do leilão. Fomos ao leilão, participamos, se não fôssemos nós adquirir, tinha adquirido um grupo de sucateiros de Bento Gonçalves. Eles falaram durante o leilão que o objetivo deles era sucatear a planta, era vender o que havia dentro, não é. Mas davam a condição de que se alguém quisesse participar para tocar a planta pelo lado social, eles se retirariam. Foi quando nós adquirimos.[fim]

Então, o único objetivo nosso, dentro do processo, foi eliminar a condição de ter que construir uma unidade de industrializados na planta da Cooperativa Santanense, uma vez que ela já está pronta dentro da planta da Swift Armour. Na planta da Swift Armour, não está no nosso entendimento efetuar nenhum tipo de abate nela, apenas a industrialização. Nós vamos efetuar os abates na planta da Cooperativa Santanense e industrializá-los na planta da Swift Armour.[fim]

O SR. ELVINO BOHN GASS – Por quanto vocês adquiriram a planta?[fim]

O SR. FLÁVIO ALEXANDRE HOFSETZ – Um milhão, 580 mil reais.[fim]

O SR. ELVINO BOHN GASS – Mas, a variação que corria do conjunto da avaliação era um valor...O valor real da planta?[fim]

O SR. FLÁVIO ALEXANDRE HOFSETZ – A Prefeitura, para cálculo do ITBI, ela avaliou, só o prédio e o terreno, em 11 milhões de reais. E há um comentário que os equipamentos lá dentro valem aproximadamente 6 a 8 milhões de reais.[fim]

O SR. ELVINO BOHN GASS – Uma Senhora de uma compra, então?[fim]

O SR. FLÁVIO ALEXANDRE HOFSETZ – Mas é, foi um dos grandes, né...[fim]

O SR. ELVINO BOHN GASS – Para dois assessores, né, porque na verdade é (ininteligível) e o teu irmão, que não trabalhavam nessa área, que não tinham frigorífico, que não faziam abate e que puderam comprar isso nesse momento.[fim]

O SR. FLÁVIO ALEXANDRE HOFSETZ – É, é verdade. Mas nós temos a consciência, Deputado, que nós não temos condições, de sem o parceiro, de colocar o negócio em funcionamento.[fim]

No decorrer das investigações, em fatos públicos e notórios, no parque industrial de duas empresas, Frigorífico Rio Guaíba Ltda. e General Meat Food Exportação e Importação Ltda., verificou-se um leilão extrajudicial da planta da antiga Swift Armour S/A, de propriedade do Banco do Brasil S/A, que foi adjudicada judicialmente por conta de débitos junto à instituição financeira. Apesar de inicialmente ter sido levada à leilão pelo lance mínimo de R$ 17.000.000,00 (dezessete milhões), o imóvel foi arrematado pela empresa Mercomeat Importação e Exportação Ltda. pelo valor ínfimo de R$ 1.580.000,00 (hum milhão e quinhentos e oitenta mil reais), com R$ 79.000,00 (setenta e nove mil reais) de sinal e o saldo financiado em 120 meses.

A par desta situação, foi intimado o Banco do Brasil S/A, por intermédio de pessoa com conhecimentos na área específica, para relatar os termos do processo de leilão do imóvel. No mesmo dia 03 de novembro do corrente, compareceu à Reunião da CPI o Sr. Paulo Sérgio da Silva dos Santos que, ao ser questionado, nestes termos, explicou a operação:

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – O que o Senhor poderia nos detalhar sobre essa planta e sobre esse leilão?[fim]

O SR. PAULO SÉRGIO DA SILVA DOS SANTOS – Bom, esse imóvel pertence ao Banco do Brasil, ele foi recebido em 1997, em pagamento, em troca de uma dívida, né, e de lá para cá ele foi levado a leilão para venda do imóvel, e no ano de 2003, no segundo semestre, realizamos dois leilões desse imóvel, sendo que no último logrou êxito a venda. Esse imóvel foi vendido à Empresa Mercomeat Importação e Exportação Ltda.[fim]

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – Qual foi o valor?[fim]

O SR. PAULO SÉRGIO DA SILVA DOS SANTOS – Um milhão quinhentos e oitenta. Ele foi levado a leilão por um milhão quatrocentos e setenta e arrematado por um milhão quinhentos e oitenta.[fim]

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – Qual foi a data desse leilão?[fim]

O SR. PAULO SÉRGIO DA SILVA DOS SANTOS – Vinte de agosto.[fim]

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – Na sua opinião, Dr. Paulo, o preço praticado no leilão foi compatível com a avaliação do patrimônio?[fim]

O SR. PAULO SÉRGIO DA SILVA DOS SANTOS – Esse imóvel foi avaliado por técnicos do Banco, aqui do Estado e de Brasília também. Avaliaram por esse valor.[fim]

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – O Senhor acredita, então, que foi compatível?[fim]

O SR. PAULO SÉRGIO DA SILVA DOS SANTOS – Tendo em vista as condições do imóvel, sim.[fim]

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – O que o Senhor considera, o Senhor tem conhecimento sobre as condições do imóvel se encontra

hoje?[fim]

O SR. PAULO SÉRGIO DA SILVA DOS SANTOS – Alguma coisa, sim.[fim]

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – Qual seria a sua avaliação das condições do imóvel?[fim]

O SR. PAULO SÉRGIO DA SILVA DOS SANTOS – Essa é uma planta bastante antiga, pode-se dizer que ultrapassada. Então ela sofreu, durante um período ela foi arrendada essa planta, e posteriormente, no ano passado, ela sofreu, digamos assim, não foi feita uma manutenção como deveria ser, da planta, por conseqüência disso, por ser uma planta muito antiga, ela acabou depreciada.[fim]

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – Quem é que faz e como é feita essa avaliação dos bens, pelo Banco do Brasil?[fim]

O SR. PAULO SÉRGIO DA SILVA DOS SANTOS – São engenheiros do Banco.[fim]

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – Engenheiros do Banco?[fim]

O SR. PAULO SÉRGIO DA SILVA DOS SANTOS – Isso.[fim]

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – Isso é feito por equipes daqui. São regionais?[fim]

O SR. PAULO SÉRGIO DA SILVA DOS SANTOS – É uma equipe de Porto Alegre outra de Brasília. No caso da última avaliação, foi composta pelos dois Estado.[fim]

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – Quais e que tipos de garantias são exigidas pelo Banco junto aos possíveis compradores?[fim]

O SR. PAULO SÉRGIO DA SILVA DOS SANTOS – Bom, esse

imóvel foi arrematado a prazo. A garantia é o próprio imóvel. O Banco não passa a escritura definitiva do imóvel, até a quitação da dívida, a garantia é o imóvel e os bens que lá estão.[fim]

Aparentemente, o Banco do Brasil S/A foi ludibriado pelo arrematador, apresentando um contrato social aparentemente válido e expressão de verdade. Entretanto, como vimos anteriormente, a empresa Mercomeat Importação e Exportação Ltda., não tem seu capital social integralizado, e o efetivamente realizado deve estar muito aquém dos R$ 500.000,00 (quinhentos mil reais), constantes do contrato.

Outro fator que deve ser analisado na instituição financeira é a viabilidade econômica do empreendimento, haja vista que no demonstrativo financeiro analítico dos dez primeiros exercícios, ou seja, período em que a dívida junto ao Banco deve ser paga, a Mercomeat Importação e Exportação Ltda. necessita de capital de giro na ordem de R$ 5.000.000,00 (cinco milhões de reais) advindos de operações junto a instituições financeiras. Entretanto, não possui bens para garantir este montante de recursos. A apreciação perfunctória dos demonstrativos financeiros apresentados ao Banco do Brasil S/A indica a inviabilidade técnica de, efetivamente, a empresa que arrematou o imóvel passar a operar.

Com isto, podemos concluir em relação ao mencionado que:

I – Ao Senhor Flávio Alexandre Hofsetz:

Com os depoimentos prestados e os documentos juntados aos autos, resta provado que houve fraude:

a) quanto à emissão da nota fiscal, para possibilitar a integralização do capital social;

b) em relação ao recibo de pagamento da mercadoria constante da nota fiscal;

c) na integralização do capital social da Mercomeat Importação e Exportação Ltda., em função da inexistência da máquina e em relação ao financiamento junto a Caixa Econômica Federal;

d) ao ser dada como garantia a máquina, no contrato de locação da massa falida do Frigorífico Rio Guaíba Ltda.;

e) no depoimento a Comissão Parlamentar de Inquérito, por falso testemunho;

f) em relação às afirmações junto ao Banco do Brasil S/A no momento da habilitação para a participação no leilão.

II – Ao Banco do Brasil S/A, que a instituição financeira deverá adotar uma postura extremamente detalhista quanto à aprovação do crédito a ser pago em 120 meses, referente à arrematação.

GENERAL MEAT FOOD EXPORTAÇÃO E IMPORTAÇÃO LTDA.

Ao analisar este fato determinado deve-se abordar os aspectos relevantes que culminaram com a decretação da falência da General Meat Food Exportação e Importação Ltda., haja vista que esta empresa reativou a planta industrial da Swift Armour, que passou desativada por quase cinco anos. Para que fosse possível uma reestruturação das instalações foram injetados mais de R$ 3.000.000,00 (três milhões de reais) do BNDES, por intermédio do BANRISUL, além de benefícios fiscais do ICMS. Porém, antes de adentrar na questão mais atual, os depoimentos prestados à CPI, devemos ter presente primeiramente as informações prestadas pelo Sr. Julio Cesar Silva dos Santos, datado de 18 de setembro do corrente ano.

As informações colhidas de forma sigilosa decorreram da situação constrangedora em que se colocou o depoente após uma entrevista em emissora de rádio na cidade de Santana do Livramento, que foi popularizada em todo o Estado pelo jornal Correio do Povo. Os constrangimentos chegaram ao ponto de ameaças telefônicas, segundo relato do depoente, em função de seu grau de conhecimento das atividades da empresa, bem como do Frigorífico Três C Ltda., e, ainda, de seu envolvimento com o Sr. Carlos Antônio Kerber.

Em seus esclarecimentos iniciou dando um panorama geral de seu passado profissional e da administração da General Meat Food Exportação e Importação Ltda., e de sua situação atual, conforme comprova-se a seguir:

O SR. JULIO CESAR SILVA DOS SANTOS – Excelências, não sei até que ponto seria interessante para a CPI no caso, no relato, no depoimento, mas foi da seguinte maneira. Durante um ano e meio mais ou menos, eu estava sendo massacrado psicologicamente e também pelas conseqüências de tudo aquilo que ocorreu de eu, num momento – sei lá – inesperado para mim, eu inventei de assinar certos documentos.[fim]

E... mas o que me levou a Rádio Cultura e que, a partir desse ponto, seguiu a conseqüência até eu ter dito na rádio que esperava ser convidado para depor na CPI da Carne foi que, em dezembro, uma

pessoa que trabalhou na General Meat Food no período, antes do final, antes de ocorrer a falência, essa pessoa me ligou sabendo sobre a planta da Cooperativa Santanense, o antigo Rio Guaíba, em que condições se encontrava, pedindo detalhes sobre o funcionamento da planta.[fim]

Eu, dentro daquilo que eu pouco conhecia, dei esses detalhes, até porque, antes de trabalhar na General Meat Food, trabalhei no Frigorífico Rio Guaíba. E começaram esses contatos a serem mais freqüentes, com o interesse dessa pessoa em arrendar a planta frigorífica do Rio Guaíba. E começou a se tornar assim rotineiro para mim, fazendo como um meio de campo e favor e contato e até chegar ao ponto de eu procurar a Câmara de Vereadores, porque havia algum empecilho quanto à autorização de arrendamento ou não da planta. Houve uma mobilização na cidade dos políticos, Vereadores. Vieram a Porto Alegre, tiveram contato com essas pessoas, levaram essas pessoas a Livramento, foi divulgado na imprensa tudo. E sempre eu fazendo esse meio. Sempre com uma desconfiança: de que poderia algo estar errado mais uma vez. Até que, no mês de julho... Eu sempre, desde dezembro, tive a promessa de, se eles estivessem se instalados em Livramento...[fim]

O SR. PRESIDENTE JERÔNIMO GOERGEN – Que ano?[fim]

O SR. JULIO CESAR SILVA DOS SANTOS – Agora, julho deste ano. Essas pessoas, esses empresários me disseram: No momento em que nós tivermos instalados aí, tu já está trabalhando conosco, tu já vai ser o nosso braço direito, tal, tal, tal. Aí, no mês de julho, numa ida dessas pessoas lá em Livramento, eu pedi para eles 250 reais, e ele me deu um cheque de 250 reais, e esse cheque não teve fundos. Posteriormente a isso, ao cheque ser devolvido, eu pressionei, e ele me mandou o valor, mas seguiu e seguiu e seguiu esses contatos, e pedindo sempre a minha interferência em determinados assuntos e nos próprios contatos, quando eu tive mais uma certeza – não afirmo, não assino embaixo, mas comecei a ter mais uma certeza – de que seria um risco muito grande, porque a comunidade, muitas pessoas sabiam que eu estava fazendo esse tipo de intermediação – vamos dizer assim –, esses contatos todos para essas pessoas.

Mas, como eu já tinha em janeiro e, agora semana retrasada, novamente. tinha sido intimado, citado pela Justiça Federal por dívida de INSS da General Meat Food isso me veio a pensar que se instalaria novamente um grupo lá em Livramento e dentro de pouco poderiam dar outro calote e as portas se fecharem definitivamente para mim.[fim]

Ligavam para minha casa agora, me encontravam na rua e me indagavam quem era, se tinham suporte financeiro para tocar o Frigorífico, e eu comecei a me entusiasmar com aquilo e garantindo para as pessoas, mas a partir da devolução desse cheque mudei totalmente minha posição. Para não ficar assim, vamos dizer assim, perante a comunidade, como um co-autor de um provável futuro golpe, vamos dizer assim, decidi expor isso aí.[fim]

Foi quando comentei com o amigo e esse amigo falou para o radialista Dagoberto Reis, e o Dagoberto me perguntou se teria coragem de falar isso. Eu disse que sim. Que faria questão de falar e disse na rádio por que estava falando. Eu estava a frente de toda a negociação e que amanhã ou depois poderia trazer conseqüências muito mais sérias para mim, além da pressão toda que vivo, até porque fiquei desempregado, totalmente abandonado pelo Grupo General Meat Food com essas questões todas, essa é a primeira etapa.[fim]

A questão da Meat Food e Frigorífico Três C porque tem que relacionar uma coisa com a outra. Entrei em 98, outubro de 1998, dia 16 de outubro de 98, trabalhar como funcionário da General Meat Food. Em 99, mais ou menos, não vou precisar, mas mais ou menos, metade do ano de 99 o Sr. Carlos Antônio Kerber me chamou na sala dele, me dizendo que estava se separando da esposa que não queria envolver patrimônio na separação e que precisava que eu assinasse, que estaria abrindo duas Off-shore no Uruguai e que precisava que eu representasse essas Off-shores.[fim]

Até não conhecia essa palavra e perguntei o que era isso. São duas empresas de representação que estou abrindo no Uruguai e tu a representas. Tudo bem. Posteriormente a isso, já no ano de 2000,

novamente, ele me chama e diz que precisava tapar um furo de caixa, precisava de um dinheiro para tapar um furo de caixa. Apresentou-me duas promissórias para eu assinar.[fim]

No momento, sinceramente, tremi na base. Mas ele me disse que isso aí era só para constar no caixa, mas eu imaginando que o caixa seria o caixa da empresa, vamos dizer assim o cofre, vamos dizer assim. Mas tive conhecimento que foi lançado na contabilidade e... Quero passar essas cópias para os Senhores que as Off-shores – uma é Vanex e a outra Iniza York –, sendo que a Vanex tem participação, no papel, a Vanex tem participação na General Meat Food com 4 milhões e novecentos e a Iniza York tem participação no Frigorífico Três C Sociedade Anônima na qual eu constava como, além de representante da Iniza York constava como Diretor do Frigorífico Três Conselho, até agora, até o dia 31 de março de 2003, porque em fevereiro e março me procuraram em Livramento para que eu assinasse uma série de documentos do Frigorífico Três C, inclusive, balanços de períodos anteriores. Tudo eu assinei e também assinei uma demissão da Diretoria do Frigorífico Três C. Assinei em março, mas coincidentemente, quero deixar isso relatado, que ontem me apareceram em Livramento representantes do Três C, entregando-me uma cópia do atual contrato social no qual não consto mais, mas também creio e falo de uma maneira ou outra queriam me intimidar também, fazendo-me perguntas como onde que eu queria chegar na CPI. É.[fim]

Essa visita a Livramento foi feita pelo advogado da empresa, Dr. Sílvio Nascimento, acompanhado de outra pessoa que não identifiquei. Também quero passar esses documentos aos Senhores. Este é o contrato no qual constava até março deste ano, como representante da Iniza York e Diretor do Frigorífico Três C, este aqui, a partir de 31 de março de 2003 já estou fora disso aí. Se possível os Senhores, eu não tenho cópia além dessas, também quero passar aos Senhores os Mandatos de Licitação e Penhora pela dívidas de INSS... não entendo de termos jurídicos, mas estou muito assustado com isso aqui, porque me disseram que isso aí é um tipo de crime que pode dar cadeia – a retenção do INSS pela empresa. Aqui tem e 1, 540 milhão mais ou menos e agora me chegou a semana

passada, foi despachado em 27 de agosto, me chegou mais 51 mil reais.[fim]

Aqui tem um documento, o conhecimento que tenho de que essas Off-shores foram compradas no Uruguai por 1500 dólares e aqui tem uma cópia de um documento passado do Uruguai para o Brasil, cobrando determinados valores em dólares, aqui, por alteração...revogação de procurações porque nisso aí existia um jogo, saía um, entrava outro e... só que eu nunca saí desse...[fim]

Aqui tem uma correspondência assinada pelo contador da empresa, Sr. Roberto Carlos Mayer, pessoa que foi a Livramento, inclusive no dia, para que eu assinasse essas notas promissórias. Isso tudo era ele que fazia e aqui está uma correspondência para essa pessoa uruguaia, assinada por ele, tratando dessas procurações off-shore, representantes...[fim]

Este documento eu cheguei a passá-lo? Este é o original da Vanex, dessa empresa uruguaia, da Iniza York, que é a que tem a participação no Três C, de Rio Pardo. Eu não tenho cópia nenhuma dela.[fim]

Eu tenho, talvez nestes documentos, um endereço de residência, alguma coisa assim, Avenida 18 de Julho, Montevidéu. Eu não conheço Montevidéu, nunca fui a Montevidéu assinar documento nenhum dessa empresa uruguaia. Nada, nada, nada.[fim]

Estas são atas de assembléia extraordinária em Montevidéu, cópias de atas...[fim]

Inclusive, ontem, o advogado da empresa contestou a minha declaração na Rádio, na qual eu teria falado na dívida da General Meat Food, em torno de 15 milhões. Eu não vou precisar o valor mas aqui tenho cópias de valores que devem ser pagos a credores. Até não digo 15, eu diria muito mais de 15, porque 10 milhões e algo, dez milhões e duzentos são essas promissórias frias que eu assinei, somando dívida de credores, receita, INSS, funcionários não constam aí.[fim]

Aqui está uma cópia do contrato social da General Meat Food, mas é a quarta alteração de contrato e acredito que tenha a quinta. Inclusive hoje falei com o Dr. Cláudio para ver se há possibilidade de os Senhores pegarem atualizado.[fim]

Esta, como está em processo falimentar, eu continuo...[fim]

Em razão das graves afirmações do depoente, a CPI intimou o Sr. Carlos Antônio Kerber, a prestar depoimento perante esta Comissão. Na data de 03 de novembro de 2003, às 14:00 horas, compareceu o intimado.

Inicialmente, em face do depoimento do Sr. Julio Cesar Silva dos Santos, ter antecedido e motivado a intimação do Sr. Carlos Antônio Kerber, se faz necessário mencionar qual é ou era o conceito deste depoente em relação ao seu funcionário, e assim pronunciou-se:

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – Júlio...[fim]

O SR. CARLOS ANTÔNIO KERBER – Júlio...era um funcionário que nós tínhamos em Livramento.[fim].....O SR. PRESIDENTE JERÔNIMO GOERGEN – Está, mas como é o nome do Júlio?[fim]

O SR. CARLOS ANTÔNIO KERBER – Júlio...eu não sei o nome total dele, ele trabalhou comigo, pessoa muito correta.[fim]

O SR. PRESIDENTE JERÔNIMO GOERGEN – Júlio César Santos, poderia ser?[fim]

O SR. CARLOS ANTÔNIO KERBER – É, pode ser esse aí.[fim].......O SR. ELVINO BOHN GASS – De que forma, por que o Senhor pegou o Sr. Júlio César dos Santos para ser o representante. Na verdade, o Senhor disse que ele é representante...[fim]

O SR. CARLOS ANTÔNIO KERBER – Porque ele é uma pessoa de confiança. Eu é que indiquei até porque é uma pessoa de

responsabilidade.[fim]

O SR. ELVINO BOHN GASS – E ele foi o seu braço direito, vamos dizer assim, cargo de confiança?[fim]

O SR. CARLOS ANTÔNIO KERBER – Não, ele é, foi a pessoa. Se houvesse, então, movimentação financeira ou alguma coisa, estaria direto a empresa, no caso elas duas, ou uma ou outra, estariam direto. Mas como nunca houve transação e isso fica bem claro, não houve movimentação financeira, a administração sempre foi minha do lado de cá, então não existia porquê fazer contratação diferente. Ele era única e exclusivamente o Procurador.[fim]

O Sr. Julio Cesar efetivamente gozava de boas relações e confiança do Sr. Carlos Antônio Kerber. Se assim não o fosse, não seria o procurador de dois sócios das empresas General Meat Food Exportação e Importação Ltda. e Frigorífico Três C S/A., onde, segundo declarações do próprio Sr. Carlos Antônio Kerber, são de sua propriedade. Tanto isto é verdade, que o próprio Julio Cesar Silva dos Santos participou como “laranja” que, na gíria, é o agente intermediário, especialmente no mercado financeiro, que efetua, por ordem de terceiros, transações geralmente irregulares ou fraudulentas, ficando oculta a identidade do verdadeiro comprador, ou vendedor.

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – Laranja, vou utilizar a terminologia da imprensa.[fim]

O SR. JULIO CESAR SILVA DOS SANTOS – Não, eu me autodenominei na rádio: laranja, porque foi passando o tempo de tudo isso aí e as pessoas me diziam: tu é laranja, tu foste laranja.[fim].......O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – E existem outras pessoas também que tiveram esse papel junto ao grupo?[fim]

O SR. JULIO CESAR SILVA DOS SANTOS – Pelas empresas uruguaias, essas não, não tenho conhecimento. Chegou a haver procuração da Vanex, somente da Vanex para outras duas pessoas por um curto espaço de tempo, mas seriam pessoas que tentariam

realmente, pelo que sei, fazer negócios para investir no frigorífico, o que não foi possível e aí caíram fora.[fim]

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – Toda essa transação e esses procedimentos que vocês tinham dentro do grupo, dentro da empresa, eram de conhecimento de outras pessoas, somente de vocês, Carlos, Clóvis?[fim]

O SR. JULIO CESAR SILVA DOS SANTOS – Desses papéis?[fim]

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – Dos papéis, de notas promissórias.[fim]

O SR. JULIO CESAR SILVA DOS SANTOS – Notas promissórias, realmente era sigilo. Têm duas ou três pessoas que sabiam dessas notas, mas outros colegas, assim, não sabiam. Agora, a de que eu representava, as off-shore, vários colegas sabiam disso aí.[fim]

Ainda com relação às declarações do Sr. Julio Cesar Silva dos Santos, alguns aspectos importantes foram trazidos à tona, em relação à participação deste nos negócios das empresas uruguaias Wanex National Investments S/A e Ynisa-Yorke National Investments S/A, isto em razão de que o depoente era procurador e também diretor do Frigorífico Três C S/A. Havia necessidade de suas assinaturas em alguns papéis. Com o relato do Sr. Julio Cesar Silva dos Santos, fica provado que o Sr. Roberto Mayer, contador da empresa Frigorífico Três C S/A desde a sua fundação, tinha conhecimento de toda a situação, fosse ela regular ou irregular perante à legislação brasileira. Assim, prova-se este envolvimento com a seguinte passagem do depoimento:

O SR. ELVINO BOHN GASS – Ele passou...Ah, sim, voltando ao documento aqui. O Senhor nunca estava em reunião, e aqui na ata de 31 de março de 2003 consta que o Senhor.... Foi apreciado o item terceiro da ata. Foi apreciado e homologado pela AG – deve ser

assembléia geral – o pedido de renúncia do Diretor Julio Cesar Silva dos Santos, ocorrido em 31 de março de 2003, conforme carta enviada a administração e arquivada na Companhia.[fim]

O SR. JULIO CESAR SILVA DOS SANTOS – Sim. Em fevereiro, o Roberto Mayer, contador da empresa foi em Livramento e me levou uma série de documentos para assinar, balanços, inclusive de períodos anteriores. E, junto com isso aí, ele me levou uma carta, eu pedindo demissão do Frigorífico Três C e pedindo demissão da Vanex e da Iniza. São duas empresas do Uruguai.[fim]

O SR. PRESIDENTE JERÔNIMO GORGEN – E o Senhor continua representando ou fazendo parte, mesmo que sem o seu conhecimento das off-shore?[fim]

O SR. JULIO CESAR SILVA DOS SANTOS – Eu não sei, não sei. Pelo contrato ali, do Frigorífico Três C, agora, quem está com a representação da Iniza é o Carlos Antônio Kerber, não é isso?[fim]..................

O SR. ELVINO BOHN GASS – Está certo. Para o Senhor assinar aquilo, o Senhor simplesmente assinou? O Senhor não questionou ou nada?[fim]

O SR. JULIO CESAR SAILVA DOS SANTOS – Eu questionei. Inclusive, quando ele me... No dia anterior de ele ir a Livramento, ele me ligou que iria lá em casa, que tinha uns documentos para mim assinar. Eu disse para ele, digo: Ô Roberto, tu faz o favor e me traz dinheiro daí. Eu estou desesperado. – Tá, vamos ver o que eu posso fazer. E aí ele chegou lá, mandei ele passar. Estava ele e outra pessoa que eu não conheço.[fim]...........O SR. JULIO CESAR SAILVA DOS SANTOS – Foi a primeira vez, primeira vez. Aí, ele sentou, com umas pastas e tal e eu perguntei para ele: Me trouxe dinheiro? Eu tinha pedido para ele me levar uns mil reais, quinhentos reais. – Não, não trouxe nada, mas o Carlinhos vai ajeitar isso para ti agora nos próximos dias. O Carlinhos vai te

mandar uma grana. O Carlinhos, o Carlos Antônio Kerber, ele chama. Aí eu assinei, Aí, disse para ele: Eu digo, olha, eu vou assinar isso aqui tudo, porque quanto mais rápido eu me livrar dessas bombas todas... Eu não quero mais saber disso aqui.[fim]

Não pode passar despercebido o fato de que o Sr. Carlos Antônio Kerber também é sócio proprietário do Frigorífico Três C S/A, e que neste estabelecimento também ocorreu uma alteração contratual onde o mesmo Sr. Julio Cesar dos Santos participou como procurador de outra empresa uruguaia, Ynisa-Yorke National Investments S/A, e, ainda, como diretor. A data da Assembléia Geral Extraordinária desta empresa, coincide com a da emissão da nota promissória em favor do Sr. Carlos Antônio Kerber, ou seja, 02 de outubro de 2000, no valor de R$ 5.350.000,00 (cinco milhões, trezentos e cinqüenta mil reais). Não temos documentos comprovando a capacidade de representação do Sr. Julio Cesar do Santos como procurador da empresa uruguaia.

Para se ter uma idéia real dos fatos, como acontece e o grau de confiança, o atual administrador do Frigorífico Três C S/A, Sr. Carlos Antônio Kerber Júnior, ao comentar sobre a relação da empresa com a sócia Ynisa-Yorke National Investments S/A, o fez nestes temos:

O SR. PRESIDENTE JERÔNIMO GOERGEN – O Senhor, na condição de gerente, hoje comanda o trabalho, não se relaciona com os demais sócios, Yniza, enfim, outros...[fim]

O SR. CARLOS ANTONIO KERBER JUNIOR – Não.[fim]

O SR. PRESIDENTE JERÔNIMO GOERGEN – Quem faz esses contatos?[fim]

O SR. CARLOS ANTONIO KERBER JUNIOR – Olha, os contatos são feitos pelo Sr. Roberto, que é o contador da empresa, né? Ele que faz essa parte de...[fim]

O Sr. Roberto Carlos Mayer que prestou depoimento no dia 03 de novembro do corrente ano, ao ser questionado especificamente sobre a forma como eram assinados os documentos das empresas em que era procurador e diretor e, ainda, acerca da

saída do Sr. Julio Cesar Silva dos Santos do Frigorífico Três C S/A, deste modo manifestou-se:

O SR. ELVINO BOHN GASS – São várias questões que eu gostaria, na seqüência do nosso Relator, porque o Senhor conhece bem, então, Júlio Cézar Silva dos Santos.[fim]

O SR. ROBERTO CARLOS MAYER – Sim.[fim]

O SR. ELVINO BOHN GASS – Nós temos um depoimento aqui que diz o seguinte: que o Senhor encontrava o Sr. Júlio para lhe levar as atas para ele assinar. O Senhor confirma que o Senhor se dirigiu a Livramento para localizar o Sr. Júlio e pedir para que ele assinasse as atas?[fim]

O SR. ROBERTO CARLOS MAYER – Sim.[fim]

O SR. ELVINO BOHN GASS – Ele, então, não participava das reuniões e ele assinava as atas?[fim]

O SR. ROBERTO CARLOS MAYER – É isso, exato.[fim]

O SR. ELVINO BOHN GASS – E ele não participava de nenhuma reunião e mesmo assim ele assinava as atas?[fim]

O SR. ROBERTO CARLOS MAYER – É isso aí.[fim]

O SR. ELVINO BOHN GASS – Perfeito. E a carta de demissão, ele também recebeu ela em suas mãos, através de suas mãos. Então, essa carta de pedido de demissão foi elaborada por quem?[fim]

O SR. ROBERTO CARLOS MAYER – Foi elaborada em Porto Alegre.[fim]

O SR. ELVINO BOHN GASS – Em Porto Alegre. Quem elaborou a carta?[fim]

O SR. ROBERTO CARLOS MAYER – O Sr. Elmiro Hallmann.[fim]

O SR. ELVINO BOHN GASS – Por que o Elmiro Hallmann elaborou essa carta?[fim]

O SR. ROBERTO CARLOS MAYER – O Júlio tinha demonstrado interesse em sair. Não representava mais a empresa Yniza. Então, o escritório que prestava assessoria quanto a atas e Junta Comercial, então, ele redigiu a carta e levei prontamente.[fim]

O SR. ELVINO BOHN GASS – Esse escritório é de quem em Porto Alegre?[fim]

O SR. ROBERTO CARLOS MAYER – Elmiro Hallmann.[fim]

O SR. ELVINO BOHN GASS – Tá, mas qual é o vínculo que esse escritório tem com... Por que saiu de lá essa carta? Foram os Senhores que organizaram essa elaboração dessa carta de demissão? E o Sr. Roberto, que é o Senhor, levou ela a Livramento.[fim]

O SR. ROBERTO CARLOS MAYER – Com certeza.[fim]

O SR. ELVINO BOHN GASS – Isto. Mas quem redigiu a carta não foi o Sr. Júlio?[fim]

O SR. ROBERTO CARLOS MAYER – Não, não. Foi redigida porque tinha que botar uma diferença nisso aí. Aí foi solicitado ao Sr. Elmino Hallmann, ele fez a carta, e eu fui o portador.[fim]

O SR. ELVINO BOHN GASS – É um escritório de terceiro, aqui em Porto Alegre?[fim]

O SR. ROBERTO CARLOS MAYER – Exatamente.[fim]

O SR. ELVINO BOHN GASS – Esse mantém outro serviço de escritório para vocês, ou...[fim]

O SR. ROBERTO CARLOS MAYER – Se é alguma coisa que se

precisa, ele presta serviço.[fim]

O SR. ELVINO BOHN GASS – Para o seu escritório de contabilidade e também ao Três C?[fim]

O SR. ROBERTO CARLOS MAYER – Isso.[fim]

O SR. ELVINO BOHN GASS – Então, na verdade, quem elaborou a carta foi o escritório que presta serviços ao Três C, e o Senhor que levou as cartas para lá, como também tem levado as atas que ele assina mesmo não tendo participado de reuniões.[fim]

A Vanex e a Yniza são as empresas do Uruguai que, então, têm capital investido no General Meat Food e também no Três C?[fim]

O SR. ROBERTO CARLOS MAYER – Sim.[fim]

Este funcionário do Sr. Carlos Antônio Kerber conhece de perto a situação da contabilidade e das relações das empresas General Meat Food Exportação e Importação Ltda., Frigorífico Três C S/A, Wanex National Investments S/A e Ynisa-Yorke National Investments S/A. Este fato está relacionado com alguns documentos que foram entregues à CPI, onde demonstram o conhecimento em sua intimidade. Ele é o braço direito do Sr. Carlos Antônio Kerber.

Contrapondo estas afirmações, o Sr. Carlos Antônio Kerber faz uma afirmação, no mínimo contraditória, que proporciona dúvidas quanto à real composição societária das quatro empresas envolvidas:

O SR. ELVINO BOHN GASS – Quem levava essas atas para as assembléias, voltando, então, a Livramento com a Wanex, a Yniza, quem é que levava as atas de assinatura entre a empresa e o Grupo Meat Food?[fim]

O SR. CARLOS ANTONIO KERBER – Do Uruguai para...?[fim]

O SR. ELVINO BOHN GASS – Isso.[fim]

O SR. CARLOS ANTONIO KERBER – Se falava por telefone, acertava algumas coisas, se encontrava no escritório ou eles vinham

a Livramento, se fazia a reunião. No caso especifico a General Meat?[fim]

O SR. ELVINO BOHN GASS – Isso.[fim]

O SR. CARLOS ANTONIO KERBER – Ou eles vinham a Porto Alegre e faziam as reuniões.[fim]

O SR. ELVINO BOHN GASS – Faziam as reuniões? E as atas eram todas...as pessoas presentes nas reuniões?[fim]

O SR. CARLOS ANTONIO KERBER – Sim, Senhor.[fim]

O SR. ELVINO BOHN GASS – Não tinham necessidade de busca de assinaturas para depois?[fim]

O SR. CARLOS ANTONIO KERBER – Não Senhor.[fim]

O SR. ELVINO BOHN GASS – Era apenas as assinaturas com a presença das pessoas nas reuniões?[fim]

O SR. CARLOS ANTONIO KERBER – É isso aí.[fim]

No transcorrer dos depoimentos dos Srs. Julio Cesar e Carlos Antônio Kerber, pode-se constatar, inclusive pela apresentação de cópias reprográficas de documentos apresentados pelo ex-funcionário da General Meat Food Exportação e Importação Ltda., e procurador das empresas uruguaias, que a alteração contratual desta empresa, bem como do Frigorífico Três C S/A não passa de mera ficção. Encontram-se anexados aos autos, a cópia reprográfica da nota promissória emitida em Porto Alegre, a 02 de outubro de 2000, pela Wanex National Investments S/A, localizada à Av. 18 de Julho, 1357/501, Montevidéu, no valor de R$ 4.900.000,00 (quatro milhões e novecentos mil reais), a favor de Carlos Antônio Kerber, com vencimento em 31 de maio de 2001. Causa espécie o fato de que o signatário da nota promissória, Sr. Julio Cesar, procurador da emitente, somente ter sido nomeado como mandatário, segundo escritura pública (cópia reprográfica anexada aos autos), em 10 de novembro de 2000, ou seja, mais de trinta dias após a data de emissão do título cambial. Este fato encontra confirmação em correspondência remetida pela General Meat Food Exportação e Importação Ltda., assinada pelo Sr. Roberto Carlos Mayer, destinada ao Sr. Manuel Kugelmass, em 17 de julho de 2001, referente ao cancelamento de procurações, onde afirma que “a única pessoa representante da Wanex National

Investments S/A, será o Sr. Julio Cesar da Silva dos Santos, cuja procuração individual foi lavrada em 10 de novembro de 2000”.

Pode-se seguramente afirmar que a emissão do título ocorreu em data posterior àquela constante na nota promissória. Este fato caracteriza crime, visto que o signatário da emissão do título não detinha os poderes necessários para contrair dívidas em nome da empresa antes de 10 de novembro de 2000.

O documento acima mencionado é de suma importância para se estabelecer o vínculo entre o Sr. Carlos Antônio Kerber e as empresas Wanex National Investments S/A e Ynisa-Yorke National Investments S/A, visto que o Sr. Roberto Carlos Mayer, contador, ou seja, funcionário do Frigorífico Três C S/A, por meio de ofício, em papel timbrado da General Meat Food Exportação e Importação Ltda., ao Sr. Manuel Kugelmass, em Montevidéu, República Oriental do Uruguai, determina o cancelamento de procurações, informando, ainda, quem é a pessoa que detém o mandato da Wanex National Investments S/A.

Se realmente fossem verdadeiras as declarações do Sr. Carlos Antônio Kerber de que não conhece os sócios das empresas uruguaias, o contador de uma de suas empresa não poderia ditar quem tem ou não poderes de representação. Para corroborar com esta acertiva, podem ser objeto de prova contra o Sr. Carlos Antônio Kerber as correspondências expedidas pelo Sr. Manuel Kullgemass ao Sr. Roberto Mayer, referentes às duas empresas Wanex National Investments S/A (WNISA) e Ynisa-Yorke National Investments S/A (YNISA).

De posse de alguns documentos que confirmam a inter-relação das empresas uruguaias e gaúchas, de propriedade do Sr. Carlos Antônio Kerber, a CPI passou a questionar de forma meticulosa a relação societária das quatro empresas mencionadas nos depoimentos. Assim, o Sr. Carlos Antônio Kerber revelou que:

O SR. PRESIDENTE JERÔNIMO GOERGEN – Quem é procurador, no Brasil, da Wanex National Investments S/A e da YNIZA- YORKE?[fim]

O SR. CARLOS ANTONIO KERBER – Até março era o Seu Júlio.[fim]...............

O SR. PRESIDENTE JERÔNIMO GOERGEN – E quais são os sócios das empresas, o Senhor saberia dizer?[fim]

O SR. CARLOS ANTONIO KERBER – É eu, com a totalidade, a Wanex numa...[fim]

..................O SR. ELVINO BOHN GASS – ............... O Senhor disse que a mais tempo – na verdade, isso aqui é uma seqüência, pois já foram feitas algumas interrogações – já tinha relações com a empresa essa, Wanex e a YNIZA -YORKE, uruguaias...[fim]

O SR. CARLOS ANTONIO KERBER – Sim Senhor.[fim]

O SR. ELVINO BOHN GASS – Que tipo de negócio o Senhor realizava com elas?[fim]

O SR. CARLOS ANTONIO KERBER – Porque, quando há 10, 12 anos, que a gente exportava e importava muito, quem fazia parte de documentação compra lá fora, principalmente a documentação financeira de pagamento e tudo, era o pessoal ligado muito a banco que tem as empresas que têm investimentos.[fim]..........

O SR. PRESIDENTE JERÔNIMO GOERGEN – Vou voltar também a insistir, porque eu não fiquei nenhum pouco ainda convencido de que como é que começou o contato com a Yniza e com a Wanex, através do Três C.[fim]

O SR. CARLOS ANTONIO KERBER – Tudo contatos que a gente tinha no Uruguai e tem no Uruguai, porque quando houve a primeira crise da seca do Uruguai, o frigorífico, na época, foi o que mais importou gado em pé do Uruguai. Tivemos condições de autorizar para abater, trazer em pé e abater, a nós e à Cicade que abatia, na época. Então, esse nosso relacionamento não vem de agora, esse nosso relacionamento vem de muito tempo. Quem fazia...[fim]

O SR. PRESIDENTE JERÔNIMO GOERGEN – Mas quem foi o primeiro contato que o Senhor fez lá com eles?[fim]

O SR. CARLOS ANTONIO KERBER – Lá com o seu Martins, esse que eu lhe dei o nome, que foi o primeiro contato que eu fiz, ele disse: olha tem aqui um negócio, tem o pessoal... Eu tinha

despachante em Rivera. Como é que é a fórmula do despachante? É o pessoal que faz a liberação das cargas. Como é que ele faz isso – é o Schüller –? Ele pegava dizia: olha aqui ó, tem o fulano, tem o beltrano. É tipo um escritório de contabilidade, Deputado.[fim]

Num dos grupos de documentos apresentados à CPI, está uma procuração da Wanex National Investments S/A ao Sr. Julio Cesar Silva dos Santos, onde consta que a empresa foi constituída em 31 de maio de 1999, e obteve seu registro oficial em 11 de fevereiro de 2000. Este documento, lavrado no Uruguai, é prova relevante para tornar o depoimento do Sr. Carlos Antônio Kerber uma farsa. Se a empresa Wanex National Investments S/A começou a operar em 2000, há apenas três anos, ele não poderia ter mantido relações comerciais há 10 ou 12 anos, como afirmou em depoimento.

Ressalta-se, ainda, que o endereço das empresas Wanex National Investments S/A e Ynisa-Yorke National Investments S/A é o mesmo do Sr. Manuel Kugelmass, isto é, Av. 18 de Julio 1357 sala 501, Montevidéu, Uruguai. Neste endereço está estabelecida a Kugelmass Kovner Contadores Públicos (assessores, auditores e consultores de empresas). Tudo conforme documentação juntada aos autos do processo.

Outro fato relevante na documentação trazida pelo Sr. Julio Cesar dos Santos, é a transcrição da Ata de Assembléia Geral Extraordinária da Wanex National Investments S/A, datada de 13 de setembro de 2000, onde consta que apenas um acionista, segundo o livro de acionistas, representando 100% do capital integralizado, compareceu àquela reunião.

Não houve comprovação da capacidade de representação do Sr. Carlos Antônio Kerber em substituição ao Sr. Julio Cesar dos Santos, visto que, na alteração contratual datada de 31 de março de 2003, houve a renúncia da diretoria por parte deste depoente, da administração do Frigorífico Três C S/A, sendo que, neste documento, o Sr. Carlos Antônio Kerber apresenta-se como procurador da Ynisa-Yorke National Investments S/A. Provavelmente esta documentação deve estar de posse do Sr. Carlos Antônio Kerber e deve ser questionada no seu devido tempo.

Seguindo na fase interrogatória, transcreve-se o depoimento do Sr. Carlos Antônio Kerber Júnior, que confirmou todas os indicativos de que as quatro empresas pertencem ao Sr. Carlos Antônio Kerber:

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – Obrigado, Presidente. Nossa saudação ao Sr. Carlos Antônio Kerber Júnior.[fim]Qual é a sua atividade profissional ao longo da vida e que exerce

atualmente?[fim]

O SR. CARLOS ANTONIO KERBER JUNIOR – Bom, eu parei meus estudos com 14 anos de idade e fui trabalhar no Frigorífico em Rio Pardo onde continuo até hoje.[fim]

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – Trabalha em que setor?[fim]

O SR. CARLOS ANTONIO KERBER JUNIOR – Eu, até dezembro de 2002, trabalhava na indústria, cuidava da parte industrial, de abate e desossa e, de janeiro pra cá, eu vinha exercendo mais é a compra de bovinos e venda de carne.[fim]

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – O Senhor é sócio do... da empresa?[fim]

O SR. CARLOS ANTONIO KERBER JUNIOR – Sou sócio da empresa.[fim]

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – O Senhor é sócio do Três C?[fim]

O SR. CARLOS ANTONIO KERBER JUNIOR – Do Três C. Três C.[fim]

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – Mais alguma outra?[fim]

O SR. CARLOS ANTONIO KERBER JUNIOR – Não.[fim].................

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – O Senhor é sócio do... da empresa?[fim]

O SR. CARLOS ANTONIO KERBER JUNIOR – Sou sócio da empresa.[fim]

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – O Senhor é sócio do Três C?[fim]

O SR. CARLOS ANTONIO KERBER JUNIOR – Do Três C. Três C.[fim]

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – Mais alguma outra?[fim]

O SR. CARLOS ANTONIO KERBER JUNIOR – Não.[fim].............

O SR. PRESIDENTE JERÔNIMO GOERGEN – Quais os outros sócios?[fim]

O SR. CARLOS ANTONIO KERBER JUNIOR – A Yniza, a Carlos Antônio Kerber e eu.[fim]

O SR. PRESIDENTE JERÔNIMO GOERGEN – O procurador da Yniza aqui no Brasil, quem é?[fim]

O SR. CARLOS ANTONIO KERBER JUNIOR – Agora, no momento, sou eu. Eu e o meu pai.[fim]

O SR. PRESIDENTE JERÔNIMO GOERGEN – Tá. Existe alguma fundação ou associação dos funcionários do Três C?[fim]

O SR. CARLOS ANTONIO KERBER JUNIOR – Existe. A Fundação Pastoril. O Senhor me desculpe, a Fundação Pastoril é sócia também da empresa, ela tem participação no Frigorífico. São ações que foram dadas para os funcionários.[fim]

O SR. PRESIDENTE JERÔNIMO GOERGEN – Bom, então o Carlos Antônio Kerber e o Carlos (ininteligível) são donos também do Frigorífico?[fim]

O SR. CARLOS ANTONIO KERBER JUNIOR – Somos donos também do Frigorífico.[fim]

O SR. PRESIDENTE JERÔNIMO GOERGEN – Não é a Yniza que é dona sozinha?[fim]

O SR. CARLOS ANTONIO KERBER JUNIOR – Não, meu pai tem uma participação.[fim]

O SR. PRESIDENTE JERÔNIMO GOERGEN – Só para eu entender. O teu pai, dentro do Três C, o que ele é?[fim]

O SR. CARLOS ANTONIO KERBER JUNIOR – Ele é sócio.[fim]

O SR. PRESIDENTE JERÔNIMO GOERGEN – Ele é sócio. Não tem função representativa nenhuma?[fim]

O SR. CARLOS ANTONIO KERBER JUNIOR – Hoje, não. Hoje, quem administra seria eu.[fim]...........................

O SR. PRESIDENTE JERÔNIMO GOERGEN – Sim, mas como é que o Senhor foi parar na condição de responsável..., o Senhor é responsável juridicamente pelo Frigorífico. É isso?[fim]

O SR. CARLOS ANTÔNIO KERBER JUNIOR – Hoje, sim.[fim]

O SR. PRESIDENTE JERÔNIMO GOERGEN – Mas como que o Senhor parou nessa condição?[fim]

O SR. CARLOS ANTONIO KERBER JUNIOR – Porque pra não fechar a empresa, né. Nós iríamos fechar a empresa, e eu resolvi assumir, juntamente com os funcionários, né, porque são 151 empregados, resolvi assumir, chamando os pecuaristas...[fim]

O SR. PRESIDENTE JERÔNIMO GOERGEN – Mas não foi um processo jurídico, assim, o Senhor não foi nomeado?[fim]

O SR. CARLOS ANTONIO KERBER JUNIOR – Não, não.[fim]

O SR. PRESIDENTE JERÔNIMO GOERGEN – Simplesmente, o Senhor disse: eu vou assumir, daí a Yniza, quem é que disse tudo bem, pode assumir? Quando é que aconteceu isso, ou não houve

isso?[fim]

O SR. CARLOS ANTONIO KERBER JUNIOR – Não, não houve isso.[fim]

O SR. PRESIDENTE JERÔNIMO GOERGEN – Mas daí, como é a situação legal hoje da empresa? Simplesmente – me compreenda – poderia ter sido qualquer outro funcionário dizendo: não, agora eu sou o gerente e eu que assino. Quando é que o Senhor teve a caneta do Frigorífico para poder ser responsabilizado, inclusive.[fim]

O SR. CARLOS ANTONIO KERBER JUNIOR – Não, eu, a caneta do Frigorífico, eu não tenho.[fim]

O SR. PRESIDENTE JERÔNIMO GOERGEN – Quem tem?[fim]

O SR. CARLOS ANTONIO KERBER JUNIOR – Meu pai, né.[fim].............

O SR. PRESIDENTE JERÔNIMO GOERGEN – Tá, então quem ele escolheu foi, passou de uma hora para outra, sem que alguém tenha escolhido.[fim]

O SR. CARLOS ANTONIO KERBER JUNIOR – Isso.[fim]

O SR. PRESIDENTE JERÔNIMO GOERGEN – Seu pai ganha dois mil?[fim]

O SR. CARLOS ANTONIO KERBER JUNIOR – Dois mil e poucos reais.[fim]

O SR. PRESIDENTE JERÔNIMO GOERGEN – Então ele ganha porque ele é o chefe?[fim]

O SR. CARLOS ANTONIO KERBER JUNIOR – Ele é o diretor, exatamente.[fim]

O SR. PRESIDENTE JERÔNIMO GOERGEN – Isso tá no papel, tá

documentado?[fim]

O SR. CARLOS ANTONIO KERBER JUNIOR – Está, está documentado.[fim]

O SR. PRESIDENTE JERÔNIMO GOERGEN – A empresa é da sua família? De fato, a família é que administra, né.[fim]

O SR. CARLOS ANTONIO KERBER JUNIOR – A família é que administra.[fim]...................

O SR. PRESIDENTE JERÔNIMO GOERGEN – Quando a Yniza entrou como sócia no Três C, ela portou um capital. Esse dinheiro foi feito o quê com ele?[fim]

O SR. CARLOS ANTONIO KERBER JUNIOR – Eu não sei, eu não sei lhe dizer, porque eu não atuava nessa parte administrativa.[fim]

O SR. PRESIDENTE JERÔNIMO GOERGEN – Quantos por cento do capital pertence a você e quanto ao teu pai e quanto à Yniza?[fim]

O SR. CARLOS ANTONIO KERBER JUNIOR – A Fundação é 38%, a Yniza 40 e poucos por cento, e o restante entre eu e meu pai...[fim]

O SR. PRESIDENTE JERÔNIMO GOERGEN – O restante seria 12%? E como é que ficou um minoritário comandando a empresa? Como foi esse acerto.[fim]

O SR. CARLOS ANTONIO KERBER JUNIOR – Pois é...[fim]

O SR. PRESIDENTE JERÔNIMO GOERGEN – O Senhor é sócio também? O Senhor é sócio também.[fim]

O SR. CARLOS ANTONIO KERBER JUNIOR – Não sei...[fim]

O SR. PRESIDENTE JERÔNIMO GOERGEN – Não participou da assembléia?[fim]

O SR. CARLOS ANTONIO KERBER JUNIOR – Não, não.[fim]

O SR. PRESIDENTE JERÔNIMO GOERGEN – Quem participou lhe representando? O Senhor deu procuração para alguém quando essa... Seu pai ficou... O Senhor como sócio não participou da assembléia que decidiu isso?[fim]

O SR. CARLOS ANTONIO KERBER JUNIOR – Não participei... que decidisse, não.[fim]

Este relato trouxe à tona assuntos dos quais pouquíssimas pessoas tinham conhecimento, haja vista a gravidade das relações jurídicas e comerciais mencionadas pelo denunciante. As afirmações do depoente, filho do Sr. Carlos Antônio Kerber, demonstram claramente a relação entre as empresas de propriedade da família Kerber.

Uma afirmação do Sr. Carlos Antônio Kerber vem reforçar a tese de que estas empresas são de sua propriedade:

O SR. CARLOS ANTÔNIO KERBER – Sendo bem objetivo, sou um dos donos do Frigorífico Três C, fui dono da General Meat, em Livramento, fui Presidente do Sindicato da Indústria da Carne por quatro anos, fui assessor direto do Sindicato ao longo de 12 anos, fui Vice-Presidente da Associação Brasileira da Indústria da Carne do Brasil, faço parte do Conselho Nacional da Pecuária de Corte.[fim]

......O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – O Senhor atua na empresa Frigorífico Três C como sócio?[fim]

O SR. CARLOS ANTÔNIO KERBER – Sou um dos diretores e sócio.[fim]

O contador do Frigorífico Três C S/A ao depor, explicou a situação do quadro social, e confirmou a participação societária dos Srs. Carlos Antônio Kerber e Carlos Antônio Kerber Júnior, nos seguintes termos:

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – São realizadas as

assembléias do Frigorífico?[fim]

O SR. ROBERTO CARLOS MAYER – Normalmente.[fim]

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – Em qual local?[fim]

O SR. ROBERTO CARLOS MAYER – Rio Pardo.[fim]

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – Em Rio Pardo? Tem a participação dos sócios?[fim]

O SR. ROBERTO CARLOS MAYER – Dos sócios.[fim]

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – Carlos Antônio Kerber Júnior, o Carlos Antônio Kerber...[fim]

O SR. ROBERTO CARLOS MAYER – E da Fundação.[fim]

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – Fundação também?[fim]

O SR. ROBERTO CARLOS MAYER – Sim.[fim]

Apesar de negar em diversas passagens o Sr. Carlos Antônio Kerber, afirmou categoricamente, por duas vezes, ser sócio do Frigorífico Três C S/A. e uma vez ter sido o dono do General Meat Food Exportação e Importação Ltda., aqui no passado talvez por estar em processo de falência. Como a participação societária, no papel, era da Wanex National Investments S/A, a conexão desta empresa com o Sr. Carlos Antônio Kerber é de extrema importância para o deslinde do processo falimentar.

O SR. CARLOS ANTÔNIO KERBER – Sendo bem objetivo, sou um dos donos do Frigorífico Três C, fui dono da General Meat, em Livramento, fui Presidente do Sindicato da Indústria da Carne por quatro anos, fui assessor direto do Sindicato ao longo de 12 anos, fui Vice-Presidente da Associação Brasileira da Indústria da Carne do Brasil, faço parte do Conselho Nacional da Pecuária de Corte.[fim].........

.O SR. ELVINO BOHN GASS – O que precisamos são exatamente os contratos porque quando os Senhores foram para lá... os Senhores falam como Três C. O Senhor é acionista majoritário junto com... junto com quem o Senhor é acionista na Três C?[fim]

O SR. CARLOS ANTONIO KERBER – Do Três C, só eu. Pessoa física é só eu, ou seja, a...[fim]........O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – O Senhor atua na empresa Frigorífico Três C como sócio?[fim]

O SR. CARLOS ANTÔNIO KERBER – Sou um dos diretores e sócio.[fim]

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – O Senhor tem alguma participação no Frigorífico General Meat Food?[fim]

O SR. CARLOS ANTÔNIO KERBER – Sim, Senhor.[fim]

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – Qual?[fim]

O SR. CARLOS ANTÔNIO KERBER – Eu era o responsável. Sócio majoritário e responsável.[fim]..................

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – O Senhor conhece as empresas uruguaias chamadas de Wanex National Investments S/A?[fim]

O SR. CARLOS ANTÔNIO KERBER – Sim, Senhor.[fim]

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – E Yniza Yorke?[fim]

O SR. CARLOS ANTÔNIO KERBER – Conheço.[fim]

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – O que o Senhor sabe sobre

essas empresas?[fim]

O SR. CARLOS ANTÔNIO KERBER – Elas fazem parte de umas empresas que, quando foi construída, participam da sociedade, principalmente, mas elas nunca atuaram no Brasil. Elas eram para uma finalidade: angariar recursos externos. Mas que não tiveram êxito.[fim]

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – Elas estão em atividade hoje?[fim]

O SR. CARLOS ANTÔNIO KERBER – Estão.[fim]

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – Qual é o seu envolvimento ou a participação nessas?[fim]

O SR. CARLOS ANTÔNIO KERBER – Não teve participação. Nelas, eu não tenho participação. Eles é que tem participação nas minhas empresas.[fim]

Vejamos a contradição do Sr. Carlos Antônio Kerber, que afirmou em depoimento, sob juramento, que não é sócio das “off-shore” e que estas é que são sócias de suas empresas. A quais empresas refere-se o depoente? O que consta dos contratos sociais da General Meat Food Exportação e Importação Ltda. e do Frigorífico Três C S/A, cujas cópias reprográficas estão acostadas aos autos, somente na empresa de Santana do Livramento o Sr. Carlos Antônio Kerber tem uma pequena participação societária (1%).

Segundo suas afirmações e cópia da Ata de Assembléia Geral Extraordinária realizada em 02 de outubro de 2000, a Ynisa-Yorke National Investments S/A adquiriu, por venda, todas as ações de Carlos Antônio Kerber, Carlos Antônio Kerber Júnior, Marco André Kerber e Eduardo Kerber, no Frigorífico Três C S/A, os quais deram plena e geral quitação. Entretanto, para fins contábeis, a representação desta operação é escriturada pela emissão de nota promissória que se encontra anexada aos autos. A data da emissão da nota promissória em favor do Sr. Carlos Antônio Kerber coincide com a da Assembléia Geral Extraordinária da empresa, ou seja, 02 de outubro de 2000, no valor de R$ 5.350.000,00 (cinco milhões, trezentos e cinqüenta mil reais). Não foram apresentados documentos comprovando a capacidade de representação do Sr. Julio Cesar do Santos como procurador da Ynisa-Yorke National Investments S/A.

A partir daquela data, pelo contrato social, o Frigorífico Três C S/A tem como sócios apenas a Ynisa-Yorke National Investments S/A e a Fundação Pastoril. Na mesma ocasião foram eleitos como diretores os senhores Carlos Antônio Kerber e Julio Cesar Silva dos Santos, este último, procurador da empresa uruguaia. Então, ao referir-se às suas empresas, está englobando a constituída no Uruguai. Afirmou categoricamente ser diretor e sócio do Frigorífico Três C S/A. Se no papel consta Ynisa-Yorke National Investments S/A e Fundação Pastoril, a realidade dos fatos é diferente. Em face às contradições em depoimentos e documentos acostados aos autos, pode-se afirmar que o dono da “off-shore” é o Sr. Carlos Antônio Kerber, ou a sua família.

O fato é tão escabroso que o próprio contador do Frigorífico Três C S/A em depoimento não soube explicar, como se pode comprovar com a transcrição:

O SR. ELVINO BOHN GASS – Então, nós precisamos checar isso na contabilidade, se isso está lançado, a entrada desse recurso referente a essa nota promissória. Nós precisamos ver esse registro contábil de entrada desse valor. Se não entrou, qual é a forma do endosso, então, de registro contábil.[fim]

É importante esse dado, Sr. Roberto, o Senhor vai colaborar conosco. Agradecemos se o Senhor puder dar-nos a seguinte explicação: se retirar... eu tenho aqui uma ata geral ordinária do dia 02 de outubro de 2000, às 14 horas, onde, no ponto 3, foi apreciado o pedido de renúncia da atual diretoria, ora aceito e homologado pela assembléia geral.[fim]

Retiram-se do quadro de acionistas da sociedade: Sr. Carlos Antônio Kerber, possuidor de 73.602 ações; Marco André Kerber, possuidor de 3 mil e tantas ações; Carlos Antônio Kerber Júnior, possuidor de 7 ações; Eduardo Kerber, possuidor de 7 ações, num total de 77. 091 ações ordinárias, nominativas, os quais cedem e transferem, por venda, a totalidade de suas participações acionárias pelo valor global de 5.350. 000,00 – que é exatamente o valor dessa nota promissória, com base no valor patrimonial, ao novo acionista YNIZA – YORKE NATIONAL INVESTMENTS, sociedade comercial do Uruguai, com sede em Montevidéu.[fim]

Na verdade, se esses todos, que são quatro, Sr. Carlos, Sr. Carlos Antônio Kerber Júnior, o Sr. Eduardo, saem da empresa e ambos

têm ações, obviamente que o Carlos tem a maior parte delas. Depois vem uma nota promissória de crédito apenas para o Sr. Carlos e os outros. Na ata não consta que os outros abrem mão das suas ações e apenas a nota promissória é para o Carlos. Que explicação contábil se daria para uma citação dessas?[fim]

O SR. ROBERTO CARLOS MAYER – Realmente, o Senhor está dizendo uma coisa que...[fim]

O SR. ELVINO BOHN GASS – ...que não tem explicação?[fim]

O SR. ROBERTO CARLOS MAYER – É, realmente... faltou na ata a colocação dos demais.[fim]

O SR. ELVINO BOHN GASS – Isso, mas a nota promissória, me alcancem por favor, ela se dirige no mesmo valor. O que confere é o valor?[fim]

O SR. ROBERTO CARLOS MAYER – Sim.[fim]

O SR. ELVINO BOHN GASS – Aí nós já temos um problema. Precisamos checar com a informação da contabilidade, se essa entrada da nota promissória realmente foi no dia 31 de dezembro de 2001. Agora a segunda questão ainda é em relação aos outros acionistas que eram o Carlos... que o Carlos recebe na integralidade e os demais, não. O Senhor não teria uma explicação sobre isso?[fim]

O SR. ROBERTO CARLOS MAYER – No momento, me pegou de surpresa.[fim]

Ao ser questionado sobre a origem e o recebimento das notas promissórias, o Sr. Carlos Antônio Kerber, assim respondeu:

O SR. PRESIDENTE JERÔNIMO GOERGEN – O Senhor já recebeu os valores da Yniza?[fim]

O SR. CARLOS ANTONIO KERBER – Não Senhor.[fim]

O SR. PRESIDENTE JERÔNIMO GOERGEN – Não recebeu?[fim]

O SR. CARLOS ANTONIO KERBER – Não.[fim]

O SR. PRESIDENTE JERÔNIMO GOERGEN – Como sendo credor, se não pago, o Senhor é Procurador do devedor? Como é que funciona essa relação?[fim]

O SR. CARLOS ANTONIO KERBER – Não, mas daí é uma questão de fazer o fechamento final, está. Por quê? Porque quando o Júlio deixou de ser procurador em março, a pedido dele, que ele não queria mais, embora que ele não tivesse nada, como eu vou lhe dizer, não houve transação comercial. Então o que houve? Eles simplesmente passaram para mim a procuração, só para questão de não houve alteração contratual, não houve mudança do capital social.[fim] Não houve alteração em nenhum dos estatutos da S.A. Continua sendo a mesma coisa na S.A.[fim]

O SR. ELVINO BOHN GASS – O Senhor é... o Senhor é credor da Yniza?[fim]

O SR. CARLOS ANTONIO KERBER – Não. Não sei. Não falei em valores. Tá tudo documentado lá os contratos sociais...[fim]

O SR. ELVINO BOHN GASS – De que forma está documentado?[fim]

O SR. CARLOS ANTONIO KERBER – Tudo em contratos sociais.[fim]

Questiona-se: Como se explica que o Sr. Carlos Antônio Kerber, sócio majoritário da General Meat Food Exportação e Importação Ltda. e do Frigorífico Três C S/A tenha vendido os seus controles acionários para Wanex National Investments S/A e Ynisa-Yorke National Investments S/A, totalizando 10.250.000,00 (dez milhões, duzentos e cinqüenta mil reais), representados por duas notas promissórias não

recebidas, e até hoje não tenha providenciado nas medidas judiciais no sentido de executar a dívida? A resposta para esta questão é simples, pois não passa de um artifício para eximir-se da responsabilidade junto aos credores. Este fato está claro no Frigorífico Três C S/A, tanto que ao ser questionado assim explicou:

O SR. PRESIDENTE JERÔNIMO GOERGEN – Então o Senhor não seria hoje mais proprietário?[fim]

O SR. CARLOS ANTÔNIO KERBER – Não, sou o Diretor Presidente, mas dentro de um contrato que existe com a Yniza, está, dentro da que existe, eu ainda continuo sendo, eles são devedores meus de uma parcela de quotas, que foi feita a transferência.[fim]

O SR. PRESIDENTE JERÔNIMO GOERGEN – Está, e qual o valor que foi essa negociação?[fim]

O SR. CARLOS ANTÔNIO KERBER – Está no contrato social, Senhor.[fim]

O SR. PRESIDENTE JERÔNIMO GOERGEN – Seria em torno de 5 milhões?[fim]

O SR. CARLOS ANTÔNIO KERBER – Mais ou menos isso aí.[fim]

O SR. PRESIDENTE JERÔNIMO GOERGEN – Então, o Senhor, para que eu possa compreender Deputados aqui, o Senhor, então, é só Diretor do Grupo mas não é proprietário do Três C?[fim]

O SR. CARLOS ANTÔNIO KERBER – Sou Diretor Presidente, não sou proprietário.[fim]

O SR. PRESIDENTE JERÔNIMO GOERGEN – O proprietário, então...[fim]

O SR. CARLOS ANTÔNIO KERBER – O proprietário é a Yniza.[fim]..............O SR. PRESIDENTE JERÔNIMO GOERGEN – O Senhor não é dono do Três C, então?[fim]

O SR. CARLOS ANTÔNIO KERBER – Não Senhor.[fim]

O SR. PRESIDENTE JERÔNIMO GOERGEN – Quem assinou pela Yniza esse contrato?[fim]

O SR. CARLOS ANTÔNIO KERBER – O Sr. Júlio.[fim]

O SR. PRESIDENTE JERÔNIMO GOERGEN – Como o Senhor permanece no comando do Três C?[fim]

O SR. CARLOS ANTÔNIO KERBER – Porque em assembléia, em assembléia da S/A ainda continuo Diretor Presidente.[fim]

O SR. PRESIDENTE JERÔNIMO GOERGEN – Está. Em 31 de março de 2003, o Sr. Júlio renunciou ao cargo de Diretor da Três C. Está?[fim]

O SR. CARLOS ANTÔNIO KERBER – Sim Senhor.[fim]

O SR. PRESIDENTE JERÔNIMO GOERGEN – O novo Procurador da Yniza passa a ser o Sr. Carlos Antônio Kerber. Isso corresponde?[fim]

O SR. CARLOS ANTÔNIO KERBER – Porque ele, o Júlio que, ele deixou de ser por causa do problema da outra empresa, o pessoal passou a dar para mim a procuração até fazer a regularização da empresa.[fim]

O SR. PRESIDENTE JERÔNIMO GOERGEN – Então, hoje o Senhor é representante também da Yniza?[fim]

O SR. CARLOS ANTÔNIO KERBER – Da Yniza, por enquanto, até eles nomearem o novo...[fim]

O SR. PRESIDENTE JERÔNIMO GOERGEN – A Yniza permanece dona do Três C?[fim]

O SR. CARLOS ANTÔNIO KERBER – Sim Senhor.[fim]

O SR. PRESIDENTE JERÔNIMO GOERGEN – O Senhor já recebeu os valores da Yniza?[fim]

O SR. CARLOS ANTÔNIO KERBER – Não Senhor.[fim]

O SR. PRESIDENTE JERÔNIMO GOERGEN – Não recebeu?[fim]

O SR. CARLOS ANTÔNIO KERBER – Não.[fim]

O SR. PRESIDENTE JERÔNIMO GOERGEN – Como sendo credor, se não pago, o Senhor é Procurador do devedor? Como é que funciona essa relação?[fim]

O SR. CARLOS ANTÔNIO KERBER – Não, mas daí é uma questão de fazer o fechamento final, está. Por quê? Porque quando o Júlio deixou de ser procurador em março, a pedido dele, que ele não queria mais, embora que ele não tivesse nada, como eu vou lhe dizer, não houve transação comercial. Então o que houve? Eles simplesmente passaram para mim a procuração, só para questão de não houve alteração contratual, não houve mudança do capital social.[fim] Não houve alteração em nenhum dos estatutos da S.A. Continua sendo a mesma coisa na S.A.[fim]

O SR. PRESIDENTE JERÔNIMO GOERGEN – Então, o Senhor não sabe mesmo assim quem são os sócios da Yniza?[fim]

O SR. CARLOS ANTÔNIO KERBER – Não, Senhor. O sócio da Yniza é uma empresa do Uruguai. É...[fim]

O SR. PRESIDENTE JERÔNIMO GOERGEN – (Fala simultaneamente.)[fim]

O SR. CARLOS ANTÔNIO KERBER – O procurador... eles me passaram a procuração. Veio a documentação...[fim]

O SR. PRESIDENTE JERÔNIMO GOERGEN – O Senhor não

conversa com ninguém?[fim]

O SR. CARLOS ANTÔNIO KERBER – Falo, falo escritório representante deles no Uruguai.[fim]

O SR. PRESIDENTE JERÔNIMO GOERGEN – Mas quem são? Porque me parece um negócio de um volume considerável.[fim]

O SR. CARLOS ANTÔNIO KERBER – Sim, Senhor. O que eu quero lhe dizer o seguinte: quem é que representa eles no Uruguai? É isso que o Senhor quer...[fim]

O SR. PRESIDENTE JERÔNIMO GOERGEN – Eles são sócios da Yniza.[fim]

O SR. CARLOS ANTÔNIO KERBER – Tá. Que é os que representam esse grupo do Uruguai. O que eles são? Eles são pessoas que têm o escritório de representação deles, que eles cuidam de Investimentos fora do País deles... E é as pessoas que eu falo.[fim]

O SR. PRESIDENTE JERÔNIMO GOERGEN – Eu vou insistir nesse pergunta antes que lhe passar a palavra, Deputado. O Senhor, como sendo credor, que não recebe da Yniza, o Senhor mesmo disse agora aqui...[fim]

O SR. CARLOS ANTÔNIO KERBER – Não. É que eu não recebi.[fim]

O SR. PRESIDENTE JERÔNIMO GOERGEN – O Senhor recebe da Yniza. O Senhor mesmo disse agora aqui.[fim]

O SR. CARLOS ANTÔNIO KERBER – Não é que não... não recebi.[fim]

O SR. PRESIDENTE JERÔNIMO GOERGEN – O valor de 5 milhões, 350 mil.[fim]

O SR. CARLOS ANTÔNIO KERBER – O. K. O.K.[fim]

O SR. PRESIDENTE JERÔNIMO GOERGEN – O Senhor agora confirma esse valor?[fim]

O SR. CARLOS ANTÔNIO KERBER – No contrato social... se é o valor que está no contrato social...[fim]

O SR. PRESIDENTE JERÔNIMO GOERGEN – Tá... O Senhor é procurador, portanto, do seu próprio devedor?[fim]

O SR. CARLOS ANTÔNIO KERBER – Não, mas é que eu gostaria claro que nessa fase de procurador, ele não faz, ele não está fazendo nenhuma parte de contratação de empréstimo, não está fazendo nenhuma... como é que vou dizer? Transacionando comercialmente, não tá fazendo compra e nem venda de patrimônio.[fim]

Foi constatada contradição nos depoimentos entre os Srs. Clóvis Kerber e Carlos Antônio Kerber Júnior, que depuseram também no dia 03 de novembro do corrente, e está focado na locação do escritório e depósito localizado no Município de Cachoeirinha. Enquanto o Sr. Clóvis Kerber afirma existir um contrato de locação oneroso, o seu sobrinho e administrador do Frigorífico Três C S/A afirma que a locação é gratuita, conforme as seguintes transcrições:

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – Sim. O Senhor alugou algum dos seus bens para o Três C ou pro...[fim]

O SR. CLÓVIS KERBER – Sim Senhor.[fim]

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – E ainda está alugado?[fim]

O SR. CLÓVIS KERBER – Sim Senhor.[fim]

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – Isso de longa data?[fim]

O SR. CLÓVIS KERBER – De longa data.[fim]

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – No dia de hoje, está alugado? Estão utilizando em Cachoeirinha?[fim]

O SR. CLÓVIS KERBER – Sim.[fim]

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – Qual é o valor do aluguel?[fim]

O SR. CLÓVIS KERBER – Dois mil e...2 mil reais, parece...mil e duzentos...2 mil, parece.[fim]...............

O SR. PRESIDENTE JERÔNIMO GOERGEN – Mas existe uma filial em Cachoeirinha?[fim]

O SR. CARLOS ANTONIO KERBER JUNIOR – Isso. Nós temos a Central de Distribuição, né. As cozinhas industriais, né, ficam localizadas em Cachoeirinha.[fim]

O SR. PRESIDENTE JERÔNIMO GOERGEN – É sede própria ou alugada?[fim]

O SR. CARLOS ANTONIO KERBER JUNIOR – É sede do seu Clóvis Kerber.[fim]

O SR. PRESIDENTE JERÔNIMO GOERGEN – Vocês pagam aluguel pra ele?[fim]

O SR. CARLOS ANTONIO KERBER JUNIOR – Não, não pagamos nada.[fim]

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – O... a... essa... qual é o papel dela aqui em Cachoeirinha?[fim]

O SR. CARLOS ANTONIO KERBER JUNIOR – Ela... nós mandamos o caminhão... o caminhão truck, né, ou toco, nós

mandamos todo dia à noite até Cachoeirinha. E, de Cachoeirinha, se coloca nas é... Mercedinha, que a gente chama, quatro, são quatro Mercedinhas, e elas saem a distribuir nos refeitórios industriais, né, nosso mercado...[fim]

O SR. PRESIDENTE JERÔNIMO GOERGEN – Isso não é uma sala comercial, é um pavilhão?[fim]

O SR. CARLOS ANTONIO KERBER JUNIOR – É um... é, um pavilhão, uma sala com câmara fria, né.[fim]

O SR. PRESIDENTE JERÔNIMO GOERGEN – Tem câmara fria?[fim]

O SR. CARLOS ANTONIO KERBER JUNIOR – Tem câmara fria.[fim]

O SR. PRESIDENTE JERÔNIMO GOERGEN – E o seu Clóvis, ele tem alguma ligação lá, ele que administra, como é que...[fim]

O SR. CARLOS ANTONIO KERBER JUNIOR – Não, hoje não. Hoje é administrado por nos, meu pai, por mim.[fim]

Assim, atestando conhecer o Sr. Julio Cesar Silva dos Santos, os questionamentos passaram a abordar as atividades específicas da General Meat Food Exportação e Importação Ltda. e do Frigorífico Três C S/A, visto que há uma inter-relação entre as duas empresas, pois o Sr. Antônio Carlos Antônio Kerber é proprietário de ambas :

O SR. JULIO CESAR SILVA DOS SANTOS – Bom, não vou dizer que eles usem nota fria, não é do meu conhecimento. Ocorria, periodicamente coisas assim meio estranhas, no sentido legal, creio eu. Por exemplo: comprar um gado no nome do Frigorífico Três C, abater ele no Três C, mas mandavam pra mim, por ordem do Clóvis

ou do Carlos, fazer lançamento no sistema em Livramento e emitir a contranota para o produtor da General Meat Food para o produtor. Ou compravam no nome da General Meat Food. Abatiam em Rio Pardo e aí, sim, saía a nota, a contranota de Livramento.[fim]

Isso aí, Excelência, é... nas segundas vias das notas fiscais da empresa General Meat Food que acredito que se encontrem lá dentro ainda, porque está no processo falimentar junto com a guia de produtor, que normalmente ficava grampeada na contranota, que se diz, na nota da empresa pro produtor onde acompanha o romaneio de pesagem de carcaça escrito a mão. Esse aí é o que era feito em Rio Pardo, ia pra Livramento pra sair a guia de produtor, para o produtor de Livramento. Em conseqüência, creio que essa carne ficaria em estoque da General Meat Food. Um sistema assim. O Rio Pardo, pelo que me consta, não tinha incentivos fiscais. Até pode ser por aí pra que de repente a carne tivesse um incentivo do ICM, alguma coisa assim, sendo vendida depois por Livramento.[fim].........

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – Enquanto funcionou o Frigorífico General Meat Food, o Senhor tem conhecimento de que animais abatidos nessa planta eram contabilizados como abatidos no Frigorífico Três C e vice-versa?[fim]

O SR. CARLOS ANTONIO KERBER – Não, Senhor. Nunca houve isso.[fim]

A afirmação do Sr. Julio Cesar Silva dos Santos pode ser comprovada por meio de correspondência dirigida a este funcionário do General Meat Food Exportação e Importação Ltda., onde se verifica que é procedente do Frigorífico Três C S/A e destinado ao General Meat Food Exportação e Importação Ltda., datado em Rio Pardo no dia 21 de setembro de 1999, com o nome dos produtores rurais e a quantidade de animais que foram abatidos. É prova documental que qualifica as denúncias do Sr. Julio Cesar Silva dos Santos e que constitui em crime de sonegação fiscal, devendo este capítulo ser analisado pela Secretaria da Fazenda, por seu órgão responsável pela fiscalização.

Montando este quebra-cabeça, verifica-se que as relações comerciais da General Meat Food Exportação e Importação Ltda. e Frigorífico Três C S/A têm estreitas relações, começando pelo quadro social até as atividades comerciais, posto

que o Sr. Clovis Kerber, é o comprador de gado de ambos os frigoríficos. Esta situação deve ser levada em consideração no momento de concluirmos as irregularidades.

O SR. JULIO CESAR SILVA DOS SANTOS – Eu entrei na Meat Food como um auxiliar no faturamento de gado, na área de gado e, logo em seguida, o Clóvis e o Carlos combinaram que eu e o Clóvis iríamos trabalhar direto via telefone. Eu vi o Sr. Clóvis Kerber uma única vez. Nos falávamos o dia inteiro sempre por telefone pra atuarmos junto nessa coordenação e entrada de gado, compra de gado, coordenação. Mas desempenhei outras funções lá como venda de carne. Inclusive na cidade lá, cheguei a vender carne. Representava a Empresa na maioria das audiências. Tenho aqui até cópia de carta preposto. Eu sempre estava na linha de frente.[fim]

O SR. ELVINO BOHN GASS – Mas essa primeira relação quando é que eles chegaram a te conhecer pra te propor que fosses auxiliar deles, do Carlos e do Clóvis?[fim]

O SR. JULIO CESAR SILVA DOS SANTOS – Isso foi com o andamento normal. Eu entrei na Empresa em outubro e sei lá três, quatro meses já senti que queriam me aproximar demais deles assim.[fim]...................

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – Obrigado, Presidente Jerônimo. Nossa saudação aos Senhores presentes, principalmente ao Sr. Clóvis. E nós temos aqui algumas questões já pré-elaboradas.[fim]

Qual é o seu vínculo com a empresa Frigorífico Três C, de Rio Pardo?[fim]

O SR. CLÓVIS KERBER – Meu vínculo, nenhum.[fim]

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – Com o Frigorífico General Meat Food que funcionou na planta do Frigorífico Swift Armour, em Livramento?[fim]

O SR. CLÓVIS KERBER – Vínculo também nenhum.[fim]

...............

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – O Senhor mantém relações comerciais com o Sr. Carlos Kerber?[fim]

O SR. CLÓVIS KERBER – Comerciais não.[fim]

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – Quais... comerciais não por quê? Mantém algum... alguma outra relação...[fim]

O SR. CLÓVIS KERBER – Não, não, por nada. A atividade dele é uma, a minha sempre foi outra. Entendeu? Há uns anos atrás, sim. O Senhor tá perguntando atualmente ou anteriormente?[fim]

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – Manteve anteriormente?[fim]

O SR. CLÓVIS KERBER – Sim.[fim]

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – Quais relações?[fim]

O SR. CLÓVIS KERBER – Vendia... eu vendi gado pra... tanto pro Três C como pra General Meat.[fim]................

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – Que.. quando o Senhor vendeu pra General Meat, vendia também pro Três C, ou, no momento que passou a vender pra uma, deixou de vender pra outra?[fim]

O SR. CLÓVIS KERBER – Não, vendia pra uma como vendia pro outro.[fim]

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – Mas... é... concomitantemente ou... ou vendeu pra um, parou de vender pra um e começou a vender pro outro?[fim]

O SR. CLÓVIS KERBER – Não. Vendia pra um e vendia pro outro.[fim]

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – No mesmo tempo? Ao mesmo tempo?[fim]

O SR. CLÓVIS KERBER – Sim, Senhor.[fim]

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – O Senhor vendia gado somente da sua produção e propriedade ou também é... repassava gado de algum outro produtor?[fim]

O SR. CLÓVIS KERBER – Passava algum gado de produtor também.[fim]

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – Passava também?[fim]

O SR. CLÓVIS KERBER – Sim, Senhor.[fim]

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – Então, o Senhor fazia, além do... de produtor diretamente com a indústria, o interme... fazia a intermediação?[fim]

O SR. CLÓVIS KERBER – Sim, Senhor.[fim]

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – É... nesse... desse... desses valores que o Senhor ficou pra receber também tinham de gado de outros produtores?[fim]

O SR. CLÓVIS KERBER – Sim, Senhor.[fim]

No transcurso das investigações, outros documentos foram entregues, entre eles está uma notícia crime referente aos delitos de estelionato envolvendo Carlos Antônio Kerber. Numa confissão de dívida, o sócio-gerente da General Meat Food Exportação e Importação Ltda., Sr. Carlos Antônio Kerber e, ainda, Heart Of The Frontier Importação e Exportação Ltda., representada pelo sócio-gerente, Sr. Paulo Voltaire Vegner Carneiro, deram em garantia um imóvel que nunca pertenceu a qualquer um dos devedores. O fato foi denunciado ao Ministério Público Estadual, estando pendente sua instrução junto às delegacias de polícia de Rio Pardo e Porto Alegre. Este fato deve ser acompanhado pelo Ministério Púbico Estadual, no sentido de agilizar a instrução do processo.

Consta dos autos cópia de documento datado de 14 de março de 2000 que, por instrumento particular, envolvendo a estrutura acionária da empresa General Meat Food Exportação e Importação Ltda. e as operações do Frigorífico Três C S/A, firmaram, em caráter irrevogável e irretratável, de cessão e transferência de ações e quotas representativas do capital social de empresas, onde a empresa de Livramento se transformaria de limitada para sociedade anônima, em troca da subscrição de R$ 27.000.000,00 (vinte e sete milhões de reais) do grupo de investidores representado pela empresa Athenas investimentos e Participações Ltda. Neste documento aparece claramente a vinculação da família Kerber, pois ficaria assegurada a presidência ao Sr. Carlos Antônio Kerber e a diretoria comercial ao Sr. Clóvis Kerber, os quais deteriam 20% (vinte por cento) do novo capital social votante. O que vem de encontro às suas declarações para esta CPI:

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – Obrigado, Presidente Jerônimo. Nossa saudação aos Senhores presentes, principalmente ao Sr. Clóvis. E nós temos aqui algumas questões já pré-elaboradas.[fim]

Qual é o seu vínculo com a empresa Frigorífico Três C, de Rio Pardo?[fim]

O SR. CLÓVIS KERBER – Meu vínculo, nenhum.[fim]

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – Com o Frigorífico General Meat Food que funcionou na planta do Frigorífico Swift Armour, em Livramento?[fim]

O SR. CLÓVIS KERBER – Vínculo também nenhum.[fim]

Outra afirmação contraditória do Sr. Carlos Antônio Kerber é a de que teria direito a uma indenização pelas benfeitorias realizadas na planta industrial arrendada do Banco do Brasil S/A. Este fato havia sido relatado pelo Sr. Julio Cesar Silva dos Santos em seu depoimento:

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – E o pedido de falência foi feito pelo próprio Meat Food, como pedido de autofalência ou foi provocado por algum credor?[fim]

O SR. JULIO CESAR SILVA DOS SANTOS – Foi provocado por um credor, mas aí tem uma jogada do Carlos. Isso aí era comentado dentro da empresa diariamente por ele, comentado pela comunidade de que para ele seria um altíssimo negócio ir a falência, porque ele já teria uma ação, sei lá, contra o Banco do Brasil de que assim que outra empresa se instalasse ali ou fosse vendida a planta, fosse para qual fosse o destino, ele teria direito a uma indenização, dita hoje de 9 milhões de reais.[fim]

Ao ser questionado o Sr. Carlos Antônio Kerber confirmou:

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – O Senhor confirma que existia alguma cláusula contratual, ação judicial, acordo, algo semelhante que, em caso de falência do Frigorífico General Meat Food e alguma outra empresa se instalar na planta, o Senhor ou a sua empresa teriam direito a uma indenização em torno de 9 milhões de reais.[fim]

O SR. CARLOS ANTONIO KERBER – Todo o investimento que foi feito na planta que esses recursos... porque quando foi feito o acordo via Governo do Estado, Governo Federal e nós, todo o investimento que fosse efetuado naquela planta, futuramente, teria que ser ressarcido de uma certa forma. Então isso existe. Existe. Inclusive isso foi feito tudo via Governo do Estado na época, e aonde que o processo todo, hoje, que se nós olharmos corrigido ultrapassaria 13 milhões, que o que foi investido em cima daquela planta.[fim]

Contrapondo-se ao depoimento, foi apresentada pelo arrendador, Banco do Brasil S/A, cópia reprográfica do contrato de arrendamento, onde na Cláusula Oitava prevê:

“CLÁUSULA OITAVA – Findo ou rescindido o contrato, não assistirá ao ARRENDATÁRIO, direito a retenção ou indenização por quaisquer benfeitorias, ainda que necessárias, as quais ficarão desde logo incorporadas ao imóvel.”

Assim, fica definitivamente comprovada mais uma inverdade trazida no depoimento do Sr. Carlos Antônio Kerber, e por ser palpável, visto que uma cópia do contrato está juntada ao autos do processo desta CPI.

Em função dos depoimentos e documentos apresentados, os quais integram os autos deste processo, as irregularidades verificadas no Frigorífico 3C S/A, pela participação das mesmas pessoas e as penalidades apontadas são as seguintes indiciadas

- Sr. Clovis Kerber;- Assinou atas de assembléias sem ter participado, quando era procurador de

empresa que detinha a maioria do capital social.

Ao agir assim, praticou o crime de falsidade ideológica, previsto no artigo 299 do Código Penal.

Sr. Carlos Antônio Kerber, ao praticar as seguintes condutas delituosas, incidiu nos seguintes delitos;

- “Vendeu” fraudulentamente o capital da General Meat Food e Frigorífico 3C para eximir-se de sua responsabilidade societária – crime de estelionato, artigo 171, II, do CP;

- Emitiu cheque sem fundo – crime de estelionato artigo 171, IV do CP;-- Deu, em “Confissão de Dívida”, por instrumento particular, imóvel que nunca

lhe pertenceu – crime de estelionato, artigo 171, I, do CP;

- Crime contra a ordem tributária – IR, pela “venda” de sua participação societária no General Meat Food, pois além de não receber o valor, ainda endossou a nota promissória ao próprio emitente, artigo 1º da Lei n.º 8.137/90;

- Crime contra a ordem tributária – IR, pela “venda” de seu capital social no Frigorífico 3C, da mesma forma do item anterior, artigo 1º da Lei n.º 8.137/90;

-- Crime contra a ordem tributária – IR, dos irmãos do Sr. Carlos Antônio

Kerber, pela “venda” de participação societária do Frigorífico 3C, pois o valor da venda foi simbolizado por nota promissória somente em nome de Carlos Antônio Kerber, artigo 1º da Lei n.º 8.137/90;

- Crime contra a ordem tributária – IR, dos irmãos do Sr. Carlos Antônio Kerber, pela “venda” de participação societária do General Meat Food, nos mesmos termos do item anterior, artigo 1º da Lei n.º 8.137/90;

-- Crime contra ordem tributária – ICMS, pelo fato de abater gado bovino no

estabelecimento do Frigorífico 3C e a emissão da nota fiscal para o produtor ter sido efetuada pelo General Meat Food, artigo 1º da Lei n.º 8.137/90;

-

Sr. Roberto Carlos Mayer:

- co-partípice das irregularidades apontadas nas empresas General Meat Food e Frigorífico 3C S/A –

- deverá ser denunciado ao Conselho Regional de Contabilidade por efetuar contabilidade fraudada – confessou que diversos documentou foram assinados pelo Sr. Julio Cesar Silva dos Santos, em data posterior, para acertar a contabilidade do Frigorífico 3C S/A;

Ao agir assim, praticou o crime de falsidade ideológica, previsto no artigo 299 do Código Penal.

3) FECHAMENTO DA UNIDADE DE SANTA ROSA DA CHAPECÓ INDÚSTRIA DE ALIMENTOS, EMPRESA CONTROLADA PELO GRUPO ARGENTINO MACRI.

INTRODUÇÃO

Em setembro de 2002, a Chapecó atrasou os pagamentos aos fornecedores de aves e suínos e deixou de comprar parte da ração para os animais em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul. Na região de Santa Rosa, o atraso aos suinocultores era superior a 45 dias.

A unidade de Santa Rosa reduziu o abate de suínos em razão de dívidas e da falta de animais. Os abates foram suspensos nas quintas e sextas-feiras em razão da falta de animais. Com o serviço limitado, alguns funcionários que chegaram a trabalhar de dois a três dias por semana. Em outubro, houve nova interrupção do fornecimento de rações aos integrados das outras unidades do grupo em Xaxim (SC), Chapecó (SC) e Cascavel (PR).

Em 11 de novembro de 2002, o abate de suínos foi suspenso em Santa Rosa. Foram mantidas as atividades na administração, manutenção, granja, fábrica de ração e fábrica de embutidos. A Chapecó concedeu férias coletivas de trinta dias a 650 dos 850 funcionários.

Em 02 de janeiro a Chapecó retomou o abate na sua unidade gaúcha em virtude do elevado número de animais prontos na região, mantendo cerca de um terço da sua capacidade ociosa. Em seguida, 180 empregados foram demitidos.

Em fevereiro de 2003 a empresa demitiu cerca de 850 funcionários em outras unidades. Os abates passaram a ser descontínuos.

No final de abril, com a interrupção dos abates, existiam cerca de 35 mil suínos represados em estabelecimentos rurais na Grande Santa Rosa. Os frigoríficos próximos não conseguiram absorver toda a oferta da região.

Em 15 de maio, a Chapecó anunciou a demissão de cerca de 2,5mil dos seus 2,8 mil funcionários. A medida foi apresentada como uma exigência do grupo francês Louis Dreyfus para efetivar a compra da empresa sem nenhum passivo trabalhista. A Chapecó assumiu o compromisso de dar preferência aos funcionários dispensados na retomada da produção.

No final de maio a Chapecó demitiu 650 funcionários de sua unidade de Chapecó e 1.320 trabalhadores do abatedouro de Xaxim. Em Chapecó foram mantidos 200 empregados que trabalhavam em serviços de manutenção ou que não podiam ser demitidos por terem estabilidade

Em 02 de junho, foram demitidos 426 dos 594 funcionários da unidade de Santa Rosa. A empresa preservou apenas funcionários que possuíam estabilidade e aqueles dos setores que ainda estavam em operação, como a fábrica de ração e das granjas.

Em 10 de junho, suinocultores dos municípios de Santa Rosa, Santo Cristo, Cândido Godói, Cerro Largo e Tuparendi realizaram uma manifestação em frente às instalações da unidade da Chapecó em Santa Rosa. Os suinocultores exigiram agilidade do Governo Federal, especialmente do BNDES, para viabilizar a retomada de abates por qualquer grupo de interessados.

Esta reivindicação não era isolada. Além dela, foram reforçados pleitos anteriores como a renegociação das dívidas de custeio, com juros mais baixos e prazo maior para pagar; a aquisição de estoques de excedentes de carne suína pelo governo federal para apoiar o preço, como o programa de milho, e ainda, um programa de controle de produção nacional de suínos, para evitar mais crises no futuro provocados por excesso de produção pelas grandes integrações ou por suinocultores independentes.

Em novembro, a Dreyfus não confirmou a preferência para aquisição das unidades da Chapecó, que passaram a ser ofertadas a outras empresas.

Em 08 de dezembro de 2003 a empresa Alibem Comercial de Alimentos Ltda. anunciou oficialmente a reativação da unidade de Santa Rosa mediante contrato de arrendamento com opção de compra. O valor total do negócio é de R$ 21,5 milhões.

DA PROVA COLETADA:

O fechamento da unidade de Santa Rosa e das demais unidades da Chapecó pode ser relacionado a uma série de fatores. Entre eles, podemos citar o colapso econômico da Argentina, sede do grupo controlador e a superoferta de frango e suínos em um mercado internacional bastante competitivo e condicionado por subsídios e barreiras sanitárias, sobretudo da União Européia. As exportações de suínos foram bloqueadas temporariamente em função da ocorrência de focos de febre aftosa no Rio Grande do Sul em 2000 e 2001.

Na época, a área de comércio exterior era responsável por cerca de 40% do faturamento total da Chapecó. A empresa exportava seus produtos para mais de 40 países, sendo que os principais mercados eram a Arábia Saudita, Hong Kong, Emirados Árabes, Kuwait, Catar, Alemanha, Inglaterra, Rússia, Argentina e Uruguai.

Estes fatores externos agravaram a já debilitada situação econômica da empresa, que enfrentava diminuição das receitas, crescente endividamento e restrição do crédito nacional e internacional.

Existem declarações na imprensa que situação começou a se complicar no primeiro semestre e se agravou no segundo semestre de 2002. Em maio de 2002, analistas da Bolsa de Valores de São Paulo já apontavam a falta de liquidez dos investimentos em ações da Chapecó.

Desde o primeiro semestre de 2002, quando suspendeu o pagamento das suas dívidas, a Chapecó procurou um parceiro para se capitalizar. Com o agravamento da crise, os controladores decidiram vender a empresa. Grandes grupos estrangeiros, como Tyson, Smithfield e Conagra, chegaram a sondar a Chapecó, mas se retraíram.

Em outubro de 2002, a consultoria Global Invest avaliou que o valor de mercado do Chapecó havia caído 56% em relação ao início do ano, passando de R$ 784,84 milhões em dezembro de 2001 para R$ 340,99 milhões.

A ênfase nos fatores externos que geraram a crise da Chapecó deve ser complementada necessariamente pela situação anterior do grupo como faz o depoimento a seguir:

O SR. CELSO MÁRIO SCHMITZ – Então, os Srs. poderiam me perguntar De onde é que veio o problema da Chapecó? Eu diria começou errado nessa recomposição da dívida em 99, final de 99, ela partiu com alto patrimônio líquido negativo e, ainda, com a dívida dolarizada, agravado pela situação financeira do Grupo Macri, da Argentina, e depois com os problemas da própria Argentina. E, é natural, por situação de mercado e, também não vamos nos omitir, pela própria Chapecó, que poderia ter feito outras providências.[fim]

Coube, pois, analisar em detalhe o processo e os antecedentes que resultaram na recomposição das dívidas da empresa em 1999. Nesta época, foram repactuadas operações feitas desde 1995, especialmente com o BNDES.

Foram ouvidos como testemunhas específicas deste assunto os Srs. Alex Fontana e Plinío De Nes Filho, ex-presidentes da Chapecó; Celso Mário Schmitz, presidente da Chapecó; Luiz Carlos Mendonça de Barros, ex-presidente do Conselho de Administração da Chapecó e ex-presidente do BNDES; Marcelo da Costa, representante da Companhia de Navegação Maersk, credora da Chapecó; e Márcio Henrique Monteiro de Castro, diretor do BNDES. Convocado a depor, o Sr. Andrea Sandro Calabi, ex-presidente do BNDES, não compareceu.

A CPI tomou conhecimento do Acórdão 830/2003, de 09.07.03, do Plenário do Tribunal de Contas da União originado de solicitação da Comissão de Fiscalização Financeira e Controle da Câmara dos Deputados. Essa solicitação foi motivada pelo REQ 14/2003 CFFC da deputada Luci Choinacki (PT-SC) e outros, que requereram do TCU uma auditoria nas contas da Chapecó Companhia Industrial de Alimentos - Frigorífico Chapecó - recebedora de recursos do BNDES.

No acórdão, o Tribunal informa o exame, em estágio avançado mas sem apreciação final, de uma investigação iniciada através de representação de uma unidade técnica do órgão sobre o mesmo tema (processo TC-0006.164/2003-5-Sigiloso).

Os depoimentos e os questionamentos do TCU conduzem a uma série de indagações sobre as operações realizadas, entre as quais destacam-se:

1) Em 1995, a Chapecó definiu um programa de investimentos de US$ 100 milhões para o triênio seguinte visando a da expansão da planta industrial do próprio grupo e a compra do frigorífico Diplomata. Para isto, o grupo solicitou um apoio financeiro do BNDES na ordem de US$ 49 milhões, dos quais US$ 20 milhões seriam através de subscrição de debêntures ou ações da BNDESPAR e US$ 20 milhões através de Programas do Finem e Finame, do BNDES (banco).

Em novembro de 1995, o BNDESPAR adquiriu as debêntures e o Fundo de Participação Social, administrado pelo BNDES, adquiriu ações. Enquanto esperava a aprovação das operações do Finem e do Finame, a Chapecó se antecipou aos recursos do BNDES e tomou recursos emprestados do sistema bancário de curto prazo prevendo que, quando o financiamento do BNDES saísse, os empréstimos de curto prazo seriam quitados, sem prejudicar o andamento do programa.

Os depoimentos indicam que esta operação expôs demasiadamente a empresa às flutuações do mercado e que houve negligência do BNDES ao não caucionar as ações.

O SR. LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS - Diante dessas informações, a diretoria do BNDES tomou a decisão de buscar com o empresário, com o controlador da empresa uma solução que fosse viável, atendendo aos interesses de todos. Nas conversas com o controlador, ficamos sabendo, o que não sabíamos antes, que ele já tinha procurado uma instituição privada, Banco Bozzano-Simonsen, à época, e já tinha negociado com... o Banco Bozzano-Simonsen tinha feito um empréstimo para empresa na ordem de 27 milhões de dólares, com a garantia do controle acionário da Chapecó e mais ainda com uma procuração já passada, dando ao Banco Bozzano-Simonsen o poder de transferir essas ações para um eventual comprador.[fim] (grifo nosso)

O SR. MÁRCIO HENRIQUE MONTEIRO DE CASTRO – Eu vou dar um exemplo aqui: nessa primeira operação, a primeira operação, na operação das debêntures e das ações, o Banco tinha que fazer caução de ações e não fez. Alguém aí dentro do BNDES não fez a caução. O Senhor entende o que aconteceu? Alguém não fez a caução! Depois, as ações que deveriam ter sido caucionadas ao BNDES apareceu caucionadas num outro banco, o Bozzano. Tá? Quer dizer, então, é, é... vamos... e eu estou falando de peito aberto com os Senhores.[fim] (grifo nosso)

Outro depoimento revela que a operação planejada pelo sr. Plinio De Nes Fº não encontrou sustentação financeira, expondo demasiadamente a empresa.

O SR. LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS – (...) Enquanto esperava a aprovação do restante dos recursos para esse programa de investimento [de 1995], a Chapecó comete talvez uma falha administrativa, porque ela se antecipa aos recursos do BNDES e toma recursos emprestados do sistema bancário de curto prazo no pressuposto de que, quando o financiamento do BNDES saísse, ele quitaria esses empréstimos de curto prazo, e o programa continuaria.[fim]

O SR. LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS – Primeiro é o seguinte, é aquilo que eu te falei, eu já não estou mais lá. Certo? Eu saio em junho, em abril de 98, quando as negociações com o Grupo Macri já estavam acontecendo.[fim]

Agora, volto a insistir: quem estava vendendo a Chapecó para o Grupo Macri era o Bozzano-Simonsen e o Banco do Brasil, que tinham o mandato de venda do Sr. Plínio. Inclusive, tinha o empréstimo do Bozzano-Simonsen à Chapecó foi feito com caução das ações do Sr. Plínio como garantia.[fim]

Então, quem tinha transferido o controle... O controle acionário já estava transferido para o Bozzano-Simonsen, via caução de um empréstimo, que não tinha recursos para pagar.[fim]

2) Segundo o Acórdão 830/03 do TCU, entre abril de 1997 e janeiro de 1998, o BNDES, presidido pelo sr. Luiz Carlos Mendonça de Barros, por intermédio de sua Subsidiária Agência Especial de Financiamento de Máquinas Industriais (Finame), realizou quatro operações de capital de giro destinadas à produção e posterior exportação de carne de frango, de suínos e de seus derivados às empresas do Grupo Chapecó, no valor global de US$ 51 milhões, com recursos do Fundo do Amparo ao Trabalhador (FAT), ao amparo do Programa Finamex Pré-Embarque e Pré-Embarque Especial sendo:

- US$ 40 milhões, em abril de 1997 à empresa Chapecó Companhia Industrial de Alimentos (CCIA) e

- US$ 11 milhões, em caráter suplementar, à Holding do Grupo - S/A Indústria e Comércio Chapecó (SAIC), divididos em três créditos adicionais: US$ 4 milhões, US$ 3 milhões e US$ 4 milhões, em 10.10.97, 30.12.97 e 18.01.98, respectivamente.

O TCU identificou que estudos formalizados por técnicos do BNDES e da Finame, especificamente na operação de US$ 40 milhões, alertavam que:

- as normas operacionais do Programa Finamex-Pré-embarque não amparavam o financiamento pretendido à produção e à exportação da carne de frango, de suínos e derivados, por falta de enquadramento em qualquer das modalidades: Pré-Embarque, Pós-embarque ou Risco Exportador.

- o conceito dos dirigentes da Chapecó continham sérias restrições cadastrais, inclusive inadimplemento de obrigações das empresas e dos sócios junto ao BNDES e à sua Subsidiária BNDES Participações S/A – BNDESPAR.

- havia péssimos indicadores econômicos-financeiros e da situação pré-falimentar do Grupo, entre outras restrições, sinalizando, assim, o alto risco a que a operação estava sujeita.

O relatório do TCU afirma que a Diretoria do BNDES resolveu aprovar as operações mesmo em condições adversas, apenas com garantias pessoais do então dirigente Plínio David Nes Filho e esposa.

A hipótese do alto risco das operações foi confirmada em seguida. Em 1999, o BNDES renegociou o conjunto delas, reestruturando prazos, taxas de juros e garantias, além de dispensar um montante de US$ 31,97 milhões (data base 01.11.99)

Os depoimentos colhidos reiteram que a operação era reconhecidamente de alto risco e que isto não mereceu a devida consideração pela direção do BNDES:

O SR. ELVINO BOHN GASS – O Sr. não acha que 51 milhões, oferecidos mediante vários registros apontados que não condiziam com a possibilidade de retorno, vamos dizer assim, porque era capital de alto risco efetivamente, o Sr. não acha uma facilitação muito forte do BNDES para o Grupo Chapecó? Cinqüenta e um milhões?[fim]

O SR. CELSO MÁRIO SCHMITZ – Deputado Bohn Gass, sinceramente, não entendi, até hoje, como o BNDES entrou com esse valor, naquela época.[fim]

O SR. PRESIDENTE JERÔNIMO GOERGEN – A testemunha disse aqui exatamente isso, que não poderia ter existido essa transação naquele momento.[fim]

O SR. MÁRCIO HENRIQUE MONTEIRO DE CASTRO – Eu também acho que não, porque estava inadimplente.[fim]

Agora, a explicação, a pergunta não foi essa. A pergunta foi como foi feita, por que foi feita. Aí...[fim]

O SR. PRESIDENTE JERÔNIMO GOERGEN – Doutor, eu lhe perguntei de outra forma.[fim]

O SR. MÁRCIO HENRIQUE MONTEIRO DE CASTRO – Foi relaxamento.[fim]

O SR. PRESIDENTE JERÔNIMO GOERGEN – A negociação, em função da inadimplência...[fim]

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – Da forma que foi feito, foi relaxamento?[fim]

O SR. MÁRCIO HENRIQUE MONTEIRO DE CASTRO – Foi relaxamento.[fim]

O SR. MÁRCIO HENRIQUE MONTEIRO DE CASTRO – O exemplo da primeira, da primeira. A segunda é o seguinte: eu, como gerente, eu não encaminho inadimplente para uma outra operação. Se o Senhor me perguntar, é, é... Márcio, como é que um gerente faz quando tem uma coisa inadimplente? Eu falo: Olha, eu brigo com os meus gerentes. Eu falo: Vocês peguem a empresa e coloquem na área de recuperação de crédito. Inadimplente é inadimplente. Inadimplente não é cliente; é cliente inadimplente. Vamos resolver a

inadimplência para voltar a ser cliente. Isso é que deveria ter sido...[fim]

O SR. MÁRCIO HENRIQUE MONTEIRO DE CASTRO – Quando uma empresa fica inadimplente... Deputado, quando uma empresa fica inadimplente, o Banco Central manda a gente classificar o crédito dela e começar a fazer provisão para devedores duvidosos. Isso é norma. Quer dizer, é óbvio que se pode até pensar em refinanciar, mas o cuidado é outro, porque o sinal vermelho já foi dado, não é, está piscando, ou o amarelo, pelo menos.[fim]

O SR. LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS - A primeira avaliação que nós pedimos, que foi feita pelos técnicos, era se a empresa era viável ou não. E o relatório que eu tenho – não tenho aqui comigo, mas certamente está disponível no BNDES – era de que era uma operação viável. O setor estava em dificuldades. A empresa tinha dificuldades maiores do que o setor. E aí eu fiquei sabendo que o acionista controlador tinha sido candidato a Vice-Governador do Estado de Santa Catarina e que nesse período em que ele se dedicou à política, vamos dizer assim, a empresa ficou um pouco acéfala.[fim] (grifo nosso)

A última afirmação sugere que existiam informações relevantes sobre a precariedade da gestão da empresa que não foram devidamente considerados na tomada de decisão sobre a operação. Mesmo considerando que a operação tenha sido feita de forma associada à mudança do comando da gestão da Chapecó, é lícito afirmar que havia um condicionante prévio desfavorável a ela.

No período reservado às suas explicações pessoais anteriores ao questionamento dos deputados, o sr. Luiz Carlos Mendonça de Barros fez um contraponto a algumas observações do TCU, especialmente sobre o enquadramento legal da operação. Observe-se, porém, a ausência de comentário sobre a inadimplência da Chapecó junto ao banco no período anterior aos contratos mencionados.

O SR. LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS – (...) Existe aqui uma outra questão que eu gostaria de tocar, que já li aí nos comentários, de que haveria pareceres do pessoal do Banco contra a

operação de 40 milhões de dólares iniciais, que foi feita com a Chapecó.[fim]

E aqui eu preciso fazer uma explicação um pouco mais detalhada de como funciona o Banco. O BNDES é um Banco que funciona com manual de operações, isto é, tem um documento interno que diz como é que as decisões têm que ser tomada, e um Banco que funciona com programas especiais, normalmente programas feitos para responder a alguma situação específica que acontece. E no caso específico da operação da Chapecó, aconteceu um terceiro aspecto que é importante entender para as pessoas verem como é que a Diretoria aprovou a operação se existisse, eventualmente, algum parecer interno contra a operação.[fim]

O BNDES começou a sua carteira de financiamento à exportação especificamente dirigida a bens e equipamentos industriais. Quer dizer, o BNDES só financiava através do Finame, a exportação de bens e equipamentos industriais. E, portanto, o livro geral de procedimentos do BNDES expressava esse espaço restrito de operações. Quando eu assumi o BNDES, em novembro de 1995, por orientação do Presidente da República e do Ministro do Planejamento, Senador José Serra, começamos um programa de transformar o BNDES no que se chama, hoje, o Exim-Bank brasileiro. O BNDES passou a ter a responsabilidade do que se chama Exim-Bank. São bancos nacionais públicos de financiamento à exportação. O mais importante é o americano. O japonês também é um banco importante, mas a maioria dos países tem. O Brasil não tinha. O Brasil tinha o Banco do Brasil como responsável pelo financiamento de exportação de commodities, tinha o BNDES como financiamento de exportações de bens e de equipamentos industriais e tinha um grande buraco no meio, que era o financiamento de produtos industriais com um pouco mais de sofisticação, que não existia nenhum órgão público. E o BNDES assume essa função. A decisão que nós tomamos, em 1996, foi, antes de mexer na estrutura do Banco, vamos operar dentro da Finame. O que quer dizer Finame? Financiamento de Máquinas e Equipamento. E, de repente, a Finame começou a operar financiamento, exportação de calçado, de carnes dentro da Finame.[fim]

É evidente que um órgão que se chama Finame – Financiamento de Máquinas e Equipamentos –, fazendo operações de financiamento de exportação de calçados ou de carne, algum burocrata vai dizer: Isso não cabe dentro do objetivo da Finame, mas eu quero deixar claro para o Senhor que essa foi a decisão tomada. Inclusive, se alguém tiver uma preocupação legalista maior, eu vou ler dois artigos. O BNDES tem um documento que se chama Regulamento Geral de Operações do BNDES, aplicável a todas as operações correntes do Banco que não forem objeto de regulamentação própria. São as regras gerais de atuação do BNDES, que devem ser de conhecimento público dada a sua natureza de instituição financeira governamental. Esse regulamento, assim como todas as regras operacionais do BNDES, são aprovadas pela Diretoria, cuja competência lhe é conferida pelo respectivo estatuto social.[fim]

Para programas específicos, que por suas particularidades requerem regras próprias, compete à Diretoria estabelecê-las, não mais se aplicando, nesses casos, o que se intitula Regulamento Geral de Operações. Saliente-se que, além do Programa de Estímulo às Privatizações Estaduais – que foi quando isso foi questionado –, existem outros programas com características peculiares, que justificam um regramento próprio pela Diretoria do Banco.[fim]

Assim, não há de se alegar, neste caso, – a alegação é muito parecida como foi feita aqui – o descumprimento ao RGO, uma vez que a diretoria do BNDES, órgão competente para tal e também competente para aprovar o RGO, estabeleceu as regras que deveriam ser aplicadas a esses programas.[fim]

Quanto à Resolução nº 665/87, disposições aplicáveis aos contratos do BNDES, que foi outro instrumento jurídico alegado como a diretoria tendo não cumprido suas determinações, o seu art. 1º, em sua alínea A estabelece que elas se aplicam a todos os contratos por simples referência genérica, salvo havendo incompatibilidade com as cláusulas do próprio contrato. Conforme já indicado anteriormente e pelas razões já expostas, nos desenhos de operações especiais, as

garantias podem se constituir de forma diferente à estabelecida no contrato do BNDES.[fim]

Por que isso é importante? Não sei se foi isso, mas certamente algum burocrata vai dizer que, no caso da Finame, Exportação de Máquinas e Equipamentos, o BNDES exige a caução dos contratos de exportação. No caso da Chapecó isso não foi feito por uma razão muito óbvia, não existe isso, você está exportando uma commodities, você recebe isso em 30 ou 60 dias. Evidentemente, não teve o cuidado de aprofundar a sua análise e ver o que o Comitê de Crédito do Banco Central colocou no lugar dessa caução foi exatamente a abertura de uma conta específica, da Chapecó, específica no Banco do Brasil, por onde todos os contratos de exportação passavam.[fim]

Evidente que uma leitura um pouco menos burocrática do que diz uma e a outra norma, chega-se à conclusão de que era exatamente a mesma coisa no sentido de proteger o empréstimo do BNDES pelas exportações da Chapecó, que é outro ponto, no que eu li aqui, há uma certa acusação mais formal de que uma operação foi feita contra parecer técnico do BNDES e sem garantias.[fim]

Questionado posteriormente sobre a inadimplência da Chapecó junto ao BNDES, o sr. Luiz Carlos Mendonça de Barros não souber responder qual a situação da empresa no momento em que foi procurado pelo presidente da empresa.

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – No momento em que o Senhor Plínio foi até o BNDES com o Senador catarinense, naquele momento a situação do Grupo Chapecó era de inadimplência com o BNDES?[fim]

O SR. LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS – Não sei responder. Acredito que não.[fim]

No seu questionamento citado acima, o deputado relator fez referência a uma outra parte do depoimento em que são mencionadas as circunstâncias do encontro:

O SR. LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS – (...) Dentro desse quadro, é que nós fomos procurados, deixa eu ver exatamente a data, se lembra a data?[fim]

É, nós fomos procurados pelo Senador Vilson Kleinubing, que era Senador por Santa Catarina juntamente com o Sr. Plínio, que era o controlador da Chapecó – esse encontro se deu em Brasília, na sede do BNDES em Brasília – em que ele nos relatava as dificuldades que a Empresa estava encontrando.[fim]

Dificuldades de duas naturezas: uma dificuldade do próprio setor, que eu diria do setor exportador, mas especificamente do setor de frangos que trabalha com a margem de lucro na exportação muito reduzida e que a taxa de câmbio valorizada estava impondo um ônus econômico muito grande. E que, no caso da empresa deles, existia uma segunda ordem de problemas que tinha derivado exatamente ter se antecipado aos recursos do BNDES, tomado empréstimos no setor privado a juros de mercado para financiar a sua expansão. E que com os juros elevados da época, a empresa estava tendo muito dificuldade, somando, então os dois problemas. E que ele nos apelava para fazer alguma operação que permitisse que ele recuperasse a capacidade de operação da empresa.[fim]

Este foi o primeiro momento que eu tratei, tomei, como Presidente do BNDES, contato com o problema Chapecó. O BNDES, na minha época, agora, ainda, é um Banco que empresta 30 bilhões de dólares por ano. O número de operações que passam pela diretoria são na ordem de mais de 2 mil por ano. Evidentemente, como Presidente, eu não tinha contato com o dia-a-dia de cada tomador, a não ser quando ocorria algum problema desse tipo. Então, a partir da visita do Senador Kleinübing e do Seu Plínio é que eu então, aí sim, chamo para mim entender a questão da Chapecó.[fim]

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – O Senhor conhecia o Sr. Luis Carlos Mendonça de Barros?[fim]

O SR. PLÍNIO DAVID DE NES FILHO – Conheci no BNDES.[fim]

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – Conheceu, antes então, deles assumirem o controle do grupo?[fim]

O SR. PLÍNIO DAVID DE NES FILHO – Eu conheci o Dr. Luis Carlos em 1996, quando fui ao BNDES gestionar pela liberação de recursos.[fim](grifo nosso)

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – Qual é o cargo que ele ocupava no BNDES?[fim]

O SR. PLÍNIO DAVID DE NES FILHO – Na ocasião, era Presidente do BNDES. Tive uma reunião com ele.[fim]

Ou seja, mesmo não sendo possível precisar a data do encontro citado, é factível afirmar que o banco deveria ser capaz de ter informações sobre a adimplência da empresa ou dispor de meios gerenciais para obter indícios de que ela poderia não honrar seus compromissos. As informações recolhidas do depoimento do sr. Márcio Henrique Monteiro de Castro dão conta que a Chapecó ficou inadimplente com o BNDES em dezembro de 1996:

O SR. MÁRCIO HENRIQUE MONTEIRO DE CASTRO – Agora, com relação a essa, à segunda parte da questão, que são as restrições, é... também... nós encontramos dentro do banco as restrições aos sócios e à empresa. Foi a segunda parte da questão. Primeiro foi montante, a segunda é... nós temos um conjunto de... de... de documentos e alguns dos documentos, eles é... já fazem menção que, no final de 1996 e no início de 97, quando esses financiamentos começaram a ser negociados, não é, é... a empresa estava mal. Ela já estava inadimplente com o BNDES. Quer dizer, em dezembro de 1996, ela já...[fim]

(...)

O SR. MÁRCIO HENRIQUE MONTEIRO DE CASTRO – É ... em dezembro de 1996, a empresa começa a ficar inadimplente com o

Banco. Eu tinha havido uma operação de debênture em 95; ela deveria ter pago, em dezembro de 96, os juros, tá certo, dessa operação. E, em dezembro de 96, ela já pediu um perdão e começa a pedir uma prorrogação de prazo. E esse... e essa prorrogação começa a ser estudada efetivamente lá dentro do Banco, e quando ela é encaminhada, quer dizer, a informação do grupo técnico é que a empresa está numa situação ruim. A empresa está numa situação ruim, ou seja, já era uma informação que existia em documentos dentro do banco, ali, por volta do início de 97, antes desse financiamento que abriu (ininteligível).[fim]

Segundo o Acórdão 830/03 do TCU, em outubro de 1999, durante a gestão do sr. Andrea Calabi no BNDES, a proposta da Alimbrás (Macri) condicionava a assunção do controle acionário do Grupo Chapecó a uma série de benefícios à empresa destacando-se, dentre eles, os pedidos de:

a) aporte de novos recursos ao BNDES para capitalização da Companhia e para aquisição de outras empresas do ramo, a exemplo da Prenda S/A;

b) alongamento das dívidas existentes com concessão de novos prazos de carência (já citados);

c) financiamentos de capital de giro, investimentos em ativos fixos, capital de giro para exportação do Grupo Chapecó, dentre outros favores à própria Alimbrás.

Os depoimentos colhidos revelam que a situação da empresa era bastante grave e que poderia implicar um elevado risco para o banco. Isto foi admitido inclusive pelos próprios representantes da empresa que recebeu os financiamentos.

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – Qual era a situação que foi encontrada no Grupo Chapecó detalhadamente: passivo, questões trabalhistas, impostos?[fim]

O SR. ALEX FONTANA – A empresa – vou tentar me lembrar um pouco – tinha passado nesse período por três ou quatro anos de... A empresa tinha passado por três ou quatro anos uma crise financeira bastante severa, ela tinha diminuído bastante a sua atividade de produção, ela estava em concordata desde – acredito – outubro de 98. Tinha, praticamente, abandonado.... Como estava produzindo em escala muito reduzida, as suas participações nos mercados interno e externo era muito, muito pequena. Ou seja, a empresa estava

praticamente desativada. E como essa crise da empresa foi profunda e longa, os efeitos, ou seja, os danos, tanto no lado da produção, quanto no lado de mercado, foram bastante severos. Então nós encontramos uma empresa bastante sofrida, eu diria.[fim]

O SR. CELSO MÁRIO SCHMITZ – Mas note, o primeiro financiamento não tem nada a ver com a segunda parte. O primeiro foi daquele período que o sistema bancário estava tentando encontrar a solução. Como diria, este financiamento que foi referido anteriormente faz parte daquele acordo de 1996 onde nomearam o conselho, a diretoria e tentaram encontrar uma solução.[fim]

O SR. ELVINO BOHN GASS – Mas o risco da empresa já era altíssimo? Desde ali?[fim]

O SR. CELSO MÁRIO SCHMITZ – Foi aquilo que falei, em 31 de outubro de 1999, o patrimônio líquido era negativo na ordem de 300 milhões de dólares. Ou seja, o ativo total menos o passivo representava o equivalente a quase 300 milhões de dólares negativamente nos quais estavam incluídos esses 51 milhões de dólares.[fim]

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – Qual era a situação do balanço da empresa quando...[fim]

O SR. ALEX FONTANA – Quando nós assumimos? Quando nós assumimos, houve uma negociação anterior à aquisição, onde uma parte considerável da dívida anterior, que a empresa tinha acumulado ao longo da década de 90 – para simplificar a colocação –, houve uma redução dessa dívida, né? E houve uma capitalização na assunção do Grupo Macri da empresa, para dar à empresa condições de retomada.[fim]

Mas a empresa, eu acredito – não tenho os dados aqui – mesmo a partir do primeiro dia, ela tinha uma condição patrimonial não muito – eu diria – boa, não muito favorável. Nós pegamos uma empresa, apesar de todo o esforço que foi feito de negociação dessa dívida

anterior, a empresa tinha uma situação patrimonial ainda não ideal – eu diria – para se promover o crescimento dela a partir daí.[fim]

O financiamento de US$ 58 milhões à Alimbrás S/A para adquirir até 97% do controle acionário da S/A Indústria e Comércio Chapecó, incluiu US$ 13,5 milhões (subcréditos ‘B’ e ‘C’) para cobertura dos custos pertinentes à aquisição do controle do Grupo Chapecó.

Segundo o TCU, foi informado que os recursos foram utilizados em despesas de pessoal envolvido na operação (transporte, alimentação, hospedagem, remuneração, etc.), contratação de assessoria e consultoria técnica e jurídica, contratação de diligências e auditorias operacional, contábil e legal, despesas cartorárias, etc.’ O Tribunal indaga, porém, quem foram os beneficiários desses subcréditos “B” e “C” e quais foram os serviços efetivamente prestados.

O SR. MÁRCIO HENRIQUE MONTEIRO DE CASTRO – O que eu tô falando o seguinte: no processo de financiamento, tem 58 milhões pra financiamento à Alimbrás, sendo que desses 58 milhões 45 milhões vai integralizar em capital. Então, a gente sabe o que tem de ser feito. Treze milhões é uma coisa que até hoje eu não descobri – tá certo? – se destina à cobertura dos gastos e custos pertinentes à aquisição do controle acionário. Não sei o que é isso. Tá certo?[fim

O SR. PRESIDENTE (Elvino Bohn Gass) – O financiamento de 58 milhões à Alimbrás para adquirir 97% de controle acionário da S/A Indústria e Comércio Chapecó conforme decisão de outubro de 99. Nós já comentamos. O Senhor tem informação se este financiamento foi aplicado integralmente para a sua finalidade?[fim]

O SR. MÁRCIO HENRIQUE MONTEIRO DE CASTRO – Olha só, a coisa mais estranha deste valor é justamente aqueles 13 milhões que são de custo de transação. Isto é o mais estranho. Falei já várias vezes, isto é absolutamente um enigma. Está certo, são 13 milhões que nós, eu não consigo identificar para que... é bom... [fim]

A discriminação da operação para compra da Chapecó não contempla o previsto no depoimento do ex-presidente do BNDES e ex-presidente do Conselho de Administração da Chapecó que afirma caber à Option Serviços Financeiros S/C Ltda. uma comissão por ocasião da venda da empresa.

O SR. ELVINO BOHN GASS – Quando a Option foi contratada, o Senhor disse que o serviço deles centralmente... o Senhor citou o caso da Bombril, da Cica, enfim, era centralmente fazer uma análise, um acompanhamento? Permitir uma reorganização da empresa, colocá-la em condições superavitária e que depois ela foi vendida. A Cica, por exemplo, o Senhor falou isso antes. Isso se relaciona também a também às outras empresas onde a Option dava assessoria?[fim]

O SR. LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS – Esse é o espaço de mercado dela. Certo? É um pessoal altamente qualificado como gestor – certo? – que entra numa empresa administra em nome dos credores, não é em nome próprio e depois tem uma comissão no... quando a venda de empresa é feita.[fim] (grifo nosso)

O Acórdão 830/03 do TCU menciona o financiamento de US$ 58 milhões à Alimbrás S/A para adquirir até 97% do controle acionário da S/A Indústria e Comércio Chapecó, dos quais US$ 45 milhões (subcrédito “A”) para compra das ações. O Tribunal indaga, porém, a qual a quantidade e o valor pago por tipo de ação adquirida (PN e/ou ON) e qual quantidade de ações efetivamente caucionadas em favor do BNDES em decorrência dessa operação.

Os depoimentos colhidos mostram disparidades entre o valor financiado para compra das ações e os valores declarados como recebidos pelo principal controlador da Chapecó, sr. Plinio De Nes Fº.

O SR. PRESIDENTE JERÔNIMO GOERGEN – Quando os antigos proprietários se retiraram do negócio, quanto é que eles receberam?[fim]

O SR. CELSO MÁRIO SCHMITZ – Este número nem eu mesmo sei porque, era um número diretamente do Macri todo. Eu imagino que o valor entre tomado pelo Grupo Macri e o colocado na Chapecó, houve

um diferencial que o Grupo Macri pagou as despesas que houve para a realização do negócio, como também os acionistas.[fim]

Estimamos, pelos números que a gente pode fazer, que seria na ordem de uns 7 a 8 milhões de dólares, que a família de Nes tinha recebido, mas não posso precisar o número, este documento nunca tive acesso a ele.[fim] (...)

O SR. ELVINO BOHN GASS – O Senhor falou quanto, antes, que o Grupo Denes teria recebido ou o Senhor...[fim]

O SR. CELSO MÁRIO SCHMITZ – Eu calculo em torno de 7 a 8. O resto teria sido outras despesas que eles tiveram.[fim]

O SR. ELVINO BOHN GASS – Está.[fim]

O SR. CELSO MÁRIO SCHMITZ – Passaram muito tempo organizando com advogados, com...[fim]

O SR. ELVINO BOHN GASS – E os 46 seriam...?[fim]

O SR. CELSO MÁRIO SCHMITZ – Os 46 foi para... não, os 58 foi para compra.[fim]

O SR. ELVINO BOHN GASS – Claro, 12 com as despesas diretas e...[fim]

O SR. CELSO MÁRIO SCHMITZ – Despesas pagas a família De Nes e 46 de aumento de capital, então, na Chapecó entrou o equivalente a 46 milhões de dólares. Aí o Grupo Macri ficou com os noventa e tantos por cento. Posteriormente o BNDS fez o aumento de capital na Chapecó, o BNDESPAR, aí então ficou essa proporção, sessenta e poucos por cento para o Grupo Macri e trinta e poucos por cento para o BNDES, cuja posição, após o financiamento para a compra da Prenda, o equivalente a 16 milhões de dólares que se deu através de aumento de capital e pagamento da Prenda resultou numa posição de

meia cinco por cento do Macri, 30% BNDESPAR e 5% para outros. O Senhor entendeu Deputado, são três etapas.[fim]

O SR. ELVINO BOHN GASS – (...) A questão é a seguinte, que está embutida por trás disso aqui. Quanto de percentualmente...o Sr. disse que caucionou as ações, foram na presença do Grupo, da família De Nes, dentro do Grupo? Quanto era a Vossa presença dentro do Grupo?[fim]

O SR. PLÍNIO DAVID DE NES FILHO – Aproximadamente ao redor de 78%.[fim]

O SR. ELVINO BOHN GASS – 78%?[fim]

O SR. PLÍNIO DAVID DE NES FILHO – 78% das ações de controle.[fim]

O SR. ELVINO BOHN GASS – Na verdade, o Sr. recebeu... o Sr. não disse o valor. Eu tenho aqui que seria 7 ou 8 milhões de dólares, o Sr. disse que é inferior a isso.[fim]

O SR. PLÍNIO DAVID DE NES FILHO – É inferior a isso.[fim]

O SR. ELVINO BOHN GASS – O Sr. se sentiu pago completamente a parte?[fim]

O SR. PLÍNIO DAVID DE NES FILHO – Não, absolutamente. Se nós levantarmos o histórico do valor da Companhia, mesmo na época de crise...o valor foi muito aquém do que se possa imaginar.[fim]

O SR. ELVINO BOHN GASS – Em quanto O SR. ELVINO BOHN GASS – Em quanto o Sr. avaliaria a sua parte, de 78% das ações? Que precisaria ter recebido para a venda dessas ações?[fim]

O SR. ELVINO BOHN GASS – Mas o Senhor avalia que, pelas suas ações, deveria receber 25 milhões.[fim]

O Senhor recebeu menos de sete, oito milhões.[fim]

O SR. PLÍNIO DAVID DE NES FILHO – É, seria um cálculo justo por tudo aquilo que ela oferecia e pelos recursos disponíveis que eles mantinham para resolver o problema.[fim]

Ou seja, há uma significativa discrepância entre o que o valor do financiamento concedido para aquisição do controle da empresa (US$ 45 milhões) e o valor declarado pelo vendedor (menos de US$ 7 milhões). O valor concedido pelo Banco é bastante superior ao valor que o então controlador consideraria “justo” (US$ 25 milhões).

O Acórdão 830/03 do TCU questiona alguns procedimentos da operação de US$ 95 milhões concedida ao Banco Bradesco para repasse à Chapecó Empreendimentos com a finalidade de proporcionar a retomada das atividades produtivas do Grupo Chapecó (capital de giro), contratada por meio da Cédula de Crédito Industrial BNDES FINEM. O Tribunal solicitou informações para saber por que somente o Bradesco foi contemplado com a operação de repasse se as Decisões do BNDES previam o a participação dele e de outros agentes financeiros; o motivo por que a operação de capital de giro não foi repassada à Chapecó Companhia Industrial de Alimentos - empresa operacional do Grupo - e sim à Chapecó Empreendimentos; e por que os recursos que se destinavam ao capital de giro do Grupo não foram aplicados em suas finalidades contratuais, sendo aplicados em quotas do fundo de aplicação financeira administrado pelo Bradesco, quotas essas oferecidas em penhor naquele Banco, na proporção de 100% do valor financiado atualizados das atuais aplicações junto àquele Banco;

Os depoimentos recolhidos mostraram indícios de prejuízos ao erário público:

O SR. MÁRCIO HENRIQUE MONTEIRO DE CASTRO – As informações existem. Então, na realidade, é o seguinte: eu tinha uma proposta de 181 milhões no total, sendo que 95 milhões via agentes financeiros, capitaneados pelo Bradesco e 86 milhões – operações diretas com o BNDES. Dessas operações diretas de 86 milhões, 58

milhões era pra Alimbrás. Era pro Macri diretamente, sendo que 45 milhões pra ele integralizar em capital e 13 milhões – é uma coisa estranha –, mas todos os documentos para essa senha destinam-se à cobertura dos gastos e custos pertinentes à (ininteligível) do controle acionário. Isso é uma coisa que é absolutamente um espanto. Todos os documentos têm isso. Quer dizer são 13 milhões de dólares que não se sabe exatamente pra quê.[fim]

O SR. PRESIDENTE (Elvino Bohn Gass) – O financiamento de 58 milhões à Alimbrás para adquirir 97% de controle acionário da S/A Indústria e Comércio Chapecó conforme decisão de outubro de 99. Nós já comentamos. O Senhor tem informação se este financiamento foi aplicado integralmente para a sua finalidade?[fim]

O SR. MÁRCIO HENRIQUE MONTEIRO DE CASTRO – Olha só, a coisa mais estranha deste valor é justamente aqueles 13 milhões que são de custo de transação. Isto é o mais estranho. Falei já várias vezes, isto é absolutamente um enigma. Está certo, são 13 milhões que nós, eu não consigo identificar para que... é bom... [fim]

O SR. MÁRCIO HENRIQUE MONTEIRO DE CASTRO – Não sei. Não sei. Quando nós pegamos já estava no Bradesco e o Bradesco, inclusive, pagou essa operação agora, em abril de 2003.[fim]

Mas, curiosamente, e é uma coisa também a ser perguntada – e eu também não tenho resposta –, é o seguinte: esse dinheiro, ele ficou no Bradesco, ele não foi para Chapecó.[fim]

O SR. ELVINO BOHN GASS – Quais as razões por que somente o Bradesco foi contemplado com a operação de repasse, se as decisões do BNDES previam a participação dele e de outros agentes financeiros?[fim]

O SR. CELSO MÁRIO SCHMITZ – O Senhor veja o seguinte, eu trabalho no Tribunal de Contas e trabalho daquela carta da Alimbrás para a compra da Chapecó, que seria aquela série de financiamentos para capital de giro, incremento de exportação e tudo isso.[fim]

Vejam, o BNDES sempre condicionou, em qualquer dos documentos, ou a necessidade de um agente financeiro e, ou de garantia real. Esses financiamentos também já tinham sido acertados com São Paulo até por aquela carta anteriormente à nossa entrada.[fim]

A informação que eu tenho: por que que ficou somente com o Bradesco? O Bradesco aceitou fazer a operação ficando com o valor integral aplicado. Só seriam liberados os valores se tivesse garantia real para substituir. Como o Grupo Macri não teve garantia real para substituir, os valores foram totalmente aplicados.[fim]

Essa operação foi inclusive cancelada por nós, por um motivo: a variação cambial. Se tinha aqui 95 milhões de empréstimo e do outro lado 95 milhões de aplicação financeira, o rendimento da aplicação financeira incide imposto de renda. Então o que aconteceu? A variação cambial, o dólar saiu lá de 1, 90 chegou até 3, 80 ou seja lá o que for, sobre a variação cambial incide imposto de renda.[fim]

Então, passou a ser uma operação, não do ganha-ganha e, sim, do perde-perde, por que? Porque você tinha de um lado a dívida dolarizada, do outro lado, o rendimento, só que a variação cambial incide em imposto de renda e este é um dos motivos que qualquer balanço da Chapecó – o Senhor via no balanço do ano 2001, a Chapecó com 20 milhões de Imposto de Renda retido na fonte. O que era isso? Era o rendimento da variação cambial que incidia Imposto de Renda como no ano de 2002 aproximadamente 30 milhões. E esta operação ficava o valor da dívida e da contrapartida aplicação financeira líquida com mais Imposto de Renda cobria, sem ele dava prejuízo.[fim]

O SR. ELVINO BOHN GASS – Não estou entendendo. Esse recurso, então, não foi usado pelo Grupo Chapecó, ficou parado rendendo juros para o Bradesco?[fim]

O SR. CELSO MÁRIO SCHMITZ – Não, não para o Bradesco. Ele ficou...[fim]

O SR. ELVINO BOHN GASS – O Bradesco estava trabalhando com esse dinheiro estava...[fim]

O SR. CELSO MÁRIO SCHMITZ – Não, não, não...[fim]

O SR. ELVINO BOHN GASS – Os juros. O dinheiro não era para ele, mas estava trabalhando com aquele dinheiro?[fim]

O SR. CELSO MÁRIO SCHMITZ – Não, não, não! O Bradesco aplicou em papéis federais – NBCEs –, porque o Bradesco teria garantia.[fim]

Aqui existia uma dívida de 95 milhões, por um outro lado, compra de NBCEs de 95 milhões. Só que esses 95, daqui a pouco viraram 90, porque a variação cambial que incidia aqui dava Imposto de Renda e o saldo que ficava no fundo o que era? Era o Imposto de Renda na fonte, que a Chapecó só poderia utilizar bem mais tarde.[fim]

Se o Senhor pegar um balanço da Chapecó, pode notar que há no do ano de 2000 aproximadamente 20 milhões de Imposto de Renda na fonte, no ano 2002 aproximadamente 30 milhões e era uma operação que a Chapecó não tinha bojo do dinheiro, usava a expressão papel na mão, que não rendia nada e cada vez aumentando o buraco econômico. Com o Imposto de Renda na fonte, o que podemos fazer?[fim]

O SR. ELVINO BOHN GASS – E no fim disso, o que aconteceu?[fim]

O SR. CELSO MÁRIO SCHMITZ – Nós cancelamos a operação da qual o Bradesco praticamente abriu mão de parte, ou seja, tomou um prejuízo na operação, para liquidá-la total.[fim]

O SR. ELVINO BOHN GASS – Mas esse prejuízo o banco é credor da Chapecó...[fim]

O SR. CELSO MÁRIO SCHMITZ – Perfeito. É devedor junto ao BNDES.[fim]

O SR. ELVINO BOHN GASS – Devedor junto ao BNDES, mas isso aí não ampliou ainda mais esse dito prejuízo que o Senhor disse, não foi computado como dívida da Chapecó?[fim]

O SR. CELSO MÁRIO SCHMITZ – Não porque o Bradesco fez o perdão dessa dívida. Ele, praticamente quando chegou o momento do seguinte...[fim]

O SR. ELVINO BOHN GASS – É muito engraçado o banco particular perdoar... é uma absolvição fantástica.[fim]

O SR. CELSO MÁRIO SCHMITZ – Não, isso foi até, diria da seguinte maneira: qual o risco que ele estava tendo com a Chapecó? Até o de uma falência. Se ocorre uma falência, Deus sabe o quando é que ele poderia pegar isso daí. Então, a proposta foi da seguinte maneira: eu liquido a operação, absorvo o diferencial existente para a Chapecó, uma operação altamente prejudicial porque não teve sua finalidade, foi uma operação mal-estruturada na origem. Mal-estruturada da seguinte forma: o BNDES queria dar capital de giro como garantia. Como a Chapecó não tinha para dar ele arrumou um agente. Na época, prometeram garantias reais, como não deram, ele também não liberou.[fim]

O SR. ELVINO BOHN GASS – O Senhor sabe a época? Nesse caso, não era diretor, ainda...[fim]

O SR. CELSO MÁRIO SCHMITZ – Ela foi acertada antes de 1999.[fim]

O SR. ELVINO BOHN GASS – Isso o Senhor disse, mas independentemente se o Senhor estava ou não, certo que tinha informações porque pesquisou pela outra empresa concorrente e sabia muito bem a situação da Chapecó.[fim]

Qual era o motivo que foi para o Bradesco? Não consigo entender. Qual era o objetivo?[fim]

O SR. CELSO MÁRIO SCHMITZ – A informação que tenho que essa negociação que foi feita em 1999 começaram a tratar primeiro com o

BNDES direto. O BNDES disse: não, não tenho garantias reais, não posso fazer. Tentaram fazer um pool de bancos, sobrou o Bradesco. O pessoal foi caindo fora, sobrou o Bradesco.[fim]

E por que o Bradesco fez? Porque contava que teria garantias reais em uma operação de 12 anos de prazo. À medida que não foi dando garantia real para substituir a garantia financeira, aquelas NBCEs, se fosse trocar a garantia de NBCEs por garantia geral, viria para o giro da empresa. Como o Grupo Macri não teve garantias reais para aportar – ou não teve ou não quis aportar –, a Chapecó não tinha garantia para dar, ficou uma operação – desculpem a expressão – do perde-perde, porque o Imposto de Renda consumia grande parte do rendimento.[fim]

O que acontecia? O custo era variação cambial mais o juro, digamos um juro de libor, mais dois vírgula tanto, no valor de hoje custava uns 5%, a NBCEs rendia variação cambial mais 10, só que sobre a variação cambial tinha o Imposto de Renda. O dólar foi desvalorizado, o real foi desvalorizado, de 1,90 para 2,80, Imposto de Renda sobre a variação. Depois ele caia para 2,50 e não restituía, depois foi a 3,80. Estou pegando exemplos curtos. E isso gerou para Chapecó – o Senhor pode pegar o seu balanço – tem 30 milhões de reais de Imposto de Renda ainda do ano de 2002.[fim]

O que a Chapecó está fazendo com esse dinheiro? Está pagando Refis que é a moeda de pagamento, foi casualmente homologado na semana passada esse imposto de renda.[fim]

O SR. ELVINO BOHN GASS – É uma operação que traz diretamente prejuízo ao Estado, porque não entram os recursos, na verdade estão se aproveitando agora desse imposto retido.[fim]

O SR. CELSO MÁRIO SCHMITZ – Perfeitamente.[fim]

Um dos depoimentos revela que os recursos geridos pelo Bradesco foram pagos com atraso, mediante cobrança.

O SR. MÁRCIO HENRIQUE MONTEIRO DE CASTRO – Que foi pego. O número que eu tenho. Agora, por quê? Porque os 95 milhões de dólares, que foram para o Bradesco, foram pagos. Nós cobramos, e o Bradesco nos pagou agora no início do ano. Então, nós pegamos 95 milhões de dólares, porque, senão, eram mais 95 aqui.[fim]

CONCLUSÃO

A conduta delituosa acima praticada é a de realizar operação financeira aceitando garantias insuficientes num banco público. Trata-se de improbidade administrativa que causou lesão à entidade pública, prevista no artigo 10, VI, da Lei Federal n.º 8.429, de 02/06/1992, combinado com o artigo 3º do mesmo diploma legal que se aplica aos partícipes particulares.

Assim, esta CPI indicia os diretores-presidentes do BNDES, Andrea Calabi, Luis Carlos Mendonça de Barros e os diretores da Chapecó Alex Fontana e Plínio De Nes Filho.

Encaminhar cópia dos depoimentos ao Tribunal de Contas da União, ao Ministério Público Federal e à Comissão de Fiscalização Financeira e Controle da Câmara dos Deputados

QUARTO FATO DETERMINADO: BARREIRAS SANITÁRIAS E SISTEMA DE INSPEÇÃO SANITÁRIA:

OBJETIVO DO PRESENTE FATO DETERMINADO:

Tem como objetivo o Fato Determinado 04 analisar a existência de barreiras sanitárias que dificultam a comercialização de carnes bovinas e suínas e seus produtos e a eficiência dos Sistemas de Inspeção Sanitária.

PROVA COLETADA:

A prova coletada na apuração do Fato Determinado 04 consistiu em produção de prova testemunhal e documental.

A prova testemunhal consistiu em depoimento prestado no dia 10/11/03, dos Senhores Roni Barbosa, Diretor de Defesa Agropecuária da Secretaria da Agricultura de Santa Catarina e Maurício Pereira Neves Pretto, ex-Dirigente do Serviço de doenças infecciosas da Secretaria da Agricultura e Abastecimento, José Euclides Severo Chefe do SSA/DFA/MAPA e Ildara Nunes Vargas, Diretora do Departamento de Produção Animal da Secretaria da Agricultura e Abastecimento.

A prova documental consiste nas informações e documentos requisitados pela CPI, através de uma Requisição de Informações.

ANÁLISE DA PROVA COLETADA:

Na avaliação da prova testemunhal, em especial do depoimento da Senhora Ildara Nunes Vargas, Diretora do Departamento de Produção Animal da Secretaria da Agricultura do RS, foi esclarecido o rigor técnico e a eficiência desse serviço, especialmente os resultados desse trabalho para a saúde humana.

A Representante da SAA esclareceu sobre a importância do serviço de Defesa Sanitária Animal como a SAA atuou nos episódios de ocorrência da doença de Aujeszky e citou também alguns prejuízos de ordem sanitária ligados diretamente ao produtor rural e também aqueles decorrentes da ocorrência de doenças com repercussão econômica como por exemplo a Doença de Auzeszky e a sua relação com o comércio internacional, principalmente o mercado Russo.

DEPOIMENTO DA SRA. ILDARA NUNES VARGAS:

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – Qual é a justificativa desses prejuízos econômicos?[fim]

A SRA. ILDARA NUNES VARGAS – Os prejuízos econômicos na propriedade numa granja de suínos acometida da Doença de Aujeszky é a mortalidade de leitões. Os animais terminados são animais que apresentam problemas e os índices de produtividade são pequenos, prejuízos econômicos ao produtor e também prejuízos ao mercado de exportação. No mercado internacional, no caso de exportações hoje, a Doença de Aujeszky é um limitante à exportação.[fim]

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – Qual é o trabalho e quais as medidas sanitárias adotadas pela Secretaria da Agricultura no combate à Doença de Aujeszky antes do surgimento dos focos aqui no Rio Grande do Sul?[fim]

A SRA. ILDARA NUNES VARGAS – A doença de Aujeszky, como eu coloquei para...aos Senhores, é uma enfermidade que causa, fundamentalmente, prejuízos econômicos, é uma enfermidade de aspectos reprodutivos. Então, no Rio Grande do Sul, como em todo Brasil, a Doença de Aujeszky, ela era, fundamentalmente, trabalhada em granjas de reprodutores. Existe uma legislação federal que toda granja que comercializa reprodutores, ela tem que ser livre da Doença de Aujeszky.[fim]

O Estado do Rio Grande do Sul não tinha registro da Doenças de Aujeszky até janeiro deste ano. E isso baseado em trabalhos, em sorologias realizadas eu tenho, inclusive o número, que, de 1991 até 2003, entre o CPVDF, que é o laboratório de diagnóstico do Rio Grande do Sul, e o Laboratório Cedisa de Santa Catarina, 31 mil amostras de soro foram trabalhadas e todas resultaram negativas.[fim]

Nós temos, também, um trabalho do Dr. Paulo Rohe, que fez uma sorologia na divisa do Estado do Rio Grande do Sul com Santa Catarina também não encontrando animais sorologicamente positivos. Entretanto, e todo um trabalho de veterinários oficiais e

veterinários do setor privado no campo, hoje, que também não registraram a ocorrência de sintomatologia clínica para a Doença de Aujeszky, entretanto, em janeiro deste ano, nós tivemos uma ocorrência na Região Norte do Estado que foi no Município de Pinheirinho do Vale. Trabalhado esse episódio, com opção por erradicação da enfermidade com sacrifício dos animais e abate sanitário, nós tivemos uma nova situação em setembro deste ano, também.[fim]

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – Ao que foi atribuído esse surgimento do foco em janeiro lá em Pinheirinho do Vale?[fim]

A SRA. ILDARA NUNES VARGAS – Ao que foi atribuído nós não temos...eu não tenho a comprovação da origem desse foco. E, entretanto, como a localização dele é Região Norte do Estado, foi numa propriedade divisa com o Estado de Santa Catarina e a nossa relação...essa situação...a integração...essa inter-relação econômica de integração e de produção que o Rio Grande do Sul tem com Santa Catarina – e Santa Catarina tem a ocorrência da doença –, vem fazendo, vem desenvolvendo um trabalho de erradicação, mas nós não conseguimos comprovar e não temos a comprovação da origem desse foco.[fim]

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – Referente às relações comerciais de carne suína internacionais, quais são as implicações da doença de Aujeszky?[fim]

DEPOIMENTO DO DR. RONI T. N. BARBOSA

O SR. RONI TADEU NASCHENVENG BARBOSA – A doença de Aujeszky, todos sabem, é uma doença de notificação obrigatória no Brasil e notificação obrigatória para a OIE que é a Organização de Saúde Animal. No entanto, ela é classificada como da lista B. Existem doenças da lista A cujo conceito para figurar na lista A da Organização Mundial de saúde Animal é que a lista A são enfermidades que apresentam grande poder de difusão e especial gravidade com prejuízo do comercial internacional de animais e produtos de origem animal.[fim]

A doença de Aujeszky é classificada na lista B que diz que são enfermidades importantes sob o ponto de vista sócio-econômico e sanitário a nível nacional e consideráveis repercussões no comércio internacional de animais e produtos de origem animal. E sabe-se que é praticamente impossível, impossível, a transmissão da doença de Aujeszky pela carcaça de suíno que é exportada. É muito mais uma limitação comercial do que sanitária comprovadamente.[fim]

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – Doutora, a Senhora tem conhecimento de quais foram as medidas sanitárias adotadas no final de 2002 pela Secretaria de Agricultura do Rio Grande do Sul em relação ao trânsito de suínos?[fim]

DEPOIMENTO DA DRA. ILDARA NUNES VARGAS:

A SRA. ILDARA NUNES VARGAS – No final de 2002, em 26 de dezembro, se não me engano, houve uma portaria – a 230 de 2002, de 26/12 –, do Secretário, disciplinando o trânsito de suínos vivos procedentes de Santa Catarina. E essa Portaria proibia o trânsito de suínos vivos provenientes de Santa Catarina ou de outros Estados que tenham transitado por Santa Catarina. Entretanto, junto com essa Portaria, saiu uma instrução normativa do Departamento de Produção Animal que permitia o ingresso. Ela, na realidade, essa portaria, ela proibia e, ao mesmo tempo, ela permitia algumas situações. Permitiu o ingresso de animais para reprodução, mediante o GTA e o Certificado de Granja Registrada.[fim]

E para recria também. Os animais tinham que trazer um documento, junto a um atestado, dizendo que os animais eram procedentes de criatório, onde, nos últimos 12 meses, não havia ocorrido a enfermidade.[fim]

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – Essa política de 2002 permaneceu em 2003, ou houve uma modificação.[fim]

A SRA. ILDARA NUNES VARGAS – Ela permaneceu em 2003, ela foi... ela era separada, era uma Portaria junto à Instrução Normativa e ela foi condensada num único documento, então foi uma

Portaria de 2003 que estabelecia as mesmas condições para o ingresso desses animais no Rio Grande do Sul.[fim]

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – Na verdade não houve uma mudança prática no trânsito na...[fim]

A SRA. ILDARA NUNES VARGAS – Não. Se o Senhor juntar, se juntarmos a Portaria Constituição de Serviço de 2002 e comparamos com a Portaria 2003, ela permaneceu estabelecendo condições para o ingresso de animais no Estado do Rio Grande do Sul. Só que a de 2003 não era só de Santa Catarina, era de qualquer... era o ingresso suínos no Rio Grande do Sul.[fim]

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – Como é que é feito o trânsito, o controle de trânsito de suínos interestadual aqui no Rio Grande do Sul?[fim]

A SRA. ILDARA NUNES VARGAS – Os animais para transitarem eles tem que serem acompanhados da Guia de Trânsito Animal, que é emitida ou pela inspetoria veterinária, ou por médico veterinário credenciado. Eles têm que estar acompanhado de Guia de Trânsito.[fim]

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – E de quem é a responsabilidade de controlar esse trânsito?[fim]

A SRA. ILDARA NUNES VARGAS – É assim ó, o trânsito interestadual, ele é, porque a Secretaria de Agricultura, ela exerce ações delegadas pelo Ministério da Agricultura. A normatização do trânsito interestadual ela é feita, é de responsabilidade do Ministério da Agricultura. Entretanto, o controle do trânsito é feito em conjunto com o Ministério da Agricultura.[fim]

Tanto que essa Portaria de 2002 como a Portaria de 2003, em que o Rio Grande do Sul estabelecia normas e condições para ingresso de animais no Estado, tão logo essas Portarias foram publicadas e nós iniciamos a fazer o controle, fomos alertados pelo Ministério da Agricultura de que a competência, através de um fax do

Departamento de Defesa Animal, que a competência para legislar em trânsito interestadual é do Ministério da Agricultura e não da Secretaria da Agricultura do Estado. Dizendo então que as nossas Portarias não teriam valor legal.[fim]

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – Mas a competência da normatização seria do Ministério da Agricultura, mas o controle?[fim]

A SRA. ILDARA NUNES VARGAS – O controle nós, por ação delegada, exercemos em conjunto com o Ministério da Agricultura.[fim]

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – Justo. De que forma que é efetivado esse controle hoje, no campo? Barreiras?[fim]

A SRA. ILDARA NUNES VARGAS – Esse controle hoje, no campo, primeiro todo animal tem que transitar acompanhado da Guia de Trânsito Animal e nós exercemos a fiscalização através de barreiras fixas e móveis. Fixas e móveis no Estado do Rio Grande do Sul.[fim]

Esta CPI também analisou a estrutura da SAA, em especial a do Departamento de Produção Animal, que é o órgão responsável pela Defesa Sanitária Animal e Inspeção Sanitária de Produtos de Origem Animal no RS, áreas diretamente relacionadas com as cadeias produtivas da bovinocultura de corte e suinocultura, temas desta CPI.

É de responsabilidade do Departamento de Produção Animal, entre outras coisas, o controle de trânsito, a vigilância epidemiológica, a fiscalização e a inspeção sanitária animal. A eficiente execução destas atividades são de fundamental importância para o alcance da condição sanitária satisfatória e também para a manutenção deste status alcançado ao mesmo tempo que proporcionam garantias na área de saúde pública com a qualidade sanitária dos alimentos que vão à mesa do consumidor

Dito isto transcrevemos o depoimento da representante da SAA sobre as condições do DPA em realizar suas atribuições.

DEPOIMENTO DA DRA. ILDARA NUNES VARGAS:

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – Qual é a estrutura existente hoje na Secretaria de Fiscalização e Controle?[fim]

A SRA. ILDARA NUNES VARGAS – A Secretaria de Agricultura hoje exerce, nós temos um trabalho de que toda a inspetoria veterinária ela tem que exercer quatro barreiras móveis, ela tem que fazer quatro barreiras móveis por mês.[fim]

Entretanto, fora esse trabalho de rotina, existem barreiras que são feitas agora, por exemplo, nesta Região Norte do Estado com a ocorrência do Aujeszki tem se incrementado as barreiras na divisa com Santa Catarina. Como nós também trabalhamos na divisa com a Argentina quando da ocorrência de aftosa na Argentina, entretanto as inspetorias veterinárias do Norte do Estado estavam praticamente sem veterinário. Uma deficiência muito grande de recursos humanos, uma deficiência muito grande de veterinários. Temos um comparativo e hoje se te mostrar e tiver disponibilidade eu posso mostrar o mapa para vocês, um mapa localizando onde é que temos veterinários do quadro da Secretaria da Agricultura no Departamento de Produção Animal.[fim]

Nós temos hoje 178 médicos veterinários na Secretaria de Agricultura para fazer todo o Estado, todas as ações de defesa. Eu tenho...[fim]

A SRA. ILDARA NUNES VARGAS – Não, querido. Eu tenho. Se dá para passar em... Dá para passar?[fim]

Não sei se há necessidade. Eu tenho inclusive no papel. É que nós... É um comparativo importante para as ações de defesa no Estado. Veja bem, nós temos uma situação com veterinários do quadro, nós temos uma situação com os contratos emergenciais lotados há dois, três anos atrás, e se percebe claramente a lotação do... a distribuição dos emergenciais de dois anos atrás e a distribuição dos emergenciais hoje.[fim]

E, veja bem, se verificarmos o mapa, tu vais ver que os

emergenciais tão lotados todos aqui na Região de Fronteira com o Uruguai e coisa, numa situação perfeitamente explicável: o problema era aftosa, e era nessa Região.[fim]

Hoje, a relotação dos emergenciais, nós fizemos toda lá pra cima. Por quê? Porque o problema hoje tá lá.[fim]

Então, nós estamos trabalhando com um sistema de defesa que não é estável, e nós precisamos buscar a estabilidade desse sistema de defesa, porque, se ocorre um problema no Norte do Estado, se ocorre um problema no Sul, no Leste, onde ocorrer, temos que ter uma estrutura para atender essas emergências.[fim]

Evidentemente, que uma equipe de emergência tu deslocas, mas ter de deslocar todos os profissionais daqui pra lá, para atender lá em cima? Imaginem o custo disso aí. Desloca os profissionais para lá, desloca os profissionais para cá, em cima de cada ocorrência que se registrar dentro do Estado. Então, essa deficiência de pessoal é significativa no Departamento de Produção Animal.[fim]

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – Vocês teriam uma proporção do que é essa deficiência hoje? Nós precisaríamos ter um quadro de x veterinários e tantos auxiliares?[fim]

A SRA. ILDARA NUNES VARGAS – Eu não posso te dizer aqui um número exato, mas, aproximadamente, nós devemos estar precisando – não é um número exato, é um número estimado – em torno de 200, 300; 200, 250 profissionais médicos veterinários além do que nós temos hoje, para fazer, efetivamente, um sistema de defesa que atenda realmente o que o Rio Grande do Sul precisa.[fim]

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – Dra. Ildara, além dos do quadro ou além dos do quadro e dos emergenciais?[fim]

A SRA. ILDARA NUNES VARGAS – Além dos que nós temos no quadro. Sem contar que esses 178 do quadro, uma grande parcela nos próximos anos já se aposenta, porque são...[fim]

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – Mas são 200, 250, sem contar esses 178?[fim]

A SRA. ILDARA NUNES VARGAS – Sem contar os 178.[fim]

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – E também sem contar os emergenciais?[fim]

A SRA. ILDARA NUNES VARGAS – Sem contar... Porque, veja bem, nós não temos só defesa. Nós temos a parte de inspeção também. Nós temos 400 e tantos estabelecimentos que são fiscalizados por nós. Então, sem contar... Eu vou te dizer assim, oh: em torno de 200 veterinários para trabalhar em defesa e, quiçá, mais uns 200 veterinários para trabalhar em inspeção. Esquece os emergenciais.[fim]

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – Qual é a situação da ocorrência da Aujeszky aqui no Rio Grande do Sul hoje?[fim]

A SRA. ILDARA NUNES VARGAS – Hoje? Hoje nós temos nove focos aqui nessa Região de... Cinco em Aratiba; dois em Erechim, um em Ponte Preta e um em São Valentim.[fim]

Esses focos, a gente está trabalhando da mesma forma que trabalhou, com a opção de eliminação dos animais, abate sanitário dos animais e pra extinção do foco, e todo um trabalho de vigilância.[fim]

Agora, essa situação vem demonstrar realmente a necessidade de pessoal e a falta de pessoal que nós temos para as ações de campo.[fim]

(AS TRANSCRIÇÕES GRIFADAS EM AMARELO A SEGUIR FORAM COPIDADAS EM DUPLICIDADE - relatório corrigido os erros mateiriais suprimir )

A SRA. ILDARA NUNES VARGAS – Não, querido. Eu tenho. Se dá para passar em... Dá para passar?[fim]

Não sei se há necessidade. Eu tenho inclusive no papel. É que nós... É um comparativo importante para as ações de defesa no Estado. Veja bem, nós temos uma situação com veterinários do quadro, nós temos uma situação com os contratos emergenciais lotados há dois, três anos atrás, e se percebe claramente a lotação do... a distribuição dos emergenciais de dois anos atrás e a distribuição dos emergenciais hoje.[fim]

E, veja bem, se verificarmos o mapa, tu vais ver que os emergenciais tão lotados todos aqui na Região de Fronteira com o Uruguai e coisa, numa situação perfeitamente explicável: o problema era aftosa, e era nessa Região.[fim]

Hoje, a relotação dos emergenciais, nós fizemos toda lá pra cima. Por quê? Porque o problema hoje tá lá.[fim]

Então, nós estamos trabalhando com um sistema de defesa que não é estável, e nós precisamos buscar a estabilidade desse sistema de defesa, porque, se ocorre um problema no Norte do Estado, se ocorre um problema no Sul, no Leste, onde ocorrer, temos que ter uma estrutura para atender essas emergências.[fim]

Evidentemente, que uma equipe de emergência tu deslocas, mas ter de deslocar todos os profissionais daqui pra lá, para atender lá em cima? Imaginem o custo disso aí. Desloca os profissionais para lá, desloca os profissionais para cá, em cima de cada ocorrência que se registrar dentro do Estado. Então, essa deficiência de pessoal é significativa no Departamento de Produção Animal.[fim]

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – Vocês teriam uma proporção do que é essa deficiência hoje? Nós precisaríamos ter um quadro de x veterinários e tantos auxiliares?[fim]

A SRA. ILDARA NUNES VARGAS – Eu não posso te dizer aqui um número exato, mas, aproximadamente, nós devemos estar precisando – não é um número exato, é um número estimado – em torno de 200, 300; 200, 250 profissionais médicos veterinários além do que nós temos hoje, para fazer, efetivamente, um sistema de defesa que atenda realmente o que o Rio Grande do Sul precisa.[fim]

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – Dra. Ildara, além dos do quadro ou além dos do quadro e dos emergenciais?[fim]

A SRA. ILDARA NUNES VARGAS – Além dos que nós temos no quadro. Sem contar que esses 178 do quadro, uma grande parcela nos próximos anos já se aposenta, porque são...[fim]

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – Mas são 200, 250, sem contar esses 178?[fim]

A SRA. ILDARA NUNES VARGAS – Sem contar os 178.[fim]

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – E também sem contar os emergenciais?[fim]

A SRA. ILDARA NUNES VARGAS – Sem contar... Porque, veja bem, nós não temos só defesa. Nós temos a parte de inspeção também. Nós temos 400 e tantos estabelecimentos que são fiscalizados por nós. Então, sem contar... Eu vou te dizer assim, oh: em torno de 200 veterinários para trabalhar em defesa e, quiçá, mais uns 200 veterinários para trabalhar em inspeção. Esquece os emergenciais.[fim]

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – Qual é a situação da ocorrência da Aujeszky aqui no Rio Grande do Sul hoje?[fim]

A SRA. ILDARA NUNES VARGAS – Hoje? Hoje nós temos nove focos aqui nessa Região de... Cinco em Aratiba; dois em Erechim, um em Ponte Preta e um em São Valentim.[fim]

Esses focos, a gente está trabalhando da mesma forma que trabalhou, com a opção de eliminação dos animais, abate sanitário dos animais e pra extinção do foco, e todo um trabalho de vigilância.[fim]

Agora, essa situação vem demonstrar realmente a necessidade de pessoal e a falta de pessoal que nós temos para as ações de campo.[fim]

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – Qual a perspectiva em relação à possibilidade de alastramento dessa doença?[fim]

A SRA. ILDARA NUNES VARGAS – Olha, na situação de Pinheirinho do Vale nós tivemos uma... Para aí que eu vou te dar o dado certo: Em Pinheirinho do Vale, num raio de cinco quilômetros, 134 propriedades foram investigadas, dessas, só 5 apresentaram animais sorologicamente positivos, vejam bem, quatro e pouco por cento. Nessa região de Aratiba, onde se estendeu, e nós tivemos mais focos, é 5 em Aratiba, 2 em Erexim, 1 em Ponte Preta e 1 em São Valentin. Nessa aqui, o raio de 5 km, nós investigamos 574 propriedades, destas, 74 apresentaram animais sorologicamente positivos e que foram eliminados, então, 13%. Frente a esses dados nós entendemos que a situação é controlável.[fim]

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – A expectativa então é de que hoje a leitura que se tem é que os focos foram controlados.[fim]

A SRA. ILDARA NUNES VARGAS – Perfeitamente controlados.[fim]

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – E o alastramento da doença é...[fim]

A SRA. ILDARA NUNES VARGAS – Não, nós temos previsto, estamos já com o pessoal no campo trabalhando para coleta de soro para fazer a sorologia para a peste suína clássica que se faz de

rotina, tem que se fazer anualmente para comprovar a zona livre, e junto com isso nós vamos fazer um inquérito para avaliar a situação no Estado do Rio Grande do Sul, mas o nosso entendimento é que a situação no Estado do Rio Grande do Sul é controlável. É uma situação onde nós não, como eu já referi antes, por todos aquele aspectos já referidos, de sorologias já realizados, de trabalhos realizados, da vigilância em nível de campo, nós temos uma situação no Rio Grande do Sul que é uma situação onde ocorreu a doença, nós conseguimos eliminar e entendemos que vamos poder buscar a condição de ser livre de Aujeszky com a eliminação desses focos.[fim]

O que vai nos dar realmente a situação, é esse inquérito que nós estamos fazendo.[fim]

(os parágrafos relativos a transcrições grifados a seguir foram copiados neste Relatório em duplicidade)

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – A Secretaria possui alguma estratégia na erradicação desses focos, ou simplesmente se

A SRA. ILDARA NUNES VARGAS – Não, querido. Eu tenho. Se dá para passar em... Dá para passar?[fim]

Não sei se há necessidade. Eu tenho inclusive no papel. É que nós... É um comparativo importante para as ações de defesa no Estado. Veja bem, nós temos uma situação com veterinários do quadro, nós temos uma situação com os contratos emergenciais lotados há dois, três anos atrás, e se percebe claramente a lotação do... a distribuição dos emergenciais de dois anos atrás e a distribuição dos emergenciais hoje.[fim]

E, veja bem, se verificarmos o mapa, tu vais ver que os emergenciais tão lotados todos aqui na Região de Fronteira com o Uruguai e coisa, numa situação perfeitamente explicável: o problema era aftosa, e era nessa Região.[fim]

Hoje, a relotação dos emergenciais, nós fizemos toda lá pra

cima. Por quê? Porque o problema hoje tá lá.[fim]

Então, nós estamos trabalhando com um sistema de defesa que não é estável, e nós precisamos buscar a estabilidade desse sistema de defesa, porque, se ocorre um problema no Norte do Estado, se ocorre um problema no Sul, no Leste, onde ocorrer, temos que ter uma estrutura para atender essas emergências.[fim]

Evidentemente, que uma equipe de emergência tu deslocas, mas ter de deslocar todos os profissionais daqui pra lá, para atender lá em cima? Imaginem o custo disso aí. Desloca os profissionais para lá, desloca os profissionais para cá, em cima de cada ocorrência que se registrar dentro do Estado. Então, essa deficiência de pessoal é significativa no Departamento de Produção Animal.[fim]

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – Vocês teriam uma proporção do que é essa deficiência hoje? Nós precisaríamos ter um quadro de x veterinários e tantos auxiliares?[fim]

A SRA. ILDARA NUNES VARGAS – Eu não posso te dizer aqui um número exato, mas, aproximadamente, nós devemos estar precisando – não é um número exato, é um número estimado – em torno de 200, 300; 200, 250 profissionais médicos veterinários além do que nós temos hoje, para fazer, efetivamente, um sistema de defesa que atenda realmente o que o Rio Grande do Sul precisa.[fim]

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – Dra. Ildara, além dos do quadro ou além dos do quadro e dos emergenciais?[fim]

A SRA. ILDARA NUNES VARGAS – Além dos que nós temos no quadro. Sem contar que esses 178 do quadro, uma grande parcela nos próximos anos já se aposenta, porque são...[fim]

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – Mas são 200, 250, sem contar esses 178?[fim]

A SRA. ILDARA NUNES VARGAS – Sem contar os 178.[fim]

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – E também sem contar os emergenciais?[fim]

A SRA. ILDARA NUNES VARGAS – Sem contar... Porque, veja bem, nós não temos só defesa. Nós temos a parte de inspeção também. Nós temos 400 e tantos estabelecimentos que são fiscalizados por nós. Então, sem contar... Eu vou te dizer assim, oh: em torno de 200 veterinários para trabalhar em defesa e, quiçá, mais uns 200 veterinários para trabalhar em inspeção. Esquece os emergenciais.[fim]

A atuação da SAA nos focos de Aujeszky, de acordo com a transcrição abaixo, foi com a estratégia de erradicação, por isto não foi utilizada vacinação e sim sacrifício sanitário, com isto os focos foram erradicados rapidamente e os produtores receberam a devida indenização pelos animais sacrificados e o risco de difusão da doença foi eliminado.

DEPOIMENTO DA DRA. ILDARA NUNES VARGAS:

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – A expectativa então é de que hoje a leitura que se tem é que os focos foram controlados.[fim]

A SRA. ILDARA NUNES VARGAS – Perfeitamente controlados.[fim]

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – E o alastramento da doença é...[fim]

A SRA. ILDARA NUNES VARGAS – Não, nós temos previsto, estamos já com o pessoal no campo trabalhando para coleta de soro para fazer a sorologia para a peste suína clássica que se faz de rotina, tem que se fazer anualmente para comprovar a zona livre, e junto com isso nós vamos fazer um inquérito para avaliar a situação no Estado do Rio Grande do Sul, mas o nosso entendimento é que a situação no Estado do Rio Grande do Sul é controlável. É uma situação onde nós não, como eu já referi antes, por todos aquele

aspectos já referidos, de sorologias já realizados, de trabalhos realizados, da vigilância em nível de campo, nós temos uma situação no Rio Grande do Sul que é uma situação onde ocorreu a doença, nós conseguimos eliminar e entendemos que vamos poder buscar a condição de ser livre de Aujeszky com a eliminação desses focos.[fim]

O que vai nos dar realmente a situação, é esse inquérito que nós estamos fazendo.[fim]

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – A Secretaria possui alguma estratégia na erradicação desses focos, ou simplesmente se implementou, se aumentou os trabalhos que já haviam sendo feitos?[fim]

A SRA. ILDARA NUNES VARGAS – Não, evidentemente que com a ocorrência desses focos de Aujeszky foi incrementada toda a vigilância nessa região, e a estratégia adotada, como eu já referi antes, foi a estratégia da erradicação, da eliminação desses focos, que é todo esse trabalho que é feito em cima da propriedade, ela é interditada, os animais são todos sacrificados e essa investigação que se faz no raio de 5 km, todo esse processo recomendado para a erradicação da enfermidade. Essa é a estratégia adotado pelo Rio Grande do Sul. Não utilização de vacina e processo de erradicação.[fim]

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – Na formação dos valores a serem pagos aos produtores que tiveram os animais sacrificados em função da ocorrência do Aujeszky, em que aquela Comissão que faz... que chega ao valor, ao preço, em que é baseado a formação desses valores?[fim]

A SRA. ILDARA NUNES VARGAS – Essa formação de valores também foi ao que eu te referi. Existe uma tabela e é baseado nessa tabela, que depende a categoria dos animais, a indenização em kg de suíno, ao preço do dia, e aí se tem o que a indústria paga e o que o fundo paga.[fim]

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – A responsabilidade pelo pagamento é de quem?[fim]

A SRA. ILDARA NUNES VARGAS – Quem está indenizando hoje é o Fundo, é o FESA. O Fundo está indenizando a parte, o diferencial, porque tem o total, uma parte é a indústria que paga e o diferencial é o fundo.[fim]

Em relação à situação sanitária atual e as barreiras para as exportações, em que pesem as deficiências estruturais apresentadas pelos órgãos responsáveis, transcrevemos o depoimento abaixo onde os depoentes falam das condições sanitárias do RS, e sobre os prejuízos que a ocorrência de doenças no nosso território podem causar, ao mesmo tempo em que há referência que os investimentos num efetivo, eficiente e informatizado sistema de defesa sanitária animal são infinitamente mais baratos que a ocorrência de uma enfermidade de repercussão econômica e sanitária.

DEPOIMENTO DA DRA. ILDARA NUNES VARGAS:

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – A Senhora poderia, doutora, traçar para nós um panorama geral da situação sanitária atual do Rio Grande do Sul?[fim]

A SRA. ILDARA NUNES VARGAS – O Rio Grande do Sul, hoje, com relação...[fim]

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – Não só os suínos, também referente a bovinos.[fim]

A SRA. ILDARA NUNES VARGAS – Então, o Rio Grande do Sul, hoje, com relação às doenças importantes, consideradas em barreiras sanitárias, que são as doenças de Lista A, o Rio Grande do Sul tem uma situação muito boa, com relação à febre aftosa livre com vacinação, com relação à doença de new castle, também um fator impeditivo para exportação de aves, também plantel comercial

livre da doença de new castle, influenza de alta patogenicidade também, e peste suína clássica também livre, e o importante, parece-nos, agora, é que com essa situação favorável que tem o Rio Grande do Sul com relação a essas enfermidades importantes para o comércio internacional, que se tenha condição de garantir e de manter essa situação.[fim]

O SR. PRESIDENTE JERÔNIMO GOERGEN – Temos uma questão que a nossa assessoria nos passou, qual é o dimensionamento financeiro das perdas, para o Estado, com o aparecimento de doenças como a Aujeszky e aftosa, exportações canceladas, menor produção, foi feito algum comparativo das perdas com o custo de um eficiente sistema de vigilância?[fim]

A SRA. ILDARA NUNES VARGAS – Certamente, as perdas são muito maiores do que um eficiente sistema de vigilância, certamente. Um eficiente sistema de vigilância custa bem menos, estruturar um sistema de defesa, porque veja bem, hoje, quando nós falamos num serviço, podemos até otimizar, porque quando nós falamos num serviço de defesa sanitária, hoje, pensamos, responsabilidade da Secretaria da Agricultura, Departamento de Produção Animal. Agora, quando falamos em sistema de defesa, temos um envolvimento e nós, no Rio Grande do Sul não estamos, ainda, mas é uma proposta e já existem tratativas, de utilizar esse sistema otimizando a participação, inclusive, de outras secretarias e de todo o setor. Então, não resta dúvida. Não sei quantificar em números, mas não resta dúvida que um eficiente serviço de defesa custa muito menos do que as perdas que o Rio Grande do Sul já teve com a febre aftosa, e teve agora, eventualmente, com a situação da doença de Aujeszky.[fim]

O SR. PRESIDENTE JERÔNIMO GOERGEN – E, dentro da sua experiência, qual seria, resumidamente, o sistema mais eficiente? Como ele funcionaria? A Senhora teria condições de contribuir conosco nessa linha de raciocínio?[fim]

A SRA. ILDARA NUNES VARGAS – Veja bem, hoje, como eu disse para vocês, o sistema de defesa é bem mais amplo do que,

simplesmente, o serviço de defesa. O sistema de defesa, hoje, temos que, efetivamente, ter estruturado, em nível local, em cada município, uma estrutura de defesa, porque é lá que as coisas acontecem, é lá que a vigilância efetivamente tem que acontecer. Então, precisamos estruturar, reestruturar, as inspetorias veterinárias, hoje, precisamos qualificar e mudar a concepção, dar um novo rumo para a defesa, mudar a concepção, e ter um entendimento, hoje, de que defesa não é o veterinário da inspetoria que faz sozinho, nem os auxiliares, absolutamente. A defesa é feita por todo o segmento envolvido e por toda a comunidade. Veja bem, se o produtor não tiver, hoje, conscientizado que, mesmo com o preço mais barato, se ele for comprar produtos de onde existem enfermidades que não têm aqui, ele pode estar economizando, tendo um ganho na compra de um produto mais barato, mas em compensação ele está tendo um prejuízo para ele, para o Estado, trazendo alguma coisa sem garantia. Então, o produtor tem que estar envolvido, a Secretaria da Fazenda também tem que estar envolvida, auxiliando e otimizando esse custo, essa despesa de controle de trânsito, e trabalhando junto. Melhoraríamos também a arrecadação, que seria recurso para o Estado. Então, basicamente, reestruturação do serviço das inspetorias veterinárias, pessoal, não só colocar pessoal, mas qualificar, qualificar o pessoal. Inter-relação com todo o segmento. Têm que participar produtores, indústria, Secretaria da Fazenda, Secretaria da Saúde, Secretaria da Educação, Secretarias Municipais de Agricultura, fazer com que todo esses, todas essas Secretarias e segmentos participem do sistema de defesa como um todo.[fim]

Assim teríamos um sistema otimizado, otimizaríamos os custos, inclusive, formação de Comitês Municipais, onde lá se discutiria a realidade todos inseridos nesse processo de vigilância.[fim]

Assim teríamos um sistema de defesa e isso coordenado pela Inspetoria Veterinária. Coordenado pela inspetoria veterinária, mas também precisamos ter gente na Inspetoria Veterinária e informatizar esse... imaginem os dados que temos hoje no Departamento de Produção Animal isso são todos dados manuais, o pessoal

preenchendo uma ficha e mandando para cá.[fim]

Tu, hoje, outubro, tu tens tabulado os meses de agosto de setembro é difícil o controle de trânsito de animais. Hoje temos os GTAs, que é a Guia de Trânsito nossa, que é emitida em três vias. Uma via vai com os animais, a outra via fica na Inspetoria Veterinária e a outra via, determinamos, que seja encaminhada aos Municípios de destino. Agora, para ela chegar ao Município de destino, ela vai pelo Correio até a Regional, da Regional vai para a inspetoria. Quando se nós tivéssemos um sistema informatizado, imediatamente saiu daqui e entrou lá tu já poderias acompanhar, ter fichas atualizadas ter um controle mais efetivo. Então, é fundamental esse processo, informatização do DPA, de contratação de pessoal qualificado, pessoal qualificado nas Inspetorias Veterinárias, administrativas e que nós também temos uma deficiência muito grande e contratação de pessoal, qualificação de pessoal e, fundamentalmente, a interação entre todos os segmentos e todas as Secretarias que podem e devem se envolver nesse processo.[fim]

A SRA. ILDARA NUNES VARGAS – Controlável, controlável, hoje em cima da situação que estamos terminando de trabalhar, entretanto, se não houver um incremento e uma recuperação do Sistema de Defesa Sanitária Animal no Rio Grande do Sul, nós corremos o risco não só da Doença de Aujeszky, mas nós corremos o risco de permitir o ingresso de outras...[fim]

O SR. PRESIDENTE JERÔNIMO GOERGEN – Qualquer doença.[fim]

A SRA. ILDARA NUNES VARGAS – Enfermidades que venham a comprometer, comprometer o mercado, comprometer a sanidade animal no Rio Grande do Sul. Isso é importante, se não houver uma restruturação do sistema de defesa no Rio Grande do Sul, uma organização, sejam cortadas as necessidades para que efetivamente se consiga ter um trabalho, um trabalho de defesa que dê essas garantias, nós corremos o risco, e mais ainda, não só da reintrodução, mas nós corremos o risco com essa estrutura deficiente que nós temos.[fim]

Hoje, nós corremos o risco de receber menções internacionais para avaliar o nosso trabalho no Rio Grande do Sul e essas deficiências serem apontadas como fator impeditivo de o Rio Grande do Sul poder se habilitar ao mercado internacional.[fim]

Veja bem, o sistema de defesa é o ponto sanidade animal. Garantias sanitárias é o ponto número um porque...e é responsabilidade do Governo certificar, porque a qualidade do produto, o produtor e a indústria buscam a qualidade, e nós certificamos a parte sanitária. Então, é responsabilidade do Governo certificar, e todos os Países importadores, eles querem a certificação do serviço oficial, nossa, do Governo. Então, além do reingresso da enfermidade, de algumas enfermidades, nós também podemos correr o risco de perder mercados por não ter um sistema de defesa em condições de atender as exigências de certificação.[fim]

O representante do SSA/DFA/MAPA também fez referências sobre as barreiras sanitárias, explicando claramente que o caso da doença de Aujeszky é uma situação particular envolvendo a Rússia. Entretanto, a grande barreira é, sem dúvida alguma, a ocorrência de Febre Aftosa.

DEPOIMENTO DO DR. JOSÉ EUCLIDES V. SEVERO

O SR. JOSÉ EUCLIDES VIEIRA SEVERO – Não, ela é uma barreira sanitária, em relação à concepção da Rússia, agora, não é em relação à concepção de outros países. A concepção dos outros países está muito mais relacionada com outras enfermidades, especialmente à febre aftosa. Essa é a restrição maior que temos para o Rio Grande do Sul, não é relacionada ao Aujeszky.[fim]

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – Referente as exportações. Nós tivemos, nos outros testemunhos, por mais que ficou impossibilitada a participação do Senhor aqui, foi aberto ao público. Vários questionamentos referentes a essa questão do Aujeszky, que isso é algo que realmente preocupou os integrantes dessa CPI, mas pelo Senhor ser representante do Ministério da Agricultura, isso ser um assunto que interessa, não só ao Rio Grande do Sul, não é um assunto apenas local, a questão das

exportações. Nós sabemos que hoje o maior importador de carne suína do Brasil é a Rússia, mas que temos grandes mercados que poderiam ser explorados como, através da Comunidade Européia e posteriormente, também o Japão. No seu entendimento, Dr. José, qual é o motivo hoje de o Brasil ainda estar com essas barreiras na Comunidade Européia e no Japão. Eu sito a Comunidade Européia, porque é vista como a porta de entrada para as exportação ao mercado japonês. Essa questão do Aujeszky pôde trazer algum risco, se não trouxe, o que é que nós poderemos melhorar para atingir essa meta ou se isso não é uma barreira sanitária, é uma barreira comercial?[fim]

O SR. JOSÉ EUCLIDES VIEIRA SEVERO – Não, ela é uma barreira sanitária, em relação à concepção da Rússia, agora, não é em relação à concepção de outros países. A concepção dos outros países está muito mais relacionada com outras enfermidades, especialmente à febre aftosa. Essa é a restrição maior que temos para o Rio Grande do Sul, não é relacionada ao Aujeszky.[fim]

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – Então essas restrições à comunidade européia...[fim]

O SR. JOSÉ EUCLIDES VIEIRA SEVERO – Estados Unidos, Japão, Austrália...[fim]

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – Seriam provavelmente da febre aftosa.[fim]

O SR. JOSÉ EUCLIDES VIEIRA SEVERO – Febre aftosa. Sim.[fim]

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – E... na sua opinião, até porque aqui nós também apresentaremos sugestões no relatório, o que poderíamos fazer para buscar a abertura desses mercados? Primeiro, essa barreira sanitária por causa da febre aftosa é, de fato, devido à questão da aftosa ou ela pode ser uma barreira comercial maquiada, como sendo uma barreira sanitária?[fim]

O SR. JOSÉ EUCLIDES VIEIRA SEVERO – Não. Casualmente, a gente viveu muito outros momentos da febre aftosa. Realmente é uma doença temível e terrível quanto ao problema que pode causar do ponto de vista econômico a um país. Então esses países que fazem restrição, eles realmente fazem restrição à enfermidade.[fim]

O Senhor me perguntou qual é a... o que podemos fazer? Eu lhe diria que a qualidade dos nossos produtos vai depender muito de algumas coisas que realmente levarmos. Saímos de uma mentalidade de combate, que ainda temos muito, para uma mentalidade que seja de erradicação das enfermidades.[fim]

E se exige por parte do Estado brasileiro, de todos os segmentos, uma estrutura realmente mais afinada, uma estrutura que trate de vigilância, que trate muito de trânsito, uma estrutura que tenha essa rastreabilidade com uma base, uma estrutura que envolva todos os segmentos das cadeias produtivas que fazem a carne e o agronegócio brasileiro. Nós temos que ter isso aí.[fim]

O que não pode mais é o Estado assumir isso sozinho, ou seja, nós temos realmente deficiência de estrutura. Não estou falando aqui só por parte do Ministério da Agricultura, mas nós temos uma deficiência no Estado e que precisa realmente... e essa deficiência não é por falta de conhecimento técnico, é por falta de estrutura e no momento correto.[fim]

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – Na sua avaliação, quais são as perspectivas em relação à exportação de carne suína brasileira para esses mercados, não só a Rússia, é uma perspectiva positiva, de ampliação ou...[fim]

O SR. JOSÉ EUCLIDES VIEIRA SEVERO – Eu vejo de ampliação, de ampliação, agora, tem alguns complicadores no mercado que aí a gente tem alguns complicadores de quotas, por exemplo, como é o caso da Rússia, que pode trazer complicadores, Agora, se isso for resolvido, realmente existe uma perspectiva de

expansão, logicamente que temos aí que colocar – volto a repetir – algumas responsabilidades de todos os segmentos, do segmento político até o Executivo no sentido de que venha a dotar essas estruturas compatíveis com aquelas exigências. Aí sim, vamos ter expansão de mercado.[fim]

O que precisamos ter são programas de segurança alimentar, que ainda nos resta muito para chegar a esse momento.[fim]

O SR. JOSÉ EUCLIDES VIEIRA SEVERO – Olha, a única coisa que eu voltaria a enfatizar é essa necessidade que nós temos, realmente, de aproveitar esse status sanitário que temos. Porque isso está acontecendo no Rio Grande do Sul por um motivo muito importante. Nós temos, hoje, um status sanitário muito bom perto do que a gente tinha em anos atrás, então nós temos que aproveitar esse status sanitário e implantar um sistema, realmente, de vigilância com tecnologias existentes afinadas, mas que precisam de um apoio constante.[fim]

Então, ficaria, aqui, esta mensagem, que é extremamente importante para nós que estamos na ponta da linha. Sem estrutura, nós vamos ser realmente bombeiros – essa é a realidade –, nós vamos ter que estar apagando enfermidade com enfermidade, ou vivendo de enfermidade com enfermidade.[fim]

O SR. PRESIDENTE JERÔNIMO GOERGEN – Dr. Severo, em que condições estruturais atuam os profissionais da área de vigilância do Ministério da Agricultura nesta área de vigilância sanitária, aqui, especificamente, no Rio Grande do Sul? Com relação ao pagamento das diárias, isso tudo tem sido cumprido, como é que está a condição estrutural do Ministério para fazer o trabalho?[fim]

O SR. JOSÉ EUCLIDES VIEIRA SEVERO – Bom, pensando que o Ministério de Agricultura é responsável pelos postos de fronteira, aeroportos, postos e portos, e nós temos uma estrutura, vamos dizer assim, razoável, e quanto a essas de diárias, aqui, logicamente não vamos dizer que nós pagamos naquele momento, mas toda a vez que se coloca alguém em movimento, tem-se pago

as diárias.[fim]

Agora, logicamente que precisa, voltando novamente a melhorar a estrutura na fronteira, nas fronteiras. Nós somos vulneráveis em nível de fronteiras, especialmente quando se tem uma fronteira seca como o Uruguai, uma fronteira cheia de problemas de trânsito, como é com a Argentina.[fim]

Então, logicamente que tem que se ter uma estrutura melhor. Agora, eu vejo que a estrutura que nós temos, ela seria melhorada significativamente se, vamos dizer assim, as coisas acontecessem no momento correto. Ou seja, se nós tivéssemos um repasse de dinheiro no momento correto eu lhe digo assim: a Secretaria do Estado do Rio Grande do Sul, neste ano, não recebeu repasse do Ministério da Agricultura, então isso aí traz um grande constrangimento técnico para nós, além de um grande constrangimento para os colegas que trabalham de campo que não têm esses recursos na hora correta, né? E o que acontece dentro do Rio Grande do Sul, para nós, é um reflexo daquilo que passa por dentro da fronteira.[fim]

Então, eu acho extremamente importante que essas estruturas sejam compreendidas, elas sejam...realmente tenham uma mentalidade de vigilância constante, mas não adianta nós propormos, por exemplo, barreiras, que são coisas temporárias, sem criarmos essa cultura de realmente ter uma vigilância constante, não é?[fim]

Para se ter essa vigilância constante, nós precisamos ter diagnóstico, nós precisamos ter combustível na hora certa, nós precisamos ter carro, nós precisamos ter profissionais para fazer isso aí. Isso é...[fim]

O que é relevante para esta CPI, e que a torna importante no aspecto de barreiras sanitárias, é apurar e recomendar ao Governo a concessão de condições para que os serviços sanitários sejam estaduais ou federais e possam executar suas atividades com qualidade e, com isto, garantir a possibilidade de comercialização dos nossos produtos cárneos para os grandes mercados consumidores mundiais.

A recuperação dos preços da matéria-prima (bovinos e suínos) passa diretamente pelo incremento às exportações pelo enxugamento que esta situação causa no mercado e mesmo pela melhor formação do preço que as indústrias poderiam fazer com o atingimento de mercados mais valorizados. Isto não ocorrendo, há um aumento natural de oferta do produto causando uma baixa dos preços a nível de produtor.

O depoimento do representante de Santa Catarina deixa muito claro sobre a importância das barreiras sanitárias e a necessidade dos Países se esforçarem o máximo para eliminá-las, a fim de que possam abrir mercados internacionais, inclusive para outros produtos, como é o caso do Estado de Santa Catarina que erradicou a Febre Aftosa e muito se empenhou nisto, mesmo não sendo exportador de carne bovina, mas na expectativa de conseguir melhores e maiores mercados para a carne suína e aves seus principais produtos agropecuários de comércio internacional.

DEPOIMENTO DO DR. RONI T. N. BARBOSA:

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – Na questão da bovinocultura, em relação ao mercado, quais os ganhos que o Estado de Santa Catarina obteve a partir do reconhecimento nacional em Área Livre de Aftosa Sem Vacinação?[fim]

O SR. RONI TADEU NASCHENVENG BARBOSA – Os ganhos são muito mais na área da suinocultura e da avicultura. No setor da bovinocultura não houve, até então, grandes vantagens, por esse fato. No entanto, as negociações que aconteceram na área da suinocultura, especialmente, foram beneficiadas com esse reconhecimento da Área Livre de Aftosa Sem Vacinação. Por outro lado, estamos com limitações muito grandes, por exemplo, não podemos renovar o nosso material genético da bovinocultura de leite, por não entrarem em Santa Catarina fêmeas provenientes do Rio Grande do Sul ou do Uruguai, como tradicionalmente acontecia. Por outro lado, estamos com uma dificuldade de abastecimento de carne bovina, apesar de sempre ter a carne bovina lá, mas com preço mais alto, e Santa Catarina tem um consumo anual de cerca de 175 mil toneladas de carne bovina, e a nossa produção é de apenas 125 mil toneladas. Então, compramos de outros Estados,

outros países, especialmente da Argentina e Uruguai, 50 mil toneladas de carne bovina, por ano. E até há pouco tempo, podia entrar em Santa Catarina apenas carne bovina desossada e maturada e, a partir de julho, é que está entrando carne bovina com osso, e estamos sendo abastecidos por 14 Estados que fazem parte da Zona Livre de Febre Aftosa Com Vacinação. Resumindo, até agora, na prática, o fato de estarmos livres da febre aftosa sem vacinação beneficiou especialmente a suinocultura e a avicultura.[fim]

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – São 14 Estados de Área Livre de Aftosa Com Vacinação?[fim]

O SR. RONI TADEU NASCHENVENG BARBOSA – Exatamente, são 15 Estados, incluindo o Distrito Federal, e Santa Catarina é um, então, pode adentrar no Estado de Santa Catarina carne bovina com osso, maturada, de 14 Estados que fazem parte da Zona Livre de Febre Aftosa Com Vacinação.[fim]

Em meados deste ano, o MAPA publicou uma instrução normativa autorizando o ingresso de carne com osso no Estado de Santa Catarina (área livre de Febre Aftosa sem vacinação). Porém, animais para cria ou mesmo boi em pé com destino direto ao abate não foram permitidos. Esta era uma reivindicação do setor produtivo do RS, mas o MAPA, responsável pelas normatizações não concordou.

O Dr Roni Barbosa reporta a responsabilidade para autorização de ingresso de animais suscetíveis à febre aftosa e seus produtos no Estado de Santa Catarina para o MAPA, e isto é uma verdade muito clara, é este órgão, em última análise, o responsável pela normatização na área de defesa sanitária animal no território brasileiro. A Portaria Ministerial nº 5 dá condições para que, sob análises criteriosas das condições sanitárias, possam ser feitas algumas concessões em relação ao trânsito de animais suscetíveis à febre aftosa.

Na opinião do técnico de Santa Catarina deveria ocorrer um aumento da área sem vacinação para dentro do estado do Paraná e do Rio Grande do Sul aumentando gradativamente a zona livre de febre aftosa sem vacinação.

Nós entendemos que este não é o momento para se discutir sobre retirada de vacinação, mas a manutenção das atuais condições sanitárias, tanto em Santa Catarina como no Rio Grande do Sul, talvez indique a possibilidade de estudo por parte do MAPA, em relação à permissão do trânsito de animais suscetíveis do RS, zona livre com vacinação, para Santa Catarina, zona livre sem vacinação, mediante análise das

condições sanitárias e o acompanhamento e vigilância sanitária cuidadosa, tendo em vista as dificuldades que esse estado está passando, no sentido da reposição de material genético, de acordo com o depoimento do representante do estado.

DEPOIMENTO DO DR. RONI T. N. BARBOSA:

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – Essa entrada da carne com osso em Santa Catarina aumentou o percentual dessa exportação, não de outros países, mas de outros Estados para Santa Catarina depois que isso vem ocorrendo. Começou quando?[fim]

O SR. RONI TADEU NASCHENVENG BARBOSA – Começou em julho, em julho deste ano, através de um documento do Ministério da Agricultura, me perdoe, eu tenho o documento aqui, tenho o documento para dar a data certa...[fim]

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – Mas iniciaram também a entrada de carne... iniciou também em julho?[fim]

O SR. RONI TADEU NASCHENVENG BARBOSA – Quinze de julho.[fim]

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – O Ministério de Agricultura Pecuária e Abastecimento, essa normatização. Mas o ingresso de fato começou também em julho?[fim]

O SR. RONI TADEU NASCHENVENG BARBOSA – Sim, começou em julho, exatamente em julho, quando foi autorizado o ingresso no Estado de Santa Catarina de carne bovina fresca com osso, oriunda dos Estado integrantes da Zona Livre de Febre Aftosa com vacinação.[fim]

Então, passou a entrar carne bovina no Estado não se observou um grande movimento com relação à entrada de carne bovina com osso. Na realidade o que se observa, hoje, lá, o consumidor tem a disposição a costela que até então não tinha. Além da presença da costela, não se observa nada mais diferente no mercado que existe em Santa Catarina. Vê, lá não existia costela no

mercado, costela bovina, e agora tem à disposição.[fim]

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – Só para que sejamos mais objetivos, houve um aumento no ingresso de carne com osso significativo, ou só essa variação da costela.[fim]

O SR. RONI TADEU NASCHENVENG BARBOSA – Não foi significativo.[fim]

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – Qual é a sua posição sobre a possibilidade de entrada de boi em pé para Santa Catarina?[fim]

O SR. RONI TADEU NASCHENVENG BARBOSA – Essa questão é muito mais ligada ao aspecto da Área Livre de Febre Aftosa Sem Vacinação, que obedece a uma legislação Federal que, por sua vez, é baseada numa legislação internacional da Organização Mundial de Saúde Animal. E a Instrução Normativa nº 05, de 17 de janeiro de 2003, da Secretaria de Defesa Agropecuária é muito clara ao proibir o ingresso de animais vacinados contra a febre aftosa em Santa Catarina, assim como de animais, produtos e subprodutos de origem animal, produtos veterinários, e tal, que possam veicular o vírus da febre aftosa.[fim]

Por outro lado, nós sabemos que o Brasil, há dois anos e dois meses, está sem nenhum foco de febre aftosa, muito embora os nossos vizinhos da Bolívia e do Paraguai tivessem um episódio recente de febre aftosa. No caso da entrada de carne bovina com osso, nós entendemos que, tranqüilamente, nós podemos receber essa carne, porque somos obrigados a confiar no nosso Controle Sanitário Brasileiro que nos diz que há dois anos e dois meses estamos sem febre aftosa.[fim]

Com relação à entrada de animais vacinados, é muito mais uma questão de Legislação Federal Internacional, como falei. E, a princípio, se pensava que o Rio Grande do Sul continuaria na mesma condição de Santa Catarina: Área Livre de Febre Aftosa Sem Vacinação, como foi o Rio Grande do Sul numa determinada época,

e agora nós estamos... O Estado sente-se numa situação muito delicada ao verificar que o Rio Grande do Sul, por medida de segurança, em função de focos que ocorreram num passado recente no Uruguai e na Argentina especialmente, deverá continuar vacinando por mais alguns anos.[fim]

O Paraná da mesma forma, por focos do Paraguai e da Argentina também, e Santa Catarina está-se sentindo uma ilha, sentindo-se isolada, porque não pode levar animais para abate, para abastecer as suas indústrias frigoríficas e nem trazer animais especialmente leiteiros para recompor o seu material genético.[fim]

Então, o Estado hoje está numa posição muito desconfortável. O Estado vai ter que ter uma negociação muito clara com o Governo Federal, com o Ministério da Agricultura dos Estado do Rio Grande do Sul e do Paraná para sabermos aonde queremos chegar. Se realmente queremos chegar numa condição de Área Livre de Febre Aftosa Sem Vacinação, temos de fazer algo a mais para atingir esse objetivo.[fim]

Uma das propostas seria um alargamento das nossas fronteiras ao Norte com o Paraná, e ao Sul com o Rio Grande do Sul, onde estaríamos aos poucos avançando através da obtenção de uma Área Livre de Febre Aftosa Sem Vacinação. Com certeza, há uma dificuldade de se praticar essa proposição, mas é uma proposição que existe. Porque Santa Catarina sente como um grande retrocesso se for novamente iniciar a vacinação.[fim]

Nós estamos há 10 anos sem nenhum foco de aftosa no Estado de Santa Catarina. Nós estamos com um rebanho que vinha sendo vacinado de casa em casa, durante alguns anos, e, agora, esse rebanho está totalmente desprotegido. Se não fosse a vigilância sanitária que nós fizemos nas barreiras sanitárias com os demais Estados e País, nós certamente já teríamos a infecção dentro do Estado. Felizmente, não tivemos, mas é um problema, uma dificuldade, que conjuntamente nós temos que chegar a uma conclusão, a um encaminhamento.[fim]

E, então, passa por uma negociação entre os três Estados, com o Ministério da Agricultura, para ver que caminho vamos tomar.[fim]

CONCLUSÃO

O setor suinícola do RS que já vinha em crise devido aos problemas decorrentes da ocorrência dos focos de febre aftosa no RS em 2000 e 2001, e o aumento excessivo do preço do milho em 2002, associado ao fechamento do Frigorífico Chapecó, em Santa Rosa (antigo Prenda) ocasionou um agravamento desta crise no primeiro semestre do ano de 2003, por que, com a ocorrência de focos de Aujeszky em Santa Catarina em 2002, houve bloqueio da exportação de carnes suínas com origem nesse estado no último trimestre desse ano. Isto levou a um aumento considerável de suínos no mercado interno pressionando os preços em nível de produtor para baixo.

Esta situação começou a normalizar a partir do segundo trimestre do ano em curso, quando foi refeito o acordo de exportação entre Brasil e Rússia, definindo que na certificação para a exportação deveria constar que as carcaças a serem exportadas seriam de suínos oriundos de municípios sem ocorrência de Doença de Aujeszky nos últimos 12 meses antes do embarque.

Para se ter uma dimensão da importância da exportação de carne suína para a Rússia na cadeia produtiva da suinocultura no Rio Grande do Sul, basta ver a sua porcentagem em relação ao total das exportações de carne suína do Estado, que é de 80% do total dessas, atingindo aproximadamente 68.000 toneladas em 2002 e 90.000 toneladas em 2003 representando para o setor uma receita na ordem de U$ 70.000.000,00 e U$ 88.000.000,00 ao ano, respectivamente.

Um enfoque a ser considerado por esta CPI trata das responsabilidades sobre a normatização em relação ao controle de enfermidades e ao trânsito de animais produtos e sub-produtos dentro do território nacional. No depoimento da representante da SAA, foi abordado objetivamente o tema, esclarecendo sobre a competência dos níveis estadual e federal na definição de normas ordenadoras e das atividades de Defesa Sanitária Animal.

A respeito de barreiras sanitárias, é oportuno tecer alguns esclarecimentos. As enfermidades tecnicamente consideradas como limitantes para o comércio internacional são aquelas incluídas na Lista A do Código Zoossanitário Internacional do Escritório Internacional de Epizootias (OIE), entre as quais a mais conhecida e que tem grande influência no trânsito de bovinos e suínos, bem como no comércio inter-estadual e internacional de carnes está a Febre Aftosa.

A Doença de Aujeszky referida no depoimento da Dra. Ildara, consta no código internacional da OIE, como sendo da Lista B, porém tomou extrema importância econômica no Brasil e particularmente no RS, em função do acordo de exportação para a Rússia em que constava (por exigência deste país), inicialmente, a necessidade de o Estado Brasileiro exportador não apresentar ocorrência desta enfermidade nos últimos 12 meses anteriores ao embarque dos produtos. O representante da Secretaria da Agricultura de Santa Catarina definiu muito bem sobre as ocorrências de doenças e suas implicações no comércio internacional.

QUINTO FATO DETERMINADO: POLÍTICAS SETORIAIS, COM ÊNFASE NOS INVESTIMENTOS PÚBLICOS

OBJETIVO DO PRESENTE FATO DETERMINADO.

O objetivo do Fato Determinado nº 05 é o de apurar as políticas setoriais, com ênfase nos investimentos públicos.

PROVA COLETADA:

A prova coletada na apuração do Fato Determinado 05 consistiu em produção de prova documental e testemunhal com os representantes de entidades governamentais, para tratar de políticas públicas de incentivos e benefícios fiscais e creditícios a empreendimentos do agronegócio em bovinocultura de corte e suinocultura.

ANÁLISE DA PROVA COLETADA:

Na formação do elemento de convicção desta Relatoria na apuração do fato determinado 05 consistiu na analise da prova documental e testemunhal coletada na instrução, em especial na AUDIÊNCIA PÚBLICA realizada na reunião ordinária ocorrida em 10 de novembro de 2003, com a participação dos representantes de entidades governamentais, para tratar de políticas públicas de incentivos e benefícios fiscais e creditícios a empreendimentos do agronegócio em bovinocultura de corte e suinocultura.

Transcreve esta Relatoria os principais pontos debatidos na referida Audiência Pública:

BANCO DO BRASIL

O SR. JOSÉ KOCHHANN SOBRINHO – Faço uma saudação especial ao Sr. Presidente, Jerônimo Goergen, demais Deputados, Márcio, Elvino Bohn Gass e todos os componentes de Mesa, Senhoras e Senhores.[fim]

Dentro das questões ligadas às políticas públicas, especialmente da questão do aspecto creditório, eu vou falar

rapidamente em condições de apoio, quem são os beneficiários de apoio, reescalonamento que houve no setor, nessa ordem.[fim]

Nas condições de apoio, eu vou deixar para a Comissão, depois, todas as linhas de crédito que são atualmente utilizadas tanto pela agricultura familiar como pela agricultura comercial, pelos produtores, pelas agroindústrias e todo o conglomerado das empresas que trabalham, até porque o assunto, na minha opinião, é praticamente de conhecimento de todos e eu iria me alongar muito explicando todas as linhas de crédito passíveis de aplicação na questão das carnes.[fim]

Na agricultura familiar, o pequeno produtor, um custeio no Pronaf, se para o pessoal dos assentados tanto a agricultura comercial, o custeio agropecuário, o investimento agropecuário é uma gama muito grande de linhas de crédito que podem ser utilizadas para o apoio da produção, comercialização e industrialização das carnes no Estado do Rio Grande do Sul e nos demais Estados da Federação.[fim]

O Banco do Brasil, em 2003, até 31-10, já investiu no agronegócio gaúcho quase 3 bilhões de reais, são exatamente 2 bilhões e 856 milhões de reais. Sendo para as operações de custeio, 2 bilhões e 39 milhões; operações de investimento, 534 milhões de reais e comercialização, 282 milhões de reais.[fim]

Para a safra que começou no dia 1º de julho, então está contado no somatório anterior, já chegamos a 1,7 bilhões. A agricultura familiar, como sempre, nós temos um cuidado todo especial. No Estado do Rio Grande do Sul, já financiou 174 mil famílias,!59, praticamente 160 mil, no Plano de Safra, então demonstra a dedicação, o empenho que o Banco está fazendo no sentido de auxiliar a todos os segmentos da sociedade, especialmente os menos favorecidos que são os produtores da agricultura familiar.[fim]

Na parte de investimento, nos últimos três anos, nós tivemos duas linhas de crédito especialmente para apoio extraordinário, eu chamaria assim, no setor de carnes.[fim]

Nós tivemos, no ano de 2001 e 2002, um programa chamado de Retenção de Matrizes Bovinas. Nós financiamos 59 milhões de reais somente nesse Programa e atendemos 2.222 agropecuaristas no Estado do Rio Grande do Sul.[fim]

Mais recentemente, nós operamos também a linha de crédito denominada Retenção de Matrizes Suínas. Nós financiamos, no Brasil inteiro, 43 milhões de reais e no Estado do Rio Grande do Sul 7 milhões e 341 mil reais para cerca de 390 suinocultores, permitindo a retenção de mais de 35 mil matrizes suínas.[fim]

Assim como os produtores, as cooperativas também são nossas tradicionais clientes e tiveram nos últimos anos um apoio todo especial por parte do Banco do Brasil.[fim]

Nós temos oito cooperativas envolvidas na produção de carnes, tanto a de suínos como a de aves, etc. Uma, hoje, não se relaciona mais com o Banco no Estado do Rio Grande do Sul, que é a antiga Cooperjacui, que é composta por quatro cooperativas singulares do Estado do Rio Grande do Sul.[fim]

Por que eu a estou citando? Porque nós fizemos uma operação de recópia bastante pesada com ela e depois essa Central de Cooperativas foi transferida para a Cooperativa Aurora em Santa Catarina.[fim]

O setor de cooperativas, então são oito cooperativas, tiveram apoio do Banco, no Recoop, no valor de 25 milhões e Programa Especial de Saneamento de Ativos, no valor de 63 milhões de reais. Portanto, as cooperativas tiveram apoio específico para rolagem do seu endividamento para com o Banco no valor de 89 milhões de reais.[fim]

Na questão da bovinocultura, mais ligada a questão dos produtores, dos agropecuristas, nós tivemos, em 2001, 63 milhões de reais emprestados. Em 2002, 95 milhões emprestados e em 2003, até 31 de outubro, 75 milhões de reais emprestados.[fim]

Na questão da suinocultura, agropecuaristas, 2001, 20 milhões e 800. 2002, 33 milhões e 600. 2003, até 31 de outubro, 11 milhões. Incluindo aí a questão das matrizes suínas como eu já tinha comentado.[fim]

Também temos um apoio para as agroindústrias, pequenas agroindústrias, temos dezenas, talvez centenas de pequenas agroindústrias que se utilizam tanto do crédito, controlado como do comercial. Essas pequenas empresas hoje, eu não sei quantificar o número, mas elas, hoje, são responsáveis por operações de crédito perante o Banco do Brasil no valor de 26 milhões de reais. Depois nós temos ainda um pequeno número de empresas, mas grandes empresas que têm uma assistência creditória do Banco, hoje, na ordem de 300 milhões de reais.[fim]

Então, fazendo um resumo, a suinocultura teve nos últimos três anos, em 2003 até 31 de outubro, de 65 milhões e 900 mil reais. A bovinocultura, produtores rurais, agropecuaristas de 234 milhões de reais. As cooperativas de 89 milhões, somente no reescalonamento. As pequenas agroindústrias 26 milhões de reais, e as agroindústrias de grande porte têm uma assistência de 300 milhões de reais.[fim]

Quanto a questão ligada... ainda do reescalonamento, nós tivemos, agora este ano, até a pedido das lideranças do Estado do Rio Grande do Sul, a questão da suinocultura. Tanto as operações de custeio, como as operações de comercialização, especialmente as operações de investimento que eram as retenções de matrizes suínas. Então, o Banco no Estado, com base no manual de crédito rural que rege, é o livro que rege o crédito agrícola no País, ele permite que sempre quando algum produtor estiver em dificuldade, os somatórios de seus empreendimentos estiverem em dificuldade, a gente pode reescalonar estas dívidas.[fim]

Nós autorizamos, portanto, todo o Estado do Rio Grande do Sul, apesar que as adesões, Sr. Deputado, Sr. Presidente, eu acredito que ainda é pequeno, mas aqueles produtores que

efetivamente demonstrarem dificuldade de liquidar seus compromissos, ligados à suinocultura, nós estamos fazendo a rolagem destas dívidas dentro das instruções do Banco Central com prazo de até cinco anos. A maior parte da retenção de matrizes suínas venceu agora 31 de outubro. Ainda não tenho a noção exata da inadimplência que ficou, mas tenho a expectativa de que seja muito pequena, porque todos os casos pontuais que me foram apresentados na semana passada eram pessoas que tinham soja armazenada, soja estocada, que com os bons preços, então a grande maioria eu acredito que tenha vendido a soja para liquidar as operações de custeio pecuário, até porque como eu falei a regulamentação do Banco Central permite a rolagem das dívidas dos produtores e não individualmente por empreendimento.[fim]

Acho que de uma forma sucinta, Presidente, era o que eu tinha para colocar e me colocar à disposição para eventuais esclarecimentos que forem necessários.[fim]

O SR. PRESIDENTE JERÔNIMO GOERGEN – Obrigado. Caro José qual é o valor da dívida dos suinocultores dentro do Banco do Brasil? O Valor de endividamento?[fim]

O SR. JOSÉ KOCHHANN SOBRINHO – Eu só trouxe para a Comissão os valores que nós financiamos. O saldo, o resíduo, eu teria que fazer uma pesquisa. Eu não tenho isso aqui comigo agora, mas como nós emprestamos cerca de 20 a 30 milhões de reais cada ano, acredito... e a grande parte são operações de giro, são operações de custeio, eu diria hoje que saldo devedor, como a operação é sempre de um ano, de uma safra, deva se situar na ordem de 30 milhões de reais, talvez um pouco mais alto, porque a primeira parcela da retenção de matrizes suínas venceu agora. A segunda parcela, como isso foi feito em dois anos, deve vencer em outubro, novembro de 2004. Pode esse interregno de tempo ser uma pouco maior, mas acredito que na ordem de 30 milhões de reais, diretamente dos agropecuaristas. Se aí somarmos a questão ligada às cooperativas e pequenos e grande empresários, elevamos esse valor significativamente.[fim]

O SR. PRESIDENTE JERÔNIMO GOERGEN – Teria idéia de até quanto poderia chegar?[fim]

O SR. JOSÉ KOCHHANN SOBRINHO – Aí, a questão é ligada principalmente às agroindústrias... elas têm um crédito global, aí, às vezes, alguma não seja estritamente da carne. Aí fica difícil de identificar o que efetivamente daquele recurso é só da carne assim como nas grandes empresas.[fim]

O SR. PRESIDENTE JERÔNIMO GOERGEN – E seria possível nós termos acesso, também, ao endividamento das agroindústrias ou das indústrias de forma específica? Seria possível fornecer esse dado ou é...[fim]

O SR. JOSÉ KOCHHANN SOBRINHO – Nome a nome?[fim]

O SR. PRESIDENTE JERÔNIMO GOERGEN – Global.[fim]

O SR. JOSÉ KOCHHANN SOBRINHO – No global, vou deixar... as pequenas agroindústrias têm uma responsabilidade conjugada com as operações de custeio, com as operações de investimento e com as operações de crédito comercial na ordem de 26 milhões de reais.[fim]

O SR. PRESIDENTE JERÔNIMO GOERGEN – As pequenas?[fim]

O SR. JOSÉ KOCHHANN SOBRINHO – As pequenas. E temos duas grandes agroindústrias que têm crédito estimado em 300 milhões de reais. Agora, efetivamente, separar o que é só de...[fim]

O SR. PRESIDENTE JERÔNIMO GOERGEN – Crédito?[fim]

O SR. JOSÉ KOCHHANN SOBRINHO – Crédito. É, tem limites de crédito perante o Banco do Brasil, de 300 milhões de reais. Agora, separar o que é efetivamente, aí... ligado à suinocultura, a gente teria que descer, ao caso, às empresas e, de repente, operação a operação e contrato a contrato, para então, a gente

definir.[fim]

O SR. PRESIDENTE JERÔNIMO GOERGEN – Está bem. Muito obrigado. Vamos seguir na linha dos bancos e, depois, das estruturas de Governo. Podemos fazer assim, não é?[fim]

Então, queremos passar, de imediato, a palavra ao Paulo da Silva Reis, Superintendente de Acompanhamento e Recuperação de Crédito do BRDE. Obrigado, Paulo, pela sua presença.[fim]

BANCO REGIONAL DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO – BRDE:

O SR. PAULO DA SILVA REIS – Bom-dia a todos, aos Deputados Jerônimo Goergen, Márcio Biolchi, Elvino Bohn Gass e demais autoridades presentes.[fim]

O BRDE, primeiro, uma panorâmica do Banco como um todo. O BRDE atua nos três estados do Sul: Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Então, muito do que eu vou falar aqui é experiência acumulada comparando o que acontece em cada um dos três Estados.[fim]

Eu gostaria, também, de fazer uma divisão bastante clara entre suinocultura e bovinocultura de corte. Começarei com a suinocultura, que é uma situação bem mais tranqüila de se falar porque há diagnósticos claros, para nós, nos três Estados de quais são os problemas que a suinocultura vive nos três Estados.[fim]

O BRDE tem uma participação bastante significativa na suinocultura de Santa Catarina, que passa a ser praticamente carro-chefe quando se compara os três Estados e essa suinocultura de Santa Catarina apresenta uma certa estabilidade dada a que ela é praticamente 100% de forma integrada, ou seja, através das cooperativas ou dos famosos sistemas de integração mantidos por instituições privadas.[fim]

À parte, no Caso, o Chapecó, que é um caso que a Comissão tem tratado com bastante profundidade, no qual o BRDE está

envolvido porque o BRDE era credor da Chapecó, desde os tempos de início da Chapecó até hoje.[fim]

A suinocultura apresenta uma inadimplência, hoje, no Banco, baseada no próprio suinocultor. As estruturas de transformação, ou seja, frigoríficos, sejam eles das empresas ou das cooperativas, a inadimplência é praticamente nula nos três Estados. No caso do Rio Grande do Sul, praticamente, o BRDE só atua com cooperativas. O Banco não tem financiamentos concedidos para frigoríficos que não sejam de cooperativas, no caso da suinocultura, exatamente por causa do ensinamento de que a suinocultura melhor funciona num processo de supervisão do comprador, ou seja, o comprador fazendo parte da cadeia fica melhor, fica mais seguro, mais tranqüilo, porque a suinocultura tem a sua vantagem só no ganho de escala.[fim]

Temos um diagnóstico no Banco de que a crise da suinocultura está ligada a uma crise de milho, ou seja, o milho é que determina, praticamente, o que acontece na suinocultura, se o milho está bem a suinocultura vai bem, se está mal, a suinocultura vai mal.[fim]

Parece estranho, normalmente uma atividade produtiva deveria seguir o mercado e não um dos seus fatores de produção, mas parece que o mercado acompanha essa situação.[fim]

A suinocultura, no Rio Grande do Sul, tem pouquíssimo ou quase nada de produtores independentes, salvo o pessoal que está dentro do Pronaf, que são pequenos suinocultores, nesse caso é impreciso, porque o Banco, no Pronaf, não verifica a atividade específica produtiva, mas a integração da propriedade no contexto, verifica todos os fatores de produção que estão ali dentro.[fim]

O Banco não tem admitido muito ao pequeno produtor, esse que é enquadrado no Pronaf, que ele se autodenomine suinocultor, a gente entende que no porte dele, na verdade, ele tem que ter múltiplas fontes de renda, múltiplas atividades, mesmo sendo uma propriedade pequena, ele não pode ficar dependente de uma cultura única, porque isso vai determinar uma espécie de escravidão a um

processo produtivo, ele tem que ter rendas provenientes de outras atividades.[fim]

No Rio Grande do Sul a atividade da suinocultura está centrada nas cooperativas e em pouquíssimos produtores, especialmente de médio porte.[fim]

Há uma distinção clara para nós, dentro do Banco, acerca do sistema de produção de suinocultura nos três estados, em Santa Catarina todos são integrados, ou é cooperado ou é integrado, no Paraná, praticamente, todos estão vinculados a alguma cooperativa e no Rio Grande do Sul está sendo mais complicado, pois existe muito produtor independente, são chamados de free-lancer, ele vende o suíno para onde está voltado e normalmente ele se volta para onde está o preço. Isso traz uma instabilidade para quem tem a indústria, pois não tem uma garantia de fornecimento.[fim]

Sobre a bovinocultura de corte, é uma situação um pouco mais complexa, o BRDE é uma instituição que tem 42 anos de vida, nesses 42 anos o BRDE sempre perdeu com frigoríficos de carne bovina, sempre, nunca o Banco conseguiu receber integralmente os créditos concedidos aos frigoríficos de bovinos.[fim]

Isso determina, no Banco, uma recusa para financiar novos frigoríficos ou reativação de frigoríficos, apesar de dispormos de recursos, o Banco entende que um financiamento a um frigorífico depende da geração de um programa multiintegrado, ou seja, é necessário que esse frigorífico tenha condições de dar segurança ao produtor que está na área de abrangência dele, não precisa ser uma área física de abrangência, mas uma relação estabelecida com o pecuarista como um todo.[fim]

O Banco tem financiado alguns pecuaristas, nos últimos três anos mais, tendo em vista que o Banco voltou a financiar a pecuária de corte, pois praticamente tinha parado de financiar em virtude dos programas de saneamento dos produtores rurais, via securitização, ou o Programa Especial de Saneamento de Ativos – PESA.[fim]

O Banco conseguiu regularizar a situação dos produtores e hoje os pecuaristas financiados pelo Banco estão sendo financiados de forma integrada, ele tem que ter outras atividades na propriedade, não pode ser um terminador de bovinos, podendo fazer cria, recria e engorda, pode fazer cria e recria ou só cria, se for só engorda, o Banco não financia.[fim]

As linhas de que o Banco dispõe, como instituição de desenvolvimento, somos exclusivamente repassador de recursos provindos do BNDES.[fim]

O BNDES é o agente financeiro do Tesouro Nacional para uma série de programas componentes do plano de safra, que já vem funcionando assim há três anos.[fim]

As linhas de financiamentos disponíveis para o produtor, abrangem qualquer investimento necessário no âmbito da propriedade rural, seja para fazer silagem, armazenagem, formação de pastagem, recuperação de pastagem, recuperação de solo, embrionagem, aquisição de reprodutores, aquisição de matrizes, desde que essas matrizes sejam matrizes para reprodução e não para a formação de gado de cria e recria.[fim]

A disponibilidade de recursos é ampla, o BRDE tem limites operacionais, temos recursos e estamos financiando no Rio Grande do Sul bastante, bastante significativo.[fim]

Para se ter uma idéia, a carteira de crédito rural e agroindustrial no BRDE, hoje, já toma a metade dos recursos aplicados pelo Banco. O Banco tem um saldo de aplicações, ou seja, o total emprestado para a comunidade nos três estados na ordem de 1 bilhão e 800, sendo aproximadamente 600 milhões de reais por estado.[fim]

No Rio Grande do Sul, aproximadamente 50% dos recursos estão alocados ao setor primário, onde se destaca o Pronaf que no BRDE apesar de ser uma instituição com agência só na Capital, dado a uma realização de convênios operacionais com o Bansicredi,

nós já estamos com aproximadamente 100 milhões de reais aplicados no Pronaf, o que para nós, dentro do Banco, é considerado absolutamente extraordinário uma instituição como a nossa ter 9 mil e 200, 9 mil e 300 clientes não tendo ponto de contato com o produtor lá em baixo.[fim]

Bom, na bovinocultura de corte, então, em termos de frigoríficos nós não estamos financiando. Nós temos no Banco, hoje, resquícios de frigoríficos que foram financiados pelo Banco no passado, como é Cicade, como é Riopel, e fica por aí.[fim]

O Banco, hoje, pretende, e está em contato com o sindicato das carnes para tentar desenvolver um programa. Aliás, um depoimento aqui para os Senhores Deputados, para a CPI, válido para a CPI. Em 1997, o BRDE foi elaborador, junto com a Secretaria da Agricultura e a Associação Gaúcha de Avicultura, de um programa de recuperação do complexo de carnes de frango.[fim]

Eu acredito que os Senhores têm oportunidade de até trazer pessoas que possam falar como aquele programa teve um resultado efetivo. Com pouco dinheiro, foi na ordem mais ou menos de 250 milhões de reais, com pouco dinheiro o efeito que ele teve em todo o setor de aves do Rio Grande do Sul. Porque todo o setor teve acesso a essa linha de recursos.[fim]

E o que o Banco pretende, hoje, é imitar, copiar aquele modelo de programa, mas estamos no aguardo de uma acomodação dos demais participantes de um programa desses, porque o Banco não está sozinho. É preciso que o setor esteja preocupado em se organizar.[fim]

Então, nós estamos nas preliminares com o sindicato de carnes, para desenvolver um programa para a área de frigoríficos também.[fim]

A carência de dados, Deputado Jerônimo, é o seguinte: nós entendemos que numa CPI, numa audiência pública, o conveniente é que se conhecesse as políticas, os problemas que geram, que

levam o Banco a não operar abertamente com o setor de carnes e não tanto com os números.[fim]

Os números são assustadores. O tamanho das perdas são assustadoras. Eu falei em 250 milhões como auxílio a todo setor de aves no Rio Grande do Sul, que é grande. Está aí na faixa de 1 bilhão de reais de faturamento ao ano. Nós perdemos mais que isso no setor de frigoríficos de carnes bovinas.[fim]

O SR. PRESIDENTE JERÔNIMO GOERGEN – Ao longo de quanto tempo, Paulo?[fim]

O SR. PAULO DA SILVA REIS – Ao longo de aproximadamente 12 anos, que é a concentração que o Banco teve de perdas. Algo em torno de 1975 a 1987.[fim]

O SR. PRESIDENTE JERÔNIMO GOERGEN – E que valores seriam aproximadamente, hoje?[fim]

O SR. PAULO DA SILVA REIS – Hoje, esses valores atualizados pelo sistemas que o Banco usa, eles superam os 400 milhões de reais, a soma deles hoje. Na época, se estimava que o Banco tenha emprestado aos frigoríficos algo em torno de 35 milhões de dólares.[fim]

O SR. PRESIDENTE JERÔNIMO GOERGEN – Quantos frigoríficos?[fim]

O SR. PAULO DA SILVA REIS – Oito, no Estado do Rio Grande do Sul.[fim]

O SR. PRESIDENTE JERÔNIMO GOERGEN – Algum deles ainda em atividade, ou todos...[fim]

O SR. PAULO DA SILVA REIS – Não, não. O que está totalmente fora de atividade é São Gabriel. Os outros todos estão

com algum tipo de atividade sob controle dos credores, inclusive. Riopel, Alegretense, Tupaciretã, sempre frigoríficos que estão com algum tipo de operação, mas não é um tipo de operação regular. Alguns fechados.[fim]

O SR. PRESIDENTE JERÔNIMO GOERGEN – Poderia nos dar o nome de todos? Caso seja alguma coisa sigilosa, nós entendemos e faremos requerimento. Mas, no entanto, se for possível...[fim]

O SR. PAULO DA SILVA REIS – Eu preferia que, na verdade, fosse feito, eu posso até mandar uma listagem deles com os municípios e os locais. Eu só não posso é divulgar quais são os valores dos saldos hoje. Mas posso divulgar os valores que foram concedidos a eles nas épocas. Está? Cicade, Riopel, Alegretense, São Gabriel...[fim]

O SR. PARTICIPANTE – Tupã.[fim]

O SR. PAULO DA SILVA REIS – Tupã, ali em Vacaria, o Frival, né, que era o Frival; Rost, são basicamente esses sete, que são os valores maiores, e, depois, mais dois ou três de valores menores.[fim]

O SR. PRESIDENTE JERÔNIMO GOERGEN – Se me permite, vou passar a palavra aos Deputados, eu gostaria só de requisitar esse, se fosse possível também, estudo, quando se referiu ao milho, que eu sei que o Banco tem. Se fosse possível, nos fornecer.[fim]

O SR. PAULO DA SILVA REIS – Está certo.[fim]

O SR. PRESIDENTE JERÔNIMO GOERGEN – E, de uma maneira bastante urgente, assim, porque estamos em encaminhamento já da fase do Relatório Final. Se fosse possível, gostaríamos de requisitar, né, o...[fim]

O SR. PAULO DA SILVA REIS – Deputado, nós fizemos...,

nós fomos obrigados, em virtude do PESA, a fazer um diagnóstico da suinocultura em Santa Catarina, em que a situação era bem mais grave do que aqui. O Banco tinha 1.000 suinocultores como mutuários de Santa Catarina, e todas as cooperativas que trabalham com suínos eram clientes do Banco também.[fim]

Então, o Banco teve de fazer uma espécie de um diagnóstico no setor lá, para que nós pudéssemos vir a fazer o PESA. Hoje, os suinocultores, em Santa Catarina, têm compromisso – só produtor rural – na ordem de 100 milhões de reais com o Banco. Assim, não, não, não...[fim]

O SR. PRESIDENTE JERÔNIMO GOERGEN – Se for possível, nós termos esses dados?[fim]

O SR. PAULO DA SILVA REIS – Vou repassar para a CPI.[fim]

O SR. PRESIDENTE JERÔNIMO GOERGEN – Aqui, foi falado sete, teria condições de dizer o nome dos dois menores envolvidos em Livramento?[fim]

O SR. PAULO DA SILVA REIS – Vou identificar um deles, mudou de nome inclusive, ali, em Passo do Sobrado, era Coproda, que, hoje, ele está também em concordata ou qualquer coisa parecida, sendo administrado de outra forma, por outro nome. E o outro frigorífico era em Rio Pardo. Eu não tenho o nome dele, assim, de lembrança, inclusive, para...– não, Três C já era grande, já não era tão pequeno assim, o Três C o Banco não teve operacional com ele. Convivemos com o Três C na reabertura do Cicarmo, lá em Livramento, mas o Banco também não participou do financiamento deles, lá.[fim]

O SR. PRESIDENTE JERÔNIMO GOERGEN – Está bem, é que um dos pontos que estamos exatamente investigando é esse problema, e eu pergunto de uma maneira mais específica: o Senhor afirmou aqui que sempre perdeu, e o que o Banco detectou? Por que

sempre perdeu? Por que esses frigoríficos não evoluíram, não conseguiram manter a atividade ou crescer na atividade, embora com recursos públicos?[fim]

O SR. PAULO DA SILVA REIS – Basicamente..., os controladores dos frigoríficos alegam que eles têm perdas significativas pela competição do abate clandestino, tá. Desculpe, me veio à cabeça o outro frigorífico, ao qual nós negamos financiamento – e não financiamos –, foi Hulha Negra, lá, o Pampeano.[fim]

O SR. PAULO DA SILVA REIS – Eles fazem um programa de saneamento, ora no Banrisul, ora no Banco do Brasil – antigamente, eles ainda faziam alguma coisa no Meridional – e, neste momento, a gente entra fazendo uma composição, recebendo o que dá para receber naquele momento e pula fora, porque não dá para sustentar.[fim]

Já um pouco diferente, quando entra no banco comercial, acredito que o Diretor Nelson Marchezan vai acabar falando depois. No banco comercial, ele tem mais dificuldade de sair, tá. Por quê? Porque o banco comercial, ele sempre tenta recuperar mais do que nós, porque ele está no dia-a-dia. Ele entra no desconto, duplicata, ele entra no crédito ao fornecedor, ele entra no crédito ao comprador, e, aí, ele vai tentando equilibrar para diminuir as perdas. Nós, não, nós não temos esses mecanismos, nós financiamos exclusivamente investimentos fixos, e a oportunidade que a gente tiver de sair, a gente vai sair quando há a situação.[fim]

Deputado, tentando responder a questão, as identificações são muitas: irregularidade na produção de gado, tá?[fim]

O SR. PRESIDENTE JERÔNIMO GOERGEN – De que tipos é a coisa?[fim]

O SR. PAULO DA SILVA REIS – Do tipo..., eles não, não, não há uma...Vamos imaginar o seguinte: na suinocultura e na avicultura, um dia a mais do suíno preso no produtor é custo. Custo

e custo alto. Então, o suinocultor e o avicultor, quando o animal está pronto – hoje, a avicultura, com uns 37 dias, 38, 40 dias –, ele entrega. Ele entrega, porque o custo de retenção dele não é coberto por aquela tentativa de especulação que ele faz. O pecuarista consegue segurar o gado no campo. Certo? Porque o custo de segurar o gado no campo é absorvível. Tanto que a gente não tem uma média muito segura de quanto tempo se leva para preparar um boi para abate no Rio Grande do Sul. a gente está vendo animais excepcionais sendo abatidos a 20 meses 22, 24 meses e animais que estão sendo abatidos com 60 meses de vida. É uma questão de sistema produtivo.[fim]

A genética do Rio Grande do Sul é extraordinária, a gente tem comparativos com outros Estados, o BRDE participou, elaborou por solicitação da Secretaria de Agricultura, em 1997, 98, o Governo Brito acredito que era, nós fizemos um programa pra retenção de terneiros, porque o Estado do Rio Grande do Sul estava exportando todos os terneiros. O Paraná estava vindo aqui e comprando, exatamente pelo fato de que o nosso terneiro sempre tem um componente de raças européias. E isso era muito buscado, porque isto é buscado pelo mercado internacional, um gado que tenha essa qualidade. Ele ganha em tudo. Ganha em qualidade de carne, ganha em qualidade do couro e tudo o mais.[fim]

Então, fizemos um programa de retenção de terneiro, foi um programa de sucesso, porque foi um programa feito com o auxílio da Sicredi. Então era um programa mais vigiado, por produtores selecionados. Tá? E mesmo assim tivemos inadimplência de preço significativo do programa também.[fim]

Voltando, não há irregularidade na produção, na entrega do boi. Não há por parte, não havia por parte dos frigoríficos e, hoje já está aumentando, o olho sobre o produtor que de quem ele vai comprar. Então, inclusive, a gente tem falado hoje na necessidade de uma espécie de programa de fidelidade, ou seja, um prêmio para o produtor que entregar com regularidade gado a um determinado frigorífico. Não há supervisão, a gente sabe que os próprios frigoríficos formais têm dificuldade em manter fluxo de vendas

externas de exportações. Eles acabam tendo que competir no mercado interno, o boi... as partes do boi são bem mais distintas do que a frango e a do suíno. Então, não dá para produzir boi só com o traseiro, tem que produzir o boi com o dianteiro. O que eu faço com o dianteiro?[fim]

Então a gente viu o seguinte: inadequação dos capitais colocados à disposição deles. Há uma inadequação bastante identificada. A questão da tributação é uma questão séria para os frigoríficos ela acaba determinando a sobrevivência deles, a forma como ele é tributado, por isso tivemos determinados períodos de sucesso, entre aspas, dos frigoríficos de bovinos exatamente no momento em que o Estado faz programas de incentivo se utilizando da carga tributária, reduzindo, adiando, diferindo. Nesses momentos que o frigorífico consegue ter competitividade, então ele dá um pulo e consegue.[fim]

E mais recentemente a entrada de carne de outros Estados, que prejudica bastante a manutenção do fluxo de vendas dos frigoríficos. Hoje, a preocupação que se tem é uma melhoria do processo produtivo também, ou seja, tem que se tirar num boi de melhor qualidade do pasto, para isso tem que ter uma base genética mais adequada, pastagens mais adequadas, sistemas de alimentação mais adequados.[fim]

O frigorífico precisa ganhar escala. Não é abatendo 300 animais por mês que ele vai conseguir sobreviver e tampouco, pelo que se sabe, nem 300 dias. O Rio Grande do Sul tem hoje um abate formal, acredito que na casa aí dos 3.500, 4 mil cabeças mais ou menos é esse o número que se tem trabalhado.[fim]

E a gente sabe de frigoríficos no Centro-Oeste que ele sozinho abate isso, 3 mil, 4 mil, eles, um frigorífico sozinho. Aí tem que ter escala, para dar escala é preciso fortalecer, fortalecer. O Governo Federal abriu agora uma possibilidade de financiar a estruturação de frigoríficos municipais e estaduais. O BNDES abriu a linha essa semana para nós. O BRDE está repensando o que vai fazer exatamente por causa desse choque cultural. Devemos

financiar os grandes para que eles ganhem em escala, ou devemos financiar os pequenos? É mais um hoje problema de saúde pública. O financiamento aos pequenos.[fim]

O SR. PRESIDENTE JERÔNIMO GOERGEN – E é isso que é alegado pela inadimplência...[fim]

O SR. PAULO DA SILVA REIS – Normalmente, os donos dos frigoríficos alegam que o problema dele é tributário, falta de regularidade no fornecimento de bovinos e depois dificuldade de mercado competindo com a carne de porco ou a carne de frango. Os estudos que o Banco faz não demonstram que a carne de frango e a carne de suíno afetem significativamente o mercado de carne bovina.[fim]

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – Obrigado, Presidente. Só complementar o Deputado Jerônimo já fez a principal pergunta que a gente gostaria de fazer sobre o porquê da inadimplência, mas Paulo tu citaste que foi até 97, porque posterior isso o Banco encerrou as linhas de financiamento aos frigoríficos ou?[fim]

O SR. PAULO DA SILVA REIS – Nós temos linhas de financiamento, hoje, Deputado, nós temos linhas de financiamento enquadráveis como o Banco do Brasil opera, como o Banrisul opera, como qualquer Banco privado opera as linhas do BNDES, nós temos as linhas para financiamento.[fim]

O Banco não tem tido é demanda por parte dos frigoríficos ou seja o Banco não tem sido procurado pelos frigoríficos. Por quê? Basicamente pelo que a gente está vendo no Rio Grande do Sul, acredito que o José e depois o Diretor Nelson Marchezan vai, desculpe a lembrança do teu pai é que prejudica sempre dizer o nome, o que acontece é o seguinte: boa parte dos frigoríficos grandes do Estado estão num sistema de operação especial. Nenhum deles, desses grandes, Alegretense, Riopel, Mercosul, Cicade, Swift Armour, nenhum deles está no que se chama operação normal. Eles estão todos num sistema de operação especial e quase nenhum deles precisa de recursos para investimentos. Por quê?

Porque essa situação especial é aproveitamento das instalações que já foram feitas. Como o BRDE só financia investimentos, nós estamos fora. Nós não temos participado.[fim]

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – E essa situação de inadimplência, não compreendi, é só no Estado do Rio Grande do Sul ou BRDE (ininteligível)?[fim]

O SR. PAULO DA SILVA REIS – Frigorífico de bovinos nos três Estados.[fim]

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – Nos três Estados?[fim]

O SR. PAULO DA SILVA REIS – Nos três Estados.[fim]

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – E a leitura que é feita pelo não-pagamento, pelas dificuldades, ela é igual nos três Estados?[fim]

O SR. PAULO DA SILVA REIS – Ela é igual nos três Estados. Inclusive nós temos no Estado do Paraná cinco ou seis pequenos, tido assim como pouco mais que um açougue, também tiveram problemas. Santa Catarina nós temos dois financiados inclusive como microempresas que também não pagaram.[fim]

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – O BRDE tem um limite de operação, né?[fim]

O SR. PAULO DA SILVA REIS – Especifique... tipo?[fim]

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – Depois de determinados valores as operações são direcionadas diretamente para o BNDES?[fim]

O SR. PAULO DA SILVA REIS – Nós temos, na verdade, um limite inferior. Um limite inferior, só o BRDE tem, acho que é 10 mil reais, abaixo de 10 mil reais o BRDE não financia, salvo dentro do

Pronaf. Acima qualquer valor, o que nós temos é alçada. Até 10 milhões de reais, nós podemos fazer sem perguntar para o BNDES, sem apresentar a operação para o BNDES. Acima de 10 milhões de reais, eu preciso de apresentar a consulta para o BNDES e saber se vai financiar ou não vai financiar. Se autoriza ou não aquele financiamento.[fim]

O SR. RELATOR MÁRCIO BIOLCHI – Mas existem financiamentos que são diretamente com o BNDES?[fim]

O SR. PAULO DA SILVA REIS – Existe, o BNDES atua diretamente nos três Estados. Não financiou nenhum frigorífico que a gente saiba.[fim]

O SR. PRESIDENTE JERÔNIMO GOERGEN – Muito obrigado Paulo e de imediato, então, no que diz respeito aos bancos, vamos passar a palavra ao Diretor Nelson Marchezan Jr. Agradecendo a presença do meu caro amigo nesta audiência pública.[fim]

BANCO DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL - BANRISUL

O SR. NELSON MARCHEZAN JÚNIOR – Bom-dia, Deputado Jerônimo, Deputado Márcio, Deputado Elvino. É um prazer estar aqui.[fim]

Vou fazer uma breve explanação do Banco do Estado. O Banco do Estado surgiu há 75 anos justamente para atender as necessidades do setor rural e, com as mudanças na economia, na sociedade e no próprio Banco Comercial, ele acabou se distanciando, né, até por causa da evolução da nossa sociedade, o setor industrial comercial hoje tem uma perspectiva até...um espaço na nossa economia maior. Mesmo assim, a nossa carteira, no que se

refere a crédito rural, e aí quando falo em crédito rural, eu falo tanto dos repasses do BNDES como nos juros subsidiados a 8,75%, está em torno de 550 milhões de reais.[fim]

O Banrisul é um banco estadual, né, um banco regional, e a nossa captação é, também, regional. Então, o nosso crédito rural a juros de 8,75% para custeio, para capital de giro, é um valor limitado: 25% dos depósitos à vista. Como nós somos banco estadual, a nossa captação é estadual e, por conseqüência, o crédito rural tem valor reduzido. Então nós trabalhamos com...vou dividir em três áreas específicas: em primeiro com os repasses do BNDES, né, nós somos credenciados junto ao Banco Nacional de Desenvolvimento, nós somos repassadores das linhas de investimento, o crédito comercial, né, o crédito mais comum, a esses juros de 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9% ao mês, e o crédito rural, que são esses juros subsidiados a 8,75%. Nós trabalhamos e atendemos tanto o produtor rural quanto as empresas das mais diversas áreas com essas três linhas de crédito.[fim]

O Banrisul tem como parceiro do Estado o BRDE e a Agência Gaúcha de Fomento, que são instrumentos estaduais e regionais de repasses do Banco Nacional de Desenvolvimento, uma parte da nossa carteira de longo prazo, nós estamos tentando repassar para a Agência Gaúcha de Desenvolvimento, até para viabilizar que a Agência Gaúcha de Fomento possa, efetivamente, aumentar os seus valores de financiamento, a sua capacidade de financiar no Estado, e para que o Banco de Estado, também, libere os seus limites junto ao Banco Nacional de Desenvolvimento, para que ele possa, também, retornar a financiar mais ainda no setor de investimento.[fim]

No setor... no que se refere ao crédito rural a juros de 8,75%, nós temos essa limitação, conforme eu antes mencionei, porque somos um banco estadual, a nossa captação é estadual. E o que nós estamos buscando? Nós estamos buscando acesso direto a recurso do FAT para que nós possamos repassar, nós possamos financiar o Pronaf Custeio, hoje o Pronaf Custeio, todo o Pronaf

Custeio que o Banco do Estado do Rio Grande do Sul financia é com recursos próprios, não são recursos repassados pelo FAT e também não são juros equalizados pelo Tesouro Nacional.[fim]

Então, nós estamos diligenciando Brasília dentro dos mais diversos órgão para que a gente possa, efetivamente, ser um repassador do FAT. E também estamos diligenciando O Banco Central para que nós tenhamos a poupança rural. Hoje, quando a gente faz um depósito à vista em qualquer instituição financeira, 25% desse depósito à vista pode ser alocado, ou deve ser recolhido ao Banco Central, ou é direcionado ao Crédito Rural a juro de 8,75%, né, o Banco do Brasil e eu acho que mais outras três instituições financeiras no Brasil têm, na sua poupança rural, esta vantagem de que os depósitos na poupança também uma parte desses depósitos são destinados a juros de 8,75% ao produtor rural, né? E nós estamos buscando, também, que a gente possa ter a poupança rural, destinar mais capital de giro, né, a 8,75% ao setor rural.[fim]

Nós somos os repassadores, como todo o BNDES, a FINAME, o Pronaf Agregado, o Pronaf Investimento, todas as hierarquias antes abordadas, linhas para financiamento para exportação como a Exin, que também repasse do Banco Nacional de Desenvolvimento. E, no que se refere a este, à ajuda específica ao setor, o Banrisul, apesar desta sua pouca capacidade, eu diria, pouco volume que nós temos para financiar a juros de 8,75%, nós procuramos destinar da melhor maneira. Então, quando nós tivemos a visita de diversas lideranças do setor no início do ano no Banco do Estado, nós financiamos todas as feiras de terneiros oficiais no início do ano que nós tivemos no Estado do Rio Grande do Sul em virtude do preço, em virtude da situação parra que os terneiros não saíssem do Estado do Rio Grande do Sul, para que, já que o nosso crédito rural do Banrisul é todo financiado para o território gaúcho e para o gaúcho exclusivamente. Nós financiamos, então, para que, já que nosso crédito rural, do Banrisul é todo financiado no território gaúcho e para os gaúchos, exclusivamente, nós financiamos então pra que os terneiros não saíssem, e para que o produtor não tivesse a necessidade de vender o seu animal naquele momento, a juros baixos, para que ele pudesse comprar novos terneiros para

engordar.[fim]

Nós financiamos todas as feiras de terneiros e nós fizemos um pedido diferenciado, nós pedimos que para o produtor ter acesso ao crédito, ele deveria apresentar uma carta dos frigoríficos dizendo que ele abatia regularmente terneiros nos frigoríficos formais. Nós tivemos reclamações de prefeitos, de gerentes do Banrisul, tivemos reclamação de Presidente de sindicato, rural, nós tivemos reclamações de donos de frigoríficos, mas nós mantivemos essa solicitação. Foi apenas uma solicitação informal, um registro de que aquele produtor abatia regularmente em frigorífico que existia formalmente, na economia. Apenas por essa motivação nós tivemos algumas reclamações.[fim]

Nós financiamos também todas as feiras oficiais, matrizes e reprodutores no Estado do Rio Grande do Sul, no que se refere a bovinos, e no que se refere a suinocultura, nós fizemos um convênio na Expointer, pela primeira vez, segundo o Presidente da associação de criadores, foi financiado na Expointer, e para os próximos dois anos, um convênio, que nós estamos financiando para os suinocultores, matrizes e reprodutores. Também na suinocultura, nós fomos o primeiro banco a renegociar as dívidas dos suinocultores, logo no início do ano, em virtude também de problema que, espero estejamos superando agora, no que se refere a suinocultura.[fim]

No que se refere a créditos do Banrisul, recursos do Banco, ou seja, a juros de 8,75, nós financiamos até 8 e em alguns casos, até 12 meses, a dívida do suinocultor que permanece na atividade e que efetivamente não tem outra fonte de renda, como soja, trigo, etc. que possa ajudar a cumprir com seus compromissos com o Banco do Estado, então nós fomos o primeiro Banco a renegociar, em torno de 8 a 12 meses a dívida dos suinocultores.[fim]

Nós, apesar dos recursos limitados, trabalhamos assim, tentando atender as expectativas e as necessidades dentro destas limitações e dentro das limitações de renegociação dos repasse do BNDES. Isso nós precisamos orientação de Brasília, nós precisamos de uma definição do Banco Nacional, para que a gente possa,

efetivamente fazer isso, apenas para elucidar a capacidade do Banco do Estado, nós estamos presentes em quase 75% dos Municípios gaúchos e aí nós atendemos a 94% da população gaúcha tem o Banco do Estado, seja agência, seja posto no seu Município e algumas agências, alguns postos trabalhando até sem viabilidade financeira, mas para que a gente possa tentar viabilizar o desenvolvimento naquele Município ou naquela localidade.[fim]

Em breves palavras eu coloquei, mais ou menos, a atuação do Banco do Estado e estamos aí a disposição para responder mais questionamentos.[fim]

O SR. ELVINO BOHN GASS – O Presidente pediu, enquanto ele está ausente, a situação objetiva em relação aos agricultores endividados. Isso também tem a ver com o Banco do Brasil, mas nós temos vários depoimentos de agricultores que eles não conseguiram fazer as suas renegociações ou os casos são estritamente, caso a caso avaliado. Não há uma política, ela está enquadrada dentro da possibilidade de renegociação, mas não houve uma política específica, mais in loco poder ser refinanciado, as condições para esses endividados, principalmente nessa crise que passou por um longo período, no final de ano, até o momento. Então eu queria saber especificamente sobre isso, se os casos são só negociados caso a caso, ou se há uma política efetiva, e quantos, efetivamente vieram e foram buscar nesse forma a renegociação.[fim]

O SR. NELSON MARCHEZAN JÚNIOR – No que se refere aos repasses do BNDES, como antes referido, nós temos uma dificuldade, porque no dia aprazado para o pagamento, onde o produtor, onde o devedor, onde o cliente tem que pagar o Banco do Estado, o Banco do Estado tem que recolher ao Banco Nacional do Desenvolvimento, então, essas dívidas de investimento, esses financiamentos na área de investimento, o Banco não pode renegociar sem que o BNDES faça essa renegociação, então nós dependemos do BNDES para que a gente possa renegociar. No que se refere ao capital de giro, esse capital para custeio, a recursos próprios a 8,75, esses, como falamos, no setor da suinocultura, já no

início do ano, abrimos a oportunidade de renegociar de oito a 12 meses, de prorrogar esses pagamentos. E evidente que analisamos caso a caso, até porque eventuais produtores, que tenham outra fonte de renda, na soja, no trigo, ou em outra atividade, e que não necessitam renegociar, não renegociamos ou pelo menos diminuímos o prazo de alongamento da sua dívida, para que esses recursos retornem ao Banco do Estado e possamos financiar outro produtor com mais necessidade. Mas analisamos, efetivamente, a não ser que venha uma determinação do Banco Nacional do Desenvolvimento, nos nossos recursos próprios, analisamos caso a caso.[fim]

O SR. ELVINO BOHN GASS – A Presidência no Banrisul, nos financiamentos para frigoríficos no Estado do Rio Grande do Sul?[fim]

O SR. NELSON MARCHEZAN JÚNIOR – Não tenho o número específico, podemos pesquisar, porque dividimos por linhas de crédito, e aí, se o frigorífico retirar para investimento, uma linha de crédito, o BNDES automático, por exemplo, para construção, ampliação, relocalização do seu frigorífico, teremos dificuldade de analisar que aquilo é um frigorífico, porque pode ser uma cooperativa, e efetivamente não vamos saber em que área ela está investindo, como o setor de máquinas e equipamentos, também.[fim]

O SR. ELVINO BOHN GASS – Semelhante ao que já solicitamos antes, para o BRDE e também para o Banco do Brasil, no sentido de que tipo de financiamento é usado para os frigoríficos, mas interessa saber também que tipo de financiamento há em relação aos frigoríficos por parte do Banrisul, e qual é a situação objetiva em que se encontram essas situações, do ponto de vista do crédito; a questão do financiamento em relação a matrizes reprodutoras, linhas de crédito, acho que é bom dar uma olhadinha, porque ela existe há mais tempo, sei que em outras exposições, feiras, já tinha financiamento também pelo Banrisul, já havia linha de crédito para suinocultores financiar matrizes, acho que não é de agora.[fim]

O SR. NELSO MARCHEZAN JÚNIOR – Na Expointer acho que foi a primeira vez. É uma informação que estou lhe passando.[fim]

SECRETARIA DA AGRICULTURA E ABASTECIMENTO – SAA:

O SR. HERMES RIBEIRO FILHO – Eu gostaria de saudar o Deputado Jerônimo Goergen, Presidente desta CPI; O Deputado Elvino Bohn Gass, Vice-Presidente; o Relator, Deputado Márcio Biolchi; e todos os integrantes da Mesa; o representante do Ministério do Desenvolvimento Agrário; o Diretor Nelson Marchezan Jr.; o BRDE através do Sr. Paulo da Silva Reis; a nossa Secretaria Substituta, Sra. Gisela Schuler, o Sr. José Kochhann Sobrinho, representando o Banco do Brasil; e peço a permissão, Sr. Presidente, para saudar o nosso Superintendente de Crédito Rural do Banrisul, o Sr. Luis Fernando, juntamente com o Sr. Joel; o Sr. André Cirne Lima, da Sedai; a todos que estão nos acompanhando nesta manhã, e pedir permissão, inicialmente, Sr. Presidente, para que nos acompanhe na Mesa, e possa participar de algumas informações, a Sra. Valesca Grazziotin, que é funcionária da Secretaria da Agricultura e é executiva desses programas, há mais de 20 anos ela trabalha conosco; o Sr. Paulo, que vão nos auxiliar nas informações que os Senhores desejarem, que a CPI desejar, a respeito dessas ferramentas que o Estado, que a Secretaria da Agricultura dispõe hoje para incentivar o setor.[fim]

Temos dois programas sob nossa responsabilidade, que é o Pró-Produtividade, programa criado pela Lei 9.675, em 1992, e lá se vão 11 anos, e tem por objetivo, Deputado Márcio Biolchi, apoiar, mediante incentivo financeiro, projeto do setor agrícola, que vise o aumento da produção e modernização da produção primária. Como é feito o benefício, através desse projeto? O produtor recebe até 50% do incremento real do ICMS, gerado pelo projeto, que fruirá por oito anos, na forma do crédito fiscal presumido em favor da agroindústria integradora. O benefício é limitado a 50% do valor investido por oito anos, valendo o que ocorrer primeiro. Quem é que pode se enquadrar? Produtores rurais, associações de produtores e

outras entidades da produção primária inscritas legalmente.[fim]

Nós gostaríamos de abrir um parêntese. Até aqui, quem tem e pelas informações do passado, apenas o setor da suinocultura vem se beneficiando desse programa. O acesso ao programa é simples, é através de preenchimento de Carta-Consulta protocolada na nossa Secretaria, depois vai para análise do grupo técnico, depois à homologação do Conselho Administrativo.[fim]

O SR. HERMES RIBEIRO FILHO – Depois vai para a homologação pelo Conselho de Administração, assinatura de protocolos de intenção, enfim.[fim]

O programa Pró-Produtividade sofreu algumas alterações e foi modificado pela Lei nº 11.828, de 4 de setembro de 2002, onde o período de fruição do benefício passou de cinco para oito anos – como disse anteriormente. A forma de pagamento do benefício passou de Recursos Orçamentário para Crédito Fiscal Presumido. O benefício pode ser inferior a 50% do ICMS incremental, gerado pelo Projeto para permitir a sustentabilidade ao programa.[fim]

O número de empresas: Num primeiro grupo, se beneficiaram até hoje 94 processos já recebendo os pagamentos. Sendo: 85 produtores individuais, 5 de cooperativas, 3 de condomínios rurais, 1 de associação de produtores. O valor de benefícios, Deputado Biolchi, vai a 2 milhões, 414 mil, 622 UPF. Para informação, a UPF está no valor, em 2003, de 7, 7568 – valor de uma UPF.[fim]

Pagamentos totais efetuados: 730 mil e 988, até maio deste ano, que são os dados que temos compilados. Pagamentos com recursos orçados: 381 milhões, liberados em outubro de 1998; em março de 2000, 995; em maio de 2000, mais 150 mil reais. Totalizando: 1 milhão, 626 mil, ou seja, 247 mil, 157 UPFs. Pagamento via crédito presumido: 730.988 UPF, ou seja, 483 milhões e 830 mil desde março de 2002.[fim]

No segundo grupo, são 30 processos aprovados pela Resolução nº 022 e 023. Passarão a receber os benefícios a partir

da elaboração dos protocolos entre a Secretaria da Fazenda, produtor e integradora. Sendo nesse segundo grupo: 20 produtores individuais, 4 cooperativas, 4 de condomínios rurais, 2 de associações de produtores num valor de 806.954 UPFs. Os benefícios serão pagos via Crédito Fiscal Presumido conforme o Decreto nº 41.485, de 14 de março de 2002, e a Lei nº 11. 828, de 4 de setembro de 2002, onde a renúncia fiscal do programa: 94 projetos, 2.414, 622 UPF. Trinta projetos: 806.954 UPF. Total: 124 projetos; 3.221, 577 UPF, ou seja, em reais transformando 24 milhões, 989,130 mil.[fim]

Processos em análise no grupo: Nós estamos hoje no setor com 133 processos represados. A unanimidade, acredito, desse processo – a Dona Valesca pode nos auxiliar... Por falta de documentos, são processos que estão incompletos, então, estão represados no setor.[fim]

Informações rápidas também a respeito do Agregar que é outra ferramenta que estamos trabalhando. O Agregar RS/Carnes é um programa que substituiu, na gestão do ex-Secretário, o Programa Carnes de Qualidade. Ele não é por lei, ele é por decreto. Foi criado pelo Decreto nº 41.620. Estou dando o número, porque estamos numa CPI e eu acho que é importante inclusive deixar registrados esses números.[fim]

O Agregar foi criado pelo Decreto nº 41.620/2002, e a previsão dele é até 2006, né? Ele é um programa, ele é crédito presumido pela entrada de animal do Estado e adicional na saída. Ele tem como objetivos: ampliar o controle sanitário do rebanho no Estado; modernizar a pecuária; promover e proteger a qualidade genética do rebanho, ampliar em 600 mil cabeças o abate oficial no Estado, modernização, visa à modernização agroindustrial, a implantação de programas de inteligência competitiva, a implantação de ações que permitam maior aceitação da carne gaúcha no mercado externo, a promoção da articulação interna da cadeia produtiva entre seus agentes, o combate e aí o combate aos abates informais, a sonegação, aos abatedouros clandestinos e ao abigeato, qualificar a mão-de-obra, modernização dos equipamentos,

distribuição e estocagem e a promoção da articulação interna da cadeia produtiva. Como disse, ele foi criado no ano passado.[fim]

A forma de concessão do benefício funciona com o Grupo Técnico Conselho, pois o Conselho de Administração, temos a Secretaria Administrativa, a Secretaria Executiva. Nós temos hoje, Srs. Deputado e Srs. da Mesa, os dados que temos aqui nos abates em 2002, um milhão, oficial. Abate formal no Estado, 1 milhão e 61 mil, sendo 577 mil e 347 cabeças abatidos através do SIF, 484 mil e 200 cabeças CISPOA, isto aqui dá um resultado final de 1milhão e 61 mil animais abatidos formalmente. Os abates em 2003, nós estamos até setembro, conseguimos esses dados para trazer aos Senhores da CPI, 834 mil e 600 animais. Dados fornecidos pelo SIF-CISPOA, dados até setembro.[fim]

Em suma, Srs. Deputados, estas são as duas ferramentas que nós estamos trabalhando o Agregado e o Pró-Produtividade. Temos hoje, Deputado Jerônimo, frigoríficos habilitados em 2002, 92 estabelecimentos. Nós temos distribuidoras habilitadas, em 2002, 64 estabelecimentos, frigoríficos habilitados, em 2003, 11 estabelecimentos e distribuidoras habilitadas, em 2003, 20 estabelecimentos.[fim]

Não sei se a Senhora Valesca tem alguma informação complementar. O Paulo... Presidente, com a permissão da Mesa, se permite... se tiverem algum questionamento, rapidamente, procurei respeitar os 10 minutos mesmo extrapolando um pouquinho. Era isso que preliminarmente tínhamos a informar.[fim]

O SR. PRESIDENTE JERÔNIMO GOERGEN – Muito obrigado, Hermes, eu coloco a palavra à disposição.[fim]

Srs. Deputados, e o José que tem um compromisso agora representando o Banco, gostaria ter entregado alguns documentos, José?[fim]

O SR. HERMES RIBEIRO FILHO – Eu acho muito importante a sua pergunta porque nos oportuniza prestar algumas informações,

inclusive para fins de conclusão do relatório, que os Senhores terão a responsabilidade, acredito que no mês de dezembro.[fim]

Primeiro, nós enfrentamos algumas dificuldades com o setor de pessoal, tá. O nosso setor enfrenta – apenas informações nessa área – no nosso departamento, no passado, nós tivemos técnicos, nós tínhamos cinco técnicos, hoje, nós temos dois. Consultores, no passado, nós tínhamos cinco consultores no nosso departamento, hoje não temos. Mas, de outro lado, é uma determinação, orientação do nosso Governador, e assim, nós estamos procedendo, nós estamos criando as Câmaras Setoriais. Já foram criadas várias Câmaras Setoriais.[fim]

Criamos a Câmara Setorial da pecuária de corte, da suinocultura, enfim, mas eu ficaria mais nessas da área da carne, onde há discussão junto com as demais secretarias, porque essas câmaras tem uma composição, acredito que 20, 22 cadeiras, e nessas setoriais das câmaras nós temos recebido uma gama de informações e de sugestões visando a melhorar e desenvolver um trabalho nesse sentido que vem ao encontro das preocupações que V. Exa. está levantando aqui.[fim]

Uma outra determinação do Governador, e na seqüência do Secretário da Agricultura, é a informatização do nosso DPA. Nós entendemos que por aí nós vamos começar a mudar as coisas. Não é possível que hoje se aceite esse trabalho nas inspetorias veterinárias, e sei lá, se nós temos 250 ou 260 inspetorias veterinárias instaladas neste universo de 497 Municípios que temos no Rio Grande do Sul. Mas, não é possível, é um investimento pesado – eu sei que é um investimento pesado –, mas o Secretário está trabalhando, a responsável pelo DPA, enfim, o grupo, tem um grupo trabalhando nesse objetivo, para que se possa desenvolver o programa neste ano, quem sabe se a implantação, a partir do ano que vem.[fim]

Mas, eu acho que no momento em que a gente consiga informatizar cruzamento de informações, fazer um programa casado – e aí entra o trabalho das demais Secretarias – nós vamos resolver.

Esta é uma preocupação: o abate informal. Eu, pelo que acompanhei aqui, em relatórios e depoimentos de outras representações, aqui nas reuniões abertas, eu fiquei, estava e continuo muito preocupado com a informalidade aqui no Rio Grande do Sul. Então, acredito que..[fim]

SECRETARIA DE DO DESENVOLVIMENTO E DOS ASSUNTOS INTERNACIONAIS - SEDAI

A SRA. GISELA SCHULER – Meu bom-dia a todos, uma especial saudação aos Deputados desta CPI: Jerônimo Goergen, Márcio Biolchi e Elvino Bohn Gass e aos demais participantes desta Mesa, e dizer que tradicionalmente a Secretaria tem participado de programas de governo voltados, né, apoio a frigoríficos.[fim]

Esse programa é hoje coordenado através da Câmara Setorial, presidida pela Secretaria da Agricultura e da qual a Sedai também faz parte. E o nosso instrumento principal, né – não seria tanto um instrumento setorial, mas, sim, dentro do Fundopem, e o Fundopem-Integrar/RS – foi um instrumento novo criado para regiões menos desenvolvidas, dentro de uma política de Governo no sentido de amenizar ou diminuir desigualdades regionais.[fim]

E, nós sabemos que a maior parte dos frigoríficos estão situados justamente nessas regiões, que são as Regiões da Fronteira Oeste, Campanha principalmente, e o incentivo concedido, no caso aí, é através do Fundopem ou do Fundopem-Integrar. Nós sabemos de políticas hoje das Câmaras e dos Fóruns Setoriais. Foi criado neste ano pelo Governador Rigotto, através de um decreto, o Conselho de Competitividade e nesse Conselho de Competitividade ele está canalizando todas essas demandas, tanto das Câmaras Setoriais, quanto dos Fóruns Setoriais de competitividade que a Secretaria está passando a criar e a desenvolver. E no caso do Fundopem, nós temos hoje 29 projetos de frigoríficos que foram contemplados com incentivos do Fundopem, nesse ressurgimento do Fundopem a partir de 88. Alguns projetos iniciaram em 90/91. Eu tenho essas informações aqui e posso deixar aos Senhores.[fim]

A SRA. GISELA SCHULER – Agora, atualmente, nós temos alguns pedidos, ainda não vistos, não aprovados, que foram aprovados num rito sumário, mas que ainda estão sujeitos à análise de um grupo de análise técnica que também é formado por várias secretarias e pelos bancos na análise de pedido ou de reativação de alguns frigoríficos, ou também de reformulação.[fim]

A SRA. GISELA SCHULER – Tem três, senão me engano tem três pedidos de incentivo para frigoríficos, sendo um de prorrogação de prazo e outro de reativação de dois empreendimentos, que é o Mercomeat, que os Srs. já receberam o dossiê completo enviado pelo Secretário Ponte à CPI.[fim]

No caso da Agência de Fomento, a Caixa Estadual S.A., que é vinculada à Secretaria de Desenvolvimento, foi criado um programa de fomento ao setor primário e à agroindustrial também com juros de 8,75% ao ano, com repasse do BNDS, tanto para incentivos de correção e recuperação de solos como também para desenvolvimento especificamente de aumento de produção da pecuária.[fim]

Os recursos, no caso, são com prazo de cinco anos, com dois ou três anos de carência e igual programa compreende um subprograma de desenvolvimento da suinocultura, também com juros de 8,75 ao ano, e a agência de fomento ainda operando dentro desses limites identificados previstos pelo Banco Central.[fim]

Teve ainda algumas outras medidas na ordem de crédito fiscal, que eu acho seria importante que fosse ouvida, no caso, a Secretaria da Fazenda do Estado, que também faz parte, que integra a Câmara Setorial, coordenada pela Secretaria da Agricultura e que foi um fechamento de mercado no Rio Grande do Sul para indústrias, principalmente no Mato Grosso, num decreto mais recente, Mato grosso do Sul, que é uma taxação, no caso de um tributo declarado e não pago na origem que vinha entrando carne no Estado. Acho que os Senhores já têm conhecimento dessa medida, que inclusive é uma conquista...[fim]

A SRA. GISELA SCHULER – Exatamente... da própria CPI e eu gostaria de cumprimentar a CPI por essa iniciativa.[fim]

Acho que da parte da Secretaria, o que se tem dessa questão da necessidade, realmente, de reestruturar essa questão toda relacionada com a vigilância sanitária que também é uma decisão do Coperj do Governador, conforme disse o Colega Hermes, da Agricultura.[fim]

E no mais, todas as políticas voltadas a integrar o RS ao próprio Fundopem, no caso o Integrar-RS, os Senhores sabem como funciona, é um desconto, quer dizer o ICMS vai ser financiado e, no caso, o Integrar em regiões menos desenvolvidas vai ter um percentual maior de abatimento na hora de pagamento desse imposto.[fim]

Acho que maneira geral, era isso que eu tinha que relatar. Muito obrigada.[fim]

MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO AGRÁRIO.

O SR. JEFERSON MIOLA – Bom-dia, Deputado Jerônimo, Deputado Biolchi, companheiro Deputado Elvino Bohn Gass. Em nome do Ministro Miguel Rossetto, agradecer por esse convite. E tomamos o convite de participar da sessão da CPI com a distinção que é feita ao nosso Ministério, como de resto a todas as instituições aqui representadas, no sentido de contribuir com a identificação de alternativas de programas, políticas públicas que possam efetivamente superar com esse diagnóstico muito contundente, muito agudo, que é formulado por esta CPI no que concerne às dificuldades de todo o segmento econômico vinculado à produção animal do nosso Estado, do nosso País.[fim]

Eu vou, Deputado, tomar a liberdade, até para que a gente possa fixar melhor alguns conceitos do que estamos trabalhando no que concerne à pecuária familiar, expor o nosso programa que estamos desenvolvendo.[fim]

O nosso Ministério, ele cuida fundamentalmente, tem duas missões fundamentalmente. Uma delas é a agricultura familiar, que abrange um contingente expressivo no Rio Grande do Sul. Nós estamos tratando de 400 mil famílias que se organizam com base numa economia rural de base familiar. Em nível nacional, isso representa mais de 4 milhões, 140 mil estabelecimentos rurais, não é, que respondem pela produção agropecuária nacional ao redor de 40%, ou seja, a riqueza do meio rural provém fortemente desse setor que historicamente ficou com pouco prestígio no que concerne às políticas públicas, especialmente às políticas creditícias, não é. Participava com menos de 12, 13% do crédito agrícola nacional, não é, (incompreensível) de maneira muita significativa, não é, pela produção da maior quantidade de itens que compõem a dieta alimentar do povo brasileiro. Portanto, a nossa missão é com esse público, e também o público da reforma agrária, dos assentamentos agrários do nosso Estado. E acreditamos que esses dois setores, em particular, tenham muita possibilidade de contribuir, maior potencialidade de contribuir para um outro projeto de desenvolvimento, não só rural, mas o projeto de uma nação auto-sustentável, soberana, né, com qualidade de vida no meio rural.[fim]

A nossa pecuária familiar, ela representa, né, num segmento que integra esse projeto de desenvolvimento rural e nacional.[fim]

A produção animal no País, ela tem uma grande expressão, né, econômica, de contribuição para o equilíbrio da balança comercial, né, e garantia de geração de trabalho e renda. (ininteligível) um País que tem importância significativa no (ininteligível) na produção suína, na produção bovina, né, e a produção de aves, tanto a sua expressão em termos de produção mundial, como também a participação no mercado, né, exportador no mundo.[fim]

A agricultura familiar tem a sua parcela de contribuição para esse processo, né, de produção animal, 25% do que é produzido, hoje, em termos animal no País, provém exatamente das propriedades familiares. Evidentemente que isso incorpora, né, todo

o regime de produção integrada, especialmente no que concerne à suinocultura e à avicultura.[fim]

No Rio Grande do Sul, nós temos 50 mil produtores que nós caracterizamos como sendo pecuaristas familiares, não é, aqueles que se dedicam à atividade pecuária com peso preponderante na formação da renda familiar.[fim]

O setor da agricultura familiar responde, não é, de maneira muito expressiva pela produção de leite nacional, produção de aves, não é, produção de suínos.[fim]

Nós temos uma situação paradoxal no País, embora seja um setor que responda de maneira muito significativa na produção animal, são setores especialmente da pecuária de corte, que ficou sempre desassistido e abandonado. Nós tínhamos, historicamente, a cobertura apenas para a produção de bovinocultura de leite nas linhas de crédito ou programas públicos especialmente no que concerne à agricultura familiar e pecuária familiar, que cobriu historicamente a bovinocultura de leite, a suinocultura e a avicultura. Deixaram de lado, portanto, toda a produção vinculada à ovinocultura, bovinocultura e caprinocultura de corte.[fim]

A partir do Plano Safra 2003/2004, este que está em vigência, aqui, o representante do Ministério, do Banco do Brasil fez referência da performance atual, nós estamos atingindo, hoje, no que concerne à agricultura familiar, aproximadamente 450 milhões de reais no Rio Grande do Sul, que é praticamente o equivalente ao volume total realizado no último ciclo agrícola gaúcho, que foi em torno de 560 milhões de reais.[fim]

Nós estamos, portanto, por dentro do programa do Plano Safra 2003/2004, instituindo esse programa de pecuária familiar que passa, portanto, a contemplar essas categorias econômicas e sociais que não eram, historicamente, assistidas, atendidas pelo poder público. Esse programa consiste na definição de um novo tipo de financiamento por dentro das linhas do Pronaf, não é. Dependendo do grau de enquadramento de cada produtor, ele pode obter

financiamentos que vão de 5 mil reais, podendo chegar a 36 mil reais, um crédito extremamente facilitado nas linhas entre 5 e 18 mil reais, com taxa de juros de 4% ao ano, podendo haver uma bonificação em caso de adimplência e, portanto, esse juro é reduzido para 3% ao ano. E, no caso do financiamento até 36 mil reais, que é uma linha do projeto familiar, saiu do projeto rural, administrado pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, veio para o Ministério do Desenvolvimento Agrário, entretanto com um nível de equalização superior.[fim]

Nós estamos criando essa faixa intermediária entre as linhas típicas Pronaf até 4%, e a exigibilidade bancária, que é de 8,75% e, portanto, conseguimos compor essa fórmula final de 7,25%. Portanto, é uma taxa de juros extremamente facilitada para os nossos pecuaristas com prazo de carência que pode chegar a dois anos e pagamento até cinco, oito anos. Nós alteramos, abrangemos a classificação da propriedade, exatamente pela natureza da pecuária, nós estamos estendendo a classificação permitindo que aqueles produtores, proprietários ou arrendatários, ou posseiros, ou meeiros que possuam até seis módulos fiscais, o que representa dizer um crescimento da área aproveitável, no Rio Grande do Sul, de 50%, não é, uma vez que o limite, dentro das linhas do Pronaf, é até quatro módulos fiscais.[fim]

Nós estamos ampliando, criando essa excepcionalidade, e isso nos permite, de pronto, beneficiar, quase universalizar, aqueles 50 mil produtores a partir dessa mudança de extensão territorial propriedade.[fim]

Nós estamos, também, vinculados ao crédito individual estabelecendo uma linha que busca agregar valor a partir de um programa da agroindústria familiar, que o Presidente Lula anunciou recentemente, de 1 bilhão e 300 milhões de reais para o País, com a meta de criarmos 7 mil novos empreendimentos agroindustriais no País, gerando 130 mil empregos no campo. Nós pretendemos com esse programa, que também oferece linhas individuais e linhas grupais, condições muito competitivas para que os nossos produtores, associadamente, possam pensar numa nova tipologia

organizativa, especialmente raciocinar em termos de uma cadeia econômica que pega desde a produção da matéria prima até a sua etapa subseqüente do processamento, industrialização e transformação e, portanto, participação em condições diferenciadas nos mercados de consumo no processo de comercialização.[fim]

Essa linha agregar, portanto, é uma linha supletiva à relação individualizada de crédito e que oferece oportunidades de organização e de raciocinarmos em termos da formação de uma cadeia econômica, isso que é objeto, um diagnóstico muito pertinaz que faz a CPI das carnes em relação a esse histórico de dificuldades encontrado especialmente no forte aporte de recursos públicos para o setor frigorífico, dinheiro esse que, via de regra, não produz efeitos no sentido da manutenção de empregos, especialmente na recuperação desses créditos.[fim]

Uma série de princípios orientam o nosso programa, que portanto, passam a interpretá-lo para além de ser um simples programa de concessão de crédito. Um conjunto de princípios que envolve as noções de qualidade e de produção diferenciada desse setor da pecuária no que concerne à genética, no que concerne ao seu modo diferenciado de execução, ao enfoque territorial, no sentido de validação de respeitarmos as realidades produtivas, especialmente dos nossos campos nativos, o que pode reduzir enormemente a dependência de insumos externos de parte dos nossos produtores e, portanto, conceder a eles uma condição diferenciada de sobrevivência e de estruturação econômica.[fim]

É importante aqui nós termos uma abordagem, portanto, que se diferencie e que seja orientada por um conjunto de princípios. Eu não vou me ater aqui a mencionar cada um deles, mas o programa está fortemente vinculado a essa idéia de preservação dos campos nativos, recuperação das nossa paisagens naturais, especialmente vinculado ao projeto de sustentabilidade produtiva e, fundamentalmente, tendo na pecuária familiar uma atividade que componha a diversidade produtiva das propriedades familiares. Ela não é interpretada por nós como sendo uma atividade substitutiva de fonte de renda, e sim como uma atividade a mais que possa

complementar a renda das nossas propriedades familiares.[fim]

Estamos adotando um conjunto de estratégias – são quatro estratégias fundamentalmente. Eu faço aqui... reporto-me a elas muito rapidamente. A primeira delas é a garantia de aporte tecnológico para a produção de conhecimento, viabilização econômica e geração de ganhos sociais para os nossos pecuaristas familiares. Esse esforço tem envolvido um conjunto de instituições fundamentais que tem um grande conhecimento, uma experiência acumulada: a Embrapa, a Emater, universidades, prefeituras municipais, associações dos próprios pecuaristas, os trabalhadores e trabalhadoras do campo, as associações de animais de raças e as instituições financeiras, das quais um papel muito destacado para o Banco do Brasil.[fim]

A idéia fundamentalmente é de criar centros, fóruns de inteligência, de conhecimento, de pesquisa e comercialização vinculados a esse programa a partir da congregação de esforços desse conjunto de instituições. Nós estamos instituindo para a gestão e condução desse programa um comitê executivo que congrega esse conjunto de instituições. Nosso Ministério está concluindo um protocolo de intenções com todas as associações de raças. Aqui no Rio Grande do Sul, há tratativas já com a associação de Braford e Hereford, também com a Febrac e, em nível nacional, com o rebanho Angus, em Minas Gerais, no sentido de que nós possamos incorporar genética e, portanto, incorporar qualidade animal nessa nossa produção familiar, diferenciando, portanto, essa produção.[fim]

A segunda estratégia para nós é a estruturação econômica diferenciada, que recolha muitas dessas experiência que nós temos de organização econômica do setor segmento/carnes. A idéia, fundamentalmente, é de pensarmos uma outra contratualidade entre os produtores familiares e o setor industrial. Quer dizer, não necessariamente pensarmos como horizonte de organização produtiva a integração produtiva nos moldes que hoje existe com a suinocultura e com a avicultura, mas sim uma outra contratualidade com a indústria ou até, eventualmente, nós assegurarmos a partir de

instrumentos próprios e da conjugação de políticas, sejam elas estaduais, federais e até mesmo municipais de estruturas econômicas autônomas desse setor dos pecuaristas familiares, que visa à estruturação no que concerne ao processamento, industrialização, especialmente à comercialização, evidentemente valorizando muito essa possibilidade que temos de diferenciação comercial dos produtos da pecuária familiar, a partir de uma série de atributos que ele apresenta, seja no seu processo de produção ou na qualidade dos produtos que ele é capaz de gerar.[fim]

A terceira estratégia que estamos adotando é exatamente a forma de execução desse programa, que é um programa que, como eu já mencionei, congrega o esforço de várias instituições públicas, privadas, protagonismo muito intenso dos nossos produtores e que pressupõe também uma identificação das distintas formas de contribuição que as instituições têm, desde o planejamento dessas matrizes produtivas, que viabilizam o desenvolvimento do progresso, especialmente das regiões que são vocacionadas ou que têm na atividade pecuária o seu principal perfil produtivo, passando pelas etapas subseqüentes de projetos técnicos, obtenção de tecnologia adequada, assistência técnica, acompanhamento e monitoramento.[fim]

Isso é uma referência muito clara que temos de responsabilidade para garantir o êxito do programa e até chegando a parte da concessão orientada de crédito.[fim]

O Banco do Brasil que tem sido um aliado muito importante do nosso Ministério, na execução do Plano Safra, ele comprou muito essa noção de que ele participe menos como uma instituição de concessão de crédito e mais como uma instituição assistente de um programa, ou seja, o Banco do Brasil passa a incorporar programaticamente a execução dos programas, passando esse espírito geral que estamos tentando moldá-lo, para que os nossos pecuaristas tenham garantias de ingressar no programa e terem viabilidade financeira e econômica e que o Banco do Brasil não produza, futuramente, uma indústria de inadimplência dos nossos pecuaristas.[fim]

Finalmente, a quarta e última estratégia, é a combinação de um conjunto de medidas que possam melhorar tanto a infra-estrutura produtiva das nossas propriedades rurais familiares, como também a infra-estrutura geral da agricultura familiar e da pecuária familiar, no que concerne aos investimentos logísticos e sociais.[fim]

Para vocês terem uma idéia, o quadro de dificuldades enfrentadas especialmente por essa pequena produção, pois ela é pequena no que concerne ao tamanho das propriedades, mas é gigante em se tratando de participação no PIB da agropecuária nacional, são dificuldades de toda a sorte, dificuldades em relação à eletrificação rural, às estradas para escoamento da produção, aos espaços e oportunidades de comercialização.[fim]

Portanto, as estratégias de melhorias de condições logísticas, produtivas, de infra-estrutura e sociais, fazem parte de um plano que pode produzir resultados benéficos, especialmente para as regiões mais vocacionadas do nosso Estado.[fim]

Finalizo dizendo da nossa confiança, pois acreditamos que o meio rural é e pode ser um espaço muito qualificado da existência humana, um espaço que reconheça a nossa cultura, a nossa formação étnica e cultural, um espaço de qualidade de vida, de desenvolvimento, especialmente um espaço onde se possa produzir paz, justiça e os alimentos necessário à alimentação do nosso povo.[fim]

Por isso mesmo o Presidente Lula incumbiu ao segmento da agricultura familiar, da pecuária familiar e da reforma agrária essa tarefa que julgamos uma tarefa civilizatória de responder pela produção incremental de alimentos para fazer frente ao Fome Zero.[fim]

Acreditamos que, seja pelo crescimento econômico do país, seja pelas políticas de transferência de renda que o nosso Governo está desenvolvendo, seja pala ampliação da participação da agricultura, do setor primário do Brasil na balança comercial, haverá

um crescimento na demanda por alimentos, essa produção incremental que acontecerá por alimentos no país, está encomendada exatamente por este setor.[fim]

Portanto, acreditamos no papel e na relevância que esse setor tem para contribuir com um outro modelo de desenvolvimento, especialmente no que concerne a um outro padrão de qualidade de vida, de justiça social.[fim]

CONCLUSÃO

Por economia processual e para não tornar repetitivos os argumentos comuns, a conclusão do presente fato determinado será exposta em conjunto com o fato determinado 06.

SEXTO FATO DETERMINADO: POLÍTICAS DE INOVAÇÃO TECNOLÓGICA, COM ÊNFASE NOS PROCESSOS AGROPECUÁRIOS E INDÚSTRIAIS DE PRODUÇÃO E PROCESSAMENTO DAS CARNES E DE AUTOMOÇÃO NA DISTRIBUIÇÃO

OBJETIVO DO PRESENTE FATO DETERMINADO:

Tem como objetivo o Fato Determinado 06 apurar a eficiência das políticas públicas existentes nos diversos níveis de governo de inovação tecnológica, com ênfase nos processos agropecuários e industriais de produção e processamento das carnes e de automação na distribuição.

PROVA COLETADA:

A prova coletada na apuração do Fato Determinado 06 consistiu em PROVA DOCUMENTAL e PROVA TESTEMUNHAL, esta coletada em AUDIÊNCIA PÚBLICA realizada em 17 de novembro de 2003, ouvidas as entidades e autoridades da comunidade científica em pesquisa agropecuária.

ANÁLISE DA PROVA COLETADA:

Visando a realizar recomendações para criação de políticas públicas eficientes de fomento às cadeias agroindustriais das carnes, esta CPI realizou audiência pública com as entidades e autoridades da comunidade científica em pesquisa agropecuária no Rio Grande do Sul. Em regra, esses assuntos são tratados em audiência de tomada de depoimento. Contudo, por conveniência processual, esta CPI entendeu ser mais produtiva a realização das oitivas em audiência pública, até para estimular o debate.

Nesse sentido, transcrevem-se as declarações e opiniões das principais autoridades científicas no Rio Grande do Sul, extraídas da transcrição da Audiência Pública realizada na data de 17 de novembro de 2003.

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL – UFRGS :

O SR. JOSÉ FERNANDO PIVA LOBATO – Eu creio que as propostas de inovação da nossa pecuária são antigas e estão sendo

postas em prática gradualmente. Eu retorno há 30 anos atrás, aproximadamente, quando se iniciou uma forte campanha e disseminação de tecnologia para o melhoramento dos campos nativos do Rio Grande do Sul.[fim]

Foram iniciadas pesquisas para o melhor entendimento dessa flora riquíssima que são os campos sulinos como também um estudo, através de fertilidade do solo, de introdução de espécies ditas exóticas. Creio que esse é um ponto grave, seja o da pesquisa seja o da própria execução pelos proprietários rurais.[fim]

Eu tenho dito, repetidamente, – e esse é um bom local para se bater no ponto – creio que a pesquisa das universidades, que a pesquisa dos meus colegas da Embrapa está pecando no oferecimento de mais espécies forrageiras, ditas exóticas, para que cumpram com maior produtividade nas mais diferentes regiões do Estado do Rio Grande do Sul.[fim]

Eu lembro aos Deputados, membros da Comissão, Colegas aqui presentes que nós temos 75 diferentes unidades de mapeamento de solo. Ao se perguntar para um agrônomo o que ele recomenda para cobrir o déficit forrageiro de inverno seja em Vacaria, seja em Uruguaiana, seja em Bagé, seja em Santa Vitória do Palmar, ou seja em Guaíba, ou seja lá que Município for – e aí nós temos, eu insisto, 75 diferentes unidades de mapeamento de solo – quais são as alternativas de inverno? a aveia crioula que enferruja no primeiro solo encharcado?[fim]

Nós temos o mesmo azevém produzido nos campos do planalto, que estará espigando em agosto e julho, com falta de adaptação nos campos da metade sul. Nós temos o mesmo trevo branco e o mesmo cornichão em São Gabriel para essa diversidade de solos do Estado do Rio Grande do Sul.[fim]

Isso... e nós cobramos o fator social, a pressão social de Deputados, da mídia, de âncoras que pouco entendem da diversidade de solos do Rio Grande do Sul, que pouco entendem que nós, embora no extremo sul do Brasil, nós estamos e temos dois

climas subtropicais úmidos e, portanto, com mazelas dessa subtropicalidade dos climas que dominam o Estado do Rio Grande do Sul.[fim]

Então, esse é um entrave ao desenvolvimento da pecuária do Rio Grande do Sul, a um encurtamento dos ciclos de produção, seja para repetição, seja para redução da idade de primeiro serviço, seja fundamentalmente, também, para a (incompreensível) da idade de abate.[fim]

Compreendam, nós temos 75 diferentes unidades de mapeamento de solo, nós temos dois climas subtropicais úmidos, nós temos solos pobres em fósforo e ácidos e, no entanto, nós não temos espécies forrageiras, nos últimos 30 anos, que cubram essa diversidade. Isso é um entrave ao melhoramento da pecuária de corte do Rio Grande do Sul. Se para determinadas situações essas espécies são ótimas, para o restante do Estado não é. Um outro ponto...[fim]

O SR. PRESIDENTE JERÔNIMO GOERGEN – O Sr. poderia repetir os números? São 75...[fim]

O SR. JOSÉ FERNANDO PIVA LOBATO – São 75 diferentes unidades de mapeamento de solos. Tem um livro recente do Departamento de Solos da Universidade Federal do Rio Grande do Sul que enquadra esta classificação de solos de 1970, com uma nova classificação em termos mais recentes em terminologia internacional de classificação de solos que enquadra perfeitamente essas 75 diferentes unidades de mapeamento de solos, com nomes mais recentes e de classificação internacional.[fim]

Custa 25 reais no Departamento de Solos do Rio Grande do Sul, fartamente ilustrado. E ali mostra o que é esta loucura de diversidade de solos, das diferentes associações entre um tipo de solo e o seqüente. Isso mostra – e aí nós cobramos dos produtores – que eles não fazem pastagens. Mas as respostas muitas vezes são pífias.[fim]

Um outro ponto que seria muito importante salientar é que a benquista integração lavoura/pecuária, ou seja, para a redução de custos da pecuária, que é uma atividade de menor renda, fosse feito esse melhoramento através de introdução de espécies forrageiras atrás das lavouras.[fim]

Eu saliento, Deputado, que as lavouras não estão colocando o adubo necessário nem para as lavouras. Eu saliento, Deputado, que as lavouras não estão botando o adubo necessário nem para as lavouras. E, portanto, especialmente na lavoura arrozeira, que pelo lençol de água libera fosfatos insolúveis, quando retirada a água – portanto, pré-colheita, pós-colheita –, há uma redução da fertilidade do solo, porque o adubo posto, para a lavoura de arroz, não tem sido suficiente para ficar um resíduo que venha a beneficiar essas espécies introduzidas e que são espécies de maior demanda de nutrientes. Então, a famosa integração lavoura pecuária, em inúmeras situações, está empobrecendo o solo, não está melhorando o solo. É uma visão imediatista lavoureira, que, em seis meses, bota a mão no recurso oriundo da lavoura, enquanto que a pecuária, pelo seu ciclo, não é beneficiada.[fim]

Outros aspectos que eu gostaria de mencionar – e eu não sei quanto tempo eu tenho...[fim]

O SR. PRESIDENTE JERÔNIMO GOERGEN – Quinze minutos.[fim]

O SR. JOSÉ FERNANDO PIVA LOBATO – Eu creio que nós deveríamos, através de um sistema – vamos dizer assim – de melhor orientação, entendendo essa diversidade de solos, entendendo o clima do Rio Grande do Sul, termos a consciência de que nós temos que ter, até para desfrutar dos benefícios da heterose, ter uma pecuária de bovinos cruzados. Se o sorgo que se planta é híbrido, se o milho que se planta é híbrido, se a moderna tecnologia aí está é produto de cruzamentos, por que não cruzar melhor buscando a complementariedade entre raças? E aí falta mais fomento, mais

orientação, para que se faça as coisas corretas para as diferentes propriedades, situações específicas de cada um.[fim]

Creio também que o tipo animal que as exposições continuam buscando – ou seja, tamanho animal – é exagerado para a capacidade de suporte dos campos, especialmente campos nativos do Rio Grande do Sul. Os jurados esquecem que os animais que nascem na pecuária 50% são fêmeas e que ficam nas propriedades oito a dez, doze anos. E, portanto, fêmeas normalmente ficam nas piores condições dos campos nativos do Rio Grande do Sul, haja vista o avanço da agricultura até em solos não devidamente apropriados, nem com o clima apropriado para uma cultura de cepo, como é a soja, está empurrando a pecuária para os campos piores. E logicamente, neste ambiente, a vaca tem que ser uma forte e não pode exagerar em tamanho, caso contrário não vai atender as suas exigências nutricionais e não vai atender a função principal de um sistema de produção, que é a reprodução, que seria a produção de um terneiro por vaca ano.[fim]

Um outro ponto que eu gostaria de falar também é que, em que pese o forte debate dentro do INCRA no ano de 98 – uma portaria determinada pelo então Presidente do INCRA, Milton Seligman –, discutimos com colegas da Embrapa, Fepagro, Secretaria da Agricultura e próprio INCRA, o INCRA continua enxergando o Rio Grande do Sul com uma área propícia ao excesso de carga animal. E eu digo nesta Comissão – e lamento alguns Deputados não ouvirem e por isso eu reclamava da ausência de Deputados para se poder inclusive debater, para ouvir o que muitas vezes se ouve pela mídia e não se tem oportunidade de retrucar certas bobagens que dizem, e a mídia dá espaço – há um excesso de carga nos campos nativos do Rio Grande do Sul. Tanto há excesso de carga – porque não levam em consideração o que cresce nos campos nativos do Rio Grande do Sul, que é uma flora riquíssima – que a própria Ministra Marina Silva, acerca de 15 dias, na polêmica dos transgênicos, ela mencionou o bioma campos sulinos. Foi a primeira pessoa que eu ouvi falar no bioma dos campos sulinos após o finado Lutzenberger engrandecer o que são os campos nativos do Rio Grande do Sul.[fim]

O INCRA continua exigindo um excesso de carga animal, não levando em consideração o que a pesquisa já fez, seja da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, seja também da Embrapa Bagé, o que realmente cresce e o que comporta nos campos nativos do Rio Grande do Sul. Não adianta ter estoque se não tiver desfrute. Os campos não devem ser depósito de gado. Devemos ter desfrute, rodízio, rotação, redução da idade de abate. O excesso de carga animal está impedindo a redução da idade de abate, está impedindo melhoramento da qualidade da carne servida ou exportada, servida aos gaúchos ou brasileiros, ou exportada ao exterior.[fim]

Digo mais, o excesso da carga está impedindo a maior taxa de natalidade dos rebanhos de cria. As vacas não produzem um terneiro por ano, porque passam fome. Isso tem que ser dito e repetido e digo. em qualquer ambiente, nos já vem sendo dito e, no entanto, creio que não tem havido apoio de políticos que façam ver isso aí, essas barbaridades que estamos enfrentando. E digo mais, isso não é por questão ideológica, mas sim está medido e é por colegas, alunos da Universidade, dos cursos de pós-graduação. Portanto, se estou mentindo, eles estão mentindo junto, ou então é produzido pelos colegas da Embrapa ou de outras Universidades. Isso é um absurdo.[fim]

Um outro ponto, que creio que deveríamos enfatizar para a Metade Sul do Estado é a necessária diversificação. Aí novamente eu costumo dizer assim, o que mais que a própria Universidade ou que a Embrapa, ou seja, os Órgãos de pesquisa propuseram nos últimos 30 anos de atividade alternativa para a Metade Sul?[fim]

A vitivinicultura começou há cerca de 30 anos, em Pinheiro Machado, Livramento, mais ou menos assim. Está aí fruticultura agora, ação do Afonso Hemmer e do Ministro Pratini de Moraes, mas nos últimos 30 anos, o que mais? Além de cavalo crioulo, pecuária, ovinos e arroz irrigado. Qual foi a outra proposta pra não se rotular o produtor da Metade Sul de latifundiário, retrógrado, conservador, atrasado, Metade Sul pobre?[fim]

Tenho ironizado e tenho dito que os produtores da metade do Alegrete em direção à Uruguaiana são burros. De Quaraí são burros. Ora não plantar soja. Todo o mundo planta, porque eles não plantam? São burros. São sábios. Não plantam, porque sabem, há anos, que não tem clima. Lembro aos presentes, lembro aos presentes que estudo técnico do meu colega Moacir Berlato, da Climatologia, assinado, publicado junto com a esposa de Deputado do PT, colega ex-aluna, Denise Fontana, mostra análise do clima do Rio Grande do Sul, da Metade Sul.[fim]

E este verão que é um verão normal, ou seja, secas pequenas, há 70% de chance de termos secas, déficit hídrico na Metade Sul. Isso que é um ano normal, ou seja, a agricultura de seco na Metade Sul é uma agricultura de risco. Isso tem que ser dito, tem que estar na mídia e não ser rotulado, o produtor da Metade Sul, de atrasado, retrógrado, zona de latifúndio. O que se produz nos solos rasos de Livramento? Que com sete dias sem chuva amarela tudo. O que se produz no basalto de Quaraí, de Uruguaiana ou na própria Serra do Sudeste? Que é quase 20% do Estado. Isso tem que se dito. Aí sim, eu sou co-partícipe de pesquisa, embora minha área seja outra. Que outras alternativas tem se oferecido ao produtor da Metade Sul em termos de diversificação de cultura, que atividade, que renda?[fim]

Outro ponto que não é dito, Deputado, é que a pecuária é dita sempre como área de latifúndio. Ninguém pensa no ciclo fisiológico da vaca. Ninguém pensa que a vaca tem um período de gestação superior ao da nossa espécie. Ninguém diz que a vaca transforma fibra, que nem suíno, que nem ave transforma proteína da melhor qualidade. Transforma aquilo que que é latifúndio em proteína de primeiríssima qualidade. Isso não dizem que o tempo de gestação de uma vaca é quase 10 meses. Como um produtor com 50 ou 100 animais vai sobreviver? E não tem renda. Aí, entra a questão da necessária diversificação.[fim]

Creio que de momento era isso, enfatizando, por fim, que pecuária tem que ter escala sim, e temos que ter produtores grandes

e, além disso, com diversificação de produção. Muito obrigado.[fim]

EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECUÁRIA = EMBRAPA - BAGÉ:

O SR. EDUARDO SALOMONI – Agradecendo o convite, Sr. Deputado, nós, da Embrapa Pecuária Sul, nos fazemos presente, juntamente com o nosso Chefe de Pesquisa e Desenvolvimento, Dr. Roberto Silveira Colares, que, posteriormente, tecerá algumas... alguns comentários a respeito daquilo que a Embrapa Pecuária Sul vem exercendo em termos de atividade de pesquisa.[fim]

A nossa empresa – e como o nome já diz, Embrapa Pecuária Sul – tem-se dedicado constantemente a aprimoramento de tecnologias e geração de tecnologias na área de bovinocultura de corte, ovinos, bovinos de leite... ahn! recursos genéticos, animais, vegetais, forrageiras e sanidade animal.[fim]

Mas, aproveitando algumas deixas, que o Professor Lobato deixou a bola picando, como se diz, na realidade, nós estamos sentindo hoje, na Metade Sul, a metade pobre do Rio Grande do Sul e a metade, quem sabe, daqui a uns anos, miserável do Brasil, um boom da soja em campos que não se prestam a essa cultura. E como conseqüência disso, nós estamos vendo, cada vez mais, a atividade pecuária, a atividade que gera a proteína, uma das proteínas mais caras do mundo, sendo empurrada pros piores campos que nós temos na Região.[fim]

Sabemos que a Fronteira Oeste do Rio Grande do Sul é uma zona marginal pra produção de soja. E o Professor Lobato caracterizou muito bem. O nosso clima, de cada 10 anos, com certeza, seis, sete, oito serão negativos para a produção. E nós

estamos vendo hoje plantarem soja em lugares que jamais deveriam ser mexidos; jamais deveria ser alterado aquilo que de melhor nós temos, que é o nosso campo nativo.[fim]

Conseqüentemente, o reflexo disso, daqui dois, três, quatro anos, será dramático em termos de produção pecuária. Quem puder resistir, com certeza, terá retornos... ahn! lucros que permitirão uma realidade para o produtor, bem diferente da que hoje está sentindo.[fim]

Agora um ponto também que seria muito interessante ser tocado, dentro desta Comissão, diz respeito à parte da ovinocultura, embora seja bovinocultura e suínos. A ovinocultura, num primeiro momento, ela foi diminuída drasticamente no Estado em função de quedas no preço da lã, mas, mais especificamente, em função dum ponto, que eu acredito que seja motivo de... de investigações tanto de ordem policial como de ordem política, que é o abigeato.[fim]

Nós, hoje, temos... ahn! problemas sérios para a criação de ovinos na Região. E hoje já não é mais o abigeato de ovinos, é o abigeato de ovinos e bovinos. Como conseqüência, o abate clandestino, a distribuição de uma carne pra consumo da população sem as mínimas condições. Conseqüentemente, com sonegação de impostos, conseqüentemente, com reflexos negativos ao Governo do Estado.[fim]

Então, eu acredito que, por esse caminho, passa obrigatoriamente uma CPI desta natureza que é em função desses distintos solos que o Dr. Lobato colocou, em função dessas distintas condições climáticas que existem nesse nosso Rio Grande do Sul, alguma coisa em termos de zoneamento agrícola, alguma coisa em termos de abigeato e, conseqüentemente, sonegação de impostos.[fim]

Eu passaria a palavra ao Colega Collares que poderá tecer alguns comentários em relação àquelas pesquisas que a Embrapa vem gerando, objetivando minorar estes problemas da pecuária. O Prof. Lobato colocou um ponto que hoje nós temos uma vaca, dando

cria a cada dois anos, quando o ideal seria que tivéssemos uma vaca, dando cria anualmente. Por quê? Em função de uma superlotação, em função que nos campos nativos onde se concentra os rebanhos de cria existe uma superlotação, e uma vaca não tem condição de se alimentar o suficiente para parir um terneiro, aleitar um terneiro e vê-la gerar outro terneiro dentro do intervalo de 12 meses.[fim]

Isso faz com que cada vez mais o desfrute da nossa pecuária, embora nós tenhamos hoje uma menor idade de abate que era tradicional no Estado, uma menor idade de primeiro acasalamento, mas nós continuamos tendo um desfrute baixo. E isso, na minha opinião, como chefe da Empresa, chefe da Embrapa hoje, exercendo a atividade de chefe da Embrapa passa por uma superlotação dos nossos campos nativos.[fim]

O SR. JOSÉ FERNANDO PIVA LOBATO – Sr. Presidente, complementando algo que eu me esqueci, batendo na questão capacidade de suporte dos campos, a Assembléia, as entidades, o INCRA, o Governo Federal têm ouvidos de mercador para a questão capacidade de suporte dos campos. Rasgam o dinheiro da pesquisa pública, pesquisa pública e gratuita. Isso é um lema da Associação dos Docentes da UFRGS – pesquisa pública e gratuita – rasgam porque não levam em consideração 30 anos de pesquisa.[fim]

E digo mais a minha batida sobre essa questão dentro do Rio Grande do Sul e me lembrava que já apresentei, numa audiência pública nesta Assembléia, há uma publicação da Embrapa – Gado de Corte Centro Nacional de Gado de Corte – Embrapa/Campo Grande –, de quatro colegas, mostrando que, no próprio Centro-Oeste Brasileiro, se reduzisse 20% a carga animal, se aumentaria a produtividade da pecuária brasileira no Centro-Oeste, que é o grande pulmão, ou seja, somos colegas da Embrapa/Campo Grande num somatório de trabalhos, eles mostram isso. Tá publicado. Ministério da Agricultura, Ministério do Desenvolvimento e da Reforma Agrária fazem ouvidos de mercador. Tô cansando de bater. E essa é um oportunidade que você me proporciona, que esta Comissão me

proporciona de dizer entre outras coisas isto que eu considero verdade, que está medido. Se minto, sob as penas da lei, quem gerou a pesquisa também está mentindo.[fim]

O SR. ROBERTO SILVEIRA COLLARES – Ao cumprimentar o Deputado Jerônimo e o Deputado Elvino, já cumprimento todas as pessoas aqui presentes no recinto.[fim]

A Embrapa Pecuária Sul, como os Senhores sabem, tem a sua missão de gerar pesquisa e desenvolvimento para Região Sul do Brasil – Estado do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná. É uma missão difícil pelo tamanho do nosso País, mas eu diria que nós temos tentado buscar a nossa eficiência e hoje, trabalhando em três vertentes importantes.[fim]

Umas das principais vertentes da Empresa é a questão da agricultura familiar. A questão... e nós trabalhamos mais lá em questão da pecuária familiar. Também buscamos trabalhar na vertente do desenvolvimento tecnológico do agronegócio. E, nesse sentido, a Empresa vem desenvolvendo suas pesquisas, buscando... utilizando aquilo que de mais rico nós temos em nosso... principalmente na Região Sul e no nosso Estado são as raças, e nós temos raças de carne de qualidade que são as raças britânicas.[fim]

Os nossos campos nativos são campos nativos em áreas, em excelentes áreas. São campos nativos de alta qualidade, e também buscando trabalhar na vertente da inovação tecnológica, que é uma ponta dentro da empresa.[fim]

Hoje, a preocupação que temos – e começamos a trabalhar fortemente – é a viabilização da pequena e média propriedade através dos sistemas pecuários familiares, em que se possa buscar alternativas para esses produtores que trabalham em lugares de difícil produção com a sua família e que precisam sustentá-la e mantê-la naquele ambiente adverso de trabalho. E, também, a sua possibilidade de explorar sobre algum outro tipo de produção que não seja a pecuária familiar, difícil pela questão de solo, de topografia, de ecossistema.[fim]

Existe a preocupação de buscar, junto a essas famílias de pequenas comunidades, uma sustentabilidade, um produto diferenciado, um produto rotulado e também buscar no mercado preços diferenciados, para que aquela família exerça ali a sua cidadania, a sua produtividade e que consiga manter ali o seu desenvolvimento.[fim]

Mas na questão do agronegócio, onde a empresa tem trabalhado fortemente, temos trabalhado dois aspectos importantes: o aspecto da alimentação, da nutrição animal; e o aspecto da sanidade animal. A empresa tem-se preocupado, ao longo dos tempos, em desenvolver sistemas integrados de controle de ecto e de endoparasitas, que façam com que a nossa carne, o nosso produto, tenha a condição de, tanto no mercado interno, quanto no mercado externo, ter o reconhecimento de sua qualidade através de programas sanitários.[fim]

Hoje nós vimos que as grandes barreiras para exportação, até para o consumo, estão deixando um pouco de ser tarifárias, para serem sanitárias. Então, esse é um trabalho que a gente tem desenvolvido muito.[fim]

A questão da alimentação, a questão das cultivárias de gramíneas, leguminosas, adaptadas ao nosso ecossistema. O Professor Lobato levantou uma questão importante sobre a introdução de novos materiais que viabilizem esse material genético que temos no Estado, que é um material muito rico, como são as nossas raças britânicas e as suas sintéticas, principalmente a raça Brangus.[fim]

Essa raça foi desenvolvida integralmente na Embrapa Pecuária Sul e hoje é uma raça que está sendo utilizada em todo o País. E também a raça Brafford. São duas sintéticas das nossas britânicas. É um material genético da maior qualidade no mundo. Então, nós precisávamos viabilizar isso aí através dos nossos recursos naturais.[fim]

Existe uma certa dificuldade, uma certa falta, uma certa deficiência das nossas instituições de pesquisa, seja da nossa universidade, seja da nossa Embrapa, em trabalhar mais na busca do desenvolvimento desses materiais. São difíceis em função das qualidades de solos em nossos sistemas, mas é necessário um esforço maior – e a gente reconhece isso – para que se desenvolva essas gramíneas adaptadas aquele ecossistemas, e não material exótico que muitas vezes leva a uma perspectiva de desenvolvimento que não acontece porque aquele material não se reproduz naquele ambiente.[fim]

Nós temos que ter a capacidade de identificar materiais de qualidade naquele ambiente, levar para as instituições de pesquisa, melhorar esse material, ampliar a sua capacidade de produção e devolvê-lo às regiões de onde vieram. Esse é um problema que temos que enfrentar.[fim]

O SR. PRESIDENTE JERÔNIMO GOERGEN – Por que acontece isso? Qual o motivo que leva a falta de oferta desses materiais?[fim]

O SR. ROBERTO SILVEIRA COLLARES – Muitas vezes, Deputado, a própria dificuldade que essas instituições têm de recursos, e é uma coisa que hoje aparece muito: nós temos uma capacidade operacional, uma capacidade de massa crítica, uma capacidade de laboratórios, tanto a nossa universidade, quanto à Embrapa como outras instituições de pesquisa, como a Fepagro, muitas vezes, essa capacidade fica um pouco ociosa, porque nos falta, muitas vezes, o recurso para comprar o reagente. É muito pouco, mas, muitas vezes, nos inviabiliza o nosso trabalho.[fim]

Muitas vezes, nos falta o recurso para nós irmos naquele ambiente buscar esse material, que é muito pouco, mas ele é importante e ele nos..., então, às vezes, Deputado, a falta de um recurso, o nosso chamado recurso de custeio, que é muito pequeno em relação à infra-estrutura existente, muito pequeno em relação a essa massa crítica, essa massa pensante que o nosso Estado – ele é abençoado, que tem uma UFRGS, que tem uma Embrapa, que

tem uma Fepagro, que tem essas instituições, como a Universidade de Santa Maria, uma Universidade de Pelotas –, esse Estado tão rico, nessa capacidade pensante, muitas vezes, nós temos dificuldades de operacionalizar, porque falta uma pequena parte, que é a parte de custeio, de fazer essa máquina funcionar.[fim]

Então, muitas vezes, essas questões passam por isso. Precisaria, por parte de nosso Poder Público, de uma maior clareza dessa questão e viabilizar para que essas estruturas que aqui estão possam, na sua potencialidade máxima, dar as respostas necessárias. Então, nós enfrentamos essas dificuldades, que muitas vezes nos impedem que a gente realmente possa exercer, na plenitude, aquela capacidade que a gente sabe que tem. Não individualmente, mas no coletivo. A nossa Universidade pública federal, no Estado do Rio Grande do Sul, tão bem aquinhoada de cabeças pensantes – as nossas instituições, como Embrapa, a Fepagro, a nossa Emater, são instituições muito fortes no nosso, que, com certeza, se elas..., se a gente conseguisse, num trabalho conjunto, unir todas essas forças, com certeza, Deputado, nós estaríamos em outra situação.[fim]

Precisa de o Poder Público aglutinar essas forças, através de programas bem elaborados que atendam a comunidade do Estado do Rio Grande do Sul – não apenas parte da comunidade, mas toda a comunidade –, ela, com certeza, nós estaríamos..., talvez, Deputado, após essa CPI ou de outra CPI, V. Exa. tenha a possibilidade de nos ajudar nesse sentido, de organizar, de criar os programas dentro do nosso Poder Público, e que os rumos sejam traçados de uma forma conjunta, e não individualmente de cada um de nós. Nós, em conjunto, somos fortes; individualmente, muitas vezes nós temos fraqueza.[fim]

Então, a Embrapa nesse sentido tem trabalhado muito também na questão dos controles dos sistemas de sanidade animal, que é uma área também muito delicada, uma área muito complexa, e que precisa de ser trabalhada. Nós, no Estado do Rio Grande do Sul, temos sistemas de controle e de sanidade animal realmente excepcionais. As demonstrações nós temos feito quando levantam

questões sobre sanidade animal, e as respostas são muito rápidas, e o nosso Estado consegue se sobrepor.[fim]

Então, essa é uma questão que..., também um potencial que nós temos, e que precisa ser melhor explorado junto. Alguma coisa, Deputado, nos deixa preocupados: nós tivemos o lamentável fato da febre aftosa no Estado do Rio Grande do Sul – tivemos aqui no Uruguai e na Argentina. O Senhor sabe que, até hoje, não estamos exportando carne para os Estados Unidos. O Uruguai que teve 10 ou 15 vezes o problema mais sério que o Brasil, que o Estado do Rio Grande do Sul, já está exportando carne in natura para os Estados Unidos, por exemplo, que é importante em função do protocolo.[fim]

Muitos Países só importam carne in natura de outros Países em função..., se os Estados Unidos estão importando, é questão de protocolo. E estranhamente, Deputado, nós, que tivemos um foco de febre aftosa – e com muita competência combatemos –, não estamos ainda habilitados a exportar; o Uruguai, que teve 200 ou 300 focos, já está exportando carne. E eu...Bom, obrigado.[fim]

O SR. ROBERTO SILVEIRA COLLARES – Pois, não!? Bom, eu agradeço o Fernando Adauto também, que é autoridade do assunto, em me auxiliar nisso aí. São coisas que preocupam, e estranha que o nosso País, o nosso Estado, ele não consiga isso aí.[fim]

Bom, então, a respeito para não me delongar mais e ficar à disposição dos outros colegas, a questão do trabalho da Embrapa..., é gerando tecnologia, gerando desenvolvimento. Ela é uma Empresa pública federal, e, hoje, já há bastante tempo nós viemos trabalhando e hoje com enfoque maior na questão que eu deixo claro aqui e é uma preocupação nossa até como cidadão, não só como pesquisador como também exercendo a gerência de uma unidade de pesquisa é que se consiga também desenvolver estes sistemas da questão da pecuária familiar.[fim]

Acho que isso é importante para a gente fixar o nosso homem no campo com dignidade e com renda que permita que ele fique no

seu ambiente trabalhando e mantendo a sua família. É uma atividade que nós estamos empenhados fortemente gerando estas tecnologias e gerando sistemas e que possa manter estes sistemas produtivos.[fim]

Eu também gostaria de deixar, por último, registrado a nossa certeza de que com o genótipo animal que nós temos das raças britânicas que nos dão animais da maior qualidade de produção de carne, com os nossos recursos naturais e com as condições para que se possa desenvolver alternativas de alimentação, através das nossas pastagens cultivadas, o Estado do Rio Grande do Sul, através de um programa integrado em que seja coordenado pelo nosso Estado, com certeza nós poderemos em breve tempo melhorar, alterar e desenvolver mais a nossa pecuária no Estado do Rio Grande do Sul.[fim]

Acredito que uma outra questão que nós deveríamos voltar a conversar, o Dr. Eduardo Salomoni falou, a questão que não está prevista nesta CPI, mas é a questão da ovinocultura. A ovinocultura é uma outra alternativa, fantasticamente viável para a pequena e média propriedade e que está aí pronta, em condições de que realmente se possa agregar valor a estas comunidades, agregar valor ao Estado, agregar você valor a um sistema de produção mais completo onde teríamos a bovinocultura, a ovinocultura e a agricultura, ela sendo conduzida, mas com o maior cuidado na questão do ecossistema, a questão de lotações de campo nós estamos tendo uma certa pressão para que os campos sejam lotados acima da sua capacidade de suporte de pastejo e isso vai nos levar a problemas muito sérios. Também às vezes estamos sendo induzidos ou levados a produção agrícola em áreas não, não adaptadas a esta agricultura e poderemos ter novas áreas desertadas como temos hoje em Alegrete. Então, é preciso um cuidado sobre este aspecto.[fim]

Por enquanto, Deputado eu acho que estaria nestas considerações e ficar totalmente à disposição para a gente conversar a respeito disso aí.[fim]

O SR. ROBERTO SILVEIRA COLLARES – Bom, nós dentro da Embrapa é um trabalho que há bastante tempo vem sendo desenvolvido que é a nossa consorciação que é solo de pastagem, de azevém, trigo branco e cornichão. É um sistema já utilizado largamente dentro do nosso Estado do Rio Grande do Sul, e hoje estamos trabalhando com o bromus auléticos é uma variedade nativa em que tem uma produtividade muito boa. Estamos trabalhando para identificar, identificar o seu hábitat e a sua forma de reprodução. estamos também produzindo a semente para poder lançar no mercado. Já lançar com semente, porque senão seria difícil lançar um produto e nós não termos a semente.[fim]

Hoje estamos trabalhando com o nosso azevém, como o Professor Lobato falou, é uma questão que o Estado deveria cuidar também estamos vindo muito azevém aqui da serra que em setembro já está... julho, agosto, às vezes, início de setembro, já está espigando, já está vencendo a sua (ininteligível) Quando nós temos azevém, no Estado do Rio Grande do Sul, na região de campanha do Rio Grande do Sul, nós temos azevéns que nos produzem até dezembro.[fim]

E nós estamos... Esses azevéns que estão sendo oferecidos são materiais provavelmente não-controlados, e o Estado precisaria ter uma política de controle de sementes, não só de forrageiras, mas vamos falar na forrageira, para evitar esses desastres que estão acontecendo de os produtores utilizar uma semente de azevém não-adaptada apenas porque às vezes têm um preço um pouco menor, até porque esse é um produto de baixa qualidade. Então, precisaríamos cuidar dessa questão.[fim]

Mas estamos trabalhando, Deputado, também na avaliação dessas variedades de sementes de azevém adaptadas a campos baixos e sementes de azevém que tenham uma maior vida útil. Com isso, evidentemente, vamos baratear nossos custos das nossas pastagens e, com isso, reduzir o nosso custo de produção e viabilizar a utilização dessa tecnologia via produtor.[fim]

Nós também temos lá um campo de introdução onde está se

trabalhando com outros materiais que estamos coletando. Como lhe disse anteriormente, uma das preocupações é nós buscarmos nessas regiões de difícil, regiões mais inóspitas, mais difíceis de sobrevivência, buscar materiais nessas regiões, materiais de qualidade, que ali estão, levar para a unidade, identificar, caracterizar e multiplicar e levar de volta às essas comunidades onde tem esse ambiente de difícil sustentação, para que não se leve para esses ambientes apenas materiais exóticos e que não terão uma continuidade. Terão um custo de implantação alto, mas ele não tem uma durabilidade, porque ele é totalmente fora daquele contexto. Então, hoje, nas pesquisas estamos buscando isso aí até para viabilizar a questão da pecuária familiar, a fixação dessas famílias que estão na serra do sudeste, em que é necessário manter a pecuária familiar, porque é a única coisa que produz ali e que ele possa melhorar a sua produtividade.[fim]

Trabalhamos também na questão da limpeza dos campos da serra do sudeste. É um outro trabalho importante, e que nós temos conversado com o Ibama. Nesses matos rasteiros da serra do sudeste, nós já temos trabalhos de longo tempo, inclusive publicados, defendidos em congressos, que é possível se fazer a limpeza daqueles campos, porque esse material ele retorna. E é um sistema integrado que pode melhorar a área de produção dessas comunidades da serra do sudeste. É preciso fazer um trabalho junto com o Ibama para esse reconhecimento para que se possa fazer. Cientificamente isso é recomendado e isso é possível e nós temos como demonstrar. Temos demonstrado isso até em publicações e em defesa em congressos científicos.[fim]

FUNDAÇÃO ESTADUAL DE PESQUISA AGROPECUÁRIA – FEPAGRO:

O SR. CARLOS CARDINAL – Sr. Presidente, Srs. e Sras. convidadas. Quero inicialmente saudar a todos e dizer da satisfação em participarmos desta reunião da CPI das Carnes e ter aqui a presença de pessoas tão importantes, que representam entidades tão importantes para o Rio Grande do Sul.[fim]

Cumprimentar a iniciativa de instalar essa CPI, Deputado, porque, ao longo da história, o Rio Grande do Sul vem vivendo em ciclos, e sempre a questão das carnes tem um destaque importante.[fim]

Desde o início da história do Rio Grande do Sul até os dias de hoje esse tem sido um assunto complexo, conturbado, um assunto que merece como V. Exa. está dedicando um tempo especial, uma comissão especial, enfim.[fim]

Precisamos fazer esse registro e saudá-lo pelo comando desta Comissão e dizer que este é um assunto que mexe com o Rio Grande do Sul, com sua história e, seguramente, com o seu futuro. Os grandes movimentos do Rio Grande do Sul aconteceram exatamente em torno dessa questão da nossa produção agropecuária.[fim]

Desde a Revolução Farroupilha, desde o povoamento das Missões que se falou tanto em gado, o gado começou lá nas Missões e foi motivo de guerras, de disputas internacionais inclusive.[fim]

Portanto, eu faço este registro, Deputado, dizendo que este é um dos setores que, apesar de todos os estudos, de todos os dados, de todas as estatísticas, de todas as tentativas, este é um dos setores mais frágeis do Rio Grande do Sul. Nós, para fazer um registro e aqui um depoimento de quem até pela própria profissão – eu sou veterinário -venho acompanhando, todos os Governos tentaram fazer alguma coisa. Todos os Governos do nosso Estado, eu mesmo participei do Governo Collares, havia lá um programa de apoio aos frigoríficos – o Rogério está aqui lembra porque participava de uma Comissão –, todos os Governos tentaram fazer alguma coisa, mas sempre vem um período em que grandes frigoríficos, ou que doenças, como foi aqui citado o caso da aftosa, os frigoríficos param, fecham, vêm as normas internacionais.[fim]

Eu lembro do período em que exigiram que os nossos frigoríficos – e aqui o Fernando Adauto sabe muito mais do que nós,

mas permita que faça a citação –, exigiram que para exportar fizessem..., aplicassem verdadeiras fortunas na remodelação dos prédios, adaptação e dali há pouco os lá de fora paravam com as importações. Enfim, é uma história que merece uma atenção e por isso eu fico feliz em vir aqui, mas venho para falar em nome da Fepagro.[fim]

Estou aqui acompanhado da Dra. Angélica, que é nossa pesquisadora do nosso Centro de Pesquisas de Sanidade Animal, o Desidério Finamor, e depois ela vai falar um pouquinho. E aqui eu estou numa...[fim]

O SR. CARLOS CARDINAL – Aqui estou numa contradição: o veterinário vai ter de falar um pouquinho sobre a parte agronômica da Fepagro. Fiquei feliz em ouvir o professor da Universidade, os representantes da Embrapa, e dizer que nós, seguramente, estamos vivendo um tempo diferente, um tempo onde as condições que, no passado, levaram, por exemplo, ao sucateamento da pesquisa em alguns setores, hoje eu tenho certeza existe uma nova visão, inclusive sobre o papel das instituições de pesquisa, inclusive sobre a pesquisa.[fim]

Eu acho que já passou o período dos pacotes importados, daquilo que a gente olhava aqui e havia toda uma conceituação, todo um trabalho, dizendo assim: não, o bom tá lá fora. Então, vinham os pacotes importados com tecnologias previamente preparadas e aquilo era empurrado goela abaixo dos nossos produtores, dos nossos Governos, das nossas instituições.[fim]

Eu creio que hoje ninguém de sã consciência pode imaginar que o Rio Grande vá progredir sem pesquisa. Eu acredito que este é um conceito fundamental. Eu creio que este seria o grande papel que todos nós poderíamos desenvolver pra mostrar que sem pesquisa não tem como fazer o desenvolvimento, inclusive pra atender à questão social, a geração de empregos, a geração de renda, a viabilização dos pequenos, dos médios e dos grandes.[fim]

E aqui quero dizer que a Fepagro tem que fazer a pesquisa

pra todos no Rio Grande do Sul, todos do setor da produção merecem a atenção especial da pesquisa na Fepagro. E nós encontramos a instituição, Deputado, aproveito, é a oportunidade... não posso perder a oportunidade para dizer que nós estamos à disposição. Se V. Exa. entender que possamos, numa oportunidade certa, vir aqui falar especificamente sobre a pesquisa no Rio Grande do Sul, nós teríamos o máximo prazer.[fim]

Mas a Fepagro é uma fundação... é a Fundação de Pesquisa Agropecuária do Estado, uma Fundação de Direito Público. Vai completar 10 anos. Ela é resultado da fusão dos antigos institutos de pesquisa, e ela, neste formato de fundação, tem algumas vantagens, porque ela pode fazer convênios. Ela pode fazer contratos. Ela pode usar a sua própria produção, o chamado resíduo de pesquisa, e ela, na prática, hoje, ela tem a folha de pagamentos e algumas contas públicas custeadas pelo Tesouro. Isso dá 30, 35%; o restante é a própria Fepagro que gera.[fim]

Então, eu acho que, sob esse aspecto, nós temos que olhar a questão da pesquisa estadual, porque o Professor Lobato tem toda a razão: 75 diversidades de solos que nós temos. O Rio Grande é um Estado caracterizado por regiões. O que serve, por exemplo, lá para Vacaria não serve para Pelotas ou não serve para Bagé, não é, ou não serve lá para a Região das Missões. E a Fepagro tem essa dádiva, que eu, quando leio, eu procuro estudar um pouco, me informar um pouco da sabedoria daqueles que construíram a nossa história.[fim]

E eu fico encantando, por exemplo, vendo que, em 1920, 1930, os dirigentes da época, os governantes, construíram um arcabouço de estações experimentais – chamavam na época – em todo o Rio Grande do Sul: de Maquiné a Rio Grande, de Rio Grande a Vacaria, São Borja, Uruguaiana, Dom Pedrito, Taquari, Caxias, Veranópolis. A Fepagro tem essas 22 estações, por exemplo, a de Santa Rosa desativada, mas ela é mais recente, mas ela tem essas 22 estações experimentais, com os mesmos prédios de 1920, de 1930: aqueles enormes galpões cobertos de telhas, estruturas fantásticas. As casas para os pesquisadores, para os funcionários.

Os campos, áreas que vão de 100, 200, 300, 500, 700 hectares. Pois eles construíram, num tempo em que não tinha essa tecnologia. Levavam tijolo e telha de carreta.[fim]

E, hoje, com toda a evolução, com toda a ciência, com toda a tecnologia, nós temos dificuldades de manter os prédios. Em alguns locais, chega a dar tristeza ver a situação daqueles prédios fantásticos, que são verdadeiras obras de arte. Então, mais ou menos por aí, eu já começo a dizer das dificuldades da pesquisa agropecuária do Rio Grande do Sul.[fim]

Mas eu quero, aqui, ser otimista e dizer que nós vamos vencer essas barreiras. Nós vamos vencer essas barreiras. Por exemplo, Deputado, nós estamos reformando as estações experimentais e implantando pesquisas. Sobre a azevém, por exemplo, nós já temos um trabalho, com diversas populações de azevém, inclusive com a UFRGS, 8 ou 11..., 11 populações de azevém, que estão sendo testadas em 9 locais diferentes do Rio Grande do Sul, e nós temos a expectativa de lançarmos já o ano que vem, de lançarmos no mínimo uma ou, talvez, duas variedades de azevém, porque não temos ainda no Rio Grande do Sul.[fim]

Nós temos um bom trabalho com as plantas recicladoras. Vocês falaram desse passo, depois da integração lavoura/pecuária, o que que..., não é. Então, os nossos pesquisadores estão trabalhando muito, especialmente lá na agrometeorologia da Fepagro, com o suporte de outros pesquisadores. Na área da pecuária familiar, nós temos a continuidade do Governo anterior e, agora, estamos..., já remodelamos um programa de apoio ao pecuarista familiar e estamos trabalhando na Região da Campanha, Fronteira Oeste, já implantadas as pesquisas. Por exemplo, em Uruguaiana, um sistema agrossilvo-pastoril, que é um sistema, já pela própria designação, envolve todo um conjunto de atividades, mas, lá, nós vamos trabalhar o agrossilvo-pastoril com ovinos, porque é uma tradição lá de Uruguaiana, e porque o centro de pesquisa lá de Uruguaiana sempre foi, ao longo da história, uma referência da ovinocultura gaúcha e nacional.[fim]

E, em São Gabriel, também vamos trabalhar – já estamos trabalhando com uma medição de ovinos em campo nativo. É a famosa questão da lotação. Vê como é que isso funciona. E Hulha Negra, vizinho lá da Embrapa, já estamos iniciando também uma avaliação de campo nativo, aí, com carne bovina. A Dra. Zélia e um grupo lá de pesquisadores, a Corale, enfim, estão trabalhando isso. E, aí, eu quero fazer uma referência com relação às nossas estações e uma espécie de alerta também, Deputado, porque, no passado – eu mesmo ouvi muito isso –, dizia-se assim: não, mas para que 500 hectares numa estação experimental? Para que 700? Vamos fazer outra coisa. Não precisa. Pesquisa se faz em parcelas. Tanto o Professor Lobato quanto o Dr. Salomoni fizeram referência aos nossos campos nativos. Temos quase 500 hectares em Hulha Negra, mais de 400 hectares em Dom Pedrito, 680 hectares em Uruguaiana, cerca de 400 hectares em São Gabriel. Precisávamos de 100 hectares de campo nativo para fazer uma pesquisa sobre lotação nesse tipo de campo. Não sou pesquisador, mas seria em vinte e tantas parcelas, porque lá seriam testadas várias coisas. A Fepagro, com todas essas áreas, não tem mais 100 hectares de campo nativo. Tem muito annoni, tem quantidade de annoni.[fim]

Então, o Estado não pode abrir mão dessa dádiva, eu repito, de ter essas estações experimentais bem divididas, bem distribuídas em todo o Rio Grande do Sul. Acredito que esse é um ponto fundamental.[fim]

A outra questão, Deputado, é que nós precisamos derrubar aquele discurso que já considero antigo do Estado inchado, do Estado que não produz. Acho que um novo conceito precisa ser aí estabelecido, de que o Estado tem suas atividades e que não pode, por exemplo, acontecer o que aconteceu na Inglaterra: quando veio a Vaca Louca, não tinha nenhum laboratório do Estado com autoridade científica para dar uma opinião sobre a Vaca Louca. Digo isso... E eles tiveram que fazer na França. As avaliações sobre a Vaca Louca a Inglaterra não pode fazê-las porque não tinha um laboratório com idoneidade técnico-científica.[fim]

Quero falar isso até porque depois a Dra. Angélica falará mais

sobre a área de sanidade animal. Há poucos dias, o Desidério Finamor conseguiu, exatamente por ter idoneidade técnico-científica, a autorização da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança para pesquisar vacinas transgênicas na área animal, um trabalho em conjunto, em parceria com a Universidade do Rio Grande do Sul. Mas mesmo com todo o esforço que os pesquisadores e que as pesquisadoras fazem lá, conseguindo recursos, verbas, mesmo assim, nós conseguimos essa autorização. E a vacina está sendo trabalhada para a IBR, inicialmente, e, depois, para a raiva. Mas nós precisamos desenvolver lá no Desidério, o laboratório de biossegurança. Creio que é fundamental para a cadeia produtiva de todas as carnes, não apenas olhando uma, mas todas as carnes. Esse laboratório, evidentemente, é um investimento, mas ele precisa ser feito. Vocês sabem que nenhum Estado da Federação, hoje, tem um laboratório com essa capacidade de realizar, com biossegurança, os diagnósticos de aftosa, de tuberculose, de raiva, enfim, é uma quantidade de doenças que, em determinadas circunstâncias, precisam de laboratórios modernos.[fim]

Bem, creio, Deputado, que falei um pouquinho sobre cada atividade da Fepagro. Gostaria de vir aqui em outras oportunidades. Aqui na Fepagro, na sede, temos dois laboratórios – Qualidade da Carne e Nutrição Animal –, que dizem muito respeito a essa atividade.[fim]

Eu me coloco à disposição, evidentemente, mas quero passar a Dra. Angélica, que falará sobre a questão mais específica da sanidade animal.[fim]

A SRA. MARIA ANGÉLICA ZOLLIN DE ALMEIDA – Bom dia a todos. Bom, o Desidério Finamor, o Instituto de Pesquisa Veterinária Desidério Finamor, é um dos centros de pesquisa da Fepagro. Estamos situados em Eldorado do Sul. O Instituto tem mais de 50 anos. Ele iniciou com a necessidade de que um laboratório trabalhasse com aftosa. Ele, inicialmente, teve a sua sede na rua da Praia. Depois, há muitos anos, há cinqüenta e tantos anos, ele teve...

Houve uma cedência do Conde de Porto Alegre – isso é um pouquinho da história do Instituto – de uma área, que fica em Eldorado do Sul, em torno de trezentos e poucos hectares, na qual foi instalada a sede do Instituto. É um prédio muito antigo, bonito também, que conta com toda a infra-estrutura, porque foi antes das pontes. Então, os funcionários não tinham como ir e ficavam lá. Estou contando essa história para vocês, pelo seguinte: o Instituto já começou com uma função, ou seja, trabalhar com a aftosa, que é o que fizemos durante muito tempo. A vacina oleosa, para aftosa, foi desenvolvida no Desidério Finamor em conjunto com o Centro Pan-Americano de Febre Aftosa. Nesse último surto que tivemos agora, que trabalhamos em conjunto com a Secretaria da Agricultura, não foi um foco que tivemos, tivemos 22 focos abertos, restritos numa localidade de Jóia, porque o de São Miguel não foi confirmado. Eu estava lá, fui responsável pelo laboratório e pela abertura desses focos, juntamente com o Colega Joel, da Secretaria da Agricultura.[fim]

A nossa saga, na pesquisa e na produção, tem continuado desde então. O Rio Grande do Sul foi um dos primeiros Estados a ter o controle da aftosa e também da brucelose e da tuberculose. Em 1987, o Desidério Finamor produzia vacina para brucelose. Isso nos deu uma condição de livres de brucelose e também de tuberculose, inclusive até hoje produzimos essas vacinas, somos um dos dois únicos laboratórios no Brasil que produz antígeno para diagnóstico de tuberculina PPD bovina e aviária, de brucelose também somos nós e o Tecpar, tanto brucelose bovina quanto ovina. Então, atuamos numa área de produção de mundo biológico, dando alicerce para as campanhas que a Secretaria da Agricultura leva a cabo. Atuamos também como centro de diagnóstico. Todo esse problema que surgiu agora com o Aujeszky o diagnóstico é feito, nada mais, nada menos, do que no Desidério Finamor. Inicialmente havia sido levantada uma proposta de mandar para Santa Catarina, mas não há necessidade de mandar para lá. Não fizemos diagnóstico de aftosa na época, aqui, porque o Lara já estava comprometido com o levantamento sorológico de Mato Grosso. Então, na época não teríamos estrutura técnica, né, para fazer.[fim]

Na área de pesquisa, estamos desenvolvendo essa parte da vacina com transgênicos, ou organismos geneticamente modificados, que é melhor falar assim para evitar maiores problemas. Nós tivemos, pela CTNBio, a liberação. Diga-se de passagem que não é para trabalhar com todos os organismos, e sim alguns organismos, nessas vacinas. Trabalhamos também com monitoramento de tuberculose, rastreamento. Devo informar também aos Senhores que em 98 ou 99 foi aprovado, em nível nacional, o programa de controle e erradicação da brucelose e da tuberculose, que foi atropelado pelo problema da aftosa. Ficamos em estágio de espera, em que estamos até hoje. Isso vai acarretar, em bem pouco tempo, problemas, porque Santa Catarina fez o levantamento e não há brucelose lá, a situação desse Estado, em tuberculose, também é bastante controlada, o que não se tem aqui no Rio Grande do Sul, não que se tenha ou não se tenha, não se sabe, não foi feito nenhum levantamento, então, esse é o próximo passo nessa campanha que todo o Brasil já aderiu e o Rio Grande do Sul continua fora, isso falando só na área animal. Os colegas falaram, com muita propriedade, na parte de produção, mas não existe produção sem sanidade dos rebanhos, isso é um binômio, não tem como separar. Enquanto não progredirmos nesse setor, vamos ficar atrás com o resto do Estado. Já é sabido que nós perdemos posições na área de produção de suínos em quantidade e não em qualidade para Santa Catarina, em número de rebanhos para o Paraná, a carne bovina no Centro-Oeste também. A quantidade que está entrando de carne de lá, eles conseguiram fazer todas as maracutaias possíveis, trocar nota em vez de trocar os frigoríficos, aquela história toda que é sabida. E se o Rio Grande do Sul não se preparar, ele vai ficar atrás, e já está.[fim]

Bem, nessa parte de produção, temos capacidade para mandar os produtos para outros Estados, como já estamos fazendo, e isso veio a ser mais facilitado com essa aprovação, pelo Governo do Estado, do nosso laboratório de segurança nível P4, que nos possibilitará trabalhar com esses organismos. Porque houve uma época, há algum tempo atrás, que brucelose e tuberculose não eram impedimento para exportação, né? Agora, já estão, alguma coisa assim, a nível de tentar bloquear a parte da tuberculose. No

momento em que a tuberculose for um impedimento, vai passar para a paratuberculose, que existe, e nós sabemos, grande quantidade desse problema no Estrado. Simplesmente não é diagnosticado, porque não é feito diagnóstico. Assim como foi o caso do hantavírus, também não tem porque não era feito, porque problema nós temos.[fim]

Outro trabalho que temos e está sendo desenvolvido em laboratório é a tipificação e monitoramento de aidéticos contaminados ou que venham a morrer por tuberculose. Este é um trabalho que fizemos justamente com a Santa Casa, com o grupo do Dr. Palombini. Este foi um assunto de tese que desenvolvemos na Argentina, que fizemos esse mapeamento, não é? E nós temos encontrado dados muito importantes, que é o número de pessoas, quase sempre mulheres e crianças, acometidas de tuberculose e que estão nos assentamentos. Já trabalhamos com uma quantidade grande de assentamentos. Essas pessoas não estão sendo tratadas e freqüentam hospitais, laboratórios, clínicas e isso vai disseminando. Esse é um trabalho que não é muito da nossa função, mas como foi uma coisa que nos propiciou trabalhar, e dessa maneira nós conseguimos tipificar cinco microbactérias diferentes que acometem o rebanho, especialmente aqui do Rio Grande do Sul, que não foram encontradas em outros lugares. Tem alguma coisa similar na Espanha, onde se acha que talvez tenha vindo numa dessas importações. Seria isso.[fim]FUNDAÇÃO DE ECONOMIA E ESTATÍSTICA – FEE:

O SR. ÁLVARO ANTÔNIO LOUZADA GARCIA – Sr. Presidente, demais colegas da Mesa, Senhoras e Senhores, gostaria de manifestar que a Fundação de Economia e Estatística tem muita honra em participar desta CPI, embora, quando recebemos o convite, ficamos um tanto quanto receosos do que exatamente poderíamos contribuir. Isso se confirmou agora, quando nossos colegas falaram anteriormente, quer dizer, a nossa área não é trabalhar na inovação tecnológica de bovinocultura ou suinocultura, nós trabalhamos com a análise socioeconômica. E normalmente a nível de agregado.[fim]

Então, eu teria o maior prazer em expor para vocês o que que

nós fizemos na Fundação de Economia e Estatística, mas, sinceramente, acho que ficaria um pouco fora, até eu gostei de ter sido o último a falar, porque eu vi que se eu tivesse falado inicialmente vocês estariam perguntando o que nós estamos fazendo aqui.[fim]

O que nós trabalhamos especificamente na área de agricultura, quer dizer, na área de agricultura lato sensu, agricultura e pecuária? Nós trabalhamos com a análise socioeconômica. Nós temos um banco de dados que compõem uma série de...são mais de 600 variáveis e dentre essas variáveis temos os dados que a Emater produz e que o IBGE produz sobre a área agrícola.[fim]

Depois nós temos... dentre os nossos núcleos tem o núcleo de estudos agrícolas. Mas dada a situação geral das fundações e do Estado como um todo, nós temos só três técnicos trabalhando nessa área. Dois estão fazendo um trabalho, uma comparação entre a produção de grãos no serrado e a produção de grãos no Rio Grande do Sul. É um trabalho que estão ainda iniciando, mas, de qualquer maneira, não é dessa área da bovinocultura e da suinocultura. Depois tem um outro técnico que está trabalhando acompanhando a conjuntura na área agrícola. Além disso, temos o acompanhamento das parte sobre exportações. Nós acompanhamos o comércio exterior, nós acompanhamos as exportações.[fim]

Então, eu acho que se vocês quiserem, eu posso expor o que a Fundação faz, mas acho que não seria o caso aqui. Mas colocar a Fundação à disposição, eventualmente dados. Nos foi solicitado dados sobre a produção, o consumo bovino, o nível do consumidor, nós não tínhamos essa informação e retornamos à CPI fornecendo o IEP como provável. O IEP faz essa pesquisa em nível de consumidor, nós, mais pegamos dados em nível de produtor, dados produzidos pela Emater e pelo IBGE.[fim]

Agora, eu trabalhei na área de comércio exterior antes de ser diretor-técnico, então ouvi dos colegas aqui – agora eu já tô diretor-técnico há um ano –, mas o que a gente nota em comércio exterior

em termos de exportações é que parece que toda a vez... há uma sensação, há um feeling de que o impacto sobre a Metade-Sul, a partir do momento em que o Rio Grande do Sul conseguir exportar a carne bovina in natura para os Estados Unidos, vai ser muito grande, né.[fim]

E a suinocultura também, a idéia sobre o comércio exterior ainda é de que há uma necessidade de diversificar mercados, o que – diga-se de passagem – não é muito fácil. Agora, o que me chamou a atenção, quando trabalhei nesta área de comércio exterior – e aí eu tô falando, não como especialista, né, mas como um curioso, porque, na verdade, eu tinha que tratar de todo o comércio exterior – então a bovinocultura era a... a exportação de carne bovina era um dos né... um dos temas. O que me chamava atenção era que toda vez que o Rio Grande do Sul parecia que tava pronto para exportar para os Estados Unidos acontecia alguma coisa que...[fim]

Então, com o tempo – eu não sou especialista nesta área, fica só assim a curiosidade né, todo o ano eu tava com essa sensação: bom, dessa vez vai. E parece que nunca ia. Isso é uma coisa que realmente me chamou atenção como analista porque, em outras áreas, as coisas aconteciam, eram explicáveis e sempre me chamou a atenção. Então, aqui o que eu poderia colaborar, não é bem colaborar, na verdade, é aproveitar que vocês estão aqui, que vocês pudessem – dentre as falas aí – me tirar essa dúvida: por que que nós nunca conseguimos exportar, quando várias vezes parecia que...[fim]

Eu me lembro que uma vez tinha uma missão dos Estados Unidos que viria três vezes aqui, ela veio parece que duas vezes, antes de vir a terceira aconteceu o problema da febre aftosa. E nós temos uma idéia – nós que trabalhamos com a área de economia, claro que isso tudo seria a ser confirmado – mas de que a exportação de carne in natura para os Estados Unidos daria um bom impacto na área econômica e na Metade Sul.[fim]

O SR. PRESIDENTE JERÔNIMO GOERGEN – Sem dúvida, eu conversei com o Presidente, ele me trouxe essa preocupação,

mas nós, sendo possível, gostaríamos de contar com a contribuição dos Senhores.[fim]

Eu tenho alguns questionamentos para nós fazermos aqui, depois eu gostaria de passar ao Rogério e ao Fernando, se tem alguma questão que queiram levantar também.[fim]

Fazemos aqui de uma forma excepcional – mas para que este debate não se perca – o registro da presença, com muita alegria, do Prefeito do meu Município, Prefeito Florisbaldo Polo, lá de Santo Augusto, que nos prestigia aqui.[fim]

Meu caro Professor Lobato, a assessoria nos passa alguns questionamentos com relação ao excesso da lotação, quando o Senhor afirma aqui que o desfrute dos campos nativos do rebanho foi diminuído, né. Existe algum estudo que o Senhor conheça com relação a esse tema? E qual seria o potencial de desfrute utilizado para lotação ideal? Tem alguma coisa pra contribuir nesse sentido?[fim]

O SR. JOSÉ FERNANDO PIVA LOBATO – Presidente, consta nos autos de uma audiência pública presidida pelo Deputado Frederico Antunes do ano 2001, um relato meu, aí no auditório perante cerca de 400 pessoas, de dados de pesquisa mostrando que sempre que se trabalhou com uma carga que se considerava adequada para aquele tipo de solo cobertura vegetal se tinha um aumento dos índices de repetição de prenheiros. No penúltimo trabalho, feito no Município de Itaqui,colocou-se a carga que o produtor tem que cumprir, caso contrário está, sob as penas da Lei, sujeito a uma possível perda da sua propriedade.[fim]

Lembro que, com a carga que é exigida, o índice de repetição de prenhez foi de 22, 5%, enquanto que uma carga menor o índice de repetição de prenhez foi de 69% e algo. Isso está publicado fundamentalmente na Revista Brasileira de Zootecnia, que é uma revista de circulação internacional, publicada por esta Sociedade Brasileira de Zootecnia.[fim]

Há os boletins da Embrapa ou trabalhos de colegas da Embrapa, especialmente o José Otávio Neto Gonçalves, que publicou, nos últimos 20 anos, o que cresce nos campos nativos, ou crescia, sem annoni, nos campos de Bagé, especialmente dentro da Embrapa de Bagé. Então, isso está aí, está em anais de congressos, está na Revista Brasileira de Zootecnia, está em congresso internacional.[fim]

Eu lhe digo um fato, medido na Estação Experimental da UFRGS – e aí não foi dito por mim. Medido com novilho. Acho que essa diferença nós temos que clarear, talvez para alguns que não são da área. A capacidade de carga animal, gerida por um PHD, de setembro a abril, na Depressão Central do Rio Grande do Sul é 380 quilos de peso vivo por hectare. Novilho.[fim]

Novilho não precisa entrar em cio, não produz leite, é só pra crescer. Agora, de abril a setembro, a capacidade não é 380. É 170. É um somatório de umas seis teses ou dez teses, feitas com machos, com novilhos sobre aquilo que nós chamamos e é reconhecido internacionalmente, a riqueza dos campos nativos do Rio Grande do Sul.[fim]

Até a Ministra falou sobre o bioma dos campos sulinos. Reconheceu isso. Ali, quem mais falou e mais defendeu o bioma dos campos sulinos. Então, isso tá publicado, vão fazer pesquisa. Está aí, isso é cobrado em aula, em prova, ou não sai.[fim]

Eu gostaria de falar mais, mas tem outros questionamentos.[fim]

O SR. ROBERTO SILVEIRA COLLARES – É que, com toda essa massa crítica da nossa universidade brasileira, da nossa Fepagro, da Embrapa, em toda essa massa de cabeças pensantes, de pesquisadores, nós ainda tentamos utilizar um indicador de lotação como sendo de produtividade. Isso é um sacrilégio, isso é até uma certa afronta à nossa inteligência.[fim]

Indicador de lotação nunca foi, nunca será, indicador de produtividade. É lamentável que ainda continuemos insistindo nesse ponto. Obrigado, Lobato.[fim]

O SR. JOSÉ FERNANDO PIVA LOBATO – Já que eu estava com a palavra... A questão do capim annoni...[fim]

O SR. PRESIDENTE JERÔNIMO GOERGEN – Eu já ia perguntar. Era uma das perguntas.[fim]

O SR. JOSÉ FERNANDO PIVA LOBATO – A Embrapa fez muito, nos últimos 20 anos, integrando lavouras de soja e round-up, mas sempre ficava... Eu perguntava prô Sérgio Gonzaga: “E as bordaduras?” A Embrapa trabalhando e fazendo o controle químico não conseguiu controlar.[fim]

A minha posição é que falta controle biológico. Pesquisa no ramo biológico, seja na universidade, seja na Embrapa, seja na Fepagro, seja de quem for. Tem que vir alguém, talvez não seja agrônomo, mas da área de biotecnologia, pra desenvolver um trabalho altamente meritório de controle biológico contra a expansão nefasta do capim annoni.[fim]

Gado taurino – e aqui tenho colegas que são ardentes defensores das raças britânicas – tão ficando baias, hoscas, pastando capim annoni e não cumprindo a função que é produzir um terneiro por ano. Você vai olhar o animal, porque a estampa mostra, parece ser um animal com falha de dentes. Não, tão com os dentes gastos. Entre os dentes, está cheio, recheado de capim annoni.[fim]

E nada é feito. Eu tenho batido em portas erradas, Sr. Presidente. Há uma falta de conscientização ou os pesquisadores da área não vão para a zona da Fronteira, não vão a campo, estão muito em laboratório.[fim]

Estou falando de qualquer entidade ou de colegas. Acho que não estão indo a campo, não estão sentindo o dilema de quem produz, que é ver o seu campo invadido por capim annoni. E controle químico, via Round Up, nós vamos enriquecer a Monsanto cada vez

mais, porque não adianta, ele retorna. Tem que ser um controle biológico; é um controle esse muito sério, porque, no momento que nós tivermos a vitória da derrota do capim annoni, nós precisamos saber também o que que esse inseto, essa cigarra, sei lá o quê, vai consumir após o desaparecimento, que eu espero ver, do capim annoni.[fim]

Que mais? Então, há a necessidade, Deputado Cardinal, – o Senhor como hoje político e Presidente da Fepagro e que pode mobilizar o Estado, e como Presidente da Fepagro –, e o Senhor como político sabe como lidar e chegar nas outras instituições e conclamar um controle biológico, porque químico só a Monsanto agradece.[fim]

Digo mais, Deputado, que eu gostaria de mencionar, aí caindo na questão preço, de sonegação. O que se faz no combate à sonegação? Como é que pode: a cinco quilômetros da free way, um sujeito carregar boi gordo, pagando à vista o preço que se recebe na fronteira, com 30 dias? Aí, o idiota se faz de burro. Uns... 11 da manhã, pagando o boi gordo a peso vivo, entre 10 e meia e 11 e meia da manhã. Ora, pagar boi gordo às 11 da manhã! Esse boi tá cheio – de tudo –, paga à vista. Isso é caso de polícia. Entra Governo, sai Governo e isso continua. Como? Aí, o idiota pergunta: Ah, o Senhor vai matar amanhã de manhã? Disse: Não, vou matar agora, no início da tarde. Aí, o idiota novamente pergunta: O Senhor vai dar 24 horas de câmara fria, resfriamento, vai entregar amanhã à tarde? ‘Não, hoje à tardinha eu tô entregando.’ E aí? Os Senhores desconhecem isso? Os Senhores desconheciam esse relato? Não. E, no entanto, entra Governo, sai Governo, muda Chefe de Polícia, Secretário de Segurança, Secretário da Agricultura e fazem o quê? Papagaiada, bravata – por sinal, muita. Até o Presidente da República declarou que, quando Oposição, fazia bravata. Quem toma posição?[fim]

Sobre sanidade, Colega, eu tenho dito, quando em aula, lá na Faculdade de Veterinária – e aí, a situação é inversa, eu sou um agrônomo; uma das maiores dores da minha vida foi decidir se agrônomo ou veterinário –, mas digo, lá na Veterinária, aonde

preciso estar a 1 e meia e, amanhã, às 7 e meia, que todo este orgulho, do Brasil estar se tornando o maior produtor de carnes é graças, entre outros fatores, ao avanço da sanidade. E que Deus nos livre de qualquer percalço sanitário, porque desanda e, aí, vai ser um caos tremendo no setor agropecuário. Cada vez mais sanidade, caso contrário, não adianta argumentar raça britânica, Nelore, não é, cruzamento, nada, nada, nada.[fim]

Digo mais. Avanço das raças britânicas no Centro-Oeste tá causando, no Centro-Oeste, um avanço do carrapato. Eles não tinham banho carrapaticida. Estão começando a tê-lo ou estão dosando com Ivermetina cada 30 dias. Por quê? Tão mandando ou mandaram pra lá raças britânicas ou taurinas européias, em geral, não-adaptados, com comprimento de pêlo. E, aí, vêm as questões de seleção animal dentro do Rio Grande do Sul, ou seja, animais não-adaptados nem ao Subtrópico, porque, às 8 da manhã, tão babando debaixo de uma árvore. Às 8 da manhã, de novembro a março. E esse é um dos entraves que nós temos, da menor produtividade da pecuária: a falta de conscientização do solo, do clima e do que realmente podemos ter, falando em geral, e não em nichos, mas em geral. Em termos de pecuária adaptada para que se possa produzir mais. Ninguém, em situação de desconforto, produz. Muito obrigado.[fim]

O SR. PRESIDENTE JERÔNIMO GOERGEN – Então eu faço, eu ia entrar na questão do capim annoni, queria consultar as entidades aqui, se existe algum estudo nesse sentido de erradicar, ou de alguma forma.[fim]

O SR. CARLOS CARDINAL – Deputado, pela Fepagro, nós realizamos em Uruguaiana, e o Fernando Adauto representou a Farsul, e a Universidade aqui do Rio Grande do Sul tinha um representante, a Embrapa também tinha, não me lembro quem mais, lá da PUC evidentemente, os pesquisadores, Federacit, e ali foram tratados diversos assuntos. Inclusive, algumas ações que as pessoas entendiam ser da área legislativa. Coisas simples assim, locais de remate contaminados com annoni. As estradas sendo um dos locais de difusão. Lá no asfalto, quem vai para Uruguaiana, se

tiver uma brechinha no asfalto já nasce o annoni. É impressionante.[fim]

Mas nós da Fepagro instalamos, em D. Pedrito, um conjunto de pesquisas prevendo diversos mecanismos de controle do annoni, inclusive o veneno. Mais lotação, enfim, é uma pesquisa inicial e o pessoal já está com bastante entusiasmo, já temos lá na pesquisa teremos uma consultoria da Embrapa. O pessoal está com bastante entusiasmo em relação à pesquisa.[fim]

Aqui em Tupanciretã, foi feito um sistema silvo-pastoril, acácia com gado, está no sétimo ano e terminou o annoni no meio da floresta. E durante o verão, o ganho de peso foi muito bom. Claro que no inverno, são forrageiras de verão, são forrageiras tropicais, durante o inverno teve problema, mas muito menos problema, porque estava mais protegido do frio, mas no verão foi muito bem. E lá, eu testemunho na área, são 15 hectares, não tem nada de annoni embaixo da floresta, nada, e do lado é solo. Então tem muita coisa em andamento, e nós esperamos ter resultados. A Fepagro está trabalhando nisso, nós temos um grupo, não é grande, mas é um grupo respeitável trabalhando com a questão do annoni.[fim]

O SR. PRESIDENTE JERÔNIMO GOERGEN – Fernando Adauto, com a palavra. Depois faço outras questões que tenho aqui.[fim]

O SR. FERNANDO ADAUTO LOUREIRO DE SOUZA – Os assuntos são tantos que eu me desorganizei aqui. Vamos começar pelo último, pelo annoni. Nós, nesse evento que o Dr. Cardinal referiu, fizemos uma proposta de ser criada uma legislação de combate ao annoni, a exemplo do que Rio Grande do Sul fez com outros problemas. Nós tínhamos aftosa. O combate à aftosa só começou com uma legislação que foi criada para combater a aftosa. Pessoalmente, fui Presidente de Sindicato, e no meu Sindicato, durante o tempo que fui Presidente, o annoni jamais sementou. Porque o grande difusor do annoni são exatamente os locais de feira, de remate, onde os animais ficam com fome, porque, às vezes, passam dois, três dias e naturalmente, se tiver annoni, que o annoni

geralmente está presente, eles comem tudo e depois saem a semear pelas mais diversos Regiões onde os animais são adquiridos.[fim]

São exemplos, tem outras coisas que uma legislação poderia ajudar de fácil controle. Por exemplo, a nossa Inspetoria Veterinária, que cuida dessa parte da sanidade animal, poderia fazer uma inspeção, uma vez por mês, em cada local do remate, só autoriza a venda se não tiver annoni sementada, porque annoni nascido vai ter, porque a banca de semente já existe e é muito complicado, mas pelo menos não deixar sementar.[fim]

Com relação à lotação que o Dr. Lobato falou, queria dar uma contribuição, esse fim de semana passei lendo um livro em espanhol que se chama Heróis a Cavalo. Que fala sobre a crise que antecedeu a Revolução de 93, e é escrito por um americano, desses americanos, estudiosos das nossas questões, e ele traz inúmeras referências sobre o nosso campo nativo. Algumas até muito lisonjeiras para nós, como por exemplo que o gado selvagem, quando foi introduzido pelos espanhóis e portugueses, se desenvolveu muito melhor na margem esquerda do Rio Uruguai do que na pampa argentina. Talvez porque a pampa argentina, pela sua fertilidade, fosse vegetação talvez nativa de porte mais alto.[fim]

Ele faz referências com muita segurança sobre isso. E depois coloca a redução das propriedades e a necessidade que o pampa tinha de sustentabilidade – e ele diz isso com todas as letras no livro – de ter dois hectares por vaca. Faz várias referências nesse sentido.[fim]

Nós fomos agora à Feira de Anuga, e eu já conhecia esse trabalho do Uruguai, mas fiquei surpreso porque o grande cavalo de batalha da carne uruguaia era a sustentabilidade e o meio ambiente. Eles tinham uma fotografia aérea num painel – talvez do tamanho dessa parede aí –, e ali eles pintaram um retângulo que representava dois campos de futebol. No meio desses dois campos de futebol, eles colocaram um novilho Hereford.[fim]

Eu já pedi esse material e, daqui a pouco, entregarei as

cópias à CPI. Nesse material diz assim: No Uruguai, nós temos 15 mil metros quadrados para cada cabeça bovina – entre parêntese –: dois campos de futebol de pastagens naturais. Esse é o carro chefe da venda hoje da carne Uruguai, porque o mundo moderno busca exatamente um produto sustentável, ecológico, que da mesma forma que o Uruguai nós podemos fazer na nossa Metade Sul.[fim]

O SR. JOSÉ FERNANDO PIVA LOBATO – Fernando, disseste que o aspecto lotação ou carga... Também já foi dito em outras oportunidades... Mas em 98 eu tive a felicidade de ir ao INTA/Mercedes, à Embrapa Argentina, e lá Olegário Rojo Palhares disse assim: Isso aqui é um sistema auto-sustentável e auto-renovável. Capim caninha. Consta isso nos autos em 2001. Capim caninha. Dois hectares de capim caninha e uma vaca Braford ou uma vaca Brangus.[fim]

O INTA/Mercedes fica a 120 quilômetros de Uruguaiana. Portanto, é a mesma latitude. Muito semelhante à Metade Sul ou metade do Rio Grande do Sul. Digo mais – informação uruguaia –: Eu tinha informação de ex-aluno, meus orientados uruguaios, e agora eles escreveram um livro e botaram por escrito: A carga recomendada no Uruguai – Eles são professores da Escola de Agronomia de Paisandu, Álvaro Simeone e Virgínia Bereta. No livro deles consta: Os campos nativos do Uruguai, a 200 quilômetros de Livramento, ou de Quaraí, de 280 a 300 quilos de peso vivo.[fim]

E o Incra exige do produtor e continua exigindo – e não há uma revolução neste Estado – 360. Ou seja, querem estoque. É como dispensa cheia ou uma revenda de automóveis: tá lotado. Mas não vende um carro, quebra. Só não quebra porque a pecuária é muito forte. E o gaúcho ainda é muito forte e tá resistindo. Tá faltando apoio público pra uma rebelião contra isso que tá sendo cobrado do produtor. Desculpe, Fernando, mas essa...[fim]

O SR. FERNANDO ADAUTO LOUREIRO DE SOUZA – Eu acho que tudo contribui, né? Eu conversava sábado com um

professor da universidade, teu colega lá, o Nabirck, que foi, a pedido de um produtor, examinar o campo que está sendo vendido numa das melhores regiões do Rio Grande do Sul. e ele voltou de lá e me disse: Olha, Fernando, eu desaconselhei, porque o campo tá destruído. Eu perguntei? Mas como destruído? Disse ele: Com um sobrepastoreio. O campo só tem essa grama tapete. Terminou com o pasto do campo. Não tem mais.[fim]

Então, efetivamente, eu acho que a nossa capacidade de produzir de uma forma moderna, porque moderno é buscar a proteção do maio ambiente, a sustentabilidade e coisa, tá muito prejudicada com uma legislação equivocada.[fim]

Eu acho que seria muito interessante que esta CPI evidenciasse isso, a conclusão dos seus trabalhos. Porque se alguém for contra isso, se tiver algum trabalho consistente, acho que já deveria ter sido colocado e até hoje nunca vi ninguém colocar.[fim]

O que nós temos aí, todos os trabalhos, tanto da Embrapa como da Universidade, como de pesquisadores daqui, do Uruguai ou da Argentina, indicam o mesmo caminho. Quer dizer, a história nos mostra... Enfim, acho que nós temos que parar de ser movidos a ideologia e ter uma movimentação técnico-científica.[fim]

Com o aspecto à exportação que o nosso representante aqui da FEE falou, eu concordo plenamente com ele. Tem sido muito penoso isso, mas o Rio Grande do Sul não tem sido ajudado pelo Governo Federal. O Ministério tem-nos obstaculizado constantemente. Nós vacinamos aqui. Quando o Uruguai retirou a vacina porque a nossa pesquisadora ali falou muito bem. O Rio Grande do Sul, em termos de febre aftosa, é pioneiro, não vou dizer na América do Sul, mas no Cone Sul nós somos pioneiros. Nós sempre andamos na frente. Eu ajudei, na propriedade que eu administrava, ajudei numa parceria que a Embrapa fez para aumentar um testemunho na experiência com a vacina oleosa que era feita aqui, na validação, isso foi lá por 73, se não me engano, quer dizer, eu vi o trabalho que foi feito. Nos tínhamos... A nossa propriedade ficou ilhada ali, a aftosa, na fronteira com o Uruguai. O

Uruguai tinha aftosa. Quer dizer, o primeiro sujeito a exportar vacina para o Uruguai, vacina oleosa, fui eu. Eu era presidente da Cicade. Para poder importar gado de lá, foi criada uma lei que tinha que vacinar. Então, nós exportamos a vacina, vacinávamos o gado lá e depois exportávamos.[fim]

Quer dizer, nos assistimos o Uruguai nos passar na frente. O Uruguai, naquela época, jamais vendia o quilo de carne pelo preço que vendíamos, era 20% menos. Hoje, o Uruguai vende por 100% mais. Entende? Então, nós ficamos num atraso, mas por quê? Porque, quando o Uruguai retirou a vacina, nós tínhamos que ter retirado. Quando o Uruguai ganhou o mercado americano, nós tínhamos que ter ganho também. Porque nós tínhamos condições, inclusive, melhores do que a dele. Agora, essa marcação de passo que nós fomos submetidos, que o produtor gaúcho foi submetido, cansou o produtor. Nós cansamos de vacinar, naquele período, à toa, porque não tinha nenhuma atividade. Aliás, a nossa aftosa ela, pelo menos na região lá da fronteira, sempre veio do Uruguai. Quer dizer, ela vinha... Argentina, entrava... O caminho da aftosa era conhecido. Chegava aqui... Então, nós cansamos de vacinar. E, efetivamente, nunca saímos de uma forma competitiva a disputar os mercados, como, agora, de novo, nós estamos precisando enfrentar esse mercado americano, que é a única forma de nós nos diferenciarmos, Deputado.[fim]

Porque o Rio Grande do Sul entrou em crise na pecuária, quando os gaúchos começaram a comer toda a nossa carne. É uma contradição, é até uma ironia. Mas quando nós começamos a comer toda a nossa carne, veio a crise. Por quê? Porque aí não precisa mais exportar, não precisa mais produzir. Qualquer espedaçador de carne pode matar um boi e vender a carne. Foi aquilo que o Professor Lobato falou. E aí, a competitividade do setor se estabeleceu na sonegação e no calote. E aí quem tem menos competência que termina se estabelecendo.[fim]

Então, eu digo para vocês, a saída para o Rio Grande do Sul – eu acho que as conclusões do trabalho da CPI devem apontar nessa direção – é exatamente nós ganharmos o mercado americano.

Porque esse mercado que estamos exportando, que está todo mundo se vangloriando disso, é um mercado que não nos dá nenhuma solidez. É um mercado marginal. Nós exportamos para os árabes, que têm pouco dinheiro para nos pagar; para os russos, para os... esses... para vários países da África; o Chile só nos importa carne barata, dianteiro. Efetivamente, o grande importador de carne, quem comanda o mercado internacional é os Estados Unidos. E nós temos que buscar isso com afinco sob pena de não conseguirmos sair da situação difícil que nós estamos.[fim]

Eu tinha anotado aqui, que era uma pergunta que eu iria fazer à nossa pesquisadora, que na pecuária de corte, estou falando do problema de carrapato, hoje talvez a moléstia que mais mate no Rio Grande do Sul. Talvez não. Eu acho que até posso afirmar que o que mais mata no Rio Grande do Sul é a tristeza parasitária bovina que até é muito confundida com outras doenças, mas no fim tudo é tristeza.[fim]

Eu acho que vocês têm uma vacina, tem uma pesquisa neste sentido e que não foi relatada e que talvez fosse interessante a gente questionar porque eu acho extremamente importante, não só para o Rio Grande do Sul, mas para o Brasil, este trabalho que eu vejo de extrema importância econômica.[fim]

Enfim, não quero me alongar, eu ficaria por aqui, Deputado, com esta questão.[fim]

O SR. PRESIDENTE JERÔNIMO GOERGEN – Eu estou vendo alguns pronunciamentos, é dito que várias vezes falado, enfim, tudo isso o próprio Lobato coloca que em 2001 falou. Foi este um dos motivos que me fez comandar este processo desta CPI, porque exatamente o que se percebe é que muitos materiais de relatórios anteriores desta Comissão se levanta o assunto e não se concretiza. Esta é uma angústia pessoal minha como Parlamentar que me fez fazer esta CPI para poder trazer à tona, de maneira concreta, e obviamente que os resultados – eu tenho conclamado ao Fernando, enfim, ao Rogério que representam entidades – que este relatório, aonde vai constar tudo isso, e que tem também, além do

problema da desestruturação, uma vontade de oferecer uma proposta de recuperação do setor, vai precisar, sem dúvida, do apoio de todos porque não é o relatório, o papel, o documento que nós vamos fazer ao final que vai resolver o problema. Vamos precisar interagir.[fim]

Quero Lobato, com isso, dizer que vocês não estão gritando à toa. Tenho tentado, neste trabalho, buscar compilar tudo de uma maneira bastante aprofundada, estamos com cerca de 115 horas de depoimentos de toda a cadeia produtiva, de todo o aspecto estrutural. Toda a segunda-feira tem sido assim a minha vida e sexta-feira no interior e demais Deputados também, hoje excepcionalmente é o primeiro momento que estamos um pouco sem a presença dos dois Colegas que têm comandado o trabalho, mas isso tudo vai fazer parte de um relatório que vai fazer parte de um relatório que precisará do apoio das entidades, do Governo e de todos vocês.[fim]

O SR. JOSÉ FERNANDO PIVA LOBATO – Espero que os Deputados aqui ausentes hoje leiam o que foi dito aqui.[fim]

O SR. PRESIDENTE JERÔNIMO GOERGEN – Sem dúvida.[fim]

O SR. FERNANDO ADAUTO LOUREIRO DE SOUZA – Deputado, só para registro, eu gostaria se me permite, rapidinho uma colocação sobre o trabalho da Embrapa, sobre limpeza da serra do Sudeste que temos problemas gravíssimos com relação ao meio ambiente. A nossa Secretaria do Meio Ambiente ou o Ibama tem autuado o pessoal da serra do Sudeste na limpeza de campos, o que eu acho um absurdo porque muita gente, inclusive, está qualificando o meio ambiente, está melhorando o meio ambiente e estão sendo vítimas da aplicação de uma legislação equivocada. Estão aplicando a legislação florestal em savana e nós não estamos lidando com floresta, aquilo é savana.[fim]

Existe um trabalho, vários produtores até para fazer arame tu

não pode mais limpar a linha porque é autuado e tem vários exemplos disso aí. Isso foi proposto para a Comissão de Agricultura anterior nós fazermos uma... não sei qual é o termo, não é uma CPI, mas fazer um debate sobre o assunto e eu não sei senão é de fazer uma revisão na legislação para permitir a qualificação desses campos sem haver o prejuízo dessas multas que são extremamente pesadas. Acho que seria muito importante também nós registramos este fato. A Embrapa tem um trabalho muito interessante e que acho que pode ser usado como subsídio para estas modificações todas que são necessárias.[fim]

O SR. PRESIDENTE JERÔNIMO GOERGEN – Fernando, eu quero então dentro desta linha, até para a gente não desviar muito o foco, mas nós realizamos aproximadamente há dois meses atrás aproximadamente uma reunião da Comissão da Agricultura sobre este enfoque e a posição que eu vou voltar a cobrar esta semana, inclusive, porque tem nos preocupado ainda mais, eu recebi no dia da reunião do Secretário Alberto Wenzel uma posição de criar um grupo de trabalho para revisar esta situação das espécies incluídas em extinção.[fim]

Não tivemos a concretização disso, mas estamos cobrando a posição, porque o acordo feito entre a Assembléia e a Secretaria do Meio Ambiente é de criar um grupo de trabalho onde estariam inclusive a Embrapa e a Universidade Federal, isso foi acertado com o Secretário, foi motivo de divulgação pública na imprensa, inclusive ainda não se concretizou, mas já está encaminhado isso para que possamos ter, é uma revisão exatamente destes termos naquilo que você estava falando.[fim]

Dra. Maria Angélica, eu já vou botar mais uma pergunta aqui: nos trabalhos de pesquisa envolvendo a tuberculose humana existe uma relação direta de contaminação com a tuberculose animal? E se existe, que percentuais, se existe estudo nesse sentido.[fim]

A SRA. MARIA ANGÉLICA ZOLLIN DE ALMEIDA – Bom, a tuberculose, ela é uma zoonose, ou seja, ela é uma doença que pode ser transmitida dos animais para o homem e dos homens para

os animais. O mais comum que ocorra é a transmissão dos animais para o homem, mas também é tido o outro segmento.[fim]

Num congresso de 1990 ou 2001 – acho que foi há dois ou três anos – de Veterinária, que veio o Dr. Rufino, que era, na época, Presidente de Pneumologia do Governo do Dr. Fernando Henrique, ele ficou abismado quando viu os dados que nós apresentamos desses assentamentos. Nos assentamentos – deixa eu explicar certinho, não é para sair dizendo que toda a população é assim –, foram oito assentamentos que trabalhamos na Região de Eldorado, Guaíba e seguindo para o sul. Nós encontramos um índice de 7% de tuberculose em pessoas que trabalhavam diretamente com o gado.[fim]

Então, o nosso primeiro, vamos dizer assim, o primeiro pensamento foi: os animais transmitiram para os homens esse problema. Aí, entramos em contato com o Centro de Saúde, o Centro de Saúde não, a Secretaria de Saúde e Meio Ambiente daqui de Porto Alegre, fizemos um trabalho com eles, levantamento, encaminhamos o que era dessa Região aqui de perto para eles, e foi constatado que tinha microbacterium não bovis e sim microbacterium tuberculosis e BCG, ou seja, era tuberculose humana mesmo. Então, devido às condições de sanidade, de saneamento básico daqueles assentamentos e falta de higiene, o que estava acontecendo é que não só os animais estavam contaminando as pessoas, mas as pessoas estavam contaminando os animais. E o detalhe que nos levou a procurar a Santa Casa para fazer o trabalho é que os medicamentos para humanos são de distribuição gratuita. Só que, no Programa, não está previsto para crianças o fornecimento de medicamento porque as crianças não são contaminantes. Como dizem que as vacas não tossem e que as crianças não expectoram, o que é uma irrealidade, elas não estariam previstas nesses programas.[fim]

Então, foi feito todo um trabalho para que essas crianças pudessem ser assistidas também. E nós continuamos esse trabalho. Depois de um tempo, na Região lá de Cachoeira, diminuiu bastante. Passou para 3%, o que é bastante alto ainda para o nível de

tuberculose em um Estado – isso em humanos – num Estado em que nós não tínhamos nem 1%. Até pouco tempo atrás, no Rio Grande do Sul, o nível de tuberculose humana era menor do que 1%.[fim]

Então, é transmissível a tuberculose tanto de humanos para animais, como de animais para humanos. Isso é uma coisa básica. E a pergunta, a pergunta não, a colocação da Dra. Fernando é realmente que nós temos no Desidério Finamor um pesquisador, João Ricardo. Ele é um pesquisador de nível internacional. Ele faz parte do quadro da FAO. Anualmente, ele passa um tempo na Itália, desenvolvendo trabalhos. Ele atua na área, especificamente de carrapatos. Também da mosca do chifre trabalha bastante. E é desenvolvida, pela equipe dele, uma vacina, vacina para tristeza parasitária bovina, que é distribuída em todo o Estado do Rio Grande do Sul. É distribuída aqui nessa Região por nós, através do Desidério mesmo, e no interior, através do Centro de Livramento e uma outra parceria em Bagé.[fim]

O SR. PRESIDENTE JERÔNIMO GOERGEN – Muito bem. Vou fazer uma outra pergunta e, depois, encerramos com a pergunta do Rogério. Existe trabalho sobre a diferença de rendimento de carcaças de bovinos em relação a espécies européias e novilhos sintéticos?[fim]

O SR. EDUARDO SALOMONI – Com certeza. A Embrapa-Pecuária Sul ou a Universidade, a grande maioria dos seus trabalhos de produção animal, principalmente com novilhos, avalia os rendimentos de carcaça, e a diferença é significativa de uma para outra.[fim]

O SR. PRESIDENTE JERÔNIMO GOERGEN – Rogério, com a palavra.[fim]

O SR. ROGÉRIO KERBER – Deputado, rapidamente, só duas considerações. Primeiro, cumprimentar V. Exa. e os participantes desta reunião pela clareza, objetividade e coragem em fazer as colocações que aqui fizeram e que nos mostram que temos

muito a andar por aí.[fim]

Em especial, um registro com relação aquilo que o Dr. Cardinal colocou, anunciando a implantação de um laboratório de referência e biossegurança. Este é um dos pleitos do setor da suinocultura já há bastante tempo. Vimos esse anúncio com grande satisfação, visto que a suinocultura tem tido dificuldades em acessar novos mercados. Especialmente ficou já registrado nesta CPI que a participação da suinocultura brasileira no mercado internacional se restringe a cerca de 30% dos mercados existentes. Os outros 70%, por coincidência aqueles mercados de maior exigência, o Brasil e especialmente o Rio Grande do Sul estão fora por questão de segurança sanitária. O anúncio da implantação de um laboratório de biossegurança é saudado com grande satisfação pelo setor.[fim]

De outra parte, gostaria de fazer não uma correção à Dra. Angélica, mas só a título de ilustração, nos recentes episódios da doença de Aujeszky, boa parte dos exames laboratoriais tem sido desenvolvido em Santa Catarina, no Laboratório Cedisa. Até o presente momento, no evento que está sendo trabalhado no Alto Uruguai, somente foram feitos exames aqui no Laboratório do CPVDF no valor de entorno de 2 mil reais, em valores aproximados, e os exames desenvolvidos no Laboratório da Cedisa já ultrapassam 40 mil reais. Isso mostra que temos algum caminho. E ficamos muito felizes, nesta oportunidade, quando se anuncia que a pesquisa no Rio Grande do Sul será retomada. Isto vai fazer com que tenhamos condições de trabalhar no Rio Grande do Sul.[fim]

Por outro lado, evidentemente que a Embrapa falou bastante em relação à pecuária de corte, e é natural, porque a entidade que está aqui é de pecuária de corte. Nós estamos ligados à unidade de suínos e aves de Concórdia, que devemos registrar que tem prestado relevantes trabalhos à suinocultura brasileira e especialmente ao Rio Grande do Sul, quando demandamos. Seriam essas considerações.[fim]

CONCLUSÃO:

Os motivos e fundamentos que serão expostas no presente item, por economia processual, a fim de não repetir os mesmo argumentos, se referem às conclusões desta Relatoria em relação aos fatos determinados 05 e 06.

A pecuária de corte de bovinos e suínos são duas cadeias agroindustriais de alimentos que geram emprego e renda, fatores indispensáveis para a promoção da paz e da justiça social em qualquer comunidade.

E economia de mercado, conforme exposto, é o modelo estrutural da economia mais eficiente na geração de renda e emprego. Em outras palavras, de produção de riquezas, que é o campo próprio da economia. A distribuição justa da riqueza não é campo da economia, mas da política. Se a economia de mercado está sendo eficiente na geração de riquezas e não está havendo justa distribuição dessas, não é culpa da economia de mercado, mas da esfera política que não é eficiente na criação e implantação de políticas públicas eficazes. Por sua vez, mesmo numa economia de mercado, onde a livre empresa ou a empresa privada é a responsável pela geração de riquezas, não significa que o Poder Público não tenha ainda o seu peso decisivo na economia. A intervenção do Estado no domínio da economia privada numa economia de mercado é uma realidade em todas as nações. Não se trata aqui da era áurea dos monopólios estatais e da política de tabelamento de preços, de uma política de planejamento econômico. Isto faz parte do passado e já entrou para história. Defender o seu retorno ou mesmo de mecanismos dessa era é saudosismo e descompasso com a realidade.

O que se está defendendo é que a intervenção do Poder Público seja no sentido de articulador e integrador dos agentes do mercado, não só para assegurar a livre concorrência mas até para fomentar o desenvolvimento econômicos daquelas regiões subdesenvolvidas, visando à geração de emprego e renda e a sua justa distribuição. Nesse campo, há um espaço importante para atuação da política. Não se fala aqui especificamente nas funções primárias do Estado, pertencentes ao campo do Direito Constitucional, admitidas por consenso para todos, como no exercício da função legislativa ao estabelecer regras de direito gerais e abstratas para normatizar as condutas humanas para o convívio em comunidade e o modo de arbitrar e mediar conflitos de interesses no segmento da sociedade civil, assim como ocorre no âmbito da administração da justiça. Nem tampouco se fala aqui das atividades típicas do Estado, pertencentes ao campo do Direito Administrativo, como o exercício de poder

de polícia administrativa na fiscalização de atividades humanas que afetam toda a comunidade, como é o caso da inspeção e da vigilância sanitária de produtos de origem animal na defesa da saúde pública ou de serviços público ou de utilidade pública.

Esta Relatoria está a se referir à ATIVIDADE DE FOMENTO, que está um tanto esquecida ou relegada a um segundo plano.

A atividade administrativa de fomento corresponde, entre outras, à concessão de incentivos e benefícios fiscais e creditícios. Essa existe e é articulada nos diversos níveis de governo. A questão não é a existência em si, mas a desarticulação entre as entidades governamentais e até mesmo dentro do mesmo nível de governo. Em outras palavras, as políticas públicas existem mas estão desarticuladas entre si. Há necessidade de sua articulação para racionalizar a aplicação de recursos públicos visando maximizar os resultados a serem traçados.

Com relação à execução de atividades de extensão e assistência técnica e de pesquisa básica e, principalmente à aplicada, no entender desta CPI, não se trata de um serviço público próprio do Estado ou um serviço de utilidade pública. A Administração Pública desenvolve estas atividades visando a apoiar os agentes econômicos. Portanto, pela sua finalidade, é atividade administrativa de fomento público.

A articulação e unificação das políticas públicas desenvolvidas pelos diversos entes de fomento da economia, terá de ser traçada para tornar os agentes das cadeias agroindustriais de alimentos mais eficientes na produção em escala de produtos de qualidade, que possam ganhar o mercado externo. Não há como compatibilizar custos de produção que são total ou parcialmente em dólar e produzir produto que são adquiridos no mercado interno em moeda nacional. Sem ganhar mercado externo, não há como agregar valor ao produto. As indústrias que conseguem exportar têm condições de remunerar melhor o produtor rural. Esse é o caminho da bovinocultura de corte.

Quanto à suinocultura, em que pese já exportar parte da sua produção, só irá adquirir um certo nível de estabilidade se conquistar novos espaços.

Há um registro importante a ser feito, que é em relação à pequena propriedade familiar. Esta está sendo cada vez mais excluída das cadeias agroindustriais de alimentos. Isto se observa no leite e ocorre por diversos fatores, mas, o principal se relaciona aos problemas de produção de escala.

Sem uma ação conjugada ou combinada das políticas públicas entre as diversas entidades governamentais entre si, e estas, em ação conjunta, com a iniciativa privada, os pequenos produtores de proteína animal, não terão mais como permanecer no mercado ou ficarão relegados a um mercado secundário do tipo de sobrevivência.

Em outras palavras, há de se construir metas de governo em políticas públicas eficientes para que os pequenos produtores rurais tenham capacidade de produção em escala.O sistema integrado, em que pese algumas críticas, tem dado resultados positivos em capacitar o pequeno produtor rural na produção de escala. É uma experiência criada a margem do Estado, apesar do Estado, inclusive de seu regramento normartivo, dentro do legítimo campo da autonomia econômica da pessoa humana. Como toda experiência criada pela iniciativa privada, espontaneamente de baixo para cima, há necessidade de ser aprimorada e quando toma certas dimensões é até preciso que haja sua normatização por lei. Mas esta deve ser no sentido de aprimorar esse sistema, até com algumas normas de proteção da hipoinsuficiencia do produtor integrado, mas não no sentido de planificação da economia e controle estatal no velho estilo da economia nacionalista-estatizante, modelo esse totalmente incompatível com uma economia de mercado globalizada, especialmente quando se pretende conquistar mercados externos.

Para concluir, o que esta CPI está propondo é uma articulação entre a iniciativa privada (economia) e o Poder Público (política), onde cada uma na sua esfera de atuação possa desenvolver ações conjuntas ou combinadas com base em metas comuns e compatíveis, a fim de tornar eficientes as políticas públicas de fomento e as cadeias agroindustriais de alimentos.

CONCLUSÕES

INTRODUÇÃO:

Os trabalhos desta Comissão Parlamentar de Inquérito das Carnes visou a analisar a cadeia do processo produtivo da bovinocultura e da suinocultura no Estado. Faz-se necessário ter presente a história recente da economia brasileira. Nas últimas décadas os brasileiros acostumaram-se a conviver com inflação, atingindo seu ápice no último mês de Governo do Presidente José Sarney, quando chegou ao índice de 84% no mês. Este quadro conjuntural foi ocasionando uma ofuscação na visibilidade real de custos e de lucros. Isto em função de uma deformação institucional, a conhecida “ciranda financeira”, com diversidade de aplicações oferecidas pelas instituições do sistema financeiro nacional. Os depósitos à vista, em conta corrente, eram remunerados diariamente, pois a inflação desenfreada corroía a moeda brasileira da noite para o dia. Os rendimentos financeiros provocaram um desestímulo aos investimentos de capital das empresas, porquanto o lucro extraoperacional era maior que o operacional, e o risco do capital estava reduzido a zero.

Além das instabilidades inflacionárias reinantes neste período, o Governo Federal adotava políticas de protecionismo, como políticas de tabelamento para a fixação de preços mínimos nos produtos agropecuários, e mecanismos de estoques reguladores. Estes instrumentos de proteção da produção são objeto de acirradas discussões atualmente, quando o Brasil trata com a comunidade internacional para a integração dos mercados continentais. A posição contrária aos subsídios dos produtos agropecuários é levada ao debate com outros dirigentes estrangeiros, quando discutem os acordos do Mercosul, da ALCA, da União Européia, da OMC, pois muitos Países ainda mantêm políticas de proteção aos seus produtores, seja por meio de barreiras tarifárias ou mesmo com subsídios governamentais.

Esta afirmação tem como parâmetro a formatação das plantas frigoríficas com idade média superior a quarenta anos. Aqui o Estado Brasileiro, em seus três níveis de Governo, foi afetado na mesma proporção da iniciativa privada. Em função do pouco crescimento industrial, órgãos essenciais do Estado foram atrofiados, tais como os serviços de fiscalização sanitária, tributária, ambiental, e outras. Em suma, o Estado encolheu, quase desapareceu, e desaparelhou-se.

Entretanto, na CPI, não foi esquecido o fato de que estamos lidando com uma cadeia produtiva da iniciativa privada, onde as leis de mercado e de oferta e procura são princípios basilares onde a interferência do Poder Público nem sempre ajuda. Se a economia de um País pudesse ser regulada por decreto ou mesmo por lei, não haveria povo pobre nem Governo desastrado.

A partir da década de 90, no Governo do Presidente Collor, passamos por transformações econômicas profundas, pois, com a abertura do mercado brasileiro para as importações, o setor industrial é desafiado e começa a trazer para o Brasil uma nova cultura. Quem não lembra da crítica do então Presidente Collor ao comentar que nossos automóveis eram “carroças”? Esta era a realidade industrial brasileira, com fábricas montadas com equipamentos sucateados de outras unidades desativadas em Países desenvolvidos. Os investimentos externos começaram e, com eles, a modernização do parque industrial. A era da globalização chegava ao País. Acordos internacionais foram assinados entre os Países sul-americanos, organizando o Mercosul. Foi o primeiro passo para fortalecer as economias emergentes, na competição internacional com os Países desenvolvidos. Porém, vivíamos, ainda, com o fantasma da inflação, o que prejudicava as relações comerciais.

Esta conjuntura teve uma alteração radical no momento em que a economia encontra, em 1994, o rumo da estabilidade econômica, com uma moeda em que os preços passam a ser deflacionados e chegam a um patamar realístico.

Como o mercado externo passou a competir com o nacional, houve um movimento de atualização administrativa e gerencial. As empresas profissionalizaram suas administrações, contratando pessoal especializado, deixando de lado as gestões familiares. Houve reflexos positivos na descentralização da economia brasileira, com instalações de novos investimentos fora do eixo Rio-São Paulo, agregando-se Estados da Região Sul, da Região Centro-Oeste, e alguns estados nordestinos.

Por ser um setor importante, indutor da economia brasileira, na bovinocultura e na suinocultura, os reflexos foram idênticos aos demais. Ao contrário dos ganhos financeiros, os setores econômicos passaram a trabalhar com qualidade, com produtividade e otimização de custos. Os antigos e os novos empresários tiveram de se adequar a esta nova realidade e com isto, os preços em todas as etapas da cadeia produtiva tiveram necessidade de reajustar-se à nova realidade.

Hoje, as relações comerciais sofrem mudanças radicais, pois o próprio consumidor está mais exigente, não aceitando qualquer produto. Esta realidade está expressa no Código de Defesa do Consumidor. Quando que, na década de 80, pensaria-se que os consumidores teriam direitos de exigir do mercado varejista, produtos com qualidade, com respaldo em lei e órgãos especializados criados para sua defesa? Esta nova relação entre o consumidor final e o varejo, refletiu diretamente no setor industrial, pois a cadeia produtiva é composta de elos, quando um elo é tencionado, todos os demais sofrem os mesmos efeitos. Por conseqüência, a indústria passou a exigir de seus fornecedores de matéria-prima melhor qualidade e mais quantidade.

Sobre o mercado comprador, as grandes empresas nacionais e multinacionais desenvolvem, há vários anos, práticas de pesquisas de opinião junto aos consumidores, para saber o que estes querem. O mercado mudou, visto que o consumidor compra o que quer e não o que o vendedor quer lhe vender. E neste aspecto, a influência do mercado consumidor passou a ditar as regras para toda e qualquer cadeia de produção. Na hipótese de não haver disponibilidade de oferta de determinado produto de fabricação nacional, o de origem estrangeira invade o mercado e dificulta a recuperação da indústria brasileira.

A idade média das plantas frigoríficas localizadas no Estado do Rio Grande do Sul, segundo informações prestadas em depoimentos, datam da década de 50. Por óbvio, não se pode desconsiderar alguns investimentos em modernização, pois as exigências do mercado internacional em questões sanitárias e ambientais forçaram as adequações nos parques industriais.

Neste aspecto, devemos levar em consideração, ainda, que os novos investimentos na região Centro-Oeste, com a instalação de grandes frigoríficos voltados à produção em larga escala, foram dimensionados e equipados de forma a atender as exigências de mercado. Com maquinário de última geração, o abate diário hoje chega a 3000 cabeças de bovinos, ou seja, alto índice de automação; baixa consumo de energia e pouca mão-de-obra, os resultados são de “primeiro mundo”. Face ao custo de produção ser reduzido, o preço de venda da indústria torna-se altamente competitivo em qualquer parte do País. Além do que, colocam no mercado os produtos que os consumidores querem comprar.

Dentro deste contexto, a CPI constatou que, assim como a iniciativa privada não evoluiu na mesma velocidade das necessidades de mercado, o aparato governamental andou para trás. As dificuldades enfrentadas pelos empresários em decorrência da insuficiência de estrutura dos órgão públicos é desalentadora. A falta de pessoal e a burocracia entrava no cotidiano empresarial. A iniciativa privada passou e continua na busca da modernização e otimização, enquanto as políticas públicas de apoio aos empresários passa ao largo.

Mas, dentro deste contexto histórico e fático até aqui relatado, devemos ter presentes as iniciativas dos empresários nacionais no sentido de avançar rumo à modernidade, mesmo deparando-se com inúmeros obstáculos. Entre as dificuldades claramente visíveis está o acesso ao financiamento de empreendimentos, onde alguns privilegiados contaram com a complacência de órgãos do Governo Federal e carrearam altas somas de recursos do povo brasileiro e o resultado, em curto espaço de tempo, foi a falência, deixando produtores, fornecedores e credores sem qualquer alternativa.

Além da falta de apoio financeiro, outros entraves à atividade empresarial são flagrantemente praticados pelos órgãos governamentais, por exigências de difícil cumprimento e que lotam as prateleiras para despachos burocráticos. Esta demora é justificada pela falta de funcionários, o que vem corroborar com nosso apontamento anterior, com relação ao desmonte do Estado.

Entretanto, vê-se que empresários do setor estão progredindo no propósito de atribuir maior valor comercial ao produto, desenvolvendo parcerias com produtores rurais para criar um diferencial na carne bovina. Estes avanços tem como objetivo criar marcas que ofereçam credibilidade de que a procedência e qualidade da carne é um diferencial no momento da venda no varejo, seja ela em açougues ou em redes de supermercados. Este nicho de clientes deve crescer ao longo do tempo e os projetos devem robustecer e reavivar novamente a consciência do homem do campo, de que ele é indutor, também, da economia brasileira.

Quando o bem-estar fica no campo, a sociedade igualmente passa por mudanças, visto que se elimina o êxodo rural, aumenta-se a renda, e diminuem-se os problemas nos grandes centros. As tradições gaúchas estão assentadas na criação de gado bovino, sendo um dos maiores produtores de raças européias, onde a carne tem maior valor de mercado na exportação. Somos especialistas nesta área, entretanto, por vários problemas conjunturais dos quais alguns mencionamos, a estrutura ficou abalada.

Para encerrar a cadeia, chegamos ao varejo, o ponto final da relação entre a produção e o consumo. O setor varejista é muito mais ágil e reage de forma mais imediata às modificações da conjuntura econômica. É o setor mais dinâmico, e o que sofre as pressões dos consumidores, que aguçadamente pesquisam e adquirem produtos com qualidade por preços mais acessíveis. A busca de mercados a cargo do varejo deixa ao setor o encargo de refletir para os demais as necessidades do mercado e o anseio dos consumidores e as variações de hábitos decorrentes das constantes mudanças socioculturais. Neste aspecto, dentro do espectro sul-rio-grandense, as empresas estão seguindo de forma adequada as exigências cotidianas. Algumas redes de supermercados têm ido além, com a implantação de marcas próprias e buscando parcerias no sentido de qualificar a produção da bovinocultura estadual. Assim, utilizando-se de sua marca, buscam, cada vez mais, colocar em suas prateleiras mercadorias diferenciadas ao gosto de sua clientela, além de conjugar com preços compatíveis aos de mercado.

Esta linha de trabalho conjunto, visando à minimização de custo, aumento de oferta e maior qualidade do produto, vêm ao encontro das regras de mercado, com preços competitivos e produtos com mais tecnologia para o consumidor. A integração entre o varejo com os demais elos da cadeia produtiva vem ao encontro das expectativas do mais humilde ao maior produtor rural, pois a maior parte da produção bovina é absorvida dentro do Estado do Rio Grande do Sul.

CONCLUSÕES SOBRE OS FATOS DETERMINADOS:

PRIMEIRO FATO DETERMINADO:

É FATO NOTÓRIO, segundo a prova coletada neste Inquérito Parlamentar, que os produtores rurais não são o elo da cadeia que estabelece o preço do seu produto. Pelo que se constatou, é justamente o contrário: o preço é imposto unilateralmente pela indústria, sem que negocie e discuta o mesmo.

Contudo, essa circunstância não configura abuso de poder econômico. O preço é determinado pelo mercado. Em última análise, pelo consumidor, através das leis de oferta e procura. Não é o custo de produção que determina o preço. Evidente que pode alguma empresa realizar domínio de mercado e impor aumento arbitrário de preços, inclusive ao produto do produtor rural.

As conclusões acima não significam que o produtor esteja sendo satisfatoriamente remunerado pelo seu produto. E esta Relatoria reconhece as dificuldades pelas quais passaram nos últimos anos. Mas, indústria também sofreu as dificuldades. Significa que se a indústria vai mal o produtor também vai. São problemas de mercado, onde todos têm sua parcela de risco.

Mais do que procurar um culpado, como se isso fosse solucionar os problemas, devem-se achar as verdadeiras causas para se encontrar o caminho da solução. Nesse sentido, a fim de identificar as causas, transcrevem-se informações do SIPS, onde demonstra esses problemas, especialmente por causa de câmbio que aumentou os insumos e de restrição de mercado externo, por existência de barreiras sanitárias.

Não existe solução a curto prazo. A reestruturação de uma cadeia agroindustrial de alimentos exige tempo e grandes esforços. A pecuária bovina de corte do Rio Grande do Sul possui alguns diferenciais. É formada por plantéis de raças européias, especialmente britânicas, com melhor aceitação nos mercados do Primeiro Mundo e possui maior conversão de alimento em proteína do que as raças zebuínas. É um rebanho de boa qualidade zootécnica. Houve progressos nos últimos anos, como a redução da idade de abate do bovino. Há programas especiais que valorizam o animal, agregando valor ao produtor com o varejo, promovida hoje pelas três principais redes varejistas. A SONAE tem o Programa Novilho Jovem, a ZAFFARI o Programa Novilho Precoce.

Um bovino é criado, em parte, com insumos e medicamentos cotados em dólar. Se não total, parte do custo de produção é em dólar. Entretanto, o produto é vendido em real. Se os Estados de São Paulo e a Região Centro-Oeste hoje estão remunerando melhor o produtor rural é por que estão exportando. O produto passa a ser cotado em dólar. No Rio Grande do Sul, somente as unidades industriais da EMPRESA MERCOSUL é que estão habilitadas para exportar. O exemplo dessa Empresa deve ser seguido por outras.

Para finalizar, o problema da indústria de produtos bovinos é mercadológico. Precisa-se readequar as novas contingências do mercado interno e externo, e isso passa por iniciativas e ações conjugadas entre o Governo e a iniciativa privada, envolvendo todos os elos da Cadeia Agroindustrial da Bovinocultura de Corte.

A indústria suína passa por dificuldades sérias por uma questão de custo de produção. Como é estruturada no sistema de produção integrada, tem de arcar com o custo da alimentação dos seus suínos. Porém, há uma equação que nunca vai fechar. O custo de produção se dá em dólar e a venda do mesmo é em real. As exportações não possuem um peso relevante para equilibrar essa operação dólar x real. As soluções não são simples, mas há necessidade de se rever essa operação, não só no sentido de aumentar as exportações e diversificar os mercados externos, mas também de diminuir os custos de alimentação. Mas, isto é tema de discussão para outro capítulo desta CPI - o referente às políticas públicas.

Quanto à infração da ordem econômica, não há prova de abuso de poder de mercado por parte da SONAE, ZAFFARI e CARREFOUR, no sentido noticiado, de que as dificuldades enfrentadas pela indústria de produtos suínos seriam dessas Empresas, por serem elas quem fixam o preço final do produto, com reflexo no preço que a indústria paga pela matéria-prima – suíno vivo – ao produtor rural. Não só não existem elementos de prova plausíveis para decretar o indiciamento, mas, principalmente, a hipótese noticiada não é razoável, no sentido da possibilidade de ocorrer, pois a sua participação na compra do total da produção de produtos suínos no Rio Grande do Sul não é tão significativa a ponto das grandes redes varejistas de Porto Alegre – RS poderem determinar unilateralmente o preço praticado em todo o Estado, mesmo que a hipótese de prática abusiva de MARK-UP e de benefício extrapreço, para efeitos de argumentação, fosse verídica, pelo menos nos termos noticiados pelo SIPS.

Na verdade, na AUDIÊNCIA DE ACAREAÇÃO realizada no dia 08 do corrente mês, entre a indústria de produtos suínos (Sádia, Perdigão, Frangosul e Avipal) e o grande varejo (Sonae, Carrefour e Zaffari), as teses de abuso de poder econômico não foram confirmadas. Pelo contrário, as declarações foram todas no sentido de confirmar a livre concorrência e a livre negociação entre as diferentes partes. Foi exposto que as negociações se dão pontualmente, caso a caso, conforme o interesse e a conveniência das partes. Todas as partes confirmaram que o consumidor não é prejudicado, mas sim, o grande beneficiado com a existência do controverso benefício extra-preço.

Os trabalhos de condução da acareação tiveram como norte gráficos que indicavam variações de aumento percentual de preços em Porto Alegre – RS, muito superiores a São Paulo. Esse foi um ponto que as partes presentes tiveram dificuldades de apresentar naquele momento uma explicação plausível. Esta CPI oportunizou que as mesmas apresentassem explicações por escrito, repetindo as perguntas feitas naquele ato. Todas as partes responderam, refutando as colocações sobre os citados gráficos, como teses não confirmadas. Nesse sentido, esta Relatoria transcreve, no corpo do relatório, as respostas do GRUPO ZAFFARI, que representam a média dos argumentos apresentados, cujos fundamentos e conclusões acolhe como parte deste Relatório para afastar a tese inicialmente apresentada, que não se mostrou suficientemente sustentável para indicar prática de conduta anticompetitiva:

É plausível concluir como FATO NOTÓRIO que em Porto Alegre – RS existe uma acirrada concorrência entre os grupos SONAE e CARREFOUR, que disputam a preferência do consumidor com preços baixos. Não passa na mente de nenhum consumidor da capital gaúcha ou mesmo nos dos outros mercados relevantes que ambas as empresas atuam no ramo de hipermercados em ação conjunta ou combinada para domínio de mercado relevante de bens e serviços. Pelo contrário, a publicidade de ambas as empresas indica justamente o contrário. Recentemente o CARREFOUR contratou o mais famoso jogador de futebol brasileiro, RONALDINHO para sua publicidade. A SONAE revidou e contratou sua ex-esposa, MILENE. É evidente que se trata de cachês pagos a peso de ouro. Ninguém investiria milhões só para fazer um "faz de conta de existência de concorrência". O resultado prático dessa disputa publicitária milionária são preços mais baixos e o grande beneficiado é o consumidor.

Por força do Princípio da Legalidade, mesmo em se tratando de procedimento administrativo de natureza inquisitorial, o axioma IN DUBIO PRO SOCIEDADE se aplica quando não há certeza da inocência do suspeito. Mas, para isto não há inversão do ônus da prova, com responsabilidade objetiva de culpa presumida e a inocência deve ser provada. Só se aplica quando há contradição ou obscuridade na prova coletada e nenhum momento autoriza o indiciamento com base em suspeitas. Estas devem estar alicerçadas em indícios e início de prova.

Concluindo o presente item, todos esses fatos e circunstâncias levam à conclusão de que, se houve ou há alguma sociedade ou parceira entre ambas Empresas para dominarem o mercado relevante de bens e serviços, em ação conjunta ou combinada, deve-se a uma interpretação distorcida ou errônea da aquisição de ações ordinárias da SONAE pelo CARREFOUR. Se há parceria ou sociedade essa é feita em segredo e nada disso foi provado. Pode haver até suspeitas nesse sentido, contudo, essas não se materializam em indícios, quanto mais início de prova para demonstrar a veracidade dessa alegação acusatória. Com ou sem parceria ou sociedade, o resultado prático que se tem observado nos atos dessas duas empresas é justamente o contrário do que se prevê quando se faz sociedade: a acirrada concorrência para atrair o consumidor mediante diversidade de produtos de boa qualidade a preços mais baixos. Isto não é prática anticoncorrencial, mas concorrência em sentido estrito.

O Grupo ZAFFARI é uma tradicional rede local e se destaca pela qualidade. O grupo CARREFOUR pertence a uma multinacional consolidada à longa data, tendo iniciado suas atividades no Brasil, justamente em Porto Alegre – RS, na sua loja de hipermercado localizada no Bairro Partenon. O grupo SONAE é a mais jovem entre as três redes. Contudo, essa empresa luso-brasileira, como se autodenomina, no Rio Grande do Sul e em Porto Alegre – RS, passou a atuar no ramo de supermercados como substitutas das Redes Nacional, Real e Econômica, essa de pequena expressão. Com toda competição existente, a rede ZAFFARI é a que ocupa o primeiro lugar no ranking. Isto afasta a alegação de concorrência desigual e desleal das empresas estrangeiras, pois não conseguem suplantar a empresa local. O mesmo se observa nos diversos mercados relevantes existentes no interior do Estado, onde as redes locais conseguem competir com as grandes companhias.

Pode-se presumir, ainda, que dificilmente as três grandes redes varejistas de Porto Alegre – RS conseguiram impor unilateralmente um aumento de preços ou reduzir os produtos comercializados em suas lojas de forma lucrativa, obtendo aumento arbitrário de lucros, já que os consumidores poderiam desviar parcelas de suas compras para os demais competidores.

Pelo exposto, as três grandes redes de Porto Alegre – RS, conquistaram sua participação no mercado resultante de processo natural, fundado na maior eficiência de agente econômico em relação a seus competidores, o que exclui o ilícito de domínio de mercado relevante de bens e serviços (art. 20, II, § 1° da Lei 8.884/94).

Concluindo, o presente item referente à avaliação da relação entre custo e benefício dos impactos positivos e negativos ao bem-estar econômico do consumidor, referente à concentração no mercado varejista em Porto Alegre – RS, não existe prova de efeitos anticoncorrenciais nesse mercado relevante. O efeito líquido da operação sobre o bem-estar econômico do Ato de Concentração Econômica é não - negativo e não há prejuízo ao consumidor por aumento arbitrário de preços.

SEGUNDO FATO DETERMINADO:

Já há a certeza da existência do abate irregular no Estado e da gravidade desse problema. É portanto, FATO NOTÓRIO E INCONTROVERSO. O mesmo ocorre em relação ao ABIGEATO.

Os prejuízos são imensos. Segundo o LAUDO TÉCNICO DE CRAQUEAMENTO DE BOVINO encomendado por esta CPI, um bovino médio de abate pesa 468 kg. Como o preço do animal vivo é R$ 1,80, um bovino médio de abate que pesa 217 quilogramas custaria 827,00, que a base de cálculo para a alíquota de 7% seria R$ 57,89. Pelos cálculos acima referidos o Estado perde diretamente de arrecadação R$ 73.358.0265,89 somente com ICMS.

A sonegação é só uma parte do problema do abate irregular. Há um lado mais negativo que são os problemas de saúde pública. Aqui, novamente, não há dados confiáveis, inclusive da Secretaria Estadual da Saúde, que não identifica a origem das doenças pagas pelo SUS. As informações prestadas são insuficientes porque não identificam a causa da doença, nem tampouco o custo social da disseminação das mesmas.

O problema não é só de gastos financeiros com a medicina curativa, mas também de custos econômicos de incapacitação temporária ou definitiva laborial das pessoas que contraem doenças por causa de produtos não inspecionados. Sobre esse tipo de prejuízo, esta CPI não conseguiu nenhum dado estatístico.

Há necessidade de uma ação mais enérgica do Poder Público Estadual, efetivada em ações concretas pela ação conjunta ou combinada de suas Corporações Policiais e com as autoridades fazendárias e sanitárias. Deve ser criada uma FORÇA TAREFA CONTRA O ABATE IRREGULAR E O ABIGEATO, contando com a participação dessas autoridades sob a coordenação do Ministério Público Estadual, além da participação do DPA/SAA, SIF/MAPA e da Receita Estadual e Federal. Só com uma medida enérgica se poderá restabelecer a paz na zona rural e colocar um fim nos dados vergonhosos dos número do abate irregular.

É importante que o Ministério da Justiça e o Ministério das Relações Exteriores tomem medidas concretas junto à República Oriental do Uruguai para que se coloque um fim nos excessos praticados na fronteira deste País com o Brasil.

O contrabando e outros ilícitos dessa natureza há muito deixaram de ser um comércio formiga, de sobrevivência. Há informações de que se trata de quadrilhas organizadas que atuam nos dois lados da Fronteira. É matéria de competência das Autoridades Federais.

Para concluir, esta CPI indicia e solicita que a Autoridade Policial competente, conclua o mais breve possível os Inquéritos Policiais das seguintes pessoas suspeitas de ABIGEATO:

Santana do Livramento:

Antonio Scheffer de Medeiros – (abate clandestino)Sandro Carvalho – (abigeato)José Maria Pereira Lima (abigeato e abate clandestino)Artigas Reina Lavadi (abigeato)Araci da Silva Aguiar – (abate clandestino)Ariel Pereira Magnone (abigeato)Diolofe Pereira Martinez (abate clandestino e abigeato)Luis Oliveira Camachi (abate clandestino)Ary Cesar Pereira Medeiros (abigeato e abate clandestino)

São Borja:

Valdemir Gavião Roque (abigeato)Eduardo Roque Escobar (abigeato)

São Sepé:

João Francisco da Silva Vargas (abigeato)

General Câmara:

João Anildo Souza Silva (abigeato)

Jaguari:

Cláudio José Manganelli (abigeato)Cláudio Leite, Francisco Leite

Cacequi:

Vilson Vicente da SilvaPedro da Silva

João Vargas (gandola)Jean Vargas

Matadouro Frigorífico Kaufmann – de Santa Maria – está sob suspeita de receptação de gado.

Ainda, em Cacequi aparecem alcunhas de abigeatários que são do conhecimento do MP:

Zeca, Lúcio, Paulo da “Augusta”, Mano do Assis e o Pavãozinho.

TERCEIRO FATO DETERMINADO:

Em função dos depoimentos e documentos apresentados, os quais integram os autos deste processo, as irregularidades verificadas no Frigorífico 3C S/A, pela participação das mesmas pessoas e as penalidades apontadas são as seguintes indiciadas

- Sr. Clovis Kerber;- Assinou atas de assembléias sem ter participado, quando era procurador de empresa

que detinha a maioria do capital social.

Ao agir assim, praticou o crime de falsidade ideológica, previsto no artigo 299 do Código Penal.

Sr. Carlos Antônio Kerber, ao praticar as seguintes condutas delituosas, incidiu nos seguintes delitos;

- “Vendeu” fraudulentamente o capital da General Meat Food e Frigorífico 3C para eximir-se de sua responsabilidade societária – crime de estelionato, artigo 171, II, do CP;

- Emitiu cheque sem fundo – crime de estelionato artigo 171, IV do CP;-- Deu, em “Confissão de Dívida”, por instrumento particular, imóvel que nunca lhe

pertenceu – crime de estelionato, artigo 171, I, do CP;

- Crime contra a ordem tributária – IR, pela “venda” de sua participação societária no General Meat Food, pois além de não receber o valor, ainda endossou a nota promissória ao próprio emitente, artigo 1º da Lei n.º 8.137/90;

- Crime contra a ordem tributária – IR, pela “venda” de seu capital social no Frigorífico 3C, da mesma forma do item anterior, artigo 1º da Lei n.º 8.137/90;

-- Crime contra a ordem tributária – IR, dos irmãos do Sr. Carlos Antônio Kerber, pela

“venda” de participação societária do Frigorífico 3C, pois o valor da venda foi simbolizado por nota promissória somente em nome de Carlos Antônio Kerber, artigo 1º da Lei n.º 8.137/90;

- Crime contra a ordem tributária – IR, dos irmãos do Sr. Carlos Antônio Kerber, pela “venda” de participação societária do General Meat Food, nos mesmos termos do item anterior, artigo 1º da Lei n.º 8.137/90;

-- Crime contra ordem tributária – ICMS, pelo fato de abater gado bovino no

estabelecimento do Frigorífico 3C e a emissão da nota fiscal para o produtor ter sido

efetuada pelo General Meat Food, artigo 1º da Lei n.º 8.137/90;-

Sr. Roberto Carlos Mayer:

- co-partícipe das irregularidades apontadas nas empresas General Meat Food e Frigorífico 3C S/A –

- deverá ser denunciado ao Conselho Regional de Contabilidade por efetuar contabilidade fraudada – confessou que diversos documentou foram assinados pelo Sr. Julio Cesar Silva dos Santos, em data posterior, para acertar a contabilidade do Frigorífico 3C S/A;

Ao agir assim, praticou o crime de falsidade ideológica, previsto no artigo 299 do Código Penal.

Aparentemente, o Banco do Brasil S/A foi ludibriado pelo arrematador da massa falida Swiff-armour, apresentando um contrato social aparentemente válido com expressão de verdade. Entretanto, como vimos anteriormente, a empresa Mercomeat Importação e Exportação Ltda., não tem seu capital social integralizado, e o efetivamente realizado deve estar muito aquém dos R$ 500.000,00 (quinhentos mil reais), constantes do contrato.

Outro fator que deve ser analisado na instituição financeira é a viabilidade econômica do empreendimento, haja vista que no demonstrativo financeiro analítico dos dez primeiros exercícios, ou seja, período em que a dívida junto ao Banco deve ser paga, a Mercomeat Importação e Exportação Ltda. necessita de capital de giro na ordem de R$ 5.000.000,00 (cinco milhões de reais) advindos de operações junto a instituições financeiras. Entretanto, não possui bens para garantir este montante de recursos. A apreciação perfunctória dos demonstrativos financeiros apresentados ao Banco do Brasil S/A indica a inviabilidade técnica de, efetivamente, a empresa que arrematou o imóve passar a operar.

Com isto, podemos concluir em relação ao mencionado que:

I – Ao Senhor Flávio Alexandre Hofsetz:

Com os depoimentos prestados e os documentos juntados aos autos, resta provado que houve fraude:

a) quanto à emissão da nota fiscal, para possibilitar a integralização do capital social;

b) em relação ao recibo de pagamento da mercadoria constante da nota fiscal;

c) na integralização do capital social da Mercomeat Importação e Exportação Ltda., em função da inexistência da máquina e em relação ao financiamento junto a Caixa Econômica Federal;

d) ao ser dada como garantia a máquina, no contrato de locação da massa falida do Frigorífico Rio Guaíba Ltda.;

e) no depoimento a Comissão Parlamentar de Inquérito, por falso testemunho;

f) em relação às afirmações junto ao Banco do Brasil S/A no momento da habilitação para a participação no leilão.

II – Ao Banco do Brasil S/A, que a instituição financeira deverá adotar uma postura extremamente detalhista quanto à aprovação do crédito a ser pago em 120 meses, referente à arrematação.

Em relação às irregularidades investigadas na planta da Cooperativa Castilhense, houve

uso indevido da inscrição da Cooperativa no ICMS. Se era a empresa comandatária do Senhor Carlos Gomes que explorava a planta indústria, abatendo e comercializado animais de corte, era ela que deveria ser responsável pelo recolhimento dos impostos referentes à produção. A Cooperativa não tinha disposição sobre a planta indústria. Sem essa, não tinha como operar. Se não estava em operação e nem tinha meios para operar, o uso de seu talão fiscal por outra Empresa é uma fraude fiscal. Essa consiste na conduta de elaborar e utilizar documento fiscal, no caso talonário de terceiro, que sabia que era inexato. E essa está perfeitamente caracterizada pelo prejuízo causado à Cooperativa, que só ficou com as dívidas perante o Fisco e o ônus de discuti-las em Juízo.

AO AGIR ASSIM, o Senhor Carlos Gomes ao elaborar e utilizar documento fiscal, no caso talonário de terceiro, que sabia que era inexato para não pagamento de tributo de empresa de sua propriedade praticou, em tese, CRIME CONTRA ORDEM TRIBUTÁRIA, capitulado no inciso IV do artigo 1° da Lei Federal n.° 8.137, de 27 de dezembro de 1990.

Em relação ao administrador Leonardo Thibes, este relatório cita os atos de compra de suínos com cheques particulares do administrador que não constam no plano de administração submetido à aprovação do Poder Judiciário (art. 728, II, do CPC).

Quem administra bens e recursos alheios tem o dever de prestar contas. E, nesse caso concreto, não existem prestações de contas transparentes.

Os graves fatos acima referidos deixam claro os motivos que levaram o Senhor Leonardo Thibes a negar-se a fornecer voluntariamente a esta CPI os extratos bancários de suas contas particulares, assim como as declarações de imposto de renda, dando desculpas não convincentes.

Causa espanto o Poder Judiciário ter levado tanto tempo para destituir o referido Administrador. E, não foi por falta de aviso das partes interessadas e mesmo alertas contidos nas períciais. Pelo que parece, o Poder Judiciário, em especial a Juíza do Trabalho Antônia Maria Loguercio, não estava nada bem informado a respeito deste Cidadão. Quando perceberam os problemas, já era tarde. As dívidas e as fraudes já estavam consumadas.

Para encerrar, observa-se que mais uma vez o suinocultor foi lesado. Vendeu seus animais e não recebeu. São ações temerárias como essa, patrocinadas por aventureiros, que nada ou muito pouco tem a perder, que agravam a crise da bovinocultura e da suinocultura, causando prejuízo de difícil reparação aos produtores rurais.

AO ASSIM AGIR, o administrador do Usufruto Judicial Leonardo Thibes, por ser equiparado a funcionário público para efeitos penais, por exercer função pública por designação da Justiça do trabalho, praticou, em tese, o CRIME DE PECULATO (art. 312 do Código Penal) por se apropriar de dinheiro particular, de quem tinha a posse em razão da função pública de administrador, e que no caso os valores referentes aos contratos de exportação não estão contabilmente registrados, segundo perícia judicial, assim como também praticou o CRIME DE ESTELIONATO (art. 171, VI, do Código Penal), ao emitir cheque, sem

suficiente provisão de fundos, para comprar suínos de produtores rurais.

A conduta delituosa praticada pelos administradores do BNDES, em relação à liberação de verbas ao Grupo Chapecó/Macri é configurada pela realização de operação financeira aceitando garantias insuficientes de empresas privadas a um banco público. Trata-se de improbidade administrativa que causou lesão à entidade pública, prevista no artigo 10, VI, da Lei Federal n.º 8.429, de 02/06/1992, combinado com o artigo 3º do mesmo diploma legal que se aplica aos partícipes particulares.

Assim, esta CPI indicia os diretores-presidentes do BNDES, Andrea Calabi, Luis Carlos Mendonça de Barros e os diretores da Chapecó, Alex Fontana e Plínio De Nes Filho.

Encaminhar cópia dos depoimentos ao Tribunal de Contas da União, ao Ministério Público Federal e à Comissão de Fiscalização Financeira e Controle da Câmara dos Deputados

QUARTO FATO DETERMINADO:

O setor suinícola do RS que já vinha em crise devido aos problemas decorrentes da ocorrência dos focos de febre aftosa no RS em 2000 e 2001, e o aumento excessivo do preço do milho em 2002, associado ao fechamento do Frigorífico Chapecó, em Santa Rosa (antigo Prenda) ocasionou um agravamento desta crise no primeiro semestre do ano de 2003, por que, com a ocorrência de focos de Aujeszky em Santa Catarina em 2002, houve bloqueio da exportação de carnes suínas com origem neste Estado no último trimestre desse ano. Isto levou a um aumento considerável de suínos no mercado interno, pressionando os preços em nível de produtor para baixo.

Esta situação começou a se normalizar a partir do segundo trimestre do ano em curso, quando foi refeito o acordo de exportação entre Brasil e Rússia, definindo que, na certificação para a exportação, deveria constar que as carcaças a ser exportadas seriam de suínos oriundos de municípios sem ocorrência de Doença de Aujeszky nos últimos 12 meses antes do embarque.

Para se ter uma dimensão da importância da exportação de carne suína para a Rússia na cadeia produtiva da suinocultura no Rio Grande do Sul, basta ver a sua porcentagem em relação ao total das exportações de carne suína do Estado, que é de 80% do total dessas, atingindo aproximadamente 68.000 toneladas em 2002 e 90.000 toneladas em 2003 representando para o setor uma receita na ordem de U$ 70.000.000,00 e U$ 88.000.000,00 ao ano, respectivamente.

Um enfoque a ser considerado por esta CPI trata das responsabilidades sobre a normatização em relação ao controle de enfermidades e ao trânsito de animais produtos e sub-produtos dentro do território nacional. No depoimento da representante da SAA, foi abordado objetivamente o tema, esclarecendo sobre a competência dos níveis estadual e federal na definição de normas ordenadoras e das atividades de Defesa Sanitária Animal.

A respeito de barreiras sanitárias, é oportuno tecer alguns esclarecimentos. As enfermidades tecnicamente consideradas como limitantes para o comércio internacional são aquelas incluídas na Lista A do Código Zoossanitário Internacional do Escritório Internacional de Epizootias (OIE), entre as quais a mais conhecida e que tem grande influência no trânsito de bovinos e suínos, bem como no comércio interestadual e internacional de carnes está a febre aftosa.

QUINTO E SEXTO FATO DETERMINADO:

Os motivos e fundamentos que serão expostos no presente item, por economia processual, a fim de não repetir os mesmo argumentos, referem-se às conclusões desta Relatoria em relação aos fatos determinados 05 e 06.

A pecuária de corte de bovinos e suínos são duas cadeias agroindustriais de alimentos que geram emprego e renda - fatores indispensáveis para a promoção da paz e da justiça social em qualquer comunidade.

Economia de mercado, conforme exposto, é o modelo estrutural da economia mais eficiente na geração de renda e emprego. Em outras palavras, de produção de riquezas, que é o campo próprio da economia. A distribuição justa da riqueza não é campo da economia, mas da política. Se a economia de mercado está sendo eficiente na geração de riquezas e não está havendo justa distribuição dessas, não é culpa da economia de mercado, mas da esfera política, que não é eficiente na criação e implantação de políticas públicas eficazes. Por sua vez, mesmo numa economia de mercado, onde a livre empresa ou a empresa privada é a responsável pela geração de riquezas, não significa que o Poder Público não tenha ainda o seu peso decisivo na economia. A intervenção do Estado no domínio da economia privada numa economia de mercado é uma realidade em todas as nações. Não se trata aqui da era áurea dos monopólios estatais e da política de tabelamento de preços, de uma política de planejamento econômico. Isto faz parte do passado e já entrou para história. Defender o seu retorno ou mesmo de mecanismos dessa era é saudosismo e descompasso com a realidade.

O que se está defendendo é que a intervenção do Poder Público seja no sentido de articulador e integrador dos agentes do mercado, não só para assegurar a livre concorrência mas até para fomentar o desenvolvimento econômicos daquelas regiões subdesenvolvidas, visando à geração de emprego e renda e a sua justa distribuição. Nesse campo, há um espaço importante para atuação da política. Não se fala aqui especificamente nas funções primárias do Estado, pertencentes ao campo do Direito Constitucional, admitidas por consenso para todos, como no exercício da função legislativa ao estabelecer regras de direito gerais e abstratas para normatizar as condutas humanas para o convívio em comunidade e o modo de arbitrar e mediar conflitos de interesses no segmento da sociedade civil, assim como ocorre no âmbito da administração da justiça. Nem tampouco se fala aqui das atividades típicas do Estado, pertencentes ao campo do Direito Administrativo, como o exercício de poder de polícia administrativa na fiscalização de atividades humanas que afetam toda a comunidade, como é o caso da inspeção e da vigilância sanitária de produtos de origem animal na defesa da saúde pública ou de serviços público ou de utilidade pública.

Esta Relatoria está a se referir à ATIVIDADE DE FOMENTO, que está um tanto esquecida ou relegada a um segundo plano.

A atividade administrativa de fomento corresponde, entre outras, à concessão de incentivos e benefícios fiscais e creditícios. Essa existe e é articulada nos diversos níveis de governo. A questão não é a existência em si, mas a desarticulação entre as entidades governamentais e até mesmo dentro do mesmo nível de governo. Em outras palavras, as políticas públicas existem mas estão desarticuladas entre si. Há necessidade de sua articulação para racionalizar a aplicação de recursos públicos visando maximizar os resultados a serem traçados.

Com relação à execução de atividades de extensão e assistência técnica e de pesquisa básica e, principalmente à aplicada, no entender desta CPI, não se trata de um serviço público próprio do Estado ou um serviço de utilidade pública. A Administração Pública desenvolve estas atividades visando a apoiar os agentes econômicos. Portanto, pela sua finalidade, é atividade administrativa de fomento público.

A articulação e unificação das políticas públicas desenvolvidas pelos diversos entes de fomento da economia, terá de ser traçada para tornar os agentes das cadeias agroindustriais de alimentos mais eficientes na produção em escala de produtos de qualidade, que possam ganhar o mercado externo. Não há como compatibilizar custos de produção que são total ou parcialmente em dólar e produzir produtos que são adquiridos no mercado interno em moeda nacional. Sem ganhar mercado externo, não há como agregar valor ao produto. As indústrias que conseguem exportar têm condições de remunerar melhor o produtor rural. Esse é o caminho da bovinocultura de corte.

Quanto à suinocultura, em que pese já exportar parte da sua produção, só irá adquirir um certo nível de estabilidade se conquistar novos espaços.

Há um registro importante a ser feito, que é em relação à pequena propriedade familiar. Esta está sendo cada vez mais excluída das cadeias agroindustriais de alimentos. Isto se observa no leite e ocorre por diversos fatores, mas, o principal se relaciona aos problemas de produção em escala.

Sem uma ação conjugada ou combinada das políticas públicas entre as diversas entidades governamentais entre si, e estas, em ação conjunta, com a iniciativa privada, os pequenos produtores de proteína animal, não terão mais como permanecer no mercado ou ficarão relegados a um mercado secundário do tipo de sobrevivência.

Em outras palavras, há de se construir metas de governo em políticas públicas eficientes para que os pequenos produtores rurais tenham capacidade de produção em escala. O sistema integrado, em que pese algumas críticas, tem dado resultados positivos em capacitar o pequeno produtor rural na produção em escala. É uma experiência criada à margem do Estado, apesar do Estado, inclusive de seu regramento normartivo, dentro do legítimo campo da autonomia econômica da pessoa humana. Como toda experiência criada pela iniciativa privada, espontaneamente de baixo para cima, há necessidade de ser aprimorada e quando toma certas dimensões é até preciso que haja sua normatização por lei. Mas esta deve ser no sentido de aprimorar esse sistema, até com algumas normas de proteção da hipoinsuficiencia

do produtor integrado, mas não no sentido de planificação da economia e controle estatal no velho estilo da economia nacionalista-estatizante, modelo esse totalmente incompatível com uma economia de mercado globalizada, especialmente quando se pretende conquistar mercados externos.

Para concluir, o que esta CPI está propondo é uma articulação entre a iniciativa privada (economia) e o Poder Público (política), onde cada uma na sua esfera de atuação possa desenvolver ações conjuntas ou combinadas com base em metas comuns e compatíveis, a fim de tornar eficientes as políticas públicas de fomento e as cadeias agroindustriais de alimentos.

CONSIDERAÇÕES GERAIS

Há fatos conexos ou indiretos aos fatos apurados por esta CPI que integraram a instrução e que merecem, mesmo que brevemente, serem tratados pelo presente Inquérito Parlamentar, conforme exposição que segue.

1) QUESTÃO DA PROTEÇÃO AMBIENTAL

O licenciamento ambiental é uma atividade estatal que tem causado uma grande inquietude entre os produtores rurais, face à fiscalização exercida e os critérios utilizados para expedição das licenças ambientais. Há, ainda, reclamações sobre os altos valores das taxas. Em razão disso, Esta CPI não pode deixar de tecer algumas opiniões sobre a atuação da FEPAM.

A primeira questão analisada é o fato da FEPAM exercer poder de polícia administrativa sendo um entidade de direito privado, em que pese ser integrante da Administração Pública. A Lei n.º 9.077, de 4 de junho de 1990, institui a Fundação Estadual de Proteção Ambiental com personalidade jurídica de direito privado. É uma entidade integrante da Administração Indireta do Estado, vinculada à Secretaria da Saúde e do Meio Ambiente. Diz, ainda, esse Diploma Legal que cabe à FEPAM atuar como órgão técnico do Sistema Estadual de Proteção Ambiental, fiscalizando, licenciando, desenvolvendo estudos e pesquisas e executando programas e projetos, com vistas a assegurar a proteção e a preservação do meio ambiente no Estado no Rio Grande do Sul.

QUESTÕES TRIBUTÁRIAS

O tratamento tributário estadual nas cadeias da bovinocultura e na suinocultura é matéria importante a ser analisada por esta CPI. Para se ter os dados exatos, foi requisitado à Secretaria da Fazenda para que informasse detalhadamente a carga suportada nas diversas fases das cadeias. A informação advinda daquele órgão foi no seguinte sentido:

RECOMENDAÇÕES:

Esta CPI colheu inúmeras sugestões para elaboração de políticas públicas para o setor das carnes, apresentadas por todos os elos das Cadeias Agroindustrias da Bovinocultura de Corte e da Suinocultura, durante as reuniões realizadas e por técnicos que colaboraram com o desenvolvimento dos trabalhos.

GOVERNO FEDERAL:

As principais sugestões apresentadas e acolhidas por esta CPI, para formação de uma política de desenvolvimento da atividade de produção de carnes, na esfera do Governo Federal são as seguintes.

1°) que as CÂMARAS SETORIAIS DAS CARNES na elaboração de políticas públicas de apoio às cadeias agroindustriais de alimentos, levem em conta as diferenças regionais, onde todas as regiões sejam contempladas;

2º) criação no âmbito da Secretaria de Produção e Comercialização do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento – MAPA, de uma unidade administrativa para fomento público dessas cadeias e promover a articulação das políticas públicas existentes na própria esfera da União e destas com os Estados e Municípios, como órgão de execução das políticas públicas traçadas pela Câmara Setorial das Carnes;

3°) que seja aperfeiçoado e difundido o uso da Cédula de Produtor Rural (CPR) de produtos cárneos na relação entre os produtores rurais e a indústria

4°) promoção das exportações de carnes bovina e suínas, com adoção das seguintes medidas:

a) agilização do processo de habilitação de indústrias e produtos para exportação;

b) negociação de acordos de equivalência sanitária com países importadores e promoção da vinda de missões de técnicos estrangeiros ao Brasil para inspecionar plantas industriais frigorificas;

d) identificação de barreiras às carnes bovina e suína nos principais mercados mundiais e negociação de melhor acesso de mercado.

e) estímulo ao fundo para a promoção de consumo de carne suína e seus derivados no mercado doméstico, com participação de toda cadeia produtiva;

6°) concessão de linhas de crédito especiais no BNDES e no Banco do Brasil para modernização das propriedades rurais e pequenas e médias indústrias, especialmente para capacitar a pequena propriedade rural a ter produção em escala, no que é compatível com a sua estrutura fundiária;

7°) formação de mercados reguladores de carne bovina e suína, com aquisição de produtos excedentes, com liberação de linha de crédito especial para as pequenas e médias indústrias.

8°) realização de CONCURSO PÚBLICO para admissão de 60 médicos veterinários no SIF/MAPA/RS, diante a defasagem do quadro funcional no Rio Grande do Sul.

9º) Renegociação das dívidas dos suinoculturores independentes referente à crise de 2000 a 2002.

10) o BANCO DO BRASIL não consumar o negócio de alienação da planta frigorífica de Livramento e adotar critérios mais rigoroso para alienação, a fim de que empresas sem capital suficiente realizem negócio e ingresse no mercado sem condições reais de operação.

11) recomendação ao congresso nacional para analisar a proposta de regulamentação da lei federal 9.712, parada no congresso desde 1998 e que trata, entre outras coisas, da criação do sistema nacional de inspeção sanitária animal, onde proporcionará estabelecimentos registrados em um nível de inspeção sanitária hierarquicamente inferior podendo comercializar carnes e produtos para mercados de maior abrangência que a sua área geográfica.

GOVERNO DO ESTADO:

As principais sugestões apresentadas e acolhidas por esta CPI são as seguintes, na esfera do GOVERNO ESTADUAL, para formação de uma política estadual de desenvolvimento das carnes:

1º) no âmbito da SECRETARIA DA AGRICULTURA E ABASTECIMENTO:

a) fortalecimento das diversas CÂMARAS SETORIAIS DAS CARNES NO RIO GRANDE DO SUL, centralizando nela a elaboração periódica de pesquisa de custos de produção de carnes em propriedades rurais, através de planilha de custo de produção com metodologia unificada, realizada por estrato de produção, a fim de divulgar preço de referência do animal vivo, para servir de parâmetro nas negociações dos agentes das Cadeias Agroindustriais das Carnes:

-a Câmara Setorial da Suinocultura: deverá ampliar a representação das entidades dos diversos agentes do setor para a apresentação e debate desses estudos e elaboração de propostas.

-promover, através da Câmara Setorial da Suinocultura no RGS, a elaboração de um projeto estratégico para o desenvolvimento do setor que oriente a formulação de critérios e regras precisas para o acesso dos diversos agentes aos programas e às políticas públicas. Esse projeto será

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consolidado na forma de um acordo setorial a ser instituído entre Governo do Estado e as entidades representativas dos empregadores, empregados e produtores;

b) criação de uma unidade administrativa responsável pela execução das políticas públicas de fomento à produção de carnes, inclusive na coleta oficial de dados e elaboração de índices;

c) apoiar a reorganização e o fortalecimento das cooperativas de carnes, com instrumento fundamental para a estabilidade e crescimento do setor de carnes.

d) criação de uma AGÊNCIA INDEPENDENTE DE DEFESA AGROPECUÁRIA E VIGILÂNCIA SANITÁRIA, englobando os serviços de defesa sanitária animal, inspeção industrial e sanitária de produtos de origem animal e vigilância sanitária, no regime de autarquia especial, dotada de autonomia administrativa e financeira e independência funcional, e com aporte de recursos financeiros suficientes para a execução das atividades inerentes ao mesmo, onde os seus dirigentes seriam previamente aprovados pela Assembléia Legislativa, para mandato fixo, só podendo ser destituído por falta grave.

e) independente da criação de autarquia, seja realizado CONCURSO PÚBLICO para admissão de no mínimo 250 médicos veterinários;

f) com ou sem criação da Agência Independente sejam informatizadas, com urgência , as Inspetorias Veterinárias;

g) acelerar a implantação do PROGRAMA DE RASTREABILIDADE TOTAL do rebanho suíno e bovino gaúcho, para credenciar o Rio Grande do Sul como produtor de carne com qualidade sanitária, para adequar às exigências do mercado internacional

h) criação do PROGRAMA COURO DE QUALIDADE, visando a melhorar a qualidade da matéria-prima para se adequar às exigências da indústria coureiro-calçadista e remunerar melhor o produtor rural que vier a atender essas exigências;

i) avaliar a possibilidade da reinstalação do INSTITUTO RIOGRANDENSE DE CARNES, tendo uma visão de adequação das cadeias da carne com a realidade do agronegócio agronegócio;

2º) Que a SECRETARIA ESTADUAL DA FAZENDA tome as seguintes medidas:

a) fim da substituição tributária do ICMS na indústria frigorífica e diferir o pagamento desse imposto ao varejo;

b) maior agilidade na cobrança administrativa dos créditos tributários inscritos em dívida ativa e o ajuizamento imediato dos executivos fiscais;

c) realize estudo, com participação das entidades representativas da sociedade civil, a fim de adequar a política tributária de arrecadação do Rio Grande do Sul a fatores de competitividade da economia gaúcha em relação a outros Estados;

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3º) que a SECRETARIA ESTADUAL DA SAÚDE seja mais eficiente na identificação das doenças causadas por problemas sanitários e dos custos financeiros dos tratamentos médicos, comunicando esses dados periodicamente ao DPA/SAA (aumento das relações inter-institucionais);

4º) No âmbito da SECRETARIA DE DESENVOLVIMENTO E ASSUNTOS INTERNACIONAIS – SEDAI, sejam adotadas as seguintes medidas:

a) a concessão de benefícios e incentivos fiscais e creditícios sejam deferidos dentro de um Plano Estadual de Restruturação e Modernização das Plantas Frigoríficas, para torná-las economicamente viáveis e competitivas para os mercados interno e externo;

b) maior rigor na avaliação dos projetos de concessão de benefícios e incentivos fiscais e creditícios, a fim de evitar a liberação de recursos públicos para empresas que tenham patrimônio disponível para pagar seus credores;

5º) À SECRETARIA DA JUSTIÇA E DA SEGURANÇA PÚBLICA institua um comando único entre as suas Corporações Policiais, a fim de haver uma ação conjunta ou combinada da ação policial para o combate ao abigeato em todas as suas formas, inclusive na sua modalidade abigeato colarinho branco.

- Recomenda a designação de um Delegado de Polícia – Efetivo – ao Município de Cacequi, tendo em vista que há nove anos o mesmo é atendido por um delegado substituto.

a) Em relação à Fundação Estadual de proteção Ambiental – FEPAM:

1) realize a adequação da natureza jurídica da FEPAM, de entidade de direito privado para a de direito público, em regime autárquico, para que a atividade de poder de polícia ambiental seja exercida por pessoa de direito público;

2) que os valores cobrados indevidamente pela FEPAM sejam considerados como taxas, espécie de tributo, com alíquotas a serem aprovadas por este Parlamento, como forma de assegurar o respeito aos direitos dos contribuintes em consonância com as Liberdades Públicas da Pessoa Humana, à luz do Princípio da Legalidade tributária, atualmente totalmente violados pela forma de cobrança de exação sem base legal;

3) uma vez transformadas as exações ilegais que são exigidas em forma de taxas exigidas em taxas, sejam os valores das alíquotas instituídos conforme a capacidade contributiva dos produtores rurais, levando em conta os parâmetros cobrados em outras Unidades da Federação;

4) que seja enviado a este Parlamento projeto de lei com o objetivo de reformar a regra de direito do parágrafo único do artigo 69 do Código Estadual do Meio Ambiente, por ser inconstitucional e por ferir a autonomia municipal e desrespeitar o Princípio da Legalidade ao violar a Reserva Legal;

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5) realização de concurso público para ampliação dos quadros funcionais, atualmente insuficientes para cumprir todas as tarefas;

c) estimular o aumento de consumo de carne suína e seus e derivados na merenda escolar;

d) melhorar a estruturação do PROGRAMA ESTADUAL DE DEFESA DO CONSUMIDOR – PROCON, especialmente de quadro funcional e informatização;

e) cumprimento da PORTARIA FEDERAL N° 304, associado ao Decreto Estadual, que trata da distribuição de carnes bovina e bubalina ao varejo, e que exige deste a identificação à vista do consumidor o nome do estabelecimento de origem da carne exposta e o número do registro de inspeção;

f) aumento da dotação orçamentária para as entidades de pesquisa agropecuária, especialmente as integrante da Administração Pública Estadual, com efetiva execução orçamentária;

g) integração das fiscalizações fazendárias, de inspeção sanitária, de vigilância sanitária e defesa do consumidor, com criação de cadastro único da movimentação de animais vivos em operações internas e externas, com unificação dos documentos fiscais e sanitários, com integração ao programa de rastreabilidade e criação de procedimento de comunicação imediata e obrigatória à autoridade policial quando na ocorrência de prática de delito penal;

h) seja firmado convênio com a União, a fim de que a Secretaria da Receita Federal tenha acesso ao cadastro acima referido, visando às identificações das operações de trânsito de animais que são para criação e as que são para comércio;

h) realização de estudo para a criação da UNIVERSIDADE VIRTUAL DAS CARNES, a partir da Universidade Estadual, com centro de articulação das ações de ensino, pesquisa e extensão desenvolvidas entre as diversas entidades e órgãos do setor público, universidades e a iniciativa privada, visando à formação de recursos humanos e à criação de tecnologia para a cadeia produtiva das carnes;

I) que as entidades representativas dos produtores rurais criem um cadastro contendo as empresas de criadores de gados, com registros dos maus pagadores, a fim de evitar o calote aos vendedores de animais vivos.

m) acordar junto às agroindústrias de suínos, através do SIPS, que seja estabelecida a obrigatoriedade de pesagem dos suínos vivos na entrada do frigorífico e seja disponibilizado ao produtor imediatamente após a pesagem um boleto com o preço do quilograma vivo, no caso dos integrados preço do quilograma vivo de referência, o peso vivo dos suínos entregues e o preço da carcaça.

n) incluir no corpo dos contratos de integração a fórmula de cálculo para apurar a eficiência produtiva que será incorporada ao percentual mínimo que cada produtor deverá receber por suíno abatido, hoje sendo 2,5% do peso de carcaça.

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PROVIDÊNCIAS:

Esta CPI, diante do término dos seus trabalhos de investigação, requer seja feito o traslado através de cópia autenticada do Relatório Final, e encaminhado para os seguintes órgãos, conforme dispõe o artigo 88 do Regimento Interno desta Egrégia Casa:

I – para a Secretaria de Direito Econômico do Ministério da Justiça, a fim de que tome conhecimento das conclusões do presente Inquérito Parlamentar e tome as providências que entender cabíveis, na sua esfera de competência

II – ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento - MAPA para que tome conhecimento a respeito das recomendações ora propostas por esta CPI;

III – ao Governo do Estado, a fim de que tome conhecimento a respeito das recomendações ora propostas por esta CPI, para estabelecimento de uma política pública de desenvolvimento da produção de carnes em âmbito estadual;

IV – à Comissão Permanente de Agricultura, Pecuária e Cooperativismo desta Casa, a fim de dar seqüência aos trabalhos desta CPI que exigem continuidade, especialmente os de elaboração de uma política pública de desenvolvimento da produção de carnes em âmbito estadual e de acompanhar e relatar com periodicidade o andamento das conclusões acima especificadas nos itens anteriores;

V – ao Ministério Público Federal, referente aos indiciamentos feitos nas matérias de sua alçada, para que promova a ação penal e a ação civil pública de improbidade administrativa, constantes das conclusões gerais, requisitando, se assim entender, a abertura de inquérito policial pelo Departamento de Polícia Federal;

VI – ao Tribunal de Contas da União, a fim de que receba as conclusões do presente Inquérito Parlamentar como denúncia e aprecie em relação ao julgamento das contas referente ao BNDES;

VII – ao Ministério Público Estadual, referente aos indiciamentos feitos nas matérias de sua alçada, para que promova a ação penal e a ação civil pública de improbidade administrativa, constantes nas conclusões gerais, requisitando, se assim entender, a abertura de inquérito policial pela Polícia Civil.

VIII – ainda, em relação ao Ministério Público e aos Prefeitos Municipais seja tomadas medidas mais rigorosas para o cumprimento da legislação do SIM, especialmente com relação ao abate irregular e condições sanitárias;

IX – às Comissões de Agricultura do Senado Federal e da Câmara dos Deputados para que tomem conhecimento das presentes conclusões, em especial as relacionadas à renegociação das dívidas dos suinocultures.

764

X – ao Tribunal de Contas do Estado, a fim de que receba as conclusões do presente Inquérito Parlamentar como denúncia e instaure inspeção especial para que apure a correta aplicação das operações financeiras concedidas para as indústrias de produtos suínos e bovinos no Rio Grande do Sul, devendo comunicar este Egrégio Parlamento tão logo seja concluída a inspeção pelo BRDE.

São estas as conclusões !

Sala das Sessões, 15 de dezembro de 2003.

DEPUTADO MÁRCIO BIOLCHIRELATOR

765

FICHA TÉCNICA

APOIO TÉCNICO:

Cláudio Cardoso da Cunha – Coordenador e Assessor JurídicoGislaine Monza do Nascimento – Secretária de ComissãoEdgar Norberto Engel Neto – técnico da Secretaria da FazendaAntônio Machado de Aguiar – técnico da Secretaria da Agricultura

ESTAGIÁRIOS

Cássia Irajara Sequeira RibeiroMarcos Vinícius Gornatti dos Santos

COLABORAÇÃO:

Vicente Azevedo Marques (bancada do PT)José Hermeto Hoffmann (bancada do PT)Joel (bancada do PP)Lóia Rejane Weidlich (Gabinete do Deputado Márcio)Marcos Roberto Fiorin (Gabinete do Deputado Jerônimo)Marcos Maisonette Duarte (Gabinete do Deputado Jerônimo)Equipe do Departamento de Comissões

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AGRADECIMENTOS

À Procuradoria da Casa, que teve o acompanhamento do Dr. Hermínio Dutra e do Procurador-Geral Paulo Roberto Cardoso Moreira de Oliveira.

Ao Departamento de Comissões - na pessoa do seu Diretor, Alcides Rossi Borges.

Ao Departamento de Taquigrafia (transcrições e sonografia) - na pessoa da sua Diretora, Hedi Moema Bauer.

Ao Departamento de Segurança, na pessoa do seu Diretor Adão Mendes.

Aos cedidos Edgar Engel Neto (Secretaria da Fazenda) e Antônio Machado de Aguiar (Secretaria da Agricultura).

Ao Ministério da Justiça, na pessoa do Sr. Guilherme Ribas.

Ao Ministério Público Estadual na pessoa do Procurador-Geral da Justiça Roberto Bandeira Pereira, e dos promotores que estão trabalhando em Livramento e Cacequi.

A todas as entidades envolvidas nas cadeias produtivas das carnes suína e bovina, em especial aos representantes do SIPS, da Acsurs e do Sicadergs.

À imprensa em geral

Ao Professor da Saul Fontoura da Silva, da UFSM.

E a todos os envolvidos que direta ou indiretamente contribuíram para que o trabalho da CPI se desenvolvesse da melhor forma.

767

OS DEPUTADOS QUE ABAIXO SUBSCREVEM APROVAM O RELATÓRIO FINAL DA CPI DAS CARNES:

Porto alegre, 15 de dezembro de 2003.

Deputado Jerônimo Goergen, Deputado Márcio BiolchiPresidente. Relator.

Deputado Elvino Bohn Gass,Vice-Presidente.

Deputado Dionilso Marcon Deputado Frei SérgioTitular. Suplente.

Deputado Ivar Pavan Deputado Pedro Westphalen Titular. Suplente

Deputado Marco Peixoto Deputada Leila FetterTitular. Suplente.

768

OS DEPUTADOS QUE ABAIXO SUBSCREVEM APROVAM O RELATÓRIO FINAL DA CPI DAS CARNES:

Deputado Elmar Schneider Deputado João OsórioTitular. Suplente.

Deputado Giovani Cherini Deputado Fernando ZáchiaTitular. Suplente.

Deputado Osmar Severo Deputado Gerson BurmannTitular. Suplente.

Deputado Edemar Vargas Deputado Paulo AzeredoTitular. Suplente.

Deputado Berfran Rosado Deputado Manoel MariaTitular. Suplente.

Deputado Sanchotene Felice Deputado Cézar BusattoTitular. Suplente.

Deputado Ruy Pauletti Suplente.

Sala das Sessões, 15 de dezembro de 2003.

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ANEXO

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PERDAS DE RECURSOS PÚBLICOS PELO ERÁRIO

Tributos Estaduais e Federais 126 milhões/ano 1,26 bilhão / 10 anosDívida Ativa de ICMS 350 milhões

Recursos do BNDES 600 milhões

Recursos BRDE 400 milhões

Total em Reais 2,61 bilhões

PREJUÍZOS DE PRODUTORES COM A GENERAL MEAT FOOD E CASTILHENSE (no último ano de abate)

1,08 bilhão

Bancos Privados 500 milhões

Perda Estimada com Couro em razão da falta de qualidade “In Natura”

3,0 bilhão / ano

Com “valor Agregado” 4,5 bilhão / ano

Dados: CTCCA ( Brasil)

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